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Células Tronco e Clonagem

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Células-tronco e clonagem

Amanda Magalhães e Marina Ferraz


Junho de 2018

Tema:​ Células-tronco e Clonagem


Número de aulas:​ 4 aulas de 50 minutos cada
Público: ​2º ano do Ensino Médio (3º e 4º bimestre) de escola pública. Os alunos devem ter
acesso a computadores ou outras fontes de pesquisa.1

Conteúdos a serem trabalhados

Conteúdos conceituais: Células-tronco, célula-tronco embrionária, célula-tronco adulta,


totipotência, multipotência, pluripotência, clonagem reprodutiva e clonagem terapêutica.
Conteúdos procedimentais: Argumentação, seleção de informação, capacidade de síntese de
conhecimentos, avaliação de evidências para sustentar uma afirmação, capacidade de relacionar
conhecimentos de diferentes fontes, exposição de ideias, interpretação de textos, extração de
informações de textos.
Conteúdos atitudinais: Trabalho em grupo, respeito à fala dos colegas, pensamento crítico sobre
aspectos éticos relacionados ao uso de biotecnologias, assimilação de conceitos de biologia
molecular em seu cotidiano, capacidade de autoavaliação.

A escolha dos conteúdos a serem trabalhados se baseou nas Diretrizes Curriculares


Nacionais da Educação Básica (2013), que apontam que ao ensino de biologia:

“Cabe estimular o aluno a avaliar as vantagens e desvantagens


dos avanços das técnicas de clonagem e da manipulação do
DNA, considerando valores éticos, morais, religiosos, ecológicos e
econômicos. Trata-se da evolução sob a intervenção humana.
Sobre esse tema, podem-se gerar discussões, por exemplo, em
relação à seleção artificial, ao surgimento e perda de espécies e
ao aumento da expectativa de vida da população humana.”

E nas habilidades descritas da Base Nacional Curricular Comum (2016) :

“(EM13CNT302) Comunicar, para públicos variados, em diversos


contextos, resultados de análises, pesquisas e/ou experimentos –
interpretando gráficos, tabelas, símbolos, códigos, sistemas de
classificação e equações, elaborando textos e utilizando diferentes
mídias e tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC)
–, de modo a promover debates em torno de temas científicos
e/ou tecnológicos de relevância sociocultural.
(EM13CNT303) Interpretar textos de divulgação científica que
tratem de temáticas das Ciências da Natureza, disponíveis em

1
Essa sequência didática pode ser modificada de acordo com as especificidades do contexto de cada
público. A pesquisa em computadores pode ser feita na escola ou substituída por pesquisas em fontes
diversas levadas pelo professor para a sala de aula.
1
diferentes mídias, considerando a apresentação dos dados, a
consistência dos argumentos e a coerência das conclusões,
visando construir estratégias de seleção de fontes confiáveis de
informações.”

Justificativa das estratégias

Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (2002) colocam como desejado o


aprendizado ativo, que transcenda a memorização. Para isso, é importante a apresentação dos
conteúdos como problemas a serem resolvidos com os alunos. Buscamos elaborar uma
sequência em que os conceitos partam de situações problematizadoras que estimulem o
engajamento dos alunos com os conteúdos. Essa sequência didática foi elaborada de forma que
os papéis do educando e do educador não fiquem no senso comum descrito por Luckesi (1993).
A Base Nacional Comum Curricular (Ensino Médio) apresenta três pontos que guiaram a
elaboração dessa sequência didática e a escolha das estratégias:
i. as discussões sobre implicações éticas, socioculturais, políticas e econômicas de temas
relacionados às Ciências da Natureza devem ser favorecidas;
ii. criar condições para que os estudantes possam explorar diferentes modos de pensar e de falar
de cultura científica, possibilitando a apropriação dessas linguagens específicas;
iii. é esperado que os educandos aprendam a estrutura da linguagem argumentativa, de forma
que possam comunicar os conhecimentos produzidos e propostas de intervenção em diversos
contextos e para diversos públicos, utilizando diferentes mídias e tecnologias digitais de
informação e comunicação e pautados em evidências, conhecimentos científicos e princípios
éticos responsáveis.
Orofino e Trivelato (2015) reforçam a importância da argumentação no processo de
alfabetização científica, uma vez que essa estratégia promove o raciocínio de forma análoga ao do
cientista e permite o uso de conceitos científicos em diferentes contextos.
Com base nesses pontos, buscamos desenvolver uma sequência em que a argumentação
e a exposição oral fossem trabalhadas e desenvolvidas em diferentes momentos. Essas
discussões são pautadas em problemas éticos, socioculturais e políticos que visam a integração
do conteúdo trabalhado em aula com o cotidiano dos alunos.

Planejamento aula a aula

Aula 1 - Apresentação de situação problema

Estratégias: Discussão guiada, estudo dirigido.

Por meio de um momento expositivo-dialogado, será apresentado aos alunos a história do


filme ​Um amor para Recordar (2002), um filme popular entre jovens de 15-18 anos, o filmes
apresenta uma personagem principal que sofre com leucemia e os dramas relacionados com a
doença e a morte eminente. Após a familiarização com a história do filme, será realizado um
primeiro momento de avaliação diagnóstica a partir de um diálogo guiado sobre como tratamento
com células-tronco poderia curar a personagem. Essa atividade tem tempo estimado de 15
minutos. Algumas perguntas que poderiam guiar essa discussão:
● Vocês sabem como a leucemia é tratada?

2
● Vocês conhecem o transplante de medula óssea?
● Vocês sabem como esse transplante pode tratar a leucemia?
O objetivo dessa discussão não é que todas as perguntas sejam respondidas
corretamente, mas sim aproximar o conteúdo do aluno e avaliar os conhecimentos prévios dos
alunos sobre o tema e, a partir de suas respostas, adequar o restante do planejamento.
Após esse primeiro momento, será apresentada aos alunos o texto adaptado
“Células-tronco: o que são e o que serão?”, publicado na revista Genética na Escola (Anexo 1).
Será proposto a resolução do estudo dirigido individualmente em 15 minutos. Após essa etapa
inicial, os alunos terão mais 15 minutos para comparar as respostas com os colegas e discutir
pontos divergentes.

Lição de casa: Ver vídeo Células-tronco, que explica os diferentes tipos de células-tronco e as
aplicação de cada uma. Responder perguntas de verificação (Anexo 2) e enviar as respostas em
formulário digital.
https://www.youtube.com/watch?v=E-BfLOtXLzI&index=8&list=PLh4jDlYh4Sh9rPv0NzE8-3TzJ0ev
Kffju&t=0s

Aula 2 - células-tronco

Estratégias: Sala de aula invertida, correção por pares, resolução de exercícios.

