Recursos Naturais
Recursos Naturais
Recursos Naturais
RECURSOS NATURAIS
autores
BEATRIZ CRUZ GONZALEZ
BRUNO G. DE OLIVEIRA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2016
Conselho editorial solange moura; roberto paes; gladis linhares; karen bortoloti;
marcelo elias dos santos
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.
isbn: 978-85-5548-216-8
Prefácio 7
1. Recursos Naturais 9
1.1 Recursos Naturais 11
1.2 Classificação dos recursos naturais 11
1.3 Utilização dos recursos naturais 14
1.4 Economia dos recursos naturais 15
1.5 Brasil colônia 17
1.6 Revolução Industrial 18
1.7 Exploração da Biodiversidade 21
1.8 Implicações ambientais do crescimento populacional 25
1.9 Impacto causado pelos padrões de produção e consumo 28
1.10 Escassez dos recursos naturais. 30
3. Pesquisa Aplicada 61
3.1 Pesquisa Aplicada 63
3.2 Método Científico 63
3.2.1 Tipo de métodos 65
3.3 Pesquisa Científica 67
3.3.1 Classificação da pesquisa 68
3.4 Projeto de Pesquisa 76
3.4.1 Título do projeto 76
3.4.2 Introdução 77
3.4.3 Revisão Bibliográfica 77
3.4.4 Procedimentos metodológicos 78
3.4.5 Cronograma 78
3.4.6 Referências Bibliográficas 79
3.5 Técnicas de coleta, análise e interpretação de dados. 79
Bons estudos!
7
1
Recursos Naturais
Definidos por Abramovay (2002) como “aqueles cuja reprodução não pode ser
feita pela atividade humana. Podem ser usados ou geridos, mas não produzi-
dos” os recursos naturais serão o foco deste primeiro capítulo juntamente com
temas relevantes relacionados aos mesmos como, o desenvolvimento sustentá-
vel, a revolução industrial e a crise ambiental, contemplando-se assim a forma
com que os recursos naturais que, por não serem estáticos, se expandem e se
contraem em resposta às necessidades e às ações humanas.
OBJETIVOS
As temáticas a seguir serão tratadas neste capítulo: o modelo predatório de produção e a
exploração da biodiversidade, as implicações ambientais do crescimento populacional, o im-
pacto causado pelos padrões atuais de produção e consumo e a problemática da escassez
dos recursos naturais. Espera-se que você assimile quais são os tipos de recursos naturais
existentes, como é feita a sua utilização e economia e como a Revolução Industrial repercutiu
na exploração da biodiversidade. Está preparado para embarcar nessa aventura? Espero que
sim! Então, mãos à obra?!
10 • capítulo 1
1.1 Recursos Naturais
Este material aborda um dos elementos mais importantes para a manutenção
da vida: os recursos naturais. De acordo com Randall (1987) os recursos natu-
rais são aqueles que possuem valor e que são úteis na forma com que se encon-
tram na natureza, desde que eles sejam usados com outros fatores de produção
para geração de um bem ou de um serviço que possam vir a ser benéficos para
a população.
Barbieri (2007) define os recursos naturais como sendo bens e serviços ori-
ginais ou primários dos quais todos os demais dependem. Encontram-se inclu-
sos entre os recursos naturais elementos ou partes do meio ambiente físico e
biológico, tais como solo, plantas, animais, minerais e tudo que possa ser pro-
veitoso e acessível à produção da subsistência humana.
Assim, o conceito tradicional de recurso natural deriva do fato de que nem
tudo o que existe na natureza trata-se de recurso, e sim apenas aquilo que de
alguma maneira represente alguma utilidade aos seres humanos.
capítulo 1 • 11
Não se alteram
com o uso
Renováveis
Alteram-se
com o uso
Recursos Naturais
Esgotam-se
com o uso
Não renováveis
Esgotam-se, mas
podem ser reciclados
e reutilizados
Figura 1.1 – Classificação dos recursos naturais. Fonte: Adaptado de Barbieri (2007).
12 • capítulo 1
©© NRQEMI | DREAMSTIME.COM
©© CHRIS VAN LENNEP | DREAMSTIME.COM
Figura 1.2 – Recursos naturais renováveis que não se alteram com o uso: energia solar
(primeira), energia eólica (segunda) e energia das marés (terceira).
capítulo 1 • 13
A água que teoricamente é um recurso natural renovável encontra-se em si-
tuação delicada de escassez ao redor do mundo inteiro. Os cenários previstos re-
lacionados à qualidade e quantidade dos recursos hídricos são muito preocupan-
tes tanto que espera-se que a água seja a causa de muitas guerras no século XXI.
Ressalta-se que os recursos naturais, sejam eles renováveis ou não, não po-
dem ser considerados como independentes, pois o ciclo de um determinado
recurso vai influenciar, de algum jeito, no ciclo de um outro recurso. Ou seja, o
uso desenfreado ou impróprio de um dado recurso natural pode comprometer
o ciclo de um outro recurso que depende do primeiro. Por exemplo, a argila e o
húmus arrastados do solo como resultado de atividades agrícolas inadequadas
diminuem a sua capacidade em reter água podendo atingir a desertificação do
mesmo caso o processo de carreamento dessas partículas seja continuado.
A degradação do meio ambiente decorre da má utilização dos recursos na-
turais e das externalidades negativas geradas pelos processos produtivos e de
consumo dos mesmos, ou seja, da economia dos recursos naturais, como será
discutido a seguir.
14 • capítulo 1
incluem aqueles que são usados para geração de energia,
por exemplo, os combustíveis fósseis como o carvão, o pe-
tróleo e o gás natural, sendo também utilizados na produção
RECURSOS de materiais, construção, transporte e eletricidade. Os recur-
ENERGÉTICOS sos energéticos podem ser renováveis (energia solar, eólica,
hidroelétrica, geotérmica, biomassa, etc.) ou não renováveis
(energia nuclear e combustíveis fósseis);
MULTIMÍDIA
Vivemos em uma sociedade em que produzimos muito, quase tudo é descartável, mas pouco
é reaproveitado situação que provoca desperdício não só de dinheiro, mas também de recur-
sos naturais. Assista o vídeo e veja como o não aproveitamento dos recursos naturais pode
causar a sua escassez: https://www.youtube.com/watch?v=mmAyr2sHN8Q.
capítulo 1 • 15
úteis ao homem por meio do trabalho, que demanda e ao mesmo tempo gera
capital (dinheiro).
Esta visão clássica previa que o crescimento populacional estimularia a
produção a qual demandaria cada vez mais recursos naturais para satisfazer
as necessidades. Assim, como a tecnologia conhecida não era suficiente para
atender à sociedade, por não ter como promover o aumento da produção, cada
vez mais, terra, capital e trabalho necessitam de ser empregados. O constante
acréscimo produtivo seria determinante para esgotamento dos recursos natu-
rais levando ao estacionamento da economia, no qual o crescimento do pro-
duto, do emprego e da renda é nulo. Verifica-se, então, que apesar de a natu-
reza, limitar o crescimento econômico, a mesma era vista como bem comum
permitindo-se o seu livre acesso, sem necessidade de pagamento, e, à medida
que novos recursos naturais eram incorporados à produção, o custo social de
utilização desses recursos era aumentado, tornando-os cada vez mais improdu-
tivos e escassos, frente à intensidade e forma de uso, o que, consequentemente,
limitaria a expansão da produção pela impossibilidade de se aumentar a oferta
de tais recursos naturais (BARROS; AMIN, 2006).
A teoria neoclássica relacionada aos recursos naturais é baseada na modi-
ficação da forma com que o homem se apropria da natureza como resultado
da Revolução Industrial e da invenção da máquina a vapor. A partir daí, os ho-
mens passaram a controlar, totalmente, o processo de produção intensifican-
do o uso dos recursos naturais visando o aumento de escala produtivo e conse-
quentemente o crescimento econômico. Para tanto, diversas tarefas manuais
passaram a ser realizadas por máquinas, o que resultou na maior variedade
de produtos.
Ao contrário da teoria clássica, a teoria neoclássica prevê que a natureza é
incapaz de limitar o crescimento da economia, já que a crescente incorporação
de tecnologia aos processos produtivos superaria quaisquer problemas refe-
rentes à escassez dos recursos naturais. Dessa forma, tem-se que os fatores pro-
dutivos determinantes do padrão de crescimento econômico neoclássico são
o capital, o trabalho e a tecnologia, sendo os recursos naturais considerados
como ilimitados.
De acordo com May (2001) a teoria neoclássica pressupõe que o capital na-
tural pode ser substituído infinitamente pelo capital material produzido pelo
homem, ou seja, o progresso tecnológico é capaz de superar todos os limites
que possam surgir ao crescimento devido à escassez dos recursos. Segundo
16 • capítulo 1
Miller (2007) a economia neoclássica considera os recursos naturais importan-
tes, mas não essenciais, devido a capacidade dos seres humanos de encontrar
substitutos para os escassos recursos e serviços do ecossistema, visto que o
crescimento econômico contínuo é necessário, desejável e ilimitado.
A economia dos recursos naturais baseou-se por muitos anos na teoria neo-
clássica que apresenta como finalidade a perpetuação do padrão de bem-estar
da sociedade, por meio do capital total, para as gerações futuras, demonstran-
do que, apesar de a natureza ser importante, na maioria dos casos, ela pode ser
substituída pelo capital manufaturado.
Mattos (2005) afirma que a economia atual do meio ambiente apresenta uma
abordagem preventiva contra as catástrofes ambientais iminentes defendendo
a conservação da biodiversidade através de uma ótica que atenda às necessida-
des potenciais das gerações futuras. Isso implica que os limites ao crescimento
baseado na escassez dos recursos naturais e a sua capacidade de suporte é real
mas não necessariamente superáveis mediante avanços tecnológicos.
capítulo 1 • 17
econômica ou o esgotamento do recurso natural alvo de exploração deslocava o
eixo do povoamento que abandonavam sua região, restando no mais das vezes
núcleos populacionais relativamente isolados e dispersos subsistindo numa
economia voltada para a auto-suficiência (ARRUDA, 1999).
Desde então a população brasileira adotou técnicas adaptativas indígenas
para uso dos recursos naturais. Delas incorporaram na sua base alimentar
alimentos como milho, mandioca, abóbora, feijões, amendoim, batata-doce,
cará, etc. Adotaram os produtos de coleta compondo sua dieta com a extração
do palmito e de várias frutas nativas como maracujá, pitanga, goiaba, banana,
caju, mamão e tantas outras. E, como complemento essencial, apoiaram-se na
caça e na pesca.
O surgimento da agricultura transformou a relação do homem com a natu-
reza, visto que a atividade agrícola demanda a criação de um meio artificial para
cultivo de plantas e de gado. A necessidade de uso de recurso hídrico para ma-
nutenção da agricultura fez com que surgissem aglomerados nas margens dos
rios que resultaram no início da crise ambiental, com a construção das cidades.
Além disso, a prática da agricultura resultou na modificação do comporta-
mento do homem primitivo, o qual deixou de ser fundamentalmente um caça-
dor para assumir uma postura de produtor. De forma gradativa, o homem foi
domesticando plantas e animais para atender às suas necessidades, degradan-
do assim o meio ambiente. Contudo, o papel do homem no processo de altera-
ção da biodiversidade só passou a ser seriamente preocupante nos últimos dois
séculos (VALENTE, 2005).
18 • capítulo 1
realizada na época a fim de acelerar o crescimento econômico. Ao mesmo tem-
po ela também representa uma mudança na relação da humanidade com a na-
tureza, pois por meio do uso da máquina a vapor a sociedade pôde intensificar
o uso de recursos naturais para a produção de força de forma versátil, controlá-
vel e constante, com qualidade muito superior àquela produzida anteriormen-
te por meio do uso de animais e de moinhos de vento e de água.
©© HANSENN | DREAMSTIME.COM
Figura 1.3 – Máquina a vapor introduzida na Revolução Industrial.
capítulo 1 • 19
MULTIMÍDIA
Assista um trecho do filme “Tempos Modernos” que mostra a mudança da vida de ope-
rários com a revolução industrial, em que houve a passagem da produção artesanal, para
a produção em série. Os operários se submetiam a uma forma de produção incompatível
com suas condições físicas e psicológicas para obtenção de uma maior produção que visa-
vam maior lucro independente das suas condições de trabalho: https://www.youtube.com/
watch?v=XFXg7nEa7vQ.
CURIOSIDADE
Apesar de a proteção ambiental ser tema considerado como “recente” na história da Humani-
dade, nos primórdios da industrialização, mais precisamente em 1798, um economista inglês
famoso, Thomas Robert Malthus, publicou uma pesquisa intitulada de “Ensaio sobre a po-
pulação: como afeta o futuro progresso da humanidade”. Nesta obra o economista abordou
uma série de preocupações referentes aos problemas decorrentes do aumento populacional
e à possibilidade de esgotamento dos recursos naturais, juntamente com os reflexos no
crescimento econômico (DIAS, 2011).
20 • capítulo 1
população residia em centros urbanos com mais de 50.000 habitantes. Como
resultado disso, as cidades começaram a ficar cobertas de fumaça, os rios a
serem poluídos pelos resíduos domésticos e industriais e consequentemente,
por falta de saneamento básico, houve um alastramento de epidemias de doen-
ças de veiculação hídrica, como cólera e febre tifoide.
Os novos mecanismos e formas de produção, somados à exploração inten-
siva e sistemática dos recursos naturais trazidos pela revolução industrial alas-
traram-se de maneira descontrolada, sem prever as consequências para o meio
ambiente. Os processos de industrialização aumentaram de forma excessiva,
porém estes foram concebidos de maneira irresponsável resultando no grave
problema ambiental que afeta todo o planeta nos dias atuais. O desmatamento
intenso feito visando-se a criação de novas áreas agrícolas e a produção de car-
vão vegetal causou o desaparecimento de grande parte da cobertura vegetal da
Europa no século XIX e início do século XX (DIAS, 2011).
A exploração desmedida do meio ambiente foi mantida durante todo o sé-
culo XIX e a maior parte do século XX. A concepção equivocada de que os recur-
sos naturais eram ilimitados começou a ser questionada somente na década de
70, apesar do surgimento de algumas ações pontuais nesse sentido nos anos 50
e 60. Assim, os países desenvolvidos, após terem explorado de forma desenfrea-
da a sua biodiversidade, iniciaram o processo de conscientização da necessida-
de de controlar os processos de industrialização, assim como de recuperação
do meio ambiente, desenvolvendo para tanto o controle dos processos produti-
vos e das emissões de resíduos.
capítulo 1 • 21
A diversidade de ecossistemas inclui a variedade das espécies que vivem um
uma determinada área, de seus habitats e dos componentes abióticos, ou seja,
sem vida. Segundo Dias (2011) a biodiversidade pode ser considerada como
sendo um dos recursos naturais mais importantes para todas as atividades
humanas, já que a mesma além de fornecer bens tangíveis essenciais para a
humanidade, como alimentos, madeira, lenha, fibras, entre outros, a biodiver-
sidade promove atividades ambientais muito importantes, como por exemplo:
a reciclagem dos nutrientes, estabilidade climática e a regulação hídrica.
PERGUNTA
Como pode ser definido o fenômeno chamado de extinção?
22 • capítulo 1
humanos era de 2 a 10 espécies por ano. Uma estimativa média, apresentada
por Mckinney e Schoch (1998) é de que 50 espécies por dia se estejam a tornar
extintas (equivalente a 170 000 por ano).
Apesar da extinção das espécies ser uma parte natural do processo evolu-
tivo, nos dias de hoje, devido às atividades do homem, as espécies e os ecos-
sistemas encontram-se mais ameaçados do que em qualquer outro período da
história. As perdas de diversidade ocorrem tanto nas florestas tropicais, onde
estão presentes 50 a 90% das espécies já identificadas, como nos rios, lagos, de-
sertos, florestas mediterrânicas, montanhas e ilhas. As estimativas mais recen-
tes apontam que, se as taxas atuais de desflorestação forem mantidas, 2 a 8%
das espécies que vivem na Terra irão desaparecer nos próximos 25 anos. Além
destas extinções serem uma tragédia ambiental, elas refletem profundamente
no desenvolvimento econômico e social, tendo-se em vista que a espécie huma-
na depende da diversidade biológica para a sua própria sobrevivência, dados
que pelo menos 40% da economia mundial e 80% das necessidades dos povos
dependem dos Recursos Biológicos.
A extinção tem, atualmente, quatro causas básicas, sendo que é recorrente
a ocorrência de extinções de espécies envolvendo duas ou mais de duas cau-
sas combinadas:
• Destruição do habitat;
• Introdução de espécies exóticas;
• Caça excessiva;
• Extinções secundárias (efeitos - cascata provocados por alterações nas co-
munidades biológicas).
capítulo 1 • 23
©© ARNALDO JR. | DREAMSTIME.COM
CONCEITO
A biotecnologia moderna é definida como o conjunto de técnicas embasadas na biologia
molecular e na manipulação de material genético de qualquer organismo, com a finalidade de
criar produtos e processos específicos. As suas aplicações alcançam praticamente todos os
setores da atividade humana, tais como: saúde, agricultura, geração de energia, recuperação
de minerais, eletrônica, entre outros, fato este que justifica o motivo pelo qual a biotecnologia
é considerada como uma das áreas mais promissoras da economia atual.
