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Autor:
Henrique Pacini
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AQUECENDO
Leia, a seguir, um trecho do texto de Gomes Eanes de Zurara, cronista de “feitos heroicos” da
realeza de Portugal durante a expansão marítima no século XV.
No qual se mostram cinco razões por que o senhor infante foi movido de mandar buscar as
terras de Guiné.
E vós deveis bem de notar que a magnanimidade deste príncipe [D. Henrique]... o chamava
sempre para começar e acabar grandes feitos, por cuja razão depois da tomada de Ceuta sempre
WURX[HFRQWLQXDGDPHQWHQDYLRVDUPDGRVFRQWUDRVLQÀpLVHSRUTXHHOHWLQKDYRQWDGHGHVDEHUD
terra que ia além das ilhas Canárias, e de um cabo que se chamava Bojador, porque até aquele
tempo, nem por escrita nem por memórias de nenhum homem, nunca foi sabido determinada-
mente a qualidade da terra que ia além do dito cabo [...].
E porque o dito senhor quis disto saber a verdade parecendo-lhe que ele ou algum outro senhor
se não trabalhasse de o saber(...) e vendo que nenhum outro príncipe se ocupava disto, mandou ele
para aquelas partes seus navios, movendo-se a isso por serviço de Deus e d’el rei D. Duarte, seu
senhor e irmão, que naquele tempo reinava. E esta até que foi a primeira razão do seu movimento.
E a segunda foi porque considerou que achando-se naquelas terras alguma povoação de Cris-
tãos, ou alguns portos que sem perigo pudessem navegar e que se poderiam para estes reinos
trazer muitas mercadorias…
A terceira razão foi porque se dizia que o poderio dos mouros daquela terra de África era muito
maior do que geralmente se pensava, e que não havia entre eles Cristãos nem outra alguma gera-
omRSDUDGHWHUPLQDGDPHQWHFRQKHFHUDWpRQGHFKHJDYDRSRGHUGDTXHOHVinfiéis.
A quarta razão foi porque… Queria saber se se achariam naquelas partes alguns príncipes
Cristãos em que a Caridade e Amor de Cristo fosse tão esforçada que o quisessem ajudar contra
aqueles inimigos da Fé.
A quinta razão foi o grande desejo que havia de acrescentar na santa fé do nosso senhor Jesus
Cristo, o trazer a ela todas as almas que se quisessem salvar, conhecendo que todo o mistério da
HQFDUQDomRPRUWHHSDL[mRGH1RVVR6HQKRU-HVXV&ULVWRIRLREUDGRDHVWHÀPSRUVDOYDomRGDV
almas perdidas, as quais o dito senhor queria, por seus trabalhos e despesas, trazer ao verdadeiro
caminho, conhecendo que se não podia ao Senhor fazer maior oferta [...]
(Crónica do Descobrimento e Conquista de Guiné, Gomes Eanes de Zurara, 1493.)
1. Identifique no texto de Zurara o assunto que é tratado por ele ao escrever sobre o príncipe de
Portugal, o Infante D. Henrique.
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2. Aponte, resumidamente e com suas palavras, as razões que levaram D. Henrique a organizar ex-
pedições para explorar o que havia além do cabo Bojador.
PENSANDO NISSO
3. Elabore uma hipótese para explicar como o príncipe conseguiu realizar seus objetivos.
MÃOS À OBRA
O comércio entre Ocidente e Oriente, como vimos, havia crescido com as Cruzadas. Os produtos
tropicais trazidos das Índias, como era conhecido o Oriente, eram muito valorizados pelos europeus. As
“especiarias”, ou seja, os temperos, como pimenta, açúcar, canela ou noz-moscada, eram utilizadas como
remédios e também para disfarçar o gosto da carne, muitas vezes estragada, que os europeus comiam.
Todos esses produtos eram trazidos do Oriente através do Mediterrâneo, controlado pelos italia-
nos de Veneza e Gênova. Eles compravam as mercadorias dos povos do Oriente Médio e as revendiam
pela Europa, entrando em contato com os países do norte europeu por via terrestre atravessando os
Alpes. Assim, as mercadorias provenientes do Oriente passavam sempre por vários intermediários até
chegarem ao seu destino final, o que encarecia seu preço.
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© Domínio público
Parte de um Atlas catalão do sé-
culo XIV mostrando o mundo co-
nhecido pelos europeus na época.
Outro problema decorrente desse comércio era a saída de ouro e metais preciosos da Europa para
o Oriente, pois os povos orientais tinham pouco interesse nos produtos europeus. Apenas a Europa os
comprava, fazendo com que suas reservas de metais preciosos se esgotassem. Com o esgotamento das
minas europeias, o número de moedas começou a cair e sua falta ameaçava a economia do continente.
Era necessário, portanto, descobrir caminhos alternativos para se alcançar os lugares onde se
produziam as especiarias e novas fontes de metais preciosos. Com esses objetivos, os europeus
empreenderam um longo e desafiador processo de expansão marítima, também denominado pelos
historiadores como Grandes Navegações. Estudaremos, neste capítulo, um conjunto de fatores que
contribuiu para a exploração transoceânica europeia e suas principais consequências.
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A expansão marítima portuguesa foi muito influenciada pelo espírito da
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Reconquista e das Cruzadas, que buscavam derrotar o inimigo muçulmano
e levar o cristianismo para outros povos. O filho do rei português, o Infan-
te D. Henrique, tinha como objetivo encontrar o lendário reino de Preste
João – cujo rei seria um cristão muito rico que auxiliaria os portugueses na
luta contra os muçulmanos. Era necessário para isso contornar o continente
africano, pois acreditava-se que esse reino estaria do outro lado da África,
de onde os portugueses poderiam atacar os muçulmanos pela retaguarda.
Os portugueses tomaram Ceuta em 1415. Essa cidade ficava no norte
da África e era um importante entreposto comercial muçulmano, onde
se vendiam escravos, ouro e marfim. Com a conquista dessa cidade, os
portugueses tiveram uma base de apoio para a exploração do continente
africano e acesso às reservas de ouro dos árabes. Com o tempo, o motivo
religioso e militar ficou em segundo plano, pois os descobrimentos pro-
porcionaram aos portugueses o contato com mercados consumidores e O Infante (príncipe) D. Henrique, o Nave-
fontes de matéria-prima que os enriqueceram. Assim, encontraram uma gador. Pintura de Nuno Gonçalves, sécu-
alternativa para o comércio do mar Mediterrâneo. A partir de 1419, inicia- lo XV. Museu Nacional de Arte de Lisboa.
ram a circunavegação da África, também conhecida como Périplo Africano. Quase noventa anos depois,
em 1498, Vasco da Gama chegou à Índia, iniciando um lucrativo comércio com os habitantes do local.
ÁSIA
OCEANO EUROPA
ATLÂNTICO
Veneza
Açores
1431 PORTUGAL ESPANHA Pequim
Lisboa Sevilha
Madeira Palos Cipango (Japão)
1419 Ceuta Mar Mediterrâneo 1542
CHINA
Canárias
Cabo Bojador 1434 OCEANO
Guanaani Cantão
1492 1402 PACÍFICO
ÍNDIA Macau
Morte
Cabo Verde 1516
Goa Filipinas de M de Fernão
AMÉRICA 1456
GUINÉ ÁFRICA Calicute 1498
Cochim
agalh
ães 1
521
1434-1462
Malaca 1511
GABÃO Melinda
OCEANO 1482 - 1485
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OCEANIA
rto
PACÍFICO
lom
Porto Seguro
Fer
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nã 1500 Moçambique
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Dia
o
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21 ães Boa Esperança S 15
1488
OCEANO
ÍNDICO
OCEANO
ATLÂNTICO
Rota dos navegadores portugueses Rota dos navegadores espanhóis
N Primeiras Viagens Cristóvão Colombo
Vasco da Gama
Fernão de Magalhães e Sebastião
Pedro Álvares Cabral
0 1660 3380 km Elcano (primeira viagem de
Primeira viagem até o Japão circunavegação)
(Fonte: Com base em ARRUDA, José Jobson de A. Atlas Histórico Básico. São Paulo: Ática, 2009.)
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As descobertas tornaram obsoletas as rotas comerciais mediterrânicas. Era possível comerciar di-
retamente com as fontes de matéria-prima e, por isso, os produtos trazidos pelos portugueses eram
bem mais baratos do que aqueles trazidos pelos italianos. Dessa forma, os portugueses se tornaram
os principais fornecedores de especiarias, superando os italianos, na Europa, e os muçulmanos, na
África e na Ásia. O império português tornou-se muito rico e poderoso.
A
ATIVIDADES
1. Entre os fatores econômicos europeus que contribuíram para impulsionar a exploração dos mares
a partir do século XV, podemos citar:
a) o interesse da Igreja em descobrir novos conhecimentos científicos.
b) a falta de mão de obra qualificada para as fábricas europeias.
c) a necessidade de metais preciosos e especiarias.
d) a crise de mão de obra escrava ocorrida com o fim do feudalismo.
e) a falta de terras agricultáveis.
Um Novo Mundo
A meta mais importante dos portugueses era alcançar as Índias; a África
era apenas uma escala em seus planos. Enquanto os portugueses reali-
zavam o Périplo Africano, um genovês chamado Cristóvão Colombo
procurou o rei de Portugal com uma proposta para encontrar as Ín-
dias, partindo para o oeste. Essa rota era muito controversa, pois
os europeus ainda acreditavam que o mundo era achatado e não
redondo. O rei português já estava em vias de encontrar uma rota
para as Índias e não tinha interesse em gastar dinheiro com aquele
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Após a viagem de Colombo, vários navegantes europeus se dirigiram para o Ocidente e exploraram
as novas terras. Quando os europeus se aperceberam de que se tratava de um novo continente, não se
empolgaram com a situação, pois desejavam encontrar as Índias, onde havia ouro e a possibilidade de
converter seus habitantes. A América era vista como um obstáculo a ser transposto. Várias tentativas
foram feitas para chegar às Índias. Pelo norte do Canadá, a travessia mostrou-se impossível por causa
do gelo do polo Norte.
Entre 1519 e 1521, Fernão de Magalhães atravessou o estreito ao norte da Terra do Fogo, que hoje
leva o seu nome, e sua embarcação (Magalhães morreu nas Filipinas) foi a primeira da História a realizar
a circunavegação do globo, comprovando de vez a esfericidade da Terra. Era o início da globalização.
A
ATIVIDADES
3. Os portugueses não se impressionaram com as teorias de Cristóvão Colombo sobre a rota para o
Ocidente. Explique por que o rei português não auxiliou o marinheiro genovês e aponte as conse-
quências dessa decisão.
4. Explique de que maneira as Grandes Navegações modificaram a vida das pessoas na Europa e nas
terras por eles descobertas.
CONECTANDO
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Naquele tempo, mandar ou receber notícias de amigos distantes levava tanto tempo quanto ir até eles.
É que as cartas viajavam nos mesmos navios que as pessoas. Hoje, aviões a jato cruzam os oceanos em
algumas horas apenas. As informações viajam ainda mais rápido, através dos satélites ou do telefone.
Nos últimos anos, a chamada “revolução tecnológica” acelerou-se ainda mais. A televisão, os satélites,
o telefone celular, o computador e a internet, todas essas novidades contribuem para trazer o mundo
inteiro para nossas casas e levar-nos à casa de milhões de outras pessoas no mundo afora.
No mundo dos negócios, essa “revolução tecnológica” teve consequências ainda mais importantes.
O computador e a internet, que vocês devem estar usando agora, transformaram-se em verdadeiros
instrumentos de trabalho, como a enxada para o agricultor e a bola para o jogador de futebol. Eles
permitem que milhares de pessoas ganhem dinheiro fazendo negócios à distância, comprando ou ven-
dendo coisas no mundo inteiro sem precisar sair de suas casas.
