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Eklesia - A Revolução Começa Na Igreja

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04 UMA COMPREENSÃO

MAIS COMPLETA DO
EVANGELHO
DA LEI E DOS PROFETAS AO
EVANGELHO DO REINO

Em Lucas 16.16, aprendemos que todos estavam “forçando


seu caminho” para entrar no Reino. Em João 12.32, Jesus
disse: “Mas eu, quando for levantado da terra, atrairei todos
a mim”. Se Jesus é tão irresistível e o Evangelho é uma boa
notícia, poderia a recusa das pessoas em recebê-lo hoje ser
consequência de estarmos pregando algo menos que isso?

Uma das declarações mais fascinantes que Jesus fez é encontrada


em Lucas 16.16: “A Lei e os Profetas profetizaram até João. Desse
tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de
Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele”. Isso é fascinante
porque afirma que todos estavam forçando seu caminho para entrar no
Reino de Deus na Terra, e nós, atualmente, nunca vimos algo assim.
Será que essa ocorrência foi planejada para ser única? Será que
aconteceu apenas porque Jesus estava por perto? Na verdade, não,
porque podemos ver Seus discípulos O imitando com resultados
muito semelhantes em todo o livro de Atos (ver Atos 2.43-47;
5.14-16; 8.12; 13.44, 49; 17.4; 18.8-10; 19.11-20). Mais que
isso, o resultado esperado foi uma resposta positiva ainda maior
à mensagem dos discípulos, uma vez que Jesus afirmou que Seus
seguidores realizariam obras maiores do que Ele (ver João 14.12).
Além do mais, a declaração de Jesus em João 12.32 implicava que
quando Ele fosse levantado – um evento futuro ao tempo em que fez
a declaração – todos os homens seriam atraídos a Ele. Finalmente,

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no final da história da humanidade, nações inteiras são relatadas
como sendo salvas, como resultado da obra de Seus discípulos (ver
Apocalipse 21.24-27).
Esta referência a “todo mundo forçando seu caminho para o
Reino”, portanto, não pode ser descartada arbitrariamente como
sendo um evento único, nem podemos atribuí-la somente à
presença física de Jesus na Terra. Por isso, é melhor examinarmos
esse acontecimento de maneira minuciosa, pois as implicações são
essenciais para uma redescoberta assertiva da Ekklesia hoje.

Uma mudança na proclamação

Descobrimos que a chave para esse fenômeno de pessoas


forçando seu caminho para dentro do Reino de Deus está na
compreensão da diferença entre a Lei e os Profetas e o Evangelho
do Reino. O que desencadeou resultados tão extraordinários foi
uma mudança na proclamação dos primeiros para o último, que
estabeleceu o novo paradigma na relação com Deus.
Tendo dito isso, apresso-me a acrescentar o quão importante
é que não façamos dicotomia entre a Lei e os Profetas e o Reino
de Deus, por conta de uma possível acusação de antissemitismo,
caso não coloquemos as coisas em seu contexto apropriado. Para
esse fim, Mordecai “Myles” Weiss, um amigo e alguém que me
honra como seu pai espiritual, me esclareceu grandemente sobre
o assunto. A maior parte do que escrevo nos próximos parágrafos
vem de sua sábia opinião. Seus insights nos ajudarão a evitar colocar
em oposição duas dinâmicas das escrituras, tão intrinsecamente
conectadas, que constituem a espinha dorsal do Antigo e do
Novo Testamento.1

1
N.T.: As duas últimas colunas da tabela a seguir (referentes ao português) foram
traduzidas do inglês, por meio da tabela encontrada na pág. 52 da versão original (em
inglês) deste livro.

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PORTUGUÊS PORTUGUÊS
HEBRAICO
GREGO ATRAVÉS DO ATRAVÉS DO
ORIGINAL
GREGO HEBRAICO

Yeshua Iesous Jesus Josué

Miriam Marias Maria Miriam

Yehuda Iudas Judas Judá

Mashiach Christos Cristo Messias

Quando os judeus do primeiro século, como Paulo, foram


às nações de língua grega para pregar sobre Yeshua, o Messias,
referiam-se a Ele como Iesous Christos. Para seus ouvintes pagãos,
esse era claramente um conceito judaico-hebraico, uma vez que eles
o expressavam usando a tradução grega para as palavras hebraicas
(conforme mostrado na tabela de comparação de idiomas acima).
Isso não deixou dúvidas de que o que eles estavam afirmando
não eram conceitos pagãos, gregos ou romanos. Logo, sendo
Jesus apresentado como o Messias judeu, as pessoas não tiveram
dificuldade em ver as raízes hebraicas da nova fé cristã. Além disso,
os seguidores de Jesus tornaram-se conhecidos como cristãos porque
acreditavam que Ele era o Messias (Christos), como profetizado na
Bíblia hebraica (veja Atos 11.26).
Tragicamente, ao longo dos séculos, as raízes judaicas foram
retiradas do “cristianismo”, a não ser no quesito étnico, e hoje Jesus
não é mais visto e apresentado como o Messias judeu, mas como o
fundador de uma religião estranha a esse povo.

