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Linguística Geral

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Centro de Ensino à Distância

Manual do Curso de Licenciatura em Ensino da Língua Portuguesa

Linguística Geral

Código: P0181

Módulo Único

24 Unidades
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à
Distância (CED) e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou
reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer
meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de
entidade editora (Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância). O
não cumprimento desta advertência é passivel a processos judiciais.

Elaborado Por: dr. Jane Alexandre Z. Mutsuque,

Licenciado em Linguística e Literatura pela Universidade Eduardo Mondlane,

Colaborador do Curso de Licenciatura em ensino da Língua Portuguesa no Centro de Ensino


à Distância (CED) da Universidade Católica de Moçambique – UCM.

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância-CED
Rua Correia de Brito No 613-Ponta-Gêa

Moçambique-Beira
Telefone: 23 32 64 05
Cel: 82 50 18 44 0

Fax:23 32 64 06
E-mail: ced@ucm.ac.mz
Website: www.ucm.ac.mz
Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância e o autor do presente
manual, dr. Jane Alexandre Mutsuque, agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e
instituições:

Pela Coordenação e edição do Trabalho: dr. Armando Artur (Coordenador do Curso de


Licenciatura em Ensino da Língua
Portuguesa, no Centro de Ensino a
Distância);

Pela disponibilidade material: dr. Pascoal Guiloviça


Centro de Ensino à Distância i

Índice

Visão Geral 8

Bem-vindo à Linguística Geral ................................................................................ 8


Objectivos da Cadeira ............................................................................................8
Quem deveria estudar este módulo ..........................................................................8
Como está estruturado este módulo? ........................................................................9
Ícones de actividade .............................................................................................10
Habilidades de estudo...........................................................................................10
Precisa de apoio? .................................................................................................10
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ......................................................................11
Avaliação............................................................................................................11

Unidade 01: Introdução ao Estudo da Linguística 12

Introdução 12
1.1 A Linguística como Disciplina Científica .......................................................12
1.2 Panorama Histórica do Surgimento da Linguística (Fases da Linguística) ..........13
1.3 Objecto do Estudo da Linguística ..................................................................15
1.4 Ramos da Linguística ...................................................................................17
1.5 Matéria e Tarefas da Linguística ....................................................................18
1.6 Relação da Linguística com outras Ciências....................................................19
Sumário ..............................................................................................................19
Exercícios ...........................................................................................................20

Unidade 02: Conceitos Básicos da Linguística 21

Introdução 21
Centro de Ensino à Distância ii

2.1 Competência Linguística vs Competência Comunicativa ..................................21


2.3 Noções de Gramática, Tipos de Gramática e Universais Linguísticos ...................22
Sumário ..............................................................................................................26
Exercícios ...........................................................................................................27

Unidade 03: Origem da Linguagem 28

Introdução 28
3.1 Teorias Filosóficas da Linguagem ....................................................................28
3.2 Evolução da Linguagem ..................................................................................29
Sumário ..............................................................................................................30
Exercícios ...........................................................................................................31

Unidade 04: Características Básicas da Linguagem Humana 32

Introdução 32
4.1 Linguagem humana vs. Linguagem Não-humana (diferenças) .............................32
4.2 Algumas Componentes da Linguagem Humana .................................................32
Sumário ..............................................................................................................34
Exercícios ...........................................................................................................34

Unidade 05: O Signo Linguístico 35

Introdução 35
5.1 O Signo Linguístico: a Teoria do Signo Linguístico ...........................................35
Sumário ..............................................................................................................37
Exercícios ...........................................................................................................38

Unidade 06: Competência/Performance e Língua/Fala 39

Introdução 39
Centro de Ensino à Distância iii

6.1 Distinção entre Competência Linguística e Performance .....................................39


6.2 Distinção entre Língua vs. Fala ........................................................................40
Sumário ..............................................................................................................41
Exercícios ...........................................................................................................41

Unidade 07: Introdução à Fonética 42

Introdução 42
7.1 Princípios e Importância da Fonética; ...............................................................42
7.2 Fonética Articulatória, Acústica e Auditiva .......................................................43
7.3 O Aparelho Fonador e o seu Funcionamento .....................................................43
7.4 O Alfabeto Fonético Internacional (Transcrição Fonética) ..................................46
Sumário ..............................................................................................................48
Exercícios ...........................................................................................................48

Unidade 08: Classificação dos Sons Linguísticos 50

Introdução 50
8.1 Classificação dos Sons Linguísticos .................................................................50
8.2 Transcrição Fonética: Larga e Estreita ..............................................................54
Sumário ..............................................................................................................55
Exercício ............................................................................................................56

Unidade 09: Introdução à Fonologia 57

Introdução 57
9.1 Conceito de Fonologia ....................................................................................57
9.2 Fonema, Fones e Alofones ............................................................................57
9.3 Classes Naturais e Pares Mínimos..................................................................58
Sumário ..............................................................................................................59
Exercícios ...........................................................................................................59

Unidade 10: Processos Fonológicos (Regras Fonológicas) 60

Introdução 60
Centro de Ensino à Distância iv

10.1 Importância dos Processos Fonológicos ..........................................................60


10.2 Regras Fonológicas (Processos de assimilação, supressão e de inserção) ............60
9.3 Formalização de Regras Fonológicas do Português ............................................62
Sumário ..............................................................................................................63
Exercícios ...........................................................................................................64

Unidade 11: Introdução à Morfologia 65

Introdução 65
11.1 A Concepção de Morfologia ..........................................................................65
11.2 Critérios da Definição da Palavra (semânticos, sintácticos, fonológicos e
morfológicos) ......................................................................................................65
11.3 Tipos de Morfemas .......................................................................................67
Sumário ..............................................................................................................70
Exercícios ...........................................................................................................70

Unidade 12: Morfologia da Palavra 71

Introdução 71
12.1 Estrutura Interna da Palavra .......................................................................71
12.2 Palavras Simples e Complexas ...................................................................73
Sumário ..............................................................................................................74
Exercícios ...........................................................................................................75

Unidade 13: Língua e Escrita (historiografia da escrita) 76

Introdução 76
13.1 História da Escrita ........................................................................................76
13.2 Tipos de Escrita ............................................................................................77
13.3 Relação das Línguas com a Escrita .................................................................77
Sumário ..............................................................................................................78
Exercícios ...........................................................................................................78

Unidade 14: Regras Gerais de Formação das Palavras 79

Introdução 79
Centro de Ensino à Distância v

14.1 Regras Morfológicas de Formação de Palavras ................................................79


Sumário ..............................................................................................................80
Exercícios ...........................................................................................................80

Unidade 15: Processos de Formação de Palavras (Morfologia) 82

Introdução 82
15.1 Derivação e Composição ...............................................................................82
15.2 Outros Processos de Formação de Palavra .......................................................83
Sumário ..............................................................................................................85
Exercícios ...........................................................................................................86

Unidade 16: Introdução à Semântica 87

Introdução 87
16.1 Conceito da Semântica ..................................................................................87
Sumário ..............................................................................................................89
Exercícios ...........................................................................................................89

Unidade 17: Propriedades Semânticas (identidade ou igualdade de sentido) 91

Introdução 91
17.1 Relações de Sentido (identidade ou igualdade de sentido) .................................91
Sumário ..............................................................................................................92
Exercícios ...........................................................................................................93

Unidade 18: Propriedades Semânticas (oposição ou dissemelhança de sentido) 94

Introdução 94
18.1 Relações de Oposição ou Dissemelhança de Sentido ........................................94
Sumário ..............................................................................................................97
Exercícios ...........................................................................................................97

Unidade 19: Introdução à Pragmática 98

Introdução 98
Centro de Ensino à Distância vi

19.1 Conceito de Pragmática .............................................................................98


19.2 Actos Ilocutórios ........................................................................................100
Sumário ............................................................................................................ 102
Exercícios ......................................................................................................... 102

Unidade 20: Noção da Sintaxe (estrutura dos constituintes) 104

Introdução 104
20.1 Conceito de Sintaxe ....................................................................................104
20.2 Estrutura dos Constituintes (constituintes imediatos) .................................. 105
20.3 Frase, Oração e Período............................................................................... 112
20.4 Tipos Básicos de Frases .............................................................................. 113
Sumário ............................................................................................................ 115
Exercícios ......................................................................................................... 116

Unidade 21: Língua e Fala 117

Introdução 117
21.1 Acepções sobre o Conceito de Língua. ..........................................................117
21.2 Diferenças entre a Língua e Fala .................................................................. 119
Sumário ............................................................................................................ 120
Exercícios ......................................................................................................... 121

Unidade 22: A Língua na Sociedade (Noções da Sociolinguística) 122

Introdução 122
22.1 Relação Língua e Sociedade ........................................................................ 122
Sumário ............................................................................................................ 124
Exercícios ......................................................................................................... 124

Unidade 23: Princípios da Mudança Linguística 125

Introdução 125
Centro de Ensino à Distância vii

23.1 Conceitos de Variação e Mudança Linguísticas ......................................... 125


23.2 Tipos de Variação .......................................................................................127
23.2 Línguas Naturais ........................................................................................128
23.3 Conceitos de Língua e Dialectos ..............................................................129
23.4 Noção de Bilinguismo e seus Tipos ..........................................................129
Sumário ............................................................................................................ 131
Exercícios ......................................................................................................... 132

Unidade 24: Noções da Psicolinguística 133

Introdução 133
24.1 Conceito de Psicolinguística ........................................................................ 133
24.2 Áreas da Psicolinguística ............................................................................. 134
Sumário ............................................................................................................ 134
Exercícios ......................................................................................................... 134
BIBLIOGRAFIA ...............................................................................................135
Centro de Ensino à Distância 8

Visão Geral

Bem-vindo à Linguística Geral

A presente Cadeira, apresenta 24 unidades num único manual.


Unidades estas, que devem ser dosificadas, no sentido de se ministrar
08 unidades em cada presencial.

Objectivos da Cadeira

Quando terminar o estudo de Linguística Geral, o estudante


(cursante) será capaz de:
 Desenvolver um raciocínio científico e rigoroso;
 Compreender o objecto de estudo da linguística;
Objectivos  Identificar as características básicas da linguagem;
 Corrigir ideias incorrectas respeitantes à origem da linguagem;
 Conhecer os princípios reguladores das componentes da ciência
linguística, a fonética, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica;
 Conhecer as relações de sentido que as palavras estabelecem entre
si;
 Conhecer a relação entre a língua e a escrita;
 Conhecer os princípios atinentes à morfologia e sintaxe;
 Conhecer as relações entre o fenómeno língua vs. Sociedade e
linguagem vs. Cérebro humano.

Quem deveria estudar este módulo


Este módulo foi concebido para todos aqueles Estudantes candidatos ao
Curso de Licenciatura em Ensino da Língua Portuguesa, que devido a
sua situação laboral, não têm a oportunidade de poder estar num
sistema de ensino totalmente presencial.
Centro de Ensino à Distância 9

Como está estruturado este módulo?


Todos os manuais das cadeiras dos cursos oferecidos pela Universidade
Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância (UCM-CED)
encontram-se estruturados da seguinte maneira:
Páginas introdutórias
Um índice completo.
Uma visão geral detalhada da cadeira, resumindo os aspectos-chave
que você precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos
vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu
estudo.
Conteúdo da Cadeira
A cadeira está estruturada em unidades de aprendizagem. Cada
unidade incluirá, o tema, uma introdução, objectivos da unidade,
conteúdo da unidade incluindo actividades de aprendizagem, um
sumário da unidade e uma ou mais actividades para auto-avaliação.
Outros Recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma
lista de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem
incluir livros, artigos ou sites na internet.
Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação
Tarefas de avaliação para esta cadeira, encontram-se no final de cada
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do manual.
Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo da cadeira. Os seus comentários serão
úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este manual.
Centro de Ensino à Distância 10

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens
das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do
processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de
texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo
Caro estudante, procure reservar no mínimo 2 (duas) horas de estudo
por dia e use ao máximo o tempo disponível nos finais de semana.
Lembre-se que é necessário elaborar um plano de estudo individual,
que inclui, a data, o dia, a hora, o que estudar, como estudar e com
quem estudar (sozinho, com colegas, outros).

Lembre-se que o teu sucesso depende da sua entrega, você é o


responsável pela sua própria aprendizagem e cabe a se planificar,
organizar, gerir, controlar e avaliar o seu próprio progresso.

Evite plágio!

Precisa de apoio?
Caro estudante:
Os tutores têm por obrigação monitorar a sua aprendizagem, dai o
estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.

Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interação. Em caso de


problemas específicos, ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa
fase posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for da
natureza geral, contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.
Os contactos só se podem efectuar nos dias úteis e nas horas normais
de expediente.
Centro de Ensino à Distância 11

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)


O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios), contudo nem
todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. Só
deverão ser entregues os exercícios que forem indicados pelo Tutor.
Isto, antes do período presencial.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo


os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os
direitos do autor.

Avaliação
A avaliação da cadeira será controlada da seguinte maneira:
 Três (3) Trabalhos realizados pelos estudantes, sendo divididos em
três sessões presenciais de acordo com a programação do Centro.
o Dois (2) Testes escritos em presença e um (1) exame no fim
do ano.
Centro de Ensino à Distância 12

Unidade 01: Introdução ao Estudo da Linguística

Introdução
Nesta que é a primeira unidade do módulo, fazemos uma breve
introdução à cadeira. Os conteúdos desta unidade vão permitir que você
tenha uma visão geral da linguística como disciplina científica; vai
conhecer o panorama histórico em volta da génese da linguística; vai
conhecer o objecto de estudo; os ramos e as outras disciplinas
científicas que se relacionam com a Linguística Geral.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Descrever linguística como área científica;
 Fazer uma abordagem geral sobre o surgimento da Linguística
como disciplina científica;
Objectivos
 Indicar as fases que a Linguística passou;
 Definir o objecto de estudo da Linguística;
 Descrever os três ramos da linguística;
 Relacionar a linguística com outras ciências.

1.1 A Linguística como Disciplina Científica


As questões teóricas relativas à linguagem e às línguas, e as análises
decorrentes da investigação integrada em quadros teóricos, ainda que
possam constituir o conteúdo de gramáticas gerais ou particulares
pertencem, na realidade, à ciência da linguagem denominada
Linguística. Este termo foi utilizado pela primeira vez em alemão –
Sprachwissenschaft – numa obra de 1833, indica o estudo das línguas
“por si mesma” e não como reflexo de uma lógica filosófica ou como
uma arte de bem falar.

A linguística é um estudo científico porque assenta em pressupostos


teóricos coerentes, utiliza objectividade e rigor na descrição dos dados e
apresenta hipóteses de explicação com base nos pressupostos teóricos,
Centro de Ensino à Distância 13

hipóteses que podem ser confirmadas ou refutadas perante os dados das


línguas em análise.

1.2 Panorama Histórico do Surgimento da Linguística (Fases da


Linguística)
Muitos dos autores que se dedicam ao estudo da historiografia da
linguística costumam encerrar seus relatos com o surgimento da
Linguística Moderna no final do século XIX. Aqui vamos avançar até
chegar ao início de século XXI, apresentando um amplo painel das
escolas linguísticas modernas e contemporâneas, sem descuidar da
influência exercida por estudiosos de outras áreas sobre as
investigações da linguagem humana. Numa linguagem extremamente
acessível para leigos e recém-iniciados, construímos um painel sucinto,
mas bem rigoroso, da história das ideias sobre língua e linguagem na
tradição cultural do Ocidente.

Partindo de Platão, Aristóteles, dos estóicos e dos primeiros gramáticos


da Antiguidade, a linguística vai além de Saussure, Bakhtin e Chomsky,
elencando os principais nomes e vertentes deste campo e projectando
luzes sobre as tendências teóricas que vieram a se tornar dominantes na
Linguística no século que terminou e no actual século.

Antes do surgimento da Linguística como ciência, os estudos da língua


passaram por três fases sucessivas e distintas: a Gramática, que visava
unicamente a formular regras para definir o que é certo e o que é
errado; a Filologia, que se preocupou em comparar textos de épocas
diferentes para determinar as peculiaridades de cada autor, antecedendo
a Linguística Histórica; e a Gramática Comparada, que, ao justapor
línguas diferentes, como o sânscrito, o grego e o latim, concluiu que
todas pertenciam à mesma família, sendo possível, por exemplo,
explicar as formas de uma língua pelas formas de outra.

Essa última fase, a da Gramática Comparada, desenvolvida por Franz


BOPP, descobriu aspectos importantes para o desenvolvimento dos
Centro de Ensino à Distância 14

estudos das línguas, como por exemplo, a existência de uma relação


entre os paradigmas gregos e latinos. Ele percebeu, também, que o
paradigma sânscrito deixa clara a noção de radical, elemento
determinável e fixo numa série de palavras da mesma família. Assim, o
sânscrito ajudou muito as pesquisas linguísticas, pois acabou
esclarecendo outras línguas.

Desde o início dos estudos linguísticos, surgiram muitos linguistas


importantes como Jacob Grimm, Pott, Kuhn, Aufrecht, Max Müller,
Curtius e Schleicher. Alguns deles se aprofundaram nos estudos
comparativos, conciliando a Gramática Comparativa com a Filologia,
fases que, como vimos, antecederam a Linguística, fazendo surgir,
assim, a escola comparatista. Porém, tal escola nunca se preocupou em
determinar a natureza das línguas. Sem essa preocupação, ela não se
constituiu em uma ciência, já que não estabeleceu métodos. Nota-se
que a condição básica para o surgimento de uma ciência é o
estabelecimento de métodos. Essa escola foi exclusivamente
comparativa, em vez de histórica. Além disso, ela nunca se questiona os
motivos de fazer tais comparações, portanto, dela nada se pode
concluir.

Esses estudos comparativos acabaram por não corresponder à realidade


e ser estranhos às condições da linguagem, por isso foram considerados
excêntricos e erróneos. Porém, esses erros acabaram sendo importantes,
pois originaram as pesquisas científicas e os estudos de Linguística
propriamente ditos. Isso está bem claro: os erros de uma teoria levam
ao surgimento de outras. A comparação é apenas um método.

É assim que tem início a Linguística como uma ciência da linguagem.


Ela nasceu do estudo das línguas românicas e das germânicas. Esse
estudo aproximou a ciência de seu objecto de estudo, ou seja, a
Linguística da linguagem. As pesquisas linguísticas tornaram-se
concretas, já que contaram com a ajuda de numerosos documentos que
perduraram durante séculos. Tais documentos permitiam acompanhar a
Centro de Ensino à Distância 15

evolução dos idiomas, em especial do latim, protótipo das línguas


românicas; e do germânico, protótipo das línguas indo-européias.

Logo após, formou-se uma nova escola, a dos neogramáticos, fundada


por alemães. Essa escola consistiu em colocar numa perspectiva
histórica todos os resultados do método comparativo. Graças a esses
estudos, não se considerou mais a língua como um organismo
autónomo, mas sim como um produto colectivo de grupos linguísticos.
Esse fato acabou se transformando em algo de grande importância para
o campo da Linguística Geral, embora esta ainda tenha algumas
questões a serem esclarecidas. Sem dúvida, esse campo é por demais
abrangente, o que impede de se encerrarem ou de se concluírem seus
estudos.

1.3 Objecto de Estudo da Linguística


Conhecida a génese da Linguística, vamos agora conhecer o objecto de
estudo desta disciplina.

A reflexão sobre as línguas é algo remoto, todavia a linguística é uma


ciência muito jovem pouco divulgada e mal conhecida. Tal como
qualquer outra ciência detentora de qualquer que seja o método de
investigação, ela possui o seu objecto de estudo que é a linguagem
humana. Sendo assim, pode-se considerar que, a Linguística é o estudo
científico da linguagem humana em suas diversas manifestações.
Portanto, estudar a linguagem humana em suas realizações é estudar as
componentes da gramática, que são: fonética, fonologia, morfologia,
sintaxe, semântica e pragmática, estilística, terminologia e filologia.

 Componentes da Gramática
Para compreenderes melhor acerca das componentes da gramáticas, que
na verdade serão os objectos dos seus estudos ao longo do curso, vamos
apresentar sinteticamente conceitos gerais das respectivas
componentes:
Centro de Ensino à Distância 16

 A Fonética é a componente da gramática que se dedica ao estudo


dos sons da fala desde a produção à percepção, tendo como
elemento mínimo de análise o fone.
 A Fonologia preocupa-se com a organização dos sons fornecidos
pela fonética em sistemas e modelos sonoros numa língua
particular, tendo como elemento mínimo de análise o fonema.
 A Morfologia é uma das componentes da gramática que se
preocupa com estudo da palavra e a sua estrutura interna, olhando
para o seu elemento mínimo de análise, o morfema.
 A Sintaxe estuda a estrutura da frase numa determinada língua,
bem como as relações entre as palavras dentro duma frase.
 A Lexicologia é o estudo do conjunto das palavras de um idioma,
ramo de estudo que contribui para a lexicografia, área de actuação
dedicada à elaboração de dicionários, enciclopédias e outras obras
que descrevem o uso ou o sentido do léxico.
 A Terminologia dedicada seus estudos ao conhecimento e análise
dos léxicos especializados das ciências e das técnicas.
 A Estilística estuda o estilo na linguagem.
 A Semântica debruça-se com o significado das palavras, bem como
o sentido que elas têm entre si dentro da frase. Associada à esta
componente gramatical, temos a Pragmática, que estuda os
princípios que regulam a actividade verbal, isto é, estuda o
funcionamento da língua segundo os contextos diferentes.
 Por último, a Filologia é o estudo dos textos e das linguagens
antigas.

Para além das componentes acima mencionadas, a linguística comporta


as seguintes áreas: a Sociolinguística, que se preocupa com o estudo da
língua como um factor social e a Psicolinguística, que estuda a relação
entre a linguagem e o cérebro humano.

Outros elementos não menos importante a mencionar esta fase dos seus
estudos tem a ver com os ramos da linguística, a destacar:
Centro de Ensino à Distância 17

1.4 Ramos da Linguística


A Linguística enquanto disciplina científica abarca dois ramos: a
descritiva e a aplicada. Para compreenderes melhor, leia atentamente o
trecho que se segue.

 Linguística Descritiva
Como dissemos no parágrafo anterior, um dos ramos da linguística é a
Linguística Descritiva que tem o trabalho de analisar e de descrever
como língua é falado (ou como foi falado no passado) por um grupo de
povos em uma comunidade do discurso. A linguística descritiva
moderna é baseada em uma aproximação estrutural à língua.

A descrição linguística é contrastada frequentemente com prescrição


linguística. A prescrição procura definir formulários da língua padrão e
dar o conselho no uso da língua eficaz, e pode ser pensada como
tentativa de apresentar as frutas da pesquisa descritiva em um
formulário, embora extrai também em uns aspectos mais subjectivos da
estética da língua. A prescrição e a descrição são essencialmente
complementares, mas têm prioridades diferentes e são vistas às vezes
para estar no conflito.

A descrição exacta do discurso real é um problema difícil, e os


linguistas foram reduzidos frequentemente às aproximações. Quase
toda a teoria linguística tem sua origem em problemas práticos da
linguística descritiva. Fonologia (e seus desenvolvimentos teóricos, tais
como fonema) trata da função e da interpretação do som na língua.
Sintaxe tornou-se para descrever as réguas a respeito de como as
palavras relacionam-se a fim dar forma a sentenças. Lexicologia,
colecta de “palavras” e suas derivações e transformações: não causou a
teoria muito generalizada.
Centro de Ensino à Distância 18

 Linguística Aplicada
O outro ramo da linguística é a Linguística Aplicada que é um campo
interdisciplinar de estudo que identifica, investiga e oferece soluções
para os problemas relacionados com a linguagem da vida real. Alguns
dos campos académicos relacionados à linguística aplicada são:
educação, linguística, psicologia, antropologia e sociologia.

Para compreenderes, na íntegra, os fundamentos que orientam a cadeira


da linguística, vamos falar da matéria e tarefas da linguística.

1.5 Matéria e Tarefas da Linguística


Todas as manifestações da linguagem humana, seja de povos selvagens
ou civilizados, arcaicos ou contemporâneos, constituem a matéria da
Linguística. Porém, a linguagem escapa, muitas vezes, da observação,
por isso os linguistas devem levar em conta os textos orais e escritos,
que servirão de base para seus estudos.

A Linguística tem três tarefas básicas:


 Descrever a história das línguas;
 Determinar as leis gerais a que possam se referir os fenómenos
da língua; e
 Definir a si própria.

