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Mestrado Profissional em Administração: Insper

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Insper

Mestrado Profissional em Administração

Jose Paulo Soo Kim

FATORES DETERMINANTES DE MORTES DE POLICIAIS MILITARES


DO ESTADO DE SÃO PAULO

São Paulo
2020
Jose Paulo Soo Kim

FATORES DETERMINANTES DE MORTES DE POLICIAIS MILITARES


DO ESTADO DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada ao Programa de


Mestrado Profissional em Administração do
Insper Instituto de Pesquisa e Ensino, para
obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de concentração: Estratégia.

Orientador: Prof. Dr. Sandro Cabral.


Coorientador: Prof. Dr. Rinaldo Artes.

São Paulo
2020
Kim, Jose Paulo Soo.
Fatores determinantes de mortes de policiais militares
do Estado de São Paulo/ Jose Paulo Soo Kim. – São Paulo, 2020.
55 f.

Dissertação (Mestrado) – Insper, 2020


Orientador: Prof. Dr. Sandro Cabral
Coorientador: Prof. Dr. Rinaldo Artes

1. policial militar. 2. morte. 3. Gestão policial com base em evidências.


Jose Paulo Soo Kim

Fatores determinantes de mortes de policiais militares do Estado de São Paulo

Dissertação apresentada ao programa de


Mestrado Profissional em Administração
como requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre em Administração.

Aprovado em: / /

Banca examinadora

Prof. Dr. Sandro Cabral


Insper

Prof. Dr. Rinaldo Artes


Insper

Prof. Dr. Gustavo Moreira Tavares


Insper

Prof. Dr. Flavio Santos Fontanelli


Fundação Getúlio Vargas – RJ
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus e a minha família que sempre foram o meu


alicerce.
À Polícia Militar do Estado de São Paulo, por proporcionar a oportunidade de
aprimorar meus conhecimentos.
Aos amigos que o Insper me proporcionou.
Aos meus orientadores, os professores doutores Sandro Cabral e Rinaldo
Artes, por toda paciência, orientação e suporte para a conclusão deste trabalho.
RESUMO

Por meio de modelos econométricos, o presente trabalho objetiva compreender os


fatores associados às mortes de policiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo
(PMESP), considerando-se o tempo transcorrido entre o ingresso do indivíduo na
PMESP e sua morte. Essa pesquisa reveste-se de importância, na medida em que o
falecimento do policial militar causa um déficit no efetivo da PMESP, trazendo,
assim, impactos negativos na atividade de polícia ostensiva e de preservação da
ordem pública, limitando a alocação do recurso humano em serviços administrativos
e operacionais, o que, consequentemente, leva a menos efetivo nas ruas e no
patrulhamento preventivo e ostensivo, e causa, dessa forma, maior sensação de
insegurança para a sociedade. Ao analisar os fatores associados a 3535 mortes de
policiais militares entre 2000 e 2020, verificou-se que o número de dependentes do
policial aumenta a sua sobrevida, ao passo que policiais em posições mais baixas
na hierarquia e os que possuem menos experiência têm sua vida abreviada.
Ademais, policiais atuando como bombeiros, que residem em áreas com maior
quantidade de apreensões de arma de fogo e com melhores registros na avaliação
de desempenho, têm maior sobrevida em relação àqueles que atuam em áreas
operacionais, vivendo em locais com menores índices de apreensão de armas de
fogo e com piores indicadores de desempenho individuais. Os resultados
encontrados neste trabalho contribuem para a discussão de como as características
individuais, fatores ambientais e fatores organizacionais ligados à atividade policial
podem abreviar a vida do policial militar.

Palavras-chave: Policial militar; Morte; Gestão policial com base em evidências.


ABSTRACT

Using econometric models, the present study aims to understand the factors
associated with the deaths of police officers of the Military Police of the State of São
Paulo (PMESP), considering the time that elapsed between the individual's entry into
PMESP and his death. This research is of importance, as the death of the military
policeman causes a deficit in the number of PMESP, thus bringing negative impacts
on the activity of ostensive police and the preservation of public order, limiting the
allocation of human resources in administrative and operational services, which,
consequently, leads to less effective on the streets and in preventive and ostensive
patrolling, and thus causes a greater sense of insecurity for society. When analyzing
the factors associated with 3535 deaths of military police officers between 2000 and
2020, it was found that the number of police dependents increases their survival,
while police officers in lower positions in the hierarchy and those with less experience
have their lives. abbreviated. In addition, police officers acting as firefighters, who live
in areas with a greater number of firearm seizures and with better records in
performance evaluation, have a higher survival rate compared to those who work in
operational areas, living in places with lower rates of seizure of firearms. firearms and
with the worst individual performance indicators. The results found in this work
contribute to the discussion of how individual characteristics, environmental factors
and organizational factors linked to police activity can shorten the life of the military
police officer.

Keywords: Police officer. Death. Evidence-based police management.


SUMÁRIO EXECUTIVO

A Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) é uma instituição


hierarquizada em diversas patentes (oficiais e praças) e tem como função
constitucional a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública, e presente nos
645 municípios do Estado de São Paulo. A ela, estão incorporados os Batalhões
Operacionais, Especializados (Policiamento de Choque, Rodoviário, Ambiental, de
Trânsito e o Radiopatrulhamento aéreo), Administrativos e o Corpo de Bombeiros,
representando a maior força policial do Brasil.
O alcance dos objetivos estratégicos da instituição depende da presença
física do agente no pleno exercício de suas funções, mas o perigo iminente é
intrínseco à natureza da atividade policial-militar. A morte precoce do policial militar é
um problema que traz impactos negativos à instituição. Além da dor causada pela
perda à familiares e pessoas próximas, a morte de um policial militar causa
implicações negativas nos serviços administrativos/operacionais e danos ao erário.
Nesse contexto, torna-se relevante identificar fatores de risco para a morte de
policiais militares.
Existe uma grande preocupação na morte de policiais, mas não há nenhum
programa específico de intervenção para resguardar a integridade física no trabalho
policial-militar, além da busca de equipamentos mais sofisticados. Entretanto, a
PMESP busca através treinamentos, preleções, instruções continuadas e
aprimoramento na padronização dos procedimentos operacionais para resguardar o
policial. O índice de criminalidade é um dos critérios adotados pela PMESP para
distribuir o efetivo policial no Estado. Os resultados mostram que regiões onde há
maior produtividade na apreensão de armas de fogo, corroboram com maior tempo
de vida de policiais.
Os resultados do presente trabalho mostram que o maior número de
dependentes contribuiu na sobrevida do policial e a instituição não consegue
interferir diretamente na decisão do policial ter filhos ou não. Embora o número de
dependentes pareça induzir o policial à aversão ao risco, a solução sugerida é
identificar os policiais e mesclar as equipes com policiais que possuem filhos com
aqueles que não possuem filhos, para que a ação da equipe policial seja mais
prudente.
Na mesma linha, sugerimos que além do fator número de dependentes, a
inexperiência e baixa patente sejam incluídas como critério na composição das
patrulhas. Assim, devemos agregar o inexperiente e de baixa patente com o policial
mais experiente, e preferencialmente, de maior patente para que diminua a
exposição ao risco e sua vulnerabilidade.
Neste estudo percebemos que há policiais menos vulneráveis como aqueles
que atuam como bombeiros, que estão menos expostos a situações de confronto.
Logo, a fim de resguardar o policial, os gestores devem observar algumas
características como número de dependentes, baixa patente, inexperiência e a
exposição do policial no exercício de suas funções.
Existem poucos estudos para compreensão dos fatores determinantes de
mortes de policiais na ativa e o presente estudo utiliza uma larga base de dados
para abordar o assunto de forma robusta e contribuir na gestão policial baseada em
evidências, ao invés de basear-se somente no conhecimento empírico.
Por fim, as soluções sugeridas aos profissionais de segurança pública podem
ser aplicadas em todas as unidades operacionais (Operacional, Administrativo,
Especializada e Corpo de Bombeiros), pois todas as equipes devem ser compostas,
obrigatoriamente, por pelo menos dois policiais.
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Revisão de literatura ............................................................................... 19


Tabela 2 - Quadro de efetivo da PMESP em 2020 .................................................. 23
Tabela 3 - Comparativo das idades do efetivo da PMESP (N=3459) ....................... 31
Tabela 4 - Descrição das variáveis numéricas ........................................................ 34
Tabela 5 - Descrição das variáveis categóricas ....................................................... 35
Tabela 6 - Tabela de correlação das variáveis numéricas ....................................... 37
Tabela 7 - Variáveis do modelo estatístico .............................................................. 41
Tabela 8 - Comparativo das causas de morte na PMESP ....................................... 51
Tabela 9 - Variáveis do modelo estatístico sem os Bombeiros ................................ 52
Tabela 10 - Modelo estatístico para suicídio ............................................................ 54
SIGLAS E ABREVIATURAS

OPM Organização Policial Militar

PM Policial Militar

PMESP Polícia Militar do Estado de São Paulo

PPT Programa Padronizado de Treinamento

SIOPM Sistema de Informações Operacionais da Polícia Militar

SP São Paulo

SITAF Sistema Informatizado do Teste de Aptidão Física

TAF Teste de Aptidão Física

UOp Unidade Operacional


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 14

2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................. 16

3 CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................. 22

4 HIPÓTESES................................................................................................... 24

4.1 Influência do número de dependentes ao policial militar ......................... 24

4.2 Patente e experiência policial-militar ......................................................... 25

4.3 Exposição ao risco e potencial confronto ................................................. 26

5 DADOS E METODOLOGIA .......................................................................... 28

5.1 Amostra ........................................................................................................ 28

5.2 Dados ........................................................................................................... 28

5.3 Variáveis ....................................................................................................... 30

5.3.1 Variável dependente ...................................................................................... 30

5.3.2 Variáveis independentes das características individuais ................................ 31

5.3.3 Idade ............................................................................................................. 31

5.3.4 Variáveis independentes dos fatores organizacionais .................................... 32

5.3.5 Variáveis independentes dos fatores ambientais ........................................... 32

5.3.6 Estatísticas descritivas................................................................................... 32

5.3.7 Causas de morte ........................................................................................... 36

5.3.8 Correlação das variáveis numéricas .............................................................. 36

5.4 Modelagem econométrica ........................................................................... 37

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 39

7 CONCLUSÃO ............................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 48

APÊNDICE A .......................................................................................................... 51
APÊNDICE B .......................................................................................................... 52

APÊNDICE C .......................................................................................................... 54
14

