Introdução À Bíblia - Prof DR Rodrigo Silva
Introdução À Bíblia - Prof DR Rodrigo Silva
Introdução À Bíblia - Prof DR Rodrigo Silva
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Prof. Dr. Rodrigo Silva
INTRODUÇÃO À BÍBLIA
1ª Edição
2017
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4
Sumário
Palavra do Professor autor
Sobre o autor
Ambientação à disciplina
Trocando ideias com os autores
Problematizando
Peculiaridades de um Livro
Nomes para a Palavra de Deus
Organização do Livro Sagrado
Antigo testamento
Pentateuco ou Torá
Livros Históricos
Livros Poéticos
Livros Proféticos
Novo Testamento
Geografia dos eventos bíblicos
Uma coletânea de Histórias
Um livro perigoso
Inspiração e revelação
5
Hebraico e Aramaico
Grego
Períodos Bíblicos
Período de reduplicação
Período da unificação textual
O Período das impressões
Período de crítica e de revisão
A Crítica Textual
O Trabalho da Crítica Textual
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Palavra do professor
Ao dar início a tarefa de cursar Teologia tem-se em mira vários objetivos, mas
sem dúvida o maior de todos é conhecer a revelação de Deus para o homem. A
Teologia cristã parte do pressuposto que Deus existe e que ele se revelou de várias
maneiras. Entretando a Biblia consitui a revelação especial de Deus para o homem.
Seu principal objetivo é revelar ao homem o plano da salvação. Por meio dessa
revelação o homem passa a compreender que o Deus único é composto por três
pessoas divinas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e que as Pessoas Divinas
planejaram a criação do homem bem como o plano para resgatá-lo do pecado e da
sua natureza caída.
O autor.
7
Sobre o autor
8
Ambientação
Que contraste não é mesmo? E as diferenças não param por ai. O conteúdo
de ambos os livros é assombrosamente diferente. De acordo com o Livro Vermelho
de Mão, “devemos apoiar tudo o que o inimigo combate e combater tudo o que o
inimigo apoia” e mais: “a revolução é uma insurreição, um ato de violência pelo qual
uma classe derruba a outra.”
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Já na contramão desta cultura temos os ensinos de Cristo que diz: “tudo o que
quereis que os homens vos façam, fazei a eles vós também” (Mateus 7:12). Além
disso temos o conselho de Paulo: “Não deixeis vencer do mal, mas vence o mal com
o bem” (ROMANOS 12:21).
Alguns podem argumentar que a Bíblia também provocou muitas mortes nos
tempos da inquisição, mas isso não é verdade. Foi a autoridade eclesiástica de então
que mandou matar em nome da fé. A leitura da Bíblia, além de proibida para a
população em geral, era um dos motivos da pena capital, pois muitos foram mortos
apenas por possuir em casa um exemplar do livro sagrado ou tentar lê-lo por conta
própria sem autorização da Igreja. Autoridade eclesiástica e ensinamentos bíblicos
não são necessariamente sinônimos perfeitos. A história, portanto, das Escrituras
Sagradas está bem distante daquela relacionada ao Livro Vermelho da China
Comunista.
Bons estudos!
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Trocando ideias com os autores
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Guia de Estudo: Após a leitura das obras, realize uma comparação entre as ideias
dos autores, em seguida faça um texto dissertativo-argumentativo sobre o que mais
lhe chamou atenção.
Aula 01 Aula 02
Aula 03 Aula 04
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Problematizando
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ESTRUTURA DA BÍBLIA
1
CONHECIMENTO
HABILIDADE
Ser capaz de compreender e interpretar textos sobre o tema bem como ser
capaz de fazer exposição escrita, pública em eventos, palestras, seminário em
ambiente acadêmico e eclesiástico acerca do tema.
ATITUDE
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Peculiaridades de um Livro
Vejamos algumas:
1) A Bíblia foi o primeiro livro impresso no ocidente por Johnnes Gutenberg entre
1450 e 1455. Ela também foi o primeiro livro impresso em português, no ano
de 1487 na região do Algarve, Portugal.
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5) A Bíblia é, sem dúvida, o livro mais controverso da história. Nomes de peso
como Emanuel Kant (1724-1804), Abraão Lincoln (1809-1865), Isaac Newton
(1643-1727) o amam e recomendam sem qualquer hesitação. Por outro lado,
nomes igualmente de peso o rejeitam e desprezam sua leitura. Voltaire (1694-
1778), Nietzsche (1844-1900) e Sartre (1905-1980) são alguns deles. Seja
como for, percebe-se que não é um livro necessariamente dos menos
intelectuais, pois embora haja mentes brilhantes que o rejeitem, há outras que
o amam profundamente.
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Nomes para a Palavra de Deus
Não encontramos nas Escrituras o nome “Bíblia”. Esse título foi usado pela
primeira vez em relação à Palavra de Deus, por João Crisóstomo, um patriarca e
reformador de Constantinopla (354-407 d.C.).
Pois bem, com a diferença de apenas uma letra, Byblos virou Biblos e
passou a significar “livro”. O diminutivo de livro em grego é Biblion que quer dizer
livrinho e o plural é Biblia que quer dizer “livrinhos”. Foi justamente por ser uma
coleção de pequenos livros que a Escritura Sagrada passou a ser chamada de Bíblia,
nome este que ficou até os dias de hoje.
Tudo indica que foi Crisóstomo, um autor cristão do IV século, que usou pela
primeira vez o nome Bíblia para se referir ao Antigo e Novo Testamento (BRUCE,
1988). Contudo, há indícios de que já em 223 d.C., o título era vez ou outra usado
por seguidores do cristianismo para referirem-se aos escritos dos apóstolos e, antes
deles, judeus helenistas que viviam em Alexandria valiam-se da expressão “ta bíblia”
(os livrinhos) para indicar uma tradução grega do Antigo Testamento normalmente
conhecida como Septuaginta. Mais à frente você conhecerá a história dessa
tradução.
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Neviim (profetas) e Ketuvim (escritos). Estas, por sua vez, representam as três
maiores divisões da Escritura, embora também seja comum referirem-se a ela como
apenas a Torá ou a Lei e os Profetas. Esta divisão, aliás, já era conhecida nos
tempos do Novo Testamento, pelo que Jesus fez uso dela em diversos momentos
de seu ministério (cf. por ex. Mateus 7: 12; 11: 13; 22: 40; Lucas 10:26; 16: 16, 17;
24:44; João 1: 45; 10:34).
O nome Antigo Testamento foi criado por Melito de Sardis em cerca de 170
d.C. para referir-se aos livros sagrados escritos antes da vinda de Jesus Cristo a
esse mundo e Novo Testamento, para os que foram escritos depois de sua vinda. A
primeira parte, portanto, seria uma espécie de prenúncio do Messias que haveria de
vir e a segunda um anúncio do Messias que veio e que voltará. A primeira conta a
história do povo da criação e queda do Mundo, mas se concentra na cidade de Israel.
Já a segunda concentra-se no ministério de Jesus e na história da Igreja Cristã
primitiva.
Por que Antigo e Novo Testamento e não Antiga e Nova Escritura? É bem
verdade que, algumas das antigas versões gregas preferiam chamar essas porções
de Antiga e Nova Aliança. Mas, ao que tudo indica, os teólogos consideraram que
sendo a aliança ou o acordo de Deus com os homens algo que demanda muito mais
a ação divina que a ação humana, preferiram traduzir o termo por testamentum que
quer dizer justamente isso, um testamento que Deus em pessoa deixou para nós.
Uma herança em forma de livro (VOS 1915).
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Organização do Livro Sagrado
Como você pode ver na seção acima, não se trata na verdade de um livro,
mas de uma coleção de pequenos livros que juntos formam a famosa Bíblia Sagrada.
Eles foram escritos por aproximadamente 40 autores num período de
aproximadamente 1600 anos que vai do século XV a.C. ao final século I d.C.
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Torá
Bereshit (No princípio...) (Gênesis)
Shemot (Os nomes...) (Êxodo)
Vayikra (E Ele chamou...) (Levítico)
Bamidbar (No deserto...) (Números)
Devarim (As palavras...) (Deuteronômio)
NEVIIM (Profetas):
Yehoshua (Josué)
Shoftim (Juízes)
Shmuel (I & II Samuel)
Melakhim (I & II Reis)
Yeshayah (Isaias)
Yirmyah (Jeremias)
Yechezqel (Ezekiel)
KETUVIM (Escritos):
Tehilim (Salmos)
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Mishlei (Provérbios)
Iov (Jó)
Shir Ha-Shirim (Cântico dos cânticos)
Ruth
Eichá (Lamentações)
Kohelet (nome do autor) (Eclesiastes)
Esther
Daniel
Ezra & Nechemyah (Nehemia) (tratado como um livro)
Divrei Ha-Yamim (As palavras dos diasdays) (Crônicas)
Além disso, existe uma discussão (mais à frente falaremos dela) concernente
aos chamados livros apócrifo ou deuterocanônicos. Trata-se de uma coleção de
livros que não faziam parte do cânon original da Bíblia Hebraica (e por isso foram
rejeitados pelos protestantes), mas que terminaram aceitos e incluídos pelas igrejas
Ortodoxa, Etíope e Católica.
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Figura 1
Como você pode ver pelo desenho acima, os cinco primeiros livros (coloridos
de marrom) foram escritos por Moisés e recebem o nome de Pentateuco. Eles trazem
a história do mundo desde a criação até à primeira parte da história do povo hebreu
e seu período de peregrinação no deserto, quando ainda não eram uma nação
propriamente dita. Isso vai desde as origens da humanidade até por volta do século
XIV a.C.
A seguir temos mais três livros (também em tom marrom) que narram
episódios ocorridos no tempo em que Israel se assentava na terra prometida e vivia
governado por Juízes e Sacerdotes. Já a coleção seguinte (em tom verde) dá
sequência à história contando uma nova fase administrativa em que Israel agora era
governado por reis. Essa fase foi interrompida pela tragédia do cativeiro da Babilônia
22
que pôs fim à monarquia de Israel. Ambas as coleções são classificadas como Livros
Históricos e cobrem um período de aproximadamente 700 anos que vai desde o
século XIV até ao século VI a.C. (Ver figura 1)
23
O Talmude é uma coleção de 63 tratados judaicos envolvendo assuntos religiosos,
legais, éticos e históricos compilados por antigos rabinos. Ele foi publicado no V
século d.C. na Babilônia onde viviam muitos judeus. É a mais importante coleção de
leis e interpretações do judaísmo seguida até hoje pelos judeus ortodoxos.
Veja Halachot Gedolot Capítulo 76; Seder Olam Rabbah, capítulo 20; Comentário do
Rabino Shlomo Ytizchaki Rashi ao Megillah, ibid.
