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CURSO DE DOUTORAMENTO

“PROBLEMAS DE LA ARQUITECTURA Y CIUDAD MODERNA:

TEORIA, HISTÓRIA, PROYECTOS”

Universidad de Valladolid – Escola Superior Artística do Porto

TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO

- 2º Ano –

Setembro de 2003
Título

“OS BAIRROS DE OLIVAIS E CHELAS EM LISBOA”

Orientador

Pedro C. Vieira de Almeida

Aluno

Tiago de Almada Cardoso Proença de Oliveira


ÌNDICE

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1

Notas ............................................................................................................................ 5

A ARQUITECTURA PORTUGUESA DOS ANOS 30 AOS ANOS 60............................ 6

Notas .......................................................................................................................... 31

OS ANOS 60 .............................................................................................................. 35

Notas .......................................................................................................................... 41

OLIVAIS E CHELAS ................................................................................................... 42

Notas .......................................................................................................................... 63

CONCLUSÃO ............................................................................................................. 66

Notas .......................................................................................................................... 72

INDICE DE IMAGENS ................................................................................................ 73

BIBLIOGRAFIA........................................................................................................... 76
INTRODUÇÃO

“Este quarto de século (1950-1975) facetou e aprofundou todos os problemas

comunitários com indubitável perspicácia, mas extremando a tendência para verificar

as proposta antes de as ter desenvolvido e trazendo consigo desorientações que

correm o risco de favorecer golfadas de academismo ou comprazimentos agnósticos."1

(B.Zevi, 1973).

O trabalho que aqui se apresenta procurou estabelecer uma base de estudo para

o entendimento da arquitectura e do desenho urbano durante os anos 60 em Portugal,

estudando o exemplo de Lisboa e, mais particularmente, dos casos de Olivais Norte,

Olivais Sul e Chelas.

Estas urbanizações têm como denominador comum o facto de serem de

promoção pública, de serem de uma apreciável dimensão, de terem um programa

semelhante (habitação para várias categorias sociais) e de neles terem participado

uma quantidade de equipas projectistas de diferentes gerações. A ligá-los está ainda a

coincidência de se sucederem imediatamente uns aos outros tanto no tempo como no

espaço.

Os anos sessenta, se por um lado se revelam como um ponto de turbulência na

evolução da cultura arquitectónica ocidental, no sentido em que se multiplicam as

abordagens ao problema da arquitectura – nomeadamente no que diz respeito à

habitação – e da cidade, por outro marcam a época em que Portugal procura acertar

de novo o passo com a Europa.


E quando falamos em acertar o passo com a Europa não nos referimos apenas

às condições socio-económicas (porque políticas2 ainda não) mas também culturais.

De facto por esta altura que os arquitectos portugueses evidenciam já uma

consciência de grupo e um nível de informação sobre o que o que se faz no resto do

mundo, sobretudo na Europa, que contrastava com o que acontecia vinte anos atrás

em que a sua formação teórica parecia ser sobretudo autodidacta, solitária e, no geral,

limitada.

“A partir dos anos sessenta ganha importância na vanguarda da arquitectura

portuguesa a necessidade de reencontrar as referências urbanas que completem as

raízes rurais sobre o espaço e forma e o sentido da pesquisa da expressão da obra de

autor, face ao ecletismo crescente também nas referências internacionais e ao

afrouxamento da contestação oficial às experiências renovadoras.

Nos Olivais evidenciam-se os sinais de crise de referências conceptuais, o

individualismo e o recurso a modelos contraditórios confrontados numa situação de

grande heterogeneidade”3.

Os planos de Olivais Sul e Chelas, em Lisboa, constituem-se como um território

fértil para a observação das várias tendências no terreno. Pela semelhança que têm

os seus programas, as condições em que são feitos e a sua escala, e porque se

sucedem imediatamente um ao outro, estes bairros definem uma evolução em

continuidade no entendimento do desenho urbano, numa época em que se punha já

em causa os princípios da Carta de Atenas.

É claro que se poderia situar o plano de Olivais Norte no início deste percurso

proposto, e não deixaremos de começar por aí, embora este se apresente ainda muito

tributário dos modelos racionalistas já testados, como veremos adiante, se bem que
seja eventualmente por aqui, como também teremos oportunidade de confirmar, que

tudo tenha começado.

Para compreender as condições específicas em que se desenrolaram estes

acontecimentos procurámos caracterizar algo resumidamente a evolução do

panorama da arquitectura portuguesa desde o início dos anos 30, desde os pioneiros

do Modernismo, passando pela afirmação de um regime autoritário até à relativa – e

relutante – abertura ao exterior nos anos que se seguiram ao desfecho da Segunda

Grande Guerra.

Não sendo esta ainda uma dissertação de Doutoramento, procurou-se uma

abordagem que privilegiasse a descrição e compreensão dos acontecimentos à sua

avaliação crítica. Daí a eventual profusão de citações no texto. O objectivo era definir

um território que depois pudesse vir a ser objecto de uma análise mais exaustiva e

aprofundada.

Os planos estudados permitiriam uma investigação mais aturada tanto ao nível

da expressão plástica como ao nível das tipologias urbanas e organização dos fogos

adoptadas pelas diversas equipas projectistas que aí intervieram.

Também a evolução internacional que se processa em paralelo com o que aqui

se trata em Portugal é aqui apenas referida “a talho de foice”, isto é, apenas na

medida em que parece influir directamente nos acontecimentos descritos. Fica assim

ainda por fazer um estudo mais extenso deste factor que permitirá uma visão crítica

mais abrangente e informada.


E são muitas e variadas as experiências que por esta altura se fazem pelo resto

do mundo, nomeadamente – ou talvez sobretudo – no domínio da habitação e do

desenho de cidade.

B. Zevi enumera algumas das tendências nos anos de 1950 a 1975 no âmbito da

dimensão urbana: “o neo-expressionismo que defende edifícios flexíveis, adaptáveis,

sensoriais, dúctil extensão dos seus habitantes; o informal, sugerindo uma projectação

gestual, continuamente reorientável; a pop-art, na franca recuperação do Kitch, da

prosa, do dialecto; o brutalismo, na plenitude anti perfeccionista; a utopia na eleição da

eventualidade como Sistema”4. E outras poderiam ser mencionadas5 – eventualmente

mais influentes nos arquitectos portugueses desta época, a par do brutalismo – como

o neo-empirismo nórdico ou o neo-realismo italiano, para além da inspiração de outros

campos disciplinares como os da sociologia e da antropologia.

E ficamos com a questão que pôs L. Benévolo6. “Quais de entre os modos até

agora experimentados, conseguem salvar ao mesmo tempo a eficiência técnica e a

responsabilidade cultural de que fala Gropius? ao desafio lançado pelo velho mestre

em 1952, quais respostas convincentes foram dadas desde então?”


Notas

1
B. Zevi – “História da Arquitectura Moderna” – vol 2, Editora Arcádia, 1978, p 603
2
“Ao pretender ao mesmo tempo os segmentos mais retrógrados da burguesia fundiária e os
mais avançados dos grupos monopolistas que visavam a Europa da EFTA (com pés em
África), as contradições do poder são crescentes e certos espaços de liberalização tornam-se
inevitáveis, perante: a emergência da nova classe média urbana; de uma tecnocracia mais
informada e das pressões do capital industrial e financeiro à procura de expressão política no
aparelho de Estado; das movimentações democrática e estudantil, da afirmação prestigiada de
expressões culturais não verbais”.

N. Portas, M. Mendes – “A revisão do Movimento Moderno” – Catálogo da Exposição


“Arquitectura Portuguesa Contemporânea. Anos Sessenta / Anos Oitenta”, Fundação de
Serralves 1991, p.11
3
A. Dias, A. Soutinho, A. Alves Costa, A. Siza, D. Tavares, E. Souto Moura, S. Fernandez –
Texto s/ título publicado no catálogo da exposição “Depois do Modernismo” – Depois do
Modernismo, 1983 p. 126.
4
B. Zevi – “História da Arquitectura Moderna” – vol 2, Editora Arcádia, 1978, p 685
5
J. M. Fernandes enumera os seguintes movimentos internacionais contemporâneos:

Escola tardo-organicista finlandesa (à volta de Alvar Aalto).


Arquitectura catalã de «empenhamento social» com forte teorização (Bohigas, etc.);
contributo italiano para a habitação social (Daneri).
Arquitectura italiana de estruturas e «betão» aparente (Nervi e Albini); o uso «realista» do
tijolo nas obras catalãs e inglesas.
Obras neo-expressionistas alemãs (Sharoun) e nórdicas (Utzon e Saarinen); as correntes
brutalistas inglesas (Stirling).
Grupos inovadores americanos: os «5» de Nova Iorque; Chicago e Califórnia -«ecletismo»
(Johnson, Yamasaki), «maneirismo» (Sert, Rudolph) e «historicismo» (Kahn, Venturi); a
arrojada arquitectura no Japão (à volta de Kenzo Tange).
As últimas obram dos mestres pioneiros (Le Corbusier, Mies, Gropius).
A mundialização da arquitectura experimentalista («Team X», Metabolistas, Grupo
«Archigram», Expo de Montreal – os «futuríveis», seg. Zevi).

J. M. Fernandes – “Dos anos 60 aos 70 na Arquitectura Portuguesa” – Catálogo da


Exposição “Anos 60. Anos de Ruptura. Arquitectura Portuguesa nos anos 60”, LISBOA 94,
Livros Horizonte 1994
6
L. Benévolo – “História da Arquitectura Moderna” – 1ª edição em 1960, Editora Perspectiva,
1989, p.750
A ARQUITECTURA PORTUGUESA DOS ANOS 30 AOS ANOS 60

“Aqui (em Portugal) como em toda a parte, pura e branca era a arquitectura

moderna. Nova palavra que queria sobrepor-se ao mundo. Branca e exacta.

Construída sob a limpidez da análise, da dedução, da correspondência instituída entre

as formas das coisas e as formas de vida. Despojada dos compromissos e das

resistências que opunha a matéria. 0 Branco não significava ausência, não era

omissão, mas tensão ao novo, capacidade de movimento, agitação de ideias” 1.

(D. Vitale, 1984)

De facto, a arquitectura “Modernista" que se faz em Portugal durante os anos 30

se nem sempre era branca raramente era pura.

Figura 1 – Teatro Capitólio (1925) de Cristino da Silva

Para C. Duarte2 (1987) o Modernismo em Portugal durante os anos 30 foi o

veículo de uma concepção estilística com duas faces: “uma puramente decorativa, ao

gosto das “Artes Decorativas” importadas de Paris, e outra, então chamada «cubista»,

de forma um tanto abusiva, que consistia fundamentalmente na primazia das formas

geométricas puras no desenho dos edifícios”. Segundo ele, a combinação destes dois

factores é feita de forma distinta por cada arquitecto, e a componente decorativa tende

a perder importância com o decurso dos anos.


“No entanto este estilo novo não afectava em absoluto a estrutura morfológica da

cidade que, tal como antes, continuavam a ser construídas seguindo a ideia de

quarteirão fechado e rua contínua”3.

Figura 2 – 3º projecto do Cinema Éden (1931) e Hotel Vitória (1934) de Cassiano Branco

Em Portugal, o modernismo em Arquitectura vai coincidir com o fim da 1ª

república, em 28 de Maio de 1926, e com a assumpção do Estado Novo, que vê a sua

constituição aprovada em 1933.

A «geração de 27»4 é caracterizada por P. Vieira de Almeida5 (1986) como

aquela que “apanha o primeiro embate da ordem imposta pelo Estado Novo e, daí

também, aquela que vai tentar criar as condições para o desenvolvimento da

arquitectura moderna dentro do quadro político-cultural existente”. É assim uma

geração que assume um compromisso – designação proposta por Carlos Ramos –

que se estabelecia em duplo registo: “um primeiro que dizia respeito à maior ou menor

capacidade de os arquitectos participarem de facto no movimento da arquitectura

moderna, o que implicaria uma capacidade crítica e uma capacidade formal que nem

sempre estiveram presentes, muito pelo contrário, e um segundo que dizia respeito ao
seu deliberado envolvimento com o poder, tentando conquistar para a sua arquitectura

a atenção e o apoio do Estado”.

Ainda segundo este autor um dos conflitos mais sério destes arquitectos vai ser o

seu confronto interior para saber qual das tendências -tradicionalista ou moderna – se

iria impor como arquitectura do poder, “se bem que de facto nem tradicionalismo nem

modernismo fossem noções claramente delimitadas no espírito dos seus mentores”.

Este “estado de incerteza crítica” estaria relacionado com “a «placidez provinciana» do

mitigado modernismo presencista, com uma teorização de carácter divulgador imbuída

de moralismo mal entendido e mal enquadrado (a) que os arquitectos parecem ter ido

buscar as referências culturais e enquadramento estético, as suas dúvidas e as suas

hipóteses de resposta”. E seria esta uma das razões, para P. Vieira de Almeida, que

ajudaram ao prematuro apagamento do movimento moderno em arquitectura.

Figura 3 – Instit. Superior Técnico (1927) e Diário de Notícias (1936) de Pardal Monteiro

Segundo Nuno Portas6 (1978), o período de 1925 a 1936 foi o único momento

em que se repercute em Portugal, e quase sem atraso, “um movimento de vanguarda

internacional, entendido em algumas das suas motivações profundas e não apenas

epidérmicas ou de moda”. No entanto o autor refere-se mais adiante no texto7 “ao

vazio teórico e ao quase isolamento da movimentação internacional em que esta

evolução se processa”, e observa que “um mal endémico da arquitectura portuguesa,


se comparada com outras artes, foi a de se deixar encerrar nas paredes de cada

atelier”.