1 INTRODUÇÃO

Entre as preocupações da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP)


está a manutenção da higidez do Policial Militar (PM) ao longo da carreira, de forma
a possibilitar o alcance dos objetivos estratégicos da instituição, maximizar a
produtividade, diminuir os índices criminais e melhorar a sensação de segurança da
população. Para isso, é necessária a presença física do agente no exercício da
polícia ostensiva. O perigo iminente é inerente à natureza da atividade policial militar
no exercício da preservação da vida e da ordem pública.
A morte precoce do policial militar é um problema que traz impactos negativos
à Instituição, limitando capital humano nos serviços administrativos e operacionais,
refletindo na diminuição da produtividade, aumento dos índices criminais,
acarretando custos ao erário, na medida em que demanda a realização de novo
processo seletivo para preenchimento da vaga e consequente custo com a formação
e treinamento do novo PM. Essa defasagem impacta na entrega de valor para a
população paulista, causando maior sensação de insegurança para a sociedade.
Nesse contexto, torna-se relevante identificar fatores de risco para a morte de
policiais militares. Considerando-se tal pressuposto, o presente trabalho busca
responder a esta questão. Este problema traz consigo outras implicações negativas,
que afligem a família, amigos e colegas de trabalho e não será objeto deste estudo.
Merino (2010) cita que a mortalidade associada a causas externas foram os
principais motivos de morte da população masculina da PMESP, superando
inclusive os índices relativos à população paulista masculina. Entre eles,
evidenciam-se os homicídios (26%), acidentes de transporte (23%), suicídios (103%)
e intervenções legais (33%).
O objetivo deste trabalho é reconhecer quais são os fatores determinantes no
tempo decorrido entre a entrada na instituição e a morte de policiais militares ativos
na PMESP. O estudo empírico foi realizado a partir de um banco de dados
construído para o desenvolvimento desta dissertação, baseada nas informações
fornecidas pela PMESP, com índices sobre a morte de policiais militares no período
entre 2000 e 2020.
Diariamente esses profissionais se encontram em situações de exposição a
riscos pessoais, podendo ocorrer a morte do PM a qualquer momento durante a
15

atuação ostensiva na atividade constitucional de segurança pública. Os fatores de


risco que serão estudados neste trabalho estão classificados em características
individuais (idade, condicionamento físico, avaliação de desempenho, número de
dependentes e nível hierárquico), fatores ambientais (quantidade de arma de fogo
apreendida e os índices criminais dos locais em que o PM trabalha e reside) e
fatores organizacionais (Administração, Operacional, Especializada ou Bombeiro).
Dessa forma, a análise explorou como a dimensão dos fatores pode afetar a morte
do PM nos aspectos associados às características individuais, fatores ambientais em
relação ao tempo e ao espaço em que ocorrem os eventos e fatores organizacionais
ligados à ocupação.
Verificou-se que os fatores ligados a características individuais como número
de dependentes, idade de ingresso e patente na instituição apresentaram efeitos
significativos sobre o tempo até a morte de policiais militares: este tende a ser maior
com o aumento do número de dependentes, porém, menor para os que ingressam
mais velhos na instituição e também para policiais de baixa patente. Em relação aos
fatores ambientais, índices criminais e a quantidade de apreensões de arma de fogo
na região em que trabalha/reside, somente esta última obteve significância
estatística, quanto mais armas apreendidas, maior tende a ser o tempo até a morte.
Já no que concerne aos fatores organizacionais, a natureza da atividade exercida
pelo Batalhão indicou que policiais militares cuja função é exercida no Corpo de
Bombeiros da PMESP tendem a ter um tempo superior até a morte se comparados
aos de policiais em outras atividades.
Este estudo busca trazer contribuições importantes nas questões práticas
para a PMESP, identificando possíveis fatores determinantes relacionados ao tempo
até a morte e que estão envolvidos na carreira desses profissionais; além disso,
pretende-se incentivar a contínua formulação de políticas de prevenção de mortes
para resguardar o PM, o que diminuirá os custos ao erário (pensão, indenização,
nova seleção de policiais, formação, treinamento), por meio da boa gestão do capital
humano. Por fim, os resultados obtidos por meio deste estudo favorecem o debate
sobre como determinados aspectos, como as características individuais, fatores
ambientais e fatores organizacionais ligados à ocupação podem reduzir a vida do
PM.
16

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Os referenciais teóricos utilizados neste trabalho visam responder à questão


central e melhorar o entendimento sobre os fatores determinantes envolvidos nas
mortes de policiais militares. A fim de atingir esse objetivo, os fatores determinantes
foram divididos em características individuais, fatores organizacionais e ambientais,
recorrendo às ciências econômicas e conhecimentos das áreas da administração,
direito, psicologia, ciências da saúde e ciências policiais para alcançar a boa gestão
policial baseada em evidências.
Merino (2010) estuda a mortalidade na Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Ele cita que outros autores como Sardinas et al. (1986, p. 1140), Souza e Minayo
(2005) acreditavam que a mortalidade de policiais era maior quando comparada a
outros grupos de trabalhadores, pela exposição a fatores de risco que comprometem
a saúde, gerando desgastes físico e emocional.
Além disso, Merino (2010) elenca os fatores de risco de mortalidade do
policial como a violência social, mortes em acidentes de trânsito, suicídio, ataques
de facções criminosas; menciona também as doenças do aparelho circulatório e
desgaste emocional em policiais militares. Foi estudada a taxa de mortalidade de
policiais militares masculinos, de 20 a 54 anos de idade, do serviço ativo da PMESP.
E como objetivos específicos deste estudo foi feita a comparação da taxa de
mortalidade por causas naturais de policiais militares com as da população paulista
masculina; foi investigada principalmente a mortalidade envolvendo doenças do
aparelho circulatório e neoplasias. Ele conclui que a taxa de mortes naturais por
causas definidas (doenças infecciosas e parasitárias, endócrinas, nutricionais e
metabólicas, aparelho circulatório e digestivo, neoplasias e transtorno mentais e
comportamentais) de policiais com mais de 44 anos foi superior à da população
paulista; com relação às causas externas, a taxa foi 11% maior; já a taxa de suicídio
mostrou-se duas vezes maior, enquanto o acidente de trânsito, com taxa maior de
26%. Uma das razões apontada para esse fato é a exposição a outros fatores de
risco, sendo o fator mais preponderante o comprometimento da saúde diante do
desgaste físico e emocional da atividade profissional.
Alves (2013) sugere que o policial militar entra na Instituição com boa
condição física, mas os dados mostram que, com o passar dos anos, essa vantagem
17

não permanece constante; ao contrário, o cenário se inverte. O autor analisou os


níveis de aptidão física de integrantes da PMESP, em três momentos distintos da
carreira, em grupos de policiais formados entre os anos de 2003 a 2008 e os efeitos
do tempo de serviço sobre eles utilizando o Teste de Aptidão Física-3 (TAF-3),
pesagem corporal, circunferência abdominal, dobras cutâneas, estatura e quatro
questionários (informações pessoais, profissionais, PAR-Q e de risco de doenças
coronarianas). Foram também calculados os percentuais de gordura e o IMC.
Concluiu-se que existe uma correlação entre o aumento da massa corporal e do
percentual de gordura com o aumento do número de anos de serviço, tendo um
maior aumento absoluto desses resultados provavelmente entre o segundo e o
quinto ano de serviço. O baixo nível de aptidão física e o aumento das medidas
antropométricas tiveram alterações superiores as expectativas estimadas para a
faixa etária.
Violanti et al. (2016) relatam que o trabalho policial é geralmente sedentário,
embora possa haver situações que exijam resistência e força, como perseguições
nos pés e prisão de suspeitos. Fatores como excesso de gordura corporal podem
impedir a capacidade física de um policial de lidar com tais ocorrências.
Souza e Minayo (2005) estudaram a Polícia Militar, Polícia Civil e a Guarda
Municipal do Rio de Janeiro e constataram que, entre os três grupos, a Polícia Militar
do Estado do Rio de Janeiro é a que mais sofre agressões com elevadas taxas de
mortalidade. Os autores ainda realizaram a comparação com a população geral e
masculina da cidade do Rio de Janeiro.

No Brasil, a taxa de mortalidade por homicídio na população geral foi de


26,7 por 100 mil habitantes e essa taxa na população masculina foi de 49,7.
Na capital do Rio de Janeiro, os dados são mais elevados: 49,5/100.000 na
população geral e 97,6/100.0000 na população masculina. No entanto, na
Polícia Militar, em 2000, a taxa de mortalidade por agressões chegou a
356,23/100.000, [...] apresentando de taxas de mortalidade por violência
3,65 vezes maiores do que a da população masculina da cidade do Rio de
Janeiro e 7,2 vezes a da população geral da cidade. Comparando-se com o
Brasil, as taxas são 7,17 vezes as da população masculina e 13,34 vezes
as da população geral. (SOUZA; MINAYO, p. 927, 2005)

Assim, concluíram que a mortalidade de policiais militares do Rio de Janeiro é


muito superior quando comparada a outras categorias de servidores que trabalham
na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro e maior em relação à população
masculina e à população geral.
18

Russel (2014) cita em seu artigo que:


As ocupações de alto risco apresentam desafios únicos porque são mais
perigosas e expõem os trabalhadores a diferentes tipos de estresse do que
as ocupações menos arriscadas. As organizações que operam em
ambientes perigosos ou arriscados têm custos mais altos (ou seja,
treinamento e substituição de funcionários, assistência médica e seguro de
compensação do trabalhador) do que aquelas que operam em ambientes
menos arriscados (Deschamps et al., 2003). Como a aplicação da lei está
entre as ocupações de alto risco mais estressantes (Dantzer, 1987) e os
policiais sofrem maiores taxas de doenças, burnout, absenteísmo e
aposentadoria prematura do que outros trabalhadores (Hart et al., 1996;
Violanti e Aron, 1993) e enfrentam maior risco de taxas aumentadas de
doenças cardíacas e distúrbios estomacais e taxas mais altas de abuso de
álcool e drogas, divórcio e suicídio (Lord et al., 1991; Rogers, 1976), é
importante estudar as relações entre estresse e burnout na polícia.
(RUSSEL, 2014, p.367-368)

O estudo conduzido por Copeland (1984) relata que a primeira causa de


morte listada é relacionada à arma de fogo, principalmente durante um confronto
com um suspeito de crime que atira contra o policial. Dentre as causas de morte
presente na PMESP, o óbito por arma de fogo mostrou a mesma tendência,
concentrando 35,77% dos casos de morte em PM. Certamente, o risco ocupacional
do policial militar é alto devido à natureza da sua atividade e por estar portando uma
arma de fogo para preservar a ordem pública, estando vulnerável a trocas de tiro
com infratores da lei a qualquer momento.
Copeland (1984) ainda aponta que uma grande porcentagem morre em
acidentes de trânsito, tendo como motivos colisão entre veículos, colisão veículo-
objeto, motocicleta, atropelamento e viatura em acompanhamento, pela exposição
frequente do PM em acompanhamentos de veículos suspeitos e em vias urbanas e
rodovias, sobretudo aqueles que exercem funções específicas nesses locais, como
os PM que trabalham em Batalhões de Policiamento de Trânsito e Batalhões de
Policiamento de Rodoviário.
A Tabela 1 traz um resumo de trabalhos que tratam sobre a mortalidade de
policiais e quais fatores influenciam na morte desses agentes.
19

Tabela 1 - Revisão de literatura

Autores Objetivos Conclusões

Os resultados mostraram diferenças entre os


policiais que foram feridos ou não no
Integrar o modelo transacional
cumprimento do dever e uma complexa relação
de estresse com perspectivas de
estresse-desempenho para o primeiro grupo. Os
Perez- análise de risco e morte, explorar
policiais que foram feridos relataram maiores
Floriano e como os riscos são relacionados
riscos relacionados ao trabalho e estresse nesse
Gonzalez ao trabalho e a experiência de
ambiente, o qual, para os autores, tinha uma
(2019) uma lesão crítica no trabalho
relação direta e positiva com o desempenho
influencia o estresse no
profissional. O estudo esclareceu a natureza dos
ambiente laboral.
riscos, estresse e lesões críticas relacionados ao
trabalho.