Um novo começo

Por que eu ofereço esse esclarecimento no contexto de uma


discussão sobre a relação entre a Lei e os Profetas e o Evangelho

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do Reino? Porque este último marca um novo começo, que, por
definição, torna o primeiro, antiquado. Mas antiquado, neste caso,
não significa irrelevante.
Tudo ensinado pela Lei e pelos Profetas aponta, por referência
direta, implicação ou inferência, ao advento do Messias. A primeira
Páscoa – desde suas instruções sobre como sacrificar um cordeiro
e como marcar as casas israelitas com seu sangue, até as detalhadas
práticas cerimoniais observadas primeiro no Tabernáculo e
subsequentemente no Templo no Antigo Testamento – prenunciam
a vinda do Messias. Uma vez que ela aconteceu, tornou-se o tema
central do Novo Testamento.
A Lei e os Profetas constituem, portanto, o fundamento sobre
o qual o Evangelho do Reino é erguido. Paredes sem alicerces não
se firmam, e fundações que não suportam paredes descumprem seu
propósito. Ambos são essenciais, e é por isso que é vital entender o
que cada um representa e traz de contribuição.
Ao contrastar os dois em Lucas
16.16, Jesus ressaltou uma evolução
Quando a Igreja,
na mensagem que as pessoas estavam
como a conhecemos ouvindo. A Lei e os Profetas foram
hoje, falha em fazer proclamados até João Batista, marcando
a transição para o uma estação que chegou ao fim para dar
lugar à nova mensagem: o Evangelho
Evangelho do Reino,
do Reino.
ela acaba pregando Não é possível proclamar o
uma mensagem que é Evangelho do Reino usando os velhos
relevante apenas para o paradigmas, porque a Lei e os Profetas
anunciaram no passado que algo iria
passado.
acontecer no futuro, enquanto as boas
novas de Jesus se concentram no presente
– o aqui e agora. É verdade que a plenitude do Reino de Deus não
virá até a volta do Senhor em glória, mas sua inserção na fibra da

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sociedade através da Ekklesia – como o fermento colocado na massa
– põe em movimento um processo que culmina nessa plenitude.

Perigo: legalismo
contemporâneo à frente

Quando a Igreja, como a conhecemos hoje, falha em fazer a


transição da Lei e dos Profetas para o Evangelho do Reino, ela acaba
pregando uma mensagem que é relevante apenas para o passado
(Cristo morreu na cruz para nos redimir) e para o futuro (Ele
retornará em glória), mas falha em apresentar sua importância para
os dias de hoje. Isso, por sua vez, pode facilmente dar margem ao
legalismo e à falta de sincronia com o tempo de Deus.
Deixe-me expandir essa ideia. O legalismo contemporâneo,
como a religiosidade praticada pelos fariseus, nos leva a colocar
a forma em foco: o templo (prédio), a liturgia, as tradições e os
credos. A falta de sincronia com o tempo de Deus nos paralisa
espiritualmente, porque nos faz relegar nossas expectativas a algo
que acreditamos que acontecerá apenas no futuro, quando, na
realidade, já está aqui. A consequência de tudo isso, na melhor das
hipóteses, são crentes inativos que pairam em torno de um templo
e vivem ingenuamente dentro de um sistema religioso. Ou, no
pior cenário, acabam estagnados em um campo doutrinário como
prisioneiros de guerra, esperando para serem libertos quando seu
Comandante retornar.
Logo após o ministério de João Batista ter chegado ao fim, Jesus
anunciou o advento do Reino: “Depois que João foi preso, Jesus foi
para a Galileia, proclamando as boas novas de Deus. ‘O tempo foi
chegado’, dizia ele. ‘O reino de Deus está próximo. Arrependam-
-se e creiam nas boas novas!’” (Marcos 1.14-15 – grifo do autor).
O Evangelho de Jesus, desde o início, consistiu na proclamação do
Reino de Deus como sendo presente agora no meio das pessoas.

