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HAROLDO Fundamentos Da Corrosão

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CORROSÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ


SETOR DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

DISCIPLINA: ELETROQUÍMICA APLICADA E


CORROSÃO TQ-417

FUNDAMENTOS DA CORROSÃO

Prof. Dr. HAROLDO DE ARAÚJO PONTE


hponte@ufpr.br

i
CORROSÃO

ÍNDICE

1 - INTRODUÇÃO...................................................................................... 1
1.1 - MECANISMO QUÍMICO DA CORROSÃO............................ 5
1.1.1 - RELAÇÃO DE PILLING-BEDWORTH ........................................... 6
1.1.2 - ASPECTOS ELETROQUÍMICOS E MORFOLÓGICOS DA
OXIDAÇÃO ...................................................................................................... 8
1.2 - MECANISMO ELETROQUÍMICO DA CORROSÃO......... 12
1.2.1- POTENCIAL DE ELETRODO .......................................................... 14
1.2.2 - ELETRODOS DE REFERÊNCIA .................................................... 18
1.2.2.1 - Eletrodo Padrão de Hidrogênio (SHE - Standard Hydrogen
Electrode)..............................................................................................19
1.2.2.2 - Eletrodo de Calomelano Saturado (ECS)............................20
1.2.2.3 - Eletrodo de Prata- cloreto de Prata .....................................21
1.2.2.4 - Eletrodo de Cobre - Sulfato de Cobre Saturado.................22
1.2.3 - CONVENÇÕES DE SINAIS .............................................................. 23
2 - ASPECTOS TERMODINÂMICOS DA CORROSÃO ................... 24
2.1 -Termodinâmica das reações eletroquímica............................... 24
3 - ASPECTOS CINÉTICOS DA CORROSÃO.................................... 38
3.1 - CAUSAS DA POLARIZAÇÃO DO ELETRODO.................. 41
3.1.1 - POLARIZAÇÃO POR ATIVAÇÃO ................................................. 42
3.1.2 - POLARIZAÇÃO POR CONCENTRAÇÃO .................................... 46
3.1.3 - POLARIZAÇÃO POR RESISTÊNCIA............................................ 47
3.2 – PREVISÃO DA TAXA DE CORROSÃO ............................... 48
3.3 - PASSIVAÇÃO ............................................................................ 51
4 - FORMAS DE CORROSÃO ............................................................... 55
4.4 - Corrosão por pite (puntiforme)................................................. 68
4.1 - Corrosão uniforme (GENERALIZADA) ................................. 58
4.2 - Corrosão Galvânica.................................................................... 59
4.2.1 - PAR GALVÂNICO: METAL ATIVO - METAL INERTE............ 61
4.2.1.1 - Efeito de Densidade de Corrente de Troca..........................62
4.2.1.2 - Efeito da Área de Superfície .................................................63
4.2.2 - Par Galvânico: Metal Ativo - Metal Ativo ........................................ 64
4.3 – Corrosão em frestas ................................................................... 65

ii
CORROSÃO

4.4.1 - Mecanismo de Corrosão por Pite ....................................................... 73


4.5 - Corrosão intergranular.............................................................. 75
4.5.1 - Corrosão intergranular de aços inoxidáveis (austeníticos).............. 76
4.5.2 - Decaimento por solda .......................................................................... 77
4.5.3 - Controle de sensitização de aços inoxidáveis Austeníticos .............. 78
4.5.4 - ATAQUE EM LINHA DE FACA ...................................................... 78
4.6 - Corrosão por ataque seletivo ..................................................... 79
4.6.1 - dezincificação ....................................................................................... 79
4.6.2 - Corrosão Grafítica................................................................... 80
4.7 - Corrosão por erosão ................................................................... 80
4.8 - Corrosão sob tensão.................................................................... 83
4.8.1 - EFEITOS METALÚRGICOS............................................................ 85
4.8.2 - EFEITO ELETROQUÍMICO............................................................ 87
4.9 - Corrosão por hidrogênio............................................................ 88
4.9.1 - Empolamento por hidrogênio............................................................. 89
4.9.2 - Fragilização por hidrogênio................................................................ 91
5 - FATORES QUE INFLUENCIAM A CORROSÃO......................... 94
5.1 - CORROSÃO ATMOSFÉRICA ................................................ 94
5.1.1 - FATORES QUE AFETAM A CORROSÃO ATMOSFÉRICA ..... 95
5.1.1.1 - PRODUTO DE CORROSÃO...............................................95
5.1.1.2 - COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA ....................................95
5.1.1.3 - CONTAMINANTES NA ATMOSFERA ............................96
5.1.1.3.1 - Atmosfera industrial .................................................97
5.1.1.3.2 - Atmosfera marinha ...................................................98
5.1.1.3.3 - Atmosfera rural .........................................................99
5.1.1.4 - OUTROS FATORES.............................................................99
5.1.2 - MECANISMO DE CORROSÃO ATMOSFÉRICA...................... 101
5.2 - CORROSÃO EM ÁGUA ......................................................... 101
5.2.1 - Água do mar....................................................................................... 102
5.2.2 - Águas naturais ................................................................................... 103
5.3 - CORROSÃO EM SOLOS ....................................................... 104
5.4 - CORROSÃO EM OUTROS MEIOS ..................................... 105
5.4.1 - Corrosão biológica............................................................................. 105
5.4.2 - Corrosão por lubrificantes................................................................ 109
5.4.3 - Corrosão por outros produtos químicos.......................................... 109
Referências Bibliográficas ...................................................................... 112

iii
CORROSÃO

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - O ciclo dos metais .......................................................................................... 2


Figura 2 - Fatores que afetam a resistência da corrosão de um metal....................... 5
Figura 3 - Processo eletroquímico ocorrendo durante oxidação gasosa .................... 9
Figura 4 - Formação de camadas de óxido sobre o Fe exposto ao ar a altas
temperaturas [FONTANA, 1987].................................................................................... 11
Figura 5 - Camada de óxido não protetora formada sobre Nióbio [FONTANA, 1987]
......................................................................................................................................... 12
Figura 6- Esquema de corrosão metálica em meio ácido .......................................... 14
Figura 7 - Estágio inicial da reação anódica............................................................... 15
Figura 8 - Condições de equilíbrio metal/eletrólito ................................................... 16
Figura 9 – Representação esquemática de um eletrodo padrão de Hidrogênio...... 20
Figura 10- Ilustração esquemática de um eletrodo calomel saturado ..................... 21
Figura 11 - Ilustração esquemática de: a) um eletrodo de prata- cloreto de prata, b)
um eletrodo de cobre-sulfato de cobre saturado ........................................................ 22
Figura 12 - Analogia mecânica de energia livre ......................................................... 24
Figura 13 - Efeito do caminho da reação na sua velocidade ..................................... 25
Figura 14 - Representação esquemática da energia livre de uma reação química . 26
Figura 15 - Diagrama de Pourbaix para água............................................................ 32
Figura 16 - Diagrama de equilíbrio para o sistema Fe/H2O a 25 oC ........................ 33
Figura 17 - Diagrama de equilíbrio para o sistema Zn/H2O a 25 oC ........................ 35
Figura 18 - Diagrama de equilíbrio para o sistema Pb/H2O a 25 oC ........................ 36
Figura 19 - Formação de uma camada elétrica dupla na interface metal-solução . 39
Figura 20 - Ilustração da polarização anódica e catódica de um eletrodo............... 41
Figura 21 - Cela eletroquímica consistindo de um eletrodo de zinco e um eletrodo
padrão de hidrogênio .................................................................................................... 42
Figura 22 - Curvas de polarização anódica (ia) e catódica (ic) num diagrama em que
as densidades de corrente assumem valores relativos: ia é positivo e iac é negativo.45
Figura 23 - Polarização de concentração num eletrodo metálico, mostrando as
densidades de corrente limite anódica (iaL) e catódica (icL) ....................................... 47
Figura 24 - Propriedade eletrocinética do zinco em uma solução ácida; ambas as
reações de redução e de oxidação estão limitadas por polarização de ativação...... 50
Figura 25- Esquematização de propriedades cinéticas do eletrodo de metal M;
reação de redução controlada por polarização combinada ativação-concentração51
Figura 26 - Esquematização da curva de polarização para metal que apresenta
transição ativa-passiva.................................................................................................. 53

iv
CORROSÃO

Figura 27 - Demonstração de como um metal pode apresenta tanto propriedade de


corrosão ativa quanto passivação ................................................................................ 54
Figura 28 - Esquematização das formas de corrosão (NACE) ................................. 56
Figura 29 - Corrosão galvânica em tubulação enterrada no solo [D’ALKAINE, 1988]
......................................................................................................................................... 60
Figura 30- Esquematização de polarização num par galvânico entre zinco e platina
num solução ácida diluída. ........................................................................................... 62
Figura 31 - Efeito galvânico da platina e do ouro acoplado ao zinco numa solução
ácida diluída................................................................................................................... 63
Figura 32 - Efeito do aumento da área catódica na interação galvânica entre o zinco
e a platina num solução ácida diluída. ........................................................................ 64
Figura 33 - Esquematização da polarização galvânica de um par entre metais que
se corroem, M (ânodo) e N (cátodo) ............................................................................ 65
Figura 34 – Mecanismo de corrosão em frestas [CALLISTER, 1993]......................... 66
Figura 35 - Variações nas forma de seções transversais de pites ............................. 68
Figura 36 - Padrões para classificação de pites.......................................................... 70
Figura 37 - Diagrama esquemático para a determinação do fator de pite .............. 71
Figura 38 - Natureza auto-catalílica dos pites [FONTANA, 1987] .............................. 72
Figura 39 - Esquematização da determinação do potencial crítico de pite [Epit.] ... 73
Figura 40 - Voltametria cíclica indicando a ocorrência de pites em Epit e o potencial
de proteção em Eprot. ..................................................................................................... 74
Figura 41 - Esquema de um aço inoxidável sensitizado [JONES, 1996] .................... 76
Figura 42 - Representação esquemática dos defeitos causados por corrosão-erosão
na parede de um tubo ................................................................................................... 81
Figura 43 - Corrosão por erosão de um tubo de condensador de latão apresentando
forma de lágrimas. ........................................................................................................ 82
Figura 44 - Mecanismo de turbulência em quina para pites de corrosão por erosão
[JONES, 1996]. ................................................................................................................ 82
Figura 45 - Efeito do meio corrosivo na curva de tensão-elongação ........................ 84
Figura 46- Superfícies fraturadas por MEV. (a) SCC transgranular de aço inox
austenítico em solução de HCl quente. (b) SCC intergranular de aço carbono em
solução de nitrato aquecida.......................................................................................... 86
Figura 47 - Esquema de curva de polarização anódica mostrando zonas de
susceptibilidade de SCC. .............................................................................................. 87
Figura 48 - Representação esquemática do mecanismo de difusão e formação de
bolhas por hidrogênio. .................................................................................................. 89
Figura 49 - Tubo de aço carbono com empolamento pelo hidrogênio, ocasionado
por H2S e água [GENTIL, 1996] .................................................................................... 90

v
CORROSÃO

Figura 50 - Esquema apresentando a diferença entre SCC e fragilização por


hidrogênio. ..................................................................................................................... 92
Figura 51 - Curvas relacionando umidade relativa UR e cloreto de sódio. (1) 58%,
(2) 70%, (3) 80%, (4) 89%, (5) 94%, (6) 97%. ......................................................... 100

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Mecanismos causadores de falha em plantas industriais [Ferrante, 1996]


........................................................................................................................................... 4
Tabela 2 - Razões de volume de alguns metais [FONTANA, 1987] ............................... 7
Tabela 3 - Potenciais padrão de redução [DENARO, 1971] ........................................ 18
Tabela 4 - Série Galvânica em água do mar [Gentil, 1996] ...................................... 60
Tabela 5 - Efeito da adição de elementos de liga na resistência ao pite dos aços
inoxidáveis [D’Alkaine, 1988] ...................................................................................... 72
Tabela 6 - Composição nominal da atmosfera ........................................................... 96
Tabela 7 - Concentrações típicas de impurezas na atmosfera .................................. 97
Tabela 8 - Velocidade de corrosão média de alguns metais e ligas em água do mar
sem agitação [D’ALKAINE, 1988]. ........................................................................... 102
Tabela 9 - Bactérias conhecidas causadoras de corrosão microbiológica ............ 108
Tabela 10 - Interação entre diversos materiais metálicos e reagentes químicos... 111

vi
CORROSÃO 1

1 - INTRODUÇÃO

Com o avanço tecnológico ao longo das ultimas décadas dispõe-se de uma vasta
gama de materiais; metais e ligas, polímeros, madeira, cerâmica e compósitos destes materiais.
A seleção de um material apropriado para uma determinada aplicação é de responsabilidade
do projetista. Não existem regras gerais de escolha de um determinado material para uma
finalidade específica. Uma decisão lógica envolve a consideração das propriedades relevantes,
disponibilidade no mercado, custo relativo, etc., de uma variedade de materiais. Na decisão
final freqüentemente pesam mais os aspectos econômicos do que os tecnológicos. A escolha
do material ideal será o de menor custo que possua as propriedades adequadas para preencher
a função específica.
Quando se trata de metais, devem ser consideradas as suas propriedades
mecânicas, físicas e químicas, mas é preciso observar que enquanto numerosas propriedades
podem ser expressas em termos de constantes, as características de corrosão dependem das
condições ambientais que prevalecem na utilização do metal. A importância relativa das
propriedades mecânicas, físicas, químicas e de corrosão de um metal dependerá em qualquer
caso de sua aplicação.
Até há pouco tempo, o termo corrosão era usado para descrever um determinado
tipo de deterioração dos metais, não se aplicando a materiais não metálicos, [UHLIG, 1962].
Entretanto, de acordo com a conceituação mais moderna, entende-se por corrosão a
deterioração dos materiais pela ação do meio. Expresso desta forma, o conceito abrange
materiais metálicos e não- metálicos, por exemplo alguns problemas que incidem no concreto,
seguem mecanismos similares aos que ocorrem na corrosão [DUTRA,1991].
O termo “corrosão” pode ser definido como a reação do metal com os outros
elementos do seu meio, no qual o metal é convertido a um estado não metálico. Quando isto
ocorre, o metal perde suas qualidades essenciais, tais como resistência mecânica, elasticidade,
ductilidade e o produto de corrosão formado é extremamente pobre em termos destas
propriedades.
CORROSÃO 2

Como resultado deste enfoque mais amplo, quando se trata de metais, o fenômeno
é denominado de “corrosão metálica”. Não obstante, na prática, continua-se a falar
simplesmente de corrosão. Neste caso ela é conceituada como a destruição dos materiais
metálicos pela ação química ou eletroquímica do meio, a qual pode estar, ou não associada
uma ação física. Dentre os fenômenos de corrosão mais importantes, resultantes desta
associação, encontram-se a corrosão sob fadiga e a corrosão sob tensão fraturante.
Em geral, nos processos de corrosão, os metais reagem com os elementos não-
metálicos presentes no meio, particularmente o oxigênio e o enxofre, produzindo compostos
semelhantes aos encontrados na natureza, dos quais foram extraídos. Conclui-se, portanto, que
nestes casos a corrosão corresponde ao inverso dos processos metalúrgicos, como ilustrado na
Figura 1.

Figura 1 - O ciclo dos metais

Todos os metais na natureza, exceto o ouro, platina, prata, mercúrio e cobre,


existem no estado combinado, ou seja, na forma de minerais (ou minério), que é
termodinamicamente a forma mais estável. A transformação do minério para um metal é
realizada por processos que envolvem a introdução de energia, usualmente na forma de calor.
CORROSÃO 3

Esta energia é armazenada no metal, e é perdida ou liberada quando é corroído. A


quantidade de energia requerida para converter minérios em metais varia de metal para metal.
Ela é relativamente alta para metais como magnésio e alumínio e baixa para metais como ouro
e prata.
Como decorrência desse fenômeno, para que se tenha o metal em equilíbrio
estável, é necessário que uma quantidade adicional de energia lhe seja cedida de forma
contínua, o que é feito por intermédio dos métodos de proteção. Em face destas considerações,
conclui-se que a corrosão é um fator que contribui fortemente para o aumento do desperdício
de energia, entidade cada vez mais preciosa nos tempos modernos.
A importância dos problemas de corrosão é encarada segundo dois aspectos
principais. O primeiro deles é o econômico, tendo em vista que o seu custo assume cifras
astronômicas. Existem na literatura, países apresentando valores muito elevados, porém
baseados em estimativas do respectivo PNB de cada país. O problema de corrosão, com
relação ao aspecto econômico é relevante, e abrange dois aspectos de perda com relação aos
danos. As perdas são classificadas como direta e indireta. As perdas diretas são aquelas em
que os custos de substituição de peças que sofrem corrosão incluindo mão de obra e energia e
custos de manutenção de processo (proteção catódica, recobrimento, pintura e etc). As perdas
indiretas são devido a paralisação acidentais, perda de produto e perda de eficiência.
O segundo aspecto está relacionado com a preservação das reservas minerais, pois
sendo a corrosão um processo espontâneo (em geral, o elemento na sua forma metálica tem
um nível de energia interna maior do que o elemento oxidado- a tendência universal de um
sistema diminuir sua energia interna constitui a força motriz para os processos de corrosão),
ela está permanentemente consumindo os metais. Desse modo, há necessidade de uma
produção adicional destes materiais para a reposição do que é deteriorado.
A Tabela 1 mostra a necessidade e a importância de se estudar o fenômeno da
corrosão.
CORROSÃO 4

Tabela 1 - Mecanismos causadores de falha em plantas industriais [Ferrante, 1996]

Mecanismo %
- Corrosão 29
- Fadiga 25
- Fratura frágil 16
- Sobrecarga 11
- Corrosão em alta temperatura 7
- Corrosão sob tensão/ fadiga combinada com corrosão/
Fragilização por hidrogênio 6
- Fluência 3
- Desgaste, abrasão e erosão 3

Segundo [FONTANA, 1987] a corrosão pode ser classificada como corrosão seca
(mecanismo químico) ou aquosa (mecanismo eletroquímico). A corrosão seca ocorre na
ausência da fase liquida ou acima do ponto de orvalho do ambiente. Vapores e gases são
usualmente os agentes deste tipo de corrosão. Corrosão seca é mais freqüentemente associada
com alta temperatura como por exemplo aço atacado por gases de fornos. A corrosão aquosa
ocorre na presença da fase liquida, que pode ser a água ou não, e é neste mecanismo que
grande parte da corrosão ocorre. A presença de pequenas quantidades de umidade pode levar a
ocorrer corrosão.
O fenômeno essencial de corrosão é o mesmo para todos os metais e ligas,
diferindo apenas em grau, mas não em natureza. Antes de começar a discussão sobre os
principais fatores envolvidos na corrosão, basta dizer que várias teorias têm sido propostas
para explicar certos fatos observados. Atualmente, pode ser assumido que, em praticamente
todos os casos de corrosão aquosa a reação é essencialmente de natureza eletroquímica.
A resistência à corrosão ou resistência química depende de alguns fatores. Uma
abordagem completa requer um conhecimento de vários campos, como apresentado na Fig. 2
[FONTANA, 1986]. Os aspectos termodinâmicos e eletroquímicos são de maior importância
para o entendimento e controle da corrosão. O estudo termodinâmico indica a direção
CORROSÃO 5

espontânea da reação. No caso, da corrosão, cálculos termodinâmicos podem determinar


teoricamente se a corrosão podem ou não ocorrer [FONTANA, 1986].