Outra observação de Portas refere-se ainda à inexistência de uma dimensão

urbanística do movimento, que teria sido “a pedra de toque da sua consistência

reformadora, a prova de que a mudança de linguagem arquitectónica resultava de uma

nova consciência social e não de uma simples questão de gosto”8.

Figura 4 – Casa da Moeda (1935) de J. Segurado

De facto os arquitectos nacionais parecem estar excluídos dos estudos

urbanísticos que se fazem nesta altura, e revelam, segundo N. Portas, grande

convencionalismo nas poucas alturas em que os debatem ou a eles são chamados

como profissionais. Aparentemente para ele, aos “aliás bem considerados” arquitectos

modernos não é reconhecida “competência para traçarem as linhas mestras das duas

principais cidades do país”.

“Será, com efeito, mais a uma vez a um estrangeiro, Agache, que trabalhara para

o Rio de Janeiro, técnico francês conservador (se olhado por uma óptica CIAM), que

será pedido, logo em 33, o traçado de expansão de Lisboa. E aos italianos Piacentinni

e depois Muzio, os do Porto. E no entanto, nesses anos, em Lisboa, aproveitando as


sugestões do francês e os próprios compromissos do Ministro, preocupado com os

acessos à capital, configurar-se-ia a estrutura radioconcêntrica de com as

consequentes circulares, encaixa-se o Aeroporto e o Parque do Monsanto, traça-se a

directriz da auto-estrada para os Estoris e localizam-se os novos bairros, e

designadamente os de Alvalade, onde a geração imediata terá ocasião de projectar

uma importante «parte da cidade» de promoção camarária”.9

Figura 5 – Plano de Alvalade e imagem de obra

Cabe aqui referir que Duarte Pacheco (1899-1943), Ministro das Obras Públicas

de 1932 a 1936 e de 1938 a 1943 (acumulando neste último período o cargo com o de

Presidente da Câmara Municipal de Lisboa10), lançou Planos de Urbanização por todo

o território nacional impondo aos municípios o levantamento das zonas urbanas e o

seu posterior estudo, e, em Lisboa, adquiriu grandes quantidades de terreno

considerado indispensável para o desenvolvimento da cidade e remodelou o aparelho

técnico da Câmara Municipal. O ministro criou ainda gabinetes autónomos de

planeamento num âmbito intermunicipal assim como várias organizações, na sua

dependência directa, que cobriam grande parte dos sectores da actividade de

planeamento urbano.

Entretanto, com o final dos anos 30, ganha terreno o ponto de vista que relaciona

a vocação internacional desta arquitectura moderna com a «ameaça comunista»11. E


mesmo sem esta conotação política, o argumento em favor de uma arquitectura

nacional revela-se convincente. Estes homens, arautos de um mundo novo, acreditam

agora numa arquitectura contemporânea e portuguesa e dedicam-se a ela. Para M.

Botelho (1987) "o espírito da arquitectura moderna é desvirtuado e a reflexão

arquitectónica é confinada ao debate do estilo português e nacional, pautada pelo que

podemos denominar «a estética da ética» "12.

Na Exposição do Mundo Português em 1940, em que muitos dos arquitectos

desta geração participaram, e ao que parece com entusiasmo, reconhece-se uma

linguagem em que a política de despojamento do moderno é caldeada com uma

interpretação estilizada da nossa História Épica.

Figura 6 – Exposição do Mundo Português, 1940

Segundo C. Duarte13 (1987) o próprio Ministro das Obras Públicas, Duarte

Pacheco, teria decidido que se deveria acompanhar os modelos italianos, “em especial

o de Piacentini, cuja obra havia estudado em Itália na companhia de Pardal” (Pardal

Monteiro, 1897-1957). Mas acrescenta que o novo modelo do regime é definido por

Cristino da Silva (1896-1976) no conjunto da Praça do Areeiro e nos projectos da Av.

António Augusto de Aguiar em Lisboa.

“Trata-se de uma arquitectura urbana dominada pelas imagens tradicionais da

arquitectura rural do Norte do país e de elementos decorativos de inspiração barroca.


Esta miscelânea arquitectónica de fácil captação vai-se converter no estilo oficial ao

longo dos anos quarenta. Predomina não só nos edifícios oficiais como também na

produção particular, graças à repressão exercida nos Municípios por funcionários

zelosos”.14

Figura 7 – Praça do Areeiro (1941) em Lisboa de Cristino da Silva

J. de Sousa Rodolfo15 (2002) procura mesmo precisar rigorosamente uma

definição para a arquitectura do Estado Novo, que expõe nos seguintes termos:

“1 – Por oposição ao modernismo: «sinónimo» de internacionalismo e, portanto,

oposto ao nacionalismo que caracteriza o regime. (...).

2 – Na vertente etnológico-vernacular, a arquitectura do estado Novo aproxima-

se das teses da «casa portuguesa» de Raul Lino e da política do espírito de António

Ferro, revitalizadora do folclore e etnologia populares.

3 – Na vertente a que chamaremos «simbólica do poder», segue os exemplos

arquitectónicos classicizantes alemão e italiano, embora com características próprias

(eufemísticas) veiculadas pelo joanino e pelo pombalino.”


Segundo este autor a arquitectura do Estado Novo teve vários modelos,

adequados a diversas situações, e aquele que estava destinado aos prédios de

rendimento era consubstanciado na Praça do Areeiro16, em Lisboa.

Para P. Vieira de Almeida (2002) nunca houve propriamente uma Arquitectura do

Estado Novo. Não porque Salazar não a ambicionasse mas porque nem ele nem o

Estado a saberiam definir. “Assim naturalmente o Estado e muito particularmente ele

próprio, esperavam que os arquitectos definissem por si uma arquitectura adequada


17
ao regime e fornecessem dela os parâmetros a respeitar” . Como isto não tivesse

sido conseguido, apesar do entusiasmo com que os arquitectos se dedicaram à

procura de um estilo Nacional e Moderno (nomeadamente nos concursos de Sagres e

na Exposição do Mundo Português), e da discussão que se gerou envolvendo outros

intelectuais e artistas, tudo se terá saldado pela proliferação de exemplos dispersos da

responsabilidade individual de cada arquitecto.

Este autor desmonta a ideia de haver um modelo estabelecido e muito menos

imposto superiormente18. Lembra que já em 1935, por ocasião dos concursos de

Sagres, muitos dos da «geração de 27» defenderam um estilo moderno e português, e

que independentemente das posições ideológicas de cada arquitecto em relação ao

regime nas suas opções arquitectónicas não é demasiado evidente a diferença de

comportamentos19.

No entanto, apesar de ser duvidoso que se tenha estabelecido e imposto um

modelo, a preocupação com a emergência de um estilo nacional “moderno, forte e

saudável” parece ter existido. A comprová-lo está muita da arquitectura que se

construiu ao longo dos anos 40. E terão acontecido censuras pontuais aos projectos

que se apresentavam nas instâncias oficiais, levadas sobretudo a cabo por

funcionários zelosos que procuravam interpretar os desígnios do chefe. Real ou


mitificado, o Estilo Estado Novo constituirá argumento para uma posterior reacção por

parte dos arquitectos.

Segundo P. Vieira de Almeida20 (1986), a Segunda Grande Guerra e a simpatia

mal disfarçada do Estado Novo pelas potências do Eixo “vieram pôr progressivamente

em causa o sistema de colaboração, ainda que reticente, que até então se vinha

desenvolvendo entre a arquitectura e o governo”. Entretanto Duarte Pacheco morre

em 43, vítima de um acidente de viação, e os arquitectos ficam privados do principal

interlocutor – e com quem sentiriam alguma obrigação de lealdade21 – nas estruturas

do poder.

“A quebra desse elo, por um lado, fatal para os arquitectos que nele tinham um

dos seus principais apoios, deixa-os por outro lado mais livres para uma tomada de

posição de afastamento, sem quebra de laços de lealdade pessoal que a ele os

ligava”.22

Ainda para este autor, a morte de Pacheco e a conjuntura geral tornam já

impossível o grau de autoridade e centralização que tinha caracterizado o período

anterior e inicia-se uma época em que se multiplicam “as pequenas idiossincrasias

locais, ou de funcionários menores e médios na hierarquia do aparelho do poder,

fomentando o florescimento de outros tantos autocratas e ditadores de segunda,

terceira ou quinta escolha, tanto mais perturbantes quanto culturalmente

inconsequentes ou mesmo irresponsáveis e globalmente contraditórios”23.

Entretanto, os arquitectos mais novos, como Keil do Amaral, Januário Godinho,

Arménio Losa, Viana de Lima e outros, pertencentes a uma geração aparecida em

meados dos anos 30, não tinham já, segundo J. A. França (1976), “as razões

(psicológicas, sociais, e mesmo as raízes de estado) dos seus predecessores para se


acomodarem à realidade oficial sentiam os seus sonhos traídos, e (eles sonhavam

ainda com Mallet-Stevens ou Gropius) assumiam uma posição contestatária muitas

vezes tingida de uma ideologia oposta ao regime político do país”24.

De facto Keil do Amaral (1910-1975), apontado como o mentor da segunda

geração modernista, e ao serviço da Câmara Municipal de Lisboa desde 1938, pratica

uma arquitectura com um pendor bem mais culturalista do que é possível encontrar

em Gropius ou Malet-Stevens. N. Portas (1978) reconhece-lhe um vector nórdico e

ambientalista, enquanto que P. Vieira de Almeida (1986) se refere à influência de

DudoK25, embora, em sua opinião, revelando pouca profundidade no entendimento da

sua obra.

Figura 8 – Aeroporto de Lisboa (1938-42) de Keil do Amaral

Segundo P. Vieira de Almeida26, as influências de Marinus Dudok (1884-1974) e

Robert Mallet-Stevens27 (1884-1945), mal entendidas ambas, ilustram de certo modo

as duas vertentes culturalista e progressista constantes na arquitectura portuguesa.

Aqui se encontram também os fundamentos de um Estilo Português Suave28 que se

caracterizaria por uma “mistura doce de modernidade e regionalismo” e que teria

sobretudo implantação em Lisboa, e que depois extravasaria para o resto do País.


Importa sublinhar que o poder era fortemente centralizado em Lisboa, e era

portanto em Lisboa o território privilegiado para a utilização de uma linguagem de cariz

nacionalista. Com esta inspiração construíam-se muitos dos grandes edifícios públicos

e principais empresas de estado. Mas fora da capital, mesmo que fosse na segunda

cidade do país, o controle dos funcionários do regime afrouxava, a encomenda pública

era mais escassa, e os desvios tornavam-se mais frequentes.

Figura 9 – Edifício de Arménio Losa e moradia de Viana de Lima no Porto, anos 40

E é no Porto que os arquitectos beneficiam de mais liberdade, embora estejam

mais afastados das obras de Estado. Viana de Lima (este sim, bem mais perto de um

modernismo heróico), Arménio Losa e outros como José Porto, Manuel Marques, etc.,

entusiasmavam os estudantes, que Carlos Ramos formava com rigor e tolerância –“o

máximo de liberdade com o máximo de responsabilidade"29.

Carlos Ramos (1897-1969), autor de uma das primeira obras modernas em

Portugal (o Pavilhão do Rádio do Instituto de Oncologia em 1927), vai ensinar no

Departamento de Arquitectura da ESBAP em 1940, vindo a assumir a direcção da

escola em 1952. Homem culto e informado (“o intelectual”, como o chamavam os da

sua geração) e com reconhecido talento diplomático nas suas relações com o Poder,

vai desenvolver uma importante acção nesta escola.


Figura 10 – Pavilhão no Instituto de Oncologia em Lisboa (C.Ramos, 1927)

O fim da 2ª Guerra deixa o regime numa posição inconfortável; a paz que

Salazar tinha proporcionado ao país já não serve como desculpa, o atraso industrial é

gritante em relação ao resto da Europa e os recursos financeiros do estado são agora

canalizados para grandes obras de infra estruturas.

Por outro lado o regime é forçado a abrir a economia ao investimento privado. Há

agora em Portugal uma burguesia com dinheiro acumulado, desejosa de investir, e os

arquitectos vão deixar de ter o Estado como único grande cliente. Alguns sectores

industriais modernos proporcionam-lhes novas oportunidades que não se

circunscrevem apenas à capital.

Em 1945 Faria da Costa (1906-1971) volta de Inglaterra com formação

específica de urbanista – talvez o primeiro entre os arquitectos portugueses - e,

integrado no Gabinete de Urbanização da Câmara de Lisboa, vai estruturar o plano de

Alvalade, que, segundo N. Portas30 (1978) representa “um vector realista, afastado das

teses do CIAM mas apegado aos meios operacionais e construtivos disponíveis”.


Segundo Ana Tostões31, a primeira fase destinou-se exclusivamente a casas de

habitação económica, e os edifícios definiam-se pela forte unidade da imagem

exterior, ensaiando-se aí sistemas de pré-fabricação inéditos entre nós, e baseavam-

se num sistema tipológico estudado por Jacobetty Rosa (1901-1970). No Bairro de S.

Miguel (de Jacobetty Rosa e Sérgio Gomes) e na Av. da Igreja (de Fernando Silva),

partes do mesmo plano, utilizou-se o mesmo princípio compositivo mas já com áreas

mais generosas. O desenho urbano é ainda tradicional com os edifícios a

acompanharem o contorno das ruas e praças.

