Evaporação Liquida Reservatórios - Ana
Evaporação Liquida Reservatórios - Ana
Evaporação Liquida Reservatórios - Ana
LÍQUIDA
DE RESERVATÓRIOS
ARTIFICIAIS NO BRASIL
Agência Nacional de Águas Universidade Federal
e Saneamento Básico do Paraná
República Federativa do Brasil
Jair Bolsonaro
MINISTÉRIO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Presidente da República
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Diretoria Colegiada
Christianne Dias Ferreira (Diretora-Presidente)
Reitoria
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EVAPORAÇÃO LÍQUIDA
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(Vice-Reitora)
DE RESERVATÓRIOS ARTIFICIAIS
Oscar Cordeiro de Moraes Netto
Vitor Saback
NO BRASIL
Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho (interino)
Ricardo Medeiros de Andrade (até 6/7/21)
BRASÍLIA - DF
ANA
2021
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Setor Policial Sul, Área 5, Quadra 3, Blocos B, L, M, N, O e T.
e Saneamento Básico do Paraná
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de Recursos Hídricos (SPR)
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Vitor Eduardo de Almeida Saback Thiago Henriques Fontenelle Flávio Hadler Tröger
Equipe Técnica
Irani dos Santos
Superintendentes Coordenação Técnica Cesar Augusto Crovador Siefert
Sérgio Rodrigues Ayrimoraes Soares
Humberto Cardoso Gonçalves Thiago Henriques Fontenelle Cynthia Roberti Lima
Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho Revisão dos originais Marco Vinícius Castro Gonçalves Fernando Helmuth Syring Marangon
Flávio Hadler Tröger Cesar Augusto Crovador Siefert Daniel Assumpção Costa Ferreira Gilson Bauer Schultz
Carlos Alberto Perdigão Pessoa Nathan Streisky da Silva
Secretário-Executivo Colaboradores Nelson Luís da Costa Dias
Flávio Hadler Tröger
Rogério de Abreu Menescal Adalberto Meller
Gilson Bauer Schultz
Carlos Alberto Perdigão Pessoa Equipe de Apoio
As ilustrações, tabelas e gráficos sem indicação Fotografias Gonzalo Álvaro Vázquez Fernandez Luan Marcus dos Reis Silva
de fonte foram elaborados pela ANA.
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Informações, críticas, sugestões, correções de
Marcus André Fuckner Nicolas dos Santos Rosa
dados: cedoc@ana.gov.br
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Vanessa da Silva Cardoso
Paulo Marcos Coutinho dos Santos
Adílio Lemos da Silva
Todos os direitos reservados Saulo Aires de Souza
É permitida a reprodução de dados e de infor-
Projeto gráfico e Produção
mações contidos nesta publicação, desde que
citada a fonte. Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico
92 p.: il.
ISBN: 978-65-88101-20-9
CDU 627.81
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 7
1 CONTEXTO 9
4 EVAPORAÇÃO LÍQUIDA E
USOS CONSUNTIVOS SETORIAIS 73
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85
SUMÁRIO
5
Coeficientes Técnicos de Uso da Água APRESENTAÇÃO
para a Agricultura Irrigada
APRESENTAÇÃO da Água no Brasil, publicado pela ANA em 2019. Portanto, a ANA e a UFPR
apresentam o estudo Evaporação Líquida de Reservatórios Artificiais no Brasil
como uma importante contribuição à pesquisa, à segurança hídrica e ao pla-
nejamento e à gestão dos recursos hídricos e dos setores usuários no Brasil.
O Brasil possui cerca de 241 mil massas d’água naturais e artificiais inven-
tariadas pela ANA, que ocupam 174.000 km², equivalente a pouco menos que
a área do estado do Paraná. As massas naturais englobam feições como la-
gos, lagoas, áreas permanentemente alagadas e trechos de grandes rios, que
por seu porte e pela escala dos mapeamentos disponíveis, são representados
como polígonos. Com isso, as massas naturais ocupam área maior que as ar-
1 CONTEXTO tificiais (73,8%), embora em menor número (27,6%), sendo mais expressivas
na Região Amazônica, no Pantanal e nas proximidades da linha de costa (es-
tuários e lagoas costeiras). As massas artificiais ocupam 46 mil km² - a área
está concentrada em maiores reservatórios de abastecimento urbano do Se-
miárido e reservatórios de usos múltiplos operados fícies livres de água, fatores climáticos como a tem-
Massas d’água inventariadas - naturais e artificiais
pelo setor elétrico; há também um relevante número peratura do ar, o vento e a pressão de vapor d'água
de pequenos reservatórios para consumo humano e, no ar interferem com mais intensidade no fenômeno
principalmente, atividades de mineração e agrope- de evaporação. Assim, geralmente, as características
cuárias (irrigação, aquicultura e abastecimento ani- climáticas locais afetam diretamente o comporta-
mal), que somados representam parcela expressiva mento da evaporação líquida, tendo em conta que a
da superfície alagada em muitas bacias hidrográficas evapotranspiração real é sempre limitada em algum
do País. grau pela umidade do solo, enquanto a evaporação
da superfície líquida não apresenta essa restrição,
Esses dados constam na base de dados nacional de dependendo apenas das condições meteorológicas
referência de massas d’água (ANA, 2020a), que bus- e da energia disponível.
ca cadastrar as feições mapeadas e incluir atributos
diversos – como a finalidade de uso, a capacidade Os volumes de água que fazem parte da fase evapo-
de armazenamento, a data de construção, o domínio rativa do ciclo hidrológico se tornam indisponíveis e
(estadual ou da União) e a própria origem (natural não podem ser recuperados para uso no curto pra-
ou artificial). Essa base é atualizada continuamente e zo. Assim, a evaporação líquida constitui-se em uso
subsidia ações de planejamento, gestão e regulação consuntivo múltiplo da água bastante significativo
dos recursos hídricos em escala nacional, integran- e é uma informação necessária, por exemplo, para
do a base de dados do Sistema Nacional de Informa- reconstituição das séries de vazões naturais nas ba-
ções sobre Recursos Hídricos (SNIRH), instrumento cias que abrigam esses reservatórios, além de ser
da Política Nacional de Recursos Hídricos. importante para a própria gestão da oferta hídrica
nmemp fonmemp dtreserv fodtreserv nuvolumhm3 em diversas escalas. Conceitualmente, são espera-
A evolução na identificação das massas d’água no das maiores evaporações líquidas em reservatórios
Brasil deve-se à digitalização de bases cartográficas onde a precipitação seja limitante na componente da
sistemáticas e, principalmente, ao desenvolvimento evapotranspiração real.
de geotecnologias aliadas à maior disponibilidade
de imagens de satélites, o que tem permitido avan- Assim, do ponto de vista da gestão dos recursos hí-
Quantitativo de ços sucessivos no inventário de pequenas massas dricos, os reservatórios artificiais consomem água,
Massas d'água (unidades) d’água – muitas vezes antigas, mas não captadas nas pois o barramento promove a sua acumulação, reti-
escalas de análise anteriormente disponíveis. Com rando-a de forma parcial e/ou temporariamente do
Natural
isso, o número de massas d’água identificadas vem sistema natural a jusante para permitir o desenvol-
66.372 crescendo expressivamente nos últimos anos, mas vimento de atividades diversas. O consumo é uma
27,6% Total não a área total coberta por esses espelhos, já que os perda inerente que se aplica a todos os usos setoriais
Massa d'água
fonmemp dtreserv fodtreserv nuvolumhm3 240.899 grandes reservatórios são conhecidos e compõem da água caracterizados como consuntivos (indústria,
Natural Artificial as bases de dados desde suas primeiras versões. O abastecimento público, irrigação etc.).
Artificial 174.527 início do enchimento de um novo grande reserva-
72,4% tório tende a impactar mais o inventário, em termos Com a criação de espelhos d’agua, tender a ocorrer
de área, do que a inclusão de centenas ou milhares um incremento positivo nos volumes evaporados na
de pequenos reservatórios – esses, por outro lado, bacia hidrográfica em relação ao que existiria natu-
possuem uma importância local e podem impactar ralmente. A água armazenada no reservatório pode
Quantitativo de Área Ocupada por
expressivamente a estimativa da superfície alagada ser parcialmente liberada para o canal fluvial a ju-
Massas d'água (unidades) Massas d'água (km²)
em bacias hidrográficas específicas. sante, caracterizando um retorno e que é realizado
Natural Natural de acordo com os critérios de operação, atendendo
66.372 128.165 A evaporação de uma superfície líquida é afetada por a interesses de disponibilidade de recursos hídricos
73,8% Total diversos fatores, mas depende fundamentalmente e manutenção de processos naturais. Dessa forma,
27,6% Total da energia disponível proveniente da irradiância (ou os reservatórios artificiais realizam as fases de reti-
240.899 173.750
Artificial radiação) solar (a mudança do estado líquido para o rada, consumo e retorno que caracterizam todos os
km² Artificial
gasoso consome L = 2,464 × 106 J kg-1 a 15°C, onde L usos consuntivos da água.
174.527 45.583 é o calor latente de evaporação da água). Em super-
72,4% 26,2%
Fonte: ANA (2020a)
EVAPORAÇÃO
LÍQUIDA
R IO
R ESERVATÓ
BARRAMENTO
USOS
SETORIAIS
GERAÇÃO
DE ENERGIA
NÃO CONSUNTIVO
CONSUNTIVO
Regularização
Em síntese, a evaporação líquida é a diferença entre sitivo, é conceitualmente evidente que ocorre con- à jusante
a evaporação de água de um reservatório artificial sumo de água devido à existência do espelho d’água PESCA MINERAÇÃO ABASTECIMENTO
ANIMAL
(evaporação bruta ou do lago) e a evapotranspiração artificial.
real na área do espelho de água caso ele não tivesse
sido implantado. A evapotranspiração em terra ten- Mesmo os reservatórios construídos e operados por
de a ser inferior à evaporação de uma superfície livre um setor específico da economia geralmente bene-
de água no mesmo local e tempo. Assim, por defi- ficiam múltiplos usuários. Os usuários de um reser-
nição, a evaporação líquida só pode ser determina- vatório podem ser tanto aqueles que se beneficiam TURISMO INDÚSTRIA TERMELÉTRICA
da para reservatórios artificiais, os quais alteram as diretamente do volume armazenado, captando água
RIO
condições de evapotranspiração dos seus locais de ou utilizando-a para usos não consuntivos (pes-
formação; o conceito não é, portanto, aplicável para ca, lazer, turismo), como aqueles que dependem da
as massas d’água naturais. regularização do regime hídrico do curso d’água a
jusante do barramento para o desenvolvimento de
Cabe destacar que o resultado do balanço da eva- suas atividades. O controle de cheias, a diluição de
poração líquida é espacialmente heterogêneo e de- efluentes e a geração de energia no sistema inter- VAZÃO NATURAL
VAZÃO
pendente das condições climáticas locais, podendo ligado são outros usos importantes com benefícios REGULARIZADA
resultar até mesmo em valores negativos (evapo- difusos dos reservatórios. Por esses motivos, a eva-
VAZÃO
VAZÃO
ração do lago menor que a evapotranspiração real poração líquida de reservatórios artificiais pode ser
esperada), embora esse saldo só seja observado em definida como uso consuntivo múltiplo da água.
alguns locais específicos. Quando o resultado é po-
TEMPO
TEMPO
12 13
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
Como os reservatórios artificiais configuram uma um grande desafio construir uma base de dados e
parte importante da infraestrutura hídrica que com- modelos de estimativa espacialmente representati-
põe a base de sustentação de diversas atividades vos. Para a estimativa da evaporação líquida dos re-
econômicas, é natural que as perdas por evapora- servatórios, foram agregadas informações adicionais
ção líquida a partir desses espelhos d’água artificiais ao inventário consolidado pela ANA, especialmen-
representem, em termos quantitativos, relevante te quanto à data de implantação e ao histórico de
consumo de água das bacias hidrográficas. Por ou- operação dos reservatórios de acumulação (aqueles
tro lado, não resta dúvida dos inúmeros benefícios que guardam grandes volumes de água e, portanto,
socioeconômicos oriundos da implantação de reser- apresentam oscilação relevante da área ocupada ao
vatórios artificiais, sendo que o consumo de água longo do tempo).
resultante desta intervenção deve ser associado aos
diversos setores beneficiados. O método desenvolvido no presente estudo para a
evaporação bruta do lago é baseado nas equações
Por óbvio, esse consumo é atribuído ao local do de transferência de massa e calor e de balanço de
espelho d’água, cuja barragem em geral possui um energia. O modelo requer informações sobre a tem-
proprietário ou operador; mas a atribuição do uso peratura superficial da água e dados meteorológicos
evaporação líquida aos setores não foi realizada. O como irradiância solar incidente, temperatura do ar,
rateio do consumo aos diferentes setores benefi- pressão de vapor d'água no ar e velocidade do vento.
Aquicultura no lago da UHE Chavantes - rio
ciados por um reservatório ainda é um desafio na Essas variáveis de cálculo, assim como a estimativa Itararé - entre Carlópolis (PR) e Fartura (SP)
literatura técnica e científica, pois os beneficiados da evapotranspiração real, foram avaliadas com pro- Raylton Alves / Banco de imagens ANA
podem variar em número e setor, ao longo do tem- dutos de sensoriamento remoto e calibradas com
po e do espaço. Pode ser objeto de estudos futuros, medições de campo disponíveis em todo o território
que integrem elementos econômicos e dos setores nacional, seja pelas estações meteorológicas ou pelo
beneficiados. balanço hídrico de longo prazo calculado nas princi-
pais estações fluviométricas.
O presente estudo buscou estimar a evaporação lí-
quida dos reservatórios artificiais no Brasil pela sua O método e as bases de dados serão detalhados no
relevância no balanço hídrico e, consequentemente, próximo Capítulo. O Capítulo 3 detalha os resulta-
no incremento da segurança hídrica – objetivo cen- dos alcançados e o Capítulo 4 apresenta uma dis-
tral da implementação da Política Nacional de Re- cussão integrada da evaporação líquida com os usos
cursos Hídricos. consuntivos setoriais. Na sequência, são apresenta-
das as Considerações Finais.
Dadas as dimensões continentais do Brasil, e con-
sequente heterogeneidade hidroclimática, torna-se
Introdução
A evapotranspiração real (ER) pode ser medida diretamente por meio de lisí-
metros, torres de fluxo (eddy covariance e cintilômetros), ou indiretamente
por meio de tanques de evaporação e estações de razão de Bowen. Com o
desenvolvimento computacional e das geotecnologias, desde os anos 1970 di-
versas abordagens têm sido desenvolvidas para estimar ER com base em dados
de campo e de sensoriamento remoto (Li et al., 2009), visando cobrir grandes
áreas em curtos intervalos de tempo. Modelos mais complexos inspiram-se
no balanço de energia na superfície, onde a energia disponível da radiação de
ondas curtas e longas é equilibrada por fluxos do aquecimento da superfície e
mudanças de fase da água, como é o caso de ER (McShane et al., 2017). Assim,
ER é estimada pela solução total ou parcial do balanço de energia e pela apli-
cação de abordagens analíticas com base em modelos físicos.
2 MÉTODO E BASES baseiam-se nos métodos do balanço de energia (Anderson, 1954; USGS, 1958;
Sturrock et al., 1992; Sacks et al., 1994; Reis & Dias, 1998; Lenters et al., 2005);
ou no método de medição de covariâncias turbulentas (Stannard & Rosenber-
DE DADOS ry, 1991; Assouline & Mahrer, 1993; Armani et al., 2020; Dias & Malheiros, 2003;
Dias & Vissotto, 2017).
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EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
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EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
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EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
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EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
Cálculo da irradiância líquida
N é o número máximo de horas de brilho do sol em horas, Em síntese, a operacionalização do SELET para eva- A definição de cada fonte de dados e o tratamento
Para a aplicação do SELET utilizou-se valores de Rs poração bruta do lago requer dados do inventário de inconsistências, vieses e eventuais falhas foi pre-
com aP = 0,25 e bP = 0,50 (Allen et al., 1998), sujeito à restri-
e de T0 medidos (obtidos, respectivamente, de esta- de massas d’água artificiais (geometria, data de im- cedida de análise pelas equipes técnicas da ANA e da
ção 0 ≤ n ≤1
ções meteorológicas e/ou de reanálise; e do produto N plantação, latitude e altitude); dados meteorológicos UFPR, englobando critérios de consistência, resolu-
MODIS). A irradiância líquida é dada por: oriundos de estações meteorológicas em terra ou de ção espacial e temporal, disponibilidade e acurácia.
