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A Verdade Permanece

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A Verdade Permanece

Traduzido do original em inglês


Truth Endures por John F. MacArthur Jr.
Copyright©2009 John F. MacArthur Jr.

Livro publicado pela equipe do ministério Grace to


You em parceria com a Grace Community Church,
em comemoração dos 40 anos de ministério pastoral
de John MacArthur na Grace Community Church,
entre 1969 e 2009.

Publicado em português com permissão de Grace to


You.

Copyright©2009 Editora FIEL.


1ª Edição em Português: 2012

Todos os direitos em língua portuguesa reservados


por
Editora Fiel da Missão Evangélica Literária
PROIBIDA A REPRODUÇÃO DESTE LIVRO POR
QUAISQUER MEIOS, SEM A PERMISSÃO
ESCRITA DOS EDITORES, SALVO EM BREVES
CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.

Presidente: James Richard Denham III Presidente


Emérito: James Richard Denham Jr.
Editor: Tiago J. Santos Filho Tradução: Francisco
Wellington Ferreira Revisão: Wilson Porte Júnior
eBook: Heraldo Almeida Capa: Rubner Durais

ISBN: 978-85-8132-087-8

Caixa Postal, 1601


CEP 12230-971
São José dos Campos-SP
PABX.: (12) 3919-9999
www.editorafiel.com.br
A JOHN MACARTHUR, com afeição e gratidão
profundas por quarenta anos de fidelidade.

Do corpo de servidores do ministério GRACE TO


YOU, dos pastores, presbíteros e rebanho da Grace
Community Church e dos milhões de cristãos
agradecidos, ao redor do mundo, que têm sido
transformados pela Palavra de Deus, à medida que
você a expôs ao nosso coração e mente, por meio de
seu ensino.

“Sede firmes, inabaláveis e sempre


abundantes na obra do Senhor,
sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é
vão.”
(1 Coríntios 15.58)
SUMÁRIO

Capa
Folha de Rosto
Dedicatória
Agradecimentos
Uma Vida de Sermões
1. Como brincar de igreja (9 de fevereiro de
1969)
2. O Evangelho Simples (26 de dezembro de
1976)
3. Qual é o caminho para o céu? (18 de maio
de 1980)
4. Uma exposição Rápida de Apocalipse (5 de
dezembro de 1982)
5. Como obter a vida eterna (29 de maio de
1983)
6. O propósito das provações (8 de junho de
1986)
7. Tornando fáceis decisões difíceis (20 de
julho de 1986)
8. A morte de Jesus nos mostra como viver: As
sete afirmações de Jesus na cruz (26 de março
de 1989

9. Quinze palavras de esperança (23 de abril de


1995)
10. Uma perspectiva bíblica sobre a morte, o
terrorismo e o Oriente Médio (16 de setembro
de 2001)
11. O principio inicial do discipulado (3 de
novembro de 2002)
12. A humildade dos crentes: Confrontando o
pecado (6 de janeiro de 2008)
Editora Fiel
AGRADECIMENTOS

A A distribuição dos sermões de John MacArthur


não seria possível sem a ajuda de inúmeras pessoas
que trabalham semanalmente nos bastidores. Mais
de 300 empregados e mais centenas de voluntários
têm servido no ministério GRACE TO YOU durante os
nossos 40 anos de história. São muitos e não os
podemos citá-los individualmente, mas somos gratos
a Deus por todos eles. Entre eles estão alguns dos
cristãos mais dedicados e altruístas que podemos
encontrar em qualquer lugar. É um imenso privilégio
trabalhar com eles.
Queremos usar esta oportunidade para
expressar gratidão especial a Arline Hampton, que
por mais de 25 anos tem transcrito quase todo
sermão pregado por John MacArthur — ouvindo as
gravações e fazendo transcrições literais. O trabalho
de Arline é um dos primeiros passos, e um dos mais
vitais, em direção à difusão dos sermões para o resto
do mundo. Em quase tudo mais que fazemos —
transmitir as mensagens pelo rádio, compilar o
material para livros e comentários e criar o material
veiculado on-line, dependemos grandemente dessas
transcrições. Arline é rápida, incrivelmente exata,
confiável e sempre fiel. Trabalhar com ela é uma
verdadeira alegria. Em todas essas características, ela
resume o espírito de nossa equipe e de nossos
voluntários.
Agradecemos a Garry Knussman, cujo trabalho
de editar os manuscritos deste livro foi valiosíssimo,
e a Gary Hespenheide, que ajudou no estilo e na
produção do livro.
Por fim, expressamos nossa gratidão a Iain
Murray. O Dr. Murray é um dos autores vivos mais
perspicazes de nossa época. Pedimos, recentemente,
a John MacArthur que citasse os livros que o
influenciaram mais profundamente. E quatro dos
livros do Dr. Murray estavam na lista dos dez livros
que mais influenciaram John MacArthur:
Evangelicalism Divided (Evangelicalismo dividido);
Jonathan Edwards: A New Biography (Jonathan
Edwards: Uma Nova Biografia); The Forgotten
Spurgeon (O Spurgeon que Foi Esquecido) e David
Martyn Lloyd-Jones: The Fight for Faith 1939-
1981 (David Martyn Lloyd-Jones: A Luta pela Fé).
Neste ano, MacArthur acrescentou mais um livro do
Dr. Murray à sua lista dos sempre favoritos: Lloyd-
Jones Messenger of Grace (Lloyd-Jones:
Mensageiro da Graça). Os presbíteros da Grace
Community Church escolheram o Dr. Iain Murray
para pregar no culto da gratidão pelo 40º aniversário
do GRACE TO YOU .
PHIL JOHNSON E MIKE TAYLOR
UMA VIDA DE SERMÕES

O O dia 9 de fevereiro de 2009 marca o


quadragésimo aniversário de John MacArthur como
pastor e mestre da Grace Community Church, em
Sun Valley, no estado da Califórnia. John começou
realmente a pregar durante os anos em que ainda
estudava na faculdade, uma década antes. Por isso,
2009 marca também seu quinquagésimo aniversário
como pregador.
O primeiro sermão que ele pregou como
estudante na faculdade não foi gravado. Também
não foi pregado em uma igreja, e sim, ao ar livre.
John fazia parte de uma equipe de alunos
evangélicos que cantavam músicas e evangelizavam.
O líder da equipe o deixou em um terminal de
ônibus em Spartanburg (Carolina do Sul), dizendo-
lhe que sua tarefa consistia em reunir um grupo de
pessoas e pregar. Era uma tarefa estranha para a
qual John não estava preparado.
“O sermão foi terrível”, afirma John, “eu não
sabia como pregar corretamente. Entrei lá — com a
Bíblia na mão — e caminhei por aquele terminal de
ônibus quase vazio. Fiquei olhando ao redor para
aquelas pessoas diferentes e comecei a pregar uma
mensagem do evangelho. Você podia ver pessoas
olhando para mim e dizendo: ‘Pobre rapaz! Ele
parece inteligente. Isso é tão triste; ele deve ter
algum tipo de deficiência’.
“E pensei: sabe, isso não faz sentido. Portanto,
preguei durante dez minutos, saí e desci a rua até
onde estava começando um evento de danças para
alunos de ensino médio — sentei-me do lado de fora
e dei o evangelho para os jovens enquanto eles
entravam e saíam. Foi assim que comecei a pregar.
Não foi memorável, de modo algum. Mas, depois
disso, fiquei muito desejoso de aprender a pregar,
porque decidi estar pronto sempre que fosse
chamado a pregar. Eu iria a missões de resgate e
bases militares para pregar quando pudesse. Com o
passar do tempo, aprendi como me conectar com a
audiência.”
Na verdade, a pregação de John é e sempre
tem sido o principal suporte e vigor da Grace
Community Church. Sua grande habilidade como
comunicador e seu compromisso com as verdades
solenes da Escritura são evidentes desde o primeiro
sermão que ele pregou. Sendo já em 1969 um
excelente pregador e um estudante precoce da
Escritura, John tem-se aplicado com diligência
incansável nestes últimos 40 anos. Hoje, sua
pregação reflete uma maturidade e uma
profundidade que poucos naquele terminal de
ônibus poderiam ter imaginado. O evangelicalismo
americano do final do século XX, mais bem
conhecido por técnicas ostentosas e mensagens
norteadas por mercado, não produziu nenhum outro
expositor cuja amplitude e profundeza se aproxima
das de John MacArthur. De fato, fidelidade durante
40 anos e exposição versículo por versículo do
Novo Testamento colocam John MacArthur na
ilustre companhia de nomes verdadeiramente
grandes como João Calvino, Thomas Manton,
Stephen Charnock e D. Martyn Lloyd-Jones. O que
torna o ministério de John MacArthur ainda mais
notável é o fato de que ele tem permanecido no
dever — e sua influência continua a ser sentida ao
redor do mundo — enquanto a grande maioria de
pregadores bem conhecidos nos principais
segmentos evangélicos têm seguido as modas
populares, tornando-se cada vez mais triviais e
superficiais em uma busca insensata por parecerem
“relevantes”.
A exposição bíblica continuará sendo
verdadeiramente relevante se o mundo durar outro
milênio ou mais. O que parece estar na moda hoje
será embaraçador amanhã. Se você não crê nisso,
veja o anuário escolar de seu filho pré-adolescente.
Os sermões que selecionamos e publicamos
neste livro provam quão permanente a pregação
pode ser, quando ela é apenas exposição bíblica
clara e sã. Estas mensagens abrangem os 40 anos
passados de ministério de John MacArthur na Grace
Community Church. Refletem um padrão claro de
crescimento espiritual e uma habilidade crescente em
apresentar sermões, mas até o primeiro destes
sermões é tão poderoso, discernente, convincente e
substancial como o foi em 1969. O fato de que as
pessoas ainda estão ouvindo esses primeiros sermões
é mais uma prova de quão bem as mensagens têm
permanecido através do tempo. E ainda as
transmitimos regularmente no programa de rádio
“Grace to You”. Planejamos transmitir mais uma
vez, neste ano, a mensagem “Como Brincar de
Igreja”.
Ao reunirmos esta coleção de mensagens,
deparamomo-nos com um problema de riquezas.
Fizemos uma pesquisa dos sermões favoritos entre
os pastores, os servidores da igreja e os que são
membros há muitos anos. A lista original que
elaboramos incluía dezenas de títulos. Diante do fato
de que tínhamos limitação de páginas no livro,
sabíamos que teríamos de excluir da lista final
alguns de nossos sermões favoritos. Por isso,
queremos enfatizar que este livro contém apenas
uma pequena seleção das mensagens mais famosas e
mais importantes de John MacArthur. Tentamos
escolher sermões que, sabemos, têm sido
instrumentos para trazer muitas pessoas a Cristo e
revolucionar totalmente corações e vidas.
Como o próprio John MacArthur ressaltaria, o
poder de um grande sermão não está no pregador
nem procede dele. “A palavra de Deus é viva, e
eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de
dois gumes” (Hb 4.12 — ênfase acrescentada).
Toda grande pregação verdadeira começa com esse
reconhecimento. Os pregadores que confiam
somente em sua habilidade, técnica ou criatividade
podem, às vezes, parecer “bem-sucedidos”, quando
o único critério de avaliação é o aplauso humano.
Contudo, se o alvo da pregação é o despertamento
de almas espiritualmente mortas, a purificação e a
transformação de vidas arruinadas pelo pecado, o
que realmente importa é que o pregador seja fiel em
proclamar a Palavra de Deus com clareza, exatidão e
franqueza. Seu povo tem de ser também praticante
da Palavra e não somente ouvinte.
Por meio desse critério, os 40 anos passados da
Grace Community Church têm sido uma época
verdadeiramente notável. Somos abençoados por
fazer parte dessa época. Nossa oração é que ela seja
apenas o começo de uma época muito mais longa.
Este livro foi preparado totalmente sem o
conhecimento de John MacArthur, como uma
surpresa para ele, para honrá-lo em seus 50 anos de
ministério e seus 40 anos como pastor da Grace
Community Church. Que este livro seja usado pelo
Senhor para expandir o alcance destes sermões! Que
Deus também nos dê muitos outros anos sob o
ministério de John MacArthur e que esta igreja
continue a ser um luzeiro fiel, proclamando a
Palavra de Deus para muitas gerações por vir.

PHIL JOHNSON
DIRETOR EXECUTIVO GRACE TO YOU
1

COMO BRINCAR DE IGREJA


Mateus 7.21-23
9 de fevereiro de 1969

Se você ouvir uma gravação desta mensagem,


ouvirá um John MacArthur notoriamente jovem (e
de voz mais intensa). Entretanto, o que é mais
admirável nesta mensagem é o seu conteúdo.
Quase todos os principais temas que têm
predominado na pregação e nos escritos de John
MacArthur, nos últimos 40 anos, estão nesta
mensagem — a importância de entender
corretamente o evangelho, o perigo da fé espúria, a
plena autoridade das Escrituras e a tolice de elevar
a razão humana ou os sentimentos pessoais acima
da verdade clara da Escritura. Toda a
“controvérsia do senhorio” também está presente,
em miniatura, nesta mensagem, e o sermão é
apresentado sem temor e com franqueza no estilo
distintamente claro e agradável de John.
As temperaturas estavam amenas no Sul da
Califórnia no domingo em que John começou seu
pastorado na Grace Church. Os jornais locais
noticiaram que 85.000 californianos afluíram para
as praias naquele dia. Todavia, na maior parte dos
Estados Unidos, o clima era terrível. Uma
tempestade de neve e recordes de temperaturas
baixas atingiram a costa leste, desde Nova York até
Washington. Richard Nixon, ainda em seu primeiro
mandato como presidente dos Estados Unidos,
estava gozando férias naquele fim de semana em
Key Biscane (Flórida). Visto que o clima era
agradável na Flórida, o presidente decidiu tardar
seu retorno a Washington e frequentou uma igreja
em Florida Keys naquele domingo. Aquela foi a
única igreja que atraiu a atenção nacional naquela
semana. No entanto, 300 pessoas se apertavam no
templo da Grace Community Church para ouvir
seu novo pastor. Foi um domingo inesquecível para
aqueles que estavam lá.
Tumultos por causa da guerra no Vietnã
fermentavam nos Estados Unidos havia, pelo
menos, quatro anos. Inquietação estudantil estava
se tornando comum, especialmente na Califórnia.
O uso de drogas recreativas estava em alta na
cultura dos jovens californianos. Em agosto
daquele ano, exatamente uma semana antes de
começar o Festival de Woodstock, no Estado de
Nova York, Charles Manson e um grupo de jovens
que ele havia recrutado saíram para uma farra de
assassinatos na região dos cânions de Los Angeles,
cheia de residências de celebridades, a menos de
16 km ao sul da Grace Church.
Foi nesse tipo de cultura que John MacArthur
começou a proclamar a Palavra de Deus. E, como
lemos no livro de Atos dos Apóstolos: “Crescia a
palavra de Deus, e... se multiplicava o número dos
discípulos” (At 6.7).

Q Quero considerar com vocês o texto de Mateus


7.21-23 e falar sobre “Como Brincar de Igreja” ou
como a igreja falsa se incorpora à igreja verdadeira:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará
no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de
meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia,
hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não
temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome
não expelimos demônios, e em teu nome não
fizemos muitos milagres? Então, lhes direi
explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de
mim, os que praticais a iniquidade”.
Mateus 13 nos diz que a era da igreja será
estranha. Em Mateus 12.22-31, os fariseus e os seus
aliados haviam cometido o pecado imperdoável de
atribuir a Satanás as obras de Cristo. Jesus disse que
os perdoaria por qualquer coisa, exceto por aquilo.
Em outras palavras, era como se Jesus estivesse
dizendo: “Se vocês têm visto tudo isso que faço, se
têm visto todos os milagres e ouvido tudo que tenho
dito, e tudo que concluem é que eu os faço pelo
poder de Satanás, vocês estão além da possibilidade
de crer. Vocês receberam toda esta revelação e não a
aceitam; não há mais nada que possam receber.
Seguir-me, ver-me, observar-me, ouvir-me e
concluir que tudo isso é satânico deixa vocês
excluídos da possibilidade de crer”.
A era da igreja é o assunto de Mateus 13.
Tendo deixado Israel de lado por causa de sua
incredulidade, Cristo começa a introduzir parábolas
que descrevem a natureza singular da era da igreja.
Ele diz que na era da igreja haverá trigo e joio, que
são os verdadeiros e os falsos crentes. Ficará tão
difícil distingui-los, que você não será capaz de fazer
isso até que Deus mesmo, que é o Juiz final, faça a
distinção.
Em seguida, Jesus fala sobre as várias
dimensões da igreja. A parábola do grão de
mostarda dá-nos a ideia de que a igreja explodirá em
grandes números, mas incluirá os crentes autênticos
e os espúrios, os verdadeiros e os falsos.
A era da igreja será uma era bastante estranha;
e ela é realmente isso agora. Hoje, sob o nome de
“igreja” há todo tipo de variedade. Cristo ordenou a
João, no livro de Apocalipse, que escrevesse à igreja
de Sardes: “Conheço as tuas obras, que tens nome
de que vives e estás morto” (Ap 3.1). Que
comentário verdadeiro sobre muitas igrejas de
nossos dias! Elas têm um título, têm um nome, mas
estão mortas. Por que estão mortas? Estão mortas,
principalmente, porque as pessoas que estão nelas
são mortas. Seria seguro dizer que a grande maioria
dos membros de igrejas nos Estados Unidos, hoje,
não sabem o que é ser um cristão, porque estão
espiritualmente mortos. Paulo disse aos cristãos de
Éfeso: “Estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados” (Ef 2.1). Consequentemente, pessoas
mortas constituirão uma igreja morta. A igreja não
está sofrendo nem morrendo hoje por causa dos
ataques procedentes do lado de fora; Satanás não
precisa desperdiçar tempo com esses ataques — as
pessoas estão mortas no lado de dentro.
Mas, por outro lado, uma igreja viva — uma
igreja que conhece Jesus Cristo e proclama seu
evangelho — sempre estará sob ataque, porque esse
tipo de igreja será a consciência da comunidade.
Jesus disse: “Ai de vós, quando todos vos
louvarem!” (Lc 6.26).
A igreja deve sempre estar no lado oposto em
relação ao mundo, porque luz e trevas não têm
comunhão mútua. “Que harmonia, entre Cristo e o
Maligno?” (2 Co 6.15) — não há qualquer
relacionamento.
É muito importante que entendamos isso. Paulo
o esclarece em 2 Coríntios 6.14, onde ele diz que o
amor de Cristo é uma questão básica. A prioridade
da igreja é ser um vaso pelo qual Deus faz novas
criaturas a partir dessas pessoas espiritualmente
mortas. Uma igreja viva, genuína e vital comunica o
evangelho a pessoas mortas, e o evangelho sozinho
pode torná-las vivas. Essa é a missão da igreja. De
acordo com as Escrituras, não há qualquer maneira
pela qual a igreja pode cortejar o mundo. A igreja
tem de ser a consciência do mundo. A igreja tem de
ser tão bem determinada em cumprir seu papel, que
se torna antagonista do mundo. Para aqueles que
estão fora de Jesus Cristo, o banco de igreja deveria
ser o assento mais desconfortável no mundo, porque
apresentamos um evangelho que divide. Mas,
quando a igreja corteja o mundo, ela morre. A igreja
de Sardes, embora fosse viva, estava cortejando o
mundo; por isso, ela não era viva, e sim morta (Ap
3.1).
O dever da igreja é não somente ensinar os
santos, mas também advertir os homens quanto aos
padrões de Deus. Não estamos sendo justos e fiéis à
chamada de Deus se tudo o que fazemos é anunciar
a vida abundante. Ora, essa é uma grande dimensão
da salvação, mas, em algum ponto, temos de
proclamar que o homem é um pecador, está
separado de um Deus santo e, aos olhos de Deus, é
um objeto do juízo de Deus — o homem é um filho
da ira, como Paulo disse em Efésios 2.13. Proclamar
ousadamente a verdade sobre Jesus Cristo e a
verdade sobre o homem em seu pecado causa
divisão. Em Mateus 10.34-36, Jesus disse: “Não
penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer
paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o
homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a
nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem
serão os da sua própria casa”.
A verdadeira igreja de Jesus Cristo não é uma
instituição religiosa que recebe todas as pessoas. A
igreja é o corpo de Jesus Cristo separado para Deus,
comprometida e casada unicamente com Cristo e
redimida pela fé. Ninguém que está fora dessa
redenção pode fazer parte da igreja. A exigência
para a igreja e nosso dever como povo é advertir
aqueles que ainda não receberam a Cristo, adverti-
los com amor e adverti-los de que estão em perigo
do terror do Senhor. Essa é a nossa tarefa.
Nosso texto é uma advertência para aqueles
que pensam estar confortavelmente incluídos na
igreja, mas na realidade não estão. Não é uma
advertência para pessoas que estão fora da igreja. É
uma advertência para nós, que estamos envolvidos
na igreja, para nos assegurarmos de que somos
autênticos. Acho que é justo, ao iniciarmos nosso
ministério, parar e considerar esta verdade com um
senso de sobriedade e seriedade, para entendermos
qual é a nossa condição, como indivíduos, aos olhos
de Deus neste momento.
Estou certo de que nesta igreja há pessoas que
não conhecem a Jesus Cristo de maneira pessoal e
vital. Estou convencido disso por causa do tamanho
da congregação nesta manhã. Há algumas pessoas
assentadas neste auditório que tem vindo à igreja
muitas vezes, mas não conhecem a Jesus Cristo.
Talvez elas até tenham sensações religiosas e
emoções santas, mas não conhecem a Jesus Cristo.
A minha convicção é que, antes de podermos
avançar juntos como um corpo, temos de nos tornar
uma unidade. A única maneira pela qual podemos
ser unidos e tornar-nos um, como Cristo orou que
sejamos, é sermos todos cristãos genuínos. Por isso,
quero que examinemos cuidadosamente a nossa
vida.
Observe a cena descrita em Mateus 7.22 e a
expressão “naquele dia”. Isso é importante porque é
uma referência a um dia específico que ocorrerá
quando Cristo vier para julgar. Na Bíblia, a ideia de
“naquele dia” está conectada a julgamento. E esta
passagem é uma figura daquele dia. Uma referência
semelhante a esse “dia” aparece em 1 Coríntios
3.13, em conexão com o tempo de julgamento dos
crentes. E aparece em várias passagens da Bíblia em
conexão com o julgamento divino dos incrédulos
(cf. Is 2.12; Jl 2.1; Ml 4.5; 1 Ts 5.2; 2 Pe 3.10).
Há um dia vindouro em que Deus julgará. Há
um dia vindouro em que o grande trono branco será
uma realidade. Apocalipse 20.11-12 mostra esse
grande quadro do juízo final: “Vi um grande trono
branco e aquele que nele se assenta, de cuja
presença fugiram a terra e o céu, e não se achou
lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e
os pequenos, postos em pé diante do trono. Então,
se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da
Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados
segundo as suas obras, conforme o que se achava
escrito nos livros”. Em outras palavras, eles não
tinham fé para recomendá-los — tudo sobre o que
podiam alicerçar suas vidas eram suas obras. Se
você sabe alguma coisa a respeito disso, sabe
também que a Bíblia diz: “Ninguém será justificado
diante dele por obras da lei” (Rm 3.20). “Deu o
mar os mortos que nele estavam. A morte e o além
entregaram os mortos que neles havia. E foram
julgados, um por um, segundo as suas obras.
Então, a morte e o inferno foram lançados para
dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o
lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito
no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do
lago de fogo” (Ap 20.13-15).
Em Mateus 7.21-23, somos levados ao
julgamento final. Estamos diante do grande trono
branco vendo algumas pessoas que estarão diante de
Cristo naquela ocasião. Elas dizem a Cristo:
“Senhor, Senhor, aqui estamos nós; somos aquelas
pessoas que eram religiosas”. Pedro chama esse dia
de “o Dia do Juízo e destruição dos homens
ímpios” (2 Pe 3.7). A expressão “homens ímpios”
pode parecer difícil em vista do fato de que essas
pessoas eram religiosas. Há um silêncio apavorante
neste julgamento.

A CONDIÇÃO PARA A ENTRADA NO REINO


Em seguida, o silêncio é rompido pelas palavras
de Jesus Cristo: “Nem todo o que me diz: Senhor,
Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que
faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt
7.21).
Qual é essa condição? Como os homens
entram no reino de Deus? Como você pode ter um
relacionamento vital com Deus? Bem,
primeiramente, não são aqueles que dizem: “Senhor,
Senhor” — são aqueles que fazem a vontade de
Deus que entram. Mateus 25.1-13 é uma história
bem interessante sobre dez virgens convidadas a
uma festa. Cinco delas foram e haviam-se preparado
de antemão, levando óleo e tendo-o em suas
lâmpadas. As outras cinco eram néscias, tolas e não
se prepararam. Em Mateus 25.11, a porta é fechada,
e as cinco virgens deixadas do lado de fora disseram:
“Senhor, senhor, abre-nos a porta!” Mas o Senhor
da festa lhes respondeu: “Em verdade vos digo que
não vos conheço”.
As virgens foram todas convidadas para a festa.
Simbolicamente, em um sentido, elas tinham o
evangelho. Ouviram a proclamação: “Vinde à festa”.
Isso é uma ilustração autêntica da chamada de Deus
ao mundo. Elas estavam preparadas a ponto de
terem suas lâmpadas. Tinham, inclusive, as roupas
certas. Até chegaram à casa onde seria a festa. Mas
não entraram. O clamor delas é semelhante ao de
Mateus 7.21: “Senhor, senhor, abre-nos a porta!”
Mas o Senhor disse que não são aqueles que dizem
“Senhor, senhor”, e sim aqueles que fazem a sua
vontade.
Que advertência solene! No final da parábola,
Cristo disse: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia
nem a hora” (Mt 25.13).
O profeta Oseias ilustra isso em seu livro (Os
8.2). O povo da época de Oseias estava quase
arruinado historicamente. Israel havia decaído e, no
tempo da profecia de Oseias, ele estava
repreendendo e falando severamente sobre a falta de
conhecimento do povo, dizendo: “O meu povo está
sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento”
(Os 4.6). Ele disse que o povo não tinha qualquer
realidade em seu interior. Oseias os comparou com o
orvalho da manhã que evapora (Os 6.4). Não
tinham nenhuma substância. Haviam negligenciado
e esquecido a Deus. Nem ao menos se aproximavam
da casa de Deus.
Quando você lê Oseias 8.1-2, vê o profeta
retratando um abutre (é traduzido “águia”, mas, na
realidade, isso é uma tradução da palavra hebraica
que significa “abutre”.) A imagem é a de um abutre
voando sobre a casa de Deus. E simboliza o fato de
que, mesmo com toda a atividade religiosa de Israel,
a verdade autêntica era que o lugar era morto, e essa
era a razão por que o abutre pairava sobre ele. Nada
havia ali, senão uma carcaça morta. Israel
abandonara o templo de Deus como o símbolo de
seu relacionamento com Deus e se tornara uma
tragédia — uma figura de um abutre voando
testificava o fato de que o julgamento de Deus
estava vindo. Oseias continua e profetiza que Israel
será punido por negligenciar a Deus.
Israel ainda era um povo religioso. Ainda tinha
sentimentos religiosos. As pessoas ainda fingiam
alguma espiritualidade, mas estavam mortas. Não
havia realidade na religião delas, mas apenas
formalidade. O que disseram em resposta a Oseias?
“Nosso Deus! Nós, Israel, te conhecemos” (Os 8.2).
Isso é semelhante a Mateus 7.21: “Senhor, Senhor,
somos nós. O que o Senhor pretende em julgar-nos.
Nós te conhecemos. Somos nós. Nosso Deus”. Eles
clamam: “Somos nós”. Que tragédia! Mas Deus não
os conhece. Aquela geração específica de pessoas
havia deixado de lado seu relacionamento com Deus
como resultado de seus próprios desejos.
Você observa que não são aqueles que desejam
entrar no reino que entram necessariamente; nem
mesmo aqueles que pedem entrada no reino. Não
basta pedir. Não basta desejar. Basta ser obediente.
Deus estabeleceu certas regras para a entrada no
reino. Elas têm de ser obedecidas, pois, do
contrário, não há entrada. Seu desejo de querer
entrar pode ser tal que você chega a ir à igreja e a
envolver-se, mas não fica muito envolvido. A menos
que você venha por meio de Jesus Cristo, não pode
entrar. Todas as suas atividades religiosas e todos os
seus rituais não têm significado. Em Atos 4.12,
Pedro diz: “E não há salvação em nenhum outro;
porque abaixo do céu não existe nenhum outro
nome, dado entre os homens, pelo qual importa que
sejamos salvos” (At 4.12).
Havia um cego numa ponte de Londres. Ele lia
a sua Bíblia em braile. E, enquanto lia Atos 4.12,
seus dedos perderam o lugar. Sendo inconsciente de
todos ao redor por causa de sua cegueira, continuou
passando os seus dedos sobre a mesma expressão:
“Nenhum outro nome... nenhum outro nome...
nenhum outro nome”. Um grupo de pessoas que se
reuniu em torno dele, quando tropeçou nas palavras,
começou a zombar e rir dele, enquanto tateava
nervosamente sua Bíblia. Havia outro homem na
margem da aglomeração; ele não zombava e ouvia.
Esse homem foi para casa naquela noite, curvou
seus joelhos e convidou Jesus Cristo a entrar em sua
vida. Mais tarde, ele testemunhou em uma reunião
que fora trazido a Jesus Cristo por um cego que
estava numa ponte, tropeçando nas palavras
“Nenhum outro nome... nenhum outro nome...
nenhum outro nome”.
É somente por meio da fé pessoal no Senhor
Jesus Cristo que você, ou eu, ou qualquer pessoa
entrará no reino de Deus. Não podemos entrar por
meio de nossas emoções religiosas ou de nossos
sentimentos santificados. É somente por meio do
precioso sangue de Jesus Cristo. A confissão de
lábios não é suficiente — tem de haver obediência.
E, na afirmação: “Senhor, Senhor”, você tem uma
ideia de que essas pessoas serão surpreendidas — na
verdade, ficarão chocadas. Elas dirão: “O Senhor
quer dizer que não podemos nem entrar?” Mas
lembrem o que Jesus disse em Lucas 6.46: “Por que
me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos
mando?”
O seguinte versículo está gravado numa velha
placa na catedral de Lübeck, na Alemanha: “Assim
nos fala Cristo, nosso Senhor: vós me chamais
Senhor e não me obedeceis. Vós me chamais Luz e
não me vedes. Vós me chamais o Caminho e não
andais em mim. Vós me chamais Vida e não me
desejais. Vós me chamais Sábio e não me seguis.
Vós me chamais Formoso e não me amais. Vós me
chamais Rico e não me pedis. Vós me chamais
Eterno e não me buscais. Vós me chamais Gracioso
e não confiais em mim. Vós me chamais Nobre e
não me servis. Vós me chamais Poderoso e não me
honrais. Vós me chamais Justo e não me temeis. Se
eu vos condenar, não me culpeis”.
Deus estabeleceu a exigência para a entrada no
reino do céu. Não tem nada a ver com um templo.
Tem tudo a ver com Jesus Cristo. Chamar a Cristo
de “Senhor” ou qualquer outra coisa não é
suficiente. Fazer a vontade de Deus é a resposta.
Talvez você diga: “Bem, qual é a vontade de
Deus?” Paulo falou a Timóteo que “Deus, nosso
Salvador... deseja que todos os homens sejam
salvos” (1 Tm 2.3, 4). Essa é a vontade de Deus.
Jesus diz: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a
vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo
14.6). Essa é a vontade de Deus. Cristo diz: “A
vontade de meu Pai é que todo homem que vir o
Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o
ressuscitarei no último dia” (Jo 6.40). João 1.12
diz: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus”. Deus quer
que você receba a Cristo. Hebreus 11.6 diz: “Sem fé
é impossível agradar a Deus”, e isso significa fé
em Jesus Cristo. Você não entra no reino por
sinceridade, religiosidade, reforma, bondade, serviço
à igreja, nem mesmo por simplesmente citar o nome
de Cristo. Você entra somente por meio da fé e da
confiança pessoal em Cristo.

O CLAMOR DOS QUE NÃO ENTRARAM NO


REINO
Observe, agora, o clamor daqueles que não
puderam entrar no reino: “Muitos, naquele dia, hão
de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não
temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome
não expelimos demônios, e em teu nome não
fizemos muitos milagres?” O clamor das pessoas é
uma forte reação emocional. Quando, no
julgamento, Cristo diz que nem todo que diz:
“Senhor, Senhor” pertence ao reino, há
repentinamente uma forte reação emocional — um
apelo procedente do coração dessas pessoas. Elas
levantam a voz e dizem: “Mas fizemos todas essas
coisas”. Muitas pessoas estão indo para o inferno
eternamente desapontadas, porque pensavam que
sua performance religiosa era suficiente para salvá-
las.
Milhões de pessoas confiam em sua
moralidade, boas obras, batismo, membresia na
igreja e até sentimentos religiosos. Haverá muitos
obreiros de igreja no inferno, muitos pastores e,
embora seja triste dizer, muitos professores de
escolas chamadas religiosas. Estou certo de que
muitos deles dirão ao Senhor: “Cristo, somos nós.
Profetizamos em teu nome”. Mas Jesus removerá a
pele de ovelha deles e revelará o lobo voraz. É
exatamente sobre isso que fala o texto de Mateus
7.15-20, no qual o Senhor Jesus expõe os falsos
profetas — aqueles que afirmam ter realidade, mas
não a têm.
Lucas 13.25-30 acrescenta grande significado a
este assunto: “Quando o dono da casa se tiver
levantado e fechado a porta, e vós, do lado de fora,
começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos a
porta, ele vos responderá: Não sei donde sois.
Então, direis: Comíamos e bebíamos na tua
presença, e ensinavas em nossas ruas. Mas ele vos
dirá: Não sei donde vós sois; apartai-vos de mim,
vós todos os que praticais iniquidades. Ali haverá
choro e ranger de dentes, quando virdes, no reino
de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas,
mas vós, lançados fora. Muitos virão do Oriente e
do Ocidente, do Norte e do Sul e tomarão lugares à
mesa no reino de Deus. Contudo, há últimos que
virão a ser primeiros, e primeiros que serão
últimos”. Que figura daquele mesmo dia —
daqueles que são lançados fora porque tudo que
tinham era o nome de Cristo, sem a realidade da fé
nele! Quão triste é vê-los do lado de fora, clamando
por entrada!
Lembro-me das pessoas que viveram nos dias
de Noé e devem ter feito a mesma coisa. Batiam na
porta da arca, para fazerem Noé saber que eles, por
fim, haviam acreditado que a mensagem que ele
pregara era verdadeira. Queriam entrar, mas não
podiam mais.
Você tem apenas uma forma de espiritualidade?
Você conhece o Senhor pessoalmente? Vê a si
mesmo diante do grande trono branco com suas
frágeis desculpas? Jesus disse a Nicodemos: “Se
alguém não nascer de novo, não pode ver o reino
de Deus” (Jo 3.3). O que significa nascer de novo?
Significa simplesmente receber a Jesus Cristo e crê
que Deus pode fazer de você uma nova criatura,
nascido eternamente na família de Deus.
Quando Nicodemos veio a Cristo, ele tinha
muitas coisas a recomendá-lo. Era um homem
religioso, era um mestre em Israel. Você pode pensar
que, com todos os passos religiosos que Nicodemos
já havia dado, Cristo lhe diria: “Nicodemos, você é
um grande homem, tem ido tão longe, tem uma vida
fantástica, já fez muitas coisas maravilhosas, tudo
que você precisa agora é dar mais um passo e
entrará no reino”. Mas Cristo estava realmente
dizendo: “Nicodemos, você tem feito tudo que se
deve fazer no aspecto religioso. Agora, esqueça tudo
isso, retroceda e seja um bebê — seja nascido
totalmente de novo”. Ele não precisava dar outro
passo no processo; tinha de começar desde o início.

A CONDENAÇÃO PARA AQUELES QUE


ESTÃO SEM CRISTO
O clamor de protesto a Deus é uma defesa
inútil, não é? A vontade de Deus é que recebamos a
Cristo como Senhor e Salvador. E aqueles que não
fizeram isso clamam em horror. Em seguida, o Juiz
fala novamente, e ouvimos a condenação daqueles
que estão sem Cristo: “Então, lhes direi
explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de
mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7.23).
“Confessar” é uma palavra interessante. E a
palavra grega que ela traduz (homologia) significa
“proclamar abertamente”. Nesta ocasião, Jesus
proclama abertamente que não conhece essas
pessoas. A mesma palavra é usada em Mateus
10.32, onde Jesus diz: “Portanto, todo aquele que
me confessar diante dos homens, também eu o
confessarei diante de meu Pai, que está nos céus”.
Se você não proclama a Cristo aberta e
espontaneamente neste mundo, ele não o
proclamará abertamente no céu. Em vez disso, ele
dirá: “Nunca conheci você”.
Agora chegamos a um dos conceitos mais
importantes de toda a Escritura, representado pela
palavra “conhecer”. De vez em quando, repetirei
esse conceito porque ele é crucial. O que significa
Deus conhecer alguém e não conhecer outra pessoa?
Sabemos que não significa que ele não tem
conhecimento das pessoas. Sabemos que ele não
está dizendo: “Não sei quem é você”. Ele sabe quem
é cada pessoa. Ele conta até os cabelos da cabeça de
cada pessoa. E sabe até quando um pardal cai (Mt
10.29-30). Deus sabe tudo que há para saber.
O que Cristo quis dizer quando falou: “Nunca
vos conheci”. Temos a resposta em 2 Timóteo 2.19:
“O Senhor conhece os que lhe pertencem”. O que
isso significa? O que Paulo estava tentando dizer? A
palavra “conhecer” na Escritura implica um
relacionamento singular de amor. Em Amós 3.2, o
Senhor disse: “Somente a vós outros [Israel] vos
escolhi [literalmente, “conheci”]”. Israel era a única
nação que Deus conhecia? Não, ele conhecia todas
as nações. O que Deus estava dizendo? Estava
dizendo que tinha um relacionamento íntimo com
Israel.
No Antigo Testamento, o conceito de um
homem e uma mulher que viviam em um
relacionamento que produzia filhos é referido como
um homem “conhecendo” a sua mulher. Por
exemplo, Gênesis 4.17 diz: “E coabitou
[literalmente, “conheceu”] Caim com sua mulher”.
Não presumimos que ele conheceu sua mulher no
sentido puro de apenas conhecê-la — isso é óbvio,
pois ele não teria casado com ela se não a
conhecesse antes nesse sentido. O significado é mais
do que isso. O versículo prossegue dizendo: “Ela
concebeu e deu à luz a Enoque”. Em outras
palavras, “conhecer” se refere ao mais singular
relacionamento de amor humano.
Você deve lembrar que José não conheceu
Maria (cf. Mt 1.18, 25). E ficou chocado quando
descobriu que ela estava grávida. Ele tinha a escolha
de apedrejá-la ou de mandá-la embora, porque ela
estava grávida, e ele ainda não a tinha conhecido.
Num âmbito humano, a palavra “conhecer” implica
um relacionamento de amor singular entre duas
pessoas. Em termos do relacionamento com Deus, a
mesma coisa é verdadeira. Paulo disse em Gálatas
4.9 que os crentes são “conhecidos por Deus”. A
beleza de nossa intimidade com Deus é que ela é
comparada com um homem conhecendo sua
mulher. Essa é a razão por que vemos na Escritura
que Deus se refere a Israel como sua esposa (cf. Os
1-3) e a igreja é vista como a mulher, sendo Cristo o
marido (Ef 5.25-32).
Temos um relacionamento de amor íntimo com
Deus. Isso é ilustrado magnificamente para nós nas
palavras de Cristo: “Eu sou o bom pastor; conheço
as minhas ovelhas” (Jo 10.14). Quando leio essa
passagem, substituo a palavra “conheço” por “amo”.
“Eu sou o bom pastor; amo as minhas ovelhas, e
elas me amam a mim, assim como o Pai me ama a
mim, e eu amo o Pai; e dou a minha vida pelas
ovelhas... As minhas ovelhas ouvem a minha voz;
eu as amo, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida
eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará
da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior
do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode
arrebatar. Eu e o Pai somos um” (vv. 14-15, 27-
30).
Você percebe a beleza e a intimidade do
relacionamento de amor que temos com Jesus
Cristo? Em Romanos 11.2, o apóstolo Paulo diz:
“Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão
conheceu”. Deus predeterminou um relacionamento
de amor com você, se você é um cristão. No
conselho de Deus, pelo soberano ato de sua
vontade, ele preordenou que você seja um filho de
Deus (Ef 1.4). Você tem um relacionamento de
amor predeterminado com Deus, assim como Israel
teve e ainda tem. A intimidade desse relacionamento
de amor é tão belo, que Deus fala sobre ele nos
termos humanos mais magníficos: a consumação do
amor entre um homem e uma mulher. Quando ele
diz: “Conheço as minhas ovelhas”, e quando Cristo
diz: “Conheço vocês”, isso significa que você e eu
temos um relacionamento de amor íntimo com eles.
Que pensamento glorioso!
No entanto, para aqueles que não têm esse
relacionamento de amor, ele dirá: “Nunca vos
conheci”. Eles não tinham esse relacionamento de
amor predeterminado. Não tinham esse
relacionamento como uma ovelha e um pastor ou
como uma mulher e um marido. Estar fora desse
relacionamento especial de amor significar sofrer o
julgamento de Cristo: “Apartai-vos de mim”. Que
tragédia! Cristo repetirá essas palavras severas na
ocasião do julgamento referido em Mateus 25.41:
“Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o diabo e seus anjos”.
Quão triste é o fato de que esse quadro final do
julgamento é um quadro trágico de infelicidade. Os
incrédulos de todas as épocas são trazidos diante de
Deus. Jesus Cristo proclama a condição para o
ingresso no reino: fazer a vontade de Deus; e
aqueles que foram separados clamam: “Mas,
fizemos todas essas coisas em teu nome”.
Entretanto, por fim, o Juiz diz: “Você estão
condenados porque nunca tivemos um
relacionamento de amor”.
O cristianismo não é uma formalidade. Não é
uma religião — é um relacionamento pessoal de
amor com Jesus Cristo. Você tem esse
relacionamento de amor? Você conhece esse mesmo
Cristo?
Termino com esta ilustração. Certa vez, havia
um ator em um jantar social. Pediu-se ao ator que
recitasse algo para os presentes. Ele se levantou e,
sendo gracioso para com os presentes, disse:
“Recitarei o que vocês desejarem que eu recite”. A
princípio, ninguém sugeriu nada, mas um velho
pregador que estava ali, sentado no fundo do salão,
levantou-se e disse: “Gostaria de ouvir você recitar o
Salmo 23”.
O ator ficou um pouco chocado com aquilo,
mas, como se fizera disponível a recitar qualquer
coisa que fosse pedida, fez o que o homem lhe
pediu. Ele conhecia o salmo e, por isso, disse que o
recitaria. Ele repetiu o Salmo 23 com eloquência
total — foi uma interpretação primorosa. Sua dicção
foi bela. Quando ele terminou, todas as pessoas
irromperam em aplausos espontâneos.
O ator, imaginando que havia se vingado do
velho cavalheiro por sugerir-lhe que recitasse algo da
Bíblia, disse: “Agora, senhor, gostaria de ouvi-lo
recitar o salmo”. O velho cavalheiro não esperava
por aquilo. Mas, por causa de seu amor por Cristo,
se levantou e repetiu o Salmo 23. Sua voz
desafinava, falhava e não era tão bela. A
interpretação não foi realmente tão excelente.
Quando o homem terminou, não houve aplausos,
mas não havia olhos sem lágrimas no salão.
O ator, sentindo sua própria emoção, se
levantou e disse: “Senhoras e senhores, eu atingi
seus olhos e ouvidos, mas ele atingiu seu coração. A
diferença é esta: eu conheço o salmo, ele conhece o
Pastor”.
2

O EVANGELHO SIMPLES

João 8.21-30
26 de dezembro de 1976

Esta é uma mensagem evangelística que tem


permanecido como favorita por mais de 30 anos.
Pregada no dia depois do Natal, esta mensagem
pertence a uma época em que os principais cultos
da Grace Church eram realizados no ginásio. Os
planos para o novo prédio de adoração estavam
nos primeiros estágios.
Mao Tsé-Tung morrera na China três meses
antes. O primeiro computador Apple (de fato,
apenas uma placa-mãe exagerada) estava
disponível desde abril (a Apple se tornaria
oficialmente uma sociedade anônima na semana
seguinte à pregação desta mensagem). Mas,
naquele tempo, o radioamadorismo era a última
moda tecnológica.
Fitas cassetes haviam se tornado populares
recentemente, e dezenas de milhares de cassetes
contendo esta mensagem seriam distribuídas pelo
mundo antes do próximo Natal.