Figura 11 – Bairro de S. Miguel e desenho de edifício em altura para habitação social

“O novo bairro organizava-se a partir de oito células, «unidades de habitação»

estruturadas a partir de um elemento central: a escola primária. Pela primeira, num

conjunto urbano integrado onde se previa «a coexistência de habitações das diversas

categorias sociais», se propunham edifícios colectivos em altura destinados a

habitação social apoiados numa série de equipamentos: escolas, mercados, centros

cívicos, parque desportivo, pequena indústria, etc. Embora inicialmente não

ultrapassando uma volumetria de quatro pisos, esta alteração programática constituía

uma situação inédita no quadro dos Bairros Sociais de promoção oficial,

tradicionalmente por casas uni familiares com logradouro (Encarnação, Alto da Ajuda,

Alto da Serafina, Alvito, Madre de Deus, etc.) ”.32


Figura 12 – Bairros do Alvito e da Encarnação

Com o decorrer da sua implementação o plano viria a ser alterado em algumas

das suas partes por traçados urbanos que abandonam já a concepção tradicional de

frente-rua. Começando com a Av. D. Rodrigo da Cunha (1948) de Joaquim Ferreira

(1911-1966) em que os edifícios perpendiculares à rua e de cobertura plana utilizável

criavam zonas de jardins entre eles e anulavam a habitual hierarquia entre fachada e

traseira, e continuando pelo «Bairro das Estacas» (1954) de R. Jervis d`Athouguia e

Formosinho Sanchez em que se propunham tipologias em duplex e em que os

edifícios perpendiculares à rua eram agora sustentados por pilares que permitiam um

contínuo de jardins separando o percurso dos peões do transito automóvel.

Figura 13 – Av. D. Rodrigo da Cunha e Bairro das Estacas

Em 1956 noutra avenida da zona, a Av. dos E.U.A., são construídos já blocos em

altura (10 pisos), por M. Laginha e P. Cid, em que se segue o figurino tipo do

modernismo da Carta de Atenas, e em que N. Portas33 observa a “transposição de

modelos «de fora» do urbanismo «bloco-parque» para as margens acanhadas de


avenidas que são apenas pistas e onde não sobra «parque» ”. Finalmente, na praça

dos E.U.A., criada no cruzamento principal desta avenida, J. Segurado e F. Figueiredo

construíram em 1958 quatro blocos de 13 pisos implantados radialmente, com um

programa inspirado na Unidade de Habitação de Marselha em que se propunham

galerias interiores, terraços jardim, habitações mínimas, duplex, cobertura utilizável, e

até um piso central pensado para comércio e serviços.

Figura 14 – Avenida dos E.U.A. e Praça dos E.U.A.

Em Lisboa, em 1946, tinha surgido o ICAT (Iniciativas Culturais, Artes e

Técnicas). Era um grupo de arquitectos (muitos jovens) liderados por Keil do Amaral,

que se demarcava claramente do regime na sua luta para uma nova concepção da

estrutura profissional, baseada no reforço dos poderes do Sindicato dos Arquitectos.

Os seus modelos, segundo C. Duarte (1987)34, eram Gropius e Le Corbusier, e a nova

arquitectura brasileira de O. Niemeyer, L. Costa ou dos irmãos Reydi. Vão promover

debates sobre a profissão e vão adquirir a revista "Arquitectura” onde publicam pela

primeira vez em Portugal – com mais de dez anos de atraso – a Carta de Atenas.

“Veículo das teses do racionalismo, a revista Arquitectura alcançava um público

vasto e converte-se no ponto de encontro dos defensores de uma ideologia que não

se esgota na arquitectura mas que se prolonga em acções cívicas e políticas”35


No Porto, sensivelmente ao mesmo tempo, tinha-se formado o O.D.A.M.

(0rganização dos Arquitectos Modernos) que defendia posições similares ao I.C.A.T.

em Lisboa, mas que dedicava a sua atenção a problemas de estética e forma

arquitectónica. Defendiam a revalorização da profissão, uma relação mais estreita com

as Artes Plásticas, um controle eficaz do amadorismo em arquitectura e a aceitação de

novas formas estéticas directamente inspiradas nos ClAM. Neste grupo não havia uma

figura centralizadora, embora, segundo N. Portas36 (1978), Arménio Losa tenha

desempenhado um papel importante.

Estas 2 formações vão ser fundamentais no 1º Congresso Nacional de

Arquitectura, em 1948. Cottinelli Telmo, Presidente do Sindicato, vai perder o lugar

para Keil do Amaral, e Arménio Losa será o novo Presidente da Secção do Norte.

O congresso vai conseguir uma imagem de unidade da classe em torno de dois

pontos segundo N. Portas37: ”A rejeição do «Português Suave» (que muitos dos

signatários mais notórios continuariam a praticar e talvez a impor) e a chamada de

atenção para o «gravíssimo problema da habitação» e o papel da arquitectura e do

urbanismo moderno na sua «solução» ”.

No que toca ao primeiro ponto o congresso parece ter servido simultaneamente

tomada de posição e catarse colectiva. E daqui sai a resolução de se fazer um

levantamento da Arquitectura Popular Portuguesa em que o objectivo parece ser o de

provar que não existe um modelo único na arquitectura vernácula em Portugal que

possa servir como figurino para uma arquitectura nacional.

Apelos neste sentido já haviam sido feitos por Keil nas páginas de “Arquitectura”

e por Fernando Távora (também participante do congresso nas fileiras do O.D.A.M) no

seu escrito “O problema da Casa Portuguesa” em 1947: “Tudo há que refazer,


começando pelo princípio (...), impõe-se um trabalho sério, conciso, bem orientado e

realista, cujos estudos poderiam talvez agrupar-se em 3 ordens: a) do meio português;

b) da Arquitectura existente; C) da Arquitectura e das possibilidades da construção

moderna no mundo”38.

Em relação ao segundo ponto o resultado do congresso de 48 parece traduzir a

vitória do ideal racionalista. Os arquitectos reclamam o planeamento urbanístico e a

prioridade dos programas de habitação social colectiva, opondo-se aos bairros sociais

de habitação individual, tão caros a Salazar. Defendem a apropriação colectiva do solo

e a industrialização (estandardização) da construção, enfim defendem as teses da

Carta de Atenas. Acusam a política fundiária especulativa que se pratica em Portugal;

finalmente exigem a reforma do ensino de Arquitectura e um organismo profissional

que proteja o arquitecto da Administração Pública. O congresso consagrava o

racionalismo do Movimento Moderno numa altura em que ele já estava a ser revisto no

resto da Europa.

De entre a variedade de comunicações apresentadas, algumas há, como a de

Teotónio Pereira, que já põem já algumas reservas ao positivismo da Carta de Atenas,

defendendo, por exemplo, que as unidades de habitação devem ser inseridas em

unidades de vizinhança.

“Geração de arquitectos marcados pela dimensão humana da profissão, com a

coragem de demarcar-se profundamente das orientações do regime, são os homens

de fé num mundo melhor, a ponto de a sua crença os ter feito esquecer alguma vez o

território específico da disciplina quase orientada então para uma estética da ética"39.

As personalidades mais importantes saídas deste congresso dominaram o

panorama da arquitectura dos anos seguintes: Keil do Amaral, Rui Athouguia (escola
do bairro de S. Miguel); V. Palla, A. Pessoa, A. Manta, Gandra (Av. Infante Santo), P.

Cid, Esteves, Laginha e Croft de Moura, H. Albino (Av. Estados Unidos da América);

Formosinho Sanches, R. Athougia (Bairro das Estacas).

Figura 15 – Av. Infante Santo (1956) de A. Pessoa, J. Abel Manta e H. Gandra

Em 1960 os membros do ICAT participam nos planos para os Olivais Norte

“ilustração máxima dos seus princípios"40 (M. Vicente, 1976). "Estes princípios gerais

(Os expressos no congresso) traçavam uma estratégia que a classe dos arquitectos

veio a prosseguir com tenacidade. Por princípio eles eliminam os elementos

comprometidos com o regime e as suas fantasias arquitectónicas, mas ignoram

igualmente uma geração mais jovem saída das escolas de arquitectura que começava

a questionar os dogmas do racionalismo"41 (C. Duarte, 1987).

De facto, depois da banalização do estilo internacional por toda a Europa

começavam a surgir grandes dúvidas no panorama da arquitectura moderna. Em

Inglaterra o Brutalismo "tenta enfrentar uma sociedade de produção em massa

retirando uma espécie de rude poesia das poderosas e confusas forças que estão em

jogo”42 (A. e P. Smithson, 1956), paralelamente com os primeiros passos da Pop Art

na América, e em Itália e Espanha (sobretudo na Catalunha), o Neo-realismo procura


recuperar os aspectos psicológicos e ambientais delapidados pelo positivismo

racionalista, e na Escandinávia os Neo Empiristas nórdicos deslumbram os jovens

arquitectos portugueses pelo rigor crítico com que adaptavam a arquitectura moderna

à especificidade da sua cultura.

Figura 16 – Torre Velasca em Milão (1958) de BBPR

No Porto, Viana de Lima que nos anos 30 se tinha relacionado com os C.I.A.M.

volta a tomar contacto com o atelier de Le Corbusier, e quando em 51 se extingue o

O.D.A.M. funda com Távora, Andressen, Veloso, Korrodi, Canossa, Praga, o grupo

português dos C.I.A.M. que ainda assiste aos seus dois últimos congressos. Entre 50

e 60 a Escola do Porto sob a direcção de Carlos Ramos, desempenha um papel

importantíssimo na formação dos estudantes. Zevi e Giedeon são lidos muito cedo e

suscitam a descoberta de Wright. Os contactos com arquitectos e grupos estrangeiros

são frequentes, por intermédio dos membros do C.I.A.M. que prestam assistência na

escola, assistência que durante anos é gratuita mercê do entusiasmo pedagógico que

Carlos Ramos consegue contagiar aos seus antigos alunos. É durante esta década

que aparecem obras estimulantes e renovadoras como as de Fernando Távora (casa


de Ofir, mercado de Vila da Feira, escola do Cedro) e pouco depois as primeiras obras

de Álvaro Siza, que denotam também já as influências de Aalto e Scarpa.

Figura 17 – Mercado de Vila da Feira (1953) de F. Távora

É também nesta época (1955) que se realiza finalmente o inquérito sobre a

Arquitectura Popular Portuguesa que deixa os arquitectos deslumbrados. Proposto por

Keil do Amaral o inquérito era uma armadilha para o regime, apostado que estava em

provar que todas as regiões do país tinham a sua "tradição” e que as construções

resultavam das contingências físicas específicas de cada uma delas, numa óptica

racionalista. No entanto, sobretudo as equipas do Norte orientadas por F. Távora e 0.

Filgueiras (homens com uma cultura arquitectónica vasta) fizeram um trabalho de

pesquisa no sentido antropológico, dedicando grande atenção aos aglomerados e ás

relações com a paisagem e o modo de vida, em contraste com outras equipas -como a

do Alentejo que, segundo N. Portas43 (1978), apresentou quase que um catálogo de

soluções e formas apoiadas em interpretações económicas e tecnológicas.

“Tais diferenças de interpretação – mais cultural uma, mais instrumental ou

táctica, a outra – eram já então sensíveis e apenas anunciavam a clivagem que ao

longo dos anos 60, através do movimento da Revista Arquitectura pós 1956 e do que
no Porto lhe correspondeu, dividiria os seguidores do C.I.A.M. dos críticos ao C.I.A.M.

ou, mais caricaturalmente, os Franco-Brasileiros dos Italiano-Nórdicos. Ora esta

divisão viria a ter ainda e uma vez mais, como ponto focal, o da relação entre tradição

e modernidade e dos diferentes entendimentos que dessa relação se faziam então,

não só entre nós mas também a nível internacional"44 (N. Portas, 1978)

Na opinião de P. Vieira de Almeida45, se o Inquérito concretizava as posições

estruturais do Congresso de 48, por outro lado agudizou o conflito até então latente

entre “tendência oficial” desse congresso e as gerações mais novas, o que veio a

impossibilitar a organização coerente de um método de trabalho comum entre as

diversas equipas intervenientes e permitir grandes disparidades de abordagem e de

maneiras de olhar a arquitectura, dificultando ainda hoje um trabalho de análise

conjunta. Para este autor, o trabalho, levado a cabo pelo SNA para provar aos

organismos públicos a não existência de uma arquitectura de espírito e vinculação

nacionais, revela-se tão acrítico na sua posição como aqueles mesmos organismos.

Enquanto a Escola do Porto constrói uma posição no meio da arquitectura

contemporânea,"a Escola de Arquitectura de Lisboa, obedecendo às directrizes

oficiais, mantém-se num imobilismo quase total"46 (C. Duarte, 1987). De facto vários

estudantes de Lisboa vão acabar os seus cursos no Porto – uma das razões é que a

escola aceita trabalhos teóricos como teses de formatura – ou procuram trabalhos nos

ateliers que demonstram espírito de investigação e abertura de vistas, como é o caso

do de Nuno Teotónio Pereira, ponto de passagem quase obrigatória.

São homens da geração de Fernando Távora, Nuno Teotónio Pereira, Manuel

Taínha e outros, participantes no congresso ainda como estudantes ou como recém

formados, que estabelecem a ligação com os mais novos que vão pondo em causa os

dogmas do racionalismo.
Figura 18 – Edifício das Águas Livres em Lisboa (1956) de N. Teotónio Pereira e B. Costa
Cabral e Escola Agrícola em Grândola (1959-63) de M. Taínha

É esta jovem geração (C. Duarte, N. Portas, H. Ferreira, Vieira de Almeida e

outros) que vai tomar conta da revista "Arquitectura" em 1956 que entretanto já

publicava com grandes intervalos. Com preocupações teóricas, eles propõem-se a

publicar e comentar toda a arquitectura que se faz em Portugal, produzindo suporte

teórico e informativo e fazendo apelos à tarefa de uma nova geração, "apelos por

vezes de difícil entendimento pelo seu excessivo ecletismo metodológico”47 (N. Portas,

1978).

A acção desta revista é fundamental para a divulgação dos ideais orgânicos e

das várias tendências dissidentes do Movimento Moderno. As críticas ao racionalismo

começam a surgir por toda a Europa a partir dos anos 50.

