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Anotações manuscritas em exemplares portugueses das

primeiras edições das de institvtione grammatica libri


tres de Manuel Álvares1

Handwritten annotations in the early editions of Manuel


Alvares’ de institvtione grammatica libri tres

Rolf Kemmler
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
kemmler@utad.pt

RESUMO:
Com o objetivo de contribuir para a compreensão da evolução das primeiras edições
portuguesas da gramática latina de Manuel Álvares (1526-1583) com o título Emman-
velis Alvari è Societate Iesv de institvtione grammatica libri tres (Lisboa, 1572, 1573)
antes e pouco depois da morte do gramático, o presente artigo dedica-se às anotações
manuscritas que podem ser encontradas num exemplar eborense da primeira edição da
ars maior (Álvares, 1572), no único exemplar da primeira edição da ars minor (Álvares,
1573), bem como em no exemplar pessoal do autor da segunda edição da ars minor,
que oferece os paradigmas da conjugação verbal não apenas em latim, mas também
no vernáculo castelhano (Álvares, 1578). Da mesma maneira que as anotações nos
dois exemplares da ars minor parecem ter tido alguns reflexos nas edições posteriores
desta tradição textual, muitas das anotações no exemplar de Álvares (1572) parecem ter
entrado na recognitio vellesiana do que seria a última edição da ars maior em Portugal
(Álvares / Velez, 1599).

PALAVRAS-CHAVE:
Historiografia da Lingüística, gramática latina, Portugal, século XVI, Manuel Álvares

ABSTRACT:
In order to contribute to an understanding of the evolution of the earliest Portuguese
editions of Manuel Álvares’ (1526-1583) Latin grammar Emmanvelis Alvari è Societate

1
A nossa comunicação «Handwritten annotations in the early editions of Manuel Alvares’ De
institvtione grammatica libri tres» foi apresentada em língua inglesa no Annual Colloquium
of the Henry Sweet Society 2013: The Description of “Exotic“ Languages before and after
Humboldt (Berlin-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften, Berlin 28-31. August
2013).

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Anotações manuscritas em exemplares portugueses das primeiras edições das 199
de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

Iesv de institvtione grammatica libri tres (Lisbon, 1572, 1573) before and shortly after
the grammarian’s death, this paper focuses on the handwritten annotations that can be
found in a copy of the first edition of the ars maior (Álvares, 1572), in the only copy of
the first edition of the ars minor (Álvares, 1573), as well as in Álvares’ personal copy
of the second edition of the ars minor, which offers the paradigms of verbal conjugation
not only in Latin, but also in the Castilian vernacular (Álvares, 1578). In the same way
that the annotations in the two copies of the ars minor seem to have had at leas some
reflexes on posterior editions of this text tradition, many of the annotations in the copy
of Álvares (1572) seem to have found their way into the recognitio vellesiana of what
would be the last edition of the ars maior in Portugal (Álvares / Velez, 1599).

KEYWORDS:
Historiography of Linguistics, Latin grammar, Portugal, 16th century, Manuel Álvares

Introdução

Uma das gramáticas mais conhecidas em todo o mundo desde finais do


século XVI é a gramática latina intitulada Emmanvelis Alvari è Societate Iesv
de institvtione grammatica libri tres, cuja elaboração pelo jesuíta madeirense
Manuel Álvares (1526-1583) foi encomendada pelos superiores-gerais jesuítas
Diego Laínez (1512-1565) e Francisco de Borja (1510-1572). Após a publicação
separada do segundo livro De constrvctione octo partivm orationis em duas
versões (veja-se Álvares, 1571a, 1571b) no ano anterior, a primeira edição
completa da gramática foi publicada em Lisboa em 1572, assim constituindo
o início da tradição da ars maior (Álvares, 1572). Pouco depois, em inícios de
1573, Álvares publicou uma versão compendiada da sua gramática sob o mes-
mo título, omitindo a maior parte dos seus escólios eruditos. A última edição
constitui o começo da ars minor do autor (Álvares, 1573).2
Com base nestas duas tradições textuais, o estabelecimento da obra de
Álvares como gramática latina oficial do sistema de ensino da Companhia de
Jesus, devido à sua consagração na Ratio Studiorum Jesuíta em 1599, levou
ao triunfo inigualável da gramática alvaresiana: do século XVI ao século XX,
regista-se um enorme número de edições em quatro continentes. De facto,
mesmo a seguir à relação otimista de Springhetti (1960-1961, 304), que fala de

2
Para mais informações sobre a ars maior e a ars minor, cf. Kemmler (2014, 2015).

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530 edições em todo o mundo, devemos afirmar que no início do século XXI o
número total de edições e impressões ainda permanece desconhecido. A nossa
investigação atual permite-nos presumir que pode haver um número considera-
velmente mais elevado de edições, reedições e variantes (provavelmente mais
algumas centenas) que necessariamente teriam que ser consideradas no âmbito
de uma investigação bibliográfica mais abrangente.
Considerando que as edições quinhentistas que foram publicadas enquanto
Manuel Álvares ainda estava vivo devem ser encaradas como sendo fundamen-
tais para o estabelecimento das tradições da divulgação da gramática alvaresiana
noutros países, as quatro edições impressas em Lisboa (Álvares, 1572, 1573,
1578, 1583) parecem-nos merecer atenção especial.
Há uns anos, pudemos constatar que não sómente o único exemplar co-
nhecido de Álvares (1573) contém algumas anotações manuscritas, mas que
existem também outros exemplares impressos em Portugal com anotações
manuscritas, nomeadamente das edições de Álvares (1572) e Álvares (1578).
Como pelo menos uma destas duas gramáticas anotadas pode ser inquestiona-
velmente identificada como exemplar pessoal do gramático, apresentaremos
estes exemplares e algumas anotações metagramaticais, a fim de discutir a sua
contribuição para os estudos alvaresianos modernos.

