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Biomecanica

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Contribuições da biomecânica para o esporte

Conceito da Biomecanica

O corpo humano é um dos principais objetos de estudo do homem. À busca por


compreender o seu funcionamento, contrapõe-se a sua complexidade, levando cientistas e
estudiosos a aprofundar cada vez mais os seus estudos (...). No século XX ocorreram
grandes avanços tecnológicos que se refletiram nos métodos experimentais usados em
praticamente todas as áreas de atuação científica, incluindo a Biomecânica, ocasionando
um grande avanço nas técnicas de medição, armazenamento e processamento de dados,
fatos estes que contribuíram para o estudo e melhor compreensão do movimento humano
(1).

 A Biomecânica estuda diferentes áreas relacionadas ao movimento do ser humano e


animais, incluindo: (a) funcionamento de músculos, tendões, ligamentos, cartilagens e
ossos, (b) cargas e sobrecargas de estruturas específicas, e (c) fatores que influenciam a
performance (1).

Biomecânica é uma disciplina, entre as ciências derivadas das ciências naturais, que se
ocupa com análises físicas de sistemas biológicos, conseqüentemente, análises físicas de
movimentos do corpo humano. Estes movimentos são estudados através de leis e padrões
mecânicos em função das características específicas do sistema biológico humano,
incluindo conhecimentos anatômicos e fisiológicos (2). No sentido mais amplo de sua
aplicação, ainda é tarefa da biomecânica das atividades esportivas a caracterização e
otimização das técnicas de movimento através de conhecimentos científicos que delimitam
a área de atuação da ciência, que tem no movimento esportivo seu objeto de estudo (...) (3).

A Biomecânica se consolidou [principalmente] ancorada pelas demandas do esporte de


rendimento, seja sob o ponto de vista da fundamentação científica para o desempenho
esportivo (4), seja sob a forma da produção de materiais esportivos (...) (5).
O atual desenvolvimento da Biomecânica é expresso pelos novos procedimentos e técnicas
de investigação, nos quais podemos reconhecer a tendência crescente de se combinar várias
disciplinas científicas na análise do movimento. Nos últimos anos, o progresso das técnicas
de medição, armazenamento e processamento de dados contribuiu enormemente para a
análise do movimento humano. É claro que nenhuma disciplina científica se desenvolve por
si mesma. Para a sua formação, a Biomecânica recorre a um complexo de disciplinas
científicas, fato este que consolida a dependência multidisciplinar na formação de um
domínio de conhecimento com estreitas relações interdisciplinares (2).

A Biomecânica do esporte integra outras áreas da ciência que, possuem igualmente no


movimento esportivo, a definição do seu objeto de estudo (3). No Brasil, os resultados das
pesquisas em Biomecânica têm influenciado diretamente na Medicina, Ergonomia,
fabricação de equipamentos esportivos e muitos outros aspectos da vida humana (1).
Atualmente existem centenas de estudiosos interessados em Biomecânica. Os resultados
das suas pesquisas contribuem grandemente para aumentar a compreensão sobre os limites
do corpo humano. As suas aplicações ao nível da Medicina, Ergonomia, Desporto e
equipamentos, são inúmeras (6).

Através da Biomecânica e de suas áreas de conhecimento correlatas podemos, portanto,


analisar as causas e fenômenos vinculados ao movimento. Para que possamos entender
melhor a complexidade do movimento humano e explicarmos suas causas, é necessário que
outros aspectos da análise multidisciplinar sejam também considerados (2).

Estes exemplos ilustram a diversidade da pesquisa Biomecânica e as diferentes


contribuições que os biomecânicos podem dar ao conhecimento do movimento e da
performance humana (7). Ela também pode auxiliar na produção de conhecimento para
aquisição de competências tecno-motoras, que levam em consideração as características
dos participantes, do contexto e sua organização, possibilitando uma efetiva aprendizagem
(1).
O objetivo principal da Biomecânica no desporto é analisar o gesto técnico desportivo e
seus detalhes mais específicos, descobrir possíveis falhas existentes na execução deste
gesto e possibilitar a melhoria do desempenho atlético através da correção e/ou adaptação
da técnica desportiva para uma técnica mais eficaz.