“Assim, os anos 50-70 manifestam-se extraordinariamente ricos de obras, plenos

de hipóteses e temas provocatórios, mas terrivelmente dispersivos. A arquitectura

parece estar à míngua de importância e de credibilidade: até aqui, até nos mais nos

mais pequenos objectos do design prefigurara um habitat, uma cidade, um território,

uma ordem social discorde; agora, ao invés, mergulha num experimentalismo tão

fascinante nos episódios singulares quão delapidante e corrosivo no conjunto"48

(B.Zevi, 1971).
O Movimento de Renovação da Arte Religiosa, surgido em 53 (onde pontificavam

Teotónio Pereira, João de Almeida, Diogo Lino Pimentel e outros) foi importante para a

formação de um certo espírito de grupo destes arquitectos que mais tarde vêm a

entrar em bloco para a Federação das Caixas de Previdência.

Figura 19 – Igrejas das Águas em Penamacor (1950) de Teotónio Pereira


e do Sagrado Coração (1963-75) ) de Teotónio Pereira e N. Portas

"Com efeito, renovação do pensamento católico e pesquisas arquitecturais

encontram-se num «novo humanismo» que abriu caminho a realizações muito mais

subtis que aquelas da geração precedente"49. (M. Vicente, 1976).

A Federação das Caixas de Previdência, criada no final dos anos quarenta,

assegurava uma encomenda de habitações sociais, independente da do Estado. A

geração que para aí vai trabalhar (Teotónio Pereira, Manuel Tainha, João de Almeida,

etc.) a par da dos arquitectos um pouco mais novos (A. Soutinho, A. Amaral, Hestnes

Ferreira, L. cunha e outros) vai ser seguida pela revista “Arquitectura" preocupada com

a procura "Pós-Racionalista”. Também as obras de Távora e Siza, no Porto, são

apreciadas nesta perspectiva.


"Mas este momento de tensão criativa e teórica não dura muito mais e, em

breve, é de maneirismos que se trata, em obras, cada vez mais numerosas, que já

absorvem e misturam reminiscências folclóricas, modas cosmopolitas, brutalismos

pseudo construtivistas. É a fase dos anos 60 em que, sobretudo na capital, o capital

financeiro, as imobiliárias, as empresas turísticas, levam à concentração da profissão

em grandes organizações para as quais o exibicionismo formal é elemento de

marketing”50 (N. Portas, 1978)

Figura 20 – Hotel da Balaia (1965-67) do atelier Conceição Silva

De facto, a partir dos anos 60 o regime empreende um esforço industrial grande,

mas a par do incremento de construção especulativa (onde alguns destes ateliers-

empresa continuam a assegurar arquitectura de qualidade como no caso de

Conceição Silva) houve a necessidade de assegurar habitações pelo governo,

sobretudo em Lisboa que regista um enorme crescimento.

Em 1959 cria-se o G.T.H. (Gabinete Técnico de Habitação) que vai lançar em

Lisboa planos de urbanização em terrenos do município que tinham sido adquiridos

ainda por Duarte Pacheco. O primeiro vai ser o de Olivais Sul, na continuação de outro

mais pequeno, o de Olivais Norte, ainda lançado pelo G.E.U. (Gabinete de Estudos de

Urbanização).
“Que se passou no período 1948-61? No quadro de uma sociedade de fraco

desenvolvimento, seguimos um grupo de profissionais de formação muito

heterogénea, implicado num processo económico que a força a reconhecer-se. Da

deriva à fixação, da fluidez à rigidez, o passo foi muitas vezes franqueado a coberto de

equívocos estéticos e ideológicos. Sem pôr em causa a qualidade de muitos deles,

devemos constatar que estas vítimas da rigidez do quadro não souberam ou não

puderam fazer frente aos problemas que lhe eram postos. Caberá aos seguintes,

herdeiros destas novas experiências, sob a égide de um novo liberalismo, a tarefa de

adaptar a arquitectura às circunstâncias.

O decénio abria-se sobre a dissolução das tendências arquitecturais e culturais,

rechaçando os grupos que as haviam defendido. As confrontações tornaram-se

individuais e circunstanciais, já não era uma questão de debates de escolas nem de

divergências fundamentais. A relativa explosão económica com consequências

especulativas no sector da construção parecia definitivamente responder a tudo"51. (M.

Vicente, 1976)
Notas

1
Daniele Vitale, Domus nº 655 11/1984
2
C. Duarte – “La Arquitectura Portuguesa. De los Años Treinta a La Actualidad” – Catálogo da
Exposição Itinerante “Tendencias De La Arquitectura Portuguesa”, Col.legi d`Arquitectes de
Catalunia, 1987, p. 11
3
Idem, p. 11
4
Esta geração (que inclui nomes como C. Ramos, C. da Silva, Pardal Monteiro, Cottinelli
Telmo, C. Branco, G. Mello Breyner, A. Nunes, P. Montês, J. Segurado e R. Azevedo) nascida
no último quinquénio do sec. XIX (à excepção de A. Nunes que nasceu já em 1903) ter-se-á
formado quase toda na primeira metade dos anos 20.
A designação de «geração de 27» terá a ver com a sua identificação com o grupo ligado à
revista Presença cujo primeiro número foi publicado em Maio de 1927.
5
P. Vieira de Almeida, J. M. Fernandes – “História da Arte em Portugal “, Vol 14, “A
arquitectura moderna” – Publicações Alfa, Lisboa 1986, p.112
6
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal” – 1978, em B. Zevi – “História
da Arquitectura Moderna” – vol 2, Editora Arcádia 1973 p. 708
7
Idem, p. 724
8
Idem, p. 725
9
Idem, p. 725-726
10
Que a partir da Constituição de 1933 era um cargo a que se acedia por nomeação directa do
Governo.
11
“Ora a esse internacionalismo era fácil descobrir-lhe a cor, vindo de Viena, de Weimar, de
Moscovo, de Barcelona ou dos panfletos do cidadão do mundo, albergado em França, Le
Corbusier, ganhando foros de verdadeira Internacional nas reuniões do CIAM, que se iniciam
em 28. Aliás de pouco serviria aos opositores, se é que estavam a par, que Terragni ou Pagani
construíssem, na Itália mussoliniana, notáveis casas «del fascio» ou universidades; Albini,
bairros sociais; Rogers e Samoná, novas cidades! Ou argumentar com a queda em desgraça,
no virar dos anos 20, dos construtivistas e desurbanistas soviéticos a favor do regresso ás
raízes históricas do povo russo... ao mesmo tempo que os nazis mandavam fechar a Bauhaus”.

N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal” – 1978, em B. Zevi – “História


da Arquitectura Moderna” – vol 2, Editora Arcádia 1973 p. 721
12
M. Botelho – “Os Anos 40: A ética da estética e a estética da ética” – ra Revista de
Arquitectura da Universidade do Porto, nº 0, Outubro de 1987. p 7
13
C. Duarte – “La Arquitectura Portuguesa. De los Años Treinta a La Actualidad” – Catálogo da
Exposição Itinerante “Tendencias De La Arquitectura Portuguesa”, Col.legi d`Arquitectes de
Catalunia, 1987, p. 13
14
Idem, p.13
15
J. S. Rodolfo – “Luís Cristino da Silva e a Arquitectura Moderna em Portugal” – Publicações
D. Quixote, 2002, p. 99
16
“Assim, de entre os modelos do Estado Novo, destacaremos:
- Um modelo destinado ao prédio de rendimento, de características classicizantes, com uma
estrutura formal baseada no palácio setecentista e de influência joanina, pombalina, e, por
vezes, regionalista – Areeiro, Avenidas Sidónio Pais e António Augusto de Aguiar;
- Um modelo também de características clássicas para os liceus, com nuances relativamente
ao modelo anterior, devido às suas características funcionais de edifícios públicos – entradas
mais marcadas, inexistência do 1º andar nobre – Liceu Gil Vicente;
- Um modelo também classicista para a moradia uni familiar burguesa, que utiliza referências
dos anteriores adicionando-lhe o gosto Raul Lino – Restelo, Av. Almirante Gago Coutinho;
- Um modelo ainda de características clássicas, mas mais austero, de escala monumental e
de influência italiana para as universidades e palácios de justiça – Universidade de Coimbra;
- Um modelo para as casas de renda económica, de características vernaculares mas
extremamente pobre em termos materiais ou decorativos, acerca das quais diria Salazar:
«Vamos a obra da casa económica, da casa dos mais pobres, casa salubre, independente,
ajeitada como um ninho -lar da família operária, lar modesto, recolhido, português» - bairros do
Alto da Ajuda, Serafina, Madre de Deus, Encarnação, etc.;
- Um modelo com características semelhantes ao anterior mas aplicado a edifícios públicos
em pequenas localidades ou de menor relevo social, de ornamentação singela, na maioria das
vezes apenas a porta de entrada e o escudo nacional ou as armas da cidade sobre ela –
escolas primárias, casas do povo, cadeias comarcãs, CTT, esquadras de polícia, etc.;
É sobretudo o primeiro destes modelos que deixará uma marca significativa na imagem
urbana de Lisboa e que será alvo de estudo, neste trabalho, através da Praça do Areeiro.

J. S. Rodolfo – “Luís Cristino da Silva e a Arquitectura Moderna em Portugal” – Publicações D.


Quixote, 2002, p. 101
17
P. Vieira de Almeida – “A Arquitectura no Estado Novo. Uma leitura crítica” – Livros
Horizonte, 2002, p.40
18
“Deste modo, pese embora a diferentes arquitectos e críticos de arquitectura que têm
defendido outro ponto de vista quanto a mim na maioria dos casos por comodismo intelectual,
consolidando falsamente aquilo a que tenho chamado «história ortodoxa» da nossa recente
arquitectura, creio que na realidade podemos hoje repetir não ter havido de facto uma
arquitectura do Estado Novo.
Certo, não digo que num caso ou noutro não tenha havido pressões isoladas, tendentes a
obter determinados resultados tidos por convenientes, no domínio da expressão.
Mas essas pressões exerceram-se em situações concretas, precisas, sem orientação
comum, um pouco à deriva, independentes de um poder centralizado”.

P. Vieira de Almeida – “A Arquitectura no Estado Novo. Uma leitura crítica” – Livros


Horizonte, 2002, p. 39
19
“Em Portugal, já o afirmei, os arquitectos em geral perfilaram-se colaborantes mas não
colaboracionistas.
Este é o seu distintivo de honra.
Se há algo que possamos reprovar no sentido crítico estrito, é o facto de que jamais, em todo
o percurso histórico deste período ou depois, não ter havido uma procura de uma maior
coerência entre os princípios ideológicos de que os arquitectos se reivindicavam e os
esquemas de arquitectura que concretamente desenvolviam.
Era isso afinal que precisava de ter sido elaborado criticamente do ponto de vista teórico e
prático.
(...)
Cristino, Pardal, Cottinelli e outros, foram afinal tão colaborantes como Cassiano, Ramos,
Keil e Gandra”.

Idem, p. 178
20
P. Vieira de Almeida, J. M. Fernandes – “História da Arte em Portugal “, Vol 14, “A
arquitectura moderna” – Publicações Alfa, Lisboa 1986, p.138
21
“De facto, desaparecia aí o homem que até essa altura tinha sido um dos obreiros, mesmo o
principal obreiro, da dócil colaboração, se não do claro empenhamento, dos arquitectos na
estrutura do poder”.

Idem, p. 138
22
Idem, p. 138
23
Idem, p. 139
24
J. A. França – Architecture d`Aujourd´hui Maio/Junho 1976
25
“Keil do Amaral tinha conhecido a obra de Dudok em 1936, naquela que ele considera, no
plano profissional, a viagem da sua vida, e em 1943 escreve um opúsculo sobre as suas
impressões, em termos de um entusiasmo contagiante. Mas a força, a sólida tranquilidade e a
frescura da vinculação nacional patentes na obra de Dudok não serão de facto entendidas por
Keil nem pelos arquitectos da sua geração”.

P. Vieira de Almeida, J. M. Fernandes – “História da Arte em Portugal “, Vol 14, “A arquitectura


moderna” – Publicações Alfa, Lisboa 1986, p.144
26
Idem, p. 145
27
Segundo P. Vieira de Almeida, os arquitectos portugueses vão aceitar no plano formal a
«mais fácil» influência formal de Mallet-Stevens (quando comparada com a de Le Corbusier),
“que explorava um racionalismo doce, algo decorativo, não isento de alguma contradição não
dominada, mas que por isso mesmo respondia melhor à timidez da formação teórica da
arquitectura portuguesa”.

