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Tribunal Da SADC

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Introdução

O presente trabalho tem por objectivo analisar o funcionamento do Tribunal da


Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC). Desde logo, várias questões
se levantam sobre os motivos que levaram a Cimeira da SADC a “suspender” o Tribunal
regional, sobre a nova dimensão jurisdicional, cujo âmbito foi conferido pelo novo Protocolo
sobre o Tribunal da SADC, sobre o direito dos povos da SADC à justiça, os direitos
adquiridos, a independência do judiciário, a protecção dos direitos humanos, a marcha do
processo de integração regional, entre outras.

Para entender a actual dimensão jurisdicional do Tribunal da SADC, serão


sucintamente discutidos, no primeiro capítulo, aspectos de natureza histórica, política, social e
cultural, que estiveram na origem da criação da Conferência para a Coordenação Conferência
do Desenvolvimento da África Austral (SADCC), predecessora da SADC.

Instituído para garantir a observância e interpretação adequadas das


disposições do Tratado, outros instrumentos subsidiários e deliberar sobre litígios, o Tribunal
da SADC, seus poderes, competências e funções. É neste âmbito que será analisada a
dimensão jurisdicional do Tribunal da SADC.

Objectivo Geral
 Analisar o tribunal da SADC e o caso de Zimbabwe;
Objectivos específicos
 Analisar a criação da SADCC;
 Fazer uma análise do fundamento da criação da SADC;
 Analisar o tribunal da SADC;
 Trazer em alusão o caso de Zimbabwe;
 Compreender as consequências do caso de Zimbabwe

Quanto aos métodos usados na pesquisa é o método dedutivo, uma vez que visa
descobrir conhecimentos particulares através do conhecimento geral, é um processo de análise
de informação que nos leva a uma conclusão. E, para melhor compreensão do trabalho este
obedece a seguinte estrutura: Introdução, Desenvolvimento, Conclusão e Bibliografia

1
1.TRIBUNAL DA SADC E O CASO DE ZIMBABWE
1.2 A criação da SADCC
No prosseguimento das recomendações da Conferência de Arusha, Chefes de
Estado e de Governo de Angola, Botswana, Moçambique, Zâmbia e Zimbabwe, e
representantes dos Governos do Lesotho, Malawi e Swazilândia, reuniram-se em Lusaka, na
Zâmbia, a 1 de Abril de 1980. No final do encontro foi assinada a Declaração de Lusaka sob
lema “África Austral: Rumo à libertação económica”.1

Na Declaração de Lusaka, os dirigentes africanos expressaram o compromisso


à prossecução de políticas que visam a libertação económica da região austral de África
alicerçada num desenvolvimento integrado e sustentado das suas economias. Nascia assim a
SADCC, cujos objectivos comuns visavam a redução da dependência económica não só em
relação à África do Sul, mas também em relação ao mundo; a criação de laços para uma
genuína e equitativa integração regional; a mobilização de recursos para promover a
implementação das políticas nacionais, inter-estatais e regionais; o empreendimento de
esforços para garantir a cooperação internacional no quadro da estratégia da liberalização
económica; e alcançar a unidade africana e recuperar a dignidade africana.2

Com a criação da SADCC, os “Países da Linha da Frente” aumentaram a


mobilização diplomática internacional para que se impusessem sanções contra a África do
Sul, um enorme desafio para a estratégia militar global do regime de Pretória. A SADCC
reflectia, acima de tudo, uma visão pan-africanista e a necessidade de integração regional
como um meio para alcançar a unidade continental africana e recuperar a posição de África
nos assuntos globais. Estes três pilares estavam consagrados no Tratado da Organização da
Unidade Africana (OUA), no Plano de Lagos de 1980, bem como na Acta Final.3

A 20 de Julho de 1981, a SADCC foi formalizada através de um Memorando


de Entendimento sobre as instituições, com sectores coordenados e financiados pelos Estados
Membros.4