1. As notas manuscritas na editio princeps da ars maior (1572)

O exemplar anotado da primeira edição lisboeta da ars maior pertence à


Biblioteca Pública de Évora (BPE), cidade esta, onde o gramático viveu, mor-
reu e foi sepultado. Hoje em dia, a gramática pode ser localizada sob a cota
‘Reservado 333’.3 No rosto da obra, encontra-se o despacho que estabelece que
o livro deve ser conservado por causa das notas manuscritas que apresenta:4

3
O exemplar foi mencionado em Gusmão (1964, I, 16), infelizmente, sem qualquer referência
às anotações nela contidas. De acordo com as informações fornecidas na página de rosto, este
exemplar de Álvares (1572) anteriormente foi guardado sob a cota ‘Armario 147 – d – 2.º –
n.º 29’. A letra manuscrita parece pertencer a um bibliotecário do século XIX.
4
Todas as transcrições respeitarão a ortografia e constituição dos textos originais. Assim,
quaisquer alterações nossas serão devidamente anotadas entre parênteses [ ]. Para adições
manuscritas encontradas num texto impresso, usaremos os sinais < >, para rasuras e omissões
usaremos as chaves { }.

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Anotações manuscritas em exemplares portugueses das primeiras edições das 201
de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

Conseruese este liuro polas annotaçoens doutas, escritas de mão, que tem (Ál-
vares, 1572, [I]).

Infelizmente, este breve despacho na página de rosto deste exemplar


da editio princeps alvaresiana não permite nenhuma conclusão sobre quem
poderia ser o proprietário anterior do livro ou até mesmo os autores das notas
manuscritas. É, no entanto, possível que as notas em si possam oferecer mais
informações sobre o exemplar anotado.
Das [VIII] páginas não numeradas que encontramos em Álvares (1974),
o exemplar eborense de Álvares (1572) conserva somente quatro, ou seja, a
página de rosto [I] e as licenças no seu verso [II], bem como a última página
do paratexto «Præfatio» do autor (Álvares, 1572, [III] = Álvares, 1974, [VII]),
numerada como fólio II, e os dois poemas «Auctoris carmen ad librum» e «Idem
Christianum Præceptorem» (Álvares, 1572, [IV] = Álvares, 1974, [VIII]). A
própria gramática começa com o capítulo «De nominum Declinatione» no fólio
1 e oferece um escólio inicial de quase um fólio. Embora apenas as páginas de
Álvares (1572, [II-IV]) não apresentem notas, no resto das páginas da gramática,
podemos encontrar anotações que vão desde pequenas correções até à extensão
de páginas inteiras. As primeiras anotações menores aparecem precisamente
no início do seguinte texto:5

CVM PRÆCLARVM illud Horatij dictum, Quo semel est imbuta recens se-
ruabit odorem Testa diu, verissimum esse reipsa quotidie experiamur: dabit in
primis operam præceptor, ut discipuli etiam nunc tyrones{,} & Latinæ linguæ
rudes, iam inde à principio optimæ pronunciationi assuescant: quod ut faciliùs
assequantur, studiosè diligenterque obseruabit quibus præcipuè vitijs laboret ea
regio in qua sibi commissam iuuentutem instituet: nam singulis ferè nationibus
domestica quædam, ac natiua insunt vitia, quibus Latini sermonis splendor obs-
curatur atq[ue] pæne obruitur. Nostrates pueri<,> si magistrum diligentem, ac
bene pronunciandi studiosum nacti fuerint, non malè equidem pronunciant. Sin
verò in eum inciderint, qui officio suo desit, ac de auditorum progressu parum sit
solicitus, barbarè literas M & N, extremas sonant: utũtur enim litera nescio{,}
qua<,> notha{,} & adulterina, cuius literæ P. Nigidius apud A. Gellium lib. 19
cap. 14 mencionem facit: Inter literam, [inquit], N, & G <et C> est alia vis, ut

5
Para diferenciar entre o texto primitivo de parte do primeiro escólio da ars maior e o que
encontrámos no exemplar anotado Res. 333, optámos por marcar as alterações em negritos.

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in nomine Anguis, & Angaria, & Anchora, & Increpat, & Incurrit, & Ingenuus
(Álvares, 1572, fol 1 r).

Como resultado, parece evidente que o anotador quis substituir regular-


mente a grafia de <u-> em vez de <v-> (ut em vez de vt; utũtur em vez de
vtũtur), substituindo a sequência <-ti-> para <-ci-> em palavras como pronun-
ciant (anteriormente pronuntiant).
Além disso, para além de algumas mudanças em termos de pontuação,
parece bastante notável que o anotador optou por um uso mais regular do acento
grave em advérbios latinos como faciliùs e malè (em vez de facilius, male). A
parte realmente interessante destas anotações são, no entanto, as mudanças em
«[...] Inter literam, inquit, N, & G est alia vis [...]». Depois desta intervenção,
temos «[...] Inter literam, [inquit], N, & G <et C> est alia vis [...]», o que significa
que não só os parênteses foram adicionados a inquit (disse), mas também que
a citação foi completada por ‘et C’. Além disso, observa-se uma mudança do
caso no exemplo Anchorae, que é alterado para o nominativo singular: Anchora.
Mesmo depois de olhar só para uma pequena amostra do início da gra-
mática, parece evidente que as notas que podem ser encontradas no exemplar
da BPE de Álvares (1572) não devem ser encaradas como meras anotações,
mas como correções destinadas para uma reedição da gramática do jesuíta, que
podem ou não ter sido usadas para este fim. Dado que, de acordo com Iken
(2002, 60-61), nenhuma outra edição da ars maior em Portugal é mencionada
do que a edição princeps (Álvares, 1572; no que parecem ser sete variantes
tipográficas) e a recognitio vellesiana de Álvares / Velez (1599, aparentemente
em seis variantes tipográficas), parece que esta última deve ser considerada a
segunda (e também última) edição portuguesa da ars maior.6 Vejamos uma
imagem da referida edição:

6
Pelo que consta todas as outras edições portuguesas da gramática de Manuel
Álvares que foram impressas em Évora desde 1608 até 1755 pertencem à tradição
textual da ars minor.

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Anotações manuscritas em exemplares portugueses das primeiras edições das 203
de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

(Álvares / Velez, 1599, 1)

Após a comparação do trecho de Álvares / Velez (1599) com as anotações


manuscritas, pode afirmar-se que a maioria das correções do exemplar manus-
crito foram levadas a cabo nesta edição. Este é o caso da substituição de <-ti->
por <-ci->, da acentuação dos advérbios com o acento grave, das mudanças na
pontuação, bem como das mudanças nas últimas três linhas da imagem acima
reproduzida. A única alteração que regularmente parece não ter sido levada a
cabo é a substituição de <v-> por <u->: aqui foi conservado o uso consagrado
pela editio princeps.
Em seguida, vejamos as anotações que podem ser encontradas no subca-
pítulo relativo ao adjetivo brevis:

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Breuis, & breue nomen adiectiuum, declinationis tertiæ,


numeri singularis, sic declinabitur.

¶Nominatiuo hic & hæc breuis, & hoc breue.


Genitiuo, breuis.
Datiuo Breui.
Accusatiuo Breuem, & breue. Si adiectiuum nomen duas habue
rit formas prior erit generis communis,
Vocatiuo ô Breuis, & breue. posterior neutri
Ablatiuo à Breui.

Nonnulla è proximis etiam huc spe-


ctant, vt hic & hæc alacris, & hoc alacre:
<campestris & campestre:> celebris &
celebre: salubris, & salubre. <palustris &
palustre. syluestris et syluestre. Pro putris
autem, quod in mascul. genere usitatis-
Numero plurali. simum est, puter, dixit Varro de Re rust.
¶Nominatiuo Breues, & breuia. lib. 1 ca. 8. Palus è pertica, etc. puter{e-}
euertitur.>
Genitiuo, Breuium.
Datiuo Breuibus.
Accusatiuo Breues, & breuia. Eodem modo declinatur breuior & breuius, &
Vocatiuo ô Breues{.}<, breuia.> alia eiusdem formæ compa-rativa, quæ penè
Ablatiuo à Breuibus. sunt infinita

<Ponhase aqui Brevior, et Breuior, et breuius, como


esta na arte pequena.> (Álvares, 1572, fol. 6 r)

Neste paradigma, a declinação do adjetivo brevis pode ser encontrada


junto com três notas na margem direita que permitem entender algo mais
sobre a morfologia deste e de outros adjetivos similares. No que parecem ser
várias mãos, os anotadores adicionam a forma breuia7 ao plural do vocativo
e exigem que, a seguir, seja inserido o paradigma de brevior, tal como este
pode ser encontrado na chamada ‘arte pequena’, ou ars minor. E na verdade,
encontra-se um paradigma com o título «Breuior et breuius, nomen compara-
tiuum, declinationis tertiæ, numeri singularis, sic declinabitur» entre brevis e
felix (Álvares 1573, fols. 4 v-5 r, Álvares 1578, fol 8 r-8 v). Na segunda nota
marginal deparamos com a maior intervenção neste paradigma pelos anotadores:

7
Brevia já aparece como a segunda forma do vocativo na primeira edição da ars minor (Ál-
vares, 1573, fol. 4 v).

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de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

não só encontramos outros três exemplos, mas uma frase completamente nova
sobre o adjetivo puter, putris. A terceira nota marginal não é rasurada, mas se
olharmos para a composição de Álvares / Velez (1599, 11), torna-se evidente
que faz todo o sentido que os anotadores a eliminassem. Afinal, em vez de a
referência à construção similar do comparativo brevior somente acontecer
mediante a respetiva nota, a segunda edição lisboeta da ars maior oferece o
paradigma de brevior, tal como exigido pela nota «Ponhase aqui Brevior, et
Breuior, et breuius, como esta na arte pequena». Em relação à segunda nota,
no entanto, é de constatar que os exemplos foram adicionados, ao passo que a
frase referente a puter é omitida.

(Álvares / Velez, 1599, 11)

Enquanto Álvares (1572, fol 6 r) oferece o seguinte paradigma sob o título


«¶ Prudens, nomen Adiectiuum, Declinationes tertiæ, generis omnis, numeri
singularis, sic declinabitur», as alterações manuscritas dos anotadores preveem
a substituição do adjectivo prudens por felix: «¶ Felix, nomen adiectiuum,
declinationes tertiæ, generis omnis, numeri singularis, sic declinabitur». Além
disso, encontra-se a seguinte nota:

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Aqui logo se emprima aquelle escolio da arte pequena que começa com sextus
casus nominum, et cæt. fol. 8 b (Álvares, 1572, fol. 6 r).