Identificar eventos
desencadeadores e outros
conjuntos de condições e
Indivíduos que matam policiais: reincidência de
circunstâncias que contribuem
Gruenewald crime na situação de procurado, ofensa
para resultados mortais para a
et al. (2016) ideológica contra policiais, defender familiares
polícia, encontrar oportunidades
contra ameaça na ação policial.
para prevenção precoce e
descobrir as circunstâncias dos
eventos de homicídio.

Policiais e bombeiros
experimentam estressores e
exposições significativas O resultado da revisão sistemática revela que
Stanley,
relacionadas ao trabalho que policiais e bombeiros podem estar em risco
Hom e Joiner
podem conferir um risco elevado de suicídio, pensamentos e
(2016)
aumentado de morbidades em comportamentos.
saúde mental e apressou a
mortalidade.

Esta revisão mostrou que riscos ocupacionais,


Mona,
Descreve os riscos, lesões e lesões e doenças podem afetar a saúde e a
Chimbari e
doenças ocupacionais afetando segurança dos policiais. Assim, são necessárias
Hongoro
policiais em todo o mundo. medidas preventivas para reduzir lesões
(2019)
ocupacionais, fatalidades resultantes de
20

acidentes, riscos físicos, de perigos químicos que


podem levar ao câncer, riscos biológicos, riscos
ergonômicos e riscos musculoesqueléticos.

Os resultados indicam que o estresse policial


agrava a fadiga percebida. Este estudo constata
que, embora liderança transformacional atenue a
O objetivo deste estudo é
relação entre estresse e esgotamento, os
Russel analisar a relação entre estresse
resultados são válidos apenas para níveis mais
(2014) e burnout em ocupações de alto
baixos de estresse para a polícia, indicando que
risco.
o comportamento do líder transformacional pode
aumentar o esgotamento em níveis mais altos de
estresse.

O trabalho policial é geralmente


sedentário, embora possa haver
situações que exijam resistência
e força, como perseguições nos
Em geral, o percentual de gordura corporal foi
Violanti et al. pés e prisão de suspeitos.
inversamente proporcional aos níveis de
(2016) Fatores como excesso de
condicionamento físico em policiais.
gordura corporal podem impedir
a capacidade física de um
policial de lidar com tais
ocorrências.

As características associadas a um aumento


estatisticamente significativo no risco de lesão
Identificar fatores de risco para incluem múltiplas colisões de veículos, direção da
lesões em acidentes de veículos colisão, dirigindo sob condições de emergência,
Oron-Gilad et
com policiais, para determinar as este estudo apresenta as primeiras estimativas
al.
abordagens mais eficazes para quantitativas dos fatores de risco para lesão
(2004)
melhorar a segurança das policiais em acidentes de trânsito. Resultados
viaturas. indicam que o uso do cinto de segurança
continua sendo uma intervenção crítica de
segurança

Avaliar e comparar as Em geral, policiais e bombeiros tiveram uma


Han et al.
incidências de doenças entre maior incidência de uma série de doenças
(2017) diferentes categorias de quando comparados com outras áreas. Os
funcionários públicos na Coreia, policiais tinham taxas mais altas para todas as
21

para entender melhor os riscos à doenças medidas, exceto para distúrbios


saúde associados a diversas traumáticos de estresse.
ocupações.

A incidência de suicídio entre PM no sul do Brasil


Gomes, Avaliar a incidência e o perfil
foi alta, comparada à taxa de suicídio nacional.
Araújo e sociodemográfico do suicídio em
Idade menor e menor patente militar foram
Gomes uma subpopulação de policiais
preditores independentes de suicídio nessa
(2018) militares no sul do Brasil.
subpopulação.

Mostram que jovens de 26 a 34 anos, brancos


Este estudo busca entender a
são a maioria das vítimas no trabalho policial nos
periculosidade do trabalho de
Estados Unidos. As causas de morte listadas:
aplicação da lei do ponto de vista
primeiro, as mortes envolvem principalmente
ponto de mortes que ocorreram
ferimentos com arma de fogo. Uma grande
no cumprimento do dever na
porcentagem morre em acidentes de trânsito,
Copeland aplicação da lei no Condado de
uma pequena porcentagem de casos pode
(1984) Miami-Dade, de 1956 a 1982. Os
também resultar de causas naturais como
casos foram analisados quanto a
“ataques cardíacos”, na apreensão de um
idade, raça, sexo, causa e modo
suspeito criminal, quando esse suspeito atira no
de morte, circunstâncias da
policial. A taxa de mortalidade é cinco vezes é
cena, álcool e drogas detectados
superior à média de mortes acidentais
na autópsia.
relacionadas ao trabalho nos Estados Unidos.

Fonte: próprio autor.


22

3 CONTEXTUALIZAÇÃO

A Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), criada em 15 de


dezembro de 1831, tem como função constitucional a polícia ostensiva e a
preservação da ordem pública. A ela, estão incorporados os Batalhões
Operacionais, Especializados (Policiamento de Choque, Rodoviário, Ambiental, de
Trânsito e o Radiopatrulhamento aéreo), Administrativos e o Corpo de Bombeiros.
Atualmente, a estrutura operacional da PMESP é composta por 84378 policiais e
bombeiros, que conta com o apoio de veículos, helicópteros, embarcações, aviões,
cavalos e cães, e presentes nos 645 municípios do Estado de São Paulo,
perfazendo um total de 129 Batalhões.
Os Batalhões Operacionais são responsáveis pelo radiopatrulhamento
ostensivo e preventivo, ações de fiscalização, abordagens e atendimento de
ocorrências via telefone 190. Estas atividades são desenvolvidas diuturnamente por
patrulhas para cumprir missões rotineiras de policiamento ostensivo.
Os Batalhões Especializados atuam em situações que, por sua natureza,
vulto ou grau de risco, necessite de atuação específica de acordo com sua
especialidade. A eles, estão incorporados os cinco Batalhões de Polícia de Choque
que são responsáveis pelas ações antiterrorismo, de policiamento com cães, de
policiamento montado, táticas especiais e para emprego em missões extraordinárias
de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública no território estadual; os
seis Batalhões de Polícia Rodoviária que fiscalizam as rodovias estaduais com o
objetivo de prevenir e reprimir atos contra à segurança pública e de garantir
obediência às normas relativas à segurança de trânsito; os quatro Batalhões de
Polícia Ambiental executam atividades de policiamento florestal e de mananciais
com ações de salvaguarda dos recursos naturais do Estado e pela prevenção e
repressão das infrações cometidas contra o meio ambiente; os dois Batalhões de
Polícia de Trânsito realizam o policiamento ostensivo e fiscalização de trânsito
urbano; as onze Bases de Aviação (Grupamento aéreo) realizam atividades
patrulhamento aéreo e resgate/transporte aeromédico.
Os Batalhões Administrativos são responsáveis pelas questões
administrativas da PMESP, são compostos pelas Diretorias, Assessorias, Escolas de
23

formação, Presídio Militar Romão Gomes, Centros (Médico, Odontológico,


Reabilitação, entre outros) e Corregedoria.
Ao Corpo de Bombeiros da PMESP incumbe atender ocorrências de
emergências envolvendo incêndio, resgate, salvamento e a execução de atividades
de defesa civil.
A PMESP é uma Instituição hierarquizada em diversas patentes que são
classificadas em Postos para Oficiais e Graduações para as Praças. O quadro de
Oficiais, da menor para a maior patente, é composto por 2° Tenente, 1° Tenente,
Capitão, Major, Tenente-Coronel e Coronel. Enquanto o quadro de Praças é dividido
em Graduações: da menor para maior graduação, temos o Soldado 2° Classe,
Soldado 1° Classe, Cabo, 3° Sargento, 2° Sargento, 1° Sargento e Subtenente. O
Aluno-Oficial e Aspirante-a-Oficial são patentes intermediárias que irão compor o
quadro de Oficiais após o término do período de estágio probatório.
A Tabela 2 mostra a distribuição do efetivo da PMESP em cada uma das
patentes.
Tabela 2 - Quadro de efetivo da PMESP em 2020
Frequência Frequência
Quadro Patente N
(%) acumulada (%)
Coronel 62 0,07 0,07
Tenente Coronel 186 0,22 0,29
Major 474 0,56 0,85
Oficiais
Capitão 1.641 1,94 2,79
(6,67%)
1º Tenente 2.019 2,39 5,18
2º Tenente 435 0,52 5,7
Aluno Oficial 809 0,96 6,66
Subtenente 1.166 1,38 8,04
1º Sargento 4.633 5,49 13,53
2º Sargento 2.775 3,29 16,82
Praças
3º Sargento 2.476 2,93 19,75
(93,33%)
Cabo 36.270 42,99 62,74
Soldado 1º Classe 25.554 30,29 93,03
Soldado 2ª Classe 5.875 6,96 100
Total 84.375 100,00 100,00
Fonte: PMESP (2020), adaptado pelo autor.
24

4 HIPÓTESES

Identificar os fatores que influenciam no tempo até a morte de policiais


militares constitui o objetivo principal deste estudo. Para isso, foram utilizados
modelos econométricos e outras abordagens teóricas como instrumentos na busca
de possíveis hipóteses explicativas.
Desse modo, este capítulo é dividido em três subcapítulos. No primeiro,
propõe-se uma reflexão a partir de autores que estudaram a influência quanto ao
número de dependentes sobre o tempo de morte do policial, tendo como principal
mecanismo a aversão a risco causado pelo maior número de dependentes.
No segundo subcapítulo, analisou-se como a baixa patente, a qual aumenta
a probabilidade de estar na linha de frente do cumprimento da lei e a inexperiência
funcional, que amplia a suscetibilidade ao risco e menor percepção dos riscos
envolvidos, podem abreviar a vida do policial.
No terceiro subcapítulo, investigou-se a influência da probabilidade de
exposição a situações de confronto de acordo com as diferentes atribuições quanto
ao batalhão Operacional, Especializado, Administrativo e Bombeiros em relação à
sobrevida do policial.