É É maravilhoso quando pessoas vêm a Cristo —


elas não estão mais sob a tirania do pecado e da
culpa ou da lascívia e do desejo, bem como não
estão mais sob a escravidão de uma existência sem
sentido e sem propósito. Cristo não somente dá
sentido à vida, mas também restaura a harmonia de
nossa vida espiritual por perdoar completamente
nosso pecado.
No entanto, o que acontece quando alguém
não quer estabelecer um relacionamento com o
Deus vivo por meio de Jesus Cristo? O que acontece
quando uma pessoa mantém o disfarce do Natal,
honrando um evento, mas não tolerando a pessoa
em quem esse evento acha seu significado? Se
receber a Jesus Cristo resulta em uma vida
abundante e eterna, não receber a Jesus Cristo
resulta em receber a maldição de Deus.
Achamos nesta passagem de João 8 algumas
afirmações alarmantes feitas por Jesus. Tenho de
admitir que essas afirmações tornam a passagem
algo difícil para eu discutir e entender. Às vezes,
desejo clamar como Richard Baxter: “Oh! que o
inferno fique vazio e o céu se encha!” Não é meu
desejo, nem o de Jesus, que alguém vá para o
inferno, porque Deus não quer “que nenhum
pereça, senão que todos cheguem ao
arrependimento” (2Pe 3.9). Não é condenação, e
sim, advertência, que Jesus fala nestes versículos.
Deve chamar nossa atenção o fato de que
pessoas que professam o cristianismo e, ao mesmo
tempo, rejeitam a Cristo estão engajadas no mais
insensato tipo de divertimento. Isso é comparável a
pessoas que celebram uma festa no navio Lusitania,
enquanto prosseguem ignorando a ameaça alemã. Se
as pessoas soubessem mesmo que seu destino eterno
era determinado por Cristo, que elas rejeitavam na
realidade, duvido que haveria muito para elas
celebrarem.
A Bíblia deixa claro que não há neutralidade
neste assunto. Jesus expressou isso de modo simples
e breve quando disse: “Quem não é por mim é
contra mim” (Mt 12.30). Em todo o primeiro
conjunto de escritos que a Bíblia nos apresenta, o
Pentateuco, Moisés estabeleceu esse padrão que
continua até o livro de Apocalipse: “Os céus e a
terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te
propus a vida e a morte, a bênção e a maldição;
escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua
descendência” (Dt 30.19). Aqui estão as duas
coisas que vemos em toda a Escritura: vida e morte,
bênção e maldição.
Josué 24.15 diz: “Escolhei, hoje, a quem
sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais
que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos
amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha
casa serviremos ao SENHOR”. Duas opções são
oferecidas: servir o Deus verdadeiro, servir os falsos
deuses.
João 3.18 diz: “Quem nele crê não é julgado;
o que não crê já está julgado”. Você tem apenas
duas escolhas: ou você é condenado ao inferno, ou
não condenado. E o ponto mais importante desta
questão é se você crê. A razão para ser condenado é
dada no final do versículo: “Porquanto não crê no
nome do unigênito Filho de Deus”.
O livro de Apocalipse termina com um convite:
“O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que
ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e
quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap
22.17). Aqui há novamente a opção de escolher um
de dois caminhos.
Outro dia, um de meus filhos perguntou-me:
“Papai, é verdade que existe somente dois lugares
aonde podemos ir quando morremos: céu e
inferno?” Eu respondi: “sim, é verdade; somente
dois lugares: céu ou inferno. Não há um lugar
neutro, não há purgatório, nem um lugar de espera.
O inferno pode ter diferentes designações quanto à
sua forma e identidade final, mas há somente dois
lugares: o céu, onde Deus está, e o inferno, onde
Deus não está”.
Talvez você já ouviu este antigo verso: “Ele não
tinha ninguém sobre quem lançar a culpa, exceto a si
mesmo”. Isso é realmente bíblico. Pode haver uma
grande argumentação teológica a respeito de quem é
responsável quando uma pessoa é salva — se o
responsável é Deus, ou se é o homem — mas, na
Bíblia, não há dúvida sobre quem é responsável
quando uma pessoa vai para o inferno, porque a
Bíblia diz que os homens escolhem.
Jesus confirmou a realidade da escolha do
homem em relação ao inferno quando confrontou
alguns dos judeus, dizendo-lhes: “Examinais as
Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e
são elas mesmas que testificam de mim. Contudo,
não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.39-
40). A responsabilidade por não escolher a Cristo é
nossa. Em Romanos 1.20, Paulo diz que os homens
são indesculpáveis.
João 16.8-9 diz: “Quando ele vier, convencerá
o mundo do pecado... porque não creem em mim”.
Não crer em Cristo é o maior de todos os pecados.
O Senhor condenou Jezabel, que estava
enganando as pessoas na igreja de Tiatira, dizendo:
“Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela,
todavia, não quer arrepender-se da sua
prostituição” (Ap 2.21). Em outras palavras, Deus
faz o chamado ao arrependimento, e, quando as
pessoas não se arrependem e se convertem a ele
com fé, a culpa é delas mesmas — elas são
responsáveis por essa decisão.
Agora, voltando a João 8, notamos no
versículo 21 uma poderosa afirmação da parte de
Jesus, dirigida aos líderes judeus: “De outra feita,
lhes falou, dizendo: Vou retirar-me, e vós me
procurareis, mas perecereis no vosso pecado; para
onde eu vou vós não podeis ir”. Com estas
palavras, Jesus fez uma declaração muito forte sobre
o fato de que ele iria para o céu, e eles não iriam.
Pelo tempo decorrido até o relato do capítulo
8, Jesus podia fazer essa advertência porque eles já
haviam recebido bastante informação para terem
feito uma decisão a respeito de Cristo. Em oito
capítulos, João estivera narrando a manifestação
pessoal de Deus em Cristo, por registrar as muitas
maravilhas que Jesus fizera na Galileia e em
Jerusalém. Além disso, Jesus falara muitas coisas
admiráveis: suas afirmações quanto à deidade são
claras — ninguém precisa se enganar quanto a elas.
De fato, posteriormente, Jesus exortou esses judeus
que avaliavam seu ministério a que cressem nele por
causa das palavras e das obras que ele havia falado e
realizado (Jo 10.37-38; 14.10-11).
Nestes capítulos, vemos as obras de Cristo e
ouvimos muitas vezes as suas palavras. No capítulo
1, ele é apresentado por João como Deus
Encarnado, que “se fez carne e habitou entre nós...
o unigênito do Pai” (v. 14). Em João 2, lemos que
ele realizou seu primeiro milagre em Caná, quando
transformou água em vinho. Em João 4, nós o
vemos revelando a vida pessoal de uma mulher, sem
a ter conhecido antes, e falando sobre o fato de que
ele era a água viva. Em João 5, ouvimos o diálogo
de Jesus com os fariseus, quando afirmou ser Deus
e haver sido designado por seu Pai para fazer o
julgamento final. Em João 6, nós o vemos
realizando diversos milagres durante todo o dia,
incluindo a alimentação de seis mil pessoas nas
encostas da Galileia. Em João 7, ele vai a Jerusalém,
e as coisas que ele diz ali continuam a confirmar que
ele é Deus. Em João 8, Jesus perdoa o pecado e
afirma que ele é a luz do mundo. Todas essas
palavras e obras, sinais e maravilhas devem ter sido
suficiente para despertar fé e confiança genuínas em
quem ele era. E, na mente de Jesus, aqueles que
estivessem vendo, ouvindo e experimentando essas
coisas e não cressem, esses levavam sozinhos a
culpa de seu próprio pecado — não tinham
desculpas.
Embora Jesus tivesse satisfeito as necessidades
físicas de muitas pessoas, elas o rejeitaram, não
querendo ter de encarar a necessidade espiritual de
arrependimento e fé nele. Na Galileia, grandes
multidões o seguiram, a princípio, porque ele as
alimentara e curara. Mas, quando ele começou a
estabelecer princípios de vida e a interferir no
pecado deles, pararam de querer coroá-lo rei.
Quando ele veio para Jerusalém, a mesma coisa
aconteceu: grandes multidões o seguiam por toda
parte. Mas, quando ele começou a mudar das coisas
físicas para as espirituais e a lidar com o pecado no
coração das pessoas, as multidões começaram a se
dissolver, e a única multidão que restou foi um
grupo de fariseus que tentava descobrir como matá-
lo. Essa rejeição trágica foi resumida nas palavras de
João: “Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam” (Jo 1.11). Os judeus eram responsáveis
por sua conclusão a respeito de Cristo, como você,
eu e qualquer outra pessoa.
Embora alguns tenham crido, João 7.40-41 nos
diz que houve outros que não creram: “Então, os
que dentre o povo tinham ouvido estas palavras
diziam: Este é verdadeiramente o profeta; outros
diziam: Ele é o Cristo; outros, porém,
perguntavam: Porventura, o Cristo virá da
Galileia?” Para alguns que o rejeitaram, Jesus disse:
“Não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo
5.40). Mas a culpa não era de ninguém, exceto deles
mesmos, como acontece com todos os que têm
plena revelação e se afastam da verdade (cf. Hb 6 e
Hb 10).
Embora a incredulidade dos escribas e fariseus
tenha se evidenciado em seu desejo de matar Jesus,
o versículo 20 nos diz que “ninguém o prendeu,
porque não era ainda chegada a sua hora”.
Impedidos por Deus de serem capazes de tirar a vida
de Jesus nessa ocasião, foram confrontados por
Jesus em seguida: “Vou retirar-me, e vós me
procurareis, mas perecereis no vosso pecado; para
onde eu vou vós não podeis ir” (Jo 8.21).
Essa confrontação revela o resultado trágico de
alguém rejeitar a Jesus Cristo: morrer em seu
próprio pecado. Jesus havia sugerido isso no
capítulo anterior, quando disse: “Ainda por um
pouco de tempo estou convosco e depois irei para
junto daquele que me enviou. Haveis de procurar-
me e não me achareis; também aonde eu vou, vós
não podeis ir. Disseram, pois, os judeus uns aos
outros: Para onde irá este que não o possamos
achar? Irá, porventura, para a Dispersão entre os
gregos, com o fim de os ensinar?” (Jo 7.33-35).
Embora estivessem sinceramente confusos quanto
ao que Jesus quis dizer com essas palavras, no
capítulo 8 vemos os judeus tornando-se cínicos
quando Jesus repetiu essencialmente a mesma
advertência: “Então, diziam os judeus: Terá ele,
acaso, a intenção de suicidar-se?” (Jo 8.22). Mas
o cinismo deles serve apenas para revelar sua falta
de entendimento. Jesus estava dizendo somente que
iria para o Pai, no céu, e que eles seriam incapazes
de ir lá, porque estariam no inferno, porque o
haviam rejeitado. Se o procurassem tarde demais,
sua procura seria inútil.
Há um limite para a graça que Deus outorga
àqueles que o rejeitam. Amós 8.11-12 diz: “Eis que
vêm dias, diz o SENHOR Deus, em que enviarei fome
sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas
de ouvir as palavras do SENHOR. Andarão de mar a
mar e do Norte até ao Oriente; correrão por toda
parte, procurando a palavra do SENHOR, e não a
acharão”. A mesma coisa é verdadeira no que diz
respeito ao evangelho de Deus a respeito de Cristo.
Em Provérbios 1.24-31, a sabedoria divina é
personificada como que se afastando daqueles que a
rejeitam: “Porque clamei, e vós recusastes; porque
estendi a mão, e não houve quem atendesse; antes,
rejeitastes todo o meu conselho e não quisestes a
minha repreensão; também eu me rirei na vossa
desventura, e, em vindo o vosso terror, eu
zombarei, em vindo o vosso terror como a
tempestade, em vindo a vossa perdição como o
redemoinho, quando vos chegar o aperto e a
angústia. Então, me invocarão, mas eu não
responderei; procurar-me-ão, porém não me hão
de achar. Porquanto aborreceram o conhecimento e
não preferiram o temor do SENHOR; não quiseram o
meu conselho e desprezaram toda a minha
repreensão. Portanto, comerão do fruto do seu
procedimento e dos seus próprios conselhos se
fartarão”. Em outras palavras, quando o dia da
graça houver terminado, aqueles que tiverem
rejeitado a sabedoria de Deus serão responsáveis e
sofrerão as consequências que eles mesmos
mereceraem. É como um prisioneiro que foi
instruído pelo rei a fazer uma corrente. Cada dia, ele
acrescenta um novo elo, até que, por fim, eles o
pegam e o prendem com sua própria corrente. Isso é
o que acontece com pessoas que rejeitam a Cristo:
elas estão produzindo em sua vida seu próprio
desastre final.
A morte de Jesus o levou para o Pai, mas a
morte daqueles que o rejeitaram não os leva a Deus
por causa do pecado. Ora, que pecado Jesus tinha
em mente quando disse aos fariseus que eles
morreriam em seu pecado? O pecado de rejeitar a
Cristo. João 16.8-9 diz que o Espírito Santo
convencerá os homens de pecado, porque não
creem em Cristo. Se você quiser racionalizar e dizer:
“Bem, eu não cometo pecados; sou uma pessoa boa
e tento fazer o que posso”, isso não servirá para
nada, porque, se você nunca recebeu a Jesus Cristo,
esse é o pecado fundamental. Por isso, Jesus diz que
aqueles que o buscam tarde demais morrerão com
pecado não perdoado. Esse é o desastre supremo,
porque essa pessoa está destinada ao inferno.
Os líderes judeus buscavam realmente o céu
durante toda a sua vida. Mas buscavam-no no lugar
errado. Em vez de buscá-lo aos pés de Jesus, eles o
buscavam em sua própria justiça. Romanos 10.17
diz que a fé vem pelo ouvir a mensagem sobre
Cristo. Mas, em vez de buscarem-na nessa
mensagem, os líderes judeus buscavam-na em seus
próprios livros, leis e rituais.
Eles não somente a buscavam no lugar errado,
mas também a buscavam da maneira errada. Em
Romanos 10.2, Paulo diz sobre os judeus: “Porque
lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus,
porém não com entendimento”. Estavam buscando
a Deus de acordo com o sistema deles mesmos, e
isso estava longe de ser uma busca de todo o
coração. Jeremias 29.13 diz: “Buscar-me-eis e me
achareis quando me buscardes de todo o vosso
coração”. Os escribas e fariseus não dedicaram
todo o seu coração a buscar a Deus, porque tinham
dedicado todo o seu coração a orgulhosa propagação
de sua própria justiça.
Portanto, muitos dos judeus buscavam no lugar
errado, da maneira errada e, infelizmente, se veriam
buscando no tempo errado. Estou certo de que tem
existido inúmeras pessoas que começaram a buscar
o céu tarde demais, depois que a sentença já havia
sido passada sobre elas, por causa de sua rejeição
contínua.
Jesus tentou transmitir o horror do inferno por
meio de algumas de suas parábolas. Por exemplo,
ele disse: “Assim como o joio é colhido e lançado
ao fogo, assim será na consumação do século.
Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que
ajuntarão do seu reino todos os que causam
escândalos e os que praticam a iniquidade e os
lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e
ranger de dentes. Então, os justos resplandecerão
como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos
[para ouvir], ouça” (Mt 13.40-43). Há somente
dois lugares onde alguém passará a eternidade: o
inferno, onde há choro e ranger de dentes, ou o céu,
onde você resplandece como o sol. E Jesus disse
que, se você tem ouvidos, é melhor ouvir. Essa é
uma advertência terrível.
Quando Jesus advertiu os judeus nesta
passagem, ele não estava sendo bruto para com eles
por selar soberanamente a escolha deles ou por
findar toda possibilidade de salvação para eles.
Estava apenas advertindo-os dassconsequências de
sua escolha presente. Quando você ouve pessoas
criticarem a Deus, por falarem negativamente desta
maneira, dizendo que Deus não é amoroso, não
creia nisso. Deus é tão amoroso e misericordioso
que nos adverte. Ninguém já foi para o inferno sem
escolher ir para lá. Deus não se imporá,
eternamente, sobre alguém que não o quer.
Vejo em João 8.21-30 quatro elementos que
mostram como uma pessoa pode morrer em seu
pecado.

SEJA CHEIO DE JUSTIÇA PRÓPRIA

A primeira maneira de garantir que você


morrerá em seu pecado e não irá para a casa do Pai,
no céu, com Jesus, é manter-se constantemente
convencido de que você não precisa ser salvo, de
que tudo está bem em sua vida espiritual. Aqueles
que negam a sua necessidade de um Salvador são os
mais difíceis de alcançarmos. Pessoas que afirmam
ser justas sem Cristo, por dizerem: “Pertenço a um
grupo especial”; ou: “Sou um dos 144.000”; ou: “Já
recebi a confirmação de que sou uma pessoa justa”
estão apenas enganando a si mesmas. Pessoas que
têm justiça própria, que desenvolveram um sistema
que elas acham lhes dá o direito de entrar na
presença de Deus são as mais difíceis de convencer
de que necessitam de um Salvador, porque sentem
que tudo está bem com elas. Satanás é esperto.
Quando ele une um falso sistema baseado em
realização humana com justiça de obras, ele o faz de
uma maneira tão complexa e supostamente bíblica,
que isso se torna sobremodo enganador. Pessoas
ficam cativas em seitas e supõem, falsamente, que
podem obter justiça pelo que fazem. Mas ninguém
jamais vem a Cristo sem ver a si mesmo como um
pecador em necessidade de que seu pecado seja
tirado e a Cristo como um Salvador que tira o
pecado.
Os judeus que Jesus confrontou eram,
evidentemente, cheios de justiça própria, como o
percebemos em sua reação. Jesus lhes dera uma
advertência amorosa, e a reação deles foi um
comentário zombeteiro: “Então, diziam os judeus:
Terá ele, acaso, a intenção de suicidar-se? Porque
diz: Para onde eu vou vós não podeis ir” (v. 22).
Estavam querendo dizer que Jesus cometeria
suicídio.
Os judeus acreditavam que o suicídio era o pior
pecado, para o qual as mais sombrias partes do
Hades estavam reservadas. As pessoas que haviam
matado a si mesmas não tinham qualquer
possibilidade de entrar no “seio de Abraão” (Lc
16.22). Portanto, os judeus concluíram que, se Jesus
se matasse, ele iria para o Hades, ao lugar oposto
para o qual eles imaginavam que iriam. Não
entenderam o que Jesus estava realmente dizendo.
Eram tão cheios de justiça própria, havendo
sistematizado tão cuidadosamente sua religião, que
acreditavam seriam eles os que habitariam o céu. No
entanto, Jesus os advertiu graciosamente com um
anúncio da condenação iminente. Como eles podiam
ser tão surdos? Se você ler todo o Novo
Testamento, terá dificuldade em achar a história de
conversão de um fariseu. Há algumas, mas não
muitas, porque eles eram pessoas muito difíceis de
serem alcançadas com a verdade bíblica.
Os judeus estavam corretos em concluir que
Jesus iria morrer. Contudo, estavam completamente
errados em pensar que a morte de Jesus seria por
suicídio. Pelo contrário, seria uma morte auto-
sacrificial, um oferecimento voluntário do próprio
Jesus para ser crucificado. Atos 2.23 diz: “Sendo
este entregue pelo determinado desígnio e
presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-
o por mãos de iníquos”. Foi assassinato, e não
suicídio. Mas Jesus foi uma vítima disposta, para
realizar a redenção.
A justiça própria é a grande mentira de Satanás.
A verdade é que você é salvo por Cristo; a mentira é
que você é salvo por alguma outra coisa que não
seja Cristo. A mentira pode vir em vários tipos de
disfarces: você pode ser salvo por seguir certas
regras, cumprir certa rotina, pertencer a um sistema
específico, ser suficientemente bom para exceder em
mérito os seus erros. Há milhares de sistemas
possíveis para opor-se à única verdade. E todos
esses sistemas fazem parte da grande mentira de
Satanás. Se ele consegue introduzir pessoas em um
sistema que lhes diz que são justas, é muito difícil
retirá-las dali. Uma das razões é que a justiça
própria é muito orgulhosa. Lembro-me do que Jó
disse aos que o julgavam: “Na verdade, vós sois o
povo, e convosco morrerá a sabedoria” (Jó 12.2).
Provérbios 12.15 diz: “O caminho do insensato aos
seus próprios olhos parece reto”. Lucas 16.15 diz:
“Aquilo que é elevado entre homens é abominação
diante de Deus”. Quando os homens acreditam na
mentira de Satanás e desenvolvem um sistema que é
altamente estimado aos olhos deles mesmos, isso é
abominação para Deus. A salvação nunca pode ser
merecida por boas obras e por cumprir rituais
religiosos.
Portanto, a primeira maneira de morrer em seu
pecado é ser cheio de justiça própria e desprezar
alguém que lhe fala sobre o pecado e o inferno. O
mundo faz isso em todo o tempo. Ele zomba de
Jesus, menosprezando suas advertências sobre o
inferno. O mundo mostra tanta seriedade em relação
ao inferno como mostra em relação a vestir seus
filhos com roupas de Diabo por ocasião do
Halloween. O mundo se recusa a admitir seu pecado
e sua necessidade do perdão de Cristo, pois confia
em boas obras ou em religião pessoal para a
salvação. Uma pessoa que está presa no sistema de
justiça própria que o mundo oferece, quer seja uma
instituição religiosa, como o mormonismo ou as
Testemunhas de Jeová, quer seja um sistema criado
pela própria pessoa, pode se tornar muito beligerante
quando está comprometida com seu sistema.
Por exemplo, li um artigo que foi enviado a um
jornal de Melbourne por uma pessoa que ouviu a
pregação de Billy Graham. Ela disse: “Depois de
ouvir o Dr. Billy Graham, pelo rádio, vê-lo na
televisão, ler relatos e cartas a respeito de sua
missão, fico profundamente desanimado com o tipo
de religião que insiste no fato de que minha alma e a
de todas as pessoas precisam ser salvas, seja o que
for que isso signifique. Nunca senti que eu era
perdido, assim como não sinto diariamente que
estou atolado no lamaçal do pecado, embora a
pregação repetitiva insista em que eu esteja. Deem-
me uma religião prática que ensine tolerância e
cortesia, que não reconheça barreiras de cor e credo,
que se lembre dos idosos e ensine bondade e não
pecado às crianças. Se, para salvar a minha alma,
tenho de aceitar essa filosofia que tenho ouvido dos
pregadores, prefiro permanecer condenado para
sempre”.
Ora, essa é uma situação perigosa para alguém.
Evidentemente, esse homem desenvolveu um
sistema em que crê que atingiu justiça própria diante
de Deus e, por isso, zomba ousadamente da
verdade.
A carta desse homem reflete a atitude dos
fariseus e escribas. Desejando apresentar uma
análise correta da situação, Jesus respondeu à
zombaria deles: “Vós sois cá de baixo, eu sou lá de
cima” (Jo 8.23). Jesus entendeu a intenção deles em
dizer, zombando, que ele mataria a si mesmo e iria
para o Hades. Mas, em certo sentido, Jesus
respondeu: “Vocês é que vão para o Hades. Eu sou
lá de cima. Você entenderam ao contrário do que eu
disse”. Com essa resposta pungente, Jesus não quis
dizer que eles eram literalmente do Hades. Jesus
quis dizer que a incredulidade, a hipocrisia, a
religião falsa, a ignorância e a justiça própria
intencional deles procediam do inimigo. Jesus fez a
distinção clara de que eles seguiam a Satanás,
enquanto ele seguia a Deus. Eles eram, como todas
as pessoas incrédulas neste mundo, cá de baixo, no
sentido de que eram parte de um sistema maligno.
Em João 8.44, Jesus lhes disse: “Vós sois do diabo,
que é vosso pai”. Pessoas como essas operam suas
vidas “segundo o príncipe da potestade do ar” (Ef
2.2).
Enquanto o incrédulo é guiado
inconscientemente por Satanás, segundo os
parâmetros de baixo, o crente é guiado do alto,
porque a sua pátria está no céu (Fp 3.20) e reside
posicionalmente nos “lugares celestiais” (Ef 1.6;
2.13). Estamos conectados com o céu ou com o
inferno, enquanto vivemos, por virtude daquele com
quem estamos identificados. Por isso, Jesus,
advertindo os fariseus, colocou as coisas na
perspectiva certa, dizendo, em certo sentido: “As
raízes de vocês vão até o Hades, porque o estilo de
vida de vocês deixa isso evidente. É melhor
reconhecerem a origem do seu sistema religioso”. Se
você quer morrer em seu pecado, apenas siga a
atitude dos fariseus: creia que você não precisa de
Cristo como seu Salvador, admita que tudo está
bem, que já resolveu todos os seus problemas e que
já atingiu a justiça. Convença a si mesmo disso e
você morrerá em seu pecado.
Há uma segunda maneira de morrer em seu
pecado.

SEJA DA TERRA

Jesus disse: “Vós sois cá de baixo, eu sou lá


de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não
sou” (Jo 8.23). Ele delineou outro contraste. Disse
aos fariseus que eles eram parte do sistema
mundano do qual ele não fazia parte. A palavra
“mundo” refere-se simplesmente à esfera espiritual e
invisível do mal. Usamos essa palavra para
identificar um sistema específico, como o mundo
dos políticos, o mundo dos esportes e assim por
diante. O sistema que Jesus tinha em mente nestas
palavras era o sistema do mal que se opõe a Deus e
a Cristo. Se você quer garantir que morrerá em seu
pecado, apenas seja parte do sistema do mundo e
aceite tudo que ele oferece. Assim, você pode ser
classificado como “filho do mundo” (Lc 16.8),
preso neste “mundo perverso”, do qual Jesus
procurar livrar os homens (Gl 1.4). Oposto à
verdade de Deus, o mundo propaga seus sistemas de
justiça própria.
Você poderia caracterizar o sistema desta
maneira: é materialista e humanista, crê que o
homem resolverá seus problemas por si mesmo e
governa seu próprio destino, está perdido em
preocupação com sexo, está infestado de ambição
carnal, orgulho, cobiça, ciúme, inveja,
autossatisfação, desejos egoístas, assassinatos e
coisas semelhantes. Suas opiniões são erradas, seus
alvos são egoístas, seus prazeres são pecaminosos,
suas influências são desmoralizantes, suas políticas
são corruptas, suas honras são vazias, seus sorrisos
são falsos, e seu amor é instável. Além disso, está
em processo de dissolução. De acordo com 1 João
2.17: “O mundo passa”. Ele se autodestruirá.
Jesus identificou aqueles que zombavam dele
como parte do sistema do mundo. Eram almas
pecadoras, egoístas e presas a terra, pessoas
controladas pelos ditames do sistema mau operado
por Satanás. Haviam-se separado de Jesus Cristo
com um abismo intransponível entre eles. Embora
fossem religiosos e, talvez, até de coração generoso,
eram parte do sistema mau de Satanás, oposto a
Deus. Jesus estava apenas lhes dizendo: “Você
morrerão em seu pecado por duas razões: primeira,
são cheios de justiça própria; segunda, estão
completamente mergulhados no sistema —
compram tudo que o mundo vende”.
Há uma terceira maneira de morrer em seus
pecados.

SEJA INCRÉDULO
Jesus disse: “Por isso, eu vos disse que
morrereis nos vossos pecados; porque, se não
crerdes que EU SOU, morrereis nos vossos pecados”
(Jo 8.24). A terceira maneira de garantir que você
morrerá em seus pecados é ser incrédulo em relação
ao evangelho. Você não tem de matar alguém e ser
mau para ser condenado ao inferno, porque o
inferno não é apenas para criminosos, é para todos
que rejeitam a Cristo. Se você rejeitar a Cristo nesta
vida, Deus não o forçará a viver com ele na
eternidade, para sempre.
Você diz: “Em que eu deveria crer?” Lembro
uma canção que era popular, chamada “Eu creio”,
que repetia, diversas vezes, as palavras “Eu creio”.
Creio em quê? Outra canção é “Creio na música”.
Se isso é tudo em que você crê, você está em
problemas. Você acha o mesmo tipo de fé vaga ou
mal orientada quando pergunta às pessoas: “Você
crê em Cristo?” E elas respondem: “Sim, eu creio
em Cristo, ele viveu, etc., etc.”
Mas Jesus tinha algo mais definido em mente.
Observe o que ele disse: “Se não crerdes que EU
SOU”. Não basta crer que Jesus é o que você pensa
que ele é. Você tem de crer que ele é aquilo que
afirmou ser. Ele afirmou ser Deus, em declarações
como: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim
jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá
sede” (Jo 6.35); “Eu sou a luz do mundo” (8.12);
“Eu sou o bom pastor” (10.11); “Eu sou a porta”
(10.9); “Eu sou a ressurreição e a vida” (11.25);
“Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (Jo
14.6).
Pelo fato de que Jesus se identificou com Deus,
a fé salvadora não somente se torna uma questão de
abandonar o pecado, mas também de confiar no
Filho. É uma questão de crer que Jesus é o que ele
afirmou ser. Você pergunta: “Morrerei em meu
pecado, se eu não crer que Jesus é tudo que afirmou
ser?”. Sim, com certeza. Você tem de procurar saber
o que ele afirmou ser, pois Romanos 10.17 nos diz
que a fé vem por ouvir a mensagem sobre Cristo.
Você jamais poderá ter fé verdadeira se não ouvir a
verdade sobre Cristo. A fé verdadeira é o resultado
de ouvir e de crer, de todo o coração, que Jesus é o
que ele afirmou ser e que Deus confirmou isso por
ressuscitá-lo dentre os mortos (Rm 10.9).
Jesus promete a seus oponentes que eles
morrerão em seu pecado não perdoado, se não
crerem que ele é o que afirma ser — Deus em carne
humana. Não crer e rejeitar destrói a esperança e
deixa somente o presságio da infelicidade no
inferno.
Em certa ocasião, quando eu estava em um
avião, um homem me perguntou: “Como alguém se
torna um cristão?”, depois de descobrir que eu era
um ensinador da Bíblia. Compartilhei o evangelho
com ele, dizendo-lhe que ele tinha de crer que Jesus
é o que ele afirma ser: Deus em carne humana, o
Salvador que morreu por nossos pecados, e
ressuscitou. Uma pessoa pode ir para o inferno e
permanecer eternamente ali apenas por não crer
nessas poucas coisas. A fé em Cristo vem por ouvir
a mensagem sobre ele. E, se você ainda não ouviu o
suficiente, deve ler mais ou achar alguém que possa
falar-lhe sobre ele. Não há sentido em ir para o
inferno por algo que você deixou de fazer, pois não
crer é o mesmo que rejeitar: “Quem não é por mim
é contra mim” (Mt 12.30). Não seja como os
fariseus que deviam saber, mas continuaram a
zombar.
Por fim, chegamos à quarta maneira de morrer
em seus pecados.
SEJA PROPOSITADAMENTE IGNORANTE

Quando alguém ouve uma mensagem sobre


Cristo, mas não permite que a mensagem penetre
em sua consciência, essa pessoa é propositadamente
ignorante. Os líderes judeus tinham bastante
evidência a respeito de Cristo, mas recusaram-se a
crer e, em sua ignorância resoluta, até zombaram de
Cristo.
Eles ignoravam propositadamente a identidade
de Cristo. Por isso, “lhe perguntaram: Quem és
tu?” (Jo 8.25). Em vez de ser uma pergunta
honesta, isso poderia ser parafraseado: “Quem você
pensa que é, camarada? Você está dizendo algumas
coisas bem ridículas, afirmando que morreremos em
nosso pecado. Você sabe com quem está falando?
Somos a elite espiritual. Quem você pensa que é?
Você é um ninguém de Nazaré, que veio aqui para
dizer aos líderes de Jerusalém como as coisas são. O
que lhe dá o direito de assumir o papel de igualdade
com Deus?”
Essa ignorância proposital é manifestada em
várias passagens da Escritura. João 8.19 diz:
“Então, eles lhe perguntaram: Onde está teu Pai?
Respondeu Jesus: Não me conheceis a mim nem a
meu Pai”. Jesus estava dizendo: “Você são
desesperadamente ignorantes. Pensam que
conhecem a Deus, mas realmente não o conhecem.
Acham que sou um impostor. Vocês também não
me conhecem. Não podem reconhecer a verdade
porque são dominados pelo pecado”.
Você lembra o homem cego curado em João 9
e todos os líderes judeus admirando-se de como ele
era capaz de ver, admitindo sua incredulidade em
relação ao poder de Jesus? O versículo 30 diz:
“Respondeu-lhes o homem: Nisto é de estranhar
que vós não saibais donde ele é, e, contudo, me
abriu os olhos”. O cego tinha mais senso do que
esses líderes judeus. Por quê? Esses líderes judeus
quiseram ignorar a verdade. O inferno será cheio de
pessoas que estarão lá simplesmente porque
quiseram ser ignorantes, não quiseram que Jesus
fizesse reivindicações na vida delas. Não quiseram
conhecer a verdade; ficaram satisfeitas com aquilo
em que acreditavam.
Aos judeus que tinham a mente fechada e
questionaram a autoridade de Jesus, ele disse: “Se
alguém quiser fazer a vontade dele, conhecerá a
respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo
por mim mesmo” (Jo 7.17). Em outras palavras, a
verdade está acessível ao coração disposto. Mas eles
não estavam dispostos.
Você diz: “Como as pessoas podem ser assim?”
A resposta é afirmada com simplicidade em João
3.19. Os homens são assim porque amam o seu
pecado: “Os homens amaram mais as trevas do
que a luz; porque as suas obras eram más”. Por
causa do seu pecado, os fariseus não quiseram
expor-se. Eram tão convencidos de sua justiça
própria e confirmados em sua ignorância resoluta,
que viraram as costas para a verdade. Isso é trágico,
porque os colocou naquela categoria de pessoas que
ouviram bastante informação para crer na verdade,
mas rejeitaram-na e receberão uma punição mais
severa do que a de outros: “De quanto mais severo
castigo julgais vós será considerado digno aquele
que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o
sangue da aliança com o qual foi santificado, e
ultrajou o Espírito da graça?” (Hb 10.29). Em
outras palavras, a maior punição no inferno está
reservada para as pessoas que conheceram a
verdade, mas rejeitaram-na.
Esses judeus eram também propositadamente
ignorantes da autoridade de Cristo. “Respondeu-
lhes Jesus: Que é que desde o princípio vos tenho
dito? Muitas coisas tenho para dizer a vosso
respeito e vos julgar; porém aquele que me enviou
é verdadeiro, de modo que as coisas que dele tenho
ouvido, essas digo ao mundo. Eles, porém, não
atinaram que lhes falava do Pai” (Jo 8.25-27).
Visto que os judeus se recusaram a aceitar o
que Jesus dissera, ele não lhes daria mais nenhuma
revelação. Mas ele diz que tem palavras de juízo a
falar sobre eles, juízo que vinha do Pai, que “ao
Filho confiou todo julgamento” (Jo 5.22). A
ignorância proposital traz julgamento, como o traz a
incredulidade, às atitudes de pessoas presas à terra e
a justiça própria; e os fariseus eram caracterizados
por todas essas coisas. Em sua cegueira espiritual,
eles não reconheceram quem Jesus era e não
entenderam que lhes falava sobre Deus, o Pai.
Pensaram que ele falava sobre algum julgamento da
parte dele mesmo. O julgamento é um resultado
terrível para aqueles que se recusam continuamente
a ouvir a verdade. Foi por isso que Jesus advertiu:
“Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça” (Mt
13.9).
Os judeus também deram evidência de sua
ignorância proposital quanto à imortalidade de
Cristo. “Disselhes, pois, Jesus: Quando
levantardes o Filho do Homem, então, sabereis que
EU SOU e que nada faço por mim mesmo; mas falo
como o Pai me ensinou” (Jo 8.28).
“Como os judeus saberiam disso?”, você
pergunta. O que o Pai fez na morte de Cristo para
confirmar as afirmações que ele havia feito? O Pai o
ressuscitou dos mortos. A Bíblia ensina isso
repetidas vezes. Em certo sentido, Jesus disse:
“Quando a minha ressurreição acontecer, você terão
de considerar com honestidade minhas afirmações”.
E muitos judeus fizeram isso. Quando se tornou
conhecido que Jesus ressuscitara dos mortos, a
igreja nasceu, e, literalmente, milhares de pessoas na
cidade de Jerusalém viram a verdade e creram (At
2-3). Houve uma grande resposta. Talvez dentre
aquela multidão que estava diante de Jesus houve
alguns que, mais tarde, se tornaram parte da igreja
primitiva.
Por fim, a afirmação do versículo 29 mostra
que muitos dos judeus eram propositadamente
ignorantes quanto à unidade de Cristo: “E aquele
que me enviou está comigo, não me deixou só,
porque eu faço sempre o que lhe agrada”. Os
fariseus não puderam compreender a unidade de
Cristo com o Pai. Por isso, Jesus disse: “Vocês
saberão que o Pai está comigo e me enviou e que
todas as afirmações que fiz são verdadeiras no dia
em que eu for levantado para ser crucificado,
porque o resultado da morte será a ressurreição”.
Mas, nesse momento, eles não sabiam. Muitos deles
nunca souberam e, consequentemente, morreram
em seus pecados e ficaram eternamente separados
de Deus.
Desejo que pudéssemos nos transportar de
volta em uma cápsula do tempo e encontrar essas
pessoas, para que entendêssemos a tragédia de
rejeitar a Cristo. Teríamos uma pequena ideia da
intensidade e do pavor envolvido nesta advertência
de Cristo. Esses judeus cheios de justiça própria,
presos a este mundo, incrédulos e propositadamente
ignorantes não precisavam morrer em seus pecados.
Havia outra opção: “Ditas estas coisas, muitos
creram nele” (v. 30). Você não se alegra com isso?
Não podemos pregar sempre mensagens
positivas. Às vezes, temos de pregar mensagens
negativas, porque estas são necessárias para trazer
alguém a Cristo. Se você nunca se entregou a Cristo,
está separado dele por um abismo que você nunca
poderá transpor por si mesmo. Nem todas as suas
boas obras, sua justiça própria e sua religião poderão
fazer isso. A única maneira de transpor esse abismo
é você reconhecer seu pecado e receber o Senhor
Jesus Cristo. Se você deseja em seu coração fazer
isso hoje, apenas ore, em seu coração, algo assim:
“Ó Deus, eu quero Jesus Cristo como meu Senhor e
Salvador. Recebo-o agora. Não quero morrer em
meu pecado. Quero ir para onde tu estás”. E, se
você fizer isso com sinceridade, ele ouvirá essa
oração, e sua vida será transportada “do império
das trevas... para o reino do Filho do seu amor”
(Cl 1.13). Se a sua fé é fraca, peça a Deus que o
ajude a crer. Se você necessita de mais informação
sobre como você pode fazer esta decisão e quer
realmente conhecer a Jesus, peça a Deus que lhe
ensine a verdade sobre ele.
3

QUAL É O CAMINHO PARA O


CÉU?

Mateus 7.13-14

18 de maio de 1980

Julgando pelo retorno dos ouvintes, este é o


sermão evangelístico mais eficaz no catálogo do
ministério Grace to You. Foi parte de uma seção
culminante de uma série extensa sobre o Sermão
do Monte. Poucas semanas depois de pregar este
sermão, John MacArthur tirou seu primeiro
período de férias extensas, desde a sua vinda para
a Grace Church — todo um verão em férias, com
sua família. Este sermão ainda retinia no coração
das pessoas quando ele retornou no meio de
setembro. A mensagem foi um instrumento para
motivar várias pessoas que, por muito tempo,
frequentavam a igreja ocasionalmente a
examinarem-se a si mesmas e a responderem a
Cristo pela primeira vez com fé genuína e não
superficial. Também foi um instrumento, através
dos anos, para trazer dezenas, talvez centenas, de
pessoas a Cristo.
O monte Santa Helena explodiu em uma
imensa erupção no Estado de Washington naquele
dia, no momento em que começava o primeiro
culto matinal na Grace Church. Testemunhas
oculares da erupção disseram sobre a área
devastada ao redor do vulcão: “Parecia o fim do
mundo”.
INTRODUÇÃO

E Em Mateus 7, o Sermão do Monte que Jesus


havia começado no capítulo 5 chega a um grande
crescendo. O clímax está nos versículos 13 e 14, o
resto do sermão é apenas uma expansão destes dois
versículos: “Entrai pela porta estreita (larga é a
porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a
perdição, e são muitos os que entram por ela),
porque estreita é a porta, e apertado, o caminho
que conduz para a vida, e são poucos os que
acertam com ela”.
Essa é uma afirmação provocadora feita por
nosso Senhor. É o ponto para o qual ele estivera
apontando na primeira parte deste sermão
extraordinário. Ele traz todo o sermão ao clímax de
uma decisão. Duas portas trazem o indivíduo a dois
caminhos que levam a destinos habitados por duas
multidões diferentes. O Senhor enfatiza a decisão
inevitável que ele exige de seus ouvintes. Alguém já
disse que tudo da vida se concentra em um homem
nas encruzilhadas. Isso é verdade. Desde o tempo
em que já temos idade suficiente para fazer uma
decisão independente, a vida se torna uma questão
de tomar decisões constantemente. Todos os dias de
nossa vida, tomamos decisões sobre todos os tipos
de coisas. Decidimos que hora acordaremos, o que
comeremos, onde iremos e o que faremos.
Escolhemos caminhos durante toda a vida. Por fim,
há inevitavelmente uma escolha única e central —
uma escolha que determina o tempo, uma escolha
que determina também a eternidade. Essa é a
escolha crucial sobre a qual nosso Senhor fala em
Mateus 7.13-14.
Deus sempre traz os homens ao ponto de
fazerem essa decisão crucial — isso é o que mais
interessa a Deus. Há sempre uma opção, há sempre
uma escolha. Por exemplo, Deus confrontou os
filhos de Israel por meio de Moises, dizendo: “Os
céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra
ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a
maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu
e a tua descendência” (Dt 30.19). Deus ofereceu ao
povo de Israel a escolha crucial: a vida ou a morte, o
bem ou o mal.
Josué substituiu Moisés como líder do povo de
Israel. Quando entraram na Terra Prometida, os
israelitas foram colocados diante de uma escolha:
“Escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a
quem serviram vossos pais... Eu e a minha casa
serviremos ao SENHOR” (Js 24.15). Deus falou a
Jeremias: “A este povo dirás: Assim diz o SENHOR:
Eis que ponho diante de vós o caminho da vida e o
caminho da morte” (Jr 21.8). Quando Elias esteve
no monte Carmelo, ele exigiu que os israelitas
tomassem uma decisão: “Até quando coxeareis
entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus,
segui-o; se é Baal, segui-o” (1 Rs 18.21). Em João
6, lemos que muitas pessoas seguiam a Jesus e se
declaravam seus discípulos (como sugerem os
versículos 60-61). Mas o versículo 66 nos diz que
muitos deles voltaram atrás e “não andavam” mais
com ele. Jesus disse: “Porventura, quereis também
vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão
Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as
palavras da vida eterna” (v. 67-68).
Algumas pessoas afastaram-se de Jesus, e
outras permaneceram com ele. Simeão disse sobre
Jesus: “Eis que este menino está destinado tanto
para ruína como para levantamento de muitos em
Israel” (Lc 2.34). Jesus é o fator determinante do
destino de todo homem. A escolha é feita nas
encruzilhadas de Cristo: escolha a vida ou escolha a
morte. Em essência, isso é o que Jesus está dizendo
em Mateus 7.13-14.
John Oxenham, um poeta inglês, escreveu:
“Para todo homem se abre um Caminho, e
Caminhos, e um Caminho; e a Alma Nobre sobe o
Caminho Elevado, e Alma Inferior tateia o Caminho
Inferior, e no meio, nas planícies nebulosas, o
restante vaga para lá e para cá. Mas para cada
homem se abre um Caminho Elevado e um
Caminho Inferior, e cada homem decide o Caminho
que sua alma seguirá”. Portanto, nesta passagem
nosso Senhor confronta os homens com uma
decisão — uma escolha tem de ser feita. Um escritor
disse: “É tempo de decisão na montanha”.
Há duas coisas que você não pode fazer com o
Sermão do Monte. Uma delas é admirá-lo. Jesus
não quer aclamação para a sua ética ou admiração
para as virtudes das afirmações éticas do Sermão do
Monte. Ele quer uma decisão sobre o seu destino. A
segunda coisa que você não pode fazer é empurrar o
Sermão do Monte para o amanhã poético do reino
futuro. Jesus não está sugerindo que estas verdades
são para uma época futura. Ele está exigindo uma
decisão presente.
Jesus exigiu uma escolha, um ato, uma decisão
crucial a ser feita naquele tempo e naquele momento
com base no que ele acabara de dizer. Uma escolha
deliberada tem de ser feita. Cristo veio introduzir um
reino. Ele era um Rei. Ele era o Rei. Era o Rei dos
reis. E veio com um reino que era singular, especial,
separado e diferente de todos os reinos do mundo.
Os homens não poderiam entender o reino de
Cristo, a menos que ele expressasse seus princípios,
o que ele faz neste sermão extraordinário.
Agora, ele nos dá a escolha de entrar ou de
permanecer fora do reino — essa é a escolha que
Cristo deseja que toda pessoa considere. Ele exige
uma resposta. Você sabe agora quais são as
condições do reino; sabe quais são os padrões do
Rei. Qual é a sua resposta? Qual é a sua reação?
Esse é o assunto.
Jesus exige uma atitude. Os versículos 13 e 14
são o ápice — o clímax daquilo a respeito do que
Jesus vinha falando em todo o sermão, para trazer
as pessoas a este ponto, trazer-nos ao ponto em que
respondemos. As escolhas são claras e somente
duas: o caminho estreito e o caminho largo. Não há
outras alternativas. John Stott diz: “Jesus se opõe ao
nosso sincretismo indolente” (Christian
Counterculture, Downers Grove, Ill.: InterVarsity,
1978. p. 193). Tendemos a querer tornar-nos
ecléticos em desenvolver sistemas de religião.
Algumas pessoas podem dizer: “Como Jesus
podia fazer da religião uma questão tão inequívoca
quando há tantas religiões diante do homem?” Bem,
não há muitas religiões. Só há a verdadeira e a falsa
religião — a certa e a errada. Isso é tão simples
como o estou afirmando. De fato, em todo o
Sermão do Monte, Jesus está contrastando a
verdadeira religião (os padrões dele) com as falsas
religiões (a religião da época, a religião do homem).
O contraste é entre a justiça divina e suas exigências
e a justiça do homem e suas exigências. O contraste
é entre Cristo e os escribas e fariseus.
Permita-me acrescentar esta observação: o
contraste não é entre a religião e o paganismo.
Muitas pessoas interpretam Mateus 7.13-14 no
sentido de que o caminho estreito é o caminho do
cristianismo, que leva ao céu, e que o caminho largo
é a orgia ébria que leva ao inferno. No entanto,
Jesus não está contrastando a piedade e o
cristianismo com as multidões irreligiosas, pagãs,
abertamente lascivas, cobiçosas e imorais, que
seguem alegremente para o inferno. Está
contrastando dois tipos de religião, ambos os
caminhos identificados como “Este é o caminho
para o céu”. Satanás não identifica o caminho largo
como “Este é o caminho para o inferno”. Isso não
seria muito enganoso. Não temos aqui um contraste
entre religião e paganismo, entre justiça e injustiça
evidente; o que temos aqui é um contraste entre
justiça divina e justiça humana, entre religião divina
e religião humana, entre religião verdadeira e religião
falsa. Por exemplo, o problema dos fariseus era que
eles “confiavam em si mesmos, por se
considerarem justos” (Lc 18.9). Essa era a religião
deles, mas era errada.
Todo homem faz um escolha. Ou você pensa
que é bastante bom em si mesmo, ou faz de seu
sistema religioso o caminho para o céu, ou você
sabe que não é bom em si mesmo e se lança sobre a
misericórdia de Deus por meio de Cristo. Há
somente dois sistemas de religião neste mundo.
Talvez você possa identificar milhares de
nomes e termos religiosos diferentes, mas há
somente duas religiões no mundo. Há a religião da
realização divina — Deus fez tudo em Cristo; e há a
religião da realização humana — nós fazemos algo.
A primeira é a religião da graça; a segunda é a
religião das obras. Portanto, há a religião da fé, ou
há a religião da carne; há a religião do coração, e há
a religião do exterior. Sistemas de religião criados
pelo homem baseiam-se na ideia de que não
precisamos realmente de um Salvador — temos a
capacidade e a habilidade de desenvolver nossa
própria justiça. Apenas criem um ambiente religioso,
deem-nos algumas regras, algumas rotinas, alguns
rituais, e a faremos funcionar por nós mesmos. Isso
é a religião da realização humana e surge com
inúmeros títulos diferentes, mas tudo é o mesmo
sistema, porque é desenvolvido a partir da mesma
fonte — o próprio Satanás. Ele o coloca em
embalagens diferentes, mas o produto é o mesmo.
Por outro lado, a religião da realização divina é o
cristianismo e permanece sozinha.
Infelizmente, a maior parte da humanidade está
no caminho da realização humana, crendo que pode
alcançar o plano mais elevado de destino potencial,
por causa de algumas capacidades inatas e
habilidades que eles podem atingir por suas próprias
boas obras. Mas Jesus está dizendo que há dois
caminhos identificados como caminhos que levam
ao céu. Um caminho é estreito, isto é, o caminho
apertado da justiça divina; o outro caminho é o
caminho largo da justiça humana. Os líderes judeus
pensavam que uma pessoa podia chegar ao céu por
seus próprios esforços. Por isso, foi chocante
quando o apóstolo disse: “Ninguém será justificado
diante dele por obras da lei” (Rm 3.20). No
versículo 19, ele disse que a lei veio para “que se
cale toda boca, e todo o mundo seja culpável
perante Deus”. A lei mostra aos homens a sua
pecaminosidade. Mas, quando o homem egocêntrico
e cheio de justiça própria viu, pelos padrões da lei,
que era pecaminoso, ele não quis encarar a sua
impiedade. Em vez disso, ele deixou a lei de lado,
inventou um novo sistema que acomodava suas
falhas e, como resultado deste sistema criado pelo
homem, afirmou em sua própria mente que ele era
justo. A sua justiça se tornou dependente da
realização humana.
O propósito do Senhor em pregar o Sermão do
Monte era destruir esse tipo de sistema. Ele mostrou
que a realização humana não serve. Para fazer isso,
ele começou assim o sermão: bem-aventurados os
humildes de espírito, bem-aventurados os que
choram, bem-aventurados os mansos, bem-
aventurados os que têm fome e sede de justiça. Em
outras palavras, ele começou onde desejava terminar
— com pessoas que são contritas, têm um espírito
de suplicante, lamentam a sua total pecaminosidade,
são humildes diante de Deus e têm fome e sede do
que eles sabem não possuírem e necessitam
desesperadamente: a justiça de Deus. Jesus queria
trazer as pessoas de volta ao ponto em que
começara o sermão — serem contritas quanto ao
pecado.
Os fariseus nunca entenderam a mensagem.
Em Lucas 18, lemos sobre um fariseu que ora nestes
termos: “Ó Deus, graças te dou porque não sou
como os demais homens... jejuo duas vezes por
semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho” (vv.
11-12). Nenhuma vez ele expressou sua necessidade
de Deus. Esse fariseu nem achava que tinha alguma
necessidade de Deus, por causa do quão bom ele
era. Perto dele, estava um homem que batia no peito
e dizia: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (v.
13). Jesus disse que esse homem desceu justificado
para casa, e não o fariseu (v. 14).
Jesus quer trazer o homem ao ponto em que
reconhece que, em sua carne, ele é totalmente
incapaz de agradar a Deus. Ele quer que o homem
se sinta desesperado, com um espírito quebrantado,
humilde e lamentador, clamando pela justiça de
Deus. Os líderes judeus pensavam que eram justos
em si mesmos e que iam para o céu, mas Jesus os
forçou a reconsiderar e tomar uma decisão bem
instruída.
Cada um de nós tem de fazer essa decisão.
Quando lemos Mateus 7.13-14, a escolha se torna
bem definida. Há duas portas: a larga e a estreita. Há
dois caminhos: o espaçoso e o apertado. Há dois
destinos: a vida e a perdição. Há dois grupos de
caminhantes: os poucos e os muitos. No restante de
Mateus 7, há mais contrastes. Nos versículos 16 a
20, há dois tipos de árvores: a boa e a má. Há dois
tipos de fruto: o bom e o mau. Os versículos 24 a 27
dizem que há dois tipos de edificadores: o sábio e o
insensato. Há dois alicerces: a rocha e a areia. Há
também duas casas e dois elementos relacionados à
tempestade. Portanto, uma decisão resoluta é a
questão no clímax do Sermão do Monte. Jesus não
quer que as pessoas adiem a aplicação das
exigências. Ele quer uma resposta.
Há quatro contrastes em Mateus 7.13-14. O
primeiro é:

AS DUAS PORTAS

Jesus disse: “Entrai pela porta estreita (larga


é a porta... que conduz para a perdição” (v. 13).
Disse também: “Estreita é a porta... que conduz
para a vida” (v. 14). Há apenas duas portas. Ambos
os caminhos afirmam apontar para Deus e a
salvação; ambos afirmam apontar para o reino, a
gloria, a bênção. Ambos os caminhos afirmam
conduzir ao céu, mas só um deles chega lá. Um
caminho é o da justiça própria e o outro é o
caminho da justiça divina. Antes de você entrar em
um ou outro dos caminhos, tem de passar por uma
das portas.
A PORTA ESTREITA
O cerne da interpretação de Mateus 7.13-14
está em entendermos a porta estreita. Quando leio o
versículo 13, a primeira coisa que vejo a respeito da
porta estreita, é:

Você tem de entrar

Jesus disse: “Entrai pela porta estreita” (v. 13).


Nestas palavras, há um senso de urgência expresso
no aoristo imperativo. Isso exige uma ação imediata.
“Entre agora”, ele disse. “Este é o tempo de entrar
— isso é o que Deus está exigindo. Você tem de
fazer isso. Não é uma opção; é uma ordem
absoluta”.
O Senhor Jesus vinha ensinando os seus
ouvintes judeus sobre um caminho de vida bem
estreito. O caminho de vida deles tolerava o pecado.
Eles haviam estabelecido todos os tipos de leis e
padrões acima dos padrões e leis de Deus. Tinham
inventado um sistema humano. Jesus lhes disse:
“Vocês têm de se livrar desse sistema. Este é o
caminho”. Quando ele proferiu as palavras
registradas em Mateus 7.12, já havia apresentado
uma abordagem bem restrita quanto a viver para a
glória de Deus. Seus ouvintes entenderam que ele
falava sobre um caminho estreito prescrito. De
acordo com Mateus 7.29, Jesus “ensinava como
quem tem autoridade”. Ele não somente citou todos
os ensinos dos rabinos judeus; ele explicou os
detalhes da lei de Deus.
Comparado com o sistema dos judeus, o
caminho de Jesus era bem estreito. Ele disse que
eles tinham de entrar pela porta estreita, se
quisessem estar no seu reino. Exigiu ação imediata.
Foi uma ordem absoluta, sem uma alternativa.
Jesus estava dizendo que você não pode entrar
no reino, se não vier nos termos que ele descreveu.
Você tem de abandonar sua justiça própria. Tem de
ver a si mesmo como um pobre de espírito (Mt 5.3),
lamentando o seu pecado (v. 5), humilde diante de
um Deus santo (v. 5), faminto e sedento por justiça
(v. 6). Você tem de entrar segundo os termos de
Jesus. O inferno estará cheio de pessoas que
admiraram o Sermão do Monte. Você tem de entrar
pela porta.

Você tem de entrar pela porta estreita

Jesus falou que há uma porta larga, mas não


lhe disse que entre por essa porta porque ela conduz
à perdição (Mt 7.13). Se você quer estar no reino,
tem de passar pela porta estreita.
As pessoas dizem: “O cristianismo não deixa
espaço para nenhuma outra opinião sobre a
salvação”. Isso é totalmente correto. Não
proclamamos a salvação porque somos egoístas,
orgulhosos ou egocêntricos. Deus proveu somente
um caminho para o homem ser salvo. Se Deus
houvesse dito que há 48 caminhos para sermos
salvos, eu pregaria todos os 48 caminhos! Mas não
há 48 caminhos para a salvação.
Atos 4.12 diz: “Não há salvação em nenhum
outro; porque abaixo do céu não existe nenhum
outro nome, dado entre os homens, pelo qual
importa que sejamos salvos”. Jesus disse: “Eu sou
o pão da vida” (Jo 6.35); e: “Eu sou o caminho, e
a verdade, e a vida” (Jo 14.6). Em João 10, Jesus
disse que é “a porta das ovelhas” (v. 7), e “o que
não entra pela porta... mas sobe por outra parte,
esse é ladrão e salteador” (v. 1). Em 1 Timóteo
2.5, a Bíblia nos diz: “Há um só Deus e um só
Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus,
homem”.
Cristo é o único caminho para a salvação. O
caminho é estreito; não há alternativas. Você tem de
entrar por um ato da vontade, com um ato de fé.
Você tem de entrar segundo os termos de Deus, pela
porta designada por Deus. Cristo é a porta (Jo 10.9).
Ele é o único caminho. Um Deus santo tem o direito
de determinar a base da salvação. Ele determinou
que ela acontece tão-somente por meio de Cristo.

Você tem de entrar pela porta estreita


sozinho

A palavra “estreita”, no versículo 13, transmite


a ideia de que a porta é bem apertada. De fato,
alguns comentaristas bíblicos dizem que a melhor
expressão contemporânea dessa palavra seria
pensarmos em uma catraca. A pessoa tem de passar
pela catraca sozinha. A passagem por uma catraca é
bem estreita — seus braços de metal não permitem
mais do que uma pessoa por vez. Zoológicos,
estações de trem e aeroportos têm catracas. Se um
grupo de pessoas está apressado para entrar ou sair,
elas não podem passar juntas. Têm de passar uma
por vez. A porta estreita é assim. As pessoas não
vêm ao reino de Cristo em grupos.
Os judeus acreditavam que estavam todos
juntos no caminho para o céu por causa de sua
herança abraâmica e da circuncisão. Há algumas
pessoas que pensam que estão seguras a respeito de
ir para o céu porque pensam que toda a sua igreja
irá para o céu. Mas não há grupos passando pela
catraca para entrar no céu. As pessoas têm de entrar
como indivíduos. A salvação é individual. As
pessoas nunca foram salvas em pares. Às vezes, as
crenças de uma pessoa influenciarão outra pessoa a
crer, mas a salvação ainda é exclusiva e pessoal.
Isso pode ser desagradável para nós, porque
geralmente passamos nossa vida fazendo coisas em
grupos. Mas Cristo disse: “Para entrar em meu
reino, você terá de fazer uma decisão por si
mesmo”. Para um fariseu, isso significava ter de
dizer adeus aos seus amigos e deixar o sistema de
religião legalista que haviam abraçado. Há um preço
a pagar. Para o povo judeu, não bastava afirmar a
herança abraâmica ou depender da circuncisão. Não
basta a pessoa dizer: “Nasci em uma família cristã e
tenho ido à igreja durante toda a minha vida”. As
pessoas não entram no reino em grupos. Elas entram
por um ato individual de fé. Você tem de entrar pela
porta estreita e tem de entrar sozinho.