Figura 2 - Fatores que afetam a resistência da corrosão de um metal

Os mecanismos básicos da corrosão (química e eletroquímica) serão abordados a


seguir.

1.1 - MECANISMO QUÍMICO DA CORROSÃO

O campo abrangido pela corrosão química é bem mais restrito que o da corrosão
eletroquímica, e se compõe principalmente da oxidação, que geralmente refere-se a uma
reação produzindo elétrons, este termo é também empregado para designar a reação entre o
metal e o ar ou oxigênio na ausência de água ou fase aquosa. Os termos “corrosão seca” e
“corrosão quente” também se refere a reações de oxidação entre metais e gases a temperaturas
superiores a 100 oC. Porém, a corrosão química pode ocorrer também à temperatura ambiente,
CORROSÃO 6

em meio gasoso e ainda em alguns meios líquidos, isentos de água. Quando o metal ou suas
ligas estiver exposto a situações de alta temperatura, a oxidação do metal também aumenta e é
preocupante porque são muitos os sistemas em que o processo se dá a alta temperatura, como
no caso dos escapamentos de gás, motores de foguetes, fornos e processos petroquímicos. A
oxidação pode ocorrer sob uma variedade de condições e pode também variar em intensidade
desde “leve”, como no caso de reações com ar à temperatura ambiente, até “severa” como nos
casos em que o funcionamento do sistema se dá com altas temperaturas.
O mecanismo da corrosão química é caracterizado por uma reação química do
metal com o agente corrosivo, sem que haja deslocamento dos elétrons envolvidos em direção
a outras áreas. O produto da corrosão forma-se na superfície do metal exposta ao meio,
podendo constituir uma película que, dependendo do metal, do meio e das condições em que
se processa a reação, pode apresentar diferentes propriedades. Em certos casos, esta película
pode ter propriedades protetoras e chegar a bloquear por completo as reações subseqüentes no
meio considerado.

1.1.1 - RELAÇÃO DE PILLING-BEDWORTH

Em um dos estudos científicos mais recentes sobre oxidação, Pilling e Bedworth


propuseram que a resistência de oxidação deveria estar relacionada à relação de volume de
óxido e metal por átomo grama de metal. De acordo com Pilling e Bedworth, uma relação de
volume de menos que 1,0 produz uma película insuficiente para cobrir o metal sendo não
protetora. Semelhantemente, foi discutido que uma relação muito maior que 1,0 tende a
introduzir grande tensão de compressão na película causando baixa resistência à oxidação
devido a trincas. A relação ideal, de acordo com estes investigadores, estaria perto de 1,0.
As relações de volume para alguns metais são listadas na Tabela 2. Como
mostrado, esta relação não prediz resistência de oxidação com precisão, embora haja alguma
previsão qualitativa. Em geral, metais com relações de volume menor que 1,0 formam óxidos
não protetores, como faz esses com relações de volume muito altas (2 a 3). Para estar
protegida da reação de oxigênio uma película de óxido tem que possuir boa aderência, um
ponto alto de fusão, uma baixa pressão de vapor, boa plasticidade a alta temperatura para
resistir a fratura, e baixa condutividade elétrica ou baixos coeficientes de difusão para íons de
CORROSÃO 7

metal e oxigênio. Para temperaturas cíclicas o metal e óxido deveriam possuir coeficientes
semelhantes de expansão. Deste modo, a resistência de oxidação de um metal ou liga depende
de vários fatores complexos.

Tabela 2 - Razões de volume de alguns metais [FONTANA, 1987]

Metal Vox
Razão de volume
VM
Óxidos protetores de
Al 1,28
Co 1,99
Cr 1,99
Cu 1,68
Fe 1,77
Ni 1,52
Pb 1,40
Si 2,27
Óxidos não protetores de
Ag 1,59
Cd 1,21
Mo 3,4
Na 0,57
Nb 2,61
Ta 2,33
Ti 1,95
U 3,05
CORROSÃO 8

1.1.2 - ASPECTOS ELETROQUÍMICOS E MORFOLÓGICOS DA


OXIDAÇÃO

A oxidação por oxigênio gasoso, como a corrosão aquosa, é um processo


eletroquímico. Não é simplesmente a combinação química de metal e oxigênio numa escala
1
molecular, M + O2 → MO , mas consiste em dois processos parciais separados
2

M → M 2 + + 2e (oxidação de metal na interface metal-óxido)


1
O2 + 2e → O2 (redução do oxidante na interface de óxido-gás)
2
1
M + O2 → MO (global)
2

com produção de novos sítios MO na rede tanto na interface metal-óxido quanto na interface
óxido-gás. Para examinar a natureza eletroquímica da oxidação gasosa, é útil comparar este
processo com a corrosão galvânica aquosa onde o metal M é submerso numa solução aquosa
saturada de oxigênio e conectado eletricamente a um eletrodo inerte no qual a redução de
oxigênio acontece (alta densidade de corrente de troca). Nestas condições, M dissolve-se para
formar íons de metal e o oxigênio é reduzido para formar íons hidróxido no eletrodo inerte.
Este efeito galvânico só acontece se houver um condutor elétrico entre os dois eletrodos. No
eletrólito aquoso, a corrente é levada por íons positivos e íons negativos.
A oxidação gasosa pode ser considerada como análoga à corrosão de galvânica
aquosa. Neste caso, são formados íons de metal na interface metal-óxido e o oxigênio é
reduzido a íons de oxigênio na interface óxido-gás. Uma vez que todos os óxidos de metal
conduzem íons e elétrons até certo ponto, esta reação eletroquímica acontece sem a
necessidade de um condutor elétrico externo entre o ânodo e o cátodo local. Na Figura 3 está
apresentado que os óxidos servem simultaneamente de (1) condutor iônico (eletrólito), (2)
condutor elétrico, (3) um eletrodo no qual oxigênio está reduzido, e (4) uma barreira de
CORROSÃO 9

difusão pela qual elétrons passam e íons têm que migrar por entre sítios (de defeito de rede
V M e VO ).

Figura 3 - Processo eletroquímico ocorrendo durante oxidação gasosa

A corrosão de galvânica aquosa pode ser retardada pelo aumento da resistência do


eletrólito ou evitando contato metálico entre metais dissimilares. Destes métodos, o último
normalmente é o mais prático para corrosão aquosa porque a composição da solução é
freqüentemente invariável devido a considerações de processo. Entretanto, é impossível
eliminar o contato elétrico entre o metal e a interface óxido-gás uma vez que esta é uma
propriedade inerente de sistemas metal-óxido. A condutividade elétrica dos óxidos é
normalmente várias ordens de magnitude maior que a condutividade iônica, assim sendo a
difusão de cátions ou íons de oxigênio normalmente controlam a taxa de reação.
Quase sem exceção, cátions e íons de oxigênio não difundem com mesma
facilidade em um determinado óxido. Isto ocorre porque geralmente há predomínio de defeitos
para a difusão preferencial de uma espécie. Deste modo o controle por difusão simples deveria
resultar no crescimento do óxido tanto na interface metal-óxido quanto na interface óxido-gás.
Para oxidação controlada por difusão na rede, a taxa de oxidação é efetivamente retardada, na
prática, pela redução do fluxo de íons que difundem pelo óxido. Isto é equivalente à redução
CORROSÃO 10

da condutividade de eletrólito no caso de corrosão galvânica. Embora às vezes seja possível


reduzir a difusividade iônica pela "dopagem" de uma determinada rede de óxido,
normalmente, a composição do metal base é mudada, pela formação de liga, ou então a liga é
coberta de forma que um diferente composto binário ou ternário mais protetor seja formado
como óxido.
Muitos diagramas de fase metal-oxigênio indicam vários óxidos binários estáveis.
Por exemplo, ferro pode formar nas combinações FeO , Fe3O4 , e Fe2 O3 ; cobre pode formar

Cu 2 O , CuO e etc. Na formação de óxido em metais puros, geralmente todas as fases de


óxido são obtidas. A combinação mais rica em oxigênio está na interface óxido-gás e a
combinação mais rica em metal está na interface metal-óxido; assim para Fe acima de
aproximadamente 560 oC a seqüência de fase é Fe / FeO / Fe3O4 / Fe2 O3 / O2 , como mostrado

na Figura 4. A espessura relativa de cada fase é determinada pela taxa de difusão iônica por
aquela fase. Complicações morfológicas ou de nucleação às vezes surgem na oxidação de
alguns metais de forma que fases estáveis podem estar ausentes no óxido ou podem ser
formadas fases metaestáveis.
Óxidos de sulfeto formados nos metais básicos comuns (Fe, Ni, Cu, Cr, Co, e
outros) cressem principalmente na interface de óxido-gás pela difusão de cátion a partir do
metal base. Porém, por causa da condensação de vacâncias na interface de metal-óxido, um
volume significante de vazios aparece freqüentemente na parte interna do óxido, como
mostrado na Figura 4. Foi proposto que algum do óxido no meio da camada de óxido
"dissocia-se" enviando cátions para o exterior e moléculas de oxigênio deslocam-se para
dentro por entre os vazios. Considera-se que tais óxidos crescem em ambos os lados por causa
da reação de cátions e oxigênio na interface de óxido-gás e a reação química de moléculas de
oxigênio com o metal perto da interface de metal-óxido por este mecanismo de dissociação.
CORROSÃO 11

Figura 4 - Formação de camadas de óxido sobre o Fe exposto ao ar a altas temperaturas


[FONTANA, 1987]

Ao contrário dos metais básicos mais tradicionais, metais como Ta , Cb(Nb) , Hf ,


Ti e Zr formam óxidos nos quais a difusão de íon oxigênio predomina sobre a difusão de
cátion e, conseqüentemente, o controle de difusão resulta em formação de óxido na interface
de metal-óxido. Porém, o óxido formado na interface de metal-óxido (com um aumento
grande em volume) induz tal força de tração que são geradas fratura e a interface metal óxido
fica porosa, em nível microscópico, e trincada, em nível macroscópico, Figura 5. Assim, após
um período inicial a oxidação destes metais não esta controlada por difusão iônica no óxido. É
dito que estes óxidos são não protetores, e moléculas de oxigênio podem difundir na fase de
CORROSÃO 12

gás que enche os vazios para uma localização muito perto da interface de metal-óxido onde a
reação de redução pode acontecer. Então para estes metais, o modelo eletroquímico ideal de
oxidação com redução de oxigênio na interface de óxido-gás é substituído por um mecanismo
que oferece muito menos resistência e cinéticas muito mais rápidas.

Figura 5 - Camada de óxido não protetora formada sobre Nióbio [FONTANA, 1987]

1.2 - MECANISMO ELETROQUÍMICO DA CORROSÃO

A natureza eletroquímica dos processos de corrosão em meio aquoso foi notada


ainda nos primórdios do século passado, quando em 1825 WACKER observou a pilha de
temperatura diferencial, DAVI distinguiu a pilha de tensão diferencial em 1826. BECQUEREL
observou a pilha de concentração diferencial em 1827 e MARIANINI, em 1830, identificou a
pilha de aeração diferencial [DUTRA, 1987].
A característica fundamental do mecanismo eletroquímico é que ele só se verifica
em presença de eletrólito. Para que a reação de corrosão ocorra, é necessário que ocorram
simultaneamente a reação anódica, reação de oxidação, que libera elétrons,
CORROSÃO 13

Me → Me Z + + ze (1.2.1)

os quais se deslocam para outros pontos do metal onde ocorre a reação catódica,
reação de redução, que consome elétrons.

Me Z+ + ze → Me (1.2.2)

A reação anódica tem como conseqüência a dissolução do metal ou transformação


em outro composto como óxido, sulfeto, etc, produzindo-se então a corrosão. Por outro lado a
reação catódica conduz à redução de espécies presentes no meio, sem a participação do metal
sobre o qual ela tem lugar, consumindo os elétrons liberados até que as reações 1.2.1 e 1.2.2
atinjam o equilíbrio e a corrosão cesse. Exemplos de reações:
a)
2( Fe → Fe 2+ + 2e) oxidação (1.2.3)

O2 + 2 H 2 O + 4e → 4OH − redução (1.2.4)

2Fe + O2 + 2 H 2 O → 2Fe 2+ + 4OH − global (1.2.5)

b)
Sn → Sn 2+ + 2e oxidação (1.2.6)
2 H + + 2e → H 2 redução (1.2.7)

Sn + 2 H + → Sn 2+ + H 2 global (1.2.8)

O mecanismo se traduz no funcionamento de uma pilha de corrosão que requer


quatro elementos imprescindíveis, a saber:

• uma área onde se passa a reação anódica, por isso mesmo denominada de área
anódica: ânodo
CORROSÃO 14

• uma área distinta daquela, onde se passa a reação catódica, por isso mesmo
denominada de área catódica: cátodo
• uma ligação metálica que une ambas as áreas e por onde fluem os elétrons
resultantes da reação anódica: condutor
• um eletrólito em contato simultâneo com as mesmas áreas por onde fluem os
íons resultantes de ambas as reações: eletrólito

Figura 6- Esquema de corrosão metálica em meio ácido

1.2.1- POTENCIAL DE ELETRODO

O funcionamento das pilhas eletroquímicas, ou pilhas de corrosão, envolve uma


importante grandeza que se denomina “potencial de eletrodo” ou simplesmente “potencial”
como se costuma dizer na prática. O seu aparecimento se baseia num princípio geral segundo
o qual, sempre que se tem um metal em contato com um eletrólito, desenvolve-se entre o
metal e o eletrólito uma diferença de potencial elétrico que pode ser positiva, negativa ou nula,
dependendo do metal das espécies presentes no eletrólito, além de outras variáveis.
Considere um metal no vácuo. Para se trazer uma carga unitária do infinito até este
metal será necessário exercer um trabalho pois haverá uma interação entre a carga unitária e as
cargas da estrutura eletrônica do metal.
Cada metal (ou material) possui uma distribuição de suas cargas que é
característica do material. Desta forma, o trabalho para se trazer uma carga unitária do infinito
CORROSÃO 15

para o interior do cobre é diferente para o caso do níquel e para todos os outros materiais. Este
trabalho se traduz numa energia absoluta φ ABS sendo portanto característica de cada material.
Entretanto, um material não se encontra no vácuo. Ele está num meio (um
eletrólito). Haverá, da mesma forma, um potencial conseqüente do trabalho de se trazer uma
carga unitária do infinito para o interior da solução. Este trabalho, se traduz num φSOLABS ,

dependerá, entretanto, da concentração de íons metálicos na solução.


Como conseqüência, tem-se um sistema composto por um eletrólito e um metal em
que se tem uma diferença de potencial absoluto ∆φ ABS = φ M − φ SOL .
Este ∆φ funciona como uma força motriz para as reações de corrosão.
Este fenômeno é observado fisicamente pela tendência natural da maioria dos
metais passarem para a solução num eletrólito. Para que isto ocorra é necessário que ele passe
para a forma iônica, o que ocorre segundo a reação anódica da Eq.1.2.1, conforme ilustrado na
Figura 7.

Figura 7 - Estágio inicial da reação anódica

A reação prossegue no sentido indicado até ocorrer a saturação do eletrólito, com


íons de metal, nas imediações da interface metal/ meio, quando então a entrada de um íon a
CORROSÃO 16

mais na solução, provoca a redução de outro íon que se deposita no próprio metal, mantendo o
equilíbrio das cargas tendo-se:

M ↔ M Z + + ze (1.2.9)

Assim, a diferença de potencial mencionada é explicada pela presença de cargas


elétricas de um sinal, no eletrólito, e cargas de sinal oposto, no metal, conforme ilustrado na
Figura 8. Na prática o valor desta diferença, ou seja, do potencial, depende de muitos fatores,
um deles ligados ao metal e outros, relacionados com o eletrólito, tais como tipo do eletrólito,
concentração, temperatura, grau de aeração e grau de agitação.