Será proposto uma correção por pares da lição de casa. Essa atividade deve durar cerca
de 10 minutos. Caso alguma questão apresente menos de 30% de acerto (observável no
formulário digital), deverá ser discutida pelo professor com a classe toda. Caso tenha tempo, o
professor pode pedir que os alunos proponham correções para as afirmações falsas.
Após esse momento, será proposto a resolução da ficha de exercícios 1 (Anexo 3). Os
alunos terão 20 minutos para resolver os exercícios individualmente. Após a resolução individual,
os alunos terão 10 minutos para correção por pares dos exercícios, que será seguida de uma
correção coletiva das questões que apresentarem muita divergência nas respostas.

Lição de casa: Leitura de um dos textos indicados no Anexo 4 de acordo com o número na
chamada e responder às questões de verificação. Cada aluno deverá ler o texto Clonagem e
apenas um dos textos Clonagem Reprodutiva e Clonagem Terapêutica, adaptados de
<http://www.eja.educacao.org.br/bibliotecadigital/cienciasnatureza2/apoio/Apoio%20ao%20Aluno/
Temas%20de%20Estudo%20-%20EM/Biologia/Tema%2029_Biotecnologia%20em%20gen%C3%
A9tica.pdf> e <https://drauziovarella.uol.com.br/cardiovascular/clonagem-e-celulas-tronco-2/>.

Aula 3 - Clonagem

Estratégias: Painel integrado, resolução de exercício, correção por pares.

Inicialmente, será proposto que os alunos formem grupos de 4 para desenvolvimento de


um painel integrado. Cada grupo deve conter dois alunos que tenham lido cada um dos textos, de
forma que dois dos alunos tenham lido o texto Clonagem Reprodutiva e dois tenham lido
Clonagem Terapêutica. Os alunos devem compartilhar com os colegas, com base nas questões
de verificação, as informações dos textos que leram. Os alunos que leram os mesmo textos

3
devem complementar as informações. Essa atividade deve durar 15 minutos. Após esse primeiro
momento, será feita uma sistematização coletiva dos dois textos, visando resolver qualquer dúvida
que tenha ficado entre os grupos. A sistematização deve durar até 10 minutos.
Em seguida, será proposto que os alunos resolvam a lista de exercícios ​A ilha (Anexo 5)
em 10 minutos. Conforme os alunos acabarem a lista eles devem fazer uma correção por pares
que deve durar até 10 minutos. Caso alguma questão apresente grande divergência entre os
alunos, deverá ser discutida pelo professor com toda a classe.
Pode ser feita a indicação da série Orphan Black e da novela O Clone para os alunos que
quiserem aprofundar a discussão da clonagem humana, os problemas éticos e as semelhanças e
diferenças entre os clones. O olhar crítico para ambos deve ser estimulado.
Nos 10 minutos finais da aula, será apresentado aos alunos a proposta de debate para a
próxima aula. A questão problematizadora do debate será a autorização de clonagem humana
como seguro de vida. Os alunos serão divididos aleatoriamente entre pró e contra. Nesse
momento deve ser apresentado para os alunos os critérios de correção do debate, assim como a
ficha ​Como identificar se uma fonte é confiável? (Anexo 6).

Lição de casa: Pesquisar argumentos para debate e levar as fontes usadas para aula seguinte.
As fontes devem ser selecionadas considerando os critérios apresentados na ficha ​Como
identificar se uma fonte é confiável?.

Aula 4 - Debate

Estratégias: Debate.

Os 30 minutos iniciais da aula serão para o debate. A questão problematizadora do debate


apresentada na aula anterior é: a clonagem de humanos deve ser permitida para o uso de clones
como seguro? Cada grupo deve apresentar argumentos éticos e biológicos obtidos em fontes
confiáveis de acordo com o posicionamento designado na aula anterior. Cada grupo terá uma
primeira rodada para apresentar seu posicionamento, seguida de duas rodadas de perguntas
(uma de cada grupo) com réplica e tréplica, com máximo de 5 minutos para cada fala.
Após o debate será proposto que os alunos sistematizem em seus cadernos os
argumentos mais fortes de cada um dos lados. Nesse momento, os alunos podem trocar
argumentos e percepções sobre o debate com os membros do outro grupo. Essa atividade deve
durar até 10 minutos. Durante esse tempo o professor deve calcular a nota de cada grupo.
Nos 10 minutos finais da aula os alunos deverão dividir as notas entre os membros do
grupo conforme explicado no tópico Avaliação.

Formas e momentos de Avaliação

A sequência didática apresenta diversos momentos de avaliação. Essa avaliação não é


feita sempre pelo professor, podendo ser realizada também pelos alunos. Os momentos de
avaliação tem um papel duplo: i. auxiliar o educando a se regular e progredir no sentido dos
objetivos iniciais do plano de curso; ii. instrumento de regulação contínua da sequência didática
pelo professor (Perrenoud, 1999).
As avaliações dessa sequência são feitas tanto em forma qualitativa quanto quantitativa e
estão descritas a seguir:

4
Avaliação diagnóstica: ​levantamento de conhecimentos prévios;
Avaliação formativa: ​discussão, correção por pares, painel integrado, exercícios;
Avaliação somativa: ​debate (avaliação quantitativa).

Por meio dessas formas avaliações, pretendemos verificar se os seguintes objetivos


iniciais do plano de curso foram atingidos:

● Trabalhar em grupo;
● Respeitar a opinião de outros;
● Argumentar sobre aplicações da Biologia Molecular;
● Selecionar e conectar informações de diferentes fontes e mídias;
● Desenvolver olhar crítico sobre biotecnologia;
● Conectar a teoria básica de Biologia Molecular com temas atuais.

Os critérios para avaliação do debate estão presentes no Anexo 7. Cada grupo será
avaliado como uma unidade e receberá uma quantidade de pontos proporcional à avaliação feita e
à quantidade de alunos que compõem o grupo, por exemplo, um grupo tirou uma nota geral 8 e é
formado por 5 alunos, o grupo receberá 40 pontos. Os pontos do grupo devem ser distribuídos
pelos alunos e entre os alunos da forma que eles acharem mais justa. Esse modelo de avaliação
visa desenvolver a autoavaliação dos educandos.
A avaliação do debate deve considerar na argumentação dos alunos as características dos
argumentos construídos e não o vencedor do debate (Orofino e Trivelato, 2015). Por tanto, ela
será feita em três âmbitos: i. presença/ ausência de argumentos com base no Padrão
Argumentativo de Toulmin (TAP) (Toulmin, 2006) com as alterações estruturais sugeridas por
Orofino e Trivelato (2015); ii. a utilização dos conteúdos específicos sobre o tema da sequência
didática; iii. a validade da fonte de informação. Essa escolha se justifica porque a análise apenas
da estrutura do argumento não nos permite identificar se o argumento construído é pertinente no
âmbito da ciência.

