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www.revistaraca.com.

br
A N O S
2 4
E S P E C I A L
S A Ú D E

RAÇA BRASIL:
M O V I M E N T O

24 anos da maior
revista negra da
América Latina
E M

PÁGINAS
N E G R O S

PRETAS:
Eder Ramos, exemplo
de comprometimento
com a diversidade racial
R A Ç A
N A

R$ 15,99
E U

u
NÚMERO 217 - PREÇO

aj
M O D A

M
L I V R O S

COUTINHO
R A Ç A
D E
O P I N I Ã O

ONTEM, HOJE E SEMPRE


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Sem título-1 1 20/08/2020 15:15:32


Coluna
OPINIÃO DE RAÇA

UM TESTE
DE RAÇA

O
s últimos meses têm sido um teste para muita gente no Brasil e
no mundo. Teste de paciência, teste de saúde, teste de vacina,
teste de conseguir ou não se organizar em uma nova forma
de trabalho, teste de viver um novo normal. Cada um de seu
modo e jeito. Para nós, da RAÇA Brasil, foi desafiador. Mais
uma vez tivemos que nos superar e colocar nosso bloco na rua,
ou melhor, nossa RAÇA na rua, de máscara e tudo.
Do ponto de vista pessoal, aceitei o desafio e o teste de ser analista na maior
rede de televisão jornalística do mundo, a CNN Brasil. Mas nossa luta não
é só individual. Os últimos meses foram também de torcida para que nossa
Maju Coutinho passasse no teste, não só de ancorar um dos principais jornais
do país, o “Jornal Hoje”, mas também superasse a pressão e os comentários
racistas das redes sociais.
Teste coletivo, também, de assistir policiais racistas de lá e de cá assassinando
jovens como o menino João Pedro, Ágatha e George Floyd e não engolir a
impunidade. Mas nosso teste maior foi o de, mesmo com a crise econômica,
social, política e sanitária que estamos vivendo, chegar até setembro e
comemorar os 24 anos da nossa RAÇA Brasil, a primeira, a número um, a
maior revista negra da América Latina.
Das centenas de revistas que nasceram e morreram na história do Brasil, apenas
uma dezena delas conseguiu chegar a essa marca de 24 anos de vida, somente
dez títulos alcançaram esta façanha e, com esta edição, entramos para o clube.
Difícil seria enumerar as diversas pessoas que passaram por aqui segurando o
Mauricio Pestana bastão. Editores, fotógrafos, repórteres, jornalistas, homens, mulheres, negros,
Jornalista, publicitário, cartunista, escritor e roteirista brancos e até a coreana Joana Woo, dona da Editora Símbolo, que lançou a RAÇA
mpestana@revistaraca.com.br Brasil e publicou por dez anos. Depois a revista migrou para editora Escala, do Sr.
Hercílio de Lorenzi, também por dez anos. Agora, pela primeira vez, é pilotada
por uma família negra, há quase meia década, na Pestana Arte & publicações.
Mudanças de tempo.
Um novo ciclo se inicia para a RAÇA Brasil. Nunca fomos tão orgulhosos das
nossas raízes como agora, com patrocinadores como Carrefour, Amil, Symrise,
Via Mundi e tantas outros apoiadores, como Hotel Holiday Inn, Max Fama,
Grupo YBrasil, Grupo Cultural Olodum e Hotel The Premium. Eles sabem
que este apoio vai muito além do comercial, muito além de estar falando com
a representatividade de 56% da população brasileira. Sabem que, na realidade,
estão também apoiando um projeto de justiça social, de diversidade e igualdade
e, assim, somando-se aos nossos profissionais, colaboradores e amigos, estão
FOTO: RAFAEL CUSATO

juntos construindo um país e um mundo muito melhor. Que venham outros


24 anos! Parabéns, RAÇA Brasil!

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páginas pretas

4 | REVISTA RAÇA brasil

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eder ramos:

Diversidade
racial
como
prioridade por maurício pestana

E
xecutivo com mais de 40 anos de experiência no
mercado de Cosméticos e Fragrâncias e há 35 anos
trabalhando nos quadros da empresa Symrise,
Eder Ramos atuou em diferentes posições e países
como diretor e vice-presidente. Presidente
global da Divisão de Ingredientes Cosméticos, ele assumiu
como missão pessoal encarar a questão da diversidade
racial no mercado. Ele criou e assumiu a implementação da
política de diversidade da Symrise no Brasil, dando ênfase
para a questão étnico-racial.

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páginas pretas

Precisamos promover
oportunidades iguais para todos e
todas e, consequentemente, criar
uma sociedade mais justa

Quando o senhor começou a perceber que algo estava


errado na questão racial?
Até o momento de cursar o colegial técnico eu estudei em
escola pública. Meus amigos negros, em geral, tinham uma
situação econômica muito abaixo da minha que já era de
classe média baixa. Depois, na Universidade, o impacto foi
enorme. Não havia negros!

O Brasil tem a segunda maior população negra do


mundo. Como mudar essa irrisória participação de
4,6% de participação negra no mercado de trabalho
nos cargos de direção?
Educação! Cotas no ensino técnico e universitário,
este é o início. Formar negras e negros s capazes
de competir no mercado de trabalho. Em
seguida, programas de Inclusão e Diversidade
nas empresas com programas que gerem
oportunidades para as negras e negros que já estão
na organização e mudanças nos departamentos de
RH eliminando o racismo estrutural. Devemos
observar os mecanismos que colaboram para
que essa estrutura continue criando barreiras
e obstáculos invisíveis. Assim, será possível
promover oportunidades iguais para todos e todas
e, consequentemente, criar uma sociedade mais
justa. Por que não discutir cotas nas empresas?

6 | REVISTA RAÇA brasil

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O que o senhor acha que tem mudado, evoluído a Quais foram as maiores dificuldades quando você começou
discussão, as ações sobre a presença de negros e negras no a abordar a questão racial na sua empresa?
ambiente corporativo; se tem mudado, o quê, quais são os O desconhecimento da realidade brasileira, o brasileiro não
pontos positivos e negativos referentes a essa mudança? conhece seu país e sua realidade.
Estamos muito longe de atingir um equilíbrio, porém já é
notório o aumento de negras e negros na área administrativa !O Brasil não tem racismo!”, “Isso é coisa que querem
ou média gerência. O problema está na falta de oportunidades trazer para cá”, “Assim que o negro estudar e lutar ele
e programas específicos que possam ajudar na formação de vai chegar lá” - essas frases ainda são muito comuns no
uma carreira ou promoção. Os negros continuam a ser maioria meio corporativo. Como responder a cada uma dessas
no “chão de fábrica e limpeza”. indagações?
Fomos o último país das Américas a abolir a escravidão
As cotas raciais ainda causam uma certa polêmica em nossa oficialmente. O Brasil passou por 388 anos de uma história
sociedade; qual a sua posição a respeito? muito além do período de escravização não criando políticas
No início fui contra, qual é a diferença entre uma negra ou de inclusão e integração social para uma população, que,
um negro da periferia e um branco? Só após estudar o tema até então, era de ex-escravizados e seus descendentes diretos,
um pouco mais e escutar debates é que ficou claro que ser deixando legados de preconceito, não reconhecimento de
branco já é uma enorme vantagem e que o racismo estrutural direitos e mitigação dessa população.
e institucional não permitia que uma negra ou um negro
chegasse às Universidades. Sou totalmente a favor das cotas! Desde que você começou a lidar com a questão racial na
sua empresa, o que mudou na empresa e em você neste
Que dicas o senhor daria para quem quer começar a quesito?
trabalhar a questão racial em sua empresa? Iniciamos nosso projeto há aproximadamente 1 ano.
Estudar, ler a respeito. Buscar ajuda através de consultores ou Nossa primeira ação foi de fazer uma pesquisa interna com
organizações que atuam na área. O tema é complexo e não todos os colaboradores e prestadores de serviço e mapear
pode haver erros. nossa “população”. A segunda etapa foi educacional, ou
seja, realizamos várias palestras sobre o tema diversidade.
Em sua trajetória escolar e profissional consegue lembrar Infelizmente o brasileiro conhece pouco sua realidade.
da quantidade de negros ou negras que fizeram parte do Em seguida, estabelecemos um grupo de afinidade étnico-
seu ambiente, eles estavam em mesmo pé de igualdade, racial que se chama Ubuntu. Estou na posição de sponsor
tiveram ascensão que você teve? deste grupo que tem trabalhado de forma muito intensa,
Lembro-me somente de um colega negro que chegou à estabelecemos indicadores de performance e agora estamos
posição de gerente. Incrível! E é claro de nenhuma negra. trabalhando para realizar mudanças: promover o equilíbrio
entre o número de pessoas brancas e negras em nossas
Você é dirigente de umas empresas global. Quantos negros equipes; aumentar o percentual de profissionais negros e
você conhece como CEOs no mundo corporativo brasileiro negras em posições de liderança; garantir representatividade
e no cenário mundial? negra em todos os níveis da empresa. Faço parte do projeto
Nos EUA tenho contato com vários negros em posições CEO Legacy, capitaneado pela Fundação Dom Cabral e
importantes e lembro-me de 2 CEOs, na Nigéria pude estou no grupo ImPacto, que tem como sonho inspirar,
estabelecer contato com vários negros donos de empresas. conscientizar, incentivar e mobilizar o sistema empresarial
Porém, na Europa, Ásia e América Latina não tive esta brasileiro, a implantar a gestão da diversidade e inclusão nas
oportunidade. organizações, contribuindo para um sistema empresarial
mais responsável, em busca de um país mais próspero e justo.
O que acha que é necessário para que mais negros
ascendam profissionalmente nas empresas? Dentro dos temas de diversidade e inclusão, há um tema
Iniciar um projeto de inclusão e diversidade, dar voz aos que chamado interseccionalidade. Como você vê a situação da
estão na posição de fala, estabelecer um comitê étnico-racial. mulher negra?
Discutir sobre racismo estrutural e institucional, diversidade No Brasil, mulheres negras são 27% da população; ainda
e direitos humanos e deixar claro que estes princípios fazem assim esse grupo social é um dos que mais enfrentam
parte da empresa. E que é responsabilidade de todos nós, de desafios no dia a dia. Isso ocorre porque, nós, enquanto
construirmos uma sociedade melhor e mais justa. sociedade, universalizamos a questão do negro pelo

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páginas pretas

homem. E universalizamos a questão da mulher branca, cientistas dedicaram-se à bioquímica dos ingredientes,
deixando uma lacuna no olhar e ações de inclusão com na busca de uma melhor composição, que atendesse ao
foco nas mulheres negras. desejo de mais hidratação, mais brilho, melhor controle
do frizz e volume e maleabilidade dos fios. Após meses
O que você diria para um CEO que quisesse iniciar hoje de testes e avaliações de especialistas, podemos dizer que
um processo de mudança profunda, mudança na sua temos um produto pensado e aprovado para suprir a
empresa, querendo colocar mais negros e negras em necessidade de afrodescendentes.
cargos de decisão e representatividade?
Tenha coragem! Esteja à frente do projeto e processo de Vocês buscaram nos produtos oriundos da África, um
mudanças. produto que traz o cuidado e benefícios aos cabelos de
afrodescendentes. Mas, qual é a relação de vocês com
Você é líder de umas das maiores empresas os fornecedores destes elementos?
produtoras de matérias-primas cosméticas do Como comentei, o SymOleo® Nutri Intense é composto
mundo. De fato, em termos de produtos, como vocês por sete óleos africanos: baobá, moringa, nigella, tamanu,
avaliam a questão étnico-racial? opuntia, karité e coco. Estes óleos são parte da coleção
Neste período trabalhando como fornecedor de de óleos africanos da Symrise, provenientes de diversos
matérias-primas para a indústria países, cada um tem a sua história,
de cosméticos, pude observar suas comunidades produtoras,
que o cosmético é um bem com as quais temos uma relação
de consumo com o poder de de respeito e transparência. Posso
transformar pessoas. Muitos citar um exemplo, o tamanu que
compram para melhorar a vem das operações da Symrise
autoestima, sentirem-se melhor, em Madagascar. Esta planta
em busca de beleza e bem- sempre foi utilizada para construir
estar. Em épocas tão difíceis paredões verdes, na costa da
como as que estamos vivendo, ilha, para abrigar e proteger a
o cosmético torna-se um população de tufões costeiros,
grande aliado do bem-estar. que muitas vezes arrasaram a
Acreditando nisso, a Symrise vegetação e moradias do local.
tem desenvolvido produtos com Temos uma operação grande em
este propósito, a fim de auxiliar Madagascar que supre o mundo
as empresas de cosméticos a cumprirem esse papel. com a famosa baunilha e nos permite vivenciar o dia-a-
Um exemplo disso é o mais novo produto de nosso dia das comunidades. Em uma expedição para a busca
portfólio de cuidado com os cabelos, o SymOleo® Nutri de novos ingredientes, um de nossos cientistas observou
Intense, um blend de sete óleos africanos que, em que as paredes verdes de proteção davam uma frutinha
uma composição perfeita, destaca hidratação, brilho, oleaginosa e assim a pesquisa deste ingrediente nasceu.
maleabilidade para os fios e o controle de volume e Hoje, mais de 300 famílias são beneficiadas nesta cadeia
frizz. Tudo que um cabelo texturizado pede. produtiva, onde as mulheres têm um papel importante
coletando os frutos que caem na época de seca. O tamanu
O que indica que esta matéria-prima foi pensada tornou-se uma renda alternativa complementar para estas
para cabelos étnicos? famílias. O papel socioambiental dessa frutinha já se
Há uma gama ampla de pessoas com cabelos estende ao Quênia e a Tanzânia.
texturizados, como os ondulados, cacheados,
encaracolados, afro, com necessidades específicas. Quando os consumidores encontrarão este produto no
E, já que o cabelo tem uma grande importância na mercado?
individualidade e auto- expressão, pensamos em algo Setembro. Estamos realizando uma forte campanha
para valorizar este tipo de cabelo, ajudando estas junto às empresas de cosméticos para que elas possam
pessoas a assumirem as ondas, os caracóis, o afro, em incorporar o ingrediente na fórmula de seus produtos.
vez de submetê-los a tratamentos químicos como Em breve, os consumidores terão a oportunidade
alisamento. Fizemos uma grande avaliação do mercado de experimentá-lo em shampoos, condicionadores,
global e de suas necessidades. Com base nisso, nossos finalizadores de grandes marcas de cosméticos.