1
https://www.sadc.int/. acesso em 18/08/2021, as 13:32min.
2
https://www.dw.com/pt-002/comunidade-para-o-desenvolvimento-da-%C3%A1frica-austral-sadc/. Acesso em
18/08/2021, as 13:46min.
3
WTTC/OMT, Impacto Económico das Viagens e do Turismo na SADC, 2018, SADC
4
Ob.cit
2
Ao abrigo do Memorando, foram estabelecidas as seguintes instituições: a
Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo (com a responsabilidade de dirigir e controlar as
funções da Conferência), o Conselho de Ministros (que responde perante a Cimeira e tem a
função de supervisionar as actividades e o desenvolvimento da organização e aprovar as
respectivas políticas), o Comité Permanente dos Altos Funcionários (instituição técnica e de
assessoria ao Conselho) e o Secretariado (com competências de coordenação e gestão dos
programas da organização, não tendo contudo poderes bastantes para gerir a SADCC. Na
SADCC não havia portanto uma instituição para dirimir conflitos.5

1.3 Da SADCC à SADC


Aquando a criação da SADCC, a 1 de Abril de 1980, foi adoptada a Declaração
de Lusaka, supracitada, que inclui uma estratégia para reduzir a dependência dos Membros da
SADCC em relação à África do Sul e apela à participação financeira dos parceiros de
cooperação, e lançado um Programa de Acção para as áreas de Transportes e Comunicações,
Alimentação e Agricultura, Indústria, Desenvolvimento da Mão-de-Obra e Energia.6

A esse respeito, Julius Nyerere, antigo Presidente da Tanzânia, descrevia a


estrutura da SADCC como inabitual, pois não consistia num escritório e secretariado que
iniciava e organizava tudo, com os países membros tentando controlar o orçamento: “Instead,
all members are actively concerned in initiation and implementation of all SADCC projects,
with each having the responsibility for co-coordinating and promoting a particular sector.
This structure enables de Secretariat to remain small and effective, while monitoring and
coordinating the work of the co-coordinators. Even more important, this structure enhances
the active involvement of all member States in both the work and the benefits of co-
operating”.7

Se o facto de cada um dos sectores de actividade ser atribuído a cada um dos


Estados Membros permitia que cada Estado exercesse a soberania na sua plenitude, do ponto
de vista rigorosamente institucional as estruturas não pertenciam à SADCC. Daí que na
Cimeira de Harare, no Zimbabwe, realizada em 1989, Chefes de Estado e de Governo

5
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, Acta da Reunião do Conselho de Ministros da SADC,
Windhoek, 13 e 14 de Agosto de 2018
6
https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/sadc.htm
7
WTTC/OMT, Barómetro Mundial do Turismo, Vol. 4: Outubro de 2018
3
decidiram formalizar a SADCC a fim de conferir à organização um estatuto legal para
substituir o Memorando de Entendimento, através de um Acordo, Carta ou Tratado.8

O processo de mudanças nas estruturas de cooperação regional teve outra


dinâmica com a libertação de Nelson Mandela, pelo regime sul-africano do apartheid, a 11 de
Fevereiro de 1990. A ideia de cooperação na base do desenvolvimento integrado, e não como
uma luta contra o regime da África do Sul, ganha corpo na Conferência Anual Consultiva da
SADCC. “SADCC: Towards Economic Integration”.9

No mesmo ano, a 17 de Agosto, Chefes de Estado e de Governo da região


Austral de África assinam em Windhoek, na Namíbia, uma Declaração, e um Tratado,
instrumento que efectivamente transformou a Conferência para a Coordenação do
Desenvolvimento da África Austral (SADCC), uma associação voluntária, em Comunidade
para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), uma instituição juridicamente
vinculativa. Esta organização foi então legalmente criada nos termos do artigo 2 do Tratado
pelos Estados Membros representados pelos respectivos Chefes de Estado e de Governo ou
seus representantes, devidamente autorizados, com o fim de promover a integração económica
regional.10

2. Factores da transformação
2.1 Factores de natureza política da transformação
A fim de promover maior cooperação e integração económica, concorreram
para a transformação da SADCC em SADC a independência da Namíbia, a 21 de Março de
1990, o fim do regime do apartheid na África do Sul; a paz em Angola e em Moçambique,
que estabilizou a pacificação da região Austral, o crescimento do fenómeno democrático na
África Austral, no sentido da sua generalização.11

2.2 Factores de natureza económica da transformação

Entre os factores de natureza económica de transformação da SADCC em


SADC figuram a necessidade de criar, nos cidadãos da África Austral, a ideia de renovação e
assumir da responsabilidade pela melhoria das condições de vida e das suas comunidades, o
8
MASSANGAIE, A. Moçambique no processo de integração na Comunidade para o Desenvolvimento da
África Austral (SADC). Revista Brasileira de Estudos Africanos, Porto Alegre, v. 3, n. 6, 2018, p.23-55.
9
Ob.cit, p.23-55.
10
Ob.cit, p.23-55.
11
Ob.cit, p.23-55.
4
fenómeno de regionalização da economia mundial e surgimento de blocos regionais que se
regista a partir da década de 1990, a adopção do Tratado de Abuja, em 1991, que estabelece a
Comunidade Económica de África (CEA).