Bibliografia
Biotenologia em genética. Disponível em:
<http://www.eja.educacao.org.br/bibliotecadigital/cienciasnatureza2/apoio/Apoio%20ao%20Aluno/
Temas%20de%20Estudo%20-%20EM/Biologia/Tema%2029_Biotecnologia%20em%20gen%C3%
A9tica.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base nacional comum
curricular. Brasília, DF, 2016.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. ​Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília: MEC, 2013.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. ​Parâmetros
Curriculares Nacionais (Ensino Médio). Brasília: MEC, 2002.
BRUNA, Maria Helena Varella. ​Clonagem e células-tronco. 2012. Disponível em:
<https://drauziovarella.uol.com.br/cardiovascular/clonagem-e-celulas-tronco-2/>. Acesso em: 16
jun. 2018.
CORNELL UNIVERSITY LIBRARY. University. ​Critically Analyzing Information Sources: Critical
Appraisal and Analysis. 2018. Disponível em: <http://guides.library.cornell.edu/criticallyanalyzing>.
Acesso em: 18 jun. 2018.

5
DE PAULA OROFINO, Renata; TRIVELATO, Silvia Luzia Frateschi.​O uso de conceitos científicos
em argumentos em aulas de biologia. Investigações em Ensino de Ciências, v. 20, n. 3, p. 116,
2015.6.
HOCHEDLINGER K, Jaenish R (2003): ​Nuclear transplantation, embryonic stem cells and the
potential for cell therapy. N. Engl. Journal of Medicine 349:275-212
HWANG SW, Ryu YJ, Park JH, Park ES, Lee EG, Koo JM et al. (2004) : ​Evidence of a pluripotent
embryonic stem cell line derived from a cloned blastocyst. Scienceexpress: 12 de fevereiro
LUCKESI, Cipriano Carlos. ​Filosofia da educação coleção magistério 2ºgrau. Série formação do
professor. 1993.
Mitalipova M, Calhoun J, Shin S, Wininger D et al. (2003): ​Human embryonic stem cells lines
derived from discarded embryos. Stem cells 21:521-526
NETTO, R. C., M.; DESSEN, E. M. B.​Células-tronco: o que são e o que serão? Genética na
Escola, vol.1, nº1. Disponível em
<http://docs.wixstatic.com/ugd/b703be_89bff47f332a45998ea7ee2a6c2739e7.pdf> Acesso em
16/06/2018.
PERRENOUD, Philippe. ​Avaliação entre duas lógicas: da excelência à regulação das
aprendizagens. Porto Alegre: ArtMed, 1999.
Rhind SM, Taylor JE, De Sousa PA, King TUI, McGarry M, Wilmut I (2003): ​Human Cloning: can it
be made safe? Nature reviews 4:855-864
TOULMIN, S. ​Os Usos do Argumento. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
UNIVERSITY OF OREGON. University. ​Critical Evaluation of Information Sources. 2018.
Disponível em: <https://researchguides.uoregon.edu/gateway/evaluate-sources>. Acesso em: 18
jun. 2018.

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Anexo 1

Células-tronco: o que são e o que serão?


Regina Célia Mingroni-Netto e Eliana Maria Beluzzo Dessen

Terapia celular e as células-tronco

A utilização terapêutica de células-tronco é uma das formas mais promissoras de


tratamento de muitas doenças. Mas, essa não é uma idéia nova: a medicina já faz uso desse tipo
de terapia há muito tempo nos transplantes de medula óssea.
O transplante de medula óssea resultou do seguinte raciocínio: como todas as células do
sangue e do sistema imunológico são originadas a partir de células-tronco presentes na medula,
caso haja algum dano ou problema com esse sistema em uma pessoa, ele pode ser substituído
por um sistema saudável. O transplante é indicado para o tratamento de várias doenças graves
que afetam as células do sangue, como anemia aplásica grave (doença em que não há formação
das células sanguíneas), algumas doenças hereditárias (exemplo, talassemias) e vários tipos de
leucemias (exemplos, leucemia mielóide aguda, leucemia mielóide crônica, leucemia linfóide
aguda). Os pacientes são inicialmente tratados com altas doses de quimioterápicos e radiação
para eliminar as células da medula óssea doente. O tecido sadio de um doador é então
introduzido através de uma veia do receptor e as células migram para a medula.
Um fator importante a ser observado para o sucesso do transplante é a compatibilidade
celular. Antes que o transplante ocorra, os tecidos do receptor e do doador em potencial devem
ser analisados para verificar a compatibilidade, ou seja, o grau de semelhança, dos antígenos HLA
(Human Leukocyte Antigen). As células do sangue apresentam em sua superfície proteínas
específicas, codificadas por um conjunto de genes conhecidos como Complexo Principal de
Histocompatilidade – MHC (do inglês, Major Histocompatibity Complex). Essas proteínas
funcionam como antígenos, ou seja, induzem à formação de anticorpos, se transferidas para outro
organismo. Nos seres humanos, esses antígenos são denominados HLA. Quanto mais
aparentados forem dois indivíduos, mais alelos do MHC eles terão em comum. Se as células
tiverem vários desses antígenos HLA diferentes, o sistema imunológico do receptor considera
essas células como estranhas e tenta matá-las e as células do doador também tentam eliminar as
células do receptor. Esse é o processo de rejeição. Como não é fácil encontrar um doador
compatível, muitas vezes são realizados transplantes em que a compatibilidade HLA entre doador
e receptor é parcial. Quando não há acesso a um doador compatível, a solução é procurar em
bancos de doadores de medula.
Além da medula óssea, células-tronco de adulto podem ser facilmente obtidas a partir de
cordão umbilical, um órgão que liga o feto à placenta e lhe assegura a nutrição por meio de vasos
sangüíneos durante a gestação. Imediatamente após o parto, o cordão é pinçado para impedir
que o sangue contido em seu interior se perca, e o sangue é retirado com o auxílio de uma
agulha. As células vermelhas do sangue são coletadas e a amostra é congelada e armazenada
por até 15 anos, sem que haja perda da qualidade das células-tronco. O uso de células-tronco do
sangue de cordão umbilical em transplantes é mais vantajoso do que o de medula óssea, por
vários motivos: elas se implantam mais eficientemente, são mais tolerantes à incompatibilidade
entre receptor e doador, têm disponibilidade imediata e há possibilidade de realização do
transplante sem que o doador seja submetido a qualquer tipo de procedimento cirúrgico. A
facilidade de coleta e da análise prévia de antígenos HLA estimulou a criação de Bancos de
Sangue de Cordão Umbilical no Brasil.