Um professor [ou técnico] bem sucedido deve tão somente conhecer a proposta do
movimento que está sendo analisado, mas também conhecer os fatores que contribuem para
uma excussão habilidosa do movimento. Uma técnica defeituosa impedirá que o atleta
coloque suas potencialidades físicas (força, flexibilidade, resistência, etc.) crescentes a
serviço de uma performance específica superior (6).

Visto que o conhecimento de uma técnica específica necessariamente precede qualquer


tentativa de ensinar ou treinar outros a mais altos níveis de conhecimento, desta forma,
admite-se que o conhecimento de Biomecânica deva ser de capital importância (4). Precisa-
se entender que os métodos tradicionais de ensino e treinamento mostram o que e como
ensinar, enquanto a Biomecânica permite entender porque determinadas técnicas são mais
apropriadas do que outras (1).

Qualquer pessoa interessada nos conhecimentos acerca do mundo da atividade física


humana encontrará na Biomecânica um meio para compreender melhor esta área, já que
usufrui não só de conhecimentos, mas também de diferentes técnicas de medida, registro e
avaliação do movimento humano (8).

 No trabalho com o movimento humano, os biomecânicos examinam a cinemática


[cinemetria] (estudo da descrição do movimento incluindo considerações de espaço e
tempo) do movimento, a técnica ou a forma desempenhada pelo praticante. Uma
abordagem biomecânica também envolve questões concernentes à cinética [dinamometria]
(estudo das forças causadoras ou resultantes do movimento), como a produção de certa
quantidade de força pelos músculos que seja apropriada ao propósito intencional do
movimento (7, 2).
Tendo em vista a utilização da Biomecânica para o estudo e melhoria da técnica desportiva,
vale ressaltar que esta também traz muitas outras contribuições ao esporte. Dentre essas
contribuições, podemos citar: prevenção de lesões, desenvolvimento de equipamentos
esportivos, controle de cargas sobre o atleta e desenvolvimento de métodos de medida e
avaliação. A Biomecânica ainda pode contribuir para o “aperfeiçoamento do processo de
treinamento, aperfeiçoamento e adaptações ambientais, aperfeiçoamento do mecanismo de
controle de cargas internas do aparelho locomotor, aperfeiçoamento de sistemas para
simulação de movimentos, aperfeiçoamento tecnológico instrumental para aquisição e
processamento de sinais biológicos e ao aperfeiçoamento de sistemas (hardware e software)
para análises de movimentos e conseqüentes aplicações práticas” (1).

Parâmetros biomecânicos e sua influência no rendimento esportivo

    Quando nos referimos ao movimento esportivo, como objeto de estudo nesta relação das
dependências múltiplas de fenômenos para a sua interpretação, devemos salientar que isto
ocorre em função da natureza complexa dos multielementos que interferem na sua
composição e, conseqüentemente, influenciam no comportamento e rendimento deste
mesmo movimento. Procura-se definir através de métodos e princípios biomecânicos os
parâmetros que caracterizam a estrutura técnica fundamental do movimento humano (3).

    Para a investigação deste movimento em Biomecânica, torna-se necessário, pela


complexidade estrutural do mesmo, a aplicação simultânea de métodos de mensuração nas
diversas áreas do conhecimento da ciência (3). Na complexa análise do movimento
humano, estes métodos, dependendo do tema estudado, podem ser utilizados isoladamente
ou em conjunto, mediante sistemas que possibilitam aquisição de dados de forma
sincronizada (6).

    Todo estudo biomecânico depende da determinação de grandezas mecânicas (qualitativas


ou quantitativas) (...). Dessa forma, as técnicas de medição de grandezas físicas aplicadas
ao corpo humano, são essenciais para o estudo tanto na Biomecânica externa quanto na
Biomecânica interna. Medir uma grandeza física significa estabelecer uma relação entre
esta e uma grandeza-unidade de mesma natureza (3).

