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Descobrindo o at - Bill T.arnold & Bryan E.beyer

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Descobrindo

Antigo Testamento
Para Susan eYvo nn e
Com amor
Provérbios 31.10

D escobrindo o A ntigo Testam ento:


Uma Perspectiva Cristã
Bill A rn o ld e Bryan E. Beyer

D escobrindo o Novo Testam ento:


Uma Perspectiva Histórica e Teológica
W a lte r A . Elw e ll e R o b ert W . Y a rb ro u g h
Descobrindo
o Antigo Testamento
Uma perspectiva cristã
Bill T. Arnold
e Bryan E. Beyer


Copyright © 1999 Bill T. Arnold Crédito de ilustrações
e Bryan E. Beyer Alan Parry: pp. 121, 145, 151, 227, 306,330, 389
Projeto gráfico © Angus Hudson Ltd /
Tim Dowley & Peter Wyart como Créditos de fotos
Three’s Company 1998; Bible Scene Slide Tours: pp. 132, 135
e Baker Book House Company. British Museum: 25, 55, 81, 159, 163, 241, 244,
Publicado em inglês por
245, 246, 255, 258, 264, 284, 338, 343, 349,
Baker Books, uma divisão da
371,399, 429, 457
Baker Books House Company
PO Box 6287, Tim Dowley: pp. 39, 50, 65, 95, 118, 136, 142,
Grand Rapids MI 49516^6287 USA 162, 168, 170, 174, 189, 198, 201, 204, 211,
217, 223, 225, 271, 295, 232, 239, 253, 271,
Publicado em português pela Editora Cultura 295, 305, 309, 320, 328, 332, 401, 413, 419,
Cristã © 2001. Todos os direitos são reservados. 443, 452, 467, 469
Nenhuma parte desta publicação poderá ser Jamie Simson: pp. 67, 90, 252, 254, 281,345,433
reproduzida, armazenada ou transmitida de Peter Wyart: pp. 3, 26, 27, 62, 97, 105, 155,
qualquer forma, por qualquer meio que seja — 156, 177, 182, 183, 185, 187, 197, 203, 243,
por exemplo, meio eletrônico, fotocópia, 257, 269, 279, 283, 290, 293, 294, 297, 314,
gravação — sem o consentimento prévio da 327, 337, 355, 361, 377, 387, 397, 408, 413
editora. As únicas exceções são citações breves
para efeitos de crítica. Zev Radovan: pp. 373, 459

Projeto gráfico de Peter Wyart, Three’s l- edição: 2001 — 3000 exemplares


Company e Dan Malda, Baker Book Tradução: Suzana Klassen
House Company. Revisão: Ana Elis Nogueira de Magalhães
Andrade
Edição internacional organizada Arlinda Madalena Torres Marra
e produzida por Formatação: Aldair Dutra de Assis
Angus Hudson Ltd.,
Concorde House, Grenville Place, Publicação autorizada pelo
Mill Hill, London NW7 3SA, England Conselho Editorial:
Tel.: 00 * * 44 20 8959 3668 Cláudio Marra (Presidente), Alex Barbosa
Fax: 00 * * 44 20 8959 3678 Vieira, Aproniano Wilson de Macedo, Fernando
Hamilton Costa, Mauro Meister, Ricardo
Impresso em Cingapura Agreste, Sebastião Bueno Olinto

CDITORA CULTURA CRISTA


Rua Miguel Teles Junior, 382/394 - Cambuci
01540-040 - São Paulo - S P - Brasil
C.Postal 1 5 .1 3 6 - São Paulo - S P - 01599-970
Fone (0**11) 3207-7099 - Fa x (0**11) 3209-1255
www.cep.org.br-cep@cep.org.br

Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas


Editor: Cláudio Antônio Batista Marra
Resumo do Conteúdo
P r e fá c io d o e d it o r 12 20. Jó : U m hom em à procura
S o b r e o liv r o 13 de ju stiça 289
A o p ro fe sso r 16 21. Salm os: O livro de cânticos
A o a lu n o 17 do antigo Israel 303
A b r e v ia ç õ e s 18 22. Provérbios: C on selh os sobre com o
A g r a d e c im e n t o s 19 viver no m undo de D eus 313
23. Eclesiastes e Cântico dos Cânticos:
1. O que é o Antigo Testamento e A fé israelita n a vida diária 325
por que estudá-lo? 21
2. Onde e quando ocorreram os PA RTE 4
acontecim entos do Antigo D e s c o b r in d o o s P r o f e ta s
Testamento? 35 24. Introdução aos Profetas:
Vozes dos servos de D eus 339
PA RTE 1 25. Isaías 1—3 9 : Profeta d a corte real
D e s c o b r in d o o P e n t a t e u c o d e ju d á 353
3. Introdução ao Pentateuco: 26. Isaías 4 0 -6 6 : G ran des dias
O nascim en to do povo de D eus 63 estão por vir! 369
4. Gênesis 1—11: 27. Jerem ias 1-20: Em conflito com
O prelúdio de Israel 77 o ch am ado de D eus 383
5. Gênesis 12—50: O s patriarcas: 28. Jerem ias 21—52 e Lam entações:
ancestrais d a fé israelita 89 L idando com o desastre 393
6. Ê x o d o : A fuga m iraculosa 103 29. Ezequiel 1-24: D ias difíceis
7. Levítico: Instruções para se estão por vir! 407
viver em san tidade 117 30. E zeq u iel 2 5 -4 8 : D eus está
8. N úm eros: O fracasso no deserto 127 plan ejan d o um futuro
9. D euteronôm io: A restau ração em ocionante! 417
d a alian ça 141 31. Daniel: O reino de D eus —
A go ra e para sem pre 427
PA RTE 2 32. Oséias, Jo e l e A m os: U m ch am a­
D e s c o b r in d o o s L iv r o s H is tó ric o s do para o arrependim ento e um a
10. Introdução aos Livros H istóricos: prom essa de bên ção 439
A história de Israel com o n ação 157 33. O badias, Jonas, M iquéias, N aum ,
11. Josué: C o n qu ista e divisão 167 H abacuque e Sofonias: O plano de
12. Juizes e Rute: D eus para as n ações 451
A crise m oral de Israel 181 34. Ageu, Zacarias e M alaquias:
13. 1 Sam uel: D eus concede um rei 195 R econstruindo um povo 463
14. 2 S a m u e l: O reinado de D av i 209
15. 1 Reis: A glória de Salo m ão E p ílo g o 475
e o princípio do fim 221 G lo s s á r io 477
16. 2 R eis: O fim de Israel N o ta s 491
com o n ação 237 ín d ic e p o r a s s u n t o 5 02
17. 1 e 2 Crônicas: ín d ic e p o r p a s s a g e n s
U m a retrospectiva 251 b íb lic a s 514
18. Esdras, N eem ias e Ester: ín d ic e p o r n o m e s 525
Tem po de reconstruir 263

PA RTE 3
D e s c o b r in d o o s L iv r o s P o é tic o s
19. Introdução aos Livros Poéticos:
A literatura do povo de D eus 281

5
Conteúdo
Prefácio do Edito r 12 2. Onde e q uan do ocorreram • Salvação
Sobre o livro 13 os a co n te cim e n to s do • Santidade
Ao p ro fesso r 16 A ntigo Testam ento? 35 Q uem escreveu o
Ao aluno 17 Esboço Pentateuco?
A breviaçõ es 18 Objetivos • Autoria e consenso
Onde ocorreram os tradicional
A g radecim ento s 19
acontecim entos do • Visões críticas modernas
Antigo Testamento? Sumário
1. O q u e é o A n tig o
• As três regiões do antigo Termos-chave
T e stam e n to e p o r q u e
Oriente Próximo Pessoas-chave
e stu d á -lo ? 21
• As quatro sub-regiões de Questões para estudo
Esboço Leituras complementares
Israel
Objetivos
• As estradas do antigo Oriente
Cânon: O que é a Bíblia? Próximo 4. G ê n e sis 1-11:
• Definição de Cânon O p re lú d io d e Israel 77
Q uando ocorreram os
• Testes de canonicidade Esboço
acontecim entos do
• A formação do Cânon Objetivos
Antigo Testamento?
• Seqüência de livros em H istória primeva e sua
• Os ancestrais de Israel:
hebraico e português natureza
os patriarcas
Inspiração: Com o a Bíblia Conteúdo de Gênesis 1-11
• O início de Israel:
foi escrita? • Esboço
Moisés e Josué
• Teoria neo- ortodoxa • A criação e sua natureza (1,2)
• O Estado de Israel:
• Teoria do ditado • O pecado e sua natureza (3—11)
Davi e sua dinastia
• Teoria da inspiração limitada Sumário
• O exílio e restauração de
• Teoria da inspiração verbal- Termos-chave
Israel: Esdras e Neemias
plenária Lugar-chave
Sumário
Transm issão textual: Com o Questões para estudo
Termos-chave
a Bíblia chegou até nós? Pessoas/Lugares -chave Leituras complementares
• O cuidado dos escribas com Questões para estudo
os textos do Antigo Leituras complementares 5. G ê n e sis 12-50:
Testamento Os p a tria rc a s: A n ce stra is
• A transmissão nas línguas d a fé isra e lita 89
originais PA R TE 1 Esboço
• A transmissão em outras D e s c o b r in d o o Objetivos
línguas Pano de fundo das
Pe n t a t e u c o
H erm enêutica: Com o deve­ narrativas patriarcais
mos interpretar a Bíblia? A história dos patriarcas
3. In tro d u çã o ao
• Use o método gramático- • Esboço
Pentateuco:
histórico • Abraão e Isaque (12—25)
O n a scim e n to do
• Compreenda o contexto • Jacó e seus doze filhos (25.19—
povo de D eus 63
• Determine o tipo de literatura 36.43)
• Interprete a linguagem Esboço
• José (37.1-50.26)
figurativa Objetivos Teologia das narrativas
• Deixe que as Escrituras O que é o Pentateuco? patriarcais
interpretem as Escrituras Sobre o que fala o • Eleição
• Descubra a aplicação para a Pentateuco? • Promessa
vida moderna Q uais são os principais • Aliança
Sumário temas do Pentateuco? Sumário
Termos-chave • Soberania de Deus Termos-chave
Pessoas/Lugares-chave • História Pessoas/Lugares -chave
Questões para estudo • A condição da humanidade Questões para estudo
Leituras complementares decaída Leituras complementares

6
Conteúdo

6. èxod o: Termo-chave Pessoas-chave


A fu g a m ira cu lo sa 103 Pessoas /Lugares- chave Questões para estudo
Esboço Questões para estudo Leituras complementares
Objetivos Leituras complementares
Conteúdo do livro de Exodo 11. Jo su é :
• Esboço 9. D e u te ro n ô m io : C o n q u ista e d iv isã o 167
• Os acontecimentos de Exodo A re sta u ra ç ã o da Esboço
Problem as históricos do a lia n ça 141 Objetivos
Exodo Esboço E sb oço
• Historicidade do Exodo Objetivos Pano de fundo do livro de
• Data do êxodo Conteúdo do livro de Jo su é
• Rota do êxodo D euteronôm io • Josué, o homem
Significado teológico do • Estrutura literária • Data e autoria
êxodo • Esboço • A arqueologia e o livro de
• Livramento • Visão geral Josué
• Aliança Paralelos do mundo antigo • Temas de Josué
• Presença de Deus • Paralelos com os hititas M ensagem do livro de
Sumário • Estrutura de tratado em Jo su é
Termos-chave Deuteronômio • Israel conquista a terra
Lugares-chave Significado de prometida (1-12)
Questões para estudo D euteronôm io para o • Israel divide a terra prometida
Leituras complementares pensam ento bíblico (13-21)
• Papel de Deuteronômio no • Israel começa a se assentar na
7, Le v ítico : Pentateuco terra prometida (22-24)
In stru çõ e s p ara se v iv e r Sumário
• Deuteronômio e os Livros
em s a n tid a d e 117 Históricos Termo-chave
Esboço Lugares-chave
Sumário
Objetivos Questões para estudo
Termos-chave
Leituras complementares
Pano de fundo do livro de Pessoas/Lugares -chave
Levítico Questões para estudo
12. Ju ize s e Rute: A crise
Conteúdo de Levítico Leituras complementares
m o ral d e Israel 181
• Esboço Esboço
• Visão geral P A R TE 2 Objetivos
Temas de Levítico DESCOBRINDO OS LIVROS O livro de Juizes
• Lei
HISTÓRICOS Conteúdo
• Sacrifício
• Esboço
• Santidade
• Visão geral
Sumário 10. In tro d u ç ã o ao s Livro s
Problem as históricos em
Termos-chave H istó rico s: A h istó ria de
Juizes
Questões para estudo Isra el co m o n a çã o 157
• Cronologia
Leituras complementares Esboço
• Estrutura política
Objetivos
3, N ú m ero s: O fra c a s so O livro de Rute
Conteúdo dos Livros
no d e se rto 127 Conteúdo
H istóricos
Esboço • Estrutura literária
O papel da história na • Esboço
D bjetivos B íblia • Visão geral
Conteúdo do livro de • Heródoto, o pai da história? A soberania de Deus e o
N úm eros • O Cânon judaico e o Cânon viver de fidelidade
• Estrutura literária cristão Sumário
• O uso de números no livro • História e Teologia Termos-chave
• Esboço A utoria dos Livros Questões para estudo
• \ isão geral H istóricos Leituras complementares
O uso do livro de N úm eros • A história deuteronômica
no N ovo Testamento • Crônicas e Esdras-Neemias 13. 1 S am u e l: D eus
• 1 Coríntios 10 • Rute e Ester co n ce d e um rei 195
• Hebreus Sumário Esboço
Sianário Termos-chave Objetivos

7
Conteúdo

E sb o ç o • Esboço Esboço
Pano de fundo de 1 Sam uel • Visão geral Objetivos
• Cenário Tem as dos livros de R eis O que são os Livros
• Autoria e data Sumário P oéticos?
• Temas de 1 Samuel Termos-chave C aracterísticas com uns da
A m ensagem de 1 Sam uel Pessoas/Lugares -chave p o esia hebraica
• O período de transição (1—15) Questões para estudo • Métrica
• A ascensão de Davi e o Leituras complementares • Paralelismo
declínio de Saul (16—31) • Quiasmo
Sumário 17. 1 e 2 C rô n ic a s:
• Acrósticos
Lugares-chave U m a re tro s p e c tiv a 251
Paralelos ugaríticos
Questões para estudo Esboço
O s Livros Poéticos
Leituras complementares Objetivos
Sumário
O autor e seu propósito
Termos-chave
14. 2 S a m u e l: C rônicas e o Cânon Lugares-chave
O re in a d o d e D avi 209 • Posição no Cânon Questões para estudo
Esboço • Relação com Samuel e Reis Leituras complementares
Objetivos C onteúdo de 1 e 2 Crônicas
E sb o ço • Esboço 20. Jó: Um h o m e m à
Pano de fundo de 2 Sam uel • Visão geral
p ro cu ra d e ju s tiç a 289
• Cenário Tem as dos livros de C rônicas
Esboço
• Autoria e data • Davi e sua dinastia
Objetivos
• Temas de 2 Samuel • O templo e a adoração a Deus
Introdução à literatura de
A m ensagem de 2 Sam uel Sumário
sab ed o ria
• A ascensão de Davi ao poder Termos-chave
Questões para estudo • Literatura do antigo Oriente
(1^4)
• O reinado de Davi sobre toda Leituras complementares Próximo
Israel (5-24) • Literatura de sabedoria do
Sumário 18. E s d r a s , N e e m ia s e Antigo Testamento
Termos-chave E s te r. Tem p o d e Conteúdo do livro de Jó
Pessoas íLugares -chave re c o n s tru ir 263 • Esboço
Questões para estudo Esboço • Visão geral
Leituras complementares Objetivos O autor e seus tem pos
O s livros de Esdras e Tem as teológicos
15. 1 R eis: N eem ias Sumário
A g ló ria d e S a lo m ã o e • Conteúdo Termos-chave
o p rin c íp io d o fim 221 • Problemas de interpretação Pessoas/Lugares -chave
Esboco O livro de Ester Questões para estudo
Objetivos • Conteúdo Leituras complementares
O autor e seus m étodos T em as teológicos
• Teologia da retribuição • Esdras^Neemias 21. S a lm o s:
• Fórmula do reinado e fontes • Ester O liv ro d e c â n tic o s do
• Perspectiva histórica do exílio Sumário a n tig o Isra e l 303
Conteúdo de 1 R eis Termos-chave Esboço
• Esboço Questões para estudo Objetivos
• Visão geral • Esdras-Neemias Pano de fundo do livro de
Sumário • Ester Salm os
Termos-chave Leituras complementares • O nome “Salmos”
Pessoas/Lugares- chave • Autoria de Salmos
Questões para estudo PARTE 3 • O lugar singular do livro de
Leituras complementares Salmos na Palavra de Deus
D e s c o b r in d o o s L iv r o s A divisão de Salm os
16. 2 R eis: O fim d e Isra el p o é t ic o s • Organização básica
co m o n a ç ã o 237 • Teorias sobre a organização de
Esboço 19. In tro d u ç ã o a o s Liv ro s Salmos
Objetivos P o é tico s: A lite ra tu ra do T ítulos de Salm os
Conteúdo de 2 R eis p o v o d e D eu s 281 C lassificação de Salm os
8
Conteúdo

• Hinos PA RTE 4 • Palavras de abertura para Judá


• Salmos de penitência (1-1-31)
D e s c o b r in d o o s
• Salmos de sabedoria • O julgamento de Deus é
• Salmos da realeza PROFETAS revelado (2.1—5.30)
• Salmos messiânicos • O chamado de Isaías (6.1-13)
• Salmos imprecatórios 24. Os P ro fetas: • O sinal de Emanuel (7.1-17)
• Salmos de lamento Vozes d os se rv o s • A iminente invasão assíria
O livro de Salmos e o de D eus 339 (7.18-8.22)
cristão Esboço • Descrição da era messiânica
Sumário Objetivos (9.1-7)°
Termos-chave A tradição bíblica da • Julgamento contra Israel e
Pessoas-chave profecia Assíria (9.8—10.34)
Questões para estudo • De que forma a profecia se • Mais descrições sobre a era
Leituras complementares encaixa no cumprimento dos messiânica (11.1—12.6)
propósitos de Deus? • Profecias contra as nações
22. P ro vérb io s: • Quem foram os “pioneiros” da (13.1-23.18)
C o n se lh o s sob re profecia? • O “pequeno apocalipse”
co m o v iv e r no m u n d o A natureza da profecia (24.1-27.13)
de D eus 313 • O termo hebraico para • Profecias dos ais
Esboço “Profeta” (28.1-33.24)
Objetivos • Quais são algumas idéias • Resumo escatológico final
O que é um provérbio? erradas mais comuns sobre os (34.1-35.10)
Conteúdo do livro de profetas? • Interlúdio histórico: pontos
Provérbios • Quais as semelhanças entre os altos e baixos do reinado de
• Esboço profetas? Ezequias (36.1—39.8)
• Visão geral • Outras nações tinham Sumário
profetas? Termos-chave
A utoria
• Todos os profetas escreviam as Pessoas/Lugares -chave
Temas teológicos
suas mensagens? Questões para estudo
Sumário
• Como a profecia chegou até nós ? Leituras complementares
Termos-chave
Pessoa-chave • Quais são alguns temas
comuns nos escritos dos 26. Isa ía s 40 -6 6: G ra n d e s
Questões para estudo
profetas? d ia s e stã o por vir! 369
Leituras complementares
O contexto histórico dos Esboço
23. E c le sia ste s e profetas clássicos Objetivos
C â n tico d o s C â n tico s: • Os assírios E sboço
A fé isra e lita na vid a • Os babilônios Q uem escreveu Isaías
d iária 325 • Os persas 4 0 -6 6 ?
Esboço Sumário • Ponto de vista de múltiplos
Objetivos Termos-chave autores
O livro de Eclesiastes Pessoas/Lugares -chave • Ponto de vista de um único
• Conteúdo Questões para estudo autor
• Autoria Leituras complementares A s passagens sobre o servo
O livro de Cântico dos em Isaías 4 0 -6 6
Cânticos 25. Isa ía s 1-39 : P rofeta da A mensagem de Isaías
• Conteúdo co rte real de Judá 353 continua
• Autoria Esboço • Consolai, consolai o meu
Temas teológicos Objetivos povo (40.1-31)
• Eclesiastes E sboço • A redenção por vir (41.1-29)
• Cântico dos Cânticos Pano de fundo do livro de • O papel do servo do Senhor
Sumário Isaías (42.1-25)
Termos-chave • Isaías, o homem • A redenção de Israel da
Pessoas-chave • Os tempos de Isaías Babilônia (43.1-45.25)
Questões para estudo • Autoria e data • Julgamento contra a Babilônia
• Eclesiastes • Temas do livro de Isaías (46.1-47.15)
• Cântico dos Cânticos M ensagem do livro de • A libertação de Israel e
Leituras complementares Isaías exaltação (48.1-52.12)

9
Conteúdo

• O servo sofredor (52.13-53.12) 29. E ze q u iel 1-24: • Conteúdo


• Celebração do retorno (54.1— D ias d ifíc e is e stã o • Visão geral
59.21) p o r vir! 407 Os temas teológicos de
• O clímax da restauração de Esboço D aniel
Deus (60.1-66.24) Objetivos • A soberania de Deus
Sumário E sboço • O orgulho da humanidade
Termos-chave Pano de fundo de Ezequiel • A vitória final dos santos de
Questões para estudo A mensagem de Ezequiel Deus
Leituras complementares • Profecias e acontecimentos Problem as de interpretação
relacionados ao chamado de • Material bilingüe
27. Je re m ia s 1-20: Ezequiel (1.1-5.17) • Identificação dos quatro reinos
Em co n flito com o • O dia do Senhor (6.1-7.27) • Visão das “setenta semanas”
c h a m a d o de D eus 383 • A glória de Deus se vai • Questões históricas
Esboço (8.1-11.25) • Data de composição
Objetivos • Julgamento contra Jerusalém Sumário
E sboço (12.1-24.27) Termos-chave
Pano de fundo de Jeremias Sumário Pessoas/Lugares -chave
A m ensagem de Jerem ias Termos-chave Questões para estudo
• Deus chama Jeremias para Lugares-chave Leituras complementares
servido (1.1 '19) Questões para estudo
• Jeremias descreve o triste Leituras complementares 32. O séia s, Joel e A m ós:
estado de Judá (2.1-10.25) Um ch a m a d o p ara o
• Jeremias em conflito com o po- 30. E ze q u iel 25-48: arre p e n d im e n to
vo e com Deus (11.1—20.18) D eus está e um a p ro m e ssa
Sumário p la n e ja n d o um fu tu ro d e b ê n ção 439
Pessoas/Lugares -chave e m o cio n a n te ! 417 Esboço
Questões para estudo Esboço Objetivos
Leituras complementares Objetivos O séias: Com partilhando o
A mensagem de Ezequiel sofrimento de D eus
28. Je re m ia s 21-52 e continua (2 5 .1 -4 8 .3 5 ) • Esboço
L a m e n ta ç õ e s: Lid an d o • Profecias contra as nações • O homem
com o d e sa stre 393 (25.1-32.32) • Seus tempos
Esboço • A restauração de Israel (33.1— • Principais temas do livro
Objetivos 39.29) • Conteúdo do livro
E sboço • O novo templo de Israel • Oséias e o Novo Testamento
A m ensagem de Jerem ias (40.1-48.35) Joel: O dia do Senhor
continua (2 1 .1 -5 2 .3 4 ) Sumário • Esboço
• Jeremias desafia governantes e Termos-chave • Pano de fundo de Joel
profetas (21.1-29.32) Lugares-chave • A mensagem de Joel
• O Livro do Consolo Questões para estudo A m ós: U m pastor pela
(30.1-33.26) Leituras complementares justiça social
• O fracasso da liderança de • Esboço
Jerusalém (34.1-39.18) 31. D an iel: • Pano de fundo de Amós
• Jerusalém depois da queda O reino de D eus — A gora • A mensagem de Amós
(40.1-45.5) e p ara se m p re 427 Sumário
• Profecias sobre as nações Esboço Termos-chave
(46.1-51.64) Objetivos Pessoas/Lugares -chave
• A queda de Jerusalém é O livro de Daniel como Questões para estudo
revista (52.1-34) forma de literatura Leituras complementares
Lam entações: U m pranto apocalíptica
de agonia • A singularidade da literatura 33. O b a d ia s, Jo n as,
• Esboço apocalíptica M iq u é ias, N aum ,
• Pano de fundo de Lamentações • Características da literatura H ab acu q u e e S o fo n ia s:
• A mensagem de Lamentações apocalíptica O p lan o de Deus
Sumário • O apocalíptico “bíblico” p ara as n a çõ e s 451
Questões para estudo Conteúdo do livro de Esboço
Leituras complementares D aniel Objetivos
10
Conteúdo

O badias: Edom cairá! • Esboço • Pano de fundo de Zacarias


• Esboço • Pano de fundo de Sofonias • A mensagem de Zacarias
• A mensagem de Obadias • A mensagem de Sofonias M alaquias: Ofereça a D eus
Jonas: Fugindo de D eus Sumário o melhor de si!
• Esboço Termos-chave • Esboço
• Pano de fundo de Jonas Pessoas/Lugares -chave • Pano de fundo para Malaquias
• A mensagem de Jonas Questões para estudo • A mensagem de Malaquias
M iquéias: U m zelote a Leituras complementares Sumário
favor da vida coerente Termo-chave
com a aliança 34. A g e u , Z a ca ria s e Pess oas/Lugares -chave
• Esboço M a la q u ia s: Questões para estudo
• Pano de fundo de Miquéias R e co n stru in d o Leituras complementares
• A mensagem dc Miquéias um p o vo 463
N aum : Nínive cairá! Esboço Ep ílogo 475
• Esboço Objetivos G lo ssário 477
• Pano de fundo de Naum A geu: Lidando com Notas 491
• A mensagem de Naum pessoas que não se índice
H abacuque: Senhor, o que im p ortam por assu n to 502
está acontecendo? • Esboço
índice por p a ssag en s
• Esboço • Pano de fundo de Ageu
• A mensagem de Ageu
b íb licas 514
• Pano de fundo de Habacuque
Z acarias: Preparem -se para índice por nom es 525
• A mensagem de Habacuque
Sofonias: D eus irá julgar o reino de D eus!
toda a terra! • Esboço

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Prefácio do editor
A saúde e a vitalidade da igreja cristã em tamento é uma excelente contribuição da
toda a sua história sempre estiveram atreladas Editora Cultura Cristã no sentido de oferecer
ao seu relacionamento com a Escritura. Na à igreja ferramentas para o estudo da Escritu­
verdade, ao longo da História, o Senhor foi ra. Texto, contexto, cultura, história, caracte­
glorificado por meio de um povo que, seguin­ rísticas, problemas, personagens e temas do­
do os seus preceitos, o adorava e obedecia. minantes mas, principalmente, a mensagem
Isso não pode ser diferente, hoje. A Igreja dos livros bíblicos, são apresentados de modo
precisa praticar a mesma obediência e, por vivido, dinâmico, atraente, facilitando a pes­
uma vida de temor de Deus, glorificar ao seu quisa do estudante da Bíblia.
Senhor também hoje. Daí a necessidade dos Mas o estudo dos preceitos do Senhor não
cristãos se voltarem para a Bíblia, amando-a e pode ser feito de modo mecânico. N ão foi
estudando-a para pô-la em prática. Num a assim que estes livros foram preparados e, cer­
época para a qual todas as idéias religiosas são tamente, não deverão ser assim utilizados.
igualmente válidas, o forte testemunho de Temor de Deus e oração deverão marcar a
crentes fiéis haverá de estabelecer a diferen­ busca da iluminação do Espírito que nos ca­
ça e atrair pessoas para o Senhor Jesus Cristo. pacitará, acima de qualquer ajuda humana,
A publicação dos títulos Descobrindo a a nos aprofundarmos na Palavra de Deus.
Antigo Testamento e Descobrindo o Novo Tes­

Cláudio M arra
Editor em Português
Apresentação
Livros de introdução bíblica devem ser con­ 5. Ele deve ser realista sobre o nível de co­
siderados parte fundamental do currículo dos nhecimento bíblico da maioria dos crentes.
institutos bíblicos e seminários evangélicos. A 6. Ele deve buscar atrair o aluno, em parte
Bíblia constitui a base tanto para a nossa vida enfocando o ensino bíblico em relação a dou­
espiritual quanto intelectual — na verdade, trinas fundamentais e questões éticas.
para a nossa vida como um todo. Se essas ins­
tituições são essenciais para a educação cristã O b jetivo s
e para a form ação de educadores cristãos, Os objetivos de Descobrindo o Antigo Testa­
então os livros usados para essas matérias não mento e Descobrindo o Novo Testamento encai­
poderiam ser mais necessários. xam-se em duas categorias: intelectual e de
A Editora Cultura Cristã está lançando dois atitude. Os objetivos intelectuais são: (1) apre­
volumes separados, porém relacionados, com sentar o conteúdo conceituai de cada livro do
material apropriado para aulas de introdução Antigo Testamento, (2) introduzir o pano de
bíblica. N essas duas obras, textos introdutó­ fundo histórico, geográfico e cultural, (3) deli­
rios e de teologia bíblica voltados para o nível near os princípios básicos de hermenêutica, (4)
superior e para estudantes avançados que não tratar de assuntos críticos (como, por exemplo,
freqüentam um curso bíblico regular foram por que algumas pessoas interpretam a Bíblia
planejados expressamente com esse propósito. de maneiras diferentes) e (5) nutrir a fé cristã.
Além do benefício óbvio para pastores e semi­ Também há cinco objetivos relacionados à
naristas, eles trarão grande ajuda também para atitude: (1) tornar a Bíblia uma parte da vida
professores de escola dominical e pregadores dos alunos, (2) incutir nos alunos amor pelas
leigos. São livros com forte ênfase pedagógi­ Escrituras, (3) fazê-los pessoas melhores, (4)
ca, o que facilita o seu aproveitamento. aumentar sua devoção e (5) estimular o seu
amor por Deus. Em resumo, os autores e edi­
P rin cíp io s n o rte a d o re s tores se sentirão recompensados se os textos
Como parte do processo de desenvolvimen­ puderem construir uma base para toda uma
to deste livro Descobrindo o Antigo Testamen­ vida de estudo da Bíblia.
to, bem como do que o acompanha, Desco­
P rin cip ais te m a s
brindo o N ovo Testamento , os editores, seus
autores e a editora, estabeleceram os seguin­ Elá três temas teológicos que orientam os
tes princípios para esses textos básicos: escritos de Descobrindo o Antigo Testamento e
Descobrindo o Novo Testamento: Deus, as pes­
1. Esses livros devem refletir o que há de soas e a forma como o evangelho relaciona-se
melhor nos estudos evangélicos de nossos dias. com os indivíduos. A idéia de que Deus é um
2. Deveriam ser escritos em um nível que ser em três pessoas — um ser transcendente e
possibilitasse o entendim ento por parte da imanente — aparece entretecida ao longo da
maioria dos estudantes da Bíblia. A o mesmo obra. Além do mais, esse Deus criou seres à
tempo em que esse parâmetro não deve nive­ sua imagem que são caídos, mas que ainda
lar os alunos por baixo, deve estar ao alcance são objeto de seu amor redentor. O evangelho
da maioria dos estudantes. é o meio, o poder pessoal ativo que Deus usa
3. Ele deve ser pedagogicamente correto. para resgatar as pessoas da escuridão e da
Isso se aplica não apenas aos pontos tradicio­ morte. Mas o evangelho faz mais do que res­
nais como questões para estudo em cada ca­ gatar — ele restaura. Ele dá a pecadores an­
pítulo, mas também à ordem e à maneira como tes desesperados a determinação e as forças
o material é apresentado. para terem uma vida agradável a Deus, pois
4- Ele deve levar em consideração que a podem andar no amor que vem de Deus.
maior parte dos alunos aprende mais visual
que verbalmente e, portanto, deve procurar C a ra c te rístic a s
tirar proveito desse fato e apresentar, sempre A o publicar este material, a meta é ofere­
que possível fotos, mapas, quadros e gráficos. cer um recurso que, se por um lado é excep­
13
Sobre o livro

cionalmente singular, por outro, não é apenas primárias, incluindo textos bíblicos e
parte de um modismo. Fica por conta de ou- extrabíblicos.
tros avaliar se alcançamos ou não essa meta. • Esboço do capítulo e objetivos apresen­
De qualquer forma, algumas das caraterísticas tados na abertura de cada capítulo.
particulares que esperamos ser úteis para o • Questões para estudo, bibliografia ano­
professor e servir de inspiração para o aluno tada e sumário do capítulo no final de
incluem: cada capítulo.
• Grande número de ilustrações, fotogra­ Estamos convencidos de que o livro-texto
fias, figuras, tabelas e quadros — todos deve ser o mais pedagógico possível e que deve
coloridos. refletir a mais alta visão da psicologia educa­
• Tarjas que oferecem dois tipos de mate­ cional. A consultora educacional Dra. Janet
rial. As amarelas exploram de maneira Merrill, contribuiu com seus conhecimentos
sucinta questões éticas e teológicas de para melhorar significativamente esse proje­
interesse e que dizem respeito ao quoti­ to. Agradecemos à Dra. Merrill que tão habil­
diano moderno do estudante cristão. As mente preparou os testes, os objetivos e os su­
de cor azul oferecem material de fontes mários dos capítulos.

14
Acreditamos ser essencial receber a maior quantidade
possível de informações de professores que ensinam
cursos de Antigo Testamento em faculdades de todo o
país. Portanto, fizemos um levantamento junto a
professores de aproximadamente cinqüenta faculda­
des. Os resultados desse levantamento foram compila­
dos e usados continuamente ao longo do processo de
planejar, escrever e produzir esse livro.

Alguns dos professores que participaram desse


levantamento concordaram em fazer parte de um
conselho deliberativo. Gostaríamos de agradecer aos
seguintes membros por sua contribuição excepcional­
mente valiosa na elaboração da obra Descobrindo o
Antigo Testamento:

R. Jerome Boone Glenn Schaefer


Lee University Simpson College

Stephen Bramer Carl Schultz


Briercrest Bible College Houghton College

Raymond W. Clark Andrew L. Smith


Covenant College Cornerstone College

Daniel Doriani Robert D. Spender


Covenant Theological The King's College
Seminary
Gerald H. Wilson
Hobert Farrel George Fox College
LeTourneau University
Marvin Wilson
Michael Holmes Gordon College
Bethel College
Alan Neal Winkler
David K. Johnson Bryan College
Northwestern College
William J. Woodruff
George L. Klein Olivet Nazarene University
Criswell College

Mark D. McLean
Evangel College
Para o professor
Sabemos que muitos dos que virão a usar Os esboços para cada livro do Antigo Testa­
este livro são já experientes na Escritura, en­ mento foram tirados (com algumas modifica­
quanto outros estão apenas iniciando. Esta ções) do Evangelical Commentary on the Bible,
obra contém material que satisfará os dois gru­ organizado por Walter Elwell (Grand Rapids:
pos. Também incluímos um glossário que es­ Baker, 1989).
clarece termos difíceis com os quais o leitor Os leitores que desejarem um comentário
pode não estar familiarizado. As questões para versículo por versículo que não é oferecido
estudo no final de cada capítulo orientam o neste material podem usar o volume mencio­
leitor e concentram-se nos pontos-chave do nado acima para estudos complementares, ou
capítulo. Por fim, uma lista de livros para “Lei­ outro publicado em nossa língua, o que inclui
turas Complementares” no final de cada ca­ os comentários da Editora Cultura Cristã.
pítulo apresenta sugestões para o aluno que A Baker Books contribuiu para produzir uma
quiser mais informações sobre qualquer um obra ricamente ilustrada. O material de ilustra­
dos tópicos abordados. Esperamos expandir a ção, como quadros, mapas e gráficos, compõe
maneira de pensar de todos os alunos, inde­ aproximadamente vinte por cento de todo o
pendente de sua formação e estágio de de­ volume. O formato colorido torna o livro mais
senvolvimento cristão. agradável ao usuário que é parte de uma gera­
O tom principal do livro é evangélico. Acre­ ção que já experimentou muito do que há em
ditamos que as Escrituras não falaram apenas termos de avanços tecnológicos. Queremos dar
ao seu público original, como continuam a aos alunos a sensação de “estarem lá” o máximo
nos falar nos dias de boje. Ao mesmo tempo, possível para ajudá-los a visualizar as imagens
sabemos que pessoas de diferentes denomi­ que a Bíblia descreve tão cuidadosamente.
nações cristãs irão utilizar esta obra. Em fun­ Também ressaltamos a relevância do Antigo
ção disso, quando discutimos questões sobre Testamento ao colocar “tarjas” estratégicas den­
as quais não há um consenso entre os evangé­ tro do texto. Essas tarjas aplicam o texto direta­
licos, muitas vezes escolhemos apresentar a mente a questões pertinentes aos nossos dias.
interpretação básica e deixar que o pesquisa­ Elas ajudam o leitor a compreender que a Bíblia
dor aprofunde-se mais e escolha a abordagem não falou só no passado, mas que continua a
mais apropriada. falar ainda hoje. Com essa finalidade, também
O material apresentado segue a ordem incorporamos ao texto material de aplicação prá­
canônica de nossa Bíblia. Descobrimos ao lon­ tica sempre que apropriado.
go de nossa pesquisa que essa é uma prefe­ Esperamos e oramos para que esse livro o
rência da maioria dos professores. A divisão ajude a adquirir mais amor e apreciação pela
de capítulos, entretanto, facilita o uso de uma mensagem que tem um impacto sobre cada
visão tanto canônica quanto cronológica. um de nós — a mensagem da Bíblia.
Para o aluno
Assuntos éticos
e teológicos

Material de
fontes primárias O primeiro encontro sistemático com o Sum ário
Antigo Testamento é uma experiência emo'
No final de cada capítulo pode ser encon­
cionante. Também pode ser um pouco assus­
trado um quadro com frases que o resumem.
tadora, pois há muito a se aprender. Você pre­
Sugestão para estudo: use o quadro de sumário
cisa aprender não apenas o conteúdo do A n­
para fazer uma revisão imediata do que você
tigo Testamento, mas também um bocado so­
Destaque:
acabou de ler.
bre o mundo do Oriente Médio.
assuntos-chave
O propósito deste livro é fazer com que Term os-chave e glossário
e aplicações
relevantes esse encontro seja menos intimidante. A fim
Os termos-chave aparecem identificados
de tomar isso possível, alguns recursos didáti­
em negrito ao longo do texto. Isso servirá para
cos foram incorporados ao texto. Sugerimos
chamar sua atenção para palavras ou frases
que você se familiarize com esse livro-texto
importantes com as quais você pode não estar
lendo o seguinte material introdutório que
familiarizado. Uma definição dessas palavras
Termos, pessoas
explica os recursos didáticos oferecidos.
pode ser encontrada no glossário no final do
e lugares-chave livro. Sugestão para estudo: quando você vir
Q uadros am arelos
um termo-chave dentro do texto, pare e leia a
O material dentro dos quadros amarelos
definição dele antes de continuar a leitura do
destaca questões contemporâneas e mostra
capítulo.
como o Antigo Testamento trata ética e teo­
logicamente desses importantes assuntos. A l­ Pessoas e lugares-chave
guns desses quadros contêm citações de vá­
Durante o estudo do Antigo Testamento,
Questões para rios autores, sejam eles antigos ou modernos,
você verá muitos nomes e lugares. Aqueles
estudo cujos pensamentos esclarecem o material do
que são especialmente significativos apare­
Antigo Testamento que está sendo discutido.
cem escritos em letras maiúsculas. Sugestão
Esboços dos capítulos para estudo: quando estiver estudando um
texto, faça uma leitura rápida, parando a cada
No início de cada capítulo aparece um breve
palavra escrita com letras maiúsculas para ver
esboço do conteúdo do capítulo. Sugestão para
se você sabe a importância daquele termo no
Leituras estudo: antes de ler o capítulo, empregue alguns
complementares Antigo Testamento.
minutos lendo o esboço. Pense nele como um
mapa e lembre-se de que é mais fácil alcançar
Q uestões para estudo
o seu destino se você sabe aonde está indo.
No final de cada capítulo, são apresenta­
O bjetivos dos capítulos das algumas questões para discussão e elas
Uma breve lista de objetivos encontra-se podem servir como revisão para provas. Suges­
no começo de cada capítulo. Ela apresenta as tão para estudo: ao preparar-se para provas,
tarefas que você deve ser capaz de realizar escreva as respostas certas para as questões.
depois de ter estudado o capítulo. Sugestão
Leituras com plem entares
para estudo: leia os objetivos com cuidado antes
de começar a leitura do texto. Ao ler, tenha Uma curta bibliografia para leituras com­
em mente esses objetivos e tome notas que plementares é apresentada na conclusão de
ajudarão você a se lembrar do que leu. D e­ cada capítulo. Sugestão para estudo: use as lei­
pois de ler o capítulo, volte para os objetivos e turas sugeridas para explorar áreas de maior
veja se é capaz de realizar as tarefas. interesse.

17
Ao aluno

Ezequiel Ez Novo Testam ento


Abreviações Dn
Daniel Mateus Mt
Antigo Testam ento Oséias Os Marcos Mc
Gênesis Gn Joel Jl Lucas Lc
Êxodo Êx Amós Am João Jo
Levítico Lv Obadias Ob Atos At
Números Nm Jonas Jn Romanos Rm
Deuteronômio Dt Miquéias Mq 1 Coríntios 1Co
Josué Js Naum Na 2 Coríntios 2 Co
Juizes 'sz H.ahacu.a,u.e. H.c Gétefias GÂ
Rute Rt Sofonias Sf Efésios Ef
1 Samuel 1Sm Aqeu Aq Filipenses Fp
2 Samuel 2Sm Zacarias Zc Colossenses Cl
1 Reis 1 Rs Malaquias Ml 1 Tessalonicenses 1Ts
2 Reis 2 Rs 2 Tessalonicenses 2Ts
1 Crônicas 1Cr Apócrifos do Antigo 1 Timóteo 1Tm
2 Crônicas 2Cr
Testam ento 2 Timóteo 2Tm
Ed Tobias Tb Tito Tt
Esd ras
Neemias Ne Judite Jt Filemon Fm
Ester Et Sabedoria Sa Flebreus Hb
Jó Baruque Br Tiaqo
Jó Tg
Salmos SI Siraque Sr 1 Pedro 1 Pe
Provérbios Pv 1 Macabeus 1Mb 2 Pedro 2Pe
Eclesiastes Ec 2 Macabeus 2Mb 1 João 1Jo
Cântico dos Cânticos Ct 2 João 2Jo
Isaías Is 3 João 3Jo
Jeremias Jr Judas Jd
Lamentações de Jeremias Lm Apocalipse Ap

Recursos visuais
Uma série de ilustrações na forma de foto­ de tomar o texto esteticamente mais agradá­
grafias, mapas e quadros foi incluída neste vel como também mais fácil de ser entendido.
livro-texto. Cada ilustração foi cuidadosamen­ Que o seu encontro com o Antigo Testa­
te selecionada e tem a intenção não apenas mento possa ser uma aventura emocionante!

18
Agradecim entos
Pode ser interessante saber com o os textos encorajador, e som os gratos pelo seu profissio­
deste livro foram distribuídos e qual autor es­ nalism o e ânimo. G ostaríam os de agradecer
creveu quais capítulos. A m aioria dos capítu­ especialm ente a Jim W eaver e M aria denBoer.
los foi distribuída de acordo com publicações Tam bém gostaríam os de agradecer nosso edi­
anteriores e interesses de cada autor. O Dr. tor, Dr. Eugene Merrill. A preciam os sua assis­
A rnold escreveu o capítulo introdutório sobre tência acadêm ica.
história e geografia (capítulo 2), todos os capí­ Tam bém tem os um a grande dívida para
tulos do Pentateuco (capítulos 3—9) e os Li­ com as m uitas pessoas que ajudaram a prepa­
vros H istóricos, exceto Josué e os livros de S a ­ rar os m anuscritos. A m bos fom os beneficia­
m uel (capítulos 10,12 e 15—18). Ele tam bém dos de m aneira especial pela ajuda de alunos
foi responsável pelos capítulos sobre Jó, Pro­ ou secretárias que nos auxiliaram de diversas
vérbios, E clesiastes, C ân tico dos C ân tico s, m aneiras. O s assistentes do Dr. A rnold foram
D aniel e o epílogo (capítulos 20,22,23 e 31). Joel R . Soza, M ichael K. W est e R obert W.
O Dr. Beyer escreveu o capítulo introdutório W ilcher; os do Dr. Beyer foram Cheryl Bran-
sobre a origem e inspiração do A ntigo T esta­ nan, C h an d ra Briggm an e Judy Peinado.
m ento (capítulo 1) e os capítulos sobre Josué e Finalm ente, querem os agradecer nossas es­
os livros de Sam u el (capítulos 11,13 e 14). posas, Su san Arnold e Yvonne Beyer, que nos
A lém da introdução aos Livros Poéticos (ca­ am aram e apoiaram fielm ente a ca d a passo.
pítulo 19), ele escreveu sobre Salm os (capítu­ C o m as palavras de Provérbios 31.10-31 so ­
lo 21) e todos os capítulos sobre os profetas, ando em nossos ouvidos, dedicam os a elas
exceto D aniel (capítulos 24—30 c 32—34). este livro.
A o longo da produção deste livro, o pes­
soal da B aker B ook H ouse foi prestativo e

B ill T. A rn o ld e Bryan E. Beyer

19
O que é o Antigo Testamento
e por que estudá-lo?

Esboço
• C a n o n : O q u e é a B íb lia ?
Definição de Cânon
Testes de canonicidade
A formação do Cânon
Seqüência de livros em hebraico e português Objetivos
• In s p ir a ç ã o : C o m o a B íb lia fo i e s c r it a ?
Teoria neo-ortodoxa D e p o is d e le r e s t e c a p ít u lo ,
v o cê d e v e se r ca p a z de:
Teoria do ditado
Teoria da inspiração limitada • Comparar os testes de canonicidade.

Teoria da inspiração verbal-plenária • Avaliar as teorias de inspiração mais


comuns.
• T r a n s m is s ã o t e x t u a l:
C o m o a B íb lia c h e g o u a t é n ó s ? • Dar exemplos da transmissão de textos.

O cuidado dos escribas com os textos do Antigo • Explicar a importância do escriba na


transmissão de textos.
Testamento
• Relacionar as considerações importantes na
A transmissão nas línguas originais
interpretação do Antigo Testamento.
A transmissão em outras línguas
• H e r m e n ê u t ic a :
C o m o d e v e m o s in t e r p r e t a r a B íb lia ?
Use o método gramático-histórico
Compreenda o contexto
Determine o tipo de literatura
Interprete a linguagem figurativa
Deixe que as Escrituras interpretem as Escrituras
Descubra a aplicação para a vida moderna

21
Descobrindo o Antigo Testamento

® ™ 1 Ainda me lembro do meu professor de in- Testes de canonicidade


glês no ensino médio dizendo; “Certifique-se Tendo em vista que Deus revelou sua pa­
dos fatos. As perguntas mais importantes que lavra por meio de pessoas comuns, tornou-se
canon vocês podem fazer são: quem, o que, quan­ importante saber quais livros vieram dele e
do, onde, por que e como”. quais refletiam apenas as opiniões humanas.
Aquele foi um bom conselho para escre­ Surgiu um consenso do que deveria consti­
vermos pesquisas escolares. Mas também é um tuir os devidos testes de canonicidade. Os tes­
bom conselho para estudarmos a Bíblia. Mui­ tes concentraram-se em três fatores: autor,
tos alunos nem tentavam escrever uma pes­ público e ensinamentos.
quisa sem saber de todos os fatos. Da mesma
forma, também não devemos começar o estu­ Teste 1 — Escrito por um profeta ou
do do Antigo Testamento sem antes apren­ pessoa com o dom de profecia
der alguns dos fatos essenciais sobre ele. Para ser parte do Cânon, o livro deveria ser
Este capítulo trata de quatro questões fun­ escrito por um profeta ou uma pessoa com o
damentais que todo estudante do Antigo dom de profecia. Os autores humanos não
Testamento deve ser capaz de responder: O poderiam de forma alguma saber a vontade
que é a Bíblia? Como a Bíblia foi escrita? de Deus se nao fosse pela presença do Espírito
Como a Bíblia chegou até nós? Como inter­ assistindo-os em seu entendimento. Era pre­
pretar a Bíblia? Iremos nos concentrar nas res­ ciso que a mão do Espírito de Deus estivesse
postas a essas perguntas, especialmente em presente no processo de redação. Sua presen­
relação ao Antigo Testamento. ça asseguraria que o produto final fosse a ver­
dade de Deus e que comunicasse fielmente a
mensagem de Deus.

Cânon: o que é a Bíblia? Teste 2 — Escrito para


todas as gerações
A princípio, esta pergunta parece simples. Um livro que fosse parte do Cânon precisa­
Sabemos o que é a Bíblia. E uma coleção de ria ter impacto sobre todas as gerações. A men­
sessenta e seis livros — trinta e nove no Anti­ sagem de Deus não poderia estar restrita a ape­
go Testamento e vinte e sete no Novo Testa­ nas um público. Se um livro era a Palavra de
mento. E o que há de Gênesis até Apocalipse. Deus, então deveria ser relevante para todas as
Mas nem sempre houve acordo sobre quais pessoas de todas as épocas. E possível que o
livros compõem a Bíblia. Os livros apócrifos autor tivesse escrito o texto para um público
— aqueles que aparecem nas Bíblias Católi­ específico, mas se era a Palavra de Deus, todos
cas Romanas — fazem parte da Bíblia? E se que lessem esse texto poderiam aplicar seus en­
arqueólogos descobrissem uma outra carta es­ sinamentos à sua vida de maneira proveitosa.
crita por Paulo? Será que essa carta deveria
ser incluída na Bíblia? De que forma os ju­ Teste 3 — Escrito de acordo com
deus e cristãos inicialmente decidiram quais revelações anteriores
livros deveriam fazer parte da Bíblia? Quan­ Para scr parte do Cânon, um livro não po­
do fazemos perguntas como estas, estamos le­ deria contradizer a mensagem de outros es­
vantando a questão do Cânon. critos anteriores revelados por Deus. Se, por
exemplo, um novo escrito dissesse ser de Deus,
Definição de Cânon mas estivesse em contradição com os ensi­
A palavra “Canon” vem do hebraico q ãn eh namentos de Gênesis, este não poderia ser a
e do grego k ariõn . Essas duas palavras, em Palavra de Deus. As verdades de Deus per­
seu original, significavam uma vara ou medi­ manecem as mesmas para sempre e não en­
da. Assim como uma vara podia ser usada trariam em contradição. Novas revelações po­
como padrão de medida, o Cânon bíblico tam­ deriam trazer informações adicionais sobre o
bém era um padrão de medida para a fé e a plano e os propósitos de Deus, mas nunca ir
prática. As pessoas podiam comparar suas vi­ contra revelações anteriores.
das àquilo que era requerido pela Bíblia.1
Além disso, a palavra “Cânon” também podia A form ação do Cânon
ter a conotação de um padrão dentro do qual Ao aplicar os princípios acima, os hebreus
os escritos bíblicos deveriam encaixar-se. determinaram, de um modo geral, quais li-
22
O que é o Antigo Testamento e por que estudá-lo?

Q u a d r o d a s e q ü ê n c ia d e liv r o s d o A n t ig o T e s t a m e n t o

O rg a n iz a çã o e O rg a n iz a çã o e
N o m es h e b ra ic o s c la s s ific a ç ã o no c la s s ific a ç ã o em D atas
p a ra o s liv ro s h eb raico p o rtu g u ê s a p ro x im a d as

No princípio Gênesis Gênesis


Estes são os nom es Êxodo Êxodo O Começo
E ele cham ou Torá Levítico Levítico Lei até aproxim adam ente
No deserto Números Números (P e n ta te u c o ) 1400 a.C .
Estas são as palavras Deuteronômio Deuteronômio

Josué Josué Josué 1400-1380


Juizes Juizes Juizes 1380-1050
1 Sam uel P ro fetas 1 Sam uel Rute 1200-1150
2 Sam uel Ante- 2 Sam uel 1 Sam uel 1100-1010
1 Reis rio re s 1 Reis 2 Samuel 1010-971
2 Reis 2 Reis 1 Reis H istó rico s 971-853
2 Reis 853-560
Isaías Isaías 1 Crônicas 1010-971
Jerem ias Jerem ias 2 Crônicas 971-539
Ezequiel Ezequiel Esdras 539-450
O séias Oséias Neemias 445-410
Joel Joel Ester 483-4-74
Amós Amós
Obadias P ro fetas Obadias Jó P o é tic o s
Jonas poste- Jonas Salm os e Nenhum período
Miquéias rio re s Miquéias Provérbios sab ed o ria histórico específico é
Naum Naum Eclesiastes coberto
Habacuque Habacuque Cântico dos Cânticos
Sofonias Sofonias
Ageu Ageu Isaías 739-530 a.C .
Zacarias Zacarias Jerem ias P ro fe ta s 627-580 a.C .
M alaquias Malaquias Lamentações m a io res 586 a.C .
Ezequiel 593-570 a.C .
Louvores Salmos Daniel 605-530 a.C .
Jó Jó
Provérbios Provérbios Oséias 760-730 a.C .
Rute Rute Joel 500 a.C .
Cântico Cânticos Amós 760 a.C .
dos Cânticos dos Cânticos Obadias 586 a.C .
0 Pregador Os Eclesiastes Jonas 770 a.C .
Gemido E s c r it o s Lamentações Miquéias P ro fe ta s 740-700 a.C .
Ester (Hagiografia) Ester Naum m e n o res 650 a.C .
Daniel Daniel Habacuque 605 a .C .
Esdras Esdras Sofonias 627 a.C .
Neemias Neemias Ageu 520 a .C .
1 As palavras dos dias 1 Crônicas Zacarias 520-518 a.C .
2 As palavras dos dias 2 Crônicas Malaquias 470 -46 0 a.C .

vros pertenciam e quais não pertenciam ao fluência da comunidade depois que Jerusalém
Antigo Testamento. A inda assim, existia al­ foi derrubada pelos romanos no ano 70 d.C.
guma confusão entre o povo. Em certas oca­ Os estudiosos discutem o que exatam ente
siões, os líderes judeus encontraram-se para aconteceu em Jâmnia, mas concordam que o
tratar deste e de outros assuntos. U m a dessas concilio não determinou quais livros perten^
reuniões parece ter ocorrido em JÂMNIA no ciam ao Antigo Testamento. N a verdade, o
final do primeiro século d.C. concilio parece ter confirmado oficialmente
livros que a maioria vinha reconhecendo há
O Concilio de Jâm nia várias gerações. Em outras palavras, o concilio
Jâm nia (atualmente chamada de Yavneh) deu o endosso oficial a certos livros, apenas
está localizada na costa sudoeste de Israel. A confirmando o que eles criam ter sido sempre
cidade tomou-se um importante centro de in­ verdade.2

23
Descobrindo o Antigo Testamento

Seqüência de livros em Uma diferença importante entre a neo-


neoortodoxia
hebraico e português ortodoxia e os evangélicos é que, enquanto
O Antigo Testamento em hebraico e por- estes afirmam que a Bíblia é a Palavra de
transcendente Deus, a neo-ortodoxia diz que a Bíblia é tes­
tuguês contém o mesmo material. Os livros,
mmÊammmmmmm porém, aparecem em uma ordem diferente. temunha da palavra de Deus. À medida que
evangélicos Não sabemos por quê. O quadro acima mos­ as pessoas dos tempos bíblicos passaram por
tra uma comparação. experiências com Deus, elas registraram seus
A versão hebraica divide os livros em três encontros com ele da melhor maneira possí­
teoria do
grupos: a Lei, os Profetas e os Escritos. Em vel. Mas por serem criaturas limitadas, algu­
ditado
português os livros são divididos em cinco gru­ mas vezes seus relatos continham paradoxos
pos: Pentateuco, Livros Históricos, Livros Poé­ e erros. Ainda assim, suas descrições ajudam
ticos, Profetas Maiores e Profetas Menores. outros a ter uma melhor compreensão de
Deus. E, à medida que outros tem suas pri­
meiras experiências com Deus mediante es­
ses relatos, eles tornam-se novamente a pa­
Inspiração: lavra de Deus.
como a Bíblia Avaliação
foi escrita? A neo-ortodoxia é louvável pela visão su­
perior que ela tem de Deus. Entretanto, a Bí­
De que maneira exatamente o Espírito de blia é mais que uma testemunha da palavra
Deus trabalhou em conjunto com os autores de Deus. Ela é a Palavra de Deus, conforme
a fim de inspirar os escritos sagrados/ Quando ela mesma testifica (2Tm 3.16,17). A Bíblia
fazemos essa pergunta, levantamos a questão afirma que, à medida que Deus foi se reve­
da inspiração. A inspiração é afirmada em vá­ lando, pessoas inspiradas pelo Espírito Santo
rias partes da Bíblia. Observe, por exemplo, as registraram sua mensagem (2Pe 1.20,21). Isso
palavras de Paulo em 2 Timóteo 3.16: “Toda foi possível pois Deus adaptou-se à compreen­
Escritura é inspirada por Deus e útil para o são limitada dessas pessoas. A neo-ortodoxia
ensino, para a repreensão, para a correção, falha por não oferecer uma explicação ade­
para a educação na justiça”. Esse versículo quada para todas as evidências bíblicas.
afirma claramente que Deus é o Autor de
todas as Escrituras. Teoria do ditado
Infelizmente, a Bíblia não descreve exata­ Sumário
mente de que forma Deus inspirou os escrito­
A teoria do ditado, como o próprio termo
res. Que papel eles tiveram na redação das
deixa claro, sugere que Deus simplesmente
Escrituras? Até que ponto o Espírito de Deus
ditou a Bíblia para escribas' humanos. Deus
lhes deu liberdade para escrever em seu pró­
escolheu certos indivíduos e lhes deu exata­
prio estilo? Aqueles que examinaram as Es­
mente as palavras que ele queria. Esses escri­
crituras para resolver essas questões propuse­
tores escreveram apenas o que Deus ditou
ram diversas teorias. Abaixo encontram-se
para eles. Essa teoria não aparece em muitos
quatro das mais comuns.
escritos, mas é bastante comum em certos
Teoria neo-ortodoxa meios do Cristianismo conservador.
Sumário Avaliação
A neo-ortodoxia nasceu no começo do As Escrituras sugerem que, em algumas oca­
século 20, em parte, como reação ao desres­ siões, Deus pode ter comunicado a autores hu­
peito liberalista para com a autoridade divina. manos uma mensagem de maneira precisa,
Dois de seus principais proponentes são Karl palavra por palavra (Jr 26.2; Ap 2.1,8). Outras
Barth e Emil Brunner.3 vezes, ele permitiu que os escritores expressas­
A neo-ortodoxia afirma que Deus é total­ sem sua própria personalidade à medida que
mente transcendente, ou seja, que ele é ab­ escreviam (G1.1.6; 3.1; Fp 1.3,4,8). Ainda as­
solutamente diferente de nós e vai muito além sim, o Espírito Santo certificou-se de que a obra
de nossa compreensão. Só podemos conhecer completa comunicasse acuradamente a inten­
alguma coisa dele quando ele se revela a nós, ção de Deus. Assim, a teoria do ditado explica
como fez por meio de Jesus Cristo. algumas evidências bíblicas, mas não todas.
24
O que é o Antigo Testamento e por que estudá-lo?

Relevo de leões
e leoas —
Nínive, por volta
de 645 a.C. As
palavras de
Jesus em
Mateus 1 2.41
deixam implícito
que o livro de
Jonas é mais
que simples­
mente uma
oarábola.

inspiração
Teoria da insp iração lim itada Teoria da in sp iração
verbal- Sumário verbal-plenária
plenária A teoria da inspiração limitada afirma que Sumário
Deus inspirou os pensamentos dos autores bíbli­ Como as outras teorias, a teoria da inspi­
cos, mas não necessariamente as palavras que ração verbal-plenária afirma que o Espírito
eles escolheram usar.4 Deus guiou os escritores à Santo interagiu com os autores humanos a
medida que eles escreviam, mas deu-lhes liber­ fim de produzir o texto bíblico. As palavras
dade de expressar os pensamentos divinos à sua “verbal” e “plenária” descrevem o significado
própria maneira. Por causa dessa liberdade, os específico que essa teoria dá à inspiração.5
detalhes históricos contidos nos escritos podem “Verbal” refere-se às palavras das Escritu­
conter erros. Entretanto, o Espírito Santo prote­ ras. Inspiração verbal significa que a inspira­
geu do erro as porções doutrinárias das Escritu­ ção de Deus estende-se a cada palavra esco­
ras, guardando a mensagem divina da salvação. lhida pelo autor. Mas não é o mesmo que a
teoria do ditado. Os autores poderiam ter es­
Avaliação colhido outras palavras e, com freqüência,
A teoria da inspiração limitada reconhece Deus permitiu que eles expressassem sua pró­
que as Escrituras contêm certas afirmações que pria personalidade enquanto escreviam. Mas
são difíceis de conciliar. Mas será que admitir o Espírito Santo guiou o processo dc modo
que há erros é a melhor solução? A Bíblia dá que o produto final transmitisse fielmente o
grande ênfase a detalhes históricos. A argu­ significado desejado por Deus.
mentação de Paulo em Romanos 5.12-21, por “Plenária” significa “cheia” ou “completa”.
exemplo, tem como pré-requisito a crença na A inspiração plenária afirma que a inspiração
figura histórica de Adão. As palavras de Jesus de Deus estende-se por todas as Escrituras, de
em Mateus 12.41 deixam subentendido que o Gênesis a Apocalipse. Deus guiou os autores
livro de Jonas não é simplesmente uma parábo­ tanto quando eles registravam detalhes histó­
la, mas sim que um profeta real chamado Jonas ricos quanto nas ocasiões em que discutiam
pregou para o povo de Nínive. Além disso, acha­ questões doutrinárias.
dos arqueológicos muitas vezes já resolveram A inspiração verbal-plenária, portanto, afir­
certos problemas encontrados nos registros bí­ ma que Deus inspirou toda a Bíblia. Essa ins­
blicos. Enquanto esperamos por mais eviden­ piração estendeu-se até às palavras que os
cias que esclareçam essas dificuldades, parece autores escolheram, mas Deus também deu
melhor, portanto, afirmar que a Bíblia como aos autores uma certa liberdade para que es­
um todo é absolutamente confiável. crevessem dc acordo com seu estilo e perso­
25
Descobrindo o Antigo Testamento

nalidade. Ao mesmo tempo, ele orientou o dos dias de hoje. Em primeiro lugar, significa
transmissão
processo de forma que o produto final refletis­ que a Bíblia é digna de confiança. Podemos
se com fidelidade a mensagem divina. confiar nas suas informações. Ela oferece
muitas idéias sobre a história do povo de Deus
Avaliação e também descreve o plano de Deus para o
A teoria da inspiração verbal-plenária é a mundo e para nossas vidas. Ela revela o sig­
que parece lidar melhor com as evidências bí­ nificado mais elevado da vida e nos mostra
blicas. Ela reconhece o elemento humano nas como nos tornarmos tudo o que Deus quer
Escrituras e admite que diferentes autores es­ que sejamos. Podemos confiar em tudo o que
creveram de diferentes formas. Mas ela tam­ ela afirma.
bém afirma que o Espírito Santo é, na verdade, Em segundo lugar, a inspiração verbal-ple­
o autor final da Bíblia. O Espírito impulsionou nária significa que a Bíblia tem autoridade.
os autores humanos a comunicarem a mensa­ Por ser a Palavra de Deus, ela fala com a auto­
gem divina de amor e salvação para um mun­ ridade de Deus. Ela nos chama a lê-la, com­
do que precisava desesperadamente dela. preender suas implicações e sujeitarmo-nos a
elas. E ela continua sendo a verdade de Deus,
Manuscritos Implicações da inspiração
antigos da Bíblia quer escolhamos obedecê-la ou não. A Bíblia
verbal-plenária coloca diante de nós duas opções: obedecer a
eram escritos
em rolos como A doutrina da inspiração verbal-plenária Deus ou nos opormos a ele. Moisés, o servo de
este. tem importantes implicações para os cristãos Deus, disse que a palavra de Deus é a própria
vida (Dt 32.47). Do que você vai chamá-la?

Transmissão textual:
como a Bíblia chegou
até nós?
E graças ao trabalho de muitos indivíduos
fiéis ao longo de várias gerações que podemos
ler a Bíblia hoje. Esses indivíduos, chamados
de escribas, copiavam à mão a palavra de
Deus, tomando grande cuidado para manter
sua exatidão.

O cuidado dos escribas com os


textos do Antigo Testamento
Os escribas no mundo antigo
Os escribas tiveram um papel essencial no
mundo antigo.6 A transmissão fiel de infor­
mações precisas era um aspecto importante
da sociedade. Os reis contavam com os escri­
bas para registrar os editos reais. Oficiais ad­
ministrativos precisavam dos escribas para re­
gistrar transações importantes. Os erros podiam
ter implicações políticas, econômicas ou de
outra natureza de grande seriedade.
Os escribas da antigüidade que copiaram
os textos bíblicos criam que estavam copian­
do as palavras do próprio Deus. Conseqüen­
temente, tomavam grande cuidado de forma
a preservar as cópias que haviam recebido.
Um dos mais importantes grupos de escribas
foi o dos Massoretas.

26
O que é o Antigo Testamento e por que estudá-lo?

Em 1947, um
jovem pastor
descobriu os
primeiros Papi­
ros do Mar
Morto nos
penhascos sobre
Qumran, próxi­
mo ao Mar
Morto. Depois
disso, arqueólo­
gos exploraram
outras cavernas
nas proximida­
des e encontra­
ram mais
papiros.

m assora
Os Massoretas ou copiadora, mas os massoretas tinham que
Os massoretas (500-1000 d.C.) trabalha- fazer tudo isso à mão!
ram para preservar textos do Antigo Testa­ A palavra hebraica usada para “escriba”
Torá significa “contador” e os massoretas contavam
mento que haviam recebido.7 Eles queriam
assegurar um entendimento correto dos tex­ tudo no texto. Eles sabiam, por exemplo, que
aram aico tos, bem como sua transmissão com fidelida­ o Torá — os primeiros cinco livros do Antigo
de para as gerações futuras. Eles receberam Testamento — continha 400.945 palavras. Eles
esse nome por causa do massora, um sistema sabiam que a palavra que ficava exatamente
acádio
complexo de símbolos que desenvolveram para no meio do Torá era a palavra “buscava” em
alcançar seu objetivo. Levítico 10.16. Eles sabiam que a letra que
am orita ficava exatamente no meio do Torá estava na
Os massoretas seguiram três passos para ga­
rantir a precisão textual. Primeiro, desenvol­ palavra traduzida para o hebraico como “ab­
fenício veram um sistema para escrever vogais. Até dômen” em Levítico 11.42. Apesar desse tipo
aquela época, o hebraico escrito continha de conhecimento parecer trivial para nós, os
apenas consoantes, apesar de algumas dessas massoretas sabiam que essas informações eram
ugarítico
consoantes serem usadas para indicar certas vitais para a preservação cuidadosa da pala­
vogais. Os massoretas desenvolveram esse sis­ vra de Deus. Devemos ser gratos pelo seu tra­
am onita balho diligente.
tema de vogais para preservar na escrita as
tradições orais que haviam recebido de gera­
m oabita A tran sm issão nas
ções anteriores.
Em segundo lugar, os massoretas desenvol­ línguas originais
árabe veram um sistema de acentuação para o tex­ A maior parte do texto do Antigo Testa­
to hebraico. Esses acentos ajudavam o leitor a mento foi escrita originalmente em hebraico,
pronunciar o texto, mas também mostravam apesar de algumas porções (Gn 31.47b; Ed
a relação entre várias palavras e frases de uma 4.8-6.18; 7.12-26; Jr 10.11b; Dt 2.4b-7.28) te­
sentença. Dessa forma, ajudaram a esclare­ rem sido escritas em aramaico. Tanto o he­
cer diversas passagens difíceis. braico quanto o aramaico são línguas semíti-
Em terceiro lugar, os massoretas desenvol­ cas, da mesma família de línguas que o acádio
veram um sistema de anotações detalhadas (a língua dos assírios e babilônios), o amorita,
do texto. Essas anotações ofereciam um meio o fenício, o ugarítico, o amonita, o moabita
pelo qual era possível verificar a precisão do e o árabe.
texto copiado. Nos dias de hoje, podemos pro­ Várias cópias em hebraico do Antigo Tes­
duzir manuscritos idênticos em computador tamento chegaram até nós.8 Três delas são de

27
Descobrindo o Antigo Testamento

maior importância para nossos estudos — o A tran sm issão em outras línguas


Texto
Texto M assorético, o Pentateuco Sam ari­
M assorético A Septuaginta (LXX)
tano e os Papiros do M ar Morto.
A Septuaginta, uma tradução do Antigo
Pentateuco O Texto Massorético Testamento para o grego, é datada de 200 a
Sam aritano O Texto Massorético vem dos massoretas. 300 a.C. e vem da cidade egípcia de Alexan­
As cópias mais antigas desse texto são data­ dria.12 Seu nome e abreviação (LXX) são de­
Papiros do das de antes do ano 1000 d.C; porém, a maio­ correntes do fato de que uma equipe de se­
M ar M orto ria dos estudiosos acredita que essas cópias tenta e dois estudiosos realizaram o trabalho
refletem textos aproximadamente do ano 100 de tradução.
d.C. O Texto Massorético é o mais confiável A Septuaginta oferece testemunho antigo
que temos em hebraico.9 e importante do texto do Antigo Testamento.
Por vezes, estudiosos têm sido capazes de resol­
O Pentateuco Samaritano ver leituras difíceis do Texto Massorético com­
O Pentateuco Sam aritano, conforme o parando-o com a Septuaginta. Porém, algumas
nome indica, contém apenas o texto de G ê­ partes da Septuaginta são mais confiáveis do
nesis a Deuteronômio e é originado dos sa- que outras. O Pentateuco, por exemplo, foi
maritanos. Os samaritanos surgiram do casa­ traduzido mais cuidadosamente que o restante
mento misto de judeus com estrangeiros no do Antigo Testamento. A ocorrência dessas di­
território do reino do norte, depois que este ferenças no texto antigo ainda é um mistério.
foi tomado pela Assíria em 722 a.C. Os ma­ Os Targuns aramaicos
nuscritos mais antigos do Pentateuco Sam a­
ritano são aproximadamente do ano 1100 Os Targuns são uma coleção de escritos
d.C. Apesar disso, muitos estudiosos acredi­ baseados no texto do Antigo Testamento. Es­
taram que eles são baseados em um texto de ses escritos em aramaico são do início da Era
100 a 200 a.C .10 Cristã, e algumas partes são até mais antigas.13
Os Targuns surgiram em uma época em
Os judeus viam os samaritanos como mes­
que muitos judeus entendiam o aramaico
tiços que faziam concessões e que haviam
melhor que o hebraico e esses escritos ofereci­
negado sua fé ao casarem-se com estrangei­
am interpretações comuns do texto em he­
ros. Os samaritanos, por outro lado, sentiam
braico. Em certas partes, os Targuns refletem
que eles preservavam uma forma mais antiga
uma tradução relativamente culta do hebrai­
e pura de fé. Assim, grandes diferenças teoló­
co. Em outras partes, são acrescentados co­
gicas eram inevitáveis. O Pentateuco Samari­
mentários e histórias que reforçam o signifi­
tano tem uma inclinação que reflete essas di­
cado do texto. Por esse motivo, os Targuns
ferenças. Portanto, seu texto oferece testemu­
normalmente não são considerados uma tes­
nho bastante antigo do modo como os samari­
temunha confiável do texto do Antigo Testa­
tanos interpretavam o Pentateuco. Por esta e
mento, apesar de ajudarem a compreender as
outras razões, o Pentateuco Samaritano não é
primeiras interpretações judaicas.
uma fonte confiável para a determinação da
leitura original dos textos.

Os Papiros do Mar Morto Hermenêutica:


Um jovem pastor descobriu o primeiro dos
Papiros do Mar Morto em uma caverna, em como devemos
1947.11 Depois disso, arqueólogos exploraram
outras cavernas nas proximidades e encon­
interpretar a Bíblia?
traram mais papiros. Esses papiros estão data­ Até agora, neste capítulo, discutimos o
dos em torno de 100 a 200 a.C. e contêm pelo Cânon, a inspiração e a transmissão textual.
menos partes do Antigo Testamento, exceto Examinamos quais livros constituem o Anti­
o livro de Ester. Eles também oferecem uma go Testamento, como o Espírito de Deus tra­
grande quantidade de informações sobre a balhou em conjunto com autores humanos
comunidade de QUMRAN, o lugar onde fo­ para produzir o Antigo Testamento e como os
ram descobertos. O mais importante para nós livros deste chegaram até nós.
é que eles confirmam a confiabilidade do Mas ainda ficam algumas perguntas im­
Texto Massorético. portantes: Como devemos interpretar o Anti­
28
0 que é o Antigo Testamento e por que estudá-lo?

go Testamento? Será que vamos sempre en­ Com preenda o contexto


hermenêutica
tender o texto apenas pela leitura? Ou será O termo “contexto” refere-se às palavras e
que devemos seguir certas regras da herme­ sentenças que estão ao redor de uma palavra
método nêutica ou interpretação?
gramático- ou afirmação e que ajudam a compreender o
Nem todos os intérpretes bíblicos concor­ significado das mesmas. Suponhamos que eu
histórico
dam com o significado de cada passagem da lhe diga: “Eu cortei um pedaço da manga.” O
Bíblia. Porém, a maioria admite que a exis­ que significa mangai Será que eu estou falan­
tência de certas diretrizes nos ajuda a deter­ do de uma peça de roupa? Será que me refiro
minar o significado de cada passagem. Dare­ a uma fruta? Sem o contexto, é impossível
mos uma visão geral de algumas das diretrizes determinar o significado da palavra.
mais importantes. 14 O contexto também é importante para uma
interpretação correta das passagens da Bíblia.
O uso do método
Os estudantes da Bíblia devem analisar três
gram ático-histórico tipos de contexto: o contexto imediato, o con­
O método gramático-histórico busca en­ texto remoto e o contexto histórico.
contrar o “sentido mais simples” de uma pas­
sagem da Bíblia, aplicando regras básicas de Contexto imediato
gramática e sintaxe. Ele procura determinar o O contexto imediato refere-se às palavras
que o texto quer dizer gramaticalmente e o ou frases nos versículos mais próximos à pala­
que significa historicamente. Tenta descobrir vra ou afirmação que se deseja compreender.
as intenções originais do autor usando com Normalmente, é o que mais influencia no sig­
cuidado as regras da página 30. nificado. Minha frase ambígua, por exemplo,

Sm portê in te s t e x t o s p rin lit ív o s


d© A n tl go T e sta m e n to e su a im p o rtâ n c ia

Texto Importância Data de Cópia m ais antiga


composição do texto

Texto massorético Texto hebraico mais Por volta de 100 d.C. Por volta de 1000 d.C.
confiável

Pentateuco samaritano Testemunho antigo do 200-100 a.C. Por volta de 1100 d.C.
Pentateuco, mas com
influência samaritana

Papiros do Mar Morto Partes de todos os livros do 200-100 a.C. 200-100 a.C.
(Qumran) Antigo Testamento, exceto
Ester; importante para
confirmara confiabilidade
de outros manuscritos como
os textos massoréticos e a
Septuaginta

Septuaginta (LXX) Antiga tradução grega do 300-200 a.C. 300-500 d.C.


Antigo Testamento;
importante testemunha
antiga útil para confirmar o
texto original

Targuns Uma tradução/paráfrase A maior parte, 500-1000 As partes mais antigas por
aramaica e comentário do d.C., mas algumas partes volta de 150 d.C.
texto do Antigo Testamen­ são dos primeiros séculos
to; não tão confiável para a.C.
determinar a precisão de
textos do Antigo Testa­
mento

29
Descobrindo o Antigo Testamento

torna-se clara se eu acrescentar: “Hoje, quan­


generos
do eu estava consertando uma camisa, cortei H e rm e n ê u tic a :
um pedaço da manga”. co m o d e v e m o s
Contexto remoto in t e r p r e t a r
O contexto remoto descreve o material bí­ a B íb lia?
blico nos capítulos ao redor e mais distantes.
Ele também pode influenciar o significado da
Use o método gramático-
passagem em questão, porém, normalmente
histórico
não de uma forma tão direta quanto o con­
texto imediato. Algumas vezes, os leitores con­ Compreenda o contexto
sultam outros livros ou epístolas da Bíblia es­
critos pelo mesmo autor para observar como Contexto imediato
ele usa uma determinada palavra ou frase em Contexto remoto
outras partes de seus escritos. Pode-se até
mesmo pesquisar uma idéia ao longo de todo Contexto histórico
o Antigo Testamento ou de toda a Bíblia.
Determine o tipo
Contexto histórico de literatura
O contexto histórico refere-se ao momen­ Interprete a
to da História em que o autor escreveu deter­
linguagem figurativa
minada passagem da Bíblia. Teremos uma
compreensão melhor do livro de Lamentações, Deixe que as Escrituras
interpretem as Escrituras
Descubra a aplicação
Termos-chave para a vida moderna
Apócrifos
Canon
Neo-ortodoxo
Transcendente por exemplo, se soubermos que o autor estava
Pessoas/ Evangélicos descrevendo a condição de Jerusalém depois
Lugares-chave Teoria do ditado
Teoria da inspiração verbal-
de sua destruição em 587 a.C. Podemos en­
tender melhor o significado de um salmo de
Jâmnia plenária Davi se soubermos a ocasião em que ele foi
Assíria Transmissão escrito. Assim, o contexto histórico forma o
Qumran Massora pano de fundo sobre o qual o autor bíblico
Torá
compôs seu texto.
Aramaico
Acádio Determine o tipo de literatura
Amorita
A Bíblia contém vários tipos (ou gêneros)
Fenício
Ugarítico diferentes de literatura e o intérprete deve apli­
Amonita car diferentes princípios em cada caso. Por
Moabita exemplo: uma narrativa histórica relata uma
Árabe história; é bem diferente de uma profecia, que
Texto massorético chama o povo a confiar em Deus ou descreve
Pentateuco samaritano os planos futuros de Deus para o mundo. Poe­
Papiros do Mar Morto sias e parábolas também requerem considera­
Septuaginta ção especial. Quando não é levado em conside­
Pentateuco ração o tipo de literatura, pode-se chegar a uma
Targuns interpretação distorcida da passagem bíblica.
Hermenêutica
Método gramático-histórico Interprete a linguagem figurativa
Gêneros Em nossa maneira de falar no dia-a-dia,
usamos com freqüência a linguagem figurati­
30
0 que é o Antigo Testamento e por que estudá-lo?

va. Falamos do sol se levantando, ou de estar o conselho de pessoas ímpias. Podemos acabar
morrendo de fome, ou de calçar os sapatos do dando interpretações estranhas se não levar­
outro. Não queremos dizer nenhuma dessas mos em consideração o uso da linguagem fi­
coisas literalmente; na realidade, essas “figu­ gurativa na Bíblia.
ras de linguagem” comunicam certas verda­
des de uma forma simbólica. Deixe que as Escrituras
A Bíblia também contém linguagem figu­ interpretem as Escrituras
rativa. O profeta Isaías a usou quando escre­ Algumas vezes, encontramos na Bíblia pas­
veu: e todas as árvores do campo baterão sagens que continuam sendo difíceis de en­
palmas.” Na verdade, o que ele queria dizer tender mesmo depois que aplicamos os prin­
era que Deus faria toda a natureza florescer. cípios da hermenêutica. Talvez a passagem
O salmista (1.1) usou esse tipo de linguagem tenha dois sentidos possíveis ou pareça con­
quando escreveu: “Bem-aventurado o ho­ tradizer uma outra passagem da Bíblia.
mem que não anda no conselho dos ímpios”. Como devemos entender, por exemplo, o
Andar no conselho dos ímpios significa ouvir texto de Tiago 2.24? O versículo diz: “Verificais

Sumário

1. Os testes para a canonicidade do An­ 7. A maior parte do Antigo Testamento


tigo Testamento devem concentrar-se foi originalmente escrita em hebraico
no autor, no público e nos ensina­ e o restante em aramaico.
mentos.
8. As cópias mais importantes do Antigo
2. A Bíblia em si não nos diz exatamente Testamento em hebraico são o Texto
de que maneira Deus inspirou os au­ Massorético, o Pentateuco Samarita­
tores humanos a escreverem as Escri­ no e os Papiros do Mar Morto.
turas.
9. A Septuaginta é a tradução do Anti­
3. Quatro das teorias de inspiração mais go Testamento para o grego.
aceitas são: a neo-ortodoxa, a do di­
10. Para interpretar o Antigo Testamento
tado, a de inspiração limitada e a de
é importante seguir as regras da her­
inspiração verbal-plenária.
menêutica: use o método gramático-
4. A teoria de inspiração verbal-plenária histórico; compreenda o contexto;
subentende que a Bíblia é confiável e determine o tipo de literatura; inter­
tem autoridade. prete a linguagem figurativa e deixe
que as Escrituras interpretem as Escri­
5. Os escribas que copiavam os textos bí­
turas.
blicos criam que estavam copiando as
palavras do próprio Deus. 11. Para entender o contexto do Antigo
Testamento, deve-se levar em consi­
6. Os massoretas deram três passos para
deração os contextos imediato, remo­
preservar os textos que receberam:
to e histórico.
(1) desenvolveram um sistema para
escrever vogais; (2) desenvolveram um 12. O Antigo Testamento é mais que um
sistema de acentuação do texto he­ livro antigo. Seus princípios aplicam-
braico; e (3) desenvolveram um siste­ se aos dias de hoje.
ma de anotações detalhadas do texto.

31
Descobrindo o Antigo Testamento

Questões para estudo

1. O que q uerem os d izer com o term o 3 . Descreva o processo pelo qual recebe­
"C â n o n "? C om o era decidido quais li­ m os as Escrituras daqueles que a co p i­
vros deveriam ser incluídos na Bíblia? aram . Dê o nom e e descreva breve­
m ente o significado do m aior co n ju n ­
2 . Id entifiq u e as d iferen tes teorias de
to de m anuscritos que tem os.
inspiração. O que significa para os
evangélicos o term o "insp iração ver- 4 . O que os intérpretes da Bíblia querem
b al-p len ária"? Q uais as im plicações da dizer com a expressão "interp retação
in sp iração verb a l-p len á ria ? g ra m á tico -h istó rica "? Por que é im ­
portante usar boas regras de inter­
pretação? Q uantas dessas regras você
pode citar?

que uma pessoa é justificada por obras e não Aplicando esse princípio, descobrimos
por fé somente”. Mas Romanos 3.28 diz: “Con­ outras passagens bíblicas que ensinam cla­
cluímos, pois, que o homem é justificado pela ramente que a salvação é obtida pela graça
fé, independentemente das obras da lei”. Es­ e somente pela fé (G13.1-6; Ef 2.8,9). Con­
sas duas passagens entram em contradição, seqüentemente, devemos reexaminar as pa­
ou haveria uma outra explicação? lavras de Tiago em seu contexto e descobrir
Em tais casos, devemos deixar que as Es­ se Tiago não quis dizer alguma outra coisa
crituras interpretem as Escrituras. Ou seja, de­ quando usou a expressão “justificada por
vemos encontrar um outro texto bíblico que obras”. De fato, uma leitura cuidadosa mos­
apresente ensinamentos claros sobre o assun­ tra que Tiago queria dizer que Abraão e
to em questão e interpretar a passagem difícil Raabe provaram que sua fé era genuína ao
à luz daquela que é mais clara. Podemos fazer realizarem boas obras, um conceito que não
isso pois a palavra de Deus não se contradiz. contradiz os ensinamentos de Paulo.

Leituras complementares

Berkhof, Louis. Princípios de Interpretação Bíblica. São Costa, Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração e
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000. Um manual prá­ Inerrância da Escritura. São Paulo: Editora Cultura
tico para orientação no estudo individual das Escritu­ Cristã, 1998. A visão Reformada das Escrituras Sa­
ras e para uso em seminários e institutos bíblicos. gradas apresentada com profundidade e clareza.
Brotzman, Ellis R. Old Testament Textual Criticism: A MacArthur Jr., John. Como Obter o Máximo da Palavra
Praticai Introduction. Grand Rapids: Baker, 1994. de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999.
Uma boa exposição das questões relacionadas à críti­ Um guia para enriquecer o estudo bíblico. Esclarece
ca textual, fácil de ser entendida pelo principiante. o sentido da Escritura.
Bruggen, Jakob van. Para Ler a Bíblia. São Paulo: Editora MacArthur Jr., John; Sproul, RC; e outros. Sola
Cultura Cristã, 1998. Respostas às perguntas mais Scriptura. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2000.
importantes feitas pelo estudante da Bíblia. Uma análise da importância das Escrituras para a
atualidade

32
0 que é o Antigo Testamento e por que estudá-lo?

Descubra a aplicação para Para fazer isso, devemos compreender quais


a vida m oderna questões de nossa cultura moderna são para­
No início deste capítulo, explicamos que lelas às questões da passagem bíblica estuda­
um dos testes de canonicidade era que um da. Então, até o ponto em que há paralelos,
livro bíblico precisava ser escrito para todas as podemos aplicar o ensinamento da Bíblia para
gerações. A princípio, o autor escreveu para a nossa situação atual.
um determinado público, mas se a mensagem A Bíblia não é simplesmente um livro anti­
é verdadeiramente palavra de Deus, teria go com uma mensagem para pessoas da anti­
aplicação para todas as gerações. güidade. E a Palavra de Deus. Ela falou a
A tarefa final do intérprete, depois de apli­ Israel e nos fala nos dias de hoje. Nossa tarefa
car os princípios corretos da hermenêutica como cristãos é estudar essa mensagem, aplicá-
para determinar o que o texto significava para la em nossa vida e compartilhá-la com o mun­
o seu público inicial, é de determinar o que o do que precisa desesperadamente ouvi-la.
texto significa nos dias de hoje.

33
Ondeequando
ocorreram os eventos
do Antigo Testamento?

Esboço
• O n d e o c o r r e r a m o s e v e n to s d o
A n t ig o T e s t a m e n t o ?
As três regiões do antigo Oriente Próximo
As quatro sub-regiões de Israel Objetivos
As estradas do antigo Oriente Próximo
D e p o is d e le r e s t e c a p ítu lo ,
• Q u an d o o co rre ra m os e v e n to s do v o c ê d e v e s e r c a p a z de:
A n t ig o T e s t a m e n t o ?
• Identificar em um mapa as três regiões
Os ancestrais de Israel: os patriarcas geográficas do antigo Oriente Próximo.
O início de Israel: Moisés e Josué • Comparar o desenvolvimento das culturas da
O Estado de Israel: Davi e sua dinastia Mesopotâmia, do Egito e da Síria-Palestina.
O exílio e a restauração de Israel: Esdras e • Discutir os aspectos geográficos-chave das
Neemias quatros sub-regiões de Israel.
• Indicar os principais pontos da história de
Israel e do antigo Oriente Próximo durante o
Período Neolítico, Idade do Cobre, Antiga
Idade do Bronze, Média Idade do Bronze,
Nova Idade do Bronze, Primeira Idade do
Ferro e Segunda Idade do Ferro.
• Relacionar os diferentes povos que tiveram
influência significativa sobre a história de
Israel.

35
Descobrindo o Antigo Testamento

Lemos no Novo Testamento que Deus se trangeiras chegaram até a Israel da antigüi­
encarnaçao
revelou à humanidade por meio da encar­ dade. Durante toda a sua história, Israel foi
nação, ou seja, na pessoa de Jesus de Nazaré, exposta a um grande intercâmbio cultural e
Crescente Deus tomou a forma humana. Isto significa comercial.
Fértil que a revelação de Deus ocorreu em um
tempo e lugar específicos. Assim, para en­ Três regiões do antigo
tendermos a mensagem do Novo Testamen­ Oriente Próximo
to, precisamos estudar os acontecimentos da O antigo Oriente Próximo contém três sub-
vida de Jesus e da igreja primitiva. A história regiões geográficas unidas por um arco de ter­
e a geografia do mundo palestino durante o ra fértil conhecido como o “Crescente Fér­
primeiro século apresentam um pano de fun­ til” (observe que a área mais escura do mapa
do importante para a leitura cristã do Novo abaixo tem o formato de uma crescente). A
Testamento. maior parte do terreno do mundo antigo era
A verdade de Deus também foi revelada irregular e inóspita à vida humana. As terras
no Antigo Testamento de modo encarnacio- férteis fazem fronteira com montanhas quase
nal. Ele se revelou em tempos e lugares espe­ intransponíveis ao norte e vastos desertos ao
cíficos para um grupo específico de pessoas, os
israelitas. Portanto, é importante que os cris­
tãos compreendam a época em que o antigo
Israel existiu.

Onde ocorreram os
eventos do Antigo
Testamento?
O Israel da antigüidade ocupava uma pe­
quena parte de uma área maior conhecida
como o antigo Oriente Próximo. Esse termo
refere-se basicamente ao que hoje é conheci­
do como o Oriente Médio. Ele vai das MON­
TANHAS ZAGROS a leste até o Mar Mediter­
râneo a oeste. A o norte, os limites do antigo
Oriente Próximo vão até o MAR CÁSPIO e
MAR NEGRO, tendo entre eles as MONTA­
NHAS DO CÁUCASO. A o sul, o antigo Oriente
IVIAR M E D IT E R R Â N E O
Próximo faz divisa com o DESERTO ÁRABE e
dois grandes corpos de água (GOLFO PÉRSICO
e M a r V e r m e l h o ).
Apesar de Israel ser geograficamente me­
nor que muitos dos seus vizinhos no antigo
Oriente Próximo, sua localização tornou-a
estrategicamente importante ao longo da his­
tória antiga. Esse pequeno pedaço de terra
forma uma ponte entre três continentes: Ásia,
África e Europa.1 O fato de Israel estar nessa
encruzilhada teve duas conseqüências impor­
tantes. Em primeiro lugar, ao longo da Histó­
ria, muitas nações e impérios quiseram con­
trolar ou pelo menos ter acesso a Israel por
causa de propósitos ligados ao comércio e trans­
porte para outras partes do mundo antigo. Em
segundo lugar, muitas influências culturais es­
36
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

sul. Mas, dentro da crescente, terras planas e Zagros. Nos dias de hoje, todo o Iraque e par­
abundância de água fizeram desse local o tes do IRÃ, da SÍRIA e do LÍBANO compõem
berço da civilização humana. a área conhecida como Mesopotâmia.
As três sub-regiões geográficas do antigo O terreno da Mesopotâmia é bastante va­
Oriente Próximo eram; MESOPOTÂMIA, riado — das montanhosas regiões do norte às
Síria-Palestina e Egito. Essas três regiões eram areias do deserto na região sudoeste. O clima
marcadas na antigüidade por importantes é imprevisível e as águas dos rios-gêmeos são
culturas ligadas aos rios. cheias de caprichos. As inundações eram um
risco permanente para os mesopotâmios da
Mesopotâmia antigüidade, assim como era a seca. Em de­
O termo grego “Mesopotâmia” (“entre corrência disso, a região, especialmente ao sul,
rios”) refere-se à grande extensão de terra variava sempre entre um terreno desértico ou
entre o RIO EUFRATES e o RIO TIGRE.2 Essa pantanoso. Também não havia qualquer de­
região estende-se da boca do Golfo Pérsico, a fesa natural contra os invasores inimigos.
noroeste, ao longo da curva do Eufrates e, a Apesar de todos os perigos, a Mesopotâ­
leste, alcança o Tigre aos pés das Montanhas mia era capaz de proporcionar uma vida

O Antigo Òriente Próximo no


período
Ararate
do Antigo Testamento
M A R CASPIO

ARABIA

Escala
Crescente Fértil o 50 100 mi
\— h 1 i
0 100 200 km

37
Descobrindo o Antigo Testamento

tranqüila para aqueles que fossem afortuna- Egito


Período
dos o suficiente de ali viverem, especialmen­ As mesmas características geográficas que
Neolítico
te na região sul onde as águas do rio podiam tornaram possível a civilização na Mesopotâ­
ser canalizadas para irrigar as plantações ou mia também estavam presentes na costa nor­
para ser navegadas com fins comerciais. Os deste da África, ao longo do rio Nilo.3 En­
estudiosos da antiga história da humanida­ quanto a Mesopotâmia apresentou um desen­
de crêem que a civilização teve início no volvimento lento e gradual da Idade da Pe­
sopé das montanhas ao norte do rio Tigre, dra até o começo da história humana, o Egito
quando os mesopotâmios do Período N eo­ parece ter, do dia para a noite, pulado do Pe­
lítico (cm torno de 7000 a.C.) começaram a ríodo Neolítico para a cultura urbana. Essa
cultivar plantas, domesticar animais e colher maneira relativamente súbita com que a civi­
para seu sustento. Em algum momento em lização nasceu no Egito é atribuída a prová­
torno de 3100 a.C., no sul da Mesopotâmia, veis influências da Mesopotâmia no Vale do
os sumérios inventaram a escrita quando Nilo. O desenvolvimento de hieróglifos (do
descobriram que podiam usar marcas cunei- latim hiroglyphicus, que quer dizer “escrita sa­
formes em diferentes materiais para repre­ grada”) pode ter sido influenciado pela escri­
sentar palavras. A escrita cuneiforme (do ta cuneiforme da Mesopotâmia, apesar de não
latim cunes que quer dizer “cunha” e forma se ter certeza absoluta desse fato.4
que significa “formato”) era mais facilmen­ Um historiador da antigüidade descreveu
te feita em barro úmido, um material muito o Egito de modo muito apropriado dizendo
fácil de ser encontrado na parte sul da Me­ que ele era a “dádiva do rio Nilo”.5 Sem dú­
sopotâmia. Muitas vezes, o escriba assava as vida, o Nilo é a característica geográfica do­
placas de barro no sol ou em um forno, ge­ minante do Egito e teve um papel importan­
rando placas extremamente duráveis com te na história e na perspectiva cultural de
escrita cuneiforme, e milhares dessas placas seu povo. Esse grande rio estende-se por mais
já foram encontradas por arqueólogos de de novecentos e sessenta quilômetros no
nossos dias. A escrita cuneiforme também deserto do nordeste da África, até o Mar
podia ser entalhada em metal ou pedra. Mediterrâneo. Assim, o Nilo criava um gran­
A possível vida tranqüila da Mesopotâ­ de contraste entre os campos à beira do rio e
mia não era segredo para os outros povos que o deserto de ambos os lados. O solo negro e
viviam no antigo Oriente Próximo. Sem de­ fértil do vale do rio era abundante em vida e
fesas naturais, aqueles que gozavam da vida energia, enquanto as areias vermelhas do
na Mesopotâmia tinham que estar atentos deserto lembravam os antigos egípcios de sua
para as ameaças externas. Durante a histó­ mortalidade. Os egípcios chamavam o solo
ria antiga, a região presenciou o fluxo de rico do vale do Nilo de “terra preta” e os
muitos grupos diferentes e diversas mudan­ areais do deserto mais adiante de “terra ver­
ças de poder. Depois dos sumérios, veio uma melha”.6 Fica clara a maneira como eles va­
longa sucessão de semitas de diferentes na­ lorizavam o grande rio lamacento que ofere­
cionalidades. Durante o último quarto do cia a água vivificante e o solo.
terceiro milênio a.C., o primeiro grupo de Noventa por cento da população do Egito
semitas, os acádios, chegou ao poder e ocu­ antigo vivia nas terras férteis do vale do rio,
pou o sul da Mesopotâmia com os sumérios. que não tinham mais que uns quinze quilô­
Mas na virada do milênio, um outro grupo metros de largura. O Nilo não tem afluentes
semita, conhecido como os amoritas, come­ e o país não recebe chuvas a não ser ao longo
çou a chegar em grande número. Eles domi­ da costa do Mar Mediterrâneo. Os egípcios
naram os próximos mil anos da história da sabiam o quanto eram dependentes do rio
Mesopotâmia. Os amoritas acabaram esta­ para manter sua “terra preta”. Eles davam
belecendo um grande foco de poder ao sul crédito ao seu rei-deus — o faraó — pelas
na BABILÔNIA, no Eufrates, e ao norte em cheias anuais do Nilo. De uma fonte bem
ASSUR e NÍNIVE, ao longo do Tigre. Os ba­ longe, ao sul do Egito e distante da com­
bilônios ao sul c os assírios ao norte foram os preensão do povo, o rio subia de forma previ­
dois grupos mais importantes na Mesopotâ­ sível todo mês de junho, chegando ao auge
mia e tiveram um papel significativo na his­ em setembro e voltando ao seu nível normal
tória do Antigo Testamento. em novembro. Essa cheia anual era de im-

38
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

Sem dúvida, o
Nilo é a
característica
geográfica
dominante do
Egito e teve um
oapel
importante em
sua história.
Esse grande rio
criava um forte
contraste entre
os campos à sua
beira e o
deserto de
ambos os lados.

portância vital para a continuação da pros­ quanto à segurança dos egípcios eram os in­
peridade no Egito, pois as águas traziam ca­ vasores da Àsia, do outro lado da extensão de
madas ricas em sedimentos que renovavam água que hoje chamamos de CANAL DE
o solo, tornando a “terra preta” do Egito um SUEZ. Com raras exceções, entretanto, os egíp­
dos solos mais férteis do mundo.7 cios foram capazes de conter tais ameaças sim­
Mas o longo e estreito vale do rio também plesmente com ações políticas. Comparado à
tinha a tendência de causar fortes contrastes Mesopotâmia, o Egito estava relativamente
entre o norte e o sul do Egito antigo. O sul livre de invasões. Como resultado, não en­
incluía e era distinguido pelo comprimento controu um grande número de infiltrações
do Nilo e chamado de Alto Egito (já que, no étnicas e culturais como as que pontilharam a
sentido da correnteza, a região sul fica rio aci­ história da Mesopotâmia.
ma. O Baixo Egito consistia do delta criado Portanto, a história do Egito não tem cons­
onde o Nilo se abre e desemboca no Mar tantes mudanças de poder, mas sim a ascen­
Mediterrâneo. Esse contraste resultou em di­ são e queda das dinastias naturais do próprio
ferenças pronunciadas de linguagem, diale­ Egito. Algumas dessas dinastias viram o Egito
tos, cultura e maneira de ver a vida. Geogra­ desenvolver grandes impérios de relevância
ficamente isolado, o Alto Egito dependia da internacional para a história do antigo Orien­
criação de gado e era provinciano e conserva­ te Próximo. Esses períodos de força imperial
dor. Já o Baixo Egito interessava-se pelo co­ são divididos em Antigo Império (dinastias 3-
mércio devido ao seu acesso a portos da Euro­ 6, 2700-2200 a.C.), Médio Império (dinastias
pa e Ásia. Tinha uma característica interna­ 11-13, 2000-1700 a.C.) e Novo Império (di­
cional e cosmopolita.8 A unificação política nastias 18-20,1550-1100 a.C.). Assim, o Egi­
foi a primeira tarefa do faraó e, obviamente, a to do tempo dos patriarcas provavelmente es­
localização estratégica de Mênfis foi de gran­ tava no Médio Império e o Egito de Moisés e
de importância nesse processo. do Exodo, no Novo Império. Quando da união
Ao contrário da Mesopotâmia, o Egito go­ monárquica de Israel, o Egito já havia perdi­
zava de uma certa reclusão do mundo exte­ do sua posição de superpotência internacio­
rior. As grandes fronteiras com o deserto e o nal apesar de continuar a ser de grande in­
Mar Mediterrâneo ao norte ofereciam barrei­ fluência cultural.
ras geográficas naturais, o que significa que o
Egito teve menos incidentes de agressão es­ Síria-Palestina
trangeira ao longo de sua história. Havia ame­ A Síria-Palestina é a área que vai, ao nor­
aças ocasionais da LÍBIA, a oeste, ou invasões te, da curva do Eufrates e estende-se ao longo
pelo mar. Mas a preocupação mais comum da costa do Mediterrâneo até o sul, no deser­
39
Descobrindo o Antigo Testamento

to de Sinai. Israel era a região mais ao sul da zona das cadeias centrais de montanhas, a
Síria-Palestina. As grandes culturas de rios da zona da fenda do Jordão e a zona das TER­
Mesopotâmia e do Egito só foram possíveis gra­ RAS A l t a s T r a n s j o r d a n i a n a s .10
ças às características geográficas que levaram
As planícies costeiras
à organização e unificação das regiões.
Os rios eram grandes o suficiente para ofe­ Conforme pode-se ver no mapa da p. 41,
recer comércio acessível, tornando viável o essas planícies são estreitas ao norte, mas vão
crescimento econômico. Foram as caracterís­ gradualmente tornando-se mais largas ao sul,
ticas geográficas da Mesopotâmia e do Egito à medida que a costa inclina-se para o oeste.
que tornaram possível a unificação nacional Essa região era uma das mais ricas de Israel na
em cada uma dessas regiões. antigüidade por causa de seu solo fértil e acesso
A Síria-Palestina, por outro lado, caracte­ fácil à água (diversas fontes e lençóis de água
riza-se pela segmentação. Pequenos rios (Jor­ próximos à superfície).
dão e Orontes, ver mapa p. 37) e vastas dife­ A característica mais marcante da costa
renças topográficas dividiram a área em sub- de Israel, comparada ao resto do Levante, é a
regiões e territórios menores. Durante a histó­ falta de portos naturais. A cidade de ACCO,
ria antiga, a Síria-Palestina não era uma re­ na BAÍA DE HAIFA era o único porto impor­
gião de civilizações avançadas e impérios na­ tante de Israel no tempo do Antigo Testa­
cionais. Ao invés disso, sua maior importância mento. Por outro lado, o trecho de costa entre
geopolítica estava em seu papel de ponte no o Mar Mediterrâneo e as montanhas do Líba­
Crescente Fértil. Ao longo da história antiga, no ao norte de Israel tinha muitos portos na­
os impérios das grandes culturas de rios, Egito turais por causa do terreno irregular que se
e Mesopotâmia, buscaram controlar o acesso erguia do mar. Os fenícios, que ocuparam essa
à Síria-Palestina por motivos econômicos, mi­ parte da costa durante a maior parte do perío­
litares e políticos. do do Antigo Testamento, tiraram grande pro­
Além de formar uma ponte de terra entre veito desses portos, tornando-se marinheiros
três continentes, essa área é marcada por duas experientes e mercadores marítimos. Os israe­
outras características topográficas. Primeiro, litas, porém, nunca aprenderam a confiar com­
pletamente no mar e, com freqüência, paga­
a costa leste do Mar Mediterrâneo constitui
vam pela tecnologia fenícia quando tinham
o limite oeste dessa área. A costa (conheci­
que ir ao mar (lRs 9.26,27).
da como “Levante”) estende-se por mais de
A zona costeira está divida longitudinal­
oitocentos quilômetros e tornou-se a impor­
mente em seis sub-regiões: a Planície de Acco,
tante encruzilhada de todo o comércio e vi­
o VALE DE JEZREEL, a PLANÍCIE DE SARON,
agem do mundo antigo. A segunda caracte­
a COSTA FlLISTÉIA, o SEFELÁ ( o u “colinas
rística importante na topografia da Síria-Pa­
baixas”) e o NEGUEBE a oeste ou deserto do
lestina é conhecida como “fenda”. A FEN­
sul (ver mapa p. 41). O vale de Jezreel é a
DA DO JORDÃO é uma grande fissura na
única exceção quanto ao sentido longitudi­
superfície da terra que vai, ao norte, do Mar
nal das sub-regiões pois interrompe as terras
da Galiléia ao longo do vale do Jordão e Mar
altas centrais e liga as planícies costeiras a oes­
Morto até a costa do Mar Vermelho. Ao nor­
te com a fenda do Jordão a leste. Por causa do
te, essa fenda é emoldurada pelas cadeias
solo rico do vale e de sua localização como
de montanha do Líbano e Antilíbano (ver
intersecção das grandes estradas da região
mapa, p, 41). A altitude diminui continua­
(ver mapa p. 41), os maiores poderes militares
mente à medida que se vai para o sul, no
do período bíblico passaram por lá e tentaram
sentido do Mar Morto, e sua superfície fica controlar aquela área.
405 metros abaixo do nível do mar, o ponto Durante a maior parte do período do An­
mais baixo na terra.9 tigo Testamento, a planície costeira do sul
foi o lar dos grandes inimigos de Israel, os
As quatro sub-regiões de Israel filisteus. A maior concentração de filisteus e
A fenda do Jordão, a característica topo­ suas cinco cidades mais importantes ocupa­
gráfica proeminente de toda a Síria-Palesti­ vam essa planície. Do tempo dos juizes até a
na, também tem um papel no sentido longitu­ ascensão de Davi ao trono, os filisteus luta­
dinal de Israel. O país é dividido longitudinal­ ram intermitentemente com os israelitas nas
mente em quatro zonas: a zona costeira, a terras altas centrais.
40
Descobrindo o Antigo Testamento

A cadeia central de montanhas depois cai precipitadamente até o vale do Jor­


Um a cadeia de montes ergue-se brusca­ dão. Ao sul, as terras altas transjordanianas
mente entre as planícies costeiras e a fenda têm elevações de até 1.900 metros, como nas
do Jordão. Essas terras altas podem ser subdi­ montanhas de Edom.
vididas cm quatro regiões: GALILÉIA, EFRAIM, Essas terras altas são divididas pelos vaus
JUDÉIA e leste do Neguebe (ver mapa p. 41). de quatro rios: JARMUQUE, JABOQUE, AR-
O ponto mais alto do Levante costeiro é o NON e ZEREDE (ver mapa p. 41). Esses rios
Monte Hermon, com uma altitude de apro­ correm por vales profundos das terras altas até
ximadamente três mil metros.11 Ao sul do o Rio Jordão ou o Mar Morto. Muitas vezes,
Monte Hermon, a Alta Galiléia tem eleva­ nas histórias bíblicas, esses rios formavam fron­
ções de mais de mil metros. Uma encosta teiras naturais para nações ou divisões políti­
íngreme separa a Alta Galiléia da Baixa G a­ cas. O Jarmuque forma a fronteira do sul de
liléia, ao sul, com altitudes abaixo de sete- BASÃ. A área entre o Jarmuque e o Jaboque
centos metros. pode, por questão de conveniência, ser cha­
Os montes centrais de Efraim e da região mada de GlLEADE. O território entre o Jabo­
de montes da Judéia são bastante parecidos. que e o Arnon pertencia aos moabitas duran­
Essa cadeia de montanhas é protegida em te a maior parte do período do Antigo Testa­
ambas as encostas por leitos profundos de ri­ mento. A região sul do Zerede era território
achos, o que torna difícil a passagem do leste edomita. Assim, as terras altas transjordania­
para o oeste. Uma estrada que vai do norte nas podem ser divididas em quatro áreas de
ao sul, ao longo da encosta leste, liga os mon­ norte a sul: Basã, Gileade, MOABE e EDOM.
tes de Efraim com a região de montes da A maior parte das fronteiras mudava com fre
Judéia. H á várias cidades importantes ao lon­ qüência nos tempos bíblicos.
go dessa estrada: MlZPA, SlQUÉM, SlLÓ e O extremo leste das terras altas transjor
BETEL em Efraim, e JERUSALÉM, BELÉM e danianas faz fronteira com o deserto Árabe
HEBRON em Judá. A parte leste do deserto Nos tempos bíblicos, o destino dessa planície
ao sul de Judá (o Neguebe) abriga a conti­ estava ligado à sua relação com o deserto
nuação dos montes da cadeia central de Ventos escaldantes e nômades do deserto di
montanhas. ficultavam a manutenção da agricultura e o
assentamento de comunidades. Mas as altas
A fenda do Jordão cadeias de montes ladeando a fenda do Jor­
A principal característica topográfica da dão eram beneficiadas pelas últimas chuvas
Síria-Palestina tem um papel proeminente do Mediterrâneo e ofereciam umidade sufi­
no formato da paisagem de Israel. A depres­ ciente para a criação de ovelhas e plantação
são profunda na superfície da terra tem uma de trigo.
largura média de quinze quilômetros e des­
ce de uma altitude de aproximadamente As estradas do antigo
cem metros ao norte até mais de quatrocen­ O riente Próximo
tos metros abaixo do Mediterrâneo à beira Entre as muitas importantes estradas e ro­
do Mar Morto.12 No centro da fenda, o Rio tas de comunicação do mundo antigo, duas
Jordão corre do pé do Monte Hermon até o estradas internacionais devem ser menciona­
Mar Morto. das aqui.13 Seu curso exato não varia muito
A fenda do Jordão pode ser subdividida durante os tempos bíblicos, pois a topografia
longitudinalmente em cinco regiões: o VALE irregular da Síria-Palestina dificultava a cria­
DE HULA, QUINERETE (Mar da Galiléia), o ção de novas rotas.
Va le d o Jo r d ã o , o Ma r Mo r to e o
ARABÁ (ver mapa p. 41). O caminho do mar (Via Maris)
O nome “caminho do mar” vem de Isaías
As terras altas transjordanianas 9.1 e refere-se à estrada internacional que
A leste da fenda do Jordão, a terra eleva- acompanhava a costa do Levante (ver mapa
se abruptamente, formando um planalto que, p. 45). Essa estrada foi usada durante todo o
gradualmente, dá lugar ao deserto Árabe. Esse período bíblico e algumas das cidades mais
planalto íngreme chega a altitudes maiores importantes da antigüidade ficavam próximas
que grande parte das terras altas centrais e a ela. A Vulgata traduziu a frase de Isaías
42
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

Parte da região
oeste do
Neguebe ou
deserto do sul.

como Via M aris que, mais tarde, foi o termo cidade de Megido, eram locais estratégicos
usado para designar toda a rede de estradas para todo o comércio e viagem do mundo
que ia do Egito, atravessava a Síria-Palestina antigo.
e ia até a Mesopotâmia.
Na planície costeira do sul, a Via Maris ia A estrada do rei
no sentido norte, dividia-se em um entron­ A segunda importante rota internacional
camento, do lado oeste continuava ao longo era a “estrada do rei” (de acordo com Nm
da costa e do lado leste passava pelo Vale de 20.17; 21.22). Essa estrada estendia-se do
Jezreel até Megido e de lá para Azor e D a­ GOLFO De ÁCABA na direção de Elate pe­
masco entrando, então, na Mesopotâmia. Os las terras altas transjordanianas até Damas­
vários braços dessa grande estrada interna­ co. Por causa dos quatro leitos profundos dos
cional convergiam em Megido, na entrada rios nas terras altas transjordanianas, a estra­
do vale de Jezreel. O vale e, especialmente a da seguia um caminho de trinta e sete a qua­
43
Descobrindo o Antigo Testamento

renta e cinco quilômetros a leste de Arabá 1200 a.C. as pessoas descobriram os maiores
até a beira do deserto. benefícios de se usar o ferro.
Essa era uma rota secundária entre Da- O período entre 3300 a 2000 a.C. é co­
masco e o Egito, e competia com a Via M aris. nhecido como a Antiga Idade do Bronze.
Era mais usada pelas caravanas de nômades Esse período testemunhou a invenção da es­
que transportavam seus produtos comerciais crita e o início da história da humanidade.
para trocá-los por produtos agrícolas. Durante Na Mesopotâmia, os sumérios começaram a
a monarquia israelita, a “estrada do rei” al­ usar extensivamente a escrita cuneiforme;
cançou importância especial por causa do au­ no Egito, é certo que os hieróglifos já eram
mento do comércio com a Arábia. usados durante o período do Antigo Impé­
Idade do rio. Na Mesopotâmia e na Síria-Palestina, as
Bronze cidades-estado começaram a crescer e, com

Idade do
Quais os elas, a necessidade de comunicação, viagens
e comércio. Na Mesopotâmia, uma série de
Ferro acontecimentos cidades-estado mais fortes tinha ganho do-
minância durante os Períodos das Antigas
Antiga Idade
descritos pelo
do Bronze Antigo Testamento?
Tarso
Os detalhes da história do Novo Testa­
mento ocorrem em apenas um século. A his­
tória do Antigo Testamento, por outro lado,
estende-se durante quase dois milênios. U g a rité ^ /
Durante esse tempo, os israelitas tiveram
contato com muitos povos e nações diferen­
tes. O Antigo Testamento menciona com fre­
qüência os assírios, babilônios, egípcios,
arameus e muitos outros povos importantes.
Biblos
Essa seção dá uma visão geral da história de
Israel e também introduz os mais importan­ M A R M E D IT E R R Â N E O
tes povos. 14

Os ancestrais de Israel: Megid<


os patriarcas
Os historiadores não têm provas suficien­
tes que permitam determinar as datas exatas
dos acontecimentos que iremos discutir nesse
texto de pesquisa. Aliás, tendo em vista que é
impossível traçar uma cronologia mais defini­
da, os arqueólogos dividem os milênios antes
da era cristã em períodos, de acordo com a
tecnologia disponível em cada época. Assim,
depois de várias idades da pedra (Paleolítico,
Mesolítico, Neolítico e Calcolítico), pode­
mos usar os termos amplos Idade do Bronze
e Idade do Ferro. Esses termos não signifi­
cam que as mudanças de pedra para bronze e
bronze para ferro foram súbitas, ou que ape­
nas o bronze era usado para ferramentas e
outros utensílios durante a Idade do Bronze e
que só o ferro era usado na Idade do Ferro.
Mas em termos gerais, foi em torno de 3300 MAR
a.C. que a tecnologia do bronze espalhou-se V ER M ELH O

pelo antigo Oriente Próximo e por volta de

44
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

Dinastias sumerianas. Mais para o final da neira mais ampla, durante a Média Idade do
M édia Idade
Antiga Idade do Bronze, o primeiro império Bronze (2000-1550 a.C.).17 Esse período da
do Bronze
semítico adquiriu o controle de toda a re­ história do antigo Oriente Próximo é marca­
gião sul da Mesopotâmia, tendo como base a do pelo movimento de grupos étnicos e novos
cidade de Acade (2334-2193 a.C.)-15 No impérios tomando o lugar de antigos poderes
Egito, a Antiga Idade do Bronze foi marca­ do Início da Idade do Bronze. N a Mesopotâ­
da pelo florescimento do Período do Antigo mia, depois de uma breve renascença da cul­
Império, que foi a era das grandes pirâmides tura sumeriana (Dinastia de Ur III, 2112—
e o ápice da cultura egípcia.16 No encerra­ 2004 a.C.), a nação passou a ser controlada
mento da Antiga Idade do Bronze, todas as por um novo grupo semítico, os amoritas. Logo
principais características da civilização e cul­ no começo da Média Idade do Bronze, os
tura humanas já haviam surgido tanto no amoritas dominaram a Mesopotâmia a partir
Egito quanto na Mpsopotâmia. de várias cidades-estado fortes em um deli­
Apesar de ser impossível determinar as da­ cado equilíbrio de poder. Foi então que um
tas dos patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó) com único indivíduo da cidade da Babilônia con­
precisão, elas podem ser localizadas, de ma­ seguiu consolidar sua força e estabelecer um

45
P e r ío d o s a r q u e o ló g ic o s
d a h is tó ria d o a n t ig o O rie n te P ró x im o 1

Datas
Aproximadas Período
(a.C.) arqueológico Israel A ntig o O riente Próximo

Antes de 14.000 Antiga Idade da Pedra Cultura pré-cavernas


(Paleolítico)

14.000-8000 Média Idade da Pedra Cultura das cavernas


(Mesolítico)

8000-4200 Nova Idade da Pedra Revolução do Neolítico:


(Neolítico) cultivo de plantações e início da
agricultura baseada em chuvas,
domesticação de animais
e primeiros povoados
permanentes

4200-3300 Idade da Pedra e do O metal substitui a pedra na


Bronze (Calcolítico) confecção de ferramentas e
armas

3300-2000 Antiga Idade do Invenção da escrita; nascimen­


Bronze to da civilização humana;
Antigo Império no Egito; Reinos
dos sumérios e acádios na
Mesopotâmia; antiga cultura
cananita em Ebla

2000-1550 Média Idade do Patriarcas de Israel Chegada dos amoritas


Bronze e outros grupos étnicos na
Mesopotâmia;
Antigo Império Babilônico;
Médio Império do Egito

1550-1200 Nova Idade do Cativeiro no Egito; Contatos internacionais


Bronze nascimento de Moisés; o e equilíbrio de poder;
êxodo, período no deserto; poderoso Novo Império do
conquista deCanaã Egito exerce influência sobre
a Síria-Palestina;
ascensão e queda
do Império hitita;
cassitas controlam a
Mesopotâmia

1200-930 Primeira Idade do Período dos juizes; Invasão dos povos do mar e
Ferro monarquia unificada: declínio das potências.
Saul, Davi e Salomão Surgimento de novos grupos
étnicos, incluindo arameus e
israelitas. Surgimento da Assíria

930-539 Segunda Idade do Reino dividido; Egito enfraquecido;


Ferro queda de Israel em 722; Assíria atinge o auge de sua
queda deJudá em 587 força antes da queda em 612;
Novo Império Babilônico:
Nabucodonosor

539-332 Terceira Idade do Retorno dos exilados Ciro conquista a Babilônia em


Ferro judeus; Esdras e Neemias; 539; Império Persa
construção do segundo
templo e dos muros de
Jerusalém

1 Philip J. King, American Archaeology in the M ideast: A History o f the American Schools o f Oriental Research
(Filadélfia: ASOR, 1983), 282; e Keith N. Schoville, Biblical Archaeology in Focus
(Grand Rapids: Baker, 1978), 8,9.
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

império por toda a Mesopotâmia. HAMURA- tar. Depois de muitos anos, de maneira mira­
aliança
BI chegou ao poder em 1792 a.C. e estabele­ culosa, Sara — a esposa de Abraão — deu à
ceu o Antigo Império da Babilônia, que du­ luz Isaque quando ela estava com noventa
N ova Idade rou até 1595 a.C.18 Hamurabi é mais conheci­ anos de idade e Abraão tinha cem anos.
do Bronze do por seu código de leis, muitas das quais Rebeca, a esposa de Isaque, teve filhos gê­
têm grande semelhança com as leis de Moisés meos — Jacó e Esaú. Apesar de Esaú ser o
Novo no Pentateuco. primogênito, Jacó tornou-se o filho das pro­
Im pério No Egito, depois de um período de escuri­ messas patriarcais. Jacó, cujo nome foi muda­
dão e confusão chamado de Primeiro Período do para Israel, teve doze filhos. Seu filho favo­
Intermediário (2200-2000 a.C.), o país voltou rito, José, foi traído por seus irmãos, vendido
a florescer durante o Período do Médio Impé­ como escravo e depois levado para o Egito.
rio (2000-1700 a.C.). O Médio Império foi Enquanto estava no Egito, José foi abençoado
um tempo de paz e estabilidade e uma época por Deus e, de forma miraculosa, chegou a
em que o Egito fez comércio com o Levante, um alto cargo político naquela terra estran­
resultando na aquisição de considerável ri­ geira. Durante uma grande seca, os filhos de
queza. Mas próximo ao fim da Média Idade Israel viajaram para o Egito à procura de co­
do Bronze, o Egito também sucumbiu ao do­ mida para a família que haviam deixado em
mínio dos semitas, uma ocorrência comum à Canaã. Para sua surpresa, foram confronta­
toda a região do Crescente Fértil nesse perío­ dos pelo irmão que haviam traído e, agora,
do. Os egípcios perderam o controle de sua suas vidas estavam nas mãos dele. Mas José
nação quando os HlCSOS, povo semita pro­ providenciou comida para eles e os salvou.
vavelmente vindo da Síria-Palestina, assumi­ Israel e todos os seus filhos se mudaram de
ram o controle do Delta ao norte. Não se sabe Canaã para Gósen, na região nordeste do
se os hicsos invadiram a região e tomaram o Delta do Egito.
poder ou se eles já vinham aumentando sua Não podemos datar esses acontecimen­
força gradualmente. Eles governaram o Egito tos com precisão, mas apenas dizer que acon­
por aproximadamente 150 anos durante o que teceram em alguma época durante a Média
foi chamado de Segundo Período Interme­ Idade do Bronze (2000-1550 a.C.). O domí­
diário (1700-1540 a.C.). Pela primeira vez na nio dos hicsos sobre o Egito (1700-1550 a.C.)
história do Egito, o país foi conquistado e do­ pode muito bem ter sido o período no qual os
minado por estrangeiros. filhos de Israel viveram no Egito e lá multi-
O mundo na Média Idade do Bronze, no plicaram-se rapidamente. Mas uma vez que
qual viveu Abraão, era um mundo em que os os hicsos foram expulsos, “se levantou novo
povos estavam sempre se deslocando. Tam­ rei sobre o Egito, que não conhecera a José”
bém na Síria-Palestina os povos semíticos es­ (Ex 1.8). A expressão “novo rei” provavel­
tavam se estabelecendo. Durante o terceiro mente refere-se a um rei de outra dinastia.
milênio, os cananitas já estavam fundando Durante os vários séculos seguintes, os israe­
cidades-estado nas planícies costeiras e nos litas foram escravizados pelos egípcios e for­
vales. E possível que esses povos fossem da çados a construir para eles cidades e susten­
mesma origem amorita que aqueles que ha­ tar sua economia.
via se estabelecido na Mesopotâmia.19
Abraão saiu de Ur dos caldeus ao sul da O início de Israel:
Mesopotâmia e, com toda a sua família, via­ Moisés e Josué
jou para HARÃ, próximo ao Eufrates, na re­ A Nova Idade de Bronze foi um tempo
gião noroeste da Mesopotâmia. Seu pai, Terá, de comércio internacional e equilíbrio entre
faleceu em Harã e Abrão (cujo nome foi mais as potências mundiais, incluindo a Síria-Pa­
tarde mudado para Abraão) foi chamado a lestina. Os egípcios conseguiram dar um fim à
viajar pela fé para terras desconhecidas.20 subjugação pelos hicsos e entraram em seu
Quando Abraão chegou em Canaã, Deus fez período de maior força política, o Novo Im­
uma aliança com ele e prometeu lhe dar um pério (dinastias 18-20, 1550-1100 a.C.).
grande número de descendentes e a terra de Enquanto o Egito gozou de hegemonia
Canaã por herança. Essas promessas tinham durante esse período, a Mesopotâmia passou
um caráter único para um amorita migrante, por um tempo de fraqueza política. Depois
em trânsito, à procura de terra para se assen­ da queda do Antigo Império Babilônico de

47
Descobrindo o Antigo Testamento

Hamurabi, o sul da Mesopotâmia passou a RAMSÉS II concordaram em fazer um acor­


língua franca
ser controlado pelos CASSITAS, estrangeiros do de paz, pondo fim às hostilidades entre as
das Montanhas Zagros. O longo reino da di­ duas nações.
cartas de nastia cassita (mais de trezentos anos) trou­ Moisés nasceu na tribo de Levi, durante a
Am arna xe paz e estabilidade à Babilônia, porém não Nova Idade do Bronze, quando Israel sofria
superioridade militar. Para defender suas sob o pesado jugo da escravidão no Egito. Na
fronteiras, os cassitas preferiam fazer uso de época do nascimento de Moisés, o faraó ten­
tratados de paz e outros meios não-militares tava controlar o rápido crescimento da popu­
de diplomacia. Eles adotaram muitos ele­ lação israelita matando todos os meninos is­
mentos tradicionais da cultura babilônica e, raelitas recém-nascidos. Mas Moisés foi mira-
durante esse período, elevaram o sul da Me­ culosamente salvo pela própria filha do faraó
sopotâmia a um novo nível de prestígio in­ e cresceu na corte real egípcia. Lá, de manei­
ternacional. O dialeto babilônio acádio tor- ra providencial, recebeu a mais refinada edu­
nou-se a língua fran ca , ou seja, a língua in­ cação egípcia (At 7.22).
ternacional daquela época. Moisés foi preparado e chamado por Deus
Os poderosos soberanos egípcios do Novo para liderar o povo e libertá-lo da escravidão
Império tentaram controlar as áreas costeiras do Egito. Deus usou uma série de dez pragas
da Síria-Palestina, a estrada costeira para a para provar que ele estava no controle da or­
Fenícia (Via Maris) c a NÚBIA, ao sul.21 Ao dem cósmica e não o rei-deus egípcio — o
controlar o intercâmbio mercantil com o Egeu faraó. Essas pragas demonstraram a superiori­
e com o resto da Ásia ocidental, o Egito domi­ dade e majestade de Iavé, o Deus dos israeli­
nou o comércio e atingiu tremenda riqueza e tas. Então, Deus usou Moisés para tirar o povo
prosperidade. No ápice desse império, do Egito e levá-lo até a península do Sinai
AMENOTEPIV, da décima oitava dinastia, tor- para fazer aliança com ele. Lá, ele deu ao
nou-se faraó em 1353 a.C. Logo em seguida, povo a Lei para manter o relacionamento de
ele mudou seu nome para AKENATON e des­ aliança e protegê-los na terra prometida que
locou a capital trezentos quilômetros a norte eles estavam prestes a herdar.
de TEBAS, para a moderna EL AMARNA. Israel, a nova nação, rejeitou a liderança
Durante aproximadamente uma década, de Deus no deserto e recusou-se a entrar na
Akenaton elevou a imagem do deus-sol Aton terra prometida. Deus puniu o povo, fazen­
à posição de supremacia, chegando perto de do com que vagasse pelo deserto por um pe­
alcançar o monoteísmo religioso. Centenas de ríodo de quarenta anos. Durante esse tem­
placas de barro escritas em babilônio (as cha­ po, a geração rebelde morreu. Moisés tam­
madas cartas de Amarna) foram encontra­ bém faleceu nas planícies de Moabe sem ter
dos na efêmera capital escolhida por Akena­ tido o privilégio de entrar na terra prometida
ton. Essas cartas dos reis-vassalos na Síria-Pa­ aos patriarcas. Josué, o sucessor de Moisés,
lestina e governantes da ANATÓLIA e Meso­ liderou a nação na conquista da terra pro­
potâmia refletem a situação política da meta­ metida, cumprindo as promessas feitas aos
de do século 14 a.C. Ao que parece, Akena­ patriarcas.
ton não foi mais capaz de controlar as cida- Apesar de não podermos associar datas
des-estado da Síria-Palestina. Seja por causa exatas a esses acontecimentos, fica claro que
de negligência ou fraqueza militar, o Egito o êxodo israelita ocorreu em alguma época
começou a perder seu poderio internacional durante o Período do Novo Império da histó­
sobre o oeste da Ásia. ria egípcia. Estudiosos já propuseram duas pos­
Em Anatólia, o império hitita havia obti­ síveis datas para o êxodo, aproximadamente
do o controle da Ásia Menor ocidental e do 1446 ou 1275 (ver o capítulo 6). A questão é
norte da Síria. Sob uma forte liderança real, se o faraó do Egito na época do êxodo era
os hititas mantiveram o controle da Síria in­ T ü TMOSE III (ou talvez Amenotep II), da
cluindo o sul, quase até Damasco, aproxi­ décima oitava dinastia, ou Ramsés II, da dé­
madamente entre os anos de 1344-1239 cima nona dinastia. Independente de os es­
a.C.22 Reis hititas lutaram contra faraós da tudiosos de nossa época não conseguirem da­
décima nona dinastia do Egito, e acabaram tar com precisão esses acontecimentos, a nar­
chegando a um impasse na metade do sécu- rativa do êxodo na Bíblia mostra costumes au­
lo 13. Mais para o final da Nova Idade do tênticos da Nova Idade do Bronze e sua vera­
Bronze, o rei hitita HATTUSHILIIII e o faraó cidade é certa.
48
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

0 Mosteiro de
Santa Catarina,
no Sinai. Deus
usou Moisés
para livrar Israel
do Egito e
conduzir o povo
até a Península
do Sinai para
fazer uma
aliança com eles.

O Estado de Israel: Micenas na Grécia continental. Ê possível que


povos
Davi e sua dinastia os sobreviventes tenham fugido pela costa do
do mar
Por volta de 1200 a.C., mudanças cataclís- Mediterrâneo, desequilibrando as maiores
micas começaram a ocorrer no antigo Orien­ potências do mundo antigo. Esses estrangei-
te Próximo. As maiores potências (na época, ros eram chamados coletivamente de “povos
os egípcios e hititas) subitamente entraram do mar”. Um desses povos do mar, conheci­
em declínio e o mapa político mudou de for­ do por fontes egípcias como “Pelesets”, assen­
ma dramática. A maioria dos estuciiosos su­ tou-se no sudoeste das planícies costeiras da
põe que essas mudanças começaram com a Síria-Palestina. No Antigo Testamento, eles
queda de Tróia (por volta de 1250 a.C.) e a são conhecidos como “filisteus”, um termo que
subseqüente queda de todas as cidades de também deu origem à palavra “Palestina”.23
49
Descobrindo o Antigo Testamento

Entre as muitas mudanças que ocorreram a.C.) começou com a invasão dos povos do
Idade do
com a chegada dos povos do mar no antigo mar e a mudança do poder político por todo o
Ferro
Oriente Próximo, há dois elementos que são antigo Oriente Próximo. Mais para o final da
de especial significado para nós. Em primei- Nova Idade do Bronze, Josué e os israelitas
ro lugar, durante um século depois de sua tomaram Canaã e assentaram-se nas terras
chegada, a ordem política que havia existi­ altas centrais. Pelo menos por dois séculos de­
do durante mais de trezentos anos foi com­ pois da conquista israelita, Israel governou-se
pletamente dissolvida, deixando um vazio no mediante uma confederação informal de doze
poder. Em vez das campanhas militares in­ tribos, uma para cada um dos filhos de Jacó.
ternacionais de povos como os hititas e egíp­ Durante esse tempo, os líderes surgiam entre
cios, começaram a surgir brigas locais e cres­ pessoas comuns do povo e governavam de for­
ceram os conflitos regionais. Novos grupos ma temporária apenas em determinadas situ­
étnicos preencheriam o vazio no poder, for­ ações. Os “juizes” eram capacitados e orde­
mando seus pequenos impérios, como os nados por Deus para consolidar forças e re­
arameus de Damasco e os israelitas das ter­ cursos das tribos durante os tempos de crise
ras altas da Palestina. nacional ou regional. As ameaças militares
O segundo resultado da chegada dos po­ vinham dos vizinhos ao redor, especialmente
vos do mar foi a difusão de novas tecnologias dos filisteus a sudoeste. Apesar de um gover­
para trabalhar os metais, especialmente o uso no centralizado não ser necessário, os israeli­
do ferro para confeccionar armas. Apesar de tas cansaram-se das constantes ameaças ini­
não estar claro qual grupo exatamente inven­ migas que os cercavam. Começaram, então,
tou a tecnologia do ferro e utilizou-a para fa­ a querer um rei permanente, que tivesse uma
zer armas, fica evidente que os filisteus tinham corte real para manter um exército que asse­
a dianteira nas batalhas com os israelitas por gurasse a paz no futuro.
causa da superioridade tecnológica no uso de A monarquia israelita desenvolveu-se por
metais e o monopólio do ferro (ISm 13.19- causa das constantes ameaças de invasões
22). Aos poucos, a tecnologia do ferro foi subs­ militares e também devido às pressões cultu­
tituindo o uso do bronze e os arqueólogos re­ rais para tornarem-se semelhantes a outras
ferem-se ao período seguinte como a Idade nações: “...teremos um rei sobre nós. Para que
do Ferro. sejamos também como todas as nações; o nos­
Portanto, o período conhecido como Pri­ so rei poderá governar-nos, sair adiante de nós
meira Idade do Ferro (em torno de 1200—930 e fazer as nossas guerras” (ISm 8.19b,20). Sa-

O palácio do
norte em
Megido.
Salomão
expandiu as
fronteiras de
Israel e reinou
durante o único
período da
história em que
Israel podia ser
considerada um
império.

50
Descobrindp o Antigo Testamento

muel foi o profeta e juiz que liderou Israel em Jeroboão I, tentou usar a religião para fins po­
Iaveísmo
um tempo de transição dos juizes para os reis. líticos e comprometeu as práticas do Iaveísmo
M osaico
Com a bênção de Deus, Samuel ungiu a Saul antigo herdado de Moisés. Mas um outro rei
como o primeiro rei de Israel. Mas Saul não do norte foi ainda mais longe. Onri e seu filho
Baalism o manteve seu relacionamento com Deus e A cabe propositadam ente m isturaram o
Cananita acabou sendo rejeitado como rei de Israel. A Iaveísmo Mosaico com o Baalismo Cana­
vida de Saul ilustra a importância de manter- nita em uma tentativa de ganhar maior con­
mos nosso relacionamento com Deus, e essa é trole político. O reino do norte também sofria
a nossa tarefa mais importante. Depois do fra- com a instabilidade política. Durante duzen­
casso de Saul, o Senhor instruiu Samuel para tos anos de sua história (931-722 a.C.), Israel
que ungisse um homem segundo o coração teve dezenove reis, de nove diferentes dinas­
do próprio Deus para ser o próximo rei de Is-- tias. Em 722 a.C., a capital do reino do norte,
rael (ISm 13.14), ou seja, o jovem Davi. Samaria, foi conquistada pelos assírios.
Sob a forte liderança de Davi, Israel fi­ Por outro lado, Judá, o reino do sul, conti­
nalmente derrotou os filisteus e atingiu um nuou a ter uma família real da dinastia de
certo grau de paz e segurança na Síria-Pa­ Davi durante quase 350 anos (931-587 a.C.).
lestina. O reinado de Davi trouxe um perío­ Apesar de Judá ter mantido a estabilidade
do de estabilidade que acabaria por tornar-
se a era dourada de Israel. Ele unificou as
tribos e ofereceu liberdade econômica e po­ O Império Assírio
lítica. Apesar de continuar a haver diversas
lutas internas durante seu reinado, ele foi dos Séculos
capaz de deixar um reino unificado para seu
filho Salomão. Esse foi o início da sucessão
dinástica na antiga Israel.
8o e 7o a.C.
Salomão expandiu as fronteiras até o Eu­
frates, ao norte, e até o Egito, ao sul. Ele go­
vernou durante o único período da história
de Israel que pode ser chamado de império.
Por intermédio do comércio internacional, ele
trouxe grande riqueza e prosperidade para a
nação. Deus deu a Salomão sabedoria sobre
todas as questões, incluindo sua capacidade
de governar o povo. A corte real cresceu e
passou a envolver-se mais com os assuntos de
estado. A fama de Salom ão como líder
motivador espalhou-se por todo o mundo e o
contato internacional tomou-se comum. Sa­
lomão também teve o privilégio de construir o
templo de Deus em Jerusalém. Os reinados
M A R M E D IT E R R Â N E O
de Davi e Salomão ou a “monarquia unifica­
da” serão sempre lembrados como tempos ide­
ais de paz e prosperidade (lRs 4.25).
Mas o sucesso da monarquia unificada não
durou muito tempo. Assim como Saul, Salo­
mão deixou que seu coração se afastasse de Jeruí
Deus: “... e o seu coração não era de todo fiel
para com o Senhor, seu Deus, como fora o de
Davi, seu pai” (lRs 11.4). Logo depois da
morte de Salomão, o reino foi dividido em
duas nações mais fracas: Israel, ao norte, e
Judá, ao sul; tornando-se a chamada monar­
quia dividida.
O norte ou Israel caiu rapidamente em
apostasia religiosa. O primeiro rei do norte,
52
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

política, o reino também caiu em apostasia dinastia), o Egito nunca mais ficou entre as
religiosa, e isso ocorreu de maneira mais gra­ grandes nações do mundo antigo. Os aconte­
dual que na região norte. Muitos dos reis de cimentos mais marcantes da Segunda Idade
Judá eram fiéis ao Senhor, especialmente nos do Ferro foram a ascensão e queda de novos
primeiros anos do reino do sul. O último sécu­ impérios na Mesopotâmia.
lo da história de Judá é marcado por uma Ao longo das margens do rio Tigre, na re­
alternância de reis bons e maus. Infelizmen­ gião norte da Mesopotâmia, uma nova força
te, a capital de Judá — Jerusalém — foi to­ emergiu durante a Idade do Ferro, uma po­
mada pelos babilônios em 587 a.C. tência que iria dominar a história do antigo
A época em que os arqueólogos chamam Oriente Próximo durante dois séculos. O im­
de Segunda Idade do Ferro (aproximadamen­ perialismo assírio surgiu na metade do século
te 930-539 a.C.) inclui os reinos divididos: o 99 e começou a ter impacto sobre a política da
norte de Israel e Judá, ao sul. Nessa época, em Síria-Palestina. Apesar disso, a Assíria passou
outras partes do antigo Oriente Próximo, o por um período de fragilidade interna duran­
Egito procurava se reafirmar como potência te a primeira metade do século 89. Isso permi­
mundial. Mas exceto por um breve momento tiu um longo e próspero reinado para Jeroboão
na virada do século 6- a.C. (vigésima sexta II em Israel (793-753 a.C.) e para Uzias em

MÉDIA

Darrfasco
m
Salmaneser
am aria
Tiglate-pileser
Raba-bene-
amom
DESERTO DA ARABIA
Esar-hadom
Escala

50 100 mi
A ssurbanipal J________ I
100 km

53
Descobrindo o Antigo Testamento

Judá (792-740 a.C.). Mas o sucesso não é ne­ tributos aos assírios e rebeliões contra eles. Fi­
cessariamente um sinal da aprovação de Deus. nalmente, SALMANESER V, filho de Tiglate-
Apesar dos dois reinos terem prosperado du­ Pileser, montou um cerco em torno de Sama-
rante essa metade do século, as injustiças so­ ria, a capital de Israel em 725 a.C. Três anos
ciais e a decomposição moral começaram a depois (em 722 a.C.), o reino do norte caiu e
consumir a alma de Israel e Judá. Esse foi o transformou-se em uma província do imenso
pano de fundo para os primeiros profetas clás­ império assírio.
sicos: Amos, Oséias, Isaías e Miquéias. Deus Durante o século seguinte, Judá também
levantou seus servos para alertar esses reinos tentou de várias formas lidar com a ameaça
sobre a destruição que estava por vir e para assíria. O rei Ezequias de Judá, por exemplo,
chamá-las ao arrependimento. era anti-assírio, mas seu filho Manassés ado­
A fraqueza da Assíria foi apenas uma pau­ tou uma política pró-assíria. Durante o século
sa temporária em sua busca ávida pelo poder; 7g, a Assíria chegou ao ápice de seu poder
o começo do século 8g foi a calmaria antes da imperial e tornou-se, de fato, o primeiro impé­
tempestade. Quando TlGLATE-PlLESER III rio mundial, bem como o primeiro de uma
restaurou à Assíria sua força original em 745 série de outros impérios a ter por base a Meso­
a.C., a nação estava mais forte que nunca e potâmia (Assíria, Babilônia e Pérsia) antes que
pronta para ser usada como o instrumento de o poder mudasse para o oeste (Grécia e Roma).
destruição de Deus contra o rebelde reino do Sob o domínio dos reis do início do século 7Q
norte de Israel. Durante as próximas duas dé­ (SENAQUERIBE, ESAR-HADOM e ASSURBA-
cadas, Israel oscilou entre o pagamento de NIPAL), os assírios foram capazes de derrotar

O Império Persa dos


Séculos 6o e 5o a.C.

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54
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

Relevo de
Tiglate-Pileser III
da Assíria em
Calá. Quando
Tiglate-Pileser III
restaurou à
Assíria sua força
total, em 745
a.C., a nação
estava pronta
para ser usada
por Deus como
instrumento de
destruição do
reino de Israel,
ao norte.

seus inimigos tradicionais ao norte — o povo


de Ur. Chegaram até mesmo a capturar o
E s c a la distante Egito em 663. Mas durante esse pe­
/ w
ríodo de domínio internacional, a Assíria
t 0 100 200 mi
1 1 i 1 continuava a ter um problema bem próximo
1 i 1
0 200 400 km de si. Os caldeus do sul da Babilônia esta-
vam ficando cada vez mais rebeldes e difí­
ceis cie conter. Não demorou para que se
‘2o* tornassem independentes e acabassem to­
mando o lugar dos assírios.
%
% Sob o hábil reinado de NABOPALASSAR e
seu famoso filho NABUCODONOSOR II, a
s o g d ia n a
Babilônia participou da queda da Assíria e
tornou-se o império mundial seguinte. Du­
rante os quarenta e três anos de reinado de
Nabucodonosor (605—562 a.C.), a Babilônia
5ARTIA chegou ao ápice dc sua riqueza e poder políti­
co no que é chamado de Período Neobabilô-
f nico. A reação de Judá às aspirações imperiais
a r «a da Babilônia oscilava entre duas estratégias
táticas. Alguns eram a favor da rebelião, fir­
mados na confiança patética em um Egito
•V enfraquecido (“esse bordão de cana esmaga­
% da,” Is 36.6). Outros, como Jeremias, exorta­
% vam Israel para que se submetesse como esta-
/
do-vassalo da Babilônia. Em 597, Nabucodo­
nosor tentou dar um fim à rebelião de Judá ao
Ce° ffo s / A capturar Jerusalém e levar o rei Jeoaquim para
o exílio na Babilônia, com vários outros cida­
dãos de Jerusalém, inclusive o profeta Eze-
quiel. Uma outra rebelião sob o reinado de
M A R DA ARÁBIA nL Zedequias resultou na total destruição de Je­
rusalém em 587.
55
Descobrindo o Antigo Testamento

Os babilônios não só destruíram a cidade e O exílio e a restauração de Israel;


deportaram a maior parte da população como Esdras e Neemias
também demoliram o templo e eficazmente A última era arqueológica do Antigo Tes-
deram fim à dinastia de Davi. A linhagem de tamento é o período da Idade Persa (539-
Davi mal sobreviveu durante o exílio por meio 332 a.C.), também conhecido como Tercei-
de Jeoaquim. A perda do templo e do reinado ra Idade do Ferro. O reinado do soberano
foi um acontecimento dominante e formativo persa CIRO marcou o início do Império Persa.
na história do Antigo Testamento. Ele fez com Esse reino foi um dos maiores do mundo an­
que o povo de Israel repensasse seus antigos tigo, estendendo-se das ilhas do Mar Egeu e
pressupostos teológicos e tornou necessária do rio Nilo por todo o antigo Oriente Próxi­
uma reformulação das convicções religiosas mo, até o vale do rio Indu.24 O Império Persa
anteriores, especialmente sobre a natureza da controlou o mundo antigo durante dois sé­
aliança com Deus. Tudo isso foi o pano de culos. A l e x a n d r e , O G r a n d e , conquistou
fundo para algumas das mais significativas fi- a Pérsia por volta de 330 a.C. e terminou
guras proféticas de Israel: Jeremias, Habacu- com a série de impérios que tiveram por base
que e Ezequiel. a Mesopotâmia.

Sumário

1. Israel era parte do antigo Oriente 6. A invenção da escrita — cuneiforme


Próximo, que é agora chamado de na Mesopotâmia e hieróglifos no Egi­
Oriente Médio. to — teve início durante a Antiga Ida­
de do Bronze.
2. As três regiões geográficas do antigo
Oriente Próximo — Mesopotâmia, 7. Os povos do mar possivelmente fugi­
Egito e Síria-Palestina — eram unidas ram das cidades Micenas, na Grécia,
por um arco de solo rico chamado de em torno de 1250 a.C. e foram para o
Crescente Fértil. antigo Oriente Próximo. Isto trouxe
grandes mudanças políticas e tecnolo­
3. As quatro sub-regiões de Israel eram
gia para trabalhar metais.
as planícies costeiras, a cadeia central
de montanhas, a fenda do Jordão e 8. A constante ameaça de invasões mili­
as terras altas transjordanianas. tares de seus vizinhos levou os israeli­
tas a quererem um rei.
4. Duas das importantes estradas do an­
tigo Oriente Próximo passavam pela 9. O período do reinado de Davi foi um
Síria-Palestina: a Via Maris ou cami­ tempo muito estável na história de Is­
nho do mar e a estrada do rei. rael.
5. A história do Antigo Testamento es­ 10. Sob o reinado de Salomão, as frontei­
tende-se por um período de aproxi­ ras de Israel expandiram-se ao norte
madamente dois milênios, ao contrá­ até o Eufrates e ao sul até o Egito.
rio da história do Novo Testamento,
11. Exilados judeus voltaram da Babilônia
que cobre apenas um século.
em três grupos separados, liderados
por Zorobabel, Esdras e Neemias.

56
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

Língua franca Mar Cáspio Efraim


Cartas de Amarna Mar Negro Montes de Judá
Povos do mar Montanhas do Mizpa
Iaveísmo Mosaico Cáucaso Siquém
Baalismo Cananita Deserto da Arábia Siló
Golfo Pérsico Betei
Termos-chave Mar Vermelho Jerusalém
Pessoas/ Mesopotâmia Belém
Encarnação Rio Eufrates Hebrom
Crescente fértil lugares- Rio Tigre Vale de Hula
Cuneiforme
Idade Neolítica
chave Irã Quinerete
Síria Vale do Jordão
Hieróglifos Hamurabi Líbano Mar Morto
Faraó Hicsos Babilônia Arabá
Levante Cassitas Assur Jarmuque
Fenda Amenotep IV Nínive Jaboque
Via Maris Akenaton Líbia Arnon
Vulgata Ramsés II Canal de Suez Zerede
Paleolítico Thutmose III Fenda do Jordão Basã
Mesolítico Tiglate-Pileser III Terras altas Gileade
Neolítico Salmaneser V transjordanianas Moabe
Calcolítico Senaqueribe Acco Edom
Idade do Bronze Esar-hadom Baía de Haifa Golfo de Ácaba
Idade do Ferro Assurbanipal Vale de Jezreel Elate
Antiga Idade do Bronze Nabopolasar Planície de Saron Harã
Média Idade do Bronze Nabucodonosor II Costa filistéia Núbia
Aliança Ciro Sefelá Tebas
Nova Idade do Bronze Alexandre, 0 Grande Neguebe El-Amarna
Novo Império Montanhas Zagros Galiléia Anatólia

Questões para estudo

1. De que forma Deus se revela encarna­ 6. Discuta o clima social e político inter­
do no Antigo Testamento? nacional durante os tempos de Moi­
sés e Josué.
2. Por que a localização de Israel era es­
tratégica nos tempos antigos? 7. Qual era o clima político do antigo
Oriente Próximo por volta de 1200
3. Localize em um mapa as regiões geo­
a.C.? Que efeitos ele teve sobre os
gráficas do antigo Oriente Próximo e
israelitas?
discuta suas principais características.
8. Quais as mudanças políticas que ocor­
4. Localize em um mapa as quatro sub-
reram com a Segunda Idade do Ferro
regiões de Israel e discuta suas princi­
no antigo Oriente Próximo? Quais fo­
pais características.
ram as implicações dessas mudanças
5. Discuta o clima social e político inter­ para Israel?
nacional durante a época patriarcal
na história de Israel.

57
Descobrindo o Antigo Testamento

Leituras complementares

Aharoni, Yohanan. The Land o fth e Bible: A Histórica! Roux, Georges. Ancient Iraq. 2- ed. Baitimore: Penguin,
Geography. 2- ed. Trad. Anson F. Rainey. Londres: 1980. Introdução informativa e de fácil leitura sobre
Burns & Oatesr 1979. Melhor geografia histórica a antiga Mesopotâmia.
disponível. Saggs, H. W. F. The Greatness That Was Babylon: A
Baly, Denis. The Geography o f the Bible: A Study in His­ Sketch o f the Ancient Civilization o f the Tigris-
tórica! Geography. Nova York: Harper & Row, 1957. Euphrates Valley. Nova York: Hawthorn, 1962. Um
Bright, John. A History o f Israel. 3- ed. Filadélfia: West- extenso tratado escrito por um renomado acadêmico.
minster, 1981. Um clássico que apresenta uma pers­ . The Might That Was Assyria. Londres: Sidgwich &
pectiva moderada. Jackson, 1984. Volume relacionado a The Greatness
Hallo, William W., William Kelly Simpson. TheAncient That Was Babylon.
Near East: A History. Nova York: Flarcourt Brace Shanks, Hershel, ed. Ancient Israel: A Short History
Jovanovich, 1971. Um ponto de partida bem escrito from Abraham to the Roman Destruction o f the
para o estudo de todo o antigo Oriente Próximo. Temple. Englewood Cliffs, NJ./Washington, D.C.:
Hoerth, Aflred J., Gerald L. Mattingly, Edwin M. Prentice Hall/Biblical Archeology Society, 1988.
Yamauchi, org. Peoples o f the Old Testament Soden, Wolfram von. The Ancient Orient: An Introduc-
World. Grand Rapids: Baker, 1994. Boa introdução tion to the Study o f the Ancient Near East. Trad.
para cada um dos principais povos mencionados no Donald G. Schely. Grand Rapids: Eerdmans, 1994.
Antigo Testamento. Introdução útil sobre a Mesopotâmia escrita por um
Merrill, Eugene H. Kingdom o f Priests: A History o f Old renomado estudioso dos acádios.
Testament Israel. Grand Rapids: Baker, 1987. Melhor Wilson, John A. The Culture o f Ancient Egypt. Chicago:
história de Israel de uma perspectiva conservadora. University of Chicago Press, 1951. Uma introdução
Page, Charles R. II, Carl A. Voz. The Land and the Book: padrão.
An Introduction to the World o f the Bible.
Nashville: Abingdon, 1993. Uma visão geral concisa
dos principais sítios arqueológicos nas terras bíblicas.

Ciro estabeleceu uma nova política em salém para reconstruir e recomeçar.25 O pri­
relação aos povos subjugados e suas divinda­ meiro grupo chegou sob a liderança política
des. Ao contrário dos assírios e babilônios, de Zorobabel e religiosa do sumo sacerdote
Ciro desejava agradar o maior número possí­ Jesua (Ed 1-6). O povo que retornou tentou
vel de deuses. Ele achava que poderia go­ reconstruir o templo, mas teve que lutar con­
vernar e manter melhor o seu vasto império tra a oposição, o desânimo e a falta de recur­
com uma política de tolerância e benevolên­ sos. Foi só após o ministério dos profetas Ageu
cia, em vez de crueldade e brutalidade. O e Zacarias que o segundo templo finalmente
exílio dos judeus terminou oficialmente quan­ foi terminado em 515 a.C.
do Ciro declarou que os povos cativos da Esdras, o sacerdote e escriba, liderou a se­
Babilônia estavam livres para voltar para sua gunda expedição da Babilônia em 458 a.C.,
terra natal e estabelecer um certo grau de (Ed 7-10). A tarefa de Esdras não era de re­
governo próprio. O Antigo Testamento in­ construir o país materialmente, como os pri­
terpreta esse acontecimento como sendo o meiros a chegar haviam feito. Ele estava pre­
cumprimento da profecia de Jeremias (2Cr ocupado com o bem-estar social e espiritual
36.22,23; Ed 1.1-4). do povo.
Durante o século seguinte, três grupos dis­ Neemias liderou o terceiro grupo a retor­
tintos de exilados judeus voltaram para Jeru­ nar para Jerusalém em 445 a.C. (Ne 1—13).
58
Onde e quando ocorreram os eventos do Antigo Testamento?

Neemias era um exilado judeu que havia plo reconstruído para a devida adoração a
chegado a um alto cargo na corte real da Deus. Porém, fica claro que esse não era um
Pérsia. Ele via como sua principal tarefa a “reino de Deus”, com um filho de Davi no
reconstrução dos muros de Jerusalém, po- trono de um império de significado mundial.
dendo oferecer mais defesa para seus habi­ A promessa da aliança sagrada de Deus com
tantes. Depois de o muro estar completo, seu povo ainda teria que esperar por uma ou­
Neemias ficou em Jerusalém como governa­ tra época e um outro lugar. O Antigo Testa­
dor da província persa. mento termina com expectativa e fé. Deus
O Antigo Testamento termina com o povo ainda iria cumprir os seus propósitos a seu tem­
de Deus de volta à sua terra e um novo tem­ po e a sua maneira.

59
Parte

Descobrindo
o Pentateuco
Introdução ao Pentateuco
O nascimento do povo de Deus

Esboço
• O que é o Pentateuco?
• Do que trata o Pentateuco?
• Quais são os principais tem as do
Pentateuco?
Soberania de Deus
História
A condição da humanidade decaída
Salvação Objetivos
Santidade
Depois de ler este capítulo,
•Quem escreveu o Pentateuco? você deve ser capaz de:
Autoria e consenso tradicional • Definir o termo "Pentateuco".
Visões críticas modernas • Tirar conclusões sobre qual era o propósito
do Pentateuco.
• Identificar a mensagem-chave de cada um
dos cinco livros do Pentateuco.
• Comparar os temas do Pentateuco.
• Aplicar técnicas modernas de crítica à
questão de autoria do Pentateuco.
• Identificar os estudiosos mais importantes
que definiram a hipótese documentária.
• Avaliar a contribuição dos estudiosos
evangélicos no estudo do Pentateuco.

63
Descobrindo o Pentateuco

Muitos estão familiarizados com as histó- da como “instrução”. “Torá”, portanto, é um


rias clássicas sobre Abraão, Moisés, o povo de nome apropriado para esses cinco primeiros
Israel atravessando o Mar Vermelho e a entre­ livros da Bíblia, pois eles contêm instruções
ga dos Dez Mandamentos. Mas de onde vêm para a vida. Juntos, esses cinco livros estabele­
essas histórias e por que elas são importantes? cem a fundamentação teológica para o resto
De que forma elas tomaram-se tão conheci­ da Bíblia e também nos ensinam como viver
das? Neste capítulo apresentaremos a parte de modo fiel.
da Bíblia em que estas histórias podem ser
encontradas. Esses livros são chamados de
PENTATEUCO.
Do que trata o
Pentateuco?
O que é o Pentateuco? O Pentateuco é, basicamente, a história
O termo “Pentateuco” refere-se aos pri­ do povo de Deus, a nação de Israel. Ele expli­
meiros cinco livros da Bíblia (do grego pente, ca de onde veio essa nação, como Deus a
cinco e teuchos, rolos). Há evidências bíblicas salvou da extinção e as lutas de seu relaciona­
que confirmam a idéia de que Gênesis, Exodo, mento com Deus. Mas o Pentateuco não é
Levítico, Números e Deuteronômio juntos, simplesmente uma “história” de Israel. Ele
formam uma unidade literária. O Antigo Tes­ contém muitos dados que são inesperados para
tamento provavelmente refere-se ao Penta­ a história de uma nação e omite certos deta­
teuco quando usa frases como “livro da lei de lhes que, de um modo geral, seriam conside­
Moisés” (2Rs 14.6) ou “livro da lei” (Js 1.8), rados historicamente pertinentes.
enquanto o Novo Testamento refere-se a es­ O Pentateuco não é só um documento com
ses livros como “Lei” na expressão “A lei e os a finalidade de nos oferecer informações im­
profetas” (Lc 16.16). Portanto, não devemos portantes e verdadeiras, mas também tem o
necessariamente ver o Pentateuco como cin­ objetivo de fortalecer a nossa fé. A princípio,
co livros separados. Talvez o tamanho limita­ ele foi elaborado para encorajar os israelitas a
do dos rolos antigos necessitasse a divisão em acreditar e confiar em Deus por causa do re­
um formato com cinco livros. lacionamento de fidelidade entre ele e os
O Pentateuco abrange a história desde o ancestrais desse povo. Assim, sem apresentar
começo dos tempos até quando Israel con­ uma completa “história de Israel”, ele coloca
quista a terra prometida, sem incluir, porém, as ações de Deus e de Israel dentro da Histó-
esse último acontecimento. Essa terra tornar- ria. Por mais de dois milênios, aqueles que
se-ia, mais tarde, a terra de Israel. Excluindo, crêem encontraram importantes verdades his­
por hora, Gênesis 1—11, a história é basica­ tóricas, religiosas e teológicas nesses livros.
mente sobre uma família que cresceu e, pela A história se inicia com um livro sobre co-
graça de Deus, transformou-se em seu povo. meços. “Gênesis” vem de uma palavra grega
Deus salvou essa nação da agonia da escravi­ e significa “origens”. Os primeiros onze capí­
dão de modo dramático e miraculoso e assu­ tulos de Gênesis descrevem o começo do uni­
miu um compromisso de intimidade com seu verso, da humanidade, do pecado e do casti­
povo. Depois de muitos anos de luta, os israe­ go. Esses capítulos de abertura são cruciais para
litas chegaram na terra que Deus havia pro­ a compreensão do restante da Bíblia porque
metido a seus ancestrais e os preparado para revelam a natureza de Deus, o papel do uni­
tomar posse. Assim, de Gênesis a Deuteronô­ verso que ele criou e o posicionamento da
mio o que temos é uma única história com humanidade dentro desse universo.
um começo bem definido, uma trama princi­ Acima de tudo, Gênesis 1—11 apresenta
pal complexa e com muitas outras tramas se­ um problema. Deus criou um universo que
cundárias e um final decisivo. foi avaliado como sendo “bom” (aceitável a
O termo judaico para esses livros é a pala­ ele) em cada fase de sua criação. Mas a hu­
vra hebraica “Torá”. Apesar de normalmente manidade arruinou o que ele havia criado.
traduzirmos essa palavra como “lei”, ela tem Depois que Adão e Eva trouxeram o pecado
um significado muito maior. Vem da palavra para o mundo (Gn 3), suas conseqüências
usada para “ensinar” e é melhor compreendi­ tornaram-se óbvias de imediato. Os efeitos do
64
Introdução ao Pentateuco

Na conclusão
do livro de
Gênesis, Deus
livrou seu povo
da fome de
forma
miraculosa e eles
estão vivendo
pacificamente
no Egito. Mas
muitos anos
depois, os
egípcios
oprimiram toda
a população
sraelita e os
forçaram à
escravidão.

pecado ficaram evidentes em todos os as­ Exodo relata a preparação e o chamado dc


aliança
pectos da criação de Deus e tornaram-se pro­ Moisés, bem como seu papel de liderança na
gressivamente piores. Depois que a humani­ saída do povo do Egito (“Exodo” significa “par­
dade resistiu a outras tentativas de eliminar tida”). Esse livramento miraculoso do povo de
a onda de maldade, Deus escolheu um úni­ Deus é um acontecimento formativo na his­
co homem e sua família como solução para tória de Israel e o melhor exemplo do poder e
seu terrível problema. da graça de Deus. Assim sendo, o êxodo é no
Gênesis 12-50 conta a história de Abraão Antigo Testamento o equivalente à cruz no
e sua família em sua jornada de fé. Sua histó­ Novo Testamento. O livro também descreve
ria trata de valores perenes pois eles responde­ o novo relacionamento de comprometimento
ram a Deus com fidelidade. O texto apresen­ entre Deus e o seu povo (aliança) — capítu­
ta cada personagem dc forma honesta, sem los 19-40.
tentar esconder suas falhas. Mas a questão O terceiro livro do Pentateuco é Levítico.
em Gênesis 12—50 é que essas pessoas criam Esse livro parece interromper a fluência do
em Deus e ele usou sua fé como solução para pensamento histórico e dá a muitos leitores
o problema do pecado no mundo, ou melhor, modernos a impressão de ser estranho. Mas
como o começo da solução. Assim, o primeiro Levítico (relacionado aos filhos de “Levi”, ou
livro da Bíblia nos fala dos primórdios do mun­ sacerdotes) é indispensável para a mensagem
do c do povo de Deus. Gênesis descreve o geral do Pentateuco. Ele conclama o povo de
começo de tudo, exceto de Deus. Deus à pureza ritual e moral. Em Exodo, Deus
Na conclusão de Gênesis, Deus livrou seu libertou Israel do cativeiro c estabeleceu um
povo da fome dc forma miraculosa e eles es­ relacionamento singular com o povo. O foco
tão vivendo pacificamente no Egito. Mas de Levítico está em como o povo pode manter
muitos anos depois, os egípcios oprimiram esse relacionamento. Ele instrui os sacerdotes
toda a população israelita e os forçaram à em como oferecer a Deus os sacrifícios apro­
escravidão. Da mesma forma que Gênesis, o priados. Assim, esse livro dedica-se a preser­
livro de Exodo começa com um problema. O var o caráter moral e sagrado de Israel, servin­
povo dc Deus está sofrendo sob o domínio do de auxílio à adoração e gozo no Senhor e
egípcio e seu plano de usar esse povo como em suas bênçãos.
solução para o problema do pecado parece O livro de Números dá continuidade à his­
impossível. Mas assim como antes, Deus es­ tória da jornada de Israel à terra prometida. O
colheu lidar com o problema chamando uns livro começa com os complicados preparati­
poucos indivíduos que eram fiéis para servi- vos (incluindo o censo do povo — daí o nome
lo incondicionalmente. “Números”) para deixar o Monte Sinai, onde
65
Descobrindo o Pentateuco

havia sido feita a aliança. Mas então, o livro Além disso, o Deus dos israelitas criou todo
soberania
descreve acontecimentos nos quais o povo o universo sem a ajuda de ninguém (um con­
escolhe desobedecer a Deus. A desobediên- ceito singular na literatura antiga). Ele o criou
creatio ex cia de Israel lhes custa caro, tendo em vista sem usar matéria preexistente e o fez sem
nihilo que Deus não permite que eles entrem ime- esforço, por meio do poder de sua palavra
diatamente na terra prometida. Números re­ falada. Séculos atrás, a igreja primitiva já per­
fiat lata como o povo de Deus vagou tragicamen­ cebia a importância da idéia de “criação a
te pelo deserto durante quarenta anos, inca­ partir do nada” (creatio ex nihilo) e criação
paz de conseguir alcançar o que estava reser­ por decreto divino (fiat). Estas sempre fo­
m itos
vado para eles. ram doutrinas centrais da fé cristã. Assim, o
Deuteronômio, o último livro do Penta­ estilo simples de Gênesis 1 estabelece de for­
teuco, é uma série de discursos de despedi­ ma poderosa a soberania de Deus sobre sua
da feitos por Moisés. Nas planícies de Moabe, criação. As histórias seguintes do dilúvio (Gn
separado da terra prometida apenas pelo rio 6-9) e da Torre de Babel (Gn 11) só refor­
Jordão, Moisés fala ao povo de Deus prepa­ çam esse conceito.
rando-o para o futuro. Ele reafirma a lei da O Pentateuco dá outras demonstrações do
aliança (“Deuteronômio” significa “segun­ domínio supremo de Deus mostrando como
da lei”) e os adverte sobre afastar-se de Deus ele lidou com indivíduos como Abraão,
para adorar outras divindades. O livro tem Isaque, Jacó, José e Moisés. Ao longo de sua
por objetivo restabelecer a aliança entre Deus vida, para onde quer que eles fossem em todo
e o seu povo. o antigo Oriente Próximo, Deus os assegura­
Podemos traçar um sumário do Pentateu­ va de sua presença, proteção e orientação. O
co como se segue. Gênesis é o livro das ori­ escopo universal desse domínio contrasta de
gens. Ele descreve os começos do universo e as forma gritante com as outras divindades do
origens do povo de Deus. Exodo fala da salva­ antigo Oriente Próximo cuja jurisdição tinha
ção desse povo, que não pode salvar a si mes­ limites geográficos definidos.
mo. Levítico é um chamado à santidade como Deus mostrou de forma dramática o seu
único modo de vida natural para os israelitas domínio soberano sobre o Egito. Ele chamou
e a única resposta possível à graça de Deus. Abraão para deixar Ur na Mesopotâmia, ou
Números é o livro em que o povo está vagan­ seja, na extremidade leste do mundo antigo.
do, sofrendo as conseqüências de sua incre­ Ele o protegeu e guiou até a Palestina, o futu­
dulidade. Mas a história termina em um tom ro lar de seu povo. Mas será que Moisés e os
positivo, quando Deuteronômio apresenta o israelitas poderiam confiar na ajuda de Deus
caminho para a renovação. contra os egípcios, a nação mais avançada e
sofisticada daquele tempo? As pragas foram
demonstrações espetaculares de que Deus era
Quais são os Senhor sobre o Egito e, de fato, sobre toda a
terra. A aparição dramática de Deus no mon­
principais temas te Sinai (Ex 19) e seu domínio sobre Israel
enquanto vagavam pelo deserto serviu para
do Pentateuco? reforçar o conceito de que sua soberania não
Diversos temas importantes são desenvol­ tinha limites, quer fossem geográficos ou de
vidos ao longo do Pentateuco. O primeiro de­ outra natureza.
les é fundamental para o restante.
História
Soberania de Deus Um segundo tema predominante no Pen­
O Pentateuco se inicia dando ênfase à so ­ tateuco é a importância da História. Ao con­
berania de Deus. A história da criação israe­ trário dos escritos de certas religiões (Confu-
lita (Gn 1,2) é diferente das histórias da cria­ cionismo, Budismo, etc.), a religião do Anti­
ção de outras culturas do antigo Oriente Pró­ go Testamento atribuiu significado especial à
ximo. Enquanto outros povos especulavam História desde o princípio. Outras religiões do
sobre a origem das divindades, Gênesis parte antigo Oriente expressavam sua teologia em
do pressuposto de que Deus sempre existiu e termos de mitos, nos quais os acontecimen­
é eterno. tos importantes ocorriam além do tempo e do

66
Introdução ao Pentateuco

Próximo a Ur
dos Caldeus, Sul
do Iraque. Deus
chamou Abraão
de Ur da
Mesopotâmia, a
extremidade
oriental do
mundo antigo,
protegeu-o e o
guiou à
Palestina, o
futuro lar do
seu povo.

espaço. Mas no Antigo Testamento, Deus A condição da


criou a História e trabalhou por meio dc seus hum anidade decaída
acontecimentos. Isto torna-se mais evidente
Um terceiro tema importante do Penta­
na singular narrativa israelita da criação.
teuco é sua avaliação sistemática da condi­
Além de estabelecer a soberania de Deus,
ção humana. A mensagem é dolorosamente
a narrativa da criação descreve o começo da
simples: a humanidade é decaída. Deus fez
história ao relatar a formação do tempo e es­
Adão e Eva como o ponto alto de sua criação
paço (Gn 1.5,9,10). Tendo em vista que a
História é parte da criação de Deus, segue-se perfeita. Eles estavam em paz com Deus, ti­
que ele é soberano sobre a história humana e nham livre acesso à sua presença e gozavam
pode alterá-la se assim desejar. Dessa forma, do seu favor. Eles também estavam em paz
os israelitas viam sua história nacional como com a criação ao seu redor e podiam aprovei­
uma arena para a intervenção divina. Eles vi­ tar de sua riqueza e plenitude perfeitas. Esse
eram a conhecer melhor a Deus por meio do retrato do paraíso é a definição bíblica de
estudo de seus atos ao longo da História. Acon­ shalom, “paz”. Shalom significa mais que a
tecimentos como as pragas do Egito ou a alian­ ausência de conflito. Refere-se a uma vida na
ça no Sinai são mais que simplesmente he­ qual totalidade e bem-estar estão presentes.
rança histórica nacional. Eles são verdades A paz-shalom está presente quando Deus não
teológicas reconhecidamente únicas, são re­ é impedido pelo pecado humano e tem liber­
velação divina. dade de dar significado a uma existência que,
Portanto, o Antigo Testamento apresenta de outra forma, seria insignificante.
sistematicamente verdades teológicas por Mas o pecado entrou no jardim do Éden e
meio da História. Assim como todo o Novo mudou imediatamente esse quadro perfeito
Testamento relata o nascimento, a vida, a (Gn 3). Pela primeira vez, os pais da humani­
morte e a ressurreição de Jesus, a mensagem dade experimentaram a separação da graça
do Antigo Testamento também não pode ser de seu Criador. A perda de um relacionamen­
separada dos acontecimentos históricos. Na to de paz com Deus também afetou sua rela­
Bíblia, a verdade espiritual sempre se m ate­ ção com a natureza e um com o outro. Esses
rializa mediante realidade histórica. Do pon­ efeitos do pecado foram acumulando-se e fi­
to de vista humano, a revelação da verdade cando cada vez piores, tornando clara a men­
de Deus sempre acontece de modo encar- sagem: a humanidade é incapaz de consertar
nacional, ou seja, Deus se revela no tempo e seus próprios erros. A condição decaída da
no espaço. humanidade faz com que cada indivíduo te­

67
Descobrindo o Pentateuco

nha necessidades específicas que só podem sim, a lei tem por finalidade não limitar a vida,
ser supridas por Deus. mas sim instruir o povo de Deus nos “cami­
nhos da retidão”. A lei tem um papel domi­
Salvação nante no Pentateuco, mas de forma alguma
O quarto tema principal do Pentateuco é a serve como um instrumento de escravidão do
salvação. Ela não é apenas uma doutrina do povo de Deus. Pelo contrário, a lei os protege
Novo Testamento. O Pentateuco relata a sal­ de suas próprias atitudes autodestrutivas e,
vação de Deus na forma de História. O amor como meio de graça, os torna mais semelhan­
e a graça de Deus o levaram a tomar determi­ tes a ele.
nados passos para remediar o dilema huma­ O Pentateuco conta a história do povo de
no. Os acontecimentos mais importantes des­ Deus. Mas há muito mais que apenas um re­
sa história (o chamado de Abraão, o chama­ lato de como Deus relacionou-se com esse
do de Moisés, as pragas do Egito, a aliança, povo da antigüidade. Há muito tempo, a igre­
etc.) demonstram seu amor e graça e a re­ ja reconhece que esses textos são parte das
denção é o que amarra todos esses aconteci­ Escrituras Sagradas. Como acontece com toda
mentos formando uma unidade. a Escritura, Deus quer que essa história — a
Tendo em vista os outros pontos principais história de sua graça salvífica oferecida gra­
discutidos acima, especialmente a soberania tuitamente aos homens necessitados — tor­
de Deus e a natureza decaída da humanida­ ne-se também a nossa história. Pois, de fato,
de, esse tema chama a atenção de modo par­ essa é a história de todos aqueles que seguem
ticular. Deus não foi forçado por outra pessoa a Cristo.
ou por circunstâncias externas a estender sua Para os cristãos, a salvação pessoal é muito
mão à humanidade. Sua soberania significa semelhante à história do Pentateuco. Deus, o
que ele não tem necessidades, incluindo a Soberano do universo, entra em nossa história
necessidade do amor e da adoração de suas pessoal e nos dá a solução para nossa natureza
criaturas. O único fator que motiva sua ação destruída. Por causa de sua graça e seu amor
redentora pode ser encontrado em sua natu­ ele oferece salvação por meio de sua própria
reza amorosa e compassiva (Jo 3.16). Esse fato, revelação na História (encarnação). Deus nos
juntamente à percepção de que o homem dá profetas e mestres para interpretar seus atos
encontra-se em uma situação desesperadora, históricos e nos ajuda a manter nosso relacio­
nos ajuda a compreender quão grande é a namento com ele. O resto da história é sobre o
sua salvação (Hb 2.1-4). crescimento na graça e a imitação de nosso
Salvador. Portanto, o evangelho de Jesus Cris­
Santidade to também foi o evangelho dos israelitas.
A ênfase do Pentateuco sobre a graça so­
berana de Deus na redenção nos leva natu­
ralmente ao quinto tema principal. A única Quem escreveu o
resposta apropriada do ser humano para a gra­
ça e o amor de Deus é a santidade pessoal. Pentateuco?
Assim, o Pentateuco enfatiza fortemente o
conceito de santidade. O Deus soberano é Autoria e consenso tradicional
supremo em seu caráter moral. Quando ele O Pentateuco contém várias citações so­
traz o seu povo para perto de si, ele os convida bre a composição de algumas de suas partes.
a imitar o seu caráter (Lv 11.44). Ele tirou Há duas referências claras a Moisés como
Israel do Egito e os fez seu próprio povo. Mas sendo o autor de Exodo 20-23, que é conhe­
ele esperava que seu novo relacionamento cido como “Livro da Aliança” (Êx 24.4,7). O
com ele trouxesse mudanças de conduta para texto também afirma que Moisés escreveu
sempre. A santidade é a apropriação humana os Dez Mandamentos sob a orientação do
da graça de Deus. Senhor (Ex 34.27). Diz-se ainda que pelo
No Pentateuco, bem como em outras par­ menos dois outros incidentes foram preser­
tes da Bíblia, a graça de Deus é seguida da lei. vados pela escrita de Moisés (Ex 17.14; Nm
Deus não se satisfaz ao relacionar-se com seu 33.2). Há também referências claras de que
povo se este não está fazendo nenhum esfor­ Moisés é o autor de partes do livro de Deutc-
ço no sentido de imitar o caráter divino. A s­ ronômio (D t31.9,19,22,24).1

68
Introdução ao Pentateuco

Além da atividade literária de Moisés, as França, Grã-Bretanha e nos Estados Unidos


Talmude
palavras de Deus são freqüentemente intro­ aceitaram muitas das conclusões a que che­
duzidas por meio de frases como: “Disse mais gou Wellhausen.
M ishna o Senhor a Moisés” (Lv 4.1). Aliás, a maior Os elementos básicos dessa teoria são os
parte do conteúdo de Êxodo e Deuteronô­ seguintes: O documento J foi elaborado em
crítica da mio está relacionada, de alguma forma, à Judá por volta de 850 a.C. e usa o nome divi­
fonte vida e ao ministério de Moisés. Ele foi a figu­ no Yahweh (Iavé ou Jeová que aparece como
ra histórica central durante o período descri­ SEN H O R na A R A ). Em um estilo de narrati­
to entre Êxodo e Deuteronômio. Esse fato, va simplista, esse documento apresenta Deus
Hipótese
D ocum en­ com todas as evidências internas, leva à tra­ em termos antropomórficos (com qualida­
tária dição quase incontestada da autoria mosaica des humanas). Os anjos aparecem ocasional­
do Pentateuco. mente nesse documento, mas de um modo
Tanto a tradição judia quanto a dos cris­ geral, Deus relaciona-se diretamente, face a
antropo-
tãos primitivos associa o Pentateuco a Moi­ face com os seres humanos. O documento E
m órficos
sés. O Talmude refere-se aos cinco primeiros foi escrito por volta de 750 a.C. como forma
livros da Bíblia como “os Livros de Moisés”.2 de correção do documento J. Esse documen­
Tanto o M ishna quanto o historiador judeu to usa o termo menos íntimo Elohim (“Deus”)
JOSEFO aceitavam a autoria mosaica do Pen­ e evita a terminologia antropomórfica. O do­
tateuco.3 O Novo Testamento refere-se ao cumento E apresenta a perspectiva da região
Pentateuco como as duas primeiras partes do norte em um estilo de prosa que é mais rígido
A ntigo Testam ento em expressões como e formal que o documento J.
“Está escrito na Lei de Moisés, nos Profe­ Algum tempo depois que os assírios con­
tas...” (Lc 24.27,44). quistaram o reino do norte de Israel (722 a.C.),
os documentos J e E supostamente foram com­
A bordagens críticas m odernas binados em um único documento, JE. Esse novo
Apesar da tradição mais antiga sobre a documento refletia as convicções teológicas
autoria mosaica de o Pentateuco ser bastante depois da crise histórica. Por volta de 650 a.C.,
difundida, desde o início ela teve seus críti­ o documento D foi escrito para reforçar a pu­
cos.4 Mas foi só no começo do século 19 que o reza dos cultos de adoração de Judá. Essa nova
consenso tradicional começou a desmoronar, fonte enfatizava a importância da adoração
quando um grupo de estudiosos do Antigo ao Senhor Deus (combinando com freqüên­
Testamento desafiou a idéia da autoria mo­ cia Iavé e Elohim) em um santuário central
saica. A combinação do pensamento ilumi- em Jerusalém. Assim, o documento D corri­
nista do século 18 com a teoria da evolução gia e atualizava o mais velho e menos preciso
do século 19 resultou em uma onda de espe­ documento JE. As primeiras versões da hipó­
culação sobre as origens do Pentateuco. tese de Wellhausen limitavam D a Deutero­
nômio 5—26,28. Esse documento usava um
Críticas da fonte e da redação estilo de sermão, muitas vezes expressando sua
Mais para o fim do século 19, surgiu um teologia por intermédio de exortações.
novo paradigma que ensinava que o Penta­ De acordo com essa hipótese, os docu­
teuco havia sido compilado a partir de quatro mentos JE e D foram fundidos constituindo
fontes diferentes. Esse ponto de vista é cha­ a fonte JED por volta de 587 a.C., quando
mado de crítica da fonte. N essa parte do Jerusalém foi derrubada pelos babilônios. Mas
livro, iremos traçar três princípios básicos da esse novo documento negligenciava as ne­
crítica da fonte e as várias respostas que ou­ cessidades sacerdotais da comunidade pós-
tros estudiosos modernos têm dado para a per­ exílio. Em algum ponto no meio do século 5Q
gunta: “Quem escreveu o Pentateuco?” a.C., o documento P foi escrito para suprir
Essa teoria também é conhecida como essa deficiência. Wellhausen acreditava que
Hipótese Docum entária e seu principal de­ o documento P continha a maior parte do
fensor foi JULIUS WELLHAUSEN.5 Ele formu­ material do Pentateuco no tocante ao siste­
lou a teoria explicando como quatro docu­ ma sacrificial. O material legal desse docu­
mentos originalmente independentes (J, E, D mento diz respeito aos sacerdotes, levitas e
e P) foram combinados para formar o Penta­ os vários tipos de sacrifícios (como, por exem­
teuco. N a virada do século, importantes estu­ plo, Lv 1-7) e enfatiza a transcendência e
diosos do Antigo Testamento na Alemanha, grandeza de Deus.

69
Descobrindo o Pentateuco

A reação da igreja foi clara. Os primeiros


estudiosos conservadores expressaram em alta
voz sua oposição às pressuposições céticas da
hipótese. E.W. Hengstenberg (1802-1869) foi
o mais prolífico desafiante dessa nova e radi­
cal teoria das fontes. Suas críticas foram leva­
das adiante por James Orr, OSWALD ALLIS,
E. J. YOUNG e outros. Esses estudiosos diziam
que a nova teoria violava as próprias afirma­
ções internas do Pentateuco. Os textos afir­
mam, por exemplo, que os eventos descritos
são históricos e que Moisés escreveu certas
partes do Pentateuco. Estudiosos conservado­
res também argumentam que a Hipótese
Documentária ignora evidências arqueológi­
cas do antigo Oriente Próximo, é baseada em
filosofias evolucionárias do século 19 que não
são mais aceitáveis e que, além disso, a hipó­
tese é muito subjetiva. Outros protestam que
a hipótese rejeita o importante testemunho
de autores inspirados do Novo Testamento.
Essas objeções ainda não foram respondidas
como um todo.

Crítica à forma
Desde a histórica síntese da Hipótese Do­
cumentária de Wellhausen, os estudos do An­
tigo Testamento tiveram várias mudanças. Mas
nenhuma delas ficou muito longe da hipóte­
se original de Wellhausen. A crítica da reda­
ção tentava explicar cientificamente como
essas quatro fontes separadas haviam sido
editadas para formar um todo, mas esse ponto
Por volta do ano 400 a.C., esses dois últi­ de vista não foi aceito com muita concordân­
m onoteísm o
mos documentos (JED e P) foram combina­ cia entre os estudiosos. A crítica da forma
dos de modo a formar o JEDIJ um conjunto tornou-se um ponto de vista bastante comum
crítica da de material que compõe o Pentateuco como logo depois do desenvolvimento da teoria da
redação conhecemos hoje. Wellhausen acreditava que fonte, por Wellhausen.
o monoteísmo e as instruções sobre o culto O estudioso pioneiro da crítica da forma
crítica da foram desenvolvimentos mais recentes da his­ foi HERMAN GUNKEL, que estabeleceu os
forma tória israelita. Qualquer referência a um san­ paradigmas básicos desse ponto de vista por
tuário central em Jerusalém dedicado exclu­ volta da virada do século. Ele começou acei­
sivamente ao culto a Deus tinha de ser poste­ tando a hipótese do documento JEDP Mas
gêneros
rior ao ano 622 a.C., quando foram sanciona­ ele não era cético como os críticos da fonte
das as reformas de Josias e o documento D foi tinham sido sobre o valor histórico do Penta­
S itz im Leben escrito. Foi feita a leitura de material religioso teuco. Em vez disso, a crítica da forma analisa
do final do período de exílio para trás, até a os vários tipos literários (gêneros) encontra­
história mais antiga de Israel. Não havia, as­ dos na Bíblia, isolando-os em unidades meno­
sim, quase nenhuma veracidade histórica no res. Ao enfatizar a “situação de vida” (ou Sitz
Pentateuco. As reconstruções de Wellhausen im Leben) de cada unidade menor, os críti­
eram dominadas pelo anti-supernaturalismo cos à forma procuram descobrir a “essência
e o pensamento filosófico-evolutivo. Sua te­ histórica” de cada gênero literário. De acordo
oria não concedia espaço para a intervenção com Gunkel e outros, essas unidades meno­
divina na história ou para qualquer revela­ res foram mais tarde juntadas nas quatro fon­
ção divina. tes do Pentateuco.
70
H ipótese d o cu m en tária: alg u n s dos p rin cip ais n o m e s1

BENEDICT SPINOZA: Filósofo judeu do século 17 K. H. GRAF: Em 1865, Graf concordava com Vatke
que rejeitou a autoria mosaica do Pentateuco que o Pentateuco havia sido escrito mais tarde.
e, aparentemente, deu a Esdras o crédito por Ele defendia a existência de um documento
esses livros fundamental que dizia respeito, basicamente,
JEAN ASTRUC: Em 1753, esse professor francês de aos interesses sacerdotais. Ele datou esse
Medicina publicou um trabalho sobre Gênesis documento como sendo posterior a Deuteronô­
que marcou o começo da crítica da fonte do mio, que De Wette tinha estabelecido que era
Pentateuco. Astruc acreditava que Moisés tinha de 622 a.C. Ele associou o chamado documen­
se baseado em fontes do período dos to sacerdotal com a época de Esdras. Ao
patriarcas. Ele usou os termos lavé e Elohim mesmo tempo, outros já haviam passado a
para dividir Gênesis em duas fontes distintas considerar a fonte E1de Hupfeld como sendo o
(que mais tarde ficaram conhecidas como E e documento sacerdotal usando, portanto, o
J) que acreditava serem as fontes mais símbolo P (do inglês "priestly"). Ao tentar datar
próximas usadas por Moisés. cada um dos documentos, Graf foi além dos
críticos das fontes e expandiu a discussão para
J. S. VATER: Em 1805, ele argumentou que o
uma crítica histórica. Isso abriu caminho para
Pentateuco era composto de até quarenta
que Wellhausen formulasse a Hipótese
fontes fragmentárias. Sua hipótese ficou
Documentária, que às vezes também é
conhecida como hipótese fragmentária.
chamada de Hipótese de Graf-Wellhausen.
W. M. L. DE WETTE: Em 1807, De Wette colocou
JULIUS WELLHAUSEN: Os estudiosos alemães
a essência legal como sendo o centro de
estavam divididos em relação às datas e
Deuteronômio uma vez que o "livro da Lei" foi
seqüência de fontes. Deveria ser PEJD ou
descoberto no templo sob a orientação do rei
JEDP? Wellhausen publicou livros em 1877 e
Josias (2Rs 22). Esse foi o critério mais
1883 nos quais ele deu fim ao debate e
importante usado para datar o documento D
apresentou a expressão clássica da Hipótese
como sendo de até 622 a.C.
Documentária. Ele começou pela aceitação das
H. EWALD: Em 1823, Ewald propôs um documen­ análises de fontes de outros estudiosos,
to básico, a fonte E. Esse teria sido especialmente Graf. Sua maior contribuição foi
complementado por material do documento J, adotar conceitos evolucionários do século 19 e
e tudo teria sido juntado por um editor que aplicá-los à história de Israel. Dessa form a, ele
usava o termo lavé. Sua proposta ficou sendo explicou como as fontes se expandiram e como
conhecida como a teoria complementar. elas estavam associadas aos estágios
WILHELM VATKE: Em 1835, Vatke sugeriu que sucessivos da história israelita. Suas explica­
muitas das partes do Pentateuco tinham sido ções sobre as fontes e sobre como elas foram
escritas na época do exílio, em vez de muito criadas ganharam grande aceitação em um
antes, como o texto afirm a. Ele se antecipou curto período de tempo.
aos estudos de Wellhausen ao crer que o FRANZ DELITZSCH: Em seu comentário sobre
Pentateuco tinha sido produzido mais tarde na Gênesis em 1887, Delitzsch atacava as
história de Israel e não logo no início, como hipóteses da forma como haviam sido
constituição religiosa para a nação. desenvolvidas por Wellhausen. Ele argumenta­
V. HUPFELD: Em 1853, Hupfeld argumentou que, va que todas as partes do texto atribuídas a
na verdade, havia dois escritos que usavam o Moisés eram, de fato, autênticas.
termo Elohim. Ele propôs que Deuteronômio S. R. DRIVER: O estudioso mais influente da Grã-
era um documento separado, documento D. Bretanha naquela época. Driver publicou uma
Havia, portanto, quatro documentos: J (que era importante Introdução em 1891. Ele modificou
o dominante entre os quatro), E1, E2 e D. apenas ligeiramente a hipótese da forma como
Hupfeld também enfatizou o papel de um havia sido definida por Wellhausen e
editor anônimo que foi responsável por estabeleceu a teoria como uma visão
amarrar os documentos juntos. Essa idéia do padronizada para os estudiosos de língua
editor tornou-se popular entre os estudiosos inglesa.
daquele tempo que a usaram convenientemen­
JAMES ORR: Em 1906, Orr atacou a hipótese de
te para explicar inconsistências na teoria
Wellhausen tanto em suas bases teológicas
documentária.
quanto filosóficas. Ele expôs os pontos fracos
E. W. HENGSTENBERG: Hengstenberg foi um dos da crítica das fontes e da crítica histórica e de
primeiros oponentes à teoria das fontes. Em suas tentativas de reconstruir a história e
vários escritos durante as décadas de 1830 e literatura israelita. Suas críticas nunca foram
1840 ele desafiou firmemente aqueles que respondidas.
negavam a autoria mosaica. Hengstenberg
inspirou uma geração de estudiosos mais 1 Leitura complementar: R.K. Harrison,
ortodoxos que se opuseram à Hipótese Introduction to the Old Testament
Documentária. (Grand Rapids: Eerdmans, 1969), 9-32.
Descobrindo o Pentateuco

Crítica da tradição trole para os estudiosos do Antigo Testamen­


crítica da
A crítica da forma também especula so­ to, independentemente do método que estes
tradição
estão utilizando. Alguns estudiosos argumen­
bre a história oral, pré-literária, dos vários gê­
neros literários. Teriam essas histórias sido pas­ tam de forma convincente que se pode evitar
crítica do erros graves ao usar corretamente compara­
Canon sadas adiante oralmente durante um longo
ções entre o Antigo Testamento e a literatura
período de tempo antes que fossem escritas?
do antigo Oriente Próximo.6 No caso da críti­
Assim, na primeira metade do século 20, de-
crítica ca da tradição, por exemplo, estudos mostram
senvolveu-se um ramo da crítica da forma
literária que a tradição literária do antigo Oriente Pró­
que se dedicava a estudar a tradição oral —
ximo era normalmente escrita logo depois que
a crítica da tradição. Essa visão, cujo expo­
os acontecimentos descritos ocorriam e não
ente mais conhecido foi MARTIN NOTH,
séculos mais tarde.
acredita que a escrita aconteceu relativa­
mente tarde no desenvolvimento das fontes Abordagem canônica e literária
literárias do Antigo Testamento. Os gêneros Foi na segunda metade do século 20 que
literários refletem uma longa história de surgiram duas novas visões do Antigo Testa­
transmissão oral, de forma que as fontes do mento. A primeira foi a crítica do Canon,
Pentateuco desenvolveram-se ao longo de que procura estudar aquilo que recebemos
muitos séculos antes que a informação fosse, como Antigo Testamento e expor sua mensa­
de fato, escrita. gem teológica. Mesmo não rejeitando com­
A crítica da tradição é mais subjetiva que pletamente as descobertas das abordagens
os outros pontos de vista c falha por não levar documentárias, os estudiosos que usam a crí­
em conta evidências de outras partes do anti­ tica do Cânon procuram estudar a forma fi­
go Oriente Próximo. Aliás, o estudo do antigo nal da Bíblia tendo em vista que é isto que
Oriente Próximo pode oferecer dados de con- tem autoridade para a comunidade religio­
sa.7 Eles estão menos preocupados com a for­
ma pela qual o texto chegou até nós do que
Termos-chave com a mensagem interna do Cânon. Essa vi­
são oferece uma correção muito útil às ten­
Pentateuco dências explosivas de seus predecessores.
Torá Um outro acontecimento recente é o sur­
Aliança gimento da crítica literária. Essa visão tam­
Soberania bém leva em consideração questões literárias
Pessoas-chave Creatio ex nihilo
mais amplas, mas seus proponentes muitas
Fiat
Josefo vezes opõem as visões mais antigas de crítica
Mitos
Julius Wellhausen das fontes e formas do Pentateuco. Uma ou­
Talmude
Jean Astruc
Mishna tra diferença está na ênfase à análise centrada
J. S. Vater no texto ou, às vezes, no leitor c não na análi­
Crítica da fonte
W. M . L. De Wette se tradicional dos estudiosos mais antigos que
Hipótese documentária
Wilhelm Vatke era centrada no autor.8 Aqueles que estudam
Antropomórfico
V. Hupfeld Monoteísmo sob essa visão chegaram a diversos resultados
E. W. Hengstenberg
Crítica da redação diferentes, mas a nova crítica literária parece
K. H .Graf
Crítica da forma-gêneros promissora pelas suas idéias significativas acer­
Franz Delitzsch
S itz im Leb en ca da interpretação bíblica.
S. R. Driver
Crítica da tradição
James Orr
Crítica do Canon Contribuições evangélicas
Oswald Allis Os estudiosos conservadores da Bíblia têm
Crítica literária
E. J. Young aprendido muito com essas diferentes abor­
Herman Gunkel
dagens. Nenhuma delas, sozinha, tem a res­
Martin Noth
posta final para a questão da autoria do Pen­
tateuco. Mas fica claro que algumas dessas
críticas (especialmente da redação, forma,
Cânon e literatura) são úteis quando usadas
em conjunto com outros dados sobre o antigo
Oriente Próximo.9 E nessa área que os conser­
72
Introdução ao Pentateuco

vadores têm dado sua maior contribuição no Segundo, alguns estudiosos conservadores
estudo do Antigo Testamento — mediante o datam a forma final do Pentateuco cm alguma
uso de materiais comparativos do antigo época entre Josué e Salomão (até 930 a.C.).
Oriente Próximo que servem como forma dc Acreditam que a maior parte do Pentateuco é
verificar e equilibrar os métodos usados pala a mosaica, mas que uma quantidade razoável
pesquisa do Antigo Testamento. de material pós-mosaico também foi incluída.
Ao responderem a questão sobre a autoria Terceiro, outros estudiosos conservadores
do Pentateuco, estudiosos conservadores nor­ acreditam que o Pentateuco adquiriu sua for­
malmente encaixam-se em uma de três posi­ ma atual relativamente tarde na história is­
ções.10 Primeiro, alguns datam o Pentateuco raelita (séculos 9--5- a.C.). Esses estudiosos
como sendo da era mosaica, permitindo po­ reconhecem muitos elementos antigos nos li­
rém a inclusão de materiais dc tempos pós- vros, mas crêem que o Pentateuco desenvol­
mosaicos. A estrutura básica do Pentateuco veu-se como resultado de adaptações feitas
foi estabelecida por Moisés ou sob a sua super­ por gerações posteriores que usaram material
visão. Alterações e adições posteriores ocorre­ mosaico em importantes momentos de crise
ram dc acordo com as linhas dc procedimen­ na história de Israel.
to da literatura do antigo Oriente Próximo. Baseando-nos nas evidências encontra­
Mudanças pequenas, tais como grafia e revi­ das dentro do próprio Pentateuco e na uni­
sões editoriais continuaram a ocorrer até por dade das tradições judaicas e cristãs, é pru­
volta do tempo de Samuel (aproximadamen­ dente supor que as origens básicas para a
te 1050 a.C.). maior parte do Pentateuco são mosaicas. As

Questões para estudo

1. Qual é a origem e o significado de 6. Quais são as evidências de autoria


"Pentateuco''? Que termo hebraico é mosaica do Pentateuco; que nome é
usado para esses livros e qual é o seu dado à visão alternativa e quem foi
significado? seu principal defensor?
2. Qual é a origem e significado de "Gê­ 7. Qual é a ênfase de cada uma das se­
nesis"? Qual é o problema encontra­ guintes: crítica da redação; crítica da
do em Gênesis 1 11? Qual é a ques­ forma; crítica da tradição; crítica do
tão de Gênesis 1 2 - 5 0 ? Cânon e crítica literária?
3. Qual é o problema apresentado no 8. Em que área os estudiosos bíblicos
início de Êxodo? Qual é o significado conservadores têm dado sua maior
de "Êxodo"? Qual é o papel do êxodo contribuição em relação ao estudo do
na história e teologia israelita? Qual é Antigo Testamento? Quais são três
o termo usado para descrever a união posições diferentes que esses estudio­
especial entre Deus e o seu povo? sos têm em relação à autoria do Pen­
tateuco? Quais são os pontos em co­
4. Qual é o propósito de Levítico? Que
mum nos quais eles concordam?
parte da história de Israel encontra-se
em Números? Qual é o conteúdo de
Deuteronômio?
5. Quais são os principais temas do Pen­
tateuco?

73
Descobrindo o Pentateuco

Sumário

1. 0 Pentateuco é formado pelos cinco 6. Pode-se encontrar o conceito de sal­


primeiros livros do Antigo Testamen­ vação no Pentateuco.
to: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números
7. O questionamento da autoria de Moi­
e Deuteronômio.
sés do Pentateuco teve início com es­
2. O Pentateuco nos dá a história do tudiosos europeus do Antigo Testa­
povo de Deus e enfatiza o fortaleci­ mento no século 19.
mento da fé dos crentes.
8. As principais formas modernas de crí­
3. Gênesis é conhecido como um livro tica incluem a crítica da fonte, crítica
de começos. da redação, crítica da forma, crítica
da tradição, crítica do Cânon e crítica
4. Moisés é a pessoa-chave no Pen­
literária.
tateuco.
5. A soberania de Deus é enfatizada no
Pentateuco.

Leituras complementares

Clines, David J. A. Theme of the Pentateuch. Journal for Harrison, R. K. Introduction to the Old Testament.
the Study o f the Old Testament — Supplement Grand Rapids: Eerdmans, 1969. Exposição em forma
Series 10. Sheffield: JSOT, 1978. Um importante vo­ de enciclopédia escrita por um evangélico.
lume sobre o tema da aliança nas narrativas do Pen­ Hayes, John H. An Introduction to Old Testament Stu-
tateuco. dy. Nashville: Abingdon, 1979. Exposição de ques­
Dillard, Raymond B., Tremper Longman III. An Introduc- tões críticas mais complexas.
tion to the Old Testament. Grand Rapids: Zonder- Livingston, G. Herbert, The Pentateuch in Its Cultural
van, 1994. Contém um texto útil e uma avaliação de Environment. 2- ed. Grand Rapids: Baker, 1987. Vali­
questões críticas mais complexas. osa exposição do pano de fundo histórico e cultural.
Hamilton, Victor P. Handbook on the Pentateuch: Ge- Wolf, Herbert M. An Introduction to the Old Testa­
nesis, Exodus, Leviticus, Numbers, Deuteronomy. ment Pentateuch. Chicago: Moody, 1991.
Grand Rapids: Baker, 1982. Uma introdução comple­
ta ao conteúdo do Pentateuco.

74
Introdução ao Pentateuco

evidências claramente dão crédito a Moisés Moisés foi a fonte. A autoria mosaica tem
pela substância desses livros. Ele é a fonte, o uma função teológica importante nos estu­
ponto de origem, o que autorizou. Porém, dos do Antigo Testamento, assim como a
termos como “autor” e “autoria” não são apro- autoria apostólica é importante para os livros
priados quando nos referimos a produtos da do Novo Testamento.
literatura do antigo Oriente Próximo, tendo Apesar dos estudiosos conservadores dife­
em vista que as implicações que essas pala­ rirem nas datas da forma final do Pentateuco,
vras têm nos tempos modernos não estavam eles concordam que esses livros de Moisés são
presentes na antigüidade. inspirados, historicamente confiáveis e conti­
Em alguns casos, Moisés pode ter iniciado nuam a falar com autoridade. Quer a data
uma tradição literária a qual, mais tarde, ele final da composição tenha sido mais cedo ou
apenas supervisionou. Em Deuteronômio 31.9 mais tarde, a mensagem começou com Moi­
ele escreveu o documento básico e depois sés e foi aplicável a todos os períodos da histó­
confiou o cuidado do mesmo aos sacerdotes ria de Israel. Assim, nos dias de hoje, o Penta­
(ver também Dt 24.8). Os sacerdotes podem teuco continua a desafiar a igreja com a pala­
ter preservado e expandido o material, mas vra de autoridade vinda de Deus.

75
Gênesis 1-11
4 Oprelúdio de Israel

Esboço
• História primeva e sua natureza
• Conteúdo de Gênesis 1-11
Esboço
A criação e sua natureza (1-2)
0 pecado e sua natureza (3-11)
Objetivos
Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
• Comparar a narrativa da criação em
Gênesis com a narrativa mesopotâmica.
• Relacionar as narrativas da criação no
antigo Oriente Próximo.
• Delinear o conteúdo principal
de Gênesis 1-11.
• Identificar os fatos em Gênesis 1 que
apoiam a doutrina de que, no princípio,
Deus estava só.
• Indicar a simetria dos dias da criação.
• Descrever o conteúdo dos capítulos 3-11
que apoia o tema principal — o fracasso
moral da humanidade.
• Comparar a narrativa do dilúvio em
Gênesis com o Épico de Gilgamés.

77
Descobrindo o Pentateuco

Apesar do tema principal do Pentateuco significa “quando no alto”) é a narrativa me-


história
ser a história do povo de Deus, não é nesse sopotâmica mais completa sobre a criação e
prim eva
ponto que Gênesis começa. A -fim de dar­ tem muitas semelhanças interessantes com o
mos o devido valor a todos os atores envolvi­ registro bíblico. A história descreve um con­
cosm ogonia dos nesse drama, a Bíblia começa contando flito cósmico entre as divindades dominan­
sobre Deus e a humanidade como um todo. tes. O jovem e corajoso Marduque mata a
Enuma Elish Gênesis 1-11 prepara a cena ao descrever monstruosa Tiamate, a deusa-mãe personifi­
Deus, o universo que ele criou e a natureza cada no oceano primevo. Usando a carcassa
caída da humanidade. Portanto, antes de dividida de Tiamate, Marduque cria os céus
Épico de
Atrahasis relatar a história pessoal do povo de Israel, a e a terra. Com o sangue daquele que conspi­
Bíblia primeiro conta a triste história univer­ rava com ela, Marduque e seu pai criam a
sal dc toda a humanidade. Assim, na verda­ humanidade para fazer todo o trabalho difícil
de, esses capítulos são muito mais que um do universo, libertando assim as divindades
simples pano de fundo para a história do Pen­ de suas tarefas. Como demonstração de sua
tateuco. Eles contêm algumas das verdades gratidão a Marduque por salvá-los da malig­
mais profundas de nossa fé. na Tiamate, os deuses constróem para ele a
cidade da Babilônia, a grande capital (ANET,
60-72,501-503).
Mas essa obra monumental da literatura
A história primeva e surgiu relativamente tarde na Mesopotâmia
sua natureza (nossas cópias vêm do primeiro milênio, ape­
sar de provavelmente ela ter sido composta
Israel não foi o único povo a formular ex­ muito antes). Estudos recentes descobriram
plicações sobre o começo do mundo. Todas as mais paralelos diretos em um documento
grandes civilizações do antigo Oriente Próxi­ mesopotâmico mais antigo, o Épico de A tra­
mo tinham literatura que descrevia que o hasis. Esse épico é a mais antiga história
universo havia começado. Mitologias comple­ prim eva quase com pleta encontrada no
xas descreviam os primeiros e obscuros acon­ Oriente Próximo (começo do segundo milê­
tecimentos da pré-história ou história pri­ nio). Ele apresenta em seqüência histórica
meva. Essas mitologias quase sempre incluí­ tanto a criação da humanidade quanto a
am a cosm ogonia, ou seja, a descrição de sua quase extinção no dilúvio em uma or­
como o mundo foi feito. dem semelhante à de Gênesis. O épico de
Uma comparação entre Gênesis e outras Atrahasis confirma que a trama básica de
partes da literatura antiga destaca a preocu­ Gênesis 1-11 era bem conhecida por todo o
pação evidente dos antigos israelitas e ilustra antigo Oriente Próximo.1
a natureza do Antigo Testamento. O resto do Tendo em vista o grande número de mitos
antigo Oriente Próximo não tem nada pareci­ antigos sobre a criação no Oriente Próximo,
do com Gênesis 1-11. Tendo em vista que a Gênesis 1-11 é um texto relativamente tar­
maior parte dos leitores de nossos dias já pres­ dio. Sc partirmos do pressuposto de que Moi­
supõe a singularidade do Deus soberano e o sés foi a fonte da maior parte do Pentateuco, o
significado da humanidade, muitas vezes dei­ épico de Atrahasis é pelo menos quinhentos
xamos de perceber a contribuição inovadora anos mais antigo que a edição mosaica de
que esses capítulos deram como fundamen­ Gênesis. Portanto, não devemos nos surpre­
tos teológicos para o resto das Escrituras. Como ender com o grande número de paralelos com
revelação divina, esses capítulos destruíram a literatura mesopotâmica.
as crenças mais valorizadas da época. A plu­ As várias comparações entre Gênesis 1-11
ralidade de deuses e a insignificância da hu­ e a literatura do antigo Oriente Próximo não
manidade eram pressupostos inquestionáveis devem nos dar uma impressão errada. Não há
no antigo Oriente Próximo. Mas a profunda nenhuma evidência dc que o Antigo Testa­
verdade de Deus sempre faz ruir a sabedoria mento tenha tomado emprestado algum des­
humana. ses paralelos. Em vez disso, o Antigo Testa­
Apesar da literatura do Egito conter diver­ mento respondeu a mesma pergunta que ou­
sos paralelos com Gênesis, a MESOPOTÂMIA tros autores do mundo antigo estavam consi­
estava mais próxima dos antigos conceitos derando — e o fez de uma forma singular
hebraicos. O Enuma Elish (título acádio que que expressava as distinções da teologia de
78
Gênesis 1-11

Um trecho do Enuma Elish

Quando Marduque tem notícia dos deuses, "Farei massa de sangue e ossos.
Seu coração (o) leva a elaborar artimanhas. Estabelecerei um selvagem e seu nome será 'homem'.
Ao abrir sua boca, ele se dirige aos deuses Em verdade, criarei o homem-selvagem.
Para dividir com eles o plano que elaborou Ele receberá o serviço dos deuses
em seu coração: Para que estes possam descansar! "

- Enuma Elish V I, 1-8 (ANET, 68).

Israel.2 Só a Bíblia dá uma resposta inspirada a A criação e sua natureza (1,2)


essas importantes questões da vida. Apesar Os dois primeiros capítulos usam lingua­
das origens de Gênesis 1-11 estarem cobertas gem concisa e colocam de forma sucinta aqui­
de mistério, Deus revelou a Moisés a verdade lo que precisamos saber sobre a criação. Em
sobre a criação e natureza do mundo por meio um estilo literário insuperável, a passagem nos
das antigas tradições hebraicas. apresenta os personagens principais do drama
A Bíblia não é meramente um produto bíblico (Deus e a humanidade) e descreve
humano e seu propósito não é só de satisfazer onde o seu relacionamento se desenvolverá
nossa curiosidade. Leitores de nossos dias pro­ (a criação).
curam em Gênesis a resposta para as pergun­
tas erradas. Mas ao comparar Gênesis com Gênesis 1
outra literatura antiga, descobrimos quais O capítulo 1 começa com uma introdução
eram as questões fundamentais. Os primeiros de dois versículos. Interessantemente, a pri­
onze capítulos de Gênesis são sobre o Criador meira frase da Bíblia apresenta um problema
soberano, a natureza de sua criação e a ex­ difícil. O hebraico é um tanto singular e estu­
tensão da ruína dessa criação. diosos diferem no que consideram uma inter­
pretação correta. A questão é a relação dessa
frase com o resto do capítulo. Alguns enten­
Conteúdo de dem que essa primeira frase está subordinada
ao versículo 2 ou ao versículo 3 (é uma oração
Gênesis 1-11 subordinada). Nesse caso, o versículo 1 torna-
se uma oração temporal que introduz a cria­
Esboço ção: “No princípio, criou Deus os céus e a
terra. A terra, porém, estava sem forma e va­
I. A criação do mundo (1.1-2.3) zia”. Tal tradução deixa implícito que Deus
não criou a substância da qual ele fez a terra."
II. Adão e Eva (2.4-25) Em vez disso, ele começou com m atéria
preexistente. Estudiosos que aceitam esse pon­
III. A queda (3.1-24) to de vista muitas vezes comparam Gênesis 1
com o Enunma Elish, em que Marduque co­
IV. Caim e Abel (4.1-26) meça a criação a partir do corpo de Tiamate,
V. De Adão até N oé (5.1-32) ou seja, matéria preexistente.
Uma interpretação mais tradicional do ver­
V I. O dilúvio (6.1-8.22) sículo 1 pressupõe que ele é uma sentença
independente que serve de título para o resto
V II. Noé depois do dilúvio (9.1-29) do capítulo. Há diversas variações dessa in­
terpretação tradicional dos versículos 1-3.3 O
V III. O quadro das nações (10.1-32)
mais provável é que o versículo 1 seja uma
IX . A torre de Babel (11.1-9) afirmação em forma sumária que descreve o
começo relativo de todas as coisas, sem refe­
X . Os semitas (11.10-32) rir-se a nada específico. O versículo 2 descre-
79
Descobrindo o Pentateuco

politeístas
Tabela 4.1
im ago D ei Sim etria narrativa dos dias de G ênesis 1

PRIMEIRO D I A / L U Z ----------- QUARTO DIA / LUM INARES

I SEGUNDO D I A / M AR E CEUS QUINTO DIA / CRIATURAS DO MAR E DOS CEUS

TERCEIRO DIA / TERRA FÉRTIL ► SEXTO DIA / CRIATURAS DA TERRA FÉRTIL

SETIM O DIA / SABBATH

ve a natureza do caos primitivo antes que Deus trução introduz cada dia da semana da cria­
continuasse com seu trabalho criador. O resto ção: “E disse Deus: Haja...” e uma outra cons­
do capítulo (vs. 3'31) explica como Deus criou trução conclui cada dia: “Houve tarde e ma­
os céus e a terra. Essa interpretação parte do nhã, o [segundo etc.] dia.” Além disso, a si­
pressuposto de que foi uma criação original metria da narrativa significa que cada dia
que não pode ser datada. O versículo 2 des­ corresponde a um outro dia (ver tabela 4.1).5
creve o caráter dessa matéria improdutiva e A criação da luz (primeiro dia) corresponde à
vazia antes que Deus falasse no versículo 3.4 criação do sol; lua e estrelas para governar o
A visão tradicional do versículo 1 como uso da luz (quarto dia). A criação do céu
sendo uma sentença independente é apoia­ (segundo dia) prepara os leitores para o quin­
da por todas as versões antigas. A gramática, to dia, no qual Deus cria os pássaros. A estru­
o vocabulário e o estilo literário da passagem tura narrativa realça os terceiro e sexto dias
deixam-na aberta para uma grande varieda­ em que Deus cria a terra seca e depois cria os
de de interpretações. Mas teologicamente animais e a humanidade para nela habitar.
apenas a visão tradicional é possível. Em ou­ A correspondência dos terceiro e sexto
tras referências à criação, a Bíblia é sempre dias revela o clímax literário da passagem.
clara no sentido de que Deus criou o universo Deus avalia cada estágio da criação (com
a partir do nada e o fez sem diminuir seu po­ exceção do segundo dia): “E viu Deus que
der ou energia (SI 33.6,9; Hb 11.3). isso era bom.” Mas os terceiro e sexto dias
O resto de Gênesis 1 também apoia a anti­ contêm essa avaliação duas vezes. A repeti­
ga doutrina cristã de que, no princípio, Deus ção de cada construção segue em um cres­
estava só e criou o universo do nada (creatio cendo até o sexto dia, no qual Deus diz: “Fa­
ex nihilo ) . Ele não precisou de nenhuma subs­ çamos o homem à nossa imagem, conforme
tância preexistente. Ao criar a luz e a escuri­ a nossa semelhança” (v. 26).
dão (vs. 3-5) e ao fazer aparecer a porção seca E impossível esgotar todo o significado teo­
e separá-la das águas (vs. 9,10) Deus, na ver­ lógico de sermos criados à imagem de Deus
dade, criou o tempo e o espaço. (imago Dei). O mínimo que podemos dizer é
No princípio, só Deus existia. Somente ele que, como resultado de carregar a imagem
é o único Todo-poderoso capaz de ordenar de Deus, a humanidade deveria ter domínio
que o universo viesse a existir sem ajuda ou sobre toda a criação. Adão e Eva eram os re­
assistência. Essa poderosa verdade era nova presentantes visíveis de Deus na criação. Mas
para o mundo antigo e representava um ata­ o fato de termos sido criados para carregar a
que direto às doutrinas chamadas de poli* imagem divina também significa que os seres
teístas. Da mesma forma, nos dias de hoje, as humanos foram feitos especificamente para
primeiras palavras de Gênesis, “No princípio, se relacionar com Deus. Diferente do resto
criou Deus...”, nos dão uma perspectiva cor­ da criação, a vida humana não é um fim em
reta de quem ele é e tornam possível para nós si. Ela vem com o privilégio de relacionar-se
aceitar o resto da mensagem da Bíblia. Essa com Deus.6
primeira verdade é fundamental para tudo o A dignidade da humanidade e sua posi­
que segue. ção singular na criação têm a marca da ima­
A repetição e simetria literária caracteri­ gem de Deus. Mais uma vez, a verdade bíbli­
zam o resto do capítulo 1. Uma mesma cons­ ca atacava de maneira agressiva as doutrinas
80
Gênesis 1-11

Uma narrativa prevalecentes daqueles dias. Outras narrati-


do dilúvio na
vas da criação no antigo Oriente Próximo,
placa XI da
versão assíria do
como o Enuma Elish e o épico de Atrahasis
Épico de mostram a criação do homem e da mulher
Gilgamés. como força escrava para os deuses. A huma­
nidade era mais ou menos uma forma de os
deuses evitarem trabalho físico. Mas em
Gênesis, a humanidade é a jóia dessa coroa
real literária, o ponto alto da atividade criado­
gênese
ra de Deus.
A ordem “Sede fecundos, multiplicai-vos”
(v. 28) mostra que a humanidade era capaz
de se comunicar com Deus e receber seus
mandamentos. Também implica que a hu­
manidade deveria continuar o trabalho cria­
dor de Deus no mundo. Depois do estágio
inicial de criação, o universo estava “impro­
dutivo e desabitado”.7 Mas no terceiro dia
Deus criou a vegetação (v. 11). A terra tor-
nou-se habitada quando ele fez os seres vi-
ventes e criou a humanidade (vs. 24,26). As­
sim, Deus fez a terra produtiva e habitada por
intermédio de sua atividade criadora e a hu­
manidade deve continuar esse processo.
Se uma palavra pudesse resumir a essência
da criação, seria “bom” (tôb , pronunciado
“tõv”). Deus fica satisfeito com tudo o que partes de Gênesis ele introduz uma genealo­
ele vê em sua ordem criada; isso torna-se mais gia ou a história de uma pessoa (como, por
evidente nos dias três e seis, quando essa ava­ exemplo, Adão, 5.1; Noé, 6.9, etc.). Expres­
liação é feita duas vezes. Gênesis retrata Deus sões como essas aparecem onze vezes no livro
como o artista divino que dá um passo para de Gênesis. Apesar dos estudiosos discorda­
trás e admira sua obra. Tudo está exatamente rem sobre seus significados, sua ocorrência
como deve ser, inclusive a humanidade. Como provavelmente introduz uma nova unidade
ápice de seu trabalho criador, a humanidade literária dentro do livro. Esta é a única vez em
também o agradou e estava livre para servi-lo que a expressão não é seguida do nome de
em completa obediência. uma pessoa e, nesse caso, parece servir como
uma ligação que introduz o capítulo 2.4b-25 e
Gênesis 2 resume os capítulos 1.1-2.3.8
O capítulo 2 (na verdade, os vs. 4-25) apre­ A criação da humanidade é o clímax do
senta um retrato da criação que complementa capítulo 1, mas é o centro do capítulo 2. O
aquele do capítulo 1. O capítulo 1 mostra em amor e cuidado de Deus estão evidentes na
pinceladas maiores a criação dos céus e da criação do Jardim. Ele preparou todo o resto
terra e, de uma forma geral, de tudo o que há da criação meticulosamente para ser o lar ideal
no universo. O capítulo 2 usa pinceladas mais da humanidade. Seu fôlego suave e divino
finas para pintar algumas características espe­ deu vida às formas de barro de Adão (v. 7). O
cíficas. Ele descreve o jardim do Éden com relacionamento entre Deus e o primeiro e ino­
detalhes geográficos (observe o nome dos cente casal era de grande intimidade. Adão
rios). Ele mostra a criação do primeiro casal e Eva estavam cercados pelo amor de Deus.
humano, o jardim ideal que os cercava e a Ainda assim, até nessa ocasião, a ordem divi­
intimidade de seu relacionamento. na é clara (“... não comerás...”; v. 17), e nota-
Essa parte começa com uma expressão in­ se a sutil possibilidade dc desobediência e
teressante que é um importante artifício na quebra no relacionamento.
estrutura literária no livro de Gênesis: “Esta é Em resumo, os dois primeiros capítulos de
a gênese dos céus e da terra”. O termo tôlèdôt Gênesis apresentam os personagens princi­
significa descendência ou história. Em outras pais do drama de redenção da Bíblia: Deus e
81
Descobrindo o Pentateuco

E quanto à evolução?