3. Fundamento jurídico-continental da criação da SADC

Além de criar a CEA, o Tratado de Abuja (1991), que entrou em vigor em


1994, estabelece que a União Africana teria como pilares principais as Comunidades
Económicas Regionais. Uma das principais ideias contidas no Tratado é de em 2028 os países
africanos estarem integrados em economias conjuntas, em torno da União Africana. Nesse
sentido, foram criadas no continente africano 8 (oito) comunidades regionais, designadamente
a Comunidade de Estados Sahel-Saharianos (CEN-SAD), o Mercado Comum da África
Oriental e Austral (COMESA), a Comunidade da África Oriental (EAC), a Comunidade
Económica dos Estados da África Central (ECCAS), a Comunidade Económica dos Estados
da África Ocidental (CEDEAO), a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento
(IGAD), a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e a União do
Magreb Árabe (UMA).

4. O Tratado da SADC

O Tratado da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC),


foi assinado em Windhoek, na Namíbia, a 17 de Agosto de 1992, tendo entrado em vigor a 30
de Setembro de 1993. Emendado em Blantyre, no Malawi, a 14 de Agosto de 2001, o Tratado
de Windhoek considera os propósitos formulados a 1 de Abril de 1980, na Cimeira de Lusaka,
realizada sob o lema “África Austral: Rumo à Independência Económica”, mantém os
princípios expressos na Cimeira de Windhoek, de 17 de Agosto de 1992, de “Rumo à
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral”, constituem o exórdio do Tratado,
conforme definido no seu preâmbulo. De acordo com o estatuto legal definido no Tratado, a
SADC é uma organização internacional dotada de personalidade jurídica e capacidade para
firmar contratos, adquirir, possuir ou alienar propriedades e propor ou ser demandada em
acções judiciais12.

Vide o número 1 do artigo 3 do Tratado da SADC. Daqui em diante, será apenas usado o vocábulo Tratado
12

para designar o Texto Consolidado do Tratado da SADC


5
A organização tem a necessária capacidade legal para o exercício adequado das
suas funções no território de cada Estado Membro. De acordo com os seus princípios, a
SADC deve operar em igualdade de soberania dos Estados membros, solidariedade, respeito
pelos direitos humanos, democracia e Estado de Direito, equidade, equilíbrio e benefício
mútuo, bem como resolver pacificamente os litígios.13

O Tratado estabelece, em termos gerais, os objectivos políticos, económicos,


históricos e culturais e estratégicos da SADC. Estes principais desígnios da SADC podem ser
resumidos, respectivamente, em desenvolver valores e sistemas políticos comuns transmitidos
através de instituições democráticas e eficientes, promover o crescimento económico e o
desenvolvimento socioeconómico sustentáveis e equitativos, reforçar e consolidar as
afinidades e laços históricos, sociais e culturais, e alcançar a complementaridade entre as
estratégias nacionais e regionais.14

Para alcançar os seus objectivos, a SADC está organizada em 8 (oito)


instituições que se podem essencialmente agrupar em 3 (três), nomeadamente instituições
políticas, instituições de controlo e instituições auxiliares e administrativas.15

5. Instituições na SADC

 Cimeira

 Conselho

 Comités Ministeriais e Sectoriais

 Estados Membros

 Secretariado

 Secretário Executivo: Adjunto – Integração Regional e Finanças e Administração

 Direcção de Planeamento de Políticas e Mobilização de Recursos


13
MENEZES, A.; PENNA FILHO, P. Integração regional: blocos econômicos nas relações internacionais.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.p.34
14
Cf. Artigo 5 do Tratado.
15
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, Plano Director Regional para o Desenvolvimento de
Infra-estruturas, Plano do Sector do Turismo (ATFC), 2012
6
 Direcções Técnicas