    Os métodos utilizados pela Biomecânica para abordar as diversas formas de movimento
são cinemetria, dinamometria, antropometria e eletromiografia. “Utilizando-se destes
métodos, afinal, o movimento pode ser descrito e modelado matematicamente, permitindo a
maior compreensão dos mecanismos internos reguladores e executores do movimento do
corpo humano” (3).

Cinemetria

    A cinemetria consiste em um conjunto de métodos que busca medir parâmetros


cinemáticos do movimento, isto é, a partir da aquisição de imagens durante a execução do
movimento, realiza-se o cálculo das variáveis dependentes dos dados observados nas
imagens, como posição, orientação, velocidade e aceleração do corpo ou de seus segmentos
(2). A cinemetria constitui a área de avaliação biomecânica que se preocupa,
fundamentalmente, com a descrição dos movimentos (deslocamentos), independente das
forças que os produziram (6).

    A cinemetria é composta por procedimentos de natureza óptica. Onde as medidas são
realizadas através de indicadores indiretos obtidos através de imagens. Inicialmente,
podemos considerá-la como um método que permite análises qualitativas, a partir da
observação das imagens obtidas através de fotografia, filme ou película. Porém, a partir da
mensuração do deslocamento de segmentos, representados pelos pontos selecionados no
corpo humano; do tempo, através da freqüência de aquisição; e da massa, por
procedimentos da antropometria, podemos derivar grandezas cinemáticas (...). Assim, sob
um outro enfoque, a cinemetria pode contribuir para uma análise biomecânica quantitativa
dos movimentos humanos (2).
Dinamometria

    Através da dinamometria, que engloba todos os tipos de medidas de força e ainda a
distribuição da pressão, podem-se interpretar as respostas de comportamento dinâmico do
movimento humano. Além desses parâmetros para interpretação da força de reação externa,
a dinamometria preocupa-se em entender como a força de interação entre o corpo e o meio
ambiente é distribuída. A distribuição da força na superfície plantar, ou seja, na área da
base de sustentação do pé durante vários movimentos, tem sido estudada através de
instrumentos dedicados e adaptados à anatomia do pé humano (2).

    A partir dos fenômenos dos fenômenos determinantes da sobrecarga do aparelho


locomotor, passamos a interpretar as variáveis, dentro do domínio da Biomecânica, que
possam ser controladas com a natureza do movimento, principalmente os aspectos da
estrutura externa da técnica de execução do movimento, que interferem, em última análise,
na determinação e controle da sobrecarga mecânica (2).

Eletromiografia

    A eletromiografia (EMG) é um método de estudo que tem ocupado um papel importante
nos últimos 40 anos em diferentes áreas de investigação que têm atividade neuromuscular
como objeto. O termo eletromiografia explicita, por si só, o fundamento deste método de
estudo da atividade neuromuscular: a representação gráfica da atividade elétrica do
músculo. A EMG significa o registro gráfico da atividade elétrica no músculo quando
realiza contração, motivada pelo impulso nervoso (6).

    A EMG é também considerada uma área importante de avaliação biomecânica, por ser o
único meio de que dispomos atualmente para medir, ainda que indiretamente, as forças
produzidas pelos grupos musculares, entrando assim, no âmbito da Biomecânica interna. A
utilização desta área da avaliação biomecânica pressupõe que aceitemos que os músculos
superficiais são os mais importantes para o aspecto em estudo. Para além disso, são os
únicos mediáveis sem recurso à métodos invasivos. Daí se destinge EMG superficial de
profunda (6).
    A EMG de superfície utiliza elétrodos que são colocados sobre a pele limpa. Os
potenciais que ocorrem no sarcolema das fibras ativas são conduzidos pelos tecidos e
fluidos envolventes até a superfície da pele. Se os elétrodos forem colocados sobre a pele,
permitirão o registro da soma de atividades elétricas de todas as fibras musculares ativas.
Daí as relações que podem estabelecer-se entre a representação gráfica obtida e as
características da contração da globalidade do músculo (6).