Alguns crêem na evolução teísta (ou criacio- criação de Deus e totalmente dentro de sua obra
nismo progressivo) que afirma que Deus criou a soberana.
humanidade por meio da evolução. De acordo Apesar de visões como a evolução teísta e cria-
com esse ponto de vista, os seres humanos se de­ cionismo progressivo serem possíveis, devemos
senvolveram sobrenaturalmente a partir de uma levar a sério a ênfase bíblica quanto à unidade
espécie antropóide (semelhante ao homem). Os das origens do ser humano (Rm 5.12-19) e a na­
cristãos que acreditam nisso não aceitam a idéia tureza histórica do primeiro casal, Adão e Eva.
da evolução aleatória e sem propósito. Eles ne­ Além disso, o criacionismo cristão oferece a única
gam que a humanidade seja meramente o pro­ resposta satisfatória para a questão da origem da
duto da evolução natural, como se Deus não ti­ vida. A ciência constantemente revisa e muda
vesse nenhuma participação no processo e usam suas teorias sobre o começo do universo e da
a evolução apenas para explicar como aconteceu vida humana. Mas por causa das limitações bási­
a criação. Por ser uma lei secundária da biologia e cas da investigação científica, ela nunca é capaz
não uma doutrina de criação, esse ponto de vista de responder essas perguntas finais.
não contradiz a crença em um Deus Criador. As­
sim, os teístas crêem que a evolução foi parte da

a humanidade. Esses capítulos também pre- trecho é uma sinfonia cuidadosamente coor­
m on oteism o
param a cena para o drama ao descrever a denada e com um único tema: o fracasso
criação de Deus. Essa introdução mostra moral da humanidade.
muito do caráter de Deus e da natureza de O capítulo 3 apresenta as mudanças cata­
seu universo. Os capítulos de abertura par- clísmicas que ocorreram no cenário ideal dos
tem do ponto de vista do monoteísmo e da capítulos 1 e 2. Um novo personagem é intro­
natureza soberana e onipotente de Deus. duzido: a serpente (Satanás, Ap 12.9). Sua
Esses eram conceitos chocantes para os lei­ natureza e seus propósitos cheios de revolta
tores da antigüidade. Seu trabalho de cria­ ficam evidentes em seu papel como grande
ção é lindo e agrada tanto a ele quanto à Enganador, que desafia diretamente a bon­
humanidade. A cada estágio da criação, ele dade de Deus. Adão e Eva não são vítimas
declarou que seu trabalho era “bom” (tôb). desamparadas de uma força persuasiva, mas
E essencial ter isso em mente durante a lei­ sim, colaboradores no mal.
tura do restante da Bíblia. Depois do primeiro pecado no capítulo 3, a
Mas esse trecho também nos prepara para humanidade mudou de várias maneiras. Em
o que acontece em seguida. Nos capítulos 1 e primeiro lugar, Adão e Eva perderam sua ino­
2, o caráter da humanidade é retratado como cência original. Seus olhos abertos e a percep­
sendo perfeito. Adão e Eva não tinham peca­ ção da nudez demonstram sua vergonha e
do e seu caráter, assim como seu corpo, não culpa (v. 7). Antes do pecado eles não conhe­
tinha as manchas da doença e da morte. Eles ciam a culpa, quer no seu relacionamento um
estavam livres da dor e do sofrimento. Goza­ com o outro, quer no relacionamento com
vam acesso ilimitado à maravilhosa presença Deus. Em segundo lugar, eles imediatamente
de Deus. Mas isto estava para mudar. Dife­ perderam o fácil acesso à presença de Deus.
rente do Deus constante e imutável, a huma­ Em vez de encontrarem-se com Deus no fres­
nidade iria cair do seu estado de graça. cor do dia, eles esconderam-se dele ao perce­
berem o rompimento no relacionamento (vs.
O pecado e sua natureza (3-11) 8-10). Eles não se sentiam mais à vontade na
À primeira vista, os capítulos 3—11 pare­ sua presença santa. Em terceiro lugar, eles
cem conter uma série de histórias estranhas e perderam a paz do paraíso e a liberdade do
não-relacionadas entre si. Mas na verdade esse jardim do Éden quando Deus os expulsou de
82
Gênesis 1-11

A origem do mal1

0 problema do porquê o mal existe no mun­ humanos são responsáveis pelo pecado e pelo
do pode ser resumido da seguinte forma: ou mal e não Deus.
Deus é onipotente, mas não é completamente Assim, Deus permite que o mal continue algu­
bom, tendo em vista que ele permite*que o mal mas vezes como julgamento ou punição pelo pe­
continue, ou ele é bom, porém incapaz de conter cado. Mas nem todo o mal é resultante do peca­
o mal, e nesse caso ele não é onipotente. Não há do humano. O fato de algumas pessoas sofrerem
respostas fáceis para esse problema e, no final, injustamente é um problema de teodisia (ver ca­
só Deus compreende porque o mal existe no pítulo 20). Apesar de não podermos compreen­
mundo. Os capítulos de abertura de Gênesis lan­ der completamente o problema do mal, sabemos
çam alguma luz sobre essa questão. que Deus resolveu essa questão para nós em Je­
Devemos nos lembrar de que na criação Deus sus Cristo. Deus, de fato, não exige que compre­
fez Adão e Eva perfeitos. Ele não os criou como endamos, apenas que confiemos nele como os
seres malignos. Porém, ele lhes deu um certo filhos confiam em seus pais. A criança doente
grau de responsabilidade sobre seu próprio com­ pode não entender por que precisa ir ao médico,
portamento. Eles precisavam escolher obedecer mas ela deve aprender a confiar no entendimen­
ou desobedecer a Deus. Até certo ponto, o mal é to de seus pais.
inerente ao livre-arbítrio. Nesse sentido, os seres 1Paul E. Little, Know Why You Believe
(Dowrters Grove: InterVarsity, 1974), 80-89

jstraçãodeuma
torre-templo ou
zigurate de Ur.

lá (v. 23). Assim, eles perderam sua imunida- no. Só Deus podia compreender completa­
de à dor, doença c morte. mente o perigo da desobediência. Ele sempre
Comer uma fruta pode parecer absoluta­ sabe o que c melhor para nós.
mente inocente! Mas o ato em si tinha sob a Mediante esse acontecimento, a humani­
superfície algo de imoral: a rebelião contra o dade libertou um poder maligno sobre o mun­
mandamento de Deus (2.17). A tentação sem­ do. Nos capítulos 4-11, os acontecimentos
pre traz consigo o desafio à palavra de Deus ocorrem com crescente pecaminosidade para
(3.1,4,5), que tem em mente o nosso bem eter­ ilustrar o desespero total da condição huma-
83
Descobrindo o Pentateuco

A sexualidade humana

0 sexo era parte da criação boa e perfeita de ver o sexo como um presente especial de casa­
Deus. Foi o seu selo de aprovação da intimida­ mento dado por Deus.
de entre Adão e Eva antes do pecado (Gn Mas assim como qualquer um dos presentes
2.24,25). Mas assim como o pecado maculou o de Deus, a sexualidade pode ser corrompida se
resto da criação, da mesma forma também o for mal usada. As diretrizes que a Bíblia traz so­
pecado e o mal desfiguraram o uso dessa dádi­ bre sexo têm a finalidade de nos proteger de usar
va de Deus (3.7). mal esse dom de Deus e de abusar uns dos ou­
Nos dias de hoje, Deus quer que os cristãos tros. O sexo antes e fora do casamento fere e dá
gozem a dádiva do sexo dentro do casamento. O continuidade ao efeito do pecado em nossas vi­
sexo continua sendo parte da criação de Deus, das. A graça de Deus pode nos perdoar e curar,
uma bênção para aqueles que vivem dentro de mas as conseqüências do pecado sexual podem
um relacionamento fiel e monogâmico. Podemos durar por toda uma vida.

na. De fato, o pecado está à espreita e “o seu e as filhas da humanidade (vs. 1-8). Â luz da
Epico de
desejo será contra ti” (4.7, um versículo-tema ênfase que esse trecho dá sobre o contraste
Gilgamés
dessa passagem). No capítulo 4, o assassinato entre a rebelião e a fidelidade humana, esses
de um irmão mostra como o pecado moveu- versículos provavelmente rcferem-se à união
se rapidamente desde o comer do fruto proi­ imoral entre os fiéis da linhagem de Sete e os
bido até tirar uma vida humana. A humani­ decadentes da linhagem de Caim. Entretan­
dade começou a reverter o trabalho criador to, podem também ser uma afirmação velada
que Deus desenvòlveu nos capítulos 1-2. sobre o fracasso do reinado humano. Nessa
As genealogias dos capítulos 5 e 10 têm fun­ interpretação, os filhos de Deus seriam os go­
ção importante em meio a tanto pecado. O vernantes ou príncipes que estaria injustamen­
capítulo 5 delineia dez gerações de fiéis da li­ te tomando para si as filhas de pobres cida­
nhagem de Adão, à partir de Sete até Noé. A dãos comuns contra a vontade deles.9
vida longa desses primeiros seres humanos pode A razão do dilúvio (6.9-9.29) fica clara no
ser atribuída ao desenvolvimento mais lento capítulo 6.5-8. Deus concluiu que o pecado e
dos efeitos degenerativos do pecado no mun­ a maldade haviam chegado a um ponto tal
do. Depois do dilúvio, a vida dos descendentes que a criação precisava ser destruída. O versí­
de Noé tornou-se gradualmente mais curta. culo 5 é o que dá mais ênfase a avaliação feita
O capítulo 6 começa com a história pertur­ por Deus da condição humana: “... a malda­
badora do casamento entre os filhos de Deus de do homem se havia multiplicado na terra e
... era continuamente mau todo desígnio do
seu coração”.
Termos-chave Há diversos pontos de comparação entre a
história de Noé e a história da antiga Mesopo­
História primeva tâmia conhecida como o Épico de Gilgamés
Cosmogonia (ANET 72-99; 503-507). Esta é uma narrati­
Enuma Elish va tocante de como Gilgamés, provavelmen­
Épico de Atrahasis
te uma figura histórica que era rei de Uruk
Lugar-chave Politeísmo
em torno de 2600 a.C., rebelou-se contra a
Imago Dei
Mesopotâmia morte depois de perder um amigo. Gilgamés
Gênese/gerações
Monoteísmo então encontra-se com Utnapishtim, que já
Épico de Gilgamés foi chamado de “Noé da Babilônia”. Utna­
Quadro das Nações pishtim relata como ele obteve a imortalidade
Zigurate quando foi avisado de um plano divino para
inundar o mundo. Ele sobreviveu ao dilúvio
dentro de um grande barco de junco, com
sua família e pares de animais. Mas esse acon­
tecimento não podia ser repetido, o que dá a

84
Gênesis 1-11

Dilúvio global ou local?1

Estudiosos cristãos diferem em suas opiniões 7.21,23). Alguns argumentam que essas expres­
quanto à abrangência do dilúvio. As águas do sões são simbólicas.
dilúvio cobriram todo o mundo ou só a parte do "E um problema de interpretação e não de
mundo que era habitada pelo homem? inspiração".2 Apesar de ficarmos imaginando
E impossível tirar conclusões por meio das evi­ qual teria sido a abrangência e a natureza do di­
dências geológicas. Muitos geólogos negam que lúvio de Noé, os registros bíblicos não deixam
catástrofes globais tenham qualquer papel na te­ dúvidas de que foi um evento histórico real e que
oria geológica. Outros geólogos acreditam que cobriu, no mínimo, todo o mundo habitado.
algumas das formações rochosas da terra foram TSteven A. Austin e Donald C. Boardman,
causadas por uma súbita e universal inundação "Did Noah's Flood Cover the Entire World?"
que durou aproximadamente um ano. in The Genesis Debate, org. Ronald F. Youngblood
(Nashville: Thomas Nelson, 1986), 210-29.
Por outro lado, a linguagem da narrativa acer­ 2Bernard L. Ramm, The Christian View o f Science and Scripture
ca do dilúvio parece clara. Deus afirmou que seu (Grand Rapids: Eerdmans, 1954), 240.
propósito era eliminar todos os seres viventes
"da superfície da terra" (Gn 7.4). O texto relata
que as águas cobriram "todos os altos montes
que havia debaixo do céu" (7.19; ver também

O Épico de Gilgamés 1

No sétimo dia o navio estava completo. Tudo o que tinha de seres vivos coloquei dentro
Foi muito difícil colocá-lo na água, dele.
Então eles tiveram que mover as tábuas da parte Toda a minha família e parentes fiz entrar
de cima e de baixo, no navio.
Até que dois terços da estrutura estivessem As feras do campo, as cria:uras selvagens,
dentro da água. Todos os artesãos eu fiz entrar no barco.
Coloquei dentro do barco tudo o que tinha; Utnapishtim faia a Gilgamés
Coloquei tudo o que tinha de prata; Épico do óilgamós XI, 76-85 (ANET, 94).
Coloquei tudo o que tinha de ouro;

Gilgamés poucas esperanças de alcançar a Jafé. Os filhos de Jafé habitavam as ilhas do


Quadro das
imortalidade. Ele mesmo fracassa em três tes­ Mediterrâneo e a Ásia Menor e eram os povos
Xacões
tes pelos quais poderia ter recebido a imortali­ mais distantes de Israel. A maioria dos filhos
dade. Mas é na derrota que ele acaba resig­ de Cam eram povos com os quais Israel tinha
nado à inevitabilidade da morte e é conforta­ uma relação de hostilidade. Os descendentes
do por aquilo que conseguiu alcançar. Há, de Sem foram deixados por último por causa
obviamente, muitas similaridades bem como de sua importância.10 Essa foi a linhagem que
diferenças em relação à narrativa bíblica, mes­ Deus usou para começar a tratar do problema
mo não sendo possível traçar um relaciona­ do pecado (ver abaixo no capítulo 11.10-32).
mento direto de paralelismo literário. Aqui, finalmente há um fio de esperança.
O “Quadro das N ações” (10.1-32) classi­ A Torre de Babel, no capítulo 11, destaca
fica as nações do mundo conhecido de acor­ o orgulho e a rebelião arrogante da humani­
do com os três filhos de Noé: Sem, Cam e dade. Os templos da antiga Mesopotâmia nor-
85
Descobrindo o Pentateuco

Sumário

1. De todas as narrativas da criação en­ 7. Como resultado do pecado original, a


contradas na literatura do antigo humanidade perdeu sua inocência,
Oriente Próximo, as da Mesopotâmia seu fácil acesso a Deus e seu paraíso
são aquelas que mais se aproximam de paz e liberdade.
nas narrativas hebraicas.
8. Sob o pecado original está escondido
2. O capítulo 1 de Gênesis dá uma visão o pecado da rebelião.
geral da criação.
9. O pecado aumentou até que Deus
3. O capítulo 2 faz uma narração mais decidiu que a criação devia ser des­
detalhada da criação. truída e para isso ele usou o dilúvio.
4. Deus estava sozinho no começo da 10. O Épico de Gilgamés contém seme­
criação e fez o universo do nada. lhanças com a história de Noé e o
dilúvio.
5. O significado teológico de termos
sido criados à imagem de Deus é 1 1 . 0 orgulho e a rebelião da humanida­
inesgotável. de estão simbolizados na Torre de
Babel.
6. O tema de Gênesis 3-11 é o fracasso
moral da humanidade.

malmente tinham uma torre com vários ter­ Com uma única língua internacional
zigurate
raços (zigurate) dispostos em três a sete “de­ e avançada tecnologia de construção, a
graus”. E possível que essas construções esti­ hum anidade unificou-se em sua rebe­
vessem ligadas à idéia de que os deuses vivi­ lião.12 Mas a unificação e a paz não são os
am nas montanhas e que o zigurate servia como maiores bens da sociedade, pois elas po­
um substituto. Perto da base dessa torre ficava dem resultar em orgulho e rebelião. A res­
o templo pagão propriamente dito. O nome posta de Deus ensina, mais uma vez, que
da cidade mais importante da Mesopotâmia aquele que criou o universo continua a
era Babilônia, que, de acordo com a etimolo­ governar de forma soberana sobre toda a
gia popular, veio a significar “Portal de Deus”.11 humanidade.
Mas a narrativa em Gênesis sobre a Torre de A genealogia no final do capítulo 11
Babel refuta esse título arrogante. A poderosa (vs. 10-32) traz para dentro da história pri­
cidade representava a rebelião unificada da mitiva uma nota sutil de esperança. Des­
humanidade contra Deus e, portanto, foi mar­ de o capítulo 3, a ênfase tem sido na trá­
cada pela confusão (balai do hebraico, 11.9). gica avalanche de pecado que arruinou a
Assim, Gênesis transforma o “portal para o criação perfeita de Deus e a própria hu­
céu” dos rebeldes em confusão de linguagem manidade. A situação universal não pas­
e dispersão da humanidade. Em uma coinci­ sa de desespero. Mas aqui, a linhagem de
dência interessante, o jogo de palavras ainda Sem (10.21-32) continua a se estreitar até
funciona no inglês, em que o termo “babble” uma única família — a de Terá, pai de
significa “fazer sons incoerentes”. Abraão.

86
Gênesis 1-11

Questões para estudo

1. Quais são os três principais assuntos como a criação da humanidade é


de Gênesis 1-11? apresentada de formas diferentes?
Em resumo, o que esses dois capítulos
2. De que forma a história primeva e a
apresentam?
cosmologia de Gênesis eram conflitan­
tes com os pontos de vista prevalecen- 7. Qual é o tema de Gênesis 3-11? De
tes do antigo Oriente Próximo? que maneira a humanidade mudou
depois do primeiro pecado em Gênesis
3. Quais são as três possíveis interpreta­
3? O que está sempre sendo desafiado
ções do hebraico para Gênesis 1.1?
na tentação? Quais são os dois versícu­
Em qual das três interpretações está
los que retratam os perigos e a propa­
baseado o ponto de vista da teologia
gação do pecado em Gênesis 3-11 ?
tradicional?
8. De que forma o Quadro das Nações
4. Quais são dois artifícios literários que
(10.1-32) indica como Deus pretende
caracterizam o resto de Gênesis 1?
tratar do problema do pecado?
5. Quais são as implicações teológicas de
9. Como a narrativa sobre a Torre de
termos sido criados à imagem de
Babel serve de clímax para a
Deus? Que palavra descreve a essência
avalanche de pecado apresentada em
da criação em Gênesis 1?
Gênesis 3-11 ? Como esse trecho ter­
6. Qual é a relação entre Gênesis 2 e mina em um tom de esperança?
Gênesis 1? Do ponto de vista literário,

Leituras complementares

Hamilton, Victor P. The Book o f Genesis: Chapters 7- Guides. Sheffield. JSOT, 1991.
77. New International Commentary on the Old Tes­ Ross, Allen P. Creation and Blessing: A Guide to the
tament. Grand Rapids: Eerdmans, 1990. Uma expo­ Study and Exposition o f the Book o f Genesis. Grand
sição completa escrita por um evangélico. Rapids: Baker, 1988. Estudo evangélico de grande
Kidner, Derek. Genesis: An Introduction and Commen­ ajuda para tratar do aspecto literário do texto.
tary. Tyndale Old Testament Commentary. Downers Wenham, Gordon, J. Genesis 1-15. Word Biblical Com­
Grove: InterVarsity, 1967. Uma visão teológica. mentary 1. Waco, Tex.: Word, 1987. A exposição
Vathews, Kenneth A. Genesis 7-7 7. New American mais completa disponível, incluindo material relacio­
Commentary 1A. Nashville: Broadman, 1996. nado ao antigo Oriente Próximo.
- dderbos, N. H. Is There a Conflict Between Genesis 7 Youngblood, Ronald F., org. The Genesis Debate.
and Natural Science? Trad. John Vriend. Grand Rapids: Nashville: Thomas Nelson, 1986. Apresenta as dife­
Eerdmans, 1957. Trabalho clássico que trata particular­ rentes posições sobre as questões mais difíceis de
mente da natureza da palavra "dia" em Gênesis 1. Gênesis.
ogersom , John W. Genesis 1-11. Old Testament

87
Gênesis 12-50
Os patriarcas:
ancestrais da fé israelita

Esboço
• Pano de fundo
das narrativas patriarcais
• A história dos patriarcas
Esboço
Abraão e Isaque (12—25)
Jacó e seus doze filhos (25.19-36.43) Objetivos
José (37.1-50.26) Depois de ler este capítulo,
• Teologia das narrativas você deve ser capaz de:
patriarcais • Determinar a diferença de ênfase em
Eleição Gênesis 1-11 e Gênesis 12-50.
Promessa • Identificar os três personagens principais
de Gênesis.
Aliança
• Descrever a aliança que Deus fez com
Abraão.
• Explicar como Abraão ilustra a doutrina da
conversão.
• Comparar o relacionamento de Jacó e José
com a narrativa patriarcal.
• Ilustrar os conceitos teológicos da eleição,
promessa e aliança encontrados em
Gênesis.

89
Descobrindo o Pentateuco

* O que e um patriarca ? Esse termo refe- emprestado temas comuns a todas as culturas
patriarca . i. . i ~ r 1
re-se a indivíduos que estao nos fundamentos do antigo Oriente, adaptando-os de forma a
da nossa fé: Abraão, Isaque e Jacó. Eles, suas expressar a revelação divina. Em segundo lu­
esposas e suas famílias são os pioneiros da fé gar, Gênesis 1-11 pintou um quadro terrivel­
que abriram caminho para a Israel da antigüi­ mente pessimista do fracasso moral da huma­
dade. Eles também têm uma posição de hon­ nidade. Uma vez que o pecado entrou no
ra no Novo Testamento. Os patriarcas são os mundo, ele se espalhou rapidamente e foi im­
ancestrais da nossa fé. possível contê-lo.
Gênesis 12-50 começa a tratar do proble­
ma do pecado. A história primeva estava cer­
ta em sua avaliação da condição humana.
Pano de fundo da Apesar de haver uma linhagem fiel (a de
narrativa patriarcal Sete), até mesmo usando o dilúvio para des­
truir toda a humanidade, menos os daquela
Gênesis 12 dá início a uma nova unida­ linhagem, não foi possível resolver o problema
de literária. As diferenças em relação a do pecado. Finalmente, Deus dispersou a hu­
Gênesis 1-11 são evidentes. A unidade li­ manidade e tornou confusas as línguas. Co­
terária de abertura de Gênesis tratava de meçando pelo chamado de Abraão em Gê­
temas amplos e universais em termos seme­ nesis 12.1-3, a Bíblia introduz a solução para o
lhantes a outras obras da literatura da anti­ dilema pecaminoso do mundo. A obediência
güidade. Mas essas narrativas patriarcais fiel de um único indivíduo torna-se um ins­
têm uma abrangência mais limitada e são trumento poderoso nas mãos de Deus.
singulares no mundo antigo. Elas dizem res­ Essa unidade descreve acontecimentos
peito aos membros de uma única família e que ocorreram durante um período de sécu­
sua jornada de fé, em contraste com o tre­ los. Algumas vezes os acontecimentos são se­
cho anterior que se preocupava em narrar a parados entre si por muitos anos e o texto dei­
criação do mundo. xa de lado detalhes intermediários. Essa uni­
Conforme vimos no capítulo anterior, Gê­ dade também tem poucas referências dos
nesis 1-11 tinha um propósito duplo. Primei­ acontecimentos históricos de outras nações
ro, esses escritos iam contra os outros sistemas do antigo Oriente Próximo que poderiam dar
de crença do antigo Oriente Próximo, ata­ ao leitor moderno uma âncora histórica. Além
cando-os em seu próprio território. Tomaram disso, tendo em vista que os patriarcas vive-

Pântanos
próximos à Ur
bíblica na
Mesopotâmia.

90
Gênesis 12-50

ram antes de Israel tornar-se uma nação, não


narrativas
patriarcais
há traços arqueológicos de suas experiências. A história dos
Por esses motivos, não há consenso entre os
estudiosos sobre uma data específica para os patriarcas
Média Idade patriarcas. As datas sugeridas variam entre
do Bronze Até esse ponto da história bíblica, Deus
2200 a.C. a 1200 a.C.
lidou com sua criação arruinada em escala
Alguns estudiosos chegam a duvidar que
universal. Apesar dos objetivos redentores de
esses indivíduos realmente existiram. Eles su­
Deus, nem o dilúvio e nem a dispersão da
põem que grupos tribais de períodos posterio­
humanidade controlaram o pecado no mun­
res tentaram explicar sua própria existência
do. Agora, a história toma uma outra direção.
ao criar Isaquc e Jacó como ancestrais fictí­
Essa direção é o relato fascinante de um ho­
cios. No caso de Abraão e José, muitos estu­
mem cuja fé exemplar abre caminho para a
diosos modernos acreditam que eles foram an­
salvação de todos. Na verdade, o dilema hu­
cestrais distantes de um passado obscuro que,
mano encontra sua solução na graça de Deus
mais tarde, acabou tornando-se objeto de tra­
e na fé do patriarca Abraão. Entre outras ver­
dições e lendas de Israel. As histórias sobre
dades importantes, essa unidade nos mostra
eles encontradas em Gênesis não são aceitas
como a obediência fiel de um único indiví­
como confiáveis, portanto não temos como
duo tem significado universal.
saber a verdade sobre Abraão e José.1
Apesar de todo esse ceticismo, nenhuma
Esboço
das evidências dá provas contrárias às narra­
tivas patriarcais e os cristãos têm motivos de I. Abraão (12.1-25.18)
sobra para acreditar que elas são confiáveis. A. O chamado de Abrão (12.1-9)
Aliás, os arqueólogos e historiadores moder­ B. Abrão no Egito (12.10-20)
nos têm sustentado em muitos aspectos os re­ C. Abrão e Ló se separam (13.1-18)
latos que lemos em Gênesis 12-50. Portanto, D. Abrão salva Ló (14.1 '24)
mesmo que não possamos datar os aconteci­ E. A aliança de Deus com Abrão
mentos com precisão, não há evidências que (15.1-21)
diminuam a confiabilidade dos registros sobre F. Hagar e Ismael (16.1-15)
os patriarcas. G. A aliança da circuncisão
As questões de data e historicidade só são (17.1-27)
um problema porque muitos dos estudiosos H. O Deus do nascimento e da
do Antigo Testamento se recusam a tomar morte (18.1-33)
conhecimento da crescente quantidade de I. A destruição de Sodoma e
informações sobre o antigo Oriente Próximo Gomorra (19.1-38)
que têm sido descobertas pela arqueologia. J. Abraão e Abimeleque (20.1-18)
Apesar de não termos paralelos literários tão K. Conflitos dentro e fora da
óbvios quanto os que vimos em Gênesis 1-11, família (21.1-34)
as narrativas patriarcais têm certos paralelos L. O teste de Abraão (22.1-24)
culturais que ajudam a criar uma perspectiva M. A morte de Sara (23.1-20)
histórica. Assim, as narrativas patriarcais são N. Isaque e Rebeca (24.1-67)
parte de uma “história de família” de Israel, e O. Abraão e Ismael (25.1-18)
devemos aceitá-las como autênticas até que
seja mostrado claramente que elas não são II. Jacó (25.19-36.43)
confiáveis.2 A. E saúejacó (25.19-34)
Os acontecimentos de Gênesis 12-50 en­ B. Isaque e Abimeleque (26.1-35)
caixam-se bem na Média Idade do Bronze C. O engano de Jacó (27.1-46)
(2000-1550 a.C.) tendo em vista as evidên­ D. Jacó foge para Harã
cias arqueológicas, culturais e literárias dispo­ (27.47-29.14)
níveis (ver a discussão no capítulo 2). Mesmo E. Jacó, Lia e Raquel
sem uma data precisa, a história patriarcal é (29.15-30.24)
clara. Não precisamos de uma data específica F. Jacó eLabão (30.25-31.55)
se a lermos tendo em mente o contexto de G. Jacó e Esaú (32.1-33.20)
Gênesis 1-11 e do livro de Exodo. H. O estupro de Diná (34.1-31)

91
Descobrindo o Pentateuco

I. Jacó retorna a Betei I. Jacó no Egito (46.1-50.14)


(35.1-29) J. A magnanimidade de José
J. Os descendentes de Esaú (50.15-21)
(36.143) K. A morte de José (50.22-26)

III. José (37.1-50.26) Abraão e Isaque (12-25)


A. José e seus irmãos (37.1-36) Por mais importante que Abraão seja na
B. Judá e Tamar (38.1-30) história bíblica, é surpreendente como sabe­
C. José e a esposa de Potifar mos pouco sobre os primeiros setenta e cinco
(39.1-23) anos de sua vida. Gênesis 11.27-32 traça sua
D. José interpreta os sonhos genealogia. Mas ele é apresentado como per­
(40.1-41.57) sonagem principal de forma súbita, em Gêne­
E. Os irmãos de José no Egito sis 12.1: “Ora, disse o Senhor a Abrão”. Ele é
(42.1-38) chamado de “Abrão” até Gênesis 17 quando
F. A segunda jornada ao Egito seu nome é mudado para o mais conhecido
(43.1-34) “Abraão”. A Bíblia está menos preocupada
G. A defesa de Judá (44.1-34) com a história de Abrão que com sua resposta
H. José e seus irmãos (45.1-28) obediente à presença de Deus em sua vida.

Viagens de Abraão

Mari

• D am asco

M A R M E D IT E R R Â N E O

Rio Jordão

D ESERTO DA A R Á
Mar M orto

Om

Nofe

EGITO

92
4
Gênesis 12-50

Abrao era um homem rico e bem-sucedi­ Mas seu pai, Terá, tinha se assentado em HARÃ
do. Mas uma área de sua vida estava cheia de na Síria moderna, talvez quando Abrão ain­
dor e sonhos não realizados. Como Deus mui­ da era muito jovem.4 Depois da morte de seu
tas vezes faz conosco, ele tratou de Abrão a pai, Abrão tinha sua mulher, seu sobrinho e
partir desse ponto doloroso. A questão era a outros membros da família. Mas ele não tinha
falta de filhos de Abrão e os problemas que filhos. Esta era a pior situação possível para
isso representava naquela cultura antiga. Des­ um indivíduo daquela época e da idade dele.
de o início da história, a palavra de Deus a Durante a narrativa de seu chamado em
Abrão foi clara: ele faria a família de Abrão Gênesis 12, Deus pede a Abrão que deixe
crescer e tornar-se uma grande nação que para trás todas as possíveis fontes de seguran­
seria uma bênção para a humanidade. O cha­ ça. Ele chama Abrão para tomar um passo de
mado de Abrão continha duas grandes pro­ fé, sair de Harã, viajar para uma terra desco­
messas que eram de importância fundamen­ nhecida e começar de novo. Abrão viajou por
tal para um homem da antigüidade: terras e MORÉ, Betei e pelo NEGUEBE (sul da Palesti­
descendentes. na). O objetivo da narrativa é mostrar a fide­
A família de Abrão era originária de Ur lidade de Abrão ao longo do caminho — de
dos caldeus, que é provavelmente a cidade Ur para Harã até Moré.
famosa com esse nome no sul da Babilônia.3 O resto da unidade mostra como as gran­
des promessas do chamado de Abrão são
cumpridas em sua vida. Há muitos altos e
baixos e muitas questões sobre a vida de
Abrão, suas decisões e a fidelidade de Deus.
Mas durante o suspense e o drama, a mensa­
gem é clara: Deus estabeleceu um relacio­
namento singular com esse homem e sua fa­
mília. De alguma forma, ele iria cumprir suas
promessas a Abrão.
Durante uma grande parte da história,
Abrão parece falhar em suas tentativas. Já
no começo, ele teve que sobreviver à fome e
a um exílio temporário no Egito (Gn 12), a
uma disputa com seu sobrinho (Gn 13) e a
uma guerra regional (Gn 14). Mas Deus in­
terveio para lembrar Abrão de suas promes­
sas e assegurá-lo de que, no final, ele teria
sucesso (Gn 15).
Tendo em vista todas essas dificuldades,
não é de surpreender que Abrão tenha ques­
tionamentos sobre o futuro. Gênesis 15 é uma
daquelas passagens importantes da Bíblia que
requerem uma leitura cuidadosa. Deus con­
fortou Abrão e lhe assegurou das promessas
de seu chamado (v. 1). Abrão respondeu que
ele não tinha nenhuma evidência de que
aquelas promessas seriam um dia cumpridas
(v. 2). Pelo fato de continuar sem filhos du­
rante todo aquele tempo, ele tomou outras
providências. Ele havia adotado Eliezer de
DAMASCO, supostamente um escravo, para
Escala herdar sua riqueza. Exemplos da Mesopotâ­
mia mostram que um homem sem filhos po­
0 50 100 mi
dia adotar seu próprio escravo.5 Mas Deus
I— r h— H garantiu a Abrão que um dia ele teria um
0 50 100 150 km
filho biológico que seria o filho da promessa.
Ele o levou para fora e pediu que Abrão olhas-
93
Descobrindo o Pentateuco

O abate de animais nas antigas


cerimônias de aliança

1.UMA CARTA DE MARI (Século 18 a.C.): 2 .UM TRATADO ENTRE ASURNINARI V, REI DA AS­
Fui para Ashlakka e eles me trouxeram um cão SÍRIA E UM GOVERNANTE ARAMEU DA SÍRIA,
jovem e uma cabra a fim de que concluísse a MATEI LU DE ARPAD (Século 8Qa.C.):
aliança (literalmente, "matasse um filhote de ju ­ Este cordeiro... foi trazido para sancionar o trata­
mento") entre os aneus e a terra de Idamaras. do entre Asurninari e MatEilu... A cabeça não é a
Mas, em deferência ao meu senhor, eu não per­ cabeça de um cordeiro, mas sim a cabeça de
miti o uso do cão jovem e da cabra, mas em vez MatEilu, é a cabeça de seus filhos, seus oficiais e
disso, tomei o filhote de jumento, matei-o e as­ do povo de sua terra. Se MatEilu quebrar este tra­
sim estabeleci a reconciliação entre os aneus e a tado, assim como a cabeça desse cordeiro será
terra de Idamaras. arrancada, que seja feito com a cabeça de
MatEilu... Estes ombros não são os ombros de
- Moshe Held, Notas filológicas sobre os rituais de aliança de Mari. um carneiro, mas sim os ombros de MatEilu, são
os ombros de seus filhos, seus oficiais, e do povo
de sua terra. Se MatEilu quebrar este tratado, as­
sim como os ombros desse carneiro serão arran­
cados, que seja feito com os ombros de MatEilu,
de seus filhos, de seus oficias e do povo de sua
terra.

AN ET, 532.

se para o alto e tentasse contar as estrelas do de pensar bíblico. Deus queria assegurar
aliança
céu. Assim seria o número da descendência Abrão de suas promessas e comprometer-se
de Abrão! com ele em um relacionamento íntimo e per­
Em um dos mais importantes versículos da manente. N a misteriosa cerimônia descrita
Bíblia (v. 6), o autor simplesmente afirma que nessa passagem, um fogarciro representando
Abrão creu no Senhor, mesmo que ele fosse a presença de Deus passou por entre carca­
idoso e sua esposa continuasse estéril. De al­ ças de vários animais enquanto Abrão dor­
guma forma, Deus iria cumprir sua palavra, mia. O antigo costume determinava que os
mesmo que naquele momento Abrão não parceiros na ALIANÇA caminhassem por
pudesse ver como. Deus levou em conta a entre as metades de animais sacrificiais en­
aceitação e confiança em sua palavra, consi- quanto estas ainda estivessem sangrando (Jr
derando-o um homem justo. Mediante essa 34.18). N a verdade, eles estavam prometen­
fé, Abrão tornou-se o pai de “todos os que do não quebrar a promessa e, caso isso acon­
crêem” (Rm 4.11). tecesse, eles se tornariam como aqueles ani­
O apóstolo Paulo definiu a doutrina da jus­ mais mortos.6
tificação pela fé explicando como uma pessoa Apesar desses costumes serem distantes e
torna-se cristã (Rm 3.21-31). Para ilustrar essa estranhos para nós, fica claro que Deus esta­
doutrina, ele escolheu Abrão como o exem­ va se comprometendo com Abrão em um re­
plo perfeito da fé salvadora (Rm 4). Apesar lacionamento memorável. Deus estava, na
de Abrão ser de idade avançada e Sarai con­ verdade, invocando uma maldição sobre si
tinuar estéril, ele permanecia “...sem enfra­ caso não cumprisse sua aliança com Abrão.
quecer na fé...” “estando plenamente con­ Essa aliança, um relacionamento íntimo e
victo de que ele era poderoso para cumprir o duradouro entre Deus e Abrão, é uma entre
que prometera” (Rm 4.19-21). Esse é, verda­ várias na Bíblia. Podemos ver essa aliança com
deiramente, o tipo de fé que Deus está procu­ Abrão de forma modificada e adaptada, acon­
rando em todos nós. tecendo com Moisés, Davi, Esdras e, mais tar­
Da mesma forma, o restante de Gênesis de, Jesus Cristo. Lembre-se de que o Novo
15 é importante para a compreensão do modo Testamento é, de fato, uma nova “aliança”.
94
Gênesis 12-50

A caverna de
Vacpela em
-ebrom é, por
■.'adição, o lugar
onde os
oatriarcas
Abraão, Isaque
e Jacó foram
enterrados.

Em Gênesis 16 Abrão procurou uma solu­ Abrão pode ter imaginado que essa era a
ção alternativa. Sarai, sua esposa, ainda não maneira pela qual Deus lhe daria um herdei-
tinha dado à luz nenhum filho. Por causa de ro biológico, cumprindo suas promessas. Sarai
sua idade avançada, ela ofereceu a Abrão e Abrão estavam tentando fazer com que as
sua escrava egípcia Hagar, como uma espécie promessas de Deus acontecessem por meio
de mãe substituta. Mais uma vez, apesar des­ de suas próprias forças. Ismael, o filho de
se costume nos ser estranho, o antigo Oriente Hagar, não seria o filho da promessa.
Próximo tem outros exemplos de que essa era Deus oficialmente estabeleceu uma aliam
uma prática aceitável naquela cultura.7 ça com Abrão no capítulo 15. Mas as mu-

A dádiva de uma escrava da esposa

1 .LEIS DO CÓDIGO DE HAMURABI 2.UM ARQUIVO PESSOAL DE NUZI (Século 14 ou


(Século 18 a.C.): 15 a.C.):
Quando um homem livre casava-se com uma Gilimninu foi oferecida a Shennima como es­
sacerdotisa e aquela sacerdotisa dava uma escra- posa. Se Gilimninu tiver filhos, Shennima não de­
va para seu marido, e esta escrava produzia fi- verá tomar outra esposa. Mas se Gilimninu não
hos, se aquele homem livre decidisse casar com tiver filhos, ela deve tomar uma escrava da região
I uma sacerdotisa leiga, não lhe seria permitido ca- de Lullu e oferecê-la como esposa para
I sar-se com ela. Shennima. Quanto aos filhos da concubina,
Quando um homem livre casava-se com uma Gilimninu não deve mandá-los embora.
I sacerdotisa e ela lhe dava uma escrava para seu
I marido e esta tivesse filhos, se mais tarde essa es- - Adaptado de E. A. Speiser, "New Kirkuk Documents Relating
to Family Laws," Anuário da American Schoofs of Oriental
I crava reivindicasse igualdade com sua senhora Research 10 (1930): 32, e ANET, 220.
I por ter dado filhos, sua senhora não poderia
I .endê-la; poderia marcá-la como escrava e contá-
la entre os escravos.

- Leis 144 a 146, ANET (adaptado), 172.

95
Descobrindo o Pentateuco

danças de vida conseqüentes desse relacio- pio, ele deixou Harã rumo a um destino des­
namento com Deus só são descritas no capí- conhecido, Abraão deve ter suposto que Ló
tulo 17. O versículo de abertura deixa claro: seria seu herdeiro, pois Abraão já estava com
Deus é reto e ele esperava que Abrão levas­ setenta e cinco anos de idade. Então, quando
se uma vida de retidão (“anda na minha pre­ Ló se distanciou de Abraão, este adotou
sença e sê perfeito”, v. 1). No capítulo 15, Eliézer para ser o seu herdeiro (capítulo 15).
versículo 6, Deus considerou Abrão como Depois que Deus informou Abraão de que
sendo um homem justo por causa da sua fé. seu herdeiro seria seu filho biológico, Abraão
Essa justiça no Antigo Testamento, é o amor supôs que Ismael, filho da escrava de Sara,
e a confiança plenos da pessoa como um todo seria o próximo a assumir os seus bens. Mas
(Dt 6.5), como Abrão exemplificou. Ela re­ Deus queria dizer exatamente o que havia
sulta no caráter e nas ações corretas que falado. O filho da aliança não era Ló, nem
Deus procura em seus servos. Essa forma de Eliézer e nem Ismael, mas sim, Isaque!
viver é uma extensão da retidão santa e pró­ O capítulo 22 traz à história uma reviravol­
pria de Deus. O Senhor informa a Abrão: ta surpreendente. Tudo na vida de Abraão
que aqueles que vivem em um relaciona­ tinha girado em torno de Isaque, o único filho
mento de aliança com Deus devem refletir com sua amada Sara. Isaque simbolizava o
essa retidão. cumprimento das promessas da aliança de
Estudos recentes isolaram essa unidade terra e descendentes (12.1-4). Isaque era a
(17.1-5) como sendo o ponto central do con­ esperança de Abraão para o futuro.
teúdo sobre Abrão.8 E nesse centro que con­ A ordem que veio de Deus era clara e in­
vergem todos os aspectos importantes da vida confundível (22.2). A ordem é colocada de
de Abrão. Deus aparece para ele quando está forma cuidadosa para que não haja dúvidas.
com noventa e nove anos de idade e muda o O sacrifício no alto da montanha terá que ser
seu nome e o de Sarai. Desse ponto da narra­ Isaque. O único filho de Abraão com Sara, o
tiva em diante, eles passam a ser chamados filho que ele ama! Isso dificilmente seria um
de Abraão e Sara. — “Pai de muitos” e “Prin­ teste legítimo imposto à nossa fé, mas ele deve
cesa”. Aqui, como em outras partes da Bíblia, ter tocado o mais profundo da alma de Abraão.
a mudança de nomes simboliza uma nova rea­ Outras divindades do mundo antigo requeri­
lidade, uma mudança na posição da pessoa am o sacrifício de criança; talvez esse fosse
diante de Deus (Saulo para Paulo, Simão para um aspecto sobre Deus que ele ainda não
Pedro etc.). Além disso, Deus introduz a cir­ conhecia.
cuncisão como um sinal físico da aliança. O capítulo começou com a informação de
Deus também informa Abraão e Sara, sua es­ que este seria um teste de fé para Abraão. Ele
posa de oitenta e nove anos, que eles vão con­ iria passar no teste? Ele obedeceria a Deus e
ceber e ter um filho dentro de um ano. levaria adiante esse terrível pedido? O versí­
Este certamente é um ponto de mudança culo 3 nos dá uma resposta. Com grande de­
na vida de Abraão. O fato singular que mar­ cisão e pouca hesitação, Abraão começa a
ca essa mudança é sua aliança (berit) com obedecer a ordem. Que luta deve ter sido!
Deus. Esse termo aparece treze vezes em vin­ Isaque era o filho da promessa; disso Abraão
te c dois versículos. Deus com freqüência se tinha certeza. Entretanto, agora, o Deus no
refere a ela como “minha aliança” que ele qual Abraão tinha aprendido a confiar estava
mostra por meio da mudança de nomes e o pedindo a vida de Isaque. Se Deus havia dado
sinal físico da circuncisão. Fica claro, portan­ a vida de Isaque de forma miraculosa, talvez
to, que Deus estabeleceu um relacionamen­ ele fosse trazê-lo de volta dos mortos (Hb
to de compromisso singular e permanente com 11.19). Essa passagem tem algo de estranha­
Abraão. Assim, Abraão, o pai da nossa fé, ilus­ mente familiar. A ordem em si e a resposta dc
tra a doutrina cristã da conversão. Nosso rela­ Abraão tem paralelos diretos com o capítulo
cionamento com Deus por intermédio de Cris­ 12. Cada instrução divina (12.1; 22.2) pede
to nos marca para sempre e causa mudanças que Abraão tome uma atitude radical que
radicais em nossa vida. requer total dependência de Deus. Primeiro
Deus cumpriu sua promessa a Abraão e ele viajou para uma terra desconhecida; en­
Sara de forma miraculosa. Isaque nasceu tão ele levou seu filho para ser sacrificado em
quando Sara tinha noventa anos de idade e uma montanha desconhecida. No primeiro
Abraão cem (17.17; 21.5). Quando, a princí­ caso, o comando foi imediatamente seguido
96
Gênesis 12-50

Um carvalho
marca o lugar
tradicional onde
Abraão armou
sua tenda em
Yanre.

de uma promessa (“...e te farei uma grande A questão presente nas histórias de Jacó
nação...” 12.2,3). Mas aqui não há promessa é: “O que será feito das promessas de Deus
nenhuma para aliviar o golpe. na aliança?” Jacó teve que fugir para sobre­
Em ambas as passagens Abraão rápida e viver depois de sua disputa com Esaú (27.41-
calmamente obedece a palavra de Deus. Não 43). Agora, o filho da promessa está fugindo
há argumentação ou discussão. Tudo o que para longe da terra prometida. Além disso,
lemos mostra obediência, submissão humilde suas qualidades certamente não são aquelas
à vontade de Deus (12.4; 22.3). No capítulo de Abraão. Ele parece mais interessado em
12, Deus chamou Abraão a abrir mão de seu usar o momento para seus propósitos egoístas
passado e confiar nele. Agora, no capítulo 22, que obedecer o Deus de Abraão. Seu nome,
ele desafia Abraão a confiar a ele o seu futu­ que significa “Enganador”, é merecido! E
ro. Assim como antes, Abraão aceitou o desa­ agora a história depende desse novo perso­
fio. Esse acontecimento é o clímax da jornada nagem. O que será feito da aliança e das
espiritual de Abraão. Ele provou ser fiel a Deus promessas?
de Ur para Harã até Moré e o Neguebe e O capítulo 28 responde de forma dramáti­
agora em MORIÁ. ca. Enquanto fugia para sua terra natal pa­
triarcal (Harã) para começar uma nova vida,
Jacó e seus doze filhos Jacó teve um sonho (vs. 10-22). No sonho,
(25.19-36.43) Deus confirmou que Jacó deveria dar conti­
Apesar de Isaque ser o filho da aliança, ele nuidade à aliança patriarcal (vs. 13-15). Deus
logo deixa a posição de personagem principal reafirmou seu comprometimento com Abraão
quando nascem os seus filhos gêmeos (25.24- ao prometer dar a terra a Jacó e fazer dele o
26). Esaú é o primogênito e, mais uma vez, pai de uma multidão. Sua resposta é nobre,
supostamente o herdeiro das promessas da mas um tanto indiferente (vs. 18-22). O leitor
aliança. Mas os direitos de nascença têm pou­ pode não estar ainda muito certo do caráter e
co a ver com o favor de Deus. Jacó tomou o das intenções de Jacó, mas o caráter e as in­
lugar do primogênito, uma ocorrência comum tenções de Deus são claros.
no Antigo Testamento (Efraim e Manassés, O resto da narrativa sobre Jacó descreve
Moisés e Arão, Davi e seus irmãos, etc.). O seu casamento com Lia e Raquel em Harã,
privilégio do status em função do nascimento seu relacionamento com Labão e o nascimento
não tem relação com a nossa posição diante de seus doze filhos. As promessas da aliança
de Deus. finalmente começaram a ser cumpridas por

97
Descobrindo o Pentateuco

meio da família cada vez maior de Jacó. Esses de Abraão, Isaque e Jacó, José não está dire­
M essias
doze filhos, mais tarde, tomaram-se as doze tamente na linhagem das promessas da alian­
tribos de Israel como nação. ça. O Messias veio por intermédio da tribo
Quando Jacó voltou para a Palestina, ele de Judá. Nesse sentido, José é um persona­
procurou e encontrou a reconciliação com seu gem periférico no drama da história redento­
irmão Esaú. Então, em uma passagem memo­ ra retratada na Bíblia. Mas a Bíblia também
rável (Gn 32), Jacó lutou com Deus (prova­ tem interesse em personagens secundários, es­
velmente com um anjo, Oséias 12.4) e Deus pecialmente quando eles são exemplo do tipo
mudou seu nome para Israel. Assim como com de vida moral que Deus deseja.
seu avô Abraão, a mudança de nome de Jacó Assim, a narrativa sobre José é incluída
significou que houve uma mudança de cará­ em Gênesis por duas razões. Em primeiro lu­
ter em função do seu relacionamento com gar, a vida de José é digna de ser imitada.
Deus. Jacó não era mais o “enganador”. Ele Sob as piores circunstâncias e as mais fortes
havia se tomado aquele que “luta com Deus”. tentações, José foi fiel a Deus. Sua história
Como sempre, o crescimento na graça signifi­ demonstra como Deus pode usar a obediên­
ca uma mudança no estilo de vida. cia para atingir seus objetivos divinos e bene­
Agora, com Jacó, as promessas patriarcais volentes, mesmo diante da dura perseguição
são parcialmente cumpridas. A promessa so­ e oposição dos homens (Gn 50.20). Em se­
bre a terra terá que esperar por uma ocasião gundo lugar, a narrativa sobre José explica
futura, mas os descendentes de Abraão estão como o povo de Deus veio a se estabelecer
crescendo em número. Ao ler-se a narrativa no Egito em vez de ir para a Palestina. A
sobre Jacó, percebe-se que mais cedo ou mais ascensão de José ao poder no Egito e a mu­
tarde ele alcançaria o sucesso na posição de dança de Jacó e sua família para lá significa­
herdeiro das promessas da aliança, mas isso só vam que o povo das promessas da aliança de
depois de muito suspense. Deus estava vivendo longe da terra prometi­
da. Mas o livro termina com uma visão do
José (37.1-50.26) futuro (“Certamente Deus vos visitará...”
A narrativa sobre José é singular entre as 50.25), antecipando o dia em que Deus iria
outras narrativas dos patriarcas. Ao contrário cumprir sua promessa ao seu povo.

Sumário

1. Os patriarcas são o tema de Gênesis 6. Abraão obedeceu a Deus ao


12-50. preparar o sacrifício de Isaque,
o filho da aliança.
2. Estudiosos da Bíblia têm encontrado
no trabalho de historiadores e ar­ 7. José foi fiel a Deus mesmo sob as
queólogos modernos muitas evidên­ piores circunstâncias.
cias dos relatos patriarcais de Gênesis.
8. Deus elegeu os patriarcas não pelo
3. Os três patriarcas são Abraão, Isaque seu nascimento, caráter ou ações,
e Jacó. mas por sua vontade.
4. A aliança de Deus com Abraão é fun­ 9. Eleição, promessa e aliança são três
damental para as outras alianças na conceitos teológicos desenvolvidos
Bíblia. em Gênesis 12-50.
5. Abraão ilustra a doutrina cristã da
conversão.

98
Gênesis 12-50

Eleição

I M
Pessoas/ Uma das idéias mais importantes é a da
eleição. O chamado de Abraão também
lugares-chave contém o propósito para o futuro de Israel:
Hamurabi “ ...de ti farei uma grande nação... em ti se-
Ur rão benditas todas as fam ílias da terra”
Termos-chave Harã (12.2,3)* Deus criou a nação de Israel com
Moré um propósito: servir de instrumento de sal­
Patriarca Betei vação para o mundo. Muitas vezes, essa na­
Narrativas patriarcais Neguebe ção tomou a eleição como sendo apenas um
Média Idade do Bronze Damasco privilégio e esqueceu-se de que ele também
Promessa Mari trazia responsabilidades.
Aliança Nuzi As circunstâncias incomuns em torno do
Messias Moriá nascimento de Isaque e Jacó ilustram mais
Eleição
claramente o princípio da eleição. A eleição
de Isaque em vez de Ismael e de Jacó em vez
de Esaú não foi por causa de seu caráter ou
suas ações. Ele os elegeu para dar continuida­
WÊÊÊÊKKÊÊÊÊÊHÊÊÊÊÊHÊÊÊÊÊÊKÊmÊMÊÊKHÊÊÊÊÊÊKÊÊÊÊÊmÊÊHÊÊÊKÊm
de às promessas da aliança antes mesmo que
eles tivessem nascido. Eles não ba viam feito
Teologia das narrativas nada de bom para receber o seu favor. Eles
patriarcais foram escolhidos para estar na linhagem das
promessas da aliança, “não por obras, mas por
As narrativas patriarcais contêm muitos dos aquele que chama” (Rm 9.11).
fundamentos para o resto do pensamento e A eleição divina dos patriarcas concen-
da teologia cristã em geral. tra-se mais em seus planos para eles como

Questões para estudo

1. O que é um "patriarca"? Que sinal físico desse novo relaciona­


mento foi introduzido?
2. Qual a mudança que ocorre em Gê­
nesis 12 (comparando com Gênesis 6. De que forma Abraão respondeu à
3-11)? Qual é a principal preocupa­ ordem de sacrificar Isaque? Em que
ção da Bíblia ao apresentar a história essa ordem diferia da ordem que ele
de Abrão? Qual é o versículo-chave recebeu de viajar para uma terra des­
desse tópico? conhecida?
3. De que forma Deus deu certeza a 7. Qual é a questão levantada pela histó­
Abrão por intermédio do fogareiro? ria de Jacó? Quando e como Deus dá
Defina uma "aliança". uma certeza para o leitor? Qual é o
momento de transformação de Jacó?
4. Quais foram as outras três "providên­
cias" que Abrão tomou quando Sarai 8. Em que a história de José difere das his­
continuou estéril? tórias de Abraão, Isaque e Jacó? Por que
a sua história foi incluída nas Escrituras?
5. Qual é a "mudança" na vida de Abrão
e Sarai? O que Deus pede deles? Qual 9. Quais são os principais conceitos teo­
foi a certeza que eles receberam? lógicos de Gênesis 12-50?

99
Descobrindo o Pentateuco

Leituras complementares

Baldwin, Joyce G. The Message o f Genesis 12-50. The Moberly, R. W. L. Genesis 12-50. Old Testament
Bible Speaks Today. Downers Grove/Leicester: lnter- Guides. Sheffield: JSOT, 1992.
Varsity, 1986. Ross Allen P. Creation and Blessing: A Guide to the Stu-
Clines, David J. A. The Theme o f the Pentateuch. dy and Exposition o f Genesis. Grand Rapids: Baker,
Suplement Series 10, Sheffield: JSOT, 1978. Impor­ 1988. Estudo evangélico de grande ajuda sobre os
tante volume que trata do tema da aliança nas nar­ aspectos literários do texto.
rativas do Pentateuco. Wenham, Gordon J. Genesis 16-50, Word Biblical
Kidner, Derek. Genesis: An Introduction and Commen­ Commentary 2. Dallas: Word, 1994. A exposição
tary. Tyndale Old Testament Commentary. Downers mais completa disponível, incluindo todos os mate­
Grove: InterVarsity, 1967. Um comentário teológico. riais relacionados ao antigo Oriente Próximo.
Millard, A. R., Donald J. Wiseman, eds. Essays on the
Patriarchal Narratives. Winona Lake, Ind.:
Eisenbrauns, 1983. Uma excelente coleção de artigos
escritos por estudiosos de renome.

instrumentos de salvação para o mundo. de aliança. As promessas e a aliança que


Deus escolheu Abraão, Isaque e Jacó para Deus estabeleceu com Abraão (Gn 15 e 17),
fazer parte da linhagem da aliança. Eles pre­ também foram confirmadas para Isaque (Gn
pararam o caminho para a vinda do Messias 26.2-5), Jacó (Gn 28.13-15) ejosé (Gn48.3,4;
de Israel, pelo qual a salvação seria alcançada 50.24).
e oferecida a todo o mundo. Nas narrativas A aliança de Deus com os patriarcas é fun­
patriarcais a eleição é, em primeiro lugar, para damental para outras alianças feitas na Bí­
o serviço. blia. O relacionamento de aliança entre Deus
e Abraão estabelece uma estrutura teológica
Promessa para o relacionamento redentor ao longo de
Um segundo grande conceito das narrati­ toda a Bíblia e na teologia cristã. Mais tarde,
vas patriarcais é o da promessa. As promessas outras alianças tiveram um papel importante.
de Deus para Abraão em Gênesis 12.2,3 ser­ A aliança mosaica formalizou o relacionamen­
vem de foco para o resto dos relatos patriar­ to entre Deus e o povo de Israel (Ex 19). A
cais.9 Elas são cumpridas apenas parcialmen­ aliança com Davi tornou permanente a rela­
te por meio de Abraão. Quando da sua mor­ ção entre Deus e a dinastia real de Israel (2Sm
te, ele havia adquirido apenas um pequeno 7). Jesus Cristo selou o relacionamento entre
terreno da terra prometida (Gn 23.17,18) e Deus e o seu povo por meio da vida, morte e
Isaque não podia ser considerado exatamen­ ressurreição redentoras (“Este é o cálice da
te uma multidão de descendentes. Apesar da nova aliança no meu sangue derramado em
família patriarcal ter crescido drasticamente favor de vós” Lc 22.20). Todos esses relaciona­
na época de Jacó, Gênesis se encerra com essa mentos com Deus estão relacionados com a
descendência vivendo em exílio no Egito. O aliança entre Deus e os patriarcas. Portanto,
cumprimento final dessas promessas deve es­ a estrutura que Deus estabeleceu com os pa­
perar por uma geração futura. triarcas é o que serve de base para o plano da
redenção.10
Aliança A aliança era necessária para manter o tipo
O terceiro conceito teológico importante correto de relacionamento com Deus. As pro­
encontrado nas narrativas patriarcais é a idéia messas são centrais e eternas. Mas a aliança
100
Gênesis 12-50

ensinou aos crentes patriarcais o que era es­ Nós nos apegamos às promessas de Deus. Mas
perado deles em seu relacionamento com devemos também compreender que conhecê-
Deus: “Eu sou o Deus Todo-poderoso; anda lo e amá-lo significa seguir os seus caminhos
na minha presença e sê perfeito” (Gn 17.1). (Jo 14.15).

101
Êxodo
A fugamiraculosa
t.x a ü S B S ís---,'j *&ws sü iw *íéí. u-.~-"-$/-

Esboço
• Conteúdo do livro de Êxodo
Esboço
Os acontecimentos de Êxodo
a Problemas históricos do êxodo
Historicidade do êxodo
Objetivos
Data do êxodo
Rota do êxodo Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
* Significado teológico do êxodo
• Mostrar o contraste entre os começos em
Livramento
Êxodo e os começos em Gênesis.
Aliança
• Traçar o conteúdo básico de Êxodo.
Presença de Deus
• Dar exemplos de como Deus salvou Israel.
• Definir a lei casuística de acordo com
Êxodo.
• Explicar o propósito da aliança.
• Identificar os três maiores problemas
históricos do êxodo.
• Discutir o significado teológico do êxodo.

103
Descobrindo o Pentateuco

O livro de Êxodo fala sobre uma fuga auda­ A. Do Mar até Elim (15.22-27)
ciosa. Até mesmo o significado da palavra B. De Elim até o Deserto de Sim
“êxodo” é “uma partida rápida”.1 Pela graça e (16.1-36)
misericórdia de Deus, ele resgatou Israel de C. De Sim até Refidim (17.1-16)
uma vida de escravidão no Egito. Mas o livro D. A família de Moisés (18.1-27)
também trata do relacionamento de Israel com E. De Refidim até o Sinai (19.1,2)
Deus depois da saída do Egito. Êxodo descreve
esses dois principais acontecimentos: a partida III. A aliança no Sinai (19.3-24.18)
de Israel do Egito (resgate) e sua nova aliança A. Preparativos (19.3-25)
estabelecida com Deus (relacionamento). B. A aliança (20.1-23.33)
C. A cerimônia da aliança (24.D 18)

IV. Instruções para o Templo de


Conteúdo do Israel (25.1-31.18)
A. Preparativos (25.1-9)
livro de Êxodo B. A arca (25.10-22)
C. A mesa (25.23-30)
Assim como Gênesis, Exodo é um livro de
D. O candelabro (25.31-40)
começos. O primeiro livro da Bíblia relatou o
E. O tabernáculo (26.1-37)
começo de todas as coisas. Gênesis incluía o
F. O altar (27.1-8)
começo da fé sob a forma da linhagem patri­
G. O átrio (27.9-19)
arcal. Agora, Êxodo continua essa linhagem,
H. O azeite (27.20,21)
relatando o começo de Israel como nação.
I. As vestes sacerdotais (28.1-43)
Esboço J. A consagração dos sacerdotes
(29.1-46)
L O pressão e livramento K. O altar do incenso (30.1-10)
(1.1-15.21) L. As oferendas (30.11-16)
A. Introdução (1.1-7) M. A bacia (30.17-21)
B. Opressão (1.8-22) N. O óleo da unção e o incenso
C. O nascimento do libertador (30.22-38)
(2 . 1- 10 ) O. Bezalel e Aoliabe (31.1-11)
D. Moisés, um refugiado (2.11-25) E Instruções acerca do sábado
E. O chamado de Moisés (31.12-18)
(3.1-4.17)
V. Apostasia e intercessão
F. Moisés retorna ao Egito (4.18-31)
(32.1-33.23)
G. Aumenta a opressão (5.1-23)
A. O bezerro de ouro (32.1-33.6)
H. Deus encoraja Moisés (6.1-13)
B. A tenda da congregação
I. A genealogia de Moisés
(33.7-23)
(6.14-30)
J. Moisés e Arão advertem o faraó VI. As novas tábuas (34.1-35)
(7.1-13)
K. As nove pragas (7.14-10.29) VII. Execução das instruções acerca
L. A décima praga c anunciada do tabernáculo (35.1-40.38)
(11. 1- 10)
M. A Páscoa (12.1-27) Os aco n tecim en to s de Êxodo
N. O êxodo (12.29-51) O livro de Êxodo descreve as viagens de
O. Consagração dos primogênitos Israel sob a orientação de Deus, do Egito atra­
(13.1-16) vés do deserto até os pés do MONTE SINAI.
E A passagem pelo meio do Mar Assim, o livro tem uma organização geográfi­
Vermelho (13.17-14.31) ca: Israel no Egito (1.1—12.36), Israel no de­
Q. A celebração da salvação serto (12.37-18.27) e Israel no Monte Sinai
(15.1-21) (19-40).
N o começo do livro, as promessas da alian­
II. A jornada para o Monte Sinai ça patriarcal estão em risco. Os descendentes
(15.22-19.2) de Abraão estão vivendo no Egito, onde os

104
Êxodo

deixamos na conclusão de Gênesis. Mas pas- Deus havia se comprometido a resgatar o seu
hebreus
saram-se séculos. O número de pessoas do povo povo do Egito por causa de sua aliança com os
cresceu significativamente, o suficiente para patriarcas (v. 24). Por causa de Abraão, os is­
tornar-se uma ameaça à população egípcia raelitas precisavam ser libertados do Egito.
(1.10). Com a finalidade de controlar essa Moisés pode ter esquecido, mas Deus não!
ameaça, os egípcios escravizaram os hebreus Os caminhos de Moisés e de Deus esta­
e tentaram controlar sua taxa de natalidade vam para se cruzar. Deus havia decidido que
(capítulo 1). Moisés deveria salvar os israelitas; Moisés es­
O nascimento de Moisés é a resposta de tava determinado a esquecê-los. O famoso
Deus a essa terrível provação. Exodo 2 relata chamado de Moisés próximo à sarça ardente
como o bebê foi poupado e educado na corte (Ex 3,4) é onde os dois se encontram. O resul­
egípcia, o que lhe deu acesso à melhor edu­ tado é uma discussão clássica e poderosa. Deus
cação possível (At 7.22). Já adulto, Moisés chamou Moisés para voltar ao Egito e liderar o
tentou resolver as coisas à sua maneira, em povo para longe da escravidão. Moisés colo­
uma tentativa patética de responder ao seu cou quatro objeções e Deus respondeu a to­
chamado (Ex 2.11-15a). Como resultado dis­ das elas. Por fim, Moisés simplesmente se re­
so, teve que fugir do Egito. Moisés foi parar cusou a ir: “Envia aquele que hás de enviar,
em Midiã, onde recomeçou sua vida. Ele de- menos a mim” (4.13).
dicou-se a uma outra ocupação, a uma nova Deus assegurou Moisés de sua presença no
família, em um novo lar na esperança de es­ Egito e de sua vitória no final. Com a ajuda de
quecer a terrível situação dos hebreus (vs. seu irmão, Arão, Moisés iria se tornar o liber­
^ntura em uma 15b-22). tador de seu povo. Ele voltou ao Egito e alertou
: arede no Egito Mas Deus não esqueceu e nem abando­ o faraó sobre o desastre que estava prestes a
ostra um nou seu povo. Em um importante parágrafo cair sobre o Egito caso seu governante não
3 £cri ba fazendo
na conclusão do capítulo 2 (vs. 23-25) somos obedecesse ao comando de Deus de deixar o
3 contagem de
gansos em uma informados de que Deus sabia da lamentável povo ir. As dez pragas tinham o objetivo não
:'opriedade condição do povo. Ele ouviu, se lembrou, viu, apenas de forçar os egípcios a obedecer, como
ciai egípcia. tinha consciência dos gemidos dos israelitas. também de ensinar aos egípcios e aos israeli-

1 05
Descobrindo o Pentateuco

Leis da antiga Mesopotâmia

1 .Se um cidadão é acusado por outro e é posta 5.Se um cidadão quebrou um osso de outro ci­
sobre ele a acusação de assassinato, mas não é dadão, ele deve ter um de seus ossos quebrado
possível prová-la, seu acusador deve ser morto (comparar com Êx 21.23-25).
(comparar com Êx 23.1 -3). 6 .Se, quando um boi estava andando na rua, ele
2 .Se um cidadão roubou o filho jovem de outro matou um cidadão a chifradas, essa morte não
cidadão, aquele que roubou deve ser morto pode ser cobrada. Se, porém, um cidadão tem
(comparar com Êx 21.16). um boi que chifra, foi avisado disso, não revestiu
3 .Se um cidadão foi cobrado de uma dívida e os chifres de seu animal ou o manteve amarrado
vendeu sua esposa, seu filho, sua filha ou a si em casa e esse animal matou um membro da
mesmo como escravo, eles devem trabalhar para aristocracia, ele deve pagar meia mina de prata
o credor por três anos, sendo a liberdade (comparar com Êx 21.28-36).
restabelecida no quarto ano (comparar com
Êx 21.2-11). - Selecionado do Código de Leis de Hamurabi, Leis 1, 14, 117,

4 .Se um filho bateu no pai, deve ter sua mão cor­ 195, 197 e 250-251, ANET (adaptado) 166-176

tada (comparar com Êx 21.1 5).

tas sobre o caráter soberano do Deus de Israel. No capítulo 19, os israelitas chegaram ao
lei casuística Monte Sinai. O resto do livro descreve os acon­
Os egípcios criam que o seu rei-deus, o faraó,
era responsável por manter a fonte de vida, tecimentos que ali ocorreram. De uma forma
que era o rio Nilo, e fazer o sol se levantar dramática, Deus encontrou-se com a nação
todas as manhãs. Mas as pragas mostraram (vs. 16-25). Então, ele começou a transformar
que Iavé, o Deus de Israel, é que estava no um grupo de humildes ex-escravos em uma
controle da ordem cósmica.2 nação devotada a ele, “propriedade peculiar
Na noite da libertação dos israelitas, Deus dentre os povos” (v. 5). Assim como ele usou
estabeleceu uma data permanente para come' uma aliança para estabelecer um relaciona­
morar o acontecimento, ou seja, a Páscoa (ca­ mento com os patriarcas, naquele momento
pítulo 12). As próximas gerações jamais deve- ele estava usando uma aliança com Israel.
riam se esquecer do grande e poderoso ato de A aliança do Sinai estava fundamentada
salvação de Deus. Exodo 14.30,31 serve de re- nos Dez Mandamentos (20.1-17). A Bíblia os
sumo teológico de todo o êxodo, um aconteci­ chama de “escrituras” (Dt 10.4) ao invés de
mento que se tornaria central para o futuro do mandamentos, porque são mais como dez prin­
pensamento israelita. Naquele dia, o Senhor cípios para o viver que como leis. O resto das
salvou Israel e eles viram os egípcios morrerem leis baseou-se nessas escrituras. Os capítulos
à beira do mar. Essa visão tornou-se o sinal con­ 21-23 são chamados de “Livro da Aliança”
creto de que Deus havia realizado o ato salva­ (Ex 24.7). Esses capítulos fazem uma lista de
dor e dado nova vida ao povo de Israel.3 casos específicos em que os princípios da alian­
A segunda unidade principal do livro nar­ ça se aplicam à vida. Esse tipo de lei (conheci­
ra a estranha odisséia de Israel através do de­ do como lei casuística) era amplamente usa­
serto. Como podia Israel questionar a Deus e do no antigo Oriente Próximo. Há diversos
reclamar em uma situação daquelas? Eles não paralelos da Mesopotâmia que ilustram como
tinham acabado de testemunhar um dos maio­ a Bíblia freqüentemente usou os estilos de
res milagres da História? Será que eles ainda redação e costumes da época para expressar a
não tinham entendido o que Deus havia fei­ revelação de Deus.
to por eles? Muitas vezes, o pecado e a rebe­ Depois que Deus entregou a lei à Israel,
lião vão contra o mais óbvio dos fatos. Se ao Moisés liderou a nação em uma cerimônia
menos nos lembrássemos de quem é Deus e solene e sagrada de aliança, unindo Deus e
do que ele fez por nós, iríamos obedecer sua a nação (24.3-8). Moisés aspergiu sangue
palavra mais que depressa. sacrificial sobre o altar, que representava
106
Êxodo

Deus (v. 6). Então, leu o Livro da Aliança aliança, derramado em favor de muitos, para
para o povo e aspergiu sangue sobre eles tam- remissão de pecados” (Mt 26.28).
bém (vs. 7,8). Moisés chamou esse sangue O propósito do tabernáculo no deserto era
de “sangue da aliança”, pois a cerimônia sim- bem claro desde o princípio (25.8). Não era
bolizava o tipo de aliança que havia sido fei- como nossas igrejas, estádios ou ginásios de
ta entre Deus e Abraão em Gênesis 15, usan­ esporte, onde grandes grupos de pessoas con-
do os animais divididos. Assim como Deus centram-se por diferentes motivos. Era a ma­
uniu-se a Abraão, ele estava naquele ins­ neira como Deus poderia viver no meio do
tante unindo-se a Israel. Esse fato certamen­ povo. Antes disso, Deus havia demonstrado
te deve estar por trás das palavras de Jesus: sua presença com eles por meio das colunas
“isto é o meu sangue, o sangue da [nova] de fogo e de nuvem durante suas viagens pelo
deserto (13.21,22). Essa grande tenda, porém,
seria o lugar onde Deus habitaria. A glória de
Planta do tabernáculo no sua presença, que havia providenciado tanto
proteção quanto conforto para o povo, passa­
deserto ria a residir no centro do acampamento israe­
^ -------------------------- 50 cô vad os ---------------------------- ► lita. A própria palavra “tabernáculo” (mièkãn)
significa “lugar de habitação”.
A parte do livro que se refere ao taberná­
culo usa o recurso da repetição. Sete capítu­
los (25-31) dão instruções detalhadas de
como construir o tabernáculo e toda a sua
mobília e acessórios. Então, cinco capítulos
(35-39) relatam como Moisés e os israelitas
obedeceram as instruções em cada detalhe.
Apesar disso ser atípico para a literatura mo­
derna à qual estamos acostumados, a inten­
ção deve ficar clara. O povo foi obediente a
Deus, em cada detalhe do tabernáculo, das
cortinas aos colchetes.
O que está entre os dois trechos sobre o
tabernáculo, entretanto, é um exemplo de de­
sobediência em massa (capítulos 32-34). En­
quanto Moisés estava no Monte Sinai rece­
bendo a lei de Deus, os filhos de Israel vira-
ram-se contra o Deus que havia acabado de
libertá-los da escravidão e miséria do Egito de
maneira rápida e estrondosa. Ao que parece,
cies queriam um Deus que se parecesse com
os deuses que estavam acostumados a ver no
Egito e em Canaã. Assim, enquanto Iavé cri­
ava uma nação que iria refletir sua semelhan­
ça moral, os israelitas estavam tentando criar
um deus à sua própria imagem.
O capítulo 40 é um clímax triunfante no
livro de Exodo. A frase repetitiva deixa claro
que Moisés e os israelitas fizeram o trabalho
de construção do tabernáculo “segundo o
Senhor tinha ordenado a Moisés”. Quando
tudo estava pronto da forma como havia sido
ordenado, a glória maravilhosa de Deus en­
cheu o tabernáculo (v. 34). A presença de
Deus que liderou os israelitas na forma de
coluna de nuvem ou de fogo e que foi ao
encontro deles de forma tão dramática no

107
Descobrindo o Pentateuco

Monte Sinai, a partir de então, ficaria no taber­ ponto de serem reconhecidos por um faraó
náculo. Eles precisavam deixar para trás o Mon­ egípcio. Isso também serve de apoio para a
te Sinai, mas a presença de Deus iria com eles. data mais antiga.
Porém, outros argumentam que as evidên­
aM M H W M a i a M a B a i M M i i — i cias arqueológicas da Palestina contradizem
a data mais antiga e sugerem, em vez disso,
Problemas uma data no século 13 a.C. Os 480 anos men­
históricos do êxodo cionados em 1 Reis 6.1, nesse caso, são um
número idealizado. Esse número pode ser,
Assim como as narrativas patriarcais, o Li­ por exemplo, a soma total das 12 tribos de
vro de Êxodo faz poucas referências históricas Israel multiplicada por uma geração ideal de
a outras épocas e lugares do antigo Oriente 40 anos. O tempo real entre o êxodo e o tem­
Próximo. Conseqüentemente, ficamos dian­ plo seria, então, de aproximadamente 300
te de diversas perguntas sem resposta quanto anos e não 480.
ao acontecimento que foi o êxodo. Êxodo 1.11 afirma que os israelitas traba­
lharam na construção da cidade de Ramsés e
Historicidade do êxodo acredita-se que essa cidade foi construída pelo
A primeira dessas questões é acerca de faraó Ramsés II (1279-1213 a.C.). Assim, o
sua historicidade. A falta de fortes evidên­ êxodo não pode ter acontecido antes de 1279
cias extrabíblicas leva alguns a negar que o a.C., quando Ramsés começou a governar.
êxodo de fato ocorreu. Mas o êxodo é um Além disso, recentemente foram publicados
acontecimento tão central à teologia e ao relevos encontrados em Karnak que combi­
pensamento dos israelitas que vieram depois nam com as inscrições da “Stela de Israel” e
dele que é inconcebível que esse evento não confirmam a data mais recente. Tendo em
tenha base em nenhum acontecimento his­ vista que a inscrição refere-se a Israel como
tórico nacional. Além disso, parece pouco “povo” e não como terra ou país, supõe-se que
provável que Israel iria incluir em seu passa­ Israel havia acabado de chegar e o povo ain­
do episódios de servidão e sofrimento se isso da não estava completamente assentado. A s­
não fosse verdade. Aqueles que questionam sim, o êxodo e a conquista foram aconteci­
a historicidade do êxodo ignoram muitas mentos do século 13 a.C.
outras questões pertinentes. A reavaliação de evidências arqueológi­
cas mostra que a arqueologia não tem como
A data do êxodo responder essa pergunta. A arqueologia pode,
O segundo problema está relacionado à de fato, ser usada para argumentar a favor da
data precisa em que o êxodo ocorreu. Basica­ data mais antiga.4 É impossível determinar
mente, há duas opções, apesar de haver mui­ uma única data para o êxodo devido à falta
tas variações de cada uma delas. O êxodo de informações mais completas. É claro que,
pode ter ocorrido em tomo de 1446 a.C. ou ainda assim, podemos afirmar a realidade do
1275 a.C. acontecimento mesmo sem saber exatamen­
O primeiro livro de Reis 6.1 data o êxodo te quando ele ocorreu.
em 480 anos antes de Salomão construir o
templo em 966 a.C. Pela simples adição, che­ A rota do êxodo
gamos à data do êxodo no século 15 a.C. — O terceiro problema que se apresenta para
1446 a.C. Juizes 11.26 fala de trezentos anos aqueles que estudam o êxodo é identificar o
entre os tempos de Jefté (por volta de 1100 caminho que os israelitas percorreram depois
a.C.) e a conquista, o que aparentemente su­ de deixar o Egito, viajando através do deserto
geriria a data mais antiga. e até a terra prometida. Ramsés e Sucote (Êx
Uma inscrição egípcia conhecida como a 12.37) podem ser identificados com um certo
“Stela de Israel” registra o hino de vitória do grau de certeza. Mas os outros nomes de luga­
faraó Merneptah com a data de 1209 a.C. res egípcios que são mencionados no relato
Essa inscrição relata a vitória do faraó sobre não são claramente identificáveis.5
vários povos da Palestina, inclusive o “povo de O mar que é conhecido como Mar Verme­
Israel” (ANET, 378). lho desde os dias da Septuaginta, era na ver­
Alguns podem afirmar que os israelitas dade o “Mar de Juncos” em hebraico. Supõe-
deviam estar naquela terra há muito tempo, a se que a extensão de água que o povo de
108
Êxodo

Israel cruzou miraculosamente é um dos la­ filisteus (Ex 13.17). Essa teria sido a rota mais
gos de água doce do D elta do Nilo, onde direta, porém não a mais fácil. A arqueologia
pode-se en con trar a presen ça do ju n co: confirma certas inscrições egípcias que falam
Menzaleh, Balá, Timsah ou os Lagos Am ar­ da forte presença militar egípcia ao longo des­
gos (alguns acrescentariam ainda o lago se caminho, indo do Delta do Nilo até Gaza.
Sirbonis a essa lista).6 Provavelmente deve-se Os israelitas, guiados por Deus, evitaram esse
descartar o Golfo de Suez, no Mar Vermelho, caminho e foram rodear “pelo caminho do
bem como o GOLFO DE ÁCABA, já que esses deserto perto do Mar Vermelho” (Ex 13.18).
corpos de água salgada não têm a vegetação Podemos supor que esse caminho ficava mais
de junco necessária para qualificá-los como ao sul e foi tomado para não entrar em confli­
um “Mar de Juncos”.7 to militar com os egípcios. Infelizmente, não
Uma vez do outro lado do mar e fora do podemos dizer exatamente qual era esse “ca­
Egito, havia três opções de caminhos para os minho que rodeava”. A localização dos luga­
israelitas tomarem até a península do Sinai: res importantes mencionadas ao longo das
as rotas do norte, do centro e do sul. narrativas do deserto ainda é incerta, até
A rota do norte acompanhava o “Cam i­ mesmo quanto à localização do Monte Sinai.
nho do Mar”, uma estrada internacional que A hipótese da rota central posiciona o
ia do Egito a Canaã acompanhando a costa Monte Sinai em algum lugar a noroeste da
do Mediterrâneo. A Bíblia refere-se a essa es­ A rábia Saudita, além do Golfo de Á caba.
trada como sendo o caminho das terras dos Alguns dos que defendem essa rota acredi­

D e te rm in a n d o a d a ta do êxo d o

Incluím os aqui apenas um a lista selecionada dentre as m uitas evidências citadas no


debate, bem como um a interpretação de cada ponto de vista.

Evidência Século 15 Século 13

1) 1 Reis 6.1 — 480 anos Os números são levados a Os 480 anos são um número
desde o êxodo até o templo sério e são literais. idealizado e figurativo.
de Salomão

2) Êxodo 1.11 — Israelitas O nome "Ramsés" Tendo em vista que Ramsés


constroem a cidade de também foi usado antes começou a governar em 1279
Ramsés, que recebeu esse do século 13. a.C., o êxodo não poderia ter
nome por causa do faraó acontecido antes dessa época.
Ramsés do século 13.

3) Juizes 11.26 — Jefté Jefté está aproximadamente Jefté não tinha registros
refere-se aos 300 anos entre o correto, localizando a históricos e estava fazendo
seu tempo (por volta de 1100 conquista transjordaniana uma generalização bastante
a.C.) e a conquista da Terra por volta de 1400 a.C. ampla.
Prometida.

4) A Stela de Menerptah — O Uma vez que o faraó os Outros grupos são designados
faraó do século 13 menciona mencionou pelo nome, os nas inscrições como cidades-
"o povo de Israel" como israelitas deviam estar lá há estado territoriais. Só Israel é
sendo habitantes da Palestina. um longo período de referido como povo. Isso
tempo. A visão que significa que eles provavel­
considera o século 13 não mente haviam se estabelecido
permite tempo suficiente na região há pouco tempo. A
para que Israel fosse data do século 1 5 dá tempo
reconhecida pelo Egito. demais.

109
Descobrindo o Pentateuco

Vista de Jebel tam que as referências bíblicas à teofania Os defensores da rota do sul normalmente
Musa (Monte descrevem um vulcão ativo (Ex 19.18; 24.17, aceitam a identificação do Monte Sinai com
de Moisés),
etc.). Evidências geológicas apontam para a Jebel Musa (Monte de Moisés), onde hoje fica
identificado
com freqüência
existência de áreas com vulcões ativos na o mosteiro e a Basílica de Santa Catarina. A
como sendo o Arábia durante aquela época, enquanto as identificação de Jebel Musa com o Monte
Monte Sinai. montanhas da Península do Sinai não esta-- Sinai vem do começo da tradição cristã, du­
vam ativas. Também, a terra de Midiã locali­ rante o século 4Q d.C. Porém, as irregulares
zava-se a leste do Golfo de Âcaba. Assim, montanhas de granito da Península do Sinai
quando Moisés fugiu do Egito e assentou-se oferecem várias outras possibilidades para a
teofania em Midiã, ele deve ter encontrado com Deus montanha de Deus: Ras Safsaf, Jebel Serbal,
no Monte Sinai (Ex 3.1), sendo este localiza­ Jebel Katarina ou Jebel Sin Bisher.
do, portanto, no noroeste da Arábia. Com freqüência, os israelitas davam no­
Entretanto, a descrição dada pela Bíblia mes para lugares no deserto à medida que
da aparição de Deus no Sinai não requer um passavam pela região. Mas sem ter uma popu­
vulcão ativo. Muitas teofanias do Antigo Tes­ lação contínua na região para manter tradi­
tamento descrevem fenômenos extraordiná­ ção dos nomes, não é possível identificar essas
rios e Exodo 19.18 tem outras explicações mais localidades com precisão. Além disso, os is­
plausíveis. Além do mais, a ligação entre Moi­ raelitas viveram um estilo de vida nômade
sés e os midianitas não nos permite tirar con­ durante esses anos no deserto. Suas tendas,
clusões. A Bíblia fala deles como sendo uma roupas de peles de animais e utensílios eram
sub-tribo, os qucnitas. O clã dos midianitas levados com eles, deixando para trás pouco
não estava assentado sobre uma única área, material para ser descoberto pelos arqueólo­
mas sim, era um grupo de nômades que algu­ gos modernos. Como resultado disso, não te­
mas vezes aparecia na Península do Sinai.8 mos informações específicas quanto à rota e
Nos dias de hoje, poucos insistiriam que a rota dificilmente haverá esclarecimentos em um
central foi a escolhida pelos israelitas. futuro próximo. Porém, a tradicional rota do
1 10
Êxodo

sul responde a mais perguntas que as outras. teologia cristã. A soberania de Deus resgatou
Esta é nossa melhor estimativa quanto à dire­ seu povo de uma vida de cativeiro unindo-os
ção tomada pelo povo de Israel logo após sua a ele em um relacionamento de aliança. O
libertação quando rumaram para a terra pro­ papel de Deus tornou-se central para o resto
metida por Deus. do Antigo Testamento. O êxodo, um aconte­
cimento salvífico, foi o início formativo de Is­
rael como nação tanto do ponto de vista his­
tórico quanto teológico. Da mesma forma, a
Significado teológico vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo como
do êxodo um acontecimento paralelo de salvação foi o
início formativo da Igreja. Jesus falou de sua
O livro de Exodo e os acontecimento nele “partida” (exodos em grego) que seria consu­
descritos são de importância primordial para a mada na cruz (Lc 9.31).

Possível Rota
,• A sd o d e
do Êxodo
M A R M E D IT E R R Â N E O

BAIXO EGITO

A . Jebel Helal

Cades-Barnéia
D ESERTO
ndes Aguas Amargas
D E 5U R
uenas Águas Amargas

N ofe Jebel Sin


Bisher
Eziom -Geber

SINAI

.Possível Rota Alternativa dos Israelitas


Rota dos Israelitas do
'Egito até o Monte Sinai
.Rodovia
9* Jpbel Serbal efidim
Ras Safsuf
lebel Katarina A.

40 mi

111
Descobrindo o Pentateuco

Livramento lavé e Israel (Êx 24.3-8). Assim como a alian­


aliança
O tema da primeira parte do livro é o livra­ ça com Abraão teve promessas de terras e des^
mento (capítulos 1-18). O povo de Deus es­ cendentes, a aliança do Sinai foi o cumpri­
Torá mento parcial dessas promessas, dando conti­
tava sucumbindo sob o peso do cativeiro no
Egito. Eles não tinham nenhuma liderança e nuidade a elas (19.4,5).
nenhuma esperança de fuga. Mas Deus foi Porém, o acordo no Sinai acrescentou um
movido por sua graça e pelo compromisso que novo elemento à aliança. Apesar de Deus ter
havia assumido anteriormente com os patriar­ solicitado um comportamento ético por parte
cas (2.24,25). Ele livrou seu povo ao dar-lhes de Abraão (Gn 17.1), os detalhes de se viver
Moisés, o líder que eles precisavam. Por meio um relacionamento com Deus não estavam à
das dramáticas pragas, Deus mostrou seu con­ disposição dos hebreus sob a forma escrita. A
trole soberano sobre a natureza e quebrou o aliança do Sinai foi uma declaração pública e
domínio do Egito sobre Israel, libertando-os específica dos requisitos para se ter um rela­
para que pudessem escapar. O milagre espe­ cionamento com Deus, estabelecendo regras
tacular do Mar de Juncos foi o grande ato de claras e elevadas (capítulos 20-23). Apesar
livramento (capítulos 14,15). Os israelitas de­ das promessas da aliança serem, de certa for­
samparados estavam agora livres, mas de for­ ma, permanentes e incondicionais, a aliança
ma alguma era por mérito próprio; o Senhor em si requer a obediência fiel a Deus: “Ten­
havia se tornado sua salvação (15.2). des visto o que fiz aos egípcios... Agora, pois,
se diligentemente ouvirdes a minha voz e guar-
Aliança dardes a minha aliança...” (19.4,5). A aliança
O tema da segunda parte de Exodo é a do Sinai colocava o Torá (“lei”) de Deus, sua
aliança (capítulos 19-40). Como já vimos, a instrução divina, no centro de seu relaciona­
aliança patriarcal foi fundamental para a mento com Israel.
aliança no Sinai. A aliança com Abraão (Gn Os Dez Mandamentos e outros manda­
15.7-21) antecipou a aliança de sangue entre mentos dos capítulos 21—23 eram uma parte

Sumario

1. O livro de Exodo descreve como Deus 6. A data do êxodo é determinada por


guiou Israel para fora do Egito, atra­ alguns estudiosos como sendo no sé­
vés do deserto até o Monte Sinai. culo 13 a.C. e por outros como sendo
no século 15 a.C.
2 . A Páscoa foi a maneira de Deus co­
memorar a libertação dos israelitas do 7. Há três rotas possíveis para o êxodo
cativeiro egípcio. — a do norte, a central e a do sul.
3. Os Dez Mandamentos foram o funda­ 8. A vida, morte e ressurreição de Cristo
mento da aliança no Sinai. são acontecimentos de salvação para­
lelos ao êxodo de Israel.
4. O tabernáculo era o lugar onde Deus
habitava no meio de seu povo. 9. O livro de Êxodo é importante em
termos teológicos por causa da forma
5. Estudiosos encontram três grandes
como a libertação, aliança e presença
problemas históricos no livro de
de Deus são apresentadas.
Êxodo: a historicidade do êxodo, a
data do êxodo e a rota utilizada no

112
Êxodo

Mosteiro de
Santa Catarina,
localizado
próximo a Jebel
Musa (Monte
de Moisés).

natural do relacionamento entre Deus e os prova que as leis de Deus são verdadeiras e
israelitas. Os termos da aliança eram resulta­ justas (Sl. 19.7-10). Por outro lado, a obediên­
do da graça de Deus e do amor pelo seu povo. cia às leis é a resposta correta à graça de Deus;
Ele deu as leis para a nação depois de tê-los não um meio para a salvação, mas uma con­
redimido e estabelecido um relacionamento seqüência da salvação.
íntimo de união com eles. A lei serviu de selo
para esse relacionamento. Ao longo do Anti­ A presença de Deus
go Testamento, a lei é uma expressão positiva Livramento e aliança — estes são os temas
da vontade de Deus para o seu povo. das duas partes principais de Exodo (capítulos
As leis são uma parte da vida, quer sejam 1-18 e 19-40). Mas ao longo de todo o livro,
elas as leis naturais do universo ou as leis divi­ está presente a ênfase na presença de Deus.
nas recebidas de Deus. Não devemos que­ O propósito do êxodo para fora do Egito e da
brar as leis de Deus assim como não devemos aliança no Sinai, com a Lei e o tabernáculo,
tentar ir contra as leis da natureza. Tentar pode ser resumido da seguinte forma: Deus
quebrar a lei da gravidade pulando de um estava preparando Israel para que pudesse ir
penhasco, por exemplo, apenas prova que a viver no meio deles.
lei é verdadeira e acaba quebrando a pessoa A aliança patriarcal havia contido a pro­
que tentou desrespeitá-la. Assim também é messa de descendentes e terras. Um elemen­
com as leis de Deus. Quebrá-las só traz dor e to daquela promessa de terras em Gênesis era
viver na presença de Iavé. Quando a promes­
sa foi confirmada aos filhos de Abraão, Deus
Termos-chave lhes assegurou “...serei contigo” (Gn 26.3 para
Isaque; Gn 28.15 para Jacó). A vida de José
Hebreus ilustra o princípio de se viver na presença de
Leis casuística
Deus (Gn 39.2).
Teofania
Mas no começo de Exodo, a terra ainda não
Aliança
Lugares-chave Torá
era uma realidade e os descendentes de Jacó
corriam o risco de extinção. Pior ainda, o povo
Monte Sinai era incapaz de herdar a terra da promessa de
Golfo de Ácaba Deus, pois eles não estavam preparados para
viver naquela terra. A vida na terra prometida
também significava vida na presença de Deus,
113
Descobrindo o Pentateuco

Questões para estudo

1. Quais são os dois principais aconte­ 6. Qual o propósito do tabernáculo no


cimentos do livro de Êxodo? Que deserto?
"começo" é estabelecido no livro?
7. Quais as possíveis datas do êxodo?
Qual é a organização do livro?
Quais as evidências que apóiam cada
2. Qual é o ponto de encontro entre uma delas?
Deus e Moisés?
8. Qual é a rota mais provável que os is­
3. Qual é a comemoração permanen­ raelitas seguiram no êxodo?
te da libertação dos israelitas do ca­
9. Quais são os temas teológicos do livro
tiveiro? de Êxodo? Que outra ênfase existe ao
4. Quais eram os dois propósitos das longo do livro?
pragas?
5. Qual era a base da nova aliança no
Sinai?

Os israelitas não estavam prontos para a O êxodo, de fato, marcou lavé para sem­
vida na presença de Deus porque ainda não pre como sendo o Deus que está presente com
haviam aprendido sobre seu grande caráter. Israel para livrá-los. A afirmação de que os
Essa foi uma das lições das pragas. Eles esta­ patriarcas não conheciam Deus como lavé
vam despreparados para viver sob o seu se­ (Ex 6.3) não significa que o nome era com­
nhorio, conforme demonstrado em Exodo 32 pletamente estranho para eles (ver Gn 22.14,
e como também podemos ver no livro de Nú­ onde Abraão usou o termo “lavé”). Mas de­
meros. Conseqüentemente, eles também es­ pois de Moisés e dos israelitas, o nome é asso­
tavam despreparados para herdar a terra pro­ ciado ao êxodo e à aliança do Sinai. Ele é o
metida. que estava com seu povo para redimi-los e
A ênfase que o livro dá à presença de Deus marcá-los com sua presença santa.
está relacionada à importante referência em Deus desejava um “reino sacerdotal e uma
Exodo 3.14. O significado do nome pessoal e nação santa” em meio à qual ele pudesse habi­
íntimo de Deus, lavé, é de que Deus estava tar. O propósito do êxodo do Egito era que Deus
presente para Moisés e para os israelitas. Moi­ pudesse habitar no meio de seu povo. A vinda
sés perguntou para Deus o que dizer se os da presença gloriosa de Deus sobre o tabemá-
relutantes israelitas perguntassem quem o culo recém-construído constitui o clímax do
havia enviado ao Egito para libertá-los. Esse livro de Exodo (40.34). Assim, o tabernáculo
pedido por um nome era uma forma de eles era parte do cumprimento da promessa patriar­
perguntarem “Exatamente que tipo de Deus cal de que Deus estaria com os descendentes
é o Deus de nossos ancestrais?” (v. 13). Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Mais tarde, o templo
respondeu para Moisés que ele deveria dizer em Jerusalém substituiria o tabernáculo como
“Eu Sou (o Deus que está presente com lugar de habitação da glória de Deus. Da mes­
vocês)”. Seria uma longa jornada. Mas Moi­ ma forma, Cristo veio para “tabernacular” em
sés e os israelitas aprenderam por meio das nosso meio (Jo 1.14; Hb 1.1-9.15). Agora, o
pragas e do êxodo que tipo de Deus era (e Espírito Santo habita dentro da Igreja e cum­
ainda é) lavé. Ele era o Deus que estava pre­ priu, portanto, o propósito maior tanto do taber­
sente com eles em sua hora de sofrimento e náculo quanto do templo.
necessidade. Ele estava com eles para livrá- Na conclusão de Exodo, as promessas pa­
los de forma poderosa. triarcais de Deus foram parcialmente cum-

114
Êxodo

Leituras complementares

Bimson, John J. Redating the Exodus and Conquest. Grove: InterVarsity, 1973. Introdução evangélica de
Journal for the Study of the Old Testament — Sup- ajuda sobre todas as questões de Êxodo.
plement Series 5. Sheffield: JSOT, 1981. Childs, Brevard S. The Book o f Exodus: A Criticai Theo-
Cassuto, Umberto. A Commentary on the Book os logical Commentary. Old Testament Library. Filadél­
Exodus. Trad. Israel Abrams. Jerusalém: Magnes, fia: Westminster, 1974. Uma importante introdução
1967. Um excelente texto mostrando o ponto de teológica e literária ao livro de Êxodo.
vista judeu. Durham, John I. Exodus. Word Biblical Commentary 3.
Cole, R. Alan. Exodus: An Introduction and Commenta­ Waco, Tex.: Word, 1987.
ry. Tyndale Old Testament Commentary. Downers

pridas. Os descendentes de Abraão estão li­ tamento. Assim também, a aliança no Sinai
vres e em um relacionamento de aliança com tornou-se o principal símbolo de um rela­
Deus. Eles ainda não estão vivendo na terra cionamento duradouro com Deus. Juntos,
prometida, mas têm a promessa e, no final do o êxodo e a aliança no Sinai constituem os
livro, recebem a presença de Deus. Exodo fala atos centrais de redenção no Antigo Testa­
da salvação e da preparação dos israelitas para mento. Aqui, as promessas de Deus encon-
a vida na terra prometida. A dádiva da pre­ traram-se com as ações de Deus para salvar
sença de Deus é uma realidade do pré-cum- seu povo do cativeiro. O êxodo e o Sinai são
primento da promessa. acontecimentos tão centrais para o Antigo
O milagre do Mar de Juncos tornou-se o Testamento quanto o é a cruz para o Novo
principal símbolo da salvação no Antigo Tes­ Testamento.

115
7 Levítico
Instruções para se viver em santidade

Esboço
• P an o d e fu n d o
d o liv ro d e L e v ítico
• C o n t e ú d o d e L e v ític o
Esboço
Visão geral
Objetivos
• T em as d e L e v ític o
D e p o is d e le r e ste c a p ítu lo , v o c ê
Lei
d e v e s e r c a p a z d e:
Sacrifício
• Comparar as maneiras como os sacrifícios
Santidade eram usados em Israel e em outras culturas
da Mesopotâmia.
• Determinar as diferenças na ênfase de
culto em Levítico e em Êxodo.
• Traçar em linhas gerais o conteúdo básico
do livro de Levítico.
• Relacionar os tipos de sacrifício do Antigo
Testamento, explicando como eram
usados.
• Identificar os três temas básicos de
Levítico.
• Descrever de que forma o Cristianismo
moderno se relaciona com a lei do Antigo
Testamento.

117
Descobrindo o Pentateuco

Levítico é um dos livros mais negligencia­ fluxo de pensamento do Pentateuco. Ele teve
dos da Bíblia. Isto acontece por duas razoes. grande significado para os israelitas e ainda é
Primeiro, o livro parece um tanto estranho para pertinente para os cristãos modernos.
os leitores dos dias de hoje. A adoração
sacrificial nele descrita está tão distante dos
crentes de nossos tempos a ponto dessa pouca
familiaridade nos fazer evitar a sua leitura.
Pano de fundo do
Em segundo lugar, à primeira vista, Levítico livro de Levítico
parece interromper o fluxo de acontecimen­
tos históricos do povo de Israel. Precisamos Todas as nações vizinhas de Israel e que
esperar até o quarto livro do Pentateuco, Nú­ faziam parte do antigo Oriente Próximo prati­
meros, para ler sobre a jornada do Monte Sinai cavam a adoração sacrificial. O sacrifício de
até a beira da terra prometida. animais era comum na antiga Mesopotâmia e
Porém, Levítico tem um papel essencial semelhante ao de Israel. Até mesmo os ter­
na palavra de Deus e oferece uma contribui­ mos usados em Israel para os diferentes tipos
ção vital para nossa compreensão do relacio­ de sacrifício eram os mesmos que os termos
namento de Deus com a humanidade. E pre­ usados por seus vizinhos mais próximos em
ciso que façamos um esforço a mais que é Canaã.1 Os sacrifícios no antigo Oriente Pró­
requerido para entender essa mensagem. ximo, assim como em Israel, eram elaborados
Devemos todos procurar entender a antiga para oferecer comunhão com as divindades,
prática do sacrifício e seu significado para o para aplacar os deuses e assegurar a continui­
Antigo Testamento. dade de seus favores.
De certa forma, Levítico realmente inter­ Mas existem certas diferenças entre o sis­
rompe a narrativa do Pentateuco. A história tema de sacrifício em Israel e o de outras par­
flui naturalmente do final de Exodo para tes do antigo Oriente Próximo. As diferenças
Números 10. Levítico e Números 1-10 cons­ superficiais são óbvias como, por exemplo, a
tituem uma intromissão de material legal. Mas ausência de holocaustos na Mesopotâmia, ao
essa observação demonstra a importância do contrário do que era praticado em Israel.2
livro. Os israelitas não teriam inserido Levíti­ Entretanto, há diferenças mais fundamentais
co em sua literatura sagrada se ele não fosse que tornam Israel singular.
relevante para sua história. Sua ênfase na san­ Em primeiro lugar, os mesopotâmios com
tidade pessoal, sacerdotal e nacional é parte freqüência usavam o animal sacrificado como
integral e necessária dessa história. meio de clarividência, a fim de discernir as
Apesar da estranheza e aparente desloca- futuras ações dos deuses. Especialistas em sa­
lização, Levítico tem um papel importante no cerdócio acreditam que eles podiam decifrar

Um altar
redondo de
pedra de
aproximada­
mente 2500
a.C. em Megido,
no vale de
Jezreel.

118
Levítico

o futuro por meio de estudos e “leituras” das história de Êxodo. Os israelitas tinham uma
levitas
entranhas dos animais mortos. Tais práticas nova relação de aliança com Deus e o Senhor
não existiam em Israel. mandou que Moisés se apresentasse diante
Septuaginta Em segundo lugar, o aspecto mais distinti­ do povo para dar instruções sobre as formas
vo do sistema sacrificial de Israel era o modo apropriadas de adoração (1.1,2). Tendo em
Código de como ele estava ligado à relação de aliança vista que o livro foi escrito para toda a nação
Santidade com Deus.3 Deus havia dado instruções para de Israel (como vemos em 1.2), devemos nos
os sacrifícios de Israel durante o último mês e lembrar de que ele ainda é Palavra de Deus
meio em que o povo estava no Monte Sinai, para os que o lêem nos dias de hoje.
entre a construção do tabernáculo (Ex 40.17) Enquanto Exodo termina com a ênfase
e a partida de lá (Nm 10.11). Os sacrifícios sobre onde adorar (o tabernáculo), Levítico
eram o ingrediente principal da união de ali­ trata da questão de como adorar a Deus.4
ança entre Israel e Deus. Não há nada com­ Depois de fazer uma relação de regulamen­
parável nas outras nações do antigo Oriente tos para os vários tipos de sacrifício que pode­
Próximo. riam ser oferecidos a ele, Levítico trata do sa­
Uma terceira característica singular do cerdócio, das questões de pureza e santidade.
uso de sacrifícios em Israel é o conceito de
santidade. A definição israelita para o termo Esboço
“santo” (q ã d ô s , no hebraico) era baseada
I* As ofertas (1.1-7.38)
na elevada natureza moral e ética de Deus.
A. Leis gerais (1.1-6.7)
Por essa idéia ser tão central à aliança com
B. Leis sacerdotais (6.8-7.38)
Iavé (Ex 19.6), ela também teve impacto so­
bre o uso israelita do sistema sacrificial para a II. O sacerdócio (8.1-10.20)
adoração de Iavé. Os vizinhos de Israel não A. Consagração (8.1-36)
tinham tal conceito. B. Instalação (9.1-24)
Apesar do sistema sacrificial parecer tão C. Conseqüências da desobe­
estranho para nós, ele era parte do ambiente diência (10.1-20)
cultural de Israel. Não devemos nos surpre­
ender que eles se sentiam à vontade para usar III. Pureza e impureza (11.1-16.34)
o sacrifício de animais como parte de sua ado­ A. Leis (11.1-15.33)
ração a Iavé. Mas também devemos nos lem­ B. O dia da expiação (16.1-34)
brar que existem diferenças gritantes entre a
maneira como Israel e os seus vizinhos prati­ IV. O Código de Santidade
cavam os sacrifícios. (17.1-26.46)
A. A santidade do sangue (17.1-16)
B. As leis morais (18.1-20.27)
C. Leis sacerdotais (21.1-22.33)
Conteúdo de Levítico D. Calendário de festas solenes
Quem eram os levitas? Por que o nome (23.1-44)
desse livro está relacionado a eles? Os levitas E. Azeite, pão e blasfêmia (24.1-23)
eram descendentes de Levi, um dos doze fi­ F. O ano sabático e o jubileu
lhos de Jacó (Gn 29.34). Arão c sua família (25.1-55)
foram escolhidos dessa tribo para servir de sa­ G. Recompensas e castigos (26.1-46)
cerdotes e oferecer os sacrifícios. Deus apon­ H. Votos e dízimos (27.1-34)
tou o resto dos levitas para servir no taberná­
culo, auxiliando os sacerdotes no santuário
Visão geral
de adoração (Nm 3.5-10). As seções de abertura do livro tratam da
A Septuaginta deu ao livro o nome de Le­ forma correta de adoração dentro do taber­
vítico porque partes dele falam de suas instru­ náculo (e mais tarde no templo permanen­
ções sobre as ofertas para Deus. Essas partes te) : os cinco tipos aceitáveis de sacrifício (ca­
servem de manual de instrução para o sacer­ pítulos 1-7) e as condições para o sacerdócio
dócio do Antigo Testamento. Mas o título representativo (capítulos 8-10) e para os ado­
hebraico do livro é tirado da primeira palavra radores aceitáveis (capítulos 11-16). O resto
(;w ayy iq rã \ “chamou o Senhor”) , o que en­ do livro (capítulos 17-27, o chamado Código
fatiza que Levítico é uma continuação da de Santidade) é dedicado à vida correta fora

119
Descobrindo o Pentateuco

do tabernáculo. Assim, Levítico preocupasse Senhor” (1.9; 13,17; 2.2,9, etc.). Esses três sa­
com a adoração e o viver corretos, como tor- crifícios reforçam o resultado das ofertas do
nar-se e permanecer santo. A Bíblia com fre- ponto de vista de Deus.
qüência liga a adoração correta dentro da igre- As seções que apresentam os outros dois
ja com ò viver correto fora da igreja. Qual­ sacrifícios (de pecado e culpa) têm organiza­
quer adoração que tolere e permita compor­ ção e função diferentes. Eles estão menos pre­
tamento errado, não é adoração cristã. ocupados com o valor do animal apresentado
Os sete primeiros capítulos servem como e mais com o tipo de pecado cometido (inten­
um Manual de Ofertas para Todos os Israeli­ cional ou inadvertido) e a condição do peca­
tas (ver o sumário em 7.38,39). Esses capítulos dor. Cada seção que trata desses dois sacrifí­
descrevem cinco tipos diferentes de sacrifíci­ cios é marcada por variações da expressão “e
os. Os primeiros três sacrifícios (queimados, o sacerdote por eles fará expiação, e eles serão
cereais e pacíficos) são os mais comuns no perdoados” (4.20,26,31,35; 5.6,10, etc.).
Antigo Testamento. Cada descrição dessas Os capítulos 8-10 descrevem a ordena­
ofertas conclui com uma variação da expres­ ção e instalação do sacerdócio e mostram as
são “oferta queimada, de aroma agradável ao conseqüências de atividades sacerdotais

Tipos de sacrifícios

Havia muitos tipos de sacrifícios no Antigo Testamento e diversas variações dos tipos
básicos aqui relacionados. Essa lista inclui apenas aqueles sacrifícios prescritos em
Levítico 1-7:

1. HOLOCAUSTO Era freqüentem ente apresentada junto


Levítico 1 aos sacrifícios queim ados, que eram
Era a típica oferta hebraica, predom inan­ consumidos por Deus. Ao que parece,
te ao longo de toda a história do Antigo não era com pensatória, mas estava
Testamento e provavelmente a forma ligada à restauração e reconciliação.
mais antiga de sacrifício de com pensa­ Tinha três subtipos: sacrifício de ação de
ção. O termo descreve uma “ oferta de graças, sacrifício prometido e sacrifício
ascensão" ou uma oferta que sobe. O de espontânea vontade.
animal era com pletamente queimado no
altar, e a fum aça subia em direção aos 4. SACRIFÍCIO DE PECADO
céus. Levítico exigia que o animal fosse Levítico 4 .1-5.13
um macho sem manchas. Vários animais Era compensatório por uma ofensa
eram permitidos, de acordo com as contra Deus. Enfatizava o ato de purifica­
possibilidades financeiras. ção. Envolvia profanação cerimonial,
engano, apropriação indevida e sedução.
2. OFERTA DE CEREAL Variava de acordo com quatro classes de
Levítico 2 indivíduos: sacerdote, congregação,
Originalmente, é possível que fosse um governante ou indivíduo do povo.
"presente", pois é exatam ente isso que o
termo significa. Nas regras de Levítico, o 5. SACRIFÍCIO DE CULPA
cereal tinha um significado com pensató­ Levítico 5.14-6.7
rio. Ele freqüentem ente acompanhava os Era uma subcategoria do sacrifício de
sacrifícios queimados e as ofertas pecado. Compensatório, porém dedica­
pacíficas. Provavelmente servia como um do à restituição e reparação. Geralm ente
tipo mais barato de sacrifício queimado tratava de profanação de artigos
para aqueles que não podiam dispor de sagrados e violações de natureza social.
um animal.
Ver Gary A. Anderson, "Sacrifice and Sacrificial
3. OFERTA PACÍFICA Offerings," in Anchor Bible Dictionary.org. David
Noel Freedman, 6 vols. (Nova York: Doubleday, 1992),
Levítico 3
5:877-81
Era a forma básica de sacrifício trazida
nos dias de festa. Era uma oferta
com em orativa, consumida pelas pessoas.

1 20
Levítico

Um artista impróprias. Não sabemos exatamente os de- em um clima quente, a carne era um grande
imagina talhes sobre o “fogo estranho” ou sobre risco à saúde.
sacerdotes
Nadabe e Abiú (10.1). Mas o contexto enfa­ Mas pode ter havido muitas razões teológi­
fazendo um
sacrifício tiza a santidade de Iavé e a necessidade de cas para a proibição de certos tipos de comi­
queimado em aproximar-se dele apenas da forma como ele das. Talvez algumas delas estivessem intima­
frente ao prescreveu (10.3). mente associadas à práticas de adoração pa-
tabernáculo. Os capítulos 11-16 tratam da distinção en­ gãs. Outras eram proibidas porque a idéia de
tre a pureza e a impureza. Eles lidam com sangue e de vida eram sinônimas (Lv 17.11).
questões práticas do dia-a-dia: comida (capí­ Era esperado dos israelitas que eles demons­
tulo 11), nascimento de uma criança (capítu­ trassem o mais alto respeito pela vida, de for­
lo 12), pele e doenças causadas por fungos ma que até de animais comestíveis o sangue
(capítulos 13,14) e as excreções do corpo (ca­ devia ser totalmente drenado (17.13,14). O
pítulo 15). As restrições quanto à comida no povo só podia comer animais que tivessem se
capítulo 11 são um complemento das regras alimentado de vários tipos de grama, e todos
sobre a ingestão de carne. N a criação, os seres os predadores carnívoros eram uma parte proi­
humanos tinham sido feitos para serem vege­ bida da dieta.
tarianos (Gn 1.29,30). Mas depois do dilúvio Por fim, temos que concluir que esses capí­
Deus deu a Noé e sua família o direito de tulos sobre a distinção entre puro e impuro são
comer carne desde que o sangue fosse ade­ lições objetivas acerca de realidades ocultas.
quadamente drenado (Gn 9.3,4). Levítico 11 Os capítulos 11—15 são uma antecipação e
expande as restrições, baseando-se na distin­ um preparo para o dia da expiação. Eles des­
ção entre animais puros e impuros. crevem o significado de impureza para que
Não sabemos explicar em todos os casos ela seja absolvida no dia da expiação (16.16).
porque comer certas comidas ou realizar cer­ Assim como os capítulos 1—7 descrevem os
tas atividades físicas causava a impureza. A l­ sacrifícios oferecidos e a instalação dos sa­
gumas comidas eram impuras porque carre­ cerdotes (8-10), os capítulos 11-15 definem
gavam doenças. Nas sociedades antigas, onde as impurezas que fazem necessário o dia da
não era possível nenhum tipo de refrigeração expiação.5
121
Descobrindo o Pentateuco

O dia da expiação era um dos mais sagra- santidade para todos os israelitas. Ele abrange
leis tópicos que vão da pureza sexual, observân­
dos do calendário do Antigo Testamento (ver
casuísticas
também Lv 23.26-32, em que ele é relacio- cia das festas sagradas até o tratamento justo
nado entre as “festas religiosas” ou “dias so- dos pobres. Esse apelo a uma vida santificada
Ienes”). Ao contrário de outros feriados im­ está baseado no caráter santo de Deus: “San­
portantes de Israel, esse dia não comemora tos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus,
um dos grandes e poderosos feitos de Deus sou santo” (19.2).
no passado e nem celebra a sua bondade na
colheita. No dia da expiação, Deus provia
uma ocasião anual para a purificação de to­
dos os pecados e impurezas que não foram Temas de Levítico
expiados durante o ano. Esse dia oferecia Levítico estabelece vários temas básicos
expiação para o sumo sacerdote, o taberná­ para o restante do pensamento bíblico. Auto­
culo e o povo, para que todos pudessem estar res da Bíblia partiam do pressuposto de que
“purificados de todos os vossos pecados, pe­
seus leitores compreendiam certos conceitos
rante o Senhor” (16.30).
como sacrifício, expiação, perdão e santida­
Nesse único dia, a cada ano, era permitido
de. Levítico dá as definições fundamentais
ao sumo sacerdote entrar no Santo dos San­
desses conceitos.
tos, o lugar mais recluso do tabernáculo (vs. 2,
3; ver planta do tabernáculo no capítulo an­ Lei
terior). Para lá, ele levava o sangue de um
Conforme vimos no capítulo anterior, o li­
animal sacrificado para a sua própria expia­
vro de Exodo esclareceu o conceito de lei con­
ção e para a de todo o povo (vs. 14,15). Para o
forme ela era usada no relacionamento de
cristão, um novo Sumo Sacerdote acabou com
aliança entre Deus e os israelitas. Levítico,
a necessidade do dia da expiação. Cristo en­
por sua vez, delineia uma grande quantidade
trou no Santo dos Santos de “uma vez por
todas” para fazer a expiação, não com o san­ de material legal. Um versículo quase no fi­
gue de animais, mas com o seu próprio sangue nal de Levítico liga o livro todo à aliança do
(Hb 9.11,12). Sinai: “São estes os estatutos, juízos e leis que
O sangue do animal sacrificado era ape­ deu o Senhor entre si e os filhos de Israel, no
nas uma parte da cerimônia. Um elemento monte Sinai, pela mão de Moisés” (26.46).
singular dessa ocasião era o uso de um bode Mas a natureza da lei em Levítico é um
expiatório (ou “Azazel”, vs. 8-10, 20-22). O tanto diferente de sua natureza em Exodo.
significado exato de “Azazel” não está claro. Exodo delineava os Dez Mandamentos e ex­
Alguns acreditam que ele se refere a um lu­ plicava de que forma eles se aplicavam à vida
gar maligno específico ou a um demônio do em aliança da antiga Israel. Levítico preocu-
deserto. Mas a palavra hebraica, conforme era pa-se com as leis para uma adoração correta
compreendida pelas traduções antigas, pro­ dentro da aliança, bem como com a pureza
vavelmente referia-se ao bode em si. Em am­ ritual. Para o cristão moderno a pergunta é:
bos os casos, a função do bode nessa parte da De que forma essas leis sobre ritos sacrificiais
cerimônia era clara. Ele simbolizava fisicamen­ e purificação ritual estão relacionadas a nós?
te a remoção do pecado do povo. Arão colo­ A mesma pergunta pode ser feita acerca das
cava suas mãos sobre a cabeça do bode, con­ leis casuísticas de Exodo 21-23.
fessava as culpas de Israel e depois mandava o Muitos cristãos fazem distinção entre as leis
bode para o deserto. Significativamente, as morais, civis e cerimoniais no Antigo Testamen­
idéias de “levar” , carregar as iniqüidades para to. Os Dez Mandamentos são a lei moral. Leis
o deserto e “perdoar” são expressas pelo mes­ específicas da sociedade do Antigo Testamen­
mo verbo em hebraico (n ã é ã \ v. 22). to são leis civis, enquanto leis que tratam de
Os capítulos 17-27 (algumas vezes apenas sacrifícios e ritos de purificação são leis cerimo­
os capítulos 18—26) são conhecidos como o niais. Tendo em vista que Jesus restabeleceu e
código de santidade.6 A repetição do termo reafirmou os Dez Mandamentos (Mt 5), as leis
“santo” nessa seção significa que ele é o prin­ morais ainda se aplicam aos dias de hoje. Con­
cípio unificador. Esse termo e seus derivativos tudo, muitos cristãos descartam o resto das leis
aparecem oitenta e cinco vezes nesses onze do Pentateuco como sendo retrógradas já que
capítulos. Esse trecho prescreve o caminho da tratam dos aspectos civis e cerimoniais.

122
Levítico

A sexualidade em Levítico
(Levítico 18)

Israel estava cercada de perversão sexual. Deus Seu relacionamento com Deus tornava os israeli­
advertiu os israelitas para não viverem como os tas singulares no mundo antigo. Eles deveriam
egípcios que haviam deixado para trás e nem refletir o seu caráter santo, permitindo que ele
como os cananitas que estavam adiante (v. 3). Os tocasse todos os aspectos de sua vida. Permitir
vizinhos de Israel estavam se corrompendo com que Deus determinasse os padrões para a mora­
todo tipo de comportamento antinatural: incesto lidade sexual também afetava a sua definição de
(vs. 6-18), adultério (v. 20), homossexualidade (v. família e de fidelidade dentro dos relaciona­
22) e bestialidade (v. 23). Por isso Deus os havia mentos.
rejeitado e expulsado de suas terras (vs. 24,25). Assim também os cristãos são marcados por
Levítico 18 é uma advertência para os israeli­ seu relacionamento com Deus. Ceder e confor­
tas guardarem-se dos pecados sexuais. Não dar mar-se — viver como os "cananitas" ao nosso re­
ouvidos a esse aviso resultaria em expulsão da dor — é autodestrutivo (vs. 25 e 28). A maneira
terra prometida, como foi feito com os como lidamos com nossa sexualidade com fre­
cananitas (v. 28). Em vez de cederem, eles deve­ qüência reflete quão seriamente submetemos to­
riam ouvir a palavra de Deus; em vez de se con­ das as áreas de nossa vida ao controle de Deus.
formarem com os padrões do mundo, eles deve­
riam se submeter aos padrões de Deus (vs. 3-5).

Mas essa divisão em leis morais, civis e ce­ tância moral de todos esses mandamentos
expiaçao
rimoniais não existia nos tempos de Jesus. A l­ continua a falar à Igreja dos dias de hoje. Je­
gumas leis são tanto civis quanto morais, como sus resumiu a lei como sendo o amor a Deus e
as leis em relação ao adultério, roubo, falso o amor por toda a humanidade (Mt 22.36-
testemunho e assim por diante. Outras, são 40). Se perguntarmos, “Certo, mas como essa
tanto morais quanto cerimoniais, com a lei lei se aplica a mim?” a Bíblia nos convida a
contra a idolatria e o desrespeito ao sábado. examinar a antiga Israel como modelo e exem­
Todas essas leis contêm uma dimensão moral, plo. Ao comparar nossa situação à deles, acei­
tornando a divisão em categorias um tanto tamos a lei do Antigo Testamento como ten­
arbitrária.7 Além do mais, essa visão das leis do sido confirmada por Cristo e, com a ajuda
do Antigo Testamento leva alguns cristãos a do Espírito Santo e lições aprendidas por meio
não considerar muito seriamente a afirmação da história da Igreja, os detalhes sobre como
de Paulo de que “Toda a Escritura é... útil devemos amar a Deus e ao próximo, devem
para o ensino, para a repreensão, para a corre­ tornar-se mais claros.8
ção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16).
Em vez de distinção moral, civil e cerimo­ Sacrifício
nial, é melhor que aceitemos algumas das Levítico é a fonte primária das regras do
leis do Antigo Testamento como sendo abran­ Antigo Testamento acerca de sacrifícios e de
gentes e voltadas para todas as sociedades. como oferecê-los a Deus de maneira apropri­
Outras eram específicas para a cultura e so­ ada. Porém, o livro raramente declara qual é
ciedade israelita e não podem ser aplicadas a teologia por trás de tais sacrifícios (17.11 é
aos dias de hoje em nossa sociedade ociden­ uma exceção). De um modo geral, esses sa­
tal moderna. Por outro lado, uma grande par­ crifícios (queimados, cereais e pacíficos) po­
te do mundo de hoje pode estar mais ligada diam ser apresentados conforme o adorador
à antiga Israel do que imaginamos. Para a desejasse. Os últimos dois (sacrifícios de pe­
maior parte da população do mundo, a apli­ cado e culpa) eram usados para oferecer a
cação específica de leis civis não está tão lon­ expiação dos pecados. A expiação é a elimi­
ge da antiga Israel. nação da impureza causada pelo pecado. Ela
A lei do Antigo Testamento continua a ser resulta na remoção da culpa, na concessão de
a Palavra de Deus para nós, apesar de poder­ perdão e na restauração do relacionamento
mos aplicá-la em diferentes contextos. A subs­ entre o pecador e Deus.9
123
Descobrindo o Pentateuco

zer expiação pela vossa alma” (17.11). Toda


forma de vida é um dom precioso de Deus.
Aqui, Deus determinou o princípio espiritual
de que o dom da vida em si, e não uma outra
dádiva menor, deve ser devolvido a ele com a
finalidade de expiar o pecado. O significado
exato da palavra hebraica expiação ou com­
Termos-chave pensação (kipper) é incerto. Mas de alguma
Levitas forma significa que o animal sacrificado res­
Septuaginta gatava o pecador da morte que esse pecador
Código de santidade merecia. O animal tornava-se o substituto do
Leis casuísticas adorador e perdia sua vida para que o peca­
Expiação dor pudesse viver.
Compensação O Novo Testamento afirma que a morte
de Jesus Cristo é o sacrifício que torna possível
a expiação do pecado (Hb 9.26, ljo 2.1,2).
mhmmhhhhí Para muitas das ofertas de sangue, o Seu sacrifício não se limitou a um único
compensação i i i ~ u ,
adorador colocava suas maos na cabeça do adorador ou nação, mas foi oferecido ao mun­
animal sacrificial (1.4; 3.2, 8,13; 4.4,15,24, do como forma de perdão. Ele não precisa
29,33). Essa ação identificava o animal como nunca mais ser repetido pois é suficiente para
seu substituto. Isso não significava necessa­ todos os que o aceitam pela fé (lPe 3.18).
riamente que a culpa do adorador era Assim, a morte de Cristo na cruz substituiu o
transferida para o animal, mas que o animal sistema levítico de sacrifícios. Mas como no
sofria as conseqüências dos pecados do antigo sistema Deus ainda nos convida a res­
adorador. ponder individualmente com arrependimen­
Deus ordenou o sangue sacrificial como to e fé, para que Cristo possa tornar-se nosso
uma forma de purificação do pecado: “Eu vo- substituto, redimindo-nos de nossos pecados
lo tenho dado [sangue] sobre o altar, para fa- e culpa.

Sumário

1. Os sacrifícios eram comuns por todo 6. 0 bode expiatório simbolizava a re­


o antigo Oriente Próximo, mas Israel moção do pecado do povo.
os utilizava de modo singular.
7. Levítico estabeleceu leis para a adora­
2. Os levitas eram descendentes de Levi ção apropriada dentro da aliança e
e serviam como sacerdotes. para a pureza ritual.
3. 0 conteúdo de Levítico é: sacrifício, 8. Mediante o uso do sangue, Deus dei­
sacerdócio, pureza e impureza e códi­ xou claro que nada além da própria
go de santidade. vida deveria ser apresentado a ele
como compensação pelo pecado.
4. Os tipos básicos de sacrifício são:
holocaustos, ofertas de cereal, ofertas 9. Em Levítico, Deus chamou Israel para
pacíficas, sacrifícios de pecado e sacri­ viver uma vida santa e hoje ele nos
fícios de culpa. chama para fazermos o mesmo.
5. No dia da expiação, o sacerdote reali­
zava um sacrifício para a expiação de
si mesmo e de toda a nação.

124
Levítico

Questões para estudo

1. Por que Levítico é um dos livros mais 5. Faça a distinção entre as duas princi­
negligenciados da Bíblia? pais categorias de sacrifício.
2. Quais são as principais diferenças entre o 6. Qual era a função e o ritual do dia da
sistema sacrificial dos israelitas e o de ou­ expiação?
tras nações do antigo Oriente Próximo?
7. Quais são os três principais temas de
3. Quem eram os levitas? Por que o livro Levítico?
tem seu nome relacionado a eles?
8. Em que se baseia o chamado de Deus
4. Quais são as quatro principais divisões para que Israel tenha uma vida santa?
do livro?

Santidade que eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo”


A tônica de Levítico é ressonante: “sereis (19.2). Essa mensagem não está condiciona­
santos, porque eu sou santo” (11.44,45; 19.2; da a uma determinada época, tendo em vis­
20.7,26). O chamado de Deus para Israel vi­ ta que o apóstolo Pedro fez dela a pedra fun­
ver uma vida santa baseia-se na santidade do dam ental de sua primeira epístola (lPe
seu próprio caráter. Ele não pediu ao seu povo 1.15,16). Este é, de fato, o mais alto chama­
que se tornasse algo que ele não é. A diferen­ do da humanidade, ser imitadores de Deus
ça entre a santidade dele e a santidade de (Mt5.48).
Israel é que a santidade dele é intrínseca en­ O livro de Levítico é indispensável para a
quanto a de Israel é derivada de seu relacio­ compreensão da trama da sociedade e cultu­
namento com ele. ra da antiga Israel. Além disso, no Novo Tes­
O mesmo se aplica ao cristão de hoje. Deus tamento, a epístola aos Hebreus ressalta a im­
nos chama a ter um estilo de vida santo. Mas portância de Levítico para o cristão dos dias
nossa santidade vem dele, à medida que vi­ de hoje. Levítico esclarece o significado do
vemos em comunhão com ele e aprendemos sacrifício e sacerdócio de Jesus Cristo. Como
a obedecer sua vontade com a ajuda do Es­ palavra de Deus para os cristãos no mundo de
pírito Santo. Por meio da mensagem antiga hoje, Levítico ainda nos fala sobre a reverên­
de Levítico, Deus nos convida a comparti­ cia da adoração, pureza de vida e nossa ne­
lhar de seu caráter santo: “Santos sereis, por­ cessidade de perdão.

Leituras complementares


Harrison, R. K. Leviticus: An Introduction and Com­ formações do cenário das instituições religiosas do
mentary. Tyndale Old Testament Commentary. antigo Oriente Próximo.
Downers Grove: InterVarsity, 1980. Uma introdução Wenham, Gordon J. The Book o f Leviticus. New Inter­
completa. national Commentary on the Old Testament. Grand
Hartley, John E. Leviticus. Word Biblical Commentary 4. Rapids: Eerdmans, 1979. A exposição mais completa
Dallas: Word, 1992. de todas as questões.
Ringgrem, Helmer. Religions o f the Ancient Near East.
Trad. John Sturdy. Filadélfia: Westminster, 1973. In­

125
Números
rrH T T rrn r~ ’
O fracasso no deserto
rTPHiyinTTír^rriTiTiítT^iii iT"~iirnifinTT'T'iir7i~Tn" rT^Tiiijv^TiiiiiiPiiPinr'!"^... m |lyiiwiniiu............

Esboço
* Conteúdo do livro de Números
Estrutura literária
0 uso de núm eros no livro
Esboço
Visão geral
Objetivos
• O uso do livro de Números no
Novo Testamento Depois de ler este capítulo,
1 Coríntios 10 você deve ser capaz de:
Hebreus • Explicar a aparente desorganização do livro
de Números.
• Delinear o conteúdo básico do livro de
Núm eros.
• Descrever as dificuldades da jornada do
M onte Sinai para o deserto de Parã.
• Relacionar os atos de rebelião de Israel e as
conseqüências desses atos.
• Dar exemplos da falta de fé da hum anidade
tirados de Números.
• Descrever os acontecim entos-chave que
ocorreram nas planícies de M oabe.

127
Descobrindo o Pentateuco

Israel tinha tudo a seu favor. Deus havia referências geográficas e cronológicas são ape­
Septuaginta
realizado um milagre espetacular ao redimir o nas uma estrutura histórica que apóia diver­
povo do Egito. A nação tinha um relaciona- sos materiais. Mesmo o padrão geral sendo cla­
mento singular com Deus. A aliança do Sinai ro, o livro mistura seções legais, narrativas his­
tornou-se completa com o tabernáculo, ins­ tóricas e registros de um censo, tudo feito de
truções para adoração e um complexo siste­ uma forma que parece quase arbitrária. A
ma legal — os novos planos traçados para o combinação de diferentes tipos de materiais
futuro de Israel. Diferente de qualquer outra (especialmente históricos e de leis) de manei­
nação na História antes ou depois de Israel, o ra aparentemente aleatória leva alguns estu­
povo israelita tinha tudo de que precisava para diosos a ver o livro como perdidamente desor­
alcançar o sucesso completo. Mas a história ganizado.
de Israel não é de sucesso, pelo menos não de Mas quando estamos lidando com livros
sucesso imediato. O livro de Números relata bíblicos antigos, não devemos definir o aspec­
suas lutas em relação à obediência e às conse­ to artístico literário de acordo com nossos cri­
qüências da desobediência do povo. térios ocidentais modernos. A falta de um pla­
nejamento e regularidade ao longo do livro
não quer dizer que ele seja confuso ou que
não tenha uma mensagem distinguível. Ali­
Conteúdo do livro ás, materiais que parecem deslocalizados ou
de Números desorganizados em Números contribuem de
forma significativa para os temas principais. E
O livro contém os relatórios do censo regis­ no florescer da vara de Arão (17.1-13) e nas
trado por Moisés e pelos israelitas enquanto profecias de Balaão (capítulos 22-24) que po­
estavam no deserto (capítulos 1-4,26). Os tra­ demos discernir mais claramente a mão de
dutores da Septuaginta chamaram o livro de Deus e seus propósitos.
arithmoi, “números”, que é usado pelas Bíblias Além do mais, apesar da diversidade lite­
modernas. Mas o título hebraico bèm idbar , “no rária, é possível discernir um consistente pro­
deserto”, reflete com mais precisão o conteú­ pósito temático em Números. BREVARD
do do livro. Números descreve acontecimen­ CHILDS demonstrou que o livro contém uma
tos que ocorreram durante os quase quarenta interpretação unificada da vontade de Deus
anos em que Israel vagou entre o Monte Sinai para o povo por meio do contraste do sagrado
e as PLANÍCIES DE MOABE. e do profano. O livro de Números retrata o
santo como “a presença de Deus, a bênção
Estrutura literária dos números, as leis de pureza, o serviço dos
O livro de Números está claramente orga­ levitas, a expiação de Arão e a herança de
nizado geográfica e cronologicamente em três uma terra pura”. Por outro lado, “o profano
partes. Primeiro, os israelitas estavam acam­ consiste de todo o tipo de imundície e os re­
pados no Monte Sinai, em seguida eles vaga­ sultados da ira de Deus, suas pragas e julga­
ram pelo deserto e, finalmente, eles estavam mentos, a perda da herança de um povo que
nas planícies de Moabe. estava morrendo e a poluição da terra”.1
Números 1.1-10.10 contém várias instru­ A certeza com a qual alguns estudiosos
ções e preparativos para a jornada do Sinai modernos criticam a estrutura literária de
até a terra prometida. Deus deu essas instru­ Números é infundada. E possível ver o livro
ções para os israelitas enquanto eles ainda es­ como um “diário de viagem”, organizado por
tavam no monte Sinai. Números 10.11—20.21 um editor algum tempo depois da morte de
relata a falta de confiança dos israelitas em Moisés.2 A aparente falta de unidade literária
Deus enquanto eles vagavam pela península de Números pode ser usada para argumentar
do Sinai, mais especificamente em CADES- que o livro foi composto em tempos muito
BARNÉIA, no deserto de PARÃ. Por fim, de­ antigos. A combinação de narrativa histórica,
pois de quarenta anos vagando, os capítulos instruções de cultos e uma variedade de ou­
20.22—36.13 descrevem seus preparativos para tros materiais, tendo como pano de fundo a
entrar na terra prometida enquanto estão nas vida no deserto, iria, naturalmente, resultar
planícies de Moabe. Apesar da organização em uma organização literária incomum. Ten­
geográfica e cronológica ser clara, o livro de do em vista essas circunstâncias, seria até
Números apresenta um problema literário. As mesmo surpreendente se encontrássemos uma

128
Números

A disposição das
tribos no
acampamento
N afta li

B e n ja m im Ju d á

M an assés Tab ernáculo Issa ca r

E fra im Z e b u lo m

R úben

obra literária cuidadosamente construída e de de Gósen). Uma população israelita desse


composição bem amarrada. tamanho não teria encontrado dificuldade
A natureza literária de Números é singular em dominar o governo egípcio. O exército
dentro do Pentateuco. Gênesis, Exodo e Leví­ egípcio provavelmente não contava com mais
tico têm mais unidade. As fontes orais ou escri­ que vinte mil homens naquela época. Os nú­
tas por trás de Gênesis, a natureza histórica do meros chamam a atenção especialmente por­
material de Exodo e o material predominante­ que a população toda de C anaã naquele
mente legal de Levítico constituíram fatores tempo era menor que três milhões. Ainda
de unificação dentro desses livros.3 Números, assim, afirmava-se que Israel era bem menor
como um todo, é singular, mas a mensagem é em número que os cananitas — aliás, eram
clara e pertinente aos leitores modernos. tão poucos que nem ocupavam toda a terra
prometida (Dt 7.6,7,17). Com uma popula­
O uso de núm eros no livro ção de dois milhões, os israelitas não teriam
Os números populacionais de Israel apre­ se intimidado com o exército egípcio ou com
sentados nos relatórios do censo têm criado a população cananita.4
muitas discussões. As duas listas principais Além disso, os problemas logísticos de se ter
(1.46 e 26.51) registram mais de seiscentos um número tão grande de pessoas são inimagi­
mil homens, o que significa que a população náveis. Um estudioso estimou que dois mi­
de Israel teria um total de dois milhões ou lhões de pessoas marchando umas próximas
mais (ver também Ex 12.37). Esses números das outras iria criar uma fila com centenas de
apresentam diversos problemas. quilômetros. Quando os últimos da fila tives­
Um grupo desse tamanho teria mais que sem terminado de cruzar o Mar Vermelho, os
enchido a região nordeste do Egito (a terra primeiros já teriam chegado a Cades-Barnéia.5

129
Descobrindo o Pentateuco

Entre as muitas possibilidades, a melhor Os preparativos no Monte Sinai


solução é considerar que os termos hebraicos ( 1 . 1- 10 . 10 )
usados nessas listas foram incorretamente li­ O Monte Sinai, com suas constantes lem­
mitados a designações numéricas. Os termos branças da presença de Deus, não era o des­
“milhar” e “centena” podem originalmente tino final do povo de Deus. Chega uma hora
ter se referido a unidades sociais (famílias, clãs, em que é preciso desarmar o acampamento,
grupos de tendas) ou unidades militares (ca­ sair para o mundo, apropriar-se das promes­
pitães de centenas ou milhares). Se, por exem­ sas de Deus e cumprir o seu chamado. A
plo, supormos que “centena” designava um primeira unidade principal de Números com­
contingente militar e “milhar” era um capi­ preende instruções para levantar acampa­
tão, poderíamos calcular uma estimativa para mento e andar através do deserto sob a ori­
o total da população de Israel na época do entação de Deus.
êxodo em torno de 72 mil pessoas.6 Mas essa O capítulo 9 é o clímax literário do trecho
solução é só uma tentativa e ainda não é pos­ de 1.1-10.10. Na primeira metade do capítu­
sível chegar a uma solução conclusiva para lo, os israelitas celebram a Páscoa antes de
esse problema. deixarem a montanha. Da mesma forma, eles
iriam celebrar a Páscoa antes da batalha de
Esboço Jerico e da conquista da terra prometida (Js
5.10-12). Lembrar-se dos atos poderosos de
L No Sinai (1.1—10.10)
Deus no passado e celebrá-los é um excelente
A. O primeiro censo (1.1-54)
prelúdio para esperar por sua orientação e pro­
B. A organização do acampamento
teção no futuro. O resto de Números capítulo
(2.1-4.49)
9 enfatiza o papel da nuvem divina sobre o
C. Legislação (5.1-8.26)
tabernáculo e a indicação da liderança de
D. Acontecimentos finais no Sinai
Deus ao longo de todas as jornadas do povo.
(9.1-10.10)
Essa unidade toda, desde o começo do
II. Do Sinai para Edom livro, vem criando a expectativa até chegar
(10.11- 20.21) no capítulo 9. O censo reuniu as forças do
A. ParaCades (10.11-12.16) povo em preparo militar e os organizou ao
B. Em Cades (13.1-20.21) redor do tabernáculo (capítulos 1 e 2). O
censo dos levitas (capítulos 3 e 4) os organi­
III* De Edom para o Jordão zou para o serviço no tabernáculo. Sua enor­
(20.22-36.13) me responsabilidade fica clara depois de ser
A. A morte de Arão (20.22-29) brevemente lembrada por meio de Nadabe
B. A destruição de Arade (21.1-4) e Abiú, os filhos de Arão (3.4), que falha­
C. A serpente de bronze (21.5-9) ram por não prestarem a devida reverência a
D. A jornada para Moabe Deus e não cuidarem de forma apropriada
(21 . 10 - 20 ) do serviço divino (Lv 10.1-3).
E. As primeiras vitórias (21.21-35) Os primeiros quatro capítulos mostram
F. As planícies de Moabe como toda a nação foi organizada, tanto os
(22,1-36.13) leigos quanto os levitas, em torno do taberná­
culo. Aquele era o lugar onde Deus habitava
Visão geral no meio do povo e seu cuidado e manuten­
O livro de Números é sobre preparação. ção tinham que ser feitos de acordo com as
Nos capítulos 1.1-10.10 tudo prepara a na­ instruções de Deus. Muitos dos preparativos
ção para deixar o Monte Sinai, onde haviam dos capítulos 1-4, portanto, foram dedicados
ficado durante quase onze meses (Ex 19.1,2; à instrução religiosa. Os israelitas estavam sen­
Nm 10.11). Mas os israelitas recusaram-se a do preparados para manter a maravilhosa pre­
entrar na terra prometida no tempo de Deus sença de Deus em seu meio.
(10.11-20.21). Assim, o resto do livro (20.22- O povo deveria manter sua vida pura e
36.13) pode ser visto como uma segunda pre­ santa por causa da presença pura e santa de
paração para entrar em Canaã. Essa segun­ Deus em seu meio. O capítulo 5 descreve o
da preparação foi necessária, pois a primeira processo necessário para banir do acampa­
não funcionou. mento aqueles que desobedecessem esse

130
Números

capítulos 7 e 8 listam importantes dons e ins­


truções necessários para o transporte do ta­
bernáculo através do deserto. Eles contribu­
em para o fluxo literário em direção ao capí­
tulo 9, preparando os israelitas para sua parti­
da do Monte Sinai.
Os preparativos finais para a partida do
Sinai incluíam instruções quanto a duas trom-
betas de prata (10.1-10). Variações dos toques
de trombeta indicariam especificamente de
que maneira os acampamentos de Israel de­
veriam proceder com a marcha (vs. 5,6). As
trombetas também eram usadas para preparar
para a guerra (v. 9) e em várias ocasiões sole­
nes. Com essa última instrução, o povo estava
pronto para partir.

Desobediência no deserto
( 1 0 . 11 - 2 0 . 2 1 )

O longo período vagando pelo deserto é


descrito nos capítulos 10.11-20.21. A impor­
• ...
tância da partida de Israel da montanha é
■* reforçada pela data precisa no capítulo 10.11
(“no ano segundo, no segundo mês, aos vinte
do mês” desde sua saída do Egito). A nuvem
divina ergueu-se sobre o tabernáculo e o povo
de Deus partiu para a sua jornada em direção
à terra prometida (10.11,12). Moisés regozi­
jou-se com essa visão e pediu que os inimigos
de Deus fossem dissipados diante deles à me­
dida que marchavam (v. 35). Mas infelizmen­
te, esse era só o prelúdio do fracasso. O otimis­
mo alegre do capítulo 10 logo desmorona em
rebelião obstinada no capítulo 11.
Os capítulos 11 e 12 relatam a difícil jor­
I ongo período mandamento. A voto de Nazireado (capítu­ nada entre o Monte Sinai e o deserto de Parã
ragando pelo lo 6) enfatiza a importância da dedicação e (apenas alguns dos lugares aqui menciona­
:eserto é dos podem de fato ser identificados, como é
fidelidade aos compromissos assumidos diante
: escrito em
de Deus no passado. A famosa bênção sa­ o caso de H A Z E R O T E ; ver mapa). Os israeli­
«..meros
11 - 2 0 . 2 1 . cerdotal de Arão (6.22-27) é o ponto culmi­ tas tiveram problemas ao longo de todo o ca­
nante para um período de atividades sacer­ minho. Números 11.1 dá o clima infeliz dos
dotais (capítulos 3-6). Observe que Arão não capítulos seguintes: “Queixou-se o povo de
chega a abençoar o povo de fato. Ele é ape­ sua sorte aos ouvidos do Senhor... acendeu-
nas um instrumento que transmite a bênção se-lhe a ira, e fogo do Senhor ardeu entre
do Senhor. eles”. Desde que tinham saído do Egito eles
As instruções dos capítulos 7-10 estão fora haviam reclamado sobre a falta de comida
da ordem cronológica. O censo do capítulo 1 no deserto. Assim, Deus havia miraculosa-
foi realizado no primeiro dia do segundo mês, mente providenciado codornizes e pão do
durante o segundo ano depois do êxodo (1.2). céu, chamado de maná (Ex 16). Mas o supri­
Mas as instruções dos capítulos 7—9 foram da­ mento de codornizes havia acabado e eles
das durante o mês anterior, quando Moisés estavam enjoados de maná. Mais uma vez
ergueu o tabernáculo (7.1; 9.1,15). As leis e Deus supriu suas necessidades, mas sua ati­
instruções dos capítulos 1-6 são mais natural­ tude de rebeldia resultou em pragas e fogos
mente uma continuação de Levítico. Mas os no deserto (11.1,33).

131
Descobrindo o Pentateuco

O deserto de Há algo de irônico sobre os israelitas esta­ Quando os israelitas saíram de Hazerote e fo­
Pa rã, a oeste da rem reclamando de sua alimentação no de­ ram mais para dentro do deserto de Parã
fronteira atual
serto e sentindo falta da variedade de comi­ (12.16), ficou evidente que eles não estavam
do Egito
moderno com a das do Egito. Será que eles haviam se esque­ dispostos a obedecer o Senhor. Seu destino
fronteira de cido de que eram escravos no Egito? Seria era a terra santa. Mas será que eles eram ca­
Israel. possível que eles também tivessem rapidamen­ pazes de seguir a promessa?
te se esquecido de como Deus os havia salvo O maior fracasso de Israel foi recusar-se a
da dor e do sofrimento? Como podiam refutar entrar na terra santa quando Deus a ofere­
sua orientação? Suas reclamações eram bem ceu a eles (capítulos 13,14). Números 13 rela­
mais sérias que simples murmuração sobre a ta a famosa história dos doze espias israelitas,
comida. Os israelitas tinham uma atitude in­ entre eles Josué e Calebe. Quando Deus or­
terior de rebelião que exerce um papel impor­ denou que Moisés mandasse espias à terra
tante no livro de Números. Eles estavam pro­ prometida, sua intenção era de que aquela
pensos a rejeitar a provisão de Deus e a lide­ fosse uma missão de reconhecimento, prepa-
rança dele em suas vidas, mesmo depois dos rando Israel para conquistar a terra (“Envia
milagres e livramento do Egito e a forma como homens que espiem a terra de Canaã, que eu
ele supriu todas as suas necessidades ao longo hei de dar aos filhos de Israel”, 13.2). Deus já
do caminho. estava no processo de “dar” a terra ao seu povo.
O capítulo 12 dá continuidade a esse tema Mas os espias voltaram com diferentes re­
ao relatar a oposição de Arão e Miriã à lide­ latórios (13.25-33). Os cananitas estavam bem
rança de Moisés e, portanto, a Deus. A pró­ fortificados na terra e eram enormes em esta­
pria família de Moisés estava com inveja por tura, fazendo os espias de Israel se parecerem
causa de sua posição singular diante do povo com gafanhotos (13.33). O trabalho seria tão
como único porta-voz de Deus. Deus afirmou enorme que, na opinião da maioria, a tarefa
de forma dramática que Moisés era o líder era impossível (ao que parece, Josué e Calebe
que ele havia escolhido. Mas agora, tanto a foram os únicos a colocar objeções, 14.6-8).
liderança quanto a população de um modo Quando ouviram os relatos, os israelitas ina­
geral estavam discordantes e descontentes. creditavelmente se lamentaram de ter deixa­
A nação toda parecia propensa a se rebelar. do o Egito: “Tomara tivéssemos morrido na
132
Viagem de Israel no Deserto Cf
M A R DA
G A L I L E IA

Edrei

Planfcií
9 de J s i t i m
Jerico
M oabe
M A R M E D IT E R R Â N E O j q
Q M o/ií íPisga

Jahaz

Horma •

M onte Hor

0 Caminho do Rei

Rota Israelita do Monte Sinai até Sitim

Campanha para capturar Basã

\
SINAI
\*o \
%
D ESERTO
D E S IM

Vi
40 mi

40 km
Descobrindo o Pentateuco

terra do Egito ou mesmo no deserto!” (14.2) decer a orientação de Deus para que entras­
Mais que depressa eles haviam decidido subs- sem e ocupassem a terra. Eles iriam morrer no
tituir Moisés por um novo líder que os levasse deserto. Mas Deus havia dado essas leis para a
de volta ao Egito (14.4). adoração e os filhos daquela geração precisa­
Um desastre foi evitado por pouco quando vam aprendê-las antecipando o dia em que
Deus apareceu sobre o tabernáculo em toda a eles fossem viver em Canaã — um dia que
sua glória (14.10) e Moisés intercedeu pelo certamente chegaria.7
povo. Como castigo por sua desconfiança e A rebelião de Coré, Datã e Abirão (16.1)
desobediência, Deus declarou que todos ameaçou seriamente a liderança de Israel,
aqueles que tivessem vinte anos ou mais iri- especialmente a linhagem sacerdotal de Arão.
am morrer no deserto. Eles jamais veriam a Mas um terremoto matou os rebeldes e fogo
terra prometida! Só os seus filhos, depois de consumiu seus seguidores (16.31-43). Para
uma espera de quarenta anos, seriam permiti­ confirmar que a família de Arão era legitima­
dos entrar na terra e dela tomar posse. mente de linhagem sacerdotal, Arão interce­
Para piorar a situação, os israelitas tenta­ deu pelo povo com sucesso (16.44-50). Ainda
ram reverter o julgamento divino. Ao ouvi­ como defesa de Arão, Deus fez sua vara flo­
rem as terríveis notícias, o povo decidiu que, rescer e dar amêndoas, em um teste para pro­
no final das contas, era capaz de conquistar a var quem, de fato, havia sido escolhido por
terra de Canaã. Moisés os advertiu que era Deus (capítulo 17).
tarde demais e que eles estavam partindo por Os capítulos 18 e 19 contêm mais leis para
conta própria, sem a bênção de Deus. Mas proteger os israelitas da impureza. Os sacer­
eles obstinadamente persistiram e logo em se­ dotes e levitas eram encarregados de evitar
guida perderam uma grande batalha para os que ocorresse julgamento divino por causa
amalequitas e cananitas em Horma (14.39- de qualquer impureza em relação ao taber­
45, ver mapa). O capítulo 14 constitui o clí­ náculo (capítulo 18). O capítulo 19 diz res­
max literário dessa unidade sobre a desobe­ peito especialmente aos rituais de impureza
diência de Israel. Eles persistentemente recu- causada pela contaminação devido ao con­
saram-se a ouvir a palavra de Deus por meio tato com mortos. Mais uma vez, as leis levam
de Moisés e colocaram-sc cm perigo. em consideração a vida em Canaã. Nova­
Os capítulos 15-20 relatam como, depois mente o autor coloca instruções para a vida
disso, o povo vagou no deserto durante quase futura na terra prometida logo após o relato
quarenta anos. Eles supostamente ficaram de uma rebelião e fracasso. O plano de Deus
próximos a CADES, no deserto de Parã (13.26), não seria alterado.
apesar do deserto de ZlM também ser men­ O pecado de Moisés em Cades serve para
cionado (20.1, ver mapa). Mas, curiosamen­ lembrar que nenhum líder humano, nem
te, esses capítulos nos contam pouco sobre os mesmo o próprio Moisés, está isento das con­
acontecimentos desses anos. Eles não relatam seqüências da incredulidade (20.2-12). Ele
a rota percorrida pelos israelitas e nem perío­ dirigiu-se ao povo e não à pedra (20.10,11),
dos de tempo dessas viagens, como o autor faz refletindo assim a falta de fé na ordem dada
no resto do livro. Em vez disso, os capítulos por Deus. O Antigo Testamento não faz dis­
contêm leis que os israelitas deveriam obede­ tinção entre fé e obediência. Fé é a resposta
cer assim que chegassem em Canaã e tam­ correta à Palavra de Deus, quer ela seja de
bém algumas histórias selecionadas sobre fra­ promessa ou de comando.8 Assim, os atos de
cassos e desobediência. Moisés foram comparados à rebelião do povo
E curioso o lugar onde encontram-se as leis quando eles se recusaram a entrar na terra
sobre ofertas a serem observadas em Canaã prometida no tempo de Deus. O seu destino
(capítulo 15). A transição dos capítulos ante­ foi o mesmo que o deles. Não lhe seria permi­
riores até essas leis de cultos e rituais parece tido entrar na terra de Canaã (20.12).
um tanto abrupta e estudiosos se perguntam O livro de Números não relata os aconte­
por que elas estão em Números e não em Le­ cimentos que ocorreram durante os mais de
vítico. Mas como vêm logo depois da revolta trinta e sete anos em que o povo vagou pelo
da Cades, essas leis podem ter a finalidade de deserto. Números não é uma história de Is­
declarar veemente que os propósitos de Deus rael, mas sim uma dissertação acerca das con­
iriam continuar com ou sem a geração mosai­ seqüências da desobediência. As leis nos ca­
ca de israelitas. Eles haviam se recusado a obe­ pítulos 15-20 têm em vista o futuro da terra
1 34
Números

_____

vale do prometida e deixam implícito que nem mes­ um outro lugar, um lugar melhor que Deus
rdão e o local mo a rebelião de toda uma geração pôde im­ havia prometido para eles.
Jericó vistos
pedir Deus de cumprir suas promessas aos pa­ Além dos exércitos de Edom e dos amoritas
Monte Pisga.
triarcas. Os relatos da rebelião de Coré e do de Moabe e Basã, a jornada foi interrompida
pecado de Moisés em Cades indicam que as por mais reclamações dos israelitas. Números
promessas cie Deus iriam cumprir-se apesar 21.4-9 relata um episódio no qual serpentes
do fracasso na liderança de Israel. A geração “abrasadoras” (ou venenosas) atacaram o povo
de Moisés foi forçada a marcar tempo no de­ por causa de sua rebeldia. Quando o povo
serto, mas Deus não foi detido. Ele manteve- arrependeu-se de seu pecado, Deus instruiu
se fiel às suas promessas a Abraão mesmo quan­ Moisés a fazer uma serpente de bronze e
do os israelitas não tiveram fé. colocá-la em uma haste. Cada vez que uma
serpente mordesse um israelita, todo mordido
Preparativos nas planícies de Moabe que a mirasse viveria (v. 9). Esse aconteci­
(20.22-36.13) mento foi uma antecipação da simplicidade e
O resto do livro de Números descreve os disponibilidade da salvação para nós. Assim
eventos nas planícies de Moabe (ver mapa como os antigos israelitas podiam ser salvos
8.1). A jornada para Moabe foi cheia de acon­ simplesmente por olhar para a serpente de
tecimentos (20.14-21.35). Moisés e os israeli­ bronze erguida no meio do deserto, da mes­
tas enfrentaram vários exércitos de amoritas e ma forma nós podemos ser salvos ao olhar com
cananitas durante a marcha para a terra pro­ fé para Cristo erguido na cruz (Jo 3.14,15).
metida. A estratégia era evitar confrontos Números 22-24 apresenta o primeiro de
sempre que possível, tendo em vista que a uma série de acontecimentos que ocorreram
nação israelita não estava interessada em apo­ aos israelitas enquanto estavam acampados
derar-se dessas regiões transjordanianas nas planícies de Moabe. Balaque, o governan­
(20.17; 21.22). Eles estavam a caminho de te de Moabe, estava preocupado, e com ra-

135
Descobrindo o Pentateuco

0 vale do
Jordão, as
planícies de
Moabe e o local
de Jericó vistos
do oeste.

zão, com a nação israelita acampada em seu que o grande vidente da Mesopotâmia, que,
“quintal”. Eles tinham demonstrado uma ca­ no final das contas, não era nem um pouco
pacidade surpreendente de subjugar qualquer brilhante. Ao perceber a presença do anjo de
inimigo que tentasse atravessar o seu cami­ Deus no caminho, o animal salvou a vida de
nho. Como forma de assegurar uma vitória Balaão (v. 33). O anjo confrontou Balaão e o
militar contra Israel, Balaque contratou os preparou para proferir uma bênção sobre o
serviços de um mago profissional para amaldi­ povo de Israel ao invés da maldição.
çoar o povo de Israel. Ele chamou Balaão do O resto da unidade (capítulos 23,24) con­
norte da Mesopotâmia para que ele montasse tém as quatro bênçãos que Balaão proferiu
sua jumenta e voltasse com a delegação ofici­ sobre o campo de israelitas sem que eles sou­
al de Moabe a fim de proferir a maldição. bessem. Para a decepção de Balaque, Balaão
O relato do que acontece em seguida é ao proferiu exatamente o oposto daquilo que
-mesmo tempo cheio de humor e extremamen­ Balaque o havia pago para dizer. Mas a ju­
te sério (22.22-30) .9 A jumenta de Balaão pro­ menta falante não foi o elemento mais
vou ter mais astúcia espiritual e bom senso do miraculoso desse episódio. O Espírito de Deus
veio sobre Balaão (24.2) e reverteu a maldi­
ção que ele havia planejado. Esse é o grande
j# Termo-chave milagre da passagem e deve ter surpreendido
até o próprio mago e, mais ainda, o rei moabita.
W Septuaginta
Durante esse episódio, Deus estava cumprin­
do suas promessas da aliança, mesmo enquan­
to Israel espalhava-se passivamente lá embai­
Pessoas/ xo no vale.
Esse acampamento israelita em Moabe foi
lugares-chave a última parada antes de cruzarem o rio Jor­
Brevard Childs dão e entrarem na terra prometida sob a lide­
Planícies de Moabe rança de Josué. Nos dois campos provisórios
Pa rã anteriores (no Monte Sinai e em Cades), os
Hazerote israelitas haviam arriscado seu relacionamen­
Cades to de aliança com Deus por meio da apostasia.
Zim O bezerro dourado de Arão no Monte Sinai
(Ex 32) e a série de rebeliões em Cades (Nm

136
Números

11-14) ameaçaram a existência de Israel. In­ registra um outro censo realizado para dar a
felizmente, o comportamento de Israel nas pla­ informação estatística necessária para dividir
nícies de Moabe não foi diferente. a terra prometida entre as diversas tribos. A s­
Enquanto estavam acampados, separados sim, enquanto o pecado e a apostasia religiosa
de Jericó apenas pelo rio Jordão, os israelitas de Israel pareciam colocar em perigo o plano
entregaram-se à adoração do deus cananita da aliança para o futuro, Deus continuava a
Baal, um problema que esteve presente du­ insistir de maneira paciente e amorosa que
rante toda a sua história (Nm 25). Em Moabe, eles iriam entrar na terra.
a manifestação do baalismo cananita (Baal O resto do livro (capítulos 27-36) conta
de Peor) incluía a imoralidade sexual. Sob a dos preparativos finais para Israel antes que o
influência de Balaão (Nm 31.16; Ap 2.14) os povo deixasse as planícies de Moabe e entras­
israelitas rapidamente começaram a se casar se na terra prometida. Essa mistura de Lei e
com as mulheres de Moabe e a adorar os seus narrativa histórica é uma forma implícita de
deuses (Nm 25.1-3). O desprazer de Deus tor­ reassegurar que as promessas da aliança em
nou-se evidente em uma grande praga (25.9) breve seriam cumpridas. O capítulo 27 apre­
que quase pôs fim à nação. senta instruções para a adoração em ocasiões
Mas assim como em outras passagens em especiais do calendário religioso uma vez que
que o pecado e o castigo de Deus ameaçaram os israelitas estivessem em seu novo lar. Então,
acabar com o povo de Deus, a unidade se­ Josué é designado como o substituto de Moi­
guinte apresenta material legal sobre adora­ sés e lidera o povo para a terra prometida
ção na terra prometida e instruções para a (27.12-23). Os capítulos 28-36 contêm ins­
vida no novo cenário de Canaã. Números 26 truções sobre a divisão de lotes de terra, men-

1. 0 livro de Números relata a dificulda­ 6. Há poucos registros de detalhes sobre


de de Israel em obedecer a Deus e os quarenta anos em que o povo va­
descreve as conseqüências dessa deso­ gou pelo deserto.
bediência.
7. Deus deu uma lista de leis, indicando
2. 0 livro de Números está organizado que sua vontade seria feita indepen­
em três partes: o acampamento no dente da atitude dos israelitas.
Monte Sinai, os quarenta anos vagan­
8. Moisés deixou transparecer sua natu­
do pelo deserto e o acampamento
reza humana em Cades, onde ele de­
nas planícies de Moabe.
sobedeceu a Deus e mostrou sua falta
3. 0 tema geral de Números é a prepa­ de fé.
ração para deixar o Monte Sinai e
9. Durante a estadia nas planícies de
entrar em Canaã.
Moabe, os israelitas tiveram que en­
4. Os israelitas murmuravam continua­ frentar os exércitos dos amoritas e
mente sobre as circunstâncias, esque­ dos cananitas.
cendo-se de como estavam livres e
10. O acampamento em Moabe era a
não eram mais escravos no Egito.
última parada antes dos israelitas
5. 0 grande erro dos israelitas foi sua atravessarem o rio Jordão.
recusa em entrar na terra prometida
11. A mensagem de obediência de Nú­
quando Deus a ofereceu.
meros é usada no Novo Testamento
nos livros de 1 Coríntios e Hebreus.

137
Descobrindo o Pentateuco

Questões para estudo

1. Qual é a tradução do título em hebrai­ que a colocação de material legal (ca­


co desse livro? De que forma esse títu­ pítulos 15,18,19) indica sobre os pla­
lo descreve a luta que o livro retrata? nos de Deus para a próxima geração?
2. Quais são as unidades geográficas e 6. Qual é a localização geográfica da
cronológicas do livro? Quais tipos de última unidade literária (20.22-
material literário estão espalhados por 36.13)? Que imagem dessa unidade
essas unidades? prefigura a salvação por meio de Je­
sus Cristo? Quais são os elementos
3. Qual é o problema apresentado nos
miraculosos de Números 22-24? De
relatórios do censo encontrados nesse
que forma o relacionamento de alian­
livro?
ça foi ameaçado em Números 25? De
4. Descreva as principais subunidades de que forma a resposta de Deus mostra
Números 1.1-10.10. Qual é o clímax comprometimento com o plano da
literário dessa unidade? Quais partes aliança para o futuro?
não estão em ordem cronológica?
7. Como Paulo faz uso de Números
5. Qual é o período de tempo descrito quando está falando para a igreja em
na próxima unidade (10.11-20.21)? Corinto?
Qual foi a atitude interna que nasceu
8. Quais os acontecimentos de Números
das reclamações dos israelitas? De que
que são mencionados em Hebreus? O
forma essa atitude resultou nos qua­
que o autor de Hebreus ilustra por
renta anos vagando pelo deserto? O
meio desses acontecimentos?

ção de outras guerras contra adversários da seu novo relacionamento com Deus. Mesmo
região e leis de justiça e adoração que deve­ depois de Israel ter experimentado o êxodo e
riam ser implantadas em Canaã. o milagre de água e pão no deserto, eles se
rebelaram contra aquele que os salvou.
Paulo usou o fracasso dos israelitas relatado
0 uso do livro de no livro de Números para advertir os coríntios.
Os israelitas caíram em imoralidade sexual no
Números no Novo deserto (v. 8; Nm 25.1-9), rejeição rebelde de
autoridade (v. 9; Nm 21.5) e murmuração (v.
Testamento 10; Nm 14.2). O resultado foi um período de
quarenta anos vagando no deserto e depois a
1 Coríntios 10 morte. Os cristãos de Corinto corriam o risco
Paulo deixou claro que os pecados dos co­ de falhar nas mesmas situações. Paulo afirmou
ríntios não eram novidade (vs. 1-13). Como que o livro de Números tinha sido escrito como
novos cristãos, os coríntios deveriam cuidar advertência para eles e para nós (vs. 6,11). Ele
para que não voltassem aos antigos caminhos concluiu: “Aquele, pois, que pensa estar em pé
que os haviam escravizado. Paulo lembrou veja que não caia” (v. 12).
seus leitores de que os israelitas tambcm ti­
nham começado uma nova vida de liberdade Hebreus
na graça de Deus. Ele usou os acontecimen­ O autor da carta aos Hebreus refere-se ao
tos de Exodo e Números para ilustrar que o relato dos espias e da recusa do povo em en­
povo de Deus pode, algumas vezes, falhar em trar na terra prometida como sendo adver-
138
Números

Leituras complementares

Ashley, Timothy R, The Book o f Numbers. New Interna­ Maarsingh, B. Numbers: A Practical Commentary. Trad.
tional Commentary on the Old Testament, Grand John Vriend. Grand Rapids: Eerdmans, 1987.
Rapids: Eerdmans, 1993. Exposição e bibliografias. Wenham, Gordon J. Numbers: An Introduction and
Budd, Philip J. Numbers. Word Biblical Commentary 5. Commentary. Tyndale Old Testament Commentary.
Waco, Tex.: Word, 1984. Downers Grove/Leicester: InterVarsity, 1981. Co­
Harrison, R. K. Numbers: An Exegetical Commentary. mentário mais informativo e de mais fácil leitura dis­
Grand Rapids: Baker, 1992 (1990). ponível.

tências aos leitores cristãos (3.7-4.13). Essa Novas tinham chegado até os cristãos da mes­
carta adverte os cristãos hebreus para terem ma forma como havia ocorrido com os israe­
cuidado para que “jamais aconteça haver em litas (4-2) e, para nós, resta o “repouso do
qualquer de vós perverso coração de incre­ sábado” (4.9). Usando o fracasso dos israeli­
dulidade que vos afaste cio Deus vivo” como tas como advertência, o autor encoraja seus
os antigos israelitas (3.12). Sua desobediência leitores: “Esforcemo-nos, pois, por entrar na­
e incredulidade impediram que os israelitas quele descanso, a fim de que ninguém caia,
já cansados do deserto gozassem o descanso e segundo o mesmo exemplo de desobediên­
a paz na terra prometida. Mas agora as Boas cia” (4.11).

139
Deuteronômio
9 A restauração da aliança

Esboço
• Conteúdo do livro
de Deuteronômio
Estrutura literária
Esboço
Visão geral
• Paralelos do mundo antigo Objetivos
Paralelos com os hititas Depois de ler este capítulo,
Estrutura de tratado em Deuteronômio você deve ser capaz de:
• A importância de Deuteronômio • Explicar a estrutura quiásmica dos discursos
para o pensamento bíblico de Moisés.
Papel de Deuteronômio no Pentateuco • Delinear o conteúdo básico do livro de
Deuteronômio.
Deuteronômio e os Livros Históricos
• Identificar os principais temas de cada um
dos três discursos de Moisés.
• Explicar o propósito do discurso de Moisés
sobre a lei.
• Demonstrar de que forma as leis discutidas
nos capítulos 12-26 são baseadas nos Dez
Mandamentos.
• Relacionar as razões pelas quais Deutero­
nômio é, primariamente, um documento
da aliança.
• Comparar as similaridades estruturais entre
Deuteronômio e os tratados de suserania
do antigo Oriente Próximo.
• Avaliar o lugar de Deuteronômio entre os
nove primeiros livros do Antigo Testamento.

141
Descobrindo o Pentateuco

As coisas não aconteceram exatamente ginta ( Deuteronomion, “segunda lei”) não co­
Septuaginta
como o planejado para Israel. Apesar de Deus munica de forma clara essa importante idéia,
ter libertado o povo do Egito de maneira ma- pois o livro é mais que uma simples reafirma­
ravilhosa e de ter miraculosamente suprido ção da lei.1
suas necessidades no deserto, Israel falhou por
não obedecer a Deus. Eles recusaram-se a en­
trar na terra prometida e rebelaram-se contra
a liderança de Deus. Como resultado, em vez Conteúdo do livro de
de alguns meses, a viagem do Egito até Ca- Deuteronômio
naã levou quase quarenta anos. Agora, uma
geração depois, o povo estava finalmente nas Deuteronômio continua a mostrar os israe­
planícies de Moabe pronto para cruzar o rio litas a partir de onde termina a narrativa de
Jordão e apropriar-se das promessas de Deus. Números, “nas campinas de Moabe, junto ao
Mas não foi permitido a Moiscs entrar na Jordão, na altura dc Jcricó” (Nm 36.13). A
terra com o povo. Ele agiu com raiva em ocasião em que Deuteronômio foi escrito foi
Meribá (Nm 20) e teve que passar a lideran­ a importante renovação da aliança em Moabe,
ça para uma outra pessoa. Além do mais, pouco antes do momento em que o povo de
essa geração precisava apropriar-se da alian­ Deus estava para entrar na terra da promessa
ça e de suas promessas por si mesma. Era hora patriarcal. Em vez de relatar os detalhes da
0 fértil oásis de da aliança do Sinai tornar-se também a alian­ cerimônia da aliança em si, o livro apresenta
Jericó localiza-se ça de Moabe (Dt 29.1). O livro de Deutero­ os discursos de despedida de Moisés naquela
do lado oposto
do Rio Jordão às
nômio relata o restabelecimento da aliança ocasião. O livro contém três longos discursos
planícies de com Israel, incluindo as leis da aliança. O de Moisés que têm por finalidade exortar os
Moabe. nome “Deuteronômio”, do título da Septua­ israelitas a manter fielmente a aliança. Esses
discursos fazem um levantamento dos atos
salvíficos de Deus durante a geração anterior
e resumem as leis da aliança a fim de preparar
a nova geração de israelitas para o futuro.

Estrutura literária
O primeiro discurso de Moisés (1.1-4-43)
relata os atos poderosos de Deus em favor de
Israel desde o tempo da aliança no Sinai até
aquela cerimônia de renovação em Moabe.
Moisés queria ensinar sobre a natureza de
Deus como salvador e protetor para motivar
os israelitas a manterem a aliança (4.35-40).
O segundo discurso (4-44—26.19) reafirma as
leis da aliança que foram inicialmente apre­
sentadas em Exodo 20—23. Os Dez Manda­
mentos precisavam ser aplicados especifica­
mente à nova vida do povo na terra prometi­
da em vez da vida no deserto. O terceiro dis­
curso (27.1—31,30) é o discurso final de Moi­
sés para a nação. Ele começa mencionando
os castigos e bênçãos dependendo da obediên­
cia à aliança, pede à nação que seja fiel no
futuro e formalmente comissiona Josué para
ser seu sucessor. O livro se encerra com três
apêndices: o “Cântico de Moisés” (capítulo 32),
a “Bênção de Moisés” (capítulo 33) e a morte e
o sepultamento de Moisés (capítulo 34) -
Estudos recentes também detectaram um
padrão de cinco partes concêntricas conheci-
142
Deuteronômio

r r ~ — ' do como quiasmo. Assim, os discursos de Moi- E. A liderança e a lei (31.1 -30)
Q uiasm o , i - i
ses podem ser descritos da seguinte maneira:
V. Apêndices (32.1-34.12)
A A ESTR U TU R A EXTERNA: A. O cântico de Moisés (32.1-47)
Uma retrospectiva B. O testamento de Moisés (32.48-
(capítulos 1-3) 33.29)
B A E ST R U T U R A IN T E R N A : C. A morte de Moisés (34.1-12)
Sumário da aliança
Visão geral
(capítulos 4-11)
C O N Ú C LEO C E N T R A L O livro começa com uma introdução de
Estipulações da aliança cinco versículos que estabelece a base teoló­
(capítulos 12-26) gica e geográfica para o resto do livro. “São
B ’ A E S T R U T U R A IN T E R N A : estas as palavras que Moisés falou a todo o
A cerimônia da aliança Israel” nas planícies de Moabe, quarenta anos
(capítulos 27-30) depois do êxodo (v. 1). O versículo 2 sutil-
A A ESTR U TU R A EXTERNA: mente lembra o leitor das conseqüências do
Uma visão do futuro pecado e rebelião ao declarar que a viagem
(capítulos 31-34) do Monte Sinai até Cades-Barnéia era uma
jornada de apenas onze dias. Mas Moisés co­
As duas partes da estrutura externa po- meça seus discursos finais quarenta anos de­
dem ser lidas juntas como um todo contínuo, pois do êxodo (v. 3). A introdução encerra-
da mesma forma também podem ser lidas as se com a afirmação de que naquela ocasião
duas partes da estrutura interna. Esse tipo de “encarregou-se Moisés de explicar esta lei”
organização enfatiza o centro, que em Dem (v. 5). Deuteronômio é mais que uma reafir­
teronômio é o conjunto de instruções legais mação da aliança e das leis de Exodo e N ú­
para a antiga Israel.2 meros, apesar de muitas dessas leis encon­
trarem aqui uma nova expressão. Deutero­
Esboço nômio é, na verdade, uma exposição da alian­
ça nesse novo cenário. O parágrafo também
L Prólogo (1.1-5) enfatiza o discurso de Moisés (“Moisés fa­
lou”, vs. 1 e 3). Uma das principais afirma­
II. A fidelidade do Grande Rei (1.6—
ções de Deuteronômio é de que Moisés fa­
4.43)
lou aquilo que lavé lhe “mandara” (v. 3). O
A. Do Sinai até Cades-Barnéia
próximo parágrafo começa com a declara­
(1.6- 2. 1)
ção enfática de que lavé, nosso Deus “fa­
B. De Edom para as planícies de
lou” (a mesma palavra usada para o discurso
Moabe (2.2-3.29)
de Moisés nos vs. 1 e 3, dibber) aos israelitas
C. Exortação à obediência (4.1-40)
por meio de Moisés. Que não haja enganos
D. Cidades de refúgio (4.41-43)
quanto a esse ponto: Deuteronômio afirma
III. O modo de vida da aliança (4 44- ser palavra do próprio Deus.
26.19) O primeiro discurso: a fidelidade do
A. Introdução (4-44-49)
Grande Rei (1.6-4.43)
B. O grande mandamento (5.1-
11.32) O primeiro discurso apresenta uma teolo­
C. Estipulações auxiliares (12.1— gia da História. Ao recapitular o passado re­
26.19) cente, Moisés buscava preparar a nação para
obedecer a Deus no futuro. Deus comecou o
IV. Sanções da aliança (27.1-31.30) com a ordem para que o povo deixasse o
A. Cerimônia de promulgação Monte Sinai e entrasse em Canaã, que era a
(27.1-26) terra que ele havia prometido a Israel como
B. Bênçãos e castigos (28.1-68) cumprimento de suas promessas aos patriar­
C. O juramento da aliança cas (1.6-8). Assim, a aliança já promulgada
(29.1-30.14) no Sinai era um cumprimento parcial da pro­
D. O chamado para uma decisão messa de Deus aos patriarcas. Tendo em vis-
(30.15-20) ta que a promessa era eterna como o próprio
143
Descobrindo o Pentateuco

caráter de Deus, essa renovação da aliança relembram os israelitas de seus sucessos no


em Moabe e a subseqüente conquista da terra deserto. Eles haviam obedecido à ordem de
prometida estavam dentro da vontade de D eus ao evitarem um confronto com os
Deus. Tal certeza deveria servir de base para edomitas, moabitas e amonitas. Apesar de
a obediência. Deus ter prometido proteger os israelitas en­
Essa recapitulação do passado recente de quanto eles rodeavam essas nações, ele os
Israel ilustra os benefícios de se manter a alian­ advertiu para que não tentassem conquistar
ça bem como os perigos da desobediência. Co­ os territórios deles (2.5,9,19). Israel também
meçando pela ordem para deixar o Monte teve sucesso contra os reis amoritas, Seom,
Sinai (1.6,7), Moisés repassou tanto as vitórias Hersbom e Ogue de Basã (2.24-3.17). Deus
quanto os fracassos de Israel ao longo do ca­ assegurou a Moisés e aos israelitas que ele
minho. Ele falou da grande rebelião em Cades- havia entregue esses reis e suas terras para
Barnéia e de suas conseqüências no capítulo que fossem derrotados e ordenou que o povo
1.26-46. Mas então os capítulos 2.1-3.22 travasse batalha com Seom e Ogue (2.24,31:
1 44
Deuteronômio

3.2) Ao agir sob o comando de Deus e obede­ mas mesmo um indivíduo como Moisés po­
m onoteísmo
cer estritamente suas instruções, Israel apren­ dia cair em desobediência.
deu que a vitória é dada por Deus: “E o Se­ Tais ilustrações de obediência e desobe­
Shema nhor, nosso Deus, no-lo entregou, e o derrota­ diência preparam o leitor para o capítulo 4.
mos” (2.33, ver 3.3). Nesse capítulo Moisés deixa de relembrar o
Depois de sobreviver a tantas vitórias, passado e exorta a nação sobre o presente e o
Moisés lembra Israel que as bênçãos de Deus futuro. Ele repetidamente adverte sobre “es­
estão freqüentemente ligadas de forma di­ quecer” a aliança (vs. 9, 23). Moisés sabe
reta à submissão à sua vontade. Deuteronô­ que quando se trata de manter o compro­
mio 3.23-29 explica que ate mesmo Moisés metimento com a aliança, o povo de Deus
teve que sofrer as conseqüências de suas tem memória curta.
Um artista ações pecaminosas. Ele não teria permissão
magina um para entrar na terra prometida por causa de Segundo discurso: o modo de vida
sumo sacerdote seu pecado em Meribá (Nm 20). Essa passa­ da aliança (4.44-26.19)
sraelita. Arão, o
gem oferece um contraste por estar localiza­ O sermão de Moisés sobre a aliança no ca­
"mão de
Moisés, foi o da imediatamente após a descrição dos su­ pítulo 4 é uma preparação adequada para seu
primeiro sumo cessos de Israel. A nação alcançava o suces­ segundo discurso. Aqui, Moisés recapitula as
sacerdote. so quando se submetia à vontade de Deus, estipulações da aliança e as estabelece como
norma para um modo de vida para os israeli­
tas depois de entrar na terra prometida. Essa
unidade é introduzida como: “a lei que Moi­
sés propôs aos filhos de Israel” (4.44). Depois
de uma introdução editorial no capítulo 4.44-
49, Moisés começa seu discurso explicando
que estes são os “decretos e leis” da aliança do
Sinai agora aplicados à sua futura vida em
Canaã (5.1-3).
Deuteronômio 5-26 tem duas seções. Os
capítulos 5—11 compreendem uma declara­
ção geral sobre a lei da aliança. Este é seguido
pela aplicação específica dessa lei à futura
sociedade e cultura israelita (capítulos 12-26).
A seção geral começa repetindo os Dez Man­
damentos como um conveniente sumário dos
princípios do viver da aliança. Moisés enfatiza
que esses princípios de vida da aliança não
eram apenas para os seus ancestrais no Monte
Sinai. Essa nova geração de israelitas devia
aceitar as leis como sendo suas próprias (5.2,3).
Conforme vimos nos capítulos de Exodo e
Levítico, a lei significa instrução para um vi­
ver de retidão. Na apresentação geral dessa
instrução, Moisés deu a expressão mais impor­
tante do conceito israelita de monoteísmo:
“Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único
Senhor” (6.4). Esse versículo famoso é conhe­
cido como Shema, que é a primeira palavra
em hebraico da frase (sè m a , “ouve”). A for­
ma singular como Moisés declara essa grande
verdade é mais que uma simples expressão
filosófica da idéia de que o Deus israelita, Iavé,
é o único Deus existente. Esse é o seu signifi­
cado. Mas também é enfatizada a constância
de Deus.3 Ele nunca muda; não há duplici-

145
Descobrindo o Pentateuco

dade em seu caráter. Nos dias de hoje, ele les que estivessem vivendo na terra prometi­
politeísmo
atua da mesma forma como fazia no passado. da deveriam demonstrar obediência em to­
Esse era um conceito novo para o antigo das as áreas da vida. A fidelidade à aliança
Decálogo Oriente Próximo, pois diferentes reações por não é apenas uma observância religiosa abs­
parte da divindade implicariam diferentes trata, mas sim uma vivência diária.
divindades e, portanto, politeísmo. Mas Iavé Essa unidade contém uma desorientadora
é sempre o mesmo, ele nunca muda ou deixa série de leis. Estudiosos tendem a ver a dis­
dúvidas sobre sua natureza. A declaração de posição dos capítulos 12—26 como totalmen­
monoteísmo de Moisés não responde só a per­ te desordenada e irremediavelmente impos­
gunta “quantos deuses há?”. Ela responde a sível de ser analisada de forma sistemática.
questão “Que tipo de Deus é o nosso Iavé?”. Mas estudos literários recentes discerniram
Ela afirma que ele é constante quanto a si um padrão no qual as leis dessas unidades
mesmo e quanto ao seu relacionamento com são baseadas nos Dez Mandamentos no ca­
a humanidade. Ele é o mesmo para essa nova pítulo 5. STEPHEN A. KAUFMAN descreveu
geração nas planícies de Moabe que havia essa unidade como sendo um “DECÁLOGO
sido para os seus ancestrais no Sinai e como ampliado”.6 As leis dos capítulos 12-26 estão
ele é para qualquer geração de crentes. Por ordenadas em quatro questões principais que
causa disso, a declaração de Moisés sobre a são tratadas pelo Decálogo — os Dez Man­
unicidade de Deus flui para a síntese das leis damentos.
de Deus: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, Essa observação parece ter resolvido o pro­
de todo o teu coração, de toda a tua alma e blema estrutural das leis nos capítulos 12-26 e
de toda tua força” (Dt 6.5; Mt 22.35-37). Deus também do segundo discurso de um modo
pode e deve ser amado de todo o coração por geral nos capítulos 5—26.7
causa do seu caráter.
O propósito desse discurso sobre a lei não é
0 terceiro discurso: sanções da
primeiramente de informar os israelitas, mas aliança (27.1-31.30)
sim de formar sua espiritualidade. Os capítu­ O discurso final de Moisés é, na verdade,
los 5-11 têm por finalidade motivar a nação a uma combinação de discursos relacionados à
manter a aliança e obedecer as leis da aliança aliança e à transferência da liderança de
com Deus. Conceitos importantes relaciona­ Moisés para Josué. Os capítulos 27 e 28 pode­
dos à continuidade da aliança são “amor” e riam muito bem ser considerados a conclusão
“temor”, e Moisés usa essas duas palavras re­ do segundo discurso, deixando os capítulos
petidamente nos capítulos 6-11 Ç ãh ab e 29 e 30 como o discurso final de Moisés.8
y ã r è \ respectivamente).4 Nessa unidade, No capítulo 27, Moisés dá instruções para
Moisés pede aos israelitas que amem e temam a cerimônia de renovação da aliança a ser
a Deus. Essas duas idéias não são incompatí­ realizada depois que os israelitas tivessem to­
veis. N a verdade, uma complementa a outra. mado posse da terra prometida. N a antiga ci­
O amor sem temor torna-se um sentimenta- dade de Siquém, no coração da terra prome­
lismo meloso e não resulta em obediência, que tida, eles deveriam construir um altar e er­
é o objetivo final dos capítulos 5-26.5 Da mes­ guer uma pedra memorial para aquela oca­
ma forma, temor sem amor transforma-se em sião. A cidade ficava entre o MONTE EBAL
terror e afasta a pessoa de um relacionamento (v. 4) e o MONTE GERIZIM ( v . 12 ) . Moisés os
íntimo com Deus. Juntos, amor e temor pro­ instruiu para dividir as tribos, metade em uma
duzem um relacionamento sadio com ele e montanha e metade na outra. Nesse cenário
resultam em obediência à sua vontade. Nos dramático e impressionante, os israelitas de­
capítulos 5-11, os mandamentos, estatutos e veriam comprometer-se novamente com a
ordenanças de Deus estão envolvidos nos con­ aliança de Deus. Os levitas deveriam entoar
ceitos de amor e temor por ele. a advertência sobre a quebra da aliança e o
Os capítulos 12-26 apresentam aplicações povo deveria responder por meio de antifonia.
específicas das obrigações da aliança, dando Em uma das cenas mais comoventes da histó­
atenção especial à maneira como a lei aplica- ria de Israel, a cerimônia de renovação da
se à nova realidade em Canaã. As leis relaci­ aliança é realizada sob a liderança de Josué
onadas ao ritual de adoração (como aquelas Os 8.30-35).
em Levítico) estão mescladas com as leis que O capítulo 28 faz para os israelitas uma lis­
dizem respeito a questões civis e sociais. Aque- ta das bênçãos e castigos da aliança. Em uma
146
Deuteronômio

teologia
deuteroncv As leis dos capítulos 12-267
m ica

A ssu n to principal Em relação a Deus Em relação aos ho m ens

| Autoridade Mandamento 1 Mandamento 5


capítulo 12 16.18-18.22 |

Dignidade Mandamento 2 Mandamentos 6, 7, 8


capítulo 12 19.1-24.7

| Comprometimento Mandamento 3 Mandamento 9


13.1-14.21 24.8-16

Direitos e privilégios Mandamento 4 Mandamento 10


14.22-16.17 24.17-26.15 |
|

doutrina simples de retribuição (freqüente - naquele instante como seria o seu comporta­
mente chamada de teologia deuteronômi- mento futuro. A Bíblia adverte que não po­
ca), Moisés explica que a fidelidade à aliança demos nos dar ao luxo de esperar até o mo­
resultará em bênçãos no futuro enquanto a mento da tentação para decidir qual será nossa
desobediência resultará em castigos. Confor- resposta.
me veremos mais tarde, essa é a teologia bási­ Na parte final dos discursos, Moisés toma
ca por trás dos Livros Históricos. as providências necessárias para o futuro do
Apesar da doutrina de retribuição de Deu­ povo (capítulo 31). Ele começa passando o
teronômio certamente ser verdadeira, ela não poder para o seu sucessor escolhido: “Josué
é tudo, pois lida com o futuro próximo. Israel passará adiante de ti, como o Senhor tem dito”
só teria sucesso na terra prometida se fosse fiel (v. 3). Mais tarde, ele aparece com Josué no
à aliança. Por outro lado, se desobedecesse a tabernáculo para que a nação possa testemu­
Deus, iria perder a terra. O resto da revelação nhar a transferência de poder (vs. 14-23). O
bíblica amplia o escopo ao ensinar que é o povo todo pôde ver que era o Senhor quem
caráter de cada um que, no final, determina havia comissionado Josué e não apenas Moi­
seu destino eterno. As circunstâncias dessa sés (v. 23).
vida podem ter pouca relação com o caráter O capítulo 31 também garante o futuro da
de uma pessoa. Alguém que tenha nascido palavra escrita. Moisés escreveu “esta lei” (su­
cego não pode ser acusado de ter essa defici­ postamente os discursos de Deuteronômio) e
ência por causa de pecado (Jo 9.1-3); pessoas deu ao povo instruções para lê-las publicamen­
que morrem tragicamente em acidentes não te a cada sete anos (vs. 9-13). Ele deixou uma
se encontraram com a morte por causa de cópia das leis escritas com os levitas que deve­
pecado (Lc 13.4,5). riam mantê-las na arca da aliança (vs. 24-29).
N a parte seguinte do discurso de Moisés
ao povo (29.1-30.14), ele recapitula as vitóri­ Apêndices (32.1-34.12)
as recentes de Israel sobre nações inimigas e Em obediência à ordem de Deus para que
prediz sua futura desobediência, exílio e re­ resumisse a aliança em forma de cântico
torno à terra prometida. Moisés os desafia a (31.19), Moisés compôs uma longa poesia
tomar uma decisão consciente quanto a ser contando a história de Israel (32.1-47). O
fiel ao seu comprometimento com Deus cântico tem o formato de um documento
(30.15-20). Ele coloca diante deles bênçãos e legal e fala do passado recente do povo, olha
castigos, uma escolha entre a vida e a morte. adiante para futuras rebeliões e exílio, e pre­
Moisés conclama os israelitas a tomarem uma diz o perdão e a restauração de Deus. A in­
decisão bastante antecipada, a decidirem tenção do cântico era motivar a nação a
147
Descobrindo o Pentateuco

manter a aliança com Deus. Os conceitos Um poeta do século 19 captou o espírito


expressados no Cântico de Moisés e até mes­ desse capítulo que reverencia Moisés.
mo as frases usadas para expressá-los tiveram
um impacto duradouro sobre a nação. Tanto Perto da solitáriã montanha de Nebo,
que Deuteronômio 32 é chamado de “livro Do lado de cá do Jordão,
de consulta” dos profetas dos séculos 6Qe 1- Em um vale na terra de Moabe,
do Antigo Testamento.9 Dessa forma, o Cân­ Há um túmulo solitário.
tico de Moisés serviu como “Bíblia” para os Mas não foi homem algum que cavou o
profetas que pregaram sobre a quebra da sepulcro,
aliança com Deus em Israel. E nenhum homem jamais o viu,
A hora da morte de Moisés havia chegado. Pois foram os anjos de Deus que reviraram
Depois de ser instruído a ir para o MONTE o solo,
NEBO onde ele veria a terra prometida de lon­ E ali enterraram aquele que morreu.
ge (32.48-52), Moisés pronunciou uma bênção O túmulo solitário na terra de Moabe,
paternal sobre cada uma das tribos (33.1-29). O escuro monte de Bete-Peor,
Em vez de advertências ou mesmo exortações Fale a este nosso coração tão curioso,
finais, essa bênção declarava o futuro que Deus Ensinado a aquietar-se.
tinha para Israel. Isso coloca a aliança e a lei Deus tem seus mistérios da graça -
mosaica completamente debaixo da soberania Modos que não podemos compreender;
de Deus. Moisés havia enfatizado as obriga­ Eles os oculta profundamente, como um
ções de Israel ligadas à aliança. Mas sua bên­ sonho secreto
ção de despedida assegura a nação do compro­ Daquele que tanto ele amou.10
misso de Deus com eles.
O capítulo final do Pentateuco descreve
de forma carinhosa a morte de seu estimado
líder (34.1' 12). O Senhor identifica a terra de Paralelos do
Canaã como sendo a terra que ele havia jura­
do dar aos patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó
mundo antigo
(34.4). Essa nova terra natal é o cumprimento Como já dissemos, Deuteronômio contém
da promessa da aliança feita há muito tem­ os discursos de despedida de Moisés. Esses
po. Como representante de Israel, Moisés sim­ discursos foram intencionalmente organiza­
bolicamente tomou posse da terra ao vê-la dos em um formato de documento que asse­
do Monte Nebo. Mas por causa de seu peca­ melha-se a certos tipos de tratados, comuns
do em Meribá (Nm 20), não lhe foi permiti­ no antigo Oriente Próximo. Essa disposição
do entrar fisicamente na terra prometida. faz de Deuteronômio, antes de mais nada,
Talvez sua tragédia pessoal tivesse por objeti­ um documento da aliança. Seu objetivo é
vo alertar os líderes/servos escolhidos por restabelecer a aliança do Sinai com a nova
Deus de que toda a forma de gratificação geração de israelitas cujos pais haviam que­
pessoal vai contra os propósitos de Deus. A brado a antiga aliança. Em Deuteronômio, a
promessa não cumprida de Moisés deve nos aliança do Sinai estava sendo atualizada nas
encorajar a estarmos contentes em cumprir planícies de Moabe. Enquanto os israelitas
nosso papel dentro do plano de Deus. Segui- estavam em Moabe, com a terra prometida
lo com intimidade e liderar o seu rebanho por Deus na aliança do outro lado do Rio
fielmente não é garantia de herança das pro­ Jordão, estavam deixando para trás a vida
messas nessa vida. no deserto.
Moisés foi um profeta incomparável na Uma aliança significa um modo de esta­
história de Israel (v. 10). Do ponto de vista belecer um relacionamento de união que, de
histórico e da experiência do autor que acres­ outra forma, não existiria naturalmente. Con­
centou essa observação, desde então Deus forme vimos no livro de Gênesis, na aliança
não havia mandado um profeta que pudesse patriarcal, Deus comprometeu-se para sem­
ser igualado a Moisés em estatura. Mas Moi­ pre com Abraão e sua família (capítulos 12,
sés profetizou sobre alguém que ainda esta­ 15, 17). Em Exodo, Moisés e os israelitas en­
va por vir, o Messias que falaria por Deus de traram em aliança sagrada com o Senhor, um
uma forma que nem Moisés havia feito compromisso cujas obrigações requeriam mu­
(18.15-19). dança de vida (24.3-8). Deuteronômio rea-
148
Deuteronômio

0*v Trechos de tratados hititas de suserania

1) Preâmbulo ela deve ser lida na presença do rei e dos filhos


Estas são as palavras de Mursilis, o grande rei, rei do país.
dos hititas, o valente.
5) Lista de deuses e testemunhas
2) Prólogo histórico O deus-Sol dos Céus, a deusa-Sol, Arinna, Ishtar,
Quando seu pai faleceu, eu não vos abandonei. os deuses e deusas dos hititas, os deuses e deu­
Tendo em vista que vosso pai mencionou o vosso sas dos amoritas, todos os deuses antigos, as
nome para mim com tanto louvor, eu vos procu­ montanhas, os rios, os céus e a terra, os ventos e
rei. Estavas doente, moribundo. Ainda assim as nuvens — que todos sejam testemunha desse
permiti que vós substituísseis vosso pai e aceitei tratado e da promessa.
vossos irmãos, irmãs e terra como promessa.
6) Castigos e bênçãos
3) Estipulações Se Duppi-Tessub falhar em honrar esse tratado,
Vós para sempre permanecereis leais a mim, o rei que os deuses da promessa destruam Duppi-
hitita, à terra hitita e aos meus filhos e netos! O Tessub com sua esposa, seu filho, seu neto, sua
tributo imposto sobre vosso avô e vosso pai (330 casa, sua terra e tudo o que ele possui. Mas se
shekels de outro da melhor qualidade) vós tam­ Duppi-Tessub honrar o tratado inscrito nessa
bém devereis pagar a mim! Não volteis vossos placa, que esses deuses o protejam com sua
olhos para mais ninguém! Vossos pais pagaram esposa, seu filho, seu neto, sua casa e todo o
tributos para o Egito, mas vós jamais devereis seu país.
fazer tal coisa!
Extraído e adaptado de dois tratados:
t) M ursilis e Duppi-Tessub (ANET, 203-205) e
4) Depósito no tempo e leitura periódica 2) Suppiluliumas e Mattiwaza (talvez escrito Sattíwaza ou
Kurtiw aza, ANET, 205-206)
Uma cópia desse documento foi depositada
perante o deus Tessub. Em intervalos reguiares

firma aquela aliança nacional com a nova rança de Josué (Js 24) também têm essa es­
suserania
geração de israelitas nas planícies de Moabe. trutura literária.
No meio dos anos cinqüenta, as origens
políticas e sociais da aliança do Sinai foram Paralelos com os hititas
descobertas em tratados do antigo Oriente Essa estrutura de tratado foi usada por di­
Próximo. Apesar de alguns estudiosos de hoje ferentes nações durante muitos séculos da
discordarem, o consenso é de que Deutero­ história do antigo Oriente Próximo. Mas para
nômio compartilha da mesma organização nossos propósitos, os melhores exemplos po­
estrutural que os tratados internacionais fei­ dem ser encontrados em documentos hititas
tos entre duas nações. Os tratados de suse­ da metade do segundo milênio (séculos 14 e
rania eram alianças políticas entre parceiros 13 a.C.). Essas alianças hititas de suserania
desiguais. O suserano (ou senhor) concor­ quase sempre seguiam seis elementos, ape­
dava em entrar em um relacionamento de sar de haver consideráveis variações na se­
união com seu vassalo (nação-súdita). Em qüência e nas palavras usadas nesses ele­
tal acordo, o rei suserano oferecia proteção mentos.11
para o vassalo, mas a nação-súdita precisava 1. Preâmbulo — Essa introdução normal­
pagar seus tributos fielmente e ser leal so­ mente identificava o rei-suserano, dando os
mente ao suserano. Muitos estudiosos acre­ seus títulos e atributos.
ditam que a aliança do Sinai (Ex 20-24) e a 2. O prólogo histórico — A segunda intro­
renovação da aliança em Siquém, sob a lide­ dução descrevia as relações históricas entre

149
Descobrindo o Pentateuco

as duas partes que haviam levado a esse acor­ Estrutura do tratado em


do. Normalmente enumerava em detalhes os Deuteronôm io
atos benevolentes do suserano em favor do A idéia de aliança é importante ao longo
vassalo. Essa seção tinha por finalidade fazer de todo o Pentateuco. São inegáveis os para­
com que o vassalo se sentisse obrigado ao lelos existentes entre tratados do antigo Orien­
suserano pelos favores já recebidos. O suserano te Próximo e certas passagens sobre a aliança
esperava trocar benefícios passados por obe­ no Antigo Testamento.12 Mas Deuteronômio
diência a seus comandos no futuro, e isto tam­ é singular no sentido de que temos uma por­
bém era detalhado no documento. Essa seção ção extensa das Escrituras estruturadas lite­
usava a forma “Eu — Vós” de tratamento. O ralmente de acordo com as alianças da anti­
suserano, como autor do documento, dirigia- güidade. Os tratados hititas de suserania do
se diretamente ao vassalo. segundo milênio a.C. são os exemplos mais
3. As estipulações — Essa seção traçava os próximos dessa estrutura.
termos do acordo, explicando quais eram as
obrigações impostas sobre o vassalo e aceitas 1. Preâmbulo: 1.1-5
por ele. Normalmente incluía a proibição de 2. O prólogo histórico: 1.6-3.29
que o vassalo tivesse relações com qualquer 3. As estipulações: 4-26
outra nação estrangeira fora do Império Hitita. 4. Depósito em um templo e leitura perió­
Entre várias outras estipulações, era costumeiro dica: 31.9-13; 24-26
que o tratado requisesse uma visita anual ao 5. A lista de testemunhas: 30.19; 31.19-22
suserano, provavelmente por ocasião do pa­ 6. Bênçãos e castigos: 28
gamento do tributo e um juramento de leal­ A estrutura de Deuteronômio parece ter
dade ao suserano. sido emprestada de um tratado da antigüida­
4. Depósito em um templo e leitura perió­ de. Mas a comparação do relacionamento
dica — As obrigações do tratado aplicavam- entre Deus e os israelitas com o relaciona­
se a toda a nação-vassala e não apenas ao rei. mento entre o rei hitita e as nações-súditas é
Leituras públicas regulares garantiam que a limitada. O paralelo entre Deuteronômio e os
população-vassala estivesse sempre familiari­ tratados hititas diz respeito à forma e estrutu­
zada com os requisitos. Além disso, pelo fato ra e não ao conteúdo.
do tratado ser protegido por uma divindade, Não é difícil ver por que Israel podia com­
ele devia ser depositado como objeto sagrado parar com tanta facilidade seu novo relacio­
no santuário de um templo do país-vassalo. namento com Deus com os tratados do anti­
Esse gesto criava a impressão de que qual­ go Oriente Próximo. O suserano exige devo­
quer quebra do tratado seria uma ofensa à ção exclusiva. O vassalo não pode formar o
divindade local. mesmo tipo de relacionamento com qualquer
5. Lista de deuses e testemunhas — Os outro rei ou nação. O monoteísmo mosaico
autores dos tratados internacionais viam os precisava expressar a natureza singular de seu
deuses como testemunhas do tratado, assim relacionamento com Iavé. Não podia haver
como as testemunhas de um contrato legal. outros deuses envolvidos. Mas o rei suserano
Os deuses dos hititas e aqueles do país-vassalo também tinha obrigações. Era um compromisso
eram convocados como testemunhas. Por ve­ mútuo entre ambas as partes. Assim, Iavé tam­
zes, montanhas, rios, fontes, mar, céu e terra, bém estava se comprometendo com Israel. A
considerados sagrados, também eram listados aliança de amor de Iavé (h e se d ) é um con­
nessa seção (Dt 32.1; Is 1.2). ceito importante ao longo do resto do Antigo
6. Fórmula das bênçãos e castigos — Por Testamento.
fim, o tratado fazia uma lista das bênçãos para O paralelo entre Deuteronômio e os trata­
aqueles que fossem fiéis ao acordo e castigos dos hititas do segundo milênio ajuda a soluci­
para aqueles que não fossem. O rei hitita po­ onar o problema de quando Deuteronômio
dia sempre usar sua força militar como amea­ foi escrito (ver discussão no capítulo 3). Por
ça para qualquer vassalo que quebrasse o tra­ mais útil que seja essa observação, ela só de­
tado. Mas o documento escrito listava os cas­ monstra que Deuteronômio se encaixa per­
tigos e as bênçãos como se fossem atos dos feitamente no segundo milênio e deve ter sido
deuses. As sanções do tratado eram de cará­ escrito nessa época. Esse paralelo torna possí­
ter religioso e o poderio militar hitita era um vel datar Deuteronômio na mesma época de
mero agente da vontade divina. Moisés, mas não prova a autoria mosaica, ten­

150
Deuteronômio

Um artista
imagina a tenda
de uma família
nos tempos do
Antigo
Testamento.
Durante os anos
em que
vagaram pelo
deserto, os
israelitas viveram
como nômades.

do em vista que tratados com essa estrutura teronômio também está voltado para a frente.
também eram usados durante o primeiro mi- Ele prepara os israelitas para sua futura vida
lênio. Ele demonstra, entretanto, a unidade com Deus na terra prometida e estabelece os
essencial do livro. Todo o livro de Deuteronô- alicerces teológicos para os Livros Históricos.
mio (com a possível exceção dos capítulos 33 Deuteronômio é um livro essencial para o
e 34) é parte dessa estrutura de tratado. Cânon do Antigo Testamento. Os nove pri­
meiros livros da Bíblia (Gênesis a 2 Reis) po­
mmmmmmmmmmssmmmsmmsBÊÊÊmÊÊÊKÊBmmmmimmÊmm dem ser cbamados de História Primária.13 Deu­
A importância de teronômio está literalmente no centro dessa
história, servindo como uma “dobradiça” teo­
Deuteronômio para o lógica sobre a qual todo o resto gira.
pensamento bíblico
Papel de D euteronôm io
O livro de Deuteronômio é importante por no Pentateuco
causa, da maneira com que ele conecta aqui­
lo que o precede com o que vem depois dele. Deuteronômio é a expressão culminante da
Do ponto de vista histórico, a aliança nas pla­ aliança mosaica. Como nos livros anteriores do
nícies de Moabe uniu a aliança do Sinai com Pentateuco, Deuteronômio está extremamen­
a vida na terra santa. Da mesma forma, Deu­ te preocupado com a lei. Aqui, mais do que
teronômio também faz uma ponte literária em qualquer outra parte do Pentateuco, o prin­
entre o Pentateuco e os Livros Históricos. Ele cípio por trás da lei é o amor que caracteriza o
faz uma retrospectiva e ao mesmo tempo tem relacionamento entre Deus e o seu povo. Os
uma visão do futuro. Como recristalização da imperativos bem definidos dos Dez Manda­
lei da aliança, o livro é um sumário do Penta­ mentos exemplificam esse princípio quando
teuco e dá a essa primeira e monumental par­ recebem aplicações mais específicas por meio
te da Bíblia o desfecho merecido. Mas Deu­ daquilo que é estipulado nos capítulos 12-26.
151
Descobrindo o Pentateuco

mento de amor. Amor é a essência do rela­


História
cionamento; a lei é o resultado natural.
Deuteronô-
mica
Deuteronôm io e os
Livros Históricos
Deuteronômio é a pedra fundamental
para a chamada História Deuteronômica.
Os livros de Josué, Juizes, Samuel e Reis com­
preendem uma unidade de Livros Históricos
com uma forte influência deuteronômica
(ver o próximo capítulo). Deuteronômio é
um preparativo para o drama descrito nos
Livros Históricos. O chamado da aliança para
escolher entre a morte e a vida, as bênçãos e
A base para o relacionamento do povo os castigos são um prelúdio para a história
com Deus fluía do seu amor por eles e da nacional de Israel (Dt 30.19). Em Canaã, o
resposta adequada de obediência da parte povo de Deus está prestes a transformar-se
deles. Quando o povo de Deus quebra seus em uma nação. Deuteronômio torna-se a
mandamentos, quebra o relacionamento de constituição formativa dessa nação. E um
amor (Mt 22.35^40; Jo 14.15). A obediência documento de renovação da aliança, que
à lei de Deus é resultado de um relaciona­ prescreve o seu futuro relacionamento com

Sumário

1. Na forma dos três discursos de Moi­ 7. Em seu terceiro discurso, Moisés dis­
sés, o livro de Deuteronômio apresen­ cute as sanções da aliança.
ta uma exortação para que Israel
8. Antes de sua morte, Moisés profere
mantenha a aliança.
uma bênção sobre cada tribo.
2. O livro de Deuteronômio é organizado
9. A organização do livro de Deuteronô­
em um padrão concêntrico de cinco
mio é semelhante à de um tratado de
partes conhecido como quiasmo.
suserania, que era uma forma co­
3. A fidelidade de Deus é o assunto do mum de acordo político no antigo
primeiro discurso de Moisés. Oriente Próximo.
4. O assunto do segundo discurso de 10. As seis partes de um tratado hitita de
Moisés é a revisão da aliança, que es­ suserania eram: preâmbulo, prólogo
tipula que a terra prometida pertence histórico, estipulações, depósito em
aos israelitas. templo e leitura periódica, lista de
deuses e testemunhas e bênçãos e
5. Moisés apresenta uma visão
castigos.
monoteísta para os israelitas que con­
trasta com o politeísmo do antigo 11. Deuteronômio é o centro da história
Oriente Próximo. primária do Antigo Testamento.
6. A organização da lei nos capítulos 12. Deuteronômio é a base para a cha­
12-26 segue os principais tópicos do mada História Deuteronômica.
Decálogo.

152
Deuteronômio

Questões para estudo

1. De que maneira o título "Deuteronô­ combinam para alcançar o objetivo


mio" falha em expressar a essência do de Deuteronômio 5-26?
livro? Qual é a localização geográfica
6. Qual é a nova situação tratada em
da cena de abertura do livro? Qual é
Deuteronômio 21-26? De que ma­
a ocasião em que foi escrito? Quais
neira os Dez Mandamentos oferecem
são três acontecimentos retratados
uma estrutura para as leis de Deute­
em detalhes nesse livro?
ronômio 12—26?
2. Quais são os assuntos da primeira
7. Quais são as duas partes do terceiro
(1.1-4.43), segunda (4.44-26.19) e
discurso de Moisés (27.1-31.30)?
terceira (27.1-31.30) unidades literá­
Descreva a cerimônia de renovação da
rias? Descreva os apêndices do livro.
aliança e a doutrina da retribuição.
3. Quando ocorrem os acontecimentos Qual é a previsão feita e a escolha
do livro? De que maneira os materiais oferecida na parte final dos discursos
legais diferem das leis de Êxodo e Nú­ de Moisés (29.1-30.14)? Quais são as
meros? Qual é a base para a autori­ duas providências para o futuro do
dade de Moisés? povo contidas em Deuteronômio 31?
4. Em seu primeiro discurso (1.6-4.43), 8. De que maneira o Cântico de Moisés
o que Moisés ilustra ao relembrar o foi usado pelos profetas? Qual é a
passado recente de Israel? advertência para os futuros líderes
contida na morte de Moisés fora da
5. Quais são as duas seções do segundo
terra prometida?
discurso de Moisés (4.44-26.19)?
Qual é a função dos Dez Mandamen­ 9. O que é um tratado de suserania?
tos nesse trecho? Quais são as verda­ Quais elementos de um tratado hitita
des contidas no Shema? Que pergun­ de suserania são encontrados em
tas ele responde? Como devemos res­ Deuteronômio?
ponder ao caráter de Deus? Qual é o
10. De que forma Deuteronômio serve
equilíbrio adequado de amor e temor
como ponte entre o Pentateuco e os
em nosso relacionamento com Deus?
livros históricos?
De que forma esses dois elementos se

Deus, uns com os outros e com as nações ao


Termos-chave seu redor. A expressão do relacionamento
entre Deus e Israel na forma de uma aliança
Septuaginta é a mais importante expressão da fé israelita
Quiasmo no Antigo Testamento. Essa é a característi­
Monoteísmo ca distintiva da religião hebraica.
Shema
Pessoas/ Politeísmo
Decálogo
lugares-chave Teologia Deuteronômica
Stephen E. Kaufman Aliança
Monte Ebal Suserania
Monte Gerizim História Deuteronômica
Monte Nebo

153
Descobrindo o Pentateuco

Leituras complementares

Christensen, Duane L. Deuteronomy 1-11. Word Bíblica! Craigie, Peter C. The Book of Deuteronomy. New Inter­
Commentary 6a ed. Dailas: Word, 1991. Uma visão national Commentary on the Old Testament. Grand
singular com alguns insights úteis. Rapids: Eerdmans, 1976. Um dos melhores comen­
, org. Song of Power and the Power of Song: tários disponíveis em inglês.
Essays on the Book of Deuteronomy. Sources for Thompson, J. A. Deuteronomy: An Introduction and
Biblical and Theological Study 3. Winona Lake, Ind.: Commentary. Tyndale Old Testament Commentary.
Eisenbrauns, 1993. Uma ótima introdução às princi­ Downers Grove/Leicester: InterVarsity, 1974.
pais questões e o ponto de vista acadêmico de Deu­
teronômio.

154
Parte

Descobrindo
os Livros Históricos
Introdução aos
Livros Históricos
A História de Israel como nação

Esboço
• Conteúdo dos Livros Históricos
• O papel da História na Bíblia
Heródoto, o pai da História?
0 Cânon judaico e o Cânon cristão
História e Teologia
• Autoria dos Livros Históricos
Objetivos
A História Deuteronômica Depois de ler este capítulo,
Crônicas e Esdras-Neemias você deve ser capaz de:
Rute e Ester • Identificar o propósito de cada um dos
Livros Históricos.
• Explicar como a Bíblia é mais que um livro
de História.
• Discutir o papel da historicidade na fé
bíblica.
• Avaliar a visão Noth-Cross de autoria dos
Livros Históricos.