Figura 2
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A longa coleção como mostra a (Figura 1) – dividida em dois tons de verde
– são as cartas ou epístolas cristãs. As treze primeiras são atribuídas à autoria de
Paulo e, por isso, chamadas Epístolas Paulinas. As demais são conhecidas como
epístolas universais e foram escritas por outros autores.
Epístola vem do grego antigo e significa uma espécie de carta especial enviada a
um amigo ou a uma comunidade em particular, tratando de assuntos políticos,
filosóficos, morais ou teológicos.
A Bíblia demorou muitos anos para atingir a forma e o conteúdo que hoje
conhecemos. Ela começou a ser escrita no século XV a.C. e terminou no final do I
século d.C. Logo foram mais de 1.400 anos de produção efetuada por certa de 40
diferentes autores.
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(Itália) e partes da moderna Grécia e Turquia (que faziam parte do antigo Império
Romano).
Antigo Testamento
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Levítico Nome de uma Leis e Moisés – ca.
das tribos de regulamentos 1450 a.C.
Israel acerca do oficio
no santuário.
Números Relativo so censo Censo do povo Moisés – ca.
do povo hebreu hebreu 1450 a.C.
promovido
durante sua
caminhada pelo
deserto
Deuteronômio Repetição das Moisés pronuncia Moisés – ca.
leis três discursos de 1450 a.C.
despedida antes
de morrer. Neles
recapitulou com o
povo as leis
dadas por Deus
Livros históricos
27
1:1; 2 Cr 36:22 ca.
600 a.C.
Crônicas I e II Relatos História da Esdras (segundo
Monarquia de a tradição) 450
Saul à chegada a.C.
de
Nabucodonosor
Esdras Nomeado Restauração de Esdras (porque
segundo o autor Judá na terra de muito se fala dele
Canaã na primeira
pessoa) ca. 450
a.C.
Nemias Nomeado Recnstrução de Neemias
segundo o Jerusalém (segundo a
personagem tradição) ca. 450
principal a.C.
Ester Nomeado Uma história de Mardoquel (?)
sengundo a heroísmo e cerca de 500 a.C.
personagem libertação dos
principal judeus durante o
governo da
Pérsia
Livros Poéticos
28
Cantares Cânticos Este poema Salomão
descreve o gozo e (segundo a
o êxtase do amor. tradição) 960 a.C.
Simbolicamente
tem sido aplicado
ao amor de Deus
por Israel
Livros Proféticos
29
Daniel Segundo o Daniel se manteve fiel a Daniel ca. 600
autor Deus, mesmo enfrentando a.C.
muita pressões quando
cativo na Babilônia. Este
livro inclui as visões
proféticas de Daniel.
Profetas menores – São os doze últimos livros do AT, assim conhecidos por
seu pequeno volume literário.
30
esperança e
restauração. Especialme
nte notável é um versículo
em que resume o que
Deus requer de nós (6:8).
Naum Segundo o Naum anunciou que Deus Naum 612.C.
autor destruiria o povo de Nínive
por sua crueldade na
guerra.
Habacuque Segundo o Este livro apresenta um Habacuque
autor diálogo entre Deus e 600 a.C.
Habacuque sobre a justiça
e o sofrimento.
Sofonias Segundo o Este profeta anunciou o Sofonias 630
autor dia do Senhor, que trazia a.C.
juízo a Judá e às nações
vizinhas. Esse dia, que
haveria de vir seria de
destruição para muitos,
mas um peueno
remanescente, sempre fiel
a Deus, sobreviveria para
abençoar o mundo inteiro.
Ageu Segundo o Depois que o povo voltou Ageu 520 a.C.
autor do exílio, Ageu o
admoestou para que
dessem prioridade a Deus
e reconstruíssem em
primeiro lugar o templo,
mesmo antes de
reconstruírem suas casas.
Zacarias Segundo o Como Ageu, Zacarias Zacarias 520
autor instou o povo a reconstruir a.C.
o templo, assegurando-
lhes ajuda e benção de
Deus. Suas visões
apontavam para um futuro
brilhante.
Malaquias Segundo o Após o retorno do exílio, o Malaquias 450
autor pov voltou a descuidar de a.C.
sua vida
religiosa. Malaquias
passou a inspirá-los
novamente, falalndo-lhes
do "Dia do Senhor".
Novo Testamento
31
uma só ótica. Depois, em separado, vem o Evangelho de João que segue um
estilo e fontes próprias.
32
Filho de Deus. Seu
estilo literário é
reflexivo e cheio de
imagens e figuras.
33
3 – Cartas trito-paulinas: epístolas que, segundo alguns comentaristas,
dificilmente seriam do apóstolo Paulo, pois usam uma linguagem diversa e
tratam de problemas que existiam nas comunidades no final do I Século.
34
aceita e nos
liberta de
nossos pecados
I e II Coríntios Segundo o Uma análise dos Paulo, 57
destinatário problemas d.C.
enfrentados pela
igreja de
Corinto.
Discenção,
imoralidade,
problemas
quanto a forma
da adoração
pública e
confusão sobre
os dons do
Espírito. Paulo
escreve sobre
as dificuldades
que alguns
falsos profetas
haviam trazido
ao seu
ministério.
Gálatas Segundo o A liberdade da Paulo, 57
destinatário pessoa que crê d.C.
em Cristo com
respeito à
Lei. Paulo
declara que é
somente pela fé
que as pessoas
são
reconciliadas
com Deus.
Efésios Segundo o O tema central Paulo, 63
destinatário desta carta é o d.C.
propósito eterno
de Deus: Jesus
Cristo é a
cabeça da
igreja, que é
formada a partir
de muitas
nações e raças.
Filipenses Segundo o A enfase desta Paulo 64
destinatário carta está no d.C.
gozo que o
crente em Cristo
encontra em
todas as
35
circunstâncias
da vida.
Colossenses Segundo o o apóstolo Paulo Paulo 63
destinatário conclama aos d.C.
cristão de
Colossos que
abandonem
suas
superstições e
tomem a Cristo
como o centro
de sua vida.
I e II Segundo o O apóstolo Paulo 49 e
Tessalonicenses destinatário Paulo dá 52 d.C.
orientações aos
cristãos de
Tessalonica a
respeito do
estado dos
mortos e da
segunda vinda
de Cristo.
I e II Timótes Segundo o Estas cartas Paulo, 63
destinatário serviram de d.C.
orientação a
Timóteo, um
jovem líder da
igreja
primitiva. O
apóstolo Paulo
lhe dá conselhos
sobre a
adoração, o
ministério e os
relacionamentos
dentro da igreja.
Tito Segundo o Tito era ministro Paulo 64
destinatário em d.C.
Creta. Nesta
carta Paulo o
orienta sobre
como ajudar os
novos cristãos.
Filemon Segundo o Filemon é Paulo 63
destinatário instado a d.C.
perdoar seu
escravo
Onésimo que
havia
fugido. Filemon
deveria aceitá-lo
36
de volta como a
um amigo em
Cristo.
Hebreus Segundo o Nesta carta, o ?, 62 d.C.
destinatário autor exorta os
novos cristãos a
não observarem
mais os ritos
cerimoniais do
judaismo, pois,
em Cristo, eles
já foram todos
cumpridos.
37
perseguidos por
causa de sua fé.
Nelas, Pedro
adverte os
cristãos sobre os
falsos mestres e
os estimula a
continuarem
leiais a Deus.
I, II e III João Segundo o autor A primeira carta João ca. 90 d.C.
explica deste
corpus traz
verdades básicas
sobre a vida cristã
com enfase no
mandamento de
amarem uns aos
outros. A seguir,
temos outra carta
dirigida à
"senhora eleita e
aos seus filhos".
Nela o autor
adverte os
cristãos quanto
aos falsos
profetas.
Finalmente, em
contraste com
sua segunda
carta, esta fala da
necessidade de
receber os que
pregam a Cristo.
Judas Segundo o autor Judas (que não é Judas ca. 65 d.C.
o apostolo que
traiu o senhor),
possivelmente
outro irmão de
Jesus e de Tiago.
Ele adverte seus
leitores sobre a
má influência de
pessoas alheias à
irmandade dos
cristãos.
38
Apocalipse Nomeado Foi escrito para João 90 d.C.
segundo o estilo. encorajar os
cristãos que
estavam sendo
perseguidos e
para firmá-los na
confiança de que
deus cuidará
deles. Usando
símbolos e
visões, o escritor
ilustra o triunfo do
bem sobre o mal
e a criação de
uma nova terra e
um novo céu
<arte>
39
Figura 3
40
1- Todos geralmente gostam de histórias. Adultos, crianças, iletrados ou eruditos
e todos têm facilidade para reproduzir pelo menos a essência de seu
conteúdo. Assim fica mais fácil, às gerações que se seguem, transmitir o
conteúdo da revelação divina.
41
Um livro perigoso
A Bíblia traz sobre si uma reinvindicação muito séria que, se for verdadeira,
faz dela o livro mais importante de todos os tempos e se for mentirosa o mais terrível
que a humanidade já produziu. Ela diz que é de origem divina: “Toda a Escritura é
inspirada por Deus e proveitosa para o ensino, para a repreensão, para a correção
e para a instrução na justiça” (II Tim. 3:16). Por isso o escritor George Bernard Shaw
estava de certo modo correto quando chamou a Bíblia de “o livro mais perigoso do
mundo”.
Afinal de contas, um livro que se declara vindo de Deus só pode ser creditado
a dois fatores: histerismo ou inspiração. Seja qual for a alternativa adotada, é
impossível ficar neutro em relação a ele, principalmente nós que vivemos no
ocidente. Ou ela é inteiramente absoluta ou incrivelmente obsoleta.
Imagine agora que a Bíblia nunca houvesse sido escrita? Ou preservada até
nossos dias? O que teria acontecido? Uma resposta precisa é difícil de ser dada,
mas James Kennedy e Jerry Newcombe lançaram-se ao desafio de encontrar uma
resposta. Eles escreveram juntos o livro What If the Bible Had never Been Written?
(E Se a Bíblia nunca houvesse sido escrita?) e concluíram que praticamente todos
os grandes exploradores, cientistas, escritores, artistas, políticos e educadores do
ocidente foram tão influenciados por este livro que sem ele esses homens jamais
teriam feito as contribuições que fizeram.
Exagero? Difícil dizer. Mas pelo menos uma coisa pode ser dita e que calaria
muitos que consideram a Bíblia um livro sem significado positivo. Dizem que certa
vez um antropólogo descrente da Bíblia estava entrevistando o missionário Kata
Ragoso, da nova Guiné. Em uma de suas perguntas ele insinuou o que o nativo
achava de ter sua cultura terrivelmente modificada pelos hábitos trazidos por esse
livro de brancos. Era realmente um motivo de agradecimento?
