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FINS DAS PENAS Inês Morais

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Qual o sentido da punição do arguido?

Existem várias teses sobre os fins das penas



As respostas tradicionais dividem-se em:

Teorias Absolutas:

Nestas, a pena é concebida como uma exigência absoluta da justiça

O fim da pena é a retribuição - são teorias absolutas porque o fim da pena esgota-se em si mesma, a pena é uma
resposta ao crime. 

A pena serve para atingirmos um fim de castigo/recompensação (conforme o autor) pelo mal do crime.

Não interessa como é que a sociedade vai reagir às penas.

Nas teorias retribuicionistas estamos perante uma lógica de punição - ideia de compensação da exata medida do
crime

Relação entre Pena e Culpa - art 40º/2 CP

A culpa é a medida da pena - a pena não pode ultrapassar a culpa. A culpa é o limite máximo a ter em conta
aquando da aplicação da pena

O artigo não consagrada uma conceção pura de restituição na medida em que de acordo com o preceito a pena
pode ficar abaixo da culpa, um retribucionista dirá sempre que a pena deve corresponder à medida da culpa

Estas conceções têm o mérito da ressalva do princípio da culpa em princípio absoluto de toda a aplicação da pena

Não podemos instrumentalizar o indivíduo

Críticas:

- Esta lógica de retribuição não oferece nenhum critério para determinar materialmente o que merece
retribuição;

- Mesmo admitindo que isto é uma finalidade válida para o fim da pena, é duvidoso que caiba ao Estado a
aplicação desta. Onde está a legitimidade do Estado para tal?

- É duvidoso porque é que o castigo é o fim de uma pena. 



Será isso legítimo de acordo com a nossa CRP?

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Teorias Relativas:

Entendem que os fins das penas já não se dirigem para o passado mas sim, para os efeitos que estas vão ter no
futuro. São sempre teses preventivas - querem prevenir algo.

Finalidade construtiva da sociedade

A diferença reside naquilo que querem prevenir: 




Do ponto de vista da sociedade - Prevenção Geral

Justifica-se a pena pela intimidação dos cidadãos relativamente à violação da lei penal. 

Mensagem que se visa transmitir à sociedade à custa do arguido

O espirito dos potenciais criminosos (toda a sociedade) pode ser influenciado pela introdução de uma ameaça:
“atenção que se praticarem o crime acontece-vos isto”. A aplicação da pena serve depois para confirmar a ameaça
feita e mostrar que a mesma se cumpre à restante sociedade.

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Divide-se em 2 perspetivas: 


1. Prevenção Geral Negativa - Intimidação:



O juiz aplica a pena para intimidar os potenciais criminosos, dissuadindo-os da possibilidade de praticarem o
crime. 

Intimidação da comunidade na lógica dos potenciais criminosos 


2. Prevenção Geral Positiva - Integração 



Mensagem que se transmite a toda a comunidade - É especialmente para os cidadãos cumpridores da lei, trata
de uma questão de expectativas.

Orientamos a nossa vida em função de expectativas, quando ocorre um crime as expectativas são frustradas.
Aquando da frustração existem 2 opções: 

- Reformulação das expectativas 

- Direito penal - diz que não é necessário reformular as expectativas uma vez que aquelas que tínhamos
estavam certas e quem está errado é quem as violou e por isso se tornou alvo da pena 

Este processo reafirma a confiança nas normas 

Saímos de casa todos os dias porque temos expectativas de que não nos vão assaltar, matar, violar, não vão
andar de carro alcoolizados…

Se não tivéssemos essas expectativas teríamos uma vida diferente daquela que temos 

Quando acontece um crime essas expectativas saem frustradas 

O que o direito penal nestes casos faz é dizer: 

A expectativa desta pessoa é aquilo que vale e deve ser mantida 

A verdade é que foi violada mas a expectativa está certa e é para manter 

Prova-se às pessoas que as expectativas são para manter através da punição de quem violou as expectativas 

A lógica da prevenção geral positiva apenas serve para restabelecer a confiança das pessoas na validade da
norma é para isso que vamos castigar o criminoso

Como é que isto previne crime?

Se todos nós achássemos que amanha a lei já não era para cumprir então amanhã deixávamos de ser cidadãos
cumpridores da lei e passávamos a ser criminosos 

Visa que o cidadão cumpridor da lei se mantenha assim e não passe a praticar crime alegando que a sua
expectativa mudou 

Para provar que a expectativa é para manter vamos punir o criminoso. 


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Críticas:

- Violação do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana - Kant: tratar a pessoa como fim e não como meio. 

Isto porque estamos preocupados com os efeitos que vão surgir na sociedade e, para tal, instrumentaliza-se o
ser humano.

- É muito susceptível de exageros e de desproporções entre o crime praticado e a pena aplicada.

Do ponto de vista da pessoa do próprio criminoso - Prevenção Especial:

Procura corrigir a pessoa através da pena de modo a que ela possa reintegrar a sociedade. 