Dado que o anotador identifica até mesmo o fólio exato onde o escólio
pode ser encontrado, a paginação única de cada uma das primeiras edições
portuguesas leva a presumir que pelo menos aqui a segunda edição da ars minor
terá servido como fonte para o anotador:

CVM sextus casus nominum, quæ literis N, & S, terminantur, in E, vt Verrius


Flaccus autor grauissimus docet, ferè exeat, cúmque genitiuus multitudinis
eorundem nominum rarò ab Oratoribus imminuatur, siquidem Diligentium, ele-
gantium, ingentium, & alios id genus casus, plenos, non imminutos, diligentum,
elegantum, &c., ferme vsurpant, in locum nominis Prudens substituimus Felix: ne
imperitis errandi ansam daremus. Non negamus esse quædam, quorũ ablatiuus
etiam I, litera finiatur, cuiusmodi sunt Ingens, recens, vehemens: de quibus, atque
participiis, quæ eiusdem sunt positionis, fusiùs suo loco diximus. Hic enim tantùm
nobis admonendus fuit Lector de hac exemplorum permutatione. Felix in primis
placuit, quòd eo Diomedes, & Donatus vsi fuerint (Álvares 1578, fol. 8 r-8 v).8

Ao contrário do que talvez se poderia esperar, o texto deste escólio, que


explica a substituição de prudens por felix, não pode ser encontrado na recog-
nitio vellesiana (Álvares / Velez 1599, 11-12):

8
O mesmo texto, se bem que com pequenas diferenças de natureza (orto)gráfica ou tipográfica,
pode ser encontrado em Álvares (1573, fol. 5 r-5 v).

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Anotações manuscritas em exemplares portugueses das primeiras edições das 207
de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

(Álvares / Velez, 1599, 11)

Embora ambas as edições não tenham o paradigma brevior, conseguimos


localizar o paradigma felix e o correspondente escólio nas primeiras edições
italianas da ars maior (Álvares, 1575a / b, 18-19).
Como se pode ver pelas editiones principes das gramáticas alvaresianas, o
capítulo De Verborum Coniugatione normalmente compreenderia os paradigmas
da conjugação verbal não só em latim, mas também no vernáculo português.
Em Res. 333, no entanto, o paradigma português é rasurado. Em vez disso,
com uma nota marginal «Ex ipsius P. Emmanul. mente», pode encontrar-se o
seguinte trecho altamente revelador, escrito por um contemporâneo português
desconhecido:

Estas conjugaçoẽs alterou <auantajadamente> o P[adr]e M[anu]el Alu[a]r[e]z


ano de 1575. por tanto as nouas corram somente: E tambẽ os escolios nouos da
Arte pequena ham de ir todos nesta 2. ediçam; com tal {que} ordem, que nam
se encontrem com os desta grande: antes onde isso ouuer, os desta se deixem
(Álvares, 1572, fol. 12 r).

Ao fazer referência às alterações nas conjugações, parece provável que


o anotador esteja a referir-se em primeiro lugar a uma intervenção do próprio
autor na elaboração da ars maior veneziana (Álvares, 1575a/b). Dado que a
referência à ‘2. ediçam’ e aos escólios só pode ser relativa a uma segunda edição
portuguesa da ars maior, parece cada vez mais provável que este exemplar possa
ter sido usado, pelo menos em parte, para estabelecer a recognitio vellesiana
de Álvares / Velez (1599). Além disso, o facto de podermos encontrar números
marginais que correspondem à paginação que se observa na edição impressa

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em 1599,9 leva-nos a acreditar que as anotações neste exemplar poderiam ter


servido como um dos manuscritos da edição.

2. As notas manuscritas na editio princeps da ars minor (1573)

Pertencente à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC), o


que parece ser o único exemplar existente da primeira edição da ars minor de
1573, conserva-se hoje com a cota V.T. 18-7-3. Neste exemplar, podem ser
observadas cinco anotações manuscritas de finais do século XVI. A primeira
delas é uma nota marginal ao paradigma da voz passiva de amare em Álvares
(1573, fol. 19 r):

Præteritum perfectum
Amatus, amata, amatum sum vel fui, Eu fuy amado. <Amatu addi-
Amatus, ta, tum es vel fuisti, Tu foste amado. ta S. Amatus
Amatus, ta, tum est vel fuit, Elle foy amado. sic in cæteris>
Pl. Amati, tæ, ta sumus vel fuimus, Nos fomos amados.
Amati, tæ, ta estis, vel fuistis, Vos fostes amados.
Amati, tæ, ta sũt, fuerũt, vel fuere, Elles forã amados.

