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Texto Fernanda Otoni

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QUANDO TOCA NA DIVISÃO,

APSICANÁLISE FAZ POLITICA

Fernanda Otoni de Barros-Brisset


RESUMO: O presente artigo apresenta a XVII Jornada da EBP-MG, as Psicanalista, membro da
bases epistemicas e materiais que sustentaram seu percurso e a aposta na EBP-AMP. Psychoanalyst,
EBP and AMP member.
transmissão politica da psicanálise e em suas consequências clínicas e Email
mais além -

na era do direito ao gozo. fernanda.otonibb@gmail.com


Palavras-chave: Política da psicanálise; gozo; divisão.

WHEN WE TOUCH THE DIVISION,


PSYCHOANALYSIS DOES POLITICS
ABSTRACT: This paper presents the XVII EBP-MG Journey, the
epistemic
and material bases that supported its pathway and the bet on the political
transmission of psychoanalysis and its clinical and beyond- conse-
-

quences in the age of the right to jouissance.


Keywords: Politics of psychoanalysis; jouissance; division.

Sejam bem-vindos à XVII Jornada da EBP-MG!


E impossível dizer como chegamos até aqui e saber o que esta
Jornada
vai ensinar para cada um. Quer saibamos ou não, fato é que, ao falarmos, nós
nos responsabilizamos pelo que dizemos. E falar gera consequências políticas.
Essa é a força da orientação lacaniana.
Realizaremos o I Fórum de Orientaço Lacaniana sobre a questão das
drogas, quando psicanalistas reunir-se-ão com vários convidados de outros cam-
pos e práticas, visando a fazer vacilar os significantes que asfixiam o debate e a
avançar mais além da segregação. Também realizaremos uma Roda Viva com
Agnes Aflalo sobre temas que produzem diversos impasses em nossa prática cli-
nica e politica. Pretendemos tornar público o que pode resultar de uma análise e
Suas consequencias para cada um e para a cidade de modo geral.
Nessa direção, organizamos a apresentação de 42 trabalhos que serão
apresentados em trés mesas plenárias e nove mesas simultâneas. Os trabalhos
transmitem, caso a caso, a manifestação da urgência que hoje atravessa a expe-
riência da psicanálise, pura e aplicada, ca força da ação lacaniana, intervindo a
favor da solução singular, junto à diversidade de situações em jogo. Na plenária
dos AEs, três analistas da nossa escola darão o testemunho da política da psica-
nálise a partir de sua própria análise, como cada um "se vira" com o elemento
invariável e singular do seu sintoma, na cidade que lhe concerne.

Revista Curinga | EBP MG| n.35 p.35-46 1 jul-dez I 2012


35
Fernanda Otoni de Barros -Brisset

Fomos ousados, confesso! A aposta na força do capital libidinal do


analista, para com sua causa, sustentou essa ousadia. Saimos da rotina e estamas
mais descobertos toda vez que damos um passo adiante e não recuamos frente
de inscrever a força política da psicanálise, na cidade. A tarefa
ao desejo
nos suspender alguns antomatons (não todos) e suportar alguns riscos.
exigiu.
Enfim, chegamos! Pulseiras em punho (não são de monitoramento
eletrônico, ao avesso, argumentam a favor da liberdade de ir e vir). Sacolas a
tiracolo-grife Suricato- únicas e lindas! Cabe muita coisa dentro delas! Alguns
objetos e o que mais cada um quiser colocar de seu. F'avor usar com moderação!
Sabemos da natureza de semblante do objeto. A satisfação possível é aos
peda-
cinhos, gota que brilha, oscila e cai.
Encontramos o lugar onde se realizaria a jornada, o Centoeuatro, cru
e nu: desabitado. Telhado e chão de fábrica, oferta do vazio em
tarefa de chegar até potencial. Nossa
aqui se valeu de um certo saber fazer com os
imprevistos, as
lacunas, os intervalos.
O
conforto do Mercure não estava
par o centro da
disponível. Então, decidimos ocu-
cidade, estacionar na Praça da Estação e torná-la a arena
ca onde daremos o
testemunho da política da públ-
ao psicanálise
impossível em jogo na era do direito ao gozo e suas
frente ao desconforto,
Laurent esclarece que consequências clínicas.

