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A Dúvida

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A DÚVIDA

Valter da Rosa Borges

A dúvida é tão necessária e importante quanto a fé. Ela é indispensável na investigação


científica.

A dúvida é a ginástica da inteligência. Duvidar não é apenas negar o que existe, mas negar
que o que existe seja a única coisa que existe. Negar, assim, é ampliar a visão da realidade.

Louis Pauwels asseverou:


“O amadurecimento é a ampliação das dúvidas, uma vigília do espírito para manter o
conhecimento no seu mais alto grau de incerteza.”

O dogma é o cansaço da razão. O homem que não duvida, cansou de crescer.

A dúvida é a saúde do espírito. Duvida-se, porque se quer mais. Porque se sabe que o que se
sabe é provisoriamente necessário e necessariamente provisório. Porque o saber não tem fim. E o
provisório não é irreal, enquanto provisório.

Tinha razão Michel de Montaigne quando asseverava que “só os loucos têm certeza absoluta
em sua opinião”.

A dúvida é a fé de que há algo mais além do que se conhece, e a fé é a dúvida de que todo
real é só o que conhecemos.

Duvidamos para pensar. Acreditamos para agir. A convicção que surge da dúvida é tão forte
quanto a fé de quem nunca duvidou.

Duvidar não é negar que algo é, mas questionar se ele é como nos parece e nos aparece. Se
nada existisse, nenhuma dúvida existiria. A dúvida é criativa, porque nos leva à observação da
mesma coisa em perspectivas diferentes. Ela nos preserva contra o imobilismo e a comodidade.

A dúvida nos mantém alertas. A certeza pode ter o efeito embriagante de um psicotrópico ou
o efeito paralisante de uma anestesia.

A dúvida metódica admite provisórias certezas. A dúvida sistemática é tão infértil quanto a
certeza inabalável.

Podemos acreditar na possibilidade de estarmos certo em determinadas circunstâncias,


embora também estejamos advertidos de que não há garantia absoluta para as nossas certezas por
mais verossímeis que pareçam.

A dúvida é a autocrítica da certeza.

Dúvida não é a afirmação de que tudo é incerto, pois isso seria negação da dúvida. Dúvida é a
admissão da possibilidade de erro em cada situação do nosso agir. Por isso, é importante agir, pois é
possível que estejamos certos ou que as coisas aconteçam como queremos em conseqüência do
nosso agir. Se duvidássemos da certeza de nossa ação, ficaríamos privados de qualquer tipo de
atividade.

Quando perdemos todas as certezas é que ficamos certos de que nada perdemos. A incerteza
gera muitas possibilidades. A certeza, apenas uma.

Se não temos certeza de nada, como podemos afirmar ou negar qualquer coisa? O que
temos são opiniões ou crenças às quais damos o nome de conhecimento porque nos parecem
verdadeiras e, por isso, orientamos nossa vida em razão delas.

O homem não é apenas o que racionalmente sabe, mas o que indubitavelmente crê. Nunca
poderemos ter a certeza, mas apenas a convicção de que estamos certos. Assim como a fé, o
conhecimento científico, por ser provisório, é convicção razoável ou provisória certeza.

Se tudo muda, a certeza é para o momento que passa e não constitui garantia para o futuro.
No entanto, a permanente dúvida sobre tudo inibe qualquer atividade.

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