Os valores de N, Rsea e a0 calculados apresentam va-
Rn = Rs (1 - a0) + ϵRa - ϵσT4
(2.13) riação de acordo com a latitude. As grandezas as- produto de reanálise; e dados de temperatura su- As figuras a seguir ilustram o fluxo metodológico e
0
tronômicas que entram em uma série de cálculos perficial da água, oriundos dos satélites Terra e Aqua um exemplo de aplicação do método de estimativa
onde: relacionados à energia disponível para a evaporação do MODIS. de evaporação líquida em um reservatório hipoté-
Rs é a irradiância solar incidente média diária (W m-2 s-1); na superfície são a declinação do sol δ, a distância tico.
a0 é o albedo da superfície; sol-terra em unidades astronômicas r' e o número Para a obtenção da altura de evaporação líquida (em
máximo de horas de brilho do sol N. mm = litro/m²), a evaporação bruta é descontada da As fontes de dados e os tratamentos realizados se-
Ra é a irradiância atmosférica incidente diária (W m-2 s-1);
evapotranspiração real observada em áreas vizinhas rão detalhados nos próximos tópicos, agrupados em:
ϵ é a absortividade/emissividade da superfície; inventário e características das massas d'água artifi-
ao reservatório, a partir do produto MOD16A após a
Cálculo dos coeficientes de transferência
σ = 5.670374419 × 10-8 W m-2 K-4 é a constante de Stefan- correção de viés. As variações de área do lago ou a ciais; temperatura superficial da água; meteorologia;
-Boltzmann; área mapeada fixa são então combinadas às alturas e evapotranspiração real.
A e B são coeficientes de transferência estimados
T0 (K) é a temperatura média da superfície, que precisa ser anualmente para cada lago. Isso traz significativas de evaporação para estimar as vazões de evaporação
corrigida (Zhao et al., 2020) em relação à temperatura ori- vantagens operacionais: além de ser um método líquida consumidas pelos reservatórios.
ginal em graus Celsius calculada a partir do MODIS (T): simples de calibração local, os valores de A ou B fi-
nais podem ser calculados a cada novo ano de dados. Síntese do método e das fontes de dados para cálculo da Evaporação Líquida
T0 = 1,0894T + 273,15
(2.14)
O cálculo considera a equação de balanço de energia
A irradiância atmosférica incidente Ra é calculada (2.9), substituindo H e LE com as equações de trans-
por meio de: ferência (2.6 e 2.7) em nível diário e com Nd = 365 ou
366 dias do ano: Massa
Meteorologia Bacia
e d’Água
ϵac = 0.625( Ta)0.131 (2.15) Hidrográfica
a Nd Nd Nd
Artificial
Rac = ϵac σT 4 ∑R - ∑D = ∑ [H + LE ]
ni i i i (2.20)
a (2.16) i=1 i=1 i=1
Nd Nd
n e*0i- eai
C=1-
N
(2.17) ∑R = ∑ni
[ρcp (A + Bui)(T0i - Tai) + ρcp (A + Bui) γ ] (2.21)
i=1 i=1
INMET e ERA5
Latitude e Evapotranspiração
cia atmosférica com céu claro é calculada por (2.16), envolvendo A e B sejam iguais. Isso nos leva a: Altitude Real (ER MODIS)
e finalmente a irradiância atmosférica incidente é Nd Pressão de Vapor
ANA e SRTM MODIS
calculada por (2.18) levando em consideração o au- ∑R ni no Ar (ea)
mento da irradiância atmosférica incidente devido à A= 1 Nd
i=1 (2.22)
2 e*0i- eai Temperatura Super- Evapotranspiração
nebulosidade C (Duarte et al., 2006). Em (2.15) a (2.18) ∑ ρc p
[(T0i - Tai) + γ ] ficial da Água (T0) Real Corrigida (ER)
Ta é dada em K e ea em Pa. i=1 Pressão de
Nd
Saturação à T0 (e0*) MODIS corrigido
O número de horas de brilho intenso de sol n, neces-
∑R ni
MODIS
ER = ER MODIS c
B= 1 i=1 (2.23)
sário para a estimativa da irradiância atmosférica in- 2 Nd
e* - e
cidente com céu parcialmente encoberto (2.17 e 2.18)
∑ ρcp ui [(T0i - Tai) + 0iγ ai ]
i=1
é estimado invertendo-se a equação de Prescott: Evaporação do Evaporação
Rs onde todas as variáveis acima são conhecidas na escala di- Lago (EL) Líquida - mm
-a ária, com Ta (temperatura do ar, em K), u (velocidade do Área do Espelho
n Rsea P EΔ = EL - ER
= (2.19) vento a 2 m, em m s-1) e ea (pressão de vapor d’água no ar, d’Água (A) Modelo SELET
N bP
onde: em (Pa) medidos em terra; e T0 (temperatura da superfície
ANA, SAR, ONS
da água, em K) obtida por sensoriamento remoto (MODIS). Evaporação
Rsea é a irradiância solar (média de 24 horas) extra-atmos- Líquida - vazão
férica;
EQ = EΔ x A
24 25
TEMPERATURA DA ÁGUA EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL
ILUSTRAÇÃO DA
ESTIMATIVA DE 30
150
EVAPORAÇÃO DIA
ORIGINAL
T0 25 MÉDIA ER
(°C) 100
(mm)
RESERVATÓRIO E
ANO HIPOTÉTICOS 75
NOITE
10 50
ÁREA MAPEADA:
JAN MAR MAI JUL SET NOV JAN MAR MAI JUL SET NOV
35 km²
MÉDIA DA
TEMPERATURA
MÉDIA DA
EVAPOTRANSPIRAÇÃO
DADOS METEOROLÓGICOS
média ponderada pela distância ao reservatório
TO
E LAGO
DADOS MÉDIA
METEOROLÓGICOS
1,2
3,0
1,0
ALTURA
2,5
0,8 150
VENTO 2,0 140
0,6 PRESSÃO DE VAPOR
(m/s) ATUAL DO AR
ea (kPa) 130
0,4 1,5
JAN MAR MAI JUL SET OUT NOV JAN MAR MAI JUL SET OUT NOV 120
mm
EL
110
30
20 100
28 90 ER
IRRADIÂNCIA SOLAR TEMPERATURA
15 26 80
INCIDENTE DO AR
Rs (MJ/m²) JAN MAR MAI JUL SET OUT NOV JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
JAN MAR MAI JUL SET OUT NOV
T (°C)
a
RESULTADO
EΔ EVAPORAÇÃO
LÍQUIDA
25
CAPACIDADE TOTAL
DO RESERVATÓRIO 200
20
ÁREA
(LITROS
(KM²)
/SEG.)
15
100
CAPACIDADE MÍNIMA
10 DO RESERVATÓRIO
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
reservatórios do país possuem informação de ca- Área / Superfície evaporante mapeada (ha)
As massas artificiais atendem a diversos propósitos. pacidade total de armazenamento, totalizando 630
A maior parte da superfície de água, entretanto, está bilhões de m3 em 2020. Em termos de volume útil
concentrada nos maiores reservatórios de abasteci- Proporção entre massas d'água naturais e artificiais nas Regiões Hidrográficas
destinado à geração de energia elétrica nos reser-
mento urbano e naqueles de usos múltiplos opera- vatórios integrantes do Sistema Interligado Nacio-
Natural Artificial ÁREA TOTAL
dos pelo setor elétrico. Embora menos expressivas nal (SIN), a maior capacidade de armazenamento de AMAZÔNICA
no total nacional, determinadas bacias possuem mi- água encontra-se nas regiões hidrográficas do Para- 83.390 km²
lhares de pequenos reservatórios que somam uma ná, Tocantins-Araguaia e São Francisco, totalizando
ATLÂNTICO LESTE
superfície equivalente à de grandes reservatórios, mais de 266 bilhões de m3 (ANA, 2020a).
2.865 km²
ATLÂNTICO SUDESTE
2.438 km²
ATLÂNTICO SUL
18.872 km²
PARAGUAI
4.838 km²
bilhões de m³
PARANÁ
18.534 km²
PARNAÍBA
1.326 km²
SÃO FRANCISCO
8.560 km²
TOCANTINS-ARAGUAIA
16.454 km²
URUGUAI
2.799 km²
28 29
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
30 31
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
reservatório, a partir da geometria disponibilizada consolidar uma base de polinômios de 4º grau, ajus- A temperatura da superfície da água (T0) é um dos resolução espacial (como Landsat e ASTER) (Becker
em ANA (2020a) para extração dos píxeis "de água" tados para a descrição da variação das áreas de 26 parâmetros físicos determinantes para boas estima- & Daw, 2005; Kay et al., 2005; Vanhellemont, 2020),
dentro da área correspondente a cada massa d'água. reservatórios (112 km² de área inundada). tivas de evaporação em lagos. O monitoramento da quanto para sensores com maior resolução temporal
Dada a existência de diversas falhas e inconsistência temperatura é dispendioso e, tratando-se de gran- (como MODIS e AVHRR) (Bussières et al., 2002; Liu et
nas séries brutas de áreas do GSW (p.ex. percentuais O modelo SELET aplicado também requer a altitude des massas d'água, há elevada probabilidade de su- al., 2015; Sima et al., 2013).
de dados válidos entre 11% a 79% para os 125 reser- média dos reservatórios em relação ao nível médio do bamostragem espaço-temporal.
vatórios devido à imagens com elevados percentuais mar. Para tanto, realizou-se um cruzamento espacial Os produtos mais utilizados (MODIS e Landsat) se
de ausência de dados relacionados à cobertura de entre o centroide geométrico das feições mapeadas A utilização de satélites para o monitoramento da contrapõem na medida em que o MODIS oferece
nuvens), buscou-se realizar o ajuste de um modelo e o modelo digital de elevação (MDE) produzido pelo temperatura da superfície da água iniciou-se nos dados subdiários, mas com menor resolução espa-
cota-área a partir dos dados de leitura de cotas da Shuttle Radar Topography Mission - SRTM (produto oceanos, destacando-se os sensores do Advanced cial. Já os sensores dos satélites Landsat apresen-
série histórica com apoio da série de áreas extraída SRTMv3, conforme detalhado em Farr et al., 2007). O Very High Resolution Radiometer – AVHRR, operado tam maior resolução espacial, mas com frequência
do GSW. SRTM foi projetado para coletar medidas tridimen- desde 1981 pela NOAA (National Oceanic and Atmos- de revisita de 16 dias e alto percentual de falhas em
sionais da superfície do planeta através de técnicas pheric Administration) e pela NASA (National Aero- regiões com maior cobertura de nuvens.
Apesar de limitações observadas devido à disponi- de interferometria com o SIR-C/X-SAR. O produto nautics and Space Administration).
bilidade de pares de leituras de cotas (em escala di- adotado tem resolução espacial de aproximadamen- Após uma avaliação das fontes de dados disponíveis,
ária, sendo convertidas para médias mensais) e da te 30 metros e foi acessado no repositório de dados Mais recentemente, a partir da década de 2000, o os produtos MOD11A1 e MYD11A1 do MODIS foram
informação correspondente à área inundada para do Google Earth Engine. Cabe ressaltar que o produ- imageamento por satélite tem sido utilizado como selecionados por conta da extensa validação pela
o referido mês, foi possível a obtenção das curvas to resulta de um esforço colaborativo entre diversas fonte de dados de temperatura da superfície de comunidade científica e da regularidade de dados
cota-área para 45 reservatórios (150 km²). Após um agências e institutos de pesquisas internacionais - massas d’água continentais. A maior parte dos estu- subdiários (4 passagens: 2 durante o dia e 2 durante a
processo de verificação e validação dos polinômios a disponibilização é feita pela National Aeronautics dos tem utilizado dados de sensores do MODIS e dos noite) – essencial para a obtenção de séries contínu-
ajustados, bem como uma análise de consistência and Space Administration Jet Propulsion Laboratory satélites Landsat ou uma combinação de diferentes as e representativas de temperatura e, consequente-
das séries de cotas para ajuste dos limites inferiores (NASA JPL). produtos. A acurácia satisfatória das estimativas de mente, de evaporação dos lagos.
e superiores de validade dos modelos, foi possível T0 é comprovada tanto para os sensores com maior
Reservatório da UHE Igarapava no rio Grande entre Igarapava (SP ) e Delta (MG) Sensores orbitais utilizados para monitoramento da temperatura da
Raylton Alves / Banco de imagens ANA superfície de massas d'água continentais
Resolução Resolução
Satélite Sensor Agência Espacial Temporal Operação
(m) (dias)
Sensores: MODIS – Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer; ASTER – Advanced Spaceborne Thermal
Emission and Reflection Radiometer; SLSTR – Sea and Land Surface Temperature Radiometer; AATSR – Advanced
Along Track Scanning Radiometer; TM – Thematic Mapper; ETM+ – Enhanced Thematic Mapper Plus; e TIRS –
Thermal Infrared Sensor. Agências: NASA – National Aeronautics and Space Administration; JAXA – Japan Aeros-
pace Exploration Agency; e ESA – European Space Agency.
32 33
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
partir das dispersões dos pares {T0Dia;T0 média} e {T0Noi- análoga ao cálculo de uma média móvel para uma
Síntese das etapas de trabalho para obtenção da temperatura da água
te
;T0 média} foram definidos polinômios de 3º grau para série temporal. Este procedimento fornece um ajus-
os preenchimentos subdiários (Eq. 2.24). te robusto dos dados e previne que valores espúrios
influenciem o resultado e evita a interpolação de va-
Temperatura Após o preenchimento subdiário ainda houve ca- lores distantes do dado real observado (Cleveland,
Superficial da Reservatórios sos de reservatórios artificiais com falhas ou com 1979; Cleveland & Devlin, 1988).
água outliers na série de dados diários. O LOESS (Locally
Produtos ANA Estimated Scatterplot Smoothing) foi adotado para O LOESS foi testado com diversas opções de tama-
remover valores extremos de temperatura e interpo- nho de janela móvel de ajuste. Após inspeção de um
lar períodos com falhas. O LOESS é um método de conjunto grande de dados optou-se pela adoção de
Preenchimento regressão com peso local que calcula valores para uma janela n = 14 dias, a qual se mostrou compatível
Downscale de T Filtragem de T0 e
Pixels de T com preenchimento de cada intervalo k da abscissa ajustando uma função com a variabilidade temporal e os padrões de falhas
Classificação (situação mista)
MODIS Tdia ou Tnoite falhas das variáveis independentes localmente e de forma de leitura nos dados diários.
MD11A1, MYD11A1, MOD44W Polinômio Regressão Linear LOESS
(°C)
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
Validação
As estimativas obtidas de T0 foram comparadas com (MODIS com 4 leituras diárias x estação com uma
medições in situ distribuídas pelo país e foram ana- leitura, em geral); e da profundidade (MODIS refere-
Desagregação de píxeis mistos
lisadas com relação à sazonalidade. Foram selecio- -se a uma camada de 0 a 100 μm da superfície, en-
Grande parte da área ocupada por massas d’água ar- e a maior ocorrência de píxeis molhados. Após agre- nadas 1.008 medições de temperatura entre 2000 e quanto as medições não dispõem de padronização
tificiais no Brasil (75%) é representada por 161 reser- gação diária e filtragem, obteve-se 6.630 conjuntos 2020 constantes nas bases de dados da ANA (Hidro/ – um termômetro mergulhado, por exemplo, não é
vatórios cujas geometrias englobam, no mínimo, um simultâneos de valores de T0, pW, Tr e Ti. Em sequên- Conjuntura) coincidentes com 38 píxeis molhados diretamente comparável com o MODIS).
pixel MODIS totalmente em água (pixel molhado). cia foi realizada uma análise de regressão linear múl- (100% de água) do MODIS.
Para 25% da área, e para a maior parte do número tipla relacionando T0 com as três variáveis preditoras Apesar das limitações, as estimativas de T0 prove-
de reservatórios (174.365), as geometrias das massas (pW, Tr e Ti). A figura abaixo apresenta a compara- Destaca-se que há limitações nesse comparativo, nientes dos produtos MOD11A1 e MYD11A1 apre-
d’água englobam apenas píxeis mistos (com água e ção entre os valores medidos de T0 pelos produtos especialmente por conta da resolução espacial (o pi- sentaram boa acurácia quando comparadas com as
com terra) - quando é aplicado um passo adicional MOD11A1 e MYD11A1 com os valores estimados de T0 xel MODIS representa uma média de 1 km², enquan- medições in situ (R² = 99,2%) e representam adequa-
de desagregação dos dados de temperatura de píxeis pela regressão linear. Apresenta ainda a distribuição to a medição local é pontual); da resolução temporal damente as variações sazonais no Brasil.
mistos para a obtenção da T0. espacial das massas d'água utilizadas na análise.