Pode-se dizer que poucas pessoas têm a respeito ideias claras; porém e
evidente, por exemplo que as questões linguísticas interessam a todos
como: historiadores, filólogos, etc. A sua importância está vidada para a
cultura geral, ou seja na vida dos indivíduo as e das sociedades.
Recordemos que a linguagem constitui o factor mais importante que
qualquer outro.

Resumindo podemos dizer que o estudo da linguagem não é


exclusividade de especialistas, todos se interessam pelos estudos da
língua, em maior ou menor proporção. Porém, em última análise cabe
Centro de Ensino à Distância 19

ao linguista a tarefa de denunciar e dissipar os erros cometidos ao se


estudar uma determinada língua.

Até aqui já fizemos uma resenha histórica da linguística enquanto


disciplina científica, falamos do conceito, do seu objecto de estudo, das
componentes, dos ramos e da matéria e da tarefa da linguística. Para
terminarmos esta unidade, vamos falar da importância e relação que a
linguística estabelece com outras disciplinas científicas.

1.6 Relação da Linguística com outras Ciências


A Linguística estabelece uma estreita relação com outras ciências,
como a Antropologia, a Psicologia e a Sociologia. Ora, se a linguagem
é social, obviamente a Linguística se relaciona com a Sociologia. Pode-
se afirmar, também, que na língua tudo é psicológico. Daí sua relação
com a Psicologia. E por fim, como a língua é objecto humano, a
Linguística relaciona-se com a Antropologia. Convém deixar claro que,
embora se relacionem, há muitos pontos que diferem a Linguística
dessas outras ciências.

Ademais, é certo que tudo o que se refere ao estudo da linguagem


desperta o interesse de especialistas e estudiosos de outras áreas, como
historiadores e filólogos, pois eles precisam trabalhar com textos. Sem
contar a importância dada à Linguística para a cultura geral, tanto do
indivíduo quanto da sociedade.

Sumário
Como podes ter notado, a linguística é uma ciência tal como outras:
com um conceito, um objecto de estudo bem definido, com áreas e
ramos de estudo, entre outras componentes.

Em resumo podemos definir Linguística como uma área de estudo


científico sobre a linguagem humana em suas diversas manifestações.
O estudo da linguística é feito através dos vários componentes da
gramática, a saber: a fonética, a fonologia, a morfologia, a sintaxe,
Centro de Ensino à Distância 20

semântica e pragmática, estilística, terminologia, a filologia, a


psicolinguística e a sociolinguística.

A Linguística enquanto ciência da linguagem nasceu do estudo das


línguas românicas e das germânicas. Esse estudo aproximou a ciência
de seu objecto de estudo, ou seja, a Linguística da linguagem.

As principais componentes da gramática são: a fonética, a fonologia, a


morfologia, a sintaxe, a lexicologia, a terminologia, a estilística,
semântica, pragmática, filologia, sociolinguística e psicolinguística.

Os principais ramos da linguística são: linguística descritiva que


trabalha na análise e descrição da língua e linguística aplicada que é um
campo interdisciplinar de estudo que identifica, investiga e oferece
soluções para os problemas relacionados com a linguagem da vida real.

A linguística tem três principais tarefas: a de descrever a história das


línguas, determinar as leis gerais a que possam se referir os fenómenos
da língua e definir a si própria. Ela relaciona-se com a com outras
ciências, tais como a Antropologia, a Psicologia, Filosofia, História,
Filologia, Sociologia, entre outras.

Exercícios
Depois de teres estudado esta que foi a primeira unidade deste módulo,
leia o exercício e responda as questões que se seguem.
1. Com suas próprias palavras, apresente uma definição valida para a
linguística.
2. Quais são os ramos da linguística?
3. Fale de cada componente da gramática que conheces indicando seus
respectivos exemplos.
4. Qual é a importância do estudo da linguística?
5. Distinga, com exemplos práticos, a linguística aplicada da
linguística descritiva.
6. Qual é a relação da linguística com a literatura e a filosofia?
Centro de Ensino à Distância 21

Unidade 02: Conceitos Básicos da Linguística

Introdução
Dando continuidade a unidade anterior onde fizemos uma breve
resenha sobre a linguística enquanto disciplina científica, vamos nesta
unidade conhecer alguns conceitos básicos que orientam os estudos
linguísticos.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Distinguir competência linguística da competência
comunicativa;
 Descrever outras subcompetências: discursiva, textual e
Objectivos
metalinguística;
 Definir gramática;
 Indicar os quatros tipos de gramática: gramática
interiorizada (competência), gramática tradicional,
gramática prescritiva ou normativa, gramática descritiva;
 Apresentar o conceito de universais linguísticos.

2.1 Competência Linguística vs Competência Comunicativa


Como já deves saber, a comunicação humana é regida de normas e
convenções que condicionam os falantes a utilizarem a língua com
alguma proficiência. Para tal entra em acção a competências linguística
e a comunicativa.

Para melhor compreenderes estes dois processos linguísticos, vamos


distingui-los:

 Competência Comunicativa
Quando se fala de competência comunicativa faz-se referência à
capacidade de usar a língua de acordo com a situação e local onde o
falante se encontra, variando o seu discurso consoante seja necessário
para se fazer entender através dos vários níveis de língua.
Centro de Ensino à Distância 22

 Competência Linguística
Por outro lado, a competência linguística refere-se à capacidade de usar
conscientemente as diversas estruturas da língua. Na óptica de
CHOMSKY, competência linguística é a capacidade que o falante tem
de a partir de um número finito de regras, produzir um número infinito
de frases.

2.2 Sub competências


É igualmente importante referenciar outros tipos de competências, as
chamadas Sub competências linguísticas. Aqui destacam-se:

 Competência Metalinguística
Esta competência refere-se à capacidade de usar conscientemente certas
características habitualmente inconscientes (por exemplo, através de
jogos de palavras) para ensinar a própria língua.

 Competência Textual
A competência textual recai no domínio da escrita. Esta competência
refere-se à capacidade de compreender e interpretar textos de acordo
com o contexto social ou situacional.

É importante entender que, para existir a competência comunicativa, é


antes preciso existir competência linguística, metalinguística e a
textual. Portanto, há aqui uma relação dialéctica entre as competências.

2.3 Noções de Gramática, Tipos de Gramática e Universais


Linguísticos
Ainda nesta senda de apresentação de alguns conceitos ligados à
linguística, vamos em seguida conhecer as noções dos seguintes
termos:

2.3.1 Noção de Gramática


A gramática é a descrição estrutural do funcionamento dos sistemas de
elementos de uma linguagem particular, portanto, beneficia da
Centro de Ensino à Distância 23

investigação linguística, abrange as grandes da língua e deve permitir


uma difusão adequada dos conhecimentos alcançados no campo teórico
e na aplicação a essa língua.

O termo gramática é muito frequente em linguística e didáctica das


línguas que encerra várias acepções, tendo surgido por isso expressões
lexicalizadas como gramática interiorizada e pares de opostos como
gramática prescritiva/gramática descritiva, gramática/vocabulário,
gramática tradicional/gramática generativa.

2.3.2 Tipos de Gramáticas


Sendo efectivamente muitas as acepções possíveis para o termo
gramática, apresentamos e definimos as quatro acepções mais utilizadas
em linguística e didáctica das línguas:

 Gramática Tradicional
A gramática tradicional faz a descrição do funcionamento da
morfologia e da sintaxe de uma língua. Radica na tradição greco-latina
de compreensão da língua enquanto conjunto de regras que durante
séculos se resumiram ao funcionamento da morfologia e da sintaxe.

A esta acepção de gramática associa-se também a noção de gramática


normativa, uma vez que o ensino que se fazia da gramática tradicional
tinha como pressuposto a transmissão das regras de bem falar e bem
escrever. Neste conceito de gramática está subjacente à oposição
frequente nos manuais escolares entre gramática e vocabulário ou
léxico, sendo que a gramática é assim entendida como o conjunto de
regras que dão estrutura aos inventários abertos de palavras contidas no
vocabulário.

 Gramática Prescritiva ou Normativa


A gramática prescritiva é um instrumento de regulamentação do
comportamento linguístico que consiste na prescrição de regras para o
bem falar e bem escrever. É o tipo de conhecimento e informação
Centro de Ensino à Distância 24

contidos em prontuários e gramáticas escolares mais antigas, em que se


destaca a noção de erro como corrupção da língua, em que se adopta
uma atitude conservadora em relação à mudança e evolução linguística
(novamente encarada como erro e deturpação) e em que se privilegia o
estudo do funcionamento dos textos escritos em detrimento dos orais e,
dentro destes, da norma literária. É a acepção mais adoptada no ensino
de línguas.

A gramática normativa radica num conceito de norma que é


sociolinguisticamente entendido como sendo a elevação de uma
variante dialectal a variante de prestígio por motivações que não são
linguísticas, mas sim políticas, económicas e sociais. A linguística
moderna veio assim legitimar e valorizar a descrição gramatical do
funcionamento de outras línguas e dialectos não prestigiados,
permitindo desta forma um tratamento linguístico sobre outras
gramáticas.

 Gramática Descritiva
Gramática Descritiva tem a ver conhecimento descritivo do sistema e
do funcionamento de uma língua. Abordagem que estuda e procura
explicar os desvios e variações observadas num dado corte espácio-
temporal de uma língua. Tal descrição assenta na distinção entre língua
(competência linguística, no sentido dado por Noam Chomsky, ou
conhecimento interiorizado pelo falante) e fala (performance ou
actualização dessa competência linguística); entre modo escrito e modo
falado da língua, com primado do oral sobre o escrito; entre sincronia
(estudo da língua num determinado tempo-espaço) e diacronia (estudo
da língua ao longo do tempo), compreendendo a mudança linguística
como parte do processo natural de evolução e vitalidade das línguas.
Nesta acepção de gramática adopta-se o uso que é feito pelos falantes
da língua como critério e não a regra cristalizada nas gramáticas
escolares.
Centro de Ensino à Distância 25

Há também uma separação muito clara entre objectivos de descrição


gramatical e juízos avaliativos de ordem sociocultural ou estética, pelo
que todos os textos e discursos são passíveis de serem estudados e
analisados e não apenas o texto literário.

Esta noção está associada a uma visão mais moderna e científica do


estudo da linguagem, pelo que a ela se têm vinculado algumas correntes
da linguística, sendo por isso possível encontrar expressões como
gramática de valências ou gramática generativa.

 Gramática Interiorizada (Competência)


Gramática Interiorizada (Competência) incorpora o sistema de regras e
elementos, interiorizados e tornados inconscientes no cérebro do
falante, que presidem ao funcionamento de uma língua, e que lhe
permitem decidir sobre a boa ou má formação de uma palavra ou frase,
que lhe permitem identificar um enunciado como pertencente à língua
falada pela comunidade em que se insere, ou ainda que lhe permitem,
por exemplo, reconhecer sequências de sons e atribuir-lhes significado
num contínuo sonoro de fala.

Esta acepção radica na definição de competência linguística, proposta


por Noam Chomsky, que opunha a performance e que representou um
alargamento teórico a respeito da dicotomia língua/fala proposta por
Ferdinand de Saussure.

Atenção:
Uma gramática assim concebida diferencia-se da gramática normativa
que procura regular o bom uso da língua, motivo pelo qual apresenta
graves lacunas relativamente à descrição da linguagem que os falantes
realmente utiliza (por se reportar sempre a um modelo conservador) e
não toma em consideração as análises explicativas do funcionamento
das estruturas linguísticas.
Centro de Ensino à Distância 26

2.3.3 Universais Linguísticos


Escondidas sob a aparente diversidade das línguas, existem
propriedades comuns, que definem o que é a linguagem humana, ou, se
quisermos, o que é uma língua natural possível. São essas propriedades
que os linguistas têm designado universais linguísticos.

Uma propriedade candidata a característica nuclear da linguagem


humana é a generatividade. As línguas naturais usam um elenco
mínimo de unidades (os sons significativos de cada língua) para formar
unidades maiores (os morfemas e as palavras) e usam estes últimos para
formar expressões e frases a que não é possível, teoricamente, atribuir
um limite máximo – ou seja, é impossível dizer qual é a frase mais
comprida de uma língua, porque é sempre possível torna-la mais
comprida.

Sumário
Quando fazemos estudos linguísticos, é inevitável reflectir sobre as
competências. Em síntese, competência é a capacidade, a aptidão que
um indivíduo tem de realizar “bem” uma determinada actividade.
Podemos distinguir competência comunicativa da competência
linguística.

Na primeira faz-se referência à capacidade de usar a língua de acordo


com a situação e local onde o falante se encontra, variando o seu
discurso consoante seja necessário para se fazer entender através dos
vários níveis de língua; a segunda refere-se à capacidade de usar
conscientemente as diversas estruturas da língua. Na óptica de
CHOMSKY, competência linguística é a capacidade que o falante tem
de a partir de um número finito de regras, produzir um número infinito
de frases.

A gramática é a descrição estrutural do funcionamento dos sistemas de


elementos de uma linguagem particular, portanto, beneficia da
investigação linguística, abrange as grandes da língua e deve permitir
Centro de Ensino à Distância 27

uma difusão adequada dos conhecimentos alcançados no campo teórico


e na aplicação a essa língua.

Sobre os tipos de gramática é importante reter que existem três tipos:


gramática tradicional, gramática prescritiva ou normativa e a gramática
descritiva e gramática interiorizada (que tem muito a ver com
competência).

Sobre universais linguísticos deves ter compreendido que a


pressuposição é que existem propriedades universais na linguagem
humana que permitiriam a obtenção de importantes e profundos
entendimentos sobre a mente humana.

Exercícios
1. Atribua o valor de falso [F] e verdadeiro [V] para as afirmações
abaixo e justifica cada escolha feita.
 Quando um indivíduo de classe intelectual mantém seu nível de
linguagem perante um indivíduo de classe baixa trata-se de
competência linguística. [ ]
 Quando fazemos o uso adequado dos vários recursos
linguísticos estamos perante metalinguística. [ ]
 A habilidade de compreender e interpretar textos tendo em conta
a maneira de falar da comunidade linguística tem a ver com a
competência textual. [ ]
2. Faça uma breve síntese sobre os tipos de gramática existente.
3. Explique conceito de universais linguístico. Dê exemplo prático.
4. Da lista que se segue indique os que pensa que não constituem
universais linguísticos. Justifique.
a. Sistemas escritos;
b. Formas arbitrariamente associadas e significados;
c. Prefixos;
d. Pronomes;
e. Palavras que referem grau de parentesco (pais, irmãos, sogros,
cunhados, etc.).
Centro de Ensino à Distância 28

Unidade 03: Origem da Linguagem

Introdução
Nesta unidade vamos introduzir um conteúdo ligeiramente diferente.
Vamos debruçar sobre a linguagem humana. Ao longo desta unidade
vais poder conhecer o panorama histórico sobre a origem da linguagem
humana e as principais teorias filosóficas. O conhecimento da história
da linguagem humana vai permitir um amplo conhecimento das
particularidades das línguas faladas no mundo.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Indicar as três principais teorias filosóficas que explicam o


surgimento da linguagem;
 Descrever a evolução da linguagem humana.
Objectivos

3.1 Teorias Filosóficas da Linguagem


Sobre a origem da linguagem verbal, é uma questão controversa, visto
que tem levado debates e propostas de muitos linguistas sem no entanto
chegarem a um consenso comum. Existem diversas teorias filosóficas
sobre a origem da linguagem verbal, a destacar:

I. A linguagem é de origem divina (dom de Deus), que defende


que" ainda não foi proposta nenhuma teoria aceitável que
explica satisfatoriamente a faculdade que o homem tem de falar,
ou seja a linguagem sem a existência de um criador." Houve
“experiências” lendárias em que se isolaram crianças na
esperança de as primeiras palavras que articulassem revelariam
a língua original. As crianças aprenderam a língua que se lhes
fala; se não ouvirem falar, também não falarão. Casos concretos
de crianças socialmente isoladas mostram que a linguagem se
desenvolve apenas quando se verifica contacto linguístico
suficiente.
Centro de Ensino à Distância 29

II. A linguagem é de invenção humana, cujo defensor é o filósofo


grego Platão, dizia que não foi Deus que atribuiu a faculdade de
falar aos homens, mas sim o “legislador” que atribuiu nomes
verdadeiros a todas as coisas. Mais adiante dizia que, não é todo
homem que pode dar nome, mas sim o criador de nomes que é o
Legislador.

III. Linguagem como um conhecimento natural, que dizia que o


homem tem a capacidade para aprender (adquirir) a língua e já
nasce com esta capacidade inata, o que significa que a
capacidade para falar uma língua é inata. Noam Chomsky,
defende que ninguém ensina uma criança a falar, ela nasce com
uma capacidade para por si só, poder falar. Chomsky, diz ainda
que a criança nasce com LAD (Language Acquisition Device),
que é o mecanismo de aquisição de linguagem, que faz com que
ela fale. Herder considerou que a linguagem e o pensamento são
inseparáveis e que, o homem nasce com uma capacidade para
desenvolver o pensamento e a fala.

IV. Teoria monogenética, dizia que, assim como o homem nasceu


de um só, as línguas também surgiram duma única, que depois
sucedeu famílias linguísticas.

Atenção:
Não existe uma teoria aceitável que explique satisfatoriamente sobre a
origem do homem, do universo também não existe uma teoria que
explique satisfatoriamente sobre a origem da linguagem.

3.2 Evolução da Linguagem


A curiosidade sobre nós próprios e sobre o nosso dom mais invulgar – a
linguagem – tem-nos também conduzido a inúmeras teorias sobre a
origem e evolução da linguagem. Nada nos permite “aprovar” ou
“negar” essas hipóteses embora possam contribuir para a descoberta da
natureza da linguagem.
Centro de Ensino à Distância 30

Biológicos e linguistas mostram hoje em dia um interesse renovado na


questão da origem da linguagem. Várias teorias evolucionistas
propostas recentemente opõem-se quer à teoria da origem divina quer à
da invenção. Sugere-se, de facto, que no decurso da evolução tanto as
espécies humanas como a linguagem desenvolveram-se.

Alguns estudiosos defendem a ideia que esse desenvolvimento ocorreu


simultaneamente e que, desde o início, o animal humano estava
preparado para aprender a linguagem. Na realidade, há quem acredite
que é a linguagem que torna humana a natureza humana.

Estudos sobre o desenvolvimento evolucionário do cérebro apontam no


sentido da existência de condições prévias de carácter fisiológico,
anatómico e “mental” que permitem o desenvolvimento linguístico.

Sumário
Para resumirmos esta unidade importa referenciar que, no geral,
existem diversas teorias filosóficas sobre a origem da linguagem verbal.

Nesta unidade destacamos as quatros teorias mais sonantes nos estudos


linguísticos: a primeira justifica a origem da linguagem humana por
conta da força divina; a segunda, sustenta a ideia de que a intervenção
do homem foi fundamental; a terceira teoria, afirma que a linguagem
humana resulta do conhecimento natural; e a quarta, a monogenética
defende que a linguagem humana surgiu duma única língua.

É importante salientar que das teorias acima apresentadas não existe


uma teoria modelo que explique satisfatoriamente este dilema. Falar da
origem da linguagem é mesmo que falar da origem do universo e da
origem do homem.
Centro de Ensino à Distância 31

Exercícios
Com base nas informações acima explanadas, responda com categoria
as seguintes questões:
1. Considerando as teorias: origem divina, invenção humana,
conhecimento natural e a teoria monogenética, qual é o que satisfaz
a sua convicção individual? Explique-se.
2. Qual foi a influência de Chomsky para os estudos da linguagem
humana?
3. Faça uma breve síntese sobre a evolução da linguagem humana.
4. Invente a sua própria teoria sobre a origem da linguagem humana.
Poderá por exemplo sugerir que a linguagem nasceu quando
criaturas extra-terrestres que já tinham linguagem possuíram os
corpos das mulheres das cavernas…
Centro de Ensino à Distância 32

Unidade 04: Características Básicas da Linguagem Humana

Introdução
Ainda sobre a linguagem humana, vais nesta unidade poder
compreender a diferença entre a linguagem humana da linguagem não
humana. Nesta vertente vamos aprofundar o conhecimento de algumas
componentes básicas da linguagem humana. Esperamos que com estes
conhecimentos você possa ter uma noção clara da importância que tem
o estudo da linguagem humana para a comunicação dos seres humanos.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Diferenciar humana da linguagem não humana;
 Indicar algumas componentes básicas da linguagem humana:
código, sinais, índices e conhecimento linguístico.
Objectivos

4.1 Linguagem humana vs. Linguagem Não-humana (diferenças)


Para compreenderes com alguma facilidade as diferenças que existem
entre a linguagem humana e da linguagem não-humana deves ter na
mente que existem uma certa semelhante destes conceitos com os
códigos linguísticos e não-linguísticos.

Por exemplo, os códigos linguísticos são usados pelos humanos – usam


a palavra articulada, quer por via escrita, quer por via oral, e os códigos
não­linguísticos, que também são usadas pelos humanos e não
humanos, não usam a palavra articulada: são os casos de sinais, sons,
desenhos, para os humanos e para os não-humanos, as "linguagens" dos
animais (dança das abelhas, etc.).

4.2 Algumas Componentes da Linguagem Humana


A linguagem humana compõe-se por: linguagem verbal, que se
manifesta através da escrita e fala e linguagem não-verbal, que se
manifesta através de símbolos, de gestos e pelos códigos não-
linguísticos.
Centro de Ensino à Distância 33

O Homem quando usa a língua para se comunicar está usando os


códigos pertencentes à sociedade na qual se insere, usa sinais, índices e
necessita de certo conhecimento da língua.

 Códigos conjunto de sinais vocais ou visuais que permitem a


comunicação dos membros duma dada sociedade. Ex: linguagem da
estrada; dos autistas; linguagem jurídica, médica e científica. Os
códigos pela sua natureza, dividem-se em sinais e índices.

 Sinais, factos produzidos artificialmente que têm como objectivo a


intenção de comunicar. Ex: A bandeira vermelha numa praia,
franzir a testa, placas de sinalização nas estradas.

 Índices, factos perceptíveis que transmitem alguma mensagem,


embora não tenham intenção de comunicar. Ex: nuvens negras no
céu; as pegadas.

A diferença que existe entre os termos acima, é que enquanto os sinais,


são factos artificiais (produzidos pelo homem), os índices em algum
momento são naturais. Todos estes elementos fazem parte de um
código.

A principal característica das linguagens humana e animal é o aspecto


criativo, enquanto o homem pode criar o animal não pode. O alfabeto
grego contem vinte e seis sons, que a partir dos quais podemos formar
palavras obedecendo certas regras, e daí podemos formar as unidades
maiores (frases). Sendo assim, admite-se que o homem tem o
conhecimento linguístico.

Conhecimento linguístico, consiste no conhecimento de um gama


finita de palavras e na capacidade de juntá-las para produzir um número
infinito de frases. A este processo que o Homem tem de combinar uma
gama finita de palavras para formar frases segundo certas regras
denomina-se dupla articulação.
Centro de Ensino à Distância 34

Sumário
Em resumo podes ficar com a informação de que a linguagem humana
utiliza os códigos linguísticos (palavras escrita e oral). A linguagem
não-humana recorre somente aos sinais, sons, desenhos para a
comunicação. O homem também usa a linguagem não-humana.

O Homem quando usa a língua para se comunicar está usando os


códigos pertencentes à sociedade na qual se insere, usa sinais, índices e
necessita de certo conhecimento da língua.

Exercícios
Com alto sentido académico, responda as questões que se seguem:
1. Identifique os tipos de linguagem que conhece.
2. Diga qual é a principal característica básica da linguagem humana,
e debruce sobre ela.
3. Conceptualize os termos, códigos, sinais e índice, e de seguida
apresente um exemplo para cada termo.
4. Explicite a principal diferença existente entre o processo de
comunicação nos homens e nos animais. De exemplos concretos.
5. Identifique os tipos de comunicação efectuadas entre as abelhas e
de seguida estabeleça a(s) diferença(s) entre as mesmas.
Centro de Ensino à Distância 35

Unidade 05: O Signo Linguístico

Introdução
Nesta unidade vamos conhecer o conceito de signo linguístico, a sua
funcionalidade dentro dos estudos linguísticos. Ainda relacionado com
o signo linguístico, vamos nesta unidade compreender o papel e a
influência de Ferdinand SAUSSURE, linguista e filósofo. Sobre
SAUSSURE, vamos estudar algumas das suas famosas dicotomias.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Definir signo linguístico;
 Indicar o principal precursor da teoria do signo linguístico;
 Anunciar as principais dicotomias emanadas por Ferdinand
Objectivos
SAUSSURE.

