Rio Bangu
Rio Bangu
Rio Bangu
ANASTASIA MYTKO
As ondas de calor, provocadas pelas mudanças climáticas, estão se tornando cada vez
mais prevalentes. A última década foi a mais quente da história da humanidade.
O artigo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) revela que
os aumentos de temperatura, incêndios, ciclones e furacões são cada vez mais o novo
normal, e as emissões são 62% mais altas agora do que quando as negociações
internacionais sobre o clima começaram em 1990.
Objeto de estudo.
O aquecimento global que está impactando o mundo todo deve provocar graves
consequências também no Brasil e, principalmente, no Rio de Janeiro. O análise das
condições climáticas do Estado do Rio de Janeiro feito por meteorologista da UFF
Márcio Cataldi apontou que os grandes problemas para os moradores da Região
Metropolitana serão o aumento de ilhas de calor e a diminuição média da chuva e
esclareceu: «Quando você tem as regiões de fundo da baía, onde a brisa não chega, a
ilha de calor pode agravar e a gente pode ter ondas de calor, semelhantes aos que a
gente teve na Europa e teve no Canadá nesse ano.»
As regiões mais afetadas pelo aumento de temperatura do ar serão os municípios da
Baixada Fluminense e os bairros da Zona Oeste, como Santa Cruz e Bangu. (Figura 02)
De acordo com esses dados, Bangu, como um dos bairros mais quentes do município,
foi escolhido como o alvo principal da minha pesquisa. Quem sabe esse nome, sem
dúvida conhece a associação que é feita entre o bairro e as temperaturas altas. Este
episódio ocorre porque durante muito tempo o bairro da Zona Oeste registrou as
maiores temperaturas do Rio de Janeiro durante o verão. Durante boa parte do verão, a
cidade do Rio costuma ter temperaturas muito elevadas, sendo assim, não é exagero
dizer que em Bangu eram registradas as temperaturas máximas do Brasil.
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Figura 02. Baixada Fluminense e bairros das zonas Norte e Oeste do Rio
sofrerão com mudanças climáticas.
Fonte: Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU e os professores Márcio
Cataldi, da UFF, e Jílio César da Silva, da UERJ
Infográfico elaborado em 10/08/2021 por Elcio Horiuchi/G1
A explicação para o calor intenso está na localização do bairro. Em uma parte da Zona
Oeste da cidade, entre Realengo e Santíssimo, há uma região que fica cercada de
montanhas: de um lado o maciço da Pedra Branca (que separa a Zona Oeste da Barra da
Tijuca); e do outro lado o maciço do Gericinó (que também é conhecido como
Mendanha e separa a Zona Oeste da Baixada Fluminense).
Essas duas montanhas são as mais altas da região, com mais de 1000 metros de altitude.
A região historicamente mais quente da cidade fica encravada entre os dois maciços, em
uma área de vale que impede a chegada de vento que vem do mar. (Figura 03)
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Figura 03. Localização geográfica explica motivo de Bangu ser tão quente
Justificativa.
Na cidade do Rio de Janeiro, as regiões mais afastadas do mar estão mais suscetíveis a
formarem ondas de calor, especialmente nas áreas parcial ou totalmente bloqueadas ao
vento, como aquelas contíguas aos maciços da Tijuca, Pedra Branca e Gericinó. Estima-
se que bairros como Bangu, Realengo, Santa Cruz e Campo Grande sejam os mais
propensos a formarem ilhas de calor. (Prefeitura do Rio de Janeiro «Rio Resiliente:
Diagnóstico e Áreas de Foco», 2015)
De acordo com livro da Prefeitura, o bairro de Bangu é uma das ilhas de calor
localizada em centro urbano que, por suas características físicas acumula mais ar
quente. Predominância de concreto e o asfalto, de vários prédios e casas com telhados
escuros favorece o acúmulo de calor de dia e de noite ao invés de dissipá-lo, como
acontece nas áreas verdes. O resultado é que uma área dentro de uma ilha de calor que
tem temperaturas mais altas em comparação às áreas ao redor.
Ondas de calor e ilhas de calor geram diversos impactos negativos à cidade e aos
cidadãos:
Aumento de doenças respiratórias (o ar quente favorece o acúmulo de ozônio nas
camadas baixas da atmosfera, e a falta de ventos propicia acúmulo de poluição no ar).
