Esp Hilbert
Esp Hilbert
Esp Hilbert
Jens Mund
DF-UFJF, Perı́odo 2020-3
Conteúdo
1 Espaços de Hilbert 1
1.1 Espaços vetorias; produto escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Bases ortonormais e BON’s generalizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2 Teorema espectral 8
2.1 Operadores auto-adjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2 Teorema espectral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.3 Análise espectral do operador Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3.1 Intervalo em R. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3 EDPs 15
3.1 Equação de Poisson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.2 EDP de difusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1 Espaços de Hilbert
1.1 Espaços vetorias; produto escalar
Um conjunto V é chamado de espaço vetorial1 (sobre o corpo C dos números complexos) se existe
uma operação + : V × V → V , (u, v) → u + v (“soma de vetores”) e uma operação : C × V → V ,
(c, v) 7→ cv (“multiplicação do vetor v com o escalar c”) satisfazendo as seguintes requerimentos.
Existe um elento 0 ∈ V (“vetor nulo”), tal que ∀u ∈ V vale u + 0 = u, e certas condições de
compatibilidade sejam satisfeitas: ∀u, v, w ∈ V e ∀c, c0 ∈ C vale
u + v = v + u, (u + v) + w = u + (v + w), 1u = u
c(c0 u) = (cc0 )u, c(u + v) = cu + cv, (c + c0 )u = cu + c0 u.
Exemplos: Vetores deslocamento no espaço fı́sico; C, Cn , C(R), C ∞ (R), soluções de uma EDO
homogẽnea... Pn
Uma soma (finita) da forma c1 v1 + · · · cn vn ≡ i=1 ci vi , com ci ∈ C e vi ∈ V , chamamos de
combinação linear de vetores.
Pn
Definição 1 Um número finito de vetores v1 , . . . , vn é linearmente independente :⇔ i=1 ci vi = 0
implica c1 = · · · = cn = 0.
Seja B ⊂ V um subconjunto de V .
B é linearmente independente :⇔ Cada subconjunto finito de B é linearmente independente.
O span de B, em sı́mbolos span(B), é o conjunto de todos combinações lineares finitas de
vetores em B.
1 Ou espaço linear. Os elementos de V denotaremos por u, v, . . ., ou as vezes por ψ, φ, . . ..
1
2 Hilbert, 25/01/2021
( φ, ψ ) = ( ψ, φ ) ∀φ, ψ ∈ H.
( ψ, ψ ) ≥ 0 ∀ψ ∈ H
D⊥ := {ψ ∈ H : ( φ, ψ ) = 0 ∀φ ∈ D}.
φ⊥ := (Cφ)⊥ .
Um fato muito útil é o seguinte. Seja φ ∈ H não-nulo. Então qualquer ψ ∈ H possui uma única
decomposição
ψ = ψ0 + ψ1 , onde ψ0 ∈ Cφ e ψ1 ∈ φ⊥ . (4)
A saber,
( φ, ψ )
ψ0 := φ (5)
kφk2
e ψ1 := ψ − ψ0 . (Verifique que eles satisfazem (4) e que a decomposição é única!) A aplicação
linear ψ 7→ ψ0 é chamado o projetor sobre φ, em sı́mbolos Pφ :
( φ, ψ )
Pφ ψ := φ. (6)
kφk2
Produto escalar:
∞
. X
( c, c0 ) = c̄i c0i .
i=1
2
iii) H = L (R): Produto escalar como antes,
Z
.
( ψ, φ ) = ψ(x) φ(x) dx.
kψn − ψm k < ε.
kF (ψ)k2 ≤ M kψk1 .
ψ 7→ ( φ, ψ )
é contı́nuo.
( ϕi , ϕj ) = δij ,
ci = ( ϕi , ψ ). (10)
Comprovante. Se os ϕi fornecem uma BON, as Eqs. (9) e (10) implicam a Eq. (12). Vamos
demonstrar a direção inversa. Escerevendo
X
ψ 0 := ( ϕi , ψ ) ϕi ,
i∈I
a Eq. (12) afirma que para todos φ vale ( φ, ψ ) = ( φ, ψ 0 ). Isso quer dizer que o vetor ψ − ψ 0 está
em H⊥ , que contém apenas o vetor 0, implicando em ψ = ψ 0 . Isso mostra que para todo ψ ∈ H
vale X
ψ= ( ϕi , ψ ) ϕi , (13)
i∈I
ou seja, as Eqs. (9) e (10). Falta mostrar que os ϕi são um sistema ortonormal. Para esses fins,
aplicamos a equação acima para ψ = ϕj :
X
ϕj = ( ϕi , ϕj ) ϕi .
i∈I
BON’s contı́nuas em L2 (RD ) [4, Cap. II.A.3]. Consideramos a famı́lia de funções (ondas pla-
nas) ek , k ∈ RD , definidas por
.
ek (x) = (2π)−D/2 eik·x . (14)
Elas não são em L2 (RD ), mas mesmo assim existe o “produto escalar” com certas outras funções:
.