8 | REVISTA raÇa brasil

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anuncios.indd 63 19/08/20 16:20
EDIÇÃO 217 | REVISTARACA.COM.BR
SUMÁRIO
MATÉRIAS
14

28
MARIANA NUNES
PROTAGONISTA NA TV FECHADA

EFEITOS DA COVID-19
NEGROS SÃO OS MAIS ATINGIDOS
20
FESTEJE
CONOSCO!
44 LEMBRA DELES?
PESSOAS QUE JÁ ESTIVERAM
NAS PÁGINAS DA RAÇA

40
E SE A RAÇA
FOSSE UMA
MULHER
DE 24 ANOS?

SEÇÕES
03 Opinião de Raça
04 Páginas Pretas
12 Interativa
15 Professor Oscar Henrique
18 Livros
26 Serviços
30 Zulu

48
42 Francisco José
46 Beleza
52 Eu na Raça
54 Rachel Quintiliano
56 Tadeu Kaçula MODA ARTIVISTA
Negros em Movimento O CONCEITO DE CAROL
58
BARRETO
62 Sandro Aloísio

10 | REVISTA RAÇA BRASIL

Sumário e Editorial.indd 10 16/08/20 15:06


EDITORIAL

RUMO AOS 25!

N
ão é lugar comum citar o que, quase certeiro, todos que leem essas
páginas, desde 06 de setembro de 1996, pensaram alguma vez: um dia
estarei na Revista RAÇA! Sim, esse pensamento foi latente em mim,
exatamente naquele ano e que me graduava na universidade, como
acadêmica de Comunicação Social, optando pelo Jornalismo.
Jovem à época, tive os mesmos sentimentos da maioria: existíamos! E ali era um
lugar onde não estávamos em primeiro plano para falar de mazelas! O belo, o
positivo, o inusitado, o não pensado, o “yes, we can”, bem ai, ao nosso alcance.
O tempo passou, a vida me levou para outros caminhos, igualmente desejados
e felizmente conquistados, até que o acaso me colocou “na bola da vez”.
Despretenciosamente, num café da manhã em um hotel em São Paulo, meu amigo
Flávio Andrade, que era gerente geral do local, apresentou-me a Maurício Pestana.
Não trocamos mais que dois ou três minutos de prosa. Foi exatamente estar no lugar
certo, na hora certa. Ele buscava alguém cujo perfil era exatamente o meu. E, sem
mais delongas, cá estou, desde a edição 198.
Olhar para trás e ver que a trajetória tão bonita e fiel às suas origens não se perdeu,
é engrandecedor. Entender que somos um produto – hoje – feito 100% por uma
família preta (sem demérito, ao longo da caminhada houve muita mão branca),
traz ainda mais responsabilidade e vontade de prosseguir. Adversidades? Temos! Até
mesmo torcida contra, vinda dos nossos... mas faz parte. Árvore que não dá fruto,
não é apedrejada. Ficamos com a enorme gama de positividade e aquilombamento
que nos abraça.
Em tempo recorde, transformamos a RAÇA, até então apenas a publicação impressa,
em um grupo multimídia, com programa de TV (RAÇA na TV, exibido na TV
Guarulhos, canal no YouTube, perfil no Instagram, Facebook e Twitter, além de
projetos especiais, como feira literária, noites de jazz, cruzeiros, saraus etc.
Nesses tempos de pandemia, superamos ainda mais. Na contramão de empresas
de comunicação que encerraram suas publicações impressas, desdobramos-nos
para seguir. Driblando percalços de distribuição, fechamento remoto, atrasos, mas
com a mesma garra de dias melhores. Até porque nos tornamos melhores! E assim
chegamos até aqui. A Revista RAÇA resiste. Persiste e mantém acesa a chama da
elevação da autoestima do nosso povo. Que nossa juventude possa, como há 24 anos
fiz, perceber e entender, que “essa é pra mim!”

Vida longa à revista dos negros brasileiros! E começa a contagem regressiva para os
25 anos!

Flavia Cirino
Editora chefe
flavia.editora@revistaraca.com.br

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INTERATIVA | ESPAÇO DO LEITOR

Ver essa família na capa da revista RAÇA me emociona. Vidas negras


m.br
taraca.co
www.revis
importam!
Manoela Santos – via Instagram @mano.ssilva

Estou sem estrutura com esta capa. Exalte sempre a sua família preta.
120 ANOS DAA
O amor preto é tudo!
PONTE PRET bes,s clu
Dos 40 maiore
sidido
o único pre ro
por um neg
Caroline Tavares – via Instagram @rolltavares
PAIXÃO ANA
CORINTHI taca des
André Negãoial no
questão rac
Coringão Jogador de futebol preto, casado com uma mulher preta... merece uma
O SILVAo
MAURtor
Um ges no top
do futebol
capa linda dessa mesmo! Representatividade é tudo!
Jamila Isau – via Instagram @jamilaisau
FUTEBOCLIÊNCIA preta
R$ 14,90
PREÇO

E COaoNTiSmão e exalta sua família


O 216 -
NÚMER

A Até que enfim um jogador de futebol que não é palmiteiro! E que família
Jô volta
ÂN TAR
NA NDA ALC
REI RA FER JO
TO ELÓ I FER ZULU AR AÚ
CAR OL BA RRE ÍSIO TAD EU KAÇU LA
E OS CO LU NIS
TAS : CAR
RA
LOS
CH EL
MACH AD O
QU INT ILIA NO
SAN DR O ALO 14/07/20
21:35

linda! Inspirem-se, homens!


capa.indd
1 Carla Fernanda Dantas – Sumaré – SP

O menorzinho de chupeta foi a coisa mais fofa desta capa! Mas vamos respeitar esta família!
Que lindos! Que respeito à ancestralidade!
Vânia Carvalho – Madureira – RJ

BOAS LEMBRANÇAS
Lembro quando comprei esta revista pela
primeira vez. Meu chefe, branco, ficou
perplexo - mas ficou feliz - em saber
que existia uma revista voltada a nossa
raça. E eu, com 17 anos à época, jamais
pensei que existisse uma revista em que
eu pudesse estar na capa. Hoje, com
40, continuo orgulhosa em saber que a
revista RAÇA segue aí, encantando nosso
povo preto.
Camila Russel – via Instagram @camilarussel
MAURO SILVA
Eu sempre admirei o Mauro como jogador, porque ele fugia
Tive a honra de assinar o style de uma
revista que sempre tive como referência. daquele estereotipo do bronco, sem cultura. Adorei saber que
Gratidão! ele cresceu ainda mais!
Junior Rocha – via Instagram @juniorrochassa André Luis Corrêa – Vila Nova Conceição – SP

Eu tenho muita admiração pelo trabalho Sensacional ver a ascensão do Mauro Silva! Bela entrevista!
de vocês na luta pea representatividade. Carlos Trindade – Jabaquara - SP
Caroline Fraga – via Instagram @caarolmare

12 | REVISTA RAÇA BRASIL

Interativa .indd 12 16/08/20 11:24


RAÇA BRASIL
24 anos

Isabel Fillardis, capa da edição 01, lançada em 06 de setembro de 1996


FOTO: DIVULGAÇÃO

É um privilégio fazer parte de um sucesso. Sim!


Um sucesso termos uma revista durante 24 anos
resistindo e contribuindo para a nossa autoestima

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perfil

“A RAÇA foi importante


na formação da

minha identidade” Mariana Nunes protagoniza série na TV fechada


e se consolida na profissão
por flavia cirino | fotos Rogério Von Kruger

T
rês filmes internacionais no currículo,
séries na TV aberta e fechada, novelas,
cinema nacional. Muito talento.
Mariana Nunes não para. Após ter
participado de alguns capítulos da
novela “Amor de Mãe”, na Globo, interpretando
marcante personagem Rita, mãe biológica de Camila,
papel de Jéssica Ellen, ela acaba de fazer seu primeiro
papel como protagonista na TV, algo que já fazia
com maestria no cinema.
Em “Um Dia Qualquer”, exibido no canal SPACE,
a atriz mostra mais um pouco de seu talento, na pele
de Penha. Mariana se destaca na série de drama-
ficção, com cinco episódios, de 25 minutos cada.
Com uma carreira estabelecida em todas as frentes,
ela fez sucesso ainda na série Carcereiros, como a
Janaína; em “Segunda Chamada”, como a Gislaine,
entre muitos outros trabalhos. Natural de Brasília, a
atriz destaca o amadurecimento no mercado ainda
hostil a mulheres e a profissionais negros.
“Eu preciso sempre fazer a primeira cena (e mandar
bem!), para que as pessoas da equipe que não me
conhecem criem alguma empatia comigo. O que me
anima é ver que tem uma geração nova de negras
atrizes chegando com muita força. Tenho muita
esperança na nova geração”, comentou.
foto: rogério von kruger

A atriz de 39 anos destacou a importância da revista


em sua trajetória.
“A RAÇA Brasil foi muito importante na formação
da minha identidade, durante a adolescência. Eu me
via representada. Vida longa à revista.”

14 | REVISTA RAÇA BRASIL

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Coluna
OSCAR HENRIQUE

OSCAR HENRIQUE MARQUES CARDOSO

o sul está
na raça brasil

C
omemorar 24 anos de existência de aqui em Porto Alegre, é o fato de ela poder se ver.
um projeto independente e arrojado Lembrou de uma ocasião em que foi comparada com
como a Revista Raça Brasil é falar uma atriz norte-americana por conta do penteado que
da força e do sucesso de um grupo usava. Ela fez questão de salientar que a Raça Brasil
de negros e negras empreendedores também informa sobre o que acontece no universo
e empreendedoras que tiveram a coragem de lançar cultural negro brasileiro. E para ela, é importante se
uma publicação impressa que apresente na pauta a ver representada como negra, gaúcha e brasileira. Vale
diversidade da presença negra na sociedade brasileira. dizer que, além da publicação de notícias e matérias
relacionadas a casos de racismo, o que infelizmente
Falar de diversidade é falar também do Rio Grande
ainda é muito presente em nossa comunidade, Raça
do Sul, estado de onde eu sou natural e onde vivo,
Brasil também é apoiadora de projetos de relevância.
há dez anos desde que retornei de Brasília, com
uma breve passagem por Florianópolis. O Rio Vale citar o apoio institucional e a presença que o
Grande do Sul, que até a chegada da Raça Brasil então editor-chefe, jornalista e cartunista Maurício
era apresentado apenas sob um olhar europeu, Pestana, concedeu ao estar presente, em dezembro de
onde a presença e a existência do negro não tinham 2013, no lançamento do Projeto “Coletânea Negras
um destaque para o resto do Brasil, passou a ser Palavras Gaúchas”, que reuniu 23 autores negros. O
também contemplado. E a resposta vem pela lançamento reuniu mais de 500 convidados em Porto
aceitação do gaúcho. Hoje, o Sul, em especial Alegre e Maurício Pestana falou do apoio que recebe
Porto Alegre responde por um alto volume de dos gaúchos e da importância de publicações que dão
vendas da publicação, em bancas. Tal fato pode ser visibilidade à produção editorial afro-brasileira.
analisado por alguns pontos. Entre eles, destaco
Para concluir, o momento é de desejar votos de muitas
o pensamento político do gaúcho, em especial
e muitas edições. Que a Revista Raça Brasil nos traga
do negro gaúcho que se organiza em coletivos e
cidadania e representatividade. Nós, aqui no Sul,
promove atuações que vêm a impactar a sociedade.
estamos e somos também um pouco da Raça Brasil.
Em uma sociedade politizada, os cidadãos Sucesso e vida longa sempre.
querem se ver e a Raça Brasil veio nos ofertar esta
oportunidade. Nós estamos incluídos e nós, negros,
somos pauta de uma revista de circulação nacional.
Outro ponto que também vale ser apresentado é a
representatividade que a Raça Brasil trouxe a todos
nós. Ao conversar com alguns amigos, pude saber
que eles compram mensalmente a revista nas bancas. Oscar Henrique Marques Cardoso é jornalista,
O que nos leva a comprar, e isso perguntei a uma radialista, escritor e poeta. Mora em Porto Alegre, RS,
amiga que atua como atriz e produtora cultural onde é editor da Editora Agbara.

revistaraca.COM.BR REVISTA RAÇA brasil | 15

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cultura

Black
is
king:
por Fernanda Alcântara | fotos Reprodução/ Instagram

a Universidade de
Beyoncé
16 | REVISTA RAÇA brasil

cultura.indd 16 16/08/20 12:57


E
O lançamento
de Black is King,
álbum visual
de Beyoncé,
disponível
exclusivamente
na plataforma de streaming
Disney+, desencadeou várias