Figura 8 - Condições de equilíbrio metal/eletrólito

Ao conjunto constituído por um metal em contato com um eletrólito denomina-se


meia pilha, meia célula, semicélula ou simplesmente eletrodo.
CORROSÃO 17

Como já foi observado, quando os metais reagem têm tendência a perder elétrons,
sofrendo oxidação e, conseqüentemente corrosão. Verifica-se experimentalmente que os
metais apresentam distintas tendências à oxidação. É, portanto, interessante para a previsão de
alguns problemas de corrosão ter em mãos uma tabela que indique a ordem preferencial de
oxidação dos metais. Esta tabela é conhecida como tabela dos potenciais de eletrodo ou série
eletroquímica. A Tabela 3 apresenta os potenciais padrões de redução para um grande número
de metais, ordenados com relação ao eletrodo de referência (padrão de hidrogênio), já que a
medida direta deste potencial é impossível.
CORROSÃO 18

Tabela 3 - Potenciais padrão de redução [DENARO, 1971]

1.2.2 - ELETRODOS DE REFERÊNCIA

Um metal em uma solução aquosa estabelece um certo potencial com relação à


solução que é comumente conhecido como potencial de eletrodo. O potencial de equilíbrio do
eletrodo é o potencial do eletrodo devido a um único processo, nas condições de equilíbrio
entre os íons do metal no retículo cristalino e os íons do metal em solução. Se, por exemplo,
prata metálica é imersa em uma solução de sal de prata, haverá uma troca entre os íons de
prata no retículo cristalino do metal e os íons de prata hidratados, em solução

AG ( reticulo) → AG + ( aquoso) (1.2.10)


CORROSÃO 19

AG + ( aquoso) → AG ( reticulo) (1.2.11)

quando os dois processos atingem o equilíbrio, tem-se o potencial de equilíbrio do


eletrodo.
Ambos, potencial de eletrodo e potencial de equilíbrio do eletrodo, não podem ser
medidos em termos absolutos. A diferença de potencial entre o metal (M) na solução e um
outro eletrodo (R) na solução, entretanto, pode ser medida. Além disso, se houver quaisquer
variações na diferença de potencial, estas podem ser atribuídas a variações no sistema metal
(M)/solução, uma vez que o sistema eletrodo (R)/solução se mantém constante. O eletrodo (R)
é considerado um eletrodo de referência. Assim, o potencial de uma interface metal/solução
pode ser determinado usando-se outra interface metal/ solução. Esta diferença de potencial é
também referida como a força eletro- motriz (f.e.m.) da célula formada por eletrodos (M) e
(R), e o meio aquoso. É necessário definir o potencial do eletrodo de referência de forma que
ele possa ser usado como padrão para todas as medidas de potencial. Há diversos eletrodos de
referência e alguns deles serão apresentados a seguir.

1.2.2.1 - ELETRODO PADRÃO DE HIDROGÊNIO (SHE - STANDARD


HYDROGEN ELECTRODE)

O equilíbrio entre íons de hidrogênio e hidrogênio gasoso pode ser dado como:

2 H + + 2e ↔ H 2 (1.2.12)

O eletrodo de hidrogênio consiste de um eletrodo de platina imerso em uma


solução de íons hidrogênio na qual hidrogênio gasoso H 2 a 1 atm é borbulhado Figura 9
CORROSÃO 20

Figura 9 – Representação esquemática de um eletrodo padrão de Hidrogênio

Desde que o eletrodo de hidrogênio é difícil de ser construído e usado, outros


eletrodos de referência são freqüentemente preferidos na prática. Os potenciais de equilíbrio
medidos com a ajuda desses eletrodos de referência podem ser facilmente convertidos para a
escala de hidrogênio (caso seja requerido). Os sistemas de eletrodos de referência mais
comumente usados serão apresentados a seguir:

1.2.2.2 - ELETRODO DE CALOMELANO SATURADO (ECS)

Este eletrodo consiste de mercúrio em equilíbrio com Hg 2+ , cuja atividade é


determinada pela solubilidade de Hg 2 Cl 2 (também conhecido como calomel). A reação de
meia célula é:
CORROSÃO 21

2 Hg + Cl − ↔ Hg 2 Cl 2 ( solido ) + 2e (1.2.13)

A Figura 10, mostra uma das várias configurações deste eletrodo. Nela o mercúrio
puro esta em contato com um eletrodo de platina. O mercúrio é coberto por Hg 2 Cl 2 sólido,
que é ligeiramente solúvel em KCl , o último preenchendo a célula e promovendo o contato
eletrolítico. O potencial de redução deste eletrodo com relação ao eletrodo padrão de
hidrogênio é +0,2415 V.

Figura 10- Ilustração esquemática de um eletrodo calomel saturado

1.2.2.3 - ELETRODO DE PRATA- CLORETO DE PRATA

Este eletrodo é preparado revestindo-se um fio de platina com prata, que é mantido
imerso em HCl diluído para formar cloreto de prata sobre sua superfície. Um eletrodo de
prata-cloreto de prata é mostrado esquematicamente na Figura 11. Quando o eletrodo é imerso
em uma solução de cloreto, o equilíbrio que se estabelece é:

Ag + Cl − ↔ AgCl + e E o = +0,222V (1.2.14)


CORROSÃO 22

Em KCl 0,1 N, o seu valor é 0,288 V.

Figura 11 - Ilustração esquemática de: a) um eletrodo de prata- cloreto de prata, b) um


eletrodo de cobre-sulfato de cobre saturado

1.2.2.4 - ELETRODO DE COBRE - SULFATO DE COBRE SATURADO

Este eletrodo consiste de cobre metálico imerso em CuSO4 saturado, como mostra
a Figura 11. A reação da meia célula é :

Cu ↔ Cu 2 + + 2e E o = +0,337V (1.2.15)

Em CuSO4 saturado, o potencial é 0,316 V. A precisão deste eletrodo, embora


adequada para a maioria das pesquisas de corrosão, é inferior à precisão do calomel ou do
eletrodo de prata- cloreto de prata. Este eletrodo é usado principalmente em medidas de campo
uma vez que estas são mais grosseiras.
Há um número de outros eletrodos de referência embora não de utilização comum,
mas que são construídos e usados para aplicações específicas. Detalhes sobre suas construções
e potenciais podem ser encontrados na literatura [RAMANATHAN, 1995].
CORROSÃO 23

1.2.3 - CONVENÇÕES DE SINAIS

Pode-se notar que o sinal do potencial do eletrodo E para a reação

Zn + 2 H + ↔ Zn 2+ + H 2 (1.2.16)

que é 0,762 V é arbitrário, e depende se a reação de equilíbrio é escrita com os


elétrons no lado esquerdo ou direito. Hoje é aceito internacionalmente que qualquer equilíbrio
deve ser escrito com os elétrons do lado esquerdo da reação, por exemplo:

Zn 2+ + 2e → Zn E o = −0,762V (1.2.17)

Cu 2+ + 2e → Cu E o = 0,337V (1.2.18)
CORROSÃO 24

2 - ASPECTOS TERMODINÂMICOS DA CORROSÃO

2.1 -TERMODINÂMICA DAS REAÇÕES ELETROQUÍMICA

A termodinâmica é a ciência que estuda transformações de energia. “O estudo


termodinâmico de uma reação avalia se a reação é espontânea ou não”. Isto pode ser feito
através da verificação da variação da energia livre de Gibbs ( ∆G ). Se na transição de um
sistema de um estado de energia para outro, a variação da energia livre, ( ∆G ), for negativa,
significa que ocorreu uma perda de energia e assim a transição é espontânea. Isto é, na
ausência de fatores externos, o sistema tende sempre para o menor estado de energia. Por
outro lado, se nesta transição, a variação da energia livre for positiva, significa que a transição
requer um aumento de energia, sendo então não espontânea.
Este princípio pode ser ilustrado com analogia mecânica conforme a Figura 12
abaixo

Figura 12 - Analogia mecânica de energia livre

Se a bola se move da posição 1 para a posição 2, isto representa uma diminuição


da energia livre, sendo uma transição espontânea. A transição inversa não é espontânea e
requer o fornecimento de energia para ocorrer.
CORROSÃO 25

A variação de energia livre é uma função de estado e é independente do caminho


da transição. Isto é ilustrado na Figura 13. Para ambos os caminhos, a variação da energia
livre é a mesma. É obvio, no entanto, que, na transição de 1 para 2A o tempo dispendido é
menor do que na transição de 1 para 2B. Nas reações eletroquímicas a situação é exatamente a
mesma, ou seja, o estudo termodinâmico prevê exatamente se uma dada reação pode ou não
ocorrer espontaneamente, não sendo possível, no entanto, prever o tempo necessário (a
velocidade) para a sua ocorrência.

Figura 13 - Efeito do caminho da reação na sua velocidade

Vamos introduzir agora o conceito de energia livre para uma “reação química” e
em seguida para uma reação eletroquímica.
Consideremos a seguinte reação química reversível:

A+ B ↔ C + D (2.1.1)

A variação da energia livre química desta reação será dada por:

∆G = ∑ G produtos − ∑ Greagentes (2.1.2)

∆G = GC + GD − G A − GB (2.1.3)
CORROSÃO 26

Neste caso também teremos o seguinte se:


∆G〈0 - a reação é espontânea;
∆G〉0 - a reação não é espontânea é preciso fornecer energia para a sua ocorrência
e
∆G = 0 - a reação está em equilíbrio.
Consideramos, para melhor visualização, a Figura 14.

Figura 14 - Representação esquemática da energia livre de uma reação química

Considerando que a situação (1) corresponde aos reagentes e a situação (2) aos
produtos, podemos verificar que o estado mais baixo de energia corresponde à situação (2),
sendo portanto a transição do estado (1) para (2) espontânea, com liberação de uma energia
igual a ( ∆G ).
No entanto, convém notar que é necessário fornecer uma certa energia mínima
para permitir a transição de (1) para (2). A está energia dá-se o nome de energia de ativação
(∆G ∗ ) , sendo este um parâmetro cinético.
Consideremos agora uma reação eletroquímica:

Me → Me z + + ze (2.1.4)
CORROSÃO 27

Neste caso, falar-se-á de energia livre eletroquímica ( G$ ) e não energia química. A


relação entre estas duas energias livre é a seguinte:

Gˆ = G + qφ (2.1.5)
onde:
G$ = energia livre eletroquímica;
G = energia livre química;
q = cargas elétricas e
φ = potencial elétrico

Para o estudo das reações eletroquímicas deve-se levar em consideração as


variações de energia livre eletroquímica, ou seja:
$ - a reação é espontânea
∆G〈0
$ - a reação não é espontânea
∆G〉0

∆G$ = 0 - a reação está em equilíbrio.

Suponha um metal mergulhado no eletrólito constitui um eletrodo e a célula assim


formada é chamada de semi-célula. Se existe o equilíbrio entre o metal e o eletrólito, tem-se
uma situação em que a energia livre eletroquímica do metal é igual a do íon metálico no
eletrólito, ou seja:

G$ Me ≅ G$ Me Z + (2.1.6)

No entanto a energia livre química de ambos não é igual:

G Me O + nFφ Me O = G Me Z + + nFφ Me Z + 2.1.7)

G Me O − G Me Z + = − nF (φ MeO − φ Me Z + ) (2.1.8)

∆G = − nFE (2.1.9)
CORROSÃO 28

onde:
∆G = é a variação da energia livre química da reação apresentada na Eq. (2.1.4)
E = potencial do eletrodo
n = números de elétrons envolvidos na reação
F = constante de Faraday (96.485 C/mol)

Conforme apresentado anteriormente, os potenciais de eletrodo dos diversos


elementos foram medidos experimentalmente com auxilio do eletrodo padrão de hidrogênio.
Porém na prática, não é sempre possível, nem de interesse, ter-se as concentrações
iônicas das espécies presentes iguais a 1 M ou atividade unitária. Assim sendo, têm-se valores
dos potenciais diferentes dos padrões. Entretanto, estes potenciais podem ser calculados
teoricamente, a partir da variação da energia de Gibbs, nas transformações reversíveis, que foi
dado pela equação (2.1.9).
Considerando agora uma solução que já contenha íons metálicos, e medindo-se o
potencial do eletrodo, nota-se que este varia com a variação da concentração dos íons
metálicos. Além da dependência do potencial do eletrodo, tem também a dependência da
temperatura da solução.
Segundo os conceitos de termodinâmica, a energia livre de uma reação é dada pela
seguinte expressão.

[ Pr odutos]
∆G = ∆G o + RT ln (2.1.10)
[ Re agentes]
onde:
∆G o = energia livre padrão
T = temperatura em Kelvin
R = constante dos gases
Produtos- atividade dos produtos
Reagentes- atividade dos reagentes
Da eq. (2.1.9),
CORROSÃO 29

[ Pr odutos]
− nFE = − nFE o + RT ln (2.1.11)
[ Re agentes]

RT [ Re agentes]
E = Eo + ln (2.1.12)
nF [ Pr odutos]
ou
RT ared .
E = Eo − ln (2.1.13)
nF aoxid .
onde:
E = potencial observado e
E o = potencial de equilíbrio padrão, e corresponde ao potencial de eletrodo quando
a atividade dos íons na solução é igual a 1 M. os valores de E o formam a chamada série
eletroquímica. A Tabela 3 apresenta os valores de E o de alguns metais
R = constante termodinâmica dos gases (8,314 J/mol.K)
T = temperatura absoluta (K)
n = números de elétrons envolvidos na reação
F = constante de Faraday (96.485 C/mol)
a red = atividade das espécies reduzidas
a oxid = atividade das espécies oxidadas.
Substituindo-se os valores constantes da eq. (2.1.13), é comum encontrá-la escrita
para E dado em Volt e a 25 oC, como:

0,059 a
E = Eo − log red (2.1.14)
n a oxid

Uma forma mais prática de se utilizar esta equação é converter atividade em


concentração. Uma vez que a = γC . Para soluções diluídas, a ≅ C e a Eq. (2.1.14) se torna
0,059
E = E o' + log[ Ox ] (2.1.14.a)
n
CORROSÃO 30

onde a constante E o' é o potencial formal e é utilizado quando se usa concentração. O E o'
0,059
corresponde ao E o mais o termo log γ .
n
Esta equação foi deduzida por Nernst e por esta razão é conhecida como Equação
de Nernst.
Convém notar que o conhecimento do potencial de equilíbrio de uma dada semi-
célula é importante pois para potenciais inferiores ao potencial de equilíbrio a tendência é a
deposição e para potenciais maiores a tendência é a dissolução.
Considerando os dados da termodinâmica, Marcel Pourbaix, descobriu a existência
de relações entre o potencial de eletrodo e o pH das soluções, para os sistemas em equilíbrio, a
partir dos dados termodinâmicos. Estas relações foram deduzidas graficamente dando origem
aos diagramas de [Pourbaix, 1966], construídos para uma grande variedade de metais em água.
Os constituintes da água, H + e OH − podem ser reduzidos (evoluindo H 2 ) ou
oxidados (evoluindo O2 ). Isto conduz às seguintes condições de equilíbrio:

a) H 2 ↔ 2 H + + 2e (2.1.15)
cujo potencial, de acordo com a Eq. de Nernst, é

[ ]
2
RT H+
E=E + o
2,3 log (2.1.16)
2F PH2

onde:
E = potencial numa dada condição em volt;
E o = potencial padrão do H 2 que é zero, por definição, em Volt,

E = 0 + 0,0591 log[ H + ] (2.1.17)

mas, log[ H + ] = − pH , então

E = 0 − 0,0591pH (2.1.18)
CORROSÃO 31

que representa uma reta, a qual é denominada de reta “a”, no diagrama apresentado na Figura
15 :

1
b) H 2 O + O + 2e ↔ 2OH − (2.1.19)
2 2

( )
1/ 2
0,0591 PO2
E = +0,401 + log (2.1.20)
2 ( OH − ) 2

tendo-se a pressão do oxigênio igual a 1, resulta:

E = 0,401 − 0,0591 log( OH − ) (2.1.21)

considerando que − log[ OH − ] = 14 − pH , obtém-se:

E = 1,229 − 0,0591pH (2.1.22)

que é outra reta, de mesma inclinação, portanto paralela à reta “a” e que é denominada de reta
“b”.
Estas duas retas definem campos muitos importantes no diagrama, conforme
mostrado na Figura 15.
CORROSÃO 32

Figura 15 - Diagrama de Pourbaix para água.

A região compreendida entre as linhas “a” e “b” representa o domínio de


estabilidade termodinâmica da água, à temperatura de 25 oC, sob a pressão de 1 atm. Abaixo
da linha “a”, que corresponde a uma pressão de hidrogênio igual a 1 atm, a água tende a
decompor-se por redução, de acordo com a reação:

2 H + + 2e → H 2 (2.1.23)

e acima da linha “b” que corresponde a uma pressão de oxigênio a 1 atm, a água tende a
decompor-se por oxidação de acordo com a reação:

2 H 2 O → O2 + 4 H + + 4e (2.1.24)
CORROSÃO 33

Estas reações são de caráter geral, envolvendo o potencial (presença de elétrons) e


pH (presença de íon H + ou de OH − ). Entretanto, há outras condições de equilíbrio que não
dependem do potencial, sendo representadas por retas verticais, e outras que não dependem do
pH e que são representadas por retas horizontais.
Seguindo este raciocínio, [POURBAIX, 1966] traçou as curvas representativas das
condições de equilíbrio entre um elemento e os seus compostos, definindo os domínios de
estabilidade termodinâmica de cada um. A Figura 16 representa o diagrama de equilíbrio
potencial x pH, de forma simplificada, para o sistema Fe / H 2 O , a 25 oC, todo o problema
termodinâmico consiste em calcular (a partir de considerações de energia livre) qual é a forma
em que o ferro puro ou formando compostos é mais estável para as distintas condições do par
E-pH.

