Creas Recusa No Envio de Relatorios Parecer
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das áreas da assistência social e psicologia (dentre outras) a serviço do município em colaborar
com o Poder Judiciário e o Ministério Público no sentido, antes e acima de tudo, da “proteção
integral” às crianças e/ou adolescentes atendidos pelo “Sistema de Justiça da Infância e da
Juventude”, logicamente, não pode prevalecer, sob pena de verdadeiro “colapso” de toda
sistemática idealizada pela Lei nº 8.069/90, com base na Constituição Federal, para assegurar a
plena efetivação dos direitos infanto-juvenis, o que como sabemos, é dever de todos.
Com efeito, o que se tem verificado, antes de mais nada, é exatamente a falta de
compreensão de que, a rigor, todos estão (ou ao menos deveriam estar) atuando em prol do bem
estar da criança/adolescente atendida e, para que possam bem desempenhar seu papel, e
proporcionar-lhe a “proteção integral” que lhe é devida, devem somar esforços e agir de forma
articulada/ integrada, na busca de soluções concretas para os problemas enfrentados por esta e
sua família (que também, na forma da lei e da Constituição Federal 1, é destinatária de
“proteção especial” por parte do Estado - no sentido mais amplo da palavra), o que obviamente
é dever de todos.
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Valendo transcrever o disposto no art. 226, caput e §8º, da CF/88:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 1.º (...);
(...);
§ 8º. O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
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Vale destacar que o art. 86, da lei nº 8.069/90, abre o Título II deste Diploma, que trata justamente da
“Política de Atendimento” à criança e ao adolescente.
3
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
I - (...);
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promulgada, assim também o prevê, quando do atendimento de crianças e adolescentes vítimas
de violência4.
Art. 6º. Recomendar aos magistrados com competência em matéria da infância e juventude
que:
I - estabeleçam atuação integrada com os órgãos de gestão das politicas de assistência social,
educação e saúde, nos âmbitos municipal e estadual, especialmente no que se refere à
aplicação de medidas protetivas para crianças e adolescentes e suas respectivas famílias por
meio da oferta e reordenamento dos serviços de atendimento das áreas correspondentes.
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A essa obrigatória “articulação de ações”/”integração operacional” entre os
diversos órgãos públicos (e mesmo entidades não governamentais) corresponsáveis pelo
atendimento de crianças/adolescentes que se encontram em “situação de risco” ou
“vulnerabilidade”, se convencionou chamar de “rede de proteção à criança e ao adolescente”,
que tem como pressupostos elementares para uma atuação objetiva, qualificada e resolutiva o
“espírito de colaboração”, o diálogo e o respeito mútuos, não havendo margem para pura e
simples “recusa” no atendimento de um determinado caso e/ou no compartilhamento de
informações que, afinal, são essenciais para efetiva solução dos problemas existentes.
É preciso lembrar, afinal, que são os técnicos que atuam nos programas e serviços
públicos (e não os técnicos do Poder Judiciário, ou do Ministério Público), que prestam - ou
irão prestar - o atendimento direto às crianças/adolescentes e suas respectivas famílias, e sua
interação com os integrantes do “Sistema de Justiça” é expressamente prevista em diversos
dispositivos legais, como é o caso dos arts. 28, §5º; 46, §4º; 50, §§3º e 4º; 166, §7º e 197-C,
§2º, todos da Lei nº 8.069/90, assim como nos arts. 42, §1º; 53; 57, caput; 58 e 64, todos da Lei
nº 12.594/2012.
A questão, portanto, não é saber “se” é ou não cabível (ou mesmo exigível) a
colaboração entre o “Sistema de Justiça” e os demais órgãos que integram a “rede de proteção
à criança e ao adolescente” (pois como visto todas as normas existentes apontam claramente
neste sentido), mas apenas verificar “como” e/ou “em que termos” esse auxílio será prestado.
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Em muitos casos há o simples pedido (ou “requisição”) para realização de
“estudos sociais”, acompanhados do envio de “relatórios”, sem maiores esclarecimentos acerca
da razão da diligência ou mesmo sua “contextualização” no âmbito do atendimento prestado à
criança/adolescente/ família pela própria “rede de proteção” local.