:
críticas, positivas e negativas,
sobre representação, cultura
negra e representatividade. Aqui
no Brasil, a mais polêmica esteve relacionada
a um texto de Lilia Schwarcz, cujas críticas
lembram muito um famoso vídeo humorístico
do Saturday Night Live (SNL), “The Day
Beyoncé Turned Black” (em tradução livre,
“O dia em que Beyoncé virou preta” – que
recomendo veementemente que assistam.
No vídeo, fãs da cantora “descobrem”, a partir
do álbum Lemonade, que Beyoncé é negra
e surtam. A polêmica sobre Black is King
no Brasil tem várias faces, mas gostaria de
explorar uma que vi pouco manifestada desde
a publicação do artigo, que diz respeito a esta
discussão entre Academia e cultura negra.
Como defensora da ideia de que representatividade
importa e fã confessa de Beyoncé, começo
lembrando que esta é uma discussão antiga sobre
paixão e rigor acadêmico. E não é de hoje que a nesse patamar de admiração por trazer alguns elementos, é porque
soberba acadêmica faz com que alguém se coloque sabemos como é importante o trabalho da artista em representar de
no direito de deslegitimar a cultura negra, e com forma orgulhosa coisas que por séculos foram consideradas ruins,
certeza, não será a última vez que discutimos isso. como ter filhos, ser negro ou ter orgulho da ascendência africana. Sua
participação na luta antirracista e do feminismo negro não precisa
Como mestre em comunicação, diversas passar pelo crivo de ninguém, porque, repito: ela não é obrigada.
vezes me vi nesta posição de ter que defender
nosso olhar, uma sabedoria baseada mais na Existe, é claro, a crítica da própria cultura pop como algo superficial,
experiência daqueles que ocupam uma posição porque envolve a paixão, e esta é difícil de ser analisada com o tal
privilegiada e que, muitas vezes, parecem rigor acadêmico. Mas essa mesma paixão tem o poder de influenciar
acreditar que precisam sair julgando todos nós. e empoderar, e isso é legítimo e acontece em
A crítica de Schwarcz parte deste sentimento, Black is King. Como Beyoncé faz isso, é outra
desta dificuldade da Academia em conseguir conversa, para outro texto, mas a Academia
dialogar com o popular e enxergar suas versões erra ao criticar este lugar.
da realidade, desconsiderando, assim, o poder da Mas vamos ocupar a Academia também
representatividade e de se enxergar no outro. e, em breve, ensinar que a nossa cultura
Mais do que a análise técnica, semiótica ou até sai da sala de jantar.
mesmo política que se possa levantar sobre Black
Is King, existe uma inquietação que persiste
sobre o caso: por que tantas pessoas acreditam
que Beyoncé precisa ser uma representante dos
negros norte-americanos ou mesmo da cultura FERNANDA ALCÂNTARA
africana em sua arte? É jornalista, pesquisadora de quadrinhos e mestre em Comunicação pela
USP. Desde 2014 realiza palestras sobre comunicação, diversidade e
Pode parecer tolo, mas vale lembrar: Beyoncé não igualdade racial e de gênero. Especialista em cultura pop, e universo nerd
é obrigada a nada por ser negra. E se a colocamos

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LIVROS | por MÁRCIO BARBOSA

IFÁ LUCUMÍ — O RESGATE DA O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA


TRADIÇÃO Angie Thomas

Nei Lopes
O livro de estreia da escritora afro-americana Angie Thomas
O que seria de uma pessoa sem memória, sem a se tornou um fenômeno. A personagem principal de seu livro,
capacidade de lembrar de seu passado? Da mesma forma Starr Carter, é uma garota de dezesseis anos que vai, sem
que uma pessoa sem memória perderia suas referências, que seus pais saibam, a uma festa em seu bairro. Os pais de
um povo sem memória perderia sua identidade. De Starr não a deixam ir às festas em seu próprio bairro, pois
certo modo, a imprensa negra tem sido, desde o século têm medo da violência. Esse também é o motivo pelo qual
XIX, com Luís Gama e outros abolicionistas, até os dias ela estuda em um colégio longe dali. Os piores medos dos
atuais, com revistas como a Raça, um dos pilares da pais se concretizam quando há um tiroteio na festa em que
memória dos afrodescendentes. A literatura e os livros ela está. Starr consegue escapar com a ajuda de um amigo
são outros pilares. Um livro como este, de Nei Lopes, de infância, que a leva para casa em seu carro. No meio do
coloca-nos diante de tradições culturais que sobrevivem caminho, entretanto, eles são parados por um policial. O
no inconsciente coletivo e que emergem para alimentar que acontece daí em diante é o desenrolar de um drama
os saberes que nos possibilitam seguir adiante. Além de muito visto nos dias atuais. Fica explícita a dicotomia entre
sambista, cantor e compositor, Nei também é estudioso a vida de Starr em seu próprio mundo, em que a violência,
de temas relacionados à cultura afro-brasileira e um especialmente a policial, faz parte da paisagem, mas onde
importante escritor com uma vasta obra. Neste livro ele fala estão sua família e suas raízes, e a aparente paz do “mundo
de uma forma de religiosidade que une espiritualidade e branco”, onde estão suas amigas e seu namorado. Starr se
racionalidade, filosofia e tecnicidade. Ele nos mostra o culto vê diante da necessidade de ter que tomar várias decisões,
de Ifá e faz ver que esse culto vem criando raízes no Brasil, e essas decisões a farão crescer. O livro de Angie Thomas foi
possibilitando um retorno espiritual até uma África que escrito para jovens e ficou durante um ano em primeiro lugar
permanece muito viva no inconsciente, mas com alguns na lista de mais vendidos do New York Times. O título deriva
aspectos que nem sempre têm oportunidade de vir à tona. de um código escrito pelo rapper Tupac e seu padrasto. E
Da sabedoria tradicional dessa África, Nei nos traz inclusive embora a história tenha dado origem a um belo filme, nada
alguns provérbios, como este: “Quando a memória me substitui a leitura do livro, que nos conduz pelo duro, mas
falha, eu recorro aos meus segredos”. Que esses segredos necessário, processo de crescimento e afirmação de Starr e
possam sempre nos iluminar. de sua comunidade.

Maiores informações: http://www.pallaseditora.com.br Maiores informações: www.record.com.br

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AFROFUTURISMO — O FUTURO É NOSSO O BATISMO DA
Alexandre Diniz, Aisameque Nguengue, Anderson Lima CAPOEIRINHA
e Israel Neto (organizadores) Sérgio Ballouk
Ilustrações: Denise Silva
Imagine que você possa viajar no tempo. Quem não gostaria
de voltar ao passado para consertar algum erro cometido ou Ah, a imaginação fértil das crianças... É só
rever algum ente querido? Agora imagine que você pudesse imaginação ou elas conseguem mesmo ver
fazer isso várias vezes ao dia ou que pudesse viajar até o coisas que os adultos perderam a capacidade
Quilombo dos Palmares com a ajuda da mais alta tecnologia. de enxergar ou sentir? A menina Capoeirinha,
Esse exercício de imaginação é o que nos propõe este pequeno por exemplo, consegue falar com os pássaros
livro, composto por cinco contos afrofuturistas. Aqui não só a em seu quintal. Mas isso pode não ser uma
viagem no tempo é possível; somos apresentados também a vantagem. Um dia, por exemplo, Capoeirinha
um mundo devastado por uma guerra nuclear ou uma cidade se vê em meio a uma discussão com seus
onde não chove há duzentos anos. Temas assim habitam livros amigos alados por causa de uma camiseta
e filmes há muito. O interessante é que aqui são inseridos que alguém sujou. Justamente a camiseta
novos elementos, como, por exemplo, o poder dos orixás. Quer que Capoeirinha iria usar em seu treino; afinal,
dizer, tradição e tecnologia convivem. No conto “A esfinge e a ela está aprendendo a arte/jogo/dança da
peixeira”, Josias, um filho de Ogum, luta contra robôs. Já no texto capoeira. A confusão está armada. Mas é
“A guerreira Nabliahh”, Fernando Gonzaga nos mostra negros evocando elementos da arte da capoeira que
que vão à guerra vestindo armaduras de ouro e que têm poderes o autor Sérgio Ballouk vai mostrando como
especiais. Alguns textos do livro são melhores resolvidos que a menina pode se relacionar com o mundo à
outros, mas no geral todos nos ajudam a imaginar como se sua volta buscando a harmonia. O batismo
desenvolverá a relação da população negra com a tecnologia: da Capoeirinha também pode ser visto como
será de inclusão ou exclusão? Alguns usos dessa tecnologia, um momento em que ela tem que aprender a
como o reconhecimento facial, já provocam a suspeita de que os resolver seus conflitos, usando sua intuição e
algoritmos podem ser discriminatórios. O futuro já chegou. Uma imaginação ao olhar para o mundo. Ao seu lado,
coisa é certa, e isso os textos mostram: não há outro caminho a mãe amorosa estará pronta para ajudá-la e
a não ser nos apropriarmos da tecnologia, mas ancorados em surpreendê-la.
nossa ancestralidade.
Maiores informações:
Maiores informações: www.instagram.com/kitembo_literatura www.quilombhoje.com.br/livraria

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ESTILO

É HORA DE C

HOMEM VESTE: HIGHSTIL.


MENINO VESTE: VICTORIA ALTA
COSTURA.
MENINA VESTE: PETIT CHERIE.
MULHER VESTE: VICTORIA ALTA
COSTURA E ACESSÓRIOS: MARI
PERES BRAND

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MENINAS VESTEM: PETIT CHERIE.
MENINO VESTE: VICTORIA ALTA
COSTURA E TÊNIS: BIBI CALÇADOS.

CELEBRAR:
VISTA SUA ROUPA E
COMEMORE O ANIVERSÁRIO
DA RAÇA COM A GENTE
por FERNANDO COSTA

O mês de setembro é
marcado por uma data
mais do que especial
para a Revista Raça.
Estamos completando
24 anos, isso mesmo. Parece que
foi ontem que começamos, né? De
lá para cá, o nosso país mudou,
E claro que moda faz parte desse
processo, ela está no nosso DNA.
“A Revista Raça é uma das pioneiras
quando falamos em moda, e em
moda com representatividade. Todo
mundo já viu pelo menos uma
edição para se inspirar, aprender
e se atualizar”, relata a stylist Ana
Que venham mais 24 anos de
inspiração”, finaliza.
Óbvio que nesta edição especial a
moda se faria presente e ela chega
para brindarmos a nossa história.
Para celebrar esse grande momento,
nós fizemos esse editorial em parceria
com a agência de modelos Max
o mundo mudou, nós mudamos, Paula Fernandes. “Nos seus 24 anos Fama que ficou um arraso. Vista a
mas os desafios não. Crescemos, encontramos diversidade, editoriais sua roupa e comemore o aniversário
amadurecemos e aprendemos muito. com temas relevantes e o principal, da revista Raça com a gente. Esse
Todos os dias. Com todos vocês. da maneira que precisa ser mostrada. momento é nosso! Vamos celebrar!

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ESTILO

MULHER VESTE: VESTIDO: MORENA ROSA E SANDÁLIA:


ALEXANDRE BIRMAM
HOMEM VESTES VESTE: TERNO: VICTORIA ALTA COSTURA,
SAPATO: HIGHSTIL E ACESSÓRIOS: POT ARTEFATOS

MENINA VESTE: PETIT CHERIE

FICHA TÉCNICA
MODELOS: AGÊNCIA DE MODELOS MAX FAMA
FOTÓGRAFO: JORGE LUIZ GARCIA
STYLIST: ANA PAULA FERNANDES
MAQUIAGEM: ISABELLE FREITAS
CABELO: SILVA’S HAIR THERAPY ( @VEMPROSILVIAS ) - (11) 95397-7227
PRODUÇÃO EXECUTIVA: PAULO HENRIQUE ALBUQUERQUE
DIREÇÃO DE ARTE: WESLEY ALISSON
COORDENAÇÃO GERAL: FELIPE MONTEIRO

MULHER VESTE: VICTORIA ALTA COSTURA E ACESSÓRIOS:


MARI PERES BRAND

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MENINA VESTE: CONJUNTO: PETIT
CHERIE E SAPATILHA: BIBI CALÇADOS
MENINO VESTE: VICTORIA ALTA
COSTURA E TÊNIS: BIBI CALÇADOS

ACIMA CAPA: PLÁSTICO BOLHA STORE, VESTIDO:


KES, TÊNIS: KINGS, MEIAS: STANCE SOCKER, ÓCULOS:
HAVAIANAS, TÊNIS: ADIDAS KINGS (BOAVISTA
SHOPPING), PULSEIRA E CORRENTE: ACERVO