5.1 O Signo Linguístico: a Teoria do Signo Linguístico


O signo linguístico corresponde ao elemento comunicacional que
resulta da união entre um conceito (significado) à uma imagem acústica
(significante). O signo linguístico é um elemento comunicacional
bastante crucial em qualquer sociedade que seja, porque os falantes dela
dependem para se comunicar diariamente.

O signo linguístico divide-se em signo linguístico vs. não-linguísticos.


 Signo linguístico, quando se usa a palavra articulada para se
comunicar. Ex: Arroz, leão, casa etc., corresponde à qualquer
palavra articulada em qualquer língua.
 Signo não-linguísticos acontece quando não se usa a palavra
articulada, é o caso de gestos, códigos de estrada, linguagem dos
autistas (surdo-mudo) entre outros.
Centro de Ensino à Distância 36

A teoria do signo linguístico foi descrito por Ferdinand Saussure1, em


seu livro Cours de la Linguistique Generale2, em 1972. Na sua obra,
Saussure concebeu signo linguístico como uma combinação de um
conceito com uma imagem sonora. Uma imagem sonora é algo mental,
visto que é possível a uma pessoa falar consigo própria sem mover os
lábios. Mas em geral, as imagens sonoras são usadas para produzir uma
elocução.

Quais são então as características da teoria do signo linguístico? De um


modo geral, o signo linguístico apresenta cinco características, a saber:
(i) O signo linguístico é dotado de um conceito (significado) e uma
imagem acústica (significante) isto é; une em significado à um
significante. Ex: significado (ideia de laranja) e significante (a
expressão fónica ou o conjunto de elementos de constituem esta
palavra soletrada);
(ii) Outra característica é que a relação entre significado vs. significante
é meramente de arbitrariedade. Ex: Os significados laranja, ou ovo
são idênticos em todas as línguas do mundo, mas o significante, que
é a expressão fónica, varia de língua para língua;
(iii)O enunciado ou signo linguístico realiza-se no tempo, isto é; os
falantes de qualquer língua não conseguem proferir as palavras
numa frase ao mesmo tempo, há momentos sucessivos para tal;
(iv) O signo linguístico é diferencial, isto é, um significante é igual a um
significado e nunca mais ou menos. O termo árvore é sempre aquela
árvore que o ser humano tem em mente e nunca mais ou menos; e
finalmente
(v) O signo linguístico pertence ao sistema que constitui a língua, isto
é; cada signo somente tem valor quando se opõe ao(s) outro(s). Ex:
fone vs. cone e loja vs. Lona.

1
Ferdinand de Saussure (Genebra, 26 de Novembro de 1857 – Morges, 22 de
Fevereiro de 1913) foi um linguista e filósofo suíço cujas elaborações teóricas
propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência e desencadearam o
surgimento do estruturalismo. Além disso, o pensamento de Saussure estimulou
muitos dos questionamentos que comparecem na linguística do século XX.
2
Curso de Linguística Geral.
Centro de Ensino à Distância 37

Para compreenderes melhor, veja a figura abaixo que ilustra claramente


a relação que se pode fazer entre o significado e o significante:

Figura 1 – Signo Linguístico (relação significado e significante)

Ou seja, um signo consiste em:


 Um conceito - ou seja, o significado (signifié); aquilo que a
imagem representa na realidade prática; e
 Uma imagem sonora - ou seja, o significante (signifiant); a
forma fonológica em termos generativos.

Ao pensarmos na linguagem verbal, tendo a língua como código, os


signos linguísticos são, então, os responsáveis pela representação das
ideias, sendo esses signos as próprias palavras que, por meio da fala ou
da escrita, associamos a determinadas ideias.

Pode-se, assim, afirmar que os signos linguísticos apresentam dois


componentes: uma parte material (o som ou as letras) - o significante;
outra parte abstracta (a ideia) - o significado.

Sumário
Como podes depreender, nesta unidade passamos para uma intervenção
mais detalhada do fenómeno linguístico, contrariamente ao que
estávamos a fazes nos capítulos anteriores. Falamos com algum detalhe
o funcionamento do signo linguístico e o que ele representa para os
estudos linguísticos. Em síntese podemos conceber signo linguístico:
Centro de Ensino à Distância 38

O signo linguístico constitui-se numa combinação de significante e


significado, como se fossem dois lados de uma moeda.
o O significante do signo linguístico é uma "imagem acústica"
(cadeia de sons). Consiste no plano da forma.
o O significado é o conceito, reside no plano do conteúdo.

Contudo, indubitavelmente, a teoria do valor é um dos conceitos


cardeais do pensamento de Saussure. Sumariamente, esta teoria postula
que os signos linguísticos estão em relação entre si no sistema de
língua. Entretanto, essa relação é diferencial e negativa, pois um signo
só tem o seu valor na medida em que não é um outro signo qualquer:
um signo é aquilo que os outros signos não são.

Em termos sumários, um signo linguístico é toda unidade portadora de


sentido. Os signos são entidades em que sons ou sequências de sons -
ou as suas correspondências gráficas - estão ligados com significados
ou conteúdos. (...) Os signos são assim instrumentos de comunicação e
representação, na medida em que, com eles, configuramos
linguisticamente a realidade e distinguimos os objectos entre si.

Exercícios
Assim que já falamos muito sobre o signo linguístico, acreditamos que
já estas em condições para responder às duas questões que se seguem
acerca do signo linguístico.
1. Conceptualize o termo signo linguístico e apresente um exemplo de
tipo de signo linguístico.
2. Sobre as características do signo linguístico, fale do significado vs.
significante e do fenómeno arbitrariedade do signo linguístico.
3. Apresente três (3) características do signo linguístico. Ao fazeres a
menção deles, não te esqueça de trazer exemplos práticos que
possam consubstanciar as suas ideias.
Centro de Ensino à Distância 39

Unidade 06: Competência/Performance e Língua/Fala

Introdução
Para esta unidade abordaremos sobre a competência e a performance
linguísticas e a relação dos fenómenos língua e fala. Como podes ver,
vamos dar sequência a interiorização das temáticas fundamentais na
cadeira de linguística geral.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Definir competência e performance linguísticas;
 Diferenciar competência da performance;
 Conhecer os factores de que dependem a performance;
Objectivos
 Diferenciar as dicotomias entre língua e fala

6.1 Distinção entre Competência Linguística e Performance


Se voltares até a segunda unidade deste módulo, poderás constatar que
já apresentamos algumas reflexões sobre a competência linguística.
Vamos nesta unidade voltar a falar dela mas numa outra vertente:
relacionando com uma outra componente dos estudo linguísticos – a
performance. Assim, para melhor contextualizar, vamos de novo
apresentar o respectivo conceito.

Designa-se por competência linguística ao conhecimento implícito que


o locutor tem da gramática da sua língua. Este conhecimento implícito
é o conhecimento que ninguém ensina ao locutor, é de carácter
inconsciente, porque ele possui um Dispositivo de Aquisição
Linguística, conhecido por LAD. Com efeito, logo que ele nasce
através do dispositivo de aquisição linguística, vai adquirindo a língua
da sociedade na qual está inserido.

Quanto à performance, é a utilização real em situações concretas da


competência de indivíduo. Ela depende dos factores socioculturais, da
fadiga e atenção ao tema.
Centro de Ensino à Distância 40

A competência linguística difere da performance em aspecto seguinte:


 Enquanto a competência linguística é estática nos indivíduos a
performance é variável. A competência linguística permite que
cada um dos falantes de uma determinada língua reconheça se
as frases são ou não da nossa língua e se são gramaticais ou
agramaticais.

Com feito, considera-se frases gramaticais as que respeitam


todas as componentes gramaticais, e agramaticais quando não
respeitam nenhuma das componentes da gramática.

6.2 Distinção entre Língua vs. Fala


Ao falarmos da competência linguística, da competência comunicativa,
da performance, ou um outro elemento dentro dos estudos linguísticos,
temos que ter em conta que estes instrumentos de medição linguística
recaem num elemento fundamental para a comunicação: a língua.

Neste tópico vais compreender o significado que a língua tem enquanto


instrumento de comunicação. Nesta fase a abordagem que fazemos não
concebemos a língua como uma componente do organismo
(biologicamente), mais sim como um factor de comunicação. As
referências que aqui fazemos sobre a língua são comparadas a um outro
elemento muito importante na comunicação humana: a fala.

Designa-se língua ao património comum pertencente à uma dada


comunidade linguística.

Para SAUSSURE, a língua é um sistema de valores que se opõem uns


aos outros e que está depositado como produto social na mente de cada
falante de uma comunidade. Ela possui homogeneidade e por isto é o
objecto da linguística propriamente dita. A língua é um factor social.
Centro de Ensino à Distância 41

Diferente da fala que é um acto individual e está sujeita a factores


externos, muitos desses não linguísticos e, portanto, não passíveis de
análise. A diferença existente entre estes dois termos é que enquanto a
língua apresenta um carácter de colectividade, a fala apresenta um
carácter individual.

Sumário
Em resumo podemos definir competência linguística como o
conhecimento implícito que o locutor tem da gramática da sua língua.
Ela é estática nos indivíduos e permite que cada um dos falantes de uma
determinada língua reconheça se as frases são ou não da nossa língua e
se são gramaticais ou agramaticais.

A performance linguística é a utilização real em situações concretas da


competência de indivíduo. Ela é variável.

Língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está
depositado como produto social na mente de cada falante de uma
comunidade. A fala é a realização concreta da língua; é um acto
individual e está sujeita a factores externos.

Exercícios
Se a leitura que fizeste foi totalmente compreendida, responda:
1. Estabeleça a(s) diferença(s) entre a competência e a performance.
2. Justifique a frase “a competência linguística é estática nos
indivíduos a performance é variável”.
3. Conceptualize os termos língua e fala e, em seguida, apresente dois
exemplos para cada um dos termos.
4. Porquê é que consideramos a língua como um factor social e a fala
não?
5. Segundo Saussure, “diferente da fala, a língua possui
homogeneidade”. Com base nos conhecimentos que possuis,
explique esta posição apresentada por Ferdinand de Saussure.
Centro de Ensino à Distância 42

Unidade 07: Introdução à Fonética

Introdução
A partir desta unidade vamos mais uma vez mudar a nossa linha de
abordagem. Vamos sim para a focalizar a nossa atenção para as
componentes da gramática referidas na primeira unidade deste manual.
Portanto nesta unidade vais poder compreender algumas ocorrências
dentro da fonética, saberás definir o conceito de fonética, as suas
vertentes, o aparelho fonador (responsável pela produção dos sons da
fala), os seus órgãos bem como a localização destes no aparelho
fonador. Sobre a localização e função das componentes do aparelho
fonador, trazemos uma figura que será composta por todos as
componentes deste aparelho, e posteriormente apresentamos as funções
de cada órgão para a produção dos sons.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Definir e indicar a importância da Fonética;
 Identificar as componentes da fonética;
 Conhecer os órgãos do aparelho fonador e os mecanismos que
Objectivos
intervêm na produção de sons fala humana;
 Conhecer a localização e função de cada órgão do aparelho
fonador;

7.1 Princípios e Importância da Fonética;


Na construção de uma língua é preciso, em primeiro lugar, pensar em
fonologia e fonética, ou seja, saber o que são e como tratar os sons.
Então qual é a diferença entre fonologia e fonética? Bom, a fonologia
estuda o comportamento dos sons e dos fonemas numa língua, enquanto
a fonética estuda os sons e ecos fonemas (incluindo a sua evolução) ou
por outra, é o estudo dos sons da fala desde a sua produção da parte do
emissor e da sua percepção, da parte do receptor.
Centro de Ensino à Distância 43

7.2 Fonética Articulatória, Acústica e Auditiva


A fonética sendo o estudo dos sons da fala, divide-se em três
componentes, que são:
 Fonética articulatória, que se dedica a parte articulatória,
envolvendo os articuladores (órgãos do aparelho fonador);
 Fonética física, que estuda os sons da fala como fenómenos
físicos e
 Fonética auditiva ou perceptiva, que se dedica ao estudo das
reacções do som ao ouvido do receptor.

7.3 O Aparelho Fonador e o seu Funcionamento


Para que se produzam os sons que caracterizam a fala humana são
necessárias três condições:
 Corrente de ar;
 Obstáculo à corrente de ar;
 Caixa de ressonância;
 O que se traduz no aparelho fonador humano:

Os órgãos do aparelho fonador são os seguintes:


 Pulmões
 Traqueia
 Laringe (cordas vocais e glote)
 Lábios
 Dentes
 Alvéolos
 Palato duro
 Palato mole (véu palatino e úvula)
 Parede rinofaríngea
 Ápice da língua
 Raiz da língua

A figura abaixo ilustra detalhadamente os componentes do aparelho


fonador humano.
Centro de Ensino à Distância 44

Figura 2 – Órgãos do Aparelho Fonador Humano

Os pulmões, brônquios e traqueia - são os órgãos respiratórios que


permitem a corrente de ar, sem a qual não existiriam sons. A maior
parte dos sons que conhecemos são produzidos na expiração, servindo a
inspiração como um momento de pausa; no entanto, há línguas que
produzem sons na inspiração, como o Zulo e o Boximane - são os
chamados cliques.

A laringe onde ficam as cordas vocais determina a sonoridade (a


vibração das cordas vocais) dos sons. A faringe, boca (e língua) e as
fossas nasais - formam a caixa de ressonância responsável por grande
parte da variedade de sons.

Olhemos por um momento para o esquema do aparelho fonador antes


de seguir o percurso do ar na produção de sons.

Figura 3 – Esquema do Aparelho Fonador Humano


Centro de Ensino à Distância 45

Ao expirar, os pulmões libertam ar que passa pelos brônquios para


entrar na traqueia (1) e chegar à laringe (2). Na laringe o ar encontra o
seu primeiro obstáculo: a glote (3) (mais ao menos ao nível da maçã-
de-adão3), mais conhecida como cordas vocais. Semelhantes a duas
pregas musculares, as cordas vocais podem estar fechadas ou abertas:
se estiverem abertas, o ar passa sem real obstáculo, dando origem a um
som surdo; se estiverem fechadas, o ar força a passagem fazendo as
pregas muscular vibrar, o que dá origem a um som sonoro.

Para se perceber melhor a diferença, experimente-se dizer "k" e "g"


(não "kê" ou "kapa", nem "gê" ou "jê"; só os sons [k] e [g]) mantendo
os dedos na maçã-de-adão. No primeiro caso não se sentirá vibração,
mas com o "g" sentir-se-á uma ligeira vibração - cuidado apenas para
não se dizerem vogais, pois são todas sonoras.

A distinção entre surda e sonora pode ser muito bem percebida na


pronúncia de duas consoantes que no mais se identificam. Assim: /p/ pé
(= surdo); /b/ bé (= sonoro) /t/ tê (= surdo); /d/ dé (= sonoro).

Depois de sair da laringe (2), o ar entra na faringe (4) onde encontra


uma encruzilhada: primeiro a entrada para a boca (5) e depois a para as
fossas nasais (6). No meio está o véu palatino (7) que permite que o ar
passe livremente pelas duas cavidades, originando um som nasal; ou
que impede a passagem pela cavidade nasal, obrigando o ar a passar
apenas pela cavidade bucal - resultando num som oral.

A corrente expiratória, ao sair da laringe, entra na cavidade da faringe


que lhe oferece duas vias de acesso ao exterior o canal bucal e o nasal
com a finalidade de determinar o som oral (= bucal) e o som nasal (=

3
Também chamada de gogó no Brasil, é uma saliência da cartilagem tiróide, existente
abaixo do osso hióide, junto à laringe, no pescoço humano, um dos órgãos envolvidos
no processo de fala. Esse crescimento é maior nos indivíduos do sexo masculino, pela
maior presença de hormónios masculinos, principalmente a testosterona.
Centro de Ensino à Distância 46

nasal). Veja a pronúncia das vogais: /a/ (oral), /ã/ (nasal) Conforme as
palavras: /a/ lá (oral), /ã/ lã (nasal) /a/ mato (oral), /ã/ manto (nasal).
A diferença é óbvia: compare-se o primeiro "a" em "Ana" com o de
"manta". A primeira vogal é oral e a segunda é nasal. Por fim, o ar está
na cavidade bucal (a boca) que funciona como uma caixa de
ressonância onde, usando os maxilares (8), as bochechas e,
especialmente, a língua (9) e os lábios (10), podem modular-se uma
infinidade de sons.

7.4 O Alfabeto Fonético Internacional (Transcrição Fonética)


A consciência da necessidade do estabelecimento de um sistema
notacional que obtivesse a aceitação geral por parte da comunidade
científica levou, no fim século antepassado, à proposta de um alfabeto
fonético único, por parte da Associação Internacional de Fonética: o
Alfabeto Fonético Internacional (AFI ou, mais vulgarmente, IPA, do
Inglês International Phonetic Alphabet).

Apesar das limitações, o IPA constitui hoje uma ferramenta básica para
qualquer estudo dos sons da linguagem, quer como sistema de notação
propriamente dito quer sistema de referência. É importante sublinhar
que uma transcrição 4 fonética é sempre uma representação simbólica,
necessariamente abstracta, que não se substitui às realizações sonoras
propriamente ditas, mas apenas descreve um conjunto de propriedades
que as caracterizam.

Além das próprias letras, existe uma grande variedade de símbolos


secundários que auxiliam na transcrição. Os sinais diacríticos podem
ser combinados às letras do AFI de maneira a transcrever os valores
fonéticos modificados, ou articulações secundárias.

4
Existem duas maneiras de utilizar os caracteres do alfabeto fonético internacional
para transcrever um determinado idioma: pode-se representar os fonemas, através da
transcrição fonológica (que transcreve os caracteres entre barras) e a transcrição
fonética, que representa os sons dos fonemas (e costuma transcrever os caracteres
entre colchetes).
Centro de Ensino à Distância 47

Existem também símbolos especiais para características supra-


segmentais, como tonicidade e entonação, que são utilizados com
frequência.

Símbolos e Diacríticos do AFI (exemplo do Português)


AFI Ortografia Transcrição Fonética
(IPA)
acento principal ' café [kɐ'fɛ]
acento secundário ˌ cafezinho [kɐˌfɛ'ziɲu]
nasalização ~ fim; menta [fĩ]; ['m tɐ]
velarização ̴ sal; salta, Elvas [saɫ]; ['saɫtɐ]; ['ɛɫvɐ]
̥ pato
desvozeamento ['patu̥]
Fonte: Faria, Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, p.125.

Alfabeto Fonético Internacional


AFI Ortografia Transcrição Fonética
(IPA)
Vogais i Fita ['fitɐ]
e pela ['perɐ]
ɛ seta ['sɛtɐ]
a cara ['karɐ]
ɐ cama ['kɐmɐ]
i que; se [ki]; [si]
ɔ corda ['kordɐ]
o mofo ['mofu]
u mudo ['mudu]

Semi-vogais j pai, piada [paj]; ['pjadɐ]


w pau, soalho [paw]; ['swaʎu]

Consoantes p papo ['papu]


t tia; fato ['tiɐ]; ['fatu]
k casa; baque ['kazɐ]; ['baki]
b barba ['barbɐ]
d data; arde ['datɐ]; ['ardi]
g gato; mago ['gatu]; ['magu]
f férias; bafo ['fɛrjɐʃ]; ['bafu]
Centro de Ensino à Distância 48

s selo; caça; passa ['selu]; ['kasɐ]; ['pasɐ]


ʃ chave; festas ['ʃavi]; ['fɛʃtɐ]
v vaca; cava ['vakɐ]; ['kavɐ]
z asa; azul; exacto ['azɐ]; [ɐ'zul]; [i'zatu]
ʒ jacto; agir; asma ['ʒatu]; [ɐ'ʒir]; ['aʒmɐ]
l lado; sala ['ladu]; ['salɐ]
ʎ folha; alho ['foʎɐ]; ['aʎu]
r caro; parva ['karu]; ['parvɐ]
R raiva; palra; carro ['Rajvɐ]; ['palRɐ]; ['kaRu]
m marca; turma ['markɐ]; ['turmɐ]
n neta; cena ['nɛtɐ]; ['senɐ]
ɲ unha; pinha ['uɲɐ]; ['piɲɐ]
Fonte: Faria, Introdução à Linguística Geral e Portuguesa, p.124.

Sumário
A fonética nos fornece os meios conducentes à descrição dos sons da
fala. Ela divide-se em três componentes: fonética articulatória, fonética
física e fonética auditiva ou perceptiva.

O aparelho fonador humano está composto pelos seguintes órgãos:


pulmões, traqueia, laringe (cordas vocais e glote), lábios, dentes,
alvéolos, palato duro, palato mole (véu palatino e úvula), parede
rinofarínge, ápice da língua, raiz da língua.

Exercícios
1. Com suas próprias palavras, apresente uma definição válida de
fonética.
2. Quais as principais componentes do aparelho fonador humano?
3. Como é que os sons da fala humana são produzidos?
4. Como os sons da fala são transmitidos?
5. Como os sons da fala são entendidos?
6. Localize e determine a função desempenhada pelos articuladores
activos na produção dos sons da fala.
Centro de Ensino à Distância 49

7. Tendo em conta as definições de CHOMSKS e HALLE (1968),


preencha as células da matriz seguinte indicando os valores + ou –
de cada traço para todos os segmentos.
p b f vm t d s z n ʃ ʒ ʎ ɲ K g r l
Soante
Silábico
Consonântico
Alto
Baixo
Recuado
Arredondado
Anterior
Coronal
Continuo
Estridente
Vozeado
Nazal
Lateral
Centro de Ensino à Distância 50

Unidade 08: Classificação dos Sons Linguísticos

Introdução
Na unidade anterior, estudaste os conceitos iniciais da fonética e
algumas das suas componentes. Vamos, ainda nesta unidade, continuar
a apresentar algumas noções fundamentais desta área de estudo. Desta
feita falaremos sobre a classificação dos sons da fala. Traremos ainda
nesta unidade alguns exercícios de transcrição fonética.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Descrever a classificação dos sons (consoantes, vogais e semi-
vogais);
 Fazer a transcrição fonética.
Objectivos

8.1 Classificação dos Sons Linguísticos


Para a classificação dos sons é preciso ter em mente três questões
importantes:
Como é que os sons são produzidos?
Como são transmitidos?
Como são entendidos?

Tradicionalmente, devido à complexidade óbvia na classificação


segundo a transmissão e a compreensão, a classificação dos sons
baseia-se essencialmente no modo como os sons são produzidos, ou
seja, na sua articulação. No entanto, em alguns pontos classificatórios
também se baseia no modo como são transmitidos, ou seja, na acústica.

Como este capítulo não pretende ser exaustivo, mas ajudar quem não
tem conhecimentos neste campo, tentarei ser o mais simples e clara que
for possível (mesmo que, para isso, simplifique demais a gramática).
Centro de Ensino à Distância 51

Os sons classificam-se segundo três categorias:


o Vogais – os sons produzidos sem obstáculo à passagem do ar na
cavidade bucal (apenas varia a abertura à passagem do ar
causada pelos maxilares, língua e lábios), e com vibração das
cordas vocais.
o Consoantes – os sons produzidos com obstáculo à passagem do
ar na cavidade bucal.
o Semivogais – dois sons, por exemplo, [j] e [w], que formam
uma sílaba com uma vogal - ditongos e tritongos. Pode-se dizer
que são quase "formas fracas" de [i] e [u], estando a meio-
caminho entre vogais e consoantes.