24 • capítulo 1
Além da Convenção da Biodiversidade outros instrumentos foram criados
com o mesmo objetivo, como a Convenção Ramsar, Convenção para Proteção
de Espécies Migratórias de Animais Selvagens, o Acordo Internacional sobre
Madeiras Tropicais e a convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies
da Fauna e da Flora Selvagens em Perigo de Extinção (Cites).
capítulo 1 • 25
©© PAURA | DREAMSTIME.COM
26 • capítulo 1
CURIOSIDADE
O nome mata ciliar tem origem no nome dos pequenos pelos que ficam acima dos olhos
humanos, os cílios. Nos seres humanos, os cílios possuem como função proteger os olhos,
evitando a entrada de sujeira e suor. Com função similar, as matas ciliares protegem os rios
e lagos, principalmente, de erosões.
capítulo 1 • 27
1.9 Impacto causado pelos padrões de
produção e consumo
28 • capítulo 1
©© NOOMHH | DREAMSTIME.COM
Figura 1.6 – Disposição de lixo a céu aberto em lixão.
capítulo 1 • 29
1.10 Escassez dos recursos naturais.
Durante muito tempo o meio ambiente foi capaz de absorver os impactos ne-
gativos das ações antrópicas e ao mesmo tempo de se renovar. A maioria dos
recursos naturais já foi modificada pelo homem e poucos “originais” restaram.
Contudo, o aumento populacional fez com que esses impactos se tornassem
cada vez mais agudos, tornando a capacidade de autorrenovação do ambiente
deficitário aumentando os danos causados aos recursos naturais (CALDERO-
NI, 2004). No século XX, os problemas ambientais agravaram- se ainda mais,
resultando no agravamento do Efeito Estufa, poluição ambiental nas águas e
nos solos, desmatamentos, a desertificação e outros.
A conscientização de que o processo de crescimento econômico e social
vem contribuindo para o esgotamento dos recursos naturais, degradando as-
sim o ambiente e a qualidade de vida, gerando processos de exploração, opres-
são e exclusão do homem, acarretou na necessidade de se zelar pela qualidade
dos produtos e dos processos, evitando os desperdícios e aprimorando o uso
dos recursos. Esse “despertar” para a crise ambiental levou a sociedade a repen-
sar o seu comportamento resultando na adoção de novos parâmetros de análi-
se, nos quais a perspectiva ambiental passou a ter importância fundamental
e preponderante na equação do desenvolvimento, ou seja, a partir do advento
do desenvolvimento sustentável, as sociedades visam adotar um novo modelo
econômico capaz de gerar riqueza e bem-estar enquanto promovem a coesão
social e impedem a destruição da natureza.
A premissa básica do desenvolvimento sustentável consiste na satisfação
das necessidades presentes sem comprometimento da capacidade das gera-
ções futuras de suprirem as suas próprias necessidades, demandando dessa
forma que os recursos naturais sejam utilizados, de forma racional, sem com-
prometer a produção e nem devastar a natureza. Assim, o “novo” pensamento
econômico visa conciliar a economia e ecologia de modo que a variável ambien-
tal, antes fora do sistema, passe a ser essencial ao crescimento e desenvolvi-
mento econômico.
30 • capítulo 1
MULTIMÍDIA
Assista ao vídeo presente no link: https://www.youtube.com/watch?v=Q9AcSF6CCCU que
resume a divulgação de um relatório feito por ONG americana, em parceria com o Instituto
Akatu, do Brasil. Tal relatório mostra que caso o atual padrão de consumo da humanidade
seja mantido, o planeta não vai aguentar e o esgotamento de recursos naturais irá acontecer
antes do que se imagina.
ATIVIDADES
01. Como os recursos naturais podem ser definidos?
02. Explique por que a distinção entre recursos renováveis e não renováveis deve ser vista
com reservas?
03. Cite qual foi um dos elementos mais marcantes da Revolução Industrial e como o mes-
mo transformou o uso dos recursos naturais.
REFLEXÃO
Chegamos ao final deste capítulo conhecendo melhor os recursos naturais e a forma com
que o utilizamos, a fim de atender as diversas demandas do homem. Contudo, a quantidade
dos recursos naturais vem sendo alterada em função das atividades do homem, que por meio
da exploração da biodiversidade, modifica a reciclagem natural de tais recursos em diversas
formas. A vida humana depende dos recursos naturais, como a terra, água, florestas, recursos
marinhos e costeiros, bem como de suas múltiplas funções. Tanto os seres humanos quanto
os demais seres vivos, agora e no futuro, têm direito a um meio ambiente saudável, que for-
neça os meios necessários a uma vida digna. Para isto, é preciso manter os ecossistemas, a
biodiversidade e os serviços ambientais em quantidade e qualidade apropriadas.
capítulo 1 • 31
LEITURA
Maiores detalhes do uso de recursos naturais no Brasil, em especial, os recursos minerais
podem ser encontrados no livro “Recursos naturais e desenvolvimento: estudo sobre o po-
tencial dinamizador da mineração na economia brasileira” (FURTADO; URIAS, 2013).
Para saber mais sobre a Revolução Industrial, incluindo os seus reflexos até os dias
atuais, tanto na tecnologia como nas leis trabalhistas, leia o artigo intitulado de “A importância
da Revolução Industrial no mundo da tecnologia” (CAVALCANTE; SILVA, 2011).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVAY, Ricardo. Construindo a ciência ambiental. Annableme Fapesp, 2002.
ARRUDA, R. Populações tradicionais e a proteção dos recursos naturais em unidades de
conservação. Ambiente & Sociedade, Ano II,n.5, 1999.
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos.2a ed., São
Paulo: Saraiva, 2007.
BARROS, F. G. N.; AMIN, M. M. Os recursos naturais e o pensamento econômico. Sociedade
Brasileira de Economia e Sociologia Rural. XLIV CONGRESSO DA SOBER, 2006.
CALDERONI, S. Economia Ambiental. In: PHILIPPI Jr., A.; ROMÉRO, M. A.; BRUNA, G. C. Curso de
Gestão Ambiental. Barueri, São Paulo: Manole, 2004.
CAVALCANTI, Z. V.; SILVA, M. L. S. A importância da revolução industrial no mundo da
tecnologia. VIIII EPCC – Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar, Editora CESUMAR,
Maringá, 2011. Disponível em<http://www.cesumar.br/prppge/pesquisa/epcc2011/anais/zedequias_
vieira_cavalcante2.pdf>. Acesso em: 10/08/2015.
DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. 2a ed., São Paulo: Atlas,
2011.
FURTADO, J.; URIAS, E. Recursos naturais e desenvolvimento: estudo sobre o potencial
dinamizador da mineração na economia brasileira.1ª ed., São Paulo: Ed. dos autores/IBRAM, 2013.
HOCHSTETLER, R. L. Recursos naturais e o mercado: três ensaios. São Paulo: FEA/USP, 2002.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Pesquisa nacional de
saneamento básico. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen>. Acesso em: 15/06/2006.
MATTOS, K. M. C. et al. Valoração econômica do meio ambiente dentro do contexto do
desenvolvimento sustentável. Revista Gestão Industrial. Ponta Grossa, v. 1, n. 2, 2005.
32 • capítulo 1
MAY, P. H. Avaliação integrada da economia do meio ambiente: propostas conceituais e
metodológicas. In ROMEIRO, A. R.; REYDON, B. P.; LEONARDI, M. L. A. Economia do meio
ambiente: teoria, políticas e a gestão de espaços regionais. Campinas: UNICAMP. IE, 2001.
MCKINNEY, M.; SCHOCH, R. Environmental Science: Systems and solutions. London: Jones and
Bartlett Publishers, 1998.
MELLO, L. F.; HOGAN, D. J. População, consumo e meio ambiente. XV Encontro Nacional de
Estudos Populacionais, ABEP, Caxambú (MG): 2006
MILLER JR, G. T. Ciência Ambiental. 11a ed., São Paulo: Cengage Learning, 2007.
MUCELIN, C. A.; BELLINI, M. Lixo e impactos ambientais perceptíveis no ecossistema urbano.
Sociedade & Natureza, Uberlândia, 20 (1): 111-124, 2008.
NOLASCO, L. G. Direito fundamental à moradia. São Paulo: Editora Pilares, 2008.
PAULO, R. F. O desenvolvimento industrial e o crescimento populacional como fatores
geradores do impacto ambiental. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v.7, n.13/14, 2010.
RANDALL, A. Resource economics: an economic approach to natural resource and environmental
policy. 2aed. New York: John Wiley & Sons, 1987.
SALOMÃO, F. X. T. Controle e prevenção dos processos erosivos. In: GUERRA, A. J. T. G.; SILVA,A.
S.; BOTELHO, R. G. M. Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. 5. ed. Rio
de Janeiro, Bertrand Brasil, 2010.
UNITED UNION FOR CONSERVATION OF NATURE (IUCN). Red List Categories and Criteria. The
World Conservation Union. Gland, Switzerland, 2002.
VALENTE, M. C. F. S. O conceito de recurso biológico nas orientações curriculares do ensino
básico. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 2005.
WEYERMÜLLER, A. R. Direito Ambiental e Aquecimento Global. São Paulo, Atlas, 2010.
capítulo 1 • 33
34 • capítulo 1
2
Crise Ambiental:
Problemas e
Soluções
Nos últimos 300 anos, o desenvolvimento tecnológico alcançado pela huma-
nidade mediante exploração dos recursos naturais foi expressivo. Em nenhum
outro período histórico o homem evoluiu tanto, tecnologicamente, como hoje.
No entanto, o período em questão também se destaca pela intensa crise am-
biental decorrente das atividades antrópicas. Os recursos naturais do meio
ambiente, que vêm sendo devastados por tanto tempo de forma insustentável,
começam a se exaurir podendo causar a extinção do próprio homem, conforme
previsto por Thomas Hobbes: “o homem, sem predadores naturais torna-se o
lobo de si mesmo”. Para transformação deste cenário encontra-se o desenvol-
vimento sustentável baseado na perspectiva da utilização de recursos naturais
com a sua preservação para as gerações futuras.
OBJETIVOS
Os seguintes temas serão abordados no presente capítulo: crise ambiental incluindo o efeito
estufa, o aquecimento global e a escassez de recursos naturais. Posteriormente à explana-
ção da crise ambiental, será apresentado o “novo” modo de pensar o ambiente que aponta a
sustentabilidade como solução para crise, abrangendo os movimentos sociais que colocaram
em discussão a problemática ambiental no século XX; os fundamentos do conceito de de-
senvolvimento sustentável, os principais marcos regulatórios (políticas públicas) e normativos
na promoção da sustentabilidade ambiental e por fim, a gestão sustentável da biodiversidade.
Vamos lá?!
36 • capítulo 2
2.1 Crise Ambiental: problemas e soluções
Os problemas ambientais, causados pelos humanos, decorrem principalmente
do uso do meio ambiente para obtenção dos recursos naturais a serem utili-
zados na produção de seus bens e serviços necessários. Porém, o uso de tais
recursos nem sempre ocasionou a degradação ambiental. Como inicialmente
a escala de produção era reduzida, o meio ambiente após ter sido explorado
era capaz de se auto recuperar, através de seus ciclos biogeoquímicos naturais.
Contudo, a crescente escala produtiva estimulou a exploração dos recursos na-
turais, aumentando também a quantidade de resíduos gerados, que consiste
em um dos principais problemas ambientais conhecidos atualmente.
A crença de que a natureza existe para satisfazer as necessidades dos seres
humanos contribuiu fortemente para o estado de degradação ambiental que se
observa nos tempos atuais. A forma com que a produção e o consumo vêm sen-
do realizados, desde a Revolução Industrial, demanda recursos naturais e gera
resíduos, ambos em quantidades alarmantes, que já ameaçam a capacidade de
suporte do próprio Planeta.
A seguir os principais problemas ambientais globais serão apresentados, e
posteriormente a tomada de consciência da crise ambiental juntamente com
as suas possíveis soluções será abordada.
PERGUNTA
Antes de darmos continuidade ao tema “efeito estufa” é importante que você responda a
seguinte pergunta: Qual é a composição da atmosfera terrestre?
capítulo 2 • 37
A atmosfera terrestre é uma mistura de gases, com predominância de nitro-
gênio (78%) e oxigênio (21%), porém esses gases não absorvem radiação infraver-
melha. Outros gases, contudo, naturalmente presentes na atmosfera ou resul-
tantes de atividades antrópicas são capazes de absorver uma fração significativa
da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre. Tais gases, por sua
vez, também começam a irradiar no infravermelho, espalhando esta radiação em
várias direções, inclusive retornando à superfície, que conforme já foi dito ante-
riormente, se mantém mais quente do que seria na ausência da atmosfera.
A retenção de energia pelos gases do efeito estufa é decorrente de um mecanis-
mo físico-químico. Destaca-se que grande parte do efeito estufa natural se deve
à presença da água na atmosfera: vapor d'água (85%) e partículas de água (12%).
Outros gases-estufa consistem em: dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o
óxido nitroso (N2O), os clorofluorcarbonetos (CFCs), os hidroclorofluorcarbone-
tos (HCFCs) e o hexafluoreto de enxofre (SF6). O aumento do teor desses gases na
atmosfera como resultado de atividades humanas pode causar um agravamento
do efeito estufa e, consequentemente, um aquecimento global do planeta.
A Convenção da Mudança Climática e o Protocolo de Kyoto são exemplos de
ferramentas criadas a fim de controlar as emissões e regular o uso da atmosfera
como um bem público mundial. O emprego destes visa à redução da emissão
dos gases do efeito estufa em setores e países variados, em especial naqueles
que contribuem de forma intensa para o agravamento do problema.
38 • capítulo 2
A Convenção ainda definiu que os países fizessem inventários nacionais de
suas emissões e estabelecessem metas e programas nacionais. Além do mais,
a alguns países inclusos no Anexo I (que engloba os países desenvolvidos ou
com economias em transição) foram impostos limites de emissões de gases do
efeito estufa para o ano de 2000. Contudo, como foi verificado que as metas
estabelecidas pela Convenção não estavam sendo alcançadas, em 1995 insti-
tuiu-se por meio de um mecanismo denominado de “Implementação conjun-
ta” que as atividades apontadas pela Convenção teriam caráter voluntário e que
essas poderiam ser realizadas de forma conjunta entre os países desenvolvidos
(DIAS, 2011).
capítulo 2 • 39
CURIOSIDADE
Embora os EUA não sejam adeptos ao Protocolo de Kyoto, em 2005 um grupo de mais de
130 prefeitos de várias cidades dos Estados Unidos, incluindo Nova Iorque, se reuniu para
assumir o compromisso de cumprir o Protocolo de Kyoto reduzindo as emissões de gases
estufa em 7% até o ano de 2012. A fim de atingir essa meta foram anunciadas as medidas
básicas que seriam tomadas, tais como: desligamento dos motores dos navios quando es-
ses se encontram ancorados, promoção de campanhas de informação pública, aquisição de
energia eólica, redução da emissão de gases a partir da substituição de veículos tradicionais
por veículos híbridos (movidos a base de energia elétrica).
40 • capítulo 2
do Painel Intergovernamental de Mudança climática (IPCC), a temperatura da
Terra ao longo do século XX se tratou da mais alta de todos os períodos já re-
gistrados, destacando-se o aumento de 0,4oC a 0,8oC que se deu nos últimos
100 anos. A tabela 2.1 mostra a mudança das concentrações dos gases do efeito
estufa na atmosfera com o passar do tempo.
Tabela 2.1 – Concentração de alguns gases do efeito estufa na atmosfera. Fonte: IPCC,
2001.
capítulo 2 • 41
As regiões litorâneas seriam primeiramente as mais afetadas pela elevação
dos níveis dos oceanos, contudo, como consequência todo o planeta sofreria
depois, pois atualmente existe uma quantidade significativa de pessoas que
residem em regiões litorâneas (mais de 6 bilhões). A migração dessas pessoas
para o campo, reduziria a área agricultável e causaria conflitos sociais pela pos-
se de recursos, que ficariam cada vez mais escassos (BARBIERI, 2007).
©© DENIS BURDIN | DREAMSTIME.COM
MULTIMÍDIA
Assista ao vídeo do link a seguir e entenda como a intensificação do aquecimento glo-
bal vem causando até a alteração dos mapas do Planeta Terra. https://www.youtube.
com/watch?v=epqLConeA2M
42 • capítulo 2
2.4 Soluções para a crise
Até meados dos anos 1960, os problemas decorrentes da relação homem & na-
tureza foram contemplados de forma bastante superficial. Porém, no ano de
1962 o livro publicado pela americana Rachel Carson, que trabalhou por 17
anos no US Fish and Wild life Service, Departamento de Caça e da Vida Selva-
gem dos EUA, no qual ela relata o impacto ambiental causado pelo inseticida,
o DDT. Este livro, chamado de Primavera Silenciosa, serviu como alarme cau-
sando nos anos seguintes um aumento considerável das inspeções das terras,
mares, rios e ares por parte de muitos países preocupados com a ocorrência de
possíveis danos ao meio ambiente. A partir daí iniciou-se o movimento global
que se traduziu em inúmeros encontros, conferências, tratados e acordos assi-
nados pelos países do mundo em prol do meio ambiente.
capítulo 2 • 43
• É promovida pela UNESCO em Paris, uma Conferência sobre a conserva-
ção e o uso racional dos recursos da biosfera.