157
Descobrindo os Livros Históricos

O Pentateuco registra o nascimento do a obediência com a desobediência como fa­


povo de Deus. Essa narrativa continua na zem os livros de Reis.
segunda parte do Cânon, conhecida como Juizes, por outro lado, relata o estado qua­
“Livros Históricos”. Esses livros são importan­ se irremediável de Israel depois da conquista.
tes em primeiro lugar por causa de seu con­ A nação foi vítima de transigência religiosa.
teúdo histórico. Eles cobrem um período de Israel parecia incapaz de manter períodos pro­
tempo de pelo menos oitocentos anos da con­ longados de obediência à vontade de Deus e
quista de Josué até o Império Persa onde vi­ parecia condenada ao fracasso. Períodos tem­
veu Ester. porários de obediência traziam paz e sucesso,
Os Livros Históricos começam descreven­ mas sempre de novo a nação caía em pecado.
do a conquista da terra prometida (Josué). O livro de Juizes foi escrito para justificar a
Então, essa parte da Bíblia continua com o necessidade de um rei para Israel.
relato do período antes de Israel ter reis, quan­ O livro de Rute está inserido depois do
do os juizes governavam o povo (Juizes, Rute). livro de Juizes, pois os acontecimentos nele
Eles também cobrem o período da monarquia. relatados ocorreram durante o mesmo perío­
O reino unido de Saul, Davi e Salomão aca­ do. Esse pequeno livro ilustra o cuidado so­
bou sendo dividido em Israel, ao norte, e Judá, berano de Deus por indivíduos fiéis que vi­
ao sul (l-2Sm , l-2Rs). Crônicas, Esdras e viam em um tempo de apostasia religiosa.
Neemias contam a história de uma perspec­ Deus usou a fidelidade de uma única famí­
tiva teológica posterior e continuam a narra­ lia para realizar um milagre e dar a Israel seu
ção até o período de restauração pós-exílio. maior rei, Davi.
Ester ilustra o papel do povo de Deus sob o Os livros de Samuel traçam a história do
domínio persa. início da monarquia em Israel. Samuel foi
Além de seu valor histórico, esses livros um profeta e juiz que liderou Israel na tran­
também são importantes por aquilo que en­ sição do governo dos juizes para a monar­
sinam teologicamente. Eles descrevem a his­ quia. Os livros contam a história dos dois pri­
tória de Israel, mas são mais que uma simples meiros reis: Saul e Davi. O segundo livro de
história ou um mero registro de fatos históri­ Samuel dedica-se especialmente a descre­
cos. Eles são a palavra de Deus nos dias de ver os principais acontecimentos do reinado
hoje para os cristãos. A igreja sempre afir­ de Davi.
mou o valor desses livros “para o ensino, para Os livros de Reis contam em detalhes a
a repreensão, para a correção, para a educa­ história da monarquia de Salomão até a que­
ção na justiça” (2Tm 3.16). Lemos esses li­ da de Jerusalém. Eles contrastam a obediên­
vros por motivos que vão além do seu valor cia e a desobediência para ilustrar os resulta­
histórico. Eles traçam a história do relacio­ dos de ambas. A princípio, tudo corria bem
namento de Deus com sua nação, revelan­ para Salomão. Mas quando ele deixou de ser
do seu amor fiel e imutável por seu povo, fiel a Iavé, o resultado foi um reino dividido,
mesmo quando eles quebraram a aliança. Israel ao norte e Judá ao sul. Israel, ao norte,
Esses são acontecimentos importantes dos foi apóstata desde o início e foi tomada pelos
quais devemos tirar lições e não apenas ou­ assírios em 722 a.C. Judá variava entre reis
vir falar. maus e uns poucos bons, até que a maldade
de um rei foi grande demais. Nabucodonosor
com seu poderoso exército babilônio tomou
Jerusalém em 587 a.C.
Conteúdo dos Os demais Livros Históricos são do perío­
Livros Históricos do pós-exílio. Os livros de Crônicas constitu­
em o primeiro comentário das Escrituras. Es­
O livro de Josué foi escrito para mostrar o ses livros relatam as histórias de Davi, Salo­
valor insuperável da obediência. Ele cria um mão e do reino de Judá, histórias já conheci­
retrato do sucesso de Israel na conquista da das dos livros de Samuel e Reis. Mas o cro­
terra prometida, destacando a importância do nista não estava simplesmente relembrando
comprometimento total com a palavra de notícias antigas. Ele ressaltou a obra de Deus
Deus e dependência de seu poder. Apesar de em meio ao seu povo por meio da linhagem
haver alguns exemplos de desobediência, de de Davi. Ele desejava seguir uma linha reta
um modo geral, o livro de Josué não contrasta de fé e salvação, sem os desvios dos fracassos
15 8
Introdução aos Livros Históricos

do passado. Seus leitores no exílio sabiam


muito bem a história do colapso moral e da O papel da
derrota de sua nação. Sua geração precisava
ser lembrada das vitórias da herança de Is­ História na Bíblia
rael como meio de dar-lhes esperança para o Como vimos no Pentateuco, Israel era uma
futuro. nação singular entre seus vizinhos no antigo
Os livros de Esdras e Neemias, que prova­ Oriente Próximo pela ênfase que dava à His­
velmente foram escritos como uma só obra, tória. Deus criou o tempo e o espaço e, conse­
apresentam os acontecimentos da restauração, qüentemente, é soberano sobre a História da
na metade do século 5Q a.C. Sob o governo humanidade. Não é de se surpreender, por­
persa, os judeus que viviam na Babilônia rece­ tanto, que uma grande partes dos escritos sa­
beram permissão para voltar para sua terra na­ grados de Israel fossem narrativas históricas.
tal e reconstruí-la. A liderança capaz de Esdras A maior parte das expressões religiosas do
e Neemias, juntamente a certos profetas que antigo Oriente Próximo era mitológica. Os
eram ativos naquela época, ajudou o povo de povos antigos geralmente expressavam suas
Israel a reconstruir o templo e os muros de Jeru­ convicções teológicas e visão de mundo por
salém. Além de descrever essas estruturas físi­ meio de mitos complexos, nos quais os even­
cas, esses livros também relatam a reconstru­ tos ocorriam fora da história. A maioria dos
ção das fundações sociais e religiosas do povo livros de religiões do mundo são coleções de
de Deus. literatura de sabedoria e AFORISMOS religio­
O pequeno e fascinante livro de Ester de­ sos. Mas Israel via sua própria História como
monstra o cuidado soberano de Deus e a pro­ palco para a revelação divina. A palavra de
teção dele sobre seu povo, mesmo quando Deus para o mundo é, em grande parte, uma
eles estavam vivendo no exílio persa. O livro narrativa de seu relacionamento com uma
é um conto histórico sobre a rainha Ester e nação e seu plano para estabelecer um rela­
seu primo Mordecai. Ao contrário de qual­ cionamento com toda a humanidade.
quer outro livro bíblico, Ester mostra que
mesmo quando Deus está em silêncio, ele Heródoto, o pai da História?
está trabalhando para cumprir suas promes­ Pelo fato da História ser o principal meio
sas para o seu povo. da revelação de Deus, Israel foi a primeira
Um relevo
assírio mostra
a cena depois
de uma
batalha. Ao
norte, Israel
estava em
apostasia
religiosa e caiu
diante dos
assírios em
722 a .C

159
Descobrindo os Livros Históricos

nação a dar atenção para o registro da Histó­ História e teologia2


“Profetas
rico. HERÓDOTO, um historiador grego do A Bíblia é mais que um livro de História.
Anteriores”
século 5Q a.C., recebeu o título de “Pai da Ela sem dúvida relata a História de uma pers­
História” por seu registro histórico das guerras pectiva religiosa. Não há tentativas de se fa­
Heils- gregas e persas. Mas cem anos antes de Heró- zer o que hoje poderíamos chamar de Histó­
geschichte doto, a Bíblia tinha uma História de Israel con­ ria moderna objetiva. Os escritores estão es­
tendo muitas das características que conside­ crevendo o que os estudiosos chamam de
H istória da ramos História nos dias de hoje: relações de Heilsgeschichte, ou História da salvação. Essa
salvação causa e efeito, narração contínua, desenvol­ designação distingue a História bíblica da
vimento completo de caracterização e assim História geral, que normalmente lida com
por diante. uma seqüência de acontecimentos humanos
na esfera natural. Os acontecimentos da His­
O Canon judaico e o Cânon
tória da salvação são revelações divinas sobre­
cristão
naturais no tempo e no espaço, registradas nas
A História é importante tanto para o C â­ Escrituras para promover a fé.
non judaico quanto para o cristão. Conforme O registro dessa História da salvação é
vimos no capítulo 1, o Cânon cristão separa e importante para a fé bíblica. Os acontecimen­
agrupa todos os livros que são predominante­ tos em si não podem ser recriados e estudados
mente de natureza histórica. Esses Livros His­ em primeira mão, apenas o registro desses
tóricos narram a História de Israel de um pon­ acontecimentos. Assim, a fé deve estudar os
to de vista religioso. O Cânon judaico chama acontecimentos por meio do registro escrito.
Josué, Juizes, Samuel e Reis de “Profetas A fé bíblica, portanto, pressupõe a historicida-
Anteriores”. De que forma esta pode ser uma de dos acontecimentos que revelam a Histó­
designação apropriada para esses livros? Qual ria da salvação. A Bíblia aceita como sendo
é a relação entre esses livros e profecias? verdadeiros os acontecimentos históricos nos
A resposta para essas questões encontra-se quais baseiam-se as revelações. Ela também
em um entendimento correto tanto do signi­ afirma a veracidade da interpretação desses
ficado de profecia quanto de História. A prin­ acontecimentos, que a Bíblia apresenta na
cípio, profecia não diz respeito apenas ao fu­ forma escrita. A forma escrita em si torna-se,
turo, mas preocupa-se com a obediência den­ então, uma importante evidência histórica.5
tro do tempo e do espaço, aqui e agora. A Os autores bíblicos freqüentemente ape­
profecia olha para as alianças do passado e lam para acontecimentos com a finalidade
interpreta seu significado para o presente bem de validar suas afirmações teológicas e par­
como para o futuro. Ela faz uso da História tem do pressuposto que os acontecimentos
para amarrar o passado ao presente. Nossos descritos são historicamente precisos. A vera­
Livros Históricos receberam uma designação cidade fatual daqueles acontecimentos his­
apropriada no Cânon judaico como “Profetas tóricos toma possível aceitar como verdadei­
Anteriores”, pois eles narram a reação do povo ras as afirmações teológicas da Bíblia. A histo-
à aliança ao longo da História. Esses livros apre­ ricidade não prova que a teologia é verdadei­
sentam a História de Israel de um ponto de ra. Mas a confiabilidade histórica é necessária
vista profético. A tradição judaica atribui a para que as afirmações teológicas sejam ver­
profetas a autoria de outros livros (Samuel dadeiras, pois elas são baseadas em aconteci­
como autor de Juizes e Jeremias como autor mentos da História.
de 1 Reis).1 Podemos afirmar, por exemplo, que cremos
Apesar da falta de evidências para tais con­ que o Senhor do Antigo Testamento é um
clusões, não deixa de haver uma certa lógica, Deus cheio de graça e amor e que manteve a
tendo em vista a devoção ao papel profético aliança com seu povo. Essa é uma afirmação
encontrada nesses livros. Eles são “Profetas teológica. Mas a menos que Iavé tenha de fato
Anteriores”, pois relatam a história antiga da realizado e mantido uma aliança com o povo
profecia e escrevem sobre a História nacional de Israel, a afirmação teológica não tem fun­
à luz dos interesses teológicos e proféticos. damento, independente de sua plausibilidade.
Josué, Juizes, Samuel e Reis são tão apropria­ Se a História não for verdadeira, é mera espe­
dos como “Profetas Anteriores” no Cânon ju­ culação humana.
daico como o são com a designação de Livros A fé que a Bíblia define e expressa é expli­
Históricos no Cânon cristão. citamente uma fé histórica. Ela está enraizada
1 60
Introdução aos Livros Históricos

c baseada na historicidade de certos aconte­ Uma questão central sobre a autoria dos
Hexatcuco
cimentos passados. Historicidade é um ingre­ Livros Históricos é: “De que forma esses livros
diente necessário para a fé bíblica, apesar dc, estão relacionados uns com os outros e com o
Tetrateuco por si só, não ser uma base correta para a fé. Pentateuco?" Muitos estudiosos dão ênfase
No Antigo Testamento, a fé é definida em ter­ excessiva à relação entre Deuteronômio e
H istófia mos de acontecimentos passados, assim como Josué. Josué é o cumprimento da promessa
Deuteronô- também o é no Novo Testamento, onde a fé é aos patriarcas, c muito que fica pressuposto
mica baseada na ressurreição (ICo 15.12-19). no Pentateuco torna-se realidade em Josué.
Moisés, por exemplo, preparou a nação para a
cerimônia da renovação da aliança nos mon­
tes Ebal e Gerizim, cerimônia esta realizada
Autoria dos Livros por Josué (Dt 27.5,6; Js 8.30-35). Além disso,
Históricos muitos estudiosos argumentam que as mes­
mas fontes literárias que eles crêem terem sido
Todos os Livros Históricos são anônimos usadas para compilar o Pentateuco (JEDP)
(apesar das memórias pessoais de Esdras e também foram usadas em Josué. Ao invés de
Neemias terem sido usadas para compilar es­ Pentateuco, esses estudiosos argumentam em
ses livros). Outras referências bíblicas a esses favor de um Hexateuco, preferindo ver Gê­
livros não ajudam a determinar a autoria. Os nesis-Josué como uma unidade literária.5
títulos indicam o assunto de um determinado Outros estudiosos enfatizam excessivamen­
livro e normalmente não têm ligação com o te a relação entre Deuteronômio e as quatro
autor. Josué pode ter sido a fonte dc muito histórias contidas em Josué, Juizes, Samuel e
O monte que esta contido no livro com o seu nome, Reis. Supondo que Deuteronômio foi escrito
Gerizim visto do
mas a morte de Samuel está registrada em 1 em uma data mais recente (século 7e), essa
Monte Ebal.
Moisés Samuel 25. E pouco provável que ele tivesse teoria visualiza uma obra histórica autônoma
preparou os se envolvido de forma significativa na com­ editada durante o exílio. De acordo com esse
israelitas para a posição de 1 e 2 Samuel, apesar da tradição ponto de vista, Deuteronômio serviu como
cerimônia de judaica.4 Os livros de Samuel parecem ter re­ introdução para esse trabalho histórico, que
renovação da
cebido esse nome como forma de honrá-lo, se estendeu até 2 Reis (menos Rute). O resul­
aliança realizada
por Josué nos
pois ele é a figura central das primeiras partes tado seria um Pentateuco truncado, com ape­
montes Gerizim da obra e por causa de seu importante papel nas quatro livros. Esses estudiosos referem-se
e Ebal. na unção de Saul c Davi. a ele como Tetrateuco, contendo Gcnesis,
Exodo, Levítico e Números e uma História
Deuteronômica que vai dc Deuteronômio
até 2 Reis (com exceção de Rute).

A História Deuteronômica
A expressão clássica dessa hipótese foi
publicada em 1943 por MARTIN NOTH.6 A
hipótese afirma que um editor anônimo (cha­
mado de “Deuteronomista” e abreviado como
Dtr) combinou diversas fontes em um único
e longo documento detalhando teologicamen­
te a História de Israel. Depois da queda de
Jerusalém em 587 a.C., Dtr procurou inter­
pretar a tragédia bem como explicar a queda
de Israel, ao norte, cm 722 a.C. Ele traçou a
punição divina dos reinos israelitas até o seu
pecado persistente e sua idolatria. Sua tarefa
era essencialmente negativa. Ele procurou
responder a pergunta: “O que deu errado?”
Essa hipótese tem ganho considerável apro­
vação dc estudiosos. Ela já foi modificada de
diversas maneiras, mas a mais significante c a

161
Descobrindo os Livros Históricos

Torre israelita proposta de que havia, de fato, dois editores


em Jerusalém. Dtr. FRANK MOORE CROSS, argumentou que
Século 1- a.C.
o primeiro editor Dtr (Dtrl) compôs o traba-
lho inicial no tempo de Josias (640 a 609 a.C.) ?
De acordo com Cross, a primeira edição
enfatizava os pecados de Jeroboão I no reino
do norte e a escolha divina de Davi e da cida­
de de Jerusalém ao sul. Tendo em vista que
D trl viveu e trabalhou antes da queda de
Jerusalém, seu trabalho era mais esperançoso
que a edição final.
O segundo Deuteronomista (Dtr 2) con­
cluiu o trabalho durante o exílio (por volta de
550 a.C.). Esse editor culpava Manassés pelo
colapso de Judá na tentativa de explicar como
Jerusalém caiu e como a linhagem de Davi
foi destronada. O papel de Manassés é equi­
valente ao de Jeroboão I em Israel. Dtr2 atua­
lizou a história ao relatar sob forma de crônica
os acontecimentos subseqüentes do tempo de
Josias até o final do reinado do sul. Ele apenas
fez uma edição leve, enquanto Dtrl foi, de
fato, um autor. A ssim , ao invés de um Saul e Davi, ambos sob a bênção a princípio,
Teologia
hexateuco (Gênesis-Josué), Noth, Cross e mas em seguida, ambos sob o castigo. Os livros
deuteronô-
mica muitos estudiosos de hoje preferem falar de de Reis colocam a teologia da retribuição no
um tetra te uco (Gênesis-Números) seguido da centro, como sendo a explicação teológica
História deuteronômica, que foi compilada para a queda de ambos os reinos. Reconhecer
Aliança durante o final da monarquia e editada du­ essa filosofia abrangente da História traz uni­
rante o exílio. dade ao todo.
Um dos temas principais da História deu­ A visão de Noth-Cross também acentua a
teronômica, de acordo com Noth, é a ênfase continuidade entre Deuteronômio e os Livros
à doutrina da retribuição, baseada nos casti­ Históricos. Isso é extremamente útil ao obser­
gos e nas bênçãos de Deuteronômio 28 (ver var, por exemplo, a influência da “lei do rei”
comentários sobre teologia deuteronômica em Deuteronômio (Dt 17.14-20) e a “lei do
no capítulo 9). A idéia de se recompensar pela profeta” (Dt 18.9-22) nos Livros Históricos que
obediência à aliança e se punir pela desobe­ se seguiram. Essas leis importantes estão no
diência é fundamental para os Livros Históri­ centro de Deuteronômio e também funcio­
cos. Assim como Deuteronômio 32 é uma nam como fontes primárias para seçÕes-cha-
“Bíblia” ou livro de referência para os profetas ve dos Livros Históricos quando estes tratam
do Antigo Testamento, Deuteronômio 28 da liderança política: Josué (Js 23), Samuel
pode ser visto como a “Bíblia” dos autores dos (ISm 12), Elias (lR s 19) e muitos outros.8
Livros Históricos. Porém essa teoria também apresenta difi­
A teoria de Noth-Cross de uma História culdades. A maior parte dos estudiosos que
deuteronômica é útil por várias razões. Não apoiam a hipótese supõem que Deuteronô­
há dúvidas de que esses Livros Históricos com­ mio foi escrito em uma data mais recente.
partilham de uma teologia de retribuição, que Eles partem do pressuposto de que D trl co­
parece estar claramente baseada no livro de meçou com uma parte de Deuteronômio es­
Deuteronômio. Esses quatro Livros Históricos crita durante o século 7Qa.C., à qual ele acres­
estão comprometidos com conceitos de bên­ centou a introdução (Dt 1.1-4.43) e vários
çãos e castigos sob a aliança. Josué inclui o outros materiais. Assim, usando fontes dos pe­
episódio de Acã para ilustrar as perdas irre­ ríodos pré-monárquico e monárquico da His­
versíveis causadas pela desobediência (Js 7). tória de Israel, ele compilou uma história uni­
A repetição do ciclo de pecado e punição em ficada do período como um todo. Mas esse
Juizes está claramente baseada na teologia ponto de vista vai contra as afirmações en­
deuteronômica. Os livros de Samuel mostram contradas dentro do próprio livro de Deutero-

162
Introdução aos Livros Históricos

Assírios atacam
uma cidade,
conforme
mostra um
relevo daquela
época.
Estudiosos
acreditam que
os Livros
Históricos foram
escritos durante
o exílio.

nômio e ignora os paralelos com os tratados de mundo em comum, uma visão de mundo
hititas de suserania no antigo Oriente Próxi- deuteronômica. Mas eles também são bastan­
mo, que deixam claro que Deuteronômio, in- te distintos de muitas outras maneiras.
cluindo sua introdução, encaixasse perfeita- Por fim, podemos acrescentar que todo o
mente em um contexto do segundo milênio. A ntigo Testam ento contém influências
Um outro problema é a forma como mui­ “deuteronômicas”. Fica claro que a doutri­
tos estudiosos separam Deuteronômio do na da retribuição teve um papel especialmen­
Pentateuco, criando um tetrateuco. Isso faz te dominante nesses Livros Históricos. Mas
com que os quatro primeiros livros da Bíblia isso não sugere que os patriarcas não conhe­
tenham uma relação estranha entre si e que ciam tal doutrina, ou que Crônicas não esta­
nunca pôde ser completamente justificada. va ciente dela. Outras partes do Antigo Tes­
Quando definida dessa forma, a teoria força tamento têm diferentes papéis a cumprir, e a
uma quebra artificial ente Gênesis-Núme- influência deuteronômica seria menos perti­
ros (que vem antes da conquista) e o livro nente para esses papéis que no caso desses
de Josué. Tal divisão também nega a função quatro livros.
canônica de Deuteronômio pela autoridade Assim, podemos nos referir de modo geral
de sua reinterpretação dos quatro primeiros a uma História Deuteronômica para falar des­
livros.9 se relato unificado da História de Israel sem
Além disso, a teoria não justifica a enorme ter que aceitar todos os aspectos da teoria de
variedade de Livros Históricos. A História Noth-Cross. Os quatro primeiros Livros Histó­
Deuteronômica, conforme foi definida por ricos (com exceção de Rute) certamente es­
Noth, demonstra uma estrutura geral menos tão relacionados à teologia de Deuteronômio.
coerente que ele admitia. Esses quatro Livros A edição final de Reis foi completada depois
Históricos Qosué, Juizes, Samuel e Reis) são de 561 a.C., tendo em vista que esta é a data
livros autônomos. Eles são bastante diferentes do último acontecimento registrado nesses li­
uns dos outros, de modo que não requerem vros (2Rs 25.27-30). Não há menção dos persas
um editor ou autor em comum. Juizes e Reis e de sua libertação dos judeus em 539 a.C.
usam a repetição concentrada para estruturar Podemos concluir, portanto, que Reis foi com­
seu conteúdo, enquanto Josué e Samuel se­ pletado durante os últimos vinte e dois anos
guem princípios diferentes de organização. Es­ de exílio. E impossível determinar até que
ses quatro livros também têm consideráveis ponto o autor anônimo de Reis teve influên­
diferenças de estilo e em seu propósito geral. cia na compilação de Josué, Juizes e Samuel.
Eles sem dúvida compartilham de uma visão Mas ele concebeu seu trabalho com sendo

163
Descobrindo os Livros Históricos

Neem ias.10 Esses dois últimos são tratados


Termos-chave como um único livro nos manuscritos hebrai­
cos mais antigos. Estudiosos do Antigo Testa­
Mito mento pensaram durante muitos anos que o
Aforismos autor de Esdras-Neemias (quase certamente
'"Profetas anteriores" Esdras) também foi responsável pelos livros de
Heilsgeschichte
Crônicas. Mas recentemente desenvolveu-se
Pessoas-chave JEDP
um novo consenso, que agora vê Crônicas
Hexateuco
Heródoto Tetrateuco
como a obra de um outro autor anônimo.11 E
Martin Noth História Deuteronômica interessante observar que, no Cânon judaico,
Frank Moore Cross Teologia deuteronômica Crônicas vem depois de Esdras-Neemias e não
Josefo Aliança antes, conforme ditaria a ordem cronológica.
Mordecai Isso apoiaria a idéia de que um diferente au­
tor escreveu Crônicas.
Apesar de não haver uma afirmação de
autoria em Esdras, os relatos em primeira pes­
soa encontrados no livro tornam-no o candi­
uma continuação e culminação daquela his- dato mais provável. Neemias tem um estilo
tória. Dentro disso, podemos estar nos referin­ semelhante e, no Cânon hebraico, foi coloca­
do a um historiador deuteronômico. do junto a Esdras como sendo a segunda par­
te de uma única composição. Parece prová­
Crônicas e Esdras-N eem ias vel que Esdras tenha compilado o livro usan­
A antiga tradição judaica indica Esdras do as memórias pessoais de Neemias (“as pa­
como sendo o autor de 1-2 Crônicas, Esdras e lavras de Neemias”, 1.1).

Sumário

1. Os Livros Históricos também têm im­ 8. Esdras e Neemias apresentam a


portância teológica. história da restauração no século
5Q a.C.
2. Josué mostra o valor da obediência.
9. Ester demonstra o cuidado soberano
3. Juizes fala do desespero quase total
de Deus e como sua proteção se es­
de Israel depois da conquista.
tende sobre seu povo.
4. Rute ilustra o cuidado soberano de
10. A História de Israel contrasta com a
Deus para com os indivíduos que lhe
visão mitológica encontrada no resto
foram fiéis apesar da apostasia reli­
do antigo Oriente Próximo.
giosa nacional.
1 1. A autoria de todos os Livros Históricos
5. Samuel traça a história do começo da
é anônima.
monarquia em Israel.
12. Uma teoria bastante aceita sobre a
6. Reis fala da história da monarquia de
autoria dos Livros Históricos é de que
Salomão até a queda de Jerusalém.
um editor anônimo combinou várias
7. Crônicas é o primeiro comentário das partes para formar um único e longo
Escrituras. documento sobre a História de Israel.

164
Introdução aos Livros Históricos

Questões para estudo

1. Qual é, aproximadamente, o período 6. Por que os Livros Históricos são referi­


de tempo coberto pelos Livros Histó­ dos como "Profetas Anteriores"?
ricos? •
7. De que perspectiva os acontecimentos
2. Qual é o valor teológico dos Livros históricos são registrados nessa parte
Históricos? da Bíblia?
3. Faça um breve resumo dos temas 8. De que forma os fatos históricos são
principais de cada um dos Livros His­ importantes para a teologia dos Livros
tóricos. Históricos?
4. De que forma os israelitas viam o con­ 9. Discuta sobre a autoria dos Livros His­
ceito de História? tóricos.
5. Qual é a principal preocupação da 10. Explique a História Deuteronômica
profecia bíblica conforme ela é retra­ e suas implicações para os Livros
tada nos Livros Históricos? Históricos.

Leituras complementares

-c.vard, David M., Jr. An Introduction to the Old Testa- Millard, A. R., James K. Hoffmeier, David W. Baker, org.
ment Historical Books. Chicago: Moody, 1993. Me­ Faith, Traditions and History: Old Testament
nor volume de introdução. Historiography in Its Near Eastern Context. Winona
ig, V. Philips. The Art o f Biblical History. Grand Ra- Lake, Ind.: Eisenbrauns, 1994. Um importante ponto
o;ds: Zondervan, 1994. Uma importante discussão de vista acadêmico sobre muitas das questões relaci­
:eológica de todas as questões. onadas aos Livros Históricos.

Rute e Ester de Ester também não é específico quanto à


A tradição judaica dá crédito a Samuel sua autoria. A tradição judaica afirma que o
pela redação do livro de Rute.12 Mas essa tra- livro foi escrito pelos homens da Grande Sina­
dição provavelmente começou por causa das goga, apesar de JOSEFO, o historiador judeu
semelhanças de linguagem e conteúdo em do primeiro século, ter afirmado que MOR-
contradas em Rute, Juizes e nos livros de Sa­ DECAI foi o autor.12 Parece provável que o
muel. O livro em si não contém nenhuma livro tenha sido escrito por um judeu persa em
indicação direta de autoria e é mais fácil, por­ uma data que não passa do meio do século
tanto, aceitá-la como sendo anônima. O livro quatro a.C.

165
11 Josué
Conquista e divisão

Esboço
• Esboço
• Pano de fundo
do livro de Josué
Josué, o homem
Data e autoria Objetivos
A arqueologia e o livro de Josué Depois de ler este capítulo, você
Temas de Josué deve ser capaz de:
• Mensagem do livro de Josué • Delinear o conteúdo básico
Israel conquista a terra prometida do livro de Josué.
(capítulos 1-12) • Relacionar os acontecimentos que Deus
Israel divide a terra prometida usou para preparar Josué para seu
papel de líder.
(capítulos 13-21)
• Identificar os três temas de Josué.
Israel começa a se assentar na terra
prometida (capítulos 22-24) • Discutir as razões pelas quais Israel foi
autorizada a conquistar Canaã.
• Relacionar os três desafios que Deus deu a
Josué depois da morte de Moisés.
• Explicar o significado dos acontecimentos
da investida central nos capítulos 6-9.
• Avaliar o desafio final que Josué deixou
para Israel.

167
Descobrindo os Livros Históricos

Os israelitas estavam à beira de Canaã. Es-


tavam prestes a apropriar-se da promessa que Esboço
Deus havia feito a Abraão séculos antes (Gn
12.7). A tarefa que tinham diante deles era I* Israel conquista a terra
ao mesmo tempo excitante e séria. Cruzar o prometida (1-12)
rio Jordão e conquistar a terra era um tremen­ A. Preparativos para a conquista
do desafio. Israel teria que expulsar de lá po­ d -5 )
vos resistentes que viviam nas cidades bem B. A investida central (6-9)
fortificadas de Canaã (Nm 13.28,29), C. A investida do sul (10)
Os israelitas estavam no final de uma era e D. A investida do norte (11.1-15)
no início de outra. Moisés, o grande líder de E. Sumário (11.16-12.24)
Israel, havia morrido e Josué tinha assumido a
liderança. Esse papel trazia consigo grande res­ II. Israel divide a terra prometida
ponsabilidade e muitos provavelmente se per­ (13-21)
guntavam se Josué tinha as habilidades ne­ A. O desafio restante para Israel
cessárias para completar o trabalho que Moi­ (13)
Parte da
escavação da sés havia começado. B. A herança de terras de Israel
antiga Jericó. O livro de Josué descreve como o povo de (14-19) *
Nos dias de Deus encarou o desafio de Canaã. Eles con­ C. As cidades de refúgio de Israel
hoje, Jericó é quistaram a terra e dividiram-na entre as tri­ (20,21)
uma das cidades bos. Em parte, tiveram sucesso por causa da
mais antigas do liderança forte de Josué, mas a principal razão III. Israel começa a se assentar na
mundo e foi a
foi porque Deus deu a Josué o poder de realizar terra prometida (22-24)
primeira cidade
em Canaã a cair a tarefa. Quando estamos diante de grandes A. Um mal entendido inicial quase
sob Josué e os desafios nós também podemos confiar que Deus provoca uma guerra civil (22)
israelitas. irá nos ajudar a cumprir os seus propósitos. B. O desafio final de Josué para o
povo de Deus (23.1-24.27)
C. Três sepultamentos (24.28-33)

mHÊÊmÊMÊÊÊKÊHÊÊÊÈÊmÊKÈBÊKÊmÈKMHÊKÊÊHKÊÊÊÊÈÊÊÊÈHÊÊÊÈUÊÊm

Pano de fundo do
livro de Josué
O livro de Josué dá continuidade à história
do Pentateuco. Deuteronômio termina com
um relato da morte de Moisés e Josué começa
com as palavras: “Sucedeu, depois da morte
de Moisés...”. Os propósitos de Deus para Is­
rael seriam levados adiante por Josué,

Josué, o homem
Josué aparece pela primeira vez no registro
bíblico em Exodo 17.9-14, onde a Bíblia relata
que ele liderou o exército de Israel na vitória
contra os amalequitas. Também o encontra­
mos ao pé do Monte Sinai quando Moisés re­
cebe a lei (Ex 24-13) c perto da congregação
enquanto Moisés encontra-se face a face com
Deus (Ex 33.11). O Senhor usou Moisés para
preparar Josué para liderar Israel.
Mais tarde, Josué foi um dos doze homens
que Moisés mandou para Canaã como espias
(Nm 13.18). Josué, com Calebe, pediu ao povo
que tomasse a terra pela fé, mas o relatório
negativo da maioria dos espias prevaleceu
168
Josué

• Josué 24-26 sugere que Josué escreveu


Podemos fazer pelo menos parte do livro e a tradição
judaica o considera autor do livro.
"Guerra Santa"? • A narrativa da morte de Josué (24.29-
32) indica claramente que a existência
de um outro autor, além de Josué, pelo
WlÈHÊIÊÊIKKHÊtHHRKÊÊÊKãKtÈKIKÊÊÊKÊÊtKÊKIKKHKKIÊÊtKlKÊHÍ

0 livro de Josué registra a conquista de Canaã por Israel. Deus menos para essa parte do livro.
ordenou que seu povo destruísse os cidadãos de Canaã, sem • A frase comum “até ao dia de hoje”
poupar ninguém. De que maneira os cristãos podem tratar de (4.9; 5.9; 7.26 etc.) sugere que passou-
passagens da Escritura como essa? Será que a Bíblia nos enco­ se um certo período de tempo entre os
raja a praticar a "guerra santa"? acontecimentos e seu relato, mesmo
Quanto à conquista de Canaã por Israel, é preciso nos lem­ que não seja necessariamente um
brarmos dos seguintes pontos: período muito longo.
• A menção dos jebuseus em Jerusalém
1. Os povos de Canaã eram extremamente perversos e (15.63) sugere uma data anterior a
seus costumes sociais e religiosos iravam o Senhor (Lv 1000 a.C., quando Davi conquistou
18.24-30). Jerusalém e os expulsou (2Sm 5.6-10).
2. Deus havia dado a eles tempo para se arrependerem, • A referência aos cananitas em Gezer
mas eles não haviam mudado. (16.10) implica uma data anterior a
3. Deus usou os israelitas como seus instrumentos de julga­ 970 a.C. aproximadamente, quando o
mento contra os povos de Canaã (Js 11.18-20), assim rei do Egito conquistou Gezer e a
como, mais tarde, ele usou os assírios e babilônios para ofereceu para Salomão (1 Rs 3.1; 9.16).
julgar Israel e Judá (2Rs 17.6,7; 24.20-25.7).
4. "Guerras santas" (ou a prática de herem) aconteceram Ao revisarmos essas evidências, parece ra­
apenas em determinadas épocas da história de Israel zoável concluir que a maior parte do livro é
(1 Sm 15.1-3; 2Cr 20.15-23) e não devem ser vistas resultado de narrativas feitas por testemunhas
como um padrão para gerações futuras. oculares, talvez escritas pelo próprio punho de
Josué. Além disso, as referências históricas
| A destruição dos cananitas por Israel demonstra como Deus sugerem que o livro já estava em sua presente
leva a sério o pecado. Ele governa as nações e pode muito bem forma antes do tempo de Salomão.
julgar aquelas que se opõem a ele. Os cristãos devem dar ouvi­
dos a essa advertência e buscar promover a justiça e retidão A arqueologia e o livro de Josué
em sua nação. Não nos atrevamos a supor que Deus irá tolerar Arqueólogos escavaram muitos locais que,
a perversidade para sempre. de acordo com a Bíblia, foram conquistados
pelos israelitas. Evidências de Jerico, infeliz­
mente, mostraram-se inconclusivas, mas es­
(Nm 14.1-10). O julgamento dc Deus caiu cavações em Laquis, Debir e Hazor revela­
sobre eles e Israel teve que vagar pelo deserto ram enormes camadas de destruição relativas
até que a geração incrédula morresse, mas o ao século 13 a.C. aproximadamente. Em fun­
Senhor separou Josué e Calebe por causa de ção dessas evidências, alguns estudiosos ar­
sua fé. Depois de levar o povo até a beira do gumentam em favor de uma data mais re­
Jordão, Moisés faleceu; Josué então liderou o cente para o êxodo.2
povo para dentro da terra prometida. Outros estudiosos, porém, sugerem que as
evidências arqueológicas favorecem uma data
Data e autoria mais antiga.3 A Bíblia dá os nomes de apenas
Os acontecimentos do livro de Josué com­ três cidades que os israelitas queimaram:
preendem um período de tempo de aproxi­ Jerico, Ai e Hazor. Além do mais, evidência
madamente vinte anos. Se adotarmos uma de migração de outros povos da Palestina por
data mais antiga para o êxodo do Egito, o mi­ volta de 1200 a.C. sugere que esses povos — e
nistério de Josué cobriu um período entre 1405 não os israelitas — podem ter destruído mui­
a.C. e 1385 a.C. aproximadamente. Se datar­ tas cidades e vilas.
mos o êxodo no século 13, a morte de Josué foi A arqueologia oferece muitos benefícios
pouco antes de 1200 a.C. aos estudantes da Bíblia, mas também tem
Quem escreveu o livro de Josué e quando? muitas limitações. Tendo em vista a discor­
Aqui estão as evidências relevantes:1 dância sobre os dados arqueológicos, parece

169
Descobrindo os Livros Históricos

As ruínas de
Jericó (Js 6) nos
dias de hoje. O
Senhor deu a .
Israel instruções
peculiares para
conquistar a
aparentemente
impenetrável
cidade murada.

mais prudente que esperemos por outras evi­ truísse completamente uma certa nação que
herem
dências. Ainda assim podemos afirmar a his- se opusesse a ele. O herem, ou espólio de guer­
toricidade dos acontecimentos do livro de ra — fosse ele pessoas, animais ou bens —
Josué, mesmo que não tenhamos como saber pertencia ao Senhor que podia dispor dele
precisamente quando eles ocorreram. como bem entendesse.
Depois de Israel ter ganho o controle sobre
Temas de Josué Canaã, as tribos dividiram a terra entre si.
Deus prometeu ajudar as tribos a expulsar de
A transição do poder de
lá quaisquer povos que ainda estivessem nas
Moisés para Josué
terras (Js 13.6), mas o povo de Deus não teve
Antes da morte de Moisés, ele comissionou fé para fazer isso. Essa falha levou a conse­
Josué para ser seu sucessor (Dt 31.3,7,8,14,23). qüências graves, como veremos mais tarde.
O livro de Josué traça o desenvolvimento do
novo líder de Israel e mostra a aprovação de Fidelidade de Deus a suas promessas
Deus para com ele. Josué tornou-se, de fato, o A Bíblia enfatiza que a conquista e a divi­
novo Moisés, pois o mesmo Deus que agiu são de Canaã por Israel, não aconteceu devi­
mediante Moisés estava agindo por meio dele do o tamanho ou a força de seu exército. Pelo
Os 1.5; 3.7). contrário, aconteceu devido à fidelidade de
Deus (Js 21.43-45). O Senhor manteve sua
A conquista e a divisão de Canaã
promessa a Israel, assim como mantém suas
O livro de Josué contém duas seções prin­ promessas aos cristãos de hoje (2Co 1.20).
cipais. Os capítulos 1-12 descrevem como Is­
rael conquistou a terra prometida; os capítu­ ■MH WÊBMSMãM,
los 13-24 mostram a divisão e o assentamento
de Israel nas terras conquistadas.
A mensagem do
O Senhor havia prometido aquela região livro de Josué
para Abraão centenas de anos antes (Gn 12.7).
Ele havia, então, ordenado que Israel destru­ Israel conquista a Terra
ísse os habitantes daquela terra e tomasse pos­ (capítulos 1-12)
se dela para si. A conquista de Canaã servia a
dois propósitos: lançar o julgamento de Deus Preparativos para a conquista
sobre os povos de lá (Lv 18.24,25; Js 11.21) e (capítulos 1-5)
trazer sua bênção para Israel. Deus apareceu a Josué depois de termina­
A palavra hebraica herem tem um impor­ dos os trinta dias de luto por Moisés (Dt 34.8).
tante papel na compreensão dessas batalhas. O Senhor desafiou seu novo líder três vezes
Deus algumas vezes ordenava que Israel des­ para que ele fosse forte e corajoso (Js 1.6,7,9).
170
Josué

Estratégia • Sidom
Damasco
Básica de Israel
na Conquista
da Terra
Hazor

M A R DA
G A L IL É IA

Campanha do Norte

Siquém

Cam panha
Central Escala
Jericó 0 10 20 mi
j ______ i
h
20 km

•H eb ro m
Campanha do

A ra d e
Berseb a
Exército Israelita

Primeiro, Josué precisava concentrar-se na dassem seus companheiros israelitas a conquis­


tarefa que tinha diante dele — liderar o povo tar Canaã (Nm 32.28-32). As tribos garanti­
de Deus para a terra prometida. Em segundo ram a Josué que ele poderia contar com seu
lugar, ele precisava se lembrar de sua herança apoio.
divina e meditar na palavra de Deus regular- Em segredo, Josué mandou dois espias para
mente. Em terceiro lugar ele precisava se lem­ Jericó Os 2.1-24). Os espias entraram na casa
brar da presença de Deus — o Senhor estava da prostituta Raabe porque, supostamente, pen­
com ele! saram que assim não causariam desconfiança.
Josué foi até as tribos de Rúben, Gade e Quando o rei de Jericó ouviu que havia ho­
Manassés. Moisés havia concedido a essas três mens israelitas na casa de Raabe, ele ordenou
tribos permissão para que vivessem no lado a prisão deles, mas Raabe escondeu os espias e
leste do Jordão, mas havia ordenado que aju­ disse aos soldados que eles já haviam partido.
171
Descobrindo os Livros Históricos

ter entrado em Canaã pelo sul e evitado com­


pletamente a água, mas Deus tinha outros
planos. Quando o povo confiou na palavra do
Senhor, ele realizou um grande milagre.
Segundo, precisamos passar a nossa fé
adiante para a próxima geração. Josué fez a
coluna de pedras para que as futuras gera­
ções pudessem ver o poder de seu Deus. Que
obras do Senhor vocè tem visto ele fazer em
sua vida e que você pode passar para outros?
Josué 5 descreve dois memoriais à aliança.
Os israelitas haviam deixado a prática da cir­
cuncisão durante o tempo em que vagaram
pelo deserto e Deus mandou que realizasse
esse sinal da aliança em todos os de sexo mas­
culino. O povo também celebrou a Páscoa na
terra prometida pela primeira vez, quarenta
anos depois de terem deixado o Egito. O fim
do maná do qual eles haviam dependido du­
rante todos os seus dias no deserto (Ex 16.13-
35) indicava o começo de uma nova era. Is­
rael estava finalmente em casa.

A investida central (capítulos 6-9)


A estratégia de Israel era de dividir e con­
quistar, tomando uma porção central de terra
primeiro. A investida central incluiu as vitóri­
as de Jerico, Ai e Betei. Destas, a batalha com
Então, Raabe fez uma aliança com os espi­ Jerico é, sem dúvida, a mais famosa.
as; ela salvou suas vidas e portanto eles deve­ O Senhor deu a Israel instruções peculia­
riam salvá-la. Raabe afirmou sua fé no Se­ res para conquistar Jericó, uma cidade mura­
nhor bem como seu temor do povo de Jerico. da aparentemente impenetrável. O exército
Os homens concordaram que se Raabe pen­ deveria marchar ao redor da cidade uma vez
durasse um cordão vermelho de sua janela, o por dia durante seis dias consecutivos, com a
exército israelita pouparia a todos que estives­ arca do Senhor à frente. Os sacerdotes que
sem em sua casa. Eles voltaram para o acam­ acompanhavam a arca deveriam carregar
pamento de Israel e relataram a Josué tudo o trombetas feitas de chifres de carneiros. No
que havia ocorrido. sétimo dia, o exército deveria rodear a cidade
A travessia do rio Jordão demonstrou a sete vezes, com os sacerdotes tocando as trom­
mão de Deus sobre Josué, seu novo líder (3.1- betas feitas de chifres de carneiros. Quando a
5.15). O degelo da neve de inverno havia trombeta desse um toque mais longo, o povo
feito com que o rio transbordasse em suas deveria gritar e Deus prometeu que os muros
margens, mas o Senhor fez parar as águas e iriam ruir. O povo seguiu as instruções de Deus
eles atravessaram em terra seca, exatamente e os muros de Jericó ruíram.
como quando Moisés liderou o povo através O milagre de Jericó ilustra um outro im­
do mar. Israel acampou em Gilgal e Josué portante princípio espiritual. Deus com fre­
colocou uma pilha de pedras como memorial qüência escolhe agir em função da obediên­
onde Israel havia cruzado o rio. Gerações cia de seus servos. Ele algumas vezes pode
futuras poderiam, então, ver onde Deus ha­ usar nossos talentos e forças, porém, mais que
via mostrado sua glória. tudo, ele quer que nos submetamos a sem
Josué 3 e 4 ilustra dois princípios importan­ planos.
tes. Primeiro, Deus algumas vezes nos leva O Senhor ordenou que Josué destruísse
por caminhos inesperados a fim de mostrar tudo que fosse vivo e desse os espólios para
sua glória. Parecia não fazer sentido guiar Is­ ele. Apenas Raabe e sua família sobreviveram
rael através do Jordão quando o povo poderia à batalha, de acordo com a promessa feita
172
Josué

pelos espias. Raabe tornou-se parte de Israel, GlBEÁ, uma das principais cidades do ter­
mas o evangelho de Mateus nos conta algo ritório central de Canaã, rapidamente tomou
ainda mais admirável: Raabe tornou-se uma providências para evitar um confronto com
ancestral de Jesus Cristo (1.5). A graça de Israel (9.1-27). Fingindo vir de uma terra dis­
Deus alcançou Raabe e não só a fez parte da tan te, uma d elegação gibeonita foi até
família como também a usou para trazer ao GlLGAL c pediu aos israelitas que fizessem
mundo o seu Salvador. A vida de Raabe mos­ aliança com eles. Depois de terem feito alian­
tra que a graça de Deus pode alcançar a to­ ça, os israelitas descobriram que os gibeoni-
dos os que se humilharem diante dele e colo­ tas viviam em Canaã. Deus havia ordenado
carem sobre ele a sua confiança. que seu povo destruísse todos os habitantes,
Deixando Jerico para trás, os israelitas pro­ mas agora o povo havia concordado em li­
vavelmente passaram a supor que ninguém vrar os gibeonitas. Josué e os líderes decidi­
poderia atravessar o seu caminho. Em vez dis­ ram que, em vez de eliminá-los, eles fariam
so, Israel sofreu uma derrota humilhante na deles seus escravos.
batalha de Ai (Js 7.1-8.35). Josué questionou
o Senhor e descobriu que Israel havia pecado A investida do sul (capítulo 10)
— alguém havia ficado com parte do tesouro O tratado dos israelitas com Gibeá signifi­
para si! Deus revelou que o culpado era Acã, cava que eles haviam conseguido controlar
que morreu por seu ato de rebelião. A família toda região central de Canaã. Quando os reis
de Acã também morreu; talvez eles tivessem do sul de Canaã souberam do tratado, eles
participado de seu crime, ajudando-o a es­ resolveram atacar Gibeá. Israel foi salvar Gibeá
conder os espólios. e Deus usou essa ocasião para que esses reis
Após o julgamento da família de Acã, Is­ fossem derrotados e para entregar o sul de
rael investiu mais uma vez contra Ai. Por meio Canaã a Israel. O Senhor fez chover grandes
de um grupo de emboscada, Israel foi vitorio­ pedras de granizo sobre os inimigos de Israel e
sa sobre Ai e sobre a vizinha Betei, que tentou também prolongou a luz do sol para ajudar
ajudar Ai. Josué a derrotar a coalizão.
173
Descobrindo os Livros Históricos

Sidom Depois dos israelitas terem prevalecido, eles


A Cam panha/ continuaram lutando contra outras cidades e
reinos do sul. Não tardou para que a região
do Norte estivesse em mãos israelitas.

A investida do norte (11.1-15)


Na região norte de Canaã, uma outra coa-
lizão estava se formando. Jabim, rei de Hazor,
uniu suas forças a de outros reis contra o exér-
cito de Josué. Assim como na iniciativa do
sul, o exército de Josué marchou sobre seus
inimigos e conquistou suas cidades. A vitória
sobre essa coalizão levou a uma seqüência de
vitórias sobre outras cidades e vilas do norte.
Josué 11.15 descreve como Josué comple­
tou a tarefa que Deus bavia dado a Moisés.
Deus ordenou que Moisés tomasse Canaã.
Moisés confiou essa tarefa a Josué, que a ter­
minou. O mesmo Deus que bavia agido por
meio de Moisés agora completava o seu traba-
lho por intermédio de Josué. Esse mesmo Deus
também nos capacitará a completar aquilo que
ele nos chamar a fazer.

Declaração sumária (11.16-12.24)


Os israelitas haviam assegurado o controle
efetivo sobre Canaã e a TRANSJORDÂNIA.
Apesar de parecer que algumas batalhas acon­
teceram do dia para noite, a conquista de
de Gilgal
Canaã levou aproximadamente seis a sete

Parte do
impressionante
sistema hídrico
subterrâneo de
Hazor, na região
norte de Israel.
Jabim, rei de
Hazor, uniu-se a
outros reis
contra o
exército de
Josué.

174
Divisão Tribal
e Cidades de
Refúgio

MANASSES

O Golã

/
Ramote-Gileade Q
#
#
G eraza

Sucote# o Manaim

GADE

Rabá-bene-amom

Hesbom * OBezer

® M edeba

RÚBEN

Escala

10 20 mi
_L
I T-1
0 10 20 30 km
SIM tA O

O Cidade de Refúgio
Descobrindo os Livros Históricos

haviam perseverado em seguir o Senhor (Js


14.8). E ele ainda estava seguindo ao Senhor
de todo o seu coração aos oitenta e cinco anos
de idade! Calebe pediu Hebrom, comprome­
tendo-se a expulsar de lá os seus habitantes se
Deus lhe desse vitória. E Deus lhe deu. A
vida de Calebe é um exemplo de fidelidade
para todos os crentes de hoje.
Josué 15—19 descreve como Josué dividiu
o restante das porções de terra entre as tribos
(ver mapa). Enquanto você estuda o mapa,
observe os seguintes itens:

• EFRAIM e Manassés, as tribos que


vieram dos filhos de José, cada uma
recebeu sua herança (Js 16,17; Gn
48.21,22). Manassés, de fato, recebeu
território de ambos os lados do Jordão.
• O texto menciona diversas tribos que
A cidade de anos.4 A vitória de Israel foi, na realidade, a não puderam expulsar ou simplesmen­
Siquém é vitória de Deus, pois Deus usou Israel como te não expulsaram os outros povos
ladeada pelos
seu instrumento para julgar os povos incrédu­ habitantes de seu território (Js 15.63;
montes Gerizim
e Ebal (Js 8,24). los de Canaã (11.20). 16.10; 17.12,13). Os israelitas acabaram
aceitando muitas das práticas religiosas
Israel divide a terra prom etida desses povos e isso teve um efeito
(capítulos 13-21) devastador sobre a fé do povo de Israel.
O desafio restante para Israel • Israel tinha seis cidades de refúgio, três
a oeste do Jordão e três a leste do
(capítulo 13)
Jordão (Js 20.1-9).
Os israelitas haviam conquistado a área a • Os levitas receberam quarenta e oito
leste do Jordão, mas apesar de terem contro­ cidades entre as tribos (Js 21).
lado Canaã, seu trabalho ainda não estava
terminado. Vários povos continuavam a habi­ Quando Josué terminou de dar as terras às
tar as áreas mais remotas de Canaã. Algumas tribos, o povo deu a Josué a sua porção —
tribos de Israel ficaram com o desafio de ex­ Timnate-Sera, na região de Efraim. Assim, a
terminar, cada uma por conta própria, esses porção de Calebe foi a primeira distribuída
grupos menores. Como veremos, Israel não em Israel e a de Josué foi a última. Esses dois
conseguiu expulsar esses povos e logo as influ­ homens de fé deixaram sua marca para sem­
ências pagãs corromperam o povo de Deus. pre naqueles que herdaram a terra.
A herança de terras de Israel As cidades de refúgio em Israel
(capítulos 14-19) (capítulos 20,21)
Quando Judá começou a determinar a por­ As cidades de refúgio (20.1-9) protegiam
ção de terra que lhe caberia, Calebe veio à aqueles que acidentalmente haviam causa­
frente (14.6-15). Esse homem de fé havia do a morte de uma outra pessoa. Alguém que
acompanhado Josué quarenta e cinco anos fosse culpado de tal ofensa deveria permane­
antes, quando Moisés mandou os doze espias cer em uma dessas cidades até que o sumo
para Canaã (Nm 13,14). Somente Josué e sacerdote falecesse. Moisés havia instruído o
Calebe haviam permanecido firmes em sua povo para que providenciasse tais cidades (Nm
convicção de que Deus lhes daria a terra ape­ 35.9-15) e Josué completava a tarefa.
sar dos obstáculos. Agora, os dois estavam jun­ Os levitas não receberam nenhuma terra
tos em Gilgal, os únicos dois sobreviventes de por herança (Js 21). Ao invés disso, Deus lhes
uma geração de incredulidade. deu quarenta e oito cidades entre as tribos,
Calebe apresentou seu testemunho. Quan­ bem como as pastagens ao redor onde eles
do ele e os outros haviam espiado a terra, eles poderiam levar seus animais. Dessa forma, os
1 76
Josué

lho de Eleazar e neto de Arão, liderou uma


delegação para investigar o assunto.
A princípio, parecia que as tribos do leste
estavam desobedecendo a ordem de Deus
para que só adorassem nos lugares por ele
determinados (Dt 12.13,14) e as tribos do
oeste preparam-se para guerrear contra eles.
Mas as tribos de Rúben, Gade e Manassés
insistiram que haviam construído o altar
como testem unho, um monumento para
lembrar os israelitas de Canaã que aqueles
que viviam do lado leste também faziam parte
do povo de Deus. Eles queriam que o altar
comemorasse esse fato.

Os desafios finais de Josué para o


povo de Deus (23.1-24.27)
O livro de Josué preserva dois dos desafios
finais de Josué para o povo de Deus. Não há
dúvida que ele deve tê-los desafiado a se­
guir o Senhor de todo o coração em muitas
outras ocasiões.
Em seu primeiro discurso (23.1-6), Josué
desafia os líderes de Israel a lembrarem-se das
grandes coisas que eles tinham visto Deus fa­
zer. Ele pediu que eles se apropriassem das
promessas de Deus para o presente e para o
futuro — Deus expulsaria os outros povos e os
estabeleceria na terra prometida. O povo de
Deus deveria demonstrar sua fé obedecendo
à Lei de Moisés e não se misturando com os
Uma cena do levitas viviam no meio do povo de Deus e povos ao seu redor. Josué os advertiu de que,
mercado em estavam disponíveis para ajudá-los com ques- se eles não observassem essas instruções, cer­
Hebrom, a
tões espirituais e para arbitrar disputas. tamente pereceriam.
cidade que
Josué deu a Essa seção encerra-se com o testemunho No segundo discurso (24.1-28) Josué con­
Calebe, um dos da fidelidade de Deus (21.43-45). Deus cum­ tou mais uma vez a história de Israel dos tem­
espias que priu todas as suas promessas para Israel e po­ pos de Abraão até aqueles dias. Deus havia
relatou sobre a demos estar certos de que ele fará o mesmo mostrado sua fidelidade a cada passo do ca­
terra prometida
conosco (Hb 13.8). minho e atuado em vários momentos da his­
(Js 14).
tória para redimi-los. Havia sustentado o seu
Israel com eça a se assentar povo durante os anos no deserto. E havia lida­
na terra prom etida do com seu povo sempre mediante a graça.
(capítulos 22-24) Josué exortou o povo a se comprometer to­
talmente com o Senhor, acrescentando o seu
Um mal-entendido inicial quase leva
testemunho pessoal: “Eu e a minha casa ser­
a uma guerra civil (capítulo 22) viremos ao Senhor” (24.15). Quando o povo
As tribos de Rúben, Gade e Manassés ha­ afirmou que seguiria ao Senhor, Josué fez uma
viam ajudado os outros israelitas a tomar pos­ aliança com eles e ergueu uma grande pedra
se da terra de Canaã, cumprindo assim sua como testemunha de suas palavras. Essa alian­
promessa para Josué (Js 1.16-18). Josué os dis­ ça confirmava as outras alianças que o povo
pensou com uma bênção, desafiando-os a per­ havia feito no Monte Sinai (Ex 24) e em Moa-
manecerem fiéis ao Senhor e seus caminhos. be (Dt 29-31). Também dava ao povo mais uma
Mas quando as três tribos chegaram no Jor­ oportunidade de proclamar publicamente sua
dão, construíram um grande altar. As outras união com o Senhor e mais nenhum outro deus,
tribos ouviram falar do ocorrido e Finéias, fi­ assim como haviam feito antes (Js 8.30-35).

177
Descobrindo os Livros Históricos

enterraram Eleazar, o filho de Arão. Com o


Lugares-chave sepultamento de Josué e Eleazar, uma outra
era se encerrava na História de Israel.
Ai O que Josué fez para preparar a geração
Gibeão seguinte? Encontramos a resposta em Josué
Gilgal 24.31. “Serviu, pois, Israel ao Senhor todos os
Transjordânia
dias de Josué e todos os dias dos anciãos que
Termo-chave Efraim
ainda sobreviveram por muito tempo depois
Herem de Josué e que sabiam todas as obras feitas
pelo Senhor a Israel”. Josué liderou o povo por
meio da palavra e do exemplo, e confiou a
mensagem de Deus a líderes fiéis que deram
Três sepultamentos (24.28-33) continuidade a ela depois que Josué morreu.
O livro de Josué se encerra com o registro Josué 24-31 nos faz lembrar de uma impor­
de três sepultamentos. Josué faleceu com cen­ tante tarefa que o Senhor colocou em nossas
to e dez anos e Israel o enterrou em seu terri­ mãos. Como cristãos, parte de nossa responsa­
tório. O povo de Deus também enterrou os bilidade é colocar a fé cristã firmemente nas
ossos do patriarca José, os quais eles haviam mãos da geração seguinte. Estamos prepara­
trazido do Egito (Gn 50.24,25). Finalmente, dos para aceitar esse desafio?

Sumário

1. Os israelitas tiveram sucesso na con­ influenciada pelos costumes pagãos


quista de Canaã por causa da forte li­ desses grupos.
derança de Josué, que recebeu o po­
7. A terra de Canaã foi dividida entre as
der de Deus.
doze tribos. Os levitas receberam qua­
2. E bastante provável que Josué tenha renta e oito cidades dentre as tribos.
sido o autor do livro que leva o seu
8. Israel designou seis cidades como re­
nome.
fúgios para proteger pessoas que
3. Os três temas do livro de Josué são: a houvessem acidentalmente causado a
transição do poder de Moisés para morte de alguém.
Josué; a conquista e divisão de Canaã;
9. Quando as tribos de Rúben, Gade e
a fidelidade de Deus à sua promessa.
Manassés construíram um grande al­
4. Deus desafiou Josué a ser um líder tar na banda leste do rio Jordão, as
forte e corajoso, concentrando-se na demais tribos preparam-se para guer­
tarefa diante dele, lembrando-se de rear contra eles, pois pensaram que
sua herança divina e tendo em mente as tribos do leste haviam desobedeci­
que Deus estava sempre com ele. do a Deus.
5. A estratégia militar de Israel era de 10. Antes de sua morte, Josué desafiou
conquistar primeiro a parte central de os líderes israelitas a lembrarem-se
Canaã, onde aconteceu a importante das grandes coisas que tinham visto
batalha de Jericó. Deus fazer; ele recapitulou a história
de Israel desde os dias de Abraão e
6. Por não ter expulsado grupos meno­
exortou o povo para que se compro­
res de ocupantes da terra, Israel foi
metesse por completo com o Senhor.

1 78
Josué

Questões para estudo

1. Quais são os principais temas do livro 3. Qual era o significado das cidades-re-
de Josué? fúgio e das cidades levíticas?
2. Que estratégia básica Israel usou para 4. Você acredita que Josué teve sucesso
conquistar a terra? Descreva as três em cumprir o plano de Deus para a
maiores iniciativas militares de Josué. vida dele? Justifique.

Leituras com plem entares

Hess, Richard S. Joshua: An Introduction and Com- Merril, Eugene H. Kingdom o f Priests: A History o f Old
mentary. Downers Grove: InterVarsity, 1996. Testament Israel. Grand Rapids: Baker, 1987. Uma
Um sólido comentário evangélico para o aluno história de Israel apresentada em nível de seminário
universitário. que combina bom estudo e leitura fácil.
Howard, David M., Jr. An Introduction to the Old Testa- Woudstra, Marten H. The Book o f Joshua. New Inter­
ment Historical Books. Chicago: Moody, 1993. Uma national Commentary on the Old Testament. Grand
excelente exposição dos Livros Históricos que faz Rapids: Eerdmans, 1981. Para o aluno sério. Contém
bom uso dos estudos disponíveis atualmente. extensas notas de rodapé e referências.

179
Juizes e Rute
A crise moral de Israel

Objetivos
Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
• Descrever quem são os juizes no livro
que leva o seu nome.
• Delinear o conteúdo básico do livro de
Juizes.
• Explicar as razões pelas quais Israel
falhou em completar a conquista.
• Documentar o ciclo usado para
introduzir os juizes.
• Dar o nome dos juizes maiores e
menores.
• Identificar os personagens centrais de
Rute.
• Delinear o conteúdo básico do livro de
Rute.
• Ilustrar o papel do resgatador.
• Explicar a lei de casamento de levirato.
• Ilustrar a soberania de Deus no livro
de Rute.

181
Descobrindo os Livros Históricos

Vista de Jezreel
do Monte
Tabor. Baraque e
suas tropas se
reuniram nessas
encostas
íngremes antes
de atacar os
cananitas sob a
liderança de
Sísera.

O livro de Josué estava repleto de grandes


História
Deuteronô­ sucessos. As tribos de Israel haviam sido unifi­ 0 üvro de Juizes
mica cadas sob uma liderança forte e tinham con­
seguido conquistar a terra prometida. Apesar O livro é parte de uma unidade literária
dos registros de Josué terem passagens como o maior detalhando a história do povo de Deus,
pecado de Acã (capítulo 7), o livro enfatiza o que continua ao longo dos livros de Samuel e
sucesso de Israel em tomar e dividir a terra Reis. Devido ao impacto teológico do livro de
prometida. Deuteronômio nessa unidade, podemos nos
Mas esse período de grande vitória nacio­ referir a ela como sendo a História Deutero­
nal foi curto. A conquista rápida e miraculosa nômica (ver discussão no capítulo 10). A ex­
foi seguida de um período mais longo de tem­ pressão “naqueles dias, não havia rei em Is­
po durante o qual Israel parecia ter perdido rael” (17.6; 18.1; 19.1; 21.25) sugere que o
sua orientação moral. Durante esse período ponto de vista do autor era de um período
(aproximadamente dois séculos), Israel con­ mais adiante, do tempo da monarquia, olhan­
tinuamente pecou contra Deus e quebrou a do para trás, para o período pré-monárquico.
aliança. O povo escolhido de Deus parecia O livro não contém referências à autoria e
determinado a adotar a religião proibida dos devemos aceitá-lo como sendo uma composi­
cananitas e depender de sua própria habilida­ ção anônima.
de de se defender das nações inimigas. N a
falta de uma liderança nacional forte (Jz 17.6; WÊÊÊÊKÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊKÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊm

21.25) e não desejando confiar em Deus, a Conteúdo


nação foi à falência moral — e aparentemente
não estava preocupada com a sua condição. Os personagens centrais dessa narrativa são
Josué havia entrado na terra prometida os “juizes” (sõpètím ), um termo que deu ori­
com facilidade. Mas o período seguinte da gem ao nome do livro. Esses juizes não eram
história de Israel mostrou que a vida na terra simplesmente autoridades legais, como deixa
de Deus certamente não seria fácil se o povo a entender o significado da palavra em nossa
persistisse em seu pecado. Dois Livros Históri­ língua. Eles eram líderes militares carismáticos
cos do Antigo Testamento cobrem esse perío­ que tinham poder para determinadas tarefas
do: Juizes e Rute. de livramento (2.16).1 O ofício significava
182
Juizes e Rute

governar em um sentido amplo. Esses doze (17.1-21.25), detalhando episódios que ocor­
juizes foram heróis regionais ou nacionais que reram durante o período dos juizes, mas que
se tornaram governantes militares, recebem não estão relacionados a um juiz específico.
do o Espírito de Deus para liderar a nação em
Introdução (1.1-2.5)
vitórias contra uma determinada nação ini­
miga. Passada a ameaça militar, os juizes nor­ O livro abre com a frase: “Depois da morte
malmente continuavam no papel de lideran­ de Josué”, que tem uma importante função
ça, apesar de nenhum deles ter estabelecido histórica e teológica. Essa abertura marca tan­
uma dinastia real (exceto pela tentativa de to o fim do período anterior de sucesso sob a
Abimcleque). liderança de Josué quanto o começo de uma
nova era na história de Israel.2 Ao contrário
Esboço da conquista e ocupação da terra prometida,
esse novo período dos juizes é um tempo de
I* A conquista incompleta
desobediência e fracasso.
(1.1-2.5)
Esse capítulo introdutório complementa o
II. Desobediência à aliança e ao livro de Josué e dá mais detalhes sobre a natu­
julgamento (2.6-16.31) reza da conquista. Josué enfatizava uma Is­
A. O padrão de desobediência (2.6- rael unificada invadindo e conquistando a
3.6) terra prometida. Isso era apropriado para o pro­
B. O padrão é ilustrado: a história pósito daquele livro. Mas Josué também se
dos juizes (3.7-16.31) refere com freqüência à necessidade de cada
tribo completar individualmente o que eles
III. O colapso da sociedade (17-21) haviam começado em conjunto (Js 13.1-13;
A . A quebra da vida religiosa: o 16.10; 17.12,13; 16-18; 18.2-4). Josué apresen­
ídolo de Mica (17,18) ta um quadro de grandes vitórias militares,
B. O colapso da justiça e da ordem mas é uma conquista incompleta.
civil: guerra civil (19-21) Juizes 1.1-2.5, descreve o sucesso limitado
de cada uma das tribos. Judá e Simeão tive­
V isão geral ram sucesso relativo a princípio, mas não fo­
O centro do livro (2.6—16.31) é uma cole­ ram capazes de expulsar os habitantes dos ter­
ção de histórias sobre os juizes que governa­ ritórios confiados a eles (1.19). Várias ou­
ram Israel da morte de Josué até a ascensão tras tribos também não conseguiram alcançar
de Samuel. Uma introdução está ligada a essa vitória sobre os habitantes cananitas. Essa uni­
parte (1.1-2.5), bem como dois apêndices dade nos prepara para o resto do livro de Juizes
O local de Silo, o
lugar onde
ficava a arca da
aliança durante
o período dos
juizes.

183
Descobrindo os Livros Históricos

ao nos informar que os israelitas viviam lado a • Guerra como julgamento — “O Senhor
lado com os cananitas, o que inevitavelmen­ os entregou nas mãos de X (nação
te trouxe influências religiosas e culturais para inimiga) durante X anos”.
o povo de Deus. • Arrependimento — “Mas clamaram ao
O parágrafo de conclusão (2.1-5) confir­ Senhor os filhos de Israel...”
ma que Israel havia sido desobediente. As tri­ • Livramento — “O Senhor lhes suscitou
bos individuais entraram em acordo com os um libertador X (nome do juiz) que os
habitantes de suas terras e, portanto, a con­ libertou”.
quista ficou incompleta. Os cananitas que
sobraram na terra seriam o seu sofrimento no Essa seqüência normalmente é seguida de
futuro (2.2,3). uma declaração de que a terra ficou em paz
durante X anos, enquanto o juiz estava vivo.
Corpo principal das histórias Apesar do autor usar diversas variações
(2.6-1 6.31) desse ciclo, ele repete esse padrão em seis oca­
O fracasso de Israel em completar a con­ siões: em 3.6-16.31 para ressaltar seis juizes
quista foi resultado de sua desobediência à em particular: Otoniel (3.7-11), Eúde (3.12-
aliança e falta de fé (2.2,3). A parte central do 30), Débora (4.1-5.31), Gideão (6.1-8.28),
livro continua, demonstrando que essa quebra Jefté (10.6-12.7) eSansâo (13.1-15.20). Além
da aliança não foi um acontecimento único ou desses seis juizes maiores, o autor dá uns pou­
isolado. Infelizmente, a desobediência à alian­ cos detalhes sobre a carreira de seis juizes
ça tomou-se o modo de vida de Israel. menores: Sangar (3.31), Tola (10.1,2), Jair
Essa parte central tem sua própria introdu­ (10.3-5), Ibsã (12.8-10), Elom (12.11,12) e
ção. O autor prepara os leitores para os juizes Abdom (12.13-15).
ao apresentar três fatos básicos e gerais (2.6- De maneira alguma os juizes são retrata­
3.6). Primeiro, a geração de Josué havia mor­ dos como indivíduos santos e exemplares. Eles
rido e a nova geração de israelitas havia rejei­ eram líderes temporários levantados por Deus
tado Iavé (2.6-15). Essa nova geração adora­ para libertar o seu povo. Alguns eram dignos
va os deuses cananitas em vez do Senhor que de imitação (Otoniel e Débora). Mas Jefté
os havia tirado do Egito. Assim, o Senhor irou- aparentemente fazia pouca idéia dos requisi­
se e permitiu que as nações inimigas afligis­ tos de Iavé e são bastante conhecidas as fa­
sem Israel (2.13,14). Segundo, sempre que o lhas de Sansão. Como regra, esses juizes ilus­
povo se arrependia, o Senhor levantava den­ tram a graça e a misericórdia de Deus para
tre eles juizes para livrá-los (2.16-23). Mas com seu povo. Eles não são necessariamente
depois que o juiz morria, Israel voltava a cair exemplos de devoção a Deus.
em pecado e idolatria, adorando outros deu­
Apêndices (capítulos 17-21)
ses (2.19). Terceiro, por causa de seu fracasso
em conquistar completamente a terra prome­ Os cinco últimos capítulos de Juizes retra­
tida, os israelitas estavam vivendo entre ou­ tam uma época de anarquia geral e falta de
tras nações naquelas terras (3.1-6). Essas na­ leis. Eles narram dois acontecimentos horrí­
ções eram uma ameaça militar. Mas ainda veis que ilustram um dos períodos mais som­
mais importante que isso, elas eram uma amea­ brios da história nacional de Israel: Mica e a
ça religiosa por causa da propensão de Israel migração de Dã (17,18) e o estupro da con­
em aceitar as crenças pagãs. cubina do levita e a subseqüente guerra entre
As características históricas desse período as tribos (19—21). Nesse trecho, lemos sobre
(descritas em 2.6-3.6) tornaram-se o padrão idolatria, conspiração, violência sem sentido
literário geral para o resto da unidade central e degeneração sexual.
do livro: Israel peca contra o Senhor, o Se­ Esses capítulos não apresentam uma histó­
nhor os entrega a uma nação inimiga, depois, ria cronológica do período. Em vez disso, mos­
o Senhor lhes dá um juiz para libertá-los, mas tram como era a vida durante o tempo dos
a nação volta a cair em pecado. O autor do juizes, antes que houvesse um rei em Israel. A
livro usou o seguinte ciclo para apresentar repetição da frase “Naqueles dias, não havia
certos juizes: rei em Israel” (17.6; 18.1; 19.1;21.25), deixa im­
plícito que o autor acreditava que aquela si­
• Pecado — “Os filhos de Israel fizeram o tuação do povo era devido à falta de uma
que era mau perante o Senhor”. firme liderança monárquica. Ele obviamente
184
Juizes e Rute

Portão da
cidade
reconstruído em
Dã, na região
norte de Israel.
Essa cidade foi
capturada pelos
danitas quando
eles migraram
para o norte.

apoiava a monarquia e acreditava que ela era com Deus. A introdução faz uma retrospecti­
o instrumento de Deus para prover segurança va c compara o período dos juizes com o perío­
e paz naquela terra. Muitos estudiosos supõem do anterior de sucesso sob a liderança de Josué.
que o autor viveu nos tempos de Davi ou Sa- Essas narrativas olham adiante com ansieda­
lomão e era um defensor convicto do reinado de, esperando pela monarquia, quando a li­
de Davi. nhagem de Davi traria paz e segurança. O
Assim como na introdução (1.1-2.5), es- autor tem um ponto de vista monárquico no
ses capítulos mostram como Israel falhou em que diz respeito ao período de caos e crise
viver dentro do relacionamento de aliança moral resultantes da falta de um rei. O cia-

Relativismo moral e cultura moderna

0 livro de Juizes nos adverte sobre o relativis­ na Suprema Corte dos Estados Unidos, mudou
mo moral, ou seja, o comportamento baseado esse padrão social.
nas opiniões humanas. A Bíblia nos ensina que Mas o que foi, de fato, que mudou? Será que
os padrões para o comportamento humano são um ato errado e pecaminoso tornou-se subita­
dados por Deus. Sozinhos, os seres humanos vão mente aceitável só porque um grupo poderoso
sempre falhar em viver dentro desses padrões. assim decidiu? Será que as verdades universais
Mas com a ajuda de Deus e a sua graça podemos que antes tornavam o aborto ilegal mudaram de
descobrir qual é a sua vontade para que ande­ repente? Não. Na verdade, foi a sociedade ameri­
mos de forma reta (SI 1.1,2). cana que mudou!
Ao contrário da Bíblia, a cultura moderna com Os padrões morais de Deus nunca se alteram.
freqüência estabelece os padrões sociais para o Apesar das culturas humanas inevitavelmente se
comportamento tomando por base a opinião da desenvolverem, os requisitos de Deus para a reti­
maioria. 0 certo e o errado são determinados por dão e santidade não mudam. Cada geração de
aquilo que a maioria considera certo ou errado. cristãos deve cuidadosamente repensar qual é a
Mas tal moralidade é instável. Antes de 1973, aplicação específica desses requisitos. Mas está
por exemplo, o aborto era ilegal nos Estados Uni­ claro que Deus estabeleceu e revelou um padrão
dos, o que deixava implícito que era moralmente absoluto de santidade que os cristãos devem res­
incorreto e prejudicial à moral norte-americana. peitar mais que ao relativismo humano.
Naquele ano, a famosa decisão Roe versus Wade,

185
Descobrindo os Livros Históricos

mor dessa seção: “Não havia rei em Israel” uma região específica durante um período li­
adverte para a anarquia resultante quando mitado de tempo. Só uma área relativamente
não há uma liderança firme. pequena estava em perigo quando havia emer­
Essas narrativas são diferentes da parte cen­ gências militares. Eúde, por exemplo, impe­
tral do livro, pois o problema vem de uma fon­ diu a invasão limitada de Moabe, que afetava
te diferente. Nos capítulos 2.6-16.31 Israel apenas as áreas de Benjamim e Efraim, e as
estava sendo afligida por inimigos externos guerras de Gideão contra os midianitas afeta­
que os oprimiam militarmente. Mas nos capí­ vam apenas a tribo de Manassés. O livro pare­
tulos 17-21, os problemas eram internos. Is­ ce sugerir que os juizes governavam diferen­
rael era sua própria e pior inimiga. tes áreas de Israel simultaneamente.
O autor de Juizes salienta o fato de que o Esse ponto está ligado à questão da data
povo “fazia o que achava reto” — e que nor­ do êxodo e da conquista (ver capítulo 6). O
malmente era errado aos olhos de Deus! A fim desse período pode ser datado com mais
repetição dessa afirmação (17.6; 21.25) mos­ precisão como sendo o início do reinado de
tra o reconhecimento da necessidade de or­ Saul (provavelmente por volta de 1050 a.C.).
dem absoluta na sociedade. Moralidade não Se a data do século 15 está correta para o
é algo relativo à própria experiência. Deve êxodo, então é possível ter havido um período
haver um padrão externo que determine o de 390 anos com os juizes. Mas os anos de
que é certo e errado na ética do ser humano. opressão e de paz devem ser somados àqueles
Para o autor de Juizes, esse padrão externo do governo de cada juiz, levantando certas
para a sociedade israelita seria mantido por questões sobre a data mais antiga.
um rei israelita. Para o cristão, o absoluto ex­ Entretanto, o livro de Juizes não requer esse
terno ainda é necessário pois os seres huma­ período de tempo, tendo em vista que alguns
nos não são capazes de estabelecer seus pró­ juizes governaram concomitantemente. Con­
prios padrões morais. Nos dias de hoje, os pa­ cluímos, portanto, que o livro apresenta ape­
drões externos ainda são estabelecidos e man­ nas uma cronologia relativa, em vez de uma
tidos pelo Rei celeste (Jo 14-15). cronologia absoluta do período dos juizes. O
período mais curto ficaria em torno de 150
mMÊÈÊÊfflmimÊfflMMmM t h n iiiim f í 'i i iwim r" i^ iw irriin w rir i anos, supondo que o êxodo ocorreu no século
13 e contando até os tempos de Saul (aproxi­
Problemas históricos madamente 1200-1050 a.C.). O período mais
em Juizes longo ficaria em torno de 350 anos, supondo
que o êxodo ocorreu no século 15 (aproxima­
O livro de Juizes está mais preocupado damente 1400-1050 a.C.).4
com a fidelidade à aliança (ou a falta dela)
do que com os detalhes históricos. Isto nos Estrutura política
deixa importantes questões sobre a história Qual era exatamente a natureza da orga­
desse período. nização política de Israel durante o período
dos juizes? Essa é uma outra questão levanta­
Cronologia da pela falta de detalhes históricos no livro de
Tendo em vista que o número de anos Juizes.
durante os quais cada juiz governou é dado Os israelitas eram um grupo sem-terra de
nos relatos, é possível somar o número total de ex-escravos, organizados em uma forma tribal
anos e chegar a um número preciso sobre o de sociedade relacionada a seus laços fami­
tempo coberto por esse livro. Tal cálculo tem liares com Jacó. Sua estrutura tribal foi ade­
como resultado um período de 390 anos.3 Para quada durante os anos que passaram vagan­
isso parte-se do pressuposto de que os juizes do pelo deserto. Mas o livro de Juizes mostra
governavam consecutivamente, cada um go­ que a vida sedentária na terra prometida es­
vernando sobre uma Israel nacionalmente tava ameaçada, em parte, por causa dessa or­
unificada. ganização política.
Mas isto é supor demais. Os juizes parecem Os estudiosos modernos procuram esclare­
ter sido governantes locais ou regionais. Um cer essa organização tribal, traçando paralelos
dos problemas de Israel durante o período dos com a Grécia antiga. Martin Noth sugeriu em
juizes é a falta de uma autoridade governan­ 1930 que o sistema de doze tribos de Israel era
te central. Os juizes traziam paz e segurança a sociologicamente análogo à anfictionia de

186
Juizes e Rute

Belém vista de
montes nas suas
proximidades.
Noemi deixou
sua terra natal
— Belém —
para escapar da
fome; quando
ela voltou, era
começo da
colheita.

Delfos, na Grécia, por volta do ano 600 a.C.5 A transição viria a ser crítica para Israel, pois acon­
idília
anfictionia era uma associação de doze mem­ teceu sob a forte influência da religião cananita
bros centrados ao redor do templo de Delfos. da fertilidade. A forma como o povo reagiu a
Os doze membros tinham o compromisso de essa pressão e abriu mão de sua fé foi um mo­
promover uma coexistência pacífica e com a mento de definição para Israel como nação.
defesa unificada contra agressores estrangei­
ros. O santuário era o local de antigos festivais hhhm wammm n mm m hnhkh
religiosos e oferecia um centro unificador im­
portante para esses grupos que, de outro modo, O livro de Rute
seriam completamente separados.
Mesmo durante os períodos de crise moral,
Os paralelos com a antiga Israel eram, apa­
Deus está à procura de servos fiéis para aben­
rentemente, óbvios. O tabernáculo era o tem­
çoar. O livro de Rute é sobre a obra soberana
plo central (localizado primeiro em Siquém e
de Deus na vida dos seres humanos despre­
depois em Silo), as cerimônias periódicas de
tensiosos e humildes durante o período dos
aliança e os esforços militares unificados pa­
juizes. Essa história admirável fala de uma fa­
reciam todos apoiar a idéia de que Israel ti­
mília fiel de Belém que viveu durante um
nha uma estrutura anfictiônica. A princípio,
período de completo caos e confusão moral.
essa visão foi amplamente aceita.
Deus abençoou essa família de maneira sur­
Mas em décadas mais recentes, os estudio­
preendente.
sos vêm criticando as comparações entre a
Grécia antiga e Israel. Os Livros Históricos não
fazem nenhuma menção desse tipo específi­
co de princípio de organização. Aliás, o livro Conteúdo
de Juizes parccc deixar implícito que tal es­
trutura formal era justamente o que estava O livro de Rute é uma obra-prima literária.
faltando à antiga Israel. Os laços religiosos e Ele pode ser classificado como uma idília, ou
éticos eram provavelmente os mais importan­ simplesmente uma descrição da vida rústica.
tes fatores de unificação durante o período A ação gira em torno de três personagens prin­
dos juizes, mais até do que a devoção comum cipais: Noemi, Rute e Boaz. Noemi e sua fa­
em um determinado templo. Nos dias de hoje, mília foram forçados a deixar o seu lar em
o termo “anfictionia” só pode ser aplicado a Belém por causa dc uma grande fome. Du­
Israel em seu sentido mais geral. rante sua estadia em Moabe, o marido e os
O que fica claro é que esse período foi uma filhos de Noemi faleceram, deixando-a sozi­
fase de transição na antiga Israel. Foi o perío­ nha com suas noras. Uma delas, Rute, voltou
do entre Josué e os reis do reino unido, quan­ para Belém com Noemi para começar uma
do os juizes ofereceram liderança. O livro de nova vida. Mas a menos que alguém intervi-
Juizes descreve esse período entre os nôma­ esse para ajudar as duas pobres viúvas deses­
des trihais e a monarquia estabelecida. Essa peradas, elas só tinham diante de si uma vida
187
Descobrindo os Livros Históricos

de miséria e solidão. Deus, de fato, interveio e O nome de Noemi provavelmente é uma


ajudou, mas foi de um modo que nenhuma abreviação para “ [Deus é meu] prazer” ou
delas jamais poderia imaginar. “Agradável”. Por mais agradável que tivesse
sido sua vida, ela mudou para sempre duran­
Estrutura literária te uma década que forçou sua família a ir
Os quatro capítulos de Rute são escritos viver em Moabe. Depois que seu marido
quase como uma peça com quatro cenas. Elimeleque morreu, seus dois filhos casaram-
Cada capítulo (ou cena) tem um parágrafo se com mulheres moabitas. Devido a uma sé­
de abertura claramente definido, bem como rie de tragédias que não são explicadas, os
uma conclusão e cada um gira em torno de dois filhos também morreram. Em poucas li­
um diálogo importante. Os capítulos são orga- nhas, o autor pinta um quadro desolador. Essa
nizados dentro de um padrão de “problema- mulher está longe de casa, sem marido e sem
solução”. O capítulo 1 mostra o problema e filhos e já passou de sua idade fértil (v. 11).
sua severidade. Na conclusão do capítulo, Ela encarou as condições mais extremas e
Noemi está sem os filhos e Rute sem o marido. desesperadoras possíveis para uma mulher da
Juntas, elas encaram a realidade da pobreza. antiga Israel.
Os três capítulos seguintes descrevem o des­ Tendo perdido toda a sua segurança e con­
dobramento lento e gradual da solução para forto, Noemi preparou-se para voltar a Belém,
todos esses problemas. O livro cria um clímax para uma vida de solidão e desespero. O casa­
dramático no capítulo 4, que reserva uma sur­ mento era a única fonte de estabilidade e se­
presa em seu final. gurança para uma mulher do antigo Oriente
Próximo. Noemi sabia que seria sacrifício para
Esboço suas duas noras voltar com ela. Mulheres
moabitas vivendo em Belém não teriam ne­
I. Introdução (1.1-5) nhuma chance de uma nova vida. Noemi fez
o que era certo: ela insistiu para que suas duas
IL Retomo a Belém (1.6-22) noras ficassem em Moabe e reconstruíssem
sua vida.
III* Rute encontra Boaz (2.1-23)
Mas o amor insuperável de Rute e seu com­
IV. Rute vai até a eira (3.1-18) prometimento com Noemi a levaram a recu­
sar. Ela escolheu não tornar-se uma esposa
V. Boaz redime Rute e casa-se novamente, mas continuar sendo uma filha.
com ela (4.1-17) Sua expressão de devoção à Noemi tornou-se
clássica (vs. 16,17). A decisão de Rute de ser
VI. Genealogia conclusiva (4.18-22) enterrada na terra natal de Noemi reflete um
compromisso da vida em si. Até mesmo na
Visão geral morte, ela jamais abandonaria Noemi.
Apesar do livro ter o nome de Rute, a his­ Chegando em Belém, Noemi estava qua­
tória na verdade é sobre Noemi e o revés em se irreconhecível por causa dos anos de difi­
sua vida, trazendo circunstâncias tristes. Os culdade (v. 19). Ela pediu que seu nome não
acontecimentos do capítulo 1 ocorrem em fosse mais “Agradável”, mas sim “Amarga”,
Moabe, ou mais precisamente, no caminho ilustrando o contraste entre sua vida antiga e
de volta de Moabe. O resto da ação se passa suas circunstâncias naquele momento. Ao seu
em Belém e seus arredores. lado estava a fiel, porém não muito notável
moabita, Rute. O autor não dá nenhuma dica
Noemi e Rute voltam para Belém
de que, no final, Rute pode ser a resposta para
(capítulo 1) a provação de Noemi.
O parágrafo de abertura (vs. 1-5) lista os
personagens e os posiciona em seu contexto Rute vai rebuscar espigas nos campos
histórico e geográfico. Ao contrário dos perso­ de Boaz (capítulo 2)
nagens de outros Livros Históricos, os perso­ O capítulo começa com uma informação
nagens principais dessa história não são juizes, que é importante para o resto da história (v.
reis ou profetas. Elimeleque e sua família eram 1). Noemi tinha um cunhado chamado Boaz,
israelitas comuns vivendo circunstâncias cor­ que era um homem de posses e respeitado na
riqueiras. comunidade.
1 88
Juizes e Rute

Uma mulher
colhendo grãos
em Israel nos
dias de hoje.
Rute foi até os
campos do
parente de seu
marido e colheu
grãos deixados
para trás pelos
trabalhadores.

Rute nobremente se oferece para ir até os pessoa podia vender as terras temporariamen­
campos e juntar o que conseguisse (v. 2). No te (como uma espécie de arrendamento). O
Antigo Testamento, provia-se para os pobres resgatador era responsável por redimir a pro­
ao exigir que, quando das colheitas, os fazen­ priedade e devolvê-la à família proprietária.
deiros deixassem para trás alguns feixes para Era possível que Noemi já tivesse esperanças
esses necessitados (Lv 19.9; 23.22). O versí­ de que Boaz fosse a resposta para seus proble­
culo 3 deixa claro que ela não estava ciente mas (“O Senhor, que ainda não tem deixado
do encontro “acidental” descrito nesse capí­ a sua benevolência nem para com os vivos e
tulo. Por um acaso (por casualidade, confor­ nem para com os mortos”, v. 20).
me algumas versões), naquele dia Rute esta­
va juntando grãos nos campos de Boaz. Deus
O pedido de Rute para Boaz
estava trabalhando por trás de acontecimen­ (capítulo 3)
tos aparentemente insignificantes e de ma­ Até então, a história havia sido sobre pes­
neiras que os personagens jamais poderiam soas comuns e seus altos e baixos ao longo da
ter previsto. complexidade de suas vidas e a maneira exem­
Quando Boaz foi para a cidade inspecio­ plar com que encararam os fatos. Boaz, o fa­
nar os seus trabalhadores, ele notou a jovem e zendeiro local, a desolada Noemi, a nora que
esforçada mulher rebuscando espigas em seu acabara de vir de Moabe — todos esses perso­
campo (vs. 4-7). Ele tomou providências para nagens agem de uma forma digna de imita­
lhe oferecer segurança e bem-estar durante ção. Mas o capítulo 3 está cheio de suspense.
aquele dia de trabalho. Esse gesto de bonda­ A pergunta é: Será que os três continuariam
de foi a primeira coisa alegre relatada no livro. a agir de maneira reta mesmo em meio a cir­
Depois da viuvez e miséria de Rute, esse deve cunstâncias questionáveis?
ter sido um ponto de mudança em sua vida. Esse capítulo contém um antigo costume
Quando Rute voltou para casa, Noemi fi­ que pode parecer estranho para nós e seu sig­
cou agradavelmente surpresa pela colheita nificado mais completo é desconhecido. O
inesperada (vs. 18-23). Quando soube que que está claro é que Boaz compreendeu a
Boaz era o responsável, ela começou a louvar atitude admirável de Rute como uma propos­
Iavé, que em todo tempo foi a força motriz ta de casamento, e que se tornar marido de
dos acontecimentos da história. Rute era uma das funções do seu papel de
Boaz era o “resgatador” da família (gõ eZ, resgatador (vs. 10-13).
v. 20). Na sociedade israelita, toda a proprie­ O capítulo cresce gradativamente em sus­
dade na verdade pertencia a Iavé. Não era pense e antecipação. O pedido de Rute era hon­
possível comprar legalmente as terras de uma roso e não havia nada de natureza ilícita nele.
outra família. Nos tempos de dificuldade, uma Mas ela havia se colocado em uma situação
189
Descobrindo os Livros Históricos

honesto. Ele está genuinamente surpreso e


honrado com o pedido de casamento de Rute,
pois ele supôs que ela iria preferir um homem
mais jovem. Da mesma forma, Rute agiu de
maneira moral. Ela deu prioridade mais alta
para as obrigações familiares que para o seu
beimestar pessoal (v. 10).
Termos-chave Boaz informou Rute de um outro resgatador
História Deuteronômica que era parente mais próximo (vs. 12,13). Ele
Anfictionia poderia ter se aproveitado de Rute e se casa­
Idílica do com ela antes de informar que havia outro
Casamento de levirato resgatador. N ada o obrigou a adiar o casa­
mento e a falar sobre a existência de um outro
homem. Mas Boaz não queria casar-se com
comprometedora e vulnerável. O encontro Rute sem antes ter dado preferência ao outro
entre Boaz e Rute no meio da noite era perigo­ resgatador. Sua integridade foi exemplar.
so. Um impropério era possível e talvez estives­
se prestes a acontecer. Será que os personagens
Rute se casa com Boaz (capítulo 4)
continuariam a agir de forma honrosa? Os acontecimentos na eira, no capítulo 3.
O suspense e a ambigüidade da narrativa ocorreram no meio da noite, em escuridão e
são logo resolvidos. Não apenas Boaz age de privacidade. Mas os acontecimentos do capí­
maneira nobre, como também é decidido e tulo 4 ocorreram no ambiente mais público de

1. A história apresentada no livro de 8. O tabernáculo como um templo


Juizes faz parte de uma obra mais central, a cerimônia periódica da
ampla chamada de História Deute­ aliança e a iniciativa militar conjunta
ronômica. apoiam a idéia de que Israel foi
uma anfictionia.
2. Os personagens principais do livro de
Juizes são os juizes que serviram como 9. O livro de Rute é uma obra literária
líderes. na forma de uma idília.
3. O tempo dos juizes foi um período de 10. O conteúdo do livro de Rute trata ba­
desobediência a Deus. sicamente das circunstâncias tristes na
vida de Noemi.
4. Deus permitiu que nações inimigas
atacassem Israel, pois o povo estava 11. Boaz servia como resgatador daquela
adorando outros deuses. família.
5. O ciclo de eventos no livro de Juizes é 12. Boaz colocou Rute no lugar de Noemi
formado por pecado, julgamento, ar­ em um casamento de levirato que era
rependimento e salvação. responsabilidade de um outro
resgatador.
6. Houve doze juizes — seis maiores e
seis menores. 13. O livro de Rute mostra que a aliança
de Deus não tem limites nacionais, ra­
7. Os israelitas eram culpados de relati­
ciais ou de gênero.
vismo moral por fazerem o que pare­
cia certo a seus próprios olhos.

190
Juizes e Rute

Questões para estudo

Juizes 8. De acordo com o autor de Juizes, por


1. Quanto tempo é coberto pelos livros que a falta de leis era tão prevalecen-
de Juizes e Rute? te em Israel?

2. Qual perspectiva política é apresenta­ 9. Discuta a seqüência cronológica e os


da pelo autor de Juizes e Rute? problemas encontrados em Juizes.

3. Quem são as figuras centrais do livro 10. Qual era a situação política de Israel
de Juizes? O que implicavam as suas melhor descrita durante esse período?
funções?
Rute
4. A que se atribui o fracasso de Israel
em completar a conquista da terra 1. Qual é o tema básico do livro de
prometida? Rute?

5. Qual é o padrão literário básico para 2. Quem é, de fato, o personagem prin­


a porção central do livro de Juizes? cipal dessa história?

6. Quem foram os seis juizes maiores? 3. De que forma o plano de Deus é


Quem foram os seis juizes menores? realizado nos acontecimentos dessa
história?
7. Qual é o tema dos cinco últimos capí­
tulos de juizes? 4. Quais são as contribuições do livro de
Rute para as questões étnicas e raciais?

qualquer cidade israelita, o portão da cidade. to de levirato exigia que o parente mais pró­
casamento
Esse era o lugar onde eram realizadas impor­ ximo de um falecido se casasse com a viúva
de levirato
tantes assembléias e o único lugar apropriado (Dt 25.5,6). As crianças que nascessem des­
para se fazer negócios legais. N a claridade do sa nova união levariam o nome e a herança
sol da manhã, à vista de todos os que se inte­ do primeiro marido.
ressassem, os problemas do capítulo 1 foram A aquisição das terras teria sido uma ex­
rapidamente resolvidos. pansão significativa para a propriedade da­
Nesse trecho, ficamos sabendo de uma pro­ quele parente mais próximo. Casar-se com
priedade rural pertencente a Noemi (v. 3). A Noemi não seria problema, tendo em vista
lei do Antigo Testamento deixa claro que as que ela já havia passado de seus anos de fer­
terras de uma família eram inalienáveis (lRs tilidade e, portanto, sua propriedade não se­
21.3). Por causa da pobreza de Noemi, a terra ria dividida com outros herdeiros além de
seria vendida, mas um resgatador deveria seus próprios filhos. Mas quando Boaz colo­
redimi-la para que não saísse da família. cou Rute no lugar de Noemi, cumprindo o
Depois do outro resgatador não identifi­ espírito da lei, o parente mais próximo não
cado declarar sua intenção de redimir a pro­ quis exercer o papel de resgatador (4.6). Mais
priedade de Noemi, Boaz acrescentou uma uma esposa que ainda pudesse lhe dar filhos
condição para a transação: o casamento com significaria a fragmentação de suas proprie­
Rute. Ao que parece, o costume popular ha­ dades e colocaria em risco sua própria famí­
via associado o casamento de levirato às lia. Devemos supor que ele não era um ho­
obrigações do resgatador.6 A lei do casamen­ mem extremamente rico.
191
Descobrindo os Livros Históricos

Leituras compüementares

Arnold, Biil T. "Ruth". In Asbury Bible Commentary. Lilley, J. P. U. "A Literary Appreciation of the Book of
Org. Eugene E. Carpenter e Wayne McCown. Grand Judges", Tyndale Bulletin 18 (1967), 94-102.
Rapids: Zondervan, 1992, 347-357. Sasson, Jack M. Ruth: A New Translation with a
Campbell, Edward F. Ruth: A New Translation with Philological Commentary and a Formalist-Folklorist
Introduction, Notes and Commentary. Anchor Bible Interpretation. 2- ed. Sheffield: JSOT, 1989. Uma
7. Garden City, NY.: Doubleday, 1975. excelente visão sociológica com uma forma original
Cundall, Arthur E., Leon Morris. Judges and Ruth: An de pensar.
Introduction and Commentary. Tyndale Old Testa­ Webb, Barry G. The Book o f Judges: An Integrated
ment Commentary; Downers Grove: InterVarsity, Reading. Journal for the Study of the Old Testament
1968. — Supplement Series 46. Sheffield: JSOT, 1987.
Howard, David M., Jr. An Introduction to the Old Testa­
ment HistóricaI Books. Chicago: Moody, 1993.
Hubbard, Robert L , Jr. The Book o f Ruth. New Interna­
tional Commentary on the Old Testament. Grand Ra­
pids: Eerdmans, 1988. O mais abrangente e comple­
to comentário evangélico disponível.

Quando o parente mais próximo saiu de por meio da vida de indivíduos comuns, mas
cena, o caminho estava livre para Boaz e Rute fiéis. Uma vida comprometida com Deus não
se casarem. Em um breve versículo (4.13), tem mudanças insignificantes. A vida toda
todos os problemas do capítulo 1 encontram a torna-se sagrada.
solução: Rute casa-se novamente, Iavé lhe
concede rápida concepção e ela tem um fi­ mÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊmÊÊÊÊÊÊÊÊKÊÊÊÊÊKÊÊÊmmÊÊÊÊmmÊÊÊKÊÊmHÊÊÊmÊm
lho. Mas depois desse versículo, Boaz deixa o
centro do palco. Rute também não é mais a
A soberania de Deus e
figura central. Subitamente, Noemi volta a o viver de fidelidade
ser a personagem principal. Ela toma em seus
braços o pequeno menino, como se fosse sua Essa narrativa de um casamento incrível e
mãe. O autor nos leva do ponto em que Noemi de um bebê miraculoso fala, na verdade, da
estava desesperada por causa de seus dois fi­ soberania de Deus. Apesar do livro ter o nome
lhos e nos leva até o ponto em que ela segura de Rute, é Noemi que declara os problemas
o recém-nascido, o filho de Rute e Boaz. mencionados no livro (1.20,21) e que, no fi­
Todos os problemas do capítulo 1 foram so­ nal, brilha mais que sua nora, Mas de uma
lucionados e chegamos a um final feliz. Mas certa forma, nenhuma das duas é a persona­
antes da genealogia, a história termina com gem central. Ao longo de toda a narrativa,
uma surpresa. As amigas de Noemi dão à Deus cuida de Noemi, Rute e Boaz a fim de
criança o nome de Obede, que foi ninguém fazer o que é melhor para eles, de acordo com
menos que o pai de Jessé, pai de Davi (4.17). os seus propósitos. O livro é, antes de mais
Um filho nascido em circunstâncias tão pou­ nada, sobre Deus e a maneira fiel com que
co prováveis para uma mulher estrangeira tor- ele lida com a vida de seu povo.
nou-se o avô do maior rei de Israel. E claro A soberania de Deus é trabalhada ao lon­
que Mateus não deixou de reconhecer o sig­ go do livro mediante a fidelidade dos perso­
nificado de Rute na linhagem do Messias nagens principais. Noemi, Rute e Boaz fa­
(1.5). O propósito do Senhor foi alcançado ziam um contraste gritante com os protago­
192
Juizes e Rute

nistas de outros acontecimentos do período de sua fidelidade para com Deus e uns para
dos juizes. O posicionamento desse livro, logo com os outros que Deus pôde oferecer ao
depois do livro de Juizes no Cânon cristão e mundo o Messias.
as palavras de abertura: “Nos dias em que Por fim, o livro de Rute mostra que os be­
julgavam os juizes”, ressaltam as diferenças nefícios da aliança com Deus não têm limites
entre a vida de fidelidade dessas pessoas sim- nacionais, raciais ou de gênero. Rute é cons­
pies quando comparadas com os atos sórdi­ tantemente chamada de “moabita”. Sua ori­
dos dos personagens de Juizes. Durante uma gem étnica e nacional não é esquecida du­
época em que muitas pessoas faziam o que rante o livro, o que nos ensina que até mesmo
parecia correto a seus próprios olhos, havia uma mulher moabita pôde viver em aliança
pelo menos três pessoas que fizeram o que com Iavé e ser beneficiada por um relaciona­
era correto aos olhos de Deus. Foi por meio mento de fidelidade com ele.

193
1 Samuel
Deus concede um rei

Esboço
• Esb o ço
• P a n o d e fu n d o d e 1 S a m u e l
Cenário
Autoria e data
Temas de 1 Samuel
• A m e n sa g e m d e 1 S a m u e l
Objetivos
0 período de transição (capítulos 1-15) D e p o is d e le r e s te c a p ítu lo ,
A ascensão de Davi e o declínio de Saul v o c ê d e v e s e r c a p a z d e:
(capítulos 16-31) • Delinear o conteúdo de 1 Samuel.
• Relacionar os três temas de 1 Samuel.
• Traçar os eventos em torno da arca da
aliança conforme 1 Samuel.
• Explicar as razões para que Israel tivesse
um rei.
• Delinear o discurso final de Samuel
para Israel.
• Identificar três erros que Saul cometeu
e que revelaram o seu coração.
• Comparar e contrastar Davi e Saul.
• Discutir os eventos-chave na luta de
Davi contra Saul.

195
Descobrindo os Livros Históricos

Você já se perguntou “Quem sou eu?” É sentavam uma ameaça real para Israel. Os
uma questão interessante para se ponderar. vizinhos de Israel, porém, eram sempre um
Afinal de contas, quem sou eu e para onde problema em potencial. Foi então que che­
estou indo? O que Deus quer que eu faça garam os filisteus, um povo de origem indo-
aqui? Perguntas como estas são mais que in- européia que se assentou ao longo da costa
teressantes — elas são essenciais. As respos- da Judéia.1
tas corretas a essas perguntas nos dão o se­ Enquanto o povo de Deus batalhava con­
gredo para viver o tipo de vida que Deus tra os filisteus e outros povos, eles também lu­
espera de nós. tavam com uma questão importante. De que
Em 1 Samuel, encontramos a nação de Is­ forma poderiam apresentar-se como uma fren­
rael debatendo-se com esse tipo de questão. te unida contra seus inimigos? O livro de 1
0 período dos juizes foi de muita confusão e Samuel relata como os israelitas resolveram o
anarquia. O povo desejava um líder que con­ problema: eles coroaram um rei.
seguisse juntar o reino e dar a eles um senso
de orgulho e identidade nacional. A u t o r ia e d a t a
Os livros de 1 e 2 Samuel a princípio for­
wmÊÈÈeÊagÊMÊmMmmggÊmgBmÈÊmÈamÊMÊmÊÊmssgsmgSM mavam uma obra unificada na Bíblia hebrai­
ca.2 O nome de Samuel aparece no título,
Esboço mas o livro não revela o nome do autor. Talvez
I* U m período de transição (1-15)
tradições antigas tenham ligado o nome de
A. O nascimento e o chamado de Samuel com a obra por causa de sua grande
Samuel (1.1—3.21) influência durante esse período da história
B. A narrativa sobre a arca bíblica. Simplesmente não sabemos quem es­
creveu esse livro.
(4.1-7.17)
Também não sabemos exatamente a data
C. Saul torna-se o primeiro rei de
em que 1 Samuel adquiriu seu presente for­
Israel (8-12)
D. Saul revela o seu coração (13-15) mato. 1 Samuel 27.6, ao referir-se à cidade de
ZlCLAGUE, diz: “Ziclague pertence aos reis
I I . A ascensão de D avi e o declínio de Judá, até ao dia de hoje”. Essa afirmação
de Saul (16-31) sugere que algum tempo havia se passado
A. A unção de Davi e sua apresen­ desde a divisão do reino em 930 a.C. Podemos
tação à corte (16) supor que o autor inspirado de 1 Samuel ti­
B. A vitória de Davi sobre Golias nha acesso a informações detalhadas em re­
(17) lação ao período coberto por 1 Samuel. Mui­
C. As lutas entre Davi e Saul tas das histórias parecem ter sido escritas por
(18-27) testemunhas oculares.
D. A batalha final de Saul (28-31)
Tem as de 1 Sam u el

WÊÊÊÊÈKBÊÊÊÈÊÊÊÊÊÈÊHSBSÊKÊÊBÊKÊSBHBÊÊ/ÊBEÊ8&ÊÊKÊÊSÊÊWRÊKBRÊKMKBÊÊSÊ O ministério de Samuel


Pano de fundo de O período dos juizes foi de muito pecado e
corrupção. O sacerdócio israelita sob a lide­
1 Samuel rança de Eli e seus dois filhos, Hofni e Finéias,
não estava muito melhor. Os filhos de Eli usa­
Cenário vam o sistema sacrificial em benefício próprio
O livro de 1 Samuel começa no tempo dos e cometiam terríveis pecados sexuais, sempre
juizes, uma época em que cada um fazia o recusando-se a ouvir as advertências de seu
que era certo aos seus próprios olhos (Jz 21.25). pai (2.12-17,22-25).
O tabernáculo estava em Silo, onde Josué O livro de 1 Samuel descreve como Sa­
havia terminado de dividir as terras Os 18.1). muel ganhou proeminência como sacerdote
A nação não tinha uma boa liderança políti­ e juiz em Israel. Deus julgou a casa de Eli e
ca e espiritual. estabeleceu Samuel como um importante lí­
As maiores potências do antigo Oriente der. Esse homem de Deus serviu o povo com
Próximo — Assíria, Babilônia, Hati e Egito fidelidade e honestidade, buscando sempre
— estavam todas em declínio e não repre­ aquilo que Deus tinha de melhor para eles.
1 96
1 Samuel

Uma réplica
moderna da
arca da aliança
feita com base
na descrição do
Antigo
Testamento.

O reinado de Saul (o início da queceria do Senhor? Ou eles se lembrariam


monarquia em Israel) de Iavé como seu mais alto Rei?
O povo tornou-se desassossegado sob a li­ A ascensão de Davi à proeminência
derança de Samuel. Eles temiam ameaças ex­ Apesar de Saul ter obtido algum sucesso
ternas como os filisteus. Eles observavam como como líder militar de Israel, ele mostrou-se
as outras nações ao seu redor tinham reis go­ indigno de seu reinado ao desobedecer os co­
vernando sobre elas e eles também queriam mandos de Deus (13.8-14; 15.1-31). Em se­
um rei. Deus atendeu o pedido de Israel, ape­ guida, Deus instruiu Samuel para que fosse
sar do texto deixar claro que esse não era o até Belém para ungir o homem que Deus es­
plano de Deus para Israel naquele momento colheria como o próximo rei de Israel (16.1).
(8.6,7; 12.17,18). Sob a orientação de Deus, Samuel ungiu
Quando Saul foi escolhido por Deus, ini- Davi, um pequeno pastor judeu de Belém
ciou-se um novo período na história de Israel. (16.1-13). Essa unção não fez de Davi o rei; na
Enquanto o período dos juizes teve um gover­ verdade ela só afirmou que ele seria o sucessor
no de vários líderes sobre várias tribos, 1 Sa­ de Saul. Mas pelas mãos de Deus, a fama de
muel recomendou um tempo em que o poder Davi começou a crescer. Primeiro, ele tornou-
centralizado ficasse nas mãos de um único se um dos músicos da corte de Saul, e tocava
homem — o rei. para acalmar o espírito perturbado do rei (16.14'
A ascensão da monarquia também mar­ 23). Depois, Davi tornou-se um líder militar
cou o fim da teocracia. Israel tinha começado muito capaz, derrotando Golias, o gigante dos
sob a liderança direta de Iavé, o Rei celeste. filisteus e liderando o exército de Israel (17.1-
Então eles quiseram um rei humano. Depois 18.5). Esse sucesso, entretanto, teve suas des­
que esse rei assumisse o poder, será que o povo vantagens. Como veremos, Saul encheu-se de
colocaria toda a sua confiança nele e se es­ inveja daquele novo líder e procurou matá-lo.

197
Descobrindo os Livros Históricos

Essa igreja fica


situada em
Quiriate-Jearim,
onde a arca
permaneceu
durante vinte
anos (6.19-21).

^ m M Ê Ê m M s m m Ê
Deus sobre a casa de Eli: tanto Hofni quanto
A mensagem de 1 Finéias iriam morrer no mesmo dia e Deus iria
levantar um sacerdote fiel que obedeceria aos
Samuel comandos de Deus (2.27-36).
O Senhor então tomou providências para
Um período de transição levantar esse sacerdote fiel. Ele chamou Sa­
(capítulos 1-15) muel enquanto o menino estava se preparan­
do para dormir. A princípio, o jovem pensou
0 nascimento e o chamado de
que era Eli que o chamava, mas Eli logo per­
Samuel (1.1-3.21)
cebeu que o chamado devia estar vindo de
A história de 1 Samuel começa em Siló, Deus. A resposta de Samuel ao Senhor: “Fala,
uma cidade na região montanhosa de Efraim. porque o teu servo ouve” (3.10) é um modelo
Lá, Israel havia dividido as terras nos tempos para a vida cristã. Devemos estar sempre pron­
de Josué (Js 18.1-6) e estabelecido o tabemá- tos para ouvir e obedecer a palavra de Deus
culo. O texto descreve duas famílias: a famí­ para nós.
lia de Elcana e a família de Eli. Toda Israel logo reconheceu Samuel como
Elcana, um levita da região montanhosa sendo o profeta de Deus (3.20). A falha de Eli
de Efraim,3 tinha duas mulheres — Penina e em disciplinar os seus filhos Fiofni e Finéias
Ana. Penina tinha filhos, mas Ana não, e esse não havia mudado os propósitos de Deus para
fato era fonte de amarga rivalidade entre as Israel. Deus estava, ao mesmo tempo, julgando
duas mulheres. Durante uma visita a Siló, Ana a casa de Eli e levantando um sucessor de Eli.
orou pedindo um filho e fez votos de dedicá-
lo ao Senhor como nazireu (1.10,11; ver tam­ A narrativa sobre a arca (4.1-7.17)
bém Nm 6.1-21). Deus respondeu sua oração Os filisteus haviam se estabelecido ao longo
e ela concebeu e deu à luz Samuel (1.19,20). da costa de Judá. Eles controlavam a estrada
A situação de Ana ilustra como podemos sem­ costeira internacional que passava por Israel e
pre levar ao Senhor nossos mais profundos pro­ conectava a Mesopotâmia e a Síria com o Egi­
blemas. Ele pediu que orássemos e prometeu to. Os filisteus acamparam em Afeca, amea­
nos ouvir. çando avançar para o leste, para dentro de Is­
Depois de Ana ter desmamado Samuel, rael e cortar a terra em duas partes. Os israelitas
ela o levou para Eli. Samuel cresceu sob os reagiram rapidamente para detê-los, reunindo
cuidados de Eli; logo Deus iria revelar seu seu exército em Ebenézer, aproximadamente
propósito para esse jovem. a quatro quilômetros de Afeca (4.1).
Enquanto isso, os filhos de Eli continua­ Os israelitas perderam a primeira batalha e
vam a pecar. Um homem de Deus e cujo determinaram uma nova estratégia para a vi­
nome não é dado anunciou o julgamento de tória. Eles levariam a arca da aliança com eles
198
1 Samuel

para a batalha. Mas o seu plano basicamente qualquer outra coisa acontecesse, os filisteus
implicava tratar a arca como um ídolo e Deus iriam concluir que o mal havia acontecido
não aprovou isso. Os filisteus venceram mais por acaso. Mas Deus deixou um testemunho
uma vez, capturando a arca e matando Hofni muito claro para os filisteus: as vacas foram
e Finéias (4.10,11). A batalha também cau­ direto para Bete-Semes (6.12-16) causando
sou duas vítimas indiretas. Quando Eli ouviu muitas comemorações com sua chegada.
o resultado da batalha, ele caiu de sua cadei­ Infelizmente, o povo de Bete-Semes não
ra, quebrou o pescoço e morreu. A esposa de mostrou o devido respeito para com a arca e
Finéias morreu durante o parto, que foi indu­ Deus mandou uma praga sobre aquela cida­
zido pelas notícias traumáticas. de. Finalmente, a arca foi parar em Quiriate-
Os filisteus levaram seu novo troféu para Jearim, onde ficou por aproximadamente vinte
Asdode e o colocaram no templo de Dagom. anos (6.19-21).
Mas a presença da arca trouxe problemas para Samuel clamou para que o povo deixasse
eles. Primeiro, Deus fez com que o deus os seus ídolos e se voltasse de todo o coração
Dagom caísse e “adorasse” a arca (5.3,4). para o Senhor. Quando Israel assim o fez, o
Depois, Deus mandou uma praga de tumores Senhor mais uma vez os salvou dos filisteus e
e ratos contra o povo de Asdode e seus territó­ Israel recuperou o território que havia perdi­
rios (5.6; 6.4,5). O julgamento de Deus durou do anteriormente (7.7" 14). A fidelidade a
sete meses, e os tumores e ratos seguiam a Deus trouxe bênçãos, assim como acontece
arca para onde quer que os filisteus a man­ nos dias hoje.
dassem (5.8-12).
Por fim, os filisteus decidiram devolver a arca Saul torna-se o primeiro rei de Israel
para Israel. Porém, antes disso eles elaboraram (capítulos 8-12)
um plano para fazer parecer que as pragas eram Samuel julgou Israel fielmente, mas seus fi­
uma simples coincidência. Eles colocaram a lhos não seguiram seu exemplo. Quando Sa­
arca em um carro e atrelaram a ele duas va­ muel ficou velho, o povo foi até ele em RAMÁ
cas que haviam dado cria e nunca tinham e pediu que ele indicasse um rei (8.4,5).
puxado um carro. Essas duas vacas tinham Samuel hesitou em atender o pedido do
seus bezerros na estrebaria. Se elas fossem di­ povo, pois acreditava que eles deveriam con­
reto pela estrada para a cidade israelita de fiar apenas no Senhor e não em um rei huma­
BETE-SEMES — o que era pouco provável no. Mas o Senhor pediu que Samuel indicas­
naquelas circunstâncias — então o Senhor se um rei e o assegurou “pois não te rejeitou a
de Israel era responsável pela calamidade. Se ti, mas a mim, para eu não reinar sobre eles”

1 99
Descobrindo os Livros Históricos

(8.7). Samuel solenemente avisou o povo de Deus os perdoaria se eles se arrependessem,


todos os novos tributos que a monarquia tra­ pusessem de lado os seus ídolos e confiassem
ria, mas o povo persistiu em seu desejo de ter nele. Samuel prometeu continuar orando por
um rei (8.10-22). O Senhor escolheu Saul, eles, mas também lhes deu um aviso de gran­
um homem da tribo de Benjamim, para ser o de seriedade: se eles persistissem em seus ca­
primeiro rei. Saul era mais alto que a maior minhos maus, nem mesmo um rei poderia
parte do povo e tinha aparência de quem se­ salvá-los do julgamento de Deus.
ria um bom rei. Mediante circunstâncias cui­
dadosamente guiadas por Deus, Samuel en­
Saul revela o seu coração
controu Saul e o ungiu rei de Israel (10.1). (capítulos 13-15)
Uma coroação pública formal aconteceu mais 1 Samuel 13,14 registra a eficiência de Saul
tarde em MlSPA (10.17-26). como líder militar. A princípio, ele teve algum
Quando os amonitas ameaçaram JABES-Gl- sucesso contra os filisteus (14.19-23) e conse­
LEADE, Saul reuniu um exército e marchou guiu proteger suas fronteiras ao derrotar Moa­
sobre eles. Alguns estudiosos explicaram o in­ be, Amom, Edom e também a Síria (14.19-
teresse de Saul por essa cidade, dizendo que 23,47). Apesar disto, mesmo que Saul parecesse
seus ancestrais eram de lá.4 De qualquer for­ ser um bom rei, seu coração muitas vezes o traía.
ma, essa grande vitória causou muitas celebra­ 1 Samuel 13-15 revela três dessas ocasiões.
ções e louvores a Deus, e o povo confirmou Primeiro, Saul usurpou o papel de sacerdo­
Saul como rei uma segunda vez em Gileade te quando isso foi de seu interesse. Saul havia
(11.14,15). O reino parecia estar em boas mãos. reunido seu exército em Gilgal, onde espera­
Quando Saul estava firmemente estabele­ va a chegada de Samuel para fazer um sacri­
cido como rei, Samuel reuniu o povo. Talvez fício ao Senhor. Samuel havia dito a Saul que
ele tivesse visto essa ocasião como sendo sua esperasse sete dias, mas a certa altura do séti­
última oportunidade de falar à nação. Estava mo dia, Saul ficou impaciente e ofereceu ele
claro que, agora que Israel tinha um rei, o mesmo o sacrifício. Quando Samuel chegou,
papel de Samuel como juiz havia diminuído disse a Saul que Deus tomaria dele o seu rei­
significativamente. nado. Deus escolheria o próximo rei por seu
O discurso de Samuel teve três partes. Na coração e não sua estatura.
primeira ele ofereceu reconciliar-se com qual­ Saul também fez um voto apressado e de­
quer um a quem ele tivesse feito mal (12.3- pois tentou aplicá-lo de modo tolo (14.24-46).
5). Todos que quisessem podiam trazer suas Em um dia em que o povo precisava de forças
reclamações diante do rei e Samuel faria o para lutar contra seus inimigos, Saul proferiu
que fosse necessário para acertar as contas. certa maldição sobre qualquer um que co­
Mas o povo afirmou a constante fidelidade de messe antes que Israel fosse completamente
Samuel. Os cristãos de hoje devem procurar vitoriosa. A fome intensa do povo fez com
viver de modo a serem dignos de tal afirma­ que eles comessem carne com sangue depois
ção. Nosso mundo precisa desesperadamente de vencerem a batalha. E, quando Saul des­
ver e aprender novamente o significado da cobriu que Jônatas, sem saber do voto da mal­
integridade. dição de pai, tinha comido um pouco de mel
Na segunda parte ele disse ao povo que naquele dia, ele decidiu que Jônatas deveria
haviam pecado contra Deus (12.8-18). Deus morrer. Felizmente, o povo impediu Saul de
havia se mantido absolutamente fiel à alian­ levar adiante sua decisão.
ça enquanto Israel havia falhado várias ve­ Em terceiro lugar, Saul não seguiu as ins­
zes. Pedir um rei tinha sido errado pois aquele truções de Deus sobre os amalequitas (capí­
ainda não era o plano de Deus para eles. Além tulo 15). Deus instruiu Saul por meio de Sa­
disso, o povo havia pedido pelos motivos erra­ muel para que ele destruísse os amalequitas e
dos, esquecendo-se do Senhor e pensando tudo o que eles possuíam (do hebraico herem;
apenas em uma solução rápida para os seus ver discussão desse conceito no capítulo 11).
problemas.5 Para mostrar o seu desprazer, Deus Mas Saul tinha o seu próprio plano: ele e o
mandou uma forte chuva sobre as terras, pre­ povo pouparam os melhores animais dos reba­
judicando a colheita do trigo. nhos para sacrificá-los ao Senhor.
Na terceira parte Samuel suplicou ao povo Mais uma vez, Samuel confrontou Saul,
para que seguisse a Deus de todo o seu cora­ mas o profeta só recebeu do rei algumas jus­
ção (12.20-25). Sim, eles haviam pecado, mas tificativas:
200
1 Samuel

Jumentos perto
de Samaria.
Quando Saul foi
à procura dos
jumentos
fugidos de seu
pai, ele foi
guiado para o
profeta Samuel
A
e para a
descoberta de
que Deus o
havia escolhido
para ser o
primeiro rei de
Israel.

• “...porque o povo poupou o melhor das A unção de Davi e sua apresentação


ovelhas e dos bois, para os sacrificar ao à corte de Saul (capítulo 16)
Senhor, teu Deus; o resto, porém,
O Senhor enviou Samuel a Belém, para a
destruímos totalmente” (15.15).
casa de Jessé (vs. 1-13). Deus havia escolhido
• “...dei ouvidos à voz do Senhor... mas
um dos oito filhos de Jessé para ser o próximo
o povo tomou do despojo...”
rei, mas ninguém — nem mesmo Samuel —
(15.20,21).
sabia quem Deus havia escolhido até que Deus
A resposta penetrante de Samuel — “Vis­ orientou Samuel para que ele ungisse Davi.
to que rejeitas te a palavra do Senhor, ele tam­ Observe dois aspectos importantes dessa
bém te rejeitou a ti, para que não sejas rei” narrativa. Em primeiro lugar, Deus olhou para
(15.23 — finalmente produziu um arrependi­ o coração de Davi e não para a sua estatura.
mento parcial (15.24,25), mas era tarde de­ Saul tinha a aparência de um rei, mas seu
mais. Samuel deixou Gilgal entristecido por coração não era reto perante o Senhor. Davi
causa de Saul, que havia manchado o nome não se parecia exatamente com um rei, mas
do Senhor e o seu oficio de rei com sua deso­ seu coração seguia o Senhor. Mesmo nos dias
bediência. E de suma importância que os lí­ de hoje, Deus usa pessoas de todos os tipos e,
deres escolhidos por Deus tenham vidas de mais importante, ele usa pessoas que entrega­
obediência fiel para que outros possam apren­ ram seu coração a ele.
der com seu exemplo. E claro que nossa maior Em segundo lugar, apesar de Samuel ter
confiança deve ser no Senhor, e não em líde­ ungido Davi, o rapaz não recebeu o reinado
res humanos. imediatamente. Isso viria mais tarde. Porém,
Davi recebeu algo ainda mais valoroso — o
A ascensão de Davi e o declínio Espírito de Deus. O mesmo Espírito está à nos­
de Saul (capítulos 16-31) sa disposição nos dias de hoje para nos dar o
Em 1 Samuel 2,3 vimos como o fracasso de poder de cumprir qualquer tarefa que o Se­
Eli e seus filhos em servir o povo fielmente não nhor nos confie.
frustrou os planos de Deus para o sacerdócio. Ao mesmo tempo, Deus tirou o Espírito de
Em vez disso, ele julgou a casa de Eli e levan­ Saul; o rei não tinha mais o poder de Deus
tou Samuel, um sacerdote fiel. Da mesma para liderar Israel. Além disso, o Senhor man­
forma, o fracasso de Saul não significava a dou um espírito maligno para afligi-lo (vs. 14-
derrota de Deus. O Senhor buscaria um ou­ 23). Essa afirmação apresenta um problema
tro homem para cumprir os seus planos para teológico: De que forma um espírito maligno
monarquia de Israel. pode vir do Senhor?

201
Descobrindo os Livros Históricos

\ Vitória de Davi
Contra Golias

\ / V
A zeca

\ \ \ • //
TV
CAMPO
FILISTEU
'" 'L c ^ n A
a ^ CAMPO
Filisteus ISRAELITA
1 2 mi
^ Israelitas
3 km

É provável que possamos entender a ex- Foi então que Golias, um gigante filisteu.
pressão “espírito maligno da parte do Senhor” propôs um desafio para o exército de Israel.
de duas maneiras. Primeiro, o Senhor pode Ele lutaria até a morte com qualquer israelita
ter colocado o espírito maligno sobre Saul que eles enviassem. Se o israelita vencesse, os
como forma de julgamento por sua rebelião. filisteus serviriam a Israel. Se Golias vencesse.
Deus algumas vezes disciplina os seus filhos e Israel serviria os filisteus. Durante quarenta
esse espírito pode ter sido a disciplina de Saul. dias, Golias continuou a desafiá-los, mas nin­
Em segundo lugar, a intenção de Deus com guém em Israel ousava aceitar o desafio.
esse espírito maligno pode ter sido de redimir. Certo dia, assim que Davi chegou no acam­
Se o espírito fizesse com que Saul percebesse pamento de Israel para ver seus irmãos, Golias
seu desamparo ao liderar Israel sem o Espírito estava mais uma vez lançando o seu desafio.
capacitador de Deus, talvez o rei se voltaria O coração de Davi queimou de ira: aquele
para o Senhor. filisteu estava insultando os exércitos do Deus
De qualquer forma, Deus usou o espírito vivo! A honra de Deus estava em jogo! Davi
maligno para um outro propósito — apre­ disse a Saul que lutaria contra Golias.
sentar Davi à corte real. Os servos de Saul Primeiro, Saul tentou fazer Davi mudar
sugeriram que o rei contratasse um músico de idéia sobre lutar contra Golias, então, su­
para a corte para tocar música que acalmas­ geriu que o rapaz usasse a armadura do rei.
se a sua mente quando o espírito maligno o Mas Davi recusou-se, preferindo sua própria
perturbasse. Davi já havia formado uma re­ arma — uma funda.
putação como músico talentoso (v. 18) e Quando Golias viu Davi chegando, ele o
assim foi indicado para a função. Dessa for­ amaldiçoou pelos seus deuses pagãos, mas
ma, os propósitos de Deus continuavam a Davi e o seu Deus tiveram a última palavra.
ser cumpridos. Com uma pedra bem lançada, Davi levou c
filisteu ao chão e, então, correu até ele e cor­
A vitória de Davi sobre Golias
tou sua cabeça. Quando os filisteus viram que
(capítulo 17)
Golias estava morto, fugiram em pânico e os
Os filisteus haviam se movido no sentido israelitas os perseguiram até Ecrom e Gate.
leste, de Ecrom e Gate, para uma área entre A história de Davi e Golias ilustra três prin­
Azeca e Socó, bem na divisa do território is­ cípios espirituais importantes:
raelita. Os israelitas precisavam impedi-los logo
para que eles não tomassem o controle das • Devemos nos preocupar mais com a
duas maiores estradas que cortavam a região honra de Deus que com nossa própria
de Judá de leste a oeste. O exército de Israel honra. Davi estava preocupado com a
foi para oeste, para uma montanha à beira do honra de Deus (vs. 26,36,46,47). Ele
vale dc Elá (ver mapa 12.1). não estava disposto a deixar Golias
202
1 Samuel

A seca região da
Judéia. Por esses
montes Saul
perseguiu Davi.

escapar depois de ter insultado os As lutas entre Davi e Saul incluem cinco
exércitos do Deus vivo. acontecimentos mais importantes.
• A fidelidade de Deus em nossa vida Primeiro, Jônatas — o filho de Saul — e
no passado deve nos encorajar a tomar Davi tornaram-se bons amigos. Essa amizade
mais passos de fé. Davi teve a coragem começou logo depois que Davi matou Golias
de lutar contra Golias porque o Senhor (18.1) e durou até a morte de Jônatas.
já o havia ajudado a matar um leão e Jônatas tem um papel trágico durante a nar­
um urso (vs. 34-37). rativa de 1 Samuel. Ele amava muito Davi,
• Quando estamos diante de batalhas mas também amava seu pai. O esforço cons­
que parecem impossíveis, precisamos tante de Jônatas para reconciliar Saul e Davi
nos lembrar de que a batalha pertence só trouxe a ira de seu pai sobre ele (20.2434).
ao Senhor. Davi lutou contra Golias, No final, Jônatas morreu lutando contra os fi­
mas ele foi simplesmente um instru­ listeus ao lado de Saul no Monte Gilboa (31.2).
mento de Deus. A batalha na verdade Em segundo lugar, Saul tornou-se fanático
era entre Golias e o Senhor (v. 47). em sua determinação a matar Davi. Sua ações
eram as de um homem desesperado que via o
Talvez o mais importante é que a história reino escapar por entre seus dedos. Ele jogou
de Davi e Golias mostra o coração de Davi. sua lança sobre Davi quando o rapaz estava
Deus havia dito que escolheria o próximo rei sentado tocando para ele. Em outra ocasião,
de Israel pelo seu coração (13.14; 16.7). E as­ mensageiros foram até a casa de Davi para
sim ele havia feito. prendê-lo (19.9-11). Saul reagia com rapidez,
sempre que alguém o informava de onde Davi
As lutas entre Davi e Saul
estava (23.7,8,19-23; 24.1,2; 26.1,2).
(capítulos 18-27) Saul também demonstrava a mesma ira
Depois da vitória sobre Golias, Davi tor- fanática contra os defensores de Davi. Ele
nou-se um dos principais soldados de Saul. O atacou Jônatas com sua lança quando Jônatas
povo, assim como os homens de Saul, o ama­ tomou partido de Davi (20.32,33). Saul tam­
va. Infelizmente, Saul tornou-se invejoso pois bém destruiu a cidade inteira de N O B E quan­
o povo elogiava mais a Davi que a ele. Ele do descobriu que o sacerdote daquela cidade
começou a ver Davi mais como uma ameaça havia dado suprimentos aos homens de Davi
que como um servo fiel (18.6-9) e esses senti­ (21.1-9; 22.7-19).
mentos de suspeita levaram a lutas dramáti­ Em terceiro lugar, Davi fez todo o possível
cas entre Saul e seu sucessor. para demonstrar sua lealdade para com Saul.
2 03
Descobrindo os Livros Históricos

As cinco maiores
cidades da Palestina

Siquém •

Siló #

& A sdode1 Ecrom « JebusL


/
& Ascalom
Gate

/ Gaza Hebrom »

• Berseba

25). Nabal, o marido de Abigail, tratou Davi


e seus homens com frieza quando eles lhe
pediram suprimentos. Davi estava decidido a
*
destruir os homens da propriedade de Nabal,
• Cades-Barnéia <$> mas a intervenção de Abigail o fez mudar de
Escala idéia. Quando, dez dias depois, o Senhor ti­
M aiores cidades 0 10 20 mi rou a vida de Nabal, Abigail tornou-se esposa
da Palestina 1 4“ 1
---- de Davi.
0 20 km E, em quinto lugar, completamente frustra­
do com Saul, Davi juntou-se aos filisteus (27.1-
Ele poupou a vida de Saul em duas ocasiões 3). Suas ações ilustram o velho provérbio: “os
em que teve a chance de matá-lo. Em uma inimigos do meu inimigo são meus amigos”.
dessas vezes, Saul entrou em uma caverna Sem dúvida os filisteus sabiam dos problemas
onde Davi e seus homens haviam se escondi­ de Davi com Saul e imaginaram que eles po­
do e Davi apenas cortou um pedaço da veste deriam usá-los em benefício próprio.
de Saul (24.3-6). Mais tarde, Davi sentiu re­ Aquis, rei de Gate, deu a Davi a cidade
morso por ter feito isso com o ungido de Deus. Ziclague e Davi tornou-se servo de Aquis —
Em outra ocasião, Davi e seu sobrinho Abisai pelo menos formalmente. Secretamente,
esgueiraram-se para dentro do acampamento Davi usou a segurança de seu relacionamen­
de Saul, enquanto o exército do rei estava to com os filisteus para impulsionar sua cau­
dormindo (26.6-16). Eles levaram o jarro de sa em Judá e no NEGUEBE. Ele destruiu tri­
água e a lança de Saul para provar que ha­ bos nômades na região e levou os espólios
viam chegado perto o suficiente para matá- para Aquis, deixando que ele pensasse que
lo; então, de uma distância segura, eles des­ haviam sido tirados do povo de Judá. Mas no
pertaram o acampamento, mostrando a prova final, os príncipes filisteus não confiaram em
de sua lealdade. Davi e o dispensaram do exército, mandan-
Em cada uma dessas situações, Saul expres­ do-o de volta antes da batalha final contra
sou tristeza pelo seu comportamento para com Saul (capítulo 29).
Davi (24.16-22; 26.21). Ainda assim, sempre
que via uma outra oportunidade de capturar A batalha final de Saul
Davi, Saul mais que depressa ia atrás dele. (capítulos 28-31)
Em quarto lugar, Davi encontrou-se com Enquanto Saul preparava-se para lutar con­
Abigail e depois casou-se com ela (capítulo tra os filisteus, ele procurou orientação espiri-
204
1 Samuel

À esquerda: « oDA GALILÉIA


MAR
Campos perto
do vilarejo de
A Batalha Final de M o n te Tabor
En-Dor, em
Israel. Saul se
Saul em Gilboa
disfarçou e
visitou En-Dor
para falar com < o'
uma médium
que vivia lá e o a
M egido
pedir que a °

mulher
chamasse dos
mortos o
espírito de M on te Gilboa Bete-Seã
Samuel.

Exército Israelita
0 5 mi Fuga de Saul
I— ---- 1---- 1 • • • • • Batalha Ja b es-G ile ad e
0 5 km d e G ib eá s •
Exército Filisteu

tual (capítulo 28). Ele consultou ao Senhor, Nesse meio tempo, os príncipes filisteus re­
mas o Senhor não respondeu. Saul ficou de- solveram que não confiavam em Davi e não
sespcrado. Colocou um disfarce e furtivamente permitiram que ele se juntasse aos outros na
dirigiu-se a En-Dor, onde vivia uma médium. batalha contra Saul (capítulo 29). Eles lem-
Saul pediu que a mulher chamasse Samuel braram-se das palavras da canção hebraica
dos mortos para ele. A passagem chama a fi­ — “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os
gura de Samuel e ele teria falado com a auto­ seus dez milhares” — e de que aqueles nú­
ridade de Samuel. Não está claro se a mulher meros referiam-se a filisteus! Apesar dos pro­
havia falado com espíritos de mortos antes, testos de Davi e suas declarações de lealda­
mas é mais provável que tenha se tratado de de, Aquis o dispensou.
um espírito maligno. Essa dispensa foi certamente uma bênção
“Samuel” anunciou o julgamento final — para Davi. Se ele tivesse lutado contra Saul,
Saul morreria no dia seguinte, na batalha con­ muitos israelitas jamais o teriam perdoado. Em
tra os filisteus. Mas apesar da clara advertên­ vez disso, Davi tornou-se um observador ino­
cia e mesmo estando alarmado, Saul conti­ cente da batalha que tirou a vida de Saul.
nuou com os planos para a batalha — planos Davi voltou para Ziclague e descobriu que
estes que lhe custariam a vida. os amalequitas haviam saqueado a cidade e
levado as mulheres e crianças (capítulo 30).
Sob a orientação de Deus, Davi perseguiu os
Nobe
amalequitas, derrotou-os e salvou os prisionei­
En-Dor
Vale de Elá ros. Quanto aos espólios, Davi os enviou para
Monte Gilboa os anciãos de Judá, um gesto que certamente
Siló aumentou sua popularidade entre o povo de
sua própria tribo.
Lugares-chave E possível que, no exato instante em que
Davi estava derrotando os amalequitas em
Ziclague
Judá, Saul estava perdendo a batalha contra
Bete-Semes
os filisteus no Monte Gilboa. Três dos filhos
Ramá
de Saul, incluindo Jônatas, morreram na ba­
Mispa
Jabes-Gileade talha e os arqueiros filisteus feriram Saul. Te­
Neguebe mendo que os seus inimigos o capturassem e
torturassem, ele caiu sobre sua própria espada
e morreu.

205
Descobrindo os Livros Históricos

Os filisteus encontraram o corpo de Saul e ta Samuel havia ungido Davi para ser o próxi­
seus filhos prenderam os cadáveres ao portão mo rei de Israel. No começo, Saul indicava
de Bete-Seã.7 Mas os homens de Jabes-Gilea- que seria um bom rei, mas não foi. Poderia ser
de, provavelmente por causa dos laços de san­ diferente com Davi, que não parecia prestes
gue com Saul e de sua fidelidade para com a ser um grande rei. E por que motivo isso viria
eles (capítulo 11), tiraram os corpos de lá e os a acontecer?
sepultaram corretamente. As lutas de Israel entre a teocracia e mo­
E assim, a vida do primeiro rei de Israel narquia também levantam uma outra ques­
chegou a um fim trágico. Ao nos aproximar­ tão para nós. Cada um de nós deve escolher
mos da conclusão de 1 Samuel, o texto levan­ submeter-se à maior de todas as autoridades,
ta uma questão. Saul havia morrido e o profe­ o Senhor. Quem é o rei de sua vida?

Sumário

1. Os filisteus capturaram a arca da 8. A vitória de Davi sobre Golias mostra


aliança e a levaram para Asdode, mas importantes princípios espirituais para
sofreram com pragas até que devol­ os líderes contemporâneos: devemos
veram a arca a Quiriate-Jearim. estar sempre preocupados com a
honra de Deus e não nossa própria,
2. Deus atendeu o pedido de Israel para
devemos agir pela fé lembrando-nos
que tivesse um rei, mas esse não era o
da fidelidade de Deus no passado e,
seu mais alto propósito para o povo
em situações difíceis, devemos nos
naquele momento.
lembrar que Deus está no controle.
3. Saul não teve sucesso como rei por­
9. Saul ficou com inveja de Davi e criou
que desobedeceu as ordens de Deus.
muitos problemas para ele, mas Davi
4. Davi tornou-se conhecido como músi­ continuou tentando provar sua leal­
co da corte de Saul e como líder mili­ dade para com o rei.
tar de sucesso.
10. Davi juntou-se aos filisteus durante al­
5. Em seu discurso final, Samuel ofere­ gum tempo e usou essa aliança para
ceu restituição a qualquer um que destruir tribos nômades estrangeiras
porventura tivesse ofendido, disse ao que estavam perturbando Judá.
povo que eles haviam pecado contra
11. Saul pediu à mulher de En-Dor que
Deus e pediu aos israelitas que seguis­
chamasse o espírito de Samuel e
sem a Deus de todo o seu coração.
quando um vulto apareceu, ele decla­
6. Saul mostrou seu verdadeiro coração rou que Saul iria morrer no dia se­
quando usurpou o papel do sacerdo­ guinte, na batalha contra os filisteus.
te em Gilgal, quando fez um voto
12. Os filisteus tomaram o corpo de Saul
precipitado e tentou cumpri-lo e
e de seus três filhos e os afixaram no
quando não seguiu as instruções de
portão de Bete-Semes.
Deus sobre os amalequitas.
7. Ao ungir Davi como rei, Deus olhou
para o seu coração e não para suas
características físicas.

206
1 Samuel

Questões para estudo

1. Descreva a situação histórica de Israel rael. Por que o povo queria um rei e
no começo do livro de 1 Samuel. Co­ por que Saul foi escolhido? De um
mo o povo estava organizado e quem modo geral, você acha que Saul foi
estava no comando? Quais eram as uma boa escolha? Justifique.
ameaças que eles enfrentavam?
5. Descreva a ascensão de Davi à proe-
2. Quais são os principais temas de 1 Sa­ minência. Por que Saul suspeitava
muel? dele? Na sua opinião, essas suspeitas
de Saul eram justificadas?
3. De que forma a vida de Samuel mu­
dou a história de Israel?
4. Descreva as razões que estavam por
trás do começo da monarquia em Is­

Leituras complementares

Baldwin, Joyce G. 7 Samuel: An Introduction and Com­ história de Israel em nível de seminário que combina
mentary. Tyndale Old Testament Commentary. bom estudo e leitura fácil.
Downers Grove/Leicester: InterVarsity, 1988. Um Wood, Leon J. IsraeTs United Monarchy. Grand Rapids:
bom comentário em nível universitário. Baker, 1979. Um estudo do período de Saul, Davi e
Bruggemann, Walter. First and Second Samuel. Salomão. Contém várias aplicações espirituais.
Louisville: John Knox, 1990. Rico em exposições e
aplicações teológicas.
Merrill, Eugene H. Kingdom o f Priests: A History o f Old
Testament Israel. Grand Rapids: Baker, 1987. Uma

207
2 Samuel
14 O reinado de Davi
mgmmm

Esboço
• Esboço
• Pano de fundo de 2 Samuel
Cenário
Autoria e data
Temas de 2 Samuel
Objetivos
• A mensagem de 2 Samuel
A ascensão de Davi ao poder em Judá Depois de ler este capítulo,
(capítulos 1-4) você deve ser capaz de:
0 reinado de Davi sobre toda Israel • Delinear o conteúdo de 2 Samuel.
(capítulos 5-24) • Expressar os quatro temas de 2 Samuel.
• Explicar os diferentes detalhes da morte
de Saul em 1 Samuel 31 e 2 Samuel 1.
• Demonstrar de que maneira o comporta­
mento de Davi na situação com Is-Bosete
o ajudou a ganhar a confiança do povo.
• Identificar as razões pelas quais Davi
escolheu Jerusalém como a capital.
• Relacionar as bênçãos de Deus em sua
aliança com Davi.
• Aplicar à vida contemporânea os resulta­
dos do pecado de Davi com Bate-Seba.
• Relatar os episódios de descontentamen­
to no reino de Davi.
• Relatar os resultados para a história de
Israel do censo ordenado por Davi.
Descobrindo os Livros Históricos

Você já imaginou como seria liderar um tra os filisteus. Davi, que foi ungido por Sa­
país? Você teria uma agenda lotada todos os muel para ser o sucessor de Saul, está em
dias. Muitas responsabilidades importantes Ziclague depois de ter salvo a cidade do ata­
estariam sobre os seus ombros. E, algumas ve­ que amalequita. O livro de 2 Samuel relata
zes, você teria que tomar decisões que não como Davi tornou-se rei de Israel e ressalta
seriam bem aceitas por todos — decisões que, certos detalhes sobre seu reinado.
em sua opinião — seriam para o bem de todo Alguns estudiosos sugerem que o escritor
o país. de 2 Samuel organizou o material de acordo
2 Samuel registra como Davi tornou-se rei com tópicos e não em uma ordem cronológi­
de Israel aos trinta anos de idade (5.4). O ca.1 2 Samuel 1-10 descreve como Deus
texto ressalta as diversas formas como Deus abençoou Israel quando o rei seguiu os cami­
usou Davi para abençoar Israel. Ele também nhos do Senhor; 2 Samuel descreve como
descreve as tristezas e tragédias que vieram Deus julgou Israel, quando o rei saiu dos ca­
sobre Davi e Israel quando o líder escolhido minhos do Senhor.
por Deus não seguiu os caminhos do Senhor.
Autoria e data
2 Samuel é uma obra anônima. Confor­
me dissemos no capítulo 13, o ministério de
Esboço Samuel foi o que criou as condições para a
monarquia em Israel. Esse fato pode ser a
I. A ascensão de Davi ao poder em
razão da tradição ter ligado o seu nome a l e
Judá (1-4)
2 Samuel.
A. Davi pranteia a morte de
Também não sabemos exatamente quan­
Saul (1)
do o livro foi escrito. Os relatos refletem um
B. Davi luta contra Is-Bosete
conhecimento completo dos acontecimentos,
(2-4)
baseando-se por vezes em antigas fontes es­
II. O reinado de Davi sobre Israel critas (1.18).
(5-24)
A. Davi protege as fronteiras
Temas de 2 Samuel
(5, 8 e 10) A ascensão de Davi ao
B. Davi toma Jerusalém (5 e 6) reinado de Israel
C. Deus faz uma aliança com
Quando o povo pediu um rei, Deus lhes
Davi (7)
deu Saul. Sua aparência era nobre, mas ele
D. Davi peca com Bate-Seba
provou ser um péssimo rei, pois seu coração
(11 e 12)
não seguia fielmente ao Senhor.
E. Davi sente o descontenta­
No início do reinado de Saul, Deus esco­
mento com seu reinado
lheu Davi para ser o próximo rei (ISm 16.1-
(capítulos 13—20)
13). Saul teve inveja da popularidade de Davi
1. Amnom estupra Tamar (13 e 14)
e procurou matá-lo, fazendo com que Davi
2. Absalão lidera uma revolta (15-19)
tivesse que passar vários anos vivendo como
3. Seba lidera uma revolta (20)
F. Davi conclui o seu reinado um fugitivo. Mas a morte de Saul no MONTE
GlLBOA abriu caminho para que Deus pu­
(21-24)
desse continuar com seu plano. Logo Davi
ocuparia o trono de Israel.

Pano de fundo de A escolha de Jerusalém


como a capital
2 Samuel Os israelitas haviam conquistado JERUSA­
LÉM durante o período dos juizes (Jz 1.8), mas
Cenário os jebusitas ainda ocupavam a cidade. Davi
Como dissemos no capítulo 13, 1 e 2 Sa­ expulsou-os de lá e fez de Jerusalém a capital
muel a princípio formavam uma única obra (2Sm 5.5-9). Ele também levou para lá a arca
na Bíblia hebraica. No início do livro, Israel da aliança, tomando a cidade o centro políti­
está sem rei pois Saul morreu na batalha con­ co e religioso de Israel (6.1-19).
210
2 Samuel

As ruínas de Jerusalém foi a capital de Israel até o final do Davi se arrependeu, Deus o perdoou, mas
Bete-Seã, Israel. do reinado de Salomão. Depois que o reino se as conseqüências desse pecado atormentaram
Os filisteus
dividiu, ela continuou sendo a capital de Judá, o rei para o resto de sua vida. O adultério de
tomaram o
corpo de Saul e até cair sob Nabucodonosor e os babilônios Davi e Bate-Seba é, de fato, uma virada im­
Jônatas e o em 587 a.C. portante da narrativa de 2 Samuel.
pregaram nas
muralhas. A aliança de Deus com Davi
Davi queria construir um templo para
Deus, uma “casa” onde Deus pudesse habitar
A mensagem de
(capítulo 7). Em vez disso, Deus prometeu 2 Samuel
que construiria para Davi uma “casa de des-
cendentes”. O Senhor afirmou que o filho de A ascensão de Davi ao poder
Davi construiria o templo e que o favor divino em Judá (capítulos 1-4)
estaria sempre com a linhagem de Davi. Deus
estabeleceria o trono de Davi para sempre. Davi pranteia a morte de Saul
Essa maravilhosa promessa de Deus para (capítulo 1)
Davi tem um papel importante no plano de No terceiro dia depois do triunfante retor­
Deus para a salvação. Ele culmina em Jesus no de Davi a Ziclague, ele recebeu a notícia
Cristo, o descendente de Davi, que um dia da derrota de Israel e da morte de Saul no
voltará para reinar para sempre (Lc 1.32,33). Monte Gilboa. Um amalequita do acampa­
mento de Saul foi até Ziclague e deu as no­
0 pecado de Davi traz sérias
tícias a Davi. Esse homem também contou
conseqüências que ele havia encontrado Saul gravemente
A falta de capacidade de Davi de contro- ferido e que, a pedido de Saul, ele o havia
lar suas paixões o levou ao adultério com BATE- matado para acabar com seu sofrimento.
SEBA e, mais tarde, ao assassinato de URIAS, A reação de Davi teve dois momentos. Em
o marido de Bate-Seba (capítulo 11). Quan­ um primeiro momento, ele e toda a sua compa­
211
Descobrindo os Livros Históricos

nhia pratearam a morte de Saul e jejuaram As notícias da morte de Abner causaram


até o anoitecer. Em um segundo momento, impacto em toda Israel. Baaná e Recabe, dois
ele ordenou que o amalequita fosse morto por comandantes de Is-Bosete, decidiram que
ter ferido Saul, o ungido do Senhor. Mediam Davi tinha vencido. Eles mataram Is-Bosete e
te essas duas atitudes, Davi deixou claro que levaram sua cabeça para Davi em Hebrom.
ele não tinha se alegrado com a morte de Saul Mais uma vez, Davi negou qualquer ligação
e nem participado dela. com o acontecido e ordenou que Baaná e
Alguns estudiosos apontam para as discre- Recabe fossem mortos por seu crime. Assim,
pâncias existentes entre os detalhes de 1 Sa- restou apenas um homem para liderar Israel e
muel 31 e 2 Samuel 1. Em 1 Samuel 31, Saul esse homem era Davi.
cai sobre sua própria espada e morre, enquanto
em 2 Samuel 1 o amalequita diz ter matado o O reinado de Davi sobre toda
rei, que estava gravemente ferido. A explica­ Israel (capítulos 5-24)
ção mais provável é de que o amalequita esti­ Davi tinha esperado pelo tempo de Deus
vesse mentindo. Ele disse ter dado o golpe mor­ e, agora, a hora havia chegado. Todas as tri­
tal em Saul, pois achou que talvez Davi o re­ bos de Israel reuniram-se em Hebrom e ungi-
compensaria de alguma forma. Mas ele falhou ram-no rei sobre toda a nação. O povo final­
em prever a reação de Davi e, acidentalmen­ mente tinha um líder que desejava seguir os
te, decretou a sua própria morte.2 propósitos de Deus.
Davi entoou um lamento sobre a morte de O resto de 2 Samuel relata acontecimen­
Saul e Jônatas. Suas palavras revelam a pro­ tos importantes do reinado de Davi. Esses
fundidade do seu amor por aqueles homens e acontecimentos retratam vitórias e fracassos
testificam da sua tristeza e inocência em rela­ de Davi, seus atos bons e seus pecados. Aci­
ção às mortes. ma de tudo, eles revelam a graça de Deus —
graça que capacitou Davi para que ele servis­
Davi luta contra Is-Bosete se bem a Israel e o reergueu quando as conse­
(capítulos 2-4) qüências de seus pecados desabaram sobre
Sob a direção de Deus, Davi subiu para ele. A Bíblia oferece essa mesma graça a cada
Hebrom, onde os homens de Judá o ungiram um de nós.
rei de Judá. Ele também mandou uma men­
Davi protege suas fronteiras
sagem aos homens de Jabes-Gileade elogian­
do-os por terem sepultado o corpo de Saul (capítulos 5, 8 e 10)
(ISm 31.11-13). Ele os informou de sua un- Todo reino deve proteger suas fronteiras.
ção e prometeu mostrar-lhes bondade. Para Israel, um pequeno país cercado de po­
Enquanto isso, Abner — general e paren­ vos hostis, essa tarefa era crucial. Davi tomou
te de Saul — coroou como rei de Israel a IS- medidas para proteger suas fronteiras e até foi
BOSETE, filho de Saul. Só a tribo de Judá se­ além. Seu reinado marcou o início do Império
guiu Davi. Estava armada uma guerra civil Israelita.
que durou dois anos. Os filisteus haviam tratado bem a Davi,
À medida que a luta continuava, Davi ia pois viam nele alguém que poderia distrair
ganhando vantagem. Abner, que então era Saul e enfraquecer Israel.3 Agora que Davi
general de Is-Bosete, deve ter percebido o que havia assumido o controle, eles o viam como
estava acontecendo e passou para o lado de seu inimigo e marcharam contra ele (5.17-25).
Davi, usando como desculpa uma briga por Na primeira batalha, os filisteus acampa­
causa de uma concubina de Is-Bosete. A de­ ram no VALE D o s REFAINS, a sudoeste de
serção de Abner enfraqueceu ainda mais a Jerusalém, enquanto Davi e seus homens
causa de Is-Bosete. acamparam em Masada (“a fortaleza”), pró­
Mas nem todos no acampamento de Davi ximo ao Mar Morto. Davi consultou o Senhor
estavam prontos para confiar em Abner. Joabe, e Deus lhe deu vitória em BAAL-PERAZIM.
o sobrinho e general de Davi, suspeitou dele Os filisteus reagruparam-se e reuniram-se
desde o começo e, por fim, acabou matando-o. no Vale dos Refains. Dessa vez, o Senhor deu
Davi negou qualquer ligação com a morte de a Israel vitória de GEBA, no planalto central
Abner e até mesmo participou de sua procissão de Benjamim, até GEZER, na entrada do Vale
funeral. Os atos de Davi agradaram o povo e de Aijalom. Essa vitória tirou os filisteus do ter­
ajudaram a curar as feridas entre as tribos. ritório de Israel e os empurrou de volta para a
212
2 Samuel

As Campanhas de Davi
/
Sidom

D am asco

Tiro ®

Hazor •

M AR DA
G A L IL É IA

# Helão
#
£

• Gaza

NEGUEBE
Davi derrota os Filisteus

Davi ataca o rei de Zobá 20 40 mi


Davi derrota os Edomitas l— 1—l----- H
20 40 60 km
Davi derrota Aliança Amonitas/Arameus
Davi derrota Aliança dos Arameus
<$•
*
Petra

costa. Mais tarde, os filisteus acabaram subme­ Alguns reinos conquistados, por vezes, uni­
tributo
tendo-se ao controle de Davi. Eles haviam der­ am forças contra Davi e tentavam reaver sua
rotado Saul, mas não iriam derrotar o rei Davi. independência. A Síria e Amom uniram-se
O Senhor também deu a Davi vitórias so­ contra Israel (capítulo 10), mas Joabe dividiu
bre outros reinos vizinhos — MOABE e EDOM o exército de Israel contra eles e os venceu.
a sudoeste, AMOM a leste e SÍRIA ao norte As fronteiras de Israel estavam seguras.
(8.1). Davi colocou guarnições em DAMAS­
CO e aceitou tributos de muitas outras cida- Davi toma Jerusalém (capítulos 5 e 6)
des-estado da Síria. Ele também fez uma alian­ Durante os primeiros sete anos e meio de
ça com Hirão, rei de Tiro, que construiu para seus quarenta anos e meio de reinado, Davi
ele um palácio em Jerusalém quando Davi governou a partir de Hebrom. Mas a locali­
mudou a capital para lá. zação da cidade — no extremo sul — a torna-
213
Descobrindo os Livros Históricos

Os jebusitas
controlavam
Jerusalém nos
tempos de Davi,
mas o exército
de Davi entrou
na cidade
através de seu
túnel de água e
a conquistou
(2Sm 6.6-8).

va pouco apropriada para uma capital. Davi e eles haviam se submetido a ele. Seu reino
tem plo
resolveu mudar a capital para aproximada- gozava de paz e segurança. Davi com certeza
mente trinta e cinco quilômetros a norte em sabia de uma coisa — Deus estava, de fato,
aliança Jerusalém.4 abençoando-o!
Jerusalém estava dentro do território de Mas Davi também percebeu uma outra
Benjamim, um fato que Davi pode ter levado coisa. Hirão, o rei de Tiro bavia construído
em consideração ao escolher aquele local. Saul, para Davi um palácio impressionante. Mas
que era benjamita, havia governado a partir de onde estava o palácio de Deus? Não havia
Gibeá, alguns quilômetros ao norte de Jerusa­ um palácio para ele! A arca da aliança estava
lém. Talvez Davi achasse que restaurando a em uma tenda enquanto Davi vivia em meio
capital à região de Benjamim poderiam dimi­ ao luxo. Davi sentiu que o Senhor merecia
nuir as tensões políticas nas terras. Além disso, um lugar melhor para o seu nome.
a FONTE DE GlOM dava a Jerusalém um abun­ Natã, o profeta, supôs que Deus gostaria
dante abastecimento de água. que Davi construísse um tem plo, mas Deus
Os jebusitas, parte da população cananita tinha outros planos. Ele não havia pedido
que habitava a terra durante os dias de Josué um templo. Além disso, Davi era um guer­
(Js 24-11), controlavam Jerusalém no tempo de reiro que havia derramado muito sangue;
Davi. Sua cidade fortificada, no alto de um Deus escolheria um homem de paz para
monte, dava-lhes uma sensação de invencibi­ construir o templo (lC r 22.8,9). Davi preci­
lidade, mas Davi entrou na cidade através de sava submeter seu zelo ao tempo e à vonta­
seu túnel de água e a conquistou (2Sm 5.6-8). de de Deus.
Jerusalém tornou-se a Cidade de Davi. Ainda assim, Deus recompensou a atitude
Davi trouxe, então, a arca da aliança de de Davi. O rei queria construir um templo por
Baalá de Judá (também conhecida como causa de sua gratidão por todas as bênçãos de
Quiriate-Jearim, ISm 7.1,2). A arca entrou Deus. Mesmo que aquela não fosse a solução
em Jerusalém em meio a muita celebração e certa, sua atitude foi louvável.
os levitas a colocaram na tenda que Davi ba­ Davi queria construir uma casa para o Se­
via preparado para ela. Jerusalém tornava-se nhor, mas Deus disse que construiria uma casa
o centro espiritual e político de Israel. para Davi — uma casa de descendentes. O
texto não usa o termo “aliança”, mas textos
Deus faz uma aliança com Davi bíblicos mais adiante referem-se a esse acon­
(capítulo 7) tecimento como uma aliança (2Cr 21.7; SI
Davi bavia se estabelecido como rei sobre 89.3). A aliança especial de Deus com Davi
toda Israel. Ele havia derrotado seus inimigos incluía as seguintes bênçãos:
214
Reino Unido
sob Davi
» D am asco

A d m inistrad o por Davi


e Salom ão

Vassalo de Davi

-
£

M egido
ílfSfllÉi
# B ete-Seã Ram ote-Gileade

/
$ ISRAEL
i
$ Siquém

Jope Sitó

• Rabá-bene-
Am om
G ezer
Q ueriate-Jearim

• A sd o d e Jeru salém
A scalom
JUDÁ AMOM

Hebrom £
I

MOABE
• B e rseb a

Escala
EDOM 10 2 0 mi
I------1— 1—I----- 1
0 10 2 0 km
Descobrindo os Livros Históricos

• Deus daria a Israel um lugar para O interesse de Davi por Bate-Seba deveria
habitar em segurança para sempre (vs. ter se encerrado quando descobriu que ela
10 , 11). era casada. Em vez disso, ele a chamou para o
• Deus levantaria um filho de Davi que palácio e teve relações sexuais com ela. Quan­
construiria o templo (vs. 12,13). do, mais tarde, Bate-Seba informou Davi de
• Deus estabeleceria a linhagem que ela estava grávida, Davi se viu diante de
dinástica de Davi para sempre (v. 13). um verdadeiro problema. Urias, o marido de
• Deus estabeleceria um relacionamento Bate-Seba, estava fora há muito tempo, lu­
de pai e filho com os descendentes de tando contra os amonitas. Logo ficaria óbvio
Davi (v. 14). que ele não era o pai do bebê que sua mulher
• A misericórdia e o amor de Deus estava esperando!
estariam presentes com a linhagem Em duas ocasiões, Davi tentou fazer pare­
dinástica de Davi como antes havia cer que Urias era o pai da criança. Mas quan­
acontecido com Saul (vs. 14,15). do as duas tentativas falharam, ele tomou
medidas drásticas. Pelas mãos do próprio Urias
Davi respondeu com gratidão e espanto ele enviou ordens para que Joabe o colocasse
imensuráveis. Quem era ele para que Deus no meio da luta mais acirrada e então o dei­
fizesse essa grande obra por meio dele? A ati- xasse sozinho. O plano funcionou e Urias
tude de Davi serve de modelo para todos os morreu na batalha. Depois do período de luto
cristãos. A Bíblia declara uma verdade admi­ de Bate-Seba, Davi casou-se com ela e Bate-
rável — Deus escolheu pessoas simples para Seba deu à luz um filho. O rei achou que
cumprir seus grandes propósitos! Nossa res­ havia escapado de seu pecado, mas ele se es­
posta não deve ser de orgulho, mas sim de queceu de uma coisa: o Senhor tinha visto
gratidão. todo aquele episódio pecaminoso!
Davi também compreendeu que parte das Natã, o profeta, foi até Davi e contou-lhe
bênçãos de Deus dependia da fé dos seus des­ uma história. Um homem rico, que tinha
cendentes (lRs 2.4). Mas o cumprimento fi­ muitas ovelhas e gado, estava recebendo um
nal da aliança de Deus com Davi encontra- convidado. Em vez de pegar um animal den­
se na pessoa de Jesus Cristo, o filho de Davi tre os seus muitos para preparar para o convi­
(Mt 1.1). Davi governou como rei de Israel, dado, ele pegou a única ovelha de um ho­
mas Jesus voltará para reinar como Rei dos mem pobre, uma ovelha que era o animal de
reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16). Até estimação da família e a preparou para seu
esse dia, devemos permitir que ele reine com convidado.
liberdade em nossos corações. Quando o fa­ A ira de Davi se acendeu — aquele ho­
zemos, seu Espírito Santo nos transforma na mem deveria morrer por sua falta de compai­
pessoa que ele quer que sejamos. xão! Mas a resposta de Natã o deixou parali­
sado: “Tu és o homem!” (12.7). Deus havia
Davi peca com Bate-Seba
abençoado Davi abundantemente. Ele havia
(capítulos 11 e 12) salvo Davi das mãos de Saul e dado a ele o
O pecado de Davi com Bate-Seba teve reino com todas as suas honras e privilégios.
conseqüências desastrosas. Tanta coisa havia Urias, por outro lado, só tinha a Bate-Seba, e
dado certo para ele, mas quando Davi deixou Davi havia tomado a mulher dele. Daquele
os caminhos de Deus, tanta coisa deu errado. dia em diante, a espada estaria sempre sobre a
Essa história é uma clara advertência para os casa de Davi — sua família passaria por cons­
cristãos de hoje. Mesmo depois de perdoado, tante tumulto e tragédia.
o pecado pode trazer conseqüências para o Davi sentiu o golpe das palavras de Natã e
resto da vida. confessou o seu pecado. Natã o assegurou do
O pecado de Davi ocorreu depois que ele perdão de Deus, mas prometeu que haveria
enviou Joabe e o exército para lutar contra sérias conseqüências. A criança deveria mor­
Amom. Enquanto isto, em Jerusalém, Davi rer, pois o pecado de Davi tinha feito os inimi­
estava andando no alto de seu palácio quan­ gos de Deus blasfemarem. Precisamos pedir
do olhou para baixo e viu uma mulher ba- que Deus nos proteja das tentações. Os des­
nhando-se. Ele a desejou e perguntou quem crentes estão sempre nos observando e qual­
era ela. Seus servos lhe informaram que aquela quer pecado que eles possam ver em nós dá a
era Bate-Seba, esposa de Urias, o hitita. eles uma desculpa para zombar de Deus.

216
2 Samuel

0 vale Cedrom,
nas cercanias de
Jerusalém.
Quando Absalão
tentou tomar o
reino, seu pai,
Davi, fugiu da
capital através
do vale Kidron.

De maneira maravilhosa, a graça de Deus Davi sente o descontentamento com


golpe
mais uma vez tocou a vida de Davi. Ele com seu reinado (capítulos 13-20)
fortou Bate-Seba pela morte de seu filho e
O profeta Natã havia advertido Davi que
logo ela concebeu novamente. Ela deu à luz
a espada estaria sempre sobre sua casa. 2 Sa­
um outro filho — Salomão. Ele seria o próxi­
muel 13-20 descreve o descontentamento
mo rei de Israel e construiria o templo do Se­
subseqüente com o reinado de Davi. Três
nhor, assim como Deus havia prometido
acontecimentos formam a narrativa: Amnom
(7.13). Quando olhamos para o Novo Testa­ estupra Tamar (capítulos 13,14), Absalão se
mento, encontramos a graça de Deus esten- rebela (capítulos 15-19) e Seba se rebela (ca­
dendo-se ainda mais. Salomão aparece na pítulo 20).
genealogia de Jesus Cristo (Mt 1.6)1 Amnom e Absalão eram os dois primeiros
Antes de encerrarmos essa história, gosta­ filhos de Davi, respectivamente (2Sm 3.2).5
ríamos de ressaltar dois importantes princípios Tamar era irmã de Absalão; ela e Absalão
para a vida cristã. Em primeiro lugar, todo o eram filhos de Maaca, filha de Talmai, rei de
pecado tem conseqüências. O pecado de Davi Gesur (2Sm 3.3; 13.4). Amnom não conse­
trouxe resultados desastrosos sobre ele e sua guiu controlar seu desejo por sua meia-irmã
casa. Aqueles que estão enfrentando tenta­ Tamar e esses desejos descontrolados o leva­
ções devem se lembrar do alto preço que Davi ram ao estupro. As Escrituras nos advertem
pagou por fazer o mal. sobre deixar que nossas paixões nos dominem
Em segundo lugar, a graça de Deus é (Rm 13.13,14).
suficiente para cobrir os pecados daqueles Absalão odiou Amnom por aquilo que ele
que voltam-se para ele. Davi arrependeu- havia feito. Dois anos depois, quando Amnom
se de seu pecado e a graça de Deus não só estava em uma festa oferecida por Absalão,
lhe deu o perdão, como ainda, mais tarde, este mandou que o matassem e depois fugiu
lhe deu Salomão. E importante lembrar que para Gesur. Depois de três anos, graças, em
essa história de forma alguma é conivente grande parte, aos esforços de Joabe, Absalão
com o pecado. Não devemos nunca racio­ voltou para Jerusalém, mas dois anos mais ain­
nalizar nossas ações dizendo “Mais tarde eu da se passaram até que Davi o convidasse a
pedirei perdão” . Ao mesmo tempo, Deus visitá-lo no palácio.
está pronto a perdoar todos aqueles que sen­ A tensão entre o. rei e o seu filho logo
tem a vergonha de seu pecado e voltam-se explodiu em uma rebelião. Absalão fez pre­
para ele com arrependimento verdadeiro parativos para um golpe, ganhando o cora­
(ljo 1.19). ção do povo. Ele conversava com as pessoas
217
Descobrindo os Livros Históricos

de Absalão sofresse algum revés, a opinião


Pessoas/ pública logo voltaria a favorecer Davi. Absalão
seguiu o conselho de Husai — uma decisão
lugares-chave que salvou o reinado de Davi.
Husai deu a notícia a Davi, que havia cru­
Joabe
zado o Jordão a fim de preparar-se para lutar.
Abner
O rei dividiu suas forças em três grupos e pe­
Termos-chave is-Bosete
diu que eles não fossem violentos contra
Urias
Bate-Seba Absalão.
Tributo
Templo Amnom Durante a batalha, as forças de Absalão
Aliança Tamar sofreram muitas perdas. Quando Absalão ca­
Golpe Absalão valgava passando por baixo de um carvalho,
Seba seus cabelos ficaram presos em um dos galhos
Araúna grossos e ele ficou suspenso. Quando Joabe
Monte Gilboa descobriu a situação de Absalão, ele e seus
Jerusalém homens o cercaram e o mataram. Mensagei­
Vale dos Refains ros levaram a trágica notícia até Davi — o
Baal-Perazim reino estava novamente em suas mãos, mas
Geba ele havia perdido outro filho.
Gezer Enquanto Davi reassumia o controle, ou­
Moabe tras sementes de descontentamento estavam
Edom germinando. As desavenças entre a tribo de
Amom Judá e as outras tribos ficavam cada vez mais
Síria
aparentes (19.41-43) e o conflito explodiu
Damasco
quando Seba, um benjamita, deu início à re­
Fonte de Giom
belião. A revolta de Seba, porém, não tinha o
mesmo apoio popular que o golpe de Absalão
e logo terminou com a morte de Seba.

no portão da cidade, declarando que se ele


Davi conclui o seu reinado
fosse rei eles receberiam justiça. Ele também (capítulos 21-24)
não permitiu que o povo se curvasse diante 2 Samuel conclui com relatos de vários
dele, tratando-os mais como amigos do que outros acontecimentos do reinado de Davi:
como súditos. seu relacionamento com os gibeonitas (21.1-
Quando Absalão decidiu que era chega­ 14), suas guerras contra os filisteus (21.15-22),
da a hora, foi para Hebrom, o lugar onde Davi suas ações de graça a Deus (22.1-23.7), seus
tinha sido ungido (2Sm 5.3). Ele também en­ homens valentes (23.8,9) e o levantamento
viou espias por toda a terra, instruindo-os para do censo (capítulo 24).
que, quando ouvissem a trombeta, gritassem: Durante os dias de conquista, Israel tinha
“Absalão é rei em Hebrom!”. A conspiração feito um tratado com os gibeonitas (Js 9). O
ganhou força rapidamente e Davi e seus se­ zelo excessivo de Saul contra eles levou a uma
guidores tiveram que fugir de Jerusalém para quebra da aliança entre Israel e Gibeão e, por
escapar dos homens de Absalão. isso, o Senhor fez descer uma grande fome de
Quando Davi estava fugindo de Jerusa­ três anos sobre a terra.6 Davi descobriu a cau­
lém, ele mandou de volta Husai, um servo sa dessa grande fome quando ele consultou o
fiel, para fingir lealdade a Absalão e manter Senhor.
Davi informado de seus planos. Quando Husai Davi ofereceu acertar as contas com os gi­
voltou, Absalão já estava pensando em quais beonitas, que pediram para que sete dos fi­
seriam os próximos passos. Um dos conselhei­ lhos de Saul fossem enforcados. Davi poupou
ros de Absalão era Aitofel, um homem cujo o filho de Jônatas, Mefibosete (2 Samuel 9),
conselho era irrepreensível (16.23). Aitofel mas lhes entregou outros sete. Os gibeonitas
aconselhou um ataque imediato para acabar os enforcaram e o Senhor pôs fim à grande
com Davi. Husai, por outro lado, recomen­ fome. Ainda assim, essa atitude de Davi pro­
dou um ataque mais tardio porém cuidadosa­ vavelmente foi prejudicial para o seu relacio­
mente elaborado. Ele afirmou que, se o grupo namento com a tribo de Benjamim.7
218
2 Samuel

Os relatos das guerras de Davi com os filis- quanto outros têm apenas os seus nomes men­
teus (21.15-22) ressaltam ainda mais as lutas cionados. Esses homens demonstraram tre­
de Israel contra esse povo. Os filisteus quase menda lealdade e bravura enquanto cumpri­
mataram Davi e alguns de seus guerreiros am seu dever. Talvez eles tenham lutado com
eram bem maiores em estatura que os israeli­ tanta valentia, pois reconheceram a mão de
tas. Ainda assim, o Senhor deu vitória a Israel Deus sobre Davi. E, é claro que Deus tam­
e Davi conseguiu dominar os filisteus. bém lhes deu poder para que cumprissem os
Davi sabia que tudo o que ele era devia ao seus propósitos.
Senhor e expressou seu louvor em 2 Samuel Em uma outra ocasião, Davi determinou
22. Davi louvou a Deus pois ele era a rocha, o que faria um censo (capítulo 24), uma deci­
refúgio, o escudo, o salvador e muito mais. são que mostrava mais fé nos números que
Deus demonstrou seus poderes nos céus e, em Deus. 2 Samuel 24.1 diz que Deus ficou
ainda assim, escolheu alguém como Davi para irado com Israel e ele incitou Davi a levantar
liderar Israel. E o mesmo poder que capacitou o censo. 1 Crônicas esclarece que Deus per­
Davi para governar o povo de Deus pode nos mitiu que Satanás incitasse Davi a tomar tal
capacitar a ter a vida que Deus quer para nós decisão. Quando Joabe completou o censo,
nos dias de hoje. Deus trouxe julgamento sobre Israel e milha­
As histórias dos homens valentes de Davi res morreram.
retratam a dedicação dos soldados enquanto O profeta Gade deu a Davi a escolha de
lutavam por Davi e por Israel. Essas histórias qual seria o castigo. Davi escolheria passar por
ressaltam a carreira de alguns homens, en­ uma grande fome, fugir dos inimigos ou sofrer

Sumário

1. Os temas de 2 Samuel são sobre Davi 6. Deus fez uma aliança com Davi que
e sua ascensão ao reinado, sua esco­ incluía a promessa de que ele sempre
lha de uma capital, a aliança de Deus providenciaria um lugar para Israel
com ele, seu grande pecado e suas habitar; que o filho de Davi construi­
conseqüências. ria o templo; que Deus estabeleceria a
linha dinástica de Davi para sempre;
2. Davi foi ungido rei pelos homens de
que Deus estabeleceria um relaciona­
Judá em Hebrom, mas Abner coroou
mento de pai e filho com os descen­
rei de Israel o filho de Saul, Is-Bosete.
dentes de Davi e que o amor e a mi­
3. 0 reinado de Davi foi o começo do sericórdia de Deus jamais se apartari­
Império Israelita. am da linhagem de Davi.
4. Davi mudou a capital para Jerusalém, 7. Do adultério com Bate-Seba, Davi
pois estava mais bem localizada, iria aprendeu que todo pecado tem con­
acalmar um problema político porque seqüências, mas que a graça de Deus
ficava no território de Benjamim e ti­ é suficiente para cobrir tudo quando
nha um bom abastecimento de água. o pecador se apresenta diante de
Deus com genuíno arrependimento.
5. Quando Jerusalém tornou-se o centro
político de Israel, Davi também a fez 8. Três acontecimentos importantes aju­
o centro espiritual ao tirar a arca da daram a fazer crescer o descontenta­
aliança de Queriate-Jearim e levá-la mento com o reinado de Davi: o estu­
para uma tenda em Jerusalém. pro de Tamar por Amnom, a rebelião
de Absalão e a rebelião de Seba.

219
Descobrindo os Livros Históricos

Questões para estudo

1. Identifique os temas principais de 2 Sa­ Descreva a aliança especial de Deus


muel. De que forma 2 Samuel é diferen­ com Davi.
te de 1 Samuel?
De que forma o pecado de Davi
2. Descreva os acontecimentos que levaram com Bate-Seba trouxe sérias conse­
à vitória de Davi sobre a casa de Saul. qüências para sua vida e seu reino?
3. Por que a conquista de Jerusalém foi
uma vitória tão significativa para Davi?

Leituras complementares

Baldwin, Joyce. 7 and 2 Samuel: An Introduction and história de Israel para seminaristas que combina bom
Commentary. Tyndale Old Testament Commentary. estudo e leitura fácil.
Downers Grove/Leicester: InterVarsity, 1988. Um Wood, Leon J. IsraeTs United Monarchy. Grand Rapids:
bom comentário em nível universitário. Baker, 1979. Um estudo do período de Saul, Davi e
Merrill, Eugene H. Kingdom o f Priests: A History o f Old Salomão. Contém várias aplicações espirituais.
Testament Israel. Grand Rapids: Baker, 1987. Uma

pestilência? Davi escolheu deixar o julgamen­ O livro de Samuel registra como Deus co­
to nas mãos de Deus. Ele não podia esperar locou Davi no trono de Israel. O coração de
compaixão de seus inimigos, mas sabia que, Davi era reto diante de Deus e o Senhor fez
com Deus, sempre tinha esperança. uma aliança especial com ele. Davi pecou
A praga cessou na eira de Á R A Ú N A , o grandemente, mas confessou seus pecados
jebusita, e o profeta Gade instruiu Davi para quando os viu e quis acertar sua vida perante
que construísse ali um altar. Araúna ofereceu Deus. No mais profundo de seu ser, Davi sem­
doar tudo o que Davi precisasse, mas Davi pre queria fazer o que era certo.
recusou dizendo: “...não oferecerei ao Senhor, Davi recebeu o perdão de Deus, mas seu
meu Deus, holocaustos que não me custem pecado teve conseqüências terríveis. Ele viu
nada” (24.24). arruinada a vida de três de seus filhos, e mais
Mais uma vez, Davi revelou o seu coração. tarde, quando estava à beira da morte (lRs
Deus o havia abençoado abundantemente e 1), mais dois filhos brigaram pelo trono. A his­
Davi não mostraria sua gratidão com uma oferta tória de Davi nos adverte para que resistamos
que não lhe tivesse custado nada. Ele pagou o ao pecado ou vivamos em arrependimento. O
que era devido a Araúna, ofereceu os sacrifíci­ poder de Deus pode nos dar vitória contra a
os e clamou pelo nome do Senhor. O Senhor tentação (IC o 10.13) e nos ajudar a viver
ouviu a oração de Davi e pôs fim à praga. Mais como Deus quer (Fp 2.13).
tarde, a eira de Araúna tornou-se o local onde
foi construído o templo do Senhor (2Cr 3.1).

220
1 Reis
A glória de Salomão
e o princípio do fim

Esboço
* O autor e seus métodos
Teologia da retribuição
Fórmula do reinado e fontes
Perspectiva histórica do Exílio
• Conteúdo de 1 Reis
Esboço Objetivos
Visão geral Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
• Discutir as questões de autoria de 1 Reis.
• Analisar os métodos usados pelo autor
de 1 Reis.
• Aplicar a fórmula do reinado a 1 Reis.
• Delinear o conteúdo de 1 Reis.
• Relacionar os reis do reino dividido.
• Indicar de que maneira se desenvolveu o
ofício de profeta.

221
Descobrindo os Livros Históricos

O primeiro livro de Reis continua a história da retribuição baseada na aliança do Sinai,


narrativas especialmente da maneira como foi expressa­
religiosa iniciada no livro de Josué. 1 Reis fala
históricas
do grande reinado de Salomão e do início da da em Deuteronômio. O discurso final de
história da monarquia dividida. Juntamente Moisés em Deuteronômio listava as bênçãos e
História com 2 Reis, essa narrativa cobre mais de qua­ os castigos da aliança (capítulo 28). O autor
Deuteronô­ tro séculos de História, delineando a monar­ desses livros está convencido da verdade des­
mica quia israelita desde Salomão até o seu final. ses ensinamentos. A obediência às ordens de
Também mostra o fracasso de Israel como Deus traz bênçãos enquanto a desobediên­
teologia da nação em manter a aliança com Deus. Os cia traz o fracasso. Para o(s) autor (es) de Reis,
retribuição livros de Reis contam a triste história da des­ a História é a base sobre a qual a teologia é
truição trágica de Israel por causa de sua re­ provada.
baalismo cusa em ser fiel a Deus. O autor avalia cada um dos reis baseado
cananita na lealdade desse monarca para com o Deus
de Israel adorado em Jerusalém.3 Ele escre­
veu a história da monarquia de Israel a fim de
O autor e ilustrar os dois caminhos da vida entre os quais
todos nós temos que escolher. Um dos cami­
seus métodos nhos busca Deus no coração bem como na
Quem escreveu os livros de Reis? Quando forma religiosa e assim o agrada. O outro fa­
e como eles foram escritos? Podemos dar ape­ lha em obedecer a Deus e, no final, leva à
nas respostas parciais a essas perguntas. A an­ autodestruição.
tiga tradição judaica identifica Jeremias como
Fórmula do reinado
autor de 1 e 2 Reis.1 Os livros em si não ofere­
e fontes
cem nenhuma informação direta sobre o au­
tor e é melhor vê-los como obras anônimas Essa motivação religiosa predominante res­
(ver discussão sobre a História Deuteronômi­ ponde a pergunta: “Por que o autor escreveu
ca no capítulo 10). os livros de Reis?” Mas também ajuda a res­
Os livros contêm principalmente narrati­ ponder a questão “Como o autor compôs es­
vas históricas. Pode-se argumentar que esta ses livros?” Cada rei é discutido, à sua vez,
é a mais antiga historiografia autêntica da li­ por meio de uma fórmula bem definida de
teratura mundial. Pela primeira vez na histó­ introdução e conclusão. Essa fórmula con­
ria da humanidade, uma nação produziu uma tém uma avaliação de cada rei, baseada em
sua fidelidade à aliança, e seu desejo de an­
narrativa contínua, organizando documentos
dar nos caminhos do rei Davi, o ideal de rei
em uma apresentação ordenada e com um
israelita. Muitos dos reis que falharam em
único propósito geral.2
manter a aliança com Deus foram compara­
Entretanto, esses livros são mais que His­
dos a Jeroboão I de Israel, a exemplo de rebe­
tória. O autor amarrou as narrativas históri­
lião e desconsideração por Deus (15.33,34;
cas junto com grandes convicções religiosas.
16.25,26).
Ele apresentou o passado de Israel de um
A principal preocupação do autor é em
ponto de vista teológico e profético. O autor
relação à fidelidade e lealdade para com Deus
fez um ensaio cuidadoso e sistemático da lis­
e não com o seu valor político. Isso significa
ta de reis, com o propósito de criticar a fide­
que ele deu pouca atenção às conquistas po­
lidade de cada um para com a aliança com
líticas de Onri, Jeroboão II c Uzias. Por outro
Deus. Os livros traçam as conseqüências do
lado, ele estava profundamente interessado
pecado em contraste com os benefícios da
na apostasia religiosa de Jeroboão I, Acabe,
obediência. Isso nos leva a considerar outras
Acaz, Manassés e nas reformas religiosas de
questões sobre por que e como o autor escre­ Jeú, Ezequias e Josias. O autor não tem muito
veu esses livros. a dizer sobre o importante reinado de Onri
sobre Israel. Ele dedica longas narrativas a
Teologia Acabe, filho de Onri, que foi muito menos
da retribuição politicamente significativo. Mas o conflito ide­
Assim como outros livros da História Deu­ ológico entre a fé hebraica e o baalismo ca­
teronômica (ver capítulo 10), a principal preo­ nanita aconteceu durante o reinado de Aca­
cupação dos livros de Reis é com a teologia be (16.29-33).
222
1 Reis

Exem plos de
fó rm u la s reais
para 1 e 2 Reis

1. Introdução
a) Sincronização

"No décimo oitavo ano do


rei Jeroboão, filho de Nebate,
Abias começou a reinar
sobre Judá." (1 Rs 15.1)

b) Idade e/ou duração do


reinado

"Três anos reinou em


Jerusalém." (1 Rs 15.2a)

c) Referência materna

"Era o nome de sua mãe


Maaca, filha de Absalão."
(1 Rs 15.2b)

2. Avaliação
"Andou em todos os pecados
que seu pai havia cometido
antes dele; e seu coração não
foi perfeito para com o Senhor,
seu Deus, como o coração de
Davi, seu pai." (1 Rs 15.3)

3. Referência às Crônicas
"Quanto aos mais atos de
Degraus no Depois da morte de Salomão no capítulo Abias e a tudo quanto fez,
portão norte de l l , o autor apresenta os governantes de Israel porventura, não estão escritos
Megido. no livro da História dos Reis de
e Judá em retrospectiva. Ele data cada rei sim
Arqueólogos Judá?" (1 Rs 15.7)
escavaram os cronizando a ascensão de cada um com o rei­
muros e portões nado do monarca do outro reino. O autor al­ 4. Morte, sepultamento
de Megido, terna reis de Israel e Judá, mas não necessa­ e sucessor
Hazor e Gezer, riamente na ordem cronológica, o que resulta
cidades do "Abias descansou com seus
em uma seqüência, histórica nada comum.
tempo de pais, e o sepultaram na
Salomão. Ele discute, por exemplo, as guerras de fron­
teiras de Baasa contra Asa antes mesmo de Cidade de Davi; e Asa, seu
filho, reinou em seu lugar."
apresentar Baasa formalmente (15.16-33).
(1 Rs 15.8)
O autor usou três fontes primárias. O “livro
dos anais de Salomão” (11.41) parece ter con­
tido os anais reais típicos de um reinado do
antigo Oriente Próximo. O “livro dos anais do
reino de Israel” (14.19; 15.31, etc.) e o “livro Mediante comparações feitas com inúmeros
dos anais do reino de Judá” (14.29; 15.7, etc.) documentos desse tipo encontrados em ar­
anais reais aparentemente eram listas das atividades po­ quivos reais ou em templos de nações do anti­
líticas de cada rei bem como registros oficiais go Oriente Próximo, podemos dizer que esses
arquivos de estado preservados nos arquivos reais. documentos incluíam listas de reis, anais e

223
Descobrindo os Livros Históricos

NMHMMHHI mmm.
crônicas, inscrições reais, épicos históricos
crônicas
e dados biográficos.4 Conteúdo
Comparações com outros arquivos reais do
epicos antigo Oriente Próximo mostram que o autor de 1 Reis
históricos de Reis usou fontes contemporâneas seme­ A narrativa que se desenrola durante 1 e 2
lhantes às inscrições reais de outros países, es­ Reis tem três partes. A primeira unidade co­
pecialmente dos vizinhos ESTADOS ARA- bre o rei Salomão (lRs 1-11). Esses capítulos
MEUS na Síria.5 O autor de Reis parece ter descrevem sua dramática ascensão ao poder
tido diante dele documentos reais dos arqui­ (capítulos 1,2), seus grandes feitos (capítulos
vos da antiga Israel e Judá. O fato dessas ins­ 3-10) e seu fim trágico (capítulo 11). A se­
crições reais hebraicas originais ainda não te­ gunda unidade trata da história do reino divi­
rem sido encontradas é uma questão para a dido e revela o relacionamento entre Israel e
arqueologia moderna. Judá (lRs 12-2Rs 17). Algumas vezes o rela­
cionamento era pacífico, outras vezes não. A
Perspectiva terceira e última unidade (2Rs 18-25) narra
histórica do exílio os últimos anos de reinado em Judá, ao sul,
O autor desses livros testemunhou a que­ depois da queda do reino do norte para os
da do reino do sul e o fracasso de Israel em assírios em 722.
manter seu relacionamento singular com
Deus. Os livros de Reis foram completados Esboço
depois de 561 a.C., pois esta é a data do últi­
mo acontecimento registrado (2Rs 25.27-30). L O reino unido de Salomão
O autor não faz nenhuma referência a CIRO, (1.1-11.43)
DA PÉRSIA, e seu édito de liberação de 539, A. O início do reinado de Salomão
que terminou oficialmente com o exílio (2Cr (1.1-2.46)
36.22,23). Podemos supor que a obra foi com­ B. A glória do reinado de Salomão
pletada em algum momento durante esses (3.1-10.29)
últimos vinte e dois anos de exílio babilônico. C. O fim trágico do reinado de
De seu ponto de vista no exílio, o autor foi Salomão (11.1-43)
capaz de rever tanto os reis de Israel quanto
II. O reino dividido (12.1-22.53)
de Judá. Do ponto de vista da História da
A. Inimizade entre Israel e Judá
humanidade, foi um período de impérios
(12.1-16.28)
mundiais. Depois do impressionante reinado
B. Paz e amizade entre Israel e
de Salomão, os assírios e babilônios impuse­
Judá (16.29-22.53)
ram sua força sobre o mundo antigo. Israel
cresceu e tornou-se poderosa novamente Visão geral
apenas quando os grandes poderes da Meso­
potâm ia entraram tem porariam ente em A glória de Salomão
declínio. (capítulos 1-11)
Essa é uma explicação possível. Esses mes­ Esses capítulos descrevem o auge do poder
mos acontecimentos foram interpretados pelo militar e político de Israel. Foi só durante o
autor de Reis durante o exílio, com uma pers­ reinado de Salomão que Israel ganhou desta­
pectiva diferente, uma perspectiva dada por que na arena política internacional. Mas o
Deus. Ele fez uma retrospectiva da história da breve período de força e prestígio de Israel foi
monarquia israelita e explicou os aconteci­ arruinado pela apostasia religiosa de Salomão.
mentos teologicamente. Os impérios mundi­ A infidelidade de Salomão à aliança apagou
ais tinham sido instrumentos nas mãos de Deus todos os grandes feitos de seu reinado. Pouco
para punir o seu povo. Os assírios e os babilô­ depois de sua morte, o período de glória de
nios, na verdade, eram capazes de fazer ape­ Israel estava encerrado. Apesar de ter sido o
nas aquilo que Deus permitia a seu próprio maior momento político do povo, ele é lem­
tempo e, também, de acordo com sua vonta­ brado na Bíblia como um dos mais trágicos.
de. O autor ligou os fracassos políticos e mili­ Essa uma história de oportunidades perdidas.
tares dos reis israelitas à falta de lealdade à Salomão não era o príncipe coroado e nem
aliança. o filho mais velho de Davi. Ele não tinha ne­
224
1 Reis

0 Domo da
Rocha foi
construído
sobre o local
onde Salomão
ergueu o
templo. Um dos
grandes
momentos da
história de Israel
foi a
consagração do
templo de
Salomão.

w m /m m m m m m a,
nhum direito legítimo à sucessão de Davi, mão qualquer coisa que ele pedisse (v. 5). Em
teofania
Assim, a narrativa começa contando como vez dc pedir riquezas, uma vida longa ou vitó­
Salomão tornou-se rei (capítulos 1 e 2). ria sobre seus inimigos, Salomão pediu sabe­
Adonias, o quarto filho de Davi e o mais ve­ doria. Deus ficou tão satisfeito com esse pedi­
lho ainda vivo, estava na linha de sucessão ao do que ainda lhe deu riquezas, vida longa e
trono do seu pai. Mas como Amnom e Absalão, vitória sobre seus inimigos além da sabedoria
os outros filhos de Davi que supostamente (vs. 12,13). Todas essas bênçãos, entretanto,
eram herdemos do seu trono, Adonias não es­ estavam condicionadas à continuidade de
tava disposto a esperar pelo tempo de Deus. sua obediência (v. 14). Esse último lembrete
Ele tentou tomar o reino com suas próprias foi uma fatal advertência.
forças e contra a vontade de Deus. Assim que Salomão voltou para Jerusalém,
A unidade seguinte de 1 Reis descreve o duas prostitutas em uma disputa legal deram
magnífico reinado de Salomão (capítulos 3- a cie a oportunidade de demonstrar sua sabe­
11). Com exceção do capítulo 11, essa unida­ doria (vs. 16-28). As mulheres viviam na mes­
de relata o lado glorioso do reinado de Salo­ ma casa c cada uma tinha um filho recém-
mão. A unidade é marcada por suas constru­ nascido, com três dias de diferença um para o
ções c duas aparições de Deus para Salomão. outro. Durante a noite, um bebê morreu tra­
A primeira fase de seu reinado foi marcada gicamente, A mãe do bebê que havia morri­
pelo amor e obediência: “Salomão amava ao do trocou os bebês antes que a outra mulher
Senhor, andando nos preceitos de Davi, seu acordasse. Agora, cada uma afirmava que a
pai; porém sacrificava ainda nos altos e quei­ criança viva lhe pertencia c não havia modo
mava incenso” (3.3). Essa única falha pôde de refutar o que elas diziam. Em uma decisão
ser retificada quando ele construiu o novo conhecida, Salomão deu ordem para que o
templo em Jerusalém. bebê vivo fosse cortado em dois e que uma
A Bíblia afinna claramente por que o rei­ metade fosse ciada para cada mulher. Enquan­
no de Salomão era tão glorioso. Israel flores­ to a mãe verdadeira implorou para que dei­
ceu durante seu reinado, não por causa da xassem a criança viver, a mulher que estava
genialidade ou dos talentos de Salomão, mas mentindo falou para matarem a criança. En­
por causa da sabedoria que ele havia recebi­ tão, Salomão declarou que a criança não de­
do dc Deus. A primeira aparição de Deus (ou veria ser morta, mas devolvida para sua ver­
teofania) a Salomão foi em Gibeão (capítulo dadeira mãe, a que se revelara claramente
3). Deus havia prometido conceder a Salo­ por meio de seu clamor desesperado. A notí­

2 25
Descobrindo os Livros Históricos

cia desse veredito e da sabedoria que Salo- Um dos grandes momentos da história de
mão recebeu de Deus confirmou rapidamen­ Israel foi a dedicação do templo por Salomão
te que Salomão era, de fato, o escolhido por (capítulo 8). Durante a cerimônia de mudan­
Deus para ser rei de Israel (v. 28). ça, a glória do Senhor encheu o novo templo.
As habilidades administrativas de Salomão Deus honrou a obediência de Salomão ao ofe­
refletiam sua grande sabedoria (capítulo 4). recer sua presença santa (8.10,11), assim como
A organização de seu gabinete (vs. 1-6), seus havia honrado Moisés por sua fidelidade quan­
distritos regionais (vs. 7-19) e a extensão de do Moisés construiu o tabernáculo (Ex 40.34) -
suas provisões (vs. 20-28) ilustram o esplendor Em uma das grandes orações da Bíblia, Salo­
de seu reinado. Essa foi uma das poucas vezes mão representou a nação em seus louvores a
na história de Israel em que toda a terra pro­ Deus (8.23,24) e rogou a Deus para que cum­
metida na aliança de Abraão estava de fato prisse sua promessa a Davi (vs. 25,26).
sob o controle do povo de Deus (v. 21; ver Gn N a segunda teofania, semelhante à de
15.18). A combinação de paz e fartura que Gibeão, Deus apareceu para Salomão e o as­
Salomão ofereceu a cada israelita (v. 25) tor- segurou de que havia respondido a oração do
nou-se um símbolo da era messiânica (Zc 3.10). rei (9.2). Ele consagrou (“tornou sagrado”,
A sabedoria de Salomão era insuperável (4.29- h iq d ã è ) o templo de Salomão e colocou seu
34). Assim como a lei foi dada a Moisés e os nome lá para sempre (9.3). Mas as promessas
Salmos vieram de Davi, a sabedoria foi a con­ de Deus não garantiam o sucesso de uma Is­
tribuição de Salomão para a religião israelita. rael rebelde (“Se andares perante mim como
As extensas atividades de construção de andou Davi, teu pai, com integridade de co­
Salomão também demonstravam a sabedoria ração e com sinceridade... então, confirmarei
dada por Deus (5.1-8.66). Sua diplomacia com o trono de teu reino” 9.4,5). Sua promessa
Hirão rei de Tiro (capítulo 5) tornou possível soberana nunca deixou de lado a responsabi­
o acesso a artesãos e materiais para seus ambi­ lidade humana.
ciosos projetos. A prosperidade e a paz do rei­ Os feitos espetaculares de Salomão cha­
nado de Salomão também possibilitaram a maram a atenção internacional. A visita da
construção do tempo do Senhor, do palácio rainha de Sabá, ao que parece, foi uma mis­
real e dos móveis e artefatos do templo (6,7). são de comércio (10.10,13). Mas o relato no
Apesar do texto bíblico dar várias das especi­ capítulo 10 também mostra como a sabedoria
ficações e dimensões do templo, seria impossí­ e riqueza de Salomão eram vistas pelas na­
vel reconstrui-lo nos dias de hoje e represen­ ções ao redor. A promessa de Deus para Salo­
tar sua aparência exata.6 mão quando ele estava em Gibeão (3.13) ha­

226
1 Reis

Um artista via se cumprido (10.23). Mas a Bíblia deixa políticos de Salomão pareciam, ser uma forma
retrata o templo claro que nem bênçãos materiais e nem mes­ inocente de fortalecer suas alianças estran­
de Salomão,
mo bênçãos espirituais são garantia do favor geiras (11.3). Mas o Senhor havia especifica­
tendo à frente o
vaso dourado eterno de Deus; Deus requer fidelidade à mente proibido o casamento de israelitas com
das abluções aliança por parte de todos os seus filhos. O outros povos (11.2; Dt.7.4; 17.17). Na velhice
sacerdotais. capítulo 11 inclui a narrativa de Salomão ao de Salomão, a apostasia religiosa que suas es­
relatar o seu fracasso pessoal. Apesar de Deus posas estrangeiras trouxeram para dentro da
ter lhe dado tudo para que ele alcançasse su­ corte afetaram adversamente sua fé. De ma­
cesso e o tivesse abençoado com todas as bên­ neira lenta e gradual ele deixou o monoteís-
çãos imagináveis, o pecado pessoal de Salo­ mo exclusivo e começou a incorporar o culto
mão acabou levando à divisão do grande im­ a outros deuses (11.14). Essa transigência reli­
pério em dois reinos mais fracos. giosa quase nunca é rápida e óbvia, mas acon­
No começo do reinado de Salomão, ele tece gradualmente à medida que ocorre o
entrou em aliança política com o Egito, o que distanciamento de Deus.
implicou um casamento real com a filha do O fracasso moral pessoal de Salomão re­
Faraó (3.1). Isto já foi um sinal de futuros pro­ sultou em uma tragédia nacional. Deus não
blemas. Grandes haréns reais eram comuns iria permitir que o reino permanecesse unifi­
monoteísmo naquele tempo. Os numerosos casamentos cado depois da morte de Salomão, mas daria
227
Descobrindo os Livros Históricos

apenas uma pequena porção ao filho de Sa­ ções religiosas que ameaçaram a natureza
fórm ula do
lomão (11.9-13). Por Salomão ter falhado em autêntica do laveísmo (12.25-33). Seus be­
reinado
manter a aliança, Deus levantou adversários zerros de ouro em Betei e Dã podem ter sido
para afligi-lo ao sul (Hadade, o edomita, vs. vistos como pedestais sobre os quais o Iavé
laveísm o 14-22), ao norte (Rezim, de Damasco, vs. invisível andava vitorioso. Mas essa prática
23-25) e internamente (Jeroboão, oefraimita, ainda era proibida por Deus e aproximou-se
vs. 26-40). No começo de seu reinado, Salo­ perigosamente de idolatria pura como a que
mão tinha ficado livre de qualquer ameaça era praticada nas nações ao redor.
militar. Agora estava tendo problemas inter­ O autor descreve dois profetas que foram
nos e externos. mandados por Deus para exortar Jeroboão de
O capítulo 11 é um ponto central dos li­ sua apostasia religiosa. O primeiro foi um “ho­
vros de Reis. Tudo havia corrido bem para mem de Deus”, cujo nome não é menciona­
Salomão, que parecia ter cumprido as pro­ do e que foi enviado de Judá pelo Senhor
messas dos patriarcas e conseguido realizar o para condenar Jeroboão (13.1) J As novas prá­
que Deus queria para o seu povo. Mas desse ticas religiosas do rei do norte eram uma rejei­
ponto em diante, a narrativa de 1 e 2 Reis é ção evidente da palavra do Senhor (13.4-10).
uma trágica história de destruição e perda. O segundo pronunciamento profético foi fei­
A tragédia da vida de Salomão foi ele não to por um profeta chamado Aías (14.1-18). O
ter permanecido fiel a Deus, apesar do Se­ profeta anunciou que Jeroboão havia feito
nhor ter evidentemente providenciado tudo mais mal que todos que tinham vindo antes
para o seu reino. Em vez de Salomão, Davi é dele e que havia rejeitado o próprio Deus (v.
o rei ideal da Bíblia, mesmo que ele não ti­ 9). As gerações futuras viriam a medir o mal
vesse alcançado o ápice político igual ao de por intermédio da comparação com Jeroboão
seu filho. A palavra de Deus está mais inte­ e seu grande pecado. Aías predisse que a di­
ressada na fidelidade à aliança que no pres­ nastia de Jeroboão seria curta, entre várias
tígio político. outras conseqüências horríveis do pecado do
rei (vs. 10,11).
O começo do reino dividido Na unidade seguinte, o autor faz um su­
(capítulos 12-22) mário das histórias de reinados individuais de
A segunda unidade principal de 1 Reis con­ Israel e de Judá (14.21-16.28). N a avaliação
tinua até 2 Reis 17.41. Essa seção começa com do reinado de Roboão, a preocupação do au­
a narrativa da divisão do império de Salomão tor é com o pecado de Judá que se espalhou
em dois reinos menores, Israel ao norte e Judá desde os tempos de Salomão (14-22-24). As­
ao sul. A princípio, a relação entre os dois era sim como em Gênesis 3—11, o autor está cien­
de hostilidade (1 Rs 12.1-16.28). Esse período te de que o pecado encoberto é penetrante e,
foi seguido por outro de paz entre as duas na­ como uma doença, causa a degeneração.
ções (lR s 16.29-2Rs 8.29). Novas hostilida­ O tema constante dessa unidade é a ini­
des dominaram o relacionamento entre os dois mizade e guerra entre Israel e Judá durante
reinos antes da queda do reino do norte (2Rs esse tempo. Abias, de Judá, e Jeroboão, de
9-17). Israel, continuaram a guerrear (15.7) assim
O autor conclui a história da vida e do como Asa, de Judá, e Baasa, de Israel (15.16).
reino de Salomão com a fórmula do reinado Asa e Baasa envolveram-se em uma disputa
(lR s 11.41-43). A partir dessa unidade, o au­ relacionada ao distrito de Benjamim (15.17-
tor considera cada governante do reino divi­ 22). Sob o governo de Baasa, Israel fez pressão
dido, usando a fórmula do reinado como ins­ para o sul e tomou posse de Ramá, que ficava
trumento de estruturação. a apenas oito quilômetros de Jerusalém. Baasa
O começo do reino dividido tem uma his­ fortificou Ramá por causa de sua localização
tória de conflito entre Jeroboão ao norte e estratégica em uma estrada que ligava o nor­
Roboão ao sul (capítulos 12-14). A narrativa te ao sul. Desse ponto privilegiado, Baasa po­
relata as intrigas e traições políticas envolvi­ dia guardar sua nova fronteira e proibir os is­
das (capítulo 12). Mas como já vimos, o autor raelitas do norte de adorar em Jerusalém.
está mais interessado em traçar as conseqüên­ Asa reagiu convencendo Ben-Hadade, rei
cias da infidelidade religiosa e o papel dos pro­ de Damasco, a invadir Israel pelo nordeste, o
fetas. Jeroboão, em uma tentativa de consoli­ que diminuiria a pressão militar sobre Jerusa­
dar seu novo reino ao norte, introduziu inova­ lém no sul. Quando Baasa retrocedeu para
228
Sidom

O Reino
Dividido

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Escala

0 5 10 mi
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0 10 20 km
Descobrindo os Livros Históricos

Inscrição de
M essa 1 Os reis da m onarquia dividida1

Israel Judá

Jeroboão 1 930-909 Roboão 930-913


Nadabe 909-908 Abias 913-910
| Baasa 908-886 Asa 910-869 |
S E|á 886-885
| Zinri 885
Onri 885-874
| Acabe 874-853 Josafá 872-848
| Acazias 853-852
Jorão 852-841 Jeorão 848-841
| Jeú 841-814 Acazias 841
| Ata lia 841-835 |
| Jeoás 814-798 Joás 835-796 I
1 Joás 798-782 Amazias 796-767
- Jeroboão II 793-753 Uzias 792-740
| Zacarias 753
| Salum 752
Menaém 752-742 Jotão 750-732
Peca ias 742-740
1 Peca 752-732 Acaz 735-715
Oséias 732-722 Ezequias 729-686
1 Manassés 696-642 1
3 Amom 642-640
Josias 640-609 y
Jeoacaz 609
Jeoaquim 608-598 |
Joaquim 598-597
Zedequias 597-587 |

1Edwin R. Thiele, The M ysterious Numbers o f the Hebrew Kings: A Reconstruction o f the Chronology o f |
the Kingdoms o f Israel and Judah, ed. rev. (Grand Rapids: Eerdmans, 1965), e Eugene H. Merrill,

:< Kingdom o f Priests: A History o f Old Testament Israel (Gra nd Rapids: Baker, 1987), 320. As datas variam |;l
em outras fontes dependendo do sistema cronológico empregado. Para um resumo dessa questão, ver
Donald J. Wiseman, 1 and 2 Kings: An Introduction and Commentary, (Tyndale Old Testament Commen- i'i
tary; Downers Grove: InterVarsity Press, 1993), 26-35. fj

planejar sua defesa contra Ben-Hadade, Asa Apesar de Onri ter sido uma importante
destruiu as fortificações israelitas em Ramá e força política, esse parágrafo curto menciona
usou o material para fortificar Geba e Mispa, a forma pouco usual com que ele chegou ao
mais próximas à fronteira norte de Benjamim. reinado, a aquisição de Samaria como nova
Não houve mudanças significativas em suas capital e sua maldade sem precedentes. Sua
fronteiras até que o reino do norte caiu em mudança para Samaria pode ter ocorrido
722 a.C com a finalidade de coagir seus súditos a
Essa unidade sobre a história de governan­ adorar outras divindades além de Iavé.8 Essa
tes individuais culmina com um breve relato apostasia religiosa foi mais relevante para o
sobre Onri (16.21-28). Onri de Israel (885— autor de 1 Reis que seus feitos políticos signb
874 a.C.) criou um reino tão impressionante ficativos. A aliança de Onri com o rei de
que documentos assírios um século mais tar­ Sidom resultou no casamento de Acabe, fi-
de ainda se referiam ao norte de Israel como lho de Onri com Jezebel, a princesa de Sidom.
“a casa de Onri” (ibit hum rí). Ele estendeu Esse casamento não foi muito diferente dos
as fronteiras de Israel a leste para dentro do vários casamentos de Salomão, tanto na
território moabita, conforme testifica a famo­ motivação política quanto em suas conse­
sa Inscrição de Messa. qüências espirituais.
230
1 Reis

pítulos era, na verdade, sobre o futuro de Is­


rael. Sua própria existência estava sendo amea­
çada pela transigência religiosa.
Do meio dessa grande luta ideológica,
começou a emergir o ofício de profeta, ba­
seado no ministério de Elias e Eliseu. Os pro­
fetas tornaram-se os instrumentos de Deus
para advertir os reis e a nação. A destruição
era iminente, por causa de seu pecado. O
autor inclui narrativas do ministério de Elias
(capítulos 17-19, 21 e 2 Reis 1), entrelaça­
das com relatos sobre as guerras de Acabe
em Damasco.
Elias entra em cena sem apresentações
(17.1). Ele relembra Acabe que Iavé, e não
Baal, é o Deus de Israel. Sua declaração de
que o" orvalho e a chuva cessariam é um desa­
fio direto a Baal, o deus cananita da chuva e
tempestade — um desafio lançado por Iavé,
o Deus do deserto!
No final da seca, que durou três anos e
seis meses (18.1; Lc 4.25), Elias desafiou as
centenas de profetas de Baal e toda a nação
(18.19). Eles deveriam encontrar-se todos no
Monte Carmelo e determinar de uma vez
por todas quem era o Deus do céu. O Monte
Carmelo era tido como um lugar sagrado de
Baal, então Elias estava desafiando Baal em
seu próprio território.9 Por causa da seca se­
vera, Elias estava no controle e pôde forçar
Acabe e a nação a fazer uma escolha. Ele
condenou claramente a sua religião dupla:
“Até quando coxeareis entre dois pensamen­
tos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal,
segui-o” (18.21). A devoção a Deus requer
um comprometimento completo à sua ver­
dade. Qualquer concessão é como “hesitar
entre duas opiniões”.
A unidade final de 1 Reis descreve um Os profetas pagãos usaram todas as suas
ofício de
período de paz e amizade entre Israel e Judá artes mágicas para convencer Baal a fazer
profeta
(16.29-22.53). Essa unidade mostra ainda chover fogo dos céus, mas nada funcionou.
mais claramente que o autor está menos pre­ Então, Elias fez uma oração simples e o fogo
ocupado com a habilidade política (como no do Senhor caiu sobre o altar (18.36-38). Na­
caso de Onri) que com a quebra da aliança. quele dia, o Senhor venceu uma grande ba­
O autor interrompe a fórmula do reinado, que talha por meio de Elias, mas a guerra ainda
ele usou para introduzir e concluir o reinado não havia acabado. A rainha Jezebel amea­
de Acabe (16.29-34 e 22.39,40). Usando a çou a vida de Elias (19.2). Depois da gloriosa
fórmula como uma espécie de “envelope lite­ vitória sobre o Monte Carmelo, Elias não esta­
rário” o autor incorporou acontecimentos re­ va preparado física ou emocionalmente para
lacionados à luta crucial entre o autêntico continuar o conflito. Era mais fácil fugir e pe­
Iaveísmo e o baalismo cananita. Uma coisa dir a Deus que usasse algum outro servo que
foi Jeroboão ter feito ídolos para a adoração a continuar a batalha contra o baalismo (19.3,4).
Iavé. Mas Onri e Acabe tentaram criar uma Depois de experiências intensas, dúvidas
nova religião que mexeu com a essência da fé sobre si próprio, depressão e até pensamentos
hebraica (16.31 -33). A luta descrita nesses ca­ suicidas são possíveis. Mas Deus deu a Elias
231
Descobrindo os Livros Históricos

Trechos da Inscrição de Messa1

No meio do século 9o a.C., Messa, rei de Moa­ ra. Quando seu filho o sucedeu ele também disse
be celebrou os sucessos do seu reino em um do­ "Eu subjugarei Moabe". Mas eu triunfei sobre ele
cumento contendo trinta linhas de texto. O texto e sobre sua casa, enquanto Israel pereceu para
foi escrito na linguagem moabita em um bloco sempre! Onri ocupou Medeba, em Moabe e mo­
de basalto com um metro de altura e mais de rou lá durante todo o seu reinado e metade do
meio metro de largura. reinado de seu filho, quarenta anos; mas
Quemos ali habitou durante o meu reinado.
Eu sou Messa, rei de Moabe. O deus Quemos
me salvou dentre todos os reis e me fez triunfar 1Extraído e adaptado da Insçríção Messa,
(ANET, 320-321)
sobre todos os meus adversários. Quanto a Onri,
rei de Israel, ele subjugou Moabe durante muitos
anos porque Quemos estava irado com nossa ter­

Ruínas israelitas
em Samaria, a
cidade escolhida
por Onri por
motivos
estratégicos
para ser a
capital. Acabe
também teve
aqui o seu
palácio.

exatamente o que ele precisava: descanso, As duas batalhas entre Acabe e Ben-Ha-
comida (19.5-8) e uma nova perspectiva da dade II de Damasco (filho de Ben-Hadade
majestade divina do Senhor, demonstrada sob do capítulo 15.18) deram a Acabe a última
medida para o estresse emocional de Elias oportunidade de ouvir as palavras de Iavé por
(19.9-18).Não é contrário ao caráter de Deus meio do profeta (20.1-43). Apesar de um cer­
aparecer no vento forte, no terremoto ou no to grau de sucesso, Acabe não tomou para si a
fogo (19.11,12). Mas naquele dia, Iavé apare - palavra profética do Senhor (20.42,43). Esses
ceu a Elias “num sussurro tranqüilo”. Depois episódios são um preparo para a morte de Aca­
de seu retiro a sós com Deus, Elias estava pre­ be, registrada no capítulo final do livro.
parado para voltar à batalha e ungir o seu su­ O famoso episódio da vinha de Nabote (ca­
cessor, Eliseu. Deus é rápido em persuadir seus pítulo 21) ilustra a extensão do pecado de
servos de maneira amorosa e por intermédio Acabe e sela o seu destino. Nabote era um
dos meios necessários. cidadão cuja propriedade era vizinha ao palá-
232
1 Reis

Sumário

1. No livro de Reis encontramos a mais 7. Quando Deus apareceu a primeira vez


antiga historiografia da literatura para Salomão, ele pediu sabedoria e
mundial. isso agradou a Deus, pois Salomão
não quis riquezas nem uma vida lon­
2. A teologia da retribuição é o tópico
principal do livro de 1 Reis. ga ou vitória sobre seus inimigos.

3. O método usado para escrever o livro 8. A grande sabedoria de Salomão é


ilustrada por meio da maneira como
de Reis é a fórmula do reinado, na
ele resolvia disputas legais, como ele
qual cada rei é avaliado em termos de
administrava a nação e como ele con­
sua fidelidade à aliança e seu desejo
duzia seu programa de construções.
de seguir o exemplo de Davi.
9. Pela influência de esposas estrangei­
4. As fontes usadas pelo autor para es­
ras, Salomão acabou cedendo e
crever 1 Reis são os anais dos arquivos
acrescentando a adoração de outros
reais — anais dos reis de Israel, anais
deuses ao antigo monoteísmo.
dos reis de Judá e anais de Salomão.
10. O império de Salomão foi dividido em
5. Os principais tópicos usados para or­
dois reinos menores — Israel ao norte
ganizar 1 Reis são: a história do rei
e Judá ao sul.
Salomão, a história do reino dividido
e a história dos anos finais de Judá. 11. Os profetas foram apresentados em 1
Reis quando Elias tornou-se o porta-
6. Os grandes feitos políticos e militares
voz de Deus para advertir as nações.
de Salomão são diminuídos por causa
de sua infidelidade à aliança.

Questões para estudo

1. Qual é o período de tempo coberto 8. Do ponto de vista bíblico, por que o


por 1 e 2 Reis? reinado de Salomão é visto como um
acontecimento trágico?
2. Qual é o tema geral da obra?
9. Que importante ofício na Bíblia co­
3. Discuta a autoria dos livros de Reis.
meçou a emergir durante o período
4. Qual é a maior preocupação dessa de 1 Reis?
obra histórica?
10. Compare o ofício de profeta profissi­
5. Defina a teologia da retribuição. onal com o de verdadeiro profeta. De
6. O que é a fórmula do reinado? que maneira essas formas de profecia
estão relacionadas a 1 Reis?
7. De que perspectiva histórica o autor
de Reis escreveu?

2 33
Descobrindo os Livros Históricos

Sendo a filha do rei de Sidom, Jezebel su­


Termos-chave pôs que o rei de Israel deveria estar acima da
lei, como era o caso em outros países. Ela to­
narrativas históricas mou para si a responsabilidade de resolver a
história deuteronômica questão. Mediante traição, engano e o assas­
teologia da retribuição sinato de Nabote, ela adquiriu a vinha para
fórmula do reinado Acabe. Mais uma vez, o profeta Elias estava
Pessoas/ baalismo cananíta lá para anunciar o julgamento (vs. 17-24).
anais reais
Lugares-chave arquivos
Acabe “se vendeu para fazer o que era mau
perante o Senhor” (v. 25; ver também o v.
Estados Arameus crônicas
20). Como resultado disto, Elias declarou que
Ciro da Pérsia épicos históricos
Acabe e Jezebel teriam morte violenta e que
Gibeão teofania
monoteísmo
a dinastia de Acabe seria completamente
laveismo destruída.
Inscrição de Messa Mas até mesmo Acabe podia se arrepen­
ofício de profeta der! Seu remorso autêntico adiou o cumpri­
mento da profecia de Elias até os dias do seu
filho perverso, Jorão (2Rs 9.22-26; 30-37).
O capítulo 22 relata a batalha final de
Acabe em Damasco, a batalha na qual Aca­
be perdeu sua vida. Josafá, de Judá, estava
visitando Acabe, o que mostra a relação de
cio em Samaria. O rei queria anexar a vinha amizade entre Israel e Judá naqueles dias (vs.
de Nabo te às propriedades reais, mas a antiga 2-4). Em preparação para a batalha, Acabe e
lei israelita proibia a venda de uma herança. Josafá consultaram profetas profissionais para
A idéia pareceu absurda para Nabote (v. 3) e saber o resultado da batalha.
Acabe tinha respeito suficiente pela lei para O ponto principal da narrativa é o contras­
saber que ele não conseguiria fazer Nabote te entre os profetas profissionais e Micaías, fi­
voltar atrás em sua decisão (v. 4). lho de Inlá. Para Acabe, a profecia era uma

Leituras c©suplementares

DeVries, Simon J. 1 Kings. Word Biblical Commentary Walton, John H. Ancient Israelite Literature in Its Cul­
12. Waco, Tex.: Word, 1985. tural Context: A Survey o f Parallels Between Biblical
Gray, John. I & II Kings: A Commentary. 2- ed. Old Tes­ and Ancient Near Eastern Texts. Capítulo 5: "Histori­
tament Library. Filadélfia: Westminster, 1970. Uma cal Literature", 111-134. Grand Rapids: Zondervan,
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Long, V. Phillips. The Art o f Biblical History. Grand Ra­
pids: Zondervan, 1994. Uma importante discussão
teológica de todas as questões.