7
Quando cultivadas em laboratório, as células-tronco, como as hematopoéticas, por
exemplo, podem se diferenciar em células de outros tecidos, tais como fígado, intestino, pele,
músculo cardíaco, e células nervosas.
Embora se saiba da existência dessas diversas possibilidades de diferenciação, a maneira
como isso ocorre ainda não está clara. Por isso, pesquisadores no mundo inteiro buscam
compreender os mecanismos envolvidos na diferenciação celular. A idéia é a de que se possa
manipular essas células para que elas venham a fornecer outros tipos celulares.
Novas tentativas interessantes de terapia usando as células–tronco adultas já foram
realizadas, principalmente no tratamento de doenças do coração como os infartos do miocárdio.
Nesses casos, há morte de parte do tecido cardíaco e as células remanescentes não são capazes
de reconstituir o tecido morto. Experimentos indicam que as células-tronco hematopoéticas
introduzidas no sangue são capazes de migrar para áreas doentes e de ajudar a originar novas
células de músculo cardíaco e de vasos sangüíneos, mas como isso ocorre exatamente ainda não
está claro.

A polêmica sobre o uso de células-tronco embrionárias em terapia celular

De um modo geral, existem três métodos de obtenção de células-tronco em laboratório


para finalidades terapêuticas. O primeiro método é o já explicado acima, ou seja, a partir de
células-tronco de adulto, como já se faz no transplante de medula óssea ou no tratamento das
doenças do coração.
Na segunda possibilidade, está a obtenção de células-tronco embrionárias a partir de um
embrião em fase inicial de desenvolvimento, o blastocisto. O uso dessas células, muito comum em
pesquisas com animais, tem gerado muita polêmica no caso dos humanos, pois impede o
desenvolvimento do embrião. Uma proposta viável seria a utilização dos embriões humanos
excedentes produzidos por fertilização in vitro (em laboratório) e que ficam congelados nas
clínicas de fertilização assistida. A grande questão é se seria ético utilizar estes embriões para a
obtenção de células-tronco que poderão ser usadas na pesquisa de futuras terapias.
A terceira possibilidade seria a obtenção de células-tronco embrionárias geneticamente
idênticas às da pessoa que as doou. Esse método de obtenção de células-tronco é popularmente
chamado de clonagem terapêutica. Na clonagem terapêutica, um ovócito sem núcleo de uma
doadora recebe um núcleo de uma célula somática do indivíduo doador. Se houvesse
desenvolvimento embrionário até a fase do blastocisto, as células-tronco poderiam ser retiradas e
utilizadas no estabelecimento de linhagens celulares geneticamente idênticas às células do
indivíduo doador. As células obtidas desta maneira poderiam ser empregadas no tratamento de
doenças sem que haja problemas de rejeição. Embora se utilize a palavra clonagem, isto não
significa que se deseja obter um organismo inteiro clonado, mas somente as células-tronco
embrionárias da fase do blastocisto.
Mas, se as células-tronco de adulto podem ser tão versáteis, por que não trabalhar
somente com elas e deixar as embrionárias de lado, pois estas estão cercadas de polêmica? A
resposta não é simples: as células-tronco de adulto são raras e muito difíceis de serem obtidas
nos tecidos onde ocorrem. A sua multiplicação em laboratório é mais vagarosa do que a das
células-tronco embrionárias e, em teoria, a sua potencialidade de diferenciação é mais reduzida
do que a das células embrionárias, pois já estão em estado mais adiantado de diferenciação
celular. Além disso, logo após o seu estabelecimento em laboratório, elas perdem a capacidade
de se dividir e se diferenciar. Portanto, ainda não se sabe se as células-tronco de adulto poderão
substituir perfeitamente as células-tronco embrionárias.

8
A situação ideal para a terapia celular seria estabelecer um procedimento para substituir
qualquer tipo de tecido lesado ou doente. Para isso, é necessário que se descubra qual o
verdadeiro potencial e quais as limitações do uso das células-tronco embrionárias e de adulto.
Mas, muita pesquisa é ainda necessária a fim de se conseguir tal processo.
Somente após uma discussão séria que envolva a todos os segmentos da sociedade, que
deve estar ciente dos riscos e benefícios de tais atividades, podemos chegar a um consenso
sobre a utilização responsável e ética dessas células.
No Brasil, o projeto da Lei de Biossegurança, cujos pontos principais são a
regulamentação da produção de alimentos transgênicos e da pesquisa com células-tronco
embrionárias foi aprovado em 2005. O projeto permite que células-tronco possam ser obtidas de
embriões humanos produzidos por técnicas de fertilização in vitro, desde que estejam congelados
há pelo menos três anos e que haja consentimento dos casais doadores. Neste caso, as células
poderão ser utilizadas para fins de pesquisa de novos tratamentos.
O mais importante a se ressaltar nesse momento é que a permissão para pesquisas com
células-tronco embrionárias não significa a obtenção de tratamentos milagrosos a curto-prazo. O
que surgiu de novo nos últimos tempos é a esperança de que esse tipo de pesquisa possa
apresentar novidades nos tratamentos de doenças até agora incuráveis com os métodos
convencionais, como diabetes, doença de Parkinson, doença de Alzheimer, lesões decorrentes de
acidentes e um leque de doenças hereditárias em geral não tratáveis.

O que há de novo sobre terapia com células-tronco?