Idem, p. 144
28
P. Vieira estabelece aqui uma distinção entre estilo «Português Suave» e estilo «Estado
Novo» que não se observa na obra de outros teorizadores de arquitectura. Nos trabalhos
destes últimos ambos os termos parecem designar o mesmo fenómeno.
29
F. Távora –“Evocando Carlos Ramos” – ra Revista de Arquitectura da Universidade do Porto,
nº 0, Outubro de 1987. p 75
30
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1973 p. 728
31
Ana Tostões –“Alvalade, Uma Experiência Pioneira de Habitação Colectiva. Quando a
Habitação é capaz de fazer cidade”- Jornal Arquitectos 204, 2002, p. 43 (8)
32
Idem, p. 43
33
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1973 p. 731
34
C. Duarte - “La Arquitectura Portuguesa. De los Años Treinta a La Actualidad”- Catálogo da
Exposição Itinerante “Tendencias De La Arquitectura Portuguesa”, Col.legi d`Arquitectes de
Catalunia, 1987, p. 15
35
Idem, p. 15
36
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1973 p 737
37
Idem, p. 783
38
F. Távora – “O problema da Casa Portuguesa – 1947 citado em M. Botelho -“OS ANOS 40: A
ética da estética e a estética da ética”- ra Revista de Arquitectura da Universidade do Porto, nº
0, Outubro de 1987. p 7
39
M. Botelho -“Os Anos 40: A ética da estética e a estética da ética”- ra Revista de
Arquitectura da Universidade do Porto, nº 0, Outubro de 1987. p 8
40
M. Vicente – Architecture d`Aujourd´hui Maio/Junho 1976
41
C. Duarte - “La Arquitectura Portuguesa. De los Años Treinta a La Actualidad”- Catálogo da
Exposição Itinerante “Tendencias De La Arquitectura Portuguesa”, Col.legi d`Arquitectes de
Catalunia, 1987, p. 15
42
A. e P. Smithson em 1956 citados por B. Zevi –“História da Arquitectura Moderna”- vol 2,
Editora Arcádia, 1973, p 641
43
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1978 p 736
44
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1978 p.736
45
P. Vieira de Almeida, J. M. Fernandes –“História da Arte em Portugal “, Vol 14, “A
arquitectura moderna”- Publicações Alfa, Lisboa 1986 p.153
46
C. Duarte - “La Arquitectura Portuguesa. De los Años Treinta a La Actualidad”- Catálogo da
Exposição Itinerante “Tendencias De La Arquitectura Portuguesa”, Col.legi d`Arquitectes de
Catalunia, 1987, p. 17
47
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1978 p 741.
48
B. Zevi –“História da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia, 1978, p 603
49
M. Vicente– Architecture d`Aujourd´hui Maio/Junho 1976
50
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1978p. 743
51
M. Vicente – Architecture d`Aujourd´hui Maio/Junho 1976
OS ANOS 60

“Depois da reafirmação universal da arquitectura moderna no pós-guerra, ao

longo dos anos 50 do chamado «Estilo Internacional» a década seguinte é já de

sintomas de divergência, surgindo as primeiras dúvidas e procuras por caminhos

diferentes.

Anos mais de «consequência» pois, do que de criação de novos paradigmas

unificadores; tempos de avaliação das consequências da uniformização de linguagem,

na arquitectura como na cidade, uniformização que de certo modo o período anterior

tinha gerado e propagado por meio mundo, na sua ânsia de reconstrução

colectiv(ist)a”.1 (J. M. Fernandes, 1994)

Segundo Nuno Teotónio Pereira2 (2000) a publicação em 1961 do inquérito à

Arquitectura Popular Portuguesa (em que ele próprio colaborou) teve, para além da

virtude de registar um Portugal rural hoje quase desaparecido, consequências para a

cultura arquitectónica e patrimonial e para a prática de projecto em Portugal.

Assim uma delas terá sido,”e essa com efeitos imediatos”, a Prova Real contra a

Arquitectura dita Portuguesa, uma vez que se demonstrava que não havia uma só

arquitectura portuguesa ”mas muitas e variadas”, e que “a pseudo-arquitectura

propagandeada e até imposta pela ditadura do Estado Novo não passava de uma

mistificação baseada em clichés manipulados cenograficamente”. Isto muito embora

ele reconheça que a “posição do regime” fosse bastante mais branda à época, uma

vez que o Congresso de Arquitectura em 1948, “tomado em mãos por uma nova

geração cheia de convicções e muito combativa, provocou uma tomada de

consciência no meio profissional que abriu condições para a reconquista da liberdade

de expressão na produção arquitectónica”.


Segundo Teotónio Pereira tudo isto ficou “abundantemente comprovado por um

trabalho de campo em que ficaram registadas a racionalidade dos sistemas

construtivos e a sua transposição formal, a autenticidade no emprego de materiais, a

consideração das condições ambientais e a adequação dos espaços a funções bem

precisas – tudo o que os arquitectos envolvidos no Inquérito consideravam ser

apanágio da verdadeira arquitectura - tanto a de hoje como a de ontem”.

Figura 21 – Imagens do Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa

Outra consequência a assinalar foi a Revisão Crítica da Dogmática do

Movimento Moderno. “A coerência entre as necessidades funcionais, o sistema

construtivo e a expressão formal, encontrada nos exemplos do inquérito, encorajou os

arquitectos portugueses a procurar linguagens alternativas às vias até aí

inquestionadas do Movimento Moderno, sem caírem na prática de “citações directas

da arquitectura vernácula no trabalho de projecto, o que seria tão errado como o era a

adopção dos figurinos tão caros ao regime do Estado Novo”.

A publicação do inquérito coincidiu com a época em que na Europa se fazia a

revisão crítica de alguns dogmas do Movimento Moderno no sentido de “um

reencontro com as raízes mergulhadas no território e na história, ultrapassando


concepções radicais duma arquitectura que se queria internacional, mas que era

resultante de condições específicas dos países industrializados do centro da Europa”.

E essa coincidência no tempo terá dado uma importância acrescida ao inquérito.

”Mas não há dúvida que nessa busca das raízes, ao mesmo tempo que na

atenção dada às realidades socioculturais, os arquitectos passaram a utilizar com um

novo à-vontade, sem o sentimento de estarem a trair os princípios basilares da

arquitectura moderna, alguns elementos tradicionais que eram antes considerados

impuros e por isso proscritos. Estão neste caso, por exemplo, a cobertura em telhado

(de preferência de uma só agua), as espessas paredes de alvenaria, ou ainda o arco

(mas abaulado, formalmente bem melhor do que os desajeitados esquadros que os

engenheiros desenhavam nas vigas para resistir aos elevados momentos nos

encastramentos). Ou ainda o uso da cor (que Le Corbusier veio a reabilitar em

Marselha e Ronchamps), contra o branco, o cinzento e o preto que os pioneiros do

moderno tinham utilizado quase exclusivamente”3.

Finalmente para Teotónio Pereira o inquérito terá também contribuído para o

Alargamento do Conceito de Património Edificado em Portugal, o que já vinha

acontecendo na Europa desde os anos do pós-guerra. Este alargamento é aqui

entendido em duas vertentes: a primeira “no sentido de defender que o património

arquitectónico não se pode esgotar no monumento erudito, singular e classificado,

mas se deve estender à edificação singela, anónima, muitas vezes escondida nos

campos ou nos povoados, mas que constitui também um testemunho insubstituível,

carregado de simbolismo, de um passado que não podemos deixar de varrer da nossa

memória”; e a segunda “num outro sentido de alargamento do conceito de património,

a valorização dos conjuntos edificados ou naturais, ultrapassando também aqui o

objecto isolado, e que se tem estendido nos nossos dias aos centros históricos e a
outros conjuntos e espaços urbanos ou rurais, como bairros, quintas, jardins,

paisagens e que vai até às áreas protegidas”.4

Teotónio Pereira acaba concluindo que embora não tenha sido exclusivamente

por causa do inquérito que surgiram em Portugal estes movimentos (denúncia dos

clichés nacionalistas e regionalistas, revisão crítica da Arquitectura Moderna e visão

mais abrangente do Património), ele forneceu material em abundância para que,

beneficiando de importantes coincidências no tempo, se desenvolvesse “uma tomada

de consciência da necessidade de combate a ideias feitas e a conceitos acanhados”.

Já vimos que na opinião de outros críticos5 a leitura do Inquérito não parece

assim tão clara e inequívoca. No entanto, mesmo para eles, ele reflecte já na sua

incoerência interna o confronto entre uma tendência progressista (ou racionalista) e

uma tendência culturalista (ou orgânica) no âmbito do movimento moderno, que irá

caracterizar os anos sessenta em Portugal.

A narração que Teotónio Pereira faz das consequências que a publicação do

inquérito teve na cultura arquitectónica nacional, não obstante possa assentar numa

relação causal a que alguns críticos põem reservas, descreve bem as questões que se

levantavam no âmbito da discussão da especialidade durante os anos sessenta em

Portugal.

Já foi também referido no capítulo anterior que, durante os anos cinquenta,

tinham-se levado a cabo operações urbanas em Portugal com clara inspiração na

Carta de Atenas, como é o caso, em Lisboa, do Bairro das Estacas (1954) e das

avenidas Infante Santo e Estados Unidos da América (1956). Estas operações eram

por sua vez consideradas perspectivas «funcionalistas estreitamente franco-

germânicas e brasileiras»6 pelo grupo que tomou a revista “Arquitectura” em 1956 e


que procurava contrapor a esta «via estiolada»7 uma divulgação cultural das raízes do

Movimento Moderno na arquitectura e no urbanismo.

Por esta altura a tendência culturalista que o grupo da revista “Arquitectura”

representava tinha apenas exemplos construídos em Portugal que não ultrapassavam

alguns edifícios pontuais e que não se tinham ainda traduzido em planeamento

urbano, à excepção talvez, e só até certa medida, de alguns conjuntos de habitação

social pela Federação das Caixas de Previdência.

Figura 22 – Casas de Renda Económica em Barcelos de N. Teotónio Pereira (1960)

Por outro lado as experiências urbanas racionalistas em Lisboa tinham-se ficado

ainda por bairros habitacionais de pequena dimensão, que tinham resultado da

«perversão» de planos que na sua génese não tinham uma concepção modernista,

como é o caso da Alvalade, ou se encontravam encravados na cidade antiga, como é

o caso da Avenida Infante Santo.

Assim os novos bairros dos Olivais e Chelas, pela sua dimensão e pelo facto de

se situarem em terrenos limítrofes da cidade, como outrora fora Alvalade, criaram


condições inéditas na experiência do planeamento modernista em Portugal ao mesmo

tempo que proporcionaram uma oportunidade à tendência culturalista para testar na

prática as suas teorias.

Neste sentido podemos compreender a afirmação de Nuno Grande8: “projectos

como o de Olivais Norte (lançado em 1959), Olivais Sul (lançado em 1961) e Chelas

(lançado em 1966) foram decisivos para a introdução, entre nós, das premissas do

planeamento funcionalista e, simultaneamente, da necessidade da sua própria revisão

metodológica”.
Notas

1
J. M. Fernandes – “Dos anos 60 aos 70 na Arquitectura Portuguesa”- Catálogo da Exposição
“Anos 60. Anos de Ruptura. Arquitectura Portuguesa nos anos 60”, LISBOA 94, Livros
Horizonte 1994, p. s/nº
2
N. Teotónio Pereira –“Reflexos Culturais do Inquérito à Arquitectura Regional”- Jornal
Arquitectos 195, 2000, p .69 (18)
3
Idem, p. 69
4
Idem, p. 69
5
Ver N. Portas e P. Vieira de Almeida citados no capítulo anterior
6
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1973, p.740
7
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1973, pp.740-741
8
N. Grande –“A Cidade como um Ford”- Jornal Arquitectos 205, 2002, p. 41 (21)
OLIVAIS E CHELAS

“A nova década faz a sua entrada com uma intervenção maciça de arquitectos e

urbanistas na construção do até então maior conjunto de habitação social, o já referido

Olivais Sul, «bairro» para alojamento de quase 50 000 pessoas em Lisboa (planeado

na sequência da área a Norte, mais pequena e «experimental»), e verdadeira escola

de projecto doméstico colectivo que foi para muitos profissionais”.1 (J. M. Fernandes,

1994)

C. Duarte2 refere que as dificuldades que o regime teve de suportar com o fim da

guerra teriam dado lugar a cedências por parte das Câmaras e do Estado que em

arquitectura se traduziram pela aceitação de projectos (Bairro das Estacas, Avenida

dos EUA, Avenida Infante Santo, Olivais Norte, em Lisboa) que anos antes teriam sido

irremediavelmente chumbados. Seria neste clima que em 1959 foi publicado um

decreto-lei que visava a resolução do problema da habitação económica em Lisboa e

a eliminação dos bairros de lata, e criado para o efeito na Câmara Municipal de Lisboa

o Gabinete Técnico de Habitação (GTH) cujo objectivo era dar cumprimento às

directivas daquele diploma.

O plano dos Olivais Norte, ainda da responsabilidade do G.E.U. (o Gabinete de

Estudos de Urbanismo do município de Lisboa), tem uma dimensão menor que a dos

seus sucessores em Olivais Sul e Chelas, 40 ha para 8 500 habitantes, mas vai ser o

primeiro grande plano modernista de raiz em Portugal. Inspira-se numa concepção

«clássica» do modernismo racionalista, em que edifícios isolados, explorando as

tipologias da torre e da «banda», se distribuem pelo terreno procurando a melhor

orientação solar.
No entanto, esta repetitividade de elementos assegura uma unidade de conjunto

que se já não vai verificar em Olivais Sul. Ainda assim verificam-se aqui já algumas

intervenções com algum pendor «revisionista» da parte de algumas das equipas

projectistas, se bem que se fiquem sobretudo por cada edifício e não cheguem à

escala do desenho urbano. Os arquitectos que aqui participaram com os seus

projectos pertencem sobretudo à geração nascida nos anos 20, segundo N. Portas3 a

dos que tinham assistido ainda estudantes ou recém-formados ao congresso de 1948.

Figura 23 - Plano de Olivais Norte

O plano dos Olivais Sul, da autoria de R. Botelho e de C. Duarte, inspira-se já

num modernismo repensado pelas New Towns inglesas e nele vão participar várias

equipas de arquitectos de diferentes gerações. O plano, que compreende uma grande

vastidão de terreno, 187 ha para 38 000 habitantes, tem uma estrutura celular e

permite uma grande liberdade individual aos projectistas dentro de cada célula.

Acabou por transformar-se num laboratório de experiências em habitação colectiva e

em tipos de unidades de vizinhança e foi criticado por não ter assegurado uma

coerência suficientemente forte entre as várias células de que era composto.


