Sai Baba - Vidya
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VIDYA VAHINI
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VIDYA VAHINI
VIDYA VAHINI
Bhagavan Sri Sathya Sai Baba
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AO LEITOR
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ESTE LIVRO
Baba esclareceu que a palavra Vidya usada neste Vahini (Torrente
de pensamentos) significa “aquilo que” (Ya) “ilumina” (Vid). Esse é o
sentido destacado em expressões como Atma Vidya, Brahma Vidya1,
etc., ou mesmo do nome Vidyagiri2, dado ao campus de Prashanti
Nilayam que compreende o Instituto Superior de Aprendizado.
De forma comparativa, Baba nos faz cientes do menor benefício do
aprendizado de nível inferior, que lida com teorias, inferências, con-
ceitos, conjecturas e construções. O Aprendizado Superior3 acelera e
expande a necessidade universal de conhecer e converter-se em Ver-
dade, Bondade e Beleza, ou seja, Sathyam, Sivam, Sundaram. Baba veio
como Homem entre os homens, em missão auto-imposta, para corri-
gir os erros impostos à humanidade pela busca fanaticamente cega do
aprendizado de nível inferior. A raça humana deve seguir seu caminho
em equilíbrio. Ela está se inclinando de forma alarmante em direção ao
seu túmulo; o aprendizado de nível inferior a está mergulhando em um
poço sem fundo. Somente a Sabedoria Suprema (Vidya) é o remédio.
Desde Sua infância, Baba destacou-se como um educador, um
Mestre (Guru), como os aldeões adoravam chamá-lo. Ele advertiu,
sem hesitação, os anciãos em Puttaparthi4, professores nas escolas e
líderes de castas contra a crueldade para com os animais, a exploração
da mão-de-obra, a agiotagem e o jogo, a arrogância e a ignorância, a
hipocrisia e a ostentação. Por intermédio de trocadilhos e pilhérias,
paródias e sátiras, canções e peças de teatro, o jovem Mestre ridicular-
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N. Kasturi
(Editor da revista Sanathana Sarathi e biógrafo de Baba)
5. O Senhor Krishna foi uma Encarnação Divina (avatar) que veio ao mundo há
cerca de 5 mil anos e ensinou a Verdade Suprema a seu discípulo Arjuna. Esses
ensinamentos foram preservados na Bhagavad Gita, uma das mais importantes es-
crituras hindus, na qual está inserida a frase citada. O hinduísmo considera que
6. Atma quer dizer “Eu Superior”, ou seja, a centelha divina em cada ser humano. O con-
hecimento de que Deus habita em cada ser é a “Verdade Átmica”, a Sabedoria Suprema.
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Aquilo que não teve origem não conhece princípio. Existia antes
que tudo ou qualquer coisa tivesse existido. Nada havia antes disso.
Por essa mesma razão, não tem fim. Expande-se tão longe quanto
deseje, progride tão diversificadamente quanto queira e, através
de Sua Plenitude, também preenche o Universo. O Conhecimento
desse Princípio Supremo é chamado de Conhecimento Supremo,
Sabedoria Suprema ou Consciência Suprema (Vidya).
Muitos visionários7, com múltiplas experiências dessa Consciência
única, visualizaram em seus corações iluminados o supremo segredo
subjacente à cativante beleza do Cosmos; a compaixão para com a
humanidade estimulou-os a comunicar a visão, através da linguagem
humana, para despertar a sede inata da alma de imergir nessa Bem-
Aventurança. A Sabedoria Suprema faz surgir essa necessidade no
coração dos videntes.
O som é a própria essência do Conhecimento (Veda8). O som está
associado com harmonia e melodia e, em consequência, o Conheci-
mento (Veda) deve ser ouvido e daí se origina o êxtase. Não deve
ser analisado, comentado e julgado. Essa é a razão pela qual o Veda
é chamado Sruti (“Aquilo que é ouvido”). Apenas ao ouvir sua recita-
ção, a consciência do Eu Superior (Atma) e a Bem-Aventurança que
ele confere podem ser obtidas. Essa Bem-Aventurança, assim adquir-
ida, manifesta-se em palavras e atos que conferem Bem-Aventurança
a tudo em volta.
7. Aqui, visionários se refere aos antigos sábios, dotados com a visão divina.
ras hindus). Mas em alguns casos, como este, significa Conhecimento e refere-se ao
próprio Conhecimento contido nos quatro Vedas (Rig, Yajur, Sama e Atharvana).
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9. Vedanta significa “final dos Vedas” e refere-se aos textos das Upanishads, que
estão contidos no final de cada um dos quatro Vedas. Por extensão, também são
11. Geralmente a palavra Mantra indica um som, palavra ou frase de poder, mas
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12. Frase das escrituras: Poornam ada Poornam idam Poornaath Poornam Udachyathe
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13. Em seus discursos, Sai Baba nos orienta a superar o ciclo nascimento / vida / morte
filosóficos, mas dotadas de uma devoção tão extremada à Krishna que surpreendiam
a todos. Swami explicou que elas eram, na verdade, reencarnações de Rishis, sábios
que detinham elevados poderes yógicos, mas tiveram de renascer para desenvolver
sua devoção. (“MY Baba and I – John Hislop – pág. 212). Podemos acrescentar que
o orgulho por possuir o “conhecimento”, pode ser tão perigoso quanto a ignorância,
vad Gita (IX-20/22) vemos, resumidamente, o seguinte: “Os que vivem segundo os
ritos dos três Vedas e bebem o suco das folhas de Soma (o néctar da imortalidade)
vão para o céu de Indra, onde gozam dos divinos prazeres dos Devas (seres angéli-
cos). Ao terminar o período dos méritos, que gozam nesse céu, voltam a este mundo
dos mortais. E assim cumprem o ciclo de nascimento e morte os que apenas seguem
os ritos dos três Vedas. Mas aqueles que só a Mim adoram, sem outros desejos, a
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A sublime importância da Sabedoria Suprema (Vidya) somente
pode ser assimilada por um indivíduo ou comunicada a outro quan-
do a mente pura irradia sua luz reveladora. Dentro de um comparti-
mento mantido escrupulosamente limpo, nenhuma cobra, escorpião
ou inseto venenoso pode entrar; eles só estarão nas partes sujas e
escuras da casa. Pela mesma razão, a sabedoria sagrada não pode
entrar em corações que são escuros e sujos. Ao invés disso, espécies
venenosas, como a ira, ali encontram conveniente abrigo.
O que podem o sabão e a água fazer quando alguém deseja retirar
a cor do carvão? Nem mesmo lavar o pedaço de carvão no leite aju-
daria. O único jeito é colocá-lo no fogo, que o transformará em um
monte de cinzas brancas. Da mesma maneira, quando o indivíduo
anseia destruir a escuridão da ignorância e a sujeira do desejo, ele
deve obter a consciência do Eu Superior (Atmajnana) ou, em outras
palavras, o Conhecimento do Absoluto (Brahma vidya). A escuridão
só pode terminar com a ajuda da luz. Não podemos dominar a es-
curidão atacando-a com mais escuridão. A Sabedoria Suprema é a
luz que o indivíduo necessita para destruir a escuridão interior. Ela
provê a iluminação interior. É o autêntico Yoga14 do Ser Supremo
(Purushothama Yoga), definido na Gita; o Conhecimento do Supre-
mo, o Aprendizado Superior (Vidya). Esse Conhecimento não pode
ser comprado pelo dinheiro, adquirido de amigos, encomendado a
firmas ou companhias. Cada um deverá assimilá-lo e conquistado
por meio da fé inabalável e devoção ardente.