Essa nova realidade, de um mundo menor, mais rápido e homogêneo é chamada de “globalização”.
É uma situação nova e cheia de promessas, mas também de desafios. A globalização tem permitido
a muitos países do mundo, sobretudo os mais ricos, desenvolverem suas economias. Para países em
desenvolvimento, como o Brasil, resta o desafio de saber aproveitar as vantagens que ela oferece, sem
temer os obstáculos que apresenta.
1. A partir desse texto e do que você conhece sobre o assunto, defina, com suas palavras, o que
é globalização.
3. Dê um exemplo de produtos trazidos pela globalização. Olhe ao seu redor e procure por objetos
que foram feitos em outros países. Descreva, abaixo, o que você descobriu.
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Os perigos do mar e as novas tecnologias
O conhecimento que os europeus tinham do mundo ao final da Idade Média era muito precário.
Acreditava-se que o oceano era povoado por seres monstruosos, que poderiam devorar embarcações
inteiras; que o mundo era achatado e, caso um navio chegasse ao “fim” do mundo, cairia, por uma
cachoeira, no vazio; que havia uma área da Terra onde era impossível viver, pois o mar estava aí em
constante estado de ebulição, na chamada Zona Tórrida. Por causa dessas crenças, o oceano Atlântico
era conhecido como mar Tenebroso. Além dos perigos do mar, havia histórias sobre seres fantásticos,
como homens sem cabeça e monstros apavorantes que viviam em terras longínquas. No entanto, ha-
via também lendas sobre riquezas incalculáveis, que anulavam em parte os temores dos europeus e
os faziam partir em busca dessas terras desconhecidas.
As técnicas de navegação foram se aperfeiçoando conforme os portugueses avançavam rumo ao
Sul pelo continente africano. Problemas que hoje nos parecem fáceis, como determinar em que ponto
do globo terrestre nos encontramos, eram de difícil solução na época.
Os instrumentos utilizados pelos navegantes para
© Marafona – Shutterstock
determinar sua longitude e latitude não eram precisos,
o que tornava as viagens oceânicas muito perigosas.
Sempre morria gente nas travessias oceânicas, muitas
vezes por doenças, como o escorbuto, e por falta de hi-
giene, ou por falhas cometidas pelo capitão, que errava
a rota e acabava por afundar a embarcação.
Porém, vários progressos foram alcançados ao lon-
go do tempo. O aperfeiçoamento da bússola e a in-
venção da caravela puderam levar os europeus mais
longe do que qualquer povo. A caravela, ao contrário
das embarcações anteriores, podia navegar sem estar
a favor do vento, devido à sua combinação de velas
quadradas e triangulares. O astrolábio era utilizado
Pintura portuguesa sobre azulejos representando uma caravela.
para determinar a latitude em que se encontrava o
navio. Era um aparelho que media o ângulo formado pelo horizonte e a Estrela Polar. Quando os portu-
gueses ultrapassaram o Equador, tiveram de adotar novas técnicas, pois a Estrela Polar não é visível no
hemisfério Sul. A altura do sol passou a ser utilizada para determinar a latitude, por meio de cálculos
bem mais complexos, pois a trajetória solar varia diariamente.
Com o tempo, os europeus aliaram as descobertas empíricas, ou seja, observáveis pelos cinco sen-
tidos, com as teorias desenvolvidas pelos pensadores das diferentes disciplinas, como a Astronomia,
a Matemática etc. Essas descobertas foram muito importantes para o desenvolvimento de novas ideias
e concepções do mundo, que caracterizaram o período conhecido como “Renascimento Cultural”, que
estudaremos no Capítulo 12.
A
ATIVIDADES
5. Com base nas informações estudadas até aqui, o que é possível afirmar sobre como os europeus
imaginavam o oceano Atlântico durante a expansão marítima?
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6. Em sua opinião, que tipo de descobertas tecnológicas contribuíram para que o imaginário dos
europeus mudasse?
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Planisfério de Cantino. Mapa português das terras descobertas pelas navegações (1502).
A
ATIVIDADES
7. Muitos países contestaram o Tratado de Tordesilhas feito entre Portugal e Espanha no século
XV. O rei da França, por exemplo, chegou a dizer que: “gostaria de ver o testamento de Adão
para saber de que forma o mundo estava dividido”.
a) Por que os países da Europa, em especial a França, contestaram a divisão proposta pelo
Tratado de Tordesilhas?
b) Em sua opinião, é possível relacionar o tratado de Tordesilhas à expedição realizada pelo na-
vegador Pedro Álvares Cabral anos mais tarde? Explique com a ajuda de seu(sua) professor(a).
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As consequências das expedições marítimas
As Grandes Navegações proporcionaram aos europeus o acesso a enormes fontes de riqueza, que
contribuíram para que as monarquias espanhola e portuguesa acumulassem grandes quantidades de
metais preciosos. Esse aumento do ouro e da prata na Europa permitiu maior circulação de moedas
e o aumento do comércio, que passou a ser feito preferencialmente no Atlântico e não mais no Medi-
terrâneo. Com isso, o monopólio dos árabes e turcos sobre o comércio no Oriente Médio perdeu sua
importância e os produtos orientais ficaram mais baratos e acessíveis.
O comércio passou a ser realizado em escala global: mercadorias saíam da Ásia com destino às
Américas e à Europa, que também comerciava com a África. Produtos das mais variadas naturezas
percorriam o globo em quantidades cada vez maiores. A burguesia mercantil viu seus lucros aumen-
tarem de maneira espantosa e os soberanos aproveitaram essa prosperidade para aumentar ainda
mais o seu poder, tornando-o absoluto.
Os europeus ampliaram seus conheci-
© Domínio público
mentos sobre o mundo e adotaram costu-
mes de outras culturas. As pesquisas astro-
nômica e geográfica receberam um grande
impulso com a descoberta de novas conste-
lações no hemisfério Sul e com a comprova-
ção da esfericidade da Terra.
Na África, os portugueses estabelece-
ram pontos de escala e feitorias, ou seja,
entrepostos para comerciar com os povos
locais. Porém, não puderam se instalar no
interior do continente africano, por causa
do clima, das doenças tropicais e da hostili-
dade das etnias africanas em relação à civi-
lização europeia. Os portugueses entraram
em contato com grandes reinos africanos,
como o Congo e o Benin, que comerciavam
ouro, marfim e pimenta-malagueta. Alguns O navio de Magalhães, chamado Victoria, em detalhe de um mapa de 1590.
soberanos foram convertidos ao cristianis-
mo e iniciou-se um plano de conversão das populações africanas. Entretanto, a cristianização da África
não funcionou, pois os soberanos se convertiam apenas para conseguir o apoio dos portugueses con-
tra seus inimigos e não porque acreditavam realmente na religião cristã. Com o tempo, adeptos das
religiões originais africanas convenceram seus reis a repudiar a fé cristã.
Na América, os europeus, por se considerarem superiores, procuraram assimilar as populações indí-
genas à sua cultura. Isso significa que os europeus tentaram fazer com que os indígenas americanos dei-
xassem o seu antigo modo de vida e adotassem os costumes da Europa, baseados no cristianismo. Aliado
a isso, o desejo de lucro capitalista, que vinha com o espírito das grandes navegações, contribuiu para
que essas duas sociedades entrassem em conflito, pois tinham mentalidades completamente diferentes.
Essas interações culturais criaram novas formas de organização social e cultural ao longo do tem-
po. Africanos, americanos e europeus, convivendo (e guerreando) entre si, acabaram por assimilar
muitos costumes uns dos outros. Para compreendermos a natureza dessas interações precisamos
entender como viviam africanos, americanos e europeus nessa época. Veremos, nos capítulos 10 e 11,
como estavam organizadas as sociedades africanas e americanas antes do contato com os europeus.
No Capítulo 12, estudaremos as mudanças culturais ocorridas na Europa e como pensava parte dos
europeus no momento em que esse povo se encontrou com os africanos e americanos.
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A
ATIVIDADES
8. Observe atentamente a imagem abaixo. Ela é uma representação feita por Theodore de Bry no
século XVI, que mostra uma batalha entre etnias indígenas americanas.
© Domínio público
a) Além dos indígenas, quem está combatendo?
b) A partir do que foi discutido no capítulo, elabore uma hipótese para explicar por que os euro-
peus tomaram o partido de uma das etnias.
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Desafio – Visões do Paraíso
© Domínio Público
Lucas Cranach, o Velho – O jardim do Éden (1530).
O Paraíso terrestre sempre esteve na imaginação do europeu medieval. No período dos desco-
brimentos, vários exploradores procuraram por terras lendárias, como o Eldorado (uma terra onde
havia uma enorme abundância de ouro) e a Fonte da Juventude (onde quem se banhasse seria jovem
eternamente). As representações do Paraíso – a forma como os europeus imaginavam o Paraíso –
eram influenciadas pela religião por meio dos escritos bíblicos e pelas condições de vida na Europa,
caracterizadas pelas doenças, fome e miséria de grande parte da população.
A partir do exposto e da análise das obras O jardim do Éden (acima), de Lucas Cranach, e O Paraíso
(na página seguinte), de Jan Brueghel, responda ao que se pede a seguir.
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© Visipix
Jan Brueghel, o Velho. O Paraíso. (1620)
10 Compare os dois quadros. Aponte as características que eles possuem em comum sobre o Paraíso.
11 O quadro de Jan Brueghel foi elaborado mais de um século depois das primeiras grandes expedições
marítimas europeias. Podemos dizer que ele foi influenciado pelas descobertas das novas terras
na sua elaboração do Paraíso? Justifique sua resposta utilizando algum elemento do quadro.
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12 Qual a sua visão do Paraíso? Compare-a com as representações de Cranach e Brueghel, apontando
semelhanças e diferenças.
RETOMANDO
Neste capítulo analisamos as mudanças políticas e econômicas europeias que promoveram a ex-
pansão marítima dos povos europeus ao redor do globo. A centralização política dos reinos europeus
criou a necessidade do Estado de obter cada vez mais recursos para seus exércitos, corpos de funcio-
nários e gastos da corte. Esses recursos eram obtidos através do comércio, que passou a ser uma das
atividades mais importantes para esses reinos, que investiram nas navegações oceânicas a partir do
século XV. Isso deu início ao processo de globalização que vivemos hoje e modificou para sempre as
diferentes sociedades humanas, como veremos nos capítulos seguintes.
SAIBA MAIS
VOCABULÁRIO
decorrente – em consequência de mouros – muçulmanos do norte da África
empreender – realizar obsoletas – ultrapassadas
esfericidade – característica de esférico provenientes – vindos de algum lugar
infiéis – aqueles que não são cristãos
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TOMANDO ATITUDE
Durante a expansão marítima, diferentes culturas e povos chamaram a atenção dos viajantes eu-
ropeus pelo contraste entre o jeito que viviam e se organizavam, sobretudo na África subsaariana e
no continente americano. Só que a maioria dos navegadores e, mais tarde, os próprios colonizadores
da Europa não foram capazes de compreender, conviver ou, simplesmente, respeitar essa diversidade
étnica, considerando-a, arbitrariamente, inferior. Atualmente, chamamos essa forma de violência de et-
nocentrismo. Em grupo, ao lado de seus colegas, pesquise mais esse conceito e analise, se ainda hoje,
é possível encontrar na sociedade contemporânea grupos que inferiorizam outras culturas por não se
identificarem com ela. Posicionem-se a respeito desse tema e mostrem aos outros grupos que tipo de
atitude pode evitar que um determinado jeito de ser seja tratado dessa maneira.
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AQUECENDO
O texto abaixo analisa a chegada dos europeus à costa ocidental africana durante o século XV
e as atividades realizadas pelos povos africanos que viviam na região do rio Gâmbia, na costa do
oceano Atlântico.