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raça Acadêmica

Raça por Flavia Cirino | ilustração Edson IkêJo

na vida
acadêmica

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M
uitos foram os estudos feitos No ano seguinte, João Batista Nascimento dos Santos destacou
sobre a revista RAÇA Brasil, “O negro representado na revista Raça Brasil : a estratégia de
desde sua criação, em 1996. identidade da mídia étnica”, em sua dissertação de Mestrado em
No Brasil, em Portugal, na Comunicação e Informação, na Universidade Federal do Rio
Inglaterra e nos Estados Grande do Sul.
Unidos, teses de mestrado,
Na mesma universidade, em 2007, José Carlos Cintra apresentou,
doutorado, inúmeros TTCs, pesquisas e afins
na UFRGS, a tese intitulada “Revista Raça Brasil: O Negro Como
destacam a maior publicação impressa da América
Sujeito Midiático no Jornalismo e na Publicidade”.
Latina , dedicada à população negra.
No mesmo ano, Viviane Seabra Pinheiro defendeu a dissertação
O estudo mais recente, datado de 2017, é a tese
na Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras
de doutorado que tem como título “A revista Raça
da Universidade Federal de Minas Gerais, intitulado “Analisando
Brasil : uma proposta de imprensa negra na mídia
Significados de Capas da Revista Raça Brasil - Um Estudo de Caso
brasileira do século XXI?”, de Jorge Luís Rodrigues
à Luz da Semiótica Social”.
dos Santos. Ele se tornou doutor em em Memória
Social, pela Universidade Federal do Estado do Rio Com uma brilhante defesa, Viviane obteve o título de Mestre em
de Janeiro. Linguística Aplicada
Em 2003, em sua defesa no curso de pós-graduação “A escolha da referida revista foi motivada pelo interesse em
em Linguística, na Unicamp, Yara Brito Brasileiro se abordar, a partir da perspectiva da Linguística Aplicada, a
destacou como tema “Um quilombo na mídia: ambivalência de Raça Brasil no que diz respeito à sua orientação
um estudo discursivo da Revista Raça Brasil”. Ela – ambivalência apontada ou sugerida por estudiosos como Sodré
conseguiu o título de Mestre em Linguística. (1999), Joel Zito Araújo (2000) e Sandra Almada (2002). Segundo
Almada (2002), a publicação, lançada em setembro de 1996
visando a um público de negros, contribuiu para o Movimento
Negro, para o jornalismo e para a imprensa negra tanto em termos
mercadológicos quanto em termos políticos. Uma contribuição
política apontada é a colaboração de Raça para a construção e
veiculação de uma imagem positiva dos negros, diferente dos
estereótipos veiculados pela mídia em geral. Desse modo, de acordo
com o referido texto, a revista constitui um movimento para a
mudança dos estereótipos racistas por meio dos quais os negros são
comumente representados”, dizia um trecho da dissertação.
Myrian Lucia Brandão Mendes, em 2011, na Faculdade de Letras
da Universidade Federal de Minas Gerais, dissertou a tese
“Argumentação da Revista Raça Brasil: Um Estudo da
Retórica Antirracista”.
A revista esteve também em livros, como na obra
“A Negação do Brasil: O Negro na Telenovela
Brasileira”, de Joel Zito Araújo, lançado em 2000.
Nele, o autor ressalta o aspecto mercadológico
da revista. Ele menciona, entre várias abordagens,
um comentário de Roberto Melo, vice-presidente
editorial da Editora Símbolo, responsável pela
publicação quando do seu lançamento, de que
foi necessário, para estabelecer sua tiragem inicial,
quantificar o público leitor negro.
Vale destacar que a edição 01 vendeu 270 mil exemplares, recorde
até hoje não batido por outra publicação.

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servicos.indd 26 16/08/20 12:35


Celebrado em rituais por todo o país
africano, o Café da Etiópia é considerado
o melhor do mundo. Aliás, o lugar carrega
o título de berço mundial do grão. Ele
teria surgido nas montanhas da Abissínia
durante o Império que existiu ali entre os
séculos XII e XIX e ocupou a área onde
hoje está o país.
As lendas contam que monges árabes
teriam decidido experimentar o grão
após perceberem que as cabras ficavam

afé?
excitadas e não conseguiam dormir

vai um c
quando comiam a frutinha vermelha.
Colhido nas florestas de Yayu , onde a
planta nasce naturalmente, bem longe
da plantação, o café da Etiópia chega ao
Brasil, através da DemiLion Importadora
e Exportadora Ltda. O auge da colheita é
entre setembro e dezembro.
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inteiro. Suas fórmulas possuem ação desodorante
que mantém o perfume prolongado na pele por
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tão nutritivo para a pele que se tornaram essenciais
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SAÚDE

MAIS DE
100 MIL

FOTO: PEDRO GABRIEL MIZIARA


MORTOS,
A MAIORIA, NEGROS

A
o longo dos 24 anos de existência da O impacto da incapacidade de prefeitos, governadores e presidente para
revista RAÇA, não houve registro de frear o avanço do novo vírus não foi sentido de maneira uniforme por
maior letalidade da população negra, toda a sociedade. Os microdados mais recentes do sistema nacional de
por problema de saúde, que não fosse monitoramento de doenças respiratórias, atualizados até 3 de agosto,
a atual pandemia da Covid-19. Ao demonstram que pessoas do sexo masculino, idosos e pretos ou pardos
cruzar o limite de 100 mil mortos, segundo dados do foram os mais castigados pela pandemia no país.
Ministério da Saúde divulgados em agosto, o Brasil se
O sexo masculino, a exemplo do que também foi verificado em outros
tornou o segundo país no mundo a superar essa cifra.
países, representa quase 60% dos mortos, enquanto os idosos somam
Em primeiro lugar, os Estados Unidos. Infelizmente,
mais de 70%. Fatores biológicos ainda em estudo ajudam a explicar
a triste e melancólica marca foi atingida,
esses percentuais, mas os registros do Sivep-Gripe também sugerem
principalmente, à custa da vida de homens, idosos
que características sociais alteram o risco a que os brasileiros estão
e negros — vítimas mais frequentes da pandemia
submetidos diante da pandemia.
conforme os registros detalhados das notificações.
Pretos e pardos representam cerca de 56% da população brasileira, mas
O tamanho da população brasileira, superior a 210
somam 58% dos mortos que tiveram a etnia especificada na ficha de
milhões de pessoas, ajuda a explicar a vice-liderança
atendimento. O efeito da desigualdade social é visível ainda por outro
planetária em número absoluto de óbitos, mas não é
critério. Pretos e pardos somam 36,7% de todos os infectados quando
suficiente pra esconder o fracasso nacional em reduzir
se incluem na conta os sobreviventes e aqueles que não tiveram raça
o impacto do coronavírus de Norte a Sul.
determinada nos registros, mas 40% das notificações de óbito por esse
Quando se analisa a taxa de mortes por habitantes, viés ampliado. Isso significa que essa parcela da população, associada a
o país também ocupa uma posição negativa de uma renda média mais baixa e mais dificuldade de acesso aos serviços de
destaque: nos últimos dias, superou a França e passou saúde do que os brancos, morre em proporção maior do que o seu nível
a ocupar o nono lugar no ranking internacional de de infecção. Com os brancos, é o contrário: representam 29,7% de
óbitos por habitante, com cerca de 47 vítimas por todos os contaminados (incluindo quem não teve indicação de etnia),
100 mil pessoas. mas 27,9% dos mortos.

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RAÇA BRASIL
24 anos

Lázaro Ramos, capa da edição 200

A RAÇA Brasil
sempre reforça nossa
história, com orgulho
FOTO: THIAGO DURAN/ AGNEWS

REVISTARACA.COM.BR REVISTA RAÇA BRASIL | 29

raca_brasil 24 anos.indd 29 16/08/20 14:10


Coluna

foto: divulgação
zulu

Zulu Araújo

24 anos de muita raça!

S
im, foi preciso muita raça, coragem e E o curioso no ineditismo da Revista Raça é que ela
determinação, nesses últimos vinte e não produz nada de excepcional para um país ou
quatro anos, para que a Revista Raça uma sociedade que fosse democrática e respeitasse os
continuasse de pé e se consolidasse valores da igualdade, da diversidade e da civilidade.
no país como o grande veículo de Mas, como estes são bens ainda raros por aqui, é
comunicação da comunidade negra brasileira. Hoje, estranho, para muita gente, tratar com dignidade
sob o comando do jornalista Maurício Pestana, a Raça saberes e fazeres da parcela da população que construiu
situa-se no seleto grupo dos poucos empreendimentos esse país. População esta que, mesmo escravizada e
jornalísticos brasileiros que possuem mais de vinte vilipendiada por séculos, tem dado uma contribuição
anos de vida, além de ser reconhecida por todos/as grandiosa para o processo civilizatório e cultural do
como uma publicação séria e de qualidade. país. E isso, a Raça faz muito bem.
Desde setembro de 1996, quando foi às ruas pela Na quadra que estamos vivendo, onde o retrocesso
primeira vez e alcançando o recorde de 270 mil político, o desprezo pela vida, a intolerância de todas as
exemplares vendidos, a Raça tem sido a única ordens, a violência contra os pretos e pobres e o racismo
referência da comunidade negra brasileira na chamada e fascismo têm sido cantados em prosa e verso, celebrar
grande imprensa. Claro que muita gente tem os vinte e quatro anos da Revista Raça é como dar um
contribuído para que a Raça cumpra com seu objetivo grito de alerta em defesa da liberdade de expressão e dos
maior, que é o de ser espaço aberto e sem preconceitos direitos civis pra toda a sociedade brasileira. Até porque
para que a criatividade, o pensamento e as ideias da a Raça é um exemplo real e factível de que é possível
comunidade negra brasileira possam fluir livremente. sim, fazer da democracia, da diversidade e da defesa da
Mas ainda assim, não tem sido fácil. igualdade um caminho de sucesso.
Apesar de todas as dificuldades, a Raça tem sido um Embora não possa negar que, ao tempo que celebramos
exemplo de engajamento entre veículo e público-alvo. com toda força e alegria esse feito histórico da Revista
Os leitores da Revista, são muito mais do que leitores, Raça, também nos incomoda e nos dá certa tristeza
são companheiros/as de viagem. Acompanham, perceber que continuamos a ser a única publicação
criticam, divulgam e ajudam a revista a estar presente, do gênero no país. Isto é sinal de que, apesar da nossa
com grande força, em estados como São Paulo, Rio luta e da nossa resiliência, o racismo continua forte e
de Janeiro e Bahia. Ter um artigo publicado ou estar presente o suficiente para não reconhecer o legado e a
na capa da Raça é, hoje, muito mais que um desejo presença da comunidade negra como algo importante
de inúmeros articulistas, artistas e anônimos da nossa para o desenvolvimento da democracia no país.
comunidade, é a chancela da credibilidade. Portanto, brindemos, mas com atenção, pois a luta
continua...
Isso porque, apesar de sermos mais de 56% da
população brasileira, tratar da temática afro-brasileira,
por mais incrível que pareça, é algo difícil e delicado
Toca a zabumba que a terra é nossa!
em nosso país. O racismo e o preconceito são
tão arraigados que, 132 anos de pós-abolição da
escravatura, ainda soa estranho para a maioria dos
leitores do país, que os pretos/as também gostem de zulu araújo, Presidente da Fundação Pedro Calmon
ler sobre suas histórias, seus desafios, suas modas, sua (FPC), vinculada da Secretaria de Cultura do Estado da
música, sua cultura, sua arte e, sobretudo, sobre sua Bahia, graduado em Arquitetura e Urbanismo e Mestrando
luta pela igualdade de direitos. em Cultura e Desenvolvimento pela UFBA

30 | REVISTA RAÇA brasil

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CAPA

32 | REVISTA RAÇA bRAsil

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O JORNAL,
HOJE, É NEGRO
por MAURÍCIO PESTANA e FERNANDA ALCÂNTARA | fotos TV GLOBO/ FÁBIO ROCHA

JORNALISTA, APRESENTADORA, COMENTARISTA, RADIALISTA


E REPÓRTER, MARIA JÚLIA É A MAIS FAMOSA REPRESENTAÇÃO
DA MULHER NEGRA NA COMUNICAÇÃO BRASILEIRA NA
ATUALIDADE. CONHECIDA COMO MAJU, É FORMADA EM
JORNALISMO PELA FACULDADE CÁSPER LÍBERO E JÁ ESTEVE
PRESENTE PÁGINAS DA REVISTA RAÇA BRASIL AO LADO DE
JOYCE RIBEIRO (ATUALMENTE NA TV CULTURA) E LUCIANA
BARRETO (HOJE, NA CNN BRASIL), NA PRIMEIRA DÉCADA
DESTE SÉCULO, NESTA EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO,
A RAÇA BRASIL ENTRA PARA O SELETO GRUPO DE
REVISTAS QUE SE MANTÉM EM CIRCULAÇÃO POR QUASE
DUAS DÉCADAS E MEIA E NÃO HAVIA MELHOR FORMA DE
COMEMORAR ESSE FEITO HISTÓRICO QUE MOSTRAR QUE,
O QUE ERA PROMESSA, AGORA SE CONSOLIDA DE FORMA
DEFINITIVA: A PRESENÇA FEMININA E NEGRA NO JORNALISMO
DE DESTAQUE NA TV DIARIAMENTE É UMA REALIDADE.

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CAPA

Q Quando começamos a falar sobre Maria Julia Coutinho, a primeira


coisa que vem à cabeça é trabalho árduo. Ao decidir dedicar-se ao
jornalismo, foi estagiária da Fundação Padre Anchieta, passando por
várias funções até chegar a repórter. Em 2005, começou a apresentar
o Jornal da Cultura, ao lado de Heródoto Barbeiro. Depois, migrou
para o telejornal Cultura Meio-Dia, que apresentou com Laila Dawa e
Vladir Lemos.

Em 2007, assinou com a Rede Globo, retornando inicialmente


às reportagens. Seis anos depois, Maria Júlia obteve êxito como
apresentadora de meteorologia e ganhou o país, passando a ser a
titular do posto apresentando as previsões climáticas do Jornal Hoje
e do Jornal Nacional. Sua simpatia fez com que também cobrisse o
Hora Um da Notícia e Bom Dia Brasil. Dois anos depois, passou a
fazer parte do rodízio de apresentadores do SPTV. Em 2017, assumiu
o comando eventual do Jornal Hoje.