Se ψ ∈ D = L2 (RD ) ∩ L1 (RD ), entaõ existe para todo k o “produto escalar”6
Z Z
( ek , ψ ) := ek (x) ψ(x)dD x = (2π)−D/2 e−ik·x ψ(x)dD x ≡ ψ̂(k), (15)
( ψ, ek ) := ( ek , ψ ) ≡ ψ̂(k). (16)
Essa equação é completamente análoga à Eq. (12). Por isso a famı́lia {ek , k ∈ RD } é chamada de
uma BON contı́nua em L2 (RD ). Em analogia com a Equ. (13), escrevemos
Z
ψ = dD k ( ek , ψ ) ek . (18)
Como outro exemplo, consideramos a famı́lia de distribuições-delta δa (x) := δ(x − a). Eles
também não são em L2 (RD ), mas mesmo assim o “produto escalar” com funções contı́nuas existe:
.
Para ψ ∈ D = C(RD ) ∩ L2 (RD ) escrevemos
Z
( δa , ψ ) := δa (x) ψ(x)dD x ≡ ψ(a) e ( ψ, δa ) := ( δa , ψ ) = ψ(a).
6 Mais rigorosamente falando, e é uma aplicação linear (um “funcional”) de D em C. O valor de e aplicado em
k k
ψ ∈ D designamos, em abuso de notação, por ( ek , ψ ).
6 Hilbert, 25/01/2021
A identidade Z
( φ, ψ ) = dD a φ(a) ψ(a)
Entaõ a famı́lia {δa , a ∈ RD } também é uma BON contı́nua em L2 (RD ). Escrevemos também
Z
ψ = dD a ( δa , ψ ) δa .
BON’s generalizadas em H arbitrário [4, Cap. II. C. 2]. Que tipo de objeto pode substituir
as funções ek (x) ou distribuições δa (x) num espaço de Hilbert geral H? Naqueles exemplos,
as funções ek (ou distribuições δa ) podem ser encaradas como aplicações lineares de um certo
subespaço denso para os números complexos, ou seja, funcionais.
Em geral, escolha-se um sub-espaço denso D ⊂ H e considera-se as aplicações lineares de D em
C (contı́nuas numa certa topologia). O conjunto de tais funcionais é também um espaço linear,
chamado o dual de D, em sı́mbolos D0 . O espaço de Hilbert H pode ser considerado como subespaço
de D0 , identificando ψ ∈ H com a aplicação7
D 3 φ 7→ ( ψ, φ ) ∈ C.
Então temos as inclusões
D ⊂ H ⊂ D0
(“Tripla de Gelfand” ou “rigged Hilbert space” [2]). Abusando a notação, vamos denotar uma
aplicação χ ∈ D0 por
χ : D → C,
φ 7→ ( χ, φ ) ,
como se tratasse de um produto escalar. Consequentemente definimos para φ ∈ D, χ ∈ D0 e c ∈ C:
. .
( φ, χ ) = ( χ, φ ), ( c χ, φ ) = c̄ ( χ, φ ).
Os elementos de D0 são chamados de vetores generalizados ou também de bra’s.
Uma BON contı́nua sobre D ⊂ H é uma famı́lia de vetores generalizados χk ∈ D0 , k ∈ Ω ,
Mais geralmente, nessa construção a medida de Lebesgue dn k pode ser substituida por alguma
outra medida8 dµ(k) com suporte em Ω ⊂ Rn , i.e., a Equ. (20) é substituida por
Z
( ψ, φ ) = dµ(k) ( ψ, χk ) ( χk , φ ) . (23)
Ω
zada.
7A topologia em D deve ser tal que esta aplicação seja contı́nua.
8 Uma medida µ em Ω é uma aplicação de uma certa classe de subconjuntos de Ω (chamados de medı́veis) em
R+
0 ∪ {∞} satisfazendo µ(∅) = 0 e µ(U1 ∪ U2 ∪ . . .) = µ(U1 ) + µ(U2 ) + . . . se os Ui são mutuamente disjuntos.