42
Se é motivo para eu agradecer, não sei – respondeu Ragoso – mas para
você deveria ser, caso contrário eu o estaria agora cozinhando para o meu almoço
conforme o costume de meus ancestrais que praticavam canibalismo!
Isso mostra que o mundo pode estar repleto de bons e excelentes livros, mas
só a Bíblia pode se dizer inspirada. E o que significa essa palavra “inspiração”?
Ali, ele vem da junção de duas palavras gregas Theos (que quer dizer Deus)
e Pneustos (que quer dizer sopro, espírito). Logo, algo que foi soprado por Deus, ou
simplesmente “inspirado” por ele – o mesmo sentido da versão latina.
Inspiração e revelação
43
Quando Paulo diz que toda Escritura é inspirada por Deus, está
evidentemente fazendo referência à já mencionada coleção de livros sagrados que
ele conhecia em sua época, a saber: a Lei, os Profetas e os Salmos conforme vimos
em Lucas 24:44. Todos vieram de Deus e para os cristãos ambos (Antigo e Novo
Testamentos) são considerados Escrituras (I Cor. 2:10-13; I Timóteo 5:18; II Pedro
3:15-16).
Isso nos leva a entender que a inspiração envolve, via de regra, um agente
humano usado por Deus. É, noutras palavras, a operação divina que toma conta do
autor sagrado, esclarecendo-o, guiando-o, assistindo-o na execução de sua tarefa.
Foi isso que o autor de Hebreus quis dizer ao afirmar que Deus falou nos tempos
antigos aos pais pelos profetas (Heb 1:1). Mas como se dava esse processo?
44
De acordo com o que a própria Bíblia nos dá a entender, com a história de
Gênesis capítulos 1 a 3, não era plano original de Deus usar um livro para se
comunicar com os seres humanos. Ao que tudo indica, Adão e Eva tinham franca
comunhão com seu Criador e, possivelmente, outros agentes celestiais.
Mas a entrada do pecado causou uma ruptura entre criatura e Criador (Isa.
59:2). O Senhor agora tinha de usar outros meios de se comunicar com o ser humano
e a revelação nos indica alguns deles:
1 – anjos vindos em forma humana (Zac. 1:9; Luc. 1:11, 18, 19).
2 – visões (Daniel 7:2; Apoc. 1:19)
3 – sonhos (Números 12:6; Gênesis 37:5 e 9).
4 – a impressão do Espírito Santo (II Pedro 1:21; II Sam. 23:11 e 12).
5 – as obras da natureza (Romanos 1:20; Col. 1:13-18)
6 – revelações especiais feitas até por quem não é profeta (Mateus 27:19)
A Bíblia diz que os que foram eleitos para a tarefa de produzir a Bíblia eram
“movidos pelo Espírito Santo de Deus” (II Pedro 1:21), logo, as palavras, expressões,
concatenação das ideias poderiam até ser humanas mas a autoria em última
instância pertencia a Deus. O teólogo alemão Karl Rahner (1961) encontrou um
modo interessante de explicar esse fenômeno. Ele percebeu que o termo latino
“autor” para designar Deus como autor das escrituras poderia ser um tanto dúbio,
então, ele se lembrou que em alemão você pode falar de alguém como autor literário
(Verfasser) ou como como originador de um livro (Urheber). Assim, segundo Rahner,
45
Deus originou os livros sagrados, isto é, propiciou que fossem produzidos, mas não
os escreveu no sentido de que ditou suas palavras ou utilizou-se do profeta como se
fosse uma máquina de escrever ou um teclado de computador ele inspirou os
pensamentos e ensinos na mente de seus servos, mas a linguagem e as imagens
usadas eram do próprio profeta em meio à cultura e cosmovisão em que ele estava.
Varios povos, além dos judeus, diziam possuir mensageiros com dom
profético, entre eles estavam os mulçumanos, os sibilinos e os gregos, dentre outros.
No caso bíblico, a orientação é checar se um profeta vem ou não de Deus pois assim
como há verdadeiros profetas também há falsos líderes dizendo-se inspirados por
Deus quando na verdade não receberam nenhuma mensagem do Altíssimo (cf Deut
18:20-22; Mat 7:15-20; Rom 16:17-18; I Tes. 5:20-21)
46
Por isso, é possível dizer que a Escritura também tem característica
autoritativa. Ela não pode ser desrespeitada (João 10:35), nem violada sem
consequências (Mateus 5:17-20). Ela vem de Deus (Mateus 22:31; II Pe 1:18-20).
Foi revelada e inspirada por ele.
A Bíblia está repleta de expressões como: “e falou o Senhor”, “eis o que diz
o Senhor”, “veio a mim a palavra do Senhor”. Daí estar corretíssimo referir-se a esse
conjunto de revelações como sendo a “Palavra de Deus”. A propriedade de
denominarmos o conjunto destas revelações de “A Palavra de Deus”.
Etimologicamente, revelação vem do latim “revelo”, que significa descobrir,
desvendar, levantar o véu. Revelação significa, portanto, descobrimento,
47
manifestação de algo que está escondido. A palavra grega correspondente à latina
“revelação” é “apocalipse”.
Por isso é importante ao se falar de “inspiração” bíblica, ter bem claro também
o que ela não é:
48
4 – Inspiração não é onisciência. Ou seja, o projeta muitas vezes se limitava
a reproduzir aquilo que via, conforme o Senhor lhe mostrava. Ele mesmo,
muitas vezes, não entendia plenamente todas as nuanças daquilo que o
Senhor comunicava nem discernia os detalhes do futuro cumprimento de suas
profecias. Daniel é um caso clássico. A Bíblia diz que ele chegou a adoecer
por não compreender perfeitamente tudo o que vira em visão e, ao que tudo
indica, mesmo por ocasião de sua morte ainda guardava muitas incógnitas
em seu coração. Muitos que vierem depois dele, entenderiam suas profecias
melhor do que ele mesmo (Daniel 12:4 e 9).
49
Pelo contrário, eles eram serem pensantes que interagiam com a mensagem
que recebiam de Deus.
7 – A inspiração não é uma mera reflexão. Essa ideia, hoje pouco em voga,
fez sucesso nos anos 1920 quando foi pela primeira vez exposta no livro “Eu
e TU” escrito pelo filósofo existencialista Martin Buber. Ele a chamou de
Teologia do Encontro. Na sua opinião, Deus e o profeta se encontravam
misticamente, mas Deus não falava nada. Apenas deixava-se sentir. Então,
depois de um tempo, o profeta escreve uma reflexão pessoal de seu encontro
com Deus e os homens a canonizam. Um dos grandes divulgadores desta
teoria para os arraiais do cristianismo foi Emil Brunner.
Existem, portanto, cinco textos principais que você deveria aprender para
entender essa ideia de revelação e inspiração bíblica.
Observe abaixo:
3 – Mateus 5:17-18 – “Não cuideis que vim destruir a Lei ou os profetas: não vim ab-
rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo, que até que o Céu e a Terra
passem, nem um jota ou til se omitirá da Lei, sem que tudo seja cumprido”.
50
4. João 10:35 – “A Escritura não pode ser anulada”.
51
O CÂNON BÍBLICO
2
CONHECIMENTO
HABILIDADE
ATITUDE
52
Como foram escolhidos os livros da Bíblia?
Seja como for, o que nos interessa por ora é descobrir por que estes e não
outros livros foram incorporados no cânon das Escrituras. A resposta é simples:
porque estes foram inspirados por Deus para esse fim. Mas como saber quais foram
inspirados?
Basta uma pesquisa na Internet e você verá uma quantidade enorme de sites
dizendo que este concílio, convocado pelo imperador Constantino, foi o primeiro
encontro de todos os bispos da Igreja Cristã, e que nele inventaram ou editaram o
Novo Testamento removendo, por exemplo, textos que narravam um casamento
entre Jesus e Maria Madalena ou que negavam a divindade de Jesus.
Ainda segundo essa teoria, foi ali que queimaram ou proibiram a leitura de
muitos outros evangelhos que continuam verdades históricas sobre Jesus que não
foram aprovadas pela igreja. Esses evangelhos foram considerados apócrifos e
banidos do cristianismo oficial.
53
no concílio e o que os mais antigos historiadores falaram a respeito dele. O
imperador Constantino, por exemplo, que convocou o encontro, não tinha nenhuma
cultura formal ou teológica para decidir nada.
Embora ele fosse realmente um líder político, sua intenção não era tomar
partido de um ou outro lado, mas fazer com que a igreja que ele estava apoiando
eliminasse divisões internas que poderiam prejudicar o processo. Estas divisões
eram em concernentes à relação divina entre Jesus e Deus Pai; a construão da
primeira parte de um credo da igreja, a fixação da data da páscoa e a promulgação
de do chamado direito canônico que seria um conjunto de leis e regulamentos
adotados pelos líderes da igreja para a organização do cristianismo em Roma.
Um cânone ou cânon é um termo que deriva da palavra grega kanon, que designa
uma vara utilizada como instrumento de medida, e que normalmente se caracteriza
como um conjunto de regras (ou, frequentemente, como um conjunto de modelos)
sobre um determinado assunto.
54
O cânon Muratoriano escrito 150 anos antes do concílio já mencionava os
evangelhos que fariam parte da Bíblia. Esse mesmo cânon, juntamente com
Origenes (outro escritor antigo do cristianismo) possivelmente já utilizavam os 27
livos que temos hoje no Novo Testamento. Igualmente, outros autores que viveram
bem antes do concílio – como por exemplo, Papias, Justino e Ireneu de Lion -
também já abordavam a questão dos evangelhos e dos livros neotestamentários que
seriam ou não inspirados por Deus (ACKROYD e EVANS, 1970).
55
do cristianismo, é possível ver aqui outra hipótese: de que já havia um cânon quase
totalmente sistematizado. Caso contrário, a tarefa de Marcião se limitaria a criar um
cânon e não rejeitar uma lista já existente.
56
A questão era confirmar se sua “consciência profética” era verdadeira ou charlatã e
havia critérios para isso. Afinal, embora houvesse a advertência dada pelo próprio
Deus para não se desprezassem as profecias (I Tes 5:20) e que cressem nos
profetas a fim de prosperar e estar seguros (II Cron. 20:20), o povo também era
orientado a não acreditar rapidamente em qualquer um que se dizia mensageiro do
Senhor. "Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se
procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora." I
JOÃO 4:1 (veja também Mateus 7:15).
