AZEREDO, J. C. De. 2018 Art. Sobre Um Uso Estilístico Do Pretérito Mais-Que-Perfeito Na Sintaxe Clássica Do Português
AZEREDO, J. C. De. 2018 Art. Sobre Um Uso Estilístico Do Pretérito Mais-Que-Perfeito Na Sintaxe Clássica Do Português
AZEREDO, J. C. De. 2018 Art. Sobre Um Uso Estilístico Do Pretérito Mais-Que-Perfeito Na Sintaxe Clássica Do Português
RESUMO:
Nossa tradição descritiva, amparada exclusivamente em traços morfológicos, assegura
ao pretérito imperfeito do subjuntivo [PIS] e ao futuro do pretérito [FtP] o status de
tempos distintos. No entanto, se levarmos em conta o comportamento de ambos no
plano sintático e no papel de meios de expressão do tempo e da atitude do falante, o
grau dessa separação fica bem reduzido. PIS e FtP ocupam, nos períodos hipotéticos,
posições complementares, e só esporadicamente são permutáveis entre si. Os sentidos
de tempo e modo expressos em cada um acabam por ser exatamente os mesmos. Esse
fato favoreceu a substituição de ambos pelo pretérito mais-que-perfeito, um recurso
estilístico da sintaxe clássica portuguesa que transfere para o plano formal uma simetria
presente no conteúdo.
PALAVRAS-CHAVE:
Sintaxe, verbo, neutralização.
ABSTRACT:
Our descriptive tradition, based exclusively on morphological traits, assures the
subjunctive imperfect past [SIP] and the future in the past [FtP] the status of distinct
tenses. However, if we take into account the behaviour of both on the syntactic level
and in the role of means of expression of the time and the attitude of the speaker, the
degree of this separation is very reduced. In conditional constructions, SIP and FtP
occupy complementary positions, and only sporadically they are interchangeable with
each other. The meanings of time and mode expressed in one and in the other end up
being exactly the same. This fact favoured the replacement of both by the pluperfect
tense, a stylistic feature of classical Portuguese syntax that transfers to the formal plan
a symmetry present in the content.
KEY-WORDS:
Syntax; verb; neutralization
Introdução
1
Sete anos de pastor Jacob servia / Labão, pai de Raquel, serrana bela; / mas não servia ao pai,
servia a ela, / e a ela só por prémio pretendia. / Os dias, na esperança de um só dia, / passava,
contentando-se com vê-la; / porém o pai, usando de cautela, / em lugar de Raquel lhe dava
Lia. / Vendo o triste pastor que com enganos / lhe fora assi negada a sua pastora, / como se
a não tivera merecida, / começa de servir outros sete anos, / dizendo: “Mais servira, se não
fora / para tão longo amor tão curta a vida”. (CAMÕES, 1980, p. 168).
2
“E, se mais mundo houvera, lá chegara.” (CAMÕES, s/d.)
3
Soneto XCVIII de Claudio Manuel da Costa. (Proença Filho, 1996, p. 95).
4
Emprego de uma unidade linguística em função que seria própria de outra: um adjetivo na
função de um advérbio; o plural na função do singular; o presente na função do passado etc.
2. O modo subjuntivo
... os tempos do subjuntivo não representam noções de época da forma por que
o fazem os do indicativo. Pode-se, no entanto, falar de certos hábitos de concor-
dância dos tempos que não procedem de um automatismo rígido e puramente
formal, antes resultam do funcionamento de mecanismos delicados e complexos
(Cunha e Cintra, 1985, p. 461).
futuro é precedida de expressão do tipo quem quer que / onde quer que, a osci-
lação entre presente e futuro do subjuntivo também é comum: “Quem quer que
seja (ou for) eleito vai governar um país dividido”. Tal oscilação é comprovada
nos seguintes exemplos tomados a Os Lusíadas:
Era este corregedor muito honrrado e de sua casa e estado e muito praceiro e de
boa conversaçom, e seeria estonce em mea hidade. (LOPES, s.d., p. 119).
Conclusão
Referências