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Revista Do IHGRN 1941-1943

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REVI STA

DO

NSTITUTO HISTORICO E GEOGRÁFICO


DO

Hio Grande do Norte


FUNDADO A 21) DE MARÇO DE 1902
Vols. XXXVIII a XL

1941 1943

REDATORES:
Dr. Nestor Lima
Desembargador Antonio Soares
Dr. Luis da Camara Cascudo

NATAL
Tip. GALHARDO
1946
INSTITUTO HISTORICO E GEOGRÁFICO DO

RIO GRANDE DO NORTE

DIR ETO R IA E C O M IS S Õ E S PERMANENTES

NO B I Ê N IO DE 1941— 1943:

PRESIDENTE: Dr. Nestor dos Santos Lima (reeleito).


Io SECRETARIO: Desemb. Antonio Soares de Araújo
(reeleito).
2o SECRETARIO: Dr. Matias Maciel Filho (reeleito).
ORADOR: Dr. Luis da Camara Cascudo (reeleito).
TESOUREIRO: Dr. Vicente de Lemos Filho (reeleito).
Io e 2’ VICE-PRESIDENTE: Desembs. João Dionisio Fil-
gueira e Luis Tavares de Lira (reeleitos).
SUPLENTE DE 2“ SECRETARIO: Vago.
ADJUNTO DE ORADOR: Desemb. Manoel Benicio Filho,
(reeleito).
ADJUNTO DE TESOUREIRO: Desemb. SUvino Bezerra
Neto (reeleito).
ADJUNTO DO DIRETOR DA BIBLIOTECA : Vago.
COMISSÃO DE FAZENDA E ORÇAMENTO: Drs. Va­
rela Santiago, Tomás Salustino e Joaquim Inácio de Carva ho
Filho.
COMISSÃO DE ESTATUTOS E REDAÇÃO DA “RE­
VISTA” : Drs. Nestor Lima, Antonio Soares e Camara Cascudo
(reeleitos).
LIMITES DO SERIDÓ COM O
ESTADO DA PARAÍBA
JOSÉ AUGUSTO
(Socio benemerito)
A determinação dos limites da zona do Seridó
com as regiões visinhas da Paraíba não foi sempre
um ponto pacifico e tem também a sua historia.
O Seridó, como toda a Capitania do Rio Grande,
pertenceu, sob o ponto de vista judiciário, á comarca
da Paraíba, isso até o alvará de 18 de Março de
1818, quando El Rei julgou necessário, tendo em
vista «os graves prejuisos que ao seu serviço, ao
interesse e segurança publica e á bôa administração
da justiça» decorriam da anexação judiciária das duas
Capitanias, dar autonomia ao Rio Grande, creando
a comarca de Natal, que passou a superintender a
vida forense de todo o território Riogranderfse.
Mas, as populações paraibanas de Pombal con­
tinuaram a considerar da sua Capitania certos tre­
chos do território do Seridó. Alguns iam além e
achavam mesmo que todo o Seridó devia pértencer
á Paraíba.
Ainda recentemente um historiador ilustre,
Coriolano de Medeiros, afirmou que «já pertenceram
d Paraíba, sem que se saiba que motivo justificou a
mutilação, toda a ribeira do Seridó e territórios dos
atuais municípios Riograndenses : Acarí, Jardim
Caicó, Serra Negra», (O Dicionário Corografico do
Estado da Paraíba», pag. 54.)
A Vila Nova do Príncipe fôra creada em 31 de
julho de 1788, instalando-se a sua Camara Municipal
autonoma, em virtude da autorisação expressa do
Governador de Pernambuco, Dom Tomás José de
Mélo ao Ouvidor geral Andrade Brederode, mas só
depois da creaçãb da comarca de Natal, em 1818, é
que as reclamações paraibanas começaram a aparecer
mais insistentes e constantes.
t) Alvafá de-1818 diz na sua integra o seguinte :
«Alvará de 18 de Março de 1818
Crêa a nova comarca do Rio Grande do Norte,
da Capitania do mesmo nome :
«Eu El Rei faço saber aos que este Alvará virem,
que tomando em consideração os graves prejuizos
que ao meu real serviço, ao interesse e segurança
publica e á bôa administração da justiça, neces­
sariamente resultam de se achar a Capitania do
Rio Grande do Norte anexa á comarca da Paraíba
por não ser praticável que um só Ministro, a quem
é sumamente custoso corrigir bem a comarca da
Paraíba, pela sua grande extensão, tenha juntamente
a seu cargo aquela Capitania, que tambarn abrange
um vasto e dilatado território, e possa fazer nela,
nos competentes tempos e na forma devida, as
correiçfces tão necessárias para se manter pela
influencia saudavel da autoridade e abrigo das leis,
a segura fruição dos direitos pessoais e reais dos
povos e querendo dar as providenciais próprias para
que possam os habitantes da mesma Capitania gosar
dos vantajosos proveitos de uma vigilante policia e
exata administração da justiça, evitando-se as des­
ordens e perigosas consequências da impunidade
dos crimes tão frequentes em lugares administrados
por juizes leigos, quando não são1 advertidos nas
anuais correições:
— 7

Hei por bem determinar o seguinte:


1° — A Capitania do Rio Grande do Norte ficará
desmembrada da Comarca da Paraíba e formará
uma comarca separada, que sou servido criar com
a denominação de comarca do Rio Grande do Norte,
tendo por cabeça a cidade de Natal e os limites
que se acham assinados para a mesma Capitania.
2o — O Ouvidor que eu houver por bem nomear
terá a mesma jurisdição que -o da comarca da
Paraíba e observará o mesmo regimento no seu
distrito, guardando todas as mais leis, ordens e
regimentos que são dados aos Ouvidores deste
Reino do Brasil.
3o— Vencerá o mesmo ordenado, propinas e emo­
lumentos que vence o Ouvidor da Paraíba; e na
sua comarca lhe pertencerão os cargos e jurisdições
que lhe costumam ser anexos na forma das minhas
reais ordens.
4o — Para satisfazer plenamente as suas obrigações
sou servido crear para este Ouvidor os Ofícios de
Escrivão e Meirinho ; e as pessoas que forem neles
providas os serviirão na forma das leis e regimentos
que a este fim se acham estabelecidos, e vencerão
os salarios, caminhos e raza que percebem os da
Comarca da Paraíba.
E este se cumprirá como nele se contem.
Pelo que mando á Mesa do Desembargo do Paço
e da Conciencia e Ordens; Presidente do meu Real
Erário; Conselho da minha Real Fazenda; Regedor
da Casa da Suplicação; Governadores e Capitães
Generais, Ministros e mais pessoas, a quem pertencer
o conhecimento deste Alvará, o cumpram e guardem
não obstante qualquer decisão em contrário que hei
derrogado por este efeito corrente: Valerá como
carta passada pela Chancelaria, posto que por ela
não ha de passar, e que o seu efeito haja de durar
mais de um ano, sem embargo da lei em contrario.
Dado no Palacio da Real Fazenda da Santa Cruz
em 18 de Março de 1818,
Rei com guarda.
Tomás Antonio de Vila Nova Portugal.
Alvará pela qual Vossa Magestade ha por bem
creado a nova comarca do Rio Grande do Norte,
desmembrando-a da comarca da Paraíba; tudo na
forma acima declarada.
Para Vossa Magestade ver. João Cordeiro de
Campos o fiz».
Sobrevindo reclamações na execução dessa
medida legal, e tendo por objetivo evitar duvidas
maiores, e acertar definitivamente a situação, que
se agravou em virtude dos constantes conflitos
suscitados em Pombal, o Padre Francisco de Brito
Guerra, em 1831, já então deputado geral, e repre­
sentante diréto dos interêsses seridoenses, sugeriu
á Camara, a que pertencia, a adopção de uma
providencia, a seu ver, solucionadora da questão
que se prolongava : a demarcação do distrito da
Vila Nova do Príncipe.
O projéto do deputado Guerra foi levado á
Assembléia a 26 de julho de 1831, julgado objeto
de deliberação e mandado imprimir com urgência,
tendo a sua discussão adiada em 26 de Agosto do
mesmo ano.
Nessa emergencia, o Senado votou medida
mais pronta e radical: a fixação em textos claros
dos limites que extremariam as zonas que deviam
ficar para uma e outra Província.
Era assim atendido o ponto de vista do Padre
Guerra, o qual, ao ser recebido pela Assembléia a
proposição vinda do outro ramo do Poder Legis­
lativo, em sessão de 27 de Setembro de 1831, soli­
citou urgência para a sua discussão, urgência que a
Camara concedeu, votando afinal as medidas indi-
— 9

cadas pelo Senado com uma medida a mais, esta


de autoria do deputado Guerra.
Esta a origem parlamentar da lei de 25 de
outubro de 1831, cujo teor é o- seguinte:
«Decreto de 25 de Outubro de 1831.
Marca os limites da Vila Nova do Príncipe,
da Provincia do Rio Grande do Norte.
A Regencia, em nome do Imperador e Senhor
D. Pedro II, ha por bem sancionar, e mandar que
se execute a seguinte Resolução da Assembléia Geral
Legislativa:
Art. Io — A Vila Nova do Príncipe da Pro­
vincia do Rio Grande do Norte continuará na posse
de todo o território, que lhe foi assinado no ato
de sua creação em 31 de julho de 1788 ; ficando o
dito território dentro dos limites da comarca, e
sujeitos os moradores dêle ao Governo Civil e
Militar e á administração da Fazenda da sobredita
provincia, com exclusão, porém, de toda a Freguesia
dos Patos, tal qual atualmente existe, e daquela
parte da do Cuité que sempre pertenceu á Pro­
vincia da Paraíba, na qual ficam compreendidas
tanto esta parte da do Cuité, como a dos Patos.
Art. 2o — Fica assim entendido o Alvará de
18 de Março de 1818. (a) José Lino Coutinho, do
Conselho do meu Império; Ministro e Secretario do
Estado dos Negocios do Império o tenha assim
entendido e faça executar.
Palacio do Rio de Janeiro, em 25 de Outubro
de 183!, 10° da Independencia e do Império, (aa)
Francisco de Lima e Silva — José da Costa Car­
valho —- João Braulio Muniz. José Lino Coutinho».
Como se verifica dos seus proprios termos, o
decreto visou ojetivos largamente conciliadores,
passando para a Paraíba toda a freguezia de Patos
e parte da de Cuité por serem mais próximas
— 10 -

daquela provincia, e para a do Rio Grande do Norte


os territórios que lhe ficavam mais visinhos.
Contra essa obra legislativa tem se arguido
que fora fruto do prestigio pessoal do Padre Guerra
e prejudicial aos interesses paraibanos.
Em 1834, a Assembléia Provincial da Paraíba
representava á Camara Nacional, pedindo a revo­
gação da lei de 1831. O mesmo fazia a Camara da
Vila de Patos.
Por sua vês, a Assembléia do Rio Grande do
Norte dirigia aos poderes gerais uma representação
na defesa dos interesses da Provincia, acompa­
nhando-a dos votos expressos pelas populações da
Vila do Príncipe e da Vila do Acari (ambas no
Seridó), sustentando a necessidade de manter a
validade da lei de 1831 e proclamando a sua justiça
e benemerencia.
Vale a pena reproduzir na integra os tres
documentos, que lançam luzes sôbre a matéria.
Eil-os :
a) A representação da Assembléia do Rio
Grande do Norte :
REPRESENTAÇÃO
Copia : — Augustos e Digníssimos Representantes
da Nação. A Assembléia Legislativa Provincial do
Rio Grande do Norte, vê-se constituída na imperiosa
necessidade de vir, na conformidade do art. 11 §.9,
da lei das reformas, representar esta Augusta As­
sembléia Geral contra as pretenções da Provincia
da Paraíba, que trabalha por distruir a lei de 25 de
Outubro de 1831. As representações juntas dos
juizes de paz, guardas nacionais, e moradores do
termo da Vila do Príncipe, e bem assim os da Vila
de Acarí, endereçadas á Assembléia Provincial pelas
Camaras respectivas, instruídas de assinatura dos
povos, vem ser presentes a esta Augusta Assembléia
— 11

a quem compete a decisão de negocio tão impor­


tante. A dita Lei, Augustos e Digníssimos Senhores,
sanou os imensos males que soíriam os povos da
Vila do Príncipe, que sendo desde a sua creação,
em 31 de julho de 1788 pertencentes a esta Vila e
Província do Rio Grande, principiaram a ser enco-
modados pela do Pombal da Província da Paraíba,
em o ano de 1822, em consequência do Alvará de
18 de Março de 1818, que a mesma Lei entendeu
a favor do Rio Grande, tendo-se contentado e
satisfeito ambas as Províncias, conservando-se em
perfeita harmonia. Esta lei, pois, tão salutar, e
operada com conhecimento de causa, ouvidos os
Presidentes, Conselhos do Governo, autoridades e
Povos de uma e outra Província, é hoje agredida
pelo capricho de pessoas mal intencionadas, que se
nutrem com a discórdia, e males de seus seme­
lhantes. Um pouco de fermento basta para cor­
romper uma grande porção de massa! No mais
perfeito estado de socêgo, e prazer, em que se
achava a Província do Rio Grande, gosando pacifi­
camente da posse do seu território, e bemdizendo
a Assembléia Geral pelos bens que com aquela lei
lhe outorgou, eis que o genio do mal inventa meios,
e forma planos para transtornar, distruir, e derrocar
toda a Província. Um só homem, agazalhando-se
ativamente em um ponto dos seus limites, é capaz
de plantar a semente da discórdia e atear o incêndio.
Empregando com habilidade as poderosas armas da
sedução contra pessoas incautas, ele tem podido
levar os males a toda a Província. O Rio Grande,
pobre e pequeno, como é, de certo sucumbiría á
força de tamanho combate, que lhe apresenta outra
Província maior, mais rica e mais poderosa, e se
não buscasse sua confiança na sabedoria, e dignidade
da Augusta Assembléia Geral Legislativa. Valendo-se,
pois, a Assembléia Provincial de recurso que lhe
franqueia a lei; vem pedir e representar a esta
— 12

Augusta Assembléia Geral se digne de tomar em


sua consideração, e sabedoria, as representações
juntas das Camaras, autoridades e Povos da Pro­
víncia do Rio Grande do Norte a favor da sobredita
lei de 25 de Outubro de 1831, com a qual estão
satisfeitos e conciliados os interesses de uma e outra
Província, ficando ambas no gôso da sua paz e
posse dos seus direitos. São estes, Augustos e
Digníssimos Senhores representantes da Nação, os
votos e sinceros desejos da Assembléia Provincial
do Rio Grande do Norte. Paço da Assembléa Pro­
vincial, em 17 de Março de 1835. (aa) João Teotonio
de Souza e Silva, Vice-Presidente. Joaquim Xavier
Garcia de Almeida, 1° Secretario. — José Nicacio
da Silva, 2° Secretario.»
b) A da Vila de Acarí
Cópia — Os abaixo assinados, juizes de paz, inspe­
tores, guardas nacionais e proprietários, moradores
nos limites deste município, vêm mui respeitosa­
mente expor a VV. SS. os seus sentimentos, e
reclamar pelos seus direitos, para que, merecendo
a atenção, as suas vozes sejam tomadas em consi­
deração e levadas ao conhecimento da Augusta
Assembléia Geral Legislativa por intermédio de
VV. SS. afim de lhes acudir com o pronto remedio.
Passam a expor. Desde a creação da Vila do
Príncipe em 31 de julho de 1788, que o território
em que habitam os suplicantes se compreendia den­
tro dos limites desta Vila, pertencendo á Freguezia
do Seridó, pelo Alvará de 18 de Março de 1818 que
creou em comarca a Província do Rio Grande, sus­
citaram-se duvidas: todos os povos oprimidos, e
forçados a obedecerem para a Vila do Pombal da
Província da Paraíba, reclamaram uma e muitas
vezes queixando-se de tais vexames, e não querendo
de maneira alguma, se passasse de sua Vila do Prin-
— 13

cipe e Freguezia mais próxima e de tudo mais co-


moda, para pertencerem á do Pombal, e Paraíba,
em tudo mais diíicil e mais prejudicial aos inte­
resses desses povos; até que finalmente a Augusta
Assembléa Legislativa sabia e prudentemente deter­
minou e decidiu esta questão com a Lei de 25 de
Outubro de 1831, que sanou todos os males destes
povos; dando para a Província do Rio Grande os
que lhe ficam mais visinhos; e para a da Paraíba
toda a fxeguesia de Patos e parte de Cuité, por se
aproximarem mais a Paraíba. Com esta salutar me­
dida, e lei de paz, e conciliação, todos estes povos
exultaram de prazer e renderam mil graças á Au­
gusta Assembléa Legislativa, que se apiedou dos
seus males e os tornou seguros de opressões. No
meio do maior socego e repouso, apareceu inespe­
radamente o genio do mal e com um pouco de fer­
mento vem perturbar e transtornar toda a ordem. A
Freguesia de Patos, por querer ser Vila e com mão
armada pela intriga, assoprada por aquele genio lu-
ciferino dirige-se ao Conselho da Paraíba, e este
lembra-se de representar contra aquela nossa uti-
lissima e exemplarissima lei. Aparecem intrigas; apa­
recem desgostos; aparecem males, que progredirão
ao infinito se não forem oportunamente atalhados.
E’ pois do dever dos suplicantes reclamar já e já
pelos seus direitos, protestando que de modo algum
se desligarão de sua Província do Rio Grande do
Norte onde estão satisfeitos em todas as reparti­
ções para fazerem parte dessa Vila dos Patos, per­
tencente a outra freguesia, á outra Província e a
outras autoridades que lhes não convêm.
Longe dos suplicantes a insubordinação; que­
rem á risca observar a lei; querem e são contentes
em pertencer á Província do Hio Grande do Norte,
e jamais se afastarão deste seu estado de obediência
e adesão á sua Província. E’ pois a razão que têm
os suplicantes de representarem e pedirem a VV.
SS. queiram atalhar todos estes males, levando ao
conhecimento da Augusta Assembléa Legislativa o
procedimento dos inimigos da ordem, que vêm per­
turbar o repouso e bem estar dos suplicantes. P. P.
a V. S. se dignar de lhes deferir como requerem.
E. R. M. (aa) Caetano Camelo Pereira, juiz de paz
do distrito e muitas outras assinaturas com. as fir­
mas reconhecidas pelo escrivão interino João de
Araújo Pinheiro, a 20 de Abril de 1834, Vila do
Acarí.
c) A da Vila do Príncipe :
Cópia—Meus Senhores. E’ com a maior dor e cons­
ternação que os abaixo assinados juizes de paz,
guardas nacionais e mais moradores do termo do
municipio desta Vila do Principe, compreendidos
nestas as ribeiras do Sabugí, Espinharas e Piranhas,
pertencentes a este municipio e freguezia, vêm re­
presentar a VV. SS. as suas queixas para por in­
tervenção de VV. SS. obterem da Augusta Assem­
bléa Legislativa o remedio do seu mal, confiando
que VV. SS. providenciarão quanto antes, garantindo
os seus direitos de propriedade e municipalidade,
que vão sendo invadidos por homens avessos ao
bem estar da Provincia do Rio Grande do Norte a
que têm a honra de pertencer. A lei de 25 de Ou­
tubro de 1831 que veio sanar os males que afligiam
os povos residentes neste território pelas contesta­
ções e pertenções da Vila de Pombal na Provincia
da Paraiba, é o objéto hoje das maquinas desses
homens inimigos avessos á Provincia do Rio Grande.
Esta lei salutar baseada nas representações, e mil
vezes repetidas queixas destes povos foi o melhor
bem que até hoje eles receberam da Sabedoria e
Equidade da Augusta Camara Legislativa. Ela veio
contentar a todos decidindo as duvidas, e explicando
no seu 2’ artigo o Alvará de 18 de Março de 1818,
que deu motivo a toda bulha e desordens por ter
sido feito sem conhecimento das localidades, e in­
— 15

teresses dos povos de uma e outra Província, de


uma e outra Villa. Ora, contra esta lei salutar, tão
sabiamente baseada e de tanta paz e utilidade, para
os povos respectivos, apareceu hoje homens ambi­
ciosos, e desordeiros, seduzindo os representantes e
alguns homens incautos, arranjando assinados até
por creanças para fazerem uma turba-multa, afim
de deitarem abaixo a lei e destruir toda a ordem e
bem estar dos representantes, que acostumados a
esta Villa e Freguesia desde a sua creação em 1788
por lhe ser mais visinha, mais comoda e em tudo
mais proporcionada, aos interesses dos represen­
tantes e Povos respectivos e mais poderão sofrer
os males de se passarem para outra Província e
Município mais longiquo, e em tudo mais contrario
aos comodos e interesses dos Povos. Consta que
vão representar e já representaram em Cortes con­
tra a sobredita lei, e como não obtiveram da Au­
gusta Assembléa o resultado que desejavam, re­
torçam agora a sua intriga por todos os meios.
Não pode chegar a mais a ambição dos ho­
mens ! VV. SS. que devem defender, e providenciar
tudo quanto é de bem deste município, dignem-se
de tomar em consideração semelhante desordem
para que não prevaleçam contra este município e
consequentemente contra a Província do Rio Grande,
as maquinas dos desordeiros e resultem males in­
termináveis. Os Representantes não querem mudar
de Freguezia nem de Província, e protestam ser
fieis e subordinados em todo o tempo á Lei. A esta
lei devem êles o seu bem estar, contra esta lei nada
lhes serve. Seria o mais absurdo que se pudesse
conceber, admitir semelhante idéa. E’ pois por estas
razões e pelo carater de firmesa, sinceridade e hon­
radez, que os Representantes reclamam, pelos seus
direitos, queixando-se das extorções, violências e ar-
guciosas seduções dos intrigantes e ambiciosos, por
16 —

que VV. SS. dêm quanto antes as providencias, e


façam obstar os males que lhes estão iminentes.
Assim o esperam do Zêlo e Patriotismo desta ilus­
tre Corporação: Com o que receberam justiça,
(aa) José Temoteo de Souza, juiz de paz. (e outras
muitas assinaturas em original) reconhecidas pelo
tabelião do Principe—Antonio do Rêgo Leite Araújo.
Vila do Principe, 21 de Janeiro de 1835.»
Não reproduzo aqui também, como seria de
interesse, as representações de origem paraibana,
por não haver conseguido cópia de nenhuma delas.
Todas essas representações, de fonte Paraibana
ou de fonte Norte Riograndense, foram enviadas á
Comissão de Estatística da Camara, a qual em 9 de
Setembro de 1835 emitiu o seguinte parecer, assi­
nado pelos deputados J. A. Bhering e Albuquerque
Cavalcanti:
«A Comissão de Estatística examinou a repre­
sentação que a esta Augusta Camara dirigiu a As-
sembléa Provincial da Paraíba do Norte, em que
mostra a conveniência de se revogar a resolução de
25 de Outubro de 1831, que fixou os limites entre
esta e a Província do Rio Grande do Norte; outro
sim, examinou a mesma Comissão outra represen­
tação da Assembléa Provincial do Rio Grande do
Norte, em que expõe a necessidade de ser inalte­
rada a sobredita resolução pelas vantagens que déla
resultam aos povos limítrofes das duas Províncias.
A Comissão tomando na devida consideração todos
os documentos comprobatorios de duas pretenções
diametralmente opostas achou em último resultado
de suas observações, que a resolução de 25 de Ou­
tubro de 1831, bem longe de ser oposta aos inte­
resses e comodidades dos Povos, sôbre que repre­
sentam as duas Assembléas Provinciais, é pelo con­
trario apoiada não só em um longo « Nós abaixo
assinados» dos mesmos povos, os quais asseveram a
— 17 -

Assembléa Provincial da Paraíba haverem sofrido


nos seus comodos e interêsses comerciais, com a
adopção de semelhante medida, mas também no
voto unanime das deputações da Paraíba e do Rio
Grande na Legislatura transata, em que foi consi­
derada a mencionada resolução como remedio o
mais eficaz, para exterminar de uma vez os males
que sofriam aqueles povos. A Comissão entende
que, á vista das razões expendidas, não é neces­
sária a revogação da resolução em questão, e que
neste sentido se responda as sobreditas resoluções
Provinciais.»
Antes mesmo desse parecer, em 1834, nas ses­
sões de 16 e 18 de julho os deputados Guerra (Rio
G. do Norte) e Veiga Pessoa (Paraíba) discutiram e
explanaram a matéria, cada um lançando mão dos
elementos de que dispunha para a defesa dos seus
pontos de vista. Do discurso do Sr. Brito Guerra
temos nos Anais de Parlamento essa larga noticia,
da qual se verifica, no entrecortado dos «apoiados»,
que a Camara estava do seu lado.
«Sr. Brito Guerra—Conheço bem a minha Fre­
guesia, mas, falarão por mim a verdade, a razão, a
justiça, a lei. Eis aqui. (Leu a resolução de 25-10-1831)
Pois, então, sr. presidente, existe alguma razão para
ser derrogada esta lei; Existe direito á Camara da
Vila dos Patos para representar ao Conselho Geral
da Província da Paraíba contra o termo da Vila do
Príncipe? E’ injusto o parecer da Comissão que não
annue a uma tal representação infundada, e mani­
festamente contraria ao bem estar dos povos res­
pectivos da Vila do Príncipe; Eu vou analisal-o. (leu)
E mostrou exuberantemente as razões em que se
fundou o parecer, contrariando a representação da
Paraíba e Camara dos Patos, (apoiados)
Depois continuou dizendo—como se quer de­
primir o Rio Grande do Norte para exaltar a Pa­
— 18

raíba? Que utilidade publica resulta de tirar do Rio


Grande do Norte para dar a Paraíba? Não é o Rio
Grande Província do Brasil ? Não tem ajudado com
o seu contingente a este Império? Ha pouco eu vi
que êle em poucos anos tem concorrido com 34,481
quintais de páu-brasil para ajudar a amortisar a di­
vida pública.
Entre as razões que expende o Conselho da
Paraíba, disse que os dizimos do Rio Grande não
avultarão, etc., etc. Não se dá uma razão mais frí­
vola: Quando fosse atendivel, então provaria con­
traproducentemente !
Eis aqui a tabela demonstrativa do preço, á
que chegarão este ano os gados do dizimo do Rio
Grande (Leu) (apoiados). Vejam pois a que preço
chegaram, (apoiados). As secas em um ano fazem
esmorecer os povos, em outro o bom tempo e me­
lhor estação os animam, como neste que chegaram
a 9,520 isto é, os dessa ribeira em questão I os de
Santana do Matos, a 9,900; os do Assú a 9,920; os
do Apodí a 9,810 e os dos mais a proporção. Logo,
não subsiste tal razão alegadà pelo Conselho da
Província.
E quanto ao comercio, que também menciona,
não sei o que quer dizer com isso. Quem o impede?
Elle não é franco para onde se quer ir? Os gados,
couros, sola, queijos desses sertões de uma e outra
Província vão para Pernambuco; os algodões ou
para Paraiba ou para Pernambuco, conforme que­
rem os proprietários: Nenhum embaraço ha; não se
tornarão extrangeiros.
E porque razão a Província da Paraíba não
impede aos que dos seus limites levam para o Ceará
e Aracati a lã e outros generos; Assim como os da
Província do Rio Grande, que moram por serra do
Martins, e Apodi os levam para Aracati, como lhes
parece: Donde vem que o Ceará tem estado a dever
ao Rio Grande mais de 30 contos de reis; e ainda
agora ha pouco, confessou dever mais 8:637$2õ4. A
mesma Paraíba é devedora ao Rio Grande de uns
poucos de contos de reis. (apoiados) Quem é que
impede o comercio; Srs., sejamos justos, façamos
justiça aos Riograndenses. A minha Província não
merece ser deprimida, defraudada, e sufocada pela
da Paraíba.
E’ pobre sim, porem, bemfazeja; com o seu
fraco contingente éla tem ajudado a outras mais
ricas em quadras bem perigosas.
Lembrem-se os srs. deputados da quadra de
24 quando agazalhou, favoreceu e acolheu benigna
aos mesmos que vinham de outras hostilizados, e
perseguidos pelos concidadãos.
Lembrem-se das desordens do Ceará, a quem
os Riograndenses foram acudir, principiando a pres­
tar serviços no rio do Peixe, limites da Paraíba e
postando-se em campo ainda primeiro que os desta,
com perda de seus bens e riscos de suas vi­
das (apoiados).
Na mesma desordem de Panelas o Rio Grande
lá tem também sua gente em defesa da liberdade.
Apélo para o testemunho dos senhores depu­
tados que hoje têm assento nesta Casa, e que forão
presidentes do Rio Grande e do Ceará (apoiados).
Apélo para os senhores de Pernambuco, e
mesmo para o senhor que acaba de ser ou ainda é
presidente da Paraíba que deve disto estar bem in­
formado. (apoiados)
Eu me não admiro, srs., de que o Conselho da
Paraíba fizesse esta representação, êle não se lem­
braria de a fazer, se certo espirito maligno não
fosse tentar a Camara dos Patos, e mover as mas­
sas para ir encomodar ao Conselho com essa im­
pertinência !
O que me feriu, foi a expressão de um senhor
deputado que notou perfídia nos honrados ex-depu­
tados pela Província da Paraíba, na passada Legis­
— 20

latura, e que não defenderam, antes guardaram si­


lencio sobre os direitos de sua Provincia recebendo
mal o dinheiro da Nação, tudo por urna combinação.
Ora, srs., esta Camara toda não viu a oposição que
eles fizeram ? E que só cederam depois que eu ofe-
reci a emenda que conciliou os interesses de uma e
outra Provincia ? Sr. Presidente, o odio que aparece
não é contra a lei; é sim, contra o suposto autor
dela!
Eu não fui, como está demonstrado, quem pri­
meiro ofereceu este projeto, sim, quem ofereceu esta
emenda que deu a Paraíba todo esse território que
hoje se tem arvorado em Vila.
Se eu hoje não fôra deputado pelo Rio Grande
não aparecería essa luta, mas que culpa tenho de
que-a minha Provincia reunisse em mim os seus
votos ? Entenda-se pois de onde vem todo o mal!
Nunca em meus dias briguei com alguém, e
agora por desgraça me vim encontrar com tais
arengas! Esta lei, senhor Presidente, causou tanto
júbilo àqueles povos, que renderam mil graças ao
corpo legislativo por have-la decretado!
Em uma palavra, só o genio do mal seria ca­
paz de atiçar e promover semelhantes questões! (apoia­
dos).
Continuou a mostrar que a Provincia da Pa­
raíba já se acha mais aumentada em população, ri­
queza, vilas e comercio, do que a do Rio Grande, e
que era justo que se déssem as mãos, e não fossem
dicidentes, querendo a maior sufocar a menor.
Dirigiu o seu discurso a todos os srs. depu­
tados e especialmente da Provincia da Paraíba, e
perorou dizendo—«contente-se pois a Vila dos Patos
(segundo meu fraco entender) com o território que
a Vila do Príncipe lhe cedeu».
Prospere a Provincia da Paraíba com a sua ri­
queza e alta categoria a que se acha elevada; e
deixe viver e respirar um pouco a pobre Provincia
21

do Rio Grande dentro dos limites que lhe marcou


a lei.
Voto pelo parecer da Comissão”
Da resposta do representante da Paraíba, em
discurso proferido, dois dias após o do "representante
Potiguar, cabe fazer o seguinte resumo :
«O Sr. Veiga Pessoa disse que não podia dei­
xar de se opôr á medida proposta no requerimento
do sr. Henrique de Rezende porque, não podendo
ter efeito senão em grande espaço de tempo, não ia
desde já sanar as desordens dos povos que não
queriam reconhecer as autoridades locais da Pro­
víncia do Rio Grande; ao que era preciso acudir
quanto antes e por isso se lembrára de uma e ou­
tra medida que deferindo um pouco daquela, pro­
videnciava logo essas desordens; mas para propo-la
queria que a Camara fosse mais bem informada
para o que tinha de fazer um requerimento e por
isso não podia deixar de falar na questão em a
qual principiou desde já dizendo: «Que tendo já fa­
lado sôbre a mesma segunda vez o deputado pelo
Rio Grande que defendeu o parecer da Comissão,
sem que saia do circulo de alguns argumentos ine­
xatos e repetidos, nada tenha adeantado de favo­
rável á sua causa, a execução da suplica que pela
sua Província dirigiu á Camara e que portanto êle
se via obrigado a responder a esses mesmos argu­
mentos repetidos.
E continuou a dizer que deixaria de falar mais
naquela questão, se o dever de deputado pela sua
Província, e a convicção de sua justiça o não obri­
gasse. Todavia para não tomar a questão fastidiosa,
devendo ao mesmo tempo formar o juizo da Ca­
mara sôbre o que êle deputado já havia dito em
outra sessão, faria uma breve recapitulação disso
que já havia dito.
E era que o parecer tinha sido injusto em ter
desatendidc a representação do Conselho Geral da
Província da Paraíba; 1°—Porque a Comissão em
seu parecer não fez mais do que increpar a repre­
sentação de injusta, repetir os tramites por que
passou a resolução, contra cuja execução representou
o Conselho; 2o — porque, emquanto a inexatidão, o
parecer increpa o Conselho de inculcar prejuízo nos
direitos nacionais, e nas fortunas e bens dos povos,
quando o Conselho mostrou que dos gados dos dí­
zimos coletados no ultimo ano pela Província da
Paraíba nas duas ribeiras Sabugí e Pinharas deram
9$000 pagos, a metade em prata e a metade em
cobre, sem falar no prejuízo que sofreu a tesouraria
da Paraiba que, segundo lhe constava, era de 12 a
14 contos e que tomando o termo médio e o preço
de 9$GÜ0 vinham dar essas ribeiras pelo •menos
l.f/OO cabeças de gado, no que, pela diferença, de
preços, perdia a Nação quase 4 contos, cujo prejuízo
se não podia deixar de atender, a não se satisfazer
o capricho, atento ao apuro das'finanças em que se
achava a Nação, tantas vezes reclamado nas Ca-
maras. O Conselho mostrou mais que a Santa Casa
de Misericórdia, tendo a sua instituição o direito
nos dizimos miúdos daquelas duas ribeiras com a
sua desmembração sofreu um grave prejuízo.»
E assim proseguiu o representante paraibano,
concluindo por julgar desconhecidos os direitos da
sua Província.
Ao discutir em 1835, o parecer da Comissão
de Estatística da Camara, o primeiro orador a ocu­
par a tribuna foi o mesmo sr. Veiga Pessoa, cuja
oração é assim resumida nos anais:
«O Sr. Veiga Pessoa, em um longo discurso,
combate o parecer da Comissão, por inadmissível, e
por futeis razões nêle apresentadas, e demonstra
que não fala nesse negocio senão como deputado
do Brasil; e a favor dos Povos da Paraíba por ver
a justiça que lhes assiste, pois que esta Província
nada mais quer do que aquilo que de justiça lhe
— 23

deve dar; e declara mais o ilustre deputado que a


Província do Rio Grande do Norte não tem o co­
mercio que tem hoje a Paraíba; que finalmente êle
deputado, nesta matéria só quer mostrar a sua im­
parcialidade para que a Camara conheça de que
lado está a justiça da causa que se discute, e con-
clue oferecendo a seguinte emenda que é apoiada :
«Os habitantes do território que pertencia á Província
da Paraíba, e que pela resolução de 25 de Outubro
de 1831 ficou pertencente a do Rio Grande do Norte,
podem com plena liberdade manifestar á qual das
referidas Províncias quer pertencer; para que o Go­
verno nomeará dois engenheiros hábeis, os quais
com dois delegados, nomeado cada um pelos res­
pectivos presidentes das sobreditas Províncias se­
guindo sempre a linha mais réta, por cordilheiras e
serras, ou de rios e lugares notáveis, atendendo
igualmente as comodidades e interêsses comerciais
dos mesmos habitantes. Outrosim, os mesmos en­
genheiros levantarão uma planta dos lugares limí­
trofes das referidas Províncias desde a costa até os
fins das mesmas. Esta deliberação será quanto an­
tes comunicada por via do Governo, aos dois Pre­
sidentes das referidas Províncias, os quais por via
das Camaras que mais visinhas forem a estes Povos,
farão publicar por editais a medida acima, a qual
terá principio quanto antes.
Paço da Camara dos Deputados, . . . de Ou­
tubro de 1835 — José Maria Ildefonso Jacome da
Veiga Pessoa.»
O Sr. Sebastião do Rêgo emenda o parecer da
seguinte maneira:
«A Assembléa Geral Legislativa Resolve:
Art. Io—Havendo contestações entre duas Pro­
víncias do Império sôbre ajuste e fixação dos seus
respectivos limites, o Governo Supremo nomeará
dois engenheiros para procederem aos exames ne-
cessarios, e fazerem, com atenção á comodidade e
interesse dos povos, a linha divisória, intervindo ár­
bitros de cada uma das Provincias interessadas, no­
meados estes pelos Presidentes respectivos.
Art. 2o—O resultado destes trabalhos, reduzido
a plano aproximado á igualdade das Provincias,
será submetido á aprovação da Assembléa Geral
Legislativa.
Art. 3°—As despesas feitas para o mencionado
fim serão pagas pro-rata pelas rendas provinciais,
salvo os vencimentos dos engenheiros, que o serão
pelas rendas gerais.
Art. 4o—Ficam derrogadas todas as leis e dis­
posições em contrario.»
O assunto continúa em debate que é assim re­
sumido :
O Sr. Henrique de Rezende:
Vota pela emenda oferecida pelo Sr. Sebastião
Rêgo.
—O Sr. Veiga Pessoa sustenta a sua emenda,
contra o Sr. Sebastião Rêgo que vae demorar o
negocio, por ter de ir ao Senado.
O Sr. Albuquerque Cavalcanti, membro da
Comissão, respondeu ao Sr. Veiga Pessoa, e vota
pelo parecer.
O Sr. Brito Guerra faz longo discurso. Vota
pelo parecer, contra as emendas».
Resultado Final:
Aprovação do parecer da Comissão de Esta­
tística e rejeição de todas as emendas.
A solução dada aos limites do Seridó com a
Paraíba pela lei de 1831, ratificada em 1835 pelo
Poder Legislativo Nacional, permanece inalterada
até a presente data.
Afigura-se-me que foi justa e certa.
E a perfeita harmonia em que vivem as duas
unidades administrativas do nordeste, traduz de
modo seguro e irrecusável a plena satisfação de
ambas, Rio Grande do Norte e Paraíba, na posse
pacifica dos territórios que as suas populações
ocupam, e os seus Governos dirigem, secular e
fraternalmente unidos, em bem dos destinos comuns.
Instituto Historico e Geograiico
R E LA TO R íO da presidência do
Instituto Historico e Geográfico
do Rio Grande do Norte, no
no biênio de 29 março 1939
até esta data :

Presados Consocios :
Ha dois anos, neste mesmo dia, achava-me
acamado em consequência de violenta enfermidade,
quando fui, pela benevolencia dos ilustrados con­
frades, reeleito, pela 7a vez, presidente do Instituto
Historico. Submeti-me ao imperativo da vossa deli­
beração, para conduzir os destinos do Instituto, no
biênio que hoje finda, trazendo-o ainda em paz e
em pé de prosperidade, para a sua essencial fina­
lidade.
Sinto, porém, que eu tenha de dizer-vos que
° Instituto poderia estar em outra situação, si nos
não faltasse um certo gosto e estimulo para os
trabalhos da especialidade, em nossa terra.
Sei que é um mal do ambiente, onde todas as
sociedades lutam com iguaes empecilhos, para a
consecução de seus propositos.
Mas, como é possivel que se renove a admi­
nistração do Instituto, para o novo biênio, acredito
que essas causas serão removidas e o Instituto, que
completa hoje o seu 39o aniversário, perlustfará
impávido a nova etapa social, com brilho e com
prosperidade.
PRÉDIO : — Acha-se em bom estado de con­
servação o prédio da nossa sede definitiva.
Houve, em outubro do ano passado, serviços
de revisão do této e da coberta, para efeito de
extinção de «cupim». Fez esses serviços o Departa­
mento de Obras Publicas do Estado.
BIBLIOTÉCA : — Continúa sempre recebendo
numerosas ofertas de livros por parte dos nossos
consocios e de pessoas a ele extranhas. Entre os
ofertardes destacam-se os consocios Tobias Monteiro
e H. Castriciano, que teem enviado grande numero
de obras para a nossa Biblioteca. O livro de registro
acusa a entrada de 84 obras, no biênio ora encer­
rado, assim descriminadas :
Historia, 2ò ; Literatura, 4 ; Teatro, 3 ; Medi­
cina, 4; Religião, 4; Politica, 23; Sciencias, 1 ; Con­
ferências, 3; Economia e Finanças, 1 ; Romances, 2;
Educação, 3 ; Poesias, 4 ; F. A. L. B., 2 ; Genea­
logia, 1 ; Biografia, 1; Diversos, 1 — 84.
ARQUIVO : — Nenhuma peça nova nos foi
ofertada no biênio a encerrar.
PRESIDÊNCIA : — Exerci-a durante o biênio,
com a interrução de 4 mezes, entre 13 de agosto
e 18 de dezembro do ano passado, emquanto viajei
ao sul do paiz, em missão de delegado do Estado
e do Instituto, no IX Congresso Brasileiro de Geo­
grafia, em Florianopolis, e bem assim, como dele­
gado do Estado e do Conselho Penitenciário, á
primeira Conferência Penitenciaria, no Rio.
Substituiu-me, na forma dos Estatutos, o nosso
presadissimo consocio, desembargador João Dionisio
Filgueira, 1° vice-presidente, com a lhaneza e com­
petência que todos lhe estimamos.
— 29

DIRETORIA :—Houve substituições nos cargos


de Orador, 2o secretario e tesoureiro, com as
renuncias do dr. Luiz Antonio e desembargadores
Horacio Barreto e Silvino Bezerra, sendo eleitos,
em sessão de 29 de março de 1940, para esses
cargos, os consocios, dr. Camara Cascudo, (que era
2o secretario), dr. Matias Maciel e dr. Lemos Filho,
respectivamente Orador, 2° secretario e tesoureiro.
NOVOS CONSOCIOS : — O quadro social foi
aumentado com a eleição do dr. Aldo Fernandes,
para socio benemerito, em vista dos relevantes
serviços prestados na aquisição da séde definitiva,
e dr. Renato Almeida, para a de correspondentes.
Ha sobre a meza uma proposta de dez nomes
ilustres de vários Estados da União para a classe
de socios correspondentes, em consequência da
minha excursão de aproximação social nos Estados
do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná,
São Paulo e Rio.
FINANÇAS :—Estão em ordem as finanças do
Instituto Historico, a cargo do nosso digno consocio,
dr. Lemos Filho.
Na sessão ordinaria de ló do corrente, foi
apresentado e aprovado o parecer da comissão de
Fazenda e Orçamento sobre as contas do ano de
1940, bem como remetida ao Departamento de
Educação a demonstração da aplicação da verba da
subvenção do Estado ao Instituto, já aprovada pela
Contadoria Central do Estado.
Foi renovada, para o ano corrente, a subvenção
de Rs. 6.000$000, para o nosso Instituto.
REVISTA • — Foram publicados dois volumes
da Revista, no biênio, um relativo aos anos de
1932-1934 e outro dos anos 1935-1937. Vae entrar
para o prélo o volume relativo a 1938-1940, para o
que estou em entendimentos com a tipografia
«Santo Antonio», que fez os dois números já
referidos.
— 30

SESSÕES: — Foi muito reduzido o numero de


sessões no biênio: elas foram 6 e se restringiram
á de eleição e posse, a 29 de março de 1939,
ás ordinárias, em datas de 28/7/1940 e 16/3/1941,
á sessão solene, a 21/10/39, de recepção dos con-
socios, drs. Rafael Fernandes Gurjão e Aldo Fer­
nandes, na classe dos benemeritos, em reconheci­
mento aos serviços prestados, á de aniversário, a
29/3/40 e á sessão magna comemorativa do IV
Centenário da Companhia de Jesus, a 27/9/1940.
PESSOAL AUXILIAR :—Continuam prestando
serviços extraordinários e avulsos á secretaria e á
bibliotéca o cidadão Otacilio Cavalcanti e Dona
Maria Eulalia Gomes. Aquele se acha ausente, no
Rio, em tratamento de saúde e com a incumbência,
que lhe dei, de examinar e colher elementos tequi-
nicos, junto á Bibliotéca Nacional e outros institutos
congeneres do Rio, para a reorganização da nossa
livraria; e esta, que o substitue atualmente. Ambos
teem demonstrado interesse e >zêlo nesse mistér.
IX CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRA­
FIA, em FLORIANOPOLIS :—Aproveito esta opor­
tunidade para dar-vos uma noticia sucinta do que
foi esse notável conclave nacional de Geografia,
realizado em Florianopolis, Estado de Santa Cata­
rina, entre os dias 7 e 16 de setembro de 1940, e
para o qual me elegestes Delegado especial, em
sessão de 28 de julho do ano passado.
No desempenho dessa honrosa e grata incum­
bência, partí desta capital, no dia 13 de agosto,
via Recife, onde tomei o navio brasileiro, «Itapé»,
da Companhia Nacional de Navegação Costeira,
destino a Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Aí chegando e pondo-me em contacto com as
figuras dominantes de Walter Spalding, Capitão De
Paranhos Antunes e outros, tive oportunidade de
visitar o Instituto Historico do Rio Grande do Sul,
— 31

que funciona no prédio onde viveu e morreu o


grande Julio de Castilhos, a Academia de Letras,
a Universidade e varias instituições penaes, que
formam justo motivo de ufanía para o povo gaúcho.
Recebi as mais efusivas demonstrações de
apreço por parte dos inteletuaes sul-riograndenses,
dos quaes trouxe a cativante mensagem da Academia,
lida na sessão de 16 do andante.
Daí, saí a 5 de setembro, em avião da «Panair»,
para Florianópolis, onde me demorei até 17 de
setembro, após o encerramento dos trabalhos do
Congresso de Geografia.
Este importantíssimo conclave cientifico, o
maior de quantos já se realizaram no Paiz, por
iniciativa da Sociedade de Geografia do Rio de
Janeiro, mediante proposta do inolvidavel catari­
nense, dr. José Artur Boiteux, conseguiu atrair á
formosa capital cerca de 200 congressistas, subindo
a lista de adesões a cerca de duas mil.
As outras reuniõés que tiveram logar em Rio,
1909, São Paulo 1910, Coritiba 1911, Recife 1915,
Salvador 1916, Belo Horisonte 19 9, Paraíba 1922,
e Vitoria 1926, não lograram tamanho volume de
inscrições e participantes.
Presidiu o Congresso o ministro Dr. Bernardino
José de Souza, que fôra o presidente da Comissão
Organizadora.
A atuação do notável patrício, á frente dos
destinos do IX Congresso, foi eíicientissima e pode-se
afirmar que a ele, principalmente, se deve o maior
brilho e o exito incontestável do Congresso.
Verdade é que a contribuição oficial do Estado
de Santa Catarina foi, além de avultada, verdadei­
ramente inestimável, porque a ela se associaram
todas as forças vivas da terra catarinense, numa
emulação de esforços e estimulos que muito con­
tribuiram para o brilho do IX Congresso.
— 32

Distribuiu-se o Congresso em oito comissões


tequinicas, a cada uma das quais foi cometido o
pesado encargo de examinar, apreciar e opinar
sobre 250 teses remetidas ao Congresso.
Fiz parte da 6a comissão—'Geografia Histórica,
sob a presidência desse modelo de bondade e de
operosidade, que é o engenheiro Arnaldo Pimenta
da Cunha, primo irmão do saudoso Euclides da
Cunha, e um coração magnifico a serviço de uma
mentalidade profunda.
Relatei duas monografias, logrando aprovação
os meus pareceres.
Entre as monografias e teses aceitas e julgadas
pela 6a comissão figurou a do nosso ilustre consocio
dr. Camara Cascudo sobre «Geografia holandeza do
Brasil», muito aplaudida, aliás, e aprovada mediante
parecer do marechal Alcino Braga Cavalcanti.
Apresentei varias indicações que a comissão
aprovou e o plenário adotou, sem discussão. Entre
elas a que dizia respeito á restauração do Forte
dos Reis Magos, situado á entrada da barra de
Natal, como baluarte das nossas tradições e como
simbolo da fundação e conquista da terra potiguar.
Era uma indicação dirigida ao Chefe da Nação,
por intermédio do Ministério da Marinha, para o
fim de serem feitos os trabalhos materiais de que
necessita presentemente o velho forte, em estado
de progressiva ruina.
Tomei parte em todas as excursões e trabalhos
da comissão e do plenário do Congresso, concor­
rendo, na medida do possivel, para que a assem­
bléia conseguisse o seu desideratum.
Também viajei, com os demais congressistas,
pelo vale do rio Itajaí, onde se acham localizadas
colonias germânicas daquele Estado. Essa excursão
compreendeu as cidades de Biguassú, Tijucas, Nova
— 33

Trento, Brusque, Blumenau, Indayal, Timbó, Egre-


jinha e Rodeio.
Na importante cidade de Blumenau, rico em­
pório industrial, com mais de 300 fabricas e aonde
a influencia alienígena se considéra mais acentuada,
houve lauto banquete aos congressistas, oferecendo-o
o prefeito de Blumenau. Em nome dos congres­
sistas, agradeci a homenagem, acentuando que ali
não se percebia a influencia extrangeira, de modo
a suplantar o sentido nacional.
O Congresso encerrou-se a ló de setembro,
em sessão publica, sob a presidência do Interventor
Federal, dr. Nereu Ramos, que prestigiou, com a
sua assistescia assídua e dedicada ao Congresso,
todos os seus atos e realizações.
Houve, além disso, sessões publicas do Instituto
Historico e Geográfico Catarinense e da Academia
de Letras, no Club «12 de agosto», bailes e recep­
ções diversas aos congressistas.
Trago dessa reunião uma recordação muito
agradavel que transmito ao Instituto Historico,
para viva e eterna memória desse acontecimento.
As fotografias, que exibo, demonstram a importância
do Congresso, pelos seus vultos exponenciais.
Ao encerrar as minhas informações sobre a
vida do Instituto e a representação no IX Con­
gresso de Geografia, reitéro a todos os consocios
as minhas saudações mais cordiais.
Natal, 29 de março de 1941.
Nestor ãos Santos Lima.