Aqui trata-se obviamente de uma breve observação de natureza didática na


forma de uma nota marginal, uma vez que o anotador adverte que é necessário
adicionar a letra <-s> à raiz amatu- para formar amatus, e assim por diante...
Parece provável que esta nota deve a sua existência à omissão de uma nota
bastante elaborada que pode ser encontrada na ars maior ao lado do ‘Præteritum
perfectum’ e do ‘Præteritum Plusquam perfectum’ (Álvares 1974, fol 34 r).
A nota manuscrita de Álvares (1573) é reproduzida na segunda impressão
de Lisboa da ars minor. Esta é a primeira das edições da gramática alvaresiana
com as equivalências da conjugação verbal no vernáculo castelhano (Álvares
1578, fol. 30 v):

9
Nas anotações manuscritas do exemplar eborense de Álvares (1572) conseguimos encontrar
os seguintes números de páginas que coincidem com a paginação de Álvares / Velez (1599):
65-90 (Álvares 1572, fols. 28 r-41 r), 129-141 (fols. 55 r-62 r), 145-233 (fols. 64 r-94 v),
238-375 (fols. 97 r-123 r), 413-421 (fols. 127 v-131 v), 174 [sic!], 475-480 (fols. 140 r-142
r), 523-529 (fols. 154 r-156 v), 542-555 (fols. 163 r-169 v), 563-568 (fols. 173 v-176 r),
601-608 (fols. 188 r-191 r), 620-624 (fols. 195 v-197 v), 643 (fol. 205 r), 447 [= 647?] (fol.
207 r), 652 (fol. 210 r), 656 (fol. 211 v), 650 (fol. 213 v), 678 (fol. 220 v), 689 (fol. 226 r),
720-721 (fols. 240 r-240 v), 729-731 (fols. 244 v-245 v), 735-740 (fols. 188 r-191 r).

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Anotações manuscritas em exemplares portugueses das primeiras edições das 209
de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

Prætæritum perfectum
Amatu, ¶ Amatus, amata, amatum sum, vel fui, Yo fui,
addita s: o He sido amado.
sic in cæ- Amatus, amata, amatum es, vel fuisti, Tu fuiste,
teris o Has sido amado.
Amatus, amata, amatum est vel fuit, Aquel fue,
o Ha sido amado.
Pl. Amati, amatæ, amata sumus vel fuimus, Nos-
otros fuimos, o Auemos sido amados.
Amati, tæ, ta estis, vel fuistis, Vososotros fuistes, o Aueis
sido amados.
Amati, tæ, ta sunt, fuerunt, vel fuere, Aquellos
fueron, o Han sido amados.

Impressa em tipos normais (ao contrário do que acontece na ars maior


lisboeta, onde as notas marginais e os escólios geralmente são impressos em
itálicos), a nota manuscrita é reproduzida com duas alterações: a seguir ao
grafema <s>, não há ponto final ( . ), mas dois pontos ( : ). Além disso, a edição
de 1578 prescinde de repetir a forma amatus.
Da mesma forma, as três anotações a seguir são notas marginais, acres-
centadas ao paradigma do presente do indicativo e do imperativo do verbo lego
(Álvares, 1573, fols. 24 v-25 r). Em todos os três casos, as notas marginais
foram impressas em Álvares (1578, fols. 41 v-42 r). Por fim, a frase «Cedo petit
cessi, cessum facit inde supino» é acrescentada em Álvares (1573, fol. 56 v),
devendo ser inserida na parte dos «Rudimenta» que se dedica à conjugação de
verbos. Também este texto pode ser encontrado em Álvares (1578: fol. 89 r),
desta vez sem quaisquer alterações.
Embora não pareça haver dúvida de que a letra das notas que se encon-
tram neste exemplar seja de um anotador quinhentista, não podemos deixar de
constatar que as caraterísticas que encontrámos na escrita não coincidem com
a letra do próprio Manuel Álvares. Dado, porém, que as correções propostas
no exemplar da BGUC tiveram um reflexo na segunda edição da ars minor,
parece-nos, no entanto, evidente que elas devem ter como autor um jesuíta
contemporâneo que devia ser próximo ao gramático.

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3. As notas manuscritas em Álvares (1578)

O exemplar anotado da segunda edição lisboeta da ars minor alvaresiana


também pertence à BPE, podendo ser localizado sob a cota ‘Século XVI 552’.10
Na página de rosto, encontra-se o seguinte despacho que estabelece que o livro
deve ser conservado cuidadosamente para que possa ser útil na composição
tipográfica de futuras reedições:

He a ultima ediçam. he ẽ Castelhano: Leua algua auãtaje á de portugues do


mesmo ano.

Conuem a goardar se muito bem pera o diante, se <a> de Castella por {t}ẽpo se
for cõ{t}aminando ut fit, typographorum indiligentia. E assi se fechara em hũa
arca com os papees do P. Manoel Alu[arez]. que o P. Provincial e depois Bispo
de Iapam, D. Sebastiam de Morais mandou que esteuessem goardados.

Esta Arte se deve conservar, e guardar, como aqui se encomenda (Álvares, 1578,
fol 1 r).11

O rosto deste exemplar oferece três anotações manuscritas com valor


paratextual. A primeira anotação contemporânea menciona a ars minor de
1578 como sendo a segunda edição desta obra, consideravelmente melhorada
em relação com uma edição portuguesa do mesmo ano.12 A segunda anotação
no rosto documenta a ordem que D. Sebastião de Morais (1534-1588) – então
provincial da Companhia de Jesus em Portugal e mais tarde primeiro bispo
católico do Japão – terá dado no concernente ao arquivo da obra anotada,
fazendo-se até referência explícita a um baú com os papéis pessoais de Manuel
Álvares. A última das três anotações parece algo posterior e pode pertencer a
um jesuíta do século XVII ou XVIII.
A entrada paratextual mais interessante, no entanto, pode ser encontrada
na página em branco no fim da gramática, onde o próprio autor fez questão de

10
O livro é mencionado por Gusmão (1964, I, 16), que afirma tratar-se do exemplar pessoal
do autor.
11
Sem mais comentários, estas anotações também são reproduzidas por Ponce de León Romeo
(2002, CLXVIII), sem qualquer indicação que não se trata de anotações de mãos diferentes.
12
Na verdade, não temos conhecimento de uma reedição da ars minor alvaresiana de 1578, o
que não surpreende, pois não existe qualquer registo bibliográfico de tal edição.