Se se tratar de uma pessoa que não se dá à correção, vamos “intimidá-la” de modo a que não volte a fazer.

E, se não se intimidar, vamos neutralizá-la.

O grande objetivo é a intervenção sobre o cidadão delinquente, através de uma espécie de coação psicológica,
inibindo-o da pratica de crimes ou eliminando nele mesmo a disposição para delinquir.

O escopo central é evitar a reincidência



Divide-se em 2 perspetivas:

1. Prevenção Especial Positiva ou de Socialização:



Prende-se com a integração social do indivíduo, uma vez que a reclusão produz a exclusão da sociedade,
devendo pôr-se à disposição do recluso ferramentas que lhe possam ser úteis para quando termine o tempo
de reclusão.

No entanto, esta ideia não pode assumir-se como única finalidade da pena, caso contrário corria-se o risco de
manter alguém cuja socialização não fosse alcançada, na prisão indefinidamente - causando profundos
sentimentos anti-sociais

Art 40º/1 parte final - prevenção especial positiva - expressamente prevista na lei 

O que é que é a reinserção social? 

Não tem nada a ver com emenda moral do arguido, não implica torná-lo boa pessoa, o direito penal não se
interessa por isso

Pretende dar às pessoas os instrumentos necessários para que possam viver em sociedade de acordo com a lei 



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Como é que o faz? 

- Estabelecimentos prisionais disponibilizam formação letiva 

- Dão formação profissional 

- Possibilidade de frequentar programas de desintoxicação 

- Tratamento psicológico 

Pode a prevenção especial positiva não significar o encarceramento - pode incluir determinadas condições
como ter de procurar emprego… 

O juiz avalia se o arguido está ou não bem inserido socialmente

A reação punitiva será menor se houver uma menor necessidade de ressocialização 


2. Prevenção Especial Negativa ou de Inocuização: 



Pretende alcançaram efeito de pura defesa social, através da separação ou segregação do delinquente, só
assim se conseguindo atingir a sua neutralização, que a sua perigosidade social impõe. 

Alcança-se pela intimidação - causando um mal ao arguido espera-se que ele não repita o delito 

Intimidação sobre o próprio agente

Críticas:

- Não oferece um critério material para definir quem é que precisa de reintegração ou intimidação. 

Como é que determinamos então quem é que precisa?

- Como não oferece critério material, pode conduzir-nos a condenar o que é diferente e não, o que é criminoso.

Posição do Prof. FIGUEIREDO DIAS:



O professor defende que, a solução para o problema dos fins das penas, reside no facto de que estes apenas podem
ter natureza preventiva.
Seja prevenção geral, positiva ou negativa, seja prevenção especial positiva ou negativa. Nunca natureza
retributiva.

O direito penal e o seu exercício pelo Estado fundamentam-se na necessidade estatal de subtrair à disponibilidade
de cada pessoa o mínimo dos seus direitos, liberdades e garantias indispensável ao funcionamento da sociedade, à
prevenção dos seus bens jurídicos essenciais; e a permitir assim, a realização mais livre possível da personalidade
de cada um enquanto indivíduo e membro da comunidade. Assim também é quanto à pena criminal - na sua
ameaça, aplicação concreta e execução efetiva.

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Não se justifica nem é conveniente, assinalar à pena ou só finalidades de prevenção geral ou só de prevenção
especial - umas e outras devem coexistir e combinar-se da melhor forma possível. 


O Professor entende que, primordialmente, a finalidade visada pela pena há de ser a de tutela necessária dos bens
jurídico-penais no caso concreto. Afirma que a prevenção geral positiva ou de integração constitui a finalidade
primordial da pena traduz a convicção de que existe uma medida óptima de tutela dos bens jurídicos.

No entanto, esta medida óptima de prevenção não fornece ao juiz um quantum exato de pena. Abaixo do ponto
óptimo ideal outros existirão em que aquela tutela é ainda efetiva e consistente e onde portanto a pena concreta
aplicada se pode ainda se situar sem que perca a função de tutela dos bens jurídicos.

O limiar mínimo - chamado de defesa do ordenamento jurídico - abaixo do qual não é comunitariamente
suportável a fixação da pena sem pôr irremediavelmente em causa a sua função de tutelar bens jurídicos.


Pode assim dizer-se que, é a prevenção geral positiva que fornece a moldura de prevenção dentro de cujos limites
podem e devem actuar considerações de prevenção especial e não a culpa, como tradicional e ainda hoje
maioritariamente se pensa.

Assim, dentro da moldura concedida pela prevenção geral positiva ou de integração - entre o ponto óptimo (ponto
em que do ponto de vista da prevenção geral positiva ficariam optimamente restabelecidas as expectativas da
comunidade) e o ponto ainda comunitariamente suportável da medida de tutela de bens jurídicos (abaixo desse
limite mínimo não se está defender o ordenamento e a confiança neste) - devem atuar pontos de vista de
prevenção especial, sendo estes que vão determinar, em última instância, a medida da pena.