Antropometria

    A antropometria se preocupa em determinar características e propriedades do aparelho


locomotor como as dimensões das formas geométricas de segmentos corporais, distribuição
de massa, braços de alavancas, posições articulares, etc., definindo então, um modelo
antropométrico contendo parâmetros necessários para a construção de um modelo
biomecânico da estrutura analisada (2).

    A antropometria biomecânica visa o desenvolvimento de modelos antropométricos que


sirvam à Biomecânica, por forma que, a partir dos movimentos dos segmentos ou dos
corpos, possamos inferir as forças que lhes deram origem (dinâmica inversa) e estimar o
centro de massa (para tal, necessitamos de conhecer a massa dos corpos e segmentos, o que
nos é dado pela antropometria) (6).

    A antropometria busca, portanto, modelos que possam ser utilizados para representar o
corpo humano. Para isso, é necessário obter medidas médias de densidade corporal por
segmentos, assim como o tamanho e proporção média dos segmentos corporais (2).

Controle de cargas, lesões e equipamentos esportivos

    A Biomecânica procura (...) explicar o porquê ou em que se baseiam uma série de
movimentos, isto é, pode indicar algo acerca da maneira de realizá-los o mais eficazmente
possível, ou simplesmente orientar acerca da correta realização de alguns exercícios para
eliminar o risco de lesões (8). Para Nasser (apud Teixeira & Mota), a Biomecânica tem
acompanhado o ensino das técnicas associando a prevenção músculo-esquelética do
indivíduo nas ações cotidianas, evitando assim que certos esforços desnecessários possam
danificar suas estruturas e que sua ação motora seja racionalizada. Outra preocupação dos
biomecânicos é reduzir as lesões do esporte, através tanto da identificação de práticas
perigosas quanto do projeto de equipamentos e aparelhos seguros (7).

O controle das cargas mecânicas aplicadas aos atletas é importante para se ter uma real
noção de que tipo de carga está sendo aplicada em determinado local e momento. Assim, o
objetivo principal dos estudos com controle de cargas é identificar a atuação das forças
durante o exercício e evitar a aplicação de uma carga excessiva e, conseqüentemente, um
possível aumento da probabilidade do risco de lesões. Neste contexto, os equipamentos
esportivos têm papel fundamental, pois são desenvolvidos, dentre outras coisas, para
aumentar a proteção do praticante e diminuir o risco de lesões.

O estudo e desenvolvimento de novos materiais, utensílios e máquinas permite, além da


aparição de novas práticas, mas segurança nestas (com a conseqüente diminuição do risco
de lesões) e um maior rendimento, quer seja educativo, no deporto de elite ou simplesmente
no prazer do esporte para todos (8).

Com a popularização e conseqüente prática massiva de algumas atividades desportivas, (...)


aparece uma confluência de interesses comerciais em torno destas práticas, o que favorece a
investigação e o desenvolvimento de novos materiais (8). Mais recentemente, na década de
90, as demandas das fábricas de material esportivo orientaram a formação da Biomecânica.
Os estudos realizados no âmbito de Pós-Graduação, assim como as próprias linhas de
pesquisas dentro da universidade, acabaram sendo conduzidas por esse tipo de demanda
(5).

As contribuições feitas pela Biomecânica desportiva são amplamente proclamadas,


entretanto, geralmente supervalorizadas, ou mesmo distorcidas, a fim de aumentar as
vendas do produto que está sendo divulgado e são, pois, virtualmente, como que uma
medida do impacto que a Biomecânica desportiva tem tido na prática (4).
Os biomecânicos reconhecem que a superfície onde é praticado o esporte, o calçado e o
corpo humano compõem um sistema de interação (7). De acordo com Aguado Jódar (8),
são poucas as situações esportivas que não se utilize algum tipo de instrumento ou de
utensílio. Inclusive em provas como as corridas a pé, os atletas calçam tênis que facilitam
alguns aspectos, como a fricção com o solo, a impulsão, que lhes protegem das forças de
impacto, de uma pronação excessiva, etc.