234
1 Reis

espécie de magia, pela qual o profeta mani­ O profeta tornava conhecida para os homens
pulava a Deus. Os profetas profissionais sim­ a vontade de Deus, independente dos dese­
plesmente repetiam os desejos do rei em for­ jos do rei (v. 8). A morte de Acabe fez justiça
ma de profecia, cm uma tentativa de assegu­ a Micaías, o verdadeiro profeta do Senhor, e
rar o resultado desejado. Mas para Josafá o provou que os profetas profissionais eram fal­
profeta era um condutor das palavras de Deus. sos e estavam errados.

235
16 2 Reis
0 fim de Israel como nação
ISIlfSiSjS

Esboço
• Conteúdo de 2 Reis
Esboço
Visão geral
• Temas dos livros de Reis

Objetivos
Depois de ler este capítulo, você
deve ser capaz de:
• Delinear o conteúdo básico do livro de 2
Reis.
• Comparar o ministério de Eliseu com o
de Elias.
• Relacionar pelo menos dez episódios da
vida de Eliseu.
• Apresentar o propósito do autor ao
escrever 2 Reis.
• Fazer uma lista das figuras-chave em
Judá e Israel.
• Indicar a causa da queda de Israel.
• Diferenciar os bons reis dos maus em
Judá.
• Demonstrar de que modo profecias
foram cumpridas em 2 Reis.

2 37
Descobrindo os Livros Históricos

O livro de 2 Reis descreve o final miserável Visão geral


dos reinos de Israel e Judá. Depois da morte Primeiro, o livro registra a história de Israel
de Salomão, 1 Reis descreve o lento desmoro­ e Judá divididas e depois, da solitária Judá. Os
nar dos muitos e maravilhosos feitos da mo­ 17 primeiros capítulos são dedicados aos mais
narquia unificada que o livro relata em seu de cem anos entre Acazias até a destruição
início. 2 Reis continua a história de degenera- de Israel em 722 a.C. (capítulos 1-17). Em
ção gradual, com apenas alguns breves inter- seguida, os próximos oito capítulos (18—25)
lúdios de esperança, até que ambas as nações cobrem os cento e trinta e seis anos em que só
acabam sentindo as conseqüências da rebe­ restava Judá.
lião contra a aliança. Assim como em 1 Reis, os relatos não pro­
curam dar um registro completo de todos os
eventos dos anos que são cobertos. Em vez
Conteúdo de 2 Reis disso, eles buscam oferecer uma análise teoló­
gica de pessoas e acontecimentos específicos
2 Reis continua a narrativa a partir da mor­ que tiveram influência no resultado final en­
te de Acabe, vai até a destruição dc Jerusa­ frentado pelas duas nações. A base para a
lém e um pouco mais adiante. Esse relato co­ análise é a obediência ou desobediência à lei
bre um período de quase trezentos anos. No de Deus (17.13-23; 21.10-16), especialmente
início do livro, tanto Israel quanto Judá estão sob o ponto de vista de Deuteronômio.
relativamente seguras. Na conclusão, as duas
foram sujeitas à disciplina divina. Ao longo A continuação do reino dividido
de todo esse processo, está presente a apostasia (capítulos 1-17)
religiosa, primeiro em Israel e depois em Judá. Na primeira unidade principal (1.1-17.41),
O autor se esforça para mostrar de que forma o autor faz um relato da complicada coexis­
essa apostasia levou à destruição. tência de Israel e Judá. Essa unidade começa
em 1 Reis 12.1 e vai até a queda do reino do
Esboço
norte (2Rs 17.41).
L O reino dividido — continuação Acazias era culpado de dar continuidade
de 1 Reis (1.1-17.41) tanto à religião cananita de fertilidade de
A. Paz e amizade entre Israel Acabe quanto ao culto ao bezerro de ouro de
e Judá — continuação de Jeroboão (lRs 22.52). Seu reinado foi inter­
1 Reis (1.1-9.37) rompido com um ferimento que ele sofreu
B. Inimizade entre Israel durante uma queda (2Rs 1). Temendo que o
e Judá (10.1-17.41) ferimento pudesse ser fatal, ele mandou men­
sageiros à FlLÍSTIA para interceder por sua
II. Apenas o reino de Judá saúde diante de BAAL-ZEBUBE, Essa divin­
(18.1-25.30) dade era uma espécie de Baal adorada pelos
A. O reinado de Ezequias filisteus em Ecrom.
(18.1-20.21) O mensageiro de Deus interceptou os men­
B. O reinado de Manassés sageiros do rei. Elias perguntou: “Porventura,
(21.1-18) não há Deus em Israel, para irdes consultar
C. O reinado de Amom Baal-Zebube, deus de Ecrom?” (1.3). A men­
(21.19-26) sagem de Elias advertiu o rei de que o Deus
D. O reinado de Josias do universo, o único verdadeiro Deus tam­
(22.1-23.30) bém era o Deus de Acazias.
E. O reinado de Joás (23.31-35) Quando Acazias tentou capturar Elias, a
F. O reinado de Jeoaquim intervenção de Deus matou cem homens e
(23.36-24.7) dois capitães. Alguns podem questionar a
G. O reinado de Joaquim moralidade desse acontecimento, mas foi in­
(24.8-17) correto para Acazias tentar controlar o profe­
H. O reinado de Zedequias (24.18— ta de Deus. Os leitores de hoje não devem
25.26) impor padrões modernos de arbitrariedade
I. A libertação dc Joaquim sobre esse episódio que ilustra a rebelião con­
(25.27-30) tra Deus e os resultados do julgamento.1Uma
2 Reis

Trecho do rio
Jordão próximo
à Galiléia. Elias
dividiu as águas
do Jordão (2.8)
como Moisés
dividiu as águas
do mar.

vez que Elias recebeu garantias sobre sua se- em que o primogênito recebia duas porções
gurança, ele foi até Acazias e anunciou que, da propriedade (Dt 21.17).
de fato, o ferimento seria fatal, de acordo com Eliseu estava pedindo para tornar-se o su­
a palavra de Iavé. Acazias havia rejeitado o cessor de Elias. Depois que Elias se foi, Eliseu
Único que poderia restituir sua saúde. usou o manto de seu predecessor para dividir
O capítulo 2 é uma passagem tradicional. as águas do Jordão assim como Elias havia fei­
Ele encerra a narrativa de Elias e abre a apre­ to. Eliseu havia se transformado no Josué de
sentação feita pelo autor do conteúdo sobre Elias, continuando o trabalho iniciado pelo
Eliseu. Elias é um dos dois personagens do segundo Moisés.
Antigo Testamento que foi levado ao céu Tendo em vista que 1 Reis terminou falan­
sem experimentar a morte física (ver tam­ do do ministério de Elias, 2 Reis contém uma
bém Enoque, Gn 5.22-24). Por esse motivo, unidade logo no início dedicada ao ministé­
esses dois homens são vistos como especial­ rio de seu sucessor, Eliseu. Os capítulos 2-8
mente queridos por Deus. Esta também é a contêm grupos de histórias que falam do pro­
semente no Antigo Testamento da idéia de feta Eliseu, entretecendo-as com aconteci­
que estar fora do corpo é estar com o Senhor mentos relativos a Jorão, filho de Acabe, rei
(Fp 1.21-24). de Israel. A princípio, o ministério de Elias
Essa passagem retrata Elias como um se­ havia tratado principalmente de assuntos li­
gundo Moisés. Quando Elias dividiu as águas gados ao rei e tinha um tom político e nacio­
do rio Jordão (2.8) assim como Moisés havia nal. Enquanto o ministério de Eliseu também
dividido as águas do mar, ele deu início a um teve uma dimensão nacional, os acontecimen­
novo estágio na história de Israel. Elias mar­ tos dessas narrativas cobrem uma grande va­
ca o começo de um novo papel para os profe­ riedade dc tópicos, envolvendo à nação, gru­
tas na antiga Israel. O manto que ele usou pos religiosos e indivíduos. Os episódios da vida
para ferir as águas representava seu poder e de Eliseu incluem:2
personalidade.
Antes da ascensão de Elias ao céu, foi con­ • Eliseu recebe um chamado — 1 Reis
cedido um pedido a seu assistente, Eliseu 19.19-21.
(2.9). Quando Eliseu pede “uma porção do­ • Eliseu sucede Elias — 2 Reis 2.1-18.
brada” do espírito de Elias, ele está se referin­ • Eliseu torna saudáveis as águas —
do às leis de herança do Antigo Testamento 2 Reis 2.19-22.
239
Descobrindo os Livros Históricos


• Eliseu profetiza acerca de Moabe — rava o que havia de pior na religião cananita
cidades-
2 Reis 3.1-27. à política oficial nacional.
estado
• Eliseu faz um milagre para uma viúva O motivo dessas narrativas sobre Elias e
pobre — 2 Reis 4.1-7. Eliseu, portanto, é de mostrar que o reino teve
• Eliseu faz um milagre para a mulher sucesso quando seguiu a liderança dos profe­
sunamita — 2 Reis 4.8-37. tas. O fracasso e a destruição foram o resulta­
• Eliseu ministra em Gilgal — 2 Reis do quando os reis rejeitaram a Palavra de Deus
4.38-44. oferecida por meio dos profetas. Essas narrati­
• Eliseu cura Naamã — 2 Reis 5.1-27. vas sobre Elias e Eliseu falam sobre muitas vi­
• Eliseu faz flutuar um machado — tórias para os profetas de Iavé. Mas não foi
2 Reis 6.1-7. fácil acalmar a maré de apostasia religiosa.
• Eliseu roga uma praga contra o Infelizmente, o livro continua com as histó­
exército sírio — 2 Reis 6.8-23. rias de ruína de ambos os reinos.
• Eliseu livra a nação — 2 Reis 6.24- A purificação sangrenta executada por Jeú
7.20. sobre a casa de Onri foi o julgamento de Deus
• Eliseu preserva a família da mulher contra o baalismo cananita (capítulos 9 e 10).
sunamita — 2 Reis 8.1-6. Eliseu enviou um profeta cujo nome não é
• Eliseu trata de questões de estado — mencionado para ungir Jeú, comandante do
2 Reis 8.7-15; 9.1-13; 13.14-19. exército de Israel, para destruir a casa de Aca­
• Eliseu morre e ocorre um milagre em be e vingar o sangue dos profetas de Iavé mor­
seguida — 2 Reis 13.20,21. tos por Jezabel. Jeú conseguiu exterminar a di­
nastia de Acabe (conforme profetizado por
O ministério de Eliseu foi de grande im­ Elias, 1 Reis 21.21), mas não conseguiu se recu­
portância para a destruição da dinastia de perar militarmente. Hazael, da Síria, tomou gran­
Onri, o pai de Acabe, em Israel (9.1—10.28) e de parte do seu território (10.32,33). Salmane-
para a rainha Atalia, filha de Acabe, em Judá ser III da Assíria o obrigou a pagar tributos, ironi­
(11.1-20). Os acontecimentos relacionados a camente chamando-o de “Jeú, filho de Onri”.3
Eliseu recebem uma atenção desproporcional O rei Jorão de Judá havia se casado com
(aproximadamente dois quintos do livro), es­ Atalia, filha de Acabe, de Israel, como forma
pecialmente tendo em vista que Eliseu não é de selar a aliança política entre o norte e o sul
um rei em um livro dedicado à história da (2Rs 8.18). O filho de Jorão, Acazias, havia
monarquia de Israel. A grande quantidade sido afetado pelas políticas religiosas da dinas­
de conteúdo relativo a Eliseu é justificada pelo tia de Acabe, provavelmente por causa da
propósito do autor. Ele não queria fazer uma influência de sua perversa mãe (8.26,27, ver
relação de eventos, mas sim, explicar a des­ também 2Cr 22.3-5). Como parte da purifica­
truição de ambos os reinos. Nos livros de Reis, ção da casa de Acabe ao norte, Jeú também
a grande e única verdadeira causa do fracas­ matou Acazias de Judá por causa de seu com­
so de Israel foi a política dos reis e sua falta de prometimento com as filosofias políticas e reli­
obediência à palavra profética. Em 2 Reis, o giosas de Acabe (9.27).
autor elogia apenas a Ezequias e Josias, por Quando a perversa rainha-mãe, Atalia,
causa de sua grande preocupação com a Pa­ descobriu que Jeú havia matado o seu filho,
lavra de Deus. Todos os outros reis foram, no ela tentou exterminar a linhagem de Davi
mínimo, negligentes quando não totalmente em Jerusalém, como vingança pelo massacre
perversos. de sua família no reino do norte (capítulo 11).
Essa longa seção sobre Eliseu, portanto, ilus­ Ela quase obteve sucesso. Mas um dos filhos
tra as principais preocupações do autor. Por do rei, o pequeno Joás (contração de Jeoás),
causa do ministério do profeta e da coopera­ de apenas um ano de idade foi escondido por
ção mínima de Jeú, rei de Israel, o conflito sua tia no templo do Senhor. Durante seis anos
ideológico em relação ao baalismo cananita Atalia governou Judá enquanto os que apoi­
começou com Acabe. O ministério de Elias e avam a linhagem de Davi mantinham Joás
Eliseu inspirou uma revolução contra o gover­ escondido. No sétimo ano, Joiada, o sumo sa­
no de Onri e sua política de amizade com cerdote, arquitetou uma revolta. Ele matou
cidades-estado cananitas tais como Tiro e Atalia e colocou Joás, agora com sete anos, no
Sidom. Acabe, seu filho, havia dado conti­ trono, liderando a nação em uma cerimônia
nuidade a essa política, que também incorpo­ de renovação da aliança (11.4-21).
240
2 Reis

Jeú de Israel
paga tributo a
Salmaneser III
da Assíria:
detalhe do
Obelisco Negro.

Enquanto o jovem rei Joás tinha o podero­ mente teria sido contrário a essa política. O
so Joiada para guiá-lo e aconselhá-lo, ele foi uso do arco e das flechas não era um tipo de
fiel à aliança (12.2). Joás resolveu até mesmo magia, mas um ato simbólico como outros re­
restaurar o templo do Senhor pois o povo ain­ lacionados a guerras na Bíblia (ver Js 8.18).
da usava templos pagãos em lugares altos para O capítulo 14 dá continuidade à história
adorar, mesmo depois que a adoração a Baal com o reinado de Amazias de Judá. Apesar
havia sido extinta em Jerusalém (12.3-5). In­ de ele ter sido um rei relativamente bom (v.
felizmente, depois da morte de Joiada, sua 3), ele provocou a guerra com Jeoás de Israel
boa influência sobre Joás foi logo esquecida e (vs. 8-14). Jeoás invadiu Jerusalém, saqueou
a nação voltou a cair em grande apostasia o templo e fez muitos reféns.
novamente (2Cr 24.17-25). O capítulo 14 se encerra com um breve
Com a ascensão de Jeú e sua dinastia ao sumário do reinado de Jeroboão II de Israel
norte (capítulos 9 e 10), o tempo de paz entre (vs. 23-29). Ele foi o quarto rei da dinastia de
Israel e Judá havia terminado. Os capítulos Jeú e reinou quarenta anos (793-753 a.C.),
seguintes dessa unidade (13-17) alternam um período mais longo que o reinado de qual­
entre os reis das duas nações, culminando com quer outro rei antes dele. Por causa do enfra­
a queda do reino do norte. quecimento da Síria durante esse período e
O capítulo 13 faz um resumo dos reinados da preocupação da Assíria com outros inimi­
do norte, dos sucessores que vieram logo de­ gos do norte, Jeroboão gozou de um longo e
pois de Jeú: Jeoás e Joás. Ele também relata a próspero governo. Ele restaurou as fronteiras
profecia final de Eliseu e sua morte (vs. 14' de Israel ao que eram durante o reinado de
20). Em prova da fé de Jeoás, Eliseu instruiu o Davi (14.25,28).
rei para que atirasse uma flecha para o leste, Porém, prosperidade e sucesso nem sem­
em direção à Síria, e para ferir o solo com as pre significam que Deus aprova o caráter
outras flechas. Eliseu profetizou que Israel se­ moral e ético da pessoa. A Israel de Jeroboão
ria vitoriosa sobre a Síria, mas não completa­ abusava tanto do poder quanto da riqueza.
mente, pois o rei não atirou ao chão todas as Os escritos mais antigos dos profetas conde­
flechas que tinha. Jeoás talvez quisesse man­ nam a opressão dos pobres e a exploração dos
ter a Síria enfraquecida como forma de con­ privilégios reais por parte do rei de Israel. De
ter o crescente poder da Assíria. Eliseu certa­ fato, o aumento da decadência e cobiça no
241
Descobrindo os Livros Históricos

A ascensão da profecôa

Moisés foi o primeiro profeta do povo. Ele é procuradores da aliança. Pode-se usar a metáfora
chamado de profeta por causa da maneira direta de um rio para descrever a ascensão da profecia
como o Senhor falava com ele (Dt 34.10). Ele ini­ no Antigo Testamento. Moisés foi a fonte, Sa­
ciou uma grande tradição e a profecia está muel a correnteza do riacho profético e Elias o
enraizada na revelação mosaica. Ainda assim, não curso do rio dos profetas clássicos.
foi mediante Moisés que a profecia tornou-se um A função da profecia em Israel era singular en­
elemento permanente da sociedade israelita. tre as nações do antigo Oriente Próximo. Outros
O papel do profeta mudou com a ascensão da povos também tinham profetas, mas eles eram
monarquia. Quando a nação pediu um rei, Sa­ videntes que deveriam manipular as divindades.
muel tornou-se o guardião da teocracia, para as­ Os profetas de Israel eram mensageiros de Deus
segurar que Deus ainda era o verdadeiro Rei. Os que confrontavam os reis e toda a sociedade com
monarcas humanos eram simplesmente seus re­ a palavra sagrada. Em nenhum outro lugar do
presentantes. Samuel definiu o papel futuro do mundo um monarca tinha responsabilidade
profeta como um mensageiro de Deus que orien­ diante de tal voz profética.
tava o rei. De Samuel a Saul e daí por diante, mui­
tos reis israelitas tiveram seus profetas: Davi e 1Willem A. VanGemeren, Interpreting the Prophetic Word,
Grand Rapids: Zondervan, 1990, 27-39.
Natã, Acabe e Elias, Ezequias e Isaías.
Elias teve um papel importante no desenvolvi­
mento da profecia israelita por causa de seus ata­
ques à apostasia de Israel. Ele definiu as futuras
gerações de profetas de Israel como sendo os

reino do norte durante a primeira metade do “PUR (vs. 19,20) é o outro nome de TlGLA-
século 82 resultou em um turbilhão de ativi­ TE-PILESERIII da Assíria (745-727 a.C.). Esse
dade profética -e todas as profecias conde­ assírio cheio de energia reavivou o poder de
navam a nação. sua nação e expandiu o império para o norte.
O capítulo 15 começa com a história de Menaém só pôde detê-lo mediante pagamen­
Azarias, de Judá (vs. 1-7). Azarias também é to de enormes tributos, que foram extraídos
conhecido pelo nome de Uzias em Reis e das classes mais ricas de Israel. Mas essa foi
especialmente em Crônicas e nos Profetas. uma medida provisória. Durante o reinado de
Podemos supor que um desses nomes era o Peca, Tiglate-Pileser começou a tomar territó­
nome que ele recebeu quando nasceu e o rios israelitas e a deportar os cidadãos (v. 29). A
outro foi o seu nome de coroação. Incluindo nova presença assíria na Síria-Palestina aca­
co-regências no início e no final de seu rei­ baria levando à destruição de Israel.
nado, Azarias/Uzias governou durante cin­ Mas antes de descrever a queda de Israel,
qüenta e dois anos. Em Judá, ele gozou da o autor volta para Acaz de Judá (capítulo 16).
paz e prosperidade que Jeroboão II desfru­ De maneira incrível, Acaz conseguiu levar a
tou em Israel (2Cr 26.1-23). apostasia de Israel a níveis ainda maiores de
Depois de uma rápida visão geral sobre perversão, justamente quando Israel estava
Azarias/U zias, o capítulo 15 muda para al­ ameaçada de ser destruída por seus pecados.
guns dos últimos reis de Israel (Zacarias, Sa- Pela primeira vez na história de Judá, um rei de
lum, Menaém, Pecaías e Peca), antes de co­ Jerusalém imitava os pecados de Israel (v. 3).
meçar a falar de Jotão em Judá (vs. 32-38). A Enquanto Acaz cra rei em Jerusalém, o
instabilidade do reino do norte torna-se óbvia último rei da Síria (Rezim) e Peca, de Israel,
por meio da rápida sucessão de reis, do número tentaram forçá-lo a juntar-se a eles e desafiar
de assassinatos e da brevidade dos reinados. O Tiglate-Pileser da Assíria. Acaz teve que es­
autor dá um tom fatal ao futuro do reino em colher entre duas alianças políticas com esses
sua discussão sobre o reinado de Menaém. reis fracos do norte ou a submissão aos assírios.
242
2 Reis

Relevo assírio Essa situação levou a um dos confrontos clás­ O propósito do autor ao delinear a tragédia
mostrando a sicos entre um profeta e um rei (ler Is 7 com de Israel pode ser notado no capítulo 17.7-23.
deportação
essa unidade). Isaías forçou Acaz a tomar uma Aqui, o autor declara explicitamente a causa
durante
investida de decisão completamente diferente. Sua esco­ da destruição de Israel em termos puramente
Tiglate-Pileser III. lha, na verdade, era entre confiar em Deus teológicos. A nação não caiu simplesmente
Acaz escolheu ou confiar em sua habilidade de fazer jogos porque tinha um exército menor. Israel que­
confiar em de poder na política internacional. brou os estatutos e mandamentos do Senhor
Tiglate-Pileser
Acaz escolheu confiar em Tiglate-Pileser (vs. 15,16). Eles “ ...seguiram os ídolos, e se tor­
em vez de Deus.
em vez de Deus (note a expressão “Eu sou teu naram vãos” (v. 15). N a verdade, Iavé foi o res­
servo e teu filho”, v. 7). Como vassalo da ponsável pela queda de Israel (vs. 18, 20, 23).
Assíria, ele esperava receber proteção de ata­ Os assírios controlavam as nações conquis­
ques inimigos. Mas essa proteção custou caro. tadas deportando grande parte de seus cida­
O palácio e o templo foram esvaziados a fim dãos e substituindo-os por habitantes de outras
de enviar um “suborno” que Tiglate-Pileser áreas conquistadas. A conclusão do capítulo
aceitou como tributo (v. 8). Desse dia em dian­ 17 (vs. 24-41) descreve o assentamento de es­
te, Judá jamais seria completamente livre. O trangeiros nessa área. A combinação de cren­
poder político da Mesopotâmia dominaria o ças religiosas estrangeiras com as práticas já
resto de sua história. heréticas do norte de Israel resultaram em
O capítulo 17 abre com um rápido resumo apostasia na Samaria (v. 29). A mistura de po­
sobre Oséias, o último rei de Israel (vs. 1-6). vos resultou nos samaritanos, que se tornariam
Ao que parece, ele procurou fazer uma alian­ inimigos de Judá. Os samaritanos e sua religião
ça com o Egito para receber proteção contra continuaram até os tempos do Novo Testamen­
os assírios. Mas esse gesto foi visto como trai­ to Qo 4.9,19,20) e ainda permanecem nos dias
ção pelo sucessor de Tiglate-Pileser, Salma- de hoje com um pequeno bando de seguidores.
neser V (727-722 a.C.). Depois de três anos
de cerco, o rei assírio capturou Samaria, a ca­ Apenas o reino de Judá (18-25)
pital de Israel e deportou muitos de seus cida­ A unidade final narra os infortúnios de
dãos (vs. 5,6).4 Judá depois da queda de Israel. A liderança

243
Descobrindo os Livros Históricos

Um artista
retrata o cerco
de Senaqueribe
a Laquis,
fortificada por
Roboão.

l§813f f*J

real em Jerusalém oscilou entre uma reforma 19.37. Quando parecia que a derrota de Judá
religiosa autêntica (Ezequias e Josias) e a mais era inevitável, Ezequias foi até o templo e fez
absoluta apostasia (Manassés e Jeoás). Sabe- uma das maiores orações encontradas na Bí­
mos mais sobre esse período de Israel que qual­ blia (19.15-19). Ele buscava o bem do reino
quer outro por causa da quantidade de mate­ de Deus e pedia o livramento pelo amor de
rial tanto bíblico quanto extra-bíblico disponí­ Deus. O Senhor prometeu livramento por
vel. Essa unidade deve ser lida com trechos meio do profeta Isaías (19.20-34). Em três bre­
paralelos em 2 Crônicas 29-32 e Isaías 36-39. ves versículos (19.35-37), o narrador relata que
Os registros assírios também corroboraram com o grande exército de Senaqueribe foi arrasa­
os acontecimentos, relatando-os de um outro do por um milagre de Deus; Senaqueribe vol­
ponto de vista. tou para a Assíria e foi assassinado. Os assírios
A ameaça assíria não desapareceu depois subestimaram o Deus de Ezequias.
da destruição de Israel em 722 a.C. O suces­ O capítulo 20 relata dois outros episódios
sor de SALMANESER continuou a política mi­ da vida de Ezequias. Suá recuperação mira­
litar agressiva e SENAQUERIBE (705-681) in­ culosa de uma doença mostra que Ezequias
vadiu Judá em 701, durante o reinado de Eze­ foi recipiente do favor divino (vs. 1-11). Mas
quias (18.13-19.37). Mas na virada do século Isaías condenou a sua recepção cordial dos
seguinte, o império assírio foi substituído por enviados da Babilônia (vs. 12-19). Ezequias
um outro império igualmente brutal: a Babi­ normalmente orava a respeito de suas gran­
lônia. O livro de 2 Reis termina com a destrui­ des preocupações (ver 19.15 e 20.2), mas nes­
ção de Jerusalém e o começo do exílio na sa ocasião ele parece ter agido por conta pró­
Babilônia nas mãos de Nabucodonosor. pria, mostrando com orgulho os sinais de po­
A maior unidade dessa seção é dedicada der e prestígio como se ele mesmo os tivesse
ao bom rei Ezequias (capítulos 18-20). Eze­ adquirido.
quias liderou uma reforma religiosa sem para­ O filho e o neto de Ezequias estavam entre
lelos (18.4-6); revoltou-se contra a Assíria, os reis mais perversos de Judá (Manassés, 21.8-
revertendo assim a política de Acaz (18.7) e 18; Amom, 21.19-26). Manassés teve o reina­
reconquistou a Filístia (18.8). do mais longo de todos os reis de Israel e Judá
O comprometimento de Ezequiel com a (696-642). Mas isto não significa que Manas­
aliança do Senhor significava que ele se re­ sés contava com o favor de Deus, tendo em
cusava a participar dos jogos de poder que vista que o seu reino foi um dos períodos mais
eram tão comuns na política internacional tristes da história de Judá. O relato paralelo
daquela época. Sua rebelião contra a Assíria em Crônicas (2Cr 33.1-20) confirma o qua­
parecia suicida. A ameaça de Senaqueribe dro descrito por 2 Reis. A Judá de Manassés
contra Jerusalém é relatada em 2 Reis 18.13- era mais pecaminosa que as nações pagãs
244
2 Reis

expulsas de Israel durante a conquista (21.9).


Livro da Lei
O seu reino contrasta com aquele do bom
Ezequias que o precedeu e de Josias, que veio
Restante depois dele. No final, o autor de Reis culpa o
reinado de Manassés pela queda de Jerusa-
lém (21.11-15; 24.24).
Josias foi o último rei reto antes do exílio
na Babilônia (22.1—23.30). Ele foi um gran­
de reformador religioso. Enquanto ainda era
um jovem rei, seu sumo sacerdote encon­
trou o “Livro da Lei” no templo do Senhor
(22.8-10). Esse livro era, provavelmente, par­
te de Deuteronômio, que havia sido deposi­
tado no templo quando da consagração de
Salomão (lRs 8.1-4; Dt 31.26). Essa cópia
encontrada havia sido negligenciada durante
o reinado de Manassés e de Amom. A des­
coberta do livro da lei afetou profundamen­
te o jovem rei (22.19). Ele rapidamente ex­
pulsou o culto pagão de seu país, restabele­
ceu a aliança com o Senhor e reinstituiu a
festa da Páscoa que havia sido esquecida des­
de o tempo dos juizes (23.22). Uma autêntica
reforma espiritual, quer nacional ou indivi­
dual, é sempre obtida mediante a reafirma­
ção da importância da Palavra de Deus (como
na Reforma Protestante).
O prisma de NÍNIVE, a capital da Assíria, caiu para os
Senaqueribe,
que menciona o
babilônios e medos em 612 a.C. Mas um gru­
rei Ezequias de po restante do exército assírio estava estabe­
Judá. lecido próximo ao rio Eufrates, a nordeste de

Relato de Senaqueribe sobre sua


investida contra Judá (701 a.C.)

A investida militar de Senaqueribe contra Judá quistei por meio de rampas e estacas usadas con­
em 701 a .C está devidamente documentada em tra os muros, juntamente ao ataque de soldados
fontes assírias. Seu próprio relato do aconteci­ a pé. Expulsei dessas cidades e vilas 200.150 pes­
mento, aqui adaptado dos anais oficiais assírios, soas, jovens e velhos, homens e mulheres, mulas,
concorda de maneira admirável com o relato bí­ jumentos, camelos e incontáveis cabeças de gado
blico. 0 registro assírio, é claro, omite a derrota pequeno e grande. Quanto a ele, fi-lo prisioneiro
miraculosa de seu exército (2Rs 19.35). A declara­ em sua residência real em Jerusalém, como um
ção de que Senaqueribe aprisionou Ezequias em pássaro em uma gaiola... Assim eu reduzi seu
Jerusalém "como um pássaro em uma gaiola" é país e ainda aumentei os tributos que me eram
uma silenciosa admissão de que os assírios não devidos como senhor que sou e tudo isso impus
foram capazes de conquistar Jerusalém. sobre ele mais tarde.

Quanto a Ezequias, o judeu, ele não se sub­ Transcrito e adaptado do Prisma de Senaqueribe — University
of Chicago Orientai institute (ANT, 288).
meteu ao meu jugo. Eu fiz cerco em torno de 46
de suas cidades fortificadas e ao redor de
incontáveis vilarejos na sua vizinhança e os con­

245
Descobrindo os Livros Históricos

Um relevo
mostra soldados
assírios
carregando
espólios de
Laquis.

Judá. O Faraó Neco II do Egito apoiou os aliança de Deus com seu povo ainda era váli­
assírios na esperança de evitar que a Babilô­ da. Na primavera de 561 a.C., o filho de Na-
nia obtivesse o controle absoluto sobre a Me­ bucodonosor, que o sucedeu como rei da Ba­
sopotâmia e sucedesse a Assíria como grande bilônia, libertou Jeoaquim do cativeiro. O li­
império mundial. Quando ele foi para o norte vro de Reis termina com a afirmação esperan­
em 609 a.C. para ajudar ao assírios, Josias os çosa de que um filho de Davi ainda estava
encontrou em MEGIDO para então intervir. vivo e bem. Quaisquer que fossem as motiva­
Mas Josias perdeu sua vida nessa tentativa e ções por trás da libertação de Jeoaquim, o de­
esse trágico acontecimento é o que encerra o creto de Deus era de que a família de Davi,
livro com a última esperança de Judá de ter apesar de severamente castigada, não seria
uma genuína reforma (23.29,30). exterminada (Mt 1.1 -16). Apesar dos homens
Josias foi seguido por uma sucessão de reis quebrarem sua aliança, Deus cumpre suas
fracos, e nenhum deles foi capaz de desacele­ promessas.
rar o rápido passo de Judá em direção à des­
truição (23.31-25.21). O autor conclui a tris­
te história com um rápido resumo dos quatro
últimos reis: Jeoás (23.31-35), Jeoaquim
Os temas dos
(23.36-24.7), Joaquim (24.8-17) e Zedequias livros de Reis
(24.18-25.21). O relato do reinado de Zede­
quias inclui detalhes da queda de Jerusalém Iremos ressaltar apenas dois dos muitos im­
e da destruição nas mãos dos babilônios (25.1 - portantes temas teológicos de Reis.5 Em pri­
21). Os profetas, especialmente Jeremias e meiro lugar, toda a História Deuteronômica,
Habacuque, esclarecem um pouco mais esse especialmente os livros de Reis, apresenta a
trágico acontecimento e suas conseqüências. história de Israel do ponto de vista da aliança
O autor incluiu dois apêndices para con­ mosaica. Durante o exílio, o autor de Reis pôde
cluir a narrativa. A história de Judá sob Geda- refletir sobre o que havia ocorrido ao longo de
lias, o governante manipulado pelos babilô­ quatro séculos de História. Os livros partem do
nios, serviria para atualizar os leitores no exílio pressuposto de que os desastres de 722 e 587
(25.22-26). Mais informações sobre esse pe­ foram conseqüência do povo não ter mantido
ríodo podem ser encontradas em Jeremias a aliança que havia estabelecido com Deus
40.7-41.9. no Monte Sinai. Esse ponto dc vista baseia-sc
O segundo apêndice (25.27-30) indica na chamada teologia de retribuição de Deu­
que mesmo* naqueles tempos desesperados, a teronômio (ver discussão no capítulo 10).
246
2 Reis

Sumário

1. No livro de 2 Reis, a princípio, tanto 7. Salmaneser V tomou Samaria depois


Israel quanto Judá estão seguras, mas de um cerco de três anos.
por causa de sua apostasia, ambas
8. Israel foi destruída porque o povo
são destruídas.
quebrou os estatutos e mandamentos
2. A visão de 2 Reis apresenta uma ana­ de Deus, seguindo ídolos vãos e eles
logia teológica das pessoas e dos próprios tornando-se vãos.
acontecimentos que influenciaram a
9. Quando Jerusalém foi destruída, Judá
destruição de Israel.
começou o período de exílio na Babi­
3. Começando com Elias, os profetas de lônia.
Israel tiveram um importante papel,
10. Dois importantes temas teológicos po­
uma função que representava poder
dem ser encontrados nos livros de
e autoridade.
Reis. Primeiro, os livros apresentam a
4. O ministério de Eliseu contribui história de Israel de um ponto de vista
para a destruição que veio sobre da aliança mosaica. Segundo, as pro­
Onri, em Israel. fecias tiveram um papel significativo.
5. Quando o reinado seguia a liderança
do profeta, alcançava o sucesso.
6. Em 2 Reis capítulo 15, a instabilidade
de Israel fica evidente por meio da rá­
pida sucessão de reis.

Deuteronômio afirmava claramente que futuros castigos (Dt 27,28). Essa idéia tor­
Torá
Israel iria prosperar na terra prometida so­ nou-se a “Bíblia” dos autores dos Livros His­
mente se ela se mantivesse fiel à aliança. A tóricos. Ela ofereceu a explicação teológica
desobediência significava que eles perderi­ para a queda e para a perda da terra prome­
am a terra prometida. Em uma simples dou­ tida. Israel fracassou por causa dos crimes de
trina de retribuição, Moisés ligou a fidelida­ Jeroboão I e Judá, por causa do reinado per­
de à aliança a bênçãos e a desobediência a verso de Manassés (lR s 14.15,16; 2Rs 17.22,
23; 21.11-15; 24.2-4).
Essa teologia de retribuição tornou-se a base
Pessoas/ para o autor avaliar cada um dos reis de Israel
lugares-chave como sendo bons ou maus. Cada rei era per­
verso como seus pais (especialmente Jeroboão
"Pul"
I) ou bom como Davi. O autor de Reis assu­
Tiglate-Pileser III
miu a autoridade do Torá escrito de Deus,
Termos-chave SalmaneserV
que tornou-se documento fundamental para
Senaqueribe
Baal-Zebube Faraó Neco II essa avaliação de cada rei.6 As bênçãos e cas­
Cidades-estado Nínive tigos da lei Mosaica (Dt 27,28) transforma-
Livro da Lei Megido ram-se na estrutura de autoridade para que o
Restante autor interpretasse a história de Israel. Cada
Torá rei era obediente e, portanto, abençoado ou
desobediente e, dessa forma, castigado. Esse
ponto de vista partiu do pressuposto de que a
aliança mosaica era a Palavra de Deus com

247
Descobrindo os Livros Históricos

Questões para estudo

1. Qual é o período de tempo coberto gada ao propósito do autor em es­


pelo livro de 2 Reis? crever o livro?
2. Qual é o tema principal do livro? 7. Que efeitos duradouros teve a políti­
ca de deportação imposta pelos
3. Qual é o propósito teológico de 2 Reis?
assírios sobre o povo de Deus?
4. Qual é a importância do ministério de
8. Relacione brevemente alguns dos
Eliseu, conforme retratado em 2 Reis?
aspectos positivos encontrados em
5. Descreva brevemente o conflito ideoló­ 2 Reis especialmente em relação
gico entre o baalismo e a adoração a aos bons reis.
Deus conforme 2 Reis.
9. Quais são os principais temas teoló­
6. Descreva a situação política internacio­ gicos de 2 Reis?
nal de 2 Reis. De que forma ela está li­

toda sua autoridade. um viver de sucesso.


A história contada nos livros de Reis é tris­ O segundo tema teológico é o papel e o
te. Mas ela enfatiza sempre de novo a impor­ significado da profecia nos livros de Reis. Esta
tância da retidão e da fidelidade em nosso é, sem dúvida, uma história profética, interes­
comprometimento com Deus. O sucesso em sada em descobrir de que forma a palavra de
nossas vidas é freqüentemente medido pelas Iavé age na História. Assim, ela contém um
coisas visíveis que alcançamos, em termos padrão de promessa-cumprimento em toda a
puramente humanos. Os livros de Reis nos sua extensão.7 Um exemplo pode ser encon­
ensinam que a fidelidade pessoal à aliança e trado no caso de Eliseu que, pouco antes de
a obediência a Deus são as únicas medidas de sua morte, profetizou que Israel derrotaria a

Leituras complementares

Cogan, Mordechai, Hayim Tadmor. II Kings: A New Trans­ Walton, John H. Ancient Israelita Literatura in Its Cul­
lation with Introduction and Commentary. Anchor tural Context: A Survey o f Parallels Between
Bible 11. Garden City, NY: Doubleday, 1988. Extrema­ Biblical and Ancient Near Eastern Texts. Capítulo 5.
mente útil para informações sobre o contexto históri­ "Historical Literature", 111-134. Grand Rapids:
co e cultural. Zondervan, 1989.
Gray, John. I & II Kings. Word Biblical Commentary 13. Wiseman, Donald J. 7 and 2 Kings: An Introduction
Waco, Tex.: Word, 1985. and Commentary. Tyndale Old Testament Com­
Howard, David M., Jr. An Introduction to the Old Testa­ mentary. Downers Grove/Leicester: InterVarsity,
ment Historical Books. Capítulo 6: "1 & 2 Kings", 169- 1993. Melhor comentário evangélico disponível.
204 e capítulo 7: "Historical and Cultural Context for 1
& 2 Kings", 205-229. Chicago: Moody, 1993.

248
2 Reis

Síria três vezes (2Rs 13.19). N a fórmula de sido devidamente advertidos por “servos, os
encerramento do reinado de Jeoás de Israel, o profetas” (2Rs 17.23; 24.2). Mas as nações
autor deixa bem claro que Jeoás derrotou a persistiram em seu pecado, rejeitando a men­
Síria “três vezes”, tornando óbvio o cumpri­ sagem profética. A Palavra de Deus estava tra­
mento da promessa (2Rs 13.25). Essa ilustra­ balhando nesses países para dar-lhes um fim,
ção poderia ser repetida muitas outras vezes. assim como estava operando para trazer-lhes a
A perspectiva profética fica mais clara na salvação. O livro de Reis ensina a importância
explicação teológica que o autor oferece para de ouvir e obedecer a Palavra de Deus.
a queda de ambos os reinos. Ambos haviam

249
1 e 2 Crônicas
Uma retrospectiva

Esboço
• O a u to r e se u p ro p ó s ito
• C rô n ic a s e o C â n o n
Posição no Cânon
Relação com Samuel e Reis
• C o n te ú d o d e 1 e 2 C rô n ic a s
Esboço
Objetivos
Visão geral D e p o is d e le r e s te c a p ítu lo ,
• T e m as d o s liv ro s d e C rô n ic a s v o c ê d e v e s e r c a p a z d e:

Davi e sua dinastia • Identificar o propósito do autor ao


escrever Crônicas.
0 templo e a adoração a Deus
• Explicar a localização de Crônicas no
Cânon.
• Delinear o conteúdo de Crônicas.
• Justificar as listas genealógicas em 1
Crônicas 1-9.
• Explicar por que apenas o pecado de Saul
e seu castigo estão registrados em
Crônicas.
• Dar o sentido de Crônicas para os
cristãos contemporâneos.
• Mostrar como o tempo em que Crônicas
foi escrito afetou a maneira como o autor
escreveu.
• Mostrar o papel do templo em Crônicas.

251
Descobrindo os Livros Históricos

Um século ou mais depois que os livros de texto em si, entretanto, não faz nenhuma
Reis foram escritos, as circunstâncias tinham declaração específica quanto à autoria.
melhorado um pouco para o povo de Deus. E Estudos mais recentes vêem Crônicas como
verdade que o exílio havia terminado e mui- a obra de algum outro autor.3 Essa visão é apoi­
tos judeus fiéis saíram da Babilônia e de ou- ada pela localização de Crônicas no Cânon
tras partes do mundo e voltaram para Jerusa­ judaico, depois de Esdras-Neemias (ver abai­
lém. Mas o Messias não tinha vindo como xo). Pela ordem cronológica, Crônicas deve­
eles esperavam. A pequena população em ria vir antes de Esdras-Neemias. Podemos su­
Jerusalém sentia-se desencorajada e perdi­ por que um único autor agrupou as duas obras
da. Será que Deus tinha abandonado o seu e as colocou em seqüência. Um outro proble­
povo? Teriam as promessas feitas a Davi fa­ ma interessante é o material em comum que
lhado? O autor de Crônicas faz uma retros­ liga as duas obras (2Cr 36.22,23 e Ed 1.1-3).
pectiva de séculos da história de Israel para Alguns crêem que isto indica que Crônicas e
identificar as promessas de Deus na aliança Esdras-Neemias foram escritos juntos e que o
por meio das circunstâncias tumultuadas de decreto foi repetido quando os dois documen­
uma nação derrotada até os seus próprios tos foram separados. Mas o contrário também
dias. Seu olhar no passado tem por finalida­ pode ser verdade. A repetição do decreto po­
de transmitir uma mensagem de segurança deria muito bem mostrar um esforço intenci­
e esperança que é relevante para todas as onal para juntar dois documentos separados e
gerações de crentes. originalmente independentes.4 Estudiosos
contemporâneos consideram Crônicas a obra
de um autor anônimo do período pós-exílio,
outro que não o autor de Esdras-Neemias (ver
O autor e seu discussão no capítulo 10).
propósito Tomando por base as genealogias, pode­
Um castelo mos supor que o autor escreveu esses livros
árabe em A antiga tradição judaica indicava Esdras durante a segunda ou terceira geração depois
Palmira, Síria.
como o autor desses livros.1 Estudiosos con­ do final do exílio. Muitos estudiosos datam
Salomão
fortificou cordaram durante muitos anos que o autor Crônicas entre 450 e 400 a.C. Essa data é apoi­
especialmente de Esdras-Neemias, provavelmente o próprio ada pela posição de Crônicas como último li­
essa cidade. Esdras, teria escrito os livros de Crônicas.2 O vro do Cânon hebraico.

252
1 e 2 Crônicas

se pelos objetivos do autor, que eram de traçar


uma história de fé e salvação.
Os leitores do cronista conheciam os livros
de Samuel e Reis e estavam familiarizados
com os fracassos do passado. Eles não precisa­
vam ser lembrados dos pecados e dos castigos
de seus ancestrais. O autor de Crônicas, ao
contrário, desejava seguir uma linha reta le­
vando à confiança em Deus, um caminho
sem desvios. Ele evitou todas as avenidas que
pudessem alterar o curso de seu objetivo prin­
cipal, que era de lembrar os leitores das vitóri­
as de sua herança e de assegurá-los de triun-
fos ainda por vir.
Essa não foi uma tentativa de reescrever a
história ou embelezar as falhas do passado.
Crônicas é uma declaração de fé que as pro­
messas de Deus são verdadeiras. Apesar das
circunstâncias do período pós-exílio, Deus ain­
da tinha planos para o futuro de Israel. Jerusa­
lém parecia estar cheia de pobreza e prova­
ções. Mas as aparências enganam. Os livros
de Crônicas proclamavam com audácia que
a aliança e as promessas de Deus ainda eram
válidas. Nem tudo estava perdido!
Assim, de certa forma, o autor produziu o
primeiro “Comentário Bíblico”. Ele usou fon­
tes bíblicas (especialmente Samuel e Reis)
para mostrar que Deus ainda estava agindo
A cidadela O cronista produziu aquilo que podemos no meio do seu povo. Tendo em vista que o
sraelita de chamar de “primeiro comentário das Escri- autor conhecia esses livros bíblicos e fez uso
Hazor, que
:ambém foi
turas”. Algumas das informações vêm de fon­ deles para sua própria composição, iremos ago­
fortificada por tes desconhecidas e que não estão disponí­ ra explorar a relação entre Crônicas e os ou­
Salomão. veis para nós. Isto inclui, por exemplo, os pla­ tros livros do Cânon. O propósito bem eviden­
nos detalhados de Davi para a construção te do autor significa que o livro de Crônicas
do templo por Salomão (lC r 22.1-5). Mas a tem uma relação com outros livros do Antigo
maior parte dos materiais usados pelo autor Testamento.
vem dos livros de Samuel e Reis. Seu propó­
sito torna-se aparente pela inclusão de de­
terminados episódios bíblicos e a omissão de
outros. Quando o cronista comenta sobre Crônicas e
Davi, por exemplo, ele escolhe discretamen­ o Cânon
te omitir qualquer referência ao incidente
com Bate-Seba (2Sm 11) e não menciona os Por estarem tão perto do final do período
detalhes da tentativa de Adonias de usurpar do Antigo Testamento, os livros de Crônicas
o trono (lR s 1.5-2.24). contêm traços de quase todos os conceitos
O uso que o autor faz de suas fontes tam­ teológicos expressos no resto do Cânon do
bém fica evidente quando ele discute a mag­ Antigo Testamento. Tendo em vista que o
nificência do reinado de Salomão. Ele fre­ autor dependeu de outros livros do Cânon,
qüentemente cita trechos de 1 Reis, mas omi­ será útil examinarmos a relação entre Crôni­
te por completo qualquer referência a uma cas e esses outros livros, especialmente Samuel
das mais importantes idéias contidas nos rela­ e Reis. A situação é ainda mais intrigante pelo
tos de Reis — a grande apostasia de Salomão fato de Crônicas ter uma posição diferente no
em 1 Reis 11.9-13. Essa seletividade justifica- Cânon hebraico e no Cânon cristão.

253
Descobrindo os Livros Históricos

P o s iç ã o n o C â n o n história do início da monarquia, mostrava a


Em nossa Bíblia, os livros de Crônicas vêm ascensão e queda de Saul e a ascensão de Davi.
logo depois dos livros de Reis e antes de Esse relato legitimava a monarquia israelita e
Esdras-Neemias. Nessa posição, eles estão mostrava as condições dentro das quais Deus
cronologicamente localizados entre os Livros abençoaria o rei. O livro de Reis continuava e
Históricos do Antigo Testamento, a segunda concluía esse relato sobre a monarquia. O pro­
parte do Cânon cristão. Este não é o caso na pósito teológico no caso desses livros, era de
Bíblia hebraica (ver capítulo 1). Nela, Crô­ traçar as conseqüências do pecado em con­
nicas vem no final de toda a coleção de li­ traste com as bênçãos da obediência.
vros bíblicos, depois de Esdras-Neemias. Essa O autor de Crônicas não entrou em con­
posição é um tanto surpreendente já que ela tradição com essas histórias anteriores e nem
inverte a seqüência natural de Esdras-Nee­ refutou sua veracidade. Pelo contrário, o cro­
mias e Crônicas. nista parece ter dado às fontes bíblicas ainda
Várias tentativas já foram feitas de se ex­ mais autoridade que as outras fontes que es­
plicar o porquê dessa inversão na ordem no tavam à sua disposição. Mas ainda assim ele
Cânon hebraico.5 Talvez os judeus conside­ não estava rigidamente preso a elas. Ele usou
rassem que Crônicas havia sido escrito mais relatos bíblicos mais antigos de maneira criati­
tarde ou talvez Esdras-Neemias tivesse sido va para escrever a história da obra de Deus
aceito antes de Crônicas como livro canônico. em Israel, o que ia ao encontro das necessida­
Mas também pode haver uma mensagem teo­ des do público depois do exílio. Dessa forma,
lógica nesse caso. A ordem invertida pode ser 0 cronista criou o início da tradição da inter­
intencional, de modo que o Antigo Testamen­ pretação. O autor de Crônicas foi o “último
to termine em um tom positivo (o édito de exemplo da genialidade de Israel para contar
Ciro que acabou com o exílio, 2Cr 36.22,23). histórias sagradas”.6
Talvez os canonizadores da Bíblia hebraica
estivessem encorajando os leitores a experi­
mentar a liberdade do seu pós-exílio pessoal.
Conteúdo de
Relação com Samuel e Reis 1 e 2 Crônicas
Conforme dissemos, o cronista tem um pro­
pósito diferente daquele de suas fontes primá­ O século 59 a.C. foi um período sombrio na
rias, os livros de Samuel e Reis. Samuel dava a história de Israel. O grande império de Davi e
Beduínos perto
dos portos
bíblicos de Elá e
Eziom-Geber.
Josafá construiu
uma esquadra
em Eziom-
Geber, no Golfo
de Acaba, mas
os navios foram
destruídos antes
que estivessem
prontos.

254
1 e 2 Crônicas

Um relevo
assírio mostra os
israelitas
trazendo
tributos para a
Assíria.

Salomão há muito tempo havia ruído. Os Esboço


assírios tinham destruído o norte de Israel e os
babilônios tinham deixado pouca coisa de Je­ I. Genealogias (lC r 1-9)
rusalém. Durante o século 52, o poderoso Im­ A. Os patriarcas
pério Persa chegou ao seu apogeu. Tudo o que (lC r 1.1-2.2)
restou de Israel como nação foi uma pequena B. A tribo de Judá
província de Judá, uma diminuta porção do (lC r 2.3-4.23)
vasto domínio persa. O magnífico templo de C. As onze tribos
Salomão havia sido substituído por um outro (lC r 4.24-8.40)
de muito menos esplendor durante a época D. Os cabeças de família
de Ageu e Zacarias (516 a.C., Ed 6.14,15). O de Jerusalém após o
que antes fora a grande monarquia de Davi exílio (lC r 9)
havia sido reduzida a um governo provincia­
no sujeito à autoridade persa. II. O reinado de Davi
Para piorar ainda mais, o edito de liberta­ (lC r 10-29)
ção do exílio de 539 a.C. havia feito crescer A. Saul, o predecessor de
as expectativas do povo judeu. Era um tem­ Davi (lC r 10)
po de grandes esperanças. Muitos pensavam B. Davi assume o poder
que logo o Messias viria e iria conduzir Judá (lC r 11,12)
para uma nova era de grandeza. Mas essas C. Os feitos de Davi
esperanças foram rapidamente desaponta­ (lC r 13-22)
das. Aqueles que voltaram para Jerusalém D. O legado de Davi a Salomão
encontraram a cidade em escombros. A po­ (lC r 23.1-29.20)
pulação era pequena e não tinha nenhuma E. Salomão assume o poder
riqueza material. Não demorou a ficar apa­ (lC r 29.21-30)
rente que a era messiânica ainda não havia
chegado. Dentro desse cenário deprimente, III. O reinado de Salomão
o cronista ofereceu profundo encorajamen­ ‘ (2Cr 1-9)
to aos seus leitores. Apesar das circunstânci­ A. Salomão estabiliza o reino
as, os propósitos de Deus para Israel ainda (2Cr 1)
tinham efeito por meio das suas promessas B. A construção e consagração
para Davi (lC r 17.7-14). do templo (2Cr 2-7)
255
Descobrindo os Livros Históricos

C. A grandeza de Salomão O reinado de Davi (1 Cr 10-29)


(2Cr 8,9) O autor estava interessado principalmente
naquilo que via como os instrumentos de sal­
IV. O reino de Judá
vação escolhidos por Deus: a linhagem real
(2Cr 10-36)
de Davi, a cidade de Jerusalém e o templo.
A. O declínio de Roboão e
Em conseqüência disso, ele deixou de fora a
Abias (2Cr 10-13)
vida de Saul e registrou apenas a ignomínia
B. Reavivamento: Asa e
de sua morte, como informação de pano de
Josafá (2Cr 14.1-21.3)
fundo para ascensão de Davi ao poder.
C. Declínio: Jeorão, Acazias e Por outro lado, a hreve narrativa sobre Saul
Atalia (2Cr 21.4-22.12) apresentou um dos conceitos teológicos mais
D. Reavivamento: Joás a importantes do autor. O cronista repetiu os
Jotão (2 Cr 23-27) termos usados para descrever o pecado e o
E. Declínio: Acaz (2Cr 28) castigo de Saul em 1 Crônicas 10.13,14. Saul
F. Os outros reis de Judá morreu por causa de sua infidelidade para
(2Cr 29-36) com o Senhor; ele não obedeceu a palavra do
Senhor e não o consultou, assim, o Senhor lhe
■»■■■■■■■■»■ Visão geral
restauração deu a morte. A vida e morte de Saul tornam-
Os livros de Crônicas giram em torno do se o protótipo ou padrão do autor para a situa­
reinado de Davi e Salomão. Como pano de ção do exílio. Ela pintou um quadro que con­
fundo para esses dois reis, 1 Crônicas come' tinuou a se repetir na história de Israel. Era
ça com várias listas genealógicas, com de­ um padrão com o qual os leitores de Crônicas
clarações histórias intercaladas em meio a podiam se identificar — um arquétipo do exí­
elas (lC r 1-9). O reinado de Davi é o assun­ lio. Mas o autor equilibrou esse protótipo com
to do resto de 1 Crônicas (capítulo 10-29). o tema da “restauração” nos capítulos seguin­
2 Crônicas começa com o reinado de Salo­ tes. Para o cronista, Davi cumpriu o seu papel
mão (capítulo 1—9). O restante de 2 Crôni­ de salvador.7
cas (capítulos 10-36) relata a história da O autor primeiro descreveu como Davi
dinastia de Davi. tornou-se rei, bem como suas iniciativas mili­
tares e seus sucessos (capítulos 10-20). Então,
As genealogias (1 Cr 1-9)
o cronista usou de muitos detalhes para falar
As listas genealógicas traçam a história dos preparativos de Davi para a construção
desde o primeiro homem, Adão, passam pela do templo (capítulos 21-29). Tendo em vista
figura central de sua narrativa, Davi, e vão que o autor considerava o templo como ele­
até os dias do autor. Esses capítulos podem mento central do plano de salvação de Deus,
parecer pouco interessantes e desnecessári­ esse projeto detalhado para a sua construção
os para o leitor dos dias de hoje. Mas eles são revela o verdadeiro caráter de Davi como lí­
de grande importância para os leitores do pe­ der espiritual de Israel.
ríodo pós-exílio. Por meio dessas listas de
genealogias, o autor de Crônicas demons­ O reinado de Salomão (2Cr 1-9)
trou uma identidade nacional que existia Esses capítulos relatam a grandeza do rei­
bem antes da tragédia do cativeiro. Essas lis­ nado de Salomão, assim como fizeram as fon­
tas mostravam a continuidade entre as gera­ tes do autor em 1 Reis. Porém, o cronista esta­
ções. Os primeiros leitores podiam crer que va mais interessado na construção e consa­
as promessas que Deus havia dado para os gração do templo. Seu relato do reinado de
seus ancestrais antes do exílio também eram Salomão é mais curto que outros em passa­
para eles. Listas desse tipo oferecem um im­ gens paralelas em 1 Reis 1—11. Essa unidade
portante pano de fundo para outros Livros inclui apenas os acontecimentos que mostram
Históricos da Bíblia: Gênesis 5, Mateus 1.1- a preocupação do autor com o templo. O cro­
17 e Lucas 3.23-38. nista concentrou-se, mais especificamente,
A lista da tribo e família de Saul (capítulo nas instituições religiosas e na adoração liga­
8) serve de transição para a primeira seção das ao templo, e abreviou a construção do
narrativa de Crônicas: a morte de Saul e a templo conforme ela aparece em 1 Reis (capí­
coroação de Davi (10.1-11.3). tulos 3 e 4).

256
1 e 2 Crônicas

O texto conhecido de 2 Crônicas 7.14 é o O reino de Judá (2Cr 1 0-36)


versículo chave para a obra do cronista: “se o Logo depois da morte de Salomão, o reino
meu povo, que se chama pelo meu nome, se desintegrou'se em dois, em parte por causa
humilhar, e orar, e me buscar, e se converter da falta de capacidade de seu filho Roboão.
dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei A história do reino do norte estava fora dos
dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a propósitos do autor. Nessa seção, ele estava
sua terra”. Esses passos para o arrependimento interessado em tratar dos reis de Judá, de
estabeleceram o protótipo da salvação da si' Roboão até o exílio na Babilônia. Seu objetivo
tuação de exílio descrita pela primeira vez na não era demonstrar o fracasso da promessa de
O túnel de morte de Saul (ver comentário anterior sobre
Ezequias em Deus a Davi (lC r 17). Ao contrário, ele que'
lC r 10.13,14).8 A vida e a morte de Saul tor- ria mostrar que a salvação (que era garantida
Jerusalém.
nararmse o padrão da situação de exílio, que no futuro) ainda estava ligada à dinastia de
Quando os
assírios se repetiu na história dc Israel. Mas 2 Crônh Davi e ao templo de Jerusalém. Deus não
ameaçaram cas 7.14 é o padrão para a restauração. O cn>
havia abandonado suas instituições básicas de
Jerusalém, nista apresentou esses dois modelos (restaura'
Ezequias fez um salvação.
ção e exílio) e convidou seus leitores a avaliar O autor de 2 Reis falou das reformas religh
túnel para
canalizara água sua própria situação à luz desses arquétipos ou osas de Ezequias em um breve versículo (18.4)
para dentro da padrões.9 Os livros de Crônicas nos convidam e dedicou três capítulos aos seus feitos políth
cidade. à humildade e ao arrependimento. cos. O cronista, por outro lado, detalhou as
reformas em 2 Crônicas 29-31. Seu propósito
era ilustrar que quando um filho de Davi se
preocupava com a casa de Deus e oferecia
adoração autêntica, Deus trazia paz ao reino
(capítulo 32).
O cronista falou da captura de Manassés,
de seu exílio na Babilônia, seu arrependimen'
to e restauração, fatos que não foram inclu-
idos no relato de Reis. O autor de Reis dese-
java ressaltar apenas a severidade dos crimes
ALA de Manassés. Mas o cronista retrata a miserb
córdia de Deus para com o povo no exílio.
Assim como o rei que era o principal respom
sável pelo cativeiro na Babilônia (2Rs 23.26)
podia se arrepender de seu pecado c encon'
trar a graça, da mesma forma também o povo
poderia fazer.
A obra do cronista termina com o edito
de Ciro, da Pérsia (2Cr 36.22,23). O edito
indica o final do exílio, a libertação dos ju'
deus e o apoio de Ciro à construção do tem'
pio. Ao terminar nesse tom, o autor faz bri'
lhar um raio de esperança sobre os livros de
Crônicas. O templo está em ruínas, mas Deus
começou a “ouvir dos céus” e a “sarar a ter'
ra” (2Cr 7.14). Se o povo que estava retor­
nando seguisse o exemplo de Davi, Salomão,
Asa, Josafá, Ezequias e Josias, Deus voltaria
a abençoádos.
Esse parágrafo encontra um paralelo em
Esdras 1.2,3. Na conclusão, ele tem a função
de marcar o início do período de restauração
e de dirigir o leitor a prosseguir com a leitura
do livro de Esdras.

257
Descobrindo os Livros Históricos

enfatizam Davi e sua linhagem. O resto de 1


H istória
Deuteronô­ Temas dos livros Crônicas é dedicado ao reinado de Davi. 2
Crônicas começa com nove capítulos sobre o
m ic a
de Crônicas filho e sucessor de Davi. O resto de 2 Crôni­
O cronista tinha a vantagem de estar es­ cas está centrado nos reis de Jerusalém da
crevendo sua história depois que a autorida­ linhagem de Davi, os herdeiros das promessas
de de muitos livros do Antigo Testamento já da aliança entre Deus e Davi.
havia sido reconhecida. Ele herdou uma tra­ A aliança com Davi é descrita em 2 Sa­
dição que já era rica em conceitos teológicos. muel 7. Este torna-se um dos conceitos teoló­
Como resultado, o cronista não sentiu muita gicos mais importantes de Israel, ao lado da
necessidade de fazer declarações explícitas aliança com Abraão e da aliança mosaica.
sobre verdades amplamente aceitas como o Ele serve de base para conceitos ligados ao
monoteísmo, a soberania de Deus e outros Messias, o filho ideal de Davi. Em 1 Crônicas
conceitos teológicos básicos. 17, o cronista seguiu 2 Samuel 7 de perto em
Em uma ou outra ocasião, o cronista de­ sua apresentação da aliança com Davi, enfa­
senvolveu um conceito teológico de fé bíblica tizando o aspecto eterno do decreto divino. O
que foi além da expressão dos livros bíblicos autor de Crônicas via Davi e Salomão juntos,
O Cilindro de
anteriores. Ele já tomou como certa, por exem­ estabelecendo uma dinastia eterna. Isto con­
Ciro descreve a
captura da plo, a teologia de retribuição da História tribuiu para a expectativa messiânica, tendo
cidade da Deuteronômica. Ele apenas acrescentou em vista que o cronista ansiava pelo dia quan­
Babilônia pelos uma pequena nuança ao conceito enfatizan­ do um filho de Davi fosse, mais uma vez, go­
persas. O texto vernar sobre toda Israel.12
também
do o caráter imediato do castigo ou da bên­
menciona a ção (lC r 28.9). Cada geração de crentes é A visão do cronista acerca de Davi estava
política de Ciro abençoada pela obediência ou castigada pela ligada à sua percepção da monarquia israeli­
de permitir que infidelidade. Esse imediatismo pressupõe ser ta. Desde o princípio, a monarquia israelita
os povos verdadeira a ênfase de Deuteronômio, mas deveria ser representativa. Deus continuaria
conquistados a ser o verdadeiro Rei; Saul era um represen­
retornassem
vai um passo além.10
para reconstruir Da herança teológica do Antigo Testamen­ tante humano e um agente de governo. Mas
suas terras- to aceita pelo cronista, há dois temas que ele em Crônicas, Saul tornou-se o padrão da si­
natais (ANET parece favorecer: (1) Davi e sua dinastia e tuação de exílio. A beleza da dinastia de Davi
316). Esse é o (2) o templo e a adoração correta de Deus. está na promessa divina de transferência de
decreto que
poder real que jamais seria quebrada (lC r
aparece em 2 Davi e sua dinastia
Crônicas 17.13). Desde o tempo de Davi, os reinados
36.22,23 e A figura de Davi está presente por toda a israelitas estariam para sempre nas mãos dos
Esdras 1.2-4. parte nos livros de Crônicas.11 As genealogias filhos de Davi.

2 58
1 e 2 Crônicas

Sumário

1. Há algumas discussões sobre quem 6. O autor estava mais interessado na lis­


escreveu 1 e 2 Crônicas, mas estudio­ ta dos reis da dinastia de Davi, na ci­
sos contemporâneos atribuem a obra dade de Jerusalém e no templo como
a um autor anônimo do pós-exílio. instrumentos de salvação usados por
Deus.
2. Crônicas constitui aquilo que pode ser
chamado de “primeiro comentário bí­ 7. O cronista estava mais interessado na
blico", usando como fontes primárias construção e consagração do templo
principalmente os livros de Samuel e que nos detalhes da grandeza do rei­
Reis. nado de Salomão.
3. Crônicas está no final dos livros bíbli­ 8. O autor de Crônicas convida o leitor a
cos no Cânon hebraico, mas logo de­ avaliar sua própria situação à luz de
pois do livro de Reis e antes de Esdras dois modelos que ele apresenta —
e Neemias em nossa Bíblia. restauração e exílio.
4. O ponto central dos livros de Crônicas 9. Os temas que parecem especialmente
é o reinado de Davi e Salomão. importantes para o cronista são: (1)
Davi e sua dinastia e (2) o templo e a
5. As listas genealógicas mostram a exis­
adoração correta de Deus.
tência de uma identidade nacional que
vem desde antes do exílio e oferece
uma continuidade entre as gerações.

O cronista também acreditava em uma papel na construção do templo e no estabele­


relação entre o reino de Deus e o reinado de cimento dc práticas religiosas verdadeiras em
Israel.13 Apesar dos livros de Crônicas conte- Jerusalém.
rem várias referências que ilustram esse pen-
sarnento, o melhor exemplo pode ser encon­ O t e m p lo e a a d o r a ç ã o a D e u s
trado na referência que Abias faz ao “reino O templo tem um papel central nos livros
do Senhor, que está nas mãos dos filhos de de Crônicas.14 Durante uma era em que o
Davi” (2Cr 13.8); povo de Deus estava lutando para encontrar
Davi e Salomão também são figuras cen­ sua identidade, o templo era um símbolo im­
trais nos livros de Crônicas, por causa de seu portante da presença de Deus habitando no
meio do seu povo escolhido. O segundo tem­
plo, construído sob a orientação de Ageu e
Zacarias, estabeleceu um elo poderoso entre
a Judá antes do exílio e a restauração da co­
munidade pós-exílio. Como tal, o templo for­
mou uma ponte para a comunidade pós-exí­
lio, alcançando seus ancestrais na fé. A di­
nastia de Davi havia temporariamente se per­
Termos-chave dido, mas o templo estava novamente em Je­
Restauração rusalém. Ele dava a sensação de continuida­
História Deuteronômica de aos crentes que sentiam-se inseguros e in­
certos quanto ao futuro.

259
Descobrindo os Livros Históricos

Questões para estudo


/
■J

1 Quem é tradicionalmente considera­ 6. Descreva brevemente a relação entre


do o autor de 1 e 2 Crônicas? Crônicas e os outros livros do Cânon.
2 Em que época esses livros foram escritos? 7. De que forma a posição de 1 e 2 Crô­
Como podemos determinar essa época? nicas na Bíblia é importante?
3 De que forma os livros de Crônicas 8. Por que as genealogias são importan­
constituem o primeiro "comentário tes para o propósito dessa obra?
das Escrituras"?
9. Qual é o papel da linhagem real de
4 Qual foi o propósito do autor em es­ Davi nos livros de Crônicas?
crever 1 e 2 Crônicas?
10. Quais são alguns dos temas principais
5 Que mensagem de esperança está de Crônicas?
contida nesses livros?

Mas o templo era mais que uma ligação A avaliação dos reis subseqüentes da di­
com o período de Davi e Salomão. Ele repre­ nastia de Davi (2Cr 10—36) foi, de um modo
sentava a presença de Deus no meio de seu geral, baseada em sua fidelidade e dedica­
povo em seu modo mais fundamental. Como ção ao templo e às formas corretas de prática
tal, o templo também dava continuidade ao religiosa. Assim, a ênfase que o cronista dá
período mosaico e ao Pentateuco. Assim ao templo amarra todos esses temas. A cen-
como o tabernáculo tinha sido o lugar onde tralidade de Davi e Salomão está ligada à
Deus havia habitado no meio das tribos no construção do templo e ao estabelecimento
deserto, mais uma vez Deus habitava no meio de formas aceitáveis de adoração a Iavé. O
de seu povo. sucesso da dinastia de Davi era dependente

Leituras complementares

Braun, Roddy. 1 Chronicles. Word Biblical Commentary Selman, Martin J. 1 Chronicles: An Introduction and
14. Waco, Tex.: Word, 1986. Discute a contribuição Commentary. Tyndale Old Testament Commentary.
teológica de Crônicas. Downers Grove/Leicester: InterVarsity, 1994. Uma
Dillard, Raymond B. 2 Chronicles. Word Biblical Com­ introdução de ajuda, rica em insights teológicos.
mentary 15. Waco, Tex.: 1987. . 2 Chronicles: An Introduction and Commenta­
Howard, David M., Jr. An Introduction to the Old Testa­ ry. Tyndale Old Testament Commentary. Downers
ment Historical Books. Capítulo 8: "1 and 2 Chroni­ Grove/Leicester: InterVarsity, 1994. Uma introdução
cles", 231-272. Chicago: Moody, 1993. de ajuda, rica em insights teológicos.
Japhet, Sara. I and II Chronicles: A Commentary. Old Williamson, H. G. M. 1 and 2 Chronicles. New Century
Testament Library. Louisville: Westminster/John Knox, Bible Commentary. Grand Rapids/ Londres: Eerd-
1993. Um comentário completo e detalhado, porém mans/Marshall, Morgan & Scott, 1982. Juntamente
não uma leitura leve. Japhet, constrói um novo consenso sobre a autoria.

2 60
1 e 2 Crônicas

da continuidade no cuidado e na atenção dade para com a aliança. Dessa forma, o cro­
dedicados ao templo e à adoração correta de nista está exatamente no centro do pensa­
Deus. Para o cronista, a autoridade real era mento bíblico.
dada por Deus, mas condicionada à fideli­

261
1 Esdras, Neemias
e Ester
Tempo de reconstruir

Esboco
• Os livros de Esdras e Neemias
Conteúdo
Problemas de interpretação O bjetivos
• O livro de Ester
Depois de ler este capítulo,
Conteúdo você deve ser capaz de:
• Temas teológicos • Explicar as vantagens de se estudar
Esdras e Neemias Esdras, Neemias e Ester juntos.
Ester • Delinear o conteúdo básico do livro de
Esdras.
• Delinear o conteúdo básico do livro de
Neemias.
• Delinear o conteúdo básico do livro de
Ester.
• Comparar os estilos literários usados em
Esdras, Neemias e Ester.
• Discutir a questão de autoria de Esdras,
Neemias e Ester.
• Explicar a cronologia de Esdras e Neemias
• Identificar os temas teológicos de Esdras,
Neemias e Ester.

263
Descobrindo os Livros Históricos

Esdras, Neemias e Ester concluem a parte Ester equilibra a religiosidade de Esdras-Nee­


do Cânon do Antigo Testamento conhecida mias. Os detalhes de Esdras-Neemias servem
como “Livros Históricos”. Eles dão continui- de contraponto para a história atraente de
dade à história do povo de Deus durante o Ester. O ponto de vista de Ester em relação
período pós-exílio. Esdras e Neemias regis­ ao exílio na Pérsia contrasta com a devoção
tram os acontecimentos do retorno do exílio leal à terra natal judia em Esdras-Neemias.
e da restauração de Judá. Ester ilustra como Apesar dc terem sido escritos em estilos dras­
a fidelidade e coragem de uma única judia ticamente diferentes e com propósitos dis­
fizeram diferença no mundo em que ela vi­ tintos, os três livros têm uma perspectiva em
via. Esses livros têm uma origem comum no comum. Eles estão interessados na continui­
período persa. Eles compartilham de uma dade das bênçãos de Deus sobre a comuni­
perspectiva pós-exílio sobre o relacionamen­ dade da aliança.
to de Deus com seu povo e a esperança de
bênçãos futuras.
Esses livros são diferentes em vários aspec­
tos. Esdras-Neemias (como um único volu­
Os livros de Esdras
me) está baseado em fatos históricos. O autor e Neemias
usou listas, registros, editos reais, memórias e
outros materiais desse tipo para apresentar a Esses livros são quase sempre estudados
história do período da restauração. Ester, por juntos por várias razões. Em primeiro lugar,
outro lado, é uma narrativa artisticamente eles parecem vir de um mesmo autor ou edi­
escrita que comunica seu conteúdo por meio tor. Em segundo lugar, eles lidam com o mes­
do uso hábil de diálogos, da trama bem elabo­ mo período e são mais ou menos seqüenciais.
rada e da caracterização dos personagens. Em terceiro lugar, eles são combinados para
Ester não é menos histórico, mas o autor não formar uma única obra no Cânon judaico.
teve a intenção de preparar um tratado docu­
mental histórico. Em vez disso, o livro de Ester Conteúdo
envolve o leitor na sutileza dos relacionamen­ Os livros de Esdras e Neemias relatam a
tos e na fidelidade a Deus. história dos judeus desde seu primeiro retorno
Dessa forma, esses livros do período persa do exílio (538 a.C.), passando pelo segundo
se complementam.1 O ambiente secular de grupo que retorna sob a liderança do próprio

Relevo assírio
mostra
embaixadores
de um estado
estrangeiro.

264
Esdras, Neemias e Ester

Esdras (458 a.C.) até suas atividades de re- IV. Os exilados (7.1-73)
construção e reforma religiosa no meio do sé-
culo 5Q, liderados tanto por Esdras como N ee­ V. Renovação espiritual
mias. (8.1-10.39)
A. A lei (8.1-9)
Esbo ço B. Celebração (8.10-18)
C. Confissão (9.1-37)
E sd r a s
D. Renovação da aliança
(9.38-10.39)
I. Primeira emigração (1.1-2.70)
A. A proclamação de Ciro (1.1-4) VI. Residentes, sacerdotes e levitas
B . Tesouros para o templo (1.5-11) (11.1-12.26)
C. A emigrantes (2.1-70) A. Os novos residentes de Jerusalém
(11.1-36)
II. Restauração do templo
B. Sacerdotes e levitas (12.1-26)
(3.1-6.22)
A . Reconstrução do altar (3.1-6) VII. Consagração do muro (12.27-47)
B. Reconstrução do templo (3.7-13)
C. Oposição (4.1- 5) VIII. Reformas finais (13.1-31)
D. Oposição posterior (4.6-24)
E. O encorajamento de Deus V isão geral
(5.1,2) O livro de Esdras abre com seis capítulos
F. Inquérito oficial (5.3-17) que contam em detalhes o retorno do primei­
G. Término e consagração do ro grupo de exilados depois do decreto de Ciro
templo (6.1-22) em 538 a.C. Zorobabel, neto do rei Jeoaquim,
foi responsável pela liderança política duran­
III. Segunda emigração (7.1-8.36) te esse tempo e os profetas Ageu e Zacarias
A. Esdras (7.1-10) ofereceram a inspiração espiritual. Esdras 7—
B. Reconhecimento oficial 10 descreve o retorno de Esdras a Jerusalém, a
(7.11-26) eficiência de seu ministério e seu confronto
C. O louvor de Esdras (7.27,28) com aqueles que se casaram com descrentes.
D. A emigração (8.1-14) O livro de Neemias começa com seis capí­
E. À procura dos levitas (8.15-20) tulos baseados nas memórias do próprio N ee­
F. A jornada (8.21-36) mias. Depois de apresentar Neemias ao leitor,
IV. Casamentos mistos (9.1-15) essa unidade relata a jornada saindo da Pérsia
até Jerusalém e o sucesso na reconstrução dos
V. Confissão e separação (10.1-44) muros de Jerusalém apesar de todas as difi­
A. A confissão (10.1-7) culdades. O resto de Neemias (capítulos 7—
B. Os culpados de casamento 13) trata das reformas sociais e religiosas de
misto (10.18-44) Esdras e Neemias.

N e e m ia s Retorno do primeiro grupo e a


reconstrução do templo (Ed 1-6)
I. Um relatório desanimador
Depois que o rei Ciro da Pérsia capturou a
(1.1-11)
Babilônia, ele escreveu um decreto que liber­
A. O relatório (1.1-3)
tava os judeus e permitia que retornassem à
B. A oração de Neemias (1.4-11)
sua terra natal (1.2-4, ver ilustração 17.1). Em
II. A comissão de Neemias (2.1-10) 538 a.C., o primeiro grupo de judeus voltou
para Jerusalém sob a liderança de Zorobabel
III. Os muros e portões de Jerusalém (2.2). O relacionamento de Zorobabel com
(3.1-7.3) Sesbazar, que também é chamado de gover­
A. Os construtores (3.1-32) nador de Judá (1.8) é incerto. Enquanto al­
B. Oposição externa (4.1-23) guns estudiosos acreditam que eles eram a
C . Oposição interna (5.1-19) mesma pessoa com dois nomes, é melhor su­
D. Mais oposição externa (6.1-14) pormos que Sesbazar foi o primeiro governador
E. Término do muro (6.15-19) persa de Judá e começou o trabalho nas funda­

265
Descobrindo os Livros Históricos

çÕes do templo. Em uma data posterior desco­ mais detalhes um conflito que aconteceu cin­
nhecida, Zorobabel o substituiu como gover­ qüenta anos depois, quando os samaritanos
nador e concluiu o trabalho de reconstrução.2 impediram os judeus de continuar trabalhan­
A simples presença de Zorobabel dava es­ do nos muros de Jerusalém. Ao mencionar
perança a esse primeiro grupo de judeus que sua oposição à construção do templo, o autor
retornava. Por ser da linhagem direta do rei lembrou-se de um problema semelhante que
Davi e por ter sido colocado em uma posição aconteceu mais tarde. Ele inseriu o capítulo
de liderança pelos persas, ele era objeto das 4-6-23 como um parênteses, a fim de apresen­
esperanças messiânicas (Ag 2.23; Zc 4.14). tar o quadro todo do conflito entre judeus e
Como tal, Zorobabel teve um papel importan­ samaritanos durante esse período geral de tem­
te no início do período de restauração. Mas po. O versículo 24 traz o leitor de volta para as
por razões que os autores bíblicos explicam, dificuldades de se reconstruir o templo, o as­
ele simplesmente desapareceu dos registros sunto que havia sido introduzido em 4.1-5.4
depois que o templo havia sido reconstruído. O autor incluiu os relatos de oposição sama-
Sob a liderança de Zorobabel e de Jesua ritana no capítulo 4 de um modo literário e
(outra forma de escrever Josué), o povo logo não cronológico.
começou a restaurar Jerusalém. Primeiro eles Os capítulos 5 e 6 concluem a narrativa da
se dedicaram a restabelecer as formas de ado­ reconstrução do templo. Depois de colocar os
ração dadas por Deus (3.1-6). Depois, come­ alicerces em 536 a.C., os judeus não conse­
çaram a reconstruir o templo, o elemento mais guiram terminar o projeto devido a oposições
importante da identidade nacional (3.7-6.22). e dificuldades. Dezesseis anos mais tarde, o
Eles terminaram de colocar os alicerces com Espírito de Deus moveu os profetas Ageu c
grande pompa e cerimônia (3.10,11). Mas mui­ Zacarias para inspirar o povo (ver capítulo 34) •
tos tinham idade suficiente para lembrarem- Ageu pediu aos judeus que dessem tanta aten­
se do antigo templo de Salomão. Eles podiam ção à casa do Senhor quanto davam à sua
ver que essa nova estrutura seria bem mais própria casa. Zacarias encorajou o povo com
simples. Muitos choraram de desânimo du­ suas visões e seus sermões sobre bênçãos futu­
rante a cerimônia de louvor. O clamor de lou­ ras reservadas para eles se obedecessem a von­
vor e ação de graças misturou-se ao choro de tade de Deus. O ministério desses dois ho­
decepção e perda (3.12,13). O trabalho de mens motivou Zorobabel, Jesua e outros a con­
Deus requer de nós tudo o que temos, e algu­ tinuarem trabalhando. Apesar da contínua
mas vezes nos desafia a ir além daquilo que oposição de seus vizinhos, os judeus comple­
achamos ser capazes. Mas no final a vida a taram o templo em 516 a.C. c restabeleceram
seu serviço é desafiadora e plena. os sacerdotes com alegre celebração (6.14-18).
Os judeus não conseguiram terminar o
templo. Seus recursos eram insuficientes e o
O segundo grupo retorna sob a
trabalho era duro. Além disso, eles tiveram liderança de Esdras (Ed 7-10)
forte oposição de todos os lados. Os samarita- A segunda unidade do livro de Esdras con­
nos, ao norte, eram descendentes de casa­ ta de sua volta a Jerusalém e de seu ministério
mentos mistos entre israelitas e vários grupos lá. O autor pulou aproximadamente cinqüen­
que haviam sido colocados em Samaria pelos ta e oito anos desde a construção do segundo
assírios depois da queda de Israel em 722 a.C. templo até o retorno de Esdras em 458 a.C.
(2Rs 17.24). A princípio eles se ofereceram Não sabemos quase nada sobre a comunida­
para ajudar. Mas Zorobabel, Jesua e os judeus de da restauração durante esse intervalo de
provavelmente sentiram alguns motivos sub­ tempo. Apesar do autor estar extremamente
versivos por trás daquela oferta. Eles usaram o interessado na História, sua maior preocupa­
decreto de Ciro (1.2-4) como desculpa para ção não era escrever uma história completa
excluir os samaritanos de participar do traba­ da comunidade pós-exílio, mas sim de traçar
lho. Sentindo-se esnobados e rejeitados, os sa­ as importantes idéias religiosas e teológicas que
maritanos mostraram ser verdadeiros “adver­ moldaram essa comunidade.
sários de Judá e Benjamim”, oferecendo opo­ Esdras era a figura proeminente da comu­
sição ao trabalho dos judeus (4.1-5).3 nidade da restauração. Sua genealogia o co­
O relato da oposição dos samaritanos em locava na linhagem de Arão, irmão de Moisés
relação aos judeus no capítulo 4.6-23 está fora e primeiro sumo sacerdote (7.1-5). Uma he­
de ordem cronológica. Essa seção narra em rança tão impressionante dava a Esdras o di­
266
Esdras, Neemias e Ester

reito de ser escriba (7.6), o que significa que que crescemos na compreensão da palavra
ele era um estudioso e professor da lei, e não de Deus, devemos também crescer em obe­
somente um copista. Ele era guardião do tô r â diência e, como Esdras, ensinar a outros por
de Moisés, significando que ele dava conti­ meio de palavras e exemplos.
nuidade às tradições do Pentateuco, a Lei de Em 458 a.C., Esdras liderou um segundo
Deus. A “boa mão do Senhor, seu Deus... es­ grupo de judeus que voltavam do exílio da
tava sobre ele... (7.6,9) porque Esdras tinha Babilônia, aproximadamente oitenta anos
disposto o coração para buscar a lei do Se­ depois do primeiro grupo, liderado por Zoro­
nhor” (7.10). Ele foi um estudioso abençoado babel (Ed 7,8). Mais uma vez, a mão do Se­
porque buscava fazer mais que estudar. Esdras nhor estava sobre aqueles que retornavam,
lutava para viver e ensinar os caminhos do para que eles fizessem a viagem rapidamente
Senhor (7.10). Da mesma forma, à medida e em segurança (8.31,32).

O Império Persa
e o Retorno a Jerusalém

;
£ A lepo

D am asco
Su sã

Nipur

P ersép o iis

Im pério Persa

Rota de Neemias para Nipur

Provável Rota de Neemias e Esdras

Provável Rota de Zorobabel

MAR
fE R M E L H O

267
Descobrindo os Livros Históricos

Trechos do Cilindro de Ciro

0 "Cilindro de Ciro" descoberto na Babilônia cando-os na Babilônia. Mas eu os devolvi pacifi­


em 1879 ilustra a tolerância religiosa e o camente às suas antigas capelas.onde agora eles
pluralismo do período persa. estão felizes.
Que todos os deuses que eu devolvi aos seus
Devolvi as estátuas de deuses de muitas cida­ santuários intercedam a meu favor perante
des sagradas para os seus santuários, que haviam Marduque e seu filho Nabu. Que eles peçam lon­
estado em ruínas por um longo período de tem­ ga vida para mim e digam a Marduque "Que o rei
po. Restabeleci santuários permanentes par: Ciro, o rei que vos adora, e Cambises o seu fi­
eles. Sob o comando de Marduque, Grande Deus lho..."
da Babilônia, devolvi os deuses que foram toma­
dos por Nabonido. Ele havia irado Marduque ao Edwin M. Yam uchi. Persia and The Bible, Grand Rapids:
Baker, 1990, 87-89; e ANET 315-317.
fazer cativos os deuses de Sumer e Acade, colo­

A questão mais importante para a comu­ tegoricamente proibido por lei e nem era sim­
sm cretism o
nidade da restauração durante esse período plesmente uma prescrição contra uniões
era como manter uma identidade definida inter-raciais. Era, na verdade, um problema
em um mundo em transformação. Com a per­ religioso.5 A história de Israel ilustra de ma­
da do reinado da linhagem de Davi e tam­ neira clara como a religião israelita se deteri­
bém de sua independência como nação, os orou por causa de casamentos com pessoas
judeus haviam perdido todos os sinais tangí­ de outras religiões (exemplos podem ser en­
veis das bênçãos de Deus. De que forma a contrados em Jz 3.5,6 e nos casamentos reais
pequena Judá poderia manter uma identida­ de Salomão e de Acabe). Esdras liderou o
de nacional como povo de Deus no vasto Im­ povo em uma oração pública de arrependi­
pério Persa? mento (9.5-15). Os casamentos mistos não
Além disso, o principal ideal teológico que eram simplesmente uma questão de pureza
permeava o Império Persa era o sincretismo racial e nem de legalismo. Eles eram “peca­
religioso, ou seja, a mistura de diversas cren­ dos” que resultavam em “culpa” (9.6). A ora­
ças religiosas formando um único sistema. O ção de Esdras deixa claro que tais casamen­
mundo todo parecia crer que todos os cami­ tos estavam fadados a repetir os grandes pe­
nhos levavam ao céu e que nenhum grupo cados de seus ancestrais. Esses casamentos
individual tinha o direito de se considerar teriam que parar ou o exílio jamais teria fim.
dono exclusivo da verdade. Porém, por defi­ Os judeus da comunidade da restauração
nição, o antigo laveísmo israelita era exclusi­ corriam o risco de se fundir com o Império
vista. E as Escrituras Sagradas dos israelitas Persa. Cruzar os braços teria significado o fim
afirmavam que Deus havia se revelado de do povo de Deus (9.14).
maneira singular a Israel. Esta, como nação, Movidos pela profunda contrição de Esdras,
havia fracassado por não estar disposta a ado­ o povo concordou em tomar medidas radicais
rar somente a Iavé. Conseguiria a nova Judá (10.1-4). Esdras não havia exercido sua auto­
resistir aos mesmos impulsos e suportar as pres­ ridade legal para anular casamentos sem o
sões universais para transigir em sua fé e per­ consentimento do povo, pois esta era muito
der sua distinção religiosa? mais que uma questão legal. Esses casamen­
Este é o pano de fundo para o desânimo de tos colocavam em perigo a comunidade da
Esdras diante da notícia de que muitos em aliança e a revelação do próprio Deus. Medi­
Judá, incluindo a liderança, estavam entran­ das extremas e drásticas precisavam ser toma­
do em casamentos mistos com povos vizinhos das para impedir que o laveísmo se dissolvesse
que praticavam religiões pagãs (9.1-4). O ca­ e misturasse com o amálgama das práticas re­
samento com estrangeiros não tinha sido ca­ ligiosas do período persa. Durante um período
268
Esdras, Neemias e Ester

o povo de Jerusalém ainda estava em desgra­


ça, Neemias pediu a Deus que lhe concedes­
se sucesso perante seu mestre. Em uma virada
dos acontecimentos que para Neemias certa­
mente teve caráter miraculoso, Artaxerxes
permitiu que ele se mudasse para Jerusalém e
providenciou os recursos necessários para a
reconstrução das defesas da cidade (“E o rei
mas deu, porque a boa mão do meu Deus era
comigo” 2.8). Apesar de Jerusalém estar cer­
cada de inimigos ferozes (2.10,19), Neemias
inspirou o povo para que começasse a recons­
truir (2.17,18).
Neemias capítulo 3 é uma lista admirável
de indivíduos que compartilharam as respon­
sabilidades do trabalho. Os sacerdotes abri­
ram caminho, mas o povo de todas as profis­
sões juntou seus esforços. Evidências arqueo­
lógicas mostram que a Jerusalém de Neemias
era menor que a cidade original.7
O resto da unidade (4.1—6.19) conta as
dificuldades enfrentadas pelos judeus quan­
do eles começaram a reedificação dos muros
da cidade. Os samaritanos, sob a liderança de
Sambalá e outros adversários dentre os amo-
nitas, árabes e asdoditas, colocaram empeci­
lhos para o trabalho (4.7). Em resumo, N ee­
mias tinha inimigos em todo o seu redor. Mas
ele constantemente encorajava ao povo a con­
tinuar trabalhando e orando. Metade do seu
Jm modelo do de três meses, os casamentos mistos foram sis­ pessoal trabalhava na construção enquanto a
segundo tematicamente anulados (10.12-44). outra metade ficava armada e pronta para
:emplo. A maior defender a cidade (4-16). Seu método para
preocupação de Neemias trabalha na reconstrução lidar com a oposição era oração seguida de
Esdras e dos dos muros de Jerusalém (Ne 1-6)
exilados judeus ações apropriadas (4.9) e ele sempre dava a
que retornaram O parágrafo de abertura do livro deixa im­ Deus o crédito pelo sucesso (4.15).
era reconstruir plícito que uma catástrofe recente havia ocor­ Neemias estava preocupado com mais que
o templo. rido na cidade destruída. Os habitantes de só as estruturas físicas de Jerusalém. Os males
Jerusalém estavam desanimados e os muros sociais da cidade também ameaçavam des­
da cidade arruinados (1.3). Parece provável truir a obra de Deus no meio dos judeus (ca­
que a crise descrita em Esdras 4.23,24 havia pítulo 5). Uma crise econômica havia levado
deixado a cidade sem as defesas necessárias.6 alguns judeus à escravidão e outros à hipote­
N o ano 445 a.C., o futuro de Jerusalém corria ca de suas propriedades. A injustiça social tor­
risco e o povo de Deus estava em perigo. Os naria a reconstrução física uma atividade fú-
seis primeiros capítulos do livro de Neemias til. Neemias pediu clemência por parte dos
narram os acontecim entos da chegada de líderes. Dívidas foram perdoadas e a estabili­
Neemias em Jerusalém e de sua liderança no dade econômica restaurada. A admirável li­
trabalho de reconstrução dos muros. derança de Neemias é exemplificada no ca­
Neemias era um judeu exilado que havia pítulo 5. Sua habilidade em orientar o povo
alcançado uma posição elevada no Império para que tomasse decisões morais difíceis vi­
Persa (como os exilados Daniel e Ester). Seu nha sem dúvida de sua liderança por exem­
título de “copeiro” do rei Artaxerxes I da Pérsia plo. Ele se recusava a aceitar os pagamentos
não significa que Neemias era um mordomo, de despesas como governador, o que os gover­
mas sim um conselheiro pessoal do imperador nadores antes dele não haviam feito (vs. 14-
do mundo (1.11). A o ouvir as notícias de que 19). Esse dinheiro vinha dos impostos que já
269
Descobrindo os Livros Históricos

causavam grandes dificuldades para o povo. Moisés (8.1-12), o povo ouviu mais uma vez
Neemias foi, de diversas maneiras, um exem- do grande amor e com prom etim ento de
pio de servo cristão. De acordo com a lei, ele Deus para com eles.
podia receber o pagamento de governador, O ministério da Palavra de Deus exercido
mas não era justo. Quanto mais nos aproxi­ por Esdras teve diversos efeitos profundos so­
mamos de Deus, menos perguntamos o que é bre o povo. Eles responderam rapidamente,
permitido (“o que eu posso fazer e ainda ser em reverência e verdadeira adoração (8.6;
considerado cristão?”) e mais nós pensamos 9.3). Eles reviveram antigos costumes na ce­
em agradá-lo. lebração da Festa dos Tabernáculos (8.13-18).
Em Neemias 6, os adversários externos do Os levitas lideraram o povo na confissão de
trabalho de Neemias tentaram uma nova tá­ sua culpa como nação (capítulo 9). E a alian­
tica. No capítulo 4, eles começaram a zombar ça de Deus com Israel foi restabelecida, con­
e desprezar os planos de reconstrução dos forme estava prescrito no Pentateuco (9.38—
muros (vs. 2,3). Então, tentaram intimidar os 10.39). Todos os reavivamentos autênticos da
construtores (vs. 7,8). Eles chegam a atacar História estão enraizados em uma renovação
Neemias pessoalmente. Mas a determinação do interesse pela Palavra de Deus.
e devoção de Neemias prevaleceram, e os O resto do livro conta das outras medidas
muros foram completados em apenas cin­ tomadas por Neemias para fortalecer o povo
qüenta e dois dias (6.15). de Jerusalém. A cidade restaurada já podia
ter uma população maior. Neemias 11 des­
As reformas de Esdras e
creve como mais cidadãos foram trazidos para
Neemias (Ne 7-13) morar lá e dá uma lista da população expan­
Depois da reconstrução dos muros da ci­ dida da cidade. A lista de sacerdotes (12.1-
dade, esta ultima unidade de Neemias relata 26) ressalta a continuidade com o passado,
em detalhes as reformas sociais e religiosas que era vital para o bem-estar psicológico do
realizadas por Esdras e Neemias. E possível, povo. Neemias 12.27-47 é o clímax da car­
de fato, vê-la como a segunda e última seção reira de Neemias. Com grande júbilo e cele­
de um volume com duas partes. A parte 1 bração, o povo consagra os muros restaura­
narra os três grandes retornos liderados por dos de Jerusalém. Essa grande consagração
Zorobabel, Esdras e Neemias (Ed e Ne 1-6). (h â n u k k â , 12.27) é paralela à consagração
A parte 2 relata a renovação e transformação do templo em Esdras 6.17. Neemias 13 en­
da congregação.8 cerra com outras reformas sociais e religiosas
Quase cem anos depois do primeiro grupo lideradas por Neemias.
que chegou com Zorobabel, a população de
Jerusalém ainda era pequena (Ne 7.4). Para Problem as de interpretação
encorajá-los, Neemias sentiu-se inspirado a Os livros de Esdras e Neemias levantam
registrar o povo em genealogias (7.5). Ape­ diversas questões que já foram respondidas
sar da leitura do capítulo 7 parecer tediosa de várias maneiras ao longo dos anos. Destas,
nos dias de hoje, essas listas foram uma im­ a autoria e cronologia são as mais prementes.
portante fonte de consolo naqueles dias. Elas
ampliavam a relação anterior feita por Esdras Autoria
(Ed 2) e demonstravam uma continuidade Durante muitos anos, o consenso entre es­
com o passado. Quando tudo parecia perdi­ tudiosos era que o mesmo autor havia sido res­
do e sem esperanças, esses detalhes prova­ ponsável pela elaboração de Crônicas e Esdras-
ram que as bênçãos de Deus se estendiam Neemias, e que esse único autor provavelmen­
ao longo dos séculos. te era o próprio Esdras. Mas como já dissemos,
Com a ajuda de Deus, o povo havia re­ esse consenso ruiu (capítulo 10, e especial­
construído o templo e os muros de Jerusa­ mente capítulo 17, nota 3). Durante as últi­
lém. Os líderes políticos e espirituais (Esdras mas décadas, os estudiosos encontraram evi­
e Neemias) reconheciam que era chegada a dências impressionantes em favor de autores
hora de renovar a aliança. A unidade que separados para Crônicas e Esdras-Neemias.9
compreende Neemias 8-10 registra o minis­ Ao contrário de muitas narrativas do A n­
tério da palavra de Esdras e dá detalhes de tigo Testamento, esses livros usam com fre­
uma das mais vividas cerimônias da Bíblia. qüência a primeira pessoa, permitindo um vis­
Em uma dramática leitura bíblica da Lei de lumbre do material original. O uso de primei­
270
Esdras, Neemias e Ester

ra pessoa começando, por exemplo, em Esdras 445 A jornada de Neemias para


7.28, toma pouco provável que qualquer ou­ Jerusalém
tra pessoa que não Esdras tenha escrito Esdras
7-10. O mesmo pode ser dito das grandes se­ Mas por diversos motivos complexos, mui­
ções de Neemias e suas chamadas memórias. tos estudiosos mudaram a ordem das viagens
Como resultado, é possível que esses livros te­ de Esdras e Neemias para Jerusalém. A data
nham se desenvolvido em três estágios. Pri­ para o retorno de Esdras é dada como o séti­
meiro, historiadores anônimos compilaram di­ mo ano de Artaxerxes em Esdras 7.7,8. Su­
versas fontes primárias aproximadamente con­ pondo que se trata aqui de Artaxerxes I, essa
temporâneas aos acontecimentos que relatam. data é fixada em 458 a.C. e a seqüência apre­
Em segundo lugar, memórias escritas por Esdras sentada nos livros de Esdras e Neemias está
e Neemias foram compiladas em torno de 400 correta. Mas se a data refere-se a Artaxerxes
a.C. Este é o material que constitui as partes II, a volta de Esdras teria sido em 398 a.C.
narradas em primeira pessoa. Por fim, por vol­ Estudiosos que discutem sobre essa inver­
ta de 300 a.C., um editor compôs Esdras 1-6 e são na seqüência argumentam que isto expli­
acrescentou esses capítulos como introdução caria por que N eem ias nunca m enciona
à composição como um todo.10 Esdras em suas memórias (Ne 1-7 e a maior
parte de 12,13). Eles acreditam que o minis­
Cronologia tério de Esdras não teria começado até várias
A segunda dificuldade encontrada em décadas mais tarde. Porém, isolar as memóri­
Parte do muro Esdras-Neemias é a seqüência dos aconteci­ as de Neemias do resto do livro é uma ques­
do Oriente, mentos descritos. De acordo com evidências tão subjetiva, e o fato de Neemias não menci­
Jerusalém. internas dos livros, a cronologia parece bas­ onar Esdras pelo nome em seus relatos em pri­
Alguns dos tante direta. meira pessoa é um argumento tirado do silên­
trechos mais cio. As datas alternativas para o retorno de
antigos de
538 Decreto de Ciro Esdras levantam mais questões que oferecem
construção
datam do 520 Trabalho no templo é recomeçado respostas. A evidência bíblica em favor da se­
tempo de 515 Término do templo qüência tradicional de acontecimentos é im­
Zorobabel. 458 Esdras retorna para Jerusalém pressionante e as dificuldades que ela apre-
Descobrindo os Livros Históricos

m senta nao sao insuperáveis. É muito melhor O livro de Ester mostra como o povo de Deus
monoteísmo , . ^ r i
aceitar a cronologia tradicional contorme ela deve reagir diante de uma sociedade pluralista
é apresentada nos próprios livros.11 e multi-religiosa. Mesmo nas piores circunstân­
cias, Deus está procurando pessoas que confi­
em nele e somente nele. O livro conta a histó­
0 livro de Ester ria de uma linda mulher e seu tio que arrisca­
ram a vida para salvar os judeus da destrui­
Os Livros Históricos do Antigo Testament ção. E uma história cheia de perigo, intriga e
to encerram-se com um drama romântico, suspcnse. O livro também explica as origens
escrito na forma de conto, mas com todas as históricas da festa de Purim (ver adiante).
características de um romance completo. Os
acontecimentos descritos no livro de Ester têm Esboço
início em 483 a.C. (1.3), o que significa que
I. A recusa de Vasti (1.1-22)
esses fatos ocorreram entre o retorno de Zoro­
babel (538 a.C.) e o segundo retorno com II. A ascensão de Ester (2.1-18)
Esdras (458 a.C.). A história se passa em Susã
e suas cercanias, na capital do Império Persa III. O serviço de Mordecai (2.19-23)
(ver mapa).
Em nenhum momento, o autor se refere a
IV. A trama de Hamã (3.1-15)
Deus nesse livro e também não menciona
V. O pedido de Mordecai (4.1-17)
Abraão, a aliança, oração ou o reinado de
Davi. O livro de Ester não é citado no Novo VI. O pedido de Ester (5.1-14)
Testamento e é o único livro do Antigo Testa­
mento que não está representado nos papiros VII. A recompensa de Mordecai
do Mar Morto. Ao longo dos anos, muitos têm (6.1-14)
dispensado o livro como sendo completamen­
te secular, perguntando-se como ele foi inclu­
VIII. O castigo de Hamã (7.1-10)
ído no Cânon. Entretanto, o poder da mensa­ IX. O edito do rei (8.1-17)
gem desse livro está, em parte, em sua sutile­
za. Aliás, o autor parece atrair o leitor para X. O triunfo dos judeus (9.1-10.3)
uma teia de sutilezas irônicas e entre tecidas
demais para ser verdadeira. Um poder maior Visão geral
estava em ação naquelas circunstâncias e, no O autor estruturou o livro de Ester em um
contexto, torna-se claro que Deus é o perso­ formato problema-solução. Depois de dois
nagem principal da obra. O autor quer de­ capítulos introdutórios que dão o pano de fun­
monstrar que, mesmo quando a presença de do histórico necessário, o problema — a tra­
Deus não é aparente, ele está trabalhando ma perversa de Hamã — é introduzido no
em favor do seu povo. capítulo 3. O resto do livro apresenta a solu­
ção de maneira gradual.
Conteúdo
Conforme vimos na discussão de Esdras e Ester torna-se rainha (capítulos 1,2)
Neemias, a questão da distinção dos judeus e Os dois primeiros capítulos de abertura apre­
sua adoração exclusiva de Iavé era crítica para sentam aos leitores os personagens principais:
o povo de Deus em Jerusalém durante o go­ Ester e Mordecai, e explicam como eles che­
verno do Império Persa. Aqueles judeus que garam a uma situação na qual ocupavam po­
ainda viviam no exílio, como Ester c Morde - sições tão elevadas no Império Persa. Quando
cai, lutavam com as mesmas questões. A ado­ a rainha Vasti recusou-se a atender a um pe­
ração de Iavé jamais poderia ser simplesmen­ dido estranho e fútil do rei Assuero (Xerxes I,
te uma religião entre muitas, como os persas 486-465 a.C.) ele imediatamente a depôs (ca­
insistiam em afirmar. O monoteísmo exclu­ pítulo 1). A fim de encontrar uma substituta
sivo não era compatível com o pluralismo adequada para a rainha, os representantes do
persa. Para os persas, que valorizavam a inclu­ rei procuraram por todo o reino pelas virgens
são, os judeus pareciam irracionalmente into­ mais bonitas dentre as quais o rei escolheria a
lerantes, o que levava a hostilidades. nova rainha (2.1-4).
272
Esdras, Neemias e Ester

mpressão
artística de um
grifo baseada
no relevo de um
bloco vitrificado
em Susã, capital
do Império
Persa.

Dentre essas jovens, uma destacava-se do ambições pessoais. A o lançar o purim, ou sor­
resto. Ester era a sobrinha de Mordecai, o tear, eles determinaram que todos os judeus
judeu (os pais de Ester haviam morrido, Et fossem aniquilados no décimo-terceiro dia do
2.7). Todos no palácio que conheciam a bela mês Adar (3.7,13). Como decreto persa ofici­
Ester gostavam dela. O rei amou Ester mais al, a ordem era irrevogável (1.19; 8.8; ver tam­
que todas as outras candidatas e fez dela sua bém Dt 6.8,12,15).
nova rainha (2.17). Todo esse tempo, seguin­
Mordecai e Ester entram em ação para
do as instruções de Mordecai, Ester resolveu
não revelar sua identidade judia, a fim de salvar os judeus (capítulos 4-10)
não levantar suspeitas de deslealdade ao Apenas uma esperança restava para salvar
império. Esse último fato encontra-se no ca­ o povo judeu. Apenas Ester poderia usar sua
pítulo 2.10 e novamente em 2.20, para criar influência pessoal junto ao rei para impedir
suspense e drama. que aquela tragédia se tornasse realidade.
No final da introdução, o autor inclui um Mordecai pediu a Ester que revelasse sua iden­
pouco mais de pano de fundo que vai ser im­ tidade judia e intercedesse pela vida de seu
portante mais tarde. Mordecai ficou sabendo povo (capítulo 4) • Mas ninguém podia se apro­
secretamente de uma conspiração para assas­ ximar do rei sem ser chamado, sob o risco de
sinar o rei Assuero (2.21-23). Ele contou a execução (4.11). Finalmente, Ester foi con­
Ester, que advertiu o rei e impediu o golpe de vencida a arriscar sua vida para salvar a dc
acontecer. Os conspiradores foram mortos e o seu povo por meio da pergunta penetrante de
ato de Mordecai foi registrado nos documen­ Mordecai e que é o tema do livro: “... e quem
tos oficiais persas. sabe se para conjuntura como esta é que foste
elevada a rainha.7” (4.14). O favor de Deus
A trama perversa de Hamã para não é concedido para ser desperdiçado em
destruir os judeus (capítulo 3) egoísmo. Alcançar o propósito de Deus para
Algum tempo depois, a devoção de Mor­ nossa existência é mais importante que nosso
decai como judeu causou problemas. O s ofi­ bem-estar pessoal. Ester concordou em arris­
ciais do palácio do primeiro ministro, Hamã, car sua vida na tentativa de interceder. Mas
observaram que Mordecai recusava-se a pros­ antes, ela instruiu todos os judeus de Susã a
trar-se diante de Hamã, como todos os ofi­ jejuar durante três dias. Sua decisão ecoou
ciais reais tinham que fazer. Mordecai recu- nas palavras: “se perecer, pereci” (4.16). Três
sava-se a realizar qualquer tipo de adoração dias depois, Ester foi até o rei Assuero que,
humana e adorava apenas a Deus. Irado, felizmente, a recebeu sem hesitar. Seu pedi­
Hamã convenceu o rei a escrever um edito do, entretanto, foi surpreendente — ela o
oficial persa ordenando a morte de todos os convidou, com Hamã, para um jantar parti­
judeus, que eram um obstáculo para suas cular naquela noite. Durante o jantar, ela
273
Descobrindo os Livros Históricos

Sumário

1. Os livros de Esdras, Neemias e Ester 6. Esdras e Neemias lideraram o povo


têm uma origem comum no período em uma renovação da aliança.
persa da história dos judeus.
7. O autor de Esdras e Neemias foi sin­
2. O rei Ciro da Pérsia capturou a Babilô­ gular no sentido de que ele usou a
nia e lançou um decreto que libertava primeira pessoa em seus relatos.
os judeus.
8. O livro de Ester é um romance escrito
3. Os judeus tiveram a oportunidade de na forma de conto.
reconstruir o templo em Jerusalém,
9. A festa judaica de Purim teve sua ori­
mas por causa de diversos problemas,
gem na forma de como Deus salvou
ele só foi terminado em 516 a.C.
os judeus.
4. Esdras era um importante escriba na
comunidade de judeus que voltaram
da Babilônia.
5. Neemias preocupava-se porque os
muros da cidade de Jerusalém estavam
em ruínas e ele foi a pessoa capaz de
motivar o povo a reconstrui-los.

pediu que eles se encontrassem novamente raiva, ele ordenou a construção de uma forca
na noite seguinte. A alegria de Hamã por ser de vinte e cinco metros do lado de fora da sua
incluído nesses jantares particulares com o casa, onde ele pretendia executar Mordecai
casal real logo se transformou em fúria quan­ (5.14).
do ele viu que Mordecai, mais uma vez, recu­ De uma forma que só pode ser explicada
sava prostrar-se diante dele (5.9). Cheio de por meio da soberana providência de Deus,
naquela noite, o rei não conseguiu dormir
(6.1). Ele pediu que lessem para ele o livro dos
feitos memoráveis. Mediante essa leitura, ele
foi lembrado de que Mordecai havia salvo sua
vida em certa ocasião. Quando soube que
Mordecai não havia sido recompensado, cha­
mou Hamã, que havia acabado de chegar.
Sem lhe dizer o que tinha em mente, o rei
perguntou a Hamã quais as recompensas es­
peciais que deveriam ser dadas a um homem
que ele quisesse honrar. Hamã, que não con­
seguia pensar em ninguém que merecesse
essas recompensas mais que ele, pensou que o
rei estava querendo honrá-lo. Ele sugeriu aqui­
lo que considerava ser uma recompensa ra­
zoável. O rei deveria dar àquele homem um
274
Esdras, Neemias e Ester

manto real, um cavalo e um príncipe nobre rei também fez de Mordecai o sucessor de
para marchar diante dele pela cidade claman­ Hamã (8.1,2).
do: “Assim se faz ao homem a quem o rei Mas a questão do decreto de Hamã ainda
deseja honrar” (6.7-9). O rei Assuero aceitou era um problema. Ele não podia ser revogado,
a sugestão. Mordecai recebeu a recompensa porém o rei permitiu que Mordecai emitisse
e, ironicamente, Hamã foi o nobre príncipe a um outro decreto para neutralizar seus efei­
escoltá-lo pela cidade (6.11). tos. O segundo decreto dizia que os judeus de
Depois de uma experiência tão humilhan­ todas as cidades do Império Persa poderiam se
te, Hamã talvez esperasse que alguma coisa defender de qualquer ataque no décimo ter­
boa resultaria do jantar com o rei e a rainha ceiro dia de Adar (8.3-17). No dia fatídico, os
naquela noite. Mas no jantar, Ester revelou as judeus se defenderam dc seus inimigos com
intenções perversas de Hamã e implorou por sucesso (9.1-19). O dia seguinte, dia quator­
misericórdia para o seu povo (7.3-6). Choca­ ze, tornou-se um grande dia de celebração,
do com o comportamento de Hamã, o rei or­ exceto em Susã, onde ocorreram mais bata­
denou que ele fosse enforcado na mesma for­ lhas. Os judeus de Susã celebraram sua vitó­
ca que havia construído para M ordecai ria no décimo quinto dia de Adar (9.20-28).
(7.9,10). Mas ainda há mais ironia. O rei deu O feriado foi chamado de purim por causa de
as propriedades de Hamã para Mordecai. O pur ou sorteio que Hamã fez para determinar

Questões para estudo

Esdras-Neem ias 9. Quais os problemas sociais encontra­


1. Qual o período de tempo coberto pe­ dos entre os israelitas dessa época?
los livros de Esdras, Neemias e Ester? 10. Discuta os problemas de autoria e
2. Discuta algumas diferenças importan­ cronologia ligados a Esdras e Nee­
tes entre esses três livros. De que ma­ mias.
neira essas diferenças fazem com que 11. Quais são alguns temas teológicos de
os livros complementem-se entre si? Esdras e Neemias?
3. Por que Esdras e Neemias são muitas
vezes estudados como um trabalho Ester
contínuo? 1. Qual é a característica singular do li­
4. Qual foi o papel de Esdras no retorno vro de Ester?
dos exilados? 2. Qual é o tema do livro?
5. Qual é a pergunta preocupante en­ 3. Discuta as sutilidades desse livro e a
frentada por pessoas nesta época? maneira como elas afetam a história
6. Discuta o conceito de exclusividade no que está sendo contada.
laveísmo israelita. 4. Quem é o personagem principal de
7. Por que no livro de Esdras os casa­ Ester?
mentos mistos são considerados uma 5. O que o livro de Ester nos ensina so­
ameaça para o povo de Deus? bre a vida em uma sociedade
8. Com que acontecimentos o livro de pluralista e de múltiplas religiões?
Neemias se preocupa?

275
Descobrindo os Livros Históricos

Leituras complementares

Baldwin, Joyce G. Esther: An Introduction and Com­ McConville, J. Gordon. Ezra, Neemiah, and Esther. Daily
mentary. Tyndale Old Testament Commentary. Study Bible. Filadélfia: Westminster, 1985.
Downers Grove: InterVarsity, 1984. Baldwin é sem­ Moore, Carey A. Esther: Introduction, Translation, and
pre uma leitura útil. Notes. Anchor Bible 7B. Garden City, NY.: Double-
Clines, David J. A. Esdras, Neemias, Ester. New Century day, 1971 .Comentário excelente, porém crítico,
Bible Commentary. Grand Rapids/Londres: Eerd- Williamson, H. G. M. Ezra, Nehemiah. Word Biblical
mans/Marshall, Morgan & Scott, 1984. Escrito com Commentary 16. Waco, Tex.: Word, 1985. Esclareci­
cuidado, contém muitos insights de ajuda. do e original, este é, sem dúvida, o melhor comentá­
Fensham, F. Charles. The Books o f Ezra and Neemiah. rio disponível.
New International Commentary on the Old Testa­ _ . Ezra and Nehemiah. Old Testament Guides.
ment. Grand Rapids: Eerdmans, 1982. De ajuda e Sheffield: JSOT, 1987.
completamente evangélico.
Howard, David M., Jr. An Introduction to the Old Testa­
ment Historical Books. Chicago: Moody, 1993.
Kidner, Derek. Ezra and Neemiah: An Introduction and
Commentary. Tyndale Old Testament Commentary.
Downers Grove: InterVarsity, 1979.

o dia que el£ iria propor para o extermínio dos cutir o que aconteceu durante as décadas de
judeus. Esses dois dias do mês de Adar torna" intervalo (Ed 6,7). O tema geral que amarra
ram-se lembrança permanente de como suas todos esses acontecimentos históricos juntos é
tristezas foram transformadas em alegria e a suposição do autor de que eles são “passos
seu pranto em celebração (9.22). O livro en- divinamente relacionados que podem ser con­
cerra-se com uma nota curta sobre os suces­ siderados apropriadamente como a história da
sos do rei Assuero e o seu braço direito, Mor­ salvação”.12 A intervenção direta de Deus é
decai (10.1-3). menos visível aqui do que no êxodo e nas
narrativas das conquistas que são comumen-
te chamadas de histórias da salvação. Esdras
e Neemias são obviamente devedores daque­
Temas teológicos la ênfase anterior à “Lei do Senhor” ou “Lei
de Moisés” (Ed 7.10; Ne 8.1, etc.). O autor
Esdras e Neemias também faz referência a outras partes das Es­
Os livros de Esdras e Neemias partem do crituras sagradas como Jeremias (Ed 1.1) e
pressuposto de que muitos elementos da anti­ Salmos (Ed 3.11). O Antigo Testamento dava
ga fé israelita são verdadeiros. Eles constroem especial significado à Palavra de Deus desde
sobre os grandes princípios da teologia do o princípio. Mas com Esdras e Neemias, as
Antigo Testamento instituídos em livros an­ Escrituras são elevadas a um novo nível de
teriores. Como outros autores antes dele, este autoridade e poder. Esse papel dominante das
dá lugar de destaque para a história antiga da Escrituras continua tanto no Judaísmo quan­
religião israelita. O autor agrupa literariamente to no Cristianismo.
histórias sobre a oposição em Esdras 4, apesar
desses eventos terem ocorrido com uma dife­ Ester
rença de cinco décadas. Ou move-se com Alguns podem sugerir que é inútil falar
facilidade da construção do templo (516 a.C.) das idéias teológicas do livro de Ester, tendo
para a chegada de Esdras (458 a.C.), sem dis­ em vista que Deus nem é mencionado. Mas a
276
Esdras, Neemias e Ester

história contém uma série admirável de “co­ do povo de Deus. Os reis persas e oficiais reais
incidências” . Ester por acaso foi escolhida também movem-se e agem sob a mão do gran-
como sucessora de Vasti; Mordecai por acaso de e Soberano Senhor. Apesar de Deus não
descobriu a conspiração para assassinar o rei; ser mencionado, ele é o personagem princi­
Assuero por acaso teve insônia na noite em pal do livro, mais até que Ester ou Mordecai.
que Hamã planejava matar Mordecai; naque­ E isto que faz o livro de Ester extremamente
la noite, as crônicas reais por acaso continham relevante para os nossos dias, pois Deus ain­
o registro da boa ação de Mordecai. Essas “co­ da é o soberano que trabalha para salvar o
incidências” não estão limitadas ao universo seu povo.

277
Parte

3
Descobrindo
os Livros Poéticos
Introdução
aos Livros Poéticos
A literatura do povo de Deus

Esb oco
• O que são os Livros Poéticos?
• C aracterísticas com uns da
poesia hebraica
Métrica
Paralelismo
Quiasmo
Acrósticos
• Paralelos ugaríticos O bjetivos
• Os Livros Poéticos
Depois de ler este capítulo, você
deve ser capaz de:
• Citar o nome dos Livros Poéticos do Antigo
Testamento.
• Ilustrar as quatro características comuns da
poesia hebraica.
• Definir os tipos de paralelismo.
• Dar um exemplo de quiasmo.
• Explicar de que maneira um acróstico é
usado como recurso literário na poesia.
• Explicar de que maneira a descoberta da
língua ugarítica aumentou nossa compreen­
são da poesia hebraica.
• Citar as contribuições básicas de cada Livro
Poético.

281
Descobrindo os Livros Poéticos

mmêMmmmÊMÊmfflÊMmÈmÊÊÊÊÊÊmmMÊm
“ONde CANta o sabiÁ”, “as Aves que aQUI
metnca
0 que são os Livros gorJEIam”. A segunda e a quarta linhas tam­
bém têm as últimas palavras que rimam
rima Poéticos? (“sabiá” e “lá”).
A poesia hebraica baseia-se muito mais na
Quando usamos a expressão Livros Poéti­
paralelismo métrica do que na rima, apesar desta última
cos estamos nos referindo aos livros de Jó, Sal­
ocorrer algumas vezes. Alguns comentaristas
mos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos
sugerem que os escritores da antigüidade usa­
paralelismo Cânticos. A poesia também aparece em mui­
vam padrões métricos para expressar certos
sinônimo tos outros livros do Antigo Testamento, mas
estados de espírito ou idéias.2 Esses estudiosos
esses cinco livros contêm longos trechos poé­
não concordam entre si completamente, mas
paralelismo ticos. Além disso, em cada um dos Livros Po­
todos aceitam que a poesia hebraica usava
antitético éticos, com exceção de Eclesiastes, a poesia
uma variedade de estilos métricos.
oferece a forma literária predominante. Mes­
mo assim, Eclesiastes foi associado aos Livros Paralelism o
paralelismo
Poéticos desde tempos muito antigos, prova­
sintético O paralelismo é a característica mais im­
velmente por sua afinidade com a literatura
portante da poesia hebraica.3 Quando usa­
hebraica de sabedoria.
mos esse termo, queremos dizer que há pelo
Este capítulo ressalta algumas das caracte­
rísticas básicas da poesia hebraica e também a menos duas linhas paralelas por verso, ou seja,
compara com a de seus vizinhos do antigo cada uma complementa a(s) outra (s) de al­
Oriente Próximo. Ao fazê-lo, poderemos es­ guma forma. Tipicamente, as linhas apre­
clarecer a contribuição especial dos Livros sentam paralelismo nas idéias e não na rima
Poéticos para a Bíblia e para a fé cristã. ou som. Três tipos básicos de paralelismo ocor­
rem na poesia hebraica: paralelismo sinô­
nimo, paralelismo antitético e paralelis­
wmmmmÊÊmÊÊmÊSÊKÊmÊÊÊmtgmsmÊmmÊÊKgmKBÊammÊÊÊÊm
mo sintético.
Características
Paralelismo sinônimo
comuns da poesia O paralelismo sinônimo envolve a repeti­
hebraica ção do mesmo pensamento ou pensamento
similar. As duas partes refletem basicamente
Estudiosos do hebraico discordam sobre o a mesma idéia. Tomemos, por exemplo, o Sal­
que exatamente constitui a poesia hebraica.1 mo 19.1:
De qualquer forma, eles concordam que ela
apresenta tipicamente certas características. Os céus proclamam a glória de Deus, e o
As mais comuns serão discutidas abaixo. firmamento anuncia as obras das suas mãos.

As duas linhas repetem o mesmo pensa­


Métrica
mento básico; “céus” e “firmamento” são pa­
Na maior parte da poesia moderna, métri­ ralelos, assim como são “proclamam” e “anun­
ca e rima têm papéis importantes. Cada li­ cia”. “As obras de suas mãos” é paralelo de “a
nha segue uma certa métrica ou padrão de glória de Deus”. Um outro exemplo conheci­
sílabas tônicas e as últimas palavras muitas vezes do é o de Provérbios 9.10:
rimam. Tome como exemplo a seguinte poe­
sia infantil: O temor do Senhor é o princípio da
sabedoria,
Minha terra tem palmeiras e o conhecimento do Santo é prudência.
Onde canta o sabiá
As aves que aqui gorjeiam Para mais exemplos, veja Provérbios 16.18,
Não gorjeiam como lá 28; 18.6,7.
O paralelism o sinônimo pode ocorrer
Observe a métrica e a rima do verso. A quando é usada uma questão. Observe no
primeira e a quarta linhas têm quatro sílabas Salmo 15.1:
tônicas — “Minha TERra TEM palMEIras”,
“N ÃO gorJEIam COmo LÁ ”. A segunda e a Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo?
quarta linhas têm três sílabas tônicas — Quem há de morar no teu santo monte?
282
Introdução aos Livros Poéticos

Os salmos,
algumas vezes,
eram
acompanhados
de instrumentos
musicais como
estes.

Mais uma vez, uma linha complementa a Pois o Senhor conhece o caminho dos jus­
outra, refletindo a mesma idéia. Cada uma tos, mas o caminho dos ímpios perecerá.
apresenta uma pergunta e “tabernáculo” é
paralelo de “santo monte”, o lugar do santuá- O salmista contrasta o cuidado providen­
rio de Deus. cial do Senhor para com seu povo com a des­
Algumas vezes, no paralelismo sinônimo, a truição que os ímpios um dia experimentarão.
segunda linha não será totalmente paralela Os elementos paralelos, da mesma forma, são
em relação à primeira. O Salmo 24.1 é um contrastantes entre si. “Caminho dos justos”
bom exemplo: contrasta com “caminho dos ímpios” e “co­
nhece” contrasta com “perecerá”.
Ao Senhor pertence a terra O livro de Provérbios também oferece
e tudo o que nela se contém, muitos bons exemplos de paralelismo antitéti­
o mundo e os que nele habitam. co. Note como, em alguns dos exemplos abai­
xo, a primeira e a segunda linhas expressam
A expressão “ ao Senhor” não aparece na idéias opostas:
segunda linha, mas o leitor compreende cla­
ramente o pensamento da linha anterior. Pro­ Os tesouros da impiedade de nada aprovei­
vérbios 19.29 nos dá um outro exemplo: tam, mas a justiça livra da morte. (10.2)

Preparados estão os juízos para os escar- O que trabalha com mão remissa empobre­
necedores e os açoites, para as costas dos ce, mas a mão dos diligentes vem a enrique­
insensatos. cer-se. (10.4)

Nesse verso, a idéia do verbo “preparados” A memória do justo é abençoada, mas o


sc mantém na primeira e na segunda linha. nome dos perversos cai em podridão. (10.7)

Paralelismo antitético Paralelismo sintético


O paralelismo antitético é fácil de ser reco­ No paralelismo sintético, a segunda linha
nhecido. As duas linhas apresentam um con­ normalmente completa uma idéia que a pri­
traste claro entre si; normalmente, a conjun­ meira linha deixou em aberto. As duas li­
ção “mas” nos dá a dica. O Salmo 1.6 é um nhas estão relacionadas uma com a outra,
bom exemplo: mas a relação não é tão claramente definida
283
Descobrindo os Livros Poéticos

Um relevo
assírio
mostrando
músicos cativos.

quanto no paralelismo sinônimo e no parale- Quer chamemos ou não essas ocorrências


quiasm o
lismo antitético. de paralelismo, os Livros Poéticos estão repletos
Alguns intérpretes questionam se o para­ de versos desse tipo em que a segunda linha
lelismo sintético é, de fato, um tipo de parale­ completa o pensamento iniciado na primeira.
lismo. Eles sugerem que o termo simplesmen­
te oferece uma categoria muito ampla para os Quiasm o
versos que não se encaixam nos outros dois O quiasmo é uma outra características li­
tipos de paralelismo. Enquanto você conside­ terária encontrada na poesia hebraica.4 A
ra essa questão, observe os seguintes exem­ palavra “quiasmo” vem da letra grega “chi”
plos: que é escrita como a letra “X ”. Ele ocorre
quando duas linhas sucessivas de poesia re­
Salmo 1.3 Ele é como árvore plantada vertem a ordem em que o tema do paralelis­
junto a corrente de águas, mo aparece, cruzando-se como que em “X”.
que, no devido tempo, Considere o exemplo abaixo:
dá o seu fruto
e cuja folhagem O Senhor, perdoa-me;
não murcha. apaga o meu pecado, O Deus da minha
Salmo 2.6 Eu, porém, constituí o salvação.
meu Rei
sobre o meu santo Aqui, temos um exemplo de paralelismo
monte Sião. sinônimo. Os elementos em negrito são para­
Eclesiastes 11.1 Lança o teu pão sobre lelos entre si, bem como os que estão em itáli­
as águas, co. Mas observe como as duas partes estão
porque depois de muitos invertidas na segunda linha. “O Senhor” (par­
dias o acharás. te A) é paralela a “O Deus da minha salva­
ção” na segunda linha, enquanto “perdoa-
No Salmo 1.3, a segunda linha completa o me” (parte B) é paralelo a “apaga o meu pe­
pensamento da linha 1 ao descrever um pou­ cado”. Chamamos esses casos de estrutura A-
co mais a árvore próxima à água. A segunda B-B-A, pois as partes A e B inverteram sua
linha do Salmo 2.6 acrescenta à idéia da pri­ ordem na segunda linha. Outros arranjos mais
meira linha ao explicar onde Deus estabele­ complexos também podem ocorrer, como A-
ceu o seu reino — em Sião. A segunda linha B-C-C-B-A.
de Eclesiastes 11.1 dá o motivo para a ordem Algumas vezes, passagens mais longas têm
da primeira linha. uma estrutura quiástica. O Salmo 8 é um
284
Introdução aos Livros Poéticos

mem. O versículo 4 descreve a pequenez da


A e stru tu ra q u iástica do Salm o 81 humanidade contrastando com a grandeza
da humanidade no versículo 5. Assim, o sah
A A EXCELÊNCIA DO NOME DE DEUS: (1 a) Ó Senhor, Senhor
mo contém uma estrutura A-B-C-C-B-A.
nosso, quão m agnífico em toda a terra é o teu nome! Ele contrasta o domínio de Deus e o da hu-
manidade, a pequenez e a grandeza da hu­
B O DOMÍNIO DE DEUS: (1b) Pois expuseste nos céus a tua
manidade e encerra todos esses pensamen­
majestade. (2) Da boca dos pequeninos e crianças de
peito suscitaste força, por causa dos teus adversários, tos com um louvor a Deus — “O Senhor,
para fazeres emudecer o inimigo e o vingador. (3) Senhor nosso, quão magnífico em toda a ter­
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e ra é o teu nom e!”.5
a lua e as estrelas que estabeleceste,

C PEQUENEZ DA HUMANIDADE: (4) que é o homem,


A crósticos
que dele te lembres? E o filho do homem, que o Acrósticos são poemas alfabéticos. Ima­
visites?
gine que você escreveu um hino de vinte e
C GRANDEZA DA HUMANIDADE: (5) Fizeste-o, no três linhas em louvor a Deus. Em um acrósti-
entanto, por um pouco, menor que Deus e de glória co, a primeira linha começaria com a letra
e de honra o coroaste. “A ” . A segunda linha começaria com a letra
B' O DOMÍNIO DA HUMANIDADE: (6) Deste-lhe domínio
“B”, a terceira com “C ”, a quarta com “D ” e
sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe assim por diante por todo o alfabeto. Imagine
puseste: (7) ovelhas e bois, todos, e tam bém os anim ais tentar ficar no mesmo assunto e fazer com
do campo; (8) as aves do céu, e os peixes do mar, e
que tudo se encaixe! (Talvez você queira ten­
tudo o que percorre as sendas dos mares.
tar, se você tiver tempo.) Essa técnica funcio­
A' A EXCELÊNCIA DO NOME DE DEUS: (9) Ó Senhor, Senhor nava da mesma forma no hebraico da Bíblia,
nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome! exceto que o alfabeto hebraico tinha vinte e
duas letras ao invés de vinte e três.
1Adaptado de Robert L. Alden. Psalms: S o n g s o f D evotion,
Chicago: Moody, 1974,24. Os Livros Poéticos têm vários acrósticos. O
Salmo 119 é provavelmente um dos exemplos
mais conhecidos. Os oito primeiros versos co­
meçam com aleph, a primeira letra do alfabe­
exemplo. Os versículos 1 e 9 descrevem a to hebraico. Os versos 9-16 começam com beth,
acrostico
majestade de Deus. Os versículos 2 e 3 des­ a segunda letra e assim por diante durante
crevem o domínio de Deus, enquanto os ver­ todo o salmo. E cada verso dá ênfase a algo
sículos 6 a 8 descrevem o domínio do ho­ especial sobre a Palavra de Deus! Provérbios

Trecho do Ciclo de Baal

O seguinte trecho de um épico de Baai de suas cabeças até os joelhos em seus tronos de
Ugarite o ajudará a entender Baal e o seu poder príncipes? Vejo que os deuses estão intimidados
em meio ao panteão cananita: de terror dos mensageiros de Yamm, dos envia­
dos do Juiz Nahar. Levantem suas cabeças, Ó deu­
"Agora os deuses estão assentados para co­ ses, levantem-nas de seus joelhos, de seus tronos
mer, os santos para se alimentar, Baal atentando de príncipes, e eu responderei aos mensageiros
para El. Assim que os deus os vêem, vêem os de Yamm, aos enviados do Juiz Nahar!"
mensageiros de Yamm, os enviados do Juiz
Nahar, os deuses colocam suas cabeças sobre os Tradução adaptada de James B. Pritchard, org. Ancient Near
Bastem Texts to the Old Testament, 3- edição, Princeton NJ: Prince-
joelhos em seus tronos de príncipes. Baal os re­ ton Urriversity Press, 1969, 130.
preende: "Por que, Ó deuses, vocês abaixaram

285
Descobrindo os Livros Poéticos

Ml— ÜMI1ÜÉ— » — fflPWM— i

Acróstico Paralelos ugaríticos


Ugarítico
Acádio O termo “ugarítico” denota a linguagem
Cuneiforme falada no antigo UGARITE (atualmente, RAS
Politeísta SHAMRA) na costa do Mediterrâneo onde está
Baal localizada a Síria moderna. Arqueólogos co-
Termos-chave Astarote meçaram a escavar Ugarite em 1929 e o local
Métrica mostrou-se extremamente valioso para o es­
Rima tudo da Bíblia e do mundo antigo onde ela se
Paralelismo sinônimo originou.6
O ugarítico era especialmente usado na
Paralelismo antitético Lugar-chave Síria entre 1500 e 1200 a.C. Arqueólogos des­
Paralelismo sintético
Quiasmo Ras Shamra/Ugarite cobriram muitos textos na linguagem acádia,
mas outros textos em escrita cuneiforme apa­
reciam ao lado deles. Os estudiosos logo per­
ceberam que a língua era alfabética e contin­
31.10-31, um poema que descreve a mulher ha trinta e sete sinais, em contraste com as
ugarítico
virtuosa, também usa o estilo acróstico. centenas de sinais do acádio. Eles deram à
O acróstico é um dos muitos estilos cria­ língua o nome de ugarítico.
acádio tivos que os autores usaram para escrever a O ugarítico é muito semelhante ao he­
Palavra de Deus. O Espírito Santo inspirou braico da Bíblia, apesar de usar uma escrita
cuneiforme os escritores a se expressarem de formas que diferente. Centenas de palavras aparecem
desafiariam a nossa criatividade nos dias de em ambas as línguas tendo basicamente o
boje. mesmo sentido. Isso nos ajuda a entender

Sumário

1. Os Livros Poéticos são Jó, Salmos, Pro­ 7. O ugarítico contribui para uma me­
vérbios, Eclesiastes e Cântico dos lhor compreensão de textos hebrai­
Cânticos. cos, pois ele dá clareza a palavras ra­
ras do hebraico, usa o mesmo estilo
2. Métrica, paralelismo, quiasmo e acrós-
de paralelismo e oferece informações
tico têm seu papel na poesia hebraica.
relevantes sobre o politeísmo no tem­
3. A poesia hebraica tem três tipos de pa­ po da antiga Israel.
ralelismo — paralelismo sinônimo, para­
8. Jó é importante pois fala de pessoas
lelismo antitético e paralelismo sintético.
boas que algumas vezes sofrem.
4. Quiasmo é um recurso literário em
9. O livro de Salmos nos dá muitos
que o conteúdo de duas linhas para­
cânticos da antiga Israel.
lelas de poesia é invertido.
10. Provérbios nos oferece diretrizes prá­
5. Poesia acróstica é escrita com a pri­
ticas para o viver.
meira palavra de cada linha em or­
dem alfabética. 1 1 . 0 sentido da vida é explorado em
Eclesiastes.
6. A língua de escrita cuneiforme falada
na antiga Ugarite é chamada de uga­ 12. Cântico dos Cânticos concentra-se na
rítico. Ela é uma linguagem alfabética alegria do amor romântico.
com trinta e sete sinais.

286
Introdução aos Livros Poéticos

Questões pára estudo

1. Quais são algumas das características 3. Descreva o significado das placas


comuns da poesia hebraica? De que ugaríticas para o estudo da Bíblia,
forma a poesia hebraica difere da especialmente da poesia hebraica.
maior parte da nossa poesia moderna?
2. Como você explicaria paralelismo para
alguém que nunca ouviu esse termo?

melhor os textos bíblicos de pelo menos três braica. O paralelismo, por exemplo, também
politeísta
maneiras. ocorre na poesia ugarítica. Os escritos bíbli­
Em primeiro lugar, certas palavras raras em cos, portanto, usaram um estilo comum a ou­
Baal hebraico ocorrem com mais freqüência em tros povos de sua época. Entretanto, enquanto
ugarítico, assim podemos estar mais certos do os povos de Ugarite usavam seu estilo poéti­
Astarote significado da palavra bíblica. Talvez uma pa­ co para escrever histórias sobre seus deuses e
lavra hebraica rara apareça em um contexto deusas, os escritores bíblicos usavam-no para
difícil, mas em ugarítico ela aparece diversas louvar e adorar o único e verdadeiro Deus
vezes em contextos mais claros. Então, tenta­ do céu.
mos analisar o sentido da palavra ugarítica no Em terceiro lugar, a poesia ugarítica nos
lugar da palavra hebraica no texto bíblico para ajuda a entender o mundo politeísta que
ver se o significado da palavra ugarítica se cercava os hebreus. Os textos revelam muito
encaixa. Desse modo, textos ugaríticos mui­ sobre JBàal e sua consorte Astarote, cuja ado­
tas vezes esclareceram o significado de pala­ ração os profetas denunciaram. Sabemos por
vras ou passagens hebraicas difíceis. intermédio do testemunho do povo que ado­
Em segundo lugar, a poesia ugarítica tem rava Baal e Astarote de que maneira eles
várias semelhanças em relação à poesia he­ viam esses deuses.

Leituras Complementares

Alter, Robert. The Art o f Biblical Poetry. Nova York: básico para seminário. Trata também das questões
Basic, 1985. Explora os muitos aspectos usados pelos básicas de interpretação.
escritores bíblicos em seus trabalhos poéticos. Craigie, Peter C. Ugarit and the Old Testament. Grand
Berry, Donald K. An Introduction to Wisdom and Poetry Rapids: Eerdmans, 1983. Uma exposição clássica de
o f the Old Testament. Nashville: Broadman & informações sobre Ugarite que esclarece alguns pon­
Holman, 1995. Uma discussão detalhada sobre a lite­ tos do Antigo Testamento.
ratura bíblica de sabedoria, seus paralelos com o Petersen, David L. e Kent Harold Richards. Interpreting
mundo bíblico e o seu uso por judeus e cristãos ao Hebrew Poetry. Guides to Biblical Scholarship.
longo dos séculos. Minneapolis: Fortress, 1992. Uma discussão mais
Bullock, C. Hassel. An Introduction to the O/d Testa­ breve e técnica.
ment Poetic Books. Ed. rev. Chicago: Moody, 1988.
Uma exposição de nível universitário avançado ou

287
Descobrindo os Livros Poéticos

tarmos às vozes da antigüidade e cantar a


Os Livros Poéticos Deus. Provérbios nos oferece princípios pere­
nes expressos de maneira perspicaz e criativa.
Os Livros Poéticos têm uma importante Eclesiastes explora o significado da vida e con­
contribuição para a fé cristã dos dias de hoje. clui que apenas um relacionamento pessoal
Jó trata da questão de pessoas justas que so­ com Deus pode dar sentido à vida. E o livro
frem terríveis provações. Salmos oferece mui­ de Cântico dos Cânticos celebra a alegria do
tos cânticos de Israel e nos convida a nos jun­ amor em um poema romântico.

288
A J ó

Um homem à procura de justiça

Esboço
• Introdução à literatura de
sabedoria
Literatura de sabedoria do antigo
Oriente Próximo
Objetivos
Literatura de sabedoria do Antigo
Testamento Depois de ler este capítulo,
* Conteúdo do livro de Jó você deve ser capaz de:
Esboço • Identificar as duas principais classificações
da literatura de sabedoria do antigo
Visão geral
Oriente Próximo.
’ O autor e seus tempos • Descrever as principais características da
a Temas teológicos literatura de sabedoria do Egito.
• Contrastar a literatura de sabedoria do
Egito, da Mesopotâmia e do Antigo
Testamento.
• Dar exemplos das metodologias usadas
pelos amigos de Jó para ajudá-lo.
• Definir teodicidade.
• Avaliar todos os discursos feitos em Jó.
• Comparar o ponto de vista de Jó e daque­
les que falam com ele sobre a retribuição
com o ponto de vista de Deus.

289
Descobrindo os Livros Poéticos

O livro de Jó é um dos três livros da coleção Isaías, etc.) e os ensinamentos de Jesus têm
literatura de
do Antigo Testamento conhecidos como lite­ muitos exemplos do conceito de sabedoria.
sabedoria
ratura de sabedoria. Depois de uma breve
discussão sobre o sentido desse termo, volta­ Literatura de sabedoria no
discursos de remos nossa atenção para os detalhes dessa antigo Oriente Próximo
sabedoria obra fascinante. A literatura de sabedoria do Antigo Testa­
mento tem um pano de fundo internacional.
O autor de 1 Reis compara Salomão — o ho­
Introdução à literatura mem mais sábio entre os homens de Israel —
com os sábios da Mesopotâmia, Canaã e Egi­
de sabedoria to, o mundo conhecido daquele tempo (lRs
A expressão “literatura de sabedoria” não 4.29-34). Ao que parece, cada nação tinha
aparece no Antigo Testamento. Este é um mestres de sabedoria que refletiam suas pró­
termo que estudiosos modernos usam para os prias tradições nacionais de sabedoria. Arque­
três livros que compartilham dessas caracte­ ólogos descobriram exemplos de literatura de
rísticas de “sabedoria”: Jó, Provérbios e Ecle­ sabedoria em todas as partes do antigo Orien­
siastes. Além desses três, alguns Salmos tam­ te Próximo.
bém fazem parte dessa coleção (SI 1,37,49,73, A literatura de sabedoria do antigo Orien­
etc.) e Cântico dos Cânticos também é seme­ te Próximo pode ser dividida em dois grupos
lhante à literatura de sabedoria por sua fun­ gerais. Primeiro, os provérbios curtos sobre a
ção didática e literária. Assim, todos os livros vida em geral. Estes tendem a ser de natureza
incluídos na seção do Cânon chamada de didática ou instrutiva e normalmente têm uma
“poética” estão relacionados à literatura de visão otimista da vida. Em segundo lugar, os
sabedoria (capítulo 19). Mas as idéias de sa­ discursos de sabedoria do antigo Oriente
bedoria vão além dos Livros Poéticos da Bí­ Próximo que resultavam em documentos
blia. Diversos profetas usaram ditados de sa­ contendo longos discursos ou ensaios lidan­
bedoria ou parábolas em seus sermões (Oséias, do com os problemas mais difíceis da vida.

A literatura de
sabedoria toca
em assuntos
que exploram o
sentido da vida.

290

aluno é o “filho” ou “criança” (como em Pv


Trechos adaptados 1.8). Isso reflete o conceito de que a família
era a mais importante unidade educacio­
dos ensinam entos nal do mundo antigo, como o era na Israel
de Ptahhotep1 da antigüidade (Dt 6.6,7).
Diz-se que as mais antigas dessas cole­
ções tem origem em PTAHHOTEP, VlZIR DO
REI IZEZI da Quinta Dinastia (por volta de
(Os paralelos sugeridos estão entre parênteses)
2450 a.C.). A Instrução de Ptahhotep con­
Ele disse ao seu filho: tém trinta e sete máximas dadas por Ptah­
hotep a seu filho e sucessor. A coleção bus­
Não torne-se arrogante por causa do seu conheci­ ca treinar o filho nas relações pessoais, pre­
mento e nem confiante por que você é sábio. Escute parando-o para as ações e atitudes que fa­
o conselho dos simples bem como dos sábios. Você rão dele um oficial de Estado de sucesso.
nunca alcança todo o seu potencial, sempre há mais Uma coleção elaborada bem mais tarde, a
o que aprender. O bom discurso é como uma esme­ Instrução de Amenemope (por volta de 1200
ralda escondida, mas pode ser encontrado como m u­ a.C.) contém trinta capítulos de instruções
lheres moendo grãos (Pv 2.1-5). para o bom viver, e muitas delas têm parale­
los bem próximos com certos provérbios do
Se você tiver a boa fortuna de sentar-se à mesa de al­
Antigo Testamento.
guém maior que você, aceite graciosamente aquilo
que lhe é oferecido. Não torne-se invejoso ou cheio A sabedoria discursiva da
de cobiça, sempre querendo mais (Pv 23.1-3). Se você
Mesopotâmia
tornar-se o mensageiro de pessoas importantes, seja
completamente confiável em todas as tarefas que re­ O segundo tipo de literatura de sabedoria
ceber. Faça sua tarefa da melhor maneira possível (Pv do antigo Oriente Próximo vem basicamen­
2 5 .1 3 ) te da Mesopotâmia. Esses documentos con­
têm discursos ou longas preleçÕes sobre os
Se você é visitante em uma casa, em todas as circuns­ problemas da justiça no mundo. Os discursos
tâncias — quer você esteja visitando como mestre, ir­ podem ter a forma de monólogos, diálogos
mão ou amigo — fique longe das mulheres da casa! com uma divindade ou discursos com vários
Mil homens já foram distraídos de suas tarefas por participantes.
um rosto bonito — o que foi pior para eles. Pode-se Assim como na literatura instrutiva do Egi­
fazer alguém de tolo através das formas e belezas do
to, os autores mesopotâmicos não tinham
corpo. É um mundo de sonhos e ir atrás dele é mor­
uma palavra para sabedoria que incluísse o
tal. Evite a luxúria e a doença do coração e você irá
alto grau de moralidade e piedade da litera­
prosperar (Pv 6.23-29).
tura de sabedoria israelita. Por esse motivo, a
1Extraído e adaptado da Instrução do Vizír Ptahhotep, ANET, 412-414. expressão “literatura de sabedoria” não é es­
tritamente apropriada para o material discur­
sivo da Mesopotâmia. Nos documentos me­
sopotâmicos “sabedoria” e o adjetivo “sábio”
raramente têm um conteúdo moral e geral­
Esses diálogos ou monólogos são freqüen- mente referem-se a habilidades nas práticas
diálogos
temente, mas nem sempre, pessimistas. de magia.3 Essa é uma diferença sutil em
relação à literatura de sabedoria israelita, na
monólogos A sabedoria instrutiva Egípcia qual a pessoa “sábia” é aquela que teme ao
Alguns exemplos de sabedoria instrutiva Senhor.
retribuição do antigo Oriente Próximo vêm da Meso­ Por outro lado, o conteúdo desses docu­
potâmia, mas a maioria é proveniente da mentos convida a uma comparação com Jó e
literatura egípcia.1 Apesar dos egípcios não Eclesiastes. O material de diálogo mesopotâ-
terem uma palavra para “sabedoria” em si, mico aceita a doutrina da retribuição — a
eles se deliciavam em colecionar ditados sá­ bondade resulta em prosperidade e a malda­
bios que ajudassem a levar a vida com mais de, em sofrimento. Mas um problema surge
sucesso. Eles chamavam esse tipo de litera­ quando pessoas bondosas sofrem. Os autores
tura de “instrutiva” .2 Nesses documentos, o mesopotâmicos tentaram explicar esse proble­
mestre é muitas vezes “pai” ou “mãe” e o ma ao afirmar que não existe ninguém reto.

291
Descobrindo os Livros Poéticos

nhecido pela sua frase de abertura L u d lu l


Trechos adaptados bêl n êm eqi (“Louvarei ao Senhor da sabe­
doria”) é um extenso monólogo no qual um
da teodicidade nobre da Babilônia conta como ele enfren­
babilônica1 tou toda sorte de desastre até que o deus
Marduque por fim o restituiu à sua posição.
A teodicidade babilônica é um diálogo entre um sofre­ O texto vem do período cassita da história
dor e o amigo que o consola. da Mesopotâmia (século 14 ao século 12
a.C.). A Teodicidade Babilônica é um diá­
Sofredor ao seu amigo: Sua opinião é como o vento do logo complexo entre um sofredor e seu ami­
norte, uma brisa agradável para todos. Pura é a escolha go. Nos discursos do amigo, ele procura de­
do seu conselho. Mas eu tenho um problema para lhe fender a doutrina da retribuição contra as
apresentar: aqueles que negligenciam o deus prospe­ reclamações do sofredor.5
ram enquanto outros que oram devotadamente tor­
nam-se pobres e fracos (Comp. Jó 21.7-16). Literatura de sabedoria do
Antigo Testamento
Amigo para o sofredor: A menos que você busque a
vontade de Deus, que esperança você pode ter? Quem A literatura do antigo Oriente Próximo
serve a Deus com fidelidade nunca tem falta de comi­ tem muitos paralelos evidentes tanto em for­
da, mesmo quando é difícil de conseguí-la. Portanto, ma quanto em conteúdo com os livros de
busque o respirar calmante dos deuses e as perdas sabedoria do Antigo Testamento.6 O livro de
desse ano logo serão restauradas. Provérbios, aliás, contêm mais paralelos com a
literatura do antigo Oriente Próximo do que
Amigo para o sofredor: Ó sábio, Ó estudioso, aquele qualquer outro livro da Bíblia. Alguns pontos
que dominou o conhecimento. O seu coração está er­ de contato com os paralelos são mais diretos
rado quando você acusa Deus injustamente. A mente
que outros, como em Provérbios 22-24 e as
dos deuses é como o centro dos céus, muito afastado
Instruções de Amenemope (ver discussão no
de nós. É difícil obter seu conhecimento, vai além da
capítulo 22). Outros são paralelos em rela­
compreensão humana (Comp. Jó 11.7; 1 5.2-4).
ção a temas ou ênfase, como é o caso de Jó e
Sofredor para o seu amigo: Ouça com atenção, meu o L u d lu l bêl n êm eqi.
amigo, a quem eu digo. Atente para a cuidadosa esco­ Ao comparar Jó, Provérbios e Eclesiastes
lha das minhas palavras (Comp. Jó 2 1.2,3). com a literatura do antigo Oriente Próxi­
mo, aprendemos muito sobre como a litera­
Amigo para o sofredor: Quando os grandes e primor­ tura israelita interagia com a literatura e a
diais deuses criadores do universo criaram a humanida­ visão de mundo dos seus vizinhos. Eles não
de, eles deram um discurso falho. Eles nos presentea­ tinham problemas em incorporar material
ram para sempre com mentiras e não com a verdade de outras culturas, desde que fossem elimi­
(Comp. Jó 15.5,6). nados os elementos politeístas. Assim, a li­
teratura de sabedoria oferece um maravi­
W.G. Lamber. Babílonyan Wisdom Liíêratura, Oxford: Clarendon, 1960,
63-91. AN ET, 438-440, no qual é chamado de "Um Diálogo Sobre a Mi­ lhoso exemplo de formas transculturais de
séria Humana". se comunicar a fé.7 Algumas vezes os israe­
litas adaptavam material do antigo Oriente
Próximo com pouca ou nenhuma alteração.
A pessoa sempre sofre por causa de crimes Outros paralelos parecem ter sido tão com­
petíodo
que cometeu. Em sua essência, a solução me- pletamente mudados pelas alterações teo­
cassita
sopotâmica para o sofrimento era colocar a lógicas dos israelitas a ponto de tornarem-se
culpa no sofredor, que não pode fazer nada quase irreconhecíveis.8
monoteísta além de aceitar o destino atirado sobre ele A literatura de sabedoria toca em todas as
pelos incompreensíveis deuses.4 Como vere­ questões que exploram o sentido da vida. Na
mos, os problemas colocados por Jó e Eclesias­ Israel do Antigo Testamento, essa exploração
tes são semelhantes, apesar de suas soluções era singular no mundo antigo, pois tinha uma
serem muito diferentes. perspectiva totalmente monoteísta. No An­
Dos vários exemplos de literatura de diá­ tigo Testamento, o princípio da sabedoria é o
logo da Mesopotâmia, iremos mencionar aqui temor do Senhor, expressado mediante a fé
apenas os dois mais importantes. O texto co- genuína (Pv 1.7).
292

,0 era um ■NM H H H U H H M K
C. Segundo ciclo de discursos
nomem rico até
que perdeu suas Conteúdo do livro de Jó (15.1-21.34)
ovelhas, D. Terceiro ciclo de discursos (22.1-
jumentos e O livro abre com uma introdução em for­ 27.33)
camelos. ma de prosa com dois capítulos, dando ao lei­
tor o pano de fundo necessário para o que III. Hino de sabedoria (28.1-28)
vem a seguir (capítulos 1 e 2). O corpo princi­
pal do livro é apresentado em forma de poesia IV. O discurso de Jó (29.1-31.40)
e contém os discursos de Jó, de seus conse­ A. Como era antes (29.1-25)
lheiros e, finalmente, de Deus (3.1-42.6). O B. Como é agora (30.1-31)
livro encerra com um breve epílogo, mais uma C. Jó afirma sua inocência (31.1-40)
vez em prosa (42.7-17). O PRÓLOGO e epílo­
V. Os discursos de Eliú (32.1—37.24)
go em prosa criam uma moldura literária para
A. Introdução (32.1-5)
os discursos poéticos.
B. Primeiro discurso (32.6-33.33)
Esboco C. Segundo discurso (34.T37)
D. Terceiro discurso (35.1-16)
I. Prólogo (1.1-2.13) E. Quarto discurso (36.1-37.24)
A . Jó como herói (1.1-5)
B. O primeiro encontro do conselho V I. Os discursos do Senhor (38.1—
divino (1.6-12) 42.6)
C . Os primeiros desastres (1.13-19) A. Primeiro discurso (38.1-39.30)
D. A reação de Jó (1.20-22) B. Segundo discurso (40.1-42.6)
E. O segundo encontro do conselho
V II. Epílogo (42.7-17)
divino (2.1-5)
F. A enfermidade de Jó (2.6-8) Visão geral
G. A reação de Jó (2.9,10)
H. Os consoladores (2.11-13) O livro de Jó foi escrito como uma peça, e
os personagens principais são apresentados no
II. Diálogo (3.1-27.23) prólogo (capítulos 1 e 2). O autor desse prólo­
A. A declaração de abertura de Jó go toma um ponto de vista onisciente, ou seja,
(3.1-26) ele parece saber de tudo. Ele pode avaliar os
B. Primeiro ciclo de discursos pensamentos que se passam dentro de Jó e
(4.1-14.22) relatar o diálogo entre Deus e Satanás.

293
Descobrindo os Livros Poéticos

Os discursos no 0 prólogo (capítulos 1 e 2)


centro do livro
lutam com O versículo de abertura do livro descreve
algumas das Jó como sendo um homem “íntegro e reto”
questões mais que era “temente a Deus e que se desviava
complicadas da do mal”. Tal integridade levou Deus a fazer
vida.
uma pequena pergunta a Satanás: “Obser­
vas te o meu servo Jó?”. A resposta acusadora
de Satanás (1.9-11) marcou o começo de uma
série de acontecimentos que resultaram para
Jó na perda de seus filhos e de suas muitas
riquezas. Mas mesmo em meio à ruína total,
Jó permaneceu fiel ao Senhor (1.22).
Satanás desafiou a credibilidade de Jó mais
uma vez, afirmando que se, além da perda
de suas posses e sua família, ele sofresse a
perda de sua saúde, então ele amaldiçoaria
a Deus (2.4,5). Então Deus permitiu que
Satanás afligisse Jó com tumores dolorosos
por todo o seu corpo. Jó estava pobre e sozi­
nho sobre um monte de cinzas, coçando sua
pele doente com um caco (2.8). Quando
pensamos que a situação de Jó não pode fi­
car pior, sua esposa o aconselha a abandonar
sua fé, amaldiçoar a Deus e morrer (2.9).
Os discursos na parte central do livro lu- Mas mesmo nessas circunstâncias terríveis,
teodicidade
tam com algumas das perguntas mais difíceis Jó não pecou (2.10b).
da vida. Cada um que fala trata mais especi­ Esse prólogo também apresenta os três ami­
ficamente do sofrimento não merecido e do gos de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar (2.11). O
problema sempre presente da teodicidade. termo hebraico “amigo” tem uma ampla gama
Teodicidade é a tentativa de justificar a ma­ de significados, incluindo “conselheiro ínti­
neira de Deus lidar com o mundo. Se Deus é mo” e “amigo próximo”.10 Apesar da retórica
Todo-poderoso e ao mesmo tempo é amor, con­ por vezes áspera, esses três são motivados pelo
forme é afirmado ao longo de toda a Bíblia, seu amor e comprometimento com Jó. Movi­
então como pode haver o mal no mundo? dos pelas suas mais nobres intenções, os ami­
Como os ímpios podem prosperar se Deus é gos de Jó chegaram para “condoer-se dele e
justo? Por que as pessoas boas sofrem e como consolá-lo” (2.11). Seu sofrimento era tão se­
Deus permite que isto aconteça? vero que eles mal o reconheceram. Em silên­
O monoteísmo do antigo Israel levantava cio, eles sentaram-se ao lado de Jó durante
essas questões. Tendo em vista que o único e uma semana, pranteando suas perdas. O la­
verdadeiro Deus é tanto Todo-poderoso como mento de Jó no capítulo 3 quebra o silêncio e
supremamente amoroso, a presença do mal começa o diálogo.
no mundo cria um dilema filosófico. Se Deus
fosse perfeitamente bom, ele não permitiria Diálogo entre Jó e seus três amigos
que o mal existisse em qualquer uma de suas (capítulos 3-31)
várias formas (guerras, fome, crime). Portan­ A segunda unidade do livro é composta
to, deve haver um limite para o controle que dos discursos dos três amigos de Jó e de sua
ele tem sobre as circunstâncias do mundo e, reação a cada um deles.
portanto, ele não é Todo-poderoso. Por outro
lado, se Deus fosse Todo-poderoso, o fato de A QUEIXA DE JÓ (CAPÍTULO 3)
que acontecimentos e circunstâncias más Jó começa o colóquio amaldiçoando o
ocorrem deve significar que ele não vê nada dia de seu nascimento e perguntando-se por
de errado com elas. Assim, ele não é supre­ que ele não morreu ao nascer. Ele está con­
mamente amoroso.9 O livro de Jó é a busca de vencido de que esse seu destino é pior que
um homem pela resposta a esse dilema. a morte.

294

Os discursos dos amigos de Jó e sua conforto na disciplina do Senhor (5.17) e es­


resposta a cada um (capítulos 4-27) perar a restauração de tudo o que havia per~
dido (5.18-27). Nos capítulos 6 e 7, Jó respon­
Essa unidade contém três ciclos de seis dis­ deu que seus supostos amigos não estavam
cursos cada um. Cada ciclo inclui um discur­ ajudando naquela situação. Ele desafiou seus
so dos três amigos de Jó, e um discurso de companheiros a serem mais específicos sobre
resposta do próprio Jó. O ciclo final é incom­ sua culpa (6.24,30), deixando implícito que a
pleto (capítulos 22-26) pois não contém um reprovação de Deus era desproporcional em
discurso final de Zofar. relação ao seu pecado. A morte parecia ser a
Cada um desses indivíduos tinha sua visão única solução para seus problemas (7.16-21).
característica do problema de Jó. Elifaz enfa­ Bildade considerou a resposta de Jó como
tiza a justiça e a pureza de Deus e, na sua vento impetuoso (8.2). Ele apoiou a declara­
opinião, as pessoas (incluindo Jó) trazem so­ ção de Elifaz de que Deus é justo (8.3) e cer­
bre si seus próprios problemas. Bildade tipica­ tamente não rejeita um homem sem culpa
mente apelou para a tradição e considerou-se (8.20), deixando subentendido que, devido
um defensor da doutrina ortodoxa. Ele expli­ ao seu grande sofrimento, Jó tinha que ser cul­
cou que um indivíduo que busca a maldade pado de algum pecado. Ele sugeriu a Jó que
(como Jó) não deve se surpreender com o buscasse ao Senhor e esperasse ser restaurado
castigo divino. Zofar considerava-se um RA- à sua antiga vida (8.3-7). Jó admitiu que um
C IO N A LIS T A e arrazoava que o castigo de Jó homem não pode ser “justo para com Deus”
não era menor que aquilo que podia ser espe­ (9.2). Mas afinal de contas, a questão é o po­
rado do ponto de vista racional. Apesar dos der e não a justiça. Deus é o Criador, que
amigos de Jó estarem vendo o problema da comanda o sol e as montanhas e faz coisas
perspectiva do monoteísmo israelita, suas so­ que vão além do nosso entendimento (9.10).
luções não transcendem as soluções da Meso­ Ele destrói o íntegro assim como o perverso e
potâmia (ver abaixo). Eles continuam a colo­ quem era ele para discutir (9.22)? A vida é
car a culpa em Jó. breve e sem frutos (9.25-31). Mais uma vez, Jó
Elifaz começou o primeiro ciclo relembran­ se perguntou por que ele havia nascido e de­
do Jó da justiça de Deus e da incapacidade sejou a paz do túmulo (10.18-22).
humana de alcançar os padrões de Deus No discurso de Zofar, ele repreendeu Jó
(4-17). Ele encorajou o amigo a encontrar pela sua perspectiva teológica a qual ele cha-

0 sopé do
monte
Hermom, norte
de Israel. Elifaz
pergunta "Onde
estavas quando
Deus fez as
montanhas?"
(15.7).

295
Descobrindo os Livros Poéticos

mou de “parolas” (11.3). Ele resumiu a atitu­ de seus três amigos era sem valor e que suas
de de Jó na citação: “A minha doutrina é respostas não eram verdadeiras (21.34).
pura, e sou limpo aos teus olhos [de D eus]” Elifaz abriu o segundo ciclo ao tentar iden­
(11.4). Mas Zofar advertiu que, na verdade, tificar os pecados específicos que Jó teria co­
era o contrário. O castigo de Deus era, na metido, sendo a maioria deles pecados de
realidade, menor que Jó merecia por toda a omissão (22.4-7). Ele suplicou a Jó que colo­
sua culpa (11.6b). Assim, Zofar concluiu que casse de lado sua iniqüidade e se voltasse para
Jó deveria “lançar para longe” (11.14) sua Deus (22.23). Jó, entretanto, estava certo de
iniqüidade e perversidade e então certamen­ sua inocência e, mais uma vez, desejava de­
te, sua vida seria “mais clara que o meio-dia” fender-se diante de Deus (23.4,10-12). A
(11.17). Jó concluiu o primeiro ciclo de dis­ maior alegação de Jó era de ser inocente de
cursos afirmando que sua compreensão não qualquer maldade e de que seu castigo e so­
era inferior à de seus três amigos (12.3; 13.2). frimento excediam em muito a sua culpa.
Todo o universo, incluindo feras, pássaros, O discurso breve de Bildade no capítulo
plantas e peixes, sabe que Deus está no con­ 25 enfatizou a impossibilidade de se viver uma
trole de tudo o que acontece (12.7-10). Tudo existência de retidão perante Deus. Jó insistiu
o que Jó desejava era a oportunidade de de­ em sua integridade e inocência (27.1-6), e
fender-se pessoalmente perante Deus (13; 13- expressou sua exasperação com a aplicação
19). Em vez disso, Deus insistia em perseguir incorreta que seus amigos estavam fazendo
Jó (13.24-27). Mais uma vez, Jó desejava do princípio de retribuição naquela situação.
morrer (14.13).
Elifaz começou o segundo ciclo de discur­ Os discursos de resumo de Jó
sos acusando Jó de ter abandonado a oração e (capítulos 28-31)
o temor de Deus com seu discurso como o Os capítulos 28—31 são constituídos de dis­
vento (15.2-4). Ele lembrou Jó de que seus cursos variados de Jó em que ele louva as
três amigos também tinham grande sabedoria virtudes da sabedoria (28), medita sobre sua
(15.7,8) e que eles firmavam-se na antiga tra­ vida antes dos acontecimentos trágicos do
dição quando insistiam que era o pecado se­ prólogo (29), lamenta sobre a sua presente
vero que estava causando todo aquele sofri­ condição miserável (30), e nega ser culpado
mento na vida de Jó (15.17-35). Jó respondeu de luxúria, cobiça, adultério, maus tratos de
que já havia ouvido toda aquela conversa escravos, confiança nas riquezas, idolatria ou
antes (16.3,4). No lugar disso, ele queria uma prática de negócios ilícitos (31). Finalmen­
testemunha no céu que lhe servisse de medi­ te, Jó assina embaixo (31.35) c espera que
ador perante Deus (16.19). justiça seja feita.
Bildade ofendeu-se ao ser considerado “es­ A mensagem central do livro fica implícita
túpido” aos olhos de Jó e apresentou um qua­ no hino de sabedoria (capítulo 28). A sabedo­
dro sombrio dos perversos (18.3), deixando im­ ria pertence a Deus (vs. 20-28) e todas as ten­
plícita a seriedade do pecado de Jó. Mas Jó tativas humanas de comprá-la ou contê-la
rejeitou um pronunciamento de tamanha as­ estão destinadas ao fracasso. Esta foi a confis­
pereza e injustiça. Com uma advertência para são de Jó e, no final das contas, a sua salvação.
os seus consoladores, Jó vislumbrou o futuro Em vez de assumir falsa culpa e viver uma
em que ele seria justificado diante de Deus mentira, Jó esperou a justificação do Senhor.
(19.25-27).
Em seguida, Zofar usou de linguagem for­ Eliú entra no diálogo
te para condenar os ricos que, supostamente, (capítulos 32-37)
adquiriam suas posses por meio da cobiça e da N a unidade seguinte do livro, um novo
opressão do pobre (20.19). Depois de descre­ personagem é apresentado. Eliú era um jo­
ver de forma bastante vivida o castigo para vem que havia se cansado de ouvir Jó justifi-
tais indivíduos, Zofar afirmou que esta é a cando-se a si mesmo em vez de justificar a
porção que Deus dá ao homem perverso, su­ Deus (32.2). Mas ele também estava pertur­
gerindo que a cobiça era o problema de Jó bado com os amigos de Jó pois eles não ti­
(20.29). Mas em sua resposta, Jó mostrou como nham conseguido encontrar uma resposta e
os ímpios continuavam prosperando e iam para ainda assim condenavam Jó (32.3). E verda­
o túmulo satisfeitos e em pleno vigor (21.23- de que a situação de Jó não havia melhorado.
26). Desesperado, ele concluiu que o consolo Deus parecia ter se tornado o seu inimigo sem
296

Cena de uma
pintura na
parede da
tumba egípcia
de Nebamun. 0
antigo Egito
criou a maior
parte dos
exemplos de
sabedoria
instrutiva.

justa causa. E talvez o aspecto mais intrigante O Senhor finalmente fala


da situação era o completo silêncio e ausên­ (38.1-42.6)
cia de resposta de Deus para as orações de Jó.
Ao longo de todo livro, o clamor é para
Aliás, o consolo dos três conselheiros de Jó
que Deus responda. Finalmente, o Senhor
parece ter servido de impedimento para o seu
quebra o seu silêncio e responde a todas as
relacionamento com Deus.
objeções.
Eliú, no desejo de corrigir a situação, deu
Não nos é revelado o efeito do discurso de
início a uma longa apologia em favor da sua
Eliú sobre Jó e seus amigos. Mas sua ênfase na
juventude, pedindo que eles prestassem aten­
onipotência e justiça de Deus e na necessida­
ção nele, tendo em vista que a sabedoria é
de fundamental que a humanidade tem de
um presente de Deus e não uma conseqüên­
um arrependimento sincero, prepara o palco
cia da idade. Ele dirigiu-se diretamente a Jó e
para que o próprio Deus entre em cena. De
recapitulou o problema como sendo uma ques­
uma forma que silenciou todos os debates
tão de oração sem resposta (33.13). Eliú argu­
(40.3-5) o Senhor respondeu a Jó do meio de
mentou que Deus usava o sofrimento e a dis­
ciplina para corrigir a humanidade (33.19). E um redemoinho (38.1; 40.6). Ele começou re­
preendendo Jó por falar com ignorância, lem-
a oração é a forma do homem aceitar e se
submeter a essa correção de Deus (33.26-30). brando-o de sua mortalidade (38.3). Então,
No capítulo 34, Eliú entrou em um segundo desafiou Jó a responder uma série de questões
discurso cm que ele repreendeu Jó por ques­ centradas na grandiosa força e no poder de
tionar a justiça de Deus. Deus e justo e, ao Deus, o Criador e Sustentador do universo. O
negar esse fato, Jó havia acrescentado rebe­ que Jó sabia ou compreendia sobre coisas como
lião à sua lista de outros pecados (v. 37). a criação da terra (38.4), o confmamento dos
Em um terceiro discurso, Eliú informou a mares (38.8), os cursos das constelações (38.31)
Jó que Deus não se afetava com os aconteci­ e outros fenômenos? O Senhor desafiou Jó a
mentos na terra. Se Deus havia se mantido responder-lhe (40.1,2), mas Jó não tinha o que
silencioso, era porque ele reconhecia a falta dizer (40.4,5). Ele simplesmente admitiu sua
de sinceridade nos pedidos de Jó (35.13-16). incapacidade e concordou em ficar em silên­
Por fim, Eliú falou em favor de Deus (36.2). cio perante Deus.
Ele disse a Jó e seus amigos que Deus é justo O Senhor desafiou Jó a comparar suas pró­
no seu tratamento com reis e escravos e que, prias forças com as forças de Deus (“Tens bra­
em muitas situações, o arrependimento é a ço como Deus?”, 40.9). Em seguida, apare­
chave (36.10-12). Assim como em outros ca­ cem poemas sobre duas criaturas de Deus:
sos, o sofrimento de Jó poderia ser o meio para B E E M O T E ( o hipopótamo) e L E V IA T Ã (pro­
a sua libertação. vavelmente o crocodilo), nos quais Deus res­
297
Descobrindo os Livros Poéticos

salta sua força, resistência e natureza aparen­ são ainda mais vagos. Muitas das circunstânci­
temente indestrutível (40.15-41.34). Jó ime­ as parecem patriarcais: Jó oferece sacrifícios
diatamente reconheceu a onipotência de sem a presença de um sacerdote, sua riqueza
Deus (“Bem sei que tudo podes”, 42.2) e sua é medida em termos de rebanhos e servos e
própria ignorância (“Na verdade, falei do que sua longevidade (140 anos) são aspectos que
não entendia”, 42.3). Os discursos do Senhor o colocam em algum lugar nos tempos de
tiraram de Jó todo o seu orgulho e auto-sufici­ Gênesis. Por causa dessas observações, muitos
ência, e tudo o que restou foi a necessidade supõem que o livro tem origens pré-mosaicas.
completa de arrependimento. Jó concluiu: “Eu A evidência lingüística de Jó não permite que
te conhecia só de ouvir, mas agora os meus tiremos qualquer conclusão. O livro contém
olhos te vêem. Por isso, me abomino e me ar­ tanto termos de hebraico relativamente anti­
rependo no pó e na cinza” (42.5,6). go quanto recente. Isto indica que Jó teve
uma longa história de transmissão, sendo co­
O epílogo (42.7-17)
piado e recopiado muitas vezes. Além disso, é
O epílogo consiste de dois acontecimentos possível até mesmo que o personagem princi­
de conclusão. No primeiro, Deus repreendeu pal do livro não tenha sido israelita. Além da
os três amigos de Jó por não falarem correta­ referência geográfica de Edom, o livro não
mente em favor dele. No segundo, ele restau­ contém nenhuma referência à lei mosaica e
rou as riquezas de Jó a ponto de que seu últi­ Deus raramente é identificado como Iavé. O
mo estado foi mais abençoado que o primeiro leitor é forçado a aceitar esse livro como sen­
(v. 12). Assim, foi justificada a fidelidade de do a narrativa de acontecimentos “sobre a vida
Jó e demonstrada a fidelidade de Deus. de um homem conhecido que viveu a muito
tempo atrás em uma terra distante”.
ywiWBwimff ■■ mm b wm- mm m O debate entre estudiosos sobre a época
O autor e seus tempos da composição resulta em datas que vão des­
de o começo do século 89 a.C. (contemporâ­
As origens de Jó são envoltas em mistério. neo a Isaías) até o século 39 a.C. (época do
O autor do livro é anônimo. O livro também segundo templo em Judá). Comparações lite­
não indica com precisão quando ou onde ocor­ rárias mais recentes entre Jó e Isaías levam
reram os acontecimentos descritos. O lar de alguns a crer que a data do século 8Qé a épo­
Jó na terra de Uz provavelmente ficava entre ca mais provável para a data em que o livro de
EDOM e o norte da Arábia e seus amigos vi­ Jófoi escrito.12
nham dos arredores de Edom.11 Detalhes so­
bre quando esses acontecimentos ocorreram
Temas teológicos
Termos-chave O livro de Jó dá uma importante contribui­
ção à coleção de idéias teológicas do Antigo
Literatura de sabedoria Testamento. A aliança do Sinai entre Iavé e
Discurso de sabedoria Israel estabeleceu um dos conceitos teológi­
Diálogo cos mais duradouros — a teologia de retribui­
M onólogo ção. As maldições e as bênçãos de Deutero­
Pessoas/ Retribuição
nômio (Dt 28) tornaram-se o ponto de parti­
lugares-chave Período cassita
da para grande parte da teologia bíblica. Em
Teodicidade
outras palavras, você colhe o que você planta
Ptahhotep M onoteísta
(G1 6.7; lPe 3.12). E assim que Deus governa
Uz Prólogo
Edom Racionalista o mundo. O próprio caráter bom de se fazer o
Beemote que é certo leva a bênçãos enquanto o cará­
Leviatã ter malévolo de se fazer o que é errado leva
naturalmente ao desastre.13
Mas essa doutrina de retribuição é um prin­
cípio moral geral de como Deus administra a
justiça, não uma regra rígida, inflexível e que
pode ser aplicada a todos os casos. O caso de

298

humanos e torna-se acessível a eles. Em um


outro canto, está Jó, homem íntegro e sem
culpa. No terceiro canto está a doutrina da
retribuição, usada por todos aqueles que dis­
cursam no livro, incluindo Jó. O livro de Jó
procura conter todas essas idéias simultanea­
mente. Todos os três conceitos são importan­
tes para os personagens do drama. Mas Jó é
um homem bom que sofre intensamente. Sua
experiência põe algo — ou alguém — em
perigo. Uma das idéias tão estimadas deve ser
Jó é excepcional. Ele precisava de compaixão e abandonada, pois as três não podem ser man­
não de conselhos. Mas os amigos de Jó não são tidas ao mesmo tempo. Os amigos anularam a
os- únicos a não conseguir entender os limites Jó, mantendo Deus e a teologia da retribui­
da teologia da retribuição, pois o próprio Jó es­ ção. Jó quase abandonou a Deus enquanto se
tava preso à visão ortodoxa de sofrimento. apegava fervorosamente à sua própria inocên­
O conflito no livro de Jó pode ser ilustrado cia e à teologia da retribuição. Mas no final,
por um triângulo eqüilátero.1^ No canto supe­ Deus eliminou sua compreensão e aplicação
rior está Deus, que volta sua face para os seres da teologia da retribuição.

Sumário

1. Estudiosos modernos classificaram os 6. A cultura da Mesopotâmia aceita a


livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes doutrina de retribuição.
como "literatura de sabedoria", mas a
7. 0 livro de Jó trata de algumas das
transmissão de sabedoria pode ser
questões mais difíceis da vida, sobre­
encontrada em outros livros do Anti­
tudo do problema da teodicidade.
go Testamento.
8. Os três amigos de Jó tentaram ajudá-lo
2. Por toda a parte no antigo Oriente
durante os tempos difíceis de sua vida e
Próximo, as nações tinham mestres de
cada um usou sua própria metodologia.
sabedoria. No Antigo Testamento, os
sábios da Mesopotâmia, Canaã e Egi­ 9. A mensagem geral do livro de Jó é
to são comparados com Salomão. que a sabedoria pertence a Deus e a
fé resoluta nele será vindicada.
3. A literatura de sabedoria do antigo
Oriente Próximo pode ser divida em 10. Quando Deus finalmente falou, Jó re­
máximas proverbiais curtas, que têm conheceu a onipotência de Deus bem
a intenção de ensinar sobre a vida e como sua própria ignorância e então
discussões mais longas, tratando dos se arrependeu.
problemas da vida.
11. A teologia de retribuição é a teologia
4. O Egito antigo criou a maior parte dos de Jó e de todos os que falam no li­
exemplos de sabedoria instrutiva que vro de Jó, mas Deus eliminou sua
concentrava-se em um viver de sucesso. compreensão e aplicação da teologia
de retribuição.
5. A Mesopotâmia produziu documen­
tos com longos discursos sobre os 12. Não há informações conclusivas que
problemas de justiça no mundo. possam identificar quem foi o autor
do livro de Jó.

299
Descobrindo os Livros Poéticos

Questões para estudo

1. Que livros bíblicos são considerados 'li­ 5. De que maneira Eliú caracteriza o
teratura de sabedoria" pelos estudiosos problema de Jó? A que ele atribui o
modernos? Indique as diferenças entre silêncio de Deus? O que ele vê como
o material discursivo da Mesopotâmia e sendo a chave para aliviar o sofri­
a literatura de sabedoria israelita. De mento de Jó?
que forma os israelitas interagiam com
6. Como o Senhor repreende a Jó nos
a literatura e visão de mundo de sua re­
capítulos 38.1-42.6? Qual é a rea­
gião do antigo Oriente Próximo? Qual é
ção de Jó?
a fundação de sabedoria do Antigo Tes­
tamento? Que tópico é explorado na li­ 7. O que se sabe sobre a elaboração do
teratura de sabedoria? livro de Jó e a localização geográfica
da obra?
2. Quais são as questões difíceis da vida
tratadas em Jó? Quais aspectos do ca­ 8. De que forma Jó contribui para a
ráter de Deus são desafiados pela pre­ compreensão da teologia de retri­
sença do mal no mundo? buição? Como o livro responde o
problema da teodicidade?
3. Qual é a mensagem central do livro?
4. Descreva os pontos de vista de Elifaz,
Bildade e Zofar. Onde eles colocavam a
culpa pelo sofrimento de Jó? Qual foi a
resposta de Jó?

Leituras complementares

Andersen, Francis I. Job: An Introduction and Commen­ Eerdmans, 1988. Um dos melhores comentários
tary. Tyndaie Old Testament Commentary. Downers recentes disponíveis.
Grove/Leicester: InterVarsity, 1976. Uma exposição Pope, Marvin H. Job: Introduction, Translation and
com insights do ponto de vista evangélico. Notes. 3. ed. Anchor Bible 15. Garden City, NY.:
Bullock, C. Hassel. An Introduction to the Old Testament Doubleday, 1973. Uma excelente fonte de informa­
Poetic Books. Ed. rev. Chicago: Moody, 1988. Uma ções de pano de fundo escrita por um renomado
introdução de ajuda sobre todos os Livros Poéticos. estudioso do Oriente Próximo.
Clines, David A .Job 1-20. Word Biblical Commentary 17. Rad, Gerhard von. Wisdom in Israel. Trad. James D.
Dallas: Word, 1989. Martin. Valley Forge, Pa.: Trinity Press International,
Dhorme, Édouard. A Commentary on the Book of Job. 1993 (1972). Uma introdução intelectualmente es­
Trad. Harold Knight. Nashville: Thomas Nelson, 1984. timulante.

Hartley, John E. The Book of Job. New International


Commentary on the Old Testament. Grand Rapids:

300

O Novo Testamento também trata do pro- dade”.15 Como Jó, esperamos e desejamos por
blema do sofrimento não merecido. Quando esse dia enquanto permanecemos fiéis à Voz.
perguntaram a Jesus: “Quem pecou, este ou Jó oferece respostas bíblicas para o problema
seus pais, para que nascesse cego?” sua res- da teodicidade. Deus pode trabalhar em meio
posta foi surpreendente: “Nem ele pecou, nem a todas as coisas — até mesmo coisas más —
seus pais; mas foi para que se manifestem nele para o nosso bem (Rm 8.28), e todos aqueles
as obras de Deus” (Jo 9.2,3). Em resumo, nin­ que são fiéis a ele, no final, serão beneficiados
guém pecou. Há uma grande área de miséria por meio do mal que tiverem que sofrer. Mas a
e sofrimento humano que não é nem puniti­ resposta em Jó fica incompleta sem o resto da
va e nem redentora. E simplesmente sem sen­ revelação bíblica. Pois é em Jesus Cristo que o
tido. Assim como Jó, o crente que sofre deve maior mal que o mundo pode oferecer — trai­
perceber que “nada além da voz de Deus no ção e crucificação — encontra-se com o maior
redemoinho pode ir de encontro à sua necessi­ bem de todos — perdão e purificação.

301
Salmos
O livro de cânticos do antigo Israel

Esboço
• Pano de fundo do livro de
Salmos
O nome ''Salmos”
Autoria de Salmos
0 lugar singular do livro de Salmos na
Palavra de Deus Objetivos
• A divisão de Salmos Depois de ler este capítulo,
A organização básica você deve ser capaz de:
Teorias sobre a organização de Salmos • Definir a palavra "salmo".
• Títulos de Salmos • Dar os nomes dos escritores dos salmos.
• Classificação de Salmos • Explicar por que os salmos têm uma
Hinos contribuição singular para Bíblia.

Salmos de penitência • Descrever a organização das cinco divisões


do livro de Salmos.
Salmos de sabedoria
• Relacionar os diferentes tipos de salmos.
Salmos reais
• Sugerir de que maneira os salmos podem
Salmos messiânicos
ajudar o cristão contemporâneo.
Salmos imprecatórios
Salmos de lamento
• O livro de Salmos e o cristão

303
Descobrindo os Livros Poéticos

De que maneira as pessoas louvam a Deus çam com a expressão “Salmo de Davi”. Algu­
por meio da música em sua igreja? Elas usam mas pessoas sugerem que Davi pode não ter
um hinário? A congregação lê as palavras escrito todos os setenta e três salmos. Talvez
projetadas por um retroprojetor em uma tela? alguns tenham sido escritos para Davi ou em
Talvez cantem com o acompanhamento de sua homenagem; de fato, o hebraico poderia
um piano ou órgão, ou talvez com outros ins­ ser interpretado dessa forma. Em geral, deve­
trumentos. Algumas congregações cantam mos provavelmente supor que Davi escreveu
sem instrumentos. Uma coisa é certa — os todos ou a maioria dos salmos com esse título.
cristãos usam muitos estilos diferentes de Davi escreveu diversos tipos diferentes de
música para louvar ao Senhor! salmos — louvores, lamentações, salmos de
Mas não importa qual o estilo de adoração, penitência, salmos imprecatórios, salmos
você provavelmente usa salmos como parte reais, salmos messiânicos. (Discutiremos cada
do louvor. O livro de Salmos tem contribuído um desses tipos de salmo mais adiante.) O
com as palavras de muitos dos nossos hinos e primeiro livro de Samuel, capítulo 16, fala
cânticos prediletos. Até mesmo diversas can­ do talento musical de Davi quando ele to­
ções e corinhos modernos têm letras tiradas cava perante o rei Saul. 1 Crônicas 15,16 tam­
dos salmos. Ao estudarmos o livro de cânticos bém descreve o grande interesse de Davi em
de Israel, poderemos entender mais sobre al­ estabelecer a música para a adoração públi­
gumas das grandes verdades nas quais o povo ca. E, como rei, é provável que ele tivesse o
de Deus acreditava e como eles as expressa­ tempo livre necessário para refletir e compor
vam em sua adoração. Também vamos ver suas músicas, sendo a maior parte delas de­
como muitos desses cânticos antigos molda­ dicada a Deus.
ram a adoração cristã de nossos dias. Muitos dos salmos de Davi descrevem pe­
ríodos específicos de sua vida. Ele escreveu o
Salmo 3 quando fugia de seu filho, Absalão.
O Salmo 51 foi escrito depois que Natã o
Pano de fundo do livro confrontou com o seu pecado com Bate-
de Salmos Seba. Ele escreveu o Salmo 57 enquanto se
escondia de Saul em uma caverna. Momen­
O nom e "Salm os" tos decisivos na vida de Davi o levaram a
escrever esses salmos que têm falado a tan­
A palavra “salmo” vem do grego psalmos
tas gerações.
que quer dizer um cântico ou um hino. A
palavra hebraica para o livro é têh illim e sig­ Asafe
nifica “louvores”. O livro contém uma cole­ Asafe teve um papel importante na adora­
ção de cento e cinqüenta cânticos da vida ção pública estabelecida por Davi em Jerusa­
religiosa e da adoração hebraicas — cânticos lém (lC r 15,16). Aliás, Davi nomeou Asafe
do coração do povo e que refletem suas expe­ para ser o mestre de canto (lC r 15.17). Os
riências pessoais. Pode-se dizer que os salmos Salmos 50 e 73—83 são atribuídos a ele. Como
representam o antigo hinário do povo de Deus. Davi, Asafe escreveu vários tipos de salmos.

Autoria de Salm os Os filhos de Coré


Quem escreveu os salmos? Fazer essa per­ O nome “Coré” aparece pela primeira vez
gunta é como perguntar quem escreveu os em Números 16,17, referindo-se a um homem
nossos hinários modernos. A resposta pode ser que entrou em contenda com Arão pelo di­
— muitas pessoas! Muitos compositores con­ reito ao sacerdócio. Deus julgou Coré e os
tribuíram com a coleção de cânticos e poe­ seus seguidores, fazendo-os morrer e inocen­
mas que conhecemos como o livro de Salmos. tando assim a linhagem de Arão.
Em alguma época depois do exílio na Babilô­ Os salmos que mencionam “os filhos de
nia, alguém compilou esses salmos em um só Coré” referem-se ao filhos desse Coré? Os es­
volume. tudiosos acham que não.1 O nome também
aparece em 2 Crônicas 20.19, em que se refe­
Davi re a uma ordem de cantores do templo. Tal­
O rei Davi teve uma grande influência no vez o nome “Coré” fosse comum o suficiente
livro de Salmos. Setenta e três salmos come­ para que se referisse a duas ou mais famílias.
304
Salmos

O título em
hebraico do
Salmo 23,
provavelmente
um do salmos
prediletos, diz
que ele foi
escrito pelo rei
Davi que um dia
cuidou das
ovelhas de seu
pai nos montes
em volta de
Belém.

Certos salmos atribuídos aos filhos de Coré eram feitos para todos os crentes. A congre­
refletem os tempos do exílio na Babilônia ou gação certamente usava, por exemplo, o Sal­
depois (SI 44,85). Outros podem ter sido com­ mo 136 como forma de leitura responsiva. Os
postos em tempos mais antigos. líderes desse louvor liam uma linha e o povo
respondia “porque a sua misericórdia dura
Outros autores
para sempre”.
Quem mais contribuiu para o livro de Sal­ Outros salmos estão mais ligados às experi­
mos? O Salmo 90 leva o nome de Moisés, que ências do indivíduo. O Salmo 3 descreve os
liderou o povo de Deus da escravidão do Egi­ sentimentos intensos de Davi enquanto ele
to para a liberdade da terra prometida. Os fugia de seu filho, Absalão. Davi sentia como
Salmos 72 e 127 são creditados a Salomão. A se todos os seus amigos o tivessem desertado,
Bíblia nos diz que Salomão escreveu muitos mas ele se apegava à sua fé no Senhor. Muitos
outros provérbios e cânticos (lRs 4.32), mas ao outros salmos também revelam experiências
que parece, apenas dois deles acabaram no li­ pessoais de adoração.
vro de Salmos. Aproximadamente cinqüenta Em segundo lugar, os salmos lidam com
Salmos não têm título ou cabeçalho e sua au­ todos os aspectos da vida hebraica. O povo
toria continua sendo um mistério. Talvez al­ louvava a Deus por seus grandes feitos e por
guns dos autores já mencionados os escreve­ bênçãos especiais. Eles também agradeciam
ram, mas não podemos afirmar com certeza. pelo perdão dos pecados. Algumas vezes, la­
mentavam as circunstâncias difíceis da vida
O lugar singular de Salm os na ou imploravam para que Deus amaldiçoasse
Palavra de Deus os seus inimigos da fé. Os salmos tocam prati­
Os salmos têm um lugar singular na Pala­ camente em todas as áreas da vida.
vra de Deus. Primeiro, eles nos dão uma visão Por causa da preocupação dos salmos com
de como era a adoração em Israel. Quais eram quase todos os aspectos da vida, muitos en­
os cânticos que o povo entoava? Do que eles contram neles material valioso para o aconse­
gostavam? Quais temas eram mais comuns lhamento. Muitas pessoas acharam empatia
quando eles louvavam a Deus? Podemos es­ nas palavras desse livro, pois podem ver como
tudar o livro de Salmos e começar a encon­ os autores das Escrituras passaram pelas mes­
trar as respostas a essas perguntas. mas lutas que elas estão enfrentando. Não
Os salmos descrevem a adoração congre- importa a situação na qual nos encontramos,
gacional e pessoal em Israel. Certos salmos provavelmente há pelo menos um salmo que

305
Descobrindo os Livros Poéticos

107-150. Os versículos de encerramento do


último salmo de cada coleção tipicamente
contêm algum tipo de doxologia, ou atribui­
ção de louvor ao Senhor que serve para
“amarrar” aquela parte do livro de Salmos. A
única exceção é o Salmo 150, um grande sal­
mo de louvor que, de maneira muito apropri­
ada, conclui a coleção toda.

Teorias sobre a
organização de Salm os
Ao que parece, esses cinco livros circula­
vam separadamente e ao mesmo tempo. Mas
como e quando alguém os compilou no livro
que conhecemos como Salmos? E, antes de
mais nada, quais critérios resultaram nessa
divisão em cinco livros?
Intérpretes da Bíblia não chegaram a ne­
nhuma conclusão específica ao tratarem des­
sas questões.2 Alguns sugerem a autoria como
um dos fatores possíveis, mas isso parece pou­
co provável. Os salmos de Davi, por exemplo,
estão espalhados pelos cinco livros. Outros su­
gerem que os salmos podem ser agrupados de
acordo com certo (s) nom e(s) de D eus
usado (s) pelo autor. Essa visão merece algum
mérito, tendo em vista que diferentes livros
parecem preferir este ou aquele nome, mas
existem muitas exceções. Aparentemente, as
respostas finais em relação à organização de
Salmos estão destinadas a continuar sendo
um mistério.

HMMBM

Títulos de salmos
Um artista fala do assunto em questão. Os salmos decla­ Muitos salmos têm títulos. Alguns desses
imagina um ram as verdades de Deus em um estilo cheio títulos são tao simples quanto a frase “Salmo
músico israelita
de beleza que fala tanto às nossa mentes quan­ de X”, em que X representa o nome de uma
tocando um
nebel, um to aos nossos corações. pessoa (SI 15). Normalmente, essa pessoa é o
instrumento autor do salmo, apesar de ainda haver a possi­
com até dez bilidade de outra pessoa ter escrito o salmo
cordas
(SI 71.22). A divisão dos salmos para homenageá-la. Algumas vezes os títulos
e cabeçalhos descrevem a situação em que o
O livro de Salmos é dividido em cinco ou­ autor escreveu o salmo (SI 3) ou têm algum
tros livros. Ao que parece, essa divisão reflete tipo de dedicatória (SI 4).
uma tradição antiga, mas ninguém sabe ao Os títulos dos salmos têm uma origem anti­
certo por que os salmos foram divididos dessa ga e podem ser parte dos manuscritos originais.
maneira. A seção abaixo apresenta alguns Todas as cópias antigas dos salmos contêm es­
pensamentos sobre esse assunto. ses cabeçalhos, portanto, devemos considerá-
los confiáveis a menos que evidências revelem
A organização básica que eles foram acrescentados posteriormente.
As cinco divisões básicas do livros de Sal­ Os títulos de salmos algumas vezes tam­
mos são Salmos 1-41,42-72, 73-89,90-106 e bém têm notações musicais. Não sabemos o
306
Salmos

que muitas delas significam, apesar de haver


diversas teorias.3 Alguns salmos têm o comen­
tário: “Ao mestre de canto”, que sugere que
esse salmo era cantado no louvor público. Cânticos de louvor e ação
de graças a Deus por
Outros termos como selá, miskal, shiggaion e aquilo que ele é e aquilo
mashil ainda são um mistério. que ele fez.

Confissão do arrependi­
mento pelo pecado,
salmos de súplica pela graça e
penitência Classificação dos salmos perdão de Deus.

DE SABEDORIA Observações gerais sobre


O estudioso alemão HERMANN GUNKEL a vida, especialmente
lançou os fundamentos para o estudo da classi­ acerca de Deus e de
ficação dos salmos.4 Gunkel, um estudante da nosso relacionamento
com ele.
crítica da forma, notou que os escritores dos
DA REALEZA Tema principal é o rei
salmos com freqüência usavam certas formas
como filho de Davi e
poéticas ou estilos para expressar idéias seme­ instrumento especial de
lhantes. Hinos de louvor (doxologia), por exem­ Deus para governar o
povo.
plo, seguiam um tipo de padrão, assim como os
salmos de lamento, de ações de graças e ou­ Descreve alguns aspectos
da pessoa ou do
tros. Estudiosos depois dele construíram sobre ministério do Messias.
os fundamentos lançados por Gunkel.5
Pedido a Deus por
Nossa discussão abaixo apresenta vários ti­ julgamento contra os
pos de salmos (ou gêneros). Apesar de alguns inimigos de Deus e/ou os
serem paralelos à classificação de Gunkel, ou­ inimigos do seu povo.

tros refletem distinções básicas em tema e con­ Lamento por uma


teúdo. situação; normalmente
inclui declaração de
lamento, declaração de
Hinos confiança em Deus e
afirmação de louvor a
Características básicas dos hinos ele.

Alguns salmos são hinos de louvor. Os es­


critores louvavam a Deus e ofereciam ações
de graças por quem ele era e o que havia a louvá-lo por sua majestade, seu poder cria­
feito. Os hinos que eles escreveram algumas dor, seu poder salvador, seu poder sustentador
vezes eram de louvor individual e outras ve­ e sua fidelidade.
zes congregacional. O Salmo 150 também é um exemplo de
hino. O imperativo para se louvar a Deus apa­
Exemplos de hinos
rece treze vezes em seis versículos! O escritor
O Salmo 8 é um bom exemplo de um hino chamava os adoradores a louvar ao Senhor
de louvor. Talvez certa noite Davi tenha anda­ no seu santuário e no firmamento, louvá-lo
do ao ar livre, admirando a vastidão do céu e pelo seu poder e grandeza. Ele também cha­
escrito esse salmo. Ele se admirava com a gran­ mava para que louvasse a Deus com diversos
deza de Deus, com sua própria pequenez e instrumentos — trombeta, harpa, lira, tambo­
com a maravilha que é o fato de Deus ter ama­ rim, flauta e címbalos. Por fim, ele chamava
do e escolhido a humanidade para cumprir os todo o ser que respira para louvar ao Senhor.
seus propósitos. O salmo, portanto, reflete a Que maneira mais poderosa de terminar o li­
experiência particular de Davi com Deus. vro de Salmos!
O Salmo 136 nos oferece um outro exem­
plo de hino de louvor. Esse salmo era usado no Salm os de penitência
louvor congregacional de Israel na forma de
leitura responsiva. Um líder ou um grupo lia a
Características básicas dos
primeira metade de cada verso e o resto das salmos de penitência
pessoas respondia com a segunda parte de cada Os salmos de penitência expressam arre­
verso — “porque a sua misericórdia dura para pendimento do pecado. Basicamente, o sal-
sempre”. Esse salmo convida o povo de Deus mista declara “O Senhor, eu pequei. Por fa­
307
Descobrindo os Livros Poéticos

vor, perdoa-me”. Assim como no caso dos hi­ jou que a vida fosse. Eles normalmente des­
salmos de
nos, os salmos de penitência também podem crevem Deus e nosso relacionamento com ele
sabedoria
refletir o arrependimento de um indivíduo ou em mais de uma das suas facetas (ver capítu­
da congregação de adoradores. Eles confes­ lo 20 sobre a literatura de sabedoria em geral).
salmos da sam sua tristeza diante do pecado e pedem
realeza Exemplos de salmos de sabedoria
que a graça de Deus os restaure.
O Salmo 1 é um bom exemplo de salmo
Exemplos de salmos de penitência de sabedoria — observações diretas e objeti­
O Salmo 38 é um exemplo de salmo de vas sobre a vida. Bem-aventurados os que
penitência. Nesse salmo, Davi descreve a cul­ evitam o pecado em todas as suas formas e
pa que se apoderou dele quando encarou o deleitam-se na Palavra do Senhor! Eles se­
seu pecado. Ele sofreu grandemente e seus rão como árvores plantadas junto a riachos
amigos e companheiros o desertaram. Suas de água vivificante; eles cumprem os mais
dores nunca o deixavam. Enquanto lutava, altos propósitos de Deus para eles. Mas os
Davi pedia ao Senhor que ficasse perto dele e perversos não encontram tal favor. Eles bus­
o chamava de Salvador. cam o mal e fogem da Palavra de Deus. Por­
O Salmo 51 nos oferece aquele que talvez tanto, o dia do julgamento de Deus será so­
seja o exemplo mais famoso de um salmo de bre eles e perecerão. Mas Deus conhece os
penitência. O cabeçalho nos dá o contexto caminhos daqueles que verdadeiramente de­
histórico: “Salmo de Davi quando o profeta sejam segui-lo.
Natã veio ter com ele depois de haver ele O Salmo 14 é um outro exemplo. Davi
possuído Bate-Seba”. Davi cometeu adulté­ descreve' o insensato que diz em seu coração
rio com Bate-Seba; ela ficou grávida de seu que Deus não existe. Aqueles que seguem o
filho; Davi providenciou para que Urias, o insensato também seguem o mal. Eles vivem
marido de Bate-Seba, morresse durante uma imoralmente pois não acreditam que um dia
batalha; Natã, o profeta, o confrontou com o o julgamento de Deus virá. Mas Davi assegu­
seu pecado e Davi derramou o seu coração ra seus leitores de que um dia Deus irá restau­
cheio de arrependimento diante do Senhor rar a sorte do reto. Viver para Deus é um es­
nas palavras do Salmo 51. forço que vale a pena!
Davi começou implorando para que Deus Asafe, um dos músicos de Davi, escreveu
o perdoasse. Ele não merecia o favor de Deus, o Salmo 73. Nesse salmo, ele ofereceu o seu
pois o seu pecado o envolvia por completo. Ele testemunho pessoal. Asafe sentiu-se desen­
concordou com a acusação do Senhor — pre­ corajado, pois apesar de seguir fielmente ao
cisava ser limpo da sua iniqüidade. Precisava Senhor, ele sofria, enquanto os perversos pra­
que Deus purificasse o seu coração. Se Deus ticavam o mal e viviam melhor que ele. Asafe
pudesse perdoá-lo e restaurá-lo, talvez Deus testemunhou que ele quase decidiu que se­
pudesse usar Davi outra vez para os seus pro­ guir ao Senhor era inútil! Mas um dia, quan­
pósitos. As pessoas hoje em dia muitas vezes do estava no templo do Senhor, deu-se conta
sentem que Deus jamais pode vir a usá-las de da sua inestimável herança. Deus era sua por­
maneira eficaz por causa de seu passado, mas ção para sempre e nada na terra importava.
as palavras desse salmo oferecem esperança. Asafe encorajou seus ouvintes a aprender do
A graça de Deus pode cobrir o mais terrível seu exemplo.
dos pecados!
Salm os da realeza
Salm os de sabedoria
Características básicas dos
Características básicas dos salmos da realeza
salmos de sabedoria Os salmos da realeza concentram-se no rei
Os salmos de sabedoria representam um de Israel. Eles normalmente o descrevem como
terceiro tipo de salmo. Eles relatam observa­ o representante de Deus para governar Israel.
ções gerais sobre a vida. Normalmente, os Deus cumpriria seus propósitos mediante seu
autores não fazem muito esforço para defen­ servo ungido. Eles algumas vezes também re­
der as verdades que estão expondo. Em vez tratam o rei como aquele que é herdeiro da
disso, eles simplesmente apresentam-nas como aliança de Deus com Davi (2Sm 7). Sua fide­
descrições claras da forma como Deus plane­ lidade traria as bênçãos de Deus para sempre.
308
Salmos

A cidade velha
de Jerusalém
vista do alto do
monte das
Oliveiras. Muitos
salmos foram
escritos por
peregrinos
chegando na
cidade santa de
Jerusalém.

Exemplos de salmos da realeza Salm os m essiânicos


messias
O Salmo 2 é um bom exemplo de salmo da Características básicas dos
realeza. Ele começa descrevendo a atitude salmos messiânicos
presunçosa das nações para com Deus e seu
ungido — o rei de Israel. Mas Deus iria lidar Os salmos messiânicos, conforme indica
o nome, descrevem o Messias, o ungido de
com eles em sua fúria. Ele havia colocado o
Deus. O termo “messias” vem da palavra
seu rei no Monte Sião e estabelecido um rela-
hebraica m ãsih que significa “ungido”. Pro­
cionamento de pai e filho com ele. Muitos
fetas, sacerdotes e reis, todos eram ungidos
intérpretes acreditam que esse salmo era o
de Deus, assim, qualquer um que estivesse
salmo de coroação que Israel recitava quan­
servindo em um desses três ofícios poderia
do coroava um novo rei.
ser chamado de ungido. Mas o Messias, o
O Salmo 45 é o segundo exemplo de um
ungido viria um dia para restaurar Israel e
salmo da realeza. O versículo 1 menciona a
estabelecer a salvação eterna. Os salmos
dedicação ao rei e os versículos 3-5 o desafi­
messiânicos retratam um ou mais aspectos
am a marchar vitoriosamente na batalha. Após
dessa vinda.
o louvor a Deus no versículo 6, os versículos 7-
9 exaltam o amor do rei à retidão e afirmam a Exemplos de salmos messiânicos
unção de Deus sobre ele. O resto do salmo Já classificamos o Salmo 2 como um sal­
louva o rei por seu esplendor enquanto ele se mo da realeza, pois ele fala do rei de Israel.
prepara para o seu casamento. Mas o Salmo 2 também descreve o rei como
O Salmo 110 é um outro exemplo de salmo o ungido do Senhor (Messias) e seu Filho. O
da realeza. A palavra “rei” não aparece até o Salmo 2.7: “Tu és meu Filho, eu, hoje, te
versículo 5, mas Davi referiu-se a si mesmo gerei” — é citado várias vezes no Novo Tes­
como “meu” no versículo 1 — “Disse o Se­ tamento, referindo-se a Jesus Cristo. O rei
nhor ao meu senhor: Assenta-te à minha di­ de Israel transformava-se em “filho” de Deus
reita, até que eu ponha os teus inimigos de­ no dia em que tornava-se rei, mas Deus pro­
baixo dos teus pés”. O Senhor iria destruir os vou que Jesus Cristo era o seu filho eterno
outros reis e estenderia o cetro de Davi. Ele quando o ressuscitou dos mortos (At 13.33).
também ordenou Davi como um tipo especial Assim, o Salmo 2 descreve o Messias como
de sacerdote. A presença de Deus ao lado de sendo Filho de Deus.
Davi resultaria na vitória final do povo de O Salmo 16 nos oferece um outro exem­
Deus. Os reis que se opusessem a ele cairiam plo dc salmo messiânico. Em meio às suas
diante de sua fúria. dificuldades, Davi afirmou que Deus jamais
309
Descobrindo os Livros Poéticos

o abandonaria. Aliás, ele podia ter esperan­ Mediante a soberana orientação do Espíri­
salmos
ça mesmo depois da morte. Em Atos 2.24-34, to Santo, o sofrimento psicológico e emocio­
imprecatórios
Pedro proclama como Jesus, o descendente nal de Davi prenunciou o sofrimento físico de
de Davi, terminou por cumprir essas pala­ Cristo. O Salmo 22 descreve a agonia do Se­
vras de Davi. O corpo de Davi ainda estava nhor na cruz enquanto ele morria como ofer­
em seu túmulo em Jerusalém, mas Jesus es­ ta perfeita de Deus pelo pecado.
tava sentado à direita de seu Pai! O Salmo Outros salmos também se encaixam nessa
16, portanto, descreve o Messias como res- categoria de salmos messiânicos. O Salmo 45
surreto e glorificado. descreve o reinado de Cristo (Hb 1.8), enquan­
A Salmo 22 é outro salmo messiânico. Ele to o Salmo 110 demonstra a o papel de Cristo
começa com as palavras que Jesus disse na como Senhor de Davi e nosso Sumo Sacerdo­
cruz — “Deus meu, Deus meu, por que me te (Mt 22.41-46; Hb 5.6). O livro de Salmos,
desamparaste?” (Mt 27.46). Davi, inicialmen­ portanto, retrata claramente Jesus como Fi­
te, falou essas palavras em profundo deses­ lho de Deus, sacrifício pelo pecado, nosso
pero. Ele sentiu que Deus o havia abando­ Sumo Sacerdote, ressurreto dentre os mortos,
nado. Aliás, ele descreve sua situação deso- Rei dos reis e Senhor dos senhores. E tudo isso
ladora nos versículos 14-18. Mas o Espírito foi escritos séculos antes do seu nascimento!
Santo guiou suas palavras nesses versículos
de tal maneira que, mil anos depois, elas fo­ Salmos imprecatórios
ram retratadas vividamente enquanto Jesus
Características básicas dos
estava na cruz.
salmos imprecatórios
Os salmos imprecatórios pedem o julga­
mento de Deus sobre os inimigos do salmista.
Questões para estudo
Como vários outros tipos de salmos, eles po­
dem ser de natureza individual ou congrega-
cional. Um indivíduo pode pedir que Deus
julgue os seus inimigos, ou o salmo pode des­
crever os sentimentos de toda Israel quando o
1. Dê o nome dos maiores contribuintes para povo clama a Deus para que ele derrame sua
o livro de Salmos. 0 que torna esse livro ira sobre uma nação que os esteja oprimindo.
tão singular na palavra de Deus? Por causa de seu conteúdo irado, os salmos
imprecatórios já causaram muitas discussões
2. Identifique os vários tipos de salmos e des­
teológicas. Como tais palavras vieram a fazer
creva suas características gerais. Quais ex­ parte das Escrituras?
pressões você esperaria encontrar em cada
tipo? Procure citar um salmo que se encai­ Exemplos de salmos imprecatórios
xe em cada estilo. Os Salmos 35 e 69 nos oferecem dois exem­
plos de salmos imprecatórios escritos por Davi.
Neles, Davi pedia a Deus que tomasse o seu
partido contra aqueles que contendiam com
ele. Eles tramavam contra ele e planejavam
Termos-chave sua queda. Davi pedia ao Senhor que intervi-
Doxologia esse e os julgasse. Ele pedia pelo julgamento
Gêneros de Deus não apenas para salvá-lo, mas para
Hino salvar o seu povo. Como os inimigos de Deus
Salmos de penitência se atreviam a atacar a nação escolhida por
Pessoa-chave Salmos de sabedoria Deus? Eles pagariam caro se Deus respondes­
Salmos reais se a oração de Davi!
Hermann Gunkel
Messias O Salmo 137 é um salmo de forte conteú­
Salmos messiânicos do emocional. Ele vem de tempos logo depois
Salmos imprecatórios do exílio na Babilônia. Nele, o escritor, ele
Salmos de lamento próprio um cativo, pedia a Deus que vingasse
o seu povo. Os babilônios riam deles e os
edomitas haviam tornado-se traidores no últi­
310
Salmos

mo instante. O salmista usa palavras pesadas Salm os de lam ento


salmos de
— quão abençoado seria aquele que destru­
lamento Características básicas dos
ísse os filhos (crianças) da Babilônia esma-
gando-os contra a pedra! salmos de lamento
Muitos leitores da Bíblia consideram os sal­ Os salmos de lamento são o último tipo
mos imprecatórios perturbadores. Como al­ de salmo no nosso estudo. De um modo geral,
guém poderia escrever tais palavras sob a orien­ eles contêm três elementos, apesar desses ele­
tação do Espírito Santo? Tais salmos certamen­ mentos não virem sempre na mesma ordem.
te nos ajudam a ver o lado humano das Escri­ Em primeiro lugar, lamentam um determi­
turas. Os salmistas clamavam com raiva e frus­ nado estado ou condição — “O Senhor, quão
tração e, em meio à dor, percebiam sua pró­ miserável é o estado em que me encontro”. Em
pria fraqueza. Nada que eles pudessem fazer segundo lugar, o salmista afirma sua confiança
iria mudar sua horrível situação. em Deus. De alguma forma, Deus o ajudaria a
Mas os salmos imprecatórios também dei­ passar por suas tribulações. Em terceiro lugar, o
xam o julgamento nas mãos de Deus. O salmista normalmente termina com algum tipo
salmista pedia pelo julgamento de Deus, mas de louvor. Deus ouviu sua oração e, mais cedo
ele pedia que Deus o executasse. Apesar de ou mais tarde, vai intervir em seu favor!
talvez não ser capaz de separar o pecado do
pecador, ele reconhecia que somente Deus Exemplos de salmos de lamento
tinha o direito absoluto de julgar. Ele pedia O Salmo 3 é um exemplo de salmo de la­
que Deus o fizesse logo. mento. De acordo com o cabeçalho, Davi o

Sumário

1. 0 livro de Salmos representa, em sua mos reais, salmos messiânicos, salmos


essência, o antigo hinário de Israel. imprecatórios e salmos de lamento.
2. Há diversos autores que contribuíram 7. Os hinos concentram-se no louvor in­
para o livro de Salmos — Davi, Asafe, dividual ou congregacional a Deus.
os filhos de Coré, Moisés, Salomão e
8. A confissão e o arrependimento são
alguns outros escritores anônimos.
encontrados nos salmos de penitência.
3. Os Salmos dão uma contribuição es­
9. Os salmos de sabedoria fazem obser­
pecial à Bíblia, pois oferecem um en­
vações gerais acerca da vida.
tendimento sobre a adoração israelita
à medida que nos informam sobre 1 0 . 0 foco dos salmos da realeza é o rei
todos os aspectos da vida hebraica. de Israel.
4. Há cinco divisões básicas no livro de 11. Os salmos messiânicos descrevem o
Salmos: 1-41, 42-72, 73-89, 90-106 Messias.
e 107-150.
12. Quando um salmo pede que Deus jul­
5. O estudioso alemão Hermann Gunkel gue os inimigos, esse salmo é classifi­
lançou as fundações para a classifica­ cado como sendo imprecatório.
ção dos salmos.
13. Salmos de lamento trazem lamento
6. A classificação básica dos salmos inclui sobre uma determinada situação, afir­
os seguintes tipos: hinos, salmos de mam a confiança em Deus e termi­
penitência, salmos de sabedoria, sal­ nam com louvor.

311
Descobrindo os Livros Poéticos

Leituras complementares

Kidner, Derek. Psalms 1-72: An Introduction and Com­ Grove: InterVarsity, 1975. Um bom comentário para
mentary. Tyndale Old Testament Commentary. universitários.
Downers Grove: InterVarsity, 1973. Um bom co­ Longman, Tremper III. How to Read the Psalms.
mentário em nível universitário. Downers Grove: InterVarsity, 1988. Um bom mate­
_. Psalms 73-150: AN Introduction and Commen­ rial em nível universitário que trata dos diversos tipos
tary. Tyndale Old Testament Commentary. Downers de salmos e como interpretá-los.

escreveu enquanto fugia de seu filho Absalão. o livrasse. Mas mesmo em meio ao seu sofri­
Durante esse período de luta pessoal e deses­ mento, ele coloca sua confiança totalmente
pero, Davi clamou para o seu Deus. no Senhor. No final, ele pode dormir em paz
Davi começou lamentando sua situação (4.8) porque o Senhor lhe dá toda a seguran­
— “Senhor, como tem crescido o número dos ça de que precisa. Deus ouviu a oração de
meus adversários!” Muitos acreditavam até Davi e o livrou de seus inimigos.
que Deus o havia abandonado! Ainda assim,
Davi afirmou sua confiança no Senhor. O
Senhor era como um escudo ao seu redor. Ele
havia respondido a oração de Davi em outras
Os salmos e o cristão
ocasiões e o faria novamente. Os salmos continuam sendo um tesouro de
Quando Davi chegou no final do salmo, auxílio espiritual para os cristãos. Suas palavras
ele estava louvando ao Senhor — “Do Se­ falam ao nosso coração assim como certamen­
nhor é a salvação, e sobre o teu povo, a tua te falaram ao coração de outros desde os dias
bênção”. Levar nossas mais profundas preo­ em que foram escritos. Seja qual for o nosso
cupações para o Senhor e confiá-las a ele estado de espírito, seja qual for nossa situação,
muitas vezes resulta nesse tipo de mudança as vozes antigas nos convidam a ouvi-las. Elas
de atitude. De repente, os problemas já não também já passaram por alegria, tristeza, luto,
parecem mais tão grandes! pecado, ira, confissão, perdão e outras experi­
Outros salmos de lamento incluem os Sal­ ências que tocam tão profundamente em nos­
mos 4 e 6. Em cada um deles, Davi expressa sas vidas. Elas nos chamam a aprender delas
para o Senhor a sua angústia e pergunta quan­ enquanto o Espírito Santo usa essas palavras
to tempo ainda teria que esperar até que Deus para nos trazer para mais perto do Senhor.

31 2
Provérbios
Conselhos sobre como viver
no mundo de Deus

Esboço
• O que é um provérbio?
• Conteúdo do livro de Provérbios
Esboço
Visão geral
• Autoria Objetivos
• Temas teológicos
Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
• Definir o termo "provérbio".
• Relacionar os dois tipos de literatura de
sabedoria.
• Delinear o conteúdo básico do livro de
Provérbios.
• Apresentar o propósito de Provérbios.
• Identificar os provérbios de cada conjunto
de ditados.
• Discutir os temas teológicos do livro de
Provérbios e sua importância para um viver
de sucesso.