Você tem de entrar pela porta estreita com


dificuldade

É muito difícil entrar pela porta estreita. Sei


que isso choca algumas pessoas, porque sempre
ouvimos que é fácil se tornar uma pessoa salva.
Alguns dizem que você tem apenas de crer, assinar
um cartão, atender ao apelo de vir à frente, levantar
a mão ou ir para a sala de oração. O problema é
que, se as pessoas pensam que são salvas por
fazerem essas coisas, elas não estão no caminho
certo porque não entraram pela porta estreita. É
muito difícil se tornar uma pessoa salva. Desejo
mostrar-lhe por quê.
A última parte de Mateus 7.14 diz isto sobre a
porta estreita e o caminho estreito: “São poucos os
que acertam com ela”. Isso significa que as pessoas
não saberiam sobre o caminho estreito se não o
procurassem. Deus havia dito por meio de um
profeta na época do Antigo Testamento: “Buscar-
me-eis e me achareis quando me buscardes de todo
o vosso coração” (Jr 29.13). Ninguém
simplesmente escorregou e caiu no reino de Deus.
A ideia de que ser salvo é algo simples expressa
graça barata e um crer fácil. Isto é a abordagem
avivalista: levante sua mão, venha para frente, assine
o cartão e você se estará no reino de Deus. Mateus
7.14 diz: “São poucos os que acertam com ela”.
Portanto, você tem de procurar a porta estreita.
Veja Lucas 13.22, e lhe mostrarei algo que
realmente o chocará. Lemos que Jesus “passava
por cidades e aldeias, ensinando e caminhando
para Jerusalém”. Uma das pessoas que o
acompanhavam perguntou: “Senhor, são poucos os
que são salvos?” (v. 23). A pessoa que fez essa
pergunta observou que não muitas pessoas estavam
aceitando os ensinos de Cristo. A resposta de nosso
Senhor explica por que poucos são salvos. Ele disse:
“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita” (v.
24).
A palavra “esforçai” é tradução do vocábulo
grego agonizomai, que significa “agonizar”. É usada
em 1 Coríntios 9.25 para falar de um atleta que se
empenha para obter uma vitória. Esse conceito é
referido em Colossenses 4.12, nas palavras “se
esforça sobremaneira”, e em 1 Timóteo 6.12, na
palavra “combate”. Em outras palavras, o Senhor
disse que entrar pela porta estreita é agonizante.
Exige esforço intenso. Ele continuou: “Muitos
procurarão entrar e não poderão” (Lc 13.24).
Portanto, é difícil ser salvo por duas razões.
Primeira, você tem de procurar o caminho estreito;
segunda, embora muitos procurem, quando
descobrem qual o custo para entrar, não se mostram
dispostos a entrar.
Você não se torna um cristão apenas porque
veio à frente durante o apelo do pregador; não se
torna cristão de maneira fácil e barata. Mateus 11.12
diz: “O reino dos céus é tomado por esforço, e os
que se esforçam se apoderam dele”. Em Lucas
16.16, o Senhor disse: “Desde esse tempo, vem
sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e
todo homem se esforça por entrar nele”.
Isso não é o que ouvimos hoje, mas é o que
Jesus ensinou. O reino é para aqueles que o buscam
de todo o coração. É para aqueles que agonizam
para entrar nele, aqueles cujo coração é quebrantado
quanto à sua pecaminosidade. O reino é para
aqueles que choram, em humildade, sentem fome e
sede de justiça a anelam que suas vidas sejam
mudadas por Deus. O reino não é para pessoas que
querem Jesus sem qualquer mudança em seu estilo
de vida. Não podemos ficar inertes quanto ao reino;
temos de fazer um esforço tremendo e demonstrar
vigor incessante. De fato, Jesus disse: “No mundo,
passais por aflições”. Não é fácil tornar-se um
cristão porque Satanás e seus demônios lutam contra
você. Satanás tem aliados clandestinos em sua carne,
que resistem à mudança. No poder de Deus, temos
de vencer Satanás e a carne, para entrarmos no
reino.
O comentarista bíblico William Hendricksen
escreveu:
“O reino não é para os fracos, vacilantes ou
comprometedores... Não é para Balaão, para o
jovem rico, Pilatos e Demas... Não é obtido por
meio de orações postergadas, promessas não
cumpridas, resoluções quebradas e testemunhos
hesitantes. O reino é para pessoas fortes e resolutas
como José, Natã, Elias, Daniel, Mordecai e Pedro...
Estêvão... e Paulo. E não esqueçamos as mulheres
corajosas como Rute, Débora, Ester e Lídia”
(Exposition of the Gospel According to Matthew,
Grand Rapids: Baker, 1973, p. 490).

Uma mentira de Satanás bastante difundida em


nosso mundo diz que é fácil tornar-se um cristão.
Mas não é fácil. Você tem de passar pela porta
estreita, por si mesmo, e agonizar a respeito de sua
pecaminosidade. Você tem de ser quebrantado em
espírito. Alguém pode dizer: “Isso parece religião de
realização humana, sobre a qual você falou antes”.
Não. Quando você vem com um espírito
quebrantado e reconhece que não pode entrar no
céu com base em seus próprios méritos, Cristo lhe
outorga graça sobre graça, para fortalecê-lo a entrar
pela porta estreita. Em seu quebrantamento, o poder
de Cristo se torna a sua fonte.

Você tem de entrar pela porta estreita sem


bagagem

Você já observou que não podemos passar por


uma catraca com bagagem? É impossível. A porta
estreita é a porta da auto-renúncia. Não admite
celebridades que querem levar consigo toda a sua
bagagem. Você precisa despir-se de sua justiça
própria e de seu pecado, pois, do contrário, não
pode entrar por ela.
O jovem rico descrito em Mateus 19 veio à
porta. Aproximou-se de Jesus e disse: “Mestre, que
farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?” (v.
16). O Senhor foi diretamente ao âmago do
problema e respondeu: “Se queres ser perfeito, vai,
vende os teus bens, dá aos pobres” (v. 21). Jesus
lidou exatamente com problema de bagagem do
jovem rico! Ele estava tentando entrar pela porta
estreita com a bagagem de suas riquezas. Também
estava levando a bagagem da justiça própria, porque
dissera ao Senhor que guardava todos os
mandamentos (vv. 17-20). Mas o jovem rico não
podia entrar pela porta estreita com seu dinheiro e
sua justiça própria. O versículo 22 nos diz: “Tendo,
porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se
triste, por ser dono de muitas propriedades”. Ele
não estava disposto a negar a si mesmo e agonizar a
respeito de seu pecado.
Se você não entrou pela porta estreita da
maneira como deveria fazê-lo, então você está no
caminho errado. Não importa se o caminho diz que
conduz ao céu ou a Jesus. Tem de haver um
abandono do eu. O Senhor disse: “Se não vos
converterdes e não vos tornardes como crianças,
de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt
18.3). Que característica tem uma criança?
Dependência total. Alguém escreveu: “Nada em
minhas mãos eu trago; somente à tua cruz me
apego”. A fé salvadora não é apenas um ato da
mente; envolve o despir-se do eu, em completa
nudez. Significa ser como o publicano que batia no
peito e dizia: “Ó Deus, sê propício a mim,
pecador!” (Lc 18.13). Em Mateus 7.13-14, o
Senhor estava abordando o perigo do crer fácil.
Algumas pessoas dizem: “Venha a Jesus. É tão fácil.
Apenas creia e ore”. Não há nada errado em crer e
orar, mas essas coisas não trazem a verdadeira
salvação, quando acontecem em um vácuo. Somos
nada e nada temos para recomendar-nos a Deus.
Você tem de entrar pela porta estreita com
arrependimento

Você não pode entrar pela porta estreita se o


seu coração não está arrependido do pecado. Você
tem de converter-se do pecado para servir o Deus
vivo. Quando João Batista exortava o povo a
receber o Messias, muitas pessoas foram a ele para
serem batizadas porque desejavam ter seus pecados
purificados. O povo judeu sabia que preparar-se
para o Messias significava limpar o coração de seu
pecado.
Charles Haddon Spurgeon, um grande
pregador inglês do século XIX, disse: “Você e seu
pecado têm de separar-se, pois, do contrário, você e
seu Deus nunca se unirão. Nenhum pecado pode
detê-lo; você tem de desistir de todos. Eles têm de
ser trazidos para fora da caverna, como os reis
cananeus, e enforcados ao sol”. Você tem de
converter-se do pecado para Deus; tem de haver
arrependimento em seu coração.

Você tem de entrar pela porta estreita com


rendição total

Uma pessoa não pode tornar-se regenerada por


acrescentar Jesus às suas atividades carnais. A
salvação não é uma adição à sua vida. É uma
transformação de sua vida. A mensagem de 1 João é
que, se você é verdadeiramente redimido, sua vida
manifestará uma transformação. Você confessará
seu pecado, a obediência se tornará uma
característica de sua vida, e você manifestará amor.
A salvação é caracterizada por uma mudança de
vida. Jesus disse: “Posso dizer quem são meus
verdadeiros discípulos, porque eles obedecem à
minha palavra” (cf. Jo 8.31). Se você acha que é
um cristão, mas não há qualquer sinal de obediência
em sua vida, então você está no caminho errado.
Ainda que o caminho diga que leva ao céu e a Jesus,
sem obediência você não está no caminho certo.
A porta pela qual você tem de entrar é bem
estreita. Em contraste, há:

UMA PORTA LARGA


Não preciso falar muito sobre isto. É óbvio por
contraste. Todos podem passar juntos pela porta
larga. Você não precisa passar sozinho. Não há nada
individual no que diz respeito a essa porta. Não há
auto-renúncia. Você pode trazer toda a bagagem que
quiser: sua imoralidade, falta de arrependimento e
falta de compromisso com Cristo. A porta larga é a
porta da auto-satisfação. Há muitos que afirmam ser
cristãos e vivem totalmente para a satisfação pessoal.
Orgulho, justiça própria, auto-satisfação e todos os
tipos de pecados são bem-vindos à porta larga. Mas,
se você tem essas coisas em sua vida, não está no
caminho estreito, porque não pode entrar pela porta
estreita com essa bagagem.
Depois das duas portas, há:

OS DOIS CAMINHOS

Quais são os dois caminhos? Mateus 7.13


menciona o caminho espaçoso, e Mateus 7.14
menciona o caminho estreito ou apertado. Salmo 1
nos fala sobre esses caminhos: há um caminho do
justo (vv. 1-3) e o caminho dos ímpios (vv. 4-5). O
versículo 6 apresenta o resultado de andar no
caminho ímpio. As escolhas são as mesmas que
sempre existiram: você pode ir ou pelo caminho do
justo ou pelo caminho do ímpio.
Consideremos agora:

O CAMINHO ESPAÇOSO
Uma vez que você entra pela porta larga, o
viver é fácil. Não há precipícios. Há abundância de
espaço para se andar. Não há regras; nenhuma
moralidade é especialmente obrigatória. Há espaço
para diversas teologias. Há tolerância de todo
pecado imaginável, contanto que você “ame” a Jesus
e seja “religioso”. Não há limites — nem restrições.
Todos os desejos do coração caído são satisfeitos
nesse caminho. Não há necessidade de uma atitude
de bem-aventurança. Não há necessidade de
humildade. Não há necessidade de estudo da Palavra
de Deus. Não há necessidade de padrões morais
internos. Você pode viver com um tipo de
religiosidade mecânica que é nada mais do que
hipocrisia. O caminho espaçoso não exige que você
tenha caráter. Você pode ser como um peixe morto
flutuando correnteza abaixo: você apenas deixa a
correnteza fazer seu trabalho.
Efésios 2.2 chama esse caminho de “o curso
deste mundo”. Provérbios resume assim a tragédia
do caminho espaçoso: “Há caminho que ao homem
parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de
morte” (Pv 14.12). O caminho espaçoso não tem
padrões, exceto os padrões criados pelos homens
para acomodarem-se ao seu sistema agradável. Mas
Salmos 1.6 adverte: “O caminho dos ímpios
perecerá”.
Em contraste com o caminho espaçoso, há:

O CAMINHO ESTREITO
O versículo 14 diz que esse caminho é apertado
e confinado a uma vereda estreita em um precipício.
Essa é a razão por que Paulo disse: “Vede
prudentemente como andais” (Ef 5.15). Você tem
de andar com os olhos abertos; o caminho é estreito
e cercado de ambos os lados pela mão disciplinadora
de Deus. Se você sair fora, para um dos lados, será
disciplinado! As exigências são grandes, restritas e
bem definidas. Não há espaço para qualquer desvio
delas. O desejo de seu coração deve ser cumprir
essas exigências, sabendo que, se falhar, Deus o
disciplinará, o perdoará amorosamente e o firmará
outra vez.
Você diz: “Se é um caminho difícil, estreito e
rigoroso, pode ser algo que eu não queira”. No
entanto, a coisa maravilhosa sobre andar nesse
caminho é que a dificuldade de andar é levada pelo
próprio Cristo. Ele disse: “O meu jugo é suave, e o
meu fardo é leve” (Mt 11.30). Mas, apesar disso,
esteja consciente do que você está buscando, se
decide andar no caminho estreito.
Lucas 14.25-26 diz: “Grandes multidões o
acompanhavam, e ele, voltando-se, lhes disse: Se
alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e
mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a
sua própria vida, não pode ser meu discípulo”.
Diga isso à próxima pessoa com quem você
compartilhar o evangelho! Jesus estava dizendo: “Se
você quer ser um cristão, aborreça seu pai, mãe,
irmão e irmã. Você terá de sair da multidão e dizer
adeus a todos que ama ou não pode ser meu
discípulo. Terá de tomar uma cruz e viver uma vida
crucificada”. Tente pregar isso em um avivamento e
veja quantas as pessoas se mostram dispostas a
aceitar a Cristo! Você sabe quem viria à frente? As
pessoas que deveriam vir — as pessoas que
desejavam fazer o tipo certo de compromisso.
Jesus continuou sua linha de pensamento com
algumas ilustrações. Ele disse: “Pois qual de vós,
pretendendo construir uma torre, não se assenta
primeiro para calcular a despesa?” (v. 28). Em
outras palavras, você não deve começar a edificar
algo sem analisar o que lhe custará. Jesus
acrescentou: “Ou qual é o rei que, indo para
combater outro rei, não se assenta primeiro para
calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o
que vem contra ele com vinte mil?... Assim, pois,
todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo
quanto tem não pode ser meu discípulo” (vv. 31,
33).
Jesus traçou uma linha árdua. Se você não está
disposto a dizer não a tudo e a andar nesse caminho
estreito, você não pode ser um discípulo de Cristo.
Se você andar no caminho estreito, lembre-se de
que é Deus quem o capacitará a fazer isso. Você não
poderá andar por si mesmo no caminho estreito,
mas Deus lhe dará graça e lhe outorgará poder em
sua fraqueza, para que você possa andar no caminho
estreito. Se você está disposto a andar no caminho
que Deus quer você ande, então, você virá a ele pelo
caminho certo. Lembre-se de que será perseguido e
enfrentará tribulações. Jesus disse aos seus
discípulos: “Vem a hora em que todo o que vos
matar julgará com isso tributar culto a Deus” (Jo
16.2). Você passará a sua vida fugindo daqueles que
desejam persegui-lo.
Não se pode andar no caminho estreito com
pés descalços — ele não é uma campina atraente. O
caminho é árduo. Jesus nunca apresentou o
cristianismo como uma opção agradável para os
abatidos. Você declara guerra ao inferno quando
passa pela porta estreita — e o inferno luta
severamente. Você tem de viver com uma atitude de
bem-aventurança: tem de combater constantemente
seu orgulho e desejos egoístas. Jesus disse a Pedro:
“Siga-me, mas isso lhe custará a vida” (cf. Jo 21.15-
19).
Você está vindo a Jesus nessas condições? O
caminho estreito é assim. É difícil, apertado,
confinado. Se você sair do caminho, Deus o
disciplinará. Você diz: “Mas parece tão difícil”. Não
é, porque Jesus carrega o fardo por você.
Quando você faz sua decisão sobre que
caminho deseja seguir, tenha em mente:
OS DOIS DESTINOS

De acordo com Mateus 7, o caminho espaçoso


“conduz para a perdição” (v. 13), e o caminho
estreito “conduz para a vida” (v. 14). Moisés,
Josué, Jeremias e Elias, todos falaram sobre o
caminho da vida e o caminho da morte. Salmo 1 diz
que os justos são benditos e que os ímpios perecerão
(vv. 1, 6). A palavra “perdição”, em Mateus 7.13, se
refere ao juízo eterno e final no inferno.
O Senhor disse que todas as pessoas terminam
em um de dois lugares. Todas as religiões do mundo
(exceto a religião da realização divina em Cristo)
terminarão no mesmo lugar: “a perdição”. É fácil
entrar no caminho que leva à perdição; você pode
levar consigo tudo que quiser. Não há padrões. Mas,
quando você chega ao fim desse caminho, as coisas
ficam terríveis. Não há restrições, e há abundância
de pessoas ao longo do caminho, mas ele termina no
inferno.
John Bunyan disse: “A entrada para o inferno é
à porta do céu”. Que choque algumas pessoas terão
quando perceberem que estão indo para o inferno!
Por outro lado, o caminho estreito se abre para a
felicidade eterna. O caminho espaçoso se estreita em
um abismo terrível; o caminho estreito se abre na
plenitude de uma comunhão eterna de alegria com
Deus que não podemos imaginar. A vida eterna não
é quantitativa; ela é qualitativa. A escolha é sua.
Considere o destino do caminho que você escolhe
— você passará a eternidade ali. Como os homens
escolherão? A resposta é dada no ponto final:

AS DUAS MULTIDÕES

Mateus 7.13 diz: “Entrai pela porta estreita


(larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz
para a perdição, e são muitos os que entram por
ela)”. O versículo 14 diz: “Estreita é a porta, e
apertado, o caminho que conduz para a vida, e são
poucos os que acertam com ela”. Isso é admirável.
A maioria das pessoas está no caminho da realização
humana — está no caminho errado.
Pessoas me perguntam: “Que lugar você acha
que terá mais pessoas: o céu ou o inferno?”. Jesus
nos dá a resposta em Mateus 7.13-14. No Antigo
Testamento, sempre houve um remanescente de
pessoas crentes. Na história redentora de Deus, o
tempo que será singular é a Tribulação. De acordo
com Apocalipse 7, haverá uma multidão inumerável
de gentios redimidos de toda nação, língua e povo
(v. 9). Haverá também pessoas redimidas da nação
de Israel (vv. 4-8; Rm 11.26). Haverá uma resposta
imensa ao evangelho durante a Tribulação. Mas,
quanto ao nosso tempo, a resposta a Cristo é
pequena porque os homens preferem apegar-se aos
seus pecados. Jesus disse que os homens amam as
trevas (Jo 3.19).
Em Lucas 12.32, Jesus disse aos seus
discípulos: “Não temais, ó pequenino rebanho”. A
palavra “pequenino” é uma tradução da palavra
grega micron. Obtemos dela o prefixo micro, que
significa “algo pequeno”. Essa mesma palavra é
usada em Mateus 13.32 em referência ao grão de
mostarda, que é a menor de todas as sementes.
Sempre tem havido poucas pessoas que procuram
de todo o coração o caminho para o céu. Há muito
poucas pessoas que agonizam a respeito de sua
incapacidade de entrar no céu e estão dispostas a
calcular o custo de andar no caminho estreito. De
fato, Jesus disse: “Muitos são chamados, mas
poucos, escolhidos” (Mt 22.14).
É fácil escolher o caminho espaçoso; apenas
acompanhe a multidão. Você pode tentar acrescentar
Jesus à sua vida, sentir-se religioso e ir à igreja. Pode
unir-se a um sistema de religião que diz levar ao céu
— e nunca negar a si mesmo. Em qualquer caso,
você acabará em um desastre.
Em Lucas 13, Jesus disse: “Esforçai-vos [ou
‘agonizai’] por entrar pela porta estreita, pois eu
vos digo que muitos procurarão entrar e não
poderão. Quando o dono da casa se tiver
levantado e fechado a porta, e vós, do lado de fora,
começardes a bater, dizendo: Senhor, abre-nos a
porta, ele vos responderá: Não sei donde sois.
Então, direis: Comíamos e bebíamos na tua
presença, e ensinavas em nossas ruas. Mas ele vos
dirá: Não sei donde vós sois; apartai-vos de mim,
vós todos os que praticais iniquidades. Ali haverá
choro e ranger de dentes, quando virdes, no reino
de Deus, Abraão, Isaque, Jacó e todos os
profetas... Muitos virão do Oriente e do Ocidente,
do Norte e do Sul e tomarão lugares à mesa no
reino de Deus. Contudo, há últimos que virão a ser
primeiros, e primeiros que serão últimos” (vv. 24-
28, 30). Jesus não estava falando sobre pessoas
irreligiosas; ele se dirigia a pessoas religiosas que
pensavam estar no caminho certo. Não posso pensar
em uma cena mais horrível do que a de pessoas que
vivem sob a ilusão de que são salvas e descobrem
que a porta do céu está fechada para elas.
Jesus disse que muitos andarão no caminho
espaçoso (Mt 7.13). Nos versículos 22 e 23, ele
disse: “Muitos, naquele dia, hão de dizer-me:
Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós
profetizado em teu nome, e em teu nome não
expelimos demônios, e em teu nome não fizemos
muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente:
nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que
praticais a iniquidade”. Que choque! As muitas
pessoas que andam pelo caminho espaçoso
descobrirão que não estavam no caminho que
conduz ao céu. A porta será fechada no rosto delas,
para sempre.
O caminho para o céu é estreito, mas sinto-me
feliz em dizer que ele é suficientemente largo para
admitir o principal dos pecadores (1Tm 1.13, 15).
Você tem de entrar sozinho pela porta estreita. Não
pode escapar da escolha. Você terá de fazê-la
inevitavelmente. Não fazer nenhuma escolha
significa que você já fez uma escolha — e
enfrentará as consequências dessa decisão.
4

UMA EXPOSIÇÃO RÁPIDA DE


APOCALIPSE
A Revelação de Jesus Cristo

5 de dezembro de 1982

Este é, provavelmente, o sermão mais atípico


neste livro. Abrangendo um livro inteiro da Bíblia
em uma única mensagem, temos aqui um resumo
singular da escatologia bíblica, explicado na
estrutura da visão do apóstolo João, que estava na
ilha de Patmos. É uma análise rápida, mas cheia
de informação. E, através dos anos, este sermão se
tornou um dos mais populares e mais
frequentemente solicitados, em CDs de um só
sermão, no catálogo do ministério Grace to You.
No domingo em que este sermão foi pregado
pela primeira vez, Ronald Regan estava no
segundo ano de seu mandato como presidente. Os
vídeos games Pac-Man e Donkey-Kong estavam no
auge de sua popularidade. John MacArthur estava
terminando o trabalho no capítulo final de The
Ultimate Priority, que seria lançado no ano
seguinte.

N Nenhum livro das Escrituras revela a glória de


Deus e de Cristo em maior esplendor do que o livro
de Apocalipse. Entretanto, nenhum outro livro tem
sido tão mal entendido, tão mal interpretado e tão
negligenciado como este. Em Apocalipse 22.10,
lemos: “Não seles as palavras da profecia deste
livro, porque o tempo está próximo”. Se há algo
que Deus quer, em referência a este livro, é que
saibamos o que ele ensina. O livro começa com uma
bem-aventurança: “Bem-aventurados aqueles que
leem” (1.3) e termina com uma bem-aventurança:
“Bem-aventurado aquele que guarda as palavras
da profecia deste livro” (22.7). É o único livro da
Bíblia que começa e termina com uma promessa de
bênção para aquele que o lê. O livro nos diz que
precisamos entendê-lo porque o tempo está
próximo. Isso significa basicamente que o livro trata
do próximo acontecimento no horário messiânico de
Deus.
A chave do livro está em sua primeira
expressão: “Revelação de Jesus Cristo” (Ap 1.1).
O livro é a respeito do apocalipse (no grego,
apokalypsis), o desvendamento, a revelação da
verdade sobre Cristo antes não conhecida. Neste
livro, aprenderemos coisas sobre Jesus Cristo que
não saberíamos se não tivéssemos este livro. Ele é a
revelação “que Deus lhe deu para mostrar aos seus
servos as coisas que em breve devem acontecer e
que ele, enviando por intermédio do seu anjo,
notificou ao seu servo João” (1.1). Deus queria
revelar a Jesus Cristo em toda a glória; e isso é uma
realidade futura.
O versículo 2 diz que João escreveu o livro. Ele
“atestou a palavra de Deus e o testemunho de
Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu. Bem-
aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem
as palavras da profecia e guardam as coisas nela
escritas, pois o tempo está próximo” (vv. 2-3). Essa
última afirmação não está necessariamente
relacionada a tempo, e, sim, à sequência de
acontecimentos. Isso é o que vem em seguida no
calendário dos eventos messiânicos. Portanto, é uma
revelação de Jesus Cristo; e ele é revelado na glória
plena da Segunda Vinda, que foi vista por
antecipação, em sua primeira vinda, no Monte da
Transfiguração, quando ele deu aos seus discípulos
um vislumbre de sua glória na Segunda Vinda (Mt
17.1-2).
O versículo 4 nos dá uma introdução formal.
João estava escrevendo este livro especificamente
para que fosse enviado às sete igrejas na Ásia
Menor. Isso se tornaria a Turquia moderna. As sete
igrejas são listadas nos capítulos 2 e 3. Eram
congregações fatuais e os primeiros receptores desta
carta, que, em seguida, foi passada a todas as outras
igrejas e, posteriormente, a nós. Essas igrejas foram
fundadas, primariamente, como resultado do
ministério de Paulo em Éfeso, que foi a igreja-chave
naquela região. De Éfeso, a Palavra de Deus se
propagou por toda a região. Não há dúvida de que a
propagação da Palavra de Deus foi responsável pela
fundação dessas várias igrejas na Ásia Menor.
Em seguida, temos a saudação: “Graça e paz a
vós outros, da parte daquele que é, que era e que
há de vir”. Isso é uma descrição do Deus eterno,
que era, que é e que há de vir, no futuro. A
saudação é também “da parte dos sete Espíritos
que se acham diante do seu trono”. João se refere
aos sete Espíritos, mas isso é realmente uma
referência ao Espírito Santo. Isaías 11.2 é um
passagem correspondente a Apocalipse 1.4. O
profeta Isaías lista sete ministérios singulares do
Espírito Santo. Ele é, portanto, os sete Espíritos, e
isso fala da plenitude de seu ministério: “Os sete
Espíritos que se acham diante do seu trono”. O
livro é enviado com saudações da parte de Deus Pai,
saudações da parte do Espírito Santo e “da parte de
Jesus Cristo” (Ap 1.5). É uma carta da parte da
Trindade.
Visto que este livro é uma revelação de Jesus
Cristo, João descreveu a Jesus como “o
Primogênito dos mortos” (v. 5). Isso não significa
que ele foi o primeiro a ressuscitar dos mortos;
houve outros que ele mesmo ressuscitou dos mortos
(por exemplo, Jo 11.43-44). A expressão significa
que de todos os que serão ressuscitados dos mortos,
incluindo os santos, ele é o primeiro, o principal, o
chefe e o maior de todos os que ressuscitarão. Todos
os homens que já viveram ressuscitarão dos mortos,
alguns para a ressurreição da vida e alguns para a
ressurreição da condenação (Jo 5.29). Mas de todos
os que já ressuscitaram, ele é o principal. Ele é o
“Soberano dos reis da terra” (Ap 1.5).
Este é um livro que procede da Trindade,
comunicado por um anjo a João, que o escreveu e o
propagou para que o lêssemos. Em seguida, João
nos lembra que o livro foi primeiramente enviado às
sete igrejas e foi dedicado “Àquele que nos ama, e,
pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados,
e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus
e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos
séculos. Amém!” (vv. 5-6).
Depois da dedicação, o versículo 7 diz: “Eis
que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até
quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra
se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!”.
Vimos que o livro é apresentado como procedente
da Trindade, dedicado a Jesus Cristo, que virá, e
que, em sua vinda, todo olho o verá. Isso é um
vislumbre do assunto abordado em todo o livro, a
vinda de Jesus Cristo, que diz: “Eu sou o Alfa e
Ômega... aquele que é, que era e que há de vir, o
Todo-Poderoso” (v. 8). Isso significa Deus em sua
essência e Jesus Cristo em seu relacionamento
singular com Deus, na Trindade.
Portanto, nos versículos 4 a 8 temos apenas
alguma informação introdutória. O livro é da
Trindade para as sete igrejas, para ser propagado a
partir dali, por intermédio de João. É dedicado a
Jesus Cristo, que há de vir e não é outro senão o
próprio Deus todo-poderoso. O livro é a respeito da
segunda vinda de Jesus Cristo. É a respeito da volta
de Cristo e dos fatos que acontecerão na época de
sua volta.
Quando examinamos o versículo 9, vemos que
João recebe a primeira de uma série de visões que
Deus preparou para ele. Você obtém a ideia de que
há certa incredulidade na mente de João quanto à
razão por que Deus lhe outorgou tão grande
privilégio: “Eu, João, irmão vosso e companheiro
na tribulação, no reino e na perseverança, em
Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por
causa da palavra de Deus e do testemunho de
Jesus”. Para calar a boca de João e tirá-lo de cena,
os líderes religiosos o exilaram na ilha de Patmos,
até à sua morte. Mas João continuou a pregar a
Cristo e a Palavra de Deus até à morte,
João continua: “Achei-me em espírito [sob o
controle do Espírito Santo, de maneira singular],
no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim,
grande voz, como de trombeta” (v. 10). Alguns
podem pensar que João se refere especificamente ao
domingo. Alguns pensam que ele está falando em
um sentido profético: “Eu estava em Espírito
olhando para o dia do Senhor em sua plenitude”. Eu
me inclino particularmente à ideia de que isso
aconteceu num domingo, no dia do Senhor; de que,
enquanto João estava adorando, ele esteve no
Espírito. “Ouvi, por detrás de mim, grande voz,
como de trombeta, dizendo: O que vês escreve em
livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna,
Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia”
(v. 10-11). Estas eram cidades fatuais que tinham
igrejas, congregações de pessoas reais.
Em seguida, João voltou-se para ver quem
falava com ele e teve uma visão de Jesus Cristo (v.
12). Ele viu a Jesus Cristo se movendo entre sete
candeeiros de ouro, que representavam as sete
igrejas. Sete é o número da plenitude. Isso é uma
representação de todas as igrejas, e Cristo está se
movendo entre as igrejas, ministrando para elas. O
versículo 16 diz: “Tinha na mão direita sete
estrelas”. O versículo 20 indica que as sete estrelas
são os ministros das sete igrejas. O Senhor é visto
movendo-se em meio à sua igreja, ministrando,
arrumando os candeeiros, fazendo sua obra de
purificação e julgamento, aplicando sabedoria e
assim por diante. João viu Cristo em sua glória
ministrando para a igreja.
O esboço do livro é dado no versículo 19:
“Escreve, pois, as coisas que viste”, que
constituem a primeira visão, “e as que são”, que
falam do tempo em que João vivia (Ap 2 e 3), “e as
que hão de acontecer depois destas”, que começam
no capítulo 4. Esse é o esboço do livro.
As “coisas que são” começam com Cristo
sendo revelado na era da igreja. Isso significa a
época presente, em que João está escrevendo e
Cristo se move entre as igrejas, para ministrar. Seu
ministério é revelado em sete cartas dirigidas a essas
igrejas individuais.
Começando no capítulo 2, vemos as cartas
escritas para as sete igrejas. São sete igrejas que
existiram nas cidades com as quais são identificadas.
Estudar as cartas em detalhes revela que cada carta
se encaixa no contexto histórico, cultural e
geográfico da cidade para a qual foi escrita. Mas
cada igreja é representativa — cada uma tem
características singulares. Essas igrejas representam
igrejas em toda a História, porque cada uma é um
tipo especial de igreja. Cada uma recebe uma
mensagem especial do Senhor. Este é seu ministério,
por assim dizer, para a era da igreja.
A primeira é a igreja em Éfeso. Que tipo de
igreja é essa? É a igreja ortodoxa em doutrina, mas
fria. Ela abandona o seu primeiro amor. Cristo diz:
“Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu
primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste,
arrepende-te e volta à prática das primeiras obras;
e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu
candeeiro, caso não te arrependas” (2.4-5). Ora,
essa é a igreja que é ortodoxa; eles têm a doutrina
correta. Os versículos 2 e 3 dizem: “Conheço as
tuas obras, tanto o teu labor como a tua
perseverança, e que não podes suportar homens
maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se
declaram apóstolos e não são, e os achaste
mentirosos; e tens perseverança, e suportaste
provas por causa do meu nome, e não te deixaste
esmorecer”. Mas eles perderam seu amor e se
tornaram frios e ortodoxos. Esse tipo de igreja
existiu em todo o tempo e ainda existe hoje. Essas
igrejas que têm a mensagem certa podem ser frias e
indiferentes quanto à mensagem.
A segunda igreja com que nos deparamos é a
de Esmirna (vv. 8-11). Essa é a igreja que sofre
perseguição. O versículo 10 diz: “Não temas as
coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para
lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes
postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê
fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”. Jesus
não diz nada negativo contra essa igreja. Por quê?
Uma igreja sob perseguição sempre será uma igreja
pura, porque os falsos são expurgados pela
perseguição. Pessoas que aparecem na igreja com
motivos impuros e egoístas sairão quando a
perseguição começar. Se não têm alguma coisa pela
qual podem morrer, elas não ficarão ali para serem
mortos no massacre. Em todos os períodos de
história da igreja, existiram essas igrejas que
suportaram perseguição. E existem tais igrejas no
mundo contemporâneo.
A terceira carta é escrita à igreja na cidade de
Pérgamo (2.12-17). Essa é uma igreja casada com o
mundo, uma igreja mundana. Cristo descreve o
mundanismo dessa igreja no versículo 15 e, em
seguida, no versículo 16, ele diz: “Arrepende-te; e,
se não, venho a ti sem demora e contra eles
pelejarei com a espada da minha boca”. Em todos
os períodos da história da igreja, têm existido igrejas
com um foco mundano, nas quais as pessoas não
abandonam o mundo, mas, em vez disso, agradam-
no, acomodam-se aos desejos do mundo e
acompanham o caminho da sociedade.
Em seguida, o Senhor tem uma mensagem para
um quarto tipo de igreja representado pela igreja em
Tiatira (vv. 18-29). Tiatira é a igreja que tolera o
pecado. Neste particular, a igreja tolerava uma
mulher como Jezabel que estava seduzindo os
servos de Cristo a cometer fornicação e a comer
coisas sacrificadas a ídolos. Eles são advertidos
porque toleram o pecado e não o disciplinam, não
querem purificar suas fileiras. Há sempre igrejas
como essa.
Em Apocalipse 3.1-6, somos apresentados à
quinta igreja, em Sardes. É fácil ver o que estava
errado nessa igreja. O versículo 1 diz: “Tens nome
de que vives e estás morto”. Essa é uma igreja
morta. Eles têm algumas coisas que os faz pensar
que estão vivos (v. 2), mas estavam prestes a morrer.
Você já viu esse tipo de igreja. Talvez você tenha
vindo de uma igreja assim. Nada acontece — não há
vida, não há crescimento, não há produtividade,
nem frutos, nem alegria.
Sexto, em Apocalipse 3.7-13, lemos sobre a
igreja de Filadélfia. Essa é uma igreja fiel. Cristo diz:
“Guardaste a minha palavra e não negaste o meu
nome” (v. 8). É uma igreja que teve uma porta
aberta e entrou por essa porta. Então, você pode
considerá-la uma igreja missionária.
A última das sete igrejas é mencionada em
3.14-22. Esses versículos ressaltam a igreja em
Laodiceia, a igreja apóstata, a igreja não-salva, a
igreja do liberalismo contemporâneo. É
caracterizada por estas palavras: “Conheço as tuas
obras, que nem és frio nem quente. Quem dera
fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e
nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te
da minha boca” (vv. 15-16). Essa é a igreja falsa,
rejeitada.
Deixe-me resumir. Primeiramente, no capítulo
2, temos a igreja fria, ortodoxa. Depois, temos a
igreja perseguida, seguida pela igreja casada com o
mundo, a igreja que tolera o pecado, a igreja morta,
a igreja fiel e a igreja apóstata. Como disse, cada
uma dessas igrejas era uma igreja fatual e representa
igrejas em todos os períodos da história. Portanto, a
mensagem a essas igrejas é para todas as igrejas
durante toda a era da igreja. Creio que essas sete
cartas devem ser aplicadas à igreja hoje.
Você diz: “Como sabemos que uma igreja se
enquadra num ou noutro desses tipos de igreja?”. Eu
lhe direi. Um igreja se enquadrará nessas categorias
específicas de igrejas quando a influência dominante
na igreja está relacionada a uma dessas áreas. Se a
influência dominante é a ortodoxia fria, a igreja
refletirá um ponto de vista ortodoxo e frio, embora
possa haver alguns membros fervorosos. Se a
influência dominante na igreja é indiferença para
com Deus, sem frutos e sem vida, ela é uma igreja
morta, embora possa haver algumas pessoas que
exibem vida espiritual. Qualquer que seja a
influência dominante, ela dá caráter à igreja. Se a
igreja é marcada por um grupo de pessoas fiéis que
passam pela porta aberta e levam consigo a Palavra
de Deus, essa igreja será caracterizada como fiel,
uma igreja do tipo Filadélfia.
O fim de Apocalipse 3 é o fim da mensagem às
igrejas. Não ouvimos a palavra “igreja” novamente
no livro de Apocalipse, até que chegamos ao fim do
capítulo 22, quando Jesus diz: “Eu, Jesus, enviei o
meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas”.
A partir desse ponto, a igreja não está
particularmente em vista, até que ela seja chamada
por outro nome no reino milenar, ou seja, a
“esposa”. A última palavra no capítulo 3 é “igrejas”.
Cada uma das mensagens dirigidas às igrejas termina
da mesma maneira: “Quem tem ouvidos, ouça o
que o Espírito diz às igrejas” (2.7, 11, 17, 29; 3.6,
13, 22). O que isso significa? Isso significa que a
mensagem para essas igrejas vai além delas, para
todo aquele que tem ouvidos espirituais.
Agora chegamos ao capítulo 4 e deixamos a era
da igreja. As pessoas perguntam frequentemente:
“Onde aparece o arrebatamento em Apocalipse?”. É
nos espaços brancos entre os capítulos 3 e 4. Nos
capítulos 2 e 3, você tem a igreja na terra. E, de
repente, aparecemos no céu, no capítulo 4.
O tema do céu é adoração. “Depois destas
coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta
no céu, como também a primeira voz que ouvi,
como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe
para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer
depois destas coisas” (4.1). Agora, estamos na
terceira parte do esboço. Já olhamos “as coisas que
viste e as que são” nos capítulos 1 a 3. Agora,
começaremos a examinar as coisas “que hão de
acontecer depois destas” (1.19). O fluxo da
cronologia e do esboço é delineado cuidadosamente.
“Imediatamente, eu me achei em espírito”
(4.2) — isso significa que João foi levado pelo
Espírito a essa visão. Isto foi o que ele viu: “E eis
armado no céu um trono”. A palavra grega que
significa “armado” transmite a ideia de permanência.
Esse não é um trono passageiro; é um trono eterno,
perpétuo — o trono de Deus. Sabemos isso porque
aquele “que se acha assentado é semelhante, no
aspecto, a pedra de jaspe [diamante] e de sardônio
[rubi], e, ao redor do trono, há um arco-íris
semelhante, no aspecto, a esmeralda” (vv. 2-3).
Esse arco-íris de esmeralda é provavelmente um
reflexo da fidelidade de Deus. Em sua visão, João
está diante de Deus, em seu trono, no céu, e está
prestes a saber o que acontecerá quando o céu
começar a agir na terra.
Primeiramente, vejamos quem está ali: “Ao
redor do trono, há também vinte e quatro tronos, e
assentados neles, vinte e quatro anciãos vestidos de
branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro” (v.
4). Quem são eles? Creio que representam a igreja
de Jesus Cristo. A cena aqui é a de um tempo de
recompensas. A ênfase está nas coroas de ouro na
cabeça dos anciãos. Vejo esta cena como o
arrebatamento da igreja, agora, completa no céu,
reinando com Deus ao redor do trono, na glória,
depois de haver sido recompensada. Quando Jesus
volta para receber a igreja no arrebatamento, ele diz:
“Eis que venho sem demora, e comigo está o
galardão” (Ap 22.12). Penso que a primeira coisa
que acontecerá quando formos arrebatados é que
subiremos ao céu e receberemos nossas
recompensas. Eis, aqui, esses anciãos portando
coroas, assentados em tronos e vestindo túnicas
brancas. Todas essas três coisas são prometidas à
igreja. Não creio que os anciãos representem Israel;
e, para isso, me baseio em Apocalipse 5.9-10:
“Entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de
tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste
morto e com o teu sangue compraste para Deus os
que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e
para o nosso Deus os constituíste reino e
sacerdotes; e reinarão sobre a terra”. As pessoas
redimidas estão entoando essa canção. Acho que a
cena se refere às pessoas redimidas, aqueles que são
salvos, que foram redimidos de toda tribo, língua,
povo e nação. Isso não pode se referir a anjos, não
pode se referir aos santos de Israel; portanto, tem de
referir-se à igreja.
A visão continua: “Do trono saem
relâmpagos, vozes e trovões” (4.5). Depois, João
vê novamente o Espírito de Deus diante do trono.
João diz: “Há diante do trono um como que
mar de vidro, semelhante ao cristal” (v. 6). A cena
é semelhante a de Ezequiel 1. João descreve quatro
criaturas viventes que estão ao redor do trono. Creio
que essas criaturas são anjos, e João os descreve
como seres que estão adorando a Deus (vv. 9-10).
Todo o céu está adorando: os anjos, os santos, a
igreja — todos dão louvores e glória a Deus. Como
disse antes, esse é o tema do céu. O céu é um lugar
em que todos adoram a Deus. E isso é o que João
vê, quando tem essa visão do céu.
No entanto, algo interessante acontece em
seguida — a adoração é interrompida: “Vi, na mão
direita daquele que estava sentado no trono, um
livro” (5.1). Sabe o que é isso? É o título de
propriedade e direito à terra, porque estava “selado
com sete selos” (v. 1). A lei romana exigia que um
testamento fosse selado sete vezes. Eles enrolavam o
rolo até certa parte e, em seguida, selavam-no;
enrolavam-no mais um pouco e selavam-no de
novo, e assim por diante, até que houvesse sete
selos. A razão para usarem tantos selos era que
alguém não poderia abrir facilmente o documento
sem ser descoberto. Creio que é a vontade e o
testamento de Deus dar a Terra a Jesus Cristo. Isso
foi prometido em Salmos 2.8-9: “Pede-me, e eu te
darei as nações por herança... Com vara de ferro as
regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro”.
Essa foi a promessa feita ao Filho.
A cena no céu continua: “Vi, também, um anjo
forte, que proclamava em grande voz: Quem é
digno de abrir o livro e de lhe desatar os selos?
Ora, nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo
da terra, ninguém podia abrir o livro, nem mesmo
olhar para ele; e eu chorava muito, porque
ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem
mesmo de olhar para ele. Todavia, um dos anciãos
me disse: Não chores; eis que o Leão da tribo de
Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e
os seus sete selos” (vv. 2-5). Um dos anciãos, que
representa os redimidos, sabe que Jesus Cristo é
aquele que é digno de abrir o livro. O versículo 6
descreve aquele que se apresenta no meio dos seres
viventes: “Um Cordeiro como tendo sido morto.
Ele tinha sete chifres [pleno poder: sete significa
plenitude; chifre, em um animal, se refere a poder],
bem como sete olhos [sabedoria perfeita], que são
os sete Espíritos de Deus [o Espírito Santo]” (Ap
5.6). Então, aqui está Jesus Cristo, pleno de
sabedoria do Espírito de Deus e pleno de poder; ele
“veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele
que estava sentado no trono” (v. 7).
Conserve esse versículo em mente. Circule-o.
Isso marca o desdobramento de tudo que vai
acontecer. Jesus toma o livro e receberá de volta a
terra — o paraíso será reconquistado. O que você
pensa que acontece no céu como resultado? Mais
adoração (vv. 8-14).
Por que o céu fica tão agitado? Porque estão
cansados da rebelião na terra. Quando vê que Cristo
toma o livro e começa a abri-lo, eles ficam agitados.
Há glória, louvor e adoração, culminando nesta
maravilhosa afirmação: “Digno é o Cordeiro que foi
morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e
força, e honra, e glória, e louvor” (Ap 5.12). Você
não pode ler isso sem pensar no Messias.
O começo dessa fase final do esboço começa
no céu. Deus está no trono e possui o título de
propriedade da terra. Enquanto o céu está adorando,
procurando alguém digno de receber o título e
receber de volta a terra, o Cordeiro se apresenta
para receber o título de propriedade e recebe de
volta a terra. Isso resulta em mais aleluias.
O capítulo 6 começa com o Senhor abrindo os
selos. Há sete selos, e cada selo aberto revela outra
coisa que acontecerá na terra. O primeiro selo é paz:
“Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e
ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se
fosse voz de trovão: Vem! Vi, então, e eis um cavalo
branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe
dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para
vencer”. Quem está no cavalo branco? É um
conquistador que não precisa usar um arco e flecha
porque não tem de fazer guerra. Ele é um
conquistador pacífico.
O período da tribulação na terra começa com
uma falsa paz, energizada pelo Anticristo. Você
pode comparar esses versículos com Daniel 9.27.
Ele faz paz com o povo de Deus e estabelece uma
falsa paz. Portanto, ele é um falso Cristo, que traz o
que parece ser paz. Mas isso não dura muito,
porque o segundo selo é aberto no versículo 4, e
outro cavalo é revelado — e somente esse cavalo é
vermelho. Estes são os quatro cavaleiros do
Apocalipse: “Foi-lhe dado tirar a paz da terra para
que os homens se matassem uns aos outros;
também lhe foi dada uma grande espada”. O
segundo selo é a guerra.
Isso leva à abertura do terceiro selo: “Quando
abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente
dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o
seu cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi
uma como que voz no meio dos quatro seres
viventes dizendo: Uma medida de trigo por um
denário; três medidas de cevada por um denário”
(vv. 5-6). Isso significa que a pessoa recebe uma
medida de trigo e três vezes essa medida como
salário por um dia de trabalho. Em outras palavras,
você trabalha um dia inteiro para obter o suficiente
para comer com escassez. Essas são condições de
escassez de alimentos. O versículo conclui: “Não
danifiques o azeite e o vinho” (v. 6). Isso era a
comida do rico; o pobre não podia tocar nisso.
Portanto, a paz é seguida pela guerra, que é seguida
pela fome. Onde há guerra de grandes proporções,
há fome de grandes proporções.
Em seguida, há o quarto selo. O que segue,
logicamente, a guerra e a fome? Morte. O versículo
8 diz: “Olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu
cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o
estava seguindo, e foi-lhes dada autoridade sobre a
quarta parte da terra para matar à espada, pela
fome, com a mortandade e por meio das feras da
terra”.
Quando chegamos à abertura do quinto selo,
encontramos algumas pessoas debaixo do altar (v.
9). Sem dúvida, elas são os redimidos que foram
mortos e agora estão no céu, no próprio altar de
Deus, orando: “Até quando, ó Soberano Senhor,
santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso
sangue dos que habitam sobre a terra?” (v. 10).
Durante a guerra, o morticínio e a fome, o povo
redimido é morto pelo Anticristo. Essa é uma seção
muito importante — é uma premissa sobre a qual
muito da discussão posterior no livro de Apocalipse
está baseado. O versículo 11 diz: “Então, a cada um
deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram
que repousassem ainda por pouco tempo, até que
também se completasse o número dos seus
conservos e seus irmãos que iam ser mortos como
igualmente eles foram”. Em essência, os santos
martirizados têm de ser pacientes. Nesse ínterim,
eles recebem vestes brancas (vestes celestiais) para
se regozijarem e descansarem até que outros
mártires, na terra, também sejam martirizados.
Agora, voltemos à terra e ao sexto selo, que é
um terremoto. “O sol se tornou negro como saco
de crina, a lua toda, como sangue” (v. 12). Joel
falou sobre esse incidente, bem como Pedro no dia
de Pentecostes (Jl 2.28-32; At 2.17-21). “As
estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira,
quando abalada por vento forte, deixa cair os seus
figos verdes” (Ap 6.13). Agora, imagine isso: o sol
se torna negro, a lua se torna vermelha como
sangue, e as estrela caem do céu. E o céu se enrola
como um pergaminho (v. 14). Você já puxou uma
cortina rolante e, depois, a soltou? Isso é o que
acontecerá com o céu. “Então, todos os montes e
ilhas foram movidos do seu lugar” (v. 14). Esse
será um tempo apavorante. Temor extraordinário é a
reação descrita nos versículos 15 a 17. As pessoas
clamam às rochas e aos montes, dizendo: “Caí
sobre nós e escondei-nos da face daquele que se
assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque
chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que
pode suster-se?” (vv. 16-17).
Se você recebesse somente uma parte desta
visão, ficaria desnorteado. Você pode imaginar o
que significou para João receber todas essas visões?
Por isso, o Senhor lhe deu um descanso no capítulo
7.
Em meio a todo o caos em andamento, haverá
algumas bênçãos. Algumas pessoas serão poupadas
desse julgamento. Alguns crentes serão poupados.
Quem são eles? São os 144.000 judeus de toda
tribo, exceto a de tribo de Dã — eles são omitidos
por causa de idolatria grosseira (Dt 27-28). Mas,
caso você fique preocupado a respeito de Dã,
Ezequiel 48.1-2 indica que eles são incluídos no
reino. Portanto, eles são restaurados graciosamente
ao Rei, mas não recebem a permissão de servir neste
ministério específico.
No meio da semana, quando o holocausto
começa, já haverá judeus que terão crido em Jesus
Cristo como seu Salvador e Senhor, e eles passarão
pela Tribulação e não poderão ser mortos. Eles não
podem ser feridos porque são selados e protegidos
(vv. 2-3). Nada pode feri-los. Portanto, durante a
segunda metade da Tribulação haverá 144.000
judeus pregando o evangelho. Eles serão muito
eficazes. João diz: “Depois destas coisas, vi, e eis
grande multidão que ninguém podia enumerar, de
todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé
diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e
clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus,
que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a
salvação” (7.9-10). De onde eles vieram? São
frutos dos 144.000 judeus.
Essa é uma das mais maravilhosas afirmações
sobre a soberania de Deus na salvação. Deus
escolherá salvar 144.000 judeus e escolherá 12.000
de cada tribo de Israel. Somente ele sabe onde as
pessoas se conectam com suas respectivas tribos. Os
judeus perderam todos os seus registros na
destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Mas Deus
não perde registros. Esses 144.000 judeus redimidos
serão os evangelistas. Como resultado do ministério
deles, haverá inumeráveis pessoas de cada tribo,
língua e nação louvando o Senhor Jesus Cristo.
Evidentemente, o que vem depois disso, no céu, é
mais adoração, conforme o restante do capítulo 7.
Agora, chegamos ao sétimo selo no capítulo 8.
O sétimo selo é a resposta aos seis primeiros, assim
como a sétima trombeta será uma resposta às seis
primeiras e a sétima taça, uma resposta às seis
primeiras. O versículo 1 diz: “Quando o Cordeiro
abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de
meia hora”. O que isso significa? O que parou?
Adoração estava sendo a prática de todos no céu,
mas agora ela cessa por meia hora. Por quê? Todos
estão temerosos do holocausto da fúria divina que
está sendo derramada.
Portanto, agora vêm os juízos das sete
trombetas. O Senhor abriu o selo, e no fim da
abertura surgem sete trombetas anunciando juízo:
“Então, os sete anjos que tinham as sete trombetas
prepararam-se para tocar. O primeiro anjo tocou a
trombeta, e houve saraiva e fogo de mistura com
sangue, e foram atirados à terra. Foi, então,
queimada a terça parte da terra, e das árvores, e
também toda erva verde” (vv. 6-7). É um juízo
sobre a vegetação, e um juízo sobre a vegetação é
um juízo sobre o homem, porque ele não pode viver
sem vegetação na maioria dos lugares. É também
um juízo sobre os animais, porque eles também não
podem viver sem vegetação.
João continua: “O segundo anjo tocou a
trombeta, e uma como que grande montanha
ardendo em chamas foi atirada ao mar, cuja terça
parte se tornou em sangue, e morreu a terça parte
da criação que tinha vida, existente no mar, e foi
destruída a terça parte das embarcações” (vv. 8-
9). Imagine isto: Deus julga, e um terço de toda
vegetação morre, um terço de todo o mar se torna
como sangue, e um terço de todas as criaturas
marinhas morrem. Então, flutuando numa terça
parte dos mares do mundo, há uma quantidade
incalculável de criaturas fedendo, decompostas,
apodrecidas. Os homens falharam em reconhecer o
dom de Deus na criação, e, por isso, Deus a
remove. Os homens falharam em dar glória a Deus
pelas coisas maravilhosas que ele criou, a erva
verde, as plantas, as árvores, o mar e toda a vida que
há nele. O homem não quis glorificar a Deus, por
isso, Deus remove essas coisas maravilhosas.
Depois, a terceira trombeta ressoa, “e caiu do
céu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes
das águas uma grande estrela, ardendo como
tocha. O nome da estrela é Absinto; e a terça parte
das águas se tornou em absinto, e muitos dos
homens morreram por causa dessas águas, porque
se tornaram amargosas” (vv. 10-11). Esse é o juízo
de Deus sobre a água fresca. Todas as fontes de
água são atingidas com amargor. E um terço delas é
destruído.
A quarta trombeta ressoa (v. 12), e uma terça
parte do sol é atingida. Você sabe o que isso fará ao
calendário e à vida cotidiana? Não sei que tipo de
caos isso causará. Também é atingida uma terça
parte “da lua e das estrelas”, para que a terça parte
delas “escurecesse e, na sua terça parte, não
brilhasse, tanto o dia como também a noite” (v.
12). É provável que o céu será cheio de um eclipse
estranho. Em seguida, João diz: “Vi e ouvi uma
águia que, voando pelo meio do céu, dizia em
grande voz: Ai! Ai! Ai” (v. 13). O que essa águia
significa é: “Você pensa que tudo isso é mau, então,
ouça as três trombetas seguintes”.
No capítulo 9, a quinta trombeta ressoa, e uma
estrela cai do céu (9.1). Qual o significado disso? É
Lúcifer. Ele tem a chave do poço do abismo. Você
sabe quem está no poço do abismo? São demônios
que foram presos lá por Deus. Mas Lúcifer recebe a
chave e desce para abrir o poço do abismo. O que
acontecerá? Todos esses demônios que estavam
presos lá por milhares de anos sairão finalmente. O
versículo 2 diz: “Subiu fumaça do poço como
fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira
saída do poço, escureceu-se o sol e o ar”. Quando
eles saem, parecem gafanhotos, como uma praga
que varre a terra (v. 3).
Você sabe por que a Tribulação será um tempo
terrível? Todos os demônios que estão presos no
inferno serão libertados para somarem-se aos que já
estão na terra. O versículo 4 diz: “E foi-lhes dito
que não causassem dano à erva da terra, nem a
qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-
somente aos homens que não têm o selo de Deus
sobre a fronte. Foi-lhes também dado, não que os
matassem, e sim que os atormentassem durante
cinco meses. E o seu tormento era como tormento
de escorpião quando fere alguém. Naqueles dias,
os homens buscarão a morte e não a acharão;
também terão ardente desejo de morrer, mas a
morte fugirá deles” (vv. 4-6). A praga de
gafanhotos de demônios atravessará o globo
torturando os homens por cinco meses, e os homens
serão incapazes de achar alívio até na morte. Os
versículos 7 a 10 descrevem esses seres demoníacos
em linguagem simbólica. Depois, o versículo 11 diz:
“Tinham sobre eles, como seu rei, o anjo do
abismo, cujo nome em hebraico é Abadom
[destruidor], e em grego, Apoliom [destruidor]”.
Se você pensa que isso é mau, ainda há mais
duas trombetas. Quando a sexta trombeta ressoa, o
rio Eufrates se abriu, e “foram, então, soltos os
quatro anjos que se achavam preparados para a
hora, o dia, o mês e o ano, para que matassem a
terça parte dos homens” (v. 15). Aqui vem uma
hoste liberada por um anjo, e ela deve matar um
terço dos habitantes do mundo. O número dos
exércitos de cavalaria é duzentos milhões, e vêm do
leste, através do rio Eufrates (v. 16).
No versículo 18, um terço da humanidade é
morta por fogo, fumaça e enxofre, que saem da
boca desses exércitos. Essa pode ser a maneira como
o armamento era descrito, usando termos antigos.
“Os outros homens, aqueles que não foram mortos
por esses flagelos, não se arrependeram das obras
das suas mãos, deixando de adorar os demônios e
os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de
pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar;
nem ainda se arrependeram dos seus assassínios,
nem das suas feitiçarias [no grego, pharmakeia —
drogas], nem da sua prostituição, nem dos seus
furtos” (vv. 20-21). Os homens não se
arrependeram, amaldiçoaram a Deus.
Ora, essas foram trombetas apavorantes. As
primeiras seis trombetas ressoarão no final da
Tribulação. Você observou que a igreja não é
mencionada, de modo algum? O capítulo 10 é mais
um descanso. João recebe outra pequena visão da
parte boa: “Vi outro anjo forte descendo do céu,
envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de sua
cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como
colunas de fogo; e tinha na mão um livrinho
aberto. Pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo,
sobre a terra, e bradou em grande voz, como ruge
um leão, e, quando bradou, desferiram os sete
trovões as suas próprias vozes” (10.1-3). Em
seguida, esse anjo diz a João: “Guarda em segredo
as coisas que os sete trovões falaram e não as
escrevas” (v. 4). O juízo sobre os pecadores é
demais — é muito aterrorizante e muito horrível. A
parte que eles não revelam é um mistério de Deus
que será cumprido (v. 7).
João viu nessa visão um livrinho que
representava o título de direito à terra, e lhe foi dito
que comesse o livrinho. João fez isso e disse: “Na
minha boca, era doce como mel; quando, porém, o
comi, o meu estômago ficou amargo” (v. 10). O
que isso significa? Quando vejo a vinda de Jesus
Cristo, em sua glória, sinto um gosto doce porque
Cristo merece reinar em glória, mas sinto também
um gosto amargo porque, quando ele vier em glória
para reinar, sei que isso significará a devastação e a
eterna condenação do mundo. Portanto, o
sentimento é doce e amargo.
Antes de ressoar a sétima trombeta, temos mais
um vislumbre da graça de Deus no capítulo 11. Aqui
estão as minhas duas pessoas favoritas de toda a
Bíblia, e nem sei quem elas são. Mas, se o Senhor
está procurando voluntários, eu sou um voluntário.
As duas testemunhas são identificadas como “as
duas oliveiras e os dois candeeiros que se acham em
pé diante do Senhor da terra” (11.4). É claro que o
mundo as odiará. A sociedade da Nova Era as
odiará. As pessoas que justificarão o arrebatamento
por dizerem que foram removidas todas aquelas
pessoas que impediam os homens de atingir o
próximo nível de consciência também odiarão as
duas testemunhas, especialmente quando elas
pregarem a Jesus Cristo.
Mas veja o que acontece: “Se alguém pretende
causar-lhes dano, sai fogo da sua boca e devora os
inimigos” (v. 5). Eu poderia me acostumar com
isso. Você está sendo perseguido e antagonizado, as
pessoas não creem na sua mensagem e tentam tirar
sua vida. O versículo 6 diz que as duas testemunhas
têm poder para fechar o céu. Em outras palavras,
elas podem ir a um lugar, pregar o evangelho de
Jesus Cristo e, durante o tempo em que pregam,
podem causar uma seca. Elas podem controlar o
clima. “Têm autoridade também sobre as águas,
para convertê-las em sangue, bem como para ferir
a terra com toda sorte de flagelos, tantas vezes
quantas quiserem” (v. 6).
O que você acha que estará no noticiário todas
as noites? “Temos agora as notícias sobre as duas
testemunhas. Nesta semana, eles estiveram em
Cincinnati — e não choveu ali, todos os rios se
tornaram em sangue, e as pessoas foram tomadas de
pragas. Temos de fazer alguma coisa a respeito
desses dois homens, mas, cada vez que tentamos,
fracassamos”.
Sabe o que acontecerá em seguida?
Finalmente, a Besta surge do abismo, a própria
Besta. Ele vence as duas testemunhas e mata-as (v.
7). “E o seu cadáver ficará estirado na praça da
grande cidade que, espiritualmente, se chama
Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi
crucificado” (v. 8). Portanto, elas são mortas em
Jerusalém.
O versículo 8 diz que seus corpos são deixados
na praça por três dias e meio. Ora, isso é em nossa
era moderna — os governos não deixam corpos na
praça. O versículo 9 diz: “Muitos dentre os povos,
tribos, línguas e nações contemplam os cadáveres
das duas testemunhas, por três dias e meio, e não
permitem que esses cadáveres sejam sepultados”.
Como poderá o mundo todo ver seus cadáveres em
Jerusalém? Há somente uma maneira: pela televisão.
Isso não podia ser verdade cem anos atrás. E “não
permitem que esses cadáveres sejam sepultados”
(v. 9). Por quê? O versículo 10 nos diz: “Os que
habitam sobre a terra se alegram por causa deles,
realizarão festas e enviarão presentes uns aos
outros, porquanto esses dois profetas
atormentaram os que moram sobre a terra”. O
mundo fica tão feliz porque esses homens estão
mortos. Posso ver algum repórter ali dizendo: “Estes
homens estão mortos há três dias e meio! Ficamos
tão aliviados com o fato de que esses homens foram
removidos da terra”.
Mas o versículo 11 diz: “Depois dos três dias
e meio, um espírito de vida, vindo da parte de
Deus, neles penetrou, e eles se ergueram sobre os
pés, e àqueles que os viram sobreveio grande
medo; e as duas testemunhas ouviram grande voz
vinda do céu, dizendo-lhes: Subi para aqui. E
subiram ao céu numa nuvem, e os seus inimigos as
contemplaram. Naquela hora, houve grande
terremoto, e ruiu a décima parte da cidade, e
morreram, nesse terremoto, sete mil pessoas, ao
passo que as outras ficaram sobremodo
aterrorizadas e deram glória ao Deus do céu” (vv.
11-13). Terror, puro terror, é a reação. Deus nunca
ficará sem uma testemunha.
Depois desse intervalo, retornamos à sétima
trombeta. Quando ela ressoa, é o fim. O versículo
15 diz: “O reino do mundo se tornou de nosso
Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos
dos séculos”. Quando a sétima trombeta é tocada,
os reinos do mundo passam a pertencer a Jesus
Cristo.
O capítulo 12 volta para apresentar mais alguns
detalhes antes de chegarmos às sete taças finais.
Descreve a perseguição incessante de Satanás a
Israel, ao Messias e ao povo de Deus. Discute como
Satanás tem sempre guerreado contra o povo de
Deus. A mulher mostrada neste capítulo é Israel, o
filho é Cristo, e o dragão é Satanás. O dragão tem
sempre perseguido o filho nascido da mulher. Ele
lutou no passado e lutará no futuro. O versículo 7
diz que os demônios de Satanás e Miguel e seus
anjos guerrearão no céu. O superanjo Miguel e seus
anjos vencerão. Lançarão Satanás para a terra, com
seus demônios (v. 9).
Contemplemos a cena: demônios saíram do
abismo como gafanhotos e estão por toda a terra. Os
demônios que haviam dominado nas regiões celestes
são lançados para baixo, não tendo mais acesso a
Deus, como Satanás teve por ocasião da provação
de Jó, quando Satanás se apresentou diante do trono
de Deus (Jó 1.6). Com todos eles na terra, você
pode imaginar como é um mundo infestado de
demônios. O ataque das hostes demoníacas é
dirigido a Israel. O resto do capítulo 12 mostra
como Deus protege maravilhosamente Israel. Em
um momento, essas hostes perseguem Israel, mas a
terra se abre e as engole, todas (Ap 12.16).
O capítulo 13 apresenta outro detalhe. Ele nos
apresenta o Anticristo, o dominador do mundo. Ele
lidera um ataque amplo contra o povo de Deus. O
versículo 4 diz: “Quem é semelhante à Besta?
Quem pode pelejar contra ela? Foi-lhe dada uma
boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e
autoridade para agir quarenta e dois meses”. Isso
é três anos e meio; é a última metade da Tribulação.
“E abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para
lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a
saber, os que habitam no céu. Foi-lhe dado,
também, que pelejasse contra os santos e os
vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada
tribo, povo, língua e nação” (vv. 6-7).
Ele também tem um cúmplice. Apocalipse
13.11-18 apresenta o falso profeta. A Besta é o
Anticristo, o Falso Profeta é o seu cúmplice. Como
Faraó tinha Janes e Jambres (2 Tm 3.8), como
Balaque tinha Balaão (Nm 22-24), como Absalão
tinha Aitofel (2 Sm 15-17), o Anticristo terá o seu
cúmplice. O trabalho do Falso Profeta é levar todos
ao Anticristo e dizer-lhes que o adorem (Ap 13.12).
Ele realiza algumas falsas maravilhas e leva as
pessoas a fazerem uma grande imagem da Besta; em
seguida, ele dá vida a essa imagem por influência
demoníaca (vv. 13-15). Assim, ele cria um ídolo
possesso de demônios. Nessa altura, o mundo está
tão completamente influenciado por demônios, que
todos no mundo podem, potencialmente, ser um
maníaco violento, como o endemoniado de Gadara,
que vivia nas cavernas e feria seu corpo com pedras,
porque estava infestado de demônios (Mc 5.1-13).
Portanto, toda a terra está repleta de demônios, e
eles estão no controle de tudo. Eles fazem a imagem
falar, e ela leva todo o mundo a adorar o Anticristo.
Esse é o trabalho do Falso Profeta.
Em sua visão, João vê que pessoas que não têm
certo número não podem comprar nem vender —
não podem agir na sociedade. O número era 666.
Isso não é significativo, exceto no fato de que
representa o homem. O homem foi criado no sexto
dia; sete é o numero perfeito de Deus. E, não
importando quão arduamente o homem tente, ele é
sempre 666. Está aquém da perfeição. É o número
do sistema do homem. As pessoas não podem agir
na sociedade se não têm o número em sua fronte e
em sua mão (v. 16). Em nossos dias, estamos quase
nessa situação. Já temos cartões de crédito e
números. Se você tem um cartão magnético de
banco, pode inseri-lo no caixa eletrônico em seu
banco ou numa loja, digitar sua senha e obter
dinheiro ou fazer uma compra. Mas, conectado com
seu número de banco, há o seu histórico financeiro
pessoal. As autoridades podem saber exatamente
quem é você e descobrir tudo a seu respeito. Você
percebe que no futuro, se eles decidirem controlar
que você não pode comprar nem vender, tudo que
precisam fazer é remover seu número, quando há
uma sociedade sem dinheiro. Portanto, o Anticristo
governará o mundo e controlará tudo por causa do
poder que ele terá.
Apocalipse 14.1 olha para a vitória do Senhor
Jesus Cristo. Os 144.000 estão no céu cantando
louvores por causa da vitória de Jesus Cristo.
O holocausto vem ao foco final no
Armagedom. No capítulo 14, começamos a ter um
vislumbre do Armagedom e da ideia de passar a
foice, no versículo 15. Uma foice usada para ceifar
e a seara sempre falam de julgamento. O Senhor
vem em julgamento terrível.
O versículo 20 resume esse julgamento: “E o
lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do
lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de
mil e seiscentos estádios”. Isso significa que o
derramamento de sangue tinha quase um metro e
meio de altura e se estendia por trezentos e vinte
quilômetros. Isso é a extensão de Israel; é usada para
simbolizar o banho de sangue. Uvas não têm força
contra o pé esmagador do Deus todo-poderoso.
Assim, vemos Deus realizando o seu julgamento.
O versículo 12 encoraja os santos a perseverar
em meio ao julgamento vindouro. Se alguém morrer
como mártir, o versículo 13 diz: “Bem-aventurados
os mortos que, desde agora, morrem no Senhor”.
Não há necessidade de preocupar-se; Deus está
operando sua ira e seu julgamento.
Quando entramos no capítulo 15, chegamos
aos sete últimos julgamentos. A manifestação desses
julgamentos é como balas de uma metralhadora
Gatling, e acontecem no fim da Tribulação. Esses
setes últimos flagelos são a consumação da ira de
Deus (v. 1). O versículo 8 diz: “O santuário se
encheu de fumaça procedente da glória de Deus e
do seu poder, e ninguém podia penetrar no
santuário, enquanto não se cumprissem os sete
flagelos dos sete anjos”. Deus recebe toda a fumaça
que rola pelo céu, e os anjos começam a agir no
capítulo 16. A primeira taça é derramada, e o
versículo 2 diz: “E, aos homens portadores da
marca da Besta e adoradores da sua imagem,
sobrevieram úlceras malignas e perniciosas”. Isso
se parece com a situação do mendigo que era
coberto de chagas (Lc 16.20-21). Pode referir-se a
úlceras cancerígenas. Imediatamente depois disso, a
segunda taça é derramada “no mar, e este se tornou
em sangue como de morto, e morreu todo ser
vivente que havia no mar” (v. 3). Isso resulta numa
quantidade incalculável de criaturas mortas e
fedidas, além da compreensão. “Derramou o
terceiro a sua taça nos rios e nas fontes das águas,
e se tornaram em sangue” (v. 4). Isso não é mais a
destruição de uma terça ou quarta parte de algo,
agora é a destruição de toda a coisa. Isso é um
julgamento devastador, a poluição de toda água
fresca.
Nos versículos 8 e 9, uma quarta taça é
derramada “sobre o sol, e foi-lhe dado queimar os
homens com fogo. Com efeito, os homens se
queimaram com o intenso calor, e blasfemaram o
nome de Deus, que tem autoridade sobre estes
flagelos, e nem se arrependeram para lhe darem
glória”. Em seguida, há o derramamento da quinta
taça; depois do sol queimante, vem as trevas, e os
homens “remordiam a língua por causa da dor que
sentiam” (v. 10). Por quê? Não podiam ver para
onde estava indo — não há luz, de modo algum,
somente trevas intensas. Eles estão suscetíveis a
ferimentos e dores horríveis e não podem achar
alívio, porque não podem ver onde estão. Em
seguida, o versículo 11 diz: “E blasfemaram o Deus
do céu por causa das angústias e das úlceras que
sofriam; e não se arrependeram de suas obras”.
Isso nos leva de volta ao primeiro flagelo. Você pode
ver que todos esses flagelos são cumulativos.
“Derramou o sexto a sua taça sobre o grande
rio Eufrates, cujas águas secaram, para que se
preparasse o caminho dos reis que vêm do lado do
nascimento do sol” (v. 12). Agora é tempo dos reis
do Leste chegarem” (v. 13). Depois disso, há o
Armagedom — a batalha final na planície de
Armagedom. Já estive lá, já estive na planície.
Napoleão disse que era o melhor lugar de batalha
que ele tinha visto na face da terra. “Três espíritos
imundos semelhantes a rãs”, esses são demônios de
natureza especial, saídos da mucosa do próprio
inferno — da boca do dragão, da boca da Besta e da
boca do Falso Profeta (v. 13). São espíritos de
demônios que operam milagres. Reúnem o mundo
para a batalha em Armagedom e não sabem que
aquele é o grande dia do Deus todo-poderoso. O
mundo vem a Armagedom para lutar.
Daniel 11 descreve isso: os reis do Norte
descem e vencem o Sul. O rei do Leste surge, o
Oeste se envolve, os reis do Leste vêm. No meio de
todo o conflito, Jesus Cristo vem do céu. Por fim, a
sétima taça é derramada, no final do capítulo 16. Há
trovões e relâmpagos (v. 18). “Todas as ilhas
fugiram, e os montes não foram achados; também
desabou do céu sobre os homens grande saraivada,
com pedras que pesavam cerca de um talento; e,
por causa do flagelo da chuva de pedras, os
homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu
flagelo era sobremodo grande”. Isso é o fim.
Os capítulos 17 e 18 são muito importantes.
Reveem alguns detalhes da segunda metade. A
pergunta que fazemos aqui é esta: “João, o que
acontece com a religião na Tribulação? Haverá
religião?”. O capítulo 17 indica que haverá religião.
Se a verdadeira igreja é a esposa, o que é a falsa
igreja? É uma meretriz. Ela “se acha sentada sobre
muitas águas”. Os reis da terra se embebedaram
“com o vinho de sua devassidão” (v. 2), e ela está
montada na Besta (v. 3). Ela cavalga no Anticristo.
Isso retrata o poder político do Anticristo unido com
o falso sistema religioso mundial da meretriz. Mas o
Anticristo é tão dominado por seu próprio poder
que, por fim, devora a meretriz (v. 16). Depois, ele
estabelece a si mesmo sobre todo o mundo (v. 17).
Creio que isso acontece quando o Falso Profeta dá
vida à imagem da Besta, e todo o mundo é ordenado
a adorar o Anticristo (13.15).
O capítulo 18 nos leva para trás e nos convida
a fazer outra pergunta: “Como será a economia
mundial nesse tempo?”. Com todo o caos
acontecendo, um anjo diz: “Caiu! Caiu a grande
Babilônia e se tornou morada de demônios” (v. 2).
Babilônia é o nome que representa o sistema
econômico mundial do fim dos tempos. Os
demônios controlam o mundo. As nações estão
entristecidas. O versículo 5 diz: “Os seus pecados
se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos
atos iníquos que ela praticou”.
Quando todo o sistema entra em colapso, as
economias de todas as nações sucumbem. Então, os
reis da terra dizem: “Ai! Ai! Tu, grande cidade,
Babilônia, tu, poderosa cidade! Pois, em uma só
hora, chegou o teu juízo. E, sobre ela, choram e
pranteiam os mercadores da terra, porque já
ninguém compra a sua mercadoria” (vv. 10-11).
Ninguém se preocupa mais com dinheiro; estão
apenas tentando sobreviver. Quem irá fazer
compras? Quem irá ao shopping naquele tempo?
Ninguém se preocupará com “mercadoria de ouro,
de prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho
finíssimo, de púrpura, de seda, de escarlata; e toda
espécie de madeira odorífera, todo gênero de
objeto de marfim, toda qualidade de móvel de
madeira preciosíssima, de bronze, de ferro e de
mármore; e canela de cheiro, especiarias, incenso,
unguento, bálsamo, vinho, azeite, flor de farinha,
trigo, gado e ovelhas; e de cavalos, de carros, de
escravos e até almas humanas” (vv. 12-13). O
comércio marítimo desaparecerá (v. 17). O sistema
de transportes colapsa. Pessoas lançarão pó sobre a
sua cabeça, chorando e lamentando a perda desses
sistemas (v. 19). Enquanto todos na terra estão
lamentando, diz o versículo 20, “Exultai sobre ela,
ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque
Deus contra ela julgou a vossa causa”.
Você sabe qual será a pior coisa no mundo? A
música acabará: “E voz de harpistas, de músicos,
de tocadores de flautas e de clarins jamais em ti se
ouvirá” (v. 22). Nenhuma música, nenhum artífice,
nenhuma arte. É o fim de tudo. A festa na terra
acabou.
Então, o que acontece no capítulo 19? A festa
começa no céu. No versículo 1, há um “aleluia”; no
versículo 3, outro “aleluia”; no versículo 4, outro
“aleluia”; e, no versículo 6, outro “aleluia”. Por que
o céu está tão entusiasmado? Porque “reina o
Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso. Alegremo-
nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são
chegadas às bodas do Cordeiro, cuja esposa a si
mesma já se ataviou, pois lhe foi dado vestir-se de
linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o
linho finíssimo são os atos de justiça dos santos”
(vv. 6-8). Isso é o que está acontecendo no céu com
os redimidos.
Como chegamos lá? João diz: “Vi o céu
aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se
chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com
justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua
cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito
que ninguém conhece, senão ele mesmo” (vv. 11-
12). João prossegue e descreve Jesus no versículo
13; e nós aparecemos no versículo 14: “Seguiam-no
os exércitos que há no céu, montando cavalos
brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco
e puro”. Cristo volta para instaurar seu reino,
quando vem ao Armagedom em glória
resplandecente para estabelecer seu reino na terra.
Ele virá em vestes brancas, montando um cavalo
branco, e nós viremos com ele, em cavalos brancos,
em vestes brancas. Partimos para estar com ele e
retornaremos com ele em glória.
O fim do versículo 16 diz que o seu nome é
“REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES”. E, quando
ele chega, o resultado é devastação no Armagedom.
O resultado do Armagedom está nos versículos 17 e
18: carnificina e morte, e ele chama as aves para
comerem a carne. No versículo 20, o Anticristo e o
Falso Profeta são ambos lançados no lago de fogo
que arde com enxofre. E as pessoas dos exércitos
que restaram são mortas com a espada (v. 21).
O que acontece depois? No capítulo 20, o
Senhor estabelece o seu reino. Olhe o versículo 4:
“Vi também tronos... e viveram [os santos] e
reinaram com Cristo durante mil anos”. Você sabe
o que acontece no final dos mil anos? De acordo
com o versículo 7, Satanás é solto por pouco tempo,
depois de ter estado preso por mil anos. Ele sai para
o mundo. Quando o reino começou, algumas
pessoas entraram nele em seu corpo físico. Elas
casarão, terão filhos e encherão a terra de habitantes
outra vez. Algumas dessas pessoas não crerão em
Jesus Cristo, embora ele tenha estado reinando na
cidade de Jerusalém por mil anos.
Na realidade, isso não é tão admirável. As
pessoas também não o reconheceram na primeira
vez que ele veio. Elas o rejeitaram quando sabiam
realmente quem ele era. Satanás lidera uma rebelião
final. E o versículo 9 diz: “Desceu, porém, fogo do
céu e os consumiu [os rebeldes]”. Então, todos os
não-salvos de toda a História são reunidos para o
julgamento do grande trono branco (v. 11). E o
versículo 15 diz: “Se alguém não foi achado
inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para
dentro do lago de fogo”. Esse é o fim do reino de
mil anos.
O que acontece depois? João diz: “Vi novo céu
e nova terra” (v. 1), e “a nova Jerusalém” (v. 2).
Como será isso? “Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão
povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E
lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já
não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem
dor, porque as primeiras coisas passaram” (vv. 3-
4). Isso é o estado eterno — isso é o novo céu e a
nova terra. O resto do capítulo 21 e o capítulo 22
descrevem-no.
A última mensagem vem no final do capítulo
22. O versículo 17 diz: “O Espírito e a noiva
dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele
que tem sede venha, e quem quiser receba de graça
a água da vida”. Esse é o último convite. Venha a
Cristo; venha e beba; venha e participe da salvação
que ele dá. Mas há uma última advertência:
“Continue o injusto fazendo injustiça, continue o
imundo ainda sendo imundo; o justo continue na
prática da justiça, e o santo continue a santificar-
se” (v. 11). Em outras palavras, o que quer que
você for quando o julgamento chegar, isso é o que
você será para sempre.
Você pode dizer juntamente com João: “Vem,
Senhor Jesus”? Espero que você esteja pronto.
5