Exemplos: Medida de Dirac: µa (U ) := 1 se a ∈ U e 0 se não. Medida de Lebesgue em R: λ([a, b]) := b − a. A
Hilbert, 25/01/2021 7
Se o espaço de Hilbert for o L2 (RD ), então a relação de completeza pode ser escrita como
X
ϕi (x)ϕi (x0 ) = δ(x − x0 ) (27)
i
Z
dn k χk (x)χk (x0 ) = δ(x − x0 ) (28)
Ω
Notação de Dirac [4, Cap. II. B]. Dado um subespaço D com dual D0 , é costume chamar os
vetores em D de ket’s, e os vetores generalizados em D0 de bra’s.9 Na notação de Dirac, os kets
são denotados por |φi ∈ D, e os bra’s de hχ| ∈ D0 . A imagem de |φi ∈ D sob hχ| ∈ D0 (a qual nós
temos denotado por ( χ, φ )) é denotado por hχ|φi – um bra-cket. Como acima, os vetores ψ ∈ H
são considerados casos especiais de vetores generalizados, e consequentemente, o produto escalar e
escrito como hψ|φi, sendo interpretado como a imagem de |φi sob o bra hψ| ∈ H ⊂ D0 .
Com esta notação, o projetor Pφ (6) pode ser escrito como Pφ = kφk−2 |φihφ| ou, se φ é
normalizado:
Pφ = |φihφ|, se kφk = 1, (29)
e similarmente a aplicação Pχ da Eq. (25). Com isso, as relações de completeza (24) e (26)
escrevem-se
X
|ϕi ihϕi | = 1 ,
i
Z
dn k |χk ihχk | = 1 ,
Ω
medida define uma integral: Num primeiro passo, define-se a integral para funções localmente constantes. Seja cU
a função caracterı́stica de U ⊂ Rn : (
1 se x ∈ U,
cU (x) := (22)
0 se x 6∈ U,
P
e seja g da forma g = i αi cUi com constantes αi ∈ C e Ui mutuamente disjuntos. Então a integral é definida por
Z X
dµ(x) g(x) := αi µ(Ui ).
Ω i
R
Para Ruma função f mais geral, aproxima-se f por uma sequência de funções gn do tipo encima e define-se dµ f :=
limn dµ g. Ver [9, Chap. 1] para detalhes. A integral correspondente à medida de Lebesgue é a integral de
Lebesgue, dλ(x) = dx, e a integral correspondente à medida de Dirac é
Z
dµa (x) f (x) = f (a).
9 Notação de [4]: D = E, D 0 = E ∗ . Vale mencionar que, em contraste ao que esta sendo sugerido na literatura [4,
Cap. II.B.2], não existe “um subespaço discriminado”, D, de estados. Dependendo do problema, escolhe-se um
subespaço adequado, por exemplo para empregar o teorema espectral de um dado observável, ver abaixo.
8 Hilbert, 25/01/2021
respetivamente.
2 Teorema espectral
2.1 Operadores auto-adjuntos
Seja A um operador num espaço de Hilbert H. Se A é contı́nuo, o domı́nio coincide (sem perder
generalidade) com o espaço H inteiro. Neste caso, o operador adjunto A∗ é definido por: A∗ ψ é o
único vetor tal que para todo φ ∈ H vale
( A∗ ψ, φ ) = ( ψ, Aφ ). (30)
Se ψ está em esse espaço, o Lema de Riesz afirma que existe um único vetor χ ∈ H tal que vale
( χ, φ ) = ( ψ, Aφ ) para todo φ ∈ D(A). Como χ depende obviamente linearmente de ψ, podemos
escrever χ =: A∗ ψ. Isto defino o operador adjunto A∗ de A.
O operador A é chamado de hermiteano se D(A) ⊂ D(A∗ ) e A∗ |D(A) = A. Equivalentemente,
A é hermiteano se para todo φ, ψ ∈ D(A) vale
( ψ, Aφ ) = ( Aψ, φ ). (31)
D(A∗ ) = D(A) e A∗ = A.
Obviamente, A hermiteano implica A auto-adjunto, mas a inversão vale somente para operadores
contı́nuos. Os operadores que correspondem a observáveis na Mechânica Quântica devem ser auto-
adjuntos, por que eles sempre possuem uma BON de auto-vetores (generalizados), ver abaixo,
propriedade indispensável para a interpretação do formalismo.