313
Descobrindo os Livros Poéticos

O livro de Provérbios é o segundo livro da va ser verdadeiro por meio da experiência. Os


provérbio
coleção conhecida como “literatura de sabe­ assuntos tratados incluem tudo no universo
doria” (ver introdução à literatura de sabedo­ de Deus sobre como esse universo funciona.
ria no capítulo 20). O livro tem algo a dizer Ao longo do tempo, essas declarações foram
sobre cada aspecto da fé e da vida. Outras coletadas e relacionadas umas às outras. O
partes da Bíblia apresentam a lei de Deus, resultado é uma coleção de verdades perenes
narram acontecimentos históricos ou regis­ ou valores básicos provados por gerações an­
tram hinos de louvor. Mas o livro de Provér­ teriores. O propósito unificador da coleção é
bios consolida verdades da antiga Israel base­ de encorajar o leitor a viver com retidão pe­
adas na experiência e oferece aos crentes de rante Deus.
todas as gerações conselhos práticos sobre o Podemos também afirmar aquilo que um
viver em santidade. provérbio não é. Em primeiro lugar, provérbios
O livro de Provérbios é uma coleção de não são promessas. Pais cristãos gostariam
ditados curtos instruindo o leitor em como vi­ muito de tomar Provérbios 22.6 como uma
ver bem. Como o livro de Salmos, o livro de promessa de Deus: “Ensina a criança no ca­
Provérbios é uma coleção de coleções. Ele minho em que deve andar, e, ainda quando
contém provérbios e ditados de sabedoria de for velho, não se desviará dele”. Mas infeliz­
diferentes autores e fontes compilados em uma mente, esta não é uma garantia de que um
biblioteca de ensinamentos de sabedoria so­ cristão irá educar filhos automaticamente cris­
bre como “temer a Deus apartar-se do mal” tãos. Algumas vezes, os jovens rejeitam os
(Pv 3.7). ensinamentos que receberam e recusam-se a
aceitar a liderança dos pais cristãos. Esse pro­
vérbio é, na verdade, um princípio geral de
que a educação correta ficará com os filhos e,
O que é um na maioria dos casos , crianças educadas em
"provérbio"? famílias de justos aceitarão a orientação de
seus pais. Mais uma vez, o provérbio é a decla­
Falando de um modo geral, um provér- ração de uma verdade geral e não uma pro­
bio é um ditado sucinto e persuasivo que pro­ messa inquebrável.

Um jovem em
seu bar mitzvah
no Muro
Oriental de
Jerusalém.
Provérbios é
uma coleção de
ditados realistas
criada para
ensinara
sabedoria
prática. Muitos
dos conselhos
são dirigidos aos
jovens.

314
Provérbios

não tenhamos amizade com ninguém de gê­


nio forte. Mas o princípio geral aqui é de que
Trechos adaptados você deve tomar cuidado ao escolher seus
dos ensinamentos de amigos porque eles afetam o seu caráter. Se
você se associar com pessoas briguentas, você
Ahiqar1 terá a tendência de se tornar igual a elas. Ou
tome, por exemplo, o provérbio em 24.27:
Ahiqar era conselheiro de Senaqueribe, rei da Assí­
Cuida dos teus negócios lá fora,
ria (704-681 a.C ,). Seus "ensinamentos" foram pre­
apronta a lavoura no campo
servados em aramaico do século 15Ô a.C . em onze fo­
e depois edifica a tua casa.
lhas de papiro ou papel reciclado. Arqueólogos ale­
mães descobriram o documento no sul do Egito em Algum cristão bem intencionado pode di­
1 9 0 6 e 1907. zer, tomando por base esse versículo, que não
se deve morar em uma casa até que se tenha
Os ditados de Ahiqar foram selecionados para seu
aprendido a viver ao ar livre. Mas certamen­
sobrinho e filho adotivo, Nadim, a quem Ahiqar esta­
te esse provérbio é uma afirmação geral con­
va educando para substituí-lo. Os paralelos com pro­
tra gastar antes de se ter os recursos. Este é
vérbios do Antigo Testamento são sugeridos entre
um conceito honrado ao longo do tempo so­
parênteses.
bre produzir antes de consumir. Paulo disse:
Não poupe o seu filho da vara ou você não será “se alguém não trabalhar, também não coma”
capaz de salvá-lo (Pv 13.24). (2Ts3.10).
Em vez de promessas ou mandamentos a
Filho meu, não fale demais para que você não aca­ serem aplicados em todos os casos, os provér­
be falando qualquer coisa que lhe vem à mente. Os bios devem ser vistos como princípios gerais
olhos e ouvidos das pessoas estão sempre observan­ de vida. Eis aqui a sabedoria dos séculos, tes­
do sua boca, portanto, cuide para que essa não seja a tada e aprovada, de apresentação interessan­
sua ruína. Mais que qualquer coisa, cuide com o que te e de ética elevada. Por causa de seu estilo
você fala (Pv 4.23,24).
sucinto, os provérbios não devem ser lidos por
Se um homem é pequeno, mas torna-se grande, cima. Sua linguagem condensada torna ne­
suas palavras alçam vôo acima dele. Pois o que sai de cessário que sejam lidos lentamente e de ma­
sua boca é uma declaração dos deuses e se os deuses neira contemplativa. Essas verdades levam
o amam, irão colocar boas coisas em sua boca para tempo para ser compreendidas.
ele dizer (Pv 16.1). Suas características também pedem que a
leitura seja feita buscando-se princípios por
Que o sol não brilhe sobre aqueles que não se or­ trás das palavras ou declarações. Por exemplo,
gulham do nome de seu pai e de sua mãe (Pv 20.20). o provérbio inglês “Olhe antes de pular” (Look
before you leap) é fácil de ser memorizado por
James M. UncJenberger. The Aramaic Proverbs o f Ahiqar. Baltimore:
John Hopkins Uníversity Press. 1983, e AN U, 427-430.
suas palavras curtas e pela presença da letra
“1” nos dois verbos.1 Apesar de ter o mesmo
significado, seria muito mais difícil lembrar
da seguinte declaração: “Antes de assumir um
determinado compromisso, considere todas as
Em segundo lugar, provérbios não são on circunstâncias e opções envolvidas na deci­
dcns. Muitos provérbios começam com impe­ são”. A frase mais curta e de fácil memorização
rativos, ou as instruções são dadas em segun­ é mais interessante e autoritária, simplesmen­
da pessoa. Ainda assim, eles devem ser cuida­ te por causa de sua natureza proverbial. Mas
dosamente interpretados para os nossos dias. ela também pode ser mal interpretada. Ela
não diz por quanto tempo deve-se olhar antes
Não te associes com o iracundo,
de pular. Aliás, o provérbio não tem nada a
nem andes com o homem colérico,
ver com o pular em si.
para que não aprendas as suas veredas e,
Da mesma forma, quando estiver lendo os
assim, enlaces a tua alma.
provérbios da Bíblia, você deve lembrar-se de
(Pv 22.24,25)
sua natureza ampla e geral. Tome-os como
Alguém pode inocentemente interpretar observações gerais sobre como as coisas fun­
esse provérbio como sendo um aviso para que cionam na vida.

315
Descobrindo os Livros Poéticos

V I. Ditados de Agur (30.1-33)


Conteúdo do livro
V II. Ditados de Lemuel (31.1-9)
de Provérbios
V III. Post^scriptum: a mulher virtuosa
A literatura de sabedoria em geral tem dois (31.10-31)
tipos (ver capítulo 20). O primeiro é a sabedo-
ria discursiva, que trata de assuntos difíceis V is ã o g e r a l
da vida e normalmente é pessimista. O livro O livro contém sete coleções de provérbios
de Jó é um exemplo desse tipo de literatura de de vários autores. Uma introdução de sete ver­
sabedoria. O segundo tipo de literatura de sículos (1.1-7) declara os propósitos do autor.
sabedoria tem um caráter instrutivo ou didá­
tico e normalmente apresenta uma visão oti- Título e introdução (1.1-7)
mista da vida. O livro de Provérbios é um O versículo de abertura associa o livro de
exemplo desse segundo tipo. A literatura ins- Provérbios a Salomão, o homem mais sábio de
trutiva do Antigo Testamento, como o livro Israel e o catalisador de sua literatura de sabe­
de Provérbios, tem seus paralelos mais próxi- doria. O propósito do livro fica claro pela repe­
mos na sabedoria instrutiva do Egito, apesar tição de “para” nos versículos 2-6.2
da M esopotâm ia também oferecer alguns
exemplos. 2) Para aprender a sabedoria
O livro de Provérbios dá continuidade a e o ensino;
temas de outras partes do Antigo Testamento para entender as palavras
ao contrastar dois modos de vida. De um lado de inteligência;
estão aqueles que rejeitam as leis de Deus e 3) para obter o ensino
recusam-se a manter a aliança. Provérbios do bom proceder,
chama esses indivíduos de “néscios” e sua es­ a justiça, o juízo
colha de vida é “loucura”. Do outro lado es­ e a eqüidade;
tão aqueles que zelosamente mantêm o seu 4) para dar aos simples
relacionamento com Deus e praticam os ca­ prudência
minhos que são chamados de “sábios”, e suas e aos jovens,
vidas são caracterizadas pela “sabedoria”. conhecimento e bom siso.
5) Ouça o sábio
Esb o ço e cresça em prudência;
e o instruído
I* Título e prólogo (1.1-7) adquira habilidade
6) para entender provérbios e parábolas,
II. A sabedoria e alguns oponentes
as palavras e enigmas dos sábios.
(1.8-9.18)
A. Pecadores (1.8-19) O objetivo do livro é a instrução, especial­
B. Clamor da sabedoria (1.20-33)mente dos jovens (v. 4), mas também é útil
C. As recompensas da sabedoria para aqueles que já têm sabedoria (v. 5).
(2.1-4.27) Nesse livro encontra-se muito mais que in­
D. Adultério (5.1-23) formação ou conhecimento racional. A instru­
E. Negócios e sociedade (6.1-19)ção aqui é baseada na reverência e adoração a
F. Adultério (6.20-7.27) Iavé: “o temor do Senhor é o princípio do sa­
G. Louvor à sabedoria (8.1-36) ber” (v. 7a). Sendo o “princípio” o temor de
H. Escolhas humanas (9.1-18) Deus, é primeiro fator e elemento controlador
da sabedoria e não uma etapa a ser concluída.3
III. Os provérbios de Salomão
Assim, o conhecimento aqui oferecido é um
(10.1-22.16)
relacionamento com o Deus da aliança e de­
IV. Ditados dos homens sábios (2.17— pende de sua revelação de si próprio. A linha
24.34) contrastante no versículo 7 (“mas os loucos des­
prezam a sabedoria e o ensino”) adverte o estu­
V. Provérbios de Salomão da dante no caminho da sabedoria que ele en­
coleção de Ezequias (25.1— contrará aqueles que irão opor-se à sua jorna­
29.27) da e encorajá-lo a buscar outros caminhos.
316
Provérbios

te do jovem por seus pais (1.8,9). O jovem


As mulheres sábio usa as instruções de seu pai e os ensina­
mentos de sua mãe como “diadema” e “cola-
e o livro de res” que o preparam para a vida. Mas o cami­
Provérbios nho da loucura sugerido pelos outros jovens
que o pressionam para que leve um vida de
É provável que o material do livro de Provérbios fi­ pecado, no fim, resulta em morte prematura
zesse parte do currículo para a educação de rapazes (1.10-19).
que estavam se preparando para assumir posições de Vários parágrafos dessa unidade louvam
liderança na monarquia israelita. Tais posições não es­ as virtudes da sabedoria e enumeram as re­
tavam disponíveis para moças naquela sociedade e cul­ compensas de se buscar o conhecimento de
tura, o que leva a uma clara tendência masculina no li­ Deus.
vro. A expressão "filho meu" é repetida com freqüência 1. 1.20-33. Esta é primeira de várias passa­
como forma de tratamento do aluno. gens em que a sabedoria é personificada como
Ainda assim, o livro tem grande apreço pelo femini­ uma mulher. Aqui, ela clama com urgência e
no. A instrução da mãe tem o mesmo valor que a ins­ sentimento a todos os que passam pelos portões
trução do pai (1.8; 10.1) e a alegria de uma boa esposa (lugares públicos de reunião nas cidades da
é valorizada acima de tudo (12.4). Sob esse ponto de antigüidade). Rejeitar seus conselhos é o mes­
vista, é interessante que o livro se encerre com um ma­ mo que detestar o conhecimento e rejeitar o
ravilhoso poema sobre a mulher virtuosa (31.10-31).
temor de Iavé. Essa rejeição leva à autodes-
A leitura de Provérbios em nossos dias requer vários
truição (vs. 28-32). Mas seu convite é para a
ajustes. Politicamente falando, não vivemos em um re­
vida e segurança (v. 33).
gime de monarquia no qual os papéis de liderança es­
2. 2.1-22. Esse parágrafo assegura o jovem
tão restritos aos homens. Culturalmente, não somos
todos da mesma origem étnica, religiosa e socioeconô- que a sabedoria é alcançável se for buscada
mica como eram os antigos israelitas. Quando lemos “como prata” (v. 4). Sabedoria, conhecimen­
provérbios nos dias de hoje, precisamos ter em mente to e entendimento são dádivas de Deus, que
que essas excelentes instruções para o viver, apesar de vêm de sua própria boca (v. 6). São mais que
terem sido organizadas para rapazes, também devem uma visão humana, são a verdade dos cami­
ser oferecidas às mulheres. À medida que as mulheres nhos eternos de Deus.
assumem papéis de liderança no local de trabalho, na 3. 3.1-35. Ainda outros benefícios da sa­
igreja e no lar, elas também precisam ser beneficiadas bedoria são uma vida de serenidade e vitória.
por essas verdades perenes sobre a vida no mundo de O tema central dessa unidade é declarado
Deus. enfaticamente em dois importantes versícu­
los que resumem o ponto de vista da Bíblia
em relação à vida:
Confia no Senhor de todo o teu coração
Louvor à sabedoria (1.8-9.18) e não te estribes no teu próprio
entendimento.
O material nesses capítulos consiste de dis­
Reconhece-o em todos os teus caminhos
cursos mais longos e bem elaborados, enquanto
e ele endireitará as tuas veredas.
a maior parte do resto da coleção tem ditados
(vs. 5,6)
mais curtos e condensados com pouca orga­
nização editorial aparente.4 Tendo em vista a 4. 4.1-27. Esse capítulo contém os ensina­
repetição das palavras “filho meu” e das di­ mentos urgentes de um pai para o seu filho
versas referências à instrução do pai e aos en­ nos quais, mais uma vez, ele oferece dois ca­
sinamentos da mãe, os ditados em 1.8—9.18 minhos. Essas verdades perenes têm sido pas­
são uma série de “conversas de pai para filho”. sadas de geração para geração (vs. 3,4). O
Esses ditados com freqüência contrastam a contraste entre os dois caminhos de vida tem
imoralidade sexual com a devoção à sabedo­ seu ápice na “vereda do justo” que caminha
ria, que envolve a pureza sexual. O quadro na segurança da luz do dia, e no “caminho
geral mostra o grande valor da sabedoria. dos perversos” que cambaleiam na mais pro­
A unidade começa com uma introdução funda escuridão (vs. 18,19).3
que ressalta os dois caminhos de 1.7, o cami­ 5. 5.15-23. A alegria da fidelidade conju­
nho da sabedoria e o caminho da loucura. O gal é outro benefício da sabedoria. Em lingua­
caminho da sabedoria é aquele colocado dian­ gem explícita, o parágrafo explica que o pra­
317
Descobrindo os Livros Poéticos

zer sexual é a dádiva de Deus para o casal primeiro erro é ir ao lugar errado na hora
distichs
unido pelo matrimônio. A fidelidade à esposa errada, onde ele parece estar indefeso con­
é fonte de alegria e satisfação. Mas a quebra tra os avanços da tentadora (vs. 8,9). Quan­
dos votos matrimoniais é calamitosa. do entrega-se a ela, ele a segue como “boi
6. 8.1-36. O louvor à sabedoria vem emque vai ao matadouro” (v. 22). O parágrafo
um crescendo até esse ponto. Provérbios 8 é o de conclusão suplica ao leitor que olhe além
ponto mais alto da visão bíblica da sabedoria e de sua beleza e veja o monte de corpos que
tem um contraste impressionante em relação são suas vítimas (vs. 24-27).
aos trechos anteriores que advertem sobre a
Provérbios de Salomão
infidelidade sexual, especialmente o capítulo
7. A sabedoria é personificada como uma (10.1-22.16)
mulher que deve ser apreciada, adorada e Depois do discurso paternal da primeira
honrada.6 Assim, o contraste entre a Dama unidade, o jovem agora está pronto para os
da Sabedoria e a adúltera do capítulo 7 é pro­ muitos provérbios específicos dessa unidade
fundo e dá ao jovem uma escolha clara entre mais longa. O título (“Provérbios de Salomão”,
uma vida de sabedoria e uma vida de pecado. 10.1) separa a coleção de discursos anteriores
A Dama da Sabedoria foi estabelecida dessa unidade de provérbios individuais. A
desde o início da eternidade e estava ao lado unidade consiste, em grande parte, de uma
de Deus quando ele criou o universo (vs. 22- coleção de ditados proverbiais em forma de
31). Mas pela graça de Deus, ela também poesia com duas linhas cada (distichs). O pa­
está presente no mercado, para oferecer vida ralelismo é quase sempre antitético, como
e entendimento para os mais simples e faltos aparece no primeiro aforismo: “O filho sábio
de senso (vs. 1-21). Como a tentadora do alegra o seu pai, mas o filho insensato é a tris­
capítulo 7, a Dama da Sabedoria também teza de sua mãe” (10.1).
quer ser encontrada pela humanidade. Mas Esses provérbios tratam de tópicos tão di­
ao contrário da adúltera, aqueles que en­ versos e abrangentes quanto a própria vida:
contram a sabedoria encontram a própria pobreza e riqueza, calúnia e difamação, au-
vida (vs. 35,36). todisciplina, fala e silêncio, trabalho e pre­
Provérbios 1.8-9.18 contêm vários trechos guiça, promessas apressadas, disciplina na
que advertem sobre o adultério e os perigos educação, doenças e tristeza, velhice e mui­
da mulher imoral. to mais.7 Não parece haver um princípio de
1. 5.1-14- Esse parágrafo tem dois discur­ organização ou estrutura dentro dessa cole­
sos que advertem contra o pecado sexual. Não ção. A aparente desordem desses provérbios
importa quão sedutora é a mulher adúltera, reflete a maneira aleatória com a qual nós
sua beleza só cobre a decomposição e ruína lidamos com as questões de vida que são tra­
no centro dos seus motivos (vs. 3-5), O segun­ tadas nessas passagens.8
do discurso relaciona as sombrias conseqüên­
cias da impureza sexual (vs. 7-14). Ditados dos homens sábios
2. 6.20-35. Os efeitos do pecado sexual são (22.17-24.34)
tão grandes que destroem qualquer um que se Essa coleção separada é marcada pelo pa­
submeta a eles. “Tomará alguém fogo no seio rágrafo de abertura (22.17-21). Estes são “pre­
sem que suas vestes se incendeiem?” (v. 27). ceitos e admoestações” que o estudante deve
3. 7.1-27. Este é o trecho mais forte sobre fixar em seu coração e aos quais deve prestar
os perigos da impureza sexual. O parágrafo grande atenção. A observância cuidadosa
de abertura (vs. 1-5) ilustra a importância de desses ditados resultará em confiança no Se­
se tomar decisões com cuidado. Advertên­ nhor e em uma sólida fundação na verdade.
cias sobre o pecado sexual devem estar plan­ Esses “trinta ditados” (22.20) têm muito
tadas no coração antes do momento da ten­ em comum com o documento egípcio conhe­
tação. O melhor conselho possível para um cido com a Instrução de AMENEMOPE, que
jovem, conforme é apresentado aqui na sa­ tem um prólogo de trinta capítulos de “instru­
bedoria de Deus, é de guardar essas palavras ções para o bem viver” (ver introdução no
e mandamentos como as pupilas (“meninas”) capítulo 20). A relação entre os provérbios
dos olhos. O resto do capítulo descreve o que egípcios e essa seção do livro bíblico (especial­
acontece quando o jovem simples, carente mente 22.17-23.14) é muita próxima para ser
de juízo, cede às tentações (vs. 6-27). Seu considerada uma coincidência. Alguns estu-
318
Provérbios

to que as Instruções de Amenemope foram es­


Trechos dos critas por volta de 1200 a.C., mais de duzen­
tos anos antes de Salomão.10
ensinam entos de Não é surpreendente que autores bíblicos
Am enem ope1 tenham sentido liberdade de fazer uso de
materiais de outras culturas ao seu redor. O
título dessa seção (“ditados dos sábios”) pode
(Comparar com Pv 22.17—23,11) deixar implícitas suas origens estrangeiras e o
capítulo 30, bem como parte do capítulo 31,
Use seus ouvidos, escute o que está sendo dito. Veja foram, provavelmente, contribuições de não-
por si mesmo esses trinta capítulos. Eles são agradá­ israelitas. Também já vimos que Jó pode ter
veis, eíes educam. Guarde-se de roubar dos pobres e origens estrangeiras. A idéia dos israelitas te­
de ser violento com os fracos. Não se associe ao ho­
rem tomado emprestado material literário não
mem precipitado e nem converse com ele... quando ele
surpreende, especialmente no caso de provér­
disser alguma coisa que pode ser uma armadilha, você
bios que são, afinal de contas, baseados em
será libertado por sua resposta. Quanto ao escriba que
experiências de vida e observações acerca do
é experiente em seu ofício, ele será digno de estar na
universo. Os israelitas da antigüidade reco­
corte.
nheciam e respeitavam os valores e a veraci­
Não coma na presença de um nobre e nem encha dade de algumas das observações dos egípci­
sua boca de comida na frente dele. Se você já está sa­ os sobre a vida, apesar de condenarem todas
tisfeito, finja mastigar. E agradável para sua saliva. Olhe as formas de politeísmo. Assim, esse uso de
para o copo que está à sua frente e permita que ele o material não era algo rígido, mas sim criativo.
satisfaça. O autor dessa seção sentiu a liberdade de
adaptar o material para a singular adoração
Não se esforce demais para buscar o excesso quan­
de Iavé em Israel.
do suas posses estão seguras. Se as riquezas lhe foram
E preciso lembrar também que os provérbi­
dadas por meio do roubo, elas não ficarão com você
os, apesar de serem baseados em experiências
por uma noite sequer.
humanas, não são apenas as observações da
Não cobice a propriedade de um homem pobre e humanidade sobre o mundo. As instruções
não tenha fome pelo pão desse homem. Quanto à pro­ são parte da revelação de Deus em Israel e
priedade do homem pobre, ela obstrui a garganta e a para os cristãos dos dias de hoje. O fato dessa
fere. Não abra seu coração para todos para não perder seção possivelmente ter originado uma cole­
seu respeito. Não tire a pedra de divisa das divisas da ção de provérbios do Egito não diminui o pa­
propriedade e não mude de lugar a pedra de divisa da pel da inspiração de Deus na composição do
propriedade de uma viúva. Se fizer isto, grande mal cai­ livro de Provérbios.
rá sobre você.
Ditados de Salomão da coleção
1Extraído da instrução de Am enemope, ANET 421,424. de Ezequias (25.1-29.27)
J. Ruffle. The Teaching o f Amenemope and its Connection with the Book
o f Proverbs", Tyndale Bulletin 28 (1977): 29-68. De acordo com a introdução dessa seção,
Ver John Walton, Ancíent Israelite Literature in Its Context: A Survey o f
os escribas da corte de Ezequias copiaram e
Parailels Between the Biblical and Ancient Near Eastern Texts, Grand Ra­
pids: Zondervan, 1989, 192-197, para uma discussão completa. compilaram essa coleção de “mais provérbios
de Salomão” (25.1). Assim como em outras
seções dos provérbios de Salomão, estes são
marcados pelo seu estilo curto e autoritário.
diosos argumentam que o texto egípcio foi Mas os escribas de Ezequias organizaram cer­
traduzido de uma outra versão hebraica mais tos provérbios em coleções tópicas (como em
antiga. Mas a maioria concorda que os pro­ 1.8-9.18).
vérbios hebraicos foram modelados de acordo Muitos desses provérbios teriam sido de
com um original egípcio. Aliás, o texto he­ grande interesse para Ezequias, o reformador
braico tende a esclarecer o seu equivalente religioso (ver 2Cr 29-31). Com freqüência,
egípcio em certas partes.9 Qualquer dúvida eles tratam de tópicos de liderança e outros
sobre quem copiou de quem foi esclarecida assuntos associados a líderes. Os reis são co­
por achados recentes que tornam necessária nhecidos por sua sede de verdade (25.2,3) e
a determinação de uma nova data para a com­ eles se cansam de tanta ostentação motivada
posição do texto egípcio. E praticamente cer­ pelo orgulho vão (25.6-8).
319
Descobrindo os Livros Poéticos

Um comerciante
no mercado de
Belém pesa os
seus produtos.
O Senhor
adverte para
que pesos e
medidas sejam
honestos (11.1).

Ditados de Agur (30.1-33) Ditados de Lemuel (31.1-9)


acróstico
Os provérbios de Agur, filho de Jaque e os Os provérbios do rei Lemuel, aprendidos
do rei Lemuel parecem ter existido indepen­ no colo de sua mãe, advertem sobre a res­
dentemente antes de se tornarem parte do ponsabilidade real. Os reis devem cuidar para
livro bíblico.11 A maior parte dos comentaris­ não entregar-se aos seus apetites às custas do
tas supõe que eles são de origem árabe, uma povo. De modo mais específico, a mãe de
teoria apoiada por uma ligeira variação tex­ Lemuel o adverte sobre a bebedeira, que leva
tual. Nem Agur e nem Lamuel são conheci­ à negligência para com a lei e à perseguição
dos fora dessas referências bíblicas e sua ori­ dos oprimidos.
gem continua gerando dúvidas.
A coleção de Agur é marcada pela repeti­ A sabedoria de encontrar uma
ção, de diversos ditados numéricos, tais como: esposa virtuosa (31.10-31)
“Há três coisas que são maravilhosas para Esses versículos são um acróstico, o que
mim, sim, há quatro que não entendo”. O significa que a primeira letra de cada linha da
capítulo abre com a confissão sincera do au­ poesia é a letra seguinte do alfabeto hebraico.
tor de que ele não tem grande sabedoria e en­ Assim, há vinte e duas linhas, uma linha para
tendimento (30.1-9). Suas declarações numé­ cada uma das vinte e duas letras do alfabeto
ricas demonstram sua necessidade de apren­ hebraico. Esta é uma técnica favorita dos
der mais e ganhar compreensão mais profun­ talentosos poetas dos Antigo Testamento (ver,
da. Assim como outras partes do livro de Pro­ por exemplo, SI 119 e Lm 3).
vérbios, a coleção de Agur mostra que o orgu­ E apropriado que o livro de Provérbios ter­
lho é inimigo da sabedoria e, portanto, de Deus. mine falando da importância de se encontrar
uma boa esposa. Ao longo de suas páginas, ele
advertiu diversas vezes sobre a impureza se­
Termos-chave xual. O livro também exaltou o papel da mu­
A lher e até mesmo personificou a sabedoria
Provérbio
como sendo uma mulher digna de casamen­
1 Distichs
to. O jovem que está começando sua vida de
Acróstico
serviço a Deus pode ser arruinado ou ter gran­
Pessoa-chave de sucesso, dependendo da escolha que fizer
da parceira para o resto da vida (31.23). Sua
Amenemope escolha de uma esposa é o primeiro teste de
caráter e seu sucesso depende em parte do
caráter dela também.

320
Provérbios

Nesses parágrafos de encerramento, o li- ção ocorreu em alguma época no começo do


vro parece enfatizar o papel da esposa e mãe primeiro milênio, o que apóia o testemunho
virtuosa como o de alguém que é capaz de bíblico.12 As evidências sugerem que Salomão
construir um caráter de sabedoria em sua fa- compôs muito do material no livro de Provér­
mília. A família dessa grande mulher irá se bios. Contribuições de outros mestres da sabe­
levantar e chamá-la de abençoada (31.28-31). doria foram acrescentadas à coleção de Salo­
mão, pois ele era o motivador e patrono da
— tradição de sabedoria israelita.
Autoria
O livro contém diversas referências ao pa­ Temas teológicos
pel de Salomão na tradição dos provérbios
em Israel. Os provérbios dos capítulos 10.1- O Antigo Testamento oferece poucos de­
22.16 são chamados de “provérbios de Salo­ talhes sobre como os israelitas educavam os
mão” (10.1) e aqueles dos capítulos 25-29 seus filhos. Ao que parece, a educação acon­
são “mais provérbios de Salomão” copiados tecia em casa (Dt 6.4'9; Pv 23.22-25). O que
pelos homens de Ezequias, rei de Judá (25.1). fica claro é que o livro de Provérbios apre­
O versículo de abertura do livro associa a senta o conteúdo da educação israelita. Ape­
coleção toda a Salomão. sar do livro obviamente lidar com conheci­
De fato, o testemunho bíblico de um modo mento e educação seculares, ele não se limi­
geral apoia a idéia de que Salomão estava na ta a esse âmbito.
origem da tradição da sabedoria em Israel (lRs O livro de Provérbios tem por finalidade
4.29-34; SI 72.1,127.1; Ct 1.1). Apesar de mui­ apresentar a sabedoria necessária para uma
tos estudiosos modernos da Bíblia rejeitarem vida de sucesso. Ele oferece instruções para se
essa possibilidade, um estudo da estrutura do viver e se relacionar com Deus e no mundo
livro de Provérbios sugere que sua composi­ que ele criou. Os israelitas antigos não faziam

Sumário

1. Um provérbio é um ditado curto so­ 6. Os trinta ditados de provérbios 22-28


bre princípios para o viver que foram são bastante parecidos com aqueles
provados pela experiência de vida, encontrados em um documento
mas um provérbio não é uma pro­ egípcio, a Instrução de Amenemope.
messa e nem um mandamento.
7. O livro de Provérbios contém ditados
2. Há dois tipos de literatura de sabedo­ de Salomão, Agur e Lemuel.
ria: sabedoria discursiva, como aquela
8. A coleção de ditados de Agur enfati­
apresentada no livro de Jó e literatura
za como o orgulho é inimigo da sa­
instrutiva, como a que é encontrada
bedoria.
em Provérbios.
9. Em Provérbios 31, o acróstico é usado
3. O principal objetivo do livro de Provér­
como recurso literário.
bios é oferecer instrução para todos.
10. O livro de Provérbios trata da instru­
4. Provérbios 1-9 é, basicamente, o dis­
ção e descreve o conteúdo da educa­
curso dos pais para os filhos.
ção israelita. Isto inclui educação
5. Os provérbios dos capítulos 10-22 para se viver em um relacionamento
são provérbios específicos para os jo­ correto com Deus e com o mundo
vens e tratam de vários assuntos. que ele criou.

321
Descobrindo os Livros Poéticos

Questões para estudo

1. Qual é o foco desse livro de ditados 5. Qual é a unidade que pode ter se ba­
curtos? Defina um “ provérbio". De seado em um texto egípcio?
que forma um provérbio difere de
6. Por que os ditados dos capítulos
uma promessa ou mandamento?
25.1-29.27 teriam sido de interesse
2. De que maneira a “sabedoria" de para Ezequias?
Provérbios é diferente daquela apre­
7. O que se sabe sobre as origens dos di­
sentada no livro de Jó? Quais são as
tados de Agur (30.1-33)?
duas coisas contrastadas no livro de
Provérbios? 8. Por que a unidade sobre encontrar-se
uma esposa virtuosa (31.10-31) é um
3. Qual é o objetivo do livro? Quem é o
final apropriado para o livro de Pro­
público-alvo? Qual é o primeiro e
vérbios?
controlador princípio da sabedoria?
9. Qual era o lugar de Provérbios na
4. De que maneira a primeira coleção de
educação israelita? De que maneira os
ditados (1.1-9.18) é diferente da maior
israelitas viam a fé e o conhecimento?
parte das outras coleções do livro?
Qual é a essência por trás do conheci­
Onde pode-se encontrar o ponto alto
mento ou sabedoria conforme apre­
da visão que a Bíblia tem da sabedoria?
sentado em Provérbios?
Qual é a unidade mais forte sobre os
perigos da impureza sexual?

uma separação da fé em relação a outros as- dades de Deus. Mas suas verdades nos levam
pectos da vida como faz o homem moderno. a um comprometimento de vida. Sem esse
Para eles, havia apenas um universo de expe­ comprometimento, perdemos a verdadeira
riências, no qual as percepções racionais e sabedoria, que brota do nosso relacionamen­
religiosas não eram diferenciadas.13 Experiên­ to com ele.
cias com Iavé eram experiências com o mun­ Esse conhecimento relacionai tem um im­
do, tendo em vista que os israelitas não procu­ pacto nos relacionamentos entre as pessoas.
ravam separar o conhecimento da fé. Assim, O livro de Provérbios tem muito a dizer sobre
“o temor do Senhor é o princípio do saber” nossos relacionamentos com pais, cônjuges e
(1.7; 9.10). famílias. Um elemento-chave da sabedoria é
O conhecimento (pelo menos esse tipo de o relacionamento sexual, um importante as­
conhecimento) é, antes de mais nada, relacio­ sunto desse livro. Provérbios reconhece o po­
nai e não baseado em proposições. Em outras der do sexo em nossos relacionamentos. Esse
palavras, há muito mais envolvido em se apren­ poder traduz-se em potencial para o relacio­
der a verdade que simplesmente se conhecer namento mais pleno o possível, a beleza do
quais são as suas proposições, as suas declara­ amor dentro do casamento. Por outro lado, o
ções devidamente comprovadas. As pessoas poder do sexo também apresenta uma perigo­
mais brilhantes podem adquirir uma visão pro­ sa abertura para o desastre. Aqueles que abu­
funda do mundo e até mesmo de Deus e, ain­ sam dessa dádiva poderosa e preciosa de Deus
da assim, não conhecê-lo. A sabedoria ofereci­ fora da sua vontade estão certamente se en­
da no livro de Provérbios é sabedoria enraizada caminhando para uma tragédia.
no conhecimento pessoal de Deus. Como vimos no capítulo 20, a teologia de
Esse tipo de sabedoria está mais relaciona­ retribuição do Pentateuco tem um importan­
do ao caráter que ao intelecto. E claro que o te papel na literatura de sabedoria. O livro de
intelecto é importante para se captar as ver­ Provérbios ilustra o princípio de retribuição ao
322
Provérbios

Leituras complementares

Alden, Robert L. Proverbs: A Commentary on an An- mentary 15A. Dallas: Word, 1989. Uma exposição
cient Book o f Timeless Advice. Grand Rapids: Baker, útil mais acadêmica que a maior parte dos comentá­
1983. Uma exposição do livro em forma de comen­ rios da mesma série.
tário e de fácil leitura. Kidner, Derek. The Proverbs: An Introduction and Com­
Bullock, C. Hassel. An Introduction to the Old Testa­ mentary. Tyndale Old Testament Commentary.
ment Poetic Books. Ed. rev. Chicago: Moody, 1988. Downers Grove/Leicester: InterVarsity, 1994. Idéias
Uma introdução útil sobre todos os Livros Poéticos. importantes, porém concisas. Inclui uma breve dis­
Garret, Duane A. Proverbs, Ecclesiastes, Song o f Songs. cussão dos tópicos mais importantes: casamento,
New American Commentary 14. Nashville: Broad- família, filhos, etc. Excelente para principiantes.
man, 1993. O melhor e mais abrangente comentário Mouser, William E., Jr. Walking in Wisdom: Studying the
disponível. Contém uma apresentação acadêmica Proverbs o f Solomon. Downers Grove: InterVarsity,
completa, mas também preocupa-se com as ques­ 1983. Introdução aos aspectos literários singulares
tões teológicas. de Provérbios. De ajuda na discussão de poesia.
Hubbards, David A. Proverbs. CommunicatoCs Com­

enfatizar as duas formas de se viver entre as Deus e buscar aprender mais de sua forma
quais todos nós devemos escolher: o camb de agir no mundo. O caminho da loucura
nho da sabedoria ou o caminho da loucura. vive sem admitir a presença e a instrução de
O caminho da sabedoria é um caminho que Deus. Escolher a segunda alternativa é des-
implica viver em um relacionamento com truir-se a si mesmo.

323
Eclesiastes
e Cântico dos Cânticos
A fé israelita na vida diária

Esboço
• O liv ro d e E c le s ia s te s
Conteúdo
Autoria
• O liv ro d e C â n tic o d o s C â n tic o s
Objetivos
Conteúdo D e p o is d e le r e s t e c a p ítu lo ,
Autoria vo cê deve ser cap az de:

• T e m a s t e o ló g ic o s • Citar os temas de Eclesiastes e Cântico dos


Cânticos.
Eclesiastes
• Delinear o conteúdo básico do livro de
Cântico dos Cânticos Eclesiastes.
• Discutir os temas de Eclesiastes e Cântico
dos Cânticos.
• Relacionar as questões mais importantes
acerca da autoria de Eclesiastes.
• Delinear o conteúdo básico de Cântico
dos Cânticos.
• Encontrar metáforas do antigo Oriente
Próximo no livro de Cântico dos Cânticos.
Descobrindo os Livros Poéticos

Eclesiastes e Cântico dos Cânticos encer­ (1.2; 12.8). O termo hebraico hebel, traduzido
Vulgata
ram a seção do Cânon chamada de “Livros como “vaidade” tem muitas conotações: ab­
Poéticos”. Eles retratam aspectos importantes surdo, frustração, futilidade, ausência de sen­
Septuaginta da vida na antiga Israel que estão relaciona­ tido, vazio e vapor. O termo pode referir-se a
dos a experiências universais do ser humano. um vapor passageiro, enfatizando sua nature­
Qualquer pessoa ao redor do mundo pode za insubstancial e transitória. Qohelet adver­
identificar-se com as lutas da fé em Eclesias­ te contra uma vida gasta na busca dos praze-
tes e a necessidade de amor em Cântico dos res absurdos e vazios, que não tem valor dura­
Cânticos. Eclesiastes demonstra de que for­ douro.2 A vida sem Deus no centro não tem
ma a fé pode vencer a dúvida; Cântico dos nenhum sentido.
Cânticos celebra o amor compartilhado entre
marido e mulher. Esboço
I. Título e tema (1.1-11)
A. Título (1.1)
O livro de Eclesiastes B. Tema (1.2-11)

II. Reflexões sobre a sabedoria


O livro reflete um tempo de desespero. As
(1.12-4.16)
promessas da aliança parecem muito distan­
A. A busca por satisfação
tes, as glórias nacionais de Israel foram esque­
(1.12-2.26)
cidas e a radiante esperança dos profetas se
B. Uma relação dos tempos (3.1-15)
perdeu. Mas mesmo em meio a tanto deses­
C. Uma questão de justiça
pero, o poeta descobre as ricas verdades pro­
(3.16-22)
clamadas nos outros livros de sabedoria do
D. Uma questão de opressão (4.1 "3)
Antigo Testamento (Jó e Provérbios). O “te­
E. Uma crítica ao trabalho (4-4'12)
mor do Senhor” é uma fundação segura sobre
F. A transitoriedade da fama
a qual pode-se construir a vida (Jó 28.28; Pv
(4.13-16)
1.7). Eclesiastes ensina que a única esperan­
ça para se suportar o presente é temer e obe­ III. Admoestações e observações
decer a Deus (12.13,14). (5.1-12.8)
A. Prática religiosa (5.1-7)
Conteúdo B. Uma questão de corrupção
O termo “eclesiastes” tem uma longa his­ política (5.8,9)
tória. Ele chegou a nós por meio de traduções C. A vaidade da riqueza
do Antigo Testamento a partir do latim e do (5.10-6.9)
grego (Vulgata e Septuaginta) . Ele é traduzi­ D. O desamparo e a ignorância do
do da palavra hebraica qõhelet em 1.1: “Pa­ homem (6.10-12)
lavra do Pregador QOHELET, filho de Davi, E. Provérbios sobre “melhor é”
rei de Jerusalém”. O termo hebraico não apa­ (7.1-14)
rece em nenhuma outra parte do Antigo Tes­ F. Evitar os extremos (7.15-24)
tamento exceto nesse livro (sete vezes) e seu G. A busca pela sabedoria
significado é incerto. Parece referir-se a al­ (7.25-8.1)
guém que lidera uma assembléia e, portanto, H. Protocolo da corte (8.2-8)
“eclesiastes” foi entendido como líder ou I. Desigualdades de retribuição
palestrante para uma assembléia. Por isso al­ (8.9-17)
gumas versões usam o termo “Pregador”, mas J. Um destino em comum (9.1-6)
ele aparece como substantivo próprio no livro K. Apreciação da vida (9.7-10)
e Qohelete é mais um filósofo que um prega­ L. A inadequação da sabedoria
dor.1Muitas das traduções mais recentes usam (9.11-18)
o termo “mestre”. M. Diversos ditados práticos
( 10 . 1- 20 )
O propósito de Qohelet fica claro no lema
N. Um chamado para agir (11.1-6)
declarado logo no início e repetido na con­
O. A juventude e a velhice
clusão formando um “invólucro” literário em
(11.7-12.8)
todo o livro: “Vaidade de vaidades, diz o Pre­
gador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade” IV. Conclusão (12.9-14)
326
Eclesiastes e Cântico dos Cânticos
mmmagamm
Há muitos
túmulos nas
encostas do
Monte das
Oliveiras,
Jerusalém. O
autor de
Eclesiastes fala
de um tempo
para nascer e
um tempo para
morrer (3.2).

Visão geral desde o princípio. Quanto mais os seres hu­


Assim como Jó é uma coleção de discur- manos orgulham-se de suas conquistas e de­
sos, Salmos é uma coleção de cânticos, e Pro- senvolvimento, mais as coisas permanecem as
vérbios é uma coleção de ditados curtos de mesmas: “nada há, pois, novo debaixo do sol”
sabedoria, Eclesiastes também é uma coleção. (vs. 9,10).
Esse livro contém diversos tipos literários com Reflexões sobre a sabedoria
a mesma ênfase, tais como poesia, narrativa,
(1.12-4.16)
ditados proverbiais e meditações curtas. Ape­
sar de sua variedade, todos esses tipos possu­ Usando o rei Salomão como exemplo, o
em um tema em comum: a vida e nossas pre­ livro nos ensina que mesmo a fama não é ga­
ocupações com coisas materiais efêmeras não rantia de significado de vida. Pensando em
tem sentido. O Pregador acredita que quan­ riquezas e recursos ilimitados do grande rei, o
do todas as camadas triviais da vida são elimi­ Pregador busca o significado da vida por meio
nadas, o que sobra para nós é o “temor de dos grandes feitos de Salomão. Mas mesmo as
Deus” e “gozar a vida”. conquistas de Salomão foram decepcionan­
tes: sabedoria (1.13-18; 2.12-16), prazer (2.1-
Título e tema (1.1-11) 3), construções e riquezas (2.4-11). Desespe­
A tese do livro é de que tudo é sem senti­ rado, o rei resume todas as suas buscas como
do. “Vaidade de vaidades. Tudo é vaidade” sendo vaidade total, como “correr atrás do
(1.2; 12.8). A forma literária hebraica “X de vento” (uma fase que se repete nessa unida­
X ” indica um superlativo e intensifica uma de, 1.14,17; 2.11,17,26). No final, nós mortais
idéia. Por exemplo: o “Santo dos Santos” é o não podemos fazer nada melhor que comer,
lugar mais santo, o “Rei dos reis” é o maior de beber e encontrar satisfação em nosso traba­
todos os reis e o “cântico dos cânticos” é o lho. Mas nem isso é nosso, e sim um presente
melhor de todos os cânticos. A vaidade e fal­ de Deus (2.24,25).
ta de significado no lema do livro são intensas A relação dos tempos (3.1-15) afirma que
e abrangentes: “Tudo é completamente sem há uma variedade de tempos e estações na
sentido”. vida que são determinados por Deus. Todo o
Nem o nosso trabalho produz resultados nosso trabalho árduo jamais pode mudar a
que tornem a vida significativa (vs. 3-11). O maneira como Deus estabeleceu esses padrões
sol se levanta e se põe, o vento roda o mundo cíclicos de vida (v. 9). Tudo o que podemos
e, da mesma forma, os nossos trabalhos são fazer é “regozijar e levar vida regalada” en­
repetitivos e fúteis (vs. 5,6). E assim tem sido quanto estamos vivos. E uma dádiva de Deus

327
Descobrindo os Livros Poéticos

Um judeu
ortodoxo idoso
ora no muro
oriental de
Jerusalém. O
capítulo 12 de
Eclesiastes
contém um
poema tocante
sobre a velhice
(vs. 1-8).

que “comamos e bebamos e encontremos sa- fia de vida do Pregador, dando uma ponta de
tisfação” em nosso trabalho (v. 13). Devemos esperança em seu livro que, de outro modo, é
simplesmente gozar a maravilhosa criação de tão sombrio. Depois de concluir que não há
Deus e entender que tudo o que ele fez foi justiça nessa vida, ele declara que não há nada
com a intenção de que o reverenciássemos e melhor debaixo do sol que “comer, beber e
servíssemos (v. 14). alegrar-se” (8.15).
A perspectiva da morte também é inegá- O futuro não tem garantias e é inútil espe­
vel. Nesse sentido, não somos superiores aos rar pelo melhor. A criança que nasce morta
animais; todos respiram o mesmo ar e todos está melhor que alguém que vive uma exis­
podem esperar morrer um dia (3.19,20). Mais tência de decepções (6.3-6), e o dia da morte
uma vez, o único consolo é gozar o nosso tra­ é melhor que o dia do nascimento (7.1). A
balho (3.22). sabedoria é útil para quem a tem, mas a reti­
O Pregador considerou todas as opressões dão não salva ninguém (7.5-14). O Pregador
“debaixo do sol” e perdeu as esperanças. Ele viu um homem justo perecer em sua retidão e
concluiu que aqueles que já morreram estão um homem perverso viver uma vida longa em
em situação melhor que os que ainda vivem. sua perversidade (7.5). O poder humano é
Mais felizes ainda são os que nem nasceram arbitrário e imprevisível, assim, aqueles que
(4.2,3). Conquistas, riquezas, companheiris­ servem à corte real devem aprender a convi­
mo e a glória de erguer-se da pobreza e che­ ver com o inevitável abuso do poder (8.2-8).
gar ao reinado — é tudo “vaidade e correr O tema dos capítulos 8.9—9.10 é resumido
atrás do vento” (4-4,6,7,16). no capítulo 9.2: “Tudo sucede igualmente a
todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso;
Admoestações e observações ao bom, ao puro e ao impuro; tanto ao que
(5.1-12.8) sacrifica como ao que não sacrifica”. Em ou­
O Pregador continua sua avaliação das ati­ tras passagens, o Pregador lamenta que a morte
vidades que ele vê como sendo todas sem sen­ é inevitável e que todos nós temos que en­
tido. Religião (5.1-7) e riqueza (5.8-17) não frentar esse fato. Tudo o que podemos fazer é
dão significado à vida. O melhor conselho que gozar a vida que Deus nos deu apesar das
o Pregador pode oferecer é comer, beber e perguntas não respondidas (9.7-10).
estar satisfeito com o trabalho “durante os A unidade seguinte (9.11-12.8) começa
poucos dias da vida que Deus lhe deu” (5.18). com uma afirmação sobre as incertezas da
Este foi um tema que apareceu pela primeira vida: “Não é dos ligeiros o prêmio, nem dos
vez no capítulo 2.24,25 e volta como a filoso­ valentes, a vitória... porém tudo depende do

328
Eclesiastes e Cântico dos Cânticos

^ — — rindo-se ao castigo de Gn 3.19). Devemos nos


Trechos adaptados lembrar de que a Bíblia contém referências
muito claras que nos fazem lembrar de nossa
do Épico de mortalidade.
Gilgam és 1 Conclusão (12.9-14)
O pregador chega à sua conclusão nesse
Esta passagem do Épico de Gilgamés é paralela a breve epílogo. Depois de depreciar o estado
Eclesiastes 9.7-9. As palavras desanimadoras de
da humanidade ao longo do livro, ele declara
Siduri lembram Gilgamés de que todos nós devemos
que a humanidade como um todo depende
enfrentar a morte e que devemos aprender a aprovei­
de Deus: “A suma é: Teme a Deus e guarda
tar os breves momentos da vida o máximo possível.
os seus mandamentos; porque isto é o dever
de todo homem” (12.13). Razão e significado
Gilgamés, onde você acha que vai chegar com suas
na vida são passageiros e podem até parecer
andanças?
Você não encontrará a vida eterna que procura. impossíveis. Mas fomos colocados aqui para
Lembra-te de que quando os deuses criaram a huma­ viver em um relacionamento com Deus, in­
nidade, dependente das circunstâncias. Este é o úni­
eles nos deram a morte, reservando a vida para si co objetivo de nossa vida e, se nós não o al­
mesmos. cançamos, perdemos o significado.
Mas você, Ó Gilgamés, que seu estômago esteja O “temor de Deus” é definido como a obe­
cheio e satisfeito. diência aos seus mandamentos. Andar pelos
Torne os dias e noites alegres, e faça de cada dia uma seus caminhos e obedecer sua vontade são as
festa de celebração, únicas empreitadas humanas que fazem sen­
com danças e jogos. tido. Muitas traduções apresentam a última
Que suas roupas estejam impecáveis, frase como “isto é o dever de todo homem”.
e sua cabeça lavada em água pura e refrescante. Mas no hebraico o significado literal é “pois
Deleita-te com os pequeninos que seguram tuas essa é a plenitude da humanidade”. Obede-
mãos. cê-lo é ser plenamente humano e poder al­
Alegra-te com o amor da tua esposa.
cançar o máximo de nosso potencial como
Isso é o melhor que nós humanos podemos esperar.
parte de sua criação.3
■Adaptado da amiga versáo
babilônia da placa IO, coluna 3,
Autoria
ANET, 90.;
A questão da autoria de Eclesiastes nor­
malmente gira em torno da linguagem sin­
gular usada no livro. O hebraico de Qohelet
tempo e do acaso” (9.11). Nem mesmo a sa­ é diferente de qualquer outro do Antigo Tes­
bedoria necessariamente torna a vida signifi­ tamento. Estudiosos há muito tempo acredi­
cativa, porque por vezes ela passa despercebi­ tam que a linguagem do livro foi posterior­
da (9.13-18). O capítulo 10 contém ditados mente afetada por influências do aramaico,
práticos sobre a futilidade das empreitadas hu­ e que esse fator, juntamente a outras peculi­
manas. Ainda assim, o Pregador nos chama a aridades lingüísticas, deixa evidente que a
agir, mesmo que nosso entendimento seja li­ obra é de uma data mais recente.4 A maioria
mitado: “Lança o teu pão sobre as águas...” dos estudiosos indica que o livro é do século
(11.1). Ignorância e confusão não são descul­ 3Qa.C.
pas para se ficar de braços cruzados (11.1-6). Porém, pesquisas recentes sobre a lingua­
Essa unidade termina com um poema to­ gem de Qohelet têm levado essa análise a ser
cante sobre a velhice (12.1-8). A juventude é questionada. A gramática e o vocabulário de
maravilhosa, mas os “maus dias” vêm para to­ Eclesiastes não parecem ser do período pós-
dos nós (v. 1). Não importa quão invencíveis exílio, mas são, na verdade, completamente
nos sintamos quando somos jovens, a velhice consoantes com o hebraico do pré-exílio.5
e a morte esperam por todos nós. A luz torna- Apesar da autoria exata ainda ser uma ques­
se fraca, nuvens enchem o céu, chega a tris­ tão em aberto, não se pode mais determinar
teza e o canto dos pássaros enfraquece. Cada que a data de Eclesiastes é pós-exílica e mais
um de nós deve ir para a nossa “casa eterna” recente tendo como base apenas as evidên­
(v. 5) enquanto o pó voltar à terra (v. 7, refe- cias lingüísticas.
329
Descobrindo os Livros Poéticos

Um artista A frase “filho de Davi, rei em Jerusalém” e de sabedoria (Pv 1.1; 10.1) e assim tornou-se
imagina uma certas passagens como 1.16,17 têm a clara in­ a fonte, o modelo para toda a literatura de
festa de
tenção de lembrar o leitor de Salomão: “Disse sabedoria de Israel.6
casamento no
antigo oriente, comigo: eis que me engrandeci e sobrepujei
com o noivo e a em sabedoria a todos os que antes de mim mm —
noiva sob uma
cobertura
existiram em Jerusalém; com efeito, o meu
coração tem tido larga experiência da sabe­
Cântico dos Cânticos
especial.
doria e do conhecimento. Apliquei o coração Como o lema de Qohelet “vaidade de vai-
a conhecer a sabedoria...” Esse orgulho de ter dades” é um superlativo que significa que “tudo
superado todos os que vieram antes dele no é absolutamente sem sentido”, assim também
trono não tem muito valor se o único prede- acontece com a expressão “Cântico dos Cân­
cessor foi seu pai Davi. Como o livro não diz ticos”, usada para se referir ao livro de Cânti­
em lugar nenhum que Salomão é seu autor, é co dos Cânticos. Este é o mais belo de todos os
preferível deixar essa questão em aberto. cânticos, o melhor, o número um. Esse cântico
Ainda assim, o livro tem claramente algu­ é o primeiro na parada de sucessos!
ma ligação com Salomão. Ele foi um estímulo
para muita da literatura de sabedoria de acor­ Conteúdo
do com a Bíblia e certamente é possível que A estrutura do livro já foi debatida acalo­
exista algum tipo de ligação histórica entre o radamente pelos estudiosos do Antigo Testa­
rei Salomão e o livro de Eclesiastes. Ele foi, de mento. A evidente falta de unidade levou
fato, o autor de algum material da literatura muitos estudiosos a concluir que o livro não é
3 30
Eclesiastes e Cântico dos Cânticos

tes como o rebanho das ovelhas”, 4.2). Mas


Trecho adaptado de elas fazem parte da herança cultural do anti­
go mundo Oriental e não devem nos distrair
um cântico de amor da natureza amorosa do conteúdo. Também
egípcio não devemos espiritualizar excessivamente
esse cântico. O livro de Cântico dos Cânticos
Antigos cânticos de amor egípcios contêm uma já foi interpretado de maneiras radicalmente
lista de belos atributos físicos, parecida com o Cânti­ diferentes ao longo dos séculos, com freqüên­
co dos Cânticos (4.1 -7; 5.9-16; 7.1 -5). Observe que a cia, em uma tentativa de reprimir a natureza
amada é chamada de "irmã” como em Cântico dos obviamente sexual dos poemas.8
Cânticos. Cântico dos Cânticos é uma celebração
colocada de maneira simples do amor com­
Minha irmã é singular, não há ninguém como ela: partilhado entre jovens amantes criados à
mais graciosa que todas as outras mulheres. imagem de Deus. Eles se deleitam com a be­
Observe que ela como a estrela que se levanta leza um do outro e com a capacidade de sa­
no começo de um bom ano: tisfazer sua necessidade de amor físico. Cân­
brilhante, preciosa, de pele branca, tico dos Cânticos é uma homenagem à mara­
de lindos olhos e olhares. vilha e majestade do amor sexual monógamo
Doces são os seus lábios quando ela fala: quando esse amor é vivido intensamente com
ela não usa do excesso de palavras.
honra e fidelidade.
De pescoço longo e seios brancos,
Muitos intérpretes ao longo da história sen-
seus cabelos são como verdadeiro lápis lazuli.
tiram-se pouco à vontade com esse material
Seus braços são mais belos que ouro,
tão explícito. Alguns, tanto judeus quanto
seus dedos como flores de lótus.1
cristãos, fizeram uso de visões tipológicas ou
Alguns dos cânticos de amor dos egípcios têm os alegóricas. No modelo tipológico, os aconte­
mesmos padrões dos poemas individuais de Cântico cimentos descritos no Antigo Testamento são
dos Cânticos: descrição da beleza seguida de um de­ tidos como históricos, mas um texto paralelo
sejo. no Novo Testamento revela o sentido primá­
rio. Assim, diz-se que esse livro ilustra a liga­
Seu amor está misturado com todo o meu corpo ção íntima de aliança entre Deus e o seu povo.
como o mel mistura-se com a água, No modelo alegórico, o texto traz um signifi­
como o remédio no qual mistura-se a goma, cado oculto. Esse modelo parte do pressupos­
como a mistura da massa com a água. to de que o livro também é sobre o relaciona­
Apressa-te em vir ver a tua irmã, mento de intimidade entre Deus e o seu povo,
como o cavalo que corre pelo campo de batalha.2 apesar de não aceitar um embasamento his­
tórico para a obra. Muitos intérpretes judeus
1Papiro Chester Beatty i, grupo A, número 31, Michaet V. Fox. The Song
compreendem o cântico como uma alegoria
o f Songs and the Ancient Egyptian Love Songs Madison: Uníversity of
Wisconsin Press, 1985, 52. do amor entre Iavé e Israel, enquanto estudi­
2Papiro Harris 500, grupo A, número 2, Fox, 8. osos cristãos com freqüência aceitam o livro
como sendo um elogio ao amor entre Cristo e
a Igreja. Mas há muitas dúvidas se esta é mes­
um único cântico, mas sim uma coleção ou mo a mensagem pretendida em Cântico dos
Alegoria
antologia de diferentes poemas, entretecidos Cânticos. Enquanto não há evidências que
como um só. Apesar de Cântico dos Cânticos indiquem o simbolismo da obra, devemos
parecer-se com uma antologia, ele não é com­ aceitá-la por aquilo que ela é. O livro celebra
pletamente desprovido de unidade. O livro é o amor sexual entre o marido e a mulher.
extremamente repetitivo e tem continuidade
ao retratar os personagens, além de possuir Esboço
temas em comum, o que indica uma certa
I. O desejo forte do amor (1.1—2.7)
unidade apesar de não mostrar uma trama
narrativa.7 II. Amor perdido e encontrado (2.8-
As poderosas metáforas do antigo Oriente 3.5)
Próximo usadas no cântico podem parecer de
mau gosto ou confusas para alguns dos leito­ III. Celebração e consumação
res modernos (por exemplo, “são os teus den­ (3.6-5.1)
331
Descobrindo os Livros Poéticos

Parte do Jardim
do Getsêmani
em Jerusalém. O
escritor de
Cântico dos
Cânticos usa a
imagem do
jardim em seu
cântico sobre o
desejo.

IV. A ansiedade do amor e a quiástica para o todo.9 Mas essas tentativas


consumação (5.2-8.4) não foram comprovadas com sucesso e não
mostraram uma estrutura formal. Na verda'
V. A afirmação do amor e a de, esse livro parece ter sido precedido por
consumação (8.5' 14) uma outra coleção menor de poesias, assim
como os livros de Salmos e Provérbios foram
Visão geral
precedidos por outras coleções menores de
O uso de pronomes pessoais em Cântico hinos de louvor e ditados de sabedoria. O CO'
dos Cânticos (“eu”, “tu”, “ele”, “dele”...) mui' lecionador ou editor de Cântico dos Cânticos
tas vezes dificulta na identificação de quem parece ter juntado poemas de temas seme'
está falando. Estudiosos que consideram o lhantes e os organizado tendo por base pala-
cântico como uma dramatização vêem três vras'chave ou conteúdo.10
personagens em uma espécie de triângulo O livro é um cântico sobre o despertar do
amoroso. De acordo com essa interpretação, amor, escrito (ou cantado) em duas partes, a
Salomão estava tentando seduzir uma moça do homem e a da mulher, com a resposta de
simples, mas muito bela, e tomáda de seu na' um coro em diversas partes. Os poemas indivi'
morado, um pastor. Outros vêem uma drama' duais parecem compartilhar de uma estrutura
tização com dois personagens, considerando semelhante, com diversas variações. A mulher
o pastor e o rei como um único personagem. (ou, ocasionalmente, o homem) é descrita
Porém, não há nenhuma indicação no texto como sendo bela e desejável. Então, aquele
que sugira que ele é uma dramatização e não que está falando expressa sua vontade de estar
há evidências de que esse tipo de literatura com ela (ou ele).11 Cântico dos Cânticos 4.1'5,
era produzida naquela época na antiga Síria' por exemplo, é um trecho descritivo seguido pela
Palestina. Em vez de uma dramatização, é expressão de desejo e determinação em 4.6.
melhor que consideremos Cântico dos Cânti'
cos como uma coleção de cânticos de amor 4.1 Como és formosa, querida minha,
sem nenhuma trama em especial. A constam como és formosa!
te mudança de pronomes ocorre porque, orb Os teus olhos são como os das pombas
ginalmente, os segmentos individuais eram im e brilham através do teu véu.
dependentes. Os teus cabelos são como o rebanho
A fim de determinar alguma unidade no de cabras
livro de Cântico dos Cânticos, alguns estm que descem ondeantes do monte
diosos procuraram encontrar uma estrutura de Gileade.
3 32
Eclesiastes e Cântico dos Cânticos

4.2 São os teus dentes como o rebanho e o aroma dos teus ungüentos
das ovelhas recém-tosquiadas, do que toda sorte de especiarias!
que sobem do lavadouro, 4.11 Os teus lábios, noiva minha,
e das quais todas produzem gêmeos, destilam mel.
e nenhuma delas há sem crias. Mel e leite se acham debaixo
4.3 Os teus lábios são como um fio de da tua língua,
escarlata, e tua boca é formosa; e a fragrância dos teus vestidos
as tuas faces, como romã partida, é como a do Líbano.
brilham através do véu.
4-4 O teu pescoço é como a torre Vez por outra, a ordem toda é invertida.
de Davi, edificada para arsenal; No capítulo 1.2, o desejo é expressado primei­
mil escudos pendem dela, ro, seguido das declarações descritivas. Note
todos broquéis de soldados nesse exemplo que os pronomes vão da ter­
valorosos. ceira pessoa na expressão do desejo (1.2a) para
4.5 Os teus dois seios são como duas crias, a segunda pessoa nas descrições (1.2b).12
gêmeas de uma gazela,
Autoria
que se apascentam entre os lírios.
4.6 Antes que refresque o dia, A referência de abertura no livro é “Cânti­
e fujam as sombras, co dos Cânticos de Salomão” (1.1). Mas essa
irei ao monte da mirra linguagem não está necessariamente referin-
e ao outeiro do incenso. do-se à autoria. As palavras em si podem indi­
car que o cântico foi escrito sobre Salomão, foi
Algumas vezes, o trecho descritivo de uma dedicado a Salomão ou foi colocado em uma
unidade aparece sozinho e o desejo pelo amor coleção de cânticos semelhantes aos de Salo­
é apenas sugerido. mão.13 Muitas das referências a Salomão estão
em terceira pessoa e é mais provável que o com­
4.9 Arrebataste-me o coração, pilador de Cântico dos Cânticos tenha sido um
minha irmã, noiva minha; admirador dos sucessos do grande rei e que apoi­
arrebataste-me o coração com um só asse as tradições da literatura de sabedoria.
dos teus olhares, A conclusão mais lógica é de que Cântico
com uma só pérola do teu colar. dos Cânticos é a expressão de dois jovens
4.10 Que belo é o te u amor, ó minha irmã, amantes alegrando-se no esplendor de sua
noiva minha! ocasião “real”. Parte dessa expressão pode ter
Quanto melhor é o teu amor sido escrita originalmente em homenagem a
que o vinho, um dos casamentos do rei Salomão, e mais

1. A idéia central de Eclesiastes é de que 4. Cântico dos Cânticos significa que


a única esperança da humanidade so­ este é o melhor de todos os cânticos.
breviver às provações dessa vida é te­
5. Cântico dos Cânticos é um cântico so­
mer e obedecer a Deus.
bre o amor sexual entre o marido e
2. 0 termo "eclesiastes" pode significar sua esposa.
líder ou palestrante de uma assem­
6. Metáforas do antigo Oriente Próximo
bléia, pregador ou mestre.
do tipo "Os teus cabelos são como 0
3. 0 autor do livro de Eclesiastes é anô­ rebanho de cabras" são abundantes
nimo. em Cântico dos Cânticos.

3 33
Descobrindo os Livros Poéticos

para serem examinadas sob a luz de sua reve­


Termos-chave lação. A própria presença de Eclesiastes no
Cânon bíblico é evidência de que nossa fé
Vulgata acolhe um exame mais detalhado. Esse livro
Septuaginta admite o fato de que as circunstâncias da vida
Alegoria algumas vezes tornam difícil termos fé. Mas a
sua inclusão entre os livros de sabedoria do
Pessoas-chave Antigo Testamento nos ensina que pergun­
Qohelet tas, ou até mesmo dúvidas, precisam ser en­
Gilgamés caradas com honestidade. Ao longo do tem­
po, essa tentativa honesta de lidar com elas
aumenta a nossa fé e nos leva a comprometi­
mentos mais profundos.
tarde ter se tomado a celebração musical tra­
Juntamente aos outros livros de sabedoria
dicional de todos os casamentos.14
(Jó e Provérbios), Eclesiastes dá uma visão equi­
librada sobre a sabedoria em si. Há certos prin­
cípios de vida discerníveis que, quando segui­
lemas teológicos dos à risca, nos levam a uma vida mais abun­
dante (Provérbios). Mas as coisas nem sempre
Eclesiastes dão certo. Coisas ruins podem acontecer a pes­
A fé cristã jamais procura reprimir as per­ soas boas! Devemos abandonar a nossa fé em
guntas da mente. A fé genuína em Deus não Deus quando coisas ruins nos acontecem? De
tem medo de colocar as dúvidas que surgem acordo com Qohelet, certamente não. A vida

Questões para estudo

Eclesiastes Cântico dos Cânticos


1. Que tipo de visão da vida o livro de 1. 0 que significa o título "Cântico dos
Eclesiastes reflete? Cânticos"?
2. Como esse livro recebeu o nome de 2. Qual é o assunto tratado por Cântico
Eclesiastes? Que outros nomes o livro dos Cânticos?
tem?
3. Qual é a mensagem pretendida pelo
3. Qual é o propósito do autor ao escre­ livro?
ver esse livro?
4. Qual é a estrutura geral de Cântico
4. De que forma ele cumpre esse propó­ dos Cânticos?
sito?
5. Discuta as questões de autoria do
5. De acordo com o autor, qual é a úni­ livro.
ca função da humanidade? Qual é o
6. 0 que Cântico dos Cânticos nos ensi­
significado prático disso?
na sobre o amor erótico e heterosse­
6. Discuta as questões de data e autoria xual dentro dos laços do casamento?
do livro de Eclesiastes. Qual é a única
conclusão certa sobre a questão da
autoria?

334
Eclesiastes e Cântico dos Cânticos

Leituras complementares

Bullock, C. Hassel. An Introduction to the Old Testa­ Keel, Othmar. The Song o f Songs: A Continental
ment Poetic Books. Ed. rev. Chicago: Moody, 1988. Contemporary. Trad. FrederickJ. Gaiser. Minnea-
Uma exposição em nível universitário avançado ou polis: Fortress, 1994. Uma excelente exposição
básico para seminário. Trata também das questões ricamente ilustrada com fontes do antigo Oriente
básicas de interpretação. Próximo.
Carr, G. Iloyd. The Song o f Solomon: An Introduction and Kidner, Derek. A Time to Mourn, and a Time to Dance:
Commentary. Tyndale Old Testament Commentary. Ecclesiastes and the Way o f the World. The Bible
Downers Grove/Leicester: InterVarsity, 1984. Speaks Today. Downers Grove: InterVarsity, 1976.
Garret, Duane A. Proverbs, Ecclesiastes, Song o f Songs. Murphy, Roland E. Ecclesiastes. Word Biblical Commen­
New American Commentary 14. Nashville: Broad- tary 23A. Dallas: Word, 1992.
man, 1993. O melhor e mais abrangente comentário Scott, R. B. Y. Proverbs, Ecclesiastes: Introduction,
disponível. Contém uma apresentação acadêmica Translation, and Notes. Anchor Bible 18; Garden
completa, porém sensível às questões teológicas. City, NY.: Doubleday, 1965.

sem confiança em Deus torna-se, de fato, sem maioria está contente com isto! No relaciona­
sentido. Nossa tarefa é aproveitar a vida como mento humano mais íntimo, de alguma for­
ele a oferece para nós e continuar confiando ma, refletimos a imagem de Deus (Gn 1.27).
naquele que dá sentido à nossa existência. Além disso, o laço do casamento oferece a
maior unidade possível nas relações humanas
Cântico dos Cânticos (Gn 2.24) e não há vergonha ou desgraça nis­
Nosso mundo de hoje está apaixonado pelo so (Gn 2.25). Nesse sentido, Cântico dos
prazer sexual. A cultura moderna tenta colo­ Cânticos nos leva de volta ao relacionamento
car esse tipo de prazer em um compartimento matrimonial antes da queda no Jardim do
e desassociar nossa sexualidade da nossa fé Éden, onde marido e mulher deleitam-se um
em Deus. Mas este que é o melhor de todos os com o outro sem inibições.
cânticos nos dá um ponto de contato entre a Cântico dos Cânticos testifica a comple­
sexualidade humana e a fé bíblica.15 Os israe­ mentaridade mútua entre homem e mulher.
litas reconheciam o lado sensual da natureza Ele afirma a santidade do casamento e apro­
humana como parte da maravilhosa criação va o amor erótico e heterossexual dentro dos
de Deus. Deus nos fez “homem e mulher” e a laços do casamento.

335
Parte
24 Os Profetas
Vozes dos servos de Deus

Esboço
• A tradição bíblica da profecia
De que forma a profecia se encaixa no cumpri­
mento dos propósitos de Deus?
Quem foram os "pioneiros" da profecia?
• A natureza da profecia
0 termo hebraico para "Profeta"
Objetivos
Quais são algumas idéias erradas mais comuns Depois de ler este capítulo,
sobre os profetas? você deve ser capaz de:
Quais as semelhanças entre os profetas? • Explicar as circunstâncias envolvidas na
Outras nações tinham profetas? divisão de Israel em um reino ao norte e
outro ao sul.
Todos os profetas escreviam as suas mensagens?
• Traçar o desenvolvimento da nação
Como a profecia chegou até nós?
hebraica do cativeiro no Egito até o tempo
Quais são alguns temas comuns nos escritos dos dos profetas.
profetas?
• Resumir o conteúdo básico da mensagem
• O contexto histórico dos profetas dos profetas clássicos.
clássicos • Dizer o que eram e o que não eram os
Os assírios profetas.
Os babilônios • Comparar o trabalho dos profetas
Os persas hebraicos com atividades semelhantes em
outras nações do Oriente Próximo.
• Explicar de que modo a mensagem dos
profetas foi registrada.
• Relacionar os temas mais freqüentes dos
profetas.
• Identificar os profetas que profetizaram
durante a dominação dos assírios.
• Identificar os profetas que profetizaram
durante a dominação dos babilônios.
• Identificar os profetas que profetizaram
durante a dominação dos persas.

339
Descobrindo os Profetas

O que lhe vem à mente quando você pensa Mas apesar do fato de Israel controlar a
nos profetas? Você pensa em fanáticos vestidos terra, os problemas estavam longe de ter aca­
com roupas estranhas? Você pode vê-los usan­ bado. Os vizinhos de Israel freqüentemente
do uma bola de cristal para prever o futuro? atacavam suas fronteiras. Dentro de Israel,
Você vê os profetas como um grupo de indiví­ grupos de povos estrangeiros ainda lutavam
duos um tanto bizarros que serviam a Deus de por sua independência. Depois de muitos anos
maneiras que não compreendemos muito bem? guerreando com esses inimigos, os israelitas
Nenhuma dessas imagens se encaixa com decidiram que queriam um rei.
as evidências bíblicas. A Bíblia afirma que Sob o comando de Saul, o primeiro rei de
Deus preparou os seus profetas para ministéri­ Israel, eles venceram algumas batalhas e for­
os específicos. Eles levaram a palavra divina tificaram sua posição na terra prometida. Mas
para um povo que precisava desesperadamen­ Saul não seguiu ao Senhor de todo o seu co­
te ouvi-la. As vozes dos profetas soavam com ração e acabou morrendo em uma batalha
autoridade que ainda ecoa nos dias de hoje contra os filisteus. Davi, o sucessor de Saul, foi
se estivermos dispostos a ouvir. um dos maiores reis de Israel, conquistando
povos vizinhos e protegendo as fronteiras do
país. Aquilo que Davi conquistou, seu filho e
sucessor Salomão explorou economicamente.
A tradição da Depois da morte de Salomão, o reino divi­
diu-se em dois, uma parte ao norte e outra ao
profecia bíblica sul — Israel e Judá, respectivamente. Tanto
Israel qúanto Judá enfrentaram sérios desa­
De que form a a profecia se
fios espirituais. A idolatria e outras práticas de
encaixa no cum prim ento dos
religiões estrangeiras foram incorporando-se
propósitos de Deus? à fé do povo de Deus. Muitas dessas tentações
Antes de discutirmos os profetas e sua con­ já haviam aparecido antes na história dos he­
tribuição para a história bíblica, faremos uma breus, durante o tempo no deserto e no período
breve revisão da história de Israel. Ao fazê-la, dos juizes e, agora, o povo de Deus estava pa­
temos uma estrutura a partir da qual pode­ gando o preço espiritual por suas falhas.
mos estudar a vida e as palavras dos profetas. A transigência religiosa aumentou à me­
O Pentateuco descreve como Deus começou dida que religiões pagãs tiveram a sanção real.
a modelar um povo que levasse o seu nome, o Salomão atendeu aos desejos de suas esposas
povo que viria a ser a nação de Israel. Deus estrangeiras de adorar seus próprios deuses e,
estabeleceu uma aliança com Abraão, o le­ aos poucos, ele também começou a seguir
vou até a terra de Canaã e lhe deu Isaque, outros deuses. Jeroboão, o primeiro governan­
pelo qual as bênçãos da aliança continuaram. te do reino do norte, tomou providências para
Isaque foi pai de Jacó e Esaú e Deus escolheu garantir que Israel fosse diferente de sua vizi­
Jacó para dar continuidade aos propósitos da nha, Judá. Ele mudou as datas dos festivais
aliança. Jacó teve doze filhos que foram os hebraicos, escolheu seus próprios sacerdotes e
ancestrais das doze tribos de Israel. estabeleceu outros locais de culto em vez de
A família patriarcal acabou assentando-se Jerusalém. Algumas gerações mais tarde, no
no Egito e tornando-se um povo numeroso. reinado de Acabe, Israel chegou ao ponto mais
Os egípcios os escravizaram, mas depois que o baixo de sua espiritualidade. Apesar de Judá
povo passou 430 anos em cativeiro, Deus en­ ter se saído melhor de um modo geral, o sul
viou Moisés para libertá-los. O Senhor condu­ também sofreu espiritualmente durante os
ziu o seu povo para fora do Egito até o pé do reinados de seus muitos governantes.
monte Sinai, onde ele deu-lhes suas leis e ins­ Em 750 a.C., grandes forças estrangeiras
truções para um viver de santidade. começaram a emergir no antigo Oriente Pró­
A persistência dos hebreus em rebelarem- ximo. Essas potências constituíam uma amea­
se contra o Senhor fez com que eles vagassem ça para as nações menores como Israel, Judá e
pelo deserto durante quarenta anos, mas Deus seus vizinhos. Durante os dois séculos seguin­
os protegeu durante todo o tempo. Por fim, tes, assírios, babilônios e persas todos tiveram
depois que Moisés morreu e Josué tornou-se o sua chance de avançar para dentro da Síria-
novo líder, o povo conquistou a terra que Deus Palestina. No final, eles causaram a queda de
havia prometido aos seus ancestrais. Israel e Judá.
340
Os Profetas

Em meio a todos esses fatos, uma questão pois o rei não estava acima da lei (ISm 13.8-
profetas
clássicos crucial surgiu no horizonte: será que Israel e 14; 15.10-31). A vida de Samuel foi de reti­
Judá voltariam para o seu Deus e sua tradição dão; no fim dos seus dias, toda Israel reconhe­
espiritual ou continuariam a aceitar as práti- ceu sua integridade pessoal (ISm 12.1-5).
profecia cas das falsas religiões? Nesse ponto crítico da Por volta de 870-860 a.C., o profeta Elias
clássica história de Israel e Judá, Deus mandou seus surgiu em Israel e começou o seu ministério
servos, os profetas. (lRs 17.1). Ele desafiou Israel a deixar Baal e
voltar para o Senhor. A maior oposição contra
Quem foram os Elias veio da casa real de Israel — de Acabe e
"pioneiros" da profecia? sua rainha Jezabel. Quando Elias tentou in­
Quando dizemos “os profetas” normalmen­ terferir nos planos de Jezabel para adorar Baal
te nos referimos àqueles indivíduos que vive­ em Israel, ela tomou providências para matá-
ram por volta de 800 a 450 a.C. e serviram lo. O primeiro livro de Reis, capítulo 18, regis­
como mensageiros especiais de Deus para o tra o dramático impasse entre Elias e os profe­
seu povo por meio do poder do Espírito Santo. tas de Baal no MONTE CARMELO, uma oca­
Estudiosos da Bíblia muitas vezes referem-se sião em que Deus demonstrou que ele, e não
a esses profetas como profetas clássicos e aos Baal, era o Senhor em Israel.
seus escritos como profecias clássicas, pois Moisés, Samuel e Elias, portanto, ajuda­
suas mensagens tendem a apresentar certas ram a preparar o caminho para os profetas clás­
características semelhantes. Como regra ge­ sicos. Enquanto eles serviram fielmente ao
ral, os profetas clássicos dirigem-se ao povo, Senhor naquilo que ele pedia que fizessem, o
informam-no da ira de Deus contra o seu pe­ Senhor usou esses três servos para criar as fun­
cado, advertem-no do julgamento que se apro­ dações de sua futura obra profética.1
xima, chamam-no ao arrependimento e pro­
clamam a salvação de Deus para aqueles que ■■II
se voltarem para ele. Os livros de Isaías a Ma-
laquias, no Antigo Testamento, encaixam-se A natureza
na categoria de profecias clássicas.
Muito da profecia clássica surgiu em Israel
da profecia
e Judá, porém, Deus já havia chamado outros
Os term os hebraicos
para o ministério profético. Três homens em
para "profeta"
especial ajudaram a lançar os alicerces da pro­
fecia clássica: Moisés, Samuel e Elias. A língua hebraica usava três palavras dife­
Como já vimos, Moisés, o filho de escravos rentes para se referir a um profeta: hõzèh,
hebreus, cresceu na corte real do Egito, mas rõ'eh e n ãb i'. Apesar dos escritores bíblicos
depois fugiu de lá quando matou um egípcio. usarem os três termos como sinônimos,2 as pa­
Usando Moisés como seu instrumento, Deus lavras parecem indicar diferentes aspectos do
tirou os hebreus do Egito e os conduziu à terra ofício profético. Os dois primeiros termos vêm
que ele havia prometido aos seus ancestrais. de raízes verbais que significam “ver, olhar
Deus falou face a face com Moisés (Ex 33.11; para, enxergar”. Essas palavras, portanto, su­
Nm 12.8) e, no Monte Sinai, Moisés recebeu gerem que o hõzèh ou rõ'eh era alguém que
a lei de Deus, a revelação fundamental sobre enxergava as coisas de Deus: ele possuía uma
a qual os profetas mais tarde construíram. visão especial (e normalmente uma mensa­
Moisés sabia que Deus mandaria outros gem especial) que Deus havia dado direta­
profetas depois dele (Dt 18.15). Os profetas mente a ele. Muitas traduções usam a palavra
clássicos edificaram sobre os alicerces que “vidente” para esses dois termos.
Moisés lançou, apelando com freqüência para O termo nãbVotoxxt com mais freqüência
a lei mosaica e chamando o povo a obedecer no Antigo Testamento hebraico — mais de
os seus mandamentos. trezentas vezes! Uma interpretação comum
Por volta de 1100 a.C. Samuel começou o dessa palavra a relaciona com o verbo do acá-
seu ministério profético-sacerdotal em Israel. dio n ãb ü “chamar”. E possível que o termo
Ele viajou de cidade em cidade proclamando n ã b i'st referisse a “aquele que é chamado”,
a Palavra de Deus para o povo c julgando seus alguém que Deus havia chamado para levar
casos importantes. Quando o rei de Israel vio­ a mensagem divina ao seu povo. De fato, os
lou as ordens de Deus, Samuel o confrontou, profetas certamente possuíam um chamado.
341
Descobrindo os Profetas

rém, 1 Samuel 10.10 não diz que os homens


estavam tagarelando sem controle, e 1 Sa­
Verdadeiro profeta
muel 19.23,24 refere-se apenas a um julga­
ou falso profeta? mento específico contra Saul para impedi-lo
de capturar Davi.
Em segundo lugar, profetas não eram vi­
dentes esotéricos. Eles não diziam às pessoas
Quando os profetas profetizavam eles o faziam com qual seria o seu futuro individual, como um
a autoridade de Deus — “Assim diz o Senhor". Mas e quiromante, cartomante ou astrólogo vpoderia
se alguém dizia falar em nome de Deus, mas na verda­ supostamente fazer nos dias de hoje. A medi­
de não falava? Como distinguir entre um profeta ver­ da que Deus revelava seus planos futuros para
dadeiro e um falso?
o profeta, eles os revelavam para o povo para
Deuteronômio 13.1-5 e 18.21,22 oferecem ao povo
motivar seus ouvintes a buscar a santidade e
dois testes para discernir os verdadeiros profetas dos
retidão. Os profetas não tinham nenhum in­
falsos profetas. Em primeiro lugar, a mensagem de um
teresse em entreter o povo com descrições ela­
profeta tinha que estar de acordo com revelações ante­
boradas do futuro.
riores. Se, por exemplo, um profeta aconselhava o povo
a adorar outros deuses, ele era um falso profeta, pois a Em terceiro lugar, os profetas não eram “fa­
lei de Moisés já havia ordenado a adoração somente a náticos religiosos”. Eles não eram indivíduos
Deus (Êx 20.3). Deus não iria se contradizer. rabugentos que estavam sempre procurando
Em segundo lugar, as previsões de um profeta deve­ oportunidades de entrar em uma discussão
riam sempre se cumprir. Se um profeta profetizava al­ espiritual com alguém. Retratá-los dessa ma­
gum sinal ou maravilha e esse sinal ou maravilha não neira seria uma interpretação muito incorreta
acontecia, o povo não deveria dar ouvidos a ele. dos profetas. Eles eram servos do Senhor que
Deus ordenou a pena de morte para os falsos profe­ viam a vontade de Deus para o seu povo e
tas. Pode parecer um castigo severo, mas devemos nos entristeciam-se profundamente quando o
lembrar do incrível dano espiritual que um falso profe­ povo ficava aquém dessa vontade. Eles possu­
ta poderia causar. Se o povo acreditasse nas palavras de íam convicções fortes sobre verdades religio­
um falso profeta, toda a nação podia sofrer a ira de sas e queriam ver o dia em que seus ouvintes
Deus. O ofício profético era algo que Deus levava mui­ também tivessem essas convicções.
to a sério.
Quais as sem elhanças
entre os profetas?
Os profetas vinham de vários contextos di­
ferentes. O profeta Amós, por exemplo, cui­
Deus os havia escolhido pessoalmente para dava de rebanhos e de sicômoros antes que o
proclamar sua mensagem ao povo que preci- Senhor o chamasse para o ministério proféti­
sava desesperadamente ouvi-la. co (Am 7.14). Isaías com freqüência falava
diretamente à casa real de Judá (Is 7.3-9;
Quais são algum as idéias 37.6,7,21-35; 38.1-8; 39.3-8); a tradição ju­
erradas mais comuns sobre daica sugere que ele talvez fosse um parente
os profetas? do rei Uzias, apesar dessa informação ser in­
Antes de explicarmos quem eram os pro­ certa.3 Jeremias cresceu em meio aos sacer­
fetas, devemos explicar quem eles não eram. dotes da vila de Anatote (Jr 1.1). Em cada
Muitos leitores da Bíblia acabam tendo uma caso, Deus usou a experiência anterior do pro­
compreensão falsa do ofício profético por es­ feta para moldar o seu ministério.
tudarem apenas uma parte das evidências Mas apesar das grandes diferenças em suas
bíblicas. origens, os profetas compartilhavam de mui­
Em primeiro lugar, profetas não eram taga- tas características em comum. Primeiro, os
relas histéricos. Alguns estudiosos retrataram profetas possuíam um coração dedicado a
os profetas (especialmente os primeiros profe­ Deus. Eles amavam o Senhor e, portanto,
tas) como se fossem homens em transe frené­ amavam sua Palavra e seus caminhos. Eles
tico falando incontrolavelmente até que o colocavam seu comprometimento com ele
Espírito de Deus os deixasse. Esses autores ci­ acima de qualquer outra coisa, mesmo quan­
tam dois momentos da vida de Saul (ISm do, ao fazê-lo, isso trazia problemas e perse­
10.10; 19.23-24) para apoiar essa teoria. Po­ guição. Os profetas sabiam que se o povo de

342
Os Profetas

Relevo de um
acampamento
assírio. As
invasões e
guerras foram o
pano de fundo
do ministério de
muitos profetas.

Deus pudesse, de alguma forma, vir a perce- to contra o povo e a nação. O povo não conse­
emissários
ber o que Deus esperava deles, eles talvez se guia entender que aqueles discursos vinham
arrependessem de seus pecados e voltassem de Deus, que eram dele as palavras que os
prenuncia^ para ele. profetas proferiam.
dores Em segundo lugar, os profetas possuíam um Em quarto lugar, os profetas eram emissá­
forte senso de chamado. Eles não haviam es- rios que levavam adiante as verdades de Deus
colhido o papel profético para si mesmos; na para sua própria geração. Eles apontavam para
verdade, Deus os havia chamado para esse os males de seu tempo e chamavam o povo ao
ministério e os comissionado para o seu servi- arrependimento. Advertiam o povo que, en­
ço. Saber que haviam sido chamados por quanto a aliança trazia vários privilégios, ela
Deus e que haviam recebido poder dele para também implicava muitas responsabilidades,
cumprir suas tarefas, dava aos profetas forças incluindo justiça, retidão e santidade. Con­
para continuar mesmo diante das mais graves centravam-se, antes de mais nada, em sua
oposições. Algumas vezes, o chamado de Deus própria geração, apesar de suas mensagens
veio logo no início da vida do profeta (Jr 1.4,5). conterem princípios perenes.
Outras vezes, o Senhor tirou seu servos de Em quinto lugar, os profetas eram prenun­
profissões estabelecidas (Am 7.14,15). Mas ciadores. Deus revelava a eles o futuro —
cada profeta sabia que aquele ministério não algumas vezes o futuro próximo, outras vezes
lhe pertencia. Ele deveria viver a vida para a o futuro distante — e os profetas o declara­
qual Deus o havia chamado. vam para sua própria geração. Eles falavam
Em terceiro lugar, os profetas eram mensa­ de julgamento e restauração, de más notícias
geiros. As expressões “veio a palavra do Se­ e boas novas. Eles o faziam, antes de mais nada,
nhor dizendo...” e “assim diz o Senhor...” apa­ para motivar o povo de Deus a ter uma vida
recem mais de 350 vezes nos livros proféticos. fiel no presente.
Os profetas não estavam tentando vender suas Em sexto lugar, os profetas eram indivíduos
próprias idéias. Estavam, sim, passando adian­ criativos que usavam uma variedade de téc­
te mensagens — mensagens urgentes — que nicas de comunicação literária c oral para
Deus havia revelado a eles. Algumas vezes, passar adiante suas mensagens. Alguns usa­
Israel ou Judá perseguia os profetas porque vam parábolas, enquanto outros entoavam
eles tinham palavras muito sérias de julgamen­ cânticos ou lamentos nos quais denunciavam
343
Descobrindo os Profetas

o triste estado espiritual do povo. Por vezes, de dilúvio. Em cada caso, vimos como os rela­
textos de
eles empregavam perguntas retóricas para tos bíblicos, apesar de terem semelhanças em
presságio
desafiar seus ouvintes a refletir e apelavam alguns aspectos, mostram uma perspectiva
para a história e para a aliança com Deus. Por teológica diferente.
profecia de meio de todos esses recursos, os profetas cha­ E quanto à profecia? Outras civilizações
M ari mavam o povo de volta para suas tradições e do mundo bíblico tinham profetas que fala­
herança espiritual. vam em nome dos seus deuses? Tinham pes­
profecias soas que previam o futuro? Se tinham, qual a
acádias Outras nações tinham profetas? relação delas com os profetas bíblicos? Os he­
Como já observamos anteriormente, os he­ breus adquiriram o conceito de profecia dos
breus tinham diversos vizinhos no mundo anti­ seus vizinhos? Para responder a essas pergun­
go e essas nações e povos tinham muito em tas, precisamos observar evidências do antigo
comum com os hebreus. Vários desses povos Oriente Próximo. Existem três categorias bá­
compartilhavam de uma origem lingüística em sicas de evidências: textos de presságio, pro­
comum com os hebreus e, portanto, falavam fecia de Mari e profecias acádias.
línguas relacionadas ao hebraico. Muitos paí­ Durante o começo do segundo milênio
ses tinham leis semelhantes sobre como as pes­ a.C., em um período que os historiadores cha­
soas deveriam tratar umas às outras. mam de PERÍODO BABILÔNICO, (2000-1595
Em nosso estudo de Gênesis, vimos como a.C.), os babilônios começaram a compilar o
outros povos antigos tinham suas próprias idéias que agora chamamos de textos de presságio.
sobre a criação. Também comparamos a his­ Os babilônios provavelmente viam esses tex­
tória hebraica do dilúvio com outras histórias tos como ciência, mesmo que não pareçam
muito científicos para nós nos dias de hoje.
De acordo com esse povo antigo, o mundo
Jesus Cristo era uma complexa teia de relações de causa e
efeito. Certos acontecimentos ocorriam por
e os profetas que outros acontecimentos os haviam causa­
do. Além disso, muitas vezes uma intenção
sobrenatural estava por trás de um aconteci­
Ao estudarmos as características dos profetas do mento. Eles acreditavam que os deuses usa­
Antigo Testamento, podemos entender porque o Novo vam estranhas ocorrências para revelar sua
Testamento refere-se a Jesus Cristo como profeta, pois vontade. Aqueles que estavam familiariza­
ele apresentava essas mesmas qualidades. dos com essas ocorrências podiam interpretá-
las e prever o futuro. Assim, os textos de pres­
• Jesus tinha seu coração dedicado a Deus e sempre
ságio preservaram um registro escrito desses
buscava fazer a vontade do Pai (Jo 5.30).
acontecimentos e suas conseqüências; se cer­
• Jesus mostrava um forte senso de chamado; Deus o
tos eventos ocorressem novamente, isso signi­
havia enviado com um propósito específico (Mt
ficava que os deuses estavam prestes a fazer a
16.21-23).
mesma coisa que haviam feito antes.
• Jesus era um mensageiro, trazendo a vontade de
Deus para a terra (Hb 1.1,2).
Os babilônios examinavam todo o tipo de
• Jesus era um emissário, desafiando seu contempo­ acontecimentos e registravam suas observa­
râneos a arrependerem-se e, pela fé, viverem sua ções nos textos de presságio. Se, por exem­
vida da maneira como Deus esperava que eles fizes­ plo, um certo pássaro aparecia durante um
sem em vez de confiar em tradições mortas (Mt certo mês, isso poderia ser indicação de que
15.1-7; 23.16-28). uma grande fome estava por vir. Se um ani­
• Jesus eram um prenunciador e previu o futuro em mal sacrificial tinha uma mancha vermelha
várias ocasiões (Mc 13.3-27; Lc 23.34,54-62). em seu fígado, isso poderia indicar uma vitó­
• Jesus usava diversas técnicas de comunicação em ria militar para o rei. Alguns desses textos de
suas mensagens, incluindo parábolas (Lc 15.3- presságios tratavam de medicina, enquanto
16.31), citações do Antigo Testamento (Mt 5.17- outros falavam de economia, guerra e vida
19; 12.7; 26.31,32), ilustrações (Mc 9.36,37) e ou­ cotidiana.
tros atos proféticos significativos (Mt 21.1-5; Mc Mesmo uma leitura superficial dos textos
11.15-17). de presságio revela que eles têm pouco em
comum com a profecia bíblica. Os textos de
presságios não têm nenhuma base moral. Os
344
Os Profetas

Uma besta
mitológica
retratada em
azulejos
vitrificados da
Babilônia. Os
babilônios
analisavam
muitos eventos
e registravam
suas
observações nos
textos de
presságio.

H llffWIliffiiilIlIllIMWIITiiirif
deuses simplesmente revelavam sua vontade seus inimigos ou encorajá-los a servir uma di­
extáticos
mediante acontecimentos naturais relaciona­ vindade com mais fidelidade.
dos entre si. Os profetas, por outro lado, apoi­ Apesar de haver semelhanças entre a pro­
avam-se em Deus, em sua Palavra e na alian­ fecia Mari e a profecia bíblica, diferenças gri­
ça que ele havia feito com o seu povo. Eles tantes aparecem quando olhamos os textos
conclamavam o povo a entregar sua vida a mais de perto. Os profetas do Antigo Testa­
Deus e aos seus caminhos. Eles estabeleciam mento afirmavam que a aliança de Deus com
exigências morais para os seus ouvintes pois seu povo tinha implicações na vida diária. Um
qualidades tais como santidade, retidão e jus­ relacionamento apropriado com Deus deve­
tiça refletiam a natureza de Deus e Deus es­ ria resultar em um tratamento justo e ético
perava que seus filhos demonstrassem as mes­ das outras pessoas. Certas ações e crenças eram
mas qualidades. verdadeiras e corretas porque Deus as havia
A antiga cidade de MARI, localizada à ordenado. Além disso, os profetas falavam para
beira do rio Eufrates, era uma importante ci­ toda a sociedade e não apenas para a casa
dade dos tempos da antiga Babilônia e ela nos real. Essas diferenças distinguem claramente
apresenta um segundo possível paralelo com os profetas bíblicos dos m u h h ü em Mari.
a profecia bíblica. Sob o governo de seu rei, Certos textos acádios do primeiro milênio
ZIMRI-LIM, Mari tornou-se uma cidade im­ a.C. nos dão um terceiro possível paralelo com
portante, que dominava grande parte da a profecia bíblica. Esses textos são simplesmen­
alta Mesopotâmia até que o rei babilônio te listas de vários acontecimentos políticos de
Hamurabi (1792-1750 a.C.) conquistasse um determinado período histórico. O texto abai­
Mari e a acrescentasse ao seu próprio territó­ xo é um trecho extraído de uma dessas listas:
rio. Povos conhecidos como extáticos (muhhü
Um governante se levantará e governará
em acádio) residiam ao redor de Mari, e mui­
durante treze anos. Haverá um ataque de
tos estudiosos notaram paralelos entre os
Elão contra Acade e a pilhagem de Acade
m uhhü e os profetas bíblicos. Os m uhhü trans­
será levada embora. Os templos dos gran­
mitiam mensagens que recebiam por inter­
des deuses serão destruídos, a derrota de
médio de sonhos, visões ou transes. Os m uhhü
Acade será decretada (pelos deuses)...
podiam ser tanto homens quanto mulheres e
Um governante se levantará, seus dia serão
cada um servia a um determinado deus ou
poucos, e ele governará sobre a terra.4
deusa. Em suas declarações, os m u h h ü po­
diam avisar os reis sobre rebeliões, aconselhá- Os textos apresentam-se um tanto vagos e
los sobre expedições, prometer vitória sobre os os estudiosos não chegaram a um acordo so­

3 45
Descobrindo os Profetas

bre o que eles são exatamente. Alguns dizem forma escrita. Mas nem todos os profetas do
vaticinium ex
que são exemplos de vaticinium ex eventu Antigo Testamento registravam suas palavras
eventu
ou “profecia escrita depois do evento”. Eles dessa maneira. O Antigo Testamento men­
sugerem que os autores escreveram esses tex- ciona profetas que Deus chamou para a pro­
literatura tos de modo que se parecessem com profe­ fecia, mas que nunca escreveram suas men­
apocalíptica cias. Esse ponto de vista parece provável, ape­ sagens. Sabemos sobre os seus ministérios ape­
mmmfflÊBMMMam sar de outros estudiosos terem sugerido que os nas por intermédio dos relatos a seu respeito
profetas não- textos estão mais relacionados à literatura apo­ nos Livros Históricos do Antigo Testamento.
literários calíptica ou textos de presságio. Fica claro Chamamos esses profetas de “profetas não-
que as profecias acádias diferem significati­ literários”.
vamente das profecias clássicas da Bíblia. Já observamos o papel significativo do pro­
Assim, podemos concluir que, apesar da feta Elias como predecessor da profecia clássi­
profecia bíblica apresentar algumas caracte­ ca. Eliseu, o sucessor de Elias, continuou o
rísticas semelhantes a outros tipos de literatu­ ministério profético que seu mestre havia co­
ra do antigo Oriente Próximo, ela continua meçado (2Rs 1.1-13.21). Ele fez muitos mila­
sendo singular em pelo menos quatro aspec­ gres para o povo à medida que Deus o usava
tos. Em primeiro lugar, a profecia bíblica dis­ para fortalecer a fé dos israelitas. Com o poder
tingue-se por ser dirigida a toda a nação e não de Deus, Eliseu purificou um cozido envene­
apenas aos governantes. Os profetas falam para nado, fez um machado levitar, curou lepra e
os jovens e velhos, ricos e pobres, pessoas co­ até mesmo ressuscitou dos mortos o filho de
muns e sacerdotes, reis e príncipes. Toda pes­ uma viúva.
soa tem a responsabilidade de submeter-se à Tanto Elias quanto Eliseu tiveram cha­
Palavra de Deus. mados muito importantes, mas ao que pare­
Em segundo lugar, a profecia bíblica con­ ce, nenhum deles colocou seu ministério em
centra-se nas atitudes das pessoas e não ape­ palavras escritas. Além desses dois homens,
nas em seus rituais. Se o coração do povo de muitos outros profetas não escreveram suas
Deus não mudasse, Deus veria todos os seus palavras. Profetas cujos nomes não são men­
sacrifícios como sendo sem valor. Os profetas cionados aparecem na época de Saul (ISm
buscavam uma mudança moral do coração e 10.10-12; 19.20,21) e mais tarde no reino di­
não simplesmente o cumprimento do sistema vidido (lRs 13). Aías profetizou que Deus
sacrificial. Os sacrifícios tinham valor somen­ iria tirar o reino de Salomão (lRs 11.29,30).
te quando estavam ligados ao arrependimen­ Micaías profetizou para Acabe e Josafá an­
to verdadeiro e à fé. tes que Acabe morresse nas mãos dos sírios
Em terceiro lugar, a profecia bíblica con­ (lRs 22.7-28). Um homem chamado apenas
tém um imperativo moral. Os profetas não de “homem de Deus” proferiu palavras de
chamavam o povo a fazer sacrifícios, mas sim, julgamento a Jeroboão I quando o rei come­
a ser santo, pois Deus é santo (Mq 6.6-8). O çou a afastar Israel de Deus (lRs 13.1-10). E
povo de Deus deveria viver de maneira que uma mulher chamada Ulda profetizou para
refletisse o seu Pai. Josias, ajudando-o em suas reformas religio­
Em quarto lugar, a profecia bíblica vê as sas (2Rs 22.14-20).
implicações abrangentes das ações do povo e
não apenas os aspectos imediatos. Os profetas Como a profecia
olhavam para o presente, mas também olha­ chegou até nós?
vam para o futuro. Deus estava guiando a A princípio, os profetas comunicavam suas
história e os profetas sabiam que os atos da mensagens oralmente e não na forma escrita.
geração presente afetariam as gerações se­ Isaías e Jeremias, por exemplo, algumas vezes
guintes. Por isso eles conclamavam o povo a falavam diretamente aos reis de Judá (Is 7.1-
viver dc maneira agradável a Deus, não ape­ 14; Jr 37.17-20). Outras vezes, os profetas fala­
nas por si mesmos, mas por amor àqueles que vam para o povo de um modo geral (Jn 3.4; Jr
ainda estavam por vir depois deles.5 7.1-15). Esses fatos levantam uma importante
questão. Qual é a relação entre a palavra fala­
Todos os profetas escreviam da e a palavra escrita? Ou seja, quem escreveu
as suas m ensagens? as mensagens dos profetas e quando?
Quando estudamos os profetas, estamos li­ Três respostas são possíveis e, provavelmen­
dando com material que chegou até nós de te, as três têm sua medida de verdade. Pri­
346
Os Profetas

meiro, alguns profetas escreveram suas pró­ O tema das obrigações da aliança tem di­
escatológico
prias palavras. Um profeta talvez tivesse fala­ versas facetas. Em primeiro lugar, as obriga­
do em público antes de registrá-las, ou talvez ções da aliança incluíam um chamado para
ela as tivesse escrito primeiro e depois procla­ voltar-se para Deus e suas palavras. O mundo
mado para o povo, como faziam os arautos. de Israel e de Judá tinha muitas tentações
Algumas vezes, Deus instruía um profeta a para transigir espiritual e moralmente, assim
escrever sua mensagem como um testemu­ como o nosso mundo tem nos dias de hoje.
nho, assim, quando o dia do julgamento che­ No Sinai, o povo havia reafirmado a aliança
gasse, as pessoas saberiam que haviam sido com Deus, mas as gerações que vieram de­
avisadas por Deus por meio do seu profeta pois haviam mudado sua atitude. Eles lenta­
(ver exemplos em Is 8.16; Jr 36.2; Dn 12.4). mente haviam se afastado do Deus que os
Segundo, alguns profetas usavam escribas havia criado como eram e foram se tornando
para registrar suas palavras. Baruque, o escriba cada vez menos parecidos com aquilo que
de Jeremias, registrava as palavras do profeta Deus queria que eles fossem. Os profetas cha­
e algumas vezes até mesmo as transmitia por maram o povo de Deus para que eles voltas­
ele (Jr 36.4-6). E possível que outros profetas sem às. suas origens, origens enraizadas em
também tivessem assistentes que copiavam Deus e em sua palavra.
cuidadosamente as suas palavras. A prática Em segundo lugar, as obrigações da alian­
de se usar um escriba também aparece no ça continham um chamado à santidade pes­
Novo Testamento (Rm 16.22; lPe5.12). soal. Deus havia agido sobre a história para
Terceiro, é possível que alguns profetas ti­ redimir o seu povo, mas ele queria mais que
vessem discípulos que colecionaram suas men­ redenção para eles. Deus queria que seu povo
sagens e as organizaram nos livros que temos experimentasse a santidade — não apenas a
hoje. Essa sugestão é na verdade uma combi­ ausência de pecado, mas uma bondade e re­
nação das duas primeiras. Um profeta pode tidão que brilhariam como uma luz para aque­
ter escrito ele próprio as suas palavras ou usa­ les ao seu redor que ainda estivessem em tre­
do um escriba, mas nunca tê-las organizado vas espirituais. No Jardim do Éden, homem e
na forma de um livro. No fim de sua vida, mulher haviam perdido a santidade que Deus
seus discípulos ou seguidores mais próximos havia lhes dado. Agora, por meio de suas leis
podem ter escrito outras de suas mensagens e seus profetas, Deus mostrava o pecado ao
e/ou organizado-as em coleções. Dessa for­ povo e continuava sua obra no sentido de res­
ma, o ministério do profeta poderia continuar taurar a santidade da humanidade.
mesmo depois de sua morte. Em terceiro lugar, as obrigações da aliança
chamavam o povo de Deus a estar em paz uns
Quais são alguns tem as com uns com os outros. A palavra hebraica shalom
nos escritos dos profetas? ( s a lõ m , freqüentemente traduzida como
Como já mencionamos, os profetas varia­ “paz”) literalmente significa “estar completo”
vam bastante em termos de origem, público e ou “plenitude”. Deus queria que suas quali­
estilo. Ainda assim, os escritos proféticos têm dades divinas como amor, misericórdia, com­
um impulso em direção a um alvo em comum. paixão, santidade e justiça também fossem
Os profetas enfatizavam repetidamente de­ expressadas mediante a vida de seu povo. Â
terminados temas. Um tema comum dos tex­ medida que os hebreus, pela fé, estivessem
tos proféticos são as obrigações da aliança. Os em conformidade com as leis do Torá, todos os
profetas chamavam os hebreus a lembrarem- aspectos de sua sociedade se alinhariam com a
se de que algo muito significativo havia acon­ perfeita vontade de Deus. Então, o povo expe­
tecido no Monte Sinai. Deus havia revelado rimentaria o verdadeiro shalom em sua nação.
o seu Torá, seu manual para o viver em fide­ Um segundo tema profético freqüente é o
lidade. Ele havia confirmado sua aliança, Dia do Senhor. Muitas vezes, o conceito refe-
uma aliança com implicações abrangentes. re-se a um tempo imediato de julgamento,
A verdadeira adoração a Deus afetava to­ enquanto em outras passagens refere-se ao
dos os aspectos da vida. Quaisquer que fos­ julgamento escatológico de Deus no fim dos
sem os papéis da pessoa — pai, mãe, filho, tempos. O Dia do Senhor inclui três aspectos:
filha, empregado, senhor, vizinho — ela de­ o julgamento de Deus para com os descren­
veria exercer esses papéis à luz de seu rela­ tes, a limpeza e purificação do povo de Deus e
cionamento com Deus. a salvação do povo de Deus. Os profetas ad­
347
Descobrindo os Profetas

vertiam que Deus iria julgar todo pecado onde Os profetas viam a mão de Deus em ação
quer que ele o encontrasse, na vida dos des­ nesses acontecimentos históricos. Eles explica­
crentes bem como na vida dos crentes. Mas vam que ele estava erguendo e humilhando os
ele também desejava que seu povo estivesse reinos da terra de acordo com os seus propósi­
em conformidade com sua imagem e prome­ tos mais elevados. Ele podia e iria julgar uma
teu lapidar suas vidas nem que, para isso, ti­ nação — mesmo Israel ou Judá! — por meio
vesse que fazer uso de medidas extremas. de outra nação. Os profetas proclamavam que
Quanto àqueles que estavam seguindo fiel­ a única esperança de Israel e Judá era voltar às
mente a Deus, o Senhor os assegurava de que suas origens espirituais. Eles chamavam o povo
não se esqueceria deles. O Dia do Senhor de Deus ao arrependimento de seus pecados e
viria, mas para os fiéis seria, na verdade, um a uma vida de fidelidade sob a aliança de Deus.
dia abençoado. Três grandes potências afetaram de ma­
O terceiro e importante tema profético é o neira mais direta a história de Israel e de Judá:
conceito de Messias. O termo “Messias” vem a Assíria, a Babilônia e a Pérsia. Um rápido
da palavra hebraica m asíah, que quer dizer resumo da história desses impérios irá nos aju­
“ungido”. (No Novo Testamento, o equiva­ dar a entender o que os profetas tinham dian­
lente grego para essa palavra é Christos, “Cris­ te de si quando pregavam sua mensagem para
to”.) Ungir alguém com óleo simbolizava o o seu povo.
fato de Deus ter separado aquela pessoa para
servi-lo de uma forma específica e de ter colo­ Os assírios
cado sobre ela o seu Espírito, capacitando-a Arqueólogos descobriram evidências de
para executar o serviço. que os assírios estavam presentes no antigo
As Escrituras testificam que reis, sacerdotes Oriente Próximo desde aproximadamente
e profetas podem ter sido ungidos. No Antigo 2000 a.C.6 A maior parte dessas evidências
Testamento, o termo m a sia h normalmente antigas vem da Ásia Menor, mas um rei,
refere-se a reis, que eram os “ungidos” do Se­ SAMSHI-ADDU (1815-1782 a.C.) avançou
nhor (ver exemplos em ISm 24.6; 2Sm 1.14). para leste e controlou grande parte da alta
Mas no tempo do Novo Testamento, o termo Mesopotâmia, inclusive a cidade Mari, da qual
já havia ganho um novo significado. O Mes­ falamos anteriormente.
sias era o instrumento escolhido por Deus que Durante o resto do segundo milênio, os
viria um dia para estabelecer o reino de Deus assírios continuaram sendo um povo separado
e governar em poder e glória. O Senhor havia na alta Mesopotâmia, lutando contra outras
ungido outros para seu serviço, mas este seria potências do mundo antigo. Com o início do
maior que todos eles. Os profetas nem sempre primeiro milênio, entretanto, os reis assírios
usam o termo “Messias” quando falam da­ começaram a avançar para oeste sobre a Síria.
quele que estava por vir, mas falam dele e Um dos reis mais conhecidos foi SALMANE-
indicam ansiedade pela sua vinda. O Novo SER III (859-824 a.C.) que, em 853 a.C. na
Testamento declara que nós vimos sua vinda cidade de QARQAR, batalhou contra uma
na pessoa de Jesus Cristo e que um dia o vere­ coalisão de pequenas nações cujos líderes in­
mos vindo novamente em poder e glória. cluíam Ben-Hadade II de Damasco e Acabe
de Israel. Apesar de Salmaneser não ter ven­
cido em Qarqar, outras batalhas lhe deram o
controle de várias dessas nações, incluindo
0 contexto histórico Israel, cujo rei Jeú prometeu-lhe fidelidade.
dos profetas clássicos A ascensão de TlGLATE-PlLESER III (745-
727 a.C.) ao trono da Assíria marcou o come­
Os livros proféticos do Antigo Testamento ço de um período de expansão desse povo. A
refletem o ministério de indivíduos que pro­ oeste, Israel e Judá estavam no fim de um
fetizaram em alguma época durante o perío­ longo período de prosperidade sob os reinados
do entre 800 e 450 a.C. Esse período testemu­ de Jeroboão II (793-753 a.C.) e Azarias/Uzias
nhou grandes mudanças de poder no antigo (792-740 a.C.), respectivamente. A degene-
Oriente Próximo. Quando grandes reis e po­ ração espiritual havia lentamente tomado
tências começaram a entrar em cena, muitas conta à medida que o povo cada vez mais
nações menores tiveram que decidir entre a misturava as práticas religiosas cananitas aos
submissão ou a destruição. padrões de adoração que Moisés os havia dado
348
Os Profetas

Relevo de
Tiglate-Pileser III mm
(745-727 a.C).
A ascensão
desse monarca
ao trono
marcou o
começo de um
período de
expansão assíria.

WÊÊÊmÈím

nas leis. Revoltas e inquietações na Síria e na 732 a.C., enquanto Israel e Judá tornaram-se
Palestina levaram às investidas de Tiglate- estados-vassalos. Quando Oséias, o último rei
Pileser a oeste; Damasco acabou caindo em de Israel se revoltou, Salmaneser V (726-722
a.C.) e seu sucessor SARGÃO II (722-705 a.C.)
conquistaram Samaria e levaram Israel para o
exílio. Mais tarde, um outro rei chamado Se-
Pessoas/ naqueribe (705-681 a.C.) lutou contra Eze­
lugares-chave quias, rei de Judá, mas a intervenção de Deus
f impediu que a Assíria fosse vitoriosa.
Zimri-Lim
Guerras constantes durante o século 7Q,
Salmaneser III
especialmente contra a Babilônia, levaram ao
Termos-chave Samshi-Addu
declínio da Assíria. Em 626 a.C., Nabopolasar
Tiglate-Pileser III
Profetas clássicos Sargão II assumiu o controle da Babilônia e em 612 a.C.,
Profecia clássica Merodaque-Badalã com a ajuda de medos e outros povos, e to­
Emissários Nabopolasar mou Nínive, a capital da Assíria. Dentro de
Prenunciadores Nabucodonosor II uns poucos anos, toda a resistência da Assíria
Textos de presságio Asyages havia acabado.7
Profecia de Mari Artaxerxes Os profetas que pressagiaram durante o pe­
Profecias acádias Cambises ríodo de dominação assíria incluem Isaías,
Estáticos Dá rio Oséias, Amós, Jonas, Miquéias, Naum e So­
Vaticinium ex eventu Xerxes fonias. Jonas, Miquéias e Amós falaram a uma
Literatura apocalíptica Alexandre, 0 Grande geração que começava a sentir a renovação
Profetas não-literários Monte Carmelo das forças da Assíria. Isaías e Miquéias dirigi­
Escatológico Mari ram-se a uma geração que havia visto a ex­
Qarqar pansão assíria para oeste e o começo de seu
Armênia domínio sobre a Palestina. Sofonias e Naum
Capadócia profetizaram em uma época em que o Impé­
rio da Assíria estava ruindo diante do domí­
nio da Babilônia e seus aliados.
349
Descobrindo os Profetas

Sumário

1. Os profetas clássicos dirigiam-se a nas atitudes das pessoas, continha um


todo o povo, informando-o da ira de imperativo moral e via as implicações
Deus contra o seu pecado, advertindo mais abrangentes das ações do povo.
sobre a vinda do julgamento, cha­
7. Profetas não-literários — aqueles que
mando o povo ao arrependimento e
não escreveram suas mensagens —
proclamando a salvação de Deus para
dedicavam-se mais ao rei e à sua corte.
aqueles que se voltassem para ele.
8. As mensagens dos profetas eram re­
2. Os profetas não eram tagarelas histé­
gistradas por eles mesmos, por escri­
ricos, videntes e nem extremistas reli­
bas ou por discípulos.
giosos.
9. Os temas proféticos mais freqüentes
3. Os profetas tinham em comum um
incluíam as obrigações da aliança, o
coração dedicado a Deus, um senso de
Dia do Senhor e o Messias.
chamado; eles eram mensageiros de
Deus, proclamavam a verdade de 10. Os profetas Isaías, Oséias, Amos, Jo-
Deus, revelavam o futuro e usavam nas, Miquéias, Naum e Sofonias pro­
uma variedade de métodos escritos e fetizaram durante o período de do­
orais para comunicar sua mensagem. minação assíria.
4. Os textos de presságio da Babilônia têm 11. Hamurabi da Babilônia é mais conhe­
muito pouco em comum com a profe­ cido pelo seu código de leis.
cia bíblica, pois não têm base moral. 12. Os profetas que pressagiaram duran­
5. Os extáticos de Mari falavam apenas à te a dominação dos babilônios foram
casa real, enquanto os profetas he­ Jeremias, Ezequiel, Daniel, Obadias,
breus falavam a todo o povo. Naum, Habacuque e Sofonias.
6. A profecia bíblica difere de outros ti­ 13. Joel, Ageu, Zacarias e Malaquias mi­
pos de atividade profética no Oriente nistraram durante o período de do­
Próximo, pois ela era voltada para a minação persa.
nação como um todo, concentrava-se
MMH WÊÊÈÊÈÊIÊÈÈÈIÊÈmtlÈIÈÉÊÊIÈIÈiÈIÊÈÈÊiÈÈKÍÊIÈKÊW

Os babilônios sul, organizando-se em rígidos grupos tribais


Assim como os assírios, os babilônios apare- chamados de “casas”, e estabeleceram-se ao
ceram pela primeira vez nos registros do antigo longo das regiões baixas dos rios Tigre e Eu-
Oriente Próximo por volta de 2000 a.C. A Ba­ frates. Os babilônios chamavam esses povos
bilônia tornou-se o centro de um império quan­ de “caldeus” e, no século 82, os caldeus já
do Hamurabi (1792—1750 a.C.), mais conhe­ estavam lutando pelo reinado da Babilônia.
cido por seu código de leis, assumiu o controle Um caldeu chamado MERODAQUE-BALADÃ
e estendeu sua influência do Golfo Pérsico até II (ver Is 39.1) desafiou o poder assírio entre
a Síria. Depois dele, outros reis da Babilônia 721 e 710 a.C. e por um breve período em 703
não conseguiram manter o território que a.C., antes de ser derrotado. Em 626 a.C., com
Hamurabi havia conquistado e, em 1595 a.C., a Assíria em declínio, NABOPOLASAR (626-
a Babilônia caiu diante de invasores. 605 a.C.) estabeleceu uma dinastia caldéia
Nos séculos l l 2 e 102, outros povos entra­ na Babilônia e com a ajuda dos medos derro­
ram na Mesopotâmia. Alguns foram para o tou Nínive em 612 a.C. Seu filho, NABU-

350
Os Profetas

CODONOSORlI (605-562 a.C.), estabeleceu época em que Nabopolasar subiu ao poder e


a Babilônia como império dominante sobre o Habacuque veio logo em seguida. Daniel e
antigo Oriente Próximo. Ezequiel ministraram enquanto eram cativos
Enquanto isso, em Judá, os problemas espi­ na Babilônia e Obadias profetizou logo depois
rituais cresciam. Apesar dos judeus terem vis­ da queda de Jerusalém. Naum e Sofonias
to Deus usar os assírios para julgar Israel, a também profetizaram no final do século 7Q,
maior parte persistia nos seus caminhos maus. apesar de seus livros falarem da Assíria e não
Manassés (697-642 a.C.), um dos reis mais mencionarem nada sobre a Babilônia.
perversos de Judá, levou a nação ao declínio
espiritual. O povo acrescentou práticas religi­ Os persas
osas cananitas à sua própria fé e cria que, in­ No meio do século 6Q, a Babilônia e a Mé­
dependente de como eles conduziam suas dia existiam como as duas grandes potências
vidas, Deus havia se comprometido a aben­ na Mesopotâmia. Em 550 a.C., ASTYAGES era
çoar Judá e Jerusalém para sempre. Apesar do o rei da Média. Ciro e seu cunhado lideraram
reinado de Josias (640-409 a.C.) ter trazido uma revolta contra ele e o derrotaram, her­
reavivamento e renovação, depois de sua dando assim a parte norte da Mesopotâmia,
morte o reino rapidamente voltou a cair. Jeoa- Síria, ARMÊNIA e CAPADÓCIA. Em 539 a.C.,
quim (609-597 a.C.) rebelou-se contra Na- Ciro marchou sobre a Babilônia e tomou sua
bucodonosor e Joaquim, o filho e sucessor de cidade sem receber resistência.
Jeoaquim, pagou o preço do exílio. Nabuco- Ao contrário dos assírios, os persas manti­
donosor colocou Zedequias (597—586 a.C.) nham políticas bastante tolerantes em rela­
no trono e deu a Judá mais uma chance; mas ção aos povos conquistados que cooperavam.
quando Zedequias se revoltou, o rei da Babi­ Ciro favoreceu os costumes sociais e religiosos
lônia voltou, derrotou Judá, destruiu Jerusa­ de vários povos e emitiu um decreto no pri­
lém, o templo e levou o povo para o exílio. meiro ano de seu reinado determinando que
Os quatro reis babilônios que vieram de­ todos os judeus que desejassem poderiam vol­
pois de Nabucodonosor não puderam contro­ tar a Judá. Quase cinqüenta mil judeus acei­
lar o império que ele havia estabelecido. Fi­ taram a oferta de Ciro!
nalmente, em 539 a.C., menos de vinte e cin­ O povo judeu voltou para casa e lançou os
co anos depois da morte de Nabucodonosor, a alicerces do templo, mas a oposição de povos
Babilônia caiu para Ciro, rei da Pérsia.8 vizinhos fez com que as obras fossem logo in­
Os profetas cujas profecias refletem esse terrompidas até o reinado de Dário I (522—
período de dominação da Babilônia incluem 486 a.C.). Sob a influência de Ageu e Zaca­
Jeremias, Ezequiel, Daniel, Obadias, Naum, rias, o povo terminou o templo em 516 a.C.
Habacuque e Sofonias. Jeremias recebeu o Esdras e Neemias voltaram para Judá mais
seu chamado aproximadamente na mesma tarde, durante o reinado de ARTAXERXES

Questões para estudo

1. Descreva as circunstâncias históricas e 3. Quais paralelos à profecia bíblica exis­


espirituais que levaram ao surgimento tiam em outras nações? De que ma­
da profecia clássica. Por que os profe­ neira a profecia bíblica é singular?
tas eram uma parte essencial dos pla­
4. Quais são alguns temas mais freqüen­
nos de Deus para o seu povo?
tes da profecia bíblica?
2. Quais são algumas características co­
5. Quais os três grandes impérios que
muns a todos os profetas?
formaram o contexto histórico para
os profetas clássicos?

351
Descobrindo os Profetas

Leituras complementares

Bullock, C. Hassell. An Introduction to the Old Testa­ VanGemeren, Willem A. Interpreting the Prophetic
ment Prophetic Books. Rev. ed. Chicago: Moody, Word. Grand Rapids: Zondervan, 1990. Um volume
1988. Uma exposição em nível universitário. Oferece rico, com excelentes idéias para o aluno mais sério.
uma boa discussão das questões pertinentes, boa Walton, John H. Ancient Israelite Literature in Its Cul­
documentação e rica bibliografia. tural Context: A Survey o f Parallels between Biblical
Smith, Gary V. The Prophets as Preachers: An Intro- and Ancient Near Eastern Texts. Grand Rapids: Zon­
duction to the Hebrew Prophets. Nashville: Broad- dervan, 1989. Faz um levantamento e analisa os pa­
man & Holman, 1994. Um estudo avançado dos ralelos literários de textos bíblicos e do antigo Orien­
profetas, sua maneira de pregar e o seu valor para o te Próximo. De grande valor para estudantes e tam­
pregador cristão de hoje. bém para professores.

(464-423 a.C.), reconstruindo os muros de (335-331 a.C.) em 331 a.C., dando fim ao
Israel e fazendo reformas religiosas. Muitos Império Persa.9
judeus, entretanto, ficaram na Babilônia, con­ Os profetas que ministraram durante o
tinuando a ser parte da sociedade babilônia. período de dominação persa incluem Joel,
Sob CAMBISES (530-522 a.C.), o segun­ Ageu, Zacarias e Malaquias. Ageu e Zacarias
do governante da Pérsia, os persas estende­ conclamaram o povo a completar a constru­
ram sua influência até o Egito e DARIO e ção do templo e olhar para frente, para aquilo
XERXES (486-464 a.C. — o “Assuero” do li­ que Deus ainda ia fazer pelo seu povo. Mala­
vro de Ester) lutaram extensivamente con­ quias desafiou o povo a dar a Deus o melhor
tra a Grécia. A vitória persa sobre a Grécia, de todas as coisas e Joel usou uma praga de
porém, não durou muito tempo, pois ALE­ gafanhotos nos seus dias para avisar o povo do
XANDRE, O GRANDE, derrotou DARIO III Dia do Senhor.

352
Isaías 1-39
Profeta da corte real de Judá

Esboço
• Esboço
• Pano de fundo do livro de Isaías
isaías, o homem
Os tempos de Isaías
Autoria e data
Objetivos
Temas do livro de Isaías
• Mensagem do livro de Isaías Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
Palavras de abertura para Judá (1.1-31)
• Delinear o conteúdo dos capítulos
O julgamento de Deus é revelado
1-39 de Isaías.
(2.1-5.30)
• Explicar os temas dos capítulos 1-39 de
O chamado de Isaías (6.1-13)
Isaías.
O sinal de Emanuel (7.1-17)
• Relacionar as principais características
A iminente invasão assíria (7.18-8.22) do reino de Deus.
Descrição da era messiânica (9.1-7) • Apresentar os elementos do chamado
Julgamento contra Israel e Assíria de Isaías.
(9.8-10.34) • Discutir as possíveis interpretações do
Mais descrições sobre a era messiânica sinal que Isaías ofereceu a Acaz.
( 1 1 . 1- 1 2 . 6 ) • Demonstrar o cumprimento da profecia
Profecias contra as nações (13.1-23.18) de Isaías sobre a era messiânica.
O "pequeno apocalipse" (24.1-27.13) • Mostrar como as profecias de Isaías
Profecias dos ais (28.1-33.24) ilustram que Deus é Senhor de tudo.

Resumo escatológico final (34.1-35.10)


Interlúdio histórico: pontos altos e baixos
do reinado de Ezequias (36.1-39.8)

353
Descobrindo os Profetas

Isaías é um dos profetas mais famosos do E. Damasco e Israel (17.1-14)


Antigo Testamento. Mesmo as pessoas que F. Etiópia e Egito (18.1-20.6)
conhecem pouco sobre a Bíblia reconhecem G. Babilônia, Dumá e Arábia
o seu nome. Mais de um intérprete já chamou (21.1-17)
o livro de Isaías de “Evangelho do Antigo Tes­ H. Jerusalém (22.1-25)
tamento” por causa da ênfase dada pelo pro­ I. Tiro (23.1-18)
feta na graça e no amor de Deus. Ao estudar­
mos Isaías, veremos o amor de Deus demons­ XI. O “pequeno apocalipse”
trado de maneira dramática. (24.1-27.13)
A. A destruição da terra (24.1-23)
B. A vitória de Deus sobre seus
inimigos (25.1-12)
Esboço C. O cântico de livramento de Judá
(26.1-21)
I* Palavras de abertura para Judá
D. A iminente salvação de Israel
(1.1-31)
(27.1-13)
II. O julgamento de Deus é revelado XII. Profecias dos ais (28.1-33.24)
(2.1-5.30) A. Ai de Efraim (28.1-29)
A. A bênção por vir (2.1 -4)
B. Ai de Ariel (29.1-24)
B. Os discursos sobre o julgamento C. Ai das alianças estrangeiras
(2.5-4.6)
(30.1-31.9)
C. Parábola da vinha (5.1-7) D. Angústia e esperança (32.1-20)
D. Os seis ais contra a nação
E. Ai da Assíria (33.1 -24)
(5.8-30)
XIII. Resumo escatológico
III. O chamado de Isaías (6.1-13)
(34.1-35.10)
A. A visão (6,1-8) A. A vingança de Deus contra
B. A profecia (6.9-13)
as nações (34.1-17)
B. A salvação dos redimidos
IV. O sinal de Emanuel (7.1-17)
(35.1-10)
A. O contexto histórico (7.1-9)
B. O sinal oferecido, recusado XIV. Interlúdio histórico: pontos altos
e dado (7.10-17) e baixos do reinado de Ezequias
C. Possíveis interpretações (36.1-39.8)
A. A ameaça de Senaqueribe e
V. A iminente invasão assíria (7.18-
o livramento de Deus (36.1-
8.22)
37.38)
V I. Descrição da era messiânica B. A doenças e a cura de Ezequias
(9.1-7) (38.1-22)
C. Ezequias recebe a visita de
V II. Julgamento contra Israel (9.8- Merodaque-Baladã (39.1-8)
10.4)

V III. Julgamento contra a Assíria


(10.5-34) Pano de fundo do livro
IX . Mais descrições sobre a era
de Isaías
messiânica (11.1-12.6)
Isaías, o homem
X. Profecias contra as nações O nome de Isaías significa “O Senhor sal­
(13.1-23.18) vou”, e está relacionado ao nome “Josué” e
A. Babilônia (13.1-14.23) “Jesus” na forma hebraica. Isaías 1.1 afirma
B. Assíria (14.24-27) que Isaías era filho de Amoz. Infelizmente
C. Filístia (14.28-32) não sabemos nada sobre Amoz, a não ser que
D. Moabe (15.1-16.14) ele era o pai de Isaías!
354
Isaías 1-39

A guarita de um
vigia nos
campos
próximos a
Siquém. Isaías
disse que o
povo de Israel
havia se
rebelado e que
Jerusalém seria
deixada sem
defesas como
uma guarita
para um vigia
em uma vinha
( 1 . 8 ).

Isaías tinha dois filhos — Shear-Jashub (7.3), Quando Isaías iniciou seu ministério, a
remanescente
cujo nome significa “o remanescente volve - Assíria começava a demonstrar suas forças sob
rá” e Maher-shala-hash-baz (8.3) que quer a liderança de TIGLATE-PILESER III (745—
dizer “rápido despojo presa segura”. Ao dar 727 a.C.). Reinos menores como Judá certa­
esses nomes aos seus filhos, Isaías estava mos­ mente devem ter visto o perigo em potencial
trando sua fé no plano de Deus para o futuro no horizonte. Ainda assim, Deus havia pro­
de Israel. O nome “Shear-Jashub” referia-se à metido ao seu povo que o protegeriá de qual­
forma como Deus preservaria o resto do povo quer coisa e de qualquer um desde que eles
que permanecesse fiel. O nome “Maher- permanecessem firmes em sua fé. O Senhor
shala-hash-baz” anunciava o rápido julgamen­ mandou o profeta Isaías para encorajá-los a
to de Deus contra os inimigos de Judá. seguirem esse caminho.
Isaías serviu como profeta na corte real de
Judá. Portanto, ele profetizava principalmen­ Autoria e data
te para Judá, apesar de ter palavras dirigidas a O próprio livro dá o nome de Isaías como
Israel e outras nações. O livro de Isaías relata sendo o profeta por trás de sua mensagem (1.1;
os muitos contatos que ele teve com os reis de 2.1; 7.3; 20.2; 37.2,21; 38.1,4; 39.3). Podemos
Judá, especialmente Acaz e Ezequias. Acaz supor que Isaías registrou suas palavras ou as
deu pouca importância às palavras de Isaías confiou a outros — talvez seus discípulos.
(7.3-13), mas Ezequias punha grande fé no Muitos estudiosos evangélicos datam o livro
profeta (37.2-7,21-35; 31.1-8; 39.3-8). Ao es­ de Isaías no começo do século 7Qa.C.
tudarmos as palavras de Isaías veremos que Outros estudiosos (inclusive alguns evan­
elas também têm muito a nos ensinar. gélicos) acreditam que o profeta Isaías foi res­
ponsável pelo material apenas de Isaías 1-39.
Os tem pos de Isaías
Eles citam certas diferenças entre os capítulos
A maior parte dos estudiosos situa o mi­ 1—39 e os capítulos 40-66 que sugerem que
nistério de Isaías em torno de 740 a 690 a.C. uma outra pessoa escreveu a segunda parte
Quando Isaías respondeu ao chamado de do livro. Trataremos dessa questão em nossa
Deus, restavam menos de vinte anos para discussão sobre Isaías 40—66.
que o reino do norte, Israel, caísse para a
Assíria. Enquanto isso, o reino de Judá ao sul Temas do livro de Isaías
enfrentava um importante teste. Judá iria
aprender com o exemplo trágico de Israel ou
Os remanescentes
iria seguir o mesmo caminho perverso de seu Isaías descreve um grupo de remanescen­
vizinho do norte? tes que Deus havia preservado (1.9). Aliás,

355
Descobrindo os Profetas

ele deu um nome relacionado a esse fato a em trevas espirituais (9.1,2). Ciro pode ter
um de seus filhos “o remanescente volverá” recebido o título de “messias” (45.1), mas ele
(Shear-Jashub, 7.3). O exílio poderia vir, mas nunca cumpriria o propósito de Deus como
Deus um dia guiaria esse remanescente de Jesus, o Filho de Deus faria. O Messias viria
volta para casa (10.20,21). Essas pessoas tinham um dia para reinar em glória, mas primeiro
um relacionamento profundo de fé com o ele iria mostrar-se digno por meio do sofri­
Senhor que as distinguia dos outros israelitas. mento (53.10-12).
Muitos eram descendentes dos doze filhos de
Jacó, mas esses remanescentes eram fiéis à
aliança que Deus havia estabelecido com Jacó
e outros patriarcas.
Mensagem do
A soberania de Deus livro de Isaías
A visão que Isaías tinha da soberania de
P a la v r a s d e a b e r t u r a
Deus moldou o seu ministério de forma dra­
p a ra J u d á (1 .1 -3 1 )
mática. Ele sabia que Deus controlava as na­
ções e, portanto, ele profetizava com intrepi­ As palavras de abertura de Isaías para Judá
dez que Deus iria tratar daquelas nações (ca­ introduzem muitas idéias que o profeta irá
pítulos 13-23). Deus tinha o direito de gover­ desenvolver ao longo do livro. O capítulo 1,
nar sobre sua criação da forma como fazia. portanto, coloca a fundação para os outros
Isaías 40—66 desenvolve ainda mais a idéia de sessenta e cinco capítulos.
que Deus já havia provado sua soberania, pri­ Deus trouxe um julgamento severo sobre o
meiro ao enviar seu povo para o exílio e depois seu povo (vs. 2-15). Eles agiram como crian­
ao livrá-lo do cativeiro. ças rebeldes! O julgamento inicial de Deus
havia surtido pouco efeito, aliás, o seu com­
Servo portamento o lembrava de Sodoma e Gomor-
O tema do servo aparece em várias partes ra (v. 10). Seus sacrifícios eram feitos por mo­
de Isaías e o servo tem diversas identidades. tivos impuros e suas mãos realizavam atos de
A palavra “servo” pode denotar um indivíduo injustiça social. O Senhor não honraria mais
israelita (22.20), a nação de Israel (41.8), o as suas orações (v. 15).
grupo remanescente (49.3) ou o Messias Isaías chamou o povo ao arrependimento,
(52.13). O servo trabalha diligentemente para perdão e bênçãos (vs. 16-20). Deus poderia e
cumprir os propósitos de Deus apesar dos inú­ iria limpar o seu povo de todo o pecado. Mas a
meros desafios e dificuldades. maldade estava por toda a sociedade, come­
çando pela liderança e indo até suas bases
O Santo de Israel (vs. 21-23). De maneira muito clara, Isaías
Isaías usou a expressão “O Santo de Israel” colocou a escolha diante de Judá: Deus iria
trinta e nove vezes para descrever o Senhor; o redimir aqueles que se arrependessem, mas
termo aparece apenas outras sete vezes no os que persistissem em sua rebelião morreriam
resto do Antigo Testamento. Isaías esteve dian­ (vs. 27-31).
te da santidade de Deus quando o Senhor o
chamou para o ministério profético (6.1-8), e O ju lg a m e n t o d e D e u s é
nunca se esqueceu dessa experiência. O povo r e v e la d o (2 .1 - 5 .3 0 )
tinha abandonado o Santo de Israel que os
A bênção por vir (2.1-4)
havia corrigido (1.4). Mas o Santo de Israel
podia atacar qualquer nação inimiga que O futuro reino de Deus inclui três elemen­
desafiasse o seu povo (37.23)! Ele iria agir em tos — o povo de Deus, o. templo de Deus e a
santidade para julgar o pecado onde quer que paz de Deus. O povo de Deus iria abranger
ele o encontrasse. povos de todas as nações. Eles viriam de toda
a parte para Jerusalém, o lugar do templo e o
Messias centro do propósito de Deus. A instrução que
Isaías descreve o Messias, o ungido de o povo receberia da Palavra de Deus resulta­
Deus que viria para redimir o seu povo. Seu ria em paz eterna em todo lugar. A maior par­
reino glorioso traria bênçãos a toda a terra te dos intérpretes acredita que Jesus Cristo irá
(11.1-16) e luz a todos aqueles que viviam cumprir essa profecia quando voltar.

356
Isaías 1-39

to o povo estivesse procurando em vão por


A moral distorcida outros líderes para substitui-los.
Em seguida, Isaías declarou o julgamento
de nossos dias de Deus contra as mulheres de Judá que se
exibiam cheias de orgulho com adornos ela­
Isaías proferiu um ai sobre aqueles que substituís­
borados (3.16-4.1). Deus prometeu tirar de­
sem o bem pelo mal. Muitos em nossa sociedade têm las a dignidade na qual elas tão firmemente
feito exatamente a mesma coisa ao dar nomes mais confiavam. As palavras de Isaías prenuncia­
atraentes para práticas que a Bíblia declara serem per­ ram o discurso de Paulo quando ele lembrou
versas. Observe os seguintes exemplos; as descrições as mulheres de que retidão e boas obras eram
mais precisas estão entre parênteses: muito mais importantes que adornos externos
(lT m 2.9,10).
C aso (fornicação, adultério, sexo ilícito) Isaías encerrou essa seção com uma palavra
Estilo de vid a a lte rn a tiv o (homossexualidade) sobre o renovo de Deus (4.2-6). Esse renovo,
A bo rto (assassinato de um bebê não nascido) que seria parte da linhagem de Davi, serviria
Tornar-se ho m em ou to rn ar-se m u lh e r (perder a como instrumento de Deus para trazer o seu
virgindade)
reino. Veremos esse conceito novamente em
S ex u alm e n te ativo (promíscuo, sexualmente imoral)
Isaías 11, bem como em Jeremias e Zacarias.
Pró-escolha (pró-aborto)
E n tre te n im e n to para a d u lto s (pornografia, lugar Parábola da vinha (5.1-7)
de strip-tease)
Isaías retratou o povo de Deus como uma
V íd eo s a d u lto s (vídeos pornográficos)
vinha. Deus havia cuidado dessa vinha dili­
Filo sofia new -ag e (velhas mentiras das filosofias
gentemente, mas ela só produzia uvas bravas!
orientais)
Deus chamou Judá para servir de testemu­
Muitos também tentam humilhar os cristãos en­ nho — ele havia feito tudo o que devia para
quanto justificam seu próprio comportamento pecami­ cuidar de sua vinha. O problema estava neles
noso ao dar nomes pouco atraentes para as práticas c na falta de vontade do povo de responder
que a Bíblia considera retas. Mais uma vez, a expressão ao seu cuidado.
mais precisa está entre parênteses.
Os seis ais contra a nação (5.8-30)
C o vard e (medroso; usado normalmente para desafiar Isaías pronunciou seis profecias dos ais
alguém que não quer fazer como o resto do grupo) contra diversos segmentos da população de
A n tiq u ad o (alguém que pratica os padrões tradicio­
Judá. Uma profecia do ai é um discurso de
nais de moralidade)
julgamento que tipicamente começa com a
P uritano (alguém que pratica os padrões tradicionais
palavra “ai”.
de moralidade sexual)
Primeiro, Isaías denunciou os opressores
Rígido, in flexível, in to leran te (mantém-se firme em
que egoisticamente aumentavam suas pro­
suas opiniões, especialmente nas questões morais)
priedades às custas de outros (vs. 8-10). Deus
os julgaria reduzindo suas colheitas e tornan­
do o acréscimo de terras inútil.
Em segundo lugar, Isaías condenou os bê­
Os discursos sobre o julgamento
profecias bados que viviam apenas para fartar-se de
dos ais (2.5-4.6) bebidas fortes e festejar (vs. 11-17). Eles fica­
Isaías apresentou três discursos sobre o jul­ vam até altas horas da noite em festas, in­
gamento. Primeiro ele chamou o povo a reco­ conscientes da ruína espiritual que os cerca­
nhecer os caminhos de Deus (2.5-21). Falsas va. O povo de Deus iria sofrer no exílio por
religiões, riquezas e orgulho haviam corrom­ causa de sua falta de conhecimento.
pido a nação. Isaías advertiu o povo sobre o Em terceiro lugar, Isaías repreendeu aque­
dia de prestação de contas que estava prestes les que testaram a Deus (vs. 18,19). Eles su­
a chegar. punham que Deus não estava fazendo nada
Depois, Isaías anunciou o julgamento de porque eles não conseguiam discernir o seu
Deus contra os líderes de Judá (2.22-3.15). propósito. Enquanto isso, persistiam na sua
Ele iria cortar fora os líderes que tivessem usa­ iniqüidade.
do de sua posição para obter benefícios deso­ Em quarto lugar, Isaías reprovou os de mo­
nestos. O resultado seria a anarquia enquan- ral distorcida, que chamavam o bem de mal e
357
Descobrindo os Profetas

o mal de bem (v. 20). Eles assim procediam iriam lidar com a iminente expansão dos
sinal
para justificar o seu pecado, para que pudes­ assírios em direção a oeste sob o comando de
sem continuar pecando sem sentir culpa. Tiglate-Pileser III.
Em quinto lugar, Isaías pronunciou um ai Os personagens principais incluem Rezim,
contra os que exaltavam a si mesmos (v. 21). rei da Síria, Peca, rei de Israel e Acaz, rei de
Eles criam ser sábios, mas os outros tinham Judá. Rezim e Peca desejavam unir forças com
uma opinião bem diferentes sobre eles! Deus Acaz para impedir os assírios de avançarem,
certamente iria humilhá-los. mas quando Acaz recusou juntar-se à alian­
Em sexto lugar, Isaías proferiu uma admo- ça, Rezim e Peca marcharam contra ele
estação contra os oportunistas imorais (vs. (7.1,2). Isaías encorajou Acaz a confiar no
22,23). Essas pessoas reuniam-se e tiravam os Senhor (7.4-9), pois Deus iria proteger a li­
direitos dos indefesos. Eles aceitavam subor­ nhagem de Davi se os descendentes de Davi
no e rejeitavam os padrões de Deus. colocassem sua confiança no Senhor.
Nesses seis grupos, ninguém importava-se
O sinal oferecido, recusado e dado
com o seu comportamento, mas Deus tinha
(7.10-17)
visto todas essas coisas. Em sua ira ele iria le­
vantar uma outra nação para consumi-los e Isaías ofereceu a Acaz um sinal de Deus
levá-los embora. para fortalecer sua fé. Acaz mascarou sua fal­
ta de fé com falsa piedade (7.10-12), pois ele
O cham ado de Isaías (6.1-13) já havia decidido confiar na Assíria (2Rs
16.7,8). Isaías o condenou por sua falta de fé e
A visão (6.1-8)
disse-lhe que o próprio Deus lhe daria um si­
A referência que Isaías faz à morte do rei nal. Uma virgem iria conceber e dar à luz um
Uzias situa o seu chamado profético aproxi­ filho e chamá-lo de Emanuel, que significa
madamente no ano de 739 a.C. Isaías rece­ “Deus conosco” (7.14). Antes que a criança
beu uma visão poderosa de Deus. Mais que pudesse escolher entre o bem e o mal, os reis
tudo, ele viu duas coisas: a majestade plena da Síria e de Israel já não existiriam.
de Deus e sua própria pecaminosidade.
O toque do serafim sobre a boca de Isaías Possíveis interpretações
representou simbolicamente a purificação que Ao tratarmos dessa profecia, precisamos de­
Deus estava lhe concedendo de todo o peca­ terminar a relação entre Isaías 7.14 e Mateus
do. Isaías agora estava puro diante do seu san­ 1.23, que diz que o nascimento de Jesus de
to Deus. Assim, quando Deus o chamou, ele uma virgem cumpriu a profecia de Isaías.
respondeu prontamente (v. 8) — “Eis-me aqui, Abaixo estão duas interpretações mais fre­
envia-me a mim”. qüentes que os estudiosos têm oferecido:
A profecia (6.9-13) • O sinal que Isaías ofereceu foi o nascimen­
A mensagem inicial que Deus transmitiu to de Cristo de uma virgem. O profeta com­
por meio de Isaías proclamava a falta de com­ preendeu o que estava prometendo e a pro­
preensão do povo. Eles iriam persistir em seu fecia se cumpriu. Quando Jesus já podia
pecado, sem ser capazes de ver, ouvir ou en­ distinguir o certo do errado, os reis da Síria
tender o propósito de Deus para eles. A pro­ e de Israel não existiam mais. Isaías capítulo
clamação dessa palavra de Deus só faria com 8 registra um incidente não relacionado.1
que o povo se endurecesse contra ele. Ainda Muitos cristãos ao longo dos séculos têm
assim, Deus prometeu levantar um remanes­ compreendido a profecia dessa forma. Al­
cente depois de seu julgamento. Seus propó­ guns, porém, sugerem que o longo período
sitos para o seu povo iriam continuar. de tempo entre as palavras de Isaías e o nas­
cimento de Jesus enfraquecem o significa­
O sinal de Em anuel (7.1-17) do desse sinal.2
• As profecias de Emanuel e Maher-shalal-
O contexto histórico (7.1-9) hash-baz descrevem o mesmo nascimento.
Os anos de 7 3 5a732a.C . testemunharam A mulher, esposa de Isaías (a “profetiza”,
aquilo que os historiadores chamam de Guer­ 8.3), era uma virgem até então, mas Isaías
ra Sírio-Efraimita. A questão central era como casou-se com ela e ela concebeu da manei­
países pequenos como a Síria, Israel e Judá ra usual. O sinal no tempo de Isaías foi ela
358
Escala

10 20 mi
i _l_ r __ I
10 20 km
Descobrindo os Profetas

ter dado à criança o nome de “Deus é co­ espíritas. No mundo de hoje, muitos procuram
vassalo
nosco” quando todos os acontecimentos substitutos para a Palavra de Deus, mas é so­
indicavam que Deus estava longe de seu mente na Bíblia que encontramos as respostas
povo. O nascimento de Jesus, portanto, para as perguntas mais profundas da vida.
cumpriu as palavras de Isaías em um nível
ainda mais elevado. O texto registra em re­ Descrição da era m essiânica
lação a José e Maria que: “não a conheceu, (9.1-7)
enquanto ela não deu à luz um filho” (Mt Isaías deu aos seus ouvintes a possibilidade
1.24,25).3 Mas alguns estudiosos têm difi­ de vislumbrar como seria a era messiânica.
culdades com essa interpretação, pois os fi­ Essas palavras proféticas também têm o seu
lhos têm nomes diferentes e existem dife­ cumprimento em Jesus Cristo.
rentes critérios para quando os reis iriam Isaías descreveu como os territórios das tri­
deixar de existir.4 bos do norte de Zebulom c Naftali, que antes
Ambas as interpretações tentam fazer jus­ haviam sido lugares de densas trevas espiri­
tiça ao texto de Isaías e ambas mantêm a di­ tuais, veriam grande luz. Jesus deu a essas re­
vindade de Jesus. O nascimento a partir de giões grande luz espiritual, pois foi lá que ele
uma virgem continua sendo o ponto principal exerceu boa parte do seu ministério na terra
dessa origem sobrenatural e divina em qual­ (Mt 4.15,16).
quer um dos casos.5 Isaías também descreveu os poderosos no­
mes do Messias — “Maravilhoso, Conselhei­
A im inente invasão assíria (7.18- ro, “Deus Forte”, “Pai da Eternidade” e “Prín­
8 .2 2 ) cipe da Paz”. Tais nomes só podem descrever
Acaz escolheu confiar na Assíria. Ele man­ alguém muito mais que humano! O profeta
dou um grande presente para Tiglate-Pileser falou ainda do ministério do Messias. Ele iria
e pediu sua ajuda (2Rs 16.7,8). O rei assírio assumir o trono de seu pai, Davi, e reinar com
respondeu prontamente, movendo-se para o retidão para sempre. Observe como Isaías jun­
oeste, conquistando Damasco em 732 a.C. e tou a primeira e a segunda vinda de Jesus em
matando Rezim (2Rs 16.9). Ele também pas­ dois versículos adjacentes. O versículo 6 des­
sou sobre Israel e permitiu que Oséias, que creve a primeira vinda de Jesus enquanto o
havia matado Peca, continuasse a governar versículo 7 descreve a segunda vinda. Os pro­
como vassalo (2Rs 15.29,30). O povo de Deus fetas algumas vezes escreviam dessa forma
pagou um preço incrivelmente alto por Acaz quando falavam dos planos de Deus para um
não confiar em Deus. futuro distante.6
Isaías advertiu o povo sobre o grande poder
Assírio (7.18-25). A terra passaria por devasta­ Julgam ento contra Israel e
ção e as áreas férteis tornar-se-iam desoladas, Assíria (9.8-10.34)
próprias apenas para os espinhos e abrolhos. Israel endureceu-se diante do julgamento
A Guerra Sírio-Effaimita foi o contexto para de Deus (9.8-10.4). O povo ignorou a disci­
a profecia do capítulo 8.1-4. Nessa profecia, plina de Deus e continuou em seus caminhos
Isaías teve um filho chamado Maher-shalal- maus. A expressão “não se aparta a sua ira e a
hash-baz. Isaías previu o nascimento da crian­ mão dele continua estendida” (9.12,17,21;
ça na presença de testemunhas. Ele afirmou 10.4) revela que Deus repetidamente casti­
que antes que a criança pudesse dizer “Ma­ gou o seu povo sem ver qualquer sinal de ar­
mãe! Papai!” a Síria e Israel não seriam mais rependimento. O que mais irava o Senhor era
uma ameaça para Judá (já discutimos acima a liderança inepta e o orgulho de Israel.
a possível ligação dessa profecia com o capítu­ A Assíria também recebeu seu julgamen­
lo 7.14). to (10.5-34). Deus usou a Assíria como instru­
Isaías continuou descrevendo o julgamen­ mento de correção contra o seu povo iníqüo
to que estava prestes a cair sobre Judá (8.5- (10.5). Mas os assírios jamais se deram conta
22). O povo havia rejeitado a contínua e gen­ do papel que tiveram nesse propósito maior.
til proteção de Deus e, em vez disso, se volta­ Em vez disso, tornaram-se orgulhosos e arro­
do para o rei da Assíria, que encheria suas gantes. O Senhor prometeu julgar a Assíria e
terras de fúria. Sua falta de luz espiritual os conduzir um grupo de fiéis remanescentes do
levou a negar a lei e confiar em médiuns e povo de Deus de volta a Israel (10.12,13).
360
Isaías 1-39

Um judeu
ortodoxo com
uma trombeta
feita de chifre
de carneiro
(shofar), no
muro oriental
de Jerusalém.
Isaías disse que
uma trombeta
iria chamar o
povo do exílio
(capítulo 27).

Mais descrições sobre a era bondade e a salvação de Deus. Aqueles que


profecias
contra as m essiânica (11.1-12.6) colocam sua fé no Senhor Jesus Cristo podem
nações Isaías descreveu um renovo (4.2) que viria esperar por esse dia com grande ansiedade!
da linhagem de Jessé, pai de Davi. O Espírito do
Senhor daria a ele o poder de liderar as nações. Profecias contra as nações
Ele traria paz a todo o povo. Até mesmo as (13.1-23.18)
bestas selvagens voltariam a ter harmonia! O As “profecias contra as nações” de Isaí­
povo de Deus cantaria dc júbilo e celebraria a as descrevem os planos de Deus para as outras

361
Descobrindo os Profetas

nações do mundo antigo. Essas profecias ilus­ quando o Senhor cumpriu essa profecia. Tan­
tram uma importante verdade da qual deve­ to o rei assírio Sargão II (721-705 a.C.) quan­
mos nos lembrar: Deus é Senhor sobre todas to SENAQUERIBE (704-681 a.C.) declararam-
as nações e todos os povos. se vitoriosos sobre Moabe.7

Babilônia (13.1-14.23) Damasco e Israel (17.1-14)


A Babilônia era a primeira na lista das na­ Isaías provavelmente descreveu Israel e Da­
ções que Deus iria julgar. Esse fato é, de certa masco juntas, pois suas palavras são do tempo
forma, surpreendente pois era a Assíria, e não da coalisão Sírio-Efraimita (735-734 a.C.). Ele
a Babilônia que dominava o mundo no tem­ advertiu que Deus arrasaria- Damasco e assim
po de Isaías. Mas Isaías pôde enxergar o que fez o Senhor, por meio de Tiglate-Pileser III,
estava por vir, pois a Babilônia viria a dominar em 732 a.C. Ele também prometeu julgar Is­
o mundo e ele anunciou sua condenação. rael, mas ele cuidaria de um remanescente
Deus com freqüência usa pessoas como ins­ que o seguiria (vs. 6-8).
trumentos para alcançar os seus propósitos. Ele
usaria os medos para julgar a Babilônia
Etiópia e Egito (18.1-20.6)
(13.17). De fato, muitos medos faziam parte O Senhor também prometeu humilhar a,
das forças que o rei Ciro da Pérsia liderou CUSH, Etiópia e o Egito. Os etíopes um dia
contra a Babilônia em 539 a.C. Isaías compa­ ainda trariam presentes para Sião (18.7). Além
rou a destruição da Babilônia com a destrui­ disso, Deus também iria julgar o Egito e os
ção de Sodoma e Gomorra (13.19,20). seus ídolos. Séculos antes, o Egito havia escra­
Isaías descreveu o cântico que o povo de vizado o povo de Deus, mas agora ele iria virar
Deus iria entoar no dia da derrota da Babilô­ o jogo e os egípcios é que seriam escravizados.
nia (14.3-21). O governante da Babilônia ha­ Ele iria secar o Nilo, a fonte de água do Egito
via proclamado ser um deus (14.13,14), mas o e, assim, devastaria o país (19.5-8). Isaías che­
Senhor o humilharia. Alguns intérpretes da gou a andar nu e descalço durante três dias
Bíblia vêem no trecho do capítulo 14.12-15 como sinal da destruição que estava por vir
uma descrição secundária da queda de Sata­ sobre a Etiópia e o Egito (20.1-6).
nás, apesar do texto identificar especificamen­ Mas Isaías também anunciou novas emo­
te apenas o rei (14-4). Deus destruiria o orgu­ cionantes para o Egito. Um dia, o Egito iria
lho e a arrogância da Babilônia. jurar sua fidelidade ao Senhor! O Senhor tra­
ria cura para o Egito e até mesmo a paz entre
Assíria (14.24-27) eles e os assírios. Naquele dia, Egito, Assíria
Não tardaria para que Deus usasse a Assí­ e Israel iriam tornar-se uma bênção unida
ria para humilhar o reino do norte de Israel para todo o mundo. Ao olharmos para o
(2Rs 17.1-6). Mas mesmos os poderosos assírios mundo de hoje, tais palavras parecem im­
não poderiam frustar os planos de Deus. Os possíveis, mas devemos nos lembrar de que
propósitos divinos seriam mais fortes que eles. nada está fora do alcance de nosso Deus
Todo-poderoso.
Filístia (14.28-32)
Os filisteus regozijaram-se quando o rei Babilônia, Dumá e Arábia (21.1-17)
Acaz morreu, supostamente porque isto os li­ Isaías anunciou ainda mais julgamento so­
bertava da dominação de Judá. Mas Isaías bre a Babilônia (vs. 1-10). Elão e a Média se
assegurou os filisteus que Deus continuaria a uniriam para derrubar a Babilônia. Isaías tam­
proteger o seu povo. bém inclui uma breve palavra sobre DUMÁ e
a ARÁBIA. O julgamento cairia sobre eles em
Moabe (15.1-16.14)
um ano.
Os moabitas, vizinhos de Judá a sudeste,
eram descendentes de Ló, o sobrinho de Jerusalém (22.1-25)
Abraão (Gn 19.37). Isaías descreveu como o Isaías, então, declarou o dia do julgamen­
julgamento de Deus iria afetar todas as prin­ to de Jerusalém. O povo havia vivido ali em
cipais cidades de Moabe (15.1-9). Ele adver­ segurança durante muitos anos e acreditava
tiu que em três anos Deus iria reduzir signifi­ que, independente que eles fizessem, Deus
cativamente a posição de Moabe (16.14). In­ os protegeria para sempre. O dia do julgamento
felizmente, não sabemos dizer com precisão iria destruir essas crenças (vs. 1-14).
3 62
Isaías 1-39

As Nações em Isaías
13-23
A) . ..

f Sidom o •D am asco Ba B/LÔ i


Tiro *

Jeru salé AIVIOÍVI


M O ABE
AV C U X E
EDO M

A R A B IA
M AR
V E R M E LH O

Isaías apresentou dois futuros líderes — gulho da cidade e dar suas posses a outros. No
Pequeno
Sebna (vs. 15-19) e Eliaquim (vs. 20-25). Sebna final, Tiro se submeteria aos propósitos sobe­
Apocalipse
usaria o seu governo para ganho desonesto; ranos de Deus.
Deus o arrasaria. Mas Eliaquim serviria o povo
literatura como um pai. Infelizmente, Eliaquim foi um O "Pequeno A pocalipse"
apocalíptica dos poucos exemplos de boa liderança em sua (24.1-27.13)
geração. Muitos intérpretes deram a Isaías 24-27 o
nome de “Pequeno Apocalipse”, pois esses
Tiro (23.1-18) três capítulos têm um texto que é equivalen­
Tiro, uma cidade portuária da Fenícia, te a uma miniatura do livro de Apocalipse
usava sua localização estratégica para acu­ (ver a discussão sobre “literatura apocalípti­
mular riquezas. Mas Tiro logo iria passar pela ca” no capítulo 31). Eles são a grande conclu­
tragédia da falência. Deus iria destruir o or­ são das profecias de Isaías nos capítulos 13-
363
Descobrindo os Profetas

23. Na seção anterior, o profeta mostrou como sião em que Deus destruirá o mal de uma
Deus era Senhor sobre os diferentes reinos. E, vez por todas.8
ao governar essas nações e povos, ele contro- Deus queria que o seu julgamento levasse
lava o mundo todo. Isaías 24-27 anuncia o o povo a voltar-se para ele. Ele estava ansioso
julgamento final de Deus sobre o mundo e a para cuidar ternamente dos seus (vs. 2-6)
salvação de seu povo. quando percebessem seu desamparo e pedis­
sem perdão (v. 9). Ele prometeu reuni-los to­
A destruição da terra (24.1-23)
dos um dia (vs. 12,13).
Isaías usou de uma linguagem forte para
anunciar a destruição da terra (vs. 1-6). O Profecias dos ais
Senhor não seria parcial em seu julgamento. (28,1-33.24)
A posição social não importaria. Isaías 28—33 contém cinco profecias dos
Mas em meio ao caos violento que traria o ais. Essas profecias falavam do fim de vários
fim da História, o povo de Deus louvava ao povos e nações. Isaías 34,35 dá um clímax
Senhor de qualquer forma. Eles lhe davam para os capítulos 28-33, assim como os capí­
glórias, pois o tempo da salvação se aproxima­ tulos 24-27 (o “Pequeno Apocalipse”) são o
va (vs. 1446). Seu povo o veria em todo o seu clímax para os capítulos 13-23 (“Profecias
esplendor (v. 23). contra as nações”).
A vitória de Deus sobre os seus Ai de Efraim (28.1-29)
inimigos (25.1-12) Isaías denunciou o orgulho e a arrogância
O povo de Deus cantava para ele — ele de Efraim. O povo pensava ter encontrado
havia dado a vitória! Isaías prenunciou um uma forma de enganar a morte e escapar do
grande banquete que o Senhor iria preparar julgamento de Deus (v. 15). Em vez disso, sua
(vs. 6-9). Ele aboliria a morte para sempre e liderança imatura tornou-os incapazes de
estabeleceria uma comunhão pessoal e ínti­ compreender os ensinamentos de Deus (vs.
ma com aqueles que ele ama. Nos dias de 9-13). Eles não se davam conta da situação
hoje, Deus oferece a todos nós um relaciona­ desesperadora na qual se encontravam!
mento pessoal com ele mediante a fé em Je­ Deus prometeu trazer justiça e retidão so­
sus cristo (Rm 3.21,22). Aqueles que confiam bre aquela terra (vs. 16-22). Sua “pedra an­
nele têm a promessa de que um dia o verão gular aprovada” seria a parte-chave dos novos
face a face (ljo 3.1-3). alicerces de Sião. O Novo Testamento reve­
lou que Jesus Cristo é essa pedra angular (Rm
0 canto de livramento de Judá
9.33). Jesus é o alicerce da Igreja, a estrutura
(26.1-21)
que ele está construindo com os cristãos que
O povo de Deus iria entoar um outro são as “pedras vivas” (lPe 2.6).
cântico celebrando o livramento de Deus. O
Senhor havia dado a vitória e era digno de Ai de Ariel (29.1-24)
confiança (vs. 6-9). Enquanto Isaías medita­ O termo “Ariel” refere-se a Jerusalém (v.
va sobre esse grande dia ele fez uma oração 1). Muitos estudiosos sugerem que ele signifi­
ao Senhor (vs. 11-18). O povo de Deus estava ca “Lareira de Deus”, uma descrição que se
indefeso diante de seus inimigos. Eles tinham encaixaria no contexto.9 O povo de Jerusa­
alguma esperança? Deus respondeu com um lém pensava ser o centro da adoração do úni­
alto e claro siml Ele prometeu livrá-los de seus co verdadeiro Deus. Mas Deus não se agra­
inimigos a seu tempo perfeito. dava deles. Isaías proclamou o julgamento
contra a cidade e o seu povo. Deus prometeu
A salvação iminente de Israel arrasá-los até o pó (v. 4).
(27.1-13) Isaías descreveu o entorpecimento que
Os intérpretes da Bíblia debatem-se com havia tomado conta do povo (vs. 9-16). Eles
a identidade de Leviatã (v. 1). Alguns ten­ falavam como se conhecessem o Senhor, mas
taram relacionar Leviatã a uma determina­ haviam fechado os seus corações para segui-
da divindade cananita. Mas tais tentativas lo. Imaginavam que ninguém soubesse sobre
apresentam alguns problemas. Provavelmen­ o seu pecado, mas Deus tudo via. Ainda as­
te, devemos entender que Isaías está usando sim, o Senhor prometeu restauração (vs. 17-
a imagem de Leviatã para descrever a oca­ 24). O povo ainda iria voltar para ele.
364
Isaías 1-39

Angústia e esperança (32.1-20)


O relato cia Isaías anunciou esperança mesmo em meio
a todos os ais e angústias. O Senhor um dia
Senaqueribe sobre iria levantar um rei justo cuja vinda iria reno­
sua batalha com var a sociedade! Outros líderes seguiriam o
Ezequias seu exemplo e trariam bênçãos sobre toda a
terra. Isaías também prometeu outras maravi­
lhas — os cegos veriam, os surdos ouviriam e
os gagos falariam claramente (vs. 3,4)! O Es­
Quanto a Ezequias, o judeu, e/e não se submeteu ao
pírito de Deus faria esse dia chegar, um dia
meu jugo. Sitiei 46 de suas cidades fortificadas, fortes
eterno de paz e segurança. Os cristãos espe­
com muralhas e incontáveis vilarejos em suas vizinhan­
ram pelo dia em que Cristo voltar e essas pro­
ças e as conquistei usando rampas e baterias de toras e
messas se cumprirem. A Bíblia chama pessoas
assim trouxe para perto dos muros o ataque dos solda­
dos usando minas, fendas e galerias subterrâneas... de toda a parte a prepararem-se para esse dia
Quanto ao próprio Ezequias, eu o fiz prisioneiro em Je ­ entregando a vida a ele.
rusalém, como um pássaro em uma gaiola. Eu o cer­ Ai da Assíria (33.1-4)
quei de armadilhas para arrasar com qualquer um que
Isaías pronunciou a destruição vindoura da
passasse dos portões da cidade. Quanto às cidades
menores, eu as pilhei, tomei-as de seu país e entre­ Assíria. Os assírios acreditavam governar o
guei-as para Mitinti, rei de Asdode, Padi, rei de Ecrom e mundo, mas eles apenas serviam de instru­
Sillibel, rei de Gaza... O próprio Ezequias, impressiona­ mentos para Deus. Depois que tivessem cum­
do com o poder do meu senhorio, mais tarde enviou a prido o propósito de Deus para eles, o Senhor
Nínive, minha capital, 30 talentos de ouro, 800 talen­ os faria cair (vs. 1,2).
tos de prata, pedras preciosas, antimônio, cortes de pe­ De que forma o povo de Deus poderia pre­
dras vermelhas, sofás incrustados com marfim... toda parar-se para aquele dia? Voltando-se para ele!
sorte de tesouros valiosos, suas próprias filhas, Quem poderia escapar da ira santa de Deus?
concubinas, músicos (homens e mulheres). A fim de Só aqueles cuja vida refletisse sua fidelidade
entregar o tributo e em demonstração de obediência a ele (vs. 14-16). Eles veriam uma nova Jeru­
e/e mandou o seu mensageiro pessoal como escravo. salém em todo o seu esplendor e, mais que
tudo, eles veriam o seu Deus em todo o seu
-ANET, 288
esplendor. O Novo Testamento também fala
de um dia em que os crentes irão vê-lo face a
face (ljo 3.2,3).

Resumo escatológico (34.1-35.10)


O clímax dos pronunciamentos de Isaías
Ai contra as alianças estrangeiras sobre a vinda do julgamento e do reino de
(30.1-31.9) Deus encontra-se nos capítulos 34 e 35. O
capítulo 34 descreve a vingança final de Deus
Isaías condenou a tentativa de Judá de
contra as nações. O capítulo 35 anuncia a ale­
formar alianças com estrangeiros (30.1-5;
gria que haverá para aqueles que o conhecem.
31.1-3). Tratados com potências estrangei­
ras eram garantia de desastre. De que forma A vinqança de Deus contra as nações
outros reinos poderiam oferecer mais segu­ (34.1-17)
rança que o Senhor Deus?10 Além do mais, O profeta descreveu Deus como um pode­
tratados internacionais muitas vezes impli­ roso Guerreiro que executou a vingança so­
cavam reconhecimento formal das divinda­ bre seus inimigos. Mas o julgamento foi além
des da outra nação. Nenhum rei que fosse das nações da terra. Até mesmo os céus senti­
dedicado ao Senhor poderia participar de tal ram o seu impacto (v. 4). O Senhor separou
cerimônia. Edom dando-lhe atenção especial, talvez por
Isaías proclamou a loucura de se confiar sua persistente inimizade contra o povo de
no Egito. O Egito tinha adquirido a reputação Deus (ver Obadias). Ele arruinaria Edom para
de prometer ajuda aliada e então falhar em sempre. Todos os inimigos de Deus teriam a
oferecê-la (36.6). Deus prometeu julgar o mesma sina. Deus havia decretado e assim
Egito e aqueles que nele confiassem. seria (vs. 16,17)
365
Descobrindo os Profetas

Sumário

1. Isaías foi o profeta que serviu na cor­ Messias, descreviam o Messias me­
te real de Judá, mas ele também fa­ diante diferentes nomes, falavam do
lou para Israel e para outras nações. ministério do Messias e descreviam a
primeira e a segunda vinda do Messias.
2. Os principais temas dos capítulos 1-
39 incluem o remanescente, a sobe­ 6. Nas “ Profecias contra as nações" de
rania de Deus, o Santo de Israel e o Isaías, o julgamento de Deus foi decla­
Messias. rado sobre a Babilônia, Assíria, Filístia,
Moabe, Damasco, Israel, Etiópia,
3. O chamado profético de Isaías veio
Edom, Arábia, Jerusalém e Tiro.
em 739 a.C., quando ele teve uma vi­
são na qual vislumbrou a majestade 7. Os capítulos 24-27 são chamados por
de Deus bem como a sua própria pe- muitos estudiosos de "Pequeno Apo­
caminosidade. calipse".
4. Isaías ofereceu a Acaz um sinal de 8. As profecias dos ais nos capítulos
Deus, mas Acaz não aceitou, pois ele 28-33 incluem ais contra alianças
confiava mais no poder da Assíria que estrangeiras.
em Deus.
9. Ezequias demonstrou sua tolice ao
5. As profecias de Isaías sobre a era mostrar à delegação da Babilônia to­
messiânica falavam de como as tribos dos os tesouros de sua nação.
do norte seriam influenciadas pelo

A salvação dos redimidos


Pessoas/ (35.1-10)
lugares-chave O deserto normalmente tornava-se ainda
mais seco durante os meses de verão e não
Tiglate-Pileser II florescia mesmo em outras épocas do ano.
Senaqueribe Mas o dia que Isaías proclamou seria um dia
Termos-chave Merodaque-Baladã II em que o deserto ficaria verde jante como
Etiópia Carmelo e Sarom, duas das áreas mais ricas
Remanescente Edom de Israel. O Senhor daria essa maravilhosa
Profecias dos ais Arábia bênção.
Profecias contra as nações Tiro
A sociedade também experimentaria o flo­
Pequeno Apocalipse Babilônia
rescimento. Deus iria preparar o seu povo de
Literatura apocalíptica Assíria
três maneiras para receber suas bênçãos. Pri­
Síria
meiro, curaria todas as enfermidades (vs. 4'
Israel
Judá
6). Depois, faria jorrar água em abundância
Moabe
nas regiões secas (v. 7). E, por fim, prepararia
Egito um caminho para a santidade, um caminho
pelo qual o seu povo poderia voltar a adorá-lo
(vs. 8-10). Eles viriam em segurança e com
grande regozijo.

366
•Isaías 1-39

Interlúdio histórico: pontos messa, enviando seu anjo para dizimar o exér­
altos e baixos do reinado de cito assírio.
Ezequias (36.1-39.8) Do ponto de vista humano, a batalha ter­
Quatro capítulos ligam a primeira parte do minou e Senaqueribe voltou para casa com
livro de Isaías (capítulos 1-39) à segunda par­ aquilo que já havia tomado de Ezequias. Mas
te (capítulos 40-66). Estudiosos observaram do ponto de vista teológico, Deus havia salvo
que os acontecimentos dos capítulos 38,39 Jerusalém de forma dramática, poupando-a
precedem cronologicamente os acontecimen­ da destruição e livrando seu povo do exílio!
tos dos capítulos 36,37. Mas Isaías não estava Ele havia defendido a cidade por amor a Davi
fazendo um relato cronológico. Os capítulos (37.35).
36,37 tratam da Assíria e servem como um E interessante observar que arqueólogos en­
encerramento da primeira parte do livro, du­ contraram os registros reais de Senaqueribe
rante a qual a Assíria apareceu como a força quando escavaram Nínive. Os registros des­
dominante do mundo antigo. Os capítulos crevem com orgulho o cerco de Jerusalém, mas
38,39 concentram-se na Babilônia, cujo im­ não mencionam nenhuma conquista.
pério é o pano de fundo para Isaías 40-60.11 A doença e a cura de Ezequias
A ameaça de Senaqueribe e o (38.1-22)
livramento de Deus (36.1-37.38) Por volta de 711 a.C.,13 Ezequias foi aco­
Senaqueribe (704-681 a.C.), rei da Assí­ metido de uma doença fatal. Quando Isaías o
ria, atacou Ezequias (727-698 a.C.), rei de advertiu que ele não iria se recuperar, Eze­
Judá, quando Ezequias recusou-se a pagar tri­ quias chorou amargamente e pediu a miseri­
butos (2Rs 18.7). Estudiosos ainda discutem córdia de Deus. O Senhor respondeu, conce­
se Senaqueribe invadiu Judá em 701 a.C. ou dendo ao rei mais quinze anos de vida. Ele deu
714 a.C., pois não sabemos exatamente quan­ até mesmo um sinal para fortalecer a fé do rei
do Ezequias reinou.12 Depois de Senaqueribe — a sombra na escadaria do rei retrocedeu!
ter derrotado as cidades fortificadas de Judá, Três anos depois, o rei teve um filho —
Ezequias ofereceu entregar-se e pagar qual­ Manassés — que acabou sucedendo-o no tro­
quer penalidade que Senaqueribe impusesse no (2Rs 21.11). O nascimento de Manassés
(2Rs 18.13-16). Mas Senaqueribe decidiu que foi uma bênção, mas também teve suas impli­
continuaria avançando até tomar Jerusalém. cações. Por um lado, o rei tinha um herdeiro.
Cheios de desprezo, os representantes de Por outro lado, Manassés (698-642 a.C.) tor­
Senaqueribe escarneciam do povo de Judá e nou-se um dos reis mais perversos de Judá e
ordenavam que se entregassem (Is 36.4-20; acabou desfazendo todas as reformas que seu
37.8-13). Mas Ezequias buscou o Senhor que pai havia estabelecido. Sua maldade levou a
mandou Isaías com uma mensagem de livra­ um declínio espiritual do qual Judá nunca se
mento (37.14-29). E Deus cumpriu sua pro­ recuperou (Jr 15.4).

Questões para estudo

1. O que sabemos sobre Isaías a partir dos que ele falou de cada uma individual­
detalhes contidos em seu livro? Que te­ mente?
mas são mais importantes para ele?
4. Identifique os principais detalhes dos
2. Se você tivesse apenas Isaías 1-12, o capítulos 36-39. Qual a função desses
que poderia aprender sobre o Messias? capítulos no livro de Isaías?
3. Contra quais nações Isaías pronunciou
julgamento nos capítulos 13-23? Por

367
Descobrindo os Profetas

Leituras complementares

Machen, J. Gresham. The Virgin Birth o f Christ. 2- ed. com pleta, com m uitas notas de rodapé e docu­
Nova York: Harper, 1932. Um tratamento clássico à m entação.
questão do nascimento virginal e suas implicações W ebb, Barry G. The Message o f Isaiah: On Eagle's
para a fé cristã. Wings. Downers Grove: InterVarsity, 1996. Uma ex­
Motyer, J. Alec. The Prophecy o f Isaiah: An Introduc- posição curta, porém rica em aplicações.
tion and Commentary. Downers Grove: InterVarsity, W olf, Herbert M. Interpreting Isaiah: The Suffering and
1993. Um comentário completo para o estudante Glory o f the Messiah. Grand Rapids: Zondervan,
avançado. 1985. Um livro texto em nível universitário que com­
O sw alt, John N. The Book o f Isaiah: Chapters 1-39. bina estudo com leitura fácil.
New International Com m entary on the Old Testa­ Youngblood, Ronald F. The Book o f Isaiah: An
m ent. Grand Rapids: Eerdm ans, 1986. Um co­ Introductory Commentary. 2- ed. Grand Rapids:
m entário para o aluno que deseja uma pesquisa Baker, 1993. Uma exposição mais curta.

Ezequias recebe a visita de aliado contra a Assíria. De qualquer ma­


Merodaque-Baladã (39.1-8) neira, Ezequias orgulhosamente mostrou à
Merodaque-Baladã II reinou sobre Babilô- delegação todo o esplendor e as riquezas do
nia de 721-710 a.C. e depois, brevemente seu reino.
durante 703 a.C. Ele aproveitou a oportuni­ Mais tarde, Isaías confrontou Ezequias so­
dade oferecida pelo declínio dos assírios. bre a sua tolice em mostrar tudo à Babilônia.
Quando os assírios fortaleceram-se eles o tira­ Ele assegurou que a Babilônia se lembraria
ram do poder.14 dos tesouros que havia visto e que, um dia,
Merodaque-Baladã II enviou uma dele­ eles voltariam para tomá-los. Em 587 a.C. as
gação até Ezequias para parabenizá-lo pela palavras de Isaías se cumpriram. Nabucodono­
sua recuperação. E provável que ele tam­ sor II (605-562 a.C.), rei da Babilônia, derro­
bém tivesse esperanças de conseguir um tou Jerusalém e levou o povo para o exílio.

368
Isaías 40-66
Grandes dias estão por vir!
M W

• Esboço
• Quem escreveu Isaías 40-66?
Ponto de vista de múltiplos autores
Ponto de vista de um único autor
• As passagens sobre o servo em Objetivos
Isaías 40-66
• A mensagem de Isaías continua Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
Consolai, consolai o meu povo (40.1-31)
• Descrever o conteúdo e os principais
A redenção p orvir (41.1-29) temas de Isaías 40-66.
0 papel do servo do Senhor (42.1-25) • Avaliar o ponto de vista da autoria
A redenção de Israel da Babilônia múltipla do livro de Isaías.
(4 3 .1 -4 5 .2 5 ) • Comparar as três interpretações das
Julgamento contra a Babilônia (46.1-47.15) passagens sobre o Servo Sofredor nos
A libertação e exaltação de Israel capítulos 52 e 53.
(4 8 .1 -5 2 .1 2 ) • Resumir o que Isaías profetizou sobre o
0 Servo Sofredor (52.13-53.12) retorno de Israel do exílio na Babilônia.
Celebração do retorno (54.1-59.21)
O clímax da restauração de Deus
(6 0 .1 -6 6 .2 4 )

369
Descobrindo os Profetas

Você conhece pessoas que falam de ma- A. O renascimento de Jerusalém


DeuterO'
neira negativa a maior parte do tempo? Elas (54.1-17)
Isa ía s
adotam uma visão pessimista da vida e su­ B. Chamado à confiança em
põem que as situações vão se desenrolar da Deus (55.1-13)
pior forma possível Conheço pessoas assim e C. Estrangeiros juntam-se à família
acho difícil ficar perto delas por muito tempo. de Deus (56.1-8)
Se fico, logo eu estou deprimido! D. Resumo dos pecados de Israel
Isaías pronunciou muitas palavras fortes (56.9-57.21)
para Judá. Ele chamou o povo a confessar seu Chamado à verdadeira retidão
pecado, humilhar-se diante de Deus e voltar (58.1-14)
para o Senhor. A maioria provavelmente não F. O pecado de Israel e o livra­
queria ouvir essas palavras, mas eles precisa- mento de Deus (59.1-21)
vam ouvi-las.
Mas nem todas as palavras de Isaías fo­ XXIII. O clímax da restauração
ram negativas. Isaías profetizou o julgamen­ de Deus (60.1-66.24)
to de Deus contra o seu povo, mas também A. A glorificação de Sião
proclamou o dia em que Deus iria restaurar (60.1-22)
o seu povo e voltar a abençoá-lo. Isaías 4 0 - B. Mais restauração do Senhor
66 concentra-se especialmente nesses dias (61.1-11)
de bênção. C. As bodas de Sião com Deus
(62.1-12)
D. Julgamento das nações (63.1-6)
E. Oração pela intervenção de
Esboço Deus (63.7-64.12)
F. Bênçãos para os servos do
XV. Consolai, consolai o meu povo Senhor (65.1-25)
(40.1-31) G. A conclusão final (66.1-24)
XVI. A redenção por vir (41.1-29)

XVII. O papel do servo do Senhor


(42.1-25)
Quem escreveu
Isaías 40-66?
XVIII. A redenção de Israel da
Babilônia (43.1-45.25) Ao longo dos séculos, a maior parte dos
judeus e cristãos acreditaram que o profeta
XIX. Julgamento contra a Babilônia Isaías escreveu todo o livro que tem o seu
(46.1-47.15) nome. Entretanto, alguns estudiosos da Bíblia
sugerem que outros autores — talvez discípu­
XX. A libertação de Israel e
los de Isaías — escreveram os capítulos 40-
exaltação (48.1-52.12)
66. Nos últimos anos, muitos evangélicos vêm
A. A obstinação de Israel e a graça
adotando esse ponto de vista. As evidências
ainda mais obstinada de Deus
para o ponto de vista de autores múltiplos e de
(48.1-22)
um único autor encontram-se a seguir:
B. O servo do Senhor (49.1-7)
C. A volta de Israel (49.8-26) Ponto de vista de
D. Deus e o seu servo (50.1-11) m últiplos autores
E. Encorajamento aos justos
(51.1-16) O ponto de vista de autores múltiplos tem
tomado diversas formas ao longo dos anos.1Ba­
F. Boas novas para Jerusalém
sicamente, essa visão sugere que o profeta Isa­
(51.17-52.12)
ías, de um modo geral, escreveu o material dos
XXI. O servo sofredor capítulos 1-39 e que um outro autor ou outros
(52.13-53.12) autores escreveram os capítulos 40-66. Os pro­
ponentes dessa teoria referem-se ao autor dos
XXII. Celebração do retorno (54.1- capítulos 40-66 como “Deutero-Isaías” que
59.21) simplesmente quer dizer “segundo Isaías”.2
370
Isaías 40-66

Um relevo Outros estudiosos sugerem uma outra di­ centram-se na Babilônia. Os capítulos 1-39 tra­
assírio mostra visão dentro dos capítulos 40-66. Eles acredi­ tam, basicamente, da geração de Isaías, en­
oficiais pesando
tam que Deutero-Isaías escreveu Isaías 40- quanto os capítulos 40-66 têm uma visão do
tributos em
uma balança. 55 enquanto uma outra pessoa ou escola de futuro. O julgamento de Deus constitui o tema
discípulos (Trito-Isaías, o “terceiro Isaías”) es­ principal dos capítulos 1-39, mas a redenção e
creveu Isaías 56-66. Alguns argumentam que a salvação é que estão em evidência nos capí­
essa seção foi composta por vários autores, tal­ tulos 40-66. Tais diferenças tão claras sugerem
Tri to-Isaías vez por uma escola de discípulos de Isaías.3 o envolvimento de mais de um autor.
Aqueles que acreditam que mais de uma
pessoa escreveu o livro de Isaías normalmente
Diferença de vocabulário e estilo
argumentam dentro de quatro linhas: perío­ entre 1-39 e 40-66
do de tempo, diferenças de assuntos entre os Esse ponto é uma seqüência natural do
capítulos 1-39 e os capítulos 40-66, diferente anterior, tendo em vista que diferentes assun­
vocabulário entre 1—39 e 40-66 e a menção tos requerem vocabulário diferente. Mas os
do nome do rei Ciro. defensores da autoria múltipla também enfa­
tizam como o diferente estilo poético dos ca­
Período de tempo dentro do livro pítulos 40-66 sugere que eles vieram de um
Alguns dos que sustentam o ponto de vista outro autor e não de Isaías. Eles citam a poesia
de autoria múltipla sugerem que o período de como estando entre as melhores de todo o
tempo do livro descarta a possibilidade de um Antigo Testamento, o que contrasta com o
único autor. Eles não vêem de que maneira estilo poético dos capítulos 1-39.
Isaías poderia saber sobre as circunstâncias dos
capítulos 40-66. Isaías profetizou de 740 a 690 A menção direta do nome do rei Ciro
a.C., mas muito que está escrito em Isaías 40- Isaías 44.28 e 45.1 mencionam o rei Ciro, o
66 descreve o período de retorno do exílio na primeiro rei do Império Persa, pelo nome. Os
Babilônia que começou por volta de 538 a.C. defensores da teoria de autoria múltipla citam
esses versículos como exemplo de informações
Diferenças de assuntos entre os específicas que só alguém vivendo naquela
capítulos 1-39 e 40-66 época saberia. Tendo em vista que o ministério
Os proponentes da autoria múltipla desta­ de Isaías encerrou-se muito antes do tempo de
cam a diferença de assuntos nas duas partes do Ciro, eles argumentam que alguma outra pes­
livro de Isaías. Os capítulos 1-39 concentram- soa deve ter escrito as referências a Ciro bem
se na Assíria, enquanto os capítulos 40-66 con­ como o resto do material adjacente.
371
Descobrindo os Profetas

Ponto de vista de um nham sido escritos pelo mesmo autor. Os es­


único autor critores bíblicos com certeza tinham esses
Apesar das evidências apresentadas aci­ mesmos dons e habilidades!
ma, muitos estudiosos da Bíblia continuam a A menção direta do nome do rei Ciro
sustentar a visão de que Isaías escreveu todo
Os defensores da autoria única respondem
o livro que leva o seu nome.4 Alguns de seus
de duas formas a essa questão. Primeiro, al­
argumentos vão contra as suposições dos pro­
guns sugerem que devemos supor que Deus
ponentes da autoria múltipla enquanto ou­
revelou o nome a Isaías. Parece haver um outro
tros apresentam razões afirmativas para que
exemplo bíblico desse tipo de profecia (lRs
consideremos esse ponto de vista,
13.2). Outros sugerem que Isaías a princípio
O período de tempo do livro fez a profecia sem mencionar o nome de Ciro
e que, mais tarde, um escriba escreveu o nome
A Bíblia diz que Deus conhece o futuro e
quando o cumprimento da profecia tornou-
que algumas vezes ele o revela para os seus
se claro. Qualquer uma dessas explicações eli­
servos, os profetas (Am 3.7; Ap 1.1,2,19). Se
mina a necessidade de um outro autor para os
Deus informou Isaías sobre o futuro, então
capítulos 40-66.
Isaías pode ter descrito acontecimentos sem
tê-los presenciado pessoalmente. Assim, a vi­ Evidências textuais para a
são de autoria única explica esse período de autoria única
tempo de acordo com as diretrizes que a Bí­
Os manuscritos do Antigo Testamento não
blia estabelece para si mesma sobre as profe­
são tão abundantes quanto os manuscritos do
cias de previsão.
Novo Testamento. Ainda assim, não há evi­
Diferenças de assuntos entre os dência textual que sugira que Isaías 1—39 e
capítulos 1-39 e 40-66 Isaías 40-66 existiram como documentos se­
parados. O texto de Isaías do Qumran, parte
Os defensores da autoria única argumen­
dos papiros do Mar Morto e as primeiras cópias
tam que um autor pode escrever sobre vários
conhecidas de Isaías não têm nenhuma que­
assuntos, como fazem muitos autores hoje em
bra entre os capítulos 39 e 40. Aqueles que
dia. A diferença de assuntos não é uma base
defendem a teoria da autoria múltipla o fa­
adequada para se analisar o trabalho como
zem contra as evidências textuais.
sendo produto de mais de um autor.
Ao mesmo tempo, muitos temas comuns Evidências do Novo Testamento
aparecem em ambas as partes de Isaías (9.6,7; Evidências do Novo Testamento também
11.1-16; 42.1-4; 52.13—53.12). O mesmo acon­ sugerem que o livro de Isaías foi todo escrito
tece com termos como servo, remanescente, pelo profeta. Os escritores do Novo Testa­
nações, Santo de Israel. Esses temas comuns mento atribuem ambas as partes de Isaías ao
não provam necessariamente a visão de auto­ profeta (Mt 3.3; A t 28.25; Rm 9.27,29;
ria única, mas também mostram que as duas 10.16,20). Esse fato sugere que eles entendi­
partes do livro não são tão radicalmente dife­ am o trabalho todo como sendo de autoria
rentes como propõem os defensores da auto­ exclusivamente dele.
ria múltipla.
Sumário da questão de autoria
Diferenças de vocabulário e estilo
Evidências cumulativas sugerem que a te­
entre 1-39 e 40-66 oria da autoria única tem mais pontos a seu
Mais uma vez, os proponentes do ponto de favor. O período de tempo do livro, as ques­
vista da autoria única afirmam que um autor tões de assunto, o vocabulário e o estilo não
tem a capacidade de usar vocabulário e estilo apresentam dificuldades se aceitarmos que
diferentes de acordo com os tópicos e propósi­ Deus revelava o futuro aos profetas e se con­
tos. Um aluno de faculdade, por exemplo, siderarmos que um autor é capaz de escre­
pode escrever um trabalho de pesquisas de ver em mais de um estilo. Evidências textu­
acordo com especificações detalhadas e de­ ais e o testemunho do Novo Testamento apoi­
pois escrever uma carta para sua família. Cada am a visão da autoria única. Os estudiosos
documento terá um estilo e um vocabulário da Bíblia continuarão a analisar e debater
singular, mesmo que os dois claramente te­ essa questão.
372
Isaías 40-66

quais o tema do servo recebe atenção espe-


ciai (42.1-9; 49.1-7; 50.4-11; 52.13-53.12).
A identidade do servo no livro de Isaías
continua um tanto flutuante: em determina­
dos momentos o servo é Israel, o remanescen­
y*
te, o Messias e talvez até mesmo o próprio Isa­
ías. Mas em cada passagem, especialmente
nos cânticos do servo, vemos um foco único.
O servo é um instrumento de Deus, alguém
que se entrega completamente aos propósitos
divinos. Ele executa o trabalho do Senhor
porque coloca-se totalmente em suas mãos.
Você está disposto a uma entrega completa
como essa? Pense em como o Senhor pode
usar você!

A mensagem de
-•* ';• Isaías continua
V^ f <Á; r$
Consolai, consolai o meu
;*b r povo (40.1-31)
Os versículos 1-31 servem de prólogo para
sT ‘ os capítulos 40-66, lançando a fundação para
o restante do livro. Isaías anunciou a glória
vindoura de Deus, contrastando-a com a de­
bilidade do povo. Mas o profeta encorajou aos
desanimados — eles podiam contar com a
promessa de Deus! O Senhor os consolaria e
cuidaria deles como um pastor cuida de suas
ovelhas.
O resto da capítulo 40 responde a pergun­
ta “Deus pode mesmo fazer tudo o que ele
diz?” O Senhor marcou os céus com suas mãos
e os estendeu como uma cortina. Levantou
governantes e os reduziu a pó. Ele até mesmo
chamou as estrelas pelo nome! À luz de sua
majestade, como o povo de Deus pôde pensar
que ele havia se esquecido deles? Ele certa­
mente iria cumprir os seus propósitos para eles
Parte do papiro
e renovar suas forças dia após dia. As palavras
de Isaías, o mais
longo e antigo
As passagens sobre o de Isaías também nos oferecem conforto e se­
de todos os
papiros do Mar
servo em Isaías 40-66 gurança quando enfrentamos desafios difíceis.

Morto em
O tema do servo aparece em vários lugares O livram ento p o rv ir (41.1-29)
Qumran. No
papiro, não há em Isaías e o servo recebe diversas identida­ Isaías 41 introduz um tema dividido em
nenhuma divi­ des. A palavra “servo” pode ser relativa a um três partes e que está presente ao longo dos
são entre os ca­ indivíduo israelita (22.20), a nação de Israel capítulos 40-66. Em primeiro lugar, o povo de
pítulos 39 e 40. (41.8), ao remanescente (49.3) e até mesmo Deus foi feito cativo por causa de seus peca­
ao Messias (52.13). O servo trabalha diligen­ dos. Em segundo lugar, o cativeiro prova que
temente para cumprir os propósitos de Deus Deus é Deus, pois só ele pôde prever que isso
mesmo diante de inúmeros desafios e dificul­ aconteceria. Em terceiro lugar, ele agora vai
dades. Isaías 40—66 tem quatro passagens nas restaurá-los e redimi-los.
3 73
Descobrindo os Profetas

O profeta falou da oposição de Deus aos para a aceitação da verdade do evangelho


festival
falsos deuses. O Senhor havia chamado um (ICo 2.14; 2Co 4.4).
Akitu
governante (Ciro) para cumprir os seus pro­ Isaías declarou que Deus reinava como
pósitos. Mas os ídolos não tinham o poder de soberano absoluto sobre a criação (44.24-
realizar tal obra. Deus desafiou os ídolos dire­ 45.25). O Senhor controlava o poderoso rei
tamente. Tinham eles predito o futuro? Aliás, Ciro, chegando a referir-se a ele como seu
tinham eles dito qualquer coisa que fosse? pastor e ungido (44.28; 45.1)! Um dia, todo o
Não! Todos estavam mudos e impotentes dian­ joelho se dobrará para o Deus Todo-poderoso
te dele. Isaías disse a Israel que não temesse, (45.23).
pois Israel era o servo escolhido de Deus.
Julgam ento contra a Babilônia
O papel do servo do Senhor (46.1-47.15)
(42.1-25)
Isaías predisse a queda da Babilônia dian­
A primeira passagem apresentou um servo te da Pérsia. Ele descreveu uma “competi­
que foi escolhido por Deus para um propósito ção” entre Deus e os deuses da Babilônia (46.1-
especial. O Espírito de Deus estava sobre ele 13). Todos os anos, os babilônios celebravam
enquanto ele cumpria o plano de Deus. O um festival (o festival de Akitu) no qual des­
servo trouxe o reino de Deus de maneira silen­ filavam pela Babilônia com grandes estátuas
ciosa e inesperada. Ele não chamou a atenção de seus deuses. Mas dessa vez, os deuses da
para si, mas alcançou resultados poderosos. Babilônia se acovardaram, envergonhados.
Mateus 12.18-21 cita Isaías 42.1-4 e aplica Eles não podiam salvar a Babilônia, mas Deus
as palavras do Antigo Testamento a Jesus Cris­ assegurou o seu povo que ele os salvaria. Ele
to. Jesus cumpriu mansamente os propósitos os protegeria e os guiaria até a glória.
do Senhor e trouxe o reino espiritual de Deus. A Babilônia também teve que ouvir as pa­
Ele realizou obras poderosas como a cura de lavras de Deus (47.1-15). O Senhor iria expor
diversos tipos de enfermidade, mas ele o fez a vergonha da Babilônia, destroná-la do do­
de maneira humilde e pediu ao povo que des­ mínio mundial e trazer sobre ela terrível jul­
se glória a Deus e não a ele. gamento. A Babilônia havia tomado para si
O exemplo de Cristo contrasta de forma palavras que só se aplicavam a Deus — “Eu
gritante com o papel de Israel como servo cego, só, e além de mim não há outra” (47.8; ver
surdo e infiel de Deus (Is 42.18-25). Israel re­ também 45.5,6). Deus ensinaria aos babilô­
jeitou os caminhos de Deus, ignorou os profe­ nios o significado da humildade.
tas do Senhor e, no final, pagou o alto preço
do exílio. A libertação de Israel e
exaltação (48.1-52.12)
A redenção de Israel da
Babilônia (43.1-45.25) A obstinação de Israel e a
Isaías descreve o poder de Deus e as suas graça ainda mais obstinada
bênçãos (43.1-44.8). Deus era Salvador e de Deus (48.1-22)
Redentor. Deus era o líder de seu povo e iria Isaías contrasta a obstinação de Israel com
guiá-los para casa depois do exílio. Ele iria a graça ainda mais obstinada de Deus (48.1-
demonstrar sua graça. Israel, ao contrário, ha­ 22). O povo de Deus havia recebido sua gra­
via mostrado uma atitude de rebelião desde o ça e a desperdiçado, deleitando-se no seu pró­
começo de seu relacionamento com Deus. prio pecado e rebelião. Eles não tinham ne­
Deus proclamou sua superioridade aos nhuma desculpa diante de um Deus justo e
ídolos (44.9-23). Ele descreveu como os tra­ santo. Mas ainda assim Deus escolheu amá-
balhadores haviam passado dias preparando los, da mesma forma como ele escolhe nos
cuidadosamente os materiais que depois se amar de qualquer maneira. Ele prometeu que
tornaram objetos de adoração. Como o povo iria redimi-los, restaurá-los à sua terra e ensiná-
podia curvar-se diante de uma imagem que los a amar e servir novamente.
eles mesmos haviam confeccionado? Não
fazia sentido assim como muitas das falsas 0 servo do Senhor (49.1-7)
religiões que têm surgido nos dias de hoje O servo apresentado em Isaías 49.1 -7 rece­
também não fazem. A Bíblia nos diz que a beu o chamado de Deus quando ainda esta­
cegueira espiritual é um poderoso obstáculo va no ventre de sua mãe. Ele teve um minis­
374
Isaías 4 0 - 6 6

tério frustrante e preocupou-se que talvez o Encorajam ento aos justos (5 1 .1 -1 6 )


seu trabalho tivesse sido em vão. C ertam ente
D eus encorajou os justos a olharem para o
D eus estava com ele. M as com o? D eus res­
p assad o, p resen te e futuro. E les d everiam
pondeu dando-lhe um a m issão ainda maior.
olhar para o passado a fim de lem brarem -se
Ele não apenas seria o servo de D eus para
de suas raízes espirituais. Eles deveriam olhar
Israel, mas tam bém para todas as nações, para
para o futuro para apreciar grandes obras que
que a salvação de D eus pudesse chegar até os
D eus ainda estav a por fazer. E eles deveriam
confins da terra.
olhar para o presente para ver sua salvação e
Isaías 49.3 identifica esse servo como sen­
livram ento.
do Israel, m as Israel não pode ter um a m issão
para si m esm a (49.5). Devem os, provavelm en­ Boas novas para Jerusalém
te, entender que Isaías estava se referindo ao (5 1 .1 7 - 5 2 .1 2 )
rem anescente, os justos fiéis dentro da com u­
Isaías anunciou novas em ocionantes para
nidade de Israel. E ssa interpretação parece
Jerusalém . Ele retratou a cidade com o um
esclarecer as palavras do apóstolo Paulo (A t
bêbado embriagado com o vinho do julgam en­
13.47). Paulo citou Isaías e disse aos seus ou­
to de D eus. M as ela seria liberta das cadeias
vintes na À sia M enor que aqueles que pro­
do pecado para que pudesse servir a D eus.
clam avam fielm ente o evangelho cum priam
Ela se regozijaria em saber que o seu D eus
o que Deus havia ordenado m ediante Isaías.
reinava sobre tudo.
A volta de Israel (4 9 .8 -2 6 )
O Servo Sofredor (52.13-53.12)
D eus prom eteu restabelecer sua alian ça
com seu povo. Ele iria dar-lhes de comer, lhes Isaías 52.13—53.12 constitui a mais fam osa
daria abrigo, cuidaria deles e traria gozo aos passagem sobre o servo. Isaías descreve um
seus corações novam ente. M as Sião debatia- servo a quem D eus exaltou, diante do qual
se com algum as dúvidas sérias: Poderia D eus reis da terra se calaram (52.13-15). A inda as­
am á-los de novo? D eus os assegurou que sim. sim, ele foi rejeitado pelo povo e sofreu pro­
Todas as m ães de Israel abandonariam seus funda tristeza (53.1-3). Ele sofreu pelo povo
filhos antes que D eus abandonasse seu povo de D eus que na verdade m erecia o castigo
(49.14-16)! D eus fez um voto de estabelecer que ele recebeu. E tudo isso se passou pelas
um a nova geração daqueles que o am avam , m ãos de D eus (53.4-6).
um a geração que transbordaria as fronteiras O servo aceitou sua situação sem protestar,
de Israel! em silenciosa resignação. A pesar de sua ino­
cência, ele morreu em favor do povo de Deus
Deus e o seu servo (5 0 .1 -1 1 ) (53.7-9). M as o D eus que o esm agou tam bém
D eus assegurou Israel de que ele possuía o iria recom pensá-lo. O servo alcançou a vitória
poder para salvá-los. Eles não haviam escap a­ por m eio de um a vida de sofrim ento, pois
do de seu controle soberano; ele havia puni­ aquele sofrim ento cum priu o plano de Deus.
do o povo pelos seus pecados! O s versículos 4 ' Estudiosos da Bíblia norm alm ente ofere­
11 descrevem um servo obediente hum ilha­ cem três possíveis interpretações para esse ser­
do por causa de D eus. M as com o em outras vo. Em primeiro lugar, alguns identificam o
passagens sobrè o servo, este recebeu a graça servo com o sendo o profeta Isaías (ou um ou­
de D eus que o fortaleceu para o cum prim en­ tro profeta, caso aceitem a teoria de m últipla
to de sua tarefa. C om o resultado, ele m an te­ au toria). M as em nenhum outro lugar n a Bí­
ve-se resoluto em seu propósito. N inguém po ­ blia aparece o conceito de um profeta que
deria derrotá-lo pois D eus estava do seu lado! tenha sofrido pelo pecado de um a nação e a
O s com entaristas diferem n a opinião sobre resignação silenciosa não parece estar de acor­
quem cum priu as palavras de Isaías. Alguns do com um profeta.
sugerem que Isaías profetizou sobre Jesus C ris­ Em segundo lugar, alguns estudiosos suge­
to, tendo em vista que suas palavras podem rem que o servo representa Israel. N esse pon ­
aplicar-se ao sofrimento de Jesus (50.6, ver M t to de vista, as nações expressam sua surpresa
26.67,68; 27.26). O utros propõem que Isaías pelo fato de Israel ter sofrido em seu lugar.
falou de seu próprio sofrim ento. E interessan­ O utros intérpretes m odificaram essa posição
te observar que essa passagem não é citada argum entando que o servo representa o re­
em nenhum a parte do N ovo Testam ento. m an escen te fiel de Israel que sofreu pelos
375
Descobrindo os Profetas

pecados de toda a nação. A Bíblia afirma cla- humanidade pecadora. Leia novamente. Peça
ramente que Israel e Judá pagaram pelos seus a Deus que grave as imagens em seu coração.
próprios pecados (2Rs 17.7^23; Is 42.23-25). Você começa a compreender o amor de Deus
Talvez o remanescente tenha sofrido injusta­ por você?
mente por causa do pecado dos ímpios, mas
ele não sofreu no lugar desses ímpios. Celebração do retom o
Em terceiro lugar, alguns intérpretes argu­ (54.1-59.21)
mentam que o servo representa Jesus Cristo. O retorno de Judá do exílio foi certamen­
Eles sugerem que as evidências do Novo Tes­ te algo a ser celebrado. Ao examinarmos esse
tamento tornam possível apenas a interpreta­ trecho de Isaías 40-66, vemos as palavras do
ção messiânica. Jesus cresceu como um ho­ profeta realçando vários aspectos dessa cele­
mem comum em Israel e depois começou a bração.
proclamar o reino de Deus. Muitos o despre­
zaram, rejeitaram e finalmente o mataram. O renascimento de Jerusalém
Em sua morte, Jesus sofreu pelo pecado de (54.1-17)
outros. Ele passou pela crucificação entre dois O renascimento de Jerusalém apresenta­
ladrões e foi enterrado no túmulo de um ofi­ ria dois aspectos — terra fértil e povo numero­
cial. E Deus planejou tudo isso para dar vida so. Nas terras desérticas brotaria a vegetação.
eterna a todos os que respondessem com fé à O deserto se tornaria verdejante. E a popula­
sua oferta de perdão e salvação. ção se multiplicaria para além das fronteiras.
Isaías 52.13—53.12 retrata de maneira bela As pessoas teriam que se esforçar para arran­
a profundidade do sacrifício de Cristo pela jar espaço para todos. Deus deixaria para trás

Jesus e Isaías 52.13-53.12

Isaías 5 2 .1 3 -5 3 .1 2 (m uitas vezes cham ado sim plesm ente de Isaías 53) constitui um a das
profecias m ais m arcantes do A ntigo Testam ento em relação a Jesus Cristo. 0 quadro abaixo
resum e as palavras de Isaías e com o Jesus as cum priu.

Versículo A descrição do servo Cumprimento em Cristo

1 5 2 .1 3 Erguido, levantado , exaltado Deus o exaltou e o exaltará com p leta­


m ente na segunda vinda (Fp 2.9-11)

5 2 .1 4 A p arên cia desfigurada Foi espancado no seu ju lgam en to


(M t 2 6 .6 7 )

| 5 2 .1 5 Causou adm iração às nações A aspersão do seu sangue traz perdão

5 3 .3 Desprezado e rejeitado M uitos o rejeitaram , especialm ente os


líderes (Jo 11.47-50)

5 3 .4 -6 Sofreu por nosso pecado; M orreu por nossos pecados de acordo


ferido por Deus com o plano de Deus (1Co 15.3)
1
| 5 3 .7 Q uieto diante de seus opressores Ficou em silêncio diante dos acusad o ­
res em seu ju lg am ento (M c 1 4 .6 0 ,6 1 )

S 5 3 .8 M orto pelos pecados do povo M orreu por nossos pecados


1 (2Co 5 .1 4 ,1 5 )
|
5 3 .9 Teve um a sepultura entre os Foi cru cificado en tre dois ladrões e
perversos e ricos e não fez o mal sepultado no tú m u lo de um rico
o ficial (M c 1 5 .2 7 ,2 8 ; 43-46)

| 5 3 .1 0 Foi a vo ntade de Deus esm agá-lo; Deus o preparou com o o ferta pelo
ele verá sua posteridade pecado (Rm 5.9)

| 5 3 .1 2 Recebeu grande recom pensa pois Recebeu grande recom pensa por ter
deu sua vida por outros dado sua vida (Fp 2 .9 -1 1 ; Hb 1 .3 ,4 )

376
Isaías 40-66

A movimentada
entrada do
portão de
Damasco na
antiga cidade de
Jerusalém. Isaías
descreve os
portões de
Jerusalém.
Muitos
intérpretes
afirmam que
essa descrição
refere-se a um
tempo futuro,
pois o retorno
de Judá do exílio
nunca exibiu
tanto esplendor.

a vergonha do seu povo. Ele os havia corrigido Deus. Ele os chamou ao arrependimento en­
eunucos
na ira contra o seu pecado, mas agora plane - quanto ainda havia tempo, e pediu que con­
java reuni-los com sua compaixão. fiassem nos caminhos de Deus. Se aceitassem
Torá Isaías também descreveu os portões de Je­ a palavra de Deus, ela alcançaria os seus pro­
rusalém. Muitos intérpretes argumentam que pósitos na vida do povo e lhes traria grande
esse retrato tão belo refere-se a um tempo fu­ alegria.
turo, pois o retorno de Judá do exílio nunca
Estrangeiros juntam-se à família de
teve todo esse esplendor.
Deus (55.1-8)
Chamado à confiança em Deus Estrangeiros e eunucos preocupavam-se
(55.1-13) por achar que não receberiam uma parte das
Isaías chamou o povo a confiar em Deus bênçãos de Deus que ainda estavam por vir.
tendo em vista as suas bênçãos abundantes. De fato, certas passagens do Torá pareciam
Eles deveriam parar de gastar o seu dinheiro dar preferência para os nativos israelitas (Dt
em coisas que não trazem satisfação duradou­ 23.3,4). Mas Deus prometeu ricas bênçãos a
ra e investir suas vidas no relacionamento com ambos os grupos. Ele daria aos eunucos um

377
Descobrindo os Profetas

nome melhor que aquele de filhos e filhas. E salvação! Ele prometeu trazer o seu Espírito e
ele também acolheria os estrangeiros em sua reavivar o seu povo. Aqueles que temiam o
família. A fidelidade a Deus contava mais seu nome receberiam bênçãos, mas os seus
que a linhagem de sangue. inimigos sofreriam um julgamento rápido.
Essa passagem previu o anúncio de Paulo Paulo aplicou Isaías 59.20,21 à segunda vinda
de que crentes de todas as nações iriam tor­ de Cristo, quando o Senhor restaurará a justi­
nar-se membros da família de Jesus Cristo (G1 ça e a santidade para sempre (Rm 11.26,27).
3.28,29). Talvez o eunuco etíope tenha sido um
prenuncio do cumprimento dessa profecia. O clím ax da restauração de Deus
(60.1-66.24)
Resumo dos pecados de Israel (56.9-
Nos capítulos restantes, as palavras do pro­
57.21)
feta tornam-se mais emocionantes. Ele olhou
Isaías resumiu os pecados passados de Is­ adiante, para o dia em que o clímax da histó­
rael. Cegueira espiritual, injustiça e idolatria ria redentora de Deus traria a vitória final para
haviam caracterizado a vida do povo. Mas ain­ o seu povo e a sua própria glória.
da outra vez, o profeta lhes deu esperança.
Não havia pecado que não pudesse ser purifi­ A glorificação de Sião (60.1-22)
cado pela graça de Deus. Mas aqueles que Isaías chamou a Sião redimida a levantar-
persistissem em sua iniqüidade jamais experi­ se e preparar-se para servir como instrumento
mentariam dessa graça. da bênção de Deus. Nações envoltas em tre­
vas espirituais veriam a imensa luz espiritual e
Chamado à verdadeira retidão
iriam buscá-la em grande número, trazendo
(58.1-14) com elas suas riquezas. O Senhor proveria se­
O povo se perguntava se Deus não havia gurança eterna para o seu povo e eles jamais
notado os seus jejuns. Deus respondeu que precisariam fechar os seus portões. Sua des­
eles haviam jejuado por motivos impuros. Eles crição das nações unindo-se em adoração ao
haviam forçado seus empregados a continuar verdadeiro Deus prenuncia Apocalipse 7.9-
trabalhando excessivamente e ainda achavam 14, em que povos de todas as nações e tribos
que o mero jejum iria ganhar a aprovação de irão reunir-se ao redor do trono do Senhor e
Deus. Mas o Senhor desejava um jejum que adorá-lo.
tocasse no coração do povo e não apenas no
Ainda mais restauração do Senhor
estômago. Ele queria que eles se humilhas­
sem perante ele e mostrassem seu arrependi­ (62.1-12)
mento por meio de atos de bondade e graça Os versículos 1-3 apresentam um outro re­
para com o próximo. Então ele responderia ao trato de servo a quem Deus havia ungido e
seu jejum. sobre o qual estava o Espírito de Deus. O ser­
Isaías também chamou o povo a honrar o vo tinha o ministério de anunciar as boas novas
sábado. Eles tratavam esse dia como qualquer e o consolo aos oprimidos. Ele proclamava que
outro, mas Deus os chamou a deixar de lado o o tempo de favor do Senhor estava próximo.
trabalho, descansar e meditar sobre ele. Mes­ Lucas 4.16-30 registra o cumprimento des­
mo nos dias de hoje, Deus pede que separe­ sas palavras em Jesus. Quando ele estava na
mos um dia da nossa rotina normal para honrá- sinagoga em Nazaré, Jesus tomou um rolo do
lo e adorá-lo. livro de Isaías e leu as palavras que hoje cha­
mamos de Isaías 61.1-3. Então, ele anunciou:
0 pecado de Israel e o livramento de “Hoje se cumpriu a escritura que acabais de
Deus (59.1-21) ouvir” (Lc 4.21). Muitos ficaram confusos so­
Isaías descreveu a situação de Israel. O Se­ bre o que Jesus havia dito e outros ficaram
nhor era mais que capaz de salvá-los, mas seus bastante irados com ele. Mas de fato, as pala­
pecados os haviam separado de Deus. Eles con­ vras haviam se cumprido. O dia da visitação
taminaram suas mãos com sangue e mentiram de Deus havia chegado ao mundo que vivia
enquanto seus pés iam rapidamente pelo ca­ cativo em pecado e Jesus tinha vindo para
minho da iniqüidade. Como resultado, a justi­ proclamar liberdade desse poder (Jo 10.10).
ça e a retidão haviam deixado aquela terra. Isaías também prometeu que o povo de
Deus respondeu a essa descrição da con­ Deus veria restauradas as suas ruínas antigas
dição desesperada do povo. Ele iria trazer a (61.4-11). Mais uma vez, os estrangeiros par-
378
Isaías 40-66
•yv • .'. ■

Os cristãos de nossos dias devem jejuar?

Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento volve um coração humilde que resulta em um
mencionam o jejum. As pessoas algumas vezes se viver de santidade (Is 58.5-7).
abstêm da comida para buscar o favor de Deus Jejuar não garante que Deus vai responder
(2Sm 12.21), prantear os mortos (1Sm 31.13) ou nossas orações da forma como desejamos. O
marcar um dia trágico (Zc 7.5). Elas podem jejuar jejum nos ajuda, sim, a nos concentrarmos
individualmente (1 Rs 21.17) ou em grupos (Jn mais completamente nele.
3.5). Jesus falou sobre o jejum (Mt 6.16-18) e a O jejum não faz que ninguém amadureça es­
; igreja primitiva o praticava (At 13.3). piritualmente. Não devemos fazer do jejum
O cristão de hoje deve jejuar? Se deve, quan­ um teste de maturidade espiritual ou menos­
do e como? Eis algumas sugestões de diretrizes: prezar aqueles que decidem não jejuar.
Os cristãos que jejuam devem fazê-lo com pri­
• As Escrituras não ordenam que o cristão jejue. vacidade e não para impressionar os outros
Entretanto, os cristãos podem decidir fazê-lo a (Mt 6.16-18).
fim de concentrarem-se completamente em
Deus por meio da oração e adoração.
• Jejuar é mais que ficar sem comer. O jejum en­

ticipariam do processo de restauração. Isaías significa “Minha Delícia” e Beulah quer dizer
descreveu a bênção especial para Israel entre “Desposada”. Esses nomes podem não pare­
as outras nações. Louvores e justiça brotariam cer muito bonitos para nós, mas o significado
perante todas as nações. deles certamente o é. O Senhor alegrou-se no
seu povo como o noivo alegra-se na sua noiva.
As bodas de Sião com Deus
Que retrato maravilhoso do amor de Deus!
( 6 2 . 1 - 12 )
Julgamento das nações
Isaías previu um grande casamento entre
o Senhor Deus e Sião, sua noiva. Sua profecia (63.1-6)
oferece um bonito quadro do amor de Deus Antes da salvação final, viria o julgamento
por seu povo, prenunciando as bodas de Deus de Deus. Ele iria tratar do pecado onde quer
com a Igreja (Ap 19.7-9). que o encontrasse. Sua vinda de Edom pode
Nos dias de hoje, a noiva normalmente indicar que Edom era um problema especial
adota o nome de seu marido. A mudança de para o povo de Deus naquele tempo. O povo
nome marca o começo de um novo relacio­ ouviria a profecia de Isaías e saberia que Deus
namento especial. Deus também tem nomes iria lidar com todos os seus inimigos.
escolhidos para a sua noiva (Is 62.4). Hephzibah Oração pela intervenção de Deus
(63.7-64.21)
A oração de Isaías pela intervenção de
Eunucos
Deus enfatizou a total e absoluta dependên­
Torá
Premilenismo cia no Senhor por parte do povo. Quando ora­
mos, confessamos a necessidade de que Deus
estenda sua mão sobre nossa vida e toque-a
de alguma forma. O profeta estava ciente de
Termos-chave que o povo de Deus havia falhado em relação
ao Senhor de muitas maneiras. Ainda assim,
Deutero-lsaías
sabia que a esperança de perdão estava ao
Trito-lsaías
seu alcance se eles se arrependessem. Ele im­
Festival Akitu
plorou que Deus os restaurasse. Você ora com
freqüência pelo povo de Deus?
379
Descobrindo os Profetas

Sumário

1. Os proponentes da teoria de que Isaí­ 4. O servo sofredor já foi interpretado


as foi escrito por mais de um autor como sendo Isaías, Israel ou Jesus.
oferecem como evidência o período
5. A celebração do retorno de Judá em
de tempo coberto pelo material em
Isaías menciona o renascimento de
Isaías, a diferença de assuntos e voca­
Jerusalém, a necessidade do povo de
bulário entre 1-39 e 40-66 e a men­
confiar em Deus, os pecados de Israel,
ção do rei Ciro pelo nome.
o chamado para a verdadeira retidão
2. Os proponentes do ponto de vista da e como Deus vai livrar Israel.
autoria única citam as tradições judai­
6. Isaías, assim como outros profetas,
cas e cristãs, a possibilidade da profe­
previu que um dia estrangeiros fariam
cia de previsão e o uso de Isaías no
parte do povo de Deus.
Novo Testamento.
7. Isaías apresentou o clímax da restau­
3. Os temas encontrados em Isaías 40-
ração de Deus ao afirmar que incluiria
66 são: o povo de Deus no cativeiro
a glorificação de Sião, as bodas de
por causa de seus pecados, o cativeiro
Sião com Deus e o julgamento das
como demonstração de que Deus é
nações. A apresentação de Isaías in­
Deus, como Deus vai restaurar e
clui uma oração pela intervenção divi­
redimir o seu povo.
na, uma bênção para os servos de
Deus e a conclusão de que a restaura­
ção seria completa.

Bênçãos para os servos de Deus seu pecado, ele daria a eles o castigo mereci­
(65.1-25) do. Mas Deus iria criar novos céus e nova ter­
Isaías 65 descreve mais bênçãos que o ser­ ra para os que fossem fiéis (vs. 17-25). Ale­
vo do Senhor iria receber no reino vindouro gria, vida longa e segurança prevaleceriam
de Deus. Muitos ofenderam o Senhor com nesse novo mundo.

Questões para estudo

Quais são os argumentos oferecidos por 3. De que maneira Isaías 40-66 desenvolve
alguns intérpretes em favor do ponto de o tema do servo do Senhor? Quais são as
vista da múltipla autoria do livro de Isaías? características que melhor descrevem esse
Que evidências são usadas por outros servo?
para defender a visão da autoria única? 4. As palavras de Isaías referentes a gentios
De que forma os conceitos dos capítulos entrando para a família de Deus sugerem
40 e 42 são a fundação para o resto do que Deus tinha a intenção de que Israel
livro? Quais são as idéias-chave desses levasse a luz espiritual para eles. Quais res­
capítulos? ponsabilidades você tem pessoalmente no
plano de Deus para alcançar o mundo?

380
Isaías 40-66

Leituras complementares

Oswalt, John N. The Book of tsaiah: Chapters 1-39. Webb, Barry G. The Message of Isaiah: On Eagle's
New International Commentary on the Old Testa­ Wings. Downers Grove: InterVarsity, 1996. Uma ex­
ment. Grand Rapids: Eerdmans, 1986. Um comentá­ posição curta, porém rica em aplicações.
rio completo para o estudante avançado. Wolf, Herbert M. Interpreting Isaiah: The Suffering and
. The Book of Isaiah: Chapters 40-66. New Inter­ Glory of the Messiah. Grand Rapids: Zondervan,
national Commentary on the Old Testament. Grand 1985. Um livro texto em nível universitário que com­
Rapids: Eerdmans, 1998. Um bom e completo co­ bina com estudo leitura fácil.
mentário evangélico para o estudante avançado. Youngblood, Ronald F. The Book of Isaiah: An
Motyer, J. Alec. The Prophecy of Isaiah: An Introduc- Introductory Commentary. 2- ed. Grand Rapids:
tion and Commentary. Downers Grove: InterVarsity, Baker, 1993. Uma exposição mais curta.
1993. Para o estudante avançado.

Alguns intérpretes sugerem que essa pas­ renascimento de Jerusalém que estava por vir.
premile-
sagem refere-se ao reino de Cristo aqui na Em um instante o Senhor traria a salvação!
nismo
terra depois que ele voltar (premilenismo). Mais uma vez, a restauração incluiria pessoas
Outros acreditam que devemos entender essa de todas as nações que se sujeitassem a Deus.
passagem como uma referência à vida eterna A idéia de gentios tornando-se parte do povo
no céu. Independente da forma como inter­ de Deus provavelmente pareceu estranha
pretamos esses versículos, podemos ver que para muitos judeus, mas Deus cumpriu a sua
Deus tem planejado um futuro maravilhoso palavra com o evangelho de Cristo que che­
para os seus filhos (1 Co 2.9). gou até os gentios (Ef 2.11-18).
O livro de Isaías termina com um aviso
A conclusão final (66.1 -24) muito sério. Deus tem preparada uma con­
O capítulo 66 amarra todas as profecias de clusão maravilhosa para a História, mas só
Isaías em uma grandiosa conclusão. O profe­ aqueles que pertencem a Cristo pela fé pode­
ta começou descrevendo Deus como um so­ rão gozá-la. O resto sofrerá a ira de Deus. A
berano em busca de servos (vs. 1,2). Mesmo advertência de Isaías nos faz lembrar que o
tendo criado o universo, ele estendeu sua mão Santo de Israel nos chama a viver em santida­
amorosamente àqueles que se humilharam de. Tal estilo de vida só vem mediante a obra
diante dele. Isaías descreveu o maravilhoso do Senhor em nossa vida.

381
Jeremias 1-20
Em conflito com o chamado
de Deus

Esboço
• Esboço
• Pano de fundo de Jeremias
• A mensagem de Jeremias
Deus chama Jeremias para servi-lo (1.1-19)
Jeremias descreve o triste estado de Judá Objetivos
(2.1-10.25)
Jeremias em conflito com o povo e com Deus Depois de ler este capítulo,
(11.1-20.18) você deve ser capaz de:
• Delinear o conteúdo de Jeremias 1-20.
• Discutir o pano de fundo de Jeremias.
• Resumir os detalhes do chamado de Jeremias
para o ministério.
• Descrever o estado em que Jeremias encon­
trou Jerusalém.
• Comparar os ídolos com Deus da mesma
forma como Jeremias os comparou.

383
Descobrindo os Profetas

Você já enfrentou lutas em sua vida cristã?


Se isso não aconteceu até agora, você certa- Pano de fundo
mente ainda vai passar por dificuldades nessa
área em algum momento. Talvez você não vá de Jeremias
entender porque Deus permitiu que você
Jeremias 1.1 chama Jeremias de “filho de
passasse por determinada situação difícil. Ou,
Hilquias, um dos sacerdotes que estavam em
talvez você sirva ao Senhor fielmente por
Anatote, na terra de Benjamim”. E provável
muitos anos, mas ainda assim sofra por causa
que o pai de Jeremias não fosse aquele Hil­
de pessoas que não querem lhe dar ouvidos.
quias que encontrou o Livro da Lei no templo
Em determinados momentos, talvez você se
(2Rs 22.8), pois o sumo sacerdote quase cer­
ressinta com Deus por ele ter lhe dado tal
tamente morava em Jerusalém.
tarefa. Você pode até questionar se foi mesmo
Jeremias vivia em Anatote,1 há cinco qui­
chamado por Deus.
lômetros de Jerusalém. Anatote era uma das
A vida do profeta Jeremias ilustra o alto
quarenta e oito cidades que Josué havia dado
preço que se pode pagar para servir ao Se-
aos levitas 0s 21.18). Alguns estudiosos suge­
nhor. Ao estudar sua vida e mensagem, tente
rem que Jeremias pode ter sido um descen­
descobrir o que levou o profeta de Judá a con­
dente de Abiatar, da linhagem dc Eli (lRs
tinuar com o trabalho de Deus a qualquer
2.26,27). O profeta vivia perto de Jerusalém e
custo. Essa análise pode ajudar você a enca­
podia chegar lá em uma hora de caminhada.
rar qualquer desafio que o Senhor venha a
Tanto quanto sabemos, Jeremias nunca
lhe mandar.
serviu como sacerdote. Os sacerdotes come­
çavam seu serviço aos trinta anos de idade
(Nm 4.3), mas Jeremias ainda era um rapaz
Esboço quando Deus o chamou para profetizar (Jr
1.6). Aliás, alguns sugerem a possibilidade de
I. Deus chama Jeremias para que ele era apenas um adolescente! Mas a
servi-lo (1*1-19) juventude de Jeremias não foi empecilho para
os propósitos de Deus. O Senhor deu a Jere­
II. Jeremias descreve o
mias as forças para servi-lo. Deus também or­
triste estado de Judá
denou que Jeremias não se casasse nem tives­
(2.1-10.25)
se filhos, pois o futuro de Judá reservava ape­
A. Um casamento à beira do
fracasso (2.1—3.5) nas sofrimento (16.1-4).
B. Uma história de duas irmãs (3.6— Ao tomar uma posição ao lado do Senhor,
Jeremias sofreu oposição incrível. Ele foi es­
4.4)
C. Problemas vindos do norte pancado e humilhado em público (20.1-6) e
(4.5-6.30) lutou contra muitos falsos profetas (6.13,14;
D. Adoração pública sem valor 28.1-17; 29.8,9). O rei Jeoaquim desprezou
(7.1-8.3) suas palavras e chegou a tentar matá-lo (36.21-
E. Traição, problemas e lágrimas 23,26). Zedequias, o último rei de Judá, bus­
(8.4-10.25) cou muitas vezes o conselho de Jeremias, mas
recusou-se a obedecer (37.17; 38.14-23). De­
III. Jeremias em conflito com pois da queda de Jerusalém, um grupo de ju­
o povo e com Deus deus levou Jeremias para o Egito contra a sua
(11.1-20.18) vontade (43.4-7).
A. Lidando com conspirações Por vezes, Jeremias perguntou-se porque o
(11.1-12.17) Senhor permitia que ele sofresse tanto. Os la­
B. Três sinais de julgamento mentos do profeta para Deus revelam quão
(13.1-27) profundamente Jeremias lutou com a tarefa
C. O estado desesperador de Judá que Deus havia lhe dado (15.10,15-18; 20.7-
(14.1-17.27) 10,14-18). Eles também mostram um homem
D. Uma lição da casa do oleiro com um relacionamento de intimidade com
(18.1-19.15) Deus, um homem que sabia que podia confi­
E. A perseguição leva ao desespero ar a Deus os seus mais profundos pensamen­
(20.1-18) tos e sentimentos. Apesar de toda a oposição,
384
Jeremias 1-20

Jeremias respondeu fielmente ao seu chama­ proclamado a mensagem de Deus, as pala­


do profético. Com as forças recebidas de Deus vras proféticas ainda nos falam nos dias de
ele pôde completar a tarefa que o Senhor hoje.
havia lhe dado. O Senhor chamou Jeremias de forma cla­
Jeremias profetizou durante os últimos qua­ ra e direta — ‘‘A ntes que eu te formasse no
renta anos de Judá (627-587 a.C.). No reina­ ventre materno, eu te conheci, e, antes que
do de Josias (640-609 a.C.), Judá passou por saísses da madre, te consagrei, e te constituí
uma certa renovação religiosa. Mas o reino profeta às nações” (v. 5). Os verbos dão ênfa­
sofreu uma rápida decomposição espiritual logo se à forma soberana como Deus preparou Je ­
depois da morte de Josias. Muitas pessoas con­ remias para o serviço profético. Primeiro, Deus
tinuavam a confiar em rituais religiosos conhecia Jeremias antes de sua concepção.
vazios e acreditavam que Deus iria abençoá- Segundo, Deus consagrou Jeremias antes de
las independente de como elas vivessem. seu nascimento. Terceiro, Deus constituiu Je ­
Deus enviou Jeremias para advertir seu povo remias um profeta. Deus havia planejado o
a se arrepender, mas infelizmente, a maioria ministério de Jeremias muito tempo antes do
não lhe deu ouvidos. profeta nascer!
Em 626 a.C. — por volta da mesma época A maior parte dos estudiosos da Bíblia acre­
em que Deus chamou Jeremias — NABOPO- dita que Jeremias tinha apenas quinze ou
LASAR estabeleceu-se como rei da Babilônia. dezesseis anos quando recebeu o chamado
Durante seu reinado e o reinado de seu filho de Deus. Logo, ele ficou atônito por Deus
Nabucodonosor, a Babilônia tornou-se a po­ escolhê-lo e protestou que era jovem demais
tência dominante sobre o antigo Oriente Pró­ para esse trabalho. Mas Deus prometeu estar
ximo. Deus usaria a Babilônia para julgar Judá. com ele e protegê-lo. Ele iria capacitar Jere­
O livro de Jeremias oferece-nos um relato mias para cumprir essa grande tarefa. Como
da mensagem e ministério de Jeremias. Ele cristãos nos dias de hoje, é possível que tam­
descreve os últimos dias de Judá e mostra por­ bém nos sintamos assustados diante do cha­
que Deus acabou julgando seu povo da forma mado de Deus, mas ele provê as forças para
como o fez. Ele apresenta de maneira poderosa fazermos aquilo que ele pede.
a mensagem de Jeremias para que gerações O Senhor confirmou o chamado de Jere­
posteriores pudessem evitar o mesmo pecado. mias de três maneiras (vs. 9-19). Primeiro, o
Baruque, filho de Nerias, trabalhou com Senhor tocou a boca de Jeremias, colocando
Jeremias, servindo algumas vezes como seu ali simbolicamente as palavras divinas. Em
escriba (Jr 36.4-21). Muitos estudiosos acredi­ segundo lugar, Deus mostrou a Jeremias o
tam que Baruque ajudou a coletar as profe­ galho de uma amendoeira. O primeiro flores­
cias de Jeremias transformando-as no que hoje cimento da amendoeira anunciava o começo
chamamos de livro de Jeremias.2 Talvez ou­ da primavera. O sinal também foi um jogo de
tros também tenham ajudado a coletar as pa­ palavras. A amendoeira (sãq êd em hebraico)
lavras de Jeremias. indicava que Deus estava observando (sõq êd
O livro de Jeremias tem muito a nos ensi­ em hebraico) o cumprimento de sua palavra.
nar. Suas palavras proclamam fielmente a Assim, a segunda promessa de Deus assegura­
mensagem de Deus e sua vida ilustra o com­ va Jeremias que de Deus cumpriria o seu pro­
prometimento profundo que Deus espera e pósito. Em terceiro lugar, Deus mostrou a Je ­
merece de cada um de nós. remias uma panela de água fervente, simboli­
zando o desastre que Deus derramaria sobre
a terra. Mais uma vez, Deus confirmou que
iria proteger e defender o profeta.
A mensagem de
Jerem ias descreve o triste
Jeremias estado de Judá (2.1-10.25)
Deus cham a Jerem ias para Um casamento fracassado
servi-lo (1.1-19) (2 .1-3 .5)
Jeremias 1.1-3 nos lembra que Deus cha­ Jeremias chamou o povo de Jerusalém a
mou o profeta em um determinado tempo e lembrar-se do dia dos antigos, quando Deus
lugar. Entretanto, pelo fato de Jeremias ter os havia abençoado. Quão longe eles haviam
385
Descobrindo os Profetas

se desviado daquela devoção inicial a ele! Seus sastre. O pecado do povo havia corrompido o
ancestrais logo esqueceram-se do Senhor e seu coração. A sua rebelião traria o julgamen­
seguiram a outros deuses. Os líderes de Israel to de Deus.
— sacerdotes, profetas e governantes — par­ Â medida que Jeremias foi descrevendo o
ticiparam da rebelião espiritual e ignoraram a julgamento de Judá, ele sentiu a angústia de
graça de Deus. Deus (4.19-22). O profeta amava seu povo e
A geração de Jeremias havia seguido o seu país e não queria ver a calamidade. Ainda
péssimo exemplo deixado por seus ancestrais. assim, ele admitia que seu povo não tinha ne­
Eles haviam feito dois grandes males (2.13). nhum entendimento espiritual. Ele estreme­
Primeiro, haviam afastado-se de Deus, a fon­ ceu ao ponderar sobre a grande ira de Deus.
te de tudo o que eles tinham, “sua fonte de Deus desafiou Jeremias a encontrar uma
água viva”. Em segundo lugar, eles haviam única pessoa justa em Jerusalém (5.1). O povo
substituído seu relacionamento com Deus pela professava sua fé em Deus, mas não vivia de
adoração a ídolos. Jeremias comparou seus acordo com os seus caminhos. Tanto líderes
ídolos a cisternas quebradas que não segura­ quanto pessoas comuns transgrediam suas leis
vam a água. O Senhor havia libertado o seu e adoravam ídolos. O coração obstinado da­
povo para servi-lo, mas eles insistiam em ado­ quele povo os havia convencido de que Deus
rar os deuses de outras nações. jamais iria julgá-los. Deus advertiu o seu povo
Jeremias também comparou a idolatria do que ele traria uma nação estrangeira para jul­
povo à prostituição. Judá era a esposa infiel de gar o seu pecado (5.18,19). Eles haviam ado­
Deus, que se desonrava com outros amantes. rado os deuses de outras nações e, logo, eles
Ela afastou-se do Senhor — seu verdadeiro serviriam esses deuses em terra estrangeirai
marido — para seguir Baal. Ela possuía tantos Jeremias expressou sua frustração — nin­
deuses quanto cidades (2.28)! guém queria dar ouvidos às suas advertências
O povo queria ter a liberdade de pecar e (6.9-15)! A corrupção estava por toda a parte
ainda gozar as bênçãos de Deus. Eles ignora­ na sociedade. Os líderes garantiam ao povo
vam a disciplina do Senhor e continuavam a que tudo estava bem, mas isso não era verda­
buscar outros deuses. Deus segurou a chuva e de. O povo se recusava a seguir os manda­
lançou outras nações contra Judá, mas eles mentos de Deus ou ouvir os profetas do Se­
persistiram em sua rebelião. O povo rejeitava nhor. Judá estava em uma encruzilhada espi­
a Lei de Deus e oprimia os pobres e inocentes. ritual. Eles escolheriam o caminho da vida ou
da morte?
Uma história de duas irmãs
(3.6-4.4) Adoração pública sem valor
Jeremias comparou Israel e Judá a duas ir­ (7.1-8.3)
mãs. Israel tinha agido de maneira perversa e Os estudiosos da Bíblia acreditam, de um
por isso o Senhor a havia enviado para o exí­ modo geral, que Jeremias pregou essa mensa­
lio. Mas Judá, a irmã de Israel, não tinha apren­ gem em 609 a.C. por causa de sua ligação
dido nada com isso, mostrando ser ainda mais próxima com 26.1-24.3 Diante dos portões do
infiel que sua desafortunada irmã! templo, Jeremias viu muitas pessoas passando.
Apesar dessas palavras severas, Deus pro­ Elas acreditavam que suas palavras vazias iri­
meteu bênçãos se o povo se arrependesse. Ele am salvá-los — “Templo do Senhor, templo
ordenou que eles abandonassem os seus ído­ do Senhor, templo do Senhor é este!” (7.4).
los e se comprometessem totalmente com ele. Em 2 Samuel 7, Deus havia feito uma alian­
O arrependimento teria que vir do mais pro­ ça com Davi e prometido estabelecer o trono
fundo do seu coração. Nos dias de hoje, Deus de Davi para sempre. Davi compreendeu que
ainda espera comprometimento sincero com Deus ainda exigia fidelidade dele e de seus
seus filhos. Arrependimento e fé parciais não filhos (lR s 2.3,4), mas as gerações que vieram
têm lugar no serviço do Senhor. depois não levaram isso em consideração. O
povo supunha que os descendentes de Davi
Problemas vindos do norte iriam governar para sempre e que as bênçãos
(4.5-6.30) de Deus estariam sobre Jerusalém e o templo,
Jeremias intensificou suas palavras de jul­ não importando a forma como Judá vivesse.
gamento. Os líderes de Judá entrariam em Eles enfatizavam demais a aliança com Davi
pânico e não seriam capazes de impedir o de­ e negligenciavam por completo as exigências
386
Jeremias 1-20

As ruínas de
Siló. Jeremias
desafiou o povo
a pensar no que
havia
acontecido em
Siló, a cidade
que um dia
tinha sido a sede
do tabernáculo.

da aliança mosaica. Deus devia abençoá-los, te ou trabalham para sua igreja. Mas Jeremias
não devia? Afinal de contas, estavam em Je­ adverte que, sem fé, até as atividades mais
rusalém, adorando no templol importantes da igreja são rituais vazios. Deve­
Jeremias confrontou essas falsas esperan­ mos colocar toda a nossa confiança no Se­
ças do povo. Como podiam roubar, matar, co­ nhor e nunca em pessoas ou coisas.
meter adultério, fazer falsos juramentos e pra­
ticar a idolatria e depois ir ao templo do Se­ Traição, problemas e lágrimas
nhor, dizer algumas “palavras mágicas” e es­ ( 8 .4 - 1 0 .2 5 )
perar receber suas bênçãos? Eles não podiam! O Senhor se espantava com a perversida­
Palavras vazias não iriam salvar Jerusalém! de de Judá. Os animais observavam as leis
Jeremias desafiou o povo a mostrar sua fé por que Deus havia lhes dado, mas não o povo de
meio da obediência aos mandamentos de Deus. Em vez disso, agiam como se nunca
Deus. Quando Deus visse a mudança no co­ tivessem nem ouvido falar das leis de Deus!
ração do povo, então ele voltaria a abençoar Os profetas e sacerdotes buscavam o seu pró­
aquela nação. prio benefício enquanto diziam ao povo que a
Jeremias desafiou o povo a considerar o paz e a prosperidade iriam durar para sempre.
destino de Siló, a cidade onde, um dia, tinha Jeremias compartilhava da agonia do Se­
ficado o tabernáculo. O Senhor trouxe julga­ nhor pela falta de entendimento do povo. O
mento sobre Siló por causa de sua iniqüidade que mais o Senhor poderia fazer? O que seria
(7.12), e poderia fazer o mesmo com Jerusa­ preciso para curar Sião? Será que ninguém
lém. Deus não precisava ter sua casa de ado­ percebia o motivo para toda a calamidade de
ração em uma determinada cidade. Judá? Mais uma vez, o profeta proclamou a
Deus instruiu Jeremias a parar de orar pelo verdade — o povo havia transgredido a Lei
povo. Sua perversidade havia se tornado im­ de Deus e, portanto, estava passando por ad-
pensável — eles estavam sacrificando os seus versidades na forma de secas e grandes fo-
filhos aos deuses! O Senhor prometeu man­ mes. Se eles não se voltassem para Deus, ele
dar um julgamento tão terrível quanto os seus iria espalhá-los entre as nações. Jeremias cha­
pecados. Ele iria transformar seus santuários mou Judá a apegar-se à sabedoria de Deus,
pagãos em lugares de matança e dar suas car­ pois só então a nação teria motivos para se
cassas para as feras do campo. orgulhar.
Muitas pessoas hoje em dia confiam em Jeremias fez fortes comparações entre os
seus rituais para sentir segurança. Elas acham ídolos de Judá e o Senhor Deus. Os ídolos
que Deus vai aceitá-las porque são batizadas, eram obras das mãos do povo. Trabalhadores
freqüentam uma igreja, dão ofertas fielmen­ haviam derrubado árvores e entalhado nelas

387
Descobrindo os Profetas

as devidas formas. Eles apoiavam os ídolos de vez por todas! Mas o Senhor assegurou Jere­
modo que se mantivessem de pé. Artesãos mias de que iria cuidar daquela situação. Os
haviam decorado os ídolos com prata, ouro e inimigos do profeta não prevaleceriam.
pedras preciosas. Mas os ídolos não tinham Jeremias também meditou sobre a justiça
poder para fazer nada. Contrastando com clcs, de Deus — por que os ímpios prosperam? Eles
o Senhor Deus governava como Rei das na­ não honraram a Deus de forma alguma e ain­
ções. Ele havia criado o mundo e o sustenta­ da assim têm uma vida cheia de regalias. Je­
do com sua sabedoria e poder. Um dia, os ído­ remias pediu a Deus que punisse os ímpios
los iriam se desintegrar, mas Deus reinaria severamente, mas Deus o alertou para que
para sempre. ele não ficasse cansado ou desencorajado, pois
Jeremias pranteou o triste estado espiritual seu ministério estava apenas começando!
de Judá (10.17-25). Ninguém poderia curar
Três sinais de julgamento
as feridas de Judá. Um inimigo logo tornaria a
(13.1-27)
nação em uma terra desolada.
Deus muitas vezes ordenou que seus pro­
Jeremias em conflito com o fetas realizassem certos atos simbólicos que
povo e com Deus (11.1-20.18) tinham uma aplicação espiritual para o povo.
Jeremias 11-20 contém o que muitos in­ Ele instruiu Jeremias a comprar um cinto de
térpretes chamam de “confissões de Jeremias”. linho e escondê-lo no meio de algumas pe­
dras do rio. O hebraico pode estar referindo-
Muitas das orações pessoais e queixas do pro­
se ao Eufrates, há centenas de quilômetros de
feta para Deus estão nestes capítulos (11.18-
distância ou ao FARÁ, um lugar a poucos qui­
20; 12.1-6; 15.10-21; 17.14-18; 18.18-23; 20.7-
lômetros de Anatote (Js 18.23).4 Depois de
18). Jeremias muitas vezes lutava com o povo
algum tempo, Deus ordenou que Jeremias
que não queria ouvir suas palavras e por isso
fosse buscar o cinto. Quando o profeta o en­
ele era escarnecido e perseguido, mas algu­
controu, o cinto estava arruinado por ter fica­
mas vezes, Jeremias também entrava em con­
do enterrado.
flito com Deus. Será que o Senhor não via a
O Senhor disse que seu povo era como
sua dor? Por que Jeremias tinha que sofrer
aquele cinto. Ele havia ficado perto deles,
tanto para alcançar tão poucos resultados po­
mas eles haviam se distanciado dele e segui­
sitivos? Jeremias 11-20 destaca muitos dos
do a outros deuses. Eles haviam exposto suas
conflitos de Jeremias enquanto ele procurava
vidas às influências pagãs e essas influências
entender qual era o seu lugar nos propósitos
tinham feito com que eles perdessem seu
de Deus.
valor espiritual.
Lidando com conspirações Nos dias de hoje, muitas pessoas professam
(11.1-12.17) conhecer a Cristo, mas suas vidas refletem
idéias ou práticas que são contrárias ao Cristi­
Deus havia confirmado sua aliança com anismo. Se permitirmos que tais atitudes e
Israel quando ele conduziu o povo para fora comportamentos entrem em nossas vidas, nos­
do Egito, através do deserto e até a terra que sa fé cristã irá sofrer. O Senhor nos chama a
ele havia prometido aos seus ancestrais. Mas o submeter nossa vida toda a ele e dar atenção
povo de Deus freqüentemente se rebelava às coisas que o agradam (Fp 4.8; Cl 3.1-3).
contra a sua autoridade. O Senhor já havia Jeremias, então, ordenou que o povo en­
suportado diversas gerações de desobediên­ chesse seus jarros de vinho. Assim como o vi­
cia. Ele advertiu que não iria tolerar muito nho pode levar à embriaguez, assim o Senhor
mais, porém Judá deu continuidade aos pe­ estava colocando uma embriaguez espiritual
cados das gerações anteriores. Mais uma vez, sobre Judá. Deus não teria compaixão de seu
Deus instruiu Jeremias para que não orasse povo quando eles sofressem as conseqüências
pelo povo. Ele os perdoaria apenas se eles ver­ do pecado.
dadeiramente se arrependessem. Jeremias implorou para que o povo ouvisse
Jeremias então ficou sabendo que seus ini­ o aviso de Deus. Todos seriam humilhados —
migos estavam conspirando contra ele (11.18- até mesmo os governantes. Mas o pecado ha­
23). O povo de Anatote, sua cidade natal, via endurecido o coração do povo. Eles não
havia ordenado que ele não mais profetizas­ queriam e não iriam mudar sua condição pe­
se. Agora, estavam tentando calá-lo de uma caminosa.
Jeremias 1-20

que Moisés ou Elias se colocassem diante dele


em oração (15.1)! O Senhor falou das úni­
cas escolhas que restavam para o povo — a
morte, a espada, a fome ou o cativeiro. O rei
Manassés (697-642 a.C.), filho do rei Eze­
quias a havia enchido Judá de idolatria e
injustiça social. As influências perversas que
ele estabeleceu perduraram ao longo do rei­
nado de seus sucessores. O Senhor declarou
que havia chegado a hora de tratar dos pe­
cados de Judá.
Jeremias lamentou sua situação — todos o
maldiziam por pregar a Palavra de Deus (15.10).
Ele também pediu a Deus que se lembrasse
dos seus serviços fiéis (15.15-18). O profeta
seguiu os mandamentos de Deus e fielmente
compartilhou a mensagem que Deus havia
lhe dado. Agora, sem rodeios ou meias-pala-
vras, ele estava questionando o caráter de
Deus. Será que o Senhor havia se esquecido
dele? Jeremias não havia compreendido o quão
difícil pode ser servir ao Senhor!
O Senhor reassegurou o seu servo em con­
flito ao repetir as palavras que havia usado no
chamado de Jeremias (15.19-21; ver 1.17-19).
Ele iria fortalecer Jeremias para que pudesse
continuar profetizando e os inimigos de Jere­
mias não prevaleceriam. Deus também lem­
brou Jeremias de manter um exemplo de reti­
dão. O profeta não deveria rebaixar-se ao ní­
vel espiritual do povo, mas sim lutar para que
o povo se elevasse.
A pressão daqueles que nos cercam mui­
Um oleiro do O estado desesperador de Judá
Oriente. O tas vezes é uma tentação para que cedamos
(14.1-17.27) em alguns de nossos princípios cristãos. Quan­
Senhor enviou
Jeremias à casa O Senhor mandou uma seca para que o do encaramos tais desafios, devemos nos lem­
do oleiro e lhe povo se voltasse para ele. O chão rachou e a brar de que Deus nos chamou para a santida­
deu uma men­ água tornou-se tão escassa que os animais de (lPe 1.15). Não devemos ousar rebaixar os
sagem para pre­
gar ali (18.1-12). abandonavam seus filhotes. Jeremias orou pelo nossos padrões, mas sim, mostrar aos outros os
povo, mas Deus ordenou que ele não fizesse elevados padrões de Deus por meio de nossas
isso. O Senhor precisava tratar o povo com palavras e exemplos.
severidade para que compreendessem o quan­ Deus instruiu Jeremias para que não se
to ele levava todo aquele pecado a sério. Jere­ casasse e nem constituísse família (16.1-9).
mias chegou a pensar se Deus havia rejeitado Ele também o instruiu a não prantear pelos
Judá para sempre (14.17-22). mortos, pois eles haviam morrido como forma
Os falsos profetas constituíam uma grande de punição por seus pecados. O Senhor man­
parte do problema de Judá (14.13-16). Eles es­ daria os sobreviventes de Israel para o exílio.
palhavam para todos que o Senhor traria paz Ele prometeu reuni-los algum dia, mas antes
duradoura, portanto ninguém precisava temer teria que vir a punição.
a fome ou a guerra. Deus prometeu castigar Enquanto isso, o pecado de Judá continua­
esses falsos profetas. Eles morreriam pela fome va (17.1-18). O povo confiava em si mesmo
ou pela espada — os mesmos julgamentos que em vez de Deus. Jeremias os advertiu dizen­
eles haviam dito ao povo que nunca viriam! do que só Deus poderia dar sentido e propósi­
Deus disse a Jeremias que era inútil inter­ to para suas vidas. A cura tinha que vir do
ceder pelo povo. Ele não perdoaria Judá nem Deus que eles haviam abandonado.
389
Descobrindo os Profetas

mmm

O pluralismo e o cristão

Judá fazia fronteira com diversos outros rei­ Devemos tentar ganhar outros para Cristo e
nos, e cada um tinha suas próprias idéias religi­ ajudá-los a crescer em sua fé. Também devemos
osas. Judá logo adotou muitas das práticas des­ procurar promover os princípios cristãos de justi­
ses reinos e começou a adorar os seus deuses. ça social para que, tanto quanto possível, nossa
Judá tornou-se uma sociedade pluralista, com sociedade reflita uma perspectiva cristã.
pontos de vista religiosos conflitantes conviven­ Em segundo lugar, os cristãos devem evitar a
do lado a lado. transigência espiritual em relação à outras cren­
O mundo de hoje tem muitas semelhanças ças. Devemos respeitar o direito de outros de
com a antiga Judá. Existem muitas crenças não- acreditar no que desejarem, mas não devemos
cristãs e alguns desses grupos nos encorajam a nos atrever a "diluir" a nossa fé cristã.
participar de suas atividades. Qual deve ser nossa Israel começou a aceitar a idolatria e logo o
reação diante de tal pluralismo? povo também a estava praticando. Os crentes de­
Em primeiro lugar, os cristãos devem buscar vem lutar para causar um impacto para Cristo no
ter um impacto na sociedade para Jesus Cristo. mundo e, ao mesmo tempo, evitar comprometer
Jesus disse que devemos ser luz para o mundo e a verdade do evangelho.
brilhar levando adiante a verdade (Mt 5.14-16).

O Senhor chamou o seu povo a honrar o Uma lição da casa do oleiro


sábado com descanso e adoração e prome­ (18.1-19.15)
teu-lhes bênçãos se eles assim fizessem (17.19- O Senhor enviou Jeremias à casa de um
27). Os descendentes de Davi iriam governar oleiro e lhe deu uma mensagem para pregar
para sempre e a adoração no templo iria pros­ ali (18.1-12). Enquanto o oleiro trabalhava,
perar. Hoje, Deus nos deu um dia a cada se­ podia facilmente moldar novamente o barro
mana para separarmos para o descanso e ado­ que apresentasse algum defeito. Simplesmen­
ração. A forma como você passa esse dia hon­ te formava um monte de barro e começava
ra ao Senhor/ de novo de acordo com os seus propósitos.

Sumário

1. Jeremias de Anatote era filho de um 4. Por ter se afastado de Deus, o povo


sacerdote, Hilquias. Ele era bastante de Judá estava passando por grande
jovem quando começou o serviço de adversidade e estava prestes a ser es­
profeta, o qual exerceu durante qua­ palhado entre nações estrangeiras.
renta anos em Judá.
5. Quando a situação de Judá tornou-se
2. O povo de Judá havia caído em seu desesperadora, Deus não mostrou
estado pecaminoso porque havia se simpatia por eles e disse a Jeremias
afastado de Deus e colocado a adora­ que não orasse pelo povo, pois seria
ção a ídolos no lugar de seu relacio­ inútil.
namento com o Senhor.
6. Jeremias sofreu pessoalmente ao ten­
3. Deus espera que seu povo o sirva com tar fazer aquilo que Deus havia orde­
fidelidade. nado em meio à pressão do povo.

390
Jeremias 1-20

wKÊÊiHÊÊmiKÊÊÊtÊKiÊÊÊÊÊÊÊmÊKÊmmÊiÊÊmÊÊmÊKmmmmmmÊÊmtmmÊÊÊÊmÊÊÊÊÊÊÊiÊÊÊÊÊÊÊmmmmmmm

Questões para estudo

1. 0 que o livro de Jeremias revela sobre 3. Você acha que Jeremias tinha o direito
o próprio profeta? Mesmo quando de reclamar tanto para Deus? De que
Jeremias sofreu oposição ele conti­ maneira você acha que Deus usou as
nuou dentro da vontade de Deus reclamações na vida do profeta?
para sua vida? Deus algumas vezes
4. Que lições Jeremias tirou da casa do
ainda chama pessoas nos dias de hoje
oleiro?
para sofrer por sua causa?
5. Jeremias reclamava, mas também
2. De que forma o povo defendeu suas
confiava. Quando você abre o seu
atitudes durante os últimos dias de
coração para Deus, você irá confiar
Judá? Por que foi tão difícil para Jere­
nele da mesma forma quando ele
mias convencê-los de seu pecado?
responder?

prometesse bênçãos sobre uma nação e ela se


voltasse contra ele, ele também poderia can­
Pessoas/ celar a bênção. O povo jamais deveria supor
lugares-eíhave que Deus o abençoaria apesar de suas vidas
pecaminosas. Por outro lado, eles receberiam
Nabopolasar
o perdão de Deus se verdadeiramente se ar­
Fará
rependessem.
Vale Hinom
O povo rejeitou Jeremias pois eles rejeita­
ram a Deus. Jeremias sabia que seus inimigos
planejavam lhe fazer mal. Ele pediu a Deus
que o protegesse e os julgasse de acordo com
o seu pecado. Algumas vezes as pessoas tam­
O trabalho do oleiro ilustrava um valioso bém nos mandam embora quando comparti­
princípio espiritual. Assim como o oleiro mol­ lhamos com elas a mensagem de Deus. De­
dava o barro, Deus moldava as nações de acor­ vemos nos lembrar que elas estão rejeitando a
do com seus propósitos soberanos. Se Deus Deus mais do que a nós (Mt 5.11,12). Jesus
decretasse o seu julgamento sobre uma nação mandou que amássemos nossos inimigos e
ímpia, mas essa nação se arrependesse, Deus orássemos por eles (Mt 5.43-47), deixando o
poderia cancelar esse julgamento. Mas se Deus julgamento nas mãos de Deus.

Leitoras compEementares

Brueggmann, Walter. To Pluck Up, To Tear Down: A Commentary. Downers Grove: InterVarsity, 1973.
Commentary on the Book of Jeremiah 1-25. Inter­ Um comentário em nível universitário médio.
national Theological Commentary. Grand Rapids/ Thompson, J. A. The Book of Jeremiah. New Internatio­
Edimburgo: Eerdmans/Handsel, 1988. Uma exposi­ nal Commentary on the Old Testament. Grand Ra­
ção e aplicação teologicamente rica. pids: Eerdmans, 1980. Para o estudante mais sério.
Harrison, R. K. Jeremiah and Lamentations: An Intro-
duction and Commentary. Tyndale Old Testament

391
Descobrindo os Profetas

Jeremias tomou um jarro de barro da casa Tais experiências levaram Jeremias a um


do oleiro e o levou para o vale de Hinom, ao profundo conflito pessoal (vs. 7-13). Se ele
sul de Jerusalém (19.1,2). Ele advertiu Judá falava as palavras de Deus, o povo o perse­
de que a calamidade era iminente, pois o povo guia. Se ele ficava em silêncio, as palavras de
havia abandonado o Senhor e passado a ado- Deus eram como fogo que consumia os seus
rar deuses. Eles derramavam sangue de ino­ ossos e que ele simplesmente não podia apa­
centes e até mesmo sacrificavam seus filhos gar. Ele precisava pregar a qualquer custo.
para Baal! Algumas vezes, o sofrimento de Jeremias
Jeremias descreveu as terríveis coisas que o levou ao desespero (vs. 14-18). Por que o
aconteceriam quando os exércitos invasores Senhor fazia com que ele passasse por tanta
tomassem Jerusalém. O povo não teria mais coisa? Cada dia trazia mais problemas e tris­
comida e precisaria recorrer ao canibalismo. tezas. Jeremias amaldiçoou o dia em que
Corpos espalhados por toda a parte iriam tor­ nasceu e desejou ter morrido ainda no ven­
nar-se alimento para os animais selvagens. No tre de sua mãe.
final da sua mensagem, Jeremias quebrou o Talvez em algum ponto da sua vida você já
jarro, simbolizando a total e irreversível des­ tenha se sentido tão desencorajado quanto
truição de Jerusalém. O vale Hinom iria trans- Jeremias. Talvez você esteja se sentindo desse
formar-se no vale da matança para todos aque­ jeito agora. A vida de Jeremias demonstra que
les que colocassem sua confiança em ídolos. a fé bíblica não oferece garantias de uma vida
fácil. O Senhor pode nos chamar a servi-lo de
A persequição leva ao desespero maneiras que nos levam aos limites, de forma
( 2 0 . 1 - 18 ) que os conflitos da vida parecem nos sufocar
Pasur, o sacerdote, ficou irado com as pala­ e onde Deus parece ignorar as nossas orações.
vras de Jeremias contra Judá e Jerusalém. Ele Mas Jeremias prosseguiu e é isso que nós tam­
mandou que o profeta fosse açoitado e preso bém devemos fazer. Ele não entendia os ca­
em um tronco público até o dia seguinte. Mas minhos de Deus, mas sabia que, de alguma
depois que Jeremias foi solto, ele pronunciou forma, podia continuar confiando no Senhor
um julgamento contra Pasur. Deus daria ao em todas as situações. O Senhor não prome­
sacerdote um novo nome — Magor-Missabib, teu nos dar as razões para tudo o que tivermos
que quer dizer “Terror-Por-Todos-Os-Lados”! que enfrentar, mas prometeu capacitar-nos
Pasur, bem como sua família e amigos, iria para aquilo que nos chamar a fazer e dar-nos
passar pelo horror do cerco de Israel. A cida­ as forças necessárias para completar nossa ta­
de cairia e Pasur morreria no exílio. refa (Fp 1.6).
Jeremias 21-52
e Lamentações
Lidando com o desastre

• Esboço
• A mensagem de Jeremias
continua (21.1-52.34)
Jeremias desafia governantes e profetas
(2 1 .1 -2 9 .3 2 )
O Livro do Consolo (30.1 -3 3 .2 6 )
Objetivos
O fracasso da liderança de Jerusalém Depois de ler este capítulo,
(3 4 .1 -3 9 .1 8 ) você deve ser capaz de:
Jerusalém depois da queda (4 0.1 -4 5.5 ) • Delinear os capítulos 21-52 de Jeremias.
Profecias sobre as nações (46 .1 -5 1 .6 4) • Descrever como Jeremia desafiou os
A queda de Jerusalém é revista (52.1-34) governantes e profetas.

• Lamentações: • Explicar por que Jeremias 30-33 é muitas


vezes chamado de "Livro do Consolo".
Um pranto de agonia
• Comparar a aliança de Deus com Moisés
Esboço
com a nova aliança com seu povo.
Pano de fundo de Lamentações
• Fazer uma lista dos incidentes de desobe­
A mensagem de Lamentações diência que levaram à queda de Jerusalém.
• Dar o nome das nações sobre as quais
Jeremias profetizou nos capítulos 46-51.
• Delinear o livro de Lamentações.
• Dar exemplos de como acrósticos são
usados em Lamentações.
• Descrever os resultados da destruição de
Jerusalém.

393
Descobrindo os Profetas

No capítulo anterior, vimos como Jeremias E. Jerusalém paga um trágico preço


enfrentou muitos desafios difíceis. Ele lutou (39.1-18)
contra inimigos que não queriam ouvir a men­
sagem de Deus e sofreu com freqüência por V II. Jerusalém depois da queda (40.1—
estar obedecendo o chamado de Deus. Jere­ 45.5)
mias também esteve em conflito com Deus, A. Problemas internos (40.1—
imaginando porque Deus havia lhe dado uma 41.18)
tarefa tão frustrante. B. Problemas no Egito
Os conflitos de Jeremias continuaram à (42.1-43.13)
medida que o pecado de Judá trouxe cada C. O povo não aprende com a
vez para mais perto de si o julgamento de História (44.1-45.5)
Deus. O povo resistia firmemente à verdade
V III. Profecias sobre as nações
que Jeremias proclamava e, no final, acabou
(46.1-51.64)
pagando o preço terrível de seus pecados. Je­
A. Egito (46.1-28)
remias também pranteou a queda de Jerusa­
B. Filístia (47.1-7)
lém, pois ele havia advertido o povo durante
C. Moabe (48.1-47)
quarenta anos sem resultados.
D. Amom (49.1-6)
E. Edom (49.7-22)
F. Damasco (49.23-27)
Esboço G. Quedar e Hazor (49.28-33)
H. Elão (49.34-39)
IV. Jeremias desafia governantes e I. Babilônia (50.1-51.64)
profetas (21.1—29.32)
A. Jeremias repreende os governan­ IX . A queda de Jerusalém é revista
tes e governos (21.1—23.8) (52.1-34)
B. Jeremias repreende os profetas e
seus ouvintes (23.9-40) imÊSÊÊgÊÊaMmmÊSgmmMmmsmma^^MBMÊmmÈÊmmM
C. Jeremias descreve a ira de Deus  mensagem de
(24.1-25.38)
D. Jeremias confronta o povo Jeremias continua
(26.1-24)
E. Jeremias usa um jugo
(2 1.1-52 34)
(27.1-28.17)
Jerem ias desafia governantes e
F. Jeremias escreve para os exilados
profetas (21.1-29.32)
(29.1-32)
Jeremias repreende os governantes e
V. O Livro do Consolo (30.1—33.26)
governos (21.1-23.8)
A. Israel volta para a terra e para
Deus (30.1-31.40) Quando o rei Nabucodonosor da Babilô­
B. A compra simbólica de terra de nia atacou Jerusalém, Zedequias, o último rei
Jeremias (32.1-44) de Judá, mandou mensageiros para pedir
C. As grandes obras futuras de orientação para Jeremias (21.1,2). Jeremias
Deus (33.1-26) respondeu que o próprio Deus estava lutando
contra Judá! Aqueles que se entregassem aos
V I. O fracasso das lideranças de babilônios viveriam, mas qualquer um que fi­
Jerusalém (34.1-39.18) casse em Jerusalém morreria (21.8,9).
A. A liderança não mantém sua Deus prometeu poupar a cidade se o rei e
palavra (34.1-22) seus líderes verdadeiramente se arrependes­
B. A liderança não aprendeu a sem, mas se eles persistissem em sua increduli­
obedecer (35.1-19) dade, Deus iria destruir Jerusalém (22.2-5). A
C. A liderança recusa-se a respeitar cidade iria tornar-se um assustador exemplo
a Palavra de Deus (36.1-32) para todos que pensassem em ir contra Deus.
D. A liderança recusa-se a dar Jeremias disse ao povo que pranteasse por
ouvidos ao profeta de Deus Salum (Jeoacaz), o filho do rei Josias (22.10-
(37.1-38.28) 12). Salum reinou durante apenas três meses
394
Jeremias 21-52 e Lamentações

antes que o Faraó Neco o depusesse e levasse pecado onde quer que o encontrasse! Beber
cativo para o Egito (2Rs 23.31-34). O profeta do cálice de Deus simbolizava receber a ira
então denunciou a Jeoaquim, o sucessor de de Deus (Ob 16; Mt 26.39,42). As nações
Salume outro filho de Josias (22.13-23). Josias receberiam o castigo completo por sua per­
havia servido ao Senhor fielmente, mas Jeoa­ versidade.
quim não tinha seguido o exemplo justo de Oito anos depois dessa profecia — em 597
seu pai! Jeremias declarou que Jeoaquim te­ a.C. — Nabucodonosor levou o rei Jeoaquim
ria uma morte desgraçada e receberia o en­ e muitos outros oficiais judeus para as prisões
terro de um jumento (22.19). da Babilônia. Ele também colocou Zedequias,
Jeconias, o filho de Jeoaquim, em breve um outro filho de Josias, no trono e deu a
sofreria por causa da perversidade do seu pai Judá mais uma chance de se submeter ao
(22.24-30). Nabucodonosor o levou para a Ba­ governo da Babilônia. O Senhor usou essa
bilônia, onde ele passou trinta e sete anos na ocasião para dar a Jeremias uma outra men­
prisão (2Rs 24.10-15; 25.27-30). sagem profética.
Os outros líderes de Judá só se preocupa­ Deus mostrou a Jeremias dois cestos de fi­
vam consigo mesmos, mas Deus prometeu que gos — um bom e outro ruim. Os figos bons
um dia levantaria um líder que iria estabelecer representavam os exilados na Babilônia, os
justiça na terra (23.5,6). Jesus Cristo começou quais Deus iria proteger, abençoar e, um dia,
a estabelecer esse reinado em sua primeira vin­ restaurar. Mas os figos ruins simbolizavam
da e irá completar a obra quando voltar. Zedequias e aqueles que haviam permaneci­
do em Jerusalém. Esse grupo de infiéis morre­
Jeremias repreende os profetas e ria pela espada, fome ou doença.
seus ouvintes (23.9-40)
Jeremias lutou com freqüência contra fal­
Jeremias confronta o povo (26.1-24)
sos profetas. Esses homens garantiam ao povo Enquanto Jeremias estava do lado de fora
que Deus iria abençoar Judá para sempre, mas do templo, ele desafiava os que por ali passa­
suas palavras não vinham do Senhor. Alguns vam a mudar seus caminhos. Como Deus po­
chegavam a falar em nome de Baal e encora­ deria declarar de maneira mais clara a sua
javam os perversos a continuar pecando (vs. preocupação? Deus havia destruído Siló, a
13,14). Mesmo nos dias de hoje, muitos tole­ antiga cidade do tabernáculo, como forma
ram todo o tipo de perversidade em vez de de julgamento pela perversidade de Israel. Je­
mudar o seu estilo de vida. remias advertiu que Jerusalém logo teria o
Os sacerdotes também agiam corrupta­ mesmo destino.
mente e desgraçavam o templo. Eles afirma­ As palavras ásperas de Jeremias deixaram
vam falar em nome do Senhor, mas na reali­ os ouvintes irados e muitos gritaram pedindo
dade proferiam mentiras. Jeremias implorou sua morte. Como ele se atrevia a falar contra
para que o povo não desse ouvidos aos falsos Jerusalém e o templo? Mas Jeremias mante­
sacerdotes e profetas que pervertiam a pala­ ve-se firme, avisando o povo que, se eles o
vra de Deus. O Senhor iria punir aqueles que matassem, teriam sangue inocente em suas
se atrevessem a falar falsamente em seu nome! mãos.
Outros defenderam Jeremias. Ele estava
Jeremias descreve a ira de Deus
apenas proclamando a mensagem de Deus
(2 4 .1 -25 .38 ) — exatamente como era esperado de um pro­
Em 605 a.C., Nabucodonosor tomou-se rei feta! Lembraram-se de Miquéias, o profeta
da Babilônia. N o mesmo ano, Jeremias mais que havia proferido palavras fortes contra Je­
uma vez advertiu o povo sobre os problemas rusalém um século antes, mas ninguém o ha­
que estavam por vir (25.1-14). O Senhor ha­ via castigado. Aliás, suas palavras tinham leva­
via preparado o seu instrumento — Nabuco­ do o rei Ezequias e o povo ao arrependimento.
donosor! Os judeus passariam por setenta anos Se Miquéias não havia cometido nenhum cri­
de exílio e, só então, eles poderiam esperar por me, como o povo podia acusar Jeremias?
livramento. Deus revelou pela primeira vez
quanto tempo o povo teria que sofrer no exílio Jeremias usa um jugo (27.1-28.17)
por causa de seu pecado. N o começo do reinado de Zedequias, Deus
Deus também não havia se esquecido das instruiu Jeremias para que usasse um jugo para
outras nações (25.15-38). Ele iria tratar do simbolizar a futura sujeição de Judá à Babilô­
395
Descobrindo os Profetas

nia. Deus colocaria todas as nações sob o jugo Israel volta para a terra e para Deus
de Nabucodonosor; qualquer nação que re­ ( 3 0 .1 - 3 1 .4 0 )
sistisse, pereceria.
Deus prometeu restaurar o seu povo do ca­
Jeremias continuou a confrontar os falsos
tiveiro. Ele mandou que Jeremias escrevesse
profetas, que insistiam que nenhum desastre
a profecia como forma de testemunho. Ou­
viria. Ele implorou ao rei e seus oficiais que
tros profetas também escreveram palavras de
não dessem ouvidos a eles. A sujeição à Babi­
Deus para que as futuras gerações pudessem
lônia iria salvar vidas, mas se o povo resistisse,
ver a sua fidelidade (Hb 2.2,3).
Nabucodonosor destruiria Jerusalém.
O povo de Deus ainda teria dias terríveis
Hananias era um desses falsos profetas. Em
pela frente. Se não fosse pela intervenção di­
594 a.C. ele declarou que Deus logo livraria
vina, eles jamais se recuperariam do seu peca­
as nações do jugo da Babilônia (28.1-4). Jeoa­
do. Os deuses estrangeiros nos quais eles ti­
quim e todos os exilados voltariam em dois
nham confiado haviam se mostrado sem va­
anos. De maneira dramática, Hananias to­
lor. Tratados com outras nações também não
mou o jugo que Jeremias estava usando e o
trouxeram nada além de problemas.
quebrou, simbolizando como Deus iria que­
Ainda assim, Deus amava o seu povo e
brar o poder da Babilônia.
prometeu salvá-los. Ele iria saquear as nações
Mas Hananias falava apenas daquilo que
que os saqueassem e levantaria seu povo a
ele esperava que acontecesse, e não a verda­
novos patamares de bênçãos. Ele também pro­
de de Deus. Ele convenceu muitas pessoas a
confiarem em uma mentira, uma mentira meteu restaurar a linhagem de Davi (30.9),
muito séria e pela qual ele pagaria com sua uma promessa que espera pelo seu cumpri­
vida. Dois meses depois, esse falso profeta es­ mento final em Jesus Cristo (Lc 1.32,33). Deus
tava morto. julgou a Assíria, Babilônia e outras nações que
oprimiram o seu povo, mas a Bíblia adverte
Jeremias escreve para os exilados sobre o dia em que Deus irá julgar os seus
(2 9 .1 -3 2 ) inimigos para sempre (Ap 20.11 -15).
Pouco depois do exílio de Jeoaquim, Jere­ Deus estava decidido a honrar sua aliança
mias mandou uma carta para os judeus na com o povo (31.3). Ele transformaria o seu
Babilônia. Falsos profetas estavam, de fato, pranto em alegria e celebração. Quando en­
assegurando o povo de que o exílio logo esta­ frentamos situações difíceis — fases que nos
ria terminado! Mas Jeremias pediu ao povo levam ao desespero e à tristeza — precisamos
que construísse casas, plantasse jardins, crias­ nos lembrar de que Deus conhece a nossa
se famílias e orasse pelo bem da Babilônia, dor. Devemos levar nossas preocupações a ele
pois eles não voltariam tão logo. Ele reafirmou em oração, pois ele prometeu trabalhar na vida
o prazo que Deus havia lhe revelado (25.12) de seus filhos de acordo com os seus grandes
— setenta anos! propósitos (Rm 8.28; Fp 2.13).
Jeremias citou o nome de vários falsos pro­ A nação sentiu a agonia do exílio — ela
fetas que estavam levando o povo pelo cami­ havia perdido seus filhos para o conquistador
nho do erro enquanto falavam em nome de inimigo (31.15) Mas o amor obstinado de Deus
Deus. A sentença de morte que o Senhor por seu povo iria triunfar sobre a tragédia! Deus
colocou sobre eles acabaria provando que havia escolhido Jeremias para proclamar pa­
eram falsos profetas. lavras de julgamento e bênção (1.10), mas até
então, o profeta havia falado principalmente
O Livro do Consolo (30.1-33.26) de julgamento.
Estudiosos da Bíblia referem-se a Jeremias Jeremias também relatou que Deus estava
30-33 como o “Livro do Consolo” ou o “Livro fazendo uma nova aliança com seu povo
da Consolação”.1 As profecias de Jeremias (31.31-34). Depois que Deus conduziu o seu
muitas vezes continham palavras fortes con­ povo para fora do Egito até o Sinai, ele confir­
tra o povo de Deus que vivia em pecado; pa­ mou a aliança com eles, prometendo abençoá-
recia que Deus havia desistido de Judá. Mas los e guiá-los enquanto vivessem em fiel obe­
o Livro do Consolo proclamava uma mensa­ diência a ele. Mas nos séculos seguintes, Is­
gem emocionante — Deus não havia aban­ rael quebrou a aliança muitas vezes apesar da
donado o seu povo. Um glorioso futuro viria fidelidade de Deus. Jeremias prometeu que
após o seu julgamento. essa nova aliança seria diferente.
396
Jeremias 21-52 e Lamentações

Um pequeno
campo próximo
a Jerusalém.
Durante o cerco
de Jerusalém, o
Senhor instruiu
Jeremias a
comprar um
campo que
Hananel, primo
do profeta,
estava
vendendo.

Moisés escreveu a antiga aliança em papi- A compra simbólica de terra de


ros e placas de pedra (Dt 4.13; 29.20). Quan­ Jeremias (32.1-44)
do o povo lia o que estava escrito ali, sabia o
Durante o cerco de Nabucodonosor em
que Deus esperava. Mas na nova aliança,
torno de Jerusalém, Jeremias recebeu um pe­
Deus colocaria a lei no coração do povo de
dido estranho. Hananel, um primo do profe­
uma forma que ele jamais havia feito antes.
ta, estava vendendo um campo e o Senhor
O Espírito de Deus iria guiar suas vidas de
instruiu Jeremias a comprar aquela terra.
dentro deles, de maneira nova e profunda.
Jeremias obedeceu, mas se perguntou o que
Jeremias não estava dizendo que, sob essa o Senhor tinha em mente! Durante quarenta
nova aliança, ensinamentos seriam desneces­ anos, Jeremias havia proclamado a queda de
sários (31.34), pois o povo de Deus ainda pre­ Jerusalém para os babilônios. Por que, então,
cisaria crescer espiritualmente. Mas cada um Deus estava ordenando que ele comprasse a
poderia conhecer o Senhor pessoalmente e terra de Hananel? Era um desperdício de di­
ter acesso direto a ele. Além disso, Deus per­ nheiro, pois logo a Babilônia seria dona de
doaria o pecado do povo — o pecado que tudo em Judá. Será que o Senhor havia mu­
formava uma barreira entre ele e o povo. O dado de idéia em relação à calamidade?
Senhor garantiu sua promessa fazendo refe­ O Senhor assegurou o seu porta-voz con­
rência à natureza (31.35-37). O sol, a lua e as fuso que tudo estava de acordo com o seu
estrelas iriam mudar o seu curso antes que ele plano. Deus, de fato, desafiou Jeremias a ou­
falhasse em sua promessa! vir sua própria oração (vs. 17,27). O povo ha­
O Novo Testamento declara que Cristo é via suscitado a ira de Deus e ele iria julgá-los
o mediador da nova aliança (Hb 8.7-13), uma por sua perversidade. Ainda assim, o Senhor
aliança que ele estabeleceu mediante seu pró­ queria que a compra da terra por Jeremias
prio sangue (Lc 22.20). Por intermédio da sua fosse um sinal de esperança. Um dia, a terra
morte na cruz, Cristo pagou pelos pecados de de Judá voltaria a ter valor. O povo de Deus
uma vez por todas (Hb 9.12) e seu sacrifício retornaria e tomaria posse dela.
traz o perdão de Deus a todos que colocam
nele a sua fé (Rm 3.21-24). O Espírito Santo As grandes obras futuras de Deus
ajuda os cristãos a viverem de acordo com a (33.1-26)
vontade de Deus e, por meio de Cristo, temos Deus havia acabado de dar a Jeremias uma
acesso direto a Deus, o Pai (Rm 5.1,2; 8.3,4). ordem que ele não tinha entendido (32.7).
Nos dias de hoje, muitas pessoas pensam que Então ele prometeu mostrar ao povo coisas
o Cristianismo é uma lista de regras ou um m aravilhosas que eles não entenderiam
conjunto de ensinamentos, mas o cerne da (33.2,3). O julgamento viria primeiro, é claro,
nossa fé é o relacionamento pessoal com Jesus mas vozes de alegria e celebração um dia ain­
Cristo (Jo 14.6). da iriam ecoar pela terra novamente. Jere­
397
Descobrindo os Profetas

mias reforçou a profecia repetindo as palavras A liderança recusa-se a respeitar a


que ele já havia dito anteriormente (33.15,16; palavra de Deus (36.1-32)
ver 23.5,6). Deus daria um rei ao seu povo —
Deus instruiu Jeremias para que preparas­
o Renovo da linhagem de Davi. Além disso, o
se um rolo contendo todas as palavras proféti­
Senhor prometeu abençoar o sacerdócio. Reis
cas que o profeta havia recebido. Jeremias
e sacerdotes corruptos tinham muita respon­
ditou as palavras para Baruque, o seu escriba,
sabilidade na depravação de Judá, mas um
que cuidadosamente as copiou.
dia, os dois ofícios serviriam ao fielmente ao
Senhor (33.17,18). O Novo Testamento de­ Baruque leu o rolo para muitos dos oficiais
clara que Jesus Cristo irá cumprir esses dois de Judá, que insistiram para que Jeoaquim
aspectos da profecia. Hoje, ele intercede pe­ ouvisse aquelas palavras. Mas o rei mostrou o
los crentes como nosso Sumo Sacerdote (Hb seu completo desprezo pelas palavras de Deus
7.24-28) e um dia ele irá se assentar no trono ao cortar o rolo em pedaços e lançá-los ao
de Davi (Lc 1.32,33) quando voltar como Rei fogo. Jeoaquim também ordenou a prisão de
dos reis (Ap 19.11-16). Jeremias e Baruque, mas os dois haviam se
escondido antes que os oficiais levassem o rolo
O fracasso das liderança de para o rei.
Jerusalém (34.1-39.18) O gesto desafiador de Jeoaquim não apa­
O povo de Deus sofreu com o mau exem­ gou a verdade das palavras de Deus. O rei
plo de seus líderes. Essa tendência continuou havia desonrado a Deus e também iria morrer
durante os últimos e desesperados anos de com desonra (ver também 22.18,19). Jeremias
Jerusalém, quando os governantes levaram a preparou um outro rolo como testemunho
nação à ruína. daquela geração para as gerações futuras.

A liderança não mantém sua palavra A liderança recusa-se a dar ouvidos


(34.1-22) ao profeta de Deus (37.1-38.28)
Quando o cerco de Nabucodonosor come­ Quando o exército do Egito entrou na ter­
çou, Zedequias se viu diante de circunstâncias ra para conter o avanço da Babilônia, os babi­
desesperadoras e tentou, sem muita sincerida­ lônios levantaram temporariamente o cerco a
de, ganhar o favor de Deus. O rei proclamou a Jerusalém. Zedequias mandou mensageiros
libertação de todos os escravos hebreus de acor­ até Jeremias, pedindo oração pela cidade, mas
do com a Lei Mosaica (Ex 21.2), mas o povo Jeremias assegurou o rei que nenhuma mise­
não demorou para reverter o decreto do rei e ricórdia estava por vir. O exército egípcio iria
tomar de volta todos os seus escravos. voltar para casa e Nabucodonosor retornaria
Jeremias proclamou o desprazer de Deus. a Jerusalém!
O Senhor iria “libertar” o seu povo para a es­ Quando Jeremias tentou ir até as terras de
pada, pestilência e fome. Se eles não vives­ Benjamim para resolver negócios, cie foi acu­
sem na aliança em fiel obediência, eles iriam sado de deserção e foi preso. Zedequias o con­
sofrer os castigos da aliança. vocou e pediu uma mensagem do Senhor.
Jeremias respondeu que o Senhor havia fala­
A liderança não aprendeu a do — Zedequias em breve enfrentaria o cati­
obedecer (35.1-19) veiro na Babilônia. O profeta também quei­
Durante os dias de Jeoaquim, Jeremias apre­ xou-se para o rei — por que o rei o havia colo­
sentou ao povo uma lição prática. Ele trouxe cado na prisão? Muitos falsos profetas haviam
os recabitas — um dos clãs de Judá — para a anunciado que a Babilônia nunca viria con­
área do templo e ordenou que bebessem vi­ tra Jerusalém. Agora só restava o único ver­
nho. Mas os recabitas recusaram, pois seu an­ dadeiro profeta. O resto havia se espalhado.
cestral Jonadabe havia instruído que eles se Os diálogos entre Jeremias e Zedequias
abstivessem de vinho e tivessem um estilo de mostram a falta de coragem do rei. Zedequias
vida nômade para sempre. parecia crer nas palavras do profeta, mas não
Jeremias suplicou ao povo de Judá que as seguia. Ele encontrou-se em segredo com
aprendesse com o exemplo dos recabitas. Es­ Jeremias e pediu seu conselho, mas Jeremias
ses homens obedeciam fielmente ao seu pai apenas expressou a sua frustração — de qual­
humano; por que o povo de Deus não podia quer forma, o rei não iria lhe dar ouvidos. O
obedecer o seu pai celeste? profeta insistiu que a única esperança para
398
Jeremias 21-52 e Lamentações

Parte de um
relevo assírio. As
forças assírias
avançam em
Laquis.

Zedequias era entregar-se, mas o rei temia Nabucodonosor permitiu que os pobres da
represálias de seus próprios cidadãos. Conse­ terra ficassem lá, tendo em vista que os pobres
qüentemente, Zedequias não fez nada e Je­ ofereciam pouca ameaça de revolta. Jeremias
remias continuou prisioneiro do rei até a que­ recebeu sua liberdade e escolheu ficar em
da de Jerusalém. Judá entre os pobres. Imaginem como o profe­
Quando compartilhamos nossa fé, também ta se sentiu quando viu suas palavras proféti­
vamos encontrar aqueles que, como Zede­ cas tornarem-se realidade. Ele havia adverti­
quias, estão dispostos a ouvir, mas hesitam em do o povo de Deus durante quarenta anos;
pôr as palavras em prática. Outros, como Jeoa­ agora era tarde demais.
quim, podem ser ostensivamente contrários a
nós. Em tais situações, não podemos mudar a Jerusalém depois da queda
verdade, mas apenas permanecer pacientes. (40.1-45.5)
Em vez de discutir e argumentar, devemos Problemas internos (40.1-41.18)
orar ao Senhor para que ele conduza essas
Nabucodonosor apontou Gedalias, filho de
pessoas ao arrependimento.
um oficial judeu (26.24; 40.5) para governar
Jerusalém paga um trágico preço Judá. Gedalias suplicou ao povo para que fi­
(39.1-18) casse na terra e servisse fielmente à Babilônia.
Oficiais de Judá advertiram Gedalias de
A terrível hora sobre a qual Jeremias havia
que inimigos estavam ameaçando sua vida,
profetizado tinha finalmente chegado. Os ba­
mas Gedalias não acreditou nos avisos. Não
bilônios conseguiram passar pelos muros de
demorou para que ele pagasse com sua vida.
Jerusalém e capturaram a cidade. Zedequias Ismael, um filho da casa real, o matou e ele e
e seus oficiais tentaram fugir, mas as forças da seus homens fugiram para Amom, levando
Babilônia os capturaram e levaram o rei de com eles muitos cativos. As forças de Judá
Judá para encarar o seu conquistador. resgataram os cativos, mas Ismael escapou.
Nabucodonosor não teve piedade e pren­
deu o rei, conduzindo-o em correntes até a Problemas no Egito (42.1-43.13)
Babilônia. A última coisa que Zedequias viu Ao ver que estava diante de problemas sérios
foi a morte de seus filhos. Nebuzaradã, o capi­ com a Babilônia, o povo buscou o conselho de
tão da guarda, supervisionou a destruição de Jeremias. Eles chegaram a prometer que fari­
Israel. Tudo aquilo em que o povo de Deus am tudo o que o Senhor ordenasse. Mas quan­
havia confiado transformava-se em ruínas do Jeremias lhes disse que Deus queria que
chamuscadas. eles ficassem na terra, eles rejeitaram o seu
399
Descobrindo os Profetas

conselho! Apesar dos avisos de Jeremias de acabaria com as esperanças daqueles que con­
que Deus iria julgá-los por sua desobediência, fiavam no Faraó e nos deuses do Egito. As
um grupo grande fugiu para o Egito, levando Crônicas da Babilônia, um antigo registro his­
Jeremias e Baruque com eles. Mesmo no Egi­ tórico, relatam que Nabucodonosor invadiu
to, Jeremias continuou a profetizar. Deus usa­ o Egito em 601 a.C.2 Ambos os lados sofreram
ria a Babilônia para julgar o Egito também e, muitas perdas.
quando ele o fizesse, os judeus que estives­
sem vivendo no Egito iriam passar pelos horro­ Filístia (47.1-7)
res da conquista novamente. Os filisteus também sentiram a ira de Deus.
As palavras de Jeremias sobre Gaza podem
0 povo não aprende com a História referir-se à investida de Neco sobre Judá em
(44.1-45.5) 609 a.C. quando ele matou Josias (2Rs
Jeremias desafiou o povo a aprender com o 23.29,30), à sua investida de 601 a.C. a cami­
passado. Durante gerações, Deus havia su­ nho de se encontrar com Nabucodonosor ou,
portado sua idolatria e rebelião e, finalmente, talvez, a um ataque posterior comandado por
tinha os enviado para o exílio. Jeremias adver­ Hofra (588-568 a.C.) aproximadamente na
tiu seus ouvintes de que a idolatria do Egito mesma época da queda de Jerusalém (Jr 37.5) .3
traria as mesmas conseqüências amargas. Talvez Deus tenha usado tanto forças da Ba­
Nabucodonosor iria visitar o Egito assim como bilônia quanto do Egito para julgar a Filístia.
havia feito com Judá!
Moabe (48.1-47)
Mas os ouvintes de Jeremias interpretaram
as evidências históricas de maneira diferente. Os moabitas eram descendentes de Ló,
Eles acreditavam que o fato de terem dado sobrinho de Abraão (Gn 19.36,37) e viviam a
ouvidos a Jeremias é que havia lhes causado leste do Mar Morto. O orgulho era o cerne dos
problemas e prometeram continuar fazendo problemas de Moabe, talvez porque o país ti­
sacrifícios para os seus ídolos do Egito. Mesmo vesse encarado pouca hostilidade por parte
nos dias de hoje, muitas pessoas negam a ver­ das grandes potências (48.7,11,29,30). Nabu­
dade de Deus e continuam em sua rebelião. codonosor conquistou Moabe e sua vizinha
Amom algum tempo depois da queda de Je­
Profecias sobre as nações (46,1- rusalém. Josefo, o historiador judeu, sugere o
51.64) ano de 582 a.C.4
Como muitos outros profetas, Jeremias1fa­ A lista detalhada que Jeremias faz das ci­
lou de profecias sobre outras nações. O poder dades de Moabe dá a entender que o julga­
de Deus não se limitava às fronteiras de Judá. mento seria extenso. Até mesmo Quemos,
Ele controlava todas as nações e também iria principal deus dos moabitas, foi para o exílio
julgá-las pelo seu pecado. com aqueles que o adoravam. Ainda assim, o
Senhor ofereceu alguma esperança para a
Egito (46.1-28) restauração de Moabe (48.47), talvez durante
Em 605 a.C., quando o exército babilônio a era messiânica.
avançava para o oeste, o Egito foi para o nor­
te, para dentro da Síria, em tentativa de parar Amom (49.1-6)
o invasor. Em Carquemis, as forças de Nabu­ Os amonitas também eram descendentes
codonosor alcançaram uma vitória decisiva e de Ló (Gn 19.36,38) e viviam a leste do Jor­
estabeleceram-se como potência dominante dão. Lutavam com freqüência contra o povo
do mundo antigo. Jeremias usou a ocasião para de Deus e tratavam-no com crueldade (ISm
anunciar o julgamento do Egito. O Egito so­ 11.1,2; 2Sm 10.1-4; Am 1.13). Deus anun­
breviveria, mas somente depois de sentir a ira ciou que também arrasaria com seu orgulho,
de Deus. apesar de Jeremias ter indicado alguma espe­
Deus prometeu usar Nabucodonosor para rança de restauração.
atacar o Egito. Durante séculos, a localização
do Egito havia lhe oferecido uma certa segu­ Edom (49.7-22)
rança natural. Os exércitos da Mesopotâmia Os edomitas eram descendentes de Esaú, o
tinham que atravessar longas distâncias e lu­ irmão de Jacó (Gn 36.1) e tornaram-se gran­
tar muitas batalhas antes de chegar lá. Mas des inimigos (Am 1.11,12; Ob 10-14). Usando
dessa vez, o Egito não escaparia. O Senhor palavras como as do profeta Obadias, (ver Jr
400
Jeremias 21-52-e Lamentações

A esfinge, no
Cairo. Como
outros profetas.
Jeremias
profetizou
sobre outras
nações,
incluindo o
: : :
Egito.

4 9 .9 ,14-16eOb 1.1-5),5Jeremias denunciouo Babilônia (50.1-51.64)


orgulho de Edom e prometeu completa des­ Jeremias deixou por último o julgamento
truição, comparável à de Sodoma e Gomorra. da Babilônia. Uma nação do norte iria arrui­
Edom provavelmente caiu para os babilô­ nar por completo esse reino rebelde. Bel (ou
nios pouco tempo depois de Judá (Jr 25.9,21; Marduque), o principal deus da Babilônia, iria
Ml 1.3). O território oeste de Edom tornou-se mostrar-se totalmente sem poder. Deus que­
província da Eduméia durante o tempo dos ria que todo o mundo visse quem realmente
romanos e os edomitas logo perderam sua iden­ controlava as nações!
tidade nacional. Deus advertiu o seu povo para que fugisse
Damasco (49.23-27) da Babilônia. Dias terríveis estavam por vir e a
cidade seria saqueada. A Babilônia regozi-
Damasco e as cidades-estado araméias ao
jou-se pois havia conquistado o mundo, mas o
seu redor haviam sido conquistadas pelos
Senhor iria mostrar quão efêmera é a nature­
assírios no final do século 8Q. Nabucodonosor
za do poder da humanidade. Ele chamou as
também os subjugou por volta de 605 a.C.6
nações para atacarem a Babilônia e arrecadar
Dias de alegria e celebração tornaram-se dias
sua parte dos espólios.
de pânico, morte c destruição.
Jeremias descreveu o Senhor como sendo
Quedar e Hazor (49.28-33) o “Santo de Israel” (50.29) e “Senhor dos Exér­
Jeremias também mencionou essas duas tri­ citos” (50.34), ressaltando o supremo poder
bos árabes do leste do Jordão.7 Talvez seus ata­ de Deus. O Senhor desprezava a arrogância
ques ao território de Judá tornassem necessá­ humana e humilhava aqueles que se acha­
ria uma profecia especial para elas. Deus pro­ vam sábios e poderosos. Líderes políticos, guer­
meteu destrui-las e então animais selvagens reiros e sacerdotes iriam desaparecer da face
iriam tomar conta de suas terras. da terra. Jeremias comparou a destruição da
Babilônia à destruição de Sodoma e Gomorra
Elão (49.34-39) (50.40). Apenas animais selvagens iriam vi­
Elão ficava a leste da Babilônia e raramen­ ver perto de suas ruínas.
te aparecia nos acontecimentos bíblicos, ape­ A Babilônia se achava grandiosa, mas es­
sar de ter sido, por vezes, uma força significa­ tava apenas cumprindo os propósitos de Deus.
tiva na Mesopotâmia. Ainda assim, Elão não O Senhor havia usado a Babilônia para jul­
estava fora do controle de Deus. A ira feroz gar o seu povo e outras nações, mas agora,
do Senhor iria devorar a nação, apesar de ele era a hora da Babilônia enfrentar o julga­
também ter prometido restaurá-la um dia. mento de Deus (ver 6.22,23 e 50.41,42). Eles

401
Descobrindo os Profetas

Jeremias 39, mas dá um pouco mais de deta­


Lamentos do antigo lhes sobre o resultado da destruição de Jeru­
salém. Apesar disso, o livro se encerra em um
Oriente Próximo tom de esperança. Quando Evil-Merodaque,
o sucessor de Nabucodonosor subiu ao poder,
Outros povos antigos também compuseram lamen­ ele libertou o rei Jeoaquim da prisão (2Rs 25.27-
tos para prantear desastres. Um exemplo é a 30), e Jeoaquim passou a sentar-se à mesa fre­
Lamentação sobre a Destruição de Ur, escrita durante o qüentemente com o rei. Os registros em escri­
começo do segundo milênio. ta cuneiforme da Babilônia confirmam a ra­
ção que havia sido estabelecida para Jeoa­
Para Anu, a água de meu olho eu verti; para Enlil, eu quim.8 Algum dia, Deus vai trazer todo o seu
pessoalmente dirigi minhas súplicas. "Não permita que
povo de volta para casa.
minha cidade seja destruída", eu verdadeiramente dis­
O livro de Jeremias é um grande monu­
se a ele; "Não permita que Ur seja destruída", verdadei­
mento à obra de Deus por meio da vida fiel de
ramente disse a ele... Mas verdadeiramente, a destrui­
um homem. O profeta Jeremias enfrentou
ção de Ur eles dirigiram; que seu povo fosse morto e
seu destino verdadeiramente decretado... com bravura circunstâncias terríveis e
Enlil trouxe Gibi! para ajudá-lo. Uma grande tempesta­ horrorizantes, apesar de ter visto poucos resul­
de dos céus ele chamou e o povo gemeu. A grande tados em relação a qualquer coisa que ele
tempestade rosna do alto e o povo geme. A grande tivesse dito ou feito. Ele sabia que, de alguma
tempestade que aniquilará a terra ruge dos lugares forma, estava sendo usado por Deus e sua vida
baixos e o povo geme. O vento mau, como uma torren­ demonstrou a fé que Deus quer que seus fi­
te que flui, não pode ser impedido. (ANET, 458) lhos tenham.
O Senhor também nos chama a nos sub­
De um modo geral, os lamentos do mundo antigo metermos aos seus propósitos, mesmo quando
são paralelos a Lamentações no sentido de que o povo não os compreendemos completamente ou
pranteia a destruição de suas cidades e dá crédito a um | quando eles podem trazer grande sofrimento.
deus ou grupo de deuses por essa destruição. Entre­ Em tais ocasiões, podemos nos apegar às suas
tanto, o tom moral de Lamentações torna esse livro sin­ promessas — Deus tem um grande futuro re­
gular. O escritor descreve Deus como sendo aquele que
servado para o seu povo (Jr 29.11).
trouxe o julgamento por causa da violação da aliança
por parte do povo, e ele chama a nação ao arrependi-
mento. Os outros lamentos antigos nunca apresenta­
mmmmÊmmmmmmmmmmsBssmmsmsmmmsBmmmmsmm
vam esse tipo de tema. Lamentações: um
pranto de agonia
beberiam do cálice da ira de Deus e o Se­ O livro de Lamentações não é fácil de ser
nhor tinha um grande cálice para eles. Jere­ lido. Nele ouvimos o trágico pranto de um
mias mencionou os medos (51.11) que, jun­ povo passando pelos horrores da guerra, hu­
tamente aos persas, em breve trariam o fim milhação e exílio. Em nível espiritual, o au­
do domínio da Babilônia. tor considera o relacionamento de Deus com
Jeremias comissionou Seraías, um oficial o seu povo exilado. Ele chega a se perguntar
judeu, para levar essas palavras proféticas até em voz alta se Deus finalmente abandonou
a Babilônia e lê-las quando chegasse lá. Ao seu povo.
jogar o rolo no Eufrates, estava retratado o
destino final da Babilônia — ela iria afundar Esboço
e nunca mais emergir. Em 539 a.C. Deus usou
Ciro, da Pérsia, para dar fim à dominação L O lamento de Jerusalém (1.1-22)
mundial da Babilônia. Nenhuma nação po­
deria alterar os propósitos finais de Deus. II. O Deus irado de Jerusalém
(2 . 1- 22)
A queda de Jerusalém é revista
(52.1-34) III. O lamento de Judá (3.1-66)
Jeremias encerrou o seu livro com uma re­ IV. A completa ruína de Judá (4.1 '22)
capitulação dos horrores da queda de Jerusa­
lém. O capítulo é um paralelo bem próximo a V. A súplica de Judá (5.1-22)
4 02
Jeremias 21-52 e Lamentações

Sumáro©

1. Jeremias desafiou os governantes e 6. A compra de uma propriedade por


falsos profetas ao repreender os líde­ Jeremias indicava a futura restauração
res e seus governos e os profetas e da terra.
seus ouvintes, descrevendo a ira de
7. Um dia, Jesus irá cumprir a promessa
Deus, confrontando o povo com seu
de Jeremias ao governar como um
comportamento, usando um jugo e
bom rei e um sacerdote fiei.
escrevendo para os judeus exilados na
Babilônia. 8. Os judeus no Egito culparam Jeremias
pelo cativeiro em vez de assumirem que
2. Deus prometeu poupar Jerusalém se
a situação havia sido causada pelo seu
o rei e os seus líderes verdadeiramen­
pecado e contínua adoração a ídolos.
te se arrependessem.
9. Entre as nações contra as quais Jere­
3. O jugo que Deus instruiu Jeremias a
mias profetizou estavam: Egito,
usar simbolizava a sujeição de Judá a
Filístia, Moabe, Amom, Edom, Damas­
Nabucodonosor.
co, Quedar, Hazor, Elão e Babilônia.
4. Apesar do pecado do povo, Deus não
10. O autor do livro de Lamentações usou
havia se esquecido deles.
acrósticos como recurso literário.
5. Deus prometeu que iria fazer uma
1 1 . 0 autor de Lamentações encontra-se
nova aliança com o seu povo.
profundamente entristecido por causa
da completa devastação de Jerusalém.

Pano de fundo de Lam entações com beth, a segunda letra e assim por diante
acrosticos
Estudiosos diferem em suas opiniões sobre ao longo de todo o capítulo. Os capítulos 1, 2
o autor de Lamentações.9 O título “Lamen­ e 4 seguem esse padrão. O capítulo 3 tem ses­
tações de Jeremias” aparece em muitas Bí­ senta e seis versos — vinte e dois grupos de
blias, refletindo as antigas tradições judaicas três. Nesse capítulos, cada letra dá início a
e cristãs. Além disso, sabemos que Jeremias três versos. Apesar de ter vinte e dois versícu­
escreveu outros lamentos (2Cr 35.25) e que los, o capítulo 5 não é um acróstico.
Quem quer que tenha escrito Lamenta­
ele testemunhou a queda de Jerusalém. Os
ções, provavelmente escreveu a obra pouco
livros de Lamentações e Jeremias também
contêm muitos temas semelhantes e o con­ depois de 587 a.C. O livro reflete a tristeza de
junto desses fatos aponta para Jeremias como alguém que ainda estava angustiado com as
cenas nítidas da queda de Jerusalém.
o autor.
Alguns estudiosos, porém, sugerem que A m ensagem de
Jeremias não escreveu o livro. Eles acredi­ Lam entações
tam que os estilos literários de Lamentações
e Jeremias são diferentes demais. Além dis­ O lamento de Jerusalém (1.1-22)
so, o livro não especifica que Jeremias é seu Três contrastes descrevem a tristeza de Je ­
autor. rusalém. Primeiro, a cidade que um dia este­
O livro de Lamentações contém uma série ve cheia de pessoas agora está deserta. Se­
de acrósticos ou poemas alfabéticos. O alfa­ gundo, a comunidade que antes havia goza­
beto hebraico tem vinte e duas letras, e cada do sua grandeza agora sentia a dor de uma
letra começa um novo verso. Lamentações viúva. Terceiro, a princesa das cidades havia
1.1 começa com aleph, a primeira letra do al­ tornado-se uma escrava. Jerusalém chorava
fabeto hebraico. Lamentações 1.2 começa amargamente, mas ninguém a consolava.
403
Descobrindo os Profetas

mmmMmmmmmmmmmmmmmMmmmmMmmÊmmÊMwmmmi mmm mm

Questões para estudo

1. Descreva o relacionamento do rei Ze­ De que forma a profecia de Jeremias


dequias com Jeremias. Você acha que sobre a nova aliança cumpriu-se em
Zedequias acreditava em Jeremias? Jesus Cristo?
Justifique.
5. Na sua opinião, por que o povo recu­
2. Identifique os cinco últimos reis de sou-se a dar ouvidos a Jeremias mes­
Judá e faça uma breve avaliação do mo depois da queda?
reinado de cada um.
6. Quando foi escrito o livro de Lamen­
3. Por que os falsos profetas eram um pro­ tações? Tendo em vista que Deus ha­
blema tão sério para o povo de Deus? via julgado o seu povo tão severa­
mente, o povo ainda via qualquer es­
4. Descreva o papel do Livro de Consolo
perança no futuro?
(capítulos 30-33) no livro de Jeremias.

Deus finalmente tratou da impureza da fícios. O Senhor trouxe julgamento sobre os


cidade e ela clamava para que outros vissem sacerdotes e profetas que levaram o povo por
sua dor. Deus havia colocado uma armadilha caminhos errados. Os festivais religiosos ces­
para o seu povo e julgado os seus líderes per- saram e o povo de toda parte pranteou.
versos. Os vizinhos de Sião não lhe ofereciam O autor chorou ao ver o sofrimento de
consolo; em vez disso, alegravam-se com sua Jerusalém. Crianças morriam de fome nos
queda! Mas apesar de sua provação, Jerusa­ braços de suas mães enquanto inimigos es­
lém não culpava Deus. Ao contrário, ela pe­ carneciam da queda da cidade. Os mortos
dia que Deus visse sua tristeza e punisse aque­ tornavam-se comida para os vivos por causa
les que se escarneciam dela. da falta de alimentos! A queda de Jerusa­
lém significava que Deus havia cumprido o
O Deus irado de Jerusalém (2.1-22) que prometera, pois o povo não tinha dado
Deus não teve misericórdia de seu povo, atenção às suas contínuas advertências. O
destruindo tudo aquilo em que Judá havia profeta desafiou o povo a orar pedindo a com­
confiado — fortes e palácios, templos e sacri­ paixão de Deus.

Leituras complementares

CvSís 'SMãMMíBMM

Brueggmann, Waiter. To Build, To Plant: A Commentary Huey, F. B., Jr. Jeremiah, Lamentations. New American
on Jeremiah 26-52. International Theological Com­ Commentary 16. Nashville: Broadman, 1993. Um
mentary. Grand Rapids/Edimburgo: Eerdmans/ bom comentário rico em exegese e exposição bíblica.
Handsel, 1991. Uma exposição e aplicação teologica­ Kaiser, Walter C., Jr. A Biblical Approach to Personal
mente rica. Suffering. Chicago: Moody, 1982. Uma exposição
Harrison, R. K. Jeremiah and Lamentations: An Intro- curta com muitos pensamentos devocionais.
duction and Commentary. Tyndale Old Testament Thompson, J. A. The Book of Jeremiah. New Interna­
Commentary. Downers Grove: InterVarsity, 1973. tional Commentary on the Old Testament. Grand
Um comentário em nível médio universitário. Rapids: Eerdmans, 1980. Para o estudante mais
interessado.

404
Jeremias 21-52 e Lamentações

0 lamento de Judá (3.1-66) mesmo os ricos perderam tudo em uma cida­


O autor compartilhou da agonia do povo. de que pensou que duraria para sempre.
Deus nao havia aberto um caminho para o Jerusalém havia tolerado a injustiça social
alívio e não ouvia as preces de seu povo. O por tempo demais. A té mesmo os sacerdotes e
povo havia tornado-se alvo de escárnio do profetas, buscando seu próprio benefício, mal­
mundo enquanto o feroz julgamento de Deus tratavam o justo. O povo esperava que seu rei
caía sobre eles. fosse salvá-lo, mas ele não podia. Judá conso-
A o mesmo tempo, a única esperança de lava-se em saber que um dia Deus iria julgar
salvação e restauração do povo estava no Deus os seus inimigos também.
que os havia julgado tão ferozmente. Sua dis-
A súplica de Judá (5.1-22)
ciplina os fortaleceria e não duraria para sem­
pre. Sua fidelidade era grande. Todos preci­ O povo implorou a Deus para que tivesse
savam confessar seus pecados e voltar para o compaixão dele. Estrangeiros controlavam sua
Senhor. O autor também pediu ao Senhor que terra e eles tinham que trabalhar duro só para
lidasse com os inimigos de Judá. Eles também conseguir o mínimo para sobreviver. Muitos
receberam o castigo por seus pecados. haviam morrido na batalha ou perecido de
fome. Os sobreviventes sofriam com o abuso
A completa ruína de Judá físico e emocional. Monte Sião, o lugar escolhi­
(4.1-22) do por Deus para o templo, estava em ruínas.
O cerco de Jerusalém trouxe muitos dos O povo pediu a Deus que os restaurasse como
horrores da guerra. Por toda parte, as pessoas ele havia feito no passado, mas por trás de seus
morriam lentamente de fome e depois trans- pedidos pairava uma dúvida amedrontadora.
formavam-se em comida para os outros! Até Teria Deus os abandonado para sempre?

405
Ezequiel 1-24
Dias difíceis estão por vir!
íiSSl^g

Esboço
• Esboço
• Pano de fundo de Ezequiel
• A mensagem de Ezequiel
Profecias e acontecimentos relacionados ao
chamado de Ezequiel (1.1-5.17)
Objetivos
0 dia do Senhor (6.1-7.27)
A glória de Deus se vai (8.1-11.25) Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
Julgamento contra Jerusalém (12.1-24.27)
• Delinear o conteúdo básico
de Ezequiel 1-24.
• Aplicar os acontecimentos da vocação de
Ezequiel a sua vida.
• Descrever os quatro atos simbólicos de
Ezequiel que mostraram o quanto Deus
leva o pecado a sério.
• Relacionar os atos pecaminosos que
Deus mostrou a Ezequiel.
• Descrever os acontecimentos que
precederam a queda de Jerusalém.

407
Descobrindo os Profetas

Um touro alado O livro de Jeremias retrata o incrível desâ­


com cabeça nimo que Jeremias enfrentou com freqüên­
humana na
cia ao servir a Deus. Ele proclamou a mensa­
entrada do
palácio deCalá,
gem de Deus para Judá durante quarenta
em Nínive. anos, mas obteve pouco ou nenhum resulta­
do. Ainda assim, prosseguiu diligentemente
para cumprir a tarefa que Deus havia lhe dado.
O profeta Ezequiel também passou por dias
difíceis e, como Jeremias, ele sabia que o pior
ainda estava por vir. Ao falar para os judeus que
já se encontrava no exílio na Babilônia, Eze­
quiel os advertiu do julgamento iminente de
Deus e pediu que eles se arrependessem. Mas
tragicamente, o povo não percebeu a profundi­
dade da sua própria depravação. Logo, os seus
companheiros judeus que ainda moravam em
Jerusalém e Judá iriam juntar-se a eles no exílio.

WÊÊmÊÊÊÊÊÊÊÊKKÊÊÊÊKÊKKmÊÊÊÊÊÊÊKÊÊÊmmm h b m h h m í

Esboço
L Profecias e acontecimentos
relacionados ao chamado de
Ezequiel (1.1-5.17)
A. Contexto (1.1-3)
B. A glória de Deus aparece (1.4-28)
C. A vocação de Ezequiel (2.1-3.27)
D. Q uatro atos simbólicos (4.1—5.17)

II. O Dia do Senhor (6.1-7.27)


A. Profecia para as montanhas de E. A retidão é inadequada para
Israel(6.1-14) salvar os perversos (14.12-23)
B. O fim (7.1-27) F. Três analogias (15.1-17.24)
G. Declaração da responsabilidade
III. A glória de Deus se vai (8.1-11.25) individual (18.1-32)
A. Contexto (8.1-6) H. Lamento pelos líderes (19.1-14)
B. A idolatria liderada pelos anciãos I. Lições da História (20.1-44)
(8.7-13) J. Julgamento contra Judá
C. Adoração a Tamuz (8.14,15) (20.45-21.32)
D. Adoração ao sol (8.16-18) K. Três profecias (22.1-31)
E. Convocação dos executores L. Oolá e Oolibá (23.1-49)
(9.1-11) M. A panela enferrujada (24.1-14)
F. A glória prepara-se para partir N. Morre a esposa de Ezequiel
( 10 . 1- 22 ) (24.15-27)
G. Repreensão aos anciãos (11.1-21)
H. A glória se vai (11.22-25) ■ HMHHH ftH M M M M I NMHMi M M

IV. Julgamento contra Jerusalém


Pano de fundo de
(12.1-24.27) Ezequiel
A. Ezequiel prepara-se para o exílio
( 12 . 1- 20 ) O nome de Ezequiel significa “Deus tem
B. Revelação cumprida (12.21-28) fortalecido”. Sabemos pouco sobre ele além
C. Falsos profetas são denunciados do livro que leva o seu nome. Sabemos que
(13.1-23) ele foi profeta na Babilônia (Ez 1.3; 2.5; 33.33)
D. A idolatria é denunciada (14.1-11) e poderia ter se tornado sacerdote no templo

408
Ezequiel 1-24

se não tivesse sido levado ao exílio pelos babi­ se como as criaturas. Muitos comentaristas já
lônios. Ele foi para o cativeiro em 597 a.C. tentaram explicar o que Ezequiel viu. N ão
como parte do grupo deportado com Jeoaquim. sabemos exatamente o que as rodas represen­
(Essa foi a segunda deportação de judeus para tavam, mas uma coisa é certa — elas real­
a Babilônia. A primeira ocorreu em 605 a.C.; mente impressionaram Ezequiel!
ver Dn 1.1.) Ele era casado e sua esposa fazia Enquanto Ezequiel observa as criaturas e ro­
parte de um sinal para o povo (Ez 24.15-27). das movendo-se, ele ouviu uma voz. Ao som da
Ele ministrava principalmente aos judeus na voz, as criaturas baixaram suas asas, como que
Babilônia, mas também se correspondia com em um gesto de submissão. Então Ezequiel viu
aqueles em Jerusalém. um trono e nele um ser radiante. O profeta caiu
N o tempo da deportação de Ezequiel, a com o rosto em terra quando percebeu que es­
Babilônia estava fortalecida sob o governo de tava na presença da glória de Deus.
Nabucodonosor. Por demorar a acreditar nas
profecias sobre o julgamento, Jerusalém só teve A vocação de Ezequiel (2 .1 -3 .2 7 )
mais dez anos antes da invasão final de Nabu­ Deus chamou Ezequiel para o seu ministé­
codonosor que levaria à destruição da cidade. rio profético (2.1-10). Ele prometeu mandar
Ezequiel advertiu os judeus de Jerusalém que, Ezequiel a uma casa obstinada e rebelde. Ali­
se eles não se arrependessem, logo estariam jun­ ás, os termos “obstinado e rebelde” aparecem
to a seus irmãos e irmãs na Babilônia. várias vezes nesses versículos. Deus disse ao
Muitos intérpretes discutem a unidade do jovem profeta que o ministério seria difícil e
livro de Ezequiel. O fluxo contínuo do livro, seu que o povo não iria querer ouvi-lo. Quando
estilo completamente autobiográfico e outros fa­ servimos ao Senhor, também podemos nos ver
tores sugerem que o texto de Ezequiel veio todo diante de grandes desafios e pessoas que não
de um só autor.1As profecias do livro vão até 571 querem ouvir. Nossa tarefa, como a de Eze­
a.C. (29.17). Supondo que os escritos tenham quiel, é de nos mantermos fiéis e deixar que
vindo de Ezequiel, podemos presumir que ele Deus cuide dos resultados.
completou o livro por volta de 550 a.C. N a última parte da vocação inicial do pro­
feta — provavelmente a parte em que Eze­
quiel teve a visão — Deus ordenou que ele
Mensagem de Ezequiel comesse um rolo (3.1-15). O rolo continha
uma lista dos pecados do povo — eram tantos
P ro fecias e aco n tecim e n to s que Deus precisou usar os dois lados para
relacio n a d o s ao ch am ad o de relacioná-los. Ezequiel provavelmente pensou
Ezequiel (1.1-5.17) que o rolo teria um sabor amargo, mas ao
comê-lo descobriu que era doce. Talvez essa
Contexto (1.1-3) experiência tivesse ensinado a Ezequiel que
Ezequiel teve sua primeira visão em 592 as palavras de Deus seriam doces para ele,
a.C. à beira do rio Quebar, um grande canal quer trouxessem bênçãos ou julgamento.
de irrigação que corria a sudoeste da Babilô­ Ezequiel foi então visitar os exilados em TEL-
nia.2 A maioria dos intérpretes considera que ABIBE, um assentam ento ao longo do rio
a expressão “no trigésimo ano” se refere à vida Quebar, próximo à Babilônia. O nome “Tel-
de Ezequiel. De acordo com a Lei de Moisés, Abibe” significa “monte de ruínas”, aparente­
Ezequiel normalmente teria entrado para o mente referindo-se à cidade abandonada onde
sacerdócio com essa idade. os Babilônios assentaram a comunidade exila­
da de Judá.3 A visita de Ezequiel aos exilados
A glória de Deus aparece (1.4-28) durou sete dias, os quais, ao que parece, ele
Ezequiel viu quatro seres cheios de esplen­ passou apenas olhando e observando-os. Sua
dor. O profeta os descreveu como se tivessem presença causou consternação no meio do povo
uma certa semelhança com criaturas que ele — o que exatamente ele estava fazendo lá?
conhecia, mas eles também possuíam carac­ Deus chamou Ezequiel para servir como
terísticas diferentes de qualquer coisa que ele seu mensageiro (3.16-21). Ele colocou sobre o
já tivesse visto. Essas criaturas moviam-se sob profeta a responsabilidade de relatar com pre­
a orientação do Espírito Santo. cisão as suas mensagens para o povo. Ele não o
Ezequiel também viu quatro rodas no céu. responsabilizou pela reação do povo. Deus
A s rodas também eram brilhantes e moviam- também nos dá a responsabilidade de usar fi­
409
Descobrindo os Profetas

elmente as oportunidades de ministério que Ainda assim, a questão de Ezequiel perma­


D ia
ele nos oferece. A maneira como as pessoas necia a mesma. O povo teria pequenas rações
do Senhor
vão responder a isso não está em nossas mãos. nos seus dias de cativeiro. Os babilônios iriam
Deus disse a Ezequiel que ele enfrentaria cercar a cidade e cortar o suprimento de comida.
problemas (3.22-27). O povo o amarraria com Em quarto lugar, Deus ordenou que o pro­
cordas para impedi-lo de proclamar o julga­ feta dividisse o cabelo em três partes (5.1-17).
mento de Deus. O Senhor também prometeu Ele deveria queimar um terço com fogo, cortar
restringir ou silenciar Ezequiel em determina­ um terço em pequenos pedaços com uma es­
das ocasiões, para que o povo não ouvisse sua pada e jogar a terceira porção ao vento para
mensagem. que fosse levada embora. Ele também deveria
pegar alguns fios e costurá-los às suas vestes.
Quatro atos simbólicos (4.1-5.17) A divisão do cabelo representava os dife­
Ezequiel realizou quatro atos simbólicos para rentes destinos que o povo teria. Alguns iriam
mostrar ao povo como Deus levava a sério o seu morrer no fogo, quando os babilônios incen­
pecado. O povo estava caminhando cada vez diassem a cidade. Outros iriam morrer pela
mais rapidamente para o dia do julgamento. espada, enquanto ainda outros seriam exila­
Em primeiro lugar, Deus mandou Ezequiel dos em terras distantes. Mas Deus protegeria
pegar um tijolo e nele escrever “Jerusalém” e alguns remanescentes e os manteria perto de
então fazer um cerco ao seu redor (4-1-3). si. Os seus propósitos para o povo continua­
Quando o povo perguntou o que ele estava riam por esse remanescente.
fazendo, ele respondeu: “Estou pondo um cer­ Esses atos, naturalmente, parecem estranhos
co em volta de Jerusalém”. Aquilo que pare­ para nós, e aqueles que os presenciáram no tem­
cia uma brincadeira de criança, na verdade, po de Ezequiel devem ter pensado a mesma
continha um significado muito mais profun­ coisa! Mas aqueles tempos desesperados exigi­
do. Por meio dos exércitos de Nabucodono­ am medidas desesperadas. Deus usou os atos
sor, Deus estava prestes a colocar um cerco ao proféticos de Ezequiel para avisar o povo de quão
redor de Jerusalém uma última e terrível vez. pouco tempo restava para eles se arrependerem.
Em segundo lugar, Deus ordenou a Ezequiel
que se deitasse do seu lado esquerdo por trezen­ O Dia do Senhor (6.1-7.27)
tos e noventa dias para carregar a iniqüidade de O conceito de Dia do Senhor ocorre com
Israel (4-4-8). Ele também deveria deitar-se do freqüência entre os profetas do Antigo Testamen­
seu lado direito durante quarenta dias para car­ to. Ele inclui três elementos: o julgamento de Deus
regar a iniqüidade de Judá. Os estudiosos dis­ contra o pecado, a limpeza e purificação do povo
cordam entre si sobre o significado dessas instru­ de Deus e a salvação do povo de Deus.
ções de Deus. Alguns acreditam que Deus es­
Profecia para as montanhas de Israel
tava descrevendo a duração da iniqüidade de
Israel e Judá. Outros argumentam que Deus (6.1-14)
estava instruindo Ezequiel sobre o futuro tempo Ezequiel profetizou para as montanhas de
de julgamento do povo.4 O ato simbólico de Eze­ Israel. As montanhas eram testemunhas silenci­
quiel ilustrou a extensão do pecado no qual o osas de tudo o que havia acontecido em Israel
povo de Deus havia se afundado. Apenas um desde que o povo havia entrado naquela região
profundo arrependimento poderia salvá-los de e conquistado a terra prometida. Deus prome­
se afogarem em seu próprio mal. teu que as montanhas veriam seus altares idóla­
Em terceiro lugar, Deus disse a Ezequiel que tras e lugares altos esmagados.
cozinhasse seu pão, dividindo-o em pequenas Em segundo lugar, Deus anunciou que as
porções e usasse esterco humano como com­ cidades seriam destruídas por completo. Fome,
bustível (4-9-17). Ezequiel respondeu horrori­ espada e cerco, tudo isso viria contra a cidade
zado — ele nunca havia comido nada impuro! para destrui-la. Ezequiel prometeu que, quan­
Deus disse a Ezequiel que poderia usar esterco do isso acontecesse, “então eles saberiam”. Essa
de vaca em vez de esterco humano como com­ frase — “eles saberão” — repete-se várias vezes
bustível. Isto pode parecer um consolo muito em Ezequiel e apresenta um tom de ironia. Deus
pequeno, mas muitas pessoas no mundo usam avisou o seu povo do terrível julgamento e disse
esterco de gado como combustível. Uma vez que, quando acontecesse, então eles saberiam.
que o esterco está seco, ele não tem odor e Quando a calamidade finalmente chegasse
oferece uma queima limpa. e o povo percebesse que Deus estava falando
410
Ezequiel 1-24

sério, seria tarde demais. Ainda assim, as ad- prantear sua morte.5 Tamuz voltava à vida na
Tamuz
vertências de Ezequiel davam ao povo a opor- primavera, quando as plantações se rejuvenes­
tunidade de se arrepender. ciam e os botões de flores apareciam nas árvo­
Ishtar res. Mais uma vez, Deus advertiu Ezequiel que
O fim (7.1-27)
ainda haveria pecados maiores pela frente.
Ezequiel descreveu as condições horríveis
que acompanhariam a queda de Jerusalém. Adoração ao sol (8.16-18)
Todas as mãos estariam enfraquecidas e a ver­ Em seguida, Ezequiel viu o povo curvando-
gonha cobriria o rosto de todos. Eles jogariam às se para o sol entre o pórtico do templo e o altar
ruas o ouro e a prata que tanto prezavam, pois dos holocaustos. O povo escolheu um lugar san­
nada disso os salvaria dos babilônios. Mais uma to para adorar, mas desonravam a Deus ao esco­
vez, Deus prometeu — “Então eles saberão”. lher o seu templo como local de adoração a ou­
tros deuses! Deus prometeu limpar a terra de tal
A glória de Deus se vai (8.1-11.25) idolatria. Ele não iria mais tolerar essas ofensas
Contexto (8.1-6) impertinentes ao seu caráter de santidade. O
seu povo deveria adorar somente a ele.
Ezequiel 8-11 apresenta uma das mais trá­
gicas visões do livro de Ezequiel. Era 591 a.C., Convocação dos executores (9.1-11)
quatorze meses depois da primeira visão de A visão de Ezequiel continuou com Deus
Ezequiel. Ele recebeu essa outra visão quan­ convocando seis executores e um escriba para
do estava sentado em uma casa na Babilônia realizar o julgamento de Jerusalém. Ele orde­
junto a alguns anciãos de Judá. nou que as pessoas que verdadeiramente ti­
O Espírito de Deus deu a Ezequiel uma vi­ vessem se arrependido e que estivessem ago­
são de Jerusalém. A primeira coisa que o profe­ nizando por causa da terrível situação espiri­
ta viu foi um ídolo de ciúmes colocado na área tual de Jerusalém fossem marcadas. Ele sabia
do pátio do templo. Este provavelmente repre­ quem o seguia e ele iria protegê-las.
sentava Astarote, a esposa do deus pagão Baal. Em segundo lugar, Deus ordenou que os exe­
Ezequiel, um homem de linhagem sacerdotal, cutores não tivessem misericórdia do restante.
sem dúvida se revoltava com a presença de Eles começaram a matar a todos enquanto o
qualquer ídolo em qualquer lugar, quanto mais Senhor gritava “enchei de mortos os átrios!” (9.7).
na área do templo! Mas Deus lhe disse que Ezequiel ficou horrorizado com essa parte da
ainda haveria coisas piores em sua visão. visão — seria o povo de Deus tão corrupto e
A idolatria liderada pelos anciãos merecedor desse julgamento? Deus lhe assegu­
rou que sim. O Senhor via o seu pecado em toda
(8.7-13)
a sua feiura e prometeu julgar completamente.
Deus levou Ezequiel da entrada do pátio
para a câmara secreta, perto do santo dos san­ A glória apronta-se para partir (10.1-22)
tos na área do templo. Ali, setenta anciãos A glória do Senhor encheu o pátio do tem­
praticavam a idolatria, bem no templo! Eles plo. Ela subiu aos céus sobre a área do templo,
pensavam que Deus não estava vendo o seu acompanhada de um querubim e das rodas
pecado, mas cie podia ver tudo. que Ezequiel tinha visto da outra vez. A presen­
Enquanto Deus fazia um “tour” da cidade ça de Deus preparava-se para deixar Jerusalém.
de Jerusalém com Ezequiel, o profeta prova­ Alguém se importava que ele estava partindo?
velmente não podia acreditar em quão horrí­ Aparentemente poucos se importavam.
vel tudo havia se tornado. Mesmo assim, a
cada passo, Deus lhe falava de abominações
Repreensão aos anciãos (11.1-21)
terríveis que ainda estavam por vir. Ezequiel repreendeu os anciãos que se sen­
tavam próximo ao portão leste da casa do Se­
Adoração a Tamuz (8.14,1 5) nhor por causa de sua atitude fatalista. Eles
O Senhor levou Ezequiel para o portão do acreditavam que nada que fizessem iria mu­
templo, no pátio externo, onde Ezequiel viu dar alguma coisa para Deus a essa altura. Mas
mulheres chorando por Tamuz. Tamuz era um Ezequiel mostrou uma pequena ponta de es­
deus mesopotâmio da agricultura, marido da perança. Talvez fosse tarde demais para sal­
deusa Ishtar. Seus seguidores acreditavam que, var a cidade ou até mesmo a nação, mas indi­
a cada ano, no tempo da colheita, Tamuz mor­ víduos ainda poderiam voltar-se para o Se­
ria e essas mulheres juntavam-se a Ishtar para nhor. Eles possivelmente sofreriam o exílio, mas
411
Descobrindo os Profetas

escapariam com vida e talvez se tornariam tempo como sepulcros caiados— bonitos do lado
parte dos poucos e fiéis remanescentes pelos de fora e cheios de corrupção e ossos de mortos
quais Deus renovaria os seus propósitos. do lado de dentro (Mt 23.27,28). Essa descrição
também serve para os dias de Ezequiel. Aqueles
A glória se vai (1 1.22-25) que prometeram livramento seriam os primeiros
A visão teve um final triste. Os querubins a sentir o terrível julgamento de Deus.
ergueram suas asas com as rodas ao seu lado e
a glória de Deus pairou sobre eles. A glória de A idolatria é denunciada (14.1-11)
Deus saiu do meio da cidade e posicionou-se O primeiro mandamento ordenava que o
sobre o Monte das Oliveiras, a leste da cida­ povo não tivesse nenhum outro deus que ri­
de, o mesmo monte sobre o qual Jesus descre­ valizasse com o Senhor (Ex 20.3). Ele queria
veria o fim dos tempos (Mt 24.3). Deus parou sua lealdade absoluta, mas os ídolos estavam
para lançar um último e doloroso olhar sobre a por toda a parte. Falsos profetas toleravam e
cidade rebelde. E então, em um instante, a até encorajavam o povo a adorar diversos deu­
glória desapareceu. Deus havia aberto o ca­ ses. Ezequiel disse que tanto os profetas quan­
minho para que começasse o julgamento. to os idólatras eram culpados. Muitas pessoas
hoje em dia continuam não querendo ter um
Julgam ento contra Jerusalém compromisso total de seguir a Deus.
(12.1-24.27)
A retidão é inadequada para salvar
Ezequiel prepara-se para o exílio os perversos (14.12-23)
( 12 . 1- 20 )
Ezequiel descreveu o grau de perversida­
Deus disse a Ezequiel que arrumasse os de do povo. Mesmo se Noé, Daniel e Jó vives­
seus pertences como se estivesse preparando- sem entre esse povo e orassem por ele, prova­
se para o exílio. O profeta obedeceu e come­ velmente só os três sobreviveriam por sua reti­
çou a cavar perto do muro da cidade. Quan­ dão! A graça de Deus havia preservado um
do o povo perguntou o que ele estava fazen­ remanescente, mas poucos seguiam o Senhor
do, ele respondeu: “Estou me preparando para com sinceridade.
ir para o exílio”. Seu ato simbólico representa­ O profeta Daniel era um contemporâneo
va aquilo que logo aconteceria com Jerusa­ de Ezequiel. No tempo dessa profecia, ele pro­
lém. Algumas pessoas, como Ezequiel, já vivi­ vavelmente não tinha mais que trinta anos
am no exílio. Outras logo se juntariam a elas. de idade. As Escrituras nos encorajam a viver
fielmente como exemplos para Cristo indepen­
Revelação cumprida (12.21-28)
dente de quão jovens sejamos (lTm 4.12).
O povo compreendeu mal a paciência de
Deus para com eles. Eles acreditavam que as Três analogias (15.1-17.24)
visões proféticas estavam falhando, pois não Nos capítulos 15-17 Ezequiel usou três
viam essas previsões tornando-se realidade. analogias para descrever o povo de Deus. Na
Mas Deus os assegurou que não haveria mais primeira ele o descreveu como uma videira
espera. Ele cumpriria seus propósitos em bre­ (15.1-8). Na segunda ele o comparou a uma
ve, a seu tempo perfeito. esposa infiel (16.1-63). E na terceira ele disse
que se pareciam com águias (17.1-24).
Falsos profetas são denunciados
Ezequiel descreveu a videira que é quei­
(13.1-23) mada. Alguém até poderia apoiar-se em uma
Os falsos profetas do tempo de Ezequiel videira, mas nunca em uma videira queima­
continuavam a seguir o seu próprio espírito. da! Da mesma forma, o povo estava pondo
Ao que parece, eles esperavam que Deus fos­ sua confiança em Jerusalém, mas Jerusalém
se apenas repreendê-los brandamente e deixá- não lhes serviria de apoio. O povo achava que
los voltar para casa, Mas não era isto que esta­ sua amada cidade os sustentaria para sempre,
va para acontecer. pois a bênção de Deus estava sobre eles. Em
O Senhor prometeu remover toda a cal. Uma vez disso, Jerusalém havia sido queimada pela
parede podre coberta com uma camada de tin­ decadência espiritual.
ta ou cal pode até parecer bonita, mas ela não Em seguida Ezequiel comparou o povo de
serve de sustentação para alguém que se apoie Deus a uma esposa infiel. Deus a tomou desde a
nela! Jesus descreveu os líderes religiosos de seu infância (desde os tempos de Abraão) e a criou.

412
Ezequiel 1-24

Os judeus
choram depois
da queda de
Jerusalém; de
um relevo em
um menorá
(castiçal) na
cidade moderna
de Jerusalém.

Ele assim o fez de acordo com sua graça. Nada O primeiro representava os cativos do grupo
sobre o povo de Deus o tomava digno da atem de Jeoaquim, que já estavam no exílio. O se­
ção e do favor de Deus. Quando Israel atingiu a gundo vinhedo representava Zedequias, o rei
maturidade, Deus a tomou como noiva. covarde que ouvia o que Jeremias lhe falava,
Mas Israel desprezou o amor de Deus e mas não tinha coragem de obedecer os seus
tornou-se uma prostituta para todas as nações. conselhos (Jr 38.17-23).
Ela adotou os costumes pagãos e práticas de Ezequiel contou a seguinte história. A pri­
adoração dos povos ao seu redor. Muitas des- meira águia escolheu um vinhedo e o trans­
sas nações possuíam rituais religiosos que in­ plantou. Nabucodonosor, a primeira águia, le­
cluíam a promiscuidade sexual, portanto a lin­ vou cativos para a Babilônia membros daquele
guagem de Ezequiel foi bastante apropriada. primeiro grupo em que Ezequiel se encontrava.
Suas palavras eram extremamente explícitas, Zedequias, o segundo vinhedo, ficou para trás,
tendo em vista que estavam sendo proferidas em Jerusalém. Mas esse vinhedo voltou-se ra­
em um contexto social e cultural muito mais pidamente para o Egito, a segunda águia, pe­
conservador que nos dias de hoje! Porém, mais dindo ajuda quando ela apareceu e ignorando
uma vez Ezequiel estava usando uma lingua­ o poder que a Babilônia já havia mostrado.
gem desesperada para tempos desesperados. A profecia parece vir dos últimos dias de
Suas palavras provavelmente chocaram mui­ Jerusalém. Zedequias rebelou-se contando
tas pessoas, mas ele estava determinado a vol­ com o apoio do Egito que nunca chegou. N a­
tar sua atenção para a depravação em que se bucodonosor marchou para dentro de Jerusa­
encontravam. lém, conquistou a cidade, cegou Zedequias e
Ezequiel disse aos seus ouvintes que eles levou o povo para o cativeiro.
haviam tornado-se piores que Sodoma e Sa­
Declaração da responsabilidade
maria. Que coisa mais horrível o povo de Deus
ter ficado dessa maneira! Apenas o arrepen­ individual (18.1-32)
dimento profundo e o toque da graça de Deus Em meio a toda a calamidade do exílio,
poderiam salvá-los da destruição. No capítulo muitas pessoas começaram a murmurar. Aquela
17, Ezequiel descreveu duas águias. A pri­ situação não era culpa delas! Eles citavam o
meira águia era a Babilônia e a segunda águia provérbio que dizia que estavam sofrendo por
o Egito. Ele também falou de dois vinhedos. causa do pecado de seus antepassados e não

413
Descobrindo os Profetas

em função dos seus próprios pecados. Mesmo gui-los. Ezequiel se recusou a conceder-lhes
nos dias de hoje, muitos tentam justificar os uma audiência. O Senhor não daria a eles
seus pecados colocando a culpa nos seus pais, mais nenhuma revelação até que estivessem
nas suas origens ou em outros fatores. prontos para recebê-la.
Mas Ezequiel declarou que a responsabili- Ezequiel lembrou os anciãos da triste his­
dade era individual. Deus iria punir o povo tória espiritual do povo. Israel mal havia dei­
pelos seus próprios pecados e não pelos pecados xado o Egito quando o povo começou a recla­
de outros. O Senhor também afirmou que ele mar. Apesar de todos os milagres que eles ti­
não tinha nenhum prazer na morte do perver­ nham visto, faltava-lhes fé e confiança de que
so (18.23,32). Seu caráter reto e santo exigia Deus iria suprir suas necessidades. Durante
que ele castigasse o pecado, mas ele não sentiu quase mil anos eles mantiveram essa atitude
nenhuma alegria ao ter que julgar o seu povo. de rebeldia e aprenderam muito pouco sobre
Ele preferia que eles se voltassem para ele o relacionamento com Deus. Deus, na sua
arrependidos e vivessem. Hoje, Deus ainda pre­ graça, havia segurado o seu julgamento, mas
fere que todos voltem-se para ele em vez de agora, não podia mais adiá-lo.
persistirem na sua iniqüidade (2Pe 3.9).
Julgamento contra Judá (20.45-21.32)
Lamento pelos líderes (19.1-14) O povo disse que Ezequiel falava somente
Ezequiel comparou Judá a uma leoa com em parábolas. Eles achavam que suas mensa­
dois filhotes. O primeiro filhote era Jeoacaz e gens eram apenas histórias criadas para
o segundo filhote, Jeoaquim. Jeoacaz era o enfatizar a tragédia daquela experiência pela
filho mais velho de Josias e foi o último rei qual eles estavam passando. Mas a mensa­
bom de Judá. Seu reinado durou apenas três gem de Ezequiel refletia mais que palavras.
meses depois da morte de seu pai. O Faraó Ela descrevia com precisão as condições em
Neco o capturou e o levou para o Egito onde que o povo se encontrava — eles estavam
ele morreu (2Rs 23.31-34). Nabucodonosor correndo de encontro ao julgamento. Infeliz­
capturou Jeoaquim, o segundo filhote e o le­ mente, as advertências do profeta não eram
vou para a Babilônia. ouvidas. O povo gostava de escutá-lo pregar,
Ezequiel lamentou porque Judá não tinha mas não levava suas palavras a sério.
mais um governante — ou pelo menos não um
governante de verdade. Zedequias não tinha a
Três profecias (22.1-31)
coragem e a convicção necessárias para liderar Para chamar a atenção do povo, Ezequiel
o povo e, logo, a nação cairia no esquecimento. proferiu três profecias. Primeiro, ele declarou
que Israel havia tornado-se uma escória san­
Lições da História (20.1-44) guinária e impura. O termo “sanguinário” pode
O povo de Deus havia aprendido alguma referir-se tanto a assassinato quanto a injusti­
coisa com a História? Na verdade, não. Em ça. Ezequiel não estava descrevendo a pena
591 a.C., os anciãos buscaram o conselho do capital, mas sim as injustiças sociais espalha­
Senhor. Mas Ezequiel sentiu um problema em das por toda a terra. À medida que se afasta­
sua sinceridade. Eles gostavam de ouvir seus va gradualmente do Senhor, o povo estava
conselhos, mas não tinham a intenção de se- cada vez mais propenso à idolatria. Além de
Deus e de suas leis, eles adotaram outros pa­
drões — de injustiça e imoralidade.
Termos-chave Em segundo lugar, Ezequiel descreveu Is­
rael como a nação da escória. O termo “escó­
Dia do Senhor ria” é relativo às impurezas que ficam sobre o
Tamuz metal derretido e que são jogadas fora. O pro­
Ishtar cesso de aquecer o metal separa as impurezas
do metal puro. As impurezas são mais leves
Lugares-chave que o metal e por isso elas sobem. O refinador
Rio Quebar removia a escória de cima do metal e a des­
Tel-Abibe cartava, pois não tinha nenhum valor.
Ezequiel disse que o povo de Deus havia
transformado-se em escória por causa do seu
pecado. Ao refinar o povo, Deus encontrou
414
Ezequiel 1-24

sujeira demais em suas vidas. Ele iria removê- Oolá e Oolibá (23.1-49)
la por meio do fogo e do julgamento. Deus
Ezequiel descreveu duas irmãs — Oòlá e
ainda quer retirar a sujeira de nossas vidas nos
Oolibá. Apesar de sabermos o que os seus no­
dias de hoje para que possamos servi-lo plena­
mes significam literalmente (“Sua tenda” e
mente (Rm 13.14).
“minha tenda está nela”, respectivamente),
Em terceiro lugar, Ezequiel retratou o povo
estudiosos propõem diferentes pontos de vista
de Deus como sendo uma nação de impure­
sobre o significado exato que esses nomes ti­
za. Ele condenou tanto profetas quanto sa­
cerdotes por levarem o povo pelos maus cami­ nham.6 Oolá representava Samaria, a capital
nhos. O pecado do povo ficava cada vez pior. do norte e Oolibá simbolizava Jerusalém, a
Mas Deus não conseguiu achar ninguém no capital do sul. As duas irmãs eram terrivel­
meio da liderança que pudesse falar em nome mente perversas, mas Deus as tomou para si e
de Israel e implorar pelo perdão de Deus. casou-se com elas de qualquer forma.
Quando estava falando desse problema, Oolá cometeu um grande mal então Deus
Ezequiel usou a ilustração de se tapar uma a entregou nas mãos dos assírios em 722 a.C.
brecha no muro da cidade. Quando o inimi­ Mas sua irmã Oolibá — que viu esse julga­
go está diante de uma cidade murada, preci­ mento — não aprendeu absolutamente nada.
sa encontrar uma forma de penetrar aqueles Ou seja, Judá viu o que havia acontecido a
muros. Se um exército consegue fazê-lo, aque­ Israel por causa de seu pecado mas ainda as­
les que estão defendendo a cidade devem sim continuou a praticar a iniqüidade. Por isso
parar de avançar para que a cidade não seja ela seria julgada com mais severidade.
tomada. Os homens corajosos devem respon­
A panela enferrujada (24.1-14)
der ao chamado para fechar essas brechas.
Mas Deus não achou ninguém —- profeta, Em 588 a.C., começou o cerco babilônio
sacerdote ou príncipe — que defendesse Je­ ao redor de Jerusalém. Em julho de 587 a.C.,
rusalém do seu julgamento. a cidade finalmente foi tomado pelas forças

Sumário

1. 0 livro de Ezequiel foi escrito em es­ 4. 0 povo de Deus pecou grandemente


tilo autobiográfico. contra ele; liderados por anciãos,
eles praticaram idolatria nas partes
2. Deus ordenou que Ezequiel realizas­
mais sagradas do templo, eles adora­
se quatro atos simbólicos para mos­
ram um deus pagão da agricultura e
trar quão sérios eram os pecados do
também o sol.
povo: brincar com um tijolo, deitar-se
do seu lado direito e depois esquerdo 5. Em preparação para o julgamento,
durante um determinado período de Ezequiel denunciou os falsos profetas e
tempo, cozinhar o pão em pequenas a idolatria do povo.
porções usando esterco humano
6. Ezequiel descreveu o povo de Deus
como combustível e repartir o seu
com analogias nas quais ele o compa­
cabelo em três partes, fazendo algo
rou com um vinhedo, uma esposa infi­
diferente com cada parte.
el e duas águias.
3. 0 conceito do Dia do Senhor inclui o
7. Em seu lamento por Judá, Ezequiel
julgamento de Deus contra o peca­
usou filhotes de uma leoa como
do, a limpeza e purificação do povo
analogia para representar Jeoacaz
de Deus e a salvação do povo de
e Jeoaquim.
Deus.

415
Descobrindo os Profetas

Questões para estudo

1. Qual foi o contexto histórico do mi­ 4. Descreva a visão de Ezequiel dos capí­
nistério profético de Ezequiel? tulos 8-11. Qual era o significado da
glória de Deus deixando Jerusalém?
2. O que sabemos sobre o profeta e seu
livro? 5. De que forma você caracterizaria a
atitude geral de Ezequiel em relação
3. Faça uma lista dos diversos atos sim­
aos seus ouvintes? Qual parece ter
bólicos realizados para o povo por
sido o ponto de vista das pessoas que
Ezequiel. Em geral, como você acha
ficaram para trás em Jerusalém de­
que o povo reagiu a esses atos?
pois da segunda deportação?

Leituras complementares

Block, Daniel I. The B o o k o f Ezekiel: C hapters 1-24. Uma exegese e exposição completa do texto de Eze­
New International Commentary on the Old Testa­ quiel.
ment. Grand Rapids: Eerdmans, 1997. Um comentá­ Cragie, Peter C. Ezekiel. Daily Study Bible. Filadélfia:
rio detalhado para o estudante universitário avança­ Westminster, 1983. Para o leitor em geral.
do ou para o estudante de pós-graduação. Rico em
Taylor, John B. Ezekiel: A n Introduction a n d C om m en­
exegese e notas de rodapé.
tary. Tyndale Old Testament Commentary. Downers
Cooper, Lamar Eugene, Sr. Ezekiel. New American Com­ Grove: InterVarsity, 1969. Um bom comentário em
mentary 17. Nashville: Broadman & Holman, 1994. nível universitário.

de Nabucodonosor. No dia em que começou A aparente falta de reação de Ezequiel


o cerco, Deus ordenou que Ezequiel desse em relação à morte de sua mulher natural­
uma profecia. mente chamou a atenção do povo e eles lhe
O profeta comparou Jerusalém a uma pa- perguntaram porque ele não estava prante­
nela enferrujada. Você já tentou cozinhar a1- ando. Ezequiel respondeu que Deus tinha a
guma coisa em uma panela enferrujada? E intenção de fazer a mesma coisa com Jerusa­
impossível, pois a ferrugem soltasse da panela lém muito em breve. A destruição da cidade
e mistura-se com a comida. Assim também, o iria significar a morte de muitas pessoas queri­
pecado misturou-se ao povo e contaminou das. Os sobreviventes sofreriam tantos horro­
toda Jerusalém. Da mesma forma que um res que não seriam nem capazes de chorar ou
cozinheiro jogaria fora a comida estragada, prantear. Tragicamente, eles acabariam des­
Deus iria lançar esse povo no cativeiro. cobrindo que o profeta Ezequiel estava certo
desde o começo.
Morre a esposa de Ezequiel (24.1 5-27) Mas Deus ainda não havia completado os
O Senhor havia advertido o profeta da seus propósitos para o povo. Ele planejava
morte de sua esposa e instruído sobre como restaurá-lo e abençoá-lo novamente! No pró­
ele deveria reagir. Ezequiel deveria pranteá- ximo capítulo, veremos como Deus descre­
la interiormente, mas não dar nenhuma de­ veu o julgamento de seus inimigos e a salva­
monstração externa de pranto ou lamentação. ção final daqueles que ele amava.
416
1
Ezequiel 25=48 1

Deus está planejando


um futuro emocionante!

• A mensagem de Ezequiel continua


(2 5 .1 - 4 8 .3 5 )
Profecias contra as nações (2 5 ,1 -3 2 .3 2 )
A restauração de Israel (3 3 .1 -3 9 .2 9 )
0 novo templo de Israel (4 0 .1 -4 8 .3 5 )
Objetivos
Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
• Citar o nome das nações às quais Ezequiel
dirigiu suas profecias nos capítulos 25-32.
• Identificar o tema em comum das adver­
tências que Ezequiel pronunciou para as
sete nações nos capítulos 25 -2 9 .
• Relacionar os detalhes que Deus revelou a
Ezequiel sobre o novo templo.
• Apresentar os cinco principais pontos de
vista na interpretação de Ezequiel 4 0 -4 8 .

417
Descobrindo os Profetas

Você conhece pessoas que têm sempre uma roso exército de Nabucodonosor iria esmagar
atitude negativa? Não importa a circunstân­ esses dois reinos assim como havia feito com
cia, elas sempre vêem o pior em tudo. Esse os outros.
tipo de gente deixa qualquer um de mau Ezequiel separou Edom e lhe deu atenção
humor e estraga o seu dia. especial, pois os edomitas haviam desempe­
Talvez você tenha sentido como se estives­ nhado um papel significativo na destruição
se conversando com uma dessas pessoas ao ler de Jerusalém (Ob 10-14). Eles interceptaram
Ezequiel 1-24. A mensagem de Ezequiel con- os judeus que tentaram fugir e os entregaram
centrou-se na insatisfação de Deus com a si­ aos babilônios, vendendo-os como escravos.
tuação espiritual de seu povo. O profeta ten­ Deus prometeu acabar com Edom e suas ci­
tou muitas táticas diferentes, mas todas elas dades. Quando ele o fizesse, eles saberiam que
tinham o propósito de mostrar que Deus iria ele era o Senhor.
julgar o pecado do seu povo.
Filístia (25.15-17)
Nos capítulos 25-48, o tom das mensagens
de Ezequiel começa a mudar. O profeta des­ Os filisteus, antigos inimigos do povo de
creve como Deus vai julgar aqueles que se Deus, também estavam prestes a cair. Eles se
opuseram ao seu povo, quer eles vivessem em alegraram com a queda de Judá, mas Deus
meio ao povo ou em outras nações. Ele tam­ iria julgá-los. Eles também sentiriam a sua ira.
bém olha mais adiante, para um dia glorioso
Tiro (26.1-28.19)
em que Deus irá derrotar o pecado de uma
vez por todas, restaurar o seu povo e habitar Ezequiel profetizou sobre Tiro em 587 a.C.,
com eles para sempre. O ministério de Eze­ por volta da época da queda de Jerusalém.
quiel continha muitos desafios difíceis, mas Tiro, uma cidade portuária fenícia, também
ainda assim ele encerra o livro de forma posi­ estaria, em breve, sob a ira do Senhor.
tiva — Deus estava planejando um futuro Tiro regozijou-se com a queda de Jerusa­
emocionante! lém, pois teria lucros com sua ruína. Afinal, a
queda de Jerusalém significava um concor­
W BÊOKÊmKmmKmÊMÊKmm m r u mmm
rente a menos no mundo do comércio! Mas
Ezequiel prometeu que Tiro seria espólio para
A mensagem de as nações e passaria por total desolação e de­
Ezequiel continua vastação.
Com freqüência, Tiro havia conseguido
(25.1-48.35) comprar a paz com os inimigos que a ameaça­
vam. Os reis que queriam atacar a cidade
Profecias contra as nações saíam carregados de riquezas e Tiro prometia
(25.1-32.32) mandar mais todos os anos.
Já vimos como Isaías e Jeremias profetiza­ Ezequiel mencionou a situação entre Tiro
ram contra as nações (Is 13-23; Jr 46-51). Era e a Babilônia. A Babilônia recebia muito di­
a vez de Ezequiel retratar o destino final des­ nheiro de Tiro e em troca, não podia destruir
ses reinos. Deus mostra sua soberania sobre a cidade. Alexandre, o Grande, finalmente
todos eles. acabou arrasando Tiro em 332 a.C. A desola­
ção total que Ezequiel havia profetizado aca­
Amom (25.1-7) bou vindo. Todas as nações iriam lamentar,
Ezequiel declarou que a Babilônia iria con­ pois a queda de Tiro também significava pro­
quistar Amom. Os amonitas se alegraram com blemas financeiros para muitos comerciantes
a queda de Jerusalém, mas Deus iria julgá-los estrangeiros.
também. Quando ele o fizesse, eles saberiam O povo de Tiro também lamentou por seu
que ele era Deus. líder. Note o orgulho do seu líder no capítulo
28.2 — ele afirmou ser um deus! Ele possuía
Moabe e Edom (25.8-14) muitas riquezas e sabedoria, mas Deus tam­
Moabe e Edom acreditavam que Judá era bém o arrasaria.
igual a todas as outras nações. Apenas por Alguns intérpretes bíblicos observaram os
causa de alguma virada do destino é que o paralelos entre Isaías 14 e Ezequiel 28. Isaías
povo de Deus havia ganho proeminência na­ 14 descreve a estrela da manhã, o filho do
quelas terras. Ezequiel advertiu que o pode­ alvorecer, cujo orgulho Deus iria humilhar.
418
Ezequiel 25-48

Um pastor cuida
de seu rebanho
nos montes da
Judéia. Os
pastores de
Israel não
cuidaram do seu
rebanho — o
povo de Deus
— por isso Deus
prometeu que
ele mesmo seria
o seu pastor
(capítulo 34).

Esse governante orgulhoso, assim como o go­ apoio egípcio.2 Mas quando as grandes potên­
Sheol
vernante de Ezequiel 28, também havia pro­ cias vinham contra esses pequenos reinos, o
ferido palavras arrogantes e cheias de pompa, Egito não fazia nada para ajudar e seus vizi­
elevando-se ao nível de Deus. nhos infelizes sofriam as terríveis conseqüên­
Assim como Isaías 14, Ezequiel 28 é uma cias. Deus prometeu que, quando o Dia do
das passagens que muitos evangélicos acredi­ Senhor chegasse para o Egito, eles saberiam
tam fazer referência a Satanás, pois a lingua­ quem era Deus.
gem vai bem além daquilo que seria esperado Ezequiel começou essas profecias em 587
de um governante humano. Porém, o versí­ a.C., um pouco antes da queda de Jerusalém.
culo 12 refere-se especificamente ao rei de O profeta usou a Assíria como um exemplo
Tiro como sendo o objeto das palavras de Eze­ de orgulho que levou a uma grande queda.
quiel. Também, devemos considerar que o Deus havia tornado os assírios poderosos, mas
Novo Testamento não cita esses versículos a Assíria louvou a si mesma em vez de dar a
quando faz referência a Satanás. Provavel­ ele o devido crédito.
mente, a linguagem rebuscada de Ezequiel Ezequiel prometeu que Deus iria tratar o
referia-se às grandes bênçãos materiais que Egito da mesma forma como havia tratado a
Deus havia dado ao governante de Tiro. Assíria apenas vinte e cinco anos antes. Nínive
Outros intérpretes entendem que as palavras havia caído em 621 a.C.; o Egito logo cairia
de Ezequiel têm um cumprimento secundá­ também. Seu orgulho é que o levaria à queda.
rio em Satanás.1 Em 585 a.C., Ezequiel entoou um lamento
pelo Faraó, o rei do Egito. Ele comparou o
Sidom (28.20-26) Faraó a um feroz monstro marinho presos às
Sidom era uma outra importante cidade correntes do cativeiro. Deus usaria a Babilô­
da Fenícia. Deus disse que traria glória sobre nia para domar esse monstro. A queda do
si ao julgar Sidom. Nem Sidom e nem Tiro Egito traria grande temor por causa da posi­
seriam mais um estorvo para Israel. ção elevada que possuía naquele tempo.
Quando outros reinos vissem a derrota do
Egito (29.1-32.32) Egito, eles estariam olhando para o seu pró­
Ezequiel encerrou suas profecias contra as prio futuro.
nações com quatro capítulos contra o Egito. Em uma linguagem amedrontadora, Eze­
Naquele tempo, o Egito era um dos piores ini­ quiel descreveu Deus levando o Egito para
migos de Judá, principalmente por causa da­ Sheol. Lá o Egito encontrou um comitê de
quilo que ele deixou de fazer. Era típico o boas-vindas — Assíria, Elão e Edom. Essas
Egito encorajar reinos menores da Palestina a nações também haviam confiado em seu pró­
revoltarem-se contando com a promessa dc prio poder e esplendor, mas Deus havia posto
419
Descobrindo os Profetas

um fim em seu domínio. Ezequiel advertiu os Era 587 a.C. e Jerusalém havia caído para
egípcios dizendo que eles iriam tornar-se como os babilônios. Durante o cerco de Jerusalém,
todas as outras nações que haviam desafiado Deus não havia dado palavras proféticas a
o poder de Deus. Ezequiel, mas logo depois ele abriu a boca do
As palavras do profeta são um aviso muito profeta para levar uma mensagem ao povo.
sério para qualquer nação que seja tentada Os exilados protestavam dizendo que a si­
pelo orgulho. Um dia, todos nós vamos enca­ tuação toda era injusta. “Era nossa terra”, eles
rar a morte. Como podemos nos preparar? Os diziam, “não foi justo eles a tomarem de nós”.
escritores do Novo Testamento dizem que A resposta de Deus mostrou que a terra per­
devemos estar em paz com Deus por meio de tencia a ele e não ao povo. Eles haviam igno­
Jesus Cristo. Se fizermos isso, o poder da mor­ rado os seus mandamentos e mostrado-se inep­
te sobre nossas vidas será quebrado. E nosso tos para possuírem a terra e, portanto, Deus os
país, irá aprender essa lição? E nós? havia enviado para o exílio.
Mas mesmo durante esses tempos de de­
A restauração de Israel sespero, o povo recusou-se a dar ouvidos a
(33.1-39.29) Ezequiel. Eles escutavam as palavras, mas não
Até essa altura do livro de Ezequiel, vimos permitiam que elas alcançassem o seu cora­
muitas coisas desanimadoras. Ezequiel reali­ ção. “Que pregador maravilhoso”, eles prova­
zou atos simbólicos pelos quais advertiu o povo velmente diziam um para o outro. Mas ao vol­
de Deus sobre o julgamento que estava por tarem para casa depois de suas mensagens,
vir. Nos capítulos 33-39, ele começou a des­ eles o faziam sem demonstrar qualquer mu­
crever as maravilhosas bênçãos que Deus es­ dança de vida.
tava guardando para o seu povo fiel. Hoje em dia, muitas vezes as pessoas gos­
tam de ouvir um bom sermão. Escutam o pre­
0 chamado ao arrependimento
gador que sabe transmitir uma mensagem de
(33.1-33) qualidade e gostam das suas habilidades em
No capítulo 33, Deus apontou o profeta oratória. Mas elas não aplicam as verdades
como atalaia da cidade (ver também 3.17). que ouvem em sua vida. Os ouvintes de Eze­
Um atalaia ficava vigiando, procurando si­ quiel faziam a mesma coisa. Deus os advertiu
nais do inimigo e avisava o povo sobre qual­ que, um dia, iriam compreender que Ezequiel
quer ameaça ou ataque. Ezequiel era respon­ era, de fato, um profeta de Deus. Mas quan­
sável por avisar o povo sobre seu pecado antes do finalmente percebessem, Jerusalém já es­
que Deus os julgasse. Ele serviu de atalaia taria em ruínas e eles, no cativeiro babilônio.
espiritual para o povo de Deus.
O povo ficou desencorajado ao ouvir todas 0 rebanho de Deus (34.1-31)
essas profecias melancólicas. (Talvez você tam­ Ezequiel comparou os líderes de Israel a
bém sinta-se assim ao ler Ezequiel!) Ezequiel pastores que cuidavam do seu rebanho (o
apresentou a mensagem de Deus usando de povo). Ele os advertiu que deveriam alimen­
uma variedade de técnicas e métodos criati­ tar o rebanho e não a si mesmos. Deveriam
vos. Mas a essência era sempre a mesma — usar sua posição de autoridade para servir o
Deus iria julgar o povo pelo seu pecado se eles povo, mas em vez disso, usavam o seu poder
não se arrependessem. Muitos do povo de para obter ganhos desonestos ou simplesmen­
Deus acharam que a situação já não tinha mais te satisfazer suas próprias necessidades. Mes­
jeito. Aquela altura, nada poderia salvá-los! mo nos dias de hoje, muitos líderes cristãos
Ezequiel garantiu que a situação não era não conseguem compreender completamen­
desesperadora. Deus ainda estava oferecen­ te que liderar significa servir.
do a esperança do arrependimento e julgaria Ezequiel disse a eles que eram responsá­
o povo de acordo com os seus próprios cami­ veis por Deus estar dispersando o seu reba­
nhos. Mesmo quando a nação estivesse a ca­ nho. Por quê? Pois aqueles pastores só cuida­
minho do exílio, pessoas ainda podiam voltar- vam de si mesmos. Eles só se preocupavam
se para Deus e, pela fé, ter um relacionamen­ com as ovelhas à medida que elas traziam
to correto com ele. E mesmo nos últimos dias bênçãos para eles. A igreja de hoje precisa
de Jerusalém, se toda a nação se arrependes­ desesperadamente de líderes que se preocu­
se, quem sabe quanta misericórdia Deus não pem do fundo do coração com o povo que
poderia mostrar? Deus lhes deu para liderar.
420
Ezequiel 25-48

Qual é a solução apresentada por Eze­ ro, os ossos secos recebiam carne sobre eles.
quiel? O próprio Deus cuidaria deles! Deus Depois, eles ganhavam vida!
prometeu ajuntar o seu povo e cuidar deles Os ossos secos simbolizavam a morte da es­
pessoalmente e até mesmo restabelecer o rei­ perança do povo, que estava seco, sem espe­
nado de Davi sobre eles. Muitos intérpretes ranças e sem poder! Mas o Espírito de Deus
G rande entendem que essa passagem refere-se ao sopraria vida para dentro deles novamente. O
tribulacão reino messiânico.3 Quando Jesus Cristo vol­ Senhor podia fazer com que se reunissem em
tar, vai estabelecer o seu povo e cuidar dele uma nação sob sua liderança. Deus deu ao
pessoalmente. povo um segundo sinal. Ele mandou que Eze­
quiel pegasse dois gravetos e escrevesse “Judá”
Julgamento sobre Edom
em um deles e “José” no outro. Os dois gravetos
(35.1-15) representavam Judá e Israel, respectivamen­
Mencionamos anteriormente nesse capí­ te. Assim como os dois gravetos ficaram pre­
tulo como Edom estava ao lado da Babilônia sos como se fossem um na mão de Ezequiel,
contra o povo de Deus quando Nabucodono­ Deus iria juntar a nação quebrada e fazer dela
sor conquistou Judá e Jerusalém. Talvez por uma só novamente.
isso Ezequiel separou Edom para lhe dar mais
atenção nesse ponto do livro. Deus iria humi­ Gogue e Magogue: o triunfo final
lhar os edomitas por causa de sua hostilidade (38.1-39.20)
e arrogância. Quando o fizesse, eles saberiam Nos capítulos 38,39 Ezequiel olhou adian­
que ele era o Senhor. te, para um futuro distante para ver algumas
das coisas que Deus iria fazer algum dia. Até
Bênçãos para Israel
esse ponto Ezequiel havia concentrado-se nos
(3 6 .1-37.28) acontecimentos de sua própria geração. As
Deus prometeu restaurar Israel e restabe- palavras que ele falou em seguida têm signifi­
lecê-la como seu povo novamente. Essa res­ cado para nós nos dias de hoje, pois desafiam
tauração incluía dois aspectos — restauração seus ouvintes a viver fielmente à luz do gran­
física e espiritual. de reino que Deus estabelecerá um dia.
Primeiro, Deus prometeu trazer o povo de Os estudiosos da Bíblia discordam sobre o
volta para a terra prometida e renová-lo. Ele significado de G ogu e e M agogue.4 O termo
pediria à natureza que voltasse a viver e ela parece descrever o inimigo final do povo de
responderia em sua plenitude. O Senhor faria Deus. Apocalipse 20.8 também os menciona
a vegetação brotar e dar frutos novamente em um contexto igualmente difícil. Podemos
como havia feito nos dias da bênção de Deus. dizer que, seja lá quem eles forem, o poder de
Em segundo lugar, Deus prometeu desper­ Deus irá sobrepujá-los. Enquanto estiverem
tar o povo espiritualmente. Deus havia julga­ reunindo-se contra o povo de Deus, o Senhor
do o seu povo para proteger o seu caráter de trará a vitória finai.
santidade. Precisava castigar todo o pecado A descrição que Ezequiel faz dessa bata­
onde quer que o encontrasse! A paciência de lha é paralela ao livro de Apocalipse. Deus
Deus era temperada por sua justiça e o dia da chamando os pássaros para comer os corpos
justiça tinha chegado. Deus estava agindo em (39.17) se parece com o chamado que acom­
favor de si mesmo e, quando ele trouxe o jul­ panhará a volta de Cristo (Ap 19.17). Assim,
gamento, eles finalmente compreenderam muitos intérpretes bíblicos ligam Ezequiel
que Deus era Juiz. 38,39 ao tempo da Grande Tribulacão, o pe­
Como parte da recriação espiritual, Israel ríodo final da História antes da volta do Se­
receberia um coração de carne. Deus não iria nhor, que traz vitória e estabelece o seu rei­
devolvê-los à terra para que voltasse à idola­ no.5 Gogue e Magogue são derrotados e Deus
tria e rebelião novamente. Ele iria restaurá-los garante a vitória absoluta.
para servi-lo fielmente. Mas eles só poderiam O triunfo de Deus é o triunfo de Israel. O
fazer isso se um poder transformador tocasse povo de Deus vence porque Deus vence. Mais
seu coração. O Novo Testamento chama essa importante ainda, há um transbordar espiri­
experiência de “nascer de novo” (Jo 3.3,5). tual. Multidões voltam-se para o Senhor ao
Deus confirmou suas palavras ao dar a Eze­ perceber que somente ele é Deus. Naquele
quiel a famosa visão dos ossos secos. A visão dia, o Senhor será o seu Deus e eles serão o
descrevia dois estágios da ressurreição. Primei­ seu povo.
421
Descobrindo os Profetas

O novo tem plo de Israel vezes, os sacerdotes comiam na área do tem­


(40,1-48.35) plo, pois alguém trazia um sacrifício e parte
deste pertencia a eles. Os sacerdotes pode­
Há muito tempo os evangélicos discutem o
riam vestir as suas estolas sacerdotais nesses
significado e interpretação de Ezequiel 40-48.
cômodos e colocar suas roupas comuns antes
De fato, esses capítulos apresentam um dos
de saírem.
maiores desafios para os intérpretes do Antigo
Talvez essas descrições tenham empolga­
Testamento. O profeta está falando de aconte-
cimentos que se cumpriram após o exílio ou de do Ezequiel, pois não tinha sido possível que
acontecimentos que ainda estão por vir? E se ele fosse sacerdote. Nabucodonosor o havia
os acontecimentos são futuros, Ezequiel está se levado para o cativeiro antes que ele pudesse
referindo a Israel, à Igreja ou a ambas? Vamos servir. Talvez Ezequiel tivesse esperança de
observar os detalhes básicos desses capítulos e poder servir no novo templo do Senhor.
então procurar tirar algumas conclusões gerais. O área do templo (42.15-20)
Contexto (40.1-4) Ezequiel descreveu uma área enorme ao
No ano 572 a.C., Ezequiel já havia servido redor do templo equivalente a quinhentas
a Deus como profeta durante aproximada­ canas (1.500 metros) de cada lado. Tal área
mente vinte anos. Deus o levou para Israel, era muito maior que o monte sobre o qual
para o alto de uma montanha cujo nome não estava o templo nos tempos de Jesus, que pro­
é mencionado. De lá, Ezequiel pôde ver os vavelmente contava com apenas 500 metros
planos de Deus sendo revelados a ele através de cada lado. Estava claro que Deus tinha
de uma visão. grandes planos para o seu templo!
O Senhor o instruiu a escrever tudo o que A volta da glória do Senhor
visse. Boa parte da visão dizia respeito ao novo
(43.1-12)
templo que Deus estava planejando. E possível
que achemos essas descrições e detalhes um Em Ezequiel 11, a glória de Deus havia
tanto estranhos, mas como sacerdote, Ezequiel deixado o templo. Ela havia pairado sobre o
deve ter se fascinado com cada item que Deus templo, movido-se até o Monte das Oliveiras
ia revelando. Ao ler Ezequiel 40-48, procure e então desaparecido. Mas Ezequiel 43 mos­
imaginar o profeta ansiosamente tomando no­ trou a glória de Deus voltando a Jerusalém.
tas de tudo o que Deus estava descrevendo. Os detalhes também devem nos fazer lem­
brar de Ezequiel 1, em que o profeta inicial­
As câmaras (40.5-47) mente viu criaturas angelicais, rodas brilhan­
Ezequiel descreveu as câmaras internas c tes e a glória de Deus. Deus prometeu deixar
externas do templo. Não havia nada de novo sua glória ali para sempre.
nisso. Ele também viu câmaras especiais para
O altar (43.13-27)
os que trabalhavam no templo. Os sacerdotes
podiam usá-las para trocar suas vestimentas, Ezequiel descreveu as medidas do altar dos
fazer uma refeição e muito mais. holocaustos. Esse altar ficava no átrio do tem­
plo. Nele, os sacerdotes ofereciam os sacrifíci­
O templo e as estruturas associadas a os trazidos pelo povo. O profeta cuidadosa­
ele (40.48-41.26) mente detalhou o tamanho e o formato do
Ezequiel retratou o total resplendor que altar. Ele então descreveu da mesma forma os
iria caracterizar a casa de Deus. Mais uma sacrifícios que os sacerdotes iriam oferecer
vez, podemos ter dificuldade em acompanhar naquele dia. E, o mais emocionante de tudo
tantos detalhes, mas o sacerdote de Deus de­ era que Deus voltaria a aceitar todos esses
leitava-se imensamente ao receber todas es­ sacrifícios, pois ele aceitava o seu povo nova­
sas informações. Jerusalém havia perdido o mente.
seu templo em 587 a.C. mas, um dia, Deus
Os ministros e suas funções
iria restaurá-lo.
(44.1-45.8)
Câmaras para os sacerdotes Ezequiel descreveu uma porta selada no
(42.1-14) lado leste da cidade. Ninguém poderia entrar
Mais uma vez, Ezequiel dá destaque para por ela “porque o Senhor, Deus de Israel, en­
essas câmaras para os sacerdotes. Algumas trou por ela” (44.2). E interessante observar

422
Ezequiel 25-48

Depósitos de sal
no Mar Morto,
Israel. O lago é
tão salgado que
nenhum peixe
pode sobreviver.
Na visão de
Ezequiel, a água
fluía do templo
para Jerusalém e
até ao Mar
Morto,
tornado-o doce
e cheio de vida.

que, na entrada triunfal de Jesus em Jerusa- Ezequiel disse que o príncipe irá suprir as
lém, ele provavelmente passou pelo portão les­ ofertas nacionais. Alguns evangélicos enten­
te. Nos dias de hoje, o portão leste de Jerusa­ dem essas palavras do profeta como sendo uma
lém, localizado em algum lugar próximo onde referência a Jesus Cristo. Infelizmente, é im­
seria o portão leste de Ezequiel, está fechado possível dizer com certeza, tendo em vista que
e selado, pois um rei muçulmano ouviu falar o Novo Testamento não cita essa passagem.
da profecia de Ezequiel e quis garantir (tarde
demais) que nenhum Messias passaria por 0 rio (47.1-12)
aquele portão. E um comentário interessante A descrição que Ezequiel faz do rio é bas­
para a profecia de Ezequiel. tante parecida com Apocalipse 22. A maior
O profeta anunciou que a santidade de parte dos evangélicos acredita que Apocalipse
Deus estaria por toda a cidade. Ezequiel ti­ 22 descreve o céu e esse fato levanta questões
nha em seu coração um grande zelo pela san­ sobre a interpretação de Ezequiel 40-48. Eze­
tidade, pois Deus havia chamado os sacerdo­ quiel descreveu um templo restaurado aqui na
tes para mediarem sua santidade ao povo. terra durante o curso da História ou algo que
Deus trabalhava por meio deles para mostrar vai ocorrer no céu, depois que Cristo voltar?
sua santidade ao povo. E, ao estar em um rela­ O rio flui do templo e oferece cura para
cionamento correto com ele pela fé, sua vida todas as nações (47.12). A mesma coisa acon­
começaria a refletir esse caráter de santidade. tece em Apocalipse 22.2. Deus está preocu­
Um povo santo vive como o seu Deus, e Deus pado em curar o seu povo para sempre.
usava os sacerdotes para tornar isso possível.
Os limites das tribos (47.13-48.29)
Regras sobre as ofertas (45.9- Os limites das tribos parecem semelhantes
46.24) àqueles do reinado de Davi e Salomão. O
Os profetas haviam condenado o povo com povo de Deus iria incluir os israelitas, mas tam­
freqüência por causa do uso desonesto de pesos bém aqueles que se juntassem ao povo de
e medidas (Os 12.7; Am 8.5). No dia que Deus pela fé. Tais palavras proféticas são um
Ezequiel descreveu, todos iriam usar medidas belo prenuncio da afirmação no Novo Testa­
honestas. Talvez sacerdotes como Ezequiel mento de que todas as nações farão parte do
entristeciam-se sinceramente por causa da corpo de Cristo, a Igreja (Ef 2.11-22).
forma como o povo abusava do sistema Ezequiel relacionou a divisão de lotes en­
sacrificial e eram desonestos uns com os ou­ tre as tribos. Os sacerdotes e levitas ficariam
tros. Isso não aconteceria mais quando o Se­ ao redor do santuário, o que era de se esperar
nhor fizesse a restauração. tendo em vista as suas obrigações contínuas
423
Descobrindo os Profetas

a face, em comunhão íntima com o seu povo


Lugares-chave para sempre. Para os cristãos, a promessa da
presença eterna de Deus é o que há de mais
Amom precioso. Ele prometeu ao crentes que nunca
Moabe iria desertá-los nessa vida, mas ele também
Edom promete que um dia haverá o amanhecer de
Filístia uma nova era na qual eles irão gozar de co­
Termos-chave Tiro munhão pessoal com ele para sempre.
Sidom
Sheol
Egito Possíveis interpretações de
Gogue
Magogue Ezequiel 40-48
Grande tribulação Os evangélicos já sugeriram diversas inter­
Milênio pretações para Ezequiel 40-48.6 Um ponto de
vista propõe que a profecia de Ezequiel já foi
cumprida com o retorno e a reconstrução dc
ali. O príncipe, que também desempenharia Jerusalém sob Zorobabel, Esdras e Neemias.
milênio
um papel importante no culto do povo, teria Por causa da falta de fé do povo em manter-se
territórios dos lados leste e oeste. firme na promessa de Deus, o templo nunca
alcançou as dimensões descritas por Ezequiel.
As portas de Jerusalém (48.30-35) Um segundo ponto de vista argumenta que
Jerusalém tinha doze portas. Uma para devemos entender as palavras de Ezequiel da
cada tribo. As portas tinham o nome das tri­ maneira mais literal possível, mas compreen­
bos escritos sobre elas, um fato que também é dê-las como sendo uma descrição do futuro
encontrado no livro de Apocalipse quando é reino de Deus.7 Aqueles que defendem essa
feita a descrição de Jerusalém (21.12). posição normalmente acreditam que Cristo
Ezequiel encerra o seu livro afirmando que irá cumprir essa profecia durante um reinado
uma vez isso tudo dito e feito, o nome da ci­ de mil anos sobre a terra, o chamado milênio.
dade será “O Senhor Está Ali”. A presença O Senhor voltaria no final do período da gran­
pessoal do Senhor no meio do seu povo é o de tribulação e estabeleceria o seu governo
objetivo de toda a história da redenção. Ele tendo Jerusalém como a capital. Durante esse
estará ali — pessoalmente, visivelmente, face tempo, os sacerdotes ofereceriam sacrifícios

Sumário

1. Nos capítulos 25-32, Ezequiel conti­ 5. Deus guiou Ezequiel para uma mon­
nua sua mensagem ao fazer profecias tanha alta. Lá, ele mostrou uma visão
contra as nações de Amom, Moabe, que revelava a descrição de um novo
Edom, Filístia, Tiro, Sidom e Egito. templo e Deus o instruiu a escrever
tudo o que visse.
2. Em Ezequiel 33-39, o profeta descre­
ve as bênçãos da restauração. 6. Cada uma das doze portas de Jerusa­
lém era designada para uma das doze
3. Mesmo nos piores dias, o povo re­
tribos.
cusou-se a ouvir o profeta Ezequiel
e aplicar as mensagens à sua pró­ 7. Intérpretes da Bíblia têm diversas in­
pria situação. terpretações possíveis para Ezequiel
40-48.
4. A restauração que Deus faria de Israel
seria tanto física quanto espiritual.

424
Ezequiel 25-48

Questões para estudo

1. Quais eram as implicações de Ezequiel cia sutil para os cristãos de hoje en­
profetizar contra outras nações (capí­ contrada em Ezequiel 33.30-33?
tulos 25-37)? De que forma Deus
4. No livro de Ezequiel, Deus prometeu
ainda mostra o seu poder sobre todas
que iria julgar o mal e restaurar o seu
as nações?
povo. Que diferença essa promessa
2. Descreva a função do atalaia no livro deve fazer na vida do povo de Deus
de Ezequiel. Em que sentido o cristão nos dias de hoje?
dos dias de hoje têm esse papel?
Descreva as várias formas como os
3. Avalie a seguinte afirmação: "Os ou­ cristãos têm interpretado Ezequiel
vintes de Ezequiel escutavam o que 40-48. Você tem preferência por al­
ele estava dizendo para eles, mas não gum desses pontos de vista? Se sim,
o ouviam de fato". Qual é a advertên- por quê?

Leituras corrapSementares

Cooper, Lamar Eugene, Sr. Ezekiel. New American Com­ Taylor, John B. Ezekiel: An Introduction and Commen­
mentary 17. Nashville: Broadman & Holman, 1994. tary. Tyndale Old Testament Commentary. Downers
Forte em exegese e exposição. Grove: InterVarsity, 1969. Um bom comentário em
Cragie, Peter C. Ezekiel. Daily Study Bible. Filadélfia: nível universitário.
Westminster, 1983. Para o leitor em geral.

como forma de relembrar o sacrifício de Cris­ põe que as palavras de Ezequiel foram parci­
to pelos pecados do mundo. De acordo com almente cumpridas no período do segundo
essa visão, então o reino de Cristo teria carac­ templo. O resto se cumpriria por completo na
terísticas judaicas. era da igreja ou no reinado do milênio.
Um terceiro ponto de vista entende que Um quinto ponto de vista sugere que de­
esses capítulos referem-se de maneira proféti­ vemos entender a linguagem de Ezequiel
ca à Igreja. Os proponentes dessa visão po­ como sendo um exemplo de literatura simbó­
dem encarar os acontecimentos descritos por lica e apocalíptica.9 Ezequiel expressou algu­
Ezequiel como sendo profecias que estão se mas importantes verdades espirituais sobre
cumprindo nos dias de hoje de forma espiri­ Deus e o seu reino em termos palpáveis que
tual. Outros acreditam que elas se referem à seus leitores poderiam compreender.
vida no reino celestial de Deus. Eles citam as Ao longo dos capítulos 40-48, ele retratou
palavras de Jesus sobre o seu cumprimento da o plano perfeito de Deus para o seu povo, a
Lei e dos Profetas (Mt 5.17,18) e sugerem que presença eterna de Deus com o seu povo e as
a Igreja tomou o lugar de Israel nos planos de bênçãos e responsabilidades da vida no reino
redenção de Deus (G1 3.28,29). vindouro de Deus.
Um quarto ponto de vista é uma combina­ Seja qual for a visão de Ezequiel 40—48
ção da primeira e da terceira visão.8 Ele pro­ que decidirmos adotar, ela deve criar expec­
425
Descobrindo os Profetas

tativa dentro de nós. Deus está planejando seus olhos. Os cristãos devem reconhecer que
um futuro emocionante! Ele irá restaurar o o Senhor tem a liberdade dc cumprir as pala­
seu povo e juntá-lo perto de si. Ele será o Deus vras de Ezequiel da forma como ele achar
deles e eles serão o seu povo. Ele irá mostrar melhor. Qualquer que seja o seu plano, certa­
sua glória e seu cuidado para com eles eterna­ mente será indescritível!
mente. E ele enxugará todas as lágrimas de

426
""li®
...- • " :
....
Daniel
Oreino de -

Agora e para sempre

Esboço
• O livro de Daniel como literatura
apocalíptica
A singularidade da literatura apocalíptica
Características da literatura apocalíptica
Objetivos
0 apocalíptico "bíblico"
• Conteúdo do livro de Daniel Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
Conteúdo
• Descrever a distinção do livro de Daniel
Visão geral
comparado-o com o resto do Antigo
• Os temas teológicos de Daniel Testamento.
A soberania de Deus • Fazer o esboço do livro de Daniel.
0 orgulho da humanidade • Mostrar como Daniel e seus três amigos
A vitória final dos santos de Deus foram fiéis a Deus.
• Problemas de interpretação • Descrever as visões de Daniel.
Material bilingüe • Identificar os três temas predominantes
do livro de Daniel.
Identificação dos quatro reinos
• Dizer como Daniel aborda as nações de
Visão das "setenta semanas"
forma diferente dos outros profetas do
Questões históricas Antigo Testamento.
Data de composição • Explicar por que há problemas de
interpretação do livro de Daniel.
• Responder às acusações de que o livro
de Daniel é repleto de erros.
• Avaliar as duas diferentes posições sobre
a data do livro de Daniel.

427
Descobrindo os Profetas

Daniel é um dos livros mais controversos e vros afirmam que seus autores são venerados
Cânon
debatidos da Bíblia. Ainda assim, sua mensa­ heróis da fé israelita (tais como Enoque,
gem é clara e indiscutível. Enquanto estudio­ Abraão, Isaías ou Esdras) que viveram sécu­
literatura sos da Bíblia ainda lidam com questões como los antes dos livros terem sido escritos.
apocalíptica datas e precisão histórica, o livro de Daniel pede Esses escritos apocalípticos também com­
continuamente por fé entre aqueles que são partilham de um conteúdo semelhante. Eles
apocalípticos do povo de Deus de qualquer geração. O livro preocupam-se com o futuro e, com freqüên­
intertesta- relata episódios e visões de Daniel, um crente cia, revelam um julgamento escatológico. Eles
mentais tentando permanecer fiel enquanto vivia em normalmente dividem a História em períodos
uma terra estrangeira e hostil à sua fé. distintos de tempo (como, por exemplo, qua­
pseudônimo tro reinos e setenta semanas dos anos). O ápi­
ce da História é o julgamento final que re­
compensa os bons e castiga os maus em uma
escatológico 0 livro de Daniel vida além da morte.
como literatura Essa literatura é sensível à distinção entre
vaticinium ex o mundo espiritual e o mundo físico. Algu­
eventu apocalíptica mas vezes, anjos ou demônios representam o
mundo sobrenatural. Outras vezes, o recipi­
Um dos motivos para debate é a distinção ente da visão é levado para o outro mundo
período de Daniel quando comparado com os outros
intertesta- para uma jornada celestial. Assim, a literatu­
livros do Antigo Testamento. O Cânon cris­ ra apocalíptica envolve tanto o temporal (tem­
mental
tão incluiu Daniel entre os profetas, mas o po escatológico) quanto o espacial (verdade
Cânon hebraico o coloca entre obras chama­ celestial).
apocalípticos das de “Os Escritos” (ver discussão no capítu­ Muitos desses escritos usam uma técnica
bíblicos lo 1). De fato, uma leitura rápida revela que na qual um acontecimento bastante conhe­
Daniel é diferente dos outros profetas do cido do passado é relatado de forma a pare-
Antigo Testamento tanto em conteúdo quan­ cer-se com uma previsão para o futuro. O au­
to em estilo. O que é diferente e por quê? tor toma a posição de um profeta predizendo
e fala do acontecimento como se ainda esti­
A singularidade da literatura
vesse por vir. Se os leitores acreditassem em
apocalíptica
tal profecia (conhecida como vaticinium ex
Daniel é singular porque contém material eventu , “previsão depois do fato”) como sen­
que os estudiosos modernos chamam de lite­ do verdadeira, dariam mais crédito ao livro.
ratura apocalíptica. Esse tipo de literatura é Alguns estudiosos acreditam que o livro de
definido pelo livro de Apocalipse, no Novo Daniel lançou mão dessa técnica (ver abaixo).
Testamento, que é o documento mais antigo
com o título de “apocalipse” ou “revelação”. O apocalíptico "bíblico"
O termo refere-se a um conjunto de docu­ O Antigo Testamento contém algumas pas­
mentos contendo uma singular forma de esti­ sagens que mostram certas características como
lo e comunicação e tendo em comum o mes­ as descritas acima e que normalmente são de
mo conteúdo básico.1A literatura apocalípti­ natureza apocalíptica (J13; Is 24-27 e partes de
ca era amplamente divulgada no Judaísmo Ezequiel e Zacarias). Apesar dessas passagens
nos tempos de Cristo e teve uma influência e do livro de Daniel mostrarem características
profunda no Cristianismo primitivo. claramente apocalípticas, eles também possu­
em diferenças significativas em relação ao li­
Características da literatura vros apocalípticos escritos mais tarde, no perío­
apocalíptica do intertestamental. Devemos, provavelmen­
Os livros apocalípticos intertestamentais te, ver esses trechos, bem como o livro de Apo­
têm diversas características em comum. Eles calipse no Novo Testamento, como sendo cons­
sempre contêm algum tipo de visão. A revela­ tituintes de uma outra categoria literária cha­
ção inicial normalmente é simbólica e miste­ mada de “apocalípticos bíblicos”. Essa sub-
riosa e requer a interpretação por parte de um categoria começa com materiais históricos e,
intermediário celestial. O nome do autor, de forma gradual, move-se para um material
quando é dado, de um modo geral é um pseu­ de características mais apocalípticas (especial­
dônimo ou nome literário. Muitos desses li­ mente em Zacarias e Apocalipse).
428
Daniel

Um relevo Daniel tem muito em comum com outras de relatam os acontecimentos da vida de
assírio mostra passagens apocalípticas do Antigo Testamen­ Daniel e seu ministério nas cortes estrangei­
um leão sendo
to. Mesmo assim, quando comparamos o livro ras da Babilônia e Pérsia. As visões da segun­
solto de sua
jaula. Os reis de Daniel com os outros profetas do Antigo da metade são relatos pessoais de Daniel de
assírios tinham Testamento de um modo geral, vemos que uma época posterior de sua vida.3
leões para caçar. esse livro é completamente único. Outras pas­
Daniel foi sagens vêem o futuro da perspectiva de Israel Esboço
sentenciado a e das promessas da aliança de Deus com o seu
ser colocado em I. A preparação de Daniel e seus
povo. Mas o ponto de vista de Daniel é dife­
uma cova de amigos (1.1-21)
leões. rente. Ele considera os impérios mundiais se­
culares à luz dos propósitos finais de Deus e II. O sonho de Nabucodonosor
descreve o reino vindouro de Deus.2 Quando e a interpretação de Daniel
descreve o futuro, Daniel usa um panorama (2.1-49)
universal.
O propósito do livro de Daniel também é III. A fornalha de fogo (3.1-10)
singular. Esse livro não chama os leitores a ar-
repcnderem-se e buscarem uma nova vida, IV. O sonho de Nabucodonosor e a
como é o caso de muitos dos outros profetas. interpretação de Daniel (4.1-37)
O livro de Daniel chama o povo a ser fiel e
V. A escritura na parede (5.1-31)
obediente durante os tempos de dificuldade.
Esse propósito faz parte de sua natureza como V I. A cova dos leões (6.1-28)
literatura apocalíptica.
V IL Visão das quatro bestas (7.1-28)

V III. Visão dos reinos (8.1-27)


Conteúdo do
IX . A oração de Daniel e a visão das
livro de Daniel setenta semanas (9.1-27)
O livro de Daniel pode ser conveniente­ X . Mensagem de encorajamento
mente dividido em duas partes: as histórias (10.1-11.45)
narrativas dos capítulos 1-6 e as visões dos
capítulos 7—12. As histórias da primeira meta­ X I. Problemas e vitória (12.1-13)

429
Descobrindo os Profetas

Visão geral O orgulho também é o tema central do


quiasmo
capítulo 5. Belsazar é o exemplo perfeito do
Daniel 1-6 governante cheio de arrogância que se acha
Os capítulos de abertura contêm três das invencível. Mas Deus rapidamente transfor­
mais famosas histórias da Bíblia. A fornalha mou sua rebelião pomposa em terror desespe­
de fogo de Nabucodonosor (capítulo 3), a es- rado (v. 6). No capítulo 6, Daniel é vítima de
critura na parede na festa de Belsazar (capí­ ódio, ciúmes e engano. Mas Deus honrou sua
tulo 5) e a cova dos leões de Dario (capítulo 6). firmeza espiritual mesmo em meio aos leões
Mas todas as histórias dos capítulos 1-6 têm na cova.4
em comum um único tema: Daniel e seus Cada capítulo da seção histórica abre com
amigos conseguem testemunhar sua fé peran­ um problema específico que vai ser solucio­
te um mundo hostil. Apesar das circunstânci­ nado ao longo da narrativa. Com freqüência,
as serem muitas vezes desagradáveis, esses jo­ os problemas ameaçam a fé ou a vida de Da­
vens buscaram constantemente a retidão dian­ niel e seus amigos. Mas o problema é sempre
te de imensas adversidades. Durante esse pro­ resolvido mediante a fidelidade de um servo
cesso, eles aprenderam que Deus é fiel. de Deus que se vê diante de circunstâncias
O capítulo 1 apresenta o jovem Daniel (pro­ difíceis. Nos capítulos 1,3 e 6, a fidelidade
vavelmente um adolescente) e seus três ami­ religiosa de Daniel e seus amigos é atacada
gos. Nabucodonosor, o rei babilônio conquis­ de forma direta. Em cada caso, a lealdade a
tador, os captura e os leva para o exílio, para Deus e a fé em seu caráter santo trazem o
servirem na corte real. Os babilônios levam livramento. Nos capítulos 2,4 e 5, reis babilô­
Daniel para um outro lugar onde procuram nios recebem mensagens misteriosas de Deus
treiná-lo em sua cultura pagã. Eles tiraram- e não são capazes de compreendê-las (dois
lhe sua família, seu lar, sua cidade natal — são sonhos e a outra é uma escrita esotérica).
Jerusalém — e qualquer outra coisa que po­ Nos três casos, o problema é resolvido porque
deria lhe dar alguma segurança na vida. Mas Deus concede a Daniel a interpretação do
Daniel estava decidido a obedecer a vontade comunicado divino.
de Deus para sua vida, até naquilo que co­ Os capítulos 1-6 combinam com o capítu­
mia. Ele recusou-se a desistir de sua fé em lo 7 e estão organizados em torno de uma es­
Deus (1.8). Daniel provou ser fiel, antes de trutura concêntrica conhecida como quias-
mais nada, nas pequenas coisas e, no final, mo: os capítulos 2 e 7 são correspondentes,
Deus o honrou por sua obediência e o prepa­ assim como os capítulos 3 e 6 correspondem
rou para uma longa vida ao seu serviço entre si e os capítulos 4 e 5 apresentam corres­
(1.9,17). pondência. Assim, temos o seguinte padrão:
No capítulo 2, Nabucodonosor viu uma
estátua bizarra em um sonho. Daniel foi ca­ 2 Uma visão de quatro reinos e seu final
paz de evitar um desastre ao discernir tanto o (Nabucodonosor).
sonho quanto sua interpretação. Assim, Deus 3 Fidelidade e salvação miraculosa
demonstrou que estava no controle dos rei­ (os três amigos).
nos da terra (quatro deles representados na 4 Experiência de julgamento e
visão) e que havia dado a Daniel um dom previsão (Nabucodonosor).
especial de discernimento (2.19). 5 Experiência de julgamento e
Nabucodonosor tentou levar todo o Impé­ previsão (Belsazar).
rio Babilônio a adorar um ídolo de ouro com 6 Fidelidade e salvação miraculosa
três metros de altura (capítulo 3). A resistên­ (Daniel).
cia de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego em 7 Uma visão de quatro reinos e seu final
adorar à imagem fez com que fossem parar (Daniel).5
em uma fornalha de fogo. Mas Deus os salvou
e sua fé persistente serve de inspiração para Essa organização transforma o capítulo 7
todas as gerações de crentes. O sonho de N a­ em um capítulo de transição entre as duas
bucodonosor (capítulo 4) era um mistério para metades do livro. Os quiasmos normalmente
todos os sábios da Babilônia, exceto para Da­ enfatizam o ponto central como sendo o pen­
niel. De forma miraculosa, Daniel pôde ad­ samento principal de uma unidade. Isto signi­
vertir Nabucodonosor que o orgulho inevita­ ficaria que os capítulos 1-7 estão preocupa­
velmente acabaria sendo sua ruína. dos com a punição de governantes orgulhosos
430
Daniel

clui a passagem discutida com freqüência so­


Cidadania bre os “setenta setes” ou “setenta semanas de
anos” (vs. 24-27). A visão de conclusão con­
cristã tém a mais clara referência à ressurreição en­
contrada no Antigo Testamento (12.1-3).
Os capítulos 7 e 8 estão intimamente rela­
cionados, apesar de terem sido escritos em lín­
Os cristãos que vivem no mundo de hoje têm tanto
a responsabilidade de serem fiéis a Deus quanto a guas diferentes (ver discussão sobre a questão
responsabilidade de serem cidadãos produtivos na bilingüe). A visão de Daniel no capítulo 7
sociedade. Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego prevê quatro reinos representados na forma
são bons exemplos de como é possível conseguir esse de animais que são cada vez mais terríveis em
equilíbrio. aparência e conduta. Do último animal saiu
A maior prioridade para todo cristão é viver dentro um chifre insolente, que proferia palavras de
da vontade de Deus. As leis sociais criam uma estrutu­ rebelião, desafiava a autoridade de Deus e
ra prática que transmite as idéias de uma sociedade perseguia o povo de Deus. Enquanto Daniel
sobre o que é mutuamente benéfico para todos os observava, apareceram em sua visão o “An­
cidadãos. Os cristãos devem estar comprometidos em cião de dias” e “aquele que é como Filho do
valorizar e obedecer esse consenso moral. Mas além Homem”, que juntos estabeleceram o quinto
disso, o cristão tem uma voz de maior autoridade a e último reino, um reino eterno dos Santos
qual deve obedecer. do Altíssimo. A visão do capítulo 8 prevê
Os cristãos podem e devem contribuir para a socie­ duas criaturas em mais detalhes. Novamente
dade. Daniel e seus amigos tornaram-se altos oficiais um império humano é responsável por infligir
do governo e serviram da melhor maneira que lhes foi sofrimento sobre o povo de Deus.
possível. Mas se a sociedade exigia alianças ou ações No capítulo 9, Daniel estava estudando o
que interferiam com o seu serviço a Deus e seu com­ livro de Jeremias e orando para o exílio termi­
prometimento de viver dentro da vontade dele, eles
nar. Sua oração pelo perdão e restauração de
silenciosamente desobedeciam essas leis humanas.
Judá resultou em uma outra visão na qual o
Assim, os cristãos recebem ordens superiores. O
anjo Gabriel relatava a misteriosa revelação
mundo precisa de cristãos que expressem suas opi­
das setenta semanas. Os capítulos 10-12 rela­
niões e tomem uma posição em relação a aspectos da
sociedade. Jesus chama sua igreja para ser o sal do
tam a visão dramática que Daniel teve na
mundo, o que envolve trabalhar como um agente qual ele viu uma tentativa de destruir o Ju­
purificante e que dá sabor (Mt 5.13). Como luz do daísmo no 2- século a.C. pelo governante gre­
mundo, os cristãos devem refletir e proclamar a salva­ go ANTÍOCO IV EPIFÂNIO. Esse rei é a
ção que Cristo morreu para oferecer (Mt 5.14-16). epítome do governante humano cheio de pom­
pa. Apesar de não conseguir aniquilar o povo
de Deus, ele é capaz de lhes causar sofrimen­
to sem precedentes. No final, as forças sobre­
por Deus, pois este é o ponto central nos capí­ naturais do céu intervém para assegurar a vi­
A ncião de
tulos 4 e 5. Portanto, a seção histórica, de um tória do reino de Deus, No capítulo 12, Da­
dias
modo geral, forma uma teologia da História niel ficou sabendo que os justos não serão in­
na qual Deus livra aqueles que o represen­ formados do dia da vitória final de Deus. O
Filho do tam fielmente no mundo e humilha os orgu­ povo de Deus deve aprender a viver pela fé e
H om em lhosos que não tomam conhecimento dele. na segurança da vitória sem precisar saber dos
detalhes específicos.
setenta
Daniel 7-12
setes Apesar das visões nos capítulos 7—12 se­
rem, geralmente, menos conhecidas que as
histórias da primeira metade, ainda assim elas
Os temas teológicos
Santos do
A ltíssim o contêm passagens individuais que são bastan­ de Daniel
te conhecidas por seu conteúdo teológico. A
visão do capítulo 7 mostra Deus como “o An­ Há muitos temas teológicos secundários no
cião de dias”; uma outra figura é chamada livro de Daniel que são auxílios para o estudo,
de “Filho do Homem”, uma designação que como o papel da oração em Daniel (2.18; 9.3,
Jesus usou para si mesmo (Mt 16.27; 24.30; 20-23) ou a compreensão de Daniel da men­
26.44; Mc 8.38; 13.26, etc.). O capítulo 9 in­ sagem profética do Antigo Testamento de um
431
Descobrindo os Profetas

modo geral (4.27). Mas há três temas predo- tam como os servos de Deus (Daniel e seus
minantes no livro: a soberania de Deus, o or­ amigos) foram capazes de superar as mais po­
gulho autodestrutivo da humanidade e a vi­ derosas forças humanas na terra, enquanto
tória final do reino de Deus. procuravam manter-se fiéis a Deus. A primei­
ra visão (capítulo 7) retrata três bestas assus­
A soberania de Deus tadoras e um monstro grotesco que ameaça
Outros profetas do Antigo Testamento sa­ exterminar o povo de Deus. Mas o Ancião de
biam que Iavé, o Deus de Israel, era soberano Dias prevalece e estabelece um reino eterno
sobre o mundo todo, incluindo as outras na­ para os seus santos. Mesmo na perseguição e
ções (por exemplo, Am 1,2). Mas Daniel ilus­ na morte, o Senhor soberano irá oferecer res­
trou esse fato de maneiras novas e claras. surreição (12.1-3). Nas histórias, Deus era so­
Daniel demonstrou o senhorio de Deus sobre berano sobre todos os seus inimigos passados.
todo o mundo e não apenas sobre Jerusalém e As visões revelam como essa soberania vai
os israelitas. Essa verdade tinha a intenção de desenrolar-se ao longo da história humana.
ser uma fonte de grande consolo para os israe­ A ênfase na soberania de Deus leva natu­
litas exilados que estavam vivendo em um ralmente aos outros dois temas predominan­
contexto estrangeiro. tes no livro. O orgulho humano e a rebelião
Esse tema que permeia todo o livro torna- são autodestrutivos, pois não reconhecem o
se evidente desde o capítulo 1. O primeiro soberano Senhor do universo; o povo de Deus
versículo afirma que Nabucodonosor foi até será vitorioso no final, pois com ele não há
Jerusalém e a sitiou. O leitor pode supor que o possibilidade de fracasso.
rei da Babilônia fez isso com sua própria e in­
crível força e de acordo com sua própria inspi­ O orgulho da hum anidade
ração. Mas o versículo seguinte deixa claro Uma segunda ênfase do livro de Daniel é
que Nabucodonosor estava agindo de acordo o orgulho e a arrogância da humanidade e
com a vontade de Iavé: “O Senhor lhe entre­ como Deus condena totalmente o egoísmo.
gou nas mãos a Jeoaquim...” (1.2 — o hebrai­ Nas histórias dos capítulos 1—6, o orgulho re­
co n ã ta n , “entregar/dar” é a palavra-chave belde é a questão por trás dos problemas intro­
desse capítulo). duzidos a cada capítulo. Nas visões dos capí­
Depois que Daniel decidiu resistir às pres­ tulos 7-12, a arrogância obstinada dos futuros
sões culturais para ceder em sua fé, Deus lhe líderes mundiais é a inimiga de Deus e de seu
“entregou/deu” (n ãtan) favor perante o chefe povo. No final, em todos os casos Deus agiu,
dos eunucos de Nabucodonosor. Mais tarde, ou irá agir de maneira a transformar o orgulho
Deus “entregou/deu” (n ãtan ) aos quatro ju­ c a arrogância do ser humano em vergonha e
deus conhecimento e discernimento que ex­ desgraça.
cediam os de outros e a Daniel, um dom Nabucodonosor (capítulo 4) e Belsazar
para compreender visões e sonhos (1.17). As­ (capítulo 5) são exemplos específicos do orgu­
sim, esse capítulo enfatiza a soberania de Deus lho humano (esses capítulos constituem a por­
sobre os assuntos de Estado (Babilônia e Is­ ção central dos capítulos 1-6, ver acima). Em
rael, 1.2), bem como sobre indivíduos (Daniel ambos os casos, seu orgulho os reduziu a um
e seus três companheiros, 1.17). estado patético de completo desamparo e ri­
No que diz respeito especificamente às na­ dículo. Depois que Deus agiu, mal podia-se
ções, Daniel acrescentou uma nova perspecti­ reconhecer esses homens como reis da gran­
va profética. A maior parte dos outros profetas de e poderosa Babilônia (4.33; 5.6,20).
tem profecias contra as nações inimigas de Is­ O orgulho dos impérios mundiais é o tema
rael (Is 13-23; Jr 46-51, etc.). Mas Daniel vê central dos capítulos 7-12. Os capítulos 7 e 8
os principais impérios em uma ordem mostram uma sucessão de líderes mundiais
seqüencial de quatro, seguidos por um quinto orgulhosos até chegar a um clímax de orgu­
e eterno reino. Em vez de pregar sermões con­ lho imperial com o pequeno chifre com uma
tra os vizinhos mais próximos de Israel, Daniel grande boca (7.8). Mas um novo reino celes­
têm visões de futuros impérios que se opõem a tial liderado pelo Ancião de Dias e o Filho do
Deus e oprimem o seu povo em toda a parte. Homem substituirá esses reinos humanos chei­
Tanto as histórias quanto as visões mostram os de orgulho. Nos capítulos 10-12, as forças
uma luta entre governantes sucessivos do sobrenaturais do céu irão mobilizar-se para
mundo e o reino de Deus. As histórias rela­ esmagar o último governante anticristo do
432
Daniel

mundo, que ergueu-se arrogantemente sobre supremo nos céus e na terra e aqueles que se
todos os deuses (11.36-45). aliarem a ele irão compartilhar do seu triunfo.
O livro de Daniel é especialmente rele­ Não importa quão severa é a perseguição, os
vante para todas as gerações de cristãos, pois inimigos de Deus não podem acabar com sua
ele confronta o orgulho como sendo o proble­ comunidade de crentes. A natureza apoca­
ma crucial. O pecado e a rebelião estão sem­ líptica singular de Daniel nos ensina que sem­
pre enraizados no orgulho e no egocentrismo. pre foi assim (capítulos 1-6) e sempre será
Assim, a salvação deve envolver confissão, (capítulos 7-12). Mesmo na morte, o povo de
rejeição da auto-suficiência orgulhosa, depen­ Deus é vitorioso (12.1-3).
Uma réplica do dência de Deus (Mc 8.34), e todos esses com­ O que prevalece nesse livro é a idéia dos
portão de portamentos são magnificamente demonstra­ quatro grandes reinos que serão seguidos por
Ishtar, antiga dos por Daniel, seus três companheiros e, mais um quinto reino (capítulos 2 e 7). Tradicio­
Babilônia. A
primeira metade
tarde, o serão pelos Santos do Altíssimo. nalmente, os intérpretes consideram que es­
do livro de ses reinos se referem à Babilônia, MEDO-
Daniel relata
A vitória final dos santos PERSA, GRÉCIA e ROMA, respectivamente.
acontecimentos de Deus Mas a identidade exata desses reinos é am­
da vida e Daniel também fez muitas revelações so­ plamente discutida até mesmo entre os evan­
ministério de
bre o reino de Deus. A mensagem fundamen­ gélicos.6 Apesar de haver dúvidas quanto aos
Daniel nas
cortes da tal de Daniel é de que, mediante qualquer detalhes exatos, a mensagem é clara e irrefu­
Babilônia e da circunstância, é possível viver uma vida de fé tável. Todos os reinos da terra são efêmeros,
Pérsia. e vitória com a ajuda de Deus. Deus reina não importando o quão impressionantes eles
possam parecer no momento. No final, o Fi­
lho do homem irá trazer o reino eterno do
Ancião de dias (7.14).
Apesar da promessa ser garantida, o resto
do livro descreve uma espera pela chegada
do reino eterno de Deus. Durante esse perío­
do, o povo sofrerá duras provações e persegui­
ções nas mãos dos líderes mundiais orgulho­
sos e incrédulos. As setenta semanas dos anos
(9.24-27) e a promessa de ressurreição (12.1-
3) pressupõem que os santos de Deus terão
que suportar as provações durante um perío­
do de tempo limitado. Mas aqueles que pas­
sarem por isso fielmente e esperarem o tempo
de Deus irão participar de sua vitória final.
Daniel é a fonte primária da escatologia do
Antigo Testamento. Junto ao livro de Apoca­
lipse no Novo Testamento, ele oferece muitos
dos dados que temos para as interpretações do
fim dos tempos. Mesmo que os cristãos discor­
dem entre si em relação a questões como a
volta de Cristo e os detalhes do seu reinado, a
questão mais importante é se a igreja nos dias
de hoje está vivendo de forma digna das suas
bênçãos e aceitação quando ele vier outra vez.
Em outras palavras, os detalhes da escato­
logia não são tão cruciais quanto a ética
escatológica: ter um comportamento imita­
dor de Cristo agora e neste mundo e viver
antecipando a sua volta. Daniel ensina que o
povo de Deus pode e deve ter uma vida santa
e reta mesmo sofrendo as injustiças dessa vida.
Somos encorajados afazê-lo, pois um dia Deus
nos trará a vitória final.
433
Descobrindo os Profetas

IIIIIIIIMillllll i l I l I l l ll ll l M
a.C. (comentaremos mais sobre isto adiante).
Problemas de Essa posição nega a possibilidade de profecias
de previsão que sejam detalhadas e precisas.
abominação interpretação Agora, entretanto, alguns evangélicos acei­
de desolação tam a possibilidade de que o quarto império
Material bilingüe tenha sido a Grécia, mesmo mantendo o sé­
E interessante observar que, além de culo seis como a época em que o livro foi es­
Esdras,2 Daniel é o único livro bilingüe na Bí­ crito.11 O ponto de vista tradicional, que iden­
blia. O livro contém tanto hebraico quanto tifica o quarto reino como sendo Roma, ainda
aramaico, uma língua da mesma família do tem muito que conta a seu favor.
hebraico e que, aos poucos, foi substituindo-o
como língua nativa dos exilados judeus. O Visão das “setenta semanas"
aspecto mais surpreendente do uso dessas duas A visão que Daniel teve das “setenta se­
línguas é que a mudança de uma para a outra manas” ou setenta períodos de tempo tam­
não acontece na divisão de unidades do livro. bém é difícil de ser interpretada (9.24-27).
Em vez dos capítulos 1-6 serem em uma lín­ Muitos intérpretes de hoje supõem que ela é
gua e os capítulos 7—12 serem em outra, o uma profecia ex eventu, ou seja, que foi escrita
livro é em hebraico de 1.1—2.4a, em aramaico depois que os acontecimentos supostamente
de 2.4b—7.28 e em hebraico novamente nos previstos já haviam ocorrido no século 2Qa.C.
capítulos 8-12. A interrupção do sistema sacrificial e a “abo­
Estudiosos sugerem muitas explicações cri­ minação de desolação” normalmente são da­
ativas para Daniel ter usado as duas línguas.8 tados de 167 a 166 a.C.12 De acordo com esse
A idéia mais aceita diz que o livro todo foi ponto de vista, a passagem não é uma verda­
originalmente composto em aramaico. O co­ deira profecia de previsão, mas sim um olhar
meço (l.l-2.4a) e o fim (8-12) foram tradu­ retrospectivo sobre acontecimentos que já
zidos para o hebraico para assegurar a aceita­ haviam ocorrido.
ção do livro no Canon.9 Todas as tentativas Mas muitos estudiosos evangélicos argu­
de se explicar a natureza bilingüe do livro de mentam que esses versículos são, de fato, pro­
Daniel são altamente especulativas. Talvez o fecia de previsão futurista e que essas profe­
autor tivesse usado o aramaico de propósito cias serão perfeita e completamente cumpri­
como um recurso literário para colocar as his­ das em Jesus Cristo, apesar de não haver mui­
tórias que se passaram na Babilônia e na Pérsia to acordo em qual seria a interpretação espe­
em uma perspectiva diferente das visões dos cífica. Daniel viu os detalhes da vinda de
capítulos 8-12.10 Cristo de maneira vaga, como se estivesse
olhando para várias cadeias de montanhas.
Identificação dos quatro reinos As montanhas mais distantes só são visíveis
Há muitas questões de difícil interpreta­ pelo seu contorno e é impossível para o obser­
ção no livro de Daniel. Mencionamos anteri­ vador determinar a sua distância exata por
ormente, por exemplo, que muitos estudiosos causa das outras montanhas e vales que estão
discordam sobre quais são os quatro reinos dos na frente. Não há dúvidas de que os judeus
capítulos 2 e 7. Muitos restringem o debate a do século 2Qsentiram que essa profecia havia
uma discussão entre evangélicos e não-evan­ se cumprido nos seus dias. E é possível que isto
gélicos. A posição dos evangélicos seria supor tenha ocorrido parcialmente, tendo em vista
que os quatro reinos de Daniel 2 e 7 são Babi­ que eles estavam em uma cadeia de monta­
lônia, Medo-Persa, Grécia e Roma. Dessa for­ nhas intermediária. “Mas guiado pelo Espírito
ma, o reino dos céus estaria identificado cla­ Santo, [Daniel] estava na verdade apontan­
ramente com a vinda de Cristo e o nascimen­ do para a vinda de Jesus Cristo, mais de um
to do Cristianismo durante o período romano. século e meio mais tarde”.13
Por outro lado, o ponto de vista não-evan­
gélico, que normalmente data o livro de Da­ Questões históricas
niel como sendo do segundo século, supõe O livro de Daniel, portanto, contém certas
que os impérios são Babilônia, Média, Pérsia e passagens que são controversas e apresentam
Grécia. Assim, o reino dos céus sucedendo o mais de um sentido possível. Mas além disso,
período grego seria o estado judeu estabeleci­ alguns estudiosos modernos afirmam que o
do pelos Macabeus durante o segundo século livro é cheio de imprecisões históricas. Nor­
434
Daniel

malmente, eles argumentam que o autor iden­ nosor como sendo seu pai, enquanto sabemos
tificou incorretamente figuras históricas e con­ que Belsazar era filho de Nabonido, que pos­
fundiu certas datas dentro do livro. A seguir sivelmente não tinha nenhuma relação de
vamos discutir alguns desses problemas. parentesco com Nabucodonosor. Mas é de
conhecimento geral que os termos “pai” e “fi­
A loucura de Nabucodonosor lho” no hebraico e no aramaico são mais am­
Muitos estudiosos encaram com ceticismo plos que em nossa própria língua e podem ser
a loucura de Nabucodonosor (4.32,33). A l­ usados para designar o ancestral real ou sim­
guns chegam a afirmar que “não há sombra plesmente aquele que precedeu alguém no
de dúvida” que o autor confundiu Nabuco­ trono. Além disso, é possível que Nabonido
donosor com uma tradição sobre o pai de fosse, na verdade, genro de Nabucodonosor.20
Belsazar, NABONIDO (mencionado nos papi­
ros do Mar M orto).14 Mas evidências docu­ Dario, o Medo
mentais dos últimos anos dentre os quarenta Outro comentário histórico em Daniel que
e três de reinado de Nabucodonosor são pou­ os estudiosos supõem ser impreciso é a refe­
cas e as antigas referências mencionam ape­ rência a DARIO, O MEDO, em 5.31. Fontes
nas uma doença grave antes de sua morte.15 cuneiformes da Babilônia comprovam que a
cidade da Babilônia caiu em outubro de 539
0 "rei" Belsazar
а.C., para o mais conhecido e famoso Ciro, da
O rei Belsazar tem um papel importante Pérsia. Muitos acreditam que Dario, o medo,
no livro de Daniel e três capítulos são datados é absolutamente não-histórico.
como sendo do período do seu reinado (5, 7 e Em vez de supormos erros por parte do au­
8). Porém, tanto quanto sabemos, ele nunca tor antigo, há várias indicações que o mal­
assumiu o título de “rei” (apenas “filho do rei”) entendido é de nossa parte devido à falta de
nos registros da Babilônia.16 De fato, seu nome informações detalhadas. Um estudioso suge­
era tão pouco conhecido pelos historiadores riu que Dario, o medo, possa ser identificado
antes de ser decifrada a literatura cuneifor- com Gubaru um certo governador de uma
me na metade do século 19 que alguns consi­ província da Babilônia.21 Ou Dario, o medo
deravam-no puramente uma invenção do au­ pode ter sido um outro indivíduo também co­
tor de Daniel.17 Alguns estudiosos que anali­ nhecido como Gubaru, que serviu não como
sam o livro de Daniel supõem que o autor governador de província, mas foi um dos con­
confundiu-se ou estava mal-informado sobre quistadores da Babilônia.22
a história da Neobabilônia, tendo em vista que Uma explicação completamente diferen­
o livro com freqüência refere-se a Belsazar te é de que o nome “Dario, o medo” é o nome
como “rei” e “filho” de Nabucodonosor. de trono dado a Ciro, da Pérsia, e que ambos
Entretanto, sabemos que Belsazar foi esta­ são, de fato, o mesmo indivíduo.25 Há evidên­
belecido como co-regente ao lado de Nabo- cias lingüísticas para a idéia de que Daniel
nido, seu pai, durante dez anos e exerceu б.28 deve ser traduzido como: “Daniel, pois,
autoridade real nesse período.18 O autor de prosperou no reinado de Dario, ou seja, no
Daniel relatou uma situação em que Belsazar reinado de Ciro, da Pérsia”. A palavra ara­
era o rei em exercício, e não o co-regente ofi­ maica para “e” (traduzida aqui como “ou seja”)
cial do Estado.19 A palavra aramaica para “rei” algumas vezes serve para esclarecer aquilo que
é mais ampla que seu significado em nossa a precede e, nesse caso, explica que os dois
língua. Era apropriado que o autor de Daniel nomes pertencem à mesma pessoa.24
se referisse a Belsazar como rei, tendo em vis­ Independente de qual dessas explicações
ta que Nabonido aparentemente estava fora parece mais atraente, não devemos partir do
do cenário político naquela época. N a verda­ pressuposto de que o livro de Daniel contém
de, o autor estava bem informado sobre a his­ erros históricos. Antes da descoberta de do­
tória da Neobabilônia, pois ele sabia que Bel­ cumentos babilônios relevantes, muitos estu­
sazar era apenas o segundo no reino e podia diosos supunham que Belsazar era completa­
oferecer fazer de Daniel o terceiro no reino mente fictício. Mas agora fica claro que o autor
(5.7,16,29). estava mais próximo da precisão histórica que
Muitos também supõem que o autor se con­ se pensava antigamente. Apesar de ainda
fundiu em relação ao pai de Belsazar. O capí­ haver diversas dificuldades históricas no li­
tulo 5 menciona com freqüência Nabucodo­ vro, o autor de Daniel não estava confuso
435
Descobrindo os Profetas

quanto aos acontecimentos históricos como A segunda opção afirma que o livro em
vaticinium ex
sugerem os estudiosos modernos. Devemos seu atual formato vem do século 2Qa.C. Mui­
eventu
dar crédito ao autor e supor que qualquer tos estudiosos acreditam que a parte em ara­
inconsistência seja resultante da nossa pró' maico (2.4b-7.28) foi composta em alguma
pria falta de dados disponíveis. Cabe àqueles época do século 3Qa.C. e depois incorporada
que querem desacreditar as Escrituras apre­ na disposição atual durante a crise dos
sentar as provas. macabeus. Quanto Antíoco IV Epifânio ame­
açou destruir o Judaísmo em alguma época
Data da composição de 160 a.C., um autor vivendo na Judéia es­
Todas essas questões difíceis estão de uma creveu uma introdução em hebraico e as vi­
forma ou de outra ligadas ao problema mais sões dos capítulos 8-12 para fechar o livro. O
controverso: quando o livro foi escrito? Há, autor queria encorajar os judeus a continua­
basicamente, duas opções: ou ele vem do fi­ rem sendo fiéis durante a crise e confiar no
nal do século 6- a.C. ou ele foi escrito durante livramento de Deus.
o 2Qséculo a.C.25 A primeira opção enfatiza O segundo ponto de vista supõe que Da­
as diferenças entre Daniel e o resto da litera­ niel tem muito em comum com o resto da
tura apocalíptica. A segunda opção ressalta literatura apocalíptica. Supõe também que o
as semelhanças. autor usou um pseudônimo, escrevendo com
Nossa primeira opção é aceitar que Daniel o nome de um Daniel mitológico, que era
é uma composição do final do século 6- a.C., vagamente conhecido em um outro lugar.26
e nesse caso ela deve ser uma profecia de pre­ Nessa visão as profecias do livro são feitas de­
visão autêntica e não apenas uma profecia pois que os acontecimentos já ocorreram. O
depois do acontecimento (vaticinium ex autor as apresentou na forma futurista para
eventu , ver acima). Nesse caso, não é neces­ encorajar os leitores a permanecerem fiéis a
sário presumir que o livro foi escrito sob um Deus.27 Esse ponto de vista parte do pressu­
pseudônimo como outros livros apocalípticos. posto de que o livro é um ataque à política
Portanto, os relatos em primeira pessoa das vi­ antijudaísmo de Antíoco.
sões nos capítulos 7—12 são referentes ao Da­ Uma das grandes dificuldades com essa se­
niel histórico. Essa visão parte do pressuposto gunda opção é o fato de ela supor que obras
de que o livro é aquilo que diz ser: um livro com pseudônimos foram aceitas no Cânon.
sobre o exilado Daniel, suas experiências nas Não temos nenhuma evidência conclusiva de
cortes da Babilônia e Pérsia e suas visões. que qualquer livro escrito por um autor com
um nome fictício foi aceito no Cânon.26 Mas se
esse fosse o caso, a comunidade cristã teria aceito
um documento desse tipo como parte das Es­
Termos-chave crituras durante um período bastante curto de
Cânon tempo (supostamente dois ou três séculos).
Literatura apocalíptica Além disso, obras com pseudônimos normal­
Apocalíptico intertestamental mente usavam nomes de heróis venerados no
Pseudônimo passado: Enoque, Abraão, Moisés, Esdras, e
Pessoas/ Escatológico assim por diante. Mas Daniel é praticamente
Vaticinium ex eventu
lugares-chave Período intertestamental
desconhecido fora do livro de Daniel.
Além do mais, a data do 2Q século falha
Antíoco IV Epifânio Apocalíptico bíblico em explicar a grande influência que o livro
Nabonido Quiasmo teve na comunidade de QUMRAN como fica
Dario, o medo Ancião de Dias claro nos papiros do Mar Morto. O grande
Belsazar Filho do homem número de fragmentos e cópias de Daniel
Medo-Persa Setenta setes entre os papiros demonstra a popularidade do
Grécia Santos do Altíssimo livro em Qumran. Não teria havido tempo
Roma Macabeus
suficiente para o livro de Daniel (composto
Qumran Abominação de desolação
recentemente) ter exercido uma influência
tão profunda na comunidade de Qumran.29
Concluindo, devemos considerar Daniel
como sendo uma obra “apocalíptica bíblica”,
uma subcategoria da literatura apocalíptica.
436
Daniel

Sumário

1. O livro de Daniel é classificado como uma 6. Daniel é a fonte primária para a escatolo-
obra de literatura apocalíptica e, em vá­ gia do Antigo Testamento.
rios sentidos, é singular.
7. Há problemas de interpretação com o li­
2. As características da literatura apocalíptica vro de Daniel tendo em vista que ele foi
intertestamental são: presença de uma escrito em duas línguas diferentes e tam­
visão e necessidade de interpretação por bém porque a interpretação de cada um
meio de um mediador celestial, autor usa dos quatro reinos é difícil, bem como a
um pseudônimo, tem conteúdo similar visão das “setenta semanas".
no sentido de que divide a História em 8. Estudiosos evangélicos e não-evangélicos
períodos e a História termina com um jul­
discordam sobre a identidade dos quatro
gamento final, envolve aspectos tempo­ reinos.
rais e espaciais e com freqüência usa um
evento ocorrido no passado e o escreve 9. Muitos estudiosos modernos usam a lou­
na forma de uma previsão para o futuro. cura de Nabucodonosor e os fatos sobre
Belsazar e Dario, o medo, como argu­
3. A literatura apocalíptica do Antigo Testa­ mentos para concluir que o livro de Da­
mento não tem todas as características da niel é cheio de erros.
literatura apocalíptica intertesta mental.
10. Os dois pontos de vista para a data de Da­
4. Há duas partes em Daniel: a história nar­
niel apontam, um para o século 2g a.C. e
rativa (capítulos 1-6) e as visões (capítulos outro para o final do século 6Q a.C.
7-12).
11. Um dos maiores problemas na teoria de
5. Os temas predominantes do livro de Da­ que Daniel foi escrito no século 2Q é que
niel são a soberania de Deus, o orgulho ela supõe que uma obra escrita com
autodestrutivo da humanidade e a vitória pseudônimo foi aceita no Cânon.
final do reino de Deus.

Questões para estudo

1. Defina a literatura apocalíptica. 5. Explique a estrutura quiástica dos sete pri­


2. De que forma Daniel é singular em rela­ meiros capítulos de Daniel. Qual é o pen­
ção aos outros livros do Antigo Testa­ samento central desse quiasmo?
mento? 6. Quais são algumas das visões mais conhe­
3. Qual é o principal chamado que o livro cidas que podemos encontrar nos capítu­
de Daniel coloca para os seus leitores? los 7-12?

4. De que maneira os temas de fidelidade e 7. Discuta alguns dos principais temas teoló­
lealdade a Deus e o livramento de Deus gicos do livro de Daniel.
são trabalhados no livro de Daniel? 8. Discuta os problemas de interpretação de
Daniel.

437
Descobrindo os Profetas

Leituras complementares

Baldwin, Joyce G. Daniel: An Introduction and Com­ Russel, D. S. Daniel, An Active Volcano: Reflections on
mentary. Tyndale Old Testament Commentary. the Book o f Daniel. Louisville: Westminster/John
Downers Grove: InterVarsity, 1978. Uma exposição Knox, 1989. Observação teológica de ajuda com
excelente, porém breve. muitas aplicações contemporâneas.
Collins, John J. Daniel: A Commentary on the Book of Wenham, Gordon J. "Daniel: The Basic Issues", Theme-
Daniel. Hermenia. Minneapolis: Fortress, 1993. A lios 2, n°2 (1977): 49-52.
melhor e mais completa apresentação dos estudos Wiseman, Donald J., org. Notes on Some Problems in
mais tradicionais. the Book o f Daniel. Londres: Tyndale, 1965. Uma
Goldingay, John E. Daniel. Word Biblical Commentary 30. avaliação acadêmica das questões difíceis do livro de
Dallas: Word, 1989. Informativo e completo, porém Daniel a partir de um ponto de vista evangélico.
limitado em sua utilidade por causa do dogmatismo Young, E. J. The Prophecy o f Daniel. Grand Rapids:
sobre a data mais recente de composição. Eerdmans, 1949.

Ela é apocalíptica em sua natureza (espe­ Os capítulos 7-12 devem ter sua origem em
cialmente os capítulos 7-12), apesar de dife­ Daniel, pois as histórias dos capítulos 1-6 são
rir significativamente da literatura apocalíp­ historicamente confiáveis. São convincen­
tica intertestamental. A forma apocalíptica tes as evidências de que o livro contém pre­
bíblica foi, assim, a predecessora desse tipo visões verdadeiras e não retrospectivas e a
de literatura judaica em períodos mais re­ data do século 69 não deve ser descartada
centes, bem como no Cristianismo primitivo. precipitadamente.00

438
Oséias, Joel e Amós
Um chamado para o arrependimento
e uma promessa de bênção

Esboço
• Oséias: Compartilhando o sofri­
mento de Deus
Esboço
0 homem
Seus tempos
Objetivos
Principais temas do iivro
Conteúdo do livro Depois de ler este capítulo,
você deve ser capaz de:
Oséias e o Novo Testamento
• Delinear o conteúdo básico de Oséias.
• Joel: O dia do Senhor
• Descrever o período de tempo do ministé­
Esboço
rio de Oséias.
Pano de fundo de Joel
• Relacionar os temas de Oséias.
A mensagem de Joel
• Delinear o conteúdo básico de Joel.
• Amós: Um pastor pela justiça social • Delinear o conteúdo básico de Amós.
Esboço
• Identificar as oito nações contra as quais
Pano de fundo de Amós Amós profetizou.
A mensagem de Amós • Relacionar as cinco visões de julgamento
sobre as quais Amós profetizou.