44 • capítulo 2
em 1987, ocorreu outro fato histórico dessa década: a elaboração do Informe
Brundtland, da CMMAD, chamado de “Nosso Futuro Comum”. Este documen-
to, considerado como um dos mais importantes relacionado a questão ambien-
tal e o desenvolvimento, vincula de maneira bem estreita economia e ecologia
e estabelece com bastante precisão o eixo em torno do qual se deve discutir o
desenvolvimento, consagrando o conceito de desenvolvimento sustentável e
definindo os parâmetros que os Estados deveriam seguir assumindo responsa-
bilidades não somente pelos danos ambientais, como também pelas políticas
que geram tais danos.
O documento divulgado pela CMMAD, “Nosso Futuro Comum”, foi tão im-
portante que serviu de base para a realização da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, em
1992. Esta Conferência, que se popularizou como Rio 92, apresentava como fi-
nalidade identificar as políticas que geravam os efeitos ambientais negativos.
Como resultado dessa reunião, assinaram-se cinco documentos que aponta-
vam as discussões referentes ao meio ambiente dos anos seguintes:
• Agenda 21;
• Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB);
• Convênio sobre Mudanças Climáticas;
• Princípios para a Gestão Sustentável das Florestas;
• Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento.
capítulo 2 • 45
sobre o Desenvolvimento Sustentável (CMDS) apontam novamente que os três
pilares do desenvolvimento sustentável se tratam dos seguintes: proteção am-
biental, desenvolvimento social e desenvolvimento econômico.
A vinculação do meio ambiente com o desenvolvimento é considerada como
um marco na história do Desenvolvimento sustentável, já que a mesma permite
uma nova abordagem das questões ambientais por meio da sua associação com
os problemas comuns de países em desenvolvimento, tais como desigualdade e
injustiça social (DIAS, 2011).
46 • capítulo 2
©© ELENA DUVERNAY | DREAMSTIME.COM
Figura 2.2 – Desenho esquemático relacionando parâmetros para se alcançar o desenvol-
vimento sustentável.
capítulo 2 • 47
que deveria ter como finalidade a de conseguir um melhor
equilíbrio entre cidade e campo, bem como uma melhor
repartição populacional da atividade econômica sobre o
território. As principais metas seriam cessar a destruição
VIABILIDADE predatória dos ecossistemas, promovendo o emprego de
ESPACIAL métodos modernos de agricultura e de agroflorestamento
regenerativo para produtores familiares, fornecendo, princi-
palmente, módulos técnicos apropriados e possibilidades de
crédito e de acesso aos mercados;
48 • capítulo 2
ambiente, apesar da exploração desenfreada dos recursos naturais nacionais
feita por Portugal, colonizadora do Brasil. Algumas denúncias “precoces” fo-
ram realizadas sobre o mau uso dos recursos naturais, por políticos renomados
como José Bonifácio, Joaquim Nabuco e André Rebouças, no entanto, as mes-
mas não encontraram lugar na esfera política da época (BARBIERI, 2007).
CURIOSIDADE
No início da década de 1930 o rio Tietê, localizado na cidade de São Paulo, servia de lazer
para a população paulistana, que se banhava em suas águas aos finais de semana. Infeliz-
mente, esta prática tornou-se inviável algumas décadas depois devido a poluição de suas
águas decorrente das atividades humanas.
CONEXÃO
Saiba mais sobre o Parque Nacional do Itatiaia acessando ao seguinte link: http://www.
icmbio.gov.br/parnaitatiaia/
capítulo 2 • 49
Foi somente em meados dos anos de 1970 quando os danos ambientais
tornaram-se mais evidentes que o poder público assumiu uma nova postura.
Instituiu-se então a Secretaria Especial do Meio ambiente e, além disso, diver-
sos Estados criaram as suas agências ambientais especializadas, como a Cetesb
no estado de São Paulo (1973) e a Feema do Rio de Janeiro (1975).
Em 1981 promulgou-se a Lei 6.938 que estabeleceu a Política Nacional do
Meio Ambiente. Tal lei apresenta como principal meta a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, a fim de garantir con-
dições de desenvolvimento socioeconômico, os interesses de segurança nacio-
nal e a proteção da dignidade humana (BRASIL, 1981). A implementação desta
Política representou uma transformação importante relacionada à questão am-
biental, visto que dentre outras ações, ela instituiu o Sistema Nacional do Meio
Ambiente (SISNAMA) responsável pela proteção e melhoria do meio ambiente.
O SISNAMA é composto por diversos órgãos e entidades da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, conforme exposto na tabela 2.2.
50 • capítulo 2
Atualmente, tanto os países em desenvolvimento (como o Brasil), quanto os
desenvolvidos almejam a elaboração de uma agenda comum como resultado
dos fóruns internacionais que vêm ocorrendo, visando o ataque à pobreza e à
destruição ambiental.
capítulo 2 • 51
e cuidar da comunidade dos seres vivos; 2)- melhorar a qualidade da vida hu-
mana; 3)- conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra; 4)- minimi-
zar o esgotamento dos recursos não renováveis; 5)- permanecer nos limites da
capacidade de suporte do planeta Terra; 6)- modificar atitudes e princípios do
direito humano fundamental; princípio da supremacia do interesse público
nas práticas pessoais; 7)- permitir que as comunidades cuidem de seu próprio
meio ambiente; 8)- gerar uma estrutura nacional para a integração de desenvol-
vimento e conservação; 9)- constituir uma aliança global", dentre outros.
MULTIMÍDIA
Para saber mais sobre o direito ambiental nacional assista ao vídeo em que um dos cria-
dores do Direito Ambiental no Brasil, que participou da Eco 92 e da Rio+20, aborda o
tema relatando a sua experiência, acessando ao link a seguir: (https://www.youtube.com/
watch?v=iRO6cP6DZU0)
52 • capítulo 2
da Educação Ambiental foi dado em 1981, com a Política Nacional de Meio
Ambiente (PNMA) que instituiu, no âmbito legislativo, a necessidade de inclu-
são da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, incluindo a educação
da comunidade, visando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio
ambiente. Reforçando essa tendência, a Constituição Federal, em 1988, apre-
sentou a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos os níveis
de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
Em 1991, a Comissão Interministerial para a preparação da Rio 92 definiu a
Educação Ambiental como um dos instrumentos da política ambiental brasi-
leira. Daí então foram criadas duas instâncias no Poder Executivo, destinadas a
lidar somente com esse aspecto: o Grupo de Trabalho de Educação Ambiental
do MEC, que em 1993 se transformou na Coordenação-Geral de Educação
Ambiental (Coea/MEC), e a Divisão de Educação Ambiental do Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), cujas
competências institucionais foram determinadas no sentido de representar
um marco para a institucionalização da política de Educação Ambiental no âm-
bito do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama).
São inúmeras as definições de educação ambiental. No Congresso de
Belgrado, promovido pela UNESCO em 1975, a Educação Ambiental foi defini-
da como sendo um processo que tem como finalidade: “(...) formar uma popu-
lação mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas
que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as com-
petências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e en-
gajamento que lhe permita trabalhar individualmente e coletivamente para re-
solver os problemas atuais e impedir que se repitam (...)” (SEARA FILHO, 1987).
Já na Agenda 21, consta que a Educação Ambiental é o processo que busca:
“(...) desenvolver uma população que seja consciente e preocupada com o meio
ambiente e com os problemas que lhes são associados. Uma população que te-
nha conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para
trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas
existentes e para a prevenção dos novos (...)” (MARCATTO, 2002).
Tem-se que o objetivo da educação ambiental é o de atingir o público em
geral já que se considera que todas as pessoas devem ter oportunidade de aces-
so às informações que lhes concedam a chance de participar de forma ativa na
busca de soluções para os problemas ambientais atuais. De maneira didática, a
Educação Ambiental é dividida em duas categorias básicas:I) Educação Formal:
capítulo 2 • 53
Inclui estudantes em geral, desde a educação infantil até a fundamental, média
e universitária, além de professores e demais profissionais envolvidos em cur-
sos de treinamento em Educação Ambiental e; II) Educação Informal: Engloba
todos as partes da população, como por exemplo: grupos de jovens, trabalha-
dores, políticos, empresários, associações de moradores, profissionais liberais,
dentre outros.
De acordo com a Conferência de Tbilisi, os princípios que devem nortear
programas e projetos de trabalho em educação ambiental são:
• Considerar o ambiente em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos natu-
rais e artificiais, tecnológicos e sociais (econômico, político, técnico, histórico-
cultural e estético);
• Construir-se num processo contínuo e permanente, iniciando na edu-
cação infantil e continuando através de todas as fases do ensino formal e não
formal;
• Embasar em um enfoque interdisciplinar, aproveitando o conteúdo
específico de cada disciplina, para que se adquira uma perspectiva global
e equilibrada;
• Analisar as principais questões ambientais em escala pessoal, local, re-
gional, nacional, internacional, de modo que os educados tomem conhecimen-
to das condições ambientais de outras regiões geográficas;
• Focar-se nas situações ambientais atuais e futuras, levando em considera-
ção também o viés histórico;
• Persistir no valor e na necessidade de cooperação local, nacional e inter-
nacional, para prevenção e solução dos problemas ambientais;
• Ponderar, de maneira clara, os aspectos ambientais nos planos de desen-
volvimento e crescimento;
• Promover a participação dos alunos na organização de suas experiências
de aprendizagem, proporcionando-lhes oportunidade de tomar decisões e de
acatar suas consequências.
54 • capítulo 2
necessária para transformar um quadro de crescente degradação socioam-
biental, mas ela ainda não é suficiente, o que, no dizer de Tamaio (2000), se
converte em “mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas,
comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a constru-
ção das transformações desejadas”. O educador tem a função de mediador na
construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos
para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza
(JACOBI, 2003).
De acordo com Floriano (2007) as políticas de gestão ambiental podem ser ca-
racterizadas quanto ao seu caráter e o seu nível de abrangência. Quanto ao ca-
ráter, as mesmas podem ser classificadas como de caráter público e privado.
Quanto à abrangência, as políticas de gestão ambiental podem ser políticas in-
ternacionais, federais, estaduais ou municipais, entre outros.
Resumidamente, pode-se dizer que a Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA) faz uso de cinco instrumentos principais (apoiados em ferramentas,
sistemas e metodologias):
Muitos instrumentos usados na gestão ambiental tanto pública quanto pri-
vada são comuns. A gestão pública dá ênfase aos instrumentos que conduzem
à proteção e controle ambientais, enquanto a gestão privada privilegia o plane-
jamento e melhoria contínua, a partir de uma situação atual.
Os principais instrumentos da política brasileira de gestão ambiental pú-
blica são, de um lado, o comando e controle através do licenciamento, que
procura manter os efeitos das atividades antrópicas sob controle. De outro, a
proteção do meio ambiente, através das unidades de conservação da natureza
e corredores para a biota, que visam conservar as partes mais significativas do
ambiente natural e da cultura humana no território nacional.
capítulo 2 • 55
é baseado em Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), Es-
tudo de Impacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Am-
biental (RIMA), Plano de Controle Ambiental (PCA), Plano
de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), Relatório
de Avaliação Ambiental (RAA), Relatório de Controle Am-
LICENCIAMENTO biental (RCA), Analise de Risco (AR), Estudo de Viabilidade
Ambiental (EVA), Projeto Básico Ambiental (PBA), Termo
de Referência (TR), Audiência Pública (AP), estabeleci-
mento de padrões de qualidade ambiental e no sistema de
informações e cadastro técnico ambiental federal;
56 • capítulo 2
zou este termo entre ecólogos e ambientalistas (BARBAULT, 1997). No entanto,
apenas sete anos mais tarde, com o estabelecimento da Convenção sobre Diver-
sidade Biológica (CDB), que se deu durante Conferência das Nações Unidas so-
bre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, que a “biodiversidade” passou
a ser considerada como um dos grandes problemas a serem enfrentados em
esfera global no século XXI.
A criação da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em 1992, impôs
ao Brasil a necessidade de debater e implantar arranjos político-institucionais
específicos para a gestão sustentável da biodiversidade. Essa tarefa, ainda em
curso no país, tem como finalidade não somente atender positivamente a CDB,
como também consolidar um projeto que atenda as demandas nacionais.
De acordo com Brando e colaboradores (2005) o Brasil possui cerca de 13%
da biota total do planeta. O país, ao lado da Indonésia, é considerado como o
mais rico do mundo em biodiversidade (MITTERMEIER et al., 2005). Tal riqueza
representa um desafio ainda maior do que aquele enfrentado por outros países
de forma que a sua gestão abrange uma série de arranjos políticos, econômicos
e sociais, essenciais para que o país possa ser favorecido pela sua biodiversida-
de em conformidade com os três paradigmas estabelecido pela CDB que são a
conservação, o uso sustentável e a repartição justa e equitativa dos benefícios.
A Política Nacional da Biodiversidade (PNB), estabelecida por meio do Decreto
4339/02, pode ser considerada um elemento central desse processo de estrutura-
ção política, pois através da mesma instituiu-se um marco legal para a gestão da
biodiversidade no país. Sua criação resultou de um longo processo de elaboração
e consulta ampliada a diversos segmentos da sociedade de forma a garantir uma
efetiva representatividade na construção de uma proposta de consenso.
A PNB visa promover, de forma integrada, a conservação da biodiversidade
e a utilização sustentável de seus componentes. Para tanto, ela recoloca os mes-
mos alvos estabelecidos pela própria CDB, sendo organizada em sete compo-
nentes que representam os eixos temáticos que deverão orientar a sua implan-
tação: 1) conhecimento da biodiversidade; 2) conservação da biodiversidade; 3)
utilização sustentável dos componentes da biodiversidade; 4) monitoramento,
avaliação, prevenção e mitigação de impactos sobre a biodiversidade; 5) acesso
aos recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais associados e reparti-
ção de benefícios; 6) educação, sensibilização pública, informação e divulgação
sobre a biodiversidade e 7) fortalecimento jurídico e institucional para a gestão
da biodiversidade.
capítulo 2 • 57
MULTIMÍDIA
O Projeto Tamar se trata de um programa pioneiro de conservação da biodiversidade ma-
rinha. Para saber mais sobre esse projeto assista ao vídeo presente no link: https://www.
youtube.com/watch?v=kVYV6wdFrnE
ATIVIDADES
01. Como ocorre o aquecimento global?
04. Cite três dos cinco principais instrumentos utilizados pela Política Nacional do Meio Am-
biente para proteção dos recursos naturais.
REFLEXÃO
Agora que estamos no fim do segundo capítulo deste livro já sabemos que os transtornos na
natureza vão além das mudanças climáticas, culminando em efeitos econômicos locais, onde,
por exemplo, pesqueiros perdem seu meio de sobrevivência e deixam de distribuir o seu
produto para a população, terras agrícolas deixam de ser férteis e florestas repletas de maté-
ria-prima desaparecem. Catástrofes naturais como enchentes, secas, terremotos e incêndios
florestais aumentam a cada dia sob o efeito da atividade humana. Apesar de o planeta estar
dando sinais de que estamos vivendo uma crise ambiental, ainda é muito difícil conscientizar
os investidores que almejam cegamente a geração de riquezas econômicas no curto prazo.
Assim, cabe a todos nós fazer nossa parte como cidadãos que respeitam a natureza, conser-
vando e disseminando os conceitos da preservação do meio ambiente.
58 • capítulo 2
LEITURA
Para se aprofundar nas questões associadas a crise ambiental e o desenvolvimento sus-
tentável, dê uma lida no artigo “O desenvolvimento do capitalismo e a crise ambiental” de
Quintana e Hacon (2011).
Leia o artigo intitulado de “Educação ambiental nas escolas” para maiores informações
sobre a educação ambiental nas escolas brasileiras (CUBA; 2010).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACSELRAD, H.; LEROY, J. P. Novas premissas da sustentabilidade democrática. Revista
Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 1, 1999.
BARBAUL, R. Biodiversité. Paris: Hachette Superior. 1997.
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos.2a ed., São
Paulo: Saraiva, 2007.
BRANDO, K.; FONSECA, G. A. B.; RYLANDS, A.; SILVA, J. M. C. Conservação brasileira: desafios e
oportunidades. Megadiversidade 1:7-13, 2005.
BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências.
Brasília, DOU de 02/09/1981.
BRINCKMANN, W. E. A pequena propriedade familiar e o desenvolvimento rural sustentável. In:
Ágora, Santa Cruz do Sul, UNISC, v.1., n. 2, out, 1995.
BRUNDTLAND, G. H. (Org.) Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: FGV, 1987.
CANEPA, C. Cidades Sustentáveis: o município como lócus da sustentabilidade. São Paulo: Editora
RCS, 2007.
CAVALCANTI, C. (org.). Desenvolvimento e Natureza: estudos para uma sociedade sustentável. São
Paulo: Cortez, 2003.
CUBA, M. A. Educação ambiental nas escolas. ECCOM, v. 1, n. 2, p. 23-31, jul./dez., 2010.
DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. 2a ed., São Paulo: Atlas,
2011.
FLORIANO, E. P. Políticas de gestão ambiental, 3ed. Santa Maria: UFSM-DCF, 2007.
HERCULANO et. Al (Coord.). Justiça Ambiental e Cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumará:
Fundação FORD, 2004.
IPCC. Climate change 2001: the scientific basis, technical summary. Disponível em www.ipcc.ch
capítulo 2 • 59
JACOBI, P. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118,
março/ 2003.