Assim como a sede da revista Raça, no Tatuapé, em São Paulo,


Maria Júlia também é fruto da Zona Leste, região em que a cultura
e a história negra são muito presentes, ou, como em suas próprias
Em 2018, passou a fazer parte do elenco do
programa Saia Justa, na GNT. Também é
apresentadora do Papo de Almoço, da Rádio
Globo, às quintas-feiras. Mas foi 2019 que
consagraria a carreira da jornalista. Em fevereiro
de 2019, Maju se tornou a primeira mulher negra
a fazer parte da forma física do Jornal Nacional.
Em junho, foi anunciada como apresentadora
eventual do Fantástico e, em 06 de setembro de
2019, despediu-se da previsão do tempo do Jornal
Nacional e SP-TV2, para apresentar de forma fixa o
Jornal Hoje, nos encantando diariamente. Confira a
entrevista especial que fizemos com a querida Maju.

De professora para o jornalismo. Como isso


começou?
Eu achava que meu caminho profissional seria
no magistério, porque esse era o exemplo que eu
tinha em casa. Eu fiz magistério durantes anos, e
quando já estava no final passei em um concurso
palavras, “um outro universo”. “Meus pais fizeram esse movimento, na prefeitura de São Bernardo do Campo. Então,
comigo e com meu irmão, de valorizar a nossa raiz na Zona Leste, por um curto espaço de tempo, cerca de um ano e
ter os laços de amizade, mas também sempre explorar a cidade e o pouco, eu atuei como educadora. Mas nesse mesmo
Brasil quando pudesse. Então, tivemos sempre uma cultura muito período eu fiz um teste vocacional e descobri que
cosmopolita, meu pai sempre passeava com a gente pelo centro, talvez o jornalismo fosse o meu caminho. Depois
mas muitos laços de amizade por perto. A Nenê foi uma coisa que dessa descoberta fiz o vestibular para Cásper e
eu descobri mais adolescente, no início da vida adulta. Foi uma fase também passei, e por cerca de um ano fiquei com
da minha vida em que eu passei a frequentar a escola de samba, ir essa jornada tripla: estudava jornalismo de manhã,
ao projeto Radial [um baile black que tinha no Tatuapé]. Eu acho à tarde dava aula em São Bernardo [do Campo]
que não tem mais, porém eu tive uma vivência da Zona Leste e da e à noite eu ia para a USP cursar pedagogia. Foi
comunidade negra da Zona Leste”. quando eu tive um acidente de carro e só então
vi que essa era a hora de parar um pouco e ficar
só no jornalismo. Esse curto período em que eu
dei aulas para crianças foi uma experiência muito
interessante, porque pessoalmente eu não me via
como professora, diferente da minha mãe, eu não
me sentia com essa vocação.

A Cásper Líbero é uma escola de excelência em

“Fiz magistério, fui termos de jornalismo, enquanto a USP é uma


das universidades mais concorridas da América
Latina. Você que esteve nas duas, como percebe a
educadora, mas o jornalismo presença de negros nesses espaços?
Na verdade, tive um colega negro na Cásper, que

era meu caminho” não chegou a seguir na área e decidiu seguir carreira
diplomática. Éramos pouquíssimos na Cásper. Já na

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CAPA

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“Vejo um maior movimento
de participação negra. Uma
virada de página se desenhando”
USP, na verdade, eu realmente não lembro de ter amigos negros daquela época. Foi
muito legal quando eu voltei para falar com os alunos da Cásper, muitos anos depois,
e já tinha um coletivo de meninas negras na faculdade, algo que na minha época nem
tinha como ter, minha trajetória de encontrar negros no caminho foi sempre muito
solitária.

Como mulher negra, em um ambiente majoritariamente masculino e branco,


você tem enfrentado de forma consistente o debate racial. Como você vê, neste
momento, esta discussão?
As coisas mudaram um pouco nestes últimos dois meses. Muita gente, agora, está
com esta postura de sermos antirracistas e eu vejo isso com bons olhos. Este ano
essa questão ficou bem marcada para mim, e espero que a participação de pessoas
nessa discussão perdure, principalmente de pessoas não negras, de brancos também.
Percebo cada vez mais as pessoas querendo ouvir, abrindo espaços para a discussão,
seja por rede social ou outros meios, para dar voz aos negros. As pessoas estão tendo
mais cuidado. Alguns amigos que tinham certa opinião formada sobre questões ou
pautas que a gente levantava, que tinham essa visão de que era “mimimi”, e agora
estão sendo mais cuidadosos. Tenho uma colega que fica comigo na maquiagem, que
diz: “olha, eu queria que você me falasse a sua opinião sobre o assunto x, porque eu
não entendo sobre isso”. Agora existe certa humildade nas pessoas de, realmente,
reconhecer os espaços, as nossas opiniões, de entender esse momento de escuta,
de reconhecimento, de ter esses questionamentos. É uma coisa que, sinceramente,
há cinco anos eu não observava com essa intensidade que estamos vivendo. É uma
mudança de comportamento. Apesar de termos uma defasagem em ocupar esses
espaços de poder, também já vejo um movimento de maior participação negra. Acho
que as coisas estão caminhando, eu tendo a ser otimista e espero que essas mudanças
realmente perdurem, mas vejo esta virada de página se desenhando.

Você hoje simboliza muito a representatividade negra, principalmente entre


crianças. Como é ser essa referência?
É uma honra, mas no início eu ficava muito assustada. Quando eu comecei nessa
carreira, não tinha dimensão do papel que realmente iria representar: ser uma referência
junto a outras colegas, uma referência especialmente para meninas negras que não
se viam e agora se veem na televisão, com seu cabelo crespo. Mas ainda hoje é um
pouco assustador ser um exemplo, e por isso eu sempre procuro tomar muito cuidado,
principalmente para não entrar numa vibe em que o ego fale mais alto. Eu agradeço,
reconheço que é legal, divertido e curioso que eu tenha este impacto com crianças
negras, e muitas vezes até crianças brancas, mas também procuro manter sempre os
pés no chão. É importante ocupar esse espaço em que eu estou, de certa forma, de

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CAPA

representar algo para essas crianças, e espero que seja algo bom, mas
sempre também ter cautela para não pirar.

O que você diria para quem está começando na Comunicação?


Quais os caminhos que deve seguir?
Minha principal dica seria para ter certos cuidados. O caminho mais
perigoso é o do deslumbramento. Sempre tento colocar a minha
profissão como uma área de muita exposição, mas isso não significa
somente fama e glamour. Televisão é muita ralação, muita dedicação,
e no caso do jornalismo, é uma profissão que exige muita curiosidade.
Você precisa ter isso dentro de você, querer entender o que significam
as coisas, entender os porquês e, acho que, se eu perdesse essa
curiosidade, eu me aposentaria, porque isso é essencial no jornalismo.
Tem também a parte de ter certa altivez, certa firmeza, mas está tudo
muito baseado na preparação. Se eu fosse milionária, por exemplo,
eu abriria uma escola de inglês para vários negros. Eu acredito que
nós precisamos saber inglês, precisamos estudar, precisamos ler, ter
o domínio do português correto. Resumidamente, a pessoa precisa
se dedicar aos estudos e não ser deslumbrado. Também acho muito
importante a questão emocional, porque às vezes os alunos, negros
ou não, chegam com capacidade intelectual, com muito estudo, mas
com defasagem no emocional, com o psicológico abalado. É preciso
ter um momento de equilíbrio das coisas, de conseguir deixar a vida
leve. Porque não adianta você desbravar, estudar, conquistar, tudo às
custas da sua saúde mental, estresse e desgaste, e essas coisas fazem
você adoecer. É preciso ficar muito atento a esse tripé que é alma,
espírito e intelecto, viver de uma maneira saudável. É meio holístico, é
ler bastante, estudar bastante, mas também cuidar da saúde. Isso tem
muito impacto na comunidade negra, porque temos aquele ditado
que “precisamos ser duas vezes melhor” que os brancos, e às vezes a
pessoa consegue chegar às posições de poder, mas chega destroçada, e
eu acho que isso não pode acontecer. Às vezes precisamos tirar o pé do
acelerador, e pode ser que leve um pouco mais tempo para conquistar
algumas coisas, não por incapacidade, mas porque precisamos prestar
atenção nesse autocuidado. Como não temos as ferramentas de um jeito
fácil, às vezes vamos com muita sede ao pote e acabamos destroçados
emocionalmente, e aí não é legal também.

Você já destacou que é otimista. Como você vê a comunidade negra


e o debate racial daqui a 10 anos?
Acredito que estaremos muito mais inseridos na mídia, embora ainda
muito distantes do ideal. Temos que ser uma comunidade que pensa
na questão econômica, e isso é uma questão fundamental, inclusive
por estar nesse mundo capitalista. É cuidar dos nossos e das nossas, já
sabemos que nós ganhamos menos, então essa é uma consideração que
temos que ter: mais negros com mais condições econômicas, porque
isso faz diferença. Gosto de frisar que a gente não é homogênea: somos
uma comunidade com vários espectros. Tem o cara que é mais ativo e
o cara que é mais na dele; tem negro de direita, tem negro de centro,
tem de esquerda. Mas temos que desenvolver certos embates. Às vezes
é necessária uma atitude mais agressiva em tempos de urgência e de
reivindicações. Acho que agora vamos ter uma geração que terá mais
jovens indo com uma certa leveza, com pouco menos de peso, e eu
acho que isso também é importante, mas muita gente que ainda bate
muito forte, e precisamos deles também. Não conseguiremos erradicar
o racismo, mas, à medida que a gente for ocupando os espaços,
conseguiremos ir melhorando a sociedade. O espaço que ocupamos
hoje vem da luta de muitos que nos antecederam, e essa leveza também
vai caracterizar essa nossa luta. Unidos, venceremos. Nasci em 1978,
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sou fruto do movimento negro unificado, meus
pais que lutaram no Conselho Negro, então o meu
caminho foi um pouco mais fácil graças a eles.
Foram estes antecessores que bateram na porta e
reivindicaram direitos, e talvez daqui para frente,
daqui a 10 ou 15 anos, as pessoas negras tenham
menos desgaste que nós. Eu realmente espero que as
próximas gerações tenham mais leveza para permear
em diferentes espaços, porque esse enfrentamento
do racismo é duro e acaba sendo um trabalho não
computado.

E como começamos a desenhar esse futuro?


Recentemente eu fiquei muito feliz porque fizeram
uma série de lives para comemorar os 95 anos do
jornal O Globo, e me convidaram para falar sobre
fake news. Parece uma bobagem, mas eu fiquei feliz,
porque foi um dos raros momentos em que me
convidaram para algo que não fosse para falar sobre
racismo. Eu não desmereço a importância do debate
sobre racismo, mas é muito legal ter esse olhar de que
podemos falar de outras coisas, até mesmo para não
ficar só nesses temas que são difíceis, tão doloridos
para a gente, o que acaba se tornando uma segunda
escravidão. Acredito que isso se torne frequente daqui
a 10 anos, ter mais Pestanas, Majus, outras pessoas
do movimento negro no debate naturalizado, falando
quando for importante falar de racismo, de questão
racial, porque temos essa experiência e essa bagagem,
mas também quando for falar de outras coisas. Outro
dia fui perguntar para o Sílvio de Almeida o que ele
achava de uma ação da AGU, porque sei que ele é
muito gabaritado para responder sobre outras coisas
que não seja racismo. Então, essa naturalização de
falarmos de outros temas é fundamental. Eu quero
que me confundam, ao ponto de perguntarem:
“Quem é aquela? É a Maju ou a Luciana? Ter tantas
de nós que aconteça como com a minha mãe que,
outro dia, estava confusa sobre quem era Fátima
Bernardes e quem era Sandra Annenberg.

E o que representa, para você, estar nesta capa de


24 anos da revista Raça?
Isso é muito representativo para mim, é uma
verdadeira honra. A Raça é um símbolo gigantesco
de uma luta de nossa comunidade, então eu me vejo
cristalizada e realizada neste aniversário. Apesar de eu
ser uma filha de pessoas ligadas à comunidade negra,
de desde pequena ter consciência racial, foi a Raça
que me despertou sobre a beleza do meu cabelo. Foi
logo em uma das primeiras edições, quando eu olhei
uma mulher cacheada dentro da revista (não era nem
a capa!), eu vi que era possível. Pensei: “se ela está
na revista, eu também posso”. Olha a importância
disso para uma adolescente que não tinha essa
referência antes, isso é gigantesco! São 24 anos
desse sentimento de transformação, então que seja
uma revista longeva!