4.1 Influência do número de dependentes ao policial militar

Gibbs, Ruiz e Klapper-Lehman (2014) denominam o investimento social como


a situação social em que o agente se encontra, ou seja, o fato de estar casado e
possuir filhos. Em seu estudo, concluiu-se que o casamento tinha uma correlação
negativa com a ocorrência de morte; por outro lado, o número de filhos não
influenciava na morte do policial; e, por fim, aqueles que possuíam mais
investimentos sociais eram menos propensos a morrer. Enquanto Kachurik, Ruiz e
Staub (2013) demonstraram que o número de filhos diminui as chances de morte
criminosa no trabalho. Gibbs et al. (2018) relatam que policiais casados e com filhos
eram menos propensos a serem mortos criminalmente quando comparados aos
policiais solteiros. Desta vez, os autores estudam como a relação do investimento
social impacta no modo de morte do agente e mostram que há diferentes relações
para homens e mulheres. Observam que “o casamento não teve nenhum efeito na
25

morte de homens em serviço, embora ter filhos aumentasse as chances de serem


mortos criminalmente” (GIBBS et al., 2018, p. 1, tradução do autor), trazendo
inconsistência ao estudo anterior. O autor explica que essa causa pode estar
associada à experiência de vida, a qual pode alterar a maneira de tomar decisões,
reduzindo a quantidade de exposição ao perigo no trabalho dos policiais.
Kachurik, Ruiz e Staub (2013) verificaram a relação entre o investimento
social e a morte de policiais. Eles indicaram que o número de filhos diminui as
chances de morte criminosa no trabalho, mas não o casamento, enquanto Gibbs,
Ruiz e Klapper-Lehman (2014) chegaram à conclusão de que o casamento diminui
as chances de o policial ser morto no cumprimento do dever e o número de filhos
não era um fator relacionado. Os autores Kachurik, Ruiz e Staub (2013) e Gibbs,
Ruiz e Klapper-Lehman (2014) utilizaram o fato de estar casado e o número de filhos
como variáveis independentes.
Hipple et al. (2017) verificaram se o fato de o policial ter filhos ou não poderia
capturar a morte de policiais e observaram que, na amostra, 59% dos policiais
mortos no cumprimento do dever possuíam filhos.
Dessa forma, a hipótese estabelecida foi de que o número de dependentes
pode influenciar no tempo de morte dos PM.
Hipótese 1: Ter dependentes aumenta o tempo de vida de policiais militares mortos.

4.2 Patente e experiência policial-militar

Gibbs et al. (2018b) relatam que alguns agentes são mais expostos a riscos
que outros pela função que exerce, uma vez que policiais envolvidos em atividades
operacionais estão mais vulneráveis a possíveis infratores, sendo que aqueles que
realizam serviços internos estão menos expostos a riscos.
Hipple et al. (2017) também utilizam a patente como variável para poder
capturar a morte de policiais. Gibbs, Ruiz e Klapper-Lehman (2014) relatam que
policiais mais experientes (tempo de serviço) são menos propensos a morrer de
assassinato do que os oficiais menos experientes, considerando que o aumento de
uma unidade em anos de experiência diminui as chances de uma morte criminosa
em 0,96. LaFrance e Day (2013) relatam que a experiência é um determinante
crucial para o policial tomar decisões de forma eficaz.
26

Uma das hipóteses levantadas por Gibbs et al. (2018) é de que os mais
jovens poderiam estar mais dispostos a se envolver em situações de risco,
aumentando a probabilidade de morte em comparação com policiais mais velhos. Os
autores utilizaram como variável independente anos de experiência no trabalho e a
idade do agente. Hipple et al. (2017) também utilizam o tempo de serviço em anos
como variável para entender a morte de policiais e citam que a maioria dos policiais
em Indianópolis morrem com menos de 10 anos de serviço, geralmente antes de
completarem 40 anos de idade. Em um estudo mais preciso, Tucker-Gail et al.
(2010) concluíram que a idade média dos policiais mortos é de 34 anos e supõe que
policiais mais jovens correm maior risco por causa da inexperiência. Outro foco
desses autores foi a análise da idade de ingresso na Polícia, nesse sentido,
concluíram que policiais com 30 anos de idade e com tempo de serviço de 0 a 4
anos apresentaram maior frequência de morte.
Hipótese 2: Quanto menor a patente e o nível de experiência, menor o tempo de
vida de policiais militares.

4.3 Exposição ao risco e potencial confronto

Os dados extraídos do Sistema de Informações Operacionais da Polícia


Militar (SIOPM) mostram que o número de ocorrências criminais varia de acordo
com a região do Estado de São Paulo. Dessa forma, Gibbs et al. (2018) citam que a
região geográfica pode influenciar na morte de PM, pois, em regiões mais violentas,
os agentes atendem mais ocorrências, aumentando a exposição potencial à
violência e aos infratores.
As estatísticas de crimes sugerem que os estados da região sul dos
EUA têm consistentemente mais homicídios e outros crimes violentos
e de propriedade (FBI, 2014). Uma suposição segura é que os
policiais respondem a mais ligações nessa região. Assim, controlar
essa exposição potencial à violência e aos infratores é importante.
(GIBBS et al., 2018, p. 289-290, tradução nossa).

Gibbs et al. (2018b) afirmam que o volume de solicitações de assistência


policial está positivamente correlacionado ao número de posse de armas de fogo e
agressões prejudiciais aos policiais, assim, o volume de solicitações estaria
associado diretamente à quantidade de encontros violentos entre policiais e
suspeitos, aumentando o risco ao policial.
27

Outros autores citados abaixo relatam a relação da posse de arma com a


violência contra a polícia.
Vários estudos têm sido destinados a explorar a relação entre as
taxas de posse de armas e violência contra a polícia. Lester (1978,
1984) e Swedler, Simmons, Dominici e Hemenway (2015)
descobriram que as taxas de posse de armas estavam associadas à
vitimização policial. (WHITE; DARIO; SHJARBACK, 2019, p. 5,
tradução nossa)

Gibbs et al. (2018) explicam que, quando comparados aos policiais que
ocupam funções administrativas, os quais permanecem com maior frequência no
ambiente interno, os agentes que realizam patrulha/ronda, ou seja, exercem
atividades operacionais, estão mais suscetíveis a interagirem com possíveis
infratores, concentrando a maioria dos casos de morte. Gibbs et al. (2018b) ainda
apontam que o tipo/modalidade de policiamento é um importante preditor de morte.
Os autores esclarecem que isso pode ser devido à natureza do trabalho realizado
pelos agentes, que provoca maior ou menor exposição às situações perigosas,
consequentemente, aumentando o risco de acordo com a modalidade de
policiamento.
Hipótese 3: Quanto maior a exposição do PM ao risco na Unidade Operacional em
que exerce suas funções, menor será o tempo de vida.
28

5 DADOS E METODOLOGIA

Esta pesquisa baseia-se em metodologia de pesquisa quantitativa a partir do


uso de dados coletados e fornecidos pelos Órgãos da PMESP. As análises são
feitas por meio do programa estatístico Stata.

5.1 Amostra

A amostra é composta por informações sobre policiais militares do Estado de


São Paulo que estavam na ativa e faleceram no período de 2000 a 2020. Houve
3535 mortes nesse período.
As informações relacionadas aos PM foram coletadas em diversas fontes de
dados da Instituição e foram compiladas para as análises. As OPM (Organização
Policial Militar), comumente conhecidas como Unidades/Batalhões, foram divididas
de acordo com a natureza da atividade que a OPM foi criada e foram classificadas
em Administrativa, Operacional, Especializada e Bombeiro. Os dados referentes à
OPM referem-se ao último Batalhão em que o PM trabalhou antes de falecer.

5.2 Dados

Os dados relacionados a características individuais, como o número de


dependentes, nível hierárquico na instituição, idade de ingresso e avaliação de
desempenho foram obtidos através da Diretoria de Pessoal.
O condicionamento físico será medido através da pontuação obtida no Teste
de Aptidão Física-3 (TAF-3). Os resultados do TAF-3 foram extraídos do Sistema
Informatizado do Teste de Aptidão Física (SITAF), o qual armazena os dados do PM
e a pontuação do teste aplicado. O PM é submetido aos testes do TAF, ao menos
uma vez ao ano, em um único dia, podendo obter a pontuação total de 0 a 400
pontos. O Programa Padrão de Treinamento Policial Militar, denominado pela sigla
PPT-4-PM, estabelece o TAF e prática de treinamento físico na PMESP e sua
publicação deu-se em 29 de julho de 2002, no anexo ao Boletim Geral PM 143.
De acordo com o PPT-4-PM, o TAF é dividido em quatro tipos, conforme
preconizado abaixo:
29

Artigo 3º - Dos tipos de TAF a serem aplicados:


I - ficam instituídos quatro tipos de TAF, cujas respectivas destinações são
as seguintes:
1) Teste de Aptidão Física - 1 (TAF-1): destinado à seleção de candidatos a
ingresso no Curso de Formação de Oficiais (CFO), no Quadro de Oficiais de
Saúde (QOS) e Curso de Formação de Soldados (CFSd);
2) Teste de Aptidão Física - 2 (TAF-2): destinado à seleção de policiais
militares, na condição de candidatos aos cursos e estágios de interesse da
PMESP, sendo os testes selecionados em função das peculiaridades dos
cursos ou estágios visados;
3) Teste de Aptidão Física - 3 (TAF-3): destinado à avaliação do nível de
condicionamento físico do policial militar, visando a adoção de
procedimentos para seu treinamento, bem como é pré-requisito para as
inscrições em cursos e estágios de interesse da PMESP; e
4) Teste de Aptidão Física - 4 (TAF-4): destinado à avaliação do nível de
condicionamento físico, de forma alternativa, dos policiais militares aptos
para o serviço policial militar, entretanto, sujeitos à restrições de ordem
médica. (PMESP, 2002, p.9)