Inicialmente, foram testados índices de vegetação Regressão linear múltipla e coeficientes adotados Ilustração de reservatório com píxeis molhados e de outro com apenas mistos
como preditores para a desagregação, os quais não para estimativa de T0 em píxeis mistos
se mostraram satisfatórios. Em novos testes, utili- Reservatório do Rio VerdeReservatório do Rio Verde
Polígono do reservatório
Polígono do reservatório UHE Sobradinho
UHE Sobradinho
zou-se a máscara de superfícies com água do pró- T0 = b + j1 pW + j2 Ti + j3 Tr (2.25) Pixels secos Pixels secos
prio MODIS (produto MOD44W) e procedeu-se uma b = 3,054582416 Pixels molhados Pixels molhados
20
25 leituras, em todos os píxeis).
15 20 - 30
T0 estimada (°C)
10
5 Rio Verde:30 - 40 seja um lago de médio porte (5,6 km²), não
embora
0 possui nenhum
40 - 50pixel com 100% de água. A temperatura é
0 5 10 15 20 25 30 35 40
15 obtida a partir dos 27 píxeis mistos, que possuem diferentes
Ti (°C) 50 - 60
proporções de água, e dos 29 píxeis secos do entorno.
R² = 0,930 Reservatórios analisados
60 - 70
n = 6.630 Climas Zonais
Equatorial Entre 2002 e 2019 (6.362 dias), 46,9% das estimativas diárias
15 massas d'água 70 - 80
Temperado
Tropical Brasil Central
Dados medidos Dados estimados foram obtidas diretamente, 29,5% necessitaram de preen-
5
5 15 25 35
Tropical Nordeste Oriental
Tropical Zona Equatorial
chimento80subdiário
- 100 (ausência da leitura do dia ou da noite)
e 23,6% necessitaram de preenchimento diário (ausência de
T0 MODIS (°C) Coeficientes
ambas as leituras, em todos os píxeis).
Interseção 3,054582416
pW 0,902078544
Ti 1,125886828
Meteorologia
Correlação de valores medidos de temperatura da água com os estimados pelo
O método de estimativa de evaporação do lago ado- gerado interesse cada vez maior ao combinar uma
MODIS e localização dos pontos de monitoramento adotados tado requer informações de velocidade do vento (u), ampla variedade de dados observados em superfície
temperatura do ar (Ta), pressão de vapor no ar (ea) e ou detectados remotamente dentro de um modelo
40 irradiância solar incidente na superfície (Rs). A rede numérico dinâmico de base física (Tarek et al., 2020).
meteorológica nacional operada pelo Instituto Na- Com isso, as reanálises fornecem séries consistentes
± 20% cional de Meteorologia - INMET é a principal fonte das variáveis climáticas essenciais (essential climate
± 20%
desses dados. variables - ECVs) e buscam garantir a consistência e
30 coerência na representação dos principais ciclos do
T0 MODIS (°C)
Os dados da rede devem ser cautelosamente anali- sistema terrestre (como água e energia) (Hersbach
sados para lidar com inconsistências, descontinui- et al., 2020). Por outro lado, esses produtos preci-
dades e falhas nos dados. Deve-se considerar ainda sam passar por análises de consistência para even-
20
a variação da densidade de estações (no território e tual correção de viés introduzido pelos modelos de
R² = 0,992
ao longo do tempo). Mesmo em regiões com melhor representação do sistema terrestre e de assimilação
Estações amostrais
n = 1.008 Climas zonais
Equatorial
38 pontos de Temperado densidade e poucas falhas, a interpolação espacial e previsão do tempo.
monitoramento Tropical Brasil Central
10 Tropical Nordeste Oriental simples de dados entre estações pode introduzir er-
Tropical Zona Equatorial
10 20 30 40 ros relevantes por não captar características locais, Dentre as fontes disponíveis, ou seja, as estações
Temperatura da água medida (°C)
como relevo e altitude. meteorológicas (INMET) e os produtos de reanálise,
Amostras Linha 1:1 ± 20% buscou-se o máximo aproveitamento de dados con-
Estações amostrais Em complementação às redes meteorológicas e sistentes. Inicialmente, foi feita uma avaliação de
Climas zonais com objetivo de disponibilizar séries temporais con- cobertura espacial e temporal das estações, consi-
Equatorial sistentes, os produtos de reanálises climáticas têm derando as variáveis de interesse (u, Ta, ea e Rs). Pos-
Temperado
Tropical Brasil Central
Convencional
Tropical Nordeste Oriental Rede INMET em 2000
E
Automática
Rede INMET em 2020
Tropical Zona Equatorial D
E Convencional
D Automática
2000 2020
366 Convencionais 201 Convencionais
05 Automáticas 588 Automáticas
Nota: A rede meteorológica brasileira tem passado por um processo de atualização a partir da desativação de estações con-
vencionais e substituição por equipamentos que realizam a coleta automática. 133 locais de monitoramento já operaram (e
79 ainda operam) com estações convencionais e automáticas que registraram dados de modo simultâneo com diferenças
metodológicas nas formas de aquisição, frequência de leitura e equipamentos utilizados.
Confluência do rio Paranapanema, a jusante da UHE Canoas I, com o
rio das Cinzas- entre Santa Mariana (PR) e Cândido Mota (SP)
Raylton Alves / Banco de imagens ANA
38 39
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
Componentes u’ e v (10m)
Componentes
para cálculo da velocidade
Velocidade do vento u’ e v (2m) Consistência e Séries meteorológicas
Variáveis do vento, ea obtida a partir Acurácia, tendência
(10m) e temperatura para cálculo da processamento e sazonalidade do Reservatório
analisadas da temperatura do ponto de
Variáveis
média do ar velocidade do (ea , u, Ta , Rs)
orvalho, temperatura média do
vento
ar e irradiância solar incidente
Séries
Resolução meteorológicas
1h 3h 3h Correção de Viés
Temporal (~2000-presente)(EA)
Resolução Estação Automática f = INMET / ERA5
0,25° x 0,25° 0,25° x 0,25° 0,5° x 0.625°
Espacial
Beaudoing e Rodell, - Pressão de vapor no ar (ea) Séries
Referência CCCS, 2017 Gelaro et al., 2017 - Velocidade média do vento (u) meteorológicas
2020
- Temperatura do ar (Ta) (EAvirtual)
- Irradiância solar incidente (Rs)
Nota: u’ é a componente zonal do vento (longitudinal) e v é a componente meridional (latitudinal). Estação Virtual
Siglas: ERA5 (CCCS, 2017), fornecido pela European Centre for Medium-Range Weather Forecasts (ECMWF) Coper-
nicus Climate Change Service (CCCS), Global Land Data Assimilation System 2.1 (GLDAS 2.1) (BEAUDOING e RO-
DELL, 2020), fornecido pela Goddard Earth Sciences Data and Information Services Center (GES DISC) da National tomático, as séries foram preenchidas e estendidas de do vento a 10 m para 2 m foi adotada a equação
Aeronautics and Space Administration (NASA), Modern-ERA Retrospective Analysis for Research and Applications a partir da combinação dos dados observados dispo- proposta em Allen et al. (1998) a partir de um ajuste
(MERRA-2) (GELARO et al., 2017), fornecido pelo Global Modeling and Assimilation Office (GMAO) da NASA. níveis e os produtos do ERA5. logarítmico do gradiente de vento em altura e uti-
lizando como fator de correção um coeficiente de
Consistência da rede meteorológica A aplicação automática deste conjunto de regras im- rugosidade para uma superfície de grama curta:
plementadas e o preenchimento de falhas realizado
4.87
teriormente, os dados consistidos de estações foram Os dados da rede INMET são disponibilizados sem em escala diária elimina grande parte das inconsis- u2 = uz
ln (67.8 z)-5.42
utilizados para avaliar a acurácia dos produtos de re- consistência (dados brutos). As estações convencio- tências detectadas nas séries (como valores espúrios (2.27)
análise (ERA 5, GLDAS 2.1 e MERRA-2), adotando-se nais adquirem dados de variáveis meteorológicas devido a falha de equipamentos) e contorna muitos 4.87
u2 = u10 ln (67.8×10) -5.42)
base diária no período comum de dados – 2000 a três vezes ao dia (00:00, 12:00 e 18:00 UTC), enquan- problemas decorrentes de falhas de observação de
2018. to as estações automáticas disponibilizam dados variáveis específicas. = 0.74795u10
integralizados em resolução horária. Para a análise
realizada, todos os dados foram convertidos em va- onde:
Como conclusão das análises, o método adota da- Cabe ressaltar que para o cálculo da pressão de va-
dos pós-processados das 615 estações automáticas lores médios diários. por d'água no ar (ea) para as estações, utilizou-se a u2 é a velocidade do vento a 2 m da superfície (m s-1);
do INMET, quando há dados consistidos. Para pre- equação recomendada em FAO (2012), sendo obtida z é a altura base da medição (z = 10 m).
enchimento de falhas diárias e para o período an- As séries meteorológicas monitoradas em estações a partir da temperatura de ponto de orvalho (Tdew)
terior à operação, criou-se uma estação virtual no automáticas do INMET foram consistidas aplicando em ºC, conforme a equação: Como forma de avaliação da similaridade entre os
mesmo local da estação automática, cujos dados são limites mínimos e máximos para os dados de veloci- dados das estações meteorológicas automáticas e
dade do vento, pressão de vapor no ar, temperatura 17,27 Tdew
oriundos do ERA5 corrigidos pelo viés observado
entre estação automática e séries brutas do ERA5 do ar e irradiância solar incidente, além de outros
ea = e°(Tdew ) = 0,6108 exp
[T dew
]
+ 237,3
(2.26) convencionais, realizou-se uma análise estatística
comparativa das séries de dados das variáveis me-
no período comum de dados. Com as séries diárias critérios de consistência implementados para de- Onde: teorológicas (u, Ta , ea e Rs) em escala diária para os
completas por estação entre 1979 e 2019 (automática tectar e corrigir erros sistemáticos frequentes iden- locais monitorados de maneira síncrona, totalizando
ea = é a pressão de vapor atual (kPa);
+ virtual), procede-se à interpolação espacial para os tificados no processo de avaliação e análise de con- 266 estações (133 locais de registros simultâneo em
e° é a pressão de saturação de vapor na temperatura do
locais dos reservatórios. Os itens a seguir detalham sistência das séries. estações automáticas e convencionais), para todo o
ponto de orvalho (Tdew ) (kPa).
as principais análises realizadas. período comum de dados entre 2000 e 2019. Das 266
Como forma de ampliação da disponibilidade tem- estações analisadas, 158 estações, ou seja, 79 locais
Para a conversão dos dados observados de velocida-
poral de dados nos locais com monitoramento au-
40 41
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
Para análise de acurácia, foram utilizadas as séries valores entre -1 e 1, onde 1 indica o ajuste perfeito,
de monitoramento, encontravam-se em operação no ar (ea) obtidas pelas convencionais e automáti- disponíveis em 261 estações automáticas com pelo sendo que, em geral, para uma relação linear positiva
simultânea até 2019. Utilizou-se para comparação cas. menos 48 meses de dados em escala diária entre adota-se r < 0,5 como ajuste fraco, moderado entre
das séries os valores mínimos, médios, máximos, in-
Dadas as diferenças observadas entre as séries e de- 2000 e 2018. A análise foi realizada frente aos prin- 0,5 e 0,7 e forte para valores de r > 0,7.
tervalo de medição e desvio-padrão, além dos parâ-
vido ao processo paulatino de substituição das es- cipais produtos de reanálise atualmente disponí-
metros de ajuste obtidos por meio de uma regressão
tações convencionais pelas estações automáticas, veis: ERA5, GLDAS 2.1 e MERRA-2. Outros produtos O Viés (Bias) avalia a tendência que a média dos va-
linear entre os pares de estações, visando identificar
visando uma homogeneidade das séries para esti- considerados inicialmente (TerraClimate, GWA 3.0, lores dos produtos de reanálise possuem em relação
possíveis tendências, ajustes e/ou discordâncias en-
mativas futuras e a coerência em termos de método FLDAS, JRA-55, GLS, R1, dentre outros) foram des- aos dados observados - zero indica o ajuste ótimo.
tre as séries obtidas nas estações convencionais e
de coleta, registro e pré-processamento de dados cartados principalmente pela resolução temporal e
automáticas.
brutos (por exemplo, o método de integralização das espacial limitadas; e pela extensão das séries incom- Considerando os valores de velocidade do vento a 2
médias diárias), optou-se por descartar a utilização patíveis com a aplicação aqui proposta. m (u), o ERA5 apresenta uma melhor performance ao
De maneira geral, as estações convencionais apre- representar as séries observadas com os melhores
da rede convencional para o cálculo da evaporação
sentam valores de u e ea médios superiores aos das A performance dos dados obtidos nos três produtos ajustes dado os valores médios de MAE, NRMSE, R
de lago, mantendo, portanto, apenas a rede de esta-
estações automáticas. Além disso, há diferenças sig- de reanálise teve o objetivo de indicar se os dados e Viés em comparação ao GLDAS 2.1 e ao MERRA-2,
ções automáticas. A densidade de estações/dados é
nificativas entre as séries de pressão de vapor d'água são consistentes com relação aos dados observa- descartando-se o último das análises subsequentes
compatível com o período analisado (2001-2019).
dos a partir dos seguintes critérios de qualidade do devido ao fraco desempenho.
ajuste: erro médio absoluto (MAE), raiz do erro qua-
Médias das séries meteorológicas para estações drático médio normalizada (NRMSE), coeficiente de Considerando a temperatura média do ar (Tair), ERA5
convencionais e automáticas no mesmo local (266) correlação de Pearson (r) e Viés (Bias): e GLDAS 2.1 performaram razoavelmente bem. Para
ambos os produtos, os desvios médios ficaram pró-
Temperatura do ar Velocidade do vento O MAE indica a diferença média absoluta entre os ximos ao zero, sendo positivo para o ERA5 (2%) e ne-
4 4 dois conjuntos de dados, sendo que o valor é dado gativo para o GLDAS (-3%).
na mesma unidade dos conjuntos avaliados. O NMR-
Vel. Vento (m/s) - Automáticas
SE, isto é, o RMSE normalizado pela diferença entre Considerando o desempenho nas primeiras variá-
ea (kPa) - Automáticas
3 3
os valores máximos e mínimos do conjunto de dados veis, disponibilidade de dados e o maior período de
observados, é mais apropriado para representação cobertura temporal do ERA5 (desde 1979) em relação
2 2 da performance de modelos do que o MAE pois atri- ao GLDAS (2000), procedeu-se à análise apenas do
bui um maior peso para desvios maiores. O valor é ERA5 para a pressão de vapor no ar (ea) e irradiân-
sempre positivo e um valor igual a zero indica o ajus- cia solar incidente (Rs). Os resultados mostram boa
1 1 te perfeito. aderência no primeiro caso (ea), com distribuição do
viés próxima a 0; e ajuste moderado no caso de Rs.
O coeficiente de correlação de Pearson (r) indica o
0 0
0 1 2 3 4 0 1 2 3 4 grau de correlação entre os dois conjuntos de dados Dessa forma, o ERA5 demonstrou ser o melhor pro-
ea (kPa) - Convencionais Vel. Vento (m/s) - Convencionais avaliando a capacidade do modelo de simular a vari- duto para preenchimento de falhas no local das esta-
ância dos dados observados sendo representado por ções automáticas, assim como para obter uma série
Pressão de vapor no ar Irradiância solar incidente
30 30
Violin-plot dos índices de qualidade entre dados observados e
produtos de reanálises - velocidade do vento
Rs (MJ/m².d) - Automáticas
Tair (°C) - Automáticas
25 25
20 20
15 15
10 10
10 15 20 25 30 10 15 20 25 30
Tair (°C) - Convencionais Rs (MJ/m².d) - Convencionais
42 43
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
Violin-plot dos índices de qualidade entre Violin-plot dos índices de qualidade entre
dados observados e produtos de reanálises - dados observados e ERA5 - pressão de Temperatura Velocidade
do ar do vento
temperatura do ar vapor no ar e irradiância solar incidente
Fator de correção
! 0,2 a 0,75
! 0,75 s 0,98
! 0,98 a 1,02 (+- 2%)
! 1,02 a 1,25
! > 1,25
Pressão de
Irradiância solar
vapor no ar
incidente
44 45
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
O modelo SSEBop (Operational Simplified Surface perfície para estimar o fluxo de calor sensível (H),
Evapotranspiração Real Energy Balance) utiliza uma versão simplificada da supondo que no pixel quente não há fluxo de calor
equação do balanço de energia para estimativa de ER latente (ER = 0) e no pixel frio o valor de ER atinge seu
A evapotranspiração compreende tanto a evapora- produtos e técnicas de estimativas de evapotrans- (Senay et al., 2013), mantendo as principais premis- máximo (ER próxima à evapotranspiração potencial).