Quando os portugueses chegaram ao rio Gâmbia e deram-se conta de como se comercializava
o ouro no curso superior do rio, maravilharam-se com a destreza dos mercadores mandingas.
(VWDYDPHVWHVSURYLGRVGHEDODQoDVÀQDPHQWHFDOLEUDGDVLQFUXVWDGDVGHSUDWDHVXVSHQVDVSRU
cordéis de seda trançada. A maestria dos mandingas em pesar o ouro e a facilidade com que prati-
cavam igualmente outras formas de comércio deviam-se em grande parte ao fato de existir no seio
desse povo um núcleo de mercadores comumente conhecidos como diúlas. Não eram exatamente
ricos, mas se distinguiam por sua disposição em fazer travessias de milhares de milhas de um
extremo ao outro do Sudão Ocidental. Chegavam também, ou quase, às costas da Gâmbia, Serra
/HRD/LEpULD&RVWDGR0DUÀPH*DQD2VGL~ODVPDQHMDYDPXPDH[WHQVDOLVWDGHSURGXWRVDIUL
canos, incluindo, entre outros, o sal da costa atlântica e do Saara, as nozes de cola dos bosques da
/LEpULDHGD&RVWDGR0DUÀPRRXURGRSDtVGH$NmQD*DQDPRGHUQDRFRXURGDWHUUDGRVKDXV
sás, o pescado seco da costa, as telas de algodão de muitas províncias e especialmente das regiões
centrais do Sudão Ocidental, o ferro de FutaDjalon na Guiné moderna, a manteiga shea do alto
Gâmbia e uma variedade de outros artigos. Articulado ao interior, o comércio do Sudão Ocidental
compreendia a circulação de mercadorias originárias do norte da África, particularmente os te-
cidos do Egito e do Magreb e os corais provenientes de Ceuta e da costa mediterrânea. Portanto,
com este sistema de comércio e do Saara, integravam-se os recursos de uma imensa região que se
estendia desde o Mediterrâneo até o oceano Atlântico.
(RODNEY, Walter. De como Europa subdesarrolló a África. Espanha: Siglo XXI, Editores, 1982, p.75)
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PENSANDO NISSO
3. Elabore uma hipótese para explicar por que os portugueses ficaram surpresos com as atividades
realizadas pelos povos africanos.
MÃOS À OBRA
Durante muito tempo, a visão que as pessoas tinham do continente africano era baseada no que
os brancos diziam sobre a África. O Egito e a região do Saara eram considerados parte do mundo me-
diterrânico e foram “separados” do resto do continente africano. De acordo com essa visão, a história
dos africanos ao sul do Saara (África subsaariana) só “começava” com a chegada dos europeus.
Segundo o africanista estadunidense Philip Curtin, é necessário “descolonizar a história africana”,
ou seja, deixar de vê-la como um complemento da história europeia. As exposições sobre a arte afri-
cana, por exemplo, mostram diferentes culturas como se fossem parecidas, sem levar em conta a di-
versidade cultural dos povos que produziram as peças expostas. Dessa forma, as pessoas acham que
os povos africanos são todos iguais, o que não é verdade. A história africana também foi tratada por
muito tempo dessa maneira. Inicialmente, os historiadores falavam sobre a “missão civilizadora” que
os europeus realizaram na África; depois, mostraram os africanos como vítimas passivas de “alguns”
europeus “descontrolados”. Essas duas versões negam aos africanos o direito de terem feito a sua
própria história.
Essas versões foram criadas a partir dos preconceitos existentes entre os europeus, que não dife-
renciavam os vários povos que viviam na África nem levavam em consideração seus pontos de vista,
pois os consideravam “inferiores” ou “atrasados”.
Há, por tudo isso, a necessidade de mudarmos nossa maneira de ver a África e os africanos. As
sociedades africanas não eram todas iguais, mas muito complexas e variadas. Já existiam muito antes
de os europeus chegarem ao continente e realizavam comércio e trocas culturais com os árabes e os
asiáticos. O conhecimento sobre as sociedades africanas é fundamental para entendermos melhor a
nossa própria sociedade, pois milhares de africanos foram trazidos para o Brasil na condição de es-
cravos e trouxeram os costumes de seus povos, fazendo parte da cultura brasileira. Neste capítulo,
estudaremos a História da África subsaariana a partir do ponto de vista dos africanos.
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O problema das fontes
Existe um problema em relação às fontes para o estudo da História da África: a ausência de docu-
mentos escritos pelos próprios africanos, pois se tratava de sociedades ágrafas, ou seja, sem escrita.
Entretanto, podemos usar outros caminhos para suprir essa ausência: o uso de fontes orais – cuja
tradição vem sendo passada de pai para filho –, os vestígios arqueológicos, as fontes artísticas e o
relato feito por outros povos, como o de viajantes árabes e europeus.
Entretanto, podemos dizer que, de diferentes
© Toluaye – Wikipédia
formas, mesmo que indiretas, as fontes impressas
existem. Há uma grande quantidade de textos em
língua árabe produzidos entre os séculos XI e XIV,
principalmente. São as chamadas “fontes árabes”,
que nada mais eram do que relatos de viajantes
e estudiosos, como geógrafos, sobre o continen-
te africano. Por outro lado, possuímos também
as fontes europeias, de navios portugueses, por
exemplo, ou de mercadores holandeses, france-
ses e muitos outros. Em um primeiro momento,
eram relatos de viagens de missionários, explo-
radores ou comerciantes, feitos com algumas
ilustrações. Com o estabelecimento de colônias
portuguesas na África, passa a ser produzida uma
grande quantidade de fontes impressas, como A Arte africana é uma fonte de conhecimento sobre os povos do continen-
cartas, relatórios e outros tipos de documentos. te. Máscara de Gelede (culto religioso realizado por mulheres iorubás).
Porém, como no caso das fontes árabes, o uso das fontes europeias deve ser feito com o devido
cuidado. Seus olhos são outros, estrangeiros, e o que eles escolhem para escrever reflete mais seu
interesse pelo que era diferente e exótico.
Atualmente, tem-se buscado o uso das “fontes orais”, pois essas sociedades africanas guardaram,
durante séculos, seus conhecimentos e tradições sem o auxílio da escrita. Se não a possuíam, faziam,
entretanto, uso dos adivinhos que recitavam versos deifá (versos de predição), por mensageiros que
levavam as mensagens ou guardavam as tradições do reino (os tradicionalistas) e por mercadores. As
mensagens também poderiam ser transmitidas de uma tribo para outra através de tambores ou con-
junto de objetos naturais. Eles
faziam muito uso dos provérbios
© Toluaye – Wikipédia
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CONECTANDO
Como vimos, grande parte de História da África é elaborada através de relatos, as chamadas
fontes orais. Leia, abaixo, a explicação que a historiadora Verena Alberti dá sobre a importância da
História oral atualmente:
“A riqueza da História oral está evidentemente relacionada ao fato de ela permitir o conheci-
mento de experiências e modos de vida de diferentes grupos sociais. Nesse sentido, o pesquisador
tem acesso a uma multiplicidade de “histórias dentro da história (...)
Outros campos nos quais a História oral pode ser útil são a História do cotidiano (a entrevista
de história de vida pode conter descrições bastante fidedignasGDVDo}HVFRWLGLDQDVD+LVWyULD
política, entendida não mais como História dos “grandes homens” e “grandes feitos”, e sim como
HVWXGRGDVGLIHUHQWHVIRUPDVGHDUWLFXODomRGHDWRUHVHJUXSRVGHLQWHUHVVHRHVWXGRGHSDGU}HV
de socialização e de trajetórias de indivíduos e grupos pertencentes a diferentes camadas sociais,
JHUDo}HVVH[RVSURÀVV}HVUHOLJL}HVHWF+LVWyULDVGHFRPXQLGDGHVFRPRDVGHEDLUURDVGHLPL
grantes, as camponesas etc., podendo inclusive auxiliar na investigação de genealogias+LVWyULD
GHLQVWLWXLo}HVWDQWRS~EOLFDVFRPRSULYDGDVUHJLVWURGHWUDGLo}HVFXOWXUDLVDtLQFOXtGDVDVWUD
dições orais, e História da memória.
Este último campo é, sem dúvida, aquele ao qual a História oral pode trazer contribuições mais
interessantes. No início, grande parte das críticas que o método sofreu dizia respeito justamente
jV´GLVWRUo}HVµGDPHPyULDDRIDWRGHQmRVHSRGHUFRQÀDUQRUHODWRGRHQWUHYLVWDGRFDUUHJDGR
de subjetividade. Hoje se considera que a análise dessas “distorções” pode levar à melhor compre-
ensão dos valores coletivos e das próprias ações de um grupo. É de acordo com o que se pensa que
ocorreu no passado que se tomam determinadas decisões no presente (por exemplo, as escolhas
feitas no momento de uma eleição).
Ao mesmo tempo, o trabalho com a História oral pode mostrar como a constituição da memória
é objeto de contínua negociação. A memória é essencial a um grupo porque está atrelada à cons-
trução de sua identidade. Ela [a memória] é resultado de um trabalho de organização e de seleção
do que é importante para o sentimento de unidade, de continuidade e de coerência – isto é, de
identidade. E, porque a memória é mutante, é possível falar de uma história das memórias de pes-
soas ou grupos, passível de ser estudada por meio de entrevistas de História oral. As disputas em
torno das memórias que prevalecerão em um grupo, em uma comunidade ou até em uma nação,
são importantes para se compreender esse mesmo grupo ou a sociedade como um todo.”
(Adaptado de ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In: PINSKY, Carla Bessanezi. Fontes Históricas.
São Paulo: Contexto, 2006. pp. 167-8.)
22 7Xbc
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Um continente, muitas culturas
O continente africano é muito grande. Como não podia deixar de ser, esse fato fez com que um
enorme número de povos e culturas diferentes surgisse. A África sempre viu o deserto do Saara como
uma espécie de cordão de isolamento, que impediu, durante um bom tempo, um maior contato entre
o centro-sul e as regiões da Europa e da Ásia. Durante o século VIII, essa situação mudou quando os
árabes atravessaram o Saara e encontraram uma diversidade de sociedades nunca imaginada. Esses
comerciantes estavam interessados no ouro africano, extraído das regiões próximas aos rios Niger
e Senegal, e no marfim que era obtido com as presas de elefantes. Geralmente, essas mercadorias
eram trocadas e não vendidas, em uma relação chamada “escambo”, sem a presença de moeda. Já os
africanos buscavam obter cavalos, objetos de cobre e o sal, que era bastante escasso nessa região.
Tagaza NOBÁCIA
MAMPRUSI
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São Jorge da Mina Owo Bonny Merca
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Rio Volta Benin Elem Calabar Brava
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PEMBA OCEANO
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0 485 970 km
Cabo da Boa Esperança
Baía de Plattenberg
(Fonte: Com base em ARRUDA, José Jobson de A. Atlas Histórico Básico. São Paulo: Ática, 2009.)
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aXP 23
A grosso modo, podemos dividir a África subsaariana em África Ocidental, África Centro-Ocidental
e África Oriental.
Essa região está delimitada pelos rios Senegal e Cross, chegando até as margens do lago Chade.
Outros rios importantes estão localizados nessa região e deságuam no Atlântico. É uma região que
compreende as estepes ao sul do Saara (conhecidas como Sael), savanas e florestas mais ao sul.
No Sael viviam os povos conhecidos como sudaneses, cujos reinos foram criados conforme aumen-
tava o comércio transaariano. Os principais reinos eram Gana, Mali, Songai, Tacrur, Canem e Bornu.
