Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Trabalho de Processo Civil III

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

Legitimidade Executiva Dos

Herdeiros
Com base no acórdão Tribunal da
Relação de Guimarães
Professora: Doutora Claudia Boloto

Pedro Santana
Janeiro de 2022

DIREITO PROCESSUAL CIVIL III 2021/2022 1


Introdução ................................................................................3
Ação executiva .........................................................................4
Conceito e ns ..................................................................................................4
Tramitação do Processo Executivo ..........................................5
Pressupostos da ação executiva ................................................5
O título executivo ..............................................................................................5
A sentença condenatória ...................................................................................6
A certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação ...............................................7
A Legitimidade .................................................................................................8
Do Acórdão da Relação de Guimarães ....................................9
Linhas gerais .....................................................................................................9
Sujeitos processuais: ..........................................................................................9
Contestação dos enxequetes ...........................................................................10
O tribunal da Relação ....................................................................................10
Factos assentes .................................................................................................10
De direito ........................................................................................................11
Contradição de Julgados ........................................................15
Conclusão ...............................................................................16

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 2


fi

Introdução
Em 2019 o tribunal da relação de Guimarães, foi confrontado com um
recurso proveniente do tribunal a quo, onde o recorrente veio suscitar questões
de legitimidade em face do titulo executivo. Proferiu então em 24/04/2019 um
acórdão parcialmente procedente. O texto que segue iremos procurar abordar
as questões de legitimidade do titulo executivo, mas para la chegarmos teremos
de abordar a tramitação da ação executiva o que inclui abordar os pressupostos
da ação executiva, o titulo executivo principalmente o titulo com base em
sentença condenatória e a legitimidade.
Prosseguiremos com o acordão em si e explicar o que aconteceu e quais
foram as visões tanto do Tribunal a quo como do Tribunal da Relação.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 3



Ação executiva
Conceito e ns
As ações podem ser declarativas ou executivas1. São ações executivas
aquelas em que o credor requer as providencias adequadas à realização coativa
de uma obrigação que lhe é devida2. Isto signi ca que ao contrario da ação
declarativa, a ação executiva não pretende esclarecer um direito. O seu objetivo
é, partindo da certeza do direito, realizá-lo, dando-lhe e cácia prática.
A ação executiva pode ter três ns diferentes3, pode ser para pagamento
de quantia certa, entrega de coisa certa ou a prestação de um facto positivo ou
negativo.
O Código do Processo Civil, relativamente à ação executiva, organiza-se
em função dos ns das ações sendo este e os limites da execução vão ser
delimitados pelo titulo executivo4. Ou seja, o enxequete, tendo um titulo de
execução para entrega de coisa certa, não conseguirá obrigar o executado a
pagar uma quantia certa em dinheiro.
Esta questão está relacionada com a ação declarativa, na medida em que
se o titulo for uma sentença, tem de haver uma congruência entre o titulo e o
pedido formulado na ação declarativa.

1 N.º 1 do artigo 10º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
2 N.º 4 do artigo 10º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
3 N.º 6 do artigo 10º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
4 N.º 5 do artigo 10º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 4

fi
fi

fi

fi
fi

Tramitação do Processo
Executivo

Pressupostos da ação
executiva
O título executivo
Todas as execuções têm rir base um título executivo5. São aceites como
títulos executivos que possam servir de base à ação executiva6 as sentenças
condenatórias, os documentos exarados ou autenticados por notário ou por
outras entidades pro ssionais com a competência para tal, que importem a
constituição ou reconhecimento de qualquer obrigação, os títulos de credito e os
documentos que seja atribuída força executiva. Esta é uma enumeração taxativa
o que não quer dizer que não ha titulo executivos para alem destes que estão
previstos como por exemplo a injunção7 que engloba os demais títulos de
crédito que podem ter força executiva.

5 N.º 5 do artigo 10º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
6 Artigo 703º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
7Artigo 14º do diploma preambular do Decreto-Lei N.º 269/98, de 1 de setembro conjugado com o artigo 21º
do mesmo Decreto-Lei

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 5


fi

Assim sendo, o titulo executivo é o documento que permite dar inicio à


ação executiva. É possível partir para. Ação executiva sem que tenha havido
anteriormente uma ação declarativa. Esta é necessária quando o titulo executivo
seja uma sentença, já que não esta não pode ser obtida sem ser por uma ação
declarativa.