439
Descobrindo os Profetas

Existe um poema famoso que diz: O homem


Astarote
A grande coragem e convicção de Oséias
Pela falta de um prego, perdeu-se a
deram forma ao seu ministério profético. Sua
ferradura,
esposa Gômer cometeu adultério contra ele e
Pela falta de uma ferradura, perdeu-se
Oséias sofreu a agonia do ciúme, traição, hu­
um cavalo,
milhação e vergonha. Ainda que aqueles ao
Pela falta dc um cavalo, perdeu-se o
seu redor estivessem rindo, Oséias profetiza­
cavaleiro,
va. Ele disse a Israel que ela, a esposa de Deus,
Pela falta de um cavaleiro, perdeu-se
era como Gômer. Assim como Deus queria
a batalha,
que marido e mulher tivessem um compro­
Pela falta de uma batalha, perdeu-se
metimento um para com o outro, da mesma
a guerra,
forma ele esperava total comprometimento por
Pela falta de uma guerra, perdeu-se o
parte de sua noiva, Israel. Corno Oséias vivia
reino,
no meio dos seus ouvintes, eles viam a sua dor
E tudo pela falta de um prego de ferradura!
e recebiam a sua mensagem por meio de suas
O que esse poema quer mostrar, obviamen­ palavras e de sua vida.
te, é como algumas vezes itens pequenos e Sabemos muito pouco sobre as origens de
insignificantes têm um impacto enorme sobre Oséias. O seu nome significa “O Senhor Sal­
acontecimentos presentes e futuros. va” e está relacionado com os nomes “Josué”
Os profetas dos doze últimos livros do An­ e “Isaías”. Seu pai, Beeri, aparece apenas em
tigo Testamento receberam o nome de Profe­ Oséias 1.1. Nenhum outro livro do Antigo
tas Menores. A maioria desses livros tem ape­ Testamento menciona esse profeta e as refe­
nas alguns capítulos e, à primeira vista, eles rências que o Novo Testamento faz às pala­
podem parecer uma parte pequena c um tan­ vras de Oséias não nos dão nenhuma infor­
to insignificante da palavra dc Deus. Mas ps mação sobre o profeta em si.
Profetas Menores têm um poder espiritual Sabemos que Oséias viveu e profetizou no
todo seu. Cada um é pequeno em tamanho, reino do norte. Apesar de esporadicamente
mas forte em seu impacto. ele ter uma palavra para Judá, Oséias con­
Ao estudar os profetas menores, procure centrou-se cm Israel. Ele desafiou o povo de
compreender qual foi a contribuição singular Deus a reconhecer seus caminhos de pecado
de cada profeta para a revelação bíblica. Os e se arrepender.
três primeiros que iremos estudar são Oséias,
Joel e Amós. Seus tempos
Oséias começou seu ministério durante um
mmÊmmmxmmmmMMmÊmmmmmmmMmmmmMWmÈmÊ período de prosperidade. No norte, Jeroboão
II (792-753 a.C.) tomou dc volta a fronteira
Oséias: compartilhando de Israel de HAMATE na Síria até o Mar Mor­
o sofrimento de Deus to (2Rs 14.25). Em Judá,1Uzias (792-739 a.C.)
estendeu seu domínio até a Filístia ao longo
Esboço da costa, recebeu tributos dos amonitas, forti­
ficou Jerusalém e reuniu um exército forte
I. A família de Oséias/a família de (2Cr 26.6-15). Os territórios de Israel e Judá
Deus (1.1-3.5) expandiram-se às dimensões que tinham no
tempo de Davi.
II. Deus leva Israel a julgamento Com a prosperidade econômica, entretan­
(4.1-5.15) to, vieram os problemas espirituais. O povo já
havia adotado muitas das práticas religiosas
III. O convite de Oséias é corrompi­
daqueles ao seu redor. Eles não adoravam mais
do pela realidade (6.1-11.11)
somente a Deus, mas também a vários outros
IV. Os argumentos finais de Deus deuses. Eles adoravam o deus Baal, deus cana-
contra Israel (11.12—13.16) nita da agricultura e fertilidade e sua consorte
Astarote. Eles construíram altares para esses
V. A possibilidade de restauração deuses e adotaram os ritos sexuais de fertilida­
(14.1-9) de que acompanhavam esses cultos. A prosti­

440
Oséias, Joel e Amós

tuição sagrada tornou-se parte da religião de Oséias desafiou o povo de Israel a conhe­
Israel. Gradualmente, o povo convenceu-se de cer a Deus. O povo vivia uma vida que se
que Baal, e não o Senhor Deus, é que havia opunha completamente a Deus pois não o
oferecido a eles uma vida repleta de bênçãos. conhecia (4.1-3). Rejeitavam sua Lei e seus
A maior parte dos estudiosos situa o início profetas. Deus lamentou: “O meu povo está
do ministério de Oséias no final do reinado dc sendo destruído porque lhe falta o conheci­
Jeroboão. Nessa época, a Assíria era uma po­ mento” (4.6). Oséias pediu a Israel que se es­
tência em ascensão e iria estabelecer-se como forçasse para conhecer plenamente o Senhor
império mundial sob TIGLATE-PILESER III. pois, só então, poderia viver como ele espera­
Muitos em Israel viam essa nação como uma va (6.3).
possível aliada, mas Oséias os advertiu sobre
confiar na Assíria (5.13; 7.11). A História iria
O amor frustrado de Deus
provar de maneira trágica que as preocupações Quando Oséias experimentou a infideli­
de Oséias tinham fundamento. Como o profeta dade de Gômer, aprendeu mais sobre a dor e
não descreve especificamente a queda de Sa­ a frustração que Deus estava sentindo por
maria, muitos intérpretes situam a data em que causa de Israel. A frustração de Deus apare­
o livro foi escrito pouco antes de 722 a.C. ce sempre de novo nas palavras de Oséias.
Deus amava o seu povo profundamente e ver
Principais tem as do livro o seu adultério verdadeiramente o entriste­
cia. Ele sabia que teria que julgar o seu peca­
Adultério espiritual
do e ainda assim, comp poderia mandar o seu
Deus criou o casamento para o bem da povo — sua própria noiva — para o exílio?
humanidade. Ele ordenou que um homem e O amor de Deus prevaleceria no final.
uma mulher se comprometessem a amar um Mesmo que Israel o tivesse magoado, Deus
ao outro para o resto da vida. O adultério vio­ expressou o seu amor especial pela nação no
lava a relação do casamento e desonrava essa capítulo de encerramento de Oséias. Se ela
instituição básica que Deus havia estabeleci­ se arrependesse e confiasse nele, Deus a per­
do para o bem-estar da humanidade. doaria e a sararia. Faria dela aquilo que ele
Oséias declarou que, espiritualmente, Deus havia planejado desde o princípio — sua pró­
e Israel eram marido e mulher. Israel havia se pria e bela noiva.
esquecido dos seus laços de matrimônio com
o Senhor e juntado-sc com Baal e outros aman­ Conteúdo do livro
tes. Ela havia escarnecido daquele amor divi­
A família de Oséias/a família de Deus
no que havia feito dela um povo. Ela havia
tomado os presentes de Deus e usado-os para (1.1-3.5)
adorar ídolos (2.8). Israel estava praticando Deus ordenou que Oséias se casasse com
nada menos que adultério espiritual. Gômer, uma mulher que provou scr infiel ao
A infidelidade de Gômer retratou em ní­ profeta. Estudiosos já debateram a natureza
vel humano o adultério que Israel estava co­ dessa ordem. O Senhor mandou que Oséias
metendo. Gômer desonrou a si mesma e ma­ se casasse com uma mulher que já era sexual­
goou o seu marido; Israel desonrou a si mes­ mente imoral ou Gômer tornou-se infiel de­
mo e entristeceu a Deus. pois de seu casamento com Oséias?
A linguagem explícita de Oséias (por exem­ Alguns estudiosos encontram dificuldade
plo, 2.2,3,10) mostrava quão fundo Israel ha­ em aceitar a idéia de que Deus mandaria um
via caído quando Deus chamou sua noiva de profeta seu casar-se com uma prostituta. Eles
volta para si. argumentam que Gômer tornou-se infiel de­
pois de Oséias ter se casado com ela e que
Conhecimento de Deus esse ponto de vista se encaixa melhor com a
A vida cristã é um relacionamento com o analogia de Deus e Israel (2.15). Nessa inter­
Senhor vivo. Deus chama as pessoas para pretação de texto, a expressão “esposa adúlte­
conhecê-lo e crescer nesse conhecimento. A ra” refere-se ao que Gômer se tornou depois
oração freqüente, o estudo da Bíblia e o en­ de seu casamento com Oséias.
contro com outros crentes são algumas for­ Outros estudiosos concentraram-se na ex­
mas que Deus usa para nos ajudar a conhecê- pressão hebraica traduzida como “esposa adúl­
lo melhor. tera” (NVI). As palavras significam literalmen­

441
Descobrindo os Profetas

te “mulher/esposa de prostituições”. A pala­ participavam do pecado sexual, ambos eram


vra hebraica em questão é zenüním (“prosti­ culpados diante dele. Muitos israelitas nutri­
tuições”) aparece duas vezes no capítulo 1.2 e am a esperança de que a Assíria os salvaria de
um total de doze vezes no Antigo Testamen­ seus problemas, mas Oséias advertiu que a
to.2 Nas outras dez vezes em que aparece, Assíria não iria impedir o julgamento de Deus.
refere-se à prostituição passada ou presente.
O convite de Oséias é corrompido
Essa evidência sugere que Gômer já era uma
prostituta antes de Oséias se casar com ela. pela realidade (6.1-11.1)
Em qualquer um dos casos, a ação de Deus Oséias convidou Israel a voltar para o Se­
certamente parece extrema para nós, mas as­ nhor, conhecê-lo mais intimamente, mas o
sim também eram os tempos que eles estavam povo de um modo geral ignorou o convite do
vivendo. Deus estava determinado a se fazer profeta. Israel havia transgredido a aliança;
entender para Israel, mesmo que tivesse que sua traição estava por toda a parte. Ela pensa­
chamar um de seus profetas para comparti­ va que Deus não podia vê-la, mas Deus via
lhar sua própria experiência.3 tudo. Os líderes não consultavam o Senhor e
Os três filhos de Oséias receberam nomes essa falha trouxe trágicas conseqüências.
simbólicos que advertiam sobre a vinda do A prostituição de Israel incluía tanto as­
julgamento de Deus. O nome Jezreel era uma pectos religiosos quanto políticos. Ela cometia
alusão ao lugar onde a Assíria conquistaria prostituição religiosa quando abandonava as
uma vitória decisiva sobre Israel. Lo-ruhamah, leis de Deus e adorava a ídolos, adotando al­
“Desfavorecida”, indicava que Deus não iria gumas das formas de culto de seus vizinhos.
mais favorecer Israel. Lo-ammi, “Não-Meu- Cometia prostituição política quando apela­
Povo” mostrava a iminente separação entre va para outras nações para pedir ajuda em vez
Deus e Israel. de pedir para Deus. Ela voltou-se para a Assí­
Ainda assim, um raio de esperança brilha­ ria e depois para o Egito, mas Deus disse que
va através da escuridão do julgamento de sua única esperança estava no Senhor.
Deus. Ele iria restaurar Israel para si, tirando Oséias comparou Israel com quatro coisas
dela os caminhos imorais e fazendo-a santa nos capítulos 9.10-11.11. Primeiro, Israel era
(1.10,11; 2.6-23). Oséias ilustrou essa verda­ como um cacho de uvas que haviam se estra­
de ao comprar Gômer de volta depois que ela gado no deserto; Deus disse que ela não daria
o havia abandonado e, de alguma forma, tor­ mais frutos. Depois, Israel era como uma vide
nado-se propriedade de um outro homem (3.1- que crescia de acordo com o seu próprio pla­
5) .4 Ele havia trazido sua esposa de volta para no, escolhendo os seus próprios caminhos em
casa e, um dia, Deus faria o mesmo por Israel. vez do caminho de Deus. Em terceiro lugar,
Israel era uma bezerra domada que gostava
Deus leva Israel a julgamento de trilhar os grãos, pois podia comer enquanto
(4.1-5.15) trilhava.6 Deus disse que colocaria um jugo
A linguagem usada em Oséias 4.1, espe­ sobre Israel para que fosse trabalhar em cam­
cialmente a palavra hebraica rtb (“conten­ pos onde cresciam a retidão e a bondade. Por
da”), sugere que Deus iria fazer uma acusa­ fim, Israel era como um menino pequeno.
ção legal contra Israel. Quando Israel não ti­ Deus o amara e tirara do Egito; havia cuida­
nha cumprido a sua parte da aliança, Deus do dele, ensinado a andar e a resposta ingrata
havia continuado a cumprir a sua. Ele tinha de Israel era voltar-se para Baal.
direito a entrar em contenda contra ela. Is­
Os argumentos finais de Deus contra
rael era culpada diante de Deus.
Oséias declarou que o povo não conhecia Israel (11.12-13.16)
a Deus. Essa falta de conhecimento havia le­ Oséias tentou ensinar uma lição de Histó­
vado ao pecado, que por sua vez traria julga­ ria ao povo. Seu ancestral Jacó havia lutado
mento. Os sacerdotes usavam o seu ofício para com o irmão no ventre de Rebeca e depois,
terem lucros desonestos. Mostravam o peca­ quando homem adulto, havia lutado com
do das pessoas para que elas lhes trouxessem Deus. Tinha buscado o favor de Deus e havia
mais sacrifícios.5 Enquanto alguns no tempo prevalecido. Mais tarde, Deus mandou mui­
de Oséias aparentemente culpavam as mu­ tos profetas para o seu povo. Esses homens re­
lheres pelo adultério, Deus disse que, tendo ceberam inúmeras visões e profecias, todas
em vista que tanto homens quanto mulheres elas chamando o povo de volta para o seu
442
Oséias, Joel e Amós

Parte do vale de Deus que tanto os amava. As mensagens dos gelho, afirmou em 2.15 que Deus havia cum­
Jezreel, perto profetas, entretanto, não foram ouvidas. Is­ prido a profecia de Oséias 11.1 outra vez —
do Monte
rael não seguiu o exemplo de Jacó e não deu “Do Egito chamei o meu Filho”. Quando os
Tabor. O vale
contém as atenção às palavras dos profetas. inimigos de Jesus o desafiaram porque ele as-
ruínas de Deus advertiu Israel que seu julgamento sociava-se com pecadores, Jesus mandou que
Megido, da qual seria rápido. Ele iria tirar o seu rei, no qual ela aprendessem o significado de Oséias 6.6 —
é derivado o confiava plenamente. Deus iria mostrar que “Pois misericórdia quero e não sacrifício” (Mt
nome
o rei era fraco diante da ira e do poder divino. 9.13). Por fim, o apóstolo Paulo citou Oséias
"Armaaedom"
Samaria, a capital do norte, iria cair — c seria 1.10,11 e 2.23 em Romanos 9.25,26. Paulo
CJI 2).
terrível! explicou que Deus estava criando para si um
povo que iria incluir judeus e gentios. Gen­
A possibilidade de restauração
tios que jamais haviam ouvido falar do Se ­
(14.1-9) nhor se tornariam seus filhos mediante a fé
Apesar da acusação rigorosa dos pecados em Jesus Cristo.
de Israel que Oséias havia proferido, ele tam­
bém mostrou à nação que havia esperança
para ela e seus cidadãos. Ele chamou-os ao
arrependimento e ao reconhecimento de que
Joel: o Dia do Senhor
somente Deus poderia suprir suas necessida­
Esboço
des. Em troca, Deus prometeu cura e bênçãos.
Oséias usou termos da agricultura para des­
I. A praga de gafanhotos (1.1-20)
crever a futura restauração de Israel. Israel
iria florescer como a vide e como o lírio, criar II. O D ia do Senhor (2.1-17)
raízes como as árvores do Líbano e tornar-se
tudo aquilo que Deus queria que ela fosse. III. A resposta do Senhor
(2.18-3.21)
Oséias e o Novo Testam ento
O Novo Testamento cita Oséias diversas Pano de fundo de Joel
vezes. Quando José e Maria trouxeram o me­ Nos tempos de Joel, uma praga de gafa­
nino Jesus do Egito, Mateus, o escritor do evan­ nhotos como o povo jamais havia visto desceu
443
Descobrindo os Profetas

sobre a terra. Joel descreveu essa praga como ranças de que o Senhor teria compaixão de­
sendo o “Dia do Senhor” (1.15; 2.1,11,31) e les e os restauraria.
chamou a nação ao arrependimento. Ele tam­
A resposta do Senhor (2.18-3.21)
bém advertiu que um dia ainda mais terrível
de julgamento estava por vir, um dia para o A resposta do Senhor para o seu povo foi
qual o povo precisava se preparar. composta de quatro partes. Primeiro, a terra
Sabemos muito pouco sobre as origens de seria restaurada. O Senhor teria compaixão
Joel além de que ele era filho de Petuel. O de seu povo e renovaria a natureza para que
nome “Joel” aparece em outras partes da Bí- as plantações crescessem em abundância. O
blia, mas não temos nenhuma evidência que Senhor iria remover os opressores e mostrar
ligue o profeta a qualquer outra pessoa com o sua glória e o povo de Deus se alegraria nele.
mesmo nome. Seu nome significa “O Senhor Em segundo lugar, o povo passaria por um
é Deus”. Estudiosos discordam sobre o perío- despertar espiritual. Joel declarou que um dia
do de ministério de Joel e sugerem datas que o Senhor iria derramar o seu Espírito sobre
vão de 900 a.C. a 400 a.C. Nós propomos uma pessoas de todas as camadas da sociedade —
data que fica entre 500 a 450 a.C. por três homens e mulheres, jovens e velhos, escravos
motivos. Em primeiro lugar, o capítulo 3.1-3 e pessoas livres. Acontecimentos cataclísmicos
parece fazer referência ao exílio na Babilônia. acompanhariam esse derramamento e aque­
Em segundo lugar, Joel menciona sacerdotes le que chamasse pelo nome do Senhor rece­
e anciãos (1.13,14), mas não fala de nenhum beria a salvação (2.28-32). No dia de Pente -
rei, o que pode sugerir que Judá não tinha um costes, o apóstolo Pedro anunciou que o Se­
rei naquele determinado período. Tendo em nhor havia cumprido as palavras de Joel. O
vista que o profeta chamou toda a nação ao Espírito Santo havia sido derramado e estava
arrependimento, seria estranho se ele deixas­ habitando em todos os crentes, capacitando-
se de lado a casa real. Em terceiro lugar, Joel os para que se tornassem como Jesus Cristo,
não menciona qualquer oposição por parte seu Senhor (At 2.14-21).
dos cultos pagãos, o que reflete as condições Em terceiro lugar, Deus iria julgar as na­
do período pós-exílio.7 ções que não se arrependessem. Ele iria ajun-
tar todos os que tivessem pecado contra ele e
A m ensagem de Joel seu povo e iria pagá-los de acordo com sua
iniqüidade. Naquele dia, o mundo todo co­
A praga de gafanhotos (1.1-20) nheceria a soberania de Deus!
Joel retratou a praga de gafanhotos como Em quarto lugar, Judá receberia uma bên­
sendo de uma severidade incomum. Gera­ ção especial bem como proeminência. Joel
ções anteriores não haviam testemunhado algo usou linguagem figurativa para descrever os
tão terrível e as últimas gerações certamente benefícios agrícolas, políticos, sociais e espiri­
se lembrariam. Joel comparou os gafanhotos tuais que estariam por vir. A natureza iria flo­
com um poderoso exército que destruía a ter­ rescer quando Deus removesse os inimigos de
ra, deixando-a nua. Todas as partes da socie­ Judá e o povo iria viver em harmonia, pois o
dade sentiram os efeitos da praga. Joel cha­ seu Deus estaria hahitando no meio deles.
mou o povo a humilhar-se e suplicar ao Se­
nhor, pois somente ele poderia salvá-los.

O Dia do Senhor (2.1-17) Amós: um pastor pela


Joel viu na praga de gafanhotos um sinal justiça social
daquilo que ainda estava por vir. Um dia de
escuridão e tristeza estava chegando e só Esboço
aqueles que tivessem o coração limpo diante
de Deus poderiam suportar esse dia. O profe­ I. Endereçamento e introdução
ta desafiou o povo a voltar para Deus de todo ( 1. 1,2)
o seu coração e não somente com sinais exter­
II. Israel não é melhor que as outras
nos de arrependimento (vs. 12,13). Esse cha­
nações (1.3-2.16)
mado ao arrependimento profundo é um pon­
to crítico no livro. Somente por meio do arre­ III. Várias profecias contra Israel
pendimento e da fé o povo poderia ter espe­ (3.1-6.14)
444
Oséias, Joel e Amós

IV* Cinco visões de julgamento tulo 1.1 não ajuda a precisar o início da profe­
(7.1-9.10) cia de Amós, pois não sabemos ao certo quan­
do esse desastre ocorreu.11 U m a referência
V* Promessas de restauração e tão precisa, entretanto, pode indicar que o
bênção (9.11-15) ministério do profeta foi relativamente curto.
Pano de fu n d o d e A m ó s A m en sag em de A m ó s
A m ós trabalhava entre os pastores de
Tecoa, uma pequena cidade em Judá, apro­ Israel não é melhor que as outras
ximadamente quinze quilômetros ao sul de nações (1.3-2.1 6)
Jerusalém (1.1). A palavra hebraica traduzida Amós começou falando contra oito nações
como “pastor” (n õqêd ) não é o termo comum que Deus havia separado para seu julgamen­
usado para o “pastor de ovelhas”. Ele só apare­ to. Cada um dos oito discursos de julgamento
ce outra vez em 2 Reis 3.4 em que se refere a contém um anúncio do julgamento de Deus,
Messa, rei de Moabe. Por causa desse fato, a razão para o julgamento e a natureza do
alguns estudiosos sugerem que Amós era um julgamento. A maior parte dos pecados que
pastor abastado. Porém, esse argumento é ba­ Amós menciona aparece somente aqui e não
seado em apenas duas ocorrências da palavra sabemos exatamente quando cada nação co­
n õ q ê d . Além do mais, o próprio Amós parece meteu seu crime.
enfatizar suas origens humildes (7.14). Amós Expressões numéricas tais como “Por três
também trabalhava cuidando de sicômoros. pecados... mesmo por quatro” ocorrem em
Certos tipos de sicômoros da Palestina produ­ outras partes do Antigo Testamento (Jó 5.19-
ziam figos. O produtor de figo ajuda a fruta a 27; 33.14; SI 62.11,12; Pv 6.16-19; 30.15b,
amadurecer fazendo nela uma pequena per­ 16,18-20,21-23,29-31; Mq 5.5). Ao recorrer a
furação antes da colheita.8 essas expressões, Amós estava indicando que
Amós cresceu cm Judá, mas Deus o en­ Deus não usaria mais de sua graça para com
viou para profetizar em Israel. Certam ente essas nações. Havia chegado o tempo de pa­
muitos israelitas olhavam para Amós com des­ garem pelos seus pecados.
confiança (7.10-13). Ainda assim, Amós rea­ Amós iniciou sua profecia com Damasco e
lizou fielmente o seu ministério profético. Ele a Filístia, dois reinos contra os quais Israel ha­
chamou Israel a se arrepender do seu pecado via sempre lutado. Damasco havia brutalizado
e estabelecer a justiça como lei daquela terra. os habitantes de Gileade, enquanto os filis­
Deus queria que seu povo o amasse e refletis­ teus haviam deportado cativos israelitas para
se esse amor em relação ao próximo. Edom a fim de vendê-los como escravos. En­
Como Oséias, Amós profetizou durante o tão, Amós pregou contra Tiro, um reino que
reinado de Jeroboão II (793—753 a.C.) e Uzias gozou de boas relações com Israel durante os
(Azarias) de Judá (792-739 a.C .).9 A prospe­ reinados de Davi e Salomão (2Sm 5.11; lR s
ridade econômica e a estabilidade política le­ 5.1-12). Tiro, uma cidade mercantil, havia
varam à degeneração espiritual de Israel. Essa vendido israelitas como escravos para Edom.
degeneração espiritual tomava a forma de Depois de proferir o julgamento contra D a­
injustiça social. Os ricos exploravam os pobres; masco, Filístia e Tiro, Amós profetizou contra
os poderosos dominavam os fracos. A morali­ Edom, Amom e Moabe, três parentes de san­
dade significava pouco ou nada. gue de Israel (Gn 19.36-38; 36.1). Edom, o
O livro de Amós não menciona a Assíria parente mais próximo, havia continuamente
especificamente. Essa omissão pode indicar feito guerra contra Israel e não havia mostra­
que a Assíria ainda não era uma grande po­ do nenhuma compaixão por seus irmãos. M oa­
tência no antigo Oriente Próximo. Também, be havia profanado os ossos do rei de Edom,
tanto Jeroboão quanto Uzias governaram enquanto Amom havia assassinado fetos de
como co-regentes durante parte de seus rei­ Gileade ao arrancá-los da barriga de suas mães.
nados. O fato de Amós só mencionar Jero­ Amós voltou-se então para Judá, seu pró­
boão ou Uzias pode indicar que ele profetizou prio povo. A o contrário dos crimes de outras
durante o tempo em que esses reis governa­ nações, o crime de Judá era de natureza espi­
vam sozinhos. Se esse for o caso, podemos si­ ritual. Judá havia abandonado a lei mosaica
tuar as profecias de Amós entre 767 a.C. e para seguir falsos deuses. Cada geração afun­
753 a.C .10 A referência ao terremoto no capí­ dava mais em pecado. Amós anunciou que
445
Descobrindo os Profetas

Deus também iria tratar de Judá. Quando


Justiça social nos Amós chegou no reino do norte, muitos israe-
litas provavelmente o olharam com desconfi­
dias de hoje ança. Por que — eles se perguntavam — esse
profeta do sul tinha vindo até o norte para
pregar? Mas quando Amós começou a pro­
Para Amós, um relacionamento correto com Deus clamar sua mensagem, o povo descobriu que
exigia justiça social. E quanto aos dias de hoje? Ques­ gostava daquilo que ele falava. Ele estava
tões como alimentar os pobres, dar abrigo aos que não condenando todos os seus inimigos!
têm casa, trabalhar em favor da cidadania e lutar contra
Então, subitamente, a mensagem de Amós
o aborto fazem parte do evangelho? Os cristãos devem
tomou uma outra direção: Deus agora iria
se preocupar com a justiça social?
julgar Israel! Amós falou de Israel de maneira
A mensagem do evangelho está centrada em Jesus
Cristo e em sua morte, sepultamento e ressurreição.
muito mais extensa, pois ela havia cometido
Mediante o arrependimento e a fé, podemos receber tantos pecados! Os poderosos oprimiam os fra­
sua oferta de salvação. O Espírito Santo começa, então, cos, preocupando-se apenas com o benefício
a trabalhar em nós para nos fazer mais parecidos com próprio. O pecado sexual era abundante. O
Jesus (Rm 8.29). povo gozava do fruto da sua perversidade em
A Bíblia ensina claramente que a justiça social é um templos pagãos. Deus havia redimido Israel
produto natural do evangelho. Considere os exemplos do Egito e trazido o povo para Canaã, e ainda
abaixo: assim Israel não demonstrava nenhuma grati­
dão. O povo silenciava os profetas de Deus e
• A Lei de Moisés insiste no tratamento justo dos escarnecia dos nazireus que haviam se dedi­
estrangeiros, viúvas e órfãos (Êx 22.21-24). cado ao serviço de Deus (Nm 6.1-21). Israel
• Os profetas falam da preocupação de Deus com a havia entristecido a Deus com os seus peca­
justiça social e exigem um tratamento compassivo dos e agora iria suportar o julgamento.
e justo para os menos favorecidos (Is 58.6,7; Am
2.6,7). Várias profecias contra Israel
• Jesus mostrou preocupação com aqueles que a (3.1-6.14)
sociedade rejeitava (Mc 7.24-30; Lc 17.11-19;
Amós lembrou o povo de Israel que a elei­
Jn 4.7-26).
ção de Deus trazia consigo responsabilidades.
• A igreja primitiva mandou contribuições para aliviar
De fato, Deus havia escolhido Israel e trazido
a fome em Jerusalém (At 11.27-30).
o povo do Egito. Ele os havia abençoado mais
• Tiago, o irmão do Senhor, nos encorajou a colocar
nossa fé em ação e ajudar àqueles que estão ne­
que a qualquer outra nação. A eleição de
cessitados (Tg 2.14-26). Deus era um grande privilégio, mas também
tornava Israel ainda mais responsável pelos
À medida que o Espírito Santo nos faz mais pareci­ seus pecados. A palavra de Deus disse-lhe que
dos com Jesus, devemos aprender a compartilhar as ela estava errada, mas ela se recusou a ouvir.
preocupações de Deus. Os cristãos de hoje devem tra­ Amós usou muitos métodos para comuni­
balhar para trazer justiça à sociedade. car suas profecias. Ele fez, por exemplo, uma
série de perguntas retóricas para seus ouvin­
tes com respostas óbvias do tipo “sim” ou “não”
(3.3-6a). Ao fazê-lo, ele preparou seus ouvin­
tes para a última pergunta (3.6b) “Sucederá
Pessoas/ algum mal à cidade, sem que o Senhor o te­
lugares-chave nha feito?” Essa última pergunta surpreendeu
os ouvintes de Amós com sua verdade cho­
Tiglate-Piíeser III cante — Deus havia trazido calamidade para
Uzias que o povo se voltasse para ele.
Termos-ehave Jeroboão I! Amós também desafiou Israel ao compa­
Gômer rar suas ações com as de outras nações. Se os
Astarote Jezreel filisteus e os egípcios, dois antigos inimigos de
Eleição Lo-ruhamah Israel, viessem para Samaria e vissem a iniqüi­
Lo-ammi dade daquela cidade eles ficariam boquia­
bertos (3.9-15). Os egípcios e os filisteus vi­
viam de acordo com padrões morais mais
446
Oséias, Joel e Amós

De modo sarcástico, Amós desafiou o povo


a continuar com os seus sacrifícios (4-4,5). Eles
sabiam tão bem todos os rituais! Eles traziam
todo o tipo de sacrifícios, mas suas vidas esta­
vam cheias de pecado. Deus havia mandado
fome, seca e pragas para chamar sua atenção,
mas o povo não havia se arrependido (4.6-
11). Amós advertiu Israel que logo ela encon­
traria o seu Deus — no julgamento.
O profeta, então, lançou um outro ataque
sobre a nação — ele cantou no seu funeral
(5.1-3)! A palavra traduzida como “lamenta­
ção” em 5.1 refere-se a um cântico pelo qual
o povo pranteava os mortos.12 Ao fazer tal
declaração, Amós esperava chocar o povo para
que pudesse encarar a realidade. Se Israel
persistisse em seu pecado, ela morreria.
Amós chamou o povo a se apegar a valores
verdadeiros (5.4'17), mas ninguém ouviu.
Haveria vida no buscar ao Senhor, mas o povo
preferia seus próprios caminhos. Eles procura­
vam orientação espiritual nos falsos locais de
culto que Jeroboão havia estabelecido.13 Eles
rejeitavam as autoridades e maltratavam os
pobres. Muitos pediam a vinda do Dia do Se­
nhor, quando ele iria julgar os seus inimigos.
Entretanto, Amós advertiu o povo que o jul­
gamento cairia sobre eles. Deus abominava e
rejeitava seus rituais religiosos, pois eles não
fluíam de vidas de fé. O que Deus realmente
queria era justiça e retidão na terra (5.18-24).
Muitos haviam tornado-se complacentes
ou até mesmo arrogantes. Eles confiavam em
Samaria para livrá-los em vez de chorarem
pela ruína espiritual de Israel. Amós disse que
essas seriam as primeiras pessoas a ir para o
exílio (6.1-14).

Cinco visões de julgamento (7.1-9.10)


Amós teve visões proféticas que o ajuda­
ram a compreender o que Deus iria fazer em
Israel. As três primeiras visões — gafanhotos,
fogo e prumo — formam uma unidade (7.1-
elevados que os israelitas e eles não tinham a 9). Quando Deus mostrou a Amós a terrível
palavra de Deus para orientá-los! Portanto, praga de gafanhotos, Amós suplicou para que
Deus iria trazer um inimigo contra Israel que Deus não a enviasse ou ela destruiria Israel.
iria tirar as forças de Israel e saquear seus bens. Deus cedeu. Então, o Senhor mostrou a Amós
As mulheres ricas e mimadas de Samaria um fogo tão quente que consumia até o Mar
foram o próximo alvo do profeta (4-1-3). Essas Mediterrâneo! Mais uma vez, Amós interce­
mulheres oprimiam os pobres, preocupando- deu pelo povo e, mais uma vez, Deus cedeu.
se apenas em satisfazer os seus próprios dese­ Finalmente, Deus mostrou a Amós um prumo
jos. Amós as comparou às vacas bem-alimen- para testar a construção de uma parede. Ele sim­
tadas de Basã, uma região de solo rico e bom bolizava o padrão de retidão de Deus. Ao tes­
gado (SI 22.12; Is 2.13; Ez 39.18; Zc 11.2). O tar Israel, Deus viu que ela estava fora de pru­
inimigo iria juntá-las e levá-las embora. mo. Ele teria que destrui-la e começar de novo.
447
Descobrindo os Profetas

Sumário

1. 0 profeta Oséias tinha grande cora­ quanto trilhava e um filho que


gem e profetizava apesar da humilha­ engatinha.
ção que sofria por causa do adultério
5. É provável que o profeta Joel tenha pro­
de sua esposa Gômer.
fetizado por volta de 500 a 450 a.C.
2. O livro de Oséias foi escrito pouco an­
6. Amós trabalhava no meio de pastores
tes de 722 a.C. em Tecoa e também ganhava a vida
3. Os principais temas de Oséias são: cuidado de sicômoros.
adultério espiritual, conhecimento de.
7. Amós falou contra outras nações, mas
Deus e o amor frustrado de Deus.
especialmente contra Israel.
4. Oséias comparou Israel a: um cacho de
8. Amós usou vários métodos de oratória
uvas verdes que haviam se estragado
para transmitir suas profecias.
no deserto, uma vide que crescia de
acordo com os seus próprios planos, 9. Deus mostrou a Amós visões que o
uma bezerra treinada que gostava de ajudaram a compreender o que o Se­
trilhar os grãos, pois podia comer en­ nhor faria para Israel.

Questões para estudo

De que forma o casamento e o pano gem? Até que ponto sua mensagem
de fundo familiar de Oséias molda­ se aplica à geração dele e até que
ram o ministério profético dele? De ponto teve aplicação no futuro?
que forma as suas origens afetam sua
Descreva as origens e o chamado de
percepção da vida?
Amós.
Oséias descreveu o adultério espiritual
Quais são. alguns exemplos de injusti­
do povo. Por que a idolatria e a pros­
ças sociais contra as quais Amós pro­
tituição ocorriam juntas em Israel?
fetizou? De que forma nossa fé em
Qual o grande acontecimento nos Deus está relacionada com nossas
dias de Joel que moldou sua mensa­ ações em relação a outras pessoas?

Muitos em Israel não gostaram da prega­ sucesso. Amós respondeu afirmando o seu
ção do profeta. Eles reagiram à palavra de chamado profético. Deus o havia chamado
Deus rejeitando o seu mensageiro. Amazias, para profetizar e o havia equipado para com­
sacerdote de Betei, chegou a acusar Amós de pletar a tarefa (7.10-17).
traição e ordenou que ele voltasse para Judá A quarta visão que Deus mostrou a Amós
onde suas mensagens contra Israel fariam mais foi um cesto de frutas de verão, que significa-
448
Oséias, Joel e Amós

Leituras complementares

Allen, Leslie C. The Books o f Joel, Obadiah, Jonah and Downers Grove/Leicester: InterVarsity, 1989. Bom
Micah. New International Commentary on the Old para alunos em nível universitário.
Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1976. Um co­ McComiskey, Thomas E., org. The M inor Prophets: An
mentário mais avançado para o estudante sério. Exegetical and Expository Commentary. 3 vols.
Hubbard, David A. Hosea: An Introduction and Com­ Grand Rapids: Baker, 1992-1998. Para o estudante
mentary. Tyndale Old Testament Commentary. sério em busca de estudos avançados. Rico em análi­
se textual e exposição.

vam que Israel estava madura para o julgamen­ Promessas de restauração e bênção
to (8.1-3). Muitos no tempo de Amós mal po­ (9.11-15)
diam esperar para o sábado acabar a fim de que
pudessem reabrir suas lojas e voltar a trapacear Amós encerrou o seu livro com uma men­
o povo com pesos e medidas desonestos (8.4- sagem de esperança. Apesar de todo o peca­
14). Amós advertiu o povo que Deus não se do de Israel, Deus ainda a amava. Um dia,
esqueceria daquilo que eles estavam fazendo. ele iria criar um mundo no qual a linhagem
A quinta e última visão (9.1-6) apontou de Davi voltaria à proeminência. Amós tam­
para a absoluta certeza do julgamento de bém falou de outras nações que iriam levar o
Deus. Ninguém iria escapar das mãos do Se­ nome de Deus e gozar das bênçãos de Deus
nhor soberano. Ironicamente, aqueles que junto a Israel. Na vinda de Jesus Cristo e na
corressem para o Senhor (com arrependimen­ fundação da sua Igreja vemos, pelo menos
to e fé) seriam justamente os que encontra­ em parte, o cumprimento da profecia de
riam perdão e livramento. Amós (Lc 1.32,33; A t 15.13-18).

449
Obadias, Jonas, Miquéias,
Naum, Habacuque
e Sofonias
wmãmMÈmm
O plano de Deus para as nações

Esboço
* Obadias: Edom cairá!

A mensagem de Obadias
• Jonas: Fugindo de Deus
Esboço Objetivos
Pano de fundo de Jonas
Depois de ler este capítulo,
A mensagem de Jonas
você deve ser capaz de:
• Miquéias: Um zelote a favor da vida
• Delinear o conteúdo básico do livro de
coerente com a aliança
Obadias.
Esboço
• Delinear o conteúdo básico do livro de
Pano de fundo de Miquéias
Jonas.
A mensagem de Miquéias
• Comparar as opiniões sobre as datas de
• Naum: Nínive cairá! Jonas.
Esboço • Contrastar a compaixão de Deus com a
Pano de fundo de Naum atitude de Jonas em relação a Nínive.
A mensagem de Naum • Delinear o conteúdo básico do livro de
Miquéias.
• Habacuque: Senhor, o que está
acontecendo? • Identificar os temas da mensagem de
Miquéias.
Esboço
• Delinear o conteúdo básico do livro de
Pano de fundo de Habacuque
Naum.
A mensagem de Habacuque • Explicar as causas da queda de Nínive.
• Sofonias: Deus irá julgar toda a terra! • Delinear o conteúdo básico do livro Habacu­
Esboço que.
Pano de fundo de Sofonias • Delinear o conteúdo básico do livro de
A mensagem de Sofonias Sofonias.

451
Descobrindo os Profetas

Jafa — Yafo — Israel e Judá tinham muitos vizinhos. Os A mensagem de Obadias


Tel Aviv filisteus e os palestinos viviam ao longo da cos­
moderna.
ta do Mediterrâneo. Amom e Moabe esta­
Cabeçalho (1a)
Quando Deus
vam a leste do Jordão. Edom controlava a re­ O livro dc Obadias não nos conta nada
disse a Jonas
para ir até gião ao sul do Mar Morto. A Síria governava sobre o profeta Obadias, nem mesmo o nome
Nínive, em vez as terras ao norte de Israel até o rio Eufrates. de seu pai. Muitas pessoas do Antigo Testa­
disso ele foi para Depois da Síria, na Mesopotâmia, ficava a mento têm o nome “Obadias”, mas não pode­
o porto e Jope, Assíria e a Babilônia. mos identificar nenhuma delas ao profeta
hoje o porto de
Os profetas afirmavam que Deus era o com certeza.
Jafa, para tomar
um navio que Senhor de todas as nações. Ele iria respon­ Estudiosos discordam sobre a data do mi­
fosse no sentido sabilizar essas nações por seus atos. Neste nistério de Obadias. Alguns argumentam que
contrário. capítulo, vamos estudar vários profetas que Obadias profetizou por volta de 850 a.C.1 en­
falaram dos planos de Deus para outras na­ quanto outros defendem uma data logo de­
ções. Um desses profetas foi pessoalmente pois de 587 a.C., quando Jerusalém caiu diante
comunicar sua mensagem ao público es­ da Babilônia. Essa última data parece ser pre­
trangeiro! ferível tendo em vista os versículos 11-14, nos
quais Obadias descreve o desastre que sobre­
ms veio a Jerusalém. Uma linguagem tão forte
sugere que Obadias estava referindo-se à con­
Obadias: quista por Nabucodonosor.2
Edom cairá! Os edomitas, descendentes de Esaú (Gn
36.1), haviam tratado os judeus com cruelda­
Esboço de, especialmente quando Jerusalém caiu
diante da Babilônia. Obadias advertiu Edom
I. Cabeçalho (la) que o seu julgamento não tardaria.

A mensagem do Senhor contra


II. A mensagem do Senhor
Edom (1 b-14)'
contra Edom (lb-14)
A mensagem que o Senhor deu para Oba­
III. O Dia do Senhor (15-21) dias concentrava-se em três questões: a arro-
452
Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias

gância de Edom (lb-4) > a humilhação imi­ III. Jonas prega para Nínive (3.1-10)
aram aism os
nente de Edom (5-9) e a violência de Edom
contra Judá (10-14). Selá, a capital de Edom, IV. Jonas murmura sobre Nínive
alegoria ficava sobre uma pedra bem alta, o que torna­ (4.1-11)
va fácil defendê-la. Assim, a cidade desen­
Pano de fundo de Jonas
volveu uma confiança arrogante que é ex­
pressada no versículo 3 — “Quem me deitará Jonas 1.1 só nos diz que ele era filho de
por terra?” Amitai. O segundo livro de Reis 14.25 revela
Obadias advertiu os edomitas que o Se­ que Jonas vivia em GATE-HHFER, uma cida­
nhor daria a eles a mais completa humilha­ de no território tribal de Zebulom (Js 19.13).
ção. Ladrões e assaltantes só levavam aquilo Ele profetizou durante o reinado de Jeroboão
que eles podiam usar, mas Deus não deixaria II, rei de Israel (793-753 a.C.) que deu certa
nada em Edom. estabilidade política. Espiritualmente, porém,
Edom havia cometido terrível violência o reino estava sofrendo.
contra seu irmão Jacó (Judá). Quando Jeru­ Se Jonas registrou a sua própria história,
salém foi tomada, os edomitas capturaram os então seu livro é do 8Q século a.C. Alguns
judeus fugitivos e os mataram ou então os estudiosos estabeleceram uma data vários sé­
entregaram para os babilônios. Eles se alegra­ culos mais recente para o livro por causa de
ram com a derrota de Jerusalém. Judá não se supostas imprecisões e aramaismos. Porém,
esqueceria tão cedo da perversidade de Edom nenhum desses argumentos é conclusivo e
(SI 137.7). uma data pré-exílio parece ser mais provável.3
Outros estudiosos sugerem que o livro é uma
O Dia do Senhor (15-21) parábola ou alegoria e não deve ser entendi­
Obadias profetizou que o Dia do Senhor do literalmente. Mas o livro em si não dá ne­
traria consigo tanto julgamento quanto salva­ nhuma indicação de que era essa a intenção
ção. Edom e outras nações iriam beber do cá­ do autor. Além do mais, Jesus afirmou que
lice da ira de Deus por causa de seus pecados, Jonas pregou para Nínive (Mt 12.41).
mas Deus iria restaurar o seu povo a uma po­
sição de proeminência. Eles iriam possuir a A m ensagem de Jonas
terra e viver em paz para sempre.
Jonas quer as coisas do seu jeito
(1.1-15)
m h ü ü ■ ü h mm u M Èm m m m M m ü w m
A ordem de Deus para Jonas foi clara —
Jonas: fugindo de Deus “Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e
clama contra ela, porque a sua malícia subiu
Hoje em dia, as pessoas tentam fugir de
até mim” (1.2). Jonas, porém, decidiu que uma
Deus de muitas maneiras. Alguns tentam
viagem para leste, para Nínive, não fazia ne­
evitar Deus e as suas palavras em geral para
nhum sentido (4.2) e tentou fugir para oeste
que não se sintam culpadas pela maneira como
pegando um navio para Társis.
vivem. Outros evitam Deus enchendo a vida
O profeta rebelde subestimou a determi­
com a busca pelo poder e sucesso. Algumas
nação de Deus em mandá-lo para Nínive. O
vezes, até mesmo cristãos fogem de Deus se
Senhor fez cair uma grande tempestade so­
ele os chama para fazer algo que não querem.
bre o mar, aterrorizando os marinheiros. En­
Jonas fugiu do Senhor porque ele não que­
quanto isso, Jonas, a pessoa responsável por
ria fazer a vontade de Deus. Ele se conven­
aquele perigo, dormia sono pesado na parte
ceu de que sabia o que era melhor, mas no
de baixo do navio!
final, o profeta de Deus percebeu que ainda
Depois que o capitão o despertou, Jonas jun­
tinha muito o que aprender.
tou-se aos outros que estavam tentando deter­
Esboço minar por que aquela tempestade estava cain­
do sobre eles. Quando Jonas explicou que ele
I. Jonas quer as coisas do seu jeito estava fugindo de Deus, eles ficaram mais ate­
(1.1-16) morizados ainda e tentaram desesperadamen­
te controlar o navio. Finalmente, eles aceita­
II. Jonas decide aceitar o jeito de ram a solução de Jonas e o lançaram para fora
Deus (1.17-2.10) do barco. A tempestade cessou imediatamente.

453
Descobrindo os Profetas

terminaria, mas Deus interferiu. A salvação


E quanto aos que tinha vindo! O peixe vomitou Jonas na praia
e, então, o profeta estava pronto para os pro­
nunca ouviram? pósitos do seu Senhor.

Jonas prega para Nínive (3.1-10)


Jonas obedeceu a segunda ordem de Deus
A Bíblia enfatiza que só é possível experimentar a
e começou uma jornada de quase oitocentos
salvação de Deus mediante Jesus Cristo (Jo 14.6). 0 jul­
quilômetros. Quando chegou em Nínive, ele
gamento eterno é o que espera por aqueles que rejei­
passou a pregar a mensagem que Deus havia
tarem a Cristo (Jo 3.36). Mas e quanto àquelas pessoas
lhe dado — “Ainda quarenta dia, e Nínive
que nunca ouviram falar do evangelho? Elas não têm
esperança? Deus ainda assim vai julgá-las?
será subvertida” (v. 4). Jonas precisou de três
Alguns sugerem que aqueles que nunca ouviram dias para percorrer a cidade toda.
falar do evangelho podem receber a salvação se res­ Jonas provavelmente ficou muito surpreso
ponderem à luz espiritual de Deus que está presente quando o povo creu na mensagem de Deus!
na natureza. Mas a Bíblia não dá nenhuma indicação Eles humilharam-se com jejuns e panos de
clara de qualquer outro caminho para a salvação. Preci­ saco. Até mesmo o rei de Nínive participou e
samos ter em mente três pontos: ordenou todos os cidadãos a fazerem o mes­
mo.4 Apesar de Jonas não ter transmitido ne­
1.A salvação por obras é impossível. Se pudéssemos nhuma esperança de livramento, é possível
conquistar a nossa salvação, então Cristo não precisava que o povo de Nínive tivesse decidido que não
ter morrido (Gl 2.21). havia nada a perder. Talvez Deus os poupasse
2 .Deus revelou seu poder e o seu ser por intermédio da se eles se arrependessem sinceramente. Quan­
beleza e da ordem da criação. Porém, as pessoas repri­ do Deus viu o seu arrependimento, se arre­
mem essa verdade e escolhem pecar (Rm 1.18-23). pendeu e decidiu não mais destruir Nínive.
Deus também colocou a sua lei moral (consciência) Jonas murmura sobre Nínive (4.1-11)
dentro de todos nós, mas as pessoas não seguem à lei
perfeitamente (Rm 2.14,15). Conseqüentemente, mes­ Enquanto isso, Jonas estava esperando ver
mo as pessoas sem a palavra escrita de Deus perecem a destruição de Nínive; ele ficou muito con­
(Rm 2.11,12). Somente o Espírito Santo pode trazer trariado quando Deus poupou a cidade. Ele
nova vida (1 Co 12.3). sentiu que havia perdido o seu tempo vindo
de tão longe até Nínive e pediu que Deus lhe
3.As Escrituras afirmam com freqüência que Cristo é o
tirasse a vida.
único caminho até Deus e a salvação (Jo 14.6; At 4.12).
A planta que Deus providenciou para dar
sombra a Jonas ofereceu uma importante li­
Perceber que as pessoas sem Cristo irão encarar o ção prática. Jonas ficou zangado a ponto de
julgamento de Deus deve servir de força motivadora querer a morte e tudo por causa de uma sim­
para que compartilhemos o evangelho com mais ur­ ples planta, mas ele não se importava com as
gência. milhares de pessoas em Nínive. Em um con­
traste gritante, a compaixão de Deus alcan­
çou Nínive, por causa do arrependimento.
Deus continua a aceitar aqueles que admi­
Jonas decide aceitar o jeito de Deus tem sua situação de desamparo, arrependem-
(1.17-2.10) se do pecado e confiam nele.
Ao cair na água, Jonas pensou que iria se
afogar. Porém, a graça de Deus prevaleceu e um mKMÊÈKÊSÊm mm■ h h b h h i r h h h m i m m m ma/asm

grande peixe engoliu Jonas. Especulações sobre Miquéias: um zelote a


que tipo de peixe era não são relevantes — o
peixe foi o toque miraculoso da graça de Deus. favor da vida coerente
Por meio desse peixe, Deus preservou seu profe­
ta para a tarefa que estava diante dele.
com a aliança
Jonas orou ao Senhor de dentro da barriga Esboço
do peixe. O profeta descreveu sua situação
desesperadora e anunciou o livramento do I. A primeira seqüência de julga­
Senhor. Jonas havia pensado que sua vida mento e salvação (1.1-5.15)
454
Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias

A. O julgamento de Deus sobre a um ensopado (3.1-3). Os falsos profetas tam­


apostasia e o pecado social em bém faziam uso abusivo de seu ofício ao dei­
Samaria e Judá (1.1-3.12) xar que o dinheiro influenciasse suas pala­
B. A palavra de salvação de Deus vras. Eles proferiam bênçãos para aqueles que
para o seu povo (4.1-5.15) lhes pagavam bem, mas condenavam os que
não podiam pagar nada.
II. A segunda seqüência de julga­ Jerusalém também vivia em falsa seguran­
mento e salvação (6.1-7.20) ça — “Não está o Senhor no meio de nós?
A. Deus acusa o seu povo (6.1-16) Nenhum mal nos sobrevirá” (3.11). Afinal,
B. O lamento de Miquéias termina Deus não havia prometido a Davi que Jerusa­
com esperança (7.1-20) lém permaneceria para sempre? E não era um
descendente de Davi que estava ocupando o
Pano de fundo de M iquéias trono? Como alguma coisa poderia dar erra­
A mensagem de Miquéias concentra-se nos do? Miquéias os advertiu que tal fé se mostra­
temas da injustiça social, verdadeira adora­ ria baseada em alicerces muito fracos quando
ção e falsa segurança. O profeta vivia em o Senhor tratasse do pecado de Israel.
MORESETE, uma cidade também identificada A mensagem de Miquéias também con­
como Moresete-Gate, aproximadamente qua­ tinha palavras de encorajamento sobre o fu­
renta quilômetros a sudoeste de Jerusalém. turo do povo de Deus (4.1-5.15). Miquéias
Ele profetizou sobre a perversidade de Sama­ falou do reino final de Deus, quando Jerusa­
ria e Jerusalém. Ele menciona apenas reis dc lém serviria de canal de bênção para o mun­
Judá em 1.1 e isso pode indicar que ele diri­ do. O mundo iria experimentar a paz sob o
giu-se principalmente ao reino do sul. Os reis governo de Deus e o povo andaria com ele
relacionados por Miquéias — Jotão, Acaz e (4.1 '8). Além disso, o grande Rei iria nascer
Ezequias — nos ajudam a situar o seu minis­ em Belém, uma cidade não muito importan­
tério por volta de 740 a 700 a.C.5 te. Deus havia planejado a vinda desse rei
desde os tempos antigos (5.2). Miquéias pro­
A m ensagem de M iquéias clamou essas profecias a fim de motivar seus
ouvintes a viver uma vida de retidão em sua
A primeira seqüência de julgamento
própria geração (4.9-13).
e salvação (1.1-5.1 5) Jesus Cristo cumpriu a palavra que Deus
Miquéias chamou toda a terra para ver o falou por meio de Miquéias (Mt 2.4-6; Lc 2.1-
julgamento de Deus que estava para cair so­ 7). Jesus trouxe a salvação espiritual durante
bre seu povo. O profeta falou separadamente sua primeira vinda e um dia ele voltará para
de Samaria e Jerusalém, pois essas eram as reinar sobre todos como Rei dos reis.
capitais de Israel e Judá. A idéia de julga­
A segunda seqüência de julgamento
mento produziu verdadeiro conflito na vida
de Miquéias (1.8-16), um conflito presente e salvação (6.1-7.20)
cm outros profetas. Por um lado, o ofício pro­ Miquéias chamou Israel à corte de justiça
fético de Miquéias o unia aos propósitos de (6.1-5) da mesma forma que Oséias havia
Deus e ele precisava anunciar o julgamento. feito (Os 4.1-5.15). O Senhor chamou as
Por outro lado, Miquéias amava o seu povo e a montanhas e os montes para serem testemu­
idéia de vê-los em exílio o levou a lamentar nhas, pois eles haviam estado presentes du­
pessoalmente. A igreja de Cristo ainda precisa rante toda a história de Israel. Eles seriam
de líderes que falem a verdade de Deus, mas excelentes testemunhas. Deus perguntou ao
que, ao mesmo tempo, amem o povo de Deus. seu povo: “ ...que te tenho feito? E com que
A injustiça social enfurecia Miquéias. Os te enfadei?” (6.3). O erro estava, claramen­
ímpios ficavam acordados à noite, pois não te, do lado de Israel.
conseguiam dormir até que tivessem calcula­ Miquéias também aconselhou o povo so­
do o quando iriam roubar de seus vizinhos! bre qual seria a resposta apropriada diante da
Os líderes da sociedade demonstravam ser acusação de Deus. Supostamente, um ouvin­
péssimos exemplos. Os líderes políticos des­ te perguntou ao profeta o que ele deveria fa­
truíam as poucas esperanças que os pobres ain­ zer para que Deus o aceitasse (6.6,7). Miquéi­
da tinham. Miquéias afirmou que os gover­ as respondeu que Deus já havia dito o que ele
nantes cozinhavam os pobres como se fossem queria — uma vida que demonstrasse justi­
455
Descobrindo os Profetas

ça, misericórdia e um caminhar ao lado de nossos pecados nas profundezas do mar (7.19).
Deus. O Senhor desejava fidelidade que re- Podemos confiar que ele vai trabalhar em to­
sultasse em um viver de santidade. E é isso das as coisas para o bem da vida de seus filhos
que Deus ainda quer de seus filhos nos dias (Rm8.28).
de hoje.
Infelizmente, ao olhar para a geração de — 1— IK— W — i — MM— — 1
Miquéias, Deus declarou ver poucas vidas
assim. Em vez disso, ele via a prática de negó­
Naum:
cios desonestos, violência e engano (6.11,12). Nínive cairá!
O povo seguia os caminhos de Onri e Acabe,
dois reis perversos do passado de Israel (6.16). Esboço
Deus advertiu o seu povo: ele não permitiria
que esse pecado continuasse! I. O zelo e o poder de Deus
Miquéias terminou o seu livro com um la­ (1.1-2.2)
mento pessoal (7.1-20). Ao procurar por toda
a nação, ele não conseguiu achar pessoas re­ II. O cerco e a destruição de Nínive
tas. A injustiça era abundante e as pessoas (2.3-13)
buscavam apenas o seu próprio lucro. A lide­
III. A causa e a certeza da queda de
rança dava um mau exemplo ao aceitar su­
Nínive (3.1-19)
bornos. Miquéias lamentou que até mesmo
dentro da família, a instituição fundamental Pano de fundo de Naum
da sociedade, não se podia achar segurança
— “Os inimigos do homem são os da sua pró­ Sabemos muito pouco sobre o profeta Naum
pria casa” (7.6). fora do livro que leva o seu nome. Naum 1.1o
Ainda assim, Miquéias encontrou esperan­ chama de “eleosita”, mas estudiosos não têm
ça em meio à tragédia. Ele ainda poderia ter a um consenso sobre a localização de Elcós,6 Al-
salvação pessoal e talvez outros também. Ele guns sugerem que Elcós era na Galiléia, ao
estava disposto a suportar a perseguição dos norte, enquanto outros sugeriram Judá como
inimigos de Deus, pois sabia que, um dia, Deus sua localização. Ainda outros apresentam a
iria lhe fazer justiça. O julgamento certamente idéia de que Elcós era próximo a Nínive, cida­
viria sobre aqueles que se opunham ao Senhor. de contra a qual Naum profetizou.
Miquéias encerrou seu lamento (e o livro) Podemos situar a data de Naum, pois ele
da mesma forma como muitos salmistas en­ faz alusão a acontecimentos cujas datas são
cerraram os seus lamentos — com uma ora­ conhecidas. Naum menciona a queda de
ção (7.14-20). Ele orou para que Deus fosse o TEBAS (3.8), um fato que ocorreu em 663
pastor do seu povo como ele havia sido quan­ a.C. O profeta também fala da queda de N í­
do o trouxera para a terra prometida. Ele pe­ nive, que ocorreu em 612, como ainda sendo
diu que o Senhor mais uma vez mostrasse o algo no futuro. Conseqüentemente, podemos
seu poder miraculoso, pois isso inspiraria o seu situar o ministério profético de Naum entre
povo e aterrorizaria seus inimigos. Miquéias 663 a.C. e 612 a.C. O livro de Naum, assim
também admitiu a completa singularidade de como o livro de Obadias, lida prioritariamen­
Deus. Não havia outro Deus compassivo o te com um reino estrangeiro. Durante o final
suficiente para perdoar o pecado de seu povo do século 7Qa.C., surgiu uma luta pelo poder
para sempre. Miquéias afirmou que, em dias no Oriente Próximo quando a Assíria come­
vindouros, Deus mais uma vez mostraria a sua çou a entrar em declínio. Em 626, NABOPO-
fidelidade em todas as coisas. Ele confirmaria LASAR fundou uma dinastia caldéia indepen­
o seu relacionamento eterno com o seu povo dente na Babilônia e logo, com a ajuda dos
por causa da promessa que havia feito aos pa­ medos, destruiu o império assírio. Não demo­
triarcas de Israel mil anos antes. rou para que Nabucodonosor levasse a Babi­
Podemos enfrentar circunstâncias difíceis lônia a alturas que não eram alcançadas des­
nos dias de hoje e sofrer pela nossa fé em Cris­ de os dias de Hamurabi (1792-1750 a.C.).
to. O mal pode nos cercar e, então, nos per­ Ao olhar para esse mundo, Naum viu a mão
guntamos por que Deus permite que ele con­ de Deus movendo-se mais uma vez contra a
tinue. Nesses momentos, nossa esperança pre­ Assíria. O profeta anunciou que Nínive, a
cisa estar sobre Deus que pode lançar fora os capital da Assíria, logo cairia para sempre.

456
Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias

A m ensagem de Naum bre Nínive e a compaixão para com Judá. Pri­


meiro (1.9-13) Naum advertiu Nínive de que
0 zelo e o poder de Deus (1.1-2.2) seus planos iriam ser frustrados. Nínive havia
Naum começou descrevendo o temível po­ tramado o mal contra o Senhor, ignorando
der de Deus (1.2-8). Ele era um Deus vinga­ seus caminhos e agora iria pagar o preço. Judá,
dor que não iria tolerar o pecado para sempre. entretanto, receberia a liberdade do jugo de
O Senhor também era o Soberano Todo-po­ opressão de Nínive e das correntes da escravi­
deroso. A criação tremia diante dele e nin­ dão. Em segundo lugar (1.14,15), Naum anun­
guém podia suportar sua ira. Ao mesmo tem­ ciou que Deus iria riscar fora o nome de Níni­
po, Deus era o Salvador daqueles que confia­ ve e preparar sua sepultura. Ele iria destruir os
vam nele. Ele era uma fortaleza em meio aos ídolos e templos da cidade. Judá se alegraria
Essa placa inclui problemas e conhecia os seus. Essas verdades quando lhe fosse anunciada a queda de Ní­
as Crônicas
babilônicas
sobre o caráter de Deus são a fundação para o nive. Em terceiro lugar (2.1,2), Naum adver­
descrevendo a resto do livro de Naum. tiu Nínive que estava prestes a ser atacada!
queda da Naum 1.9-2.2 contém três ciclos nos quais Enquanto Nínive passava pelos seus últimos
Babilônia. Naum alterna entre descrever a vingança so­ dias, o Senhor iria restaurar o esplendor do
seu povo.

0 cerco e a destruição de Nínive


(2.3-13)
Naum continuou a sua descrição vivida de
como seria a queda de Nínive. Seus inimigos
iriam derrotar seu exército e saquear a cidade.
Naum descreveu a ironia da situação: o exér­
cito de Nínive parecia forte, mas a anarquia e
o pânico tomariam conta de todos. As carru­
agens iriam disparar pelas ruas sem poder aju­
dar. E, é claro, Deus estava por trás de tudo
isso, pois ele havia determinado que era che­
gado o dia do julgamento de Nínive.
A derrota de Nínive criaria uma fuga fre­
nética da cidade. As pessoas iriam deixar para
trás todas as suas coisas e correr para salvar a
vida; prata e ouro não seriam mais importan­
tes! O saque de Nínive revela de maneira
clara como os bens materiais só trazem prazer
temporário. Jesus estava certo quando disse:
“...a vida de um homem não consiste na abun­
dância dos bens que ele possui” (Lc 12.15).
Precisamos construir a vida baseados no nosso
relacionamento com Deus e nunca em coisas
materiais.

A causa e a certeza da queda de


Nínive (3.1-19)
Nínive era uma cidade perversa, uma ci­
dade sanguinária. As políticas cruéis dos assírios
faziam com que outras nações os temessem.
Os sinais da opressão eram evidentes em sua
própria capital. Naum descreveu Nínive como
uma prostituta e mestra de feitiçarias (vs. 4,5).
Era em Nínive que ficava o templo de Ishtar,
a deusa representada como uma meretriz, por­
tanto, a imoralidade sexual era comum. Níni­
ve havia saqueado muitas nações e tinha um
457
Descobrindo os Profetas

desejo insaciável por poder. Muitos na socie­ provável que o ministério de Habacuque te­
Babilônia
dade assíria também praticavam magia e adi­ nha começado antes de 605, mas continua­
vinhação. Porém, qualquer coisa na qual Ní­ do até um pouco antes da queda de Jerusa­
nive confiasse iria falhar, pois Deus iria lém em 587.
envergonhá-la diante das nações e amontoar
desgraças sobre ela. A m ensagem de Habacuque
Naum instruiu Nínive a preparar-se para a
Habacuque em conflito com os
sua ruína final (vs. 8-19). Tebas, o orgulho do
propósitos de Deus (1.1-2.20)
Egito, havia caído e agora o mesmo acontece­
ria com Nínive. Não haveria por onde esca­ Habacuque começa o seu conflito teológi­
par, só destruição inevitável. O resto do mun­ co com um clamor de confusão (1.2): “Até
do, que havia sofrido sob o jugo de opressão quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me
da Assíria, receberia as notícias da queda de escutarás?” Habacuque sabia que Deus ama­
Nínive com estrondoso aplauso. va a justiça e detestava a injustiça, então, por
que Deus permitia que a injustiça continuas­
se em Judá? Habacuque levou suas preocu­
pações direto para o Deus soberano. Deus nos
Habacuque: Senhor, o convida para que também levemos a ele nos­
que está acontecendo? sos conflitos e preocupações
Deus respondeu (1.5) que tinha grandes
Você alguma vez já sentiu que o modo de planos que iriam deixar Habacuque boquia­
agir de Deus não fazia nenhum sentido? Se berto — ele estava levantando o exército da
você já se sentiu assim, então não está sozi­ Babilônia. Deus iria usar essa nação poderosa
nho. O profeta Habacuque lutou com essa para julgar Judá.
mesma questão. Ele não podia entender por­ Habacuque ficou totalm ente confuso
que Deus ia trabalhar de determinada ma­ (1.12-2.1). Como Deus podia usar um povo
neira. Ao lermos Habacuque, veremos que o perverso como os babilônios para julgar Judá?
profeta aprendeu uma importante lição: tal­ Certamente Judá merecia o julgamento de
vez nem sempre ele entenderia os caminhos Deus, mas é claro que não nas mãos dos babi­
de Deus, mas ele podia sempre confiar no lônios! De que maneira Deus poderia usar
Senhor, independente das circunstâncias. uma nação ainda mais perversa que Judá
como seu instrumento de julgamento contra
Esboço
o seu povo?
I. Habacuque em conflito com os Mas é claro que Deus tinha uma resposta
propósitos de Deus (1.1-2.20) (2.2-5). Ele disse a Habacuque para escrever
A. O primeiro conflito de Habacu­ a visão, pois o julgamento aconteceria muito
que (1.1-11) em breve, exatamente como Deus havia dito.
B. O segundo conflito de Habacu­ Havia duas reações possíveis diante de tal
que (1.12-2.20) calamidade. Uma era continuar arrogante e
orgulhoso como os babilônios. A outra era vi­
II. Habacuque submete-se aos ver pela fé, sabendo que Deus ainda estava
propósitos de Deus (3.1-19) no controle.
Habacuque 2.4 — “O justo viverá pela sua
Pano de fundo de Habacuque fé” — aparece três vezes no Novo Testamen­
O nome de Habacuque aparece apenas to (Rm 1.17; G1 3.11; Hb 10.38). Pela fé em
em seu livro (1.1). Fora isso, não sabemos muito Jesus Cristo recebemos a retidão de Deus. O
mais sobre ele. Espírito Santo nos capacita para que vivamos
Habacuque viveu durante os últimos dias pela fé e com justiça. Essa afirmação de Ha­
de Judá. A maior parte dos estudiosos situa o bacuque é o cerne da teologia cristã. Deus
seu ministério antes de 605 a.C., quando a nos chamou para sermos salvos pela fé e para
Babilônia, sob o governo de Nabucodono­ vivermos por ela.
sor, tornou-se uma potência mundial (1.5).7 Habacuque começou então uma série de
As palavras de Habacuque contra a Babilô­ ais contra os babilônios (2.6-20). Os babilônios
nia (2.6-20) deixam implícito que ela já ha­ tinham ido longe demais e logo pagariam por
via transformado-se em uma nação forte. E isso. Eles haviam lucrado às custas dos outros,
458
Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias

0 Rolo do
Templo, dos
Papiros do Mar
Morto.
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Arqueólogos
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descobriram aC áfr -rtírwI--ns* A- rw*
este e muitos
outros rolos no
antigo povoado tWís»
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de Qumran * * * } umVW** Mi <53,,
perto do Mar x r n nv-,í ya* **$»
Morto. Textos .fM ->•-w w í y m v» •
como esse nos ' t ^
ajudam a
compreender .«.fel íM t p
melhor como os
escribas da *** ^ 1-im
antigüidade *»»*>> W * W* -At M ífiM ü M - sV

passavam
mst» yt&êf »*■>
adiante cópias
das Escrituras
ao longo dos
séculos.

fundando o seu império por meio da violência


e do derramamento de sangue. Eles haviam Sofonias: Deus irá julgar
forçado outras nações a beber do cálice da ira
de Deus, mas o cálice logo chegaria até eles. toda a terra!
Eles haviam seguido ídolos inúteis que desa­
pareciam rapidamente diante do esplendor e Esboço
da glória do Senhor. No tempo certo, Deus
I. Julgamento contra Judá
iria derrubar a Babilônia também.
(1.1-2.3)
Habacuque submete-se aos
II. Julgamento contra as nações
propósitos de Deus (3.1-19)
(2.445)
Habacuque expressou sua submissão aos
caminhos de Deus em uma oração sob a for­ III. Julgamento contra Judá e as
ma de canto (v. 19). Ele temia as declarações nações (3.1-8)
do Senhor e pediu que Deus se lembrasse de
sua misericórdia quando começasse o julga­ IV. Restauração de Israel e das
mento (v. 2). Habacuque descreveu a majes­ nações (3.9-20)
tade e o poder do Senhor (vs. 3-15). Deus era
soberano sobre toda a terra. Ele havia julgado Pano de fundo de Sofonias
as nações, mas também havia trazido salva­ Sofonias traça a sua genealogia a quatro
ção para o seu povo. gerações anteriores. Estudiosos da Bíblia já
Por saber da absoluta fidelidade de Deus discutiram se o “Ezequias” que aparece na
no passado, Habacuque submetia-se aos pro­ genealogia é o rei Ezequias de Judá (716-686
pósitos presentes do Senhor (3.16-19). O medo a.C.).8 Aqueles que duvidam que exista uma
do profeta mexia com o mais profundo de seu ligação afirmam que nenhuma outra genea­
ser, pois tudo o que ele podia fazer era esperar logia na Bíblia indica o parentesco desses cin­
pelo julgamento de Judá. Ainda assim, Haba­ co nomes. Além disso, se Sofonias estava re­
cuque estava determinado a confiar no Se­ ferindo-se a Ezequias, rei de Judá, ele precisa­
nhor, apesar de todas as circunstâncias. Não ria ter acrescentado as palavras “rei de Judá”.
importava quão desesperadora fosse sua situa­ Por outro lado, aqueles que são a favor de que
ção, ele colocaria a sua esperança em Deus. existe uma ligação com o rei Ezequias suge­
Deus também quer esse tipo de fé que diz rem que Sofonias achou que escrever “rei de
“não importa o que aconteça” com seus filhos Judá” era desnecessário, pois todos sabiam
nos dias de hoje. quem era Ezequias.

459
Descobrindo os Profetas

A mensagem de Sofonias
Pessoas/ Julgamento contra Judá
Jw lugares-chave (1 .1 - 2 .3 )
Depois de uma declaração referente ao jul­
} Nabopolasar
Gate-hefer gamento geral de Deus sobre a criação, Sofo­
Moresete nias concentrou-se em Judá. Muitos adora­
Termos-chave Tebas vam Baal, Milcom e o exército do céu (1.4,5),
Aramaísmos Edom enquanto outros adotavam uma visão estag­
Alegoria Nínive nada de Deus — “O Senhor não faz bem,
Belém nem faz mal” (1.12). O Dia do Senhor traria o
castigo para todos os cantos rebeldes de Jeru­
salém. Sofonias advertiu Judá para preparar-
se para aquele dia. Aqueles que se humilhas­
sem diante do Senhor poderiam escapar do
Sofonias situa o seu ministério no reino de desastre que estava por vir (2.1-3).
Josias (640-609 a.C.)* No décimo oitavo ano
do reinado de Josias o Livro da Lei foi desco-
Julqamento contra as nações
berto no templo e essa descoberta levou a um (2.4-15)
período de reavivamento espiritual em Judá Assim como outros profetas, Sofonias afir­
(2Rs 22.3-23.7). Tendo em vista esse fato, mou a soberania de Deus sobre todas as na­
muitos propõem que Sofonias profetizou no ções e não somente Israel e Judá. Os países
início do reinado de Josias, antes que ocorres­ vizinhos como a Filístia, Moabe e Amom pa­
se o reavivamento.9 Já que Sofonias 2.13 men­ gariam o preço pela sua iniqüidade (vs. 4-11).
ciona a queda de Nínive como um aconteci­ Um dia, eles iriam cair e os fiéis a Deus iria
mento futuro, ao que parece o seu ministério tomar deles todas as suas posses. As nações
terminou antes de 612 a.C. mais distantes também não escapariam. Os

Sumário

1. A mensagem que Deus deu ao profe­ disse que o rei de Deus nasceria em
ta Obadias concentrava-se no julga­ Belém.
mento de Edom por causa de sua vio­ 6. Naum inclui três ciclos que descrevem
lência contra Judá. vingança sobre Nínive e compaixão
2. Jonas queria fazer as coisas do seu jeito para com Judá.
em vez de fazê-las do jeito de Deus e 7. O livro de Habacuque nos conta tudo
por isso foi engolido pelo grande peixe. o que se sabe sobre o profeta Haba­
3. Jonas ficou irado com Deus porque o cuque.
Senhor não destruiu Nínive depois 8. Habacuque questionou o que Deus
que o profeta havia feito uma viagem estava fazendo, mas estava determi­
de tão longe para aquela cidade. nado a ter fé independente do que
4. A profecia de Miquéias estava viesse acontecer.
centrada nos temas da injustiça social, 9. Sofonias profetizou julgamento contra
verdadeira adoração e falsa segurança. Judá e as nações, mas também previu
5. Miquéias ofereceu palavras de enco­ bênçãos futuras para as nações.
rajamento para o povo de Deus e

460
Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias

Questões para estudo

1. Qual é o principal tema de Obadias? 5. Faça um resumo do diálogo entre Ha­


O que Edom havia feito que poderia bacuque e Deus em cinqüenta pala­
ser considerado tão terrível? vras ou menos. Qual era a principal
2. Faça um resumo da história de Jonas. reclamação de Habacuque? Como ele
Identifique a importante lição espiri­ reagiu (a princípio e depois mais tar­
tual que Jonas aprendeu. de) à resposta de Deus?

3. Descreva as origens de Miquéias. De 6. De que maneira o apóstolo Paulo


que forma essa mensagem é paralela à usou Habacuque 2.4 em sua carta aos
do profeta Amós? O que Miquéias ti­ Romanos?
nha a dizer sobre a vinda do Messias? 7. Identifique as principais questões rela­
4. Identifique o contexto histórico de Naum. cionadas às origens de Sofonias. De
Qual é o principal tema do seu livro? que forma o profeta afirmou a sobe­
rania de Deus sobre as nações?

Leituras complementares

Allen, Leslie C. The Books of Joel, Obadiah, Jonah and McComiskey, Thomas E., ed. The Minor Prophets: An
Micah. New International Commentary on the Old Exegetical and Expository Commentary. 3 vols.
Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1976. Um co­ Grand Rapids: Baker, 1992-1998. Para o aluno sério
mentário mais avançado para o aluno sério. em busca de estudos avançados. Rico em análise tex­
Baker, David W., T. Desmond Alexander e Bruce K. tual e exposição.
Waltke. Obadiah, Jonah, Micah. Tyndale Old Testa­ Robertson, O. Palmer. The Books of Nahum, Habakkuk,
ment Commentary. Downers Grove/Leicester: Inter- and Zephaniah. New International Commentary on
Varsity, 1988. Bom texto em nível universitário. the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1990.
Baker, David W. Nahum. Habakkuk, Zephaniah: An Intro- Para o aluno sério. Contém amplas notas de rodapé
duction and Commentary. Tyndale Old Testament para estudos complementares.
Commentary. Downers Grove/Leicester: InterVarsity,
1988. Boa leitura básica para nível universitário.

ETIOPES (cuxitas) morreriam pela espada (v. Sofonias prometeu que o Senhor traria justi­
12) e a Assíria, inimiga de longa data de Israel ça verdadeira sobre todas as nações no dia da
e Judá, receberia a devida recompensa por sua ira (v. 8).
sua arrogância (vs. 13-15).
Restauração de Israel e das nações
Julgamento contra Judá e as nações (3.9-20)
(3.1-8) Sofonias encerrou o seu livro com uma
Jerusalém não escaparia da correção de mensagem de esperança. O dia do julga­
Deus. A liderança corrupta estava presente mento de Deus também traria a cura e res­
em todos os níveis — realeza, juizes, profetas tauração de Deus. O Senhor iria purificar
e sacerdotes. Esses líderes não confiavam no os lábios do seu povo para que eles pudes­
Senhor e nem davam ouvidos à sua palavra. sem servi-lo com fidelidade. Ele removeria
461
os orgulhosos e exaltaria os humildes e da­ O profeta permitiu que o povo pudesse es­
ria ao seu povo segurança em sua terra. Tais piar o que o futuro traria a fim de motivá-los a
bênçãos normalmente fariam com que o viver uma vida agradável a Deus. Nós tam­
povo se regozijasse sobre o Senhor, mas So­ bém devemos entregar nossa vida ao Senhor
fonias afirmou que Deus se regozijaria so­ diariamente, em atitude de gratidão por tudo
bre eles! o que ele fez, tem feito e irá fazer por nós.
34 Ageu, Zacarias
e Malaquias
Reconstruindo um Povo

Esboço
• Ageu: Lidando com pessoas
que não se importam
Esboço
Pano de fundo de Ageu
As mensagens de Ageu
Objetivos
• Zacarias: Preparem-se para o
reino de Deus! Depois de ler este capítulo,
Esboço
você deve ser capaz de:
Pano de fundo de Zacarias • Delinear o conteúdo básico do livro de
Ageu.
A mensagem de Zacarias
• Delinear o conteúdo básico do livro de
• Malaquias: Ofereça a Deus o Zacarias.
melhor de si!
• Discutir os problemas de autoria de
Esboço Zacarias.
A mensagem de Malaquias • Delinear o conteúdo básico do livro de
Malaquias.
• Identificar as preocupações de Deus
encontradas na profecia de Malaquias.

463
Descobrindo os Profetas

A queda da Babilônia para Ciro, da Pérsia, não podemos saber ao certo. Esdras 5.1 men­
em 539 a.C., deu início a uma época emocio- ciona Ageu, mas não temos muitas outras
nante para o povo de Deus. Ciro prontamen­ informações sobre ele.
te emitiu um decreto dizendo que qualquer Ageu tinha grande zelo pelo templo do
judeu que desejasse poderia voltar para Judá Senhor — ele queria que o povo terminasse a
e reconstruir o templo (Ez 1.1-3). Um grupo construção do jeito certo! Mas muitos dentre
de quase cinqüenta mil voltou para Judá e o povo de Deus estavam apáticos. Eles não se
começou o processo de reconstrução (Ez importavam tanto com o templo como eles se
2.64,65). Tragicamente, a oposição logo fez importavam com o seu próprio conforto. Deus
com que o trabalho no templo fosse suspenso usou Ageu para tocar no coração do povo de
(Ez 4.1-5). modo que compreendessem o que era impor­
Ageu e Zacarias profetizaram no tempo em tante para Deus
que o povo de Deus precisava de um novo
desafio para terminar o templo. Ageu con- As m ensagens de Ageu
centrou-se na apatia espiritual do povo en­ Primeira mensagem:
quanto Zacarias declarou as grandes coisas um chamado para agir (1.1-15)
que Deus faria no futuro. Malaquias, que
ministrou aproximadamente dezesseis anos Ageu desafiou seus ouvintes com uma per­
depois, encorajou a nação a dar a Deus o gunta — “Acaso, é tempo de habitardes vós
melhor de si. em casas apaineladas, enquanto esta casa
permanece em ruínas?” (v. 4). O povo tinha
tempo de sobra para cuidar dos seus interes­
ses, mas não tinha tempo para terminar o tem­
Ageu: lidando com plo de Deus!
Ageu os confrontou com a situação em
pessoas que não se que se encontravam naquele momento. Seus
importam campos produziam colheitas minguadas. Sua
bebida e comida não satisfaziam. Suas roupas
Esboço não os mantinham aquecidos e seus salários
desapareciam rápido demais. Por quê? Por­
I* Primeira mensagem: um chama­ que o povo tinha deixado que a casa de Deus
do para agir (1.1-15) continuasse em ruínas enquanto eles faziam
uma coisa aqui e outra ali, buscando suas pró­
II. Segunda mensagem: uma palavra
prias ambições!
de encorajamento (2.1-9)
O desafio inicial de Ageu mobilizou o
III. Terceira mensagem: confirmação povo. Ainda naquele mês, o trabalho no tem­
da bênção (2.10-19) plo havia sido retomado, com Ageu ali pre­
sente, assegurando-os que o Senhor iria
IV. Quarta mensagem: a restauração ajudá-los.
do reino da linhagem de Davi
Segunda mensagem:
(2.20-23)
uma palavra de encorajamento
Pano de fundo de Ageu (2.1-9)
Ageu começou a profetizar no outono de Aproximadamente um mês depois que o
520 a.C. ( l .l ) .1 O trabalho no templo do Se- trabalho no templo havia recomeçado, Ageu
nhor havia parado aproximadamente quin­ apresentou um outro desafio. Ele pediu aos
ze anos antes por causa da oposição dos vizi­ anciãos de Judá que comparassem o templo
nhos de Judá. DARIO I (521-486 a.C.), o em seu estado atual com a aparência que ele
terceiro rei da Pérsia, era quem governava o possuía antes do exílio. E claro que a glória
império naquela época. Zorobabel, que ha­ presente não se equiparava com a glória de
via ajudado o povo a estabelecer-se em Judá outros tempos. Mas Ageu encorajou o povo a
(Ed 2.2; 3.2), era o governador enquanto continuar trabalhando. O Espírito de Deus
Josue (Ed 2.2; 3.2) servia na posição de sumo estava com cies! O Senhor faria com que a
sacerdote. Alguns estudiosos sugerem que glória do novo templo fosse maior que a do
Ageu era um homem idoso (Ag 2.3), mas primeiro.2
464
Ageu, Zacarias e Malaquias

A o longo da História, o templo de Deus,


de fato, tem aumentado em glória. A Igreja é Zacarias: preparem-se
o templo de Deus e o Espírito de Deus habita
nela (1 C o 3.16). C ada cristão é um templo do para o reino de Deus!
Espírito San to (IC o 6.19,20). E quando o S e ­
nhor estabelecer o seu reino eterno, ele mes­ E sb o ço
mo será o seu templo (Ap 21.22). I. E xortação a voltar para o Senhor
Terceira mensagem: ( 1 * 1- 6 )

confirm ação da bênção (2.10-19) I L A s oito visões noturnas (1.7—6.8)


Dois meses depois de suas palavras de en­
corajamento, Ageu questionou os sacerdotes I I I . A coroação de Jo su é (6.9-15)
sobre as leis a respeito de coisas puras e impu­
IV. A observância dos jejuns
ras. Se um homem estivesse levando carne
(7.1-8.23)
santa na sua veste e a sua veste tocasse uma
outra comida, essa outra comida se tornaria V. A vinda do M essias (9.1—14-21)
santa? O s sacerdotes responderam que não.
A geu perguntou, então, o que aconteceria se P ano d e fu n d o d e Z a ca ria s
uma dessas coisas tocasse alguém impuro. Elas Zacarias 1.1 cham a Zacarias de filho de
se tornariam impuras? O s sacerdotes respon­ Baraquias e neto de Ido. O livro de Neemias
deram que sim. “Assim é este povo, e assim cita Ido entre os sacerdotes que voltaram para
esta nação...5’, disse Ageu. “ ... assim é toda a Judá com Zorobabel (12.4). Ele também men­
obra das suas mãos, e o que ali oferecem: tudo ciona que Zacarias era o cabeça da casa de
é imundo5’ (v. 14). seu pai (12.16). Talvez quando Zacarias vol­
O povo achava que se tornaria santo se tou da Babilônia ele fosse um rapaz e seu pai
construíssem suas casas perto do templo. Em morreu quando ainda era jovem.
vez disso, eles profanavam o templo por meio Muitos estudiosos modernos questionam se
do seu viver impuro. Mesmo nos dias de hoje, o livro todo de Zacarias vem do próprio profe­
muitas pessoas acham que se elas simplesmen­ ta.3 A maior parte normalmente aceita que
te passarem tempo na igreja elas receberão a Zacarias 1-8 vem de Zacarias, mas sugere que
bênção de Deus. Em vez disso, suas vidas sem Zacarias 9—14 é material que foi escrito mais
santidade ferem o ministério do templo. tarde, por três razões:
A pesar do pecado de Judá, Deus determi­
1. O s assuntos em 1—8 e 9—14 são um tanto
nou que iria abençoar o povo. Ele mandou
diferentes. Os capítulos 1-8 tratam princi­
que marcassem em seus calendários, pois as palmente da reconstrução do templo de
bênçãos com eçariam im ediatam ente. O fa­ Jerusalém, enquanto os capítulos 9—14 con-
vor de Deus encorajaria o povo a continuar o centram-se em um futuro distante.
trabalho no templo. 2. O vocabulário e o estilo são bem diferentes
Quarta mensagem: nas duas seções.
a restauração do reino da linhagem 3. Zacarias 9.13 menciona a Grécia, que não
era uma potência mundial nos tempos de
de Davi (2.20-23)
Zacarias.
Ageu descreveu ainda mais os planos de
Deus para o futuro. O Senhor iria derrubar M as esses argumentos não provam a auto­
reinos e exaltar seu povo. Zorobabel, um des­ ria múltipla do livro de Zacarias. Trataremos
cendente do rei Davi, seria um servo especial de cada ponto em seqüência:
de Deus naquele dia. Deus estabeleceria o 1. Os profetas muitas vezes escreviam sobre
reino da linhagem de Davi outra vez. temas variados. Além disso, a estrutura do
Talvez a ligação de Zorobabel com a linha­ livro de Zacarias assemelha-se a outros es­
gem de D avi tivesse dado esperanças sobre a critos bíblicos apocalípticos. O livro começa
vinda do M essias. O s cristãos vêem o cumpri­ com o estabelecimento de uma referência
mento final dessa profecia em Jesus Cristo (Lc histórica e então parte para um quadro mais
1.32,33), um descendente de Davi por meio universal do trabalho de Deus no mundo
de Zorobabel (Mt 1.1,12). (ver Dn 1-6 e 7-12; A p 1-3 e 4-22).
465
Descobrindo os Profetas

2. Diferentes tópicos naturalmente requerem havia dispersado o povo de Deus e destruído


diferente vocabulário e estilo. Além disso, sua dignidade. Os quatro ferreiros represen­
os profetas algumas vezes variavam o estilo tavam as forças de Deus contra aquelas na­
por um motivo específico. ções. Ele iria dispersá-las como elas haviam
3. A Grécia estava tornando-se uma potên­ dispersado o seu povo.
cia durante os tempos de Zacarias, espe­ N a terceira visão aparecia um homem
cialmente quando ele já tinha mais idade. medindo Jerusalém (2.1-13). Hoje, quando
Talvez Zacarias tenha escrito os capítulos se vende uma propriedade, um corretor mede
9-14 quando já era mais velho. Também a propriedade e demarca a sua área para que
não devemos excluir a possibilidade de os compradores saibam exatamente o que eles
uma profecia de previsão. Deus sabe o fu­ estão comprando. Da mesma forma, Deus
turo e pode revelá-lo aos seus profetas. estava marcando Jerusalém como sua proprie­
dade. Ele iria proteger a cidade do mal e iria
Zacarias começou o seu ministério dois
habitar ali. Ele advertiu os inimigos de Judá
meses depois de Ageu (Ag 1.1; Zc 1.1). As­
que eles iriam tornar-se escravos, mas ofere­
sim como Ageu, ele encorajou o povo a re­
ceu às nações arrependidas a chance de jun-
construir o templo. Mediante uma visão espe­
tarem-se a ele!
cial, Zacarias ficou sabendo dos planos de
A quarta visão concentrava-se no ofício
Deus para o presente e para o futuro. O reino
do sumo sacerdote (3.1-10). Os trajes imun­
eterno de Deus estava chegando, mas ele
dos de Josué representavam o fracasso do sa­
também chamou o povo a servi-lo nos dias de
cerdócio em servir fielmente ao Senhor (Jr
Zacarias.
6.13; Mq 3.11). Satanás estava pronto para
A mensagem de Zacarias apontar o pecado de Josué e os pecados de
seus predecessores. Mas Satanás recebeu a re­
Exortação a voltar para o Senhor preensão de Deus — Deus havia escolhido
( 1 . 1- 6 ) Jerusalém e iria restaurar o sacerdócio. As
Zacarias chamou o povo de Deus a dedi­ novas vestes de Josué significavam perdão e
car-se novamente a ele. Seus ancestrais ha­ purificação. O sumo sacerdote e seus colegas
viam persistido em seus caminhos maus e re- representavam o começo de uma grande obra.
cusado-se a seguir os mandamentos de Deus. Deus iria levantar um servo chamado de “Re­
Quando Deus lhes enviou profetas eles não novo” que traria consigo uma nova era mara­
deram ouvidos. Por fim, eles pagaram o preço vilhosa (ver comentário sobre 6.9-15).
do exílio. Zacarias desafiou Judá a desvenci- Na quinta visão de Zacarias, ele viu um
lhar-se completamente dos pecados do passa­ candelabro e duas oliveiras (4.1-14). O texto
do e seguir ao Senhor. não identifica o candelabro, apesar das duas
oliveiras aparentemente representarem Zoro­
As oito visões noturnas (1.7-6.8) babel e Josué. O Senhor enviou uma palavra
Cada uma das visões noturnas de Zacarias a Zorobabel — o templo logo estaria termina­
segue um determinado padrão. Primeiro, Za­ do! O Espírito de Deus, e não o esforço huma­
carias descreve o que ele vê. Depois, ele per­ no, completaria o templo (4.6). Zacarias 4.6
gunta ao mensageiro celeste o que a visão oferece aos cristãos um importante princípio a
significa (a quarta visão não inclui esse item). ser lembrado. Deus pode nos chamar para rea­
Em seguida, ele recebe a interpretação do lizar tarefas difíceis, mas por intermédio do
mensageiro celeste. Espírito Santo trabalhando em nós podemos
A primeira visão de Zacarias revelou uma cumprir o seu propósito (Fp 2.13; 4.13).
hoste de cavaleiros que patrulhavam a terra Na sexta visão de Zacarias apareceu um
(1.7-17). Eles relataram que tudo estava tran­ rolo que voava (5.1-4). Ele media dez metros
qüilo. O anjo do Senhor perguntou por quan­ por cinco metros e estava coberto de escritos
to tempo Deus iria conter sua misericórdia de dos dois lados. O rolo representava a maldi­
Jerusalém e Judá. O Senhor respondeu que ção, a palavra condenatória de Deus contra
ele iria restaurar o seu povo e julgar as nações a terra. A palavra de Deus era uma medida
que o haviam oprimido. contra o pecado e iria julgar os culpados. As
A segunda visão do profeta revelou quatro pessoas hoje em dia também estão sob o jul­
chifres e quatro ferreiros (1.18-21). Os quatro gamento da palavra de Deus, Sua palavra
chifres simbolizavam as quatro nações que aponta para o nosso pecado, mas também
466
___________________________________ Ageu, Zacarias e Malaquias

Esse
monumento em
forma de
menorá foi
presenteado a
Israel pelo
Parlamento
Britânico. Na
quinta visão de
Zacarias, ele viu
um menorá (um
candelabro).

nos fala de Jesus Cristo, que morreu para ti- na cabeça de Josué, o sumo sacerdote. Então,
rar o nosso pecado. Deus interpretou o gesto. O servo de Deus
A sétima visão do profeta mostrava uma chamado de “Renovo” iria construir o tem­
mulher e um cesto de efa (5.5-11). A mulher plo, governar como sacerdote em seu trono e
representava a iniqüidade. O mensageiro ce­ trazer paz entre os ofícios de rei e sacerdote.
leste a jogou dentro do cesto e selou com uma Alguns estudiosos sugerem que o texto
cobertura de chumbo. Então, mensageiros ala­ pode originalmente ter dado a entender a
dos tomaram o cesto e voaram com ele para a unidade de Zorobabel e Josué — liderança
Babilônia. Esse gesto significava que Deus iria política e espiritual trabalhando juntas em
remover o pecado do seu povo. Ele os libertou harmonia com o propósito em comum. Mas
do pecado para que pudessem servi-lo fiel­ essencialmente, o texto aponta para Cristo,
mente, da mesma forma como ele faz com os no qual os ofícios de rei e sacerdote encontra­
seus filhos nos dias de hoje (Rm 6.17,18). rão perfeita unidade. Jesus construiu o tem­
Na oitava visão de Zacarias, o profeta viu plo de Deus, a Igreja (Mt 16.18; ICo 3.16), e
quatro carruagens vindo entre duas monta­ intercede pelos crentes como nosso Sumo Sa­
nhas de bronze (6.1-8). As carruagens repre­ cerdote (Hb 7.24-28). Ele também é o sucessor
sentavam espíritos do céu que patrulhavam a do trono de Davi (Lc 1.32,33), e governará
terra sob o comando de Deus. Alguns intér­ para sempre como Rei dos reis (Ap 19.11-16).
pretes acreditam que essa passagem refere-se
ao julgamento de Deus sobre o Egito, Assíria
A observância dos jejuns (7.1-8.23)
e Babilônia, mas a passagem não menciona Em 581 a.C., uma delegação de Betei foi
nomes específicos de países. A visão provavel­ fazer uma pergunta aos sacerdotes e profetas.
mente descreve a soberania geral de Deus Durante o exílio, o povo jejuava durante o
sobre todas as nações. Os espíritos relataram quinto mês para prantear a destruição do tem­
que o Espírito de Deus agora estava no norte. plo (2Rs 25.8). Eles também jejuavam no quar­
Deus havia lidado com seus inimigos e agora to, sétimo e décimo meses (Zc 8.19). O jejum
podia continuar a restaurar o seu povo. do quarto mês provavelmente lembrava a bre­
cha no muro de Jerusalém (Jr 39.2), o jejum
A coroação de Josué (6.9-1 5) do sétimo mês era em memória do Dia da
O Senhor deu a Zacarias uma ordem inco- Expiação (Lv 16) ou do assassinato de Geda-
mum. Ele deveria fazer uma coroa e colocá-la lias (Jr 41.2) e o jejum do décimo mês era para
467
Descobrindo os Profetas

o cerco de Jerusalém (Jr 39.1). Agora que o ram que Jesus iria cumprir a profecia por com­
exílio havia terminado e o templo estava qua­ pleto, tornando-se rei dos judeus, destruindo
se pronto, o povo se perguntava se deveria o poder dos romanos e estabelecendo o reino
continuar a jejuar no quinto mês. de Deus na terra.
A resposta do Senhor continha dois pon­ Mas o cumprimento total da profecia teria
tos-chave. Em primeiro lugar, o povo deveria que esperar. Naquele dia, Jesus entrou mon­
lembrar-se do passado. Deus havia advertido tado em Jèrusalém para se preparar para sua
seus ancestrais que ele esperava que vives­ morte. Em uma semana, o grande propósito
sem em fiel obediência a ele. O exílio tinha redentor de Deus chegaria ao seu clímax —
vindo como seu julgamento final contra a re­ Jesus morreu na cruz, mas ressuscitou no ter­
beldia persistente do povo. O Senhor encora­ ceiro dia. Ele assegurou a salvação para todos
jou o povo a aprender com os seus pecados do aqueles que colocarem nele a sua fé. Mas
passado para que não os repetisse. quando Jesus voltar, ele irá cumprir o resto
Em segundo lugar, jejuar como forma de das palavras de Zacarias. Seu reino durará
autopiedade não tem valor nenhum. Deus para sempre.
havia julgado o seu povo por causa de seu Parte da restauração que Deus queria fa­
pecado. Ele os havia chamado ao arrependi­ zer em seu povo incluía tirar os maus líderes
mento, mas eles haviam se recusado a ouvir. (10.2—11.17). Zacarias descreveu os líderes
Portanto, quando eles pediram ajuda em sua como sendo pastores inúteis que pouco se
hora de dificuldade, ele se recusou a ouvir. O importavam com suas ovelhas. Eles estavam
jejum oferecia ao povo de Deus uma forma interessados em seu benefício próprio. Sob o
de humilharem-se perante o Senhor, mas a comando de Deus, Zacarias assumiu a posi­
verdadeira humildade e o arrependimento de­ ção de líder, mas o povo rejeitou a sua boa
veriam resultar em retidão. Se o povo só jeju- liderança. Ao que parece, eles não queriam
ava para sentir pena de si mesmo, estava per­ que seus pecados fossem expostos. O profeta
dendo tempo. advertiu o povo que um outro líder insensato
De qualquer forma, a resposta do Senhor viria antes do líder final de Deus.
continha uma mensagem da graça. Ele iria Estudiosos da Bíblia já tentaram identifi­
ajuntar o seu povo e restabelecer o seu nome car os três pastores mencionados por Zacarias
em Jerusalém. Iria restaurar o seu relaciona­ (11.8), bem como o futuro pastor insensato
mento com seus filhos. Traria paz e bênçãos (11.16). Alguns sugerem que os pastores eram
duradouras e Israel tornaria-se uma luz para os sacerdotes dos tempos de Zacarias, enquanto
as outras nações. Outros povos veriam a bên­ outros propõem que os três representavam três
ção do Senhor e a buscariam para si. Deus iria grupos — os profetas, os sacerdotes e os gover­
transformar os jejuns de Israel em tempos de nantes. Sejam quem for, Zacarias garantiu que
bênção; ele estava no controle. o Senhor os removeria.
Zacarias 12—14 revela diversos aspectos do
A vinda do Messias (9.1-14.21) reino vindouro do Senhor. Primeiro, Deus trará
Zacarias afirmou que o Senhor iria remo­ a vitória (12.1-9). Jerusalém será o instrumen­
ver os inimigos de Israel da Síria, FENÍCIA e to de Deus, mas o triunfo será dele. Ele irá
Filístia (9.1-8). Ele também iria formar um destruir as nações que se juntaram contra o
remanescente dentre esses povos! Essa profe­ seu povo.
cia ilustra como Deus estava preparando o Em segundo lugar, a nação irá apegar-se
caminho para que o evangelho se espalhasse ao Senhor (12 .1 0 -1 3 .6 ). À m edida que
pelo mundo. Um dia, todos os povos de todas Deus derramar seu Espírito, o povo olhará
as nações seriam parte da família de Deus. para aquele a quem eles feriram e pranteará
Então, o profeta anunciou um outro moti­ por ele como alguém que chora a morte do
vo de regozijo — o rei de Israel estava a cami­ único filho. O apóstolo João ligou essa profe­
nho, montado em um jumento (9.9-17)! Ele cia à crucificação de Jesus (Jo 19.37; Ap 1.7).
traria paz duradoura e seu domínio se esten­ Nos últimos dois mil anos, o povo judeu como
deria até os confins da terra. um todo não reconhece Jesus como sendo o
Jesus cumpriu parcialmente as palavras de seu Messias. Zacarias proclamou que um dia,
Zacarias na sua entrada triunfal em Jerusa­ no tempo perfeito de Deus, eles irão reco-
lém (Mt 21.1-11). Multidões aplaudiram sua nhecê-lo (ver também Rm 11.25-27). Quan­
chegada. Muitos regozijaram-se porque acha­ do isso acontecer, irão chorar amargamente
468
Ageu, Zacarias e Malaquias

por causa dos anos de incredulidade. O pe- ve o reinado pessoal de Cristo na terra (milê­
milênio
cado e a impureza desaparecerão e a falsa nio) . Outros crêem que denota o reinado eter­
profecia cessará. no de Cristo no céu. Ainda outros sugerem
Em terceiro lugar, o pastor de Deus será que se refere tanto ao reino da terra quanto
ferido (13.7-9). Em Zacarias 13.7, Deus orde­ do céu.
nou “fere o pastor e as ovelhas ficarão disper- Quando Zacarias escreveu sobre a vinda
sas”. Por esse processo, o Senhor iria preparar do Messias, não fez uma distinção clara entre
um remanescente especial para cumprir os seus a primeira e a segunda vinda. Para ele, assim
propósitos. Ele iria estabelecer um relaciona­ como para muitos outros profetas, a vinda do
mento pessoal com eles. Em sua última refei­ Messias seria um único e glorioso futuro. Nós
ção com os discípulos, Jesus os alertou para a que vivemos depois da primeira vinda de Cris­
sua prisão (Mt 26.31). Ele lhes disse que iriam to podemos olhar para trás com gratidão pela
cumprir sua palavra profética e eles cumpri­ sua vitória sobre o pecado. Também podemos
ram. Enquanto os inimigos de Jesus o leva­ olhar adiante com expectativa pelo reino que
vam embora, seus discípulos fugiram assusta­ ele irá estabelecer quando vier novamente.
O Portão dos, sem perceber que o alvorecer da sua res­
Dourado de surreição estava logo adiante (Mt 26.56).
Jerusalém.
WÈÈÊÊÊÊK
Em quarto lugar, o Senhor irá voltar para
Alguns
acreditam que salvar o seu povo (14.1-21). Zacarias prenun­ Malaquias:
esse portão não
será aberto até
ciou o dia em que todas as nações se unirão
contra Jerusalém. No último minuto, o Se­
ofereça a Deus o
que o Messias
venha em glória.
nhor irá intervir, livrar seu povo e estabelecer melhor de si!
o rei reino eterno. Ele destruirá os seus inimi­
Zacarias
escreveu sobre a gos e todas as nações irão adorar o único e Esboco
5
vinda do verdadeiro Deus. Alguns intérpretes da Bí­
Messias. blia acreditam que o capítulo 14.6-21 descre­ I. Introdução (1.1)

469
Descobrindo os Profetas

II. O amor de Deus pelo seu povo A mensagem de Malaquias


(1.2-5)
Introdução (1.1)
III. A honra de Deus no meio O nome de Malaquias significa “Meu
de seu povo (1.6-2.9) Mensageiro”. Conseqüentemente, alguns es­
tudiosos sugerem que o livro é anônimo e que
IV. A preocupação de Deus com devemos traduzir 1.1 como: “Sentença pro­
o casamento misto e o nunciada pelo Senhor contra Israel, por inter­
divórcio (2.10-16) médio de meu mensageiro”. Esse ponto de
V. A justiça e a paciência de vista, porém, não é provável.4 Não temos ou­
Deus (2.17-3.6) tros exemplos desse tipo de expressão fazendo
referência a um profeta cujo nome não é
VI. A preocupação de Deus mencionado.
com os dízimos e ofertas Sabemos muito pouco sobre Malaquias
(3.742) além do fato de que ele viveu em Judá depois
do exílio. Seu livro ataca o povo de Deus por
VIL O amor de Deus pelo sua falta de respeito à lei e às formas corretas
remanescente (3.13-4.3) de culto. Mediante uma série de discussões,
Malaquias desafiou seus ouvintes a dar ao
VIII. Conclusão (4.4-6) Senhor o melhor de si em todas as coisas.
Nessas discussões, ele declarou os pecados do
povo, sua reação de incredulidade e as evi­
O cristão dências que Deus tinha de seu pecado.
Os estudiosos geralmente situam o minis­
e a apatia tério de Malaquias na mesma época de Esdras
e Neemias ou um pouco antes, tendo em vis­
ta que Malaquias fala contra muitos dos mes­
mos problemas. Uma data por volta de 470 a
Os ouvintes de Ageu não haviam repetido os peca­ 460 a.C., logo antes da chegada de Esdras,
dos de seus ancestrais. O profeta não pregou contra
parece bastante provável.5
sua idolatria, imoralidade ou injustiça social. O povo
não estava adorando outros deuses ou violando os O amor de Deus pelo seu povo
seus votos de casamento. Eles não estavam trapacean­ (1.2-5)
do entre si e nem oprimindo os pobres. Ainda assim,
O povo questionou a extensão do amor de
Ageu os denunciou pois eles haviam colocado as suas
preocupações acima do Senhor.
Deus. Em resposta, Malaquias os lembrou da
Enquanto o povo cuidava de suas próprias necessi­ aliança com Deus. Jacó e Esaú, ancestrais de
dades, a casa de Deus estava em ruínas. Eles reconstruí­ Israel e Edom, eram irmãos, mas Deus esco­
ram suas casas, mas não conseguiram achar tempo lheu Jacó para receber as bênçãos da aliança.
para reconstruir o templo. Talvez a oposição inicial dos Deus abençoou Israel, mas não fez nenhuma
povos vizinhos os tivesse desanimado, mas Ageu lhes aliança com Edom. De fato, ele devastou a
disse que era chegada a hora. Eles precisavam terminar terra de Edom. O orgulho dos edomitas os fez
o templo e dar a Deus a honra que ele merecia! pensar que ninguém poderia detê-los, mas
Nos dias de hoje, muitas coisas competem pela nos­ Deus disse que iria frustar os seus planos. Por
sa atenção. Ao cumprirmos muitos compromissos, ou­ outro lado, a aliança de Deus com Israel de­
tras preocupações podem nos impedir de darmos ao monstrava seu amor pelo seu povo.
Senhor o tempo que ele merece. Como resultado disso,
nossa vida não lhe traz a devida glória. A honra de Deus no meio de seu
Jesus disse que os planos de Deus para nossa vida povo (1.6-2.9)
devem receber a mais alta prioridade (Mt 6.33). Não Malaquias apresentou uma acusação con­
podemos ousar deixar o Senhor de fora de nossa agen­ tra os sacerdotes — eles estavam demonstran­
da. Devemos, sim, viver à luz do nosso relacionamento do desprezo pelo nome de Deus! Estavam acei­
com ele. Fazer isso nos ajudará a evitar o pecado da
tando animais cegos, coxos e doentes para o
apatia.
sacrifício. Eles guiavam o povo para o cami­
nho errado ao mostrar-lhes que os sacrifícios
WÊtmmÊMmÊmmÊSSÊÊÊmmmKÊÊmmKmgÊÊÊÊHmmÊm para Deus não eram realmente importantes.
470
Ageu, Zacarias e Malaquias

vem determinar padrões altos para que os


Pessoas/ outros possam seguir.

lugares-chave A preocupação de Deus com o


casamento misto e o divórcio
Dario
(2.10-16)
Zorobabel
Deus estabeleceu o casamento como uma
Termo-chave Josué
Fenícia instituição sagrada. Ele proibiu o casamento
Milênio com pessoas de outras crenças pois, ao fazê-lo,
o povo estaria comprometendo o relaciona­
mento de Israel com ele Qs 23.12,13). Aliás, o
M alaquias deu três razões pelas quais casamento misto foi uma das principais razões
Deus merecia a honra e o respeito do povo. pelas quais Israel e Judá começaram a prati­
Em primeiro lugar, Deus era o seu Pai. Os car a idolatria. Esdras e Neemias atacaram
filhos honravam seus pais humanos, então esse problema pouco depois de Malaquias (Ed
por que não honrar o Pai celeste? Em segun­ 9-10; Ne 13.23-29).
do lugar, Deus era o seu Senhor. Eles o cha­ Também era a intenção de Deus que o
mavam de “Senhor”, então por que não tratá- casamento fosse um comprometimento para
lo como tal? Em terceiro lugar, o Senhor era toda a vida. A expressão “mulher da tua alian­
um grande Rei. Os súditos não trariam um ça” (2.14) sugere que muitos homens esta­
animal doente como presente para um rei vam abandonando os votos que haviam feito
humano, então por que trazer tal animal para em sua mocidade. À medida que as esposas
o Rei dos céus? ficavam mais velhas, eles se divorciavam de­
O profeta advertiu os sacerdotes que Deus las e, ao que parece, casavam-se com mulhe­
iria amaldiçoar seus sacrifícios. Os levitas não res mais jovens e atraentes. A declaração de
estavam levando suas funções a sério. Eles de­ que Deus “odeia o repúdio” (2.16) mostra o
veriam estar ensinando ao povo os caminhos quão seriamente ele toma os votos de casa­
de Deus por meio de palavras e exemplo, mas mento. Jesus afirmou essa norma quando os
estavam fracassando terrivelmente. Hoje, o líderes religiosos o questionaram (Mt 19.3-9).
Senhor ainda espera que líderes cristãos se­ Hoje em dia, muitos casamentos terminam
jam modelos de um viver de retidão. Eles de­ em divórcio, mas a Palavra de Deus ordena

Questões para estudo

Identifique as circunstâncias históri­ 6. Como Zacarias descreve o reino


cas em que Ageu e Zacarias se levan­ messiânico? De que forma essas
taram. Como você caracterizaria os palavras foram cumpridas no
ouvintes de Ageu? Novo Testamento?
De que forma Ageu e Zacarias moti­ 7. Quais são os principais temas de
varam o povo a reconstruir o templo? Malaquias?
Discuta as questões relativas à auto­ 8. Malaquias profetizou contra mui­
ria de Zacarias. tos tipos de abusos do seu tempo.
4, Em que aspectos da vida em Judá Como as pessoas — até mesmos
as visões de Zacarias tocaram? De cristãos — algumas vezes ainda
quantas visões você se lembra? são culpadas desses mesmos abu­
sos hoje em dia?
O que Zacarias prometeu acerca
do sacerdócio?

471
Descobrindo os Profetas

Sumário

1. A mensagem de Ageu incluiu: um 4. Deus com freqüência revelava os seus


chamado para agir, uma palavra de planos para Zacarias por meio de vi­
encorajamento, uma confirmação da sões noturnas.
bênção e a restauração do reino da
5. A mensagem de Malaquias é compos­
linhagem de Davi.
ta por uma série de discussões.
2. Enquanto Ageu tinha grande zelo
6. Deus cumpriu sua palavra a Malaquias
pelo templo, o povo estava mais in­
mediante Jesus Cristo e João Batista.
teressado em seu próprio conforto.
7. Malaquias encerrou o seu livro com
3. Os assuntos de Zacarias são dife­ uma ordem para o povo se lembrar
rentes nos capítulos 1-8 e 9-14 e
da Lei de Moisés e com a promessa de
isto tem levado alguns a adotar
que o julgamento de Deus estava
um ponto de vista de múltipla au­
chegando.
toria do livro.

que sejamos casados por toda a nossa vida. feita de Deus iria prevalecer. Deus enviaria
Algumas vezes, o pecado cria condições para ao seu povo um mensageiro especial e então o
as quais o divórcio parece ser a melhor solm próprio Deus viria (3.1). Ele julgaria o pecado
ção, mas o ideal de Deus ainda é o compn> onde quer que o encontrasse — mesmo no
metimento duradouro. meio de seu povo — e traria ao mundo a juS'
tiça final.
A justiça e a paciência de Deus
O Senhor cumpriu sua palavra a Malaquias
(2.17-3.6) por meio de João Batista e Jesus Cristo. João
Muitos sentiam que Deus não se importa' Batista veio primeiro para anunciar a vinda
va com a iniqüidade do povo. Os perversos de Jesus (Lc 7.27). A morte e a ressurreição
pareciam escapar sem que ninguém notasse. de Jesus derrotaram o pecado e o Espírito Santo
Malaquias assegurou o povo que a justiça per' capacita os cristãos a viverem como Deus de-

Leituras complementares

Baldwin, Joyce G. Haggdi, Zechariah, M alachi: A n em análise textual e exposição.


Introd uctioon a n d Com m entary. Tyndale Old Testa­ Merrill, Eugene H. Haggais, Zechariah, M alachi: A n
ment Commentary. Downers Grove: InterVarsity, Exegetical Com m entary. Chicago: Moody, 1994.
1972. Bom comentário em nível universitário. Uma análise detalhada do texto, porém de fácil leitu­
Kaiser, Walter C., Jr M alachi: G o d 's Unchanging Love. ra com amplas notas de rodapé.
Grand Rapids: Baker, 1984. Uma boa exposição con­ Verhoef, Pieter A. The B o o k s o f H aggai a n d Malachi.
centrando-se mais no aspecto devocional. New International Commentary on the Old Testa­
McComiskey, Thomas E., org. The M in o r P ro p h ets: A n ment. Grand Rapids: Eerdmans, 1987. Um bom co­
Exegetical and Expo sito ry C om m entary. 3 vols. mentário para o estudante sério.
Grand Rapids: Baker, 1992-1998. Para o estudante
mais sério em busca de um estudo avançado. Rico

4 72
Ageu, Zacarias e Malaquias

seja (Rm 8-3,4). E quando Jesus voltar, ele irá pecando contra o Senhor e escapando ilesos.
destruir o pecado para sempre. Mas Malaquias disse que o Senhor se lembra­
ria da vida fiel de seus servos. Quando Deus
A preocupação de Deus com os
julgasse o mundo, ele iria preservar seu povo
dízimos e ofertas (3.7-12) para si. Ele iria celebrar com aqueles que ver­
Malaquias apresentou uma séria acusa­ dadeiramente o temiam.
ção contra o povo — eles estavam roubando
de Deus! A Lei de Moisés requeria que o Conclusão (4.4-6)
povo desse o dízimo, dez por cento de seu Malaquias encerrou o seu livro com uma
salário, para o Senhor. O dízimo fazia o povo ordem e uma promessa. Primeiro, ele orde­
lembrar que cra Deus quem lhes havia dado nou que o povo de Deus se lembrasse da Lei
tudo. O dízimo também era uma provisão de Moisés. A Lei tinha os fundamentos para a
para os levitas. A negligência em dar o dízimo vida e aqueles que vivessem de acordo com
era roubar de Deus. Mesmo nos dias de hoje, ela iriam experimentar a vida que Deus pre­
as pessoas roubam de Deus ao lhe dar menos tendia para eles. Hoje, aqueles que vivem pela
que deveriam. Palavra de Deus também experimentam essa
Deus desafiou seu povo a prová-lo. Se eles vida abençoada.
trouxessem fielmente suas ofertas, Deus iria Em segundo lugar, Malaquias prometeu ao
cobri-los de bênçãos. Outras nações reconhe­ povo que o julgamento de Deus estava che­
ceriam que o Senhor havia abençoado Israel gando. O Senhor enviaria a Elias antes da­
abundantemente e então eles também iriam quele dia para chamar o seu povo ao arrepen­
louvá-lo. dimento. Jesus afirmou que João Batista de­
sempenhou o papel de Elias (Mt 11.13,14;
0 amor de Deus pelo remanescente
17.10-13). João anunciou a vinda do Messias,
(3.13-4.3) que traria ao mundo salvação e julgamento.
Alguns dos seguidores fiéis de Deus se per­ Jesus garantiu a salvação eterna em sua pri­
guntavam se Deus realmente os amava. Eles meira vinda e, em sua segunda vinda ele irá
sentiam que o serviam em vão. Viam outros julgar o mundo (Hb 9.28).

473
Epílogo
Uma palavra final

“vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus tra-se no futuro. A vinda do Messias e o reino
Heilsgeschi"
enviou seu Filho...” de Deus são acontecimentos que ainda estão
chte
Gálatas4-4 por vir.
O Cristianismo, por outro lado, deixou cla­
Chegamos, agora, ao final do assunto. Ou
ro desde seu início que o Novo Testamento
será que não? O Antigo Testamento não tem
cumpre e complementa o Antigo. As genea­
uma resolução ou conclusão claramente de-
logias de Jesus apresentadas pelos escritores
finida. Em vez disso, o Antigo Testamento
dos evangelhos (Mt 1.1-16; Lc 3.23-28) afir­
termina com uma expectativa, a espera de
mam explicitamente que o Messias havia che­
uma revelação mais completa que traria o
gado e que ele era a culminação das profecias
novo reino e seu Messias. As muitas e varia-
do Antigo Testamento. Ao longo do Novo
das profecias do Antigo Testamento sobre a
Testamento, os escritores enfatizam repetida­
vinda do Filho de Davi e sua nova era apon­ mente essa ligação íntima entre os aconteci­
tavam para um tempo futuro. Ainda assim, mentos dos seus dias e o Antigo Testamento
não se pode dizer de qualquer pessoa do An­
por meio de citações como: “Ora, tudo isto
tigo Testamento que ela foi esse Messias e aconteceu para que se cumprisse o que fora
certamente não houve nenhum período na dito pelo Senhor por intermédio do profeta”
história de Israel que trouxesse consigo uma (Mt 1.22; ver também Lc 24.4-47). E a igreja
era messiânica. primitiva reconhecia claramente e afirmava
Nesse sentido, cada leitor do Antigo Tes­ a importância do Antigo Testamento para a
tamento é confrontado com uma importante fé cristã.2A organização do Antigo Testamento
questão: “Tendo em vista que o Antigo Tes­ no Cânon cristão (ver capítulo 1) proposita­
tamento afirma que Deus revelou-se na anti­ damente amarra o Antigo Testamento ao
ga Israel e que irá se revelar ainda mais no Novo. Ao concluir com os profetas, a coleção
futuro, o que dizer dessas afirmações teológi­ do Antigo Testamento se encerra com uma
cas?” Ou, em outras palavras, “De que forma previsão final do dia em que aquele maior
as afirmações feitas no Antigo Testamento que Davi iria vir (Ml 3.1).
foram resolvidas ao longo da História?” O Mas isso levanta uma das questões mais
Antigo Testamento apresenta claramente complicadas sobre a leitura da Bíblia: de que
uma história de redenção e promessa, uma maneira o Antigo e o Novo Testamentos es­
“história da salvação” (Heilsgeschichte ) . Mas tão relacionados entre si? Alguns podem di­
como um estudioso observou, c uma história zer que o Antigo Testamento não tem rela­
de salvação que nunca chega de fato à salva­ ção com a cultura moderna; aliás, muitos cris­
ção. E essa história não está totalmente com­ tãos o deixam de fora de suas leituras bíblicas,
pleta pois nunca chegou ao um ponto final.1 quer intencionalmente ou por negligência.
N a história da religião, existem apenas duas Mas assim como ps cristãos primitivos, deve­
respostas possíveis para essa questão — uma mos afirmar que o Antigo Testamento é a
apresentada pelo Judaísmo e a outra ofereci­ Palavra de Deus para os nossos tempos. A
da pelo Cristianismo. O Judaísmo crê que as questão não é se devemos ler ambos os Testa­
verdades declaradas no Antigo Testamento mentos, mas sim como devemos lê-los juntos.
foram preservadas nas tradições farisaicas do Exatamente de que maneira eles se relacio­
Mishna (aproximadamente 200 d.C.) e, final­ nam entre si? Devemos definir esse relacio­
mente, no Talmud (um comentário sobre o namento como algo que vai além da ligação
Mishna escrito na Palestina e Babilônia). Sob promessa-cumprimento, tendo em vista que
esse ponto de vista, o ápice das esperanças e uma boa parte do Antigo Testamento trata
expectativas do Antigo Testamento encon­ de outras coisas além dessa promessa. Da
475
Epílogo

mento de que cumpre historicamente as ex­


pectativas futuras do Antigo Testamento.
Em terceiro lugar, o Antigo Testamento é o
centro teológico do Novo. Os autores do Novo
Testamento começam afirmando as verdades
teológicas do Antigo e eles partem do pressu­
posto de que seus leitores conhecem e aceitam
essas verdades. Aliás, a maior parte das gran­
des verdades doutrinárias da igreja é definida
em primeiro lugar, não no Novo Testamento,
mas no Antigo. Além disso, muitas dessas ver­
dades nem chegam a ser definidas no Novo
mesma forma, ambos são mais do que a sim­ Testamento, pois são tidas como sendo de co­
ples seqüência cronológica que os termos “an­ nhecimento comum. Assim, por exemplo, o sig­
tigo” e “novo” podem sugerir. Não se trata de nificado da criação, as conseqüências do pe­
um sistema velho e antiquado de aliança que cado do homem, o papel central da aliança na
tornou-se obsoleto com um modelo mais mo­ redenção e a doutrina da expiação são clara­
derno. Na verdade, o relacionamento é mais mente definidas no Antigo Testamento e, por­
de caráter integrativo c recíproco. Há uma tanto, pressupostas pelos autores do Novo (res­
co-dependência entre o Antigo e o Novo Tes­ pectivamente Gn 1-2, Gn 3, Gn 12, 15 e em
tamento. Lê-los isoladamente implica uma várias outras partes do Pentateuco, Is 53). E
compreensão incorreta de ambos. esta é apenas uma lista parcial. Em vários sen­
A relação íntima entre os Testamentos tem tidos, o Novo Testamento contém pouca coi­
pelo menos três aspectos. Em primeiro lugar, o sa que seja realmente nova; na verdade des­
Antigo Testamento é, literariamente, o pano creve mais o clímax do cumprimento de te­
de fundo do Novo Testamento. Pode-se ilus­ mas teológicos e mensagens do Antigo Testa­
trar esse fato mediante a grande quantidade mento. Dessa forma, e em outras, o Antigo
de citações ou alusões ao Antigo Testamento Testamento é claramente a matriz literária,
presentes no Novo. Um estudioso contou 295 histórica e teológica do Novo Testamento.
diferentes referências explícitas do Antigo Assim, voltamos para a questão intimamen­
Testamento que ocupam em torno de 352 te pessoal que o Antigo Testamento coloca
versículos do Novo.3 Mas a relação literária é para cada leitor: “Tendo em vista que Deus
mais do que só uma questão de citações. As afirma ter se revelado no Antigo Testamento
técnicas de retórica e, até certo ponto, a lin­ e promete se revelar ainda mais no futuro, o
guagem e o estilo dos autores do Novo Testa­ que entender dessas afirmações teológicas?”
mento são moldados pelo Antigo Testamento. O Novo Testamento e dois mil anos de histó­
Em segundo lugar, o Antigo Testamento é ria da igreja afirmam em uníssono: Jesus Cris­
a base histórica para o Novo. Não é exagero to é o cumprimento da revelação. Juntas, as
afirmar que o Novo Testamento seria incom­ verdades declaradas no Antigo e no Novo
preensível se não fosse pelas informações his­ Testamentos nos dão oportunidade de consi­
tóricas contidas no Antigo. Como poderiam derarmos uma reformulação da questão. Tal­
os leitores do Novo Testamento entender a vez não devêssemos perguntar o que eu devo
afirmação de que Jesus de Nazaré é o Mes­ fazer com as afirmações da Bíblia, mas sim o
sias, sem saberem alguma coisa sobre a histó­ que elas devem fazer comigo? A Bíblia ofere­
ria nacional de Israel e a dinastia de Davi? ce verdade e convida todos nós a confessar,
Essa interdependência histórica poderia ser receber e crer. Ao fazermos assim, esses escritos
ilustrada de inúmeras formas. Porém, talvez a tornam-se um meio da graça pelo qual o Espíri­
mais óbvia seja a afirmação do Novo Testa­ to de Deus pode fazer-nos novas criaturas.

476
m Ê M Ê M fflm ■ i m sm a m m — g f l o i i u n i « w « m a s as » n m i iiii m
realizados festivais religiosos anuais e
oferecia um importante fator de unifi­

Glossário cação para esses grupos que, fora isso,


eram bastante diferentes entre si. Em
1930, Martin Noth sugeriu que o sis­
tema de doze tribos de Israel era socio­
Abominação de desolação — Termo acordos tinham obrigações de compro­ logicamente análogo ao modelo grego.
usado para uma ação ou imagem idóla­ metimento para ambos os lados. Este é
tra. Alguns afirmam que se refere às um conceito teológico bastante rico na Antiga Idade do Bronze — Termo usa­
quatro passagens do livro de Daniel que Bíblia, tendo em vista que Deus sub­ do por arqueólogos e historiadores do
relatam a profanação sacrílega cometi­ mete-se a um relacionamento de alian­ antigo Oriente Próximo para referirem-
da por Antíocos IV Epifânio, rei pagão ça com os seres humanos no qual ele se ao terceiro milênio a.C., também
da Síria, que sacrificou um porco no também aceita ter obrigações. chamado, na Palestina, de Idade
altar sagrado diante do templo de Jeru­ Cananita (por volta de 3300-2000
salém em 168 a.C. Quando usado por A milenismo — Ver milênio. a.C.). Essa foi a era de grandes desen­
Jesus (Mt 24.15; Mc 13.4) e por Pau­ volvimentos por todo o antigo Orien­
Amonita — Língua de Amom, da mes­ te Próximo. Na Síria-Palestina, a An­
lo, entretanto, o termo possivelmente ma família que o hebraico e o aramaico.
refere-se àquele sacrilégio futuro rela­ tiga Idade do Bronze testemunhou o
cionado com o Anticristo e a segunda Amorita — Língua da mesma família súbito florescimento da população e ur­
vinda de Cristo. que o hebraico e aramaico. Por ser a banização. Essa foi uma transição rápi­
língua ancestral do aramaico, ela ajuda da de uma vida em vilas sem muros
A cádio — Língua usada pelos assírios a esclarecer a compreensão de certos para a fortificação de diversos locais.
e babilônios, que era da mesma família aspectos do hebraico da Bíblia. Os No Egito e na Mesopotâmia, a Antiga
de línguas que o hebraico semítico e o amoritas dominaram a história da Me­ Idade do Bronze marcou a ascensão e
aramaico. Os acádios eram um grupo queda dos primeiros grandes impérios
sopotâmia durante o segundo milênio
semita que subiu ao poder durante o a.C. e acabaram estabelecendo um im­ da humanidade: o Antigo Império no
último quarto do terceiro milênio a.C. Egito e os Impérios Sumério-Acádios
portante centro de poder ao sul, na Ba­
e ocupou a parte sul da Mesopotâmia na Mesopotâmia.
bilônia, no Eufrates e ao norte, em
com os sumérios.
Assur e Nínive ao longo do Tigre. Antropomórfico — Que tem qualida­
A cróstico — Um poema alfabético no des humanas (nesse contexto, o termo
Anais reais — Registros oficiais man­
qual a primeira letra de cada linha é a está relacionado especificamente com
tidos nos arquivos reais nos reinos do
letra seguinte do alfabeto hebraico. As­ a terminologia bíblica usada na apre­
antigo Oriente Próximo que provavel­
sim, há vinte e duas linhas ou versos, sentação ou descrição de Deus).
mente davam uma lista das atividades
uma linha ou verso para cada uma das
políticas de cada rei (por exemplo, lRs Apocalíptico intertestamental — Li­
vinte e duas letras do alfabeto. Em al­
11.41; 14.19; 15.31). teratura escrita no período intertesta­
guns exemplos, mais de uma linha co­
meça com a mesma letra (ver SI 119 e Ancião de Dias — Título dado a Deus mental e caracterizada por algum tipo
Lm 3). em Daniel 7. Daniel previu quatro rei­ de visão, a revelação inicial de algo que
nos representados por animais que eram normalmente é simbólico e misterioso
Aforismo — Uma declaração breve e requer a interpretação de um media­
crescentemente terríveis em aparência
que agrupa verdades religiosas de um dor celeste. O nome do autor, quando
e conduta. Enquanto Daniel observa­
modo geral. Aforismos podem ser en­ aparece, é quase sempre um pseudôni­
va, ele viu o Ancião de Dias e aquele
contrados na maior parte dos livros mo e muitos desses livros afirmam que
como “Filho do homem” (um título que
sagrados das religiões antigas. Apesar seus autores são heróis da fé israelita
Jesus usou para si mesmo em Mt 16.27;
dos aforismos aparecerem na Bíblia, eles que viveram séculos antes das obras
24.30; 26.64; Mc 8.38; 13.26, etc.), e
aparecem contrastando com a narrati­ serem escritas (Enoque, Abraão, Isaías,
estabelecerem juntos um quinto e eter­
va histórica de Israel. Esdras). Tais escritos também têm um
no reino, um reino dos santos do
Altíssimo. conteúdo em comum. Preocupados
Alegoria — Uma história que contém
com o futuro e com a freqüência reve­
um significado oculto ou simbólico.
Anfictionia — Associação de doze lando um julgamento escatológico, es­
Aliança — Termo hebraico (berit) que membros reunida em tomo de um tem­ ses livros normalmente dividem a His­
descreve um relacionamento de união plo religioso central em Delfos, na tória em períodos distintos de tempo,
entre dois parceiros humanos ou entre Grécia, por volta de 600 a.C. Os doze e esta culmina com um julgamento fi­
Deus e os seres humanos. O conceito membros tinham o compromisso de nal que recompensa os bons e castiga
tem uma origem legal e descreve um coexistir pacificamente entre si e unir os maus no pós-vida. Essa literatura é
acordo entre duas pessoas, quando tal forças contra agressões estrangeiras. O sensível à distinção entre o mundo es­
acordo não existia por natureza. Esses santuário central era um local onde eram piritual e o mundo físico, tendo em vista
477
Glossário

que anjos ou demônios algumas vezes tado, incluindo as listas de reis, livros tas e armas. O período calcolítico vêm
representam o mundo sobrenatural ou dos anais ou crônicas que supostamen­ imediatamente antes do neolítico,
então aquele que está tendo a visão é te listavam as atividades políticas de quando surgiram as primeiras culturas
transportado por meio de uma jornada cada rei, inscrições reais, épicos histó­ sedentárias no início da História da
celestial. Muitos desses escritos utili­ ricos e dados biográficos. humanidade.
zam uma técnica que talvez tenha sido
usada por Daniel em que um acontecia Astarote — Deusa cananita do mar e Canon — Palavra grega (kanon) que
mento conhecido do passado é proje­ consorte de Baal, deus da agricultura e significa regra. Nos estudos da Bíblia, o
tado para o futuro como que em uma fertilidade. Os israelitas começaram a termo conota uma coleção de livros
previsão. Apesar do livro de Daniel e adorar essas duas divindades, constru­ aceitos como regra de fé e prática e,
outras passagens proféticas do Antigo indo santuários para elas e adotando os portanto, providos de autoridade. Para
Testamento terem muitas característi­ ritos sexuais de fertilidade que acom­ uma discussão sobre esse termo, ver
cas apocalípticas, eles apresentam uma panhavam sua adoração, incluindo a capítulo 1.
grande diferença em relação aos livros prostituição sagrada.
Cartas de Am am a — Quase quatro­
do período intertestamental e, portan­ Baal — O mais importante deus do centas cartas do século 14 a.C. encon­
to, são classificados em uma subcate- panteão cananita, seu nome significa tradas em El Amarna, no Egito, entre
goria chamada de literatura bíblica apo­ “mestre”. Baal era o deus da fertilidade Mênfis e Tebas. A maior parte das car­
calíptica. e era adorado extensivamente na parte tas está em acádio e foi escrita por reis
Apócrifo — Termo relacionado espe­ ocidental da Âsia, da Babilônia até o ou governantes que eram vassalos na
cificamente aos livros adicionais que Egito. Síria-Palestina para Amenotepe IV
estão fora do Cânon tradicional de ses­ (Akenaton) e seu pai Amenotepe III.
Baalismo cananita — Religião cana­
senta e seis livros. Eles foram incluídos nita de adoração a Baal, com a qual a fé Casamento de levirato — Lei do An­
na Bíblia católica; em geral, o termo hebraica experimentou conflitos ideo­ tigo Testamento que garante filhos para
significa “oculto”, “escondido” e refere- lógicos significativos durante o reina­ o membro falecido de uma família (Dt
se a qualquer escritura extracanônica. do de Acabe, pois a apostasia religiosa 25.5,6). Quando um homem israelita
de Acabe o levou a confundir Baal, o morria sem ter deixado filhos do sexo
Árabe — Língua da mesma família do
deus cananita da fertilidade, com Iavé masculino, seu parente mais próximo
hebraico e aramaico.
e, assim, profanar a aliança entre Iavé e deveria casar-se com a viúva e dar con­
A ramaico — Língua semita bastante Israel. tinuidade à família mediante o filho pri­
parecida com o hebraico em seu voca­ mogênito do novo casamento, que de­
BaaUZebube — Divindade que era
bulário e morfologia básica, na qual veria levar o nome e a herança do pri­
uma forma de Baal adorada pelos filis­
foram escritas algumas partes do Anti­ meiro marido.
teus cm Ecrom. Acazias, que foi culpa­
go Testamento (Gn 31.47b; Ed 4.8—
do de continuar tanto a religião cana­ Cidades* estado — Estados soberanos
6.18; 7.12-26; Jr 10.11b; Dn 2.4b- nita da fertilidade quanto a adoração que consistiam em uma cidade autô­
7.28). O termo “aramaico” é originá­ idólatra do bezerro de Jeroboão I, te­ noma e suas dependências. Exemplos
rio do nome pré-helenístico da Síria— meu que um ferimento que ele havia do Antigo Testamento incluem as ci-
Arã. Apesar dos arameus nunca terem recebido seria fatal (2Rs 1) e, por isso, dades-estado cananitas de Tiro e Sidom.
formado um império poderoso, sua lín­ mandou mensageiros para a Filístia a
gua teve impacto sobre todo o Oriente fim de perguntar a Baal-Zebube sobre Código de santidade — Nome dado a
Próximo, em parte porque usava um sua saúde — o que resultou na Levítico 17-27, uma porção da Lei de­
sistema de escrita alfabético ao contrá­ intercepção do mensageiro por Deus e dicada ao viver correto fora do taber­
rio do mais trabalhoso sistema cunei- na advertência de Elias. náculo.
forme. O aramaico acabou transforman­
do-se na língua comum do Judaísmo Beemote — Em Jó 40, provavelmente Creatio ex Nihilo — Frase em latim
pós-bíblico, como podemos observar refere-se ao hipopótamo como um sím­ que significa “criação a partir do nada”.
no Mishnah, Midrash e Talmud. bolo de força, resistência e natureza apa­ A igreja primitiva confrontou certas
rentemente indestrutível que Deus usou heresias que ensinavam que Deus ha­
Aramaísmos — Palavras ou expres­ para contrastar o seu grande poder com via criado o mundo como matéria
sões no texto hebraico do Antigo Tes­ a ignorância do ser humano. preexistente não criada e que ele usou
tamento que sugeriam que a linguagem como matéria-prima. Mas as evidên­
havia sido influenciada pelo aramaico. Calcolítico — Termo usado por ar­ cias bíblicas levaram à convicção de
queólogos e historiadores para a últi­ que Deus havia criado o universo a
Arquivos — Lugares onde registros pú­ ma das idades da pedra no Oriente partir do nada (SI 33.6,9; Hb 11.3).
blicos ou outros documentos históri­ Médio, por volta de 4200 a 3300 a.C.
cos eram mantidos e preservados. No Durante o período calcolítico, a pe­ Crescente fértil — Área de solo fértil
antigo Oriente Próximo, os arquivos dra foi substituída pelo cobre como que junta as três sub-regiões geográfi­
continham os registros oficiais do Es­ material predominante em ferramen­ cas do Oriente Próximo (Mesopotâ-

478
Glossário

mia, Síria-Palestina e Egito). A maior fundida por Martin Noth, que acredi­ Crônicas — Anais que, no antigo
parte do terreno do mundo antigo era tava que a escrita veio bem tarde no Oriente Próximo, relacionavam as ati­
irregular e imprópria para a vida hu­ desenvolvimento das fontes literárias vidades políticas de cada rei; eram re­
mana; até mesmo as terras férteis eram do Antigo Testamento e que os tipos gistros oficias de Estado mantidos nos
cercadas de cadeias de montanhas qua­ literários refletem uma longa tradição arquivos reais.
se intransponíveis ao norte e vastos de­ de transmissão oral, de forma que as
sertos ao sul. As terras planas da Cres­ fontes do Pentateuco desenvolveram- Cuneiforme — Sistema de escrita in­
cente e uma abundância de água fizeram se ao longo de muitos séculos antes que ventado pelos sumérios por volta de
dessa área o berço da civilização. fossem escritas. A crítica da tradição é 3100 a.C. Formatos semelhantes à cu­
mais subjetiva que as outras visões e nhas eram inscritos em placas de argila
Crítica da fonte — Visão crítica do não leva em consideração evidências molhada, em pedra ou metal para re­
estudo bíblico chamada com freqüên­ de outras partes do antigo Oriente Pró­ presentar palavras.
cia de Hipótese Documentária, que ximo, que podem servir como dados
busca a resposta para a questão: “Quem Decálogo — Nome grego dado aos Dez
de controle para os estudiosos do An­
escreveu o Pentateuco?” e afirma que o Mandamentos (Ex 20; Dt 5).
tigo Testamento, independente do mé­
Pentateuco foi compilado a partir de todo que estejam utilizando. Tais estu­ Deutero-Isaías — Termo que significa
quatro fontes separadas; seu protago­ dos extrabíblicos sugerem, por exem­ simplesmente o “segundo Isaías”, é usa­
nista de maior destaque foi Julius plo, que a tradição literária do antigo do pelos estudiosos que defendem uma
Wellhausen e suas reconstruções eram Oriente Próximo era freqüentemente visão de múltipla autoria do livro de
dominadas pelo supernaturalismo e registrada de forma escrita logo depois Isaías para referirem-se ao autor dos
pelo pensamento filosófico-evolutivos, da ocorrência dos acontecimentos re­ capítulos 40-66 (ver também Visão da
negando praticamente qualquer vera­ latados e não séculos mais tarde. múltipla autoria).
cidade histórica dentro do Pentateuco
e não dando espaço para a intervenção Crítica do Cânon — Visão crítica do Dia do Senhor — Conceito que ocor­
divina na História e nem para a singu­ Antigo Testamento desenvolvida na se­ re com freqüência tanto nos escritos
lar revelação de Deus. gunda metade do século 20 e que pro­ dos profetas quanto no Novo Testa­
curou estudar a forma como o Antigo mento. Inclui três elementos: o julga­
Crítica da forma — Uma visão bastan­ Testamento foi recebido e expor sua mento de Deus contra o pecado, a lim­
te difundida do estudo crítico do Pen­ mensagem teológica. Apesar de não peza e purificação do povo de Deus e a
tateuco, iniciado por Hermann Gunkel rejeitar totalmente o que foi encontra­ salvação do povo de Deus.
aproximadamente na virada do século do nas visões documentárias, os estu­
passado, tendo surgido pouco depois diosos usando a crítica do Cânon bus­ Diálogos — Obras literárias em forma
que Wellhausen desenvolveu a teoria cam estudar a forma final da Bíblia, ten­ de conversação entre duas ou mais pes­
das fontes. Ela analisa os vários tipos do em vista que é ela que tem autori­ soas. Diálogos foram encontrados com
ou gêneros literários encontrados na dade para a comunidade religiosa; eles freqüência na literatura de sabedoria
Bíblia, isolando-os em unidades meno­ estão menos preocupados em saber discursiva da antiga Mesopotâmia, ou
res. Ao enfatizar o “contexto de vida” como o texto chegou a essa forma do seja, em documentos produzidos por
dessas unidades menores, a crítica da que em encontrar a mensagem interna sábios do Oriente Próximo contendo
forma procura descobrir o “cerne his­ do Cânon. Essa visão oferece uma cor­ longos discursos ou argumentos tratan­
tórico” de cada gênero literário. De acor­ reção útil às tendências detalhistas de do dos problemas mais difíceis da vida.
do com Gunkel e outros, essas unidades seus predecessores críticos.
menores podem, mais tarde, ser junta­ Distichs — Unidades formadas por
Crítica literária — Visão crítica para o provérbios individuais compostas em
das nas quatro fontes do Pentateuco.
estudo do Antigo Testamento que se grande parte por uma coleção de dita­
Crítica da redação — Visão crítica do desenvolveu durante a segunda meta­ dos proverbiais em versos poéticos de
estudo do Pentateuco originária da hi­ de do século 20 e, como teorias prede- duas linhas cada (duplos), normalmen­
pótese documentária de Wellhausen e cessoras, trata de amplas questões lite­ te formando frases completas (por
que procura explicar cientificamente de rárias, apesar de seus proponentes se­ exemplo, Pv 10.1-22.16); o paralelis­
que forma as quatro fontes separadas rem contrários às críticas, da forma e mo é quase sempre antitético.
(JEPD) foram editadas em conjunto; do Cânon para o Pentateuco. A crítica
esse ponto de vista não encontrou literária enfatiza mais fortemente uma Doxologia — Versículos de encerra­
muito consenso entre os estudiosos. análise centrada no texto ou no leitor, mento do último salmo de cada uma
ao contrário da visão tradicional de es­ das cinco coleções ou divisões do livro
Crítica da tradição — Ramificação da tudiosos anteriores que é centrada no de Salmos (1-41; 42-72; 73-89; 90-
crítica da forma, desenvolvida na pri­ autor. Aqueles que adotam esse ponto 106; 107—150) que “amarram” aquela
meira metade do século 20 e que se de vista já produziram resultados diver­ parte do livro com palavras de louvor
dedicou à tradição oral, ou seja, à his­ sos, mas a crítica literária mais recente ao Senhor. O grande salmo de louvor,
tória oral, pré-literária de vários tipos parece bastante promissora por suas Salmo 150, encerra de maneira apro­
literários. Essa visão foi bastante di­ novas visões da interpretação bíblica. priada a coleção como um todo.

479
Glossário

Eleição — A escolha incondicional de Épico de Atrahasis — Documento me­ Escatologia— Termo usado para a área
Deus para que o povo de Israel fosse o sopotâmio que tem paralelos diretos da teologia que lida com a doutrina do
seu povo, conforme ele estabeleceu em com o relato bíblico da criação. Esse final das coisas. A escatologia preocu-
sua aliança com Abraão, ao tirar o povo épico é a mais antiga história dos pri­ pa-se, portanto, com questões como
do Egito e abençoar Israel mais que a mórdios encontrada no antigo Oriente morte, julgamento, céu, inferno, res­
todas as outras nações como forma de Próximo de forma quase completa (iní­ surreição, segunda vinda de Jesus e as­
testemunho para o mundo. O profeta cio do segundo milênio), apresentando sim por diante.
Amós, nos capítulos 3.1-6.14, lem- uma seqüência histórica, e esta é seme­
brou Israel que essa eleição trazia com lhante à de Gênesis tanto na história Escatológico — Relacionado à esca­
sigo certas responsabilidades — que da criação quanto da quase extinção tologia.
esse grande privilégio também tornava no dilúvio. O épico de Atrahasis con­
Eunucos — Normalmente, eram ho­
Israel ainda mais responsável por seus firma que a história básica apresentada
mens castrados, especialmente aqueles
pecados e que ela sofreria o julgamento em Gênesis 1-11 era bem conhecida
que antes eram empregados como ser-
por ter violado os estatutos de Deus. por todo o antigo Oriente.
viçais em haréns, ou oficiais de Estado.
Emissários — Profetas que levavam Épico de Gilgamés — História da Me­ O termo aplica-se a homens do Egito
adiante a verdade de Deus sobre sua sopotâmia escrita sob forma poética em (Gn 40.2), Assíria (2Rs 20.18), Babi­
própria geração; os profetas mostravam doze placas e que tem significado para­ lônia (Daniel), Pérsia (Ester) e Israel.
os males de seus dias e chamavam o lelo à história de Noé. Gilgamés, pro­
vavelmente uma figura histórica que Evangelicalismo — Posição teológica
povo ao arrependimento, advertindo- que afirma a autoridade da inspiração e
os que a aliança trazia muitos privilégio foi o rei Uruk por volta de 2600 a.C.,
rebelou-se contra a morte depois de infalibilidade da revelação de Deus
os, mas também responsabilidades que como guia para a fé e prática. De modo
incluíam justiça, retidão e santidade. ter perdido seu amigo. Gilgamés en­
contra-se com Utnapishtim (o “Noé mais específico, é um movimento do
Encarnação — Doutrina cristã que afir­ da Babilônia”) que relata como ele al­ Cristianismo moderno, que transcen­
ma que Deus tomou a forma de ho­ cançou a imortalidade quando prenun­ de os limites denominacionais e que
mem em Jesus Cristo. Mediante um ciou o plano divino de inundar o mun­ enfatiza a conformidade com as doutri­
ato de graça, o Filho de Deus assumiu do. Utnapishtim havia sobrevivido ao nas básicas da fé cristã bem como o
um corpo humano e uma natureza hu­ dilúvio em um grande barco de junco, auxílio missionário de compaixão e
mana. A doutrina ensina que Jesus é o juntamente a sua família e pares de to­ urgência.
Filho eterno de Deus e o Messias aqui dos os animais. Infelizmente, porém,
Expiação — Resultado de um sacrifí­
na terra, uma pessoa com duas nature­ aquele era um acontecimento que não
cio determinado por Deus com a in­
zas, que é plenamente humana e plena­ voltaria a se repetir, o que dava a
tenção de livrar o pecador do castigo
mente divina. A revelação no Antigo Gilgamés poucas esperanças de encon­
por aquele pecado.
Testamento aponta para essa doutrina trar a imortalidade. Depois de falhar
cristã, pois Deus sempre revelou-se por em três testes pelos quais ele poderia Extáticos — Pessoas que residiam na
meio de forma encarnacional, ou seja, ter recebido a imortalidade, derrota­ antiga cidade de Mari e ao seu redor.
real no tempo e no espaço. do, Gilgamés entrega-se ao fato de que Os estudiosos encontraram diversos pa­
a morte é inevitável e consola-se com ralelos entre essas pessoas e os profetas
Enuma Elish — Título acádio que sig­ aquilo que conseguiu alcançar. Não há bíblicos. Esses indivíduos transmitiam
nifica “Quando no alto”. Enuma Elish é como indicar qualquer relação entre o mensagens que haviam recebido por
o relato mesopotâmio mais completo relato bíblico do dilúvio de Noé e o
da criação e possui muitas similaridades meio de sonhos, visões ou transes; cada
Épico de Gilgamés. Uma outra passa­ um servia um determinado deus ou
interessantes com o registro bíblico. A gem dessa obra é paralela a Eclesiastes
história descreve um conflito cósmico deusa. Em suas declarações, eles por
9.7-9, quando as palavras depreciati­ vezes advertiam reis sobre rebeliões,
entre as principais divindades. O jovem vas de Siduri fazem Gilgamés lembrar-
e ousado Marduque mata a monstruosa davam conselhos sobre expedições,
se de que todos nós devemos enfrentar prometiam vitória sobre o inimigo ou
Tiamate, deusa mãe que personifica os a morte e que devemos aprender a apro­
primórdios dos oceanos. Usando a encorajavam a servir determinada di­
veitar essa vida tão breve da melhor vindade mais fielmente.
carcassa dividida de Tiamate, Marduque maneira possível.
cria o céu e a terra; e do sangue de seu Faraó — Rei-deus dos antigos egípci­
conspirador auxiliar, ele e seu pai criam Épicos históricos — Registros oficiais os, que davam a ele o crédito pelas chei­
a humanidade para fazer todo o traba­ e documentos preservados e encontra­ as anuais do Nilo.
lho pesado do universo, liberando as di­ dos em arquivos reais ou de templos de
vindades de todas essas tarefas braçais. nações no antigo Oriente Próximo e Fenda — Grande fissura na superfície
Como forma de expressar gratidão a que, aparentemente, foram usados da terra. A fenda do Jordão, que se
Marduque por salvá-los da perversa como referência pelo autor dos livros estende do norte do mar da Galiléia ao
Tiamate, os deuses constroem para ele a de Reis em seus escritos dos arquivos longo do vale do Jordão e do Mar Mor­
grande cidade e capital — Babilônia. da antiga Israel e Judá. to até o Mar Vermelho, é uma impor­
480
Glossário

tante característica topográfica da Síria- conclusão do relato sobre a vida e o Habiru. Porém, o seu uso mais tarde
Palestina, reinado de Salomão. não tem um significado étnico e abriga
um sentido bem mais amplo.
F enício — Língua da família do he­ Gêneros — Termo usado pelos estudi­
braico e aramaico, usada pelos fenícios, osos da Bíblia para fazer referência às Heilsgeschichte — Palavra alemã com­
um povo próspero que habitava o ter­ formas ou aos tipos literários (termo posta (das palavras para “salvação” e
ritório no leste da costa do Mediterrâ­ original do francês “forma, sorte, tipo”). “história”) por diversos equivalentes em
neo. No tempo do Antigo Testamen­ Os críticos da forma agrupam textos nossa língua: história redentora, histó­
to, esse território era chamado pelos de acordo com um mesmo gênero se ria da salvação, história sagrada e ou­
hebreus de Canaã. eles têm características semelhantes. tros termos semelhantes. Denota um
princípio teológico que interpreta a
Festival Akitu — Festival anual cele­ Gerações — Recurso estrutural literá­
Bíblia como uma descrição dos atos
brado pelos babilônios durante o qual rio do livro de Gênesis que se refere salvíficos de Deus na História. Os acon­
desfilavam estátuas de seus deuses pela aos descendentes ou à história (Gn 2.4). tecimentos da história da salvação são
Babilônia. Isaías predisse a queda da Também é usado para introduzir uma
revelações divinas sobrenaturais no
Babilônia para a Pérsia, descrevendo o genealogia ou história pessoal (como,
tempo e no espaço e foram registrados
conflito entre Deus e os deuses da Babi­ por exemplo, Adão, Gn 5.1; Noé, Gn
nas Escrituras para promover a fé.
lônia (46.1-13); nessa ocasião, os ído­ 6.9, etc.). A expressão aparece onze
los cobertos de vergonha, incapazes de vezes em Gênesis — em cada ocorrên­ Herem — Relacionado às “guenas san­
salvar a Babilônia. A nação arrogante, cia ela provavelmente introduz uma tas” de Israel na conquista de Canaã, o
que havia usado para descrever a si mes­ nova unidade literária do livro. No ca­ termo herem refere-se ao espólio de guer­
ma termos referentes somente a Deus pítulo 2, pelo fato do termo não ser ra, incluindo pessoas, animais ou bens
— “Eu só, e além de mim não há outra” seguido por um nome de pessoa, ele materiais — todos pertenciam ao Se­
(45.5,6; 47.8) — seria envergonhada e parece servir de ligação, introduzindo nhor para que ele fizesse com eles como
humilhada por Deus, destronada de seu 2.4b-25 c resumindo 1.1-2.3. lhe aprouvesse.
domínio mundial e condenada a um ter­
Gogue — Um dos inimigos finais do Hermenêutica — Ciência de interpre­
rível julgamento.
povo de Deus, Gogue é o governante tação da Bíblia. A hermenêutica inclui
Fiat — Termo do latim que significa de Magogue e príncipe de Meshech c a aplicação de princípios tradicionais
“faça-se” (haja) e que se refere ao mé­ Tubal. Gogue e Magogue representam que extraem do texto bíblico a mensa­
todo de criação de Deus por meio de simbolicamente as nações sem deus de gem pretendida.
ordens em Gênesis 1. Nos seis dias su­ todo o mundo que virão dos confins da
cessivos de criação, Deus criou por in­ terra para lutar contra o povo de Deus. Hexatêuco — Nome que significa “seis
termédio de ordens divinas ou coman­ rolos”, dado para os seis primeiros li­
Golpe — Um jogo inesperado de po­ vros da Bíblia — Gênesis, Exodo, Le­
dos “Haja luz”, “Haja firmamento no der, como no caso em que Absalão ten­
meio das águas” e assim por diante. vítico, Números, Deuteronômio e
tou tomar o reino de seu pai, Davi, Josué — como uma unidade literária.
Filho do Homem — Em Ezequiel 2.1- lutando para conseguir o apoio popu­ Alguns estudiosos argumentam que essa
3 e em cinqüenta e sete outras vezes lar e declarar-se rei em um momento
unidade foi editada como uma única
em sua profecia, uma clara designação estratégico (2Sm 5.3).
obra.
do filho de Adão; no Salmo 8.4, uma Grande tribulação — Período históri­
frase aplica-se tanto ao homem mortal Hieróglifo, hieroglífico — Termo que
co de muitos perigos e tormentas antes
quanto a Jesus Cristo em sua forma en­ identifica o primeiro sistema de escrita
do Senhor voltar trazendo vitória e es­
carnada, em sua identificação em for­ no Egito (do grego hieros, “sagrado” e
tabelecendo o seu reino.
ma de homem com toda a humanidade glyphe, “entalhe”). Era pictográfico e
e, de maneira semelhante, sugere a fi­ Hebreus — Termos usado pela Bíblia baseava-se na representação de obje­
gura messiânica em Daniel 7.13. No para descrever Abraão e seus descen­ tos comuns c símbolos geométricos.
Novo Testamento, Jesus usa o termo dentes mediante Isaque e Jacó. Não se
Hino — Salmo ou cântico de louvor
com freqüência para referir-se a si mes­ sabe a origem do termo. Uma possibi­
no qual o escrito louvava a Deus, dan­
mo, fazendo uso, conforme acreditam lidade é de que os hebreus do Antigo
Testamento possam ser identificados, do-lhe graças por quem ele era c o que
alguns estudiosos, do termo encontra­ havia feito (por exemplo, Salmos 8,
do em Ezequiel para enfatizar seu ca­ pelo menos em parte, com o povo Ha-
biru que aparece em textos da Média e 136, 150). Tais hinos faziam parte do
ráter humano e sua dependência em louvor individual ou congregacional.
Deus como Pai. Nova Idade do Bronze do antigo Orien­
te Próximo. E provável que esta fosse Hipótese documentária — Ver crítica
Fórmula do reinado — Fórmula usada uma designação para tribos scmíticas da fonte.
em 1 Reis 11.41-43 como recurso dc seminômades. Em algumas das referên­
estruturação nas considerações sobre cias antigas, pode ser que o uso do ter­ História da salvação — Ver HeiLs-
cada governante do reino dividido na mo hebreu significasse alguém da tribo geschichte.

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Glossário

História Deuteronômica — Nome (1200-930 a.C.), Idade do Ferro II Inscrição M essa — Inscrição que
dado à unidade do Antigo Testamento (930-539 a.C.) e Idade do Ferro III testifica a expansão das fronteiras de
composta por Deuteronômio, Josué, (539-332 a.C.). Esse foi o período da Israel a leste até o território moabita
Juizes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis. Uma monarquia em Israel, do exílio e da res­ feita por Onri de Israel (885-874 a.C.;
teoria predominante argumenta que tauração. lRs 16.21-28); ele criou um reino tão
um autor anônimo (chamado de “Deu- impressionante que documentos
teronomista” e abreviado por Dtr) Idade Mesolítica — Termo usado por assírios cem anos mais tarde ainda se
combinou diversas fontes em um úni­ arqueólogos e historiadores para a referiam a Israel, o reino do norte, como
co e longo documento detalhando a Média Idade da Pedra, por volta de a “casa de Onri”. Nesse parágrafo cur­
história teológica de Israel Depois da 14000 a 8000 a.C. A Idade Mesolítica to, Messa, o rei de Moabe, durante a
queda de Jerusalém em 586 a.C., Dtr foi testemunha das primeiras culturas metade do século 9~ a.C., menciona a
procurou interpretar a tragédia bem que viveram em cavernas. E possível extraordinária ascensão ao poder de
como explicar a queda do reino do que a mudança para a vida ao ar livre Onri e a aquisição da Samaria como
norte, Israel, em 722 a.C. Ele buscou tenha sido causada por alterações cli­ nova capital, bem como sua perversi­
responder a pergunta “O que deu erra­ máticas. dade sem precedentes. A mudança de
do?”. Para uma discussão sobre esse Idade Neolítica — Termo usado por capital que Onri fez para a Samaria pode
assunto, ver capítulo 10. arqueólogos e historiadores para a Nova ter sido uma tentativa de coagir seus
Idade da Pedra no Oriente Médio, por súditos a adorar outras divindades além
História primeva — Pré-história ou as de Iavé; tal apostasia religiosa era uma
fases mais antigas da atividade humana volta de 8000 a 4200 a.C. A Idade
Neolítica testemunhou mudanças ra­ preocupação maior para o autor de 1
que ocorreram antes da História poder Reis do que foram os grandes feitos
ser registrada. E um termo técnico usa­ dicais na cultura humana, lançando as
bases para a civilização, mudanças sig­ políticos de Onri.
do para referir-se a Gênesis 1.1-11.
nificativas o suficiente para os historia­ Inspiração verbal plenária — Teoria
laveísmo — A adoração autêntica de dores falarem de uma Revolução sobre a inspiração bíblica que afirma
Israel a Iavé, o único e verdadeiro Deus, Neolítica. Durante esse período, os que o Espírito Santo interagiu com os
em obediência fiel às estipulações e aos caçadores nômades do início da Idade autores para produzir a Bíblia. “Plená­
requisitos da aliança dados por Deus da Pedra começaram uma transição para ria” significa “cheia” ou “completa” e
na aliança mosaica. a vida em comunidades assentadas. indica que a inspiração de Deus esten-
Surgiram vilas com economia baseada de-se por todas as Escrituras, de Gênesis
laveísmo mosaico — Adoração a Iavé, na agricultura, o que foi possível por
o único e verdadeiro Deus que fez sua a Apocalipse, e Deus guiou os autores
meio da domesticação dc animais e do tanto nos detalhes históricos quanto
aliança com Israel. O laveísmo mosai- I cultivo de plantas. Mais para o final do
co é marcado pela obediência rígida à nas questões de doutrina. “Verbal” re­
período, os habitantes das vilas fere-se às palavras das Escrituras — que
Lei dada a Moisés no Monte Sinai. neolíticas também começaram a pro­
Durante os anos da monarquia dividi­ a inspiração de Deus estende-se até
duzir objetos em cerâmica, sobre as palavras que foram escolhidas
da, Onri de Israel e seu filho Acabe
misturaram o laveísmo mosaico com o Idade Paleolítica — Termo usado por pelos autores. Apesar dos escritores
baalismo cananita a fim de obter maior arqueólogos e historiadores para a an­ terem liberdade de escolher suas pró­
controle político, tendo em vista que o tiga Idade da Pedra (antes de 14000 prias palavras e expressar sua persona­
reino do norte sofria de instabilidade a.C.). Artefatos de lugares paleolíticos lidade singular e seu estilo enquanto
política. são ferramentas primitivas dc pedra fei­ escreviam, o Espírito Santo guiou o
tas por humanos. Durante esse perío­ processo para que as palavras escolhi­
Idade do Bronze — Ver Antiga Idade do, as pessoas viviam em locais a céu das transmitissem com precisão o sig­
do Bronze, Média Idade do Bronze e aberto e nos terraços de leitos de rios nificado que Deus desejava. Assim, esse
Nova Idade do Bronze. | antigos. A cultura paleolítica veio an­ ponto de vista sobre a inspiração afir­
ma que Deus inspirou a Bíblia toda,
Idade do Ferro — Termo usado por tes da cultura das cavernas. mantendo a característica de cada au­
arqueólogos e historiadores do antigo Idílico — Descrição curta de uma cena tor e ao mesmo tempo garantindo que
Oriente Próximo para definir o perío­ ou acontecimento simples ou agradá­ o produto final refletisse fielmente sua
do no qual o ferro substituiu o bronze vel, especialmente no campo ou relati­ mensagem. A inspiração verbal plená­
como metal usado para ferramentas e vo à vida rústica, como é o caso do ria é a que parece lidar melhor com as
armas (por volta de 1200—332 a.C.). livro de Rute. evidências bíblicas — reconhecendo o
Esse período foi marcado pela ascen­ elemento humano nas Escrituras enquan­
são dos primeiros impérios verdadeira­ Imago Dei — Expressão do latim para
to, ao mesmo tempo, afirmando que o
mente mundiais, todos a partir da Me­ a “imagem de Deus” referindo-se parti­ Espírito Santo é o Autor final da Bíblia.
sopotâmia: Assíria, Babilônia c Pcrsia. cularmente ao clímax da criação de Deus
A Idade do Ferro é muitas vezes divi­ quando ele fez a humanidade à sua “ima­ Ishtar — “Deusa do amor e heroína de
dida em três períodos: Idade do Ferro I gem” e “semelhança” (Gn 1.26,27). guerra” da Mesopotâmia, representa-

482
Glossário

da como uma meretriz. Parte do pan- rante o primeiro milênio a.C. o aramai­ lecionados também fazem parte da co­
teão da Babilônia, Ishtar era esposa de co tornou-se a língua internacional. leção (SI 1,37,49, 73, etc.), e livro de
Tamuz, um deus da agricultura na Me­ Cântico dos Cânticos também tem se­
sopotâmia, cujos seguidores acredita­ Lista das nações — Uma “lista” em
melhanças com a literatura de sabedo­
vam que todo ano, na época da colhei­ Gênesis 10.1-32 que classifica as na­ ria em sua forma literária e função di­
ta, Tamuz morria (Ez 8.14,15). ções do mundo conhecido sob os três dática. Apesar de todas essas obras fa­
filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé. Os zerem parte da seção de livros “poéti­
JE P D — Muitos estudiosos acreditam descendentes de Jafé habitaram em gran­ cos” do Cânon, elas estão relacionadas
que foi a fonte literária usada para com­ de parte as ilhas mediterrâneas e Ásia com a literatura de sabedoria, sendo
pilar o Pentateuco bem como o livro de Menor e eram os mais distantes de Is­ que as idéias de sabedoria vão além dos
Josué, formando, assim, o hexatêuco. rael, enquanto a maior parte dos des­ Livros Poéticos da Bíblia. Vários pro­
cendentes de Cam eram povos com os fetas usaram ditados de sabedoria e
Lei casuística — Uma classe de leis de
quais Israel tinha relacionamentos hos­ parábolas em seus sermões, assim como
casos que contrasta com as leis tis. Os descendentes de Sem foram dei­
apodíticas ou de proibição absoluta. Jesus em muitos de seus ensinamentos.
xados por último por causa de sua im­ A literatura de sabedoria do Antigo
Tais leis começam com uma indicação portância na linhagem por meio da qual
de condicional (prótase — “Sc...”) na Testamento faz parte dc um cenário
Deus iria tratar do pecado na humani­ internacional, pois ao que parece, as
qual o caso é descrito e segue-se a pe­ dade — oferecendo um brilho dc espe­
nalidade (apodose — “então...”). Por outras nações todas tinham professo­
rança mediante a família de Terá, pai
exemplo, “Se um ladrão for achado ar­ res de sabedoria que refletiam as tradi­
de Abraão. ções de sabedoria nacionais e particu­
rombando uma casa e, sendo ferido,
morrer, [então] quem o feriu não será Literatura apocalíptica — Conjunto lares de seu povo, tendo em vista que
culpado do sangue” (Ex 22.2). de documentos simbólicos e que con­ arqueólogos encontraram exemplos de
tém revelações, apresentando forma e literatura de sabedoria de todas as par­
Levante — Costa leste do mar Medi­ estilo de comunicação singulares e ten­ tes do antigo Oriente Próximo. En­
terrâneo, que indica o fim, a oeste, da do em comum o seu conteúdo básico. quanto o termo “sabedoria” na litera­
Síria-Palestina. O Levante estende-se A literatura apocalíptica era amplamente tura israelita quer dizer o temor de
ao longo de mais de setecentos quilô­ difundida no Judaísmo no tempo de Deus, em outras culturas refere-se a
metros e tornou-se a encruzilhada de habilidades na prática de magia e não
Cristo e teve influência profunda no
todo o comércio e viagem do mundo Cristianismo primitivo. O livro de Apo­ tem conteúdo moral. O conteúdo des­
antigo. ses documentos convida, entretanto, a
calipse no Novo Testamento é o docu­
mento mais antigo que toma para si o comparações com Jó, Eclesiastes e o
Leviatã — Em Jó 40, provavelmente
título de “apocalipse” ou “revelação”. livro de Provérbios que contém mais
refere-se ao crocodilo como uma ilus­
paralelos com a literatura do antigo
tração de força, resistência e natureza
Literatura apocalíptica bíblica — Oriente Próximo que qualquer outro
aparentemente indestrutível que Deus
Uma subcategoria da literatura apoca­ livro da Bíblia. Assim, a literatura de
usa para contrastar o seu grande poder
líptica (como, por exemplo, o livro de sabedoria oferece um exemplo de co­
com a fraqueza e a ignorância do ser
Daniel), que começa com material his­ municação de fé entre as culturas, à
humano.
tórico e vai gradualmente passando para medida que os israelitas interagiam com
Levitas — Descendentes de Levi, um um tipo de material mais apocalíptico a literatura e a visão de mundo de seus
dos doze filhos de Jacó (Gn 29.34) em (especialmente em Zacarias e Apoca­ vizinhos e sentiam-se livres para incor­
função dos quais o livro de Levítico lipse) . Mesmo que o Antigo Testamento porar material de outras culturas uma
recebeu esse nome. Arão e sua família tenha algumas passagens que são, de vez eliminados os elementos politeístas.
foram escolhidos dessa tribo para ser­ um modo geral, apocalípticas em sua Algumas vezes, os israelitas adaptavam
vir como sacerdotes e oferecer sacrifí­ natureza (J13; Is 24-27; partes de Eze­ esse material fazendo pouca ou nenhu­
cios, e Deus indicou o restante dos le­ quiel e Zacarias), essas passagens e o ma alteração, como é o caso de Pro­
vitas para servirem no tabernáculo, aju­ livro de Daniel mostram diferenças sig­ vérbios e os escritos de sabedoria do
dando os sacerdotes nos cultos e no nificativas em relação a livros apoca­ Egito. Outras vezes, os autores usavam
santuário (Nm3.5-10). Partes do livro lípticos escritos mais tarde, no período literatura pagã fazendo modificações
de Levítico tinham a finalidade de ser­ intertestamental e, por isso, são classi­ teológicas.
vir como manual dc instruções para o ficadas — juntamente ao livro de Apo­
sacerdócio do Antigo Testamento. calipse no Novo Testamento — como Livro da Lei — Durante o reinado do
literatura apocalíptica bíblica. jovem rei Josias, esse termo provavel­
Língua Franca -—Qualquer idioma usa­ mente referia-se a uma parte ou a todo
do por pessoas de diferentes grupos de Literatura de sabedoria — Designa­ o livro de Deuteronômio que havia sido
línguas como meio de comunicação ou ção que estudiosos modernos usam para guardado no templo durante a consa­
para o comércio. Durante a Nova Ida­ três livros que compartilham entre si gração de Salomão (lRs 8.1-4; Dt.
de do Bronze, o dialeto babilônio cha­ características de “sabedoria”: Jó, Pro­ 31.26). Essa cópia no templo ficou es­
mado de acádio foi a língua usada. Du­ vérbios e Eclesiastes; alguns salmos se­ quecida durante os reinados de Ma-

483
Glossário

nassés e Amom e a descoberta do Li- í Messias — Literalmente significa “o havia começado e ofereciam normas
vro da Lei pelo sumo sacerdote de Josias I ungido”. O termo podia referir-se a pro­ para o comportamento humano. Como
no templo do Senhor (2Rs 22.8-10) fetas, sacerdotes ou reis, mas, de ma­ formas de expressão de convicções teo­
afetou profundamente o jovem rei. neira mais específica, refere-se a Jesus lógicas, esses mitos antigos aconteciam
Mais do que depressa, ele acabou com Cristo, o ungido de Deus que cumpriu fora do tempo e do espaço e estavam
o culto pagão em todo o país e restabe­ o propósito redentor de Deus e um dia ligados à natureza da religião. A antiga
leceu a aliança de Israel com o Senhor, I voltará para estabelecer o seu reino. Israel, entretanto, dava à mitologia um
reinstituindo a festa da Páscoa que ha­ caráter histórico ao referir-se a um tem­
via sido negligenciada desde o tempo Método gramático-histórico — Mé­ po que era não diferente daquele do mun­
dos juizes. todo de interpretação bíblica que bus­ do em si, mas que se referia à história de
ca encontrar o significado mais simples Israel. O Deus israelita, Iavé, era o Cria­
Macabeus — Família asmonéia que li­ de uma passagem da Bíblica aplicando dor e aquele que havia estabelecido as
derou a luta dos judeus pela liberdade as regras gerais dc gramática e sintaxe, normas para o comportamento humano
religiosa e independência política con­ buscando determinar o que o texto diz por meio de sua revelação à nação. A
tra o império selêucida em 168 a 160 gramaticalmente e qual é o significado História, e não o mito, tomava-se um
a.C. Depois de sua vitória, o sacerdote histórico. Ele procura descobrir a inten­ instrumento para expressar a teologia.
Matatias e seus três filhos governaram ção original do autor por meio do uso
como monarcas em Jerusalém (“a Di­ cuidadoso de contexto, gênero, lingua­ Monólogo — Uma palestra ou discur­
nastia Asmonéia”) durante aproxima­ gem e relação com o resto da Bíblia. so longo feito por uma só pessoa ou
damente um século. Um dos filhos, qualquer composição como poema ou
Judas, foi chamado de macabeu, “o Métrica — Padrão de tonicidade em drama em que uma única pessoa ou
martelo” de onde é derivado o nome linhas ou versos rítmicos. A poesia he­ ator fala. Monólogos eram encontra­
“macabeus”. braica baseia-se fortemente na métrica dos com freqüência na literatura
e alguns comentaristas sugerem que os discursiva de sabedoria da Mesopotâ­
Magogue — “Nação” governada por escritores antigos usavam uma varie­ mia, ou seja, em documentos produzi­
Gogue, uma das inimigas finais do povo dade de estilos e padrões métricos para dos por sábios do antigo Oriente Pró­
de Deus e provavelmente localizada transmitir estados de espírito ou idéias. ximo contendo longos discursos ou ar­
entre a Capadócia e a Média. Gogue gumentos que lidavam com os proble­
com Magogue representam simbolica­ Milênio — De acordo com alguns evan­ mas mais complexos da vida.
mente as nações do mundo sem Deus gélicos, é literalmente o período de mil
que virão dos confins da terra para lu­ anos do reinado de Cristo na terra jun- M onoteísmo — Posição teológica e fi­
tar contra Israel em umá batalha final, tamente a seus santos, logo depois da losófica de que há somente um Deus.
mas que sofrerão derrota devastadora segunda vinda (ver Premilenismo ) . Tal ponto de vista não era uma crença
por meio da intervenção de Deus nas Outros entendem esse termo como sen­ aceita por outros povos antigos, que
montanhas de Canaã. Esse conflito é do referente ao reinado espiritual de eram politeístas e henoteístas.
relatado em Ezequiel 38 e 39 e resumi­ Cristo no coração dos crentes no tem­
do em Apocalipse 20.7-9. po presente (amilenismo). M onoteísta — Relacionado à crença
bíblica de que há um só Deus.
M assora — Palavra hebraica que sig­ | Mishnah — Registro das conversações
nifica “ligação” ou “corda”. No estudo | entre os rabis enquanto estes discutiam Narrativa histórica — Conteúdo pre­
do Antigo Testamento, refere-se ao sis­ I a interpretação correta e as atitudes es­ dominante de 1 e 2 Reis, que é, discu­
tema de pontos de vogais e acentos usa­ peradas dos judeus no que diz respeito tivelmente, a mais antiga historiografia
dos para esclarecer o texto hebraico. à lei mosaica. E, por assim dizer, um autêntica da literatura mundial pois,
comentário explicando o Torá de Moi­ pela primeira vez na História, uma na­
Média Idade do Bronze — Termo usa­ sés, muitas vezes produzindo instruções ção produziu uma narrativa contínua
do por arqueólogos e historiadores para legais. O Mishnah aceitava a autoria organizando documentos em uma apre­
o período das incursões amoritas pelo mosaica do Pentateuco. Ele é um ante­ sentação ordenada e com um único
antigo Oriente Médio, iniciando uma cedente do Talmude. propósito geral. O autor de Reis amar­
nova era (aproximadamente 2000 a rou as narrativas históricas todas jun­
1550 a.C.). Depois dc um período ini­ Mito, Mitologia — O significado mo­ tas com grandes convicções religiosas,
cial de declínio na Síria-Palestina, a derno do termo é algo que não é verda­ apresentando o passado de Israel sob
cultura amorita trouxe a volta do esti­ deiro, que é imaginário. Mas ao fazer um ponto de vista profético e teológi­
lo de vida sedentário e o desenvolvi­ referência ao antigo Oriente Próximo, co — relacionando cuidadosa e siste­
mento de novos centros urbanos. Du­ os estudiosos usam o termo em um sen- maticamente os reis de Israel, com o
rante esse período, os novos reinados I tido mais clássico, apesar dc não haver objetivo de fazer uma crítica sobre a
amoritas na Babilônia tiveram um pa­ | consenso em sua definição. O mito é o fidelidade dc cada um deles para com a
pel importante na história do antigo instrumento literário pelo qual os po­ aliança de Deus, traçando as conseqü­
Oriente Próximo. Esse foi também o vos antigos ordenavam o seu mundo. ências do pecado em oposição aos be­
período patriarcal em Israel. Os mitos explicavam como o mundo nefícios da obediência.
484
Glossário

Narrativas patriarcais — Narrativas Novo Reino— Termo referente ao Egi­ Paralelismo sintético — Característi­
de Gênesis 12-50, refletindo uma uni­ to durante o tempo de Moisés e do ca literária comum da poesia hebraica
dade do livro e oferecendo relatos dos Exodo. na qual a segunda linha normalmente
patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó) que completa o pensamento que a primeira
são dc escopo mais restrito e também Ofício de profecia — Ofício que co­ linha deixou em aberto; as duas linhas
singulares no mundo antigo. Esses re­ meçou a surgir baseado no ministério possuem uma relação entre si, apesar
latos dizem respeito aos membros de de Elias e Eliseu, pelo qual o profeta dessa relação não ser claramente defi­
uma única família e sua jornada de fé, tornou-se o instrumento de Deus para nida como no paralelismo sinônimo ou
ao contrário do foco da seção anterior advertir o rei e a nação sobre seu peca­ no antitético. Alguns intérpretes suge­
que se preocupava em contar a história do e sua tragédia iminente. rem que esse termo é apenas uma cate­
da criação do mundo. As narrativas Papiros do M ar Morto — Depois que goria em que são colocados todos os
encaixam-se bem na Média Idade do um jovem pastor de ovelhas descobriu versos que não se encaixam nas outras
Bronze (2000-1550 a.C.). acidentalmente os primeiros dentre vá­ duas formas de paralelismo (ver SI 1.3;
rios papiros em uma caverna dc Qumran 2.6; Ec 11.1).
Neo-ortodoxia — Filosofia nascida no
começo do século 20, em parte como em 1947, arqueólogos exploraram ou­ Patriarcas — Três indivíduos que se
uma reação ao liberalismo que desva­ tras cavernas vizinhas e acharam mais encontram na origem da fé: Abraão,
lorizava a autoridade divina; recebeu o papiros. Eles são de 100 a 200 a.C. Isaque e Jacó.
apoio significativo de Karl Barth e Emil aproximadamente e contêm pelo me­
Brunner. A neo-ortodoxia defende que nos partes de todos os livros do Antigo Pentateuco — Termo usado para os
Deus é completamente transcendente, Testamento, exceto Ester. Eles também cinco primeiros livros da Bíblia, do gre­
ou seja, diferente de nós e muito além são uma fonte valiosa de informações go pentateuchos, que significa uma obra
da nossa compreensão; só podemos vir sobre a comunidade essênia em com cinco livros. O Pentateuco tam­
a saber alguma coisa sobre ele se ele se Qumran. Mais importante de tudo, bém é conhecido pela palavra hebraica
revelar, como ele fez por meio de Jesus porém, é que eles confirmam a confia­ Torá, que freqüentemente é traduzida
Cristo. A neo-ortodoxia também afir­ bilidade do texto massorético. como “lei”, mas que, na verdade, tem a
ma que a Bíblia é simplesmente uma conotação de “ensinar” ou “instruir”.
Paralelismo — Característica da poe­
testemunha da palavra de Deus, ou que sia hebraica na qual pelo menos duas Pentateuco Samaritano — Texto do
ela contém a palavra de Deus, à medi­ linhas paralelas de versos complemen­ Antigo Testamento que contém ape­
da que as pessoas dos tempos bíblicos tam-se entre si de alguma forma e, tipi­ nas de Gênesis a Deuteronômio, ori­
tinham experiências com Deus e regis­ camente, mostram um paralelismo de ginário dos samaritanos que surgiram
travam essas experiências da melhor idéias em vez de rima ou som. Tais do casamento misto entre judeus e es­
maneira que podiam. Sendo criaturas paralelismos podem ser sinônimos, trangeiros no território do reino do
finitas, porém, seus relatos algumas antitéticos ou sintéticos. norte depois da sua queda para a
vezes continham erros. Ainda assim, Assíria em 722 a.C. O manuscrito mais
suas descrições são de grande valor para Paralelismo antitético — Uma carac­ antigo desse texto é de aproximada­
nos ajudar a entender melhor a Deus e, terística literária da poesia hebraica co­ mente 1100 d.C., apesar de muitos
à medida que outras pessoas têm novas mum e facilmente reconhecível na qual estudiosos acreditarem que ele é base­
experiências com Deus, seus relatos duas linhas demonstram forte contras­ ado em um texto de 100 a 200 a.C.
mais uma vez tornam-se a palavra de te entre si (por exemplo, Salmo 1.6 Enquanto os judeus viam os samarita­
Deus. Apesar da neo-ortodoxia ter alta “Pois o Senhor conhece o caminho dos nos com desprezo como mestiços com­
consideração por Deus, ela não oferece justos, mas o caminho dos ímpios pe­ prometidos que negaram sua fé ao ca­
uma explicação adequada das evidên­ recerá”)- O livro de Provérbios tam­ sarem-se com estrangeiros, os samari­
cias bíblicas. bém usa o paralelismo com freqüência. tanos pensavam ter preservado uma
forma mais antiga e pura de fé, levan­
Nova Idade do Bronze — Termo usa­ Paralelismo sinônimo — Característi­
do a inevitáveis diferenças teológicas.
do por arqueólogos e historiadores para ca literária comum da poesia hebraica
Pelo fato do Pentateuco Samaritano
o período de relações internacionais e que envolve a repetição do mesmo
ser um tanto tendencioso por refletir
comunicação no antigo Oriente Próxi­ pensamento ou pensamento similar; as
essas diferenças, o texto é uma teste­
mo, por volta de 1550 a 1200 a.C. O duas partes refletem basicamente a
munha bastante antiga de como os sa­
final da Nova Idade do Bronze é mar­ mesma idéia, como acontece no Salmo
maritanos interpretavam o Pentateu­
cado pelo poderoso Novo Império no 19.1 “Os céus proclamam a glória de
co, mas não é confiável para determi­
Egito, que exerceu considerável in­ Deus, e o firmamento anuncia as obras nar o caráter original do texto.
fluência sobre as áreas costeiras da das suas mãos”, ou Provérbios 9.10
Síria-Palcstina. Esse foi o período du­ “O temor do Senhor é o princípio da Pequeno apocalipse— Nome dado por
rante o qual ocorreu o êxodo do Egi­ sabedoria, e o conhecimento do San­ muitos intérpretes a Isaías 24-27 pelo
to, a caminhada pelo deserto e a con­ to é prudência” (ver também Pv 16.18; fato de esses capítulos parecerem-se
quista de Canaã. 28; 18.6,7). com uma miniatura do livro de Apo­

485
Glossário

calipse, servindo como uma grande Prenunciadores — Profetas para os 27), Filístia (14.28-32), Moabe (15.1-
conclusão para as profecias de Isaías quais Deus revelava o futuro — algu­ 16.14), Damasco e Israel (17.1-14),
nos capítulos 13-23 e anunciando o mas vezes o futuro próximo e algumas Etiópia e Egito (18.1-20.6), Babilô­
julgamento final de Deus sobre o mun- vezes o futuro distante — e que então nia, Edom e Arábia (21.1 -17), Jerusa-
do e a salvação final de seu povo (ver pregavam para sua própria geração; os lém (22.1-25) e Tiro (23.1-18).
Literatura apocalíptica). profetas falavam de julgamento e res­
tauração, dc más notícias e boas novas, Profecias dos ais — Discursos de jul­
Período babilônio — Começo do se- principalmente com a finalidade de gamento que começam tipicamente
gundo milênio a.C. (2000-1595 a.C.), motivar o povo de Deus a ter uma vida com a palavra “ai”, que é uma excla­
durante o qual os babilônios começa- de fidelidade no presente. mação de tristeza, aflição ou lamento.
ram a compilar aquilo que boje chama­ Isaías pronunciou seis profecias dos ais
mos de textos de presságio. Profecia — Palavra que o profeta re­ contra vários segmentos da população
cebeu de Deus e anunciou para o povo, de Judá em 5.8-30: (1) denunciando os
Período cassita — Período da história podendo concentrar-se em uma varie­ opressores que de forma egoísta aumen­
da Mesopotâmia que vai do século 14 dade de tópicos. tavam suas propriedades às custas dos
ao século 12 a.C., durante o qual en­ outros, (2) condenando os beberrões
contramos exemplos de literatura Profecia clássica — Profecia normal­ que vivam em função da bebida e de
mesopotâmia de diálogo, como o tex­ mente dirigida para todo o povo, que o festas, (3) repreendendo aqueles que
to Ludlul bel nemequi (“Louvarei o informa da ira de Deus contra seu pe­ testavam a Deus, (4) falando contra
Senhor da sabedoria”), um longo mo­ cado, adverte-o sobre o julgamento aqueles de moral distorcida que cha­
nólogo no qual um nobre da Babilônia vindouro, chama ao arrependimento e mavam o bem de mal e o mal de bem
conta como ele deparou-se com toda proclama a salvação de Deus para aque­ para justificar seus pecados, (5) pro­
sorte de desastre antes que o deus les que se voltarem para ele. Tais profe­ nunciando um ai contra os que exalta­
Marduque finalmente o restaurasse à cias foram escritas entre 800 a 450 a.C. vam a si mesmos e acreditavam serem
sua posição. Os cassitas eram um povo aproximadamente, por aqueles que ser­ sábios e (6) admoestando os oportu­
“dos montes do leste” que aos poucos viam de mensageiros especiais de Deus nistas imorais. Em sua ira, Deus iria
tomaram conta da Babilônia e gover­ para o seu povo mediante o poder re­ julgar o pecado deles e chamar uma
naram por algum tempo. cebido do Espírito Santo. Os livros do outra nação para consumi-los e levá-
Antigo Testamento que vão de Isaías a los embora.
Período intertestamental — Período
Malaquias são bons exemplos de pro­
da história entre o encerramento do Profecias Mari — Uma das categorias
fecia clássica.
Antigo Testamento (por volta de 400 básicas de evidências referentes à exis­
a.C.) e o nascimento de Cristo. Profecias acádias — Textos acádios tência de profecias em outras civiliza­
do primeiro milênio a.C. que simples­ ções do mundo bíblico e sua relação
Pôliteísmo — Crença em muitos deu­
mente fazem uma lista dos diversos com os profetas da Bíblia. Apesar de
ses. O politeísmo está com freqüência
acontecimentos políticos de um deter­ haver semelhanças entre as profecias
ligado às religiões antigas de fertilidade
minado período histórico; sua inten­ Mari e as profecias bíblicas, diferenças
e da natureza.
ção é um tanto vaga. Ao que parece, os gritantes surgem quando é feita uma lei­
Povos do mar — Povos estrangeiros autores escreviam esses textos de modo tura mais detalhada dos textos fazendo
que chegaram no antigo Oriente Pró­ que se parecessem com profecias, ape­ uma distinção bem definida entre os pro­
ximo por volta de 1200 a.C. Suposta­ sar de alguns estudiosos sugerirem que fetas bíblicos e os extáticos da cidade de
mente, eles eram fugitivos da Grécia os textos estão relacionados mais de Mari. Os profetas do Antigo Testamen­
que, depois da guerra de Tróia, dirigi­ perto com a literatura apocalíptica ou to afirmavam que a aliança de Deus com
ram-se para a costa do Mediterrâneo, com exemplos de profecia escrita de­ o seu povo tinha implicações no viver
desequilibrando as grandes potências pois do acontecimento. Essas profecias diário. Um relacionamento correto com
daquela época, ou seja, o Egito e os diferem significativamente das profe­ Deus deveria resultar em um tratamento
hititas. Um desses povos do mar eram cias clássicas da Bíblia. justo e ético de outras pessoas, certas
os filisteus que se assentaram na costa ações e crenças eram verdadeiras e cor­
Profecias contra as nações — Comu­
sudoeste da Síria-Palestina e tiveram retas porque Deus as havia ordenado.
nicação divina ou revelação dada por
um papel importante nos tempos do Além do mais, os profetas falavam para
Deus ao profeta Isaías que descrevia os
Antigo Testamento. toda a sociedade, não só para a casa
planos de Deus para tratar das outras
real (ver também Extáticos).
Premilenismo — Posição evangélica nações do mundo antigo e não somen­
que afirma que Jesus voltará à terra para te Israel. Sua profecia de julgamento Profetas anteriores — Termo usado no
literalmente estabelecer um reino aqui, começou com a Babilônia (13.1- Cânon hebraico para designar Josué,
governando com seus santos durante 14-23) que, depois de governar o mun­ Juizes, Samuel c Reis; tal designação é
mil anos. Depois desse período, virá o do, iria ser destruída pelos medos. Em apropriada por causa da forma como
julgamento dos descrentes e o estabe­ seguida, Isaías falou do futuro julga­ esses livros estão relacionados ao iní­
lecimento do céu. mento de Deus sobre a Assíria (14-24- cio da história da profecia e apresen­
486
Glossário

tam a história nacional à luz de interes­ Quiasmo — Termo baseado na letra po da Saul, que morreu por causa de
ses teológicos e proféticos. grega X (chi) , denota uma seqüência sua infidelidade ao Senhor. Para o cro­
invertida ou cruzada de palavras, frases nista, Davi cumpriu o papel de salva­
Profetas clássicos — Ver Profecia ou conceitos paralelos em uma senten­ dor. Assim, ele descreve como Davi
clássica.
ça ou unidade literária mais ampla. O tornou-se rei, suas investidas militares
Profetas nãoAiterários — Profetas a quiasmo é comum na poesia hebraica: e seus preparativos para a construção
quem Deus chamou para profetizar, mas do templo. Tendo em vista que para o
A Compadece-te de mim, ó Deus, autor o templo é elemento central do
que nunca escreveram suas mensagens, B segundo a tua benignidade;
deixando para outros a tarefa de regis­ plano de salvação de Deus, esse plane­
B’ e segundo a multidão das tuas jamento elaborado do templo revelou
trar suas palavras e atos: sabemos so­ misericórdias,
bre o ministério desses profetas somen­ o verdadeiro caráter de Davi como lí­
A apaga as minhas transgressões. der da fé para Israel.
te por intermédio de relatos sobre eles (SI 51.1)
nos Livros Históricos do Antigo Tes­ Retribuição — Doutrina que afirma
tamento. Os profetas não-literários de Racionalista -— Indivíduo que aceita que a bondade resulta em prosperida­
um modo geral tinham a tendência de a razão como sendo a autoridade máxi­ de e a perversidade leva ao sofrimento.
concentrar-se no rei e em sua corte, ma sobre a opinião, crença ou condu­ Escritos sob forma de diálogo na Meso­
aconselhando o rei sobre diversos as­ ta, afirmando que a razão humana, sem potâmia, aceitavam a doutrina da retri­
suntos e algumas vezes advertindo-o o auxílio de revelação divina, é ade­ buição apresentada em Jó e Eclesiastes.
sobre as conseqüências de seu pecado. quada como guia único para toda a
Exemplos desse tipo de profeta incluem verdade religiosa alcançável. Zofar, um Rima — Característica literária da po­
EliaseEliseu (2Rs 1.1—13.21),profetas dos amigos de Jó, considerava-se um esia hebraica que descreve a concor­
cujos nomes não são citados e que apa­ racionalista, arrazoando que o castigo dância nos sons finais das linhas, versos
recem nos tempos dc Saul (ISm 10.10- que Jó estava rccehendo era mais que ou palavras poéticas. A poesia hebrai­
12; 19.20,21) e mais tarde no reino esperado e concluindo que Jó deveria ca apoia-se muito mais na métrica que
dividido (lRs 13), Aías (lRs 11.29- lançar para longe sua iniqüidade e per­ na rima, apesar da rima ocorrer algu­
39), Micaías (1Rs 22.7-28, um homem versidade (11.14). mas vezes.
chamado apenas de “homem de Deus”
que proferiu palavras de julgamento a Reconciliar, reconciliação — Ver tam­ Sábios — Homens de renome por sua
Jeroboão I (1Rs 13.1-10) c uma mulher bém Expiação — termo bíblico que sabedoria que, no antigo Oriente Pró­
chamada Hulda (2Rs 22.14-20). descreve a remoção do pecado ou pro­ ximo, escreviam documentos conten­
fanação. O hebraico kipper normalmen­ do longos discursos ou argumentos que
Prólogo — Prefácio ou parte introdu­ te denota “expiar oferecendo um subs­ tratavam dos problemas mais difíceis
tória de um discurso, poema ou roman­ tituto”. Quer o termo se referisse a um da vida.
ce. Em Jó, o prólogo em prosa ajuda a ato de expiação voltado para Deus
criar a estrutura literária para os dis­ (propiciação) ou para a ofensa cometi­ Salm os da realeza — Salmos ou
cursos poéticos. da (expiação), ele ilustra a teologia bí­ cânticos sobre o rei de Israel, normal­
blica da reconciliação. mente descrevendo-o como o repre­
Promessa — A palavra de Deus a sentante especial de Deus para gover­
Abraão em Gênesis 12, em que Deus Remanescente — Literalmente, “um nar Israel. Os Salmos 2, 45 c 110 são
promete a ele tanto terras quanto des­ resto”. Termo técnico que se refere a bons exemplos de salmos reais.
cendentes — fazer da família de Abraão um grupo do povo de Deus que per­
uma grande nação que seria uma bên­ manece fiel ao Senhor e pelo qual o Salm os de lamento — Salmos ou
ção para a humanidade. Senhor determina que irá continuar os cânticos contendo tipicamente três ele­
seus propósitos redentores. mentos que podem ou não aparecer na
Provérbio — Ditado sucinto e persua- seguinte ordem: (1) o lamento por cau­
sivo referindo-se a vários tópicos rela­ Renovo — Descrição profética encon­ sa de uma situação, (2) afirmação da
cionados a Deus, a seu mundo e à vida. trada em Isaías 4.2 sobre o Messias que confiança do salmista de que Deus, de
Os provérbios são declarações de ver­ estava por vir como um renovo da li­ alguma forma, irá ajudá-lo a passar por
dades gerais e não promessas inquebrá­ nhagem de Jessé, o pai de Davi, e que suas provações e (3) algum tipo de lou­
veis ou mandamentos que se aplicam a receberia o poder do Espírito do Se­ vor por Deus ter ouvido sua oração e
todas as situações. nhor para liderar as nações e trazer paz, porque, a seu tempo, irá intervir (por
bondade e salvação de Deus àqueles exemplo, Salmos 3, 4 e 6).
Pseudônimo — Termo usado para des­ que colocassem nele a sua fé.
crever o costume de atribuir um escrito Salmos de sabedoria — Salmos ou
a alguém com um outro nome diferente Restauração — Tema de 1 Crônicas, cânticos que relatam observações ge­
daquele do autor. Na literatura apoca­ no qual o autor olha para a futura espe­ rais sobre a vida, dentre as quais o au­
líptica intertestamental, esses “nomes rança de salvação e equilibra sua repe­ tor tipicamente faz pouco esforço para
artísticos” eram usados para dar o crédi­ tida ênfase na situação de exílio de Is­ defender as verdades que estão sendo
to dos escritos a algum antigo herói da fé. rael usando como ilustração o arquéti­ expostas; em vez disso, ele as apresenta

487
Glossário

como descrições evidentes da forma Shalom — Palavra hebraica que signi­ prova de autenticidade. Isaías, por
como Deus pretende que a vida seja, fica “paz”. Mais do que a ausência de exemplo, ofereceu a Acaz um sinal de
normalmente descrevendo o nosso re­ conflito, ela refere-se a uma vida em Deus para fortalecer a fé do rei. Acaz,
lacionamento com Deus em uma ou que está presente a plenitude e o bem- porém, mascarou sua falta de fé com
mais de suas facetas (por exemplo, Sal­ estar. A paz shalom é retratada de ma­ falsa piedade (Is 7.10-12), e já estava
mos 1,14,73). neira perfeita no Jardim do Éden antes pensando em confiar na Assíria em vez
da queda; lá, a humanidade estava em de Deus (2Rs 16.7,8). Isaías condenou
Salmos imprecatórios — Salmos ou paz com Deus e com a criação que os Acaz por sua falta de fé, declarando que
cânticos que pedem o julgamento de cercava — tendo acesso direto à pre­ o próprio Deus iria providenciar um si­
Deus sobre os inimigos do salmista (por sença de Deus e gozando do seu favor, nal, ou seja, que uma virgem iria conce­
exemplo, Salmos 35,69,137); eles po­ eram capazes também de gozar a pleni­ ber um filho c dar-lhe o nome de
dem ser dc natureza individual ou con- tude rica e perfeita da criação. Emanuel que quer dizer “Deus conosco”
gregacional. Apesar desses salmos pro­ (Is 7.14); antes que a criança pudesse
vocarem muitas discussões teológicas Shema — Nome da importante passa­ escolher entre o bem o mal, os reis da
por causa de seu conteúdo repleto de gem de Deuteronômio 6.4-9, que é a Síria e de Israel não mais existiriam.
ira, devemos entender que, nesses ver­ expressão clássica do conceito israelita
sículos, os salmistas nos ajudam a ver o de monoteísmo e que, mais tarde, tor­ Sincretismo — Tentativa de unir ou
lado humano das Escrituras; ao clama­ nou-se uma oração central do Judaís­ reconciliar duas crenças ou práticas. Os
rem em meio à sua ira, frustração e dor, mo. O nome em si é a primeira palavra proponentes de uma religião algumas
eles percebiam sua própria fraqueza — em hebraico do imperativo “Ouve, Is­ vezes adaptam-se ou identificam suas
tendo em vista que eram incapazes de rael, o Senhor, nosso Deus, é o único divindades ou credos com aqueles de
mudar as circunstâncias terríveis. Os Senhor”. uma outra religião a fim de ganhar fiéis.
salmistas também deixavam o julga­
Sheol — Palavra hebraica usada com Sitz im Leben — Expressão em ale­
mento nas mãos de Deus, pedindo que
Deus julgasse, mas reconhecendo tam­ mais freqüência para se fazer referência mão (que significa “situação de vida”)
ao lugar onde acreditava-se que os mor­ que denota o cenário histórico e social
bém que só Deus sabia o que era abso­
tos habitavam, um lugar de escuridão no qual um gênero literário tomou for­
lutamente correto.
(Jó 10.21,22; SI 143.3), silêncio (Si ma pela primeira vez.
Salmos messiânicos — Salmos ou 94.17; 115.17), cujos habitantes eram
incapazes de louvar a Deus (SI 6.5; Soberania — Ensinamento bíblico de
cânticos que descrevem o Messias, o
88.10-12) c nada sabiam (Jó 14.21; Ec que Deus está no controle absoluto de
ungido de Deus.
9.5), e que eram meras sombras do que toda a criação e não está subordinado a
Santos do Altíssimo — Indivíduos da haviam sido um dia. Sheol estava ao nada. O Pentateuco inicia-se enfatizan­
visão registrada em Daniel 7 que com­ alcance de Deus, como fica entendido do a soberania de Deus por meio do
põem o quinto e último reino eterno pelo Salmo 139.8 e por Jó 26.6. Há relato da criação que parte do pressu­
estabelecido pelo Ancião de Dias e dúvidas sobre a verdadeira localização posto da existência eterna de Deus, que
por aquele que é como o “Filho do de Sheol e o quão intimamente ele está criou todo o universo sem a ajuda de
Homem”. ligado com a sepultura do ponto de ninguém, sem usar matéria preexistente
vista literal; também há desacordo se e sem esforço, unicamente pelo poder
Septuaginta — Tradução do Antigo de sua palavra falada. Assim como
os crentes do Antigo Testamento iam
Testamento para o grego de aproxima­ primeiro para esse lugar de sombras ou Gênesis estabelece tão fortemente des­
damente 300 a 200 a.C. e que vem da diretamente para o céu. Ezequiel, em de o início a soberania de Deus sobre
cidade egípcia de Alexandria. Seu nome uma linguagem profética assustadora, sua criação, as histórias subseqüentes
e abreviação (LXX) vem do fato de o descreve Deus levando o Egito para do dilúvio (Gn 6-9) e da Torre de Babel
trabalho de tradução ter sido realizado Sheol, onde o Egito encontra o “comi­ (Gn 11) reforçam ainda mais esse con­
por um grupo de setenta e dois estu­ tê de boas-vindas” formado pela ceito bem como o relacionamento de
diosos. A Septuaginta é um importan­ Assíria, Elam e Edom — nações que, Deus com indivíduos como Abraão,
te testemunho antigo do texto do An­ dc maneira semelhante, haviam confi­ Isaque c Jacó demonstram o domínio
tigo Testamento. ado em seu próprio poder e esplendor supremo dele. Em contraste gritante
até que Deus deu um fim ao seu domí­ com os deuses do antigo Oriente Pró­
Setenta setes — Refere-se à passagem
nio; Ezequiel advertiu o Egito que eles ximo, cuja jurisdição tinha limites geo­
profética e escatológica de Daniel 9.24'
iriam tornar-se como todas as outras gráficos definidos, o escopo do domí­
27 sobre as “setenta semanas de anos”,
nações que haviam desafiado a autori­ nio de Deus é universal.
ou setenta períodos de tempo; essas se­
dade de Deus (29.1-32.32).
tenta semanas de anos eqüivalem a qua­ Talmude — Coleção de leis judaicas
trocentos e noventa anos, apesar dos Sinal — Algo que dá evidência de um rabínicas, leis de decisão e comentários
intérpretes discordarem em relação às acontecimento passado, presente ou fu­ sobre as leis de Moisés; refere-se aos
datas e acontecimentos relativos a esse turo, que serve de advertência para coi­ primeiros cinco livros da Bíblia como
período. sas que ainda estão por vir ou como “os Livros de Moisés”.
488
Glossário

Tamuz — Deus da agricultura da Me- 18; 28), chamado de Moisés (Êx 3), to do Antigo Testamento, usando um
sopotâmia, marido da deusa Ishtar, cujos aliança no Sinai (Êx 19) e outras. complexo sistema de marcações cha­
seguidores acreditavam que todos os mado de massora. As cópias mais anti­
anos, no tempo da colheita, Tamuz Teologia da retribuição — Obediên­
gas desse texto são de pouco antes de
morria; as mulheres que Ezequiel viu cia aos mandamentos de Deus traz bên­ 1000 d.C., apesar de alguns estudiosos
chorando no templo de Jerusalém em çãos enquanto a desobediência provo­ acreditarem que essas cópias refletem
sua visão (Ez 8.14,15) estavam prante- ca o fracasso. Essa é a tônica dos livros textos do ano 100 d.C. O texto masso-
ando Tamuz junto a Ishtar. Tamuz vol­ de Reis, que se baseiam na aliança do térico é o texto hebraico mais confiável
tava à vida na primavera, quando as Sinai, especialmente da forma como ela que temos à nossa disposição.
plantações se reavivavam e as árvores é expressa em Deuteronômio, em que
começavam a florescer. o discurso final de Moisés (Dt 28) faz Textos de presságio — Coleção de tex­
uma lista das bênçãos e castigos da tos que começou a ser compilada du­
Targuns — Coleção de escritos aramai- aliança. Para o autor de Reis, a história rante o período da antiga babilônia
cos baseados no texto do Antigo Testa­ é a fundação sobre a qual a teologia é (2000-1595 a.C.). Provavelmente con­
mento e que são do começo da era cris­ provada e ele avalia cada rei tomando siderados científicos na sua época,
tã, apesar de algumas partes terem sido por base a lealdade desse monarca Iavé esses textos refletiam a crença desses
escritas antes. Surgiram durante uma adorado em Jerusalém e ilustrando os povos antigos de que o mundo era uma
época em que muitas pessoas entendi­ dois caminhos entre os quais o homem complexa teia de relações de causa e
am o aramaico melhor que o hebraico e precisa escolher —- a busca interna e efeito muitas vezes com uma intenção
ofereciam uma interpretação comum ao externa de Deus ou a desobediência e a sobrenatural por trás dos acontecimen­
texto hebraico. Em algumas partes, os falta de devoção que no final leva à tos. Assim, os textos de presságio pre­
Targuns refletem uma tradução relati­ autodestruição. servavam um registro escrito de certos
vamente literal do hebraico, enquanto, acontecimentos e suas conseqüências
em outras partes, são adicionados co­ Teologia deuteronômica — Doutrina e, se certos acontecimentos voltavam
mentários e histórias para esclarecer o de retribuição que a Bíblia usa com fre­ a ocorrer, isso significava que os deuses
significado do texto; portanto, de um qüência para explicar que a fidelidade iriam repetir o seu modo de agir. Se,
modo geral, eles não servem como tes­ à aliança resultará em bênçãos futuras por exemplo, um certo pássaro apare­
temunha confiável do Antigo Testamen­ enquanto a desobediência resultará em cia durante um certo mês, isso poderia
to, apesar de nos ajudarem a entender as castigos. Esta é a teologia por trás dos indicar a vinda de uma grande fome;
antigas interpretações judaicas. Livros Históricos e é comum dizer-se ou, se um animal sacrificado tivesse
que ela é característica da história deu­ uma mancha vermelha no fígado, isso
Templo — Falando de um modo geral, teronômica. poderia indicar uma vitória militar para
um lugar dedicado ao culto ou à adora­ o rei. Esses textos têm pouco em co­
ção de uma divindade ou várias divin­ Teoria do ditado — Teoria que sugere
mum com a profecia bíblica, faltando a
dades; no Antigo Testamento, refere- que Deus simplesmente ditou a Bíblia
eles qualquer base moral. Enquanto os
se qualquer uma de três construções para escribas humanos, escolhendo cer­
deuses simplesmente revelavam sua
sucessivas ou a grupos de construções tos indivíduos para registrarem suas pa­
vontade por meio de acontecimentos
em Jerusalém que eram dedicadas à lavras e dando-lhes as palavras exatas
inter-relacionados, os profetas basca-
adoração de Iavé. que ele queria usar. Essa teoria explica
vam-se em Deus, na sua palavra e na
algumas das evidências bíblicas, mas
Teodicidade — Tentativa de conciliar sua aliança com o povo.
não todas.
a justiça e a santidade de Deus à luz da Torá — Palavra hebraica que significa
existência do mal no mundo. Se Deus Tetratêuco — Nome (que significa
literalmente “ensinamento” ou “instru­
é Todo-poderoso e também amoroso, “quatro rolos”) dado aos quatro pri­
ção”, apesar de algumas vezes ser
como a Bíblia afirma em várias partes, meiros livros da Bíblia — Gênesis,
traduzida como “lei”. O termo refere-
então de que forma o mal pode conti­ Êxodo, Levítico e Números — como
se aos primeiros cinco livros da Bíblia
nuar a existir no mundo? Como os sendo uma unidade literária. Alguns es­
— Gênesis, Êxodo, Levítico, Núme­
ímpios podem prosperar se Deus é jus­ tudiosos discutem se essa unidade foi
ros e Deuteronômio.
to? Por que pessoas boas sofrem e como editada como uma única obra que con­
Deus pode permitir que isso aconteça? sistia das fontes JEP De acordo com Transcendente — Além da compreen­
O livro de Jó é uma resposta a essas esse ponto de vista, Deuteronômio foi são, do entendimento e da explicação.
questões. acrescentado bem mais tarde. Teólogos usam esse termo para descre­
ver o fato de que Deus está totalmente
Teofania — Termo grego usado para a Texto massorético — Cópia hebraica
além dc qualquer coisa em nossa expe­
manifestação de Deus. Essas aparições do Antigo Testamento que foi passada riência humana.
súbitas e inesperadas de Deus ocorrem para nós por meio dos massoretas —
de forma perceptível (audíveis ou visí­ um dos grupos mais importantes e pre­ Transmissão — Comunicação fiel das
veis) em pontos decisivos da história cisos de escribas que, entre 500 a 1000 Escrituras à medida que foi passada adi­
de Israel: promessas patriarcais (Gn 17; d.C., trabalharam para preservar o tex­ ante e entregue de uma geração para

489
Glossário

outra. No mundo antigo, era responsa- Vassalo — Parte subordinada em um Visão da múltipla autoria — Ponto de
bilidade absoluta dos escribas que la­ tratado de suserania. O vassalo jurava vista referente à autoria do livro de Isaías
boriosamente copiavam os textos bí­ lealdade e pagamento regular de tri­ que afirma que o profeta escreveu o
blicos, crendo que estavam copiando butos ao seu senhor que, em troca, material encontrado nos capítulos 1-
as palavras do próprio Deus e, portan­ prometia proteger o vassalo de seus 39, enquanto outro autor ou autores
to, tomando grande cuidado para pre­ inimigos. (“Deutero-Isaías” ou “segundo Isaías”),
servar as cópias que haviam recebido. talvez os discípulos de Isaías, escreve­
Vaticinium ex eventu — Frase em la­ ram a outra metade do livro. Essa vi­
Tratado de suserania — Tratado polí­ tim que significa “profecia a partir do são também pode incluir uma terceira
tico do antigo Oriente Próximo entre fato” ou “profecia dc um resultado”. divisão dentro dos capítulos 40-66,
duas partes de níveis desiguais, o Refere-se à técnica literária usada nos i alegando que Deutero-Isaías escreveu
suserano (ou senhor) e o vassalo (ou escritos da literatura apocalíptica in­ os capítulos 40—55, uma terceira pes­
nação súdita). A forma literária da tertestamental, em que um aconteci­ soa ou escola dc discípulos (“Trito-Isa­
aliança no Sinai em Exodo 20-24 e em mento conhecido do passado é proje­ ías” ou “terceiro Isaías”) teriam escrito
Deuteronômio tem grande semelhan­ tado em forma de previsão, usando lin­ os capítulos 56-66 algum tempo mais
ça com esses tratados, especialmente guagem futurista. O autor fala de acon­ tarde; alguns argumentam que essa ter­
com os tratados de suserania hititas dos tecimentos que já passaram como se ceira seção veio de muitos autores, tal­
arquivos reais de Bogbazkõy, na Tur- ! ainda não tivessem ocorrido. Ele toma vez um grupo de discípulos de Isaías.
quia. Esses tratados hititas são, em sua a posição de profeta de previsões e fala Os proponentes desse ponto de vista
maioria, da Nova Idade do Bronze e do acontecimento como se ainda esti­ geralmente argumentam dentro de três
parecem confirmar a data tradicional vesse no futuro. linhas: o período de tempo coberto
dos textos bíblicos, ainda que alguns
questionem essa evidência. Via Maris — Termo em latim que sig­ pelo livro; a diferença de assuntos, vo­
nifica “o caminho do mar”, que vem cabulário e estilo entre as duas divi­
Tributo — Uma soma determinada ou de Isaías 9.1 e refere-se à estrada in­ sões e a menção do nome de Ciro em
alguma outra coisa de valor paga por ternacional que passava ao longo do 44.28 e 45.1.
um soberano ou estado a outro como Levante costeiro. Essa estrada foi usa­ Vulgata — Tradução da Bíblia para o
forma de reconhecimento da submis­ da durante os tempos bíblicos c loca- latim feita por Jerônimo por volta de
são ou do preço da paz, segurança e | lizava-se próximo a algumas das cida- 400 d.C. A tradução inclui os apócrifos,
proteção. Davi aceitou tais tributos de | des mais importantes da antigüidade, a estimada coleção de livros judaicos
muitas cidades-estado da Síria que Is­ j A Vulgata traduziu a frase de Isaías
que não se encontra no Antigo Testa­
rael venceu sob o seu comando. como Via Maris, termo que mais tarde mento e não é aceita pelos judeus ou
foi usado para designar todo um com­ cristãos protestantes.
Trito-Isaías — Significa simplesmente
plexo de estradas do Egito, pela Síria-
o “terceiro-Isaías”. Esse termo é usado
Palestina e até a Mesopotâmia. No Zigurate — Uma torre com degraus
por aqueles estudiosos que acreditam
sul da planície costeira, a Via Maris construída com três a sete estágios que
em uma autoria múltipla do livro de
vai em direção ao norte e divide-se era característica dos complexos de
Isaías para referirem-se ao autor dos
em duas ramificações, a oeste que con­ templo da antiga Mesopotâmia. Pró­
capítulos 56-66. (Ver também Visão
de múltipla autoria.)
tinua ao longo da costa e a leste que ximo à base da torre ficava o templo
passa pelo vale de Jezreel para Megido pagão propriamente dito. Conceito
Ugarítico — Linguagem da mesma fa­ e de lá para Hazor e Damasco até a possivelmente ligado à idéia de que os
mília do hebraico e aramaico e lingua­ Mesopotâmia; as várias ramificações ] deuses viviam nas montanhas, sendo o
gem do Ugarite — um importante cen­ dessa grande estrada internacional zigurate, portanto, um substituto. A
tro de comércio próximo à costa do convergem todas em Megido, na en­ Torre de Babel, em Gênesis 11 era um
Mediterrâneo. Os escribas de Ugarite trada do vale de Jezreel — uma locali­ zigurate que representava o orgulho e a
criaram uma escrita alfabética dc trinta zação estratégica para o comércio e a rebeldia arrogante da cidade da Babi­
sinais cuneiformes. viagem no mundo antigo. lônia e da humanidade em geral.

490
1 J 5 . . A í / ' ’ Z WÊMÊÊÊ& I J 'L .i 41*11 yV c / // /' v...r .......... (Baltimore: Penguin, 1980), 19-33; H.

Notas W. F. Saggs, The Greatness That Was


B ab y lo n : A Sketch o f the A n ciet
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Volley (Nova York: Hawthorn, 1962),
27; e Wolfram von Soden, The A n ­
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mans, 1969), 260-261; William H.
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ment, 42-44- of Chicago Press, 1951), 8-17; William
Baker, 1980 [ 1898]), 9-10.
11. Brotzman, Textual Criticism, 87- C. Hayers, Most Ancient Egypt, Org.
2. Para urna perspectiva um pouco
96, oferece um bom sumário dos papi­ Kcith G. Seele (Chicago: University of
diferente sobre Jâmnia, ver Harrison,
ros c seu significado. Para um relato Chicago Press, 1964), 1-41; e Hemiann
In tro d u ction , 277-278; Roger, T.
mais completo, ver Frank Moore Cross, Kees, Ancient Egypt: A Cultural Topo-
Beckwith, l he Old Testament Canon
The Ancient Library of Qumran, 32 ed. graphy, org. T G. H. James, trad. Ians
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(Minneapolis: Fortress, 1995). F. D. Morrow (Chicago: University of
Rapids: Eerdmans, 1985), 276-277-
12. Para uma discussão completa Chicago Press, 1961), 47-95.
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sobre a Septuaginta, ver Sidney Jellicoe, 4- Donald B. Redford, Egypt Cana-
An Introduction, trad. Grover Foley
T he Septuagint and M o d em Study an, and Israel in Ancient lim es (Priiv
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(Winonta Lake, Ind.: Eiscnbrauns, 1978 ceton, N.J.: Princeton University Press,
[1963]): Emil Brunner, Revelation and
[ 1968]); ver também Würthhwcin, Text 1992), 3-28.
Reason: The Christian Doctrine of Faith
of lhe Old Testament, 49-74; Brotzman, 5. Herodotus 2.5.
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Textual Criticism, 72-79; e Tov, Textu­ 6. Wilson, Culture of Ancient Egypt,
1946). al Criticism, 134-148. 8-17; e William W. Hailo e William
4. Dcwey, M. Beegle, The Inspiration 13. Brotzman, Textual Criticism , 69- Kelly Simpson, The Ancient Near East:
of Scripture (Filadélfia, Westminstcr,
72, oferece um bom sumário dos A History, org. John Morton Blum
1963); Daniel E Fuller, “Bcnjamin B. Targuns; ver também Würthwein, Text (Nova York: Harcourt Brace
WarfiekTs View of Faith and History: A ofthe Old lèstametu, 75-79; c Tov, Tex­ Jovanovich, 1971), 188.
Critique in the Light of the New Testa­ tual Criticism, 134-148. Para uma dis­ 7. Kees, Ancient Egypt, 9,10. Este
ment”, Bulletin ofthe Evangelical Theo- cussão completa, ver Alexander livro ajuda a explicar quão devastado­
logical Society 11 (1968): 75-83. Sperber, ed., The Bible in Aram aic, 4 ras foram as pragas descritas no livro
5. Para unia discussão clássica sobre vols. (Leiden: E. J. Brill, 1959-1973). de Êxodo para os egípcios.
a inspiração verbal plenária, ver R. Laird 14- Esses princípios são tirados dc 8. Wilson, Culture of Ancient Egypt,
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Bible: An Historical and Exegetical Stn- básicos sobre hermenêutica. Ver J. 9. Aharoni, Land ofthe Bible, 21.
dy (GrandRapids: Zondervan, 1957). Robertson McQuilkin, Understanding 10. Para mais detalhes sobre essa
6. A. R. Millard, ‘‘In Praise of An­ and Applying the Bible, Ed. rev. (Chi­ seção, ver Aharoni, Land of the Bible,
cient Scribes”, Biblical Archeologist 45 cago: Moody, 1992); Gordon Fee e 2 1-42; e Denis Baly, The Geography of
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Textual Criticism: A Practical Introduc - pids: Zondervan, 199.3); A. Berkeley 1957), 125-127.
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53, oferece um bom sumário sobre os (Grand Rapids: Eerdmans, 1963). 12. Aharoni, Land of the Bible, 31.
massoretas e sua contribuição para a 13. Baly, G eography, 109-114;
preservação dos textos do Antigo Tes­ Capítulo 2: Onde e quando ocorre­ Aharoni, Land of the Bible, 43-63.
tamento. ram os acontecimentos do Antigo Tes­
14- Para mais informações sobre a
8. Ernst Würthwein, The Texi ofthe tamento? história de Israel, ver John Bright, A
Old Testament: An Introduction to the 1. Yohanan Aharoni, The Land of History o f Old Testament Israel, 3a ed.
Bible Hebraica, trad. Errol F. Rhodes the Bible: A Historical Geography, trad. (Filadélfia: Westminstcr, 1981); e
(Grand Rapids: Eerdmans, 1979) dá Anson F. Rainey, 2a ed. (Londres: Bums Eugene 11. Merrill, Kingdorn of Priests:
um bom sumário dos manuscritos an­ ékOates, 1979), 3-6. A H istory o f O ld Testament Israel
tigos referentes ao Antigo Testamento. 2. Para mais informações sobre (Grand Rapids: Baker, 1987).
Ver também Emanuel Tov, Textual geografia da Mesopotâmia em geral, ver 15. Roux, Ancient Iraq, 140-153; e
Criticism ofthe Hebrew Bible (Minnea- Georges Roux, Ancient Iraq, 2- ed. Wlater Bodine, "Sumcrians”, in People

491
Notas

of the Old Testament World, ed, Alfred Moisés de maneira menos direta: Ex raelita Literature in Its Cultural Context:
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1994), 27-36. procuraram fora do Pentateuco para en­ Rapids: Zondervan, 1989), 19-42.
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Gerald L. Mattingly, e Edwin M. Rm 10.5, etc. 4. Para detalhes de lingüística c mais
Yamauchi (Grand Rapids: Baker, 1994), 2. Sanhedrin, 21b-22a; e ver tam­ discussões ver Bill T Amold, New Inter­
255-264. bém Baba Bathra 14b. national Dictionary of Old Testament
17. Bright, History, 83-87. Alguns 3. Aboth 1.1 e Antiquities 4.8.48, Theology and Exegesis, org. Willem A.
preferem uma data um pouco mais an­ respectivamente. Van Gemeren, 5 vols. (Grand Rapids:
tiga; ver Merrill, Kingdom of Priests, 4. Para uma pesquisa sobre as dú­ Zondervan, 1997), 3: 1025-1026.
78-79. vidas mais antigas de judeus e cristãos 5. Wenham, Genesis 6-7; e Ross,
18. Roux, Ancient Iraq 184-207; e sobre a autoria mosaica, ver R. K. Har- Creation and Blessing, 104-
Bill Tl. Arnold, “Babylonians”, in rison, Introduction to the Old Testa­ 6. Gerald Bray, “The Significance
Peoples ofthe Old Testament World, org. ment (Grand Rapids: Eerdmans, 1969), of God’s Image in Man”, Tyndale
Aalfred Hoerth, Gerald L. Mattingly, 497,498. Bulletin 42, nQ2 (1191): 224-225.
e Edwin M. Yamauchi (Grand Rapids: 5. Seu livro mais importante foi Die 7. A frase normalmente traduzida
Baker, 1994), 47-50. Composition des Hexateuchs. como “sem forma c vazia” expressa uma
19. KeithN. Schoville, “Canaanites 6. Kenneth A. Kitche, Ancient mesma idéia por meio de duas palavras
and Amorites”, in Peoples of the Old Orient and the Old Testament (Downers (tohu wabohu). Mas qual é a idéia única
Testament World, org. Alfred Hoerth, Grove: InterVarsity, 1966), 15-34- pretendida aqui? Diz-se com freqüência
Gerald L. Mattingly, e Edwin M. 7. James A. Sanders. Canon and que a frase denota um universo caótico
Yamauchi (Grand Rapids: Baker, 1994), Community: A Guide to Canonical em seu estado de criação. Mas estudos
162-167. Criticism (Filadélfia: Fortrcss, 1984). lingüísticos comparativos recentes re­
20. Não se sabe ao certo o período 8. Tremper Longman III, Literary velam que a expressão descreve uma
exato de tempo entre a genealogia de Approaches to Biblical Interpretation terra “limpa” ou “vazia”, um lugar desa­
Gn 11.27-32 e o chamado de Abraão (Grand Rapids: Zondervan, 1987). bitado que agora está para ser populado
em 12.1-3. Ver Victor P Hamilton 9. Carl E. Armending, The Old Tes­ e habitado pela humanidade. Ver David
The Book of Genesis, Chapters 1-17 tament and Criticism (Grand Rapids: Toshio Tsumura, The Earth and the
(NICOT; Grand Rapids: Eerdmans, Eerdmans, 1983). Waters in Genesis 1 and 2: A Linguistic
1990), 366-368, e Alie R Ross, Creation 10. Para essa avaliação veja Eugene Investigation, Journal for the Study of
and Blessing (Grand Rapids: Baker, Carpenter, “Pcntateuch”, in Interna­ the Old Testament— Supplement Series
1988), 258. tional Standard Bible Encyclopedia, org. 83 (Sheffield: JSOT, 1989), 17-43.
21. Hoffmeir, “Egyptians”, 273. Geoffrey W. Bromiley, 4 vol. (Grand 8. Victor P Hamilton, The Book of
22. Harry A. Hoffner Jr., “Hittites”, Rapids: Eerdmans, 1979-1988), 3: Genesis: Chapters 1-17, New Interna­
in Peoples of the Old Testament World, 752,753. tional Commentary on the Old Testa­
org. Aalfred Hoerth, Gerald L. Mat­ ment (Grand Rapids: Eerdmans, 1990),
tingly, e Edwin M. Yamauchi (Grand Capítulo 4: Gênesis 1-11 — O prelú­ 2-11; e David W. Baker, “Diversity and
Rapids: Baker, 1994), 130. dio de Israel
Unity in the Literary Structure of Ge­
23. Hoffmeir, “Egyptians”, 287-288. 1. W. G. Lambert e A. R. Millard, nesis”, in Essays on the Patriarchal Nar-
24. David M. Howard Jr., “Philisti- Atrahasis The Babylonian Story of the ratives, org. A. R. Millard e Donald J.
nes”, in Peoples of the Old 1estament Flood (Oxford: Clarendon, 1969); Isaac Wiseman (Winona Lake, Ind.: Eisen-
World, org. Aalfred Hoerth, Gerald L. M. Kikawada e Arthur Quinn, Before brauns, 1983), 208.
Mattingly, e Edwin M. Yamauchi Abraham Was: The Unity of Genesis 1— 9. F. B. Huey Jr., E. H. Walton, “Are
(Grand Rapids: Baker, 1994), 233-236. i 11 (Nashville: Abingdon, 1985), 41-48. the ‘Sons of God’ in Genesis 6 Angels?”
25. Edwin R Yamauchi, “Persians”, Esse enredo básico também está presen­ in The Genesis Debate, org. Ronald
in Peoples of the Old Testament World, te na versão suméria (ThorkildJacobscn, Youngblood (Nashville: Thomas Nel­
org. Alfred Hoerth, Gerald L. Mattin­ “The Eridu Genesis”, Journal of Biblical son, 1986), 184-209. Alguns (tais como
gly, e Edwin M. Yamauchi (Grand Ra­ Literature 100 [1981]: 513-529). Huey) argumentam que a passagem re­
pids: Baker, 1994), 107-124. 2. Para uma excelente pesquisa so- fere-se literalmente a anjos coabitando
I bre os paralelos, ver Gordon J. Wen- com seres humanos.
Capítulo 3: Introdução ao Pentateu­ ham, Genesis 1-15, Word Biblical Com­ 10. Victor P Hamilton, “Genesis”,
co — O nascimento do povo de Deus
mentary 1 (Waco, Tex: Word, 1987), in Evangelical Commentary on the
1. Além dessas referências explíci­ xlvi-1 e o restante do comentário. Ver Bible”, org. Walter A. Elwell (Grand
tas, há outras que ligam o Pentateuco a também John H. Walton, Ancient Is­ Rapids: Baker, 1989), 18,19.

