Trilhando Percursos Na Docencia em Ciencias Sociais
Trilhando Percursos Na Docencia em Ciencias Sociais
Trilhando Percursos Na Docencia em Ciencias Sociais
EDITORA FILIADA À
Luís Flávio Reis Godinho
Bruno José Rodrigues Durães
Dyane Brito Reis Santos
Antônio Mateus Soares
(Orgs.)
Trilhando percursos na
docência em Ciências Sociais
Contexto histórico
Ensino de Sociologia
Lutas na Bahia
Considerações finais
Referências
Bruno Durães
Rosana Soares
Introdução
1 Apesar de artes estar também no ensino fundamental, mas iremos centrar nossa
abordagem no ensino médio que é onde temos a presença das duas disciplinas em
análise.
2 Sobre o novo Ensino médio da Bahia ver: http://www.conselhodeeducacao.ba.
gov.br/2019/12/554/Resolucao-do-CEE-orienta-sobre-a-implementacao-da-BNCC-
-na-Bahia.html (acesso em 11 de julho de 2020) e consultar o sítio da SEC/Bahia:
http://escolas.educacao.ba.gov.br/orientacoescurricularesestaduais (acesso em 11
de julho de 2020).
Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais 41
rão a mesma carga horária. Além disso, agora teremos disciplinas no-
vas criadas com perfis de integração e de interdisciplinaridade (como
projeto de vida, cidadania etc.). Então, isso coloca uma possibilidade
(e necessidade) para atuação conjunta de sociologia e artes.
Assim, pensar nas interfaces dessas duas disciplinas torna-se
fundamental, pois são áreas que estão sofrendo o processo de des-
valorização social e de estigma (sobretudo por parte do poder público
federal, mas também do estadual quando este propõe reduzir carga
horária curricular) ao tempo em que são áreas extremamente poten-
ciais para atuação no sentido de pensar em uma formação universal e,
ainda, incorporando as particularidades, mas propondo um olhar trans-
versal e humanístico, que rompa com o instituído na imediaticidade
dos fenômenos e proponha alçar voos analíticos com novos olhares.
Nosso objetivo é pensar conexões e possibilidades para duas
áreas que são postas como separadas, mas que possuem pontes
e conexões, a saber, a área de sociologia e de artes na escola. Em
específico, iremos comparar, ainda que de forma breve, semelhanças
dessas áreas nos Projetos Pedagógicos dos dois cursos da UFRB,
bem como situar, brevemente, o cenário geral dessas disciplinas3.
3 Vale registrar que temos duas experiências exitosas de integração entre ciências
sociais e artes, que terminam por aproximar os respectivos cursos também. A primei-
ra é através da atuação do prof Silvio Benevides/UFRB, que ministra com regulari-
dade o componente curricular Sociologia da Arte. A segunda experiência é através
da discente do curso de Licenciatura em Ciências Sociais Dheik Praia, que realiza
atividades de extensão como no caso do Saraú Afroindígena em que a discente inte-
gra atividades de artes com ciências sociais e com poesia, música etc., ver mais no
site: https://www3.ufrb.edu.br/reverso/de-volta-as-raizes/.
42 Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais
4 Cabe dizer que sociologia já sofreu várias interrupções no currículo escolar do en-
sino médio e no início do século XXI voltou ao currículo graças a lei 11684/2008, ver:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11684.htm (acesso
em 16 de julho de 2020), ver também Meucci (2007) e Godinho (et al., 2019).
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Notas:
1 - Os docentes referem-se aos indivíduos que estavam em efetiva regência de clas-
se na data de referência do Censo Escolar.
2 - Não inclui os professores de turmas de atividade complementar e de atendimento
educacional especializado (AEE).
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3 - Professores (ID) são contados uma única vez em cada Unidade da Federação
(UF), porém podem atuar em mais de uma UF.
4 - Inclui professores de turmas de Ensino Médio, Ensino Médio Integrado e Ensino
Médio Normal/Magistério que lecionam a disciplina Sociologia.
Semelhanças no currículo
A sociologia da educação
O componente trabalho
Considerações finais
Referências
FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não. São Paulo: Ed. Olho
d’água, 1997.