MARCATTO, C. Educação ambiental: conceitos e princípios. Belo Horizonte: FEAM, 2002.
MITTERMEIER, R. A.; FONSECA, G. A. B.; RYLANDS, A.; BRANDON, K. A brief history of
biodiversity conservation in Brazil. Conservation Biology, 19 (3): 601-607, 2005.
QUINTANA, A. C.; HACON, V. O desenvolvimento do capitalismo e a crise ambiental. O Social em
Questão - Ano XIV - nº 25/26 - 2011
SACHS, I. Espaços, tempos e estratégias do desenvolvimento. São Paulo: Vértice, 1986.
SALOMONI, G. Produção familiar: possibilidades e restrições para o desenvolvi- mento sustentável –
o exemplo de Santa Silvana – Pelotas – R.S. Tese de Doutorado. Rio Claro, S.P.: Universidade Estadual
Paulista, 2000.
SATTERTHWAITE, D. Como as cidades podem contribuir para o Desenvolvimento Sustentável.
In: MENEGAT, Rualdo e ALMEIDA, Gerson (org.). Desenvolvimento Sustentável e Gestão
Ambiental nas Cidades, Estratégias a partir de Porto Alegre. Porto Alegre: UFRGS Editora, pp. 129-
167, 2004.
SEARA, F. Apontamentos de introdução à educação ambiental. Revista Ambiental, ano 1, v. 1, p.
40-44, 1987.
SIRVINSKAS, L. P. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2002.
TAMAIO, I. A Mediação do professor na construção do conceito de natureza. Dissert. (Mestr.)
FE/Unicamp. Campinas, 2000.
VEIGA, J. E. Cidades Imaginárias – o Brasil é menos urbano do que se calcula. Campinas: Editora da
Unicamp, 2005.
60 • capítulo 2
3
Pesquisa Aplicada
Toda e qualquer atividade desenvolvida, seja teórica ou prática, requer procedi-
mentos adequados. Justamente é o que a palavra método traduz. Sendo assim,
o estudo e o aproveitamento das atividades acadêmicas também não dispen-
sam um caminho adequado, demandando organização, disciplina e dedicação
corretamente orientada. Tudo isso facilita a realização da pesquisa, obtendo-se
como resultado um maior rendimento da mesma. Dessa forma, inspire-se no
filósofo Francis Bacon que já dizia que “O conhecimento é o poder” e almeje
cada vez mais ser um bom conhecedor através da pesquisa que consiste em ca-
minho perfeito para aquisição de sabedoria.
OBJETIVOS
No presente Capítulo serão abordados temas muito importantes para que ao final do mesmo
você seja capaz de produzir, sistematizar e divulgar pesquisas e conhecimentos. Tais temas
consistem nos expostos a seguir: pesquisa aplicada, método científico, pesquisa científica,
técnicas de coleta, análise e interpretação de dados. Espera-se que, mediante a explanação
dos temas em questão você compreenda a importância da metodologia científica no proces-
so do conhecimento. Preparado?!
62 • capítulo 3
3.1 Pesquisa Aplicada
Há muito tempo atrás o homem iniciou uma jornada em busca do conheci-
mento visando encontrar possíveis respostas para questões relacionadas a
problemas do seu cotidiano. Inicialmente, frente ao limitado conhecimento
científico, algumas destas respostas eram encontradas na mitologia. No entan-
to, quando o homem passou a questionar tais respostas e a buscar explicações
mais palpáveis, por meio da razão, deixando de lado as suas emoções e crenças
religiosas, respostas mais realistas passaram a ser obtidas, as quais apresenta-
ram maior aceitação pela sociedade. Acredita-se que essa nova forma de pensar
do homem criou a possibilidade do surgimento da ideia de ciência.
PERGUNTA
Mas afinal, o que é a ciência?
capítulo 3 • 63
pretextos que o fez optar por determinadas rotas e não outras. De acordo com
Selltiz e colaboradores (1965) o método científico é definido como parte funda-
mental da pesquisa, que visa responder ao problema formulado e alcançar os
objetivos da pesquisa de forma eficaz, com o mínimo possível de influência da
subjetividade do pesquisador, referindo-se às regras da ciência para disciplinar
os trabalhos, assim como para oferecer diretrizes sobre os procedimentos a se-
rem empregados.
Segundo Gil (1999), o método científico trata-se de um conjunto de procedi-
mentos intelectuais e técnicos usados para atingir o conhecimento sendo que
para que um conhecimento seja considerado como científico, é necessária a
identificação dos passos para a sua verificação, ou seja, determinar o método
que possibilitou alcançar o conhecimento. Ainda, de acordo com Gil (1999),
no passado muitos pesquisadores achavam que o método poderia ser generali-
zado para todos os trabalhos científicos. Contudo, os cientistas da atualidade,
consideram que há uma grande variedade de métodos, que são determinados
pelo tipo de objeto a ser pesquisado e pelas proposições a serem descobertas
pelo mesmo.
Eco (1977) afirma que, ao se fazer uma pesquisa científica, o pesquisador
aprenderá a ordenar as suas ideias, no intuito de organizar os dados obtidos.
Sendo a meta de um estudo científico atender a um propósito pré-definido es-
pecífico, a utilização de um determinado método torna-se fundamental para
alcançar o que foi planejado.
Para Dio (1979) apesar de a verdade ser uma só – ainda que a mesma possa
ser vista de ângulos diferentes –, os caminhos que conduzem os pesquisadores
a ela podem ser inúmeros, sendo que a existência desta grande diversidade de
métodos consiste em uma vantagem e não em um inconveniente. Dessa forma,
quando, por técnicas ou processos diferentes, se alcança a mesma conclusão,
existe uma maior razão para aceitá-la.
Richardson (1999) define o método científico como a forma encontrada
pela sociedade para legitimar um conhecimento adquirido empiricamente, ou
seja, quando um conhecimento é obtido pelo método científico, qualquer pes-
quisador que repita o mesmo estudo, nas mesmas circunstâncias, poderá obter
um resultado parecido.
64 • capítulo 3
MULTIMÍDIA
Agora que você já sabe o que é o método científico, assista ao vídeo exposto no link https://
www.youtube.com/watch?v=ksHmilEOdQI e observe a metodologia usada para alcance dos
objetivos da pesquisa realizada, que visava identificar a causa da transmissão da malária.
EXEMPLO
Suponhamos que um professor peça para seus alunos fazerem um trabalho sobre a cultura
dos fazendeiros de café na década de 1780 nas terras da antiga Sesmaria do Pinhal, hoje
chamada de São Carlos (SP). De acordo com o tipo de estudo, pode-se utilizar: I) o método
comparativo: visando-se comparar os costumes (ou um específico) com o de outra cidade,
ou duas fazendas diferentes dentro da mesma cidade; II) o método histórico: caso o objetivo
seja o de estudar a cultura sob o ponto de vista histórico; III) o método estudo de caso: a fim
de aprofundar no caso específico daquela cidade.
capítulo 3 • 65
de eletricidade. A prata é um metal. Logo, a prata é condutor de eletricidade
(FACHIN, 2001).
Já o Método indutivo baseia-se em um raciocínio que, a partir de uma análise
de dados particulares, se encaminha para noções gerais. A marcha do conheci-
mento principia pelos elementos singulares e vai caminhando para os elementos
gerais. Como exemplo deste método, destaca-se (HEERDT; LEONEL, 2007):
“Antônio é mortal.
Benedito é mortal.
Carlos é mortal.
Zózimo é mortal.
Ora, Antônio, Benedito, Carlos, ... e Zózimo são homens.
Logo, (todos) os homens são mortais.”
66 • capítulo 3
ATENÇÃO
É importante ressaltar a diferença entre metodologia e métodos. A metodologia refere-se a
validade do caminho escolhido para se chegar ao fim proposto pela pesquisa; não podendo
ser confundida com o conteúdo (teoria) nem com os procedimentos (métodos e técnicas).
Assim, a metodologia vai além da descrição dos procedimentos (métodos e técnicas a serem
utilizados na pesquisa), indicando a escolha teórica realizada pelo pesquisador para abordar
o objeto de estudo.
LEITURA
capítulo 3 • 67
Leia o livro “O ponto de mutação” ou assista ao filme com o mesmo nome, de autoria de Fritjof
Capra, físico austríaco, que retrata a história do pensamento científico visando-se apoiar a
ideia de que é preciso quebrar as bases da ciência moderna, embasada no sistema mate-
mático cartesiano, que considera o mundo como uma máquina perfeita a serviço do homem.
68 • capítulo 3
obtidos com o uso de instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa quanti-
tativa recorre à linguagem matemática para descrever as causas de um fenôme-
no, as relações entre variáveis, etc.
A utilização combinada da pesquisa qualitativa e quantitativa permite reco-
lher mais informações do que se poderia conseguir isoladamente, ou seja, por
meio do uso de somente um dos dois tipos de pesquisa. Isso decorre do fato de
que tanto a pesquisa quantitativa quanto a pesquisa qualitativa apresentam di-
ferenças com pontos fracos e fortes. Contudo, os elementos fortes de um com-
plementam as fraquezas do outro, possibilitando a obtenção de um melhor re-
sultado. A tabela 3.1 apresenta uma comparação entre o método quantitativo e
o método qualitativo.
CURIOSIDADE
A ideia de que o conhecimento gerado na área das ciências exatas tem mais validade do que
o conhecimento produzido na área das ciências sociais e humanas ainda persiste, embora
muito se tenha evoluído. O famoso conceito do físico Galileu Galilei: “conhecer era o mesmo
que quantificar”, por muito tempo esteve presente na produção do conhecimento; dessa
forma, o método quantitativo, mesmo nas Ciências Sociais, era utilizado como único meio até
as discussões se iniciarem, na década de 1980, no Brasil, em torno da abordagem qualitativa
de pesquisa para a análise e investigação dos fenômenos humanos (PIETROBON, 2006).
Tabela 3.1 – Comparação entre o método quantitativo e o método qualitativo. Fonte: POLIT
et al., 2004.
capítulo 3 • 69
Tratando-se agora da classificação segundo a natureza, tem-se que a pesqui-
sa pode ser do tipo “básica” ou “aplicada”, sendo que a primeira, a educação bá-
sica, visa gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência de interes-
se universal, sem aplicação prática prevista. Já a pesquisa aplicada, apresenta
como finalidade a geração de conhecimentos para aplicação prática, voltados à
solução de problemas específicos de interesses locais (SILVEIRA E CÓRDOVA,
2009).
A classificação da pesquisa científica com base nos objetivos a divide em
três tipos: exploratória, descritiva e explicativa a serem discutidas em seguida
(CASTRO, 1976).
A pesquisa exploratória tem como finalidade proporcionar maior familia-
ridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hi-
póteses. A grande maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento biblio-
gráfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o
problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que estimulem a compreen-
são. Essas pesquisas podem ser classificadas como: pesquisa bibliográfica e es-
tudo de caso (GIL, 2007). Segundo Selltiz e colaboradores (1965), encontram-se
na categoria de pesquisas exploratórias todas aquelas que buscam desvendar
ideias e intuições, na tentativa de adquirir maior familiaridade com o fenôme-
no pesquisado. Nem sempre existe a necessidade de formulação de hipóteses
nesse tipo de pesquisa. Eles possibilitam incrementar o conhecimento do pes-
quisador sobre os fatos, resultando na formulação mais precisa de problemas,
criação de novas hipóteses e realização de novas pesquisas mais estruturadas.
Nesta abordagem, o planejamento da pesquisa precisa ser flexível o bastante
para permitir a análise dos inúmeros aspectos relacionados ao fenômeno. Já
para Zikmund (2000), os estudos exploratórios, comumente, são muito pro-
veitosos para diagnosticar situações, explorar alternativas ou descobrir novas
ideias. Essas pesquisas são conduzidas durante a fase inicial de um processo
de pesquisa mais amplo, em que se busca esclarecer e definir a natureza de um
problema e produzir mais informações que possam ser adquiridas para a reali-
zação de pesquisas conclusivas futuras.
A pesquisa descritiva demanda do pesquisador uma série de informações
sobre objeto de estudo. Esse tipo de pesquisa tem como finalidade a descrição
dos fatos e fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS, 1987). Para Gil
(1999), as pesquisas descritivas têm como meta principal a descrição das ca-
racterísticas de determinada população ou fenômeno, ou o estabelecimento de
70 • capítulo 3
relações entre variáveis. São várias as pesquisas que podem ser inclusas nesta
classificação sendo que uma de suas características mais significativas aparece
no emprego de técnicas padronizadas de coleta de dados. Esse tipo de pesqui-
sa, segundo Selltiz et al. (1965), visa descrever um fenômeno ou situação em
detalhe, especialmente o que está ocorrendo, permitindo englobar, com exati-
dão, as características de um indivíduo, uma situação, ou um grupo, bem como
desvendar a relação entre os eventos.
Por último, a pesquisa explicativa tem como finalidade a identificação dos
fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência de um fenômeno.
A pesquisa explicativa é a que explora de forma mais profunda o conhecimento
da realidade, já que mediante a mesma tenta-se explicar a razão e as relações
de causa e efeito dos fenômenos (GIL, 1999). Para Lakatos & Marconi (2001),
este tipo de pesquisa apresenta como objetivo o estabelecimento de relações de
causa-efeito por meio da manipulação direta das variáveis referentes ao objeto
de estudo, buscando identificar as causas do fenômeno. Comumente, é mais
realizada em laboratório do que em campo.
PERGUNTA
E a classificação da pesquisa quanto ao seu procedimento? Você imagina como ela é feita?
capítulo 3 • 71
é realizada mediante o levantamento de referências teóricas
já estudadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos,
como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Esse
PESQUISA tipo de pesquisa é embasada unicamente na pesquisa biblio-
BIBLIOGRÁFICA gráfica, buscando referências teóricas publicadas visando a
obtenção de informações ou conhecimentos prévios a res-
peito do problema alvo de investigação (FONSECA, 2002);
CONCEITO
Segundo Heerdt e Leonel (2007) a diferença entre a pesquisa bibliográfica e a documental está,
essencialmente, no tipo de fonte que cada uma utiliza. Enquanto a pesquisa documental faz uso de
fontes primárias, a pesquisa bibliográfica utiliza fontes secundárias. As fontes primárias consistem
nas seguintes: documentos oficiais, publicações parlamentares, publicações administrativas, docu-
mentos jurídicos, arquivos particulares, fontes estatísticas, iconografia, fotografais, canções folclóri-
cas, estátuas, cartas, autobiografia e diário. Já as fontes secundárias tratam-se de: livros, boletins,
jornais, monografias, teses e dissertações, artigos em fontes de papel e em meio eletrônico, revistas,
material cartográfico, anais de congresso, relatórios de pesquisa, publicações avulsas.
72 • capítulo 3
é um tipo de estudo que visa o aprofundamento
de uma realidade específica. É realizada median-
te a observação direta das atividades do grupo
PESQUISA DE CAMPO objeto de estudo e de entrevistas com informantes
que captam as explicações e interpretações do
que acontece naquele meio (HEERDT; LEONEL,
2007);
capítulo 3 • 73
programa, uma instituição, um sistema educativo,
uma pessoa, ou uma unidade social. Apresenta
como finalidade a de conhecer profundamente a
PESQUISA DE UMA forma e o motivo da ocorrência de uma determina-
ENTIDADE da situação que se supõe ser única em muitos as-
pectos, buscando-se descobrir o que existe nela de
mais essencial e característico (FONSECA, 2002).
CURIOSIDADE
A pesquisa participante foi inventada pelo antropólogo polaco Bronislaw Malinowski, que
em 1915, com o objetivo de conhecer melhor os nativos das ilhas Trobriand, ele foi se tornar
um deles. Rompendo com a sociedade ocidental, armava sua tenda nas aldeias que queria
pesquisas, aprendia suas línguas e observava seu dia-a-dia e coletava, da forma mais real
possível, os dados da sua pesquisa.
74 • capítulo 3
apresenta como objetivo o de compreender como as
PESQUISA pessoas constroem ou reconstroem a sua realidade
ETNOMETODOLÓGICA social.
CONCEITO
O termo “etnometodologia” significa, de acordo com as suas raízes gregas, o estudo das
estratégias que as pessoas utilizam cotidianamente para viver, fato este que justifica a busca
da pesquisa etnometodológica
capítulo 3 • 75
Os três eixos da pesquisa científica são dependentes uns dos outros, ou seja,
a ruptura não é realizada somente no início da pesquisa, mas sim também du-
rante a construção da pesquisa. De forma análoga, a construção não pode acon-
tecer sem a ruptura necessária, nem a constatação, pois a qualidade desta está
intimamente ligada à qualidade da construção da pesquisa. No desenvolvimen-
to real de uma pesquisa, os três eixos metodológicos são realizados ao longo
de uma sucessão de operações distribuídas em sete etapas (GERHARDT, 2009):
1. Formulação da questão inicial;
2. Exploração da questão inicial;
3. Elaboração da problemática;
4. Construção de um modelo de análise;
5. Coleta de dados;
6. Análise das informações;
7. Conclusões.
76 • capítulo 3
3.4.2 Introdução
CONCEITO
Você já reparou que normalmente os “objetivos” presentes em um projeto de pesquisa come-
çam sempre com um verbo. Porém, que verbo usar? Doxsey e De Riz (2003) definiram quais
verbos usar de acordo o tipo de pesquisa que está sendo realizada: em uma pesquisa explo-
ratória, o objetivo geral começa pelos verbos conhecer, identificar, examinar, levantar e des-
cobrir; em uma pesquisa descritiva, utilizam-se os verbos caracterizar, descrever e traçar; e,
em uma pesquisa explicativa, empregam-se os verbos analisar, avaliar, verificar, explicar, etc.
capítulo 3 • 77
Veiga (1996) define a revisão bibliográfica de um projeto de pesquisa como
sendo a sistematização do conhecimento científico acumulado sobre o tema
específico do seu projeto. Para realização da escolha do tema do projeto, o pro-
cesso de revisão de literatura já foi forçosamente começado. A diferença é que,
neste tópico do projeto de pesquisa, deve-se apresentar um texto bem articula-
do e bem concentrado no tema específico escolhido.