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Mais do que o envio de “relatórios”, portanto, o acionamento da “rede de
proteção” local pelos integrantes do “Sistema de Justiça da Infância e da Juventude” objetiva
assegurar a realização de um “atendimento” que é absolutamente “irrecusável” por parte dos
órgãos e agentes públicos corresponsáveis, sendo o fornecimento de informações acerca das
abordagens e intervenções efetivamente realizadas, assim como a indicação da solução que
melhor atende aos interesses das crianças e adolescentes atendidas (ou ao menos o
fornecimento de dados que permitam chegar a esta conclusão), uma consequência natural - e
também inexorável - desse verdadeiro “dever coletivo” de proporcionar-lhes a plena efetivação
de seus direitos e a “proteção integral” que há tanto lhes foi prometida que, como dito, é o
objetivo finalístico de toda e qualquer intervenção estatal em matéria de infância e juventude.
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Uma das consequências de tal afirmação (que decorre, dentre outros, do contido
na parte final do art. 151, da Lei nº 8.069/90 anteriormente referido5), é a necessidade de
conscientização dos integrantes do “Sistema de Justiça” quanto à dificuldade de cumprir
determinados “prazos” que são usualmente estabelecidos para realização dos estudos técnicos e
elaboração dos pareceres respectivos, especialmente quando forem aqueles reduzidos.
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Que assegura a “liberdade de manifestação sob o ponto de vista técnico”, com todas as implicações
daí decorrentes (inclusive quanto à “forma” de realização das abordagens necessárias a chegar a tal
conclusão).
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técnicos) respectivos e quais as alternativas disponíveis (ou cabíveis) para que a diligência seja
efetivada de forma adequada.
Um “laudo pericial”, para que possa ser considerado e aceito como tal,
pressupõe a existência de um “perito” que, por sua vez, é um profissional que deve possuir
uma qualificação ou habilitação técnica específica para o desempenho de tal mister (o que a
maioria dos profissionais da área, a partir de sua simples formação acadêmica, a rigor, não
possui)6.
Assim sendo, é preciso saber separar o “joio do trigo”, até mesmo para evitar o
acionamento de equipamentos como os CREAS para a realização de uma diligência para qual
seus técnicos, ao menos a princípio, não estão efetivamente habilitados e/ou dentro de um
prazo absolutamente insuficiente para que a avaliação técnica realizada tenha um mínimo de
qualidade e utilidade aos fins a que se propõe.
6
Sendo certo que é preciso identificar, dentro da “rede de proteção” local qual ou quais técnicos
dispõem de tal “expertise” e, se necessário, qualifica-los para que a obtenham, diante da já mencionada
elevada complexidade que muitos dos casos atendidos apresentam.
7
Como a prévia intimação das partes e do Ministério Público para elaboração de quesitos e eventual
nomeação de assistente técnico.
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Vale dizer, a propósito, que a própria lei permite que a elaboração de um
“documento formal” (como é o caso de um “estudo social”) seja substituída pela oitiva, em
audiência, dos profissionais que atenderam o caso (valendo neste sentido observar o disposto
no art. 162, §2º, da Lei nº 8.069/90 8), sendo certo que, para tanto, podem ser chamados a depor
todos os técnicos que tiverem condições de fornecer informações relevantes à solução do caso.
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Art. 162. (...).
§ 2°. Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, serão ouvidas as testemunhas,
colhendo-se oralmente o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito ...
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necessárias ao deslinde do caso da forma que, concretamente, atenda aos interesses da criança
ou adolescente atendida.
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qualificação/contratação de técnicos, desenvolvimento/implantação de sistemas informatizados
de registro e compartilhamento de dados etc.
Fica a sugestão, portanto, como ponto de partida para concretização de tudo que
foi dito, da realização de reuniões entre os diversos componentes da “rede” local, até mesmo
para assegurar que esta funcione - efetivamente - como tal (e não há que se falar em “ rede” se
não existe diálogo e interação entre seus componentes), esclarecendo dúvidas e
conscientizando a todos acerca da referida necessidade de colaboração mútua, não apenas
porque, como visto, a lei assim o prevê, mas especialmente porque esta é, sem dúvida, a única
forma de assegurar uma atuação integral, integrada - e resolutiva - por parte do Poder Público.
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