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Sentença Twitter

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28/01/2022 12:42 SENT

Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
5ª Vara Cível da Comarca de Passo Fundo
Rua General Neto, 486 - Bairro: Centro - CEP: 99010022 - Fone: (54) 3311-5377 - Email:
frpasfundo5vciv@tjrs.jus.br

PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL Nº 5004444-68.2020.8.21.0021/RS


AUTOR: J. PINHEIRO TOLENTINO FILHO EIRELI
RÉU: TWITTER BRASIL REDE DE INFORMACAO LTDA

SENTENÇA

Vistos.

J. PINHEIRO TOLENTINO FILHO EIRELI


(JORNAL DA CIDADE ONLINE) ajuizou a presente ação
cominatória em face de TWITTER BRASIL REDE DE
INFORMAÇÃO LTDA (TWITTER BRASIL), ambos qualificados
nos autos, relatando exercer atividade jornalística e manter conta na rede
social gerenciada pela demandada, @JornalDaCidadeO. Discorreu sobre
a presença de relação de consumo. Sustentou que dois perfis mantidos
no Twitter, quais sejam, Sleeping Giants Brasil (@slpng_giants_pt) e
Sleeping Giants Rio Grande do Sul (@slpng_giants_RS), aproveitando-
se do anonimato, estão promovendo o seu “linchamento moral público”,
constrangendo anunciantes do demandante e imputando ao demandante,
via internet, a divulgação de fake news e propagação de discurso de
ódio, tudo a fim de desidratar financeiramente o jornal e macular sua
reputação. Ressaltou que a principal fonte de geração de renda e
lucratividade das mídias digitais decorre dos anúncios publicitários
veiculados em suas páginas na internet. Discorreu sobre o adWords,
sistema de publicidade desenvolvido pelo Google. Salientou que os dois
perfis mencionados promovem ações de massa a fim de atribuir
características pejorativas ao jornal, o que implica perda de posição no
ranking de pesquisa da internet e perda de patrocinadores. Esclareceu
que o acesso de qualquer computador conectado à Internet, para boas ou
más finalidades, cria um registro (log) com o número IP de origem do
acesso, data, hora e referência GMT, informações denominadas de
registros de conexão pela Lei nº 12.965/2014, Marco Civil da Internet.
Alegou que o demandado tem o dever de guardar essas informações
pelo prazo de seis meses. Destacou a liberdade de manifestação de
pensamento, liberdade de expressão e a vedação ao anonimato.
Expendeu sobre a violação dos seus direitos fundamentais. Aduziu que
os provedores de aplicação, a fim de possibilitar a identificação dos
usuários, deve fornecer a porta lógica e outros dados de acesso às

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aplicações. Em sede de tutela provisória, postulou o fornecimento de


número(s) de IP, porta lógica e demais dados cadastrais e de acesso
do(s) usuário(s) responsável(is) pela criação e manutenção dos
conteúdos; a exclusão dos dois perfis/contas; o segredo de justiça e a
exclusão de todas as suas postagens relativas ao jornal.
Subsidiariamente, pugnou pela exclusão das postagens mencionadas no
item 73 da petição inicial. Ao final, requereu a procedência dos pedidos
a fim de excluir os dois perfis de forma definitiva da plataforma Twitter,
bem como a exibição das informações e documentos hábeis a identificar
os responsáveis pelos perfis. Juntou documentos e comprovante de
recolhimento das custas iniciais (evento 01, docs. 02/11, evento 03 e
evento 04).

Deferiu-se parcialmente a tutela provisória a fim de


determinar que a demandada, no prazo de 20 dias, informasse o(s)
número(s) de IP, porta lógica e demais dados cadastrais e de acesso
do(s) usuário(s) responsável(is) pela criação e manutenção dos
conteúdos nas contas Sleeping Giants Brasil (@slpng_giants_pt) e
Sleeping Giants Rio Grande do Sul (@slpng_giants_RS); bem como
preservasse os dados até o trânsito em julgado da presente ação, tudo
sob pena de multa de R$50.000,00. Outrossim, determinou-se que os
dados descritos ficassem ao abrigo do segredo de justiça, sendo vedada
a divulgação ou utilização de qualquer forma, inclusive pela autora,
salvo para instruir processo ou inquérito judicial (evento 06).

O demandado apresentou embargos de declaração (evento


14). Espontaneamente, o demandante apresentou contrarrazões (evento
15). Os embargos de declaração foram rejeitados, no entanto, concedeu-
se efeito suspensivo ao recurso, desde sua oposição até a data da decisão
(evento 18).

Citado (evento 11), o demandado apresentou contestação


(evento 21), preliminarmente, suscitando a falta de interesse de agir em
relação à conta @SLPNG_GIANTS_RS pela ausência de utilidade, vez
que não houve indicação de qualquer conteúdo publicado pela conta.
Informou que os dados foram preservados. Discorreu sobre a plataforma
Twitter. Ressaltou a inviolabilidade da intimidade, da vida privada e o
sigilo de dados e correspondências, destacando que a quebra do sigilo de
dados passíveis de identificar os usuários da internet exige decisão
judicial fundada em indícios de ocorrência de ilícito. Salientou que a
vedação do anonimato associada à manifestação do pensamento
somente tem lugar com vistas a permitir a responsabilização daquele
que abusa do direito. Frisou que o caso concreto não observa todos
requisitos do artigo 22 do Marco Civil da Internet. Destacou que as
operadoras do Twitter não coletam dados cadastrais, existindo obrigação
legal de guarda somente dos registros de acesso a aplicações de internet,
endereço de IP e data e hora de uso. Referiu que os provedores de
conexão gerenciam a porta lógica, não os provedores de aplicação.
Esclareceu que as portas lógicas são utilizadas, em razão do
esgotamento do número de IPs para o protocolo IPV4, para aumentar o
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número de conexões possíveis, possibilitando o compartilhamento dos


endereços de IPs entre usuários da internet, inexistindo obrigação legal
de guarda da informação. Frisou que o fornecimento da porta lógica e
dos dados cadastrais consubstanciam-se em obrigação impossível.
Sustentou que a remoção integral das contas do Twitter é
desproporcional, bem como configura censura prévia. Aduziu que a
análise das publicações deve ser individualizada, motivando-se a
necessidade de exclusão de cada uma. Alegou a ausência de resistência
ou causalidade, não havendo responsabilidade em relação aos ônus
sucumbenciais. Requereu o acolhimento da preliminar e a
improcedência dos pedidos. Subsidiariamente, pugnou pela designação
dos motivos específicos de remoção dos conteúdos e preenchimento dos
requisitos legais do Marco Civil da Internet.

O demandado interpôs agravo de instrumento, nº 5038372-


25.2020.8.21.7000 (evento 24), o qual foi desprovido (evento 27).
Outrossim, o agravo interno, as intervenções de terceiro e os embargos
de declaração apresentados não prosperaram (eventos 38, 42, 63 e 74).
Houve o trânsito em julgado em 14/04/2021 e a baixa definitiva (evento
87).

O demandante informou o descumprimento da liminar e


requereu a majoração da astreinte fixada (evento 28).

Houve réplica (evento 33).

Instituto Beta para Internet & Democracia – IBIDEM, cujo


foco é proteger princípios como liberdade de expressão, liberdade de
acesso à cultura, neutralidade da rede e proteção de dados pessoais,
requereu seu ingresso na lide na condição de Amicus Curiae (evento
34). Sustentou possuir representatividade adequada. Ressaltou a
relevância e repercussão social do caso objeto da lide, apreensão com a
integridade física dos ativistas e debate jurídico envolvendo a matéria.
Frisou que o demandante possui histórico de condenações por noticiar
informações falsas, estando no foco de investigações sobre fake news no
país. Ressaltou que os perfis Sleeping Giants limitam-se a denunciar
fatos, mostram a grandes marcas os sites a que estão associadas.
Mencionou ser comum a utilização de pseudônimos no ativismo da
internet. Discorreu sobre o Marco Civil da Internet e o processo de
construção da lei. Negou a existência de ato ilícito. Requereu sua
admissão como Amicus Curiae e a revogação da liminar. Juntou
documentos (evento 34, docs. 02/04).

Nandini Jammi apresentou intervenção de terceiro (evento


35) sustentando a natureza jornalística dos perfis e pretensão de violação
do sigilo de fonte. Alegou que o real intuito na divulgação dos dados
dos responsáveis pelos perfis é intimidatório, censor e opressor,
consubstanciando-se a lide em “sham litigation”. Informou ser
cofundadora do movimento Sleeping Giants, o que lhe confere interesse
jurídico. Expendeu sobre a forma de atuação do Sleeping Giants e sua

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licitude, um movimento coletivo de cidadãos para expor o


financiamento do discurso de ódio e das fake news, cuja atuação, de
forma resumida, consiste em identificar os ambientes na internet que
propagam notícias falsas, discursos de ódio, manifestações de cunho
racista, xenófobo, que atentam contra a saúde pública, a ciência e a
democracia, e divulgar essas informações ao público e marcas.
Ressaltou que o movimento limita-se a exercer seu direito de crítica e
liberdade de expressão. Frisou que o jornal autor é alvo da CPMI das
Fake News em tramitação no Congresso Nacional. Discorreu sobre a
liberdade de expressão, privacidade e sigilo de dados. Aduziu que a
vedação do anonimato não é absoluta. Teceu comentários sobre a
possibilidade de adoção de pseudônimos e sobre o sigilo de fonte na
atividade jornalística. Discorreu sobre os requisitos do marco civil da
internet. Requereu sua admissão como assistente litisconsorcial e a
suspensão da liminar deferida. Juntou documentos (evento 35, docs.
02/05).

Associação Direitos Humanos em Rede – Conectas


Direitos Humanos requereu seu ingresso na lide na condição de Amicus
Curiae (evento 36). Ressaltou a presença dos requisitos da intervenção,
quais sejam, a relevância da matéria discutida e a representatividade
adequada da entidade. Asseverou que a sua missão é a efetivação dos
direitos humanos e o combate a desigualdades com a finalidade de
construir uma sociedade justa, livre e democrática. Discorreu sobre sua
atuação em outros processos e perante organismos internacionais.
Juntou documentos (evento 36, docs. 02/04).

Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social


postulou seu ingresso na lide na condição de Amicus Curiae (evento 37).
Discorreu sobre o instituto. Alegou a presença dos pressupostos de
admissão: relevância da matéria, especificidade do tema e repercussão
social da demanda. Salientou ser uma organização da sociedade civil,
sem fins lucrativos e econômicos, constituída desde 2003, que atua pelo
direito à comunicação, pela democratização do sistema de comunicação
brasileiro e pela liberdade de expressão no país. Ressaltou haver
participado de debates durante a formulação do marco civil da internet.
Teceu comentário sobre a sua atuação em outros processos judiciais,
debates públicos e entidades. Juntou documentos (evento 37, docs.
02/05).

Rejeitou-se a preliminar de falta de interesse processual e


deu-se vista às partes das petições acostadas em observância ao
contraditório (evento 39).

O demandante postulou a majoração da multa em razão do


descumprimento da tutela provisória, bem como a rejeição das
intervenções de terceiros. Outrossim, acostou documentos (evento 44).
Por sua vez, o demandado (evento 46) ressaltou a ausência de

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descumprimento injustificado da liminar, pugnou pelo indeferimento do


pedido de majoração da multa, bem como anuiu com o ingresso dos
terceiros.

O demandado informou que está preparado para fornecer


os dados solicitados, no entanto requereu que as informações
permaneçam sob abrigo do segredo de justiça. Postulou esclarecimentos
sobre o nível de sigilo a ser atribuído aos dados, pois o nível 2 permite
acesso aos usuários internos, advogados, partes e terceiros, desde que
munidos da chave do processo (evento 45).

Sobreveio manifestação do demandante (evento 48)


referindo que voltou a ser vítima de ações ilegais por meio do perfil
Sleeping Giants Brasil. Pugnou pela exclusão das postagens. Juntou
documento.

O demandado acostou dados, reiterou a ausência de dever


de fornecimento da porta lógica e ratificou a necessidade de sigilo
(evento 49).

Os pedidos de intervenção de terceiros foram todos


indeferidos, amicus curiae e assistência simples. Esclareceu-se que a
atribuição de nível 4 de sigilo aos documentos acostados pelo
demandado é adequado, pois somente confere acesso ao público
externo, inclusive partes e advogados, por meio de permissão expressa
da unidade, além de restringir o acesso interno aos documentos.
Determinou-se vista ao demandante dos documentos acostados pelo
demandado no evento 49, consignando-se que as informações estão ao
abrigo do Segredo de Justiça, sendo vedada a divulgação ou utilização
de qualquer forma, inclusive pela parte autora, salvo para instruir
inquérito ou processo judicial. Concedeu-se a permissão de acesso aos
documentos sigilosos somente para advogados das duas partes.
Determinou-se o cadastramento dos advogados dos terceiros e sua
intimação. Após, determinou-se a conclusão para sentença (evento 51).

O demandante ressaltou que, em 12/12/2020, conforme


amplamente divulgado pela mídia, os supostos responsáveis pelos perfis
anônimos decidiram se revelar, Leonardo de Carvalho Leal e Mayara
Stell. Destacou que o sigilo sobre os dados fornecidos limita a utilidade,
pois o demandante precisa contratar profissional especializado para
averiguar as informações acostadas e identificar os usuários. Requereu a
revogação do sigilo. Pugnou pela determinação de juntada pelo
demandado de informações relativas eventuais outros perfis que os IPs
acessaram do evento 49 acessaram, indicando os nomes dos usuários e
momento de acesso. Juntou documentos (evento 64).

Indeferiu-se o pedido de novos dados formulados pelo


demandante. Indeferiu-se o pedido de levantamento do sigilo,
esclarecendo-se que, caso necessário, o demandante pode postular
autorização de acesso de expert aos dados fornecidos pelo réu, mediante

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assinatura de termo de confidencialidade. Concedeu-se 15 dias para o


demandante formular o pedido e acostar o termo. No silêncio,
determinou-se a conclusão para prolação de sentença (evento 66).

O demandante apresentou embargos de declaração (evento


70), que foram acolhidos parcialmente a fim de sanar omissão
consistente na necessidade de majoração da astreintes cominada quando
deferimento da tutela provisória. Determinou-se a parte demandada
para, em 20 dias, cumprir a integralidade da tutela provisória,
mormente, fornecer os dados referentes às portas lógicas
correlacionadas aos IP's responsáveis pelas contas Sleeping Giants
Brasil - (@slpng_giants_pt) e Sleeping Giants Rio Grande do Sul
(@slpng_giants_RS), sob pena de multa de R$80.000,00 (evento 75).

O demandante interpôs agravo de instrumento, nº


5052572-03.2021.8.21.7000 (evento 83), que foi parcialmente provido a
fim de autorizar que a parte efetue a análise da prova produzida por
profissional de sua confiança, autorização condicionada a comprovação
dos dados do profissional e a comprovação de sua habilitação;
esclarecer ser desnecessária a retirada segredo de justiça do processo,
bastando apenas fornecer acesso ao profissional; e majorar as astreintes
para R$ 100.000,00 por dia de descumprimento. Os embargos de
declaração não prosperaram (evento 96). Ainda não se materializou o
trânsito em julgado.