Figura 16 - Diagrama de equilíbrio para o sistema Fe/H2O a 25 oC


CORROSÃO 34

Observa-se na Figura 16 que se tem uma primeira região onde o ferro metálico é a
forma estável. Esta região é conhecida como zona de imunidade e localiza-se em potenciais
mais catódicos (E mais negativos), pois a (Eq. 1.2.2), se encontrará deslocada para a direita.
Outra região é observada no diagrama, onde para baixos potenciais a forma estável
é F e 2 + e para altos potenciais Fe 3+ , zonas onde se produzirá corrosão. Existe também outra
zona de corrosão para meios muito alcalinos, onde o F e se dissolve como HFeO 2−
(formação de complexos).
Entre estas duas ultimas zonas de corrosão, para um amplo intervalo de pH e altos
E, localiza-se o que se conhece como zona de passividade que é caracterizada pela formação,
sobre a superfície do metal, de óxidos estáveis nesta faixa de pH. No caso de Fe , para
menores potenciais temos o Fe3 O4 e para potenciais maiores, o Fe2 O3 . A formação, sobre o
metal de filmes de óxidos tem como conseqüência, se o filme for bem formado (cobre toda a
superfície), uma grande diminuição de taxa de corrosão.
Por isso se diz que o fenômeno de passivação (formação de filmes superficiais
compactos e aderentes) impede a posterior corrosão. Este é o caso, à temperatura ambiente, do
filme de Fe2 O3 . Por isso, na região (E, pH) onde ele é o mais estável, tem-se uma baixa taxa
de corrosão e uma alta passividade.
No que se refere ao filme de F e 3 O 4 este não é ( à temperatura ambiente) muito
passivante e a corrosão, principalmente em certas soluções, continua a produzir-se.
Para completar a idéia de passivação é importante acrescentar:
(I) - em determinadas regiões de pH o óxido deixa de existir, pois se dissolve
transformando-se em espécies solúveis ( Fe 2 + , Fe 3+ , HFeO 2− ) e, portanto, a passivação deixa
de existir;
(II) - nem sempre o filme passivante é formado por óxidos. O Pb em H 2 SO4 se
passiva por formação de um filme de PbSO4 e
(III) - o fenômeno de passivação pode ser observado através do levantamento de
uma curva de polarização onde, por meio de um potenciostato, se polariza o eletrodo a
E 〉 E Corr . .
A Figura 17 apresenta o diagrama de equilíbrio potencial (E) x pH, para o sistema
zinco/ água, a 25 oC. Este diagrama mostra dois campos em que o zinco se apresenta sob a
CORROSÃO 35

forma iônica, portanto são campos de corrosão. Esta é uma característica dos metais anfóteros,
tais como o chumbo, estanho, alumínio e antimônio.

Figura 17 - Diagrama de equilíbrio para o sistema Zn/H2O a 25 oC

Os campos de corrosão do zinco situam-se na faixa de pH de 0 a aproximadamente


8,5 e do pH 10,5 a 14. Entre estas duas faixas, situa-se um campo de passividade. Na parte
inferior, encontra-se o campo da imunidade do zinco à corrosão. Isto é, nestas condições a
forma estável dele é a metálica.
A Figura 18, apresenta o diagrama de equilíbrio potencial (E) x pH, para o sistema
chumbo/água, é um diagrama importante porque a corrosão do chumbo assume importância
muito grande pelo fato dele ser largamente empregado como revestimento impermeável para
cabos de energia elétrica e cabos de telecomunicações. Estes cabos são instalados tanto em
CORROSÃO 36

galerias como enterrados no solo, ocorrendo com freqüência o seu contato com águas,
provenientes de infiltrações.

Figura 18 - Diagrama de equilíbrio para o sistema Pb/H2O a 25 oC

Dependendo das condições do sistema metal/ meio, o chumbo pode comportar-se


de cinco modos diferentes [DUTRA, 1991]: pode sofrer corrosão ácida, corrosão alcalina,
oxidação, pode ficar passivado ou permanecer imune ao ataque, o que é ilustrado na Figura
18, onde a área sombreada refere-se à região de passividade.
CORROSÃO 37

O domínio da passividade é influenciado pela presença do dióxido de carbono no


meio. Quanto maior o teor de C O 2 , maior a área de passividade. A área designada por (A)
representa, no diagrama citado, uma condição resultante de alta concentração do dióxido de
carbono na água contida no solo. A área designada por (B) indica a condição do chumbo em
equilíbrio com água em contato com a atmosfera, cujo teor de C O 2 é normal e a área (C)
representa o equilíbrio com uma área pobre em C O 2 . Na ausência de CO2, a passivação não
ocorre.
O diagrama de [POURBAIX, 1966] é muito útil, porém também apresenta
limitações, devido ao fato que o diagrama é termodinâmico. Isto é, reflete as condições de
equilíbrio dos metais e seus compostos, em meio aquoso a 25 oC e sob pressão de 1 atm. O seu
emprego para elucidar problemas práticos, em que os sistemas não se acham em equilíbrio e
em diferentes temperaturas, pode conduzir a erros graves.
CORROSÃO 38

3 - ASPECTOS CINÉTICOS DA CORROSÃO

Quando se tratou do mecanismo eletroquímico da corrosão, fez-se referência ao


potencial de eletrodo que se desenvolve quando o sistema entra em equilíbrio, como
apresentada na Figura 8, forma-se na interface metal/eletrólito, uma dupla camada elétrica
através da qual a reação

M e ↔ M ez + + 2e (3.1)

procede tanto no sentido de oxidação (dissolução anódica) como no de redução (deposição


catódica) até agora, as condições de equilíbrio discutidas forneceram uma base de informação
sobre a tendência à corrosão. Na prática, entretanto, a velocidade de corrosão é que desperta
maior interesse. Metais como alumínio apresentam uma grande tendência para corrosão, mas
sofrem corrosão a uma velocidade baixa. Quando um eletrodo está em equilíbrio, o balanço
resultante da corrente para a superfície ou a partir dela é nulo.
O potencial medido de cada eletrodo é alterado para uma medida que depende da
grandeza da corrente e de sua direção. A direção da variação do potencial é sempre oposta ao
deslocamento do equilíbrio, e portanto oposta ao fluxo de corrente. Como se tem cargas
elétricas, as velocidades das reações podem ser medidas em termos de densidades de corrente
elétrica, definida como:

r dq
i =v= (3.2)
dt
onde:
r
i = densidade de corrente
ν = velocidade da reação

Quando um metal é imerso em uma solução de seus próprios íons (ex. zinco
imerso em uma solução de sulfato de zinco), haverá uma tendência para o zinco no retículo do
CORROSÃO 39

metal ir para a solução e uma tendência para os íons de zinco na solução se depositarem sobre
a superfície metálica:

Zn( reticulo ) → Zn 2+ + 2e (dissolução)

Zn 2+ ( aquoso ) + 2e → Zn( reticulo ) (deposição)

Inicialmente os dois processos podem apresentar velocidades diferentes, entretanto


se a velocidade de dissolução do metal for maior que a de redução do íon de metal, o metal
ficará carregado negativamente (devido ao excesso de elétrons deixados no metal), resultando,
portanto, na formação de uma dupla camada elétrica na superfície, como mostra a Figura 19.

Figura 19 - Formação de uma camada elétrica dupla na interface metal-solução

Um campo elétrico normal à interface será produzido reduzindo rapidamente a


corrente resultante entre as regiões em dissolução e as regiões onde a deposição esta
ocorrendo, isto é, a velocidade de dissolução torna-se igual à velocidade de redução. Esta
distribuição de cargas na interface solução- metal dá origem a uma diferença no potencial
elétrico (com relação ao eletrodo de referência). Este valor de potencial é também chamado de
potencial de equilíbrio. As velocidades de dissolução e de redução são normalmente expressas
como corrente i, e dadas em Amperes ou miliamperes.
CORROSÃO 40

r
Adotando-se uma convenção em que i indica a velocidade do processo de
s
descarregamento e i indica a velocidade de dissolução, então no equilíbrio

r s
i = i = io (3.3)

sendo io chamado de densidade de corrente de troca.


Pode-se demonstrar que Eq. 3.3 a densidade de correntes anódica e catódica são
dadas pelas seguintes expressões:

io = K1 exp( − ∆G ∗ / RT ) = K 2 a Me
z+
exp( − ∆G ∗ / RT ) (3.4)

onde K é a constante de equilíbrio da reação e ∆G ∗ é a energia livre da ativação na situação


de equilíbrio.
Sabe-se, também que nas condições de equilíbrio se estabelece através da dupla
camada, um potencial de equilíbrio ou reversível que caracteriza a reação de um dado
eletrodo. Se agora, por um processo qualquer (por exemplo, através da imposição de um
potencial externo) este potencial for alterado, diz-se então que o eletrodo sofreu polarização.
A extensão da polarização, medida com relação ao potencial de equilíbrio, é chamada de
sobretensão ou sobrepotencial, e é normalmente designada por η . Assim, se o potencial
resultante da polarização for E e o potencial de equilíbrio for E e , então:

η = E − Ee (3.5)

se η for positivo tem-se uma polarização anódica e se η for negativo uma


polarização catódica, sendo os correspondes sobrepotenciais designados por sobrepotencial
anódico (ηa ) e sobrepotencial catódico (η c ) , respectivamente. Os dois tipos de polarização

estão indicados na Figura 20, que é uma apresentação do eixo dos potenciais de eletrodo E .
CORROSÃO 41

Figura 20 - Ilustração da polarização anódica e catódica de um eletrodo

3.1 - CAUSAS DA POLARIZAÇÃO DO ELETRODO

Considere uma cela eletroquímica Zn/H2, apresentada na Figura 21, curto


circuitada de forma que ocorrerá reação de oxidação do zinco e redução do hidrogênio em
suas respectivas superfície. O potencial dos eletrodos não será mais o indicado na Tabela 3
uma vez que o sistema não estará em equilíbrio. O deslocamento de cada potencial de eletrodo
de seus valores de equilíbrio é denominado polarização, e a magnitude do deslocamento é a
sobrevoltagem (ou sobrepotencial) normalmente representada pelo símbolo η . O
sobrepotencial é expresso em termos de Volts (positivos ou negativos) relativos ao potencial
de equilíbrio. Por exemplo, suponha que o eletrodo de zinco na Figura 21 tenha um potencial
de –0,621 V após ter sido conectado ao eletrodo de platina. O potencial de equilíbrio é de –
0,763 V e, portanto,

η = -0,621 V – (-0,763 V) = +0,142 V


CORROSÃO 42

Existem dois tipos de polarização: ativação e concentração. Os mecanismos


envolvidos nestes tipos de polarização, que controlam a taxe da reação eletroquímica, serão
tratados a seguir.

Figura 21 - Cela eletroquímica consistindo de um eletrodo de zinco e um eletrodo padrão


de hidrogênio

3.1.1 - POLARIZAÇÃO POR ATIVAÇÃO

Quando um eletrodo metálico é polarizado, as condições de equilíbrio não são


mais mantidas. A polarização por ativação é causada pela energia de ativação requerida para o
reagente (átomos de metal no retículo, no caso das reações de dissolução, e íons de metal na
solução, no caso das reações de deposição ou descarregamento) vencer a barreira de energia
que existe entre os estados de energia do reagente e do produto.
Se a polarização for anódica, isto é, o potencial do metal for tornado mais nobre,
então se criam condições para remoção dos elétrons produzidos na Eq. 3.1 e, com isto, esta
CORROSÃO 43

r s
reação procederá no sentido da dissolução anódica, com uma densidade de corrente ia = i − i

positiva. Caso contrário, se a polarização for catódica, isto é, o potencial do metal for tornado
menos nobre, tem-se um suprimento de elétrons e a Eq. 3.1 procederá no sentido oposto de
r s
deposição catódica, com uma densidade de corrente ic = i − i negativa.

A polarização por ativação é também característica da deposição de íons metálicos


ou dissolução podendo ser pequena para metais como prata, cobre ou zinco, e maior para
metais de transição como ferro, cromo, níquel e etc. Há evolução de hidrogênio sobre uma
superfície metálica, se a velocidade da reação de redução é menor do que a velocidade com
que os elétrons que chegam à superfície, causando portanto um acúmulo de cargas negativas
no eletrodo. Isto acarreta a mudança do potencial, causando uma polarização denominada de
polarização de hidrogênio, que é importante no mecanismo de proteção catódica.
A equação geral que correlaciona a densidade de corrente resultante i ( ia ou ic )
com o sobrepotencial aplicado η (ηa ou ηc ) é dada por:

  αzFη   zFη  
i = io exp  − exp − (1 − α )  (3.6)
  RT   RT  

onde α é o coeficiente de transferência de carga.


Esta equação, é conhecida como equação geral da cinética do eletrodo, é bastante
complexa. No entanto, ela pode ser simplificada para valores de sobretensão, em valor
absoluto, superiores a 0,03 Volts. Nesta situação um dos termos da equação se torna
desprezível com relação ao outro. De fato, quando ηa 〉 0,03 Volts, o segundo termo da Eq. 3.6
se torna desprezível com relação ao primeiro e esta equação reduz-se à:

 αzFηa 
ia = io exp  (3.7)
 RT 

ou
ia
ηa = ba log (3.8)
io
CORROSÃO 44

com
2,303RT
ba = (3.9)
αzF

Do mesmo modo, quando ηc 〈 0,03 Volts, por primeiro termo da equação torna-se
desprezível com relação ao segundo e a Eq. 3.6 reduz-se à:

 zFηc 
ic = io exp − (1 − α )  (3.10)
 RT 
ou
ic
ηc = bc log (3.11)
io
com
2,303RT
bc = − (3.12)
(1 − α ) zF

A Figura 22 ilustra as curvas de polarização anódica e catódica num diagrama em


que as densidades de corrente assumem valores relativos, isto é, ia assume valores positivos e
ic valores negativos. Observe-se que no potencial de equilíbrio E e , a densidade de corrente i
assume valor nulo.
CORROSÃO 45

Figura 22 - Curvas de polarização anódica (ia) e catódica (ic) num diagrama em que as
densidades de corrente assumem valores relativos: ia é positivo e iac é negativo.

As Equações 3.8 e 3.11 são formalmente semelhantes e podem ser representadas


de maneira única por meio da equação:

i
η = b log (3.13)
io

que é a equação de Tafel. Os coeficientes ba e bc são chamados de declives de Tafel anódico


e catódico, respectivamente.
Uma outra maneira de se escrever a equação de Tafel é a seguinte:

η = a + b log i (3.14)
com
a = − b log io (3.15)
CORROSÃO 46

A Eq. 3.6 e, em conseqüência, a própria equação de Tafel segue da suposição de


que a velocidade do processo no eletrodo é determinada por uma barreira energética de
ativação situada dentro da dupla camada elétrica, razão por que a sobretensão que aparece
nessas equações é chamada de sobrepotencial de ativação, e a correspondente polarização, de
polarização de ativação. Em outras palavras, a polarização de ativação é a barreira energética
imposta pela DCE, que precisa ser vencida para ocorrer a reação.

3.1.2 - POLARIZAÇÃO POR CONCENTRAÇÃO

Na polarização por concentração, as reações de eletrodo são retardadas por razões


ligadas à concentração das espécies reagente. No caso da reação de dissolução de um metal
puro, foi assumido que o íon do metal deixa o retículo cristalino e move-se para longe do
eletrodo. Este deslocamento do íon do eletrodo para o eletrólito ocorre por processos de
difusão. Pode ser observado que se aumentando a densidade de corrente de dissolução, a
remoção dos íons metálicos da superfície do eletrodo não aumenta proporcionalmente. Desta
forma, a um aumento da concentração dos íons metálicos no eletrólito próximo ao ânodo.
Como conseqüência, a manutenção da velocidade de dissolução do metal torna-se mais difícil
e requer um aumento na sobretensão anódica. Eventualmente a velocidade de difusão dos
cátions atinge um limite máximo. Isto indica que qualquer aumento posterior na sobretensão
anódica não acarretará aumento na densidade de corrente. O aumento na variação do potencial
devido a polarização por concentração ηc pode ser expressa como:

RT i −i
ηc = 2,3 log L A (3.16)
zF iL
onde:
iL = densidade de corrente limite e
i A = densidade de corrente aplicada.

O valor de iL depende da velocidade do eletrólito, temperatura, natureza do cátion


(desde que as velocidades de difusão dos diferentes cátions variem) e do posicionamento
CORROSÃO 47

geométrico do ânodo. Na prática, a polarização por concentração torna-se importante somente


quando i A aproxima-se de iL . O efeito desta situação sobre as curvas de polarização está
apresentada na Figura 23.

Figura 23 - Polarização de concentração num eletrodo metálico, mostrando as


densidades de corrente limite anódica (iaL) e catódica (icL)

3.1.3 - POLARIZAÇÃO POR RESISTÊNCIA

A polarização ôhmica é conseqüência da resistência elétrica oferecida pela


presença de uma película de produtos sobre a superfície do eletrodo, a qual diminui o fluxo de
elétrons para a interface onde se dão as reações com o meio, e a resistência do próprio meio
(eletrólito). Neste caso, a polarização por resistência ηR é dada por:

ηR = ixR (3.17)
CORROSÃO 48

em que i é a densidade de corrente e R é a resistência do eletrólito no caminho percorrido


pela corrente (iônico). Em eletrólitos altamente condutores, ηR é geralmente pequeno.