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Anotações manuscritas em exemplares portugueses das primeiras edições das 211
de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

apontar a proveniência do seu exemplar pessoal:13

esta arte deo João despanha estando em S. Roque (Álvares 1578, [II])

O livreiro João de Espanha (hoje mais conhecido como João de Molina, fl.
1565-1584)14 aqui referido foi o editor que pagou o impressor lisboeta António
Ribeiro pela produção da edição da ars minor para o mercado espanhol (ver
Álvares 1578, [I]), no âmbito do que parece ter sido uma cooperação mais ou
menos regular entre o impressor português e o livreiro espanhol que residia em
Lisboa.15 Obviamente, terá sido nesta mesma capacidade que Juan de Espanha
ofereceu um exemplar da gramática ao autor quando este esteve a visitar a Casa
Professa de São Roque em Lisboa.
Ao longo deste exemplar, encontram-se anotações em 133 páginas, ou
seja, em 29,12% dos 194 fólios do livro. Estas são principalmente correções,
obviamente destinadas a melhorar as edições existentes na altura. Vejamos
alguns casos exemplares:

NOmen est pars Orationis, quæ casus habet, neque tempora adsignificat <: ut
Musa, dominus> (Álvares 1578, fol. 65 v).

A esta definição do nome, o anotador desconhecido adicionou os exem-


plos Musa e dominus. Na terceira edição lisboeta da ars minor, encontra-se o
seguinte texto que adota a alteração:

NOmen est pars Orationis, quæ casus habet, neque tempora adsignificat: ut Musa,
dominus (Álvares 1583, fol. 57 v).

13
Na nossa opinião, a letra manuscrita que consta desta obra coincide com a que encontrámos
na procuração autógrafa que Manuel Álvares outorgou em 1579 e que tivemos a oportunidade
de estudar anteriormente (Kemmler 2012).
14
Para um resumo da atividade de Molina como editor (incluindo a reprodução de alguns
privilégios para a distribuição de livros impressos), veja-se Deslandes (1888, 79-83). Molina
também é mencionado como ‘João d’Espanha’ em Freitas (1952, 17).
15
A informação ‘expensis Ioannis Hispani Bibliopolæ’, que identifica Juan de Molina como
cliente que pagou as despesas da impressão a António Ribeiro, pode ser encontrada em vários
livros contemporâneos que devem ter sido de interesse para o mercado livreiro de Portugal e
de Espanha, tais como as edições lisboetas da obra Ecclesiasticae rhetoricae sive de ratione
concionandi libri sex do dominicano espanhol Luís de Granada (1576) ou o Compendium
spiritualis doctrinæ do arcebispo bracarense Bartolomeu dos Mártires (1582).

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212 Rolf Kemmler


Também o seguinte subcapítulo sobre o género dos substantivos sofreu


as seguintes mudanças:

Nomina ferè fœminina apud oratores,


& interim masculina præcipue apud pœtas.

{Est muliebre animans,} <Fœmineus hærent> volueris, cum stirpe, cupido.


Sardonychem comitatur onyx; grus, clunis, & ales
Cum talpa, linter, cum dama, lynxque, penúsque:
Hæc maribus tribues cinget cùm tempora laurus.
<Hic, aut {hoc} hæc, aut hoc animans: quo sæpe solebat Plurali numero Cicero
muliebriter uti.>
Hunc iubarem, hunc frontem, hunc pinum nimiúmque uetusta,
Pacuuii proauis, atauisque vtenda relinque (Álvares, 1578, fol. 78 v).

Com efeito, tanto o princípio «Fœmineus hærent [...]» em vez de «Est


muliebre animans [...]» como a regra mnemónica «Hic, aut hæc, aut hoc
animans: quo sæpe solebat Plurali numero Cicero muliebriter uti» podem ser
encontrados em Álvares (1583, fol 70 v), ao passo que a edição espanhola pu-
blicada em Zaragoza (Álvares, 1579, fol 92 v) reproduz o texto anterior sem
quaisquer alterações.
Como outra amostra das anotações que podem ser encontradas em Álvares
(1578), escolhemos o seguinte trecho, em que o gramático oferece exemplos
para o uso sintaticamente correto das formas verbais libet, licet, liquet e expedit:

ITem Libet, Licet, Liquet, Expedit, & quæ sunt generis eiusdem.
Terent. Adelph. Facite quod vobis libet.
Cic. de Orat. lib. 2. Si tibi id minus libebit, non te vrgebo.
Idem, In Verr. lib. 7. Non mihi idem licet, quod iis, qui nobili genere nati sunt.
{Idem, Acad. lib. 4. Si habes, quod tibi liqueat, neque respondes, superbis.}
<Idem, 1. de Nat. d. Ego ne Protagoram quidem, cui neutrum liquerit. &c.>
(Álvares, 1578, 105)

Esta anotação é seguida por outra em língua portuguesa. Um anotador


desconhecido dirige a sua crítica na segunda pessoa a outro anotador, censu-
rando o uso de uma forma liquerit quando o pretérito correto do verbo licet
deveria ser licuerit:

N.o 55 – 2.º semestre de 2018 – Rio de Janeiro


Anotações manuscritas em exemplares portugueses das primeiras edições das 213
de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

Riscaste o outro exemplo sobre o verbo liquet; e trazes hum de linquo não ser
a q[ue] proposito; poes o preterito de Liquet he licuerit, e não liquerit (Álvares
1578, 105).