Algumas tentativas de terapia com células-tronco não embrionárias já foram realizadas em


várias partes do mundo. Neurônios obtidos de tecido mesencefálico de fetos foram implantados no
cérebro de pacientes com doença de Parkinson. Os neurônios implantados sobreviveram nos
receptores, liberaram a dopamina, um neurotransmissor, e melhoraram os sintomas da doença.
No entanto, esse tratamento dificilmente será uma rotina pela dificuldade de obtenção de tecidos
suficientes para transplantes e por problemas éticos. O ideal seria obter, a partir de células-tronco
embrionárias, neurônios diferenciados in vitro que seriam então implantados em pacientes.
Estudos recentes mostraram que essa estratégia é viável em camundongos e até mesmo em
primatas.
No Brasil, três grupos de pesquisadores do Rio de Janeiro, da Bahia e de São Paulo
trabalham para consolidar a possibilidade de que as células-tronco de adulto sejam uma boa
opção para tratamento da insuficiência cardíaca grave causada por hipertensão, infartos ou
doença de Chagas. Alguns dos pacientes tratados desse modo apresentaram melhora do quadro
clínico após os experimentos. No entanto, os pesquisadores estão conscientes de que ainda é
cedo para assegurar a eficiência dessas técnicas, pois poucos casos foram estudados. Mesmo
com resultados de sucesso, certamente, ainda serão necessários alguns anos para que esses
tipos de tratamento se tornem disponíveis para todos os pacientes porque ainda estão nas fases
iniciais dos estudos clínicos.
No Brasil há equipes trabalhando em tentativas de tratar pessoas afetadas por doenças
autoimunes, como por exemplo, o lúpus eritematoso sistêmico, utilizando células-tronco de
medula óssea.
Convém ressaltar que todos os experimentos citados acima se basearam na aplicação de
células-tronco de adulto. Nenhum experimento terapêutico foi ainda realizado em seres humanos
com células-tronco embrionárias. Apenas animais foram submetidos à experimentação com
células-tronco embrionárias.

9
Mesmo os países que aprovaram a utilização de células-tronco embrionárias em pesquisas
sobre tratamento de doenças ainda terão que esperar muito tempo para ver os resultados
chegarem à rotina dos tratamentos médicos. Mas, sem dúvida, uma revolução na medicina pode
estar se aproximando.

Perguntas:
a) Por que os pesquisadores têm interesse em estudar células-tronco?
b) Como as células-tronco poderiam ser usadas para tratar a leucemia?
c) Quais são as limitações do uso de células-tronco?
d) De onde vem as células-tronco embrionárias usadas em pesquisas?
e) Qual a problemática envolvida no uso de células-tronco para pesquisa?
f) Por que o uso de células-tronco embrionárias é preferível em relação ao uso de células-tronco
adultas?

Gabarito:
a) ​Os pesquisadores estudam as células-tronco para entender como ocorre a diferenciação das
células e aplicar essa capacidade em terapias para tratar doenças.
b) O tratamento de leucemia com células-tronco pode ser feito por meio de um transplante de
medula óssea. Nesse caso, o paciente é submetido a sessões de radio e quimioterapias para
destruição da própria medula óssea que está doente. Então ele recebe o transplante de uma
medula sadia que passa a produzir células normais do sistema sanguíneo.
c) As células-tronco embrionárias usadas em pesquisas são provenientes de embriões fruto de
fertilização ​in vitro que seriam descartados doados com o consentimento dos doadores.
d) Para que as células-tronco embrionárias, que estão no interior do blastocisto, sejam obtidas,
deve-se destruir o embrião. Isso causa discussão a respeito do encerramento ou não de uma nova
vida
e) ​Além da questão ética de obter os embriões que serão destruídos para coletar as células por
meio de doações, ainda se sabe pouco sobre os processos de diferenciação celular e a
manutenção das linhagens especializadas e existe a restrição do uso de células do próprio
paciente no tratamento de doenças genéticas, nesse caso, deve-se encontrar um doador
compatível.
f) As células tronco embrionárias apresentam maior plasticidade, enquanto as células tronco
adultas são mais diferenciadas. Além disso, a manutenção de células tronco adultas em
laboratório é mais difícil do que as células tronco embrionárias.

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Anexo 2

Avalie as informações abaixo como verdadeiras ou falsas:


1. Células-tronco são células com capacidade de renovação.
2. Células-tronco são responsáveis pela regeneração de tecidos lesionados do corpo.
3. Todo tipo de célula-tronco pode originar todos os tipos celulares.
4. Células-tronco totipotentes podem originar um organismo inteiro.
5. Células-tronco pluripotentes são encontradas em qualquer célula de um embrião.
6. Células-tronco pluripotentes podem originar um indivíduo inteiro.
7. Células-tronco multipotentes são as células-tronco mais especializadas.
8. Um indivíduo adulto tem todos os três tipos de células-tronco.
9.Células-tronco embrionárias têm a maior capacidade de diferenciação de todas as
células-tronco.
10. Células-tronco adultas são multipotentes.

Gabarito
1. Verdadeiro.
2. Verdadeiro.
3. Falso. Apenas as células-tronco totipotentes podem se originar todos os tipos celulares, as
células-tronco multipotentes, por exemplo, se transformam apenas em células de um tecido
específico.
4. Verdadeiro.
5. Falso. células-tronco pluripotentes só são encontradas na massa interna do blastocisto. As
células-tronco de um embrião mais desenvolvido já são multipotentes.
6. Falso. Apesar de as células-tronco pluripotentes poderem dar origem a vários tipos celulares,
elas não são capazes de originar os tecidos extra-embrionários, essenciais para o
desenvolvimento de um organismo.
7. Verdadeiro.
8. Falso. Um indivíduo adulto possui apenas as células-tronco multipotentes.
9. Falso. células-tronco embrionárias são células-tronco pluripotentes e, por tanto, não são as que
apresentam a maior capacidade de diferenciação.
10. Verdadeiro.

11
Anexo 3

1. Carlos é um homem possui esclerose múltipla, uma doença genética neurodegenerativa. Ele
encontra uma clínica que oferece um tratamento com células-tronco para essa doença. Nesse
processo, devem ser usadas células-tronco do próprio Carlos ou de um doador para maior
efetividade do tratamento? Justifique.

2. Letícia teve leucemia na infância e fez um transplante de medula óssea como parte do
tratamento. Anos depois, Letícia era suspeita de ter cometido um crime, foi feito um teste de DNA
com amostra de células da boca de Letícia e comparado com DNA de gotas de sangue
encontradas no local do crime. Os resultados estão abaixo:

a) De acordo esses resultados, foi Letícia quem cometeu o crime?


b) Por que esse resultado pode ser um falso negativo, ou seja, apesar de Letícia ter cometido o
crime, ela não ter sido identificada?
c) De onde deveria ser tirada a amostra de DNA de Letícia para fazer essa comparação?

3. Qual a origem dos embriões usados em pesquisas de células-tronco embrionárias? Qual teria
sido o destino dessas células se elas não tivessem sido usadas para pesquisa? Por que algumas
pessoas consideram isso antiético enquanto outras não?