A expressão “Deus não está em lugar nenhum” (God is nowhere)
14. A palavra Yoga é utilizada aqui com o mesmo significado que aparece na Gita:
Conhecimento.
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15. Neste texto, Sai Baba usa um jogo de palavras: utiliza o advérbio “nowhere”,
que significa “em lugar nenhum”, separa-o e obtém a expressão “now here”, que
quer dizer “agora aqui”. Assim, da frase “Deus não está em lugar nenhum” (God is
nowhere) surge a nova expressão “Deus está aqui agora” (God is now here).
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Duryodhana. Por se recusar a ver as falhas de seu filho, ele lhe permitiu levar o
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Hoje, o sistema educacional, embora dispendiosamente elaborado,
tem ignorado as instruções morais. Nas escolas (Gurukulas19) do pas-
sado, as instruções eram fornecidas para uma vida correta, progresso
espiritual, conduta e comportamento ético. Naqueles dias, os estu-
dantes eram treinados a levar vidas marcadas pela humildade, con-
trole dos sentidos, virtude e disciplina. Hoje em dia, essas qualidades
não são reconhecidas neles, pois nada sabem sobre os meios ou o
significado do controle dos sentidos. Desde a infância, divertem-se
em seguir todos os caprichos e fantasias; encontram prazer no livre
jogo dos sentidos e acreditam somente no materialismo. Como re-
sultado, as pessoas ficam alarmadas quando examinam a situação
das universidades. O Chefe do Departamento de Saúde em Calcutá
descobriu que oitenta por cento dos estudantes estavam padecendo
de deficiências de saúde. Na região de Bombaim, as condições são
muito piores, afetando noventa em cada cem. A razão reside no fato
de que os alunos estão envolvidos na vida sensual, na busca incon-
trolada dos prazeres sensoriais e hábitos malignos. Pode isso ser con-
siderado ganho para a educação? Ou caberia chamá-las “riquezas”
acumuladas através da ignorância perversa?
Os professores devem identificar seu papel e sua responsabilidade.
Eles têm de assumir a parte mais importante no incentivo e preserva-
ção da saúde física e mental de seus sensíveis e inocentes tutelados.
Cada ser vivente olha o mundo à sua volta, mas cada um olha
exclusivamente à sua própria maneira particular. O mesmo objeto é
visto por dez pessoas com dez diferentes sentimentos. Um indivíduo
19. Escolas onde as crianças moravam com o mestre e recebiam educação espiri-
tual e acadêmica.
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é visto por seu filho com o sentimento de que ele é o pai, a esposa o vê
como marido, seu pai o vê como filho, seus companheiros têm o sen-
timento de que ele é o prezado amigo. Sendo o mesmo indivíduo, por
que ele não evoca a mesma reação em todos? Aqueles que o visualizam
de maneira distinta são afetados diferentemente. Essa é a verdade.
Certa vez, um Mestre (Guru) que vivia em Brahman Mutt estava
de bom humor; mastigando betel20 com grande deleite, perguntou
ao seu discípulo: “Prezado companheiro! Como está o mundo? O
discípulo respondeu: “Guruji! Para cada um, o seu próprio mundo.”
Apesar de todos estarem no mesmo mundo, cada um vive em seu
próprio mundo, moldado por suas próprias ações e reações. Essa
é a razão por que Sankaracharya21 declarou: “Preencha sua visão
com Sabedoria; então, tudo o que vires, será Deus”. Quando a visão
(Drshti) é preenchida com o Conhecimento Supremo (Jnana), o mun-
do (Srshti) é preenchido com o Absoluto (Brahman).
No vocabulário da educação atual, a riqueza (Dhanam) é a “ação
correta” (Dharma). A busca da riqueza é o caminho “certo”. A rique-
za é a atividade (Dhanam é o Karma). Toda atividade tem como ob-
jetivo a aquisição de riqueza. A riqueza (Dhanam) é o mais “sublime”
ideal (Padam). Não há ideal mais desejado do que se tornar rico.
Aqui está uma pequena história como ilustração: Narayana (um dos
Nomes de Deus para os hindus) se manifesta em dezesseis aspectos
e também é a Realidade imanente latente.
Assim também o deus material, a Rúpia (moeda indiana), tem dez-
20. Betel – é uma planta comum no sudeste da Ásia. Muitos indianos mastigam suas
21. Shankara – grande sábio que viveu no século VIII d.C. e compilou os ensinamen-
tos de Vedanta. Acharya significa mestre ou “aquele que ensina pelo exemplo”.
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22.A Deusa Lakshmi é a Shakti (energia feminina) do Deus Vishnu, também chama-
do de Narayana.
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dirigiu de uma vila a outra, levando luz ao povo através de seus dis-
cursos sobre o Eu Superior (Atma). As mulheres agrupavam-se maciça-
mente, em número cada vez maior, para ouvir seus fascinantes discur-
sos. Oravam para que ela pudesse honrar suas casas com uma visita
e participar dos banquetes que estavam ansiosas para oferecer. Em
resposta, ela informou-lhes que estava presa a alguns votos, os quais
tornavam difícil para ela aceitar seus pedidos. Ela não podia comer nos
pratos já usados nos lares. Disse-lhes mais: que só lhe era permitido
levar suas próprias taças e pratos consigo. As mulheres estavam tão
profundamente ansiosas por hospedá-la que aceitaram sua condição.
Qualquer que fosse seu voto, estavam prontas para respeitá-lo. Con-
vites vinham de cada mulher, de todos os lugares.
A Yogini chegou a casa onde faria a refeição no primeiro dia e tirou
do saco que tinha consigo um prato de ouro, algumas taças e um
copo de ouro para beber água. Ela arrumou tudo isso diante de si
mesma para colocar os vários tipos de alimentos. Quando a refeição
terminou, se foi do lugar, deixando os preciosos artigos de ouro para
o anfitrião. Esclareceu que tinha um novo jogo para cada dia.
A notícia se espalhou. Os habitantes das aldeias onde Narayana
fazia seus encantadores discursos também ouviram sobre os mara-
vilhosos acontecimentos dos presentes da Yogini. Os Brahmanes que
estavam absolutamente admirados pelo tão famoso erudito, também
se apressaram em convidar a Yogini aos seus lares para almoçar! Ela
disse-lhes que eles teriam de mandar o erudito embora antes que ela
entrasse em seu povoado. Ela não colocaria os pés lá enquanto ele
permanecesse! Estava inflexível nesse ponto. A ganância deles por
ouro era tão grande que eles forçaram o Pandit, a quem adoraram
tanto e com tanta pompa, a ir-se embora de sua vila.
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A Índia tem conferido, por gerações, paz duradoura e felicidade
aos povos de todas as terras, por meio da força dos princípios espiri-
tuais por ela nutridos. O ideal pelos quais esta terra tem-se empen-
hado é “Que todos os mundos sejam felizes e prósperos”, (Loka
Samastah Sukhino Bhavanthu).