tocanmos nessa outra lógica, quando nos


estar
civilizaçãd, dos fenomenos que tocam
na aproximamos dos temas própnos ao mal-
ao E o que se chama em socio-
logia e no jornalismo de questões de sociedade. Isso gozo. dizer que
quer ninguém tem uma res-
posta a essas questões! (LAURENT, 2012,
p.22).
São questões que não tocamos sem provocar a discórdia da
a diversidade de discursos, a divisão entre linguagem,
Certo é que,
campos.
quando tocamos na divisão, isso interessa à
Sabemos que, se estamos psicanálise.
juntos, isso não significa que somos uma massa
gênea. Estamos aqui, UM por UM. A força do laço homno-
que nos reúne
como
entusiasmo, ainda que esse afeto não suture a brecha da nossapode ser lida
controvérsias, diferentes posiçöes e inquietações que divisão. As
entre nós, mostram
exatamente a fratura no todo,
podero surgir debates,
nos

que acontece
próprio, suportando o desconforto da sua diviso. quando
fala em nome cada um
E desejável que
Seja assim!

36 Revista Curinga EBP MG n.35| p.35-46 | jul-dez I 2012


QUANDO TOCA NA D1VISÃO, A PSICANÁLISE FAZ POLITICA

que ensina a experiência analítica sobre a política da


psicanálise?
A política faz parte do percurso de uma análise, sempre que, no mane
jo da transferencia, as intervenções do analista alcançam o gozo de cada um.
Onde se fizer ouvir a ordem de ferro, a tirania do S1, ali, o analista abre uma bre-
cha, por onde o que há de nmais singular para o sujeito possa advir, como condiz
a experiencia analitica. A política da psicanálise diz respeito ao gozo, ao ato ana-
lítico e suas
consequencias.
Por outro lado, o que escutamos no setting analitico, um por um, não
permite ao analista recuar frente aos impasses que traduzem o sofrimento, em
cada époCa, e isso lhe entrega a tarefa de não silenciar. Freud c Lacan jamais
silenciaram. A nossa responsabilidade não se reduz ao que acontece entre qua-
tro paredes e exige que nos engajemos como analistas cidadãos nos debates do
momento atual.
O que pode fazer a psicanálise quando as questões que dividem a
sociedade expressam-se na forma singular de uma demanda de análise, enuncia-
da pela angústia de um sujeito que, dividido ou submetido, procura um analista?
Via de regra, a divisão do sujeito se apresenta lá onde a matéria do gozo não se
conforma à ordem simbólica. Em uma análise, trata-se disto: cada um tem que
se haver com sua desordem mais íntima, inconfessável e sem igual no Universo.
Mas, frente às exigèncias de um mundo organizado pela lógica do uni-
versal, como tratar o único, o singular de cada um, que não cessa de tentar nãoo
se inscrever? A psicanálise sabe que o universal possível é o conjunto dos singu-
lares, pois é impossível um conjunto de identidades uniformes. Nossa tarefa,
como analistas, vive do oficio de operar para arejar os discursos, manter aberta
a válvula de escape, os furos respiratórios, para dar passagem à exceção de cada
um, por esse mundo diverso, sempre não todo uniforme.
Portanto, em questöes de sociedade, não cabe ao analista silenciar-se
ou manter-se neutro. "Aquele que pratica a psicanálise deve, logicamente, querer
as condições materiais de sua prática" (MILLER, 2012a). A psicanálise só é sus-
tentável, lá onde é possível praticar a ironia, questionar os ideais, onde não impe-
ra uma ordem totalitária, e o sujeito tem o direito de falaro que lhe passa pela
cabeça. Isso caminha em nome da liberdade de expressão e do pluralismo, orienta
Miller.
Esse esclarecimento trouxe uma nova responsabilidade à nossa
Jornada. Como transmitir o pluralismo dos nomes do pai, da causa de cada um
e do direito aos pedacinhos de gozo que calbem a cada um nesse latifúndio? Célio
Garcia, que será homenageado por nós nesta Jornada, é o lógico, deixou-nos
uma pista: "levar o pensamento político a adotar a diversidade, integralmente [..|
Eu penso, eu espero, no íntimo de meu coração de analista, que a psicanálise faça
o pensamento político sair dessa limitaço" (GARCIA, 2012)
Revista CuringaI EBP MG n.35| p.35-46 jul -dez | 2012
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Barros-Br isset
Otoni de
Fernanda