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PRETA BRASILEIRA

SE A REVISTA RAÇA FOSSE UMA


MULHER NEGRA DE 24 ANOS,
COMO SERIA NA VERSÃO DO

Pret a Br a s il e ir a ?
por LÉIA ABADIA | fotos SUELEN LIMA

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N
o mês de aniversário da Revista A Versão 2 que a nossa equipe adaptou é, sem dúvida alguma, o
Raça, a equipe Preta Brasileira penteado de 2020! Prático e glamouroso, pode ser usado desde
elaborou, em conjunto com o Tapete Vermelho até uma celebração mais formal como um
cabeleireiros e maquiadores, casamento, ou formatura de graduação. Tudo é muito simples e
um penteado que demos o prático: você faz um rabo de cavalo com as telas do cabelo orgânico.
nome de 3 em 1! Para finalizar, temos a parte 3 deste projeto que nos fez muito
Se a Revista Raça ganhasse vida e se tornasse felizes! Chamado popularmente de Rapunzel Negra, o rabo de
uma jovem mulher de 24 anos, ela, certamente, cavalo arrematado com anéis de dreads. Essa versão atende crianças,
precisaria de penteados práticos, lindos e jovens e mulheres adultas! Ele retrata o que nossas mães e avós já
impactantes para poder cumprir uma agenda fizeram na infância em nossos cabelos, misturando o estilo negro de
cheia de compromisso! Para dar vida a essa ideia, criar penteados no passado e a estética afro futurista!
convidamos as cabelereiras Léia Abadia, Viviane É dessa forma que a equipe do Salão Preta Brasileira demonstra
Pereira e Bruna Vanessa, para encarar o desafio. gratidão e carinho por esta revista que nos representa e nos apoia, a
Com o objetivo de criar looks práticos e que cada edição.
expressem a cultura das Pretas do Brasil,
escolhemos a Trança Nagô, como a rainha do
nosso penteado! A trança é um penteado que não
requer muitos conhecimentos para manutenção.
Você acorda toda manhã com o cabelo penteado,
praticamente arrumada e linda para encarar seus
compromissos diários.
Na primeira versão dos penteados 3 em 1,
desenhamos a trança rasteira no formato de
um cabelo preso no estilo “rabo de cavalo”.
Para retratar a mulher preta que usa o cabelo
natural, esse modelo valoriza o cabelo crespo
solto, remetendo à estética do Black Power. Para
harmonizar o cabelo solto no topo da cabeça,
utilize um pente garfo ao finalizar.
Imagine que na semana em que foi feito este
penteado maravilhoso, a nossa modelo recebeu o
convite para participar de um evento com muito
glam! Uma cerimônia na qual a Revista Raça será
homenageada. Pois bem, essa é a vida da mulher
preta na Diáspora. Com um pacote de fibras
orgânicas você pode transformar totalmente seu
penteado para uma segunda versão: rabo de cavalo
com aplique orgânico! PRODUÇÃO: PRETA BRASILEIRA
HAIR: BRUNA VANESSA/ VIVIANE FERREIRA

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Coluna
FRANCISCO ALVES

Francisco Alves

IMAGENS POÉTICAS DA PLENITUDE

C
ontemplo por alguns minutos a capa da uma territorialidade poética em que cada frase incita a
primeira edição da Revista Raça. Uma valorização e o conhecimento da cultura preta. Observo
trama revolve meu interior. Misto de a capa como um espelho que demarca dobraduras de
alegria em fios de miçangas da memória. liberdade e reinscrição de novas formas de pensar minha
Exu caminha pelos meus dedos ansiosos. negritude no passado, como adolescente e no meu
Ogum, meu orixá de cabeça, aponta a direção. Então sigo presente, sendo homem adulto.
em Escrevivência, deslumbrado pelos sorrisos vigorosos
A edição trouxe como pautas a maquiagem, a música do
da imagem. Busco erguer uma arqueologia íntima sobre
Pelourinho, a moda e os cortes de cabelo. Nada é por acaso
a importância da revista para a compreensão do meu
na composição de um quadro. Tudo na capa está disponível
mundo de homem preto. Eu tinha 11 anos em 1996, ano
para signos que se retroalimentam num ritual de conexões
de surgimento da Raça. E hoje, aos 34, depois de uma
ideológicas e políticas.
longa caminhada rumo a um processo de pertencimento e
amor próprio, uma potente reflexão irradia meu ser: graças A primeira edição da Raça é um movimento de intensa
a esta publicação pioneira no país, consegui apreender celebração e que decerto foi responsável pelo florescer de
visualidades estéticas que operacionalizaram a criação de muitas identidades pretas no país. O aniversário de 24 de anos
uma mística afrocentrada em minha vida. de existência da revista evoca um movimento de afirmação,
libertação e consciência das pluralidades culturais que nos
A frase em vermelho: “Essa é pra mim!” denota um
formam, enquanto homens e mulheres pretos, dotados de
ornamento contemplativo. Um chamamento para todos os
riquezas simbólicas e inteligências múltiplas. Para muitos a
pretos brasileiros excluídos dos processos de representação
revista foi e é parte fulcral na aprendizagem de ser gente e
simbólica a construir a ideia de nação. A capa é um quadro
amar a ancestralidade.
com moldura ancestral. A capa é a pintura de um sonho
tecido na realidade. A Revista Raça é um aquilombamento, “Somos bonitos, fortes e poderosos”, frase de Carlinhos
e em seus 24 anos de existência tem contribuído fortemente Brown, arremata minhas lembranças diante da observação
na luta por igualdade racial em suas dimensões várias. da primeira publicação impressa devotada a mostrar
pretos e pretas em suas potencialidades artísticas,
O sorriso iluminado da atriz Isabel Fillardis problematiza
comerciais, empreendedoras, afetivas, donos de suas
minhas memórias sobre a representação imagética das
plenitudes. Que os quilombos do coração do mundo
mulheres negras. Na escola, temos contato com nossa
comemorem a longevidade da Revista Raça, e que todos
história através de narrativas visuais que em sua maioria
nós dancemos ao som do Afoxé em plena celebração pela
endossam a violência e o controle dos corpos. Isso é
existência deste veículo impresso, que desde sua primeira
evidente nos livros de história do Brasil, recheados com
edição é pura Resistência.
imagens do pintor francês Jean Baptiste Debret, que na
função de artista oficial do império, retratou o cotidiano
dos escravizados. Não existe o traço do sorriso, uma vez
que a construção de mundo para os negros se dava pela
servidão e açoite. Nossa aprendizagem do estético e do
imagético afro-brasileiro é construído, principalmente
nos anos escolares, através de uma sucessão pictórica
assentada, em sua maioria, no espectro da escravidão.
FRANCISCO ALVES
Deleito-me em fazer uma leitura poética da capa da é Doutor em Literatura
primeira edição da Revista Raça. Esse conjunto de Professor de História
signos, juntos no mesmo rizoma racial, funciona com da Arte (UFRR)

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RAÇA BRASIL
24 anos

Sah Oliveira, uma das influencers que esteve na capa da edição 209

Cresci lendo a Revista


RAÇA BRASIL, nunca
imaginei que um dia
seria a capa. Foi um
enorme prazer!!
FOTO: DIVULGAÇÃO

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JÁ SAI NA RAÇA

Reunimos alguns registros de pessoas que já estiveram em nossas


páginas e nos enviaram pelo Instagram @revistaraca
Ainda não conhece nosso perfil? Segue lá e marque-nos também!

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ja sai na raca.indd 45 16/08/20 14:02


BELEZA

Na maioria das situações


nos preocupamos em fazer
um penteado descolado
quando temos algum
compromisso, isso é
natural. Mas já parou para
pensar que você pode fazer
isso no seu dia a dia? E o
melhor: gastando pouco e
abusando da criatividade.
Para te inspirar, nós fizemos
3 opções de penteados em
parceria com a agência
de modelos Max Fama
e o Salão de beleza Preta
Brasileira. Tem para todos
os gostos e é para a família
toda. Confira!

por FERNANDO COSTA

FICHA TÉCNICA
MODELOS: AGÊNCIA
DE MODELOS MAX FAMA
FOTÓGRAFO:
VINÍCIUS HAWK
HAIR: SALÃO PRETA
BRASILEIRA – HAIR STYLE:
LÉIA ABADIA, BRUNA
VANESSA BEAUTY E
EDUARDO SOARES.
MAQUIAGEM:

s
ISABELLE FREITAS

o
PRODUÇÃO EXECUTIVA:
PAULO HENRIQUE

d
ALBUQUERQUE

a
DIREÇÃO DE ARTE:

te
WESLEY ALISSON

n
COORDENAÇÃO GERAL :

Pe
FELIPE MONTEIRO

PARA ARRASAR
NO SEU DIA A DIA

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COQUE ALTO AFRO PUFF COM TRANÇA
COM TRANÇAS TRANÇA SOLTA LATERAL NO
LATERAIS LATERAL CORTE MOICANO
Para iniciar o Primeiro separe Para iniciar, o
penteado escolha o cabelo 4c na corte esfumado
o creme de sua parte em que foi refeito, já
preferência e fará as tranças. a lateral com
aplique fazendo navalha foi feita.
uma fitagem no
comprimento.

Com o auxílio Com o auxílio Para dar um


do difusor no do pente garfo acabamento
secador, seque o e do secador bem destacado
cabelo todo de em temperatura foi usada
baixo para cima. média, máquina zero
desembarace pente especial
todo o cabelo. 0,5 e 1.

Com um elástico Na lateral Para dar


de cabelo separada, faça personalidade
prenda-o no três tranças, ao penteado,
centro da cabeça, iniciando faça uma trança
deixando a franja enraizada e lateral.
e as laterais finalizando solta.
soltas. Deixe os
fios alinhados
com o auxílio de
uma escova.

Faça as tranças Em suas tranças Para a confecção


soltas nas soltas use sua da trança use
laterais e faça a criatividade material sintético.
fitagem na franja e coloque Ele dá mais
puxando para algumas firmeza à trança.
baixo. miçangas para
embelezar.

Para finalizar, use Para finalizar, Você está


enfeites e use da valorize pronto!
sua criatividade dividindo o
para o penteado cabelo de
ficar bem orelha a orelha
divertido. e prenda
a parte da
nuca de seu
penteado.

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?
MODA

O que é
ModAtivismo
por CAROL BARRETO | assistente DAVID SANTOS
FOTO: DIVULGAÇÃO

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? MODELOS: SUELLEN MASSENA,
ILKA CYANA, VANESSA, NAIARA
ARCURI, ANA TALITA, INGRIDY
CARVALHO, TAMIRES NOGUEIRA
COM A ESTILISTA CAROL BARRETO.

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MODA

Nesta edição, comemoramos 24 anos de existência


e sucesso da Revista Raça. Tenho tido, desde o
ano de 2017, a felicidade de assinar a Coluna
de Moda desta importante publicação, que me
CRIEI O CONCEITO DE
trouxe diferentes e relevantes exemplos sobre MODATIVISMO, QUE ABARCA MODOS
imagens e trajetórias de vida de pessoas negras DECOLONIAIS DE ENCADEAMENTO
atreladas ao sucesso, reforçando os caminhos para
a transformação social. ENTRE FORMAS DE PENSAMENTO E
Em se tratando de uma revista que sempre teve a AÇÃO, RESULTANTES DE PROCESSOS
beleza e a moda como centrais, aliadas aos debates CRIATIVOS E PRODUTIVOS
políticos e demais questões relativas aos direitos
RESPEITÁVEIS À DIVERSIDADE
humanos, tão necessários à nossa comunidade,
o desafio de propor uma linha contemporânea CULTURAL E, POR CONSEQUÊNCIA,
para a coluna de moda tem demandado grande HORIZONTAIS.
investimento e, por isso, tem um sabor especial.
Aqui empreendo uma postura ativista, ao
diagnosticar o campo da criação como uma
esfera de identificação muito importante para o Com o surgimento das redes sociais, vemos uma transferência das
povo preto desde as comunidades tradicionais ações, antes restritas à experiência presencial, serem multiplicadas
originárias na África, até a organização de pessoas no mundo virtual, diversificando as possibilidades de interação
afroempreendedoras na atualidade, e hoje, cada e compartilhamento. Os ativismos e suas diversas formas de
vez mais compreendemos este como um espaço de expressão intentam uma mudança prática da realidade social,
transformação e ratificação dos nossos modos de como caminho para a garantia de direitos humanos, portanto,
resistir e de bem viver. parte de um pensamento reflexivo e crítico, debatido de maneira
organizada, dentre o grupo de interesse, para que possa, por
E nesse contexto, o que seria ativismo? Para nós
exemplo, balizar desde a proposição de políticas públicas a
mulheres negras, toda ação dissonante do lugar de
projetos de transformação social ou de intervenção empresarial
subalternidade em que o racismo nos colocou, é
em diversas áreas. Desse modo, toda atuação no mundo virtual
uma postura ativista. Quando reivindico por definir
ou na comunicação se pretende fruto de ações práticas.
a minha própria narrativa e elaborar modos de
produção de conhecimento que pesem, na mesma Na área da Moda, por conta de uma demanda imposta pelo
medida, tanto a produção da intelectualidade caráter inovador do meu perfil, do meu trabalho como artista,
mental, quanto os produtos da intelectualidade criei o conceito de ModAtivismo, que abarca modos decoloniais
manual, estou elaborando posturas ativistas. de encadeamento entre formas de pensamento e ação, resultantes
Ativismo é uma postura crítica, materializada em de processos criativos e produtivos respeitáveis à diversidade
ações individuais e coletivas, que visam à mudança cultural e, por consequência, horizontais. Uma proposta que
do curso de vida de uma comunidade ou grupo. ampara outros aportes metodológicos, que resultam em produções,

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“TRANSFORMAR E CONSTRUIR REFERÊNCIAS MELHORES PARA AS
PESSOAS DAS PRÓXIMAS GERAÇÕES”

processos de fruição e produção de produtos, valorados não apenas


pela sua materialidade, mas pelo legado imaterial que o sustenta e,
consequentemente, pelo potencial de transformação social que aciona.
Portanto, no histórico desta coluna, construí ações de apoio às novas
marcas de moda e pessoas cujo trabalho artístico está voltado à valorização
da cultura afro-brasileira, auxiliando as pessoas convidadas a debaterem e
descreverem com complexidade o seu trabalho e organizarem modos de
produção de imagens, que resultem na valorização de paisagens humanas,
urbanas e culturais, oriundas de uma variedade de cenários, que pudessem
contribuir para a desconstrução de estereótipos sobre os produtos, pessoas
e paisagens periféricas, não por conta de estratégia comercial, mas por
reconhecer o meu lugar de existência e a minha história de vida, oriunda
das bordas e das fronteiras, e não do centro, como as publicações de moda
hegemônica costumam naturalizar.
Priorizamos também, nessa trajetória, visibilizar o trabalho de mentes
criativas do estado da Bahia, como uma resposta à invisibilidade
estratégica que eu mesma sofri, dentro e fora do estado. Com trabalhos
apresentados em passarelas do Senegal, França e Angola e, em galerias de
arte nos EUA, México, Canadá, Colômbia e Brasil, aprendi nesses anos
que o valor notícia no Brasil corresponde à conhecida intersecção entre
gênero, raça, classe social e origem, também quando se trata da percepção
sobre o valor agregado ao produto artístico. Diante disso, uso
esse espaço para falar sobre o trabalho de estilistas e artistas
visuais que não tiveram seu trabalho reconhecido na medida
do seu merecimento e também para potencializar essas vozes,
estimulando-as a seguir
no investimento para a mudança na área da moda, que muito
contribui para a produção de estereótipos e de imagens de
exclusão, mas que, reconhecendo também essa potência,
aprendemos que é por meio de ações como essa, que podemos
transformar e construir referências melhores para as pessoas das
próximas gerações.