Lido em sessão magna desta data,


SS. do Instituto, 29 março 1941.
34

1941 » 1943

R E LA TO R IO da Presidência do
Instituto, no biênio de 29
março 1941 até esta data :

Presados confrades do Instituto


Meus senhores
Minhas senhoras:
Cumpro, mais uma vês, e é a 8a, o dever que
me impõem os Novos Estatutos de dar conta a
esta Egrégia Casa das ocorrências sociaes no biênio
que hoje se encerra.
ATIVIDADES SOCIAES : — O Instituto desen­
volveu, durante o biênio, as suas atividades estatu­
tárias, realizando, na medida do possivel, os seus
altos fins culturaes.
Houve grande numero de sessões publicas,
conferências, recepções, solenidades, que muito pres­
tigio trazem á nossa casa.
As sessões ordinárias foram em parco numero,
porque não desejo incomodar os confrades, para a
solução de certos assuntos, cabiveis, ad referendum,
nas minhas atribuições.
PRÉDIO : — Acha-se em bôas condições mate­
riais a nossa séde, onde agora nos reunimos, á Rua
Conceição, 622.
Sofreu pequenos reparos externos e limpêsa
também externa, custeada pelas verbas normaes.
BIBLIOTECA: — Continúa sendo enriquecida
de valiosas dadivas de livros por parte de nossos
consocios : O Dr. Henrique Castriciano ofertou
grande numero de livros, entre os quaes uma pre­
ciosa coleção de «Obras completas», de Alfonse de
— 35

Lamartine, autografadas devidamente pelo seu genial


autor. O Dr. Tobias Monteiro também nos tem
enviado constantemente obras escolhidas, que veem
aumentar a seção que lhe guarda o nome ilustre.
MOVEIS : — Foi ofer.tada pelo já mencionado
consocio benemerito, dr. Tobias Monteiro, uma
coleção de treis (3) estantes de cédro, envidraçadas,
de portas corredíças, e bem construidas, para a
seção que mantemos sob o seu nome, em nossa
Biblioteca. Custaram Rs. 2.400$Ü00. Em tempo,
transmití ao digníssimo doador os nossos sinceros
agradecimentos, o que desejo reiterar neste instante
solene.
MUSEU E ARQUIVO : — Nada de novo tenho
a registrar em relação ás nossas duas seções, de
numismatica e manuscritos.
REVISTA: — Foi publicado, em 1941, o vol.
XXXV a XXXVII, referente a 1938-1940, pela Tip.
Santo Antonio, de S. Paiva, edição de 300 exem­
plares contendo 328 paginas. Além dos assuntos de
interesse social e dos que assinei, esse volume
contem trabalhos originaes dos ilustrados consocios,
drs. José Augusto, Luiz da Camara Cascudo, Felipe
Guerra e outros, atas das sessões, necrologías dos
consocios falecidos e outras noticias.
Estamos preparando o volume subsequente,
que deverá talvês circular, no 2o semestre do cor­
rente ano, si os recursos financeiros não nos fal­
tarem, como aconteceu em 1942.
DIRETORIA :—Nenhuma alteração se verificou
no quadro da Diretoria do Instituto, no trienio
a findar.
QUADRO SOCIAL: — Constituem atualmente
° quadro social 140 socios, sendo 8 fundadores,
20 efetivos, 10 benemeritos, 6 honorários e 9õ
correspondentes.
— 36

Houve 12 propostas aceitas na sessão de 29


março 1941 e uma, na de 29 maio 1942. Faleceram,
durante o biênio, f> sócios, sendo um dos efetivos,
o desembargador Sebastião Fernandes de Oliveira,
a 29 maio 1941, e 4 correspondentes, Drs. Raimundo
Moraes, Augusto Leopoldo Raposo da Camara,
Francisco Gomes Vale Miranda e Elviro Carrilho
da Fonseca e Silva.
RECEPÇÕES E VISITAS : — O Instituto reu­
niu-se, a 19 de agosto de 1941, para receber a
visita do General Emilio Fernandes Souza Dóca,
portador de uma mensagem especial da Federação
das Academias de Letras do Brasil e çla Academia
Sul-Rio-Grandense, a quem saudei, em nome do
nosso Instituto e da Academia de Letras, por
designação do seu ilustrado Presidente, des. Antonio
Soares. Depois, a 21 de janeiro 1942, houve nova
reunião para a recepção do major Jonatas de Moraes
Correia, enviado especial do Instituto Historico
Militar, do Rio, e que foi saudado pelo nosso pre-
sado consocio orador, dr. Camara Cascudo.
A casa tem contado sempre com a compa-
rencia dos Exmos. Srs. General Cordeiro de Farias,
comandante da Guarnição Federal, e Almirante Ari
Parreiras, comandante da Base Naval, os quaes
muito de estímulos, de encorajamento nos trazem
com a sua sempre desejada presença ás nossas
reuniões solenes.
Houve duas conferências históricas proferidas
pelo nosso confrade major Jonatas de Moraes Cor­
reia : uma, a 21 de março 1942, sobre «O Conde
de Porto Alegre em Curupaití», e a outra, a 26 de
novembro do mesmo ano pp., sobre a «Fortalesa
dos Reis Magos», no momento em que ele se
empossava do cargo de socio correspondente deste
Instituto. A 18 de março de 1942, celebrámos, em
sessão publica, o lo centenário do nascimento do
— 37
Dr. Luiz Antonio Ferreira Souto, conhecido por
«Dr. Souto», na qual fiz o estudo da vida e dos
méritos do nosso homenageado.
Em conjunto com a Academia de Letras,
também foi celebrado o «Dia Pan-Americano», a
14 de abril, de acordo com os desejos da União
Pan-Americana, de Washington.
SECRETARIA : — Estão em ordem todos os
assuntos da Secretaria a cargo dos presados con-
socios, desembargador Antonio Soares e dr. Matias
Maciel, eficasmente auxiliados pelo cidadão Otacilio
Cavalcanti, aos quaes agradeço a salutar colaboração
que me teem prestado, na direção do Instituto.
TESOURARIA: — Exerceu essas delicadas fun­
ções o distinto magistrado, dr. Vicente de Lemos
Filho, portador de uma honrosa tradição nesta casa,
por ser filho e herdeiro do nome do grande con-
socio, de.s. Vicente de Lemos, o fundador do Ins­
tituto, cuja memória é sempre venerada entre nós.
As contas da Tesouraria teern sido prestadas
corretamente e acham-se sobre a mêsa as referentes
ao ano, ora findo, de 1042, com parecer da Comissão
de Fazenda e Orçamento, pela sua aprovação.
FATO RELEVANTE : — Aprás-me traser ao
conhecimento da casa a eleição do nosso distintis-
simo confrade, des. Antonio Soares de Araújo, para
Presidente do Egrégio Tribunal de Apelação, acon­
tecimento notável que encheu de justo júbilo os
corações dos seus confrades do Instituto, onde
exerce ele as funções de 1o secretario, desde longos
anos, com a proficiência que lhe é peculiar.
RELAÇÕES OFICIAES São muito amistosas
as relações com o mundo oficial, especialmente com
os Exmos. Srs. Interventor Federal, Dr. Rafael Fer­
nandes Gurjão, e Secretario Geral, Dr. Aldo Fer­
nandes R. de Melo, que, pertencendo ao quadro do
— 38

Instituto, teem-se desvelado carinhosamente pelo


seu renome e prosperidade, honrando, com a su*
presença, as nossas reuniões e emprestando-nos o
concurso da sua benemerencia para a consecução
dos nossos destinos.
Atualmente, em visita á grande Nação Norte-
Americana, o nosso preclaro consocio e Interventor
saberá colher de sua visita magníficos frutos a
pról do nosso Estado e de lá, regressar confortado
com as atenções que lhe tributarem os valorosos
filhos da patria de Abraão Lincoln, nossos amigos
e nossos aliados, na formidável luta que ensanguenta
todos os continentes.
MORTOS DO INSTITUTO :—É um dos cânones
desta reunião magna a rememoração dos socios
falecidos, durante o ano.
Na sessão de 29 março de 1942, fizemos a
apologia dos nossos saudosos consocios: Des. Sebas­
tião Fernandes de Oliveira, a 29 maio 1941, Dr.
Augusto Leopoldo Raposo da Camara, a 11 dezembro
1941, Francisco Gomes Vale Miranda, a 10 fevereiro
1942 e Raimundo de Moraes, em 1941.
Hoje, cabe-nos o penoso dever de relembrar a
passagem pela vida de um dos mais nobres expo­
entes da nossa raça e da nossa gente : o Des.
Elviro Carrilho da Fonseca e Silva, falecido, no Rio,
a 7 agosto 1942.
Varão dos mais bem acabados que o presente
século haverá conhecido, o egregio consocio era
natural deste Estado, onde nasceu a 10 setembro
de 1867, no engenho «Porão», do município de
Ceará-Mirim, sendo seus paes o coronel João da
Fonseca e Silva Sobrinho c^D. Francisca Teodolina
Carrilho da Fonseca. Oriundo de famílias tradicionaes
pela limpêsa do sangue e pelos dotes de espirito,
Elviro estudou na sua comuna de nascimento, foi
aluno do Colégio «São Francisco de Sales», fundado
è dirigido pelo saudoso magistrado e consocio, dr.
Meira e Sá, no «Veríssimo», fês preparatórios em
Natal e cursou a Academia de Direito do Recife,
onde se bacharelou em 1890. Entrando para a vida
publica, foi secretario da Quinta da Bôa Vista,
Juiz de Direito de S. Vitoria do Palmar, (R G. do
Sul), prelôf, Juiz de Direito, Desembargador, Presi­
dente de Catti&ras e Presidente da Côrte de Ape­
lação e do Conselho dos Patrimônios do Ministério
da Justiça, no Distrito Federal, a sua existência foi
sempre uma linha réta, elegante e exemplar, porque,
em todos oS atos públicos e privados, tinha a cons­
ciência de um alto valor e da mais sublima dis­
tinção e honestidade.
Casou duas vêses, a 1* com a sua prima D.
Olga da Fonseca e Silva, filha do seu tio, General
Francisco Vítor da Fonseca e Silva, de quem houve
dois filhos : Dr. Otávio Carrilho, funcionário da
Prefeitura do Distrito Federal e advogado, e D.
Zulmira Carrilho James, casada com o dr. Edgar
Jamos, de ilustre familia do Rio. Em segundas
núpcias, uniu-se á D. Déa Dantas Carrilho, que lhe
sobrevive, amargurada e inconsolável com a perda
irreparável do seu dileto Esposo, de_ quem não
houve prole. Pae, esposo, amigo e cidadão sem jaça,
não é crivei que haja na humanidade padrão que
exceda em virtudes e merecimentos a esse emerito
conterrâneo e nosso consocio, para o qual peço,
neste instante solene, a homenagem de um minuto
de silencio, em rememoração do seu pranteado
passamento.
Os [Saruês Norie-Hio-lirandenses
Luis da Camara Cascudo
Socio benemerito
I
BARÃO DO CEARÁ-MIRIM
Manoel Varella do Nascimento, primeiro norte-
i io-grandense agraciado pelo Imperador, nasceu a
24 de dezembro de 1803, no lugar «Veríssimo» e
morreu em «São Francisco», a 1° de março de 1881.
Veríssimo e São Francisco ficam dentro do Ceará-
Mirim, propriedades do barão, posteriormente. Seus
pais foram Felippe Varela do Nascimento e Tereza
Duarte. O barão casou com Bernarda Varela Dantas,
que nasceu a 17 de junho de 1821 e morreu a lõ
de julho de 1890.
Barão do Ceará-Mirim a 8 de julho de 1874.
O barão Smith de Vasconcellos dá 22 de junho, mas
é engano. Fui portador do diploma de barão para
o Instituto e copiei-lhe os dizeres.
O Imperador, «atendendo aos relevantes ser­
viços prestados á instrução publica», é que o agra­
ciou. Manuel Varela do Nascimento construira o
edifício em que está funcionando o grupo escolar
de Ceará-Mirim e o doára ao município.
A baroneza era filha de Francisco Teixeira de
Araújo e de Anna Teixeira da Silva.
42 —

A descendenòiá dós barões do Ceará-Mirim é


patriarcal. Muitos' filhos morreram creanças, outros
antes de casar como Manoel Varela Filho, estu­
dante de direito e um dos elegantes de sua época.
Os principais ramos que se enfloraram, perpe­
tuando a raça, foram
José Felix da Silveira Varela, casado com
Joana PJorinda de Gouveia Vaièla. José Felix,
senhor de «Ilha Bella», morreu a 26 dè novembro
de 1917;
Alexandre Varela do Nascimento, que se casou
com Maria Emilia da Cunha e não deixou filhos ;
Carlos Varella do Nascimento. Solteirão sem
filhos.
Izabel Duarte Varela casou-se com o dr.
Vicente Ignacio Pereira (1833-1888) ;
Anna Teixeira da Silva Varella, casada com ò
dr. José Ignacio Fernandes Barros (1844-1907);
José Felix deixou os seguintes filhos—Manoel
de Gouveia Varela, o principesco dono do solar de
São Francisco, onde reviveu as festas lindas de
outrora; Octavio Varella, medico, nome queridis-
simo entre nós; Luis Varela, Lucas como era cha­
mado, celebre pelo seu bom coração e inimitável
caridade, Tobias Varela, Julio e Adolpho Varela e
uma moça, Maria Esther. Todos, excepto natural­
mente a moça, casados e com descendencia larga.
José Felix Filho, doente, solteiro, não casou.
De Izabel Duarte Vai ela e Vicente Ignacio
Pereira vêm Vicente Riqueti, o charadista talentoso,
Olympio, Fausto e Izabel que se casou com o dr.
Antonio Galdino de Araújo. Todos com descendencia.
De Anna Teixeira da Silveira Varella e José
Ignacio Fernandes Barros vem Heliodoro Barros
(Casado, tendo filhos que morreram) e Adelaide,
solteira.
Tal é a dynastia do primeiro barão norte*
riograndense...
II
B A R Ã O D E M IP IB Ú
Miguel Ribeiro Dantas, portuguez, foi pae de
sete filhos. Apenas, um homem, Estevam. Uma filha
de nome Josefa, casou com José da Silva Leite.
Deste casal nasceu o segundo Miguel Ribeiro Dantas,
Barão de Mipibú. Matrimônio u-se este com uma
prima, filha de Antonio Bento Viana e de sua
mulher Joaquina, irmã da mamãe do futuro Barão.
Foi feito Barão de Mipibú a 28 de março de
1877. Reinava D. Pedro II e estava de cima o par­
tido conservador com o Gabinete de 25 de junho
de 1875, presidido pelo Duque de Caxias.
O Barão de Mipibú era grande proprietário.
Possuía «Laranjeiras», «Tapuya» e a linda «Lagôa
do Fumo», onde residia commumente. Morreu a 14
de junho de 1881 e está sepultado no cemiterio de
São José de Mipibú.
Deixou apenas um filho, com o mesmo nome
do seu. É o terceiro Miguel Ribeiro Dantas, o dono
do «Diamante», engenho famoso no vale do Ceará-
Mirim.
O Barão casára com uma prima. Seu sogro,
Antonio Bento Viana, senhor do Engenho «Car-
naubal», foi o doador á matriz do Ceará-mirim do
terreno, onde se fundou a vila, terra em forma de
paralelogramo, limitando ao norte com o álveo do
rio e ao sul com a estrada das Antas.
Casado e bem casado,- a mulher de Ribeiro
— 44 —

não quiz deixar o Ceará-mirim. O marido regressou


a São José de Mipibú e nunca mais viu a cara-
metade. O filho nasceu no Ceará-mirim. É o terceiro
Miguel Ribeiro Dantas, formoso e ornamental homem
nascido em 1825, perdendo logo depois a mãe. O
pae continuou em São José de Mipibú e o filho
ficou no Ceará-mirim, corrí o engenho «Diamante»,
herança materna. Anos depois, o jovem Miguel
Ribeiro apaixonou-se pela tia, Maria Angélica, irmã
de seu pae e oito anos mais velha que o moço
namorado.
E Miguel Ribeiro resolveu raptar a tia, que
morava em «Boa Vista», São José de Mipibú. Levou
um séquito de escravos armados. E casou com ela,
em 1851.
Deixou, era a tradição dinastica dos Ribeiro
Dantas, um só rebento. Foi a jovem Maria Generosa,
que se casou com o dr. Olinto José lVIeira, ex-
presidente da Provincia e já viuvo com dois filhos.
Estes filhos foram o dr. Francisco de Sales
Meira e Sá, duas vezes senador federai e juiz
secional, e Ana, esposa de Antonio de Carvalho
e Souza.
Do terceiro Miguel Ribeiro Dantas ha descen­
dência ritual: uma filha, mas, desta com o dr.
Olinto Meira, a progenie é feliz.
São filhos desse casal: José Augusto Meira,
poeta ilustre e catedratico da Faculdade de Direito
do Pará, Miguel Augusto Meira, advogadu em São
Paulo, Olinto Meira Dantas, senhor do engenho
«Jerico» e Maria Verônica, que se casou com o sr.
Joaquim Paulino Duarte da Silva. Todos com filhos.
Olinto Meira Dantas é que obedeceu á linha do­
mestica. Teve apenas uma filha, que deixou filhos.
Olinto José Meira (1820-1901) adminis*rou a
provincia do Rio Grande do Norte de 30 de julho
de IS63 a 21 agosto 1866.
45

Deputado geral da Parahíba, (suplente do


Barão de Mamanguape) e provincial do Rio Grande
do Norte, no biênio de 1878-79, ensaista, poeta,
orador e jornalista, foi uma esplendida figura de
homem, culto, sereno e bom.
O Barão de lVIipibú, rico e senhorial, não
deixou testamento. Tinha um só filho. Mas, não foi
encontrada nem uma moeda de oiro das milhares
que o barão guardava em «Lagoa do Fumo»...
Dizem que enterrou.
Quem deveria saber era mestre Chico, negrão
de confiança, cocheiro, lacaio e cosinheiro, exemplar
de fidelidade ao amo e de elegancia para o tempo.
Tenho a honra de possuir um retrato de mestre
Chico. Está de sobrecasaca, colete de veludo e
cartola... Uma lindeza...
Como fez o Barão do Ceará-mirim, Miguel
Ribeiro mandou erguer um prédio para escolas e
doou-o ao municipio. Hoje, nele trabalha o Grupo
Escolar de São José. E sua majestade o Imperador,
na carta de mercê, naturalmente atendeu aos serviços
prestados á instrução publica. E, em verdade,
sempre foram mais decisivos que os de muitos
pedagogos dedicadissimos nos tempos que correm. (1).
III
BARÃO DE SER RA ERANCA
O Barão de Serra Branca, Felippe Nery de
Carvalho e Silva, nasceu em Santa Anna do Mattos,
a 2 de Maio de 1829 e faleceu a 16 de agosto de
1893. Está sepultado no cemiterio do Assú. Seus pais
foram Antonio da Silva Velloso. Barão de Serra
Branca a 19 de Agosto de 1888. Serra-Branca era
a grande fazenda de Felippe Nery, no municipio de
Santa Anna do Mattos.
Casou com Belisaria Wanderley, filha do coro­
nel Manuel Lins Wanderley e não teve filhos.
Assinou o diploma agraciador a princeza Iza-
bel, que então regia o Brasil.
A vida estava mais cara. O barão do Ceará-
Mirim em agosto de 1874 pagara 103$ de registos.
Serra Branca pagou 802$500... Prestou juramento a
24 de outubro de 1888 nas mãos de José Marcelino
da Rosa e Silva, derradeiro presidente conservador
no Rio Grande do Norte.
Não fizera edifício pajra escolas como o havi­
am feito os barões de Ceará-Mirim e Mipibú. Quan­
do se deu o movimento abolicionista no Assú (1884)
Felippe Nery libertou a escravaria sem condições...
Como teria sido bárão? Uma tradição corren­
te diz que Felippe Nery fôra agraciado pela grati­
dão do dr. Manuel Porfirio de Oliveira Santos, che­
fe conservador da província e cunhado-representan-
te do padre João Manoel de Carvalho. Justamente
em Agosto de 1888, Oliveira Santos era oficial de
gabinete do presidente do gabinete ministerial, con­
selheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira.,.
O barão de Serra Branca, quer intima quer
politicamente, não sobresaiu no seu tempo. Homem
simples, trabalhador, politicando ao lado saquarema
do padre João Manuel, nem mesmo se poderá dizer
ter elle exercido vasta influencia, pois controlava in­
teiramente a região o coronel Antonio Soares de
Macedo, o jornalista do «Brado Conservador», ex­
pressão positiva de poderio.
Serra Branca, o nosso terceiro barão, figura
como uma resultante de honestidade, de energia te-
rebrante, contínua, obstinada. Um exemplar do ser­
tanejo inteligente, confiado em si mesmo, acreditan­
do em Deus e confiando nas forças incompressiveis
do Bem.
I
BARÃO DO A SSÚ
Luis Gonzaga de Brito Guerra nasceu na fa­
zenda «Coroas», Campo Grande (Augusto Severo) a
27 de setembro de 1818 e faleceu em Caraúbas a
6 de junho de 1S9õ.
Seus pais foram Simão Gomes de Brito e Ma­
ria Madalena de Medeiros. O padre Francisco de
Brito Guerra, senador do Império, era irmão de seu
pae. Bacharelou-se em Olinda, em 1839. Até 1873
esteve no Rio Grande do Norte, em cargos de ma­
gistratura. Administrou a província como vice-pre­
sidente, em agosto de 1868. Deputado provincial no
biennio de 1856-57. Desembargador na Relação de
Ouro Preto, em 1873. Presidente do Tribunal por
tres annos e sempre reconduzido. Removido, a pe­
dido, para o Ceará, em 1885. Ministro do Supremo
Tribunal de Justiça do Império, em 4 de dezembro
de 1886. Posse em 23 de fevereiro de 1887. Aposen­
tou-se em lü de novembro de 1888. Veio para Ca­
raúbas morrer em casa. Conselheiro a 14 de feve­
reiro de 1874. Cavaleiro da Rosa a 20 de fevereiro
de 1875. Commendador da Ordem de Christo a 26
de junho de 1881. Barão do Assú a 17 de novem­
bro de 1888.
Casou tres vezes. Vinte e quatro filhos ao to­
do. Sua primeira mulher foi Maria Mafalda, filha do
tenente coronel Antonio Francisco de Oliveira. A
segunda, Josefina da Nobrega e a terceira, Maria
das Mercês (mana da primeira esposa) fizeram-no
completamente feliz. Dos filhos do barão do Assú
notaram-se Adrião, o mais velho, que morreu sol­
teiro, terceiro-anista de direito, Lino, com grande
descendencia, Teofilo, idem, Simôa, que se casou
com Raymundo Gurgel, Maria dos Anjos, primeira
mulher do coronel Francisco Gurgel de Oliveira.
Todos com descendencia.
Do segundo matrimônio (seis filhos e do pri­
meiro doze) nasceram Felipe Guerra, o desembar­
gador que orgulha a nossa magistratura, uma das
nossas melhores expressões de cultura e civismo,
Apolonia, segunda mulher do coronel Francisco Gur­
gel de Oliveira (irmão da primeira e da terceira mu­
lher do barão do Assú), Boaventura, morreu soltei­
ro, logo depois de bacharel.
Do terceiro casamento (seis filhos) cito Andro-
nico, inteligentissimo, falecido no ultimo anno da
Faculdade, Luis, morreu sem filhos, Maria Joanna,
casada com Tiburcio Gurgel (com filhos) e o bacha­
rel José Caiazans de Brito Guerra, que dirigiu a «Im­
prensa» e pertence á historia elegante de Natal, de
ha dez annos, solteirão de maior marca...
O Barão do Assú foi o unico que não solici­
tou a «graça». Nem siquer requereu o diploma...
Norte-Rio-Grandense de mais de
trezentos anos
José Augusto
Socio benemerito
Houve entre os primeiros habitantes do Rio
Grande do Norte, entre os que acompanharam Mas-
carenhas Homem e Jeronimo de Albuquerque, na re­
conquista da Capitania, entre os que obtiveram as
primeiras concessões de terras, entre os que povoa­
ram, desbravaram e trabalharam o solo potiguar,
alguns cuja descendencia, em bôa parte e em linhas
gerais, pode ser seguida até hoje.
Um deles foi João Alustau (Lostáo era a gra­
fia da epoca inicial) Navarro.
Os seus serviços na fase do povoamento devem
ter sido consideráveis, a julgar pelas muitas partes
de terra que lhe foram destinadas pelos dois pri­
meiros Capitães-móres—João Rodrigues Colaço e Je­
ronimo de Albuquerque.
Já a data n.° 15, na ordem cronologica, era re­
servada a Alustau em março de 1601, ao se inau­
gurar o regimen de concessões, visando fixar á terra
o elemento colonisador Note-se que a data n.o 1 é
de 9 de janeiro de 1600, apenas um ano antes da pri­
meira concessão a João Alustau.
Foram as seguintes as datas deferidas a este
desbravador, ao despontar o Rio Grande do Norte
— 52

para a vida civilisada: “1—A data 15—1200 braças


ao largo do mar, no sitio que começa no rio Ca-
nayri para o norte e para o sertão outras tantas.
Tem porto de pescaria. Em 1—3—1601. Concessão
de João Rodrigues Colaço.
2— A data 48—500 braças por costa, come
do onde acaba a primeira data para o lado do sul
e outras tantas para o sertão. Em 17—5—1603. Con­
cessão de J. R. Colaço.
3— A dato 56—500 braças por costa na c
ceira da sua data e meia legua para o sertão. Em
24—5—1604. Concessão de Jeronimo de Albu­
querque.
4— A data 107—3.000 braças em quadra na
tada da outra para a banda do rio onde reside, is­
to é, 3.000 por costa e outras 3.000 para o sertão.
Em 7—1—1607. Concessão de J. de Albuquerque.
5— A data 108—600 braças, começando de
quesipitanga, ao pé do rio pelo caminho que vai pa­
ra Araunú. Em 9—5—1607, Concessão de J. de Al­
buquerque.
6— A data 131—A terra que houver entr
suas datas e a de João Seremenho, e para o sertão
40 braças. Em 15—8—1608. Concessão de J. de Al­
buquerque”. (1)
João de Alustau Navarro, ao que se evidencia
de documentos ulteriores, povoou e cultivou as suas
terras, acresceu-as de novas aquisições, estabeleceu
criação de gados e possuiu engenho de açúcar.
Tavares de Lira supõe que.este engenho*foi o
Ferreiro Torto, anteriormente pertencente a Fran-
cisca Coêlho, e teatro por vezes de tragédias hor­
ripilantes. (2)
(1) — Revista do Instituto Historico e Geográfico do Rio
Grande do Norte, 1909, Vol VIII.
(2) — Tavares de Lira — Historia do Rio Grande do Nor­
te, pag, 168.
— 53

Camara Cascudo diz que “no mapa de Barléos


a margem esquerda do Tareiry (Trahiry) está uma
parte povoada com cinco casas, indice prestigioso
de relativa população e um nome simples—João
Lostáo. É a propriedade de João Lostáo Navarro,
mas não ha engenho”. (3)
Nessas casas, como indaga Camara Cascudo, ou
no engenho Ferreiro Torto, como presumem outros
historiadores, entre eles Tavares de Lira, ocorreu
em 1645, no mês de setembro, o assalto capitanea­
do pelo judeu holandês Jacob Rabi, e levado a efei­
to pela indiada bravía, contra os que, escapando ao
massacre de Cunhaú (julho de 3645), e não poden-
do galgar o território paraibano ou pernambucano,
haviam procurado refugio nas propriedades de João
de Alustau, então um dos mais abastados e presti­
giosos habitantes do Rio Grande do Norte.
Esse assalto, seguido dos massacres e cruelda­
des comuns nas empreitadas sinistras de Rabi, ter­
minou, não sem luta renhida, pela capitulação dos
refugiados, alguns dos quais foram presos, entre eles
o dono da terra João de Alustau Navarro, recolhi­
do ao forte de Ceulen.
A 3 de outubro de 164). os prisioneiros e ou­
tras pessoas que lá haviam procurado abrigo para
escapar ás investidas dos indios de Jacob Rabi, fo­
ram retirados do forte, de ordem das autoridades
holandesas, sob o pretexto de que os seus serviços
eram imprescindiveis no cultivo das terras, nos la­
bores agricolas, mas, na realidade para serem entre­
gues a fúria e á ferocidade dos assaltantes.
A historia regista, com pormenores e minú­
cias, as atrocidades de Uruassú, aldeia próxima a
Natal, para onde foram condusidos, sendo entregues
ao arbitrio assassino dos Janduys, sob as vistas e
direção de Jacob Rabi.
(3 ) — Jornal do Comercio, Rio de Janeiro, n.° de 10-11-940'
— 54

Ha a respeito da chacina então' verificada um


relato, escrito 20 dias após a tragédia, por Lopo Cu­
rado Garro, que o ouviu de testemunhas presenciaes,
relato que foi transcrito na integra no Valeroso Lu-
cideno, de Frei Manuel Calado, publicado em 1668.
João de Alustau Navarro figurou entre as vi­
timas desse morticínio.
Os historiadores daquela epoca sombria arro­
lam o seu nome entre os dos que foram mutilados
e trucidados, mas não fazem referencia á sua famí­
lia, não se sabendo se era ou não numerosa.
Provavelmente quasi toda teria sofrido a mes­
ma sorte do seu chefe ou no assalto ao seu enge­
nho ou propriedades, ou na matança do Uruassú.
O que é certo é que, 25 anos depois, isto é, em
1670, o Sargento-mór Francisco Lopes obtinha do
Governador Geral da Baía, Alexandre de Souza Frei­
re, um alvará de confirmação de datas de terra na
Capitania do Rio Grande do Norte, alegando ser ca­
sado com Joanna Dorneles, filha legitima de Ma­
noel Rodrigues Pimentel e néta de João de Alus­
tau Navarro, este preso pelos flamengos e morto
pelos tapuias com a mais gente da dita Capitania,
por cuja causa “se perderam todos os seus papéis
de datas de sesmarias e de compras de terras que
ocupou o dito avô e pai”, e afirmando ser Joana
Dornelles unica e universal herdeira de Alustau
Navarro.
No mesmo alvará ha uma passagem em que é
feita referencia conjunta a Navarro e Luiz da Mota,
dos quais Joana Dorneles seria herdeira. (4)
Deve tratar-se de Luiza e não de Luiz, corren­
do a adulteração por conta do erro de copia, mui­
to frequente no referido Alvará, no qual o nome
da mulher de Francisco Lopes é escrito João Dor-
(4) —Documentos Históricos — Biblioteca Nacional,
XXIV, pags. 50 e seguintes.
— 55

nelles e não Joana, e Alustau é substituído por Estau-


Luiza da Mota seria a esposa de Alustau Na­
varro ou a sua filha casada com Rodrigues Pimen­
tel, de qualquer maneira já falecida em 1670, pois
Joana Dorneles era então a herdeira universal.
Temos assim que cm 1670 a mulher do Sar-
gento-mór Francisco Lopes, D. Joana Dornelles, era
a unica descendente viva de Alustau Navarro.
Ha, no cartorio de Goianinha, o inventario e
testamento de um filho do casal Francisco Lopes-
Joana Dorneles.
Trata-se do Capitão Cipriano Lopes Pimentel,
falecido em 1721, e cujo testamento foi feito em 19
de dezembro de 1720.
Nesse testamento ha referencia a dois dos seus
irmãos—Francisco Dornelles e Joana Lopes.
Em 1681, aparece um alvará da concessão de
terras na Capitania do Rio Grande do Norte a vá­
rias pessoas, entre elas o Capitão Cipriano Lopes
Pimentel e Tomé Lopes Navarro. (5)
Esse Tomé Lopes Navarro, a julgar pelo seu
nome, seria provavelmente irmão de Cipriano Lopes
Pimentel tendo recolhido o Navarro do sobrenome
de João de Alustau Navarro, presumidamente seu
bisavô.
Não tenho dados com que acompanhar a des­
cendência de Alustau, sinão através do seu bisneto,
Cipriano Lopes Pimentel, que viveu e morreu em
Goianinha, deixando os seguintes filhos: Lazaro Lo­
pes Galvão, Cipriano Lopes Galvão, Jorge Lopes
da Silva, Arcangelo Lopes Galvão, Estevão Lopes
Galvão, Manoel Lopes Galvão e Luiza da Silva.
Esta foi casada com o Sargento-Mor Manuel
Alvares Maciel; Lazaro com d. Izabel de Bezerril;
Cipriano com d. Adriana de Holanda Vasconcellos;
(5) — Publicação do Arquivo Nacional, Vol, XXVII, pag. 71.
— 56

e Jorge, (que na epoca do casamento já se assina­


va Jorge Lopes Galvão), com d. Francisca Xavier
de Siqueira.
Alguns dos filhos de Cipriano Pimentel, que
foi casado com d. Teresa da Silva, filha do alferes Feli­
pe da Silva, residiram em Goianinha e outros pon­
tos do litoral norte riograndense, e deles ha hoje
numerosa decendencia, sobretudo nos municipios de
Goianinha, Canguaretama, Arês, Papari, etc.
O de nome Cipriano Lopes Galvão, porém, fi-
xou-se na zona do Seridó, em terras do atual mu­
nicípio de Currais Novos, contando-se hoje por mui­
tas centenas, sinão milhares, os seus descendentes,
habitantes principalmente dos municipios de Curra­
is Novos e Acari.
Todos os que descendem de Cipriano L. Pimen­
tel, os do litoral como os do Seridó, pelo que fica
evidenciado, procedem diretamente de João de Alus-
tau Navarro, um dos desbravadores do sólo poti­
guar, um dos seus mais antigos habitantes, um dos
sesmeiros iniciais do Rio Grande do Norte (1601),
um dos mártires da matança de Uruassú (3 de ou­
tubro de 1645).
Eu sou um deles, e chego até Alustau Navar­
ro através do meu pai, Professor Manuel Augusto
Bezerra de Araújo; este filho do Coronel Silvino
Bezerra de Araújo Galvão; este filho do Capitão Ci­
priano Bezerra Galvão; este filho de Cipriano Lopes
Galvão; este filho do Capitão-Mór Cipriano Lopes
Galvão; este filho do Coronel Cipriano Lopes Gal­
vão; este filho do Capitão Cipriano Lopes Pimentel;
este filho do Sargento-Mór Francisco Lopes e d. Jo­
ana Dorneles; esta filha de Manuel Rodrigues Pi­
mentel, casado com uma filha de João Alustau Na­
varro, cujo nome não pude encontrar, parecendo ve-
rosimil, entretanto, a hipótese de ser Luiza da Mota.
Sou assim Norte-riograndense de mais de tre­
zentos anos.
0 Município de Ceará-Mirim
OS PORTUGUESES. - LÍNEAMENTOS DE CO-
LONISAÇÃO
João Vicente da Costa
Socio efetivo

O Município de Ceará-Mirim tem na aldeia de


Seará, entre Estremes e Ceará-Mirim, a taba dos
potiguares, quando recebe, em 1535, a visita dos por­
tugueses, que, formando uma grande empresa, par­
tem de Lisboa, rumo á linha norte da Terra de San­
ta Cruz. Chegados a Pernambuco, sóbem até ao Po­
tengi, no Rio Grande do Norte, compreendido na
vasta gléba dividida pelo Rei entre servos da Patria.
Ao aportar 18 quilômetros acima do Potengi, ao rio
Ceará-Mirim (Seará, no médio vale, e Agua Azul,
na confluência dos rios, proximo á sua fóz), no lo­
cal designado por Genipabú, encontram os colonisa-
dores forte resistência dos indígenas, que dominam
toda a região do litoral, entre os rios Paraíba e Ja-
guaribe. É o território cearámiriense assim reconhe­
cido, no inicio do povoamento do Brasil, pelos eu­
ropeus que empreendem a colonisação. Já ai se ob­
servava a frequência de outros elementos estrangei­
ros, comerciantes franceses, hespanhóes, etc, que,
nos tres primeiros decenios da terra brasilea, vele­
javam, por diversos pontos, em transações com os
— 58