3.2 – PREVISÃO DA TAXA DE CORROSÃO

A taxa de corrosão, ou a taxa de remoção de material como conseqüência de ação


química, é um importante parâmetro de corrosão. Esta pode ser expressa como a taxa de
penetração de corrosão (Corrosion Penetration Rate - CPR), ou perda de espessura do material
por unidade de tempo. A formula para este cálculo é

KW
CPR = (3.18)
ρAt

onde W é a perda de peso após um tempo de exposição t; ρ e A representam a densidade e a


área de exposição da espécie, respectivamente, e K é uma constante cuja magnitude depende
do sistema de unidades utilizado.
O CPR é convenientemente expresso em termos tanto de milésimo de polegada
por ano (mpy) como de milímetros por ano (mm/yr). No primeiro caso, K = 534 para dar CPR
em mpy e W, ρ , A e t especificados em unidades de miligramas, gramas por cm3, polegadas
quadradas e horas. No segundo caso, K = 87,6 para mm/yr, e as mesmas unidades dos outros
parâmetros exceto A que é dada em cm2. Para a maioria das aplicações uma taxa de
penetração de corrosão menor que cerca de 20 mpy (0,50 mm/yr) é aceitável.
Entretanto, como há uma corrente elétrica associada com a reação de corrosão
eletroquímica, pode-se expressar a taxa de corrosão em termos de corrente, ou, mais
especificamente, densidade de corrente, isto é, a corrente por unidade de área de superfície do
material corroído, que é designada por i. A taxa r, em unidade de mol/m2.s, é determinada
usando a expressão

i
r= (3.19)
nF
CORROSÃO 49

onde n é o número de elétrons associados com a ionização de cada átomo metálico e F=96.500
C/mol.
Por outro lado, considerando-se a polarização, a previsão da taxa de corrosão
dependerá da forma como o sistema está controlado; se por ativação ou por concentração. A
seguir serão discutidos dois casos. O primeiro em que ambas as reações de oxidação e de
redução estão controladas por polarização de ativação. No segundo caso, a polarização por
concentração controla a reação de redução, enquanto apenas a polarização por ativação é
importante para a oxidação. O primeiro caso está ilustrados pelo caso do zinco imerso numa
solução ácida (Figura 24). A redução dos íons H + para formar bolhas de gás H 2 ocorre na
superfície do zinco de acordo com a reação

2 H + + 2e − → H 2 (3.20)

e o zinco se oxida como

Zn → Zn 2+ + 2e − (3.21)

Nenhuma carga será acumulada como conseqüência destas duas reações, isto é,
todos os elétrons gerados por uma reação serão consumidos pela outra de forma que a taxa de
oxidação e de redução serão iguais.
A polarização por ativação para ambas as reações é expressa graficamente na
Figura 24 com os potenciais das celas referentes ao eletrodo padrão de hidrogênio contra o
logarítimo da densidade de corrente. Os potenciais das semi-células de hidrogênio e de zinco,
V(H+/H2) e V(Zn/Zn2+), respectivamente, estão indicados, juntamente com suas densidades de
corrente de troca io(H+/H2) e io(Zn/Zn2+). Segmentos de linha reta são utilizados para
representar as reações de redução do hidrogênio e de oxidação do zinco. Também as taxas de
oxidação e de redução deverão ser iguais, o que só será possível num ponto de interseção das
duas linhas. Esta interseção ocorre num potencial de corrosão designado por Vc, e numa
densidade de corrente de corrosão ic. A taxa de corrosão do zinco pode, portanto, ser obtida
pela inserção desta ic na Eq. 3.19
CORROSÃO 50

Figura 24 - Propriedade eletrocinética do zinco em uma solução ácida; ambas as reações


de redução e de oxidação estão limitadas por polarização de ativação

O segundo caso de corrosão (combinação de polarização por ativação e


concentração para a redução do hidrogênio e polarização por ativação para a oxidação do
metal M) é tratado de forma similar. A Figura 25 apresenta ambas as curvas de polarização
com o potencial de corrosão e a densidade de corrente de corrosão, correspondente ao ponto
de interseção das linhas de redução e de oxidação.
CORROSÃO 51

Figura 25- Esquematização de propriedades cinéticas do eletrodo de metal M; reação de


redução controlada por polarização combinada ativação-concentração

3.3 - PASSIVAÇÃO

Alguns metais e ligas normalmente ativos, sob condições ambientais particulares,


perdem sua reatividade química e tornam-se extremamente inertes. Este fenômeno, conhecido
como passivação, ocorre no cromo, ferro, níquel, titânio e muitas de suas ligas. Observa-se
que esta propriedade de passivação resulta da formação de uma película de óxido altamente
aderente e fina sobre a superfície do metal, que age como uma barreira protetora contra a
continuação da corrosão. Aços inoxidáveis são altamente resistentes a corrosão em uma
grande variação de atmosferas como resultado da passivação. Estes aços, contendo pelo menos
11% de cromo como elemento de liga em solução sólida no ferro, minimizam a formação da
ferrugem pois, ao invés, uma película protetora é formada sobre a superfície numa atmosfera
oxidante. Alumínio é altamente resistente a corrosão em muitos ambientes porque também
CORROSÃO 52

sofre passivação. Se danificada, a película protetora, de uma maneira em geral, é reformada


rapidamente. Entretanto, variações no caráter do ambiente (alteração na concentração das
espécies corrosivas ativas) podem reverter o caráter passivante do material da película o
tornando ativo. Um dano subseqüente da película protetora poderá resultar num aumento
acentuado da taxa de corrosão, de até cerca de 100.000 vezes.
Este fenômeno da passivação pode ser explicado em termos da curva de potencial
de polarização contra log da densidade de corrente, como discutido anteriormente. A curva de
polarização para um metal que passiva terá uma forma geral apresentada na Figura 26. Para
valores de potenciais relativamente baixos, numa região ativa o comportamento da curva é
linear, como para metais normais. Com o aumento do potencial, a densidade de corrente
diminui subitamente para um valor muito baixo que permanece independentemente da
variação do potencial. Esta região é denominada de região passiva. Finalmente, para altos
valores de potencial, a densidade de corrente novamente aumenta de forma súbita
caracterizando uma região denominada de transpassiva.
A Figura 27 ilustra como um metal pode estar sofrendo reação tanto de ativação
quanto de passivação dependendo da corrosividade do meio. Nesta figura está incluída a curva
de polarização de oxidação em forma de S para um metal ativo-passivo e, em adição, curvas
de polarização de redução para duas soluções distintas, denominadas de 1 e 2. A curva 1
intercepta a curva de polarização de oxidação numa região ativa no ponto A, resultando num
densidade de corrosão ic(A).
CORROSÃO 53

Figura 26 - Esquematização da curva de polarização para metal que apresenta transição


ativa-passiva.

A interseção da curva 2 no ponto B ocorre numa região de passivação com uma


densidade de corrente ic(B). A taxa de corrosão do metal M na solução 1 é maior que na
solução 2 uma vez que ic(A) e maior que ic(B) e a taxa é proporcional à densidade de corrente
de acordo com a Equação19. Esta diferença na taxa de corrosão entre as duas soluções pode
ser razoável (várias ordens de magnitude) quando se observa que a escala de densidade de
corrente, na Figura 27, é logarítmica.
CORROSÃO 54

Figura 27 - Demonstração de como um metal pode apresenta tanto propriedade de


corrosão ativa quanto passivação
CORROSÃO 55

4 - FORMAS DE CORROSÃO

A corrosão pode se manifestar sob diversas formas e sua perfeita identificação


auxilia no conhecimento dos mecanismos envolvidos e também na escolha da melhor forma
de proteção. Essas formas de corrosão estão relacionadas de acordo com o aspecto do metal
corroído. Cada forma pode muitas vezes ser identificada por simples observação a olho nu,
sendo algumas vezes necessário o auxílio de instrumentos de aumento, por exemplo, de uma
lupa ou até mesmo de um microscópio. Na Figura 28, apresentada a seguir, estão os esquemas
de representação destas formas de corrosão.
CORROSÃO 56

Figura 28 - Esquematização das formas de corrosão (NACE)

A observação da amostra corroída permite obter informações importantes para a


solução do problema de corrosão. Geralmente, as formas de corrosão citadas na literatura são
oito, com algumas inter-relacionadas e outras apresentando características totalmente
particulares. Neste curso serão apresentadas e discutidas as seguintes formas de corrosão:
uniforme; galvânica; frestas; puntiforme (pite); intergranular; seletiva; erosão e sob tensão.
CORROSÃO 57
CORROSÃO 58

4.1 - CORROSÃO UNIFORME (GENERALIZADA)

É uma forma de corrosão bastante comum e consiste normalmente de uma reação


química ou eletroquímica que ocorre uniformemente sobre toda a superfície exposta. Em vista
disso, o metal torna-se mais fino, podendo eventualmente sofrer uma ruptura. Exemplos de
corrosão uniforme:
- uma peça de aço ou zinco imersa em ácido sulfúrico diluída, geralmente dissolve
a uma taxa uniforme sobre toda a superfície.
- uma chapa de aço aquecida a altas temperaturas.
O ataque uniforme representa a maior destruição do metal com base no peso. No
entanto, essa forma de ataque não é muito problemática do ponto de vista técnico, porque a
vida do equipamento ou estrutura pode ser prevista com base em testes comparativos,
relativamente simples [D’ALKAINE, 1988].
Quando o ataque é uniforme, a corrosão pode ser medida através das unidades
mdd ou ipy. A primeira representa a perda ou ganho de massa em miligramas por decímetro
quadrado por dia, enquanto que a segunda é a unidade de penetração em polegadas por ano.
Podem aparecer ainda:
mm/ano= milímetros de penetração por ano;
mpy= milésimo de polegada por ano.
Do ponto de vista da corrosão uniforme pode-se classificar os materiais em 3
grupos:
(I) taxa de corrosão menor que 0,1 mm/ano ou menor que 5 mpy. Nesse caso, os
materiais são resistentes à corrosão e podem ser utilizados sem restrição.
(II) taxa de corrosão entre 0,1 e 1,1 mm/ano: os materiais podem ser utilizados
onde uma certa corrosão é tolerável.
(III) taxa de corrosão maior que 1,1 mm/ano. Geralmente não são utilizados.
CORROSÃO 59

4.2 - CORROSÃO GALVÂNICA

Existe uma diferença de potencial entre dois metais diferentes quando imersos em
um meio corrosivo. Se eles estiverem em contato, essa diferença de potencial produz um fluxo
de elétrons entre eles. Dessa forma, o metal menos resistente ( E R mais negativo) torna-se
anódico e é corroído, enquanto que o metal mais resistente torna-se catódico e não sofre
corrosão significativa.
Nos casos práticos de corrosão, os metais raramente encontram-se mergulhados
em solução de seus íons como previsto pela série eletroquímica. São situações muito mais
complicadas. Ao mesmo tempo, os metais usados em engenharia, geralmente são ligas
metálicas que não estão incluídas naquela série. As tabelas práticas de potenciais aproximam-
se mais das condições geralmente encontradas. A mais comum é a Série Galvânica de Metais
em Água do Mar e é apresentada na Tabela 4.
Num par galvânico, o metal que sofre corrosão é aquele que está do lado mais
anódico (ou ativo). As ligas indicadas entre chaves apresentam uma composição semelhante,
de forma que em muitas aplicações práticas, a corrosão galvânica pode não ser significativa
entre estes metais.
A natureza e agressividade do meio determinam o grau de corrosão galvânica.
Algumas vezes pode ocorrer uma inversão na posição relativa de dois metais na série
galvânica se as condições do meio forem alteradas.
A corrosão galvânica pode ocorrer também na atmosfera, não ocorrendo
entretanto, se os metais estiverem completamente secos, já que não haveria eletrólito para
conduzir a corrente entre as duas áreas, anódica e catódica
Geralmente, os efeitos produzidos pela corrosão são localizados muito próximo à
junção dos dois metais, sendo que o ataque vai diminuindo com o aumento da distância
daquele ponto. Isto está ilustrado na Figura 29.
CORROSÃO 60

Tabela 4 - Série Galvânica em água do mar [Gentil, 1996]

Figura 29 - Corrosão galvânica em tubulação enterrada no solo [D’ALKAINE, 1988]


CORROSÃO 61

A relação entre as áreas anódicas e catódicas exercem também um significativo


efeito. A razão favorável é:
Area ⋅ anodica
〉〉〉〉 1,0 (4.1)
Area ⋅ catodica
Quando dois metais estão em contato e um deles deve ser recoberto, é desejável
que seja o metal mais resistente à corrosão.
Pode-se citar alguns procedimentos que podem diminuir o efeito da corrosão
galvânica:
a)- Selecionar materiais localizados o mais próximo possível na série galvânica.
b)- Manter uma relação de área favorável.
c)- Isolar completamente metais diferentes.
d)- Aplicações de recobrimentos protetores sobre o cátodo.
e)- Adição de inibidores, quando possível, para diminuir a agressividade do meio.
f)- Prever no projeto facilidade para substituição das partes anódicas. Usar maior
espessura para aumentar a vida útil.
g)- Instalar um terceiro metal que seja anódico em relação aos dois metais do
contato galvânico (ânodo de sacrifício).

4.2.1 - PAR GALVÂNICO: METAL ATIVO - METAL INERTE

Muitos experimentos simulam o efeito de uma corrosão galvânica. Um exemplo é


o caso do par entre o zinco, um metal que sofre corrosão, e a platina, um metal inerte, em uma
solução ácida diluída.
a) O potencial de corrosão do zinco é deslocado para valores mais nobres;
b) A taxa de corrosão do zinco aumenta;
c) A taxa de evolução do hidrogênio sobre o zinco diminui.

Estes efeitos podem ser explicados pela polarização do ânodo e cátodo com o par
galvânico (potencial misto) conforme apresentado na Figura 30.
CORROSÃO 62

Figura 30- Esquematização de polarização num par galvânico entre zinco e platina num
solução ácida diluída.

Sem a formação de par galvânico o zinco se mantém num potencial misto, Ecorr, e
a platina num potencial de reação do hidrogênio. Quando os dois metais são conectados
eletricamente, os elétrons fluem do zinco para a platina. A corrente do par galvânico polariza
até que seja atingido um potencial de equilíbrio, Epar (Ecouple) onde a corrente total de oxidação
é igual à corrente total de redução. A corrente galvânica, Ipar, que flui no estado estacionário, é
exatamente análoga a Icorr entre as reações de meia cela no potencial misto na superfície de um
metal simples que sofre corrosão.

4.2.1.1 - EFEITO DE DENSIDADE DE CORRENTE DE TROCA

A série de forças eletromotriz ( tabela de potenciais padrão) indica que o ouro tem
um potencial padrão mais nobre que a platina. Entretanto, esta ordem é invertida numa série
galvânica, como apresentada na Tabela 4.
A Figura 31 explica esta reversão através do diagrama de polarização dos pares
zinco/ouro e zinco/platina numa solução ácida diluída. Observa-se na Figura 31 que o
potencial de meia cela para a reação de dissolução do ouro e da platina não determinam os
CORROSÃO 63

correspondentes potenciais Epar. O Epar para o Zn - Au é ativo em relação ao Epar Zn - Pt


devido a maior diferença na densidade de corrente de troca para a reação de redução catódica
do hidrogênio na platina que no ouro, embora o potencial, da reação de redução de hidrogênio,
seja o mesmo.

Figura 31 - Efeito galvânico da platina e do ouro acoplado ao zinco numa solução ácida
diluída.

A curva de polarização catódica para o ouro intercepta a curva de dissolução


anódica do zinco num valor mais ativo porque a densidade de corrente de troca para a redução
do hidrogênio é consideravelmente menor no ouro que na platina.

4.2.1.2 - EFEITO DA ÁREA DE SUPERFÍCIE

A relação entre a área de superfície do ânodo e cátodo influencia a taxa de


corrosão. Maior área catódica favorece uma maior reação de redução, e a reação de dissolução
anódica deverá aumentar para compensar. Na Figura 32 observa-se o efeito do aumento da
área superficial da platina num par Zn - Pt.
Para manter a corrente de oxidação igual a de redução, o potencial do par se torna
mais nobre e a corrente do par deve aumentar.
CORROSÃO 64

Figura 32 - Efeito do aumento da área catódica na interação galvânica entre o zinco e a


platina num solução ácida diluída.

4.2.2 - PAR GALVÂNICO: METAL ATIVO - METAL ATIVO

Um ânodo metálico M e um cátodo N são utilizados para ilustrar a Figura 33.


Nesta figura, o diagrama de polarização mostra os dois metais com um potencial de corrosão,
Ecorr(M) e Ecorr(N). O potencial do par formado, Epar, é novamente determinado no ponto em que
a oxidação total se iguala a redução total, de acordo com a teoria do potencial misto. Com o
par de metais que se corroem, a taxa total de oxidação deve ser considerada, como também a
taxa, ou corrente, de redução. No Epar a taxa de dissolução anódica para M teve um aumento
de icorr(M) para icorr(M-N), a para N diminuiu de icorr(N) para icorr(N-M).
Num par galvânico, envolvendo metais que se corroem, o potencial assumido
sempre estará situado entre os potenciais dos metais não acoplados. A taxa de corrosão do
metal com potencial de corrosão mais ativo, o ânodo, sempre aumentará enquanto que a do
cátodo será diminuída. Esta diminuição da taxa de corrosão no cátodo as custas do aumento da
dissolução do ânodo é a base da proteção catódica por ânodos de sacrifício.
CORROSÃO 65

Figura 33 - Esquematização da polarização galvânica de um par entre metais que se


corroem, M (ânodo) e N (cátodo)

4.3 – CORROSÃO EM FRESTAS

É muito freqüente encontrar um fenômeno de intensa corrosão localizada onde


existem pequenas frestas provocadas por soldas mal acabadas, chapas rebitadas, contato de
metal com um não metálico (por exemplo, madeira, borracha, etc.).
Este fenômeno geralmente está associado a pequenos volumes de soluções
estagnadas e recebe o nome de corrosão em frestas. Este tipo de corrosão apresenta-se de
forma localizada.
Depósitos de materiais não metálicos como areia, produtos de corrosão ou outro
tipo de depósito também provocam este tipo de corrosão, do mesmo modo que pequenos
orifícios ou frestas sob porcas ou rebites.
Os aços inoxidáveis são particularmente sensíveis a este tipo de ataque.
Entretanto, para que uma fresta funcione como um sítio de corrosão deve ser suficientemente
CORROSÃO 66

grande para permitir a entrada do líquido, porém suficientemente estreita para manter o
líquido estagnado.
O mecanismo básico da corrosão em frestas consiste nas seguintes etapas:
a) início de corrosão generalizada;
b) diminuição da concentração de O2 no interior da fresta induzindo a formação de
pilha de aeração diferencial;
c) com a continuidade do processo de corrosão, há um aumento da concentração
de cátions metálicos na fresta;
d) com o aumento da concentração de cátions metálicos na fresta, inicia-se um
processo de difusão de ânions para a fresta. Dentre estes ânions um dos que apresenta maior
coeficiente de difusão é o íon cloreto;
e) o íon cloreto se combina com os íons metálicos formando cloretos metálicos
que reagem com a água formando hidróxidos e ácido clorídrico, a conforme reação:
M + Cl − + H 2 O ⇔ MOH + HCl .
Resultando numa condição auto - catalítica para o processo de corrosão. Na Figura
34 está esquematizado o mecanismo básico de corrosão em frestas.