57
próprio apóstolo Pedro reconheceu-as como inspiradas por Deus equivalentes às
demais Escrituras Sagradas (II Pedro 3:15-16). Paulo, por sua vez, citou uma
expressão de Cristo possivelmente retirada de Lucas 10:7 e a introduziu com a
expressão “Pois assim declara a Escritura” (I TIM. 5:18).
A Igreja Cristã foi definida em Efésios 2:20 como uma casa “fundamentada
nos apóstolos e profetas”. Ora, tal expressão indica que eles já trabalhavam com
escritos tanto de um grupo quanto de outro. Logo, essa larga aceitação de livros
ainda nos tempos apostólicos em contraste com umas poucas disputas ocorridas
posteriormente indicam que eles já tinham bem amadurecida a ideia de possuírem
uma coleção de escritos inspirados. É possível, contudo, que alguns destes escritos
não tenham sobrevivivo até nossos dias.
Um caso exemplar seria a forte suspeita de que Paulo havia escrito mais de
duas cartas aos coríntios e que, infelizmente, se perderam. Em duas passagens, ele
se refere a conteúdos enviados à igreja mas que não estão em nenhuma parte das
cartas atuais.
Em I Coríntios 5:9 ele fala de uma carta anterior, de modo que a que
chamamos Primeira Coríntios na verdade não foi a primeira. Já em II Coríntios 2:4
ele diz que escreveu anteriormente aos membros em meio a muita tribulação e
angústia, mas os estudiosos não conseguem ligar com o conteúdo de Primeira
Coríntios de modo que são grandes as possibilidades de haver outra(s) cartas
perdidas de Paulo.
Mas, por que algumas cartas se perderam? Por que não foram preservadas?
Não o sabemos. O máximo que se pode dizer é que o que foi preservado por Deus
58
foi o suficiente para a nossa salvação e não é fruto de decisões conciliares
posteriores.
Que critérios, portanto, teria a Igreja cristã primitiva para reconhecer os livros
que eram inspirados por Deus?
59
Por evidências indiretas e citações de vários autores antigos, eis algumas
perguntas básicas que eles provavelmente fariam:
1 – Este livro fora escrito por um profeta ou seguidor direto de Cristo de quem as
pessoas davam bom testemunho?
2 - Os apóstolos ainda vivos aprovavam seu conteúdo ou eram seus autores diretos?
4 – O livro que ele escrevera era doutrináriamente harmônico com a inspiração prévia
encontrada em outros autores reconhecidamente inspirados?
Lembre-se que esses critérios tinham um sentido especial aplicado a uma época em
que havia testemunhas oculares ainda vivas, que presenciaram os acontecimentos
ocorridos no período apostólico, especialmente relacionados ao tempo em que Jesus
andou pela terra.
60
Malaquias, Daniel (não o profeta) e Simão, o justo. Isso teria acontecido por volta do
ano 450 a.C.
O bem da verdade deve ser dito que o livro de II Macabeus – que não faz
parte do cânon judaico, mas é histórico – afirma que Neemias “fundou uma
biblioteca, recolheu os livros sobe os reis e profetas e os escritos de Davi e as cartas
dos reis sobre ofertas voluntárias” (2:13-15). Isso está em harmonia com o relato já
mencionado de Neemias 8 e 9, segundo o qual o sacerdote e escriba Esdras havia
trazido a Lei (ou uma cópia dela) de volta da Babilônia para Jerusalém. Tudo isso
por volta do mesmo período em torno do ano 450 a.C.
61
Por fim, existe uma teoria mais recente proposta por Heinrich Graetz em
1871, segundo a qual teria havido um concilio de rabinos em Jamnia por volta do
ano 90 d.C. e ali foi estabelecido o cânon das Escrituras segundo o judaísmo. Mas
essa conclusão hoje também caiu em descrédito e praticamente nenhum
especialista valida sua argumentação (BROWN, 1990; LEWIS 1992).
Na verdade não existe ainda um consenso claro que permita afirmar quando,
como e por que o cânon Hebraico foi criado. Nem o achado dos manuscritos de
Massada ou do mar Morto lançou qualquer luz adicional a esse respeito. Aliás,
autores conceituados como Jacob Neusner (2001) chegam a supor que até ao
segundo século, e mesmo mais tarde, nenhum Cânon nunca foi formalmente criado
pelos judeus e que, ao contrário, o conceito de Torá (Lei) teria sido ampliado para
incluir também a Mishná, a Toseftá, o Talmude e o Midrashin, todos os documentos
e comentários legais sobre religião escritos pelos rabinos do judaísmo tardio.
Ao que tudo indica no período patriarcal que vai de Abraão até ao período
da escravidão no Egito, o povo hebreu não possuía nenhum escrito sagrado. Sua
tradição teológica era passada oralmente de pai para filho. As comunicações divinas
eram feitas a certos “videntes” (profetas, no caso) por meio de sonhos, visões ou
vozes – prática essa ainda existente mesmo nos tempos da monarquia (cf. I Samuel
28:6).
62
Com Moisés, no entanto, esse “silêncio escriturístico” será quebrado e ele
começa a produzir os primeiros livros que desde o início foram reconhecidos pelo
povo como sendo de procedência divina. A própria preocupação dos antigos em
preservar com cuidado esses manuscritos indica que eram textos muito especiais
(Êxo. 40:20; Deut. 17:18; 31:24 – 26; Josué 24:26; I Samuel 10:25; II Reis 22:8).
Referências posteriores à Lei (Isaias 1:10; 2:3; Oseias 4:6; 8:1; Amós 2:4;
Miqueias 4:2) indicam que o povo tinha um conjunto de textos legais e religiosos aos
quais deveriam prestar a atenção. Passagens como Jeremias 18:18; Zacarias 3:4 e
Ageu 2:11aumentam a hipótese de que era obrigadção dos sacerdotes preservar o
conteúdo destes escritos e ensiná-los ao povo.
63
Mas isso é diferente do que diz a Alta Crítica (ainda falaremos sobre ela)
segundo a qual a Bíblia seria uma colcha de retalhos autorais que foram sendo
colecionados ao longo do tempo e costurados por um editor final na forma que hoje
os conhecemos. As anotações editoriais e os arranjos que nos referimos são
limitados. Por exemplo, no livro de Daniel 7 e 8 toda a visão do profeta aparece na
primeira pessoa do singular – o que indica um relato pessoal das visões escrito pelo
próprio profeta. Contudo, no começo do capítulo há uma anotação da data e uma
referência ao autor da visão dada em terceira pessoa que parece indicar a presença
de um editor final que fez a compilação das visões de Daniel (que possivelmente
estivessem separadas) e as organizou por ordem cronológica.
O mesmo se pode dizer de passagens como Gênesis 11:31 que diz: “Harã
morreu na presença de seu pai Terá, em sua terra natal, chamada de Ur dos
caldeus. Gênesis”. Ora, pela cronologia Bíblica isso teria ocorido no segundo milênio
a.C. e fora escrito por Moisés em torno do século XV a.C. Ocorre, no entanto, que
não há registro da presença dos caldeus no sudeste da Mesopotâmia antes do I
milênio a.C. e eles só começaram a governar cidades locais por volta do XI século
a.C. Logo, “Us dos Caldeus” só pode ser ser uma anotação feita por alguém muito
tempo depois de Moisés.
Mas não se trata de um engodo e sim de uma anotação editorial com o fim
de tornar o texto mais compreensível. Seria como se um historiador moderno ao
descrever a descoberta do nosso país escrevesse: “Em 21 de Abril de 1500, Pedro
Alvares Cabral descobriu o Brasil.” Contudo, não existia Brasil em 1500. Esse país
e esse nome só vieram a existir mais tarde. A referência, no entanto seria um ajuste
acadêmico com o fim de atualizar o texto perante o leitor, facilitando sua
compreensão. Seria como se o historiador dissesse: “Em 21 de abrail de 1500, Pedro
Álvares Cabral descobriu as terras que posteriormente seriam chamadas de Brasil.”
O mesmo ocorreu com o texto bíblico.
64
Uma nota final se faz necessária na explanação deste assunto. Embora não
tenhamos nenhuma evidência direta sobre o encerramento do cânon no tempo de
Esdras e Neemias, algumas coisas são notórias:
Jesus certa vez afirmou que aqueles, dentre Israel, que rejeitassem a
mensagem de Deus seriam responsabilizados “desde o sangue de Abel até ao
sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário” (Luc 11:51). Ora, muitos
especialistas entendem que aqui Jesus estava fazendo referência ao cânon do
Antigo Testamento que já estaria fechado em seus dias. Abel, representando o
Gênesis, seria o primeiro livro da coleção e Zacarias o último (BRUCE, 1988). A
dificuldade está em saber se esse Zacarias seria o filho de Baraquias (Mat. 23:35;
Zac 1:1; Esdras 5:1) que teria escrito o último livro do cânon hebraico ou Zacarias,
filho de Joiada mencionado em II Crônicas 24:20-21.
Seja como for, uma das mais antigas listas dos livros hebraicos das
Escrituras menciona II Crônicas como o último livro do Cânon. Ali é dito: “Nossos
rabinos disseram: a ordem dos profetas é esta: Josué, Juizes, Samuel, Jeremias,
Ezequiel, Isaias e os doze. A ordem dos Escritos é Rute, o livro dos Salmos, Jó,
Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Lamentações, Daniel, o rolo de Ester, Esdras e
Crônicas” (Talmude Babilônico, tratado Baba Bathra 14b).
Sobre a ordem dos livros, considerando que Malaquias seria o último autor
nas edições modernas da Bíblia, isso não deve nos preocupar, pois em outras
versões hebraicas mudam a ordem dos livros. O Codex de Leningrado (datado de
1009 d.C.) e três das oito listas mais antigas do cânon judaico trazem Crônicas como
o primeiro e não o último livro da coleção de escritos (Encyclopaedia Judaica vol. 4:
829-830).
65
do fato de que nenhum livro escriturístico deveria ser acrescentado à lista dos livros
inspirados de Israel.
Por volta do ano 90 d.C. o historiador judeu Flávio Josefo também declarou
que o cânon hebraico estava fechado e que “desde Artaxerxes, a sucessão de
profetas chegou ao seu fim”. Isto ele escreveu em argumentação contra Ápio,
demonstrando que em seu tempo a coleção de livos inspirados já estava decidida.
66
Barber (2006) e Sanders (2002) sugerem que o status canônico dos livros
do Antigo Testamento foi decidido, pelo menos em parte, em razão da data de
composição de cada um deles. Nenhum livro se acreditava ter sido escrito mais tarde
do que o período de Esdras foi incluído. Isto foi baseado, em grande parte, na tese
farisaica de que a inspiração profética terminou depois de Esdras e Neemias.
REFLETINDO: Mas o que seria esse período de silêncio profético de Deus? Quanto
tempo ele durou? Que livros foram produzidos nele?