Aumento de casos de hipertermia e desidratação, principalmente entre crianças e
idosos, causando sobrecarga dos serviços municipais de saúde.
Aumento do consumo de energia elétrica, devido ao aumento do uso de ar-
condicionado, com possibilidade de queda de energia por uso excessivo.
Aumento do consumo de água.
Dias secos, com perigo de incêndio em encostas, muitas das quais próximas a
moradias.
(Prefeitura do Rio de Janeiro «Rio Resiliente: Diagnóstico e Áreas de Foco», 2015)
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A escolha do caso de estudo – o bairro de Bangu - obedeceu, assim, a um conjunto
cumulativo de critérios de uma área urbana que necessita de apoio em seu caminho para
a redução de riscos e desenvolvimento de resiliência por meio de um roteiro para a
resiliência urbana. Um bairro que exige a preparação para absorver e se recuperar de
qualquer tipo de impacto negativo, enquanto mantêm suas funções e estruturas
essenciais e sua identidade, assim como se mostra capaz de se adaptar e enfrentar outras
mudanças que virão. Para construir essa capacidade de resiliência precisa, antes de tudo,
Identificar e avaliar os riscos, de maneira a reduzir a vulnerabilidade e a exposição da
área em relação a eles, aumentando a resistência, a capacidade de adaptação e ação
mediante emergência.
Revisão de literatura.
Devido a novos desafios para cidades, como as mudanças climáticas, existem vários
projetos, artigos, publicações e livros desenvolvidos sobre as cidades resilientes.
O outro documento que fala sobre a resiliência da cidade é um livro lançado em 2015
pela Prefeitura do Rio de Janeiro da Subsecretaria de Planejamento e Gestão
Governamental «Rio Resiliente: Diagnóstico e Áreas de Foco». Onde se fala sobre as
áreas de foco na cidade do Rio de Janeiro, de uma estratégia e os objetivos para a
resiliência da cidade no futuro próximo. Os objetivos desse livro são apresentar os
impactos das mudanças climáticas para preparar o Rio de Janeiro para enfrentar os
eventos climáticos extremos. Transformar a cidade no espaço urbano verde, fresco,
seguro e flexível; oferecer serviços básicos de alta qualidade para todos os cidadãos,
utilizando os recursos de forma resiliente e sustentável; promover uma economia
inclusiva, diversificada, circular e de baixo carbono; além de aumentar a resiliência de
cidadãos e promover a coesão social.
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Este livro faz uma abordagem muito importante sobre as mudanças climáticas globais
para as cidades e seus habitantes. Destaca a necessidade de aumentar o nível de
resiliência urbana nos seus aspectos socioculturais. A ideia central desse trabalho é
desenvolver uma publicação com reflexões sobre as interfaces entre mudanças no clima,
desastres provocados por elas e as políticas públicas de gestão de cidades. Os autores
debatem os impactos das alterações climáticas no cotidiano das pessoas, mostrando a
necessidade de se implementarem medidas para reduzir o risco de desastres e se adaptar
às novas condições ambientais.
Metodologia.
A metodologia foi desenvolvida passo a passo partindo de uma visão geral para um caso
concreto.
O primeiro capítulo é Introdução onde se faz o enquadramento do problema, se
identificam as questões principais que levam ao desenvolvimento desta pesquisa e
também o objetivo central.
No quarto capítulo Caso de Estudo: Bairro de Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro, se
explicam as justificativas de escolha do caso de estudo como uma ilha de calor urbana
em situação mais crítica de vulnerabilidade e o histórico de ocorrências de casos de
temperaturas elevadas nessa área, além de realizar um breve relato da fundação e
ocupação do território para se identificar as origens das ocupações populacionais em
áreas de riscos e as diversas situações de vulnerabilidades. A seguir, são identificadas as
características físicas e territoriais ao apresentar questões de formação de ilhas de calor
urbanas, no que se refere aos eventos climáticos extremos que causam aumento de
temperaturas, ondas de calor extremas e secas, além das condições topográficas e a falta
de áreas verdes que aumentam essas ocorrências.