Figura 34 – Mecanismo de corrosão em frestas [CALLISTER, 1993]


CORROSÃO 67

A seguir são citados alguns procedimentos para diminuir a corrosão em frestas:


a) usar soldas bem acabadas no lugar de rebites ou parafusos;
b) proteger equipamentos que permitam completa drenagem, evitando cantos
vivos ou áreas estagnadas;
c) inspeção do equipamento e remoção de depósitos freqüentemente;
d) remoção de sólidos em suspensão;
e) remoção de materiais que retenham umidade.
CORROSÃO 68

4.4 - CORROSÃO POR PITE (PUNTIFORME)

É uma forma de corrosão muito localizada, apresentando um ataque muito intenso


em áreas de ordem de mm 2 , permanecendo o metal ao seu redor, sem sofrer corrosão. Alguns
pesquisadores [D’ALKAINE, 1988] estimam que o ataque nos pite pode ser da ordem de 30.000
a um milhão de vezes mais rápido do que no restante da superfície. A forma como um pite se
apresenta varia e pode ser visualizada na Figura 35

Figura 35 - Variações nas forma de seções transversais de pites

A densidade de pites, seu tamanho superficial e profundidade podem ser


comparados utilizando desenhos padrão, como o apresentado na Figura 36. Entretanto, uma
CORROSÃO 69

alternativa para a avaliação dos pites é a seleção do de maior profundidade. Para se quantificar
a extensão de um pite em relação à corrosão generalizada, determina-se o fator de pite (p/d),
onde p é a penetração máxima do pite, medida com um microscópio, e d é a penetração média
obtida pela perda de massa. Entretanto, o fator de pite tende a infinito quando a penetração
média é muito pequena ou nula. Uma representação da medida do fator de pite pode ser
observada na Figura 37.
CORROSÃO 70

Figura 36 - Padrões para classificação de pites


CORROSÃO 71

Figura 37 - Diagrama esquemático para a determinação do fator de pite

Inúmeros metais apresentam suscetibilidade a pites, entre eles pode-se citar Sn ,


Zn , Ti e inúmeras ligas tais como os aços inoxidáveis. De uma maneira em geral, os metais
que são particularmente sensíveis a esse tipo de corrosão são aqueles que dependem de filmes
de óxido para a resistência à corrosão. Esses filmes são destruídos por alta concentração de
determinados íons ( Cl − , Br − ou H + ).
A presença de certos ânions em meios considerados como agressivos é necessária
para o aparecimento dos pites. O mais freqüente é o Cl − . Para que haja pites, no entanto, é
necessário que a concentração do ânion agressivo seja superior a uma dada concentração
limite. Para o ferro em meio ácido surgem pites para concentração de cloretos da ordem de
3.10-4 mol/l.
Geralmente os pites requerem um longo período de latência antes de se tornarem
visíveis, período este que pode variar de alguns meses até anos, dependendo da combinação
específica metal/meio corrosivo. Os pites apresentam uma reação anódica típica, caracterizada
como um processo auto-catalítico, isto é, o processo de corrosão dentro de um pite produz
condições que são tanto estimulantes como necessárias para a continuação da atividade do
pite. A Figura 38 esquematiza a natureza auto-catalítica do pite. O aumento da turbulência do
meio corrosivo geralmente diminui o ataque por pites. Os aços inoxidáveis são muito sensíveis
à corrosão por pites. A adição de elementos de liga tem diferentes efeitos na resistência a pites
dos aços inox, de acordo com a Tabela 5.
CORROSÃO 72

Figura 38 - Natureza auto-catalílica dos pites [FONTANA, 1987]

Tabela 5 - Efeito da adição de elementos de liga na resistência ao pite dos aços


inoxidáveis [D’Alkaine, 1988]

ELEMENTO EFEITO NA RESISTÊNCIA DO PITE


Cr Aumenta
Ni Aumenta
Mo Aumenta
Si Diminui (aumenta quando junto com Mo )
Ti e Nb Diminui em FeCl3 . Não afeta outros meios
S Diminui
C Diminui (principalmente quando sensitizados)
N Aumenta

O trabalho a frio e o acabamento superficial tem um forte efeito na resistência ao


pite. O trabalho a frio aumenta o ataque, da mesma forma que em superfícies muito rugosas.
CORROSÃO 73

Testes convencionais de perda de massa não são usados para avaliar a resistência
ao pite, já que a perda de massa é muito pequena ou inexistente. Medidas de profundidade dos
pites são trabalhosas, já que existe uma distribuição estatística.
Recomenda-se não utilizar dados obtidos dessa medida de profundidade de pite
para prever a vida de equipamentos, uma vez que a profundidade do pite é também dependente
das dimensões da amostra.

4.4.1 - MECANISMO DE CORROSÃO POR PITE

O mecanismo básico de formação de pite é semelhante ao de formação de corrosão


em frestas. Entretanto, a iniciação de um pite ocorre a um potencial crítico, Epit, que é
utilizado para a medida da resistência a corrosão por pite. A presença de cloreto em uma
solução ácida geralmente aumenta o potencial ou as corrente anódicas, mas o fato mais
importante é o grande aumento na corrente no Epit, como apresentado na Figura 39. Quanto
mais nobre o Epit, mais resistente é o material ao pite.

Figura 39 - Esquematização da determinação do potencial crítico de pite [Epit.]


CORROSÃO 74

Um potencial de proteção para o processo de formação de pite, Eprot, foi definido


por voltametria cíclica, como apresentado na Figura 40. Após alguma polarização anódica
acima do Epit., a direção da varredura é invertida observando-se certa histerese na qual a curva
de polarização segue a curva de dissolução ativa. O potencial no cruzamento com a curva de
passivação é definido como potencial de proteção, Eprot. Abaixo deste potencial não há
crescimento dos pites formados. Em contrapartida, novos pites só serão nucleados a potenciais
acima de Epit. Ligas que não apresentam histerese são resistentes à formação de pites.

Figura 40 - Voltametria cíclica indicando a ocorrência de pites em Epit e o potencial de


proteção em Eprot.
CORROSÃO 75

4.5 - CORROSÃO INTERGRANULAR

A corrosão intergranular é uma forma de ataque localizado na superfície metálica,


na qual um caminho estreito é corroído preferencialmente ao longo dos contornos de grãos.
Ela se inicia sobre a superfície e ocorre devido a células de ação local, na vizinhança imediata
de um contorno de grão. A força motriz é a diferença no potencial de corrosão que se
desenvolve entre uma zona fina do contorno de grão e o volume dos grãos adjacentes.
Esta diferença de potencial pode ser devida a diferenças na composição entre as
duas zonas. A diferença na composição pode desenvolver-se como um resultado da migração
de impurezas ou elementos de liga, para os contornos de grãos. A corrosão intergranular pode
causar uma diminuição na elongação, e em casos severos isto leva à perda marcante nas
propriedades de tração, embora somente um pequeno volume do metal tenha sido corroído.
Em algumas circunstâncias, a região de um contorno de grão torna-se muito
reativa, resultando numa corrosão inter-granular, provocando a desintegração da liga ou perda
de resistência mecânica. Este fenômeno pode ser causado pela presença de impurezas no
contorno de grão, diminuição do teor de um elemento nas áreas do contorno ou ainda um
enriquecimento do contorno por um elemento de liga.
Uma vez que a maioria da corrosão intergranular é o resultado de pequenas
diferenças na composição nos contornas de grãos, a história metalúrgica de uma liga torna-se
importante. Tratamentos térmicos e trabalho a frio de ligas não somente afetam o tamanho e
forma de grãos mas também a composição, localização, quantidade e tamanho dos
constituintes intermetálicos.
A corrosão intergranular ocorre mais comumente em aços inoxidáveis
austeníticos, ligas de cobre e de alumínio.
CORROSÃO 76

4.5.1 - CORROSÃO INTERGRANULAR DE AÇOS INOXIDÁVEIS


(AUSTENÍTICOS)

Quando esses aços são aquecidos na faixa de temperatura compreendida entre


425 C – 815 oC, tornam-se sensitizados ou suscetíveis à corrosão intergranular. A teoria mais
o

aceita para este fenômeno baseia-se no empobrecimento de cromo nas áreas adjacentes ao
contorno de grão, devido à precipitação de Cr23 C6 , de acordo com o esquematizado na Figura
41.

Figura 41 - Esquema de um aço inoxidável sensitizado [JONES, 1996]


CORROSÃO 77

A fase da liga com menor concentração de cromo, no contorno de grão, torna-se


muito menos resistente à corrosão. Abaixo de uma concentração de 12% de Cr, o filme de
óxido de cromo formado na superfície de liga, torna-se pouco passivante. Forma-se, portanto,
uma pilha entre o contorno do grão (zona anódica) e a região central do grão (zona catódica).
Com o agravante da relação desfavorável entre as áreas anódicas e catódicas
(Aanodica<<Acatódica) inicia-se o processo de corrosão localizada que progride por entre os grãos
(intergranular).

4.5.2 - DECAIMENTO POR SOLDA

Muitas falhas ocorrem em aços inoxidáveis soldados devido a um mecanismo de


corrosão intergranular, conhecido como decaimento por solda.
CORROSÃO 78

A zona de decaimento por solda no metal base se localiza a certa distância do


cordão de solda. Esta forma de corrosão intergranular é altamente localizada e ocorre devido
ao processo de sensitização, conforme discutido no item acima.

4.5.3 - CONTROLE DE SENSITIZAÇÃO DE AÇOS INOXIDÁVEIS


AUSTENÍTICOS

Para se minimizar a ocorrência de corrosão intergranular nesses aços, tem-se as


seguintes alternativas:
a) tratamento térmico: tratamento de solubilização dos carbetos ( Cr23 C6 ) a
temperatura superior a 815 oC, seguido de resfriamento rápido;
b) adição de elementos de liga (Ti, Nb ) que formam carbetos, preferencialmente
ao cromo. São os chamados aços estabilizados (aços 321 e 347, respectivamente);
c) diminuição do teor de carbono abaixo de 0,03%.

4.5.4 - ATAQUE EM LINHA DE FACA

Os aços estabilizados podem ser atacados intergranularmente, sob certas


condições, devido à precipitação de carbetos de cromo.
Este ataque é semelhante ao decaimento por solda, pois ambos resultam de uma
corrosão intergranular provocada pela solda.
São duas as principais diferenças:
- pode aparecer numa linha estreita adjacente à solda, enquanto o decaimento por
solda ocorre a distâncias maiores;
- pode ocorrer em aços estabilizados.
Este fenômeno tem a ver com a solubilidade do nióbio ou titânio em aços
inoxidável estabilizados. No caso do nióbio, o carbeto de nióbio dissolve no metal a altas
temperaturas (T>1230 oC), próximo ao cordão de solda, permanecendo em solução quando
resfriado rapidamente. Entretanto, na região vizinha, este permanece solubilizado. Desta
CORROSÃO 79

forma, numa estreita faixa (com apenas alguns grãos de espessura) o carbono se mantém livre
para reagir com o cromo e formar o carbeto Cr23 C6 quando a temperatura atingir os 425 oC,
durante um processo posterior de alívio de tensões ou de nova soldagem. Para evitar o ataque
em linha de faca sugere-se um aquecimento na região de temperaturas onde ocorre a
precipitação dos carbetos de nióbio e dissolução dos carbetos de cromo, após a soldagem de
toda a estrutura.
Deve-se salientar que outras ligas são suscetíveis ao ataque intergranular, como
por exemplo, as ligas tipo (Al-Cu) endurecidos por precipitação.

4.6 - CORROSÃO POR ATAQUE SELETIVO

O processo de corrosão seletiva ocorre quando um ou mais componentes da liga


são mais suceptíveis a corrosão que os outros. Os elementos suceptíveis de dissolução seletiva
são geralmente mais ativos eletroquimicamente e são dissolvidos anodicamente por contato
galvânico com componentes mais nobres. O exemplo mais importante de corrosão seletiva é a
remoção de zinco de latão (dezincificação). Um outro exemplo é a corrosão grafítica do aço
fundido.

4.6.1 - DEZINCIFICAÇÃO

É o nome dado ao ataque seletivo que ocorre nos latões com teor de zinco maior
que 15%, normalmente devido a prolongadas exposições a água aerada com altas
concentrações de CO2 e/ou Cl-. Ligas de cobre zinco contendo duas fases (α + β ) são mais
suceptíveis a dezincificação, especialmente se a liga rica em zinco - fase β for contínua. A
remoção do zinco origina uma superfície porosa com uma fina camada de cobre e óxido de
cobre.
O processo de dezincificação pode ocorrer de uma forma uniforme ou de forma
localizada. Embora não ocorram variações dimensionais significativas, o material pode sofrer
falhas inesperadas devido à diminuição na resistência do material dezincificado. O ataque
uniforme aparece, preferencialmente, em latões de alto teor de zinco em ambientes ácidos,
CORROSÃO 80

enquanto que o localizado aparece em latões de baixo teor de zinco em soluções neutras ou
alcalinas. Estes são aspectos gerais e muitas exceções têm ocorrido.
A dezincificação pode ser eliminada ou reduzida, diminuindo-se a agressividade
do meio ( por exemplo, retirando o O2) ou por proteção catódica. Tais métodos são anti-
econômicos, de forma que é comum o uso de ligas menos suscetíveis a esse fenômeno. O latão
vermelho (< 15% Zn) é quase imune à dezincificação, e a adição de pequenas quantidades de
P, As ou Sb à liga de Cu, 28% Zn, 1% Sn (admiralty brass) provou ser muito eficaz.
O mecanismo que mais explica o processo de dezincificação considera duas
etapas. Numa primeira há a dissolução simultânea da liga seguida pela redeposição do cobre.
Como conseqüência haverá a formação de uma camada de cobre porosa. Numa Segunda etapa
há a dissolução seletiva do zinco. Esta última etapa não é a etapa determinante do processo
devido à baixa taxa de difusão do zinco em estado sólido.

4.6.2 - CORROSÃO GRAFÍTICA

É um ataque seletivo que ocorre nos ferros fundidos cinzentos. Recebe esse nome
devido ao fato que o ferro fundido parece tornar-se grafitizado. Neste caso, o ataque seletivo
ocorre na matriz do ferro, deixando uma rede de grafite, que é catódica em relação ao ferro.
Situações perigosas podem ocorrer, já que o ferro fundido perde sua resistência mecânica. A
corrosão grafítica é um processo lento e não ocorre em ferros fundidos dúcteis, maleáveis ou
brancos, porque a rede de grafite não é contínua.

4.7 - CORROSÃO POR EROSÃO

É o aumento da taxa de deterioração do filme protetor da superfície de um metal


provocado pelo movimento relativo do fluido e superfície metálica, como apresenta a Figura
42.
CORROSÃO 81

A velocidade do meio corrosivo exerce um papel importante, pois quanto maior a


velocidade do fluido, maior a velocidade de corrosão. A presença de partículas sólidas no
fluido aumenta a taxa de corrosão por erosão.

Figura 42 - Representação esquemática dos defeitos causados por corrosão-erosão na


parede de um tubo

A corrosão por erosão pode ocorrer em metais ou ligas que são completamente
resistentes a um meio particular e baixas velocidades. O contato galvânico pode aumentar
significativamente o efeito deste tipo de corrosão.
Para se combater a corrosão por erosão, pode-se realizar, em ordem de
importância, os seguintes procedimentos:
i)- usar materiais de maior resistência mecânica;
ii)- projetos adequados, no sentido da forma ou da geometria do equipamento. Um
exemplo típico é o aumento do diâmetro de um tubo diminuindo assim a velocidade do fluido
e assegurando um fluxo laminar;
iii)- alteração do meio ambiente, desaeração ou adição de inibidores (pouco
econômico);
iv)- recobrimentos (aplicações de recobrimentos de diferentes espécies);
v)- proteção catódica (ajuda a reduzir o ataque, não sendo porém muito eficiente).
Um caso particular da corrosão por erosão é conhecido como danos por cavitação,
que é causada pela formação e colapso de bolhas de vapor em um líquido, próximo à
superfície metálica.
CORROSÃO 82

Entretanto, materiais com resistência mecânica semelhante, como o aço inox e o


aço carbono, apresentam diferentes resistências a corrosão por erosão. Da mesma forma, ligas
de níquel e de titânio são resistentes à corrosão por erosão. O fator que explica esta resistência
e a maior dureza das camadas passivantes formadas sobre estas ligas.
A corrosão por erosão se manifesta na forma de ondas, lágrimas ou de depressões
na forma de patas de cavalo na superfície da liga. Na Figura 43 Está apresentado uma caso de
corrosão por erosão na forma de lágrima. O mecanismo que melhor descreve a forma deste
tipo de corrosão está apresentado na Figura 44.

Figura 43 - Corrosão por erosão de um tubo de condensador de latão apresentando


forma de lágrimas.

Figura 44 - Mecanismo de turbulência em quina para pites de corrosão por erosão


[JONES, 1996].
CORROSÃO 83

A prevenção deste tipo de corrosão pode ser feita através de modificações no


desenho das peças de forma a diminuir zonas de alta turbulência e velocidade de fluido.