Período Intertestamentário
Poucos que leem a Bíblia Sagrada se dão conta de que entre o último verso
de Malaquias e o começo do Evangelho de Mateus, teriam se passado quatro
séculos, aproximadamente. Esse período de cerca de 400 anos que vai desde os
tempos de Neemias até ao nascimento de Cristo é normalmente chamado de período
intertestamentário por grande parte dos estudiosos, especialmente os de tradição
protestante. Ele marca o hiato entre o final da parte hebraica e o início da parte cristã
da Bíblia Sagrada.
67
mas para efeitos de história do texto bíblico, duas devem ser destacadas: a tradução
das Escrituras hebraicas para a língua grega e o chamado “silêncio profético de
Deus”, segundo o qual não houve nenhuma revelação divina ao povo por pelo menos
quatro séculos.
Uma vez que o primeiro imperador, César Augusto, sempre recusou ser reconhecido
como tall, é difícil determinar exatamente quando o Império Romano começou.
Alguns historiadores, por consenso, pensam que seria no fim da república em 27
a.C., data em que Augusto recebe esse título de César e começa oficialmente a
governar sem nenhum “vice”. Mas há outros que pensam que o correto seria o ano
14 d.C. quando Tibério, o segundo imperador de Roma, aceita oficialmente ser
tratado como tal. De qualquer modo, o nascimento de Cristo ocorrido entre 6 e 4 a.C.
estaria nos começos do império romano.
De acordo com o historiador judeu Flávio Josefo que viveu no I século d.C.,
“desde os dias de Artaxexes a sucessão de profetas foi interrompida”. Isso ele
escreveu num livro chamado Contra Apio 1:8. No mesmo parágrafo Josefo ainda diz:
“Pois nós [judeus] não temos uma inumerável multiplicidade de livros discondantes
e contraditórios um em relação ao outro, como no caso dos gregos, mas apenas 22
livros que contêm o relato de todos os tepos passados, que são exatamente cridos
como sendo divinos. Deles, cinco pertencem a Moisés e contêm as leis e as tradições
do início da humanidade até o seu fim.
68
Esse intervalo de tempo cobre aproximadamente 3 mil anos. Da morte de
Moisés até à morte de Artaxerxes, que reinou depois de Xerxes. Os profetas que
vieram depois de Moisés escreveram o que fizeram em treze livros. Os demais
quatro livros contêm hinos e preceitos para a condução da vida humana. É verdade
que nossa história continua sendo escrita desde Artaxerxes mas não com a mesma
autoridade dos primeiros pais, pois não temos mais uma sucessão de profetas desde
então”.
No tratado Seder Olam Rabba 30 é dito: “Até então [o texto se refere à vinda
de Alexande, o Grande e o fim do império Persa], os profetas profetizaram através
do Espírito Santo. Desde então, inclinaram seus ouvidos e passaram a ouvir [apenas]
as palavras dos sábios”.
Noutras passagens (Tos. Sotah 13:2 baraita in Bab. Yoma 9b, Bab. Sotah
48b e Bab. Sanhedrin 11ª, repete-se a informação: “Com a morte de Ageu, Zacarias
e Malaquias, os últimos profetas, o Espírito Santo cessou de falar a Israel”.
Isso nos leva a crer que na tradição judaica o espírito de profecia cessou no
meio do povo com as palavras de encerramento do profeta Malaquias 4:5 e 6. As
causas desse “silêncio de Deus” seriam, segundo se supõe, os constantes desvios
do povo em relação aos caminhos ordenados por Deus.
Isso não significa, contudo, que nenhuma obra literária foi preparada pelos
judeus durante esse tempo. Além dos livros chamados apócrifos (que a seguir
69
comentaremos), temos ainda os chamados pseudoepígrafos nomeados de acordo
com antigos heróis do judaísmo embora não tenham sido estes os verdadeiros
autores destes textos.
A lista é grande, mas estes são os principais: Livros dos Jubileus, Vida de
Adão e Eva, Ascenção de Moisés, Testamento dos Doze Patriarcas, Salmos de
Salomão, Ode de Salomão, Livro de Enoque, Apocalipse de Elias, Apocalipse de
Ezequiel e outros.
70
A Septuaginta
O que levou os judeus a trazudirem seu livro sagrado para outra língua ao
invés de mater o original hebraico? Dois fatores podem ter concorrido para isso. O
primeiro seria o fato de que muitos judeus que moravam fora de Israel começaram a
perder a fluência da língua hebraica e adotado o grego como idioma corrente.
Estima-se, por exemplo, que perto de 1 milhão de judeus viviam em Alexandria
durante o III século a.C. Esse elevado número de judeus alexandrinos estavam por
gerações afastados da cultura hebraica de seus pais. Logo, eles estariam mais
familiarizados com o grego e não podiam compreender o texto hebraico original.
71
por Deus. Embora essa afirmação seja passiva de questionamento, pode-se dizer
que assim como o judaísmo, as origens do cristianismo foram bem influenciadas por
esta versão grega das Escrituras. Hoje é sabido que muitas citações do Novo
Testamento vêm diretamente da LXX. Muitos seguidores do cristianismo não
falavam hebraico pelo que dependiam desta tradução para estudar os fundamentos
bíblicos do movimento de Jesus. Até hoje muitas traduções modernas da Bíblia se
valem tanto do texto hebraico, quanto desta antiga e preciosa versão.
72
foram escritos por outros autores anônimos, séculos depois da morte do autor
bíblico. Pseudepígrafo é a junção de duas palavras gregas: pseudo que quer dizer
“falso” + “grafos” que quer dizer “título” ou “nome”. Portanto, pseudepigrafo refere-se
a livros falsamente intitulados ou falsamente atribuídos a alguém.
73
existiu nos tempos antigos, especialmente no princípio do cristianismo. Fragmentos
destes livros foram também encontrados entre os manuscritos do Mar Morto.
Quanto aos apócritos, como você pode ver na definição acima, trata-se de
livros cuja inspiração e canonicidade é disputada entre os cristãos. Na verdade,
diferentes tradições cristãs possuem diferentes apócrifos. Mas as diferenças mais
conhecidas no ocidente são aquelas que marcam as Bíblias publicadas por
protestantes e aquelas publicadas por editoras católicas.
74
modo que não podemos Bede; Hugo de São
dizer que as cópias Victor; Nicholas de Lyra;
judaicas originais os William de Ockham.
continham. Essas A Glossa ordinária, um
cópias cristãs datam do comentário católico da
IV século em diante e, o Idade Média, trouxe o
mais importante, as três seguinte comentário
cópias mais extensas sobre os apócritos (ou
não estão de acordo deuterocanônicos),
quanto ao cânon dos demonstrando que a
apócrifos (ou aceitação dos mesmos
deuterocanônicos), pois não era um consenso
trazem diferentes listas. entre os teólogos da
E nelas está incluído o época: “Os livros
salmo 151 que as canônicossão fruto do
versões católicas não ditado do Espírito
reconhecem como Santo. Não sabemos,
inspirado. Filo, um no entanto, em que
antigo autor Judeu de tempo ou por quais
Alexandria que usou autores os não
extensivamente a LXX canônicos ou apócrifos
não faz qualquer foram produzidos.
menção aos livros Desde, porém, que eles
deuterocanônicos sejam proveitosos e
incluídos nas Bíblias uteis e não contenham
católicas, o que seria qualquer contradição
estranho caso ele os com os demais livros
tivesse incluídos em sua canônicos, é permitido à
lista escriturística. Igreja lê-los para sua
devoção e edificação.
Sua autoridade,
contudo, não é
considerada adequada
naqueles assuntos que
75
ainda são dúbios, nem
servem para confirmar a
autoridade eclesiástica
de um dogma, como o
bem aventurado
Jerônimo declara em
seu prólogo ao livro de
Judite e também aos
livros de Salomão. Po
outro lado, os livros
canônicos possuem tal
autoridade que tudo que
está contido neles é
para ser considerado
uma firme verdade e um
assunto indiscutível”. O
Cardeal Cajetan (Apud
WICKS, 1978) foi um
dos mais importantes
opositores de Lutero,
comissionado pela
Igreja para refutar os
ensinos do
protestantismo. Ele
escreveu um
comentário dedicado ao
papa no qual exprime
sua opinião de que os
apócrifos (ou
deuterocanônicos) não
eram inspirados, muito
menos canônicos num
“stricto senso”, de modo
que os mesmos não
76
foram incluídos em seu
comentário do AT.
Inclusão nos Muitos Textos O NT não reconhece
Manuscritos do Mar encontrados nos tais livros como
Morto – fragmentos manuscritos do Mar inspirados por Deus -
desses textos são Morto não são Os autores do NT
encontrados na canônicos – Os textos jamais fazem menção
Biblioteca do Mar Morto encontrados no mar direta de qualquer
o que indica que eram Morto não trazem destes livros
respeitados por nenhuma lista canônica introduzindo a fórmula:
determinado segmento de quais seriam os “está escrito” ou “como
do judaismo livros inspirados ou não declarou o profeta X”. O
inspirados. Ademais, a máximo que se pode
maioria absoluta dos encontrar (mas não
materiais ali para além de qualquer
encontrados não são questionamento) seria
escrituristicos, uma hipotética alusão
protocanônicos ou indireta que demonstra
deuterocanônicos. apenas que o autor
Assim, a presença de bíblico conhecia tais
qualquer texto ali pouco livros, mas não que os
concorre para a considerasse palavra de
confirmação de sua Deus. Ainda que tal
natureza escrituristica. citação realmente
exista, isso pouco
contribui para a
conclusão de que se
tratam de livros
inspirados pois obras
seculares também são
citadas no NT, como por
exemplo Atos 17:28 em
que Paulo cita um
trecho do Phaenomena
77
escrito por Arato. Nem
por isso poderíamos
argumentar que este
poeta grego seria
inspirado por Deus.
Uso no Cristianismo Os mais antigos autores Mesmo os
primitivo – Antigos cristãos parecem ter deuterocanônicos
autores cristãos citavam rejeitado os atestam que no seu
passagens dos deuterocanônicos – tempo a inspiração
deuterocanônicos. Embora seja possível havia cessado – I
Dentre eles temos, por encontrar uma ou outra Macabeus 9:27 declara:
exemplo, Clemente de citação dos “Então houve grande
Alexadria citando deuterocanônicos, isso tumulto em Israel, tal
Tobias, Eclesiastico e não é evidência de que como nunca havia tido
Ireneu de Lion citando os mesmos eram desde o tempo em que
Sabedoria de Salomão. reconhecidos como os profetas cessaram
Escritura Sagrada. Foi de aparecer no meio do
apenas quando a igreja povo”.
cristã iniciou seu
rompimento com o
judaísmo que essa
questão se tornou um
ponto a ser discutido. A
mais antiga lista de
livros Cristãos do AT foi
composta por Melito de
Sardes em 170 d.C.não
menciona nenhum
destes textos
controversos.