Gabarito:
1. Apesar de usar células-tronco do próprio Carlos oferecer menor risco de rejeição, nesse caso
essas células seriam ineficientes, pois também têm a informação genética para a condição da
esclerose múltipla. Por isso, o tratamento de Carlos deveria ser feito com células-tronco de um
doador.
2. a) Não, Letícia não apresenta o mesmo padrão de bandas que o sangue da cena do crime.
b) Como Letícia passou por um processo de transplante de medula óssea, suas células
sanguíneas possuem o material genético do doador de medula. Já as outras células do seu corpo
possuem o material genético da Letícia. Assim, ao comparar as células do sangue de Letícia com
as células da boca, poderia parecer que são duas pessoas diferentes.
c) O ideal seria comparar a amostra de sangue da cena do crime com uma amostra de sangue de
Letícia.

12
3. Esses embriões são, em geral, originados em clínicas de fertilização e que seriam descartados.
O uso desses embriões para obter células-tronco é polêmico pois acarreta na destruição do
embrião. Esse tema tangencia a discussão do aborto, em que o embrião também é destruído e,
por tanto, movimenta muitas posições da sociedade.

13
Anexo 4

Questões:
1. O que é clonagem?
2. Esquematize o processo de clonagem descrito no texto.
3. Levante uma hipótese que explique porque nos procedimentos de clonagem o núcleo do
ovócito é removido.
4. Compare o processo de clonagem com o processo de reprodução normal. Quais as
principais diferenças e semelhanças?
5. Quais as aplicações para a clonagem estudada?

Gabarito:
1. Clonagem é o processo de obtenção de organismos ou células idênticas ao original.

2.
3. O núcleo do ovócito é removido para manter a ploidia da espécie no embrião formado.
4. Os processos de clonagem e de reprodução normal têm como principal diferença a formação do
zigoto, que acontece pela transferência de núcleo de uma célula diplóide para um ovócito
anucleado na clonagem e pela fecundação do ovócito pelo espermatozóide na reprodução normal.
Ainda, na clonagem terapêutica o desenvolvimento do embrião é interrompido na fase de
blastocisto, o que não ocorre na clonagem reprodutiva e na reprodução normal.
5. A clonagem reprodutiva resulta em um indivíduo geneticamente idêntico ao clonado. Pode se
usar esse organismo para estudar características específicas desejadas; recriar características de
interesse; impedir o processo de extinção de uma espécie (desde que ainda exista material
genético da mesma disponível); utilizar tecidos e órgãos de reposição e no entendimento dos
processos de diferenciação celular (pesquisa)
A clonagem terapêutica é usada no desenvolvimento de tratamentos de doenças; reparo de
lesões em tecidos e no entendimento dos processos de diferenciação celular (pesquisa).

14
Clonagem

Clonagem é um mecanismo comum de propagação da espécie em plantas ou bactérias. O


clone é definido como uma população de moléculas, células ou organismos que se originaram de
uma única célula e que são idênticas à célula original e entre si.
Na natureza, existe a clonagem natural, que ocorre com organismos que se reproduzem
assexuadamente, isto é, sem a união de gametas masculino e feminino, como, por exemplo, as
bactérias, leveduras e estrelas do mar. Organismos vegetais também conseguem dar origem a
descendentes idênticos à planta original, que se desenvolvem a partir de raízes, caules ou folhas
plantados em meio úmido e nutritivo. ​Em humanos, clones naturais são os gêmeos monozigóticos
que se originam da divisão de um único óvulo fertilizado.
Na reprodução sexuada, normalmente, um óvulo é fecundado por um espermatozóide,
originando um zigoto. Esse zigoto se desenvolve em um embrião no útero da mãe e permanece lá
até o final da gestação.

Clonagem Reprodutiva

Um dos experimentos de clonagem mais famoso do mundo é o da ovelha Dolly, realizado


pelo pesquisador Prof. Ian Wilnut, do Instituto Roslin, da Escócia, entre os anos de 1995 e 1996.

A grande notícia que a Dolly trouxe consigo foi justamente a descoberta de que uma célula
somática de mamífero, já diferenciada, poderia ser reprogramada ao estágio inicial e voltar a ser
totipotente. Isso foi conseguido transferindo o núcleo de uma célula somática da glândula mamária
da ovelha que originou Dolly para um óvulo anucleado que, surpreendentemente, começou a
comportar-se como um óvulo recém fecundado por um espermatozoide. Isso provavelmente
ocorreu porque o óvulo, quando fecundado, tem mecanismos — para nós ainda desconhecidos –
para reprogramar o DNA de modo a tornar todos os seus genes novamente ativos, o que ocorre
no processo normal de fertilização.
Para obtenção de um clone, o óvulo anucleado para o qual foi transferido o núcleo da
célula somática foi inserido no útero de outra ovelha. Esse óvulo iniciou o processo de
desenvolvimento embrionário normal e originou a Dolly.

15
No caso da clonagem humana reprodutiva, a proposta seria retirar-se o núcleo de uma
célula somática, que teoricamente poderia ser de qualquer tecido de uma criança ou de um adulto,
inserir esse núcleo em um óvulo e implantá-lo num útero (que funcionaria como barriga de
aluguel). Se esse óvulo conseguir desenvolver-se, teremos um novo ser com as mesmas
características físicas da criança ou do adulto de quem foi retirada a célula somática. Seria como
um gêmeo idêntico nascido posteriormente.
Já sabemos que não é um processo fácil. Dolly só nasceu depois de 276 tentativas que
fracassaram. Além disso, dentre as 277 células “da mãe de Dolly“ que foram inseridas num óvulo
sem núcleo, 90% não alcançaram nem o estágio de blastocisto, que ocorre no 5 dia. A tentativa
posterior de clonar outros mamíferos, tais como camundongos, porcos, bezerros, um cavalo e um
veado, também tem mostrado eficiência muito baixa e proporção muito grande de abortos e
embriões malformados. Penta, a primeira bezerra brasileira clonada a partir de uma célula
somática adulta, em 2002, morreu com um pouco mais de um mês. Ainda em 2002, foi anunciada
a clonagem do “copycat” o primeiro gato de estimação clonado a partir de uma célula somática
adulta. Para isso, foram utilizados 188 óvulos que geraram 87 embriões e apenas um animal vivo.
Na realidade, experiências recentes, com diferentes modelos animais têm mostrado que a
reprogramação dos genes para o estágio embrionário, processo que originou Dolly, é
extremamente difícil.
O grupo liderado por Ian Wilmut afirma que praticamente todos os animais clonados nos
últimos anos a partir de células não embrionárias estão com problemas (Rhind , 2003). De acordo
com Hochedlinger e Jaenisch (2003), os avanços recentes em clonagem reprodutiva permitem
quatro conclusões importantes: 1) a maioria dos clones morre no início da gestação; 2) os animais
clonados têm defeitos e anormalidades semelhantes independentemente da célula doadora ou da
espécie; 3) essas anormalidades provavelmente ocorrem por falhas na reprogramação do
genoma; 4) a eficiência da clonagem depende do estágio de diferenciação da célula doadora. De
fato, a clonagem reprodutiva a partir de células embrionárias têm mostrado uma eficiência de 10 a
20 vezes maior provavelmente porque os genes que são fundamentais no início da embriogênese
estão ainda ativos no genoma da célula doadora. (Hochedlinger e Jaenisch, 2003)

16
Clonagem Terapêutica

Há um tipo de clonagem com a finalidade de contribuir para o tratamento de doenças


chamada de clonagem terapêutica. A técnica é utilizada na produção de células-tronco para a
produção de tecidos e órgãos para pessoas doentes que necessitam de um transplante. O intuito,
portanto, é clonar células capazes de substituir células que foram perdidas ou que não estão
funcionando adequadamente por motivo de doença ou por trauma, restaurando a função de tecido
e órgãos.