Ações afirmativas no
nordeste brasileiro
Estado do conhecimento
Considerações finais
Referências
BRASIL. [Constituição Federal (1988)]. Constituição da República
Federativa do Brasil, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
SANTOS, Jocélio Teles dos (Org). Impacto das cotas nas universi-
dades brasileiras (2004-2012). Salvador: CEAO, 2013.
Marcus Bernardes
Introdução
O deslocamento
A juventude rural
A comunidade [Escolar]
Considerações finais
Referências
Introdução
delimitar a ação dos sujeitos, por outro lado temos a dimensão coti-
diana formada pelas relações sociais entre os sujeitos, envolvendo
“[...] alianças e conflitos, imposição de normas e estratégias indivi-
duais, ou coletivas, de transgressão e de acordos. Um processo de
apropriação constante dos espaços, das normas, das práticas e dos
saberes que dão forma à vida escolar” (Idem, ibid., p.1).
Ao mesmo tempo em que eu observava e analisava as intera-
ções que ocorriam na escola, eu também era observada por aqueles
agentes (alunos, professores, funcionários, diretor). Os olhares em
relação a minha presença no local eram sempre atentos, curiosos.
Se percebiam alguns cochichos entre eles durante minha presença.
Inicialmente pareciam tímidos, mas na medida em que fomos es-
tabelecendo uma relação constante, fomos nos familiarizando e ficando
mais espontâneos em nossas ações. Tive a oportunidade de observar
todas as turmas de sociologia do turno matutino, entretanto apenas foi
possível participar da regência com uma turma do terceiro ano devido
ao número de residentes no núcleo e à dinâmica da instituição.
Relações de poder
quase todas as aulas, este foi um tema que muito interessou aos alu-
nos, pois eles demonstraram compreender as relações sociais como
relações de poder, cujo mecanismo coage, disciplina e controla as
pessoas. “O poder não é simplesmente exercido por um nível da so-
ciedade sobre outro, mas está presente em todos os níveis da socie-
dade. O poder é algo que é exercido [...], não é uma coisa, mas uma
relação” (FOUCAULT, 2002, p. 53).
Demos continuidade com as discussões sobre política, e a classe
foi bem participativa nos debates. Ao fim das reflexões alguns alunos
comentaram que tinham outra ideia sobre esse conceito, mas que ago-
ra compreendem o tema e como estão inseridos na política. As avalia-
ções realizadas pela turma ao fim da reflexão de cada tema foram de
extrema importância para minha compreensão sobre os erros, acertos
e equívocos cometidos no estabelecimento das relação ensino-apren-
dizado e, portanto, no meu processo de formação professoral.
Nas atividades realizadas o foco era sempre o estímulo a uma
reflexão crítica e a uma participação política, seja no espaço esco-
lar, nas reuniões comunitárias, nas associações tradicionais ou em
qualquer outro espaço de decisão. Buscava sempre manter as aulas
abertas ao debate, já que entendo a discussão coletiva como um
espaço de se repensar a prática e buscar mudanças para a inovação
da prática educacional, e é assim que a ação pedagógica pode se
consolidar numa práxis transformadora. É preciso que o educador
tenha amor à profissão e ao educando, tenha amor à vida e tenha
um projeto e esperança de um futuro melhor (DALBÉRIO, 2008, p.
4). Diz Dalbério (2008, p.4):
Entretanto, o que acontece mais comumente é
a inibição da participação, e o que acontece é o
estímulo a ouvir e a obedecer. Desvelamos um
autoritarismo que contradiz um discurso democrá-
tico. É a negação da participação e da democra-
cia, e também da possibilidade do ser humano se
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O Canto das Três Raças. Composição: Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro
Ninguém ouviu Negro entoou E ecoa noite e dia
Um soluçar de dor Um canto de revolta pelos ares É ensurdecedor
No canto do Brasil No Quilombo dos Palmares Ai, mas que agonia
Onde se refugiou O canto do trabalhador
Um lamento triste Fora a luta dos Inconfidentes Esse canto que devia
Sempre ecoou Pela quebra das correntes Ser um canto de alegria
Desde que o índio Nada adiantou Soa apenas
guerreiro Como um soluçar de dor
E de guerra em paz
Foi pro cativeiro
De paz em guerra Ôôôôôô
E de lá cantou
Todo o povo dessa terra Ôôôôôôôô
Quando pode cantar
Canta de dor Música: “o Canto das Três
Raças”
Clara Nunes
Fonte: www.vagalume.com.br, acesso (2020).