3.4.5 Cronograma
78 • capítulo 3
3.4.6 Referências Bibliográficas
capítulo 3 • 79
CONCEITO
É importante observar que métodos e técnicas se relacionam, porém se tratam de dois ter-
mos distintos. O método consiste em um plano de ação, composto por um conjunto de etapas
dispostas de forma ordenada, que visam realizar e antecipar uma atividade na busca de um
resultado, enquanto que a técnica refere-se ao modo com que tal atividade é realizado. O
primeiro está relacionado à estratégia e o segundo à tática. Para melhor compreensão da
diferença entre método e técnica faz-se necessário entender que o método refere-se a forma
pela qual obteve-se o cumprimento de um objetivo, enquanto que a técnica faz referência à
operacionalização do método. As técnicas adotadas em pesquisa estão, geralmente, relacio-
nadas a coleta de dados, ou seja, com a parte prática da mesma (FACHIN, 2001).
Com relação à análise dos dados, tem-se que essa é feita visando-se organi-
zar os dados de uma forma que possibilite o fornecimento de respostas para
o problema proposto no projeto de pesquisa. Em uma pesquisa qualitativa, a
análise dos dados é feita simultaneamente com a coleta de dados, por meio de
análise de conteúdo, de discurso, entre outros. Diferentemente das pesquisas
qualitativas, os dados de uma pesquisa quantitativa são, de forma usual, anali-
sados via análise estatística, que implica no processamento de dados, mediante
a geração (empregando-se de cálculo matemático), a apresentação (em gráficos
ou tabelas) e da interpretação. A descrição das variáveis é imprescindível como
um passo para a adequada interpretação dos resultados de uma investigação.
Segundo Triviños (1987), o processo de análise dos dados pode ser realiza-
do seguindo-se a sequência de etapas: pré-análise (organização do material),
descrição analítica dos dados (codificação, classificação, categorização), inter-
pretação referencial (tratamento e reflexão). Rauen (1999) afirma que o objetivo
da análise é resumir as observações, de modo que estas forneçam respostas às
perguntas da pesquisa. O mesmo autor ainda defende que objetivo da inter-
pretação é a busca do sentido mais amplo de tais respostas, por meio de sua
ligação com outros conhecimentos já obtidos
A análise e a interpretação de dados constam na apresentação dos resulta-
dos obtidos no decorrer da pesquisa e na análise do cumprimento dos objetivos
e/ou das hipóteses. Dessa forma, a apresentação dos dados é a evidência das
conclusões e a interpretação consiste no contrabalanço dos dados com a teoria
(RAUEN; 1999).
80 • capítulo 3
Ressalta-se que tanto os processos de análise quanto os de interpretação va-
riam de maneira significativa de acordo com os diferentes tipos de pesquisa.
Enquanto que nas pesquisas experimentais, bem como nas pesquisas de levan-
tamento, a identificação e ordenação dos passos a serem seguidos trata-se de
tarefa simples, nos estudos de caso o mesmo não ocorre, devido ao fato de que
esse tipo de pesquisa não apresenta esquema rígido de análise e interpretação.
ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre método e técnica?
03. Avalie a afirmação a seguir, verifique se ela é verdadeira ou falsa e justifique a sua
resposta. “A classificação dos tipos de pesquisa só é possível mediante o estabelecimento
de um critério. Se classificarmos as pesquisas levando em conta os objetivos, teremos três
grandes grupos: pesquisa exploratória, pesquisa descritiva e pesquisa experimental”.
REFLEXÃO
Neste capítulo você estudou o conceito e os principais elementos que compõem uma pes-
quisa científica. Foi abordado também no presente capítulo a importância da metodologia
científica para compreensão do debate científico. Por meio dela você desenvolverá habilida-
des para elaborar e realizar de pesquisas, bem como produzir posteriormente trabalhos cien-
capítulo 3 • 81
tíficos. Ela servirá, igualmente, de subsídio para que você prepare seus trabalhos de forma
adequada, assim como, pesquisas e monografias de outras disciplinas do curso, garantindo a
qualidade necessária para que você obtenha um bom desempenho acadêmico.
LEITURA
Para mais informações a respeito da elaboração de projetos de pesquisa, leia o livro “Como
elaborar projetos de pesquisa” (GIL, 2002). O objetivo deste livro consiste em justamente au-
xiliar os estudantes e profissionais na elaboração de projetos de pesquisa, embora o mesmo
contemple também alguns aspectos teóricos que envolvem o processo de criação científica.
Leia também o material elaborado por Carlos Rodrigues Brandão (1999) intitulada de “O
afeto da terra”. Tal livro contempla um interessante e raro exemplo de diário de campo. Para
os interessados em saber mais sobre as relações entre os homens e os seres da natureza
no mundo rural, vale a pena ler!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRANDÃO, C. R. O afeto da terra: imaginários, sensibilidades e motivações de relacionamentos
com a natureza e o meio ambiente entre agricultores e criadores sitiantes do bairro dos Pretos, nas
encostas paulistas da serra da Mantiqueira, em Joanópolis / SP. Campinas: Ed. da UNICAMP, 1999.
CASTRO, C. M. Estrutura e apresentação de publicações científicas. São Paulo: McGraw-Hill,
1976.
GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 1997.
DIO, R. A. T. D. Prefácio à edição brasileira. In: CAMPBELL, D. T.; STANLEY, J. C. Delineamentos
experimentais e quase-experimentais de pesquisa. São Paulo: EPU, 1979.
DOXSEY J. R.; DE RIZ, J. Metodologia da pesquisa científica. ESAB – Escola Superior Aberta do
Brasil, 2002-2003. Apostila
ECO, U. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1977.
FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila
GERHARDT, T. E. A construção da pesquisa. In: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de
pesquisa. Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRG– Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. Universidade Aberta do Brasil – UAB/
UFRG– Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
82 • capítulo 3
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999
______. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007
HEERDT, M. L; LEONEL, V. Metodologia científica e da pesquisa. 5. ed. rev. e atual. Palhoça: Unisul
Virtual, 2007.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991.
MORIN, E. Ciência com consciência. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
PIETROBON, S. R. G. A prática pedagógica e a construção do conhecimento científico. Práxis
Educativa, Ponta Grossa, v. 1, n. 2, p. 77-86, 2006
POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de pesquisa em enferma- gem: métodos,
avaliação e utilização. Trad. de Ana Thorell. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.
QUIVY, R.; CAMPENHOUDT, L. V. Manuel de recherche en sciences sociales. Paris: Dunod, 1995.
RAUEN, F. J. Elementos de iniciação à pesquisa. Rio do Sul: Nova Era, 1999.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa cientifica. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 1980.
SELLTIZ, C.; WRIGHTSMAN, L. S.; COOK, S. W. Métodos de pesquisa das relações sociais. São
Paulo: Herder, 1965.
SILVEIRA, D. T; CÓRDOVA, F. P. A pesquisa científica. In: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos
de pesquisa. Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRG– Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação.
São Paulo: Atlas, 1987.
VEIGA, J. L. Como elaborar seu projeto de pesquisa, 1996.
ZIKMUND, W. G. Business research methods. 5.ed. Fort Worth, TX: Dryden, 2000.
capítulo 3 • 83
84 • capítulo 3
4
Projeto de
Pesquisa: Estrutura
e Etapas
Neste capítulo iremos aprender a importância da realização de pesquisa, quais
são suas principais etapas, e para quais perguntas podemos realmente em-
preender pesquisas a fim de respondê-las.
Além disso, iremos compreender a importância de se realizar os projetos
para obter êxito nas pesquisas e de que maneira isso deve ser feito. Por isso,
veremos a estrutura dos projetos, elementos essenciais a sua composição além
da importância na administração da pesquisa.
OBJETIVOS
Após este capítulo, esperamos que você seja capaz de:
• Compreender os fundamentos básicos da pesquisa;
• Saber diferenciar os tipos de pesquisa;
• Estruturar um projeto de pesquisa;
• Identificar e descrever as principais partes de um projeto.
86 • capítulo 4
4.1 Definição de Pesquisa
“Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem
como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos” (GIL,
2010, p.1). Apesar de ser uma atividade fundamental para fins acadêmicos e
comerciais, não existe um consenso acerca de sua definição exata, porém há
uma concordância relativa a algumas características específicas que devem es-
tar presente na definição de pesquisa, como a existência de caráteres investi-
gativo, sistemático e metódico além de consistir em um trabalho em ordem do
aumento do conhecimento (COLLINS; HUSSEY, 2005).
A pesquisa é desenvolvida a partir do momento em que não se possui a in-
formação desejada ou ainda, quando esta existe, porém é organizada de manei-
ra desordenada. A necessidade de conhecer essa informação leva o pesquisa-
dor a utilizar-se dos conhecimentos disponíveis e de técnicas de investigação
para obter a informação desejada, passando por diversas fases que vão desde a
formulação correta do problema de pesquisa até a apresentação dos resultados
(GIL, 2010).
Em nosso dia a dia, a pesquisa está presente, uma vez que o tempo todo es-
tamos procurando novas informações sobre algum tema específico. Por exem-
plo, uma ida ao cinema exige alguma pesquisa sobre horários e locais além de
sobre o próprio filme de maneira a descobrir se este está de acordo ao seu gosto
e expectativa. Na história, existem registros de comerciantes no período Antigo
que realizavam pesquisas a fim de compreender os gostos de seus clientes po-
tenciais e adaptar a sua mercadoria para estas preferências (HAIR et. al., 2005).
capítulo 4 • 87
Para a nossa natureza, apenas receber conhecimentos não é o bastante. A
humanidade tem como característica inata a indagação das coisas que o cer-
cam, pois sempre procura solucionar o oculto, o enigmático ou os mistérios por
meio de estudos e investigações. O homem, por características naturais, não se
contenta com as percepções recebidas e passa a ser uma figura produtora de co-
nhecimento. Com o passar do tempo, foram desenvolvidas técnicas e procedi-
mentos padrões a serem empregados na atividade investigativa e em pesquisas
que possibilitam atingir os objetivos gerais do estudo. (MARTINS, 2007).
Diversos são os motivos pelos quais se realizam pesquisas, mas estes são
usualmente divididos em dois grandes grupos: os de ordem intelectual e os de
ordem prática. No primeiro, conhecido como pesquisa “pura”, a busca é pelo
conhecimento em si, ou seja, em saber por querer aprofundar o conhecimento
naquele assunto, ao passo que no segundo, denominado “aplicada”, a resposta
procura solucionar uma questão prática a fim de auxiliar a tornar uma ativida-
de mais eficiente. Ainda que sejam terminologias comuns nas áreas de pesqui-
sa, a ciência trata as duas da mesma maneira uma vez que estão interligadas e
não há diferenciação prática (GIL, 2010).
Nesse sentido, é importante frisar também que a humanidade deve buscar
o conhecimento científico na medida em que este é um impulso para que os
seres humanos não se tornem passivos e sujeitos aos fatos e objetos, sem que
possua um poder de ação ou de controle. Dessa maneira, deve procurar desen-
volver análises sistemáticas e metódicas, aonde consiga explicar a ocorrência
de fenômenos através de leis gerais, elevando o seu grau de compreensão das
coisas do universo (MARTINS; THEÓPHILO; 2007).
Como recorda Richardson (2008), embora o pesquisador possa realizar os
estudos em benefício próprio, o objetivo imediato da pesquisa social é a aqui-
sição de conhecimento. Assim, de acordo com o autor, os projetos de pesquisa
devem ser orientados para três pilares: resolução de problemas, onde o foco é
descobrir a solução para uma situação pontual, formulação de teorias, onde
pesquisas exploratórias tentam explicar a relação entre fenômenos e por fim,
teste de teorias já existentes, onde a busca é por melhorar teoremas existentes.
É por meio do trabalho de pesquisa que indivíduos podem identificar pro-
blemas e investiga-los a fim de encontrar as soluções. Montando um projeto de
pesquisa é possível aplicar a teoria conhecida e existente junto a um problema
ou ainda explorar questões mais gerais, sempre com o foco na solução do pro-
blema de pesquisa. São comuns alguns objetivos de pesquisa como a revisão
88 • capítulo 4
do conhecimento existente, investigação de uma situação atual, fornecimento
de soluções para um problema, análise de questões genéricas, criação de no-
vos procedimentos, explicação de novos fenômenos, criação de novos conheci-
mentos ou a combinação de diversos itens (COLLINS; HUSSEY, 2005).
A necessidade de realizar pesquisa está ligada a característica inata que o
ser humano possui de realizar indagações uma vez que este não se contenta
apenas em absorver o conhecimento que o cerca. A sua natureza investigativa
levou ao desenvolvimento de pesquisas e de teorias sobre métodos e técnicas
adequados para o desenvolvimento destas. Constantemente, o homem busca
o conhecimento a fim de não tornar-se passivo daquilo que o cerca e poder de
alguma maneira possuir um poder de ação aos fenômenos que lhe interessa.
capítulo 4 • 89
deverão ser adquiridas durante o processo. A figura a seguir traz um esquema
das qualidades e habilidades necessárias além de explicações sobre cada uma
das características levantadas:
Capacidade de Capacidade
comunicação intelectual
Habilidades
relativas À
Indepêndencia Perseverança tecnologia da
informação
Habilidades
Motivação organizacionais
90 • capítulo 4
HABILIDADES Saber organizar-se ao elaborar uma pesquisa é
ORGANIZACIONAIS preciso pois deve-se saber administrar o tempo;
capítulo 4 • 91
4.4 Tipos de Pesquisa
Como recorda Gil (2010), o ser humano naturalmente busca classificar dife-
rentes coisas de maneira a organizar melhor os assuntos e facilitar a sua com-
preensão sobre o tema. Quando se trata de pesquisas, não se foge a regra. A
classificação, como lembra o autor, busca aproximar o projeto de outros seme-
lhantes, maximizando o uso dos recursos e tornando a pesquisa mais eficiente.
Para isso, as pesquisas podem ser divididas de acordo com o campo do conhe-
cimento, a finalidade, os objetivos gerais e os métodos utilizados.
A divisão de acordo com a área de conhecimento é importante para órgãos
governamentais na elaboração e definição da priorização de políticas de pesqui-
sa. Assim, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) divide esses campos em sete grandes áreas: 1. Ciências Exatas e da
Terra; 2. Ciências Biológicas; 3. Engenharias; 4. Ciências da Saúde; 5. Ciências
Agrárias; 6. Ciências Sociais Aplicadas e 7. Ciências Humanas, as quais são pos-
teriormente segmentadas em menores classificações (GIL, 2010).
Outra classificação-padrão já tratada anteriormente, divide as pesquisas de
acordo com a existência ou não de uma questão prática a ser resolvida com pelo
objeto da pesquisa. A pesquisa básica ou pura procura elevar o entendimento
sobre uma questão genérica ao passo que a pesquisa aplicada procura a respos-
ta para um problema específico existente (COLLINS; HUSSEY, 2005).
Também é importante segmentar os trabalhos de acordo com a escolha do
método de análise, a qual é um dos pontos cruciais de um projeto de pesquisa.
As pesquisas quantitativas são focadas na coleta e mensuração de dados nu-
méricos através da utilização de testes estatísticos. Já as qualitativas possuem
maior subjetividade e o pesquisador deve analisar e refletir sobre as percepções
a fim compreender a atividade estudada (COLLINS; HUSSEY, 2005).
Uma popular maneira de classificar as pesquisas leva em conta os objetivos
gerais. Obviamente, cada pesquisa possui um intuito diferente de qualquer ou-
tra, porém de acordo com o seu propósito é possível segmentá-las em explora-
tórias, descritivas e explicativas:
92 • capítulo 4
São estudos que buscam descrever características de
PESQUISAS um grupo ou sociedade ou ainda relacionar duas ou
DESCRITIVAS mais variáveis dentro de uma população (GIL, 2010);
Gil (2010) ainda propõe a classificação das pesquisas por meio de suas di-
ferentes formas de delineamento. Por delineamento, entende-se a dimensão
mais ampla do planejamento da pesquisa, onde são considerados a metodo-
logia, os objetivos, o ambiente de pesquisa, e as técnicas de coleta e análise de
dados. A seguir será apresentado, de maneira resumida os tipos de pesquisas
propostos pelo autor:
capítulo 4 • 93
são caracterizados por grupos de pesquisa que possuem
um atributo em comum e recebem um acompanhamento
ESTUDO DE CORTE do pesquisador ao longo de um período a fim de analisar
o que ocorre com os indivíduos (GIL, 2010);
94 • capítulo 4
esta técnica não se limita a simplesmente pesquisar para
PESQUISA-AÇÃO gerar conhecimento mas procura também fomentar a
ação em comunidades ou organizações (GIL, 2010);
Por fim, outra classificação possível sobre as pesquisas diz respeito a ori-
gem das teorias testadas. No método dedutivo o pesquisador sabe da existência
de uma teoria genérica e resolve realizar o teste empírico, ao passo que o méto-
do indutivo o surgimento da teoria ou da hipótese vem de um caso específico
por meio da observação da realidade (COLLINS; HUSSEY, 2005).