Se pegarmos um óvulo cujo núcleo foi substituído pelo núcleo de uma célula somática e
deixarmos que ele se divida no laboratório, teremos a possibilidade de usar essas células que, na
fase de blastocisto, são pluripotentes, para fabricar diferentes tecidos. Isso abrirá perspectivas
fantásticas para futuros tratamentos, porque hoje só se consegue cultivar em laboratório células
com as mesmas características do tecido de onde foram retiradas. É importante que as pessoas
entendam que, na clonagem para fins terapêuticos, serão gerados apenas tecidos, em laboratório,
sem implantação do óvulo no útero. Não se trata de clonar um feto até alguns meses dentro do
útero para depois retirar-lhe os órgãos, como alguns acreditam. Também não há por que chamar
esse óvulo, após a transferência de núcleo, de embrião porque ele nunca terá esse destino.
Apesar disso, a questão ética desperta discussões sobre o uso das células-tronco embrionárias.
No exemplo da ilustração, as células-tronco embrionárias são aplicadas no pâncreas de
um paciente diabético, pois suas células não produzem insulina de forma adequada, o intuito é
que essas células-tronco embrionárias se diferenciem em células pancreáticas e comecem a
produzir a insulina de forma correta, normalizando os níveis de insulina no sangue do doente.
Pesquisa publicada na revista ​Science, por um grupo de cientistas coreanos (Hwang e col,
2004) confirmou a possibilidade de obter células-tronco pluripotentes a partir da técnica de
clonagem terapêutica ou transferência de núcleos. O trabalho foi feito graças a participação de 16
mulheres voluntárias que doaram ao todo 242 óvulos e células cumulus (células que ficam ao
redor dos óvulos) para contribuir com pesquisas visando à clonagem terapêutica. As células
cumulus, que já são diferenciadas, foram transferidas para os óvulos dos quais haviam sido
retirados os núcleos. De todos eles, 25% conseguiram dividir-se e chegar ao estágio de
blastocisto, portanto capazes de produzir linhagens de células-tronco pluripotentes.
A clonagem terapêutica teria a vantagem de evitar rejeição se o doador fosse a própria
pessoa. Seria o caso, por exemplo, de reconstituir a medula em alguém que se tornou paraplégico

17
após um acidente ou para substituir o tecido cardíaco comprometido por um infarto. Entretanto,
essa técnica tem limitações. No caso dos afetados por doenças genéticas, o doador não poderia
ser a própria pessoa, pois a mutação patogênica causadora da doença está presente em todas as
células. Seria o caso, por exemplo, de um indivíduo afetado por distrofia muscular progressiva que
necessita substituir tecido muscular. Usar linhagens de células-tronco embrionárias de outra
pessoa pode provocar o problema da compatibilidade entre o doador e o receptor.

18
Anexo 5

A Ilha

Em um futuro distópico, o procedimento de clonagem reprodutiva é permitido por lei, sendo


possível contratar o serviço de uma empresa privada. O clone funciona como um seguro, para que
em caso de doenças ou acidentes o cliente possa fazer um transplantes sem risco de rejeição, ou
até mesmo para contornar problemas de saúde decorrentes da idade avançada.
A empresa desenvolve os clones de seus clientes a partir da coleta de células dos
mesmos, gerando um novo ser humano a partir da gestação do clone. São colocadas memórias
genéricas na consciência de cada clone, para que eles nunca fiquem cientes de sua condição. Os
clones vivem isolados em um complexo, mas interagem entre si. Os clientes não sabem que seus
clones são conscientes e vivem uma vida humana normal. Toda vez que um cliente precise utilizar
seu seguro, o clone deve doar as partes necessárias para o cliente e ser descartado (morto).

Questões:

1. Quais os testes e procedimentos que a empresa deve fazer para garantir que o clone terá
condições de suprir qualquer futura necessidade do cliente que quer contratar seus serviços de
seguro por clonagem?

2. De onde poderia ser retirado o material genético para a clonagem? Onde o material genético
deve ser colocado para que um novo ser humano seja formado?

3. Um cliente de 40 anos, com câncer terminal e prognóstico de 1 ano de vida, procura a empresa.
De acordo com o que você aprendeu sobre clonagem reprodutiva, seria possível criar um clone
para ser usado antes que o doador estivesse morto? Explique

4. Qual o risco de rejeição de um órgão transplantado de um clone?

5. Marque as características que seriam idênticas entre o clone e o doador do material genético
com um​ (I) ​e as que seriam diferentes com um​ (D)​. Justifique.

a) Aparência física ​( )
b) Mutações genéticas ​( )
c) Doenças genéticas ​( )
d) Impressões digitais​ ( )
e) Personalidade ​( )

Gabarito:
1. Para garantir a total eficácia do clone, a empresa deve checar se o cliente possui alguma
doença genética hereditária e se possuir, deve eliminar a possibilidade de o clone desenvolver a
doença. O clone deve ser mantido em um ambiente controlado que diminua as chances de
mutações e danos físicos e deve sempre ser submetido a exames clínicos.
2. O DNA pode ser retirado do núcleo de qualquer célula somática do doador e introduzido em um
óvulo anucleado para que se desenvolva como um embrião.