O demandado ratificou a impossibilidade de juntada das


portas lógicas e ausência de dever de guarda (evento 80). Por sua vez, o
demandante impugnou a ponderação e indicou interesse na produção de
provas (evento 84).

As partes foram instadas acerca do interesse na dilação


probatória (evento 88), sendo que o demandado requereu o julgamento
antecipado (evento 92). O demandante pugnou pela produção de prova
documental consistente na determinação de juntada de dados pelo réu;
bem como prova pericial. Salientou que a análise da necessidade de
outras provas depende do cumprimento integral da tutela provisória.
Reiterou o pedido de juntada de novas informações (evento 93).

Os autos vieram conclusos para prolação de sentença.

É o relatório. Passo às razões de decidir.

Trata-se de ação cominatória, na qual o demandante


postula a exclusão de diversos tuítes, a exclusão de dois perfis da
plataforma Twitter, Sleeping Giants Brasil (@slpng_giants_pt) e
Sleeping Giants Rio Grande do Sul (@slpng_giants_RS), bem como
pretende a exibição de informações relativas aos dois perfis a fim de
identificar os responsáveis pela criação e manutenção das contas.

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A única preliminar suscitada, falta de interesse processual


em relação ao Sleeping Giants Rio Grande do Sul (@slpng_giants_RS),
foi devidamente analisada e rejeitada (evento 39). Ademais, os pedidos
de intervenção de terceiro foram todos rejeitados (evento 51).

O pedido de juntada de novas informações, especialmente,


relativas a outros perfis acessados pelos IPs fornecidos pelo demandado,
já foi analisado e rejeitado (eventos 66 e 75). Decisão mantida em
segunda instância, conforme trecho que segue (evento 95):

A decisão do juiz "a quo" não merece reforma.

O pedido para informação de quem teria acessado as


contas não foi efetuado na inicial e, inovação no pedido,
conforme constou na sentença, só pode ser efetuado até a
citação ou após essa com a concordância do réu, nos
termos do art. 329 do CPC, o que não ocorreu no caso
concreto.

Por outro lado, o pedido efetuado é muito amplo e


genérico (todas as contas que acessaram e quando
acessaram) não se configurando em um pedido possível,
de acordo com o 324 do CPC, in verbis:

Art. 324. O pedido deve ser determinado.

§ 1º É lícito, porém, formular pedido genérico:

I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os


bens demandados;

II - quando não for possível determinar, desde logo, as


consequências do ato ou do fato;

III - quando a determinação do objeto ou do valor da


condenação depender de ato que deva ser praticado pelo
réu.

§ 2º O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção.

Desta forma nego provimento ao agravo nesse tópico.


(grifei)

Destarte, descabe nova apreciação da matéria. No que


concerne à prova pericial, entendo desnecessária, sendo viável à parte
demandante promover a diligência de identificação dos usuários de
forma extrajudicial, bastando pedido de autorização de acesso aos
dados, mediante assinatura de termo de confidencialidade  pelo
profissional de sua escolha, situação que já havia sido franqueada pelo
juízo. Sobre isso, relevante destacar que, até a presente data o
demandante não indicou profissional para habilitação nos autos, não
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obstante tenha sido autorizado pelo primeiro grau, no evento 66,


situação confirmada, posteriormente, no Agravo de Instrumento, não
havendo impedimento para pedido de habilitação após a prolação de
sentença.

Note-se que a matéria em discussão é essencialmente de


direito, prescindindo de maior dilação probatória. Nesse passo, o pedido
representa obrigação de fazer, exclusão dos perfis/contas, exclusão de
publicações/tweets e fornecimento de dados, matérias que não exigem a
produção de prova pericial.

Desse modo, não havendo outras questões prévias


pendentes de exame, presentes os pressupostos processuais e condições
da ação, passo ao cotejo do mérito.

Consoante já ressaltado por este juízo, no caso em


comento, o feito versa sobre direitos caros a qualquer democracia e
estado de direito, especialmente, liberdade de expressão, direito à
opinião, direito à honra objetiva e liberdade de imprensa.

A questão do exercício da liberdade de expressão, opinião


e informação, além dos seus limites, é relacionada à ideia de
democracia, tolerância, pluralismo e liberdade. Outrossim, constitui
matéria tormentosa o seu embate com outros direitos fundamentais
como a honra, a imagem, a fama, o nome, dentre os quais não se pode,
prima facie, estabelecer primazia. A espinhosidade do tema é
exacerbada, mormente, porque envolve também o direito fundamental à
liberdade de imprensa.

É nesse contexto que se estabelece uma colisão aparente


de direitos fundamentais, impondo ao intérprete sopesar adequadamente
o fato concreto e aplicar a ponderação para tutelar os direitos em
conflito, sem aniquilar nenhum deles, na medida do possível,
preservando-os em sua maior extensão.

A liberdade de expressão, de pensamento e de opinião,


assim como a liberdade de imprensa são direitos fundamentais, tutelados
pela constituição Federal, vide artigo 5º, incisos IV e IX, e artigo 220:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o


anonimato;

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,


científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença;
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Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a


expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou
veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o
disposto nesta Constituição.

§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir


embaraço à plena liberdade de informação jornalística em
qualquer veículo de comunicação social, observado o
disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.

§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política,


ideológica e artística.

Sobre o tema, cito a lição de André Ramos Tavares (In:


Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020. p. 611/612, 613 e 619):

Na Constituição de 1988, o termo liberdade de expressão


não se reduz ao externar sensações e sentimentos. Ele
abarca tanto a liberdade de pensamento, que se restringe
aos juízos intelectivos, como também o externar
sensações. O acerto dessa afirmação pode ser verificado na
inteligência do próprio art. 5º, IX, da CF, em que há
menção clara e expressa à atividade intelectual: “é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença”.
Nesse sentido, também, ARCHIBALD COX, ao comentar
o primeiro artigo da Bill of Rights americana, acerca da
liberdade de expressão: “O homem ou mulher pensante, de
sensações, o novelista, o poeta ou dramaturgo, o artista, e
especialmente o religioso certamente consideram a
negação à liberdade de expressão como a maior afronta
que pode ser impingida à condição destes como seres
humanos”.

(…)

Em síntese, depreende-se que a liberdade de expressão é


direito genérico que finda por abarcar um sem-número de
formas e direitos conexos e que não pode ser restringido a
um singelo externar sensações ou intuições, com a
ausência da elementar atividade intelectual, na medida em
que a compreende.

Dentre os direitos conexos presentes no gênero liberdade


de expressão podem ser mencionados, aqui, os seguintes:
liberdade de manifestação de pensamento; de
comunicação; de informação; de acesso à informação; de
opinião; de imprensa, de mídia, de divulgação e de
radiodifusão. Esta situação faz com que, na advertência de

Ó
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JÓNATAS MACHADO: “(...) uma construção conceitual


das liberdades comunicativas que consiga circunscrevê-las
de modo geometricamente perfeito, parece-nos, no estado
actual da teorização, impossível, se é que não o será de
todo”.

(…)

A liberdade de expressão exige conhecimento, pois, do


contrário, não será muito o que se poderá pensar. É
liberdade, portanto, que caminha juntamente com o direito
à educação.

Assim, a liberdade de expressão alcança a possibilidade de


adquirir ou de ter acesso aos jornais, periódicos, livros, ao
noticiário da imprensa, seja pelo rádio, seja pela televisão,
e à educação em geral.

Quanto à dimensão instrumental da liberdade de


expressão, conforme já foi mencionado acima, de forma
sintética, “(...) compreende a possibilidade de escolher
livremente o suporte físico ou técnico que se considere
adequado à comunicação que se pretende realizar”.

Em outras palavras, é a possibilidade de eleger o meio


mais adequado para veicular, transmitir as opiniões e
ideias emitidas pelo indivíduo, com a finalidade de que se
atinja certo número de receptores, o que, aliás, está ínsito à
própria ideia de expressão.

(…)

ARCHIBALD COX, em obra específica acerca do tema


liberdade de expressão, professa que “A liberdade de
expressão, apesar de sua fundamentabilidade, não pode
nunca ser absoluta. Em tempos de guerra ou crises
similares, certas publicações podem ameaçar até mesmo a
sobrevivência da Nação. Em qualquer momento,
expressões sem limites podem entrar em conflito com
interesses públicos e privados importantes. Publicações
difamatórias podem, injustamente, invadir o direito à
reputação.

Impugnar a integridade de uma corte pela publicação de


evidências, antes do julgamento, pode ameaçar a
administração da justiça. Obscenidade pode conflitar com
o interesse público pela moralidade. Panfletagem, paradas,
e outras formas de demonstração, e até as próprias
palavras, se permitidas em determinado tempo e local,
podem ameaçar a segurança pública e a ordem,
independente da informação, ideia ou emoção expressada”.
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(…)

Anote-se que a liberdade de expressão, dada sua relevância


inconteste para o desenvolvimento, para a Democracia e
para a conformação humana da pessoa, também merece a
tutela da lei no âmbito da internet, que, atualmente, revela-
se como um dos meios mais significativos de manifestação
intelectual, cultural, artística, social etc. Por essa razão,
surge, em 2014, o Marco Civil da Internet (Lei n. 12.965),
que procura assegurar a liberdade de expressão “virtual” e
também proteger a privacidade do usuário da rede mundial
de computadores. É uma das experiências brasileiras no
sentido de conciliar a liberdade de expressão e privacidade
com a livre iniciativa e concorrência, direitos, todos estes,
fundamentais.

No mesmo passo, o direito à honra é assegurado pela


Constituição Federal, consoante se depreende do artigo 5º, inciso X, que
prevê: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação”.

Com efeito, a Constituição Federal protege os direitos de


personalidade, inclusive alguns relativos às pessoas jurídicas, embora
nem todos lhe sejam outorgados. Nesse sentido, em que pese a pessoa
jurídica não sofrer dor, tristeza como um ser humano e não estar sob o
abrigo dos direitos personalíssimos relativos à integridade física e a
honra subjetiva, elas não estão completamente desamparadas. Admite-se
que as pessoas jurídicas têm direito à proteção de sua imagem e honra
objetiva.

Nesse rumo, leciona Cavalieri Filho (In: Programa de


Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo: Atlas S.A., 2008, p. 97):

Registre-se que a honra tem dois aspectos: o subjetivo


(interno) e o objetivo (externo). A honra subjetiva, que se
caracteriza pela dignidade, decoro e auto-estima, é
exclusiva do ser humano, mas a honra objetiva, refletiva
na reputação, no bom nome e na imagem perante a
sociedade, é comum à pessoa natural e à jurídica. Quem
pode negar que a notícia difamatória pode abalar o bom
nome o conceito e a reputação não só do cidadão, pessoa
física, no meio social, mas também de uma pessoa jurídica,
no mundo comercial? Indiscutivelmente toda empresa tem
que zelar pelo seu bom nome comercial. (…)

Ademais, após a Constituição de 1998 a noção do dano


moral não mais se restringe à dor, sofrimento, tristeza etc.,
como se depreende do art. 5º, X, ao estender sua
abrangência a qualquer ataque ao nome ou a imagem da

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pessoa física ou jurídica, com vistas a reguardar sua


credibilidade e respeitabilidade. Pode-se, então, dizer que,
em sua concepção atual a honra é o conjunto de predicados
e condições de uma pessoa, física ou jurídica, que lhe
conferem consideração e credibilidade social; é o valor
moral e social da pessoa que a lei protege ameaçando de
sanção penal e civil a quem a ofende por palavras ou atos.

Percebe-se, pois, a proeminência e o elevado valor dos


direitos objeto da lide.

De início, adianto, o pedido de exclusão das duas contas da


plataforma Twitter, bem como a pretensão de exclusão das publicações
(tweets) não merecem prosperar.

O jornal demandante fundamenta os dois pedidos na


ofensa a sua honra objetiva, sustentando que a atuação das contas é
difamatória à medida que imputa ao jornal manutenção de editorial
disseminador de fake news, atentatório à democracia e promotor de
discurso de ódio. A ponderação é ratificada pelos documentos acostado
com a inicial (evento 01), colaciono recortes a título exemplificativo:

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Assim como descabe ao Poder Judiciário empreender


patrulha ideológica sobre publicações do autor e tolher a liberdade de
imprensa ou emissão de opinião crítica pelo jornal demandante, é
inadmissível a repressão à liberdade de expressão e pensamento das
contas mantidas na plataforma gerenciada pelo demandado,
especialmente, se realizada de forma indireta, por meio de
determinações dirigidas à plataforma que hospeda os perfis, pois
suprimiria situação fundamental de possibilitar aos perfis autores das
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postagens a manifestação acerca de eventual adequação de sua conduta


dentro do suporte fático do direito fundamental da liberdade de
expressão.

Cito precedentes do STF sobre a relevância da liberdade


de expressão:

CONSTITUCIONAL. AGRAVO INTERNO NA


RECLAMAÇÃO. DETERMINAÇÃO DE SUSPENSÃO
DA PUBLICAÇÃO, DIVULGAÇÃO E
COMERCIALIZAÇÃO DE OBRA LITERÁRIA.
CONFIGURAÇÃO DE CENSURA PRÉVIA.
VIOLAÇÃO À ADPF 130. RECLAMAÇÃO JULGADA
PROCEDENTE. RECURSO DE AGRAVO A QUE SE
NEGA PROVIMENTO. 1. A Constituição protege a
liberdade de expressão no seu duplo aspecto: o positivo,
que é exatamente "o cidadão pode se manifestar como
bem entender", e o negativo, que proíbe a ilegítima
intervenção do Estado, por meio de censura prévia. 2.
A liberdade de expressão, em seu aspecto positivo,
permite posterior responsabilidade civil e criminal pelo
conteúdo difundido, além da previsão do direito de
resposta. No entanto, não há permissivo constitucional
para restringir a liberdade de expressão no seu sentido
negativo, ou seja, para limitar preventivamente o
conteúdo do debate público em razão de uma
conjectura sobre o efeito que certos conteúdos possam
vir a ter junto ao público. 3. Desse modo, a decisão
judicial, que determinou “a suspensão da publicação,
divulgação e comercialização de obra literária”, impôs
censura prévia, cujo traço marcante é o “caráter
preventivo e abstrato” de restrição à livre manifestação
de pensamento, que é repelida frontalmente pelo texto
constitucional, em virtude de sua finalidade
antidemocrática, e configura, de maneira inequívoca,
ofensa à ADPF 130 (Rel. Min. AYRES BRITTO, Pleno,
DJe de 6/11/2009). Precedentes. 4. Logo, ratifica-se, o
entendimento aplicado, de modo a manter, em todos os
seus termos, a decisão agravada. 5. Recurso de agravo a
que se nega provimento. (Rcl 38201 AgR, Relator(a):
ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado
em 21/02/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-047
DIVULG 05-03-2020 PUBLIC 06-03-2020) – grifei.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


ARTS. 20 E 21 DA LEI N. 10.406/2002 (CÓDIGO
CIVIL). PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA
REJEITADA. REQUISITOS LEGAIS OBSERVADOS.
MÉRITO: APARENTE CONFLITO ENTRE
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: LIBERDADE DE
Í
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EXPRESSÃO, DE INFORMAÇÃO, ARTÍSTICA E