8.1.1 Classificação das Vogais


As vogais da língua portuguesa podem ser classificadas quanto:
 À região de articulação
o Palatais ou anteriores (língua elevada na zona do palato duro)
o Centrais ou médias (língua na posição de descanso)
o Velares ou posteriores (língua elevada na zona do véu palatino)

 Ao grau de abertura (elevação do dorso da língua em direcção ao


palato)
o Abertas (o maior grau de abertura à passagem do ar)
o Semi-abertas
o Semi-fechadas
o Fechadas (o menor grau de abertura à passagem do ar)

 Ao arredondamento ou não dos lábios


o Arredondadas
o Não-arredondadas

 Ao papel das cavidades bucal e nasal


o Orais
o Nasais
Centro de Ensino à Distância 52

8.1.2 Classificação das Consoantes


As dezanove consoantes da língua portuguesa podem ser classificadas
quanto:
 Ao Modo de Articulação - o ar encontra sempre obstáculo à sua
passagem:
o Oclusivas - quando os sons são retidos completamente na
cavidade bucal por certo período (o ar é interrompido
momentaneamente). Exemplo, na realização das consoantes [p];
[t]; [b]; [k]; [d].
o Constritivas - passagem do ar parcialmente obstruída, por
exemplo, na consoante [g].
o Fricativas - passagem do ar por uma fenda estreita no meio da
via bucal; som que lembra o de fricção. Ex: [f]; [v];[s];[z]; [ʃ] e
[ʒ].
o Laterais - passagem do ar pelos dois lados da cavidade bucal,
pois o meio encontra-se obstruído de algum modo.
o Vibrantes - caracterizadas pelo movimento vibratório rápido da
língua ou do véu palatino.
o Sibilantes - quando são articulados produzem um ruído
parecido com assobio. Ex: [ʒw] e [ʃ].
o Sons Retroflexos, acontece quando o ápice da língua se enrola
para a parte de trás dos alvéolos (palato duro). Estes sons
acontecem mais em língua inglesa nas palavras como; very e
summary.
o Líquidas - quando são produzidos há um envolvimento de
alguma obstrução lenta e livre na cavidade bucal. Esses sons
dividem-se em dois grupos:
a) Liquidas laterais; quando produzidos a parte anterior da
língua toca nos alvéolos, enquanto os lados estão em baixo,
permitindo a saída do ar lateralmente. Ex: [ɭ]; [ʎ]; [ɫ].
b) Líquidas vibrantes; quando produzidos há vibração da
úvula e da língua. Estes sons dividem-se em líquidas
vibrantes simples e múltiplas. As líquidas vibrantes simples,
Centro de Ensino à Distância 53

acontecem quando ocorre a vibração na região anterior da


língua, com um batimento nesta zona. Ex: [r].
c) As consoantes líquidas vibrantes múltiplas, que são
produzidas na região posterior da cavidade bucal com uma
ligeira vibração da úvula. Ex: [R].

 Ao Ponto ou Zona de Articulação – o local onde é feita a


obstrução à passagem do ar):
o Bilabiais ou bilabiais - contacto dos lábios superiores e
inferior. Ocorre normalmente na pronúncia das consoantes [p];
[b] e [m].
o Labiodentais - é o contacto dos dentes do maxilar superior com
o lábio inferior, por exemplo na pronúncia das consoantes [f] e
[v].
o Linguodentais ou Interdentais - aproximação ou contacto da
zona anterior à ponta da língua com a face interior dos dentes do
maxilar superior. Exemplo, na realização da consoantes [t] e [d].
o Alveolares - contacto da ponta da língua com os alvéolos no
maxilar superior. Exemplo, nas consoantes [l]; [n] e [r].
o Palatais - contacto do dorso da língua com o palato duro, ou
céu-da-boca, exemplo, na realização das consoantes [ʒ]; [ʃ] e
[ʎ].
o Velares - contacto da parte posterior da língua com o palato
mole, ou véu palatino, por exemplo, nas consoantes [l]; [n] e [r].
 Ao Papel das Cordas Vocais:
o Surdas (ausência de vibração das cordas vocais)
o Sonoras (vibração das cordas vocais)
 Ao Papel das Cavidades Bucal e Nasal:
o Orais (passagem do ar apenas pela cavidade bucal)
o Nasais (passagem do ar pelas cavidades bucal e nasal)
Centro de Ensino à Distância 54

8.2 Transcrição Fonética: Larga e Estreita


Bom, até aqui já vimos como são os sons produzidos de um modo
básico. Mas muitas questões estão ainda por resolver: por exemplo,
qual a diferença entre um "p" e um "k"? Onde e como são estes sons
produzidos? A resposta, no entanto, tem de ser um pouco adiada.
Primeiro é preciso estabelecer algumas noções relativas aos sons e à sua
transcrição para que uns não falem de "alhos" e outros entendam
"bugalhos"!

Para começar é preciso distinguir som de fonema. Se todos sabemos o


que é um som (ainda agora mesmo vimos como se produziam!), então o
que é um fonema? Um fonema é um elemento de significado, o mais
pequeno que existe numa palavra - e que quase se pode confundir com
um som! Repare-se nas seguintes palavras:
Saco Taco

Se não fosse pelo "s" e "t" iniciais, as palavras não se distinguiriam.


Assim, trata-se de duas unidades - representadas fisicamente pelo som
(tornam-se audíveis) - que representam uma ideia. E como se
distinguem sons de fonemas? Porque o som é representado entre
[parêntesis rectos] e o fonema entre /barras/, enquanto as letras são
representadas entre "aspas". Concluindo: nas palavras "saco" e "taco"
os sons [s] e [t], representados pelas letras "s" e "t", correspondem aos
fonemas /s/ e /t/. No entanto, o fonema /s/ pode também ser escrito com
"ss" ("assado"), com "ç" ("aço"), com "c" ("cerca"), ou com "x"
("próximo"); podendo ser realizado quer com o som [s], no português
normal, quer com o som [], em certas regiões do Norte de Portugal e da
Galiza.

Agora vem um outro problema: como é que se sabe que som é qual
quando se escreve [a]? Será o [a] de "árvore" ou de "cana"? Sabe-se que
é o [a] de "árvore" porque existe um alfabeto fonético internacional,
que convencionou os símbolos que representam cada som e fonema.
Centro de Ensino à Distância 55

(Apesar de poder haver algumas interpretações ligeiramente diferentes


dos símbolos de língua para língua).

Embora o AFI ofereça mais de cem símbolos para transcrever a fala,


não é necessário que se utilize de todos os símbolos relevantes ao
mesmo tempo; é possível transcrever a fala com diferentes níveis de
precisão. O tipo mais preciso de transcrição fonética, no qual os sons
são descritos com o maior nível de detalhe que o sistema permite, sem
qualquer preocupação com a significância linguística das distinções
feitas desta maneira, é conhecido como transcrição estreita, ou
detalhada.

Qualquer outra coisa recebe o nome de transcrição larga ou ampla,


embora estes termos sejam, obviamente, relativos. Os dois tipos de
transcrição são representadas geralmente entre colchetes, porém a
transcrição larga por vezes pode estar entre barras e não colchetes.

Exemplo de transcrição:
larga = [fo 'nɛtikɐ]; [artikula'tɔriɐ]
Fonética articulatória
estreita = [fo'nɛtikɐrtikula'tɔriɐ]

Sumário
Em síntese podemos compreender que os sons da fala humana
classificam-se em três (3) categorias, a saber: vogais, consoantes e
semivogais.

As vogais da língua portuguesa podem ser classificadas quanto à região


de articulação, ao grau de abertura, ao arredondamento ou não dos
lábios e ao papel das cavidades bucal e nasal. As consoantes são
classificadas dependendo do modo de articulação, do ponto ou zona de
articulação, do papel das cordas vocais e do papel da cavidade bucal e
nasal.
Centro de Ensino à Distância 56

Exercício
1. Classifique os sons seguintes:
a) [m]
b) [a]
c) [r]
d) [y]
e) [e]
2. Classifique todas as consoantes constantes nas frases:
a) Desenvolvimento
b) Melhoramento
3. Faça transcrição fonética estreita/larga das palavras abaixo:
a) Casas amarelas
b) Lençol
c) Passatempo
d) Rádio
e) Corredor interior
f) Onda
g) Mais ou menos
h) Porco preto
i) Quadro
j) Fogueira
k) Dinheiro
l) Milhares
Centro de Ensino à Distância 57

Unidade 09: Introdução à Fonologia

Introdução
Sabemos que na linguagem humana existe um conjunto de sons
particulares. Igualmente sabemos que, quando aprendemos uma língua
aprendemos os sons que ocorrem na língua em causa e quais as regras
para a sua articulação. Para esta unidade vamos introduzir uma outra
componente da gramática: a fonologia. Vais conhecer alguns contornos
sobre o funcionamento da fonologia dentro dos estudos linguísticos.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Definir fonologia;
 Indicar a importância da fonologia para os estudos
linguísticos;
Objectivos
 Aludir acerca dos conceitos fone, fonema e alofones;
 Distinguir classe natural dos pares mínimos trabalhados em
fonologia.

9.1 Conceito de Fonologia


A fonologia estuda a maneira segundo a qual os sons da linguagem
formam sistemas e modelos. Ela procura explicar como é que o falante-
ouvinte consegue reconhecer uma infinitude de sons, que fazem parte
da sua língua. Sendo assim, a fonologia é o estudo da organização dos
sons da fala em sistemas e modelos numa determinada língua
particular.

9.2 Fonema, Fones e Alofones


Em todas as línguas existem palavras que apresentam significados
diferentes e que se distinguem num único som. Estes som que
distinguem as palavras denominam-se unidades distintivas e
correspondem à fonemas em qualquer língua. Ex: bala e pala, só se
diferenciam nas consoantes iniciais, b e p e correspondem fonemas em
Português. Sendo assim, são fonemas, sons que distinguem as palavras
Centro de Ensino à Distância 58

numa certa língua, permitindo o contraste de significado, ou ainda


unidades distintivas na língua.

Os fonemas constituem pares mínimos, na medida em que os sons só se


contrastam num único traço, e se representam em barras oblíquas,
sendo /b/ e /p/ para o caso das palavras acima.

Os fonemas quando se realizam fisicamente já não têm esta designação,


são os fones, que correspondem às representações físicas dos fonemas.
Além dos fonemas e fones, temos os alofones que correspondem às
diversas realizações fonéticas de um mesmo som ou fonema. Ex:
[´kalu] e [ʹkaɫdu] verificamos duas realizações diferentes do som /l/ que
são /l/ e /ɫ/. No entanto estas duas pronúncias não correspondem à dois
fonemas distintos, visto que nunca podemos opô-los em pares mínimos.
Os alofones dependem da posição do fonema na palavra. Então, como
os dois sons nunca ocorrem na mesma posição estão distribuídos em
contextos diferentes diz-se que estão em distribuição complementar.

9.3 Classes Naturais e Pares Mínimos


Em fonologia, a classe natural é um jogo completo dos sons que podem
ser descritos por um ou por mais características fonéticas a qual tem na
terra comum. Especificamente, podem ser descritos usando poucas
características do que seja necessário para fornecer uma descrição
exaustiva de cada som individual, ao também usar mais características
do que seja necessário para descrever os sons.

Por exemplo, o jogo que contem os sons [p], [t], e [k] é uma classe
natural em inglês, a saber batentes voiceless. Outras classes naturais
incluem líquidos, nasais, velares.

Além, os membros de uma classe natural comportar-se-ão similarmente


no mesmo ambiente fonético, e ter-se-ão um efeito similar nos sons que
ocorrem em seu ambiente.
Centro de Ensino à Distância 59

Sumário
Em resumo, podemos dizer que a fonologia estuda a maneira segundo a
qual os sons da linguagem formam sistemas e modelos.

Os fones correspondem às representações físicas dos fonemas. Os


alofones correspondem às diversas realizações fonéticas de um mesmo
som ou fonema.

Classe natural é um jogo completo dos sons que podem ser descritos
por um ou por mais características fonéticas a qual tem na terra comum.

Exercícios
Com categoria, resolva os seguintes exercícios:
1. Crie palavras em qualquer língua, e destaque sons que constituem
fonemas na língua em causa.
2. Explique o fenómeno de distribuição complementar dos sons, e de
seguida apresente um (1) exemplo de distribuição complementar.
3. Diferencie fonemas dos fones e alofones e de seguida apresente um
exemplo de cada termo.
4. Caracterize a classe com traços distintivos:
[k, x, n, g]
[f, s, ∫, v, p, z, З]
Centro de Ensino à Distância 60

Unidade 10: Processos Fonológicos (Regras Fonológicas)

Introdução
Dando continuidade aos estudos fonológicos, vamos nesta unidade
debruçar acerca dos processos fonológicos, particularmente das regras
fonológicas.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Descrever e indicar a importância dos processos fonológicos para
os estudos linguísticos;
 Discernir acerca dos processos de assimilação, supressão e de
Objectivos
inserção;
 Formalizar regras fonológicas do português.

10.1 Importância dos Processos Fonológicos


As regras fonológicas foram introduzidas para explicar a relação que os
sons estabelecem entre si num determinado sistema linguístico. As
regras fonológicas mais decorrentes no Português Europeu são as
seguintes:

10.2 Regras Fonológicas (Processos de assimilação, supressão e de


inserção)

 Regra de Assimilação, que acontece quando numa determinada


palavra o som anterior assimila os traços do som posterior. Ex:
musgo [ʹmuʒgu]; manga [ʹmãga]; casta [ʹʃ].

Nas palavras acima, verificamos que os sons [s], [n], [s], assimilam os
traços dos sons seguintes, sendo assim:
 Para o primeiro caso a consoante [s] que de natureza é menos
vozeada, assimila o traço do som [g], que é mais vozeado
passando para [ʒ], que é uma consoante vozeada;
Centro de Ensino à Distância 61

 No segundo caso, a vogal [a] assimila o traço da consoante nasal


[n], saindo de menos nasal para mais nasal [ã];
 Para o terceiro caso vemos que o som anterior [s] que é menos
vozeado ou surda assimila os traço do som seguinte [t] que
também é surdo, saindo de [s] para [ʃ].

 Regra de Supressão, que acontece quando num determinado


segmento, um som é pronunciado. Ex: esperar [ʹʃperar]; esteira
[ʹʃteȷra]; espelho [ʹʃpeʎu].

Nos casos acima, constatamos que na transcrição fonética que é o que


constitui a pronúncia do falante, a vogal [e], no início da palavra, não se
pronuncia ou não se realiza. Portanto, dá-se a supressão deste som.

Um outro exemplo de supressão, em português, na fala coloquial, dá-se


na vogal [ə] que normalmente é suprimida. A representação da
supressão nas regras fonológicas é feita pelo por [Ø] (indica a vogal
suprimida). A indicação do contexto é desnecessário visto que esta
regra se aplica sempre sobre a regra de elevação/recuo da vogal, única
realização da vogal [ə].

Regra de supressão de [ə]


V
+ alt Ø
+ rec
- arr

 Regra de Inserção. Numa determinada palavra ocorre a inserção


quando o falante pronuncia a palavra e inclui um ou mais sons que
não constitui regra de funcionamento dessa língua. No caso do
Português, temos como exemplo: pneu [ʹpinew]; economia
[enkoʹnomȷa].
Centro de Ensino à Distância 62

Nas palavras acima houve a inserção dos sons sublinhados. Isto


acontece porque é fruto de influência das Línguas Bantu de
Moçambique sobre o Português Europeu.

9.3 Formalização de Regras Fonológicas do Português


O falante/ouvinte de uma língua ao adquirir a linguagem não armazena
uma a uma as unidades dos diferentes níveis (fonológico, morfológico,
sintáctico), mas vai adquirindo, para além das unidades mínimas, as
regras de funcionamento da língua, regras produtivas que aplica
sistematicamente. Por essa razão se pode dizer que o saber gramatical
é um saber regular.

O nível fonológico, tal como os outros níveis, estão regulados por


regras que o relacionam com o nível fonético. Ao falarmos, por
exemplo, da pronúncia do /s/ em fim de palavra, referimos as suas
diversas realizações que dependem do contexto fonético: [z] antes de
vogal na palavra seguinte (más aves [ʹmas ʹavəʃ]); [∫] na palavra pás
[pá∫] (plural de pá) e [s] em palavra como assa [ásɐ]. Portanto:
[z]
/s/ [∫]
[s]

 Regras das Vogais Átonas de Português


Se considerarmos as regras que alteram /ɛ/, /e/ e /ɔ/, /o/, respectivamente,
para [ə] e [u], vemos que ambas tornam as vogais subjacentes [+altas]
sendo, portanto, regras de elevação. Isto significa que existe algo de
comum nas regras que se aplicam sobre as vogais não acentuadas do
português (nota-se que a vogal /a/ também se torna [-baixa], ou seja,
também se eleva). Essa alteração conjunta pode representar-se por meio
de única regra, se tornarmos em consideração os seguintes factores:
 As vogais /ɛ/ e /e/ são [-rec] e [-arr];
 As vogais /ɔ/ e /o/ são [+rec] e [+arr];
 Todas se tornam [+alt] mas também [-rec] (/ɔ/ e /o/ já o eram
mantêm-se como tal).
Centro de Ensino à Distância 63

Utilizando uma variável (p.e. ɐ), e antecedendo os traços [rec] e [+arr] dessa
variável, a sua substituição por [+] representa /ɔ/ e /o/. Podemos assim
formular a regra seguinte:

 Regra de Elevação das Vogais Átonas do Português


V
- alt + alt
α rec + rec
α arr - ac

Pode-se assim concluir que:


 As vogais da língua portuguesa, por regra geral, tornam-se [-
baixas] em sílabas não acentuadas;
 /ɛ/, /e/, /ɔ/, /o/ tornam-se [+altas];
 As vogais /ɛ/, /e/ tornam-se também [+recuadas].

Portanto, regra geral, o vocalismo átono do português sofre um


processo de elevação e de recuo.

O Triangulo Vocálico
+ alta i ə u
- alta o
- baixa e ɐ

+baixa ɛ ɔ
a
- recuada + recuada

Sumário
As regras fonológicas foram introduzidas para explicar a relação que os
sons estabelecem entre si num determinado sistema linguístico.

Regra de assimilação acontece quando numa determinada palavra o


som anterior assimila os traços do som posterior. A Regra de supressão
acontece quando num determinado segmento, um som é pronunciado.
Centro de Ensino à Distância 64

Regra de Inserção acontece quando numa determinada palavra ocorre a


inserção quando o falante pronuncia a palavra e inclui um ou mais sons
que não constitui regra de funcionamento dessa língua.

Exercícios
1. Explique, exemplificando os termos inserção e supressão.
2. Diga o tipo de regra fonológica patente em cada palavra e de
seguida apresente uma justificação para cada tipo de regra patente.
a) Interior
b) Esmeralda
c) Manguço
d) Fungo
3. Explique por que se pode dizer que certas fricativas em fim de
sílaba sofrem uma neutralização. Apresente outro exemplo de
neutralização de fonemas no português europeu.
Centro de Ensino à Distância 65

Unidade 11: Introdução à Morfologia

Introdução
Vamos nesta unidade passar a falar de mais uma componente da
gramática: desta vez é a morfologia. No âmbito deste tema a nossa
atenção irá para a unidade morfológica, a palavras. Falaremos também
sobre estrutura interna das palavras, os morfemas e seus diferentes
tipos. O capítulo da morfologia será abordado nas próximas quatro
unidades.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Definir a Morfologia;
 Conhecer a palavra segundo critérios de definição da mesma;
 Identificar as unidades da palavra (morfemas);
Objectivos
 Distinguir morfemas livres dos morfemas presos.

11.1 A Concepção de Morfologia


De um modo geral, deves compreender que o capítulo da morfologia
diz respeito a estrutura interna das palavras e o modo como esta
estrutura reflecte as relações entre palavras, associadas de um modo
particular.

Na análise morfológica, têm sido cruciais as noções de palavras e


morfemas, respondendo cada uma, um vasto projecto incompleto de
pesquisa.

11.2 Critérios da Definição da Palavra (semânticos, sintácticos,


fonológicos e morfológicos)
Uma das questões prévias e inessenciais que se coloca à morfologia é a
da definição do próprio conceito de palavra. A questão é bastante
complexa e tem dado origem a variados debates e propostas de
linguistas com opções teóricas diversas, sem que haja, até agora uma
resposta consensual. Na impossibilidade de basear uma definição na
Centro de Ensino à Distância 66

intuição dos falantes, a análise linguística deve enunciar critérios


formais para a definição da palavra motivados pelas suas diferentes
componentes: fonologia, morfologia, sintáctica e semântica.

O contínuo sonoro pode ser segmentado de várias formas, de acordo


com os conhecimentos que os falantes possuem do sistema linguístico
em que se integra. Um tipo de unidades resultantes da segmentação do
contínuo sonoro é definido como domínio para atribuição do acento
principal da palavra. Os processos fonológicos que afectam os
segmentos que se encontram no inicio desse domínio, por vezes,
distintos dos que afectam os segmentos que se encontram no final desse
domínio, o que justifica este tipo de segmentação. Consideremos, agora
a seguinte frase:
 A Maria preparou um belo discurso de despedida.

Nas sequências [ɐmɐríɐ], [prɛpɐró], [ữbɛlu]. Único acento principal de


palavras, mas essas sequências não coincidem com as sequências que a
representação sintáctica identifica como palavra. Damos, então, a estas
sequências o nome de palavras prosódicas ou de palavras
fonológicas.

Em sintaxe, as palavras são unidades que ocupam posições


determinadas pelas estruturas sintácticas, designadas posições X o . X é
uma variável que cobre a totalidade das categorias sintácticas
(adjectivo, nome, preposição, verbo, etc.) e o um indicador que essa é
uma posição de núcleo de uma categoria sintagmática.

Em semântica, a definição de palavra é ainda mais complexa.


Consideremos aqui que a palavra se relaciona com o valor referencial
inerente a uma sequência, por oposição a outras sequências que não têm
qualquer valor referencial, mas são operadores de vária ordem. Na
frase Maria, preparou, belo, discurso e despedida são, deste, deste
ponto de vista, palavras e a, um e de são operadores.
Centro de Ensino à Distância 67

A definição de palavras em morfologia recorre ao critério sintáctico de


identificação de uma sequência que ocupa uma posição Xo, e em
critérios morfológicos de análise da sua estrutura interna.

Uma língua é constituída de um infinito de frases. Cada uma delas


possui uma face sonora, ou seja a cadeia falada, e uma face
significativa, que corresponde ao seu conteúdo. Uma frase, por sua vez,
pode ser dividida em unidades menores de som e significado – as
PALAVRAS – e em unidades ainda menores, que apresentam apenas
a face significante – os FONEMAS.

As palavras são, pois, unidades menores que a frase e maiores que o


fonema. Assim, na frase
Évora! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas…
(Florbela Espança, S, 149.)

Distinguimos dez palavras, todas com independência ortográfica. E em


cada uma dessas palavras identificamos um certo número de fonemas.
Por exemplo, cinco e quatro em Évora e ruas, respectivamente:
/e/ /v/ /o/ /r/ /a/ e /r/ /u/ /a/ /s/

11.3 Tipos de Morfemas


Como fizemos referencia acima, existem unidades de som e conteúdo
menores que as palavras. Na palavra ruas, por exemplo, temos de
reconhecer a existência de duas unidades significativas: rua e –s. o
primeiro elemento – rua – também se emprega como palavra isolada ou
serve para formar outras palavras isoladas: arruaça, arruamento, etc. já
a forma plural –s, que vai aparecer no final de muitas outras palavras
(ermas, céus, violetas, roxas, etc.) nunca poderia realizar-se como
palavra individual, autónoma. Essa unidade significativa mínima dá-
se o nome de MORFEMA.
Centro de Ensino à Distância 68

Quando os morfemas apresentam manifestações fonéticas diferentes de


um único morfema dá-se o nome de VARIANTE DE MORFEMA ou
ALOMORFE. Por exemplo, o morfema –s, em:
 Casas amarelas, realiza-se como [z]. [z]
 Casas bonitas, realiza-se como [ʒ]. /s/ [ʒ]
 Casas pequenas, realiza-se como [ʃ]. [ʃ]

Retomando a palavra ruas, distinguimos dois morfemas: um deles é rua


que forma por si só um vocábulo e outro –s não tem existência
autónoma, aparece sempre ligado a um morfema anterior. Os linguistas
costumas chamar MORFEMAS LIVRES, os que podem figurar
sozinhos como vocábulos, e MORFEMAS PRESOS aqueles que não se
encontram nunca isolados, com autonomia vocabular.

Quanto a natureza da classificação, os morfemas classificam em


Lexicais e Gramaticais.

11.3.1 Morfemas Lexicais


Os morfemas lexicais têm significação externa, porque referente a
factos do mundo extralinguístico, aos símbolos básicos de tudo o que os
falantes distinguem na realidade objectiva ou subjectiva. Exemplo:
Évora céu roxa cor rua

São morfemas lexicais os substantivos, os adjectivos, os verbos e os


advérbios de modo.