19
3. Não seria possível, quando se implanta um óvulo com material genético em um útero, mesmo
que nesse caso seja artificial, o desenvolvimento começa pela formação do embrião, que deve
crescer e atingir o tamanho adulto para que os órgãos sejam compatíveis com o tamanho do
doador.
4. Um órgão transplantado de um clone não apresenta risco de rejeição, uma vez que eles são
geneticamente idênticos, incluindo os genes do HLA, responsável pela compatibilidade de
transplantes.
5. a) (I) O clone e o doador seriam fisicamente idênticos pois possuem o mesmo genoma nuclear,
seriam como gêmeos univitelinos.
b) (D) As mutações são causadas aleatoriamente ao longo da vida, podem ser influenciadas por
fatores externos como alimentação e ambiente ou podem acontecer espontaneamente, portanto o
clone não possuiria as mesmas mutações que o doador.
c) (I) Do mesmo modo que a aparência física, as doenças genéticas estão no DNA, portanto o
clone que veio de um doador que porta uma doença desse tipo teria a mesma doença.
d) (D) As impressões digitais não são determinadas geneticamente e sim da movimentação do
bebê dentro do útero. O clone não teria as mesmas impressões digitais do doador, assim como
gêmeos idênticos também têm digitais diferentes.
e) (D) A personalidade não é determinada geneticamente, é fruto de experiências vividas por cada
indivíduo e suas memórias, por isso o clone e o doador teriam personalidades distintas.

20
Anexo 6

Como identificar se uma fonte é confiável?

1. Considere o meio com o qual você está trabalhando. Geralmente, quanto mais se investe na
criação e publicação de um material, o mais provável é encontrar informações confiáveis. Por
exemplo, um material impresso tem um custo maior de produção do que um blog na Internet, onde
qualquer um pode publicar gratuitamente.
Um jornal é considerado uma fonte confiável, porque cada artigo deve passar por um processo
rigoroso de revisão, com muitos profissionais envolvidos. Revisão não indica necessariamente que
os revisores estão de acordo com as conclusões do escritor original. Avaliadores examinam a
exatidão da informação, e fazem questionamentos e críticas sobre qualquer conclusão
apresentada. Eles podem discordar com o escritor em questão, mas devem confirmar que o artigo
é bem embasado. Isso não quer dizer que você deve evitar completamente as fontes da internet,
nem que deveria confiar imediatamente em uma publicação, que pode ser altamente tendenciosa.
Saiba pesar as informações.

2. Pesquise o autor. Uma fonte é mais credível quando escrita por um autor credenciado. Se
nenhum autor ou organização são citados, a fonte não deve ser vista com muita credibilidade. No
entanto, se o autor estiver apresentando um trabalho original, avalie o mérito das ideias, não as
credenciais. A história da ciência nos diz que os grandes avanços tendem a vir de fora da
comunidade. Aqui estão algumas perguntas que você deve fazer sobre o autor:
● Onde o autor trabalha?
● Se ele está filiado a uma organização ou instituição, quais são seus valores e objetivos?
● Ele se beneficia financeiramente ao promover uma visão em particular?
● Qual é a formação do autor?
● Que outras obras ele publicou?
● Que experiência ele tem? Ele é um inovador, um seguidor ou um divulgador do status quo?
● Este autor tem sido citado como fonte por outros estudiosos ou peritos no campo?

3. Verifique a data. Descubra quando a fonte foi publicada ou revisada. Em algumas áreas, tais
como as ciências, manter-se atualizado é vital; em outros campos, como as ciências humanas,
inteirar-se de materiais mais antigos é fundamental. Você pode estar pesquisando uma versão
antiga de determinada fonte, que já foi atualizada. Verifique em um banco de dados acadêmico,
para saber se há uma versão mais recente disponível. Caso não encontre nenhuma, você pode
confiar mais na fonte usada.

4. Investigue a credibilidade do publicador. Caso seja uma universidade, a fonte tem mais chances
de ser confiável em um padrão acadêmico.

5. Determine o público-alvo. Verifique o prefácio, sumário, índice, resumo e os primeiros


parágrafos do artigo. Ele tem a profundidade e amplitude necessários para seu projeto? Uma
fonte especializada demais pode levá-lo a interpretar mal algumas informações, o que é tão ruim
quanto usar uma fonte não confiável.

21
6. Verifique os comentários. Você pode pesquisar em bancos de dados acadêmicos atrás de
comentários sobre determinada publicação. Caso o livro destina-se a um leigo, pesquise os
comentários online, e veja as críticas de outras pessoas sobre ele. Se houver alguma controvérsia
significativa sobre a validade da fonte, você pode preferir não usá-la, ou examiná-la com um olhar
mais cético.

7. Avalie as fontes de origem. Citar outras fontes confiáveis é um sinal de credibilidade. No


entanto, pode ser necessário verificar se as outras fontes também mostram um padrão de
credibilidade, e se são usadas em um contexto.

8. Se um autor for conhecido por ser emocionalmente ou financeiramente ligado a um assunto,


esteja ciente de que a fonte pode não representar todos os pontos de vista possíveis. Às vezes, é
necessário determinar as relações e os interesses do autor sobre o assunto.
Perceba que todo texto mostra um ponto de vista. Conclusões que descrevem algo como “bom ou
ruim”, ou “certo ou errado”, devem ser examinadas. É mais apropriado comparar algo a um
objetivo padrão, do que rotulá-lo com palavras que representam conceitos abstratos. Por exemplo,
"... estes e outros atos desprezíveis..." vs. "... estes e outros atos ilegais...". O último descreve os
atos nos termos da lei, considerando que o primeiro exemplo julga as ações de acordo com a
crença do autor do que é ou não desprezível.

9. Avalie a consistência da informação. Fontes que aplicam normas diferenciadas para assuntos
dos quais concordam ou não, devem ser consideradas suspeitas. Se a sua fonte enaltece um
político por “atender às necessidades do seu eleitorado”, mas critica um adversário por “mudar
sua posição, com base nas pesquisas de opinião”, pode não se tratar de uma fonte imparcial.

10. Investigue os patrocinadores ou financiadores de uma pesquisa. Determine se há alguma


fonte externa influenciando determinado estudo. Alguns financiamentos pode trazer influências
negativas sobre a forma que determinadas informações são apresentadas.

22
Anexo 7

Critério Satisfatório (2) Parcialmente Não satisfatório (0)


Satisfatório (1)

Argumentação A sustentação da São apresentados A posição não é


posição se dá por argumentos, no sustentada por
argumentos entanto, a articulação argumentos
identificáveis pela do argumento não é
estrutura indicada na coerente com a O grupo não se
Figura 01 posição sustentada posicionou

Utilização dos Os conteúdos de Os conteúdos de Os conteúdos de


conteúdos específicos células-tronco e células-tronco e células-tronco e
clonagem estão clonagem estão clonagem não estão
presentes nos presentes nos presentes nos
argumentos e argumentos, mas não argumentos
articulados de forma estão articulados de
coerente com a forma coerente com a
posição sustentada posição sustentada

Validade das fontes As fontes utilizadas As fontes utilizadas


são válidas não são válidas

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