índios, atraídos pelas suas especiarias e cordiaes en­


tendimentos.
Frustrada aquela penetração, retardado ficou,
longo tempo, o povoamento do Rio Grande do Nor­
te, abandonada a donataría. Só mais de cincoenta
anos após, quando a colonisação se desenvolve em
Pernambuco e atinge Paraiba, se resolve a jornada
' para a capitania potiguar. Construída a fortalesa dos
Reis Magos na barra do Potengi, funda Jeronimo
de Albuquerque (25—12—1599) a cidade dè Natal,
com a sua egreja, num altiplano da povoação dos
Reis. Logo, se iniciam as concessões de sesmarias, e
em 1614, no auto de repartição de terras, vem in­
dicado o sitio Boca do Mata, mais tarde povoação
de Santa Agueda, onde se erige a atual cidade de
Ceará-Mirim, situada numa colina do vale—como
terra própria para engenho de moer cana.
A ALDEIA DE GUAGERÚ E A VILA DE
ESTREMÔS
Á volta da grande lagôa de Guagerú (Estre-
môs), formada pelas aguas dos rios do Jorge ou Mu­
do e Guagerú, a 20 quilômetros de Natal e a 18 de
Ceará-Mirim, se acham os potiguares, chefiados por
Camarão, que assentam com os coionisadores as pro­
videncias necessárias á estabilidade das populações,
desde a instalação da fortalesa-24-6-1598. Daí a con­
cessão de algumas léguas aos Padres da Companhia
de Jesus, missionários, como Anchieta, Nobrega e
outros no sul, daqueles selvicolas, distribuídos em
vários aldeamentos, entre os quaes, á vista de Na­
tal, os de Aldeia Velha e Igapó, á margem do Po­
tengi. Devoto da Religião Católica pelos valiosos ser­
viços do Pe. Pinto, no seio de sua taba, Camarão,
nascido om 1580, mais ou menos, na Aldeia de Seará,
é batisado, em 1612, na de Guagerú (Estremôs) com
toda a sua gente, entre pompas e alegrias.
— 59
A aldeia de Guagerú, abrangendo todas as ta-
bas, vem a constituir o centro de movimentação,
pois, em breve, os missionários fundam ali um con­
vento, uma bela Igreja e um prédio destinado á ea-
mara municipal e cadeia. Das aldeias, 5 ou 6, da
Capitania, nenhuma outra mais próspera. Verificada
no interior a rebelião generalisada dos tapuias, ini­
ciada em 1687, e atacada mesmo a ribeira do Ceará-
mirim (1692), os potiguares, que, em 1603, levam á Baía
numeroso contingente para a pacificação dos aimo­
rés e extinção dos quilombos, e realisam (1614) ex­
pedição ao Maranhão, além das lutas heróicas até
Pernambuco contra o invasor holandês (sobretudo
no periodo de 1641-1654), cooperam, de novo, na
defesa da ordem, preservando a ribeira dos assaltos
e devastações dos janduis.
OS ELEMENTOS INDÍGENA E AFRO
Instalado, a 3 de Maio de 1760, o Município de
Estremôs-Vila Nova de Estremôs do Norte, antiga
aldeia de Guagerú, têm os componentes da tribu
potiguara, daí em deante, uma administração civil,
como se fez pelas outras aldeias, em observância ás
ordens do governo português, restringindo-se-lhes,
dentro em pouco, a atividade. Desde 1822, vilados
no sitio Veados, do Município de Ceará-Mirim, en­
tão Estremôs, informa o Presidente Mascarenhas, em
seu relatório de 1839, serem eles em numero de 700,
possuírem uma legua de terras, pouco trabalhando
na agricultura, vivendo da pesca e do trabalho a jor­
nal. A linguagem do Presidente da Província longe
do cabotinismo dissoluto de fraudatórias adminis­
trações nordestinas do regimen liberal recem-extin-
to, demonstra a quasi estagnação, o conglomerado,
de centenas de especimens daqueles que, do Maranhão
á Baía, souberam ser verdadeiros construtores da na­
cionalidade. O esforço civilisador da catequése, em
que o missionário se afirma, antes de tudo, o inter­
prete das formas dialetaes do guarani, e, ao mesmo
tempo, o mestre-oficio e defensor do selvicola, de­
gradado delas opressões de colonos ou de adminis­
tradores, sofre assim não pequena desintegração social.
Nessa contingência, dispersa-se e desaparece, a
partir de 1850, a aldeia de Veados. A legua de ter­
ras, em sua quasi totalidade, cae no dominio de in­
divíduos gananciosos, que, mesmo sem escritura, com­
pram aos pobres indios as suas porções para nego­
ciar a melhores preços, quando os não esbulham. As
aglomerações no agreste, determinadas pela sêca de
1845, e a agravação do impaludismo endemico fa-
sem também a redução do agrupamento indígena.
É o que nos informa um contemporâneo daquela
epoca, o respeitável e inteligente ancião-ariano da
Abissinia local, João Ferreira Nobre.
Desenvolvido, por toda a Província, o trafico
do braço cativo, são legiões de negros, de variadas
tribus da África, que se crusam com os elementos
existentes. Esse contingente, porém, não tem, no agres­
te, preponderância no devassamento do território.
Ele contribúe para a fundação dos engenhos, que
caraterisam Ceará-Mirim com o seu vale fertilissi-
mo, parte integrante do ciclo assucareiro, refletindo
os mesmos aspétos de outros meios agrícolas mais
adeantados do norte e sul do país, até ao período
anterior á Abolição. No inicio do povoamento, é o
indígena a essencia da vida agrícola e pastoril, des­
de o estabelecimento de Guagerú, que organisa o
trabalho pelos aldeamentos e semeia as fasendas pe­
la ribeira. Os proprios grandes sertanistas que se di­
rigem do rio São Francisco para os sertões do Nor­
deste, espalhando os seus gados pelos campos do Ja-
guaribe, Piranhas, Apodi até ao Parnaiba, acompa-
nham-se de fortes colunas de indios.
61 —

FORMAÇÃO E DESDOBRAMENTO DO
MUNICÍPIO
O Município deve, pois, a sua origem e forma­
ção aos centros da fixação e atividade dos primiti­
vos habitantes da selva. De sua aldeia mais antiga
provém a denominação, dada pelos potiguares e apli­
cada á Capitania visinha do norte pelos colonisado-
res, que do Rio Grande do Norte seguem com al­
guns indios para o território cearense. Da aldeia de
Guagerú se constitúe a vila de Estremôs, designa-
tiva de cidade portuguesa, como muitas outras lo­
calidades por todo o Brasil. É, aliás, a 1a. vila da
Capitania.
Criada está desde 1755 a paróquia, realisando
solenes festividades, a que ainda hoje não faltam o
fervor espiritual e a afluência de fieis de todos os
pontos lindeiros.
Surge, em 1855, a nova séde do Município—
Ceará-Mirim, defronte do médio-vale, onde se con­
centram os engenhos, na proximidade das estradas
que a ligam á Capital, ás praias do Município e ao
interior. O território do Município compreende, a
principio, (1760) toda a ribeira, desde Estremôs até
aos atuaes Municípios de Taipú, Baixa Verde e La­
ges. As concessões de terras datam de 1604, no go­
verno do Capm-Mór do Rio Grande do Norte, Je-
ronimo de Albuquerque. São portuguêses, pernam­
bucanos, etc, os povoadores, os que se vêm fixar no
solo potiguar, desbravando-o, civilisando-o.
Os colonisadores seguem sempre a direção do
rio, partindo as suas fundações do aldeamento de
indios. Multiplicam-se os concessionários, membros
de numerosas famílias ou jovens ardorosos de regi­
ões diversas da Europa e do País, todos possuídos
do mesmo espirito de aventura, mas cheios de bôa
vontade por um trabalho edificante. Não ha outras
fontes de povoamento, pois se não afastam do lito-
62

ral os holandeses, na sua dominação, senão para


efeito de pilhagem. Em 1775, já conta o Municipio
16 fasendas e apreciável numero de habitantes, en­
tre eles predominantes o português e o pernambu­
cano na constituição dos tipos raciaes. Nacionaes e
estrangeiros organisam a exploração agricola, pasto­
ril ou industrial, çstabelecida a comunhão de inte­
resses. A guerra dos mascates e movimentos outros,
ao sul e norte do país, geraram, aqui e ali, dissen-
ções, muitas vêses oriundas de desonestidades e cri­
mes de certas autoridades, por isso mesmo chama­
das á ordem e destituídas pelo Governo da Metró­
pole. Mas, dos vários tipos étnicos, não obstante as
diferenciações fisicas, sociaes ou econômicas, resulta
certo estado evolutivo. Os maiores proprietários são
os senhores de engenho, na faixa do vale húmido,
ou os fasendeiros, estes com suas situações, a car­
go de vaqueiros, na caatinga, a algumas léguas. O
mestiço-mulato e o negro, donos de pequenos tra­
tos de terra, ou simples operários, distinguem cer­
tos trechos do Municipio-Veados, Dendê, Coqueiros,
cognominados de Abissinia, não pelos costumes bár­
baros desta, mas pela densidade carateristica da es-
pecie. O operário ou trabalhador rural vegéta num
regimen dissociativo, ao contrario do alto sertão, on­
de o morador é o meeiro ou terceiro na produção,
com poiso mais estável pelas vantagens proporciona-
es. Não se organisaram núcleos coloniaes especiaes
de estrangeiros, no Municipio. As famílias ou pessoas
de procedência européa, que nele se domiciliaram,
logo se adaptaram e identificaram. Dessa fórma, pro­
cessou-se a evolução social, que tem marcado o seu
ritmo pelos surtos de aperfeiçoamento, pelos fatores
educacionaes, dentro das linhas disciplinares de sen­
timento e de ação, ditadas pelo espirito de constru-
tividade brasileira.
ORIGEM DE SUA DENOMINAÇÃO
A ntonio Soares
(Socio benemerito)
Portalegre, situada sobre a serra do mesmo no­
me, na extrema O do Estado, era uma das mais an­
tigas vilas do Rio Grande do Norte. Só recentemen­
te alcançou a categoria de cidade. A sua história re­
monta aos meiados do século XVIII e é rica de in­
teressantes e heróicos episódios.
As lutas contra os indios, a revolução republi­
cana de 1817 e a campanha abolicionista deram a
Portalegre um logar de destaque entre as comunas
norte-riograndenses.
A despeito disso, o registro dos seus notorios
acontecimentos sempre se fez com lastimável desca­
so pelo nome designativo do cenário onde ocorreram,
nome cuja origem ademais, deixámos que se per­
desse num emaranhado de opostas tradições.
Não bastava a confusão resultante de apelidos
diversos, postos e substituidos em diferentes épocas
— Serra do Poãi, de Sanfana, do Regente, das Dor-
mentes, de Dona Margarida e da Vila. Até o nome
tornado definitivo passou a ser, na própria escrita
oficial—Porta Alegre, Port’Alegre, Porto Alegre... As
leis e os documentos existentes nos arqúivos públi­
cos oferecem farto testemunho dessa deplorável in­
cúria.
— 64

É sabido que a serra, de grande valor agríco­


la, com a denominação de Sant’Ana, fôra concedida
em sesmaria, nos anos de 1747 e 1749, aos portu-
guêses Carlos Vidal Borromeu e Clemente Gomes
de Amorim, os quais não a demarcaram no praso-
legal, caindo em comisso a concessão.
Aconteceu que, em 1761, os criadores de Apo-
dí, prejudicados pelos indios, pediram ao governo a
retirada dos mesmos para logar onde pudessem vi­
ver da agricultura, “visto terem êles abandonado a
vida da caça e da pesca para viverem da rapina­
gem”. (Nonato da Mota, em crônica publicada na
Revista do Inst. Hist. e Geogr., vols. XVIII—XIX,
pags. 58 e seguintes).
Deferida a petição, o Governador da Capita­
nia de Pernambuco enviou o Juiz de Fóra de Olin­
da, dr. Miguel Carlos Caldeira de Pina Castelo Bran­
co, com a incumbência de dar execução ao despacho.
Para a localisação dos gentios foi, então, esco­
lhida pelo dito juiz a serra de SanfAna ou do Re­
gente, onde, aliás, já existiam alguns moradores, com
capela ediíicada.
Fixado, no edital, o dia 12 de junho (1761) pa­
ra a mudança dos indios, partiram êles, nessa data,
acompanhados do dr. Caldeira Castelo Branco, ou­
tras autoridades e fôrça publica, com destino a San­
fAna, acampando a 24 nas proximidades da serra, á
margem de uma lagôa, a qual, em homenagem a
êsse dia, recebeu o nome de S. João, que ainda hoje
conserva.
A tradição informa que, ao chegar o dr. Cal­
deira, no mesmo dia, ao cimo da serra, olhando por
uma aba da mesma e vendo o panorama de verdu­
ra do sertão, pronunciara a seguinte frase: £ uma
porta alegre. Desde êsse dia—acrescentam—a serra
de SanfAna ficou se chamando Fort’Alegre (Vêr ci­
tada crônica).
Ha outras tradições relativas á origem da de­
— 65 —

nominação; estas, como aquela, sem fundamento acei­


tável, por se mostrarem em desacordo com a verda­
de dos fatos.
Não vale comentar a extravagância dos que es­
creveram Porto Alegre, imaginando, talvez, a exis­
tência de um porto em pleno sertão e num trêcho
em que não ha, siquer, nem rio navegavel. Merece,
porém, algumas considerações a frase atribuida ao
juiz Caldeira Castelo Branco.
Sem melhor apôio, além dessa vaga tradição,
a que outras se opõem, a frase não tem, ao que nos
parece, o menor indicio de autenticidade. Exami­
nemos.
Portalegre possui, realmente, muitas paisagens
alegres e pitorescas. Entretanto, quem quer que avis-
te, olhando de qualquer ponto do cimo da serra, o
panorama ãe verdura do sertão, jamais ligará a êsse
panorama, obscuro e longínquo, a idéia de porta ou
entrada. Também não é á entrada do arruamento
que se vê o mais alegre, nem o mais belo dos as­
pectos locais.
A frase, já de si pouco expressiva, não se ajus­
ta com rigor á aplicação que lhe querem dar. Pre­
ferimos crêr que a não tivesse pronunciado o ilus­
tre juiz, homem titulado, de regular cultura literaria.
A historia documentada diz que a vila foi erec-
ta a 8 de Dezembro de i 761, e o nome lhe foi da­
do nessa ocasião, como se vê do termo de levanta-
rnento do pelourinho”... Real, Real, Viva o nosso Au­
gusto Soberano, Rei e Senhor D. José I de Portu­
gal, o que repetiram todos, os circunstantes, em si­
nal de seu fiel reconhecimento pela mercê que re­
ceberam na ereção desta nova vila, que o sobredi-
to Ministro apelidou com o nome de Port’Alegre...”
‘ (Revista cit., pag. 83).
Excluida, assim, a versão mais corrente sôbre
a origem da denominação, e diante da peça oficial,
o nosso pensamento se volta para um outro facto,
— 66 —
muito comum naqueles tempos—o de dar-se a no­
vas localidades da colônia as denominações de ci­
dades, vilas, ou simples povoações de Portugal, quan­
do se não manifestava preferencia pelo santo do dia,
ou por alguma carateristica especial da região. Qua-
si todos os atuais Estados do Brasil possuem exem­
plos dessa prática, notadamente os do Pará, Ma­
ranhão, Bahia, Espirito Santo e Rio de Janeiro.
Aqui mesmo sem falar em Estremoz e Redi-
nha, a nossa cidade tíe Macau teve o seu nome da­
do peles portugueses que a situavam, ao tempo em
que abandonavam a ilha de Manoel Gonçalves, su­
bmersa, ali perto, nas proximidades da embocadura
do rio Amargoso.
Portalegre é, também, como se sabe, uma an-
tiquissima cidade de Portugal, cabeça de concêlho,
na Província de Alentejo. A nossa convicção é que
daí veio o nome da lendaria vila norte-riogranden-
se, por inspiração, possivelmente, do juiz Caldeira
Castelo Branco, presidente do ato solene da insta­
lação e legitimo representante de S. M. D. José I,
de Portugal.
Alguém poderá objetar que é isso uma simples
hipótese. Não o contestamos; mas, ninguém negará
que ela assenta, pelo menos, em argumento mais con­
dizente com a realidade dos factos.
As autoridades no assunto, ou os conhecedores,
porventura, de provas que nos faltaram, refutem, sem
constrangimentos, as nossas despretenciosas razões;
e experimentaremos, mais uma vez, a natural satis­
fação dos que amam conhecer a verdade.
Recepção ao General Souza Roca
Em sessão conjunta com a Academia Norte-
Rio-Grandense de Letras, a 18 de agosto de 1941,
r ecebeu o Instituto Historico e Geográfico, a honro­
sa visita do ilustre General Emilio Fernandes Souza
Dóca, antigo presidente da Federação das Academi­
as de Letras e chefe dos serviços de Intendencia da
Guerra.
A reunião foi presidida pelo dr. Rafael Fernan­
des Gurjão, interventor federal no Estado e mem-
bro benemerito do Instituto, o qual, depois de de­
clarar os objetivos da assembléia conjunta das duas
agremiações culturaes, concedeu a palavra ao dr.
Nestor Lima, presidente do Instituto, para fazer a
saudação ao eminente recipiendario.
Após a oração, que adeante reproduzimos, fa­
lou o ilustre visitante, em belo improviso, cujo re­
sumo também vae a seguir inserto, conforme pou-
de coligir a reportagem.
Eis o discurso do dr. Nestor Lima:
Preclaro Sr. Interventor Federal.
Revdm'’. Reprte. do Sr. Bispo Diocesano.
Nobres autoridades Civis e Militares.
Ilustres Confrades e Acadêmicos.
Minhas senhoras, Meus senhores:
I—Ha 440 anos, Dia de São Roque, ou 16 de
agosto de 1601, poderosa armada, vinda de Portu­
gal, ao mando de Gonçalo Coelho, ou de Cristovam
Jaques, (não é bem certo), tangida pelas correntes
oceanicas e aéreas, bem conhecidas de todos nós,
arrastava, até á costa norte-riograndense, os nave­
gadores do Rei Venturoso, com expresso mandato
de explorar, colonizar e tomar posse da terra, um
ano antes descoberta por Pedro Alvares Cabral, e,
aí, descobriram eles e assinalaram o famoso Cabo,
em que gravaram esse onomástico, plantando como
primeiro marco da sua missão, o singular padrão de
pedra lióz, que as brisas marinhas, ha quatro sécu­
los e meio, bafejam na planura das nossas praias e,
ainda hoje, serve de marco primordial lindeiro en­
tre dois municípios litorâneos.
Por uma coincidência da maxima relevância
histórica, na mesma data do ano corrente, chegava
á nossa capital, vindo do Sul, um autentico Embai­
xador da genuina brasilidade, portador de credenci-
áes as mais legitimas, que o tornam figura de pról
nos círculos culturaes do paiz.
Do feliz evento historico, ha o marco indelevel
que o tempo não poude ainda destruir; do notável
acontecimento coetaneo, outro não ficará senão a
honra e a alegria do convívio com esse alto expo-
nente da nacionalidade, e que serão guardadas em
nossa memória, como dos mais notáveis sucessos da
nossa vida associativa.
II—Para solenizar a efeméride, aqui, se acham
reunidos os poucos espíritos que, entre nós, curam
das letras e se congregam em torno de uma ban­
deira desfraldada, ha vários anos, na metropole na­
cional, pelo nosso eminente visitante e outros seus
dedicados companheiros.
Verdade é, porém que uma das instituições que
se acham em festa, neste instante, já tem assegura­
da a sua existência, desde cerca de 40 anos, emquan-
to que a outra, uma das mais novas e incipientes,
— 69 —

tem a animal-a o ardor dos seus componentes, gui­


ados pela autoridade e virtudes sociaes e privadas
do nosso querido Presidente, sr. Antonio Soares.
Do Instituto, que presido, ha quase 15 anos, só
poderei dizer que, através da sua existência, tem sa­
bido defender os nobres designios que guiaram os
seus fundadores e mantém-se integro e cada vez
mais estimulado a cumprir a sua alevantada finali­
dade cultural. A sua “Revista”, com mais de trinta
volumes ânuos, representa o labor dos que a fun­
daram e prosseguem nessa tarefa árdua, mas, eno-
brecedora. Ele congréga, hoje em dia, sob este této,
outras associações que, como a Academia de Letras,
fazem honra ao estado mental da nossa gente.
A Academia filiada á Federação, fundada em
1937. acha-se vinculada ao movimento literário no
país, e reflete no seu elenco o sopro de renovação
e de brasilidade, de que é prova inconcussa o mo­
mento que estamos realizando.
E eu senti vivarnente a palpitação desse an-
ceio de solidariedade nacional, na minha recente ex­
cursão pelos Estados do Sul do Brasil: visitei Porto
Alegre, a grande e bela capital gaúcha, onde convi­
ví com as figuras exponenciaes de Olinto Sanmar-
tin, De 1'aranhas Antunes, Ari Martins e Walter
Spalding, fecundos cultores na seára das letras e da
historia; estive em Florianopolis, onde assistí o 9o.
Congresso Brasileiro de Geografia, e pela vós sem­
pre brilhante de Henrique Fontes, Ivo de Aquino,
Aleino Flores e Oswaíclo Cabral, percebi quanto era
saturado de energias civicas o espirito tipicamente
nacional dos seus mais conspícucs representantes;
em Coritíba, Ulisses Vieira, Raul Gomez, Dicezar
Plaisant e Osvaldo Piloto, paranaenses legítimos, cu-
muíaram-me de atenções e da carinhosa certesa de
idêntico sentido nacionalista; em São Paulo, com o
venerando José Torres de Oliveira, a fidalguia de
Almeida Junior, Bueno de Azevêdo, Carlos da Sil-
— 70 —

veira e Dias de Campos, na vanguarda do Instituto


Historico e do Heráldico Genealógico, sentí o calor
do entusiasmo bandeirante pela unidade espiritual
dos brasileiros, emquanto, na Capital Federal, assis­
tindo as brilhantes tertúlias da Federação das Aca­
demias, nas sessões de Outubro e da primeira quin­
zena de novembro, aproximei-me do cenáculo sele-
tissimo, onde a bondade dirigente de Afonso Costa,
a par da proficiência de Souza Dóca, João Cabral,
Costa Filho, Raul Azevedo e Carlos Xavier, além
de outros, de Adauto da Camara e Dioclecio Duarte,
que nos representam lá, convenceu-me de que todos
os seus esforços tendiam ao alto sentido nacional,
visando a unidade e a maior gloria e brilho das le­
tras patrias.
III—Senhor Souza Dóca:
O estilo e as praxes acadêmicas autorizam que
assim vos trate quem, com muita alegria, vos rece­
be nesta casa.
Os bordados e as estrelas do generalato, que
conquistastes por vossos incontáveis méritos, e a ele­
vada função militar, que exercitais no cenário na­
cional, seriam motivos bastantes para que vos rece-
bessemos, aqui, com transportes de júbilo.
Mas, não é sob esse aspecto que o Instituto e
a Academia vos recepcionam: é que sois um escri­
tor, um historiografo, um acadêmico, um literato,
emfim, dos mais ilustres, e, sobretudo, sois, um élo,
um fator, um artífice consciente da brasilidade.
Faço minhas as palavras sincéras de Paulo Ben-
tes, ao inaugurar, na Federação, com a vossa efigie,
a galeria de honra dos presidentes:
“Sois incontestavelmente um historia­
dor notável. Vossa obra aí está, atestando a
pujança da vossa cultura e dando ao Bra­
sil a contribuição de um filho devotado,
— 71 —

“Causas da Guerra com o Paraguai”, “A


Convenção preliminar da paz em 1828”,
“O porquê da brasilidade farroupilha”.
“Caxias”, “O Sentido brasileiro da Revo­
lução Farroupilha”, “Ideologia federativa
na Cruzada farroupilha”, “O Brasil no Pra­
ta”, “Limites entre o Brasil e o Uruguai”
são trabalhos maduramente pensados, ca­
rinhosamente estudados e que vos colo­
cam entre os nossos maiores historia­
dores”.
Ainda hontem, lia, com indizivel praser, um pe­
queno estudo vosso sobre “Caxias, major e poéta”,
em que demonstráes a procedência do conceito sen­
sato dos vossos companheiros da Federação, pela
vós do ilustre delegado acreano.
Nós endoçámos com satisfação o julgamento e
agora o reproduzimos, quando abrimos de par em
par as nossas portas para acolher-vos e abraçar-vos
na visita, que ora realizaes, pela primeira vez, ás
terras adustas do Nordeste.
Acadêmico, membro titular da nossa congênere
do Rio Grande do Sul, socio do Instituto Historico
Brasileiro, mantendes, no seio da Federação, a es­
belteza dos vossos compatricios nos entrevêros espi-
rituaes, os quaes, naquela colmeia brilhante, estão
construindo um monumento de solidariedade bra­
sileira e, certo, continental.
Ali, fostes aclamado o primeiro presidente da
Federação, no biênio de 1937-1939, e a multiplici­
dade e a sabedoria dos vossos esforços, criaram um
ambiente de confiança, de animação e de proveitos
indiscutíveis, ou aquele “milagre do trabalho cons­
ciente,” que projetou, a tão altos niveis uma insti­
tuição, que não tem ainda a amparal-a a tradição e
o tempo”, no dizer primoroso do vosso citado pa-
negirista.
— 72 —
Estaes, por conseguinte, entre os vossos com­
panheiros e admiradores; considerai-vos em vossa
própria casa, porque aqui todos somos cooperadores
voluntários daquela grande colmeia espiritual, em
que sois principal e benemerito condutor.
Mas, sobretudo, como fator da brasilidade, pre­
ciso é que vos digamos a satisfação que experimen­
tamos em vos termos, entre nós, para o fim de aper­
tar, cada vez mais, os laços afetivos que sempre uni­
ram os dois Rio Grande, na esfera mental, econô­
mica, politica e social da nossa patria.
Sob o aspeto economico, somos tributários um
do outro, vista a intensidade das trocas dos produ­
tos das industrias e do sólo de cada um. Dá-nos o
vosso Rio Grande o trigo, o arroz, a carne e a banha,
de que necessitamos, emquanto que nós lhe forne­
cemos algodão .assucar e sal, tão indispensáveis á vi­
da e ás industrias sulriograndenses.
Nas afinidades raciaes, porque vimos das mes­
mas fontes aborígenes, ou procedemos de idênticas
correntes migratórias da Europa ou da África, somos
o mesmo amálgama da nacionalidade, que se fun­
diu e desenvolveu ao calôr dos trópicos, ou sob as
ríjidas tormentas do pampeiro e do minuano, não
para nos diversificar ou separar, mas, para nos unir,
sempre e cada vez mais, no sentido da prosperi­
dade da gléba e da dilatação do âmbito nacional.
Até mesmo nos contrastes, nós nos aproxima­
mos verdadeiramente, porque, si, entre nós, o flage­
lo das estiagens dificulta, impossibilita o surto eco­
nomico da terra potiguar, matando as criações, ta­
lando os campos e as lavoiras, ou expulsando os ca­
boclos indómitos para outras plagas, lá, no vosso
amado Rio Grande, é o martírio das aguas, nessas
inundações violentas e aterradoras, como ainda ha
pouco aconteceu, destruindo as riquezas, invadindo
as cidades, lacerando a vossa bela capital, ao que
se fez sentir, pelo paiz inteiro, a solidariedade com­
passiva para com o nobre povo gaúcho, tantas ve­
zes generoso com os seus irmãos, quando assolados
pela tortura das sêcas.
“Rio Grande do Norte é Rio Grande do Sul!”
exclamava o grande politico que foi Pinheiro Ma­
chado, na hora duvidosa das “salvações” do quadri-
enio Hermes da Fonseca.
Sempre estiveram unidos os ideiaes e os inte­
resses politicos entre os nossos dois Estados: o vos­
so, Estado leader, o nosso colaborador fiel, sincero
e destemeroso.
Nas letras, tivemos Nisia Floresta, que, na ter­
ra gaúcha, viveu e alcandorou o espirito, para as
grandes jornadas de sua polimorfica atuação men­
tal no paiz e no extrangeiro, conforme demonstrou
o nosso querido companheiro Adauto da Camara, na
“Historia de Nisia Floresta”.
Na formação juridica do vosso Rio Grande, fo­
ram figuras de inimitável prestigio Manoel André
da Rocha, o patricio emerito e benemerito, cuja ve­
lhice aureolada encontrei na vossa linda capital, cer­
cada do mais elevado respeito e gratidão, Francisco
de Souza Ribeiro Dantas, um dos nossos patronos,
magistrado egregio e professor, já desaparecido, co­
mo José Lucas Alvares, e que tanto contribuiram
para o fulgor da justiça no Rio Grande, a par de
José Bernardo de Medeiros, valoroso sertanejo con­
terrâneo, que, ainda hoje, serve com abnegação e
patriotismo á causa gaúcha, quando já tem direito
ao repouso e á paz, que lhe conquistaram as suas
virtudes e os seus prestimosos serviços públicos.
Nesse tetraédro de personalidades eminentes,
podereis descobrir a contribuição do pequenino e
pobre Rio Grande, á prosperidade e ao renome do
grande irmão austral.
IV E, por esses motivos, eu me sinto feliz com
poder demonstrar-vos, Sr. Souza Dóca, toda a gran­
deza dos nossos sentimentos de fraternidade nacional,
— 74 —

toda a opulência dos nossos anhélos de colaboração


eficás pela felicidade do nosso amado Brasil.
Pequenos e pobres, vês por outra, atormenta­
dos pelo flagélo climático, obrigando a êxodo as po­
pulações do interior, em busca do norte ou do sul,
os norte-riograndenses, á custa de sangue e de inte­
ligência, teem contribuído para a consolidação da
harmonia nacionalista, assim, no vosso grande Es­
tado, como nos demais, mormente na Amazônia,
aonde vivem, prosperam, declinam e morrem milha­
res de patrícios, que, batidos pela inclemencia do
ambiente, devorados pelo terror das longas estiadas,
procuram, na inhospita região do “ouro negro”, a
salvação da própria vida e a garantia de um futuro
menos sombrio, mas, sempre conservando, bem vi­
vo e acêso, onde quer que se achem, o amor á gle­
ba nativa, que estremecem com desvelos verdadei­
ramente filiaes.
Nas várias lutas internas e externas, que a Fa-
tria tem sustentado, nós também temos contribuido
com o valor e a bravura dos combatentes, que, nos
campos de batalha, a exemplo de Ulisses Caldas, Ba-
raúna Mossoró e tantos outros escreveram, com o
sangue e a vida, paginas memoráveis de heroísmo e
de brasilidade.
Finalmente, nas varias atividades culturaes do
Paiz, temos colaborado eficazmente naquele sentido
de que sois um dos pioneiros argútos e notáveis.
Guarde o vosso atilado espirito, Sr. Souza Do­
ca, da visita, que ora realizáes ao Nordeste, e ao
pequenino Rio Grande, irmão gêmeo do vosso opu­
lento Rio Grande, aquela mesma impressão de cor-
dealídade, aquela idêntica emoção de sadio naciona­
lismo, por que fui empolgado, ha um ano atrás, nes­
se suave fim de agosto, quando, ao pizar as terras
do vosso Rio Grande, pude embalar-me ás rajadas
fortes que os ventos do sul sacodem na tranquilida­
de do vosso legendário Guaíba, e sentí a pulsação
— 75 —
dos corações vossos compatricios, recebendo-me fes­
tivamente na Academia de Letras, de que sois egre-
gio membro e delegado junto á Federação, confor­
tando-me na jornada turística, então empreendida
até á terra catarinense, e, de lá, trazendo indelevel-
mente gravados no espirito e no coração, o reconhe­
cimento e a estima afetuosa, que pretendemos ago­
ra retribuir aos vossos irmãos, na pessoa do mais
decidido propulsar da confraternização inteletual dos
brasileiros, através dos núcleos acadêmicos, que ora
vicejam e brilham por todos os recantos da terra
idolatrada.
Recebei, Senhor Souza Dóca, ao par dos nossos
efusivos cumprimentos, de bôas vindas que também
se dirigem, respeitosa e lealmente, á vossa Dignis-
sirna Esposa e querida Filha, os votos mais sinceros,
Por que não seja, entre nós, infrutuosa a vossa deli­
cada missão de cultural aproximação, como fecunda
e dadivosa terá sido a tarefa profissional, que vos
conduziu, nesse dia lendário de São Roque, ás pla­
gas potiguares, para a segurança, exaltação e gloria
do Brasil imortal”.

Finda esta oração, que recebeu entusiásticos


aplausos da seleta assembléia, levantou-se o Gene­
ral Souza Dóca, que foi saudado com vibrante sal­
va de palmas e disse, mais ou menos, as seguintes
palavras:
—“Começava por se dizer sorpreendído, ao che­
gar a esta capital, de que seria recebido solenemen­
te pelo Instituto Historico e a Academia de Letras,
o que via realizar-se naquele momento e muito lhe
penhorava a sensibilidade.
“Disse achar-se muito reconhecido ás palavras
eloquentes com que o saudou o ilustre intérprete
das duas Associações, dr. Nestor Lima, cujo nome
— 76 —

conhecia bem de perto e era hoje não somente um


escritor norte-rio-grandense, mas, bem conhecido em
todo o Brasil.
“Referiu que alinhavára umas notas e recor­
dações da sua vida literaria, em intima correspon­
dência com os inteletuaes potiguares.
“Declarou que sua vinda até esta capital era a
concretização de um sonho de sua mocidade.
“Falou, em primeiro logar, de Joaquim Carri­
lho do Rêgo Barros, seu mestre, seu guia e um de
seus melhores amigos, na vida, isto havia mais de
quarenta annos.
“Lembrou o seu colega de farda, José da Pe­
nha, cujo talento, bravura e nobresa dalma tanto lhe
mereceram em vida e mais ainda, em face do fim
trágico e dramatico que ele tivera em Iguatú, Esta­
do do Ceará, a 22 de fevereiro de 1914.
“Recordou a influencia de Nísia Floresta, a edu­
cadora, publicista e literata de renome nacional, no­
tável até na Europa, onde conviveu com os vultos
de Augusto Comte, o genial fundador do Positivis­
mo e da Sociologia, além de outros sábios e litera­
tos de fama mundial.
“Aludiu á obra poética de Auta de Souza, a
grande lirica do “Horto”, cujas produções impregna­
das de misticismo, sagravam-n’a uma das maiores
poetisas brasileiras.
“Lembrou Segundo Wanderley, o váte popu­
lar e nacionalmente apreciado, cujas poesias eram
recitadas por todos os rincões da terra brasileira.
“Ainda falou dos dôces versos de Ana Lima, a
malograda poetisa do “Verbenas”, tão cêdo arreba­
tada ás letras e á familia. Isto quanto aos desa­
parecidos.
“Dentre os vivos, exaltou Henrique Castrici-
ano, um formoso talento poético; Augusto Tavares
de Lira, grande espirito de pesquizador infatigável
e erudito, seu companheiro no Instituto Histórico
Brasileiro; Antonio Soares, presidente da Academia,
poéta emotivo, cuia lira era tão apreciada, que até
plageada foi por um dos moços do seu tempo, em
Porto Alegre (R. G. do Sul), o que, descoberto e di­
vulgado pela imprensa, confundiu o moço ensaista,
hoje um respeitável funcionário publico; Nestor Li­
ma, presidente do Instituto Historico, por seus tra­
balhos persistentes e bem orientados; Camara Cas­
cudo, ora ausente, vigoroso e profundo escritor e
íolklorista, cujos livros “Lopez do Paraguai” e “Va­
queiros e cantadores”, muito apreciava e lhe davam
renome nacional; Adauto da Camara, o erudito au­
tor da “Historia de Nisia Floresta” e Dioclecio Du­
arte, eximio coníerencista e jornalista, ambos seus
companheiros na Federação das Academias de Le­
tras, no Rio.
“Agradeceu, íinalmente, mais uma vês, o bri­
lho da recepção, que lhe era feita, com os melhores
votos pela crescente prosperidade das duas insignes
instituições culturaes do Rio Grande do Norte”.
Muito aplaudidas as suas palavras, foi o gene­
ral Souza Dóca, em seguida, cumprimentado por to­
dos os presentes, retirando-se em companhia de sua
exma. Filha.
Foi uma brilhante reunião a do dia 18 de agos­
to de 1941, e que marcou um acontecimento do
maior relevo inteletual entre as Academias de Le­
tras do Rio Grande do Sul, de que ele era funda­
dor e membro efetivo, e a do Rio Grande do Nor­
te, que o homenageava solene e cordealmente.
DEFESA DO NORDESTE (*]
Phel ippc Guerra
(Socio efetivo)
Em 1915, em Mossoró, fundaram-se duas soci­
edades civis.
Tercio Rosado Maia quiz abrir caminho para o
cooperativismo. Fundou uma cooperativa sob a de­
nominação de “Mossoró Novo”. Salvo engano, foi
essa a primeira vez que se falou, no Estado, em so­
ciedade cooperativa.
Foi ele seu propagandista, fundador, e gerente.
Trabalhou, fez funcionar pequeno estabelecimento,
mesmo sofrendo prejuizos materiais,
Entretanto, a semente não germinou. Caiu em
terreno sáfaro e entre cardos. Não criou raizes.
Outra sociedade foi a “Defesa do Nordeste”.
Fundada com entusiasmo e aplausos de todos, não
medrou como merecia e era de esperar. Destino esse
aliás muito de acordo com a indole brasileira: es­
forço e coragem contra um mal presente; esqueci­
mento e imprevidencia para acautelar o futuro. Pre­
parar rumos seguros e eficientes não tem sido ca-
(*) Capitulo de um livro inédito : “ A sêca de 1915, do autor.
— 79 —

racteristica de brasileiros. Sem otimismo é permiti­


do dizer que nesse particular já se nota alguma me­
lhoria: principie-se a enchergar um pouco mais longe.
Os estatutos da Sociedade dizem bem de seus
fins e intuitos. Transcreveremos algumas de suas dis­
posições:
“Al t. 1°.—-Fica organizada com séde em
Mosscró uma sociedade denominada “Defe­
sa do Nordeste”.
Art. 2°.—A sociedade tem por fim e
objetivo:
I. Promover obras, serviços e ensina­
mentos tendentes a extinguir ou atenuar os
desastrosos efeitos das sêcas,
II. Erguer constante e tenaz propagan­
da de medidas direta ou indiretamente con-
ducentes a seus fins.
Art. 3".—A Sociedade, segundo seu pro­
grama, estenderá sua ação sobre:
I. Serviços de irrigação, açudes, poços,
barragens, aguadas.
II. Serviços de estradas de ferro, de ro­
dagem e quaesquer outros que se relacionem
com o problema da viação, transportes e co­
municações terrestres.
III. Serviços de portos, seus melhora­
mentos e quaesquer outros relativos a trans­
portes maritimos.
IV. Serviços de agricultura, seus melho­
ramentos, maquinas agrícolas, campos de de­
monstração e de experiencia, centros agrí­
colas.
V. Serviços de conservação de matas,
pastagens, florestação, arborização, cactus e
outras forragens.
VI. Serviços de instrução agrícola, de
íüiil e zootecnica.
*VIII. Serviços de proteção a retirante:
promovendo-lhes, trabalhos e localização, ara
Vparando suas queixas e reclamações, ond
quer que. se encontrem, promovendo a re
patriação daqueles que o desejarem.
IX. Serviços de socorros, assistem-i;i
profilaxia, contra doenças e epidemias.*'
X. Serviços relativos á segurança, e
garantia de vida e de propriedade.
XI. Serviços de proteção e de educaça
a menores e crianças orfãos ou abandonado;
MI.-De acordo com suas resoluções, e .0011
forme
^ II. Mediante representações, -reclama
Poder PuF jíi União, dos Estados'e do
íll Dirigindo-se a associações,
culares, procurando interessar todos, espeei
almente a população! da região'das sêcas,*n
realização de seus fins.
IVT Promovendo a fundação, de assoei
ações congeneres, na região' dos sêcasn a
quaes se interessando poi\benefícios locai;
unam esforços para, a luta contra as secai
e bem geral e comum'de região.
Art. 5o—A sociedade manterá um com
pleto serviço de informações e» diyulgaçai
sobre leis, regulamentos e *atos do 'Focfe
Publico relativos a favores concedidos sob
obras contrai as socas, ^procurando Moinar fj
auxiliar a quem quer que procure ' áprovei
tar cesses serviços e TavoreÇ.
Art. 6o —Será mantido também comple­
to serviço de informações sobre necessida­
des das localidades, relativo a medidas ne­
cessárias e reclamadas, sob o ponto de vis­
ta de amparo e proteção contra as sêcas.
Art. 7o—A sociedade organizará e man­
terá os necessários serviços de estatistica”.
Esses estatutos, com 2S ai’tigos, foram assina­
dos por sessenta socios fundadores. São datados de
11 de julho de 1915.
Do relatorio, datado de 28 de janeiro de 1917»
transcrevemos alguns dizeres informativos:
“Todos conhecemos os fatos que origi­
naram a fundação da “Defesa do Nordeste”,
com séde nesta cidade de Mossoro.
Na crise de 1915, ao acentuarem-se os
efeitos da sêca foi dispensado pelo Exir.o.
Governador do Estado o imposto de 2% so­
bre a incorporação, de certas mercadorias de
consumo, do Estado. Alguns comerciantes
desta Praça lembraram-se de fazer aplicação
desse valor que seriam obrigados a pagar,
então dispensado, em bénencio das vitimas
da sêca. Esse pensamento trouxe a ideia de
organizar um núcleo para a direção das me­
didas a empregar. Foi aproveitando o mo­
mento para a fundação de uma sociedade
sobre bases amplas e de carater permanen­
te, tendo por objetivo não esse ou aquele
íim de socorro, mas, encarando o problema
das secas em suas múltiplas faces, a todos
procurando atender, conforme as necessida­
des da região e recursos disponiveis.
Pouco depois, por motivos economieos
do Estado, foi suspensa aquela isenção, que,
de fato, como medida geral, era de resulta
— 82 —

dos muito duvidosos para beneficiamento da


população mais necessitada.
Ficou, porém, fundada a sociedade com
o titulo “Defesa do Nordeste”, para os am­
plos fins determinados em seus estatutos; e
teve para seu primeiro patrimônio aquelas
quantias que voluntariamente eram ofereci­
das por varias casas comerciais desta cida­
de, em correspondência ao valor daqueles
2% que haviam deixado de pagar................
Entretanto, os recursos materiais da So­
ciedade são ainda pouco abundantes, não lhe
permitindo arcar com proveitosas obras. Nes­
sas condições o meio ir.ois eficaz de que dis­
põe para exercer sua ação é a propaganda,
por todos os meios, incentivando, animando,
despertando a ação de todos, para a luta em
que se empenha a Sociedade. E assim tem
agido .........
A par de pequenos serviços de socor­
ros, de distribuição de sementes, foi vigilan­
te, na sêca, em atender ás necessidades do
momento..........
Fez, no inicio do inverno de 916, dis­
tribuição, por conta da Sociedade, de semen­
tes de algodão, milho e feijão pelos peque­
nos agricultores do Municipio, comissão que
foi desempenhada pelo digno socio coronel
Manoel Benicio de Melo.
Fez também parte, por outros dignos
socios, da comissão encarregada da distribu­
ição de sementes, aqui compradas com re­
cursos enviados pelo Exmo. Governador do
Estado.
Dirigiu-se aos Governos do Amazonas,
Pará, Mato Grosso e São Paulo, pedindo in­
formações que habilitassem a Sociedade a
instruir e guiar aqueles nossos patrícios que
83 —

se quizessem retirar, na previsão da conti­


nuação da sêca pelo ano de 19 ió................
Todas aquelas informações, que neces­
sitavam de divulgação, foram publicadas, gra­
tuitamente, pelo “Comercio de Mossoró”. Foi,
ainda, publicado um apelo dirigido ao Go­
verno do Estado da Paraiba, pedindo revo­
gar a pioibição da saida de generos da zo­
na dos Brejos para o sertão sêco do Rio
Grande do Norte, medida que importava na
paraiização do comercio deste sertão com a
Paraíba, agravando assim dificuldades dos
sertanejos, principalmente da zona do Seri-
dó, sem apreciáveis vantagens para a Pa­
raiba
Foram publicados e profusamente es­
palhados em folhetos os estatutos da Soci­
edade. Foi publicado um avulso, em profu­
são distribuído, contendo conselhos e medi­
das com o fim de evitar a devastação pelo
fogo e incêndios, dos campos, matos e for­
ragens da região.
Ainda como propagenda ofereceu esta
Diretoria tresentos exemplares da obra “Sê-
cas contra as Secas”, para distribuição gra­
tuita, a cargo de socios comerciantes nesta
cidade, que os tem distribuído por seus íre-
guezes no Sertão, conforme se vê do anexo
junto. Põe mais agora a Diretoria cem ex­
emplares da citada obra ao dispor da Soci­
edade, para aquele mesmo fim.
Visando meio de propaganda e de en­
sino, conforme os estatutos, esta Diretoria
forneceu ao socio Tercio Rosado Maia, ge­
rente da cooperativa “Mossoró Novo”, o pe­
queno auxilio de duzentos mil reis, sendo
metade a titulo de empréstimo, para o fim
84