Como visto, as pesquisas podem ser classificadas de acordo com diversos
critérios e, portanto, pertencem a mais de uma classe ao mesmo tempo. Em
projetos de longo prazo, inclusive, classificações concorrentes podem descre-
ver a pesquisa durante etapas distintas desta. Conhecer os tipos de pesquisa
permite que a elaboração dos projetos respeite critérios fundamentais e assim
possam preencher corretamente as lacunas a que se propõem.
capítulo 4 • 95
finalidade” (MARTINS, 2007, p. 34). O autor ainda propõe um quadro com estes
elementos básicos e algumas das principais formas em que aparecem em pro-
jetos de pesquisa:
Pode ser: Pode ser: Pode ser Podem ser: Pode ser:
Um interesse Conhecer/saber Um trabalho Métodos Aprendizagem
Uma necessidade Solucionar Um estudo Técnicas Soluções
Uma dificuldade Esclarecer Uma obra Estratégias Conhecimentos
Uma preocupação Resolver Uma pesquisa Hipóteses Explicação
Um problema Determinar Formal/informal Análise Bem material
Um assunto/tema Produzir algo Uma atividade Procedimentos Um serviço
CONCEITO
Por paradigma de pesquisa, entenda um conjunto de métodos, técnicas e teorias amplamen-
te aceitos como formas de realizar a definição dos dados.
96 • capítulo 4
Identificar o problema
Definir termos
Figura 4.3 – Visão geral do projeto de pesquisa. Fonte: Collins e Hussey (2005).
Ainda que não seja possível definir uma estrutura engessada para escrever
projetos de pesquisa uma vez que estes defiram muito entre si, alguns itens são
essenciais em qualquer estrutura de tópicos adotada. Dentre os elementos pré-
textuais, a folha de rosto, (que deve conter o nome dos autores, título, subtítulo,
tipo de projeto e nome e cidade da entidade, e o ano de entrega), bem como
o sumário são elementos obrigatórios em qualquer projeto. Além disso, itens
opcionais como a capa, lombada, e lista de ilustrações, tabela de abreviaturas,
siglas e símbolos, são opcionais e podem ser usadas se assim desejarem os au-
tores. Já em relação aos elementos pós-textuais, as referências bibliográficas
são de ordem obrigatória e devem ser redigidas conforme norma da ABNT NBR
6023, ao passo que o apêndice, os anexos e o glossário são de caráter opcional.
(GIL, 2010).
Além de estruturar e administrar o estudo, o pesquisador deve estar tam-
bém atento a redação do texto uma vez que sua pesquisa será provavelmente,
avaliada por especialistas no assunto. Portanto, o texto deve conter algumas ca-
racterísticas básicas a fim de não fugir as regras, como ser impessoal, possuir
uma linguagem objetiva, clara e precisa, além de evitar longos períodos com di-
versas orações subordinadas. Deve-se sempre buscar uma redação que facilite
a compreensão do tópico abordado pelo leitor (GIL, 2010).
capítulo 4 • 97
4.6 Estrutura de um Projeto de Pesquisa
Como dito anteriormente, não existe uma estrutura única e engessada para a
formulação de projetos de pesquisa uma vez que é muito grande o leque de ti-
pos existentes e uma estrutura única não seria capaz de suprir a necessidade
desses diferentes projetos. Entretanto, iremos abordar aqui tópicos bastante
comuns em projetos de pesquisa que podem ou não ser utilizados, a depender
da preferência do autor e do requerimento do projeto.
4.6.1 Justificativa
Essa parte inicial do projeto deve abordar os motivos pelos quais a pesquisa é
justificada, buscando responder por que se deseja realizar a pesquisa. Alguns
elementos são básicos para apresentar de maneira correta a justificativa do
problema, como: de que forma o tema abordado foi escolhido e porque ele é
relevante a ponto de ser pesquisado; a experiência do autor com o tema; as con-
tribuições possíveis para o campo do conhecimento e ainda a sustentação da
viabilidade do projeto. (RICHARDSON, 2008).
Richardson (2008) sugere como estrutura básica para a redação da justifi-
cativa o início com um trecho sobre a experiência pessoal do pesquisador em
relação ao objeto de estudo, seguido pela formulação de qual problema preten-
de-se estudar e por fim, as possíveis contribuições do trabalho naquela área de
conhecimento. O autor ainda frisa que a justificativa, diferentemente da reda-
ção do projeto, contém uma linguagem pessoal. Usualmente, o tamanho máxi-
mo dessa parte é de até duas páginas.
Gil (2010) propõe que a justificativa esteja inclusa dentro da Introdução jun-
tamente com outros elementos como o tema do projeto, a hipótese, além do
problema e dos objetivos de pesquisa. Como dito, não há uma maneira abso-
luta e correta de escrever um projeto e por isso, autores recomendam formatos
distintos.
98 • capítulo 4
acumulado até o momento. Tal revisão irá auxiliar na elaboração de um marco
teórico o qual deve conter uma análise crítica de todas as perspectivas apresen-
tadas pela literatura relativas ao fenômeno em questão (RICHARDSON, 2008).
Portanto, a definição do problema de pesquisa tem início com a escolha
do fenômeno a ser estudado e o desenvolvimento de uma análise crítica que
aborde as principais definições e perspectivas referentes a ele. A formulação
do problema deve ocorrer de maneira clara e objetiva, em tom interrogativo,
procurando originalidade no levantamento da questão e ser passível de ser ob-
servado empiricamente e ser cabível a diversos casos (RICHARDSON, 2008).
Tabela 4.1 – Verbos Iniciais Comuns por Tipo de Pesquisa. Fonte: Richardson (2008)
4.6.4 Hipóteses
capítulo 4 • 99
A formulação adequada de uma boa hipótese demanda que a definição das
variáveis apresente-se de maneira operacional, ou seja, de forma a ser mensura-
da. Dizer apenas que há o efeito de um fator em relação a um fenômeno é mui-
to vago, e é necessário que haja uma definição que explique de maneira mais
precisa esta variável, pois somente assim é possível realizar o teste empírico.
Por exemplo, ao afirmar que a obesidade é uma tendência familiar, pode-se de-
finir que obeso é o indivíduo que está 20% acima de seu peso, o que torna pos-
sível testar a hipótese de herança genética para obesidade (ALVES-MAZZOTI;
GEWANDSZNAJDER; 1999).
4.6.5 Metodologia
100 • capítulo 4
4.6.7 Cronograma e Orçamento
capítulo 4 • 101
de obra necessária para cada tarefa, o ponto de saída do pessoal do projeto bem
como o método de avaliação do desempenho e a remuneração e/ou premiação
(PMBOK, 2004).
A etapa de contratação e mobilização dos recursos humanos ocorre após a
definição das tarefas a serem desenvolvidas e quando já existe a noção da mão
de obra necessária. Então, a organização já está apta a obter os recursos huma-
nos necessários para a finalização do projeto (PMBOK, 2004).
Após a formação do time, deve ocorrer o desenvolvimento da equipe do pro-
jeto, com dois principais objetivos: desenvolver as habilidades dos membros
para cumprirem com maior excelência suas atribuições e aumentar a coesão e
o sentimento de confiança de cada indivíduo em seus pares. Esses dois objeti-
vos podem ser conquistado, por exemplo, através de treinamentos, atividades
de formação da equipe, reconhecimento e premiação (PMBOK, 2004).
“Gerenciar a equipe do projeto envolve o acompanhamento do desempe-
nho de membros da equipe, o fornecimento de feedback, a resolução de pro-
blemas e a coordenação de mudanças para melhorar o desempenho do proje-
to” (PMBOK, 2004, p. 215). É durante esta etapa que o gerente deve administrar
os problemas de maneira a contorná-los e evitar prejuízos na realização do pro-
jeto, bem como prover feedback aos membros da equipe, ajudando-os no pró-
prio desenvolvimento bem como o da equipe como um todo.
102 • capítulo 4
ESTÁGIO NO PROCESSO DE PESQUISA TEMPO NECESSÁRIO (%)
Identificando tópico de pesquisa 15
Identificando problema de pesquisa 10
Determinando como realizar a pesquisa 10
Coletando dados de pesquisa 20
Analisando e interpretando dados de pesquisa 20
Escrevendo relatório 25
Total 100
Tabela 4.2 – Tempo permitido aproximado para os principais estágios da pesquisa. Fonte:
Collins e Hussey (2005).
capítulo 4 • 103
o auxílio de patrocinadores ou órgãos financiadores, os quais podem ser de ori-
gem governamental, através de programas do Ministério do Meio Ambiente, ou
mesmo de caráter privado, como empresas que possuem políticas de preserva-
ção do meio ambiente e procuram firmar parcerias com entidades desenvolve-
doras de projetos ambientais.
Se existirem órgãos patrocinadores, independente do gênero destes, o pro-
jeto a ser apresentado precisa conter alguns itens a mais dos que já vistos aqui.
Uma vez que os recursos financeiros e alguns casos até humanos, provêm de
uma fonte externa, o pesquisador deve preocupar-se em demonstrar transpa-
rência no uso do dinheiro bem como apresentar formas de controle dos resul-
tados. O órgão que está investindo certamente quer ver resultados positivos,
através do êxito na realização da pesquisa e no impacto socioambiental a que o
projeto se propõe a realizar.
Dessa maneira, ao submeter o projeto, é importante constar a caracteriza-
ção e o histórico do proponente. Isto é, os dados cadastrais como nome, razão
social, CNPJ, responsável legal, missão e visão da entidade, projetos já realiza-
dos, entre outras informações mais. Além disso, junto ao orçamento a entidade
deve entregar um memorial de cálculo, que pode constar cada um dos itens a
serem consumidos individualmente. Tudo isso tem a importância de garantir
credibilidade a organização que está em busca de um financiador.
Também é importante procurar convencer o possível parceiro de que o pro-
jeto é digno do investimento dele. Por isso, a justificativa torna-se um item es-
sencial uma vez que deve transmitir a importância da realização da pesquisa
proposta. Ademais, deve-se apresentar um modelo de definição de metas de
maneira bastante específica e pontual para que os avanços realizados na pes-
quisa possam ser mensurados sem dificuldade.
É importante que o projeto demonstre-se também autossustentável. Isso
quer dizer, se caso a intenção for manter a intervenção no ecossistema durante
alguns anos, é importante que na proposta esteja descrito o que será feito para
angariar fundos sem a necessidade do financiamento externo. Além disso, o
conhecimento ali adquirido deve ser disseminado para a sociedade, uma vez
que se houver êxito no projeto, este possa tornar-se um modelo para outros pro-
blemas similares.
104 • capítulo 4
ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre pesquisa exploratória, explicativa e descritiva?
REFLEXÃO
Neste capítulo estudamos a importância para a humanidade na realização de pesquisas e
como esta deve buscar ampliar o conhecimento seguindo os padrões que ela mesmo criou
a fim de manter a credibilidade dos estudos. Aprendemos a diferenciar os tipos de pesquisa
de acordo com diversos critérios.
Principalmente, vimos a importância dos projetos de pesquisa, os passos para chegar-
mos a sua constituição e por fim, as etapas que podem ser contidas nele. Por último, enten-
demos a importância na administração de recursos humanos, financeiros e cronológicos na
elaboração de pesquisas.
LEITURA
GIL, A. C.. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010
VIEIRA, P. F.; WEBER, J.. Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimen
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES-MAZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F.. O método nas ciências naturais e sociais:
pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
COLLIS, J.; HUSSEY, R.. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e
pós-graduação. São Paulo: Bookman, 2005.
capítulo 4 • 105
GERENCIAMENTO DE PROJETOS (Guia PMBOK®) 3º Ed. Four Campus Boulevard, Newton Square,
PA 19073-3299 EUA, 2004.
GIL, A. C.. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2010
HAIR JR, J. F. et al.. Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. São Paulo:
Bookman, 2005.
MARTINS, J. S.. Projetos de Pesquisa: estratégias de ensino e aprendizagem em sala de aula.
Campinas: Armazém do Ipê, 2007.
MARTINS, G. A.; TEOPHILO, C. R.. Metodologia da investigação científica para ciências sociais
aplicadas. São Paulo: Atlas, 2007.
RICHARDSON, R. J.. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas, 2008.
106 • capítulo 4
5
Recursos Naturais
Renováveis e Não
Renováveis
Neste capítulo iremos aprender um pouco mais sobre os recursos naturais pre-
sentes em nosso planeta, bem como o que ocorreu para a formação destes e a
importância que estes elementos possuem para a perpetuação da vida animal.
Além disso, vamos entender a diferença entre recursos não renováveis e re-
nováveis e estudar as fontes de geração de energia a partir de elementos diver-
sos. Por fim, vamos analisar a importância da gestão de recursos agrícolas e as
dificuldades encontradas nesse sentido..
OBJETIVOS
Após este capítulo, esperamos que você seja capaz de:
• Saber diferenciar recursos renováveis e não renováveis;
• Compreender os principais minerais energéticos e as formas de obtenção de energia a
partir destes;
• Saber identificar as principais energias renováveis do futuro;
• Conhecer a importância da gestão de recursos agrícolas.
108 • capítulo 5
5.1 Recursos Naturais não Renováveis
Os recursos naturais consistem em elementos presentes na natureza e que são
muitas vezes empregados pela humanidade em benefício próprio. Usualmen-
te, são utilizados para desenvolvimento da civilização, para sobrevivência ou
ainda para conforto da sociedade em geral. Importante frisar que os recursos
naturais têm como essencial característica o fato de possuírem algum valor,
mesmo que não de ordem financeira, para a sociedade. Isto é, deve ser um ele-
mento útil a civilização.
A expansão do pensamento econômico aliado a evolução da sociedade e a
menor importância existente para barreiras geográficas foram fatores contri-
buintes para que o pensamento econômico começasse a enxergar os recursos
naturais como elementos passíveis de estudo. Antes disso, imaginava-se que a
oferta desses itens era tamanha que eles podiam ser considerados gratuitos.
Somente nos anos 70 é que a sociedade começou a preocupar-se com a pos-
sível escassez dos recursos naturais e iniciaram-se debates acerca desse tema
(SILVA, 2003).
Até esse momento, poucas eram as vozes que chamavam atenção para o es-
gotamento de alguns recursos naturais. Esse perigo de escassez dos elementos
da natureza está intimamente conectado com o modelo econômico adotado na
maioria das nações, o qual se fundamenta no lucro a qualquer preço, visando
elevar o volume de produção e consequentemente, aumentado o nível de ex-
tração dos recursos da natureza, como se essa fosse um grande supermercado
provedor de suprimentos de maneira ilimitada (SEIFFERT, 2007).
Os recursos físicos são produtos de formações ocorridas durante ciclos na-
turais que duraram milhões de anos no planeta Terra. Atualmente, estes ele-
mentos são divididos em renováveis ou reprodutíveis e não renováveis ou não
reprodutíveis. Os recursos renováveis são aqueles cujos ciclos de recomposição
acompanham a atividade de extração por humanos, tais como água, solo, flo-
restas ou faunas. Já os recursos não renováveis, como os minérios, o petróleo ou
o gás natural são elementos cuja reposição não acompanha o ciclo humano no
planeta pois estes processos demoram eras geológicas (SILVA, 2003).
É importante ressaltar que apesar destas denominações, os recursos re-
nováveis, se expostos a exploração excessiva podem acabar esgotados já
que a regeneração de suas fontes não irá acompanhar a atividade humana.
capítulo 5 • 109
Analogamente, os recursos não renováveis também podem, em raros casos,
não chegar ao fim, porém isso é algo que depende em grande parte do avanço
tecnológico (SILVA, 2003).
Devido a essa limitação de recursos naturais e considerando que estes são
elementos básicos para o funcionamento da economia na sociedade moderna,
torna-se essencial o estudo da gestão dos recursos naturais renováveis e não
renováveis. Compreender a importância de um desenvolvimento sustentável e
os meios para a realização disso é fundamental para que nossa sociedade não
esgote seus recursos.
A teoria dos recursos exauríveis aponta para um diagrama que identifica os
recursos comercialmente extraíveis. Isto é, diversos minerais estão presentes em
muitos materiais, porém economicamente não é vantajoso explorá-los, pois sua
concentração é muito baixa. Por meio do diagrama a seguir, esta teoria aponta
como reservas os locais onde os elementos são conhecidos e em grande concen-
tração para serem explorados. Recursos são locais onde a existência é conhecida
porém o nível de detalhe não é tão alto quando as reservas. Já os recursos hipotéti-
cos resumem-se a todos os materiais na crosta terrestre, independente de sua con-
centração que podem ser utilizados em um futuro, caso necessário (SILVA, 2003).
