Biomecanica
Biomecanica
Biomecanica
Conceito da Biomecanica
Biomecânica é uma disciplina, entre as ciências derivadas das ciências naturais, que se
ocupa com análises físicas de sistemas biológicos, conseqüentemente, análises físicas de
movimentos do corpo humano. Estes movimentos são estudados através de leis e padrões
mecânicos em função das características específicas do sistema biológico humano,
incluindo conhecimentos anatômicos e fisiológicos (2). No sentido mais amplo de sua
aplicação, ainda é tarefa da biomecânica das atividades esportivas a caracterização e
otimização das técnicas de movimento através de conhecimentos científicos que delimitam
a área de atuação da ciência, que tem no movimento esportivo seu objeto de estudo (...) (3).
Um professor [ou técnico] bem sucedido deve tão somente conhecer a proposta do
movimento que está sendo analisado, mas também conhecer os fatores que contribuem para
uma excussão habilidosa do movimento. Uma técnica defeituosa impedirá que o atleta
coloque suas potencialidades físicas (força, flexibilidade, resistência, etc.) crescentes a
serviço de uma performance específica superior (6).
Quando nos referimos ao movimento esportivo, como objeto de estudo nesta relação das
dependências múltiplas de fenômenos para a sua interpretação, devemos salientar que isto
ocorre em função da natureza complexa dos multielementos que interferem na sua
composição e, conseqüentemente, influenciam no comportamento e rendimento deste
mesmo movimento. Procura-se definir através de métodos e princípios biomecânicos os
parâmetros que caracterizam a estrutura técnica fundamental do movimento humano (3).
Os métodos utilizados pela Biomecânica para abordar as diversas formas de movimento
são cinemetria, dinamometria, antropometria e eletromiografia. “Utilizando-se destes
métodos, afinal, o movimento pode ser descrito e modelado matematicamente, permitindo a
maior compreensão dos mecanismos internos reguladores e executores do movimento do
corpo humano” (3).
Cinemetria
A cinemetria é composta por procedimentos de natureza óptica. Onde as medidas são
realizadas através de indicadores indiretos obtidos através de imagens. Inicialmente,
podemos considerá-la como um método que permite análises qualitativas, a partir da
observação das imagens obtidas através de fotografia, filme ou película. Porém, a partir da
mensuração do deslocamento de segmentos, representados pelos pontos selecionados no
corpo humano; do tempo, através da freqüência de aquisição; e da massa, por
procedimentos da antropometria, podemos derivar grandezas cinemáticas (...). Assim, sob
um outro enfoque, a cinemetria pode contribuir para uma análise biomecânica quantitativa
dos movimentos humanos (2).
Dinamometria
Através da dinamometria, que engloba todos os tipos de medidas de força e ainda a
distribuição da pressão, podem-se interpretar as respostas de comportamento dinâmico do
movimento humano. Além desses parâmetros para interpretação da força de reação externa,
a dinamometria preocupa-se em entender como a força de interação entre o corpo e o meio
ambiente é distribuída. A distribuição da força na superfície plantar, ou seja, na área da
base de sustentação do pé durante vários movimentos, tem sido estudada através de
instrumentos dedicados e adaptados à anatomia do pé humano (2).
Eletromiografia
A eletromiografia (EMG) é um método de estudo que tem ocupado um papel importante
nos últimos 40 anos em diferentes áreas de investigação que têm atividade neuromuscular
como objeto. O termo eletromiografia explicita, por si só, o fundamento deste método de
estudo da atividade neuromuscular: a representação gráfica da atividade elétrica do
músculo. A EMG significa o registro gráfico da atividade elétrica no músculo quando
realiza contração, motivada pelo impulso nervoso (6).
A EMG é também considerada uma área importante de avaliação biomecânica, por ser o
único meio de que dispomos atualmente para medir, ainda que indiretamente, as forças
produzidas pelos grupos musculares, entrando assim, no âmbito da Biomecânica interna. A
utilização desta área da avaliação biomecânica pressupõe que aceitemos que os músculos
superficiais são os mais importantes para o aspecto em estudo. Para além disso, são os
únicos mediáveis sem recurso à métodos invasivos. Daí se destinge EMG superficial de
profunda (6).
A EMG de superfície utiliza elétrodos que são colocados sobre a pele limpa. Os
potenciais que ocorrem no sarcolema das fibras ativas são conduzidos pelos tecidos e
fluidos envolventes até a superfície da pele. Se os elétrodos forem colocados sobre a pele,
permitirão o registro da soma de atividades elétricas de todas as fibras musculares ativas.
Daí as relações que podem estabelecer-se entre a representação gráfica obtida e as
características da contração da globalidade do músculo (6).