Esse tem sido o mais elevado objetivo do povo da Índia. Para pro-
mover e realizar esse santificado ideal, os monarcas das eras pas-
sadas, os sábios (rishis), os fundadores das fés, os estudiosos, os
eruditos, matronas e mães, sofreram e se sacrificaram muito. Eles
rejeitaram honra e fama, e lutaram para manter suas convicções e
modelar suas vidas em concordância com essa visão universal.
Os artigos raros e luxuosos podem atrair por suas belezas externas,
mas para o olho que está iluminado pela luz espiritual, eles parecem
triviais em valor. Encanto e força física nunca podem sobrepujar a
atração e a força do espírito. A qualidade de Rajas24 (paixão) gera
egoísmo e pode ser identificada onde quer que se manifestem egoís-
mo e orgulho. Até que esse modo de pensar e agir seja suprimido,
a qualidade de Satwa (bondade) não pode se tornar evidente. E na
falta da qualidade de Satwa, o divino, Shiva25, o supremo poder não
poderá ser propiciado, agradado e conquistado.
Parvati26, a filha do monarca dos Himalaias, era o máximo em
24. Para os hindus, existem três qualidades básicas presentes em toda a Criação:
25. Shiva é, para o hindus, um dos nomes de Deus. Representa o aspecto relacio-
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pode ser educado de maneira melhor. Por isso, a declaração das escritu-
ras: “Para todos os seres animados, nascer como homem é uma rara con-
quista”. O homem é, sem dúvida, o mais afortunado e o mais santificado
dentre os animais e, sendo assim, suas qualidades instintivas podem ser
sublimadas. Aquele que nasce como um animal humano (Pashu) pode
elevar-se a Senhor dos seres (Pasupathi) através do auto-esforço e aper-
feiçoamento. As bestas nascem “cruéis” e morrem “cruéis”.
Uma vida vivida sem controle dos próprios sentidos não faz jus ao
nome. O homem dispõe de muitas capacidades e se, com elas, não
controla seus sentidos ou não os dirige corretamente, os anos que
ele passa vivo são desperdiçados. A Sabedoria Suprema ou educação
adequada ajuda o homem a obter êxito nesse processo de domínio. A
Sabedoria confere liderança. A educação promove a humildade. Por
meio da humildade, o indivíduo conquista o direito de engajar-se em
uma profissão e essa autoridade lhe concede prosperidade. Uma pes-
soa próspera tem capacidade de fazer caridade e viver corretamente.
O correto viver pode conferir felicidade aqui e na vida futura.
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A educação deve estabelecer e investigar intimamente a natureza e
as características da busca espiritual pelo Absoluto, o Ser Superior ou
Paramatma. Ela deve provar seu verdadeiro caráter, manifestando-se
como uma fonte de moralidade, estipulando axiomas de virtude. A
Sabedoria (Vidya) é sua própria prova visível. É a raiz da fé em toda a
Fé. Ela prepara a mente do homem para apreciar e aderir à Fé e para
dirigir sua vida através desse curso. Isso é chamado de Filosofia.
Filosofia significa amor ao conhecimento. O conhecimento é um
tesouro de incalculáveis riquezas. A Educação é a inexorável busca
do conhecimento, impulsionada pelo amor ao seu valor e imper-
turbada pelas dificuldades. A Sabedoria Suprema tenta investigar
por trás das formas assumidas pelas coisas, das aparências que elas
tomam, e descobrir a única realidade que pode explicá-las. A Ver-
dade deve ser conhecida e vivenciada; a Verdade deve ser visual-
izada; essa é a função da Sabedoria.
A Sabedoria é o resplendor que impregna a vida inteira. No Oci-
dente, trata mais de conceitos e conjecturas; no Oriente, envolve-se
mais com a Verdade e a Totalidade. O Princípio procurado pela Sa-
bedoria Superior está além dos domínios dos sentidos Humanos; é
uma composição tríplice de corpo, mente e espírito (Atma). Em conse-
quência, possui três naturezas em sua constituição: (1) uma natureza
animal inferior, (2) uma natureza humana, repleta de conhecimento
e habilidade mundanos, e (3) a genuína natureza do homem, isto é,
a divina natureza do eu Superior (Atmica). Conscientize-se dessa ter-
ceira natureza e estabeleça-se nela; essa é a Sabedoria Suprema.
O corpo é uma máquina que tem como seus componentes os
cinco elementos: espaço, ar, fogo, água e terra. O próprio Deus a
está manipulando, invisível.
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29. O ensinamento de Vedanta diz que os objetos não são amados por si mesmos
e sim pela felicidade que imaginamos que eles possam nos dar. Porém essa felici-
31. A pessoa totalmente livre de desejos mundanos e de apego pela vida (o sábio)
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O destino inexorável de todo ser vivo é a realização do Absoluto.
Isso não pode ser evitado ou repudiado de forma nenhuma. Nossa
atual condição de imperfeição é consequência de nossas atividades
durante as vidas pretéritas. É o mesmo que dizer que os pensamen-
tos, sentimentos, paixões e atos das vidas passadas ocasionaram a
condição na qual nos encontramos no presente. Igualmente, nossa
condição futura está sendo construída com base em nossas ações
e desejos, pensamentos e sentimentos atuais. Em outras palavras,
nós mesmos somos a causa de nossa fortuna e infortúnios. Isso não
quer dizer que não se deva procurar e obter a ajuda de outros, a
fim de promover o bem-estar e evitar infortúnios. Na verdade, tal
assistência é essencial para todos, exceto, talvez, para uma pequena
minoria. Quando alguém obtém essa ajuda, sua Consciência é puri-
ficada e sublimada, e seu progresso espiritual é acelerado. Ao final,
consegue-se Perfeição e Plenitude (Poornathawam).
Tal inspiração vivificante não pode ser obtida através da leitura
atenta de livros. Só pode ser conquistada quando um elemento-
mente contata outro elemento-mente. Mesmo quando a vida inteira
de alguém é despendida em examinar livros e, por este meio, a pes-
soa adquire talentosa intelectualidade, ela terá avançado muito pou-
co no cultivo do espírito. Seria injustificável declarar que, por chegar
ao ápice da inteligência, alguém tenha, por isso, progredido e obtido
êxito em alcançar o ápice do conhecimento espiritual. Escolaridade
e cultura não têm relação de causa e efeito. Por mais que a pessoa
erudita tenha conhecimento mundano, sua erudição será apenas lixo
se sua mente não for culta. O sistema de educação que ensina cul-
tura e a ajuda a permear e purificar o aprendizado acumulado é o
melhor e o mais proveitoso.
