Como Nasceu o Gayatri Mantra
Como Nasceu o Gayatri Mantra
Como Nasceu o Gayatri Mantra
http://www.yoga.pro.br/artigos.php?cod=386&secao=3031
Conta-se na Índia que Manu, um jovem brahmin, desejava conhecer plenamente a sabedoria
dos Vedas, porém sem lê-los. Seu pai, um homem erudito e respeitado, procurou dar-lhe todos os
ensinamentos possíveis e necessários para que ele também se tornasse um homem sábio. Contudo, devido à
sua preguiça e falta de vontade, tão comuns ao ser humano, Manu descartava qualquer possibilidade de
estudar os Vedas. E, para facilitar as coisas, começou a venerar Indra, o deus dos céus.
Passado algum tempo, eis que lhe surgir Indra, dizendo-lhe: “Tua meditação e teus esforços me compadecem.
Por isso, podes fazer-me um pedido”. Manu, ansioso por uma oportunidade como essa, inclinou-se ante ao deus
e disse-lhe: “Conceda-me o único favor de conhecer os Vedas, sem que eu os leia ou estude”.
Indra riu muito diante do desejo de Manu e respondeu-lhe: “Eu sinto muito, Manu, mas não posso dar-lhe o
que me pedes, pois até hoje ninguém jamais pôde chegar a conhecer os Vedas a fundo sem antes haver lido ou
estudado os mesmos”. Dito isso, desapareceu. Porém, para alcançar seus objetivos, Manu era perseverante, tal
como a maior parte dos seres humanos. E novamente, com muita paciência, iniciou sua veneração ao deus,
oferecendo-lhe alimentos sólidos, flores, jejuando e alimentando-se somente com água.
Após algum tempo, Indra novamente apareceu e disse-lhe: “Em verdade, tua obstinação me impressiona. Diga-
me: o que posso fazer por ti?”. Manu tornou a expressar o seu desejo a Indra, que manifestou de novo a
impossibilidade de cumpri-lo e desapareceu. No dia seguinte, Manu dirigiu-se ao mar para banhar-se e viu um
homem que jogava pedrinhas dentro do vasto oceano.
Manu observou-o atentamente por longo tempo e, sem poder resistir à tentação, dirigiu-se a ele, perguntando-
lhe: “Por que jogas sem parar estas pedrinhas no mar?”. Ao que o homem respondeu calmamente: “Eu não
gosto do mar, e estou tratando de enchê-lo com as pedrinhas”.
Ao escutar aquilo, Manu estacou sério e questionou: “Acaso se pode aterrar o mar jogando-lhe pedrinhas?”. Ao
que o homem contestou: “Sim, pois se existem aqueles que podem ou querem conhecer os Vedas sem sequer
os haver lido, eu também posso encher o mar com estas minúsculas pedrinhas!”. Imediatamente, Manu deu-se
conta de quem era aquele homem. Tocou-lhe os pés, pois não era outro senão Indra. De índole pesarosa, ele
estava inseguro de um dia chegar a dominar os Vedas, e, assim, perguntou ao poderoso deus se havia algum
método especial para fazê-lo. E Indra respondeu-lhe: “Se desejas conhecer a sabedoria dos Vedas, canta o
mantra chamado Gayatri. Ele acabará com a tua falta de vontade e dar-te-á disposição e alegria para todos os
fins. Sempre pela tua prática, sentirás entusiasmo e felicidade. Ele também despertará teu intelecto e, em
pouco tempo, serás outro homem. Assim, graças à assombrosa força de Gayatri, tu dominarás todos os Vedas”.
Havendo dado esse conselho, Indra desapareceu definitivamente, deixando a Manu o ensinamento de que ele
verdadeiramente precisava.
Se uma pessoa se aproxima de um indivíduo e lhe pergunta: “Quem é você?”. Dado à sua identificação com o
corpo, ele dá o seu nome em resposta. Em resposta a perguntas adicionais, ele se apresenta como médico,
agricultor ou estudante, e outros mais. Quando o questionamento continua, ele se identifica com sua
nacionalidade – como americano, indiano ou paquistanês, e assim por diante. Quando se examinam essas
respostas profundamente, nota-se que nenhuma delas corresponde à verdade. Ele obteve o seu nome dos seus
pais. Ele não lhe pertencia quando nasceu. A sua identificação com uma ou outra das profissões não é verdade
porque ele não é a profissão.