CULTURAL, INDEPENDENTE DE CENSURA OU
AUTORIZAÇÃO PRÉVIA (ART. 5º INCS. IV, IX, XIV;
220, §§ 1º E 2º) E INVIOLABILIDADE DA
INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E IMAGEM
DAS PESSOAS (ART. 5º, INC. X). ADOÇÃO DE
CRITÉRIO DA PONDERAÇÃO PARA
INTERPRETAÇÃO DE PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL. PROIBIÇÃO DE CENSURA
(ESTATAL OU PARTICULAR). GARANTIA
CONSTITUCIONAL DE INDENIZAÇÃO E DE
DIREITO DE RESPOSTA. AÇÃO DIRETA JULGADA
PROCEDENTE PARA DAR INTERPRETAÇÃO
CONFORME À CONSTITUIÇÃO AOS ARTS. 20 E 21
DO CÓDIGO CIVIL, SEM REDUÇÃO DE TEXTO. 1. A
Associação Nacional dos Editores de Livros - Anel
congrega a classe dos editores, considerados, para fins
estatutários, a pessoa natural ou jurídica à qual se atribui o
direito de reprodução de obra literária, artística ou
científica, podendo publicá-la e divulgá-la. A correlação
entre o conteúdo da norma impugnada e os objetivos da
Autora preenche o requisito de pertinência temática e a
presença de seus associados em nove Estados da
Federação comprova sua representação nacional, nos
termos da jurisprudência deste Supremo Tribunal.
Preliminar de ilegitimidade ativa rejeitada. 2. O objeto da
presente ação restringe-se à interpretação dos arts. 20 e 21
do Código Civil relativas à divulgação de escritos, à
transmissão da palavra, à produção, publicação, exposição
ou utilização da imagem de pessoa biografada. 3. A
Constituição do Brasil proíbe qualquer censura. O
exercício do direito à liberdade de expressão não pode
ser cerceada pelo Estado ou por particular. 4. O direito
de informação, constitucionalmente garantido, contém
a liberdade de informar, de se informar e de ser
informado. O primeiro refere-se à formação da opinião
pública, considerado cada qual dos cidadãos que pode
receber livremente dados sobre assuntos de interesse da
coletividade e sobre as pessoas cujas ações, público-
estatais ou público-sociais, interferem em sua esfera do
acervo do direito de saber, de aprender sobre temas
relacionados a suas legítimas cogitações. 5. Biografia é
história. A vida não se desenvolve apenas a partir da
soleira da porta de casa. 6. Autorização prévia para
biografia constitui censura prévia particular. O
recolhimento de obras é censura judicial, a substituir a
administrativa. O risco é próprio do viver. Erros
corrigem-se segundo o direito, não se coartando liberdades
conquistadas. A reparação de danos e o direito de resposta
devem ser exercidos nos termos da lei. 7. A liberdade é
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constitucionalmente garantida, não se podendo anular


por outra norma constitucional (inc. IV do art. 60),
menos ainda por norma de hierarquia inferior (lei
civil), ainda que sob o argumento de se estar a
resguardar e proteger outro direito
constitucionalmente assegurado, qual seja, o da
inviolabilidade do direito à intimidade, à privacidade, à
honra e à imagem. 8. Para a coexistência das normas
constitucionais dos incs. IV, IX e X do art. 5º, há de se
acolher o balanceamento de direitos, conjugando-se o
direito às liberdades com a inviolabilidade da
intimidade, da privacidade, da honra e da imagem da
pessoa biografada e daqueles que pretendem elaborar
as biografias. 9. Ação direta julgada procedente para
dar interpretação conforme à Constituição aos arts. 20
e 21 do Código Civil, sem redução de texto, para, em
consonância com os direitos fundamentais à liberdade
de pensamento e de sua expressão, de criação artística,
produção científica, declarar inexigível autorização de
pessoa biografada relativamente a obras biográficas
literárias ou audiovisuais, sendo também desnecessária
autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes
(ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas ou
ausentes). (ADI 4815, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA,
Tribunal Pleno, julgado em 10/06/2015, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC
01-02-2016) – grifei.

Direito Constitucional. Agravo regimental em reclamação.


Liberdade de expressão. Decisão judicial que determinou a
retirada de matéria jornalística de sítio eletrônico. Afronta
ao julgado na ADPF 130. Procedência. 1. O Supremo
Tribunal Federal tem sido mais flexível na admissão de
reclamação em matéria de liberdade de expressão, em
razão da persistente vulneração desse direito na cultura
brasileira, inclusive por via judicial. 2. No julgamento da
ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de
publicações jornalísticas, bem como tornou excepcional
qualquer tipo de intervenção estatal na divulgação de
notícias e de opiniões. 3. A liberdade de expressão
desfruta de uma posição preferencial no Estado
democrático brasileiro, por ser uma pré-condição para
o exercício esclarecido dos demais direitos e liberdades.
4. Eventual uso abusivo da liberdade de expressão deve
ser reparado, preferencialmente, por meio de
retificação, direito de resposta ou indenização. Ao
determinar a retirada de matéria jornalística de sítio
eletrônico de meio de comunicação, a decisão reclamada
violou essa orientação. 5. Reclamação julgada procedente.
(Rcl 22328, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Primeira
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Turma, julgado em 06/03/2018, PROCESSO


ELETRÔNICO DJe-090 DIVULG 09-05-2018 PUBLIC
10-05-2018) – grifei.

É inequívoco o valor fundamental da liberdade de


expressão e de informação do jornal demandante, assim como a
essencialidade do direito de expressão e de crítica dos mantenedores dos
perfis no Twitter.

Veja-se que uma sociedade verdadeiramente democrática


não é compatível com discursos estéreis e absolutamente uníssonos,
sendo imperativo o incentivo à tolerância, à pluralidade de opiniões, ao
debate aberto e profundo sobre os temas em destaque.

Nos últimos anos, lamentavelmente, o acirramento dos


ânimos e polarização política vem minando a democracia brasileira,
dificultando uma discussão verdadeira sobre diversos temas tão caros à
nação, não sendo inusitado afirmar que por vezes ambos os lados
sustentam argumentos em discursos de ódio e pretensão de aniquilação
das vozes adversas, situação que não deve se perpetuar.

No caso concreto, há indícios de ofensa a honra do


demandante, especialmente, pela presença de imputações genéricas de
qualidades pejorativas ao jornal, situação que dificulta uma resposta às
acusações pelo demandante, bem como análise da exceção da verdade.

Ocorre que a medida de exclusão das publicações e


cancelamento das contas afigura-se excessiva. Note-se que, na mesma
proporção que o jornal deve possuir liberdade na adoção da sua linha
editorial, a população deve poder efetuar “denúncias” e emitir opiniões
críticas sobre as matérias jornalísticas veiculadas.

Em caso de eventual abuso de direito, cabe ao jornal


promover ações reparatórias em face dos responsáveis, o que,
evidentemente, demanda sua identificação, conforme se analisará a
seguir.

Sobre a ponderação, razoabilidade e proporcionalidade,


cito a lição de Luís Roberto Barroso (In: Curso de direito constitucional
contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo
modelo. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 510/516):

Direitos fundamentais, como visto, encontram limites


externos, representados por outros direitos fundamentais e
por interesses coletivos protegidos constitucionalmente,
inscritos na Constituição sob a forma de princípios ou de
fins públicos. Para protegê-los e conciliá-los, admite-se a
atuação do legislador – mediante leis que restringem o
exercício de direitos – e do Judiciário, ao ponderar colisões
em casos concretos. Tanto a legislação quanto a
ponderação estão sujeitas aos princípios ou máximas da
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proporcionalidade e da razoabilidade. Algumas


Constituições preveem, como limite à restrição de direitos
– i.e., como “limite dos limites”, como se refere a doutrina
alemã questão. Não há previsão expressa na Constituição
brasileira nesse sentido – a preservação do núcleo
essencial do direito em, mas parece implícito no sistema
constitucional que se um direito for restringido na sua
essência, ele terá deixado de ser protegido. A questão
envolve complexidades e sutilezas. Antes de se enfrentar o
tema específico do núcleo essencial, convém reavivar,
sumariamente, dois conceitos instrumentais básicos a ele
associados: a ponderação e a proporcionalidade.

1 A ponderação

A ponderação é a técnica que o Direito concebeu para lidar


com as tensões e colisões de direitos fundamentais entre si
ou entre eles e outros bens jurídicos relevantes, protegidos
constitucionalmente. Trata-se, não de um critério material
para a solução de problemas, mas de um itinerário lógico
de raciocínio, destinado a dar racionalidade e transparência
à construção argumentativa feita pelo intérprete. A
ponderação consiste em atribuir pesos diferentes aos
elementos jurídicos e factuais em questão, de modo a
definir qual direito, bem jurídico ou princípio terá
precedência na situação concreta em exame.
Consequentemente, ela não tem nem a pretensão nem a
capacidade de eliminar a subjetividade do intérprete. O
que ela faz é explicitar o percurso lógico decisório. Há
diferentes modos de se desenvolver o raciocínio
ponderativo. Um deles, alinhavado por mim e por Ana
Paula de Barcellos, consiste em um processo desenvolvido
pelo intérprete em três fases: (i) na primeira, ele identifica
as normas que postulam incidência sobre o caso concreto;
(ii) na segunda, ele identifica os fatos relevantes; e (iii) na
terceira, testa as soluções possíveis, atribuindo pesos aos
diversos elementos em disputa, na busca da solução
constitucionalmente mais adequada. Para tanto, ele
deverá fazer concessões recíprocas, com vistas a
harmonizar os interesses em jogo, com o menor
sacrifício possível dos princípios envolvidos. Em muitas
situações, porém, será inevitável que ele realize escolhas
fundamentadas, decidindo qual interesse prevalecerá
integralmente, com sacrifício do outro.

(…)

A razoabilidade passou a expressar um conceito material


de justiça, de não arbítrio ou capricho, de racionalidade e
justificação dos atos do Poder Público. Sua invocação se

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dá de forma mais difusa, sem maior detalhamento quanto


ao conteúdo e elementos. Não é razoável, por exemplo:
pagar gratificação de férias a servidor inativo; exigir a
pesagem do botijão de gás no ato da venda ao consumidor;
cobrar contribuição previdenciária de servidor sobre verba
que não integrará sua aposentadoria. Há um desencontro
entre meio e fim, entre causa e efeito, entre intenção e
resultado.

A proporcionalidade, por sua vez, evoluiu, sobretudo,


como um mecanismo instrumental para aferir a
legitimidade das restrições a direitos fundamentais.
Referida como princípio, máxima ou postulado, ela se
tornou um mecanismo de controle dividido em três etapas,
nas quais se vai verificar: (i) a adequação de uma medida
para produzir determinado resultado (idoneidade do meio
para realizar o fim visado), (ii) a necessidade da
providência, sendo vedado o excesso (se houver meio
menos gravoso para atingir o mesmo fim é ilegítimo o
emprego do meio mais gravoso) e (iii) a proporcionalidade
em sentido estrito, pela qual se afere se o fim justifica o
meio, vale dizer, se o que se ganha é mais valioso do que
aquilo que se sacrifica. Alguns autores denominam essa
terceira etapa de razoabilidade, porque esta é a parte
verdadeiramente substantiva e valorativa da justiça da
ponderação. Como se vê, a linguagem será sempre produto
de uma convenção.

Uma observação complementar: quando atua como


mecanismo de controle das restrições a direitos
fundamentais, uma das manifestações do princípio da
proporcionalidade consiste na vedação do excesso, como
visto acima. Porém, ao lado dos deveres de abstenção e de
autocontenção, o Estado também tem deveres de atuação
para a defesa e promoção dos direitos fundamentais.
Nesses casos, o princípio da proporcionalidade se
manifesta sob a forma de vedação da proteção deficiente,
exigindo do Estado comportamentos mínimos
obrigatórios. Em outras palavras: os direitos fundamentais
impõem (i) obstáculos à atuação do Estado – hipótese em
que a proporcionalidade funciona como régua para medir a
constitucionalidade das medidas restritivas ao seu âmbito
de proteção; e (ii) deveres de atuação do Estado – situação
em que a proporcionalidade opera como medida de
fiscalização da omissão ou da atuação deficiente ou
insuficiente. Também nesta segunda hipótese se aplica o
teste tríplice da adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito, para aferir o impacto

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da medida que se quer exigir. O princípio da


proporcionalidade, portanto, apresenta-se com “dupla
face”, vedando tanto o excesso quanto a insuficiência.

3 Núcleo essencial do direito

O conceito de núcleo essencial é bastante intuitivo: ele


corresponde à parcela mínima do direito fundamental que
não pode ser suprimida, sob pena de se ter de reconhecer
que o direito foi violado. Apesar de soar relativamente
óbvia, a ideia de núcleo essencial constitui um rótulo
vistoso para produto de difícil elaboração e utilidade
limitada. As diversas construções doutrinárias que buscam
equacionar as complexidades e os impasses associados ao
tema podem ser agrupadas nas seguintes teorias: (i)
objetiva e subjetiva; e (ii) absoluta e relativa. Não é o caso
de se aprofundarem especulações abstratas, quando não
metafísicas, sobre a questão. As breves reflexões que se
seguem estão concentradas na atuação concreta de
legisladores e órgãos judiciais na aplicação dos direitos
fundamentais.

(…)

Porém, no plano subjetivo não será assim. Nos casos de


ponderação judicial para resolução de conflitos de
interesses, há múltiplas situações em que não é possível a
concordância prática entre dois direitos, mediante
concessões recíprocas. O intérprete, assim, terá que fazer
uma escolha sobre qual prevalecerá. Quando se assegura a
divulgação de uma obra biográfica com fatos
desabonadores sobre alguém, o direito de imagem foi
sacrificado. Quando se faz exame de DNA na placenta da
mãe, para excluir a paternidade de alguém que havia sido
acusado de estupro, o direito de privacidade foi suprimido.
Como conciliar, então, o conceito de núcleo essencial com
tais possibilidades de supressão integral do direito em
situações concretas?

À vista das premissas delineadas acima, afigura-se


inevitável reconhecer que o núcleo essencial de um direito
fundamental pode ser esboçado em abstrato, mas só pode
ser definido concretamente. Em última análise, portanto, a
opção pela teoria relativa significa que a garantia do
núcleo essencial termina sendo a exigência de justificação
adequada para a restrição. E como se faz tal justificação?
Pela ponderação, guiada pelo princípio da
proporcionalidade. Não por outra razão, o núcleo essencial
do direito fundamental tem sido definido como o produto
da ponderação. Em conclusão: o núcleo essencial do

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direito é um conceito útil, mas de autonomia apenas


relativa, porque, frequentemente, será secundário à
proporcionalidade. Ele deve ser levado em conta pelo
intérprete, que tem o dever de procurar preservar a
essência mínima do direito. Mas é inevitável admitir que,
em certos casos, ao final do processo de ponderação,
pouco ou nada restará dele.