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O ser humano é como uma semente. Assim como a semente ger-
mina em um broto e se desenvolve até converter-se em uma árvore,
o homem também tem de crescer e atingir a realização. O homem
tem de dominar dois campos de conhecimento de maneira a atingir
esse objetivo. O primeiro é o conhecimento do mundo, ou melhor,
o conhecimento concernente ao Universo manifestado. O segundo
é o conhecimento do outro mundo. O primeiro confere o meio de
vida; o segundo confere o objetivo da vida. Os meios de vida são as
coisas que podem satisfazer as necessidades do dia-a-dia. A pessoa
tem de adquiri-las e armazená-las, ou adquirir a capacidade de con-
segui-las quando necessário. O conhecimento do objetivo da vida
envolve o questionamento de problemas como: “Qual o objetivo de
alguém viver?”, “Quem é o Criador de tudo o que conhecemos?”,
“O que exatamente sou, esse distinto Eu individual?”. Esses ques-
tionamentos revelam o objetivo, finalmente. As escrituras de todas as
religiões e os muitos códigos morais delas derivados estão relaciona-
dos com problemas que transcendem os limites deste mundo, como:
“Por que estamos aqui?”, “O que, em verdade, temos de fazer para
merecer esta chance de vida?” e “O que nos tornaremos?”
Qual é a forma mais proveitosa para o homem viver neste mundo?
A resposta é: viver uma vida controlada e disciplinada. A verdadeira
educação deve treinar o homem a observar esses limites e restrições.
Esforçamo-nos muito e sofremos privações para dominar o conheci-
mento do mundo. Seguimos com rigoroso cuidado um regime no
sentido de desenvolver o físico. Qualquer que seja nosso objetivo,
obedecemos a um código apropriado de disciplina.
Quais são exatamente os benefícios que o pensamento e a con-
duta disciplinados proporcionam? A princípio, as regras e regulamen-
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34. Dharma que dizer “aquilo que sustenta”. É a Eterna Lei Cósmica, na qual se
35. Isso significa que a maneira correta de assegurar a Paz é cumprir esses
mandamentos.
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O trabalho feito sem nenhum interesse ou desejo pelo lucro que pro-
duza, puramente por amor ou por senso de dever, é yoga36. Este yoga
destrói a natureza animal do homem e o transforma em um ser divino.
Sirva aos outros, visualizando-os como centelhas divinas afins; isso aju-
dará o individuo a progredir e o protegerá de declinar do estágio es-
piritual alcançado. O serviço desinteressado (Seva) é muito mais salutar
que até mesmo os votos e a adoração. O Serviço desintegra o egoísmo
latente em você; abre totalmente o coração e o faz desabrochar.
Assim, o trabalho feito sem nenhum desejo é o mais supremo ideal
para o homem, e quando a mansão de sua vida é construída sobre
essa fundação, através da influência sutil dessa base de serviço desin-
teressado (Nishkama Seva), ele acumula virtudes . O serviço deve ser
a expressão externa da bondade interior. E quanto mais o indivíduo se
dedica a este serviço, mais sua consciência expande e se aprofunda e
sua realidade divina (Atmica) torna-se mais claramente conhecida.
Esse ideal de serviço desinteressado e a ânsia por praticá-lo são o
verdadeiro coração da educação. O amor puro – sua manifestação
principal – é a educação; nada mais pode ser. Deus ama como Seus
filhos mais queridos aqueles que fazem o bem ao ser humano. São
eles os irmãos ideais de seus compatriotas. Eles merecem e alcan-
çam a consciência da Divindade (Atma).
Todo aquele que dedicar sua fortuna, energia, intelecto e devoção
para promover o progresso da humanidade, deve ser considerado
uma pessoa digna de reverência. Tais homens são os que nasce-
ram para nobres propósitos, que estão cumprindo o santo voto do
serviço, sem maculá-lo com os pensamentos do ego.
36. Aqui, a palavra yoga deve ser entendida como karma yoga, a atitude de realizar
a ação mais adequada, sem apego aos resultados que possam advir.
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Sua natureza é revelada por seus atos, seus gestos, seu olhar, sua
fala, seus hábitos alimentares, seu vestuário, seu modo de andar. Em
consequência, esteja atento para garantir que sua fala, movimentos,
pensamentos e comportamento sejam todos corretos e cheios de
amor, puros e isentos de ferocidade e caprichos.
Você deve desenvolver a humildade de acreditar que tem muito
de bom para aprender com os outros. Seu entusiasmo, sua ambição
forte, sua resolução, sua capacidade de trabalho, seu cabedal de
conhecimentos, sua sabedoria, devem estar relacionados com todos
os outros e não ser utilizados apenas para você. Seu coração deve
abranger todos. Seus pensamentos também devem ser moldados a
partir dessas linhas gerais.
Alimentar-se é um santo ritual, um ato sacrificial (yajna). Não deve
ser realizado durante momentos de ansiedade ou tensão emocional.
O alimento deve ser considerado remédio para a doença da fome e
como a sustentação da vida.
Trate cada problema que encontrar com uma afortunada oportuni-
dade de desenvolver a sua força mental e adquirir grande resistência.
A característica da Natureza é “manifestar-se como multiplicidade”;
a característica do Divino é “absorver na unidade”. Então, quem quer
que tenha aversão ou odeie o outro, ou degrade e denigra o outro,
é, sem dúvida, um tolo; porque assim está desgostando, odiando,
degradando ou denegrindo somente a si mesmo! Apenas não está
consciente dessa verdade. A Sabedoria Suprema ensina o homem a
estabelecer-se nessa Verdade e demonstra a Divindade subjacente.
No jardim do coração, o indivíduo deve plantar e nutrir a Rosa da
Divindade, o Jasmim da Humildade e o Gramado da Generosidade.
Na caixa de medicamentos de cada estudante deve-se manter, para
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O beneficio que podemos retirar de alguma coisa é proporcionado
pela fé que colocamos nela. Das adorações aos deuses, peregrinações a
locais sagrados, recitação de mantras ou procura por médicos, os benefí-
cios que alcançamos são da extensão de nossa fé. Quando alguém faz
um discurso, quanto mais fé temos nele como um erudito e expositor,
mais clara e diretamente podemos persuadir nosso coração e entender
o discurso com maior profundidade. Para o desenvolvimento da fé e
para o benefício da compreensão, um requisito essencial é a pureza do
coração, da verdadeira base do pensamento, dos níveis de Consciência
(Chit). Porque, se a auto-indagação ou investigação no auto-existente Eu
Superior for subitamente empreendida em meio aos diversos enreda-
mentos mundanos e materiais, os esforços poderão resultar infrutíferos,
como se não fossem provenientes de um ansioso desejo.
A consciência deve primeiro ser retirada do mundo objetivo e vol-
tar-se para dentro, em direção à consciência do Eu Superior. As se-
mentes só podem germinar rapidamente quando plantadas em uma
terra bem arada. Da mesma forma, a semente da sabedoria Divina
só pode germinar no campo do Coração quando este já houver ul-
trapassado o necessário processo de aprimoramento.
Não se dê por satisfeito apenas por ouvir conselhos. O que se
ouviu deve ser, a seguir, analisado e o que tiver sido gravado dessa
forma na mente terá de ser, mais tarde, experimentado e expressado
em pensamentos, palavras e ações. Somente assim a Verdade poderá
tornar-se um tesouro no coração; somente então, poderá fluir pelas
veias e manifestar-se em pleno esplendor através de você.