Qual é, então, a verdade a respeito dele? “Eu sou o Átman. Esse é o meu verdadeiro Ser”. Essa é a verdade.
Mas as pessoas se identificam com os seus nomes, profissões e nacionalidades e não baseiam as suas vidas no
Átman. Nenhum motorista se identifica com o seu carro. Da mesma maneira, o corpo é um carro e o Átman é o
condutor. Esquecendo-se da sua verdadeira função, o indivíduo está se identificando com o corpo, que é
somente um veículo.
Dehabudhyath dasoham
Jivabudhyath thadamsah
Atmabudhyath thvameva-aham
(Versos em Sânscrito)
Quando um indivíduo se observa do ponto de vista átmico, ele é idêntico ao Divino: “Eu sou Tu e Tu és eu”.
Assim sendo, todo homem tem três aspectos. A nossa própria vida é como uma mansão com três andares. O
estágio de brahmacharya (celibato) é o fundamento dessa mansão. Depois desse, o estágio do grihastha
(casado – chefe de família) é o primeiro andar. Depois tem-se o vanaprastha (afastamento da vida de chefe de
família), estágio como segundo andar. Finalmente, existe o estágio do renunciante (sanyása), que constitui o
terceiro andar. Desse modo, brahmacharya é a base para os outros três estágios da vida. A segurança e a
garantia dos outros três andares dependa da firmeza do alicerce (isto é, de brahmacharya). Portanto,
brahmacharya é o fundamento básico.
Porém, infelizmente esse fato importante tem sido esquecido pelas pessoas. Elas sentem-se felizes olhando a
super-estrutura. Mas o edifício inteiro pode ruir a qualquer momento se os alicerces forem fracos. Você deve se
preocupar com as suas raízes. O fundamento invisível é a base da mansão visível. As raízes invisíveis
são a base da árvore visível. Da mesma maneira, a força vital invisível (prána) é a base do corpo visível. O
prána não tem nenhuma forma, enquanto o corpo tem uma forma. Existe, porém, o princípio átmico, que
confere todas as potências à força vital (prána). Devido ao poder conferido pelo Átman, a força vital pode ativar
o corpo. O corpo é inerentemente inerte. Ele é constituído por diferentes tipos de substâncias materiais.
No Gayatri Mantra, a primeira linha é: “Om bhur-bhuvah-swaha”. Se presume que esse mantra se refere aos
três mundos: a Terra, o mundo intermediário e o Céu (ou Swarga, a terra dos deuses). Bhur se refere ao
corpo. Esse é composto de cinco elementos (pancha bhutas). Esses cinco elementos constituem a Natureza
(Prakriti). Existe uma relação íntima entre o corpo e a Natureza. Os mesmos cinco elementos que estão na
Natureza também estão no corpo. Bhuvah é a força vital que anima o corpo (prána-shaktí). Mesmo que a força
vital exista, sem jñána (consciência) o corpo não tem utilidade. Com base nessa explicação, os Vedas
declararam:
Prajñánam Brahma
(Verso em Sânscrito)
Devido à presença do Prajñána, a força vital pode animar o corpo. O corpo representa a matéria inerte. A força
vital opera no corpo como uma vibração. Essa vibração deriva do poder de Prajñána, que encontra expressão
na radiação.
Portanto, o corpo, a força vital e o Prajñána estão todos no Homem. O Cosmos inteiro está presente, em
miniatura, no Homem. Por causa desses três constituintes, somos capazes de ver o Cosmos e vivenciar muitas
outras coisas. Toda potência está dentro de nós. O externo é um reflexo do Ser Interno.
Conclui-se disso que a verdadeira humanidade (mánavathvan) é a própria Divindade (Daivathvam). Por isso, os
Vedas declaram que o Divino aparece na forma humana. Todo ser humano é inerentemente Divino, mas,
devido ao seu apego ao corpo, ele se considera um mero homem.