6. Funções na SADC

Várias funções devem ser previamente determinadas com precisão antes de


determinar a constituição do ou dos órgãos que deverão assumir e desempenhar tais funções.
Nesta perspectiva, pode-se identificar três funções: política, executiva e judicial. O exercício
de cada função não significa que apenas um órgão pode desempenhá-la. Um conjunto de
órgãos pode concorrer para a sua execução e materialização.16

6.1 A função política

A função política na SADC, isto é, o exercício do poder de previsão, impulsão,


decisão e coordenação que pertence a alguns dos órgãos desta organização para lhe permitir
determinar e conduzir o conjunto da sua política, é pluridimensional. Pode-se materializar ao
nível do acompanhamento do processo de integração com vista à realização das diferentes
fases deste processo de um ponto de vista operacional, mas também, pode se manifestar do
ponto de vista da afirmação dos valores a serem preservados neste processo.17

Na primeira perspectiva, dois aspectos devem ser tomados em consideração.


Primeiro, a eficiência da tomada de decisão que não se compadece com um processo de
decisão intergovernamental complexo e moroso. Segundo, a lógica integrativa deve
prevalecer sobre a lógica cooperativa o que implica que à formulação das propostas de
políticas bem como das propostas de decisão devem surgir dos órgãos que têm vocação para
defender objectivamente a lógica da integração.18

A operacionalidade política do processo de integração poderia ser partilhada


entre dois órgãos: a Cimeira e o Conselho. A Cimeira deve ter uma outra função do que
daquela que, hoje, exerce. É preciso redimensionar as suas tarefas e competências. É nítido
que a sua configuração actual não é satisfatória porque ela exerce tarefas que chocam ou se se

16
CISTAC, Gilles, Como fazer da sadc uma organização regional verdadeiramente integrada?, Maputo,2008,
pdf, p.20
17
SCHIFF, M.; WINTERS, A. Regional Integration and Development. World Bank, 2003
18
VEIGA, J. E. Sustentabilidade: A Legitimação de um Novo Valor. Ed. SENAC: São Paulo, 2ª Ed., 2011, p.22
7
sobrepõem às do Conselho ou que não se situam, racionalmente, ao nível de “uma instituição
suprema de formulação de políticas”, como por exemplo, o controlo das funções da SADC
enquanto que já o Conselho “superintende(r) o funcionamento e desenvolvimento da SADC”,
ou a criação de comités enquanto que o Conselho pode “criar os seus próprios comités”.

Há, também, dúvidas sobre o facto de a Cimeira conseguir assumir


concretamente a sobrecarga de tarefas e competências que lhe são atribuídas pelo Tratado. De
todo modo, o próprio Tratado da SADC antecipou o problema e o solucionou pela criação da
figura da “delegação de autoridade a outras instituições”, o que constitui uma verdadeira
confissão da impossibilidade da Cimeira realizar todas as competências e tarefas
convencionalmente estabelecidas pelo Tratado.19

A Cimeira deve apenas constituir o espaço dentro do qual se debatem as


questões de difícil resolução (as que não foram resolvidas ao nível do Conselho) e as que
põem em causa o futuro da organização, assim como a definição das grandes orientações da
política da SADC.20

A subalternização do Conselho não agiliza o funcionamento eficiente da


organização. Algumas das competências atribuídas à Cimeira pelo Tratado vigente deveriam
ser transferidas para o Conselho ou para o Secretariado visando tornar os aparelhos decisório
e executivo mais eficientes. O Conselho deve tornar-se num órgão operacional principal do
processo de integração política. Ele poderia reunir-se tantas vezes quantas fossem necessárias,
o que já se encontra acautelado pelo n.° 4, do Artigo 11 do Tratado.21

O Conselho garante a implementação das orientações gerais definidas pela


Cimeira. A Cimeira e o Conselho, na configuração actual, podem correr o risco de virar
máquinas administrativas bastante pesadas com custos demasiado elevados de funcionamento.
Por outras palavras, é preciso racionalizar melhor o papel de cada instituição através de uma
analise institucional da Macro-Estrutura da SADC.22

A lógica integrativa deve prevalecer sobre a lógica cooperativa, o que implica


que a formulação das propostas de políticas, bem como das propostas de decisão deve surgir
de um órgão que tem vocação para defender objectivamente esta lógica. Esta tarefa poderia

19
VEIGA, J. E. Sustentabilidade: A Legitimação de um Novo Valor. Ed. SENAC: São Paulo, 2ª Ed., 2011, p.23
20
SCHIFF, M.; WINTERS, A. Regional Integration and Development. World Bank, 2003, p. 56
21
Ob.cit, p.56
22
Ob.cit, p.56
8
ser devolvida ao Secretariado. Como órgão representante do interesse da Comunidade, as suas
competências poderiam integrar a da iniciativa dos projectos de normas e decisões a serem
aprovadas pelo Conselho. O Secretariado deve impulsionar a estruturação de uma visão
própria da SADC facilitando a coordenação técnica das actividades e a tomada de decisão.