Aceitação por antigos Os concílios A Igreja Católica não
concílios eclesiásticos – mencionados não eram oficializou os apócrifos
Muitos concílios como concílios universais do como parte do Cânon
os de Roma (382), cristianismo, mas senão tardiamente, no
78
Cartago (393), Hipona sínodos locais, apenas Concílio de Trento
(397) aceitaram esses de expressão regional – reunido em 1546 – Além
livros. Esses concílios Hipona, Roma e do que já foi dito acerta
são citados por Cartago não tinham dos concílios anteriores
protestantes para autoridade para propor a Trento não serem de
sustentar o cânon do um entendimento caráter ecumênico,
NT mas se esquecem universal do muito menos universal,
que os mesmos cristianismo e todos é possível acrescentar
também validaram os eles tinham sido que até mesmo
deuterocanônicos. influenciados pelo renomados autores
mesmo teólogo, Santo católicos admitem essa
Agostinho, pelo que realidade. Yves Congar
possivelmente ecoaram (1966) concorda: “...
o mesmo pensamento uma lista oficial e
devido a serem dirigidos definitiva dos escritos
por um mesmo mentor. inspirados não existiu
na Igreja Católica senão
no Concílio de Trento”.
Do mesmo modo, H. J.
Schroeder (1978),
tradutor inglês dos anais
do Concílio, declarou:
“A lista tridentina ou
decreto foi a primeira
declaração infalível
promulgada sobre o
cânon da Sagrada
Escritura”. Por fim, até
mesmo a The New
Catholic Encyclopaedia
também declara que o
cânon não foi
oficialmente
estabelecido pela Igreja
79
senão no concílio de
Trento. Tudo isso
demonstra uma inclusão
bastante tardia desses
livros na relação de
documentos inspirados
por Deus.
Como você sabe a Bíblia não foi originalmente escrita em nosso idioma. O
que temos é uma tradução muitas vezes complexa de traduzir. Primeiro porque
alguns elementos em nosso idioma constam com apenas um vocábulo para
representá-lo, em outra língua contam com dois ou três. Por exemplo, enquanto nos
referimos à morada de Deus e ao ambiente estelar pelo simples nome de céu, as
pessoas de língua inglesa separam em dois diferentes termos heaven e sky.
É por estas e outras dificuldades que o trabalho dos tradutores é uma arte
difícil e sempre sujeita a críticas (algumas injustas). Os italianos costumavam dizer
80
traduttore traditore - o tradutor é um traidor. Triste adágio para um trabalho tão
importante!
Pois bem, lembrando que a Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego
seria interessante conhecer um pouco algumas características destes três idiomas
para que você esteja mais familiarizado com eles.
Hebraico e Aramaico
REFLETINDO: Mas, de onde surgiram esses idiomas? Qual sua história, suas
características? Quais são suas similaridades e diferenças?
81
Você certamente se lembra da história bíblica de Noé e sua família como
sobreviventes do grande dilúvio que inundou toda a terra. Pois bem, de acordo com
o Gênesis, Noé tinha três filhos: Cão, Sem e Jafé. Esses três filhos por sua vez se
tornaram os ancestrais de todos os povos que existem no mundo.
Mas nem sempre foi assim. Ainda de acordo com as Escrituras, houve um
tempo em que todos os povos da terra falavam um só idioma (Gên. 11:1). Até que a
desafiadora construção de uma torre chamada Babel produziu a confusão de línguas
espalhando os homens por diferentes lugares formando diferentes nações (Gên.
11:7,8).
Foi mais ou menos por esse tempo que os sumérios (moradores da região
de Sumer, conhecida na Bíblia como Sinar – Gên. 10:10) e que falavam uma língua
não semítica surgiram no sudoeste da Mesopotâmia (PACKER; TENNEY; WHITE.
1995). Eles eram originalmente descendentes de Jafé e haviam provavelmente
vindos das regiões do mar Cáspio e Mar Negro entre a Europa e a Ásia.
82
dos semitas (ou até mesmo sua origem) na Mesopotâmia, onde conviveram com
seus irmãos jafetitas (KITCHEN et al., 2009).
Figura 4
Ao que tudo indica a mais antiga língua semítica de que temos notícia seria
o acadiano falado pelos povos de Kish que migraram e dominaram a região
mesopotâmica antes governada por sumérios não semitas (que, é claro, falavam um
idioma isolado). Aliás, é importante desacar que a Mesopotâmia tornou-se o centro
geográfico de muitos impérios dominantes do Oriente Medio e outras terras além.
Entre estes inclue-se o império acadiano (2335-2154 a.C.), o neo-sumeriano (2119-
2004 a.C.), o antigo império assírio (2035-1750 a.C.), o império babilînico (1792-
83
1740 a.C.), o médio império assírio (1365-1020 a.C.), o neo-império assírio (911-605
a.C.) e, finalmente, o neo-império babilônico (605-538 a.C.).
Voltando ao ano 2700 a.C., durante esse período, outro povo de fala semita,
os eblaítas apareceram no relato histórico originários do norte da Síria fundando o
reino de Ebla cuja língua era correlata ao acadiano da Mesopotâmia.
84
Figura 5
85
Arameu em Deuteronômio 26:5. Uns poucos linguístas, no entanto, sugerem que
Abraão falava árabe ou um dialeto arábico.
Não obstante, contrário a essa teoria, temos o fato de que num diálogo citado
no Gênesis, Labão parece se expressar em siríaco ou aramaico e Jacó responde em
hebraico (Gên 31:47). Seria algo literal ou um editor posterior a Moisés havia
atualizado o texto? Difícil saber. De qualquer modo, é notório que ainda que o
hebraico escrito tenha se desenvolvido apenas nesta época não era incomum nos
tempos antigos que um idioma primeiro fosse por gerações transmitido apenas de
forma oral, antecipando assim, em muito séculos sua existência em relação à forma
escrita que hoje conhecemos.
Nesta época, é claro, o alfabeto já havia sido inventado. Ao que tudo indica
ele fora desenvolvido por trabalhadores braçais de origem semítica que viviam no
86
Egito (coincidentemente os hebreus se encaixam com essa descrição). Então os
fenícios – outro povo de origem semita – espalhou uma forma evoluída do alfabeto
através de sua cultura marítima e comercial. Em pouco tempo o alfabeto se tornou
mais prático que a forma silábica dos idiomas mesopotâmicos. O hebraico escrito
surge desta evolução linguística.
Figura 5
87
como for, ele mostrou poucas mudanças até à vinda do exílio na Babilônia durante
o VI século a.C..Porém, depois deste episódio, as coisas parecem ter mudado.
88
Assim, após o retorno do cativeiro da Babilônia em 457 a.C., os judeus, já
não mais familiarizados com a língua hebraica, demandavam que suas Escrituras
Sagradas fossem traduzidas e interpretadas pelo idioma que eles mais usavam.
Então alguns escribas escreveram algumas traduções e paráfrases do texto bíblico
em aramaico que receberam o nome de targuns (ou targumim, conforme o pluram
em hebraico). Esses targuns eram originalmente transmitidos de forma oral e
somente depois se tornaram textos escritos. Alguns deles sobreviveram até nossos
dias.
89
Figura 6
90
O hebraico quase não possui adjetivos ou pronomes pessoais, porém é rica
em advérbios. Igualmente é um idioma que praticamente não trabalha com conceitos
abstratos. Diferente do português, seus pronomes pessoais são ligados às formas
verbais como se fossem sufixos ou prefixos e, com raras exceções, não faz uso de
palavras compostas.
Grego
De igual modo, nos séculos XVII e XVIII, vários acadêmicos tentaram provar
que o tipo de grego usado no NT seria uma espécie de “grego bíblico” sem paralelo
com outras formas do grego utilizado pelos filósofos, poetas e escritores de origem
helênica.
91
Uma prova disso é a presença de hebraísmos e aramaismos no texto do Novo
Testamento. Ou seja, vocabulários e expressões idiomáticas não gregas mas
hebraicas e aramaicas que se encontram no texto do NT.
Substantivos comuns como “Manon” (Mat 6:24; Luc. 16:9), “abba” (Marcos
14:36) e “corban” (Mat 7:11) aparecem algumas vezes nos Evangelhos. O mesmo
se pode dizer de nomes próprios como “Getsemane” (Mat 26:36; Marcos 14:32) e
“Tabita” (Atos 9:36, 40) que são tanto hebraicos quanto aramaicos. A palavra raboni
(Marcos 10:51), corretamente chamada de “hebraica” em João 20:16 (KUTSCHER,
1977).
18 Levantar-me-ei, irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu
e diante de ti;
19 já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus
empregados.
20 Levantou-se, pois, e foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o
viu, encheu-se de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o
beijou.
21 Disse-lhe o filho: Pai, pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno
de ser chamado teu filho.
22 Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e
vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e alparcas nos pés;
Em seu desespero o filho pródigo pensa consigo de ir ter com seu pai. Sua
expressão “pequei contra o céu e diante de ti” é inteiramente hebraica. Não fazia
92
sentido na mentalidade grega alguém pecar contra o céu. Neste caso, “céu” seria
um eufemismo para “Deus”. “Enche-se de compaixão” também é um hebraísmo
considerando que a compaixão não seria algo abstrato, como era para os gregos,
mas um sentimento “concreto” capaz de preencher o corpo de uma pessoa.
93
Apesar disso, não se pode dizer que o grego do Novo Testamento seja
inteiramente uma espécie de “grego bíblico” como pensavam muitos autores do
passado. Hoje se sabe que o grego do NT era um dialeto do grego clássico
conhecido como Koiné, isto é, o grego “comum”.
94
A TRANSMISSÃO DO
TEXTO
BÍBLICO
3
CONHECIMENTO
HABILIDADE
ATITUDE
95
Periodos Bíblicos
Ao que tudo indica o fato de os cristãos usarem largamente a LXX, fez com
que os judeus se empenhassem na elaboração de outras traduções gregas do AT.
Hoje conhecemos pelo menos três delas que poderiam ser traduções diretas ou
reelaborações de outras traduções já existentes, que remontam a este período:
96
Áquila de Sinope (ca. 130 d.C.) – foi estudante do Rabino Áquiba e
desenvolveu uma tradução bastante literal do texto hebraico que muitas vezes se
tornava ininteligível aos falantes da língua grega. Acredita-se que esta versão de
Áquila foi muito usada nas sinagogas em lugar da LXX. Os cristãos, contudo, não a
apreciavam muito, embora Jerônimo e Origens falassem muito bem dela.