diversidade como uma orientação para pen-


Levei isso a sério! Tomei a
ou um Exército.
na0 é uma lgreja
A psicanáise
sar a política da psicanálise. unico e
res tamos que ensina a
com o

o pensamento
Desde Freud, dispensamos singularidade do
Sinthoma de cada u m .
a
dos modos de viver gozo,
o
diversidade u m destino ao gozo,
se trata de dar
análise sabe que ali se confessa e
Quem faz coletivas.
além das soluções
sempre mais o discurso capitalista promete e
em escala universal,
Porém, hoje, u m a ordem de
A felicidade é anunciada c o m o
decreta para todos: Goze! Seja feliz!
e que não
admite exceções, formatando os pro-
ferro. Uma ordem "para todos hedonista,
desse universo
tocolos dagestão democrática. Por um lado, brotam,
sozinhos e vivem da vantagem
de não precisar
de Um(s) que falam
aglomerados bas-
nenhuma instituição o u ideal, sendo
de ninguém, de não ter que responder a
Cada qual "no seu
tante e suficiente a parceria objeto do gozo.
solitária com o

do ser. Objetos fabricados em série,


quadrado", entregue ao autismo nativo
como pilulas dessa política, são engolidos compulsivamente,
por meio do con-
bem, isso fracassa. A atua-
sumo louco por felicidade. Mas isso não funciona tão
idade do sintoma se apresenta ao modo das compulsões, depressões, violëncia,
acontecimentos de corpo e desamarrações diversas.
As engrenagens da burocracia de gestão movimentam-se, a mil por
controle bem-estar social, pretendendo extirpar da ordem
hora, visando ao e ao

pública os sintomas, por meio de um "novo higienismo". A tática da


novos

segregação atualiza-se em novos campos de concentração, agora separados por


diagnósticos, obra de uma certa ciência, como Lacan previra.
Concordo com Miller: à medida que a sociedade de controle é reforça
da, impasses inéditos dão à psicanálise uma nova urgência (MILLER, 2012b). E
neste momento, o atual, que a força política da psicanálise toma para si, mais do
que nunca, a responsabilidade de dirigir-se aos outros discursos, jogando sua par-
tida com o seu avesso, o clássico discurso do mestre; entrentando a tórmula alte-
rada do amo moderno, o discurso capitalista, ou mesmo frente àquele universitá-
rio, o incansável técnico avaliador cientifico. Não temos a resposta sobre o que é
o bem, qual é a solução, etc. A nossa visada é transmitir o que a clínica ensina, a
saber, que onde aparece a unidade uniforme e homogênea, existe o equivoco, ali
habita a divisão n o considerada quando se toma a massa como o todo.
Sabemos que a experiência de uma análise, caso a caso, esclarece-nos
sobre a natureza do Real sem lei, do sexual que faz furo no saber. O determinis-
mo do gozo desconhece a lei, o saber e a política. A pulsão exige seu quinhão,
não importam os meios, e quando aparece, divide a ordem simbólica de uma
época. Esclarece que há um furo nessa ordem. O laço social é um laço contami-
nado por essa divisão. E é mesmo por isso que estamos em condição de fazer
politica, tal como a entendemos: a política do não-todo, a politica da clinica,
orientada quanto à divisão que inaugura a experiëncia subjetiva.
138 Revisto Curinga EBP MGn.35 p.35-46 | jul dez I 2012
OUANDO TOCA NA DIVISÃO, A PSICANÁLISE FAZ POLÍTICA