6.2 A função executiva

A função executiva actua no sentido da concretização e realização dos


interesses públicos da Comunidade, quer dando execução às decisões e deliberações
constantes de actos aprovados pela Cimeira ou pelo Conselho, ou pelo Secretariado, quer
intervindo, conformadora ou ordenadoramente, na prossecução de fins de interesse público
individualizados no próprio Tratado e nos protocolos, implica uma administração eficaz e
eficiente. Isto é, uma administração capaz de, efectivamente, realizar.23

Nesta perspectiva, é preciso evitar a criação de uma multiplicidade de comités


e grupos técnicos que constituem um travão à implementação das políticas e das normas da
organização. Esses caracteres devem nortear, de forma geral, o trabalho desta administração
no domínio material da sua actuação: quer, no âmbito tradicional desta como a ligação entre
os Estados membros, entre a organização e os Estados membros, da informação mútua, das
consultas, da preparação técnica e material e das actas das sessões, da implementação das
decisões e deliberações dos órgãos (Cimeira e Conselho), etc.24

O que deve realizar hoje o Secretariado da SADC e, para algumas dessas


tarefas pelo Conselho, quer no âmbito de uma SADC “supranacionalizada”, na qual o
Secretariado poderia ter um papel mais “político” e ser associado estreitamente às
deliberações do Conselho bem como dispor de poderes alargados de regulamentação e de
iniciativa no processo de regulação.

No que concerne mais particularmente, ao processo de harmonização e


unificação das legislações pertinentes, o Secretariado poderia ter a iniciativa da elaboração
das propostas de regulamentação visando realizar essas tarefas a serem aprovadas pelo
Conselho.25

23
CISTAC, Gilles, Como fazer da sadc uma organização regional verdadeiramente integrada?, Maputo,2008,
pdf, p.23
24
Ob.cit, p.23
25
Ob.cit, p.23
9
6.3 A função judicial

A criação de um Tribunal de Justiça supranacional competente para aplicar o


direito supracional e estabelecer uma jurisprudência uniforme constitui um elemento essencial
do processo de integração da SADC. Por outras palavras, o Tribunal poderia assegurar uma
interpretação uniforme das normas comunitárias e garantir a sua primazia sobre o direito
interno dos Estados membros. Isto deveria contribuir para a aplicação efectiva do Direito
Comunitário nos Estados membros e zelar pela uniformidade e coerência na sua aplicação.26

7. Tribunal da SADC e suas competências

O Tribunal constitui uma instituição de controlo da SADC, cujo principal


objectivo é garantir a observância e interpretação adequadas do Tratado e de outros
instrumentos subsidiários, incluindo a deliberação sobre litígios27.

O Tribunal da SADC foi estabelecido na base de um Protocolo assinado em


Windhoek, Namíbia, durante a Cimeira Ordinária de 2000, tendo sido oficialmente criado a
18 de Agosto de 2005, em Gaborone, no Botswana com a indicação dos seus Membros pela
Cimeira da SADC. A inauguração do Tribunal e a tomada de posse dos Membros teve lugar a
18 de Novembro de 2005, em Windhoek, Namíbia, onde está baseada a Sede. Depois de ter
realizado vários julgamentos, algumas actividades do Tribunal ficaram “suspensas”, por
decisão da Cimeira da SADC. Na Cimeira de Maputo, em Moçambique, realizada a 17 de
Agosto de 2012, a questão do Tribunal foi abordada pela SADC. A Cimeira decidiu então que
um novo Tribunal deveria ser negociado.

O Fórum Parlamentar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral,


SADC, é uma entidade meramente consultiva, sem nenhum poder decisão, quer no campo
legislativo, quer no âmbito fiscalizador28.