A sentença condenatória
As sentenças condenatórias podem ser de simples apreciação, condenação
ou constitutivas8. Para serem titulo executivo, só terá lugar a sentença
condenatória9. Isto deve-se ao respeito pelo principio do dispositivo e pelo
pedido que o autor fez na ação declarativa. Se o pedido tiver sido de simples
apreciação ou de constituição, a sentença não poderá con gurar um titulo
executivo.
No tocante à exequibilidade da sentença, esta só será um titulo executivo
depois do transito em julgado, salvo se o recurso tiver efeito meramente
devolutivo10. A regra é que o recurso tenha efeito meramente devolutivo.
O recurso de apelação, por regra não tem efeito suspensivo, mas
meramente devolutivo. Assim tendo o recurso meramente devolutivo, a sentença
tem efeito executivo. Ter efeito meramente devolutivo signi ca que quem passa
a ter competência plena para decidir o caso é a instância superior. O regime é
que o tribunal superior anula total ou parcialmente a sentença do tribunal a quo
e toma ele a decisão. Enquanto não houver uma segunda decisão poderá a
sentença do tribunal a quo ser executada.
Quando vier a decisão de nitiva, seja da relação ou do Supremo, ou seja,
se transitar em julgado a ação executiva extingue-se, caso a segunda decisão
reverta a primeira11. Caso se revoga parcialmente a sentença da primeira
instancia, será executado o que o tribunal superior decidir procedente.
Ja vimos que por regra o recurso não tem efeito suspensivo, mas tal terá
lugar quando o executado presta caução, impedindo assim a execução. Assim

8 N.º 2 do artigo 10º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
9 Alínea a) do N.º 1 do artigo 703º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
10N.º 4 do artigo 704º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
11N.º 2 do artigo 704º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 6

fi

fi
fi

sendo o executado poderá depositar ou prestar uma garantia bancária no valor


da condenação, mas o exequente poderá também prestar caução e evitar que o
executado suspenda a execução.

A certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação


A ação executiva importa o incumprimento de uma obrigação. O seu
incumprimento não resulta do próprio titulo quanto a prestação é, perante este,
investe, ilíquida ou inexigível.
“A execução principia pela diligências, a requerer pelo enxequete,
destinados a tonar a obrigação certa, exigível e liquida, se o não for em face do
titulo executivo”12. Para executar uma obrigação ela terá de ser certa, exigível e
liquida, caso contrario a ação não poderá prosseguir. Mas em algumas
circunstancias, é possível que a ação prossiga não sendo certa, exigível nem
liquida, fazendo iniciar por diligencias para a tonar certa, exigível e liquida.
Certamente que ha uma ligação com o requerimento executivo onde o
enxequete deve liquidar a obrigação e escolher a prestação, quando lhe caiba,
de modo a tonar o crédito exigível13.
Uma obrigação é certa quando a prestação encontra-se qualitativamente
determinada, ou seja, sabe-se exatamente o que é que está em causa: se é para
pagar, o que é para apagar, se é para entregar o que é para entregar.
Se tivermos uma obrigação alternativa14 na qual a ação cabe ao
executado, a obrigação não está certa, já que o enxequete não a pode escolher.
Neste caso, noti ca-se o executado para se opor a execução e incluirá na
noti cação para que no mesmo prazo opte por uma das prestações a efetuar.
A obrigação é exigível quando a prestação se encontra vencida ou
quando apenas depende de simples interpelação ao devedor15 - Obrigação pura
pela qual o devedor ainda não tenha sido interpelado não esta vencida, mas
mesmo assim é exigível.

12 Artigo 703º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina


13 Alínea h) do N.º 1 do artigo 724º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
14Obrigação determinada por compreender duas ou mais prestações, dependendo de escolhe posterior. O
devedor obriga-se então, a prestar isto ou aquilo. A escolha é normalmente feita pelo devedor a menos que haja
convencionado que cabe ao credor -N.º 1 do artigo 714º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020,
Almedina
15 Artigo 715º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 7


fi
fi

A obrigação iliquida terá de ser uma obrigação pecuniária, ja que a


liquidez é a determinação quantitativa da obrigação. Ser liquida signi ca que se
sabe qual o montante a pagar. Quando a quantia for liquida, o enxequete terá
somente de especi car os valores e efetuar um pedido liquido no requerimento
executivo.