Nas questões de sociedade, também, notamos a presença inCiSIva do


indice da divisão. São questoes que interrogam a ordem dominante, intringem
na, expõem sua fratura e dividem a opinião pública. Diria que há uma certa rela
ção entre divisão e o fora da lei. Se, no campo das diversas formas simbólicas,
do discurso, do saber c da política, assentam-se a lei e a ordem, no campo da
a substância gozante não é nada obediente, lá se agitamo real
naturezapulsional,
sem lei e a desordem.
Quando falamos das questões de socicdade, surgem os significantes
são insuf-
que dividem. Onde se enunciam, iluminam a discórdia da linguagem,
cientes para esgotar a verdade que tocam. Drogas, por exemplo, é um significan-
te dessa ordem. O que essa palavrinha comporta de verdade? O significante
crime traz também o impossível de tudo dizer. Falemos de drogas ou de crimes,
a conversa não tem ponto final, caímos no desacordo polémico das questoes de
sociedade.

E agora, José?

Visando a "ativar por todos os lados o poder das lacunas", provocar


furos na ordem de ferro e fazer vacilar as unanimidades, segue o relato de um
pequeno fragmento de um caso público.
Trata-se de um garoto que, desde a adolescência, fez sua marca por sua
aderência aos ideais revolucionátios. Eis seu curriculo, disponível em páginas da
web: foi lider estudandil, foi preso em função de seus ideais e deportado do pais
em troca da liberação de embaixador estrangeiro. Fez plásticas, mudou de nome
para não ser identificado. Quando voltou para o seu país, viveu na clandestinida-
de. Não cessava de infringir e contestar a ordem dominante (a direita de sua época)
e, novamente ameaçado, procurou abrigo em outro continente. Só retornou para
a sua pátria com a redemocratização e ajudou a fundar de esquerda.
um partido
Foi seu lider. Seguiu carreira política: foi deputado, até assumir o cargo de Ministro
Chefe da Casa Civil. Por todos os meios, nunca deixou de tentar realizar a revolu-
ção. Talvez esse fosse um dos nomes de sua causa mais íntima. Seu currículo apre-
senta a lista do muito que fez pelo seu país. Fiel à sua causa, escreveu seu nome na
história, seu currículo disponível na web termina aqui. Não fala mais nada.
Para saber mais, é
preciso recorrer aos tabloides. Dizem os jornais
nacionais que, ao se dar conta de que seus colegas parlamentares seguiam outra
causa que não a sua, elaborou um
plano para dar a cada um o
que supôs que
pudesse causá-los c executou seu ato. Em troca, eles votariam a favor de seus
projetos de governo, quiçá, planos revolucionários de um outro país para se
viver. Há controvérsias! Por seu ato foi julgado e condenado como o autor dessa
prática ilícita. E agora, José?

Revista Curinga | EBP MG n.35 | p. 35-46 | jul-dez |


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2012
Fernanda Otoni de Barros-Brisset

Essa vinhcta de caso público nos adverte de que a causa não faz par,
Contudo, alcança-se o campo social; quando o gozo de cada um se esparrama
no tabuleiro público e o transtorna, cstamos diante de um fator de política, de
modo mais amplo. Aopiniäo pública se divide, os mecanismos de gestão da
desordem são acionados, c cada um responde
pelo impossivel de governar de
seu
gozo. Com Freud, digamos, são as vicissitudes da
pulsão. A história da
humanidade encontra aqui sua matéria indizível.
Para alcançar o seu fim, Freud afirma
que o objeto da pulsão pode ser
qualquer um. Isso só quer satisfazer-se, por todos os meios. Entra nas
extraindo satisfação de brechas,
pequenas e "pequetitas revoluções, a cada vez.
Ze não roubou, era um jovem de classe média e continua
dizem que não sendo,
enriqueceu na política. E pena que ele se tenha deixado iludir, que
nao tenha
encontrado outros meios que os ilícitos
para seguir com sua causa. E
pena. E a
pena. Zé, um jovem infrator.
sua