a que se propoz a mesma cooperativa de in­


troduzir neste Municipio, arados e outras pe­
quenas maquinas agricolas, tendentes a en­
cetar entre nós o aperfeiçoamento dos rudi­
mentares processos ainda empregados na la­
voura.
De fato essas maquinas foram introdu­
zidas, e hoje fazem parte com outras, do ma­
terial destinado ao ensino no modesto cam­
po de trabalhos agricolas, recentemente inau­
gurado. E assim é justo, é razoavel, e cabi-
vel que seja doada, como auxilio á mesma
escola, toda aquela quantia de duzentos mil
reis, cuja metade fôra entregue, como ficou
dito, a titulo de empréstimo.
Por telegrama de 1> de dezembro de
19ir>, a Sociedade fez um apelo ao Club de
Engenharia, do Rio, pedindo mais uma vez
a intervenção dessa patriótica e benemerita
corporação, seleta representação «ia Engenha­
ria Nacional, em favor da Estrada de Ferro
de Mossoró, esse semi-secular anceio de to­
da uma região. O benemerito Club de En­
genharia, tomando em consideração o pedi­
do, encarregou o ilustre engenheiro Dr. Cé­
sar Campos para apresentai- parecer a res­
peito. O ilustrado engenheiro deu o mais ca­
bal e completo desempenho ao encargo, apre­
sentando, em sessão de 16 de janeiro de 1016,
luminoso e completo trabalho, que fez pu­
blicar sob o titulo de “Estudo e Parecer”,
ocupando-se da Estrada de Ferro de Mosso­
ró. É justo que seja consignado um voto de
agradecimento ao benemerito Club de Enge­
nharia, e em particular ao ilustre engenhei­
ro Dr. Cesar Campos.
Como donativos para socorros públicos
85
recebeu a Sociedade algumas quantias, con­
forme se vê do anexo junto, podendo desta­
car aquelas enviadas de S. Paulo, angariadas
pelo digno mossoroense coronel João Seve-
rino, e pelo ilustre Dr. Alfredo de Medeiros;
outra enviada de Natal, pela “Associação dos
Empregados do Comercio”; de Rodrigues Fer­
nandes, da Baía; e outras aqui angariadas
pelo professor Eliseu Viana, em uma festa
escolar do Grupo “Trinta de Setembro”....
A sociedade humana não é um orga­
nismo sem vida e sem lei. Age sob impulso
de leis fatais. Cada geração tem que traba­
lhar pelo aperfeiçoamento e pelo bem estar
daquelas que hão de vir. Si concientemente,
procurando seu proprio bem estar, não que­
brar, não desviar as asperêsas desse ingente
trabalho, tornando-o mais suave e mais su­
portável, será obrigada a fazê-lo, quer quei­
ra quer não, sob os mais pesados e rudes
sacrifícios. Ê o que a Historia nos conta. É
o que ainda agora se vê na ensanguentada
Europa
Na luta contra as sêcas a mesma lei do­
mina. Si cada geração, por inércia, por im-
previdencia, por egoismo, por qualquer mo­
tivo, não trabalhar em seu proprio proveito,
pela geração vindoura, oportunamente que­
brando as asperêsas da luta, será obrigada
àquele trabalho, sob os maiores sofrimentos,
em luta desigual e feroz, todas as vezes que
o reaparecimento de cada calamidade amea­
çar a existência e o bem estar de cada um
e de todos apanhados pelo flagelo.
Cumpramos, pois, nosso dever, como
seres concientes que se esforçam por seu
bem estar: unamo-nos e trabalhemos”.
Até aí, trechos do relatorio, que foi acompanha­
do de documentos, alguns dos quais passamos a trans­
crever.
Os Estados de Amazonas, Pará e Mato Gros­
so acusaram o recebimento do pedido de informa­
ções acima referido.
Apenas S. Paulo, com a costumada e fidalga
lhanêsa, e sempre interessado em. problemas econo-
micos, enviou detalhadas informações, por compe­
tente representante. Assim foi o pedido:
“Exmo. Sr. Dr. Ministro e Secretario da
agricultura do Estado de S. Paulo.
Tenho a honra de enviar-vos os Esta­
tutos de uma sociedade denominada “Defesa
do Nordeste”, que acaba de ser fundada nes­
ta cidade. Pela leitura vereis os fins da mes­
ma sociedade. Não são estranhas ao Paiz as
tristes circunstancias em que se acha a po­
pulação da região sêca deste Estado do Rio
Grande do Norte.
Esta sociedade, que tenho a honra de
representar, faz empenho e esforço para evi­
tar a saída da população valida do Estado.
Entretanto, é possível que a sêca atual atin­
ja proporções lão graves, em seus funestos
resultados que, como medida de salvação,
seja necessário procurar colocações fóra do
Estado.
Em tais condições, sendo o Estado de
S. Paulo um dos que melhores vantagens
oferecem a essa população que se desloca, ro­
go-vos informar não só quais as condições
em que ai poderão ser aceitos e localizados
esses trabalhadores e famílias, como também
quais as condições e meios facultados para
transporte dos mesmos.
A população deste Estado, que 'se po­
87 —
derá deslocar, é habituada á vida do cam­
po, onde preferirá colocar-se, e á lavoura,
principalmente do algodão, milho, mandioca,
arroz, feijão e cana.
É muito ordeira, de costumes simples,
e, embora atrazada em seus processos de
agricultura, laboriosa e capaz de esforços. É,
também habituada á industria pastoril.
Não é o fim das informações pedidas
fazer desta Sociedade uma agencia para con­
tratar trabalhadores para fora do Estado. É
sim, habilita-la a prestar auxílios àqueles
que se quizerem deslocar.
Agradecendo a remessa das informa­
ções...” Saudações.
Veio a resposta:
“Departamento Estadual do Trabalho.
‘ Estado de S. Paulo. Brasil. S. Paulo, 29 de
outubro de 1915.
Ilm° Sr. Felipe Guerra, Digníssimo Pre­
sidente da Sociedade “Defesa do Nordeste”.
Mossoró. Rio G. do Norte.
Acusando o recebimento dos .estatutos
dessa patriótica Sociedade, bem como do pon­
derado oficio que os acompanhou, venho
trazer-vos em nome do Sr. Dr. Secretario
da Agricultura, com as informações solicita­
das, os agradecimentos de S. Exa. pela gen­
tileza da comunicação, que lhe fizestes.”
Passa a dar completas informações sobre a la­
voura paulista, localização de colonos, transportes)
como são agasalhados ao chegar, salarios, etc. E con­
tinua :
“A condição principal para o bom êx­
ito da localização de trabalhadores no Esta­
do, é, como compreendeis, segundo depreen-
— 88 —
do de vosso oficio, a qualidade de agriculto­
res.”
Tratando da lavoura do algodão informa:
“ Relativarnente á cultura do algodão e
á do arroz, tenho a informar-vos que a se­
gunda tomou ultimamente notayel incremen­
to na zona banhada pelo rio Paraiba, e que,
11a primeira, se localizaram recentemente cin-
coenta e quatro pessoas, vindas em compa­
nhia do vosso co-estadano Sr. Coronel Jo­
aquim Martiniano Pereira, residente que foi
na cidade de Caicó, o qual, pela importância
de dezesseis contos de reis, a serem pagos
a prazo, comprou da companhia Agrícola do
Aterradinho, a fasenda do “Camarão”, com
quatrocentos alqueires de terra.”
Termina:
“Permiti, finalmente, que aplàuda a
concienciosa orientação manifestada em vos­
so oficio, quando observais que o fim da So­
ciedade “Defesa do Nordeste” não é servir
de agencia para o contrato de trabalhadores
para fóra do Estado, mas, sim prestar auxí­
lios àqueles que se querem deslocar.
A emigração para ser proveitosa tem
de ser expontânea e livre; a emigração pe­
lo desespero é um mal. Como sabeis, a la­
voura paulista tem necessidade real de bra­
ços. Sendo que esses braços lhe puderem ser
fornecidos pelos Estados que porventura dis­
ponham deles em abundancia, é evidente
que lucrará com isso a comunhão brasileira.
Patriótico e esclarecido é o vosso in­
tento de evitar que a imigração se transfor­
me em um derivativo. Os artigos dos esta­
tutos da Sociedade a que presidis, que se re­
ferem ás obras, serviços e ensinamentos ten-
— 89 —

dentes a extinguir ou atenuar os desastro­


sos efeitos da sêca, resumem um programa,
que nenhum brasileiro pode deixar de apoi­
ar; e lealmente vos digo que essas medidas
são essenciais para os Estados do Norte, afim
de que a emigração não se transforme, de
fenomeno natural, que é, em perigosa he­
morragia.
Apresento a V. Sa. etc... Luiz Ferraz.
Diretor.”
A mensagem, acima referida, ao Governo da
Paraiba pedindo revogar a proibição da saida de ge-
neros dos Brejos para o sertão de outros Estados,
tem a data de 16 de julho de 1915, e foi publicada
na Comercio de Mossoró”, de 24 do mesmo mês.
Nãd tivemos resposta.
Os efeitos dessa proibição foram nulos. A tal
disposição não chegou a ser executada. Nos Brejos
houve inverno regular e farta produção. Não lhes
seria possivel ficar sem o seu melhor freguês, que é
a região do Seridó, e mais próxima do que o alto
sertão paraibano. E, mesmo nas sêcas, fornece o Se­
ndo aos Brejos peixe seco, dos açudes, carnes sêcas
baratas á população pobre: bodes, mocós, “arriba-
Ções”, etc.
Parece que a tal restrição foi apenas... uma fi­
ta, sem publico a aplaudir.
No “Comercio de Mossoró”, de julho, foi pu­
blicado um artigo sobre o perigo de devastações
e desnudamento das terras. Logo depois, publicado
em avulsos e distribuido profusamente pelo Sertão-
Aqui o transcrevemos:
“Defesa do Nordeste”
A Sociedade “Defesa do Nordeste”, no
desenvolvimento que lhe é traçado por seus
estatutos, julga-se por legitima representan­
te, obrigada a tratar, ligeiramente embora, e
em linguagem ao alcance de todos, de um
assunto de maxima importância para este
municipio, para o Estado, para a Região.
Referimo-nos ao barbaro e selvagem
costume de lançar fogo aos campos, devas­
tando a vegetação, que cobre catingas e ta-
boleiros. Não discutiremos sobre a maior ou
menor influencia que essa devastação possa
ter sobre as sêcas que infelicitam o Nordes­
te. Diz-se mesmo que uma região que devas­
ta suas matas comete um verdadeiro suicí­
dio : mata-se com suas mãos, porque chega­
rá áfinal a extinguir suas fontes e seus cur­
sos dagua.
Mata-se, porque aniquila sua riquesa
florestal, ficando privada dè madeiras, e de
todos os produtos naturais da floresta. Ma­
ta-se, porque o seu clima tornar-se-á dia a
dia mais incompativei com a vida animal,
principalmente com a vida do homem.
Entre nós, por mais rude que seja uma
inteligência, é facil observar que se forem
queimadas as madeiras dos campos, será di­
ficílimo em curto espaço de tempo qualquer
trabalho de construção.
Essa grande dificuldade já se faz sen­
tir em toda a região, principalmente no alto
sertão, onde não existe a carnaúba. É facil
notar que “donde se tira e não se bota, em
pouco tempo se esgota.”
Um terreno completamente limpo, sem
arvores, ao receber as torrenciaes chuvas ser­
tanejas, fica logo cheio de rêgos e barrocas,
porque as terras são arrastadas pelas aguas,
— 91 —
ficando muitas vezes os terrenos imprestá­
veis, com suas pedreiras descobertas.
Entre nós, os melhores invernos para a
criação e para a lavoura são aqueles que
principiam com chuvas iinas, e isso porque
o solo se cobre logo de vegetação que segu­
ra e protege contra as grandes chuvas a me­
lhor terra e as sementes. Si essas encontram
o solo limpo, desnudo, arrastam terras e se­
mentes, ficando verdadeiros “descalvados”.
As arvores com suas folhas que caem,
com suas madeiras, com suas raizes seguram
e protegem a terra; e alem disso, fazem com
que as aguas correndo mais vagarosamente,
fiquem mais tempo infiltrando-se no solo e
refrescando as terras.
Não estraguemos as nossas arvores. Por
mais miserável que fôr um individuo, si plan­
tar uma arvore, já não foi um ente inútil,
pois, prestou valioso serviço.
Em um clima sêco, quente, sujeito a
secas e fortes ventos, como é o nosso, é um
grande pecado lançar fôgo aos campos. Quei­
ma as pastagens, mata a caça, destroi as abe­
lhas, acaba as madeiras, torna o sertão cada
vez mais arenoso e mais sugeito a sêcas.
Nos municípios como este, de Mossoró,
onde espontaneamente e em abundancia me­
dra a rnacambira, ainda maior é o perigo do
fogo nos campos. Ninguém ignora que, em
Mossoró, desde anos, a rnacambira fornece
uma renda á população pobre não inferior a
um conto de reis mensalmente. A macambi-
ra é um tesouro que devia ser cultivado,
plantado com cuidado e carinho. É a melhor
e a mais resistente forragem para os gados nas
sêcas. Si aquela renda é em Mossoró forne­
cida pela rnacambira para gados, é preciso
— 92 —

lembrar que populações mais pobres em ou­


tros municípios dela também fazem uso para
alimentação própria, dela sustentam-se nas
sêcas, sendo mesmo em algumas localidades
a farinha e a massa objeto de valioso co­
mercio nas feiras.
A queima da macambira, si facilita al­
guma coisa, a sua “tirada”, traz tantos in­
convenientes que só um espirito cégo e bron­
co poderá lançar mão desse meio. Quem já
se lembrou de arrombar um açude para
plantar vasante? Si queimar um geral de
macambira facilita um pouco a apanha, traz
também graves inconvenientes que não com­
pensam a diminuição do serviço.
Estraga e acaba a macambira; esterili-
sa o campo, porque queima a sua terra ve­
getal, humus, a mais própria para a vegeta­
ção; mais da metade das macambiras não
são aproveitadas, por não se acharem ainda
desenvolvidas. O fogo não escolhe: queima
e estraga tudo. E do geral passa para a ca-
tinga, para os pastos, para os cercados, cau­
sando grandes males e prejuízos. E os gera-
es queimados prejudicam a criação, já ma­
tando as rezes novas que se engasgam—o
que é comum—com as folhas queimadas, já
entretendo o gado que ai fica dias e dias
procurando alimentação que não encontra
mais.
É preciso que todos se esforcem para
acabar, com esses maus e estúpidos costumes
de queimadas e de fogos nos campos. Quem
souber ou tiver noticia de algum fogo nos
pastos, nas catingas, nas macambiras, deve
sem perda de tampo denunciar o seu autor
perante qualquer autoridade policial. De for­
ma nenhuma se deve permitir que indivi-
— 93 —
duos ignorantes, máus ou perversos toquem
fogo nos campos, seja qual fôr o pretexto.
É um crime que o Codigo castiga com
tres anos de prisão: tocar fogo nas matas ou
florestas pertencentes a terceiros ou á Na­
ção, e quem o faz fica, alem disso, sujeito
a pagar o prejuízo que causou a outrem, e
mais a multa de 2(1% sobre o dano. E mais,
qualquer pessoa que por descuido, imprevi-
dencia, negligencia ou impericia fôr causa de
qualquer incêndio ou fogo nos campos, fi­
cará sujeito até seis meses de prisão, e á
multa de 20% do dano causado, além de pre­
juízos outros a pagar.
Si uma pessoa fizer em suas terras uma
coivara, um roçado, e daí, pegar fogo nos
campos, nos pastos, ainda assim estará sujei­
to a essas penas. E si tocar fogo em uma
casa ficará sujeito até a seis anos de prisão.
É preciso que ninguém tenha pena des­
ses que andam tocando fogo nos campos, nas
matas, nas macambiras. São perversos ou des­
cuidados. Todo rigor com eles. As autorida­
des devem cumprir rigorosamente seu dever,
punindo esses criminosos.
O fogo nos campos, nos pastos, nas ma­
tas é um mal grave que a todos tóca, capaz
de prejudicar até aquelas gerações que ain­
da não nasceram, e que virão adiante encon­
trar uma terra devastada. Castiguemos sem
dó esses malfeitores; faça-lhes conhecer quan­
to é criminoso e maléfico esse grande abu­
so de incêndios e de queimadas.
Quem não quizer ouvir o conselho ami­
go que aqui damos, seja dentro da lei casti­
gado sem contemplação”.
Em julho publicou o “Comercio de Mossoró”:
“Foi muito importante a conferência
feita domingo passado, por ocasião da sessão
da “Defesa do Nordeste” pelo digno Secre­
tario Tercio Rosado. O conferencista desen­
volveu bem o assunto, falando com a com­
petência de quem o tem estudado e dedica­
do horas de trabalho ás cooperativas e cai­
xas Raiffesianas”.
A “Defesa do Nordeste” não criou raizes. Pas­
sou a calamidade de 915. Veio o inverno de 916,
com 422 mm. de altura pluviometrica, em Mossoró.
Veio o inverno de 917, com 1220 mm., excepcional­
mente chuvoso com grandes inundações. Veio o bom
e prospero inverno de 918, com 756 mm.
Os sofrimentos foram esquecidos. A sociedade
morreu de inanição, sem atestado de obito. Em 918
transferimos residência para Natal. Veio a sêca de
1919, com 190 mm. de chuvas, em Mossoró. Em vin­
te e duas estações da região sêca, a altura pluvio-
ometrica não alcançou 200 mm. A calamidade não
foi tão premente como a de 1915. O inverno seguin­
te principiou cêdo.
A “Defesa do Nordeste” aí fica, trazendo mais
algumas linhas escritas para a historia da luta con­
tra sêcas, que, no dizer do cientista norte-america­
no Ralph Sopper, “durante os últimos 200 anos, cons-
titue uma das paginas épicas da America do Sul”.
Natal—1940—1941.
Recepção ao M ajor Jonalas de
Moraes Correia
O Irstituto Historico e Geográfico recebeu, em
sessão de 25 de fevereiro de 1Q42, a honrosa visita
do major Jonatas de Moraes Correia, distinto bele-
trista e militar, que, com credenciaes do Instituto
Historico e Geográfico Militar, vinha entregar uma
mensagem de saudação daquele egregio sodalicio bra­
sileiro.
Aberta a sessão pelo dr. Nestor Lima, como
Presidente do Instituto, foi dada a palavra ao ora­
dor da casa, dr. Camara Cascudo, que, em brilhan­
te improviso, fês a saudação protocolar ao ilustre
visitante, sendo muito aplaudido.
Em seguida, o major Jonatas de Moraes Cor­
reia proferiu o vibrante discurso que damos a seguir:
DISCURSO do major Jonatas de Moraes
Correia, ao ser recebido como delegado do
Instituto Historico e Geográfico M ilitar, a 25
de fevereiro de 1942
:
“Sr. Presidente e mais membros do Ins­
tituto Historico:
Chegando a esta Casa, aonde venho, como emis­
sário do Instituto de Geografia e Historia Militar do
Brasil, sinto-me profundamente orgulhoso da missão
— 96 —
que me foi confiada e estou seguro de que os ilus­
tres membros da Sociedade, fundada por Vicente de
Lemos, e que tão assinalados serviços vem prestan­
do á cultura brasileira, não deixarão de tomar na
devida conta o apelo que lhe faz o Presidente da­
quele Instituto, no oficio que tive a honra de en­
tregar ao Dr. Nestor Lima, o eminente historiador,
que tão sabiamente dirige este sodalício.
Outra cousa não desejamos nós, os do Institu­
to Militar, sinão que entre os dois centros de cultu­
ra histórica haja um intercâmbio—bem pronuncia­
do—o que por certo muito contribuirá para o desen­
volvimento e aperfeiçoamento dos nossos trabalhos.
A fundação de um Instituto da natureza do que
tenho a honra de pertencer, e que tem como um
dos seus principais objetivos “promover o desenvol­
vimento dos estudos de Geografia e História Militar
do Brasil”, não só veio preencher uma lacuna exis­
tente no conjunto dos altos estudos, em nossa Pa-
tria, como, e principalmente, realizou um ato de pa­
triotismo e creou mais um elemento de defesa mo­
ral da nacionalidade.
A história militar sendo um capítulo, da geral,
não poderá ser convenientemente explanada sem o
conhecimento desta e nem poderá haver trabalho
eficiente sobre uma campanha, onde a narrativa his­
tórica e a parte técnica não sejam precedidas das
causas determinantes da guerra e de um amplo es­
tudo sobre o meio físico em que ela se desenvolveu.
É, pois, indispensável a pesquisa dessas causas, vis­
to que elas esclarecem e justificam atitudes, nos ins­
truem sobre a possibilidade dos beligerantes e for­
necem elementos para ajuizarmos, com segurança,
da responsabilidade de cada um. Aqui, neste ponto,
entrelaçam-se as mãos, civis e militares, e o resul­
tado deste entrelaçamento é a verdade histórica, que
todos procuramos.
Daí, não poder despresar o Instituto Militar o
— 97 —

auxílio do vosso, a bem da história guerreira do


Rio Grande do Norte, e espera, confiante, que ele
não lhe faltará, embora já desfrute dos primores da
inteligência e da capacidade de trabalho de um vos­
so conterrâneo, o coronel LUIZ LOBO.
A crônica militar da terra Potiguar é uma li­
ção edificante de civismo, de entranhado amôr pe­
lo Brasil, de desprendimento no mais alto gráu, de
lealdade a toda a prova e de lutas constantes em
pról da liberdade.
Comd nos empolgam, nos comovem e nos or­
gulham os feitos dos vossos antepassados; as ce­
nas dantescas de Ferreiro Tôrto, Cunhaú e Uruassú
são atestados eloquentes do sacrifício de vossos pa­
trícios, cuja maior afirmação se fês, vivás e indómi-
ta, na campanha longa e penosa, sustentada contra
os holandeses, palco soberbo de dramas emocionan­
tes e onde a bravura do nordestino teve os seus
mais explendentes dias de destemor, sublimando-se
no heroísmo.
Foi aí que nasceu o verdadeiro sentimento de
brasilidade, daí se irradiou, cresceu, pelejou e hoje
é a garantia da intangibilidade do solo pátrio!
Jean Izoulet, no seu célebre “O crepúsculo dos
deuses”, com que prefacia os “Heróis”, de Carlyle, sa­
lienta, com felicidade, que: “a sociedade é trabalha­
da por uma eterna metamorfose e os heróis são os
agentes dessa transformação”.
Pois, aqui, onde os heróis não são poucos, al­
guns encontramos como verdadeiros fautores da evo­
lução nacional. Basta mencionar-lhes os nomes: FE­
LIPE CAMARAO, Padre MIGUEL CASTRO e AN­
DRÉ DE ALBUQUERQUE. E se quizermos volver
os olhos para os selvícolas: SURUPIBA, ILHA GRAN­
DE e JAGUARARI.
Senhores do Instituto:
A história de vossa gleba não me interessa
apenas como um capitulo da do Brasil. Não. Os
seus fatos memoráveis, as suas dôres e as suas ale­
grias, as suas derrotas e as suas vitórias, são meus
também, pois, em minhas veias corre o sangue ge­
neroso e bravo da gente de Taba-Assú, onde em
1696, BERNARDO VIEIRA DE MELO, fundou o ar­
raial, hoje, cidade, de Assú.
Sou, portanto, um dos vossos, e juntos, nesta
hora sombria para o mundo, cheia de angústias e
de dôres, elevemos os nossos pensamentos a Deus,
e roguemos a Ele, que preserve o Brasil dessa tor­
rente de odio e matança, mas afirmemos, sem um
instante siquer de dúvida, que, se a estas plagas, o
invasor tentar vir, nós não desmereceremos daque­
les que tão gloriosamente souberam cair pela Pá­
tria, e o espírito de FELIPE CAMARAO seja na no­
va expulsão o farol possante que nos alumiará a es­
trada ampla e larga da Honra e da Vitória!”
0 Centenário do Doutor Souto
O Instituto Historico e Geográfico, por proposta
do seu presidente, unanimemente aceita, comemorou,
a 18 de março de 1942, a passagem do primeiro cen­
tenário do nascimento do Doutor Luiz Antonio Fer­
reira Souto Junior, conhecido por Dr. Souto, uma
das figuras mais interessantes do cenário politico dos
últimos tempos da Monarquia e começos da Repu­
blica, em nossa terra.
“A Republica”, orgão oficial dos poderes do
Estado, em sua edição de 17 de março, disse:
“O CENTÉNARIO DO DR. LUIZ SOUTO Ama­
nhã, 18 de Março, ocorrerá o primeiro centenário do
nascimento do dr. Luiz Antonio Ferreira Souto, mui­
to conhecido em todo o Estado, como o dr. Souto,
cuja memória é.de todos os seus contemporâneos
objeto de respeito e veneração.
Nascido a 18 de março de 1842, na cidade de
Assú, ele era o 2° filho varão do casal do Coronel
Luiz Antonio Ferreiro Souto e de D. Ana Jacinta
da Rocha Bezerra, tendo havido outros irmãos ilus­
tres, que deixaram nas letras e na politica do Esta­
do traços inapagaveis. Entre eles eram de destacar
o coronel Elias Souto, fundador e proprietário do
“Diário do Natal”, orgão de imprensa de reconheci­
da combatividade, e José Leão Ferreira Souto, ta­
lento polimorfico que se ensaiou em varias ativida­
des mentais, como a poesia, a filosofia, a historia, a
religião e a corografia local, com os estudos sobre
“Grossos”, que tanto serviram ao grande Rui Barbo­
sa na defesa dos nossos direitos territoriaes perante
o Supremo Tribunal Federal.
Dr. Souto foi promotor publico, juiz municipal,
procurador fiscal do Tesouro na Monarquia, e sob
a Republica, juiz de direito de Nova Cruz e desta
Capital, em cujo exercicio faleceu a 27 de agosto de
1895, aos 53 anos de idade. Fôra desembargador do
l.o Tribunal de Justiça, em 1891, por nomeação do
Cel. Gurgel.
Sua brilhante inteligência, seu humour, sua ver­
ve causticante ainda são recordados com grande sau­
dade pelos que o conheceram”.
“Amanhã, ás 7 horas, Monsenhor João da Mata,
vigário geral da Diocese de Natal, celebrará no al­
tar mor da Catedral, em sufrágio da alma do sau­
doso Dr. Souto. Em seguida, haverá visita aos des-
pojos fúnebres ali guardad» 3.
Á noite, no Instituto Historico, reunir-se-ão os
parentes, amigos e admiradores do dr. Souto, para
realizar uma tertúlia de saudade em memória do
grande espirito que ele foi. Para esses atos ficam,
convidados todos os que a eles quizerem associar-se”.
Por sua vês, “A Ordem”, orgão do C. C. M.(
imprensa católica, pronunciou-se a respeito, em sua
edição de 17 de março:
“CENTENÁRIO DO DR. LUIZ SOUTO. Passa
amanhã o primeiro centenário do nascimento do dr.
Luiz Antonio Ferreira Souto.
Pela manhã, ás 7 horas, na Catedral, será ce­
lebrada missa na intenção de sua alma pelo mons.
João da Mata Paiva, Vigário Geral.
Á noite, na séde do Instituto Historico, realiza-
se uma reunião dos parentes e amigos do dr. Luiz
Souto, durante a qual serão pronunciadas palestras
literárias”.
De fato, no dia aprasado, verificaram-se as co­
memorações do centenário do Dr. Souto, havendo
pela manhã, na Catedral de N. S. da Apresentação,
onde se acham depositados os restos mortaes do alu­
dido Dr. Souto, missa solene celebrada por Monse­
nhor João da Mata Paiva, vigário geral do Bispado
natalense, com a presença dos membros do Institu­
to, varias pessoas gradas, parentes e amigos do mor­
to ilustre.
Nesse mesmo dia, o brilhante historiador, Ca-
mara Cascudo inseriu na sua apreciada “Acta Diur-
ha”, o seguinte comentário sobre o acontecimento:
“ACTA DIURNA. Luis da Camara Cascudo.
DOUTOR SOUTO—No lado da capela-mór, á direi­
ta, está uma lapide com o nome do dr. Luiz Anto-
nio Ferreira Souto.
Raros olhares visitam a inscrição sepulcral. Les
morts vont vite. O doutor Souto partiu ha quasi
meio século. Seus amigos pessoais não existem. As
reminiscencias se diluem, lentamente, ao sopro de
outras recordações, outros assuntos, outros motivos
de atenção. Mas, os cidadãos que ouvem a missa do­
minical e passeiam olhares nem saberão que especie
de homem, vivo como uma braza, espirituoso, mor­
daz, está com os ossos guardados detrás daquela
placa de mármore.
Foi o melhor repentista da Cidade. Ninguém
respondia ou atacava com a graça feiticeira, o chis­
te irresistivel do doutor Souto, mui digno Juiz de
Direito da Comarca de Natal.
Nascido no Assú em 18 de março de 1842, ba­
charel em 1865, sete vezes deputado provincial, po-
litico do Partido Conservador, advogado, Procurador
da Tesouraria, Promotor Publico em Natal, quando
— 102 —

da proclamação da Republica, Juiz de Direito de No­


va Cruz, desembargador no efemero Tribunal Supe­
rior da Relação do Rio Grande do Norte em agos­
to de 1891, Juiz de Direito do Natal em 1892, mem­
bro da segunda Constituinte Estadual nesse ano, aqui
faleceu aos 27 de agosto de 189ü>.
Sendo Juiz Municipal em S. José de Mipibú,
num requerimento do dr. Manoel Januário Bezerra
Montenegro, que governaria a Provincia, como vi­
ce-presidente, deu um despacho de tal forma que o
peticionario, reunindo papéis e letras, imprimiu num
folheto e o fez distribuir pelas comarcas do Impé­
rio. O Imperador D. Pedro II mudava de conversa
quando aparecia o nome do dr. Luiz Antonio Fer­
reira Souto para a nomeação de Juiz de Direito. E
o doutor Souto foi Juiz, e muito merecidamente, no
regimem republicano.
Desabusado, conversador original, deixou ane­
dotas saborosas de ineditismo, algumas indivulgaveis,
mas transmitidas na literatura oral da cidade.
Morava na Rua da Conceição, no sobrado, ho-
n.o 573, onde faleceu. Aí recebia os amigos e conta­
va coisas engraçadas, repetidas indefinidamente pe­
los admiradores. Misturava varias bebidas numa gran­
de poncheira, remexendo-as com uma imensa colher
que ele denominava pau de mexer besta. Quando
um pobre lhe batia á porta lamuriando, o dr. Sou­
to informava:—Dinheiro não tenho. Tenho aqui uma
bébidinha. Você quer?
Daí a minutos o pedinte saía lambendo os bei­
ços e estalando a lingua.
Em S. José de Mipibú, numa formação de cul­
pa, ouvia a velha Alexandrina Canéla, testemunha
presencial, loquaz e detalhista. Lá para as tantas, o
doutor Souto abriu uma Biblia em cima da mesa,
dizendo:—
— Está tudo muito bem, mas a senhora deve ju­
rar aqui •em cima dos Evangelhos como está dizendo
— 103 —

unicamente a verdade, só a verdade e apenas a ver­


dade!
Avelha, recuando a mão que se estendia ma-
quinalmente:
— Deus me livre, seu doutor! Jurando, a histo­
ria é outra.
E contou diversamente.
Esmoler e acessivel, popular e querido, o dou­
tor Souto ostentava a mais notoria de todas as in-
credulidades. Não ia a Igreja nem aceitava credo
algum.
—Das telhas para cima, só acredito em gáto,
dizia ele, não prevendo o avião.
Quasi agonisante, consentiu em receber o vigá­
rio João Maria. Ao avista-lo, arquejando numa dis-
pnéa horrivel, teve ainda folego para balbuciar:
—A.h meu padre... Dê-me aí um passaporte pa­
ra o outro mundo...
Quando perdia um amigo não faltava ao en­
terro. Comparecia, todo de prêto, sizudo, composto,
grave. E fatalmente segurava na alça do feretro.
Essa cerimônia durava alguns minutos porque, logo
ao primeiro movimento de fadiga, surgiam mãos so­
licitas para substituirem o ilustre magistrado em seu
piedoso mister.
Numa vez, entretanto, seguro ao caixão que
guardava o corpo do seu compadre Chico, morador
na Ribeira, já subindo a ladeira da Cruz (Junqueira
Aires), ninguém aparecia para livra-lo do peso. Res-
folegando, pizando lento o empedrado da rua Íngre­
me, . multiplicava os olhares num mudo apelo de re­
forço. Ninguém se candidatava. Finalmente, suado,
vermelho, exgoíado, o doutor Souto conduziu, desde
a Ribeira até ás portas da Matriz, o cadaver do com­
padre Chico. Pondo o ataúde nos suportes, liberto
do encargo, enxugando-se,, com respiração sincopa­
da, não deixou de desabafar:
— 104 —

— Compadre Chico! Até aqui vos trouxe. Daqui


em diante o Diabo que vos carregue...”
Ás 19,30 horas da noite daquele dia, realizou-
se, na séde do Instituto Historico, a sessão magna
comemorativa, que contou com a presença de varias
pessoas gradas, famílias, representações, parentes e
amigos do inolvidavel extinto, na passagem do pri­
meiro centenário do seu nascimento, tendo ocupado
a tribuna, em primeiro logar, o orador da Casa, dr.
Camara Cascudo, em brilhantes palavras alusivas á
data, e, em seguida, o dr. Nestor Lima, presidente
do Instituto e sobrinho do homenageado, que pro­
feriu o discurso, a seguir, findo o qual foi encerra­
da a sessão magna.
O DOUTOR SOUTO
No 1° centenário do seu nasci­
mento a 18 de março de 1942.
)
LUIZ ANTONIO FERREIRA SOUTO JUNIOR
2o filho varão do casal do coronel Luiz Antonio Fer­
reira Souto e sua esposa e prima D. Ana Jacinta da
Rocha Bezerra, nasceu, na cidade de Assú, a 18 de
março de 1842.
São seus ascendentes, pelo lado paterno, o ca­
pitão Antonio Ferreira Souto, filho do tenente-coro­
nel Francisco Ferreira Souto, de Portugal, da fre-
guezia de São Salvador de Flores, do Arcebispado
de Braga, e de sua mulher, D. Antonia de Souza, fi­
lha do sargento-mór Antonio de Souza Machado, por-
tuguez também, da ribeira do Mossoró, e de sua es­
posa, D. Rosa Fernandes, e, pelo lado materno, D.
Maria Jacinta da Rocha Ferreira Souto, filha de Pon-
— 105 —

ciano Barbalho Bezerra e de sua esposa, D. Joana Fran-


cisca Bezerra, por sua vez, esta oriunda do casal de
Antonio Barbosa da Silva e de sua mulher, D. Ma­
ria Barbalho Bezerra, e aquele do de Alexandre Bar­
balho Bezerra com D. Antonia Barbalho da Silvei­
ra. De modo que o dr. Souto, pela linhagem conhe­
cida, era descendente direto do Coronel Baltazar da
Rocha Bezerra, um dos quatro coronéis irmãos que,
em começos do século 18», povoaram as terras do
Rio Patachos, no logar hoje conhecido por “Bomfim”,
aonde foi fundada a fazenda de criar “Pedra Branca”.
Dali irradiou a familia Barbalho Bezerra, que
ligando-se aos Ferreira Souto e Machados, vindos
de Areia Branca e Mossoró, constituíram a nume­
rosa familia conhecida por “PEDRA BRANCA”, a
que tem a honra de pertencer o autor destas linhas.
Doze foram os filhos do casal Luiz Antonio —
Ana Jacinta: Luiz, o nosso homenageado de hoje,
(1842), Antonio Getulio, (1844) Ponciano, militar e
horóe do Paraguai, (1845), Elias, o jornalista imper-
territo, (1S48), José Leão, o publicista insigne (1850),
Ana Jacinta, minha mãe, (1851), João Antonio (1852),
Maria Jacinta (l85r), Izabel Inacia (1857), Luzia Le-
opoldina (1859) e Manoel Barbalho (1861).
Todos estes atingiram a vida adulta; mas, hou-
véra também o primogênito ANTONIO GERVASIO,
nascido em 1835 e falecido em 1836.
Nascido e criado entre a cidade de Assú, e o
sitio “Cuó”, á margem direita do Rio Assú, lado de
Santana do Matos, alí aprendeu ele as primeiras le­
tras com o professor José Felix do Espirito Santo,
ou com o seu avô materno o tenente-coronel An­
tonio Barbalho Bezerra, de quem herdam os descen­
dentes a vocação ensinante.
Mais tarde, com o padre Seixas Bailon, mestre
de latim do Ateneu, e que ali morava, por desfas-
tio e carência de alunos na capital da Província,
Souto adestrava-se na língua de Virgílio, tendo vin­
— 106 —

do para a Capital, afim de estudar os preparatórios


no velho ginásio natalense.
Concluidos esses preparatórios, transportou-se
para Recife, em cuja Faculdade de Direito se ma­
triculou em 1861, e, sem interrupção, fez todo o cur­
so jurídico, obtendo o titulo de Bacharel em direi­
to, em 1865. Foi eleito orador da sua turma e, co­
mo tivesse sido censurada a sua oração, em nome
dos novos bacharéis, limitou-se ao protocolar “mui­
to obrigado”, com surpresa para os combanheiros e
para a Congregação.
Outros afirmam que o motivo desse gesto foi
ter ele obtido uma nota “simples”, numa das cadei­
ras do 5o ano, o que equivalia quase á reprovação,
em tal emergencia.
Formado, voltou logo á terra natal, onde in­
gressou na vida publica e na política liberal, de que
sempre foi adepto fervoroso. Éra amigo intimo de
Luiz Ferreira Maciel Pinheiro, nome notável nas li­
des do liberalismo e da Republica, ao tempo da Mo­
narquia.
Deputado provincial, eleito em 1866, para o bi­
ênio de 1866-67, teve o seu mandato renovado nas
legislaturas provinciaes de 1870-71, 1872-73, 1880-81,
1882-83, 1884-85 e 1886-87, no Império, e sob a Re­
publica, foi eleito para a 2a Constituinte Republi­
cana, de 1892, já sob o governo de Pedro Velho,
continuando na legislatura ordinaria até 1894.
Exerceu o Ministério Publico nas comarcas de
Assú e Natal, passou á judicatura municipal e. de
orfãos do termo de São José de Mipibú (1872-1875)
e a procurador fiscal do Tesouro Provincial, tudo
isso no período monárquico.
Sob a Republica e sendo Ministro do Interior
e da Justiça o Barão de Lucena, seu antigo compa­
nheiro do Partido Liberal, foi nomeado Juiz de di­
reito de Nova Cruz, em 1890, na vaga aberta com
— 107 —

a remoção para Juiz dos Casamentos de Natal, do


dr. Joaquim Ferreira Chaves Filho.
Ai estava, quando em 1891, foi nomeado de­
sembargador do Tribunal de Justiça, criado pela Ia
Constituição de 21 de Julho de 1891 e que o 2o Vi­
ce-Presidente Francisco Gurgel de Oliveira, para ser­
vir a interesses partidários, resolvêra instalar, ainda
que sem a necessária Lei de Organização Judiciaria.
Veio a Natal, empossou-se e, como o mais velho
dos desembargadores, então nomeados, que eram ele,
Ângelo Cousseiro, Cavalcanti Melo, Tavares de Ho­
landa e João Gurgel, (sobrinho do 2o Vice), dirigiu
a eleição do lo Presidente, que recahiu no desem­
bargador Cousseiro.
A rajada do Presidente Miguel Castro, em di­
as de setembro seguinte, destruiu o novel Cenaculo
Juridico, e os desolados componentes voltaram ás
suas comarcas. Souto esteve em Nova Cruz, até
1892, quando, na reorganização da magistratura con­
sequente á Constituição (2a) de 7 de abril desse
ano, foi removido para a Capital, por influencia, (re­
fere o des. Luiz Lira,) do Coronel Fabricio Maranhão,
que com o mano Governador conseguira desviar de
São José o novo Juiz, visto que aí possuia ele ve­
lhos e bons amigos, que poderíam criar dificuldades
á situação que, alhures, se implantava no Estado.
Foi Juiz de Direito da Capital, até 27 de agos­
to de 189">, quando faleceu, no prédio assobradado
á rua da Conceição, n° 8, hoje 573, onde tenho mi­
nha residência.
Além da Judicatura e do ministério publico, ao
par da política liberal que sempre o levou á As­
sembléia Provincial, ele militava no fôro, como
advogado, que foi, muitos anos, da Natal and Nova
Cruz Railway Company Limited, mais tarde encor-
porada á Great Western e, atualmente, á E. F. Cen­
tral do Rio G. do Norte.
Daí, as suas vastas e numerosas relações em
108

todas as localidades servidas pela Es:rada Ingleza,


que o Padre João Manoel conseguira trazer para a
sua querida Provincia, e que lhe valeu cerrada acu­
sação, como projiteur da empreza beneficiaria da
construção.
Um dos aspetos curiosos da vida publica do
nosso homenageado foi a sua participação eficiente
na campanha abolicionista de 1888, desencadeiada
pelos bons espiritos do vigário João Maria, dr. Pe­
dro Velho, Nascimento Castro, Moreira Brandão e
Juvino Barreto, nomes todos que guardámos com
indisivel gratidão e saudade.
Ele falou na instalação da Libertadora, a 1° de
janeiro de 1888, falou na instalação do Club Aboli­
cionista “Padre Dantas”, em Macaíba, discutia nas
sessões da Libertadora Natalense, falava nas festas de
Fabricio, em Canguaretama, ia a todas as excursões
libertárias, tomava parte nas festas, comparecia on­
de quer que se fizesse uma libertação: era emfim,
um apaixonado da causa dos escravos, vitoriosa a
13 de maio daquele ano.
Ele conseguiu do Cel. João Duarte, de Pitim-
bú, a libertação dos oito escravos, a 12 de feverei­
ro de 1888.
Só descançou quando viu realizado o seu no­
bre ideial.
Veio a Republica. Ele residia em Natal, no so­
brado, onde está hoje a Junta Comercial.
Quiz resgatar-se do castigo que lhe impuzéra
o Imperador. Foi ao Rio de Janeiro. O Barão de
Lucena conseguiu do Marechal Deodoro a sua no­
meação. Voltou á terra, transbordante de satisfação.
Era juiz de direito de Nova Cruz. Removido para
Natal, aí encerrou a existência.
Eis a vida publica do nosso homenageado, du­
rante os 53 anos, 5 mezes e 9 dias do seu transito
terreno.
Na comunidade da familia, Souto era o mais
109 —

querido e venerado dos irmãos: minha Mãe nutria


por ele afeto imenso.
Lúlú, como lhe chamava ela, era toda a ternura
de seu coração fraternal. Dois dos filhos de cada um
eram afilhados do outro: compadresco quaternal.
Filho mais velho, formado entre os demais, que
não o conseguiram, tendo apenas José Leão cursado
a Escola Central da Côrte, sem resultado definitivo,
era ele o oráculo da familia e da vasta parentéla do
Assú e Santana do Matos, onde passava as suas tem­
poradas de férias, e vês por outra, conduzia até ali
uma figura que, mais tarde, brilharia no céu das le­
tras nacionaes.
Esposo e pae extremoso, ele foi o mais para­
doxal dos chefes de familia; casára com D. Joana
Cerqueira de Carvalho, filha do fidalgo lusitano An-
tonio Cerqueira de Carvalho da Cunha Pinto e te­
ve quatro filhos do seu casal: Anita, hoje Madame
General Francisco do Rêgo Monteiro, com prole ilus­
tre e luzida de filhos e nétos; Débora, casada com
o seu primo Elias Souto (filho), sem descendencia,
Luiz Souto Filho, (Katunda) ex-oficial do Exercito e
talentoso beletrista conterrâneo, e Luiz Souto Néto
(seu Lú), que se dedicou á judicatura leiga no Rio
Grande do Sul, sob a égide da Constituição positi­
vista.
Ambos teem descendencia e todos vivem na
capital do país.
Repousam os restos mortaes, ali, na parede la-
teral-norte da Capela-mór na nossa Catedral, aon­
de fomos hoje depositar as flores da saudade, após
o sacrifício da Missa que o estimado Vigário Geral
celebrou na intenção de sua alma.
Todos os que o conheceram guardam, porém,
a tradição da sua verve, do seu humour, dos seus
versos e das suas pilhérias, sempre tocadas de sa­
bor e oportunidade.
Além daquelas que o espirito cintilante de Ca-
11L

mara Cascudo, recordou hoje na ATA DIURNA, em


memória do dr. Souto, muitas outras ha que contar
e apreciar:
—Nas reuniões familiares, ele era figura indis­
pensável. Todos o queriam. D. Izabel Gondim, que,
a seu tempo, mantinha em sua casa, um salão lite­
rário, á moda dos que, em Paris, deleitavam os gran­
des espiritos, convidava-o sempre, mas, estipulava
expressamente as pessoas, que o deviam acompanhar.
Ele recebia o cartão com as recomendações e
mandava que se preparassem todas as pessoas, de
casa, hospedes, acessórios tudo, até os gatos e ca­
chorros da casa, para a festa literaria.
O sofá era, para a amíitriã, o logar de desta­
que e só ela, ou tquem por ela designado, deveria
ocupar esse movei. Doutor Souto não dispensava’ o
sofá, todas as vezes que lá ia.
Contava o comendador José Gervasio ao meu
irmão Deolindo que, certa vez, entrou na sua cele­
bre Botica, uma mulher, de cujo estado civil ele in­
dagou: Casada ou solteira?—Solteira, respondeu a
mulher. Quantos filhos tem?—Quatro, redarguiu ela,
—Quem são os paes?—Um de F., outro de B., ou­
tro de S.—Basta, mulher: no caso, será melhor di­
zer que o pae é o respeitável publico...
Presidia ele uma sessão do juri em São José
de Mipibú, quando o promotor começou a inquie-
tar-se aos apartes da defesa. A coisa chegou a cer­
ta altura e o dr. Souto, na plenitude de sua autori­
dade, bradou para o Representante do Ministério
Publico:
—Você está se “espritando”, êma de Chico
Magro?!
Foi uma hilaridade...
Havia, de fato, em São José, uma êma per­
tencente ao artista Francisco Magro, que pervagava
— 111 —

aos emboleios pelas ruas da cidade e era de toda a


gente conhecida.
O Promotor desconcertou-se.
—Ainda tenho impressa na lembrança a ulti­
ma vez que o vi, em nossa casa, no Assú, em dias
de abril para maio de 1895, ano em que faleceu. Ele
era homem gôrdo, corpolento, baixo, claro, fino ca­
belo, bigode sedoso, barba espessa, que usou muitos
anos, claudicava, porém, da perna direita, em conse­
quência de uma nevralgia no ciatico. Ele se dizia:
najico, de um quarto... como os animaes. Eu tinha
então sete anos.
Era a vespera da chegada de meu pae, que fo­
ra a Recife fazer pagamentos e comprar mercado­
rias para a safra daquele ano.
Foi uma surpreza a sua chegada ao Assú: no
sabado, ele se colocou, na porta do estabelecimento
de meu pae, bem na ligação com a casa de resi­
dência.
A toda a pessoa que passava, para comprar no
balcão, ele indaga,va: De quem é filho? De que lo-
gar é?
E depois de jnuitas indagações, concluía que
todos os interrogados, eram seus parentes, ora por
parte dos Pedra Branca, (Barbalho Bezerra), ora pe­
los Rochas, (do Saco), ora, pelos Soutos, de Barra de
Mossoró, ora pelos Machados, do “Pau Infincado”, ora
finalmente, por todos os motivos de parentesco do
mundo. Era parente universal de toda gente.
Organisou pacientemente uma “arvore genea­
lógica” de sua familia, desde a primitiva instalação
de Pedra Branca, hoje Bonfim, em Angicos, até os
dias de então. Nada, ninguém, foi esquecido: era um
trabalho perfeito. Perdeu-se, depois, entre mãos de
sobrinhos, ávidos de conhecerem os troncos e esga-
lhamentos da familia.
O seu alto espirito desdobrava-se nas letras,
nas charadas e logogrifos, ao sabor daquela época.
A oratoria era-lhe familiar e vitoriosa. Pronto na re­
plica, terrivel no aparte, invencivel na polemica, cer­
rado na argumentação.
Mas, sobretudo, era bom amigo e compassivo
ante a dôr alheia. Tal foi o grande espirito, cujo
centenário agora celebramos com infinita saudade.
F A M IU A CASA GRANDE
. A n to n io Soares de Macedo

