Medeiros 1999 OsTarairiusExtintosTapuiasNE
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www.etnolinguistica.org
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
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Olavo de Medeiros Filho<*>
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Ao travarem seus primeiros contatos com os primitivos
habitantes do território nacional, cedo os europeus os identificaram
em dois grupos distintos: os TUPIS, que falavam a Língua Geral, a
• Língua Boa - e os T APUIAS, com diversos idiomas, os chamados
Gentios da Língua Travada. O convívio mais estreito entre europeus e
• indígenas - até então separados pela vastidão atlântica - verificou-se
com a nação tupi, habitante do vasto litoral brasileiro.
Considerando-se apenas a antiga Capitania do Rio Grande, ou
dos Potiguares, como mero exemplo, constataremos que os tupis
•
habitavam o litoral do território, achando-se representados pela tribo
dos potiguares, do ramo tupinambá. A jurisdição de tais indígenas
estendia-se da margem setentrional do rio Paraíba até à serra de
Ibiapaba, já em território cearense. Para fins deste estudo, deixaremos
• de lado o que respeita aos tupis e concentraremos nossas atenções em
tomo dos tapuias, aqueles silvícolas que povoavam, inclusive, os
sertões das capitanias nordestinas.
Em 1618, AMBRÓSIO FERNANDES BRANDÃO, senhor de
engenho, capitão de infantaria e um dos primeiros conquistadores da
Paraíba, compunha a sua obra Diálogos das Grandezas do Brasil,
ocupando-se nos trechos finais do seu livro, em descrever os tapuias,
denominando-os tapuins. A descrição etnográfica desses silvícolas,
apresentada por Fernandes Brandão, coincide com outras narrativas
posteriores, da lavra de autores do partido holandês, mencionadas
mais adiante deste comentário .
JOANNES DE .LAET, autor ,
da História ou Anais dos Feitos
da Companhia Privilegiada das Jndias Ocidentais desde seu começo
o doente, e este com eles, por lhe caber morrer virilmente, furtando-se
assim aos sofrimentos!
Segundo as crônicas, os indígenas eram muito vitimados por
acidentes causados por picadas de cobras e mordidas de piranhas,
terríveis peixes que, ainda hoje, infestam as águas dos nossos rios e
lagoas.
Praticavam os tarairiús o endocanibalismo. Até os próprios
ossos dos falecidos tapuias eram consumidos, depois de devidamente
secos pelo calor solar, sendo em seguida cremados ao fogo, pisados e
pulverizados. Os cabelos também eram ingeridos, depois de reduzidos
a partículas diminutas, sendo dissolvidos na água, ou misturados com
mel silvestre e comidos com tapiocas!
No local em que morriam pessoas importantes da tribo,
colocava-se uma memória, ali se reunindo todos os ano·s os seus
companheiros, "para fazerem un1a oferenda ao Diabo".
Também era praticada a antropofagia contra os inimigos da
tribo, os quais eram dilacerados por feroz vingança.
VIDA AMOROSA
acumulava nos cantos e recantos dos lajedos. Tal falta d'água forçava
os tarairiús a fazerem uma ou duas incursões anuais ao litoral.
Os tapuias possuíam admirável agudeza de olfato, qualidade
utilíssima à vida de caçadores que levavam.
Quando trovejava e soprava fortemente o vento, havia uma
abundantíssima pescaria, na lagoa Bayatach (Piató, no Açu). Os
peixes eram tão gordos que dispensavam o uso de gorduras para
prepará-los. Tal lagoa, nos meses de março a abril recebia o
transbordamento do rio Otschunogh {Açu), mal conseguindo as
mulheres da tribo transportar todo o peixe apanhado, para o
acampamento.
Os tarairiús assavam as carnes consumidas. Ao término das
refeições, entoavam cantos e dançavam. Fabricavam uma espessa
bebida à base de mel de abelhas, a qual tinha a coloração branca como
o leite. Suas farinhas e pães eram feito s com a fécula de uma raiz, por
eles denominada de attouh( atug), correspondente à mandioca.
Quando o rio Açu voltava ao seu leito, os tarairiús
dedicavam-se ao plantio de milho, jerimuns, amendoins, etc. Antes do
plantio havia uma cerimônia realizada pelos feiticeiros, destinada a
propiciar a fertilidade do terreno. Barléu nos descreve os detalhes
dessa cerimônia, algo de realmente belo.
Na descrição da viagem de Roulox Baro, constata-se que os
tarairiús de Janduí plantavam roças sobre a atual Chapada da Serra
Verde, que àquela época recebia a denominação de Moytiapoa,
localizada no atual município de João Câmara (RN).
LINGUAGEM DOS TARAIRIÚS
,
CORPAMBA - Arvore de cujas sementes os tapuias
preparavam um alucinógeno.
,
CORRAVEARA- Arvore de cujo tronco os tapuias faziam os
pesos utilizados nas suas correrias. Tudo indica tratar-se da
camaubeira.
MANUAH-A Cobra de Veado.
OIUGI - A Cobra Cascavel.
UVA - Espécie de beberagem feita de mel silvestre e frutas
(abacaxi). ~
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OS TARAIRIÚS, EXTINTOS TAPUIAS DO NORDESTE 253
DEMÓNIOS E ESPiRITOS
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