Como separar a causa revolucionária de Zé


e o seu crime?
evento não
para inocentá-lo, longe disso. Mas para formalizar essa
Trago esse
nos
divisão que
preocupa e, desde Freud, interessa à política da
De repente, os "Zés" da vida dão-se psicanálise.
conta de que há
em seu ato, que nem tudo está sob o seu controle. O caso algo não sabido
do Zé é exemplar: ele
não é diabólico, ele é
no do
simplesmente humano. Se, por um lado, nada é mais huma-
que o crime, por outro, eu diria, no há nada mais
democrático que o
gozo. Nenhum partido está a salvo!
Seja de direita, de esquerda, de centro-
esquerda, de centro, etc. Sejamos claros, o episódio do mensalão não é uma
tão de partido, é uma
questo de sociedade. Sempre existe o risco de o ques-
vir a cada um para
gozar em causa própria. O STF dividiu-se, ânimos poder ser-

não foi possível


julgar a todos como farinha do mesmo saco. Não há aflorados,unanimi-
dade. O impossível fura a tese da
transmitira que cada um, naquela
homogeneidade. De alguma maneira, ali se
"maçaroca", e mesmo o lider, está sozinho,
cada um em causa
própria. Esse episódio ensina que há um deslocamento fun-
damental entre política e verdade, tal como a
entendemos.
O Um sozinho o
líder - elevado à condiço de liderança, ao cair na
esparrela do gozo, atualiza o que há de mais singular e não
Demonstra, publicamente, que existe alguma coisa que não cessa compartilhável.
e
que não é
obediente, e a psicanálise sabe disso mais do que
ninguém, pois está orientada
quanto à divisão e às escolhas forçadas da pulsão. Como
por um lado, de dizer sim à responsabilidade de cada um
responder? Trata-se,
Não existem inocentes. Sobre o para com seu gozo.
gozo, os Zés da vida são chamados a
Contudo, é nossa responsabilidade sustentar, no debate responder.
curar. Nenhuma sociedade se cura do
público, impossivel de
o

humano; nossa pergunta não se retere a


como curar o homem do seu
gozo, mas
interroga a forma de resposta da socie-
dade, frente à natureza do Real sem lei, ao mal
que está na civilização
e à desor-

40 Revista Curinga| EBP MG I n. 35| p.35-46 Jjul -dez | 2012


A PSICANALISE FAZ POLITICA
QUANDO TOCA NA DIVISÃO,

r e c u r s o s uma
dem incessante quc está na basc de seu fundamento. Com quais
não cessa?
sociedade pode contar para regular isso que
teremos oportunidade de discutir
Hoje e amanh , cm diversas mesas,
modos universais de tratamento das cscolhas forçadas
da pulsão,
e questionar os
de violéncia, a intoxicação generalizada, dro-
quando estão em questão os atos
as indisciplinas relativas às regras cscolares,
às agitações do
gas licitas e ilícitas,
diversos
espectros do autismo do ser, etc. Questionaremos o
corpo infantil, os
singulares da nossa clínica.
universal impossivel por meio das respostas
Cabe à psicanálise, por sua experiencia, esclarecer a política mais ampla
limpar das cidades as mar-
impossivel em jogo, quando se trata de
tentar
sobre o

cas da pulsão. Perguntaremos, incansavelmente,


a cada vez, por que essa ordem

existe u m a cidade asséptica, toda pretensão de


realizá-la culmi-
e não outra? N o

nou em fazê-la deserta dos humanos.