A
ATIVIDADES
2. Leia os dois textos a seguir. Analise a situação apresentada por eles e, depois, faça o que se pede.
Texto 1
Os diversos povos que habitavam o continente africano, muito antes da colonização feita
pelos europeus, eram bambambãs em várias áreas: eles dominavam técnicas de agricultura,
PLQHUDomRRXULYHVDULDHPHWDOXUJLDXVDYDPVLVWHPDVPDWHPiWLFRVHODERUDGtVVLPRVSDUDQmR
EDJXQoDUDFRQWDELOLGDGHGRFRPpUFLRGHPHUFDGRULDVHWLQKDPFRQKHFLPHQWRVGHDVWURQRPLD
HGHPHGLFLQDTXHVHUYLUDPGHEDVHSDUDDFLrQFLDPRGHUQD$ELEOLRWHFDGH7LPEXNWXQR0DOL
reunia mais de 20 mil livros, que ainda hoje deixariam encabulados muitos pesquisadores de
beca que se dedicam aos estudos da cultura negra.
(GENTILI, Paola. Nova Escola. Edição 187: África de todos nós. Apud BRANDÃO, Ana Paula (Coord.). Modos de interagir. Rio de
Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006. p. 91. Saberes e Fazeres, v. 3.)
Texto 2
[A África] não tem interesse histórico próprio, senão o de que os homens vivem ali na barbárie
e na selvageria, sem fornecer nenhum elemento à civilização.
(HEGEL, George W. F. Filosofía de la historia universal. Apud HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à história
contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 20.)
a) Identifique nos textos as duas visões do continente africano que são apresentadas por seus autores.
b) Em qual texto a visão do autor parece injustiçar a história dos povos da África? Explique sua resposta.
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c) Em sua opinião, o que significa dizer “descolonizar a história africana”? Converse com os
colegas sobre isso.
Gana
Gana foi o primeiro grande reino africano, entre as margens dos rios Senegal e Niger. Era uma
região produtora de ouro, embora suas principais atividades fossem a agricultura e a criação de ani-
mais, utilizando ferramentas de ferro. Nessa área existiam, primeiramente, várias etnias praticamente
independentes.
As planícies abertas das savanas da África Ocidental também tinham seus aglomerados
populacionais, cujos habitantes se reuniam pela necessidade de defesa, pelas vantagens do
baixo custo de transporte interno e da vida em sociedade ou pelo exercício do poder político.
Geralmente, cada núcleo estava rodeado de aldeias fronteiriças e separado do resto por um
FDPLQKRDEHUWRQDVHOYD'HQWURGRQ~FOHRFDGDDOGHLDRXJUXSRPDLVÁXLGRGHKDELWDo}HVHVWDYD
também rodeado de faixas concêntricas permanentemente cultivadas, campos temporários e
XPDH[WHQVmRGHÁRUHVWDTXHRVHSDUDYDGDDOGHLDVHJXLQWH
(ILIFFE, John. Os Africanos. História dum continente. Lisboa: Terramar, 1999, p. 88)
Em 1076, a cidade de KoumbiSaleh, a capital do reino de Gana, é tomada por grupos nômades
do deserto. As constantes lutas que se seguem, entre várias famílias disputando o controle do reino,
fragmentam o império, que acaba, depois de algum tempo, sendo tomado pelos malis.
Mali
O Reino Mali surge em 1240, quando o exército de Sundiata, rei dos malis, invade KoumbiSaleh.
O apogeu de Mali acontece sob o reinado de Mansa Musa, que se converte ao islamismo e consegue
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aXP 25
aumentar o império. Intensifica o comércio com os árabes, que distribuíam o ouro obtido nessas re-
giões para a Europa e a Ásia.
Esse reino africano foi muito influenciado pela cultura muçulmana, principalmente em questões
que traziam benefícios para o comércio, como o uso da escrita para contratos e o sistema decimal, que
facilitava os cálculos. As mesquitas encontradas em sua região também são um exemplo claro dessa
influência, como é o caso da mesquita de Sankore.
Songai
O Reino de Mali foi tomado por Ali Ber em 1462.
© James L. Stanfield – Getty images
Essas mudanças, entretanto, chocaram a nobreza mais tradicional, que perdeu seus antigos privi-
légios na obtenção de altos cargos e no exército. As constantes lutas entre o imperador e os membros
da nobreza, aliadas à chegada dos portugueses à costa do Senegal (1450) e à invasão de Timbuktu
(capital de Songai) pelos marroquinos (1591), terminaram por colocar um ponto final no último grande
império africano.
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do Homem Grande, rico em silos cheios de cereais, gado, ouro e, acima de tudo, em pessoas que
forneciam mão de obra, poder e segurança.
(Iliffe, John. Op. cit., p. 124)
O trecho acima ilustra bem as marcas que a natureza, muitas vezes inóspita nessa região, deixou
nas sociedades africanas. A fome foi um grande obstáculo para o crescimento populacional. Tradições
orais e crônicas islâmicas contam sobre seus efeitos devastadores, revelando que, em média, se regis-
trava uma grande fome de setenta em setenta anos. Se ela viesse acompanhada de uma epidemia,
poderia matar um terço ou mais da população. O motivo mais frequente era a seca, embora existam
relatos de outros problemas, como guerras, pragas de gafanhotos ou chuvas muito fortes. Rodeados
por todas essas dificuldades, os africanos davam uma enorme importância ao número de filhos.
A maioria da população era formada
© alantobey – iStock
por camponeses que orientavam sua vida
pelas estações de chuva e seca. Normal-
mente, havia apenas uma estação chu-
vosa durante o ano, quando o solo era
preparado para o plantio, principalmente
de arroz, feijão e inhame (tubérculo mui-
to saboroso e nutritivo cujo nome, iyã,
deriva da língua ioruba). Quando as chu-
vas diminuíam, era o momento de colher:
primeiro, os cereais, e, depois, os tubér-
culos. Na época da seca, os cereais eram
amassados para a produção da farinha,
não sem antes serem oferecidos para a
grande deusa que garantia a fertilidade
Aldeia de Irelli, do povo dogon, no atual Mali.
do solo. Geralmente, plantava-se para ga-
rantir a sobrevivência em épocas difíceis, mas o comércio entre aldeias vizinhas sempre existiu. Os
africanos extraíam ouro, ferro, estanho e cobre das suas numerosas minas. Usavam esses metais na
fabricação de ferramentas que os auxiliavam na lavoura e na confecção de muitas joias, estátuas,
máscaras e objetos sagrados.
Os camponeses africanos eram livres e viviam, geralmente, em pequenas comunidades. Tinham a
obrigação de servir sua aldeia em caso de guerra e pagavam tributos sobre sua produção. Não havia
uma quantidade muito grande de escravos e eles provinham geralmente das etnias vencidas em guer-
ras. Os vencedores, por tradição, levavam parte dos derrotados como escravos. Eles, então, passavam
a viver como todos os outros habitantes das etnias, que eram proibidos de se casar com estrangeiros.
Dessa maneira, garantia-se que a condição de cada africano não fosse ameaçada. Normalmente, essas
sociedades eram extremamente rígidas, baseadas em costumes e tradições bastante antigos.
Os comerciantes eram peça fundamental dentro de muitas sociedades dessa época. Eram eles que
formavam as caravanas que atravessavam o Saara ou navegavam pelo rio Niger para alcançar as re-
giões auríferas. Já os pequenos comerciantes estabeleciam-se nas grandes cidades (Gana, Timbuktu,
Gao, Djenné) vendendo roupas, alimentos ou armas. Havia, nessas cidades, também, um grande nú-
mero de ourives, pessoas que trabalhavam com o ouro obtido nas minas.
A maior parte das religiões na África possuía algumas características comuns, como a ideia do es-
pírito criador, espíritos naturais e ancestrais, amuletos, especialistas em rituais e feiticeiros. Algumas
sociedades, como os iorubas, veneravam inúmeras divindades (orixás). A fertilidade da terra, uma pre-
ocupação constante da comunidade, estava no domínio dos espíritos da natureza. Havia uma ligação
entre as ações individuais de cada africano dentro de sua tribo com o destino de todos. A infelicidade
poderia ser coletiva, já que eles acreditavam que as catástrofes naturais nasciam da desordem social
e moral. Havia uma crença generalizada de que os antepassados sobreviviam em um mundo de som-
bras, semelhante às condições terrenas. Eram importantes, portanto, as oferendas depois da morte,
pois eles precisariam continuar se alimentando
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.
Como já dissemos, os líderes dos reinos africanos
© Vinicius Tupinamba – Shutterstock
Os nobres dedicavam-se também à guerra. Era sua tarefa cuidar da defesa e da conquista de novas
terras. Usavam uma armadura de ferro que cobria todo o rosto. Lutavam montados em cavalos que
também eram uniformizados. Muitos dos nobres e grandes comerciantes possuíam escravos que os
ajudavam em suas tarefas diárias.
A
ATIVIDADES
Império de Mali
Reino de Gana
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A África Centro-Ocidental
É a região compreendida entre os rios Congo e Cuanza, adentrando-se no continente até a floresta equa-
torial central. Os principais reinos dessa região foram o Reino do Congo, Luba e Lunda, Libolo e Angola.
O Reino do Congo
O Reino do Congo foi fundado no século XIV na região do rio Zaire próxima ao litoral. Inicialmente,
os povos dessa região possuíam três formas de poder governamental. A primeira era baseada nos
ancestrais dos primeiros ocupantes do território, chamada de canda. A canda era uma família ou clã
na qual os chefes descendiam dos primeiros habitantes do local. A segunda era baseada na proprieda-
de do solo, cujo chefe (chamado de quitome, que significava senhor da terra) sabia trabalhar o ferro.
Outra forma de poder era praticada pelos gangas, que afirmavam representar o poder dos espíritos
celestes. Em uma região na qual a religião era baseada na crença dos espíritos da natureza e dos espí-
ritos dos ancestrais, os gangas eram muito influentes. No século XIV o chefe de uma canda, chamado
Antino-Uene, fundou M’Banza Congo (cidade do Congo), casando-se com a filha do quitome do local.
A partir de então, Antino adotou o título de manicongo, ou “o senhor do Congo”.
A descendência do manicongo, como em muitos reinos africanos, era matrilinear, ou seja, quando
o manicongo morria, o próximo soberano seria escolhido entre os herdeiros das filhas de Antino-Uede.
Assim, era sempre o filho da irmã do rei que herdava o reino. Era eleito entre os filhos das irmãs do
rei pelos mussicongos, os homens mais ricos e poderosos do reino. Eleito, o manicongo designava os
governadores das províncias do reino do Congo.
Por possuir terras férteis o reino do Congo era muito rico, produzindo coco, banana, dendê, sor-
go, milhete, inhame e cola. Havia a criação de porcos, cabras, galinhas e cães e realizava-se a caça, a
pesca e a extração de sal. Possuíam manufaturas de tecidos e dinheiro chamado zimbo, que consistia
em uma pequena concha extraída na ilha de Luanda. Todos deveriam pagar tributos ao manicongo,
desde os chefes das aldeias até os governadores das províncias.
© latinstock
Mapa do famoso geógrafo e cartógrafo flamengo Gerardo Mercator (1512-1594) representando o reino do Congo.
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Quando os portugueses chegaram à região do Congo, procuraram fazer com que os manicongos
se convertessem à religião cristã, o que ocorreu a partir do reinado de Nzinga-a-Nkuwu, que foi bati-
zado como João I, em 1509.
A África Oriental
Além do reino da Etiópia, a África possuía, na sua parte oriental, as chamadas “Cidades Suahilis”
(que significa, em árabe, “cidade costeira”), fundadas por viajantes asiáticos (chineses e indianos) que
chegavam através do oceano Índico. As principais cidades dessa região eram Mogadício, Lamu, Belin-
de e Mombaça. Os mercadores árabes acabaram por transformá-las, um tempo depois, em entrepos-
tos comerciais. Foram saqueadas e destruídas pelos europeus no século XVI.