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Consequentemente, Sua Ekklesia não é a Ekklesia da Lei e dos
Profetas, que pode nos lembrar somente do que Ele fez no passado
e do que fará no futuro. Essa perspectiva nos deixaria somente
com o templo, as formas e uma renúncia para aguardarmos por
dias melhores. De maneira alguma! A intenção de Jesus é que a
proclamação do Evangelho do Reino pela Ekklesia confrontasse as
Portas do Hades agora, no presente, até que aqueles portões caiam
para que as pessoas, e eventualmente as nações, sejam transformadas.

A “nova” mensagem

É evidente que uma nova temporada, que exigia uma nova


mensagem, estava próxima quando Jesus exortou Seus discípulos:
“Abram os olhos e vejam os campos! Eles estão maduros para a colheita.”
(João 4.35b). E o Evangelho do Reino era essa nova mensagem.
O momento e o contexto para as instruções de Jesus são a
chave para obter o significado completo de Seu pronunciamento,
uma vez que essas palavras foram proferidas logo após uma troca de
comentários teológicos com uma mulher samaritana, onde parte da
discussão teve como tema o Templo e seus rituais. A Lei e os Profetas
estabeleceram que a adoração deveria acontecer dentro do Templo.
Mas quando o assunto surgiu, Jesus perpassou isso declarando:
“No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade.”
(João 4.23). Como resultado, a mulher samaritana eventualmente
acreditou que Ele era o Messias, e fez com que muitos em sua cidade
também acreditassem. O resultado foi tão profundo que Jesus fez
o que era culturalmente inaceitável para os judeus: passou dois dias
com os samaritanos, que acabaram reconhecendo que Ele era o
Salvador do mundo (ver João 4.40-42). O interessante é que, em
nenhum outro lugar dos evangelhos, há registro de que mais alguém
tenha confessado Jesus como tal!

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Por outro lado, João Batista, inesperadamente, percebeu-se
relutando com essa tensão entre o velho e o novo, e foi por isso que
ele enviou mensageiros para perguntar a Jesus: “És tu aquele que
haveria de vir ou devemos esperar algum outro?” (Mateus 11.3 –
grifo do autor). Seu questionamento reflete o cerne da mensagem
do Antigo Testamento. Mas em vez de deixar que os personagens
e as profecias do Antigo Testamento gerassem passividade, João
caminhava através da neblina criada por suas próprias dúvidas,
esforçando-se para ver se, por acaso, o que havia sido previsto por
tanto tempo teria realmente chegado, como ele havia proclamado
no batismo de Jesus. A pergunta de João é reveladora, uma vez
que havia um ponto importante dentro de seu questionamento.
Ele estava perguntando se Jesus era a pessoa certa, e se este era o
momento certo, e seu dilema se refletiu nas duas palavras que usou:
vir e esperar.
Jesus se dirigiu a ambas as perguntas de João: “Voltem e
anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: os cegos veem,
os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os
mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres...”
(Mateus 11.4-5). Ele construiu Sua resposta
A Lei e os Profetas considerando o que os mensageiros de
João podiam ver e ouvir, naquele momento
podem ser resumidos
e naquele lugar. Quem é aquele que viria?
em uma frase: “Ele Jesus. Quando? Agora. Como podemos
virá”. Já o Evangelho saber? Pelo que Ele está fazendo em nosso
do Reino é expresso meio, hoje. Portanto, o Reino de Deus veio!
Isto tem implicações profundas e
nesta afirmação:
radicais para o conteúdo e os resultados
“Ele está aqui!”. da mensagem da Ekklesia hoje. No que se
refere ao conteúdo, a mensagem deve ser
a introdução ao Cristo vivo que está no nosso meio para mudar
vidas agora. No tocante aos resultados, nossa pregação deve ser

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validada por milagres que beneficiam o ouvinte – “os cegos veem,
os aleijados andam [...] os surdos ouvem...”, citando aqui o próprio
Jesus. Tal presença manifesta do Messias, e a validação da mensagem
por milagres, é o que se tornou a norma para a Ekklesia quando
os discípulos de Jesus “[...] saíram e pregaram por toda parte; e o
Senhor cooperava com eles, confirmando-lhes a palavra com os
sinais que a acompanhavam.” (Marcos 16.20 – grifo do autor).
A Lei e os Profetas podem ser resumidos em uma frase: “Ele
virá.”. Já o Evangelho do Reino é expresso nesta afirmação: “Ele está
aqui!”. Essa verdade nos arrebata de uma mentalidade passiva que
nos leva a querer escapar e nos coloca em um caminho de vitória
e transformação pessoal. E uma vez redescoberta a mensagem do
Evangelho do Reino, instituições, corporações, cidades e até mesmo
nações são capazes de experimentar a transformação através da
proclamação das boas novas pela Ekklesia em praça pública, como
veremos no próximo capítulo.

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