Considerações finais
Referências
ciedade/massacre-de-suzano-e-o-oitavo-em-escolas-do-brasil-des-
de-2002/. Por Ana Luiza Basílio, 2019. Acesso em 22 de janeiro de
2020.
Introdução
Considerações finais
Referências
25 Este município possui aproximadamente 22.500 habitantes, com extensão ter-
ritorial de 162,883km², tendo como municípios limítrofes: São Gonçalo dos Campos,
Cachoeira, São Félix, Governador Mangabeira, Cabaceiras do Paraguaçu e Antônio
Cardoso.
26 Estágio obrigatório do curso de Licenciatura em Ciências Sociais da UFRB
realizado em três fases: observação, imersão e regência.
140 Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais
27 Dentre outras referências, consultar seu texto “Teoria Social e relações ra-
ciais no Brasil contemporâneo”, disponível em https://www.mprj.mp.br/docu-
ments/20184/172682/teoria_social_relacoes_sociais_brasil_contemporaneo.pdf.
Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais 141
Referências
Introdução
Educação e quilombo
São Braz
Especulação Imobiliária; Degradação Ambiental; Contaminação
daPopulação; Monocultura do Bambu; Monocultura do Eucalipto;
Privatização de Terras Públicas; Empreendimentos Turísticos –
essa comunidade tem sido alvo da forte especulação imobiliária
associada à indústria do turismo de massa. O território tradicio-
nal da pesca e do extrativismo de frutas (cajá, jenipapo, goiaba,
mangaetc.) está ameaçado pela fábrica de papel que vem jogando
produtos químicos na maré, destruindo os mariscos e peixes no
manguezal eno mar.
Acupe Especulação Imobiliária; Degradação Ambiental; Monocultura do
Eucalipto; Privatização de Terras Públicas; Empreendimentos
Turísticos; Carcinicultura; Impedimento de Acesso aos Espaços
Tradicionais de Pesca – conflito com empresários do ramo do
turismo que querem se apropriar das ilhas. As ilhotas são área
de pesca e lazer das comunidades, e os empresários estão impe-
dindo oacesso a elas por meio da ação de seguranças armados,
animais de guarda e até de construção de muros no manguezal.
Já o empreendimento da Bahia Pesca Carcinicultura tem provo-
cado a destruição de manguezais e apicuns para a construção de
viveiros de camarão. Quando se faz a lavagem dos tanques de
camarão, espalham-se produtos químicos no manguezal, matan-
do os mariscos e peixes, afetando principalmente a espécie de
peixechamada “Miroró” ou ”Mirin”.
172 Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais
Cambuta
Especulação Imobiliária; Degradação Ambiental; Contaminação
da População por Metais Pesados; Monocultura do Bambu; Pri-
vatização de Terras Públicas; Empreendimentos Turísticos – essa
comunidade sofre as consequências da produção de lingotes de
chumbo pela empresa COBRAC, responsável pela contaminação
dos recursos naturais e da população local por metais pesados,
especialmente o referido chumbo e o cádmio. Além disso, a fábri-
cade papel e celulose chamada de PENHA S/A continua lançan-
do dejetos químicos no estuário do Rio Pitinga, comprometendo a
florae a fauna locais.
Dom João
Especulação Imobiliária; Ameaça de Expulsão; Remoção de Mo-
radores; Degradação Ambiental; Exploração de Petróleo; Ação
Judicial Ingressada pela Prefeitura; Tentativa de Homicídio – a
comunidade pesqueira e quilombola de Porto de D. João desde
2009
vem sofrendo perseguição por parte da prefeitura e de fazendei-
ros locais interessados em removê-la para implantar empreendi-
mentosturísticos na localidade. Já houve diversas estratégias para
expulsara comunidade do seu território tradicional, a exemplo da
criminalização de lideranças; suspensão de políticas públicas bá-
sicas; intimidações e remoções, dentre outras violências físicas e
psicológicas. A prefeitura pretende criar uma pista de automobi-
lismo em parceria com a Associação Baiana de Automobilismo,
e ingressou com ação judicial solicitando a suspensão da certi-
ficação quilombola da comunidade e a paralisação dos Estudos
Técnicos de Identificação e Demarcação do Território que vinham
sendo realizados pelo INCRA.