A culpa como pressuposto e limite da pena - Prof. Figueiredo Dias:




A verdadeira função da culpa no sistema punitivo reside efetivamente numa incondicional proibição de excesso.

A culpa não é fundamento da pena, mas constitui o seu pressuposto necessário e o seu limite inultrapassável
- limite inultrapassável por quaisquer considerações ou exigências preventivas.

Assim, a função da culpa, inscrita na vertente liberal do estado de Direito é a de estabelecer o máximo de pena
ainda compatível com as exigências de prevenção da dignidade da pessoa humana e de garantia do
desenvolvimento da sua personalidade nos quadros próprios de um Estado de Direito Democrático. 

É, por esta via, constituindo uma barreira intransponível ao intervencionismo punitivo estatal e um veto
incondicional aos apetites abusivos que ele possa suscitar.


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Não é possível quantificar a culpa, qualificarmo-la. 

A culpa vai servir para ver se o calculo que foi realizado com estritas razões preventivas está ou não dentro dos
limites inultrapassáveis da culpa


A legitimidade da pena repousa substancialmente num duplo fundamento - o da prevenção e o da culpa 

A pena só seria legítima quando é necessária de um ponto de vista preventivo; a culpa é pressuposto indispensável
e limite inultrapassável da pena, não se tornando necessário turvar a limpidez da natureza exclusivamente
preventiva das finalidades da pena.

Toda a pena que responda adequadamente às exigências preventivas e não exceda a medida da culpa é
uma pena justa!


Concluido:

1. Toda a pena serve finalidades exclusivas de prevenção, geral e especial;

2. A pena concreta é limitada, no seu máximo inultrapassável, pela medida da culpa

3. Dentro desde limite máximo ela é determinada no interior de uma moldura de prevenção geral de integração,
cujo limite superior é oferecido pelo ponto óptimo de tutela dos bens jurídicos e cujo limite inferior é
constituído pelas exigências mínimas de defesa do ordenamento jurídico

4. A medida da pena é encontrada em função das exigências de prevenção especial, em regra positiva ou de
socialização, excepcionalmente negativa e de intimidação

Principal crítica ao raciocínio do Prof FD:

O professor não explica como é que considera o limite mínimo do ordenamento.

Diz que a culpa não interessa enquanto fundamento, mas ao ser questionado como é que se estabelece o limite
mínimo da prevenção iríamos perceber que na verdade, se baseia na medida da culpa.

A situação da culpa estar abaixo do limite mínimo da moldura de prevenção geral nunca há de acontecer porque
esta, em condições normais, descerá esse limite até à medida da culpa.

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Posição da Prof. FERNANDA PALMA


Critica a lógica de prevenção geral positiva:

- Está a instrumentalizar a pessoa - estamos a instrumentalizar a pessoa para acalmar a multidão e isto é duvidoso
em termos de dignidade. 

É também duvidoso que caiba ao juiz determinar isto, quais as exigências de prevenção preventiva que valem no
caso concreto;

- Esta prevenção geral positiva facilmente se desliga da defesa de bens jurídicos;


- Mais do que escolhermos este ou outro modelo, há que respeitar a CRP: o principio da culpa, da
proporcionalidade, o art.18º, nº2 CRP.

- A culpa é um critério para determinar a pena.

A professora entende que não é da interpretação jurídico-formal do ar 40º CP que se retiram todos os sentidos
possíveis sobre o seu conteúdo mas sim da sua interpretação conforme a CRP. 


- A prevenção geral positiva é importante para o legislador mas, aquilo que o juiz deve ter em conta é a prevenção
especial positiva: todos os juiz estão obrigados a acreditarem na reintegração na sociedade.


Defende a ligação entre culpa e facto culposo - necessidade de pena

A professora não aceita a ideia de que abaixo do limite mínimo de defesa do ordenamento não se pode passar

Não aceita o pressuposto de que o fundamento da pena é apenas a prevenção - para além desta, a culpa também o
é.

O porquê da pena não pode ser explicado pela prevenção. Não é possível desvincular a ideia de pena da ideia de
culpa - existe uma relação forte entre pena e culpa

Defende o imperativo de que a medida da pena é fixada também em função da medida da culpa. O que então quer
dizer que a culpabilidade não funciona apenas como limite na sua relação com a pena, mas desde logo como
elemento integrador na sua medida (para além do seu fundamento).

O que quer dizer que quer a prevenção quer a culpa podem funcionar como princípios restritivos: 

Se o limite mínimo de defesa do ordenamento (lógica do prof FD) for verificado, mas se chegar à conclusão que a
culpa do arguido é mais baixa, então a pena também terá de ser mais baixa.

São ambos fundamentos por isso se a culpa for mais baixa do que o limite mínimo de defesa do ordenamento
então é a culpa que determinará a pena e não o limite mínimo

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