4.8 - CORROSÃO SOB TENSÃO

Os projetos de equipamentos, estruturas ou qualquer dispositivo metálico são


realizados geralmente com base no limite de escoamento do material, que pode ser
determinado conhecendo-se sua curva tensão-elongação.
Ocorre, no entanto, que os materiais metálicos em determinados ambientes
corrosivos podem sofrer uma ruptura inesperada, mesmo quando submetidos a tensões muito
menores do que aquelas para os quais foram projetados para resistir. Isto pode ocorrer mesmo
que o metal seja corroído muito lentamente nesse meio corrosivo e na ausência de tensões
mecânicas.
O que se observa é que a associação de esforços mecânicos e corrosão provoca um
comportamento distinto daquele que o metal teria quando sujeito a apenas uma dessas
variáveis, podendo apresentar falhas prematuras em níveis de tensão muito abaixo da tensão
de escoamento, como mostrado esquematicamente na Figura 45. Este fenômeno é conhecido
como corrosão sob tensão fraturante SCC (stress corrosion craking). Basicamente, considera-
se que são necessárias três condições para que ocorra corrosão sob tensão : Ambiente
corrosivo; material susceptível; tensão de tração.
Esta forma de corrosão se manifesta através do aparecimento de trincas que se
desenvolvem, produzindo a ruptura dos metais, sem que o metal ou liga seja virtualmente
atacado em sua superfície.
CORROSÃO 84

Figura 45 - Efeito do meio corrosivo na curva de tensão-elongação

De acordo com o caminho que essas trincas percorrem diferenciam-se dois tipos
de propagação;
a) Intergranular: a fratura se propaga pelo contorno do grão;
b) Transgranular: a fratura se propaga dentro do grão.
É importante salientar que a corrosão sob tensão não precisa, necessariamente, de
uma tensão mecânica aplicada para se manifestar. Tensões residuais provocadas por
tratamentos térmicos, trabalho a frio, etc. também induzem esse tipo de ataque.
Historicamente, o aparecimento da corrosão sob tensão tem sido detectado nos
seguintes casos [D’ALKAINE, 1988]:
i) Fragilidade cáustica de aços de baixo carbono (1865).
ii) “Season cracking” de latões (1906).
iii) Trincas em aços inoxidáveis austeníticos (1937).
iv) Corrosão sob tensão de ligas de alumínio (1938).
v) Corrosão sob tensão de ligas de titânio (1966).
CORROSÃO 85

4.8.1 - EFEITOS METALÚRGICOS

Metais puros são mais resistentes a SCC que ligas do mesmo metal base mas não
são imunes. Basicamente, todas as ligas são susceptíveis a SCC em algum grau, num meio
apropriado, e esta susceptibilidade aumenta com o aumento das tensões em qualquer tipo de
liga.
A SCC pode ser tanto transgranular quanto intergranular, mas as trincas seguem
uma direção sempre normal à componente da tensão de tração. No caso de falhas
transgranulares, as trincas se propagam através de grãos em planos específicos, de menor
índice como {100}, {110} e {210}. Este tipo de falha é, no entanto, menos freqüente que a
intergranular. Exemplos de seções metalográficas da morfologias dos dois tipos de falhas
estão apresentados na Figura 46.
CORROSÃO 86

Figura 46- Superfícies fraturadas por MEV. (a) SCC transgranular de aço inox
austenítico em solução de HCl quente. (b) SCC intergranular de aço carbono em solução
de nitrato aquecida.
CORROSÃO 87

4.8.2 - EFEITO ELETROQUÍMICO

O potencial eletroquímico tem um efeito crítico na SCC. Na Figura 47 está


apresentado esquematicamente uma curva de polarização anódica para uma liga que sofre
transição ativa/passiva sendo resistente à corrosão. Neste esquema estão indicadas duas
regiões, representadas pelas áreas tracejadas, onde ocorrem SCC. A passivação parece ser um
prerequisito para a SCC, entretanto, esta ocorre na interface entre as regiões ativa/passiva e
passiva/transpassiva.

Figura 47 - Esquema de curva de polarização anódica mostrando zonas de


susceptibilidade de SCC.
CORROSÃO 88

A taxa de crescimento das trincas é proporcional à corrente de dissolução anódica.


Entretanto, em alguns sistemas, particularmente com rápida propagação de trincas
transgranulares, a taxa de crescimento das trincas é superior à prevista pela dissolução
eletroquímica. Uma explicação para este fenômeno pode ser obtida na através da observação
de que a solução no interior das trincas se torna ácida, provavelmente por reação de hidrólise.
Uma reação espontânea de dissolução necessita de uma correspondente de redução. No caso
da reação catódica ser de redução do íon hidrogênio, haverá a formação da gás hidrogênio nas
trincas gerando tensões e favorecendo a SCC.

4.9 - CORROSÃO POR HIDROGÊNIO

O hidrogênio pode estar acessível na superfície do metal de várias fontes,


incluindo a redução catódica do hidrogênio da água:
2 H + + 2e → H 2 (4.2)

2 H 2 O + 2e → H 2 + 2OH − (4.3)
Estas reações catódicas podem ocorrer durante corrosão, proteção catódica,
decapagem ácida, ou outro processo de limpeza. O hidrogênio penetra na rede como
hidrogênio nascente, ou atômico, que é uma forma intermediária na formação da molécula de
H2 na superfície pelas equações 4.2 ou 4.3. Processos que envolvem polarização catódica
aceleram a formação de hidrogênio. Deve-se, portanto, selecionar ligas e condições de
operação para prevenir o dano causado pelo hidrogênio.
Alguns elementos, quando dissolvidos na liga, retardam a formação do H2
aumentando o tempo de residência do hidrogênio nascente na superfície. Desta forma há o
favorecimento da difusão do hidrogênio para o interior da liga causando danos por hidrogênio.
Os elementos mais comuns que retardam a saída do hidrogênio são: P, Sb, As, S, Se, Te e CN.
O mais comum é o enxofre, por estar presente em fluidos como o petróleo, gás natural, águas
de poços e vapores geotérmicos.
CORROSÃO 89

4.9.1 - EMPOLAMENTO POR HIDROGÊNIO

Quando uma quantidade razoável de hidrogênio nascente é gerada, numa


inomogeneidade cristalina ou metalúrgica, haverá sua recombinação para formar moléculas de
H2. O acúmulo destas moléculas formará uma fase gasosa que desenvolverá grande pressão
suficiente para provocar a ruptura das ligações atômicas, formando vazios microscópicos e
macrobolhas. Este mecanismo esta representado na Figura 48.

Figura 48 - Representação esquemática do mecanismo de difusão e formação de bolhas


por hidrogênio.

Uma macrobolhas está representada na Figura 49. O aumento da concentração de


H 2 e conseqüente aumento da pressão no interior do vazio é suficiente para a ruptura do
material.
CORROSÃO 90

Figura 49 - Tubo de aço carbono com empolamento pelo hidrogênio, ocasionado por H2S
e água [GENTIL, 1996]

A prevenção do empolamento por hidrogênio pode ser feita através das seguintes
medidas:
Utilização de revestimentos. Revestimentos metálicos, inorgânicos ou orgânicos
são sempre utilizados como forma de prevenção de empolamento. Estes revestimentos,
entretanto, não deverão ser permeável ao hidrogênio para que sejam eficientes. Aços
cladeados com aço inox austenítico ou níquel são sempre utilizados com este propósito.
Utilização de inibidores: Inibidores podem ser utilizados uma vez que estes
reduzem a taxa de corrosão e de redução do hidrogênio.
Remoção de elementos nocivos: Empolamento geralmente ocorre em metais
contendo elementos geradores de hidrogênio como sulfetos, compostos com arsênico, cianetos
e íons contendo fósforo.
Substituição de ligas : Aços contendo níquel e ligas a base de níquel apresentam
uma baixa taxa de difusão para o hidrogênio e são utilizadas para prevenir empolamento por
hidrogênio.
CORROSÃO 91

4.9.2 - FRAGILIZAÇÃO POR HIDROGÊNIO

O exato mecanismo para a fragilização por hidrogênio não é bem conhecido, como
para o caso do empolamento por hidrogênio. A causa inicial é a mesma : penetração de
hidrogênio nascente na estrutura do metal. Para o caso de titânio e outros metais formadores
de hidretos, o hidrogênio dissolvido reage para formar compostos hidreto frágeis. Em outros
materiais, como o aço e o ferro, a iteração entre o hidrogênio dissolvido e o metal não é
completamente conhecida.
A maioria dos mecanismos propostos para a fragilização por hidrogênio se baseia
na interferência no escorregamento de planos pelo hidrogênio. Esta interferência pode ser
devida ao acúmulo de hidrogênio próximo ao sitio de deslocação ou microvazios.
A fragilização por hidrogênio é distinta da corrosão sob tensão fraturante – SCC.
Casos em que uma corrente aplicada torna o metal mais anódico e acelera o processo de
fratura são considerados como SCC, com o processo de dissolução anódica contribuindo para
o progresso das trincas. Por outro lado, casos em que a fratura é acentuada por corrente de
direção oposta (catódica), que aceleram o processo de redução do hidrogênio, são
considerados de fragilização por hidrogênio. Estes dois fenômenos são apresentados
esquematicamente na Figura 50 para cada modo de aplicação de corrente.
CORROSÃO 92

Figura 50 - Esquema apresentando a diferença entre SCC e fragilização por hidrogênio.

A prevenção da fragilização por hidrogênio pode ser obtida através das seguintes
medidas:
Redução da taxa de corrosão: A fragilização por hidrogênio ocorre freqüentemente
devido a processos de decapagem ácida. Pela utilização de inibidores pode haver uma
considerável redução no ataque ao metal base.
Alteração das condições de eletrodeposição: Um controle mais apropriado das
condições de eletrodeposição ou de limpeza eletroquímica pode ser utilizado para diminuir a
evolução de hidrogênio na superfície do metal.
Aquecimento do metal: A fragilização por hidrogênio é um processo reversível,
especialmente em aços. Se o hidrogênio for removido as propriedades do material se
assemelham bastante ao do material isento de hidrogênio.
CORROSÃO 93

Substituição da liga: Os materiais mais susceptíveis à fragilização por hidrogênio


são os aços de alta resistência a deformação. Ligas com níquel ou molibdênio reduzem a
susceptibilidade a fragilização por hidrogênio.
CORROSÃO 94

5 - FATORES QUE INFLUENCIAM A CORROSÃO

Neste item, são apresentados os meios corrosivos mais freqüentemente


encontrados: atmosfera, águas naturais, solos e produtos químicos. A fim de se destacar a
importância que representa a natureza do meio corrosivo que se encontra na imediata
proximidade da superfície metálica.

5.1 - CORROSÃO ATMOSFÉRICA

Embora as atmosferas possam ser classificadas em quatro tipos básicos: urbana,


Industrial, Marítima ou Rural. Muitas, estas apresentam características mistas, além de não
haver uma demarcação definida para cada tipo. Ainda pode haver locais com micro- climas de
características diferentes da região em que se encontram.
Com relação à forma de corrosão atmosférica, esta pode ser classificada em três
tipos : Seca, Úmida ou Aquosa.
Todos os materiais que possuem uma energia livre negativa de formação de óxido
apresentam corrosão atmosférica seca, na ausência de água. Neste caso, tem-se uma lenta
oxidação com formação de produtos de corrosão, podendo o mecanismo ser considerado
puramente químico : caso do tarnishing, escurecimento de prata ou de cobre por formação de
Ag2S e CuS, respectivamente, devido à presença de gás sulfídrico, H2S, na atmosfera ou meio
ambiente.
Quando a atmosfera apresenta umidade relativa menor que 100%, forma-se um
fino filme de eletrólito sobre a superfície metálica causando um processo de corrosão
atmosférica úmida. A velocidade do processo corrosivo dependerá da umidade relativa, dos
poluentes atmosféricos e higroscopicidade dos produtos de corrosão.
Quando os materiais estão em contato com uma atmosfera com cerca de 100% de
umidade relativa, ocorre condensação na superfície metálica e tem-se um processo de
corrosão atmosférica molhada.
CORROSÃO 95

5.1.1 - FATORES QUE AFETAM A CORROSÃO ATMOSFÉRICA

5.1.1.1 - PRODUTO DE CORROSÃO

Os produtos de corrosão podem ser solúveis ou insolúveis. Os produtos de


corrosão solúveis podem aumentar as taxas de corrosão, quer seja aumentando a
condutividade do eletrólito sobre a superfície metálica, ou por agir higroscopicamente,
formando soluções quando a umidade ambiental é alta. Por outro lado, os produtos de
corrosão insolúveis geralmente reduzem a taxa de corrosão, por atuarem como uma barreira
entre a atmosfera e a superfície metálica. Por exemplo, Pb e Al corroem inicialmente mas os
produtos de corrosão posteriormente protegem o substrato. Às vezes os produtos de corrosão
insolúveis aumentam a taxa de corrosão, por conservarem a umidade em contato com a
superfície metálica.

5.1.1.2 - COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA

A composição nominal aproximada da atmosfera, excluindo impurezas, é dada na


Tabela 6.
A maioria dos constituintes é relativamente constante, exceto os de vapor de água,
que seguem as variações climáticas, estação do ano e localização. Entre os outros
constituintes, O2 e CO2 são importantes do ponto de vista de corrosão. O oxigênio dissolvido
no eletrólito é o reagente catódico nos processos de corrosão. Atém disso, desde que filmes
eletrólitos são finos, a difusão de oxigênio através do filme, de uma interface para outra, é
rápida. A influência do CO2 é importante apenas no caso de uns poucos metais: por exemplo,
na corrosão do Zn e, em uma extensão menor, na corrosão dos aços.
CORROSÃO 96

Tabela 6 - Composição nominal da atmosfera

5.1.1.3 - CONTAMINANTES NA ATMOSFERA

As concentrações dos principais contaminantes na atmosfera estão apresentadas na


Tabela 7. Entre estes contaminantes os óxidos de enxofre e, principalmente, o dióxido de
enxofre, exercem uma influência importante sobre a corrosão atmosférica dos aços e do zinco.
As duas principais fontes de dióxido de enxofre na atmosfera são a oxidação atmosférica do
ácido sulfídrico (H2S), produzido pela decomposição de compostos orgânicos contendo
enxofre, e a queima de combustíveis contendo enxofre. A última destas fontes predomina em
países industrializados.
CORROSÃO 97

Tabela 7 - Concentrações típicas de impurezas na atmosfera

5.1.1.3.1 - ATMOSFERA INDUSTRIAL

A atmosfera industrial é caracterizada pela contaminação, principalmente, de


compostos de enxofre. Embora outros contaminantes agressivos estejam presentes, o dióxido
de enxofre (SO2) é mais importantes. O dióxido de enxofre é captado pela umidade das
partículas de pó oxidando-se por processos catalíticos e formando ácido sulfúrico que se
deposita em gotículas microscópicas nas superfícies expostas, juntamente com uma parte de
dióxido de enxofre e de ácido sulfuroso. O resultado é que os contaminantes de uma atmosfera
industrial juntamente com a umidade atmosférica, produzem uma película de ácido altamente
corrosivo nas superfícies expostas. As atmosferas urbanas (queima de combustível)
constituem casos especiais de atmosferas industriais, mais amenas.
Tem-se observado que o dióxido de enxofre é adsorvido seletivamente sobre
vários metais. Aços com ferrugem, por exemplo, adsorvem quantidades consideráveis de SO2.
Sob condições de umidade, em presença de SO2, forma-se ácido sulfúrico. Metais como cobre,
chumbo e níquel são atacados por H2SO4, formando seus sulfetos. Alguns dos sulfatos, como
o PbSO4, sendo insolúveis, propiciam proteção ao substrato, enquanto que outros sulfatos,
como os de níquel e de cobre são solúveis sob ação da umidade e protegem os metais somente
após certo período.
CORROSÃO 98

No caso do aço, diferentemente dos metais não ferrosos onde o SO2 é consumido,
o sulfato ferroso é hidrolisado para formar óxidos, e o H2SO4 é regenerado. O dióxido de
enxofre, portanto, atua como catalisador para a corrosão de metais ferrosos. Um íon SO42-
catalisa a dissolução de mais de cem átomos de ferro, antes de ser lixiviado ou formar um
sulfato básico.
Um outro contaminante atmosférico é o sulfato de amônia formada em regiões
industrializadas. O sulfato de amônia é higroscópico e ácido estimulando o início de processos
de corrosão.
Partículas não absorventes, silicosas, afetam a corrosão por facilitarem os
processos de aeração diferencial em pontos de contato com a superfície metálica. Partículas
absorventes presentes na atmosfera, tais como o carvão vegetal ou fuligem, embora inertes,
absorvem SO2 e vapor de água, para formar eletrólitos ácidos corrosivos.
As atmosferas industriais são, em geral, 50-100 vezes mais corrosivas do que as
áreas desertas, devido à presença destes gases de enxofre.

5.1.1.3.2 - ATMOSFERA MARINHA

Um segundo tipo de contaminante atmosférico são as partículas salinas de cloreto


de sódio. A atmosfera marinha está carregada com partículas de cloreto de sódio trazidas pelo
vento e depositada nas superfícies expostas. A quantidade de contaminação em sal decresce
rapidamente com a distância do mar e é grandemente afetada pelos ventos (intensidade e
direção).
O cloreto de sódio, ou sal marinho, contém quantidades apreciáveis de íons de
potássio, magnésio e cálcio que são higroscópicos. O íon Cl- é agressivo aos aços inoxidáveis,
provocando corrosão por pites.
CORROSÃO 99

5.1.1.3.3 - ATMOSFERA RURAL

A atmosfera rural não contém contaminantes químicos fortes, mas pode conter
poeiras orgânicas e inorgânicas. Seus principais constituintes são a umidade e elementos
gasosos como oxigênio e dióxido de carbono.
As atmosferas áridas ou tropicais são casos especiais de atmosfera rural. Em
climas áridos há pouca ou nenhuma chuva mas pode haver às vezes umidade relativa elevada e
condensação. Nas regiões tropicais, alem da temperatura média elevada, o ciclo diário inclui
uma umidade relativa elevada, insolação intensa e longos períodos noturnos de condensação.
Em regiões confinadas, a umidade de condensação pode persistir bastante tempo após o nascer
do sol. Tais condições podem provocar ambientes bastante corrosivos.
Uma outra fonte de contaminação atmosférica rural é o composto de nitrogênio.
Estes compostos podem ser originados de fontes naturais: por exemplo, a formação de amônia
durante tempestades elétricas e de fontes sintéticas, tais como aquelas formadas devido ao uso
crescente de fertilizantes artificiais. A presença de amônia causa corrosão sob tensão de latão
trabalhado a frio.

5.1.1.4 - OUTROS FATORES

Além dos contaminantes citados a corrosão atmosférica é influenciada por um


conjunto de fatores, muitas vezes inter-relacionados: temperatura, umidade relativa como
apresenta Figura 51 (orvalho, condensação e mesmo chuva, na ausência da umidade, a maioria
dos contaminantes teria pouco ou nenhum efeito), direção dos ventos e velocidade dos ventos,
radiação solar, pluviosidade, condensação e etc.
Os materiais mais empregados como resistentes aos diferentes tipos de atmosferas
são: cobre, chumbo, alumínio e aço galvanizado. O aço carbono, com pequena quantidade de
cobre, também é resistente à corrosão atmosférica uma vez que o cobre auxilia na formação de
uma película protetora sobre o aço. Pequenas quantidades de níquel e cromo são úteis em
atmosferas industriais, pois formam sulfatos insolúveis que protegem o metal.
CORROSÃO 100

Outro fenômeno importante também ocorre quando os materiais estão expostos à


atmosfera. Com a diminuição da temperatura ambiente nos períodos noturnos, ocorre
condensação de umidade em regiões da estrutura metálica onde a evaporação está dificultada
e, portanto, o ataque do metal. Um bom exemplo deste fenômeno, denominado corrosão
protegida, é a corrosão que ocorre nas partes internas das portas dos automóveis. Para se evitar
este tipo de corrosão deve-se cobrir o metal com películas protetoras.