Antropometria
A antropometria busca, portanto, modelos que possam ser utilizados para representar o
corpo humano. Para isso, é necessário obter medidas médias de densidade corporal por
segmentos, assim como o tamanho e proporção média dos segmentos corporais (2).
A Biomecânica procura (...) explicar o porquê ou em que se baseiam uma série de
movimentos, isto é, pode indicar algo acerca da maneira de realizá-los o mais eficazmente
possível, ou simplesmente orientar acerca da correta realização de alguns exercícios para
eliminar o risco de lesões (8). Para Nasser (apud Teixeira & Mota), a Biomecânica tem
acompanhado o ensino das técnicas associando a prevenção músculo-esquelética do
indivíduo nas ações cotidianas, evitando assim que certos esforços desnecessários possam
danificar suas estruturas e que sua ação motora seja racionalizada. Outra preocupação dos
biomecânicos é reduzir as lesões do esporte, através tanto da identificação de práticas
perigosas quanto do projeto de equipamentos e aparelhos seguros (7).
O controle das cargas mecânicas aplicadas aos atletas é importante para se ter uma real
noção de que tipo de carga está sendo aplicada em determinado local e momento. Assim, o
objetivo principal dos estudos com controle de cargas é identificar a atuação das forças
durante o exercício e evitar a aplicação de uma carga excessiva e, conseqüentemente, um
possível aumento da probabilidade do risco de lesões. Neste contexto, os equipamentos
esportivos têm papel fundamental, pois são desenvolvidos, dentre outras coisas, para
aumentar a proteção do praticante e diminuir o risco de lesões.
Sobre o meio terrestre, as sapatilhas constituem o material mais utilizado em todo tipo de
atividade física. Existe no mercado uma enorme oferta que permite escolher calçados
diferentes em função da atividade que se vai praticar, das características da pessoa
(antropométrica e técnicas), do meio onde se vai desenvolver a atividade e do nível em que
se vai realizar (aquecimento, treinamento, competição) (8).
O calçado desempenha um papel não apenas de amortecer o impacto das forças contra o
corpo, mas também influencia a cinemática do movimento corporal (...). Calçados para a
dança aeróbica são confeccionados para acolchoarem o arco metatársico do pé. Calçados de
futebol para serem usados na grama artificial são confeccionados para minimizar o risco de
lesão de joelho. Calçados de corrida são úteis para a prática de exercícios, corrida de
velocidade e corrida sobre a neve ou o gelo e para indivíduos que têm os pés pronados, isto
é, rotação medial do pé em contato com o solo (7).
Por exemplo, correr ou praticar exercícios aeróbios em uma superfície dura, como o
cimento, provavelmente aumenta o risco de fraturas de estresse dos membros inferiores.
Capacetes de proteção são projetados para garantir que suas características de resistência a
impactos ofereçam segurança adequada sem restringir, excessivamente, a visão periférica
do usuário. Vários modelos de joelheiras são projetados para fornecer proteção e
estabilidade lateral extras aos joelhos dos atletas, particularmente os jogadores de futebol [e
voleibol]. Os esquis de neve podem agora ser liberados automaticamente, durante uma
situação potencial de acidente, graças a um sistema de ligas controlado por
microcomputador (7).
Atualidade, perspectivas e desafios da Biomecânica
A Biomecânica ainda é encarada por muitos alunos e professores (…) como uma disciplina
a ser estudada e compreendida [apenas] por técnicos que lidam com o desporto de alto
rendimento ou por profissionais que tenham profundo conhecimento de Física e
Matemática. Esse conceito infelizmente permeia o meio acadêmico da Educação Física e,
por sua própria idéia limitada, afasta grande número de profissionais do contato mais direto
com a disciplina (6).
Mas esse entendimento inadequado da biomecânica está presente em diversos setores da
Educação Física [escolas, universidades, etc.] (...). Com isso, muitos (...) ainda vêem esta
disciplina como um conjunto de fórmulas matemáticas e de equações que de nada
acrescentam ao conhecimento necessário para a intervenção profissional (...) (6).
O panorama atual da Biomecânica passa cada vez mais pelo recurso aos métodos formais
avançados das disciplinas básicas, nomeadamente, Matemática, física, Programação e pela
sua combinação com as ciências biológicas, Anatomia, Fisiologia, Neurofisiologia, etc.
Este é um passo natural e necessário no desenvolvimento desta área, já que após o ganho
descritivo sobre o movimento, a fase seguinte será retirar conseqüências. Verifica-se na
atualidade também, a introdução paulatina de métodos matemáticos que combinam
aproximações funcionais e estocásticas os quais, no futuro, provavelmente serão
extensivamente usados. Isto deve-se ao fato do movimento humano, na globalidade, ser
caótico e não linear (6).