Nos dias de hoje, ouvir palestras e discursos tornou-se uma co-
michão, uma doença, uma loucura. Quando eles são ouvidos uma
vez, as pessoas imaginam que sabem tudo. Mas o propósito real da
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37. Sanjaya era o cocheiro de Dhritharashtra, o rei cego. Era dotado de visão espiri-
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Os problemas mundanos estão agora assumindo formas
desconhecidas e proporções assombrosas. Eles já não são individuais
ou locais; são globais, afetando toda a humanidade. De um lado, a
ciência e a tecnologia avançam com gigantescos desenvolvimentos.
Através dos plásticos, da eletrônica e da tecnologia da computação
a imaginação atingiu grandes alturas. Por outro lado, a humanidade
se vê atormentada por contínuas crises políticas e econômicas,
rivalidades nacionais, estaduais, religiosas, raciais e de castas,
pouca lealdade e a erupção de revoltas nos âmbitos estudantis. Isso
espalhou indisciplina e licenciosidade por todo o mundo.
Essa é uma situação desequilibrada e mutuamente contraditória.
Qual é a verdadeira causa disso? Ela reside no alarmante declínio que
a religião e a moral sofreram na mente humana? O ser humano tem
ao seu alcance muitos meios e métodos pelos quais ele pode obter
sabedoria e paz! O homem pode obter valiosa orientação nos Vedas
e nos Sastras, no Brahma Sutra, na Bíblia, no Corão, no Zend Avesta,
no Granth Saheb e outros textos sagrados cujo número excede a mil.
Não há, nesta terra (Índia), escassez de líderes de monastérios e or-
dens religiosas, expoentes de doutrinas e disciplinas espirituais, erudi-
tos e veneráveis anciãos. Eles também estão propagando e divulgando
os ensinamentos em uma escala maciça. Não obstante, a mente do
homem está se degenerando, contínua e rapidamente, nos campos da
vida ética, espiritual e religiosa. Qual é a razão para essa queda?
O homem tornou-se agora mais perverso que antes. Hoje, muito
mais que nas eras passadas, ele utiliza sua inteligência e habilidade
para entregar-se à crueldade. O homem se satisfaz e se diverte por
infligir dor aos outros, tanto que, como revela a história, 15.000 guer-
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38. Segundo o Vedanta, só pode ser considerado Real aquilo que existe nos três
períodos de tempo (passado, presente, futuro). Assim, somente Deus (ou o Eu Su-
perior) é dotado de Realidade Absoluta. Tudo o mais tem apenas uma realidade
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O homem deve alcançar muitos objetivos durante sua vida. O
maior e o mais valioso deles é conquistar a Misericórdia de Deus,
o Amor de Deus. O Amor de Deus lhe dará a grande sabedoria
que necessita para obter inabalável Paz Interior (Shanti). Cada um
deve empenhar-se para ter um entendimento da verdadeira natureza
da Divindade. Certamente, o homem não pode, logo no início de
suas tentativas, compreender o fenômeno do Absoluto Imanifesto.
A princípio, ele deve impor uma forma e alguns atributos a Deus
para que Ele fique ao seu alcance. Então, passo a passo, deve tentar
guardá-lo em si mesmo, como a descida da Divina Energia (Shakthip-
aath). O indivíduo empenhado na obtenção do sucesso nesse esfor-
ço não é um mero buscador individual capacitado a alcançar a meta.
Ele deve também cultivar o espírito de serviço desinteressado e estar
engajado em boas ações que mereçam a gratidão das pessoas. So-
mente assim ele pode executar a tarefa de purificar os níveis de sua
consciência e tornar-se um candidato digno a vitória espiritual.
Sanyasa39 ou voto de renúncia não significa a mera aceitação da
quarta etapa da vida, com seus direitos e obrigações, e o retiro na
selva após haver suspendido o contato com o mundo para levar a
austera vida de asceta. O Sanyasi (renunciante) deve mover-se entre
as pessoas, tornar-se consciente de suas tristezas e alegrias e conferir
39. Segundo as escrituras hindus, a vida do ser humano deveria ser dividida em
ção total à busca espiritual. Mas a verdadeira renúncia não está simplesmente em
ou individualidade.
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dia ser controlada dessa forma. Tais atos são agora empacotados e rotu-
lados como “superstições”, de modo a serem abandonados. Mas isso
não é superstição de modo algum. Os cientistas modernos estão em
um estado pateticamente pobre de entendimento que não reconhecem
esses problemas importantes. Esse é o estágio preliminar de confusão
causado pelo progresso das formas modernas de educação.
Os antigos compreendiam a suprema Verdade somente após ex-
perimentar pessoalmente sua validade. Os modernos, no entanto, re-
jeitam suas descobertas. Essa é a razão para o crescimento da barbárie
nos assim chamados países civilizados. Muitos não têm reconhecido
esse fato. Cada ser vivente almeja felicidade; de modo algum deseja
a miséria. Alguns desejam a aquisição de riquezas, outros acreditam
que o ouro pode fazê-los felizes. Alguns acumulam artigos de luxo,
outros colecionam veículos; cada um está investindo na aquisição de
coisas que acredita poderem dar-lhe alegria. Mas aqueles que sabem
onde o indivíduo pode obter felicidade são muito poucos.
Há três tipos de felicidade. Um tipo tem, no início, a natureza do
veneno, mas torna-se néctar mais tarde. Essa felicidade é assegurada
através da consciência do Eu Superior; é a felicidade Satvica (pura,
equilibrada). É como dizer que a disciplina preliminar para o controle
dos sentidos (shama), renúncia (dama), etc., pela qual se deve passar,
parece dura e desagradável; ela envolve luta e esforço. Consequent-
emente, a reação pode ser amarga.
No Yoga Vasishta40, o Sábio Vasishta disse: “Ó Rama! O ilimitado
oceano pode ser esvaziado pelo homem com grande facilidade. A
enorme montanha Sumeru pode ser arrancada da face da terra com
grande facilidade. As chamas de uma grande conflagração podem
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41. A verdadeira felicidade é de caráter espiritual. Ela não pode ser obtida através
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“Vid” é a raiz pela qual, adicionando “ya”, surge o termo “Vidya”.
“Ya” significa “aquilo que” e “Vid” significa “Luz”. Então, Vidya é “aquilo
que dá a Luz”. Esse é a significado básico da palavra. Por conseguinte,
torna-se evidente que somente a Sabedoria Divina (Brahma Vidya)
merece ser conhecida como Vidya. O conhecimento era considerado
pelos antigos como luz, e a ignorância como escuridão. Tal como a luz
e a escuridão não podem coexistir no mesmo lugar, ao mesmo tempo,
sabedoria e ignorância (Vidya e Avidya) não podem estar juntas. Então,
todos aqueles que percorrem o caminho do progresso têm de purifi-
car sua consciência e iluminar-se através da Sabedoria Divina.
No capítulo Vibhuti Yoga, a Gita nos informa: “Entre todos os Con-
hecimentos, Eu Sou o Conhecimento Supremo, o Senhor declara” (Ad-
hyatma Vidya Vidyanam). Todos os outros sistemas de conhecimento
são como rios; o Conhecimento Supremo (Adhyatma Vidya) é como
o oceano. Como todos os rios encontram sua plenitude quando se
fundem no oceano, assim também todos os conhecimentos se unem
ao oceano do Conhecimento Supremo como sua última meta. Isso
não é tudo. Quando os rios se encontram e se misturam ao oceano,
eles perdem seus nomes e formas separados e assumem o nome e a
forma do próprio oceano. Assim também, as variedades de conheci-
mento que se ocupam como o mundo externo objetivo renunciam a
seus nomes e formas individuais quando chegam à confluência com
o vasto Oceano do Conhecimento Divino (Brahma Vidya).