Veja-se que excluir os dois perfis significaria


inequivocamente o esfacelamento integral do direito à liberdade de
expressão dos responsáveis pelas contas, o que não se pode admitir.
Ademais, a exclusão de todos as publicações indicadas pelo demandante
nos autos afigura-se medida excessiva, vez que o pleito indenizatório se
adéqua melhor a preservação do núcleo de todos direitos fundamentais
envolvidos no caso concreto.

Extrai-se das balizas de julgados do STF e do STJ, que a


liberdade de expressão, compreendendo a informação, opinião e crítica
jornalística, por não ser absoluta, encontra algumas limitações ao seu
exercício, compatíveis com o regime democrático, quais sejam: (I) o
compromisso ético com a informação verossímil; (II) a preservação dos
chamados direitos da personalidade, entre os quais incluem-se os
direitos à honra, à imagem, à privacidade e à intimidade; e (III) a
vedação de veiculação de crítica jornalística com intuito de difamar,
injuriar ou caluniar a pessoa (animus injuriandi vel diffamandi).

Como afirmam as cortes superiores, mostra-se


recomendável que se dê prevalência à liberdade de expressão, de
informação e de crítica, como preço a pagar no Estado Democrático.
Dita prevalência deve ceder somente quando forem superados os limites
acima elencados, ou quando claramente violado o dever ético da
veracidade do discurso, na linha de Habermmas.

Nesse diapasão, não obstante ser questionável a forma


adotada pelas contas para o exercício do direito, genérica e massiva,
deve-se privilegiar a liberdade de expressão dos perfis apontados pelo
autor.

Em suma, não obstante os indícios de conduta abusiva


pelas duas contas, Sleeping Giants Brasil (@slpng_giants_pt) e
Sleeping Giants Rio Grande do Sul (@slpng_giants_RS), mormente,
em razão da imputação genérica de qualidades inequivocamente
negativas ao jornal, entendo que a exclusão dos tweets e dos perfis
propriamente ditos é desproporcional, sendo suficiente a reparação
pecuniária em caso de danos materiais ou morais, situação a ser
averiguada em ação própria, com a participação dos responsáveis
pelas contas e emissores das publicações, não em face do provedor
de aplicação, mero veículo de publicação da mensagem. Assim,
improcedentes os dois pedidos de exclusão.

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Por outro lado, a fim de viabilizar o acesso ao


judiciário pelo jornal, o pedido de exibição de informações e dados
relativos aos dois perfis merece prosperar.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, da ONU,


de 1948, definiu, expressamente, em seus artigos 8 e 10, que:

Art. 8. Toda pessoa tem direito a um recurso efetivo


perante as jurisdições nacionais competentes contra os que
violam os direitos fundamentais que lhe são reconhecidos
pela constituição e pela lei.

Art. 10. Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a


que a sua causa seja ouvida equitativamente e
publicamente por um tribunal independente e imparcial,
que decidirá seja de seus direitos e obrigações, seja da
legitimidade de toda acusação em matéria penal dirigida
contra ela.

No mesmo rumo, o artigo 5º, inciso XXXV, da CF, prevê


“a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”.

No ponto, ressalta Alexandre Freitas Câmara (In: Lições


de Direito Processual Civil. 25. edição. São Paulo: Editora Atlas S.A.,
2014. p. 57/58):

Tal afirmação significa o seguinte: se a Constituição


garante a todos o direito de acesso ao Judiciário, a tal
direito deve corresponder – e efetivamente corresponde –
um dever jurídico, o dever do Estado de tutelar as posições
jurídicas de vantagem que estejam realmente sendo lesadas
ou ameaçadas. Tal tutela a ser prestada pelo Estado,
porém, não pode ser meramente formal, mas
verdadeiramente capaz de assegurar efetividade ao direito
material lesado ou ameaçado para o qual se pretende
proteção. Em outras palavras, ao direito que todos têm de
ir a juízo pedir proteção para posições jurídicas de
vantagem lesadas ou ameaçadas corresponde o dever do
Estado de prestar uma tutela jurisdicional adequada.23 Tal
afirmação levou a uma revitalização do disposto no art. 75
do Código Civil de 1916, segundo o qual “a todo direito
corresponde uma ação, que o assegura”. Esse dispositivo,
que originariamente tinha uma concepção imanentista,
passou a ser inteiramente despido de tal roupagem
civilista, para que se pudesse ver na referida norma uma
garantia de que a todo direito substancial deveria
corresponder uma forma de tutela jurisdicional (“ação”)
adequada a assegurá-lo. Infelizmente, o Código Civil de
2002, responsável pela revogação do Código de 1916, não

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reproduz tal dispositivo. Isso, todavia, não é capaz de


infirmar a existência de uma regra geral criadora de um
sistema completo de tutela jurisdicional, ou seja, de um
sistema em que é cabível a prestação de tutelas
jurisdicionais atípicas. Em outras palavras, continua a
vigorar no Direito brasileiro a regra de que a todo direito
substancial corresponde um remédio processual capaz de
assegurá-lo, uma vez que o Có-digo Civil de 2002 faz
referência, em seus arts. 80, I, e 83, II e III, aos direitos
reais e pessoais e às “ações” que lhes são correspondentes.
Significa isso dizer que, não obstante o desaparecimento
da regra constante do art. 75 do Código Civil de 1916,
continua válido afirmar que “a todo direito corresponde
uma ação, que o assegura”.

O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional,


pois, tem como corolário o direito, por ele assegurado, à
tutela jurisdicional adequada, devendo ser considerada
inconstitucional qualquer norma que impeça o Judiciário
de tutelar de forma efetiva os direitos lesados ou
ameaçados que a ele são levados em busca de proteção.
Volta-se, com isso, à questão das normas que proíbem
indiscriminadamente a concessão de liminares. Ao vedar a
tutela liminar de direitos, a lei impedirá a prestação de uma
tutela jurisdicional adequada (aliás, a única
verdadeiramente adequada a proteger o direito de uma
ameaça). Assim sendo, por vedar a tutela jurisdicional
adequada ao caso concreto, tal norma proibitiva de
concessão de liminares deve ser tida por inconstitucional,
por contrariar o princípio da inafastabilidade do controle
jurisdicional, nessa sua segunda manifestação, em que
aparece como destinatário da norma o magistrado (e não
apenas o legislador).

Dessa forma, a fim de observar o princípio da


inafastabilidade da jurisdição e materializar o acesso à justiça,
imperativa a identificação dos responsáveis pelos perfis.

Ademais, o Marco Civil da Internet, lei nº 12.965/2014,


responsabilizou os próprios usuários pelo conteúdo publicado,
isentando, via de regra, os provedores de conexão e de aplicação pelas
publicações de terceiros, dos seus usuários. Colaciono o artigo 3º e 18:

Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os


seguintes princípios:

I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e


manifestação de pensamento, nos termos da Constituição
Federal;

https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=11643226919517830604843754121&evento=82100… 23/55
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II - proteção da privacidade;

III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;

VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas


atividades, nos termos da lei;

Art. 18. O provedor de conexão à internet não será


responsabilizado civilmente por danos decorrentes de
conteúdo gerado por terceiros.

Destarte, se o jornal demandante não pode acionar o


próprio demandado em razão dos conteúdos postados pelos dois perfis,
não resta outra via ao jornal que não buscar a identificação dos
responsáveis pela criação e manutenção das contas.

Impedir acesso aos dados e informações, no caso concreto,


implicaria indevida restrição de acesso ao judiciário pelo jornal a fim de
buscar reparação dos danos alegadamente suportados.

Por oportuno, destaco que o demandante exerce atividade


jornalística, ao contrário dos mantenedores dos perfis objeto da lide.
Não se olvida que a atuação do demandante e seu sócio foi objeto de
pedido de inclusão na investigação da comissão parlamentar de
inquérito, denominada CPMI das Fake News, bem como que, segundo
reportagens de checagem de grandes órgãos da imprensa como Estadão,
Uol e Globo, o periódico do autor haveria publicado fake news em
algumas ocasiões. Essas situações, por si só, não podem levar à
conclusão de que cabe aos perfis do Sleeping Giants adotar as medidas
de aniquilamento da atividade profissional do autor, tal como a
desmonetização. Se comprovadas as publicações de fake news,
mediante os procedimentos jurídicos pertinentes, deverá ser
responsabilizado o autor. O que se quer dizer é que a legislação
brasileira aponta os meios de eventual coibição de  excessos do autor,
que não passam necessariamente pelas campanhas de desmonetização
dos perfis do Sleeping Giants.

Nessa toada, a identificação dos responsáveis pelo jornal e


do jornal em si permitem que medidas sejam tomadas pelas vítimas em
caso de abuso ou prática de ilícitos, sendo que a manutenção do
anonimato dos responsáveis pelas contas do Twitter inviabiliza
diligências diretas pelas eventuais vítimas na hipótese de abuso.

Conforme já explanado, há indícios de abuso de direito na


forma de veiculação das mensagens pelos dois perfis, absolutamente
genéricas. Além disso, o intuito das publicações é a desmonetização do
jornal, fato reconhecido expressamente pelas contas, o que caracteriza
potencial de violação à liberdade de imprensa. Segue recorte sobre o
tema:

https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=11643226919517830604843754121&evento=82100… 24/55
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Desse modo, entendo que houve o implemento dos


requisitos do artigo 22, do Marco Civil da Internet:

Art. 22. A parte interessada poderá, com o propósito de


formar conjunto probatório em processo judicial cível ou
penal, em caráter incidental ou autônomo, requerer ao juiz
que ordene ao responsável pela guarda o fornecimento de
registros de conexão ou de registros de acesso a aplicações
de internet.

Parágrafo único. Sem prejuízo dos demais requisitos


legais, o requerimento deverá conter, sob pena de
inadmissibilidade:

I - fundados indícios da ocorrência do ilícito;

II - justificativa motivada da utilidade dos registros


solicitados para fins de investigação ou instrução
probatória; e

III - período ao qual se referem os registros.

Outrossim, não se pode olvidar que, como corolário do


princípio da boa-fé, é vedado ao terceiro interferir na execução dos
contratos, situação que fortalece os indícios de ilícito civil.

O princípio da boa-fé exige que todo cidadão mantenha


conduta condizente com os padrões éticos do meio social. Nesse
diapasão, a boa-fé objetiva no âmbito dos contratos possui tríplice
função: otimizar o comportamento contratual, isto é, a interpretação do
contrato deve priorizar a satisfação dos interesses das partes, o conteúdo
volitivo do contrato, não a literalidade do pacto; limitadora, que impede
o abuso de direito, isto é, a extrapolação dos limites da finalidade
econômica ou social do ato; e integradora do contrato, fundando deveres
de conduta a fim de promover o fiel cumprimento da obrigação
assumida.

Ainda, importante frisar que deflui do princípio da boa-fé


objetiva a obrigação de terceiros respeitarem o ajuste de vontades dos
contratantes, em outras palavras, surge o dever geral de agir segundo a
boa-fé, dever de não lesar, neminem laedere.

https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=11643226919517830604843754121&evento=82100… 25/55
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Sobre o tema, cito a lição de Nelson Rosenvald (In:


Dignidade humana e a boa-fé no código civil. 1. ed. São Paulo: Saraiva,
2005, p.116):

(…) a necessidade de preservar a ordem econômica e a


fidelidade às convenções demanda que terceiros se
abstenham de violar contratos em andamento. O abuso no
exercício da liberdade contratual gera responsabilidade de
quem induz outrem à violação do contrato. A colaboração
em grau mínimo da sociedade já é suficiente para
preservar a confiança na circulação econômica de créditos.

Percebe-se que a boa-fé impõe um dever geral de não


interferência, exigindo de terceiros que respeitem as relações jurídicas
constituídas validamente e permitidas no ordenamento jurídico, dessa
forma, limitando a liberdade de agir.

In casu, depreende-se que o comportamento dos dois


perfis interferiu negativamente nos contratos do jornal demandante,
inclusive ensejando a extinção da relação jurídica havida entre o jornal e
empresas anunciantes, o que, ao menos teoricamente, pode ensejar
ilícito civil, cuja apuração deve ser viabilizada em ação própria por meio
da identificação dos mantenedores das contas na rede social.

https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=11643226919517830604843754121&evento=82100… 26/55
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https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=11643226919517830604843754121&evento=82100… 27/55
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Antônio Junqueira de Azevedo, na década de 90, publicou


um parecer acerca da responsabilidade civil do terceiro. Cito os
principais trechos (In: Estudos e pareceres de direito privado. Os
princípios do atual direito contratual e a desregulamentação do mercado.
Direito de exclusividade nas relações contratuais de fornecimento.
Função social do contrato e responsabilidade aquiliana do terceiro que
contribui para inadimplemento contratual. São Paulo: Saraiva, 2004):

1 - Consulta-nos o Escritório de Advocacia "X", patrono


da Companhia Distribuidora de Petróleo "Oil" (nome
fantasia), sobre situação prejudicial à sua cliente, criada
por outras distribuidoras de combustíveis que, sem
nenhum contrato com a "Oil", procuram, e conseguem,
comercializar seus

produtos com postos revendedores, publicamente


identificados como postos de serviços "Oil". Acrescenta a
interessada, diretamente, através de seu departamento
jurídico, indagação sobre se há regras legais violadas pelas
distribuidoras "atravessadoras", na quebra da
exclusividade garantida pelas relações contratuais de
fornecimento entre a "Oil" e seus postos revendedores.

(...)

São três os princípios do direito contratual que vêm do


século passado; giram eles em torno da autonomia da
vontade e assim se formulam: a) as partes podem
convencionar o que querem, e como querem, dentro dos
limites da lei - princípio da liberdade contratual lato sensu;
b) o contrato faz lei entre as partes (art. 1.134 do Código
Civil (LGL\2002\400) francês), pacta sunt servanda -
princípio da obrigatoriedade dos efeitos contratuais; c) o
contrato somente vincula as partes, não beneficiando nem
prejudicando terceiros, res inter alios acta tertio neque
nocet neque prodest - princípio da relatividade dos efeitos
contratuais. Os grandes movimentos sociais do final do
século passado e da primeira metade do século XX
obrigaram os juristas a reconhecer o papel da ordem
pública, acrescentando-se, pois, segundo alguns, um quarto
princípio, dito "princípio da supremacia da ordem pública"
(na verdade, antes um limite que um princípio).

Hoje, diante do toque de recolher do Estado


intervencionista, o jurista com sensibilidade intelectual
percebe que está havendo uma acomodação das camadas
fundamentais do direito contratual – algo semelhante ao
ajustamento subterrâneo das placas tectônicas. Estamos em
época de hipercomplexidade, os dados se acrescentam,
sem se eliminarem, de tal forma que, aos três princípios

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que gravitam em volta da autonomia da vontade e, se


admitido como princípio, ao da ordem pública, somam-se
outros três - os anteriores não devem ser considerados
abolidos pelos novos tempos, mas, certamente, deve-se
dizer que viram seu número aumentado pelos três novos
princípios. Quais são esses novos princípios? A boa-fé
objetiva, o equilíbrio econômico do contrato e a função
social do contrato.