Símaco, o Ebionita (ca. 170 d.C.) – este fez uma tradução bastante fiel do
AT, mas num grego elegantíssimo. Apesar do título de “ebionita” dado por Eusébio,
acredita-se que, na verdade, ele seria um samaritano convertido ao judaísmo.
97
tenha se tornado também o centro da atividade intelectual cristã, na tentativa de
preservar o texto bíblico antes de 325 d.C., embora, não encontremos nenhuma
crítica textual do NT durante esse tempo. O período foi mais de reduplicação dos
manuscritos que avaliação de textos.
Até o presente momento, nenhuma destas cópias chegou até nós, de modo
que sua existência, embora provável, ainda é hipotética. A qualidade de uma cópia,
é claro, dependia da competência e profissionalismo do escriba que a produziu. Um
trabalho dessa natureza não saia barato.
A partir de 150 até 325 d.C., a chance de um copista cristão usar um texto
original como padrão diminuiu acentuadamente. Então as cópias de autógrafos
deram lugar a cópias de outras cópias.
Mas não pense que era um período calmo para a igreja. Além de enfrentarem
oposições esporádicas e mais localizadas, os cristãos amargaram duas grandes
perseguições durante o reinado de Décio e Diocleciano. Possuir uma cópia da Bíblia
ou do Novo Testamento tornou-se um crime punido com a morte. Centenas de cópias
foram confiscadas e destruídas pelos romanos de modo que, por pouco, nenhum
exemplar da Bíblia teria sobrevivido até os nossos dias.
98
cobrarem caro, não queriam correr o risco de serem mortos por ordem imperial.
Numa situação como esta, ficava mais fácil surgirem erros nos manuscritos que eram
copiados.
99
Período da Unificação Textual (325-1500)
O texto de uma região era copiado por escribas dessa região. Assim,
podemos perceber uma gradual integração dos textos, resultante da comparação
entre diferentes manuscritos e a efetiva obtenção de um tipo textual que não tivesse
tantas variantes. Os textos locais foram, aos poucos, cedendo lugar a um texto único.
100
raras de modo que não procede afirmar que houve manipulação textual por parte do
império ou mesmo da cúpula da igreja. Prova disso reside no fato de que grandes
ensinos eclesiásticos da época jamais tiveram apoio escriturístico para suas
alegações, como por exemplo, a assunção de Maria, a intercessão dos santos ou o
celibato dos sacerdotes.
101
No período da Reforma, após a invenção da imprensa, o texto bíblico entrou
num período de formatação gráfica, assumindo a forma impressa em lugar da
manuscrita. Envidaram-se esforços no sentido de se publicarem textos impressos da
Bíblia com a maior precisão possível. Com frequência esses textos eram publicados
em vários idiomas, ao mesmo tempo, incluindo edições bilíngues como a “Poliglota
complutense” (1514-17), a “Poliglota de Antuérpia” (1569-72), a “Poliglota de Paris”
(1629-45) e a “Poliglota de Londres” (1657-69). Publicou-se também nesse período
(ca. 1525) uma edição modelo do Texto massorético, sob a direção editorial de um
certo judeu chamado Jacob ben Chayyim, que se convertera ao cristianismo. O texto
se baseava em manuscritos que datavam do século XIV. Assim surgiram cópias da
Bíblia hebraica, tanto em forma manuscrita como impressa.
102
viajou no ano seguinte, a fim de procurar manuscritos gregos que pudessem ficar em
paralelo com uma tradução latina feita por ele mesmo.
Por causa disso, em apenas três anos após a primeira tiragem foi necessário
publicar uma nova edição. E depois dela, várias outras publicadas tanto pelo próprio
Erasmo, como por Beza, Estienne, e outros. Deve-se ressaltar, no entanto, que,
apesar de todas as pesquisas e revisões dos textos gregos nas diversas edições
do Textus Receptus, entre a primeira edição de Erasmo em 1516 e a edição dos
Elzevirs em 1633, é possível encontrar uma diferença de menos de 300 palavras em
140.000 que compõem o Novo Testamento, ou seja, apenas 0,002% do total.
103
de 1550. Essa obra poliglota continha o Novo Testamento em grego, em latim, em
sírio, em etíope, em árabe e em persa (os evangelhos). Nas anotações apareceram
os vários textos paralelos então recentemente descobertos como o Códice
alexandrino (A) e um aparato crítico feito pelo arcebispo Usher.
104
Uma famosa hipótese textual chamada "teoria genealógica" foi apresentada
por Westcott e de Hort á comunidade acadêmica. Eles propunham dividir os
manuscritos bíblicos em quatro tipos: siríacos, ocidentais, neutros e alexandrinos. O
tipo siríaco de texto inclui os textos siríacos propriamente ditos, os antioquinos e os
bizantinos, como A, E, F, G, H, s, v, z e a maior parte dos minúsculos. O tipo ocidental
de texto para Westcott e para Hort tinha raízes na igreja síria, mas havia sido levado
mais longe, na direção do Ocidente. De acordo com Westcott e Hort, houve um
ancestral comum ( )אna raiz do texto neutro e do alexandrino, que teria sido primitivo
e muito puro.
105
Rudolf Kittel, hebraísta, lançou em 1906 a primeira edição da sua Biblia
Hebraica, fornecendo nela um estudo textual por meio de notas de rodapé, que
comparam muitos manuscritos hebraicos do texto massorético. O texto básico usado
por ele foi o texto de Ben Chayyim. Mas, quando os mais antigos e superiores textos
massoréticos de Ben Asher se tornaram disponíveis, Kittel empreendeu a produção
de uma terceira edição, inteiramente nova, que após a sua morte foi completada por
seus colegas.
Assim sendo, havia um hiato de cerca de 1400 anos entre a última produção
do AT e a cópia hebraica mais antiga que tínhamos dele. Se falarmos do início da
produção bíblica, o distanciamento sobe para 2.400 anos!
Até que em 1947 um garoto beduíno encontrou por acidente jarros que
estavam guardados há quase dois mil anos numas grutas de Wadi Qumran, ao
noroeste do Mar Morto. Eram ao todo cerca de 800 manuscritos produzidos por
escribas judeus da seita dos essênios e, pelo menos 200 destes manuscritos, eram
bíblicos.
106
Os manuscritos encontrados continham cópias (algumas bem fragmentadas)
de todos os livros do Antigo Testamento, com exceção de Ester. Para se ter uma
noção, uma das cópias de Isaias encontradas no local foi datada em 270 anos a.C..
Ou seja, 1.200 anos mais velha que a cópia que tínhamos produzida pelos
massoretas. O que se descobriu foi algo fantástico: as cópias ali encontradas
confirmavam em mais de 90% o texto hebraico massorético. As discordâncias estão
em questões perífericas como troca de letras ou acréscimo de uma ou outra palavra.
A Crítica Textual
107
Antes de se tornar comum a impressão com tipos móveis (a partir do século
XV d.C.), os escritos originais da Bíblia e também suas cópias eram feitos a mão.
Por isso são chamados de manuscritos (do latim: manu scriptus, "escritos a mão").
O manuscrito bíblico é, portanto, uma cópia das Escrituras, inteiras ou em parte, feita
a mão, distinta de uma cópia impressa. Os manuscritos bíblicos foram preparados
principalmente na forma de rolos e de códices.
108
Logo, surge em meio a esta realidade a seguinte pergunta: como podemos
ter a certeza de que esses livros foram bem preservados se não temos mais o seu
original? Como certificar de que as cópias foram fidedignas e que os copistas não
alteraram tragicamente o conteúdo dado por Deus ao autor inspirado? Veja que se
houve um erro crasso, aparentemente ficaria difícil corrigi-lo se não temos os
originais para fazer uma comparação. Como então trabalham os especialistas neste
sentido?
Existe uma especialização muito importante para o estudo desta parte que
é a chamada crítica textual, teremos mais à frente um módulo exclusivamente
dedicado à essa disciplina. O que você verá aqui, portanto, é apenas uma introdução
com o fim de familiarizá-lo(a) com o assunto. Mas, em suma, o que significa Crítica
Textual?
109
Ela também é chamada de baixa crítica ou crítica documental, pois estuda
igualmente a preservação ou alteração de antigos textos ao longo dos anos. Tudo
isso, repetimos, visando recuperar os originais com base na documentação atual, ou
seja, nas cópias disponíveis. Já a alta crítica tem como objetivo não apenas a
recuperação do texto em si, mas também outros aspectos como descobrir a autoria
ou o contexto no qual ele foi produzido.
110
indeléveis de autenticidade na Bíblia que em qualquer história profana” (NEWTON
apud HUTCHINSON, 2012).
111
indique que tal manuscrito seria melhor. Deste modo, são quatro as principais
famílias de manuscritos:
112
Atualmente, boa parte dos especialistas em crítica Textual do Novo
Testamento admitem que 95-99% do texto original pode ser recuperado a partir da
comparação entre os antigos textos. Enquanto a já citada Iliada de Ômero tem 764
linhas de texto ainda disputadas, o Novo Testamento – a despeito do montante
tremendamente maior de cópias – conta com apenas 40 linhas dúbias. Mesmo assim
nenhuma destas traz qualquer comprometimento a uma doutrina ensinada pelo
cristianismo (GEILER; NIX, 1986).
O ponto que nos interessa neste momento não é predicar sobre tais
incongruências, mas toma-las como argumento a favor da transmissão do texto
sagrado. Afinal, considerando que a acusação de muitos céticos é de que o texto
bíblico foi “editado” com o passar do tempo distanciando-se cada vez mais de seu
original, era de se esperar que assim sendo, essas discordâncias textuais fossem
“corrigidas” pelos copistas com o fim de fazer o texto soar menos problemático. Ou
seja, elas tenderiam a desaparecer com o tempo pois a igreja Medieval censuraria
as cópias discordantes fazendo um texto oficial – o que na verdade nunca existiu.
Portanto, é possível – desde o ponto de vista da crítica textual – tomar a versão
113
Bíblica e saber que temos um texto 90% igual ao que saiu das mãos do autor
inspirado e que nenhuma das incongruências são determinantes para colocar em
dúvida a legitimidade do texto transmitido.
Antes que a Bíblia fosse iniciada, os hebreus contavam com uma tradição
oral passada de pai para filho. Contudo, mesmo com o advento da Revelação escrita
dada aos profetas, a tradição oral permaneceu em uso no judaísmo e isso perdurou
até aos tempos de Cristo.
O problema estava em que a tradição oral não era uma fonte inquestionável
de verdades reveladas, pois ela estava mais sujeita à distorção que o texto escrito.