11.3.2 Morfemas Gramaticais ou Funcionais


Os morfemas gramáticas são de significação interna, pois deriva das
relações e categorias levadas em conta pela língua. Exemplo, na frase
Évora! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas…
(Florbela Espança, S, 149.)
Centro de Ensino à Distância 69

o artigo o, as preposições sob e de, a marca do feminino –a nas palavras


(rox-a, erm-a) e a de plural nas palavras (rua-s, erma-s, o-s, céu-s,
violeta-s, roxa-s), são indicativos restritos de morfemas gramaticais ou
funcionais.

No geral, são morfemas gramaticais os artigos, os pronomes, os


numerais, as preposições, as conjunções e os demais advérbios, bem
como as formas indicadoras de número, género, tempo, modo ou
aspecto verbal.

Nota:
Outras características, não semânticas, opõem os morfemas lexicais aos
gramaticais. Por um lado, os morfemas lexicais são de número elevado,
indefinido, em virtude de constituírem uma classe aberta, sempre
passível de ser acrescida de novos elemento.

Por outro lado, os morfemas gramaticais pertencem a uma série


fechada, de número definido e restrito de idiomas. Consequentemente,
se os examinarmos num dado texto, verificamos que os morfemas
lexicais apresentam frequência média baixa, em contraste com a
frequência média alta dos morfemas gramaticais.
Centro de Ensino à Distância 70

Sumário
Do exposto acima podemos sintetizar estas informações com as
seguintes linhas: o objecto específico da morfologia consiste no
conhecimento das palavras, enquanto unidades de análise linguística,
dos seus elementos constituintes e das relações existentes entre os
constituintes da palavra, ou seja, da sua estrutura interna, bem como das
relações existentes entre as palavras.

A Palavra é a unidade menor de som e significado dentro de uma frase.


As unidades ainda menores, que apresentam apenas a face significante
são fonemas. Os morfemas são unidade significativa mínima (dentro
duma palavras).

Existem dois tipos de morfemas: morfemas lexicais que têm


significação externa e morfemas gramáticas são de significação interna.

Exercícios
Lidos que foram os apontamentos, responda as perguntas que se
seguem.
1. Com sua próprias palavras, defina a Morfologia.
2. Quais são as unidades morfológicas que conhece?
3. Defina palavra. Exemplifica.
4. Indique as unidades das palavras abaixo com as suas significações:
a) Limão
b) Normalidade
c) Vasos
d) Carpinteiro
e) Mangueiras
f) Desmiola
g) Dor
h) Fazer
5. Construa uma frase com pelo menos seis (6) palavras. Identifique os
tipos de morfemas existentes nas palavras.
Centro de Ensino à Distância 71

Unidade 12: Morfologia da Palavra

Introdução
Ainda nesta unidade vamos continuar a dedicar a nossa atenção para o
estudo da morfologia. Em particular estudaremos um elemento de
tamanha importância nesta área de estudo – a palavra.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Definir palavras;
 Reconhecer a estrutura interna da palavra;
 Referir a cerca do radical, tema, vogal temática;
Objectivos
 Distinguir palavra simples de palavras complexas.

12.1 Estrutura Interna da Palavra


Estudar a estrutura das palavras é estudar os elementos que formam a
palavra, denominados de morfemas. Vamos em seguida estudar esses
elementos para melhor compreendermos esta temática.

12.1.1 Afixos (Prefixos, Infixo e Sufixos)


Os afixos são os elementos que se juntam ao radical para formar novas
palavras. Muitas das vezes a junção dos afixos com os radicais resultam
na mudança da classe da palavra, podendo um substantivo passar a ser
um adjectivo ou adverbio, etc. Os afixos são:
 Prefixo – é o afixo que aparece antes do radical para formar uma
nova palavra. Por exemplo, as palavras fazer, incapaz e moral
podem resultar desfazer (des+fazer), incapaz (in+capaz) e amoral
(a+moral).
 Sufixo – é o afixo que aparece depois do radical, do tema ou do
infinitivo. Por exemplo, as palavras pensar, acusar e feliz, podem
resultar pensamento (pensa+mento), acusação (acusa+cão) e
felizmente (feliz+mente).
Centro de Ensino à Distância 72

 Infixos (vogais ou consoantes de ligação) – são vogais e


consoantes que surgem entre dois morfemas, para tornar mais fácil
e agradável a pronúncia de certas palavras. Por exemplo, nas
palavras flores, bambuzal, gasómetro, cafeteira.

12.1.2 Radical, Tema e Vogal Temática


 Radical
O que contém o sentido básico do vocábulo. Aquilo que permanece
intacto, quando a palavra for modificada.
Ex: falar, comer, dormir, casa, carro

Quando se trata de verbo, descobre-se o radical retirando a terminação


AR, ER ou IR.

 Vogal Temática
Podemos encontrar a vogal temática nos verbos, substantivos e
adjectivos. Nos verbos elas são reconhecidas na terminação verbal
através das vogais A, E e I. A sua ocorrência nos verbos dão indicação
a que conjugação o verbo pertence.
1ª Conjugação = verbos terminados em AR
2ª Conjugação = verbos terminados em ER
3ª Conjugação = verbos terminados em IR.

Nem todos os verbos têm a terminação as vogais A, E e I. É o caso do


verbo pôr. Nestes casos recorre-se ao étimo da palavras uma vez que
ela sofreu transformações ao longo dos tempo. Portanto, o verbo pôr
provém do poer o que significa que é da 2ª conjugação. Nos
substantivos e adjectivos, são as vogais A, E, I, O e U, no final da
palavra, evitando que ela termine em consoante. Por exemplo, nas
palavras: meia, táxi, pente, couro, urubu.

Atenção: Não se pode confundir vogal temática de substantivo e


adjectivo da desinência nominal de género.
Centro de Ensino à Distância 73

 Tema
O tema é a junção do radical com a vogal temática. Se não existir a
vogal temática, o tema e o radical serão o mesmo elemento; o mesmo
acontecerá quando o radical for terminado em vogal.

Nos verbos o tema sempre é a soma do radical com a vogal temática:


estud R+aVT; comR+eVT; partR+iVT

Nos substantivos e adjectivos, nem sempre isso acontece. Vejamos


alguns exemplos: no substantivo pasta, past é o radical, a, a vogal
temática e pasta o tema. Já na palavra leal, o radical e o tema são o
mesmo elemento – leal, pois não há vogal temática. Na palavra tatu
também, mas agora, porque o radical é terminado pela vogal temática.

12.2 Palavras Simples e Complexas


A estrutura morfológica das palavras simples diferem das complexas
apenas no domínio do radical, ou seja, as palavras complexas são, na
realidade radicais complexos, cuja especificação morfológica e morfo-
sintáctica processa-se de modo idêntico ao das palavras simples.

 Palavra simples é aquela que possui apenas um único radical,


independentemente de possuir desinência ou não. Por exemplo, são
palavras simples: lápis, tesoureiro, entristecer. Portanto, a palavra
simples tem um radical e um sufixo realizado pelos morfemas a, o
ou e. Este é um tipo de palavras simples (nome e adjectivos) muito
frequente em português.

 Palavras complexas são aquelas que possuem mais de um radical


ligados, normalmente separado por um hífen. Exemplo, infeliz,
casinha, ramificação, pelaria, desorganizar, etc. Neste tipo de
palavras é possível identificar, pelo menos dois constituintes: um
radical e um ou mais afixos (que não são realizados ou não são
apenas realizados, pelos morfemas a, i ou o); ou um radical ou uma
palavra, e outra palavra. As palavras complexas exemplificadas
Centro de Ensino à Distância 74

em (i) são palavras derivadas e as registadas em (ii) são palavras


compostas:
(i) 1. felic idade
RADICAL SUFIXO
2. ad mit i r
PREXIXO RADICAL VT SUFIXO

(ii) 1. neuro cirurgião


RADICAL PALAVRA
2. bomba relógio
PALAVRA PALAVRA

Atenção:
Não se pode confundir palavras complexas com palavras compostas
formadas por derivação prefixal. Como vimos acima, a classificação
das palavras simples opõe-se a palavra complexa: o radical de uma
palavra simples não se pode decompor: o radical da palavra complexa
integra dois ou mais constituintes.

Sumário
Em síntese podemos definir a palavra como sendo a unidade menor de
som e significado dentro de uma frase. Ela está composta por vários
elementos, por exemplo, os afixos.

Os afixos são os elementos que se juntam ao radical para formar novas


palavras. Existem três tipos de afixos: prefixo (que se coloca antes do
radica), infixo (que se aplica entre dois morfemas) e sufixo (que se
coloca depois do radical).

Numa palavra, radical é a parte que contém o sentido básico do


vocábulo; aquilo que permanece intacto, quando a palavra for
modificada. O tema é a junção do radical com a vogal temática.
Centro de Ensino à Distância 75

Palavra simples é aquela que possui apenas um único radical,


independentemente de possuir desinência ou não. Palavras complexas
são aquelas que possuem mais de um radical ligados, normalmente
separado por um hífen.

Exercícios
1. Construa uma representação da estrutura interna para cada uma das
seguintes palavras, elaborando um pequeno comentário, sempre que
julgue adequado fazê-lo
 Desculpabilização
 Despenalização
 Desestabilização
 Infalibilidade
 Electrificação
 Pé de galinha
 Carta-bilhete
 Comboio-fantasma
 Caixeiro-viajante
 Meia-lua
 Porta-estandarte
 Abre-latas

2. Com base nas palavras do exercício anterior, diga quais são


palavras simples e palavras complexas. Justifica cada uma das suas
opções.
Centro de Ensino à Distância 76

Unidade 13: Língua e Escrita (historiografia da escrita)

Introdução
Nesta unidade vamos nortear a nossa atenção para um outro capítulo
dentro dos estudos linguísticos – a descrição historiográfica da escrita.
Vamos igualmente procurar estabelecer uma relação entre a língua e a
escrita.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Aludir acerca da historiografia da escrita;
 Indicar os três principais tipos de escrita;
 Relacionar língua com a escrita.
Objectivos

13.1 História da Escrita


A escrita é um dos instrumentos básicos da civilização, sem ela o
mundo tal como conhecemos não poderia existir. A primeira escrita foi
“escrita rupestre” que utilizava pictograma para representar
directamente objectos. Os pictogramas foram utilizados e as pessoas
começaram a associa-los aos sons das palavras que representam os
objectos das suas línguas.

Ao princípio, os Sumérios criaram um sistema de escrita pictográfica


para registar as suas transacções comerciais. Esse sistema foi mais tarde
alargado a outros usos tendo por fim evoluído para uma escrita
cuneiforme altamente estilizada. A escrita cuneiforme foi adoptada por
vários povos e adoptada para ser usada num sistema de escrita silábica
por aplicação do princípio do rebus em que se usava o símbolo de uma
palavra para representar qualquer palavra ou símbolo contendo os
mesmos sons.

Os egípcios também desenvolveram um sistema pictográfico que ficou


reconhecido por hieróglifo. Este sistema foi adoptado por muitos povos
incluindo os fenícios que melhoravam usando-o como o silabário.
Centro de Ensino à Distância 77

Num sistema silábico de escrita, existe um símbolo para cada sílaba. Os


gregos adoptaram este sistema fenício e ao adopta-lo para a sua própria
língua usaram os símbolos para representar unidades individuas de
sons, inventando assim o primeiro alfabeto.

13.2 Tipos de Escrita


Há três tipos de sistemas de escrita que hoje são usados no mundo:
(i.) Escrita por palavras, em que todos os símbolos os caracteres
representam uma palavra ou morfema (como em chinês);
(ii.) Escrita silábica, em que cada símbolo representa uma sílaba
(como em japonês); e
(iii.) Escrita alfabética, em que cada símbolo representa (na maior
parte dos casos) um fonema (como em português).

13.3 Relação das Línguas com a Escrita


Muitas línguas existentes no mundo não têm forma escrita, o que não
significa que sejam menos desenvolvidas. Aprende-se a falar antes de
se aprender a escrever e historicamente passaram dezenas de milhares
de anos durante os quais a língua foi falada antes de existir algum tipo
de escrita.

A influência dos sistemas de escrita sobre a linguagem oral pode ser


pequena. As línguas mudam no tempo, mas o sistema tendem a ser
mais conservador; quando as formas escrita e oral de uma língua
começam a divergir, algumas palavras podem ser pronunciadas como
são escritas, muitas vezes devido aos esforços feitos pelos
“reformadores de pronúncia”.

Há vantagens na existência de um sistema ortográfico conservador.


Uma ortografia comum permite que os falantes dos dialectos que
divergiram da língua possam comunicar através da escrita como bem
exemplifica a situação na China, onde os dialectos são mutuamente
ininteligíveis. Além disso, podemos também ler e compreender o que
foi escrito a muitos séculos.
Centro de Ensino à Distância 78

Sumário
A escrita é um dos instrumentos básicos da civilização. A primeira
escrita foi “escrita rupestre” que utilizava pictograma para representar
directamente objectos.

Os Sumérios criaram um sistema de escrita pictográfica para registar as


suas transacções comerciais. Essa escrita foi chamada escrita
cuneiforme. Por sua vez, os egípcios desenvolveram um sistema
pictográfico que ficou reconhecido por hieróglifo.

Há três tipos de sistemas de escrita: escrita por palavras, escrita silábica


e escrita alfabética. Apesar da enorme falta de correspondência entre o
som e a ortografia, a ortografia reflecte o conhecimento morfológico e
tecnológico dos falantes de uma língua.

Exercícios
Abordados que foram assuntos relacionados com a historia da escrita,
achamos que já estas em condições para responder com categoria as questões
que se seguem.
1. Faça uma síntese em dois (2) parágrafos sobre o panorama histórico
do surgimento da escrita.
2. Indique três línguas no mundo que se relacionam à escrita por palavras,
escrita silábica e escrita alfabética
3. Relacione a linguagem oral da linguagem escrita.
4. Qual é a importância da escrita. Apresente exemplos elucidativos.
5. Qual são as vantagens da existência de uma ortografia
conservadora?
Centro de Ensino à Distância 79

Unidade 14: Regras Gerais de Formação das Palavras

Introdução
Ainda sobre morfologia, vamos nesta unidade debruçar sobre algumas
regras que funcionam no processo de formação de palavras na língua
portuguesa.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Descrever regras morfológicas de formação de palavras
(nominalização, adjectivação e verbalização);
 Diferenciar classes abertas e classes fechadas.
Objectivos

14.1 Regras Morfológicas de Formação de Palavras


Basicamente, é possível identificar dois processos de formação de
palavra: derivação e composição. Na derivação está necessariamente
envolvido um radical e um afixo, enquanto a composição requer a
intervenção de dois radicais ou palavras.

A categoria sintáctica da base e a da palavra complexa permitem


complementar a identificação do processo de que essa palavra
complexa é o resultado. Considerando apenas as categorias sintácticas
adjectivo, nome e verbo, cujo estatuto morfológico parece ser
diferente do das restantes categorias, podemos esquematizar os
processos de formação de palavras da seguinte forma:
1. ………. [+N, +V] adjectivação
2. ………. [+N, - V] nominalização
3. ………. [- N, +V] verbalização

Considerando igualmente a categoria sintacta da base, obtemos uma


identificação completa dos processos de formação de palavras:
1. [+N, +V] [+N, +V] adjectivalização deadjectival
Ex: normal anormal
2. [+N, -V] [+N, +V] adjectivalização denominal
Ex:montanha montanhoso
Centro de Ensino à Distância 80

3. [-N, +V] [+N, +V] adjectivalizaçao deverbal


Ex: interessar interessante
4. [+N, +V] [+N, -V] nominalização deadjectival
Ex: claro claridade
5. [+N, -V] [+N, -V] nominalização denominal
Ex: leitor leitorado
6. [-N, +V] [+N, -V] nominalização deverbal
Ex: animar animação
7. [+N, +V] [-N, +V] verbalização deadjectival
Ex: fácil facilitar
8. [+N, -V] [-N, +V] verbalização denominal
Ex: equação equacionar
9. [-N, +V] [-N, +V] verbalização deverbal
Ex: dormir dormitar

Sumário
A categoria sintáctica de base e a da palavra complexa permitem
complementar a identificação do processo de que essa palavra
complexa é o resultado. Considerando apenas as categorias sintácticas
adjectiva, nome e verbo.

Exercícios
1. Construa uma família de palavras a partir de cada uma das seguintes
formas:
1. Forma
2. Chave
3. Belo
4. Fácil
5. Plantar
6. Colher
Centro de Ensino à Distância 81

2. Identifique os constituintes de cada uma das palavras que constituem


as famílias que construiu e classifique-os (radical, prefixos, sufixo,
palavras).

3. Classifique morfologicamente essas mesmas palavras:


(i.) Quanto à sua estrutura (palavras simples/palavras complexas).
(ii.) Quanto ao processo de formação de palavras
(derivação/composição)
(iii.) Quanto à especialização categorial dos processos de formação
de palavras (adjectivalizaçao denominal/nominalização
deverbal/verbalização deadjectival, etc.).

4. Analise cada um dos seguintes conjuntos de palavras e identifique os


afixos que as integram, e explicite as suas propriedades morfológicas:

Estudante
Pendente
Pedinte

Alucinante
Dependente
Seguinte
Centro de Ensino à Distância 82

Unidade 15: Processos de Formação de Palavras (Morfologia)

Introdução
Continuamos ainda nesta unidade a falar sobre a morfologia,
particularmente sobre os processos de formação de palavras na sua
vertente de derivação e composição. Vamos procura aprofundar e falar
sobre os processos morfológicos: sigla, acronímia, abreviaturas,
empréstimos e extensão metafórica.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Descrever os processos morfológicos: de derivação e composição;
 Descrever processos não-morfologicos: acronia, abreviatura,
misturas e empréstimos.
Objectivos

15.1 Derivação e Composição


A derivação é um processo de formação de palavras em que os afixos
associados a uma forma de base determinam não só a categoria
sintáctica, mais também todas as propriedades gramaticais das palavras
derivadas: género, traços semânticos, conjugação no caso de verbos).

No processo morfológico de modificação, os afixos não determinam as


propriedades gramaticais das formas que integram (é o caso da
formação dos aumentativos, diminutivos, do superlativo absoluto
sintético dos adjectivos, assim como de algumas formas de prefixação,
como na palavra feliz – infeliz; fazer – refazer; atar – desatar).

 Casario é uma palavra formada por derivação sufixal: é activado o


sufixo –io, com o valor semântico de reunião, colectivo ( -r- é uma
consoante de ligação). Trata-se de um processo de derivação e não
do de modificação, porque não há determinação do género nem do
traço semântico: casa (feminino, contável) – casario (masculino,
não contável).
Centro de Ensino à Distância 83

Outros exemplos:
Mulher (feminino, contável) – mulherio (masculino, não
contável).
Folha (feminino, contável) – folhagem (feminino, não contável).

 Chuva – chuvisco: processo de formação por associação de sufixo


derivacional (há determinação do valor de género).

Chuvisco – chuviscar: adjunção da vogal temática -a- (1ª


conjugação) e do morfema do infinitivo -r. Trata-se do processo de
conversão, pois a forma de base é integrada numa nova categoria
sintáctica sem recurso a sufixo.

Outros verbos formados por conversão:


Culpa – culpar
Samba – sambar
Baliza – balizar

A composição é um processo de formação de palavras resultante da


união de dois ou mais radicais, conforme a fusão dos elementos
componentes, ela poderá ser feita por justaposição ou aglutinação – as
palavras associadas conservam cada qual sua autonomia fonética, isto é,
cada componente conserva seu acento tónico e seus fonemas. Exemplo,
na palavra passatempo.

15.2 Outros Processos de Formação de Palavra

 Sigla vs. Acronímias


A sigla é um processo que consiste na redução de uma palavra ou de
um grupo de palavras às suas iniciais para designar organismos,
partidos políticos, associações, clubes desportivos, etc.; é a letra inicial
ou grupo de letras iniciais que entram na composição da abreviatura de
certas palavras. Exemplo: MDM – Movimento Democrático de
Moçambique; SCB – Sporting Clube da Beira; ONP – Organização
Centro de Ensino à Distância 84

Nacional dos Professores. Outras siglas: UNESCO, OPEP, URSS, UA,


EUA, EU, etc.

Acronímia é o conjunto de processos morfológicos que levam a


formação de acrónimos, cuja particularidade é a de serem pronunciadas
como uma corrente; apresenta-se sob a forma de siglas, amalgamas ou
de novas unidades lexicais. A acronímia é um fenómeno neológico
muito produtivo em língua, com grande dinâmica, por exemplo, na
atribuição de nomes próprios para designar novos abjectos, instituições
ou organismos. Exemplo: MICOA – MInistério da COordenação
Ambiental

 Abreviaturas
Abreviação é a redução da escrita de uma palavra ou de uma locução,
usadas em geral na escrita, onde frequentemente utiliza-se com um
ponto final para indicar que se trata de uma forma incompleta, como
por exemplo: abrev. (Abreviatura) e pres. Ind. (presente do indicativo),
V. Ex.ª (Vossa Excelencia

A sigla é um caso especial de abreviatura: consiste na escrita abreviada


de uma locução substantiva ou de um nome composto representados
por iniciais maiúsculas dos elementos que os compõem. Exemplo:
O.N.U. (Organização das Nações Unidas)

 Empréstimos
Os empréstimos são palavras provenientes de outras línguas e
adaptadas à nova língua, como basquetebol (Ing. basketball),
cavalheiro (Cast. Caballero), dama (Fr. Dame) ou piano (It. Piano).

O empréstimo pode não ser directo como no caso de jardim, do alemão


garten, que entra no português por intermédio da forma do francês –
jardin. A língua de onde são provenientes determina o nome com que a
tradição gramatical os indica (respectivamente, anglicismo,
castelhanismo, galicismo, italianismo, germanismo). O tempo decorrido
Centro de Ensino à Distância 85

desde da sua importação e o modo como essas palavras foram


adaptadas pela nova língua são responsáveis pela maior ou menor
facilidade na identificação da sua origem.

 Extensão Metafórica
A extensão metafórica contribui de forma muito significativa para o
alargamento do léxico duma língua. Este processo consiste em atribuir
a uma palavra uma nova interpretação semântica. Exemplo:

Borracho 1. Pombo novo.


2. Odre feito de pele de cabrito para transporte de
vinho.
3. Homem embriagado .
4. Rapaz ou rapariga bonita.

Piloto 1. Individuo que regula a direcção de um navio.


2. Individuo que regula a direcção de um avião.
3. guia.

Sumário
Em resumo podemos definir derivação como um processo de formação
de palavras em que os afixos associados a uma forma de base
determinam não só a categoria sintáctica, mais também todas as
propriedades gramaticais das palavras derivadas.

A composição é também um processo de formação de palavras


resultante da união de dois ou mais radicais, conforme a fusão dos
elementos componentes, ela poderá ser feita por justaposição ou
aglutinação.

A sigla é um processo que consiste na redução de uma palavra ou de


um grupo de palavras às suas iniciais para designar organismos,
partidos políticos, associações, clubes desportivos, etc.
Centro de Ensino à Distância 86

Acronímia é o conjunto de processos morfológicos que levam a


formação de acrónimos, cuja particularidade é a de serem pronunciadas
como uma corrente; apresenta-se sob a forma de siglas, amalgamas ou
de novas unidades lexicais.

A abreviação é a redução da escrita de uma palavra ou de uma locução,


usadas em geral na escrita, onde frequentemente utiliza-se com um
ponto final para indicar que se trata de uma forma incompleta.

Os empréstimos são palavras provenientes de outras línguas e adaptadas


à nova língua.

A extensão metafórica contribui de forma muito significativa para o


alargamento do léxico duma língua.

Exercícios
1. Distinga palavras complexas das palavras compostas.
2. Apresente para cada um dos processos de formação de palavra
cinco (5) processos resultantes:
a) Acronímia
b) Abreviatura
c) Sigla
d) Amalgama
e) Extensão metafórica
Centro de Ensino à Distância 87

Unidade 16: Introdução à Semântica

Introdução
Nesta unidade vamos volta a mais uma componente da gramática.
Desta fez vamos falar dos princípios da semântica, mais concretamente
sobre a noção de sema, enunciado, frase, proposição. Além disso,
falaremos sobre o sentido e referência, expressões genérica e
referencial.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Apresentar noção de:
o Semântica,
o Sema,
Objectivos
o Sentido e referencia,
o Expressão referencial e genérica.