Figura 24 - Plano de Olivais Sul

Aqui vamos encontrar a geração nascida nos anos 30, segundo N.Portas4 a dos

discípulos e colaboradores da primeira geração, muitos dos quais próximos das

preocupações veiculadas pela revista Arquitectura. C. Duarte, co-autor do plano – e

que fazia parte da direcção dessa revista, como aliás N. Portas – reconhece que

“houve o cuidado de agrupar os arquitectos por «tendências», assim se conseguindo

núcleos de paisagem urbana de relativa homogeneidade, embora tenham surgido

casos de evidente ruptura imagética.”5

No plano de Chelas, de F. Silva Dias e J. reis Machado depois de um estudo

preliminar cuja autoria incluía ainda R. Botelho, com uma extensão de 224 ha para 55

000 habitantes, procura-se de novo controlar a unidade do conjunto procurando uma

imagem mais urbana. Praticam-se maiores densidades, uma estrutura contínua, um


controle mais rigoroso da volumetria e tratamento dos edifícios, e privilegia-se na sua

implantação o enquadramento urbano à orientação solar.

A unidade não é procurada pelo controle dos projectos de arquitectura mas pela

continuidade do tecido urbano. Procura-se desfazer as fronteiras entre células que se

verificam nos Olivais Sul, contrariando a polarização do comércio e serviços que aí se

tinha praticado e tentando distribui-los linearmente de modo a assegurar «faixas de

vida urbana intensa» que atravessem todo o bairro. A geração que aqui trabalha é a

mesma que trabalhou nos Olivais Sul – a tal que nasceu nos anos 30 – acompanhada

agora por arquitectos mais novos, formados nos anos sessenta.

Figura 25 - Planta geral da zona 1 em Chelas

Nuno Portas recorda os planos de Olivais Norte e Olivais Sul, onde interveio

como projectista: “Se o plano inicial de Olivais Norte lembrava um imenso siedlung

fora de tempo, de blocos paralelos entremeados por torres – unidade imposta à

diversidade – o de Olivais Sul era já celular (e seria gerido como tal) facilitando as
(divergentes) incursões dos autores dos projectos no próprio desenho urbano – a

diversidade impondo-se à unidade. Em ambos os planos – apesar das diferenças de

cultura urbanística que traduziam – era evidente a dissociação entre os elementos

estruturantes (vias e verdes/equipamentos de proximidade) e os edifícios que serviam

as células servidas pelos primeiros: o desenho urbano era de matriz modernista,

entendendo a edificação como composição de volumes (plan masse) e o espaço livre

como sobrante ou intersticial. No primeiro, a repetição do tipo ou do standard era mais

evidente; no segundo, a mistura de tipos e formas de agrupamento (o mixed

development de Roehampton) era mesmo encorajada, prescindindo da disposição

helio-orientada ou de qualquer outra geometria sistemática. As vias eram um dado,

com a sua lógica própria (de cinturas separadoras das células), os espaços ou

equipamentos não residenciais previam-se autónomos e fisicamente separados e os

edifícios de habitação mantinham-se descontínuos”6.

Figura 26 – Olivais Norte em Construção


A propósito de Roehampton (1952-55), da autoria de Leslie Martin, diz N.

Pevsner7 em 1963 ser esteticamente o melhor plano habitacional até à data e que

consegue exprimir pela primeira vez numa síntese de edificação e natureza os

princípios de irregularidade, informalidade, surpresa e complexidade, que ele relaciona

com a tradição inglesa do Pitoresco no sec. XIX, e que é portadora da “animação e

flexibilidade que desde há algum tempo são tão procuradas pela arquitectura”.

Pevsner chama a atenção para o cuidado na relação com o sítio e com a paisagem

que faz com que nunca tenhamos a sensação de alojamento de massas (o conjunto

deve albergar cerca de 10 000 habitantes) e lembra que se esta experiência, inspirada

nas realizações suecas em que se combinam árvores com diferentes tipologias de

edifícios, resulta melhor é por causa da maior escala que ajuda a criar uma satisfatória

«unidade-na-variedade»8.

Figura 27 - Plano de Roehampton (1956)

Segundo L. Benevolo9 (1969) os extensos espaços verdes de Roehanpton

representam uma aplicação convincente e ampla dos princípios da ville-radieuse ao

passo que a variedade dos alojamentos e as tipologias agregativas ressentem-se de

experiências escandinavas contemporâneas. Descrevendo a composição volumétrica

do conjunto como baseada na sucessão de grupos de casas elevadas (11 a 12 pisos


em torre ou em linha) e de grupos de casas baixas (1 a 4 pisos) refere que cada grupo

se dispõe e configura “na dependência muito estreita do ritmo do terreno e das linhas

visuais da paisagem”10.

Figura 28 – Vistas de Roehampton

As “New Towns” inglesas foram pensadas por Abercombrie11 e Forshaw como

satélites das grandes cidades para travar o crescimento desproporcionado destas.

Sendo maiores que as suas congéneres suecas12, a sua rápida execução no imediato

pós-guerra evidenciou no entanto “o carácter casual e não acabado da nova paisagem

urbana e, em muitos casos, também o efeito de um vazio derivante da densidade

demasiado baixa”, segundo Benevolo13, o que levou à revisão desse factor em

experiências posteriores com maiores densidades como é o caso de Roehampton.

Figura 29 – Bairro de Rosviks em Lidigno, Estocolmo (1943-46)


C. Duarte14, que esteve à frente dos serviços de planeamento do GTH de 1961 a

1969 e é um dos responsáveis pelo plano de Olivais Sul, diz a esse propósito que foi

um plano feito a partir de concepções datadas (“como afinal todos o são”). Reconhece

a influência das realizações inglesas do pós-guerra, como as cidades novas à volta de

Londres previstas no Plano Abercrombie (Harlow, Steverage ou Crowley), e que,

embora não siga à letra os esquemas dessas cidades, a estrutura geral dos Olivais Sul

se inspira nos seus princípios gerais, nomeadamente na adopção do conceito de

«unidade de vizinhança». No entanto frisa que tudo isto é feito na perspectiva de

aplicação a uma cidade como Lisboa, com uma tradição de viver urbano que não é a

inglesa e com um património histórico e arquitectónico peculiar, e que por isso se

insistiu na «vida de bairro» com tradução espacial em ruas, caminhos e praças, que

são lugares tradicionais de comércios, encontros e convívios. Esta intenção terá tido,

segundo ele, correspondência no trabalho de algumas equipas de projectistas.

Harlow (F. Gibberd 1947-48) Crowley (T. Sharp 1946-50)

Figura 30 – As “New Towns” Inglesas

“Neste aspecto, na procura da «dimensão de bairro», semelhante, aliás, à de

algumas realizações da INA-Casa da mesma época, Olivais Sul constitui uma ruptura

não só com as concepções da «linha francesa», expressas entre nós nos planos e na

influência de Fourastier, De Grôer e Auzelle, mas também com realizações mais


recentes inspiradas na Carta de Atenas, como o Bairro das Estacas, a Avenida Infante

Santo, a Avenida dos EUA ou Olivais Norte”15.

Figura 31 – Maqueta parcial de Olivais Sul

Em Olivais Norte a participação de N. Portas e N. Teotónio Pereira concentrou-

se na resolução e revisão das tipologias propostas pelo plano, sem interferir ainda na

sua articulação urbana: “a experiência foi interessante por termos conseguido «abrir»

uma torre ao meio para que o patamar de acesso aos elevadores e escada tivesse ar

e luz do dia, e uma pequena área de estar aberta ao Sul”16.

Neste projecto os arquitectos, denotando já preocupações de índole sociológica,

procuraram contrariar o isolamento entre vizinhos, que uma tipologia em torre propicia,

criando uma área comum no patamar de acesso onde chegam a prever um banco de

jardim. Voltaremos a encontrar esta preocupação em fomentar a vizinhança noutras

torres nos Olivais Sul, e não só destes autores mas também de outros como por

exemplo Manuel Taínha.


Figura 32 – Torre em Olivais Norte (de N. Teotónio Pereira, A. Freitas e N. Portas)

Mesmo aqui alguns projectistas convidados chegaram a propor uma

reformulação ao plano de volumes no sentido de substituir os blocos paralelos e

pontuais por um modelo de maior continuidade. A solução avançada por M. Taínha

procurava superar a fragmentação criando macro-quarteirões hexagonais juntando

projectos «em banda» de diferentes equipas e articulando-os nos ângulos com os

edifícios em «Y» previstos no plano inicial. Esta proposta, a ser aprovada, teria

segundo N. Portas “posto o bairro no rol dos exemplos do Team X ou de outras

propostas francesas, holandesas e italianas”.

Já em Olivais Sul, em que lhes coube uma célula de vizinhança com mais de 500

habitações de baixo custo (quase 2000 habitantes) e onde o plano de volumes “que

era respeitável mas não imperativo indicava também «bandas» e «torres» como

ingredientes compositivos” 17, N. Portas e B. Costa Cabral procuraram levar mais longe

a crítica ao mainstream racionalista: “tentar inserir a praça, a rua, o pátio, como

espaços positivos (menos residuais) que os edifícios por seu turno, mais encostados

uns aos outros, moldariam”. Articularam assim os «blocos» (“que não queríamos que o
fossem”) em quarteirões relativamente abertos e de geometria irregular de modo a

ladearem os arruamentos, e introduziram também funções não habitacionais nos

edifícios, que no programa eram previstas separadas, “para que essas ruas ou praças

não ficassem apenas na retórica do «feitio» ”18.

Figura 33 – Edifícios em banda em Olivais Sul e planta de uma torre (de B. Costa
Cabral e N. Portas)

Na planta da torre que em cima se apresenta reconhecemos de novo uma zona

de convívio com vista para a rua no patamar de piso, mas desta vez a servir quatro

fogos para que esta área tenha mais utilização. No interior das habitações definem-se

circulações possíveis através das várias divisões procurando versatilidade de uso num

espaço de área reduzida.

Segundo N. Portas a organização interna das habitações procurava coerência

com o espaço público pretendido, tentando que as “peças mais vividas (cozinhas,

quartos dos filhos, escadas) se abrissem para o interior dos quarteirões, que, “ao

contrário do standard racionalista”, a entrada no fogo não desse directamente para a

sala nem esta desse acesso aos quartos e se pudesse fechar ao uso da casa (ou em

alternativa ser vista como um espaço multi-usos), ou ainda que não houvesse passa-

pratos entre a sala e a cozinha mas que fosse esta que tinha um recanto para comer:

”estas preocupações, realistas ou ingénuas dados os tais metros quadrados, não eram
só nossas – tinham afinidades com experiências dos bairros INA-Casa italianos, dos

Quaroni., Aymonimo, Ridolfi, De Carlo, (...). Ou, com a obra de Oiza e discípulos, nos

bairros sociais de Madrid”19.

Figura 34 – Bairros da INA-Casa Tiburtino e Tuscolano em Roma

J.M. Fernandes diz em 1986: “A avaliação das qualidades, erros e resultados de

Olivais só agora se começou a fazer, numa perspectiva mais distanciada, que vinte e

cinco anos de uso e «desgaste» permitem; mas a sua importância na influência que

exerceu pelos bairros do País e até no campo das realizações privadas foi enorme:

permitiu, em definitivo, a implantação e vulgarização do ideário moderno do espaço

urbano «estilhaçado» e da «casa em altura» isolada”20.

Segundo N. Portas21, no capítulo adicional que escreveu na edição portuguesa

do livro de B. Zevi “História da Arquitectura Moderna”, a passagem dos 50 para os 60

transfere para os Olivais a polémica entre a defesa de uma dimensão culturalista da

arquitectura que propõe tipologias residenciais menos utilizadas e se inspira em textos

de sociologia urbana e o «urbanismo Carta de Atenas». Se o Plano de Olivais Norte,

«académico e de barras paralelas», mantém alguma repetitividade de elementos, tudo

isto se reflecte em bocados dissemelhantes na interpretação do plano de Olivais Sul

pelas diversas equipas projectistas.


Figura 35 – Torres isoladas em Olivais Sul (de F. Gomes da Silva e O. Rego Costa)

“Zonas que não são mais do que conjuntos de blocos sem qualquer sem

qualquer percepção de conjunto, zonas que formam quase-quarteirões mais ou menos

introvertidos, conjuntos de torres que incapazes de pontuarem o grande conjunto são

antes elementos dispersivos porque arbitrariamente variadas, tudo isto nos mais

variados figurinos arquitectónicos e construtivos, eis uma realização sem dúvida

importante pelos standards de equipamentos e espaços livres conseguidos mas que

mais fica a assinalar a inevitável divergência, já em curso, do que a unidade cultural

dos muitos arquitectos do Sul, dos vinte e cinco aos cinquenta anos, que aí

projectaram ao longo dos anos sessenta.22”

N. Portas lembra numa entrevista23, em 1979, que enquanto R Botelho

considerava importante um conjunto de cinco ou seis torres para pontuar

paisagísticamente uma determinada parte do bairro, ele próprio punha em causa a

razão de se viver em torres e procurava baixar-lhes a cércea, pôr-lhes um “chapéu de

telhado” e dispô-las de forma a criarem pátios de modo a homogeneizar o conjunto e

torná-las mais parecidas com as tipologias em banda.


Aliás N. Portas faz aqui uma autocrítica, referindo-se a Olivais e Chelas,

reconhecendo o artificialismo “desta visão de arquitectura de expansão das cidades

como mostruário de arquitectos e mostruário de arquitecturas mais ou menos

arbitrárias”, mas reafirma a importância da experiência de procurar romper com os

modelos da “vulgata da Carta de Atenas”. E reconhece que se não fosse C. Duarte

“estar no mesmo comprimento de onda” não teria sido possível experimentar esta

arquitectura “de conjuntos, de esboços de quarteirão e de ruas ou praças”, porque a

concepção do plano original era de natureza diferente.

Tudo isto decorria também, ainda segundo N. Portas, do facto de se estarem a

planear grandes conjuntos – bifes de lombo urbanístico, chama-lhes ele – onde

“aparentemente as restrições do problema de arquitectura eram eliminadas ao máximo

que era possível porque os futuros moradores não apareciam durante o processo do

projecto; porque os próprios terrenos eram escolhidos de maneira a estarem longe das

localidades mais próximas; por serem soi-disant auto-suficientes como bairros”.