A Legitimidade
i O ponto de partida para a legitimidade é determinar quem está no título executivo,
ou seja, a aplicação tem de estar promovida pela indivíduo que no título executivo a gure
como credor e deve estar instaurada desfavoravelmente a indivíduo que no título tenha a
categoria de devedor16.
Contudo há desvios à regra. Situação de morte do devedor ou credor
original, situação de existência de garantia real sobre bens de terceiro, situação
em que os bens do terceiro sobre os quais recaem a garantia não são su cientes
e a situação em que os bens onerados ao devedor estão na posse de terceiro17.
Mas no que respeita ao caso concreto iremos abordar somente na situação de
morte do devedor ou credor original18 e neste âmbito poderá o herdeiro
representar o de cujos, deduzindo os facto constitutivos da sucessão logo no
requerimento executivo. Assim, não será a pessoa que consta do titulo a ser
parte na ação, mas sim o seu representante. Isto funciona quer do lado ativo que
no lado passivo.
A regra geral é o incidente de comunicabilidade19, este é uma extenuai da
legitimidade porque permite que quem não esteja no titulo seja executado. É
uma cção em que se dispensa o título executivo.
A ilegitimidade das partes constitui uma exceção dilatória de
conhecimento o cioso20. Consequentemente, cabe ao juiz, sendo insanável,
proferir despacho liminar da petição inicial21 e sendo sanável deverá o juiz

16 N.º 1 do artigo 53º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
17 54º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina - na integra.
18N.º 1 do artigo 54º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
19N.º 1 do artigo 54º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
20 N.º 1 do artigo 577º e o artigo 578º ambos do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
21 Alínea b) do N.º 2 do artigo 726º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 8


fi

fi
fi

fi
fi
fi
proferir despacho de aperfeiçoamento22. Sendo insanada deverá o requerimento
executivo ser indeferido23.

Do Acórdão da Relação de
Guimarães
Linhas gerais
O Acórdão veio reconhecer as questões de legitimidade do titulo
executivo enquanto titulo formal, ja incontrovertido. Na ação executiva tem
como regra geral o principio da legitimidade formal ou da coincidência
princípios que casam com o principio da economia processual, devido a isto a
lei permite desvios a esta legitimidade ( artigo 54 do cpc). Ou seja, a lei permite
que a ação executiva seja intentada contra ou por alguém que não esteja
mencionado no titulo, estendendo-se a legitimidade os sucessores.

Sujeitos processuais:
A e esposa, são executados por B e esposa, C e esposa, que por suas vezes
são enxequetes. Intentaram uma ação executiva que é apensa aos processo por
correr nos mesmos autos, para prestação de facto, contra A e esposa, pedindo a
remoção das pedras e tábuas de madeira que ocupavam parcialmente a entrada
para o prédio dos enxequetes. Remoção que ca a cargo de terceiro à custa dos
executados. Este titulo foi dado á execução de uma sentença condenatória
proferida numa ação sumária do juízo do tribunal judicial de Ponte de Lima,
que ja não existe. Titulo que junta ao requerimento executivo proferida pelo
tribunal a quo contra os réus A e esposa. Visto que A e esposa faleceram foi feita
a habilitação de herdeiros passando a ser executados o seu lho S e a sua esposa.
Foi deduzido os embargos pelos lho S e esposa invocando ilegitimidade
processual passiva com base no facto que na habilitação de herdeiros o prédio
em questão ter cado na propriedade da sua irmã M. Deduzem que este prédio
nada tem a ver com relação material controvertida e que está dotado de
22N.º2 do artigo 6º conjugado com o N.º4 do artigo 726º ambos do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita,
2020, Almedina
23 N.º 5 do artigo 726º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 9


fi

fi
fi
fi

ambulatoriedade por se tratar de uma obrigação real, e assim sendo só a sua


irmã M deve ser executada, devendo então ser considerado em conjunto com a
sua esposa partes ilegítimas para a ação e absolvendo-os da instância24.

Contestação dos enxequetes


Pugnam pela improcedência da alegada ilegitimidade processual dos
herdeiros, visto a prestação de facto se fundar em uma sentença condenatória
que resulta uma obrigação pessoal dos réus. Advém de uma responsabilidade
civil extra contratual devida à pratica de factos ilícitos, tendo então de ser
exigido a todos os herdeiros por consequência da morte do executado A,
conforme a escritura de habilitação. Mas o tribunal não pensou desta maneira, e
proferiu um despacho saneador onde vem dar razão aos executados absolvendo-
os da instância.
Os exequentes foram interpor recurso ao Tribunal da Relação e solicitam
que a sentença do tribunal a quo seja revogada e substituída por acordão. Neste
recurso vieram solicitar que o Tribunal da Relação julgasse improcedente a
pretensão dos executados.