Para além dos modelos teóricos, a investigação no terreno continua [e continuará] a ser uma
prioridade na investigação. O conhecimento cada vez mais profundo da atividade muscular
dos seres vivos será necessário. A formação de equipes multidisciplinares para a realização
de estudos conducentes à avaliação do trabalho mecânico muscular articular em
movimentos naturais, com registro simultâneo do metabolismo muscular, fluxo sanguíneo
periférico, etc., será necessária (6).
Alguns professores de Educação Física crêem que a Biomecânica é muito importante, ainda
que sirva para muito pouco. Provavelmente vêem esta disciplina como portadora de
complexas técnicas de análise no estudo de técnicas mais eficazes (8). É típico que os
indivíduos que conhecem muito pouco do ramo científico, afirmem que o mesmo só presta
para um determinado fim. Afirmações como essa, se tomadas como verdade dificultam a
compreensão das reais possibilidades de aplicações das informações oriundas de qualquer
tipo de conhecimento científico. Por isso é de fundamental importância que argumentações
simplistas sejam examinadas quanto ao seu grau de veracidade, antes de serem adotadas
como válidas de formas a evitar tanto quanto uma adoção precoce quanto uma rejeição
incondicional (1).
Em certos pontos, as pessoas que afirmam isso têm certa razão, o estudo da Biomecânica,
de maneira geral, é um estudo que tem uma certa complexidade; outro grande problema é
relativo aos materiais, os materiais mais sofisticados utilizados e necessários para estes
estudos (plataforma de força, aparelhos eletromiográficos, softwares, etc.) são geralmente
caros e requerem muito investimento. Entretanto, isto não deve ser usado como argumento
para se deixar de lado o seu estudo e/ou a sua importância. Esta disciplina é muito útil para
o esporte.
Para muitos treinadores, a Biomecânica terá um significado parecido ao que tem para os
professores de Educação Física: uma ciência importante, mas pouco útil. Capaz de
proporcionar muitos números, mas difíceis de interpretar e pouco utilizáveis [na prática]
para a melhoria de seus atletas. Entretanto, o treinador – mesmo sem saber – atua como
biomecânico; talvez não o ensinaram suficiente, mas seu nível prático será indiscutível. O
treinador está constantemente analisando o movimento e corrigindo os erros detectados
mediante seu acertado olho clínico; talvez seus conhecimentos sejam em grande parte
autodidatas, e talvez não seja capaz de transmiti-los, mas o seu trabalho de constante
avaliação da técnica – ainda que não use métodos de laboratório complexos – tem muito a
ver com a Biomecânica (8).
Talvez aos atletas, que habitualmente seguem planos de treinamento estabelecidos, não lhes
pareça muito útil esta disciplina (...). Para eles, entretanto, uma Biomecânica composta por
uma série de simples princípios poderia contribuir a selecionar seu melhor plano de
treinamento e sua melhor técnica desportiva, como conseguir melhores marcas. Mesmo
assim, estes conhecimentos poderiam ajudar-lhes a evitar algumas lesões, freqüentes no
desporto de alto nível (8).
Em resumo, a Biomecânica tem tido uma influência muito maior nas práticas de
Educação Física do que geralmente se reconhece ou anuncia. Professores, técnicos e atletas
freqüentemente encontram-se na situação de fazer uma escolha entre duas técnicas
destinadas a obter uma mesma finalidade. Sem dúvidas a Biomecânica pode contribuir para
a efetivação de processos educativos, que envolvam comportamentos corporais, mais
conscientes e, conseqüentemente, marcados por concretas responsabilidades
intencionalmente pedagógicas (1).
Apesar de ser uma disciplina relativamente nova, a Biomecânica, pela importância que
tem, pela sua utilidade prática (não só para o desporto de rendimento, mas para a vida
cotidiana dos praticantes de atividades físicas) e pelo muito que já evoluiu, precisa de mais
algumas reformulações e de uma melhor abordagem sobre seu conteúdo para que esta visão
(que em muitos casos não é correta) possa ser mudada e sua importância reconhecida de
fato. “Novos passos na busca de soluções tecnológicas que conciliem fatores de segurança e
de otimização do desempenho se fazem necessários e devem ser dados em um futuro
próximo” (2).
Bibliografia
3. AMADIO, A. C.; COSTA, P. H. L.; SACCO, I. C. N.; SERRÃO, J. C.; ARAÚJO, R. C.;
MOCHIZUKI, L.; DUARTE, M. Introdução à Biomecânica para análise do movimento
humano: descrição e aplicação dos métodos de medição. Revista Brasileira de
Fisioterapia, São Paulo, v. 03, n. 02, p. 41-54, 1999.
4. HAY, James G. Biomecânica das técnicas desportivas. 2 ed., Rio de Janeiro: Ed.
Interamericana, 1981.