“Por meio de sabedoria e de austeridade o homem se transfor-
ma em uma alma purificada” (Vidya thapobhyam Pothatma). Pode-
se considerar que Vidya tem dois aspectos: Bahya Vidya e Brahma
Vidya. Badya Vidya provê os meios para a subsistência humana. O
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homem pode estudar muitos temas, alcançar vários graus, obter em-
pregos em posições cada vez mais elevadas e conseguir passar a sua
vida sem preocupações e medo. Esse tipo de conhecimento ajuda o
homem em qualquer tarefa que desempenhe, seja um serviçal ou um
primeiro ministro. A Sabedoria Suprema, por outro lado, dota todo ser
humano com o vigor que lhe possibilita desempenhar, com sucesso,
o dever que tomou para si mesmo. Estabelece o caminho que conduz
tanto à alegria nas relações mundanas quanto à Bem-Aventurança na
vida futura. Portanto, o Conhecimento Divino (Brahma Vidya) é muito
superior a todos os conhecimentos disponíveis ao homem na terra.
A Sabedoria Suprema tem o divino potencial de libertar todos da es-
cravidão, poder que a sabedoria mundana (Bahya Vidya) não possui. A
Sabedoria Suprema o faz consciente do Eu total, o Absoluto (Parabrah-
ma); a austeridade (tapas) o capacita a fundir-se com Ele. A Sabedoria
(Vidya) é o processo de adquirir conhecimento; thapas é o manifesto.
O primeiro é indireto, é o meio. O segundo é a meta, o fim.
A palavra Guru significa literalmente a “grande” pessoa, a pessoa “no-
tável”. Isto é, o Guru deve ter dominado sabedoria e austeridade (Vidya
e Tapas). Quando alguém deseja lavar a sujeira acumulada na roupa que
usa, ele precisa tanto de sabão quanto de água limpa. Assim também,
quando o individuo anseia remover a sujeira que se fixou na mente,
tanto a sabedoria quanto a austeridade são essenciais. Somente quando
ambos são usados, podem os níveis de consciência ser totalmente lim-
pos. Nenhum veículo pode mover-se sem duas rodas, nem um pássaro
voar com uma só asa. Igualmente, nenhum homem pode se tornar san-
tificado ou purificado sem sabedoria e austeridade.
Austeridade (Tapas) não significa posicionar-se de cabeça para
baixo, cabeça no chão e pés para o alto como um morcego. Nem é
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Estudantes: o Ser Eterno, além da ilusão e da escuridão, deve ser
conhecido por todas as pessoas através do próprio esforço de cada
um. Vocês nasceram herdeiros desse estado de Eterna Bem-Aven-
turança. Vocês são filhos bem-amados do Senhor. Vocês são tão
puros e sagrados quanto o ar. Não se condenem como pecadores.
Vocês são filhotes de leão, não ovelhas. São pequenas ondas de Im-
ortalidade, não corpos compostos de matéria. Os objetos materiais
existem para servi-los e cumprir as suas ordens. Vocês não devem
servi-los nem estar submetidos a eles.
Não pensem que os Vedas estipulam um feixe de regras apa-
vorantes, regulamentos e leis. Cada um deles foi estabelecido pelo
Senhor, como um legislador. Todos os elementos no Cosmos, cada
partícula em todos os lugares, atuam a cada momento conforme
ordenado por Ele. Isso é o que os Vedas nos avisam. Nenhuma ado-
ração pode ser maior e mais benéfica do que servir a Deus. O indi-
víduo deve oferecer amor a Ele, mais amor do que possa sentir por
qualquer coisa neste mundo e no outro. Ele deve ser amado como
o Uno e o Único. Ele deve ser lembrado e adorado com esse Amor.
Esse é o fruto que a verdadeira educação deve produzir.
A folha de lótus nasce debaixo d’água, flutua n’água, mas não fica
molhada. O homem também deve permanecer no mundo dessa ma-
neira, nele, por ele, para ele, mas não dele. Essa é a característica
especial da educação suprema, a de prepará-los para esse papel. Isso
significa que, com o coração imerso no Divino e as mãos ocupadas
no trabalho, o homem deve viver na Terra. O Amor não deve degen-
erar-se a um artigo de comércio. O Amor se preenche com Amor. A
religião hindu não se esforça por estabelecer, através de conflitos e
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43. Garuda é o pássaro mitológico que serve de veículo ao Deus Vishnu e tem livre
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Qualquer que seja o ensinamento a respeito do nome ou da forma
de Ishwara ou Deus, ele não é muito importante. Não necessitamos
discutir tais distinções e diferenças. Instruir sobre Deus já é serviço
suficiente. Os hindus não aceitam o ponto de vista defendido por out-
ros de que o mundo e o Universo, do qual ele é uma parte, surgiram
há alguns milhões de anos e encontrarão sua dissolução em algum
momento, no futuro. Nem aceitam a declaração de que o Universo
nasceu do vazio (Sonya). Eles acreditam que a matéria (Prakrithi) ou
Projeção (Natureza) não é nascida do vácuo, mas sempre foi plena
e completa (Pornam); não teve começo nem terá fim; tem apenas
formas densas e sutis. Não é sinal de esclarecimento inferir que, por
não existirem evidências da plenitude e totalidade, havia um vazio
no princípio. Há outros níveis de existência a considerar.
O homem, por exemplo, não é unicamente o corpo; ele tem, no
corpo denso, um corpo sutil, a mente e outro corpo também, mais
sutil que a mente, chamado jivatma, o Atma Individualizado, ou Eu
Superior. Este último não teve início nem terá fim e tampouco tem
qualquer sinal de morte ou decadência. Essa é a verdade na qual
os hindus acreditam. Essa fé se baseia na declaração dos próprios
Vedas. Fechamos nossos olhos quando adoramos a Deus; não tenta-
mos descobrir Deus fora de nós levantando nossos rostos e olhando
para cima. Outros aceitam que suas escrituras foram escritas por pes-
soas divinamente inspiradas, mas os hindus acreditam que os Vedas
são a autêntica voz de Deus emergindo dos corações dos sábios.
Estudantes! Aquele que julga a si mesmo, dia e noite, como insig-
nificante e fraco não pode realizar nada. Aquele que pensa que é de-
safortunado e vil, torna-se desafortunado e vil. Ao contrário, quando
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44. Shiva é, para os hindus, o aspecto que representa o poder Transformador de Deus.
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45. Manu é o homem primordial. Aquele que trouxe as leis para a raça humana.
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Você pode ter maestria em um bilhão de áreas de estudo; mas se
não cultivou a atitude de desapego, esse domínio se torna infrutífero.
Compartilhe com os outros, sirva aos outros, esse é a principal práti-
ca (Sutra) da Sabedoria Suprema, sua expressão genuína. A educa-
ção é enobrecida quando o espírito de serviço é incutido. O serviço
prestado deve estar livre do menor vestígio de egoísmo limitador.