Recursos totais
Grau de certeza de existência crescente Graus de praticabilidade econômica
Econômico
Reservas
(> 1)
Recursos hipotéticos
Recursos
Subeconômico
(< 1)
Recursos
condicionais
Conhecidos Desconhecidos
Figura 5.1 – Caixa de MacKelvey - critério para delimitação de reservas minerais. Fonte:
May, Lustosa e Vinha (2003).
110 • capítulo 5
A gestão dos recursos naturais não renováveis procura uma estratégia que
considere os ganhos financeiros presentes resultantes da exploração do ele-
mento em contrapartida a possibilidade de salvar estes recursos para as gera-
ções futuras. Isto é, é melhor consumir no momento atual estes recursos ou
será mais lucrativo deixar para o futuro? O estudo profundo dessa indagação
acarreta alguns princípios sobre o efeito da exaustão dos recursos:
• A velocidade da extração será maior quanto menor forem os estoques de
um recurso, pois ele será caro no mercado e, portanto, mais lucrativo;
• O aumento da taxa de juros eleva a velocidade da extração, devido a re-
dução dos investimentos nas atividades extrativas, que leva a diminuição
de estoques;
• O comportamento dos recursos não renováveis é incerto já que dependem
da escassez do item e do progresso técnico que introduz tecnologias mais baratas
para extração, porém o mercado atua para a estabilização do preço (SILVA, 2003).
Alguns dos principais recursos não renováveis são também grandes polui-
dores do meio ambiente, emitindo gases que comprometem a camada de ozô-
nio e poluem nossa atmosfera. A partir daí, o uso responsável destes elementos
é preciso não somente devido ao iminente esgotamento, mas também a fim de
preservar o planeta e a vida animal nele presente.
Dessa maneira, nações do mundo começaram a se reunir a fim de apontar
soluções para questões ambientais. Um dos resultados destas conversas foi a
criação do Princípio Poluidor Pagador (PPP), o qual consiste em responsabili-
zar o órgão causador do dano ambiental de maneira objetiva e financeira. Na
prática, isso significa que o produtor irá ter de arcar financeiramente com os
custos de poluição como se fizessem parte dos custos de produção (SEIFFERT,
2009).
A seguir, serão apresentados alguns dos recursos naturais mais importan-
tes para a atividade econômica humana e suas principais características.
capítulo 5 • 111
rochas encontradas na natureza, que quando quebradas produzem bordas cor-
tantes geravam ferramentas para caça e pesca. Posteriormente, o cobre foi des-
coberto pelas civilizações antigas e era utilizado para ferramentas em gerais.
O cobre permitiu o desenvolvimento do bronze, um metal formado pela
fundição de cobre e estanho, o qual era usado para ferramentas e armas de
guerras. Com o avanço técnico, as sociedades passaram a explorar o ferro, pre-
sente em meteoritos e outros locais, pois descobriu-se que era possível criar
instrumentos com maior resistência. Mais tarde, os metais preciosos, ouro e
prata, encontrados em minas mundo a fora, começaram a ser utilizados como
moedas de troca.
Em nossa sociedade atual, utilizamos minerais em grande parte de nossos
bens. Estes recursos estão presentes nas janelas por meio dos vidros, nas tintas,
nos lápis através dos grafites, no petróleo presente no combustível do carro,
bem como nas novas tecnologias como a fibra ótica, as baterias de celular feitas
de lítio, entre muitos outros exemplos.
É importante frisar porém que nem todo mineral é um minério. Para este, é
necessário que haja um valor econômico. Assim, podemos definir que minério
é todo recurso mineral que pode ser explorado, processado e entregue ao mer-
cado. A mineração então corresponde a extração dos minérios das fontes de re-
cursos naturais do planeta Terra enquanto o conjunto de ações para a retirada
dos minerais do solo é denominada lavra.
Por fim, mina é a fonte de recursos minerais exploradas. As minas podem
ser a céu aberto, subterrâneas, as quais são de mais cara exploração, porém
mais precisas ou ainda garimpos , os quais não possuem estudo técnico preciso
sobre a localização dos minerais.
MULTIMÍDIA
O filme Serra Pelada traz a história do maior garimpo de ouro do Brasil.
112 • capítulo 5
Fósseis Óleo, gás, carvão
Nucleares Urânio, tório
METÁLICOS CATEGORIAS EXEMPLOS
Ferroligas Ferro, manganês, níquel
Ferrosos Básicos Cobre, chumbo, zinco e estanho
Não Ferrosos Leves Alumínio, magnésio, titânio
Preciosos e raros Ouro, prata, platina
INDUSTRIAIS CATEGORIAS EXEMPLOS
Brita, areia silicoses, calcário,
Materiais de construção
argila,
Tijolos e Louças de mesa Argila comum, sílica, calcário
Materiais para indústria química Enxofre, cromita, barita, calcário
Fosfeto, minerais de potássio,
Agrominerais
enxofre, nitrato
Refratários Bauxita
Diamante, rubi, turmalina,
Gemas
topázio
ESSENCIAIS CATEGORIAS EXEMPLOS
Água, Solo
Tabela 5.1 – Classificação dos recursos minerais. Fonte: Recursos Minerais Energéticos
(s/d).
capítulo 5 • 113
5.3.1 Nuclear
5.3.1.1 Urânio
Conhecido por sua aplicação em armamento militar, o urânio é um minério
cuja utilização para geração de energia apresenta-se em uma crescente. Sua
existência foi descoberta em 1789, pelo cientista alemão Martin Klaproth, e seu
nome foi dado em homenagem ao planeta Urano, encontrado oito anos antes.
Antes de descoberta da utilidade do urânio para a geração energética, este ele-
mento era empregado nas indústrias de fotografia, têxtil e de madeira.
Este mineral está presente em muitas rochas sedimentares pela crosta ter-
restre, porém em concentrações diferentes e poucos são os países do mundo
que possuem reservas economicamente exploráveis. Sua extração depende da
viabilidade técnica e econômica, já que são necessários recursos tecnológicos
para o trabalho.
É um metal com propriedades radioativas, de coloração prateada, maleável,
menos rígido que o aço e que ao ser posto em contato com o ambiente junta-se
ao oxigênio e forma uma camada de óxido de urânio em sua superfície, de cor
amarela.
No âmbito mundial, poucos são os países com reservas de urânio descober-
tas. A Austrália, maior detentora de reservas, possui quase 30% do total de urâ-
nio mapeado no planeta. A tabela a seguir apresenta os dados da World Nuclear
Association (WNA), referentes ao ano de 2013.
114 • capítulo 5
TONELADAS DE URÂNIO PERCENTUAL
EUA 207.400 4%
China 199.100 4%
Mongólia 141.500 2%
Ucrânia 117.700 2%
Uzbequistão 91.300 2%
Botswana 68.800 1%
Tanzânia 58.500 1%
Jordânia 33.800 1%
Outros 191.500 3%
Total Mundial 5.902.500
Tabela 5.2 – Reservas Mundiais de Urânio. Fonte: World Nuclear Association (2015)
Apesar disso, Estados Unidos, França, Rússia, Coréia do Sul e China são os
países que mais produzem energia elétrica de origem nuclear, sendo que ela
representa 76,9% da matriz energética francesa e é a maior representatividade
global de acordo com dados da associação.
O Brasil, apesar de ser atualmente a 8ª maior reserva do mundo, ainda não
possui a maior parte do seu território prospectado. As maiores reservas desco-
bertas são as de Santa Quitéria (CE), Lagoa Real (BA) e Caldas (MG). Estima-se
ainda que o potencial nacional pode chegar a 900.000 toneladas se todo o perí-
metro fosse prospectado.
O potencial energético começou a ser explorado com maior afinco graças às
crises do petróleo na década de 1970, a qual encareceu o valor deste minério e
incentivou que as nações iniciassem a busca por fontes de energia alternativas
a fim de não se tornarem tão dependentes dos maiores produtores de petróleo.
Ademais, o crescimento da procura por fontes alternativas também teve a
contribuição do crescimento da população mundial, da poluição gerada pelas
usinas movidas a petróleo e carvão bem como uma necessidade mundial maior
por energia elétrica graças tanto a expansão da população como ao maior uso
de eletricidade em indústrias e residências.
O processo de geração de energia elétrica baseada no urânio ocorre de ma-
neira similar àqueles baseados em outros minérios. A usina nuclear funciona
como uma central termoelétrica onde o vapor, aqui gerado pela fissão dos áto-
mos de urânio, força o movimento de turbinas acopladas a geradores que por
sua vez produzem energia que será transformada em elétrica.
Em uma usina nuclear, o urânio é transformado em pastilhas com 1 cm de
diâmetro e acoplado em grandes varetas de 3 a 4 metros de comprimento. A
capítulo 5 • 115
fissão, ou seja, o choque entre nêutrons e átomos de urânio libera energia que
é responsável por aquecer água, a qual irá transformar-se em vapor e acionar o
funcionamento das turbinas.
A energia nuclear não contribui, em circunstanciais ideais, para a degrada-
ção do meio ambiente pois não libera gases prejudiciais a camada de ozônio ou
contribuintes para a chuva ácida. Além disso, as plantas da usina são compactas
se comparadas a outras tecnologias e esta é uma técnica que não é dependente
de variações climáticas além de possuir procedimentos bastante conhecidos.
Em contrapartida, as dificuldades em armazenar os resíduos, que devem
permanecer isolados durante anos, a necessidade de enclausurar a central
após o término das operações, o fato de ser o método de geração de energia
mais caro, e principalmente a possibilidade de acidentes catastróficos como o
de Chernobyl na Ucrânia e de Fukushima, no Japão aparecem como algumas
desvantagens da energia nuclear.
5.3.1.2 Tório
O outro mineral energético nuclear é conhecido como Tório, em homenagem
ao deus escandinavo do trovão, Thor. Foi descoberto em 1828 por um químico
sueco chamado Jons Berzellius, primeiramente no formato de óxido e um ano
após, isoladamente. Por algumas décadas o material não possuía nenhuma
aplicação prática até a invenção da lâmpada de manta. O Tório era misturado
ao tecido pois brilhava intensamente quando queimado, criando maior lumi-
nosidade ao ambiente.
Além da aplicação para geração de energia elétrica, este elemento em sua
versão óxido também possui aplicação em lentes de câmeras, como catalisa-
dor de processos químicos, ou no processo de fabricação dos fios de tungstênio
presente nas lâmpadas elétricas. O dióxido de tório era usado nas radiografias,
porém sua alta radioatividade cessou esta aplicação.
O tório não é um elemento encontrado de maneira pura na terra como
elementos fósseis. Sua ocorrência está comumente aliada a existência de um
mineral denominado terra rara, que correspondem a uma série de elementos
químicos. Antigamente, os óxidos eram conhecidos como terras e alguns ele-
mentos apresentavam-se sempre juntos e com características similares, além
de serem inicialmente encontrados somente na escandinava, criando a alcu-
nha de terras raras.
116 • capítulo 5
No Brasil, sua existência está usualmente condicionada a monazita, um
elemento natural componente da terra rara que pode chegar a ser constituída
por 12% de óxido de tório, bem como pode conter 0% deste elemento. Porém,
a WNA estima que o país possua a segunda maior reserva de tório do mundo,
perdendo apenas para a Índia.
Apesar de ser encontrado em abundância pela crosta terrestre, o tório não
é comumente utilizado na produção de energia nuclear, pois a maioria dos
reatores em operação no mundo utilizam a água como refrigerador e o urânio
enriquecido como combustível. As construções de usina mais recente tem co-
meçado a considerar o uso deste elemento.
A WNA inclusive destaca o uso do tório como combustível em detrimento
do urânio devido a sua abundância no planeta, e aponta para o fato de que a
popularização dele demandará uma boa dose de pesquisa, que será recompen-
sada com a popularização do tório enquanto combustível e a queda no preço da
energia nuclear.
5.3.2 Fósseis
5.3.2.1 Carvão
O Carvão Mineral é um combustível fóssil de cor preta ou marrom presentes em
estratos da crosta terrestre. Sua formação ocorreu a milhões de anos atrás, após
a extinção de florestas onde os restos dos vegetais se depositaram na superfície
capítulo 5 • 117
e foram encobertos por camadas de lama e água, que deram origem a rochas. A
pressão e o tempo geraram uma substância negra denominada carvão.
Este minério pode ser encontrado em diversas camadas do solo terroso e
quanto mais profundo for, mais puro é o material. A pureza, no caso do carvão
é medida de acordo com a quantidade de carbono presente, sendo o antracito o
mais puro de todos e indicado para uso doméstico.
O emprego do carvão foi um dos fatores que mais influenciaram o avanço
tecnológico da humanidade, pois ele representava uma fonte de energia muito
mais eficiente que as existentes àquela época. Assim, foram criadas algumas
máquinas movidas a vapor, provenientes da queima do carvão mineral. Embora
estas tenham sido aperfeiçoadas, os princípios permanecem semelhantes.
Atualmente, o maior emprego do carvão mineral é como fonte de geradora
de energia nas usinas termelétricas. Nessas centrais, o carvão é a fonte de calor
para uma caldeira cheia de água, a qual ao esquentar, evapora e é direcionada
para uma turbina acoplada a um gerador, que transforma a energia potencial
em energia elétrica.
Apesar da simplicidade do processo, para que consiga produzir quantida-
des de energia comercialmente viáveis, uma usina termelétrica ocupa uma área
enorme, podendo chegar a 4 km², mais vias de acesso e linhas de transmissão
de energia. Além disso, outro problema deste tipo de geração de energia é a
grande contribuição para o aquecimento global existente graças a liberação de
monóxido de carbono e nitrogênio ao ambiente.
Como vantagens, contam a favor das usinas termelétricas o fato de poderem
ser construídas próximas a centros urbanos além de obterem um nível de pro-
dução de energia constante, sem ser dependente de chuvas ou outros fatores
climáticos.
De acordo com dados da Associação Nacional de Energia Elétrica (ANEEL),
o Brasil conta com 23 usinas termelétricas movidas a carvão mineral, que são
responsáveis por gerar 2,5% do total ofertado na matriz energética nacional.
5.3.2.2 Petróleo
O petróleo consiste em uma substância oleosa, encontrado nas cores negras e
castanho escuro, menos denso do que a água e com um cheiro característico.
Sua formação ocorreu da decomposição de elementos do plâncton de águas
salgadas e doces, que quando submetidas a ação de bactérias e a pouco oxige-
nação, deram origem a este mineral. Com o passar dos anos, camadas de sedi-
118 • capítulo 5
mento se dispuseram sobre os restos de microrganismos, fazendo com que o
petróleo se localizasse atualmente entre camadas da crosta terrestre.
Diferentemente de outros minerais, o petróleo não permanece estagna-
do na rocha de sua formação, mas sim procura um local para se concentrar.
Usualmente, estes lugares são rochas porosas que consigam aprisionar o líqui-
do petrolífero, dando origem às jazidas. O petróleo é então, encontrado nor-
malmente em bacias sedimentares pois acumula-se nos poros destas.
A extração de petróleo inicia-se pelo processo de exploração, onde técnicos
procuram descobrir se a área estudada possui o minério. Em seguida, ocorre a
perfuração, onde a abertura de um poço preliminar irá verificar a real existên-
cia do petróleo e demais poços, a extensão da jazida, a fim de provar se é comer-
cialmente viável a exploração.
Feito isto, ocorre a produção, etapa onde é extraído o petróleo e armazena-
do. Essa extração pode ser espontânea, se a pressão aplicada pelo gás natural
(que é normalmente encontrado junto do petróleo) o pressionar para a super-
fície, ou realizada através de bombeamento por maquinário especial. Após a
extração, acontece o refino do minério, que consiste na separação dos diversos
componentes e posteriormente o transporte a centros de consumo dos deriva-
dos produzidos no refino.
O petróleo é atualmente o minério mais cobiçado do mundo e já foi motivo
de guerras, disputas entre nações e crises econômicas. Sua importância consis-
te na ampla aplicação deste minério, que é usado como matéria prima para a
gasolina dos automóveis. Além disso, produtos de uso comercial são derivados
de sua produção e/ou extração, como o GLP ou gás de cozinha, a parafina, o gás
natural, asfalto, óleos lubrificantes, óleo diesel, combustível de avião, diversos
tipos de plásticos, entre outros.
Entretanto, um dos principais empregos do petróleo é a geração de energia
elétrica. Alguns derivados que surgem na etapa de refinamento são utilizados
como combustível em usinas termelétricas, sendo o gás de refinaria, o óleo
combustível e o óleo diesel os mais comuns. O princípio de funcionamento é o
mesmo do carvão mineral, onde o calor alimentado pelos derivados aquecem a
caldeira cheia de água.
No Brasil, de acordo com dados da ANEEL, atualmente cerca de 6,7% da ma-
triz energética brasileira é constituída de fontes provenientes do petróleo. O
óleo diesel é o mais popular deles respondendo por cerca de 3% da produção
elétrica nacional. Da mesma maneira que o carvão mineral, o petróleo também
capítulo 5 • 119
um combustível criticado devido a emissão de gases poluentes e maléficos ao
meio ambiente que a queima de seus derivados acarreta.
120 • capítulo 5
5.3.2.4 Xisto Betuminoso
O último dos combustíveis fósseis que iremos tratar aqui corresponde ao xisto
betuminoso. Este minério é encontrado na natureza na forma de uma rocha
sedimentar de grão fino e quando submetido a altas temperaturas produz o
óleo de xisto, o qual é um componente substituto do petróleo. Apesar de ser
um substituto, a sua extração é mais cara e a sua queima emite mais gases
poluentes.