 Sobre o meio terrestre, as sapatilhas constituem o material mais utilizado em todo tipo de
atividade física. Existe no mercado uma enorme oferta que permite escolher calçados
diferentes em função da atividade que se vai praticar, das características da pessoa
(antropométrica e técnicas), do meio onde se vai desenvolver a atividade e do nível em que
se vai realizar (aquecimento, treinamento, competição) (8).

 O calçado desempenha um papel não apenas de amortecer o impacto das forças contra o
corpo, mas também influencia a cinemática do movimento corporal (...). Calçados para a
dança aeróbica são confeccionados para acolchoarem o arco metatársico do pé. Calçados de
futebol para serem usados na grama artificial são confeccionados para minimizar o risco de
lesão de joelho. Calçados de corrida são úteis para a prática de exercícios, corrida de
velocidade e corrida sobre a neve ou o gelo e para indivíduos que têm os pés pronados, isto
é, rotação medial do pé em contato com o solo (7).

Por exemplo, correr ou praticar exercícios aeróbios em uma superfície dura, como o
cimento, provavelmente aumenta o risco de fraturas de estresse dos membros inferiores.
Capacetes de proteção são projetados para garantir que suas características de resistência a
impactos ofereçam segurança adequada sem restringir, excessivamente, a visão periférica
do usuário. Vários modelos de joelheiras são projetados para fornecer proteção e
estabilidade lateral extras aos joelhos dos atletas, particularmente os jogadores de futebol [e
voleibol]. Os esquis de neve podem agora ser liberados automaticamente, durante uma
situação potencial de acidente, graças a um sistema de ligas controlado por
microcomputador (7).
Atualidade, perspectivas e desafios da Biomecânica

Apesar de a Biomecânica ser muito importante para o esporte, principalmente o de alto


rendimento, esta ainda sofre com uma visão um pouco errônea que fazem a seu respeito.
Parte desta visão que é transmitida está correta e parte desta mesma visão é
supervalorizada.

 A Biomecânica ainda é encarada por muitos alunos e professores (…) como uma disciplina
a ser estudada e compreendida [apenas] por técnicos que lidam com o desporto de alto
rendimento ou por profissionais que tenham profundo conhecimento de Física e
Matemática. Esse conceito infelizmente permeia o meio acadêmico da Educação Física e,
por sua própria idéia limitada, afasta grande número de profissionais do contato mais direto
com a disciplina (6).

    Mas esse entendimento inadequado da biomecânica está presente em diversos setores da
Educação Física [escolas, universidades, etc.] (...). Com isso, muitos (...) ainda vêem esta
disciplina como um conjunto de fórmulas matemáticas e de equações que de nada
acrescentam ao conhecimento necessário para a intervenção profissional (...) (6).

O panorama atual da Biomecânica passa cada vez mais pelo recurso aos métodos formais
avançados das disciplinas básicas, nomeadamente, Matemática, física, Programação e pela
sua combinação com as ciências biológicas, Anatomia, Fisiologia, Neurofisiologia, etc.
Este é um passo natural e necessário no desenvolvimento desta área, já que após o ganho
descritivo sobre o movimento, a fase seguinte será retirar conseqüências. Verifica-se na
atualidade também, a introdução paulatina de métodos matemáticos que combinam
aproximações funcionais e estocásticas os quais, no futuro, provavelmente serão
extensivamente usados. Isto deve-se ao fato do movimento humano, na globalidade, ser
caótico e não linear (6).

Outra característica da Biomecânica atual, devido à multidisciplinaridade do movimento


humano, passará, no nosso entender, pelo desenvolvimento de linhas de investigação que
combinem conhecimentos provenientes de áreas adjacentes, tais como Controle Motor,
Fisiologia muscular, Neurofisiologia, Morfologia, Robótica e Mecânica. As ações que os
atletas executam no desenvolvimento de uma determinada tarefa motora, por exemplo,
resultam, entre outros aspectos, de uma combinação de características biomecânicas e de
Controle motor. Isto conduz a outro passo importante no desenvolvimento da Biomecânica,
que consiste na combinação desta com o Controle Motor (6).