E distorções poderiam ocorrer mesmo num povo acostumado a repassar verdades
orais de geração em geração. Ademais, com o fim do cativeiro Babilônico, tradições
desnecessárias e até contraditórias ao texto bíblico permearam a religião dos judeus
através de grupos como os escribas e fariseus.
Certa feita, ele disse aos guias do judaísmo de seu tempo: “Negligenciando
o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda:
Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição.
Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a
sua mãe seja punido de morte. Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai
ou a sua mãe: Aquilo que podereis aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o
Senhor, então, o dispensais de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua
mãe, invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição, que vós mesmos
transmitistes; e fazeis muitas outras coisas semelhantes” (Mc 7.8-13, cf. Mat. 15:1-
9).
114
Assim, nos dias de Cristo, havia uma tensão entre a autoridade da tradição
oral e a Escritura Revelada por Deus. A aristocracia sacerdotal formada pelos
saduceus controlava o acesso à biblioteca do Templo e aos escritos sagrados. Eles
eram, contudo, liberais em muitos aspectos e sua autoridade era a mais ameaçada
pela tradição oral. Por outro lado, grupos como dos fariseus eram majoritariamente
compostos por classes mais simples do povo – esses, sim, investiam na tradição oral
como meio de dominarem e determinarem o comportamento das massas.
Sua produção literária, porém, contou com um fator novo: eles rapidamente
adotaram o códex (ou códice) – uma forma de livro diferente do rolo usado pelos
judeus e que se assemelha muito aos cadernos que usamos em nossos dias.
Códices com folhas retangulares costuradas ao meio começaram, então, a surgir no
I século d.C. e se tornaram muito comuns em meados do IV século.
115
No ato de conter uma coleção de rolos num só caderno, o códex também
definiu a organização e a ordem de um conjunto de livros que mais tarde formariam
o cânon. Assim, a Bíblia tornou-se aos poucos o livro que hoje conhecemos e
admiramos.
Originalmente o caderno tinha 1400 páginas, das quais restaram apenas 800
– a totalidade do Novo Testamento e a metade do Antigo – todos escritos em grego.
O manuscrito hoje está na Biblioteca Britânica (embora algumas seções estejam no
Egito, Rússia e Alemanha).
Quem quiser pode ver o texto original fotografado em alta resolução e disponibilizado
na Internet: http://www.codexsinaiticus.org.
116
O judaísmo, por sua vez, demorou muito em adotar os códices para
transcrever seus textos sagrados. Os mais antigos que temos em hebraico datam do
século X d.C. Mas ainda hoje o rolo de pergaminho é preferível nas leituras litúrgicas
usadas nas sinagogas.
Foi um trabalho pefeito? É claro que não. Uma transmissão via cópias
manuscritas está sujeita a erros e modificações, voluntárias ou involuntárias, que
geral a coexistência de diferentes versões para um mesmo trecho bíblico. Contudo,
como foi acentuado, não se trata de alterações que afetem o conteúdo central do
texto ou que impossibilitem descobrir qual seria sua forma original.
O nome massoretas vem do hebraico Masorah (ou Mesora) que quer dizer
transmissão de uma ideia religiosa ou de qualquer tradição por escrito. Por isso, os
manuscritos por eles produzidos são corretamente chamados, textos massoréticos.
117
Estes copistas judeus também realizaram a grande tarefa de vocalizar as
palavras em hebraico que não tinha originalmente vogais e, por isso, ao tornar-se
língua morta, necessitou desta indicação para poder ser lida. Além disso, eles foram
meticulosos na transmissão escrita do texto inspirado. Contudo, seu trabalho não
está isento de deficiências. Assim, outras versões do AT se fizeram importantes para
suprir certas carências do texto massorético. É o caso do Pentateuco Samaritano (os
samaritamos eram uma comunidade étnica e religiosa separada dos judeus que só
aceitavam o Pentateuco como Escritura Sagrada), da LXX e dos Manuscritos do Mar
Morto.
118
A COMPREENSÃO DA
BÍBLIA
4
CONHECIMENTO
HABILIDADE
ATITUDE
119
Principais traduções da Bíblia
Uma delas é a vulgata latina, uma tradução da Bíblia do grego para o latim.
Vulgata quer dizer “vulgar”, mas não se trata de uma linguagem baixa e sim da língua
comum falada no império romano ocidental por volta do IV século d.C. O nome vem
da expressão vulgata versio, isto é "versão de divulgação para o povo", e foi escrita
em um latim cotidiano, usado na distinção consciente ao latim elegante do escritor
romano Cícero. Em grande parte devemos a Jerônimo o trabalho de traduzir a Bíblia
para o latim.
120
Antigo Testamento
HEXAPLA SIRÍACA - Foi traduzida pelo bispo de Tela, em 617 d.C, com
base na LXX e na quinta coluna da hexapla de Origenes. Este manuscrito foi
bastante estudado no exame da LXX, em virtude de ter preservado as notas críticas
do original grego de Orígines.
Novo Testamento
GÓTICA – Esta versão já estava em uso por volta de 330 – 20 anos antes
do Vaticanus e o Sinaíticos serem copiados. A tradução foi feita por Ulfilas,
121
provavelmente no ano 250 d.C. É extremamente literal, a ponto de usar a ordem das
palavras e grego, mesmo contra a lógica do idioma gótico.
SIRÍACO ANTIGO - Traz este nome para não ser confundida com a versão
Peshitta posterior, que era a versão popular em siríaco. Essa versão existe nos
manuscritos sinaítico e curetoniano.
ARMÊNIA - É do final do século V d.C. e tem sua base numa fonte cujo texto
tinha similaridade com os manuscritos gregos Theta, 565 e 700. Afasta-se muito dos
melhores manuscritos gregos, aproximando-se do Textus Receptus. Há 1.244 cópias
dessa versão.
122
Versões modernas
Para obter-se uma obra, para que não fosse volumosa, então mais cara, os
tradutores procuravam produzir o texto com economia de palavras, perdendo em
muito o significado das línguas originais. Isso foi corrigido em tempo e começaram a
surgir traduções mais fieis ao texto original, sem preocupação com economia de
palavras. Destas novas traduções destacam-se a Amplified New Testament; The
New Testament de Charles B. Williams e The New Testament, an Expanded
Translation, de Kenneth S. Wuest.
Merece destaque neste contexto a Bíblia de Lutero que foi uma tradução
alemã das Escrituras feita por Martinho Lutero e impressa pela primeira vez em 1534.
Essa tradução é considerada como sendo em grande parte responsável pela
evolução moderna da língua alemã.
123
Versões em português
Traduções parciais
Com esses livros prontos, publicaram a obra. Mais tarde foram preparadas
mais traduções de outras porções bíblicas: os evangelhos, que a infanta Dona Filipa,
neta do rei D. João I, traduziu do francês; o evangelho de Mateus e porções dos
outros evangelhos, da Vulgata, pelo frei Bernardo de Alcobaça; os evangelhos e as
epístolas, pelo jurista Gonçalo Garcia de Santa Maria; uma harmonia dos
evangelhos, por Valentim Fernandes, em 1495; em 1505, por ordem da rainha
Leonora, foram publicados o livro de Atos e as epístolas gerais.
124
Traduções completas
Essa tradução apresentava muitos erros. Almeida mesmo fez uma lista de
dois mil erros. Muitos desses erros foram feitos pela comissão holandesa, que
procurou harmonizar a tradução de Almeida com a versão holandesa de 1637. A
dificuldade de Almeida é que não havia papiro algum e os unciais (mss em letras
maiúsculas) eram poucos. Esta a razão porque teve que lançar mão de fontes
inferiores.
125
A Bíblia no Brasil - Traduções parciais
Harpa de Israel, título dado à tradução do Livro dos Salmos, em 1898, por
F.R. dos Santos Saraiva. O Evangelho de Mateus, traduzida do grego em 1909 pelo
padre Santana. O Livro de Jó, publicado em 1912 por Basílio Teles.
126
Traduções completas
127
as notas, traz outros materiais de estudo, como dicionários, mapas e imagens
bíblicas.
128
Explicando melhor com a pesquisa
Guia de estudo:
Após a leitura do artigo, faça uma resenha crítica, apontando suas ideias e
comparando com o que leu.
129
Leitura Obrigatória
COMFORT, Philip Wesley (Edit.). A origem da Bíblia. 6. ed. Rio de Janeiro: Casa
Publicadora das Assembleias de Deus, 2006.
GUIA DE ESTUDO: Após a leitura do livro, faça uma autoanálise crítica sobre o
material e em seguida poste no ambiente virtual.
130
Pesquisando com a Internet
Guia de estudo: Após a pesquisa faça uma síntese do que entendeu e disponibilize
no ambiente virtual.
131
Saiba mais
Para ampliar seus conhecimentos sugiro que leia a entrevista com Padre
Johan Konings. Por ocasião da XIII Semana Teológica Padre Johan Konings
proferiu uma palestra sobre O lugar da Bíblia na transmissão da fé hoje. Em sua fala
destacou que a Transmissão da Fé pressupõe um sempre renovado encontro
pessoal com Deus, em Jesus de Nazaré.
132
Vendo com os olhos de ver
Para ampliar seus conhecimentos sugiro que assista a entrevista com Dr.
Rodrigo Silva. Posso confiar na Bíblia?
Guia de estudo: Após assistir ao vídeo, faça uma resenha sobre o que
compreendeu em seguida poste no ambiente virtual.
133
Revisando
Embora exista uma crítica que procura mais desacreditar na Biblia do que
afirmá-la como palavra de Deus, estamos faando da alta crítica, por outro lado existe
a critica textual, ou baixa crítica, que rocura estudar a história do texto sagrado
procurando estabelecer o teto original mais próximo dos autógrafos. Não podemos
subestimar a importância desses tarabalho realizado por eruditos que dominam as
línguas originais
134
Autoavaliação
135
Bibliografia
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Cambridge University Press.
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COMFORT, Philip Wesley (Edit.). A origem da Bíblia. 6. ed. Rio de Janeiro: Casa
Publicadora das Assembleias de Deus, 2006.
DANIEL LEESE. Mao Cult: Rhetoric and Ritual in China's Cultural Revolution.
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136
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137
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MARK LEUCHTER "The Twelve and 'The Great Assembly' in History and
Rabbinic Tradition" conferência apresentada no Methodological Foundations –
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138
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Sanders The Canon debate. Peabody, MA: Hendrickson 2002.
TIMOTHY BEAL, The Rise and Fall of the Bible; The Unexpected History of an
Accidental Book (New York: Houghton Mifflin Harcourt, 2011).
139
Bibliografia Web
140
Vídeos
Vídeo 1: EVIDÊNCIAS - Quem escreveu a Bíblia? 2013. Com Dr. Rodrigo Silva.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=UYT2IbpF9CU
141
142