Dessa forma, a análise dos dados do TAF terá como enfoque o TAF-3 para
avaliar o nível de condicionamento físico de todos os policiais militares que estão na
ativa. A pontuação do TAF-3 segue as diretrizes estabelecidas pelo Anexo “B” do
PPT-4-PM, publicada em 2002, com alteração mais recente no Boletim Geral PM
141 em 2009.
Abaixo se encontram os testes que compõem o TAF-3 e como devem ser
realizados, sendo divididos em quatro avaliações, que correspondem a uma
pontuação de 0 a 100 pontos para cada, perfazendo no total de 0 a 400 pontos,
conforme segue abaixo.
Artigo 19 - Da realização do TAF-3:
I - o TAF-3 a ser aplicado em todo contingente policial militar é composto
pelos testes de condicionamento físico geral, que devem ser realizados na
ordem abaixo estabelecida:
1) avaliação de membros superiores:
a) flexão e extensão de cotovelos na barra fixa, obrigatório para homens até
35 (trinta e cinco) anos, inclusive; ou
b) flexão e extensão de cotovelos com apoio de frente sobre o solo, para
homens a partir de 36 (trinta e seis) anos, inclusive (o avaliado pode optar
pelo teste de flexão e extensão de cotovelos na barra fixa); e
c) flexão e extensão de cotovelos com apoio de frente sobre o solo,
apoiando os joelhos sobre o banco de 30 (trinta) centímetros de altura, para
mulheres.
2) resistência abdominal - teste abdominal, em decúbito dorsal, tipo
remador, para ambos os sexos;
3) velocidade - corrida de 50 metros, para ambos os sexos; e
4) resistência aeróbica - corrida em 12 minutos, para ambos os sexos.
II - instruções para aplicação do TAF-3:
1) são requisitos para aprovação no TAF-3 a obtenção de pelo menos 201
(duzentos e um) pontos na
somatória geral, bem como o índice mínimo de 10 (dez) pontos em cada
teste;
2) o oficial responsável pela aplicação do TAF-3 autorizará o policial militar
que não obtiver o índice
30

mínimo em um ou mais testes, componentes do TAF-3, a repeti-lo(s)


somente uma vez, no momento
da(s) prova(s), visando melhorar o resultado obtido, com exceção do teste
de resistência aeróbica;
3) o policial militar reprovado no TAF-3 poderá ser novamente avaliado,
após submeter-se à
programa de condicionamento físico, que vise suprir suas deficiências;
4) os testes componentes TAF-3 são realizados em um único dia; e
5) o protocolo para aplicação do TAF-3, tabelas de pontuação e
interpolação de pontos, vide anexo "B". (PMESP, 2002, p.19-20)

Os dados iniciais, referentes aos fatores ambientais e associados ao local em


que o PM trabalha e onde ele reside, foram coletados através da Diretoria de
Pessoal. Para conhecer o local onde o PM morava antes de seu falecimento, foi
necessário refinar alguns dados e passar por um processo de georreferenciamento
para localizar o Batalhão Operacional de sua residência. Os dados sobre índices
criminais e número de apreensões de armas de fogo foram extraídos através do
sistema de Business Intelligence da PMESP, cuja fonte de dados é o Sistema de
Informações Operacionais da Polícia Militar (SIOPM).
As informações sobre as causas de morte dos policias militares foram obtidas
pela Diretoria de Pessoal da PMESP, sendo classificadas em 7 tipos (Apêncie B):
acidente de trânsito, arma de fogo, a esclarecer, não cadastrado, natural, queda
acidental e suicídio.

5.3 Variáveis

As variáveis envolvidas no modelo são descritas na Tabela 4 e 5, com sua


categoria (dependente/independente), descrição, número de observações, média,
desvio padrão, mínimo e máximo de cada variável.

5.3.1 Variável dependente

A variável dependente (anos_trab) é o tempo de vida em anos até a morte do


policial militar, sendo expresso pelo número de anos trabalhados na PMESP antes
de falecer. Das 3.459 observações, temos que o tempo médio até a morte é de 14
anos de trabalho, com desvio padrão de 7,8 anos, em que a maioria dos PM morre
entre 6,5 anos e 22 anos de serviço (Tabela 3).
31

5.3.2 Variáveis independentes das características individuais

As variáveis independentes estão relacionadas às características individuais


dos PM, entre elas, a patente e o número de dependentes (depend) que o PM
possui. Levando em consideração que a legislação específica não permite que os
policiais militares exerçam outras atividades extras senão nas áreas de educação e
cultura, não é possível identificar através do banco de dados se o agente realiza
uma atividade extra para complementar a renda.

5.3.3 Idade

A variável “id_ingr” é a idade de ingresso do PM na instituição e a sua média


é de aproximadamente 23 anos, sendo que a maioria ingressa na PMESP entre 20 e
26 anos de idade.
A variável “id_inat” é a idade que ocorre o falecimento do policial militar e,
consequentemente, é considerado inativo nas fileiras da Instituição. Assim, a idade
média do falecimento dessa amostra é de 37 anos, e a maioria falece entre 29 e 45
anos de idade.
A Tabela 3 indica que a amostra selecionada (N=3.459) possui a média da
idade de ingresso (id_ingr) de aproximadamente 23 anos. Enquanto a média da
idade de inatividade (id_inat), ou seja, a média da idade que o agente veio a falecer
é de 37 anos, que representa em média 14 anos de serviços prestados antes de seu
falecimento (anos_trab). Assim, percebemos que, nessa amostra, o PM tem um
curto período de vida.
Ainda na Tabela 3, para todas essas variáveis, tem-se um baixo erro padrão
em decorrência do número expressivo de cabos e soldados falecidos no período.

Tabela 3 - Comparativo das idades do efetivo da PMESP (N=3459)


Erro Desvio Intervalo de
Idade em anos Média
padrão padrão confiança (95%)
Idade de ingresso 23,17 0,053 3,10 23,05 23,27
Idade de inatividade 37,48 0,13 7,64 37,22 37,73
Anos trabalhados 14,31 0,13 7,83 14,05 14,57
Fonte: PMESP (2020), adaptado pelo autor.
32

5.3.4 Variáveis independentes dos fatores organizacionais

A UOp (Unidade Operacional), relacionada a fatores organizacionais, envolve


o tipo de atividade que o PM está exercendo e foi classificada de acordo com
natureza da ocupação do Batalhão em que o PM está trabalhando, como
Administrativa, Operacional, Especializada ou Bombeiro. As UOp estão ligadas à
última unidade em que o PM trabalhou antes de falecer, sendo a Administrativa aos
que ocupam funções administrativas com maior frequência no ambiente interno,
Operacional aos que exercem funções operacionais como atendimento de
emergências 190, Especializada aos que realizam funções específicas como
atividades do Batalhão de Choque, Batalhão de Policiamento Ambiental, de Trânsito
Urbano ou Rodoviário, Radiopatrulhamento aéreo e, por fim, o Corpo de Bombeiros.
Cabe ressaltar que, no Estado de São Paulo, o Corpo de Bombeiros está
subordinado à PMESP e compõe as fileiras da instituição.

5.3.5 Variáveis independentes dos fatores ambientais

A Tabela 4 ilustra as variáveis independentes que estão relacionadas aos


fatores ambientais. Entendemos Organização Policial Militar (OPM) como qualquer
local classificado no nível de Batalhão. Aplicamos o termo “_trab” para a região em
que o PM trabalha, “_resid” à região da OPM Operacional em que reside, o termo
“af” corresponde ao número de arma de fogo apreendida na OPM no período de
2006 a 2019 e o termo “ic” indica o número de ocorrências de natureza criminal no
período de 2006 a 2019. Foi observado que o número de apreensões de armas de
fogo de 2006 a 2019 demonstrou tendência de baixa, fato que pode estar associado
ao Estatuto do Desarmamento regido pela Lei Nº 13.964, de 24 de dezembro de
2003, podendo, em longo prazo, diminuir a morte de PM por arma de fogo.

5.3.6 Estatísticas descritivas

A Tabela 4 retrata a mortalidade de policiais militares nas variáveis numéricas


representadas pelas características individuais e ambientais.
33

A Tabela 5 retrata a mortalidade de policiais militares distribuída nas patentes


que ocupavam antes do falecimento. Podemos observar a frequência elevada na
mortalidade de Soldados 1° Classe e Cabos, somando 73,28% do efetivo da PMESP
(Tabela 2), o que representa 78,20% das mortes (Tabela 5). Podemos verificar que,
entre os que morreram, há alta frequência das patentes denominadas Cabo (N=999)
e Soldado 1º Classe (n=1.706), mostrando a tendência de que, quanto maior a
patente, menor o número absoluto de mortes.
34

Tabela 4 - Descrição das variáveis numéricas


Variável categoria Descrição N. Média D.P. Min Max
Anos trabalhados na PMESP antes
anos_trab dependente 3459 14,31 7,83 0,02 34,73
de falecer
depend número de dependentes 3459 3,73 1,49 1 10
independentes -
id_ingr idade de ingresso 3459 23,17 3,10 15,90 34,59
características
idade que ocorre a
id_inat individuais 3459 37,48 7,64 20,11 59,55
inatividade/falecimento
n° de armas de fogo apreendidas no
af_trab1 1254 77,82 68,79 1 368
Batalhão em que trabalhou
n° de oc de natureza criminal no
ic_trab 832 55767,51 20682,17 78 147928
independentes - Batalhão em que trabalhou
fatores ambientais n° de armas de fogo apreendidas do
af_resid 1785 76,15 64,45 1 512
Batalhão em que morava
n° de oc de natureza criminal do
ic_resid 1193 56,16 21170,21 335 147928
Batalhão em que morava
Fonte: PMESP (2020), adaptado pelo autor.

1
As variáveis af_trab, ic_trab, af_resid e ic_resid, têm como referência o ano anterior ao falecimento.
35

Tabela 5 - Descrição das variáveis categóricas


Freq
Variável categoria Descrição N. Freq. D.P.
(%)
Coronel 3459 1 0,03% 0,02
Tenente-coronel 3459 7 0,20% 0,04
Major 3459 12 0,35% 0,06
Capitão 3459 25 0,72% 0,08
Oficiais da PMESP
1° Tenente 3459 34 0,98% 0,10
2° Tenente 3459 15 0,43% 0,07
Aspirante-a-oficial Independentes - 3459 2 0,06% 0,02
Aluno-oficial características 3459 2 0,06% 0,02
Subtenente individuais 3459 41 1,19% 0,11
1° Sargento 3459 128 3,70% 0,19
2° Sargento 3459 138 3,99% 0,20
3° Sargento Praças da PMESP 3459 228 6,59% 0,25
Cabo 3459 999 28,88% 0,45
Soldado 1° Classe 3459 1706 49,32% 0,50
Soldado 2° Classe 3459 121 3,50% 0,18
Administrativo Trabalha em Batalhão de natureza Administrativa 3459 391 11,30% 0,32
Operacional Trabalha em Batalhão de natureza Operacional 3459 2454 70,95% 0,45
Especializada Independentes - Trabalha em Batalhão Especializado 3459 393 11,36% 0,32
Bombeiros fatores Trabalha no Corpo de Bombeiros 3459 221 6,39% 0,24
Interior organizacionais Trabalha no interior paulista 3434 1367 39,81% 0,36
Capital Trabalha na capital paulista 3434 1561 45,46% 0,50
GrandeSP Trabalha na Grande São Paulo 3434 506 14,73% 0.35
Fonte: PMESP (2020), adaptado pelo autor.
36

A Tabela 5 mostra que os Bombeiros têm o menor percentual de morte


(6,39%) com apenas 221 ocorrências, enquanto os PM que trabalham em Batalhões
que são classificados como Operacional possuem uma alta frequência (70,95%)
com 2.454 eventos de morte.