Mais ao sul, ainda na África Oriental, havia dois grandes reinos entre as margens do rio Zambeze e
do rio Limpopo. O primeiro, fundado pelo povo xona, chamava-se Grande Zimbábue. Seus habitantes
foram responsáveis pelas maiores construções da África subsaariana, utilizando o granito para edifi-
car grandes muralhas ao redor dos palácios dos reis. O segundo foi fundado pelo povo caranga, cujo
rei tinha o título de Monomotapa. O reino dos carangas ficou conhecido por esse nome. Em ambos os
reinos havia o controle das rotas de comércio com o oceano Índico e as cidades Suahilis.
Aqui também os portugueses interferiram nas políticas internas, influenciando os reis a se torna-
rem cristãos em troca de apoio militar contra os rivais à sucessão monárquica.
A
ATIVIDADES
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5. “A ilha de Luanda é a mineira da moeda que gasta el-rei do Congo e os povos das regiões circun-
YL]LQKDV SRUTXDQWR QDV VXDV SUDLDV p UHFROKLGD SRU PXOKHUHV TXH PHUJXOKDQGR QR PDU GXDV
braças e mais, enchem as cestas de areia e depois separam a areia grossa dos búzios pequenos,
GLVWLQJXLQGRVHRPDFKRGDIrPHDSRUVHUPDLVÀQDDIrPHDTXHRPDFKRHHVWLPDGDQDVXDFRU
polida, luzente e grata à vista.”
´(VWHVPDULVTXLQKRVQDVFHPHPWRGDVDVSUDLDVGRUHLQRGR&RQJRSRUpPRVPHOKRUHVVmRRVGH
Luanda, porque se mostram mais sutis e de cor brilhante, morena ou parda, e também de outra
cor não tanto apreciada. É de notar que o ouro, a prata e o metal não são tidos em estima nem em
uso de moeda por aquelas partes, mas os búzios. E sucede que com o ouro e a prata, em massa
RXEDWLGRVHPPRHGDQmRVHSRGHFRPSUDUFRLVDDOJXPDVHQmRFRPRVE~]LRVHRSUySULRRXURH
prata se adquire com eles.”
(Relato de Filippo Pigafetta, 1591.)
b) Que diferença cultural entre africanos e europeus podemos notar no relato acima?
© Domínio público
Catalunha, Espanha) do século XIV no qual está
representado o rei Mansa Musa, do antigo Império
de Mali. Observe-a com atenção.
a) Descreva o que você está vendo na figura.
b) Que elementos da figura estão mais destacados? Por que será que os europeus que desenharam
o mapa destacaram esses elementos?
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aXP 31
Arte africana
A imagem a seguir representa duas irmãs gêmeas iorubas. Para os iorubas, as crianças gêmeas
eram especiais e seu nascimento abençoava seus pais com boa sorte. Por isso, se uma delas ou ambas
morriam, tal fato era considerado uma grande desgraça. Quando isso acontecia, a mãe dos gêmeos
mandava fazer uma figura (estátua) do gêmeo que morreu ou de ambos (se os dois tivessem morrido).
Ela vestia as estátuas e as enfeitava com joias, mantendo-as perto de sua cama. Oferecia-lhes comida e
orações semanais. Na ocasião dos aniversários dos gêmeos, a mãe realizava rituais mais elaborados em
memória dos filhos que haviam morrido.
A arte africana valorizava a escultura em madeira. Para os artistas africanos, o ideal era apenas re-
presentar a forma humana, sem entrar em muitos detalhes sobre características pessoais dos retrata-
dos. Suas estátuas procuravam representar a juventude e o vigor para o trabalho. O brilho da madeira
representava uma pele saudável. As pessoas sempre eram retratadas com uma postura ereta e orgulho-
sa. Figuras deformadas (que não tinham uma forma humana bem definida ou cuja superfície de madei-
ra não era brilhante) eram sinônimo de doença e de falta de caráter.
7. De acordo com o texto, por quais motivos as estátuas de gêmeos eram criadas?
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9. Podemos dizer que a arte africana tinha uma função religiosa? Justifique.
RETOMANDO
Neste capítulo você aprendeu que a História do continente africano é recheada por diversas
culturas diferentes e que os historiadores têm procurado analisar o passado dos povos africanos a
partir de fontes diferentes daquelas a que estavam acostumados a analisar. A África subsaariana foi
dividida entre regiões geográficas: Ocidental, Centro-Ocidental e Oriental, e os povos que viviam
nesses territórios possuíam uma infinidade de formas de organização política, social, econômica
e cultural.
VOCABULÁRIO
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TOMANDO ATITUDE
Como vimos, a História oral é uma ferramenta importantíssima para a História da África. Ela tam-
bém tem muito a contribuir para a nossa própria História. Releia o texto de Verena Alberti na seção
“Conectando” e monte um grupo de colegas. Juntos, escolham um tema de interesse comum (espor-
tes, passatempos, brincadeiras, cinema) e, com a ajuda do(a) professor(a), montem um questionário
para ser respondido por pessoas mais velhas de suas famílias. Ao final, criem uma conclusão sobre o
tema a partir das respostas fornecidas pelos entrevistados.
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7Xbc
aXP
0bRXeX[XiP{TbP\TaXRP]Pb
AQUECENDO
Analise, a seguir, o registro de uma conversa que ocorreu no início do século XVI no Brasil entre
uma liderança indígena local e um viajante europeu de origem francesa.
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aXP 35
1. Explique, com suas palavras, o que deixa o indígena brasileiro intrigado na conversa com o colo-
nizador francês.
2. A partir do que você aprendeu nos capítulos anteriores, explique por que os europeus se sujeitavam
aos perigos de uma longa viagem para conseguir o pau-brasil.
PENSANDO NISSO
3. O chefe indígena ficou muito espantado com as revelações que o autor fez para ele. Elabore uma hi-
pótese para explicar por que o chefe indígena e os europeus não viam a riqueza da mesma maneira.
MÃOS À OBRA
As civilizações que existiam na América antes da chegada dos espanhóis e portugueses eram
muito variadas. Da mesma forma que a história da África, a das civilizações americanas foi, até pouco
tempo atrás, marcada pelo preconceito. Aqui também os indígenas foram tratados como um povo só,
primitivo e desprovido de capacidade de decisão, cuja história começa somente com a chegada do
europeu. Atualmente, os historiadores estão levando em conta a diversidade dos povos americanos e
vendo-os como agentes ativos de sua própria história. Estudaremos, neste capítulo, as sociedades que
viviam no continente americano antes da chegada de Colombo, em 1492. Elas estão divididas entre
os povos urbanizados (aqueles que desenvolveram cidades e governos hierárquicos e centralizados)
e os não urbanizados (que adotavam uma organização tribal e viviam em comunidades pequenas e
seminômades). Começaremos nossa exposição pelas sociedades americanas urbanizadas.
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Os povos pré-colombianos
ESQUIMÓS
NA-DENE
ESQUIMÓS
WAKASH
CREE
CREE
S
SIOUX
SHOSHONI SE
UE
OQ
IR
APACHES
AST
OCEANO
ECA
ATLÂNTICO
S
MAIAS
OCEANO
AS
PACÍFICO ARUAK
BCH
KARIB
CHI
TUPI
Principais grupos étnicos
Grupo Esquimó-Aleutino
IN
JÊ
CA
S
Grupo Na-Dene
Sioux-Dakota
Iroqueses
GUARANI
Grupo Algonquino-Wakash
ARAUCANOS
Grupo Uto-Astecas
Maias
Grupo Aruak
Grupo Chibcha
Grupo Karib
Grupo Tupi-Guarani N
Grupo Jê
Grupo Quíchua
0 670 1340 km
Outras populações
(Fonte: Com base em ARRUDA, José Jobson de A. Atlas Histórico Básico. São Paulo: Ática, 2002.)
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Os Maias
Os maias ocupavam (e ainda ocupam) o território que hoje
© Domínio público
Os sacerdotes formavam uma classe muito temida e respeitada, pois conheciam profundamente os
movimentos dos astros. Isso era de extrema importância para a civilização maia, que se baseava nes-
ses movimentos para estruturar sua religião, sua história e organizar a produção de alimentos, cuja
base era o milho. Os maias não utilizavam o
metal como ferramenta nem conheciam a
A escrita maia era baseada em hieróglifos, sinais fonéticos e pictográficos. Infelizmente, apenas
três livros ou códices maias sobreviveram, porque os jesuítas espanhóis acreditavam que eles conti-
nham encantamentos do demônio e os queimaram. Os especialistas vêm, ao longo dos anos, tentando
decifrar esses hieróglifos.
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Por causa da importância da astronomia, as cidades maias eram
erigidas ao redor das pirâmides, verdadeiros observatórios astronô-
© Domínio público
micos, que ficavam em uma praça central. Além de pirâmides, havia
palácios, templos, mosteiros e as casas dos ricos. Ao redor desse
centro ficavam as casas dos demais habitantes, mais modestas. As
pessoas do povo eram artífices e trabalhavam na lavoura de milho
para os dirigentes das cidades.
Seus deuses se confundiam com os fenômenos celestes e podiam
ser bons ou maus, dependendo da ocasião. Havia uma hierarquia de
deuses. O deus Hunab criou o mundo, seu filho Itzama, representando
o Sol, fora o inventor da escrita, dos livros e do calendário. Abaixo de-
les havia vários deuses e deusas, como o deus da morte, da guerra, do
milho e até do suicídio. Os deuses eram satisfeitos através de rituais,
jejuns, privações e sacrifícios humanos. Quando a vítima do sacrifício
era um guerreiro poderoso, seu corpo era dividido e comido pelos es-
pectadores, pois os maias, como muitos povos americanos, acredita-
vam que a coragem e a força do guerreiro devorado seriam absorvidas
por quem comesse as partes de seu corpo.
Quando os espanhóis chegaram à América, a civilização maia estava
em franca decadência. Suas cidades estavam sendo abandonadas pouco
a pouco e guerras sangrentas eram travadas entre elas. Alguns anos
antes, a região onde viviam os maias havia sido assolada por intensos
furacões e por epidemias, que foram agravadas pelas doenças trazidas
Códice de Dresden. Um dos poucos
pelos europeus, como a varicela. códices maias preservados.
Os Astecas
Na região do atual México, viviam, por volta do século XV, vários povos indígenas com diferentes
tipos de organização tecnológica e social. Ao Norte, estavam estabelecidos caçadores nômades, que
andavam nus e utilizavam o arco para a caça, complementando sua alimentação com a coleta de frutas.
No litoral, indígenas que praticavam o canibalismo, mas já estavam fixados em um local, iniciaram a
agricultura do milho. Na porção central do território, erguiam-se grandes cidades-estado, com numero-
sa população e uma cultura herdada de um povo mais antigo, os toltecas, que, por sua vez, haviam sido
influenciados pelos maias. A maioria dessas cidades fazia parte da Confederação Asteca.
Os astecas, também chamados de mexicas, eram, de acordo com os historiadores, um povo nôma-
de que havia migrado do norte, lutando por todo o caminho até chegar à região da atual Cidade do
México. Estabeleceram-se em uma laguna de água salgada, pontilhada por ilhas e bancos de areia,
tendo, desde sempre, que lutar contra seus vizinhos pela escassa água potável da região e pelas terras
mais férteis para a agricultura.
Com o aumento da cidade e as conquistas
das cidades vizinhas, os astecas passaram a
© DEA G. Dagli Orti – gettyimages
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© German School – gettyimages
Mapa espanhol mostrando a planta da cidade de México-Tenochtitlán.
VOCÊ SABIA?
A atual capital do México – a cidade do México – era chamada pelos astecas de México-Tenochtitlán.
Atualmente é uma das maiores cidades do mundo, como São Paulo ou Nova Iorque.