Isso ainda não é o suficiente. A idéia de serviço não deve estar man-
chada pelo desejo de obter alguma coisa em retribuição. Você deve
realizar o serviço como se realizasse um importante ritual (Yajna) ou
Sacrifício. Assim como as árvores não comem seus frutos, mas os
oferecem para serem comidos por outros, em atitude de desapego;
como os rios que, sem beberem as águas que carregam, saciam a
sede e refrescam o calor que os outros sofrem; como as vacas que
oferecem seu leite, produzido primordialmente para suas crias, para
ser compartilhado com outros, com o espírito de generosidade nasci-
do da renúncia (Thyaga), igualmente, aqueles que tiverem adquirido
sabedoria (Vidya) devem oferecê-la aos outros, impulsionados pela
vontade de servir e sem considerar interesses egoístas. Somente as-
sim poderão justificar suas posições de “homens nobres” (sajjana).
O autêntico erudito não abriga egoísmo em seus pensamentos em
nenhum momento. Entretanto, o infortúnio é que os eruditos, como
uma classe, estão hoje afligidos por ilimitado egoísmo. Em conseqüên-
cia, eles seguem ideais equivocados e tomam caminhos errados, con-
ferem os benefícios de educação somente a si mesmos e aos de seu
lar. Como resultado, esquecem sua posição entre os homens virtuosos
e o respeito que ela pode trazer. O indivíduo deve conceder generosa-
mente aos outros o conhecimento, a habilidade e o discernimento que
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Twam Asi”, que significa “Você é Aquele” . A palavra Thath, cuja tradução mais
próxima é “Aquele”, procura indicar Deus, que não tem forma nem nome.
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O estudante que busca a Sabedoria Suprema (Vidya) deve possuir
bondade, compaixão e amor por todos os seres viventes. Bondade
para com todos os seres deve ser sua verdadeira natureza. Se isso lhe
faltar, ele se tornará uma pessoa grosseira. Sabedoria significa, mais
que qualquer outra coisa, a qualidade de ter compaixão por todos os
seres vivos. Se uma pessoa sustenta rancor contra qualquer ser, sua
educação não tem sentido. O conselho dado na Gita: “nenhum ran-
cor para com todos ou qualquer ser” (“Adwesha Sarva Bhoothanam”)
exprime a mesma mensagem. De maneira similar, a Gita nos previne
que qualquer insulto, dano ou mesmo negligência contra qualquer
ser vivente é um ato que insulta, ofende ou mesmo negligencia o
Divino. O amor e a compaixão não devem se limitar somente ao ser
humano; devem envolver todos os seres vivos.
A Gita diz que o homem instruído, que adquiriu humildade através
da Sabedoria, deve tratar a vaca, o Brahmane48, o elefante, o cachorro
e o que come carne de cachorro49 com igual compaixão e considera-
ção (Sunee chaiva svapakecha pandithah sama darsinah). Compaixão
uniforme, assim demonstrada, transforma-se em bem-estar uniforme
para aqueles que a recebem. Querer o bem para todos é o sinal do
indivíduo que conquistou a Sabedoria Suprema. A visão estreita que
se limita a uma comunidade deve ser abandonada. A cultura indiana
enfatiza a mais elevada verdade, a visão mais ampla. Conferir esse
ideal é o propósito da Sabedoria, conforme estabelecido em Bharat
49. Os hindus se referiam pejorativamente aos miseráveis, aqueles que não per-
este preconceito, Gandhi criou o termo “hari-jam”, que significa “povo de Deus”.
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50. Sai Baba estava se referindo à Índia, mas achamos que esta observação e es-
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A raiz de todas as ansiedades e calamidades que afetam o homem
é a INVEJA. Podemos ver que Krishna previne Arjuna na Bhagavad
Gita: “Arjuna! Você tem de estar imune à inveja. Não se deixe contami-
nar pela inveja”. A inveja é invariavelmente acompanhada pelo ódio.
Esses dois são vilões gêmeos. São pestes venenosas. Eles atacam as
verdadeiras raízes da personalidade do indivíduo.
Uma árvore pode ser resplandecente com flores e frutos. Mas
quando os vermes inimigos iniciam seu trabalho nas raízes, imagine
o que acontece com o esplendor! Mesmo quando olhamos com
admiração a sua beleza, as flores murcham, os frutos caem, as folhas
ficam amarelas e são espalhadas pelo vento. Finalmente, a própria
árvore seca, morre e cai. Do mesmo modo, quando a inveja e o ódio
infectam o coração e iniciam o trabalho, por mais inteligente e edu-
cado que o homem seja, ele cai. Torna-se um inimigo da sociedade,
um objeto de ridículo, porque não é mais humano. Ele não pode
mais ser contado como membro da comunidade. No final, mesmo
seus amigos de confiança o abandonam e se tornam seus inimigos.
Ele perde o respeito de seu grupo e não evoca nem mesmo a simples
cortesia dos outros. Passa seus dias perpetuamente na miséria.
Nenhum inimigo pode ser tão insidioso quanto a inveja. Quando
o indivíduo vê uma pessoa mais poderosa, com mais conhecimento,
com grande reputação, mais saudável, mais bonita, ou mesmo vestin-
do-se melhor, é afligido pela inveja e encontra dificuldade para recon-
hecer e aceitar a situação. Sua mente procura meios de rebaixar os
demais e diminuí-los perante a estima das pessoas. Essas propensões
e tendências malignas nunca deveriam criar raízes na mente dos estu-
dantes e do homem educado. Não deveria poluir seu caráter.
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51. Os cinco pranas são as energias vitais que comandam os processos de de-
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Os professores que ensinam com o salário que lhes é pago em
suas mentes e os estudantes que aprendem pensando no trabalho
que poderão obter, estão ambos seguindo caminhos equivocados.
De fato, a missão do professor é instruir e inspirar os estudantes de
maneira que eles desenvolvam seus talentos latentes e avancem no
aperfeiçoamento de suas habilidades. A tarefa do estudante é revelar
o Divino em si mesmo e preparar-se para servir à sociedade com sua
habilidade e conhecimento.
O homem conta com três instrumentos a ele outorgados: a mente
que o envolve em pensamentos, o poder da fala que o torna capaz
de comunicar seus pensamentos e o poder da ação, através da qual
ele pode executar seus pensamentos, sozinho ou com outros, para
si e para os outros. A mente produz pensamentos que podem ser
úteis ou nocivos. A mente pode levar o homem à servidão, a envolvi-
mentos mais profundos em desejos e desapontamentos. Ela também
pode conduzir o homem à liberdade, ao desapego e à ausência de
desejos. A mente é um fardo de preferências e aversões. A mente
(Manas) é o assento de manana (processamento das experiências
sensórias e mentais).