COMO OBTER A VIDA


ETERNA

Mateus 19.16-22
29 de maio de 1983

Este sermão sobre o jovem rico é parte de


uma enorme série de sermões sobre Mateus (no
total, 226 sermões — quatro volumes de
comentários substanciais). Pregado enquanto O
Evangelho Segundo Jesus estava ainda em seu
primeiro estágio, esse sermão notável antecipou
vários dos temas centrais da controvérsia do
senhorio. Em última análise, ele se tornou a base
para o capítulo 6 na edição original de O
Evangelho Segundo Jesus (capítulo 7, na edição de
20º aniversário).
A pregação deste sermão é um dos muitos
exemplos de como a pregação expositiva, versículo
por versículo, interage perfeitamente com a cultura
e o mundo secular. A pregação de John MacArthur
sobre a história do jovem rico está cheia de lições
óbvias para aqueles que pensam que riqueza,
poder e celebridade podem desenvolver a virtude
pessoal, sem total submissão a Cristo.

D Durante uma viagem de avião que fiz algum


tempo atrás, um homem jovem, que estava
assentado ao meu lado, se apresentou e me
perguntou: “Senhor, você sabe como posso ter um
relacionamento com Jesus Cristo, não sabe?” Ora,
esse tipo de incidente não acontece frequentemente!
Eu estava lendo minha Bíblia, e isso o motivou a
fazer a pergunta. Ele parecia pronto e ansioso por
ser salvo. Eu lhe disse: você crê no Senhor Jesus e o
aceita como seu Salvador. Ele respondeu: “Gostaria
de fazer isso”. Depois, oramos juntos. Fiquei
entusiasmado com o que aconteceu, mas fui
posteriormente mal sucedido em minhas tentativas
de acompanhar o compromisso dele. Descobri que
ele não tinha interesse crescente nas coisas de Cristo,
até onde posso dizer.
Alguns de vocês que têm compartilhado o
evangelho de Cristo com outras pessoas têm
experimentado ocasiões em que alguém que você
levou a Cristo jamais mostra mudança em sua vida.
Se você tem-se perguntado por que isso acontece,
penso que você achará a resposta nesta lição. Acho
que eu não entendia completamente por que isso
aconteceu enquanto não compreendi Mateus 19.16-
22. Podemos dizer que essa passagem é uma
ilustração de outra verdade afirmada claramente em
Lucas 14.33. O Senhor disse: “Todo aquele que
dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não
pode ser meu discípulo”. Isso é uma verdade
inconfundível. A salvação não é necessariamente
para pessoas que fazem uma oração ou pensam que
precisam de Jesus Cristo; é para pessoas que
renunciam tudo. Tem de haver prontidão de
abandonar tudo para que a salvação seja genuína.
Olhemos o texto de Mateus. “Eis que alguém,
aproximando-se, lhe perguntou: Mestre, que farei
eu de bom, para alcançar a vida eterna?
Respondeu-lhe Jesus: Por que me perguntas acerca
do que é bom? Bom só existe um. Se queres,
porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. E
ele lhe perguntou: Quais? Respondeu Jesus: Não
matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás
falso testemunho; honra a teu pai e a tua mãe e
amarás o teu próximo como a ti mesmo. Replicou-
lhe o jovem: Tudo isso tenho observado; que me
falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser
perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e
terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me.
Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra,
retirou-se triste, por ser dono de muitas
propriedades”. Jesus apresentou um teste a esse
homem: ele tinha de escolher entre seus bens e Jesus
Cristo. Visto que se mostrou indisposto a renunciar
tudo, ele não se tornou um discípulo de Cristo.
Em Mateus 19.16, lemos que o jovem queria
saber como poderia obter a vida eterna. A expressão
“vida eterna” é usada cerca de 50 vezes na Escritura.
O alvo de toda evangelização é levar as pessoas a
procurarem e receberem a vida eterna. João 3.16
diz: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
A maior parte de nosso trabalho em evangelizar
é levar pessoas ao ponto a que já havia chegado o
jovem mencionado em Mateus 19. Muitos de nós
pensamos que, quando levamos alguém a dizer: “O
que preciso fazer para herdar a vida eterna?”, tudo
que temos de fazer é dizer: “Creia, assine o cartão
de decisão, levante a mão, atenda ao apelo no
culto”. Quando o jovem rico fez a Jesus a pergunta
certa, ele não precisou ser impelido a responder ao
evangelho. Ele já estava interessado — assim como
o homem jovem que encontrei no avião. No Novo
Testamento, essa pergunta foi dirigida várias vezes
ao Senhor (por exemplo, João 6.28).
O jovem rico foi um dos casos de
evangelização mais cheio de possibilidades no
evangelho de Mateus. Ele já estava pronto. Mas,
admiravelmente, foi embora sem receber a vida
eterna. A razão é simples: não estava disposto a
renunciar tudo.
Jesus levantou uma barreira intransponível para
o jovem. Em de vez de levá-lo a fazer uma decisão,
Jesus o impediu e tornou impossível para ele ser
salvo. Ora, que tipo de evangelização é essa? Jesus
teria sido reprovado no seminário de evangelização!
Ele não sabia como fazer o jovem tomar a decisão.
Ele perdeu um grande candidato potencial. Você
certamente não desejaria perder um homem como
esse!
Hoje existem muitos métodos de evangelização
antibíblicos. Nossa atual evangelização de massas,
com suas estatísticas baseadas em decisões e sua
ênfase em atender ao apelo, está levando todos os
tipos de pessoas à ilusão de que são salvas, quando,
na realidade, não o são. Essa é a razão por que
temos de ir a Mateus 19.16-22 para recebermos sua
importante instrução.

SAIBA O QUE VOCÊ QUER


O homem foi a Jesus querendo obter a vida
eterna. Ele sabia o que queria; e esse é o ponto em
que todos devem começar. Você tem de saber o que
está buscando, antes de começar a buscá-lo. Esse
homem queria a vida eterna porque sabia que não a
possuía.
Mateus nos diz que o homem era jovem (v. 20)
e rico (v. 22). Lucas nos diz (Lc 18.18) que ele era
um homem de posição (no grego, arche), o que era
bastante raro para um homem jovem. Como um
líder religioso judeu, ele provavelmente seria
dedicado e honesto (em termos de seu
relacionamento com o judaísmo), rico, importante e
influente. Tinha tudo em termos de sua cultura e
ambiente religioso. Era admirável que um homem de
sua posição fosse até a Jesus e admitisse que não
tinha a vida eterna.
O homem não tinha achado a realidade que
poderia dar descanso à sua alma. Faltavam-lhe paz,
gozo e esperança inabaláveis e permanentes. Ele foi
a Jesus com base em sua necessidade sentida. Em
seu coração, havia ansiedade e inquietude. Havia um
senso de irrealização. Ele sabia o que lhe faltava —
a vida eterna. Mas, como ele sabia disso?
Os judeus entendiam o conceito de vida eterna.
Visto que a vida é a capacidade de responder ao
ambiente, a vida eterna é a capacidade de responder
ao ambiente divino — para sempre. Respondemos à
vida de Deus. Quando somos salvos, entramos nos
lugares celestiais (Ef 1.3). Nossa cidadania assume
um caráter divino infindável. Nós nos tornamos
vivos para Deus. A vida eterna é mais uma qualidade
de existência do que uma quantidade de existência.
Eu me torno sensível a Deus; posso responder a ele.
Antes de eu ser salvo, estava morto em pecado —
totalmente insensível ao ambiente divino. Quando
me tornei cristão, tornei-me capaz de responder ao
ambiente divino.
Os judeus pensavam na vida eterna como uma
característica daqueles que viverão na era por vir. O
jovem rico sabia que não tinha a capacidade de
responder plenamente ao ambiente divino. Ele não
era sensível ao amor, descanso, paz, esperança e
alegria de Deus — as coisas que dão segurança de
pertencermos a Deus. O jovem sabia que não
possuía a vida divina. Sabia que não tinha a vida de
Deus em sua alma. Sabia que não andava com Deus
e não tinha comunhão com ele. Tinha ido além dos
fariseus, que se contentavam com suas meditações e
orações para si mesmos. O jovem sabia que não
tinha uma qualidade de vida. Espero que
entendamos que a vida eterna não é apenas uma
extensão de vida, mas também estar vivo para Deus.
A ideia de que a vida eterna é uma extensão de
vida tem uma perspectiva diferente no mito grego
sobre Aurora, a deusa do amanhecer. Ele ficou
apaixonada por Titono, um jovem mortal. Ela não
queria que ele morresse; por isso, foi até Zeus, o
principal dos deuses gregos. Ela lhe pediu que
Titono nunca morresse, e Zeus lhe concedeu o
pedido. Mas Aurora esqueceu de pedir que Titono
permanecesse sempre jovem. Assim, ele viveu para
sempre, mas se tornou cada vez mais velho, até que
a vida se constituiu um castigo horrível. Isso não é a
vida eterna no sentido bíblico. A vida eterna é o
processo de comunhão interminável com o Deus
vivo.
O jovem rico sabia o que queria. Quando
pregamos ou evangelizamos, nossos esforços
precisam ter como alvo conseguir que as pessoas
entendam que devem querer a vida eterna.

SINTA UMA NECESSIDADE PROFUNDA


Há pessoas que sabem que não têm a vida
eterna, mas sentem qualquer necessidade da vida
eterna. Sabem que não estão vivos para Deus e não
se importam com isso. Sabem que não sentem a
dimensão divina e que não têm segurança da vida
por vir, mas não têm qualquer interesse. Não estão
suficientemente desesperados para querer o que não
têm. O jovem rico estava. Ele sabia o que queria e
sentia profunda necessidade disso.
Há um tom de urgência na pergunta do jovem
rico: “Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a
vida eterna?” (v. 16). Depois de afirmar que
guardava todos os mandamentos que Jesus lhe
dissera deviam ser guardados, ele disse: “Que me
falta ainda?” (v. 20). Eu sinto frustração,
insatisfação e ansiedade nessa pergunta. A vida do
jovem rico havia sido um grande esforço em ser
religioso, mas lhe faltava algo.
Esse homem foi uma grande perspectiva de
salvação. Sabia que não tinha a vida eterna. Ele a
queria urgentemente por causa do vazio em sua
vida. Certamente, ele levava uma vida exemplar.
Evitava pecados externos. Tinha moral e era
religioso. Ele se conformara com os padrões de sua
religião. Era um líder aos olhos do povo. Contudo,
era insatisfeito porque sabia que não tinha a vida
eterna.

BUSQUE DILIGENTEMENTE

Jesus esperou que o homem fosse até ele.


Como podemos saber que o jovem rico foi alguém
que buscou com diligência? Tudo que o versículo 16
diz é “alguém, aproximando-se, lhe perguntou”. A
passagem correspondente em Marcos 10.17 diz: “E,
pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao
seu encontro”. Havia urgência na abordagem do
jovem rico. Havia frustração em seu coração. Ele
era um homem religioso e tinha integridade. Creio
que ele queria paz e regozijo que procedem de
conhecermos a Deus. Esses elementos estavam
faltando no coração do jovem rico.
Há algo sobre esse homem que precisa ser
ressaltado: ele era egocêntrico. Ele foi a Jesus para
satisfazer uma necessidade de seu coração. Isso não
é um motivo errado; é apenas um motivo
incompleto.
Marcos 10.17 indica que o Senhor Jesus estava
falando ao longo de uma estrada; e, sem dúvida,
uma multidão estava reunida ao redor dele. O jovem
rico correu até aquela multidão. Se ele era realmente
um chefe da sinagoga, as pessoas da multidão o
conheciam certamente, mas ele não se sentiu
embaraçado pela confissão pública de não ter a vida
eterna. Isso era uma confissão extraordinária da
parte de uma pessoa de sua posição.
Marcos acrescenta que o jovem rico ajoelhou-
se diante de Jesus. Essa era uma posição de
humildade. Ele era um homem de grande
integridade, sério, motivado e ansioso. Ele queria tão
urgentemente a vida eterna e buscou-a com tanta
diligência, que não se importou em perder a
reputação com todas as pessoas que já o
consideravam um gigante espiritual.
Talvez você pense que aquela foi uma grande
oportunidade para ele ser salvo. Ele estava pronto
para a salvação. Seria uma grande vitória se um
homem como esse fosse salvo. Afinal de contas,
precisamos de cristãos ricos e influentes. Ele parecia
ser um convertido que não podemos perder.

VÁ À FONTE CERTA
Há muitas pessoas que procuram a vida eterna,
mas elas estão procurando no lugar errado. Satanás
tem falsas religiões em toda a face do planeta, para
que as pessoas procurem a coisa errada. Elas não
acharão a vida eterna ali, porém muitas pessoas
procuram diligentemente a vida eterna. Esse jovem
rico foi à fonte certa.
O apóstolo João disse: “E o testemunho é este:
que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no
seu Filho” (1 Jo 5.11). Disse também que Jesus
Cristo “é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (v. 20).
Jesus não é apenas a fonte da vida eterna. Ele é a
própria vida eterna.
O jovem rico talvez ouvira falar do poder de
Jesus. Sem dúvida, ele tinha ouvido falar dos
ensinos de Jesus, pois lhe disse: “Mestre” (no grego,
didaskale). Ele reconheceu Jesus como um mestre
da verdade divina. Marcos 10.17 e Lucas 18.18
indicam que ele chamou Jesus de “bom”. Há duas
palavras gregas que expressam a ideia de “bom”.
Kalos se refere ao que é bom em forma ou bom no
exterior. A palavra usada em Marcos e Lucas é
agathos, que significa “bom no interior”, “bom
moralmente” ou “bom em essência”. Ele reconheceu
Jesus como uma pessoa moralmente boa. Ele sabia
que Jesus ensinava a verdade divina e
provavelmente conhecia o segredo de obter a vida
eterna.
Não acho que o jovem rico sabia que Jesus era
Deus. Nem mesmo penso que ele pensava
especificamente que Jesus era o Messias, porque se
dirigiu a Jesus como um mestre moralmente bom.
Creio que ele ficou tão impressionado com o poder
do ensino de Jesus e o poder de sua vida, que
chegou a pensar que Jesus conhecia o segredo da
vida eterna e como ele poderia obtê-la.
Embora o jovem rico não soubesse quem Jesus
era no sentido pleno, ele foi indubitavelmente à
fonte certa. Atos 4.12 diz: “E não há salvação em
nenhum outro; porque abaixo do céu não existe
nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo
qual importa que sejamos salvos”.

FAÇA A PERGUNTA CERTA


Muitas pessoas têm criticado o jovem rico por
fazer a pergunta: “Que farei eu de bom”, achando
que ele fez uma pergunta norteada por obras.
Certamente, ele era norteado por obras — havia
sido criado no sistema de tradição dos fariseus. Era
treinado a pensar que o indivíduo faz coisas
religiosas para ganhar o favor de Deus. Mas ainda
acho que a pergunta dele foi correta. Não há nada
no texto indicando que ele estava enfatizando uma
obra específica. O fato é: você tem de fazer algo
para obter a vida eterna — você tem de crer em
Cristo. Sua vontade estará envolvida. Tem de haver
uma resposta. O jovem rico não disse: “Como posso
ser mais religioso? Como posso ter mais
moralidade? Como posso obter mais auto-respeito?”
Ele disse: “Eu quero a vida eterna. O que eu faço
para obtê-la?” Não foi uma pergunta cujo alvo era
tentar apanhar Jesus. Ele não estava tentando
oferecer sua justiça própria como uma solução para
ganhar a vida eterna. Apenas fez uma pergunta
honesta.
A pergunta do jovem rico nos faz lembrar
aquela pergunta que as pessoas fizeram a Jesus
noutra ocasião: “Que faremos para realizar as
obras de Deus?” (Jo 6.28). Esta, sim, foi uma
pergunta norteada por obras. Jesus respondeu: “A
obra de Deus é esta: que creiais naquele que por
ele foi enviado” (v. 29). Temos de agir com fé,
ativando nossa vontade para crer em Cristo. O
jovem rico também perguntou: “Que farei eu de
bom?” (ênfase acrescentada). Ele sabia que tinha de
fazer algo genuinamente bom.

CONFESSE SEU PECADO


A resposta de Jesus é admirável. Um
evangélico contemporâneo diria: “Apenas creia.
Jesus morreu e ressuscitou por você. Se você crê
nisso, ore e peça a Jesus que entre em seu coração.
Confesse-o como seu Salvador e você será salvo”.
Mas Jesus não fez isso, de maneira alguma. Ele
ergueu uma barreira em frente do jovem e o induziu
a uma parada repentina.
“Respondeu-lhe Jesus: Por que me perguntas
acerca do que é bom? Bom só existe um. Se queres,
porém, entrar na vida, guarda os mandamentos” (Mt
19.17). Jesus estava dizendo: “Por que você me
pergunta que coisa boa tem de fazer? Você acha que
tenho algum segredo que ninguém mais o tem? Não
há ninguém bom, senão Deus, e você sabe o que ele
disse. Portanto, se você quer a vida, guarde os
mandamentos. Você sabe quais são eles; não precisa
me perguntar”.
Esse jovem conhecia as coisas boas que
estavam escritas na lei de Deus; apenas precisava
fazê-las. Somente Deus é bom. Em sua bondade, ele
revelou sua vontade. O jovem rico conhecia a
revelação e a lei de Deus. Jesus não acrescentou
nada a elas. Portanto, tudo que o jovem tinha de
fazer era cumprir tudo.
Faltava algo no interesse dessa jovem por
Jesus. Ele foi a Jesus buscando a salvação com base
em sua necessidade sentida. Estava experimentando
ansiedade e frustração e queria experimentar gozo,
amor, paz e esperança. Contudo, isso não é razão
suficiente para alguém vir a Cristo. Não é errado, é
apenas incompleto. Se oferecemos às pessoas
felicidade, alegria e paz, teremos muitas pessoas
aceitando a oferta. Tudo que precisamos fazer é
achar todos aqueles que estão psicologicamente
incompletos. Se pudermos oferecer às pessoas as
panaceias para as suas ansiedades, por meio de
Jesus, elas o aceitarão imediatamente. Mas isso não
é um entendimento completo da salvação.
Jesus disse ao jovem rico que a única coisa que
ainda não fizera era algo que ele já sabia fazer, ou
seja, guardar tudo que Deus havia revelado, em sua
Palavra, os homens devem fazer. O jovem rico
precisava “guardar os mandamentos”. Você diz:
“Ninguém pode fazer isso”. Está certo. Jesus disse
ao jovem rico que guardasse os mandamentos para
que ele compreendesse que não os podia guardar. O
problema do jovem rico era o seu pecado. E não foi
mencionado. Ele não tinha qualquer senso de
ofender um Deus santo. Seu desejo por vida eterna
estava ocultado em suas próprias ansiedades e
necessidades. Ele não tinha qualquer pensamento a
respeito da afronta que sua vida tinha sido para um
Deus infinitamente santo. Essa compreensão é
necessária para entendermos a verdade da salvação.
A única coisa “boa” que Jesus disse que o
jovem deveria fazer era guardar a lei de Deus. Não
havia mais nada que Jesus podia acrescentar. Deus é
bom e tem revelado sua boa vontade, que é a sua lei
e que tem de ser cumprida. Você poderia ser salvo
se guardasse os mandamentos? Sim, mas você não
pode guardá-los. O jovem rico tinha de ser
confrontado com o fato de que ele tinha afrontado a
Deus.
Você não pode levar pessoas a Jesus
simplesmente com base nas necessidades e
ansiedades psicológicas ou na falta de paz,
esperança, gozo ou felicidade. Elas precisam
entender que a salvação é para pessoas que querem
renunciar as coisas desta vida e querem voltar-se
para Deus. É para aqueles que admitem que têm
vivido em afronta e rebelião contra um Deus santo.
Eles têm de converter-se, confessar seu pecado e
afirmar seu compromisso de viver para a glória de
Deus. Tudo que o jovem rico sentiu foi uma
necessidade pessoal. Sentiu ansiedade. E sentiu que
algo estava faltando em sua vida. Mas isso não era
suficiente.
Nosso Senhor mudou o foco do jovem para
Deus. Tentou mostrar-lhe que o verdadeiro
problema de sua vida era o que ele estava fazendo
para afrontar o Deus santo. Quando Jesus disse:
“Guarda os mandamentos”, ele confrontou a vida do
jovem com o padrão divino, para que ele visse que
estava aquém desse padrão.
Quando penso naquele tempo que gastei
conversando com o rapaz no avião, compreendo
que aceitei prontamente o rapaz com base na
primeira impressão. Eu o levei a Cristo por suas
necessidades psicológicas, sem fazê-lo entender que
precisava receber a Cristo para resolver o problema
de seu pecado. Quando você compartilha o
evangelho com os outros, assegure-se de que
compreendam a plena natureza de seu pecado —
que o pecado afronta a santa lei de Deus. Toda
evangelização tem de colocar o pecador imperfeito
diante da perfeita lei de Deus, para que o pecador
veja a sua deficiência. Isso é um elemento essencial.
A evangelização que lida apenas com as
necessidade, sentimentos e problemas do homem
não tem verdadeiro equilíbrio. Essa é a razão por
que as igrejas estão entupidas de pessoas que não
são realmente salvas porque buscaram e ganharam
uma afirmação psicológica e não uma redenção
transacional. Por que você acha que Paulo gastou os
três primeiros capítulos de Romanos afirmando a
pecaminosidade do homem, antes de chegar ao
assunto da salvação? Porque o pecado do homem é
a grande questão.
O jovem rico não tinha senso de estar
ofendendo a Deus. Não tinha nenhum remorso.
Creio que o remorso precisa anteceder a salvação
(cf. Mt 5.4). Um homem tem de manifestar as
atitudes que Cristo apresenta nas bem-aventuranças.
Tem de implorar a Deus o seu perdão. Precisa ter
um senso de humildade. Precisa manifestar um
coração que lamenta ser dominado por seu pecado.
Mas o jovem rico não tinha isso. Ele queria que suas
necessidades psicológicas fossem satisfeitas e
pronto. Nesta passagem bíblica, não o vejo sentir
remorso por seu pecado. Não o vejo entristecido por
estar ofendendo a Deus. Não o vejo consciente de
seu pecado. Você não deve abordar as pessoas com
base no fato de que Cristo satisfará as necessidades
psicológicas delas.
Isso pode parecer heresia, mas você sabia que
Deus não tem um plano maravilhoso para a sua
vida? A menos que você considere o tormento
eterno como um plano maravilhoso. Ele tem um
plano horrível para aqueles que não conhecem a
Cristo. Quando compartilhamos o evangelho com as
pessoas, talvez devamos dizer-lhes: “Você sabe que
Deus ama você e tem um plano horrível para sua
vida?” Temos de abordar o problema do pecado. O
Antigo Testamento diz: “Deus é justo juiz, Deus
que sente indignação todos os dias” (Sl 7.11). Um
Deus santo, bom e puro não pode tolerar o mal. Por
isso, Jesus afirmou o que tem de ser afirmado
sempre — há uma lei divina que tem de ser
guardada. Se você a transgride, está sob o
julgamento de Deus.
Cristo ergueu uma barreira diante do jovem
rico, por explicar que suas razões para querer a vida
eterna eram incompletas. Ele tinha de ver a si
mesmo como alguém que vivia em transgressão da
lei de Deus e estar disposto a mudar.
O jovem rico respondeu à ordem de Jesus
dizendo: “Quais?” Ele queria saber que leis
precisava guardar. Então, o Senhor citou cinco dos
últimos dos Dez Mandamentos: “Não matarás, não
adulterarás, não furtarás, não dirás falso
testemunho; honra a teu pai e a tua mãe” (Mt
19.18-10). E acrescentou: “Amarás o teu próximo
como a ti mesmo”, que procede do livro de Levítico
(19.18).
Os Dez Mandamentos são divididos em duas
partes. Os primeiros quatro mandamentos tratam de
nosso relacionamento com Deus, os seis seguintes
tratam de nosso relacionamento com o homem.
Jesus apresentou ao jovem rico o segundo grupo de
mandamentos, que, falando relativamente, são mais
fáceis de guardar. Certamente, todos os
mandamentos são impossíveis de guardar, mas o
segundo grupo é menos impossível. Você sabe que
não tem amado a Deus da maneira como deveria e
que não tem sido, sempre, totalmente honesto diante
dele, mas, pelo menos, você pode dizer: “Nunca
matei ninguém. Nunca roubei ninguém. Nunca
cometi adultério com alguém. Nunca menti para
ninguém. Sempre tento honrar meu pai e minha
mãe”. Assim, Cristo oferece ao jovem rico o
benefício da dúvida e lhe apresenta o grupo mais
fácil dos impossíveis. Em seguida, Cristo acrescenta
um mandamento final, apenas para tornar a situação
mais difícil: “Amarás o teu próximo como a ti
mesmo” (v. 19). Jesus colocou a vida daquele jovem
diante dos Dez Mandamentos, incluindo Levítico
19.18, para que ele entendesse que estava
transgredindo a lei de Deus. O pecado contra a lei
de Deus é a grande questão na salvação, e não
necessidade psicológica ou desejo religioso.
Você não pode pregar a graça se não prega a
lei, porque uma pessoa não pode entender o que a
graça significa se não entende o que a lei exige.
Ninguém pode entender a misericórdia se não
entende a culpa. Você não pode pregar o evangelho
da graça se não tem pregado a mensagem da lei. E
foi isso que Jesus fez ao jovem rico — ele o
prendeu aos mandamentos de Deus. Jesus queria
que o jovem admitisse que estava aquém do padrão
de Deus. Queria que ele entendesse que precisava
acertar a sua situação com o Deus santo, e não
somente ter satisfeitas as suas necessidades
psicológicas.
A resposta do jovem rico é incrível: “Tudo isso
tenho observado; que me falta ainda?” (v. 20).
Talvez ele nunca havia matado alguém, cometido
adultério, roubado alguma coisa ou mentido. Talvez
pensasse que honrava seu pai e sua mãe. Talvez
fazia essas coisas baseado em seu conceito exterior
de comportamento justo. Mas, quando Jesus o
confrontou com um mandamento interno, como
amar seu próximo como a si mesmo, ele estava
apenas enganando a si mesmo quando disse que
guardava todos os mandamentos. Sabemos que ele
não estava falando a verdade, porque ele havia
transgredido, pelo menos, o mandamento de não dar
falso testemunho. Mas a maioria dos judeus havia
exteriorizado de tal maneira a lei, que nunca
abordavam o coração.
Em Mateus 5.21-37, Jesus internalizou a lei
com afirmações como estas: “Sei que você pensam
que não matam, mas, quando odeiam alguém,
cometem assassinato no coração. Sei que vocês
pensam que não cometem adultério, mas, quando
vocês olham para uma mulher com lascívia,
cometeram adultério no coração. Quando vocês se
divorciam da esposa sem bases bíblicas, também
cometem adultério. Sei que vocês dizem que não
mentem, mas vocês mentem por meio dos
juramentos falsos que fazem”.
Jesus confrontou as pessoas em todo o discurso
registrado em Mateus 5. Elas talvez parecessem boas
no exterior, mas no interior eram cheias de mal. Os
Dez Mandamentos são padrões de comportamentos
externos que indicam atitudes corretas. Não basta
evitar matar alguém; você também não deve odiar a
pessoa. Não basta evitar cometer adultério; você não
deve nem querer fazê-lo. O jovem rico não entendia
o caráter interno da lei de Deus. Entendia apenas as
exigências externas. Ele acreditava guardar
externamente todos os mandamentos.
O que é admirável é que ele fez sua confissão
de retidão na presença de todas as pessoas. Ele
acreditava que as pessoas confirmariam a sua
retidão. E esse era o seu problema. Ele não tinha um
senso de ter transgredido a lei de Deus, de maneira
alguma. Jesus não podia aceitá-lo nesses termos — e
teve de fazê-lo ver seu pecado. Walter Chantry, no
livro O Evangelho de Hoje: Autêntico ou Sintético?,
diz o seguinte: “Quando você notar os homens
feridos pela Lei, está na hora de derramar sobre eles
o bálsamo do evangelho. É a agulha pontiaguda da
Lei que abre o caminho para a linha avermelhada do
evangelho. Você tem de feri-los antes de poder
costurá-los” (São José dos Campos, SP: Fiel, 2001,
p. 34-35).
O jovem rico não pensava que tinha um
problema com o pecado. Com essa atitude ele não
podia ser salvo. Ele não entendia o significado da
salvação — que um pecador se chega a Deus e pede
perdão. Se você não acha que tem pecado, não pode
ser salvo.
Ele buscou diligentemente a vida eterna. Por
isso, quando fez a pergunta certa, Jesus o
confrontou com seu pecado, mas ele não quis
confessá-lo. A confissão de pecado e o
arrependimento são essenciais na salvação. Nosso
Senhor ilustrou isso para nós. O jovem rico não
compreendeu o âmago da lei de Deus. Ele a havia
exteriorizado, falhando em entender que a lei era
somente uma indicação de como Deus queria que o
coração fosse.
O jovem rico disse: “Que me falta ainda?” (v.
20). Em sua opinião, ele tentava guardar os
mandamentos e estava convencido de que fazia isso.
Essa é a maneira como a justiça própria opera. Ela é
auto-enganadora. O homem acreditava que era
justo. Acreditava que guardava a lei. Essa foi a razão
por que ele não pôde descobrir o que ainda lhe
faltava. Não tinha qualquer ideia de que estava
aquém da lei de Deus.
Marcos 10.21 diz: “Jesus, fitando-o, o amou”.
Esse jovem era sincero e genuíno, e Jesus o amou.
Ele não quer que alguém pereça (2Pe 3.9). O
Senhor estava prestes a morrer pelos pecados
daqueles que creriam e anelou pela salvação da alma
desse jovem. No entanto, Jesus não quis aceitá-lo
nos termos dele. O jovem rico precisava entender
sua completa pecaminosidade.
Tem de haver confissão e arrependimento para
que a vida eterna seja obtida. Elas são obras do
Espírito Santo, e não uma obra humana anterior à
salvação. Somos dependentes do Espírito Santo
quanto à compreensão de que temos ofendido o
Deus santo. Jesus não aceitaria esse jovem sem que
ele confessasse seus pecados e entendesse que tinha
de abandoná-los.