16.1 Conceito da Semântica


O vocábulo semântica “σημαντικός”, derivado de sema, (sinal); refere-
se ao estudo do significado, em todos os sentidos do termo. A
semântica opõe-se com frequência à sintaxe, caso em que a primeira se
ocupa do que algo significa, enquanto a segunda se debruça sobre as
estruturas ou padrões formais do modo como esse algo é expresso (por
exemplo, escritos ou falados).

Dependendo da concepção de significado que se tenha, têm-se


diferentes semânticas. A semântica formal, a semântica da enunciação
ou argumentativa e a semântica cognitiva, por exemplo, estudam o
mesmo fenómeno, mas com conceitos e enfoques diferentes.

A semântica é, portanto a componente da gramática que estuda o


significado e sentido que as palavras veiculam numa determinada
língua. A semântica como componente da gramática é muito recente,
mas o seu objecto de estudo que é o significado é remoto, já se estudava
em filosofia, lógica, etc.
Centro de Ensino à Distância 88

16.1.1 Noção de Sema


Sema, corresponde ao conjunto de traços particulares que caracterizam
um ser, coisa, objecto etc. Ex: a palavra ovo tem traços semânticos que
o caracterizam, nomeadamente: tem forma oval, de cor castanha ou
branca, tem casca, tem gema e clara.

É através da construção de semas que os falantes de uma determinada


língua podem ter o significado ou sentido absoluto de algo ouvido ou
visto. Portanto, sabe-se que os falantes de uma determinada língua logo
que ouvem o som, associam-no ao seu referente, à medida que
associam constroem determinados semas, com a finalidade de obterem
a ideia global.

16.1.2 Noção de Sentido e Referência


 Noção de Sentido
Sentido, é o lugar que uma palavra ocupa no sistema de relações com
outras palavras numa determinada frase de uma certa língua.

 Noção de Referência
O termo referência foi introduzido para estabelecer a relação entre as
palavras e as coisas, acções e qualidades que elas apresentam. A
referência pressupõe a existência ou realidade que se deriva da nossa
experiência directa dos objectos no mundo físico. Portanto, dizer que
uma palavra ou unidade tem significado “ se refere” à um objecto
implica que o seu referente é um objecto existente no mundo real.

A relação que existe entre as palavras e as coisas (referentes) é a de


referência, as palavras não significam e nem denominam as coisas mas
sim referem-nas.

16.1.3 Expressão Referencial e Genérica


Expressão referencial é uma expressão usada num enunciado para
referir alguma coisa, pessoa, isto é; usada como um determinado
referente na mente. A expressão pode ser o nome de uma pessoa, um
Centro de Ensino à Distância 89

sintagma, um substantivo etc. Ex: o nome “Pedro’’ num enunciado


como “O Pedro saiu de carro”. Ao proferir este enunciado o falante tem
em mente o nome “Pedro”, sendo assim podemos considerar que este
nome é uma expressão referencial porque o falante tem em mente a
pessoa de quem se fala.

Em contrapartida, num enunciado como “Não conheço nenhum Pedro


nesta casa”, o nome Pedro já não constitui uma expressão referencial
visto que o falante não tem em mente o tal Pedro.

Além de expressão referencial de outro lado, temos a expressão


genérica, que acontece quando o falante no momento que profere o
enunciado não tem em mente algo, pessoa, objecto etc., de quem se fala
mas sim profere-o na sua generalidade. Ex: “O Homem sempre é
orgulhoso.” A expressão O Homem é genérica porque o falante não tem
em mente o tal Homem, isto é, ele fala na sua generalidade.

Sumário
Nesta unidade falamos sobre a semântica, onde além de definir este
termo centramo-nos sobre as noções de sema, enunciado, frase,
proposição, sentido e referência. Finalmente abordamos sobre
expressões genéricas e referencial.

Exercícios
1. Dadas as palavras abaixo, forme semas da cada palavra.
a) Carro
b) Casa
c) Cadeira
d) Papaia
2. Explique os termos: frase e enunciado, de seguida apresente um
exemplo para cada termo.
Centro de Ensino à Distância 90

3. Nas frases abaixo, assinale com (s), para as frases que exprimem a
mesma proposição, e com (N), para as que não exprimem a mesma
proposição.
A - João matou a esposa.
A - Ele causou a morte da esposa.
B - I speak portuguese.
B´- Falo português.
4. Será que as expressões abaixo a negrito são referenciais?
(i.) O carro tem muita presença.
(ii.) Gosto muito de ler romances de ficção.
(iii.) Contemplo a rapariga de calças verdes.
(iv.) Uma menina passou por este passeio ontem.
(v.) Não existe nenhuma Marta na sala de aulas.
(vi.) Procuro um lenço para mim.
Centro de Ensino à Distância 91

Unidade 17: Propriedades Semânticas (identidade ou igualdade de sentido)

Introdução
Nesta unidade vamos dar continuidade aos estudos de semiótica.
Portanto, vamos direccionar a nossa atenção para a relação de igualdade
de sentido que os itens linguísticos mantêm numa determinada língua,
tal é o caso da língua portuguesa. Essa relação de sentido circunscreve-
se em aspectos como: sinonímia; paráfrase; hiponímia; hiperonímia.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Identificar termos ou palavras sinónimas;
 Indicar aspectos ligados a sinonímia, hiponímia, hiperonímia e
parafrases aplicados ao Português Europeu (PE).
Objectivos

17.1 Relações de Sentido (identidade ou igualdade de sentido)

 Sinonímia
Há presença de sinonímia quando duas os mais palavras apresentam
igualdade de sentido. O problema de sinónimos é muito discutido,
porque existem palavras embora sejam sinónimas não se podem
substituir em todos os contextos.

Com efeito, determinadas palavras podem ser sinónimas, mas observar-


se a restrição delas em termos de contexto. Ex: investigação = pesquisa.
F1: Estou a fazer trabalho de investigação.
F2: Estou a fazer trabalho de pesquisa.

Nas frases acima, os termos pesquisa e investigação podem-se


substituir para este contexto. Ora vejamos a aplicação destes nas frases
seguintes:
F1: A Polícia de investigação criminal prendeu-lhes.
F2: *A Polícia de pesquisa criminal prendeu-lhes.
Centro de Ensino à Distância 92

Nestas duas frases acima vemos que estes termos não se podem
substituir no contexto em causa. Entretanto, caso haja a substituição,
uma das frases torna-se agramatical.

Das frases apresentadas podemos depreender que duas palavras por


mais que sejam sinónimas mas a sua ocorrência em contextos diversos
os diferentes é limitada, onde ocorre uma palavra, outra não ocorre, isto
é; há uma exclusão mútua em termos contextuais. Sendo assim,
podemos concluir que, a sinonímia íntegra não existe.

 Hiponímia e Hiperonímia
Hiponímia, relação de identidade de sentido estabelecida entre duas ou
mais palavras, onde o conteúdo de uma delas está contido no conteúdo
da outra em que um é termo geral ou hiperónimo e outros são as
partes ou hipónimo.
Ex1: Hiperónimo - animal.
Hipónimo - cão, gato, coelho, porco etc.
Ex2: Hiperónimo - país
Hipónimos: Moçambique, Angola, Guiné-Bissau.

 Paráfrases
A paráfrase acontece quando duas ou mais frases apresentam igualdade
de sentido ou ambas apresentam a mesma proposição. Exemplo:
a) Estes aviões chocaram-se.
b) Estes aviões envolveram-se em acidente.

Nestas frases houve alteração de mais de um elemento, mas o sentido


não se alterou. Com feito, estamos perante um caso de paráfrase porque
ambas expressam a mesma proposição ou veiculam o mesmo sentido.

Sumário
Palavras sinónimas são aquelas que apresentam igualdade de sentido.
Palavras hiponímia estabelecem uma relação de identidade de sentido
estabelecida entre duas ou mais palavras, onde o conteúdo de uma delas
Centro de Ensino à Distância 93

está contido no conteúdo da outra em que um é termo geral ou


hiperónimo e outros são as partes ou hipónimo.

A paráfrase acontece quando duas ou mais frases apresentam igualdade


de sentido ou ambas apresentam a mesma proposição.

Exercícios
Responda as questões que se seguem com base nos conhecimentos que
acabaste de obter.
1. Indique os sinónimos das palavras:
a) Atrapalho
b) Pertence
c) Envolver
2. Estabeleça a relação de hiponímia e hiperonímia das palavras:
a) Cão
b) Limão
c) Beira
d) África
e) Mangueira
3. Será que as frases abaixo são paráfrases uma da outra?
a) João é filho de Pedro.
b) Pedro é pai do João.
c) A minha mãe tem aquele carro.
d) Aquele carro pertence a minha mãe.
e) Rita foi à loja.
Centro de Ensino à Distância 94

Unidade 18: Propriedades Semânticas (oposição ou dissemelhança de sentido)

Introdução
Na unidade anterior estávamos a falar da relação de igualdade que as
palavras podem estabelecer. Nesta vamos falar sobre as relações de
oposição ou dissemelhança de sentido, mais concretamente sobre a
antonímia, contradição, homonímia, polissemia, e ambiguidade.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Conhecer as relações de oposição de sentido;
 Identificar palavras antónimas e polissémicas na relação de
oposição ou dissemelhança;
Objectivos
 Distinguir frases ambíguas e contraditórias.

18.1 Relações de Oposição ou Dissemelhança de Sentido

 Antonímia
Os itens linguísticos além de apresentarem a relação de igualdade de
sentido, apresentam também a relação de oposição de sentido, que se
denomina antonímia.

Com efeito, dá-se o nome de antonímia as palavras que aparecendo aos


pares não permitem a aplicação de um onde o outro tiver sido aplicado.
Ex: morto vs. vivo; verdadeiro vs. falso; amar vs. odiar.

 Contradição
Acontece quando duas ou mais frases apresentam desigualdade de
sentido.
Ex1: O António morreu é uma contradição de O António está vivo.
Ex2: Estás a dormir acordado. Estás acordado.
Centro de Ensino à Distância 95

 Polissemia
A Polissemia tem a ver com termos que possuem vários sentidos
relacionados. O termo polissemia subdivide-se em poli, que significa
muitos e sema, que significa significado.

Em semântica discute-se desde muito tempo sobre a diferença entre


homonímia vs. polissemia, porque parecem ser termos idênticos mas
não. Portanto, a diferença entre estes dois termos é que enquanto que
na homonímia as palavras não apresentam sentidos relacionados, na
polissemia apresentam sentidos relacionados.

 Ambiguidade
Uma palavra, sintagma ou frase apresenta relação de ambiguidade
quando possui mais de um significado.
Ex: O Pedro e Rosa são casados.

A frase acima tem dois sentidos que são:


(i) O Pedro é casado com alguém (x).
(ii) A Rosa é casada com alguém (y).

 Tipos de Ambiguidade
Existem dois tipos de ambiguidade, nomeadamente:
1. Lexical; que é aquela que ao nível da palavra.
Ex: Ele estava na minha companhia (comigo)
Ele estava na minha companhia (empresa)
Esta ambiguidade depende da homonímia (sentidos não relacionados) e
polissemia (sentidos relacionados).

2. Estrutural; quando uma frase apresenta diferentes sentidos. Ex:


– Vi o homem de binóculos.

Para esta frase podemos ter duas leituras:


(i) O locutor viu o homem através de binóculos e
(ii) O locutor viu o homem que tinha binóculos.
Centro de Ensino à Distância 96

 Homonímia
É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem
significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica, ou seja,
os homónimos:

As homónimas podem ser:


 Homógrafas: palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia.
Exemplos: gosto (substantivo) - gosto / (1ª pessoa singular presente
indicativo do verbo gostar) / conserto (substantivo) - conserto (1ª
pessoa singular presente indicativo do verbo consertar);
 Homófonas: palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita.
Exemplos: cela (substantivo) - sela (verbo) / cessão (substantivo) -
sessão (substantivo) / cerrar (verbo) - serrar (verbo);
 Perfeitas: palavras iguais na pronúncia e na escrita. Exemplos: cura
(verbo) - cura (substantivo) / verão (verbo) - verão (substantivo) /
cedo (verbo) - cedo (advérbio);
 Paronímia: É a relação que se estabelece entre duas ou mais
palavras que possuem significados diferentes, mas são muito
parecidas na pronúncia e na escrita, isto é, os parónimos: Exemplos:
comprimento – cumprimento; aura (atmosfera) - áurea (dourada);
conjectura (suposição) - conjuntura (situação decorrente dos
acontecimentos); descriminar (desculpabilizar) - discriminar
(diferenciar); desfolhar (tirar ou perder as folhas) - folhear (passar
as folhas de uma publicação); despercebido (não notado) -
desapercebido (desacautelado); geminada (duplicada) - germinada
(que germinou); mugir (soltar mugidos) - mungir (ordenhar);
sobrescrever (endereçar) - subscrever (aprovar, assinar); veicular
(transmitir) - vincular (ligar).
 Homonímia: Identidade fonética entre formas de significados e
origem completamente distintos. Exemplos: São (Presente do verbo
ser) - São (santo)
Centro de Ensino à Distância 97

Distinção entre Conotação e Denotação:


 Conotação é o uso da palavra com um significado diferente do
original, criado pelo contexto. Exemplos: Você tem um coração de
pedra.
 Denotação é o uso da palavra com o seu sentido original.
Exemplos: Pedra é um corpo duro e sólido.

Sumário
Palavras antónimas são aquelas que aparecendo aos pares não permitem
a aplicação de um se o outro for aplicado. Quando duas ou mais frases
apresentam desigualdade de sentido, há contradição. A polissemia tem
a ver com termos que possuem vários sentidos relacionados. A
ambiguidade acontece quando uma palavra contém mais de um
significado. Homonímia estabelece uma relação entre duas ou mais
palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, possuem a
mesma estrutura fonológica

A denotação é o uso da palavra com o seu sentido original. Por outro


lado, a conotação é o uso da palavra com um significado diferente do
original, criado pelo contexto.

Exercícios
1. Tendo em conta a relação de posição de sentido, diga em que
situação se encontram o grupo de frases abaixo:
A. O Pedro é irmão do sr. Sitoe.
B. A minha mãe não tem carro.
C. Esta senhora e o senhor que está do lado dela são casados.
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Unidade 19: Introdução à Pragmática

Introdução
Terminado o capítulo relacionado com a semântica (significação),
vamos nesta unidade abordar sobre uma outra componente da
gramática: a pragmática. Vais nesta unidade conhecer as principais
noções sobre a pragmática e seus princípios; vais conhecer igualmente
algumas funcionalidades dos actos locutórios dentro da comunicação
interpessoal.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Apresentar conceito de pragmática;
 Aludir sobre os princípios da pragmática;
 Definir actos ilocutórios.
Objectivos

19.1 Conceito de Pragmática


A língua está cheia de promessas implícitas, brindes, avisos, etc. Por
exemplo, na frase eu irei casar consigo é uma realização implícita de
uma promessa de circunstancia apropriada e tem o mesmo valor de
promessa de eu vou caçar-te. Obviamente que levantarmo-nos do nosso
lugar de copo na mão e gritarmos à saúde do nosso anfitrião constitui
um brinde tão genuíno como se disséssemos eu brindo a saúde do
nosso anfitrião.

O estudo de como fazemos coisas com frases é um dos actos


ilocutórios. Ao estudarmos os actos ilocutórios estamos perfeitamente
conscientes da importância do contexto em que ocorre o enunciado. Em
certas circunstancias a frase, ali tem um carneiro no armário é um
aviso, mas exactamente a mesma frase pode ser uma promessa ou
mesmo uma mera afirmação de um facto, consoante as circunstancias.

A teoria dos actos ilocutórios pretende explicar quando é que ao


fazermos perguntas queremos dar ordens ou ao dizermos uma coisa
com uma entoação especial (sarcástica) queremos dizer o contrario.
Centro de Ensino à Distância 99

Assim, à mesa, Podes me passar o sal? Significa a ordem Passa-me o


sal? Não se trata de um pedido de informação e sim não constitui
resposta adequada. Para além disso, consegue-se ainda muito humor
através de personagem que interpretam tudo literalmente:
Hamilton: De quem é essa capa; homem?
Coveiro: Minha, senhora…
Hamilton: Para que homem estás a abri-la?
Coveiro: Para homem nenhum.
Hamilton: Para que mulher então?
Coveiro: Para nenhuma também.
Hamilton: Quem irá então ai ser enterrado?
Coveiro: Alguém que foi uma mulher, senhor; mas, paz a sua
alma, está morta.
Hamilton: Que rigoroso é este patife! Tende-se falar segundo as
regras ou confundir-nos-á com os seus equívocos.

19.1.1 Princípios da Pragmática


O estudo da influência do contexto no modo como interpretamos as
frases denomina-se pragmática. A teoria dos actos ilocutórios faz parte
da pragmática que é um si mesma uma parte de que temos vindo a
denominar realização linguística.

Já referimos que podemos compreender uma frase mesmo que não


sejamos capaz de dizer que se ela é verdadeira ou falsa. Muitas vezes
sabemos qual valor de verdade de uma frase e o conhecimento a que
recorremos para tal decisão é o conhecimento do mundo (partindo de
principio de que a frase nem é analítica nem é contraditória). O
conhecimento do mundo faz parte do contexto, logo a pragmática inclui
o estudo de como os falantes aplicam o conhecimento do mundo para
interpretar enunciados.
Centro de Ensino à Distância 100

19.2 Actos Ilocutórios


Aos actos praticados quando são proferidas palavras dá-se o nome de
actos de fala.

Austin WORDS (1962), classificou estes actos da seguinte forma: há o


acto fonético, de produzir sons; o acto fáctico, de produzir uma frase
gramatical, e o acto rético, de dizer algo com sentido, actos que,
conjuntamente, constituem o acto locutório. Depois há o que se faz ao
dizer qualquer coisa, como ameaçar, orar ou prometer: são os actos
ilocutórios. Finalmente, dizer qualquer coisa pode produzir efeitos nos
ouvintes, como assustá-los: são os actos perlocutórios.

Tabela Síntese sobre os Actos Ilocutórios


Actos Ilocutórios Exemplos
Assertivos (ou representativos). Eu aceito
Os actos que se relacionam com o Acredito em Adapto-me a
locutor, com o valor de verdade do Admito
que se diz, isto é, do enunciado. Agarro-me à ideia de
Atendo ao facto
Coloco a questão
Encaro a hipótese
Insisto em
Sugiro
Acho
Considero

Asserções simples, com conteúdo Chumbas, tão certo como 2 e 2


proposicional equivalente às frases serem 4.
contendo os verbos acima Chumbas.
indicados.
Compromissivos ou comissivos Juro
Actos em que o locutor compromete- Tenciono
se a realizar, no futuro, o acto referido Prometo
no enunciado.
Frases simples no futuro do
indicativo ou seus substitutos
como o presente do indicativo
Amanhã eu serei alguém.

Expressões elípticas com valor


ilocutório comissivo:
Até logo, à porta do cinema.
Centro de Ensino à Distância 101

Expressivos. 1. Verbos ilocutórios expressivos:


Os actos que têm como objectivo Agradeço-te
exprimirem o estado psicológico do Congratulo-me
locutor em relação ao enunciado.
2. Verbos criadores de universos
de referência modalizados por
advérbios:
Acho mal….

3. Expressões exclamativas com


adjectivos valorativos, advérbios,
verbos experênciais, afectivos ou
expressivos:
Bom dia!
Que lindo vestido!
Gosto mesmo dessa planta!
Directivos (ordens, conselhos, pedidos,
Os actos em que o locutor pretende sugestões)
que o ouvinte realize, no futuro, o Aconselho
acto verbal ou não verbal referido no Convido
enunciado Espero
Exijo
Imploro
Lembro
Mando
Obrigo
Peço
Proíbo
Quero
Declarações A sessão está aberta.
Actos em que, pela sua enunciação, Declaro-vos marido e mulher.
alteram a realidade, criando novos Vamos começar a aula.
estados de coisas. Estes actos só
podem ser praticados por locutores
investidos de autoridade que lhes é
reconhecida pelos interlocutores.

Uma declaração é a expressão verbal


da realidade que ela própria cria ou de
que pontualmente depende.

Nota:
Existe também os Actos Perlocutórios que tem a ver com os actos de
fala realizados apenas se certos resultados forem obtidos — como, por
exemplo, os de persuadir, ridicularizar ou assustar alguém. Os actos
perlocutórios contrastam, portanto, com os actos locutórios e com os
actos ilocutórios, que são realizados independentemente de a elocução
respectiva ter o efeito desejado, ou sequer qualquer efeito que seja.
Centro de Ensino à Distância 102

Sumário
Em resumo definimos a pragmática define-se como sendo o estudo da
influência do contexto no modo como interpretamos as frases. Ou por
outra, denomina-se pragmática o estudo genérico de como o contexto
afecta a interpretação linguística.

A teoria dos actos ilocutórios faz parte da pragmática, que em si mesma


uma parte da realização linguística.

Os actos ilocutórios têm a ver com o estudo de como realizamos actos


através de enunciados sendo, no entanto, necessário o contexto para
determinarmos a natureza dos actos ilocutórios. Os actos ilocutórios
podem ser compromissivos (ou comissivos), assertivos (ou
representativos), expressivos, directivos e declarações. Cada um deles
assume uma significação específica no acto da fala.

Exercícios
1. Identificação do Acto Ilocutório
De entre as frases dadas abaixo, identifica quatro actos ilocutórios
assertivos (asserções que vinculam o locutor à verdade do que diz),
quatro actos ilocutórios expressivos (expressões de estados de espírito
do locutor), quatro actos compromissivos (compromissos, promessas
que responsabilizam o locutor), quatro actos declarativos (declarações
que valem, por si sós, para criar uma nova realidade), quatro actos
directivos (ordens, pedidos) e quatro actos declarativos assertivos (que
fundem os actos declarativos com os assertivos).
1. Comprometo-me a ajudar-te sempre que precisares.
2. Declaro-vos marido e mulher.
3. Proíbo-te de veres televisão a partir da dez da noite.
4. O Rui e a Daniela foram à praia.
5. Surpreende-me e agrada-me que fiques connosco.
6. Sai já desta casa!
7. Baptizo este avião com o nome de “Asas da liberdade”.
Centro de Ensino à Distância 103

8. Asseguro-te que vou cumprir o que prometi.


9. Tenho a certeza de que a nossa equipa está em forma
10. O tempo está frio e chuvoso.
11. Ordeno-te que te cales!
12. Admito que saias da reunião por uns minutos.
13. Lamento imenso o meu comportamento.
14. Garanto-te que estarei contigo logo à noite.
15. Vai fazer a tua cama imediatamente!
16. Irrita-me imenso a vaidade de certas pessoas.
17. Absolvo-te das faltas que cometeste.
18. A Marília e o Gonçalo são vegetarianos.
19. Enquanto presidente, considero que não há condições para
continuar a reunião.
20. Condeno o réu a dois meses de prisão.

2. Escolha cinco (5) tópicos e diga qual é o significado pragmático


deste conceito, hoje?" Isto é, como ele afecta a conduta humana?
 Sugestões de tópicos: Ecologia, Drogas, Família, Política,
Economia, Violência, Celebridades, Religiosidade, Arte e
Ciência.
 Observação: fazer antes uma definição prévia, com base em
dicionários e ou enciclopédias, dos conceitos a serem
trabalhados.
Centro de Ensino à Distância 104

Unidade 20: Noção da Sintaxe (estrutura dos constituintes)

Introdução
Nesta unidade vamos passar a falar de mais uma componente da
gramática: a sintaxe. Portanto, vamos conhecer alguns dos principais
constituintes sintagmáticos nas estruturas frásicas da língua portuguesa.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Apresentar o conceito básico da sintaxe;
 Identificar a principal estrutura de constituinte frásico;
 Fazer representação parentética e em árvore.
Objectivos

20.1 Conceito de Sintaxe


Sintaxe (do Grego clássico σύνταξις "disposição", de σύν syn, "juntos",
e τάξις táxis, "ordenação") é o estudo das regras que regem a
construção de frases nas línguas naturais. A sintaxe é a parte da
gramática que estuda a disposição das palavras na frase e das frases no
discurso, incluindo a sua relação lógica, entre as múltiplas combinações
possíveis para transmitir um significado completo e compreensível. À
inobservância das regras de sintaxe chama-se solecismo.

Na linguística, a sintaxe é o ramo que estuda os processos generativos


ou combinatórios das frases das línguas naturais, tendo em vista
especificar a sua estrutura interna e funcionamento. O termo "sintaxe"
também é usado para referir o estudo das regras que regem o
comportamento de sistemas matemáticos, como a lógica, e as
linguagens de programação de computadores.