5.3.7 Causas de morte

Os dados sobre a causa de morte dos policiais militares (Apêndice A) foram


obtidos da Diretoria de Pessoal da PMESP, onde foram classificados em sete
diferentes causas de morte: acidente de trânsito, arma de fogo, a esclarecer, não
cadastrado, natural, queda acidental e suicídio. As causas de morte denominadas
“esclarecer” (N=997) são observações que não foram esclarecidas e são
desconhecidas até o presente momento, as quais, futuramente, podem ser
classificadas como causa de morte natural. Os resultados dos testes sobre o
suicídio2 na PMESP têm mostrado que policiais que ocupam as patentes de cabo e
sargentos que possuem dependentes e trabalham em Batalhões Especializados na
Capital ou na Grande São Paulo tendem a ter maior probabilidade de morte por
suicídio. A morte por suicídio não é o objeto principal deste estudo, todavia, é uma
preocupação latente na PMESP, em que policiais de baixa patente podem estar em
risco elevado de suicídio (GOMES et al., 2018; O´HARA & VIOLANTI, 2009), o que
corrobora parcialmente os resultados encontrados.
Os resultados de suicídio nos Estados Unidos da América mostram que, nos
seus últimos 3 anos, os suicídios de policiais superaram as mortes em serviço
(WHITE, 2020) apud (Lawrence. 2019; PoliceOne. 2019), destacando que haveria
uma crise de saúde mental na polícia.

5.3.8 Correlação das variáveis numéricas

A Tabela 6 mostra a correlação entre as variáveis numéricas encontrando


fraca correlação de -0,26 entre a idade de ingresso (id_ingr) e anos trabalhados
(anos_trab), correlação moderada de 0,57 entre o número de dependentes (depend)
e anos trabalhados (anos_trab) e de 0,59 entre número de dependentes de idade de

2
O Apêndice C traz os resultados dos testes sobre causa de morte por suicídio.
37

inatividade (id_inat). Entretanto, existe uma forte correlação de 0,92 entre anos
trabalhados (anos_trab) e a idade de inatividade (id_inat), sendo descartada da
análise e do modelo estatístico, pois os policiais ingressaram na instituição numa
idade muito semelhante. Podemos verificar que há uma correlação alta (0,71) entre
ic_resid e o ic_trab, mas, como não havia relação direta entre essas variáveis,
permaneceram na análise e no modelo de regressão.

Tabela 6 - Tabela de correlação das variáveis numéricas


anos_trab id_ingr id_inat depend af_trab ic_trab af_resid ic_resid

anos_trab 1

id_ingr -0,26 1

id_inat 0,92 0,14 1

depend 0,57 0,00 0,59 1

af_trab 0,00 0,04 0,01 -0,01 1

ic_trab -0,01 0,12 0,04 0,03 0,28 1

af_resid 0,08 0,02 0,09 0,01 0,52 0,11 1

ic_resid 0,06 0,13 0,11 0,04 0,10 0,71 0,18 1

Fonte: PMESP (2020), adaptado pelo autor.

5.4 Modelagem econométrica

Para analisarmos os fatores determinantes de morte de policiais militares,


foram ajustados modelos de regressão linear para a variável dependente logaritmo
natural do tempo até a morte (lanos_trab=ln(anos_trab)). A estrutura do modelo é
dada por

lanos_trab = 𝑥𝛽 + 𝜖,
38

sendo 𝑥 o vetor com as variáveis explicativas, 𝛽 o vetor de parâmetros e 𝜖 o vetor de


erros. Para contornar o problema de heterocedasticidade dos erros, foram utilizados
erros-padrão robustos pelo método de White.
Nos modelos 1 a 5, temos como variáveis de controle a última avaliação de
desempenho (inferior, normal tendência inferior, normal tendência superior e
superior), o logaritmo natural da idade de ingresso (lid_ingr) e a região em que o PM
trabalha (Interior, Capital e Grande São Paulo).
O modelo 1 apresenta o resultado no nível das características individuais para
a variável dependente (lanos_trab), relacionando à Hipótese 1, a fim de observar o
efeito do número de dependentes sobre o tempo de morte do PM.
Os modelos 2 e 3 apresentam o resultado no nível das características
individuais quanto à patente e à experiência profissional, respectivamente. No
modelo 2, foram considerados como baseline os Soldados 1ª e 2ª Classe, os quais
representam 52,82% das mortes observadas (Tabela 5) e 37,25% de todo efetivo da
PMESP (Tabela 2). No Modelo 3, a fim de capturar o efeito da inexperiência, foram
adicionadas como categoria de base as patentes de soldado 2ª classe, aluno-oficial
(0,06%), aspirante-a-oficial (0,06%) e 2° tenente. A variável patente corresponde à
Hipótese 2 e aos modelos 2 e 3.
No modelo 4, foi considerado como categoria de base o PM que trabalhava
em batalhões de natureza Administrativa, a fim de observar o efeito do tipo de
atividade exercida sobre o tempo de morte do PM. O modelo 5 apresenta os
resultados do logaritmo natural dos índices criminais e do número de apreensões de
armas de fogo nos locais em que trabalha e reside. As variáveis independentes
laf_trab, lic_trab, laf_resid e lic_resid têm como referência o ano anterior ao
falecimento do PM. Os modelos 4 e 5 apresentam o resultado no nível dos fatores
organizacionais e ambientais, respectivamente. As variáveis UOp, laf_trab, lic_trab,
laf_resid e lic_resid correspondem à Hipótese 3 e aos modelos 4 e 5.
Assim, temos que o modelo encontrado nesta regressão está formulado da
seguinte maneira:

ln tempo de vida = 𝛽0̂ + 𝛽1̂ * depend + 𝛽2̂ * patente + 𝛽3̂ * UOp + 𝛽4̂ * laf_trab + 𝛽5̂ *

lic_trab + 𝛽6̂ * lic_resid + 𝛽7̂ * laf_resid + 𝜀̂


39

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo, iremos abordar os resultados encontrados nos cinco modelos


de regressão com a adição consecutiva de variáveis de controle e variáveis
independentes.
No modelo 1, a variável independente ligada ao número de dependentes
manteve-se positiva e significante (p<0,001), demonstrando que o aumento de uma
unidade no número de dependentes aumenta a sobrevida esperada em 33,64%.
No Modelo 2, quanto ao número de dependentes, o coeficiente manteve-se
positivo e significante (p<0,001) e os resultados descritos na Tabela 8 indicam que
as patentes de cabo, sargento, subtenente, oficial subalterno, capitão e oficial
superior possuem coeficientes positivos e significantes (p<0,001), e que todas as
patentes descritas possuem uma sobrevida maior que a baseline, demonstrando que
PM que ocupam baixas patentes têm o tempo de vida abreviado.
No Modelo 3, os resultados indicam que o número de dependentes e as
demais patentes possuem coeficientes positivos e relevantes (p<0,001), indicando
que a inexperiência é um preditor para menor tempo de vida.
No modelo 4, os resultados apontam que a variável independente relacionada
aos Bombeiros se manteve positiva e significante (p<0,05), indicando que policiais
militares que exercem suas funções no Corpo de Bombeiros da PMESP possuem
uma sobrevida maior.
No modelo 5, os resultados demonstraram que somente o número de
apreensões de armas de fogo onde o PM reside foi positivo e relevante (p<0,05), e a
variável independente relacionada aos Bombeiros se manteve positiva e significante
(p<0,05) com coeficientes estimados muito próximos. Nos modelos 4 e 5, os
coeficientes das variáveis (número de dependente e patente) mantiveram-se
positivos e significantes (p<0,001) com valores estimados muito próximos, mesmo
com adições consecutivas de outras variáveis de controle e outras variáveis
independente.
A Hipótese 1 refere-se ao efeito que o número de dependentes tem sobre o
tempo de morte de policiais militares. Os resultados descritos na tabela 7, a qual
40

mostra as estimativas dos coeficientes dos modelos de regressão3, indicam que a


variável independente relacionada ao número de dependentes (depend) manteve-se
positiva e significante em todos os modelos e com valores dos coeficientes
estimados muito próximos, mesmo com adições consecutivas de outras variáveis de
controle e outras variáveis independentes, apontando que, quanto maior o número
de filhos, maior o tempo de vida dos policiais militares, o que corrobora a Hipótese 1.
Nessa linha, mantidas as demais variáveis constantes, o modelo 5, por exemplo,
estima-se que cada acréscimo de um dependente aumente a sobrevida esperada
em 29,95%.
Nossos resultados suportam a hipótese, mas diferem do trabalho de Gibbs,
Ruiz e Klapper-Lehman (2014), segundo o qual o número de filhos não influenciaria
na morte do policial, o que contraria a Hipótese 1. No entanto, corroboram os
estudos de Gibbs et al. (2018), em que policiais casados e com filhos são menos
propensos a serem mortos criminalmente quando comparados aos policiais
solteiros. Os resultados também estão coerentes com os obtidos em Kachurik, Ruiz
e Staub (2013). Os autores demonstraram que o número de filhos diminui as
chances de morte criminosa no trabalho, o que permite inferir que quanto maior o
número de dependentes, maiores as chances de o policial militar ser mais cauteloso
no seu trabalho, aumentando a aversão ao risco.
A variável independente relacionada ao número de dependentes (depend)
pode ser usada para inferir a necessidade de o PM buscar alternativas de
complementar sua renda para suprir as necessidades. Devido aos rendimentos
decrescentes proporcionais ao número de dependentes, o agente é obrigado a
trabalhar mais, avaliando a exposição e desgaste que podem causar riscos à sua
integridade física. Contudo, o PM que busca complementar sua renda, parece fazê-
lo de forma cautelosa.