Como esse corpo humano é animado pela força vital? De onde proveio essa força vital? É do Átman-Shaktí (o
poder do Ser – Self). Fazendo uso desse poder do Ser, a força vital realiza todas as atividades.
(Verso em Sânscrito)
Diz-se que Gayatri tem cinco faces e, portanto, se chama panchamukhi. Existe no mundo alguém com cinco
faces? Não. No Ramayana, Rávana é descrito como tendo dez cabeças. Se realmente ele tivesse dez cabeças,
como poderia ele se deitar na cama ou mover-se de um lado a outro? Esse não é o significado interno dessa
descrição. Diz-se que ele tinha dez cabeças porque ele dominava os quatros Vedas e os seis Shástras. De
maneira semelhante, Gayatri é descrita como tendo cinco faces. As cinco faces são: “Om” (o Pranava) é a
primeira face. O princípio do Pranava representa as oito diferentes formas de riqueza (ashta-aiswarya). A
segunda face é “bhur bhuvah swaha”. A terceira é: “thath savitur varenyam”. A quarta é: “bhargo devasya
dhimahi”. “Dhiyo yo nah prachodayaath” é a quinta face. Quando o Gayatri Mantra é entendido dessa maneira,
será notado que todos os cinco aspectos do Gayatri estão dentro de cada um de nós.
O Gayatri Mantra tem os três elementos que figuram na adoração de Deus: descrição, meditação e oração.
As primeiras nove palavras do mantra representam os atributos do Divino: “Om bhur-bhuva-swaha thath
savitur varenyam bhargo devasya”. “Dhimahi” pertence à meditação (dhyána). “Dhiyo yo nah prachodayaath”
é a oração ao Senhor. O mantra é, conseqüentemente, a oração a Deus para conferir todos os
poderes e talentos.
Sarvaroganivárini Gáyatrí
(Versos em Sânscrito)
Gayatri é quem doa tudo o que é benéfico. Se o mantra é cantado, vários poderes se manifestarão no
indivíduo.
Por conseguinte, o Gayatri Mantra não deveria ser tratado com pouco caso. No nosso processo de respiração, o
som do Gayatri é parte integral dele. O som é uma lembrança da nossa verdadeira forma. No processo da
respiração temos a inalação e a exalação. No Yoga-Shástra, a inalação é chamada de púraka e a exalação é
denominada rechaka. Manter o ar respirado é chamado kúmbhaka. Quando o ar é inalado, o som produzido é
So-o-o. Quando ele é exalado, o som é Ham-m-m. So-Ham... So-Ham...(1). So é That (Isso). Ham é “eu”. “Eu
sou That (Isso)”. “Eu sou divino”. Cada ato de respiração proclama isso. Os Vedas declararam a mesma coisa
nos pronunciamentos:
"Isso tu és".
Aham Brahmaasmi
"Sou Brahman".
(Versos em Sânscrito)
Não imagine que Deus é algo distante de você. Ele está dentro de você. Você é Deus. As pessoas querem ver
Deus. Sathyam jñánam anantham Brahma, dizem as Escrituras. A Verdade é Deus. A Sabedoria é Deus. Ambos
estão presentes em toda a parte. Elas transcendem as categorias do tempo e do espaço. A Verdade é aquilo
válido em todos os tempos: passado, presente e futuro. Essa verdade é Gayatri.
Gayatri é, assim, o residente interno do coração (hridaya). Hridaya contém a palavra daya, que quer dizer
compaixão. Existe a compaixão em cada coração. Mas em que proporção ela é demonstrada na vida real? Bem
pouco. Durante todo o tempo, somente a raiva, a inveja, o orgulho e o ódio são manifestados. Essas más
qualidades não são naturais ao ser humano. Elas são opostas à natureza humana.
Foi declarado que quem se baseia somente na mente é um demônio. Quem se baseia no corpo é um animal.