No processo de investigação do movimento em Biomecânica, busca-se a definição de um


método para a orientação da análise experimental, procedimento este que poderá envolver
uma ou um conjunto de técnicas que permitirão o esclarecimento de problemas na estrutura
da investigação e assim o primeiro passo é o estabelecimento de objetivos para o
desenvolvimento da análise do movimento humano (3).

Para além dos modelos teóricos, a investigação no terreno continua [e continuará] a ser uma
prioridade na investigação. O conhecimento cada vez mais profundo da atividade muscular
dos seres vivos será necessário. A formação de equipes multidisciplinares para a realização
de estudos conducentes à avaliação do trabalho mecânico muscular articular em
movimentos naturais, com registro simultâneo do metabolismo muscular, fluxo sanguíneo
periférico, etc., será necessária (6).

Outro aspecto muito importante em estudos biomecânicos é o desenvolvimento de uma


ampla base de dados relativa a informações acerca do movimento humano. Ainda temos
necessidade de aumentar os grupos de estudos e assim ampliar nossa base de referência,
acompanhando o desenvolvimento de técnicas e procedimentos que os avanços
tecnológicos e de instrumentação proporcionam na Biomecânica. A possibilidade de
intensificar as interpretações estatísticas de modelos biomecânicos depende, em primeiro
lugar, da extensão dos parâmetros e variáveis do movimento nesta ampla base de dados,
que devemos buscar através de estudos experimentais e demais registro sobre informações
de testes em Biomecânica (2).

Alguns professores de Educação Física crêem que a Biomecânica é muito importante, ainda
que sirva para muito pouco. Provavelmente vêem esta disciplina como portadora de
complexas técnicas de análise no estudo de técnicas mais eficazes (8). É típico que os
indivíduos que conhecem muito pouco do ramo científico, afirmem que o mesmo só presta
para um determinado fim. Afirmações como essa, se tomadas como verdade dificultam a
compreensão das reais possibilidades de aplicações das informações oriundas de qualquer
tipo de conhecimento científico. Por isso é de fundamental importância que argumentações
simplistas sejam examinadas quanto ao seu grau de veracidade, antes de serem adotadas
como válidas de formas a evitar tanto quanto uma adoção precoce quanto uma rejeição
incondicional (1).

Em certos pontos, as pessoas que afirmam isso têm certa razão, o estudo da Biomecânica,
de maneira geral, é um estudo que tem uma certa complexidade; outro grande problema é
relativo aos materiais, os materiais mais sofisticados utilizados e necessários para estes
estudos (plataforma de força, aparelhos eletromiográficos, softwares, etc.) são geralmente
caros e requerem muito investimento. Entretanto, isto não deve ser usado como argumento
para se deixar de lado o seu estudo e/ou a sua importância. Esta disciplina é muito útil para
o esporte.

Para muitos treinadores, a Biomecânica terá um significado parecido ao que tem para os
professores de Educação Física: uma ciência importante, mas pouco útil. Capaz de
proporcionar muitos números, mas difíceis de interpretar e pouco utilizáveis [na prática]
para a melhoria de seus atletas. Entretanto, o treinador – mesmo sem saber – atua como
biomecânico; talvez não o ensinaram suficiente, mas seu nível prático será indiscutível. O
treinador está constantemente analisando o movimento e corrigindo os erros detectados
mediante seu acertado olho clínico; talvez seus conhecimentos sejam em grande parte
autodidatas, e talvez não seja capaz de transmiti-los, mas o seu trabalho de constante
avaliação da técnica – ainda que não use métodos de laboratório complexos – tem muito a
ver com a Biomecânica (8).