Exemplo para um operador auto-adjunto: O operador de multiplicação (correspondente ao
observável posição), ou funções f (X̂), f : RD → R, desse operador com domı́nio
Z
2 D
D(f (X̂)) := {ψ ∈ L (R ) : f (x)2 |ψ(x)|2 dD x < ∞}.
(A − λ1 )ϕ = 0. (32)
10 Neste caso, obviamente o operador
A − λ1
não é injetor. Mais geralmente, o espectro de A, em sı́mbolos σ(A), é o conjunto dos números λ ∈ C tal que o operador
A − λ1 não possui um inverso contı́nuo. Supomos que o operador A possui auto-valores. Ele obviamente deixa
invariante o span de todos auto-vetores para todos auto-valores. Sendo hermiteano, ele também deixa invariante o
complemento ortogonal,
Hcont := {auto-vetores}⊥ .
Então podemos considerar a restrição de A em Hcont . Este operador obviamente não tem auto-valores, e o espectro
dele é chamado de espectro contı́nuo de A, em sı́mbolos σcont (A):
σcont (A) := σ(A|Hcont ).
Hilbert, 25/01/2021 9
( ϕ, (A∗ − λ̄1 )ψ ) = 0
( χ, (A∗ − λ1 )ψ ) = 0. (33)
(Lembra que agora ( χ, · ) não é necessarimente o produto escalar, mas sim a ação linear χ : D → C.)
As vezes escrevemos simbolicamente
(A − λ1 )χ = 0 (34)
em vez de (33).
Recordamos que num espaço de Hilbert de dimensão finita todo operador hermiteano possui
uma BON de auto-vetores. A afirmação análoga, o teorema espectral, vale no caso de dimensão
infinita para operadores auto-adjuntos.
Exemplo 10 i) A famı́lia {δa , a ∈ R} é uma BON contı́nua em L2 (R) de auto-vetores genera-
lizados do operador de multiplicação X̂ sobre D := C0 (R),11 pois para todo φ ∈ D e a ∈ R vale
X̂ ∗ φ = X̂φ e
( δa , X̂φ ) = a φ(a) = a ( δa , φ ).
ii) A famı́lia de ondas planas {ek , k ∈ RD }, ver Eq. (14), é uma BON contı́nua em L2 (RD )
de auto-vetores generalizados do operador (correspondente ao momento na mecânica quântica),
Pj := 1i ∂x
∂
j
, sobre D := C0∞ (RD ),12 pois para todo φ ∈ D e k ∈ RD vale Pj ∗ φ = Pj φ e
1 [
( ek , Pj φ ) = (∂j φ)(k) = kj φ̂(k) = kj ( ek , φ ).
i
Então, ek é um auto-vetor generalizado da componente-j do momento, Pj , com auto-valor gene-
ralizado kj .
iii) A mesma famı́lia de ondas planas no RD é uma BON contı́nua de auto-vetores generalizados
do operador Laplace ∆ sobre D := C0∞ (RD ), pois este operador é hermiteano e para todo φ ∈ D
e k ∈ R vale
[
( ek , ∆φ ) = (∆φ)(k) = −|k|2 ( ek , φ ).
O teorema espectral afirma que essa situação prevalece para todo operador auto-adjunto. Existem
vários enunciados equivalentes desse teorema. Os matemáticos preferem a forma usando a “medida
com valores projetores” [6, 7]. Nós vamos conhecer este teorema numa forma mais útil para a
mecânica quântica, a qual se encontra em [2] e [1].
Teorema 11 (Teorema espectral nuclear) Todo operador auto-adjunto  possui uma BON
generalizada de auto-vetores generalizados. Mais precisamente, existe
(O espectro contı́nuo pode conter auto-valores!) Os elementos chamaremos de auto-valores generalizados. Não é
difı́cil mostrar o seguinte fato:
Verifique-se que este operador é um projetor ortogonal.14 (Este fato vamos também mostrar em
frente, veja Eq. (37).) Ele é chamado o projetor espectral do operador  para o intervalo I. Vale
destacar que os projetores espectrais são únicamente associados com o operador A, enquanto que
os dados D, Ω, dµ(k), χk caracterizando a BON de auto-vetores generalizados para o operador A
não são únicos. A famı́lia de projetores EI , I ⊂ R é chamada a medida com valores projetores
associada com A. O teorema espectral pode ser formulado em termos dessa medida, ver [6, 7].