26
CISTAC, Gilles, Como fazer da sadc uma organização regional verdadeiramente integrada?, Maputo,2008,
pdf, p.23
27
Cfr. No 1 do art. 16 do Tratado da SADC.
28
Https://www.portaldogoverno.gov.mz
10
8. Caso de Zimbabwe no Tribunal da SADC e suas consequências

O caso Mike Campbell (Pvt) Limitedetaltri vs. República do Zimbabwe,


apresentado perante o Tribunal da SADC em 2007, relacionava-se especificamente com a
aquisição compulsória de propriedade agrária pelo Estado, sem compensação correspondente.
Tendo o Tribunal considerado que tanto a base como a extensão da jurisdição estariam dentro
da sua esfera de competências, a sua acção iniciou-se através de uma medida provisória de
suspensão da acção intentada pelo demandado (Zimbabwe), que salvaguardasse a ocupação
das propriedades por parte dos requerentes até que a disputa judicial se desse por terminada.

A República do Zimbabwe contestou a intervenção do Tribunal, alegando a


falta de jurisdição do Tribunal da SADC neste processo e refutando cada um dos argumentos
dos requerentes.

O Tribunal, similarmente, rejeitou cada uma das pretensões zimbabueanas. O


órgão refutou os argumentos do demandado e em todos eles concluiu em favor dos
requerentes. Relativamente à jurisdição considera-se pertinente uma descrição sucinta da
argumentação judicial, uma vez que se considera que é a que radica no peso dos órgãos
supranacionais na estrutura institucional da SADC.29

Na óptica do Tribunal, as suas fontes legais não se extinguem com as


disposições do Tratado e Protocolos, abarcando igualmente os princípios do Direito
Internacional Público. O Tribunal invocou ainda a Convenção de Viena sobre a Lei dos
Tratados, que estipula que uma Parte não pode citar a sua lei interna como justificação para os
incumprimentos de acordos internacionais.

O Tribunal concluiu ainda que a inexistência de alternativas legais domésticas


disponíveis aos requerentes fundamentava a legalidade da sua actuação, sendo conforme aos
pressupostos da subsidiariedade. Acrescentou igualmente que a legislação relativa à reforma
agrária81 constituía uma violação dos princípios do Estado de Direito, impedindo que o poder
judicial cumprisse a sua função de contrapeso face ao Executivo.

29
https://www.rfi.fr/pt/africa/20120808-polemica-sobre-suspensao-de-tribunal-da-sadc. Aesso em 21/08/2021
as 18:08min.

11
Verificando-se o incumprimento, por parte do demandado, das decisões do
Tribunal83, este accionou a disposição prevista no seu Protocolo relativa à submissão à
Cimeira de casos de incumprimento por parte dos Estados em Junho de 2009.

Os acontecimentos infra descritos devem ser lidos à luz da seguinte realidade: a


instituição judicial da SADC não tem poderes de implementação das suas decisões no
território dos Estados Membros, cuja aplicação das emanações judiciais depende do seu
próprio enquadramento jurídico para incorporação de julgamentos exteriores.

O Supremo Tribunal Zimbabueano declarou em Janeiro de 2010 que não


estava vinculado às decisões do Tribunal regional. E, embora o Tratado preveja sanções para
incumprimentos persistentes, a Cimeira não deu procedência aos pedidos do Tribunal.

É importante referir que a decisão de adiar acções contra o Zimbabwe, da


Cimeira de Agosto de 2010, foi unânime, como lembra o ex-presidente do Tribunal da SADC.
Na mesma Cimeira, foi aprovado um conjunto de decisões que levaram à sua suspensão de
facto. Foi aprovada a elaboração de uma revisão ao papel, funções, responsabilidades e
Termos de Referência do Tribunal, e a não renomeação de membros do Júri do Tribunal cujo
mandato expiraria em Agosto. Por último, foi ordenado ao Tribunal que não examinasse mais
casos. As decisões da Cimeira Extraordinária de Maio de 2011 ditaram o fim a quaisquer
pretensões de regresso à normalidade judicial. Foram acordadas, entre outras, a dissolução do
Tribunal; e o estabelecimento de um novo Tribunal, com nova jurisdição e composição

Na mesma Cimeira, foi aprovado um conjunto de decisões que levaram à sua


suspensão de facto. Foi aprovada a elaboração de uma revisão ao papel, funções,
responsabilidades e Termos de Referência do Tribunal, e a não renomeação de membros do
Júri do Tribunal cujo mandato expiraria em Agosto.