SUBMETA-SE AO SENHOR
Jesus deu um passo além para esse jovem.
Jesus disse: “Se queres ser perfeito, vai, vende os
teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu;
depois, vem e segue-me” (v. 21). O jovem rico
dissera que amava seu próximo como a si mesmo,
por isso Jesus lhe disse que desse tudo que tinha ao
seu próximo, como prova de seu amor. Jesus
colocou diante dele um teste pré-salvação. Jesus
estava dizendo: “Você vai fazer o que eu quero que
você faça? Quem governa a sua vida? Você ou eu?”
Ele dá ao jovem rico uma ordem. Creio que a
verdadeira salvação inclui a submissão para
obedecer ao Senhor.
Não creio que uma pessoa que vem a Cristo
tem um pleno entendimento de tudo que a
submissão ao senhorio de Cristo significa. Mas creio
que o Senhor quer que a pessoa esteja disposta a
confessar e submeter-se. Depois, Cristo revelará a
plenitude do que essas coisas significam.
Jesus confrontou o pecado de avareza do
jovem rico. Era um pecado de auto-satisfação e
materialismo. Ele era indiferente às pessoas pobres e
necessitadas. Por isso, Jesus lhe deu um teste
crucial: obedeceria ele o senhorio de Cristo?
Você tem de abandonar tudo que tem para ser
um cristão? Não. O Senhor não pediu isso de outras
pessoas. Mas, você tem de estar pronto a fazer tudo
que o Senhor pede? Sim. E o que ele pede depende
da pessoa a quem ele está pedindo. Neste caso, o
Senhor isolou o principal problema na vida desse
jovem. Jesus nos leva ao princípio afirmado em
Lucas 14.33: “Todo aquele que dentre vós não
renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu
discípulo”. Então, Jesus perguntou ao jovem rico:
“Você está disposto a fazer o que eu lhe digo? Estou
lhe pedindo que se livre de tudo que possui!” Ele
sabia o que era mais importante para aquele jovem.
A coisa mais importante para outras pessoas pode
ser uma mulher, uma carreira ou certo pecado no
qual elas querem deleitar-se. Mas, no caso desse
jovem, a coisa mais importante era seu dinheiro e
seus bens. E o Senhor queria que ele se mostrasse
disposto a renunciá-los.
A prontidão para renunciar o que temos me
lembra a história de um escravo e seu senhor. Um
dia o senhor perguntou: “Como posso ter o que você
tem?” O escravo disse: “Ponha a sua túnica branca,
desça aqui, no barro, e trabalhar conosco, escravos”.
O senhor replicou: “Eu nunca farei isso. Por que
tenho de fazer isso para ser um cristão?” O escravo
lhe respondeu: “Estou apenas lhe dizendo que você
tem de fazer isso”. O senhor retornou várias vezes
fazendo a mesma pergunta e recebendo a mesma
resposta. Por fim, o senhor disse: “Estou disposto a
fazer isso porque desejo ter o que você tem”. E o
escravo lhe respondeu: “Que bom! Você não tem de
fazer isso. Tem apenas de estar disposto a fazer
isso”. Jesus expôs o âmago da existência do jovem
rico. Estava dizendo-lhe: “A menos que eu seja a
prioridade número um de sua vida, não haverá
salvação para você”.
A salvação exige duas coisas: reconhecer sua
ofensa para com Deus, abandonar as suas
prioridades presentes e seguir os mandamentos de
Cristo, embora isso lhe custe as coisas mais
queridas. A salvação é um compromisso de
abandonar o pecado e seguir a Jesus Cristo — a
todo custo. Se você não está disposto a ser salvo
nesses termos, Jesus não o receberá.
A fé que não salva oferece aos homens algum
alívio psicológico para as ansiedades deles, mas não
exige o abandonar o pecado e uma afirmação do
senhorio de Cristo. Em Mateus 13.44-46, há duas
parábolas: a parábola do tesouro escondido e a
parábola da pérola de grande valor. Creio que ambas
se referem à salvação que é oferecida no reino. Um
homem vendeu tudo que tinha para comprar o
campo e possuir o tesouro. Outro homem vendeu
tudo que tinha para comprar a pérola. O que eles
queriam custou tudo que possuíam. Vir a Jesus
Cristo significa aceitá-lo como o supremo Senhor de
nossa vida. Ele se torna nossa primeira prioridade.
Não penso que as pessoas entendem todas as
implicações do senhorio de Cristo no momento em
que são salvas, mas penso realmente que a salvação
envolve um compromisso com o senhorio de Cristo.
Essa é a razão por que Romanos 10.9 afirma: “Se,
com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e,
em teu coração, creres que Deus o ressuscitou
dentre os mortos, serás salvo” (ênfase
acrescentada). Há um preço pela salvação — ela
custa tudo que você possui.
O jovem rico recebeu um teste porque se
apegava a tudo que possuía. Qual foi a reação dele?
Mateus 19.22 diz: “Tendo, porém, o jovem ouvido
esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de
muitas propriedades”. Por que ele se retirou? Suas
propriedades eram mais importantes para ele do que
Cristo. Ele não podia receber a salvação nesses
termos.
Por que Mateus indica que o jovem rico se
retirou triste? Havia alguma sinceridade em seu
coração. Ele queria realmente a vida eterna; só não
estava disposto a pagar o preço.
Na Escritura, há um exemplo de um homem
que reagiu de modo oposto. Lucas 19.1-6 diz:
“Entrando em Jericó, atravessava Jesus a cidade.
Eis que um homem, chamado Zaqueu, maioral dos
publicanos e rico, procurava ver quem era Jesus,
mas não podia, por causa da multidão, por ser ele
de pequena estatura. Então, correndo adiante,
subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque por ali
havia de passar. Quando Jesus chegou àquele
lugar, olhando para cima, disse-lhe: Zaqueu, desce
depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa.
Ele desceu a toda a pressa e o recebeu com
alegria”. Por quê? Ele também buscava a vida
eterna. Os coletores de impostos não perdem sua
dignidade por subirem em árvores para ver uma
multidão passando, mas Zaqueu fez isso porque era
um verdadeiro interessado na vida eterna.
Os versículos 7 e 8 registram o que aconteceu
como resultado daquela visita de Cristo: “Todos os
que viram isto murmuravam, dizendo que ele se
hospedara com homem pecador. Entrementes,
Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor,
resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e,
se nalguma coisa tenho defraudado alguém,
restituo quatro vezes mais”. Ele sabia que estivera
fazendo o mal e precisava acerta sua vida.
Compreendeu que tinha de devolver em 400% tudo
que extorquira dos pobres. Isso é, certamente, o
oposto da atitude do jovem rico. Jesus disse: “Hoje,
houve salvação nesta casa, pois que também este é
filho de Abraão” (v. 9). Zaqueu se tornou um
verdadeiro judeu. Por que a salvação o alcançou?
Porque ele pôde pensar em quão grande pecador ele
era. Zaqueu queria devolver todas as coisas que
tomara injustamente, mais a metade de tudo que ele
tinha. Portanto, Jesus disse: “O Filho do Homem
veio buscar e salvar o perdido” (v. 10).
A história do jovem rico, narrada em Mateus
19, é uma história triste. Ele não se mostrou disposto
a fazer o mesmo compromisso que Zaqueu fez. O
Senhor lhe mostrou que ele era um pecador, por
avaliá-lo à luz da lei de Deus, mas ele se recusou a
ver o seu pecado. O Senhor lhe deu uma ordem e
lhe pediu que o seguisse, mas o jovem rico não quis
fazer ambas as coisas. Ele não podia receber a
salvação porque não estava disposto a deixar o seu
pecado e afirmar o senhorio de Jesus Cristo em sua
vida. Repito o que Mateus disse: “Tendo, porém, o
jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser
dono de muitas propriedades” (Mt 19.22). Ele foi
até Jesus em busca da vida eterna e retirou-se sem a
vida eterna.
6

O PROPÓSITO DAS
PROVAÇÕES
Escrituras Selecionadas
8 de junho de 1986

Este tem sido um sermão perenemente popular


durante as duas últimas décadas. John MacArthur,
ainda no primeiro ano de presidência no The
Master’s College, estava envolvido no processo de
fundar o The Master’s Seminary, que abriria
oficialmente no segundo semestre desse ano.
Apesar das inúmeras atividades que ele cumpria
como presidente das duas instituições de ensino,
John prosseguiu em seu ministério de pregação
com o mesmo vigor de sempre. Tendo acabado
recentemente sua série de sermões de domingo à
noite sobre Romanos, ele começou uma série sobre
a epístola de Tiago em 11 de maio desse ano. Esta
mensagem, pregada um mês depois, foi o quinto
sermão dessa nova série. A série completa tomou
um ano e meio (34 mensagens) para ser concluída,
abrangendo quase 300 páginas no volume sobre
Tiago no Comentário de John MacArthur sobre o
Novo Testamento.
A semana anterior à pregação deste sermão
foi a semana de abertura oficial da época de
furacões no Atlântico, em 1986. Tempestades
haviam assolado o Texas e toda a costa leste
durante a semana, prenunciando coisas horríveis.
Mas 1986 acabou sendo a primeira época em
quase 15 anos a não ter grandes furacões. Foi uma
ilustração da vida real e apropriada das verdades
apresentadas neste sermão.

P Passar por qualquer provação na vida pode ser


uma experiência cheia de alegria para um cristão, se
a sua perspectiva for correta. Imagine a pior
provação que você poderia enfrentar. Talvez para
alguns ela fosse uma crise financeira, acompanhada
pela perda das economias da pessoa. Para outros, a
perda de um emprego, resultando na perda da
dignidade de ser capaz de sustentar a família. Talvez
pudesse ser o anúncio de uma série de doenças na
família, um acidente de carro fatal ou a
manifestação do mal na forma de estupro,
assassinato ou roubo. Esses eventos trágicos tocam
as nossas famílias, bem como a nós, de uma maneira
ou de outra.
O livro de Jó nos lembra que a aflição é
inevitável: “O homem nasce para o enfado, como
as faíscas das brasas voam para cima” (5.7).
Aqueles que tentam criar um mundo fictício em que
tudo é perfeito, predispõem-se para tristeza
profunda. Infelizmente, a previsão de tristeza e
aflição traz melancolia às nossas maiores alegrias.
Talvez seja por essa razão que a Escritura nos
mostre Jesus chorando, mas nem uma vez sorrindo.
Talvez, ele tenha sorrido em algum momento, mas
acho que a felicidade de Jesus foi contrabalançada
por sua intensa tristeza pelo pecado.
Todos nós, em um grau ou em outro, teremos
de nos deparar com a agonia em algum momento de
nossa vida. Por isso, precisamos entender como
enfrentar isso. Jó enfrentou as mais severas aflições
imagináveis. Ele perdeu os filhos e seus animais; seu
corpo foi afligido por furúnculos dolorosos. E, pior
ainda, ele foi deixado com uma esposa que não lhe
mostrou qualquer simpatia.
Mas, em minha opinião, Abraão foi a pessoa
que teve de enfrentar a mais severa provação que
qualquer ser humano poderia enfrentar. Gênesis 22
descreve o teste inimaginável que Deus colocou
diante de Abraão. Creio que podemos aprender
muito do exemplo de Abraão. “Depois dessas
coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse:
Abraão! Este lhe respondeu: Eis-me aqui!
Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho,
Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá;
oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes,
que eu te mostrarei” (vv. 1-2).
O pedido não se harmonizava com a teologia
de Abraão. Na aliança de Deus, não havia nenhuma
história de sacrifício humano. Isso era uma prática
pagã. Nenhum filho de Deus ofereceria seu
descendente em sacrifício. Além disso, Isaque era o
filho da promessa. Deus havia tocado o corpo de
Abraão e de Sara, capacitando-os a produzir um
filho que seria uma parte integral no cumprimento
da aliança de Deus com Abraão.
Por que Deus exigiria um sacrifício humano,
visto que nunca o exigira antes? Fazer isso seria a
antítese de tudo que Abraão sabia ser verdadeiro
sobre Deus. Por que Deus agiria miraculosamente
para capacitar uma mulher estéril a gerar um filho
que mais tarde ele pediria que fosse morto? Por que
Deus faria uma promessa a Abraão, de que ele seria
pai de muitas nações (Gn 12.1-3), e, depois, mataria
o único filho que ele tinha? Toda a ideia era bizarra.
Toda a esperança de descendência e da promessa
morreria? E isso aniquilaria a fidelidade pactual de
Deus.
O que torna isso a mais severa provação não é
o fato de que Isaque morreria, e sim de que Abraão
o mataria com sua própria mão. Uma coisa é aquele
que você ama morrer; outra coisa é alguém dizer-lhe
que você deve matar a pessoa amada. Se há alguma
coisa que Deus já pediu que mereceria uma
argumentação ampla, essa coisa seria o sacrifício de
Isaque. Podemos esperar que Abraão dissesse: “Isso
não faz sentido. Não posso fazer isso. O Senhor
poderia se explicar?”.
Eis o que aconteceu: “Levantou-se, pois,
Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu
jumento, tomou consigo dois dos seus servos e a
Isaque, seu filho; rachou lenha para o holocausto e
foi para o lugar que Deus lhe havia indicado. Ao
terceiro dia, erguendo Abraão os olhos, viu o lugar
de longe. Então, disse a seus servos: Esperai aqui,
com o jumento; eu e o rapaz iremos até lá e,
havendo adorado, voltaremos para junto de vós.
Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou
sobre Isaque, seu filho; ele, porém, levava nas
mãos o fogo e o cutelo. Assim, caminhavam ambos
juntos. Quando Isaque disse a Abraão, seu pai:
Meu pai! Respondeu Abraão: Eis-me aqui, meu
filho! Perguntou-lhe Isaque: Eis o fogo e a lenha,
mas onde está o cordeiro para o holocausto?
Respondeu Abraão: Deus proverá para si, meu
filho, o cordeiro para o holocausto; e seguiam
ambos juntos” (vv. 3-8).
Abraão, sem questionar a Deus ou argumentar
com ele, obedeceu imediatamente ao que Deus lhe
havia pedido. Demonstrou fé admirável em dizer aos
seus servos que tanto ele como o filho retornariam, e
em dizer, com confiança, ao seu filho, que Deus
proveria para si o sacrifício. Creio que Abraão sabia,
no fundo de seu coração, que Deus tinha em mente
algo que era coerente com seu caráter e sua aliança.
“Chegaram ao lugar que Deus lhe havia
designado; ali edificou Abraão um altar, sobre ele
dispôs a lenha, amarrou Isaque, seu filho, e o
deitou no altar, em cima da lenha; e, estendendo a
mão, tomou o cutelo para imolar o filho” (vv. 9-
10).
Que fé inacreditável! Agora, você entende a
natureza da fé que Deus atribui como justiça (Gn
15.6) e por que Paulo identificou Abraão como o
pai dos fiéis (Rm 4.11-12). À exceção de Cristo,
Abraão é o nosso maior exemplo de confiança em
Deus. Ele é a síntese de submissão e de obediência à
vontade de Deus, a qualquer custo. Deus honrou
isso, como mostram os versículos seguintes.
“Mas do céu lhe bradou o Anjo do SENHOR:
Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis-me aqui!
Então, lhe disse: Não estendas a mão sobre o
rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a
Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu
único filho” (vv. 11-12).
Isso foi um teste para determinar se Abraão
obedeceria a Deus, e Abraão foi aprovado. Esse
relato nos mostra que podemos ser testados nas
coisas mais íntimas e mais queridas para nós.
Podemos ter de oferecer nossos próprios Isaques —
aqueles que mais amamos — e dar-lhes ao Senhor.
Revelamos nossa fé por deixá-los ir da maneira
como Deus quer que eles vão, e não
necessariamente da maneira como desejamos que
vão. Havendo-se mostrado disposto a entregar
Isaque, não importando quão precioso ele fosse,
Abraão revelou que não era possessivo. Ele entregou
Isaque à vontade de Deus, porque estava pronto a
fazer qualquer coisa que Deus lhe pedisse que
fizesse.
Todos nós enfrentamos muitas provações na
vida, mas não posso imaginar experimentar uma
provação como essa que Abraão experimentou. Sua
obediência demandou grande quantidade de auto-
renúncia e, por isso, foi do mais alto grau de
excelência. Abraão passou no teste. Isso foi
confirmado quando o anjo do SENHOR disse: “Agora
sei que temes a Deus” (v. 12). Abraão honrou a
Deus no custo mais elevado.
O comentário sobre essa provação de Abraão é
dado em Hebreus 11. Neste capítulo de Hebreus,
aprendemos o que capacitou Abraão a passar por
esse teste: “Pela fé, Abraão, quando posto à prova,
ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o
seu unigênito aquele que acolheu alegremente as
promessas, a quem se tinha dito: Em Isaque será
chamada a tua descendência; porque considerou
que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo
dentre os mortos” (vv. 17-19). Abraão mostrou
disposição de obedecer a Deus porque acreditava
que Deus poderia ressuscitar os mortos, embora,
antes, nunca tivesse visto mortos sendo ressuscitados
para a vida. Abraão acreditava que Deus era tão fiel
à sua Palavra e caráter que, se fizera uma promessa,
ele ressuscitaria um morto para cumpri-la.
Essa história de Abraão nos diz que um homem
pode atravessar a provação mais severa da vida se
ele realmente confia em Deus, crendo que ele
cumprirá sua promessa e realizará seus propósitos
sem cometer erros. É surpreendente que Abraão seja
o maior exemplo humano de fé? Gálatas 3 diz:
“Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de
Abraão. De modo que os da fé são abençoados
com o crente Abraão” (vv. 7-9). Todo aquele que
vive pela fé em Deus é, em um sentido espiritual,
filho de Abraão. Ele é o pai de todos os que creem.
Temos de compreender que Deus nos permitirá
passar por testes, e o que deve nos sustentar em
meio a essas provações é a nossa confiança em Deus
e no fato que ele está operando todas as coisas para
cumprir seus propósitos santos (Rm 8.28). Sei que
todos nós sonhamos com um ambiente perfeito, de
conforto e tranquilidade. Embora qualquer descanso
temporário das provações nos leve a pensar que
podemos achar isenção permanente delas, nossa
vida na terra nunca será livre de provações. Davi
refletiu essa verdade quando disse: “Quanto a mim,
dizia eu na minha prosperidade: jamais serei
abalado” (Sl 30.6). Podemos viver num paraíso de
tolo, nunca prevendo qualquer aflição e predizendo
um futuro de tranquilidade, mas isso é fantasia.
Cristo advertiu seus discípulos e todos que seguem
seus passos a esperarem aflições nesta vida (Jo
15.18-16.4, 33).
O puritano Thomas Manton comentou, certa
vez, que Deus tinha um único Filho sem pecado,
mas não tinha nenhum filho sem uma cruz. Sendo
cristãos, podemos estar certos de que teremos
provações. Salmos 23.4 afirma: “Ainda que eu ande
pelo vale da sombra da morte, não temerei mal
nenhum, porque tu estás comigo”. Essa é a nossa
confiança — teremos vitória sobre as provações por
meio da presença de Deus.
As provações virão, mas a graça de Deus nos
encontrará em nosso tempo de necessidade. As
provações virão para cumprir vários propósitos.
AS PROVAÇÕES TESTAM O VIGOR DE
NOSSA FÉ
Em 2 Crônicas 32.31, há uma grande ilustração
de como as provações testam o vigor da fé de um
crente: “Deus o desamparou, para prová-lo e fazê-
lo conhecer tudo o que lhe estava no coração”.
Deus não precisava saber por meio de um teste o
que estava no coração de Ezequias — Deus já sabia
por onisciência. Deus nos testa para que nós
mesmos o saibamos. Ele nos assiste em fazermos
um inventário espiritual de nós mesmos, por trazer
provações à nossa vida para demonstrar a força ou a
fraqueza de nossa fé. Se neste momento você está
experimentando uma provação, mas está
protestando contra Deus e se perguntando por que
tal provação está acontecendo, isso é uma boa
indicação de que a sua fé é frágil. Se, por outro
lado, você está descansando e se regozijando no
Senhor, havendo entregue a provação aos cuidados
do Senhor, você tem uma fé forte.
Devemos ser agradecidos por nossas provações
porque elas nos ajudam a examinar a nossa fé. Isso é
bastante proveitoso porque, quanto mais forte for a
nossa fé, tanto mais úteis talvez seremos para Deus.
Quando Habacuque encarou a ameaça da vinda
dos caldeus e da destruição de seu povo, ele pôde,
apesar disso, regozijar-se no Senhor: “Ainda que a
figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o
produto da oliveira minta, e os campos não
produzam mantimento; as ovelhas sejam
arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja
gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no
Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a
minha fortaleza, e faz os meus pés como os da
corça, e me faz andar altaneiramente. Ao mestre de
canto. Para instrumentos de cordas” (Hc 3.17-19).
Em meio ao insolúvel mistério de por que Deus
permite que o ímpio continue a existir, o profeta
reconheceu a soberania e a sabedoria de Deus e foi
fortalecido por isso.
Como resultado de sua provação, Jó admitiu
diante de Deus: “Eu te conhecia só de ouvir, mas
agora os meus olhos te veem. Por isso, me
abomino e me arrependo no pó e na cinza” (42.5-
6). Jó confessou seu pecado de questionar a
sabedoria e a soberania de Deus, quando as
provações que ele experimentou expuseram a
fraqueza de sua fé.

AS PROVAÇÕES NOS HUMILHAM

As provações nos lembram que não devemos


pensar que nosso vigor espiritual é muito elevado.
Isso é ilustrado no testemunho de Paulo em 2
Coríntios 12.7: “E, para que não me
ensoberbecesse com a grandeza das revelações,
foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de
Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me
exalte”. Deus concedera a Paulo o poder de realizar
milagres e revelar nova verdade. Esses dons
singulares podiam ter levado Paulo a ser orgulhoso.
Deus usou aquela provação para levar Paulo a
depender humildemente dele. Deus permite as
provações em nossa vida para nos manter humildes
— especialmente quando somos abençoados por
estarmos uma posição de serviço espiritual. As
provações podem impedir que nos tornemos
demasiadamente confiantes em nosso vigor
espiritual.

AS PROVAÇÕES NOS DESAPEGAM DAS


COISAS MUNDANAS
Quanto mais vivemos, tanto mais acumulamos
— mais móveis, mais carros, mais investimentos —
e podemos experimentar mais sucesso e mais
oportunidade de viajar. Mas, apesar do aumento dos
bens e prazeres mundanos, essas coisas tendem a
produzir um efeito cada vez menos significativo na
vida dos cristãos. Houve um tempo em que você
pensava que essas coisas eram desejáveis, mas agora
você compreende que elas são incapazes de resolver
as ansiedades, as mágoas e os profundos problemas
da vida.
Quando as provações chegam à sua vida, e
você busca as coisas mundanas, percebe que elas
não fazem diferença — significam totalmente nada.
Portanto, as provações podem desapegar você das
coisas mundanas, quando estas demonstram sua
total incapacidade de solucionar qualquer problema
ou prover qualquer ajuda em um tempo de estresse.
Em João 6, lemos que Jesus, “erguendo os
olhos e vendo que grande multidão vinha ter com
ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para
lhes dar a comer? Mas dizia isto para o
experimentar; porque ele bem sabia o que estava
para fazer”. A resposta de Filipe foi dada com base
em um ponto de vista mundano, pois comentou que
ele e os outros discípulos não tinham dinheiro
suficiente para alimentar aquela multidão (v. 7).
Jesus queria descobrir se Filipe olhava para os
recursos do mundo ou para ele, a fim de obter a
solução. Uma vez que foi determinada a
incapacidade dos discípulos para satisfazer aquela
necessidade, Jesus prosseguiu e demonstrou seu
poder miraculoso, levando-os a uma fé maior nele.
Moisés fora criado na casa de Faraó, como um
príncipe do Egito. Como parte da família real, ele
teve a melhor educação e atingiu o ápice da
sociedade egípcia em termos de riqueza, honra e
conforto. Entretanto, Hebreus 11.26 nos diz que ele
considerou os sacrifícios feitos para se identificar
com os propósitos de Deus como “maiores
riquezas do que os tesouros do Egito”. Moises
havia tirado os seus olhos de todas as coisas
mundanas disponíveis para ele e começado a se
preocupar com as provações de seu povo, as quais
Deus usou para desprendê-lo dos prazeres
passageiros.

AS PROVAÇÕES NOS CHAMAM À


ESPERANÇA ETERNA
As provações de minha vida aumentam a
minha expectativa pelo céu. Assim como as
provações criam um desinteresse crescente para com
o mundo passageiro, assim também elas criam um
desejo maior, por exemplo, de sermos reunidos com
um amado que partiu para estar com o Senhor. Se a
pessoa mais preciosa em sua vida já está na presença
de nosso precioso Salvador, e se você tem investido
tempo e dinheiro nas coisas eternas, você não terá
muito a prendê-lo a este mundo efêmero.
Em Romanos 8, Paulo disse: “O próprio
Espírito testifica com o nosso espírito que somos
filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos
também herdeiros, herdeiros de Deus e co-
herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também
com ele seremos glorificados. Porque para mim
tenho por certo que os sofrimentos do tempo
presente não podem ser comparados com a glória
a ser revelada em nós. A ardente expectativa da
criação aguarda a revelação dos filhos de Deus...
Também nós, que temos as primícias do Espírito,
igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando
a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
Porque, na esperança, fomos salvos. Ora,
esperança que se vê não é esperança; pois o que
alguém vê, como o espera?” (vv. 16-19, 23-24).
As provações colocam nossas afeições nas
coisas do alto — nas verdades e nas realidades
divinas. Era isso que Paulo estava querendo dizer
quando falou: “Por isso, não desanimamos; pelo
contrário, mesmo que o nosso homem exterior se
corrompa, contudo, o nosso homem interior se
renova de dia em dia. Porque a nossa leve e
momentânea tribulação produz para nós eterno
peso de glória, acima de toda comparação, não
atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que
se não veem; porque as que se veem são temporais,
e as que se não veem são eternas” (2Co 4.16-18).
As provações nos dão maior afeição pelo que é
eterno. Elas nos ajudam a anelar pela cidade eterna
do céu.
Talvez você pergunte como Paulo obteve esse
tipo de atitude. Nos versículos 8 a 10, ele disse:
“Em tudo somos atribulados... perplexos...
perseguidos... abatidos... levando sempre no corpo
o morrer de Jesus”. Paulo passava por muitas
aflições, não nos surpreende o fato de que ele não
gostava do mundo e preferia estar na glória.

AS PROVAÇÕES REVELAM O QUE


REALMENTE AMAMOS

À exceção de Deus, nada era mais querido para


Abraão do que seu filho, Isaque. Mas este foi o
teste: descobrir se Abraão amava Isaque mais do que
a Deus. As provações testam nosso amor a Deus
pela maneira como reagimos a elas. Se amamos
supremamente a Deus, nós lhe agradeceremos pelo
que está realizando por meio das provações. Mas, se
amamos a nós mesmos mais do que a Deus,
questionaremos a sabedoria de Deus e ficaremos
inquietos e amargurados. Se, para nós, alguma coisa
é mais querida do que Deus, ele tem de removê-la
para crescermos espiritualmente.
Em Deuteronômio 13.3, Moisés advertiu os
israelitas quanto a seguirem falsos profetas, dizendo:
“Não ouvirás as palavras desse profeta ou
sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos
prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus,
de todo o vosso coração e de toda a vossa alma”.
O Senhor nos prova para ver se o amamos
verdadeiramente, se o amamos tanto quanto
afirmamos.
Jesus disse: “Se alguém vem a mim e não
aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e
irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não
pode ser meu discípulo. E qualquer que não tomar
a sua cruz e vier após mim não pode ser meu
discípulo” (Lc 14.26-27). Ele não estava dizendo
que devemos odiar as pessoas. Pelo contrário, ele
queria dizer que, se você não ama a Deus a ponto de
separar-se prontamente, se necessário, de seu pai,
mãe, esposa, irmão e irmã, ou mesmo de perder a
própria vida, você não o ama supremamente. Você
tem de determinar fazer a vontade de Deus acima de
tudo, não importando que apelo os outros lhe
façam. No caso de Abraão, vemos quem ele amava
mais. Abraão amava a Deus mais do que ao seu
único filho.

AS PROVAÇÕES NOS ENSINAM A


VALORIZARMOS AS BÊNÇÃOS DE DEUS
Razões mundanas nos ensinam a valorizarmos
o mundo. Nossos sensos e sentimentos nos instam a
valorizarmos os prazeres. O mundo nos diz que a
vida é apenas aqui e agora; por isso, devemos gozá-
la a qualquer preço. Mas a fé nos diz que devemos
valorizar a Palavra de Deus, obedecer-lhe e receber
sua bênção. As provações nos ensinam as bênçãos
da obediência. Quando obedecemos a Deus em
meio à provação, somos abençoados.
No Salmo 63.3, Davi disse: “Porque a tua
graça é melhor do que a vida, os meus lábios te
louvam”. Jesus é o exemplo perfeito de quem foi
abençoado por sua obediência. Hebreus 5.7-9 diz
que, “nos dias da sua carne, tendo oferecido, com
forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem
o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por
causa da sua piedade, embora sendo Filho,
aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e,
tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da
salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.
Isso é uma referência aos sofrimentos de Jesus no
jardim de Getsêmani (Lc 22.39-44). Filipenses 2.8-9
menciona os resultados da obediência de Jesus: “A
si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à
morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o
exaltou sobremaneira”.
As provações nos fazem atravessar o
sofrimento para que possamos obedecer e, depois,
recebermos toda a bênção de Deus. À medida que
você aprende a obedecer a Deus, você experimenta
a alegria dessa bênção.

AS PROVAÇÕES NOS CAPACITAM A AJUDAR


OUTROS EM SEU SOFRIMENTO
Às vezes, quando o sofrimento vem, pode ter
apenas o propósito de nos tornar mais capazes de
ajudar os outros em seu próprio sofrimento. Jesus
disse a Pedro: “Simão, Simão, eis que Satanás vos
reclamou para vos peneirar como trigo! Eu,
porém, roguei por ti, para que a tua fé não
desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece
os teus irmãos” (Lc 22.31-32).
Hebreus 4.13-16 nos diz que Jesus é capaz de
ajudar todos que se achegam a ele, porque passou
pelas mesmas provações por que passamos. Isso é o
que o torna um sumo sacerdote misericordioso.
Passamos por provações com o propósito de
confortarmos outras pessoas (cf. 2Co 1.3-4). É
maravilhoso que Deus nos permite aprender pela
experiência para instruirmos os outros.

AS PROVAÇÕES PRODUZEM
PERSEVERANÇA E VIGOR
Thomas Manton disse que, enquanto tudo está
quieto e confortável, vivemos pelo senso e não pela
fé. Mas o valor de um soldado não é conhecido em
tempos de paz. Um dos propósitos de Deus nas
provações é dar-nos maior vigor. Quando você passa
por uma provação, seus músculos espirituais (fé) são
exercitados e fortalecidos para a próxima provação.
Isso significa que você pode enfrentar inimigos
maiores e suportar maiores dificuldades, tornando-se
assim mais útil para o Senhor. E, quanto mais útil
você for, tanto mais cumprirá a vontade dele no
poder de seu Espírito, para a sua glória.
7

TORNANDO FÁCEIS
DECISÕES DIFÍCEIS

Escrituras Selecionadas
20 de julho de 1986

Na semana em que John pregou esta


mensagem, os estados do Sul sofriam uma seca
intensa e tinham recordes de temperatura elevada.
No sábado anterior, um terremoto de 5.3 na escala
Richter havia atingido Oceanside, na Califórnia.
Vários missionários haviam sido sequestrados
nessa semana, por terroristas islâmicos, no sul das
Filipinas.
John MacArthur estava ministrando fora
desde meados de junho e tinha voltado ao púlpito
apenas por um domingo à noite. No dia seguinte,
seu ministério o levaria para fora do Estado por
mais outro mês inteiro. Portanto, em vez de
retornar à sua série de sermões sobre Tiago, ele
pregou esta mensagem especial e incomum porque
lida com um assunto prático, usando uma
abordagem tópica e não uma abordagem
expositiva.
Esta mensagem tem mantido a sua
popularidade por mais de vinte anos por causa da
clareza com que John explica os princípios bíblicos
que nos ajudam a evitar o legalismo, por um lado,
e a licenciosidade, por outro lado. O esboço é
memorável, e o título, um trocadilho inteligente.
Esta mensagem gravada responde sozinha, pelo
menos, 25% das perguntas mais comuns que
surgem inevitavelmente nas sessões de perguntas e
respostas.

Q Quero compartilhar algumas coisas práticas de


minha vida sobre o assunto de tornar fáceis decisões
difíceis. Colocarei juntas coisas práticas da Palavra
de Deus. Mas, antes de fazer isso, eis uma pequena
introdução.
A Bíblia é bastante clara sobre as questões
relacionadas ao pecado. Não há razão para nos
admirarmos do que Deus proíbe. Você pode
começar com o Decálogo, os Dez Mandamentos,
nos quais Deus revela as coisas que ele não permite.
Há outras coisas que Deus nos ordena fazer e não
fazer. Não estamos nas trevas quanto ao pecado. Os
mandamentos expostos na Bíblia são muito claros.
Sabemos o que é errado. Também sabemos o que é
certo em referência a muitas coisas, porque Deus
nos deu uma instrução muito clara.
Não pretendo falar sobre o que é
explicitamente certo e o que é explicitamente errado
na Escritura. Quero falar sobre o que está no meio,
porque essas são as coisas que criam realmente
dificuldades no que diz respeito a tomarmos
decisões. Se alguém lhe propusesse a possibilidade
de mentir, trapacear, roubar, matar, cometer
adultério ou cobiçar, isso seria obviamente
inaceitável. Se alguém lhe propusesse a leitura da
Bíblia, a oração, o testemunhar ou falar do Senhor
Jesus Cristo e de sua Palavra com alguém que
precisa ouvi-la, isso seria obviamente muito
aceitável.
Mas, o que podemos dizer sobre aquelas
questões que não são claramente certas ou erradas,
sobre as quais a Bíblia não fala explicitamente? É
uma categoria ampla. Por exemplo, uma pessoa diz
que há certas comidas que devemos comer e certas
comidas que não devemos comer. Há algumas
pessoas em nossos dias que querem prender os
crentes a uma lei de dieta do Antigo Testamento.
Eles afirmam que a verdadeira espiritualidade é
central ao que você come. Eles dizem que, se você
comer carne de porco ou algo que não é aceitável
pela lei do Antigo Testamento, você está pecando.
Outras pessoas dizem que os cristãos têm
permissão de beber certas bebidas e não outras. Se
você beber bebidas proibidas, isso é pecaminoso.
Mas certas outras bebidas não são pecaminosas. A
Escritura discute esses assuntos extensivamente, mas
não dá nenhuma proibição específica referente ao
que podemos ou não podemos beber.
Algumas pessoas creem que esportes são
pecaminosos. Alguns de vocês não creem que isso é
pecado; para você os esportes são um deus. Você se
prostra e o adora... em toda oportunidade que tem.
Alguns creem que televisão é pecado — se você
possui uma televisão, você não é espiritual. Ora, é
verdade que algumas pessoas que assistem à
televisão são como zumbis. Fixam-se na TV, de
olhos arregalados. Não importa o que esteja
passando, até um teste padrão da tela atrai o
interesse delas, que assistirão à televisão enquanto o
fusível durar.
Há alguns que creem que, se você for a um
filme, você comete pecado. Se você entra num
teatro, está participando de impiedade. Está dando
dinheiro à indústria cinematográfica. Outros
afirmam que um filme é apenas uma diversão. É
algo recreativo e relaxante; você pode ver beleza na
visão do produtor.
Muitos creem que, se você participa de algo no
domingo, além de ir à igreja ou ler a Bíblia, você se
envolveu em pecado. Mas isso não é verdade.
Quando eu era um menino, que crescia na costa
leste, na Filadélfia, não tinha permissão de fazer no
domingo alguma coisa que, pelo menos, parecesse
recreação. Voltávamos para casa vestidos de nossos
ternos no estilo Lord Fauntleroy, de colarinho
branco e rígido, e uma pequena gravata; e
sentávamos no sofá o dia inteiro. Não podíamos ler
notícias engraçadas, não podíamos ler o caderno de
esportes, não podíamos assistir à televisão, não
podíamos sair ao jardim e brincar de pega-pega, não
podíamos fazer uma caminhada — ficávamos
apenas sentados. O único pecado que podíamos
cometer — e todos que quisessem podiam cometê-
lo — era o pecado de glutonaria. Podíamos fartar-
nos no domingo. A maioria das mulheres passavam
toda a manhã cozinhando aquele refeição enorme,
pela qual pecávamos toda a tarde, mas não
podíamos fazer algo energético, para não
engordarmos depois de comer muito. Ficávamos
presos nas consequências de nosso mal. Mas esse
pecado era tolerável. Em muitos círculos
evangélicos, ele ainda é tolerável.
No entanto, podíamos jogar cartas, se não
tivessem nelas coringas, espadas, paus e ouros. Se
tivessem alguma outra coisa, exceto esses símbolos,
podíamos jogá-las. Mas, se alguns desses símbolos
estivessem nas cartas, jogá-las era pecaminoso.
Nenhuma pessoa de respeito próprio jamais pegaria
uma carta e veria um desses símbolos nela, sem
jogá-la fora imediatamente, para que não cometesse
algum mal. Ora, você podia jogar “Pit”, gritar e
atirar coisas — tudo isso era certo — exceto ver o
que estava na carta. Além de jogo de cartas, alguns
creem que certos jogos são pecaminosos. Jogos
como “Banco Imobiliário” ensinavam o
materialismo. Devia ter existido um jogo chamado
“Pobreza e Humildade” para aqueles que desejavam
seguir a verdadeira espiritualidade em sua vida
recreativa.
Muitas pessoas creem que é pecaminoso
colocar um cigarro na boca, acendê-lo e soltar
fumaça pelo nariz. No Sul, onde se produz tabaco,
não é incomum ver diáconos de igrejas fumando.
Ora, não estou falando sobre os perigos para a saúde
inerentes à prática de fumar; estou dizendo apenas
que isso não é proibido nas Escrituras.
Outras pessoas dizem que, se você usa cabelos
longos demais, isso é pecado. Se o seu cabelo é
curto, isso não é pecado, a menos que seja curto
demais, o que poderia significar que você é gay.
Portanto, você precisar achar um tamanho
intermediário para que não peque, usando um dos
dois tamanhos.
Há pessoas que creem que certos estilos de
roupa são reflexos de uma sociedade pecaminosa.
Não entendo as modas de hoje. Pessoalmente, creio
que Deus é simétrico. Ele aprecia o equilíbrio. Hoje
vejo roupas que não seguem simetria. Mas isso é o
que penso, e gosto de bolsos em ambos os lados da
camisa. O que posso dizer?
Algumas pessoas acham que certos estilos
musicais são pecaminosos. A música rock é
pecaminosa, e posso até concordar com isso. Para
muitos, a música country e western é
definitivamente santificada. Eles não devem estar
atentando às palavras.
Algumas pessoas não veem qualquer problema
em que moças e rapazes nadem juntos. Há alguns,
muitos do Sul, que creem que isso é pecado. Eles o
chamam de “banho misto”; e isso é proibido.
Há muitas questões como essas que a Escritura
não aborda em específico. Isso significa que temos
de tomar algumas decisões. A solução mais fácil é
elaborarmos uma lista de regras. Estabeleça uma
comissão e deixe que eles decidam o que é certo e o
que é errado. Todos viveremos por essas regras. Se
você cumpre as regras, é espiritual. Se você não
cumpre as regras, é carnal. Essa é a saída mais fácil.
Como cristãos, precisamos saber como tomar
decisões a respeito desses tipos de coisas.
Enfrentamos esses dilemas todos os dias de nossa
vida. Como decidimos? Eu lhes darei alguns
princípios. São princípios que uso em minha própria
vida. Sentei-me um dia e os escrevi — são frutos de
minha própria experiência. São as coisas que
pergunto a mim mesmo periodicamente, quando me
deparo com tomar decisões que não são definidas
com clareza na Escritura. Quanto mais cedo você
aprender a aplicar esses princípios, tanto mais você
apreciará sua experiência espiritual e tanto mais
entenderá o que significa ser livre em Cristo e
submisso ao seu propósito perfeito.

CONVENIÊNCIA: ISTO SERÁ


ESPIRITUALMENTE PROVEITOSO?

Paulo disse: “Todas as coisas me são lícitas”


(1Co 6.12). Permita-me esclarecer dizendo isto:
todas as coisas que não são ilícitas são lícitas. Há
algumas coisas na Escritura que são afirmadas
claramente como ilícitas ou pecaminosas. Paulo não
estava falando sobre essas coisas. O que ele estava
dizendo é que todas as coisas que não são ilícitas são
lícitas. Todas as coisas no nível intermediário, na
área não-moral, são lícitas para mim. O versículo 12
continua: “Mas nem todas convêm”. A palavra
grega traduzida por “convém” significa “para minha
vantagem”. Se certos comportamentos não
contribuem para minha vantagem espiritual, eles não
me são benéficos.
Faço a mim mesmo a pergunta que Paulo
sugeriu nesta passagem: fazer isto aprimorará a
minha vida espiritual? Cultivará a piedade? Essa é
uma pergunta justa. Fazer isso será proveitoso para
mim? Será para minha vantagem?
Há muitas coisas que você faz que não são
erradas. Por exemplo, dormir não é errado; dormir é
bom. Tento fazer isso, de vez em quando. Gostaria
de fazê-lo mais do que sou capaz. Não há nada
errado em dormir. Não há nada errado em dormir
um pouco mais. Você anseia por uma manhã em
que pode dormir um pouco mais? Claro que sim. Às
vezes, pode ser a manhã de domingo, e o Senhor
pode puni-lo por isso. Todos ansiamos por aquelas
ocasiões em que podemos dormir um pouco mais.
Mas essa coisa boa de dormir um pouco mais e
renovar as forças físicas, se for realizada muito
frequentemente, não será para o seu proveito
espiritual, porque cultivará a preguiça. Considerado
sozinho, dormir um pouco mais não é errado, mas
cria o hábito da preguiça. E, feito em excesso, não é
benéfico para você.
Muitos assuntos na vida são semelhantes a
esse. Em qualquer que seja o assunto, você precisa
perguntar a si mesmo: isso me será espiritualmente
benéfico? Será para o meu proveito? Cultivará a
piedade? Você não quer olhar para a sua vida com a
atitude de “eu posso fazer isto e escapar da
retribuição”. Você quer ter uma perspectiva de vida
que pergunta: “Posso fazer isto, e a minha piedade
aumentará? Isto será espiritualmente proveitoso?”
Vamos chamar este princípio de princípio da
conveniência. Isto é conveniente ao meu benefício
espiritual?

EDIFICAÇÃO: ISTO ME EDIFICARÁ?


O primeiro princípio considera o assunto
isoladamente: isto me beneficiará espiritualmente? A
segunda pergunta é: isto me conduzirá a maior
maturidade espiritual? Paulo disse: “Todas as coisas
são lícitas, mas nem todas convêm” (1Co 10.23).
Isso expressa o mesmo pensamento anterior: todas
as coisas que não são ilícitas são lícitas. Todas as
coisas que não são erradas em si mesmas são lícitas
para mim. Em seguida, Paulo disse: “Todas são
lícitas, mas nem todas edificam” (v. 23).
Por isso, faço a mim mesmo esta pergunta: isto
me edificará? A palavra grega traduzida por
“edificar” é oikodomeō, que significa “edificar uma
casa”. Fazer isto acrescentará à minha vida coisas
que aumentarão minha firmeza, vigor e maturidade
espiritual? Paulo disse: “Seja tudo feito para
edificação” (1Co 14.26). Em 2 Coríntios 12.19, ele
disse: “Falamos em Cristo perante Deus, e tudo, ó
amados, para vossa edificação”. E, em 1 Coríntios
9, ele disse: “Não sabeis vós que os que correm no
estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva
o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.
Todo atleta em tudo se domina... Esmurro o meu
corpo e o reduzo à escravidão” (vv. 24-25, 27). A
linguagem grega que Paulo usou indica que ele
reprimiria o seu corpo. Ele esbofetearia o seu corpo
e daria a si mesmo um olho roxo, com o propósito
de manter seu corpo sob controle, de modo que
tudo que ele fizesse servisse para a sua própria
edificação.
Sinceramente, muitos de nós somos escravos
dos desejos de nosso corpo. Reagimos basicamente
a qualquer impulso físico que haja. Na questão de
autocontrole e autodisciplina, há alguns elementos-
chave. Para ser uma pessoa autodisciplinada, você
tem de treinar a si mesmo em disciplina. Uso
algumas ideias práticas para ajudar-me. Por um lado,
sempre faço primeiramente as coisas mais difíceis.
Isso me ajuda a aprender autodisciplina. Outra coisa
que me ajuda é chegar sempre na hora. Para fazer
isso, você tem de ordenar os diversos elementos de
sua vida para que possa estar no lugar certo, no
momento certo. Isso é um controle e indica que
você pode administrar e colocar juntas diversas
coisas. Outra coisa que me ajuda é aprender a dizer
não quando você tem todo o direito de dizer sim.
Quando você tem todo o direito de sair para comer,
ter uma refeição maravilhosa e terminá-la com um
“hot fudge sundae”, diga não apenas para informar
ao seu corpo que você ainda está no controle.
Cultive o autocontrole. Quando você controla seus
desejos com sua mente espiritual, você exercita os
músculos certos em treinar a si mesmo para a
piedade.
Por isso, faço a minha pergunta: fazer isto me
edificará? Isto me fortalecerá? Isto me impelirá em
direção à semelhança com Cristo e a maior
maturidade espiritual? Chamemos este princípio de
princípio da edificação. Então, tivemos o princípio
da conveniência e, agora, o princípio da edificação.