13 Em geral, a definição do espectro de um operador é diferente, mas no caso de um operador auto-adjunto ela
onde as funções f · g e f¯ são definidas por (f · g)(x) := f (x)g(x) e f¯(x) := f (x), e 1 é a função
constante: 1(x) = 1.
Como exemplo, aplicamos o cálculo funcional à função caracterı́stica cI de um intervalo I ⊂ R,
veja Eq. (22). Obviamente, o operador cI (Â) é justamente o operador EI definido na Eq. (35).
Como a função caracterı́stica satisfaz cI · cI = cI = cI , a Eq. (36) implica
cI (Â) cI (Â) = cI (Â) = cI (Â)∗ . (37)
Isto significa justamente que o operador cI (Â) é um projetor ortogonal, como afirmado acima.
Mecânica quântica. Na mecânica quântica, estados de um sistema são descritos por vetores
normados em um espaço de Hilbert, kψk = 1. Ademais, observáveis do sistema são descritos por
operadores auto-adjuntos neste espaço, e os possı́veis valores de um observável constituem justa-
mente o espectro do operador correspondente. A probabilidade que a medição de um observável
A resulta em algum valor no intervalo I ⊂ R, se o sistema for preparado no estado correspondente
a ψ ∈ H, é dada por
Z
2
kEI ψk ≡ ( ψ, EI ψ ) = dµ(k) |( χk , ψ )|2 , (38)
k:a(k)∈I
Nos consideramos uma região Ω ⊂ Rn limitada e conexa, cuja borda ∂Ω é uma hiper-superfı́cie
(localmente) suave. O Laplace é considerado como um operador no espaço de Hilbert L2 (Ω) com
2 domı́nios diferentes, correspondentes às condições de Dirichlet ou Neumann, respectivamente:
2
CD (Ω) := {f ∈ C 2 (Ω)| f (r) = 0 ∀r ∈ ∂Ω} (41)
2 2
CN (Ω) := {f ∈ C (Ω)| n · ∇f (r) = 0 ∀r ∈ ∂Ω}. (42)
Lemma 13 O operador Laplace, com um dos dois domı́nios (41) ou (42), satisfaz as seguintes
propriedades.
i) Ele é hermiteano com respeito ao produto escalar em L2 (Ω).
ii) Todos auto-valores são não-positivos (≤ 0). Com domı́nio (41), 0 não é um auto-valor, enquanto
com domı́nio (42), 0 é sim um auto-valor (com auto-vetores as funções constantes).
Comprovante.
Teorema 14 O operador Laplace, com um dos dois domı́nios (41) ou (42), possui uma BON de
2
auto-funções vn ∈ CD/N (Ω), n ∈ N0 , com auto-valores λn correspondentes,
∆vn = λn · vn ,
converge.
2
Corolário 15 Sejam vn ∈ CD/N (G) uma BON de auto-funções do operadors Laplace que satis-
fazem a seguinte propriedade: Existe um número M > 0 tal que para todo n ∈ N e todo r ∈ Ω
vale
|vn (r)| ≤ M. (45)
2r
i) Para f ∈ CD/N (Ω), r ∈ N, os coeficientes de Fourier caem como
c
|( vn , f )| ≤ . (46)
|λn |r
4 6
ii) Para f ∈ CD/N (Ω) a série (44) converge para f uniformemente, e para f ∈ CD/N (Ω) a série
N
X N
X
( vn , f ) ∆vn ≡ ( vn , f ) λn vn (47)
n=1 n=1
uniformemente.
Comprovante. Ad i). Recordamos a segunda identidade de Green:
Z I
n
(∆g)f − g∆f d r = (∇g)f − g∇f · da.
Ω ∂Ω
Na Eq. (IG) usamos a identidade de Green, e depois descartamos os termos de contorno, pois
ambos vn e f satisfazem a condição de contorno (ou de Dirichlet ou de Neumann). Repitindo esse
argumento r vezes, chegamos em
Z I
1 h r n r−1 r−1
i
( vn , f ) = v n ∆ f d r + (∇v n )∆ f − v n ∇∆ f · da
(λn )r
Z Ω ∂Ω
1 r n
= vn ∆ f d r.