A boa-fé objetiva se estende da fase pré-contratual à pós-


contratual, criando deveres entre as partes, como o de
informar, o de sigilo e o de proteção. Na fase contratual
propriamente dita, esses deveres passam a existir
paralelamente ao vínculo contratual; são deveres anexos ao
que foi expressamente pactuado (no caso da consulta, é,
aliás, a hipótese da exclusividade existente naquelas pouco
numerosas relações contratuais, estabelecidas entre a "Oil"
e os postos revendedores, sem que tivesse havido cláusula
expressa de exclusividade). Não prevista no Código Civil
(LGL\2002\400), a boa-fé objetiva encontrou guarida,
como é sabido, no Código de Defesa do Consumidor (arts.
4.º, III, e 51, IV, Lei 8.078/90), já tendo merecido, além de
recente e abundante literatura jurídica(Antonio Menezes
Cordeiro. Da Boa-Fé no Direito Civil. Coimbra :
Almedina, 1984; Travaux, t. XLIII, da Associação Henri
Capitant, 1992; e muitos artigos nos vários números da
Revista Direito do Consumidor), decisões memoráveis de
nossos tribunais, especialmente algumas, com votos de
lavra do Ministro Ruy Rosado de Aguiar Junior.

(...)

O antigo princípio da relatividade dos efeitos contratuais


precisa, pois, ser interpretado, ou re-lido, conforme a
Constituição. Como salienta Karl Engisch (Introdução ao
Pensamento Jurídico. 6. ed. Lisboa : Fundação Calouste
Gulbenkian, 1988. p. 322), as modificações das situações
de fato, das concepções culturais e morais conduzem,
mesmo sem uma lei posterior, a uma releitura da legislação
anterior nãorevogada. A interpretação conforme a
Constituição leva não só a um novo entendimento da
legislação ordinária, anterior à Constituição, como também
a uma complementação e desenvolvimento dessa
legislação, para harmonizá-la com a Constituição agora
vigente.

Aceita a idéia de função social do contrato, dela


evidentemente não se vai tirar a ilação de que, agora, os
terceiros são partes no contrato, mas, por outro lado, torna-
se evidente que os terceiros não podem se comportar como

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se o contrato não existisse. Com muita precisão, os juristas


franceses distinguem entre dois termos: relativité
(relatividade dos efeitos) e opposabilité (oponibilidade dos
efeitos). José Duclos, em toda uma obra monográfica sobre
o assunto (L'opposabilité: essai d'une théorie générale.
Paris : LGDJ, 1984), dedica a primeira parte de seu
trabalho (p. 32 a 276) ao estabelecimento da distinção
entre os dois termos, quer em relação a fatos jurídicos,
quer em relação a atos jurídicos, a atos juridicionais e a
situações jurídicas (daí o subtítulo da obra "ensaio de uma
teoria geral"). No prefácio, o Prof. Didier Martin afirma:
"a oponibilidade tem por alvo os estranhos à relação de
direito que ela apresenta à sua consideração e que se
denominam 'terceiros', sem dúvida para melhor marcar que
as coisas jurídicas, que lhes são exteriores, não constituem,
de forma alguma, negócios a eles estranhos".
Exclusivamente sobre os efeitos do contrato, Jean-Louis
Goutal já havia escrito sua tese Essai sur le principe de
l'effet relatif du contrat (Paris : LGDJ, 1981), em que
também havia afirmado a oponibilidade do contrato a
todos, resultando essa oponibilidade da mera existência do
contrato; asseverou, então, que a oponibilidade é a regra e
a inoponibilidade, a exceção (são exceções, por exemplo,
os casos em que a lei exige expressamente o registro do
contrato, "para valer contra terceiros"). Finalmente, a
demonstrar que o assunto tem merecido grande atenção
nos dias que correm - são as conseqüências dos novos
tempos -, é importante lembrar um trabalho específico
sobre os efeitos do contrato para terceiros, "Les effets du
contrat à l'égard des tiers", sob a direção de dois grandes
juristas, Jacques Ghestin e Marcel Fontaine (Paris : LGDJ,
1992)

(…)

A responsabilidade do terceiro é, pois aquiliana.


"Efetivamente, se um contrato deve ser considerado como
fato social, como temos insistido, então a sua real
existência há de impor-se por si mesma, para poder ser
invocada contra terceiros, e, às vezes, até para ser oposta
por terceiros às próprias partes. Assim é que não só a
violação de contrato por terceiro pode gerar
responsabilidade civil deste (como quando terceiro destrói
a coisa que devia ser prestada, ou na figura da indução ao
inadimplemento de negócio jurídico alheio), como também
terceiros podem opor-se ao contrato, quando sejam por ele
prejudicados (o instituto da fraude contra terceiros é
exemplo típico disto)" (Fernando Noronha. O direito dos
contratos e seus princípios fundamentais. São Paulo :
Saraiva, 1994. p. 119).
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As distribuidoras que vendem combustíveis a postos "Oil",


quebrando a exclusividade contratualmente assegurada,
estão, pois, a cometer ato ilícito (art. 159 do CC/1916
(LGL\1916\1)); são elas solidariamente responsáveis pelas
conseqüências do inadimplemento contratual praticado
pelos postos "Oil". Essa solidariedade está expressa na
parte final do art. 1.518 do CC/1916 (LGL\1916\1): "Os
bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de
outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado, e, se
tiver mais de um autor a ofensa, todos responderão
solidariamente pela reparação".

Não é possível que, ao final do século XX, os princípios


do direito contratual se limitem àqueles da survival of the
fittest, ao gosto de Spencer, no ápice do liberalismo sem
peias; seria fazer tabula rasa de tudo que ocorreu nos
últimos cem anos. A atual diminuição do campo de
atuação do Estado não pode significar a perda da noção,
conquistada com tanto sofrimento, de tantos povos e de
tantas revoluções, de harmonia social. O alvo, hoje, é o
equilíbrio entre sociedade, Estado e indivíduo. O contrato
não pode ser considerado como um ato que somente diz
respeito às partes; do contrário, voltaríamos a um
capitalismo selvagem, em que a vitória é dada justamente
ao menos escrupuloso. Reduzido o Estado, é preciso,
agora, saber harmonizar a liberdade individual e a
solidariedade social. É grande, nessa função, o papel do
Poder Judiciário; por isso, devem ser atuados, com a
habilidade dos prudentes, os novos princípios do direito
contratual - o da boa-fé e o da economia contratual, entre
as partes, e o da função social, em relação à coletividade e
aos terceiros.

(…)

Assim sendo, diante de todo o exposto, não temos dúvida


de que a Companhia Distribuidora de Petróleo "Oil", além
das providências judiciais e ações de inadimplemento que
lhe competem contra seus postos revendedores, que
adquiriram, ou venham a adquirir, combustíveis de
distribuidoras estranhas, tem também, diretamente, contra
essas mesmas distribuidoras, direito, quer de impedir o ato
ilícito, quer, se cometido o delito, de obter indenização
cabal. É o nosso parecer.

Não bastasse a existência de indícios de ilícitos por parte


de ambos os perfis do Sleeping Giants, ante seu declarado objetivo de
desmonetizar o site do jornal autor, e com isso, provocar o rompimento
contratual entre o autor e seus anunciantes, tem-se outro argumento a
indicar a necessidade de identificação dos perfis. É que a Constituição

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federal veda o anonimato. É o que se depreende do artigo 5º, IV, in


verbis: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato”.

Otavio Luiz Rodrigues Junior (Comentários à Constituição


Federal de 1988, coordenadores científicos: Paulo Bonavides, Jorge
Miranda, Walber de Moura Agra. Rio de Janeiro: Forense, 2009, fls.
97/98):

1.5. Anonimato

O anonimato é a condição de quem produz e difunde um


texto ou enunciado a outrem, sob qualquer meio, sem
identificação de sua autoria ou da responsabilidade de
alguém pelo ato. A vedação ao anonimato justifica-se
historicamente, pois visa a coibir as denúncias levianas ou
caluniosas contra terceiros, bastante comuns durante o
processo inquisitorial, além de permitir, em caso de abuso,
o direito de resposta e as tutelas inibitória e ressarcitória.
Por outro lado, o anonimato é instrumento socialmente
útil, em regimes ditatoriais, para preservar a liberdade de
manifestação de pensamento em contraponto à censura e
às arbitrariedades do regime de exceção. Ele serve como
meio de burla ao controle abusivo das liberdades
individuais. E, no combate ao crime, a denúncia anônima
auxilia as autoridades policiais, sem colocar em risco o
informante. Logo, essa restrição constitucional deve ser
interpretada modus in rebus. Considera-se, todavia, que o
STF já decidiu que o agente público representado nos
órgãos de investigação (Ministério Público, Tribunal de
Contas etc) tem direito a conhecer a identidade do autor da
representação.5 O STF também entende que “não serve à
persecução criminal notícia de prática criminosa sem
identificação da autoria”. Diferentemente, se a instauração
do procedimento houver-se dado após diligências e
investigações prévias, que conduziram a elementos
mínimos de convicção, o fato de existir denúncia anônima
não invalida o processo.

O uso de pseudônimo não se confunde com anonimato. É


permitida a publicação de textos ou difusão de enunciados
por meio de nomes fictícios, desde que se possa identificar
o autor ou quando o editor responsável assuma as
consequências da divulgação de ideias nessas condições.

Veja-se que o sigilo de fonte, previsto no artigo 5º, XIV1,


da CF, não se aplica ao presente caso, vez que os perfis não se
consubstanciam em imprensa, não exercendo atividade jornalística,

https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=11643226919517830604843754121&evento=82100… 32/55
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tampouco constituem pessoa jurídica, o que possibilitaria a


responsabilização pelos conteúdos das publicações sem divulgação dos
autores propriamente ditos.

No caso, a utilização de pseudônimo pelos perfis do


Sleeping Giants está a impedir a identificação de seus autores e
responsáveis, por isso que há necessidade de sua identificação. Contudo,
não se verifica a violação da possibilidade de utilização de
pseudônimos, uma vez que não há determinação, tampouco pedido, para
alteração do nome dos perfis (Sleeping Giants), sendo necessária a
identificação dos responsáveis a fim de viabilizar ações cíveis ou
investigações criminais, se oportunas.

Por todo exposto, procedente o pedido de determinação


de obrigação de fazer ao demandando, consistente no fornecimento
dos número(s) de IP e da porta lógica relativas às contas Sleeping
Giants Brasil (@slpng_giants_pt) e Sleeping Giants Rio Grande do
Sul (@slpng_giants_RS).

Oportuno mencionar que o TJ/RS, em sede de agravo de


instrumento nº 5038372-25.2020.8.21.7000, manteve a decisão da tutela
provisória acerca da identificação dos responsáveis pelas contas.
Transcrevo trechos relevantes da decisão do Exmo. Des. Gelson Rolim
Stocker:

Conforme devidamente aclarado na decisão, integrado


pelo quanto decidido em embargos de declaração opostos
pelo ora agravante, o juízo a quo indeferiu o pedido de
exclusão das publicações, em sede de cognição sumária,
por não constatar inequívoco abuso do direito de liberdade
de expressão, somente havendo indícios nesse sentido,
tampouco perigo na demora, pois inexistia demonstração
cabal do prejuízo financeiro, não se referindo sobre o
pedido de fornecimento de dados de usuários do Twitter.

Sobre este pedido o Magistrado referiu que estava


deferindo a medida com fundamento na vedação do
anonimato e indícios de conduta abusiva (pela forma
genérica de imputação de conduta desabonatória ao
demandante/embargado e pela perda de alguns
anunciantes), entendendo pela presença da
verossimilhança das alegações e pelo periculum in
mora em razão da possibilidade de perecimento das
informações em virtude do prazo de preservação dos
dados.

Ou seja, a decisão apenas manda a parte recorrente


informar o IP e preservar dados, com a cautela do segrego
de justiça, sem que tal determinação possa violar qualquer
dispositivos do chamado marco civil da internet.

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(…)

Sendo assim, mostra-se acertada a decisão do juízo de


primeiro grau, não merecendo, pois, qualquer reparo neste
momento processual.

DISPOSITIVO.

Diante do exposto, em decisão monocrática, nego


provimento ao agravo de instrumento. (grifei).

Na mesma toada, cito passagens da decisão do Exmo. Des.


Gelson Rolim Stocker no agravo interno:

Tomadas tais premissas de julgamento, e considerada a


natureza dos direitos fundamentais em jogo, devidamente
ponderados diante das circunstâncias e dos elementos
probatórios até então produzidos, tenho que,
aprioristicamente, deva ser preservada a liberdade de
informação em torno da qual gira a atividade da
autora, e a esta, no particular, diante de indícios
suficientes de abusividade na conduta dos perfis que
lhe imputam a pecha das fake news, devem ser
fornecidos os dados de autoria relativos às postagens
desabonatórias, devidamente guardados até o trânsito em
julgado da demanda judicial e protegidos sob segredo, tal
como decidido. E acrescento que deverá fazê-lo
imediatamente e independente do trânsito em julgado da
decisão que assim lhe determina, pois não cabe à ora
recorrente ser a censora da decisão judicial, do Poder
Judiciário e, muito menos, apenas assegurar as
informações para si e deixar de cumprir a ordem judicial.

O STF, ao julgar a ADPF n.º 130, relativamente à Lei


de Imprensa, formou o entendimento de que “a
liberdade de informação jornalística é versada pela
Constituição Federal como expressão sinônima de
liberdade de imprensa. Os direitos que dão conteúdo à
liberdade de imprensa são bens de personalidade que
se qualificam como sobredireitos. Daí que, no limite, as
relações de imprensa e as relações de intimidade, vida
privada, imagem e honra são de mútua excludência, no
sentido de que as primeiras se antecipam, no tempo, às
segundas; ou seja, antes de tudo prevalecem as relações
de imprensa como superiores bens jurídicos e natural
forma de controle social sobre o poder do Estado,
sobrevindo as demais relações como eventual
responsabilização ou consequência do pleno gozo das
primeiras. A expressão constitucional ‘observado o
disposto nesta Constituição’ (parte final do art. 220) traduz

https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=11643226919517830604843754121&evento=82100… 34/55
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a incidência dos dispositivos tutelares de outros bens de


personalidade, é certo, mas como consequência ou
responsabilização pelo desfrute da ‘plena liberdade de
informação jornalística’ (§ 1º do mesmo art. 220 da
Constituição Federal). Não há liberdade de imprensa
pela metade ou sob as tenazes da censura prévia,
inclusive a procedente do Poder Judiciário, pena de se
resvalar para o espaço inconstitucional da
prestidigitação jurídica”.

Do julgado, portanto, extrai-se a plenitude da liberdade


de imprensa como um sobredireito, um bem jurídico
superior que merece especial proteção do Estado para
que a sociedade possa ter controle sobre sua atividade,
relegando-se a censura prévia aos confins do período
ditatorial de nossa história. Para o STF, as relações de
imprensa se antecipam, no tempo, às demais relações da
vida em sociedade, inclusive àquelas atinentes a direitos
fundamentais, igualmente advindos do texto
constitucional, sobrevindo a tutela destas "como eventual
responsabilização ou consequência do pleno gozo das
primeiras", apenas em um segundo momento.