Para J. M. Fernandes24 (1986) procurou-se compatibilizar no bairro dos Olivais

Sul os princípios da teorização inglesa das new-towns com as regras urbanísticas do

CIAM, o que terá resultado em pouca legibilidade estrutural e incapacidade de

definição de um espaço urbano consistente. No entanto reafirma que os Olivais

constituem uma experiência importante mesmo nas suas limitações, até por aí se

virem a propor, ainda que ao arrepio do plano geral, algumas tímidas mas

significativas experiências de estruturação de espaços colectivos e de espaços-rua.

Segundo o mesmo autor plano de Chelas procuraria «agarrar» de novo às tradições

urbanas o conjunto das células através da hierarquização de uma «rua» central, em

percurso ao invés do de Olivais Sul, concretizado em arquitecturas díspares.


Figura 36 – Plano de Chelas

C. Duarte – que como já referimos foi um dos responsáveis pelo plano dos

Olivais Sul – diz do plano de Chelas que formalmente foi objecto de um controlo mais

rigoroso. “Realizado depois de Olivais percebe-se nele a influência predominante das

realizações contemporâneas de Toulouse-le-Mirail e Park Hill. A ideia de uma

estrutura contínua, de desenvolvimento linear e largas densidades, substitui aqui a

estrutura celular dos Olivais”25 .

Figura 37 – Toulouse-le-Mirail
A preocupação do «regresso ao urbano», segundo J. M. Fernandes26 uma frase

de então que recordava os ensinamentos de C. Alexander no texto “A Cidade não é

uma Árvore”, já se faz notar no plano de Chelas. Do mesmo modo se reconhecem

contactos com as observações de Kevin Lynch27 nas intenções de desenho urbano.

Figura 38 – Plano de Park Hill e Hyde Park

De facto o texto de Alexander vem publicado na revista “Arquitectura” de Janeiro-

Fevereiro de 1967, no mesmo número em que se apresenta o plano de Chelas. Neste

texto28 o autor distingue cidades naturais (formadas ao longo dos anos mais ou menos

espontaneamente) de cidades artificiais (criadas expressamente por «designers» e

urbanistas) incluindo explicitamente nestas últimas Chandigard e as «New Towns»

britânicas, observando que as primeiras têm uma estrutura em semi-retícula29

enquanto que as segundas têm uma estrutura em árvore30. Esta estrutura em árvore

representa um sistema fechado cuja rigidez, na opinião de Alexander, não se adequa

já à nossa actual organização social e traduz uma ausência de complexidade que

deforma as nossas concepções de cidade. Assim o autor propõe o sistema em semi-

retícula como única forma de articular uma cidade viva.


Figura 39 – Estruturas da sociedade tradicional (em árvore) e da sociedade aberta (em
semi-retícula) por C. Alexander

No plano de Chelas vai-se tender para a resolução das células de vizinhança em

quarteirão aberto, dando seguimento às experiências de alguns dos arquitectos

projectistas nos Olivais Sul. As «barras», paralelas ou não, estão irradicadas. As

massas edificadas dispõem-se formando uma sequência de largos, e procura-se um

acompanhamento edificado contínuo dos principais percursos de peões.

“O método utilizado na elaboração do Plano-Base conduziu a uma estrutura

centrípeta com base numa compartimentação celular da vida urbana. No

desenvolvimento desse plano, abandonou-se essa estrutura e procurou-se uma

distribuição linear do equipamento de maneira a constituir faixas com ramificações, as

mais longas possíveis, através de todo o território da malha – em lugar de uma

distribuição pontual dos pólos de vivificação da malha, uma distribuição linear e

contínua que penetra em todas as áreas da nova expansão”31.

Procura-se assegurar uma vida urbana através da sucessão de praças e da

hierarquização de ruas, evitando assim o espaço urbano estilhaçado e sobrante da

implantação dos edifícios, e ensaia-se a continuidade do equipamento ao nível do piso

térreo, ao invés dos Olivais Sul em que este era concentrado em «centros comerciais

escalonados»32. A isto chamou-se «faixas de vida urbana intensa», que integram os

elementos geradores da vida comunitária e constituem as linhas mestras da estrutura

urbana, uma estrutura linear que procura garantir a unidade global.


Figura 40 – maqueta parcial de Chelas

“Através de uma sequência de espaços e enquadramentos muito definidos – em

oposição a implantações pontuais e consequentemente a pulverização de espaços

livres – procura-se criar um ambiente meridional de acordo com as condições

ecológicas que moldaram os melhores exemplos da cidade antiga”33.

No Plano dos Olivais recomendava-se apenas que se devia “procurar dar forma

a uma organização espacial de características vincadamente urbanas em que sejam

consideradas algumas soluções tradicionais de cidade (rua, praça, pátio) ”34.

A preocupação com os percursos de peões mantém-se desde o Plano dos

Olivais. Mas enquanto neste a preocupação se centra no afastamento do circuito

automóvel ligando os centros principais e explorando o interesse paisagístico dos

percursos, em Chelas quer-se circuitos distintos entre automóveis e peões “mas

relacionados de forma a existirem pontos de contacto a níveis diferentes, ou ao

mesmo nível, mas nunca linhas de contacto”35.


Figura 41 – Torres nos Olivais Sul de M. Taínha

Do mesmo modo enquanto nos Olivais se escolheram os pontos altos para a

implantação dos edifícios em torre de forma a propiciar “uma leitura rítmica das

cumeadas”36 em Chelas procurava-se “uma paisagem urbana facilmente memorizável

através de um processo dinâmico (cinematográfico) de apreciação”37.

No entanto em Chelas esse processo dinâmico não chega a acontecer e a

arquitectura continua a manifesta-se de forma tão díspar como nos Olivais. Só que em

Chelas essa disparidade torna-se mais notória porque o plano se pretendia mais

urbano e não tem a mesma ligação com a paisagem que tem nos olivais. E a

urbanidade interrompida confere singularidade à arquitectura. Essa singularidade faz-

se notar de forma curiosa nos nomes próprios que aqui ganharam alguns edifícios,

como é o caso da «Pantera Cor-de-rosa» de Gonçalo Byrne e Reis Cabrita ou dos

«Cinco Dedos» de Vítor Figueiredo


Figura 42 – «Pantera Cor-de-rosa» de G. Byrne e Reis Cabrita

Em Chelas parece que são os edifícios que têm de assegurar individualmente a

vida urbana intensa que se procurava alcançar no plano. Um exemplo é a tal «Pantera

Cor-de-rosa» de Gonçalo Byrne e Reis Cabrita – pertencentes à geração mais nova

que vem trabalhar em Chelas, e saídos mais uma vez do atelier de Teotónio Pereira -

em que é a articulação edifício que configura uma praça, e em que as galerias de

acesso se ligam criando ruas superiores lembrando mais uma vez as experiências do

bairro de Park Hill.

Figura 43 – Galerias em Park Hill e na «Pantera Cor-de-rosa»

A tipologia em galeria, que fora usada em algumas situações nos Olivais, como

nas obras de Vítor Figueiredo em Olivais Sul (que as vai usar de novo em Chelas nos

«Cinco Dedos»), torna-se aqui um recurso frequente, e é um valor fortemente


expressivo desta arquitectura, o que acentua mais uma vez essa sensação de que a

urbanidade deste bairro se passa dentro dos edifícios.

Figura 44 – Edifício em Chelas de M. Vicente


Notas

1
P. Vieira de Almeida, J. M. Fernandes –“História da Arte em Portugal “, Vol 14, “A arquitectura
moderna”- Publicações Alfa, Lisboa 1986 p. 155
2
C. Duarte –“Memórias de Olivais-Sul”- Jornal Arquitectos 204, 2002, p. 53 (10)
3
N. Portas –“A Habitação Colectiva nos Ateliers da Rua da Alegria”- Jornal Arquitectos 204,
2002, p. 48-49 (9)
4
Idem, p. 49 (9)
5
C. Duarte –“Memórias de Olivais-Sul”- Jornal Arquitectos 204, 2002, p. 55 (10)
6
N. Portas –“A Habitação Colectiva nos Ateliers da Rua da Alegria”- Jornal Arquitectos 204,
2002, p. 49 (9)
7
N. Pevsner – “An Outline of European Architecture”- 1ª edição em 1943, Penguin Books, 1990
8
“Consiste em cerca de duas dúzias de edifícios isolados em 3 grupos, algumas barras
paralelas altas, muitos blocos de apartamentos de cinco pisos e muitas casas pequenas em
terraço, juntando-se a isto escolas e algumas lojas. O conjunto deve albergar cerca de 10 000
habitantes. No entanto em nenhum ponto se sente a sensação de alojamento de massas. Isto
é evitado não pela invenção de matrizes para alçados mas pelo cuidado na relação com o sítio
e com a paisagem. Toda aquela área era uma das grandes e obsoletas villas Vitorianas com os
seus jardins. Por isso há muita árvore antiga e relva. Tudo isto foi mantido e reforçado, e
consequentemente a natureza cria o relevo e os ramos e folhas das árvores aos quais os
arquitectos agora aspiram. A combinação de edifícios modernos com árvores é sueca como é o
uso de edifícios isolados. Se o efeito total é superior a qualquer um na Suécia a razão é a
escala. A área é superior à dos empreendimentos privados construídos lá, e a escala ajuda a
criar uma satisfatória unidade-na-variedade”.

N. Pevsner – “An Outline of European Architecture”- 1ª edição em 1943, Penguin Books, 1990,
pp 433-435
9
L. Benévolo, C. Melograni, T. Giura Longo – “Projectar a Cidade Moderna”- 1ª edição em
1969, Editorial Presença,1980
10
Idem, p. 100
11
.
O Plano Abercombrie, de 1944, procura inverter o processo de concentração da cidade de
Londres propondo uma cintura verde (green belt) à volta dos subúrbios existentes (que
entretanto devem ser reordenados) e por fora desta (outer ring) novas cidades que devem ser
suficientemente grandes para ter uma vida auto-suficiente

Ver L. Benévolo – “História da Arquitectura Moderna”- 1ª edição em 1960, Editora


Perspectiva, 1989. p. 650

12
Segundo L. Benévolo a Suécia, por não sofrer danos durante a Guerra e por conseguinte
não experimentar a urgência da reconstrução, pôde planear cuidadosamente a reordenação
urbanística das suas cidades, que tiveram assim um valor exemplar.

“Deste modo, as planificações suecas, graças ao feliz e talvez momentâneo equilíbrio das
exigências sociais, políticas, económicas, desenvolve-se essencialmente na esfera da
composição arquitectónica e as decisões que são pedidas dos urbanistas dizem respeito muito
mais à forma do que ao conteúdo; experiências formais muito diversas e mesmo contrastantes
podem ser feitas, com base numa organização estável.
Neste ambiente desenvolve-se, no pós-guerra imediato, a tendência neo-empirista.”

L. Benévolo – “História da Arquitectura Moderna”- 1ª edição em 1960, Editora Perspectiva,


1989. p. 656

13
“Essa constatação (popularizada pela Architectural Review, que cunhou a palavra subtopia
para indicar o novo ambiente criado pólos planificadores) é o ponto de partida de uma linha de
pesquisas para o controle formal da paisagem na nova escala urbanística, para onde confluiu a
linha tradicional dos estudos paisagísticos, eliminando, contudo, a contraposição entre cidade e
campo tão viva em Ruskin, em Howard e em Geddes.
Esse interesse renovado pela cena urbana e suas instalações não tardou em frutificar,
permitindo realizar, nos anos cinquenta, alguns dos mais perfeitos bairros residenciais de
media e alta densidade – sobretudo por obra do London City Council: Loughborough Estate,
1955, e Roehampton Estate, 1956- e alguns centros cívicos melhor estudados e articulado nas
New Towns, de entre os quais se destaca o de Crawley.”

L. Benévolo – “História da Arquitectura Moderna”- 1ª edição em 1960, Editora Perspectiva,


1989. p. 772
14
C. Duarte –“Memórias de Olivais-Sul”- Jornal Arquitectos 204, 2002, p. 56 (10)

15
Idem, p. 58 (10)
16
N. Portas –“A Habitação Colectiva nos Ateliers da Rua da Alegria”- Jornal Arquitectos 204,
2002, p. 51 (9)
17
Idem, p. 51 (9)
18
Idem, p. 51 (9)
19
Idem, p. 51 (9)
20
P. Vieira de Almeida, J. M. Fernandes –“História da Arte em Portugal “, Vol 14, “A
arquitectura moderna”- Publicações Alfa, Lisboa 1986, pp. 153-4
21
N. Portas – “A Evolução da Arquitectura Moderna em Portugal”- 1978, em B. Zevi –“História
da Arquitectura Moderna”- vol 2, Editora Arcádia 1973
22
Idem, p. 742
23
J. M. Fernandes e J. Lamas – “Entrevista a Nuno Portas” - Arquitectura, nº 135, Outubro de
1979
24
P. Vieira de Almeida, J. M. Fernandes –“História da Arte em Portugal “, Vol 14, “A
arquitectura moderna”- Publicações Alfa, Lisboa 1986
25
C. Duarte - “La Arquitectura Portuguesa. De los Años Treinta a La Actualidad”- Catálogo da
Exposição Itinerante “Tendencias De La Arquitectura Portuguesa”, Col.legi d`Arquitectes de
Catalunia, 1987, p. 20
26
P. Vieira de Almeida, J. M. Fernandes –“História da Arte em Portugal “, Vol 14, “A
arquitectura moderna”- Publicações Alfa, Lisboa 1986, p. 155

27
Ver K. Lynch –“The Image of The City”- M.I.T. Press, 1960
28
C. Alexander – “A cidade não é uma árvore”- em Arquitectura, ” nº 95, Janeiro-Fevereiro de
1967, p. 22
29
Alexander define estrutura em semi-retícula deste modo:

“Uma colecção de conjuntos forma uma semi-retícula quando e só quando, dado dois
conjuntos que se intersectam e pertencem à colecção, necessariamente o conjunto de
elementos comum a ambos também pertence à colecção.”