ção da água contida na superfície do solo e da ve- piração real. sas descritas nos modelos SEBAL - Surface Energy O SSEBop Global analisado utiliza o produto de tem-
getação quanto a transpiração das plantas, ou seja, Balance Algorithm for Land (Bastiaanssen et al., 1998) peratura superficial do MODIS e pode ser acessado
representa o total de água transferida da superfície Nesse contexto, destaca-se a potencialidade do e METRIC - Mapping Evapotranspiration at high Re- em https://earlywarning.usgs.gov/ssebop.
terrestre para a atmosfera. Devido ao estado gasoso emprego das estimativas de ER que utilizam dados solution with Internalized Calibration (Allen et al.,
da água, a evapotranspiração é difícil de ser estimada de sensores orbitais, por permitirem a obtenção de 2007). Tanto o SEBAL quanto o METRIC assumem O produto MOD16A do MODIS (Moderate Resolution
e até mesmo de ser medida em campo, permanecen- séries espacialmente distribuídas. Foram avaliados que a diferença de temperatura entre a superfície Imaging Spectroradiometer) é a estimativa realizada
do como um dos grandes desafios em hidrologia. quatro produtos de evapotranspiração real que uti- da terra e o ar (diferença de temperatura próximo à pelo algoritmo de Mu et al. (2011), baseado na equa-
lizam dados provenientes de sensores orbitais e que superfície) varia linearmente conforme a tempera- ção de Penman–Monteith (Monteith, 1965; Penman,
Para a estimativa da evaporação líquida, a evapo- apresentam resultados de forma espacialmente dis- tura de superfície da terra. Ambos os modelos esta- 1948) e que utiliza entradas de sensoriamento remo-
transpiração real (ER) é aquela que ocorreria na área tribuída em grades que abrangem todo o território belecem essa relação ancorados no conceito de pixel to derivadas do MODIS incluindo a classificação de
da massa d’água artificial caso ela não existisse. As- brasileiro: GLEAM v3.3a, GLEAM v3.3b, SSEBop Glo- quente e pixel frio, sendo o quente amostrado em cobertura da terra, índice de área foliar, fração de
sim, é indispensável que a evapotranspiração seja bal e MODIS (MOD16A2GF). uma superfície de solo nu e seco e o frio em área bem radiação fotossinteticamente ativa e albedo. Os da-
estimada para as mesmas condições locais presentes vegetada e úmida. Assim, tais métodos baseiam-se dos meteorológicos utilizados são a irradiância inci-
nas proximidades do reservatório. No Brasil, medi- O GLEAM (Global Land Evaporation Amsterdam Mo- na relação linear entre a diferença de temperatura dente de ondas curtas, temperatura do ar e umidade
ções diretas locais desta natureza ainda são raras. del) é a estimativa desenvolvida por Mirales et al. do ar próxima à superfície e a temperatura da su- específica provenientes do Modern-ERA Retrospec-
(2011) e Martens et al. (2017). São disponibilizados
O método atual adotado nos programas SisEvapo/ dois conjuntos de dados. O v3a usa dados de saté-
ONS e WREVAP/ANA baseia-se na relação de com- lite para umidade do solo e umidade da vegetação; Síntese das etapas de trabalho para obtenção da evapotranspiração real
plementaridade do modelo CRAE (Complementary dados meteorológicos de irradiância e temperatura
Relationship Areal Evapotranspiration) (Morton, são de produtos de reanálise, enquanto a precipita-
1983a), onde a evapotranspiração real é estimada in- ção é um produto híbrido (MSWEP - Multi-Source Balanço
Produtos de
diretamente pela relação complementar entre a eva- Weighted-Ensemble Precipitation). O v3b utiliza so- Hídrico
Evapotranspi- Sazonalidade
potranspiração que ocorreria em condições meteo- mente dados de sensores orbitais para a alimenta- ração de Longo
rológicas em que o solo/superfície esteja saturado ção do modelo. O GLEAM utiliza o método de Pries- (ER) Período
(ETWet) e a evapotranspiração potencial que ocorreria tley e Taylor (1972) no cálculo da Evapotranspiração
sobre as condições meteorológicas predominantes Potencial (ETpot) e calcula e evapotranspiração real
se apenas a energia disponível fosse o fator limitante como a soma da transpiração do dossel, evaporação
(ETPot). Apesar das incertezas associadas, esse méto- do solo e em corpos hídricos, perda de intercepta- GLEAM v3.3 b
GLEAM v3.3 a Chuva Escoamento
do foi aplicado em condições de ausência de dados, ção e sublimação. Dados são disponibilizados em (Q) BHS/HEM*
SSEBop (P)
mas não se justifica com a disponibilidade atual de www.gleam.eu.
MODIS CHIRPS Hidro/ANA
MOD16A
SSEBop (USGS) 1000 m decendial 2003 fev/21 12 dias Produto Adotado Superfície de
ER MODIS (MOD16A) Correção (c)
46 47
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
1.500 - 2.000 ER ao longo do período entre recessões nas séries c0, c1, c2 e c3 são os coeficientes determinados pela regres-
2.000 - 2.500 Para análise da evapotranspiração média anual foi diárias de vazão. Essa estimativa foi então distribuí- são linear; e
>2.500 adotado o período comum de disponibilidade dos da de forma mensal e ajustada, com apoio de dados a barra ( ¯ ) representa a média mensal das variáveis.
produtos (2003-2015) com a evapotranspiração real meteorológicos, no modelo HEM (2.32), para obter a
calculada por balanço hídrico em 1.088 áreas de con- série mensal de ER.
Todos os valores de P, Q e ER utilizados na avaliação
tribuição hidrográfica (ER BH = P - Q), que correspon- sazonal são apresentados em mm dia −1, incluindo
dem aos exutórios de estações fluviométricas com ER i= P - Q - (QfTr - QiTr) / ∆t) (2.31)
as médias mensais que são equivalentes aos valores
pelo menos três anos consecutivos de dados, sem onde: diários, ou seja, o total de ER do mês dividido pelo
falhas. Os dados de vazão (Q) são oriundos do Hi- número de dias.
Tr é a constante de recessão;
droweb/ANA e foram consistidos pela ANA. Os dados
Qi e Qf são as vazões inicial e final do período Δt.
de precipitação (P) foram derivados do Climate Ha- De forma geral, os quatro produtos apresentaram
zards Infrared Precipitation with Stations – CHIRPS distribuição sazonal semelhante entre si e seguem
Vazão (mm) 2.0 (Funk et al., 2015) por apresentar o melhor de- O HEM é altamente dependente da disponibilidade a tendência geral da evapotranspiração do balanço
< 250 sempenho dentre 10 produtos de chuva avaliados no e qualidade dos dados meteorológicos. Portanto, a hídrico estimada pelo HEM. O SSEBop Global re-
250 - 500 Brasil para o Atlas Irrigação (ANA, 2021). Foram utili- equação (2.33) foi aplicada apenas como alternativa presentou menor sazonalidade em algumas bacias,
500 - 750 zadas médias anuais de longo período, permitindo a
750 - 1.000 desconsideração da variação no armazenamento na
Avaliação sazonal da ER com o HEM - estações fluviométricas selecionadas
1.000 - 1.500 bacia hidrográfica (∆S = 0).
74270000
> 1.500
Como resultado das análises, os produtos GLEAM
5
apresentaram, de forma geral, tendência de supe-
restimar a evapotranspiração, sobretudo na bacia 4
amazônica e no litoral do Brasil. Além disso, apre-
Evapotranspiração
(mm) Os produtos MODIS e SSEBop Global apresentaram 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
< 500 regiões com dispersões importantes nos valores de
500 - 750 ER média anual em relação ao balanço hídrico, mas HEM MOD16A2
discordando do HEM e dos demais modelos. De fato, a superfície do solo ou da vegetação esteja coberta (a)
esse tipo de modelo tem dificuldade de lidar com as de água. Com esses elementos, o algoritmo repre- Evapotranspiração
estimativas em períodos de restrição de água no solo senta a complexidade dos processos de transferên- Original
(seca contínua ou seca sazonal). O MODIS apresen- cia da água da terra para a atmosfera melhor que os
tou boa concordância com a sazonalidade obtida por demais produtos analisados, considerando a hetero- Superfície de correção
balanço hídrico em todos os casos. geneidade espacial e a variabilidade temporal. com base no balanço
hídrico de longo período
Com base nas análises de magnitude (ER média anual) Os resultados também indicaram a necessidade de
e sazonalidade (distribuição mensal) concluiu-se que aplicar uma superfície de correção de viés da ER pro-
o produto do MODIS apresentou melhor desempenho veniente do MODIS. A correção é derivada do ba-
em relação aos demais para reproduzir a evapotrans- lanço hídrico de longo período (P – Q) nas áreas in-
piração real no entorno dos reservatórios, sendo o crementais às estações fluviométricas. Ou seja, em
melhor indicador da ER na ausência do lago. qualquer escala temporal, a evapotranspiração real
final corresponde à evapotranspiração oriunda do (b)
Cabe destacar que o produto MOD16A é formulado produto MOD16A2GF multiplicada pela superfície
com base na equação de Penman–Monteith para de correção (c).
cada componente principal da evapotranspiração: a
evaporação da precipitação interceptada pela vege- A correção de viés (c) foi empregada a fim de garantir
tação, a transpiração da vegetação e a evaporação da a compatibilidade entre os valores de evapotranspi-
superfície do solo – o resultado final corresponde à ração utilizados para as massas d’água e as demais
soma dessas componentes em cada pixel. No pro- variáveis do balanço hídrico. A criação da superfície Correção (c)
cesso de alocação de energia disponível por tipo de de correção foi realizada por krigagem, o que permi- 0,6
superfície, é identificada a fração coberta por vege- tiu o ajuste aos dados sem criar picos isolados, ca- 0,6 - 0,8
tação e a presença de condições de umidade em que racterizando a tendência regional do viés.
0,8 - 1,0
1,0 - 1,2
(c)
Evapotranspiração estimada por balanço hídrico e pelo produto MODIS 1,2 - 1,4
MOD16A2GF - antes (a) e depois (b) da correção de viés - em 1.088 estações Evapotranspiração
1,4 - 1,5 Corrigida
2.000 2.000
ETr MODIS - Corrigido (mm)
1.500 1.500
ETr MODIS (mm)
1.000 1.000
50 51
Coeficientes Técnicos de Uso da Água EVAPORAÇÃO LÍQUIDA NO BRASIL
para a Agricultura Irrigada
Introdução
Inicialmente, cabe destacar que embora o Brasil conte atualmente com cerca
de 175 mil reservatórios artificiais inventariados pela ANA (2020a), a superfície
de água está concentrada em um número pequeno de reservatórios de maior
porte. Os 30 maiores lagos brasileiros (maiores que 300 km²) concentram 58%
da área (26,5 mil km²), e os 10 maiores 38% (17,3 mil km²).
Neste capítulo são adotados alguns recortes para a organização dos resul-
tados. O Grupo A refere-se às massas d'água dos reservatórios do Sistema
Interligado Nacional (SIN), com os maiores reservatórios e outros de menor
porte interligados ao sistema operado pelo ONS (157 lagos que totalizam 72%
da área média). Ou seja, os reservatórios inventariados não interligados ao SIN
totalizam 28% da área.
O recorte temporal das análises vai de 2001 a 2019 – período com disponi-
bilidade de medidas de temperatura do lago por produtos de sensoriamento
remoto. Estimativas anteriores a 2001, necessárias, por exemplo, para os pro-
cessos de reconstituição de vazões naturais, poderão ser obtidas a partir do
processamento das séries mais recentes, que estarão detalhadas para os prin-
cipais reservatórios do Brasil no portal do Sistema Nacional de Informações
sobre Recursos Hídricos – SNIRH.
3 EVAPORAÇÃO LÍQUIDA Cabe ressaltar que percentuais ou relações de área referem-se àquelas mé-
dias ou mapeadas nos inventários, mas para a estimativa de vazão de evapora-
NO BRASIL
ção líquida são adotadas as variações médias mensais observadas para a maior
parte da superfície, conforme abordado no Capítulo 2.
Barragem da Usina Hidrelétrica Jaguara, no rio Grande, na divisa entre Rifaina (SP) e Sacramento (MG).
Raylton Alves / Banco de imagens ANA
52
53
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
real (mm/ano)
2.500 2.500
(mm/ano)
2.000
Agrupamentos de análise dos resultados de evaporação líquida 2.000 UHE Porto UHE Serra da Mesa
real (mm/ano)
Primavera (1184 km²) UHE Tucuruí
UHE Ilha Solteira
(mm/ano)
(2105 km²) (2784 km²) 2.000
2.000 UHE Porto (1172 km²) UHE Serra da Mesa
Primavera (1184 km²)
1.500
UHE Tucuruí
Grupo A 1.500 UHE Ilha Solteira
líquida
Demais maiores Demais menores (2105 km²) (2784 km²) UH
(1172 km²)
Evapotranspiração
Vinculados ao SIN 1.500 (13
23% da área 5% da área 1.000
1.500
líquida
72% da área ~21.000 reservatórios ~154.000 reservatórios UH
Evaporação
Evapotranspiração
(13
157 reservatórios 1.000
1.000
UHE Balbina (2730 km²) 500
Evaporação
1.000
Área Média
3.000
Alturas de evaporação líquida
3.000 UHE Sobradinho UHE Luiz Gonzaga (736
(3135 km²) km²)
lago (mm/ano)
Os reservatórios integrantes do Grupo A (SIN) pos- a 500 mm/ano, consequentemente apresentando 2.500 UHE Porto Primavera UHE Sobradinho UHE Luiz Gonzaga (736
(3135 km²) km²)
suem um longo histórico de estudos hidrológicos e valores elevados de evaporação líquida. (2105 km²)
do (mm/ano)
UHE Tucuruí
UHE Porto Primavera UHE Três (2784 km²)
uma base de dados comparativamente mais conso- 2.500
(2105 km²) Marias
UHE Itaipu UHE Tucuruí
lidada que o conjunto dos demais reservatórios do A diversidade climática brasileira também é refletida (1338 km²)
(855 km²)
UHE Três (2784 km²)
2.000
Marias
País, sendo que séries de evaporação líquida são de nos distintos padrões sazonais (valores médios men-
do lago
UHE Itaipu (855 km²)
Evaporação
(1338 km²)
uso rotineiro no planejamento e gestão desses reser- sais) de evaporação de lago. Nesse aspecto, merece 2.000
vatórios. Considerando esse histórico e também a destaque a grande amplitude interanual dos valores
Evaporação
1.500
distribuição espacial representativa da diversidade mensais, podendo em alguns casos a variação para
climática brasileira, os resultados obtidos são apre- um mesmo mês ser superior a 100 mm ao longo do 1.500 UHE Ilha
UHE Serra da UHE Balbina
Solteira (1172
UHE Furnas
sentados inicialmente para esse conjunto de reser- histórico recente (2001-2019). Essa amplitude dos (1234 km²)
km²)
UHE Ilha
Mesa (1184 km²) (2730 km²)
1.000 UHE Serra da
vatórios. valores históricos para um mesmo mês pode ser in- -30
Solteira (1172
-25 UHE Furnas -20 km²) -15
Mesa (1184 km²) -10 -5 0
UHE Balbina
(2730 km²) 5
(1234 km²)
clusive superior à própria sazonalidade mensal in- 1.000 Latitude (°)
Devido às dimensões continentais e consequente tranual, reforçando a importância de estimativas ba- -30 -25 -20 -15 -10 -5 0 5
2.500 2.500 Latitude (°)
diversidade climática do Brasil, os valores de eva- seadas nas séries históricas de dados observados no UHE Sobradinho UHE Luiz
Gonzaga
poração de lago e de evapotranspiração real apre-
Evapotranspiração real (mm/ano)
500
evaporação do lago, também e principalmente das
UHE Sobradinho (3135 km²) 0
No entanto, nota-se em determinadas latitudes umaUHE Itaipucondições de disponibilidade hídrica local. Ou seja, a
UHE Furnas UHE Furnas
UHE Ilha UHE Serra
(1338 km²) UHE Três Marias Solteira (1172
(1234 km²) da Mesa UHE Balbina
amplitude expressiva nos valores obtidos, refletindo evaporação líquida reflete, além das condições am-
(855 km²)
UHE Luiz Gonzaga (736 km²)
(1234 km²) km²) (1184 km²) (2730 km²)
a diversidade climática encontrada no País. Desta-
0 bientais que controlam o processo de evaporação, -500
-30 -25 -20 -15 -10 -5 0 5 -30 -25 -20 -15 -10 -5 0 5
ca-se nesse aspecto o Semiárido (~10º de latitude também a dinâmica do regime pluviométrico e da
Latitude (°) Latitude (°)
sul) com valores de evaporação de lago superiores a capacidade de retenção de água no solo.
Nota: as esferas variam proporcionalmente à área média do reservatório - os 10 maiores estão destacados.