Veja, abaixo, o relato que o conquistador espanhol Hernán Cortez fez da cidade durante a conquista
do México:
“Esta cidade de México está apoiada na laguna de água salgada, de modo que, de qualquer parte
de suas margens até o coração da cidade, há duas léguas de distância. Possui quatro estradas às
TXDLVVHWHPDFHVVRSRUFDOoDGDVDUWLÀFLDLVGDODUJXUDGHGXDVODQoDVGHFDYDODULD6XDH[WHQVmR
equivale à de Sevilha e Córdova. Suas principais ruas são muito largas e bem retas. Algumas são
divididas, de maneira que uma metade da rua é feita de terra, ao passo que a outra é um canal onde
circulam embarcações. Em diversos pontos, terraplenos são cortados por valas que possibilitam a
comunicação entre os canais das diferentes ruas. Tais valas, das quais algumas consideravelmente
largas, são atravessadas por pontes, feitas de espessas vigas bem juntas artisticamente trabalhadas.
Em algumas destas pontes poderiam marchar de frente dez cavaleiros.”
Além dos canais, México-Tenochtitlán possuía enormes pirâmides e templos, dedicados aos deuses
e onde se faziam os sacrifícios humanos. Atualmente a laguna está seca e os templos soterrados pelos
espanhóis, que construíram igrejas e outros prédios por cima daqueles construídos pelos astecas.
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1. Elabore uma hipótese para explicar por que os espanhóis construíram seus edifícios por cima
daqueles construídos pelos astecas. Depois, compare sua teoria com a dos seus colegas de
classe.
Além de militarizada, a sociedade asteca era baseada em preceitos religiosos. Os astecas, como
os maias, atribuíam a seus deuses os fenômenos astronômicos e acreditavam que o mundo poderia
acabar, como já havia ocorrido outras vezes, caso os deuses não fossem aplacados. A melhor maneira
de aplacá-los era através dos sacrifícios humanos, que forneciam o sangue das vítimas para as divin-
dades. Assim, todo homem asteca era destinado à guerra para fornecer prisioneiros para os sacrifícios
aos deuses. Dessa forma, os astecas acreditavam garantir o funcionamento harmonioso do mundo e
a sucessão das estações e das colheitas.
A economia asteca baseava-se na produção agrícola e nos tributos pagos pelas cidades dominadas.
Começou a surgir uma aristocracia, diferenciada dos demais segmentos da sociedade, que foi acumu-
lando terras, que eram trabalhadas por camponeses em regime servil. Além dos aristocratas, os mer-
cadores, que realizavam o comércio de produtos de luxo entre as cidades, começaram a enriquecer,
principalmente com a manufatura das matérias-primas fornecidas pelos tributos. Essa classe dos merca-
dores também se distanciou do resto da população humilde, cada vez mais explorada pelos poderosos.
Os astecas também possuíam um sistema de escrita, muito parecido com o dos maias. Felizmente,
seus códices foram preservados em maior número, cerca de trinta. Possuíam o mesmo sistema numé-
rico, com exceção do número zero, e o mesmo calendário de 365 dias, mas não tão preciso quanto
o dos maias. Entretanto, os astecas conheciam o cobre, com o qual fabricavam armas e ferramentas.
Os homens vestiam uma tanga e uma capa, enquanto as mulheres trajavam uma camisa comprida e
uma capa. Seus tecidos eram feitos de algodão e os tingiam de várias cores brilhantes, como azul,
vermelho, verde e laranja.
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aXP 41
Os rituais religiosos, com o tempo, fo-
A
ATIVIDADES
1. Povo mesoamericano que vivia em cidades-estado independentes e ficou conhecido por seus co-
nhecimentos em astronomia. Estamos nos referindo aos:
a) Maias c) Incas e) Apaches
b) Astecas d) Tupinambás
2. São características da civilização inca:
I– A sociedade era hierarquizada, tendo no seu topo o Inca e sua família.
II – O império inca era composto por vários ayllus, chefiados por um kuraka.
III – Para dominar os ayllus, os incas construíram uma extensa rede de estradas.
IV – Os incas desenvolveram um complexo sistema de escrita.
Estão corretas as afirmativas:
a) I, II e III c) I, III e IV e) todas
b) I, II e IV d) II, III e IV
3. Maias e astecas tinham muito em comum. Explique as diferenças e as semelhanças entre esses
dois povos.
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aXP 7A-HIS-L3-21
4. Vimos que a agricultura, principalmente o cultivo de milho, era muito importante para as civilizações
maia e asteca. Explique a importância dos conhecimentos astronômicos para essas sociedades e
relacione-os com a agricultura.
Os Incas
A expansão do Império Inca A região andina na América do Sul conheceu
COLÔMBIA várias civilizações ao longo da História. Os ar-
queólogos datam de 1800 a.C. as construções
Quito
EQUADOR mais antigas, como as pirâmides de tijolo seco
da civilização Chavin. Essas civilizações foram se
sobrepondo umas às outras, como os Estados
de Tiahuanaco, criado pela civilização Aymará,
BRASIL a civilização Nazca ou o império Chimu, já no
Cajamarca
século XIII da nossa era. Elas adquiriram técnicas
Chan Chan PERU
e conhecimentos que foram incorporados pelos
Chavin de Huantar incas, quando estes dominaram os Andes e o li-
toral oeste da América do Sul.
Pachacamac
Os incas compunham um clã da etnia quí-
Cuzco
chua, baseado próximo a Cuzco, no atual Peru.
Nazca
OCEANO BOLÍVIA Com o tempo, foram se tornando o clã mais
PACÍFICO Lago Titicaca
Tiwanaku importante dessa etnia e passaram a dominar
N
toda a região de Cuzco. Os incas acabaram por
dominar, em menos de meio século, uma vasta
0 270 540 km
PARAGUAI região, que ficou conhecida por Tawantinsuyo,
que significa “as quatro terras” ou o “império dos
Pachacuti (1438 CE - 1463 CE)
quatro cantos”. O Tawantinsuyo abrangia nada
Tupac Inca (1463 CE - 1471 CE)
menos do que 950 mil km2, um território equiva-
Tupac Inca (1471 CE - 1493 CE)
lente ao da França, Itália, Suíça, Bélgica, Holanda
Huayna Capac (1493 CE - 1525 CE)
e Luxemburgo reunidos.
Huascar (1525 CE - 1532 CE) ARGENTINA
A base da civilização inca era o ayllu, um
Atahualpa (1532 CE - 1533 CE)
conjunto de famílias ligadas por parentesco ou
aliança que viviam em uma mesma aldeia. As
(Fonte: Com base em ARRUDA, José Jobson de A. Atlas Histórico Básico. famílias reconheciam como chefe do ayllu o ku-
São Paulo: Ática, 2002.)
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aXP 43
raka. Esse administrador distribuía as terras, organizava os trabalhos coletivos e resolvia os conflitos.
O kuraka tinha suas terras trabalhadas pelas pessoas do ayllu em troca de produtos doados por ele.
Esse sistema de trabalho obrigatório chamava-se mita e sempre acabava em vantagem para o kuraka,
que acumulava mais riquezas do que distribuía entre os trabalhadores. Além do kuraka, o ayllu pos-
suía uma waka, uma divindade protetora, geralmente algum ancestral do kuraka, que ficava em uma
montanha próxima e garantia o crescimento do gado e o sucesso da colheita.
Os ayllus se agrupavam, formando ayllus maiores, os quais eram também governados por um ku-
raka. Dessa forma, a estrutura social da civilização inca se assemelhava a uma pirâmide, com os ayllus
menores se agrupando para for-
mar ayllus mais extensos, e assim
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Havia duas estradas principais cortando o império de norte a sul: uma passava pelo litoral e a outra
pelo altiplano andino. Ligando as duas, havia várias estradas secundárias, criando uma malha que
abrangia todo o império.
Além das estradas e dos terraços para a agricultura, os incas se destacaram na construção de edi-
fícios. A cidade de Cuzco tinha mais de 60 000 habitantes. De acordo com o testemunho do espanhol
Sancho de la Hoza, que esteve em Cuzco na ocasião da conquista:
“Ela [Cuzco] está repleta de palácios senhoriais,
© nicolamargaret – iStock
pois nela não vive qualquer pessoa pobre. Cada
senhor ali constrói a sua casa, mesmo não ten-
do que residir nela permanentemente. A maio-
ria dessas habitações é feita de pedras, outras
têm a metade de sua fachada desse material.
Há também muitas casas de tijolos, e elas estão
dispostas em boa ordem, ao longo de ruas entre-
cruzadas regularmente, muito estreitas, todas
pavimentadas, e sulcadas no meio por uma calha
de pedra. Esta cidade está situada na encosta de
uma montanha, estendendo-se até a planície. A
praça, quase inteiramente plana, é quadrada e
pavimentada. Em torno dela há quatro casas
que são as principais da cidade: estas são pinta-
Terraços de irrigação no Vale Sagrado dos Incas. Cuzco, Peru.
das e construídas em pedras entalhadas.”
Os incas não conheciam a roda, o ferro ou a escrita. Para fazer contas, utilizavam um sistema muito enge-
nhoso de cordões com nós, chamado quipos. Os quipos eram vários cordões, que possuíam nós de acordo
com o número que representavam, inclusive o zero. Eram utilizados para realizar estatísticas sobre a po-
pulação e a quantidade de alimentos. Apenas as camadas dominantes da sociedade recebiam a educação
e o conhecimento necessários para a realização das obras de arquitetura e para os cálculos matemáticos.
No início do século XVI, o império foi assolado por uma guerra civil, por causa da sucessão impe-
rial. Essa guerra enfraqueceu o império e permitiu que povos submetidos recentemente se rebelas-
sem. Esperavam apenas uma oportunidade para fugirem do controle inca. Essa oportunidade veio com
os espanhóis, como veremos.
A
ATIVIDADES
Área ocupada
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Maias Astecas Incas
Características sociais
e econômicas
Características
culturais
© Domínio público
Brasil, que os indígenas locais chamavam de Pin-
dorama, ou “terra das palmeiras”, viviam popula-
ções bastante primitivas. Essas sociedades não
conheciam os metais e dispunham de instrumen-
tos feitos de pedra polida. Muitas praticavam o
canibalismo. As estimativas sobre a população in-
dígena ao tempo da chegada dos portugueses vão
de 1milhão a 5 milhões de indivíduos. Atualmen-
te, essa população não passa de 700 mil pessoas,
de acordo com as estimativas mais otimistas.
Os grupos indígenas no Brasil estavam divi-
didos em inúmeras etnias, falando mais de 300
idiomas. Os estudiosos identificaram dois gru-
pos principais, ou troncos linguísticos, o Tupi-
Ritual de antropofagia retratado pelos europeus durante a conquista da
-guarani e o Macro-jê. A partir desses dois tron- América. Gravura de Theodore de Bry, 1578.
cos foram formadas as várias línguas indígenas.
Dentre os principais grupos tupi, podemos destacar os tupinambás, que viviam no litoral, entre a
Bahia e o Rio de Janeiro; os caetés, que viviam no litoral nordestino; e os carijós, que viviam no litoral
sul e falavam a língua guarani, aparentada com o tupi.
Os indígenas organizavam-se em sociedades tribais, geralmente chefiadas por um cacique elei-
to pelo seu valor, ou por sua experiência, ou ainda por um conselho de anciãos. Não havia proprie-
dade privada da terra. Os indígenas alimentavam-se da coleta, da caça e da pesca e algumas tribos
conheciam a agricultura. Todas eram nômades ou seminômades, mudando de localidade conforme
iam escasseando os alimentos ou a terra ia perdendo sua fertilidade. Havia uma divisão do trabalho
de acordo com o sexo: os homens caçavam, pescavam, preparavam o solo e confeccionavam armas
e ferramentas, além, é claro, de participarem da guerra; as mulheres plantavam e colhiam os pro-
dutos agrícolas, coletavam frutos e produziam cestos, farinha e o cauim, uma bebida fermentada
de mandioca.