Da mesma forma como vimos casos anteriores, o texto introduzido por


Álvares (1578, 105) é reproduzido em Álvares (1583, 97), ao passo que Álva-
res (1579, fol. 119 v) mantém o texto do seu modelo de 1578. No entanto, é
de observar no mesmo contexto que encontramos a substituição de toda uma
linha, obviamente feita por outro anotador:

Senec. lib. 3. Epist. Quod si liqueret tibi, non admirareris, nil adjuuari te regionum
varietatibus, in quas subinde, priorum tædio migras (Álvares 1583, 97).16

Conclusões

Sem dúvida, a maioria dos aspetos do universo das duas tradições textuais
latinas que o jesuíta Manuel Álvares publicou pela primeira vez em 1572 e 1573
ainda hoje oferece um leque importante de novas descobertas que nos permitem
ver o gramático e suas obras sob uma nova luz. Numa época em que a existência
da primeira edição da ars minor só foi descoberta recentemente (cf. Kemmler,
2012; Kemmler, 2014; Kemmler 2015), parece crucial para os investigadores
modernos entender um pouco mais da génese do texto das diferentes tradições
textuais das gramáticas alvaresianas para, enfim, compreender qual das inúmeras
edições pode ter servido como base para gramáticos (e gramáticas) posteriores.
Evidentemente, a editio princeps de ars maior (Álvares, 1572), que foi a única
das primeiras edições de 1571 a 1573 a ser reimpressa numa edição fac-símile
(Álvares, 1974), não pode responder a todas as perguntas, pois foi claramente
revista e aumentada durante a vida do autor e mais adiante.
Para o presente artigo, não pudemos senão oferecer uma primeira abor-
dagem das três edições do quinhentistas que contêm anotações manuscritas
sistemáticas. No que concerne à primeira edição da ars minor (Álvares, 1573)
com as suas cinco anotações que dizem sobretudo respeito às notas marginais,
parece não haver dúvida de que estas devem ter sido a fonte do texto de Álvares
(1578), onde elas aparecem pela primeira vez de forma impressa. Da mesma

Seria bastante interessante ver se esta e outras anotações do exemplar de 1583 tiveram algum
16

efeito sobre edições posteriores da gramática alvaresiana.

N.o 55 – 2.º semestre de 2018 – Rio de Janeiro


214 Rolf Kemmler


maneira, a fidelidade com a qual esta reproduz as anotações de Álvares (1578),


parece indicar que Álvares (1583), por sua vez, deve a sua elaboração às ano-
tações no exemplar anterior. Não temos dúvida de que o exemplar de Álvares
(1578) pertencia ao próprio Manuel Álvares, como o mesmo afirma explici-
tamente tê-lo recebido do livreiro João de España ou João de Molina quando
se encontrava no retiro espiritual da ‘Casa Professa de São Roque’ em Lisboa.
Quanto ao exemplar anotado da ars maior, os textos explícitos em língua
portuguesa não deixam dúvidas de que os anotadores pretendiam utilizá-lo
para preparar uma segunda edição da gramática. De facto, observa-se um
número considerável de correspondência entre as anotações manuscritas e o
que efetivamente foi publicado em Álvares / Velez (1599). Para além disso, os
números das páginas que correspondem à segunda edição da ars maior reforçam
a sugestão de que este exemplar pode ter algo a ver com o processo de produção
da recognitio vellesiana. Mesmo assim, nem todos os conteúdos das notas fo-
ram aproveitados, o que leva à suposição de que ainda possa ter existido outro
manuscrito hoje desconhecido, contendo as novas e mais volumosas adições,
bem como o original do índice de António Velez ...
Dada a considerável identificabilidade da letra manuscrita de Manuel
Álvares, parece justo afirmar que nenhuma das anotações manuscritas que
encontrámos até agora poderá ser identificada como pertencente ao próprio
gramático. No entanto, se consideramos a documentação inédita relevante que
se conserva no Arquivo da Companhia de Jesus em Roma, podemos constatar
que vários padres da província portuguesa foram nomeados para colaborar com
o gramático envelhecido e adoecido com os trabalhos para melhorar a gramática
latina da Companhia de Jesus. Assim, durante os últimos anos de sua vida, um
padre Fernão Pérez foi encarregado de assistir o gramático (1581, outubro 9).
Após a morte de Álvares em 1583, um documento posterior menciona como
revisores da gramática os padres Paulo Ferrer, Manuel Pimenta, Hernán Pires
(que pode ser o mesmo Fernão Peres mencionado em 1581), bem como António
Velez e Luis de la Cruz (cf. 1586, fevereiro 16).
Esperamos, enfim, ter demonstrado com o presente artigo que a famosa
gramática latina Emmanvelis Alvari è Societate Iesv de institvtione gramma-
tica libri tres ainda hoje constitui um manancial de informações novas e até
então desconhecidas. Dada a projeção global do autor e da sua obra durante os
séculos passados, cremos, enfim, que o estudo dos exemplares com anotações
contemporâneas que foram utilizadas para reedições posteriores será de grande
importância para a compreensão da gramática de Álvares por investigadores
modernos em Portugal e no estrangeiro.