Quem segue o Átman (o Ser) está dotado divinamente. Quem confia no corpo, na mente e no Átman é um ser
humano. A humanidade é a combinação de corpo, mente e Átman. O Homem deveria se esforçar por ascender
ao Divino e não descer à natureza demoníaca ou animal.
Doravante, os pais deveriam ensinar aos filhos histórias com conteúdo moral. Todos sabem em que condição
caótica o mundo de hoje se encontra. A desordem e a violência correm desenfreadas por toda a parte. A paz e
a segurança não se encontram em parte alguma. Onde pode-se encontrar a Paz? Ela está dentro de nós. A
segurança também está dentro de nós. Como pode a insegurança ser removida e a segurança
assegurada? Através do abandono dos desejos. Na linguagem dos bharatiyas (indianos) de outrora, este
foi denominado vairágya (abandono, renúncia aos apegos). Isso não quer dizer abandonar a casa e a
família. Como estudante, aferre-se aos seus estudos. Como profissional, mantenha-se fiel aos deveres da sua
profissão. Não se entreguem a excessos de tipo algum.
Na prática do Gayatri Mantra, o indivíduo deveria compreender que tudo está dentro do indivíduo e de tal modo
desenvolver a confiança no Ser. O Homem hoje é sacudido violentamente com dificuldades porque ele
não tem confiança no Ser. O aspirante na senda espiritual está destinado a enfrentar as dificuldades
causadas pelos seis inimigos: a luxúria, a raiva, a cobiça, a paixão, o orgulho e a inveja. Ele tem que
superá-los.
Estudantes! Numa ocasião auspiciosa como esta, vocês deveriam considerar como poderiam levar uma vida
ideal. Pela fé em Deus, vocês têm que santificar o corpo. Sem o corpo, vocês não podem experienciar a mente
e o intelecto. Para alcançar os seus ideais, o corpo é um instrumento. Ele deveria ser mantido em condições
adequadas. O corpo é um instrumento. Porém, quem utiliza o instrumento é o Ser. Todos os órgãos dos
sentidos funcionam por causa do Átman. O Átman é a testemunha de tudo. Ele também é conhecido como
Consciência. A Consciência deriva a sua sanção do Divino. Ela é parte do Divino.
Todo ser humano é uma centelha do Divino, como declarado na Gita. O ser humano é basicamente divino, mas
tende a se esquecer da sua origem divina. O Gayatri Mantra é suficiente para proteger a pessoa que
canta, porque o Gayatri personifica todas as potências divinas. É um requisito fundamental para os
jovens, porque lhes assegura um futuro brilhante e favorável. Os jovens estudantes são os cidadãos e os
líderes de amanhã. Portanto, eles deveriam desenvolver pensamentos puros e nobres. Os pais
também deveriam alimentar tal desenvolvimento.
A proximidade de Deus
A Cerimônia do Upanayanam foi concluída. O Gayatri Mantra foi dado a vocês. Vocês estão usando o cordão
sagrado com três fios atados a um nó. Os três fios representam Brahmá, Vishnu e Maheswara (Shiva). Eles
também representam o passado, o presente e o futuro. Upanayana quer dizer proximidade de Deus. A
proximidade de Deus permitirá que se livrem das suas más qualidades e que adquiram as virtudes.
Estudantes! Os Vedas enfatizaram três deveres: honrar a mãe como Deus, o pai como Deus e o
mestre como Deus. Tenham em mente esse preceito. A gratidão aos pais é o seu dever primordial. Essa
é a lição ensinada por Sri Rama.
Amem os seus pais e lembrem-se de Deus. Quando vocês contentam aos seus pais e os fazem
felizes, as suas vidas inteiras estão repletas de felicidades.
Cantem o Gayatri tão seguidamente quanto possível. Se vocês cantam enquanto no chuveiro, o seu
banho será santificado. Da mesma maneira, cantem-no antes das refeições. O alimento torna-se,
então, uma oferenda ao Divino. Desenvolvam uma sincera e profunda devoção a Deus.
1) Sai Baba demonstrou como isso ocorre enquanto inalava e exalava o ar. (Nota do Tradutor)