(…)

Com isso, quer-se dizer que as relações de imprensa, e


suas diversas manifestações, seja para qual lado do
espectro político apontem, devem ser aprioristicamente
resguardadas, embora não absolutamente imunes, e é em
tal contexto que o combate às fake news por particulares, à
revelia do Poder Judiciário, deve ser olhado com ressalvas.
Não significa que a campanha contra a disseminação de
notícias falsas não deva continuar ou ocorrer, pois
igualmente essencial a uma democracia idealizada, mas
sim que tal processo não se transforme, justamente, em
uma devassa, nos mesmos moldes daquilo contra o que
visa a lutar. Não é à toa que o Direito veda, desde muito, e
como princípio geral, o exercício arbitrário das próprias
razões, em substituição ao Estado, competindo a este dizer,
em última instância, se determinada informação é falsa e
feriu algum direito de particular ou da coletiviedade.

(…)

No caso sob exame, compartilho do entendimento


esposado pelo juízo de origem, segundo o qual a
pretensão antecipatória subsidiária de
fornecimento/guarda de dados, à falta de elementos
justificadores da exclusão igualmente almejada, vem
albergada por indícios da ocorrência de ilícito contra a

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parte ora agravada, a teor do art. 22, inc. I, do Marco


Civil da Internet, autorizando, com base no caput do
mesmo dispositivo, a tomada de mandamento judicial
para o fornecimento de registros de conexão ou de
registros de acesso a aplicações de internet destinados a
formar conjunto probatório em processo judicial cível
ou penal, em caráter incidental ou autônomo. Referida
lei, não é demais ressaltar, tem por fundamentos o respeito
à liberdade de expressão, a livre-iniciativa, a
pluralidade/diversidade e a proteção de dados (art. 2º),
sujeitando-se esta à quebra mediante ordem judicial
tendente à responsabilização civil, cabendo ao juiz "tomar
as providências necessárias à garantia do sigilo das
informações recebidas e à preservação da intimidade, da
vida privada, da honra e da imagem do usuário, podendo
determinar segredo de justiça, inclusive quanto aos
pedidos de guarda de registro" (art. 23), tal como
observado pela decisão da origem.

No que toca ao elemento "fundados indícios da ocorrência


do ilícito", contido no inc. I do art. 22 do Marco Civil, a
respeito do qual se concentra a irresignação deduzida neste
recurso de agravo interno, repiso que entendo por
configurado diante da generalidade do conteúdo das
postagens, que atribuem a pecha das fake news ao jornal
mantido pela recorrida de maneira absolutamente abstrata,
sem citar no que consistiriam as inveracidades, exceto por
um ou outro caso - a exemplo daquele relacionado à
emissão de notícias e opiniões concernentes à pandemia de
COVID e ao uso da hidroxicloroquina como medida de
tratamento -, assim como diante do anonimato sob o qual
se abrigam os criadores de conteúdo (nesse sentido, refira-
se que os blogs em questão se denominam
"comunitários").

Com efeito, a Constituição Federal, ao estatuir a liberdade


de pensamento, ao mesmo tempo a restringe com a
vedação ao anonimato (art. 5º, inc. IV). Eis, aqui, o ponto-
chave da questão: as manifestações promovidas pelos
perfis indicados na petição inicial da demanda originária
não registram autoria; a respectiva descrição de cada uma
das páginas também não determina quem sejam os
responsáveis pelo conteúdo compartilhado. Conquanto a
autoria seja identificável, ela apenas o é mediante
ordem judicial, e o processo sob exame, neste contexto,
guarda particular necessidade/utilidade. Digo isso
porque tais perfis foram elaborados de tal maneira a
dificultar a identificação de quem os mantém, e suas
postagens, justamente por conta da inexistência de

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menção espontânea à autoria, caracterizam o


anonimato, o que é desautorizado pelo texto
constitucional.

O conteúdo desabonatório, identificável como sendo


aquelas postagens cujas URLs estão discriminadas no item
73 da petição inicial da demanda originária (Evento 1,
INIC1, Páginas 15-17), e a responsabilidade pela
manutenção dos perfis "Sleeping Giants Brasil
(@slpng_giants_pt)" e " Sleeping Giants Rio Grande do
Sul (@slpng_giants_RS)" devem ter sua autoria
desvelada mediante o fornecimento dos IPs, portas-
lógicas e demais dados cadastrais de acesso, desde logo
e independentemente do trânsito em julgado desta
decisão judicial, obrigando-se a parte recorrente a
também manter tais informações guardadas, sem as
excluir, estas sim até a data do trânsito em julgado.
Sobre tais informações, há de ser estabelecido o segredo
específico, tal como também decidido, a fim de que se
tutele o direito da parte agravada sem descuidar de manter
certo nível de proteção da base de dados, como medida
que atende à razoabilidade e à proporcionalidade e que
desnatura a alegação de que haveria perigo de sua
irreversibilidade.

Ademais, além de presente, em tese, o exercício


arbitrário das próprias razões, o anonimato desse
exercício é tão prejudicial quanto a ocorrência de fake
news. (grifei).

Além do agravo interno, as intervenções de terceiro e os


embargos de declaração apresentados não prosperaram (eventos 38, 42,
63 e 74), havendo o trânsito em julgado em 14/04/2021 e a baixa
definitiva (evento 87).

Quanto aos dados cadastrais do(s) usuário(s)


responsável(is) pela criação e manutenção dos conteúdos das duas
contas, o pedido de exibição resta prejudicado, visto que o demandado
informou a ausência das informações, ausência de solicitação dos dados
no momento de criação das contas.

Por fim, importante destacar que o STJ já decidiu acerca


do dever de fornecimento pelos provedores de aplicação das portas
lógicas, não havendo prova da impossibilidade material de
fornecimento. Colaciono o precedente:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. INTERNET.
PROVEDOR DE APLICAÇÃO. USUÁRIOS.
IDENTIFICAÇÃO. ENDEREÇO IP. PORTA

Ó
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LÓGICA DE ORIGEM. DEVER. GUARDA DOS


DADOS. OBRIGAÇÃO. MARCO CIVIL DA
INTERNET. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA. 1.
Ação ajuizada em 15/06/2015. Recurso especial interposto
em 17/05/2018 e atribuído a este gabinete em 09/11/2018.
2. Ação de obrigação de fazer cumulada com pedido de
tutela antecipada, na qual relata a recorrida que foi
surpreendida com a informação de que suas consultoras
estariam recebendo e-mails com comunicado falso acerca
de descontos para pagamento de faturas devidas à
empresa. 3. O propósito recursal consiste em definir a
obrigatoriedade de guarda e apresentação, por parte
da provedora de aplicação de internet, dos dados
relacionados à porta lógica de origem associadas aos
endereços Ips. 4. Os endereços IPs são essenciais
arquitetura da internet, que permite a bilhões de
pessoas e dispositivos se conectarem à rede, permitindo
que trocas de volumes gigantescos de dados sejam
operadas com sucesso. 5. A versão 4 dos endereços IPs
(IPv4) esgotou sua capacidade e, atualmente, há a
transição para a versão seguinte (IPv6). Nessa
transição, adotou-se o compartilhamento de IP, via
porta lógica de origem, como solução temporária. 6.
Apenas com as informações dos provedores de conexão
e de aplicação quanto à porta lógica de origem é
possível resolver a questão da identidade de usuários
na internet, que estejam utilizam um
compartilhamento da versão 4 do IP. 7. O Marco Civil
da Internet dispõe sobre a guarda e fornecimento de dados
de conexão e de acesso à aplicação em observância aos
direitos de intimidade e privacidade. 8. Pelo cotejamento
dos diversos dispositivos do Marco Civil da Internet
mencionados acima, em especial o art. 10, caput e § 1º,
percebe-se que é inegável a existência do dever de
guarda e fornecimento das informações relacionadas à
porta lógica de origem. 9. Apenas com a porta lógica de
origem é possível fazer restabelecer a univocidade dos
números IP na internet e, assim, é dado essencial para o
correto funcionamento da rede e de seus agentes operando
sobre ela. Portanto, sua guarda é fundamental para a
preservação de possíveis interesses legítimos a serem
protegidos em lides judiciais ou em investigações
criminais. 10. Recurso especial não provido. (REsp
1777769/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 05/11/2019, DJe
08/11/2019) – grifei.

RECURSO ESPECIAL. INTERNET. OBRIGAÇÃO DE


FAZER. PROVEDOR DE ACESSO. USUÁRIOS.
IDENTIFICAÇÃO. DEVER. GUARDA DOS DADOS.
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OBRIGAÇÃO. PRAZO. DEVER DE


ARMAZENAMENTO. POSSIBILIDADE FÁTICA E
JURÍDICA DO PEDIDO. MULTA DIÁRIA.
CABIMENTO. 1. Ação ajuizada em 25/11/2009. Recurso
especial interposto em 17/02/2014 e atribuído a este
Gabinete em 25/08/2016. 2. O propósito recursal consiste
na verificação da obrigatoriedade da apresentação de
informações relativas ao número IP o qual acessou sem
autorização a conta de e-mail da recorrida, apesar das
alegações de impossibilidade técnica da recorrente. 3.
Ausentes a omissão, a contradição e o erro material, não há
violação ao art. 535 do CPC/73. 4. A jurisprudência do
STJ está orientada no sentido de estabelecer um dever
jurídico dos provedores de acesso de armazenar dados
cadastrais de seus usuários durante o prazo de
prescrição de eventual ação de reparação civil.
Julgados desta Corte Superior. 5. Descabimento da
alegação de impossibilidade fática ou jurídica do
fornecimento de dados cadastrais a partir da
identificação do IP, conforme precedentes do STJ. 6.
Não subsiste a alegação de que o uso de IP dinâmico -
consistente naquele não atribuído privativamente a um
único dispositivo - impediria a identificação do seu
usuário em determinado momento. 7. É possível a
imposição de multa diária para o caso de descumprimento
da ordem, mesmo que seja para a apresentação de dados
cadastrais. 8. Recurso especial não provido. (REsp
1785092/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 07/05/2019, DJe
09/05/2019) – grifei.

Pela sua didática, colaciono trechos relevantes do acórdão


do STJ correspondente a ementa acima transcrita:

A questão da guarda e fornecimento da chamada porta


lógica de origem do IP, como bem ressaltado pelo i.
Ministro relator, está diretamente relacionada ao
esgotamento da versão 4 do IP (IPv4), a implementação de
sua versão 6 (IPv6) e o compartilhamento de IPs como
solução transitória. É interessante notar que isso reflete
a relação entre a arquitetura da internet, seus aspectos
técnicos, e matérias de política pública, relativas ao
acesso e à operabilidade da internet, com
consequências jurídicas, para as hipóteses de
requisição de registros de acesso em investigações
criminais e processos judiciais.

A rigor, o termo "porta lógica" seria mais corretamente


utilizado no campo da eletrônica como um dispositivo que
opera logicamente um circuito. O termo mais correto seria
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simplesmente “porta” ou “porta de origem”, utilizada no


compartilhamento dos endereços IPs (YANDRA, B. A
responsabilidade do provedor de aplicação pelo
armazenamento e fornecimento da porta de origem do
endereço IP, sob a ótica do Marco Civil da Internet. In: CV,
IDP, Volume 2, n. 43, 2019, jan-fev-mar 2019). Contudo, a
expressão mais comumente utilizada pelo Poder Judiciário
é “porta lógica” e será usado sem distinção com o termo
“porta de origem”.

(…)

É fato que não há uma regulação consolidada sobre a


coleta e o armazenamento das portas de origem, necessária
à dinâmica atual como solução transitória ao processo de
implementação do IPv6. Também não existe qualquer
menção à expressão no Marco Civil da Internet. Dessa
forma, como mencionado pelo Instituto de Referência em
Internet e Sociedade - IRIS, cumpre ao Poder Judiciário
esclarecer se: “(i) Existe uma obrigação legal de
armazenamento dos dados referentes à “porta lógica? (ii)
Se sim, de quem a responsabilidade pelo armazenamento e
disponibilização desses dados às autoridades competentes:
dos provedores de conexão, de aplicação, ou de ambos? E
(iii) O dado de porta lógica é necessário para identificação
de usuários que acessam à internet por meio de Ips
compartilhados (fornecidos pelos provedores de
conexão)?” (IRIS. Portas Lógicas e Registros de Acesso.
Belo Horizonte, 2017).

1. A IMPORTÂNCIA DOS ENDEREÇOS IPS

Os endereços IPs são fundamentais na arquitetura da


internet, que permite a bilhões de pessoas e dispositivos se
conectarem à rede, permitindo que trocas de volumes
gigantescos de dados sejam operadas com sucesso. Nesses
termos, a doutrina define que “o endereço IP (internet
protocol) é a cédula de identidade de cada terminal,
somente sendo admitido um terminal para cada
número IP disponível, de modo que seja impossível a
conexão de dois dispositivos à rede com o mesmo
número, o que gera conflitos na transmissão e recepção
de dados e, comumente, faz com que a própria rede
derrube o acesso de todos os dispositivos com números
colidentes”. (HAIKAL, V.A. Da significação jurídica dos
conceitos integrantes do art. 5º. In: LEITE, G.S.; LEMOS,
R. (Coords.). Marco Civil da Internet. São Paulo: Atlas,
2014, p. 320).

(…)

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Para o próprio funcionamento da internet, é essencial


que todos identificadores sejam realmente únicos. Em
especial, os números IPs ainda são utilizados para a
identificação dos usuários da internet que tenham
cometido atos ilícitos de qualquer natureza.

No entanto, os números IPs – assim como outros


recursos críticos da internet – são finitos, necessitando
de adaptações e novas versões que permitam sua
expansão. Aqui, a analogia pode ser feita com números de
telefone celular, que tiveram um número nove
acrescentado a seu início.

(…)

Na tentativa de resolver esse problema, diversas


ferramentas foram desenvolvidas para permitir que
provedores de conexão continuassem expandindo o
acesso em suas regiões de atuação. Uma delas é
oferecida pelo sistema de Tradução de Endereço de
Rede (Network Address Translation – NAT), que
permite o mesmo número IP seja utilizado por diversos
terminais.

(...)

Portanto, como é possível perceber, o IP Público usado


pelos três endereços internos é o mesmo. Há uma
diferença, contudo, na porta lógica existente ao final.

Este ponto é de extrema relevância para o deslinde deste


julgamento, pois é possível perceber que a univocidade do
número IP será apenas restabelecida – enquanto não for
finalizada a transição para o IPv6 – por meio da associação
desse número adicional, a chamada porta lógica de origem.

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(…)

Como afirmado acima, apenas esse número da porta de


origem é capaz de fazer restabelecer a univocidade dos
números IP na internet e, assim, é dado essencial para
o correto funcionamento da rede e de seus agentes
operando sobre ela. Portanto, sua guarda é
fundamental para a preservação de possíveis interesses
legítimos a serem protegidos em lides judiciais ou em
investigações criminais.

Nesse sentido, é de amplo conhecimento que esta Corte


Superior firmou entendimento de que as prestadoras de
serviço de internet, como as demais empresas, estariam
sujeitas a um dever legal de escrituração e registro de suas
atividades durante o prazo prescricional de eventual ação
de reparação civil, dever que tem origem no art. 10 do
Código Comercial de 1850, e atualmente encontra-se
previsto no art. 1.194 do Código Civil, abaixo transcrito:

Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são


obrigados a conservar em boa guarda toda a escrituração,
correspondência e mais papéis concernentes à sua
atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência
no tocante aos atos neles consignados.