2.000 mm/ano, de evapotranspiração real inferiores Os dados referem-se ao período 2001-2019, a partir da existência do lago (a média refletirá um período
menor caso o lago tenha sido formado após 2001)
3.000
54 55
(3135 km²) km²)
/ano)
Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
200
Em comparação aos valores adotados atualmente Para um conjunto maior de reservatórios, os resulta- com valores médios estimados pela ANA 160 sistemati- taram os comparativos mais0 discrepantes, com dife-
pelo setor elétrico, os resultados de evaporação lí- dos atuais apresentam magnitude superior em ter- camente superiores. Dentre os fatores, a metodolo-
120 rença de cerca de 1.200 mm/ano entre a estimativa
-30
quida encontrados apresentam, em termos de to- mos médios anuais, com valores adotados pelo setor gia atual retrata melhor tanto a sazonalidade
80 (com atual e a adotada pelo setor elétrico. Neste caso es-
40
tais médios anuais, ordem de grandeza similar para elétrico concentrados na faixa entre 200 e 600 mm/ maiores consumos no período de estiagem noJ Cer- F M A M Jpecífico,
J A S destaca-se
O N D que os
-60 resultados atuais - com
J F M A M J J A S O N D
alguns reservatórios e maiores discrepâncias em ano, enquanto para este mesmo conjunto de lagos os rado) quanto os aspectos locais em relação às com- evaporação do lago de cerca de 1.700
Amplitude (ANA) mm/ano e
Amplitude mensal (ANA)
outros. O paralelo entre os resultados é ilustrativo, valores concentram-se entre 300 e 1.000 mm/ano ponentes regionais (que possuem maior peso nos evapotranspiração real em torno de 1.100 mm/ano,
dadas as diferenças metodológicas e de período de no presente estudo. Lagos na bacia do rio Paraná métodos anteriores). UHE Serra daresultando
Mesa em evaporação líquida daUHEordem de 600
Ilha Solteira
dados entreUHE
as fontes.
Sobradinho destacam-se nesse quesito, notadamente os maio- 180 mm/ano - são consistentes regionalmente para um
180
UHE Itaipu 140
res (Porto Primavera, Itaipu, Furnas, Ilha Solteira),
UHE Tucuruí Os reservatórios de Santo Antônio e Jirau UHE Sobradinho grande conjunto de lagos avaliados.
apresen- 140
Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
100 UHE Balbina
260 260 100
260
280 60
220 220 30 60
220 240 20
Elago (mm)
Elíquida (mm)
180
Elago (mm)
180 200 -20
180 UHE Itaipu
140 Representação da amplitude e média
140 mensal da 260 140 260
Representação da amplitude
160
-60 e média mensal da
UHE Tucuruí 0
280 -20
260
100
evaporação do lago nos 10 maiores
100 reservatórios evaporação líquida nos 10
120 maiores
-100
J F Mreservatórios
240 -60
Elíquida (mm)
220 100 220 A M J J A S O N D -30 J F M A M J J A S O N D
220
Elago (mm)
60 200
J A S (2001-2019) (2001-2019)
80
Elago (mm)
J F M A M J O N D 60 180 180 Amplitude mensal (ANA) Amplitude mensal (ANA)
60 180
J F M A M J J A S O N D 40 160
Amplitude mensal Média mensal 140 J F M A M J J A S O N D -60
140 J F M A M J J A S O N D
Amplitude mensal Média mensal UHE Sobradinho 140 120 J F M A M J J A S O N D
100 Amplitude mensal Média mensal UHE Balbina UHE Itaipu
UHE Tucuruí UHE Três Marias
UHE Itaipu 100 Amplitude (ANA) 80
UHE Tucuruí 100 180 Amplitude mensal (ANA)
UHE SobradinhoUHE Balbina 60 280 UHE Sobradinho UHE Itaipu
260 UHE ItaipuUHE Serra da Mesa J F M A M 60 30 120 120 UHE Balbina 40
260
UHE Sobradinho
260 UHEJ Tucuruí
240
J A S O N D
UHE Três Marias 60
J140F M A M J J A S O N D
Elíquida (mm)
260 J
280 F M A M J J A S O N D 90
J F M ASerra
M daJ Mesa
J A S O N D
Elíquida (mm)
260
Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
260220
220 220
UHE Itaipu Amplitude mensal
260 UHE
200
260
Média mensal
Tucuruí 30 80 UHE 120 UHE Ilha Solteira
Amplitude mensal Média mensal Amplitude (ANA)
UHE Luiz
UHEGonzaga
Luiz Gonzaga 240 0 UHE Itaipu 60 mensal
Amplitude Média mensal 100
Elíquida (mm)
260 220
Elago (mm)
220180
260 220 90
UHE Itaipu 260 UHE Luiz Gonzaga
Elago (mm)
Elíquida (mm)
220
Elíquida (mm)
Elago (mm)
160 180
Elago (mm)
Elago (mm)
180
140 UHE Serra daUHE
180Mesa Itaipu 120 320
140
Elago (mm)
140
Elago (mm)
140 260 0
Elíquida (mm)
(mm)(mm)
140 140 UHE Itaipu 260 180 160 -30 UHE Serra da Mesa
120 0 UHE Três Marias
Elago (mm)
280
Elíquida (mm)
140
180 140 100 30
280
Elago (mm)
120 180
140 80 260 100 100 20
Elíquida (mm)
100
100 100 UHE Luiz Gonzaga 320 220 180140
140 UHE Itaipu
120 -30
100 80 60
260
(mm)
100 240 220 140 -30 180240
0
Elíquida (mm)
140
Elíquida
80 140
100 100 40 120 220 80 60 60
280
Elíquida (mm)
60 180 140100 -60 20 -40 -60 200 -20
60 60
(mm)
60
100 320 60 200 180 100 J F M A M J J A 100 S O N D 40 220 140
-30
J F 40M A M J J A S O N D 140 80 20 J F M A M J J A S O N D J F J M F A M M A J M J J A J S A O S N O D N D 20 J F M A M J J A S O N D
Elíquida (mm)
Elago
F 60M A M 240
Elago (mm)
100 J J J A S O N D 160
Elíquida (mm)
Elíquida
J
280 J F M A MJ JF JM AA SM OJ NJ DA S 160 60 120 60 0 100
Elíquida (mm)
-60
Elago (mm)
60 O N D 140 60 Amplitude (ANA) 180-60
0 100
Elago
Amplitude mensal Média mensal
Amplitude mensal 200 Média mensal J F M A M J J A S O N D 40 J F -20 M A M J Amplitude J A Smensal O N(ANA) D -60 Amplitude Amplitudemensal mensal
(ANA) (ANA) 120
-20 Amplitude mensal (ANA)
J Amplitude
F M -20 M Amplitude
A mensalJ J A mensal
Média
S mensal
O N D Média mensal 60 120 100 J F 80 M A M J J A S O20 N D 140 -40 J F M A M J J A S O N D 60 J F M A M J J A S O N D
240 60
Elíquida (mm)
-40 J Amplitude
F M A mensal M Amplitude
J J 160 A mensal
Média S mensal
O N D Média mensal 100 60 J A 0 -60Amplitude (ANA)UHE Sobradinho -100
140 80
-60
60 J Amplitude
F M A mensal
M J Média
S mensal
O N D 20 Amplitude mensal UHE
(ANA)Itaipu
Amplitude-60mensal Média mensal 200 80 40
Amplitude mensal Média mensal
-20 100 J F UHEM A M J J
Amplitude mensalUHE (ANA)Balbina 40 J F M
UHE Serra da Mesa 120 J F M A M J J20UHE
A SSerra O da N Mesa
D Ilha Solteira JA F M S A O M J NJ A D S O N D A M J J A S O N D
UHE Balbina
J F M A M J J AAmplitudeS mensal O TrêsNMarias Média D mensal 60 -40 100 UHE Porto Primavera -20
UHE Itaipu 160 UHE 40 Amplitude mensal 0 Média mensal -60 280 0
260 UHE Ilha
UHE Sobradinho Solteira UHE Serra da Mesa UHE Porto Primavera
UHE Tucuruí 60 Legenda Amplitude mensal (ANA) Amplitude
80 F M UHE
J Amplitude A MSobradinho
mensal J -20 J Média
A Smensal
O N D 30 -60 J F M 120 A M Jmensal J A(ANA)
S O N D
A260 Legenda
260
F M
UHE Balbina
M J J A S O 120N
260
D UHE260
! UHE Itaipu
! 0 180
UHE Três Marias
-40 J JF F M M UHE
A180 AMSerra
UHE
240 J MJda AMesa
Itaipu J S O J N DA S O 60N D
180UHE Ilha!!Solteira UHE Porto Primavera
260 260 UHE Tucuruí UHE Tucuruí
Elíquida (mm)
220 260 Serra da Mesa 40 Amplitude mensal -60 UHE
Média Furnas
mensal -100 90
J F M A M J J A S O N D J F M A M J ! J A S O N D
Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
260 80220 !! 140 140200Amplitude Amplitude mensal (ANA)
O(ANA) DMédia mensal (ANA)180 Média mensal (ONS)
220 260
! 260 UHE Três Marias M 260180J Amplitude mensal S Média mensal J F M A M J J A S O N D
Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
260 220 Amplitude (ANA) ( Média 260 260260 J F M A J A N 260 !
(
!
Elíquida (mm)
220 Média mensal (ANA)
260
220 mensal
220 220(ONS) 0 140UHE 0 Tucuruí 60UHE Três Marias
Elago (mm)
220
180 !
J F M A M J J 220
A S O N D 140 !
Elago (mm)
220 180 220 ! 220 220 140 ! 180 Amplitude mensal (ANA)
Elago (mm)
Elago (mm)
180 22060
Elago (mm)
220 100 30
(mm)
Elíquida (mm)
Elago (mm)
220
180 180
(mm)(mm)
Amplitude
140 (ANA) Média mensal (ANA) Média mensal (ONS) 0 !
(!
UHE Ilha Solteira UHE Porto60120Primavera 120 !
(! 140
Elago (mm)
100
Elago(mm)
Elago (mm)
Elago (mm)
180
140 180 220
180
180 20 100
Elago (mm)
140 J 180
Elago (mm)
Amplitude mensal (ANA) 180 -30 140 0
140 F M A M J J A S O N D
Elago (mm)
Elago (mm)
Elíquida (mm)
100 UHE Furnas
Elago (mm)
UHE Tucuruí
Elíquida
140 140 -20 80 60
Elíquida
140
100 ! 180
140 !
-30
Elago
Elíquida
60 60 ! 100 ! -20
100 J F M A M J J A S O N40D 100 ! 120
J F M 6060 A M J J A S O N D (
!
-100
100 -60 (! J ! (
!
Elago (mm)
Elago (mm)
D 10060 !60 60 ! !
(! !!
180 100 180 220-20 -20 !! J F M! A M J ! A!!
S O N D20 60 J F M A M J J A S O N
J F 60 M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D 60
J F F MM A A MM J J J J A A S S O O N N D D J F M A M J J A S O N D -60
!
60 A J S A OS NO DN 100 60 J F M A M J J A S O N D
Elíquida (mm)
Amplitude
J JM
F mensalA M MédiaJ J mensal
A S O N D J ! F 60 M A MJ JF J JMF AAM S MA OJM NJ J D D J F M60A M J J A S O N D 60 Amplitude (ANA)
! J F M A M J J A S O N D
60 80
Elago (mm)
J Amplitude mensal
F M A M JAmplitude Média
J A mensal mensal
S O N D Média mensal 60 Amplitude
J F mensal
M A !
!
M Média
J J mensal
A S! O N D 140 J F M A M J 60 J A S O N D -100 J F M A M J J A S O N D
140 0
180-60 !Amplitude mensal (ANA)
! 20
-20 Amplitude mensal (ANA)
Amplitude
mensalmensal Média mensal
Média mensal J Amplitude
F M A mensal M Amplitude JAmplitudemensal
! Média mensal
S mensal MédiaMédia
mensal
mensal 60 J JF FM MAAmplitude J Jmensal
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40-20
UHE Porto Primavera Amplitude mensal Média mensal -40 Amplitude mensal Média mensal
Amplitude mensal ! Média
! mensal UHE
Amplitude Sobradinho
mensal Média mensal Amplitude mensalUHEBalbina
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mensal
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mensal Porto Primavera
(ANA)
UHE
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UHE Ilha Solteira UHE Serra da Mesa UHE Porto
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! 60 60 UHE Três Marias 100 !
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J F JM F A MM A J M J J A J S A O S N O D N D
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100 60 60 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J F J M A A S M O J N J D A S O N D 60 J F M A M J J A S O N D J F M A M J AA M S JO JN AD S O N
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Amplitude mensalmensal
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Amplitude mensal Média mensal Amplitude mensal Média mensal J Amplitude
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S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
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UHE Porto Primavera
UHE Sobradinho Amplitude mensal UHE Serra
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mensal
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UHE Tucuruí
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UHE Três Marias Amplitude mensal (ANA)
UHE Furnas
UHE Porto PrimaveraUHE Itaipu
UHE Itaipu mensal UHEda
UHE Serra Porto
MesaPrimavera UHE Ilha Solteira
260 UHE Ilha Solteira UHE Porto Primavera
UHE Furnas
UHE Tucuruí UHE Ilha Solteira UHE Balbina
180
260 260 260 280 260 180 260 180
220 260260
30
UHE Furnas 120
120 180 180 UHE Furnas 180 120
240 140 140
220 140
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Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
180 90
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140
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Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
Elíquida (mm)
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Elago (mm)
Elago (mm)
Elago (mm)
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60 60 100
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Elíquida
Elago (mm)
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60 100
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Média mensal Amplitude mensal Média mensal Amplitude
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mensal (ANA)
mensal (ANA)
(ANA) Amplitude mensal (ANA)
Amplitude mensal (ANA)
Amplitude mensal Média mensal Amplitude mensal Média mensal
UHE Serra da Mesa
UHE Serra
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da Mesa UHE Tucuruí
UHE Ilha Solteira UHE Três Marias UHE Furnas
260 UHE Porto Primavera UHE Tucuruí UHE Três Marias
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220 180 120 180
56 57
180 120 120
220 140
140 140
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(mm)
100
180 100 80
100 80 100
140
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
Regiões hidrográficas
Com relação à sazonalidade, os resultados apre- Estes resultados evidenciam um controle local no
sentam diferenças ainda mais importantes entre os processo de evaporação de lago, além das próprias ca-
estudos, tendo comportamentos distintos ao longo racterísticas climáticas e meteorológicas regionais.
Atlântico do ano para a maioria dos reservatórios avaliados, Pelas características do método proposto, a evapo-
Nordeste demonstrando diferenças conceitualmente rele- ração de lago total anual é decorrente do balanço de
Ocidental vantes entre o método desenvolvido e os utilizados energia, sendo afetada pelas variáveis e parâmetros
Atlântico
Nordeste pelo setor elétrico para a maioria dos reservatórios locais, notadamente na estimativa da irradiância lí-
Amazônica do SIN. Por outro lado, o comportamento sazonal da quida utilizada no processo de evaporação. Portan-
Oriental
Parnaíba evaporação líquida obtido é compatível em reserva- to, a distribuição espacial dos valores médios anu-
tórios onde o ONS relata limitações do SisEvapo e 3000
ais de evaporação de lago reflete aproximadamente 2600
São
utiliza método alternativo para estimativa da evapo- a heterogeneidade espacial da irradiância líquida,
Tocantins- Francisco
Araguaia
ração líquida, com dados de tanque para estimativa a qual apresenta, por um lado, uma certa homoge- 2400
de evaporação do lago e balanço hídrico para evapo- 2500 neidade espacial dada pela irradiância global; e, por
Atlântico
Leste transpiração real, como no caso de Sobradinho. outro lado, incorpora a heterogeneidade das carac- 2200
Paraguai terísticas climáticas locais que afetam o balanço de
2000
No Grupo B (21.200 reservatórios e 95% da super- irradiância de um local específico. 2000
Atlântico
Elago (mm)
Elago (mm)
Paraná
Sudeste fície evaporante), agrupado por Regiões Hidrográfi-
1500 1800
cas - RH, os resultados de evaporação de lago (média De maneira geral, os resultados de evapotranspira-
anual 2001-2019) mostram que o Atlântico Nordes- ção real - ER apresentam um comportamento com-
1600
Uruguai plementar à evaporação de lago, com valores baixos
te Ocidental (2.057 ± 166 mm, n= 272 reservatórios), 1000
Atlântico o Atlântico Nordeste Oriental (1.906 ± 120 mm, n= de ER onde a Elago é alta. Por exemplo, esta premissa é 1400
Sul 7.825) e o Parnaíba (1.883 ± 132 mm, n= 830) possu- válida para as RHs Parnaíba (802 ± 265 mm, n= 830),
500
íram as maiores lâminas evaporadas. Em contraste, Atlântico Leste (743 ± 273 mm), São Francisco (672 1200
ETr vs Elago
as menores lâminas médias evaporadas estão em ± 235 mm, n= 1.699) e Atlântico Nordeste Oriental
Linha 1:1
Comparativo de resultados de evaporação líquida (média anual 2001-2019) reservatórios sob influência de clima temperado, ou 0 1000
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
com valores adotados pelo setor elétrico - Grupo A (SIN) seja, nas regiões hidrográficas Paraná (1.455 ± 130 Correlação
ETr evaporação
(mm) do lago e
mm, n= 2.680 reservatórios), Atlântico Sul (1.299 mm
2.250
Região Hidrográfica Sobradinho
irradiância líquida - média anual
± 71, n= 1.788) e Uruguai (1.321 ± 74 mm, n= 3.194).