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As aldeias podiam conter até 600 pessoas. Algumas se organizavam em poucas casas grandes,
feitas de palha, contendo de 50 a 200 pessoas. Outras tribos construíam muitas malocas pequenas,
também de palha, que continham um número menor de indivíduos. O nomadismo das tribos fazia
com que elas abandonassem suas aldeias a cada cinco anos, aproximadamente.
A
ATIVIDADES
Mapa das terras indígenas brasileiras com dados de 2008. Em laranja, as terras demarcadas;
em verde estão aquelas em fase de demarcação, e em vermelho escuro, as novas propostas
a) É possível dizer que a população indígena diminuiu desde a chegada dos portugueses?
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Os povos indígenas da América do Norte antes da colonização
Na América do Norte havia, também, uma multidão de tribos
© visipix
A
ATIVIDADES
7. Com base no que você estudou até agora, quais semelhanças você identifica entre os povos
indígenas que habitam o território brasileiro e estadunidense?
CONECTANDO
Conforme os europeus foram chegando à América, dominaram ou exterminaram os povos que viviam
no continente, obrigando-os a morar em reservas indígenas ou a viver conforme os costumes dos do-
minadores. Como você verá no texto abaixo, os indígenas aprenderam os costumes dos brancos, mas
estão utilizando-os a seu favor, para viverem conforme suas próprias tradições.
Democracia xamânica
Marcelo Leite
RESUMO
Em sete dias de assembleia e eleições na comunidade de Toototobi, no Estado do Amazonas,
'DYL.RSHQDZDIRLUHHOHLWROtGHUGDDVVRFLDomR+XWXNDUDTXHUHSUHVHQWDRVLQWHUHVVHVGRVtQGLRV
ianomâmis. Debates entre líderes e eleitores e negociações com o Estado brasileiro apontam o
domínio dos ianomâmis sobre as artes da costura política.
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(...)
('8&$d®2²1DSDXWDGD4XDUWD$VVHPEOHLDGD+XWXNDUD$VVRFLDomR<DQRPDPLRGLD
de novembro, uma quarta-feira, está reservado para o tema educação. Na berlinda se acha Alda
Regina Amorim Franco, secretária-adjunta de Educação do governo de Roraima, um Estado pouco
dado a políticas em favor dos índios (a praça central da capital, Boa Vista, conhecida como “Bola”,
ostenta a gigantesca estátua de um garimpeiro).
'iULRÀOKRGH.RSHQDZDRXYHDVH[SOLFDo}HVEXURFUiWLFDVGDVHFUHWiULDDGMXQWDVREUHDVGH
ÀFLHQWHVHVFRODVQDVDOGHLDV7RPDHQWmRDSDODYUDHVHPTXHQLQJXpPHQWHQGDGHLPHGLDWRFR
meça a chamar para o centro da maloca representantes das 53 comunidades presentes. Pede que
VHRUJDQL]HPHPGXDVÀODVXPDGRVTXHWrPHVFRODQDDOGHLDVHPRYHPSDUDHODHRXWUDGRV
TXHQmRWrP3RUÀPGLULJHVHVyDRVSULYLOHJLDGRVHSHUJXQWD&KHJRXPDWHULDOHVFRODU"
Merenda? Carteiras, lousas, armários?
Todas as perguntas recebem um “não” uníssono como resposta. O desconforto das autoridades
é visível. Os índios querem respostas, compromissos, prazos, explicações. Em meio aos discursos
em línguas ianomâmis, pipocam vocábulos em português: “corrupção”, “manipulação”. As repre-
VHQWDQWHVGDVHFUHWDULDHQURODPMXVWLÀFDWLYDVFRPRSHUtRGRHOHLWRUDORXGLÀFXOGDGHGHOHYDUFDU
gas pesadas de móveis e livros, em avião, até as aldeias.
Aproxima-se a hora limite, 16h30, para a decolagem do avião que levaria as autoridades esta-
duais de volta a Boa Vista. A subsecretária parece aliviada com a partida iminente. Os ianomâmis
recebem então a contribuição inesperada do piloto da empresa de táxi aéreo.
A notícia chega primeiro para Davi Kopenawa, que pede o microfone a Dário e anuncia: o piloto
sumiu. Ou melhor, decolou. Diz, com ar divertido e sob risadas dos liderados, que vai providenciar
XPDUHGHHXPDFDPLVHWDGD+XWXNDUDSDUDFDGDXPDGDVIXQFLRQiULDVGD6HFUHWDULDGH(GXFD
ção: “Vocês estão na sua casa. Avião foi embora. Não estou brincando, não”.
A sessão de reclamações e queixas prossegue até 17h40, para ser retomada na manhã seguin-
te. O calor é infernal. Quem não tem o privilégio, como a secretária-adjunta retida, de tomar ba-
nho e usar os vasos sanitários do posto de saúde, única construção de alvenaria em Toototobi, se
vale do rio, onde também se lavam louças e peixes, e das muitas trilhas ao redor da maloca.
(Folha de S.Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010.)
2. Você acha que os indígenas estão apenas imitando os brancos ou estão usando as práticas dos
brancos à sua própria maneira? Justifique sua resposta com base no que você leu no texto.
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aXP 49
A
ATIVIDADES
8. Muitos filmes norte-americanos antigos apresentavam os indígenas como pessoas atrasadas, vio-
lentas e perigosas, que deveriam ser derrotadas pelo branco civilizado.
a) Escreva uma hipótese explicando por que os brancos representavam os indígenas dessa maneira.
b) A partir do que você aprendeu sobre os indígenas, é possível concordar com esse tipo de filme?
Justifique sua resposta.
9. Muitas pessoas acreditam que “indígena é tudo igual”. Você concorda com essa afirmação? Justi-
fique sua resposta.
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Quando chegaram à América, muitos europeus descreveram com palavras e imagens os indígenas,
apresentando para a população europeia suas impressões sobre os povos americanos. Analise com
muita atenção as figuras e responda às questões a seguir.
© Visipix
© Visipix
Theodore de Bry – Cena de Canibalismo. Gravura (1562) Theodore de Bry – Demônios atacando os selvagens. Gravura (1562)
11. Na sua opinião, os índios são retratados pelo artista de uma maneira positiva ou negativa? Justi-
fique sua resposta a partir de elementos das próprias imagens.
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12. As imagens também contam histórias. Que história o autor tentou passar para os europeus sobre
os índios? Você concorda com essa história das imagens? Justifique sua resposta a partir do que
foi discutido neste capítulo.
RETOMANDO
Neste capítulo estudamos as civilizações que viviam na América antes da chegada dos europeus.
Esses civilizações eram muito variadas e possuíam suas próprias culturas e formas de ver o mundo.
Uma parte delas havia se urbanizado e desenvolvido sociedades hierarquizadas baseadas na agricul-
tura enquanto outras mantiveram-se nômades ou seminômades com uma organização social mais
simples. Essa simplicidade, entretanto, não deve ser considerada como inferioridade, pois cada socie-
dade se adapta, entre outros fatores, ao meio em que se encontra. Veremos, nos próximos capítulos,
como se deu a interação entre os europeus e os povos dos outros continentes.
SAIBA MAIS
Filmes sugeridos:O Último dos Moicanos – Michael Mann, 1992; A Missão – Roland Joffé, 1986;
Dança com Lobos – Kevin Kostner, 1990; A Nova Onda do Imperador – Mark Dindal, 2000.
VOCABULÁRIO
aplacados – acalmados pictográficos – que representam graficamente
aspergiam – borrifavam seres vivos ou objetos inanimados
atribuíam – concediam, emprestavam preceitos – ideias
dispunham – tinham putrefação – podridão
erigidos – erguidos repugnante – que causa nojo
fonéticos – que representam sons supunha – imaginava
iminente – que está para acontecer
maloca – tipo de habitação própria das sociedades
indígenas no Brasil
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TOMANDO ATITUDE
Algumas pessoas acreditam que os indígenas deveriam ser “civilizados” e inseridos em nossa so-
ciedade. Você concorda com essa ideia? Escreva uma dissertação justificando sua resposta.
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aXP 53
2P_cd[^
7Xbc
aXP
>aT]PbRX\T]c^Rd[cdaP[
]P4da^_P
AQUECENDO
© Domínio público
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aXP 7A-HIS-L3-21
2. Compare as figuras. Descreva as diferenças e semelhanças entre elas (as roupas, o cenário, as
expressões das pessoas retratadas etc.).
3. Qual delas você acha mais parecida com a “realidade”? Por quê?
PENSANDO NISSO
4. Elabore uma hipótese para explicar por que as formas de representar a mesma cena mudaram
tanto em apenas cem anos.
MÃOS À OBRA
A partir do século XIV, a Península Itálica foi o palco de um movimento cultural conhecido como Re-
nascimento. Esse movimento valorizava a cultura da Antiguidade Clássica, ou seja, o modo de pensar
dos antigos gregos e romanos. Os renascentistas afirmavam que, após a queda do Império Romano,
a Europa viveu um período de trevas, no qual a cultura havia desaparecido. Renascimento, portanto,
significava resgatar essa cultura.
Porém, devemos levar em conta que o termo “Renascimento” foi criado pelos próprios italianos e
revela um grande preconceito das pessoas dessa época com relação à Idade Média. Como vimos nos
capítulos anteriores, os europeus medievais possuíam cultura, só que esta era diferente da Antiguida-
de. A palavra “Renascimento”, portanto, não deve ser entendida por nós “ao pé da letra”.
Esse movimento ocorreu na Península Itálica e depois se espalhou pela Europa. Veremos, neste
capítulo, como o Renascimento surgiu na Itália, quais eram suas características e de que maneira in-
fluenciou os outros povos da Europa.
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aXP 55
O Renascimento na Itália
Para entendermos como surgiu o Renascimento, devemos analisar o que estava ocorrendo na Itália
no final da Idade Média. Nesse período não existia uma unidade política chamada Itália. A Península
Itálica estava dividida em três partes distintas: o sul, controlado pelos reis da Espanha; o centro, onde
estavam as terras da Igreja; e o norte, onde predominavam cidades-estado mercantis e manufatureiras,
como Veneza, Gênova, Florença e Milão. A maioria dessas cidades constituía-se em repúblicas governa-
das pelos burgueses mais ricos. No início do século XV, as três principais cidades-estado italianas, Ve-
neza, Milão e Florença, conseguiram consolidar seu poder sobre as demais, expandindo seus territórios.
Asti Malaspina
Siena
Estados
diram e ocuparam Constantinopla, em 1453,
Mônaco
Pontifícios muitos sábios bizantinos fugiram para a Itália,
Córsega
Roma levando as obras dos escritores gregos da Anti-
Piombino
guidade, principalmente os trabalhos de Platão.
Nápoles
(Aragão)
As cidades do norte eram de longe as maiores
Sardenha
(Aragão)
cidades da Europa Ocidental e os maiores cen-
N
tros comerciais da época. A grande circulação de
mercadorias trouxe consigo a circulação de pes-
Mar
soas de vários lugares. O contato com outras
0 160 320 km
Med
ite
Sicília
(Aragão)
culturas influenciou os italianos e lhes possibili-
rrâ
ne
o tou desenvolver uma outra maneira de pensar.
(Fonte: Com base em FRANCO Jr, Hilário; ANDRADE, Ruy de O. Filho.
Atlas História Geral. São Paulo: Scipione, 1993.)
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O ideal de homem, para os homens do Renas-
A
ATIVIDADES
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aXP 57
a) Em sua opinião, por que o personagem da tirinha, Hagar, o horrível, disse suspirando: “é
chato viver na idade das trevas”?
b) A expressão “Idade das trevas” usada por Hagar, o horrível, começou a ser utilizada no século XV.