Eu, Antonio Soares de Macêdo, querendo con­


servar para mim e meus vindouros a grata memó­
ria de meus ascendentes, mandei imprimir este ca-
nhenho contendo a discrição da arvore genealógica
da qual sou um dos máis insignificantes ramos; co­
meçando de meu 2o avô paterno, Antonio Soares de
Macedo, casado com D. Anna de Medeiros Muniz, e
de meu 5o avô materno, o capitão de mar e guerra
Manoel Lopes de Macedo, casado com D. Adelaide
Cabral de Macedo, todos naturaes da Ilha de S. Mi­
guel, em Portugal.
Para chegar a esse fim procedi ás mais minu­
ciosas indagações, escrevendo ao meu primo pater­
no, Padre Luciano Francisco de Medeiros, parocho
da Villa de «Agua de Páo», na mesma Ilha de S.
Miguel (Açores) que respondeu-me, em data de 29
de Novembro de 1880, nestes termos:
«Demorei a resposta de sua carta de 19 de Se­
tembro do ano passado, por estar esperando escla­
recimentos dos parochos das freguezias donde eram
oriundos nossos avós, a fim de chegar ao conheci­
mento de quem eram seus ascendentes, podendo ape­
nas colher o seguinte: Nosso avô, Antonio Soares
de Macêdo, era filho de outro do mesmo nome e de
D. Anna de Medeiros Muniz, natural da freguezia de
S. Jorge da Villa do Nordeste desta Ilha (S. Miguel);
casou a primeira vez na Villa da Lagôa em 1767
com D. Rosa Muniz, filha do capitão Pedro do Ama­
ral e de D. Rosa Soares, natural da freguesia dos
S. S. Reis Magos do lugar do Fenaes, desta mesma
Ilha, tendo desse consorcio os filhos que o primo já
sabe, os quaes foram o Padre Francisco José de Ma­
cedo, o capitão-mór José Duarte de Macedo, Anto-
nio Joaquim de Macedo, D. Josefa Thereza e D. Ma­
ria de Macedo.
«Casando-se segunda vez o dito nosso avô na
freguezia do Rozario, da mesma Villa da Lagôa, com
D. Florencia Rosa do Sacramento, nossa avó, filha
legitima de José Cabral de Pimentel e de D. Izabel,
como o primo declarou na sua, teve desse segundo
consorcio os filhos seguintes:
«D. Anna Emilia Soares de Macedo, minha mãe,
que casou com meu pai, Antonio Pacheco de Me­
deiros e Araújo, alferes de ordenanças e membro
da camara municipal desta Villa de «Agua de Páo»;
teve o Padre Rernardino Soares de Macedo, sacer­
dote e franciscano no convento da Lagôa, onde foi
Guardião por muitos anos; e depois da expulsão dos
frades em 1833, passou a ser cura nesta freguezia e
na de ponta Garça onde falleceu; teve mais outro
filho de nome João Soares de Macedo, como o pri­
mo bem sabe, o qual era pai do Padre João Soares
de Macedo e do primo Francisco, (1) que foi para
esse paiz e de outros.
«O ultimo filho de nossos avós foi seu pai, o
capitão Pedro Soares de Macedo, que d’aqui partiu
para esse mesmo paiz no anno de 1812, com 18 an-
nos incompletos.
«O dito nosso avô Antonio Soares de Macedo
(1) Francisco Soares de Macedo, casado com minha irmã
Anna Quiteria Soares de Macedo e falecido em 9 de Setembro
de 1877.
também foi alferes de Ordenanças e Juiz na villa
da Lagôa, onde habitava.
«Tudo isso que tenho exposto julgo que o pri­
mo já saberá, isto é, a respeito de nossa avó, D.
Florencia, com pequenas alterações.
«Todos esses ascendentes e descendentes aqui
mencionados e já fallecidos, foram todos pessoas de
bom comportamento, sem nota alguma, muito reli­
giosos e tementes a Deus, que é donde provêm a
nossa bôa moral.
»
Fico aqui para ocupar-me do tronco materno
e sua linhagem.
Tendo procedido ás mesmas averiguações, pude
chegar ao conhecimento de que o meu 5° avô ma­
terno chamava-se Manoel Lopes de Macedo; pois
que, tendo meu 4o avô, do mesmo nome, vindo pa­
ra o Brasil, foi-me offerecido por um de seus descen­
dentes os seguintes apontamentos, extrahidos de um
caderno de lembranças que ainda existe, escrito por
dito meu 4o avô, e que principia assim:
«Lembrança que deixo para aquelles, que de
mim descenderem, saberem donde vim, porque pa­
ra onde vou só a Deus pertence. Papary, 24 de De­
zembro de 1740.
«Eu, Manoel Lopes de Macedo, filho legitimo
do capitão de mar e guerra, Manoel Lopes de Ma­
cedo, e D. Adelaide Cabral de Macêdo, nasci a 24
de Dezembro de 1670; foram meus padrinhos o Dr.
Antonio Freire de Amorim e sua mulher, D. Barba­
ra Freire de Amorim, meus ilustres sogros.
«Embarquei na cidade do Porto em 12 de Ou­
tubro de 1706 com minha mulher, D. Barbara Frei­
re de Amorim, 8 filhas, a saber: Joanna, Barbara,
Delfina, Maria, Antonia, Josefa, Placida e Adelaide,
e quatro criados, com destino ao Maranhão; mas,
tendo minha mulher dado à luz nos mares, fui for­
— 116 —

çado a desembarcar na capitania do Rio Grande do


Norte no dia 13 de Dezembro do mesmo ano. No
dia 6 de Janeiro de 1707, na freguezia de N. S. da
Apresentação foi batisada minha filha, que nasceu
nos mares, a qual tomou o nome de Suzana.
«Foram seus padrinhos o coronel Balthazar da
Rocha Bezerra e minha filha mais velha. No dia 20
do dito mez e anno segui para esta aldéia e che-
guei no dia 22, onde me acho com todas as pesso­
as de minha familla que existem até hoje, graças a
Deus. Papary, 25 de Dezembro de 1740. MANOEL
LOPES DE MACEDO».
Um seu neto accrescentou:
«Meus avós, o coronel Manoel Lopes de Mace­
do e D. Barbara Freire de Amorim, estão sepulta­
dos na capella da Senhora S. Anna de Mipibú. Pi-
rangy de dentro, 14 de Julho de 1763. AZEVEDO».
D. Joanna Martins, filha mais velha do coro­
nel Manoel Lopes de Macêdo, minha 3a avó, casou
com o capitão-mór José Ribeiro de Faria, meu 3o
avô, o qual era natural do Rio de S. Francisco e
morador na capitania desta província, hoje Estado.
Tiveram elles de seu consorcio tres filhas:
lo D. Josefa Martins de Sá que casou com o
capitão Antonio Cabral de Macêdo;
2a D. Maria do O’ de Faria, minha bisavó, ca­
sada com o coronel Jeronymo Cabral de Macêdo,
irmão do dito capitão Antonio Cabral;
3a D. Clara de Macêdo.
No anno de 1741 veiu o capitão-mór José Ri­
beiro de Faria para o Assú, com toda sua familia,
filhas e genros, isto é, o capitão Antonio Cabral e
coronel Jeronymo Cabral, os quaes eram filhos de
Mathias Cabral de Macêdo e D. Margarida de Oli­
veira, naturaes da mesma Ilha de S. Miguel, cidade
de Ponta Delgada, bispado de Angra.
D. Clara de Macêdo, ultima filha do capitão-
117 —

mór José Ribeiro de Faria, tomou o habito de N. S.


do Carmo, viveu em companhia de sua irmã mais
velha, D. Josefa Martins e foi a doadora do sitio Icú
ao glorioso S. João Batista, orago desta freguezia.
O capitão Antonio Cabral fez sua morada no
sitio “Casa forte”, meia legua ao norte desta cidade,
que naquele tempo era povoação, e seu irmão, o co­
ronel Jeronymo Cabral, meu bisavô materno, resi­
diu no sitio denominado “S. José”, á vista da mes­
ma povoação, fazendo também nesta uma casa on­
de se estabeleceu com negocios commerciaes. E, por­
que essa sua casa fosse a maior que então existia
no lugar seus habitantes differençavam as famílias
dos dois irmãos Cabraes pela denominação de fa­
mília “Casa forte” e “Casa grande”, appelido este
que ainda hoje conservão os descendentes do coro­
nel Jeronymo Cabral.
Do arquivo da matriz desta cidade, consta que
o capitão-mor José Ribeiro de Faria, meu 3o avô,
falleceu no anno de 1754, tendo sua mulher, D. Jo-
anna Martins, fallecido no anno de 1746; ambos fo­
ram sepultados na mesma matriz, então capella.
O coronel Jeronymo Cabral teve de seu casal
onze filhos, a saber:
lo Padre Mathias Cabral de Macêdo;
2o Capitão Francisco Antonio de Macêdo;
3o Coronel Manoel José de Faria;
4o Coronel Jeronymo Cabral de Oliveira;
5o D. Maria Francisca da Trindade;
6o D. Anna Quiteria de Macêdo;
7o D. Izabel Rodrigues de SantTago;
8o D. Joana Maria da Conceição;
Qo D. Margarida de Oliveira;
10o D. Josefa Maria da Conceição;
11o D. Clara Maria do Nascimento, minha avó
materna, nascida a 2b de Dezembro de 1761 e ca­
sada a 10 de Agosto de 1785 com o capitão Luiz
José de Araújo-Picado, filho legitimo de José Mar­
ques e D. Anna Thereza de Jesus, naturaes da fre-
guezia de N. S. da Assumpção da villa de Avo, bis­
pado de Coimbra, em Portugal.
Tiveram esses meus avós cinco filhos:
lo D. Maria Joaquina Maria de Jesus;
2o Anna Thereza de Jesus;
3o Alferes Jeronymo Cabral de Macedo;
4’ Tenente João Luiz de Araújo Picado;
5o D. Izabel Clara de Macedo.
D. Anna Thereza de Jesus, segunda filha do
capitão Luiz José de Araújo Picado, minha prezada
inãe, (2) de saudosissima memória, nasceu a 6 de No­
vembro de 1790, e casou a 19 de Novembro de 1816
com o capitão Pedro Soares de Macedo, meu res­
peitável pae, de não menos saudosa memória, nasci­
do a 7 de Outubro de 1794 e fallecido a 18 de Ju­
lho de 1878.
Faço ponto aqui para ocupar-me dos filhos e
netos do capitão Antonio Cabral de Macêdo, da “Ca­
sa forte”, a alguns de cujos descendentes tenho de
offerecer um exemplar deste meu rude trabálho'.
Occupar-me-hei depois dos filhos de meu bisa­
vô, coronel Jeronymo Cabrál, cujos nomes apenas
mencionei, e de sua descendencia.
Teve o capitão Antonio Cabral, irmão de meu
bisavô, oito filhos:
lo Capitão João Martins de Sá, casado com D.
Mariana da Costa e Oliveira, filha legitima do te­
nente coronel José Nunes de Oliveira e D. Mariana
da Costa; foram elles os paes do Padre João Mar­
tins de Sá; do tenente Antonio Cabral de Macêdo,
casado com D. Quiteria da Costa, filha legitima de
João de Arruda Camara e D. Bernarda da Costa,
donde descende a familia denominada “Retiro”, i
(2) Fallecida a 12 de Abril de 1883.
O capitão João Martins de Sá também foi pai
de D. Anna Joaquina de Jesus, casada com o tenen­
te João Rodrigues da Costa, meus padrinhos de bap­
tismo, sendo este filho legitimo do coronel Carlos
de Azevedo Leite e D. Rosa Maria da Conceição, e
neto paterno do coronel Carlos de Azeredo do Val-
le, portuguez, e D. Izabel de Barros, que também
foram avós paternos de D. Antonia Francisca da
Costa, irmã do rr.esmo tenente João Rodrigues da
Costa, e casada com José Carlos Vital de Carvalho,
dos quaes nasceram o tenente coronel José Carlos
de Carvalho, casado com D. Anna Thereza de Car­
valho; Alexandre Francisco da Costa, casado com D.
Anna Quiteria; Vicente Ferreira de Carvalho, casa­
do com D. Anna Maria; Antonio Freire de Carva­
lho, casado com D. Anna Joaquina, todas filhas do'
mesmo tenente João Rodrigues da Costa e bisnetas
do capitão Antonio Cabral de Macedo; José Mari­
nho de Carvalho, casado com D. Anna de Carvalho
e Gaspar Freire de Carvalho, que morreu solteiro.
Esse pessoal constitue os troncos da familia de­
nominada «Piató».
2o Capitão Manoel Antonio de Macêdo, casado
com D. Maria Joana da Conceição, filha legitima do
capitão João Francisco da Costa e D. Rosaura Maria
da Conceição, é neta paterna do capitão-mór João
Rodrigues da Costa, portuguez, e D. Antonia da Cos­
ta Travassos.
O capitão João Francisco da Costa também foi
pai do tenente Alexandre Francisco da Costa, casa­
do com D. Anna Maria da Luz, filha legitima de
José Ribeiro Moreira e D. Maria Duarte, neta ma­
terna do coronel José Nunes de Oliveira.
De Alexandre Francisco da Costa e D. Anna
Maria da Luz nasceu Joaquim Francisco de Azerê-
do Costa, que morreu solteiro e foi o doador do pa­
trimônio de N. S. da Conceição, orago da capella
erecta na povoação de S. Raphael, local oufrora co­
120
nhecido por «Caissára», da freguezia de SanfAnna
do Mattos.
Teve o referido capitão Manoel Antonio de Ma­
cedo cinco filhos.
Antonio Cabral de Macedo, Manoel Antonio de
Macêdo, D. Anna Maria de Macedo, D. Rosaura Ma­
ria da Conceição e D. Josefa Martins de Sá.
3o D. Anna Maria de Santiago, casada com
Francisco Dantas Cavalcanti, os quaes só tiveram um
filho, que foi o capitão-mór Francisco Dantas Ca­
valcanti, casado com D. Anna Maria de Macedo, fi­
lha do sobre dito capitão Manoel Antonio de Macedo.
Destes descende a familia chamada do «Alto»
(Macaco).
4o. Mathias Cabral de Macedo, casado com D.
Izabel da Costa, filha legitima do capitão João Fran­
cisco de Seixas e D. Joanna Rodrigues, naturaes da
freguezia de N. S. da Apresentação, da cidade do
Natal.
5o. D. Joanna Quiteria, casada com o capitão
Antonio Jacome Correia Dantas, natural e morador
na freguezia de S. José de Mipibú, filho legitimo de
Sebastião Dantas Correia, natural da cidade do Por­
to, e D. Anna da Silveira, natural do Rio Grande,
littoral deste Estado.
6°. D. Maria Ignacia, casada com Antonio Ro­
drigues, filho legitimo dos mesmos João Rodrigues
de Seixas e D. Joanna Rodrigues.
7o. D. Margarida de Oliveira, casada com o ca­
pitão Manoel Tavares, filho legitimo de Manoel Ta­
vares de Castro e D. Anna Rosa, natural da Ilha de
S. Miguel, nos «Açores».
8°. Francisco Xavier de Macedo, casado com D.
Thereza de Jesus, filha legitima do coronel Carlos
de Azevedo Leite e D. Rosa Maria da Conceição, e
portanto irmã do já mencionado tenente João Ro­
drigues da Costa.
Foram eles os pais de D. Francisca Xavier de
Macedo, casada com Gonçalo Lins Wanderley, filho
legitimo de João de Souza Pimentel e D. Josefa Lins
de Mendonça. Destes procede a familia aqui deno­
minada «Wanderley».
O 4o, 5o, ó°. e 7° filhos do capitão Antonio Ca­
bral de Macedo, da «Casa Forte» foram morar no
Rio Grande, litoral deste Estado.
Eis-me chegado aos filhos de meu bisavô, co­
ronel Jeronymo Cabral, os quaes sendo onze, occu-
par-me-hei mais largamente da ultima, que foi mi­
nha avó, D. Clara Maria do Nascimento, e de sua
descendencia.
Io. Principio pelo Padre Mathias Cabral de Ma­
cedo, que tendo nascido no anno de 1745, ordenou-
se em 1773 e falleceu em 1777.
2°. O segundo foi o capitão Francisco Antonio
de Macedo que falleceu em 1789’ deixando uma fi­
lha, D. Anna Francisca de Macedo, casada com Lú­
cio José de Faria, natural do Porto.
3o. ü terceiro foi o coronel Manoel José de
Faria, pai de D. Francisca de Faria, casada com Jo­
sé Francisco de Faria Casuzô.
Destes procede a familia «Estevão».
4“. O quarto foi o coronel Jeronymo Çabral de
Oliveira, nascido a 13 de Dezembro de 1757 e fal-
lecido a 24 de Julho de 1842, em sua fazenda do
«Arraial».
Deixou quatro filhos D. Maria Cabral de Oli­
veira, casada com o coronel Gabriel Soares Raposo
da Camara; major Mathias Antonio de Oliveira Ca­
bral, Antonio Mathias de Oliveira Cabral e Francis­
co Antonio de Oliveira Cabral.
Formam estes a familia «Arraial».
5o. O quinto e sexto filhos (gemeos) foram D.
Maria Francisca da Trindade e 6o D. Anna Quiteria
de Macedo, nascidas a 21 de Novembro de 1743.
A ultima destas morreu solteira a 24 de Feve­
reiro de 1830, e a primeira casou com o capitão-
mór Antonio Correia de Araújo Furtado, filho legi­
timo de José Correia Cabral e D. Margarida Furta­
do, naturaes da Ilha de S. Miguel, Villa da Lagoa.
O dito capitão-mór Antonio Correia era tio le­
gitimo de minha avó paterna, D. Florencia Rosa do
Sacramento, por ser irmão inteiro de José Cabral
de Pimentel, pai da dita minha avó. Tiveram elles
outro irmão, que foi Fre: Luiz da Natividade.
Teve o referido capitão-mór tres íiihos: D. An-
tonia, nascida em 1780 e casada com Domingos de
Mello Montenegro, e que não teve filhos; D. Maria
do O’ de Faria, nascida em 1783 e casada a 17 de
Julho de I80ó com o sargento-mór Luiz Francisco
da Silva, filho legitimo de Simão da Silva e D. Bar­
bara da Silva, naturaes da Ilha de S. Miguel; e o
tenente coronel José Correia de Araújo Furtado, nas-
nido a 16 de novembro de 1788 e casado a 19 de
Janeiro de 1S1Q, com D. Maria Joaquina de Jesus,
irmã de minha mãe, o que depois tomou o cogno-
me de Araújo Furtado, nascida a 11 de maio de
1786 e fallecida a 18 de Agosto de 1875.
7°. O sétimo filho do meu bisavô, coronel Je-
ronymo Cabral, chamava-se Izabel Rodrigues de
Santiago; morreu solteira em 1820 com 73 annos
de idade.
8o. O oitavo filho foi D. Joanna Maria da Con­
ceição, nascida a 8 de Dezembro de 1749 e que foi
mulher em 2a* núpcias de meu avô materno, o ca­
pitão Luiz José de Araújo Picado. Falleceu dita D.
Joanna a 21 de Janeiro de 1834 sem deixar filhos.
9o. O nono filho foi D. Margarida de Oliveira
que morreu solteira a 14 de Outubro de 1783 com
28 annos de idade.
10°. O décimo filho foi D. Josefa Maria da Con­
ceição, nascida no Io de Setembro de 1759 e que
casou com o capitão-rnór Pedro Pereira da Costa,
filho legitimo de Pedro Pereira da Costa e D. Ro­
sa Thereza de Souza, naturaes da freguezia de S.
Antonio do Fayal, do Patriarchado de Lisboa.
Teve D. Joseía de seu consorcio cinco filhos:
D. Maria Juliana, D. Maria Vitorina, D. Maria do O’,
Pedro José Pereira da Costa e o coronel Jeronymo
Cabral Pereira de Macedo, que constituem a famí­
lia do «Morro».
11°. O undecimo e ultimo filho de dito meu bi­
savô foi minha avó, D. Clara Maria do Nascimento,
de quem primeiro fallei e de cujos filhos vou agora
occupar-me, já o tendo feito com relação ao primei­
ro e ao segundo, sendo aquelle minha finada tia (1°)
D. Maria Joaquina de Araújo Furtado e este minha
prezada mãe, (2°) D. Anna Thereza Soares de Ma­
cedo. .
3o. Ó terceiro filho de minha avó foi o alferes
Jeronymo Çabral de Macedo, que morreu solteiro,
no anno de 1845 com 45 annos de idade, deixando
filhos habilitados.
4" ü quarto foi o tenente João Luiz de Araújo
Picado que nasceu no anno de 1801 e casou a 28
de Fevereiro de 1832 com D. Anna Jacintha de Araú­
jo e Silva, que depois tomou o cognome de Araújo
Picado, filha legitima do sargento-mór Luiz Fran­
cisco da Silva e D. Maria do O’ de Faria, dos qua-
es já fallei.
Nasceu dita D. Anna Jacintha a 28 de Maio de
1813 e falleceu a 19 de Novembro de 1870.
5°. O quinto filho foi D. Isabel Clara de Brito,
nascida a 6 de Outubro de 1802 e casada a 14 de.
Janeiro de 1828 com Antonio Maciel Pereira de Bri­
to, filho legitimo do capitão João Caetano Maciel da
Costa Pereira e sua primeira mulher D. Anna Jo­
aquina Pereira Ferraz de Azeredo, natural do Tou-
rão, freguezia e Izento de S. Maria dos Refoios de
Lima, no Reino de Portugal, e ali nascido a 5 de
Janeiro de 1796; neto paterno de Francisco da Cos­
ta Guimarães e D. Rosa Maria, e materno de Gas­
124

par José Pereira Borges e D. Michaela Rosa Ferraz


de Brito.
Tendo assim me occupado dos filhos de meus
avós maternos, passo, a mencionar os que tiveram
meus progenitores, capitão Pedro Soares de Mace­
do e D. Anna Thereza Soares de Macêdo, os quaes
tendo sido quinze destes se criaram dez, que são os
seguintes:
Io D. Anna Clarinda Soares de Amorim (3) nas­
cida a 11 de Outubro de 1818, e casada a 17 de Se-
tembso de 1939 com o capitão José Gomes de Amo­
rim, filho legitimo de Manoel Gonçalves do Alto e
D. Anna Maria; natural da cidade do Porto, do rei­
no de Portugal, e fallecido a 14 de Janeiro de 1881.
2° D. Maria Leocadia de Macêdo Furtado, nas­
cida a 21 de Novembro de 1821, e casada a 29 de
Junho de 1847 com José Luiz de Araújo Furtado,
filho legitimo do tenente coronel José Correia de
Araújo Furtado e D. Maria Joaquina de Araújo Fur­
tado, fallecido a 11 de Setembro de 1856, com 35
annos de idade.
3“ D. Clara Maria de Araújo Furtado (4) nas­
cida a 30 de Março de 1823, e casada a 10 de Fe­
vereiro de 1846 com o capitão Luiz Correia de Ara­
újo Furtado (5) filfyo legitimo dos mesmos tenente
coronel Correia e D. Maria Joaquina.
4o Capitão Pedro Soares de Araújo, nascido a
8 de Maio de 1824 e casado a 29 de Junho de 1847
com D. Clara Maria Soares de Araújo (6) filha le­
gitima dos mesmos tenente coronel Correia e D.
Maria Joaquina, e fallecido a 7 de Novembro de 1873.
5° Tenente João Soares de Macêdo, nascido a
24 de Agosto de 1826, casado a 25 de Maio de 1847
(3) Fallecida a 8 de dezembro de 1863.
(4) Fallecida a 23 de dezembro de 1883.
(5) Fallecido a 18 de fevereiro de 1889.
(6) Fa lecida a 28 de Maio de 1878.
com D. Delfina Soares de Araújo e Silva, filha legi­
tima do Sargento mór Luiz Francisco da Silva e:D.
Maria do O’ de Faria e Silva, dos quaes já fallei.
6o D. Jesuina Soares de Macêdo Furtado, nas­
cida a 11 de Outubro de 1828 e casada a 15 de
Agosto de 1884 com seu cunhado, o referido capi­
tão Luiz Correia.
7o D. Anna Quiteria Soares de Macêdo, nasci­
da a 25 de Janeiro de 1830 e casada a 12 de Junho
de 1866 com seu primo Francisco Soares de Macê­
do, cujo fallecimento já citei.
8" Antonio Soares de Macêdo, nascido a 27 de
Fevereiro de 1831 e casado:
Em las núpcias, na fazenda Dinamarca, da fre-
guezia de Serra Negra, termo do mesmo nome, a 24
de Maio do 1853 com D. Anna Senhorinha de Ma­
cêdo, (7) filha legitima do capitão Manoel Pereira
Monteiro (8) e D. Maria de Jesus José da Rocha (9),
neta paterna do tenente coronel Manoel Pereira Mon­
teiro e D. Thereza Tavares de Jesus, e materna do
capitão Bernardo de Carvalho Moraes e D. Izabel
Rita Caetana da Silveira, aquelle natural de Lisboa
e esta natural de Pernambuco, ex-proprietarios do
engenho do “Ramos” na freguezia do “Páo do Alho”.
Em 2as núpcias, nesta cidade, a 7 de julho de
1863 com D. Francisca Francelina de Macêdo e Araú­
jo, (10) nascida a 25 de janeiro de 1845, filha legi­
tima de meu tio, o tenente João Luiz de Araújo Pi­
cado (11) e D. Anna Jacir.tha de Araújo Picado (12)
já mencionados.
Em 3as núpcias, nessa mesma cidade, a 27 de
(7) Fallecida a 25 de Maio de 1862.
(8) Fallecido a 19 de Junho de 1861.
(9) Fallecida a 14 de Fevereiro de 1854.
(10) Fallecida a14 de Setembro de 1878,
(11) Fallecido a14 de dezembro de 1847.
(12) Fallecida a19 dc Novembro de 1870
Junho de 1870, com D. Claudina Carolina de Macê-
do e Araújo, nascida a 15 de Março de 1847, filha
legitima dos mesmos tenente João Luiz e D. Anna
Jacintha.
9o Capitão Luiz José Soares de Macêdo (13) nas­
cido a 8 de Outubro de 1832, e casado a 7 de Ju­
lho de 1863 com D. Maria Michelina de Macêdo e
Araújo (14) nascida a 4 de Janeiro de 1843, filha
legitima dos já mencionados tenente João Luiz e D.
Anna Jacintha.
10“ José Soares de Macêdo, nascido a 10 de
Maio de 1835 e casado a 15 de Julho de 1856 com
D. Anna Maria de Macêdo e Araújo, nascida a 14
de Fevereiro de 1841, filha legitima dos já mencio­
nados tenente João Luiz e Anna Jacintha.
Assú 27 de Fevereiro de 1892.
N. da R. Esta publicação é feita por gentilésa do major
João Jeronimo Cabral Fagundes, descendente dos Cabraes, para
o fim de ser atualizada pelos representantes ds familia “Casa
Grande”.
(13) Fallecido a 12 de Setembro de 1883.
(M) Fallecida a 3 de abril de 1886.
AS RAZOES DO BHASIL NO
CONFLITO M UNDIAL
Nestor Lima
(Socio efetivo e benemerito)
Lida ao microfone da “Radio Educadora
de Natal”, inaugurando a serie promovida
pelo Comando da Guarnição e pela Liga de
Defesa Nacional, a 26 agosto 1942, na “Cam­
panha da Desagravo do Brasil”.
PATRÍCIOS E CONCIDADÃOS:
I—Avesso, por indole e por princípios, á volú­
pia da publicidade, compareço, hoje, pela primeira
vês, aos estúdios da nossa Radio Educadora, no cum­
primento de um alto dever civico.
E’ que eu não poderei negar o meu concurso,
por mais ineficiente que seja, para o inicio desta
obra meritória da “Campanha de Desagravo do Bra­
sil”, que a iniciativa feliz da brilhante Guarnição
Militar, coadjuvada pela Liga de Defesa Nacional,
empreende e realiza, através das ondas hertzianas,
no escopo profundamente patriótico de difundir e
espalhar por todos os recantos da nossa terra, quaes
as razões que o Brasil, por seu governo, teve para
assumir a energica atitude de beligerante contra as
— 123 —

chamadas Potências do “Eixo”, isto é, a Alemanha e


a Italia.
Faço-o, com o coração transbordante de since­
ridade e a mente cheia de convicção, como um an­
tigo legionario do crédo democrático e como profis­
sional do Direito, porque devíso, na conduta do Go­
verno Nacional, em face dos dolorosos acontecimen­
tos, que antecederam e motivaram a declaração ofi­
cial de 22 de agosto corrente e a “nota diplomáti­
ca”, enviada a todas as Chancelarias do Continente,
a unica e necessária atitude condigna e compatível
com os brios da Nação e as normas basilares do
direito internacional.
Faço-o, também, com a alma alevantada, por­
que sinto que, de Norte a Sul, todas as forças vi­
vas e ponderáveis da nacionalidade, ansiavam e con­
clamavam a solução da degradante conjuntura, fren-
ta á selvageria das forças submarinas adversarias,
que infestam as águas do Atlântico Sul, procurando,
pelo terror e pela iniquidade dos processos bélicos,
aliás, postergados pela civilização, reduzir-nos á con­
dição de vassalos, ou caudatarios de sua tirania.
Faço-o ainda, porque tenho a arraigada espe­
rança de que não hão de prevalecer os arreganhos
da Violência contra os postulados do Direito, os
assomos da Barbaríe contra as conquistas da Civili­
zação, os pruridcs da infamia contra os soberanos
ditames da Justiça!
Faço-o, finalmente, porque confio que, como já
está assentado na famosa “Carta do Atlântico”, ela­
borada e firmada pelos dois arautos da Liberdade e
do Direito, que são Franklin Roosevelt e Winston
Churchill,
“as nações desarmadas, por bem das ge­
rações futuras, se submeterão á palavra de­
cisiva das Grandes Cortes Internacionaes”,
segundo almejava, a 1» de abril findo, o bútonier da
— .129 —

nossa Ordem de Advogados, dr. Targino Ribeiro,


quando saudava o Supremo Tribunal Federal, no re­
inicio dos seus trabalhos para o ano corrente. (“Di­
reito”, vol. XV, pag. 88).
Concidadãos e patrícios:
Pela segunda vês, no curso de um quarto de
século, é o Brasil arrastado e compelido ao “estado
de guerra”, em consequência de lutas européas:
alhures, contra a Alemanha e a Áustria, hoje, con­
tra aquela e a Italia.
Custa a crêr, e muito é de se lamentar, que
taes nações nos tenham levado a recorrer ás armas
para a solução do conflito atual.
Porque são essas nações, exceção apenas de
Portugal, as que. maiores coeficientes de imigração
nos forneceram, após a abolição da escravatura, em
1888; e a cujo trabalho profícuo e civilizador devem
nossos irmãos do Sul, um grande e notável surto
de progresso material e de melhorias raciaes, con­
soante eu tive ensejo de verificar e observar em
excursão mui proveitosa, que empreendí, àqueles
rincões meridionaes, nos fins de 1940.
Lamentável fatalidade da vida das nações, a
guerra apresenta-se-nos como um imperativo da
honra nacional, mau grádo as tendências pacifistas da
nossa política exterior e a índole serena, anti-beli­
cosa e construtora dos nossos compatriotas.
A “luta armada” para a solução dos conflitos
internacionaes, “é o SUPREMO RECURSO”, como
uma arriscada “operação cirúrgica”, no dizer do be-
nemerito Clovis Bevilaqua, (Direito Internacional Pu­
blico, 2° vol., pag. 2ól) de que
“somente é licito lançar mão, depois de
verificar a ineficácia de todos os meios
pacíficos para solver as desinteligencias
entre os povos”.
De que valeram as doutrinas da “abolição da
130 —

guerra”, o “sonho humanitário”, de Bernardin de


Saint-Pierre, de Emanuel Kant e de Jeremias Ben-
tham?
A que se reduziu a paz, esse “presente do Ceu”,
de que falava Kohler, como e porque a concordia
e a harmonia, que deveríam presidir as relações in-
ternacionaes, desapareceram da face da Terra, nes­
ta catástrofe mundial, que atingiu todos os hemisfé­
rios, destróe todos as conquistas da Civilização, re­
volve e aniquila os alicerces da Humanidade?
Simplesmente, porque as nefastas ideologias to­
talitárias das Nações agressoras, sob fingidas ale­
gações de falta de “espaço vital” regridem ás eras
da Caverna, voltam aos tempos das hordas de IIu-
nos e Vândalos, que, descendo das montanhas da
Asia, alastraram a Europa, destruiram e abateram,
aos golpes do martelo de Deus Thor, todos os prin­
cípios da Cristianização do Mundo!
Desgraçadas para sempre sejam essas Nações
que entendem de dominar, por métodos violentos,
pela sua “rapidês e crueldade”, aquelas outras que
lhes são iguaes, ou semelhantes, pelo Direito e pela
Justiça!
Patrícios e concidadãos:
Na segunda decáda deste Século, o mundo foi
profundamente abalado pela Conflagração Européia,
entre julho de 1914 e novembro de 1918,
Degladiavam-se encarniçadamente os povos da
culta Europa, emquanto que nós, americanos do sul,
guardavamos, frente ás nações beligerantes, uma “neu­
tralidade modelar”, como lhe reconheceu o egregio
chefe da Nação, Wenceslau Braz Pereira Gomes, em
“proclamação de 29 de outubro de 1917”.
A guerra submarina, porém, imaginada e de­
sencadeada pelas forças navaes do Império Alemão,
ao mando de vcn Tirpitz, por tentar estabelecer o
“bloqueio da Inglaterra”, envolveu os mares adja­
— 131 —

centes da poderosa nação insular e restringiu e im­


possibilitou aos paizes neutros a continuação do seu
comercio.
E’ que esses povos pacíficos, abroquelados nos
dogmas da direito internacional, sobretudo na Con­
venção de Haya, onde brilhou o genio magnífico de
Rui Barbosa, em 1907, ainda confiavam no prestigio
dos tratados, que não lhes pareciam “chifons de pa-
pier”, ou trapos de papel, como dizia Bethman von
Hollveg.
Razões sobejas, teve-as, então, o Brasil, para
não alterar a rota das suas naves mercantes e para
proseguir no trafego regular, em busca dos portos
europeus, mesmo que envolvidos na beligerância, a
que se considerava extranho.
Mas, eis que o torpedeamento inavisado e bru­
tal dos nossos navios “Paraná”, “Acari”, “Cuiabá” e
“Macau”, impuzeram-nos incontinente, desde o rom­
pimento das relações diplomáticas; á revogação da
lei de neutralidade e até á “declaração de guerra”
ao império alemão, no dia 27 de outubro de 1917,
quando dirigia os destinos da Patria aquele grande
presidente e era seu ministro do Exterior, o inolvi-
davel Nilo Peçenha.
O Brasil, então, fôra
“impelido a reconhecer o estado de guer­
ra, que não desejou e que foi obrigado a
aceitar, para defender SAGRADOS DI­
REITOS”,
como _proclamava o Chefe do Estado, a 29 daquele
mês, á nação brasileira, mas, também,
“para formar ao lado das que, ha treis
anos, (dizia a proclamação) se veem ba­
tendo pelas conquistas da Civilização e pe­
los direitos da Humanidade”.
Sob taes imperativos, a Nação inteira apoiou
a declaração do estado de guerra, que se extendeu
até á data do armistício de 11 novembro 1918 e
— 132 —
que a Conferência de Versalhes encerrou vitoriosa­
mente para os líderes da Civilização, ao lado dos
quaes formara resolutamente o Brasil.
Diversa não é, ou antes, muito mais premente,
é, no instante que passa, a situação do Brasil, em
face ao grande conflito que já ensanguenta todos os
paralelos e meridianos da Terra.
Si, ha vinte cinco annos, fomos arrastados á
Conflagração Européia, na defêsa dos nossos interes­
ses, tão reiteradamente violados e espesinhados, ou
das conquistas da Civilização e dos Direitos da Hu­
manidade, nesta tormentosa emergencia, motivos e
rasões de muito maior relêvo e fundamento deter­
minaram a atitude que vem de tomar o Governo
Federa], em relação ás “Potências do Eixo”.
A “nota diplomática” de 22 do corrente mès
(agosto 1942), expedida ás duas nações agressoras e,
na mesma data, transmitida a todas as Chancelarias
do Continente, pelo’ministro Oswaldo Aranha, com-
pendía e esclarece meridianamente, em seus nove
“itens”, quaes foram as razões e as causas a que ti­
vemos de submeter-nos, para preservar “a nossa so­
berania, a nossa Dignidade, a nossa Segurança e a
da America”, repelindo com a força, as agressões de
que temos sido vitimas injustificadas.
Desde o torpedeamento e afundamento dos na­
vios nacionaes “Cairú”, “Buarque”, “Parnaíba” e “Ca­
bedelo”, e mais outros nove, até á inominável vi­
lania praticada, na semana ultima, contra o “Bae-
pendi”, “Araraquara”, “Itagiba”, “Anibal Eenevolo” e
“Ararás”, em que foram sacrificadas vidas e interes­
ses, trucidados cidadãos e militares emeritos, famí­
lias de escól, crianças indefesas, recemnascidas mes­
mo, emfim, além de incalculável patrimônio econo-
mico, com flagrante violação de todas as leis da Hu­
manidade e das regras do direito internacional, tu­
do contribuiu para excitar e exaltar os ânimos de
todos nós brasileiros e para demover a conduta re—
— 133 —
tilínea do Governo Nacional, dentro dos princípios
da nossa Constituição, enveredando pelo unico e im­
perioso caminho que lhe impunham a Honra e a
Dignidade.
Não eram bastantes as insídias contra o comer­
cio pacifico, em direção á grande Nação da Norte
America; não foram suficientes os “meios coerciti­
vos da paz”, recomendados pelos internacionalistas,
quaes fossem o “simples rompimento de relações di­
plomáticas”, ou o embargo de navios e interesses dos
nacionaes do Eixo, dentro do Brasil, para a compen­
sação dos prejuízos causados pelos torpêdos”; eram
ineficientes as “justas represálias”, que jamais dege­
neraram em atos de crueldade, ou a “retorsão”,
que, como ensina o grande Clovis, (Op. cit., II, pag. 249)
“é /uma especie de talião, na ordem inter­
nacional”.
Nada disto autorizava medidas senão de idêntico
ou analogo teôr jurídico, nunca, porém, o ataque bru­
tal ao comercio interno, ás vidas preciosas, o massa­
cre impiedoso e cruel de criaturas indefesas, sem
aviso prévio, nem tempo para tentar o proprio sal­
vamento, antes, e ao contrario, com a suprema igno­
mínia do metralhamento dos náufr agos, quando es­
ses se debatiam, ao furor das ondas encapeladas,
na justíssima ansia de salvar-se.
A solidariedade continental, em face da agres­
são ao paiz irmão líder das Américas, a 7 de dezem­
bro de 1941, ou a “infamia de Pearl-Harbour”, em-
quanto ainda eram negociados diplomaticamente, em
Washington, os interesses nipo-americanos, no Paci­
fico ocidental e sul, a internação truculenta dos nos­
sos compatriotas, que se encontravam na França ocu­
pada e que foram conduzidos aos campos militares
de Compiégne, o motêjo e a mofina na Emissora Nazis­
ta de Berlim, todos os dias e noites, sobre atitudes
e fatos da vida brasileira, sempre ridicularizados e
deprimidos, infeüzmente na nossa própria lingua ma-
134 —