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EU NA RAÇA

EDNEI
WILLIAM
MORAIS
MELO DOS
SANTOS
Ator, modelo e poeta.
É assim que esse
baiano de 17 anos se
destaca por onde passa,
inclusive pelos projetos
FOTO: RODRIGO CASTRO

sociais, dos quais


começou a participar
aos 12 anos e já chegou
a ir a Portugal através de
um deles. Apaixonado
por moda, coleciona
títulos em concursos
de beleza, entre eles
o título de “Garoto
Periférico Teen 2019”.

LINDIWE
MAKINI
Não bastasse esse
nome forte e potente,
Lindiwe carrega
consigo o orgulho da
ancestralidade. Natural
de Aracaju, ela tem
20 anos e faz questão
de enfatizar que é “
mulher, jovem, preta
e candomblecista”.
Estudante de Serviço
Social, ela faz parte
do grupo Abaô de
Capoeira Angola. Axé!

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BRUNO SANTOS FILHO
Os pacientes de Bruno, em seu ofício
de Massoterapeuta e Técnico de
Enfermagem, em Vitória, no Espírito
Santo, talvez não saibam, mas ele é
um exímio mestre-sala, referência do
carnaval capixaba na atual campeã
da folia, Independente de Boa Vista.
Apaixonado pela dança, ele alimentava
o sonho de ser modelo fotográfico.

“Quando criança, pegava alguns


exemplares da revista RAÇA, da minha
tia, para imitar as poses dos modelos
que lá estavam. E desde então,
mantenho esse sonho.”

MAIARA VICENTE
Ela acaba de se formar em Direito! Natural
de Criciúma, em Santa Catarina, a advogada
de 28 anos pretende alçar voos altos e já
está focada na Pós-Graduação em Direito
e Processos Previdenciários na Faculdade
Damásio. Seu apaixonado namorado,
Ricardo Anacleto, é só orgulho!
“É importante ressaltar que em um país
onde os pretos são maioria, deveríamos
ocupar os melhores cargos, as melhores
posições na sociedade e nos governos.”

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Eu Na Raca .indd 53 16/08/20 12:02


sonhos
reflexão

Celebrar os 24 anos
da revista Raça é
possíveis
celebrar a imprensa
negra brasileira e
todas as pessoas
que criaram e a
mantêm viva.

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N
o ano em que a revista mas, vi outra revista que chamou a minha atenção. Foi amor à
Raça foi lançada, 1996 primeira vista. A capa era linda e tinha um jovem casal negro na
, eu tinha acabado capa. Era a revista Raça. Na hora pensei: quero escrever aqui. Ainda
de tomar a decisão não era hora.
de trabalhar com Passei por outras publicações, como a revista Som na Caixa, o site
comunicação. Ainda Bocada Forte, o Real Hip-Hop, a revista Rap Nacional e outras
tinha um vestibular pela frente publicações., a maioria delas, dedicadas ao movimento cultural hip-
e muita coisa para fazer, mas, meti hop. Foi um tempo de grandes descobertas e de muito aprendizado.
as caras e comecei a trilhar uma Gradualmente fui me distanciando desse universo e isso também fez
jornada que me levou a este lugar com que eu esquecesse aquele sonho de escrever para a revista Raça.
em que estou hoje: colunista da
revista Raça. As minhas escolhas foram me levando para o mundo das
organizações não governamentais, para iniciativa privada e para
Naquele ano, comecei a escrever de forma o governo. Comecei a construir uma carreira no campo da
voluntária para uma revista chamada Swingando, comunicação corporativa, sempre alinhada com o enfrentamento
também dedicada à comunidade negra e meu ao racismo e outras desigualdades. Sempre tive nítido que a
primeiro texto foi sobre o cursinho pré-vestibular comunicação poderia ser uma ferramenta estratégica no combate ao
promovido pelo Núcleo de Consciência Negra da racismo e assim vem sendo.
Universidade de São Paulo. Um curso vestibular
direcionado para pessoas negras. Dizem que os sonhos nunca deixam de existir e acredito que o
meu subconsciente fez o seu papel e deixou aquele sonho antigo,
No dia em que fui fazer a inscrição no cursinho de escrever para a Raça, bem guardado, contudo, não esquecido.
e conheci um pouco da instituição formada por Longos 20 anos se passaram e, em 2017, conversando sobre o
funcionários e funcionárias negras e negros da universo da beleza, identidade e autoestima com o Maurício
USP, estudantes e professores de lá e de outras Pestana, veio o convite, primeiro para escrever para o site e
instituições, pensei que a história renderia uma depois para a edição impressa da revista. Uma surpresa e tanto.
pauta interessante, porque naquele momento, Um sonho realizado.
uma efervescente discussão estava circulando sobre
reparação, entre elas, cotas para pessoas negras na O objetivo deste texto não é apresentar o meu currículo e, sim,
universidade e o cursinho era uma das estratégias falar com você e celebrar os 24 anos da revista Raça e de toda a
daquele grupo de profissionais para incluir mais imprensa negra brasileira, da qual me sinto parte desde 1996,
pessoas negras no ensino superior. Algo que mais mesmo não tendo atuado nela todos esses anos. A intenção é tão
tarde algumas universidades adotaram como cotas verdadeira que, “falo a você mulher e homem negro”, aproveitando
e outras políticas de ações afirmativas — todas aqui parte do título da coluna da Maria do Nascimento — Fala a
elas defendidas e sugeridas há muitas décadas pelo mulher, no jornal de imprensa negra, O Quilombo, da década de
movimento social negro. 1940, uma mulher pioneira no jornalismo e de quem, de alguma
maneira, como muitas outras comunicadoras negras, tenho orgulho
Pouco tempo depois, a curta reportagem sobre o de ser, indiretamente e de forma muito mais humilde, sucessora.
curso pré-vestibular do Núcleo de Consciência
Negra da USP foi publicada e a revista começou Minhas felicitações sinceras à equipe da Revista Raça, a todas as
a circular em algumas bancas de jornais. Passar leitoras e leitores que permitem que este importante veículo de
na frente de uma banca de jornal e ver uma comunicação siga existindo, registrando, analisando, denunciando
publicação de imprensa negra é algo que nos o racismo, reportando e valorizando a comunidade negra brasileira.
impressiona até hoje. Que essa pandemia passe e a gente possa celebrar juntas e juntos
esse aniversário. Que os próximos 24 anos cheguem logo. Que a
Banca de jornal sempre foi algo que chamou revista Raça siga sendo uma referência em comunicação de pessoas
minha atenção. Não lembro exatamente quando, negras para pessoas negras!

Rachel Quintiliano é jornalista, pós-graduada em Comunicação e Saúde,


consultora na área de comunicação, planejamento e sistematização com foco em saúde,
gênero e raça. Foi sócia da iniciativa Nina Cosméticos, especializada em produtos de
beleza para pessoas negras.

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Raquel Quintiliano.indd 55 16/08/20 11:39


Coluna
Tadeu kaçula

Tadeu Kaçula

a revista
dos negros brasileiros

A
lguns fatos históricos que estruturaram parte A edição do mês de novembro trouxe uma narrativa potente
da população brasileira através da criação de na manchete “A nova onda é ser black”, causando um
uma imprensa negra que impactou, de forma impacto extraordinário na autoestima da população negra às
positiva e organizada, nas relações sociais e vésperas dos 110 anos da abolição.
políticas e, sobretudo, culturais da população
Ao longo dos anos a Revista Raça Brasil ganhou destaque
negra em alguns estados do Brasil, formam um importante
nacional e internacional, firmando-se como uma das
marco histórico e civilizatório para discutir a identidade
principais revistas do país, além de cumprir um papel
étnica da população negra brasileira.
estratégico dirigido a um público que não consumia revistas
Compreender essas complexidades históricas nas relações no mercado editorial.
raciais deste tempo e espaço nos impulsiona a visitar
Durante duas décadas, estampou em suas capas
dos períodos em que a produção científica teve papel
personalidades conhecidas ou não, que não tinham espaço
fundamental na desconstrução da figura da pessoa negra
em outras revistas. O público criou uma identificação com os
como sujeito passivo de inclusão na estrutura social.
temas e conteúdos e a revista cresceu cumprindo importante
No início do século XIX, o Rio de Janeiro respondia pela papel na formação e na ressignificação da identidade social e
maior população negra livre das Américas. O primeiro cultural da população negra, com destaque especial para as
periódico negro, “O Mulato”, de 1833, nasceu focado no meninas que se enxergam nas modelos e atrizes negras que
reconhecimento da cidadania da população afro-brasileira embelezam as páginas da revista.
em tempos de escravização. As experiências de liberdade
Em 2018, o jornalista e publicitário Maurício Pestana, depois
foram impactantes para outros países que passavam pelo
de ter passado pela direção executiva em 2007, retorna à
mesmo processo.
direção como CEO da Revista Raça, que passa a ser editada
Em São Paulo, o “A Pátria” era publicado por um grupo pela Editora Pestana Arte & Publicações, onde a jornalista
de pensadores que acreditavam na abolição e apostaram Flavia Cirino é a editora-chefe.
na República como resolução do que era proposto pelos
Com uma respeitada trajetória de sucesso, a Revista Raça
abolicionistas. Eles davam visibilidade aos processos
está comemorando seu 24º aniversário em alto nível e
que a história apagou, como o Clube Republicando dos
ocupando todas as plataformas de comunicação, mantendo
Homens de Cor.
a sua tradição de evidenciar a nossa negritude e valorizar a
Entre 1924 e 1945, os jornais passaram a ser mais críticos sua essência, desde a primeira edição publicada em setembro
e defendiam a raça negra. Na década de 1930, foi criada de 1996 até sua última edição publicada em julho de 2020
uma das mais importantes entidades negras do país com onde, certamente, fazendo um paralelo com a fundação da
uma proposta que visava à união, organização, formação e imprensa negra, podemos afirmar que foi criado mais um
inserção da população negra na sociedade: a Frente Negra importante marco histórico e civilizatório que contribui
Brasileira. Através do seu jornal, “A voz da Raça”, apresentou positivamente para elevar a autoestima da população negra
propostas político-sociais. É fundamental compreendermos o em todo o país.
papel político e simbólico que essa mídia cumpriu para elevar
a autoestima da população negra daquele período.
Dando um salto histórico no tempo, revisitamos outra Tadeu Augusto Matheus (Tadeu Kaçula). Sociólogo;
experiência que marcou e marca até hoje importantes Mestrando em Mudança Social e Participação Política pela
referenciais étnicos para a população negra no Brasil. Em USP; membro do grupo de estudos sobre América Latina
setembro 1996 foi lançada a Revista Raça Brasil – a revista (CELACC-USP), coordenador nacional da Nova Frente Negra
dos negros brasileiros. A primeira edição da destacava a Brasileira; fundador do Instituto Cultural Samba Autêntico e
chamada “Essa é pra mim”. autor do livro Casa Verde, uma pequena África paulistana.

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tadeu.indd 56 16/08/20 11:40


raça brasil
24 anos

Comemorar o aniversário da Raça


Brasil é celebrar a nossa alegria de (r)
existir.
É importante dizer que toda uma geração
foi e continua sendo impactada por essa
revista, que nos enche tanto de orgulho.
Que venham os próximos anos!

Grazi Mendes, Head of People da ThoughtWorks,


esteve na capa da edição 213

“Bravo, Revista RAÇA Brasil, por


seus 24 anos de belo e tão necessário
trabalho em prol da construção da
identidade e visibilidade do nosso
povo preto brasileiro”

Déo Garcez, um dos atores da capa da edição 210

A revista RAÇA Brasil merece ser


celebrada todos os dias! São 24 anos
enaltecendo a potência que é a população
preta brasileira! Dizer:’ mãe, tô na capa da
Raça’” era um dos meus sonhos!
fotos: divulgação

Heloisa Jorge, uma das atrizes da capa da edição 210

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neGrOs
em movimeNto

literatura em tempos de pandemia


o escritor e dramaturgo no seu instagram.
amarildo Felix sempre teve assim como a maioria
uma queda pelos romances dos folhetins, amarildo
de bancas, estilo “sabrina”. narra um romance com
Quando a quarentena tons de erotismo, usando
chegou, ele tirou do armário também suspense e os
uma vontade antiga e ganchos que precisam ser
começou a exercitar sua feitos de um capítulo para
escrita - mais acostumada o outro. os personagens
com a prosa poética e são alisson e raul. os
um estilo verborrágico - e dois são negros e raul,
surgiu a ideia de escrever dono de uma agência,
um folhetim. inspirado está prestes a se tornar o gênero para o universo problemas que enfrentamos
no gênero, que surgiu na o primeiro bilionário do homoafetivo e falar de cotidianamente. Precisamos
França, no início do século país. alisson é um rapaz um casal afrocentrado. ocupar, por exemplo, esse
XiX e que fazia enorme que começa a trabalhar na sei que existem pessoas imaginário de poder. É
sucesso no brasil também agência e é completamente tratando a questão racial importante nos imaginarmos
(com representantes atraído pelo chefe. de maneira profunda. mas em outras posições que a
como machado de assis), “mais do que trazer a acredito que nós, pretos, literatura, o cinema, a tv e
amarildo criou “o Perfume história em um formato também precisamos habitar outras linguagens destinam
da Paixão”, e tem publicado diferente, nessa versão outros locais na esfera somente ao branco”, explica
capítulos diários, às 21 horas, online, quis também trazer artística para além dos o autor.