Figura 51 - Curvas relacionando umidade relativa UR e cloreto de sódio. (1) 58%, (2)
70%, (3) 80%, (4) 89%, (5) 94%, (6) 97%.
CORROSÃO 101

5.1.2 - MECANISMO DE CORROSÃO ATMOSFÉRICA

O processo de corrosão atmosférica, úmida ou aquosa, é de natureza


eletroquímica. A eletroquímica da corrosão sob filmes úmidos finos foi estudada
extensivamente. O processo catódico é quase sempre associado com a redução do oxigênio, de
acordo com a reação:

O2 + 2 H 2 O + 4e ⇔ 4OH −

No caso da oxidação do ferro a reação anódica é:

Fe → Fe 2+ + 2e

sendo esta contra atacada pela redução catódica do óxido férrico para magnetita,
quando o acesso do oxigênio é limitado, segundo a equação:

4 Fe2 O3 + Fe 2+ + 2e ⇔ 3Fe3O4

Sob secagem da ferrugem, esta é atravessada pelo oxigênio, e a magnetita é


reoxidada para ferrugem:

3Fe3O4 + 0,75O2 ⇔ 4,5 Fe2 O3

5.2 - CORROSÃO EM ÁGUA

Os processos de corrosão em água são complexos, dependendo de muitos


parâmetros do próprio metal, da água e das condições de funcionamento (por exemplo;
caldeiras, tubulações, etc.). Os diferentes tipos de águas têm características diversas que
podem a estudos individualizados, por exemplo:
CORROSÃO 102

5.2.1 - ÁGUA DO MAR

O ambiente marinho é o mais corrosivo de todos os meios naturais, e compreende


desde a atmosfera contaminada com sal do mar até regiões mais profundas do oceano e o lodo
sobre o fundo do mar. Os componentes e estruturas que estão normalmente expostos a meios
marítimos são, por exemplo, as bombas e tubulações de água do mar, navios, submarinos, cais,
estacas e plataformas de petróleo costeiras.
A água do mar contém cerca de 3,4 % de sais dissolvidos e é levemente alcalina
(pH ≈ 8,0). Devido a isto ela é um bom eletrólito e pode causar, portanto, corrosão galvânica e
corrosão em frestas. A corrosão em água do mar é afetada pela velocidade e temperatura da
água e pelo conteúdo de oxigênio e organismos biológicos presentes na mesma.
A Tabela 8 apresenta a velocidade de corrosão média de alguns metais e ligas em
água do mar sem agitação. É importante ressaltar que a velocidade de corrosão em água do
mar pode variar segundo as condições locais e isto deve ser levado em consideração ao se
comparar resultados.

Tabela 8 - Velocidade de corrosão média de alguns metais e ligas em água do mar sem
agitação [D’ALKAINE, 1988].
CORROSÃO 103

5.2.2 - ÁGUAS NATURAIS

Os materiais metálicos em contato com a água tendem a sofrer corrosão, a qual vai
depender de várias substâncias que podem estar contaminando a mesma.Entre os
contaminantes mais freqüentes estão:
• Gases dissolvidos _ oxigênio, nitrogênio dióxido de carbono, cloro, amônia,
dióxido de enxofre e gás sulfídrico;
• Sais dissolvidos, como, por exemplo, cloretos de sódio, de ferro e de magnésio,
carbonato de sódio, bicarbonato de cálcio, de magnésio e de ferro;
• Matéria orgânica de origem animal ou vegetal;
• Bactérias, limos e algas;
• Sólidos suspensos.

Na apreciação do caráter corrosivo da água, também devem ser considerados o


pH, a temperatura, velocidade e ação mecânica.
Dependendo do fim a que se destinam, diversos destes contaminantes devem ser
considerados com maior detalhe. Assim, por exemplo, em água:
• potável, é de fundamental importância a qualidade sanitária, procurando-se
evitar presença de sólidos suspensos, de sais como de mercúrio e de chumbo e
de microorganismos;
• para sistemas de resfriamento, procura-se evitar a presença de sólidos
suspensos ou sais formadores de depósitos, e crescimento biológico, que
poderiam, ao se depositarem, criar condições para corrosão por aeração
diferencial;
• para a geração de vapor, evita-se a presença de oxigênio e de sais incrustantes
como bicarbonatos de cálcio e de magnésio. No caso de caldeiras, o oxigênio
oxida a magnetita. Fe3O4, protetora, formando Fe2O não protetor, e os sais
incrustantes depositariam, por exemplo, CaCO3, carbonato de cálcio,
dificultando a troca térmica;
CORROSÃO 104

• de processo de fabricação de produtos químicos ou farmacêuticos, evita-se a


presença de impurezas, como sais, usando-se água desmineralizada ou
deionizada, e, no caso do produto farmacêutico ou medicamentos, também
esterilizada.

A corrosão provocada por águas naturais depende, portanto, de muitos fatores,


dentre os quais pode-se destacar teores de cloreto, enxofre e oxigênio, além da dureza da água.
O teor de cloreto pode variar desde poucas partes por milhão (ppm) até centenas de ppm, em
um mesmo país. Os compostos de enxofre também variam de região para região, dependendo
de sua principal atividade econômica. A dureza da água está relacionada com a quantidade de
sais minerais dissolvidos. É importante assinalar que águas moles são mais corrosivas que as
duras, pois os carbonatos presentes nestas últimas depositam sobre o metal, protegendo-o.

5.3 - CORROSÃO EM SOLOS

Os solos variam largamente nas características físicas e químicas que influenciam


na sua agressividade. As características físicas de importâncias na corrosão são aquelas que
determinam a permeabilidade do solo ao ar e à água. As substâncias químicas que influenciam
na corrosão são aquelas solúveis na água. A presença de algumas aumenta e de outras diminui
a agressividade do meio. A resistividade iônica do solo é determinada não só pela natureza e
concentração de íons condutores como pelo teor de umidade, pela temperatura, etc. Além
disso, ainda há possibilidade de corrosão por correntes parasitas e corrosão por bactérias.
A corrosão nos solos também é um fenômeno eletroquímico, mas tendo em vista
os muitos fatores em jogo e ainda a inter-relação dos seus efeitos, o mecanismo ainda assim é
mais complexo do que a corrosão em água, o que torna também mais complexo o seu estudo
em laboratório e em condições naturais.
Os ensaios normalmente efetuados para avaliar a agressividade dos solos são:
resistividade iônica, pH, capacidade de retenção de água, acidez total, alcalinidade, teor em
cloretos, sulfatos, sulfetos e bactérias. É muito freqüente a determinação apenas da
resistividade iônica, já que está depende da maioria dos fatores mencionados acima, que
apresenta a vantagem de poder ser feita no local, sem retirada de amostra, com determinações
CORROSÃO 105

a diversas profundidades. Os solos com alta condutividade iônica são, geralmente, muito mais
corrosivos.
Ferro fundido e aço carbono com ou sem revestimentos orgânicos e proteção
catódica são os materiais comumente utilizados em estruturas enterradas. Os demais materiais
não são, na maioria dos casos, economicamente viáveis.
A corrosão do solo ocorre, usualmente na forma de pite, e é causada por diferenças
locais no potencial, devido principalmente a diferenças nas concentrações de oxigênio e de
sais.

5.4 - CORROSÃO EM OUTROS MEIOS

Nas seções anteriores, foram apresentados os meios específicos mais comuns.


Além destes, há outros inumeráveis meios que são particulares para uma indústria específica
ou linha de atividade. Embora seja praticamente impossível discutir todos os diferentes meios,
a corrosão biológica, por lubrificantes e outros produtos químicos serão mencionados em
seguida.

5.4.1 - CORROSÃO BIOLÓGICA

A atividade biológica de organismos vivos presentes em um dado meio (água,


solo, etc.) pode afetar, direta ou indiretamente, o processo de corrosão de um metal. O
processo de deterioração de um metal provocado pela atividade biológica de organismos vivos
é denominado de corrosão biológica.
Observa-se que os organismos vivos vivem e se reproduzem em meios de pH entre
0 e 11, a temperaturas de 0 a 80 oC e sob pressões de até 1000 atm. Portanto, a atividade dos
organismos vivos pode afetar a corrosão de um metal numa grande variedade de ambientes.
Os organismos vivos são mantidos por reações químicas, isto é, ingerem um
reagente ou alimento e eliminam produtos que podem ser agressivos. Esses processos podem
afetar a corrosão metálica através de uma das seguintes maneiras:
• influenciando diretamente as reações anódica e catódica;
CORROSÃO 106

• influenciando as películas protetoras formadas sobre o metal;


• criando condições corrosivas;
• produzindo depósitos.
Vale ressaltar que os efeitos citados podem ocorrer de forma única ou combinados
dependendo do ambiente e do organismo envolvido.
Os organismos vivos podem existir nas formas micro, como as bactérias e nas
formas macro, tais como as algas. O mecanismo pelo qual as diferentes formas de organismos
afetam a velocidade de corrosão de um metal será descrito separadamente.

Microorganismos: os microorganismos são classificados de acordo com sua


capacidade de crescer em presença ou ausência de oxigênio. Os microorganismos que
necessitam de oxigênio no seu processo metabólico são chamados de aeróbicos; os que não
necessitam de oxigênio são chamados anaeróbicos.
Uma das mais importantes bactérias anaeróbicas que afetam a velocidade de
corrosão de estruturas de aço enterradas é a bactéria Desulfovibrio desulfurican. Esta bactéria
reduz os íons sulfato a íons sulfeto, segundo a equação química:

SO42− ( aq ) + 4 H 2 ( g ) → S 2− ( aq ) + 4 H 2 O (4.1)

O gás hidrogênio nesta reação pode ser produzido pela própria reação de corrosão
ou obtido a partir de celulose, açúcares e outros produtos orgânicos presentes no solo.
A produção de íons sulfeto, segundo a reação acima, influencia significantemente
as reações anódicas e catódicas que ocorrem sobre a superfície do ferro. Os íons sulfetos
tendem a retardar a reação catódica (particularmente a reação de evolução de hidrogênio) e
acelerar a reação anódica de dissolução do metal. Na maioria dos casos, o efeito predominante
é o da dissolução do metal, aumentando, portanto, a velocidade de corrosão do mesmo.
A thiobacillus thioxidans é uma bactéria aeróbica capaz de oxidar o elemento
enxofre em ácido sulfúrico de acordo com a seguinte reação química:

2S ( s ) + 3O2 ( g ) + 2 H 2 O → 2 H 2 SO4 ( aq ) (4.2)


CORROSÃO 107

Este tipo de bactéria se desenvolve preferencialmente em baixos pH e pode


produzir ácido sulfúrico cuja concentração pode atingir 5% em áreas localizadas. Portanto,
estas bactérias atuam no sentido de criar condições extremamente corrosivas.
Bactérias redutoras de íons sulfatos e oxidantes do elemento enxofre podem atuar
de maneira cíclica de acordo com as mudanças de solo. Assim, quando o solo está molhado e a
quantidade de oxigênio diminui, desenvolve-se a bactéria redutora de íons sulfato; quando o
solo está seco e rico em oxigênio desenvolve-se a bactéria oxidante do elemento enxofre.
Estes ciclos diminuem ainda mais a vida útil de uma estrutura metálica.
Existem ainda, vários outros microorganismos que podem afetar, direta ou
indiretamente, a velocidade de corrosão dos metais. Existe, por exemplo, um grupo de
microorganismo que assimilam os íons ferrosos presentes numa solução, precipitando-os
como hidróxido ferroso ou férrico ao redor de suas paredes celulares. O crescimento destas
bactérias em superfícies de aço tende a produzir corrosão por frestas. Certas bactérias são
capazes de oxidar amônia em ácido nítrico, produzindo soluções diluídas de ácido nítrico que
são bastante corrosivas para o ferro e outros metais. Outros tipos de bactéria também
produzem dióxido de carbono que pode contribuir para a formação de ácido carbônico,
aumentando também a corrosividade do meio.
Para prevenir a corrosão microbiológica é importante, inicialmente, certificar-se
da presença dos microorganismos. Isto pode ser feito fazendo-se uma cultura da amostra. No
caso da bactéria redutora de sulfato, a existência de sulfeto ferroso como produto de corrosão
de estruturas de aço é uma forte indicação de atividade biológica. Deve-se lembrar, entretanto,
que o sulfato ferroso nem sempre é gerado pela bactéria redutora de sulfato.
Uma das formas de proteger as estruturas metálicas enterradas de corrosão
microbiológica é separando-as do solo com revestimentos de asfalto, verniz, plástico ou
concreto. Este último é pouco eficaz na presença de bactérias oxidantes do elemento enxofre
porque é rapidamente atacado pelo ácido sulfúrico. A proteção catódica também é utilizada
para prevenir a corrosão biológica, mas sua efetividade ocorre quando empregada com
revestimentos. Em alguns casos é possível reduzir a corrosão microbiológica alterando o meio
corrosivo. Um exemplo disto é a freqüente eliminação de enxofre de águas de esgoto através
de aeração.
CORROSÃO 108

Na Tabela 9 estão apresentados as principais bactérias causadoras de corrosão com


suas respectivas condições de ação e efeitos causados.

Tabela 9 - Bactérias conhecidas causadoras de corrosão microbiológica

Macroorganismos: Dentre os milhares de tipos de macroorganismos podem-se


destacar: fungos, mofos, crustáceos, moluscos e algas.
Fungos e mofos pertencem a um grupo de plantas que se caracterizam pela
deficiência de clorofila. Estas espécies assimilam matéria orgânica e produzem quantidades
CORROSÃO 109

consideráveis de ácidos orgânicos, tais como ácidos oxálico, lático, acético ou cítrico. Os
fungos podem atacar borrachas e superfícies com ou sem revestimentos. O crescimento de
fungos e mofos pode ser eliminado ou reduzido fazendo-se limpezas periódicas. A diminuição
da umidade relativa e o emprego de agentes orgânicos tóxicos (violeta genciana, por exemplo)
também são eficazes na redução de fungos de superfície metálicas.
Crustáceos, moluscos, algas e outros organismos vivos vivem em águas doces ou do
mar. Esses animais e formas de planta incorporam-se às superfícies sólidos durante seus ciclos
de vida. A acumulação desses organismos gera grandes depósitos nas superfícies metálicas e,
conseqüentemente, corrosão por frestas. A deposição desses organismos pode ser inibida
empregando-se tintas contendo substâncias tóxicas, tais como compostos de cobre. Quando o
crescimento de organismos vivos é muito favorecido, a limpeza periódica também se faz
necessária.

5.4.2 - CORROSÃO POR LUBRIFICANTES

Lubrificantes são utilizados para reduzir o desgaste pelo atrito entre superfícies em
movimento, e também para remover calor. Há centenas de variedades de lubrificantes, sólidos,
semi-sólidos e líquidos. Lubrificantes são geralmente considerados como não- corrosivos.
Entretanto, os lubrificantes freqüentemente deterioram durante a utilização, seja por tornarem-
se contaminados ou por sofrerem variações químicas e físicas devido à oxidação, tornando-se
corrosivos. Por exemplo: combustível diesel que contém 3% de enxofre oxida-se, formando
ácido sulfuroso em óleo lubrificante.
O comportamento anticorrosivo dos lubrificantes é freqüentemente melhorado
com vários aditivos, incluindo inibidores de corrosão. Em geral, um método satisfatório de
resolver problemas de corrosão devido a lubrificantes é a escolha apropriada dos mesmos
[RAMANATHAN, 1990].

5.4.3 - CORROSÃO POR OUTROS PRODUTOS QUÍMICOS


CORROSÃO 110

Uma grande variedade de produtos químicos, orgânicos e inorgânicos é utilizada


por diversos setores industriais como: de processos químicos, petroquímicos, nucleares ou
outros. Alguns dos produtos químicos são agressivos para alguns metais, sendo inofensivos
para outros. A agressividade total do meio é freqüentemente composta por outros fatores,
como temperatura, velocidade de escoamento, pressão, configurações geométricas, tensões
etc. Uma descrição e discussão do comportamento de corrosão dos metais em vários produtos
químicos, com ou sem a influência dos fatores mencionados acima, é praticamente impossível,
além de desta fora do nosso objetivo. A Tab 3 apresenta a interação de alguns materiais
metálicos com diversos reagentes químicos. O objetivo é que esta tabela sirva como um guia
inicial para a seleção de materiais que serão utilizados com estes produtos químicos
[RAMANATHAN, 1990].
CORROSÃO 111

Tabela 10 - Interação entre diversos materiais metálicos e reagentes químicos


CORROSÃO 112

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALLISTER, W. D., Materials Science and Engineering – na Indroduction,


Third Edition, 1993.
D’ALKAINE, C.V., FILHO, A. R., BOCCHI, N. & ROCHA, S. B.,
Corrosão e Proteção Pinturas Industriais, Editora UFSCar, 1988.
DENARO, A. R., Elementary Electrochemistry, Second Edition, Butterworks,
Londres, 1971.
DUTRA, A. C. & NUNES, P. L., Proteção Catódica. Técnica de combate à
Corrosão, Editora McKlausen, 1987.
FERRANTE, M., Seleção de Materiais, Editora da UFSCar, São-Carlos,
S.P., 1996.
FONTANA, G. M., Corrosion Engineering, McGraw-Hill, International
Editions, Third Edition, 1987.
GENTIL, V., Corrosão, 2a Ed., LTC S.A., 1996.
POURBAIX, M., Atlas of Electrochemical Equilibria in Aquous Solutions.
Bruxelas, Ce-Belcor, 1966.
RAMANATHAN, L. V., Corrosão e seu Controle, Editora Lemus, 1990.
UHLIG, H. H., Corrosion and Control, John Wiley & Sons, New York, 1962.

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