Esta Jornada nos convida falar mais sobre isso!
a
o que a clini-
Sua contribuição ao debate atual consiste em apresentar
ca ensina sobre as contradições inerentes ao discurso, as divisões dosujeito, a
natureza indomável da que não cabem em
pulsão, nenhuma forma, pois cami-
conflito com a ordem simbólica de cada época. No vamos
nham sempre em

resolver isso, mas podemos esclarecê-lo.


instrumento político, ela cria e ofe-
A psicanálise torna-se, assim, um

se depreende da
rece ao mundo atual o que ela sabe sobre divisão. Aquilo que
experiència analítica a psicanálise oferece e põe à disposição, nos debates de
sociedade. A psicanálise, quando toca na divisão, faz política.
Os analistas sabem que o que divide é o gozo, mas, mesmo os não in1-
ciados na epistêmica lacaniana, também são esclarecidos. O povo sabe: as pai-
xões nos dividem. Eé frente a essa divisão que o sujeito toma a decisão que lhe
concerne, responsável por seu destino.
Nesta Jornada, procuramos criar as condições materiais para que a
força do controverso encontre o modo de sua expressão. Quando está em jogo
o império da dominação, isso acaba produzindo o sossego que faz dormir.
Desejamos vocés bem despertos, nesta Jornada.
Cuidamos de estruturar o programa para que cada um tenha as condi-

ções materiais para apresentar a força que advém de sua causa e de sua divisão
e

extrair alguma satisfação do seu direito à palavra. Procuramos, portanto, favore-


cer a diversidade e a divisão, como respostas da política da psicanálise aos impas-
ses de nossa época
Uma orientação lacaniana

2013
fernanda 0toni de Barros-BriSset

E por falar em diversidade e divisão...

Algumas palavras sobre o intervalo

Vocés já passaram os olhos no cardápio de almoço do Suricato? E dos


petiscos do jantar, do Duas vezes Porto? A comida é diversa, preparada para
todos os gostos. Coisa de louco! Mas não é para todos, näo!! Reserve, com ante-
cedencia, sua mesa, para almoçar ou jantar.
Outra dica é fazer bom uso dos intervalos da conversae circular por
ai. Um covite para topar com o indizível da política da psicanálise, inclusive na
extensão de nossos campos de intervenção. A politica dos objetos e da parceria
nos interessa. Vale cmprestar seus olhos e deixar o olhar cair pelas obras e telas
da galeria da Mostra de Arte Insensata, ou achar, fora de si, o seu mais íntimo, no
Musen Interior, quem sabe atravessar, com o corpo, o desfile das cenas e letras que
se soltam do andaime das imagens e palavras sem sentido, do dicionário gozoso;
deixar-se perder nos livros da Livraria ou no meio dos objetos domésticos à dis-
posição no Mercado Suricato.
A politica da psicanálise adverte: Há salvação pelos dejetos!
Quem sabe, nos intervalos, apareçam o objeto e o vazio pulsante que
o define, inventando outro lugar para viver a pulsão? Também sugiro que não
saiam apressados, ao final. Calma! Sejam pacientes e fiquem mais um pouquinho.
Primeiro, porque livros novos estão sendo lançados, para seu desfrute.Também
está imperdível o esforço de poesia dos analistas, no Sarau de hoje à noite. E,
amanh, ao recolher as sobras e restos, na sua sacolinha, antes de partir, que tal
reabrir os ouvidos para a voz de Irene e seu abraço, com as cordas do violão de
Douglas? Um bom balanço antes de se despedir. Aliás, diria Riobaldo, nessa vida,
a gente vive é no balanço...

Agradecimentos

Como disse nosso Diretor Sérgio de Castro: "São tantas as novida-


des... Que chego a tremer de entusiasmo!" Tremor de entusiasmo - essa expressão

eu coloquei na minha sacola. Agradeço ao colega Sérgio de Castro por me trans-


fazer
mitir, durante o percurso de organização desta Jornada, que é preciso saber
advir do risco a força de uma aposta e, com entusiasmo, seguir adiante. Agradeço
à Diretoria pela confiança, ao me entregar a responsabilidade pela coordenação
desta Jornada!
contar com uma
tarefa, logo percebi que precisaria
Diante de tal
não me permitissem recuar frente ao
"tropa de elite" cujo entusiasmo e ousadia
momento de muito trabalho, possível
impossível. Esta Jornada constituiu um
com amigos de sempre, com a
pela felicidade do encontro e a afcição renovada

jul-dez | 2012
MG n.35 | p.35-46
42 Revista Curinga | EBP

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