O tribunal da Relação
Factos assentes
Os AA são legítimos proprietários do imóvel urbano com logradouro. Por
sua vez os exequentes são legítimos proprietários do imóvel rústico, um terreno
de mato e pinheiros.
Desde ha mais de 50 anos que os AA e os seus antecessores vêm cultivado
os prédios em causa, plantando, semeando e colhendo os seus frutos para seu
consumo e comércio. O prédio rústico dos primeiros executados confronta com
um outro prédio rústico dos ora primeiros executados e no dia 6 de abril de
2001 os primeiros executados colocaram grandes blocos de pedras no terreno
que constituía a referida abertura de acesso ao prédio dos exequentes à via
publica o que restringiu bastante o acesso à via pública por carros, tratores e
veículos pesados.

24 Alínea d) N.º 1 do artigo 278º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 10


De direito
No essencial a questão a resolver reconduz-se no fundamental a saber se
os Réus colocaram as referidas pedras em terreno que lhes pertence, ou se pelo
contrário em terreno de que os autores são donos e, assim prejudicaram o seu
direito de propriedade e do uso da servidão de passagem, con gurando assim
uma situação de restituição de uma posse. Assim sendo a presente ação terá de
proceder na integra por ter sido violado o direito de propriedade dos exequentes
sob forme de direito subjetivos absoluto25, fora também violado o direito real de
gozo dos exequentes, corporizado numa servidão predial de passagem
constituída por usucapião e também por contrato26.
A ilegitimidade passiva con gura uma exceção dilatória de conhecimento
o cioso27, ou seja, cabe ao juiz conhecer dela, tendo o executado depois de
citado a possibilidade de se opor à execução por embargos quando o juiz não a
reconhece28.
A regra geral de legitimidade é o da legitimidade formal ou da
coincidência29 com isto o legislador permite que apenas basta analisar o
documento para de nir quem tem interesse direito ativo ou passivo na execução
sem necessidade então de analisar a relação material controvertida. Assim
sendo, apela-se à lateralidade do titulo executivo30. Porem, existem desvios à
regra geral da determinação da legitimidade devido a um principio importante
da economia processual. Com isto o legislador permite romper com a
obediência à literalidade do titulo executivo e permitir que a ação executiva seja
intenta por alguém ou contra alguém que não gura no titulo executivo, -Ultra
Titulum31- o que bene cia os tribunais a não carem sobrecarregados com
atividades de criação de novos títulos executivos.

25 Artigo 1311º e seguintes do Código Cívil, 12ª edição, 2020, Almedina


26 Artigos 1543º, 1544º e 1548º todos do Código Cívil, 12ª edição, 2020, Almedina
27 Artigo 578º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
28 Alínea c) do artigo 729º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina
29 Artigo 53º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

30 Pág,
12- Linhas Mestras da Execução para Prestação de Facto, de Teresa Madail e Mónica Bastos Dias,
Almedina, Janeiro de 2019.
31 Artigo 54º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 11


fi

fi
fi
fi
fi

fi

fi
Na execução fundada em sentença condenatória32 poderá ser promovida
contra o devedor mas não só, poderá também seguir contra os sucessores, mas
também contra as pessoas as quais a sentença tenha força de caso julgado sendo
a regra geral33 uma e cácia subjectiva do caso julgado em que este apenas
vincula as partes na ação.
Por outro lado, na ação declarativa a causa de pedir é objeto da relação
material controvertida, ou seja, é mero objeto da relação, enquanto que na ação
executiva a causa de pedir é objeto e representação do titulo executivo, então já
incontrovertida. Assim a regra da legitimidade restrita a rma que para serem
partes ativas e passivas os sujeitos tem de gurarem no titulo como credor e
como devedor, sendo condição formal do exercício do direito à execução34.
Julgou-se totalmente procedente a ação por provada e, em
consequência, se decide condenar os Réus a de imediato, retirarem
todas as pedras que abusiva e ilegitimamente, colocaram na
entrada de acesso à via pública do prédio dos 2º AA de modo a esse
acesso (abertura) car assim totalmente desimpedida em toda a
sua largura de cerca de oito metros e, assim, no preciso estado em
que se encontrava antes dessas suas ilegítimas actuações (dos
Autores. Revertido ao caso, esta foi a decisão do Tribunal a quo e com isto
resulta que foi feita prova complementar da sucessão mortis causa de um dos que
guram no titulo como devedor, o A, o que desencadeia a legitimação dos
sucessores do devedor35 visto ter havido sucessão por morte na titularidade da
obrigação exequenda entre o momento da formação do titulo e o da propositura
da ação executiva. E efetivamente os Réus guram como obrigados, obrigação
decorrente do título, tendo sido condenados a retirar as pedras que haviam
colocado na entrada de acesso à via publica do Prédio dos exequentes, de modo
a que esse acesso que totalmente desimpedido em toda a sua largura doe cerca
de oito metros. Tal obrigação imposta foi pessoalmente imposta aos Réus e foi-o
por terem sido autores de facto ilícito, não por serem titulares do prédio rústico.