EXCESSO: ISTO DIMINUIRÁ O MEU RITMO


NA CARREIRA CRISTÃ?
Se estou correndo para ganhar o prêmio, tenho
de perguntar a mim mesmo: esta ação me fará
diminuir o ritmo? Hebreus 12.1 diz que estamos na
carreira da fé. Hebreus 11 descreve uma hoste de
pessoas que viveram pela fé, e elas são testemunhas
vivas da validade de viver pela fé. São a nuvem de
testemunhas que nos ensinam a viver pela fé (12.1).
Cada uma é introduzida por expressões assim: “Pela
fé, Abel”, “Pela fé, Enoque”, “Pela fé, Noé”,
“Pela fé, Abraão”, “Pela fé, também, a própria
Sara”, “Pela fé, Jacó”; e a lista prossegue com
Isaque, Jacó, José e Moisés (11.4, 5, 7, 8, 11, 20,
21, 22, 23). O capítulo prossegue dizendo: “Pela fé,
ruíram as muralhas de Jericó... Pela fé, Raabe, a
meretriz”, seguida de Gideão, Baraque, Sansão,
Jefté, Davi, Samuel e os profetas (vv. 30-32). Todos
esses homens e essas mulheres viveram pela fé.
Com tantas pessoas testemunhando sobre a
importância da vida de fé, também devemos viver
pela fé, correr a carreira da fé. Para o fazermos com
sucesso, “desembaraçando-nos de todo peso e do
pecado que tenazmente nos assedia, corramos,
com perseverança, a carreira que nos está
proposta, olhando firmemente para o Autor e
Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da
alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz,
não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à
destra do trono de Deus” (12.1-2).
O que desejo que você observe é que devemos
desembaraçar-nos “de todo peso e do pecado”. O
que você conclui disso? O peso é diferente do
pecado. Temos de desembaraçar-nos do pecado e
temos de desembaraçar-nos de todo peso. Qual é a
diferença? Para corrermos nessa carreira (no grego,
agon, da qual obtemos nossa palavra “agonia”), essa
exigente e cansativa vida de fé requer determinação,
perseverança e autodisciplina. Para fazermos isso,
temos de lançar fora todo peso, bem como todo
pecado.
A pergunta é esta: o que é “todo peso”? A
palavra grega usada aqui é onkos. Ela significa
apenas “carga”. Ele não se refere a pecado, mas
apenas a carga desnecessária, algo que nos torna
pesados, desvia nossas prioridades, suga nossa
energia e enfraquece nosso entusiasmo pelas coisas
de Deus.
Por exemplo, vamos usar um atleta que vai
competir nos 100 metros rasos em uma categoria
mundial. Digamos que depois de correr nos 100
metros, ele sai e fica bêbado, comete pecados de
dissipação e, depois, tenta correr de novo. Ele
estaria correndo sem desembaraçar-se do pecado.
Ele pecou contra seu corpo e perdeu seu vigor.
Agora, suponhamos que ele treinou perfeitamente
— fez tudo que devia fazer em preparação, estava
no auge da forma física, em seu treino tudo
aconteceu como devia ter acontecido, sua vida moral
estava limpa, ele não desgastou seu corpo e decidiu
competir usando botas de combate e um casaco de
lã. Isso não seria pecaminoso, mas seria bastante
estúpido. Seria uma carga desnecessária.
Deixe de expressar isso em termos simples. É
pecaminoso você sair com sua esposa num sábado à
noite, para um jantar tarde da noite, ter uma grande
refeição, dar uma volta de carro e sentar-se à praia,
de frente para a lua, dizer a sua esposa quanto você
a ama e, depois, chegar em casa às duas horas da
madrugada? Isso é pecaminoso? Não. Algumas
esposas estão dizendo: “Espero que meu esposo faça
isso”. Vamos acrescentar outra dimensão. No
domingo, você tem uma reunião de oração às oito
horas da manhã e tem de ensinar a Palavra de Deus
às oito e meia. Seu jantar não foi pecaminoso, mas
foi uma carga desnecessária que impactará o que
você poderá fazer na manhã seguinte.
Em nossa vida, há algumas coisas que
restringimos pela única razão de que nos farão
diminuir o ritmo em nossa carreira. Essa é a razão
por que a noite de sábado é um tempo muito
sagrado para mim. É um tempo de “fazer nada”.
Posso lembrar quando meus filhos rapazes jogavam
futebol. Posso lembrar as partidas de futebol no
sábado à noite. Eu ia às partidas e me envolvia
completamente naquilo. Eu me envolvo de alguma
maneira, jogando muito e amando o jogo. Assisto
aos jogos de meu filho, e minhas emoções se elevam
ao máximo. Então, você volta para casa e fica
jogando a partida de novo, repetidas vezes, em sua
mente. Há também a possibilidade de que seu filho
se machuque, como aconteceu com Mark certa vez.
Ele quebrou a perna. Partiu o fêmur direito na altura
do joelho. Então, a família vai para o hospital no
meio da noite, e eu tenho de acordar cedo amanhã e
pregar a Palavra de Deus. É muito fácil deixarmos
as emoções e os processos mentais mudarem para o
canal errado.
É claro que não é pecaminoso ver o filho jogar
futebol, a menos que você pense que futebol é um
pecado. Mas a verdade é que você não quer
acrescentar à sua vida carga desnecessária. Você não
precisa embaraçar a si mesmo com essas coisas.
Você quer livrar-se delas.
Há muitos tipos de cargas. Legalismo,
cerimonialismo e desperdício inútil de tempo sugam
as suas energias e estragam as suas prioridades.
Portanto, você deve fazer a si mesmo esta pergunta
simples: isto me fará diminuir o ritmo na carreira
espiritual? Qualquer coisa que prejudica minha
eficácia em servir a Cristo, isso eu não farei.
Chamemos a este princípio de princípio de excesso.

ESCRAVIDÃO: ISTO ME COLOCARÁ EM


ESCRAVIDÃO?

Paulo disse: “Todas as coisas me são lícitas,


mas nem todas convêm. Todas as coisas me são
lícitas, mas eu não me deixarei dominar por
nenhuma delas” (1Co 6.12). Em outras palavras, eu
não serei colocado debaixo do poder de qualquer
coisa — não permitirei que alguma coisa me
domine.
Nunca devemos permitir que uma coisa não-
moral se torne nosso senhor; especialmente quando
consideramos o que diz o Salmo 8: “Que é o
homem, que dele te lembres...? Fizeste-o, no
entanto, por um pouco, menor do que Deus e de
glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio
sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe
puseste: ovelhas e bois, todos, e também os
animais do campo; as aves do céu, e os peixes do
mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares”
(vv. 4-9). Entretanto, não é impressionante que
muitos entregam sua soberania a coisas
insignificantes? Quantos homens se tornaram tolos
completos porque não podem controlar o que
procede da vinha? Quantas pessoas acabaram
mortas porque não conseguiram resolver o problema
do tabaco? Quantas pessoas levam vidas totalmente
governadas por uma televisão, que é um conjuntos
de fios conectados a uma caixa que o homem
inventou? Agora, a televisão é rei, é soberano, e o
homem é nada mais do que um escravo da televisão.
As drogas, que foram descobertas pelo homem para
o benefício daqueles que necessitam delas, se
tornaram o senhor de muitos homens e muitas
mulheres.
Há muitas coisas procedentes da criação que
podem escravizar-nos, coisas que Deus planejou que
fossem governadas por nós. Portanto, pergunto a
mim mesmo: isto me colocará em escravidão?
Lembro-me de um pregador que servia como
evangelista e que, finalmente, teve de deixar seu
ministério porque estava tão envolvido em perder
dinheiro jogando golfe que, literalmente, faliu a si
mesmo. Ele chegou a ponto de estar jogando por
trezentos ou quatrocentos dólares um buraco, em
uma partida de golfe. Há muitas pessoas neste
mundo que são controladas por uma pequena bola.
Há certas coisas que têm inerentes em si a
possibilidade de tomar controle de uma pessoa. Vejo
isso acontecer com certos tipos de música. Alguns
jovens são dominados pela música. Há pessoas que
ficam paralisadas se chegam em casa e não podem
ver sua novela preferida. Tantas coisas podem nos
colocar em escravidão. Chamemos este princípio de
princípio da escravidão. Então, você deve
perguntar: isto me colocará em servidão? Isto tem o
potencial de tornar-me seu servo?

EQUÍVOCO: ISTO ENCOBRIRÁ


HIPOCRITAMENTE O MEU PECADO?
Estou fazendo algo em nome da liberdade
quando a verdade é que estou realmente
satisfazendo o meu próprio mal? Talvez você diga:
“Sou livre em Cristo, por isso desfruto destas
coisas”. Você é livre, mas está encobrindo sua
própria concupiscência ou seus desejos maus. Um
homem que vai assistir a filmes e justifica sua
participação dizendo que é livre em Cristo para
assistir aos filmes, certamente é livre para fazer isso.
Mas, se ele vai ao cinema tendo em seu coração o
propósito de satisfazer seus desejos maus com o que
vê no filme, está usando a liberdade somente para
disfarçar seu próprio mal.
O apóstolo Pedro disse: “Não usando, todavia,
a liberdade por pretexto da malícia” (1Pe 2.16).
Em outras palavras, não ponha um véu sobre o seu
mau intento, seja honesto consigo mesmo. Pergunte
a si mesmo: isto é realmente algo que me beneficia
espiritualmente e me traz proveito espiritual? Isto é
algo que me edifica? É útil? É algo que não me
colocará em escravidão ou estou encobrindo meu
desejo mau?
Os jovens dizem: “A Bíblia não diz você não
deve dançar. Davi dançou diante do Senhor”. Bem,
ele não dançou aquilo que as pessoas dançam hoje.
O que está errado com o dançar? Pergunte a si
mesmo: estou defendendo o dançar porque sei que
isso me edificará espiritualmente, porque sei que isso
é não uma carga desnecessária, é muito importante
ao meu progresso espiritual, e o dançar não pode me
escravizar? Ou quero dançar por causa de meu
próprio desejo carnal? Você precisa sondar o motivo
e fazer a pergunta certa.
Gálatas 5.13 diz que é muito comum tornar a
liberdade em licenciosidade. Chamemos este
princípio de princípio do equívoco. Isso significa
“mentir ou falsificar”. Muitas pessoas falsificam seus
motivos para encobrir seus maus intentos. O homem
que diz: “Deus fez os cavalos. Sou livre para ir à
corrida de cavalos de Santa Anita. Vou lá e desfruto
o que Deus criou. Os cavalos correm, e eu louvo o
Senhor”. No entanto, durante todo aquele dia, esse
homem perde dinheiro em apostas. O que temos,
nesse caso, é um disfarce de liberdade encobrindo
uma intenção perversa (apostar dinheiro), que
equivale a tomarmos os bens que Deus nos confiou
e os desperdiçarmos. Então, precisamos perguntar a
nós mesmos: isto encobrirá hipocritamente o meu
pecado. Isso é o princípio do equívoco. Estou
falsificando um verdadeiro motivo?

USURPAÇÃO: ISTO VIOLARÁ O SENHORIO


DE CRISTO SOBRE A MINHA VIDA?
Considere, agora, este pensamento básico: todo
cristão deve viver em submissão ao senhorio de
Cristo. Você entende isso? Então, você entende o
segundo ensino: nem todos nós concordamos 100%
quanto ao que Senhor deseja que façamos? Alguns
acham que o Senhor lhes diz que não devem fazer
certa coisa, enquanto outros acham que ele lhes diz
que devem fazê-la. O que alguns acham que o
Senhor julga ser pecado, outros acham que tal coisa
não é pecado.
Nem todos nós concordamos no que diz
respeito ao que o Senhor quer que façamos.
Algumas pessoas acham que o Senhor quer que
você leia a Bíblia todas as manhãs de sua vida; e, se
você não faz isso, está pecando contra Deus.
Algumas pessoas acreditam que, se você não vai à
igreja no domingo de manhã, no domingo à noite e
na reunião de oração da quarta-feira à noite, você
falhou espiritualmente. Outras pessoas não se
sentem obrigadas, em suas consciências, a fazerem
isso. Irão à igreja no domingo de manhã e no
domingo à noite, mas, se vão à igreja na quarta-feira
à noite, isso é uma questão de conveniência. Há
algumas pessoas que querem ler a Palavra tão
frequentemente quanto puderem, mas não se
sentem, em sua consciência, obrigados a lê-la cada
manhã de toda a sua vida.
Há pessoas que seguem de maneiras diferentes
o senhorio de Cristo. Romanos 14.2 diz: “Um crê
que de tudo pode comer, mas o débil come
legumes”. Algumas pessoas são vegetarianas —
creem que o Senhor quer que elas comam somente
legumes. Mas outras dizem: “Você pode comer tudo
que quiser”. “Quem come não despreze o que não
come; e o que não come não julgue o que come,
porque Deus o acolheu. Quem és tu que julgas o
servo alheio? Para o seu próprio senhor está em
pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é
poderoso para o suster. Um faz diferença entre dia
e dia” (vv. 3-5). Essa é uma pessoa que quer
guardar o domingo — fazer algo especial do
domingo. “Outro julga iguais todos os dias. Cada
um tenha opinião bem definida em sua própria
mente. Quem distingue entre dia e dia para o
Senhor o faz” (vv. 5-6). Aquele que não observa o
domingo também o faz para o Senhor, porque crê
que o Senhor é o Senhor de todos os dias. “Quem
come para o Senhor come, porque dá graças a
Deus; e quem não come para o Senhor não come e
dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para
si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos,
para o Senhor vivemos; se morremos, para o
Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou
morramos, somos do Senhor” (vv. 6-8). Em outras
palavras, quaisquer que sejam as restrições que
existam na vida de um cristão, ele as pratica porque
crê que isso é o que o Senhor quer.
Visto que você crê nisso, faça-o ou não o faça.
Pergunte a si mesmo: isto é algo que creio que o
Senhor deseja que eu faça? Isso é uma questão de
consciência. Você diz: “E se a minha consciência
estiver errada?” Não viole a sua consciência. Sua
consciência reage à mente. E, em sua mente, se você
crê que algo é certo, sua consciência o impelirá ou o
deterá. A consciência é apenas o volante, a mente é
o motor. O motor produz a ação, o volante regula o
comportamento. A consciência toma o que é
pecado, na mente, utiliza o volante, por assim dizer,
e gera o comportamento. Se você viola sua
consciência, treinará a si mesmo para fazer coisas
más. À medida que sua mente cresce em entender
melhor o que é certo, você amadurecerá no Senhor.
Mas, se você treina a si mesmo em violar a sua
consciência, esta não o ajudará de modo algum.
Portanto, não treine a si mesmo em violar sua
consciência. Pergunte a si mesmo: isto violará meu
entendimento do senhorio de Cristo?
Algum irmão pode vir até você e dizer-lhe: “Vá
em frente, você pode fazer isso. Você é livre. Isso
não é errado”. Mas, se isso viola sua consciência,
não o faça. Não treine a si mesmo em ignorar sua
consciência. Paulo disse que nunca faria qualquer
coisa contra a sua consciência. Ele não queria
marcar a sua consciência com cicatrizes, de modo
que ela se tornasse insensível (cf. 2Co 1.12; 4.2;
1Tm 4.2). Se uma pessoa quer ficar deitado no sofá,
e essa é a sua maneira de guardar o domingo, não a
importune a respeito disso. Não a repreenda.
Nunca esquecerei a mais clássica ilustração que
meu pai compartilhou comigo. Ele estava em
Michigan, em um avivamento. Em um domingo à
noite, a primeira noite da semana de avivamento, o
pastor lhe perguntou após o culto: “O que você fará
amanhã?”
Meu pai respondeu: “Acho que levantarei de
manhã e irei jogar golfe. Depois, à tarde, poderemos
fazer alguma visita”.
O pastor disse: “Golfe? Durante um
avivamento? Você não está comprometido com a
obra de Deus? Você veio aqui para jogar ou para
ministrar?”
Meu pai disse: “Um pouco de ambas as coisas.
De fato, gostaria que você viesse e tivéssemos
alguma comunhão pela manhã e nos
familiarizássemos”.
O pastor respondeu: “Nunca. Comprometi-me
por toda a semana com a oração e o avivamento”.
Meu pai lhe disse: “Acho que seria ótimo se
você viesse. O líder de louvor virá. E seria ótimo se
você viesse também”.
“Não, nunca faria isso. Eu nunca faria isso.”
Bem, na segunda-feira de manhã meu pai e o
líder de louvor estavam no campo de golfe. E
imagine quem apareceu lá? O pastor relutante. Ele
disse: “Eu farei isto, mas sei que não devo fazê-lo.
Eu o farei por questão de hospitalidade, mas sei que
não é certo”.
Então, eles bateram a bola para o primeiro
buraco. Estavam na metade do caminho entre os
buracos, quando alguém gritou: “Cuidado com a
bola!” O pastor olhou para cima e perdeu dois
dentes. Meu pai disse que ele caiu próximo a uma
árvore, dizendo: “Eu sabia. Eu sabia”. Se, antes
disso, ele já acreditava que era errado jogar golfe
numa segunda-feira pela manhã durante uma
semana de avivamento, você pode ter certeza que
depois disso ele acreditava ainda mais que aquilo era
errado. Por violar sua consciência naquela ocasião,
ele se aprofundou ainda mais em sua falta de
liberdade, em sua servidão. Ele interpretou seu
ferimento como um juízo de Deus. E, para ele, pode
ter sido mesmo. Deus não quer que nenhum crente
viole sua consciência. Por isso, não queremos fazer
coisas que possam levar pessoas a ignorar o senhorio
de Cristo, o qual elas percebem vir por meio de sua
consciência. Chamemos este princípio de princípio
de usurpação. Isso significa que você está
usurpando a soberania de Cristo sobre a vida de
alguém.
Se escolho fazer algo, isso tem de se encaixar
no que creio ser a vontade de Cristo, meu Senhor.
Não quero violar isso. Violar isso em minha mente
seria tomar o controle de minha vida, usurpar o
senhorio de Cristo. Não quero fazer isso. Isso é
usurpação.

EXEMPLO: POR SEU EXEMPLO, ISTO


AJUDARÁ OUTROS CRISTÃOS?

Temos verdadeiramente de governar nossa vida


pelos sentimentos que causamos nos outros cristãos?
Em 1Coríntios 8.9-11, Paulo disse: “Vede, porém,
que esta vossa liberdade não venha, de algum
modo, a ser tropeço para os fracos. Porque, se
alguém te vir a ti, que és dotado de saber, à mesa,
em templo de ídolo, não será a consciência do que
é fraco induzida a participar de comidas
sacrificadas a ídolos? E assim, por causa do teu
saber, perece o irmão fraco”. Por seguir o seu
exemplo, o irmão fraco viola e fere a sua
consciência fraca. Assim, você peca contra ele e
contra Cristo. Não faça isso.
Em 1Coríntios 9.1-18, Paulo disse que, embora
tivesse o direito de ser pago por realizar seu
ministério, ele escolhia não ser pago, porque não
queria ofender ninguém. Romanos 14.13-18 ensina
basicamente que você não deve colocar uma pedra
de tropeço ou uma ocasião de queda no caminho de
seu irmão. Se o seu irmão se entristece por causa do
que você escolhe comer, mude a sua comida.
“Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também
as da edificação de uns para com os outros. Não
destruas a obra de Deus por causa da comida... É
bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer
qualquer outra coisa com que teu irmão venha a
tropeçar [ou se ofender ou se enfraquecer]” (vv.
19-21).
Estava voando de volta para casa, vindo de
Charlotte (Carolina do Norte), quando uma
aeromoça, passando pelo corredor, perguntou-me se
gostaria de tomar champanhe em meu café da
manhã. Gosto de suco de laranja e nunca havia
tomado champanhe. Mas o pensamento penetrou
minha mente: qual será o gosto de champanhe? Eu
respondi à aeromoça: não, não quero champanhe.
Ela continuou seguindo pelo corredor.
Pouco depois, levantei-me para esticar o corpo.
Enquanto fiquei de pé no corredor, um homem que
estava na segunda fila atrás de mim veio e disse: “Eu
o conheço. Você é John MacArthur”. Eu respondi:
sim! Ele disse: “Oh! É maravilhoso encontrá-lo.
Estou estudando para o ministério e adquiri suas
mensagens em fitas cassetes”. E continuou dando o
seu maravilhoso testemunho. Ele era de Samoa e
estava levando todos os nossos cassetes para Samoa.
Ora, pouco antes desse encontro, houve aquela
oferta de ter champanhe no meu café da manhã.
Isso me lembrou como podemos saber que estamos
sendo observados e como podemos não saber que
estamos sendo observados. O padrão de sua vida é o
que estabelece o exemplo. É tão maravilhoso ser
capaz de limitar sua liberdade e saber que isso
fortalecerá alguém. De fato, ele comentou que
estivera me vendo durante todo o voo e esperando
por uma oportunidade para falar comigo. Portanto,
aquilo foi para mim um excelente lembrete do fato
de que pessoas estão sempre observando.
Temos de perguntar a nós mesmos: por seu
exemplo, isto ajudará outros cristãos? Estou fazendo
algo que estabelece um exemplo para eles? Até as
pequenas coisas em sua vida: a disciplina de sua
vida, o fato de que você cumpre sua dieta ou separa
certo tempo para estudar, dizem muito às pessoas
que estão buscando padrões para seguir. Quero que
cristãos mais fracos sigam meu padrão? Chamemos
este princípio de princípio do exemplo.
O que temos visto até aqui? Temos considerado
os princípios da conveniência, edificação, excesso,
escravidão, equívoco, usurpação e exemplo.
Vejamos o oitavo princípio.

EVANGELIZAÇÃO: ISTO LEVARÁ OUTROS A


CRISTO?
Eles verão alguma diferença em minha vida?
Permita-me apresentar uma ilustração clássica de 1
Coríntios 10 — é bastante prática. Eis a cena: há
dois cristãos. Um é bem forte, um cristão maduro.
Ele pode comer carne oferecida a ídolos sem violar
sua consciência, porque sabe que o ensino de 1
Coríntios 8.4 é verdadeiro, ou seja, que um ídolo
não é nada.
Qual era o problema? As pessoas que
adoravam ídolos iriam a algum grande templo e
levariam sua oferta, que era alguma comida, e a
colocariam sobre o altar. Ora, elas sabiam que
nenhum ídolo comeria a oferta — ela apenas ficava
sobre o altar. Então, depois de ficar ali por algum
tempo, e centenas de pessoas continuariam trazendo
comida, os sacerdotes tirariam a oferta e
conservariam o que desejavam comer. Mas não
podiam comer tudo, porque havia menos sacerdotes
do que pessoas trazendo ofertas. Todavia, no lado
detrás do templo, eles mantinham um negócio
paralelo: o açougue do templo. O que não queriam
eles vendiam a um bom preço na rua, porque não
havia valor acrescentado ao preço de custo —
haviam-no obtido por nada. Portanto, se você queria
comprar carne barata, compraria no açougue do
templo. Isso faz sentido. Sua esposa compraria lá, e
a minha também.
Ora, um crente maduro que reconhece que um
ídolo é nada não se perturbaria com o fato de que a
comida fora antes oferecida a um ídolo morto. Mas,
suponha que ele saísse para um jantar com um
cristão recém-convertido da mesma idolatria. Esse
recém-convertido ainda tem em sua mente a
idolatria pagã, a adoração imoral, as orgias, as
prostituas do templo, todo o cenário horrendo,
grosseiro, imoral. Se fosse informado de que a carne
que ele estava prestes a comer era oferecida àquele
ídolo, isso o deixaria chocado. Não poderia comer
aquilo. Ele era um irmão mais fraco que não
entendia sua liberdade, mas nós entendemos do que
ele acabou de sair.
Agora, suponha que os dois, o forte e o fraco,
têm um amigo em comum que é incrédulo. Eles
querem ganhá-lo para o Senhor. O amigo incrédulo
convida os dois crentes para um jantar. Essa é ideia
do versículo 27: “Se algum dentre os incrédulos
vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que
for posto diante de vós, sem nada perguntardes por
motivo de consciência”.
Mas, o que acontece quando o anfitrião diz a
vocês dois que está servindo carne sacrificada ao
ídolo no templo? Suponha que o anfitrião sai da sala
para pegar o resto da refeição, o que acontecerá na
conversa? O crente forte está em um dilema. O
crente fraco lhe diz: “Não posso comer isso”. O
crente forte lhe diz: “Mas, se você não comer,
ofenderá o homem que estamos tentando
evangelizar”. Se prosseguem, comem a refeição e
não ofendem o homem que estão tentando
evangelizar, o irmão forte ofende seu irmão mais
fraco e o faz tropeçar. Portanto, o dilema é: você
ofende um irmão mais fraco ou ofende um
incrédulo? O que diz o versículo 28? “Porém, se
alguém vos disser: Isto é coisa sacrificada a ídolo,
não comais, por causa daquele que vos advertiu e
por causa da consciência”.
Isso significa que, se você está tentando
evangelizar um incrédulo, é melhor você ofender o
incrédulo do que ofender seu irmão em Cristo? Sim.
Se você ofendesse seu irmão em Cristo, o incrédulo
poderia dizer: “É melhor ser um incrédulo do que
um crente. Eles ofendem um ao outro. Eles não me
ofendem, por isso ficarei onde estou”. Quando você
ofende um incrédulo, assegure-se de dizer-lhe: “Esta
carne oferecida a ídolos ofenderia tanto a meu irmão
em Cristo, que não posso comê-la por amor a ele”.
Esse incrédulo pensará duas vezes sobre o que viu:
“Há um amor fraternal que eu gostaria de
experimentar”. A atração de seu amor pode ser o
maior testemunho que você dará na evangelização.
Pergunto a mim mesmo: isto levará alguém a
Cristo? Quando restrinjo minha liberdade, faço isso
tendo em vista ganhar alguém para Cristo? Estou lhe
mostrando uma vida diferente, lhe mostrando algo
que ele não vê em seu mundo — pureza,
honestidade, amor e integridade? Romanos 14.18
diz: “Aquele que deste modo serve a Cristo é
agradável a Deus e aprovado pelos homens”. Esse
é o princípio da evangelização. Quando faço isso,
isso está melhorando a minha oportunidade de
evangelização?
IMITAÇÃO: ISTO É COERENTE COM A
SEMELHANÇA DE CRISTO?
Em outras palavras, Jesus o faria? Jesus diria
isso? Na maioria das vezes, sabemos que Jesus não
teria dito o que eu disse ou não teria feito o que eu
fiz. Se eu perguntasse isso a mim mesmo antes de
fazer ou dizer algo, e não depois, preveniria coisas
que eu desejava não ter feito ou dito. Jesus faria
isso? Essa pergunta ajudará você em muitas
decisões. Chamamos isso de princípio da imitação.
Queremos imitar a Cristo. O apóstolo João disse:
“Aquele que diz que permanece nele, esse deve
também andar assim como ele andou” (1Jo 2.6).
Se você diz que pertence a Cristo, deve viver como
Cristo viveu.
Por isso, pergunto a mim mesmo: Jesus faria
isto? Isto é coerente com ele — com a sua
semelhança? Essa é uma pergunta estimulante.
EXALTAÇÃO: ISTO GLORIFICARÁ A DEUS?

Em 1 Coríntios 10.31, lemos: “Portanto, quer


comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer,
fazei tudo para a glória de Deus”. Esse é o
princípio que abrangente tudo. Isto glorificará a
Deus? Vamos chamá-lo de princípio da exaltação. A
minha vida glorificará a Deus? O que eu faço
exaltará a Deus? Isto engrandecerá o nome santo de
Deus? Isto o honrará? Isto adornará a doutrina de
Deus em minha vida? Deus será glorificado,
honrado e louvado como resultado disto? Esse é o
princípio da exaltação.
Agora, você está pronto para a conclusão? O
que você observa nestes princípios? Eles tomam
algo que é muito difícil e o tornam fácil. O ensino é
que podemos tornar fáceis decisões difíceis se
usarmos estes princípios. Isto será espiritualmente
proveitoso? Isto me edificará? Diminuirá o meu
ritmo na carreira cristã? Isto me colocará em
escravidão? Será apenas uma cobertura para o meu
pecado? Substituirá o senhorio de Cristo em minha
vida? Estabelecerá um exemplo para os outros?
Levará outros a Cristo? Isto me fará mais
semelhante a Cristo? Isto glorificará a Deus?
8

A MORTE DE JESUS NOS


MOSTRA COMO VIVER:
As sete afirmações de Jesus na
cruz

1 Pedro 2.21
26 de março de 1989

Esta mensagem foi pregada no domingo de


Páscoa. É uma das poucas mensagens de Páscoa
nas quais John MacArthur focalizou mais a
crucificação do que a ressurreição. No entanto,
esta mensagem está cheia da esperança da
ressurreição. E termina com uma admoestação
sobre a importância prática do poder da
ressurreição de Cristo na vida diária do crente.
Esta mensagem examina as sete afirmações de
Cristo na cruz. Cada afirmação tem uma aplicação
prática para nós, crentes. É uma consideração
impressionante e comovente da mensagem
poderosa proclamada por um Cristo quase
silencioso na cruz.
Dois dias antes deste sermão ser pregado, o
Exxon Valdez encalhou na Enseada do Príncipe
William, no Alasca, derramando aproximadamente
250.000 barris de petróleo no mar. A limpeza
removeu em um ano quase todos os traços do
derramamento de petróleo. Mas os cientistas
acreditam agora que alguns dos métodos
empregados no grande esforço de limpeza,
especialmente a lavagem da costa com água quente
em alta pressão, causou mais danos ecológicos
duradouros do que o próprio derramamento, por
matar o plâncton e outros organismos microbianos
que são a base da cadeia alimentar da região.
Uma equipe de cientistas que estudou a região 19
anos depois afirmou que talvez sejam necessários
outros dez anos ou mais para que os habitats
severamente afetados pelos esforços de limpeza
retornem ao estado normal.
Essa história, é claro, dominou os meios de
comunicação seculares durante a semana da
Páscoa, em 1989. Como sempre, o foco da
mensagem de John MacArthur é atemporal,
ignorando a histeria e a agitação comumente
associada aos eventos correntes. Olhando para
trás e lembrando o desastre do Exxon Valdez,
parece quase irônico que toda a história seja uma
ilustração adequada da futilidade da auto-reforma
e da necessidade da graça divina para limpar o
pecado.

Q Quero chamar sua atenção a 1 Pedro 2.21, que


diz: “Porquanto para isto mesmo fostes chamados,
pois que também Cristo sofreu em vosso lugar,
deixando-vos exemplo para seguirdes os seus
passos”.
Muitos entendem que a vida de Cristo é um
exemplo que os cristãos devem seguir. Mas suponho
que muitas pessoas não querem admitir que a morte
de Cristo é um exemplo; todavia, isso é exatamente
o que Pedro diz — Cristo, em sofrer e morrer, nos
deixou o exemplo que devemos seguir. A Bíblia nos
diz que Cristo era o homem perfeito — nascido sem
pecado, não cometeu pecados, era santo, inocente,
puro e separado dos pecadores. Em sua vida, ele é
nosso exemplo perfeito. Devemos ser santos como
ele foi santo, puros como ele foi puro, amáveis
como ele foi amável, sábios como ele foi sábio e
humildes como ele foi humilde. Cristo foi obediente
a Deus, e devemos imitar seu exemplo. Nosso
serviço deve ser semelhante ao dele, e nossa atitude
para com o mundo deve refletir a atitude dele para
com o mundo. Entendemos que a vida de Cristo foi
uma vida exemplar. Poucas pessoas contestariam
isso.
Mas o assunto que temos diante de nós em 1
Pedro 2.21 é que Cristo é nosso exemplo não
somente na maneira como ele viveu, mas também
em sua morte. Frequentemente, aprendemos mais
sobre o caráter de uma pessoa pela maneira como
ela morreu do que pela maneira como ela viveu.
A revelação mais verdadeira sobre nós mesmos
ocorre geralmente no tempo da mais profunda
provação. A provação revela o caráter; a adversidade
revela a virtude — ou a falta de virtude. Com
frequência, quanto maior o problema, tanto mais
pura a revelação do que somos verdadeiramente.
Acho que não conheço, de fato, uma pessoa se a
conheço apenas durante os tempos de tranquilidade.
São os tempos de provação que revelam o caráter.
Também é verdade que achamos a mais pura e
verdadeira revelação do caráter de Jesus Cristo no
tempo de sua maior provação. Vemos que Jesus —
em seu momento de morte — foi tão perfeito
quanto o foi durante sua vida. Sua morte confirma o
caráter perfeito que ele manifestou em seu viver.
Em sua morte, Jesus nos ensina como viver.
Olhamos frequentemente para seu momento de
morte e observamos que ela ilustra a seriedade do
pecado e a necessidade de um Salvador para pagar o
preço por nossa iniquidade. Reconhecemos que, por
ser sua morte vicária, Cristo morreu em nosso lugar.
Mas Pedro disse que há muito mais do que isso na
cruz. Jesus morreu não somente por nós, mas
também como um exemplo para nós. Ele morreu
para nos mostrar como viver.
Como você pode saber algo a respeito de
Cristo em sua morte? Como o caráter de Cristo é
revelado? Não podia ser revelado pelo que ele fez
— ele estava pregado numa cruz e incapaz de fazer
alguma coisa. Não podia nos ser revelado por algo
que ele pensou, porque não podíamos ler os
pensamentos dele. O caráter de Cristo foi revelado
em sua morte pelo que ele disse. Desde os seus
primeiros anos, a igreja tem celebrado a morte e a
ressurreição de Cristo por lembrar suas últimas sete
afirmações na cruz. O que ele disse, ao morrer, se
torna princípios de vida.

A PRIMEIRA AFIRMAÇÃO — PERDOE OS


OUTROS

Em Lucas 23.34, lemos que Jesus disse: “Pai,


perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Cristo morreu perdoando aqueles que pecaram
contra ele. Esse é um princípio pelo qual devemos
viver. Em sua morte, Jesus revelou seu coração
perdoador, mesmo depois de uma vida toda
experimentando o pior tratamento da humanidade.
Cristo fez o mundo e veio ao mundo, mas o mundo
não o reconheceu. Olhos cegos pelo pecado não o
quiseram e não viram beleza nele. O nascimento de
Cristo num estábulo prenunciava o tratamento que
ele receberia da humanidade durante toda a sua
vida. Pouco depois do seu nascimento, o rei
Herodes tentou matá-lo, e isso foi apenas o começo
da hostilidade permanente dos homens para com
Cristo. Repetidas vezes, os seus inimigos buscaram a
sua destruição. A traição ímpia dos inimigos de
Cristo atingiu seu clímax na cruz. O Filho de Deus
se entregou às mãos deles, que estavam no processo
de executá-lo.
O perdão de Cristo para seus executores veio
depois de um julgamento zombeteiro, de acusações
forjadas. O juiz admitiu que não achou culpa em
Jesus, mas o usou para apaziguar uma multidão
vociferante. Visto que uma morte comum não
satisfaria os inimigos implacáveis de Jesus, eles se
asseguraram de que ele sofresse a morte mais
dolorosa, intensa e vergonhosa que podia ser
imaginada — a morte de crucificação.
O perdão de Cristo veio quando ele estava
pendurado na cruz, a vítima (numa perspectiva
humana) do ódio, animosidade, amargura, vingança
e impiedade vil de homens e demônios. De um
ponto de vista humano, esperaríamos que ele
clamasse a Deus por piedade ou levantasse o punho
contra Deus por causa de sua execução injusta. Se
escrevêssemos a história, nós o mostraríamos
proferindo maldições e ameaças de vingança sobre
os seus inimigos. Mas o Filho de Deus não fez nada
disso.
A primeira coisa que ele fez foi uma oração —
uma oração pedindo a Deus que perdoasse aqueles
que lhe tiravam a vida. E, por trás de sua oração,
havia um entendimento da perversidade do coração
humano: “Porque não sabem o que fazem” (v. 34).
Jesus entendia a pecaminosidade dos homens e a
cegueira do coração humano. Estava profundamente
consciente da ignorância da depravação. Ele sabia
que os executores não conheciam a identidade de
sua vítima, nem a enormidade de seu crime. Os
executores não sabiam que estavam matando o
Príncipe da Vida, o seu Criador. Eles não sabiam
que estavam matando o Messias.
Os executores de Cristo precisavam de perdão.
A única maneira pela qual poderiam ser introduzidos
na presença de um Deus santo e experimentar a
alegria que Deus outorga a quem está em comunhão
com ele era que os pecados deles fossem perdoados.
Cristo orou em favor da mais profunda necessidade
de seus assassinos. Ele se mostrou mais preocupado
com que seus assassinos ímpios fossem perdoados
do que com buscar vingança. Esse é o coração
longânimo de Cristo. Essa é a mais verdadeira
revelação de um coração puro, de um coração puro
que não busca vingança. Ele, “quando ultrajado,
não revidava com ultraje; quando maltratado, não
fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga
retamente” (1Pe 2.23).
O perdão é a maior necessidade do homem. É
a única maneira pela qual podemos entrar em
comunhão com Deus e evitar o inferno. Foi por essa
razão que Jesus orou por perdão. Precisamos
reconhecer que, sem Cristo, somos pecadores,
estamos despreparados para a presença de um Deus
santo. Ideais nobres, boas resoluções e regras de
vida excelentes são inúteis, se não resolvermos o
problema do pecado. É inútil tentar desenvolver um
bom caráter e almejar fazer aquilo que receberá a
aprovação de Deus, enquanto há pecado entre você
e Deus. Seria o mesmo que adaptar sapatos para pés
paralíticos e comprar óculos para olhos cegos.
A questão do perdão dos pecados é a mais
fundamental de todas. Não importa que eu seja
altamente respeitado no círculo de meus amigos, se
ainda estou em meus pecados. Não importa que
tenha atingido certo nível de bondade humana, se
ainda estou em meus pecados. Jesus entendia a
profunda necessidade do homem. Entendia que a
única maneira pela qual o homem pode escapar do
inferno e conhecer a bênção era que seus pecados
fossem perdoados. Não importava a Jesus se o
pecado que ele estava procurando perdoar era o
pecado de matá-lo.
Os cristãos devem se preocupar mais com o
perdão de Deus para aqueles que pecam contra eles
do que com a vingança. Estêvão, quando estava
sendo apedrejado até à morte, por pregar a Cristo,
orou: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (At
7.60). Ele seguiu o exemplo do Senhor. Devemos
fazer o mesmo.

A SEGUNDA AFIRMAÇÃO — ALCANCE


OUTROS

Em Lucas 23.43, lemos que Jesus disse: “Em


verdade te digo que hoje estarás comigo no
paraíso”. Dois ladrões foram crucificados ao lado
de Cristo — um, à sua direita; o outro, à sua
esquerda. Em resposta ao pedido de um dos ladrões
— “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu
reino” (Lc 23.42) –, ele respondeu: “Em verdade te
digo que hoje estarás comigo no paraíso”. Nosso
Senhor morreu trazendo a verdade da vida eterna a
uma alma condenada.
É difícil imaginarmos como Cristo, pendurado
na cruz, sentindo o ódio venenoso de seus
perseguidores e carregando a punição de todos os
que creriam nele, através dos séculos, podia estar ao
mesmo tempo interessado na salvação de um único
pecador. Mas ele estava. Cristo nunca esteve
preocupado demais para que não se interessasse em
levar alguém à salvação. O compromisso de sua vida
era trazer homens e mulheres a Deus.
A conversão daquele ladrão tanto é notável
como dramática. Naquele momento, o que era tão
convincente a respeito de Jesus? Não havia nenhum
sinal exterior de que ele era o Cristo de Deus, o
Salvador do mundo, o Messias, o Rei que devia vir.
De uma perspectiva humana, ele era apenas uma
vítima. Estava morrendo porque tinha sido
totalmente rejeitado. No momento da conversão do
ladrão, ninguém estava dizendo: “Eis o Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29).
Não havia ninguém para dizer que Jesus era o Filho
de Deus — até seus amigos o haviam abandonado.
Ele estava fraco, em desgraça, em uma posição de
vergonha extrema. Sua crucificação teria sido
considerada totalmente incoerente com qualquer
coisa relacionada ao Messias. Sua condição humilde
era uma pedra de tropeço para os judeus desde o
início, e as circunstâncias de sua morte podia
somente intensificar isso. De fato, o ladrão fala com
Cristo, e Cristo fala com ele antes que ocorra
qualquer fenômeno sobrenatural que poderia
convencê-lo de que aquilo era obra de Deus. A terra
ainda não tremera (Mt 27.51), as trevas ainda não
tinham vindo (Mc 15.33), os sepulcros ainda não
tinham sido abertos (Mt 27.52), e o centurião ainda
não dissera: “Verdadeiramente este era Filho de
Deus” (Mt 27.54).
Nas circunstâncias mais desfavoráveis e mais
inconvincentes, o ladrão foi convencido de que
Jesus Cristo era o Salvador. Embora, a princípio, o
ladrão tenha se unido a seu companheiro em zombar
de Cristo (Mt 27.38, 44), é óbvio que ele teve uma
mudança de coração e repreendeu o outro ladrão
por afirmar a impecabilidade de Cristo (Lc 23.40-
41). Ao pedir a Jesus que se lembrasse dele, o
ladrão estava pedindo perdão. Portanto, ele
entendeu a impecabilidade de Cristo e sua identidade
como Salvador. O seu pedido de que Cristo se
lembrasse dele quando viesse no reino mostra que o
ladrão afirmou a ressurreição e a segunda vinda de
Cristo — ele sabia que a morte não era o fim. O
pedido também indicou que ele entendeu a
soberania de Cristo — tudo isso foi afirmado
debaixo das mais improváveis das circunstâncias.
Como foi possível o ladrão ir a Cristo nessas
circunstâncias? Eis aqui a mais clara ilustração de
que a salvação não é uma obra de homem, e sim a
obra soberana de Deus. Deus — e não a
circunstância — moveu o coração do ladrão para
convencê-lo da verdade sobre Jesus Cristo.
Muito frequentemente, os cristãos professos
tentam explicar a salvação por meio da
engenhosidade, da influência e da instrumentalidade
humana, ou por apontarem para circunstâncias
favoráveis, em vez de atribuírem a salvação à
incomparável graça de Deus. Alguns acham que a
salvação acontece porque o pregador falou bem ou
porque foi um resultado direto de oração. Mas,
embora a salvação possa resultar indiretamente
desses fatores, ela é o resultado direto da graça
interveniente de Deus.
Quando Deus dissipou as trevas do coração
daquele ladrão, ele creu. Mas a salvação aconteceu
por meio de Cristo, que se mostrou sensível a ser
usado por Deus para trazer à salvação uma alma
condenada.
O desejo de Cristo pela salvação de pecadores
era constante. Ele veio buscar e salvar o perdido (Lc
19.10). Paulo escreveu: “Cristo Jesus veio ao
mundo para salvar os pecadores” (1Tm 1.15). Ele
fez isso até quando estava morrendo na cruz. Ele é
nosso exemplo de alcançar os outros com a verdade
do evangelho. Cristo morreu perdoando aqueles que
pecaram contra ele e morreu trazendo da vida eterna
a uma alma condenada. É assim que devemos viver.

A TERCEIRA AFIRMAÇÃO — ATENDA ÀS


NECESSIDADES DE OUTROS

João 19.26-27 diz: “Mulher, eis aí teu filho...


Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe”. Jesus
expressou amor altruísta. De pé, em frente à cruz,
permanecia um grupo de cinco pessoas bem
diferentes da multidão escarnecedora. Juntamente
com o apóstolo João, estava Maria, a mãe de nosso
Senhor, que experimentava toda a força da profecia
de Simeão, proferida muitos anos antes, anunciando
que a alma de Maria seria traspassada por causa de
Jesus (Lc 2.34-35). Presa, por amor, à cruz de seu
filho, Maria estava sofrendo em silêncio. Ao seu
lado, estava Salomé — talvez sua irmã, a mãe de
Tiago e João. Havia também Maria, a esposa de
Clopas, e Maria Madalena, da qual Jesus expelira
demônios (Mc 15.40; Lc 8.2-3; Jo 19.25). Parece
conveniente que o nome Maria signifique
“amargura” em hebraico.
Os romanos crucificavam as pessoas próximas
ao solo. Portanto, é razoável supor que João e Maria
podiam ter tocado em Jesus — talvez fizeram isso.
Podiam chegar tão perto, que o ouviriam falar
brandamente. Quando Jesus disse: “Mulher, eis aí
teu filho”, ele não a chamou de mãe porque esse
relacionamento acabara. De modo semelhante,
quando ele começou seu ministério, Jesus
identificou Maria como “mulher” (no casamento,
em Caná — Jo 2.4). Na cruz, Maria foi lembrada
novamente de que precisava entender Jesus não
como seu filho, mas como seu Salvador. Contudo, o
propósito de Jesus não era chamar a atenção para si
mesmo, e sim confiar sua mãe aos cuidados de João,
e este, ao cuidado de sua mãe.
Quando Cristo estava morrendo, ele se
preocupou com sua mãe. Dentre a multidão, ao pé
da cruz, sua mãe era a pessoa mais necessitada de
todas. É provável que por esse tempo José já tivesse
morrido ou, do contrário, Jesus não teria feito essa
entrega. Ele não confiaria sua mãe aos seus meios-
irmãos porque estes não criam nele (Jo 7.5). Ele não
entregaria sua mãe crente aos cuidados de seus
parentes incrédulos.
Vemos, novamente, o amor altruísta de Cristo.
Na cruz, ele experimentou o peso dos pecados do
mundo, a agonia da cruz e a ira do Deus todo-
poderoso — um sofrimento muito mais interno do
que seu sofrimento externo. Contudo, em meio a
todo o seu sofrimento, ele mostrou compaixão. Seus
pensamentos foram dirigidos para outra pessoa, uma
demonstração da pureza de seu caráter. É assim que
devemos viver — nunca tão dominados por nosso
sofrimento que perdemos de vista as necessidade de
outros (cf. Fp 2.4).

A QUARTA AFIRMAÇÃO — COMPREENDA A


SERIEDADE DO PECADO

Em Mateus 27.46, lemos a afirmação que


desperta o mais intenso sentimento de piedade:
“Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?”. Jesus morreu entendendo a
seriedade do pecado. Ele morreu sentindo as
implicações do pecado. O pecado nos separa de
Deus. “Desamparado” é uma das mais dolorosas
palavras que uma pessoa pode usar para descrever a
si mesma — sozinha e desolada. Jesus foi
abandonado. Seu clamor significava: “Deus meu,
Deus meu, com quem tenho tido comunhão eterna e
ininterrupta, por que me desertaste?”.
Contra o pano de fundo da intimidade eterna, o
abandono de Cristo tem significado profundo. O
pecado é visto fazendo o que nenhuma outra coisa
no universo poderia fazer. Os homens não poderiam
separar o Pai do Filho; os demônios não podiam;
Satanás não podia. Mas o pecado levou o Filho a
sofrer a mais devastadora realidade no universo — a
separação de Deus. Aquele que estava no Pai, e o
Pai, nele; aquele que era um com o Pai, e o Pai, um
com ele; aquele que desfrutara de comunhão
perfeita, eterna e ininterrupta na Trindade foi nesse
momento abandonado por Deus. Por quê? Porque
estava levando o pecado, e o pecado separa.
Deus é tão santo que não pode ver o pecado
(Hc 1.13). Como resultado, o pecado aliena o
homem de Deus. Quando Cristo levou o nosso
pecado na cruz, ele atingiu o clímax de seu
sofrimento. Os soldados zombaram de Jesus,
colocaram uma coroa de espinhos em sua cabeça,
açoitaram-no e espancaram-no, cuspiram em sua
face e arrancaram os cabelos de sua barba. Mesmo
sofrendo dores indescritíveis — suas mãos e pés
traspassados –, Jesus suportou a cruz e sua vergonha
em silêncio. Embora zombado pela multidão vulgar
e sofrendo os escárnios dos que estavam
crucificados ao seu lado, Jesus não respondeu. Mas,
quando Deus o abandou, Cristo experimentou um
sofrimento que estava acima de todo aquele
desprezo e clamou em agonia.
Nenhuma luta, provação ou dificuldade terrena
se aproxima da tristeza que nosso pecado pode
causar-nos, porque nos separa de Deus. Como
Cristo, os crentes devem sentir-se profundamente
entristecidos pela separação que o pecado causa.
Jesus experimentou pessoalmente a dolorosa
separação que o pecado causa, porque o separou do
Pai. Temos de entender as implicações de nosso
pecado — ele nos afasta de Deus.
A QUINTA AFIRMAÇÃO — DEPENDA DE
OUTROS

Em João 19.28, lemos que Jesus disse: “Tenho


sede!”. Cristo experimentou as condições de
verdadeira humanidade. Essas suas palavras não
significavam que ele tinha sede de Deus, e sim que
ele estava com sede de algo para beber. Precisava de
água e não podia tê-la por si mesmo. Jesus
dependeu de outros, e precisamos fazer o mesmo.
Pelo fato de que Cristo é familiarizado com a
necessidade humana, ele é um sumo sacerdote
compassivo (Hb 2.17-18). O Novo Testamento
afirma que Cristo era totalmente homem. Houve
momentos em que se sentiu cansado. Houve
momentos em que ele teve fome. Houve momentos
em que ele teve sono. Houve momentos em que ele
ficou feliz. Houve momentos em que ele se
entristeceu. Houve momentos em que ele suspirou.
Jesus sentiu todas as emoções da vida humana. E,
quando teve fome, precisou de alimento. Quando
teve sono, precisou de um lugar para deitar-se.
Quando teve sede, precisou de algo para beber. Ele
dependeu de outros para satisfazer suas
necessidades. Algumas vezes, essas necessidades
foram satisfeitas por Maria e Marta; algumas vezes,
por sua mãe. Como Jesus, temos de estar dispostos
a mostrar nossa fraqueza humana e aprender a
vivermos dependentemente.

A SEXTA AFIRMAÇÃO — TERMINE O QUE


VOCÊ COMEÇOU

Em João 19.30, lemos que Jesus disse: “Está


consumado!” (no grego, tetelestai). Isso é um
pronunciamento triunfante. O princípio existente
nessa afirmação é que Cristo completou a obra que
Deus lhe confiara.
Uma coisa é terminar a sua vida, mas
completar a vida é outra coisa. Dizer que sua vida
acabou pode significar algo bem diferente de dizer
que sua obra está terminada. Vi esse princípio em
operação durante a maratona de Los Angeles: todos
começaram e todos pararam, mas nem todos
terminaram a maratona.
Para a maioria das pessoas a vida termina, mas
sua obra não é acabada. Quando Jesus disse: “Está
consumado”, ele pretendia dizer que terminara sua
obra redentora. Ele veio a este mundo “para
aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado”
(Hb 9.26). E fez exatamente isso. Ele levou o nosso
pecado em seu corpo e feriu a cabeça de Satanás
(Gn 3.15). Assim como Cristo realizou
perfeitamente o que Deus lhe confiou a fazer,
também devemos fazer o mesmo. Devemos ficar
mais preocupados com a obra que Deus nos chamou
a realizar do que com o sofrimento que a obra nos
traz. Jesus suportou o sofrimento porque podia ver o
resultado (Hb 12.2). Este é sempre o preço de fazer
a obra de Deus: ser capaz de passar pelo sofrimento
e pela dificuldade para fazer a obra.
Paulo seguiu fielmente o exemplo de Jesus. Por
isso, ao final de sua vida, Paulo pôde dizer:
“Combati o bom combate, completei a carreira,
guardei a fé” (2Tm 4.7). Entretanto, nessa mesma
afirmação Paulo mostrou que isso não foi fácil: ele
teve de lutar para terminar. É assim que devemos
viver. Não viva a sua vida apenas para que ela
termine. Viva a sua vida para consumar a obra que
Deus lhe deu para fazer.