Conjugando esse dever de escrituração e registro com a


vedação constitucional ao anonimato, nos termos do
art. 5º, IV, da CF/88, os provedores de acesso à internet
devem armazenar dados suficientes para a
identificação do usuário, conforme os seguintes julgados
desta Corte:

(...) 2. Reconhecimento pela jurisprudência de um dever


jurídico dos provedores de acesso de armazenar dados
cadastrais de seus usuários durante o prazo de prescrição
de eventual ação de reparação civil. Julgados desta Corte
Superior. 3. Descabimento da alegação de impossibilidade
fática ou jurídica do fornecimento de dados cadastrais a
partir da identificação do IP. Julgados desta Corte Superior.
4. Considerações específicas acerca da aplicabilidade
dessa orientação ao IP dinâmico consistente naquele não
atribuído privativamente a um único dispositivo (IP fixo),
mas compartilhado por diversos usuários do provedor de
acesso. (...) (REsp 1622483/SP, Terceira Turma, DJe
18/05/2018)

(...) 5. Ao oferecer um serviço por meio do qual se


possibilita que os usuários divulguem livremente suas
opiniões, deve o provedor de conteúdo ter o cuidado de

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propiciar meios para que se possa identificar cada um


desses usuários, coibindo o anonimato e atribuindo a cada
imagem uma autoria certa e determinada. Sob a ótica da
diligência média que se espera do provedor, do dever de
informação e do princípio da transparência, deve este
adotar as providências que, conforme as circunstâncias
específicas de cada caso, estiverem ao seu alcance para a
individualização dos usuários do site, sob pena de
responsabilização subjetiva por culpa in omittendo. 6. As
informações necessárias à identificação do usuário devem
ser armazenadas pelo provedor de conteúdo por um prazo
mínimo de 03 anos, a contar do dia em que o usuário
cancela o serviço. (...) (REsp 1398985/MG, Terceira
Turma, DJe 26/11/2013)

(...) 5.- É juridicamente possível o pedido à empresa de


telefonia de exibição do nome do usuário de seus serviços
que, utiliza-se da internet para causar danos a outrem, até
por ser o único modo de o autor ter conhecimento acerca
daqueles que entende ter ferido a sua reputação. (...) (REsp
879.181/MA, Terceira Turma, DJe 01/07/2010)

Da mesma forma que com as informações mencionadas


acima, é imperioso o reconhecimento da necessidade da
guarda da porta lógica. Afirmar que não há obrigação de
guarda ou fornecimento da porta de origem consiste em
fechar os olhos deliberadamente para os mecanismos
essenciais que fazer a internet funcionar.

(…)

Reafirmada a obrigação de guardar e fornecer as


informações relacionadas à porta lógica de origem, cumpre
investigar a quem incumbe tal obrigação, se apenas aos
provedores de conexão ou se, igualmente, aos provedores
de aplicação de internet.

(…)

Portanto, é inegável que ambas as categorias de


provedores de que dispõe o Marco Civil da Internet
possuem a obrigação de guarda e fornecimento das
informações da porta lógica de origem associada ao
endereço IP.

Ademais, cumpre ressaltar que este é um problema que


tende a se extinguir, pois, à medida em que a transição
para IPv6 for efetuada, haverá menor necessidade de
compartilhamento do IP por meio de porta lógica de
origem.

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(…)

A questão jurídica que se põe à apreciação desta Corte


Superior é resultado do choque desse cenário fático (em
que a simples indicação do endereço IP de um
determinado usuário, por si só, pode ser ineficaz para sua
identificação) com a literalidade das disposições insertas
nos arts. 5º, inciso VIII, e 15 do denominado Marco Civil
da Internet (Lei nº 12.965/2014).

Com efeito, o art. 15 do referido diploma legal estabelece


que o provedor de aplicações de internet "deverá manter os
respectivos registros de acesso a aplicações de internet,
sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo
prazo de 6 (seis) meses", ao passo em que o art. 5º, inciso
VIII, da mesma lei dispõe que pela expressão "registros de
acesso a aplicações da internet" se deve considerar "o
conjunto de informações referentes à data e hora de uso de
uma determinada aplicação de internet a partir de um
determinado endereço de IP".

A interpretação literal das normas legais em comento


justificaria a conclusão esposada pelas instâncias de
origem na hipótese em exame, no sentido de que não
seriam obrigações legalmente impostas aos provedores
de aplicação o armazenamento e, consequentemente, o
fornecimento de informações relativas às específicas
portas lógicas de origem que estariam atreladas aos
endereços de IP (IPv4) utilizados por terceiros na
eventual prática de ilícitos por meio de seus serviços.

Essa, todavia, não parece ser a melhor interpretação a


ser dada à norma em comento e, menos ainda, a que
traduz a adequada solução do caso em apreço.

Nesse aspecto, tenho por impossível não perfilhar a


orientação de que a interpretação teleológica de todo o
conjunto de disposições do Marco Civil da Internet leva
à conclusão de que, independentemente da referência
expressa, no inciso VIII do art. 5º da referida lei,
apenas à expressão "endereço de IP", é inegável a
existência do dever de guarda e fornecimento - tanto
pelos provedores de aplicação quanto pelos de conexão
- das informações relacionadas às respectivas portas de
origem a ele atreladas em virtude da utilização do
sistema NAT como solução alternativa e paliativa à não
conclusão da implementação do sistema IPv6 no país.

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Como bem anotou a Ministra Nancy Andrighi, no voto-


vista que proferiu ao somar seu ponto de vista ao do
Relator do presente feito, "apenas esse número da porta de
origem é capaz de fazer restabelecer a univocidade dos
números IP na internet e, assim, é dado essencial para o
correto funcionamento da rede e de seus agentes operando
sobre ela" (pag. 11).

É de se dizer também que não se pode engessar a


própria inteligência da lei em virtude do emprego de
uma expressão específica, especialmente quando essa
expressão é própria da ciência da computação, área do
conhecimento humano relativamente recente, dinâmica
e que se encontra em processo de constante e acelerada
evolução.

Primeiro porque a interpretação cega e literal do referido


art. 5º, inciso VIII, acaba por ceder diante do que
estabelece o § 1º do art. 10 da própria Lei nº 12.965/2014,
segundo o qual, o provedor responsável pela guarda
somente será obrigado a disponibilizar os registros de
conexão e aplicações de internet por ele mantidos, "de
forma autônoma ou associados a dados pessoais ou a
outras informações que possam contribuir para a
identificação do usuário ou do terminal, mediante ordem
judicial".

Além disso, acaso considerada a mera literalidade da


norma, tal interpretação representaria verdadeira
negação da lei ao irrefreável desenvolvimento
tecnológico, consistindo na imposição de uma espécie
de prazo de validade à norma jurídica, pois seria
completamente absurdo exigir que, ao advento de cada
nova tecnologia, fosse necessária a promulgação de lei
para alterar a vigente redação das disposições do
Marco Civil da Internet. (grifei)

Destarte, não se verifica a impossibilidade de fornecimento


dos dados pelo demandado. Enfim, parcialmente procedente o pedido do
autor.

Em resumo, a conduta dos responsáveis pelas contas do


Twitter contém indícios de ilícitos, especialmente, pela imputação
genérica de qualidades negativas ao jornal, bem como pelo intuito de
desmonetização de órgão da imprensa, situação suficiente a justificar a
identificação dos emissores das mensagens a fim de possibilitar acesso
ao judiciário pelo jornal, seja por meio persecução penal, seja por
intermédio da reparação dos danos eventualmente experimentados. No
entanto, a gravidade das irregularidades não é suficiente para motivar a

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exclusão dos perfis e dos tweets, mormente, em processo que tramita em


face da plataforma utilizada como meio de transmissão das mensagens,
não contra os efetivos emissores/criadores do conteúdo.

Em tempo, pelo princípio da causalidade, considerando


que o artigo 10, §1º, do Marco Civil da Internet, que prevê a
indispensabilidade de ordem judicial para fornecimento pelos
provedores de aplicação das informações sob sua guarda, entendo ser
descabida a condenação da ré aos ônus sucumbenciais. Colaciono o
dispositivo legal mencionado:

Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de


conexão e de acesso a aplicações de internet de que trata
esta Lei, bem como de dados pessoais e do conteúdo de
comunicações privadas, devem atender à preservação da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das
partes direta ou indiretamente envolvidas.

§ 1º O provedor responsável pela guarda somente será


obrigado a disponibilizar os registros mencionados no
caput, de forma autônoma ou associados a dados pessoais
ou a outras informações que possam contribuir para a
identificação do usuário ou do terminal, mediante ordem
judicial, na forma do disposto na Seção IV deste Capítulo,
respeitado o disposto no art. 7º .

Colaciono a jurisprudência do TJ/RS em casos


semelhantes:

APELAÇÃO CÍVEL. EXCLUSÃO DE PUBLICAÇÃO


OFENSIVA EM REDE SOCIAL. IDENTIFICAÇÃO DO
OFENSOR. FORNECIMENTO DE URL. MARCO
CIVIL DA INTERNET. I. Consoante o art. 19, § 1º, da Lei
nº 12.965/2014, deverá a parte autora fornecer a URL que
contenha o conteúdo ofensivo objeto de pedido de
exclusão. II. Considerando-se que o pedido de
identificação do ofensor pressupõe o fornecimento de
informações sigilosas, cuja apresentação somente pode
ocorrer pela via judicial e, ainda, ausente pretensão
resistida da parte ré, impositivo o afastamento da
condenação ao pagamento dos ônus de sucumbência.
Exegese do art. 10, §1º da Lei 12.965/14. Precedentes
jurisprudenciais. Apelo provido. Unânime.(Apelação
Cível, Nº 70085153344, Vigésima Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Dilso Domingos Pereira,
Julgado em: 25-08-2021) – grifei.

APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO.


PROPRIEDADE INDUSTRIAL E INTELECTUAL.
AÇÃO COMINATÓRIA. PÁGINA (“FAN PAGE”)

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28/01/2022 12:42 SENT

HOSPEDADA NO FACEBOOK QUE SE UTILIZA DE


MARCA NOMINATIVA REGISTRADA DA
APELANTE. PEDIDO DE EXCLUSÃO. UTILIZAÇÃO
DE MARCA POR TERCEIROS COM CONTEÚDO
JOCOSO QUE, EM PRINCÍPIO, NÃO É VEDADA.
ARTIGO 47 DA LEI Nº 9.610/1998. JULGADO DO E.
STJ. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE EXCLUSÃO
MANTIDO. A proteção legal conferida à marca registrada
não veda, em princípio, sua utilização em paródia,
mormente quando, como no caso dos autos, ausente prova
de utilização comercial da marca, tampouco demonstrada
ofensa ou impossibilidade de identificação do conteúdo
jocoso da publicação pelos clientes da apelante. Nesse
contexto, não há elementos que justifiquem a exclusão
total da “fan page” impugnada, na esteira de julgado do e.
STJ (RESP 1548849/SP). Sentença mantida. APELO
ADESIVO. ARTIGO 19 DO MARCO CIVIL DA
INTERNET (LEI Nº 12.965/2014). NECESSIDADE
LEGALMENTE PREVISTA DE AJUIZAMENTO DA
DEMANDA. AUSÊNCIA DE RESISTÊCIA À
PRETENSÃO PELO PROVEDOR RÉU.
INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA
SUCUMBÊNCIA AO CASO. CIRCUNSTÂNCIA
CARATCTERIZADORA DE ‘PROCEDIMENTO
NECESSÁRIO’. DISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS DA
SUCUMBÊNCIA DE FORMA EQUÂNIME ENTRE AS
PARTES DETERMINADA, NA ESTEIRA DE
JULGADO DO E. STJ. O ajuizamento da demanda
decorreu de imposição legal (artigo 19 do Marco Civil
da Internet); por outro lado, a parte ré não apresentou
efetiva resistência à pretensão. Assim, não há falar em
aplicação do princípio da sucumbência, mas, isto sim,
de ser observada a necessidade do ajuizamento da
ação. Caso de “processo inevitável”, conforme doutrina
colacionada em julgado do e. STJ (RESP 1782212/SP).
Distribuição dos ônus da sucumbência de forma equânime
entre as partes determinada. Sentença reformada no ponto.
APELO DESPROVIDO. APELO ADESIVO
PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME.(Apelação
Cível, Nº 70082586652, Sexta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Denise Oliveira Cezar, Julgado em:
28-05-2020) – grifei.

Portanto, entendo ser inviável a condenação do demandado


aos ônus sucumbenciais.

Por derradeiro, passo a consolidação da multa cominada,


considerando a ausência de cumprimento integral da tutela provisória.

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A tutela provisória postulado pelo demandante foi deferida


para, no prazo de 20 dias, determinar que o demandado informasse os
número(s) de IP, porta lógica e demais dados cadastrais e de acesso
do(s) usuário(s) responsável(is) pela criação e manutenção dos
conteúdos nas contas Sleeping Giants Brasil - (@slpng_giants_pt) e
Sleeping Giants Rio Grande do Sul (@slpng_giants_RS); bem como
preservasse os dados até o trânsito em julgado da presente ação, tudo
sob pena de multa de R$50.000,00 (evento 06).

Intimado em 02/06/2020 (evento 11), o demandado


apresentou embargos de declaração, no qual se concedeu efeito
suspensivo até 22/06/2020 (evento 18). Desse modo, o prazo de vinte
dias para apresentar as informações iniciou em 23/06/2020.

No evento 45, de novembro de 2020, o demandado


informou que os dados estavam disponíveis ao fornecimento, postulando
a forma adequada a fim de preservar o sigilo, o que foi esclarecido no
evento 51.

Os dados relativos aos IPs aportaram aos autos em


dezembro de 2020 (evento 49). Ocorre que a obrigação de fazer não se
limitava  ao IP, abrangia as portas lógicas. Assim, no evento 75, em
março de 2021, majorou-se a multa para R$80.000,00.

O TJ/RS, no agravo de instrumento nº 5052572-


03.2021.8.21.7000, majorou a multa para R$ 100.000,00 por dia de
descumprimento. O demandado foi intimado dessa decisão em setembro
de 2021, conforme recorte do sistema eproc:

Com efeito, até a presente data, o demandado não


apresentou informações relativas às portas lógicas. Por conseguinte,
inequívoco o descumprimento parcial da tutela provisória e necessidade
de aplicação das astreintes cominadas.

Ocorre que o somatório final da multa afigura-se


excessivo.

Note-se que o arbitramento de multa deve levar em


consideração as peculiaridades do caso concreto, ou seja, capacidade
financeira das partes, o direito envolvido e o proveito econômico da
lide.

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Nesse rumo, a fixação deve ser significativa a ponto de


estimular a impugnante ao cumprimento da medida, no entanto não pode
implicar enriquecimento ilícito, tampouco sobrepujar consideravelmente
o valor patrimonial do próprio pleito principal, sob pena de tornar-se
desproporcional. É o caso dos autos.