terna, não bastariam, é certo, e não bastaram, para


que o Brasil désse o grave passo, que acaba de dar,
reconhecendo o “Estado de Guerra”, para com as
chamadas nações do “eixo”.
Diante, porém, da inaudita e imprevisivel agres­
são sofrida entre 15 e 16 deste mês corrente (agos­
to 1942), dentro do “mar territorial”, nas alturas do
Rio Real, por cinco navios brasileiros, em trafego de
cabotagem, o Brasil teve de enfrentar o rude dever
de definir oficialmente a atitude que lhe exigiam
os brios nacionaes, nas praças publicas, nas tribunas
e nas antenas, conclamando pelo desagravo imedia­
to da honra do povo.
E’ o que representa a Resolução de 22 do cor­
rente, em virtude da qual foi reconhecido o “Esta­
do de Guerra”, ou de “beligerância”, a que estamos
agora vinculados.
E, melhor do que todas as razões, ora compi­
ladas na “nota oficial”, mais alto do que todas as
vóses, que, de sul a norte, bramiram por vingança,
desde o instante em que foi divulgado o horrendo
massácre, falam e proclamam as nações de todo o
Continente Americano, que, numa unanimedade al­
tamente confortadora, teem trazido ao nosso país, ao
Governo, ás familias enlutadas, os éstos vibrantes
da sua integral solidariedade, as demonstrações mais
sinceras dos seus sentimentos de americanos e se­
res humanos, como si a ofensa lhes tivesse sido ir-
rogada a cada uma delas, individualmente. Nisso, sim,
está a consagração jurídica das razões do Brasil, no
atual conflito, porque essa é verdadeiramente a sen­
tença inapelavel, que o direito prevê e consagra, nas
lides internacionaes, com o unanime consenso das
nações civilizadas.
IV—Concidadãos e patrícios:
Devo concluir, mas, antes seja-me permitido,
nesta hora presága da nacionalidade, recordar, que?
por muito menos que os atróses acontecimentos da
semana finda, o Brasil Império foi arrastado á guer­
ra com as nações visinhas do Rio da Prata, no sex-
tenio épico de 1864 a 1870.
Nessas memoráveis pugnas, em que o valor e
o heroismo, a lealdade e a resistência dos nossos
compatriotas portaram-se á altura de uma epopeia,
durante e ao termo das quaes o genio de Caxias,
Luiz Alves de Lima, então marquês, escreveu a ma­
is gloriosa pagina de sua existência, quando a bra­
vura sem par dos chefes militares, Tamandaré, Bar­
roso, Mena Barreto, Marques de Souza, Osorio e ou­
tros, e a indomita resistência do soldado anonimo
demonstraram as qualidades primaciaes da raça e
do carater nacional, emquanto não ficou divulgada
a repulsa aos ultrajes e a honra nacional não foi
lavada em sangue, até á exterminação do famigera­
do causador da desgraçada peleja, a alma brasileira,
pulsando ritmicamente com o governo imperial de
D. Pedro II, não se sentiu desagravada, nem expun-
gidas, á face do povo, as injurias ao brio dos nos­
sos compatriotas.
Pois bem: Seja-nos, mercê de Deus, concedida
igual fortuna e analoga foi'talêsa, no sentido de, pe­
la união sagrada de todas as vontades e de todos
os esforços, levarmos a presente guerra até o fim,
sem desfalecimentos, nem tibiêsas, sem covardias,
nem traições, nem “quinta-colunismo”, em fim, para
que todos- nós brasileiros, que nos ufanámos da nos­
sa grande Patria, cada qual no sector que lhe fôr
designado, obedientes á vós do nosso intrépido Ge­
neral e ligados indissoluvelmente, como um blóco in-
destrutivel de cimento e de aço, defendâmos nossa
terra, nossas águas, nossos lares, nossas tradições,
nosso passado, nossa civilização, nosso futuro, tudo
isto concretizado, transfundido, materializado no “au-
riverde pendão” que, ainda hontem, soberbo e divi­
no, tremulava na vanguarda das nossas falanges mar-
ciaes, brilhando na “parada de Caxias”, homem sim-
balo, nume tutelar da nacionalidade, como Rui Bar­
bosa e Rio Branco, através os vibrantes rumores ou
acentos triunfaes, que ainda não se apagaram, nem
jamais se extinguirão nas nossas alrras, porque eles
representam, pérpetua e imperecivelmente, a própria
alma grandiosa da Patria”!
Acerca dessa serie de conferências, disse a im­
prensa desta capital o seguinte:
“O DIÁRIO”, apreciado orgão independente, pu­
blicou :
“ALERTA, BRASIL! Pela Patria, contra o Eixo.
“O jurista e historiador patrício, dr. Nestor Li­
ma, pronunciou, a 26 do corrente, nesta capital, na
REN, a conferência que publicamos, a convite do Co­
mando da Guarnição Federal e da Liga de Defesa
Nacional.
Essa conferência foi a primeira da serie que es­
tá sendo realizada, nesta capital, por vultos desta­
cados da inteletualidade brasileira, contra a pirata­
ria desenfreiada do chamado “Eixo”, e que acaba de
nos levar á guerra.
O dr. Nestor Lima,1com a proficiência que to­
dos lhe reconhecemos, mostra em seu erudito tra­
balho, como a Alemanha e a Italia, fora-da lei e da
moral, nos agrediram fria e covardemente, torpede­
ando nossos navios, em comercio interno, e levan­
do para o fundo do Oceano bens e vidas.
A sua conferência foi, não ha negar, uma peça
de nobre civismo, vasada num estilo elegante e que
bem tradús todo o sentir da Patria Brasileira, con­
tra a matilha nazista, que, em breve, receberá do
Brasil o merecido e implacável castigo”. (Edição de
28 de agosto 1942, Ia pagina).
“A Republica”, orgão oficial do Estado, publi­
cou, na edição de 23 de agosto 1942, o seguinte:
“VERBERANDO OS ATAQUES NAZISTAS
CONTRA O BRASIL— Uma semana de palestras na
Radio Educadora de Natal sobre as pretenções da Ale­
manha em nosso país.
A Guarnição Federal, em colaboração com a
Liga de Defesa Nacional, vai empreender um movi­
mento de elevada finalidade patriótica e de grande
oportunidade, movimento que constituirá uma vibran­
te manifestação de repulsa contra os covardes e im­
piedosos atentados ultimamente levados a efeito por
submarinos do eixo á navegação comercial brasileira.
A frente desse movimento encontram-se elemen­
tos de alta responsabilidade moral e intelectual, que
participam da mesma indignação coletiva provocada
por aquelas traiçoeiras agressões, que vitimaram pre­
ciosas vidas de cidadãos brasileiros. Essa campanha
será feita ao microfone da Rádio Educadora de Na­
tal, onde falarão oradores escolhidos entre os ele­
mentos representativos da vida norte-riograndense,
possuidores de reconhecidos méritos intelectuais.
O movimento começará no dia 26 de agosto cor­
rente, iniciando-se as palestras ás 19,45 minutos, di­
ariamente, até o dia 2 de setembro proximo.
Para as aludidas preleções serão convidados,
respectivamente para o dia 26, o Dr. Nestor dos San­
tos Lima, presidente do Instituto Historico e Geo­
gráfico e do Conselho Penitenciário do Estado, para
o dia 27, em nome da Guarnição de Natal, o Tenen­
te Coronel Pery Constant Bevilaqua, Comte. do Gru­
po de Artilharia Anti-Aérea sèdiado nesta Capital,
para o dia 28, em nome do Governo do Estado, o
Dr. Américo de Oliveira Costa, Chefe do Gabinete
do Interventor Federal; para o dia 29, em nome da
Marinha de Guerra do Brasil, o Comandante Lopes
da Cruz; para o dia 30, o desembargador Antonio
Soares, presidente da Academia Norte-Riograndense
de Letras; para o dia 31, em nome do clero, o Pa­
dre José Pereira Neto; para o dia l.o, em nome da
Liga de Defesa Nacional, o Dr. Edilson Varela, Di­
retor do Departamento Estadual de Imprensa e Pro­
paganda e para o dia 2 de Setembro, o escritor Lu-
is da Camara Cascudo, presidente da Sociedade Fol­
clórica do Brasil”.
ASPECTOS DA HISTORIA
RIOGRANDENSE DO NORTE
INÉDITO. ESPECIAL PARA ESTA ‘ ' R E V I S T A "

por Guilherme A uler


(Socio efetivo do Instituto Arqueologico Pernambuca­
no. Socio-Correspondente dos Institutos Históricos do
Ceará, Paraná, Petropolis e Espirito Santo. Presiden­
te da Seção Pernambucana do Instituto Genealógico
Brasileiro)
Ha quasi um século, A. Gonçalves Dias, comis­
sionado pelo Governo Imperial, desarrumou os ar­
quivos do Rio Grande do Norte, copiando documen­
tos e decifrando papéis ainda não desaparecidos mal­
grado á acão da humidade e dos insetos.
O fruto desse trabalho paciente e metodico foi
a monografia intitulada “Catalogo dos Capitães-Mo-
res Governadores do Rio Grande do Norte”, publi­
cada na Revista do Instituto Historico Brasileiro, ano
de 1854, pagina 22 e seguintes. Como anexo desse
valioso esüudo historico acham-se, ainda, um catalo­
go, documentos e anotações.
Neste artigo, não é nosso fito abordar todos os
assuntos que o trabalho do sr. A. Gonçalves Dias
pode sugerir, como por exemplo a repercussão do
1817 na terra potiguar (pagina 43 e seguintes).
Ficaremos, apenas, dentro dos limites que nos
traçam Bernardo Vieira de Melo e a revolta popu­
lar contra Luiz Ferreira Freire, esta, que, com mui­
ta exatidão, poderemos chamar de “guerra dos mas­
cates” riograndense do norte.
O 12o Capitão-Mor Governador do Rio Gran­
de do Norte foi Bernardo Vieira de Melo, descen­
dente de uma familia que figura na Nobiliarquia de
Borges da Fonseca. O seu tronco é Antonio Vieira
de Melo, cavaleiro fidalgo, natural de Catanhede, que
chegou a Pernambuco muito antes da invasão ho­
landesa, filho de Manuel e Francisca Gonçalves “gen­
te honrada e das principais da vila de Catanhede”
(1). Em 1630, esse Antonio Vieira era vereador da
Camara de Olinda, e na guerra da restauração, foi
Capitão de Cavalos.
Neto do primeiro Vieira de Melo que chegou
a Pernambuco, seus pais foram Bernardo Vieira de
Melo e Maria Camelo. Primogênito deste casal, se­
gundo o costume tradicional tomou o nome do seu
genitor: Bernardo. Dele, Borges da Fonseca escreve
a seguinte noticia biográfica: “—Bernardo Vieira de
Meio, cavaleiro fidalgo, foi capitão-mor da vila de
Iguarassú e na expedição da conquista dos Palma­
res de que foi encarregado pelo governador Caeta­
no de Melo e Castro, procedeu tão valentemente co­
mo ainda hoje publica a fama e escreve Pita na sua
Historia da America Portuguesa, liv. 8, n° 36, pg.
479, e por este grande serviço foi capitão-mór e go­
vernador das armas da Capitania do Rio Grande do
Norte e ao seu tempo se conseguiu subjugarem os
rebeldes indios Janduís que continuamente oprimi­
am aquela capitania, e ultimamente foi Sargento Mor
e comandante do 3 de Infanteria que El Rei man­
dou crear nos Palmares. Foi senhor de Engenho da
Pindoba, na freguesia de Ipojuca, que sua tia D. Ju-
(l)»»»“ Nobiliarquia Pernam bucana” , nos Anais da B ibliote­
ca Nacional, volume 47, pagina 6G.
141 —

liana de Jesus, irmã de sua mãe, encapelou para ele


e seus descendentes” (2).
A referencia de Rocha Pita, a que alude o au­
tor da Nobiliarquia, é a seguinte: “De todo o Exer­
cito nomeou por Cabo, com o posto de capitão-mór
a Bernardo Vieira de Melo, que da sua fazenda das
Pindobas conduzindo muita gente armada, se fora
oferecer ao Governador para aquela campanha e con­
quista. Era homem nobre, e valeroso, experimenta­
do na guerra dos negros, havendo logrado algum
tempo antes o feliz sucesso de um choque, em que
degolou e cativou um grande troço deles, em uma
das estancias, em que estivera, para reprimir as su­
as invasões; causas pelas quais Caetano de Melo o
elegeu para governar aquela empresa” (3).
Bernardo casou-se 2 vezes. A primeira com Ma­
ria de Barros, não havendo sucessão. Em segundas
núpcias, consorciou-se com Catarina Leitão, de quem
teve 5 filhos, um dos quaes André Vieira de Melo
“cavaleiro fidalgo, serviu a El Rei e foi Alferes da
Companhia do Mestre de Campo do Terço do Re­
cife; faleceu em Lisboa prêso pelo culparem nos le­
vantes desta capitania, com seu pai” (4).
Segundo escreve o sr. A. Gonçalves Dias, não
é precisa a data em que Bernardo Vieira de Melo
tomou posse do gverno do Rio Grande do Norte.
“Consta que já exercia o lugar de capitão-mór a 22
de agosto de 1695 e dele se faz menção na verea-
ção de 11 de Janeiro de 1696. Proroga-se por mais
tres anos o seu governo pela carta regia de 18 de
novembro de 1697”.
Estas palavras diz o autor, á pagina 22. Mais
adiante, á pagina 35, lemos: “Não se sabe em que
(2) «-»Idem, idem, pagina ÕS.
(3) —“Historia da America Portuguesa", de Rocha Pita,
edição de 1878, pg 329.
(4) “ Nobiliarquia", pg. S8.
— 142 —

tempo Bernardo Vieira de Melo sucedeu a Agostinho


Cesar. O que nos pode dar ideia do seu governo são
alguns trechos da sua correspondência e da do Se­
nado, e muitas cartas patentes nas quais contudo se
mencionam de ordinário serviços prestados contra
os tapuias durante o governo do seu antecessor”. “A
carta regia de IS de novembro de 1697 prorogou
por mais tres anos o governo de Bernardo Vieira de
Melo, e nela se dizia que fizera muitos bens aquele
governador “íeduzindo todo o gentio a uma univer­
sal paz, por cuja causa se acham esses sertões com
grandes princípios de pcvoações, e a capitania em
socego” (ob. cit. pag. 3t> e 36).
Um episodio bastante típico do espirito de in­
dependência das nossas antigas Clamaras coloniais,
relata-nos o sr. A. Gonçalves Dias: “Um fato se deu
na posse de Colares (5) que, com muitos outros, pro­
va a parte que naquele tempo tinha o senado na
administração da republica. Não se comunicando, por
esquecimento, ao Senado a nomeação de Colares,
hesitou esta corporação em lhe dar posse; e se o
fez, foi por condescendência ccm o anterior gover­
nador Carvalho (6) que estava desejoso de retirar-
se. Escreveu pois ao Rei, dando-lhe este como o prin­
cipal motivo da sua determinação, e pedindo expli­
cações sobre o que lhe cumpria fazer, quando no
futuro se repetisse fato semelhante” (pag. 38, ob. cit.).
Passemos, agora, á “guerra dos mascates” rio-
grandense do norte. De jinicio, convem esclarecer
qual o conceito que damos á “guerra dos mascates”.
Para nós, julgamos mais exato qualificar como to­
da a rebelião do povo ou do Senado da Camara
contra a autoridade do governador.

(5) —Sebastião Nunes Colares.


(6) Antonio Carvalho Almeida.
143 —

Já provámos, num estudo nosso (7), que a “guer­


ra dos Mascates” de 1710, em Pernambuco, não foi
absolutamente um movimento nativista, de portu­
gueses nascidos na metropole contra portugueses
nascidos na colonia, mas um dissídio originário da
rivalidade de duas cidades, Olinda e Recife, estando
o governador ao lado de uma fação, e outras auto­
ridades, como o Ouvidor-geral, em posição contrária.
Exemplificamos que o movimento de 1710 não foi
inédito para Pernambuco, pois já em 1660, 1666 e
1685, outros governadores experimentaram a oposi­
ção firme e decidida, inclusive Jeronimo de Mendon­
ça Furtado que seguiu preso para Lisboa, juntamen­
te com um sumario das suas culpas. Também não
foi só em Pernambuco que houve rebeliões—“guer­
ra dos mascates”—contra os governadores, mas na
Baía (1682 e 1711) e no Rio Grande do Norte (1722).
O 18o Capitão-mór Governador do Rio Grande
do Norte foi Luiz Ferreira Freire, que administrou
de 1718 a 1722, quando foi assassinado no dia iode
março.
Logo, a nova autoridade se indispoz com o Se­
nado da Camara e com o povo em geral. Aquela
corporação chegou a fazer uma representação con­
tra o governador alegando os seus maus costumes
e deshonestidade.
De vida privada bastante suja, Luiz Freire co­
meçou suas tropelias furtando uma donzela, com
quem ficou vivendo maritalmente. Avalie-se o escân­
dalo que produziu na população esse gesto indigno
de uma autoridade, que deveria primar pelo bom ex­
emplo.
Mas, os escândalos continuaram. Não conseguin­
do ninguém que se prestasse a ser criada da sua
(7)—Revista TRADIÇÃO, abril de 1942,- pg. 68 a 73, R e­
cife.
— 144 —
amante, Freire roubou uma escrava pertencente a
um Vereador de grande prestigio: Manuel de Melo
Albuquerque.
Afrontado desse modo, o Vereador não perdeu
a serenidade. Apelou para a Justiça, que lhe deu
ganho de causa, decidindo que a escrava lhe fosse
devolvida.
Freire, então, ameaçou todos os oficiais de jus­
tiça e nenhum quiz fazer cumprir a sentença.
Manoel de Melo Albuquerque ainda não per­
deu a serenidade. Recorreu ao Governador de Per­
nambuco, Rolim de Moura, que imediatamente or­
denou que a escrava regressase á companhia do seu
senhor.
E’ quando Luiz Freire perde a cabeça e man­
da prender o proprio Vereador Manuel de Melo Al­
buquerque num cubículo da Fortaleza, onde passou
40 dias bem amargos.
Era a gota dagua que faltava para fazer trans­
bordar os odios. Assim mesmo, os ânimos acalma­
ram-se um pouco, confiados na justiça real. O Se­
nado protestou contra a iniqua prisão, junto ao atra­
biliário governador, não havendo nenhum resultado
positive. Apelaram novamente para Pernambuco,
donde chegou a ordem expressa que o comandante
militar restituisse á liberdade Manuel de Melo Albu­
querque. E, assim, se cumpriu.
Freire não era homem que aceitasse uma der­
rota. Á noite, bem acompanhado de forças armadas,
foi á casa do Vereador, donde retirou, pelo argu­
mento indiscutível das armas, a escrava causadora
involuntária de tanto barulho.
Fazer justiça com as próprias mãos foi a solu­
ção que o Senado da Camara, apoiado por toda a
população, adotou numa emergencia suprema. A cons­
piração nasceu. E, a 22 de fevereiro de 1722, das
19 para as 20 horas, um atentado contra a vida do
governador Luiz Ferreira Freire executou-se, do qual
— 145 —

ele saiu ferido com um tiro. Uma semana após, íá


estava enterrado.
Assumiu o geverno, no mesmo dia, o Senado
da Camara, a exemplo do que já acontecera com a
morte de 2 capitães-móres: Francisco Pereira Gui­
marães e Sebastião Pimentel.
O Senado da Camara foi acusado do assassínio.
Abriu-se uma devassa contra os 2 indivíduos que
atiraram em Freire. Mas, o fato é que toda a popu­
lação estava indisposta com o falecido governador e
encarou a situação com o alivio de um tiranicidio...
Em torno desse mesmo assunto, o novo capi-
tão-mór José Pereira da Fonseca, que governou até
1728, foi alvo de uma representação do Senado da
Camara.
Ai fica um breve resumo da rebelião de 1722,
no Rio Grande do Norte, contra o Capitão-mór e
Governador Luiz Ferreira Freire, o 18o da serie,
conforme o trabalho historico do sr. A. Gonçalves
Dias (ob. cit. pag. 38, 39 e 40) A documentação so­
bre esse episodio acha-se nas paginas 46 e 47.
Um fato bastante expressivo da nossa justiça
colonial, narra-nos também o autor do mesmo tra­
balho, a que nos estamos referindo. No ano de 1732,
era Capitão-mór João de Barros Braga, que certa
vez mandou arcabusar um tapuia que tinha assassi­
nado o seu senhor. Chegando ao conhecimento de
El-Rei esse fusilamento sumario, mandou abrir uma
devassa. A consequência é que o Tribunal da Rela­
ção do Estado mandou prender João de Barros Bra­
ga, coisa que não se efetivou porque o governador
de Pernambuco negou o “cumpra-se”, pretextando
que o acusado exercia, por mercê d’El-Rei, um pos­
to, do qual não o podia afastar. O Rei fechou os
olhos, mas o advertiu “que não lhe tocava senten­
ciar os delinquentes” (ob. cit. pg. 42)...
Como conclusão deste nosso artigo, bordare­
mos alguns comentários acerca-de um possível pa­
ralelismo entre as rebeliões de Pernambuco em 1710
e a do Rio Grande do Norte em 1722.
Em Pernambuco, a causa foi o bairrismo entre
duas cidades (Recife e Olinda), enquanto que no Rio
Grande do Norte o roubo de uma escrava marcou
a eclosão do movimento. Nos dois lugares, o Sena­
do da Camara estava em posição contrária ao Go­
vernador. Houve também, simultaneamente, o aten­
tado contra a vida dos Governadores. Se Castro e
Caldas não pereceu, isso se deve á pressa com que
ele se transferiu para a Baía. Finalmente, esses epi­
sódios de luta dos habitantes contra governadores
dão margens a novas interpretações sociais, não se
esquecendo, entretanto, de acentuar que em todas as
ocasiões a lealdade e obediência a El-Rei nunca de­
sapareceram.
Recife, Junho 1942.
AUGUSTO SEVEliO
O Instituto Historico promoveu, a 12
de maio de 1943, a comemoração do 41°
aniversário da tragédia do PAX, em Pa­
ris, com uma sessão magna no “Teatro
Carlos Gomes”.
“Nesta capital, as comemorações ao transcurso
do 41.° aniversário da morte de Augusto Severo de­
correu com o maior brilhantismo, promovidas por
iniciativa do Instituto Historico e Geográfico do Rio
G. do Norte e por outras instituições.
Mais uma vez o nosso povo demonstrou a ad­
miração que dedica á memória de Augusto Severo,
o ilustre conterrâneo que tanto soube com a sua in­
teligência honrar o nome do Brasil e do Estado em
que nasceu.
NO GRUPO ESCOLAR “AUGUSTO SEVERO”
Como acontece todos os anos, o Grupo Escolar
“Augusto Severo” comemorou ontem, com muito bri­
lhantismo, a significativa efemeride.
A’s 16 horas, teve lugar naquele educandario
uma sessão civica, fazendo nessa ocasião o dr. Ma­
noel Varela de Albuquerque uma palestra alusiva á
data. Seguiu-se uma interessante cena infantil, ten­
do sido muito aplaudida.
Encerrada a reunião, os corpos docente e dis­
cente do Grupo, acompanhados de muitos convida­
dos, fizeram uma visita á estatua do patrono daquel-
le educandario sendo cantados hinos patrióticos e de­
positada uma coroa de flores naturais no pedestal
da mesma.
Estiveram presentes á cerimônia, além do dr.
Alberto Maranhão, membros da familia Augusto Se­
vero.
NO TEATRO CARLOS GOMES
A’s 19,30, no Teatro Carlos Gorr.es, realizou-se
sessão magna comemorativa da passagem do 41.o
aniversário do falecimento de Augusto Severo.
Encontravam-se presentes as mais altas autori­
dades do Estado, destacando-se o comparecimento
dos exmos. srs. Interventor Rafael Fernandes, Ge­
neral Cordeiro de Farias, Secretario Geral do Esta­
do, dr. Aldo Fernandes, altas patentes do Exercito,
da Marinha e das forças norte-americanas, alem de
grande assistência, que enchia literalmente a nossa
mais antiga casa de diversões.
Dando Inicio á reunião, falou o dr. Nestor dos
Santos Lima, presidente do Instituto Histórico, que
pronunciou um biilhante discurso, dizendo dos mo­
tivos daquela sessão. Referiu-se o dr. Nestor Lima
á vida e á olra de Augusto Severo em palavras que
mereceram os aplausos dos presentes.
Em seguida o dr. Alberto Maranhão iniciou a
sua anunciada conferência sobre Augusto Severo, fa­
zendo um estudo completo sc Lre aquele seu limão,
a quem a humanidade deve um dos maiores passos
do seu progresso. Em sua conferência o dr. Alberto
Maranhão apresentou uma farta documentação so­
bre o problema ua aeronuutica, seu desenvolvimen­
to e a decisiva influencia que sobre ele exerceu o
invento de Augusto Severo.
— 149 —

O conferencista teve ainda oportunidade de re-


ferir-se a aspectos Íntimos da vida de Augusto Se­
vero, apresentando um trabalho que mereceu as me­
lhores atenções da assistência.
Ao terminar a sua palestra o dr. Alberto Ma­
ranhão recebeu prolongadas palmas.
Após, teve lugar a 37.° audição do Curso Val-
demar de Almeida, realizada em homenagem á exma.
sra. d. Ines Bari’eto Maranhão, esposa do dr. Alber­
to Maranhão. Mais uma vez, o maestro Valdemar de
Almeida poude apresentar á sociedade culta de Na­
tal os resultados fecundos do seu ti'abalho incansá­
vel pelo desenvolvimento musical do Rio Grande do
Norte.
A 37.0 yudicão das alunas do seu curso valeu
por mais urna sua vitória e constituiu ainda parte
brilhante das comemorações com que assinalámos
em nosso Estado o transcurso de mais um aniversá­
rio da morte de Augusto Severo”.
Da “A Republica” -13—5—43.
Damos, a seguir, o discurso do orador oficial da
solenidade, por parte do Instituto, dr. Nestor Lima,
presidente da sociedade:
NO DIA DE AUGUSTO SEVERO
Preclaro Sr. Interventor:
Nobres Chefes Militares: Exmo. Sr. Bispo:
Dignas Autoridades Civis, Militares e Eclesiás­
ticas:
Exmas. Senhoras:
Meus Senhores:
Coube, este ano, ao Instituto Historico e Geo-
— 130

grafico, a veneranda instituição cultural que me hon­


ro de presidir, a iniciativa das comemorações publi­
cas á memória de Augusto Severo, o glorioso inven­
tor e mártir do “Pax”.
Delas desincumbindo-se pela forma que todos
presenciámos e prestigiámos, o velho sodalicio quiz,
mais uma vês, prestar as suas homenagens ao com-
patricio imortal, que, na prossecução dos seus so­
nhos juvenis, realizou, em plena maturidade, aquela
“maravilha de técnica”, como lhe chamavam os en­
tendidos, de sua invenção, em que, na madrugada des­
lumbrante de 12 de maio 1902, partiu, em gloriosa
arrancada para o Azul, mas, em consequência da ex­
plosão do motor, caiu de lá, varonilmente de pé,
nos arredores de Montparnasse, em Paris.
Entre os padrões imortaes da nossa historia,
Severo ha de figurar perenemente como um sacri­
ficado ao ideial que acalentou, desde a infancia, quan­
do nas paragens do Cunhaú, ensaiava a ascenção dos
seus inventos rudimentares e, mais tarde, nesta ci­
dade, fazia subir aos espaços infinitos, um formidá­
vel “engenho aéreo”, o “Albatrós”, também de sua
invenção.
E’ que o destino lhe reservava uma perpétua
linha réta ascencional, e, quizesse ou não, ele teria
de executa-la, com o sacrificio até da própria vida.
Predestinado da gloria, Severo foi também ho­
mem, na completa significação do termo.
Educador, abolicionista, republicano, parlamen­
tar, passou pelos cargos de eleição, no Congresso Es­
tadual e na Camara Federal, espargindo a manchei­
as o ouro do seu coração, nimiamente sentimental,
quando dividia com os necessitados os minguados
proventos de suas atividades publicas.
Disso deram noticia todos quantos lhe experi­
mentaram a munificencia, desde o operário modes­
to dos Arsenaes militares do Rio de Janeiro, até os
patrícios em penúria, assim para matar a fome que
151 —

os atormentava, como para regressarem aos lares ja­


mais esquecidos.
Severo foi bom, compassivo, devotado á fami-
lia e aos amigos, mas, também foi generoso para com
os seus adversários, que lhe denegriam os nobres an-
ceios em pról do grande sonho de sua existência.
Ei-lo, na Camara dos Deputados, defendendo a
recompensa nacional ao seu émuio Alberto Santos
Dumont, quando este, na Cidade Luz, realizava os
vôos de experiencia e levantava o prêmio “Deutsch”,
com o contorno da Torre Eifel, por meio do seu ba­
lão dirigivel.
Mais tarde, porém, ele proprio construtor do
seu maravilhoso invento, irradiava, nos “hangars” de
Longchamps, a sua natural bonhomía, naqueles tris­
tes dias, que precederam a experiencia triunfal, que,
sacrificando-o, conduziu-o definitivamente ao Pante-
on da Gloria Aeronáutica.
El, quando de seu desastre, o mundo inteiro
se comoveu, para tributar-lhe, especialmente, no seu
fúnebre regresso á Patria estremecida, todBs as ho-
menajens e todas as honras, que o consagram már­
tir da navegação aérea.
O Instituto Kistorico, que guarda ciosamente,
no saião dos seus trabalhos, a eíigie do magnifico
inventor, vem trazer, hoje, no 4 1 o aniversário de sua
morte gloriosa, a palma da sua admiração e a mais
comovente mostra da sua reverencia ao glorioso com-
patricio, que, na sua morte prematura, tanto elevou
o nome de sua tena e de sua gente.
Meus senhores:
Nenhuma maior homenagem poderia desejar o
Instituto Histórico, no dia que recorda o martirio de
Severo, que a de fazer-se ouvir, nesta casa de tão
gratas tradições, a palavra sempre autorizada do emi­
nente consocio, dr. Alberto Maranhão, socio funda­
dor e benemérito, e o mais conspícuo interprete dos
152 —

sentimentos e da capacidade criadora do seu ines­


quecível irmão e amigo.
Todos anceiam por ouvir a dissertação, que a
proposito do “Pax” e dos seus princípios e conquis­
tas, terá de fazer, dentro de breves instantes, o ci­
dadão benemerito, que, duas vêses, governo em nos­
sa terra, soube conciliar sempre as árduas funções
dirigentes com os mais puros e nobres imperativos
do coração.
Excusai-me, senhores, de apresenta-lo, que se­
ria tarefa difícil, senão inócua, ou estulta, porque
inúmeros são os predicados e as credencia es possú-
idos pelo emerito compatricio, que o talento heleni-
co de Gotardo Neto, definia com proficiência,
“Nobre vulto da Patria fecunda,
Alma feita das luzes do Bem”,
ao fazermos a comemoração do 3o aniversário do seu
2o governo, a 25 de março de 1911.
Abri, senhores, a historia da nossa terra e da
nossa gente, folheai-a pagina por pagina, letra por
letra, e nela vereis, em todos os momentos e em to­
dos os sectores, a marca indelevel da sua orientação
governamental e os imensos benefícios de toda or­
dem que ele conseguiu realizar em pról dos seus
concidadãos.
Si, na esfera intelectual, com a lei de 1» agos­
to 1900, ele foi cognominado o “Mecenas das Letras
Potiguares”, na mansão das artes, chamavam-lhe os
adversários, Luiz de Baviéra, para compara-lo ao
grande príncipe bávaro, que fôra o protetor de Wa­
gner, então, no âmbito das realizações materiaes, ur­
banas e civilizadoras, construindo e reconstruindo
este Teatro, fazendo a eletrificação dos nossos ser­
viços públicos, criando a carreira dos professores, a
Escola Normal, os grupos escolares, as escolas isola­
das e rudimentares, instalando a assistência hospita­
lar, sob novos moldes, abrindo estradas, incremen­
tando a produção, atraindo capitaes para a nossa de-
sangrada economia, que o flagelo climaterico ator­
menta, ele se fês merecedor da nossa maxima gra­
tidão.
Ao beletrista e politico, ao literato e jornalista
exímio, que os proprios adversários louvavam, fica­
ram as letras conterrâneas em elevado debito, por­
que lhes proporcionou sempre altos valores culturaes.
E’ o Instituto Historico que o demonstra e pro­
clama.
Ainda na Camara Federal, como representante
autentico do pensamento politico e do prestigio elei­
toral dos seus coestadanos, ele deixou, em discursos
memoráveis, que divulgou em brochuras diversas, as
joias da sua esclarecida mentalidade, sempre ao ser­
viço da Patria e do nosso Estado, em particular.
Hoje, na comemoração do martírio de Augus­
to Severo, seu dileto irmão, é ele ainda quem vem
dizer dos méritos da invenção, que, tragando inex­
oravelmente a vida do genial inventor, sagrou-o, po­
rém, para a imortalidade e para a gratidão dos pós-
teros.
Vamos escutar-lhe a palavra vibrante e sonora,
que saberá retirar dos recônditos de sua alma bem-
íazeja os tesouros acumulados da sua ternura, na
explanação do que fês Augusto Severo, seu irmão
pelo sangue e pela bondade; vamos receber, mais
uma vês, os efluvios de sua inteligência robusta,
que, na retilinea expansão de suas capacidades, tan­
tos bens derramou por sobre nós, seus governados,
que lhe agradecemos, de antemão, tudo quanto nos
proporcionou, desde que, na vida publica e social,
apareceu e atuou, até agora, quando se avísinha do
crepúsculo e da paz, a que tem jús, como um be-
nemerito de nossa querida Potiguarania”.
Em memória do indio potiguar
D. Antonio Felipe Camarão
Oração do dr. Nestor Lima, no Instituto
Historico, a 14 maio 1943.
Presados Consocios:
Meus senhores: Minhas Senhoras.
I—A valente nação potiguar, a forte aguerrida e
tribu amerindia, que pervagava desde as margens
do Rio Jaguaribe, até as margens setentrionaes do
Rio Paraiba, que não se poupava das guerras e as-
suadas contra os seus visinhos tapuias, ao norte, e
tabajáras, ao sul, estaria hoje em grande algazarra,
dançando e tocando borés, para comemorar a efe-
meride que passa e relembra o dia em que o Go­
verno de Hespanha, então dominante em Portugal e
na Colonia do Brasil, recompensara os esforços e a
bravura do Chefe imortal, D. Antonio Felipe Cama­
rão, assombro e orgulho nas lutas da brasilidade.
Parece-nos, ainda hoje, tresentos anos decorri­
dos, ouvir os sons alácres ou soturnos das inúbias e
os assentos extranhos da musica indígena, ao cele­
brar o magno acontecimento de 13 de junho de 1612,
quando era levado á pia batismal, na Egrejinha da
de Aldeia de São Miguel do Grajerú, o indio sem
par, já então chefe da valorosa nação e que torna­
va o nome e sobrenome de Antonio Felipe Camarão.
— 155 —

E os festejos continuariam no dia seguinte,


quando ele recebia, á face da Egreja, pelo intermé­
dio dos padres jesuítas Diogo Nunes e Gaspar de
Sampéres, aquela das companheiras, que mais lhe
dominara o coração bravío, e que fôra batisada por
Clara, o sonoro apelido que ainda rebôa nas vastas
matarias de nossa terra.
Mais imponente que a solenidade do seu batis­
mo e do seu casamento, a de hoje sobrepujaria em
brilho e em esplendores, si o Camarão redivivo, de
“tês baça”, ataviado de todas as suas vestes fidalgas
e ornado com as comendas que lhe foram concedi­
das, mas, o sou filho Antonio João Camarão não
soube conservar e as perdeu “por seu desatinos e
crueldades”, uqui estivesse conosco, presente á con­
sagração que lhe tributámos, quando se recorda a
data da sua mais alta investidura nas honras oficiaes
e nas recompensas jamais concedidas a homem da
sua origem e catadura.
E’ que, senhores, vae longe a epoca em que ta-
es fatos ocorreram e a memória humana, por mais
aguçada que seja, ou mais tenás que pareça, diminúe
o valor dos acontecimentos, segundo a lei do afas­
tamento, conforme nos demonstra a ciência do Es­
pirito.
Camarão, o indómito chefe potiguar, o guerreiro,
cujas façanhas, para Simão de Vasconcelos, “um só
tomo não bastaria para descrever”, ou aquele que,
na expressão do Pe. José de Moraes, “deu grande
socorro ás nossas armas na expulsão dos holande­
ses”, tornou-se para nós um símbolo de heroicidade
e de abnegação, desde que, cerca de 1628, com a sua
gente, despejou a aldeia natal e retirou-se para Per­
nambuco, a convite dos jesuítas, para tomar parte
ativa e insuperável, ao lado dos grandes guerreiros
do seu tempo, ao mando do general Matias de Al­
buquerque, a quem se apresentara em seu quartel
general, em 1630, na campanha gloriosa da expul-
1S6
são dos holandeses, que haviam invadido e domina­
do as capitanias, hoje conhecidas como do Nordes­
te Brasileiro.
Neste instante da vida nacional, quando as ame­
aças da repetição de igual invasão, por parte das po­
tências do Eixo, pairam sobre as nossas cabêças e
despertam novamente as energias adormecidas da
nossa gente, é justo e nobre recordar Camarão, o
simbolo dos potiguares, só por extranha criação, nas­
cido entre os Cahetés, seus irreconciliaveis inimigos,
no sólo de Pernambuco, como si fôra possivel admi­
tir tão incrível paradoxo, ou supína aberração.
Salve! Camarão, o Poti, o chefe potiguar, o ma­
rido de Clara, o pae de Antonio João!
Salve! o Guerreiro sem par da sua gente, o ali­
ado de Portugal e de Castela, na luta pela recon­
quista do solo amavel do Brasil.
II—O indio Poti, da nação potiguar, habitava a
sua “Aldeia velha”, ou Igapó, á margem ocidental do
Rio que lhe guarda o nome.
O logar exato do seu nascimento e a época
precisa em que isto se deu, são matéria ainda sujeita
a duvidas entre os eruditos pesquizadores do nosso
passado.
Elle se disse nascido no logar “Sery”. (?)
Ha quem diga que ele nasceu, no logar “Ceará”,
no atual municipio do Ceará-mirim, e que para mim,
é o mesmo “Sery”, já aludido; outros supõem, com
verosimilhança, que ele teve berço em Igapó, a “Al­
deia velha” de sua tríbu, a “aldeia do Camarão”, que
consta do mapa anexo ao Livro que dá “Rezão de
Estado do Brasil”, escrito em 1612.
Ali vivia e operava a sua gente; por aqueles
pagos, onde campeavam os seus irmãos e parentes,
deverá ter visto a luz do dia o celebrado heróe da
nação potiguar.
A data é outra razão de duvida: em 1612, era
batisado e casava-se; em 1614, na jornada do Mara-
— 107

nhão, ele ainda era o “jovem Camarão”; seu irmão


mais velho, Jacaúna, tinha, então, filho de 18 anos;
em 1647, a 23 de maio, quando depôs no processo
do Santo Oficio contra o Pe. Manoel de Moraes, di-
zia-se ele proprio “com 46 anos”.
Morreu, porém, em 1648, e não consta nem o
termo do seu obito nem a idade que teria a esse
tempo.
Mais uma coisa é, ao que parece, indiscutivel,
cada dia que passa:—é a naturalidade norte-riogran-
dense do excelso heróe potiguar.
Desde Cândido Mendes, que assim o afirmou,
no “Diário da Jornada do Maranhão”, até o Viscon­
de do Porto Seguro, retificando opinião anterior, que
afirmou ser norte-rio-grandense, o celebre indio, co­
mo afirmaram e provaram João Brigido, Codeceira
e outros insuspeitos Historiadores, inclusive Rocha
Pombo, desde dr. Luiz Fernandes, que, com benediti­
na paciência, grande erudição e lógica, afirmou, no
substancioso trabalho “A naturalidade de D. Antonio
Felipe Camarão”, ao ilustrado padre Dr. Soares de
Amorim, que esmagou, sem qualquer resquicio de
duvida, os argumentos em contrario, em vários escri­
tos que a nossa “Revista” registrou com ufanía, até o
nosso ilustre interprete oficial, Camara Cascudo, que,
em interessante depoimento, recolheu a tradição oral
de Extremos, em favor da tese em apreço, a opini­
ão desapaixonada dos escritores da Historia revéla e
consagra, como sendo legitimo norte-rio-grandense,
o fidalgo potiguar D. Antonio Felipe Camarão, o
maior dos heróes da guerra contra os holandeses,
até pelos proprios adversários reconhecido, inclusi­
ve o general Artischofsky, quando lhe atribuia “ter
ele abatido o orgulho” a um veterano das lutas da
Polonia, da Alemanha e da Flandres.
Mau grado dissentissem desse parecer Antonio
Joaquim de Melo, (1860—61), Francisco Augusto Pe­
reira da Costa (1904) e João Pandiá Calogeres, (1929)
que proferiu opinião no sentido de ser Pernambu­
cano o heróe referido, temos também em apoio do
ponto de vista norte-rio-grandense os valiosos tes­
temunhos de Domingos de Lorêto Couto, Cândido
Mendes, Domingues Codeceira, (que se dizia pernam­
bucano como quem mais o fosse, mas, não podia
negar a evidencia dos fatos), Afonso Celso, que as­
sim o declarou aos moços do grêmio literário “Al-
mino Afonso”, a 26 Junho de 1924, quando senten­
ciava que o “desembargador Luiz Fernandes levára
vantagem sobre o dr. Pereira da Costa, na memorá­
vel polemica”, e Capistrano de Abreu, como afirma­
va o mesmo Afonso Celso, (“Revista”, 1935—1937,
pag. 233).
Entre todos os argumentos, alhures e agora in­
vocados, para a demonstração da tése em foco, pa­
receu-me de singular interesse, na exegése dos pró­
prios dizeres do depoimento de Camarão, a que alu­
dia Capistrano de Abreu, como existente na Bibli­
oteca de Eduardo Prado, aquela referencia simpló­
ria que o valente soldado de S. M. Fidelissima faz
“á aldeia de São Miguel, e aos indios que haviam
feito a guerra contra o holandês, de qüem fôra com­
panheiro o respondente, por dois anos”.
Aí está a referencia esclarecedora que o chefe
indio fazia quanto ao Pe. Manoel Moraes por ele
conhecido “havia mais de desoito anos”, quando, a
mandado de seu superior, viéra ensinar a doutrina
na aldeia de Meribiti” (?).
A aldeia de São Miguel, que certamente o Ca­
marão visava, era, nem mais nem menos, a aldeia
de São Miguel do Guajirú, hoje Extremos, a partir
do vilamento dos indios, a 3 de Maio de 1760, pelo
desembargador Bernardo Coelho da Gama Vasco,
em missão especial de El-Rei, para execucão da car­
ta e alvará régios de 1755.
Certo é que outra foi, desde então, que não de
potiguares, a nação ‘Vilada” em 176o, constituída pe­
— 159 —

los “caboclos indios da lingua geral e tapuios da na­


ção dos Paiacús”, vindos da Serra de João do Vale,
quando ás sesmarias do Guajirú perdera os direitos
dominiaes a Companhia de Jesus, por força daque­
les decretos pombalinos.
Pois bem: a aldeia, a que Camarão pertencia,
dentro de sua memória, possivelmente, quase setu-
agenaria, era a longínqua aldeia dos jesuítas de Gua­
jirú, ou de “São Miguel”, aonde, por ordem de seu
superior, viéra o padre Moraes, ensinar a doutrina.
E de fato o Pe. Moraes demorou muito no Rio Grande.
Pelo menos, da discussão, em que se tem gas­
to inutilmente tanto papel e tanta tinta, não res-
sumbra outra “aldeia de São Miguel”, a que se pu­
desse atribuir a referencia do índio, que foi “o as­
sombro dos holandeses”, quando depunha, pouco an­
tes de morrer, no processo do padre Moraes.
Este é o argumento “aquiles”, que oponho aos
demais que se pretende fazer prevalecer, quanto á
naturalidade do chefe potiguar.
Pelo menos, é de levantar-se também um ou­
tro argumento, que me parece irrespondível.
Dís a tese pernambucana que o Camarão po­
tiguar, chefe da aldeia velha, ou Igapó, morrêra em
época ignorada. O outro, o pernambucano, faleceu
em Várzea, de febres palustres e está hoje sepulta­
do na Matriz da Várzea.
Mas, diz ainda a tese adversa: O Poti, ou An­
tônio Felipe Camarão, que se batisou em Guajerú, a
13 de junho 1612, que casou, no dia seguinte, com Cla­
ra, que seguiu em 1614, para o Maranhão a comba­
ter os francezes, não é o mesmo que se apresentou
a Matias de Albuquerque, no “Arraial do Bom Je­
sus”, em 1630, para combater os holandeses, porque
este nasceu em Sery, (?) calculadamente em 1601,
porque ele mesmo declarára, em 1647, ter então, 46
anos, e foi este que tomou parte e brilhou na cam­
panha nativa. Muito bem!
— íeo