Assim, pode-se pensar que não há vantagens em investir na exploração de
xisto betuminoso. De fato, poucas usinas termoelétricas funcionam no Brasil
com essa combustível, porém na década de 1970, a crise do petróleo mostrou
a necessidade ao mundo de outras alternativas de fontes de energia e o xisto
ganhou algum espaço.
Talvez a única vantagem deste minério seja a abundância em que é encon-
trado na crosta terrestre. Estima-se que podem chegar a cinco vezes a quanti-
dade de xisto betuminoso no mundo em relação ao total de petróleo global. O
Brasil, junto dos Estados Unidos e da Rússia são os principais detentores deste
minério, porém em nosso país, o xisto é muito pouco explorado como fonte de
energia devido aos problemas ambientais causados e ao seu alto custo.
capítulo 5 • 121
5.4.1 Solar
5.4.2 Eólica
122 • capítulo 5
cos a vela. Com o avanço tecnológico, a sociedade descobriu também que era
possível gerar energia elétrica através dos ventos, o que consiste em uma fonte
bem menos impactante que o uso de combustíveis fósseis.
As pás da turbina eólica são impulsionadas pela força do vento e por sua vez,
fazem girar um rotor, interno a turbina. O rotor está conectado a um gerador
através de um multiplicador de velocidade, que potencializa o movimento. O
papel do gerador é transformar a energia mecânica em energia elétrica e, após
isso, a carga é enviada ao transformador, que a converte em alta tensão para ser
distribuído na rede. Existem casos de turbinas que não estão conectadas a rede,
gerando energia especialmente para comunidades ou individualmente.
Os impactos ambientais da utilização de energia eólica são bastante limita-
dos se comparados a fontes de combustíveis fósseis. Resumem-se basicamente
a possível morte de alguns pássaros pelo movimento das pás e a alta poluição
sonora causada também pelas turbinas, o que pode incomodar pessoas e ani-
mais nas proximidades (SEIFFERT, 2009).
O Global Wind Energy Council (GWEC) coloca China, Estados Unidos, Alemanha,
Espanha e Índia como os países com maior capacidade de energia eólica instalada
em seus territórios ao fim de 2014. No Brasil, de acordo com dados da ANEEL, a ca-
pacidade instalada é de 6.620 MW, o que representa 4,5% do total da matriz nacional.
5.4.3 Hidrelétrica
capítulo 5 • 123
A energia hidrelétrica pode ser considerada de baixo impacto ambiental se
a sua instalação for realizada de maneira apropriada. Caso contrário, a instala-
ção de uma usina desse gênero pode causar desequilíbrios no meio ambiente,
prejudicando a vida marinha, interrompendo fluxos migratórios de animais
aquáticos, além de afetar a vida de populações instaladas as margens dos rios
uma vez que para o represamento da água é preciso realizar grandes obras no
entorno do leito original.
A energia hidrelétrica é a principal fonte de energia da matriz nacional. O
Brasil é um país que possui fatores propícios para a exploração deste tipo de
energia por dois principais fatores: recursos hídricos abundantes (35.000 m³
per capita) e relevo apropriado. Isso significa que o país possui muitos rios e
lagos e boa parte deles são rios de planalto, facilitando a exploração (SEIFFERT,
2009). De acordo com dados da ANEEL, atualmente este tipo de geração repre-
senta 61,5% da capacidade instalada da matriz nacional.
5.4.4 Hidrogênio
124 • capítulo 5
o hidrogênio só será considerado uma energia totalmente limpa e sem emissão
de gases poluentes se a sua dissociação de outros elementos ocorrer por meio
também de energias limpas (SEIFFERT, 2009).
5.4.5 Biomassa
capítulo 5 • 125
natural. Este elemento pode ser empregado, além da geração de energia, como
combustível veicular e fonte para a produção de hidrogênio (SEIFFERT, 2009).
Outro produto possível de ser extraído a partir da biomassa são os biocom-
bustíveis, mais fortemente representado pelo etanol e pelo biodiesel. Embora
ambos tenham origens parecidas (resíduos orgânicos), o etanol brasileiro, que
é popular desde o lançamento do Proalcool na década de 70, é produzido com
resíduos da cana de açúcar ao passo que o biodiesel é obtido a partir de ma-
térias primas oleaginosas como soja, girassol e milho. Considerando que es-
tes três itens são também fonte alimentar, há uma grande discussão acerca da
viabilidade social de privilegiar a produção de combustível em detrimento de
alimentos (SEIFFERT, 2009).
De qualquer maneira, a biomassa é uma fonte de energia atrativa já que ela
utiliza material que já entraria em um processo de decomposição e causaria
impacto ambiental naturalmente, para reduzir este impacto e ainda aproveitar
para a geração de energia, combustíveis e hidrogênio.
126 • capítulo 5
5.5.1 Pesca
A atividade pesqueira é uma das maneiras mais antigas que diferentes civiliza-
ções encontraram para retirar alimentos da natureza. Inicialmente, com pou-
ca tecnologia desenvolvida, era impossível para moradores distantes de rios e
oceanos consumirem produto pescado em suas residências. Porém, o avanço
técnico permitiu a conservação por mais tempo do sabor e nutrientes dos pei-
xes caçados, expandindo assim o potencial consumidor e consequentemente,
a atividade pesqueira.
O desenvolvimento tecnológico também criou novas técnicas para as pes-
carias, que se apresentavam mais eficientes. Uma delas foi através das redes
de arrasto. Entretanto, esse aumento na oferta de peixes começou a ter con-
sequências, já que ficou cada vez mais difícil fisgar os peixes desejados pelos
consumidores, realizando o que hoje é conhecido como sobrepesca, que é a de-
finição de quando o esforço para extrair o peixe de seu habitat é maior do que o
benefício, tanto do ponto de vista comercial como do biológico. Com o advento
da 2ª Guerra Mundial, a atividade pesqueira na Europa praticamente cessou, e
as populações de peixe voltaram a níveis abundantes (CASTELLO, 2007).
A partir daí, ganhou força em âmbito global a corrente que defendia a explo-
ração sustentável dos recursos pesqueiros para que as sociedades não ficassem
sem. Porém, a sustentabilidade em recursos pesqueiros é um conceito difícil
de ser aplicado, pois os recursos são limitados ao passo que a sua exploração é
irrestrita devido ao abertura a população de rios, mares e oceanos.
Dessa maneira, muitas pescarias tornam-se insustentáveis por entrarem
em situação de sobrepesca. Com isso, ganhou força entre os pesquisadores a
ideia de que a combinação de uso irrestrito e recursos limitados é perigosa para
o manejo das espécies de peixes.
5.5.2 Florestais
Florestas são grandes espaços de terra coberto por diferentes espécies de árvo-
res de grande tamanho. Esses locais formam um ecossistema, onde as árvores
são elementos essenciais mas que também abrigam uma série de espécies ani-
mais, as quais dependem do equilíbrio natural para sua perpetuação. Entretan-
to, a exploração dos recursos florestais é uma atividade econômica importante
em nossa sociedade.
capítulo 5 • 127
Dessa maneira, é necessário que haja um meio termo entre a extração e o
ganho econômico para que não afete a vida silvestre com a extinção de espécies
ao mesmo tempo em que a exploração seja feita de maneira sustentável. Por
isso, existe a gestão de recursos florestais, que consiste no controle e proteção
destes elementos.
Uma das principais técnicas defendidas por especialistas do assunto é o
envolvimento da comunidade local na gestão florestal. Esse modelo propõe
a formação de um conselho entre moradores, indivíduos ligados a empresas
interessadas na exploração da floresta e membros de ONGs e as negociações
ocorrem entre eles.
Apesar de o Brasil possuir uma vasta área florestal, somente em 2006 foi
criado um marco regulatório com políticas de gestão traduzidas em medidas
como o cadastro nacional florestal, que cataloga e torna pública a situação das
florestas nacionais, a concessão florestal, que garante o direito de exploração
de uma floresta desde que seja realizada de maneira sustentável e ainda a cria-
ção de um fundo financeiro para desenvolvimento de pesquisa sobre mane-
jo florestal.
5.5.3 Hídricos
A água é provavelmente o recurso mais essencial dentre todos já que sua utiliza-
ção é primordial para a perpetuação da vida animal no planeta. Este elemento
é fundamental para quase todas as atividades humanas exercidas no planeta
já que além de ser fonte vital para os indivíduos, é empregada na agricultura e
na pesca, na geração de energia, no lazer, no transporte, no tratamento de resí-
duos humanos, e em processos industriais.
O ciclo hidrológico corresponde ao caminho natural que água percorreria
se não houvesse exploração desta por seres vivos. Os diversos empregos que a
sociedade destina a água requerem diferentes requisitos de qualidade. Isto é,
em sua forma natural, a água não é encontrada pura, mas sim misturada com
uma série de substâncias como sólidos dissolvidos, compostos orgânicos, ga-
ses, entre outros.
Além disso, devido a interação deste elemento com outros recursos pre-
sentes no ambiente, esta sofre alterações em sua qualidade. Um dos exemplos
128 • capítulo 5
dessa alteração em sua pureza é a diluição de esgoto, que muitas vezes é despe-
jado sem tratamento, em rios próximos a aglomerados urbanos.
Devido a sua importância para a sociedade e seu vasto de leque de aplica-
ções, as quais possuem requisitos diferentes, torna-se essencial a gestão de re-
cursos hídricos, a qual pode ser entendida como a maneira utilizada para solu-
cionar a questão da escassez de água em contrapartida ao uso adequado dela.
A gestão deve procurar realizar o planejamento e implementar ações pensadas
a fim de garantir a exploração sustentável dos recursos. Para isso, é necessá-
rio que haja motivação política e que a administração designada seja capaz de
operacionalizar os mecanismos de controles definidos no planejamento para
que assim, rios, lagos e oceanos não sofram com a ação humano e tornem-se
recursos finitos.
ATIVIDADES
01. Qual a diferença entre elementos renováveis e não renováveis?
REFLEXÃO
Neste capítulo vimos que tradicionalmente, a energia elétrica de toda a humanidade está
baseada em recursos naturais não renováveis, como petróleo, carvão e urânio, que além de
serem elementos finitos, também são causadores de grandes impactos ambientais.
Também conhecemos fontes alternativas de energia que apresentam um menor risco ao
meio ambiente além de serem renováveis, como o sol, o vento, a água, o material orgânico,
e principalmente o hidrogênio. Por fim, percebemos a importância da existência de políticas
capazes de gerar os recursos agrícolas evitando a exaustão destes.
capítulo 5 • 129
LEITURA
CASTELLO, J. P. Gestão sustentável dos recursos pesqueiros, isto é realmente possível. Pan-
American Journal of Aquatic Sciences, v. 2, n. 1, p. 47-52, 2007.
SEIFFERT, M. E. B.. Mercado de carbono e protocolo de Quioto: oportunidades de negócios em
busca da sustentabilidade. São Paulo. Atlas, 2009.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTELLO, J. P. Gestão sustentável dos recursos pesqueiros, isto é realmente possível. Pan-
American Journal of Aquatic Sciences, v. 2, n. 1, p. 47-52, 2007.
MAY, P. H.; LUSTOSA, M. C., VINHA, V.. Economia do meio ambiente. Rio de Janeiro. Elsevier, 2003.
SEIFFERT, M. E. B.. Gestão ambiental: instrumentos, esferas de ação e educação ambiental. São
Paulo. Atlas, 2007.
SEIFFERT, M. E. B.. Mercado de carbono e protocolo de Quioto: oportunidades de negócios em
busca da sustentabilidade. São Paulo. Atlas, 2009.
RECURSOS MINERAIS ENERGÉTICOS. Universidade de São Paulo. São Paulo: E-Aulas USP, s/d.
Disponível em: <http://eaulas.usp.br/portal/video.action?idItem=218> Acesso em: 09 de Set. 2015.
RICKETS, R. E.. A economia da natureza. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2011.
GABARITO
Capítulo 1
01. Os recursos naturais são aqueles que possuem valor e que são úteis na forma com que
se encontram na natureza, desde que eles sejam usados com outros fatores de produção
para geração de um bem ou de um serviço que possam vir a ser benéficos para a população.
Uma outra definição para os recursos naturais é a de que os mesmos são bens e serviços
originais ou primários do quais todos os demais dependem. Encontram-se inclusos entre os
recursos naturais elementos ou partes do meio ambiente físico e biológico, tais como solo,
plantas, animais, minerais e tudo que possa ser proveitoso e acessível à produção da subsis-
tência humana.
130 • capítulo 5
02. Esta classificação, apesar de ser a mais utilizada, deve ser vista com ressalvas, já que na
verdade todos os recursos podem se renovar por meio de ciclos naturais, porém alguns ciclos
duram milhões de anos, período de tempo muito superior ao da raça humana sendo, portanto
definidos como não renováveis. Dessa forma, as condições que definem se um recurso natu-
ral é renovável ou não são a perspectiva de tempo dos seres humanos e o seu modo de uso.
03. Um dos elementos marcantes da Revolução Industrial foi a introdução da máquina a
vapor. Por meio do uso da máquina a vapor a sociedade pôde intensificar o uso de recursos
naturais para a produção de força de forma versátil, controlável e constante, com qualidade
muito superior àquela produzida anteriormente por meio do uso de animais e de moinhos de
vento e de água.
04. A industrialização resultou em vários problemas ambientais, como: alta concentração
populacional; consumo excessivo de recursos naturais; contaminação do ar, do solo, das
águas; desflorestamento, entre outros.
Capítulo 2
capítulo 5 • 131
Viabilidade Ambiental (EVA), Projeto Básico Ambiental (PBA), Termo de Referência (TR),
Audiência Pública (AP), estabelecimento de padrões de qualidade ambiental e no sistema de
informações e cadastro técnico ambiental federal;
2. Incentivos econômicos – Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA); financiamentos
através do BNDES para grandes projetos, etc;
3. Inibições econômicas – Impostos ecológicos (ICM, Taxa de Reposição Florestal, etc);
4. Punição – Lei dos Crimes Ambientais, Código Florestal, etc;
5. Conservação – Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), Corredores
Ecológicos, Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), res-
trição ao uso de recursos naturais nas propriedades privadas (impostas pela Lei 4771/65,
entre outras), recuperação ambiental, auto-suprimento e reposição florestal.
Capítulo 3
132 • capítulo 5
Capítulo 4
01. São pesquisas com o intuito de tornar o tema mais familiar e mais explícito, podendo
servir para elaboração de hipóteses acerca de um tema;
Pesquisas descritivas: São estudos que buscam descrever características de um grupo ou
sociedade ou ainda relacionar duas ou mais variáveis dentro de uma população;
Pesquisas explicativas: Trata-se do grupo de pesquisa que busca explicar a razão
do acontecimento
02. Identificação do problema, Determinação do objetivo de pesquisa, Desenvolvimento da
estrutura teórica, Definição de hipóteses, Definição de termos, Identificação das limitações
do estudo, decisão acerca da metodologia e determinação do resultado esperado.
03. As pesquisas quantitativas são focadas na coleta e mensuração de dados numéricos
através da utilização de testes estatísticos. Já as qualitativas possuem maior subjetividade
e o pesquisador deve analisar e refletir sobre as percepções a fim compreender a ativida-
de estudada.
04. Espera-se que o texto contenha alguns elementos essenciais para uma boa justifica-
tiva: de que forma o tema abordado foi escolhido e porque ele é relevante a ponto de ser
pesquisado; a experiência do autor com o tema; as contribuições possíveis para o campo do
conhecimento e ainda a sustentação da viabilidade do projeto. A linguagem também deve ser
avaliada, devendo estar na forma culta da língua portuguesa e é aceitável, para este trecho
um caráter pessoal.
Capítulo 5
01. Os recursos renováveis são aqueles cujos ciclos de recomposição acompanham a ati-
vidade de extração por humanos, tais como água, solo, florestas ou faunas. Já os recursos
não renováveis, como os minérios, o petróleo ou o gás natural são elementos cuja reposição
não acompanha o ciclo humano no planeta pois estes processos demoram eras geológicas.
02. O hidrogênio, uma vez que ele é considerado o combustível de queima mais limpa e que
é encontrado em maior abundância na natureza. Entretanto, sua obtenção ainda depende
de outros processos geradores de energia o que o torna inviável economicamente. Ainda
sim, cada vez mais pesquisas avançam buscando tornar o hidrogênio um combustível viável.
03.
• Dificuldades em armazenar os resíduos, que devem permanecer isolados durante anos,
• Necessidade de enclausurar a central após o término das operações,
• Método de geração de energia mais caro
• Possibilidade de acidentes catastróficos
capítulo 5 • 133
04. O funcionamento das usinas hidrelétricas inicia com o represamento de um rio e a forma-
ção do lago artificial, onde é construída uma enorme barragem capaz de suportar a pressão
exercida pela água e que tem a função de controlar a vazão do líquido de maneira que este
seja constante. A energia hidrelétrica só será eficiente se a vazão não sofrer desequilíbrios,
pois isso causaria alterações na capacidade de geração de energia. A água, após ultrapassar
a barragem é usada para rotacionar um eixo conectado a um gerador que converte a energia
mecânica em elétrica e a envia para o transformador, o qual por sua vez, eleva a voltagem a
ponto de ser transmitida pela rede.
134 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 135
ANOTAÇÕES
136 • capítulo 5