2.000 Paraná 2001-2019 - Grupo A (SIN)
Evaporação Líquida Setor Elétrico (mm/ano)
Tocantins-Araguaia
Valores máximos de altura de evaporação de lago 2.600
1.750
Amazônica encontram-se nas RHs Atlântico Nordeste Ociden-
2.400
1.500 São Francisco tal e Oriental (da ordem de 2.800 mm/ano). Para as
Uruguai RHs Amazônica, São Francisco, Atlântico Leste, To-
1.250 2.200
Outras* cantins-Araguaia, Parnaíba, Atlântico Leste e Paraná
os maiores valores estimados são da ordem de 2.000
1.000 2.000
Ilha Solteira a 2.500 mm. Por outro lado, as RHs Uruguai, Paraná
Elago (mm)
Serra da Mesa Boa Esperança
750 e Atlântico Sul possuem reservatórios com valores 1.800
Três Marias máximos inferiores a 1.000 mm/ano.
500
1.600
As maiores amplitudes intrarregionais de evapo-
250
ração do lago ocorrem nas RHs Atlântico Nordeste 1.400
58 2500 59
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
(653 ± 142 mm). Ainda em termos das características Dado que a evaporação líquida é a diferença entre a
Evaporação do lago
regionais da ER média anual, as RHs Atlântico Nor- evaporação do lago e a evapotranspiração que ocor-
deste Ocidental (1.193 ± 194 mm), Amazônica (1.159 ± re naturalmente no seu entorno, os seus resultados
232 mm) e Tocantins-Araguaia (1.099 ± 177 mm) apre- podem ser compreendidos como complementares
sentaram as maiores alturas médias para o período à discussão colocada anteriormente. Há um com-
analisado. ponente regional explícito na distribuição espacial
das lâminas de evaporação líquida no Brasil. Por
A variabilidade climática regional em termos da ir- exemplo, os maiores valores estão concentrados no
radiância e da diferença de pressão de vapor d'água Nordeste, sobretudo nas regiões do submédio e do
entre a superfície da água e o ar - associadas a efei- baixo rio São Francisco e em sua porção litorânea.
tos locais relacionados à vegetação e ao solo - in- Em contraste, na região Sul do país, observam-se os
fluem para uma ampla variabilidade da evapotrans- menores valores de evaporação líquida, notadamen-
piração. Os maiores intervalos (mínimo - máximo) de te na porção sudoeste da RH Uruguai e na RH Atlân-
ER média anual, em torno de 1.500 mm, foram ob- tico Sul. Adicionalmente, os reservatórios da região
servados nos lagos das RHs São Francisco (193 mm Amazônica também são caracterizados por uma bai-
- 1.778 mm), Atlântico Leste (246 mm - 1.749 mm) e xa evaporação líquida em termos regionais.
Amazônica (412 mm - 1.850 mm). Por outro lado, as
RHs Uruguai e Atlântico Sudeste apresentaram as Em termos das lâminas anuais de evaporação líqui- Evapotranspiração
menores amplitudes em termos de mínimas e máxi- da, três RHs possuem valores médios superiores a Real
mas (< 800 mm/ano). 1.000 mm, a saber: Atlântico Nordeste Oriental (1.253
± 132 mm), Parnaíba (1.081 ± 196 mm) e São Francisco
Os menores valores mínimos de evapotranspiração (1.062 ± 353 mm), coincidindo com as regiões com as
são observados nas RHs Atlântico Nordeste Oriental menores evapotranspirações médias anuais. As me-
(286 mm), Atlântico Leste (245 mm) e São Francisco nores evaporações líquidas médias no país, inferio-
(193 mm), com largas extensões no Semiárido onde res a 550 mm, foram observadas nas RHs Atlântico
o processo é limitado pela deficiência hídrica. Já os Sul, Paraná, Paraguai, Amazônica e Uruguai.
valores máximos foram obtidos para reservatórios
nas regiões Amazônica (1.850 mm), Tocantins-A-
raguaia (1.842 mm) e Atlântico Nordeste Ocidental
(1.825 mm).
Evaporação líquida
Violin plots
Os violin plots são uma forma de plotar dados numéricos que, de maneira
simplificada, combinam um gráfico do tipo box plot, que permite compre-
ender a variabilidade dos dados, junto com a função de densidade de pro-
babilidade, que permite compreender a forma de distribuição dos dados.
São úteis quando se pretende realizar uma comparação da distribuição dos
dados entre diversos grupos a partir da análise das caudas e dos picos da
distribuição, além da forma geral da curva estimada.
Assim como os box plots, os violin plots incluem a média dos dados (triân-
gulo vermelho) e a caixa apresentando a mediana do conjunto de dados, os
quartis (1º e 3º) e seus limites inferiores e superiores. Adicionalmente, com
a visualização dos violin plots, pode-se interpretar também a frequência
aproximada dos pontos de dados em cada região do intervalo numérico da
variável em análise a partir da largura de cada curva. A área formada em
torno do box plot representa a distribuição dos dados. Em intervalos numé- Nota: o Grupo B de análise corresponde a cerca de 22 mil reservatórios que
ricos com as maiores áreas, existe uma grande concentração de dados, por respondem por 95% da superfície de reservatórios artificiais no Brasil
sua vez em locais de menor área existe uma menor concentração.
60 61
1.300 a 1.600 750 a 1.000
Evaporação do lago média anual (2001-2019) Evapotranspiração real média anual (2001-2019)
Nota: valor médio por microbacia, Nota: valor médio por microbacia,
calculado no centróide dos 175 mil calculado no centróide dos 175 mil
reservatórios artificiais do Brasil. reservatórios artificiais do Brasil.
Cabe destacar que para todas as RHs, considerando Amazônica (1.407 mm), Paraná (1.180 mm), Atlântico máticas em particular. Via de regra, valores mais ele- em condições particulares de ausência de vegetação
o conjunto de reservatórios analisados, a variabilida- Sudeste (1.158 mm) e Tocantins-Araguaia (1.069 mm). vados de evaporação líquida ocorrem de forma con- no entorno (limitação climática ou antrópica), que
de da evaporação líquida foi superior a 1.000 mm en- As demais RHs possuem reservatórios com as maio- centrada em regiões com alta evaporação de lago resulta em valores extremamente baixos de evapo-
tre valores mínimos e máximos. Além de condições res evaporações líquidas inferiores a 1.000 mm/ano, e valores reduzidos de evapotranspiração real. Por transpiração real. No sentido oposto, situações lo-
regionais e da grande extensão territorial das RHs, com destaque para a RH Uruguai (máximo de 805 outro lado, valores reduzidos de evaporação líquida cais de evaporação líquida negativa decorrem basi-
há uma série de aspectos locais que influenciam a mm/ano). decorrem de uma maior variedade de situações am- camente de valores elevados de evapotranspiração
evaporação do lago e a evapotranspiração real, o que bientais, onde as características locais resultam em real no entorno desses lagos, em função da presença
justifica essa amplitude. Valores negativos de evaporação líquida são espe- valores próximos entre a evaporação da superfície de vegetação exuberante e condições favoráveis de
rados quando ER > EL. No total, 42 reservatórios (< líquida e a evapotranspiração da bacia. umidade no solo. Cabe destacar que o método de
Em termos de limites superiores de evaporação lí- 0,5% do total de reservatórios do Grupo B), em qua- estimativa de evapotranspiração real também possui
quida, São Francisco e Atlântico Nordeste Oriental se todas as RHs, enquadram-se nesta situação. Valores extremos de evaporação líquida ocorrem em forte vinculação com condições locais, especialmen-
alcançam valores da ordem de 2.000 mm/ano. Na muitas regiões também em função de situações am- te da dinâmica da resposta espectral do entorno do
sequência, Parnaíba, Atlântico Leste e Nordeste Oci- A distribuição espacial dos valores médios totais bientais locais específicas. Valores mais altos estão reservatório.
dental possuem evaporações líquidas da ordem de anuais de evaporação líquida apresenta aderência às restritos a elevada evaporação de lago e localizados
1.600 mm/ano, superiores às observadas nas RHs características regionais ambientais em geral e cli-
62 63
250 a 500 (40%)
>1.500 (3%)
Evaporação líquida média anual (2001-2019) Vazões de evaporação líquida
A vazão de evaporação líquida (m³/s) resulta da mul- Em 2019, 114 reservatórios apresentaram evaporação
tiplicação da lâmina ou altura de evaporação líqui- líquida superior a 500 litros por segundo (0,5 m³/s)
da (mm) pela área da superfície evaporante (área do e somaram vazão média anual de 666 m³/s (75% do
lago - km²), considerando-se a devida conversão de total nacional) - 32 deles não estão interligados ao
unidades e intervalo de tempo considerado. Desta- SIN; 73 reservatórios (12 não interligados ao SIN)
ca-se que, assim como a altura de evaporação, a área possuem valores acima de 1 m³/s e totalizam vazão
da superfície do lago também pode variar no tempo, de 637 m³/s (72% do total).
dependendo do regime de operação do reservató-
rio. Os 14 reservatórios com vazões acima de 10 m³/s em
2019, destacados no mapa e no infográfico a seguir,
Climas observados de seca mais severa que as mé- foram responsáveis por 51% do total de vazão consu-
dias históricas tendem a aumentar a capacidade da mida via evaporação líquida e 38% da área. As cinco
atmosfera de retirar água dos lagos, além de dimi- maiores vazões concentraram 32% do uso nacional
nuir a evapotranspiração real (aumento da restrição - são eles: Sobradinho (167,1 m³/s) e Luiz Gonzaga
hídrica no solo) - um saldo que tende a aumentar (45,3 m³/s) na RH São Francisco; Porto Primavera
as taxas de evaporação líquida. Por outro lado, os (48,8 m³/s) e Ilha Solteira (26 m³/s) na RH Paraná;
Evap. Líquida - mm (l/m²) e Tucuruí (27,1 m³/s) na RH Tocantins-Araguaia.
reservatórios de acumulação podem ter o seu volu-
<250 (11%) me significativamente deplecionados em relação ao
250 a 500 (40%) regime normal de operação, pelos mesmos efeitos Considerando a consolidação dos resultados para a
negativos do clima seco sobre a oferta de água e so- base de reservatórios inventariada, os reservatórios
500 a 750 (29%)
bre os demais usos na bacia hidrográfica (aumento do Sistema Interligado Nacional - SIN totalizaram
750 a 1.150 (8%)
da necessidade de irrigação, por exemplo). em 2019 uma vazão média anual proporcional à área
1.150 a 1.500 (9%) média que ocupam (72%). Esse saldo varia anual-
>1.500 (3%) A vazão média de evaporação líquida em 2019 no Bra- mente de acordo com a área efetivamente ocupada
sil foi de 885 m³/s em uma superfície média de 39,95 e as alturas de evaporação/evapotranspiração.
Nota: valor médio por microbacia, mil km². A vazão equivale a 885 mil litros a cada se-
calculado no centróide dos 175 mil gundo e a um volume anual consumido de 27,9 tri- Em termos regionais, destacam-se as regiões hidro-
reservatórios artificiais do Brasil. lhões de litros. gráficas Paraná e São Francisco (com valores de 303
1.000
45.000
30.000
200
0 25.000
64 65
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
e 266 m³/s, em 2019, respectivamente), seguidas das observados em 2009 e 2015 (20 L/s.km²) e o maior
RHs Atlântico Nordeste Oriental e Tocantins-Ara- em 2002 (29 L/s.km²).
guaia (102 e 74 m³/s, respectivamente). Essas quatro
Maiores vazões de evaporação líquida em 2019 regiões são responsáveis por 84% da evaporação lí- É interessante notar que a evaporação líquida apre-
(maior que 0,5 m³/s) quida e 73% da superfície de reservatórios do País. senta amplitudes sazonais expressivas e seu com-
portamento é altamente influenciado pelas con-
As regiões hidrográficas Parnaíba, Atlântico Leste e dições hidrometeorológicas intra e interanuais. As
Uruguai apresentaram totais entre 21 e 29 m³/s em maiores evaporações líquidas mensais tendem a
2019. O uso continua sendo relevante, podendo su- ocorrer no auge do período mais seco onde concen-
perar na região ou em suas sub-bacias os valores de tra-se boa parcela da superfície de reservatórios no
usos setoriais da água (indústria, irrigação, abasteci- Brasil (agosto a outubro). Em 2019, agosto, setembro
mento rural, dentre outros). e outubro registraram evaporações líquidas em um
patamar próximo ao dobro da vazão média anual
UHE Tucuruí Os resultados reforçam a importância da conside- (885 m³/s), com médias mensais entre 1.600 e 1.970
ração das vazões evaporadas no processo de gestão m³/s. Em abril de 2019, por outro lado, a média men-
setorial e de recursos hídricos, dada a magnitude na sal de evaporação líquida foi negativa no Brasil.
UHE Estreito
escala da bacia hidrográfica e seus reflexos no ba-
lanço entre disponibilidades e demandas hídricas. Como indicador, o balanço mensal entre as compo-
UHE Luiz nentes da evaporação líquida resultou, em 2019, em
Gonzaga
No período 2001-2019, as maiores vazões anuais uma taxa média de apenas 4 L/s.km² entre janeiro e
UHE de evaporação líquida no Brasil, superiores a 1.000 maio, que salta para 40 L/s.km² entre julho e outu-
Sobradinho
m³/s foram verificadas em 2002 (1.028 m³/s), 2005 bro (10 vezes maior).
(1.056 m³/s), 2007 (1.072 m³/s) e 2012 (1.070 m³/s).
UHE Serra da Mesa Já as vazões específicas oscilaram entre 20 e 29 li- Um conjunto grande e importante de reservatórios
tros por segundo por km² de superfície (média anual), apresenta tendência de valores negativos entre de-
Evaporação Líquida - 2019 (m³/s)
UHE Ilha Solteira
UHE UHE
com média de 24 L/s.km² e com os menores valores zembro ou janeiro e março (a depender das condi-
São Simão Três Marias
! 0,5 a 1 UHE Água Vermelha
1 a 10
UHE Três Irmãos
UHE Área média e evaporação líquida média (altura e vazão)
10 a 25
UHE Porto
Furnas
para o lago de Sobradinho - 2001-2019
Primavera
4.000 250
25 a 50
2.500
100
2.000
50
1.500
1.000 0
Nota: os 114 reservatórios em destaque no mapa concentram 75% da vazão de evaporação líquida no Brasil, em 2019. 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Os 14 maiores consumidores (51% da vazão) encontram-se com o nome em destaque.
Evaporação líquida (mm) Área do lago (Km²) Evaporação líquida (m³/s)
A ilustração mostra a dinâmica para o reservatório de Sobradinho em termos médios anuais. Nota-se a vazão
de evaporação
4.000 líquida com comportamento muito próximo à variação da área, mas respondendo
250 também às
variações de altura de evaporação líquida entre os anos considerados. A cada 12 mm de altura de evaporação
total anual,
3.500 considerando-se a mesma área superficial do lago de Sobradinho, há um acréscimo de vazão de
3.000
o lago (Km²)
150
66 67
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)
2.500 65.000
0
Precipitação (mm)
400 100 600 100
55.000
150 200 300 200 300
Vazão média (m³/s)
1.500 200
50.000 100 400 0 400
mês mês
1.000 45.000 0 500 -200 500
J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)
0 RH Tocantins-Araguaia
300
30.000 100 100
Precipitação (mm)
0 300
J F M A M J J A S O N D 100 100 400
-100
-200 300 500 300
J F M A M J J 0 A S O N D
Precipitação (mm)
ções observadas em um
linha média anualano específico em relação média anual negativa no período 2001-2019. Esses 50
60.000 Precipitação Vazão média anual Vazão média mensal
às médias). outro chuva
2.000e específico casos concentram-se na região Amazônica e em pe- 100
UGRH x vazão explicação UGRHs quenos reservatórios cercados de florestas ou silvi- 55.000 Nota: quatro das doze regiões hidrográficas (em destaque na figura) representam cerca de 85% da vazão
150 mês
colocar nnesses meses ocorrem especial- cultura, ou seja, em condições locais específicas de de evaporação líquida nacional. As RHs Paraná e São Francisco representam 64% da vazão total.