O que intelectuais e artistas italianos queriam dizer ao referir-se à Idade Média dessa maneira?
c) Com a ajuda do(a) professor(a), discuta com os colegas se o termo Idade das Trevas pode
ser considerado uma expressão adequada para descrever a Idade Média.
VOCÊ SABIA?
Perspectiva
© Anton Balazh – Shutterstock
Sistema geométrico que permite a representação tridimensional de um objeto sobre uma superfície
plana, uma vez estabelecido o ponto de observação. Na perspectiva linear, o ponto de fuga pode ficar
na linha do horizonte (ou linha de terra), acima ou abaixo dela, e todas as linhas de fuga convergem
para ele, vendo-se os objetos cada vez, e proporcionalmente, menores.
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O Renascimento influencia a Europa
O Renascimento não ficou restrito à Península Itálica. Muitos pensadores e artistas dirigiam-se para
a península a fim de estudar com os mestres italianos. Ao voltarem para seus países de origem, eles
adicionavam a esses conhecimentos sua própria cultura, criando novas formas de pensamento e criação.
© Domínio público
Nos Países Baixos, o principal humanista e escritor foi Erasmo de
Rotterdam. Em seu livro Elogio da Loucura, Erasmo critica de maneira
satírica os costumes de sua época e as várias camadas sociais, princi-
palmente o clero. Na pintura, destacaram-se Pieter Bruegel, os irmãos
van Eyck (que foram os primeiros a utilizar a técnica da pintura com
tinta óleo) e Hyeronimus Bosch. Na Alemanha, podemos destacar os
pintores Albrecht Dürer e Hans Holbein. O primeiro buscou expressar
em suas obras a realidade de seu país, retratando camponeses, sol-
dados e gente do povo. Era famoso como desenhista e ilustrador de
livros. Holbein, ao contrário, ficou conhecido como um retratista de
grandes personalidades.
Autorretrato de Albrecht Dürer (1498).
Inglaterra
Na Inglaterra, podemos destacar, entre os escritores, o padre Thomas Morus, que escreveu a obra
Utopia. Nessa obra, Morus apresenta a ilha de Utopia, na qual existia uma sociedade ideal, onde todas
as pessoas eram iguais e tratadas sem distinção. Sua obra exaltava a paz e a compreensão entre os ho-
mens. Além dele, destacam-se na Inglaterra os autores teatrais, como Marlowe e William Shakespeare.
O primeiro escreveu Doutor Fausto, obra na qual o herói vende a alma ao demônio em troca do poder
de sentir todas as possíveis sensações, experimentar todos os possíveis triunfos e conhecer todos os
mistérios do Universo. Shakespeare é considerado o autor teatral mais famoso de todos os tempos.
Transpondo para suas obras os conceitos do Humanismo renascentista, Shakespeare produziu tragé-
dias, comédias e dramas. Suas principais obras são: Rei Lear, Macbeth, Hamlet, Ricardo III, Romeu e
Julieta, Otelo, Sonho de uma Noite de Verão e Muito Barulho por Nada, entre outras.
França
© Visipix
Na França, Rabelais e Montaigne são os autores mais conhe-
cidos. O primeiro escreveu Gargântua e Pantagruel, comédia
que satiriza a Igreja e a escolástica. Gargântua e Pantagruel
eram dois gigantes, com enorme força e apetite insaciável. Suas
aventuras refletem o humor do autor, que satirizava todas as
formas de repressão. Montaigne, em sua obra Ensaios, expres-
sou os ideais de equilíbrio e harmonia com o Universo, a tole-
rância e a negação de qualquer tipo de verdade absoluta, isto
é, havia várias verdades, de acordo com a crença de cada um.
Espanha
Na Espanha, o principal nome da pintura foi o grego Dome-
nikos Theotokopoulos, conhecido como El Greco. Discípulo do
pintor italiano Ticiano em Veneza, suas obras caracterizavam-se
pelos sentimentos que expressavam. O teatro espanhol ficou
famoso pela obra de Lope de Vega, que escreveu mais de 1500
comédias e mais de 400 peças religiosas. Mas o grande nome
do Renascimento espanhol é Miguel de Cervantes, que escreveu D. Quixote e Sancho Pança. Através de suas trapa-
lhadas, o escritor Miguel de Cervantes fazia duras
Dom Quixote de la Mancha, romance que satiriza os ideais da críticas à mentalidade e sociedade medievais.
cavalaria medieval. Gravura de Gustave Doré (1863).
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que veio a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo aquilo que lia nos livros, tanto
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verdade toda aquela máquina daquelas soadas sonhadas invenções que lia, que para ele não
havia no mundo história mais certa.”
(CERVANTES, Miguel de. O Engenhoso Fidalgo D. Quijote de la Mancha. São Paulo: Editora 34, cap. I, p. 57)
Portugal
Em Portugal, destacam-se as peças de Gil Vicente, como Auto da Barca do Inferno e Auto da Vi-
sitação. Contudo, cabe a Luís Vaz de Camões o primeiro lugar entre os renascentistas portugueses,
ao escrever o poema épico Os Lusíadas, que narra a saga de Vasco da Gama e dos navegantes por-
tugueses na África e na Índia. O poema é considerado a maior epopeia escrita em língua portuguesa.
Canto I
1. As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
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As inovações na ciência
Durante o Renascimento, a Igreja perdeu o monopólio da explicação de como as coisas funcio-
navam no mundo. O método experimental tornou-se, aos poucos, a principal forma de se alcançar
o conhecimento científico da realidade. Vários pensadores e cientistas puderam comprovar teorias
que até então não eram aceitas pela Igreja. Os cientistas mais importantes do período foram Ni-
colau Copérnico (formulou a Teoria Heliocêntrica, na qual o centro do universo seria o Sol e não
a Terra, mais tarde completada por Galileu), Johann Kepler (a teoria da gravitação de Kepler vai
possibilitar a descoberta da Lei da Gravitação Universal, de Isaac Newton, no século XVII) e Galileu
Galilei (inventou o telescópio e descobriu as crateras da Lua e os anéis de Saturno). Os cientistas
renascentistas iniciaram os métodos que iriam inaugurar a ciência moderna. Além da astronomia, a
medicina também teve grandes avanços, devido ao grande interesse no ser humano. Os principais
médicos renascentistas foram Miguel Servet e William Harvey, que descobriram o funcionamento da
circulação do sangue.
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© Domínio público
A
ATIVIDADES
Leia com atenção a 3a estrofe do Canto I de Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões e, depois, res-
ponda ao que se pede.
2. Pesquise com seu(sua) professor(a) ou na internet para saber a quem Camões está se referindo
quando cita, “Sábio Grego”, “Sábio Troiano”, “Alexandre” e “Trajano”.
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3. Em sua opinião, qual é a mensagem de Camões na estrofe apresentada?
CONECTANDO
Como vimos, o Renascimento Cultural foi um movimento de ideias que transpôs as fronteiras da Itália
e atingiu a maior parte da Europa. A partir de então os europeus adotaram uma nova postura em relação
ao mundo e ao conhecimento. Entretanto, devemos ter cuidado ao analisar esse movimento. Será que
todas as pessoas, de repente, se tornaram eruditas e artistas? Será que toda a sociedade estava inclusa
nesse despertar do conhecimento? Na verdade, o Renascimento foi um movimento restrito às camadas
mais ricas da sociedade. Os pobres não tinham acesso nem à leitura, o que dizer das grandes obras
dos gênios renascentistas? Assim, mesmo com todas as inovações trazidas pelos filósofos e artistas
do Renascimento, muitas ideias e práticas do mundo medieval foram preservadas pela população. O
Homem do Renascimento, portanto, estava entre dois mundos: o medieval e o moderno.
Atualmente, há quem diga que a internet e a tecnologia estão mudando a face do mundo e criando
uma revolução na forma como as pessoas se relacionam. Será que isso está acontecendo com todas as
pessoas da sociedade ou há “excluídos digitais”? Como no caso do Renascimento, verificamos que as
novas práticas sociais e culturais trazidas pela tecnologia convivem lado a lado com formas tradicionais
de relacionamento humano e cultura que existiam anteriormente.
A
ATIVIDADES
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6. O Renascimento teve início na Itália porque, entre outras coisas,
a) a Igreja romana tinha grande interesse nas inovações culturais trazidas pelos renascentistas.
b a burguesia italiana era a mais desenvolvida da Europa, devido ao comércio com o Oriente.
c) os italianos tiveram maior contato com os artistas góticos do que qualquer outro povo europeu.
d) apenas na Península Itálica o teocentrismo foi valorizado.
e) as ideias de Petrarca e Dante não foram levadas em consideração pelos italianos.
7. Com a ajuda de seu(sua) professor(a), identifique a principal diferença entre a ciência moderna
renascentista e a teologia medieval.
9. No passado, cientistas como Galileu e Copérnico foram perseguidos por suas ideias, por serem
contrárias ao que estava estabelecido pela moral vigente. Recentemente, surgiu uma polêmica
sobre a moralidade da clonagem de seres humanos. Como você encara essa questão?
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Desafio
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Michelangelo Buonarroti – A criação de Adão. Afresco. (1511)
11. Aponte uma característica que indique a valorização da cultura greco-romana. Justifique sua res-
posta.
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12. Como aprendemos, os renascentistas valorizavam mais os valores estéticos e filosóficos da cultura
greco-romana do que os valores da Idade Média, marcados pela intensa religiosidade. Como você
explicaria, então, uma obra renascentista como essa, que possui um tema bíblico?
RETOMANDO
Vimos que as mudanças culturais na Europa vinham ocorrendo desde o século XII e originaram-se
das mudanças na economia e nas relações sociais, com o renascimento urbano, a ascensão da bur-
guesia e o declínio dos senhores feudais. No bimestre anterior, estudamos a influência da filosofia
grega no pensamento das escolas e universidades e da arte gótica, que estavam relacionadas com a
ascensão da burguesia nas cidades. Vimos que alguns artistas, como Dante e Giotto, já prenuncia-
vam as mudanças que estavam por vir na arte e na literatura. O racionalismo, o individualismo e o
naturalismo que caracterizaram o Renascimento já estavam em marcha na Europa, principalmente na
França, e não apenas na Itália. Assim, é preciso ter em mente que o Renascimento não surgiu de uma
hora para outra, mas veio se formando desde longa data. Na verdade, o Renascimento foi uma etapa
no processo de transição do mundo medieval para o mundo moderno, representando, como a arte
gótica que o precedera, os interesses da burguesia, que procurava por mudanças nas antigas formas
de organização da sociedade.
Entretanto, essas inovações não eram compartilhadas por todas as pessoas. Apenas um pequeno
número de indivíduos na sociedade tinha condições de comprar ou mesmo de entender as obras dos
renascentistas. Desse modo, não podemos afirmar que o Renascimento espelhava toda a cultura da
época, e sim a cultura das classes dominantes, como a alta burguesia e a nobreza.
SAIBA MAIS
Livro
Shakespeare Apaixonado, John Madden, 1998.
Agonia e Êxtase, Carol Reed, 1965.
Site
<http://www.historiadaarte.com.br/>
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VOCABULÁRIO
TOMANDO ATITUDE
Se você der uma volta pela cidade, vai encontrar muitos muros e prédios pintados com grafites,
que são desenhos feitos com tinta spray sobre um molde de cartolina. Vai encontrar, também,
símbolos feitos com tinta spray, mas que não se constituem em desenhos, e sim mensagens ou as-
sinaturas de “pichadores”. Compare as duas. Será que podemos considerar essas “pinturas” como
arte? Será que elas representam alguma classe social, como no caso do Renascimento ou dos movi-
mentos artísticos que estudamos anteriormente? Faça um debate com seu(sua) professor(a) e seus
colegas e descreva, a seguir, as conclusões a que vocês chegaram.
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