3 Foi incluído o TAF (ult_taf) como teste no modelo de regressão e os resultados se mantiveram, não
trazendo nenhum outro resultado significante.
41

Tabela 7 - Variáveis do modelo estatístico4


Modelo
1 2 3 4 5
Variáveis
depend 0.290*** 0.263*** 0.230*** 0.263*** 0.262***
(35.43) (33.15) (30.80) (33.18) (33.11)
cabo 0.276*** 1.830*** 0.272*** 0.270***
(10.30) (20.06) (10.11) (10.06)
sgt 0.412*** 1.988*** 0.408*** 0.408***
(16.47) (21.78) (15.97) (15.94)
subt 0.734*** 2.324*** 0.724*** 0.719***
(11.16) (22.09) (10.67) (10.86)
ofsub 0.281*** 0.275*** 0.275***
(4.38) (4.26) (4.21)
cap 0.696*** 2.240*** 0.701*** 0.713***
(8.30) (20.14) (8.07) (7.88)
ofsup 0.697*** 2.319*** 0.703*** 0.689***
(8.43) (20.98) (8.57) (8.69)
sd1 1.660***
(18.76)
ten1 1.825***
(15.88)
Operacional 0.0161 0.0178
(0.33) (0.33)
Especializada 0.0515 0.0563
(0.90) (0.98)
Bombeiros 0.123* 0.122*
(2.01) (1.98)
laf_trab -0.00697
(-0.68)
laf_resid 0.0350**
(3.22)
lic_trab 0.00101
(0.20)
lic_resid 0.0102
(0.47)
NorTendInf 0.718* 0.704* 0.500* 0.691* 0.677*
(2.53) (2.39) (2.57) (2.38) (2.36)
NorTendSup 0.855*** 0.794*** 0.325** 0.791*** 0.778***
(6.62) (6.31) (3.12) (6.34) (6.35)
Superior 0.870*** 0.751*** 0.279** 0.744*** 0.729***
(7.16) (6.33) (2.87) (6.34) (6.34)
lid_ingr -1.457*** -1.181*** -1.135*** -1.179*** -1.171***
(-15.73) (-12.74) (-13.99) (-12.71) (-12.69)
Capital -0.0418 -0.0617* -0.0468* -0.0555* -0.0730**
(-1.67) (-2.56) (-2.23) (-2.24) (-2.85)
GrandeSP 0.0307 0.0236 0.0132 0.0207 0.00529
(0.99) (0.77) (0.49) (0.68) (0.17)
Ano5 . . . . .

Constante 5.711*** 4.836*** 3.228*** 4.800*** 4.790***


(19.39) (16.36) (11.47) (16.38) (16.36)

R2 0,3672 0,4106 0,5481 0,4118 0,4143

N 3434 3434 3434 3434 3434


Fonte: Elaborado pelo próprio autor. * p<0,05, ** p<0,01, *** p<0,001

4 Estatística t em parênteses.
5 As dummies de ano estão sendo controladas no período entre 2000 a 2020, mas foram omitidas na Tabela.
42

A Hipótese 2 relacionada à posição na hierarquia, sobre a abreviação do


tempo de vida de policiais, teve como baseline os Soldados Primeira-Classe e
Segunda-Classe, os quais representam 52,49% das mortes observadas (Tabela 5),
e 37,25% de todo efetivo da PMESP (Tabela 2). Para capturarmos o efeito da
inexperiência, foram adicionadas como categoria de base as patentes de soldado 2ª
classe, aluno-oficial (0,06%), aspirante-a-oficial (0,06%) e 2° tenente. Em suma,
supõe-se que quanto menor a patente, maior a chance de esses policiais estarem na
linha de frente no combate ao crime, menor a experiência acumulada e menor o
tempo de vida de policiais militares mortos. Para fins de simplificação, as patentes 1°
Tenente e o 2° foram agrupadas na categoria oficiais subalternos (ofsub), mesmo
procedimento realizado para as patentes de Coronel, Tenente-Coronel e Major,
agrupando-os em Oficiais superiores (ofsup). Assim, os resultados da Tabela 7
demonstram que as patentes de cabo, sargentos, subtenentes, oficiais subalternos,
capitães e oficiais superiores possuem maior sobrevida que a classe de soldados,
com p-valor <0,001 (modelo 2). Os resultados obtidos corroboram Gibbs et al.
(2018b), em que agentes são mais expostos a riscos que outros pela função que
exercem, fato observado em policiais de baixa patente. De igual modo, os resultados
estão coerentes com Gibbs et al. (2014) que confirmaram que policiais com mais
experiência (tempo de serviço) têm menor probabilidade de morrer do que os menos
experientes.
O modelo 3 é semelhante ao modelo 2, mas olhando sobre o aspecto da
experiência. Foram considerados como baseline os soldados 2° Classe para o
quadro de praças e as patentes de Aluno-Oficial, Aspirante-a-Oficial e Segundo-
Tenente para aqueles que irão seguir a carreira de Oficiais da Instituição, agrupando
as primeiras patentes que os PM ocupam ao ingressar na PMESP e denominando-
os como recrutas. Testamos se o PM com mais experiência (tempo de serviço) tem
maior tempo de vida do que policiais com menos experiência e todas essas patentes
citadas têm como característica comum o menor tempo de serviço prestado à
Instituição, pois estão no início de sua carreira. Em linha com o esperado, os
resultados da Tabela 7 mostram com relevância estatística (p<0,001) que os
recrutas morrem mais cedo se comparados às patentes de soldado primeira-classe,
cabo, sargento, subtenente, primeiro-tenente, capitão, oficiais superiores. Os
resultados foram coerentes com os obtidos por Gibbs, Ruiz e Klapper-Lehman
(2014), em que policiais mais experientes são menos propensos a morrer de
43

assassinato do que menos oficiais experientes, considerando que o aumento de


uma unidade em anos de experiência diminui as chances de uma morte criminosa
em 0,96.
Dessa forma, o resultado obtido nos modelos indica que PM com mais
experiência (tempo de serviço) tende a ter maior tempo de vida do que policiais com
menos experiência, em linha com as conclusões de Gibbs et al. (2018) em que os
mais jovens poderiam estar mais dispostos a se envolver em situações de risco,
aumentando a probabilidade de morte em comparação com policiais mais velhos.
Ademais, os resultados dialogam com o estudo de Tucker-Gail et al. (2010), o qual
concluiu que a idade média dos policiais mortos é de 34 anos e supõe que policiais
mais jovens corram maior risco por causa da inexperiência.
A Hipótese 3, relacionada à exposição do PM ao confronto sobre a
abreviação no tempo de vida de policiais militares mortos, conexa a fatores
organizacionais envolvendo a classe de atividade (UOp) de acordo com a
modalidade de atuação do Batalhão que o PM está trabalhando, sendo a
Administrativa, Operacional, Especializada e Bombeiro, tendo como baseline
aqueles que trabalham em Batalhões que têm por natureza a função Administrativa
(modelo 4).
Os resultados descritos na Tabela 7 indicam que a variável independente
relacionada aos Bombeiros manteve-se positiva e significante nos modelos 4 e 5 e
com valores dos coeficientes estimados muito próximos, apontando que policiais
militares que exercem suas funções no Corpo de Bombeiros da PMESP possuem
maior tempo de vida do que os policiais militares que exercem funções
administrativas. Nessa linha, mantidas as demais variáveis constantes, o modelo 5
por exemplo, estima-se que policiais militares que exercem suas atividades nos
Bombeiros têm a sobrevida esperada em 12,97%, pois os bombeiros trabalham em
atividades de emergência e defesa civil e não possuem a mesma exposição ao
confronto. Entretanto, um novo modelo (Apêndice B) foi testado excluindo todos os
PM que exercem as funções no Corpo de Bombeiros e adicionando o TAF (ult_taf)
como variável de controle, obtendo resultado com significância estatística (p <0,001)
aos PM que atuam no Operacional e em Batalhões Especializados, os quais tiveram
menos tempo de vida quando comparados aos PM que atuam no Administrativo, por
estarem mais expostos e suscetíveis a confrontos devido à natureza da atividade
exercida.
44

Os resultados estão coerentes com os obtidos por Gibbs et al. (2018b), os


quais relatam que alguns agentes são mais expostos a riscos que outros pela função
que exerce, ou seja, policiais envolvidos em atividades operacionais estão mais
vulneráveis a possíveis infratores, sendo que aqueles que realizam serviços internos
estão menos expostos a riscos.
Tal apuração também corrobora a conclusão de Gibbs et al. (2018), que
apontam que o tipo/modalidade de policiamento é um importante preditor de morte e
afirmam que isso pode ser devido à natureza do trabalho realizado pelos agentes,
provocando maior ou menor exposição a situações perigosas, consequentemente,
aumentando o risco de acordo com a modalidade de policiamento. Logo, o modelo
prediz que PM atuando em Unidades Operacionais e Especializadas tiveram menor
tempo de vida quando comparados ao Administrativo, encontrando consistência nas
conclusões obtidas por Gibbs et al. (2018) e por Gibbs et al. (2018b).
Ao olharmos os fatores ambientais, a única variável independente que teve
significância estatística (p<0,05) foi o número de apreensões de armas de fogo na
região em que o PM residia (modelo 5), ou seja, sugerindo que quanto maior for o
número de apreensão de armas de fogo nesses locais, menor a periculosidade da
região e maior a sobrevida do PM. Entretanto, outras variáveis, como índice criminal
na região em que reside, índice criminal na região em que trabalhou antes de falecer
e número de apreensões de armas de fogo na região em que trabalhou não
trouxeram resultados com significância estatística. Assim, encontramos divergência
quando comparados com a conclusão de Gibbs et al. (2018b), a qual afirmou que o
volume de solicitações de assistência policial está positivamente correlacionado ao
número de posse de armas de fogo e agressões prejudiciais aos policiais; desse
modo, o volume de solicitações estaria associado diretamente à quantidade de
encontros violentos entre policiais e suspeitos, ampliando o risco ao policial. Em
regiões mais violentas, os agentes atendem mais ocorrências, aumentando a
exposição potencial à violência e aos infratores.
Outros resultados trazidos como variáveis de controle nesse modelo e que
tiveram relevância estatística foram: quanto mais velho o indivíduo ingressa na
PMESP, menor será a expectativa de vida; PM que trabalham na Capital possuem
menor tempo de vida em relação àqueles que trabalham no Interior; no período de
2015 a 2020, diminuiu o tempo de vida de PM, tendo como base o ano de 2000.
45

O modelo 5 obteve como resultado do modelo estatístico com 3.434


observações o R2 de 0,4143. Assim, infere-se que 41,43% do tempo de vida de
policiais militares mortos pode ser explicado por este modelo de regressão e está
relacionado às características individuais, ao capital humano acumulado e aos
fatores organizacionais do PM.