32 Artigo 55º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

N.º1 do artigo 619º conjugado com o N.º2 do artigo 581º ambos do Código de Processo Civil, Miguel
33
Mesquita, 2020, Almedina

Artigo 53º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina conjugado com o artigo 817º do
34
Código Cívil, 12ª edição, 2020, Almedina
35 N.º1 do artigo 54º do Código de Processo Civil, Miguel Mesquita, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 12


fi
fi
fi
fi

fi
fi
fi

A obrigação imposta por sentença é independente de propriedade dos Réus e


não é uma obrigação conexa ao estatuto real do prédio.
Com base na fundamentação da sentença do Tribunal a quo, os primeiros
executados foram condenados por terem violado o direito de propriedade dos
exequentes sob a forma de direito subjetivos absoluto36, e para além disto por
terem violado o direito real de gozo incorporado numa servidão predial de
passagem constituída por usucapião pela utilização no decurso do tempo e
posteriormente também por contrato.
Mas a obrigação imposta por sentença tem natureza pessoal, ou seja, o
direito dos Autores foram violados, ilícita e abusivamente pelos réus por terem
colocado as pedras na entrada de acesso à via pública, o que nada tem a ver
com o prédio dos réus.
Como o pedido formulado pelos exequentes decorre da prática de um
facto ilícito causador de danos, a ação declarativa de condenação onde foi
proferida sentença que constitui o titulo executivo tem caracter pessoal e não
real visto a pretensão não decorrer de um direito real.
Vejamos o signi cado das obrigações reais ou propter rem. A obrigação
propter rem ou obrigação real “(…) é aquela cujo sujeito passivo - o devedor - é
determinado não pessoalmente (“intuitu personae”), mas realmente, isto é
determinado por ser titular de um direito real sobre a coisa, nascendo com a
violação e subsistindo, ligada à coisa, enquanto não se veri car uma causa de
extinção. (…)”37. Trata-se então de uma obrigação onde o sujeito passivo é
variável, pois este o será no momento de determinado direito real, ou seja, a sua
quali cação é uma obrigação ambulatória. A ambulatoriedade é a capacidade
de uma obrigação acompanhar automaticamente o direito real ao qual está
intimamente ligada à transmissão deste direito para um novo titular. Temos
como exemplo de obrigações reais ambulatórias os condóminos terem o dever
de pagar o que lhes cabe o valor das suas frações, as despesas necessárias à
conservação e fruição das partes comuns do edifício e ao pagamento de serviços
de interesse comum38, neste caso quando há a transmissão do prédio, caso o
antigo condómino não tenha pago o que lhe é devido, este obrigação transmite-

36 Artigo 1311º e seguintes do Código Cívil, 12ª edição, 2020, Almedina


37Acórdão do Tribunal da Relação do Porto . http://www.dgsi.pt/jtrp.nsf/
56a6e7121657f91e80257cda00381fdf/e2cc28228c858708802586080038aaf9?OpenDocument
38 N.º 1 do artigo 1424º do Código Cívil, 12ª edição, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 13