Como explicar, então, que Antonio Felipe Ca­


marão, o chefe poti, de 1598, batisado com esse no­
me e sobrenome a 13 de junho de 1612, pelos mo­
tivos já explicados, déra ou tomára os mesmos e idên­
ticos prenome e nome ao outro Camarão, o da luta
contra o holandês, quando um não era filho do ou­
tro, e o potiguar tomou nome e apelidos, em 1612,
exatamente coincidentes com o do outro, que calcu­
lam nascido em 1601, em Sery (?) sem que se sai­
ba o como e porquê dessa dupla designação? E, ago­
ra, outra razão: porque ambos os Camarões, chefes,
foram maridos da mesma Clara e paes do mesmo
Antonio João?
Está bem claro que o Camarão é um só: o po­
tiguar, que, com os indios, mudou-se pora Per­
nambuco e lá se fês o heróe sem par. O mais é ba­
lela, que, por si desvanece e destróe.
Outros dirão da “unica personalidade” do che­
fe potiguassú; segundos fundar-se-ão ainda na im­
possibilidade do nascimento do indio potiguar nas
raias dos cahetés, seus acérrimos inimigos; terceiros
farão força com a “tradição oral” em prol da natu­
ralidade do Camarão, e quartos finalmente aludirão
á confusão entre os eruditos acerca do problema.
Calógeras, no parecer indicado como a palavra
de ordem na questão, pecou substancialmente, quan­
do se apegou á argumentação pernambucana, Io pa­
ra afirmar lisamente “que não compreendeu a ques­
tão, que lhe pareceu resultante de um anacronismo
logico”, e 2o para concluir, erroneamente, fundado
numa dupla personalidade, que atribúe a existência
de DOIS CAMARÕES: um, o de e outro, o
da guerra holandesa.
Tal argumento, que um simples equívoco do
Pe. Simão de Vasconcelos cometeu, originando con­
trovérsia, não é suficiente para destruir toda a
ta argumentação em sentido completamente oposto,
ue determina a de um e unico Ca-
— 161 —
marão, principal da nação potiguar, marido de Cla­
ra e heróe genuino da luta homerica pela expulsão
dos bátavos invasores.
IV -Verdade, porém, é que ha uma divergên­
cia entre os historiógrafos acerca do ano em que se
deu a investidura de Felipe Camarão nos altos co-
túrnos, em que hoje o reverenciamos.
Falam uns em 14 de maio de 1633; outros em
14 de maio de 1643.
Parece que esta é a data certa, porque dez an-
nos antes, em 1633, a luta contra os holandeses não
tinha ainda tomado o vulto e o desenvolvimento que
posteriormente assumiu. Em 1630, ele se apresentá-
ra com os seus a Matias de Albuquerque. Em 13
dezembro 1633, os holandeses assaltavam o nosso
baluarte dos Reis Magos e apoderavam-se da Capi­
tania do Rio Grande, arrancando ás mãos honradas
de Pedro Mendez de Gouveia a “praça que Sua Ma-
gestade lhe entregára e que só a ela, ou seu emissa-
i'io, deveria restituir”. >
Mas, não podia já, nessa epoca, ser recompen­
sado o heroico morubixába potiguar pelos seus “gran­
des serviços”, uma vês que, por certo, esses ainda
não haviam sido prestados.
Por conseguinte, a data certa é a que nos con­
grega, neste momento, pois, foi ha 300 anos, neste
dia, que o Soberano hespanhol lhe reconheceu os
grandes prestigios, condecorando-o e dando-lhe mer­
cês que a nenhum outro da sua egualha jamais ou-
torgára.
V—Vou concluir, meus amigos.
Sete cidades gregas disputavam encarniçadamen-
te a gloria da naturalidade de Homéro, o mágico po­
eta, o cégo divino. De Colombo, o descobridor da
America, varias cidades hespanholas e italianas dis­
putam a honra de ter-lhe sido o berço afortunado.
Correndo parelhas com tão excelsas creaturas,
era natural, ou forçoso mesmo que pairasse sobre o
— 162 —

nosso invicto Camarão a duvida, que ainda hoje as­


salta certos espiritos teimosos, mas, para nós, do Ins­
tituto Historico e Geográfico, mercê dos estudos e
afirmações documentadas de Luiz Fernandes, Pe.
Amorim e Camara Cascudo, alem daquelas outras
passagens de mestres da historia do Brasil, não ex­
iste a mais leve ou tenue incertêsa quanto ao pon­
to controvertido, porque o indio Poti, mais tarde D.
Antonio Felipe Camarão, chefe da nação potiguar,
heróe da guerra contra os flamengos, capitão-gene-
ral dos indios do Brasil, é, e não podia deixar de
ser, filho desta gléba, que tanto estremecemos, nas­
ceu nessas plagas que as áuras amênas bafêjam, so­
freu, lutou, viveu e amou dentro desses vales ver-
doengos e taboleiros loirejantes pelo seu trabalho e
de seus irmãos selvagens, até que, em 1628, a con­
selho dos jesuitas, retirou-se para Pernambuco, e
poude prestar á Patria Brasileira, os memoráveis ser­
viços, que hoje exaltámos, ungidos de saudade e de
reconhecimento ao imortal heróe potiguar.
Honra lhe seja!
ACTA DIURNA
Luis da Camara Cascudo
DISCURSO DE DOUTOR E CONVERSA DE POBRE
I

Pernambucanos e norte riograndenses disputam


a honra da naturalidade do indio potiguar dom An­
tonio Felipe Camarão.
Confesso não ter entusiasmo por esses prelios
infindáveis. Todos os documentos permitem os luxos
da dialética e as agilidades intelectuais da contro­
vérsia.
— 163 —
Até que apareça uma razão irrespondível, cor­
ram as falações inutilmente. Creio, entretanto, sem
meter-me na liça, que o chefe indígena era nosso
conterrâneo.
Creio por dois motivos.
Camarão era Potiguar e os potiguares consti­
tuiram na terra pernambucana, propriamente dita,
uma ocorrência e jamais uma permanência.
Indígena potiguar não zoneava no Pernambu­
co. O limite historico era o rio Paraíba.
Cito gente nova, insuspeita e culta, o pernam­
bucano prof. Estevão Pinto. OS INDÍGENAS DO
NORDESTE, p. 114-115, 1935. Localiza os Potigua­
res ou Potiguaras na região entre o Paraíba e o Ja-
guaribe. Apoiado em Loreto Couto, Aires do Casal,
padre Simão de Vasconcelos, Varnhagen, Fernandes
Gama, lembra que os Caetés viviam entre o S. Fran­
cisco e Itamaracá, ou entre aquele rio e o Paraíba.
Indica os Tabajaras como residindo entre as linhas
setentrionais de capitania de Itamaracá e o rio Pa­
raíba.
O mesmo já dissera, 356 anos antes, Gabriel So­
ares de Souza, no TRATADO DESCRITIVO DO
BRASIL em 1587. A pag. 23, cap. XII. “não é bem
que passemos já do rio da Paraiba, onde se acaba
o limite por onde reside o gentio Potiguar”. A pag.
33, basta enunciar o cap. XIX, QUE TRATA DE
QUEM SAO ESTES CAYTÉS, QUE FORAM MO­
RADORES NA COSTA DE PERNAMBUCO. O je­
suíta Fernão Cardim, TRATADOS DA TERRA E
GENTE DO BRASIL, p. 195, diz simplesmente:—
“Os primeiros desta lingua se chamão Pitiguaras se­
nhores da Paraíba, 30 léguas de Pernambuco”.
Assim ensinam os doutores. Potiguar só existe
no rio Paraíba para o norte. Antonio Felipe Cama­
rão era potiguar, chefe supremo de sua raça. Não
podia ter nascido fora das raias históricas de sua
tribo, ao derredor do Potengi, rio-dos-camarões.
A lição da cartografia antiga dirá o mesmo. Po­
tiguares vão até o Paraíba. E’ o que se vê no Cle-
mendt de Jonghe de 1640, o Guillaume de L’Isle, de
1703, o De Vaugondy de 1750, o Arrowsmith de
1817 e ainda o Brué de 1831.
Sem torcer nem deformar, falando claro e re­
to, homem potiguar não nasce ro Pernambuco.
O outro motivo fica para amanhã.
17—5—43.
II
Antonio Felipe Camarão era potiguar e esses
indígenas viviam do rio Paraiba para o norte. E’ o
que prova o discurso do doutor.
A conversa do pobre é diversa.
Antes de alguém duvidar ter o guerreiro Ca­
marão nascido fóra da sua zona, já existia, velha,
continua, serena, uma tradição oral, uma tradição
popular, anônima, teimosa, obstinada, tranquila em
sua verdade secular.
Nenhum outro Estado nordestino possue essa
versão tradicional, coletiva, viva entre homens e mu­
lheres, analfabetos, trabalhadores manuais, afirman­
do que dom Antonio Felipe Camarão é nosso con­
terrâneo.
Lá fora quem discute é o letrado, o historia­
dor, o bacharel, com o anel no fura-bôlo. Aqui é o
lavrador, a lavadeira, o jornaleiro, o carreiro, nasci­
dos e criados onde dizem ter nascido e se ter cria­
do o grande chefe indígena contra o holandês in­
vasor.
“Nihil fit sine ratione sufficienti”, ensinava o
defunto Genuense.
Estive a 25 de Julho de 1930 em Extremoz,
conversando com gente pobre, sem letras e sem im­
portância literaria. Conversei com Francisca Gracia-
na, filha de Antonio Felipe Camarão, conversei com
— 165
Ludgera Maria da Conceição, com Francisca Rodri­
gues de Bulhões, tres sexagenarias.
Todas falam no tuixáua ilustre, apontando de­
talhes sobre a familia colateral, e para onde emigrou.
Conserva-se inalterável o apelido Camarão.
Essa tradição oral fora constatada pelo Des. Lu-
is Fernandes em 19()4 e por mim em 1930.
Reuni todos esses informes, com documentação
que prova a tradicionalidade oral desse argumento
poderoso, e publiquei uma TRADIÇAO POPULAR
NORTE RIO GRANDENSE SOBRE DOM ANTONIO
FELIPE CAMARÃO, na revista do nosso Instituto
Historico, p. 37, Vols. XX1X-XXXI, Natal 1938.
Continuam vivendo, casando, morrendo, nas­
cendo, se batizando, os Camarões em Extremoz, num
raio extenso, denunciando justamente o trecho ou-
trora habitado pela indíáda, parente do batalhador.
Não é possível que esses homens e mulheres,
narrando fatos confidenciados pelos seus pais e avós,
analfabetos, incultos, residindo distante das cidades,
estejam atacados de simulação coletiva.
Discurso de doutor ainda se discute. Conversa
de pobre é argumento sensível, em sua grandesa psi­
cológica, profunda e comovedora.
Porisso, mesmo sem achar graça nesses tornei­
os, estou convencido de que dom Antonio Felipe Ca­
marão ó, como eu o sou, um legitimo “papa-gerimum”.
18—5—-43.
Disse a “A Republica”, de 15 de maio de 1943,
acerca da comemoração do tricentenário da nome­
ação de Antonio Felipe Camarão, no Intituto His­
torico :
“Conforme foi anunciado, realizou-se ontem, com
inicio ás 19,30 horas no Instituto Histórico e Geográ­
fico do Rio Gi'ande do Norte, a sessão magna co-
— 166 —
memorativa da passagem do têrceiro centenário da
investidura de Felipe Camarão no posto de capitão-
general dos indios do Brasil.
A grande reunião, sob a presidência do exmo.
sr. general Cordeiro de Farias, com a presença do re­
presentante do sr. Interventor Federal, major José
Bezerra, dr. Antonio Soares, presidente do Tribunal
de Apelação, dr. Alberto Maranhão, autoridades ci­
vis e militares, senhoras e senhoritas da nossa soci­
edade além de elevado numero de pessoas gradas,
decorreu num ambiente de máximo civismo e do
maior entusiasmo.
Aberta a sessão pelo exmo. sr. general Cordei­
ro de Farias, foi concedida a palavra ao dr. Nestor
dos Santos Lima, presidente do Instituto, que fez
uma exposição detalhada e expressiva sobre a per­
sonalidade de Felipe Camarão, ressaltando os moti­
vos que corroboram e afirmam ser o Rio Grande
do Norte o Estado-berço do herói da guerra contra
os holandeses.
Usou da palavra, em seguida, o dr. Luis da Ca-
mara Cascudo, orador oficial do Instituto, pronunci­
ando uma palestra brilhante e elucidativa sobre a
naturalidade de Felipe Camarão, explicando os for­
tes argumentos que o levaram, como a outros, a
proclamá-lo, segundo a sua própria e feliz expres­
são, como “um legitimo papa-gerimum”, baseando
suas afirmações em fatos e documentos incontestáveis.
Ambos os oradores foram muito aplaudidos.
Encerrando a sessão, o exmo. sr. general Cordeiro
de Farias congratulou-se com todos os presentes,
pela homenagem justa e sincera que se prestava a
Felipe Camarão”.
T E M IA POTIGUAR
Tocante solenidade na Praça André de Albu­
querque, na tarde de 19 agosto de 1943.
A Juventude Brasileira, sediada no Rio de Ja­
neiro e por iniciativa do major Jair Dantas Ribeiro,
natural deste Estado, promoveu uma imponente so­
lenidade, por todos os Estados do Brasil, para o fim
de obter de cada um deles cem (100) gramas da terra
comum, destinada a encher um grande vaso de bron­
ze a ser ofertado ao Chefe da Nação, na comemo­
ração da Independencia Nacional, a 7 de setembro
do mesmo ano.
Vale a pena registrar o fato tal como o apre­
ciou a imprensa local.
Disse a “A Republica”, de 19 agosto 1943:
“O Instituto Historico e Geografiico realiza ho­
je ás 16,30 uma cerimônia especial na Praça André
de Albuquerque, no local onde se acha o marco da
fundação da cidade.
Esta solenidade será feita por solicitação da se­
cretaria geral da Juventude Brasileira ao governo do
Estado e consiste na doação de cem gramas de ter­
ra norte-riograndense para compor o conteúdo de
um grande vaso de bronze que será ofertado ao exmo.
presidente da República, o qual conterá terra de to­
dos os Estados do Brasil.
A porção de terra a ser extraida hoje do solo
— 168

natalense, denominada “Terra Potiguar”, será depo­


sitada em uma urna e remetida por via aérea para
o Rio de Janeiro, de acordo com a solicitação aci­
ma referida.
A cerimônia terá caracter festivo, e para assis-
ti-la o Instituto Historico convida as autoridades
sociaes, publicas e privadas, a Juventude desta ca­
pital, escolas e associações que desejem dela parti­
cipar. Falará nessa ocasião um representante do Ins­
tituto Historico, além de outros oradores, tocando no
local uma banda de musica”.
Na edição imediata do mesmo jornal, foi regis­
trado o fato da maneira seguinte:
“Realizou-se, ontem, conforme fôra anunciado, a
solenidade da Terra Potiguar, sob os auspicios do
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte.
A cerimônia teve lugar ás lõ,3C horas, na Pra­
ça André de Albuquerque, com a presença de altas
autoridades e elevado numero de pessoas, destacan-
do-se o comparecimento do exmo. sr. Interventor
Federal, Desembargador João Dionisio Filgueira, dr.
Lélio Camara, Secretario Geral do Estado, interino,
professor Severino Bezerra, diretor do Departamen­
to de Educação, Desembargador Antonio Soares, pre­
sidente do Tribunal de Apelação do Estado, sr. Ma­
rio Lira, representante do Prefeito Municipal, sr.
Gilberto Moreira, diretor do Departamento da Fa­
zenda, dr. Paulo Viveiros, chefe do Gabinete da In-
terventoria, e o dr. Nestor Lima, presidente do Ins­
tituto Histórico.
Inicialmente foram separadas e pesadas cem gra­
mas de terra, que foi depositada em uma urna es­
pecial. Aquela porção de terra norte-riograndense
será enviada para o Rio de Janeiro a-fim-de ser in­
cluída no presente simbolico da unidade nacional a
ser ofertada ao Presidente Getulio Vargas.
— 169 —
Usou da palavra, nessa ocasião, o dr. Nestor
dos Santos Lima, em nome do Instituto Histórico,
fazendo entrega da terra ao Interventor Federal do
Estado, desembargador Dionisio Filgueira.
Em seguida, o chefe do executivo norte-riogran-
dense pronunciou expressivas palavras, congratulan­
do-se com o Instituto pelo brilho daquela cerimônia,
afirmando que faria o conteúdo daquela urna chegar
ás mãos do Presidente Vargas.
Tocou durante a solenidade da “Terra Potiguar”
a Banda de Musica da Fôrça Policial do Estado.
Da “A Republica” de 20 -8 —1943.

“Conforme fôra noticiado, realizou-se, ante-on-


tem, á tarde, na praça André de Albuquerque, nes­
ta capital, a patriótica solenidade da “Terra Potiguar”,
promovida entre nós pelo Instituto Historico e Ge­
ográfico, conforme solicitação dos promotores da fes­
ta da Mocidade Brasileira, no Rio.
Estiveram presentes, alem do exmo. sr. Interven­
tor Federal, altas autoridades estaduais e munici­
pais e elevado numero de pessoas. Dando inicio á
significativa cerimônia, foi colhida e pesada uma por­
ção de areia, a qual será enviada para o Rio de Ja­
neiro, numa urna especial e depositada no vaso de
bronze a ser entregue ao Presidente da Republica
juntamente ccm as de todos os Estados do Brasil.
Discursaram o dr. Nestor dos Santos Lima, pre­
sidente do Instituto Historico, e o exmo. des. João
Dionisio Filgueira, Interventor Federal.
Durante a solenidade da “Terra Potiguar” to­
cou a banda de musica da Força Policial do Estado”.
Da “A Ordem”, de 21—8—1943.
Alas das sessões do Instituto Historico
1941
Ata da 401a. sessão ordinaria a 23 de
março de 1941.
Na séde do Instituto Historico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, á rua da Conceição n. 622,
nesta cidade do Natal, capital do Estado do Rio Gran­
de do Norte, com a presença dos consocios Drs. Nes-
tor dos Santos Lima, presidente, Camara Cascudo e
Lemos Filho e desembargadores Silvino Beserra e
Felipe Guerra, sob a presidência do primeiro, ser­
vindo de secretários os snrs. Silvino Beserra e Ca­
mara Cascudo, foi aberta a sessão; lida e sem emen­
da, aprovada a ata da sessão anterior. Não houve
numero para as eleições marcadas, devendo ser pu­
blicada nova convocação.
No expediente, foram lidos várias comunicações
entre as quais a mensagem da Academia Sul-Rio-
Grandense de Letras, a proposito da visita ali feita
pelo presidente do Instituto, em setembro do ano
passado; a oferta pelo Comandante Edmundo Jor­
dão Amorim do Vale, de uma fotografia e dados bi­
ográficos do seu avô, engenheiro Ernesto Augusto
Amorim do Vale; oficio da sociedade de Medicina e
Cirurgia sôbre a sua continuação na séde do Insti­
tuto; telegrama do Embaixador Macedo Soares sô­
bre o centenário do Doutor Campos Sales; propos-
171 —

ta dos nomes dos snrs. Almirante Raul Tavares (Rio),


desembargador Henriques Fontes (Santa Catarina),
Professor Raul Gomez (Paraná), Drs. José Torres
de Oliveira e Carlos da Silveira (São Paulo), desem­
bargadores: Hunald Santa-flor Cardoso (Sergipe),
Olinto San-Martin, capitão Dioclecio de Paranhos An­
tunes e Ari Martins (Rio Grande do Sul) e dr. Mu­
rilo de Miranda Basto (Ministério das Relações Ex­
teriores), para socios correspondentes do Instituto
nessas cidades e Estados. O Instituto Historico, por
proposta do orador, dr. Camara Cascudo, prestou to­
cante homenagem á memória do consocio fundador,
coronel Joaquim Manuel, falecido a quinze do cor­
rente, mandando hastear a bandeira em funeral,
apresentar pezames á familia enlutada, assistir as
exequias e lançar na ata um voto de pezar. O pre­
sidente declarou que o consocio correspondente de­
sembargador Tomaz Salustino passou a efetivo, em
virtude de se achar residindo nesta capital. Foi apro­
vado o parecer da comissão de Fazenda e orçamen­
to sobre o balancete e contas do tesoureiro, dr. Le­
mos Filho. Achando-se sôbre a Mêsa, vinda de ante­
rior sessão, a proposta do Dr. Renato de Almeida
para socio corx-espondente, no Rio, a mesma, posta
em discussão, foi unanimemente aprovada.
Ata da sessão solene de aniversário e
posse da diretoria a 29 de março de
1941.
Na séde do Instituto Historico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, nesta cidade do Natal, Capi­
tal do Estado do Rio Grande do Norte, á rua da Con­
ceição n.o 622, com a presença dos snrs. doutores
Nestor dos Santos Lima, presidente, Camara Cascu­
do, Vicente de Lemos Filho, Felipe Guerra, Antonio
. Soares e Dionisio Filgueira, sob a presidência do prí-
— 172 —

meiro, secretariado pelos snrs. Antonio Soares e Le­


mos Filho, foi aberta a sessão; lida e, sem emenda,
aprovada a ata da sessão anterior. De inicio, foi inau­
gurado na galeria do Instituto o retrato do Engen­
heiro Ernesto Augusto Amorim do Vale, por oferta
do seu neto, comandante Edmundo Jordão Amorim
do Vale.
Expediente Foram lidos ofícios do Conselho
da ordem dos Advogados, Sindicato Grafico, Consula­
do do Chile Biblioteca do Estado do Maranhão, e
logo, em seguida, procedida a eleição que deu em re­
sultado á reeleição da atual diretoria que se impos-
sou imediatamente nos seus cargos:
Presidente, dr. Nestor dos Santos lima; 1° se­
cretario des. Antonio Soares; 2o secretario - dr. Ma-
tias Maciel Filho; orador dr. Camara Cascudo; te­
soureiro des. Lemos Filho; diretor da Biblioteca, Mu­
seu e Arquivo des. Felipe Guerra; 1° vice presi­
dente des. Dionisio Filgueira; 2o vice-presidente
des. Luis Lira; Comissão de Fazenda e orçamento
Drs. Varela Santiago, Tomaz Salustino e Joaquim
Inácio; Comissão de Estatutos e Revista Drs. Nes­
tor Lima, Camara Cascudo e des. Antonio Soares.
Ofertas “Imortais”, de José A. Camara Torres
e Dayl de Almeida; “Escola dos Maridos”, Moliére;
“Ester”, de Racine e “Revista do Instituto Historico
da Bahia”, vol. 66, 1940; um medalhão do Brigadei­
ro J. da Silva Pais, Prof. Walter Spalding. Novos
correspondentes foram eleitos e proclamados: dr. Jo­
ão Angione Costa, almirante Raul Tavares, desem­
bargadores Henrique Hunald Cardoso, drs.
Jose Torres de Oliveira, Carlos da Silveira, Olinto
San Martin, Capitão Dioclecio de Paranhos Antunes,
drs. Raul Gomez, Murilo de Miranda Basto e Ari
Martins (11). O presidente leu o relatorio do biênio
e do IX Congresso Brasileiro de Geografia, onde re­
presentou o Estado do Rio Grande do o Ins­
tituto Historico e a de O orador,
173

Camara Cascudo, fês o eiogio dos socios desapare­


cidos durante o biênio—dr. Flavio Maroja e coro­
nel Joaquim Manoel, tendo ainda o presidente evo­
cado, em sentidas expressões, os nomes dos funda­
dores drs. Vicente de Lemos, Olimpio Vital, Luis
Fernandes, Meira e Sá, Hemeterio Fernandes, Pedro
Velho, Ferreira Chaves, coronel Pedro Soares e ou­
tros já desaparecidos; e dentre os vivos, drs. Alber­
to Maranhão, Pinto de Abreu, Tavares de Lyra, Te-
otonio Freire e Antonio de Souza.
Em tempo: Declara-se que para os lugares de
suplentes de 2o secretario, adjunto de orador e ad­
junto de diretor da Biblioteca, que se achavam va­
gos, foram eleitos e empossados os snrs. Benicio Fi­
lho, Varela Santiago e Tomaz Salustino, respectiva­
mente.
Por motivos imperiosos, não se realizaram as
sessões ordinárias dos mezes de abril a Dezembro
de 1941.
O 2o Secretario,
(a) Matias Maciel Filho.

Ata da sessão solene do Instituto His­


tórico, em conjunto com a Academia
Norte-Riograndense de Letras, a 18 de
agosto de 1941.
Na séde do Instituto Historico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, á rua da Conceição n. 622,
presentes os consocios drs. Nestor dos Santos Lima,
Antonio Soares de Araújo, Camara Cascudo, Juvenal
Lamartine, Benicio Filho, Silvino Beserra, o repre­
sentante do exmo. sr. Bispo Diocesano, os exmos.
— 174 —

snrs. Interventor Federal e Secretario Geral do Es­


tado, diretores de Departamentos, magistrados e gran­
de numero de acadêmicos e inteletuais, foi aberta a
sessão solene do Instituto Historico e da Academia
Norte-Riograndense de Letras para recepcionar o
general Emilio Fernandes de Souza Doca, diretor da
Intendencia do Exercito e figura de marcante pro­
jeção no cenário intelectual do País. A cerimônia
foi presidida pelo sr. Interventor Federal, que ficou
ladeado pelo General Sousa Dóca, representante do
Sr. Bispo Diocesano, Presidente do Instituto Histo­
rico e da Academia Norte-Riograndense de Letras,
sr. des. Antonio Soares. Com a palavra o dr. Nes-
tor Lima pronunciou formosa oração em que re­
alçou, sobretudo, a satisfação e o orgulho com que
o Rio Grande do Norte acolhia o General Souza Dó­
ca, membro do Instituto Historico Brasileiro, da Fe­
deração das Academias de Letras e da Academia de
Letras de Porto Alegre, historiador notável e expres­
são de maior relevo na vida mental do Brasil. A
oração do presidente do Instituto Historico foi bas­
tante aplaudida. Seguiu-se com a palavra o home­
nageado que demonstrou ser perfeito conhecedor da
nossa terra e da nossa gente. Com a facilidade pe­
culiar ao seu reconhecido talento, evocou o nosso
passado literário e as suas figuras representativas,
como Nisia Floresta, Segundo Vanderlei, Auta de Sou­
za, Izabel Gondim e Ana Lima. Reportando-se ao
presente, salientou os nomes de maior destaque nas
lêtras, artes e ciências, ilustrando a sua palestra com
paginas memoráveis de diversos autores. A brilhan­
te resenha da vida literaria do Estado, embelesada
pelas altas virtudes de orador do General Souza Do­
ca, mereceu calorosos aplausos. Finalisando a sessão,
o sr. Interventor Federal exaltou a alegria do Rio
Grande do Norte ao acolher tão ilustre figura do
Exercito Nacional, a quem fez referencias justas e
enaltecedoras.
175

Ata da sessão magna e especial para


celebrar o “Dia da Cidade do Natal”,
a 25 de dezembro de 1941.
Na sóde de Instituto Historico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, á rua da Conceição n. 622,
realizou-se, segundo fôra anunciado, a sessão magna
do Instituto Historico e Geográfico do Rio Grande
do Norte, para o fim especial de celebrar o “Dia da
Cidade do Natal”, 25 de dezembro, e prestar home­
nagem, a que tem direito, a memória do insigne con­
terrâneo, Padre João Manoel de Carvalho, na pas­
sagem do 1° centenário do seu nascimento, nesta ci­
dade. Aquela hora, estavam presentes na séde do
Instituto, ultimamente beneficiado com passeio de
ladrilho hidráulico, de acordo com o meio-fio das
quatro ruas, em que se acha o prédio situado, lim-
pêsa geral externa e pintura de portas e janelas e
adornado com o Escudo das armas do Império e o
blóco do primitivo “pelourinho” da cidade do Natal,
ao tempo da Capitania, vários socios do mesmo so-
dalicio, drs. Nestor dos Santos Lima, presidente, de­
sembargadores João Dionisio Filgueira e Luis Lira,
vice-presidentes, drs. Lemos Filho, tesoureiro, Felipe
Guerra, Benicio Filho, Joaquim Inácio, bem como o
Padre Benedito Alves, em nome de D. Marcolino
Dantas, socio honorário, dr. Paulo de Viveiros, pre­
sidente do Departamento Administrativo, des. Xavi­
er Montenegro, Joaquim Finheiro, moços estudantes
e outras pessoas, teve inicio a sessão, tomando luga­
res á mêsa o presidente do Instituto, ladeado pelos
secretários, drs. Benicio Filho e Lemos Filho, o re­
verendo representante do Sr. Bispo e o dr. Joaquim
Inácio, prefeito da Capital.
Declarando aberta a sessão magna, com o nu­
mero legal de socios e em vista dos motivos da sua
convocação, o presidente convidou o des. Dionisio
Filgueira a assumir a presidência dos trabalhos, a-fim-
— 176 —

de poder fazer a justificação da solenidade, em fal­


ta dos oradores convidados. Foi, em seguida, lido o
expediente que constou, além de vários assuntos, de
dados biográficos dos snrs. drs. Angione Costa, Jo­
sé Carlos Maria Dias Torres de Oliveira, Ari Peixo­
to Martins, Murilo de Miranda Basto e Carlos da Sil­
veira. Terminada a leitura do expediente, foi reque­
rido um voto de profundo agradecimenio aos conso-
cios benemeritos drs. Aldo Fernandes e Tobias Mon­
teiro; ao primeiro, por ter mandado executar os ser­
viços externos do passeio, em toda a róda do pré­
dio, séde do Instituto, com a limpêsa externa e pin­
tura, ora concluídos, gesto expontâneo e independen­
te de solicitação do Instituto, que muito o beneficiou,
e ao segundo, por ter ofertado três estantes de cé-
dro, com porta de vidraça corrediça e bôas dimen­
sões, para o serviço da biblioteca e já devidamente
instaladas na sala de leitura do Instituto.
O autor da proposta, dr. Nestor Lima, justifi­
cou-a e pediu que ficasse inserta na ata do dia a
gratidão do Instituto aos seus já benemeritos con-
socios. O des. Felipe Guerra requereu, por sua vês,
um voto de profundo pezar pelo falecimento do ve­
nerando consocio dr. Augusto I eopoldo R,aposo da
Camara, ocorrido no dia onze do corrente, na capi­
tal federal, fazendo a justificação da proposta em
frases de grande sentimento. Ambas as propostas fo­
ram unanimemente aprovadas. Terminando o expe­
diente, o sr. presidente concedeu a palavra ao dr.
Nestor Lima, em substituição aos confrades drs. Ca­
mara Cascudo e Juvenal Lamartine, para falar so­
bre os motivos da reunião. Durante cêrca de uma
hora, o orador da solenidade discorreu sobre o “Dia
da Cidade” 25 de dezembro, quer seja a data resul­
tante do fato de ter sido avistada a embocadura do
Rio Potengi, pela esquadra colonisadora de Masca-
renhas Homem, segundo o Padre Serafim Leite, S.
J., em obra recente, quer do fato da fundação ofi­
177

ciai da urbs, pelo Capitão-mór da Fortaleza dos Reis


Magos, Jeronimo de Albuquerque, em cumprimento
da Carta Regia, que mandou atender aos reclamos
das visinhanças e fazer conquistar o torritorio, que
fôra dado, em donataría, a João de Barros e Aires
da Cunha e caíra em comisso, voltando ao reguen-
go. O dr. Nestor Lima demonstrou que Natal nasce­
ra já cidade e nunca fôra vila ou povoação. As da­
tas de sesmarias catalogadas no auto de repartição
das terras do Rio Grande, em 1614, pelo capitão-mór
de Pernambuco —Alexandre de Moura, referiam já
que os terrenos concedidos a particulares em Natal
ficavam, via de regra, no Sitio Demarcado da Cida­
de. A demarcação do terreno urbano foi, portanto,
o passo inicial da cidade e as duas cruzes, postas em
situação topográfica, ao norte e ao sul da Nova Ci­
dade (uma das quais é a Santa Cruz da Bica), de­
monstraram a consagração oficial da cidade do Na­
tal, com o nome carateristico do dia da sua criação,
o que se completou com a elevação do pelourinho,
que é o documento de pedra existente em frente á
séde social. Por tais motivos, o Instituto resolvera,
por iniciativa dele orador, celebrar todos os anos o
“Dia da Cidade”. Encerrada esta parte, o dr. Nestor
Lima passou a tratar do centenário do Padre João
Manoel de Carvalho, nascido em Natal a 26 de de­
zembro de 184! e falecido em Amparo, Estado de
São Paulo, no dia 30 de maio de 1899. A figura no­
tável do sacerdote político foi perfilada em plena
pujança do seu espirito e da sua bravura civica. Cri­
ança e adolescente, em Natal, teve a existência dos
seus coetâneos, aprendendo a lêr e compor em ti­
pografia,para editar o “Recreio”, periodico de sua
lavra. Adotando a carreira eclesiástica, ordenou-se
no Maranhão e com algumas paradas em freguesi­
as do interior da então Província, dedicou-se á po­
lítica, militando nas fileiras do Partido Conservador,
de que foi figura singular e de inconfundível valor,
— 178 —

chegando mesmo a chefia-lo, ao par de outros leaders


como Tarquinio de Souza e Bonifácio Camara. Fez
parte da Assembléia Provincial, em vários biênios;
eleito Deputado Geral á Camara Temporária do Im­
pério, teve real atuação no parlamento e na impren­
sa partidaria da Côrte, pleiteando e conseguindo gran­
des serviços para o Rio Grande do Norte, entre os
quaes a Estrada de Ferro de Natal a Nova Cruz e
o titulo de Barão da Serra Branca para o Coronel
Felipe Neri de Carvalho e Silva. Mas, a sua maior
atuação foi aquela em que, ao apresentar-se á Ca­
mara Temporária, o Gabinete de sete de Junho de
mil e oitocentos e oitenta e nove, chefiado pelo vis­
conde de Ouro Preto, o Padre João Manoel, em dis­
curso memorável, na sessão de onze de Junho do
mêsmo ano, atacou, de frente, a situação liberal que
se instalava, profligou os erros da politica monár­
quica e demonstrou que a Republica estava feita nos
corações dos brasileiros, só lhe faltando a consagra­
ção das ruas, discurso, ao fim do qual, êle disse que
não tardaria a ser ouvido, por todos os recantos da
Patria Brasileira, o grito unisono de “Abaixo a Mo­
narquia e Viva a Republica”. Perorando com a lei­
tura de alguns trechos do celebre discurso, median­
te previa, consulta ao seleto auditorio, o orador ex­
altou a grande efemeride do Io centenário do notá­
vel politico e sacerdote que, no crepúsculo da vida,
recolheu-se ao seu sagrado ministério, em Amparo,
e publicou as crônicas e memórias de sua trajectoria
politica no livro, que estava sôbre a Mêsa, “Remi-
niscencias sôbre Vultos e Fatos do Império e da Re­
publica”. O orador foi muito cumprimentado e, re­
assumindo, a convite do preclaro des. João Dionisio
Filgueira, a presidência da Casa, facultou a palavra,
agradeceu a presença dos que espontaneamente se
associaram àquela homenagem e encerrou a sessão.
— 179 —

1942
Ata da sessão extraordinária para re­
cepção do major Jonatas de Morais
Correia, a 25 de fevereiro de 1942.
Aberta a sessão, o sr. presidente convidou para
tomarem assento á Mêsa o Exmo. Sr. General Cor­
deiro de Farias e o Major Jonatas de Morais Cor­
reia, do Instituto de Geografia e Historia Militar do
Brasil, portador de u’a mensagem desse Instituto pa­
ra o Instituto Historico e Geográfico do Rio Gran­
de do Norte. Em seguida, o presidente leu a mensa­
gem referida, que lhe foi entrege por aquele ilustre
oficial, e terminada a leitura deu a palavra ao dou­
tor Camara Cascudo, orador do Instituto, para sau­
dar o ilustre visitante. O dr. Camara Cascudo pro­
nunciou u’a bela oração saudando o representante
do Instituto de Geografia Militar do Brasil, pôs em
relêvo os serviços prestados ao Brasil por aquela be-
nemerita Instituição e disse da imensa satisfação que
o Instituto Historico do Rio Grande do Norte sen­
tia recebendo a visita de figuras de tanto relêvo mi­
litar, que aqui se encontravam, naquela ocasião. Ter­
minada a saudação do dr. Camara Cascudo, que foi
aplaudida por uma demorada salva de palmas, usou
da palavra o sr. Major Jonatas de Morais Correia
que, numa brilhante oração, referiu-se ao Rio Gran­
de do Norte, evocando o seu passado historico, e
pondo em relevo feitos do heroísmo e abnegação de
filhos da terra potiguar. Continuando o sr. Major Jo­
natas agradeceu, em nome do Instituto de Geogra­
fia Militar do Brasil, os elogios que lhe foram feitos
pelo orador desta casa e, sensibilisado, manifestou a
sua gratidão pela forma honrosa com que fôra rece­
bido nesta noite pelo Instituto Historico do Rio Gran­
de do Norte. As ultimas palavras do discurso do Ma­
180 —

jor Jonatas Correia foram abafadas por prolongada


salva de palmas. Falou, ainda, o dr. Nestor dos San­
tos Lima, que, em magnífico improviso, fês uma sin-
tese da vida histórica do Rio Grande do Norte, ci­
tando nomes de seus ilustres filhos que se sacrifica­
ram pela causa da liberdade. Depois, agradecendo a
gentilesa de quantos compareceram á sessão, acen­
tuou o especial agrado do Instituto, pela honrosa vi­
sita do exmo. sr. General Cordeiro de Farias e de
outras altas patentes do exercito nacional. Foi en­
cerrada a sessão.
Ata da sessão solene em comemoração
ao centenário do nascimento do dou­
tor Luis Antonio Ferreira Souto, a 18
de março de 1942.
Presentes os consocios doutor Nestor Lima,
presidente, dr. Aldo Fernandes de Melo, Interventor
Federal interino, desembargadores Antonio Soares
de Araújo, Dionisio Filgueira, Silvino Bezerra e Fe­
lipe Guerra, doutor Luis Antonio, familias autorida­
des federais, estaduaes e municipais, foi aberta a
sessão pelo dr. Nestor Lima, que convidou para pre­
sidir os trabalos, o dr. Aldo Fernandes, Interventor
Federal interino. Tomou também assento á Mêsa
a convite do presidente, o mons. João da Mata, vi­
gário geral da Diocese e representante do exmo. Sr.
Bispo, D. Marcolino Dantas. Serviram de secretários
os snrs. desembargadores Antonio Soares e Silvino
Beserra. Foi dada, então a palavra ao orador oficial
da solenidade, dr. Nestor dos Santos Lima, que pro­
nunciou um belo discurso em torno da personalida­
de do dr. Luis Souto, enaltecendo a sua figura e os
sentimentos que o fiseram um dos homens mais po­
pulares e queridos da cidade, no seu tempo. Ao ter­
minar o discurso do dr. Nestor Lima, reboou pela
181 —

sala uma calorosa salva de palmas. Encerrando de­


pois a sessão, o dr. Aldo Fernandes congratulou-se
com o Instituto pela iniciativa de render homena­
gem a um conterrâneo que tanto se empenhára pe­
lo progresso e pelo desenvolvimento cultural da nos­
sa terra.
Ata da sessão solene do Instituto His­
tórico, a 21 de março de 1942.
Presentes os snrs. dr. Nestor Lima, presidente,
dr. Aldo Fernandes, Interventor Federal interino no
Estado, Contra-Almirante Ari Parreiras, General Cor­
deiro de Farias, os consocios desembargadores An-
tonio Soares, Dionisio Filgueira, Felipe Guerra e Sil-
vino Beserra e drs. Luis Antonio, Camara Cascudo,
Eloi de Souza e Joaquim Inácio e os drs. Eurico Mon-
tenegro e Adalberto Amorim, juizes de Direito da
3a e la varas desta Capital, respectivamente, Cel.
Luis Tavares Guerreiro e Cel. Peri Bevilaqua, famí­
lias e pessoas gradas, foi aberta a sessão pelo dr.
Nestor Lima que convidou o Sr. Interventor Fede­
ral para presidir a sessão e os snrs. Contra-almiran­
te Ari Parreiras e General Cordeiro de Farias para
tomarem assento á Mêsa. O sr. dr. Aldo Fernandes
declarou que o Instituto Historico do Rio Grande do
Norte resolvera reunir-se hoje para ouvir a pala­
vra do ilustre militar e homem de letras, Major Jo-
nathas Correia, membro do Instituto de Geografia e
Historia Militar do Brasil, o qual iria pronunciar uma
conferência sobre o tema “Pôrto Alegre em Curu-
paiti”, que fôra anunciada pelos jornaes da terra.
Em seguida, S. excia, deu a palavra ao orador ofi­
cial do Instituto, dr. Camara Cascudo, para faser a
apresentação do orador. O sr. Camara Cascudo disse,
então, dos vastos conhecimentos do Major Jonatas
Correia, sobre Historia e Geografia, do seu alto va­
lor inteletual e da sua elevada cultura mititar. Ter­
— 182 —

minou declarando que os presentes iam experimen­


tar praser bem agradavel, ouvindo a conferência de
um dos mais ilustres e estudiosos oficiaes do glo­
rioso exercito nacional. As ultimas palavras de dr.
Camara Cascudo foram interrompidas por estrepi-
tosa salva de palmas. E’, então, dada a palavra ao
sr. Major Jonatas Correia que, primeiramente, agra­
dece ao Instituto a gentílesa das palavras do seu
orador oficial, palavras que, diz o Major Jonatas
Correia, sensibilisaram profundamente. Em segui­
da, dá começo á leitura da sua brilhante conferên­
cia, sobre “Porto Alegre em Curupaití”, explicando,
com minúcias de pesquisas históricas, a ação da­
quele bravo general que, em diversas batalhas da
maior importância, comandou o exercito brasileiro
nas operações contra as forças de Solano Lopes. A
conferência do Major Jonatas Correia foi muito aplau­
dida, tendo sido o conferencista cumprimentado por
todas as pessoas presentes.
Ata da sessão solene do 40° aniversá­
rio a 29 de março de 1942.
Na séde do Instituto Historico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, nesta cidade do Natal, Capi­
tal do Estado do Rio Grande do Norte, á rua da
Conceição n. 622, foi aberta a sessão solene do mes­
mo Instituto, para comemorar a passagem do seu 40°
aniversário. As quatorze horas, achavam-se presentes
na séde social, diversos socios, ilustres cavalheiros e
familias da sociedade natalense. Presidiu os traba­
lhos o dr. Nestor Lima, presidente efetivo, que con­
vidou a tomarem assento á Mêsa o dr. Américo Cos­
ta, Secretario Geral do Estado, dr. Joaquim Inácio,
prefeito da Capital, desembargador Antonio Soares,
lo secretario e Major Jonatas de Morais Correia, do
Instituto de Historia e Geografia Militar do Brasil.
Declarados os fins da sessão, que era celebrar a pas­
— 183

sagem do 40» aniversário da fundação, foi lido pe­


lo Io secretario, desembargador Antonio Soares, o
expediente: um oficio da sociedade de Medicina e
e Cirurgia e o parecer da Comissão de Fazenda e
Orçamento aprovando as contas da Tesouraria, no
exercicio de 1941, o qual foi aprovado. Em seguida,
pelo dr. Joaquim Inácio foi lida a ata da fundação
do Instituto, a 29 de março de 1902. O presidente
comunicou á casa que recebera da parte de Mada-
me Baroncio Guerra, que é a eximia artista patricia,
d. Neusa Guerra, gentil oferta de um quadro a oleo,
calcado sobre motivo de Barleus, representando o
“Forte dos Reis Magos”, ao tempo da invasão holan­
desa, em 1633. Declarou, então, inaugurado o belo
presente e agradeceu, em nome do Instituto, que se
honrava sobremaneira. Facultada a palavra aos pre­
sentes, falou, então o dr. Nestor Lima, em falta do
orador oficial do Instituto. Declarou fazer o elogio
dos Consocios desaparecidos no ano, ora findo, e que
eram os snrs. desembargador Sebastião Fernandes,
os drs. Vale Miranda e Augusto Leopoldo Raposo
da Camara, nesta cidade, em Juiz de Fóra e no Rio
de Janeiro, e cujos traços biográficos traçou sucinta­
mente, enaltecendo o valor mental e cultural de ca­
da um dêles. Traçou finalmente, a apologia dos fun­
dadores do Instituto, dos presidentes seus predeces-
sores e mais ilustres consocios sobreviventes, ou já
desaparecidos, demonstrando os grandes serviços que
prestaram á instituição histórica. Com os agradeci­
mentos a todos os presentes, autoridades, familias e
cavalheiros, que se associaram àquela comemoração,
encerrou a sessão.
Ata da 402a sessão ordinaria a 16 de
maio de 1942.
Na séde do Instituto Historico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, á rua da Conceição n. 622,
— 184 —

com a presença dos socios, doutores Nestor Lima,


presidente, Antonio Soares, Benicio Filho, Varela
Santiago, Joaquim Inácio e Camara Cascudo, sob a
presidência do primeiro, servindo de secretários os
snrs. desembargadores Antonio Soares e Benicio Fi­
lho, foi aberta a sessão, lida, posta em discussão e,
sem emenda, aprovada a ata da sessão anterior—
Expediente: Constou da leitura de uma proposta dos
snrs. Camara Cascudo, Antonio Soares e Benicio Fi­
lho, do nome do Major Jonatas de Morais Correia
para o quadro dos “Socios Correspondentes” do Ins­
tituto: A ’ ordem do dia. Não havendo outra matéria
sobre a Mêsa, para ser lida, o presidente anunciou
a Ordem do dia. Em seguida, o presidente falou so­
bre o abandono em que se encontrava a Fortalêsa dos
Reis Magos. S. Excia. declarou que era necessário to­
mar iniciativa em beneficio da conservação do mo­
numento historico de valor inestimável, que é o alu­
dido Forte e pediu aos seus pares que alvitrassem
medidas sobre o assunto. Em seguida, facultou a pa­
lavra a quem sobre o assunto se quisesse manifes­
tar. Falaram os snrs. Camara Cascudo, Antonio So­
ares e Benicio Filho. Encerrada a discussão, ficou as­
sentada a nomeação de uma comissão para se en­
tender a respeito com o snr. General Cordeiro de
Faria, Comandante da 2a Brigada de Infantaria, se­
diada nesta Capital, ficando essa comissão composta
de todos os socios presentes a esta sessão. Após, o
presidente pôs em discussão e votação a proposta do
nome do Major Jonatas de Morais Correia, para so-
cio correspondente do Instituto, sendo a mesma una­
nimemente aprovada. Apurado o resultado da vota­
ção da proposta, o presidente congratulou-se com o
Instituto pela aceitação do Major Jonatas de Morais
Correia, no seio do Instituto, tendo tecido louvo­
res á atitude do ilustre militar, como soldado, como
patriota e como historiador. Nada mais havendo a
tratar, foi encerrada a sessão.
— 185 —