C. Alexander – “A cidade não é uma árvore”- em Arquitectura, ” nº 95, Janeiro-Fevereiro de


1967, p. 24
30
Alexander define estrutura em árvore deste modo:

“Uma colecção de conjuntos forma uma árvore quando e só quando, para cada dois
conjuntos que pertencem à colecção, ou um deles está totalmente contido no outro ou dele
está totalmente separado”

C. Alexander – “A cidade não é uma árvore”- em Arquitectura, ” nº 95, Janeiro-Fevereiro de


1967, p. 24
31
“O plano de Chelas” em Arquitectura, nº 95, Janeiro-Fevereiro de 1967, pp 9-10
32
ver “Olivais Sul em discussão” em Arquitectura, nº 95, Janeiro-Fevereiro de 1967
33
“O plano de Chelas” em Arquitectura, nº 95, Janeiro-Fevereiro de 1967, pp 9-10
34
“Olivais Sul em discussão” em Arquitectura, nº 95, Janeiro-Fevereiro de 1967, p. 58
35
“O plano de Chelas” em Arquitectura, nº 95, Janeiro-Fevereiro de 1967, pp 11
36
“Olivais Sul em discussão” em Arquitectura, nº 95, Janeiro-Fevereiro de 1967, p. 59
37
“Plano de Urbanização de Chelas. Zona 1” em Arquitectura, nº 127/8, Junho de 1973, p. 54
CONCLUSÃO

O objectivo que aqui se propôs foi estudar a implantação e o afastamento das

teorias urbanísticas da Carta de Atenas em Portugal, mais especificamente em Lisboa,

e o que vem a acontecer depois como o regresso ao urbano, à cidade e à história. É

esta linha de evolução que constitui a espinha dorsal deste trabalho.

Para isso procurou-se definir uma genealogia entre três grandes planos de

iniciativa pública em Lisboa. E a relação é fácil de se estabelecer: são três planos de

características semelhantes; que se sucedem imediatamente no tempo; que têm

implantações contíguas; e em que muitos dos projectistas se repetiram.

O plano dos Olivais Norte não traz muito de novo no âmbito do desenho urbano.

Embora já se note aqui alguma influência do urbanismo inglês na relação com sítio,

não sendo portanto uma transcrição directa da vulgata internacional, é ainda um plano

de rigorosa inspiração modernista. No entanto vai permitir já algumas experiências

novas ao nível do desenho dos edifícios.

Figura 45 – Vista de Olivais Norte


É um bairro mais pequeno que os outros e que segue um modelo mais definido,

e por essa razão tem uma estrutura de leitura mais clara. Também pelos altos

standards de construção e de arranjos exteriores para bairros desta natureza – bairros

de iniciativa camarária – mantém uma apreciável qualidade urbana.

É o plano dos Olivais Sul que realmente inicia o processo de revisão do

planeamento modernista. Mas apesar de se querer afastar da Carta de Atenas não

conseguiu libertar-se da concepção higienista e da vertigem do verde. O resultado foi

um plano híbrido, com uma definição de estrutura urbana que desespera os

automobilistas que não conheçam bem a zona.

Aliás, como já foi referido anteriormente citando N. Portas1, é evidente a

dissociação entre a estrutura das vias e as células habitacionais servidas por estas

tanto em Olivais Norte como em Olivais Sul. C. Duarte2 defende-se explicando que

parte importante da estrutura viária dos Olivais Sul já estava construída, seguindo um

plano anterior da autoria do G.E.U – o mesmo gabinete que planeou Olivais Norte.

Figura 46 – Vista de Olivais Sul


No entanto o plano dos Olivais Sul sofre logo na sua génese um conflito entre

duas filosofias de projecto distintas: uma que se supõe que seja mais defendida por R.

Botelho – nascido por volta dos anos 20, com formação de urbanista na escola inglesa

– que se inspira no desenvolvimento misto das New Towns; e outra que teria mais

aceitação em C. Duarte – que como vimos integrava a direcção da revista Arquitectura

– que tem preocupações de ordem sociológica3 e que procura deixar espaço para que

se possam ensaiar outras experiências de organização humana.

Esta estrutura aberta permitiu pôr em causa muitas convicções da altura e deu

lugar para importantes experiências em arquitectura no campo da habitação. O Bairro

de Olivais Sul beneficiou também de algum desafogo económico do estado, o que

garantiu alguma liberdade de acção à arquitectura, e garantiu uma alta qualidade de

espaço urbano que, com todas as suas contradições, tem conseguido suportar bem a

passagem do tempo.

Foi também o primeiro plano a procurar integrar os diferentes estratos sociais

procurando não criar zonas segregadas. No entanto a sua divisão por células e a

estruturação topológica do território acabou por permitir a delimitação de alguns

ghettos que se formaram dentro do bairro e que ganharam nomes populares como por

exemplo o «Bairro dos Índios» ou a «Aldeia dos Macacos».

O Bairro de Chelas seguiu a preocupação dos Olivais Sul no campo da

integração social. No entanto aqui procurou-se a reorganização do território em torno

do paradigma urbano da cidade consolidada, inspirado já em experiências pontuais

nos Olivais. Procurou-se a estruturação do bairro em torno de «faixas de vida urbana

intensa» que seriam constituídas pelo equipamento, os percursos de peões, e as

habitações de categoria superior (de quem tem mais poder de compra). No entanto,
paradoxalmente estes percursos são divididos por uma enorme avenida que parece

comprometer desde logo esse objectivo.

Chelas não teve a mesma sorte dos Olivais no que se refere a recursos

financeiros, sofrendo com o esforço da guerra colonial, que começou em 1962, e mais

tarde com a revolução de 25 de Abril de 1974. Acabou por alojar principalmente os

sectores mais desfavorecidos da sociedade que demandavam a Lisboa à procura de

trabalho. A estrutura urbana pretendida acabou por não sobressair e mais uma vez a

arquitectura ganhou protagonismo nas soluções que procurou para resolver os

problemas de quarteirão. De novo aparecem os edifícios com nome próprio, e os

ghettos como o «Cambodja».

Figura 47 - Os «5 dedos» de Vítor Figueiredo em Chelas

E em Chelas as coisas não resultaram como nos Olivais Sul. Aqui o fundamento

da unidade do conjunto estava exclusivamente numa estrutura urbana que não

resultou. Os edifícios desirmanados funcionam agora como ilhas autónomas,

incapazes de constituir cidade.

N. Portas já tinha reconhecido em 1979, embora considerando que isso não é

muito evidente em Olivais e Chelas, que “a tal eliminação de condicionalismos, a tal


eliminação das pré-existências, a tal eliminação até das próprias marcas da

propriedade sobre o terreno, das ligações às pré-existências urbanas com toda a

ganga de restrições que põem a uma nova forma que se vai inventar, não ajudam

nada ao enraizamento da arquitectura na sociedade” 4.

O «regresso ao urbano», que se tinha verificado em Chelas, vem a ser

acentuado no plano do Restelo (1971-72) com o uso do quarteirão semi-fechado e

virado ao rio, abandonando o tema do edifício isolado e «virado ao sol» e privilegiando

a “articulação tipológica com a cidade tradicional”5.

Mas este plano é diferente dos outros de que aqui damos conta na medida em

que os seus autores (N. Teotónio Pereira, N. Portas e J. Paciência) são também

responsáveis pelos projectos de arquitectura. Curioso é que estes dois primeiros (que

já conhecemos na linha de combate dos Olivais) admitem que para este plano

voltaram a avaliar as qualidades dos planos em Lisboa anteriores a Olivais Norte,

como por exemplo Alvalade6.

Figura 48 – O Bairro do Restelo

Mais tarde em Telheiras, outra operação habitacional de iniciativa pública em

Lisboa, a par da preocupação em integrar no plano uma aldeia antiga, nota-se a


determinação em assegurar uma imagem urbana consistente através da definição de

um Sistema de Notação Espacial7 que enquadrasse a intervenção das (outra vez

várias) equipas projectistas.

Figura 49 – O Bairro de Telheiras


Notas

1
N. Portas –“A Habitação Colectiva nos Ateliers da Rua da Alegria”- Jornal Arquitectos 204,
2002, p. 48 (9)
2
C. Duarte –“Memórias de Olivais-Sul”- Jornal Arquitectos 204, 2002, p. 54 (10)
3
Os estudos de Chombart de Lawe são já lidos na altura
4
J. M. Fernandes e J. Lamas – “Entrevista a Nuno Portas” - Arquitectura, nº 135, Outubro de
1979
5
P. Vieira de Almeida, J. M. Fernandes ––“História da Arte em Portugal “, Vol 14, “A
arquitectura moderna”- Publicações Alfa, Lisboa 1986, p.161
6
Ver “ «Dossier» Restelo”, Arquitectura, nº 130, 1974
7
Ver “«Telheiras/Epul»”, Arquitectura, nº 137, 1980
INDICE DE IMAGENS

Figura 1 – Teatro Capitólio (1925) de Cristino da Silva ................................................. 6

Figura 2 – 3º projecto do Cinema Eden (1931) e Hotel Vitória (1934) de Cassiano

Branco .................................................................................................................. 7

Figura 3 – Instit. Superior Técnico (1927) e Diário de Notícias (1936) de Pardal

Monteiro................................................................................................................ 8

Figura 4 – Casa da Moeda (1935) de J. Segurado ....................................................... 9

Figura 5 – Plano de Alvalade e imagem de obra......................................................... 10

Figura 6 - Exposição do Mundo Português, 1940 ....................................................... 11

Figura 7 – Praça do Areeiro (1941) em Lisboa de Cristino da Silva ............................ 12

Figura 8 – Aeroporto de Lisboa (1938-42) de Keil do Amaral...................................... 15

Figura 9 – Edifício de Arménio Losa e moradia de Viana de Lima no Porto, anos 40 . 16

Figura 10 – Pavilhão no Instituto de Oncologia em Lisboa (C.Ramos, 1927).............. 17

Figura 11 – Bairro de S. Miguel e desenho de edifício em altura para habitação social

............................................................................................................................ 18

Figura 12 – Bairros do Alvito e da Encarnação ........................................................... 19

Figura 13 – Av. D. Rodrigo da Cunha e Bairro das Estacas........................................ 19

Figura 14 – Avenida dos E.U.A. e Praça dos E.U.A. ................................................... 20

Figura 15 – Av. Infante Santo (1956) de A. Pessoa, J. Abel Manta e H. Gandra......... 23

Figura 16 – Torre Velasca em Milão (1958) de BBPR................................................. 24

Figura 17 – Mercado de Vila da Feira (1953) de F. Távora......................................... 25

Figura 18 – Edifício das Águas Livres em Lisboa (1956) de N. Teotónio Pereira e B.

Costa Cabral e Escola Agrícola em Grândola (1959-63) de M. Taínha ............... 27

Figura 19 – Igrejas das Águas em Penamacor (1950) de Teotónio Pereira ................ 28

Figura 20 – Hotel da Balaia (1965-67) do atelier Conceição Silva.............................. 29

Figura 21 – Imagens do Inquérito à Arquitectura Popular Portuguesa ........................ 36


Figura 22 –Casa de Renda Económica em Barcelos de N. Teotónio Pereira (1960) .. 39

Figura 23 - Plano de Olivais Norte .............................................................................. 43

Figura 24 - Plano de Olivais Sul.................................................................................. 44

Figura 25 - Planta geral da zona 1 em Chelas ............................................................ 45

Figura 26 – Olivais Norte em Construção ................................................................... 46

Figura 27 - Plano de Roehampton (1956) ................................................................... 47

Figura 28 – Vistas de Roehampton............................................................................. 48

Figura 29 – Bairro de Rosviks em Lidigno, Estocolmo (1943-46)................................ 48

Figura 30 – As “New Towns” Inglesas ........................................................................ 49

Figura 31 – Maquete parcial de Olivais Sul................................................................. 50

Figura 32 – Torre em Olivais Norte (de N. Teotónio Pereira, A. Freitas e N. Portas) .. 51

Figura 33 – Edifícios em banda em Olivais Sul e planta de uma torre (de B. Costa

Cabral e N. Portas) ............................................................................................. 52

Figura 34 – Bairros da INA-Casa Tiburtino e Tuscolano em Roma ............................. 53

Figura 35 – Torres isoladas em Olivais Sul (de F. Gomes da Silva e O. Rego Costa) 54

Figura 36 - Plano de Chelas ....................................................................................... 56

Figura 37 – Toulouse-le-Mirail .................................................................................... 56

Figura 38 – Plano de Park Hill e Hyde Park ................................................................ 57

Figura 39 – Estruturas da sociedade tradicional (em árvore) e da sociedade aberta (em

semi-retícula) por C. Alexander........................................................................... 58

Figura 40 – maquete parcial de Chelas ...................................................................... 59

Figura 41 – Torres nos Olivais Sul de M. Taínha ........................................................ 60

Figura 42 - «Pantera Cor de Rosa» de G. Byrne e Reis Cabrita ................................. 61

Figura 43 – Galerias em ParK Hill e na «Pantera cor de rosa» ................................... 61

Figura 44 – Edifício em Chelas de M. Vicente............................................................. 62

Figura 45 – Vista de Olivais Norte............................................................................... 66

Figura 46 – Vista de Olivais Sul .................................................................................. 67

Figura 47 - Os «5 dedos» de Vítor Figueiredo em Chelas .......................................... 69


Figura 48 – O Bairro do Restelo ................................................................................. 70

Figura 49 – O Bairro de Telheiras ............................................................................... 71


BIBLIOGRAFIA

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