Valores negativos
Vazão média (m³/s)
1.500 200
mente em reservatórios no bioma Amazônia - onde alta evapotranspiração. 50.000
há equilíbrio constante entre a evaporação do lago e
1.000 45.000
a evapotranspiração real do entorno, com maiores Como exemplo adicional, podemos destacar as cin-
Unidades de Gestão de Recursos Hídricos - UGRHs
São Francisco
(%)
29,9%
(m³/s)
264,3 885
7 ITAIPU | MS - PR 8 TRÊS IRMĂOS | SP
1 SOBRADINHO | BA 2 PORTO
PRIMAVERA | MS - SP 11 ÁGUA VERMELHA | MG - SP 12 SERRA DA MESA | GO
LEGENDA
Síntese
As literaturas nacional e internacional convergem para a definição da evapo-
ração dos reservatórios artificiais como um uso consuntivo múltiplo da água.
Afinal, a água armazenada em um reservatório é parcialmente consumida,
tornando-se indisponível para outros usos/usuários naquela localidade e tem-
poralidade. Raciocínio análogo aplica-se a usos setoriais como a irrigação (a
maior parte do consumo ocorre via evapotranspiração das culturas) ou à in-
dústria (parte relevante do consumo ocorre pela evaporação nos sistemas de
resfriamento).
O primeiro desafio foi extensamente explorado pela ANA e pela UFPR nesse
estudo, o que permitiu estabelecer uma metodologia robusta, valendo-se de
produtos de sensoriamento remoto, dados medidos em terra e ferramentas
computacionais avançadas, capaz de retratar a variabilidade espaço-temporal
da evaporação líquida no extenso e diverso território brasileiro.
4 EVAPORAÇÃO LÍQUIDA Dentre trabalhos recentes com abordagens de consumo de água pela evapo-
ração de reservatórios, pode-se destacar aqueles: com uso de bases de di-
E USOS CONSUNTIVOS
versos países (Hogeboom et al., 2018); com foco nos maiores reservatórios da
China (Liu et al., 2015; Xie et al., 2019) e dos Estados Unidos da América (Lee
et al., 2018; Grubert, 2016); e em reservatórios únicos ou pequenos conjuntos
SETORIAIS de reservatórios (Bakken et al., 2016; Coelho et al., 2017). Na maioria dos estu-
dos publicados, por simplificação ou limitações metodológicas, a evaporação
bruta do reservatório é utilizada como o consumo de água (sem descontar a
evapotranspiração real que ocorreria naturalmente no local). Em estudos mais
recentes a evaporação líquida aparece como o método mais adequado para
estimativa do consumo de água em reservatórios.
Irrigação
49,8%
-
Humano Urbano
24,3%
Evaporação
RETIRADA (km³/ano)
Termelétricas
4,5%
Total Brasil
≈ 92,9 trilhões de litros ao ano Mineração
1,7%
Humano Rural
1,6%
trabalhos associam todo o consumo de água ao ope- projetos de pesquisa futuros poderão se debruçar so-
ANO rador ou responsável pela construção do barramen- bre o desafio de atribuição e benefícios aos diversos
to, superestimando e penalizando a pegada hídrica setores.
Reservatórios1 Abastecimento Indústrias Agricultura de determinados setores, especialmente o de gera-
dos Municípios ção de energia. Informações quantitativas de evaporação e/ou eva-
Nota: evaporação de lagos artificiais.
1
Fonte: adaptado de UN-UNESCO (2021). potranspiração, que constituem importante fase do
Critérios mais equitativos de atribuição do consu- ciclo hidrológico, são utilizadas na resolução de nu-
Considerando o uso consuntivo múltiplo por evapo- rados por um setor específico da economia, como mo incluem a proporção da evaporação líquida à merosos problemas que envolvem o manejo d’água
ração líquida de reservatórios e os usos consuntivos os de geração de energia, em geral beneficiam múl- vazão retirada pelos setores/usuários (Bakken et (ONS, 2004). Conforme destacado pelo ONS em seu
setoriais da água, a demanda de água no Brasil al- tiplos usuários tanto no local do reservatório quanto al., 2016), o que muitas vezes esbarra em desafios de relatório sobre Evaporações Líquidas em Usinas Hi-
cançou o patamar de 2.946 m³/s em 2019 (equiva- em trechos influenciados pela sua operação na bacia monitoramento do uso efetivo de água e de defini- drelétricas, os dados de evaporação são utilizados de
lente a 92,9 trilhões de litros no ano), dos quais 30% hidrográfica. Os usuários beneficiados podem ser ção da área de influência do reservatório (o lago e duas formas principais nos estudos de planejamento
são por evaporação líquida e 70% são atribuídos aos tantos os consuntivos, como uma indústria, quanto todos os trechos beneficiados). Outros estudos bus- da operação e da expansão energética: na simulação
usos setoriais da água. os não consuntivos, como a navegação, o turismo e o caram ponderar a evaporação líquida de acordo com de operação de reservatórios e na obtenção das sé-
lazer. O controle de cheias, a diluição de efluentes e o benefício econômico aferido pelos setores (como ries de vazões naturais nos locais de aproveitamen-
Dentre os demais usos da água, a agricultura irri- a própria geração de energia em cascata no sistema em Lee et al., 2018; e Liu et al., 2015); ou de acordo tos hidrelétricos. O montante perdido ou consumido
gada, o abastecimento urbano e a indústria são os interligado (extrapolando a bacia) são outros usos com a prioridade no uso da água e o número total se traduz de forma linear em perda energética nas
principais usos setoriais da água no Brasil e no mun- importantes beneficiados por reservatórios. de usuários de cada reservatório (como em Xie et al., usinas hidrelétricas (ONS, 2004).
do. Já a evaporação líquida de reservatórios é mais 2019).
relevante no Brasil em relação à média global, es- Assim, atribuir o consumo por evaporação líquida A magnitude do volume consumido por evaporação
pecialmente devido à grande rede de reservatórios permanece como um desafio na fronteira do conhe- A atribuição do consumo de água por evaporação lí- líquida e a perspectiva aberta no presente estudo de
construídos com o propósito primário de geração de cimento técnico-científico. Em algumas situações, a quida aos usuários que captam água do reservatório sua estimativa não apenas para os empreendimen-
energia hidrelétrica, enquanto muitos países pos- atribuição precisa do consumo por evaporação aos ou que dele se beneficiam é um procedimento ainda tos interligados ao SIN, mas para toda a superfície
suem matrizes com maior participação de geração setores é intangível – especialmente para grandes pouco utilizado e carece de métodos consistentes e de reservatórios em uma bacia hidrográfica, abre um
não renovável (termelétrica e nuclear). reservatórios multiusuários que regularizam exten- padronizados. vasto campo para o aprimoramento do balanço hí-
sos trechos de rios a jusante e colaboram com a ge- drico superficial (relação oferta - demanda hídrica) e
Resta claro que, diferente de outros usos consunti- ração de energia em cascata para um sistema inter- O presente estudo não se debruçou sobre a atribui- dos mecanismos de alocação de água, notadamente
vos que podem ser atribuídos a setores econômicos ligado que extrapola os limites da bacia. ção de consumo, entendendo a evaporação líquida no Semiárido. Isso beneficiará a gestão e o plane-
específicos (como a irrigação e a indústria), a eva- como um uso múltiplo da água e concentrando-se jamento dos recursos hídricos e o desenvolvimento
poração líquida de reservatórios é um uso múltiplo. Na literatura recente (abordada no Box a seguir), por nos métodos, bases de dados e ferramentas mais sustentável dos setores usuários.
Mesmo reservatórios artificiais construídos e ope- simplificação ou limitação metodológica, diversos adequadas para retratar esse uso no Brasil. Estudos e
74 75
Bacia Hidrográfica Evaporação Líquida e
EVAPORAÇÃO
LÍQUIDA Demais Usos da água
Os reservatórios artificiais aumentam a segurança hídrica da população e das atividades econômicas. Os
benefícios aos diversos usos superam o uso adicional de água ocasionado pela evaporação líquida, que deve
ser sempre considerada no processo de operação e planejamento dos recursos hídricos.
A evaporação líquida é um uso múltiplo e não pode ser atribuído diretamente a um setor específico, pois um
reservatório beneficia diversos usuários no próprio lago e nos trechos sob sua influência operativa.
Abastecimento
Humano Urbano
Constituído por sistemas de captação e
Regularização tratamento de água. Os mananciais podem
Tratamento de água ser rios, lagos, reservatórios ou aquíferos
Geração de energia
A principal fonte de geração é a hidroenergia. Já as
termelétricas são operadas como fonte complementar Tratamento Lançamento de Efluentes
de esgotos
Devem prever o tratamento
adequado à qualidade
requerida no corpo hídrico
REÚSO NÃO de forma a não comprometer
POTÁVEL DIRETO
(efluente sanitário) os usos da água a jusante
Termoelétricas
Indústria
A água pode ser utilizada como
Turismo e Lazer matéria-prima, reagentes, solventes,
A água também é utilizada lavagem, dentre outras formas
em atividades recreativas
do ser humano Pesca e
Aquicultura
Corpos d’água também
são utilizados para a
pesca e a criação de
Mineração organismos aquáticos
Retira a matéria-prima da
natureza para ser utilizada
em outras indústrias Abastecimento
Animal
Está relacionado às
necessidades dos animais
Irrigação Navegação
Geralmente é sazonal e ocorre
Poço Abastecimento nos meses de menor chuva Em áreas fluviais, a água é utilizada
como meio de transporte de
Humano Rural passageiros e de mercadorias
Na maioria das vezes, vem
de fontes subterrâneas
com utilização de poços
artesianos
reservatórios artificiais de todo o mundo e atribuir das pelo AQUASTAT está a base mundial georrefe-
o consumo de água aos setores beneficiados pelos renciada de barragens. O inventário conta com a lo-
Evaporação de reservatórios no ração de energia hidrelétrica e termelétrica nos Es-
tados Unidos. Definem o consumo da água, em ter- reservatórios. Consideram a evaporação bruta como calização, altura, capacidade, área e finalidade para
meio técnico-científico o uso consuntivo do reservatório e utilizam o valor mais de 14 mil reservatórios no mundo.
mos gerais, como a quantidade de água que se torna
indisponível para outros usos da água em uma mes- econômico como fator de ponderação para divisão
Publicações científicas do consumo entre usuários. No AQUASTAT, o consumo da água por massas
ma região. No caso do uso da água em hidrelétricas,
os autores ponderam que a vazão de água que passa d’água artificiais é destacado considerando que
Em Bakken et al. (2016) o consumo de água dos re-
pelas turbinas não é considerada consumo porque No Brasil, Coelho et al., (2017) estimaram o consumo nos reservatórios artificiais a evaporação da água é
servatórios foi estimado pela evaporação total do re-
pode ser utilizada a jusante enquanto a água dos de água de dois reservatórios do estado do Tocan- maior do que na superfície natural que havia no lo-
servatório na fase de operação. Uma das principais
reservatórios, armazenada com a função de gerar tins (Tucuruí e Lajeado). Os autores utilizaram, de cal. Essa diferença ocasiona o uso consuntivo. Nesse
limitações metodológicas destacadas é a ausência
energia, é parcialmente consumida pela evaporação forma comparativa, a evaporação bruta, líquida e o contexto, a FAO realizou a estimativa de evaporação
de orientações precisas sobre a atribuição do con-
e continua disponível para outros usos na mesma balanço hídrico como forma de aproximação ao con- para todos os reservatórios presentes na base mun-
sumo de água em reservatórios multiusuários. Os
região. Para a estimativa do consumo de água dos sumo efetivo de água. Concluem que a evaporação dial de barragens do AQUASTAT. Kohli & Frenken
autores propõem um método de atribuição do con-
reservatórios os autores adotaram a evaporação lí- líquida é mais adequada para caracterizar o consu- (2015) destacam que o estudo é um primeiro es-
sumo proporcional ao volume de água demandado
quida e em reservatórios com múltiplos usos atribu- mo de água da atividade dependente do reservatório forço de estimar o uso consuntivo de reservatórios
por cada setor usuário do reservatório e destacam
íram o volume consumido utilizando como critérios por caracterizar o efeito específico da alteração da artificiais em nível global. O método utilizado con-
que a definição da abrangência espacial do sistema e
de ponderação o benefício econômico de cada setor disponibilidade hídrica. Os autores associam todo siderou diversas estimativas secundárias de dados
a consequente determinação das atividades benefi-
usuário do reservatório. o consumo de água à geração de energia, que é a dos reservatórios, pois nem todos dispunham das
ciadas pelo reservatório é determinante na qualida-
função principal dos reservatórios analisados, mas informações necessárias para o cálculo da evapora-
de dos resultados. Em muitos casos o reservatório
Liu et al., (2015) estimaram o consumo da água em reconhecem que a alocação do consumo para os ção. Os autores apontam que essa indisponibilidade
regulariza a vazão e assegura a disponibilidade de
875 reservatórios na China, sendo 209 com uso re- demais usuários dos reservatórios seria necessária de dados básicos dos reservatórios, como a área da
água ao longo do ano proporcionando vazão regu-
lacionado à geração hidrelétrica. Conceituam o con- para melhor caracterizar o uso da água em reserva- massa d’água, resultam em incertezas nos valores de
larizada para áreas a muitos quilômetros a jusante
sumo da água como a parcela da água usada que tórios que possuem multiusuários. evaporação estimados. Portanto, o trabalho repre-
da barragem. Nesses casos apenas parte do uso da
evapora ou é incorporada em produtos e conside- sentou uma aproximação da ordem de magnitude do
água se dá pela retirada direta do reservatório. As-
ram que para reservatórios o consumo é dado pela consumo por evaporação.
sim, os limites espaciais de identificação de usuários Agências governamentais e
e atribuição do consumo de água, devem considerar evaporação bruta. Os autores reconheceram a ne-
internacionais O IPCC lançou em 2011 um relatório especial inti-
o reservatório e todas as áreas a jusante que dele se cessidade de atribuir o consumo da água para múl-
tiplos setores e utilizam o benefício econômico dos tulado Renewable Energy Sources and Climate Mi-
beneficiam. Os trabalhos desenvolvidos por órgãos internacio-
usuários de cada reservatório como critério para di- tigation. O documento listou potenciais fontes de
nais apresentam em geral escala global, regional ou
visão do consumo dos reservatórios. energia alternativas ao uso de combustíveis fósseis e
Em estudo sobre o uso da água em usinas hidrelétri- de países. Enquanto órgãos como a FAO e o IPCC
comparou os impactos de cada tecnologia. O docu-
cas, Grubert (2016) afirma que o consumo de água é tendem a abordar problemas globais, há institui-
Estudo também realizado na China por Xie et al. mento destaca que mesmo os reservatórios que são
associado às perdas por evaporação e a percolação. ções que focam em problemas de planejamento de
(2019) abordou o consumo de água por 300 usinas operados por usinas hidrelétricas frequentemente
Considera-se, portanto, que a evaporação líquida é a recursos hídricos de países específicos, tal como o
hidrelétricas. Os autores afirmam que na geração de estão relacionados a múltiplos usuários da água e,
forma mais apropriada de se estimar o uso da água NREL (National Renewable Energy Laboratory - U.S.
energia hidrelétrica o consumo da água ocorre pela assim, beneficiam o abastecimento humano, a irri-
pelos reservatórios. Para apoiar essa afirmação a au- Department of Energy Laboratory).
evaporação do reservatório e é definido pela evapo- gação, o controle de cheias e secas e a navegação,
tora cita a norma da International Organization for
ração líquida. A alocação do consumo para usuários além do seu propósito de geração de energia.