Fonte: Relatório dos conflitos socioambientais do CPP (2016).
Considerações finais
Referências
BARBOSA, Adrian Kethen Picanço. A Educação quilombola como
estratégia de resistência na comunidade São Pedro dos Bois –
176 Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais
Introdução
peciais, meio que é regido por certas ideias, certos usos, certas ma-
neiras de ver as coisas” (1978, p. 39), isto é, a forma de condução
das disciplinas, os seus contornos dependem dos conhecimentos ex-
pressos pelo professor a partir de suas práticas pedagógicas.
No texto “Quando o sociólogo quer saber o que é ser profes-
sor?”, originalmente uma entrevista com François Dubet (1997), de-
notam-se as peripécias da docência, quando o autor apresenta a sua
experiência numa classe de 2ª ginasial, com adolescentes de 1 e
14 anos, em uma escola periférica na França. Relatando a não se-
paração da pedagogia e da personalidade do regente de classe, o
autor afirma que o professor deve determinar seu estilo pedagógico.
Discorrendo que a escola é uma instituição resultante de um proces-
so histórico de constituição de valores morais da sociedade à qual
pertence, Dubet defende a escola enquanto expressão da realidade
social, compreendendo-a durante o processo de atuação é impres-
cindível para a formação empírica do educador.
Bernard Lahire em seu texto Viver e interpretar o mundo social:
para que serve o ensino da Sociologia?, já inicia com a indagação
do “para que serve”, e sobretudo os questionamentos do ensino de
sociologia introduzido desde a Escola Primária, sendo uma resposta
moderna para as demandas sobre a cidadania (p. 50). Como será a
atuação do ensino de sociologia nas escolas primárias?
Não se trata, a meu ver, de ensinar “teorias”, “mé-
todos” ou “autores”, mas de transmitir hábitos in-
telectuais fundamentalmente ligados a essas dis-
ciplinas. Como transmitir tais hábitos intelectuais
a escola primaria senão pelo estudo de “caso”, de
“exemplos” visíveis de diferenças culturais (e.g.
comparar as diferenças alimentares de uma so-
ciedade a outra, relacionando essas diferenças as
condições de existência das populações, ao cli-
ma, ao tipo de agricultura, etc.), assim como pela
participação ativa dos alunos nas verdadeiras in-
vestigações empíricas (LAHIRE, 2014, p. 55).
Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais 183
Figura 2: Colagem dos desenhos dos Estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental II.
30 Produção colaborativa dos Estudantes Taís Lima Costa (Bacharelado em Servi-
ço Social pela UFRB) e Humberto Moreira dos Reis Filho (Licenciatura em Biologia
pela UFRB).
190 Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais
31 As ações afirmativas são importantes ações reparatórias que possuem como
intuito a promoção da igualdade racial no país. A partir da promoção das Ações Afir-
mativas nas instituições de ensino superior, modificou o perfil universitário brasileiro
massivamente, e enquanto um projeto político de inclusão social e racial as políticas
de acesso e permanência estão em defesa da educação antirracista.
32 Lei 10.639/2003 estabelece a obrigatoriedade do ensino de "história e cultura
afro-brasileira" nas disciplinas do currículo dos ensinos fundamental e médio.
Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais 191
Considerações finais
Referências
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Sobre os autores
Marcus Bernardes
Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Recôn-
cavo da Bahia (UFRB). Mestre em Antropologia Social pela Univer-
sidade Federal de Goiás. Professor de Ciências Sociais no Centro
Universitário FG – UniFG. Filiado à Associação Brasileira de Ensino
de Ciências Sociais (ABECS).
E-mail: marcus.bernardes@hotmail.com
Trilhando percursos na docência em Ciências Sociais 197
Rosana Soares
Graduada em Artes Visuais e Especializada em “Ensino da Arte: Fun-
damentos Estéticos e Metodológicos” pela Universidade Regional de
Blumenau - FURB. Doutora em Educação pela Universidade Federal
da Bahia/UFBA. Mestre em Artes Visuais pela Universidade do Es-
tado de Santa Catarina/UDESC. Docente da Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia – Centro de Artes, Humanidades e Letras/
CAHL.
E-mail: rosanasoares@ufrb.edu.br
ISBN: 978-65-88622-89-6