Por último, foi ordenado ao Tribunal que não examinasse mais casos. As
decisões da Cimeira Extraordinária de Maio de 2011 ditaram o fim a quaisquer pretensões de
regresso à normalidade judicial. Foram acordadas, entre outras, a dissolução do Tribunal; e o
estabelecimento de um novo Tribunal, com nova jurisdição e composição.

Esta reforma implicará uma perda de jurisdição sobre os EM bem como


relativamente à arbitragem de disputas entre pessoas naturais ou jurídicas e os vários órgãos e
EM da organização.

12
A perda do pilar judicial, agravada pelo facto de ser o único órgão
supranacional com poder para tomar decisões vinculativas, implica que, partindo da lógica de
Tsebelis e Garrett (2001), a SADC tenha perdido uma competência correspondente ao poder
do Estado Moderno e que, consequentemente, se tenha tornado mais fraca vis-à-vis os seus
membros.30

Conclusão

Feito o trabalho pode-se dizer em jeito de conclusão que a SADC tem uma
dinâmica interna própria, mas a história da sua criação não pode ser restringida a factores de
natureza económica da região Austral do continente africano. As lutas pelas independências
dos povos da África Austral e a união dos seus dirigentes em torno dos “Países da Linha da
Frente” desempenharam um papel crucial na criação da SADC. Foram os “Países da Linha da
Frente” que chamaram a si a responsabilidade pela luta comum contra o regime sul-africano
do apartheid e pela melhoria das condições de vida das comunidades. A união de esforços por
um objectivo comum teceu laços de solidariedade que distinguem a personalidade da
Organização. São esses factores que estão estreitamente ligados e constituíram os alicerces
para a cooperação política, a vontade de uma genuína e equitativa integração regional e
económica da SADC e dos esforços para garantir a cooperação internacional.

Um dos maiores desafios da SADC foi o estabelecimento de um quadro


institucional adequado e eficaz, e uma estrutura para executar o novo mandato da
organização. Numa Cimeira Extraordinária realizada a 9 de Março de 2001, em Windhoek,
Namíbia, Chefes de Estado e de Governo da SADC aprovaram um Relatório sobre a revisão
do funcionamento das instituições da SADC. A reforma institucional estabeleceu uma nova
estrutura enumerada no Tratado da SADC,  e que será resumidamente descrita neste capítulo.
A apresentação do Tribunal será feita com base nos instrumentos legais que regiam aquela
instituição regional até à sua “suspensão” pela Cimeira.

Contudo pode se afirmar categoricamente que o programa da SADC está longe de


estar completo. Embora sua direcção seja bastante positiva, seu ritmo é dolorosamente lento.

30
https://www.rfi.fr/pt/africa/20120808-polemica-sobre-suspensao-de-tribunal-da-sadc. Aesso em 21/08/2021
as 18:08min.
13
Os países membros continuam a competir por investimentos em vez de cooperarem;
comportam-se como Estados soberanos, ao invés de comunidade. A SADC permanece
principalmente intergovernamental, com uma secretaria pequena e relativamente fraca,
dependente da ajuda de servidores civis e políticos em todos os Estados membros. A
implementação do protocolo sobre a zona de livre comércio foi extremamente lenta.

Bibliografia

CISTAC, Gilles, Como fazer da sadc uma organização regional verdadeiramente


integrada?, Maputo,2008, pdf

Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, Plano Director Regional para o


Desenvolvimento de Infra-estruturas, Plano do Sector do Turismo (ATFC), 2012

https://www.dw.com/pt-002/comunidade-para-o-desenvolvimento-da-%C3%A1frica-austral-
sadc/. Acesso em 18/08/2021.
Https://www.portaldogoverno.gov.mz

https://www.rfi.fr/pt/africa/20120808-polemica-sobre-suspensao-de-tribunal-da-sadc, Acesso
em 21/08/2021

https://www.sadc.int/. acesso em 18/08/2021.

MASSANGAIE, A. Moçambique no processo de integração na Comunidade para o


Desenvolvimento da África Austral (SADC). Revista Brasileira de Estudos Africanos, Porto
Alegre, v. 3, n. 6, 2018
MENEZES, A.; PENNA FILHO, P. Integração regional: blocos econômicos nas relações
internacionais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006
SCHIFF, M.; WINTERS, A. Regional Integration and Development. World Bank, 2003

Tratado da SADC.

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