(λn )r Ω
4
Ad ii). Usando (45), concluimos que para f ∈ CD/N (Ω) (r = 2) os termos da série (44)
satisfazem a cota
c
|( vn , f ) vn (r)| ≤
|λn |2
para todo r ∈ Ω. Como a série n |λn |−2 converge pelo Teorema 14, o critério de Weierstrass
P
(“teste M de Weierstrass”) é aplicável, afirmando que a série (44) converge uniformemente. Similar-
mente, para f ∈ CD/N 6
(Ω) (r = 3) os termos da serie (47) são uniformemente limitados por c|λn |−2 ,
então essa série converge uniformemente. Ademais,
P por umaPgeneralização do Lemma 18, o Laplace
pode ser posto em evidência do somatório, cn ∆vn = ∆ cn vn . Isso conclui a demonstração.
2.3.1 Intervalo em R.
Consideramos um intervalo Ω = [0, a] na reta real. O operador Laplace em uma dimensão é
justamente a segunda derivada, ∆f = f 00 . O teorema de Fourier implica que as seguintes três
famı́lias de funções são BON’s em L2 ([0, a]).
2
Condições de contorno de Dirichlet. Com domı́nio CD ([0, a]) , uma BON de auto-funções
do Laplace é dada por {vn , n ∈ N}, onde
r
. 2 . π
un (x) = sen (kn x), kn = n . (48)
a a
2
Condições de contorno de Neumann. Com domı́nio CN ([0, a]), uma BON de auto-funções
N
do Laplace é dada por {un , n ∈ N0 }, onde (kn como na Eq. (48))
q
2 cos(k x), n > 0,
. n
uN
n (x) =
a
(49)
√1 , n = 0.
a
CP2 ([0, a]) := {f ∈ C 2 ([0, a])| f (0) = f (a), f 0 (0) = f 0 (a) } (50)
3 EDPs
Consideremos as EDP’s de Poisson, difusão, e de onda, todas não-homogêneas, mas com condições
de contorno homogêneas (ou de Dirichlet ou de Neumann).
16 Hilbert, 25/01/2021
∆u = h em Ω, (52)
(Observa que os coeficientes de Fourier cn da função u são desconhecidos, enquanto que os coe-
ficientes ( vn , h ) de h são conhecidos.) Trocando (com justificativa posterior!) o Laplace com o
somatório infinito, a EDP (52) vira
X X
cn λn vn = ( vn , h ) vn
| {z } | {z }
n n
( vn , h )
cn = se λn 6= 0.
λn
. X ( vn , h )
u(r) = vn (r) (56)
λn
n:λn 6=0
1 ∂
∆− u(r, t) = h(r, t) (57)
D ∂t
para todo (r, t) ∈ Ω × R+ , a qual ainda deve satisfazer uma das condições de contorno (D ou N)
u(r, t) = 0 ∀(r, t) ∈ ∂G × R+
0 (D), ou (58)
n · ∇u(r) = 0 ∀(r, t) ∈ ∂G × R+
0 (N) (59)
onde u0 é uma função dada. A EDP (57) aparece na fı́sica como equação de difusão, onde u
significa a concentração de uma substância, D é o coeficiente de difuão, e h é uma “densidade de
fonte” (dividido por D) [3].
Como antes, o primeiro passo é determinar uma BON {vn } de auto-funções do operador Laplace,
2 2
com domı́nio CD (Ω) no caso de condição de contorno (D), e CN (Ω) no caso de condição de contorno
(N). Escrevemos u(r, t) =: ut (r) e h(r, t) =: ht (r) e consideremos t como parámetro. (A função
u0 (r) ≡ u(r, 0) é dada pela condição inicial (60).) As duas funções ut e ht são supostamente
contı́nuas, numa região compacta, e daı́ são em L2 (Ω). Fazemos as expansões em termos da BON
X X
ut = cn (t) vn , ht = ( vn , ht )vn . (61)
n n
(Observe que λn = −|λn | < 0.) As constantes cn (0) são determinadas pela condição inicial atraves
da expansão (61):
cn (0) = ( vn , u0 ). (63)
Concluimos que a solução da EDP (57) com condição de contorno (C) ou (N) respectivamente, e
condição inicial (60) deveria ser a série
Z t
. X
n 0
o
u(r, t) = cn (0)eλn Dt − D dt0 bn (t0 )eλn D(t−t ) vn (r), (64)
n 0
. .
com cn (0) = ( vn , u0 ) e bn (t) = ( vn , ht ). Consideramos apenas o caso homogêneo, h = 0:
18 Hilbert, 25/01/2021
4
Teorema 17 Supoem que os vn satisfazem a cota (45). Se u0 ∈ CD/N (Ω), a série
. X
u(r, t) = ( vn , u0 ) e−|λn |Dt vn (r)
n
Referências
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