Standardization (ISO) número 14.046:2014, que trata Essas instituições consideram que em geral existe
da avaliação da pegada hídrica de produtos diversos, de reservatórios multiusuário foi realizada com base
consumo da água pelos reservatórios e destacam o
na ordem de prioridade e no número total de usuá- A comparação dos dados disponíveis analisados pelo
e considera que a mudança na evaporação causada fato de haver múltiplos usuários associados a essas
rios de cada reservatório. IPCC (2011) indica que o consumo de água por eva-
por mudança de uso da terra é considerada consu- estruturas. No entanto, citam que a disponibilidade
poração em reservatórios hidrelétricos supera as
mo da água. Nesse sentido considera que, embora a de dados sobre reservatórios é frequentemente um
Com uma abordagem ligeiramente diferente e fo- taxas de outras tecnologias como energia nuclear
evaporação real seja importante para análises regio- fator limitante na aplicação dos métodos, afetando a
cada no setor elétrico, Bakken et al (2017) apresen- e termelétricas (carvão, gás e biomassa). Por outro
nais de balanço hídrico, a evaporação líquida reflete confiabilidade dos resultados.
ta uma revisão e avaliação de resultados obtidos na lado, ressalta que os dados de consumo de água na
de forma mais adequada a apropriação da água pelos
literatura internacional. Os autores afirmam que o geração da energia hidrelétrica são provenientes de
usos relacionados aos reservatórios. O trabalho es- A FAO mantém um programa com informações glo-
consumo da água pelo setor hidrelétrico pode ser poucos estudos e que foram estimados a partir da
timou a evaporação líquida para reservatórios com bais sobre água e agricultura. Este sistema foi de-
calculado pelos volumes de evaporação anual di- evaporação bruta.
uso predominante para a atividade hidrelétrica e nominado AQUASTAT (FAO, 2019) e compila, analisa
atribuiu todo o uso consuntivo considerando o uso vididos pela geração de energia anual. Por outro
e distribui informações setorizadas destinadas ao
lado, partindo de uma visão mais ampla da função O NREL analisou comparativamente o consumo de
principal do reservatório. desenvolvimento sustentável da agricultura irrigada.
do reservatório, Hogeboom et al., (2018) realizaram água por evaporação na geração de energia por usi-
Dentre as informações organizadas e disponibiliza-
Lee et al. (2018) avaliaram o consumo de água na ge- um estudo para estimar a pegada hídrica de 2.235
78 79
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
nas termelétricas e hidrelétricas nos EUA. O prin- Internacional, formalizado na publicação intitulada (UN, 2012) em função da contabilização do uso da ambiente e a economia. A perda de água dos reser-
cipal consumo de água de termelétricas ocorre por System of National Accounts. água estar na interface entre a economia e o meio vatórios via processos evaporativos ou retiradas de-
evaporação no processo de resfriamento e esse ambiente. A princípio, os fluxos de entrada e saída veria ser contabilizada como um fluxo da economia
setor é muito mais expressivo nos EUA do que no Recentemente, a ANA, o IBGE e a Secretaria de Re- de água de reservatórios são contabilizados como para o meio ambiente (Nagy et al., 2009). Perspectiva
Brasil. No caso das usinas hidrelétricas, o volume de cursos Hídricos e Qualidade Ambiental do Ministé- estoques naturais, porém, cita-se que a água arma- semelhante é recomendada em WCD (2000), devi-
água que gera energia passando pelas turbinas não é rio do Meio Ambiente (SRHQ/MMA) apresentaram zenada nos reservatórios artificiais é resultado de do ao seu significativo volume, comparando com as
considerado consumo, enquanto o aumento da área as séries históricas das Contas Econômicas Ambien- uma demanda produtiva, isto é, a partir do momento retiradas para diversos usos de água, a evaporação
superficial do reservatório, quando comparado com tais da Água (CEAA) no Brasil, cobrindo o período em que o barramento é construído, tem-se início um líquida também pode ser considerada como um uso
a condição natural anterior, resulta na evaporação de 2013 a 2015 (ANA, 2019b) e de 2013 a 2017 (ANA & processo de operação e gestão com o objetivo de re- consuntivo de água.
adicional da água da superfície. Portanto, a evapo- IBGE, 2020). As Contas da Água reiteram a relevância gulação de sua dinâmica para um determinado uso.
ração em reservatórios hidrelétricos é considerada e atualidade desta agenda no contexto de gestão de A partir do entendimento básico adotado no SEEA- A Water Accounting Plus (WA+) possui como objetivo
uso consuntivo (Torcellini et al., 2003). Os autores recursos hídricos dada a interface entre economia e -Water (UN, 2012), compreende-se ainda que a água fornecer informações espaciais sobre o uso de água
estimaram a diferença entre a evaporação na con- meio ambiente. passa a ser contabilizada como parte da economia a em bacias hidrográficas. Configura-se como uma
dição natural dos rios e na condição atual para dois partir da sua abstração do meio ambiente. metodologia para contabilização de fluxos e esto-
grandes reservatórios: Hoover e Glen Canyon. Os re- O Sistema de Contas Econômicas e Ambientais é um ques de água na paisagem a partir de produtos de
sultados demonstraram que a evaporação estimada sistema satélite do SCN, onde a partir de metodolo- A respeito desta complexidade conceitual sobre a sensoriamento remoto, onde a evaporação líquida
para a condição natural, com os rios, representaria gias padronizadas busca-se contabilizar os recursos definição do uso da água em reservatórios artificiais de reservatórios é contabilizada como parte das re-
apenas 3,2% da evaporação estimada para a condi- naturais (i.e. água, floresta, ecossistemas) e asso- e processos hidrológicos associados, Nagy et al., tiradas totais de água do meio ambiente, seguindo
ção atual com reservatórios. ciá-los às atividades econômicas em uma estrutu- (2009) publicaram as principais conclusões obtidas a lógica de retiradas dos diversos setores usuários
ra única que permita a análise integrada de dados no 14th Meeting of the London Group on Environmen- (Karimi et al., 2013).
Torcellini et al. (2003) destacam que a regularização ambientais e econômicos. Especificamente para as tal Accounting (2009). Esse grupo de discussão reú-
de vazão propiciada pelos reservatórios de hidrelé- Contas de Água, diversos são os modelos e métodos ne especialistas de agências nacionais de estatística De maneira geral, as metodologias para contabili-
tricas permitiu, dentre outros, o desenvolvimento disponibilizados por organismos internacionais que e organizações internacionais para o compartilha- zação dos recursos naturais de um país, como nas
e a ampliação da rede de usinas termelétricas que podem ser aplicados, dentre os quais se destacam mento de experiências no desenvolvimento e imple- Contas de Água, constituem uma ferramenta com
demandam vazão constante para resfriamento, evi- o System of Environmental Economic Accounting for mentação de Contas Ambientais. potencial para melhorar o gerenciamento dos re-
denciando o benefício difuso dos reservatórios. No Water (SEEA-Water) (UN, 2012) – modelo utilizado cursos hídricos, fornecendo informações básicas e
entanto, o trabalho não se propôs a alocar o con- para a elaboração das Contas da Água do Brasil - e o Como resultado das discussões sobre a contabiliza- definições padronizadas para a derivação de muitos
sumo da água entre os usuários dos reservatórios, Water Accounting Plus (WA+) (do International Water ção dos usos de água em reservatórios artificiais, o indicadores relacionados à água e um banco de da-
ressaltando a dificuldade metodológica dessa esti- Management Institute - IWMI). documento técnico intitulado Water in artificial re- dos estruturado para informações econômicas e hi-
mativa. servoir - a produced asset? afirma que as alterações drológicas.
As definições de reservatórios artificiais adotadas no no ciclo hidrológico causadas pelos reservatórios e
A importância do desenvolvimento de metodologias SEEA-Water (UN, 2012) e WA+ (Karimi et al., 2013) a sua contabilização como parte "natural" da intera- Dentro da perspectiva do conjunto de indicadores
para contabilização de recursos hídricos na interfa- consideram a proposta da World Commission on ção entre recursos hídricos interiores e a atmosfera recomendados para estimativa a partir das metodo-
ce entre economia e meio ambiente levou a diversos Dams - WCD (2000), onde define-se como qualquer pode levar a distorções com relação à situação real logias de Contas da Água abordadas acima e da for-
organismos internacionais (United Nations Statistics área que possua alguma forma de armazenamento e podem ter implicações significativas na gestão de ma de contabilização dos processos relacionados à
Division - UNSD, Food and Agriculture Organization, de água, regulação ou controle de nível da água, te- recursos hídricos, como por exemplo: alocação de operação de reservatórios artificiais, a European En-
International Water Management Institute, dentre nha sido construída pelo ser humano e seja destina- água, cálculo de indicadores associados a produtivi- vironmental Agency - EEA (2013) indica que a evapo-
outros) e órgãos governamentais de gestão de re- da a um determinado uso que, em geral, é oriundo dade hídrica e consumo efetivo de água na operação ração líquida de reservatórios naturais deve ser con-
cursos hídricos a desenvolverem modelos conceitu- de uma atividade econômica (i.e. irrigação, abaste- de reservatórios (Nagy et al., 2009). tabilizada como uso da água. Assim, considerando a
ais padronizados de referência e aplicação na lógi- cimento, geração de energia, contenção de cheias, relação com o uso de água, estes volumes devem ser
ca dos Sistemas de Contas Nacionais (SCN). O SCN entre outros). Nesta perspectiva, os processos associados ao en- contabilizados para o cálculo de indicadores asso-
apresenta informações sobre a geração, a distribui- chimento e gestão de reservatórios artificiais deve- ciados ao estresse hídrico e à avaliação da pressão
ção e o uso da renda no País e permite uma avaliação Por convenção, a UNSD (2012) recomenda que re- riam ser considerados como processos produtivos, da economia sobre os recursos hídricos, como por
global das atividades econômicas. servatórios artificiais e canais artificiais podem ser não sendo considerados como parte do meio am- exemplo o Water Explotation Index (WEI) que indica
considerados como parte de recursos hídricos inte- biente. Os autores ainda especificam que, dentro da uma forma de monitoramento do uso da água como
No Brasil, o IBGE é o responsável pela publicação riores (i.e. meio ambiente) ao invés de ter sua dinâ- lógica dos Sistemas de Contas Ambientais, os fluxos percentual do total de recursos hídricos renováveis
dos resultados dentro do padrão internacional es- mica contabilizada como um ativo econômico. Por estabelecidos entre os reservatórios artificiais e ou- (i.e., águas superficiais e subterrâneas) em um deter-
tabelecido por Nações Unidas, Banco Mundial, Co- outro lado, a própria UNSD (2012) indica que reser- tros recursos naturais (p.ex. precipitação incidente) minado tempo e espaço.
missão Europeia, Organização para a Cooperação vatórios artificiais representam um caso particular devem ser contabilizados como fluxos entre o meio
e Desenvolvimento Econômico e Fundo Monetário dentro da lógica de modelos como o SEEA-Water
80 81
Coeficientes Técnicos de Uso da Água CONSIDERAÇÕES FINAIS
para a Agricultura Irrigada
Na esfera dos recursos hídricos, por outro lado, a evaporação líquida ainda é
pouco incorporada explicitamente, o que se deve, em boa medida, à dificul-
dade de quantificação em um país de dimensões continentais como o Brasil,
com uma grande quantidade de reservatórios artificiais que ocupam uma área
considerável. A heterogeneidade hidroclimática, a consistência de dados me-
teorológicos, a escala cartográfica e a qualidade dos mapeamentos de massas
d´água são alguns dos aspectos desafiadores para estimativas robustas.
5 CONSIDERAÇÕES Cientes desse desafio das estimativas da evaporação líquida como uma lacuna
de conhecimento para a segurança hídrica dos setores econômicos e do abas-
82
83
EVAPORAÇÃO LÍQUIDA DE RESERVATÓRIOS
REFERÊNCIAS
mil reservatórios no território nacional, atualizando
e aprimorando expressivamente os estudos do setor
cional de Segurança Hídrica, os Planos Decenais de
Expansão de Energia, o Plano Nacional de Energia e
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elétrico e da ANA. o novo Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH
2022-2040) - este um instrumento-chave do novo
ALLEN, R.G., PEREIRA, L.S., RAES, D., SMITH, M. BAKKEN, T. H.; KILLINGTVEIT, A.; ALFREDSEN, K.
O método desenvolvido possui base física e é capaz ciclo de implementação da Política de Recursos Hí-
Crop evapotranspiration — guidelines for computing The Water Footprint of Hydropower Production -
de lidar com a disponibilidade e a qualidade de dados dricos. Parcerias e arranjos institucionais poderão
crop water requirements. FAO Irrigation and drai- State of the Art and Methodological Challenges. Glo-
no território nacional, incorporando dados de sen- ser fortalecidos no aprimoramento das estimativas e
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soriamento remoto processados em larga escala – a na sua disponibilização aos decisores.
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temperatura da água no lago, por exemplo, é obtida BAKKEN, T. H.; MODALH, I. S. RAADAL, H. L.; BUS-
diariamente e para cada reservatório. Grande esfor- As recentes Resoluções ANA nº 92 e 93, de 2021, apro- ALLEN, R. G., TASUMI, M., MORSE, A., TREZZA, R., TOS, A. A.; ARNOY, S. Allocation of water consump-
ço foi aplicado na consistência, no preenchimento e varam, respectivamente, as séries históricas e as WRIGHT, J. L., BASTIAANSSEN, W., ROBISON, C. W. tion in multipurpose reservoirs. Water Policy, n. 18,
no tratamento das bases de dados que subsidiam o projeções futuras de vazões para usos consuntivos a Satellite-based energy balance for mapping evapo- p. 932-947, 2016.
modelo de evaporação em lago, denominado SELET montante de 545 aproveitamentos hidrelétricos (em transpiration with internalized calibration (METRIC)
– Sistema de Evaporação em Lago Embasada na Tem- operação ou em estudo). Trata-se de informação es- - Applications. Journal of Irrigation and Drainage BASTIAANSSEN, W. G., MENENTI, M., FEDDES, R. A.,
peratura da Superfície. sencial, por exemplo, ao processo de reconstituição Engineering, 133(4), 395-406, 2007. HOLTSLAG, A. A. M. A remote sensing surface ener-
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Como resultado agregado, a evaporação líquida con- energético e de recursos hídricos. As resoluções in- AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (Brasil). Manual de tion. Journal of Hydrology, 212, 198-212, 1998.
sumiu 885.000 litros de água a cada segundo em 2019 cluíram mecanismos de atualização periódica para Usos Consuntivos da Água no Brasil. Brasília: ANA,
(ou um volume anual de 27,9 trilhões de litros), em incorporar aprimoramentos nas bases de dados e 2019a. BEAUDOING, H.; RODELL, M. GLDAS Noah Land
uma superfície média de 39.950 km² - uma taxa mé- novos anos às séries ou projeções. Os novos dados Surface Model L4 3 hourly 0.25 x 0.25 degree V2.1,.
dia de 22 litros por segundo por km² de superfície. de evaporação líquida são, assim, um subsídio adi- ________. Contas Econômicas Ambientais da Greenbelt, Maryland, USA, Goddard Earth Sciences
Neste ano, 114 reservatórios apresentaram evapo- cional às mesmas aplicações. Água (CEAA) no Brasil 2013-2015. Brasília: ANA, Data and Information Services Center (GES DISC),
ração líquida superior a 500 litros por segundo (0,5 2019b. 2020.
m³/s) e somaram vazão média anual de 666 m³/s Também em 2021 - apenas dois anos após o lança-
(75% do total nacional). mento do Manual de Usos Consuntivos da Água no ________. Atualização da Base de Dados Nacio- BECKER, M. W.; DAW, A. Influence of lake morpholo-
Brasil - a ANA atualiza de forma expressiva a base nal de Referência de Massas d’Água. [s.l.] ABrasília: gy and clarity on water surface temperature as me-
Os resultados atualmente produzidos, portanto, re- técnica dos três maiores usos da água no Brasil, cujos ANA, 2020a. asured by EOS ASTER. Remote Sensing of Environ-
presentam importante desenvolvimento em termos resultados foram divulgados por meio do Atlas Irri- ment, v. 99, n. 3, p. 288–294, 30 nov. 2005.
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mento contínuo em consonância com o desenvolvi- Artificiais no Brasil. Contas econômicas ambientais da água: Brasil: 2013
mento das geotecnologias e de novos produtos de – 2017, 2020b. BRUIN, H. A. R. DE; KEIJMAN, J. The Priestley-Taylor
sensoriamento remoto. A ANA continuará investindo esforços na atualização evaporation model applied to a large shallow lake in
e melhoria da base técnica sobre os diversos usos da ANDERSON, E. R. Energy-budget studies. In: Water- the Netherlands. Journal of Applied Meteorology., v.
O trabalho e suas futuras atualizações também con- água, alinhada com sua atribuição de manter atuali- -loss investigations: Lake hefner studies, Technical 18, p. 898–903, 1979.
tribuem para o aprimoramento da base nacional de zado o diagnóstico sobre os diversos usos da água e Report, p. 71–119. 1954.
massas d'água mantida pela ANA que, além de ma- com sua missão de garantir a segurança hídrica para BRUTSAERT, W.; STRICKER, H. An Advection-Aridity
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servatórios e indicadores de variação de área. ração líquida no Brasil e sobre os diversos estudos 2020.
e bases de dados da ANA podem ser acessados no BRUTSAERT, W. On a derivable formula for long-wa-
A incorporação da evaporação líquida será valiosa portal do Sistema Nacional de Informações sobre Re- ASSOULINE, S., MAHRER, Y. Evaporation from lake ve radiation from clear skies. Water Resources Re-
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