Talvez aos atletas, que habitualmente seguem planos de treinamento estabelecidos, não lhes
pareça muito útil esta disciplina (...). Para eles, entretanto, uma Biomecânica composta por
uma série de simples princípios poderia contribuir a selecionar seu melhor plano de
treinamento e sua melhor técnica desportiva, como conseguir melhores marcas. Mesmo
assim, estes conhecimentos poderiam ajudar-lhes a evitar algumas lesões, freqüentes no
desporto de alto nível (8).

    A capacidade de analisar eficazmente uma habilidade motora requer um conhecimento


da natureza e do propósito em questão. Sem o entendimento correto da habilidade, os
professores [e técnicos] podem ter dificuldades em identificar os fatores que contribuem
para o desempenho e podem interpretar mal o movimento (6).

    Tanto o professor de Educação Física como o treinador, o atleta ou o praticante de


qualquer esporte ou atividade física necessitam de uma Biomecânica que lhes seja útil, não
excessivamente teórica nem baseada unicamente na Física, na Medicina ou na Matemática.
Esta Biomecânica não pode esquecer as particularidades das práticas físicas, nem as
características de técnicas desportivas, regulamentos, táticas, nem de numerosas habilidades
e destrezas (8).

    Em resumo, a Biomecânica tem tido uma influência muito maior nas práticas de
Educação Física do que geralmente se reconhece ou anuncia. Professores, técnicos e atletas
freqüentemente encontram-se na situação de fazer uma escolha entre duas técnicas
destinadas a obter uma mesma finalidade. Sem dúvidas a Biomecânica pode contribuir para
a efetivação de processos educativos, que envolvam comportamentos corporais, mais
conscientes e, conseqüentemente, marcados por concretas responsabilidades
intencionalmente pedagógicas (1).

    Apesar de ser uma disciplina relativamente nova, a Biomecânica, pela importância que
tem, pela sua utilidade prática (não só para o desporto de rendimento, mas para a vida
cotidiana dos praticantes de atividades físicas) e pelo muito que já evoluiu, precisa de mais
algumas reformulações e de uma melhor abordagem sobre seu conteúdo para que esta visão
(que em muitos casos não é correta) possa ser mudada e sua importância reconhecida de
fato. “Novos passos na busca de soluções tecnológicas que conciliem fatores de segurança e
de otimização do desempenho se fazem necessários e devem ser dados em um futuro
próximo” (2).

Bibliografia

1. TEIXEIRA, Clarissa S.; MOTA, Carlos B. A biomecânica e a Educação Física. Revista


Lecturas Educación Física y deportes, Buenos Aires, ano 12, n. 113, out.
2007. http://www.efdeportes.com/efd113/a-biomecanica-e-a-educacao-fisica.htm.

2. AMADIO, Alberto C.; DUARTE, Marcos. (Coords). Fundamentos biomecânicos para análise


do movimento. São Paulo: Laboratório de Biomecânica da USP, 1996.

3. AMADIO, A. C.; COSTA, P. H. L.; SACCO, I. C. N.; SERRÃO, J. C.; ARAÚJO, R. C.;
MOCHIZUKI, L.; DUARTE, M. Introdução à Biomecânica para análise do movimento
humano: descrição e aplicação dos métodos de medição. Revista Brasileira de
Fisioterapia, São Paulo, v. 03, n. 02, p. 41-54, 1999.

4. HAY, James G. Biomecânica das técnicas desportivas. 2 ed., Rio de Janeiro: Ed.
Interamericana, 1981.

5. NOZAKI, Hajime T. Biomecânica. In: GONZÁLEZ, Fernando J.; FENSTERSEIFER, Paulo E.


(orgs). Dicionário crítico de Educação Física. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005.

6. GRAZIANO, Alberto da C. L. Biomecânica: fundamentos e aplicações na Educação Física


Escolar. Porto: EDUCA, 2008.

7. HALL, Susan J. Biomecânica Básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993.

8. AGUADO JÓDAR, Xavier. Eficacia y técnica deportiva: análisis del movimiento humano.


Barcelona: Inde Publicações, 1993.

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