Ata da sessão solene da posse do no­


vo socio Major Jonatas de Morais Cor­
reia, a 26 novembro 1942.
Na séde do Instituto Historico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, á rua da Conceição n. 622,
foi aberta a sessão solene do Instituto Historico e
Geográfico, para dar posse ao seu novo socio, major
Jonatas de Morais Correia, pelo presidente, dr. Nes-
tor dos Santos Lima, que, declarando os motivos da
sessão, convidou o socio benemerito, dr. Aldo Fer­
nandes R. de Melo, Interventor Federal interino, para
dirigir os trabalhos, o qual, assumindo a presidência,
deu a palavra ao novo socio, Major Jonatas Correia
para fazer o discurso de recepção, sobre a Fortalêsa
dos Reis Magos. Durante mais de quarenta minutos,
o ilustre historiodor prendeu a atenção do seleto au­
ditório com a sua erudita e bem feita conferência,
em que demonstrou profundos conhecimentos da his­
toria Geral do Brasil e, particularmente, do Rio Gran­
de do Norte, aprofundando as questões correlatas
com a conquista e defêsa do nosso território e fa-
sendo destacar o valor da edificação militar, posta á
fós do Potengi, cujas tradições gloriosas enalteceu num
verdadeiro hino de civismo e de amor á terra po­
tiguar. Finda a conferência, foi muito aplaudido o
ilustrado conferencista. Em seguida, o Presidente deu
a palavra ao dr. Nestor Lima que, em seguras ex­
pressões, manifestou a alegria do Instituto, com a
posse do novo consocio, agradecendo-lhe a honra do
seu trabalho e, ao mesmo tempo, ás autoridades mi­
litares e civis e exmas. familias, a honra do seu com-
parecimento, que considerava um estimulo e um con­
forto, especialmente ao sr. Interventor Federal, a quem
o Instituto devia grandes serviços e benefícios.
Não houve sessões ordinárias, no Instituto Ilis-
186 —

torico, por motivos imperiosos, nos mêses de Junho


a dezembro de 1942.
O 2o Secretario,
(a) Maíias Maciel Filho.
1943
Ata da sessão solene do 41° aniversário
a 29 de março de 1943.
Na séde do Instituto Historico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, á rua da Conceição n. 622,
nesta cidade do Natal, Capital do Estado do Rio Gran­
de do Norte, foi aberta a sessão, sob a presidência
do sr. dr. Nestor Lima. presidente, secretariado pe­
los desembargadores Antonio Soares, Io Secretario e
Silvino Bezerra. Aberta a sessão, o presidente con­
vidou para presidi-la o exmo. sr. dr. Aldo Fernan­
des, Interventor Federal interino, convidando igual­
mente para formarem a Mêsa, os representantes dos
exmos. snrs. Almirante Ari Parreiras e General Cor­
deiro de Farias. Formada a Mêsa, o dr. Aldo Fer­
nandes deu a palavra ao dr. Nestor Lima, presiden­
te do Instituto Historico, para a leitura do Relatorio
das atividades da diretoria no ultimo biênio. No seu
relatorio, o dr. Nestor Lima referiu-se ás iniciativas
do Instituto, tendo palavras de especial agradecimen­
to para o governo do Estado e chefes da adminis­
tração, pelo auxilio e atenção que, até hoje, têm dis­
pensado ao Instituto Historico. Em seguida, o dr.
Aldo Fernandes deu a palavra ao dr. Camara Cas­
cudo que fês a apresentação do Cel. Timóteo Ma­
chado, tendo primeiro palavras de carinhosa mani­
festação ao dr. Alberto Maranhão, presente á sessão,
que o orador considerou o socio n. 1 do Instituto.
Após a oração do dr. Camara Cascudo, o Cel. Timó­
— 187 —

teo Machado, com a sua autoridade de um dos me­


lhores artilheiros do nosso exercito e profundo co­
nhecedor de fortificações na historia do Brasil, pro­
nunciou a sua palestra sobre o “Forte dos Reis Ma­
gos”. Sem abusar dos seus conhecimentos técnicos,
o ilustre militar pôude fazer um estudo completo so­
bre o velho Forte, focalisando-o sob diversos aspec­
tos, desde os motivos seguidos na sua construção,
pelo Pe. Gaspar de Sam Péres, até a sua queda, de­
pois de heróica resistência, sob o comando de Pedro
Mendez de Gouveia, contra os invasores holandeses.
As sublimes palavras do cnoferencista foram aba­
fadas por prolongada salva de palmas. Por fim, pe­
dindo a palavra, o dr. Alberto Maranhão falou aos
presentes, agradecendo as referencias elogiosas que
recebêra do dr. Camara Cascudo, fazendo comentá­
rios sobre a vida e função deste Instituto Historico.
Encerrando a reunião, á qual compareceram os re­
presentantes dos exmos. snrs. Almirante Ari Parrei­
ras e General Cordeiro de Farias, autoridades, civis
e militares, exmas. senhoras e senhorinhas da nossa
sociedade, membros do Instituto Historico e da sua
diretoria, o snr. Interventor Federal interino congra­
tulou-se com a direção do Instituto Historico, pelo
brilhantismo da solenidade comemorativa do seu 41
aniversário de fundação e parabenisou o Cel. Timó­
teo Machado pela brilhante conferência que pronun-
ciára. S. excia. concluiu agradecendo a todos quan-
te abrilhantaram á sessão com suas presenças, espe­
cialmente ás exmas. senhoras e senhorinhas.
Ata da Assembléia Geral de eleição,
no dia 4 de abril de 1943.
Na séde do Instituto Historico e Geagrafico do
Rio Grande do Norte, á rua da Conceição n. 622,
nesta cidade do Natal, Capital do Estado do Rio Gran­
de do Norte, presentes os socios snrs. drs. Nestor dos
Santos Lima, presidente, desembargadores Antonio
Soares, Felipe Guerra, Dionisio Filgueira e Silvino
Beserra e drs. Matias Maciel e Lemos Filho, foi aber­
ta a sessão, em 2a. convocação, conforme fôra anun­
ciado pelo orgão oficial do Estado “A Republica”.
Expediente.—Foi lido o parecer da Comissão de Fa­
zenda e Orçamento, favoravel á aprovação das con­
tas apresentadas pelo tesoureiro do Instituto, refe­
rentes ao ano de 1942: Ã ordem do dia. Depois da
leitura de diversos oficies, passa-se á ordem do dia—
O presidente declara que a sessão tem por fim pro­
ceder a eleição da Diretoria e Comissão Perma­
nentes para o biênio a terminar em 29 de Março de
1945. Em seguida, procedidas as eleições e apurado
o resultado, verificou-se terem sido eleitos os se­
guintes snrs.: Presidente, Dr. Nestor dos Santos Li­
ma (reeleito); 1° Secretario, desembargador Silvino
Beserra; 2o Secretario, dr. Lemos Filho; Orador, dr.
Camara Cascudo (reeleito); Tesoureiro, Dr. Varela
Santiago; Diretor da Biblioteca, Desembargador Fe­
lipe Guerra; l.o e 2.o Vice-Presidentes, desembarga­
dores Dionisio Filgueira e Luis Lira (reeleitos); para
a Comissão da “Revista”, Srs. Nestor Lima, Camara
Cascudo e Antonio Soares (reeleitos); para a Comis­
são de Fazenda e Orçamento, srs. Tomaz Salustino,
Horacio Barreto e Luis Antonio. Terminada a elei­
ção, teve lugar a posse da nova direroria e Comis­
sões Permanentes.—Na ordem do dia, foi discutido
e aprovado o parecer da Comissão de Fazenda.
Ata da sessão extraordinária a 9 de
maio de 1943.
Ás quinze horas, foi aberta a sessão, sob a pre­
sidência do sr. dr. Nestor Lima, presidente, servindo
de secretários, respectivamente, os snrs. drs. Silvino
Bezerra e Vicente de Lemos. Expediente.—Não hou­
— 189 —
ve expediente. Achavam-se presentes á sessão os
snrs. doutores Nestor Lima, Antonio Soares, Silvino
Beserra, Varela Santiago e Lemos Filho. Anunciada
á Ordem do dia e sendo explicado o motivo da pre­
sente sessão pelo presidente, que era comemorar a
catorze do corrente, a passagem do 3.° centenário da
nomeação do indio potiguar, D. Antonio Felipe Ca­
marão, para capitão-general dos indios do Brasil, e
a forma pela qual devia ser celebrado esse aconte­
cimento, o Instituto Historico, depois de animada dis­
cussão, resolveu realisar nesse dia, ás 19,30 horas,
uma sessão magna comemorativa, devendo ser feito
convite pela imprensa a quantos queiram homena­
gear o celebre Norte-Riograndense, da expulsão dos
holandeses.
Ata da sessão magna comemorativa
do 41.° aniversário do falecimento de
Augusto Severo a 12 maio 1943.
Encontravam-se presentes no Teatro “Carlos Go­
mes” as mais altas autoridades do Estado, destacan­
do-se o comparecimento dos exmos. snrs. Interven­
tor Federal, Rafael Fernandes, General Cordeiro de
Farias, Secretario Geral do Estado, dr. Aldo Fernan­
des, mais autoridades do exercito, da marinha e das
forças norte-americanas, além de grande assistência
que enchia literalmente a nossa mais antiga casa de
diversões. Dando inicio á reunião, falou o dr. Nes­
tor Lima, presidente do Instituto Historico e Geogra-
fieo do Rio Grande do Norte, que pronunciou um
discurso, disendo dos motivos da sessão. Referiu-se
o orador á vida e á obra de Augusto Severo em pa­
lavras que mereceram longos aplausos da grande
assistência. Em seguida, o dr. Alberto Maranhão ini­
ciou a sua anunciada conferência sobre Augusto Se­
vero, fazendo um estudo completo sobre aquele seu
irmão, a quem a humanidade deve um dos maiores
— 180 —

passos do seu progresso. Em sua conferência, o dr.


Alberto Maranhão apresentou uma farta documenta­
ção sobre o problema da aeronautica, em desenvol­
vimento, e a decisiva influencia que sobre êle exer­
ceu o invento de Augusto Severo. O conferencista
teve ainda oportunidade de referir-se a aspectos Ín­
timos da vida de Augusto Severo, apresentando um
trabalho que mereceu as melhores atenções dos pre­
sentes. Ao terminar a sua palestra, o dr. Alberto Ma­
ranhão recebeu prolongadas palmas. Após, teve lu­
gar u’a audição do Curso Valdemar de Almeida, que
valeu por mais uma vitoria e constituiu ainda par­
te brilhante das comemorações, com que o Institu­
to Historico e Geográfico do Rio Grande do Norte
assinalou o transcurso de mais um aniversário da
morte de Augusto Severo.
Ata da sessão magna comemorativa
do 3.° centenário de Felipe Camarão,
a 14 maio 1943.
Sob a presidência do sr. dr. Nestor Lima, o Ins­
tituto Historico e Geográfico do Rio Grande do Nor­
te, em sessão magna comemorativa da passagem do
3.o aniversário da investidura de Felipe Camarão no
posto de Capitão-General dos indios do Brasil, foi
aberta a sessão e o presidente convidou para presi­
di-la o exmo. sr. General Cordeiro de Farias que,
assumindo a presidência, concedeu a palavra ao sr.
dr. Nestor dos Santos Lima, que fez uma exposição
detalhada e expressiva sobre a personalidade de Fe­
lipe Camarão, ressaltando os motivos que corrobo­
ram e confirmam ser o Rio Grande do Norte o Es­
tado berço do herói da guerra contra osuholandeses.
Usou da palavra, em seguida, o dr. Luis da Camara
Cascudo, orador oficial do Instituto, pronunciando
uma palestra elucidativa sobre a discutida naturali­
dade de Felipe Camarão, explicando os fortes argu-
191 —
mentos que o levaram, como a outros, a proclama-
lo, segundo a sua própria e feliz expressão, como
“um legitimo papa-gerimú”, baseando suas afirmações
em fatos e documentos incontestáveis. Ambos os ora­
dores foram muito aplaudidos. Encerrando a sessão,
o exmo. sr. General Cordeiro de Farias congratulou-
se com todos os presentes, pela homenagem justa e
sincera que se prestava a Felipe Camarão. Achavam-
se presentes á sessão, o representante do sr. Inter­
ventor Federal, major José Beserra, dr. Antonio So­
ares, presidente do Tribunal de Apelação, dr. Alber­
to Maranhão, ex-governador do Estado, autoridades
civis e militares, senhoras e senhoritas da nossa alta
sociedade, além de elevado numero de pessoas gra­
das. "
Por motivos imperiosos o Instituto Historico dei­
xou de realizar sessões ordinárias, nos mêses de Ju­
nho a dezembro de 1943.
O 2.o Secretario,
(a) Vicente de Lemos Filho.
NECROLOGIA
Coronel Joaquim Manoel Teixeira de Moura
(Socio fundador)
No dia 15 de março de 1941, faleceu, nesta ca­
pital, em sua residência do alto Tirol, á Avenida
Hermes da Fonseca, o nosso venerando consocio fun­
dador, coronel Joaquim Manoel Teixeira de Moura,
lente aposentado do Ateneu Norte-Rio-Grandense e
ex-comandante superior da Guarda Nacional no Es­
tado.
Oriundo das tradicionaes famílias Teixeira de
Moura, Rego Barros e Fonseca, que tiveram nas eras
passadas grande projeção social e política no agres­
te e no sertão potiguar, era o ilustre socio desapa­
recido uma das mais respeitadas figuras das gens
rio-grandense, assim pelo seu cavalheirismo e pela
firmêsa de suas atitudes, na vida publica, mas, tam­
bém pela exemplar dedicação á familia, onde era
chefe venerando e querido.
Nascido, na fazenda “Desterro”, do antigo mu­
nicípio de São Gonçalo, a 15 de abril de 1858, ele
derivava das justas núpcias de Joaquim Manoel Tei­
xeira de Moura com D. Ana Justina da Fonseca Mou­
ra. Eram seus avós paternos o coronel Estevão José
Barbosa de Moura e D. Maria Rosa do Rego Bar­
ros, que tão destacada atuação tiveram no caso do
presidente Dr. Manoel Ribeiro da Silva Lisboa, o
— 193 —
Parrudo, em 1838, na Província, e pelo lado mater­
no, era neto do te. cel. Luís da Fonseca e Silva, na­
tural do Assú, e sua mulher, D. Joana Teixeira da
Fonseca e Silva.
Criado no ambiente rústico do “Desterro”, “Ar­
voredo” e “Ferreiro Torto”, residência de seus an-
cestraes, o jovem Joaquim Manoel Filho, veio para
a capital, onde fês os preparatórios para a Faculda­
de de Direito do Recife, aí se matriculou e cur­
sou até o 2o ano, depois abandonando o curso, por
causa do falecimento de seu genitor, a 2 de Janeiro
de 1882, com 42 anos de idade, e para servir de ar-
rimo, como filho mais velho, á família de sua ge-
nitora.
A política o atraía de maneira fascinante.
O dr. Pedro Velho, governador do Estado, (1892-
1896) nomeou-o lente de Geografia do Ateneu, em
1892. Aí se manteve até á reforma de 1905, para a
execução do sistema de Madurêsa criado por Benja-
min Constant.
Eleito intendente municipal desta Cidade e seu
vice-presidente, ele teve de assumir a presidência da
Comuna, em 1900, quando dela se afastou o coronel
Olimpio Tavares e, posteriormente, reeleito intenden­
te e para a presidência, em trienios sucessivos, ex­
erceu a chefia municipal até 31 de dezembro de 1913.
Data da sua gestão a criação dos bairros de Cidade
Nova, (compreendendo Petropolis e Tirol) e Alecrim.
Afastado, a seguir, da politica com o seu ami­
go dr. Alberto Maranhão, retraiu-se para os labores
do campo, como fazendeiro e agricultor, no municí­
pio de seu nascimento e nesta capital.
Foi comandante superior da Guarda Nacional
no Estado e como tal, na extinção dessa milicia, em
193 8, chefiou a delegacia do exercito de 2a linha,
com o major Joaquim Soares Raposo da Camara.
Casado treis vezes deixou numerosa e ilustre
descendencia. Da la vês, com D. Ana Moreira Bran­
194

dão Castelo Branco, filha de seus tios Dr. José Mo­


reira Brandão Castelo Branco e D. Ana Joaquina de
Moura Brandão, ela também filha do cel. Estevam
José Barbosa de Moura, houve os seguintes filhos:
Joaquim Manoel Filho, funcionário federal aposen­
tado, Manoel Nazareno Teixeira de Moura, alto co­
merciante em Natal, Dr. José Moreira Brandão Cas­
telo Branco Sobrinho, integro juiz federal aposenta­
do, Desembargador Arnaldo Orlando Teixeira de Mou­
ra, distinto magistrado em Minas Geraes, D. Ana Dul­
ce (Nanete), casada com o dr. Ernesto Maranhão, fi­
lho do dr. Pedro Velho e Paulo da Cruz, já faleci­
do. Do 2o consorcio com sua cunhada D. Justina,
Brandão, não teve filhos, e do 3o casamento, com
D. Maria Terceira de Lira Moura, que lhe sobrevi­
ve, só houve um filho varão Ernani de Lira Moura,
funcionário federal nesta capital.
A 29 de março de 1902, fundou, com outros
emeritos norte-rio-grandenses, o Instituto Ilistorico e
Geográfico, prestando-lhe serviços inolvidaveis. N. S. L.
Desembargador Sebastião Fernandes
(Socio efetivo)
Na tarde de 29 de maio de 1941, faleceu, em
sua residência, á Rua São Tomé, da Cidade Alta, o
desembargador Sebastião Fernandes de Oliveira, mem­
bro efetivo e ex-presidente do Tribunal de Apelação
deste Estado.
Nascido nesta cidade a 11 de março de 1880,
era filho do falecido professor Manoel Fernandes de
Oliveira e de sua esposa, D. Francisca Fagundes de
Oliveira, estudou preparatórios no Ateneu e seguiu
para Recife, em cuja Faculdade de Direito fés todo
o curso, de 1898 a 1902, recebendo o grau de ba­
charel a 17 de março deste ultimo ano, em virtude
da reforma Sabino Barroso.
— 1S5

Nomeado promotor publico da comarca de Mos-


soró, ali exerceu o ministério publico até 1907, quan­
do foi removido para a promotoria da comarca de
São José de Mipdbú, e dai veio para a capital, co­
mo lo juiz distrital, exercendo a vara de direito, no
impedimento do dr. Luis Fernandes, que então ti­
nha assento no Superior Tribunal de Justiça.
Foi também interinamente Procurador Geral do
Estado, em 1907.
Deixando a vida forense, foi nomeado primei­
ro diretor e fundou a Escola de Aprendizes Artífi­
ces, hoje, Liceu Industrial, (1910—1915), quando foi
nomeado Juiz de Direito de Ceará-Mirim.
De 1920 a 1924, foi chefe de Policia do dr. An-
tonio de Souza e, em seguida, secretario geral do
Estado, sob o governo do dr. José Augusto, até 192Ó.
Depois, voltou á sua comarca, de onde foi removido
em 1929 para a primeira vara da Capital, sob a ad­
ministração do dr. Juvenal Lamartine.
O decreto estadual de 4 de Julho de 1934 pro­
moveu o dr. Sebastião Fernandes para um dos lo-
gares do Superior Tribunal, logo após, Côrte de Ape­
lação, cuja presidência exerceu nos anos de 1937—
1938.
Sua vida publica foi pautada sempre por uma
linha de alto nivel moral; cultivava as letras jurí­
dicas e a poesia, deixando varias obras publicadas ou
inéditas, a saber: Alma Deserta”, versos, “Frei Mi-
guelinho”, drama, “Estudos de sociologia criminal”,
direito, “Auta de Souza”, conferência, entregas pri­
meiras, e “Sarah”, crônicas literárias, “Vida efeme-
ra”, discursos, “Da Tribuna”, e “Por amor de minha
profissão”, e outros, nas segundas.
Era bom orador e obteve belos triunfos ora-
torios.
No Instituto Historico, a que pertencia desde
5 de setembro de 1909, exerceu varias vêses o car­
go de orador, sempre se portando com brilho.
1S6 —
Pertencia á Academia de Letras, onde ocupa­
va a cadeira de Pedro Velho, que ele mesmo criou.
Era casado com D. Alice Pinto Fernandes e
deixou filhos e netos.
Seu sepultamento ocorreu, no dia 30 de maio,
pela manhã, no cemiterio do Alecrim, em meio de
grandes demonstrações de pesar.
Dr. Augusto Leopoldo
( Socio correspondente)
Faleceu a 11 de dezembro de 1941, no Pdo de
Janeiro, o nosso ilustre confrade dr. Augusto Le­
opoldo Raposo da Camara. Nascido no Ceará Mirim,
a 22 de agosto de 1856, bacharelou-se em Direito,
na Faculdade do Recife, na turma de 1880, sendo o
mais antigo dos bacháreis norte-rio-grandenses. De­
putado provincial em 1882-83, ainda no império, foi
Juiz Municipal e Chefe de Policia, membro da In-
tendencia Municipal em 1891. Deputado ao primeiro
Congresso Constituinte em 1891, exerceu as funções
de Procurador da Republica de 1895 a 1901, sendo
Deputado Federal de 1912 a 1914. Vice Governador
do Estado, de 1924 a 1927, assumiu varias vezes a
administração do Rio Grande do Norte, sendo depu­
tado estadual na decima-terceira e décima quarta le­
gislatura. Dirigiu o “Diário de Natal”, orgão oposicio­
nista, e foi Consultor Juridico do Banco de Natal,
Presidente da Ordem dos Advogados, etc.
Pertencente a uma tradicional familia de atu­
ação na vida politica da Prcvincia, o dr. Augusto
Leopoldo, desde moço, ficou á frente dos aconteci­
mentos da época, figurando com saliência nas situ­
ações partidarias, com o decoro, a honestidade e a
inteligência que lhe foram sempre reconhecidas. De­
putado Federal, jornalista, magistrado, homem de com­
bate e de ação, gosou de inalterável conceito social,
— 197

pela serena compostura de suas atitudes e limpidês


de sua existência publica. O dr. Augusto Leopoldo,
que se encontrava em estado vidual, por ter faleci­
do, em 1923, D. Maria Pia Pereira da Camara, dei­
xou os seguintes filhos: dr. Mario Leopoldo Pereira
da Camara, atualmente em Nova York, como dele­
gado do Tesouro Nacional, dr. Paulo Camara, alto
funcionário do Ministério do Trabalho, dr. Aluisio
Camara, medico, Abelardo Camara, funcionário do
Ministério da Fazenda, falecido posteriormente, e a
senhora Maria da Conceição, casada com o seu pri­
mo, Raimundo Camara, todos residentes na capital
da Republica.
O Dr. Augusto Leopoldo entrou, como Socio
Efetivo, para o Instituto Historico, a 27 de março de
1927 e passou á classe de correspondente, desde
1935, quando transferiu sua residência para o Rio,
onde faleceu.
Raimundo Moraes
(Socio correspondente)
Uma das figuras de maior projeção nas letras
amazônicas era, sem duvida, Raimundo Moraes, que
se celebrizou pelos seus inúmeros trabalhos acerca
da grande planicie, onde viveu, aprendeu e compen-
diou todos os ensinamentos que nos legou acerca do
grandioso vale setentrional.
Desconhecemos-lhe os traços biográficos, mas,
conhecemos uma parte da sua volumosa bibliografia,
tão bem divulgada no Brasil inteiro, pelas grandes
editoras nacionaes.
Sabemos que era capitão-de-navio, ou melhor,
capitão-de-“gaiólas”, no tráfego de Belém a Manáus,
suas visinhanças e escalas e dai, a compreensão
— 198 —

e os estudos que realizou, com felicidade, sobre o


grande rio-mar.
Faleceu no ano de 1941. Era inspetor federal
de ensino secundário, á data do seu falecimento.
Deixou, além de outras, as seguintes obras: “No­
tas de um jornalista”, “Na Planície Amazônica”, “Car­
tas da Floresta”, “Pais das Pedras Verdes”, “O meu
dicionário de Cousas da Amazônia”, 2 vols., “Anfi­
teatro Amazonico”, “Aluvião”, “Os Igaraúnas”, “O Mi­
rante do Baixo Amazonas”, “O Homem do Pacoval”,
“Ressuscitados”, “A’ margem do livro de Agassiz”,
“Historias silvestres do tempo em que animaes e ve-
getaes falavam na Amazônia” (apologos) e “Rio Ama­
zonas” e sua historia.
Dr. Vale Miranda
(Socio correspondente)
“Faleceu, em Juiz de Fóra, sua residência de al­
guns anos, a 10 de fevereiro de 1942, o dr. Francis­
co Gomes Vale Miranda, figura insuperável e uma
das mais expressivas em nossa galeria do magisté­
rio. Culto, primorosamente educado, professor eme-
rito, grande quimico, deixou profundas amizades en­
tre aqueles que o tiveram por mestre como em to­
dos os círculos sociais do Estado.
O dr. Francisco Gomes Vale Miranda nasceu em
Barcelos, Minho, Portugal, a 16 de setembro de 1862,
viajando moço para o Brasil, onde se diplomou em
Farmacia no Rio de Janeiro, dedicando-se ás pesqui-
zas químicas. Veio para o Rio Grande do Norte em
1899, dirigindo uma usina de purificação de sal, em
Macau, fixando-se depois em nossa capital onde, duran­
te muitos anos, exerceu o ensino de fisica-e-quimica
no Ateneu Norte Riograndense e Escola Normal, e di­
rigiu a Escola de Farmacia. Com Domingos Bar-
ros, Vale Miranda fundou a Empreza de iluminação
199
a Acetilenio, á qual devemos a substituição dos ve­
lhos lampeões a querosene, em 1905. Em 1911, instala­
va a luz eletrica, assim como o serviço de bondes
por eletricidade.
Deixando o Rio Grande do Norte, demorou-se
em Paris, cursando a Universidade para a conquis­
ta do titulo “Docteur de 1’Université”. Trabalhou nos
laboratorios do Instituto Pasteur, sendo distingui-
do pelo dr. Emilio Roux, discipulo e sucessor de Pas­
teur, e Alberto Berthelot. Admirador e amigo do sá­
bio Elias MetchnikoíT, Vale Miranda recebeu do pro-
prio mestre a indicação do assunto de sua tése de
doutoramento, estudando exaustiva e brilhantemente
duas bactérias, do genero “Proteus”, uma patogêni­
ca e outra saprofita, isoladas por Metchnikoff e por
ele proprio. Prestou exame em novembro de 1Ql 7
merecendo a nota mais elevada para seu estudo —
Mention trés honorable, e a laurea acadêmica.
Voltando ao Brasil, continuou suas pesquizas
no Rio de Janeiro, vivendo para seu lar e seu la-
boratorio. Convidado para dirigir o Laboratorio de
Analises em Natal, aceitou prontamente, sendo re­
cebido com as mais calorosas manifestações de sim­
patia coletiva.
Modesto, alheiado do mundo social, devoto das
alegrias silenciosas da ciência desinteressada, o dr.
Vale Miranda possuia o dom de manter suas rela­
ções na mesma intensidade afetuosa através dos
tempos.
O dec. 474. de 22 de Junho de 1933, aposenta-
va-o, atendendo aos relevantes serviços prestados, no
posto de Diretor do Laboratorio de Analises.
Visitou então Portugal, revendo a região mi­
nhota em que nascera, e, regressando ao Brasil, es­
colheu para viver a cidade de Juiz de Fóra, onde
acaba de falecer aos oitenta anos incompletos. Dei­
xa viuva a exma sra. d.’Maria Amélia Vale Miran­
200

da, companheira diletissima, a quem enviámos nos­


sas condolências.
Sabida a noticia do falecimento do dr. Vale Mi­
randa, a Interventoria Federal, pelo Departamento
de Educação, mandou hastear o pavilhão nacional em
funeral nos estabelecimentos de ensino, homenagem
simbólica a quem significara, na memória e passado
educacional do Estado, uma das mais legitimas glo­
rias de sabedoria e dedicação”.
Da “Republica” de 12—2—1942.
O Dr. Vale Miranda entrou para o Instituto His­
tórico, na classe dos Efetivos, logo após a fundação
do mesmo Instituto, a 17 de agosto de 1902, passan­
do á classe dos CoiTespondentes, após ter mudado
sua residência para o sul do Pais.
Desembargador Elviro Carrilho
(Socio correspondente)
Na galeria dos filhos ilustres do Rio Grande do
Norte, figura, em primeira plana, por seus titulos e
por suas virtudes, o desembargador Elviro Carrilho
da Fonseca e Silva, membro aposentado do Tribu­
nal de Apelação do Distrito Federal.
Nascido a 10 de setembro de 1868, no Engenho
“Porão”, no município do Ceará-mirim, deste Estado,
Elviro Carrilho era filho legitimo do coronel João da
Fonseca e Silva Sobrinho e D. Francisca Teodolina
Carrilho da Fonseca, estudou letras primarias no Co­
légio “São Francisco de Sales”, do Veríssimo, dirigi­
do pelo saudoso magistrado educador, Dr. Francisco
de Sales Meira e Sá, fês preparatórios em Natal e
cursou a Faculdade de Direito do Recife, que lhe
conferiu o grau de bacharel em 1890, a 19 de no­
vembro.
201
Segundo os dados bio-bibliograíicos, por ele
mesmo assinados e existentes no arquivo do Insti­
tuto Historico, Elviro Carrilho exerceu as funções de
secretario da Superintendência da Quinta da Boa
Vista, no Rio, nomeado pelo Governo da Republica,
a 9 de janeiro de 1891; juiz de direito de Santa Vi­
toria do Palmar, no Estado do Rio Grande do Sul,
a 31 de dezembro de 1892; delegado de Policia do
Distrito Federal, a 18 de junho de 1895; Juiz da Dé­
cima Pretória da Capital Federal, a 10 de maio de
1897; Juiz de direito da Segunda Vara Criminal, em
5 de junho de 1907, transferido para a segunda Va­
ra Comercial, a 10 de janeiro de 1911 e para a se­
gunda Vara de Órfãos e Ausentes, a 8 de outubro
cíe 1912; Desembargador da Corte de Apelação do
Distrito Federal, a 5 de junho de 1914; Presidente
da Camara de Agravos, desde janeiro de 1924, e íi-
nalmente, eleito por treis anos Presidente da Cor­
te de Apelação, até que foi nessas funções aposen­
tado, em 1937, na forma da Constituição Federal de
10 de novembro, que determinava a idade de 68 anos,
para a aposentadoria compulsória na magistratura
local.
Ascendeu a todos os postos da carreira judici­
aria, que honrou sobremaneira, a ponto de ter sido,
em 1912, apontado, numa enquête acerca de “Juizes
bons, juizes otimos”, no “Correio da Manhã”, do Rio,
e unanimemente consagrado como “Juiz ótimo”, em
todos os sentidos.
Mas, não limitou á judicatura a sua eficiente
atividade publica: Presidente da Comissão de Alis­
tamento eleitoral da Capital Federal, de 1907 a 19ü9;
vice-presidente do Conselho Administrativo dos Pa­
trimônios dos Estabelecimentos a cargo do Ministé­
rio da Justiça e Negocios Interiores, sendo a 16 de
agosto de 1919, presidente do mesmo Conselho, em
que se manteve por dilatados anos, com relevantes
serviços á causa desses patrimônios, tendo fundado,
— 202 —
nessa comissão, o Institudo de Surdo-Mudos, á Rua
Larangeiras, 228 e o Posto de Profilaxia da Lepra
e Doenças Venereas, “Dispensário Elviro Carrilho”,
para a população pobre de Gloria, Larangeiras e Bo­
tafogo.
Não deixou obras publicadas, mas, os seus tra­
balhos de magistrado e jurista, estão publicados no
“O Direito”, “Revista de Jurisprudência”, “Revista de
Direito”, “Arquivo Judiciário” e “Revista de Critica
Judiciaria”, e em vários jornaes do Rio.
Pertencia a diversas instituições culturaes, taes
como a “Sociedade Amante da Instrução”, do Rio,
“Liga Brasileira de Higiene Mental”, “Assistência Ju­
diciaria Militar”, “Associação Potiguar”, de que foi
presidente, e do Instituto Historico e Geográfico, on­
de entrou, como socio correspondente, a 18 março
de 1928, titulo com o qual muito se sensibilizou.
Na família, era um exemplo de bondade e de
proteção. Casou duas vêses, sendo, a primeira, com
a sua prima legitima, D. Olga da Fonseca e SiWa,
filha do general Francisco Vitor da Fonseca e Silva
e D. Guiomar da Fonseca e Silva, e de cujo consor-
cio houve dois filhos: o Dr. Otávio Carrilho da Fon­
seca e Silva, advogado e funcionário da Prefeitura
do Distrito Federal e Dona Zulmira Carrilho James,
casada com o dr. Edgar James, de ilustre famiiia da
metropole nacional. Das segundas núpcias, com Déa
Dantas Carrilho, não lhe advieram filhos. Deixou vá­
rios netos. Foram seus paes o coronel João da Fon­
seca e Silva Sobrinho e D. Francisca Teodolina Car­
rilho do Fonseca e seus avós paternos o te. cel. Lu­
iz da Fonseca e Silva e D. Joana Teixeira da Fonse­
ca e Silva e maternos o capitão Francisco Carrilho
do Rego Barros e D. Rita Joaquina de Vasconcelos.
No convívio pessoal, o dr. Elviro era de uma
amabilidade que confundia e penhorava. A sua casa
era sempre um lar amigo, onde se dessedentavam
todos os patrícios, que ao Rio rumavam em busca
— 203

de recursos e na ancia de vencer. A todos acolhia e


facilitava o que estivesse ao seu alcance e dos seus
amigos, que contava inúmeros em todos os setores
da vida carioca.
Nas funções, ninguém o excedia em atividade,
correção, justiça, disciplina e operosidade, fossem
quaes fossem as injunções do momento ou as difi­
culdades de realização: ele a tudo atendia e provi­
denciava.
Morreu pobre, mas, deixou um rastro de bon­
dade, que jamais se apagará na lembrança dos que,
como quem escreve estas linhas, privou da sua ami-
sade, conheceu os tesouros do seu coração e poude
avaliar, de perto, quanto havia de bom, de pei feito
e de santo naquele espirito de eleição. N. S. L.
Dr. João Cláudio Carneiro Campeio
(Socio correspondente)
Numa tragédia verificada em uma Casa de Sa­
ude, a que se recolhera, dias antes, faleceu, no dia
17 de novembro de 1943, na Capital Federal, o an­
tigo magistrado Dr. João Cláudio Carneiro Campeio,
socio correspondente do Instituto Historico, desde 2
de março de 1927.
A sua vida terrena foi simples: nascido em
1886, na casa de seus paes, Diogo Carneiro Rodu-
gues Campeio e D. Leopoldina Amélia Carneiro Cam-
pelo, no Engenho “Arimunã”, municipio de Escada,
Estado de Pernambuco, João Cláudio, desde muito
cêdo, revelou sensivel pendor para as letras e come­
çou a colaborar nas revistas e jornaes de seu tem-
po, em Recife, onde vivia sempre, como aluno do
Ginásio Pernambucano e da Faculdade de Direito,
onde se bacharelou em 19ü9. Era solteiro. Fundou e
dirigiu, muitos anos, o Grêmio Literário Seis de
Março”, de Jaboatão, e redigiu o seu orgão ‘ O Fanal .
204

Ainda em plena juventude, quando *e$tudante


de preparatórios na celebre jornada de ex^mçs ge-
raes, em 1904, no Liceu Paraibano, já colabOíi'av,a efi­
cientemente nos jornaes da Cidade pessôense, ^tra­
indo a atenção dos colegas e mestres para as idéias
que defendia ou profligava. Colaborou, como corres­
pondente, na “A Capital”, desta cidade, entre 1908
e 1910.
Foi promotor publico em Guandu e São Mate­
us e juiz de direito em Colatina, Pau Gigante, San­
ta Leopoldina e Vitoria (2a Vara), todos do Estado
do Espirito Santo.
Aposentandc-se nesse cargo, transferiu residên­
cia para o Pão, onde viveu solitariamente os últimos
anos da existência, em uma pensão da Rua da As­
sembléia, n<>. 66, 2». andar, de onde saiu para a ca­
sa de saúde, de cujo 5o. andar se precipitou ao sóio,
morrendo instantaneamente.
Quem conhecesse João Cláudio, o jornalista e
causeur, não atribuiria jamais que o seu espirito, que
era folgasão e eufórico, com as suas gargalhadas ir­
reprimíveis, com as suas pilhérias incisivas e, ás ve-
ses, contundentes, havería de propender para a obs­
curidade final, a amentalidade, os distúrbios do es­
pirito, em que se desfês a sua pujante inteligência,
o seu bom coração.
Era, porém, um nobre espirito, ainda que a seu
modo; amigo distinto, colega fidalgo, magistrado im­
poluto e escritor onímodo, que nos legou apenas o
opusculo: “Samuel Campeio”, 1889-1939, com dedi­
catória sua ao Instituto, em principio de 1942. Tal-
vês o fim precoce do seu irmão o tivesse arrastado
á crise mental de que foi vitima. N. S. L.
E RR A T A
Apezar do cuidado que se dispensou á confec­
ção e revisão dos trabalhos nesta “Revista”, encon­
tram-se entre outros os seguintes erros, lapsos e tro­
cas que devem ser corrigidos:
Pag. 39, no fim: leia-se: Natal, 29 de março de
1943. (a) Nestor dos Santos Lima. Presi­
dente.
Pag. 68, U Unha: em vêç de 1601, leia-se: 1501.
Pag. 106, 10a linha: Companheiros, em vês de
combanheiros.
Pag. 154, linha 7a; leia-se: forte e aguerrida.
Idem, 15a, suprima-se: “Hespanha, então domi­
nante em”.
Idem, 16, da em vês de na.
Pag. 157, linha 9a; em vês de Mais, leia-se Mas.
Pag. 161, linha 26a; leia-se: português e não
Hespanhol.
ÍNDICE
— DOS —
VOLUMES X X X V I I I A X L
— DA —
Revista do Instituto Historico e Geográfico

AUTORES: E P ÍG R A F E S : P A G IN A -

JOSÉ AUGUSTO: Limites do Seridó com


o Estado da Paraíba...................... 5
NESTOR LIMA: Relatorio da Presidência
em 29-3-1941 ........................... 27
NESTOR LIMA: Idem, 29-3-1943 . . - J4
LUIS DA CAMARA CASCUDO: Os Barões
Norte-Rio-Grandenses . . . . 4
JOSÉ AUGUSTO: Norte-Rio-Grandense de
mais de tresentos anos ar
JOÃO VICENTE DA COSTA: O munici
pio de Ceará-Mirim
ANTONIO SOARES: Portalegre . . . bJ
NESTOR LIMA: Recepção ao General Sou
za Dóca (Saudação e resposta) . .
PHELIPE GUERRA: Defesa do Nordeste
MAJOR JONATAS DE MORAES COR
REIA: Discurso de recepção . .
REDAÇAO: Centenário do Dr. Souto . yy
LUIS DA CAMARA CASCUDO: ATA Dl
URNA: Dr. Souto...................... 1Ui
NESTOR LIMA: O Dr. Souto . . . . 104
ANTONIO SOARES DE MACEDO: A Fa
milia Casa G ran d e..................
NESTOR LIMA: As razões do Brasil no
conflito m u n d ial...................... ^7
GUILHERME AULER: Aspectos da Histo­
ria Rio-Grandense do Norte . . . 1J
REDAÇÃO: Augusto Severo......................
NESTOR LIMA: No dia de Augusto Severo 149
II
NESTOR LIMA: Em memória do indio po­
tiguar D. Antonio Felipe Camarão
LUIS DA CAMARA CASCUDO: ATA DI­
URNA : Discurso de doutor e con­
versa de pobre, I
IDEM- II ,
REDAÇÃO: Terra Potiguar
ATAS DAS SESSÕES DO INSTITUTO
HISTORICO....................................
NECROLOGIA: I Coronel Joaquim Manoel
II Desembargador Sebastião Fer­
nandes
III Dr. Augusto Leopoldo R. da Ca-
mara
IV Raimundo Moraes
V Dr. F. G. Vale Miranda. . . í .
VI Desembargador Elviro Carrilho
da F. e Silva....................................
VII Dr. João Cláudio C. Campeio.
REDAÇÃO: Errata
REDAÇÃO: índice

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