Os primeiros passos da tradição europeia no estudo da sintaxe foram


dados pelos antigos gregos, começando com Aristóteles, que foi o
primeiro a dividir a frase em sujeitos e predicados. Um segundo
contributo fundamental deve-se a Frege que critica a análise
aristotélica, propondo uma divisão da frase em função e argumento.
Centro de Ensino à Distância 105

Deste trabalho fundador, deriva toda a lógica formal contemporânea,


bem como a sintaxe formal. No século XIX a filologia dedicou-se
sobretudo à investigação nas áreas da fonologia e morfologia, não tendo
reconhecido o contributo fundamental de Frege, que só em meados do
século XX foi verdadeiramente apreciado.

20.2 Estrutura dos Constituintes (constituintes imediatos)

20.2.1 Sujeito
Em análise sintáctica, o sujeito é um dos termos essenciais da oração,
responsável por realizar ou sofrer uma acção ou estado.

Segundo uma tradição iniciada por Aristóteles, toda oração pode ser
dividida em dois constituintes principais: o sujeito e o predicado. Em
português, o sujeito rege a terminação verbal em número e pessoa e é
marcado pelo caso reto quando são usados os pronomes pessoais. As
regras de regência do sujeito sobre o verbo são denominadas
concordância verbal. Na frase, Nós vamos ao teatro, vamos é uma
forma do verbo "ir" da primeira pessoa do plural que concorda com o
sujeito nós.

Para os verbos que denotam acção, frequentemente o sujeito da voz


activa é o constituinte da oração que designa o ser que pratica a acção e
o da voz passiva é o que sofre suas consequências. Sob outra tradição, o
sujeito (psicológico) é o constituinte do qual se diz alguma coisa.
Segundo Bechara, "É o termo da oração que indica a pessoa ou a coisa
de que afirmamos ou negamos uma acção ou qualidade". Exemplos:
 O pássaro voa. - Os pássaros voam.
 O menino brinca. - Os meninos brincam.
 Pedro saiu cedo. - Os jovens saíram.

Didacticamente, fazemos uma pergunta para o verbo: Quem é que? ou


Que é que? ― e teremos a resposta; esta resposta será o sujeito. O
sujeito simples tem um núcleo.
Centro de Ensino à Distância 106

 "O menino brinca." Quem é que brinca? O menino. Logo, o


menino é o sujeito da frase.

Um jeito de diferenciá-lo de objecto é o seguinte:


 "João come maçã". "Quem come maçã?" Perceba que o verbo
vem primeiro. "João" - Sujeito, por causa da ordem.

Lembre-se: Sempre que te pedirem para indicar o sujeito é só fazer uma


perguntinha básica: "Quem?" e você terá o sujeito na resposta. Por
exemplo: "A empresa fornecia comida aos trabalhadores", Agora
façamos a pergunta - "Quem fornecia comida aos trabalhadores?" - A
empresa. Portanto a empresa é o sujeito.

20.2.1.1 Tipos de Sujeito


O sujeito pode ser, segundo a Nomenclatura Gramatical Brasileira
(NGB), classificado em simples, composto, indeterminado,
desinencial ou implícito e inexistente. Nesse último caso, temos o que
se convencionou chamar de oração sem sujeito.

 Sujeito Simples
É o sujeito que tem apenas um núcleo representativo. Aumentar o
número de características a ele atribuídas não o torna composto.
Exemplos de sujeito simples (o sujeito está em itálico):

Obs: o verbo concorda com o sujeito, seja ele anteposto ou posposto.


Exemplo:
Maria é uma garota bonita.
A pequena criança parecia feliz com seu novo brinquedo.

 Sujeito Composto
É aquele que apresenta mais de um núcleo representativo, escrito na
oração. Exemplo: “Luana e Carla fizeram compras no sábado.”;
“Felipe e o amigo Bruno sairam para almoçar.”. O sujeito também
pode vir depois do verbo. Exemplo: Saíram Bruno e Felipe.
Centro de Ensino à Distância 107

 Sujeito subentendido desinencial, implícito, oculto ou elíptico


Sujeito desinencial é aquele que não vem expresso na oração, mas pode
ser facilmente identificado pela desinência do verbo. Exemplo: “Fechei
a porta”; “Quem fechou a porta?”.

Obs: Não confundir vocativo (expressão de chamamento) com sujeito.


Exemplo: “Querido aluno, leia sempre! (sujeito oculto: "você"- Leia
"você" sempre)”; “Querido candidato, fico feliz com seu sucesso!
(sujeito oculto "eu" - "eu" fico feliz com seu sucesso)”.

Apesar do sujeito não estar expresso, pode ser identificado na oração:


Fechei a porta Eu. E na frase Perguntaste mesmo isso ao professor?, o
identificado é Tu. Entretanto, cuidado para não criar confusão com a
segunda frase, que pode passar a ideia de elipse do sujeito ou sua
indeterminação; pois o sujeito simples está explícito e é o pronome
interrogativo Quem.

Obs.: As classificações do sujeito, em Língua Portuguesa, são apenas


três: simples, composto e indeterminado.

Dar o nome de Sujeito desinencial, elíptico ou implícito não equivale


a classificar o sujeito, mas somente determinar a forma como o sujeito
simples se apresenta dentro da estrutura sintáctica. No mais, a
classificação Sujeito Oculto foi abolida, por questões técnico-formais e
linguistico-gramaticais, passando a denominar-se Sujeito Simples
Desinencial, uma vez que se pode determiná-lo através dos morfemas
lexicais terminativos das formas verbais, situação na qual, para indicar
que o sujeito se encontra elíptico usa a forma pronominal recta
equivalente à pessoa verbal entre parênteses.

Assim, na estrutura sintáctica: "Choramos todos os dias", para indicar o


sujeito simples subentendido na forma verbal, coloca-se entre
parênteses da seguinte forma: (Nós) = sujeito simples desinencial.
Centro de Ensino à Distância 108

 Sujeito Indeterminado
Sujeito indeterminado é o que não se nomeia ou por não se querer ou
por não se saber fazê-lo. Podemos dizer que o sujeito é indeterminado
quando o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se
desconhecer quem executa a acção ou por não haver interesse no seu
conhecimento. Aparecerá a acção, mas não há como dizer quem a
pratica ou praticou.

Há três maneiras de identificar um sujeito indeterminado:


(i). O verbo se encontra na 3ª pessoa do plural.
 Dizem que eles não vão bem.
 Estão chamando o rapaz.

(ii). Com um Verbo Transitivo Indirecto, somente na terceira pessoa do


singular, mais a partícula se.
 Precisa-se de livros. (Quem precisa, precisa de alguma coisa →
verbo transitivo indirecto)
 Necessita-se de amigos. (Quem necessita, necessita de alguma
coisa → verbo transitivo indirecto)

A palavra se é um índice de indeterminação do sujeito, pois não se


pode dizer quem precisa ou quem necessita.
Cuidado! Caso você encontre frases com Verbo Transitivo Directo:
 Compram-se carros. (Quem compra, compra alguma coisa →
verbo transitivo directo)
 Vende-se casa. (Quem vende, vende alguma coisa → verbo
transitivo directo)

Não se caracteriza sujeito indeterminado, pois nos casos de VTD, a


partícula "se" exerce a função de partícula apassivadora e a frase se
encontra na voz passiva sintética. Transpondo as frases para a voz
passiva analítica, teremos:
 Carros são comprados (sujeito: "Carros");
 Casa é vendida (sujeito: "Casa").
Centro de Ensino à Distância 109

(iii). Com um Verbo Intransitivo, somente na terceira pessoa do singular,


mais a palavra se, índice de indeterminação do sujeito.
 Vive-se feliz, aqui.
 Aqui se dorme muito bem.

20.2.2 Predicado (gramática)


Na gramática, o predicado é um dos termos essenciais da oração; é
tudo aquilo que se diz ou o que se declara sobre o sujeito. Significado
de predicado: qualidade, característica, dote, prenda, virtude. Aquilo
que numa preposição se enuncia acerca do sujeito.

20.2.2.1 Tipos de Predicado


O predicado pode ser subdividido em Predicado nominal, verbal ou
verbo-nominal (também escrito verbonominal).

 Predicado Verbal
Possui um verbo significativo, também denominado de verbo de acção;
ou seja: verbo que exprime acção. O predicado verbal não pode ser
retirado, porque faz falta na frase. Exemplo:
 O ministro do Sítio anunciará um pacote de reajuste de
impostos.
 Bush invadiu o Iraque, baseando-se em justificativas
infundadas.

 Predicado Nominal
Possui por núcleo um sintagma nominal (substantivo ou, normalmente,
adjectivo), denominado, sintacticamente, de predicativo do sujeito.
Integra esse termo da oração um verbo de ligação, também chamado
de verbo não-significativo (uma vez que não expressa acção) ou de
verbo relacional.
 O acesso à internet banda larga está cada vez mais ao alcance
da classe média urbana.
 Franco-Dousha é o mais novo fórum linguístico da actualidade.
Centro de Ensino à Distância 110

 Predicado Verbo-nominal
 Os alunos saíram da aula alegres.
O predicado é verbo-nominal porque seus núcleos são um verbo
(saíram - verbo intransitivo), que indica uma acção praticada pelo
sujeito, e um predicativo do sujeito (alegres), que indica o estado do
sujeito no momento em que se desenvolve o processo verbal. É
importante observar que o predicado dessa oração poderia ser
desdobrado em dois outros, um verbal e um nominal. Veja:
 Os alunos saíram da aula. Estavam alegres.
 Estrutura do Predicado Verbo-Nominal

O predicado verbo-nominal pode ser formado de:


1. Verbo Intransitivo (não transita entre substantivos) + Predicativo do
Sujeito. Por Exemplo: Joana partiu contente. Sujeito Verbo
Intransitivo Predicativo do Sujeito.
2. Verbo Transitivo + Objecto + Predicativo do Objecto. Por
Exemplo: A despedida deixou a mãe aflita. Sujeito Verbo
Transitivo Objecto Directo Predicativo do Objecto.
3. Verbo Transitivo + Predicativo do Sujeito + Objecto. Por Exemplo:
Os alunos cantaram emocionados aquela canção. Sujeito Verbo
Transitivo Predicativo do Sujeito Objecto Directo

Saiba que:
Para perceber como os verbos participam da relação entre o objecto
directo e seu predicativo, basta passar a oração para voz passiva. Veja:
 Na Voz Activa: “As mulheres julgam os homens insensíveis”.
Sujeito Verbo Significativo Objecto Directo Predicativo do
Objecto.
 Na Voz Passiva: “Os homens são julgados insensíveis pelas
mulheres”. Verbo Significativo Predicativo do Objecto

O verbo julgar relaciona o complemento (os homens) com o predicativo


(insensíveis). Essa relação se evidencia quando passamos a oração para
a voz passiva.
Centro de Ensino à Distância 111

Obs: o predicativo do objecto normalmente se refere ao objecto directo.


Ocorre predicativo do objecto indirecto com o verbo chamar. Assim,
vem precedido de preposição. Por exemplo:
 Todos o chamam de irresponsável. Chamou-lhe ingrato.
(Chamou a ele ingrato.)

20.2.3 Complemento Verbal


Os complementos verbais completam o sentido dos verbos transitivos.
Estes complementos podem ligar-se ao verbo através de uma
preposição ou sem o auxílio dela. Quando há necessidade de
preposição, o objecto é dito indirecto; quando ela não é necessária, o
objecto é dito directo. Alguns verbos podem aceitar ao mesmo tempo
um objecto directo e outro indirecto. Em alguns casos, por questões de
estilo, adiciona-se uma preposição ao objecto directo. Neste caso o
objecto directo é dito preposicionado. Exemplos:
 Aviões possuem asas. - Asas é o objecto directo do verbo
possuir.
 Gosto de escrever. - De escrever é objecto indirecto do verbo
gostar.
 Neguei tudo aos impostores. - Tudo é objecto directo e aos
impostores é objecto indirecto do verbo negar.

20.2.3.1 Objecto Directo


Objecto directo é o termo da oração que completa o sentido de um
verbo transitivo directo. O objecto directo liga-se ao verbo sem o
auxílio de uma preposição. Indica o paciente, o alvo ou o elemento
sobre o qual recai a acção.

Identificamos o Objecto directo quando perguntamos ao verbo: "quem"


ou "o quê". Exemplos:
Vós admirais os companheiros. - Perguntamos, Vós admirais o quê? A
resposta é 'os companheiros', que é o objecto directo.
Nós amamos o cabelo da Gyselle. - Perguntamos: nós amamos o quê?
A resposta é 'o cabelo da Gyselle ', que é o objecto directo da oração.
Centro de Ensino à Distância 112

20.2.3.2 Objecto Directo Preposicionado


Há casos, no entanto, que um verbo transitivo directo aparece seguido
de preposição, que, por sua vez, precede o objecto directo. Nesses casos
temos o chamado objecto directo preposicionado. Exemplo: “Vós
tomais do vinho”.

Esta construção se faz da contracção de termos como: Vós tomais


"parte" do vinho. O objecto directo é obrigatoriamente preposicionado
quando expresso:
 Por pronome pessoal oblíquo tónico;
 Pelo pronome relativo "quem", de antecedente claro;
 Por pronome átono e substantivo coordenados.

20.2.3.3 Objecto Indirecto


O objecto indirecto é o termo da oração que completa um verbo
transitivo indirecto, sendo obrigatoriamente precedido de preposição.

Identificamos o objecto indirecto, quando perguntamos ao verbo: "a


quem" ou "a quê". A resposta será o Objecto indirecto.

 Objecto Indirecto Reflexivo


O objecto indirecto reflexivo é o objecto indirecto que indica a reflexão
da acção do sujeito. Exemplo:
 Caroline obedece aos pais.
(Caroline obedece a quem? Resposta: aos pais, Objecto Indirecto.)

20.3 Frase, Oração e Período


Neste tópico vamos trazer as noções dos termos acima ilustrados com o
intuito final de distingui-los uma vez que muitas das vezes faz-se
confusão.

Frase é todo enunciado linguístico capaz de transmitir uma ideia. A


frase é uma palavra ou conjunto de palavras que constitui um enunciado
de sentido completo.
Centro de Ensino à Distância 113

A frase não vem necessariamente acompanhada por um sujeito, verbo


ou predicado. Por exemplo: «Cuidado!» é uma frase, pois transmite
uma ideia - a ideia de ter cuidado ou ficar atento - mas não há verbo,
sujeito ou predicado. A frase define-se pelo propósito de comunicação,
e não pela sua extensão. O conceito de frase, portanto, abrange desde
estruturas linguísticas muito simples até enunciados bastante
complexos.

Já a oração é todo enunciado linguístico que tem o núcleo como o


verbo, apresentando, desta maneira e na maioria das vezes, "termos
essenciais da oração, sujeito e predicado". Exemplo:
 O menino sujou seu uniforme.

O que caracteriza a oração é o verbo, não importando que a oração


tenha sentido ou não sem ele.

O período é uma frase que possui uma ou mais orações, podendo ser:
 Simples: Quando constituído de uma só oração.
Ex.: João ofereceu um livro a Joana.

 Composto: Quando é constituído de duas ou mais orações.


Ex.: O povo anseia que haja uma eleição justa, pois a última
obviamente não o foi.

Os períodos compostos são formados por coordenação, por


subordinação ou por ambas as formas (coordenação-subordinação).

20.4 Tipos Básicos de Frases


 Frases declarativas: após a constatação de um fato, o emissor
faz uma declaração;
 Frases exclamativas: as que possuem exclamação;
 Frases imperativas: as que expressam ordens, proibições ou
conselhos; e
 Frases interrogativas: as que transmitem perguntas.
Centro de Ensino à Distância 114

E ainda há mais dois grupos secundários:


 Frases optativas: o emissor expressa um desejo (Ex.: Quero
comer picolé.);
 Frases imprecativas: o emissor expressa uma súplica através
de maldição. (Ex.: Que um raio caia sobre minha cabeça.).

20.4.1 Outros Tipos de Frases


 Frase simples (frase não-idiomática): do ponto de vista de uma
tradução, é a que pode ser traduzida literalmente para uma língua
(nota: em alguns casos, frases simples têm uma diferença mínima
em outra língua, geralmente de ordem gramatical.)
 Frase Cliché: são frases que podem reproduzir formas de
discriminação social e expressar um modo de pensar as relações
sociais, utilizando às vezes fragmentos de provérbios. Exemplos:
Lugar de Mulher é na Cozinha, Homem não presta, Ele é um Preto
de Alma Branca.
 Frase idiomática ou expressão idiomática: é a que não é traduzida
literalmente para outro idioma. No caso, em cada língua a ideia da
frase é expressa por palavras totalmente diferentes. Exemplo
portuguesa-inglês: Ele está na pior. = He’s down and out.
(Literalmente: Ele está abaixo e fora).
 Frase feita: é a que, a fim de expressar determinada ideia, é dita
sempre de forma invariável. Exemplo: Ele foi pego com a boca na
botija. Note-se que às vezes uma frase feita é, ao mesmo tempo,
uma expressão idiomática. Por exemplo, a frase feita acima citada é
dita em inglês como He was caught red-handed., ou, literalmente:
ele foi pego com as mãos vermelhas.
 Frase formal (não-coloquial, não-popular): é a dita segundo as
normas da linguagem padrão ou formal. Esta é usada formalmente
por escrito, e em circunstâncias formais também oralmente, em
textos não raro mais longos (em relação a textos sinónimos
coloquiais), às vezes com palavras difíceis (que não são do
conhecimento da população em geral).
Centro de Ensino à Distância 115

 Frase coloquial (coloquialismo): é a dita de forma coloquial, ou


seja, usando-se uma linguagem simples, em geral oralmente, com
textos resumidos e informais. Uma frase coloquial pode conter erros
gramaticais (uma ou mais palavras não estão na linguagem padrão),
mas costuma ser falada por qualquer pessoa, não importa o seu
nível social. Exemplos:
Formal: Está certo (concordo).
Coloquial: Tá nice.
Formal: Sou totalmente indiferente quanto a isto.
Coloquial: Eu estou nem aí.
Formal: Sua afirmação foi encarada com cepticismo.
Coloquial: Não acreditaram no que ele disse.
Formal: Paradoxalmente.
Coloquial: Ao contrário do que todo mundo pensa.
Formal: Ele foi falhado.
Coloquial: Ele foi pego com a boca na botija.

Sumário
Em síntese, sintaxe representa umas das componentes da gramática que
se dedica ao estudo das regras que regem a construção de frases nas
línguas naturais. Em termos de estrutura dos Constituintes, podemos
encontrar na sintaxe o sujeito que compõe-se por sujeito simples,
sujeito composto, sujeito subentendido desinencial, implícito, oculto ou
elíptico e sujeito Indeterminado. Outro constituinte imediato é o
predicado repartido em predicado verbal, predicado nominal e
predicado verbo-nominal e com os complemento verbal (objecto
directo e indirecto).

Existem diferenças quando falamos de frase, oração e período. As


frases têm os seguintes tipos básicos: declarativas, exclamativas,
imperativas, interrogativas, optativas e imprecativas.
Centro de Ensino à Distância 116

Outros tipos de frases são: frase simples (frase não-idiomática), frase


Cliché, frase idiomática ou expressão idiomática, frase feita, frase
formal (não-coloquial, não-popular e frase coloquial.

Exercícios
1. Identifique nas frases abaixo os principais constituintes frásicos.
a. Insisto em seres leal.
b. Sabemos estar você muito triste.
c. Era preciso rezarmos àquela hora.
d. Já pedi dinheiro para comprar mais selos.
2. Quais são as frases que contêm complementos de verbo. Indique a
sua respectiva classificação.
a. Construída a estrada, tornar-se-á fácil ir ao Norte.
b. Tenho certeza de ser bem sucedido.
c. Todos fizeram o firme propósito de não mais falar da vida
alheia.
d. Disse não saber de nada.
3. Indique a tipologia de frase das frases abaixo. Justifique.
a. A velhinha, arrastando a cesta pesada, agradeceu a caridade...
b. Suponho serem eles os responsáveis.
c. É necessário você entender isto.
d. Só fica aqui quem tem estatuto para tal.
4. Divida e classifique as orações.
a. Terminado o recital, o artista foi aplaudido.
b. Preparando-se para o jogo, os meninos não irão sair.
c. Descoberto o perigo, procurou-se evitá-lo.
d. Estas são as entradas obtidas no clube.
Centro de Ensino à Distância 117

Unidade 21: Língua e Fala

Introdução
Na presente unidade didáctica vamos dedicar a nossa aprendizagem
para aprofundarmos mais uma vez dos termos língua e fala. Com este
dois conceitos pretende-se encontrar os pontos convergentes e os
divergentes.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Definir língua e fala;
 Apresentar elementos teóricos e práticos que distinga a
concepção de língua e da fala.
Objectivos

21.1 Acepções sobre o Conceito de Língua.


Não é fácil definir a língua enquanto objecto de estudo da Linguística.
Ao contrário do que muitos pensam, a língua não é meramente um
objecto concreto. Ela é dotada de uma abstracção que contribui para a
dificuldade de defini-la. Por exemplo, se tomarmos uma determinada
palavra, veremos que ela não é apenas um objecto linguístico concreto.
É muito mais do que isso. É um som, um conjunto de sentidos e uma
história. Não é um objecto que cria o ponto de vista, mas o ponto de
vista que cria o objecto.

Se tomarmos essa palavra pelo som, veremos que ela apresenta duas
faces, sendo que uma não vale sem a outra. Ao se articular as sílabas
dessa palavra, produz-se um efeito acústico percebido pelo ouvido. No
entanto, esse efeito não existiria se não fossem os órgãos vocais. Por
isso, a língua não pode ser apenas o som, há de se considerar as
abstracções da impressão acústica, ou seja, o som e a impressão que ele
causa são interdependentes.

Por outro lado, som e ideia formam conjuntamente uma unidade


complexa, fisiológica e mental. É necessário, assim, admitir que a
Centro de Ensino à Distância 118

linguagem tem dois lados: o individual e o social, sendo impossível


conceber um sem o outro. Além disso, a linguagem implica, a cada
instante e simultaneamente, uma instituição actual e passada. Isso torna
complexo o estudo e a definição de língua.

É facilmente constatado que a Linguística apresenta várias formas


diferentes de abordagem, ou seja, não se dá de forma integral. Então
surge o dilema: ou nos aprofundamos em apenas uma forma de
abordagem, ou nos arriscamos à sua abordagem integral. Neste último
caso, aparecerá um aglomerado confuso de ideias, dificultando o
trabalho de quem a estuda. A solução seria, então, “colocar-se
primeiramente no terreno da língua e tomá-la como norma de todas as
manifestações da linguagem” (p.16). De fato, partindo-se da língua
como manifestação da linguagem, os estudos linguísticos tornam-se
menos complexos.

Mas afinal, o que é língua. Saussure afirma que língua não se confunde
com linguagem. Aquela é um produto, uma parte desta. Essencial, é
claro. Portanto, entende-se por língua como um conjunto de convenções
adoptadas por um determinado grupo social com o objectivo de
permitir a inter-relação entre seus membros. Já a linguagem é
multiforme, pertence a todos os domínios e não se classifica em
nenhuma categoria dos fatos humanos. Assim, podemos entender que a
língua é algo adquirido e convencionado por um determinado grupo.
Está, então, clara a diferença entre língua e linguagem.

Para se situar a língua no conjunto da linguagem, faz-se necessário


analisar o circuito da fala. Tal circuito ocorre, no mínimo e
obrigatoriamente, entre duas pessoas e divide-se em três partes:

1ª) parte psíquica → ocorre no momento em que o falante cria, em seu


cérebro, uma imagem que pretende transmitir ao ouvinte.
Centro de Ensino à Distância 119

2ª) Parte fisiológica → ocorre no momento em que o cérebro processa a


imagem criada pelo falante e a transmite ao aparelho fonador.

3ª) Parte física → ocorre no momento em que as ondas sonoras se


propagam da boca do falante até o ouvido do ouvinte.

Esse processo é contínuo durante o acto da comunicação, já que vai se


revezando entre as duas pessoas envolvidas no acto. E ainda pode ser
visto sob duas partes: a activa, chamada de executiva, que vai do centro
de associação de uma pessoa ao ouvido da outra; e a passiva, chamada
de receptiva, que vai do ouvido desta ao seu centro de associação. Esse
processo dá-se no plano social e não no individual, pois indivíduos são
unidos pela linguagem e reproduzem os mesmos signos.