A multa diária de R$100.000,00, somada as astreintes


anteriores de R$50.000,00 e R$100.000,00, implica valor milionário,
que não se coaduna com a capacidade financeira do demandante,
tampouco há indícios de que o suposto prejuízo financeiro causada pelo
terceiro, cujos dados o demandante procura revelar na presente lide, seja
tão elevado. Evidentemente, a situação contraria a razoabilidade e a
proporcionalidade.

Cito precedentes do TJ/RS acerca da possibilidade de


redução da multa:

APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS


BANCÁRIOS. AÇÃO ORDINÁRIA. SOLICITAÇÃO DE
ALTERAÇÃO CADASTRAL. MODIFICAÇÃO DE
NOME E SEXO NA CERTIDÃO DE NASCIMENTO
POR DECISÃO JUDICIAL. OMISSÃO DO BANCO EM
ATENDER À REQUISIÇÃO. FALHA NA PRESTAÇÃO
DE SERVIÇO. DANOS MORAIS. CONFIGURADOS.
QUANTUM INDENIZATÓRIO MINORADO.
ASTREINTES. LIMITAÇÃO. POSSIBILIDADE. (…)
ASTREINTES. A incidência de multa cominatória
objetiva forçar o cumprimento do ato decisório, sob
pena de, caso não atendida, resultar em penalização de
caráter financeiro para uma das partes. Todavia, não é
razoável que o valor consolidado da multa seja
excessivo, sob pena de enriquecimento ilícito. Redução
da multa, em atenção aos princípios da
proporcionalidade e razoabilidade APELO PROVIDO
EM PARTE.(Apelação Cível, Nº 70079953147, Vigésima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Glênio
José Wasserstein Hekman, Julgado em: 27-05-2020) –
grifei.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS


JURÍDICOS BANCÁRIOS. IMPUGNAÇÃO À FASE DE
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. REDUÇÃO, DE
OFÍCIO, DO VALOR ARBITRADO PARA A MULTA
DIÁRIA. QUANTIA EXORBITANTE E
DESPROPORCIONAL. TERMO INICIAL DE
INCIDÊNCIA DAS ASTREINTES. INTIMAÇÃO
PESSOAL DO DEVEDOR. INCLUSÃO DO VALOR
CONSOLIDADO DAS ASTREINTES NA BASE DE
CÁLCULO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
IMPOSSIBILIDADE. Diante do valor excessivo

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arbitrado, nos termos do art. 537, §1º, do Código de


Processo Civil em vigor, é caso de redução “ex officio”
da multa diária imposta ao agravante. No que diz
respeito ao período de descumprimento da ordem
judicial, deve-se observar a data da intimação pessoal
para determinar o termo inicial e a data do último
desconto indevido procedido pelo banco agravante,
quando cessou o descumprimento. No caso concreto,
tem-se que a instituição financeira descumpriu a decisão
do Juízo de origem durante 162 dias. No que tange à
(im)possibilidade de inclusão do valor consolidado das
“astreintes” na base de cálculo dos honorários
advocatícios, considerando a natureza sancionatória da
multa diária, a verba honorária deverá incidir tão somente
sobre o montante condenatório. Logo, a reforma parcial da
decisão agravada é medida que se impõe. Agravo de
instrumento parcialmente provido.(Agravo de Instrumento,
Nº 70083509315, Décima Segunda Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto Guaspari
Sudbrack, Julgado em: 07-05-2020) – grifei.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS


JURÍDICOS BANCÁRIOS. IMPUGNAÇÃO AO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. MULTA
COMINATÓRIA. MODIFICAÇÃO DA QUANTIA
PELO JUIZ A QUALQUER TEMPO. POSSIBILIDADE.
1. O valor resultante da multa cominatória fixada na fase
de conhecimento não sofre os efeitos da imutabilidade da
coisa julgada. Mostrando-se insuficiente ou excessivo o
valor, é possível sua revisão até mesmo de ofício pelo
Magistrado, a qualquer tempo, nos termos do art. 461, §6°
do CPC/73. Precedentes do STJ e deste Tribunal. 2. É
igualmente consabido que a determinação de redução,
ou majoração da astreinte, deve ser pautada pelos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
objetivando atender adequadamente as finalidades
coercitivas e punitivas da medida, sem que isto importe
em enriquecimento injustificado da parte lesada. 3. Na
espécie, a decisão recorrida reduziu a quantia da multa
ora executada, tendo por parâmetro apenas o valor
atualizado da condenação originária, entendendo que o
montante pretendido pela exequente,
aproximadamente seis vezes superior ao estabelecido,
seria exagerado. 4. Contudo, tal critério, isoladamente,
não se afigura o mais proporcional e razoável de ser
aplicado ao caso concreto, considerando as suas
peculiaridades. Isso, porque a reiterada conduta de
desobediência da instituição financeira à ordem
judicial que enseja o presente cumprimento de
sentença, impingiu ao consumidor verdadeiro périplo
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para se ver livre de cobrança declarada judicialmente


indevida há quase oito anos atrás. 5. Assim, deve ser
majorada a quantia fixada no decisum recorrido para
patamar que reforce adequadamente as finalidades
coercitivas e, especialmente, punitivas da multa
cominatória, primando para que este aumento também
não importe em enriquecimento indevido da parte
consumidora. 6. Destarte, o recurso vai parcialmente
provido, porquanto, embora aumente o valor da multa,
estabelece quantia diversa daquela pretendida pela
recorrente. AGRAVO DE INSTRUMENTO
PARCIALMENTE PROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº
70083472407, Vigésima Terceira Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Ana Paula Dalbosco, Julgado
em: 05-05-2020) – grifei.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRATOS DE


CARTÃO DE CRÉDITO. IMPUGNAÇÃO AO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA DE ASTREINTES.
REDUÇÃO DO VALOR DA MULTA. POSSIBILIDADE.
Cabível a fixação de astreintes para o caso de
descumprimento de determinação judicial, a fim de torná-
la efetiva, com fundamento no art. 536 do Código de
Processo Civil. Todavia, o valor da multa deve atender
aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade,
podendo o magistrado, até mesmo de ofício, adequá-lo
quando se tornar insuficiente ou excessivo (§ 1º do art.
537 do CPC). AGRAVO DE INSTRUMENTO
PROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 70083907303,
Vigésima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Cairo Roberto Rodrigues Madruga, Julgado em:
22-04-2020) – grifei.

Por todo exposto, observando a razoabilidade, a


proporcionalidade e as peculiaridades do caso concreto, entendo que o
valor fixado para multa foi excessivo, sendo necessária sua redução para
R$300.000,00, também considerando que a tutela foi parcialmente
cumprida (fornecidos os Ips, mas não as portas lógicas).

Os R$300.000,00 devem ser corrigidos monetariamente


pelo IGP-M a contar do arbitramento da multa, sendo descabida a
incidência de juros de mora. Cito precedentes do TJ/RS e do STJ:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. MEMÓRIA DE CÁLCULO.
IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. AUSÊNCIA. SÚMULA
Nº 283/STF. MULTA DIÁRIA. VALOR.
RAZOABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso
especial interposto contra acórdão publicado na vigência
do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados

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Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. A ausência de


impugnação de um fundamento suficiente do acórdão
recorrido enseja o não conhecimento do recurso, incidindo
o enunciado da Súmula nº 283 do Supremo Tribunal
Federal. 3. A jurisprudência desta Corte firmou
posicionamento no sentido de ser possível a alteração do
valor da multa diária, em recurso especial, apenas em
casos excepcionalíssimos, diante da manifesta exorbitância
do valor ou de flagrante impossibilidade de cumprimento
da medida, circunstâncias inexistentes no presente caso. 4.
Não incidem juros de mora sobre a multa imposta pelo
descumprimento de obrigação de fazer, sob pena de
configurar bis in idem. 5. Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp 971.636/RS, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 10/06/2019, DJe 14/06/2019) – grifei.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE


CIVIL. IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. ASTREINTES. EXIGIBILIDADE
EVIDENCIADA. REDUÇÃO DO VALOR INDEVIDA.
ERRO MATERIAL NAS MEMÓRIAS DE CÁLCULO
DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INCIDÊNCIA
DE JUROS DE MORA. RETIFICAÇÃO DE OFÍCIO. 1.
Caso em que a fixação da multa cominatória ocorreu neste
Tribunal de Justiça e a parte agravante, a quem direcionada
a multa, não logrou demonstrar o cumprimento da
obrigação dentro do prazo estabelecido por este Órgão
Julgador. Nos autos do processo de conhecimento, limitou-
se a alegar o cumprimento, mas apenas acostou
documentos datados de mais de ano depois de intimada da
decisão cominatória. Perfeitamente exigível, portanto, a
integralidade das astreintes, pois limitadas a trinta dias de
descumprimento. 2. No que se refere ao valor da multa,
esta Câmara, já ao fixá-la, ponderou os direitos
envolvidos, a sua finalidade e a capacidade das partes,
limitando o seu valor máximo. Assim, não há justificativa
para alterá-la. 3. Erro material nas memórias de cálculo do
cumprimento de sentença que deve ser retificado de ofício,
porquanto não preclui segundo entendimento do STJ.
Inviabilidade de incidência de juros moratórios sobre o
valor das astreintes, porquanto consiste em bis in idem,
penalizando duplamente o devedor. Possibilidade de
incidir apenas correção monetária a contar da data do
arbitramento das astreintes. AGRAVO DE
INSTRUMENTO DESPROVIDO. ERRO MATERIAL
RETIFICADO DE OFÍCIO.(Agravo de Instrumento, Nº
70083110437, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Carlos Eduardo Richinitti, Julgado em: 05-
06-2020) – grifei.
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28/01/2022 12:42 SENT

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE


CIVIL. IMPUGNAÇÃO À FASE DE CUMPRIMENTO
DE SENTENÇA JULGADA PARCIALMENTE
PROCEDENTE. EXCESSO DO VALOR DA MULTA
DIÁRIA NÃO CONFIGURADO. TERMO FINAL
MANTIDO. INCIDÊNCIA DE CORREÇÃO
MONETÁRIA SOBRE ASTREINTES. Intimação pessoal
da majoração do valor da multa. Ainda que o agravante
não tenha sido intimado pessoalmente da decisão que
majorou o valor da astreinte, não houve prejuízo. Isto
porque o agravante cumpriu a obrigação antes da
incidência do valor majorado. Ademais, a decisão
recorrida determinou o recalculo da dívida pelo valor
originariamente fixado. Termo final do cálculo da multa.
Somente em 08.01.2010 restou devidamente comprovado
nos autos que o nome da autora/agravada não constava
mais inscrito em órgão de proteção ao crédito. Este,
portanto, deve ser o termo final de incidência da multa
coercitiva. Quanto ao valor da multa. Na hipótese,
verifica-se que o valor arbitrado pelo Juízo a quo - R$
100,00 diários - não se mostra excessivo ante o caráter
coercitivo da medida e se encontra dentro dos parâmetros
fixados em casos similares. Quanto a incidência de
correção monetária sobre o valor das astreintes. A
jurisprudência é uníssona no sentido de que incide
correção monetária sobre a multa cominatória,
excluindo do cálculo eventual computo de juros de
mora por configurar situação de bis in idem. Decisão
que julgou parcialmente procedente a impugnação a fase
de cumprimento de sentença mantida. AGRAVO DE
INSTRUMENTO DESPROVIDO.(Agravo de
Instrumento, Nº 70083022830, Décima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Thais Coutinho de
Oliveira, Julgado em: 19-12-2019) – grifei.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PROMESSA DE


COMPRA E VENDA. IMPUGNAÇÃO AO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. EXECUÇÃO DE
ASTREINTES. REDUÇÃO DO VALOR DA MULTA
POR EXCESSIVA. POSSIBILIDADE. OMISSÃO
QUANTO À FIXAÇÃO DE JUROS E CORREÇÃO
MONETÁRIA. Constatada omissão no acórdão no que
tange ao redimensionamento do valor da multa, vai sanado
o vício. Não incidem juros de mora sobre multa
cominatória fixada pelo descumprimento de obrigação
de fazer, por configurar evidente bis in idem.
Precedentes do STJ e desta Corte. A correção
monetária atua como forma de atualização da moeda,
razão pela qual plenamente viável a incidência sobre as
astreintes. ACOLHERAM EM PARTE OS EMBARGOS,
Â
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28/01/2022 12:42 SENT

COM EFEITO INFRINGENTE. UNÂNIME.(Embargos


de Declaração Cível, Nº 70083154492, Vigésima Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Walda Maria
Melo Pierro, Julgado em: 11-12-2019) – grifei.

Enfim, impera condenar a parte demandada ao pagamento


de R$300.000,00 (trezentos mil reais), referentes à aplicação das multas,
em razão da desatenção parcial da decisão judicial de concessão da
tutela provisória. O montante apurado deverá ser corrigido pelo IGP-M
a contar do arbitramento da multa (evento 06, 27/05/2020), sendo
descabida a incidência de juros de mora.

Fundamentei. Decido.

Por todo exposto, com fundamento no artigo 487, inciso I,


do Código de Processo Civil, com resolução de mérito, julgo
PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido formulado por J.
PINHEIRO TOLENTINO FILHO EIRELI (JORNAL DA CIDADE
ONLINE) em face de TWITTER BRASIL REDE DE INFORMAÇÃO
LTDA (TWITTER BRASIL), ambos qualificados nos autos, a fim de:

a) DETERMINAR o fornecimento do(s) número(s) de IP


e porta lógica referentes às contas Sleeping Giants Brasil
(@slpng_giants_pt) e Sleeping Giants Rio Grande do Sul
(@slpng_giants_RS), no prazo de 15 dias, sob pena de multa de
R$150.000,00, além de ato atentatório à dignidade da justiça, fulcro no
artigo 77, inciso IV, do CPC; e

b) CONDENAR a parte demandada ao pagamento em


benefício do demandante de R$300.000,00 (trezentos mil reais),
referentes à aplicação das astreintes, em razão da desatenção parcial da
decisão judicial de concessão da tutela provisória. O montante apurado
deverá ser corrigido pelo IGP-M a contar do arbitramento da multa
(27/05/2020), sendo descabida a incidência de juros de mora.

Pelo princípio da causalidade, condeno o demandante ao


pagamento das custas processuais e honorários advocatícios ao patrono
da demandada, que fixo em R$10.000,00, nos termos do artigo 85, §2º e
§8º, do CPC, considerando a natureza da causa, a complexidade, a
ausência de dilação probatória, o tempo de tramitação e a atuação dos
profissionais.

Após o trânsito em julgado, nada requerido pelas partes,


baixe-se.

Documento assinado eletronicamente por ANA PAULA CAIMI, Juíza de Direito, em


26/1/2022, às 16:57:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006. A autenticidade do
documento pode ser conferida no site

https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=11643226919517830604843754121&evento=82100… 54/55
28/01/2022 12:42 SENT

https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/externo_controlador.php?
acao=consulta_autenticidade_documentos, informando o código verificador 10014690045v28
e o código CRC 400c3981.

1. XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando


necessário ao exercício profissional;
 
5004444-68.2020.8.21.0021 10014690045
.V28

https://eproc1g.tjrs.jus.br/eproc/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=11643226919517830604843754121&evento=82100… 55/55

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