MULTIMÍDIA
Jornalista, escritor, roteirista e mestrando em comunicação e cultura pela eco/
PÓs/UFrJ. carioca de 44 anos, evandro Luiz da conceição tem participado de
diversas oficinas de formação com importantes nomes da Literatura Periférica.
Participou de duas edições do Laboratório de Narrativas Negras para o audiovisual,
iniciativa da FLUP em parceria com a Fundação Ford e tv Globo, e integrou a
primeira turma de formação de roteiristas negros ministrada pela emissora.
Um de seus principais contos, “Ninguém regula a américa”, resultado do processo
formativo Flup Pensa de 2019, está presente na coletânea “contos para depois
do ódio”, inspirado nas músicas de marcelo Yuka. atualmente., é consultor de
coneúdo da tv Globo.

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Negros em movimento.indd 58 16/08/20 11:45


Menina Preta

menina
preta
Enquanto o álbum
“Terra” não é lançado,
o cantor e compositor
Gabriel Peri coloca mais
um single e videoclipe
no mercado. “Menina
Preta” , de sua autoria,
está disponível nas
plataformas digitais.
Trata-se de uma
canção de amor curta
e direta, com arranjos
propositalmente
dissonantes e obscuros.
“É uma letra de poucas
palavras sobre pensar
em alguém, sobre a
sorte que a gente tem
ao se abrir para outro” ,
comenta Gabriel.
“A sorte que invade
o apartamento/ é
você comendo meu
pensamento”, é um
dos versos da música,
que traz a participação
especial da cantora
Nina Oliveira.
“Gosto muito da
maneira inventiva e
potente dela cantar.
Fiquei muito feliz em
fazer esse dueto”,
completa. Gabriel
e Nina gravaram o
clipe cada um na
sua casa, por conta
das orientações de
distanciamento social.

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Negros em movimento.indd 59 16/08/20 11:45


ATUALIDADE

Mulher e negra, pela


primeira vez, candidata à
vice-presidência dos EUA

C
omentarista de questões raciais da
CNN Brasil, jornalista Maurício
Pestana, CEO da RAÇA Brasil, já
havia sentenciado: Kamala Harris
seria a candidata de Joe Binden em
sua chapa, como vice-presidente dos

foto: reprodução instagran @ kamalaharris


Estados Unidos. E no dia 12 de agosto, o anúncio
oficial foi feito.
Em discurso num auditório de escola no estado de
Delaware, Harris e Biden trocaram elogios e criticaram
o governo de Donald Trump, que tenta a reeleição.
“Estou incrivelmente honrada por esta
responsabilidade e estou pronta para trabalhar. Joe,
estou muito orgulhosa de te apoiar e faço isso tendo
em mente todas as mulheres heroicas e ambiciosas que
vieram antes de mim”, disse a senadora.
Ao abrir o discurso, Biden também elogiou a parceira de campanha e agradeceu
à senadora por aceitar concorrer à vice-presidência. É a primeira vez que uma
mulher negra se candidata em uma chapa presidencial pelos maiores partidos
americanos. Atualmente, o vice-presidente dos EUA é o republicano Mike Pence,
que também concorre à reeleição com Donald Trump.
“Eu não tenho dúvida de que escolhi a pessoa certa para se juntar a mim como
próxima vice-presidente dos EUA”, elogiou Biden.

Quem é Kamala Harris?


Aos 55 anos, Kamala é senadora dos Estados Unidos pela Califórnia. Sua carreira
política começou nos anos 2000, quando foi eleita a primeira promotora distrital
negra de São Francisco. Mas foi quando assumiu a promotoria do estado, em
2010, que seu trabalho ganhou destaque e a tornou alvo de críticas tanto da
esquerda quanto da direita.
A campanha democrata exalta que, durante aquele período, Kamala “lutou pelas
famílias e ganhou um acordo de US$ 20 bilhões para proprietários de casas
na Califórnia contra grandes bancos que estavam executando injustamente as
hipotecas”, resultado da crise econômica de 2008.

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Atualidade .indd 60 16/08/20 14:04


Conhecer o
prório corpo.
E usá-lo como
(bem) entender.
Crescer é uma jornada cheia de desafios:
aceitar o seu corpo como ele é, ter inúmeras
dúvidas sobre sexualidade, assédio ou
como evitar uma gravidez não planejada.

Você não está sozinha.

Saiba mais em:


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#ElaDecide
Vem com a gente:

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Coluna
sandro aloisio

Sandro Aloisio

Se importando com
as vidas pretas desde 1996

R
evista Raça 24 anos. Uma revista que brasileira, que ainda é oprimida por uma estrutura
fez e continua fazendo história num de estado racista que não enxerga, não ouve e não se
país que insiste em negar suas origens. importa com essas vidas. E menospreza sua força.
Muito possivelmente, se voltássemos
Esses 24 anos são de reflexão. De tentar compreender
ao ano de 1996 e entrevistássemos
o que aconteceu em quase duas décadas e meia desde
Aroldo Macedo, seu primeiro editor, e pedíssemos
a edição número 1. Quais os motivos para que os
um exercício de futurologia no qual ele descrevesse
avanços em políticas de estado e de ações afirmativas,
o panorama da vida dos pretos do Brasil em 2020, é
objetivando a valorização de uma identidade e de uma
pouco provável que, por mais pessimista que fosse seu
cultura que é nossa, brasileira, tenham se mostrado
relato, chegaria próximo ao que vemos e vivemos.
tão frágeis ao não suportar os primeiros anos de
Esses 24 anos são de celebração, afinal, são poucos governos declaradamente contrários a manter ou
os títulos que se mantêm em circulação por tanto estimular esses avanços, chegando mesmo a desmontar
tempo numa sociedade desestimulada ao hábito da ou fragilizar todas as conquistas? Resposta a ser
leitura. Ainda mais um título que ousa abordar temas buscada a cada edição.
até pouco tempo muito distantes da grande mídia.
O que é certo é que, entre erros e acertos, a Revista
É preciso um “caso Floyd” para que a questão do
Raça se mantém na trincheira. Resiste e se renova
racismo entre na pauta do dia... todos os dias. Até
sem jamais se omitir. Com a maturidade dos 24 anos,
virar rodapé.
outras ambições se apresentam. Não se assuste se a
Na Revista Raça, não. Desde suas primeiras edições capacidade de realização do Pestana, nos brindar, em
na Símbolo, passando pela Escala e chegando às mãos breve, com um canal de TV e outros meios que façam
de Maurício Pestana, a vida preta sempre importou. a conexão e promovam a união entre os leitores de
Nem sempre, nesses 24 anos, o tema foi tratado Raça. Sem, no entanto, que isso signifique abrir mão
como deveria, é preciso admitir. Houve um período de seu formato tradicional e necessário. Sim, porque
de glamourização, do black is beautiful. Os ‘modelos mesmo com o avanço das mídias digitais, a Raça
de sucesso’ entre os pretos ganharam destaque. Em ainda faz questão de se manter com a versão impressa,
outros, o ativismo político e cultural protagonizou. pois tem a consciência de seu valor de documento
O olhar para o que acontecia na periferia foi afinado. histórico. ‘Indeletável’.
Chegamos mais próximos da realidade? Sim, de parte
Salve a Raça. Salve o povo preto do Brasil.
dela apenas, pois as vidas pretas acontecem de forma
mais abrangente, mais ampla e diversa, em todos os
cantos das cidades brasileiras, em todas as camadas da
sociedade.
Portanto, o desafio da Revista Raça está posto: buscar
o equilíbrio no olhar para essas realidades todas Sandro Aloisio é jornalista e membro do Conselho
e retratar essa diversa e rica maioria da sociedade Editorial da Revista Raça

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ONDE ENCONTRAR
Aqui estão os endereços de lojas, escritórios
e profissionais citados nesta edição
CAPA: MAJU COUTINHO

SERVIÇOS FOTO: TV GLOBO/ FÁBIO ROCHA


CRIAÇÃO E ARTE: PAULO ALEXANDRE
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@kendracosmeticos RAÇA é uma publicação da Pestana Arte &
Publicações. Não nos responsabilizamos por
conceitos emitidos em artigos assinados ou por
Produtos Lacan qualquer conteúdo publicitário e comercial, sen-
do esse último de inteira responsabilidade dos
SAC: (11) 3934-4570 sac@lacan.com.br anunciantes.

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DIRETOR: Maurício Pestana
Almofadas Personalizadas – @fofurasdaval EDITORA ASSISTENTE: Hamalli Alcântara
REDAÇÃO

Café da Etiópia - Importador por: DemiLion Importadora e Exportadora Ltda. | EDITORA-CHEFE: Flavia Cirino
DIRETOR DE ARTE: Paulo Alexandre
empresa da DaMinhaCor – contato@daminhacor.com.br MÍDIAS SOCIAIS: Hamalli Alcântara
REVISÃO: Afonso Leite
COLABORADORES: Augusto Baptista, Dione
Rio, Emanuele Sanuto, Fernanda Alcântara,
Fernando Ferraz e Márcio Telles

NEGROS EM MOVIMENTO CONSELHO EDITORIAL: Amarildo Nogueira,


Carlos Machado, Carol Barreto, Dilza
Muramoto, Evaldo Vieira, Hédio Silva Jr,
Amarildo Felix - @amarildofelix Fábio Garcia, Fábio Pereira, Fátima França,
Flávio Andrade, Francilene Martins, Jane
Evandro Luiz da Conceição - @evandritooo Costa, Katleen Conceição, Mônica Faria,
Olívia Santana, Petronilha Gon, Rachel Maia,
Gabriel Perri e Nina Oliveira - https://www.youtube.com/watch?v=dys0kN1SY9E Sandro Aloísio, Théo Van Der Loo e Uenia
Baumgartner
DEPARTAMENTO JURÍDICO: Cleide Victorino

PARA ANUNCIAR
mpestana@revistaraca.com.br

SUGESTÃO DE PAUTA
Sugestões, dúvidas e informações, escreva para:
redacao@revistaraca.com.br ou com a
editora-chefe: flavia.editora@revistaraca.com.br

IMPRESSÃO
Grafilar - Tiragem 20.000
Nota da redação: Algumas imagens desta edição,
foram pesquisadas na internet. Não encontramos as
fontes, que poderão ser creditadas na próxima edição.

* NA EDIÇÃO 216, EDITORIAL MAX FAMA, FOTO 10: PAI VESTE: BLUSA: FILA; TÊNIS: ASICS;
LOJA RAÇA
BERMUDA: JAB, MÃE VESTE: CALÇA: ASICS; CAMISETA: LEVIS; TÊNIS: CONVERSE; BRINCO: ACERVO
Confira as ofertas e produtos da Raça
E CRIANÇA VESTE: VESTIDO: DIMY CANDY; SANDÁLIA: MOLEQUINHA. no site: www.revistaraca.com.br

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É com muito prazer e alegria que a VIA MUNDO TRANSAÉREO está presente em mais
uma edição da revista raça. Sentimo-nos honrados por participar de uma edição
comemorativa celebrando 24 anos.

A Revista Raça com seus conteúdos diversificados contribui de forma ampla e objetiva,
trazendo informação, cultura, beleza, moda e entretenimento.

“Estamos muito felizes em fazer parte


dessa história de lutas e conquistas,
somos uma empresa que valoriza
as diversidades e pluralidade de idéias
e conceitos.

Essa mentalidade adotada é


transmitida a todos os nossos
colaboradores, onde o respeito é
a chave do sucesso, gerando resultados
e fazendo a diferença no mercado e
na sociedade como num todo.”
-Diretoria Via Mundo

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66 | REVISTA RAÇA

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Na Symrise, acreditamos que o respeito e a Nosso grupo de afinidade étnico-racial é o
valorização das diferenças, são o único primeiro formado na Symrise e tem como
caminho para reconhecermos e abraçarmos as objetivo impulsionar a representatividade
nossas diversidades. negra interna e atrair e reter talentos negros.
A inovação e criatividade está dentro de cada A Symrise desenvolve fragrâncias, aromas,
um, e juntos, somamos para escrever uma ingredientes cosméticos, químicos
história plural. Diversidade é, para nós, aromáticos e soluções de nutrição natural
inspiração. para todas as pessoas e com respeito ao meio
ambiente.
Temos o compromisso diário de promover a
valorização da Diversidade Racial e estamos Queremos parabenizar a revista Raça
desenvolvendo iniciativas que viabilizam pelos 24 anos de compromisso na
oportunidades iguais para todas e todos. promoção da Equidade Racial.

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# todes
merecem
respeito
No Carrefour, valorizamos
a diversidade e a inclusão.
Treinamos líderes e equipes Acreditamos no valor das
para garantir um ambiente pessoas. Neste mês, celebramos
de trabalho respeitoso e com a importância dos 24 anos
igualdade de oportunidades, da Revista Raça e lembramos
sem distinção de raça, cor e etnia. que estamos aqui porque aprendemos
diariamente que respeito é o valor
que nos une e porque
valorizamos todas as histórias.

Todos merecem o melhor.

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