Sobre essas partes da língua, Saussure ressalta alguns pontos


importantes. Em relação à parte física, por exemplo, esta desaparece
quando o falante não utiliza a mesma língua do ouvinte, portanto não
haverá a compreensão.

Outro ponto importante é que a parte executiva se forma de marcas que


são as mesmas em todos os indivíduos falantes. Porém, cada um deles
possui um conjunto de informações armazenadas em seu cérebro que se
encaixam no plano individual. Por isso a língua nunca está completa.
Só a estará se considerarmos o conjunto todo, ou seja, a massa de
indivíduos tendo todos as mesmas informações. Dessa forma, é possível
concluirmos que uma língua jamais estará completa.

21.2 Diferenças entre a Língua e Fala


Saussure separa a língua da fala, colocando a primeira no plano social e
a segunda, no individual. Ao estabelecer essa separação, o autor deduz
que a língua não é uma função do falante, mas sim um produto que o
indivíduo regista passivamente, ao passo que a fala é um ato de vontade
e de inteligência, pois o falante exprime seus pensamentos.
Centro de Ensino à Distância 120

Em outras palavras, o falante não tem a capacidade de criar ou


modificar, sozinho, uma língua, mas pode expressar o que tem vontade.
Nota-se que Saussure acaba por não definir a língua e afirma, sobre
isso, que qualquer definição sobre um tema é vã, logo não se deve partir
de um termo para definir as coisas, mas simplesmente defini-las.

No entanto, ele aponta algumas características próprias da língua. Ela é


um objecto definido dentro dos fatos da linguagem, por ser sua parte
social, portanto exterior ao indivíduo, é um contrato estabelecido entre
os membros de uma comunidade, pode ser estudada separadamente e é
de natureza homogénea, ao passo que a linguagem é de natureza
heterogénea.

A língua é concreta, o que facilita seu estudo. Embora seja psíquica, ela
não é feita de abstracções, é sediada no cérebro do indivíduo e nela
existe a imagem acústica, que pode se traduzir em imagem visual, no
caso, a escrita.

Sumário
Nesta unidade didáctica é importante reter os seguintes conceitos:
A língua é uma forma particular de linguagem, um sistema de signos
linguísticos, que pode ser utilizado por meio da fala ou da escrita. É
comum a um povo, a uma nação, a uma cultura, e constitui o seu
instrumento de comunicação. Portanto, a língua é a linguagem verbal
utilizada por um grupo de indivíduos que constitui uma comunidade.
Como podemos observar, a língua é um tipo de linguagem; é a única
modalidade de linguagem baseado em palavras. O alemão e o português
são línguas diferentes.

Se por um lado, a língua é um sistema de signos linguísticos que serve


de base de comunicação numa determinada comunidade, por outro, a
fala é a realização concreta da língua; ela é feita por um indivíduo da
comunidade num determinado momento. A fala é um acto individual
que cada membro pode efectuar com o uso da linguagem.
Centro de Ensino à Distância 121

Exercícios
Resolva o exercício que se segue.
1. Diferencie língua, linguagem, fala e discurso.
2. “O som e ideia formam conjuntamente uma unidade complexa,
fisiológica e mental”. Apresente argumentos validos para comentar
o trecho em destaque.
3. Um indivíduo pode utilizar linguagem para comunicar-se, mas nem
tão pouco recorrer a uma determinada língua. O mesmo indivíduo
pode servir-se da língua para comunicar-se sem contudo recorrer a
fala. Concorda com estas afirmações? Fundamente.
4. O circuito da fala depende unicamente do cérebro e da boca.
Concorda? Faça uma breve reflexão teórica que justifica a sua
posição.
Centro de Ensino à Distância 122

Unidade 22: A Língua na Sociedade (Noções da Sociolinguística)

Introdução
Na unidade anterior falamos sobre a relação entre a língua e a fala. Na
presente unidade continuaremos a falar da língua mas agora numa outra
vertente: na sua relação com a sociedade. Ao entrarmos para este
campo vamos reflectir sobre alguns conceitos ligados a sociolinguística
este que é umas das áreas de estuda da linguística.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Demonstrar a relação entre a língua e sociedade baseando na
hipótese de Sapir e Worf e do paradoxo de Saussure

Objectivos

22.1 Relação Língua e Sociedade


Uma língua só existe dentro de uma colectividade, independente da
vontade do falante. Ela é a soma de tudo o que as pessoas dizem e
envolve dois aspectos importantes: as combinações individuais e
voluntárias e os actos de fonação, responsáveis pela execução de tais
combinações. Por isso, nada há de colectivo na fala, não sendo possível,
assim, reunir, no mesmo ponto de vista, língua e fala. Por essas razões,
Saussure concebe a existência de duas Linguísticas: a da língua, que
estuda a colectividade; e a da fala, que estuda a individualidade.

Não se pode estudar uma língua sem considerarem-se seus elementos


externos. Estes são muito importantes nos estudos linguísticos.
Consideram-se como elementos externos a história e os costumes de
uma nação, pois esta é constituída pela língua. Há de se ressaltarem as
relações existentes entre a língua e a história política. Grandes
acontecimentos históricos, com as conquistas e as colonizações, têm
importância incalculável nos estudos dos fatos de uma língua, uma vez
que acarretam transformações nela.
Centro de Ensino à Distância 123

É também de grande importância as relações da língua com as


instituições, como a Igreja e a escola. Nesta última, estuda-se, por
exemplo, a língua literária, fenómeno histórico, que ultrapassa os
limites estabelecidos pela própria literatura. Um linguista deve estudar
as relações entre a língua literária e a língua corrente, pois a primeira,
produto de uma cultura, separa-se naturalmente da segunda.

Fica claro, assim, que os factores históricos e geográficos estão


directamente ligados à língua, embora na realidade não afectam seu
organismo interno, sendo, portanto, impossível, segundo o autor,
separar os elementos externos dos internos nos estudos linguísticos. Só
se conhecem os factores internos de uma língua, conhecendo-se os
externos. Como exemplo desse facto, Saussure cita os empréstimos
linguísticos, chamados de estrangeirismo. Estes, ao se incorporarem a
um determinado idioma, não devem ser considerados como
estrangeirismos, desde que sejam estudados dentro do idioma.

22.1.1 Hipótese de Sapir e Worf


Sapir-Whorf, nos seus estudos linguísticos relacionam o funcionamento
da mente e da linguagem. Eles procuram compreender em que medida a
linguagem influencia o pensamento, e vice-versa. Há várias
perspectivas e sugestões.

A hipótese de Sapir-Whorf sugere que a linguagem limita a extensão na


qual os membros de uma comunidade linguística podem pensar sobre
os temas. (Há um paralelo dessa hipótese em 1984, romance de George
Orwell.)

22.1.2 O Paradoxo de Saussure


Ao longo da sua actividade linguística, Ferdinand de Saussure
apresenta conceitos antagonismo para estabelecer relação entre
conceitos para além do que já referimos com relação a língua vs. fala.
Centro de Ensino à Distância 124

 Sincronia vs Diacronia
Ferdinand de Saussure enfatizou uma visão sincrónica, um estudo
descritivo da linguística em contraste à visão diacrónica do estudo da
linguística histórica, estudo da mudança dos signos no eixo das
sucessões históricas, a forma como o estudo das línguas era
tradicionalmente realizado no século XIX. Com tal visão sincrónica,
Saussure procurou entender a estrutura da linguagem como um sistema
em funcionamento em um dado ponto do tempo (recorte sincrónico).

 Sintagma vs Paradigma
O sintagma, definido por Saussure como “a combinação de formas
mínimas numa unidade linguística superior”, e surge a partir da
linearidade do signo, ou seja, ele exclui a possibilidade de pronunciar
dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo só passa a ter valor a
partir do momento em que ele se contrasta com outro elemento.

Já o paradigma é, como o próprio autor define, um "banco de reservas"


da língua fazendo com que suas unidades se oponham pois uma exclui
a outra.

Sumário
Uma língua só existe dentro de uma colectividade, independente da
vontade do falante. A língua é eminentemente um acto social. Na
relação entre a linguagem e o pensamento (mente) a hipótese de Sapir-
Whorf defende que a linguagem limita a extensão na qual os membros
de uma comunidade linguística podem pensar sobre os temas.

Exercícios
1. Apresente cinco exemplos concretos que se estabelece relação entre
uma sociedade e uma determinada língua.
2. “Primeiro pensamos, depois falamos” ou “primeiro falamos, depois
pensamos”. A propósito da hipótese de Sapir-Whorf, reproduza
argumentos que defenda uma das ideias notada.
Centro de Ensino à Distância 125

Unidade 23: Princípios da Mudança Linguística

Introdução
Nesta que é, por sinal, a anti-penúltima unidade continuamos a reflectir
sobre a sociolinguística, uma das áreas da linguística. Falaremos sobre
alguns princípios que norteiam os factores de variação ou mudanças
linguística.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Apresentar o conceito de variação e mudanças linguísticas;
 Aludir sobre línguas naturais (línguas vivas e mortas);
 Indicar os factores de mudança e variação linguística;
Objectivos
 Distinguir língua e dialecto;
 Apresentar conceito de bilinguismo e seus tipos;

23.1 Conceitos de Variação e Mudança Linguísticas


Variação de uma língua é o modo pelo qual ela diferencia-se,
sistemática e coerentemente, de acordo com o contexto histórico,
geográfico e sócio-cultural no qual os falantes dessa língua manifestam-
se verbalmente.

Variedade é um conceito maior do que estilo de prosa ou estilo de


linguagem. Alguns escritores de sociolinguística usam o termo lecto,
aparentemente um processo de criação de palavras para termos
específicos, são exemplos dessas variações:
 dialectos (variação diatópica), isto é, variações faladas por
comunidades geograficamente definidas.
o idioma é um termo intermediário na distinção dialeto-
linguagem e é usado para se referir ao sistema
comunicativo estudado (que poderia ser chamado tanto
de um dialecto ou uma linguagem) quando sua condição
em relação a esta distinção é irrelevante (sendo,
Centro de Ensino à Distância 126

portanto, um sinónimo para linguagem num sentido mais


geral);
 Sociolectos, isto é, variações faladas por comunidades
socialmente definidas.
 Linguagem padrão ou norma padrão, padronizada em função
da comunicação pública e da educação
 Idiolectos, isto é, uma variação particular a uma certa pessoa
 Registos (ou diátipos), isto é, o vocabulário especializado e/ou
a gramática de certas actividades ou profissões
 Etnolectos, para um grupo étnico
 Ecoletes, um idiolecto adotado por uma casa

As variações como dialectos, idiolectos e sociolectos podem ser


distinguidos não apenas por seu vocabulário, mas também por
diferenças na gramática, na fonologia e na versificação. Por exemplo, o
sotaque de palavras tonais nas línguas escandinavas tem forma
diferente em muitos dialectos. Um outro exemplo é como palavras
estrangeiras em diferentes sociolectos variam em seu grau de adaptação
à fonologia básica da linguagem.

Certos registos profissionais, como o chamado legalês, mostram uma


variação na gramática da linguagem padrão. Por exemplo, jornalistas ou
advogados ingleses frequentemente usam modos gramaticais, como o
modo subjuntivo, que não são mais usados com frequência por outros
falantes. Muitos registos são simplesmente um conjunto especializado
de termos (veja jargão).

É uma questão de definição se a gíria e o calão podem ser considerados


como incluídos no conceito de variação ou de estilo. Coloquialismos e
expressões idiomáticas geralmente são limitadas como variações do
léxico, e de, portanto, estilo.
Centro de Ensino à Distância 127

23.2 Tipos de Variação


23.2.1 Variação Histórica
Acontece ao longo de um determinado período de tempo, pode ser
identificada ao se comparar dois estados de uma língua. O processo de
mudança é gradual: uma variante inicialmente utilizada por um grupo
restrito de falantes passa a ser adoptada por indivíduos
socioeconomicamente mais expressivos.

A forma antiga permanece ainda entre as gerações mais velhas, período


em que as duas variantes convivem; porém com o tempo a nova
variante torna-se normal na fala, e finalmente consagra-se pelo uso na
modalidade escrita. As mudanças podem ser de grafia ou de
significado.

23.2.2 Variação Geográfica


Trata das diferentes formas de pronúncia, vocabulário e estrutura
sintáctica entre regiões. Dentro de uma comunidade mais ampla,
formam-se comunidades linguísticas menores em torno de centros
polarizadores, política e economia, que acabam por definir os padrões
linguísticos utilizados na região de sua influência. As diferenças
linguísticas entre as regiões são graduais, nem sempre coincidindo.

23.2.3 Variação Social


Agrupa alguns factores de diversidade: o nível sócio-económico,
determinado pelo meio social onde vive um indivíduo; o grau de
educação; a idade e o género. A variação social não compromete a
compreensão entre indivíduos, como poderia acontecer na variação
regional; o uso de certas variantes pode indicar qual o nível sócio-
económico de uma pessoa, e há a possibilidade de alguém oriundo de
um grupo menos favorecido atingir o padrão de maior prestígio.
Centro de Ensino à Distância 128

23.2.4 Variação Estilística


Considera um mesmo indivíduo em diferentes circunstâncias de
comunicação: se está em um ambiente familiar, profissional, o grau de
intimidade, o tipo de assunto tratado e quem são os receptores. Sem
levar em conta as graduações intermediárias, é possível identificar dois
limites extremos de estilo: o informal, quando há um mínimo de
reflexão do indivíduo sobre as normas linguísticas, utilizado nas
conversações imediatas do quotidiano; e o formal, em que o grau de
reflexão é máximo, utilizado em conversações que não são do dia-a-dia
e cujo conteúdo é mais elaborado e complexo.

Não se deve confundir o estilo formal e informal com língua escrita e


falada, pois os dois estilos ocorrem em ambas as formas de
comunicação.

As diferentes modalidades de variação linguística não existem


isoladamente, havendo um inter-relacionamento entre elas: uma
variante geográfica pode ser vista como uma variante social,
considerando-se a migração entre regiões do país. Observa-se que o
meio rural, por ser menos influenciado pelas mudanças da sociedade,
preserva variantes antigas. O conhecimento do padrão de prestígio pode
ser factor de mobilidade social para um indivíduo pertencente a uma
classe menos favorecida.

23.2 Línguas Naturais


Noam Chomsky, é o linguista que muito dedicou seus estudos sobre as
línguas naturais. Segundo ele, deve haver uma gramática universal
regendo as línguas em suas formas sistémicas segundo princípios
passíveis de serem explicitados.

Língua natural (língua ordinária, língua humana ou somente


“língua” no uso comum) é um conceito formulado pela filosofia da
linguagem e pela linguística para se referir às linguagens desenvolvidas
naturalmente pelo ser humano como instrumento de comunicação,
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como as línguas faladas e a língua de sinais. As linguagens formais,


desenvolvidas de forma artificial, não constituem línguas naturais,
assim como as linguagens do mundo animal. Entre as primeiras
encontram-se a língua escrita, o Esperanto, a linguagem de computador,
etc. Entre as últimas, a linguagem das abelhas, por exemplo,
primeiramente estudada por Karl Von Frisch.

As línguas de sinais ou línguas gestuais são também línguas naturais,


visto possuírem as mesmas propriedades características: gramática e
sintaxe com dependências não locais, infinidade discreta e
generatividade/criatividade. Línguas de sinais ou gestuais como a norte-
americana, a francesa, a brasileira ou a portuguesa estão devidamente
documentados na literatura científica.

23.3 Conceitos de Língua e Dialectos


Língua, tal como o português, o inglês, o espanhol e o basco (falado na
região dos Pirineus, incluindo parte da França e da Espanha), é um
sistema formado por regras e valores presentes na mente dos falantes de
uma comunidade linguística e aprendido graças aos inúmeros actos de
fala com que eles têm contacto.

Por sua vez, idioma é um termo referente à língua usado para identificar
uma nação em relação às demais e está relacionado à existência de um
estado político. Por isso, espanhol é um idioma, mas o basco, não, e o
português é uma língua e um idioma. Ou seja, o idioma sempre está
vinculado à língua oficial de um país. Já dialecto é a designação para
variedades linguísticas, que podem ser regionais (como o português
falado na região francesa de Champanhe, com seus sotaques e suas
expressões particulares) ou sociais (o português falado pelos
economistas, com jargões).

23.4 Noção de Bilinguismo e seus Tipos


O termo bilinguismo, aplicado ao indivíduo, pode significar
simplesmente a capacidade de expressar-se em duas línguas. Numa
Centro de Ensino à Distância 130

comunidade, pode ser definido como a coexistência de dois sistemas


linguísticos diferentes (língua, dialecto, etc.), que os falantes utilizam
alternadamente, a depender das circunstâncias, com igual fluência ou
com a proeminência de um deles.

O bilinguismo constitui a forma mais simples de multilinguismo (que,


por sua vez, se opõe ao monolinguismo), e pode ocorrer em diversas
situações, tais como:
 Uma segunda língua é aprendida na escola:
 Emigrantes estrangeiros falam a língua do país hospedeiro
(mesmo que com alguma dificuldade),
 Em países nos quais há mais de uma língua oficial,
 Crianças cujos pais são de diferentes nacionalidades[4],
 Pessoas surdas que, além da língua de sinais, utilizam alguma
língua oral, na tentativa de se comunicar com a comunidade
ouvinte (observando-se que o bilinguismo dos surdos é um caso
especial).

Estes grupos de pessoas têm necessidades distintas e desenvolvem, por


isso, capacidades distintas nas línguas que falam, dependendo das
necessidades e dos diferentes contextos.

No que respeita à educação de crianças como bilingues, Saunders


mostra que existem vantagens e desvantagens neste processo.

 Vantagens do Ensino Bilingue


1. Quando adquirido na infância permite que a criança tenha a
pronúncia de um nativo;
2. Desde a infância faz com que a criança desenvolva
superioridade em habilidades em geral;
3. Q.I. e um grau de aprendizado superior àquele de crianças
monolingues;
4. Proficiência nas duas línguas, não sendo necessário processo
formal de aprendizado.
Centro de Ensino à Distância 131

 Desvantagens do Bilinguismo
1. Pode retardar a inteligência verbal, isto é, a criança pode
demorar mais para falar, pois aprenderá dois sinónimos para
cada palavra;
2. Uma língua sempre, de uma forma ou de outra, influencia a
outra;
3. Pode ocorrer "triggering", ou seja, mudança de idioma, caso não
se saiba uma palavra em uma das línguas.

Sumário
Em síntese, podes reter os seguintes conceitos:
Variação de uma língua é o modo pelo qual ela diferencia-se,
sistemática e coerentemente, de acordo com o contexto histórico,
geográfico e sócio-cultural no qual os falantes dessa língua manifestam-
se verbalmente.

Existem quatro tipos de variação linguística, a saber: variação histórica,


variação geográfica, variação social e variação estilística.

Língua natural (língua ordinária, língua humana ou somente “língua”


no uso comum) é um conceito formulado pela filosofia da linguagem e
pela linguística para se referir às linguagens desenvolvidas
naturalmente pelo ser humano como instrumento de comunicação,
como as línguas faladas e a língua de sinais.

Dialecto é a designação para variedades linguísticas, que podem ser


regionais ou sociais.

Bilinguismo é a capacidade de expressar-se em duas línguas.


Centro de Ensino à Distância 132

Exercícios
Com os apontamentos acima e com outra bibliografia auxiliar,
respondas as questões que se seguem.
1. Apresente exemplos claros dos seguintes termos:
 Língua padrão
 Dialectos
 Língua nacional
 Sociolectos
 Idiolectos
 Ecoletes
 Registos (ou diátipos)
 Etnolectos
2. Uma determinada comunidade é invadida por mercadores e de
alguma forma os hábitos linguísticos alteram por influência da
língua dos vientes. A que tipo de variação linguística estamos
perante? Justifique.
3. Diferencie língua natura da língua viva. Ao mesmo tempo,
apresente seus pontos comuns.
Centro de Ensino à Distância 133

Unidade 24: Noções da Psicolinguística

Introdução
Ao fecharmos este módulo, vamos falar de uma outra área de estudos
linguísticos: a psicolinguística. Tal como fizemos para a unidade em
que falamos sobre a sociolinguística, apresentaremos algumas noções
básicas da psicolinguística e suas componentes.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Conceituar psicolinguística
 Indicar ramos da psicolinguística.

Objectivos
24.1 Conceito de Psicolinguística
Psicolinguística é o estudo das conexões entre a linguagem e a mente
que começou a se destacar como uma disciplina autónoma nos anos
1950. Ela não se confunde com a Psicologia da Linguagem por seu
objecto e metodologia, apesar de muitos teóricos afirmarem que a
Psicolinguística é um ramo interdisciplinar da Psicologia e da
Linguística. De alguma maneira, seu aparecimento foi promovido pela
insistência com que o linguista Noam CHOMSKY defendeu, naquela
época, que a linguística precisava ser encarada como parte da
psicologia cognitiva.

A psicolinguística analisa os processos que dizem respeito à


comunicação humana, mediante o uso da linguagem (seja ela de forma
oral, escrita, gestual etc.). Essa ciência também estuda os factores que
afectam a descodificação, ou seja, as estruturas psicológicas que nos
capacitam a entender expressões, palavras, orações, textos. A
comunicação humana pode ser considerada uma contínua percepção-
compreensão-produção. A riqueza da linguagem faz com que esse
contínuo se processe de várias maneiras. Assim, dependendo da
modalidade, visual ou auditiva do estímulo externo, as etapas sensoriais
Centro de Ensino à Distância 134

em percepção serão diferentes. Também existe variabilidade na


produção da linguagem; podemos falar, gesticular ou escrever.

24.2 Áreas da Psicolinguística


Outras áreas da psicolinguística são centradas em temas como a origem
da linguagem no ser humano. Algumas analisam o processo de
aquisição da língua materna e também a aquisição de uma língua
estrangeira. Segundo Noam Chomsky, teórico de destaque na escola
inatista, os humanos têm uma Gramática Universal inata (conceito
abstracto que abrange todas as línguas humanas). Já os funcionalistas,
que se opõem a essa corrente de estudos, afirmam que a aquisição da
linguagem somente ocorre através do contacto social.

Em suma, a Psicolinguística se interessa pela produção e compreensão


da linguagem. A ideia é saber o que se passa na cabeça de um falante
quando fala/ouve. Estas tarefas dizem respeito à comunicação humana.

Sumário
Nesta unidade detenha os conceitos de Psicolinguística que é o estudo
das conexões entre a linguagem e a mente. Ela é um ramo
interdisciplinar da Psicologia e da Linguística. A psicolinguística
analisa qualquer processo que diz respeito à comunicação humana,
mediante o uso da linguagem (seja ela oral, escrita, gestual etc.).

Exercícios
1. Até que ponto a linguagem relaciona-se com a mente?
2. “A comunicação humana pode ser considerada uma contínua
percepção-compreensão-produção.” Argumente.
3. Na produção da linguagem ocorre a mutabilidade. Por outra, a
linguagem é mutável. O que é que se pode dizer a esse respeito?
4. Sobre a aquisição da linguagem humana, a psicolinguística
apresenta dois argumentos. Quais são? Apresente exemplos
concretos que justificam cada uma das hipóteses.
Centro de Ensino à Distância 135

BIBLIOGRAFIA
CAMARA, J: M. Princípios da Linguística Geral. Rio de Janeiro,
Padrão Padrão-Livraria Editora Ltd. s/d.
CAMPOS, M.H.C, & XAVIER. (1991). Sintaxe e Semântica do
Português. Lisboa: Universidade Aberta.
DUCROT, O & TODOROV, T. (1982). Dicionário das Ciências da
Linguagem. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
FARIA, I. H et al. (1996). Introdução à Linguística Geral e
Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho.
FROMKIN, V & RODMAN, R. (1993). Introdução à Linguagem.
Coimbra: Livraria Almedina.
KRISTEVA, Júlia. (1988). História da Linguagem, Lisboa, Edições 70.
MATEUS, Maria Helena, e tal, (2003). Gramática da Língua
Portuguesa. Lisboa. Caminho.
SCLIAR CABRAL, Leonor (1991). Introdução à Psicolinguística.
Madrid: Editora Ática.
WARDHAUGH, R. (1989). An Introduction to Sociolinguistics.
Oxford: Basil Blackwell.

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