A SÉTIMA AFIRMAÇÃO: ENTREGUE-SE A


DEUS
Em Lucas 23.46, lemos que Jesus clamou:
“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!”.
Jesus morreu confiando-se ao cuidado prometido de
Deus. Devemos viver dessa mesma maneira,
lançando sobre Deus todas as nossas ansiedades,
porque ele cuida de nós (1Pe 5.7). Isso significa que
você tem de colocar sua vida, sua morte e seu
destino nas mãos de Deus. Isso é o que significa
uma vida de fé — uma vida de completa confiança
em Deus.
Deus havia prometido ressuscitar a Cristo do
sepulcro (Sl 16.10). Jesus sabia dessa promessa
porque afirmou com certa frequência que sofreria e
morreria, mas ressuscitaria (Mt 16.21; 26.32; Mc
9.9, 31; Jo 2.19). Firmado na promessa de Deus, ele
se entregou ao cuidado de Deus. Essa é a única
maneira de viver — entregar sua vida a Deus.
Devemos viver totalmente entregues a Deus.
Romanos 12.1 diz que devemos oferecer-nos a nós
mesmos a Deus como sacrifícios vivos. Isso significa
que tudo que somos pertence a ele e confiamos nele
quanto às consequências. O apóstolo Pedro disse
que Jesus se entregava “àquele que julga
retamente” (1Pe 2.23). Jesus se entregou a Deus,
não importando quão grande o sofrimento, quando
grande a hostilidade ou quão difícil a tarefa. Ele
sabia que Deus faria o que era certo, julgaria
retamente e cumpriria o que tinha prometido. Estava
disposto a enfrentar a morte e o inferno (1Pe 2.3)
porque sabia que Deus não falharia para com ele.
Esse é o tipo de confiança que devemos ter.
O Senhor Jesus Cristo viveu uma vida perfeita
e morreu uma morte perfeita. Ambas as coisas são
um exemplo supremo para nós. As últimas palavras
do Senhor Jesus resumem os elementos mais
importantes da vida: devemos perdoar aqueles que
pecam contra nós, dar a verdade a almas
condenadas que estão perdidas sem a verdade, amar
com altruísmo e mostrar compaixão aos outros,
entender as sérias implicações do pecado,
reconhecer nossa fraqueza, permitindo que os outros
satisfaçam nossas necessidades, terminar a obra que
Deus nos dá para fazermos e descansar seguramente
nas mãos de um Deus cuidadoso cujas promessas
são certas.
Como resultado da vida e da morte perfeita de
Cristo, Deus o ressuscitou dos mortos. E, depois, o
assentou à sua direita, na glória. Isso foi a
confirmação de Deus quanto à pessoa perfeita e à
obra de seu Filho. E também garante que ele
ressuscitará todos aqueles que são perfeitos.
Para alguém que é honesto, isso não parece
necessariamente boas notícias. Nem sempre somos
evangelistas fiéis. Frequentemente, somos
insensíveis aos sofrimentos e às necessidades dos
outros e somos ingênuos quanto ao poder destruidor
do pecado. O orgulho nos impede de viver em
dependência de outros. A indolência nos impede de
terminar a obra de Deus. E, frequentemente, nos
achamos confiando apenas naquilo que podemos
ver. Portanto, sabemos que somos imperfeitos. É o
fracasso da humanidade em viver perfeitamente que
torna toda a humanidade pronta para o inferno.
À luz disso, que esperança podemos ter?
Hebreus 10.14 diz: “Com uma única oferta, [Jesus
Cristo] aperfeiçoou para sempre quantos estão
sendo santificados”. Cristo foi o único Deus-
homem perfeito. Deus agiu graciosamente para que
pudéssemos ter a perfeição de Cristo e, por meio
dele, nos aproximarmos de Deus com perfeição.
Os cristãos dizem, frequentemente, que estão
em Cristo porque entendem que, se não estivessem
nele, Deus não os levaria para a glória. A perfeição
de Cristo se torna nossa quando o recebemos como
Salvador — sua justiça nos veste, e sua perfeição
nos esconde. Por causa de nossa identidade com
Cristo, Deus nos levará a glória e nos assentará no
trono com Cristo. Essas são as boas-novas do
evangelho.
Isso não significa que os cristãos são perfeitos
nesta vida. Ainda lutamos contra o pecado nesta
vida, mas aguardamos a perfeição no céu. Enquanto
não a recebemos, estamos cobertos com a perfeição
de Cristo e sendo progressivamente conformado à
imagem dele (2Co 3.18).
Pelo fato de que Cristo nos cobriu com sua
perfeição, devemos fazer tudo que pudermos para
viver tão perfeitamente quanto possível — perdoar,
evangelizar e amar como ele fez. O desejo de
sermos livres do pecado deve ser tão grande quanto
o dele. Devemos depender dos outros, terminar a
obra designada e confiar totalmente em Deus, da
maneira como Cristo fez. Por fazermos tudo isso,
não ganharemos a perfeição por mérito, mas
viveremos de acordo com a perfeição que
recebemos de Cristo, quando o recebemos como
Salvador. Isso é o evangelho.
9

QUINZE PALAVRAS DE
ESPERANÇA

2 Coríntios 5.21
23 de abril de 1995

Na quarta-feira anterior ao domingo em que


este sermão foi pregado, terroristas nacionais
realizaram um atentado a bomba contra o edifício
Alfred P. Murrah, do governo federal, em
Oklahoma City, matando 168 pessoas e ferindo
mais 800 pessoas.
No sermão, John MacArthur não fez qualquer
menção explícita desse acontecimento, mas essa foi
uma mensagem perfeita para responder à tristeza e
à confusão desses tempos turbulentos. Este é,
provavelmente, o mais excelente resumo da
mensagem do evangelho em todo o catálogo de
sermões.
Pregado logo depois da Shepherd’s
Conference em 1995, este sermão está próximo da
metade de uma extensa série de sermões sobre 2
Coríntios, pregados durante cinco anos. Este
sermão também marca uma importante e
memorável mudança de atitude de John MacArthur
para com a doutrina da expiação e sua relação
com a doutrina da justificação. John sempre
afirmara a natureza substitutiva da expiação de
Cristo, mas, depois de pregar esta mensagem, ele
começou a enfatizar essa verdade com
regularidade e a expô-la mais plenamente do que
antes. Era como se ele estivesse prevendo que a
natureza vicária do sacrifício de Cristo logo ficaria
sob ataque. De fato, em menos do que uma década,
vários autores pós-evangélicos e “emergentes”
começaram a criticar aberta e agressivamente a
doutrina histórica da substituição penal — e este
sermão proveu uma resposta bíblica a esse ataque.

O O versículo que consideraremos é 2 Coríntios


5.21, que diz: “Aquele que não conheceu pecado,
ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos
feitos justiça de Deus”.
A Bíblia ensina com clareza que todas as
pessoas são pecadoras por natureza e por ação. De
fato, todas as pessoas são pecadoras desde o
nascimento. Por isso, todos nascem separados de
um Deus santo, que não pode contemplar o pecado
e não pode ter comunhão com pecadores. Essa
separação por causa do pecado nos impede de
conhecer a Deus. Ele é perfeitamente santo e não
pode ter nada com pecadores, senão rejeitá-los.
O resultado dessa rejeição é impiedade neste
tempo e uma eternidade no inferno. Portanto, essa
separação em que todo ser humano nasce é um
problema sério. Significa que todos vivem sem
Deus, e, se morrerem nessa condição, passarão a
sua eternidade em tormento, sem Deus.
Essa realidade prova que o vírus mais temível
no mundo não é o vírus HIV, é o vírus do
PECADO. Como o HIV, o pecado mata todos os
que ele infecta. Diferentemente do vírus HIV, o
pecado infecta todas as pessoas. Ele mata não
somente no tempo, mas também na eternidade. O
pecado mata tanto física como espiritualmente. Não
há cura para o vírus HIV, mas felizmente há cura
para o vírus do PECADO. Deus tornou possível que
pecadores sejam curados tão ampla e
completamente, que podem ser reconciliados com
ele e ter comunhão eterna em sua presença.
Essas são as boas-novas que o cristianismo
prega — o evangelho. Há uma cura para o vírus do
PECADO, para que a hostilidade entre as pessoas e
Deus termine agora e para sempre, e pecadores
sejam reconciliados com um Deus santo. Se você
examinar de novo 2 Coríntios 5.18-20, observará
diversas vezes o verbo “reconciliar”, em uma forma
ou outra. O versículo 18 diz: “Ora, tudo provém de
Deus, que nos reconciliou consigo mesmo”. O
versículo 19 diz: “Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo”. E, no final do
versículo 20, rogamos aos pecadores que se
reconciliem com Deus.
Essas são as boas-novas — a grande notícia de
que você não tem de viver impiamente neste tempo
e na eternidade. Você não precisa sofrer nesta vida,
sem Deus, e sofrer o tormento eterno, sem ele, na
vida por vir. A reconciliação é possível. No versículo
20, Paulo disse: “Somos embaixadores em nome de
Cristo... Em nome de Cristo, pois, rogamos que
vos reconcilieis com Deus”.
Mas isso suscita a pergunta: como a
reconciliação acontece? Como um Deus totalmente
santo, que é infinitamente puro e perfeito, pode ser
reconciliado com pecadores? Como ele pode fazer
isso quando é tão puro que não pode ver o pecado e
não pode ter comunhão com transgressores? Como
Deus pode satisfazer sua lei santa e justa com a
condenação de pecadores, por meio de punição total
e merecida, e ainda mostrar misericórdia àqueles que
não merecem misericórdia? Como Deus pode
acabar com a hostilidade e levar pecadores ao seu
santo céu, para viverem eternamente com ele, em
comunhão íntima? Como Deus pode satisfazer a
justiça e a graça? De que modo o amor pelos
pecadores pode ser reconciliado com a justiça?
Como Deus pode ser justo e justificador de
pecadores (cf. Rm 3.26)?
As palavras de 2 Coríntios 5.21 nos mostram
como. As quinze palavras gregas contidas neste
versículo definem e equilibram perfeitamente o
mistério da reconciliação. Elas nos mostram a
essência da expiação. De fato, este versículo é o
âmago das boas-novas. É a verdade mais poderosa
da Escritura, porque envolve e explica como
pecadores podem ser reconciliados com Deus. Este
versículo resolve o paradoxo da redenção. Soluciona
o mistério e esclarece o enigma. Neste versículo,
descobrimos como a justiça santa e o amor perfeito
podem ser satisfeitos, como a justiça e a
misericórdia podem abraçar-se. A verdade desta
única sentença soluciona o mais profundo dilema de
como Deus pode reconciliar-se com pecadores.
Há muita verdade a ser considerada neste
versículo. Temos de averiguar cuidadosamente este
cofre de jóias raras e parar para examinar cada uma
delas com lente de aumento, a fim de entendermos
as riquezas. Quero dirigir sua atenção para quatro
detalhes do texto que revelam seu significado: o
benfeitor, o substituto, os beneficiários e os
benefícios. Isso resume como Deus pode reconciliar
pecadores.

O BENFEITOR
O versículo diz: “Ele o fez”. Se você estuda a
Bíblia, a primeira pergunta que fará é esta: a quem
se refere a palavra “Ele”? A resposta se acha numa
palavra que está no final do versículo 20: “Deus”.
Deus é o antecedente. “Aquele que não conheceu
pecado, ele o fez pecado por nós.” O fato é este:
isto é plano de Deus. Ele é o benfeitor. Deus está
por trás do plano de reconciliação. Ele o elaborou.
Ele o realizou. Ele o traz à fruição. Essa é uma
perspectiva crucial. Não poderia haver reconciliação
se Deus não a iniciasse, não a operasse e não a
aplicasse. Ele teve de planejá-la e executá-la. A
reconciliação não poderia vir de nenhuma fonte
humana. Não há nada que o homem poderia ou
pode fazer para produzir a reconciliação com Deus.
Todos os esforços no âmbito religioso são
como trapos de imundície (cf. Is 64.4). O mundo
está cheio de religião. Mas toda religião, exceto o
cristianismo, é nada: é o homem produzindo, com a
ajuda de Satanás, um plano em que ele tenta obter a
reconciliação com Deus. Esse é o erro fatal de toda
religião do mundo, não importando o nome que elas
tenham.
Romanos 3.10-11 diz: “Não há justo, nem um
sequer, não há quem entenda, não há quem busque
a Deus”. Ora, poderíamos imaginar que, se existia
um grupo de pessoas que era capaz de elaborar um
plano de reconciliação e realizá-lo muito
competentemente, esse grupo era os judeus. Afinal
de contas, os judeus eram o povo do Deus
verdadeiro, Jeová. Deus lhes deu a lei, os profetas,
as alianças e a adoção (cf. Rm 9.4). Eles tinham a
revelação. Eles tinham o Antigo Testamento. Até a
salvação lhes foi dada — a salvação vem dos judeus;
e o Messias veio para eles. Se algum grupo de
pessoas podia ter planejado um sistema pelo qual
conseguiriam a reconciliação, esse grupo era os
judeus. Mas eles falharam.
Em Romanos 10.1, Paulo comenta o fracasso
dos judeus, ao dizer: “A boa vontade do meu
coração e a minha súplica a Deus a favor deles
são para que sejam salvos”. Com toda a sua
religiosidade e com tudo que receberam por meio da
revelação divina, eles não conseguiram a
reconciliação, porque acreditavam que, de alguma
maneira, a sua reconciliação com Deus dependia
deles mesmos. E, por isso, não eram salvos.
“Porque lhes dou testemunho”, diz Paulo, “de que
eles têm zelo por Deus, porém não com
entendimento. Porquanto, desconhecendo a justiça
de Deus e procurando estabelecer a sua própria,
não se sujeitaram à que vem de Deus” (vv. 2-3).
A falsa religião é isto: a religião de
empreendimento humano. Mas os pecadores nunca
podem realizar a reconciliação porque a única
maneira como a reconciliação podia acontecer era se
Deus viesse ao encontro dos pecadores. E ele fez
isso. Foi Deus quem tomou aquele “que não
conheceu pecado” e o “fez pecado por nós”. Foi
plano de Deus. Jesus foi à cruz não porque os
homens se voltaram contra ele, embora tenham feito
isso. Ele foi à cruz não porque espíritos enganadores
controlaram a mente dos líderes religiosos do
judaísmo, para que tramassem a sua morte, embora
tenham feito isso. Jesus foi à cruz não porque uma
multidão furiosa clamava por seu sangue, embora
tenham feito isso. Jesus foi à cruz porque Deus o
planejou. Deus o planejou como totalmente
necessário e o único meio pelo qual a reconciliação
poderia acontecer.
Foi por essa razão que Jesus disse: “Eu vim ao
mundo para fazer a vontade do Pai”. É também a
razão por que ele disse: “Não beberei, porventura,
o cálice que o Pai me deu?” (Jo 18.11). O cálice se
refere ao cálice da ira de Deus. Por isso, em
Hebreus 10.5-7, Jesus é citado como que dizendo:
“Um corpo me formaste... aqui estou... para fazer,
ó Deus, a tua vontade”. Também foi por isso que o
apóstolo Pedro disse, ao levantar-se no dia de
Pentecostes e pregar para a população de Jerusalém,
muitos dos quais haviam clamado pelo sangue de
Jesus e eram culpados de exigir sua execução:
“Sendo este entregue pelo determinado desígnio e
presciência de Deus, vós o [o Filho de Deus]
matastes, crucificando-o” (At 2.23). Eles
praticaram sua obra perversa, mas tudo estava no
plano do Pai.
Somente Deus podia chamar a segunda pessoa
da Trindade para se encarnar, vir ao mundo,
humilhar-se, assumir a forma humana e ser
obediente até à morte, e morte de cruz (Fp 2.7-8).
Somente Deus podia planejar a expiação pelo
pecado que satisfaria a sua justiça, porque somente
ele sabe o que é necessário para satisfazer a sua
justiça. Somente Deus sabe o que propicia a sua ira.
Nós não sabemos. Somente Deus podia decidir
como sua santidade infinita, seu intenso ódio pelo
pecado e sua justiça inflexível seriam perfeitamente
satisfeitos sem destruir o pecador. Somente Deus
podia saber o que seria necessário para tornar um
pecador aceitável a ele, de modo que o pecador
escapasse do inferno e vivesse eternamente na
presença de Deus, em sua própria casa. Somente
Deus podia determinar como a natureza espiritual, a
autoridade suprema e a perfeição imutável de sua
lei, que é santa, justa e boa, seria totalmente
satisfeita, e o transgressor, completamente
justificado, bem como correta e genuinamente
perdoado e aceito, embora caído, culpado e
depravado.
Somente Deus podia trazer todos esses
componentes à conciliação. Somente Deus sabia
como resolver o dilema. Somente ele sabia o que
satisfaria sua exigência justa. Somente Deus sabia
como poderia executar sua ira, de modo que ela
fosse consumada. Somente ele sabia o que
significava carregar o fardo do pecado e suportar a
punição de sua própria fúria. O mundo pode chamar
de loucura o evangelho e a obra de Jesus Cristo,
mas para aqueles que creem no evangelho, ele é a
sabedoria de Deus. Somente a mais pura e mais
profunda sabedoria do Deus infinitamente santo
podia elaborar um plano coerente com sua santidade
infinita para reconciliar com ele mesmo pecadores
totalmente ímpios. Portanto, Deus é o benfeitor —
aquele que fez o plano e o executa.
O plano de salvação flui desta grande realidade:
“Deus amou ao mundo de tal maneira que deu”
(Jo 3.16). Foi exatamente isso o que Paulo disse, em
palavras diferentes, em Romanos 5.8: “Deus prova
o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter
Cristo morrido por nós, sendo nós ainda
pecadores”. Tudo resulta do amor de Deus.
“Quando inimigos”, disse Paulo, “fomos
reconciliados com Deus mediante a morte do seu
Filho” (v. 10). Deus iniciou a reconciliação porque
nos amou. Efésios 2.4 diz: “Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que
nos amou”, nos deu a salvação. Deus ama
pecadores. Essa foi a razão por que o apóstolo Paulo
disse: “Dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à
parte que vos cabe da herança dos santos na luz”
(Cl 1.12). Somente Deus conhecia as idoneidades e
somente ele podia tornar-nos idôneos. Devemos dar
graças a Deus, porque ele “nos libertou do império
das trevas e nos transportou para o reino do Filho
do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão
dos pecados” (vv. 13-14).
Foi exatamente por isso que Paulo disse ao
cristãos de Éfeso: “Bendito o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com
toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele
antes da fundação do mundo” (Ef 1.3-4). Foi o Pai
quem “nos predestinou... para a adoção de filhos,
por meio de Jesus Cristo” (v. 5). Essa salvação tem
de resultar em “louvor da glória de sua graça, que
ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual
temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos
pecados” (vv. 6-7). Foi o Pai quem derramou
abundantemente sobre nós toda sabedoria,
prudência e todas as riquezas de sua graça (vv. 8-9).
Isto é muito diferente das religiões do mundo.
As religiões do mundo operam basicamente numa
premissa de medo. Elas veem a Deus como irado,
odioso ou indiferente, alguém que não pode se
preocupar com a prosperidade de seres que vivem
abaixo dele, neste mundo. O alvo da maioria das
religiões é apaziguar esse Deus hostil e irado. Por
isso, os homens têm de inventar um sistema que os
reconciliará com Deus, sem que ele destrua a vida
deles ou castigue-os eternamente. Esses sistemas de
apaziguamento envolve frequentemente certas
cerimônias religiosas, obrigações, ações ou boas
obras que podem ser seguidas para, de algum modo,
apaziguar essa deidade e deter sua fúria mortal.
Por outro lado, o cristianismo proclama um
Deus que ama, ama tanto que é um Salvador, “o
qual deseja que todos os homens sejam salvos e
cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm
2.4). Temos um Deus que não odeia, e sim que ama
pecadores e planejou um meio de ter comunhão
com eles para sempre. Não temos de apaziguar a
Deus. Em seu amor, Deus provê o sacrifício e
oferece, maravilhosa, graciosa e prontamente, o
dom do perdão. Isto é boas-novas — você não tem
de apaziguar a Deus; não tem de elaborar um plano
de reconciliação e desenvolver sua própria justiça.
As boas-novas são que Deus é o benfeitor. Ele sabe
o que satisfaz a sua justiça e a sua santidade. O
preço do pecado foi pago, e agora Deus oferece a
você perdão e reconciliação.
O que foi necessário para realizar esta
reconciliação? Morte foi necessária, porque Ezequiel
18.20 diz: “A alma que pecar, essa morrerá”.
Romanos 6.23 diz: “O salário do pecado é a
morte”. Deus sabia qual era a exigência — a
exigência era a morte. Deus deixou isso bastante
claro em toda a dispensação do Antigo Testamento,
porque os judeus gastavam maior parte de sua vida
ou indo para ou vindo de um sacrifício. Eles
mataram milhões de animais por causa de seus
pecados, o que era parte do plano de Deus para
mostrar às pessoas quão ímpias elas eram e como o
pecado exigia a morte. Aqueles animais não podiam
jamais remover pecado, mas os sacrifícios contínuos
demonstravam às pessoas que o salário do pecado é
a morte. Toda vez que alguém pecava, as pessoas
tinham de ir assistir a outra morte. As pessoas se
fatigavam disso e anelavam pelo Cordeiro final que,
de uma vez por todas, removeria o pecado do
mundo e acabaria com a morte de animais. Os
animais eram símbolo de que a lei de Deus podia ser
satisfeita apenas por meio da morte, e isso fazia as
pessoas anelarem, de todo o coração, por um
substituto final.
Bem, o Pai enviou Um. E ele não veio
relutantemente. Jesus disse: “Ninguém a [minha
vida] tira de mim; pelo contrário, eu
espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a
entregar e também para reavê-la” (Jo 10.18). Jesus
não reteve voluntariosamente o que tinha direito de
reter, mas entregou a sua vida e condescendeu em
morrer (cf. 2.6-8).

O SUBSTITUTO

O substituto é identificado: “Aquele que não


conheceu pecado”. Quem é ele? É o único que não
conheceu pecado. Isso restringe o campo a uma
Pessoa. Certamente, ele não é um ser humano
normal, porque “não há justo, nem um sequer”
(Rm 3.10). Romanos 3.23 diz: “Todos pecaram e
carecem da glória de Deus”. Nenhum ser humano
se qualifica. Quem é aquele que não conheceu
pecado? Quem é aquele que pode sofrer pelos
outros toda a ira de Deus contra o pecado, porque
não tinha de sofrer por si mesmo essa ira? Nenhum
pecador podia ser um substituto e morrer por outro
pecador, porque tinha de pagar a penalidade por seu
próprio pecado. Tinha de haver uma oferta sem
pecado. E tinha de ser um ser humano, porque tinha
de ser um homem morrendo pelo homem. Mas não
podia ser um ser humano pecador, pois esse ser
humano teria de morrer por seu próprio pecado e
não poderia prover expiação pelos pecados dos
outros.
A única maneira de um homem sem pecado
viver seria se ele fosse Deus, porque somente Deus
é sem pecado. Um homem sem pecado só podia ser
Deus. E foi exatamente isso que Deus planejou. O
segundo membro da Trindade, sem pecado e
perfeito, igualmente santo como os dois outros
membros da Trindade, viria ao mundo na forma de
homem. Ele não teria um pai humano — José não
era o pai de Jesus, e José sabia disso. José ainda não
tinha conhecido sua mulher por meio da intimidade
sexual, quando soube que ela estava grávida. Ele
não podia acreditar nisso, mas o anjo lhe disse: “O
que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20).
Portanto, Jesus teve uma mãe humana, e isso o
tornou homem, mas Deus era seu Pai. Jesus era
Deus-Homem, o ser humano sem pecado.
A figura do Antigo Testamento para essa
realidade era o cordeiro selecionado para o
sacrifício. Tinha de ser um cordeiro sem mancha ou
defeito. Tinha de ser um animal perfeito, sem uma
marca, retratando o verdadeiro Substituto que seria
perfeito.
Em Apocalipse 5, há um quadro maravilhoso
revelando que ninguém é qualificado, senão Cristo.
Em sua visão, João viu a sala do trono de Deus. Na
visão, Deus está no trono, segurando na mão um
rolo selado com sete selos (Ap 5.1). Isso é o título
de propriedade do universo e olha para o futuro
quando Deus se prepara para resgatar o seu universo
de Satanás e do pecado.
Em seguida, João viu “um anjo forte, que
proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir
o livro e de lhe desatar os selos? Ora, nem no céu,
nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém
podia abrir o livro, nem mesmo olhar para ele; e
eu chorava muito, porque ninguém foi achado
digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar para
ele” (vv. 2-4). No universo criado, não havia
nenhum ser, homem ou anjo, que podia se
apresentar e por em execução o conteúdo do livro.
Por isso, João começou a chorar.
O versículo 5 diz: “Um dos anciãos me disse:
Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a
Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus
sete selos”. Alguém é digno. Quem é ele? “O Leão
da tribo de Judá”. É um homem da tribo de Judá;
isso significa que ele é um judeu. Mas ele é também
a raiz de Davi — não o ramo, não algo que veio de
Davi, mas o que produziu Davi. E ele é Deus. Em
que forma ele está? O versículo 6 diz: “Um
Cordeiro como tendo sido morto”. Há somente um
que é digno de tomar de volta o universo, e ele é
aquele que nasceu como judeu, humano em todos
os aspectos, mas aquele que era Deus, a própria
fonte da qual veio Davi, aquele que era o Cordeiro
que havia sido morto. Deus criou um único Deus-
homem nascido de uma virgem, para ser o
Substituto que o plano exigia. A justiça tinha de ser
satisfeita; a lei tinha de ser vindicada.
Por isso, Paulo disse aos cristãos gálatas:
“Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou
seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
para resgatar os que estavam sob a lei” (Gl 4.4-5).
Jesus Cristo é aquele que não conheceu qualquer
pecado.
Jesus disse: “Quem dentre vós me convence de
pecado?” (Jo 8.46). A resposta foi silêncio e ainda é
silêncio. Lucas 23 afirma: “Disse Pilatos aos
principais sacerdotes e às multidões: Não vejo
neste homem crime algum” (v. 4); “Nada verifiquei
contra ele dos crimes de que o acusais” (v. 14);
“Que mal fez este? De fato, nada achei contra ele
para condená-lo à morte” (v. 22).
O ladrão que estava pendurado na cruz
próxima a Jesus disse ao seu colega: “Nós, na
verdade, com justiça, porque recebemos o castigo
que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal
fez” (v. 41). Este foi o testemunho do centurião que
assistiu à crucificação: “Verdadeiramente, este
homem era justo” (v. 47).
Não foram apenas pessoas incrédulas que
viram a perfeição de Jesus. O apóstolo João esteve
com Jesus dia e noite por três anos, seguiu os passos
de Jesus, ouviu cada palavra que ele falou e viu os
seus atos. João disse sobre Jesus: “Nele não existe
pecado” (1 Jo 3.5).
O escritor da Epístola aos Hebreus afirma essa
mesma realidade, quando diz: “Não temos sumo
sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as
coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb
4.15). E descreveu a Jesus como “santo, inculpável,
sem mácula, separado dos pecadores” (Hb 7.26).
Quando Pedro pregou sobre Cristo aos judeus,
ele disse: “Vós, porém, negastes o Santo e o
Justo... matastes o Autor da vida” (At 3.14-15).
Pedro também disse a respeito de Cristo que ele era
como um “cordeiro sem defeito e sem mácula” (1
Pe 1.19). E disse também a respeito de Cristo:
“Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o
madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos
para os pecados, vivamos para a justiça” (1 Pe
2.24); “O qual não cometeu pecado” (2.22);
“Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o
justo pelos injustos” (3.18).
Homens incrédulos deram testemunho da
impecabilidade de Cristo; aqueles que o conheciam
melhor testificaram a impecabilidade de Jesus. Mas
há Outro que deu um testemunho que é realmente
poderoso. Ninguém outro, senão o próprio Deus, o
Pai, disse por ocasião do batismo de Cristo: “Este é
o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt
3.17). Na transfiguração de Jesus, o Pai disse: “Este
é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt
17.5). O Pai era totalmente satisfeito com o Filho
porque ele era perfeito, sem pecado.
Talvez o maior testemunho da impecabilidade
de Jesus era a comunhão ininterrupta que ele tinha
com Deus: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). Ele
disse isso em outras ocasiões (cf. Jo 14.30-31;
17.11, 21, 22, 23).
Observe nosso texto em 2 Coríntios 5.21:
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez
pecado por nós”. Deus tinha de punir o pecado,
mas, se ele punisse o pecador, o pecador seria
destruído no inferno, por toda a eternidade. Por
isso, Deus tomou o Substituto, colocou-o no lugar
do pecador e puniu o Substituto em lugar do
pecador. Cristo teve de ser feito pecado.
Ora, o que significa o fato de que Cristo foi
feito pecado? Primeiramente, deixe-me dizer-lhe o
que isso não significa. Não significa que Cristo se
tornou um pecador, cometeu pecado ou transgrediu
a lei de Deus. As passagens bíblicas que já li
indicam que Jesus não tinha qualquer capacidade de
pecar — isso é o que os teólogos chamam de
impecabilidade de Cristo. Ele não podia pecar. Ele
era Deus, sem pecado, e, ao mesmo tempo,
totalmente homem. É inconcebível que Deus faria
de Jesus um pecador. A ideia de que Deus faz de
alguém um pecador é impensável por si mesma.
Quanto menos impensável é a ideia de que ele faria
de seu Filho santo um pecador!
Então, o que significa o fato de que Jesus foi
feito pecado? Isaías 53 apresenta a resposta para
nós: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas
enfermidades e as nossas dores levou sobre si... ele
foi traspassado pelas nossas transgressões e moído
pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a
paz estava sobre ele... Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava
pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a
iniquidade de nós todos” (vv. 4-6). Ele não morreu
pelos seus próprios pecados. Ele morreu pelos
nossos pecados.
O Senhor tomou a iniquidade de todos nós e a
colocou em Cristo. Você pode dizer: “O que
significa isso? Não foi o pecado dele mesmo?” Não,
foi o nosso pecado. Deus tratou Cristo como se ele
fosse pecador por fazê-lo pagar a penalidade pelo
pecado, embora ele fosse inocente. Deus tratou a
Cristo como se ele fosse o pecador e o fez pagar
pelo pecado. Mais do que isso, Deus tratou a Cristo
como se tivesse cometido todos os pecados de todas
as pessoas que creriam. Isso não é incrível? O
pecado, que não era de Cristo, de maneira alguma,
foi atribuído a Cristo como se ele o tivesse
cometido. Esse é o único sentido em que Cristo foi
feito pecado; ele foi feito pecado por imputação. O
pecado foi imputado a Cristo — Deus pôs o pecado
na conta de Cristo, lançou o pecado sobre ele e o
fez pagar a penalidade. Seria como se todos os
pecadores do mundo lançassem todo o pecado deles
em seu cartão de credito, e você se visse chocado
com o fato de que teria de pagar a conta.
A culpa dos pecados de todos que creriam em
Deus, todos que seriam salvos, foi imputada a Jesus
Cristo, lançada em sua conta, como se ele fosse
culpado de todos os pecados. E, quando Deus
lançou todo a culpa em Cristo, ele descarregou todo
o furor de sua ira contra todo esse pecado e todos
esses pecadores, e Jesus experimentou toda a ira de
Deus. Não ficamos admirados do fato de que, no
momento em que esteve separado de Deus, Jesus
tenha clamado: “O que quer dizer: Deus meu, Deus
meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46). Ele
foi tratado como um pecador merecem ser tratado,
com toda a fúria da punição justa derramada sobre
ele. Jesus era pessoalmente puro, mas foi tornado
oficialmente culpado. Ele era pessoalmente santo,
mas foi considerado judicialmente culpado.
Gálatas 3.10 diz: “Todos quantos, pois, são
das obras da lei estão debaixo de maldição”. Você
quer tentar merecer sua entrada no céu, tentar
reconciliar-se com Deus? Você quer fazer certas
obras, cumprir certos deveres religiosos e atribuir a
si mesmo alguma lei moral ou cerimonial? Quer
produzir a sua própria justiça? Então, você está com
um problema. Todos que tentam se reconciliar com
Deus por meio de obras ou do que fazem são
malditos. Gálatas 3.10 cita Deuteronômio 27.26:
“Maldito aquele que não confirmar as palavras
desta lei, não as cumprindo”.
Você entende por que essa maneira de lidar
com a reconciliação o amaldiçoa? Porque, na
primeira vez que você transgredir a lei de Deus, já
está condenado. Precisa apenas de uma vez. Toda
vez que você tenta reconciliar a si mesmo com Deus
por meio do esforço humano, coloca-se a si mesmo
debaixo de maldição, porque isso exige apenas de
uma transgressão. Por isso, toda a raça humana é
maldita. Toda pessoa de cada religião existente na
face da terra que tenta, por seus próprios esforços,
produzir a reconciliação é maldita.
Ora, essa maldição da iniquidade tem uma
penalidade que tem de ser paga. Mas Gálatas 3.13
diz: “Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar”.
Uau! Este é o fato. Cristo sofreu a fúria total da ira
de Deus em nosso lugar. Deus colocou Cristo sob a
maldição e o puniu com julgamento. Recordo-lhe
novamente que a imputação é crucial para
entendermos a reconciliação. Cristo se tornou
pecado por imputação. Nosso pecado foi imputado a
Cristo, assim como a justiça de Cristo foi imputada
aos crentes.
Deixe-me dizer isso de outra maneira. Embora
Cristo tenha morrido na cruz, ele não se tornou mau
como nós o somos. Tampouco nós, por causa da
cruz, nos tornamos santos como ele é santo. Deus
colocou nosso pecado na conta de Cristo e põe a
justiça de Cristo em nossa conta. Isso não acontece
porque somos tão justos que Deus fica satisfeito.
Acontece porque a penalidade foi paga, e a culpa foi
satisfeita, para que Deus creditasse a nós a justiça de
Cristo.
O único sentido em que você é tornado justo,
por meio da justificação, é pela imputação. E foi
nesse mesmo sentido que Cristo foi feito pecado.
Ele foi feito pecado porque Deus lançou sobre ele o
nosso pecado. Somos feitos justos porque Deus
lança a justiça de Cristo em nossa conta.
Eu sou um cristão, mas não sou tão justo que
possa permanecer diante de um Deus santo. Você
pode? Tenho tantos pecados em minha vida que, se
ficasse em algum lugar perto de Deus, teria de dizer
como o apóstolo Pedro: “Senhor, retira-te de mim,
porque sou pecador” (Lc 5.8). Mas Deus olha para
mim e me considera não por causa da minha
moralidade humana; ele me considera por causa da
justiça imputada de Cristo, que me cobre.
Resumindo, o Benfeitor é Deus, o Substituto é
Cristo, que, por imputação, recebeu nossos pecados
e morreu por eles, tomando o nosso lugar.

OS BENEFICIÁRIOS

“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez


pecado por nós” (2Co 5.21). Sobre quem Paulo
está falando? São as mesmas pessoas designadas
pelo pronome pessoal “nós” no versículo 20:
“Somos embaixadores”; as mesmas pessoas
referidas pelo pronome “nos” no versículo 19: “E
nos confiou a palavra da reconciliação”; e as
mesmas designada pelo pronome “nos” no
versículo 18: “Tudo provém de Deus, que... nos deu
o ministério da reconciliação”.
Quem são eles? Paulo os descreve no versículo
17: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as
coisas antigas já passaram; eis que se fizeram
novas”. Há uma transformação — uma nova
criação acontece na salvação. Somos mudados, mas
nem mesmo essa mudança teria justiça suficiente
para satisfazer um Deus santo. Por isso, Deus tem
de cobrir-nos com a justiça de Cristo, para nos
tornar aceitáveis, até que ele nos leve à glória e nos
torne completamente justos. Foi por nós que Cristo
morreu: nós que estamos em Cristo, que fomos
reconciliados. A substituição real em sua eficácia foi
realizada em favor daqueles que creriam. Cristo
morreu por nossos pecados.

O BENEFÍCIO
O fim de 2 Coríntios 5.21 nos mostra o
benefício: “Para que, nele, fôssemos feitos justiça
de Deus”. Qual é o benefício? Nós nos tornamos
justos diante de Deus. Isso é o que a justificação faz.
A justiça imputada a nós é a própria justiça de
Cristo. Paulo disse em Filipenses 3.9: “E ser
achado nele, não tendo justiça própria, que
procede de lei, senão a que é mediante a fé em
Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na
fé”. Uau! Jesus é santo, mas Deus lhe imputou o
pecado. Somos pecadores, mas Deus nos imputa
santidade.
A justiça que Deus exige para aceitar qualquer
pecador é a justiça que Deus mesmo provê. Quando
Deus olha para você, ele o vê coberto com a justiça
de Jesus Cristo. Essa é a razão por que todo o seu
pecado é automaticamente perdoado no sentido
eterno, porque Jesus já pagou a penalidade. Deus
não mais considera você responsável por seu
pecado, porque Jesus pagou a penalidade completa e
recebeu a fúria completa pelo pecado.
Você diz: “E os pecados que cometo depois de
me tornar cristão?” Cristo morreu também por esses
pecados. Você não era nem nascido quando ele
morreu — todos os seus pecados eram futuros. De
fato, Cristo é o cordeiro morto desde a fundação do
mundo, antes mesmo da criação. O plano era que
ele morresse por todos os pecados de todos os que
creriam nele.
Esta é a justiça sobre a qual Paulo fala em
Romanos 3. É a justiça de Deus sem a lei (v. 21). É
a justiça de Deus mediante a fé em Cristo Jesus para
todos os que creem (v. 22). Como você se beneficia
disso? Reconheça que você é um pecador; está em
situação desesperadora, alienado de Deus. Admita
que você não tem, de si mesmo, esperança de
reconciliação, que você viverá impiamente nesta
vida e sofrerá o tormento eterno na vida por vir.
Então, creia que Deus enviou seu Filho ao mundo,
na forma de um homem, para morrer como seu
substituto e que ele tomou sobre si mesmo toda a
fúria da ira de Deus. Creia que Deus confirmou que
sua justiça foi satisfeita quando ele ressuscitou Jesus
dentre os mortos. E, quando Deus ressuscitou Jesus
dentre os mortos, ele ficou satisfeito. Em seguida,
Deus exaltou a Jesus, assentando-o à sua direita, em
seu trono (Fp 2). Quando isso foi realizado, e
quando Jesus se ofereceu a si mesmo, satisfazendo a
justiça de Deus, Deus “lhe deu o nome que está
acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se
dobre todo joelho... e toda língua confesse que
Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”
(Fp 2.9-11). É nisso que você crê, e isso é o
evangelho.
Quando você crê no evangelho, pela fé, Deus
lhe imputa, em sua misericórdia, a justiça de Jesus
Cristo, porque seus pecados foram imputados a
Cristo, quando ele morreu na cruz. O Pai conhecia
você quando o Filho morreu. Seu nome foi escrito
no Livro da Vida do Cordeiro antes da fundação do
mundo, e a expiação que Cristo realizou foi por
você. Então, você chegou a crer e recebeu a justiça
imputada. Agora você vive esta vida na presença de
Deus e, por fim, viverá na eternidade, em perfeição
total. Isso é o evangelho.
O benfeitor é Deus: o plano é dele e resulta do
seu amor. O Substituto é Jesus Cristo, que tomou o
seu lugar, o perfeito Deus-Homem. Os beneficiários
somos todos nós, por quem ele morreu, aqueles que
creriam. E o benefício é que você recebe a justiça de
Deus imputada a você, como se você fosse igual a
Jesus Cristo em santidade. E um dia você será
tornado santo. Mas, até àquele dia, você está
coberto com a justiça de Deus em Cristo. E essa
justiça se torna sua tão-somente pela sua fé em Jesus
Cristo.
10
UMA PERSPECTIVA BÍBLICA
SOBRE A MORTE, O
TERRORISMO E O ORIENTE
MÉDIO

Escrituras Selecionadas

16 de setembro de 2001

Há chance de que você lembre exatamente


onde estava e o que fazia na terça-feira anterior ao
domingo em que este sermão foi pregado. Por volta
da hora em que muitos de nós tomávamos nosso
café da manhã e ligávamos a TV para assistir às
notícias, os ataques terroristas já estavam em
andamento em New York e Washington DC. Na
sede do Grace to You, fizemos naquela manhã um
programa especial, uma entrevista com John
MacArthur, na qual ele discutiu o significado da
tragédia humana e a soberania de Deus à luz de
Lucas 13.1-5. O programa foi enviado a estações
de rádio para ser transmitido no dia seguinte.
John gastou o restante daquela tarde com um
pequeno grupo de homens que constituíam a
equipe de servidores do Grace to You, compilando
material sobre o fundamentalismo islâmico e o
terrorismo no Oriente Médio. Ele rascunhou a
maior parte desta mensagem naquela mesma tarde,
enquanto o resto da nação era impressionada pelas
novas reportagens sobre a catástrofe. Esta é a mais
longa mensagem já pregada na Grace Community
Church e foi ouvida pela maior audiência que já
esteve em um culto regular da igreja — talvez mais
de 5.000 pessoas em um culto vespertino, solene e
inesquecível. Todas as salas disponíveis estavam
lotadas. O culto se estendeu por 45 minutos além
do tempo normal, e ninguém saiu mais cedo ou
reclamou. Em semanas, CDs desta mensagem
superaram em vendas qualquer outra mensagem
no catálogo de Grace to You, incluindo mensagens
que haviam sido best-sellers por três décadas.
Um pequeno livro, intitulado Terrorismo, Jihad
e a Bíblia, baseado nesta mensagem, foi lançado
em dezembro de 2001 e foi, semelhantemente, um
grande best-seller por vários meses.

N Na terça-feira, 11 de setembro de 2001, todos


vimos o mais terrível ataque contra os Estados
Unidos, e as imagens ainda estão profundamente
embebidas em nossa mente e, talvez, permanecerão
ali por longo tempo. Morte e devastação de
proporções monumentais fazem do ataque em Pearl
Harbor a única comparação próxima. Cerca de
2.400 pessoas foram mortas em Pearl Harbor, a
maioria delas, militares. Na terça-feira, 2.800
pessoas foram mortas, e a maioria delas eram civis.
Pearl Harbor tem sido, há muito, o ícone de
ataques contra esta nação. Ele não será mais aquele
ícone singular, porque, no futuro, o ataque terrorista
a New York City e a Washington DC, em 11 de
setembro, será o novo marco. Esses ataques foram
conduzidos não por uma nação, não por uma aliança
de nações, e sim, por um grupo clandestino de
terroristas itinerantes do Oriente Médio.
Todos sabemos o que aconteceu; em nossa era
dominada pelos meios de comunicação, não nos
falta imagem visual ou explicações verbais. Quatro
voos domésticos americanos, que se dirigiam da
costa leste para a costa oeste, foram sequestrados e
voaram numa rota de colisão para atingir alvos
específicos a fim de matar pessoas, humilhar a
nação, devastar a economia e injuriar os militares. A
ideia era enviar aos Estados Unidos uma mensagem
de que existe um poder maior do que o superpoder
americano. Um grupo de muçulmanos extremistas,
suicidas e assassinos estava se afirmando como mais
poderoso do que esta grande nação.
Dois dos aviões, cheios de combustível,
atingiram seus alvos com acurácia catastroficamente
destrutiva, chocando-se a toda força com as torres
gêmeas do World Trade Center, em New York City,
fazendo-as ruir ao chão. Outro avião atingiu o
Pentágono, matando várias centenas de pessoas.
Outro avião nunca atingiu o seu alvo, não
importando qual era esse alvo. Todos sabemos os
detalhes do que aconteceu.
Mas nossa mente anseia por saber por que isso
aconteceu. De fato, parece-me que as pessoas nos
Estados Unidos são obcecadas por saber por que as
coisas acontecem. Sempre que um avião cai, sempre
que um crime domina os meios de comunicação,
queremos saber por que essas coisas acontecem.
Analistas, psicólogos e criminologistas estudam os
detalhes para achar um motivo que explique por que
essas coisas acontecem.
Por que as pessoas fazem esse tipo de coisa?
Tentarei oferecer-lhes algumas respostas. Tenho
alguns pensamentos borbulhando em minha mente.
Para trazer ordem e organização a esses
pensamentos, preciso ficar bastante preso ao que
escrevi.
Em um nível superficial, sabemos por que essa
tragédia aconteceu. Todos sabemos agora que existe
um grupo de terroristas altamente desenvolvido e
sofisticado no Oriente Médio; e eles são a razão
superficial e imediata. Fontes dos serviços de
inteligência nos indicam que a razão imediata não é
um homem, Osama bin Laden, cujo nome agora é
familiar a todos. Ele é, provavelmente, o principal
homem que estava por trás planejando os
acontecimentos que levaram a esse desastre. Mas ele
parece ser apoiado por pessoas como Saddam
Hussam, do Iraque — e quem sabem quantos outros
extremistas no Oriente Médio fazem parte dessa
rede enorme.
Esses fatos nos levam imediatamente para a
terra da Bíblia. Os terroristas não eram noruegueses,
argentinos, mexicanos ou chineses. Eram naturais do
Oriente Médio, da terra da Bíblia. Uma notícia da
agência Reuters, emitida de Londres, dizia: “Osama
bin Laden, o dissidente saudita, advertiu três
semanas atrás que ele e seus seguidores realizariam
um ataque sem precedente nos interesses do Estados
Unidos, por causa de seu apoio a Israel... Abdel-
Bari Atwan, editor em Londres da revista semanal al
Quds al Arabi, em língua árabe, disse que
fundamentalistas islâmicos, liderados por Bin Laden,
estavam, ‘quase certamente’, por trás dos ataques ao
World Trade Center, em New York. ‘Isso é muito
provavelmente a obra de fundamentalistas islâmicos.
Osama bin Laden advertiu três semanas antes que
atacaria os interesses dos Estados Unidos por meio
de um ataque sem precedente, um ataque muito
grande’, Atwan disse à Reuters. ‘Recebemos,
pessoalmente, informação de que ele planejava
ataques grandes, muito grandes, contra os interesses
dos Estados Unidos. Recebemos vários avisos como
esse. Não os tomamos com seriedade, preferindo
ver o que aconteceria antes de noticiá-lo’” (Karen
Matusic, Bin Laden Avisou sobre o ‘Ataque sem
Precedente’ — Reuters, 13 de setembro de 2001).
Quem é este homem, Osama bin Laden? O que
é essa rede de terroristas e o que os motiva a
perpetrar tais atrocidades impensáveis? Todos
lembramos que eles tentaram outro ataque — não
do alto da torre, mas de baixo, em um esforço
anterior de explodir o World Trade Center. Em anos
recentes, temos sido informados da erupção de
ataques terroristas contra bases americanas, quartéis
militares americanos e forças americanas no Oriente
Médio e outro lugares. Também sabemos de
homens-bomba suicidas que têm explodido, com
frequência crescente, lugares públicos como
pizzarias, em Israel — explodindo a si mesmos no
processo. O que leva as pessoas a fazerem isso e por
que isso acontece? Agora a pergunta é mais
comovente do que antes porque ela nos envolve. Ela
nos envolve não somente por causa do que
aconteceu, mas também porque poderia ter
acontecido em qualquer outro dia, em qualquer
outro lugar. Como disse nosso Secretário de Defesa,
Donald Rumsfeld: “Não podemos parar todas as
táticas de todos os terroristas em todo o tempo”.

A MOTIVAÇÃO NATURAL
Primeiramente, quero considerar uma categoria
com a qual precisamos começar: há uma razão
natural para isso. Os sociólogos e os psicólogos
modernos têm tentado convencer-nos de que o
homem é basicamente bom. Mas isso não é verdade.
O homem é basicamente mau; é basicamente ímpio.
Jeremias 17.9 diz: “Enganoso é o coração, mais do
que todas as coisas, e desesperadamente corrupto;
quem o conhecerá?” Em outras palavras, quem
pode descobrir o que está no coração? Ele é
desesperadamente corrupto.
Romanos 3 descreve o homem como uma
serpente venenosa (v. 13) e como um assassino
cujos pés são “velozes para derramar sangue” (v.
15). Precisamos apenas olhar para a história da
humanidade para acharmos evidência dessa verdade.
A história do mundo está cheia de derramamentos
de sangue. Isso é evidente não somente em atos
individuais de criminalidade, mas também em atos
de criminalidade nacionais e coletivos. O homem é,
por natureza, um assassino. Vemos isso nas guerras
do mundo. Vemos isso nas ações terroristas no
mundo hoje. Vemos isso nas sociedades tribais e nas
cidades modernas do mundo. O homem é um
assassino. O primeiro crime mencionado na Bíblia
está registrado em Gênesis 4.8. Caim matou seu
irmão e marcou a vida humana com esse começo
ignóbil.
Por que isso acontece? A epístola de Tiago nos
ajuda a chegarmos a uma resposta. Quando o
capítulo 4 dessa epístola começa, Tiago faz a mesma
pergunta que estamos fazendo, que nossa cultura
está fazendo e que nosso mundo está fazendo. O
capítulo começa assim: “De onde procedem
guerras e contendas que há entre vós?” (v. 1). Por
que essas coisas acontecem? Por que há assassinato?
Por que há guerra? Por que há contendas e conflitos
em todos os níveis?
A resposta é dada em seguida: “De onde,
senão dos prazeres que militam na vossa carne?”
(v. 1). “Carne” inclui a natureza física e espiritual
dos seres humanos. São os prazeres dentro de nós
que geram guerra. Qual é a fonte dos conflitos? A
palavra grega polemos (“guerras”) se refere a um
estado de conflito prolongado. Qual é a fonte de
conflitos? Mache (“conflito”) se refere a lutas
separadas, individuais. O que causa essas lutas e
conflitos separados?
Tudo se resume a nossos prazeres. Essa é a
palavra hedone no grego, da qual obtemos nossa
palavra hedonismo, que é o anseio do amor próprio,
o anseio de satisfazer o que alguém deseja. Um
hedonista é alguém que vive para a satisfação de seu
amor próprio — ele vive para satisfazer a si mesmo,
para conseguir o que deseja e ter o que satisfaz a si
mesmo. As guerras começam porque pessoas
querem coisas para si mesmas e alguém se interpõe
no caminho.
O versículo 2 desenvolve esta verdade:
“Cobiçais e nada tendes”. Esse é o problema. Você
tem essa compulsão hedonista, mas ela é errada. O
que você quer se torna uma guerra dentro de você;
isso é o quanto você o deseja. Mas alguém entra no
caminho da satisfação desse desejo, por isso Tiago
diz: “Matais” (v. 2). A razão natural por que
pessoas matam é a satisfação pessoal insatisfeita e
fora de controle. As pessoas não são basicamente
boas; são basicamente más. Se não tivéssemos leis e
a restrição que elas impõem, toda a humanidade
estaria matando a si mesma em todo o tempo. As
pessoas são impulsionadas por seus desejos egoístas
— por sua necessidade de satisfazer seu amor
próprio. São impulsionadas por um hedonismo
consumista. São impelidas pelo desejo por prazer,
satisfação e realização. Qualquer um que se coloque
no meio do caminho tem de ser sacrificado, para
que o desejo seja satisfeito.
Você tem de perguntar a si mesmo: “Por que
uma mãe afoga seus cinco filhos?” Porque esses
filhos estavam no caminho da realização e da
satisfação dela. Por que os Poloneses, em Jedwabne,
massacram em um único dia 1.600 judeus, durante a
Segunda Guerra Mundial? Eles tinham vivido juntos
por 300 anos; trabalhavam juntos e estudavam
juntos. Contudo, em um período de duas semanas,
os poloneses resolveram deixar de ser vizinhos para
se tornarem assassinos. Eles mataram todos os 1.600
em um mesmo dia. Por quê? Foi o ódio para com a
raça judia? Não, eles nunca haviam sido expostos à
propaganda anti-semita. O que aconteceu foi que os
alemães tomaram controle da cidade e disseram:
“Vocês podem matá-los, se quiserem, e apropriar-se
de suas terras, fazendas e bens” (Juan T. Gross,
Neighbors: The Destruction of the Jewish
Community in Jedwabne, Poland [Princeton, N.J.:
Princeton University, 2001]). E os Poloneses
fizeram isso. Dê ao coração humano permissão para
assassinar, e ele o fará.
Por que um jovem homem russo mata a sua
família em Sacramento? Porque achou que eles
permaneciam no meio do caminho de sua satisfação
e realização. Por que Hitler massacrou os judeus?
Ele os via como um obstáculo à sua supremacia
ariana. Por que Joseph Stalin massacrou outros
milhões? Ele pensava que tais pessoas se
interpunham no caminho de seu império mundial.
Pode ser tão amplo como isso ou tão simples como
uma mãe que mata seus filhos porque ela não pode
achar satisfação com eles no caminho.
Tiago prossegue, dizendo: “Invejais, e nada
podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada
tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis,
porque pedis mal, para esbanjardes em vossos
prazeres” (vv. 2-3).
Essa é a razão por que pessoas matam: elas
querem algo, e alguém se coloca no caminho. Quer
matem em ampla ou em pequena escala, os corações
ímpios de pessoas cobiçosas que não querem que
seu prazer seja negado matarão para ter seu prazer.
Essa é a patologia natural do coração humano caído.
Ele impele as pessoas a atos extremos de assassinato,
por paixões tão intensas que beiram à loucura.