fi
fi

fi
se ao novo proprietário, podemos então ver a ambulatoriedade do direito real
que ao transmitir o direito de propriedade transmite tudo o que vem apenso a
este, incluido as dividas.
No tocante ao caso ocorreu violação do direito direito de propriedade dos
exequentes, mas tal violação não está diretamente ligada à coisa, pois o facto
ilícito de colocar as pedras não foi no prédio dos réus, mas sim na entrada de
acesso à via publica dos exequentes, estando, por isso, a violação ligada à pessoa
dos réus, o que se concorda devido o direito de propriedade violado ser sob a
sua forma de direito subjetivo absoluto não estando diretamente ligado à coisa,
ou tenha alguma relação de dependência.
Não devemos confundir com as obrigações propter rem os casos de
responsabilidade civil atribuídos ao proprietário que exigem um facto ilícito e
culposo para se poderem constituir, assim sendo, não con rma como obrigação
propter rem os vícios de construção ou conservação , logo, também não é
responsabilidade, por facto ilícito e culposo, a colocação de pedras na entrada
de acesso à via publica do prédio de outrem, o que nada tem a ver com o direito
real e sim a violação do direito de propriedade pela pratica de um acto ilícito.
Assim sendo, esta obrigação determina-se pela titularidade do direito real.
No caso em apreço podemos a rmar que não ha nenhuma obrigação
propter rem e sim uma obrigação de indemnização que decorre da
responsabilidade civil extra contratual39 e não da titularidade do direito real.
Com isto devem os réus reparar o dano que causaram ao colocar as pedras,
limitando o exercício do seu direito, ou seja, repor a situação que existiria se não
se tivesse veri cado o acto ilícito, a restauração natural40.

39 Artigo 483º do Código Cívil, 12ª edição, 2020, Almedina


40 Artigo 562º do Código Cívil, 12ª edição, 2020, Almedina.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 14


fi

fi

fi

Contradição de Julgados
O tribunal da primeira instância condenou A e esposa à remoção das
pedras indevidamente colocados, vedando assim a passagem dos exequentes
para a via pública. Neste meio termo A e a esposa faleceram e como
consequência os herdeiros tomaram o lugar de executados por via da
habilitação de herdeiros realizada. Os exequentes foram executar a sentença e
os executados deduziram embargos de executado invocando a ilegitimidade
processual passiva. Usaram como argumento o artigo 26º do CPC em conjunto
com o artigo 278º alínea d) também do CPC.
Com isto o tribunal decidiu veri car as exceções dilatórias de
ilegitimidade processual do embargante e da sua mulher determinando assim a
absolvição dos mesmos da instância. Decisão proferida por despacho saneador
baseada no facto de o direito real do prédio, propter rem, ser dotado de
ambulatoriedade e ter sido transmitido à lha M conforme escritura de
habilitação dando a entender que esta e só esta é parte legitima, como se
obrigações reais se tratasse.
Os exequentes vieram interpor recurso da decisão do Tribunal a quo que
julgou procedente a ilegitimidade, com o argumento de que a todos os herdeiros
deveriam ser chamados à colação e não somente a lha M, por se tratar de um
facto ilícito e não por razões de direitos reais sobre os prédios con nantes.
Assim veio o Tribunal da Relação decidir que as obrigações propter rem são
aquelas cujo devedor se determina pela titularidade do direito real o que não é o
caso, trata-se de uma ação ilícita e abusiva ao colocaram as pedrs na entrada de
acesso a via publica. E mais se aprofundou o Tribunal da Relação em decidir
que o executado apelado tem efetivamente legitimidade passiva, mas a sua
esposa executada não, mantendo assim a decisão do Tribunal a quo no que toca
à esposa do executado apelado. Isto porque estão casados no regime de
comunhão de adquiridos e como tal os bens que advenham por sucessão ou
doação é considerado um bem próprio41 do cônjuge e por conseguinte disto a
sua esposa não tem legitimidade passiva juntamente com o executado apelado.

41 Alínea b) do N.º1 do Artigo 1722º do Código Cívil, 12ª edição, 2020, Almedina

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 15


fi

fi
fi
fi

Conclusão
Efetivamente o Tribunal a quo não esteve 100% claro na sua decisão
diferentemente a decisão tomada pelo Tribunal da Relação é aquela com que se
concorda, pois certamente que ,com base no caso em apreço, a obrigação não é
de todo real, nem dotada de ambulatoriedade e executando somente a lha M
traria uma enorme insegurança aos nossos julgadores e na nossa lei se fosse
injustamente aplicada.
Assim sendo, mais uma vez , concorda-se com a decisão tomada pelo
Tribunal da Relação, para alem do enorme sentido que faz está em
concordância com a lei.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2021/2022 16


fi

Você também pode gostar