A mente está envolvida em duas atividades: planejamento (Alo-
chama) e diálogo (sambhashana). Ambas seguem diferentes linhas. O
planejamento é a intenção de resolver os problemas que se apresen-
tam à mente. O diálogo mental multiplica os problemas e oculta as
soluções, causando confusão e a adoção de meios errados e ruino-
sos para resolvê-los. A conversação interna e a tagarelice que gera a
controvérsia continuam da manhã à noite, até que o sono sobrepuje
a mente. Isso causa doenças e envelhecimento prematuro. Os tópi-
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cos nos quais a tagarelice se baseia são, na maioria das vezes, as fal-
tas e as falhas dos outros, suas conquistas e infortúnios. Esse diálogo
perpétuo encontra-se na base de todas as misérias do homem; cobre
a mente com espessa escuridão, cresce agressivamente com muita
rapidez e extingue o genuíno valor da natureza humana.
A conversa que ocupa a mente durante os períodos de vigília
persiste até nos sonhos e rouba o descanso que é necessário ao
homem. E a somatória total de todo esse exercício é, na verdade,
zero. Nenhum homem pode se considerar completo e livre a não ser
que consiga deter esse mal.
As Upanishads (textos contidos no final dos Vedas) prescrevem
certas disciplinas espirituais terapêuticas para livrar-se desse ob-
stáculo à paz interior. A primeira disciplina é o controle da respi-
ração (Pranayama). Não se trata de ginástica nem de um exercício
formidável. Inalar o ar é Pooraka; exalar é Rechaka. A retenção entre
ambos é Kumbhaka. A mente tem de se concentrar no período de
retenção e no processo de inalar e exalar. Quando a atenção é assim
fixada, dá-se fim à conversação interna sobre assuntos irrelevantes e
adquire-se a força mental.
A Segunda disciplina é a imersão em atividade benéfica (Karma),
ou seja, serviço às pessoas para ajudar a diminuir o sentido de ego,
através de atos que são bons e piedosos. Quando o pensamento do
indivíduo está ocupado em tais atividades, a mente se distancia da
conversação a que se entregava.
Além disso, as disciplinas de ouvir conselhos espirituais (Srava-
na), refletir sobre regras espirituais (Manana) e descobrir modos e
meios de confirmar a fé no Espírito (Nididhyasana), além de recitar
os nomes de Deus (Japa) e retirar a mente da busca da satisfação
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dos sentidos (Tapas) têm sido prescritas pelas escrituras para silenciar
essa tagarelice mental, essa conversação interna, mais como uma
preparação para alcançar a Realidade do que para sua Realização.
Porque somente quando a mente está limpa e clarificada é que ela
pode empreender uma tarefa de tal profundidade. Só então as lições
ensinadas e as experiências vividas podem ser puras e imaculadas.
O segundo instrumento dado ao homem para elevar-se é a fala, o
uso das palavras. A fala é carregada de tremendo poder. Quando,
através da palavra, comunicamos a uma pessoa alguma coisa que
transtorne seu equilíbrio ou a choque com tristeza, as palavras dre-
nam completamente seu poder físico e coragem mental. Ela cai no
chão, impossibilitada de se manter de pé. Quando, por outro lado,
através da palavra, comunicamos alguma coisa feliz, ou inesperada-
mente alegre, ela adquire a força de um elefante. As palavras não
custam nada, mas são inestimáveis e, assim, devem ser usadas com
cuidado. Não devem ser empregadas para fofocas, que são estéreis,
mas somente para propósitos puros e produtivos. Os antigos reco-
mendavam o voto do silêncio com o propósito de purificar a palavra
de sua maldade. Uma mente voltada para dentro, em direção a uma
visão íntima de Deus, e a palavra voltada a sua visão externa, ambas
promoverão a força e o sucesso espirituais.
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Dos três instrumentos usados pelo homem para pensar, falar e
agir, o terceiro é o corpo, com suas mãos prontas para executar
o pensamento que é expresso em palavras. A ação, o trabalho e o
esforço no qual a mão do homem se engaja são a fonte de toda a
felicidade ou miséria em que ele está envolvido. O homem afirma
que é feliz ou que está ansioso e com medo ou que está em dificul-
dades. E atribui a causa dessas condições a outras pessoas que não
ele mesmo. Essa crença reside em uma base errada; a felicidade e a
miséria são devidas às suas próprias ações. Se ele aceitar essa ver-
dade ou rejeitá-la, terá de arcar com todas as consequências de sua
ação; essa é a lei da natureza. O indivíduo poderá não acreditar em
verão ou inverno, em fogo ou chuva, mas não poderá escapar do
calor e do frio; seus efeitos o afetarão assim mesmo. Então, o melhor
é conduzirmos nossas atividades dentro de caminhos adequados.
As mãos não são os únicos membros ou agentes que estão en-
volvidos na atividade humana ou karma (ação). Por mais que faça,
veja ou escute, o indivíduo deve estar vigilante a respeito de sua
pureza. Pensamento, palavra e ação devem ser livres de orgulho, de
cobiça e de ódio. As palavras que o indivíduo pronuncia devem es-
tar livres dessas faltas. As coisas que o indivíduo anseia ouvir devem
estar livres dessas qualidades superficialmente atrativas. Os prazeres
que o indivíduo deseja não devem estar poluídos pelo mal. Os estu-
dantes devem primeiro assimilar essas lições mentais e demonstrar
seus efeitos em suas palavras. As lições ensinadas através de palavras
devem ser traduzidas por eles em ação.
Hoje, no entanto, a educação não transforma a mente. Ela se de-
tém no processo de escutar. O que entra pelos ouvidos pode não ser
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claro para a mente, pode atingi-la apenas de uma forma difusa. Assim, a
educação deve ser tão comunicativa que possa ser recebida pela mente
com clareza. Para alcançar este objetivo, ela precisa ser transmitida por
cabeças, línguas e mãos que sejam puras, sem nenhum defeito que a
distorça. Só então pode o aprendizado ser claro e a sabedoria brilhar.
Os alunos estudam somente por alguns anos, mas os professores,
para justificarem o fato de estarem na profissão, têm de estar sem-
pre envolvidos em estudos, sem parar. Dessa forma, os professores
devem ser reconhecidos como os únicos estudantes genuínos. Para
a pergunta “Quem é o verdadeiro estudante?” a resposta é “o profes-
sor”. “Eu serei o estudante ideal que incentivará meus alunos”, esse
deve ser o lema inspirador do docente que seguramente reconheceu
seu dever. O professor deve descer ao nível dos estudantes; se não
o faz e ainda continua a ensinar, é melhor deixar o destino desses
estudantes apenas na imaginação.
Esse é o processo chamado “Descida”, que não quer dizer descer
do alto para o chão. Significa somente aceitar o nível da pessoa que
deve ser beneficiada. O bebê no chão não pode pular nos braços
de sua mãe quando ela o chama para subir. “Sou uma grande pes-
soa, não posso me inclinar”, se a mãe sente-se assim ela não pode
persuadir o filho. Inclinar-se não faz a pessoa pequena. O professor
também não está se rebaixando quando desce ao nível do aluno de
maneira a ensiná-lo. Isso é somente um louvável sinal de Amor.
Muitos professores na atualidade têm aderido ao hábito de afir-
mar, “Bem! Consegui preparar uma lição sobre um tema para hoje.
Meu dever é falar sobre isso. Farei exatamente isso e darei por termi-
nado”. Terão os alunos compreendido a lição corretamente? Que
assunto deve ser ensinado, de que maneira, por qual método? Tais
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