N.o 55 – 2.º semestre de 2018 – Rio de Janeiro


Anotações manuscritas em exemplares portugueses das primeiras edições das 215
de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

Referências

1581, outubro 9, Lisboa, – Carta de Sebastião Morais ao Superior Geral Clau-


dio Aquaviva, informando, entre outras coisas, sobre o estado de saúde de
Manuel Álvares, manuscrito, Archivum Romanum Societatis Iesu, Lusitania
68, Epist. Lusit (1577-1584), fols. 306 r-307 v.
1586, fevereiro 16, Lisboa, – Carta de Sebastião Morais ao Superior Geral
Claudio Aquaviva, sobre a gramática latina de Manuel Álvares, manuscrito,
Archivum Romanum Societatis Iesu, Lusitania 69, Epist. Lusit (1585-1586),
fols. 212 r-213 v, 214 v.
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EMANVELIS ALVARI / Lusitani e Societate IESV / libellus / Nunc primum
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Christum natum. M. D. LXXI. / Cum priuilegio Pont. Max. Senatus Veneti,
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zzinum. / M D L XX, 1571a.
ÁLVARES, Manuel. DE / CONSTRVCTIONE / OCTO PARTIVM / orationis
/ liber / emanvelis alvari lvsitani / e societate iesv / Cum explicationibus
auctoris eiusdem. / Ne turbata uolẽt rapidis oracula uentis, / Nunc folio
uates commodiore sonat. // Cum priuilegio Summi Pontificis, & Illustriß. /
Senatus Veneti ad annos XX. / Necnon Illustriß. Proregis Regni Neapolitani.
/// VENETIIS, Apud Michaelem Tramezinum / M D L XX I, 1571b.
ÁLVARES, Manuel. EMMANVELIS / ALVARI È SO= / CIETATE IESV / DE
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ÁLVARES, Manuel. Emmanvelis / ALVARI È SOCIE- / TATE IESV / DE INSTI-
TVTIONE / grammatica / libri tres. // olyssipone. / Excudebat Ioannes Barre-
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ÁLVARES, Manuel EMMANVELIS / ALVARI / E` SOCIETATE / iesv, / De Insti-
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ÁLVARES, Manuel. EMMANVELIS / ALVARI / E` SOCIETATE / iesv, / De
Institvtione Grammatica / Libri Tres. // VENETIIS, / APVD IACOBVM
VITALEM. / M. D. LXXV, 1575b.

N.o 55 – 2.º semestre de 2018 – Rio de Janeiro


216 Rolf Kemmler


ÁLVARES, Manuel. EmmanVelis / Alvari È / Societate / IESV, / de InstitVtione


/ Grammatica / Libri Tres. // OLYSIPPONE. / Excudebat Ioannes Riberius,
expensis / Ioannis Hispani Bibliopolæ. / Cum facultate Inquisitorum. / 21578.
[exemplar com anotações manuscritas, BPE, cota ‘Século XVI 552’]
ÁLVARES, Manuel. EmmanVelis / Alvari E / Societate / iesv, / de InstitVtione
/ Grammatica / libri tres. // CAESARAVGVSTAE. / Excudebat Ioannes
Alteraque. / 1579. / Cum facultate Illustris Domini, Vicarij, Generalis, 1579.
ÁLVARES, Manuel. EmmanVelis / Alvari È / Societate / iesv, / de InstitVtione
/ Grammatica / libri tres. // OLYSIPPONE. / Excudebat Antonius Riberius,
expensis / Ioannis Hispani Bibliopolæ. / Cum facultate Inquisitorum, 1583.
ÁLVARES, Manuel / Velez, António. EMMANVELIS / ALVARI, E SOCIE- /
TATE IESV / de institvtione grammatica / libri tres, / antonii vellesii, ex eadem
societate iesv / in eborensi academia præfecti stvdiorvm / OPERA, Aucti, &
illustrati. // EBORAE / Excudebat Emmánuel de Lyra Typographus. / Cum
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mellis composita verba, dulcedo animæ, & / sanitas ossium. / Qui sapiens
est corde, appellabitur prudens, & qui / dulcis eloquio, maiora reperiet. /
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N.o 55 – 2.º semestre de 2018 – Rio de Janeiro


Anotações manuscritas em exemplares portugueses das primeiras edições das 217
de institvtione grammatica libri tres de Manuel Álvares

elaborado por António Velez. In: Kemmler, Rolf / Schäfer-Prieß, Barbara


/ Schönberger, Axel (eds.) Estudos de história da gramaticografia e lexico-
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KEMMLER, Rolf. The first edition of the ars minor of Manuel Álvares’ De
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/ ex varijs Sanctorum Patrum Sen- / tentijs magna ex parte / collectum. /
AVTORE REVERENDISS. P. / F. Bartholomæo de Martyribus, Archie-
piscopo / Bracharensi, & Hispaniarum Primate. / Vnum est necessarium:
Maria optimã par- / tem elegit, quæ non auferetur ab ea. / Lucæ. cap. 8. //
OLYSIPPONE, / Excudebat Antonius Riberius, expẽsis / Ioannis Hispani
Bibliopolæ. / 1582.
PONCE DE LEÓN ROMEO, Rogelio. Aproximación a la obra de Manuel
Álvares: edición crítica de sus De institutione grammatica libri tres. Tesis
PhD, Madrid: Universidad Complutense, 2002, in: http://eprints.ucm.es/
tesis/fll/ucm-t25106.pdf (último acesso: 27 de setembro de 2018).
SPRINGHETTI, Emilio. Storia e fortuna della Gramatica di Emmanuele Al-
vares, S. J. Humanitas 13-14, 1961-1962, p. 283-304.

Nota do editor: articulista convidado. Excepcionalmente, manteve-se a forma-


tação original das referências.

N.o 55 – 2.º semestre de 2018 – Rio de Janeiro

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