.
46

7 CONCLUSÃO

A maioria dos estudos que tratam sobre lesões e mortes de policiais são
baseados nas amostras dos Estados Unidos e este trabalho traz a contextualização
à PMESP, testando dados e hipóteses trabalhadas nas diversas literaturas.
Nos resultados desta pesquisa, o número de dependentes tem efeito positivo
sobre o tempo de vida do PM, podendo criar uma postura mais cautelosa no
trabalho do que aqueles que não possuem dependentes, com menor exposição,
mesmo que tenha que buscar outras fontes para complementar a renda familiar. O
modelo de regressão sugere que PM que possuem maior acúmulo de capital
humano tendem a ter um efeito positivo no que tange ao tempo de vida.
Observamos que as menores patentes e a inexperiência abreviam o tempo de
vida dos agentes, pois esses policiais militares possuem maior probabilidade de
estarem na linha de frente do combate ao crime e, sendo inexperientes, podem
sofrer maiores exposições a riscos.
Concluímos também que policiais que estão exercendo suas funções no
Corpo de Bombeiros estão menos vulneráveis à exposição de situações de
confronto quando comparados a outras modalidades de policiamento. Assim, como
há divisão de funções de acordo com a patente e levando em consideração que
diferentes agentes de mesma patente realizam diferentes tarefas por estarem em
Organização Policial Militar (OPM) de naturezas diferentes, PM atuantes em OPM de
natureza Operacional e Especializada têm menor tempo de vida quando
comparados a outras naturezas como Administrativa. Outros resultados trazidos
neste estudo foram que, ingressantes na PMESP cuja faixa etária é maior têm a sua
expectativa de vida reduzida, e que PM que trabalham na Capital têm menor tempo
de vida em relação àqueles que trabalham no Interior.
Logo, podemos concluir que o perigo iminente é inerente à carreira do policial
militar pela natureza da atividade que exerce na preservação da vida e da ordem
pública que atua na linha de frente contra o combate ao crime, tendo a arma de fogo
como uma ferramenta e a exposição a multifatores, como vias de trânsito de
veículos, agentes estressores, doenças, entre outros.
Este estudo almejou principalmente encontrar uma relação dos fatores
determinantes de mortes de policiais militares, mas também objetivou incentivar a
contínua formulação de medidas preventivas e desenvolvimento de programas de
47

intervenção da Instituição para resguardar o policial militar e despertar permanente


necessidade de refletir a relação entre o trabalho policial-militar e os fatores
determinantes de morte.
Assim, a busca por otimizar e resguardar o capital humano deve ser um
pensamento constante para o administrador público, na gestão de pessoas. Sob
esse viés, os benefícios que este estudo pode proporcionar para a PMESP é a
redução de custo. Isso porque, com a morte de policiais militares, o Estado deve
realizar novos investimentos para completar seu efetivo, trazendo mais gastos ao
erário, desde a elaboração de novos editais, seleção de candidatos, formação e
treinamento para completar os claros do efetivo de policiais militares, além de gerar
inúmeros procedimentos administrativos e burocracia nas diversas áreas e setores
da PMESP. Entretanto, a implicação sobre a morte do policial não se limita apenas
ao âmbito econômico, devendo levar em consideração os impactos negativos que
afligem a família, amigos e colegas de trabalho. São inúmeras as circunstâncias
envolvidas no luto, retorno às atividades, rotina de trabalho, no impacto na moral da
tropa que é afetada a cada morte, carregando consigo o sentimento de perda,
angústia e insegurança. Diante desta situação a saúde psicológica da tropa deve ser
preservada para amenizar o sofrimento e facilitar a adaptação, pois mesmo diante
do abalo emocional o agente deve se esforçar para manter o seu papel no
cumprimento do dever.
Este estudo apresentou como limitação o fato de que não foi possível capturar
as atribuições específicas na atuação do agente, se o PM foi designado para um
trabalho operacional ou administrativo, qual modalidade ou programa de
policiamento estava exercendo, se trabalhava no período diurno ou noturno, nem
sequer capturar por quanto tempo permaneceu em cada uma das funções ou
rastrear as movimentações que ocorreram durante sua carreira, como exemplo,
migrar de uma OPM operacional para um batalhão especializado. Além disso, não
foi possível observar o impacto da saúde física e a variação da avaliação de
desempenho nos PM, pois os sistemas informatizados foram implantados há pouco
tempo e não abrangem toda a amostra. Reconhecemos que podemos ter casos de
causalidade reversa como a chance de ter filhos aumentar ao longo do tempo e a
patente estar relacionada com o tempo na instituição. E estes fatores elencados
podem contribuir na robustez do modelo e em pesquisas futuras podem ser
relacionadas.
48

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50

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51

APÊNDICE A

Tabela 8 - Comparativo das causas de morte na PMESP


Idade em anos Frequência Percentual % Acumulada

Acidente de trânsito 474 13,71 13,71

Arma de fogo 1.264 35,55 50,26

Esclarecer 997 28,83 79,09

Não cadastrado 33 0,95 80,05

Natural 365 10,56 90,60

Queda acidental 29 0,84 91,44

Suicídio 296 8,56 100

Total 3.458 100 ----

Fonte: PMESP (2020), adaptado pelo autor.


52

APÊNDICE B
Tabela 9 - Variáveis do modelo estatístico6 sem os Bombeiros
Modelo
1 2 3 4 5 6
Variáveis
depend 0.239*** 0.160*** 0.154*** 0.162*** 0.162*** 0.162***
(11.84) (8.87) (8.72) (9.24) (9.14) (9.22)

cabo 0.720*** 1.879*** 0.707*** 0.708*** 0.708***


(11.94) (12.00) (12.00) (11.95) (12.00)

sgt 0.791*** 1.948*** 0.756*** 0.759*** 0.758***


(11.43) (12.29) (11.13) (11.13) (11.14)

subt 1.136*** 2.299*** 1.073*** 1.072*** 1.076***


(10.87) (13.04) (11.98) (11.31) (11.74)

ofsub 0.390 0.322 0.329 0.323


(1.78) (1.62) (1.65) (1.62)

cap 0.946*** 2.101*** 0.915*** 0.900*** 0.914***


(8.52) (11.67) (8.58) (7.97) (8.53)

ofsup 1.056*** 2.205*** 1.060*** 1.066*** 1.062***


(8.41) (11.97) (9.54) (9.49) (9.60)

sd1 1.205***
(7.78)

ten1 1.521***
(5.94)

Operacional -0.300*** -0.202 -0.290***


(-3.73) (-1.62) (-3.45)

Especializada -0.228* -0.222* -0.228*


(-2.26) (-2.19) (-2.26)

laf_trab -0.0149
(-0.56)

6
Estatística t em parênteses.
53

laf_resid -0.00110
(-0.04)

lic_trab -0.00400
(-0.36)

lic_resid -0.00595
(-0.32)
oc -0.000158
(-0.46)

ult_taf 0.000451 -0.000234 0.0000492 -0.000280 -0.000283 -0.000283


(1.04) (-0.66) (0.14) (-0.78) (-0.79) (-0.79)

lid_ingr -1.391*** -0.750*** -0.818*** -0.754*** -0.758*** -0.751***


(-6.91) (-4.13) (-4.66) (-4.22) (-4.19) (-4.20)

NorTendInf 1.122* 1.066* 0.401 1.026* 1.042* 1.027*


(2.07) (2.31) (1.46) (2.17) (2.19) (2.17)

NorTendSup 1.409** 1.178** 0.503* 1.144* 1.154* 1.147*


(2.72) (2.70) (2.16) (2.56) (2.57) (2.57)

Superior 1.368** 1.116* 0.422 1.085* 1.098* 1.087*


(2.66) (2.58) (1.85) (2.44) (2.45) (2.45)

Capital 0.0161 0.00168 0.00402 -0.0580 -0.0413 -0.0534


(0.27) (0.04) (0.09) (-1.11) (-0.73) (-1.00)

GrandeSP 0.0562 0.0573 0.0979 0.0618 0.0591 0.0599


(0.69) (0.75) (1.33) (0.80) (0.75) (0.77)

Ano7 . . . . . .

Constante 5.828*** 3.906*** 2.906*** 4.238*** 4.223*** 4.226***


(9.00) (6.75) (5.20) (7.28) (7.19) (7.23)

N 479 479 479 479 479 479


Fonte: Elaborado pelo próprio autor. * p<0,05, ** p<0,01, *** p<0,001

7
As dummies de ano estão sendo controladas no período entre 2000 a 2020, mas foram omitidas na Tabela.
54

APÊNDICE C

Tabela 10 - Modelo estatístico8 para suicídio


Modelo Suicídio
1 2 3 4 5 6
Variáveis

depend -0.108** -0.113** -0.0700 † -0.0660 -0.0713 † -0.0706 †


(-2.60) (-2.71) (-1.67) (-1.54) (-1.69) (-1.68)

NorTendInf 1.366 1.394 1.412 1.461 † 1.532 †


(1.62) (1.60) (1.61) (1.69) (1.75)

NorTendSup 0.0506 0.130 0.182 0.178 0.203


(0.11) (0.27) (0.37) (0.37) (0.42)

Superior 0.306 0.436 0.490 0.492 0.527


(0.77) (1.08) (1.19) (1.22) (1.28)

cabo -0.437** -0.610 -0.424** -0.417**


(-2.93) (-1.88) (-2.82) (-2.77)

sgt -0.471* -0.647 † -0.488* -0.475*


(-2.23) (-1.77) (-2.28) (-2.22)
subt . . . .
. . . .
ofsub 0.639 0.624 0.633
(1.57) (1.52) (1.54)

cap 0.174 -0.00287 0.0942 0.0610


(0.27) (-0.00) (0.15) (0.10)

ofsup -0.803 -0.986 -0.909 -0.900


(-0.80) (-0.94) (-0.89) (-0.88)

sd1 -0.171
(-0.56)

8
Estatística t em parênteses.
55

ten1 0.305
(0.53)

Operacional -0.300 -0.370


(-1.36) (-1.49)

Especializada -0.491 † -0.522 †


(-1.69) (-1.79)

Bombeiros -0.448 -0.472


(-1.36) (-1.44)

laf_trab 0.0591
(0.89)

laf_resid 0.0368
(0.51)

lic_trab -0.0123
(-0.42)

lic_resid -0.0773
(-1.25)

lid_ingr 0.00355 0.0200 -0.177 -0.226 -0.171 -0.205


(0.01) (0.04) (-0.36) (-0.45) (-0.34) (-0.42)

Capital -0.350** -0.345** -0.340* -0.342** -0.413** -0.459**


(-2.65) (-2.61) (-2.57) (-2.58) (-2.83) (-3.06)

GrandeSP -0.430* -0.434* -0.446* -0.444* -0.443* -0.462*


(-2.16) (-2.18) (-2.22) (-2.21) (-2.20) (-2.28)

Ano9

_cons -1.989 -2.025 -1.421 -1.113 -1.117 -0.940


(-1.25) (-1.27) (-0.90) (-0.68) (-0.71) (-0.60)
Fonte: Elaborado pelo próprio autor. † p<0,1, * p<0,05, ** p<0,01, *** p<0,001

9
As dummies de ano estão sendo controladas no período entre 2000 a 2020, mas foram omitidas na Tabela.

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