492
Notas

11. Bill T. Arnold, “Babylonians”, Paternoster, 1994), 55-65. tionary, org. N. Hillyer, 3 vols. (Whea-
in People of the Old Testament World, 7. Selman, “Comparative Cus­ ton, III./Leicestcr: Tyndale; InterVar-
org. Alfred J. Hoerth, Gerald L. Mar­ toms”, 119,137 e ver comentário na sity, 1980), 3: 1324.
ti ngly e Edwin M. Yamauchi (Grand tarja. Apesar dos paralelos não serem 8. Barry Beitzel, The Moody Atlas of
Rapids: Baker, 1994), 43-45. exatos, eles são claros o suficiente para Bible Lands (Chicago: Moody, 1985),
12. Derek Kidner, Genesis: An Intro- oferecer um pano de fundo para um 90,91.
duetion and Commentary, Tyndale Old costume que, de outra maneira, não
Testament Commentary (Downers ficaria claro para o leitor ocidental. Capítulo 7: Levítico — Instruções
Grove: InterVarsity, 1967), 110. (John H. Walton, Ancient Israelile Li- para se viver em santidade
terature m Its Cidtural Context: A 1. Helmer Ringgren, Religions ofthe
Capítulo 5: Gênesis 12-50 — Os pa­ Survey ofParallels between Biblical and Ancient Near East, trad. John Sturdy
triarcas: ancestrais da fé israelita Ancient Near Eastern Texts [Grand (Filadélfia: Westminster, 1973), 161.
1. Ver, por exemplo, E Kylc M o Rapids: Zondervan, 1989]), 54,55. 2. Ibid., 82; e A. Leo Oppenhcim,
Carter Jr., “The Patriarchal Age: Abra- 8. Gary A. Rendsburg, The Redac- Ancient Mesopotâmia: Portrait ofa Dead
ham, Isaac, and Jacob”, in Ancient Is­ tion of Genesis (Winona Lake: Eisen­ Civilization (Chicago: University of
rael: A Short History from Abraham to brauns, 1986), 46,47. Chicago Press, 1964), 192.
the Roman Destruction of the Temple, org. 9. Gn 25.36, apesar do significado 3. R. K. Harrison, Introduction to
Hersehl Shanks (Englewood Cliffs, N.J./ exato do seu nome ainda ser incerto. the Old Testament (Grand Rapids: Eerd­
Washington, D.C.: Prenticc Hall/Biblical 10. David J. A. Clincs descreve o mans, 1969), 601.
Archeology Society, 1988), 20-29. tema do Pentateuco como o cumpri­ 4- Victor P Hamilton, Handbook on
2. A. R. Millard, “Methods of mento parcial das promessas aos pa­ the Pentateuch: Genesis, Exodus, Levi-
Studying the Patriarchal Narra tives as triarcas. (The Theme ofthe Pentateuch, ticus, Numbers, Deuteronomy (Grand
Ancient Texts”, in Essay on the Patriar­ Journal for the Study ofthe Old Testa­ Rapids: Baker, 1982), 246.
chal Narratives, org. A. R. Millard e ment— Supplement Series 10 [Shef- 5. Gordon J. Wenham, The Book of
Donald J. Wiseman (Winona Lake, Ind.: field: JSOT, 1978]). Leviticus, New International Commen­
Eisenbrauns, 1983) ,35-51. Ver também tary on the Old Testament (Grand
um outro artigo nesse excelente volu­ Capítulo 6: Exodo — A fuga mira­ Rapids: Eerdmans, 1979), 161.
culosa
me sobre as narrativas patriarcais. 6. John E. Hartley, Leviticus, Word
3. Sugere-se algumas vezes que po­ 1. “Exodus” vem da tradução grega Biblical Commentary 4 (Dallas: Word,
deria também ser uma outra Ur, situa­ de 19.1, que quer dizer “partida”. 1992), 247-260.
da perto de Haran, a tradicional terra 2. James K. Hoffmeier, “Egypt, 7. John Bright, The Authority ofthe
natal da família de patriarcas. Barry J. Plagues in” in Anchor Bible Dictionary, Old Testament (Nashville: Abingdon,
Bcitzel, The Moody Atlas ofBihle Lands org. David Noel Freedman, 6vols. (Nova 1967), 53-55,148,149.
(Chicago: Moody, 1985), 80. York: Doubleday, 1992), 2: 374-378. 8. Christopher J. H. Wright, God’s
4. O discurso de Estevão em Atos 3. R. Alan Cole, Exodus: An Intro- People in God’s Land: Family, Land and
7.2-4 contraria essa seqüência crono­ duetion and Commentary, Tyndale Old Property in the Old Testament (Grand
lógica. Para possíveis soluções, ver Testament Commentary (Downers Rapids/Exeter, Inglaterra: Eerdmans/
Victor P Hamilton, The Book of Gene­ Grove: InterVarsity, 1973), 122. Paternoster, 1990), 260-265.
sis, Chapters 1-17 (NICOT; Grand 4. John J. Bimson, Redating the Exodus 9. Hartley, Leviticus, LXVIII-LXIX.
Rapids: Eerdmans, 1990), 366-368 e and Conquest, Journal for the Study of
Allen P Ross, Creation and Blessing the Old Testament— Supplement Series Capítulo 8: Números — O fracasso
(Grand Rapids: Baker, 1988), 258. 5 (Sheffielldd: JSOT, 1981). no deserto
5. Martin J. Selman, “Comparative 5. Kenncth A. Kitche, “Exodus, 1. Brevard, S. Childs, Introduction
Customs and the Patriarchal Age”, in The”, in Anchor Bible Dictionary, org. to the Old Testament as Scripture (Fila­
Essays on the Patriarchal Narratives, org. David Noel Freedman, 6 vols. (Nova délfia, Fortress, 1979), 199.
A. R. Millard c Donald J. Wiseman York: Doubleday, 1992), 2: 703. 2. R. K. Harrison, Introduction to
(Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns 6. Para detalhes sobre os diversos the Old Testament (Grand Rapids: Eerd­
1983), 114, 136. lagos na região leste do Delta, ver John mans, 1969), 618-622.
6. Apesar de Gênesis 15 talvez não R. Huddlestun, “Red Sea” in Anchor 3. Ibid., 621,622.
conter um elemento substitutivo. Ver Bible Dictionary, org. David Noel 4. Para mais informações sobre es­
Richard S. Hess, “The Slaughter of the Freedman, 6 vols. (Nova York: Dou­ tes e outros problemas com os núme­
Animais in Genesis 15: Genesis 15.8- bleday, 1992), 5: 639. ros, ver Timothy R. Ashley, The Book
21 and Its Ancient Near Easter Con- 7. Porém, um significado geográfico of Numbers, New International Com­
text” in He Swore an Oath: Biblical mais amplo é possível para o nome he­ mentary on the Old Testament (Grand
Themes from Genesis 12-50 , org. Ri­ braico yam sup (“Mar dc Juncos”) como Rapids: Eerdmans, 1993), 60,61.
chard S. Hess, Philip E. Satterthwaite em 1Rs 9.26 em que se refere ao Golfo 5. John Bright, A History of Israel,
c Gordon J. Wenham, 2- ed. (Grand de Acaba. Ver Kenneth A. Kitchen, 3-ed. (Filadélfia: Westminster, 1981),
Rapids/Carlisle, England: Baker/ “Red Sea” in The Illustrated Bible Dic- 134.
493
Notas

6. John W. Wenham, “Large Num- | Honor ofJohn L. McKenzie, org. J ames 6. Martin Noth, The Deuteronomis-
bers in the Old Testament”, Tyndale W Flanagan e Anita Weisbrod Robin- tic History, 2- ed., Journal for the Study
Bulletin 18 (1967): .30-32. Por outro son (Misoula, Mont: Scholars, 1975), of the Old Testament — Supplement
lado, talvez devamos ver o uso dos 64-65. Series 15 (Shcffield: JSOT, 1991). Para
números no Antigo Testamento como 10. Cecil Francês Alexander, “The um sumário conveniente ver David M.
uma hipérbole, sobre a qual ver David Burial of Moses” in Poems with Power Howard Jr., An Introduction to the Old
M. Fouts “A Defense of the Hyperbolic to Strengthen the Soul, org. James Testament Historical Books (Chicago:
Interpretation of Large Numbers in Mudge (Abingdon, 1907), 36. Moody, 1993), 179-182.
the Old Testament” JETS 40 (1997): 11. Para essa discussão, ver George 7. Frank Moore Cross, Canaanite
377-387. E. Mendehall, Law and Covenant in Myth and Hebrew Epic: Essays in the
7. Gordon J, Wenham, Number: An Israel and the Ancient Near East (Pit- History of the Religion of Israel (Cam-
Introduction and Commentary, Tyndale tsburgh: Biblical Coloquium, 1955), bridge, Mass.: Harvard University
Old Testament Commentary (Downers 32-34.^ Press, 1973), 274-289.
Grove/Leicester: InterVarsity, 1981), | 12. Êx 20-25 e Js 24. Para uma dis­ 8. Duane L. Christensen, “Deute­
126-127). cussão e introdução à extensa biblio­ ronomy in Modern Research: Approa-
8. Wenham, Numbers, 150. grafia sobre esse tópico ver John H. ches and Issues”, in A Song of Power
9. Ibid., 164. Walton, Ancient Israelite Literature in and the Power of Song: Essays on the
Its C ultural C ontext: A Survey of Paral­ Book of Deuteronomy, org. Duane L.
Capítulo 9: Deuteronômio — A res­ ieis between Biblical and Ancient Near Christensen para Biblical and Theo-
tauração da aliança Eastern Texts (Grand Rapids: Zonder­ logical Study 3 (Winona Lake, Ind.:
1. A Septuaginta traduziu incorre­ van, 1989), 94-109. Eisenbrauns, 1993), 16.
tamente a frase “cópia desta lei” em Dt 13. Ou seja, os nove primeiros li­ 9. Childs, Introduction, 231-233.
17.18 como to deuteronómin touto, “esta vros do Cânon hebraico, omitindo Rute 10. Talmude, Baba Bathra 15a.
segunda lei”. e contando Samuel e Reis como um 11. Sara Japhet, I and II Chronicles:
2. Duane L. Christensen, Deutero­ livro cada (Gênesis, Exodo, Levítico, A Commentary, Old Testament Library
nomy 1-11, Word Biblical Commenta­ Números, Deuteronômio, Josué, Juizes, (Louisville: Westminster/John Knox,
ry 6A (Dallas: Word, 1991), XLI. 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis). David Noel 1993), 3-5; H. G. Williamson, I and2
3. Victor E Hamilton, Handbook on Freedman, The Unity of the Hebrew Chronicles. New Century Bible Com­
the Pentateuch: Genesis, Exodus, Levi­ Bible (Ann Arbor: University of Mi- mentary (Grand Rapids/Londres: Eerd-
ticus, Numbers, Deuteronomy (Grand chigan Press, 1991), 15. mans/Marshall, Morgan &. Scott,
Rapids: Baker, 1982), 406-408. 1982), 5-11.
Capítulo 10: Introdução aos Livros 12. Talmude, Baba Bathra 14b.
4. Essas palavras aparecem em uma
Históricos— A história de Israel como 13. Talmude, Baba Bathra 15a; Jo-
forma ou outra em 5.29; 6.2,5,13, 24;
nação sephus, Antiquities, 6.6.1.
7.9; 8.6; 10.12, 20; 11.1, 13,22.
5. No contexto da aliança, o amor 1. Talmude, Baba Bathra 14b e 15a.
Capítulo 11: Josué — Conquista e
sempre estava ligado ao comprometimen­ 2. Gordon J. Wenham, “History and
to à obediência, WilliamL. Moran, “The the Old Testament”, in History, divisão
Ancient Near Eastcr Background of the Criticism and Faith: Four Exploratory 1. Marten H. Woudstra, The Book
Love of God in Deuteronomy”, Catholic Studies, org. Colin Brown (Downer ofJosué, New International Commen­
Biblical Quarterly 25 (1963): 77-87. Grove/Leicester: InterVarsity, 1976), tary on the Old Testament (Grand
6. Stephen A. Kaufman, “The 13-75; V. Philips Long, The Art of Rapids: Eerdmans, 1981), 5-13, apre­
Structure of the Deuteronomic Law”, Biblical History (Grand Rapids: Zon­ senta um sumário completo das ques­
Maarav 1, n2 2 (1978-79): 147. dervan, 1994), 88-119. tões de autoria e data.
7. Para esse desenvolvimento da ob­ 3. Elmcr A. Martens, “The Oscilla- 2. William F. Albright, “Archeology
servação de Kaufman, ver John H. ting Fortunes of ‘History’ within the and the Date of the Hebrew Conquest
Walton, “Deuteronomy: An Exposition Old Testament Theology”, in Faith, of Palestine”, Bulletin ofthe American
of the Spirit of the Law”, Grace Theo- Tradition, and History: Old Testament Schools of Oriental Research 58 (1935):
logical Journal 8, n2 2 (1987): 213-225. Historyography in Its Near Eastem Con- 10-18; Keneth A. Kitchen, Ancient
8. Para as várias maneiras em que text, org. A. R. Millard, James K. Orient and Old Testament (Downers
Dt 27-34 pode ser delineado, ver J. A. Hoffmeier, and Davis W. Baker Grove: InterVarsity, 1966), 57-75.
Thompson, Deuteronomy: An Intro- (Winona Lake, Ind.: Eisenbrauns, 3. Ver exemplo em Eugene H.
duetion and Commentary, Tyndale Old ; 1994), 313-340. Merrill, Kingdom of Priests: A History
Testament Commentary (Downers 4. O Talmude atribui a autoria de of Old Testament Israel (Grand Rapids:
Grove/Leicester: InterVarsity, 1974), Juizes e Samuel a Samuel (Baba Bathra Baker, 1987), 64-65.
14-21. I 14b). 4. As palavras de Calebe para Josué
9. George E. Mendenhall, “Sa- 5. Brevard, S. Childs, Introduction to (Js 14-7, 10) indicam um período de
muel’s Broken Rib; Deuteronomy 32” the Old Testament as Scripture, (Filadél­ , quarenta e cinco anos entre Moiscs ter
in No Famine in the Land: Studies in I fia: Fortress, 1979), 230-231. I mandado espias para Canaã (Nm 13-
494
Notas

14) e a situação atual de Calebe. Israel 4. Eugene H. Merrill, Kingdom of Ancient Near Eastern Texts (Grand
passou quarenta anos no deserto, mais Priests: A History of Old Testament Is­ Rapids: Zondervan, 1989), 119; e Si-
um ou dois desses anos foi no Monte rael (Grand Rapids: Baker, 1987), 181. mon J. DeVries, I Kings, Word Bihli-
Sinai, recebendo a Lei de Deus (Nm 5.Dt 17.1440 previu o dia em que cal Commentary 12 (Waco. Tex.: Word,
10. 11, 12). um rei iria governar Israel; ver Merrill, 1985), XXIX-XXXIII.
Kingdom and Priests, 189-190. 3. Mordechai Cogan e Hayim
Capítulo 12: Juizes e Rute — A crise 6. Leon J. Wood, IsraeVs United Tadmor, II Kings: A New Translation
moral de Israel Monarchy (Grand Rapids: Baker, with Introduction and Commentary,
1. R. K. Harrison, Introduction to 1979), 167;Joyce G. Baldwin, 1 and 2 Anchor Bible 11 (Garden City, N.Y.:
the Old Testament (Grand Rapids: Eerd­ Samuel: An Introduction and Commen­ Doubleday, 1988), 3.
mans, 1969), 680-681. tary, Tyndale Old Testament Commen­ 4. Ver Donald J. Wiseman, 1 and 2
2. Brevard S. Chiids, Introduction to tary (Downers Grove/Leicester: Inter- Kings: An Introduction and Commenta­
the Old Testament as Scripture (Filadél­ Varsity, 1988), 159-160; Bem F. ry, Tyndale Old Testament Commen­
fia: Fortress, 1979), 258-259. Philbeck Jr., “1 — 2 Samuel”, in Broad- tary (Downers Grove/Leicester: Inter-
3. Artur E. Cundall e Leon Morris, man Bible Commentary, org. Clifton Varsity, 1993), 40-43.
Judges and Ruth, An Introduction and Broadman, 1970,3: 81-82. 5. A. R. Millard, “Israelite and Ara-
Commentary, Tyndale Old Testament 7. Evidências arqueológicas mos­ mean History in the Light of Inscrip-
Commentary (Downers Grove: Inter- tram que Bete-Sã era uma cidade im­ tions”, Tyndale Bulletin, 41, n22 (1990):
Varsity, 1968), 30. portante muito antes dos tempos Bí­ 261-275.
4. Para mais informações sobre esse blicos; ver “Beth-Shean” em Holman 6. Eugene H. Merrill, Kingdom of
problema ver Cundall e Morris, Judges Bible Dictionary, org. Trent C., Butler Priests: A History of Old Testament Is­
and Ruth, 30-33. (Nashville: Holman, 1991), 174475. rael (Grand Rapids: Baker, 1987), 294-
5. Martin Noth, The History of Is­ 7. “Homem de Deus” é o sinônimo
Capítulo 14: 2 Samuel — O reinado
rael, trad. Stanley Gidman, 2- ed. (Nova predileto desse autor para “profeta”.
de Davi
York: Harper &Row, 1960), 85-97; e Ele ressalta a autoridade divina do pro­
ver David M. Howard Jr., An Introduc- 1. Para uma boa cronologia sugerida feta, cujas palavras sabia-se que eram
tion to the Old Testament Histórica1Books do reinado de Davi ver Eugene H. verdade. Esse autor usou o termo com
(Chicago: Moody, 1993), 108,109. Merril, Kingdom of Priests: A History of freqüência para Elias e Eliseu (Wise­
6. Recentemente, estudiosos têm Old Testament Israel (Grand Rapids: man, Kins, 142-143).
questionado se era realmente um caso Baker, 1987), 243-248. 8. Herbert Donner, “The Separa te
de casamento de levirato. Nossa com­ 2. Bill T. Arnold, “The Amalekite’s States of Israel and Judah”, in Israelite
preensão legal dessa passagem está lon­ Report of SauTs Death: Political Intri­ andJudean History, org. John H. Hayes
ge de ser completa. Para discussão dos gue or Incompatible Sources V\ Journal e J. Maxwell Miller (Filadélfia: West­
problemas ver Robert L. Hubbard Jr., of the Evangelical Theological Society minster, 1977), 401-405.
The Book of Ruth, New International 32 (1989): 289-298. 9. John Gray, I & II Kings: A Com­
Commentary on the Old Testament 3. Merril, Kingdom of Priests, 237. mentary, 2- ed. Old Testament Library
(Grand Rapids: Eerdmans, 1988), 48-62. 4. Leon J. Wood, IsraePs United (Filadélfia: Westminster, 1970), 395,396.
Monarchy (Grand Rapids: Baker,
Capítulo 13: 1 Samuel — Deus con­ 1979), 229-230, discute a provável Capítulo 16: 2 Reis — O fim de Is­
cede um rei estratégia de Davi naquela situação; ver rael como nação

1. Para uma boa discussão sobre também Merril, Kingdom of Priests, 234. 1. Donald J. Wiseman, 1 and 2 Kings:
essas pessoas ver David M. Howard 5. Muitos acreditam que Quileabe An Introduction and Commentary,
Jr., “The Philistines”, in People of the (2Sm 3.3), o segundo filho de Davi, Tyndale Old Testament Commentary
Old Testament World, org. Alfred J. morreu ainda jovem, pois não ouvi­ (Downers Grove/Leicester: InterVar-
Hoerth, Gerald Mattingly e Edwin M. mos mais falar dele no desenrolar da sity, 1993), 193-194.
Yamauchi (Grand Rapids: Baker, 1994), narrativa. 2. R. K. Harrison, Introduction to
231-220. 6. Merril, Kingdom of Priests, 253 the Old Testament (Grand Rapids: Eerd­
2. Carl Frederich Keil e Franz Delit- sugere que esse acontecimento ocorreu mans, 1969), 727-728.
zsch, Commentary on the Old Testament, por volta da metade da década 990 a.C. 3. James B. Pritchard, org., Ancient
10 vols. (Grand Rapids: Eerdmans, 7. Ibid., 254. Near Easter Texts Relating to the Old
1978), 3: 1; Ralph W. Klein, 1 Samuel, Testament, 3-ed. (Princeton, N.J.: Prin-
Capítulo 15: 1 Reis — A glória de
Word Biblical Commentary 10 (Waco, ceton University Press, 1969), 281.
Salomão e o princípio do fim
Tex.: Word, 1983), XXV; sugere algu­ 4. Sargão dizia com orgulho que
mas explicações sobre os livros serem 1. Talmude, Baba Bathra, 15a. havia acabado com tudo e deportado a
divididos como são. 2. John H. Walton, Ancient Israelite população (Pritchard, 284).
3. ICo 6.33,34 determina a ligação Literature in Its Cultural Context: A 5. Para mais informações, ver Wise­
levítica. Survey of Parallels between Biblical and man, Kings, 18-26; e David M. Howard
495
Notas

Jr., An Introduction to the Old Testa­ 2 vols (Nova York: Harper &. Row, | Nehemiah, Esther, 9-10; e Freedman,
ment Historical Books (Chicago: Moody, 1962-1965), 1: 349; ver também Ezra and Nehemiah, 1-4.
1993), 197-203. Dillard, 2 Chronicles; Williamson, I and 10. Williamson, Ezra, Nehemiah,
2 Chronicles, 31-33.
6. Brevard S. Childs, Introduction to XXXV.
the Old Testament as Scripture (Filadél­ 11. Howard, Introduction, 256-260. 11. Para um sumário dos argumen­
fia: Fortress, 1979), 291-292. 12. Williamson, I and 2 Chronicles, tos, ver Eugene H. Merrill, Kingdom of
7. Gerhard von Rad, Old Testament 132-134. Priests: A History of Old Testament Is­
Theology, trad. D. M. G. Stalker, 2 vols. 13. Ibid., 26-27. rael (Grand Rapids: Baker, 1987), 503-
(Nova York: Harper & Row, 1962' 14. Roddy Braun, 1 Chronicles, 506; e David M. Howa rds J r., An Intro -
1965), 1: 340-343. Word Biblical Commentary 14 (Waco, duetión to the Old Testament Historical
Tex.: Word, 1986), XXIX-XXXXI; e Books (Chicago: Moody, 1993), 281-283.
Capítulo 17: 1 e 2 Crônicas — Uma Howard, Introduction, 261-263. 12. H.G.M. Williamson, Ezra and
retrospectiva Nehemiah. Old Testament Guides
Capítulo 18: Esdras, Neemias e Ester I (Sheffielldd:JSOX 1987), 81.
1. Talmude. Baba Bathra, 15a.
— Tempo de reconstruir
2. Para um sumário e uma revisão
Capítulo 19: Introdução aos Livros
desse ponto de vista tradicional, ver J. 1. David J. A. Clines, Ezra,
Poéticos — A literatura do povo de
Barton Paync, “ 1, 2 Chronicles”, in Nehemiah, Esther, New Century Bible
Deus
Expositors Bible Commentary, org. Frank Commentary (Grand Rapids/Londres:
E. Gaebelein, 12 vols (Grand Rapids: Eerdmans/Marshall, Morgan & Scott, 1. David L. Peterson e Kent Harold
Zondervan, 1979'1992), 4: 304-306. 1984), VII. Richards, Interpreting Hebreiv Poetry,
3. David Noel Freedman, “The 2. Bryan E. Byer, “Zerubbabel”, in Guides to Biblical Scholarship
ChroniclePs Purpose”, Catholic Biblical Anchor Bible Dictionary, org. David (Minneapolis: Fortress, 1992), 2-6; R.
Quarterly 23 (1961): 436-442; Sara Noel Freedman, 6 vols. (Nova York: K. Harrison, “Hebrew Poetry”, in Zon­
Japhet, “The Supposed Common Doubleday, 1992), 6: 1085; e H. G. dervan Pictorial Encyclopedia of te Bible,
Authorship of Chronicles and Ezra- M. Williamson, Ezra, Nehemiah, Word ! org. Merrill C. Tenney, 5 vols. (Grand
Nhemiah Investigated Anew”, Vetus Biblical Commentary 16 (Waco, Tex.: Rapids: Zondervan, 1976), 3: 76-87.
Testamentum 18 (1968): 330-371 e 1 Word, 1985), 17,32-33. 2. Para um sumário conciso da ques­
& II Chronicles, Old Testament Library 3. Williamson, Ezra, Nehemiah, tão, ver Harrison, “Hebrew Poetry”,
(Louisville: Westminstcr/John Knox, 49-50. 80-81.
1993), 3-5; Frank Moore Cross, “A 4. Um recurso literário conhecido 3. Robert Alter, The Art of Biblical
Reconstruction of the Judean Restora' como “continuação repetitiva” que Poetry (NovaYork: Basic, 1985), 3-26;
tion”, Journal of Biblical Literature 94 volta para o fluxo de narrativa que foi ; Robert Lowth, Lectures on the Sacred
(1974): 4-18; H. G. M. Williamson, quebrado por uma inserção ou digres­ | Poetry ofthe Hebrews, trad. G. Gregory
Israel in the Books of Chronicles (Nova são, nesse caso, 4: 623. Williamson, (Boston/Nova York: Crocker &
York/Cambridge: Cambridge Univer- Ezra, Nehemiah, 57; e F. Charles Fen- Brewster/J. Leavitt, 1829 [1787]).
sity Press, 1977), 5-70 e I and 2 Chro­ sham, The Books ofEzra and Nehemiah. 4. C. Hassel Bullock, An Introduction
nicles, New Century Bible Commen­ New International Commentary on the to the Old Testament Poetic Books, Ed.
tary (Grand Rapids/Londres: Eerd- Old Testament (Grand Rapids: Eerd­ rev. (Chicago: Moody, 1988), 45-46.
mans/Marshall, Morgan & Scott, mans, 1982), 69-70. 5. Robert L. Alden, Psalms: Songs
1982), 5-11. 5. Clines, Ezra, Nehemiah, Esther, ofDevotion (Chicago: Moody, 1974), 24.
4. Raymond B. Dillard e Tremper 116-118. 6. Para uma boa pesquisa sobre os
Longman III, An Introduction to the Old 6. Williamson, Ezra, Nehemiah, 172; estudos ugaríticos, ver Peter C. Craigie,
Testament (Grand Rapids: Zondervan, e Joseph Blenkinsopp, Ezra-Nehemiah: Ugarit and the Old Testament (Grand
1994), 171-172. A Commentary, Old Testament Library Rapids: Eerdmans, 1983).
5. David M. Howard Jr., An Intro- (Filadélfia: Westminster, 1988), 204-
duetion to the Old Testament Historical 207. Capítulo 20: Jó — Um homem à pro­
Books (Chicago: Moody, 1993), 234. 7. Fensham, Ezra and Nehemiah, \ cura de justiça
6. Williamson, 1 and 2 Chronicles, 171-172. 1. Para uma bibliografia e discussão
23. 8. Mark A. Throntveit, Ezra- extensa, ver John H. Walton, Ancient
7. Ibid., 92-95. Nehemiah, Interpretation (Louisville: Israelite Literature in Its Cultural Con-
8. Ibid., 225-226. Westminster/dohn Knox, 1992), 92. text: A Survey of Parallels between
9. Esse versículo é um tipo de “es­ 9. Sara Japhet, “The Supposed Biblical and Ancient Near Eastern Texts
critura” para o resto da história de Is­ Common Authorship of Chronicles and (Grand Rapids: Zondervan, 1989),
rael (Raymond B. Dillard, 2 Chroni­ Ezra-Nehemiah Investigated Anew”, 169-197.
cles, Word Biblical Commentary 15 Vetus Testamentuml8 (1968): 330-371; 2. Ibid., 178.
(Waco, Tex.: Word, 1987), 77-78. e Williamson, Ezra, Neliemiah, XXXIII- 3. W. G. Lambert, Babylonian
10. Gerhard von Rad, Old Testa­ XXXVI. Entretanto, essa posição não Wisdom Literature (Oxford: Clarendon,
ment Theology, trad. D. M. G. Stalker, é amplamente aceita. Org. Clines, Ezra, 1960), 1.

496
Notas

4. Walton., Israclite Literature, 183-185. 2. Kidner, Psalms, 4-7; John Dur- Introduction, Translation, and Notes,
5. Lambert, Babylonian Wisdom Li­ ham, “Psalms”, in Broadman Bible Com­ Anchor Bible 18 (Garden City, N.Y.:
terature, 21-91. mentary, org. CliftonJ. Allen, 11 vols. Doubleday, 1965), 130-131.
6. Para uma discussão sobre os pa­ (Nashville: Broadman, 1970), 4: 153- 8. Robert L. Alden, Proverbs, A
ralelos, ver Walton, Israelite Literatu­ 154; Carl Friederich Keil e Franz Commentary on an Ancient Book of
re, 175-197. Delizsch, Commentary on the Old Tes­ Timeless Advice (Grand Rapids: Baker,
7. John E. Goldingay e Christopher tament, 10 vols. (Grand Rapids: Eerd­ 1983), 10, e Garrett, Proverbs, 46-48.
J. H. Wright, “‘Yahweh Our God mans, 1978), 5: 14-19. 9. Kidner, Proverbs, 23, 149-150.
Yahweh is One’: The Oneness of God 3. Kidner, Psalms, 36-43; Kraus, 10. J. Ruffle, “The Teaching of Ame-
in the Old Testament”, in One God, Psalms, 21-32. nemope and Its Connection with the
One Lord: Christianity in a World of 4. Herman Gunkel, The Psalms: A Book of Proverbs”, Tyndale Bulletin 28
Religious Pluralism, org. Andrew D. Form-Criticai Introduction, trad. Tho- (1977): 33,34.
Clark e Bruce W. Winter, 2- ed. (Grand mas M. Horner (Filadélfia: Fortress, 11. Garret, Proverbs, 46.
Rapids; Carlisle, England: Baker/ 1967). 12. Kenneth A. Kitchen, “Proverbs
Paternoster, 1992), 44-45. 5. Para uma rápida visão geral, ver and Wisdom Books of the Ancient
8. Glendon, E. Bryce, A Legacy of Gene M. Tucker, Form Criticism of the Near East: The Factual History of a
Wisdom: The Egyptiam Contribution to Old Testament, Guides to Biblical Literary Form”, Tyndale Bulletin 28
the Wisdom of Israel (Lewisburg, Pa; Scholarship (Filadélfia: Fortress, 1971). (1977): 69-114; e Garret, Proverbs, 39-
Londres: Bucknell University Press/ A série de comentários Forms of the 46, 52.
Associated University Presses, 1979). Old Testament Literature (Grand Ra­ 13. Gerhard von Rad, Wisdom in
9. Francis I. AndersenJob: Anlntro- pids: Eerdmans) usa esse método no Israel, trad. James D. Martin (Valley
duction and Commentary, Tyndale Old Antigo Testamento. Forge, Pa.: Trinity Press International,
Testament Commentary (Downers 1993 [1972]), 61-64.
Grove/Leicester: InterVarsity, 1976), 94- Capítulo 22: Provérbios — Conselhos
10. John E. Hartley, The Book of sobre como viver no mundo de Deus Capítulo 23: Eclesiastes e Cântico
Job, New International Commentary on 1. Gordon Fee e Douglas Stuart, dos Cânticos — A fé israelita na vida
the Old Testament (Grand Rapids: diária
How to Read the Bible for A 11Its Worth,
Eerdmans, 1988), 85. ed. rev. (Grand Rapids: Zondervan, 1. R. K. Harrison, Introduction to
11. R. K. Harrison, Introduction to 1993), 218. the Old Testament (Grand Rapids: Eerd­
the Old Testament (Grand Rapids: Eerd­ 2. Há cinco verbos em hebraico na mans, 1969), 1072; R. B. Y. Scott, Pro­
mans, 1969), 1027. forma infinitiva traduzidos com fre­ verbs, Ecclesiastes: Introduction, Trans­
12. Hartle, Job, 15-20. qüência usando-se “para” nas traduções lation and Notes, Anchor Bible 18 (Gar­
13. Andersen, Job, 67. mais antigas. Por exemplo, “para en­ den City, N.Y.: Doubleday, 1965), 196.
14. M atittiahu Tsevat, “The tender as palavras de inteligência; para 2. Duane A. Garret, Proverbs, Ec­
Meaning of the Book of Job”, in The obter o ensino do bom proceder...”. clesiastes, Song of Songs. New Ameri­
Meaning of the Book of Job and Other 3. Derek Kidner, The Proverbs: An can Commentary 14 (Nashville: Broad­
Biblical Studies: Essays on the Literatu­ Introduction and Commentary, Tyndale man, 1993), 282,283.
re and Religion of the Hebrew Bible Old Testament Commentary (Downers 3. Ibid., 344.
(Nova York/Dallas: Ktav/Institute for Grove/Leivester: InterVarsity, 1964), 59. 4. Já foi sugerido que o livro era
Jewish Studies, 1980), 36-27. 4. E possível isolar ate quinze dis­ originalmente em aramaico e depois foi
15. Andersen, Job, 71. cursos separados em 1.8-9.18; C. traduzido, ou que foi escrito sob forte
Hassel Bullock, An Introduction to the influência lingüística fenícia-cananita
Capítulo 21: Salmos — O livro de Old Testament Poetic Books, ed. rev.
(Ibid., 254-255,258-261; e Scott, Pro­
cânticos da antiga Israel
(Chicago: Moody, 1988), 165-71. verbs, Ecclesiastes, 192).
1. Aqueles que acreditam que o ter­ 5. Duane A. Garrett, Proverbs, Ec- 5. Daniel C. Fredericks, QoheleFs
mo refere-se ao rei Coré de Nm 16,17 clesiastes, Song of Songs, New Ameri­ Language: Re-evaluating Its Nature and
incluem Derek Kidner, Psalms 1—72: can Commentary 14 (Nashville: Broad­ Date (Lewiston, N.Y.: Mellen, 1988),
An Introduction and Commentary, man, 1993), 88. ver especialmente 266-278.
Tyndale Old Testament Commentary 6. O hebraico tem apenas dois gê­ 6. Garrett acredita que o livro mos­
(Downers Grove: InterVarsity, 1973), neros, masculino e feminino (não há tra um desenvolvimento gradual de
35; outros pontos de vista incluem um gênero neutro como no inglês “it”). Salomão distanciando-sc de seu papel
Hans-Joachim Kraus, Psalms 1-59: A Substantivos para conceitos abstratos como monarca e assumindo o papel de
Commentary1, trad. Hilton C. Oswald tais como retidão, amor e lei são femi­ mestre. O título “Qohelet” permite que
(Minneapolis: Augsburg, 1988), 438, ninos. Sabedoria é um substantivo fe­ ele fale não como o monarca absoluto,
439; e Artur Weiser, The Psalms: A minino (hokma), portanto é personifi­ mas como um professor que “já foi” rei
Commentary, trad. Herbert Hartwell, cada aqui como uma mulher. (Garrett, Proverbs, 264).
Old Testament Library (Filadélfia: 7. Para classificação por tópicos, ver 7. Ibid., 374-376; e Othmar Keel,
Westminster, 1962), 97,98. R. B. Y. Scott, Proverbs, Ecclesiastes: The Song of Songs: A Continental Com-

497
Notas

mentary, trad. Frederick J. Gaiser tural Context: A Survey of Parallels clássico do nascimento de Cristo e suas
(Minncapolis: Fortress, 1994), 15-17. between Biblical and Ancient Near implicações.
8. Ver Garrett, Proverbs, 352-366 Eastern Texts (Grand Rapids: Zonder­ 6. J. Robertson McQuilkin, Unders-
para um sumário dos diferentes pontos van, 1989), 201-216. tanding and Applying the Bible, ed. rev.
de vista. 6. Os assírios eram semitas, assim (Chicago: Moody, 1992), 267-270.
9. Ibid., 376; e William H. Shea, como os hebreus; Gn 10.10-12 coloca 7. James B. Pritchard, org., Ancient
“The Classic Structure of the Song of os assírios na genealogia de Abraão. Near Eastern Texts Relating to the Old
Songs”, Zeischriftfür die alttestamentli- 7. Para uma boa discussão sobre os Testament, 3-ed. (Princeton, N.J.: Prin­
che Wissenschaft 92 (1980): 378-396. assírios, ver William C. Gwaltnwy Jr., ceton University Press, 1969), 287.
10. Keel, Song of Songs, 17. “Assyrians”, in People ofthe Old Testa­ 8. Oswalt, Isaiah, 490-491, oferece
11. Ibid., 19. ment World, org. Alfrcd J. Hoerth, uma discussão breve, porém completa
12. Esse pronome não é incomum Gerald L. Mattingly e Edwin M. sobre a questão. Ver também Ap 12.9
nos cânticos de amor egípcios; ver Yamauchi (Grand Rapids: Baker, 1994), e 20.2, onde Satanás é descrito como
Papyrus Chester Beatty I, grupo A, nQ 77-106: e William W. Hallo, “From uma serpente e um dragão.
32: “Ele não sabe o meu desejo de Qarqar to Carchemish: Assyria and Is­ 9. Oswalt, Isaiah, 526.
abraçá-lo... O irmão, eu fui separada rael in the Light of New Discoveries”, 10. Dennis J. McCarthy, Treaty and
para ti pelo Ser Dourado, venha até Biblical Archeologist 23 (1060): 34-61. Covenant: A Study in Form in the An­
aqui para que eu possa ver tua beleza!” 8. Para mais leituras sobre os babi­ cient Oriental Documents and in the Old
(Michaei V. Fox, The Song of Songs lônios, ver Joan Oates, Babylon, cd. rev. Testament, 2- ed. (Rome: Biblical Ins-
and the Ancient Egyptian Love Songs (Londres: Thames &Hudson, 1986); titute Press, 1978), oferece um estudo
[Madison, University of Wisconsin e Bill T. Arnold, “Babylonians”, in de toda a questão de alianças no mun­
Press, 1985],52-53). Peoples ofthe Old Testament World org. do antigo,
13. Tom Gledhill, The Message ofthe Alfred J. Hoerth, Gerald L. Mattingly | 11. Wolf, Interpreting Isaiah, 171;
Song of Songs: The Lyrics ofLove, The e Edwin M. Yamauchi (Grand Rapids: John H. Walton, “New Observations
Bihle Speaks Today (Downers Grove/ Baker, 1994), 43-75. on the Date of Isaiah”, Journal of the
Leivester: InterVarsity, 1994), 91-92. 9. Para uma discussão sobre os persas, Evangelical Theology Society 28 (1985):
14. Ibid., 23. ver Edwin M. Yamuchi, “Persian” in 129-132.
15. C. Hassell Bullock, An Intro- Peoples of the Old Testament World org. 12. Oswalt, Isaiah, 631, dá um bre­
duetion to the Old Testament Poetic Books Alfred J. Hoerth, Gerald L. Mattingly e ve sumário da questão; ver também
rev. org. (Chicago: Moody, 1988), 207; Edwin M. Yamauchi (Grand Rapids: Edwin R. Theiel, The Mysterious Num-
c Raymond B. Dillard e Tremper Baker, 1994), 107-124; ou a obra mais bers of the Hebrew Kings: A Recons-
Longman III, An Introduction to the Old completa de Yamauchi Persia and the truetion of the Chronology of the King-
Testament (Grand Rapids: Zondervan, Bible (Grand Rapids: Baker, 1990). doms of Israel and Judah, ed. rev. (Grand
1994), 264-265. Rapids: Eerdmans, 1965), 119-123,
Capítulo 25: Isaías 1-39 — Profeta I 132-136, 182-191.
Capítulo 24: Os profetas — Vozes dos da corte real de Judá 13. Oswalt, Isaiah, 674. O assunto
servos de Deus 1. Alfred Martin e John A. Martin, é relacionado com a discussão dos ca­
1. Para uma discussão detalhada Isaiah: The Glory of the Messiah (Chi­ pítulos 36-39.
sobre o papel de Moisés, Samuel e Elias cago: Moody, 1983), 56-57; Franz 14- “Merodach-baladan”, in Zonder­
no desenvolvimento do ofício proféti­ Delitzsch, Commentary on the Old Tes­ van Pictorial Encyclopedia of the Bible,
co, ver Willem A. VanGemeren, Inter- tament, 10 vols. (Grand Rapids: Eerd­ org. Merrill C. Tenney, 5 vols. (Grand
preting the Prophetic Word (Grand mans, 1978), 7: 226-228. Rapids: Zondervan, 1976), 4:191-192.
Rapids: Zondervan, 1990), 27-40. 2. John N. Oswalt, The Bookof Isaiah:
Capítulo 26: Isaías 40-66 — Gran­
2. Ver exemplo em ISm 9.9; Am Chapters 1-39, New International Com­
7.12, 14. mentary on the Old Testament (Grand des dias estão por vir!
3. Os estudiosos medievais judeus Rapids: Eerdmans, 1986), 208; Herbert 1. John N. Oswalt, The Book of Isaiah:
Rashi e David Kimchi sugeriram isso M. Wolf, Interpreting Isaiah: The Suffe- Chapters 1—39, New International Com­
em seus comentários hebraicos sobre ring and Glory of the Messiah (Grand mentary on the Old Testament (Grand
Isaías, mas a tradição não tem nada que Rapids: Zondervan, 1985), 91-92. Rapids: Eerdmans, 1986), 17-28, ofe­
apoie. 3. Wolf, Interpreting Isaiah, 90-92; rece um sumário detalhado da questão.
4. James B. Pritchard, ed., Ancient Ronald F. Youngblood, The Book of 2. S. R. Driver, Introduction to the
Near Eastern Texts Relating to the Old Isaiah: An Introductory Commentary, 2. Literature of the Old Testament, 9- ed.
Testament, 3âed. (Princeton, N.J.: Prin- org. (Grand Rapids: Baker, 1993), 47- (Edimburgo: T. &T. Clark, 1913), 238-
ceton University Press, 1969), 608. 49: Oswalt, Isaiah, 209-213. 240, oferece um sumário das questões
5. Para uma comparação mais com­ 4. Martin e Martin, Isaiah, 56. críticas relativas a Isaías 40-66.
pleta de materiais bíblicos e do antigo 5. J. Gresham Machen, The Virgin 3. Claus Wcstcrmann, Isaiah 40-66,
Oriente Próximo, ver John H. Walton, Birth of Christ, 2-cd. (Nova York: Har- ttad. D. M. G. Stalker (Londres: SCM,
Ancient Israelite Literature in Its Cul­ per, 1932), oferece um ponto de vista 1969), 296.

498
Notas

4. Oswalt, Isaiah, 25-28; Herbert 8. James B. Pritchard, org., Ancient 6. C. Hassell Bullock, An Introduc-
M. Wolf, Interpreting Isaiah: The Suffe- Near Eastern Texts Relating to the Old tion to the Old Testament Prophetic Books
ring and Glory of the Messiah (Grand Testament, 3â ed. (Princeton, N.J.: Prin- (Chicago: Moody, 1986), 248,249;
Rapids: Zondervan, 1985), 31-36. ceton University Press, 1969), 308. Taylor, Ezekiel, 251-254-
9. Ver Bullock, Prophetic Books, 7. Feinberg, Ezekiel, 223-239.
Capítulo 27: Jeremias 1-20 — Em 270-271 e Harrison, Jeremiah and La­ 8. Willem A. Van Gemeren, Inter-
conflito com o chamado de Deus mentations, 197,198 para um sumário preting the Prophetic Word (Grand Ra­
1. J. A. Thompson, The Book of dessas questões-chave. pids: Zondervan, 1990), 334-338.
Jeremiah, New International Commen­ 9. Taylor, Ezekiel, 253-254.
Capítulo 29: Ezequiel 1-24 — Dias
tary on the Old Testament (Grand
difíceis estão por vir! Capítulo 31: Daniel — O reino de
Rapids: Eerdmans, 1980), 51,52.
2. Thompson, 43; R. K. Harrison, 1. John B. Taylor, Ezekiel: An Intro- Deus — Agora e para sempre
Jeremiah and Lamentations: An Intro- duction and Commentary, Tyndale Old 1. Para mais do que se segue aqui,
duction and Commentary, Tyndale Old Testament Commentary (Downers ver John J. Collins, Daniel: Withanlntro-
Testament Commentary (Downers Grove: InterVarsity, 1969), 14-16. duetion to Apocalyptic Literature, Forms
Grove: InterVarsity, 1973), 31,32. 2. Walter Eichrodt, Ezekiel: A Com­ of the Old Testament Literature 20
3. Harrison, Jeremiah and Lamenta­ mentary, trad. Cosslet Quin, Old Tes­ (Grand Rapids: Eerdmans, 1984), 1-24.
tions, 85; Walter Brueggemann, To tament Library (Filadélfia, Westminster, Não há uma lista definitiva para os cha­
Pluck Up, To tear Doivn: A Commenta­ 1970), 52. mados escritos apocalípticos. D. S.
ry on the Book ofJeremiah 1—25 , Inter­ 3. Walter Zimmerli, Ezekiel 1: A Russell listou dezessete livros que se en­
national Theological Commentary Commentary on the Book ofthe Prophet caixam nessa categoria e que vão desde
(Grand Rapids/Edimburgo: Eerdmans/ Ezekiel, Chapters 1-24, trad. Ronald a metade do 2- século a.C. até o 2Qsécu­
Handsel, 1988), 74. E. Clements, Hermenia (Filadélfia: lo d.C., além de muitos outros textos
4. Harrison, Jeremiah and Lamenta­ Fortress, 1979), 139. dos papiros do Mar Morto (The Method
tions, 99; Thompson, Jeremiah, 364; 4. Eichrodt, Ezekiel, 84,85; Taylor, and Message ofjeivish Apocalyptic [Fila­
Brueggemann, To Pluck Up, 121. Ezekiel, 78-81; Charles L. Feinberg, The délfia: Westminster, 1964], 37,38).
Prophecy of Ezekiel: The Glory of the 2. Joyce G. Baldwin, Daniel: An
Capítulo 28: Jeremias 21 -52 e Lamen­ Lord (Chicago: Moody, 1969), 33,34. Introduction and Commentary, Tyndale
tações — Lidando com o desastre 5. Feinberg, Ezekiel, 51,52; Taylor, Old Testament Commentary (Downers
1. J. A. Thompson, The Book of Ezekiel, 99. Grove: InterVarsity, 1978), 53-59.
Jeremiah, New International Commen­ 6. Taylor, Ezekiel, 171; Eichrodt, 3. As datas aproximadas das visões
tary on the Old Testament (Grand Ra­ Ezekiel, 321,322; Zimmerli, Ezekiel, são as seguintes: capítulo 7 cm 553 a.C.;
pids: Eerdmans, 1980), 551; Walter 483,484. capítulo 8 em 551 a.C.; capítulo 9 em
Brueggemann, To Build, To Plant: A 539 a.C. e capítulos 10-12 em 536 a.C.
Capítulo 30: Ezequiel 2 5 -4 8 — Essas datas se sobrepõem com os acon­
Commentary on Jeremiah 26-52, Inter­
Deus está planejando um futuro tecimentos dos capítulos 1—6, portanto
national Theological Commentary
emocionante! o livro tem uma organização literária
(Grand Rapids/Edimburgo: Eerdmans/
Hansel, 1991), 39; R. K. Harrison, 1. Charles L. Feinberg, The Prophe­ (narrativas e visões) e não-cronológica.
Jeremiah and Lamentations: An Intro- cy of Ezekiel: The Glory of the Lord 4. Bill T. Arnold, “Wordplay and
duction and Commentary, Tyndale Old (Chicago: Moody, 1969), 161-164. Narrative Techniques in Daniel 5 and
Testament Commentary (Downers 2. John B. Taylor, Ezekiel: An Intro- 6” in Journal of Biblical Literature 112
Grove: InterVarsity, 1973), 133; e duction and Commentary, Tyndale Old (1993): 479-485.
Hassell Bullock, An Introduction to the Testament Commentary (Downers 5. John E. Goldingay, Daniel, Word
Old Testament Prophetic Books (Chica­ Grove: InterVarsity, 1969), 199; Fein­ Biblical Commentary 30 (Dallas: Word,
go: Moody, 1986), 213 limitam a de­ berg, Ezekiel, 168-169. 1989), 158 e Baldwin, Daniel, 59,60.
signação aos capítulos 30-31. 3. Feinberg, Ezekiel, 197; Taylor, 6. Ernst C. Lucas, “The Origins of
2. Harrison, Jeremiah and Lamenta­ Ezekiel, 220,221; Walter Eichrodt, DaniePs Four Empires Scheme Re-
tions, 170. Ezekiel: A Commeíitary, trad. Cosslet Examined”, Tyndale Bulletin 40, n- 2
3. Thompson, Jeremiah, 696-697. Quin, Old Testament Library (Filadél­ (1989): 185-202, especialmente 192-
4- Josephus, Antiquities 10.9.7. fia: Westminster, 1970), 475-479. 194; Robert M. Gurney, “The Four
5. Estudiosos discordam sobre qual 4. Eichrodt, Ezekiel, 522,523; Tay­ Kingdoms of Daniel 2 and 7”, Theme-
profeta emprestou de quem. Alguns até lor, Ezekiel, 244; Feinberg, Ezekiel, 219- lios 2, nQ2 (1977): 39-45; e John H.
sugerem que Jeremias e Obadias usa­ 221; Walter Zimmerli, Ezekiel 1: A Walton, “DanieFs Four Kingdoms”,
ram uma fonte profética em comum. Commentary on the Book ofthe Prophet Journal of Evangelical Theological So-
6. Thompson, Jeremiah, 723-724. Ezekiel, Chapters 25-48, trad. James ciety 29 (1986): 25-36.
7. Não devemos confundir esta D. Martin. Hermeneia (Filadélfia: 7 .0 aramaico é encontrado cm Gn
Hazor com a Hazor do norte da Gali- Fortress, 1983), 304-305. 31:47 (apenas duas palavras), Ed 4.8-
léia; Thompson, Jeremiah, 726-727. 5. Taylor, Ezekiel, 242-243. 6.18; 7.12-26, Jr 10.11 e Dn 2.4b-7.28.

499
Notas

8. Daniel C. Snell, “Why Is There 25. Para um breve sumário ver 6. A Lei dc Moisés dizia para não
Aramaic in the Biblel”Journal for the Stu­ Gordon J. Wenham, “Daniel: the Basic atar a boca do boi quando ele estava
dy ofthe Old Testament 18 (1980): 32-51. Issues”, Themolios 2, n92 (1977): 49-52. trilhando; dessa forma o animal pode­
9. H. L. Ginsberg, “The Composi- 26. Ez 14.14,20 e na mitologia da ria compartilhar a colheita (Dt 25.4).
tion of the Book of Daniel”, Vetus antiga cidade de Ugarite. 7. Para uma discussão completa des­
Testamentum 4 (1954): 246-275. 27. Especialmente aquelas profecias se assunto, ver Leslie C. Allen, The
10. Bill T. Arnold, “The Use of tratando de reinos (capítulos 2,7 e 8). As Books ofjoel, Obadiah, Jonah and Micah,
Aramaic in the Hebrew Bible: Another profecias das setenta semanas (9.24-27) New International Commentary on the
Look at Bilingualism in Ezra and Da­ e o rei que se exalta acima de Deus (11.36- Old Testament (Grand Rapids: Eerd­
niel”, Journal of Northwest Semitic 45) são tidos como referências apenas a mans, 1976), 19-25.
Languages 22, nQ2 (1996): 1-16. Antioco, sem outro cumprimento. 8. Para uma interessante discussão
11. Lucas, “Four Empires Scheme”, 28. Joyce G. Baldwin argumenta desse procedimento e mais detalhes
194; Gurney, “Four Kingdoms”, 39. que “não há provas claras de uso de sobre os sicômoros, ver W. E. Shewell-
12. Collins, Daniel, 92. pseudônimos no Antigo Testamento e Cooper, Plants, Flowers and Herbs of
13. Robert ]. M. Gurney, “The há diversas evidências contra essa hi­ the Bible (New Canaan, Conn.: Keats,
Seventy Weeks of Daniel 9: 24-27”, pótese” (“Is There Pseudonimity in the 1977), 156,157.
Evangélica! Quarterly 53 (1981): 36. Old Testament?” Themelios 4, nQ 1 9. Ver o pano de fundo de Oséias
14. Collins, Daniel, 65. [1978]: 12). para mais informações.
15. Baldwin, Daniel, 108,109. 29. R. K. Harrison, Introduction to 10. Edwin R. Thiele, The Myste-
16. Paul-Alain Beaulieu, The Reign the Old Testament (Grand Rapids: Eerd­ rious Numbers ofthe Hebrew Kings, 3.
of Nabonidus, King of Babylon, (New mans, 1969), 1127. org. (Grand Rapids: Zondervan, 1983),
Haven, Conn.: Yale University Press, 30. Há vozes dissidentes nos meios 107, 111, 119-120.
1989), 186-188. evangélicos. Goldingay aceita o livro 11. Hans Walter Wolff, Joel and
17. Raymong, E Dougherty, Nabo­ como sendo recente e usando pseudô­ Amos: A Commentary on the Books of
nidus and Beshazzar: A Study of the nimo (Daniel). the Prophets Joel and Amos, org. S. Dean
Closing Events on the Neo-Babylonian McBride Jr., trad. Waldemar Janzen, S.
Empire, (New Haven, Conn.: Yale Uni­ Capítulo 32; Oséias, Joel e Amós — Dean McBride Jr., e Charles -,
versity Press, 1929), 13. Um chamado para o arrependimento Muenchow, Hcrmenia (Filadélfia:
e uma promessa de bênção Fortress, 1977), 124, faz uso de evi­
18. E possível que Belsazar tivesse
sido o verdadeiro poder por trás do 1. J udá aparece sete vezes em Oséias dências arqueológicas de Hazor para
trono enquanto Nabonidas era rei (4.15; 5.5, 10; 6.4, 11; 10.11; 12.3). sugerir a data de 760 a.C. Esse terre­
(Beaulieu Nabonidus, 90-98). 2. As outras referências são: Gn moto deve ter sido bastante grave; Zc
19. E. ]. Young, The Prophecy of 38.24; 2Rs 9.22; Ez 23.11, 29; Os 2.2, 14-5 também o menciona.
Daniel (Grand Rapids: Eerdmans, 4; 4.12; 5.4; Na 3.4 (2 vezes). 12. Essa expressão hebraica “La­
1949), 115-118. 3. E. J. Young, Introduction to the mentar-se” também aparece em Jere­
20. A. R. Millard, “Daniel 1-6 and Old Testament (Grand Rapids: Eerd­ mias e Ezequiel (Jr 7.29; 9.10; Ez 19.1;
History”, Evangelical Quarterly 49 mans, 1949), 245-246 sugere que o 26.17; 27.2, 32; 28.12; 32.2).
(1977): 71,72. casamento e o nascimento de filhos fo­ 13. Jeroboão I (931-909 a.C.) es­
21. John C. Whitcomb, Darius the ram apenas simbólicos e nunca aconte­ tabeleceu os locais de adoração em Dã
Mede: A Study in Historical Identifica­ ceram de fato, mas o texto não dá ne­ e Betei (lRs 12.25-29), e o povo con­
tion (Grand Rapids: Eerdmans, 1959). nhuma indicação de que devemos com­ tinuava usando esses lugares no tempo
Para mais detalhes na discussão que se preender dessa maneira. de Amós. Alguns israelitas também iam
segue, ver Edwin M. Yamauchi, Persia 4. Não se sabe como Gômer perdeu até Berseba, em Judá, aparentemente
and the Bible (Grand Rapids: Baker, sua liberdade. Alguns estudiosos suge­ por causa de sua ligação com Isaque
1990), 58,59. rem que a mulher que Oséias comprou (Gn 26.23-35; Am 7.9, 16).
22. Esse ponto de vista é uma ligei­ 3.1-5 era uma outra mulher, tendo em
ra modificação da teoria “Gubaru”; vista que o texto não especifica o seu Capítulo 33: Obadias, Jonas, Miquéi­
William H. Shea, “Darius the Mede: nome. Porém, se Oséias se casasse com as, Naum, Habacuque e Sofonias —
An Update”, Andrews University Semi- uma outra mulher isso estragaria a ana­ O plano de Deus para as nações
nary Studies 20 (1982): 229-248. logia; Deus não ia se casar com outra 1. Jeffrey J. Niehaus, “Obadiah”, in
23. Donald J. Wiseman, “Some His­ nação, mas sim, restaurar Israel. The Minor Prophets: An Exegetical and
torical Problems in the Book of Daniel”, 5. De acordo com a Lei de Moisés, Expository Commentary, org. Thomas
in Notes on Some Problems in the Book of o sacerdote recebia uma porção da E. McComiskcy, 3 vols (Grand Rapids:
Daniel, Org. Donald J. Wiseman, et al. maior parte dos sacrifícios para si (Lv Baker, 1992-1998), 2: 496-502; Carl
(Londres: Tyndale, 1965), 12-16. 6.14-7.38). Ao que parece, os sacer­ Friedrich Keil e Franz Delitzsch, Com­
24. David W. Baker, “Further dotes estavam mais preocupados com mentary on the Old Testament, 10 vols
Examples of Waw Explicativum”, Vetus o próprio estômago que com a situa­ (Grand Rapids: Eerdmans, 1978), 10:
Testamentum 30 (1980): 134. ção espiritual das pessoas! 339-349.
500
Notas

2. Robert B. Chisholm, Interpreting E. McComiskey, 3 vols. (Grand Ra' Rapids: Zondervan, 1979'1992), 7:
the Minor Prophets (Grand Rapids: pids: Baker, 1992), 2 : 165-166, ofere' 596,597, resume as questões relevam
Zondervan, 1990), 109410; C. Hassell cem bons sumários dessa questão. tes assim como C. Hassell Bullock, An
Bullock, An Introduction to the Old 7. Armerding, “Obadiah”, 493; Introduction to the Old Testament Pro­
Testament Prophetic Books (Chicago: Bullock, Prophetic Books, 181 - 183; J. J. phetic Books (Chicago: Moody, 1986),
Moody, 1986); Carl E. Armerding, M. Roberts, Nahum, Habakkuk and 314417.
“Obadiah”, in Expositor s Bible Com­ Zephaniah, Old Testament Library 4. Baldwin, Haggai, Zecharaiah,
mentary, org. Frank E. Gaebelein, 12 (Louisville: Westminster/John Knox, Malachi, 211 -2 12; Alden, “Haggai”,
vols. (Grand Rapids: Zondervan, 1979' 1991), 82-84. 102-103', Walter C. Kaiser Jr., Malachi:
1992), 7: 337. 8. Keil e Delitzsch, Commentary, God’s Unchanging Love (Grand Ra'
3. Para uma excelente discussão das 117; Chisholm, Interpretmg, 201. pids: Baker, 1984), 1345.
evidências para situar a data do livro 9. Chisholm, Interpreting, 201; 5. Baldwin, Haggai, Zecharaiah,
de Jonas, ver John H. Walton in Bryan Bullock, Prophetic Books, 168469. Malachi, 213; Bullock, Prophetic Books,
E. Beyer e John H. Walton, Obadiah 338439. Kaiser, Malachi, 17, e Robert
and Jonah, Bible Study Commentary Capítulo 34: Ageu, Zacarias e M ala­ B. Chisholm, Interpreting the Minor
(Grand Rapids: Zondervan, 1988), 65' quias — Reconstruindo um Povo Prophets (Grand Rapids: Zondervan,
72. Walton aponta corretamente que 1. Joyce G. Baldwin, Haggai, 1990), 278, situam a data de Mala'
se os estudiosos pudessem provar que Zechariah, Malachi: An Introduction and quias em 433 a.C e 450 a.C., respecti-
Jonas foi escrito séculos mais tarde, isso Commentary, Tyndale Old Testament vãmente.
não eliminaria a precisão do livro. Commentary (Downers Grove: Inter-
4- O título “rei de Nínive” c umVarsity, 1972), 29; Robert L. Alden, Epílogo
tanto estranho aqui, tento em vista que “Haggai”, in Expositors Bible Commen­ 1. John Bright, A History of Israel, 3.
Nínive não era a capital da Assíria na' tary, org. Frank E. Gabelein, 12 vols. org. (Filadélfia: Westminster, 1981),460.
quela época. Talvez o título seja uma (Grand Rapids: Zondervan, 1979' 2. Desde o segundo século d.C. há
referência ao governante local de Nínive. 1992), 7: 572. vozes dissidentes, mas elas foram siste'
5. Edwin R. Thiele, The Mysterious 2. Poderíamos traduzir 2.9 como “A maticamente silenciadas pela igreja. Ver
Numbers of the Hebrew Kings, 3- ed. glória de sua casa futura” ou “A futura Walter C. Kaiser Jr., Toward Rediscove-
(Grand Rapids: Zondervan, 1983), glória de sua casa”. Entretanto, a se' ring the Old Testament (Grand Rapids:
217. gunda interpretação parece encaixar' Zondervan, 1987), 1942.
6. Bullock, Prophetic Books, 216 e se melhor no contexto. 3. Roger Nicole, “Old Testament
Tremper Longman III, “Nahum”, in 3. Kenneth L. Barker, “Zechariah”, Quotations in the New Testament”, in
The Minor Prophets: An Exegetical and in Expositor’s Bible Commentary, org. Bernard L. Ramm et al., Hermeneutics
Expository Commentary, org. Thomas Frank E. Gabelein, 12 vols. (Grand (Grand Rapids: Baker, 1971), 41,42.

501
Alta Galiléia, 42
Altar, 106, 118, 146, 177, 226

índice por assunto Holocausto, 107, 120, 124, 411,


422
Incenso, 107, 226
Alto Egito, 39
Amaleque/amalequitas, 168,134,200,
Abominação de desolação, 434, 436 222, 247, 248, 258, 264, 270,
205, 210, 211, 212
Aborto, 185, 357 298, 386, 398, 470
Amarna [Ver El Amarna]
Ácaba, Golfo de, 43,57,109-110, 254 Cerimônia da, 106-107
Amendoeira em Jeremias, 385
Acade/Reino acádio, Ver também lín­ Com Abraão, 47, 65, 94-96, 97,
Amom/amonitas, 144, 200, 213, 216,
gua acádia, 38,45, 46, 268,345 98,99,100,105,107,112,113,
269, 399, 400, 418, 440, 452
Profecias, 344, 345, 346, 349 114-115, 148, 168, 170, 226,
[Ver também Línguas, amonita]
Acampamento israelita, 107,129,130, 272, 340
Profecias sobre, 400, 418,445,460
131, 136, 137 Com Davi, 94, 97, 100, 210, 211,
Amor
Acco, cidade de, 40, 57 214-216, 218, 219-220, 226,
De Deus, 68, 81, 270, 379, 294,
Acrósticos, 281, 285-286, 320-321, 246, 252, 255, 257, 258, 358,
354, 413, 441, 470
393, 403 367, 386, 449, 455, 464, 465
Na aliança, 113,146,150-151,152,
Adar, mês de, 273, 275, 276 Como tema de Exodo, 111, 112-
160
Adoração, 65 113
Por Deus/pelo próximo, 123, 146,
A Deus, 69, 272, 273, 316, 342, Depois de Josué, 182
158, 188, 212, 225, 346, 445
378, 469 Esperança na, 420-421
Sexual/romântico, 288, 322, 326,
Aliança, 122, 124 Fidelidade de Deus a, 170,226-227,
329, 331, 333, 335
Apropriada, 119, 126 386, 475-476
Amoritas, 38,45,46,47,135,144,149
Calendário de, 137-138 Fidelidade do povo de Deus a, 244,
[Ver também Línguas, amorita]
Chamado a, 390 247, 248, 356, 386
Anatólia, 48
Correta, 59, 120, 122, 258, 261 História da, 160
Anatotc, 342, 384, 388
Cultos de, 69 Identidade, 268
Ancião de Dias, 431, 432, 433
De ídolos, 340-342, 374, 386, 387, Integração da, 475
Anciãos, repreensão de Ezequiel aos,
390 Juramento, 143
411, 414
Em Salmos, 304, 305, 307-311 Lei da, 66, 142
Aneus, 94
Falsa, 120, 364, 384, 386 Mediador, 397
Anfictionia, 186, 187
Jejum para, 379 Memória da, 145
Anjos, 428
Necessidade de, 68 Messias e a, 98
Antiga Idade da Pedra [Ver Paleolítico]
Pública, 304, 384-386 Mosaica/no Sinai, 65-66,100,106-
Antiga Idade do Bronze. [Ver Idade do
Regulamentos/Instruções, 134,137- 107, 108, 112, 119, 122, 142, Bronze]
138, 146 145, 148, 149, 151, 177, 222, Antigo Império [Ver Egito, Antigo
Sacrifícios, 118 246, 298, 347, 387, 396 Império]
Samaritanos, 340 Natureza da, 56 Antigo Testamento, relação com o
Templo, 69, 119, 256, 257, 258, Nova, 375, 396-397 Novo, 475, 476
259-261, 266, 387, 390 Obrigações, 261, 347, 386, 446 Antropomorfismo, 69
Verdadeira, 270,347,455,460,469 Povo da, 98, 100-101, 112-113, Ao Mestre de Canto, 307
Adultério 143-147, 211, 224, 246-248, Apatia espiritual, 464
Conjugal, 123, 318, 357, 440 252, 259, 260, 264, 331, 445, Aplicação das Escrituras, 30, 31, 32,
Espiritual, 440, 441-442, 448 446 33, 106, 122, 123
Afeca, 198 Princípios de vida, 143,145 Apostasia
África, 36, 38 Processo legal, 147 De Jeroboão, 222, 228
Agricultura, 42, 46, 443 Profetas e a, 344-345 De Judá, 52, 53, 240, 241, 244,
Àgua viva, 386 Promessas da, 98,99-100,142,143, 340-342, 343, 347, 348, 354,
Águias, em Ezequiel, 412, 413, 415 170, 256, 364, 396, 397, 419, 355, 356, 357-358, 384, 385-
Ai, 169, 172, 173, 178 429 388, 389, 390, 391, 408, 410,
Aijalom, vale de, 212 Renovação da, 161, 240, 265, 270, 415, 455, 471
Akitu, festival de, 374, 379 274 De Onri, 230
Alegoria, 331, 334, 453, 460 Salvação, 100 De Salomão, 224, 227, 253
Alexandria, 28 União com Deus por meio da, 119, De Saul, 256
Aliança, 68, 72, 98, 99, 100, 172, 177. 248, 266-268, 386 Nacional, 52, 158, 159, 222, 231,
[Ver também Eleição, Terra pro­ Versão antiga da, 148-151 240, 242, 243, 244, 340, 384,
metida] Alianças, militares, 354,358,360,364- 385-386, 394, 454
Bênçãos e castigos da, 146-57,162, 365, 419, 441 No deserto, 136, 137

502
índice por assunto

Aquis, 204 Atos simbólicos dos profetas, 241,388, Período, 344


Arábia Saudita, 109 395, 397, 398, 408, 410, 412, Profecias sobre a, 354, 362, 374,
Arábia/árabes, 44, 110, 269, 320, 362, 415, 416, 420, 442 394, 395, 400-402, 403, 410-
401 [Ver também Línguas, árabe] Autoria 411, 413, 414, 418, 458-459,
Arade, 130 De Cântico dos Cânticos, 333 466-467
Aram/arameus, 44, 46, 50, 94 De Crônicas, 252, 259, 270 Queda da, 46, 58, 224, 258, 265,
Aramaico [Ver Línguas, aramaico] De Daniel, 434, 435, 436, 437 274, 351, 400-402, 433-435,
Arauna, 218, 220 De Eclesiastes, 329, 330 458, 464
Arca da aliança, 104, 107, 146, 172, De Esdras-Neemias, 270-271 Reis da, 350-351
183, 195, 196, 197, 198-199, De Ester, 272 Teodicidade, 292
206, 210, 214, 219, 226 De Isaías, 355, 370-372, 380 Volta de Israel da, 56-58, 59, 159,
Argumentos filosóficos, 290-292 De Jó, 289, 293, 298 252, 257, 267, 351, 371, 374,
Armagedom [Ver Vale de Jezreel] De Josué, 169 375-377
Armênia, 349, 351 De Lamentações, 403-405 Bacia de bronze, 104, 107, 226
Amon, 42, 57 De Provérbios, 321 Baía de Haifa, 40, 57
Arqueologia, 25, 44, 46, 91, 108, 109, De Salmos, 304-306 Basã, 42, 57, 135, 144, 447
110, 169-170, 224, 269, 286, De Samuel, 196, 210 Basílica de Santa Catarina, 49,110,113
290, 315, 348, 367, 459 De Zacarias, 465-466 Bebedeira, 320, 357
Arquivos, 95, 223, 224, 233, 234 Do Pentateuco, 68-75 Beemote, 297, 298
Babilônios, 400, 402, 435, 457 Dos Livros Históricos, 157, 161, Belém, 42,57,187,188,197,201,305,
Hititas, 149, 150, 223 164, 165 320, 455, 460
Arrepender/arrependimento, 257, 297, Dos Profetas, 346-347 Bênção/castigo
298, 379 Autoridade profética, 340, 342, 344 Da aliança, 162 [Ver Aliança]
Chamado ao, 124, 220, 257, 268, Aviso sobre o julgamento, 341, 343, Por Davi, 214-216
341, 344, 348, 356, 377-379, 346,347-48,354,356,357,362, Por Moisés, 142, 146-47, 148, 222
385, 388, 394, 408, 411, 414, 364, 365, 374, 379, 388, 391, Tratado de suserania, 150, 152
420, 439, 440, 443-445, 446, 392, 396, 397, 400, 401, 408- Benjamim, 129, 186, 200, 212-214,
449, 468, 473 411, 414, 415, 422, 442-445, 218, 219, 228, 266, 384, 398
Chamado às nações ao, 54,184,200, 447, 452-456 Bestas de Daniel, 429, 432
391, 402, 454, 466 Baal, 231, 238, 241, 285, 286, 287, Bestialidade, 123
Em Daniel, 429 341, 386, 392, 395, 411, 440, Betei, 42, 57, 91, 93, 99, 172, 173,
Verdadeiro/falso, 201, 217, 346, 441, 442, 460 228, 448, 467
444, 454, 468 De Peor, 52, 137, 231 Bete-Peor, 148
Árvores, 284, 308, 307, 443 Zebube, 238, 247 Bete-Sã, 206, 211
Asdode/asdoditas, 199, 206, 269, 365 Baale-Judá. Ver Quiriate-Jearim Bete-Semes, 199, 205, 206
Ásia Menor, 48, 85, 348, 375 Baal-perazim, 212, 218 Beulah, 379
Ásia, 36, 39, 48 Babel, 66, 79, 85, 86 Bezerra, Israel como uma, 442, 448
Assassinato de Gedalias, 399, 467 Babilônia/babilônio, 84, 38, 44, 54, Bezerro de ouro, 104,136, 238
Assíria; assírios, 28, 38, 46, 94, 158, 169, 196, 245, 274, 310, 340, Bíblia
159, 224, 230, 242,244, 245, 348, 350-352, 367, 432-434, Autenticidade da, 69-70
246, 255, 266, 340,348, 351, 452 Inspiração da, 24-26, 28, 123, 310
366, 367, 401, 415,419, 445, Antigo Império, 45, 46, 47, 48, Interpretação da, 28-33
452 [Ver também Línguas, 345, 350, 350, 433 Primeiro comentário da, 253
assírio] Caldeus da, 55, 93 Transmissão da, 24, 25, 26-28, 30
Arte/cultura, 159, 163, 243, 246, Cidade da, 45, 78, 86, 345, 401, Bíblico (a)
255, 264, 284, 315, 343, 349, 435 Apocalíptico, 428, 436, 438
371, 399, 429 Crônicas da, 457 Crítica elevada, 69-72,91,161-164
Ascensão/declínio, 46, 53, 54-55, Destruição de Jerusalém pela, 53, Teologia, 298
196, 224, 243, 245, 246, 348- 55-56, 161,211,244, 246, 255, Blasfêmia, 216
350, 354, 355, 358, 360, 362, 368, 394, 399, 410, 411, 415, Bode expiatório, 122, 124
365, 367, 395, 396, 419, 456- 416, 452 Boi que fere mortalmente, 106
457, 458, 460, 461, 467 Exílio na, 224, 244, 245, 252, 257, Budismo, 66
Império, 44, 52, 53, 54-55, 224, 268, 304-305, 310, 311, 351, Cades-Barnéia, 128, 129, 130, 134,
246, 255, 340, 358, 362, 365, 368, 371, 395-396, 398, 408- 135, 136, 137, 143, 144
367, 368, 441, 442, 456-458 409, 420, 429, 430, 431, 435, Cairo, 401
Reis, 54, 240, 241, 242-243, 244, 444 Caldeus, 47, 55, 67,93, 350, 351
348, 355, 362, 441 Novo Império, 46, 55, 244, 246, Calendário de culto, 119, 122, 127,
Assur, 38, 57 349, 350, 351, 367, 385, 395, 137
Astarde, 286, 287, 440, 441 399-400, 456 Câmaras do templo, 422
503
índice por assunto

Caminhada pelo deserto, 46, 48, 66, Para a pureza, 65,317,318,378,414 Conversão, 96, 98
104, 106408, 109, 110, 128- Para a renovação/arrependimento, Coração transformado, 421, 444
138, 142, 144, 151, 169, 172, 341, 343, 348 , 370, 376, 377, Cosmogonia, 78, 84
340, 388, 414 388, 394, 408, 413, 440, 443, Cova dos leões, 429, 430
Caminho do Mar [Ver Via Maris] 444, 445, 449, 466, 473 Creatio ex nihilo, 66, 72, 80 [Ver tam­
Canaã/cananita, 47 Para a santidade, 68, 119, 124, 125, bém Criação; Fiat, criação por;
Baalismo, 57,118, 137, 176, 182, 347, 389, 465 [Ver Santidade] Soberania de Deus]
184, 187, 231,238, 240, 241, Para Abrão, 67, 68, 90, 91, 92-93 Crescente fértil, 36-40, 47, 56, 57
285, 348449, 51, 364, 440 Para Amós, 342 Criação de ovelhas, 42, 448
Conquista de, 50, 130, 132, 134, Para Eliseu, 239 Criação, 67, 79-82, 297, 454
135, 168, 169, 170471, 182, Para Ezequiel, 408, 409-410 Dias da, 80
183 Para Isaías, 354, 355, 358 Relatos antigos sobre, 78, 79, 86
Geografia de, 142, 144 Para Samuel, 196 Criacionismo, 82
Povos de, 47, 184, 290, 299 Para seu serviço, 341-342,343,344, Criança (s)
Religião em, 52, 240 374 Comportamento das, 314,317,321
Cânon, 22-28, 72,151,160,164, 252, Chamado, profeta como aquele que é, Sacrifício de, 96, 387, 390, 392
253-254, 428, 434, 436, 437, 341 Criança/filho, tratamento como, 443,
475 Cidades de refúgio, 143, 168, 176 448
Cânticos Cidades-estado, 44, 45, 47, 109, 213, Crítica à forma, 70, 72
De Israel, 286, 288, 304412 240, 247, 401 Crítica à redação [Ver Crítica à fonte]
De Moisés, 142, 143, 148 Cilindro de Ciro, 258, 268 Crítica à tradição, 69-72
Capadócia, 349, 351 Címbalos, 307 Crítica ao Cânon, 72
Carmelo, Monte, 231, 341, 349 Cinto de linho, 388 Crítica às fontes, 69-72
Carquemis, 400 Circuncisão, 91, 96, 172 Crítica bíblica, 69-74
Carruagens, 467 Código dc Hamurabi, 47, 95, 350 Crocodilo, 297
Cartas de Amarna, 48, 57 Comentário das Escrituras, primeiro, Crônicas reais hititas, 224
Carvalho de Mamre, 97 158, 253 Cronologia bíblica [Ver Datas]
Casa do oleiro, 384, 389, 390492 Comida impura, 121, 416 Crucificação [Ver Morte de Cristo]
Casamento, 84, 227, 230, 268, 317, Compaixão de Deus, 217, 454 Cruzar
318, 320421, 322, 330, 333, Compreensão do plano de Deus, 458 O Jordão, 142, 168,172
334, 335, 379 [Ver também Di- Concubinas, 95 O Mar Vermelho, 104, 108-109,
vórcioj Confissão 129-130
Aliança, 471 De pecado, 216,219,265,307-308, Cuidado providencial, 121,131, 142,
Com Deus, 378479, 384, 385- 311, 320, 433 274, 283
386, 412, 415, 440, 441 Nacional, 270 Culpa [Ver Pecado]
Costumes, 189491 Confucionismo, 66 Cuneiforme, 38, 44, 46, 56, 57, 286,
De Ester, 272 Conquista de Canaã, 46, 48, 64, 108, 402, 435
De levirato, 190-191 109, 130, 132, 134, 144, 135, Cush, 354, 362, 366, 460, 461
De Oséias de Gômer, 440,441-442 137, 158, 163, 168-176, 178, Dã
Misto, 226, 230, 265, 268, 269, 182, 183, 245 Tribo de, 184, 185
470, 471 Conquistas Damasco, 43, 44, 48, 50, 93, 99, 213,
Casas dos caldeus, 350-351 De Davi, 212-214, 218 218, 227, 231, 232, 234
Cáspio, Mar, 36, 57 De Onri, 230, 232 Portão de, 377
Cassita (s), 46, 48, 57 Consagração Profecias sobre, 354,360,362,366,
Período, 292, 298 De Josué, 146, 147 394, 401, 403, 445
Castigo capital [Vkr Castigos sob a lei] Dos sacerdotes, 140, 119 Queda de, 348-349, 360, 362
Castigos [Ver Bênçãos e castigos] Do templo, 225, 245, 255, 265 Datas
Catástrife, 85 Conseqüências do pecado, 64-66, 84, Ageu, 464
Censo, 65, 128, 129, 130, 131, 137, 119, 143, 145, 169, 173, 184, Amós, 445
218, 219 200, 211, 212, 216-217, 219, Bíblicas, 46-58, 73, 108-110, 128,
Cercos, 54, 243, 244, 245, 247, 367, 220, 222, 227, 228, 242, 254, 163, 169
392, 397, 398, 405, 410, 415- 389-392, 394, 410-413 Crônicas, 252
416, 420, 457, 468, Consolação [Ver Livro da Consolação] Daniel, 436
Cerimônia de tratado, 94, 104, 106, Constelações, 297 Esdras-Neemias, 271
107, 122, 142, 143, 146, 161, Contexto das Escrituras, 29-30, 31 Jó, 298
187, 240 Contexto histórico [Ver Contexto das Joel, 444
Céu, descrição de Ezequiel do, 423 Escrituras] Jonas, 453
Chamado de Deus, 466 Contexto remoto [Ver Contexto das Juizes, 186
Para a adoração, 390 Escrituras] Obadias, 452
504
índice por assunto

Oséias, 440-441 Senhorio de, 375, 421, 470 Ecrom, 202, 238, 365
Profetas, 348 Soberania de, 66, 68, 72, 82, 106, Éden, 67, 81, 82, 335, 347
Salmos, coleção de, 304 111, 158, 159, 164, 187, 192, Edom/edomitas, 57, 130, 146, 218,
Samuel, 196 226, 258, 294-298, 356, 385, 310, 366, 470
Zacarias, 465, 466 388, 389, 391, 432, 437, 444, Oposição à Israel, 135, 144, 200,
Debir, 169 446, 449, 457, 458, 467 213, 227, 379
Decálogo [Vbr Dez mandamentos] Transcendência dc, 24, 30, 69 Profecias sobre, 365,394,400,401,
Declaração da verdade, 253, 258 Unidade de 145-146 403, 418, 419, 421, 424, 445,
Delfos, 186, 187 Deuses [Ver também Asherah; Baal; deu­ 452-453
Delta, 38-39, 47, 109 ses da Mesopotâmia; politeísmo] Região de, 42, 298
Derramamento do Espírito, 444, 468 Da fertilidade, 411, 415, 440 Educação israelita, 317, 321, 322
Deserto, 36-44, 107-110, 366 Do sol, 411,415 Eduméia/edumeus, 401
Desobediência a Deus [Ver Obediên­ Deutero-Isaías, 370-71, 379 Efraim, 42, 57, 97, 129, 176, 178, 186,
cia, a Deus; rebeldia] Deuteronomista 198, 228, 354, 364
Despedida História, 152-153, 161, 162, 163, Egeu, mar, 48, 56
De Josué, 178 164, 165, 182, 190, 222, 246, Egito/egípcio, 44, 45, 50, 55, 91, 92,
De Moisés, 66, 142, 143-48 258 366, 446, 458
Destino eterno, 147 Teoria do editor, 161-164 Antigo Império, 39, 44, 45, 46
Deus [Ver também Julgamento de Deus; Dez mandamentos, 64, 68, 106, 112, Escribas do, 105
Iavé] 122-123, 146, 152, 153 Êxodo do, 66, 67, 68, 104-110,
Atos poderosos de, 64,66, 68, 106, Dia (s) 111-112, 113-114, 128, 132-
111-112, 114, 115, 122, 130, Da criação, 80 134, 137, 142, 169, 172, 184,
354, 364, 367, 373 De expiação, 467 388, 396, 442
Bênção de, 214, 216 De festas, 119, 120, 122, 172, 245, Israel no, 47, 48, 64, 65, 98, 105,
Caráter de, 68 270, 272, 274, 275 [Ver também 107, 112, 305, 340, 341
Chamado de, 65, 341-344, 348, pelo nome] Literatura do, 290, 291, 292, 299,
394, 408, 413, 440, 443, 449, Do Senhor, 347-348,352,408,410, 316, 319, 321
466, 473 414, 415, 439, 443, 444, 447, Médio Império, 39, 46, 47
Compaixão de, 68, 456 452-453, 460 Moderno, 132
Fidelidade de, 143, 144, 152, 170, Diálogos de sabedoria, 290-293 Novo Império, 39, 46, 47, 48, 352,
226-227, 405 Dilúvio, 66, 78, 79, 81, 84, 85, 86, 90 365
Glória de, 107, 114, 134, 226, 408, Dinastia (s) Profecias sobre, 354,362,394,400,
409, 411-412, 422 Egípcias, 39, 47, 48, 53 403, 413, 419, 424, 443, 467
Graça de, 64, 65, 66, 67, 68, 91, Sumérias, 45 Região do, 37, 38-39, 43, 49, 56,
98, 112, 138, 160, 173, 184, Dinastia de Davi, 49-56,158,162,185, 198
212, 217, 257, 318, 354, 370, 219, 256-260, 266,268, 390, Relações com o reino de Israel, 227,
374-375, 386, 412, 413, 414, 472 243, 394-395, 399, 414
445, 454 Aliança e a, 94,97, 100, 211, 214- Sabedoria do, 290, 291, 297, 299,
Imutabilidade de, 158 216, 219-220, 226, 246, 252, 315, 316, 319
Ira dc, 418, 457, 549 255, 257, 258-259, 358, 367, El-Amarna, 48, 57
Justiça de, 295, 296, 297, 298,470, 386, 455 Eleição, 99-100,441,446 [Ver também
471-472 Messias na, 211, 310, 357, 360- salvação; Soberania de Deus]
Natureza ética de, 119, 124-126 361, 398, 467, 475,476 Elim, 104
Nomes de, 69 Restauração da, 396,398,420,421, Elohim como um nome para Deus, 69,
Onipotência de, 297, 299 449, 464, 465 71
Pastoreio de, 456, 468-469 Tentativa de destruir a, 240 Encarnação, 36, 68
Plano de, 26, 3084, 99, 134, 148, Discursos En-Dor, 205-206
197, 200, 201, 211, 256, 355, De julgamento, 357, 445 Endurecimento do coração, 358, 360,
360, 361, 362, 374, 375, 376, No livro de Jó, 293-298 388
422, 452, 465, 466, 470 Distich, 318, 320 Enuma Elish, 78-79, 81, 84
Presença de, 107,112,113-15,128, Divórcio, 470, 471, 472 Épico de Atrahasis, 78, 81, 84
131, 134, 226, 259, 260, 411- Dízimo, 119, 470, 473 Épico de Gilgamés, 81, 84435, 86, 329,
12, 453 Doenças [Ver Julgamento de Deus, por 334
Proteção de, 430 pragas] Epílogo de Jó, 293, 298
Provisão de, 385, 429, 453-454, Domingo de Palmas, 422 Escatologia, 347, 354, 365, 379, 428-
455 Domo da Rocha, 225 429, 432, 433-434, 436
Revelação de, 22, 24, 26, 31, 134, Doxologia, 306, 307, 310 Escravidão
143, 198, 454, 475, 476 Ebenézer, 198 De Jerusalém, 403
Santidade de, 122, 125, 128, 423 Ebla, 46 I Leis acerca da, 93, 94-95, 296, 398

505
índice por assunto

No Egito, 47, 48, 64, 65, 105, 107, Perspectiva do, 224, 246-47, 253, Filistia/filisteu 40, 446
112 254-255, 408, 409, 412, 430 Costa da, 40-42, 109, 452
Por dívida, 106, 269, 398 Profecias do, 361 Israel e a, 196, 197, 198, 199, 200,
Escribas, 24, 26, 27, 38, 58, 266, 267, Salmos e o, 304, 305 202-206, 210-212, 213, 218,
319, 372, 459 Salvação por meio do, 430 244, 340, 440, 452
Assistentes de profetas, 347, 385, Êxodo, 132-134, 142 Origens, 46, 49-50
398 Acontecimentos do, 104'110, 129 Profecias sobre, 354,362,366,400,
Egípcios, 105 Data, 39, 46, 48, 108, 109, 169 403, 418, 424, 445, 460, 468
Escritos, 22, 23, 24, 25, 26, 28, 30, Exílio no Egito, 98, 305, 340, 341, Religião da, 238
428 442 Filosofia da literatura de sabedoria,
Escrituras [Ver Bíblia; Bíblico] Historicidade do, 108,112,129-130 291, 298
EsperançaEm Crônicas, 253, 255 Rota do, 108-110, 112, 133, 172 Flauta, 307
Em Deus, 296, 301, 326, 327 Significado teológico do, 65-66, Fogo, 107, 131, 134, 281, 318, 392,
Messiânica, 309, 319, 468 111-115 398,410,415, 429, 430, 447
Na aliança, 420-421 Expiação, 120, 122, 123, 124, 128, Estranho, 121
Para o futuro, 374, 397, 405, 424- 424, 425, 467, 476 Fome, 319, 344, 389, 404, 405, 446
425,428,449,458-59,461,462 De Arão, 128 Julgamento por meio da, 218, 387,
Espias em Canaã, 132, 139, 168-169, Dia da, 119, 121, 122, 124, 467 395, 398, 410, 447
171, 173, 176, 177 Sacrifício de, 120,121,122,123,124 Fórmula do reino em Reis, 222-223,
Espiritismo, 134, 205, 206 Extáticos, 345, 349, 350 228, 230, 233, 234
Espírito Santo Ezion-géber, 254 Futilidade da vida, 295, 326
Capacitando os crentes, 444, 458, Falso profeta, 342, 394, 395-96, 398, Gade, 129, 171, 177-178, 219
464, 466 403-404, 408, 412, 415, 455 Gafanhotos, 132, 352, 443, 444, 447
Derramamento do, 444 Falso testemunho, 123 Galiléia, 40, 42, 57, 239, 456
Na inspiração, 24-50,123-124,310, Faraó, 38, 39, 48, 57, 104, 105, 106, Gate, 202, 204
312, 434 108, 109, 227, 246, 247, 414, Gate-Hefer, 453, 460
Na mudança de corações, 397, 446 419 Gaza, 109, 365, 400
Na profecia, 22 Fé Geba, 212, 218, 228
Esposa de Ezequiel, 409, 416 De Abraão, 32, 65, 66, 90, 91, 92- Genealogia (s), 81, 84, 96, 92, 104,
Estilo autobiográfico de Ezequiel, 415 97, 428, 436 255, 256, 252, 258, 260, 266,
EstipulaçÕes dos tratados de suserania, De Raabe, 32, 172 270, 459
149, 150, 152 Historicidade bíblica e a, 160 Messiânica, 173, 358, 475
Estrada do rei, 43-44, 56 Parcial, 386 Mosaica, 104
Estradas Ver Viagens Perspectiva de Crônicas, 158-159 Gênero bíblico, 30, 31, 70, 72
Estrangeiros, livro dirigido aos, 456 Salvação pela, 364 Gentis, bênçãos para os, 377, 380-81
Estrutura Fenícia/fenícios, 27, 30, 40, 48, 363, Geologia, 85
De Josué, 163 418-419, 468, 471 [Ver também Gerizim, Monte, 146, 153, 161, 176
De Juizes, 163 Línguas] Gesur, 217
De Reis, 163 Ferramentas, 44, 46 Gezer, 169, 212, 218, 223
De Samuel, 163 Fiat, criação por, 66 Gibeão, 178, 218, 225, 226, 234
Estupro, 91, 184, 210, 217, 219, 378 Fidelidade Gilboa, Monte, 203, 205, 210, 211,
Etiópia [Ver Cush] À aliança, 146, 186, 222, 226-228, 218
Eunucos, 377, 379 233, 248, 348 Gileade, 42, 57, 200, 332, 445
Europa, 36, 39 A Deus, 199, 264, 362, 365, 378, Gilgal, 172, 173, 176, 178, 200, 201,
Evangelho 437 240
Aqueles que não ouviram o, 454 Conjugal, 317, 318, 441, 442 Giom, Fonte de, 214, 218
Do Antigo Testamento, 354 De Deus, 93, 143, 152, 170, 177- Glória
Evangelicalismo, 24, 30, 72-73 178, 203, 206, 226, 298, 307, De Deus, 107, 114, 134, 226,373,
Evolução, 82 396, 405, 456, 459 408, 409, 411-12, 422, 459
Ex eventu, 434, 436, 346, 349 Modelos de, 429 De Sião, 378
Exílio No casamento, 331 Golfo Pérsico, 37, 57, 350
Arquétipo de, 257, 258 Para com Deus, 193, 201, 222 Gomorra, 91, 356, 362, 401
Como julgamento, 389, 400 Filho Gósen, 47
Egípcio, 305, 340, 341, 442 De Davi, 211, 216, 219, 258, 475 Graça de Deus, [Ver também Deus]
Libertação do, 265, 266 Do Homem, 431,432,436 Em Isaías, 354, 375, 378
Na Babilônia, 56-58,159,224, 244, Da alvorada, profecia, 481-419 Em Juizes, 184
245, 247, 257, 310, 351, 371, Filho de Jacó/Israel, 47, 50, 89, 97-98, Em Salmos, 308
396, 408-409, 429, 430, 431, 107,122,132,145,184,340,356 No Pentateuco, 64, 65, 66, 67, 68,
435 Filhos de Coré, 304-305 91, 104, 113, 112
506
índice por assunto

Para suspender o julgamento, 217, Historicidade das Escrituras, 160 Imutabilidade de Deus, 82, 146
413, 414 Histórico/a (s) Incenso, altar de, 107, 226
Obstinada, 370, 374 Épicos, 224-225 Incesto, 123
Grande sinagoga, 165 Fundação do Antigo Testamento, Injustiça, sofrer 433
Granizo, 173 476 Inscrição Messa, 230, 232, 234
Gratidão a Deus, 214, 216, 220, 462, Livros, 23, 24, 147, 151-152, 158- Inscrições, 108, 109, 224
469 159, 161-165, 182, 187, 256, Inspiração das Escrituras, 24, 26
Grécia/grego, 49,54,56,160,186-187, 264, 346 Inspiração Verbal Plenária [Ver Teoria
352, 431, 434, 436, 465, 466 Narrativa, 222, 234 da inspiração verbal plenária]
[Ver também Línguas] Prólogo, tratado de suserania, 149- Instrução
Grifo, 273 150, 152 De Amenemope, 291-292,318,319
Guerra Hitita, Império/hititas, 46, 48, 49, 50, De Ptahhotep, 291
Armamento, 50 149-150, 151, 152, 163, 216 Em Provérbios, 316
Civil, 177, 184, 212, 228 Holocausto, 107, 118, 120, 124, 220, Instrumentos musicais, 283, 304, 306,
Como julgamento, 184, 349 411, 422 307
Santa, 169, 170, 178, 200 Homens fortes de Davi, 218-219 Intercessão de Cristo, 398, 467
Trombetas de, 1*31 Homossexualidade, 123, 357 Interpretação
Guerra civil Honestidade, 196, 334, 423 Das Escrituras, 28-32, 72
Na monarquia dividida, 223, 241, Honra de Deus, 202, 470, 471 De sonhos, 429, 430
228 Hula, Vale, 42, 57 Introdução a Esdras, 270, 271
No início da monarquia, 212 Humildade perante Deus, 297-298 Investida central de Josué, 172
Guerra Sírio-efraimita, 358-59, 360 laveísmo, 52, 57, 228, 231, 234, 268 Investida norte de Josué, 174
Hagiografia Ver Escritos Idade Calcolítica, 44, 46, 57 Investida sul de Josué, 173
Hamate, 440 Idade de Cobre e Pedra Ver Idade Irã, 37, 57
Hamurabi, 47, 48, 57, 345, 350, 456 Calcolítica Iraque, 37, 67
Código de, [Ver Código de Ha­ Idade do Bronze Irmãs, história das duas, 386
murabi] Antiga, 44-45, 46, 57 Irrigação, 38, 409
Harã, 47, 57, 93, 96, 97, 99 Média, 45-47, 57, 91 Israel [Ver também Abraão; Egito;
Harpa, 307 Nova, 46, 47-49, 50, 57 Isaque; Israel, reino do norte;
Hatti, 196 Idade do Ferro, 44, 50, 53, 56, 57 Jacó; Judá/reino do sul; Moisés;
Hazerote, 131, 132, 136 I, 46, 50-52 Sinai, Monte]
Hazor, 169, 174, 223, 253, 401, 403 II, 46, 52, 53, 57 Antes dos reis, 168, 170, 172-177,
Hebraico Ver Línguas III, 46, 56 182-193, 198-199
Heilsgeschichte Ver História da salvação Idade Mesolítica, 44, 46, 57 Figurativa, 380
Herança, 47, 128, 148, 159, 171, 176, Idade Neolítica, 35, 38, 44, 46, 57 Linha do tempo para, 46-59, 73,
253, 308, 344 Idade Paleolítica, 44, 46, 57 108-110
Herem Ver Guerra santa Idade Persa Ver Idade do Ferro III Moderna, 132, 423
Hermenêutica. Ver Bíblia, interpreta­ Identidade de Dario, 435 Nação de, 48, 52, 340, 372, 414,
ção da. Idília, 187, 190 421, 449
Hermom, Monte, 42, 295 Idolatria, 123,161,199,227,228, 238, No deserto, 48, 66, 106-108, 110,
Hesbom, 144 268, 296, 377, 386-387, 389, 128-138, 144, 414
Hexatêuco, 161, 162, 164 403, 411, 412, 414, 440, 442, Pós-exílio, 253, 255, 264, 265,266,
Hieróglifos, 38, 44, 57 470 [Ver também Asherah; Baal, 267, 268, 351, 352, 374-375,
Hinom, Vale, 391, 392 Bezerros de ouro de Jeroboão; 402, 408, 420, 421, 464-465,
Hinos, 108, 285, 296, 304, 307, 310, Henoteísmo; Deuses da Meso­ 466, 470
311, 314, 332 potâmia] Povo escolhido de, 96,99-100,112-
Hipopótamo, 297 De Israel/Judá, 184, 340, 400, 460, 113, 143-147, 211, 224, 252,
Hipótese documentária, 69-72 471 255, 446
História De Nínive, 457 Reino unido de, 158,197, 199-206,
Conclusão da, 381 Impotência da, 374 210,211-220, 222-228, 254-260
Deus na, 159, 248, 249 Igreja como templo, 465, 467 Terra de, 36, 40-42, 175, 215, 229,
De Israel, 70,71,73, 75, 134-135, Imagem do jardim em Cântico dos 456
146-148, 158, 161-163, 177, Cânticos, 332 Israel Stela, 108
178, 182, 183, 184, 197, 239, Imago dei, 80, 84 Israel, reino do norte, 224, 234, 247,
246-247, 254, 257, 340, 455, Imoralidade [Ver homossexualidade; 255, 257, 358, 366, 440, 441-
475 honestidade; imoralidade sexual; 43, 446-49
Primordial, 78, 84, 86, 90 pecado] Apostasia de, 52, 158, 222, 228,
Visão bíblica da, 66-67, 159-161, Impostos, 269 230-31,240,243,340-341,343,
433-434 Impureza Ver Leis de pureza 347, 415, 440-441
507
índice por assunto

Para suspender o julgamento, 217, Historicidade das Escrituras, 160 Imutabilidade de Deus, 82, 146
413, 414 Histórico/a (s) Incenso, altar de, 107, 226
Obstinada, 370, 374 Épicos, 224-225 Incesto, 123
Grande sinagoga, 165 Fundação do Antigo Testamento, Injustiça, sofrer 433
Granizo, 173 476 Inscrição Messa, 230, 232, 234
Gratidão a Deus, 214, 216, 220, 462, Livros, 23, 24, 147, 151-152, 158- Inscrições, 108, 109, 224
469 159, 161-165, 182, 187, 256, Inspiração das Escrituras, 24, 26
Grécia/grego, 49,54,56,160,186-187, 264, 346 Inspiração Verbal Plenária [Ver Teoria
352, 431, 434, 436, 465, 466 Narrativa, 222, 234 da inspiração verbal plenária]
[Ver também Línguas] Prólogo, tratado de suserania, 149- Instrução
Grifo, 273 150, 152 De Amenemope, 291-292,318,319
Guerra Hitita, Império/hititas, 46, 48, 49, 50, De Ptahhotep, 291
Armamento, 50 149-150, 151, 152, 163, 216 Em Provérbios, 316
Civil, 177, 184, 212, 228 Holocausto, 107, 118, 120, 124, 220, Instrumentos musicais, 283, 304, 306,
Como julgamento, 184, 349 411, 422 307
Santa, 169, 170, 178, 200 Homens fortes de Davi, 218-219 Intercessão de Cristo, 398, 467
Trombetas de, 131 Homossexualidade, 123, 357 Interpretação
Guerra civil Honestidade, 196, 334, 423 Das Escrituras, 28-32, 72
Na monarquia dividida, 223, 241, Honra de Deus, 202, 470, 471 De sonhos, 429, 430
228 Hula, Vale, 42, 57 Introdução a Esdras, 270, 271
No início da monarquia, 212 Humildade perante Deus, 297-298 Investida central de Josué, 172
Guerra Sírio-efraimita, 358-59, 360 Iaveísmo, 52, 57, 228, 231, 234, 268 Investida norte de Josué, 174
Hagiografia Ver Escritos Idade Calcolítica, 44, 46, 57 Investida sul de Josué, 173
Hamate, 440 Idade de Cobre e Pedra Ver Idade Irã, 37, 57
Hamurabi, 47, 48, 57, 345, 350, 456 Calcolítica Iraque, 37, 67
Código de, [Ver Código de Ha­ Idade do Bronze Irmãs, história das duas, 386
murabi] Antiga, 44-45, 46, 57 Irrigação, 38, 409
Harã, 47, 57, 93, 96, 97, 99 Média, 45-47, 57, 91 Israel [Ver também Abraão; Egito;
Harpa, 307 Nova, 46, 47-49, 50, 57 Isaque; Israel, reino do norte;
Hatti, 196 Idade do Ferro, 44, 50, 53, 56, 57 Jacó; Judá/reino do sul; Moisés;
Hazerote, 131, 132, 136 I, 46, 50-52 Sinai, Monte]
Hazor, 169, 174, 223, 253, 401, 403 II, 46, 52, 53, 57 Antes dos reis, 168, 170, 172-177,
Hebraico Ver Línguas III, 46, 56 182-193, 198-199
Heilsgeschichte Ver História da salvação Idade Mesolítica, 44, 46, 57 Figurativa, 380
Herança, 47, 128, 148, 159, 171, 176, Idade Neolítica, 35, 38, 44, 46, 57 Linha do tempo para, 46-59, 73,
253, 308, 344 Idade Paleolítica, 44, 46, 57 108-110
HeremVer Guerra santa Idade Persa Ver Idade do Ferro III Moderna, 132, 423
Hermenêutica. Ver Bíblia, interpreta­ Identidade de Dario, 435 Nação de, 48, 52, 340, 372, 414,
ção da. Idília, 187, 190 421, 449
Hermom, Monte, 42, 295 Idolatria, 123,161,199,227,228,238, No deserto, 48, 66, 106-108, 110,
Hesbom, 144 268, 296, 377, 386-387, 389, 128-138, 144, 414
Hexatêuco, 161, 162, 164 403, 411, 412, 414, 440, 442, Pós-exílio, 253,255, 264,265,266,
Hieróglifos, 38, 44, 57 470 [Ver também Asherah; Baal, 267, 268, 351, 352, 374-375,
Hinom, Vale, 391, 392 Bezerros de ouro de Jeroboão; 402, 408, 420, 421, 464-465,
Hinos, 108, 285, 296, 304, 307, 310, Henoteísmo; Deuses da Meso­ 466, 470
311, 314, 332 potâmia] Povo escolhido de, 96,99-100,112-
Hipopótamo, 297 De Israel/Judá, 184, 340, 400, 460, 113, 143-147, 211, 224, 252,
Hipótese documentária, 69-72 471 255, 446
História De Nínive, 457 Reino unido de, 158, 197,199-206,
Conclusão da, 381 Impotência da, 374 210,211-220,222-228,254-260
Deus na, 159, 248, 249 Igreja como templo, 465, 467 Terra de, 36, 40-42, 175, 215, 229,
De Israel, 70, 71, 73, 75, 134-135, Imagem do jardim em Cântico dos 456
146-148, 158, 161-163, 177, Cânticos, 332 | Israel Stela, 108
178, 182, 183, 184, 197, 239, Imago dei, 80, 84 Israel, reino do norte, 224, 234, 247,
246-247, 254, 257, 340, 455, Imoralidade [Ver homossexualidade; 255, 257, 358, 366, 440, 441-
475 honestidade; imoralidade sexual; 43, 446-49
Primordial, 78, 84, 86, 90 pecado] Apostasia de, 52, 158, 222, 228,
Visão bíblica da, 66-67, 159-161, Impostos, 269 230-31,240,243,340-341,343,
433-434 Impureza Ver Leis de pureza 347, 415, 440-441
507
índice por assunto

Divisão de Judá, 53,158, 223, 228- Tribo de, 42, 176, 183, 204, 205- Civil, 123, 146
233, 238, 243, 340 206, 211-212, 224, 255, 356, Da aliança, 145, 341, 386, 387,
Queda para a Assíria, 54, 161-162, 398 446, 473
243-244, 255, 360, 362 Judaísmo moderno, 475 Da Mesopotâmia, 106
Jabes-Gileade, 200, 205, 206, 212 Judéia Ver Judá, província de Da pureza, 119,121-122,123,128,
Jaboque, 42, 57 Judeia, costa da, 196, 198 134, 464-465
Jafa Ver Jope Judeus, montes, 42, 419 Desafio a obedecer a, 177
Jâmnia/Iavé, Conselho de, 23, 30 Jugo, em Jeremias, 394, 395-396, 403 Do rei/profeta, 162
Jardim do Éden Ver Éden Juizes, 50, 52, 340 Importância da, 276
Jarmuque, 42, 57 Papel de liderança, 182, 183 Jó e a, 298
Jebel Musa, 110. 113 Período dos, 158 Leitura pública da, 270
Jebel Serbal, 110 Julgamento de Deus [Ver também Deus; Livros da, 23, 24, 48, 64-71, 161,
Jebel Sin Bisher, 110 Justiça; Profecias contra as na­ 176, 245, 247, 267, 384, 460
Jebusitas, 169, 210, 214, 220 ções; Pragas] Mestre da, 266-67
JEDÉ teorias [Ver Hipótese docu­ Advertências proféticas sobre, 341, Moral, 122, 123
mentária] 343, 346, 347-348, 354, 410- Natural, 113
Jejum, 378, 379, 467-468 411,413,414,415 Propósito da, 68, 113, 122-123
Jericó, 135, 136, 137, 142, 168, 169, Chamado por, 310 Lei cúltica Ver Lei cerimoniai
170, 171-173 Em Isaías, 357 Leis de pureza, 119,121-122,128,134,
Jerusalém, 42, 57, 162, 216, 218, 259, Escatológico, 347,364,428,459-461 410, 415, 465
445 [Ver tambémJebusitas; Sião] Executores do, 411 Leoa em Ezequiel, 414, 415
Capital nacional, 210,213-14, 245, No deserto, 134, 169 Levante, 40, 42, 47, 57
256, 398, 440, 455 Pela fome, 447 Levi/levitas, 48, 65, 119, 124, 125,
Moderna, 314, 327, 361, 377, 397 Pelo fogo, 447 128, 130, 146, 147, 176-77,
Nova, 423 Por cerco, 390-392, 398, 403-404, 178, 198, 214, 270, 384, 423,
Pós-reinado, 58, 252, 255, 266- 405, 410, 457 471, 473
269, 270, 413, 422, 424, 466 Por desastres naturais, 134, 389, Lcviatã, 297, 298, 364
Profecias sobre, 354,362-363,364, 447 Líbano, 37, 57, 333, 443
375, 376-377, 380-381, 391, Por doenças, 199, 219 Montanhas do, 40
392, 395, 409, 410, 468, 469 Por gafanhotos, 443, 444, 447 Líbia, 39, 57
Queda de, 53,55-56,158,161,210, Sobre as nações, 354, 362, 364, Língua franca, 48, 57
244, 351, 368, 394, 399, 400, 370, 374, 379, 401, 418-420, Linguagem figurativa, 30-31
402-405, 410, 411, 412, 432, 432, 445, 447, 452-453, 454, Línguas
452-453, 458, 467-468 457, 460, 461, 467 Acádio, 27, 30, 48, 78, 286, 345
Templo, 52, 257, 265-266 Sobre Israel/Judá, 54,183,184, 243, Amonita, 27, 30
Jezreel, Vale de, 40, 43, 50, 57, 118, 364, 385-386, 395, 410, 411, Amorita, 27, 30
182, 223, 246, 247, 442, 443, 412, 414, 458-459, 460, 461 Árabe, 27, 30
446 Sobre os reis, 202, 430 Aramaico, 27, 28, 29, 30, 31, 315,
Jopc/Jafa/Yafo, 452 Sobre os soldados dc Acazias, 238 329, 434, 435-436
Jordão Sobre Saul, 202, 256 Aramaismos, 453, 460
Fenda do, 40, 42, 57 Jumenta de Balaão, 136 Assírio, 27
Rio, 40,42,66,137,142,148,168, Juntar grãos, 189 Em Daniel, 434, 437
169, 171, 172, 176, 218, 239, Justiça social, 269, 320, 356,378-379, Fenício, 27, 30
401, 452 389, 405, 414, 444-447, 455, Grego, 28, 31, 37, 326, 348
Vale do, 40, 42, 57, 135, 136 458, 460 Hebraico, 23-24, 27, 28, 29, 31,
Jubileu, 119 Justiça, 295-299, 328, 472 79, 285, 287, 320, 329, 341,
Judá Kinerete, 42, 57 344, 388, 403, 434
Apostasia de, [Ver Apostasia] Lagos Amargos, 109 Moabita, 27, 30, 232
Divisão de Israel, 52, 53, 54, 158, Lamento Ugarítico, 27, 30, 286, 287
223, 228-234, 238-244, 340 Do Oriente Próximo, 402 Linha do tempo bíblica Ver Datas
Filho de Israel, 92 Profético, 343, 402-405, 408, 414, Literário (a)
Província de, 204, 255, 265, 266 456 Crítica, 72
Queda para a Babilônia, 55-56,158, Salmos de, 307, 310, 311-12 Pano de fundo bíblico, 292, 476
162, 224, 246, 257, 351, 362, Lâmpada Ver Menorá Literatura apocalíptica, 346,349,363,
398-400, 402-405, 409, 410, Laquis, 169, 244, 246, 338, 399 366, 425, 428-429, 426-436
419, 421, 452-453, 458-459 Lei Literatura de sabedoria, 23, 159, 290-
Reino do sul, 52, 54, 210, 234, 256, Antiga, 122-124 301, 330, 333
257, 259, 342, 349, 355, 358, Casuística, 106, 122 De Salomão, 290, 292,314-23,330
364-365,366,414,440,444,446 Cerimonial, 122, 123 Egípcia, 290, 291, 297, 316, 319
5 08
Indice por assunto

Em Jó, 290, 292 Costa, 49, 109, 286, 452 Geografia de, 42, 452
Em Salmos, 290, 308, 310 Ilhas do, 85 Israel e, 186, 213, 230, 232
Literatura dramática, 188, 293, 299, Mar, 36, 38, 39, 40, 42, 447 Na caminhada do Êxodo, 48, 128,
332 Medo-Persa, 348, 402, 434, 435, 436 130, 135-137, 142, 143, 144,
Livramento Guerras da, 160, 349, 362, 402 146, 148, 149, 151
Do julgamento, 449 Império, 46, 54, 56, 59, 159, 255, Profecias sobre, 239-240,354,362,
Do remanescente, 375 269, 272-273, 350, 351-352, 366, 394, 400, 403, 418, 424,
Dos assírios, 244 371, 429, 433, 434, 436, 464 445, 460
Em Êxodo, 112'113 Libertação do exílio, 224,257, 264- Religião de, 136, 137
Por Deus, 364, 367, 373, 378 66, 268 Rute e, 187, 188, 189, 193
Por juizes, 182, 184 Megido Ver Vale de Jezrcel Moisés e os profetas, 69
Livro Memoriais, 172 Monarquia Ver Reino
Da aliança/das Leis de Moisés Ver Pedras, 146, 172, 177 Monólogos na literatura de sabedoria,
Lei/Pentateuco Mênfis, 39 290-291, 298
Da Consolação, 396 Menorá, 413, 467 Monoteísmo, 70, 72, 82, 84, 145, 150,
Dos anais dos Reis de Israel/Judá, Mensageiro, o profeta como, 341, 344 152, 153, 228, 234, 272, 274,
223 Mensagem de Ezequiel, 409,410, 418, 294, 295
Livros Proféticos, 22 420 Montanhas Antilíbano, 40
Anteriores, 23, 160 Menzaleh, 108 Montanhas Cáucaso, 36, 57
Criatividade nos, 343 Meretrício, 441, 442 Montanhas, profecia para as, 410
Na Bíblia hebraica, 23, 24 Meribá, 142, 145, 148 Monte das Oliveiras, 412, 422
Loucura de Nabucodonosor, 435 Mesopotâmia, 44, 46, 47-48, 57, 78 Monte de Moisés Ver, Jebel Musa
Loucura, 316, 317, 323 Cultura da, 45, 53, 56, 78, 93, 118, Monte Pisgá, 135
Louvor, 200, 219, 304 290, 291, 292, 299, 316, 411 Moralidade distorcida, 357
Em Salmos, 307, 309, 311 Deuses da, 408, 411 Moré, 93, 97, 99
No sofrimento, 311 Literatura da, 291, 292, 299 Moresete-Gate, 455, 460
Ludlul beml nemmeqi, 292 Região geográfica da, 37-40,43,66, Moriá, 97
Macabeus, 18, 434, 436 86, 246, 345, 348, 350, 351, Morte
Macpela, 62, 95 400, 401, 452 Dc Cristo, 375-376, 446, 468
Mal/Mau Viagem/comércio na, 43, 44, 198 De Elias, 239
Ao redor, 456 Messiânico (a) De Josué, 169, 183
Da Assíria, 457 Era, 354, 360, 466, 475 De Moisés, 142, 148, 168, 170
Espírito... em Saul, 201-202 Esperança, 255, 258,309,348,356, De Saul, 205-206, 210, 211-212
Pastor, 468 358, 364, 449, 465, 475, 476 Do servo sofredor, 375
Problema do, 83, 294, 298-301 Linhagem, 173, 211, 361 Escolha de, 386
Maná, 131, 172 Nomes, 360 Universalidade da, 328, 329
Manassés, 171, 176, 177, 178, 186 Ofício, 216, 472, 475-476 Mulheres em Provérbios, 317, 320-
Manre, 97 Reinado, 468, 469 321
Manto de Elias, 239 Reino, 421 Muro Oriental, 314, 328, 361
Manuscritos, 26, 27, 29 Salmos, 307, 309-311 Muros, reconstrução em Jerusalém, 46,
Mar da Galiléia Ver Kinercte Messias/Cristo, 98,309-310,348,356, 59, 265,266,269-270, 274,352
Mar de Juncos, 108-09, 112, 115,482 373, 468-469, 475, 476 Música, 284, 304
Ver também Mar Vermelho Em Isaías, 375-376 Instrumentos de, 283, 306, 307,
Mar Morto, 40, 42, 57, 212, 400, 423, Julgamento do, 473 361
440, 452 Vinda do, 100, 423, 434, 465, 473 Nação de escória, 414
Mar Negro, 36, 57 Método histórico-gramatical, 29-31 Nações Ver também Profecias contra as
Mar Vermelho, 36, 40, 57, 64, 108- Métrica poética, 282, 286 nações
109, 129 Micenas, 49 Cura para as, 423
Masada, 212 Midiã, 105, 110 Evangelho para as, 449
Mask.il, 307 Milagres Julgamento sobre as, 460, 461
Masoreta, 26-28, 31, 481 De confirmação, 344 Lista das, 84, 85
Medeba, 232 De Eliseu, 240 Naftali, 360
Média Idade do Bronze Ver Idade do Milênio, 424, 425, 469 Narrativas em primeira pessoa, 270-
Bronze Mishna, 69, 72, 475 271
Media Ver Medo-Pérsia Miskal, 306 Natureza caída da humanidade, 68, 79,
Mediador da aliança, 397 Mispa, 42, 57, 200, 205, 228 82, 84
Medidas honestas, 320, 423 Mito, 66, 72, 159, 164 Nazaré, 378
Médio Império. Ver Egito Moabe/moabitas, 27, 30, 57, 218, 445 Nazireu, voto, 131
Mediterrâneo (a) [Ver também Línguas] Nebo, Monte, 148, 153

5 09
índice por assunto

Neguebe, Deserto do, 40, 42, 43, 57, Palestina Ver Síria-Palestina Pelesete Ver Palestina
93, 97, 99, 204 Palmira, 252 Pentateuco samaritano, 28, 29
Nínive, 38, 57, 365, 367 Panela em Jeremias, 385 Pentateuco, 23, 24, 28, 47, 63-75, 78,
Profecias sobre, 453-454, 456-458, Panela enferrujada, 415 158, 260, 267, 322, 340, 476
460 Pão, 119 [Ver também Pentateuco samari­
Queda de, 245,349,350,419,459, Papiros do Mar Morto, 27, 28, 29, 30, tano]
460 31, 272, 372-73, 435, 436, 459 Autoria do, 68-75
Nobe, 205 Pará, 388, 391 Ênfase do, 66-69
Noiva, Israel como, 413, 440, 441 Parã, Deserto de, 131, 132, 134, 136 Estrutura do, 73
Nome, mudança de, 96, 97-98 Parábolas, 290, 344 Pentecostes, dia de, 444
Nova Jerusalém, 423 Paralelismo antitético, 282-83, 286, Pequeno Apocalipse, 353, 354, 363-
Novo Império [Ver Egito, Novo Impé­ 318 364
rio] Paralelismo literário, 85 Perdão
Novo Testamento, relação com o An­ Paralelismo na poesia hebraica, 282, Do pecado, 216,217,220,301,376,
tigo, 475, 476 287, 318 377, 379, 397
Núbia, 48, 57 Paralelismo sinônimo, 282-83, 286 Nacional 147, 431
Números usados na Bíblia, 108, 129, Paralelismo sintético,282,283-84,286 Peregrinação, 309
130, 320 Paralelos, literários/culturais, 91, 292, Período intertestamental, 428
Nuvem da presença divina, 107, 130, 316, 331, 345 Período neobabilônio Ver Babilônia,
131 Páscoa, 106, 130, 172 novo império
Nuzi, 95, 99 Pastor, Deus como, 456 Período pós-exílio, 69-70, 158, 252,
Obediência Pátio do tabernáculo, 104 253, 254, 255, 256, 264, 266,
A Deus, 106,112, 144, 145, 146-147, Patriarcas, 44-46,48,90-100,143-148 329
222, 225, 249, 329 Aliança com, 356 Perseguição
Ao governo, 431 Genealogia dos, 255 Do povo dc Deus, 272-275, 429-
Obelisco Negro, 241 Teologia da retribuição e os, 163 431, 433
Obras, salvação por, 454 Paz/shalom, 347 Dos profetas, 388-392, 410
Obrigações da aliança, 261, 347, 386, Em Isaías, 356 Pérsia Ver Medo-Persa
387 No reino messiânico, 361, 468 Perversos, 395, 308, 455-456
Oferta de cereais, 120, 123 Ofertas de, 120 Planalto Central de Benjamim, 212
Oferta de culpa, 120, 122, 123, 124 Pecado Ver também Retribuição, Teo­ Plano de Deus, 26, 30, 84, 99, 134,
Ofertas Ver Sacrifícios logia da 148, 197, 200, 201, 211, 256,
Oleo no ritual sacerdotal, 104, 119, Condenação profética do, 231, 232 355, 360, 361, 362, 374, 375,
348 Confissão do, 216, 219-220, 270, 376, 422, 452, 465, 466, 470
Oliveiras, 466 307-308 Pluralidade Ver Casamento misto; Re-
Onipotência, 297, 298 Conseqüências do, 64-65,147,216- lativismo
Opressão dos pobres Ver Injustiça so­ 17, 219, 220, 254, 295-296, Poesia
cial 391, 394, 413 Livros de, 24
Oração, 297, 379, 397 De Acã, 162, 173, 182 Hebraica, 282, 284
De Ezequias, 367 De Davi, 162, 211-212, 216-217, Ugarítica, 284, 286-287
De intercessão, 386-387, 388 219, 220, 253, 308 Politeísmo, 80, 146, 287, 292, 319
De queixa, 387-88 Desculpas para, 358, 414 Portão de Ishtar, Babilônia, 433
Em Daniel, 431 Destruição final do, 472, 473 Portão leste de Jerusalém, 422
Pelos perdidos, 398-399 Escravidão ao, 138 Portão/portões/porta/portas
Por intervenção, 379 Expiação do, 124, 466, 467 Da Nova Jerusalém, 422, 423
Por julgamento, 310 Libertação do, 375 De Jerusalém, 265, 377, 469
Organização Nacional, 270, 378, 388-389, 409 Povo de Deus, 347,356,364,373,378-
De Deuteronômio, 142, 143 Oferta por 120, 124 379, 455, 464, 466, 468
De Esdras-Neemias, 265 Original, 82-84, 86 Povo escolhido, 99,182,259,260,378-
De Samuel, 210 Perdão do, 122, 456 379, 446, 466
Dos Salmos, 306 Purificação do, 347, 358 Povos do mar, 46, 49-50, 57 [Ver tam­
Orgulho, 432-433 Sacrifício pelo, 120-121, 122, 123, bém Filistia/filisteus]
Origens de Jó, 298 124 Pragas do Egito, 48, 66, 67, 68, 104,
Ossos secos, visão dos, 421 Sexual, 137, 138, 184, 196, 216, 105-06, 112 [Ver também julga­
Ouro 318, 322-323 mento de Deus]
Bezerro de, 136 Sob juizes, 184 Preâmbulo de tratado de suserania,
Bezerros de... de Jeroboão, 238 Tentação, 318 149, 150, 152
Portão de„, de Jerusalém, 469 Tristeza pelo, 307-08 Premilenialismo, 379
Pai/mãe na literatura de sabedoria, 291 Peixe, Jonas e o, 454, 460 Prenunciar Ver profecia de previsão
510
índice por assunto

Presença de Deus, 107, 134, 171,226, Profetas anteriores Ver Profetas De Jeroboão, 222
259,260, 411412 Profetas Maiores, 23, 24 Dc Saul, 200-201, 202, 205, 206
Em Êxodo, 107, 108, 113415 Profetas Menores, 23, 24 De Zedequias, 413
Em Números, 128, 130, 131 Profetas não-literários, 346, 350 Em Israel/Judá, 147-48, 400
Primogênito, 47, 97, 104, 239 Prólogo de Jó, 293, 294, 298 Final, 432
Princípios para os pais, 314, 317 Propósito de Deus, 388, 429,452-454, No deserto 131-135, 137, 388
Profecia (s) 455 Recabe/recabitas, 212, 398
Contra as nações, 354, 360, 363, Propósito de Redenção/livramento Ver também Sal­
394, 400, 402, 418420, 432, Cântico dos Cânticos, 286, 288 vação
445, 447, 448, 452453, 460 Crônicas, 252, 253, 254-255 Da Babilônia, 370, 374
De Ezequiel, 18-20, 414416 Eclesiastes, 286, 288, 327 Do Egito, 112
Profecia clássica/profetas, 341, 348- Esdras, 266 Refains, Vale dos, 212-218
349, 350 Jó, 286, 288, 301 Reformas, 222, 270
Profecia da estrela da manha, 418-19 Provérbios, 286, 288, 313-322 Sob Ezequias, 222, 240, 241, 244
Profecia de previsão, 342, 344, 371, Reis, 240 Sob Josias, 240, 244, 246, 351,
373, 380, 397, 428 Salmos, 286, 288 384-85, 459
Profecias dos ais, 354, 357-358, 364- Proteção de Deus, 430 Regência de Belsazar, 432, 433, 435
365, 366 Proteger o muro, 415 Registros antigos, 223-224, 244, 400,
Profecias sobre Provérbios de Salomão, 316-321 402, 435, 459
A Babilônia, 354, 362, 367, 394, Provérbios, 313 Regras sobre carne, 121
401-402, 403, 411, 458 Pseudônimos, livros bíblicos com, 428, Rei (s), 184-185, 435, 467
Damasco, 354, 360, 362, 366,394, 436 Lista de, 223, 230, 233
401, 403, 445 Pureza, chamado a, 65, 317,318, 322, Salmos para o, 307, 308
Edom, 394, 400, 403, 418, 419, 378, 412-413 Reino dividido, 46, 52-55, 56, 158,
424, 445, 452-453 Purificação dos pecados, 347-348 222, 223, 224, 227, 228-238,
Egito, 354, 362, 394, 400, 403, Purim, 272, 273, 275 245-249, 257, 340, 346
413, 419, 424, 443, 467 Qarqarm 348 Durante o reinado de Davi, 212,
Jerusalém, 354,362-363,366,375- Quebar, Rio, 409 217, 218, 225
377, 380-381, 391, 395, 409, Queda Ver também Lamento sobre Je­ Reino sacerdotal, 114
468, 469 rusalém Reino unido de Israel, 52, 158, 196,
Nova Jerusalém, 423, 424 Da Babilônia, 418, 457, 464 197, 199-200, 210, 211-220,
Sobre o Messias 354,358,360,366, De Judá/Jerusalém, 53, 55-56,158, 222,224-228,254-257,258-260
374,375-76,380,381,396,423, 162, 224, 238, 244, 246, 247, Reino/reinado Ver também Reino divi­
443, 455, 465, 468-469 254-255, 351, 360, 362, 368, dido; reino unido
Profetas 375, 394, 398-400, 402-405, Começo do, 196-206, 210, 256-
Anteriores, 160, 164 408-412, 415, 416, 418-419, 257, 258-260, 340
Atos simbólicos feitos por, 388,397, 421, 452-453, 458-459, 467 De Davi, 46, 52, 158, 185, 209,
398, 415 De Nínive, 456, 457, 460 210-220, 254, 255, 256, 258-
Cristo entre, 344 De Samaria, 54,161-162,243-244, 259, 423, 440, 445
Elias entre, 231-234, 238-239 254-255, 349, 360, 362, 375, De Deus, 59, 259, 284, 348, 356,
Eliseu entre, 239-40, 241 415, 441, 442 357, 365, 374, 380, 424-425,
Falsos, 342, 389, 395-396, 398, Quedar, 394, 401, 403 429, 431, 432, 433, 455, 464,
403, 404, 405, 408, 412, 455 Queixa contra Deus, 387-88, 389 465-466, 468, 469, 475
Jeremias entre, 385-391,394,400-403 Quenitas, 110 De Salomão, 224-228, 253, 259,
Juizes entre, 158, 161, 196 Querubim, 411, 412 327
Julgamento pelos, 391 Quiasmo, 142-143, 284-285, 430 Sacerdotal, 114
Milagres feitos por, 240, 243-244 Quiriate-Jearim/Baalá-Judá, 198,199, Reinos, visão de Daniel dos, 429, 430,
Moisés entre os, 148, 242 214, 219 431, 432, 433, 434
Não-literários, 346 Qumran, 27, 28,30, 372-73,436-438, Relativismo moral Ver Relativismo
Nas culturas pagãs, 344, 350 459 Relativismo, 185, 268, 357
Ofício de, 231, 233, 234, 240, 266, Racionalismo, 295, 298 Remanescente
341-342, 343, 344, 350, 409- Ramá, 199, 205, 228 Fiel, 355, 356, 360, 373, 375, 410,
420, 455 Rapto, 106 412, 468, 469, 470, 473
Perseguição contra, 388, 389 Ras Safsaf, 110 Teologia do, 355,356,365,370,376
Pós-exílio, 159 Ras Shamra Ver Ugarit Renovação da aliança, 144, 265, 270,
Samuel entre, 198, 242 Realeza 341, 351
Tradição dos, 242 Salmo (s) da, 307, 308-309 Renovo messiânico, 357, 361, 397,
Videntes, 341, 342, 350 Rebelião contra Deus, 138, 142, 238, 398, 467
Vigias, 420 355, 356, 385, 386 Resgatador, 189, 190, 191

511
índice por assunto

Responsabilidades, 320 Segundo templo, 266, 464-465 Restauração da, 380


Ressurreição, 100, 111,161,310,421, Templo, 408-409, 422 Santo
431, 433, 446, 472, 473 Sacerdócio levítico, 65, 69, 119, 147, Dos Santos, 122
Restauração 176-177,265,423,470-471,473 O... de Israel, 356, 401
Aliança de, 403 Censo do, 130 Santos do Altíssimo, 431, 433, 436
Apelos para a, 307 No reinado de Davi, 214 Saron, Planície de, 40, 57
Arquétipo de, 256-257 No segundo templo, 265, 270 Satisfação, busca por, 326
De Israel, 370, 373, 374, 396, 416, Sacerdócio, 119 Ver também Sacerdó­ Seca resultante do julgamento de Deus,
421,423,424425,442,460,461 cio de Arão; Sacerdócio levítico; 231, 388, 447
De Sião, 378-380 Sumo sacerdote Sefelá/“Montes Baixos”, 40, 57
Do remanescente, 449 De Cristo, 122,124,125,135,310, Segunda lei, 66
Do templo, 241, 422, 423 398 Sela, 307
Retidão, 68 Na hipótese documentária, 69, 71 Sela, 453
Retorno do exílio na Babilônia, 56-58, Sacrifício, 117-125, 424, 443, 472 Scm/semita, 79, 85, 86
159, 252, 253-255, 258, 264- Amaldiçoado, 470-471 Septuaginta, 28, 29, 108, 119, 128,
270, 271, 370, 371, 376-377, Da aliança, 106-107 142, 326
396, 424, 464, 466, 467, 468 De ação de graças, 120 Serpente de bronze, 130, 135
Retribuição, Teologia de, 147, 162, De animal, 118,120,122,124,470 Serpentes de julgamento, 135
163, 222, 226, 246, 247, 258, De crianças, 96, 387, 392 Servo sofredor, 356, 370, 375-376
291, 292, 295, 296, 298-99, Em Levítico, 122, 123, 124-125 Servo Ver também Servo sofredor
309, 322 Falha em realizar, 404 Em Isaías, 356, 372-376, 378
Revelação de Deus, 22, 24, 26,36, 67, Falso, 356, 447 Líderes, 148
68, 106, 134 Propósito do, 118 Papel do, 374-375
A Israel, 268, 475, 476 Sacerdotes e, 65, 200 Setenta semanas de Daniel, 428, 431,
Direta, 198 Tabernáculo, 104 433-434
Na criação, 454 Tipos de, 119, 120-121 Sexual
Rib, 442 Salmos de Davi, 30, 304-312 Expressão, 84, 331, 333, 335
Rima poética, 282, 286 Salmos de penitência, 304, 307-308, i Imoralidade, 123, 137, 138, 184,
Rio em Ezequiel, 423 310, 311 196, 216, 217, 317, 318, 322,
Rio Eufrates, 37, 38, 39, 47, 52, 245, Salmos imprecatórios, 304, 307, 310- 357, 441, 442, 457
345, 350, 388, 402 311 Pureza, 122,317,318, 322,413
Rio Nilo/Delta, 38, 39, 56, 106, 109, Salvação Shalom, 67, 347
362 Do remanescente, 364-366, 375 Shema, 145
Rio Orontes, 40 Em Crônicas, 158-159 Sheol, 419, 424
Rio Tigre, 37, 38, 53, 57, 350 Em Êxodo, 65-66, 112, 115 Shiggaion, 307
Rolo dc Isaías, Qumran, 372-73 História da, 67-68, 91, 160, 211, Sião, 284,362,364,375,378,379,387
Rolos 276, 465, 475, 476 Monte, 309, 405
Dos pecados, 409 Oferta de, 376, 446 Sicômoros, 342, 445
Voadores, 466 Palavra de, 25, 26, 455 Sidom, 230, 232, 240, 419, 424
Roma, 23,54,401,433,434,436,468 Para a nação, 142, 405 Siló, 42, 57, 183, 187, 196, 198, 205,
Romântico Para o povo de Deus, 68, 457, 459 387, 395
Amor, 286, 288 Pelo Messias, 211,378,380-81,454 Simeão,183
Formas literários de estilo, 272,331 Plano final de Deus de, 364, 374, Sinai
Rota do Êxodo, 108, 109, 110, 111 376, 378 Aliança no Ver Aliança Mosaica, no
Sabá, nação de, 226 Por Deus, 275, 276, 296, 361, 366, Sinai
Sábado, 104, 449 374-375 Monte, 65, 66, 104,106, 107, 108,
Ano Sabático, 119 Samaria/samaritano, 28, 29, 52, 54, 109, 110, 112-113, 118, 119,
Descanso, 139, 390 201, 230, 232, 243, 266, 349, 130, 136, 137, 143, 144, 145,
Sabedoria discursiva da Mesopotâmia, 413, 415, 441, 443, 446, 447, 168, 177, 340, 341, 347
291, 292, 316 455 [Ver também Israel, reino do Península do, 48,49,109,110,128,
Sabedoria instrutiva egípcia, 291,292, norte] 130, 396
297, 316, 318, 319 Samaritano, 340 j Sinal, 366, 367
Sabedoria personificada, 296,316,317, Sangue, importância do, 119,121,124 Sincretismo, 268, 274, 340, 390
318 Santidade, 68 Siquém, 42, 57, 146, 149, 176, 187
Sacerdócio de Arão, 58,104,119,120, Chamado para a, 68,119,124'125, Sirbonis, Lago, 108
122, 134, 145, 265-266, 269, 347, 381, 389, 423, 465 Síria, 37, 57, 93, 94, 198, 200, 213,
384, 423, 466, 467, 470 Código de, 119, 120, 122 218, 224, 240, 241, 242, 249,
Degradado, 196, 198, 395, 398, De Deus, 125-135, 423 252, 348, 349, 350, 351, 358,
404, 405, 422, 442 Em Levítico, 125-126 366, 400, 440, 452, 468

512
índice por assunto

Síria-Palestina, 37, 39, 40, 42, 43, 44, Saqueado por Jeoás, 241 Tribos de José, 421
46, 47, 48, 49, 52, 53, 56, 98, Segundo, 46, 265, 266, 424 Tribulação, grande, 421, 424
242, 332, 340, 349 Tesouros do, 265 Tributo de vassalos, 213,218,240, 242,
Moderna, 93, 286 Tenda da congregação, 104 243, 245
Sitz im Leben, 70, 72 Teocracia, 206 Tristeza
Soberania de Deus, 68, 72, 82, 105- Teodicidade, 83, 292, 294, 298 Pelo pecado, 307-308
106, 111, 148, 158, 159, 164, Teofania, 110,113, 225, 226, 227, 234 Jejum por, 379
187, 192, 258, 294-298, 356, Teologia deuteronômica Ver Retribui­ Trito-Isaías, 371, 379
374, 375, 385, 418, 432, 437, ção, teologia de Tróia, 49
444, 449, 457, 458, 459, 467 Teologia neo-ortodoxa, 24. 30, 31 Trombeta de chifre de carneiro Ver Shofar
Sodoma, 91, 356, 362, 401, 413 Teoria da inspiração limitada, 25 Trombeta Ver Shofar
Sofrimento, 294-299 Teoria da inspiração verbal plenária, 25- Túnel de Ezequias, 257
De Jeremias, 391-392 26, 30, 31 Ver também Bíblia; Ugarite/Ras Shamra, 285, 286
Pela fé, 456 Inspiração das Escrituras Ugarítico Ver Línguas
Problema do, 291-92 Teoria do ditado, 24, 30, 31 Unção
Sol, adoração do, 408, 411, 415 Terra Chamado de Deus, 348
Sonhos, 345,429,430 Ver tarnbém Visões Compra por Jeremias, 394, 397 Óleo de, 104
Suez, Canal de Ver Suez, Golfo de Divisão de, 137, 423 Unidade de Deus, 145-146
Suez, Golfo de, 39, 57, 109 Propriedade de Deus, 420 Ur, 47, 66, 83, 93, 97, 99, 402
Sumer/sumérios, 38, 44, 45, 46 Terra prometida, 65-66, 100,108,113, Povo de, 54
Sumo sacerdote, 58, 122, 145, 198, 114, 115, 123, 128, 144 Uruk, 84
266, 466, 467 Conquista da, 48, 64, 72,130,131, Uvas estragadas, Israel como, 442,448
Cristo como, 310, 398 134, 136, 137, 158, 168-172, Vacas de Basã, 447
Sunamita, 240 176, 177, 178, 182, 183, 340 -Vale do Elate, 43, 57, 254
Susã, 272, 273, 275 Entrada na, 138, 142 Vassalo, 360
Tabernáculo, 104, 113, 114, 119, 121, Falha em entrar, 132, 137 Vaticinium ex eventu, 346, 428, 436
128, 131, 147 Vida na, 151 Vento, correr atrás do, 328
Construção do, 104, 119 Terras altas da, 40, 42, 43, 57 Vestes sacerdotais, 104
Em Silo, 196, 387 Planalto da, 43 Via Maris, 42-43, 44, 48, 56, 57
No tempo dos juizes, 187, 190 Terremoto, 134, 445 Viagem, 56
Presença de Deus no, 134 Testamento de Moisés, 143 Mar, 254
Propósito do, 107-108 Testemunha Rodovias, 42-44
Tabernáculos, Festa dos, 270 Ás nações, 455 Vida, 317, 334
Tabor, Monte, 182, 443 De Deus, 390 Em Salmos, 305
Tábuas da lei, 104 Escrituras, 24, 372 Futilidade da, 295, 326
Talmud, 69, 72, 475 Tetratêuco, 162, 163, 164 Vidente, profeta como, 340, 349
Targuns, 28, 29, 30 Texto (s) Vinhedo de Israel, 357, 412, 413, 415,
Tarsis, 453 Acádios, 345 442, 443
Tebas, 48, 57, 458, 460 Dc presságio, 344, 346, 349, 350 Vinho, símbolo em Jeremias, 388
Tel Abibe, 409 Mari, 344, 345, 348, 349, 350 Violência, 378
Tel Aviv, 452 Ver também Jope Massorético, 28, 29, 30 Virgem, Sinal de uma, 358-60
Tema de preparação Timnate-Sera, 176 Visões, 266, 345 Ver também, Sonhos
Em Números, 130 Tiro, 213, 214, 226, 240, 354, 363, Apocalípticas, 428
Temor do Senhor, 146, 292, 316, 322, 366, 418-419, 424, 445 De Amós, 447-449
326, 327, 329 Títulos de Salmos, 306 Dc Daniel, 428,429,430,431,432,
Templo, 52, 257, 265-266, 356 Topografia do antigo Oriente Próximo, 434, 489
Adoração no, 119, 386 36-44 De Ezequiel, 409,411,421,422
Construção do, 226, 253 Torá, 23, 27, 30, 64, 72, 112, 267, 379 Noturnas, 465, 466
Destruição do, 56 Autoridade do, 247 Viúvas, 187, 446
Espiritual, 422-424, 464, 467 Bênçãos para os gentios, 377 Volta de Cristo, 433
Falha do, 404-405 Obediência ao, 347 Vulcões, 110
Glória de Deus no, 411 Transcendência de Deus, 24,30, 69, 72 Vulgata, 42, 326, 334
Novo, 422, 424 Transjordânia, 135, 174, 178 Yafo Ver Jope
Primeiro, 211, 214, 218, 219, 225, Transmissão de texto, 26-28, 30 Zagros, Montanhas, 36, 37, 48, 57
226, 227, 255, 256, 259-261 Tratado de suserania, 149-150,153,163 Zebulom, 360, 453
Profecia contra, 395 Tribos de Israel, 52 Zerede, 42, 57
Reconstrução do, 159,241,255,265, Divisão de terras entre as, 170, 175, Ziclague, 196, 204, 205, 210, 211
266, 269, 351, 422, 464-466 176-177, 178 Zigurate, 83, 84, 86
Rolo, do 459 Espirituais, 423 Zim, Deserto de, 134, 136

513
39.1-23 92 13.21,22 107
39.2 113 14.30,31 106

índice por 40.1-41.57


42.1-38 92
92 14-15
15.1-21
112
104
43.1-34 92 15.2 112

passagens bíblicas 44.1-34 92


45.1-28 92
46.1-50.14 92
15.22-19.2
15.22-27
16.1-36
104
104
104
48.21,22 176 16.13-35 172
G ênesis 6.9-9.29 84 17 92, 96, 100, 148 48.3,4 100 16 131
6.9 81 18.1-33 91 50.15-21 92 17.1-16 104
1.1-2.3 79,81
6-9 66 19.1-38 91 50.20 98
1.1-3 79 17.14 68
1.11 81 6 84 19.36.37 400 50.22-26 92 17.9-14 168
7.19 85 19.36.38 400,445 50.24,25 178
1.1 79,87 18.1-27 104
1.24,26 81 7.21,23 85 19.37 362 50.24 100 19.1,2 104, 130
7.4 85 19-40 65 50.25 98 19.16-25 106
1.26 80
9.1-29 79 20.1-18 91 19.18 110
1.27 335 A
9.3.4 121 20 83 Exodo
1.2 79,80 19.3-24.18 104
1.28 81 10.1-32 79,85,87 21.1-34 91 19.3-25 104
1.1-12.36 104
10.21-32 86 21.5 96 19.4,5 112
1.29,30 121 1.1-15.21 104
1.3-31 80 10 84 22.1-24 91 19.5 106
1.1-7 104
11.1-9 79 22.14 114 19.6 119
1.3-5 80 1.10 105
11.10-32 79,85,86 22.2 96 19-40 65,104,112,
1.3 79,80 1.11-1.5a 105
11.27-32 92 22.3 96,97
1.5,9,10 67 1.11 108,109 113
1.9-10 67,80 11.9 86 22 96,97 1.8-22 104 19 66, 100, 106
1-11 64,77,78,79, 11 66,85 23.1-20 91 1.8 47 20.1-17 106
87, 90 12.1-25.18 91 23.17,18 100 1-18 112,113 20.1-23.33 104
1-2 66, 79, 82, 84, 12.1-3 90 24.1-67 91 1 105 20.3 342,412
476 12.1-4 96 24.3-8 148 2.1-10 104 20-23 68, 112, 142
1 66,79,80,81,86, 12.1-9 91 25.1-18 91 2.11-25 104 20-24 149
87 12.10-20 91 25.19-34 91 2.15b-22 105 21.15 106
2.17 81,83 12.1 92,96 25.19-36.43 91,97 2.23-25 105 21.16 106
2.24 25, 84, 335 12.2,3 97, 99, 100 25.24-26 97 2.24,25 112 21.2-11 106
2.25 334 12.4 97 26.1-35 91 2.24 105 21.23-25 106
2.4-25 79,81 12.7 168, 170 26.2-5 100 2 105 21.2 398
2.7 81 12-25 92 26.23-35 490 3.1-4.17 104 21.28-36 106
2 81,86,87,91 12-50 65, 89, 90, 26.3 113 3.1 110 21-23 106, 112,
3.1.4.5 83 91, 98 27.1-46 91 3.13 114 122
3.1-24 79 12 90, 93, 96, 97, 27.41-43 97 3.14 114 22.21-24 446
3.19 329 148, 476 27.47-29.14 91 3-4 105 23.1-3 106
3.23 83 13.1-18 91 28.10-22 97 4.13 105 24.1-18 104
3.7 82,84 13 93 28.13-15 97, 100 4.18-31 104 24.13 168
3.8-10 82 14.1-24 91 28.15 113 5.1-23 104 24.17 110
3-11 82,86,87,99, 14 93 28.18-22 97 6.1-13 104 24.3-8 106, 112
228 15.1-21 91 28 97 6.14-30 104 24.4,7 68
3 64,67,82,86,87, 15.18 226 29.15-30.24 91 6.3 114 24.6 107
476 15.1 93 29.34 119 6 48 24.7,8 107
4.1-26 79 15.2 93 30.25-31.55 91 7.1-13 104 24.7 106
4.7 84 15.6 94,96 31.47 489 7.14-10.29 104 24 177
4-11 83 15.7-21 112 31.47b 27 11.1-10 104 25.1-31.18 104
4 84 15 93, 94, 95, 96, 32.1-33.20 91 12.1-27 104 25.1-9 104
5.1-32 79 100, 107, 148, 32 98 12.29-51 104 25.10-22 104
5.1 81 476 34.1-31 91 12.37-18.27 104 25.23-30 104
5.22-24 239 16.1-15 91 35.1-29 92 12.37 108, 129 25.31-40 104
5 84,256 16 95 36.1-43 92 12 106 25.8 107
6.1-8.22 79 17.1-27 91 36.1 400,445,452 13.1-16 104 25-31 107
6.1-8 84 17.1-5 96 37.1-36 92 13.17-14.31 104 26.1-37 104
6.5-8 84 17.17 96 37.1-50.26 92,98 13.17 109 27.1-8 104
6.5 84 17.1 96,101,112 38.1-30 92 13.18 109 27.20,21 104

514
índice por passagens bíblicas

27.9-19 104 11.1-15.33 119 1-6 131 14 134 1.5 143


28.1-43 104 11.1-16.34 119 1 131 15-20 134 1.6.7 144
29.1-46 104 11.42 27 2.1-4.49 130 15 134, 138 1.6-21 143
30.1-10 104 11.44-45 125 2 130 16.1 134 1.6-3.29 150
30.11-16 104 11.44 68 3.4 130 16.31-43 134 1.6-4.43 143, 153
30.17-21 104 11-15 121 3.5-10 119 16.44-50 134 1.6-8 143
30.22-38 104 11-16 119 3-6 131 16-17 304 1-3 143
31.1-11 104 11 121 3 130 17.1-13 128 1-3 143
31.12-18 104 12 121 4.3 384 17 134 2.1-3.22 144
32.1-33.23 104 13-14 121 4 130 18,19 134, 138 2.2-3.29 143
32.1-33.6 104 15 121 5.1-8.26 130 20.10-11 134 2.24,31 145
32-34 107 16.1-34 119 5 130 20.1 134 2.24-3.17 144
32 114, 136 16.14,15 122 6.1-21 198,446 20.12 134 2.33 145
33.11 168,341 16.16 121 6.22-27 131 20.14-21.35 135 2.4-7.28
33.7-23 104 16.2,3 122 6 131 20.17 43, 135 2.5,9,19 144
34.1-35 104 16.20-22 122 7.1 131 20.2-12 134 3.2 145
34.27 68 16.22 122 7-10 131 20.22-29 130 3.23-29 145
35.1-40.38 104 16.30 122 7-9 130 20.22-36.13 128, 3.3 145
35-39 107 16.8-10 122 7 131 130, 135, 138 4.1-40 143
40.17 119 16 467 8 131 20 142, 145, 148 4.13 397
40.34 107,114,226 17.1-16 119 9.1,15 131 21.1-4 130 4.35-40 142
40 107 17.1-26.46 119 9.1-10.10 130 21.10-20 130 4.41-43 143
17.11 121,123,124 9.15 131 21.21-35 130 4.44-26.19 142,
Levítico 17.13,14 121 9 130, 131 21.22 43, 135 143, 145, 153
1.1,2 119 17-27 119,122 10.1-10 118 21.4-9 135 4.44-49 143, 145
1.1-6.7 119 18.1-20.27 119 10.1-10 131 21.5-9 130 4.44 145
1.1-7.38 119 18.20 123 10.11, 12 131 21.5 138 4-11 143
1.13 120 18.22 123 10.11-12.16 130 21.9 135 4-26 150
1.17 120 18.23 123 10.11-20.21 128, 22.1-36.13 130 4 145
1.2 119 18.24,25 123, 170 130, 131, 138 22.22-30 136 5.1-11.32 143
1.4 124 18.24-30 169 10.11 119, 128, 22.33 136 5.1-3 145
1.9 120 18.25 123 130, 131 22-24 128, 135, 5.2.3 145
1-7 69, 119, 121 18.28 123 10.35 131 138 5.26, 28 69, 145,
1 120 18.3-5 123 10.5,6 131 23-24 136 146, 153
2.2 120 18.3 123 10.9 131 24.2 136 5-11 145, 146
2.9 120 18.6-18 123 10 118, 131 25.1-3 137 5 146
2 120 18-26 122 11.1 131 25.1-9 138 6.4-9 321
3.13 124 18 123 11.33 131 25.9 137 6.4 145
3.2 124 19.2 122, 125, 126 11-14 137 25 137, 138 6.5 95, 96,146,484
3.8 124 19.9 189 11 131 26.51 129 6.6.7 291
3 120 20.26 125 12.16 132 26 128, 137 6.8,12,15 273
4.1-5.13 120 20.7 125 12.8 341 27.12-23 137, 138 6-11 146
4.1 69 21.1-22.33 119 12 131, 132 27-36 137 7.17 139
4.20,26,31,35 120 23.1-44 119 13.1-20.21 130 27 137 7.4 227
4.4,15,24,29,33 124 23.22 189 13.16 132 28-36 137, 138 7.6.7.17 129
5.14-6.7 120 23.26-32 122 13.2 132 31.16 137 7.6 129
5.6,10 120 24.1-23 119 13.25-33 132 32.28-32 171 7.7 129
6.8-7.38 119 25,1-55 119 13.26 134 33.2 68 9 162
7.38,39 120 26.1-46 119 13.28,29 168 35.9-15 176 10.4 106
8.1-10.20 119 26.46 122 13.33 132 36.13 142 12.15.17 148
8.1-36 119 27.1-34 119 13-14 132, 176 12.1-26.19 143
8.13 124 13-18 168 Deuteronôm io 12.13,14 177
8-10 119, 121 Números 13 132 1.1-4.43 142, 153, 12-26 143
9.1-24 119 1.1-10.10 128,130. 14.1-10 169 162 12-26 145, 146,
10.1-20 119 138 14.10 134 1.1-5 143, 150 147, 152, 153
10.1-3 130 1.1-54 130 14.2 134, 138 1.1 143 12 147
10.1 121 1.2 131 14.39-45 134 1.2 143 13.1-14.21 147
10.16 27 1.46 129 14.4 134 1.26-46 144 13.1-5 342
10.3 121 1-4 128, 130 14.6-8 132 1.3 143 14.22-16.17 147
515
índice por passagens bíblicas

16.1848.22 147 32.48-33.29 143 17.12.13 176, 183 12.8-10 184 5.8-12 199
17.14-20 162 32.48-52 148 17.16-18 183 13.1-15.20 184 6.12-16 199
17.17 227 32 142, 148, 162 18.1-6 198 17.1-21.25 183 6.19-21 199
18.1549 148 33.1-29 148 18.1 196 17.6 182, 184, 186 6.4.5 199
18.15 341 33 142, 150 18.2-4 183 17-18 183, 184 7.1.2 214
18.15 355 34.1-12 143, 148 18.23 388 17-21 183, 184, 7.7-14 199
18.21.22 342 34.10 148,242 19.13 453 186 8 . 10-22 200
18.9-22 162 34.4 148 20.1-9 176 18.1 182, 184 8.19b,20 50
19.1-24.7 147 34.8 170 20-21 168, 176 19.1 182, 184 8.4.5 199
21.17 239 34 142, 150 21.18 384 19-21 183,184 8.6.7 197
21-26 153 21.43-45 170, 177 21.25 182, 184, 8.7 200
23.3.4 377 Josué 21 176 186, 196 8-12 196, 199
24.17-26.15 147 1.16-18 177 22-24 167, 168, 10.10-12 346
24.3-8 149 1.5 170 177 Rute 10.10 342
24.8-16 147 1.6,7,9 170 22 168 1.1-5 188 10.1 200
24.8 75 1.8 64 22 177 1.11 188 10.17-26 200
24-26 150 1-12 167,168,170 23.1-24.27 168,177 1.16-17 188 11.1.2 400
25.5.6 191 1-5 168, 170, 173 23.1-6 177 1.19 188 11.14,15 200
27.1-26 143 2.1-24 171 23.12.13 471 1.20,21 192 11 200, 206
27.1-31.30 142, 3.1-5.15 172 23 162 12.1-5 341
1.5 192
143, 146, 153 3.7 170 24.1-28 177 1.6-22 188 12.17.18 197
27.12 146 3-4 172 24.11 214 1 188, 191 12.20-25 200
27.4 146 4.9 169 24.15 177 12.3-5 200
2.1-23 188
27.5.6 161 5.10-12 130 24.26 169 12.8-18 200
2.1 188
27-28 146, 247 5.9 169 24.28-33 168, 178 12 162
2.18-23 189
27-30 143 5 172 24.29-31 169 13.14 52, 200, 203
2.2.3 189
27 146 6-9 167, 168, 172 24.31 178 13.19-22 50
2.20 189
28.1-68 143 6 170 24 149 13.8-14 197, 200,
2.4-7 189
28 69, 147, 150, 7.1-8.35 173 3.1-18 188 341
162, 222, 298 7.26 169 Juizes 13-15 196, 200
3.10-13 189
29.1-30.14 143, 7 162, 182 1.1-2.5 183, 185 3.10 190 14.19-23 200
147, 153 8,24 156 1.19 183 3.12.13 190 14.24-46 200
29.1 142 8.18 241 1.8 210
4.1-17 188 14.47 200
29.20 397 8.30-35 146, 161, 2.1-5 184 15.1-31 197
4.13 192
29.31 177 177 2.13,14 184 15.1-3 169
4.17 192
29-30 146 9.1-27 173 2.16-23 184 15.10-31 341
4.18-22 188
30.15-20 143, 147 9 218 2.16 182 15.15 201
4.3 191
30.19 150, 152 10 168, 173 2.19 184 15.20.21 201
4.6 191
31.1-30 143 11.1-15 168, 174 2.2,3 184 15.23 201
4 188, 190
31.14-23 147 11.15 174 2.6-15 184 15.24.25 201
22 188
31.14 170 11.16-12.24 168, 2.6-16.31 183,184, 15.24.25 201
23 189,190
31.19-22 150 174 186 15 200
31.19 147 11.18-20 169 2.6-3.6 183, 184 16.1-13 197, 201,
1 Samuel
31.23 147, 170 11.20 176 3.1-6 184 210
31.24-29 147 11.21 170 3.12-30 184 1.1-3.21 196, 198 16.1 197
31.26 245 13.1-13 183 3.31 184 1.10.11 198 16.14-23 197,201
31.3.7.8.14.23 170 13.6 170 3.5,6 268 1.19.20 198 16.18 202
31.3 147, 170 13-21 67, 168 3.6-16.31 183, 184 1-15 196 16.7 203
31.7.8 170 13-24 170 3.7-11 184 2.12-17 196 16-31 196,201
31.9,19,22,24 68 13 168, 176 4.1-5.31 184 2.22-25 196 16 196, 201, 304
31.9-13 147, 150 14.6-15 176 6.1-8.28 184 2.27-36 198 17.1-18.5 197
31.9 75 14.8 176 6 186 2-3 201 17.26.36.46.47 202
31-34 143 14-19 168, 176 10.1,2 184 3.10 198 17-34-37 203
31 147, 153 14 177 10.3-5 184 3.20 198 17.47 203
32.1-32.47 147 15.63 169, 176 10.6-12.7 184 4.1-7.17 196,198 17 196,202
32.1-34.12 143,147 15-19 176 10 182 4.10.11 199 18.1 203
32.1-47 143, 147 16.10 169,176,183 11.26 108, 109 4.1 198 18.6-9 203
32.1 150 16-17 176 12.11,12 184 5.3,4 199 18-27 196,203
32.47 26 16-18 183 12.13-15 184 5.6 199 19.20.21 346

516
índice por passagens bíblicas

19.23,24 342 11-12 210-216 6-7 226 16.21-28 228 4.1-7 240
19.9'11 203 11 211,253 8.1-4 245 16.21-28 230 4.38-44 240
20.24-34 203 12.21 379 8.10-11 226 16.25,26 222 4.8-37 240
20.32,33 203 12.7 216 8.23,24 226 16.29-18.29 228 5.1-27 240
21.1-9 203 13.4 217 8.25,26 226 16.29-22.53 224, 6.1-7 240
22.7-19 203 13-14 210, 217 8 226 230 6.24-7.20 240
23.29-23 203 13-20 210,217 9.16 169 16.29-33 222 6.8-23 240
23.7,8 203 13 210 9.2 226 16.29-34 230 8.1-6 240
24.1,2 203 15-19 210,217 9.26,27 40 16.31-33 231 8.18 240
24.16-22 204 16.23 218 9.26 483 17.1 231,341 8.26,27 240
24.3-6 204 19.41,43 218 9.3 226 17.17 227 8.7-15 240
24.6 348 20 210,217 9.4,5 226 17-19 231 9.1-10.28 240
25 161,204 21.1-14 218 10.10,13 226 18.1 231 9.1-13 240
26.1,2 203 21.15-22 218,219 10.23 226 18.19 231 9.22-26 234
26.21 204 21-24 210,218 10 222,226 18.21 231 9.22 490
26.6-16 204 22.1-23.7 218 11.1-43 224 18.36-38 231 9.27 240
27.1-3 204 22 219 11.14-22 227 18 341 9.30-37 234
27.6 196 23.8-39 218 11.14 227 19.11,12 231 9-10 240, 241
28-31 196,204 24.1 219 11.2 227 19.19-21 239 9-17 228
28 204 24.24 220 11.23-25 227 19.2 231 10.1-17.41 238
29 204,205 24 218,219 11.26-40 228 19.3,4 231 10.32,33 240
30 205 11.29-30 346 19.5-8 231 11.1-20 240
31.11,13 212 1 Reis 11.3 227 19.9-18 231 11.4-21 240
31.13 379 1.1-11.43 224 11.41-43 228 19 162 11 240
31.2 203 1.1-2.46 224 11.41 223 20.1-43 232 12.2 241
31 212 1.5-2.24 253 11.4 52 20.42,43 232 12.3-5 241
1-11 224,256 11.9-13 227,253 21.17-24 234 13.14-19 240
2 Samuel 1-2 224,225 21.20 234
11 223,224,227, 13.14-20 241
1.14 348 1 220 228 21.21 240 13.19 249
1.18 210 2.26,27 384 12.1-16.28 224,228 21.25 234 13.20,21 240
1-10 210 2.3,4 386 12.1-22.53 224 21.27 379 13.25 249
1-4 210,211 2.3 482 12.1 238 21.3 191,232 13-17 241
1 210, 211,212 2.4 216 12.25-33 228 21.4 232 13 241
2-4 210,212 3.1-10.29 224 12-14 228 21 231,232 14.23-29 241
3.2 217 3.1 169,227 12-22 228 22.2-4 234 14.25,28 241
3.3 217 3.12,13 225 12 228 22.39,40 230 14.25 440,453
5,8,10 210,212 3.13 226 13.1-10 346 22.52 238 14.3 241
5.11 445 3.14 225 13.1 228 22.7-28 346 14.6 64
5.17-25 212 3.16-28 225 13.2 372 22.8 234 14.8-14 241
5.3 218 3.28 226 13.4-10 228 22 234 14 241
5.4 210 3.3 225 13 346 15.1-7 242
5.5-9 210 3.5 225 14.1-18 228 2 Reis 15.19,20 242
5.6-10 169 3-10 224 14.10,11 228 1.1-13.21 346 15.29,30 360
5-24 210,212 3-11 225 14.15,16 247 1.1-17.41 238 15.29 242
5-6 210,213 3-4 256 14.19 223 1.1-9.37 238 15.32-38 242
6.1-19 210 3 225 14.21-16.28 228 1.3 238 15.8-31 242
6.6-8 214 4.1-6 226 14.22-24 228 1-17 238 15 247
7.10,11 216 4.20-28 226 14.29 223 1-17 238 16.3 242
7.12,13 216 4.21 226 14.9 228 1 231,238 16.7,8 358,360
7.13 216,217 4.25 52,226 15.1 223 2.1-18 239 16.7 243
7.14,15 216 4.29-34 226, 290, 15.16-33 223 2.13,14 239 16.8 243
7.14 216 321 15.17-22 228 2.19-22 239 16.9 360
7 100, 210, 211, 4.32 305 15.18 232 2.23-25 239 16 242
214, 258, 308, 4.7-19 226 15.2 223 2.8 239 17.1-6 243,362
386 4 226 15.31 223 2.9 239 17.13-23 238
8.1 213 5.1-12 445 15.3 223 2-8 239 17.15,16 243
9 218 5.1-8.66 226 15.33,34 222 2 239 17.15 243
10.1-4 400 5 226 15.7 223,228 3.1-27 240 17.18,20,23 243
10 213 6.1 108, 109 15.8 223 3.4 445 17.22,23 247

51 7
índice por passagens bíblicas

17.23 249 24.8-17 238,246 29-32 244 8.1-14 265 8.10-18 265
17.2441 243 25.1-21 246 29-36 256 8.15-20 265 8.1 276
17.24 266 25.22-26 246 32 257 8.21-32 267 8.13-18 270
17.29 243 25.27-30 163,224, 33.1-20 244 8.21-36 265 8.6 270
17.41 228,238 238, 246, 395, 35.25 403 9.1-15 265 8-10 270
17.5,6 243 402 36.22,23 58, 224, 9.1-4 268 9.1-37 265
17.6,7 169 25.8 467 252, 254, 257, 9.14 268 9.3 270
17.7-23 243,376 258 9.5-15 268 9.38-10.39 265
17 243 1 Crônicas 9.6 268 9.38-10.39 270
18.1-20.21 238 1.1-2.2 255 Esdras 9-10 471 9 270
18.1-25.30 238 1-9 255,256 1.1-2.70 265 10.1-17 265 11.1-12.26 265
18.1346 367 2.3-4.23 255 1.1-4 58,265 10.1-4 268 11.1-36 265
18.1349.37 244 4.24-8.40 255 1.1 276 10.1-44 265 11 270
18.4-6 244 8 256 1.2,3 257 10.12-44 269 12.1-26 265,270
18.4 257 9 255 1.2-4 258,265,266 10.18-44 265 12.27-47 265,270
18.7 244,367 10.1-11.3 256 1.5-11 265 12.27 270
18.8 244 10.13,14 256,257 1.8 265 SMeemias 12-13 271
18-20 244 10-20 256 1-6 58,265,271 1.1-11 265 13.1-31 265
18-25 224, 238, 10-29 255,256 2.1-70 265 1.1-11 265 13.1 482
243 10-36 256,257 2.2 265 1.1-3 252,265 13.23-29 471
19.1549 244 10 255 2.2 464 1.1-3 265 13 270
19.15 244 11-12 255 2 270 1.11 269
19.20-34 244 13-22 255 3.1-6.22 265 1.1 164 Ester
19.35-37 244 15.17 304 3.1-6 265,266 1.3 269 1.19 273
19.35 245 15.4,5 304 3.10,11 266 1.4-11 265 1.2-22 272
20.1-11 244 15-16 304 3.11 276 1-13 58 1.3 272
20.12-19 244 17.13 258 3.12,13 266 1-6 269 1-2 272
20.2 244 17.7-14 255 3.2 464 1-7 270 1 272
20 244 17 257,258 3.7-13 265 2.1-10 265 2.1-18 272
21.1-18 238,244 21.1 219 3.7-6.22 266 2.10,19 269 2.1-4 272
21.10-16 238 21-29 256 4.1-5 265,266 2.17,18 269 2.10 273
21.11-15 245,247 22.1-5 253 4.23,24 265,269 2.8 269 2.17 272
21.11 367 22.8,9 214 4.24 266 3.1-32 265 2.19-23 272
21.1 367 23.1-29.20 255 4.6-23 266 3.1-7.3 265 2.20 273
21.19-26 238,244 28.9 258 4.6-24 265 3 269 2.21-23 273
21.8-18 244 29.21-30 255 4.8-6.18 27 4.1-23 265 2.7 273
21.8 482 4 266,276 4.1-6.19 269 3.1-15 272
21.9 245 2 Crônicas 5,6 266 4.15 269 3.7,13 273
22.1-23.30 238,245 1-9 255,256 5.1,2 265 4.16 269 3 273
22.14-20 346 1 255 5.3-17 265 4.2,3 270 4.1-17 272
22.14-20 346 2-7 255 6.1-22 265 4.7,8 270 4.11 273
22.19 245 3.1 220 6.14,15 255 4.7 269 4.14 273
22.3-23.7 460 7.14 257 6.14-18 266 4.9 269 4.16 273
22.8-10 245 8-9 256 6.17 270 4 270 4-10 273
22.8 384 10-13 256 6-7 276 5.1-19 265 5.1-14 272
22 71 10-36 256, 260 7.1-10 265 5.14-19 269 5.14 274
23.22 245 13.8 259 7.1-5 266 5 269 5.9 273
23.26 257 14.1-21.3 256 7.1-8.36 265 6.1-14 265 6.1-14 272
23.29,30 246,400 20.15-23 169 7.10 265, 267, 276 6.15-19 165 6.11 274,275
23.31-25.21 246 20.19 304 7.11-26 265 6.15 270 6.1 274
23.31-34 295,414 21.4-22.12 256 7.12-26 6 270 6.7-9 274,275
23.31-35 238,246 21.7 214 7.27,28 265 7.1-73 265 7.1-10 272
23.36-24.7 238,246 22.3-5 240 7.28 271 7.4 270 7.3-6 274,275
24.10-15 395 23-27 256 7.6,9 267 7.5 270 7.9,10 275
24.18-25.21 246 24.17-25 241 7.6 266,267 7-13 265,270 8.1,2 275
24.18-25.26 238 26.1-23 242 7.7,8 271 7 269 8.1-17 272
24.2-4 245,247 26.6-15 440 7-10 58, 266, 271 8.1-10.39 265 8.3-17 275
24.20-25.7 169 28 256 7-13 265 8.1-12 270 8.8 273
24.2 249 29-31 257,319 7-8 267 8.1-9 265 9.1-10.3 272

518
índice por passagens bíblicas

9.149 275 15.1-21.34 293 38.3 297 57 304 5.1-23 316


9.1649 275 15.17-35 296 38.4 297 62.11,12 445 5.15-23 318
9.20-28 275 15.2-4 292,296 38.8 297 69 310 5.3-5 318
9.22 275 15.5,6 292 40.1,2 297 71.22 306 5.7-14 318
10.1-3 276 15.7,8 296 40.1-42.6 293 72.1 321 6.1-19 316
15.7 295 40.15-41.34 298 72 305 6.16-19 445
Jó 16.19 296 40.3-5 297 73-83 304 6.20-35 318
1.1-2.13 293 16.3,4 296 40.4-5 297 73-89 306,311 6.20-7.27 316
1.1-5 293 18.3 292 40.6 297 73 290,308 6.23-29 291
1.13-19 293 19.25-27 296 40.9 297 85 305 6.27 318
1.20-22 293 20.19 296 42.12 298 89.3 214 7.1-27 318
1.22 294 20.29 296 42.2 298 90-106 306,31 7.1-5 318
1.6-12 293 21.2,3 292 42.3 298 90 305 7.22 318
1.9-11 294 21.23-26 296 42.5,6 298 107-150 306,311 7.24-27 318
1-2 293,294 21.34 296 42.7-17 293,298 110.1 309 7.6-27 318
2.1-5 293 21.7-16 292 110.5 309 7.8,9 318
2.10b 294 22.1-27.33 293 Salmos 110 309,310 7 318
2.11-13 293 22.23 296 1.1,2 185 119.9-16 285 8.1-21 318
2.11 294 22.4-7 296 1.1 31 119 285,320 8.1-36 316,318
2.4,5 294 22-26 295 1.3 284 127.1 321 8.22-31 318
2.6-8 293 23.10-12 296 1.6 283 127 305 8.35,36 318
2.8 294 23.4 296 1-41 306,311 136 305,307 9.1-18 316
2.9,10 293 25 296 1 290,308 137.7 453 9.10 282,322
2.9 294 27.1-6 296 2.6 284 137 310 10.1-22.16 316,
3.1-26 293 28.1-28 293 2.7 309 150 306,307 318, 321
3.1-27.23 293 28.20-28 296 2 309 10.1 317,318,321,
3.1-42.6 283 28.28 326 3 304, 305, 306, Provérbios 330
3-31 294 28-31 296 311 1.1-7 316 10.2 283
3 294 28 296 4 306,312 1.10-19 317 10.4 283
4.1-14.22 293 29.1-25 293 6 312 1.1 330 10.7 283
4.17 295 29.1-31.40 293 8.1a 285 1.2-6 316 10-22 321
4-27 295 29 296 8.1b 285 1.20-33 316,317 11.1 320
5.17 295 30.1-31 293 8.2 285 1.28-32 317 12.4 317
5.18-27 295 30 296 8 284, 285, 307 1.33 317 13.24 315
5.19-27 445 31.1-40 293 14 308 1.4 316 16.1 315
6.24,30 295 31.35 296 15.1 282 1.5 316 16.18-28 282
6.7 295 31 296 15 306 1.7 292,316,317, 16.24 315
7.16-21 295 32.1-37.24 293 16 309,310 322, 326 18.6,7 282
8.20 295 32.1-5 293 19.1 282 1.8,9 317 19.29 283
8.2 295 32.2 296 19.7-10 113 1.8-19 316 20.20 315
8.3-7 295 32.3 296 22.12 446,447 1.8-9.18 316,317, 22.17-21 318
8.3 295 32.6-33.33 293 22.14-18 310 318, 319, 322, 22.17-23.11 319
9.10 295 32-37 296 22 309,310 487 22.17-23.14 318
9.22 295 33.13 297 23 305 1.8 291,317 22.17-24.34 316,
9.2 295 33.14 445 24.1 283 1-9 321 318
9.25-31 295 33.19 297 33.6,9 80 2.1-22 317 22.20 318
10.18-22 295 33.26-30 297 35 310 2.1-4.27 316 22.24,25 315
11.14 296 33.37 297 37 290 2.1-5 291 22.6 314
11.17 296 34.1-37 293 38 308 2.4 317 22-24 292
11.3 296 35.1-16 293 42-72 306,311 2.6 317 22-28 321
11.4 296 35.13-16 297 44 305 2.7-24.34 316 23.1-3 291
11.6b 296 36.1-37.24 293 45.1 309 3.1-35 317 23.22-25 321
11.7 292 36.10-12 297 45.3-5 309 3.5,6 317 24.27 315
12.3 296 36.2 297 45.6 309 3.7 314 25.1-29.27 316,
12.7-10 296 38.1-39.30 293 45.7-9 309 4.1-27 317 319, 322
13.13-19 296 38.1-42.6 293,297, 45 309,310 4.18,19 317 25.1 319,321
13.2 296 300 49 290 4.23,24 315 25.13 291
13.24-27 296 38.1 297 50 304 4.3,4 317 25.2,3 319
14.13 296 38.31 297 51 304,308 5.1-14 318 25.6-8 319

519
índice por passagens bíblicas

25-29 321 5.8-17 328 1.1 354,355 9.1 42 26.1148 364


30.1-33 316, 320, 6.10-12 326 1.15 356 9.17 360 26.6-9 364
322 6.3-6 328 1.16-20 356 9.21 360 27.143 354,364
30.1-9 320 7.1-14 326 1.2-15 356 9.6,7 360,372 27.12,13 364
30.15b,16 445 7.1 328 1.21-23 356 9.8-10.34 360 27.1 364
30.18-20 445 7.15-24 326 1.2 150 9.8-10.4 354,360 27.2-6 364
30.21-23 445 7.15 328 1.27-31 356 10.12,23 360 27.9 364
30.29-31 445 7.25-8.1 326 1.4 356 10.20,21 356 27 361
30 319 7.5-14 328 1.8 355 10.20 372 28.1-29 354,364
31.1-9 316,320 7.5 328 1.9 356 10.26 372 28.1-33.24 354,364
31.10-31 285,316, 8.15 328 1-12 367 10.4 360 28.15 364
317, 320, 322 8.2-8 326,328 1-39 353,355,366, 10.5-34 354,360 28.16-22 364
31.23 320 8.9-17 326 367, 370, 371, 10.5 360 28.9-13 364
31.28-31 321 8.9-9.10 328 372, 379 11.1-12.6 354,360 28-33 364
31 319,321 9.1-6 326 1 356 11.1-16 356,372 28-33 366
9.11-12.8 328 2.1-4 354,356 11 357 29.1-24 354,364
Eclesiastes 9.11-18 326 2.1-5.30 354,356 13.1-14.23 354,362 29.1 364
1.1-11 326,327 9.11 329 2.13 447 13.1-23.18 354,361 29.17-24 364
1.12-2.26 326 9.13-18 329 2.1 345 13.17 362 29.4 364
1.12-4.16 326,327 9.2 328 2.22-3.15 357 13.19,20 362 29.9-16 364
1.13-18 327 9.7-10 326,328 2.5-21 357 13-23 356, 363, 304-31.9 354,365
1.1 326 9.7-9 329 2.5-4.6 354,356 365, 367, 418, 30.1-5 365
1.14 327 10.1-20 326 3.16-4.1 357 432 31.1-5 365
1.16-17 327,330 10 329 4.2-6 357 14.12-15 362 31.1-8 355
1.17 317 11.1-6 326,329 4.2 361 14.13,14 362 32.1-20 354,365
1.2-11 326 11.1 284,329 5.1-7 354-357 14.24-27 354,362 32.3.4 365
1.2 326,327 11.7-12.8 326 5.11-17 357 14.28-32 354,362 33.1.2 365
1.3-11 327 12.1-8 328,329 5.18,19 357 14.3-21 362 33.1-24 354,365
1.5,6 327 12.13, 14 326 5.20 358 14.4 362 33.1-4 365
1.9-10 327 12.1 329 5.21 358 14 418,419 33.1446 365
2.1-3 327 12.13 329 5.22,23 358 15.1-16.14 354,362 34.147 354,365
2.11 327 12.5 329 5.8-10 357 15.1-9 362 344-35.10 354,365
2.12-16 327 12.7 329 5.8-30 354,357 16.14 362 34.16,17 365
2.17 327 12.8 326,329 6.1-13 354,358 17.1-14 354,362 34.4 365
2.24,25 327,328 12.9-14 326,329 6.1-8 354,356,358 17.6-8 362 34-35 364
2.26 327 12 328 6.8 358 18.1-20.6 354,362 35.1-10 354,366
2.4-11 327 6.9-13 354,358 18.7 362 35.4-6 366
3.1-15 326,327 Cântico dos 7.1,2 358 19.5-8 362 35.7 366
3.12 327 Cânticos 7.1-14 346 20.1-6 362 35.8-10 366
3.13 328 7.1-17 354,358 20.2 355 36.1-37.38 354,367
1.1-2.7 331
3.14 328 7.1-9 354,358 21.1-10 362 36.1-39.8 354,367
1.1 321,333
3.16-22 326 7.10-12 358 21.1-14 362 36.4-20 367
1.2 333
3.19,20 328 7.10-17 354,358 21.1-17 354,362 36.6 55,365
3.22 328 2.8-3.5 331
7.14 358,360 22.1-25 354,362 36-37 367
3.2 327 3.6-5.1 331
7.18-25 360 22.15-19 363 36-39 244,367
3.9 327 4.1-5 332
7.18-8.22 35^360 22.20-25 363 3744-29 367
4.1-3 326 4-1-7 331 7.3-13 355 22.20 356,373 37.2-7 355
4.13-16 326 4.2 331 7.3-9 342 23.1-18 354,363 37.21-35 342,355
446 328 4.6 332 7.3 355,356 24.1-23 354,364 37.21 355
4.2,3 328 4.9-11 333 7.4-9 358 24.1-27.13 354,363 37.23 356
4.4-12 326 5.2-8.4 332 7 243 24.1-6 364 37.2 355
4.4 328 5.9-16 331 8.1-4 360 24.14-16 364 37.35 367
4.6 328 7.1-5 331 8.16 347 24.23 364 37.6.7 342
4.7 328 8.5-14 332 8.3 355,358 24-27 363, 364, 37.8-13 367
5.1-12.8 326,328 8.5-22 360 366, 428 38.1-22 354,367
5.1-7 326,328 Isaías 8 358 25.1-12 354,364 38.1-8 342,355
5.10-6.9 326 1.1-16 356 9.1,2 356 25.6-9 364 38.1 355
5.18 328 1.1-31 354,356 9.1-7 354,360 26.1-21 354,364 38.4 355
5.8,9 326 1.10 356 9.12 360 26.1-6 364 38-39 366. 367

520
índice por passagens bíblicas

39.1-8 354,368 53.10 376 6.22,23 401 25.21 401 46-51 418,432
39.1 350 53.12 376 6.9-15 386 25.9 401 47.1-7 394,400
39.3-8 342,355 53.3 376 7.1-15 346 26.1-24 386,394, 48.1-47 394,400
39.3 355 53.4-6 375,376 7.1-8.3 384, 386 395 48.11 400
39-40 372,373 53.7-9 375 7.12 387 26.2 24 48.29,30 400
40.1-11 373 53.7 376 7.4 386 26.24 399 48.47 400
40.1-31 370373 53.8 376 8.4'10.25 384,387 27.1-28.17 394,395 48.7 400
40.42 380 53.9 376 10.11 27 28.1-17 384 49.1-6 394,400
40-55 371 53 476 10.17-25 388 28.1-32 394,396 49.14-16 401
40-60 367 54.1-17 370,376 11.1-12.17 384,388 28.1-4 396 49.23-27 394,401
40-66 355, 356, 54.1-59.21 370,376 11.1-20.18 384,388 29.11 402 49.28-33 394,401
367, 369, 370, 55.1-13 370,377 11.18-20 388 29.8.9 384 49.34-39 394,401
371, 372, 373, 55.12 376 11.18-23 388 30.1-31.40 394,396 49.7-22 394,400
379, 380 56.1-8 370,377 11-20 388 30.1-33.26 394,396 49.9 401
41.1-29 370,373 56.9-57.21 370,378 12.1-6 388 30.9 396 50.1-51.64 394,401
41.8 356,373 56-66 371 13.1-27 384,388 30-33 396 50.29 401
42.1-25 370,374 58.1-14 370,378 14.1-17.27 384,389 31.15 396 50.34 401
42.1-4 372,374 58.5-7 379 14.13-16 388,389 31.31-34 396 50.40 401
42.1-9 373 58.6,7 446 14.17-22 388,389 31.3 396 50.41,42 401
42.18-25 374 59.1-21 370,378 15.10-21 388 31.34 397 51.11 402
42.23-25 376 59.20-21 378 15.10 384,389 31.35-37 397 52.1-34 394,402
43.1-44.8 374 60.1-22 370,378 15.1 389 32.1-44 394,397
43.1-45.25 370,374 60.1-66.24 370,378 15.15-18 384,389 32.17 397 Lam entações
44.24-45.25 374 61.1-11 370 15.19-21 389 32.27 397
61.1-3 378 1,2,4 403
44.28 371,374 15.4 367 32.7 397 1.1-22 402,403
44.9-23 374 61.4-11 378 16.1-4 384 33.1-26 394,397 1.1 403
45.1 356,371,374 62.1-12 370, 378, 16.1-9 389 33.15,16 398 1.2 403
45.23 374 379 17.1-18 389 33.17.18 398
62.4 379 2.1-22 402,404
45.5,6 374 17.14-18 388 33.2.3 397 3.1-66 402,405
46.1-13 374 63.1-6 370,379 17.19-27 390 34.1-22 394,398
63.7-64.12 370,379 3 320,403
47.1-15 374 18.1-12 389,390 34.1-39.18 394,398
65.1-25 370,380 4.1-22 402,405
47.1-47.15 370,374 18.1-19.15 384,390 34.18 94
65.17-25 380 5.1-22 402,405
47.8 374 18.18-23 388 35.1-19 394,398
66.1,2 381 5 403
48.1-22 370,374 19.1.2 392 36.1-32 394,398
48.1-52.12 370,374 66.1-24 370,379 20.1-18 384,392 36.21-23 384
66.20 378 Ezequiel
49.1-7 370, 373, 20.1-6 384 36.2 347
374 20.14-18 384,392 36.26 384 1.1-3 408,409,464
49.14-16 375 Jerem ias 20.7-10 384 36.4-21 385 1.1-5.17 408,409
49.3 356, 373, 375 1.1-19 384,385 20.7-13 392 36.4-6 347 1.3 408
49.5 375 1.1-3 385 20.7-18 388 37.1-38.28 394,398 1.4-28 408,409
49.6 374 1.10 396 21.1.2 394 37.17-20 346 1-24 407,418
49.8-26 370,375 1.1 342,384 21.1-23.8 394 37.17 384 1 422
50.1-11 370,375 1.17-19 389 21.1-29.32 394 37.5 400 2.1-10 409
50.4-11 373,375 1.4.5 343 21.1-52.34 394 38.14-23 384 2.1-3.27 408,409
50.6 375 1.5 385 21.8,9 394 38.17-23 413 2.5 408,409
51.1-16 370,375 1.6 384 21-52 393 39.1-18 394,399 2.64,65 464
51.17-52.12 370, 1.9-19 385 22.10-12 394 39.1 468 3.1-15 409
375 1-20 383 22.13-23 395 39.2 467 3.16-21 409
52.13-15 370,372, 2.1-10.25 384,385 22.18-19 398 39 402 3.17 420
373, 375, 376 2.1-3.5 384,385 22.19 395 40.1-41.18 394,399 3.22-27 410
52.13-53.12 370, 2.13 386 22.2-5 394 40.1-45.5 394,399 4.1-3 410
372, 373, 375, 2.28 386 22.24-30 395 40.5 399 4.1-5.17 408,410
376 3.6-4.4 384, 386 23.13,14 395 40.7-41.9 246 4.1-5 464
52.13 356, 372, 4.19-22 386 23.5,6 395,398 41.2 467 4.4-8 410
373, 375, 376 4 5^6.30 384, 386 23.9-40 394,395 42.1-43.13 394,399 4.9-17 410
52.14 376 5.1 386 24.1-25.38 394,395 43.4-7 384 5.1-17 410
52.15 376 5.18,19 386 25.1-14 395 44.1-45.5 394,400 6.1-14 408,410
53.1-3 375 6.13,14 384 25.12 396 46.1-28 394,400 6.1-7.27 408,410
53.10-12 356 6.13 466 25.15-38 395 46.1-51.64 394,400 7.1-27 408,411

521
Indice por passagens bíblicas

8.1-11.25 408,411 34 419 5 430, 431, 432, 6.1-11.1 442 8.4-14 449
8.1-6 408,411 35.1-15 421 435 6.11 490 8.5 423
8.14,15 408,411 36.1-37.28 421 6.1-28 429 6.3 441 9.1-6 449
8.16-18 408,411 38.1-39.20 421 6.12 273 6.4 490 9.11-15 445
8.7-13 408,411 38-39 421 6.15 273 6.6 443
8-11 411 39.17 421 6.28 435 7.11 441 Obadias
9.1-11 408,411 39.18 447 6.8 273 9.10-11.11 442 1.1-4 453
9.7 411 40.1-4 422 6 430 10.11 490 1.1-5 400
10.1-22 408,411 40.1-48.35 422 7.1-28 429 11.12-13.16 440, 1.10-14 400,418,
11.1-21 408,411 40.48-41.26 422 7.14 433 442 453
11.22-25 408,412 40.5-47 422 7.8 434 11.1 443 1.11-14 452
11 422 40-48 422, 423, 7-12 429,431,432, 12.3 490 1.15-21 452,453
12.1-20 408,412 424, 425 434, 435, 465 12.4 98 1.16 395
12.1-24.27 408,412 42.1-14 422 7 430, 431,432, 12.7 423,442 1.3 453
12.21-28 408,412 42.15-20 422 433, 434, 436, 14.1-9 440,443 1.5-9 452,453
13.1-23 408,412 43.1-12 422 437, 438,
Jo e l 1 452
14.1-11 408,412 43.13-27 422 8.1-27 429
14.12-23 408 43 422 8-12 434,436 1.1-20 443,444 Jo n as
14.12-23 412 44.1-45.8 422 8 431,432,435 1.13,14 444
44.2 422 9.1-27 429 1.1-16 453
15.1-17.24 408,412 1.15 444
45.9-46.24 423 9.11-13 482 1.1 453
15.1-8 412 2.1-17 443,444
47.1-12 423 9.20-23 431 1.17-2.10 453,454
15-17 412 2.11 444
47.12 423 9.24-27 431,433, 1.2 453
16.1-63 412 2.12.13 444
47.13-48.29 423 434 3.1-10 453,454
17.1-24 412 2.1 444
48.30-35 424 9.3 431 3.3 454
17 413 2.18-3.21 442,443,
9 431 3.4 346,454
18.1-32 408,413 444
Daniel 10.1-11.45 429, 3.5 379
18.23 414 2.28-32 444
433, 439, 490 2.31 444 4.1-11 453,454
18.32 414 1.1-2.4a 434
10-12 431,432 2 443 4.2 453
19.1-14 408,414 1.1-21 429
11.36-45 433 3.1-3 444 4.7-26 446
19.1 490 1.1 409
20.1-44 408,414 1.17 430,432 12.1-13 429 3 428
12.1-3 431, 432, Miquéias
20.45-21.32 408, 1.2 432
414 1.8 430 433 Amós 1.1-3.12 455
22.1-31 408,414 1.9 430,432 12.4 347 1.1,2 444 1.1-5.15 454,455
23.1-49 408,415 1-6 429, 430, 432, 1.11,12 400 1.1 455
24.1-14 408,415 433, 434, 437, Oséias 1.13 400 1.8-16 455
24.15-27 408,409, 438, 465 1.1-3.5 440,441 1.1 444,445 3.1-3 455
416 1-7 430 1.10,11 442,443 1.3-2.16 444,445 3.11 455,466
25.1-32.32 418 1 430,432 1.1 440 1-2 432,447 4.1-5.15 455
25.1-48.35 418 2.1-49 429 1.2 442 2.6.7 446 4.1-8 455
25.1-7 418 2.18 431 2.10 441 3.1-6.14 444,446 4.9-13 455
25.15-17 418 2.19 430 2.15 441,443 3.3-6 446 5.2 445
25.8-14 418 2.4b-7.28 434,436 2.2.3 441 3.7 372 5.5 455
25-32 424 2 430, 433, 434 2.23 443 3.9-15 446 6.1-16 455
25-37 425 3.1-10 429 2.6-23 442 4.1-3 447 6.1-5 455
25-48 417,418 3 430 2.8 441 4.4,5 447 6.1-7.20 455
26.1-28.19 418 4.1-37 429 3.1-5 442 4.6-11 447 6.11,12 456
28.12 419 4.27 432 4.1-3 441 5.1-3 447 6.16 456
28.20-26 419 4.32.33 435 4.1-5.15 440,442, 5.1 447 6.3 455
28.2 418 4.33 432 455 5.18-24 447 6.6,7 455
28 418,419 4 430,431,432 4.12 490 5.4-17 447 6.6-8 346
29.1-32.32 419 5.1-31 429 4.1 442 6.1-14 447 7.1-20 455,456
29.17 409 5.16 435 4.15 490 7.1-9.10 444,447 7.14-20 456
33.1-33 420 5.20 435 4.6 441 7.1-9 447 7.19 456
33.1-39.29 420 5.29 435 5.10 490 7.10-13 445 7.6 456
33.30-33 425 5.31 435 5.13 441 7.10-17 448
33.33 408 5.6-20 432 5.4 490 7.14.15 343 Naum
33-39 420,424 5.6 430,432 5.5 490 7.14 342,445 1.1-2.2 456,457
34.1-31 420 5.7 435 6.1-11.11 440 8.1-3 449 1.14,15 457
522
Indice por passagens bíblicas

1.1 456 1.7-17 466 1.24,25 360 13.26 431 Rom anos
1.2-8 457 1.7-6.8 465, 466 1.5 173, 192 13.3-27 344
1.17 458
1.943 457 1-8 465,472 1.6 217 14.60,61 376
1.18-23 454
1.94.2 457 2.1-13 466 2.15 443 15.27,28 376
2.11,12 454
2.1.2 457 3.1-10 466 2.4-6 455 15.43-46 376
2.14,15 454
2.343 456,457 3.10 226 3.3 372
3.21,22 364
3.149 456,457 4.1-14 466 4.15,16 360 Lucas
3.21-24 397
3.4.5 457 4.1-21 469 5.11,12 391 1.32,33 211,396, 3.21-31 94
3.849 458 4.14 266 5.13 431 398, 449, 465, 3.28 32
3.8 456 4.6-21 269 5.14-16 390,431 467 4.11 94
4.6 466 5.17,18 425 2.1-7 455 4.19-21 94
Habacuque 5.1-4 466 5.17-19 344 3.23-28 475 4 94
1.141 458 5.5-11 467 5.43-47 391 3.23-38 256 5.1,2 397
1.14.20 458 6.1-8 467 5.48 125 4.16-30 378 5.12-19 82
1.124.1 458 6.9-15 465, 466, 5 122 4.21 378 5.12-21 25
1.124.20 458 467 6.16-18 379 4.25 231 5.9 376
1.1 458 7.1-8.23 465,467 6.33 470
7.27 472 6.17,18 467
1.2 458 7.5 379 9.13 443
9.31 111 8.28 301,396,456
1.5 458 8.19 467 11.13,14 473 12.15 457 8.29 446
2.2.3 396 9.1-14.21 465,468 12.18-21 374
13.4,5 147 8.3,4 397,473
2.2-5 458 9.1-8 468 12.41 25,453
15.3-16.31 344 9.11 99
2.4 458. 461 9.13 465 12.7 344
17.11-19 446 9.25,26 443
2.6-20 458 9.9-17 468 15.1-7 344
22.20 100,397 9.27-29 372
3.1-19 458,459 9-14 466,472 16.18 467
23.34 344 9.33 364
3.16-19 459 10.2-11.17 468 16.21-23 344
23.54-62 344 10.16,20 352
3.19 459 11.16 468 16.27 431
24.27,44 69 11.25-27 468
11.2 446 17.10-13 473
3.2 459 24.4-47 475 11.26,27 378
11.8 468 19.3-9 471
3.3-15 459 13.13,14 217
12.1-9 468 19.8 482 João 13.14 415
Sofonias 12.10-13.6 468 21.1-11 468
1.14 114 16.22 347
12.16 465 21.1-5 344
1.1-2.3 460 12-14 468 22.35-37 146 3.14,15 135
1.4.5 460 3.16 68 1 Coríntios
13.7-9 469 22.35-40 152
1.12 460 13.7 469 22.36-40 123 3.3 421 2.14 374
2.1-3 460 14.1-21 469 22.41-46 310 3.36 454 2.9 381
2.441 460 14.5 490 23.16-28 344 3.5 421 3.16 465,467
2.445 459,460 14.6-21 469 23.27,28 412 4.7-26 446 6.19,20 465
2.12 461 24.30 431 4.9,19,20 244 10.1-13 138
2.13 460 M alaquias 24.3 412 5.30 344 10.10 138
2.13-15 461 1.1 469,470 26.28 107 9.1-3 147 10.12 138
3.1-8 459,461 1.2-5 469,470 26.31,32 344 9.2,3 301 10.13 220
3.8 461 1.3 401 26.31 469 10.10 378 10.6,11 138
3.9-20 459,461 1.6-2.9 470 26.39 395 11.47-50 376 10.8 138
2.10-16 470,471 26.42 395 14.15 101,152,186 10.9 138
Ageu 26.44 431 14.6 397,454 10 138
2.14 471
1.1-15 464 2.16 471 26.56 469 19.37 468 12.3 454
1.1 464,466 2.17-3.6 470,472 26.64 431 15.12-19 161
1.4 464 3.13-4.3 470,473 26.67,68 375 Atos 15.3 376
2.1-9 464 3.1 472,475 26.67 376 2.14-21 444
2.10-19 464,465 3.7-12 470,473 27.26 375 2.24-34 310 2 Coríntios
2.14 465 4.4-6 470,473 27.46 310 4.12 454 1.20 170
2.20-23 464,465 7.2-4 483 4.4 374
2.23 266 M ateus Marcos 7.22 48, 105 5.14,15 376
2.3 464 1.1,12 465 7.24-30 446 11.27-30 446
1.1-16 246,475 8.34 433 13.33 309 Gálatas
Zacarias 1.1-17 256 8.38 431 13.3 379 1.6 24
1.1-6 465,466 1.1 216 9.36,37 344 13.47 375 2.21 454
1.1 465,466 1.22 475 11.15-17 344 15.13-18 449 3.1-6 32
1.18-21 466 1.23 358 12.26 482 28.25 372 3.11 458

5 23
índice por passagens bíblicas

3.1 24 2 Tessaloni­ 4.2 139 1.15,16 125 1.19 372


3.28,29 378,425 censes 4.9 139 2.6 364 2.1.8 24
4.4 475 4.11 139 2.9 376 2.14 137
3.10 315
6.7 298 5.6 310 3.12 298 4-22 465
7.24-28 398,467 3.18 124 7.9-14 378
1 Timóteo
Efésios 8.1-9.15 114 5.12 347 12.9 82,488
2.9,10 357 8.7-13 397 19.7-9 379
2.11,22 423 4.12 412 9.11.12 122 2 Pedro 19.11-16 398,467
2.11-18 381
9.12 397 19.16 216
2.8,9 32 2 Timóteo 1.20,21 24
9.26 124, 125 19.17 421
3.9 413
2.24-26 399 9.28 473 20.8 421
Filipenses
3.16 24, 123, 158 10.38 458 20.11-15 396
1.21-24 239 1 João
3.16,17 24 11.3 80 21.12 424
1.3.4.8 24 11.19 96 1.19 217
21.22 465
1.6 392 Hebreus 13.8 177 2.1.2 124 22 423
2.13 220,396,466 3.1-3 364 22.2 423
1.1,2 344 Tiago
2.9-11 376 3.2.3 365
1.3,4 376
4.13 466 1.8 310 2.14-26 446
4.8 388 2.24 31 Apocalipse
2.1-4 68
2.2,3 396 1-3 465
Colossenses 3.7-4.13 139
1 Pedro 1.1,2 372
3.1-3 388 3.12 139 1.15 389 1.7 468

524
f
Reconstrução do templo, 265, 266,
351-353
Indice por nomes Restauração de Israel, 56-58, 224,
254, 258, 265, 271, 274
Coré
Antagonistas de Moisés, 134, 135
Abdom, 184 Amoz, 354 Salmista, 304, 305, 311
Abede-Nego, 430, 431 Ana, 198 Cristo. Ver Jesus Cristo
Abel, 79 Antíoco IV Epifânio, 431, 436 Cross, Frank Moore, 162, 164
Abias, 223, 228, 230, 256, 259 Anu, 402 Dagom, 199
Abiatar, 384 Aoliabe, 104 Daniel, 269, 350, 351, 412, 428-435,
Abigail, 204 Arão, 97, 104, 105, 119, 122, 128, 436, 437, 438
Abimeleque, 91, 183 130, 131, 132, 134, 136, 145, Dario
Abirão, 134 177, 178, 266, 304 Dario I, o Medo, 349, 351, 352,
Abisai, 204 Ariel, Jerusalém como, 354, 364 430, 435, 436, 437, 464, 471
Abiú, 121,130 Arinna, 149 III, 352
Abner, 212, 218, 219 Artaxerxes Datã, 134
Abraão/Abrão, 45, 47, 64, 86, 91, 92, I, 269, 271, 349 Davi, 49,52, 228, 233, 242, 247, 260,
105, 135, 177, 178, 272, 362, II, 271 304, 342, 440
400, 412 Asa, 223, 228, 230, 256, 257 Ascensão de, 40, 196, 197, 201 -
Aliança com, 98,100, 104,107,112, Asafe, 304, 308,311 206, 210, 211, 232, 254, 256
113,114415,148,168,170,226, Ashlakka, 94 Aliança com, 94,97,100,211,214,
258, 272, 340 Asurnirari V, 94 226, 252, 255, 257, 258, 309,
Chamado de, 67, 68, 90, 91, 99- Assuero/Xerxes I, 272-275, 276, 277, 358, 367, 386, 455
100 349, 352 Conquistas dc, 169, 210-214, 340
Fé, 32, 65, 66, 90,91,92-97, 428, Assurbanipal, 54, 57 Linhagem/Dinastia de, 49-56,162,
436 Astruc, Jean, 71, 72 185, 192, 225, 240, 246, 256,
Absalão, 223 Atalia, 230, 240, 256 257, 258-259, 260, 266, 268,
Aton, 48 326, 330, 357, 358, 360, 361,
Absalão, filho de Davi, 210, 217-18,
Azarias. Ver Uzias 396-398, 449, 464, 465, 467,
219, 225, 304, 305, 312
Azazel, 122 472, 475-476
Acã, 162, 173, 182
Baaná, 212 Pecado de, 211, 216-217, 253, 308
Acabe, 52,222,230-35,238,239,240,
Baasa, 223, 228, 230 Reinado de, 46, 52, 56, 158, 185,
242, 268, 340, 341, 346, 348,
Balaão, 128, 136, 137 197, 200-206, 215, 217, 218-
456
Balaque, 135, 136 220, 241, 254, 255, 256, 258,
Acaz, 222, 230, 242, 243, 244, 256,
Balá, 109 272, 421, 423, 440, 445
355, 358, 360, 362, 366, 455
Baraque, 182 Salmos de, 30, 304, 305, 306, 307-
Acazias, 230, 238, 239, 240, 256 Barth, Karl, 24 312
Adão, 25, 64, 67, 80, 81, 82, 83, 84, Baruque, 347, 385, 398-400 De Wetter, W. M. L., 71, 72
256 Belsazar, 430, 432, 435, 436, 437 Diná, 91
Adonias, 225, 253 Bate-Seba, 210, 211, 216, 217, 218, Driver, S. R., 71, 72
Ageu, 58, 255, 259, 265-66, 350,351- 219, 253, 304, 308 Duppi-Tessub, 149
52, 464-65,466, 470, 471,472 Beeri, 440 Ebal, 153, 161, 176
Agur, 316, 320,321,322 Ben-Hadade II, 228, 232, 348 El, 285
Ahiqar, 315 Bezalel, 104 Elcana, 198
Aías, 228, 346 Bildade, 294-296, 300 Elcós, 456
Aitofel, 218 Boaz, 187-192 Eleazar, 177, 178
Akenaton. Ver Amenotep IV Brunner, Emil, 24 Eli, 196, 198, 199, 201, 384
Alexandre, o Grande, 56-57,349,352, Caim, 79, 84 Eliaquim, 363
418 Calebe, 132, 168, 169, 176, 177 Elias, 162, 231-234, 237-239, 240,
Allis, Oswald, 70, 72 Cam, 85 242, 247, 341, 346, 389, 473
Amazias, 230, 241, 448 Cambises, 268, 349, 352 Eliezer de Damasco, 93, 96
Amenemope, 291, 292, 319, 320, 321 Quemos, 232, 400 Elifaz, 294-96
Amenotep Childs, Brevard, 128, 136 Elimeleque, 188
II, 48 Ciro, 57, 58, 234, 257, 268, 356, 371- Eliseu, 231, 237, 239-241, 247, 248,
IV/Akenaton, 48, 57 374, 380 346
Amnom, 210, 217, 218, 219, 225 Derrota da Babilônia para, 46, 56- Eliú, 296-297
Amom, 230, 238, 244, 245 58, 265, 274, 351, 362, 402, Elom, 184
Amós, 54, 342, 349, 350, 440, 444-449 435, 464 Emanuel, 354, 358

525
índice por nomes

Enlil, 402 193, 197, 228,230, 231, 232, Sacerdote, 58, 266, 464, 465, 466,
Enoque, 239, 428, 436 239, 240, 243,248, 260, 268, 467, 471
Esar-haddon, 54, 57 272, 298, 316,317, 319, 322, Sucessor de Moisés, 48, 73, 137,
Esaú, 47, 91, 92, 97, 98, 99, 340, 400, 331, 432 142, 146, 147, 149, 161, 162,
452, 470 Ibsã, 184 170, 185, 198, 214, 340
Esdras, 56, 58, 94, 158, 159, 164, 274, Idamaras, 94 Jesus Cristo, 309-310, 354, 395, 423-
276, 351,428, 436, 470, 471 Ido, 465 424, 434, 458, 473
Escritos de, 71,161,164, 252, 263, Inlá, 234 Aliança e, 94, 107
270471 Isaías, 31, 54, 243, 354-355, 428, 440 Importância de, 111,124,125,301,
Restauração do templo, 46, 264' Assírios e, 54, 349, 350 356, 397, 420, 454, 458, 473
268, 424 Autoria de, 370-373 Encarnação de, 36, 358, 467
Ester, 158, 159, 164, 169, 264, 269, Mensagem de, 244, 354-366, 370, Linhagem de, 173, 211, 217, 358
272-275, 276, 277, 352 373-381 Ofício messiânico de, 216,348,471-
Eúde, 184, 186 Missão de, 242 472, 475-476
Eva, 64, 67, 79, 80, 81, 82, 83, 84 Isaque/Israel, 47, 66, 96. Ver também Profetas e, 344,358,360,361,366,
Evil-Merodaque, 402 Israel 374, 375-376, 380, 396, 403,
Ewald, H., 71 Descendentes de, 47, 97, 98, 99, 423, 443, 453, 455, 465, 468-
Ezequias, 245,257,316,319420,321, 100, 148, 340 469
322, 366, 395 Patriarca, 45, 90, 91, 95 Sacrifício de, 301, 467, 468, 470
Reformas de, 222, 244, 257 Is-bosete, 210, 212, 218, 219 Jeú, 222, 230, 240, 241, 348
Reinado de, 54, 230,238, 242,244, Ishtar, 149, 411, 414, 433, 457 Jezebcl, 230-231, 232, 241
245, 349, 353, 354, 355, 365, Ismael Jezreel, 442
367468, 455, 459 Filho de Abraão, 91, 95, 96 Jó, 282, 286, 288, 290, 292, 293-299,
Túnel de, 257 Assassino de Gedalias, 399 301,316, 319, 321, 412
Ezequiel, 56, 244, 350, 351, 408-25 Israel. Ver Abraaão; Isaque; Jacó; Moisés Joabc, 212, 213, 216, 217, 218, 219
Finéias, 177, 196, 198-199 Izezi, 291 Joacaz/Jeoacaz, 230, 394, 414, 415
Gedalias, 246, 399, 467 Jabim, 174 João Batista, 472-473
Gibil, 402 Jacó/Israel, 340, 356, 400, 442, 443 Joaquim/Jeconias, 230, 238, 246, 351,
Gideão, 184, 186 Como Israel, 45,47, 50, 66, 90,91, 395
Gilgamés, 81, 84, 85, 86, 329, 334 92, 95, 97, 98, 99, 100, 113, Joás/Jeoás, 230, 238, 240, 241, 244,
Gilimninu, 95 114,119, 148, 186 246, 249, 256
Gogue/Magogue, 421, 424 Descendentes de, 470 Joel, 350, 352, 440, 443-444, 448
Golias, 196, 197, 2024, 206 Figurativo, 453 Joiada, 240, 241
Gômer, 44042, 448 Jafé, 85 Jonadabe, 398
Graf, K. H., 71, 72 Jair, 184 Jonas, 25, 349, 452, 453-454, 460
Gunkerl, Hermann, 70, 72, 307, 310 Jaque, 320 Jônatas, 200, 203, 205, 211, 212, 218
Habacuque, 55, 246, 350, 351, 458- Jeconias. Ver Joaquim/Jeconias Jorão, 230, 234, 239, 240
59, 460, 461 Jefté, 108, 109, 184 Josafá, 230, 234, 254, 256, 257, 346
Hadade, 227 Jeoaquim, 55, 56, 230, 238, 246, 265, José, 47, 66, 91-92, 98, 176
Hagar, 91, 95 351, 384, 395, 396, 398, 402, Josefo, 69, 72, 164, 165, 400
Hamã, 272477 409, 413, 414, 415, 432 Josias, 230, 238, 240, 257, 351, 385,
Hamurabi, 47,48,57,95,99,345,350, Jeorão, 230, 256 394, 395, 400, 414
456 Jeremias, 55,56,58,342,347,350,351, Reformas sob, 69, 70, 71, 162, 222,
Hananel, 397 357, 384-385, 403, 408, 413 244, 245-246, 346
Hananias, 396 Escritos de, 160, 222,347,401-402 Josué. Ver Jesua
Hattushili III, 48 Mensagem de, 55, 246, 386-91, Jotão, 230, 242, 256, 455
Hazael, 240 394-402 Kaufman, Stephen A., 146, 153
Hengstenberg, E. W. , 70, 71, 72 Jeroboão Labão, 91, 97
Heródoto, 159-60, 164 I,52,162,222, 223,227, 230, 231, Lemuel, 316, 320, 321
Hilquias, 384, 390 238, 247, 340, 346, 447 Levi, 48, 119, 124, 65
Hirão, 213, 214, 226 II, 53,222,230,241,242,348,440, Lia, 91, 97
Hofni, 196, 198, 199 441, 445, 446, 453 Ló, 91, 96, 362, 400
Hofra, 400 Jeroboão, 228 Lo-ammi, 442, 446
Horma, 134 Jessé, 192, 201, 361 Lo-ruhamah, 442, 446
Hupfeld, V., 71 Jesua/Josué, 354, 440. Ver também Je­ Maaca, 217, 223
Husai, 218 sus Cristo Magogue. Ver Gogue
Iavé, 48,69, 71, 106, 107, 112, 113, Na conquista de Canaã, 48,50,132, Magor-Missabib, 392
114, 119, 121, 143, 145, 146, 136,158,168-78,182,183,196, Maher-shala-hash-baz, 355, 358, 360
150, 158, 160, 184, 189, 192, 340, 384 Malaquias, 350, 352, 464, 469-473
526
índice por nomes

Manassés Noé, 79, 81, 84, 85, 86, 412 210-114, 216, 218, 219, 242,
Filho de José, 97 Noemi, 187-92 254-158, 304, 340, 342, 346
Rei, 54, 162, 222, 230, 238, 244- Noth, Martin, 72, 162, 163, 186 Seba, 210, 211, 216, 217, 218, 219
45, 247, 257, 351,367, 389 Obadias, 350,351,356,365,400,452- Sebna, 363
Marduque, 78-79, 268, 292, 401 453, 460 Sem, 85, 86
Mefibosetc, 218 Obede, 192 Senaqueribe, 54, 57, 244, 245, 247,
Menaém, 230, 242 Onri, 222, 228, 230, 231-232, 240, 315, 349, 354, 365-367
Merneptah, 108 247, 456 Seom, 144
Merodaque-Baladã II, 349, 350, 354, Oolá/Oolibá, 408, 415 Seraías, 402
366, 368 Orr, James, 70, 71, 72 Sesbazar, 265
Mesaque, 430, 431 Oséias, 54,98,349,350,440-443,445, Sete, 84, 90
Messa, 230, 231, 232, 445 448 Salmaneser
Mica, 183, 184 Oséias, filho de Elá, 230, 243, 349,360 III, 240, 241, 348
Miquéias, 349,350,395, 454-456,460 Otoniel, 184 V, 54, 57, 243, 247, 349
Miriã, 132 Padi, 365 Salmaneser, 244
Mitinti, 365 Pasur, 392 Samshi-Addu, 348, 349
Moisés Paulo, 22, 24, 25, 32, 94, 123, 138, Shear-Jashub, 355, 356
Aliança com, 47, 94, 106-07, 114, 315, 357, 375, 378, 443 Shennima, 95
161, 248, 397 Peca, 230, 242, 358, 360 Sillibel, 365
Chamado de 65, 68, 105, 174 Pecaías, 230, 242 Sísera, 182
Discursos de, 66, 142,143-48, 226, Pedro, 96, 125, 310, 444 Sofonias, 349-351, 459-461
247, 305 Penina, 198 Spinoza, Benedict, 71
E a lei, 226, 247, 270, 341, 349 Petucl, 444 Talmai, 17
Livros dc, 64, 68-75, 150, 270 Potifar, 92 Tamar, 92, 210, 217, 218, 219
Morte de, 128, 143, 148, 168, 169, Ptahhotep, 291, 298 Tamuz, 411, 414
170 Pul. Ver Tiglate-Pileser III Terá, 47, 86, 93
Vida de, 39, 46, 48, 68, 105, 110, Qoeleth, 326, 329 Tiamate, 78-79
112, 132, 134, 148, 341 Raabe, 32, 171-72, 173 Tiglate-Pileser III/Pul, 54,55, 57, 242-
Mordecai, 159, 164, 166, 272-77 Ramsés II, 48, 57, 108, 109 243, 247, 348-349, 355, 358,
Mursilis, 149 Raquel, 91, 97 360, 362, 366, 441
Naamã, 240 Rebeca, 47, 91, 442 Timsah, 109
Nabal, 204 Rezim, 227, 242, 358, 360 Tola, 184
Nabonido, 268, 435, 436 Roboão, 228, 230, 244, 256, 257 Tutmose III, 48, 57
Nabopolasar, 57, 349, 350-351, 385, Rúben, 171, 177, 178 Ulda, 34
391, 456, 460 Rute, 158, 161, 163, 164, 165, Utnapishtim, 84
Nabote, 232, 234 182,187-193 Uzias/Azarias, 54, 222, 230, 242, 342,
Nabu, 268 Sadraque, 430-431 358, 440, 445
Nabucodonosor II, 57, 246, 349, 402, Salomão, 46, 50, 51, 52, 56, 73, 108, Vasti, 272, 277
403 109, 158, 164, 169, 211, 217, Vater, J. S., 71, 72
Cativeiro sob, 244, 368, 395, 399, 222-228, 230, 233, 238, 245, Wellhausen, Julius, 69-70, 71, 72
402, 413, 414, 422 252, 253, 255-260, 266, 268, Xerxes. Ver Assuero
Destruição de Jerusalém, 158, 211, 290, 299, 305, 311, 316, 318, Yamm, 285
394, 396, 397, 398, 409, 416, 319, 321, 327, 330, 332-333, Young, E. J., 70, 72
418, 452 340, 346, 423, 445 Zacarias, 58, 230, 242, 255, 259, 265-
Império babilônio sob, 46, 55, 351, Salum, 230, 242, 394, 395 266, 350-352, 357, 428, 464,
385, 400, 401, 430, 432, 435, Sambalá, 269 465-469, 472
437, 456 Sangar, 184 Zedequias, 55,230,238,246,351,384,
Nadabe, 121, 130, 230 Sansão, 184 394, 395, 398-399, 413, 414
Nahar, 285 Samuel, 52, 73, 152, 158, 160, 161, Zimri, 230
Natã, 214, 216, 217, 242, 304, 308 162, 163, 164, 165, 182, 183, Zimri-Lim, 345, 349
Naum, 349,350,351,456-457,458,460 196, 197, 198-205, 206, 210, Zofar, 294, 295, 296
Nebamun, 297 211-220, 242, 253, 254, 258, Zorobabel, 56, 58, 266-267, 270, 271,
Nebuzaradã, 399 259, 304, 341, 342, 386 424, 464-467, 471
Neco II, 246, 247, 395, 400, 414 Consagrando reis, 199-201
Neemias, 46, 56,58, 59,158, 159, 161, Sarai/Sara, 47, 91, 94-95, 96
164, 259, 264, 265, 269- Sargão II, 349, 362
271,272, 274, 276, 351, 424, Satanás, 219, 293-294, 419, 466
465, 470, 476 Saul, 46, 52, 158, 161, 162, 186, 196-
Nerias, 385 197,199,200,201,202,203-206,

527
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