A MOTIVAÇÃO HISTÓRICA
Há uma motivação natural e, em segundo
lugar, uma motivação histórica. Para compreender
isso, temos de retornar ao Oriente Médio, à Bíblia e
às origens das nações. E isso nos leva ao livro de
Gênesis.
Gênesis é o livro das origens. Gênesis significa
“começos”. Em Gênesis 10 e 11, temos o que os
eruditos bíblicos chamam de a tabela das nações.
Quando você examina todas as genealogias de
Gênesis 10, vê todos os tipos de nomes de pessoas,
famílias e nações. Começando em 11.10, você acha
mais genealogias de indivíduos que foram pais de
grupos de famílias e povos. Isso é um registro de
uma sociedade primitiva que se desenvolveu desde o
tempo de Noé. Você lembra que Deus inundou todo
o mundo, conforme registrado em Gênesis 6 a 9, e
salvou apenas oito pessoas: Noé, sua esposa, seus
três filhos e as esposas destes. Oito pessoas saíram
da arca e povoaram o mundo. O capítulo 10 alista as
gerações que resultaram de Noé por meio de seus
três filhos: Sem, Cam e Jafé.
Jafé, o mais velho dos filhos, foi o pai dos
povos que conhecemos pelo nome de indo-europeus
(Gn 10.2-5). De Jafé vieram aqueles que vivem na
Europa até à Índia, incluindo os que vivem na
Rússia e, talvez, aqueles que atravessaram o Mar de
Bering, para habitar as Américas do Norte e do Sul,
os povos nativos. Cam foi o pai das famílias que
habitam a África e o Extremo Oriente, incluindo o
mundo asiático, bem como regiões do Oriente
Médio (Gn 10.6-20). E, depois, do mais bem
conhecido dos filhos de Noé, Sem, vieram os povos
semitas do vale da Mesopotâmia, do Oriente Médio,
como o conhecemos, tanto os Judeus como os
Árabes (Gn 10.21-23). Os povos oriundos de Sem
viveram no Norte, no Sul e no Leste da terra de
Israel. Não queremos simplificar demais esta
discussão porque há complexidades e complicações
em entendermos a história, mas tentarei dar-lhe um
entendimento que seja bastante claro para que você
compreenda o que está acontecendo hoje.
Vamos voltar um pouco. Quando Deus criou a
humanidade, ele colocou Adão e Eva em um lugar
chamado Jardim do Éden. A Escritura indica que o
jardim era localizado nas adjacências do vale dos
rios Tigre e Eufrates, na região da Mesopotâmia —
o coração do Oriente Médio (Gn 2.14-15). Esse era
o paraíso original de Deus: o lugar em que Deus
passeava e falava com Adão na viração do dia, o
lugar em que Deus colocou a árvore da vida e a
árvore do conhecimento do bem e do mal (2.9).
Hoje esse lugar é o centro do mundo árabe-islâmico.
Ali foi construída a Torre de Babel, onde a religião
mundana começou (11.1-9). Posteriormente, a
cidade de Babilônia foi ali edificada; ali hoje é o
Iraque. Foi ali que Noé viveu e pregou antes do
Dilúvio. A região está cheia de história bíblica e
religiosa. Mas, quando Abraão entrou em cena,
Deus deu aquela terra a Abraão e à sua família.
Deus lhe deu toda a “terra, desde o rio do Egito até
ao grande rio Eufrates” (Gn 15.18).
Abraão era filho de um homem chamado Tera,
que era um adorador do deus lua. Essa era a forma
mais popular de idolatria nos dias de Abraão. Havia
dois grandes centros de adoração ao deus lua: um
desses centros era um lugar chamado Ur, que se
localizava no Golfo Pérsico, no que hoje é o
Kuwait. O outro lugar era Harã, que ficava na
região do Iraque moderno. Abraão nasceu em Ur,
em uma família de adoradores do deus lua.
Essa região histórica, a terra do Oriente Médio,
o vale da Mesopotâmia e a terra dos estados árabes,
foi o lugar em que começou a história da
humanidade. Essa mesma terra também será
importante no final da história humana. Os profetas
da Bíblia nos contam que o mundo chegará ao fim
em uma grande conflagração e uma grande batalha
nesse mesmo lugar. Exércitos imensos do Norte e do
Sul convergirão ao vale do Megido, que é uma parte
do Israel moderno (Ap 16-17). A Escritura diz que
sangue será derramado em toda a terra de Israel até
que Jesus volte, destrua todos os ímpios e estabeleça
o seu próprio reino, em paz e justiça. Aquela região
é uma parte muito importante da terra. Nenhuma é
mais estratégica.
Abraão deu origem ao povo judeu. Deus falou
a Abraão, na época conhecido como Abrão: “Sai da
tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e
vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma
grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o
nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as
famílias da terra” (Gn 12.1-3).
Depois, Deus contou a Abraão os detalhes da
sua promessa quanto à terra: “Naquele mesmo dia,
fez o SENHOR aliança com Abrão, dizendo: À tua
descendência dei esta terra, desde o rio do Egito até
ao grande rio Eufrates: o queneu, o quenezeu, o
cadmoneu, o heteu, o ferezeu, os refains, o
amorreu, o cananeu, o girgaseu e o jebuseu” (Gn
15.18-21). Deus deu a Abraão tudo desde a costa
no Mediterrâneo até ao Oriente Médio.
Em outras palavras, por direito divino,
procedente dos lábios de Deus mesmo, a região foi
dada a Abraão e à sua descendência. No tempo de
Abraão, todos os povos alistados nos versículos 19 a
21 ainda ocupavam a terra. Embora Deus houvesse
prometido a terra a Abraão, ela estava na posse
desses grupos.
Gênesis 10.21-31 registra a lista de grupos de
pessoas e de famílias, bem como tribos e nações,
que existiam como descendentes de Sem. Devia
haver um grande número deles naquela região.
Muitas tribos, famílias e grupos de povos viviam
naquela parte do mundo naquela época. Era, talvez,
a região mais densamente habitada do mundo. De
fato, em princípio ela foi a única parte habitada do
mundo, porque, depois que o Dilúvio terminou,
somente oito pessoas sobreviveram e começaram a
repovoar exatamente ali.
Em pouco tempo, o nome Mizraim, o nome
hebraico que representa o Egito, tornou-se
proeminente. Também, em pouco tempo, outras
nações poderosas como Harã e Assur (Síria e
Assíria) vieram à existência. Todas essas grandes
tribos, famílias e clãs eram idólatras e rejeitaram o
Deus vivo e verdadeiro, o Deus criador.
Quando Deus prometeu a Abraão que toda a
terra seria dele, Abraão e sua descendência foram
colocados em rota de conflito político e religioso.
Para que a terra pertencesse a Abraão e a seus
descendentes, Deus teria de tornar a terra acessível
para eles, e Abraão teria de ser leal a Deus. Se
Abraão fosse leal e obediente a Deus, Deus lhe daria
a terra. Mas, se os descendentes de Abraão fossem
desobedientes a Deus, eles enfrentariam batalhas
intermináveis tentando possuir o que Deus lhes dera.
Você pergunta: “Era apenas para julgar as
nações que possuíam a terra?” A resposta é sim,
porque Deus é justo em julgar a adoração de ídolos.
O primeiro mandamento diz: “Não terás outros
deuses diante de mim” (Êx 20.3). A idolatria será
julgada por Deus em toda época. Tirar aquela terra
preciosa das mãos dos que se haviam voltado contra
Deus e dá-la ao povo a quem ele mandara amá-lo e
servi-lo foi um julgamento justo. A região do
Oriente Médio é a terra mais rica da face da terra.
Há as riquezas litorâneas do vale de Sarom, em
Israel; as terras férteis que descem a região
montanhosa de Israel; as vastas riquezas minerais do
mar Morto; os grandes tesouros de petróleo na
península arábica; a valiosa madeira de lei que antes
cobria o Líbano. Acrescente ainda as planícies
férteis do vale do Jordão, a produtividade inigualável
e a incrível riqueza química no mar Morto. Deus
deu tudo isso a eles. Se fossem obedientes a ele,
teriam aquela terra.
O povo idólatra daquela terra foi colocado em
rota de colisão com Israel. A razão por que Israel
nunca foi capaz de possuir a terra que lhe foi dada é
que Israel não foi fiel a Deus. Mas um dia eles
“olharão para aquele a quem traspassaram;
pranteá-lo-ão como quem pranteia por um
unigênito e chorarão por ele como se chora
amargamente pelo primogênito” (Zc 12.10). Eles
aceitarão Jesus como seu Messias, chegarão à
salvação. E, no dia em que chegarem à salvação, o
próprio Messias lhes dará a terra. Nesse ínterim, eles
continuam a reivindicar o direito à terra e, enquanto
o fazem, o resto do mundo árabe é seu inimigo
declarado em um grau ou outro.
Abraão contribuiu para esse conflito. Deus lhe
deu a promessa e lhe pediu que cresse nele para ter
um filho. Nesse tempo, Abraão tinha quase cem
anos, e Sara tinha noventa anos, e não podiam ter
filhos (Gn 11.30; 17.15-17). Abraão deve ter se
perguntado como ele poderia ser pai de muitas
nações, se não podia ser pai de um único filho. Um
dia, a sua esposa, Sara, chegou até ele com este
plano: “O SENHOR me tem impedido de dar à luz
filhos; toma, pois, a minha serva, e assim me
edificarei com filhos por meio dela” (Gn 16.2). Em
um ato de desconfiança para com Deus, Abraão
seguiu o plano de sua esposa. Hagar ficou grávida e
deu à luz um filho, cujo nome era Ismael, um filho
ilegítimo, não o filho que Deus prometera, não o
filho da aliança (Gn 16.4, 15). Deus lhe disse:
“Quanto a Ismael, eu te ouvi: abençoá-lo-ei, fá-lo-
ei fecundo e o multiplicarei extraordinariamente;
gerará doze príncipes, e dele farei uma grande
nação. A minha aliança, porém, estabelecê-la-ei
com Isaque, o qual Sara te dará à luz, neste mesmo
tempo, daqui a um ano” (17.20-21). Sara teve,
realmente, Isaque, e, por meio dele, o povo judeu
veio à existência. Mas, por meio de Ismael, surgiram
mais inimigos, doze tribos nômades que habitaram o
Norte da Arábia (25.13-16). Para tornar a situação
pior, Esaú, o filho de Isaque, foi rejeitado por seu
pai (27.30-40). De Esaú surgiram mais povos que
não pertenciam à aliança, produzindo mais inimigos.
O Oriente Médio está cheio de descendentes de
todos esses povos, que estão em conflito com o
direito de Israel quanto à promessa feita a Abraão.
Deus queria que Israel removesse aqueles povos
ímpios e adúlteros. Ele queria que Israel fizesse isso
quando os tirou do Egito, depois de haverem
permanecido 400 anos em cativeiro (Ex 23.23-33;
At 7.6). Deus levantou Moisés para liderá-los em
sair do Egito. Moisés os levou ao deserto, mas o
povo era incrédulo. Toda aquela geração morreu no
deserto, porque cometeram idolatria (1Co 10.10-
11). Quando uma nova geração se levantou, Deus os
levou à Terra Prometida, a terra de Canaã. Como
parte da promessa, eles precisavam destruir os
habitantes idólatras da terra (Js 1.1-9). Deus já tinha
demonstrado na história que ele destruiria os ímpios
— ele inundou o mundo com as águas do Dilúvio
(Gn 6). Agora, Israel, e não a água, deveria ser o
instrumento de Deus para limpar a terra da idolatria.
Eles viram a vitória sobre o Egito. Todo o
exército egípcio foi afogado, e as grandes pragas que
vieram sobre o Egito causaram uma quantidade
imensa de mortes (Ex 7-11). Eles conquistaram as
tribos da parte superior ao oriente do Jordão (Dt 3).
E ficaram prontos para entrar na terra de Canaã e
conquistar. Em vez disso, eles entraram na terra de
Canaã e foram derrotados. Em um lugar chamado
Ai, eles foram derrotados porque havia pecado no
acampamento (Js 7). Eles nunca fizeram o que Deus
lhes disse que deviam fazer. Nunca foram a espada
de Jeová. De modo que, agora eles estão no meio do
conflito, ameaçados incessantemente pelos vizinhos
ao seu redor.
No entanto, precisa haver uma advertência. A
aliança de Deus com Israel não foi quebrada; ainda é
verdadeiro o fato de que a nação que abençoa a
Israel é abençoada, e a nação que amaldiçoa a Israel
é amaldiçoada (Gn 12.3). Qualquer nação que
ameaça a existência de Israel ficará sob o julgamento
de Deus. Isso é repetido na Escritura em Salmos
121, 125, 129 e Isaías 43.
Portanto, a razão histórica da ação terrorista é
clara: o conflito retrocede a tensões entre os povos
árabes e a descendência de Abraão. Duzentos e
cinquenta milhões deles cercam os cinco milhões de
judeus. Os judeus creem que têm o direito divino de
possuir a terra, mas não podem tomar a terra porque
Deus não lhes quer dar até que eles se convertam de
seu pecado e recebam o seu Messias. No Oriente
Médio, todos estão contra Israel, até Satanás. Se
você duvida disso, leia Apocalipse 12 e ali achará
uma descrição de Satanás tentando destruir Israel.
Portanto, a Escritura diz que os descendentes
de Ismael habitarão fronteiros a “todos os seus
irmãos” (Gn 16.12). Todos esses povos estão
tentando coexistir no Oriente Médio, e lá está o
pequeno Israel, o povo da aliança, incrédulo,
apóstata, mas ainda, o povo da aliança, cercado por
povos que têm destruição em sua mente.
Nos tempos bíblicos, esses diversos grupos de
povos viviam separados. Isso ajudava naturalmente a
manter a paz. É um sistema de restrição e equilíbrio.
Quando todos tinham a mesma língua e a mesma
mente em batalha, Deus os espalhou, separou suas
línguas e os dispersou pelo mundo (Gn 11.9).
Quando pessoas ímpias se juntam, começa a existir
uma grande força de pessoas ímpias. Elas se tornam
uma grande força para o mal, abrangente e irrestrita.
Deus separou o mundo em nações porque isso
impede o mal gigantesco. É difícil saber quantos
países árabes estão no Oriente Médio, porque as
fronteiras têm sido anuladas, e as identidades
nacionais tem sido eliminadas por um grande poder,
ou seja, a religião islâmica, que predomina naquela
região do mundo.
O império árabe se tornou vasto por causa de
um homem chamado Maomé, cujo nome, em árabe,
significa “altamente louvado”. Ele nasceu na cidade
de Meca em 570 d.C., quase 500 anos depois de
Cristo. Ele afirmava ser um descendente direto de
Ismael. Isso é conveniente. Maomé se tornou a fonte
do Alcorão, que é o livro sagrado do islamismo. Em
622 d.C., ele fixou sua residência em Medina, e a
data se tornou a data oficial para o início do
calendário islâmico. Dentro de cem anos após a
morte de Maomé, o mundo árabe estava unificado
em um grau notável, visto que aquela parte do
mundo sucumbiu ao poder do islamismo, e a maior
parte dele sucumbiu pelo poder da espada. Uma
guerra cujo propósito é colocar os infiéis em
submissão ao islamismo é considerada jihad, uma
guerra santa. O próprio Maomé matou e roubou
infiéis em nome de Alá. “Converta-se ou morra” é o
instrumento mais persuasivo no arsenal missionário
islâmico. Essa tendência para morte ainda existe nos
segmentos radicais do islamismo. O islamismo
sempre conquistou pela espada. De fato, ele
conquistou a terra de Israel e dominou-a até 1948.
Vemos uma razão natural por que isso
acontece. Vemos uma razão histórica por que isso
acontece. Há uma animosidade profunda para com
Israel. Então, por que eles atacam os Estados
Unidos? Somos o principal apoiador e amigo de
Israel. Na literatura que consultei, os muçulmanos
radicais se referem a Israel como “o pequeno Satã” e
aos Estados Unidos, como “o grande Satã”. Somos
a maior força e, portanto, a maior ameaça enquanto
apoiamos Israel.

A MOTIVAÇÃO RELIGIOSA
Isso nos traz à terceira razão, que é a razão
religiosa. Vamos além do conflito de grupos de
pessoas para a própria religião. Há 1,2 bilhão de
muçulmanos no mundo hoje. Islã é uma palavra que
significa “render-se”, “submeter-se”. O islamismo
afirma ser totalmente rendido à vontade de Alá. E a
vontade de Alá, eles creem, foi revelada por meio de
seu profeta Maomé. E a revelação de Alá está
escrita no livro sagrado do islamismo, chamado
Alcorão.
Sem entrar em toda a teologia do islamismo,
permita-me apresentar-lhe algumas coisas sobre as
quais você pode pensar, assim entenderá a
sustentação teológica. Há seis artigos de fé básicos
no islamismo. Se tivéssemos de elaborar uma
declaração doutrinária do islamismo, ela seria assim:

1. Os muçulmanos creem que somente Alá é a


única deidade verdadeira. Ele não é uma trindade.
Ele não é o Deus do Antigo Testamento e não é o
Deus do cristianismo.
2. Os muçulmanos creem que o Alcorão é o
livro mais sagrado. O islamismo reconhece outros
livros sagrados, mas somente o Alcorão é puro.
3. Maomé é o maior profeta de Alá. De acordo
como a literatura islâmica, Alá enviou milhares de
profetas (Jesus é um deles), porém Maomé é o
maior profeta.
4. Os muçulmanos creem nos anjos de Alá.
5. Alá predeterminou todas as coisas por
decreto imutável. Alá é totalmente soberano, e o
destino de todos é predeterminado por Alá.
6. Os muçulmanos creem num dia de
julgamento, quando todos os mortos serão
ressuscitados para comparecer em julgamento diante
de Alá; e serão todos julgados segundo as suas
obras.

Nenhum muçulmano pode saber com certeza


onde ele irá na vida por vir. O destino de todos é
decidido por Alá por meio de um tipo de
determinação absoluta, arbitrária. A maioria dos
muçulmanos se apega à esperança de que as boas
obras pesem bastante nas balanças de justiça de Alá.
Mas não há garantias. Esses são os seis artigos de fé
básicos dos islamismo.
E há cinco deveres, chamados os pilares do
islamismo. Esses deveres são práticas religiosas
exigidas.

1. Recitar a declaração de fé islâmica,


conhecida como Shahada. Ela é um canto que diz:
“Não há deus, senão Alá, e Maomé é o seu profeta”.
A maioria dos muçulmanos recitam-na várias vezes
por dia.
2. Orar cinco vezes ao dia. Essas orações são
orações formuladas e prescritas. As cinco vezes no
dia são especificadas. As mesquitas islâmicas têm
geralmente um minarete erguendo-se da mesquita.
No topo do minarete, há um muezim que anuncia a
chamada à oração nos momentos exatos para as
cinco orações, durante o dia.
3. Os muçulmanos têm de ajudar os pobres.
Para realizar isso, os muçulmanos são taxados em
2,5% de toda a sua renda anual e sua propriedade.
4. Um mês de jejum chamado Ramadã. Como
eles jejuam por um mês e sobrevivem? O jejum lhes
permite comer à noite, mas não à luz do dia. O
Ramadã comemora a primeira revelação vinda a
Maomé no ano 610 d.C. Quando tinha 40 anos de
idade e recebeu sua primeira suposta revelação de
Deus. E isso é comemorado pelo Ramadã. Comer é
permitido somente à noite e pela manhã antes da
aurora.
5. Todo muçulmano deve fazer, pelo menos
uma vez em toda a sua vida, uma peregrinação a
Meca, a menos que isso seja totalmente impossível
por alguma restrição.

Em essência, isso é a prática e a teologia. Você


pode resumi-lo assim: Deus é um e não três.
Cristãos e judeus são considerados infiéis. Alá ama
somente os muçulmanos fiéis; ele não ama
pecadores ou infiéis. A maioria dos muçulmanos
fiéis acreditam que Alá é distante, impessoal e
desconhecível. Eles ensinam que Jesus Cristo era
um simples homem, um profeta, e não Deus, o
Filho. Alguém que afirma a deidade de Cristo torna-
o um segundo deus. Isso é um pecado imperdoável
(chamado shirk) no islamismo e enviará a pessoa ao
inferno para sempre. Portanto, é difícil um
muçulmano vir a Cristo porque ele foi programado
durante toda a sua vida a acreditar que, se
reconhecer Jesus como Deus, irá para o inferno,
para sempre.
Além disso, a teologia dos muçulmanos nega
que Jesus morreu na cruz, porque eles afirmam que
ele era um profeta de Alá, e Alá nunca deixaria isso
acontecer a um de seus profetas. Portanto, ele não
morreu na cruz e, consequentemente, não
ressuscitou dos mortos e não voltará nunca.
Ensinam também que ninguém pode ter salvação,
exceto um muçulmano. Embora um muçulmano
nunca saiba se tem a salvação, somente os
muçulmanos terão a salvação no final.
Isto é o mais desanimador: o islamismo não
tem salvador. Eles morrem sem qualquer maneira de
saber para onde estão indo. A teologia muçulmana
não tem expiação pelo pecado e, por conseguinte,
nenhuma base para o perdão.
Nunca esquecerei uma conversa que tive com
um muçulmano em um avião. Eu perguntei: você
peca? Ele respondeu: “É claro, em todo o tempo”.
Eu lhe disse: o que acontecerá com pessoas que
pecam?
“Elas podem ir para o inferno.”
Eu disse: por que você continua pecando?
Ele respondeu: “Não posso parar”.
Perguntei-lhe: você tem alguma esperança?
E isso foi o que ele disse: “Espero que o deus
me perdoará”.
Eu lhe perguntei: por que ele faria isso?
Ele respondeu: “Não sei”.
Nenhuma expiação, nenhuma base de perdão,
nenhum salvador. Temos uma grande mensagem
para eles — há um Salvador.
De onde veio essa doutrina? Ela vem
diretamente do inferno. Isso é uma das doutrinas de
demônios. Maomé cresceu em Meca. Ele pertencia
a uma tribo chamada Quarish. A religião em Meca
nos dias de Maomé era idólatra — eles adoravam
360 ídolos e uma proeminente pedra negra que o
Alcorão diz foi dada a Abraão por Gabriel. De
acordo com a tradição islâmica, quando Maomé era
um rapazinho, foi visitado pelo arcanjo Gabriel, que
abriu o peito de Maomé, removeu seu coração,
limpou-o e o pôs de volta. Ali estava Maomé,
crescendo em Meca, com 360 ídolos. Mas Satanás
estava operando nele para inventar uma religião que
terminaria em divisão e impeliria todos a um grande
e tremendo esforço para desfazer a promessa da
aliança de Deus. Maomé seria o agente.
O principal dos 360 ídolos era Alá, o deus. Alá
era o nome do deus lua (The Moon-god Allah in the
Archeology of the Middle East [Eugene, Oreg.:
Harvest House, 1992], p. 8). Um dos símbolos do
islamismo é uma lua crescente. Alá era o deus lua,
alguma forma do deus que a família de Abraão
adorava e que o pai de Abraão, que era um idólatra,
adorava. Até o nome Tera é um nome que se
relaciona com o nome do deus lua.
O que Maomé fez sob a influência dos poderes
das trevas foi isto: ele pegou elementos de várias
formas de adoração de ídolos e os uniu em uma
forma de religião, fazendo apenas uma mudança.
Ele exigiu que houvesse apenas um deus, Alá, o
deus lua. Onde ele obteve sua informação? Em 610
d.C., ele começou a receber revelações apavorantes
acompanhadas por convulsões violentas. Ele não
tinha certeza de que as visões eram divinas ou eram
demoníacas. Mas sua esposa lhe disse que se
submetesse às revelações porque estava convencida
de que elas vinham de Gabriel. Por isso, nos vinte e
dois anos seguintes, de 610 d.C. até sua morte em
632 d.C., ele continuou a receber essas revelações
do espírito que o controlava. Essas revelações foram
colecionadas, memorizadas e, a princípio, passadas
adiante oralmente. Mais tarde, elas foram escritas, a
partir da memória, pelos seguidores de Maomé,
formando o Alcorão. Um acréscimo posterior ao
Alcorão foi o Hadif, que é outro ensino e tradição.
Maomé construiu todo o seu sistema de religião
nas revelações demoníacas, adaptando e mesclando
várias formas e características da adoração de ídolos
que sempre existiu em Meca, com uma única coisa
nova: o deus lua, Alá, como o único deus
verdadeiro; e todos os outros não o eram. A
adoração de todos os outros deuses foi proibida.
Satanás se contenta com um politeísta e com
um monoteísta, contanto que o deus errado seja
adorado. O islamismo é hedonismo monoteísta.
Agora, quero fazer uma observação. Talvez
você já ouviu falar do movimento Muçulmano
Negro Americano e se pergunte como ele se encaixa
nisso tudo. O verdadeiro islamismo lhe dirá que esse
movimento não é islamismo verdadeiro. O que é o
movimento Muçulmano Negro Americano que foi
iniciado por Elijah Mohammed? É um híbrido
estranho. Elijah Mohammed se deparou com o
ensino de uma pessoa chamada Wallace Fard. E
pegou o ensino bizarro desse homem e o misturou
com o ensino da Sociedade Torre de Vigia, dos
Testemunhas de Jeová. Ele criou um híbrido
chamado fé muçulmana de negros; aqui eles a
chamam de A Nação Negra do Islamismo. Ela não é
verdadeiro islamismo. Elijah Mohammed disse que
Wallace Fard era Alá e que Louis Farrakan, que é o
líder do movimento, é o cumprimento de Isaías 9.6
— ele é o deus forte, o pai da eternidade e o
príncipe da paz. Isso é para o islamismo o que a
seita Testemunhas de Jeová é para o cristianismo.
Nosso propósito neste sermão é discutir o islamismo
verdadeiro e histórico.
Maomé ensinou que os judeus foram rejeitados
por Alá e amaldiçoados. Maomé também declarou
que o dever de todo muçulmano é subjugar todo o
mundo a Alá, se necessário pela guerra.
Obviamente, através dos séculos muitas pessoas que
tem seguido o islamismo não têm sido tão militantes
como os primeiros exércitos islâmicos. No entanto,
Maomé foi uma pessoa bastante má, agressiva e
perigosa. Portanto, há muito fundamento no sistema
islâmico para aquelas pessoas que querem justificar
a violência em nome de Alá. Um dos líderes
muçulmanos em nossa nação disse: “Estes radicais
têm literalmente sequestrado toda a religião para
satisfazer seus próprios objetivos” (James Rudin,
“The Vocabulary of Terrorism”, Religion News
Service, 11 de outubro de 2001). Mas eles podem
achar uma justificativa para o que fazem, porque é
inerente ao islamismo que eles têm de converter as
pessoas por qualquer meio. A verdade é que o
islamismo é, atualmente no mundo, o mais poderoso
sistema para a destruição da verdade bíblica e do
cristianismo; é também o principal perseguidor de
cristãos em todo o mundo, especialmente no Oriente
Médio e na África. Milhares de cristãos são mortos
nessa perseguição.
Para o islamismo, o mundo está dividido em
duas partes: Dar al Salaam (“casa de paz”), onde
Alá reina, e Dar al Harb (“casa de guerra”), onde
os infiéis vivem. Em 1948, Israel, visto pelos
muçulmanos como um povo infiel, invadiu a casa de
paz e tornou-a uma casa de guerra. Essa foi a razão
por que Arafat, o líder da Organização para a
Libertação da Palestina, disse: “Para nós, paz
significa a destruição de Israel” (citado em El
Mundo [Caracas, Venezuela, fevereiro de 1980]).
No pensamento de muitos líderes muçulmanos
extremistas, a única condição de paz é a total e
completa destruição de Israel. Volto a mais um
pouco da história: “Quando Israel ganhou os
primeiros conflitos militares com os Árabes, isso foi
uma derrota tremenda para Alá. Por fim, o aiatolá
Khomeini explicou, no Irã, que Israel era um
julgamento de Alá para a condição de esfriamento
dos muçulmanos. Portanto, a derrota de Israel se
tornou o primeiro sinal do prazer de Alá com os
muçulmanos fiéis” (Barbara Richmond, “Some
Facts about Islam”, na web:
http://www.foryourglory.org/Islam). Muitos
muçulmanos fundamentalistas radicais creem que,
para ganhar o prazer de Alá, eles têm de derrotar
Israel.
Um muçulmano fundamentalista egípcio disse:
“O islamismo cresce nas costas dos membros feridos
e no sangue de mártires”. Eles não se importam em
derramar seu sangue para atingir seus objetivos.
Guerra é uma linguagem que os radicais islâmicos
entendem, e toda guerra que eles empreendem é
santa. De acordo com o Alcorão, “Abraão não era
um judeu nem um cristão; mas ele era verdadeiro na
fé” (3:67). Os muçulmanos também insistem em
que os discípulos de Cristo eram muçulmanos,
porque Jesus era um profeta de Alá. Na Argélia, nos
últimos anos, entre 60.000 e 80.000 pessoas foram
mortas porque os muçulmanos guerrearam para
tornar a Argélia um estado islâmico. Grande número
de mulheres têm sido mortas por estarem sem véu, e
os fundamentalistas fazem voto de matar mais.
Através da História, a violência da jihad
islâmica tem sido focalizada contra cristãos em
muitos países. De 1894 a 1918, na Turquia os
muçulmanos perseguiram os armênios no que
permanece como a maior atrocidade histórica contra
cristãos. A crueldade dos muçulmanos superou até a
brutalidade do Império Romano nos três primeiros
séculos do cristianismo. Os muçulmanos turcos
quase foram bem-sucedidos em exterminar a raça
armênia. Por meio do processo de deportação,
doença, espancamento, fome e assassinatos, um
milhão de armênios foram mortos, e 1,5 milhão
fugiu do país. Um autor escreveu: “Em menos de
um ano, os armênios da Turquia, chegando quase ao
número de um milhão de jovens e velhos, pobres e
ricos, de ambos os sexos, foram afogados,
queimados, mortos à baioneta, morreram de fome
ou foram torturados até à morte ou foram
deportados, sem dinheiro, a pé e sem comida, pelos
rigorosos desertos da Arábia”.
Por oitocentos anos, o islamismo teve domínio
indisputado no Oriente Médio, desde o tempo de
Maomé em diante. As cruzadas foram um tentativa
fútil de obter novamente, por força, o controle
católico sobre a Terra Santa. Perto do fim das
cruzadas, os exércitos muçulmanos reconquistaram
o controle da Terra Santa e mantiveram poder
unilateral no Oriente Médio até 1948, quando Israel
obteve a independência. O mundo árabe está
tentando, hoje, reafirmar seu poder e reconquistar o
controle de Israel, principalmente por meio de
esforços terroristas. A agenda do fundamentalismo
islâmico é conquistar a terra novamente para o
islamismo, livrar a terra de uma nação infiel.
O surgimento de seu poder moderno começou
em 26 de maio de 1908, quando perfuradores
encontraram petróleo no Irã. Precisaram chegar até
1970 para obter o poder oriundo do petróleo, e
agora eles o têm. Os consumidores de energia estão
à mercê dos produtores de energia. O dinheiro tem
fluido para o Oriente Médio, provendo imensa
riqueza para financiar a jihad. O dinheiro chegou
tão rápido ao Oriente Médio, que um artigo do
jornal londrino Economist afirmou que eles
poderiam comprar o Bank of América em seis dias,
a IBM Corporation em 43 dias e comprar em 15
anos todas as principais companhias nos mercados
de ações do mundo. Essa riqueza imensa é o
resultado de mais da metade das fontes de petróleo
do mundo, que está bem próximo à superfície, fácil
de ser perfurado, perto do mar para ser bombeado e
transportado, de qualidade excelente e baixo nível de
enxofre. Um poço pode produzir 80.000 barris por
dia. A riqueza do mundo está lá, e o mundo é
dependente de energia. Eles têm o dinheiro para
financiar a jihad.
Apenas para que você saiba quão sérios são os
muçulmanos fundamentalistas, em uma entrevista da
CNN com Osama bin Laden, ele disse: “Nós
declaramos jihad contra o governo dos Estados
Unidos, porque o governo dos Estados Unidos é
injusto, criminoso e tirano. Ele tem cometido atos
que são extremamente injustos, horríveis e
criminosos, quer diretamente, quer por meio de seu
apoio à ocupação israelense. Por isso e por outros
atos de agressão e injustiça, temos declarado jihad
contra os Estados Unidos, porque, em nossa
religião, é nosso dever fazer jihad para que a palavra
de deus seja a única exaltada ao máximo e para que
expulsemos os americanos dos países muçulmanos”
(Washington Post, 23 de agosto de 1998).
Em 22 de fevereiro de 1998, bin Laden emitiu
um edito que exigia a morte dos americanos,
incluindo os civis. Na época, ele anunciou a criação
do “Fronte Internacional Islâmico para Jihad contra
os Judeus e os Cruzados”, em associação com
grupos extremistas do Egito, Paquistão e
Bangladesh. As seguintes citações são extraídas
daquele edito: “Por mais de sete anos, os Estados
Unidos têm ocupado as terras do islamismo nos
lugares mais santos, a Península da Arábia,
saqueando suas riquezas, ditando normas aos seus
governantes, humilhando seu povo, aterrorizando
seus vizinhos e transformando suas bases na
Península em um instrumento com o qual combatem
os povos muçulmanos vizinhos. Apesar da grande
devastação infligida sobre o povo do Iraque pela
aliança dos cruzados sionistas; apesar do grande
número de pessoas mortas, que tem superado um
milhão, apesar de tudo isso, os americanos estão,
outra vez, tentando repetir os massacres horríveis,
como se não estivessem contentes com o prolongado
bloqueio imposto contra a guerra feroz ou a
fragmentação e devastação.
“Nós, com a ajuda de Deus, convocamos todo
muçulmano que crê em deus e deseja ser
recompensado a cumprir a ordem de deus para
matar os americanos e saquear seu dinheiro, onde
quer que e sempre que o achem. Também
convocamos os ulemás, líderes, jovens e soldados
muçulmanos a desencadear o ataque às tropas
satânicas dos Estados Unidos e aos apoiadores do
Diabo que se aliam com eles e tirar do seu lugar
aqueles que estão por trás deles, para que aprendam
uma lição.
“A resolução de matar os americanos e seus
aliados — civis e militares — é um dever individual
para todo muçulmano que pode fazê-lo em qualquer
país onde é possível fazê-lo, a fim de libertar a
mesquita de al-Aqsa e a mesquita sagrada [Meca] do
controle deles e a fim de que seus exércitos saiam
das terras do islamismo, derrotados e incapazes de
ameaçar qualquer muçulmano” (“Jihad Against
Jews and Crusaders”, World Islamic Front
Statement, 23 de fevereiro de 1998). Isso é tão claro
quanto pode ser.
Em uma entrevista subsequente para a revista
Time, ele disse: “Milhões e milhões de muçulmanos
estão irados... hostilidade para com os Estados
Unidos é um dever religioso, e esperamos que, ao
cumpri-lo, seremos recompensados por Deus...
Estou confiante de que os muçulmanos serão
capazes de acabar com a lenda do falso superpoder
que é a América” (Time, 23 de dezembro de 1998).
Este é o motivo religioso que está por trás dos
ataques terroristas. Quando pessoas más são livres
para fazer o mal, elas o farão. E, quando lhes dizem
que, por fazerem esse mal, estão servindo a Deus,
elas obtém a maior justificativa possível.
Voltemos à doutrina dos muçulmanos. Há uma
maneira como um muçulmano pode ter certeza de ir
para o céu: morrer em uma jihad. Eis o que diz o
Alcorão: “Se você for morto ou morrer no caminho
de Alá, então, o perdão de Alá e misericórdia são
melhores do que todos os seus acúmulos; pois, se
você morrer ou for morto, na verdade você será
recolhido para Alá” (3:151-52). E diz mais adiante:
“Ó você que crê, quando você encontrar aqueles
que não creem marchando para a guerra, então não
volte as suas costas para eles. E quem voltar suas
costas para eles naquele dia... então, ele, de fato, se
torna merecedor da ira de Alá, e sua habitação é o
inferno” (8:14-15). Você combate e vai para o céu.
Você foge e vai para o inferno. A única maneira de
saberem que vão para o céu é combaterem em uma
guerra santa.
A MOTIVAÇÃO SENSUAL

Há também uma motivação sensual para essas


pessoas. Essencialmente, 64% dos rapazes solteiros,
entre 18 e 23 anos, podem estar envolvidos em
operações clandestinas nos Estados Unidos. Eles
aparentam ter famílias, mas está ficando evidente
que isso é apenas aparência. Talvez seja um disfarce
deles. Como você motiva um jovem? Os homens-
bomba suicidas são recrutados ainda bem jovens,
aos 13 anos de idade. Como você consegue que
uma pessoa solteira exploda a si mesma? Como você
consegue fazer uma pessoa solteira levar um avião a
chocar-se com um edifício? Qual é a motivação?
Se ele é um verdadeiro muçulmano, ele quer
saber que está indo para o céu. Há uma realidade
terrível no islamismo quanto ao inferno. Não seria
muito mais fácil apenas ir para a guerra e matar um
infiel e, depois, saber que você vai para o céu? Por
que você fará isso? Por que você tem de matar a si
mesmo?
Os homens-bomba suicidas começaram a
realizar ataques contra Israel em 1994. Por volta de
2001, explosões suicidas se tornaram
acontecimentos normais. Há muita controvérsia
sobre a prática entre os líderes muçulmanos. O
suicídio é considerado um pecado no islamismo, e
muitos muçulmanos creem que o próprio ato de
suicídio é proibido. Mas muitos clérigos
muçulmanos insistem em que tais explosões são atos
de jihad, e não suicídio. Eles dizem que aqueles que
morrem na jihad são mártires, embora morram por
suas próprias mãos. Alguns têm argumentado que
isso é um ato nobre e uma garantia do céu. O sheik
Youssef el-Kardawi, um dos clérigos mais
respeitados do Egito, disse: “A missão suicida é a
mais nobre forma de jihad” (Albayan, 12 de maio
de 2001). O principal muçulmano de Jerusalém
concordou em que o suicídio em uma guerra santa é
um ato nobre. Hamas e Jihad Islâmica, dois grupos
radicais islâmicos, têm realizado múltiplas explosões
suicidas, e eles dizem que não têm falta de
voluntários. Os voluntários são jovens; eles podem
começar o treinamento aos cinco anos de idade. Eles
são quase inapropriados para trabalho, porque foram
programados e sofreram lavagem cerebral. São
rapazes solteiros que têm um futuro desolador,
esperando por uma morte heróica e entrada num
paraíso eterno. Pesquisas de opinião pública recentes
sugerem que 80% dos palestinos dizem que apóiam
as explosões suicidas (Associated Press, 28 de
agosto de 2001).
A opinião popular predominante é a de que não
há nada errado nisso. Promete heroísmo. Promete o
céu. De fato, um psicólogo palestino disse: “A coisa
interessante não é a ocorrência explosões suicidas, e
sim a raridade delas” (Dr. Eyad Sarraj, “Why We
Have Become Suicide Bombers”, na web:
http://www.missionislam.com/
conissues/pelestine.htm). Um de seus porta-vozes
disse: “Não há uma pessoa em Israel que não a
vejamos como usurpador de nossa terra”. Esse
continua sendo o problema, e, quando apoiamos a
Israel, nos tornamos o grande Satã.
O treinamento para isso começa cedo.
Mohammed el-Durra, um adolescente palestino de
13 anos, foi morto num tiroteio em Israel. Sua mãe
disse: “Estou feliz porque ele foi martirizado”. Disse
que lhe havia dado um lanche antes de ele ir para o
tiroteio (Norman Doidge, “The Palestinians’ little
bombers: School textbooks teach children to admire
the martyr”, National Post, 9 de novembro de
2000). Mandar um de seus filhos aos 13 anos de
idade, ou qualquer idade, para algum tipo de
conflito supera os instintos maternos naturais.
Norman Doidge escreveu no The National
Post: “Os recrutas típicos têm entre 17 e 23 anos,
são rapazes isolados, fechados em conflitos de
adolescentes. Os rapazes são divididos em grupos
pequenos grupos secretos nos quais eles leem
coletivamente versos do Alcorão, como: “Não pense
naqueles que morrem nos caminhos de Alá como
mortos. Não, eles vivem, acharam sua substância na
presença de seu Senhor”. Um sentido quase místico
de união é criado e desfaz o isolamento adolescente
que esses rapazes sentem. Os mesmos mecanismos
que unem um time de futebol são usados para criar
um grupo terrorista. Muitos desses rapazes são
instruídos a suprimir seus anseios sexuais e a não
assistir à televisão, mas ouvem a promessa de
atividade sexual ilimitada no céu com virgens, para
que se tornem mártires” (ibid.).
Promete-se aos mártires que, ao morrerem, não
somente irão para o céu, mas também, quando
chegarem lá, serão recebidos por 72 virgens de olhos
pretos que terão relações sexuais eternas com eles.
Aliás, o Alcorão permite o casamento com até
quatro mulheres. Maomé teve 13 esposas e, pelo
menos, 22 mulheres com as quais ele coabitava. Por
isso, este elemento sensual que eles oferecem
atrativamente como um incentivo aos homens-
bomba não é apenas o céu, mas sexo eterno com 72
virgens. “Uma revisão recente dos 140 livros-texto
de escolas da Autoridade Palestina mostrou que
todas as matérias são usadas para ensinar as crianças
palestinas a admirarem o shahid ou martírio. O livro
de literatura para alunos de 7ª série está cheio de
canções e poemas que glorificam a morte de criança.
‘Saque a sua espada, a morte apelará a você, e sua
espada ficará violenta. Palestina, o jovem redimirá a
sua terra’. Em um texto de gramática, faz-se a
seguinte pergunta: ‘Marque o sujeito e o objeto da
seguinte sentença: Jihad é o dever religioso de todo
mulçumano. Outro diz: ‘Ame os guerreiros da jihad
que debelam a terra de Jerusalém com seu sangue’”
(ibid.).
Um programa palestino para crianças, chamado
The Children’s Club, que segue o modelo de
Sesamo Street (Vila Sésamo) — apresenta a canção
“Quando eu viajar para Jerusalém, deixarei perplexo
um homem-bomba” (Charles Krauthammer,
“Mideast Violence: The Only Way Out”,
Washington Post, 16 de agosto de 2001). O sheik
Abd Al-Salam Skheidm, o principal mufti da polícia
da Autoridade Palestina, descreveu o que os
homens-bomba que matam mulheres e crianças em
Israel podem esperar na vida por vir: “Desde o
momento em que derrama sua primeira gota de
sangue, ele não sente qualquer dor e é absolvido de
todos os seus pecados; ele vê seu assento no céu; é
poupado de torturas no sepulcro; é poupado de
horrores no Dia do Julgamento; casa-se com 70
mulheres de olhos pretos; ele pode garantir a entrada
de 70 membros de sua família no paraíso” (citado
em Mona Charen, “Reality check”, Jewish World
Review, 17 de agosto de 2001).
Uma semana antes dos atentados suicidas em
Tel Aviv, em 25 de maio de 2001, a rádio The Voice
of Palestine transmitiu um sermão de sexta-feira da
mesquita de Al-Aqsa, no monte do templo, em
Jerusalém. Nessa mensagem, o mufti da Autoridade
Palestina, sheik Ikrima Sabri, disse: “O mulçumano
ama a morte e o martírio, assim como vocês amam a
vida. Há uma grande diferença entre aquele que ama
a vida por vir e aquele que ama este mundo. O
mulçumano ama a morte [e busca] o martírio”
(Aluma Solnick, “Martyrs and Mothers”, na web:
http://aish.com/jewishissues/middleeast
/Martyrs_and_Mothers.asp).
Que perspectiva perversa: você vai para o céu e
obtém sexo eterno. Esse é o incentivo final oferecido
a esses solteiros privados de seus direitos civis e
iludidos por lascívia. O Alcorão descreve essas
mulheres como tão lindas como rubis, com
aparência semelhante a diamantes e pérolas. Os
mártires, então, se deleitarão, deitados em almofadas
verdes e tapetes lindos. No exemplar de 5 de julho
de 2001 do USA Today, Jack Kelly escreveu que nas
pré-escolas administradas pelo Hamas há placas nas
paredes que dizem: “As crianças das pré-escolas são
os shaheeds (mártires santos) de amanhã”. Eles
começam com crianças da pré-escola. As placas de
sala de aula na Universidade Al Najah, no Lado
Ocidental, e na Universidade Islâmica de Gaza
dizem: “Israel tem bombas nucleares, nós temos
bombas humanas”. Em uma escola islâmica em
Gaza, mantida pelo Hamas, a pequena estatura e o
sorriso infantil de Ahmed, um menino de 11 anos,
são enganadores. Disfarçam uma determinação de
matar a qualquer custo. “Eu farei de meu corpo uma
bomba que explodirá a carne de sionistas, os filhos
de porcos e macacos”. O Alcorão diz que Alá
tornou os judeus uma vez em porcos e, outra vez,
ele os tornou em macacos.
Kelly continua: “Ahmed diz: ‘Partirei os corpos
deles em pequenos pedaços e lhes causarei mais
dores do que jamais saberão’. ‘Allahu Akbar’, seus
colegas gritam em resposta, ‘Deus é grande’. ‘Que
as virgens lhe deem prazer’, clama seu professor”
(Jack Kelly, “Devotion, desire drives youths to
martyrdom”, USA Today, 5 de agosto de 2001).
No final, o islamismo vencerá a jihad? Não.
Posso dizer-lhes como ela terminará. Não é bom
saber isso? Não posso dizer-lhes qual será o final de
partidas de futebol, mas posso contar-lhes o final
deste conflito. Vejamos Ezequiel 36.1, 2: “Tu, ó
filho do homem, profetiza aos montes de Israel e
dize: Montes de Israel, ouvi a palavra do SENHOR.
Assim diz o SENHOR Deus: Visto que diz o inimigo
contra vós outros: Bem feito!, e também: Os
eternos lugares altos são nossa herança”. Em
outras palavras, o inimigo (significando Israel) é
nosso, nós o pegamos, tudo de que precisamos é um
pequeno pedaço de Israel. Eles tinham tudo, exceto
Israel. “Portanto, profetiza e dize: Assim diz o
SENHOR Deus: Visto que vos assolaram e
procuraram abocar-vos de todos os lados, para
que fôsseis possessão do resto das nações e andais
em lábios paroleiros e na infâmia do povo,
portanto, ouvi, ó montes de Israel, a palavra do
SENHOR Deus: Assim diz o SENHOR Deus aos montes
e aos outeiros, às correntes e aos vales, aos
lugares desertos e desolados e às cidades
desamparadas, que se tornaram rapina e escárnio
para o resto das nações circunvizinhas. Portanto,
assim diz o SENHOR Deus: Certamente, no fogo do
meu zelo, falei contra o resto das nações e contra
todo o Edom. Eles se apropriaram da minha terra,
com alegria de todo o coração e com menosprezo
de alma, para despovoá-la e saqueá-la. Portanto,
profetiza sobre a terra de Israel e dize aos montes e
aos outeiros, às correntes e aos vales: Assim diz o
SENHOR Deus: Eis que falei no meu zelo e no meu
furor, porque levastes sobre vós o opróbrio das
nações. Portanto, assim diz o SENHOR Deus:
Levantando eu a mão, jurei que as nações que
estão ao redor de vós levem o seu opróbrio sobre si
mesmas. Mas vós, ó montes de Israel, vós
produzireis os vossos ramos e dareis o vosso fruto
para o meu povo de Israel, o qual está prestes a
vir. Porque eis que eu estou convosco; voltar-me-ei
para vós outros, e sereis lavrados e semeados” (vv.
3-9).
A favor de quem Deus está nesta batalha?
Israel. E o que é admirável nisso é que Israel ainda
está na incredulidade. Mas eles são o povo da
aliança de Deus, e ele os trará à salvação. Deus é
por Israel. Não sei quanto a você, mas, quanto a
mim, quero ser por aqueles a favor de quem Deus
está. Deus é por Israel. Eu também sou por Israel.
Ezequiel continua, quando o Senhor diz: “Porque
eis que eu estou convosco; voltar-me-ei para vós
outros, e sereis lavrados e semeados. Multiplicarei
homens sobre vós, a toda a casa de Israel, sim,
toda; as cidades serão habitadas, e os lugares
devastados serão edificados. Multiplicarei homens
e animais sobre vós; eles se multiplicarão e serão
fecundos; fá-los-ei habitar-vos como dantes e vos
tratarei melhor do que outrora; e sabereis que eu
sou o SENHOR. Farei andar sobre vós homens, o
meu povo de Israel; eles vos possuirão, e sereis a
sua herança e jamais os desfilhareis” (vv. 9-12).
Eu diria que isso é bastante claro, não é? Você
tem alguma dúvida sobre quem vencerá. Veja o que
diz o versículo 22: “Dize, portanto, à casa de
Israel: Assim diz o SENHOR Deus: Não é por amor
de vós que eu faço isto, ó casa de Israel, mas pelo
meu santo nome, que profanastes entre as nações
para onde fostes. Vindicarei a santidade do meu
grande nome, que foi profanado entre as nações, o
qual profanastes no meio delas; as nações saberão
que eu sou o SENHOR, diz o SENHOR Deus, quando eu
vindicar a minha santidade perante elas. Tomar-
vos-ei de entre as nações, e vos congregarei de
todos os países, e vos trarei para a vossa terra.
Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis
purificados; de todas as vossas imundícias e de
todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei
coração novo e porei dentro de vós espírito novo;
tirarei de vós o coração de pedra e vos darei
coração de carne. Porei dentro de vós o meu
Espírito e farei que andeis nos meus estatutos,
guardeis os meus juízos e os observeis. Habitareis
na terra que eu dei a vossos pais; vós sereis o meu
povo, e eu serei o vosso Deus. Livrar-vos-ei de
todas as vossas imundícias; farei vir o trigo, e o
multiplicarei, e não trarei fome sobre vós.
Multiplicarei o fruto das árvores e a novidade do
campo, para que jamais recebais o opróbrio da
fome entre as nações. Então, vos lembrareis dos
vossos maus caminhos e dos vossos feitos que não
foram bons; tereis nojo de vós mesmos por causa
das vossas iniquidades e das vossas abominações.
Não é por amor de vós, fique bem entendido, que
eu faço isto, diz o SENHOR Deus. Envergonhai-vos e
confundi-vos por causa dos vossos caminhos, ó
casa de Israel. Assim diz o SENHOR Deus: No dia
em que eu vos purificar de todas as vossas
iniquidades, então, farei que sejam habitadas as
cidades e sejam edificados os lugares desertos.
Lavrar-se-á a terra deserta, em vez de estar
desolada aos olhos de todos os que passam. Dir-
se-á: Esta terra desolada ficou como o jardim do
Éden; as cidades desertas, desoladas e em ruínas
estão fortificadas e habitadas. Então, as nações
que tiverem restado ao redor de vós saberão que
eu, o SENHOR, reedifiquei as cidades destruídas e
replantei o que estava abandonado. Eu, o SENHOR,
o disse e o farei” (vv. 22-36). E o Senhor
acrescenta que lhes multiplicará “os homens como
um rebanho” (v. 37). Então, conclui: “E saberão
que eu sou o SENHOR” (V. 38).
Esse dia está vindo. Não sei quando ele
chegará, mas está vindo. Até que ele chegue, haverá
guerra — haverá conflito que continuará a
aumentar. Estamos a meio mundo de distância, e
fomos arrastados ao conflito. Qual deve ser nossa
resposta? Devemos fazer o que é justo. Devemos
fazer o que Deus determina que os governos façam.
O que Deus determina que os governos façam?
Romanos 13.4 diz que o governo não “traz a
espada” sem motivo. O governo civil não é uma
ostentação. Por que o governo traz a espada? Ele
tem de punir os que fazem o mal e proteger os
inocentes. Uma guerra de proteção e uma guerra de
punição é uma guerra justa. Se tenho quatro filhos
em casa, e um homem vem e mata dois de meus
filhos, o que eu faço? Negocio? Se puder, eu o
impedirei de matar os demais. Sacrifícios têm de ser
feitos por um bem maior. O mal tem de ser punido.
Até a bondade humana tem de ser protegida.
O governo civil não existe primariamente para
suprir-nos cuidados de saúde e aposentadoria. Ele
certamente não existe para a redistribuição de
riqueza. Existe para ameaçar com morte os que
fazem o mal e proteger as pessoas que obedecem à
lei. A forca, a guilhotina, o fuzilamento, a câmara de
gás, a cadeira elétrica, bem como a espada, o rifle, o
revólver, o canhão e míssil estão por trás da
estabilidade de uma civilização, porque as pessoas
são assassinas. Uma guerra justa é uma guerra
exigida pela escala dos crimes. Isso não é vingança
pessoal; é uma proteção nacional por causa da
punição daqueles que fazem o mal, a fim de pará-los
permanentemente de fazer mais.
Muitas pessoas perguntam se este não é um
cenário de fim do mundo. Não acho que os aviões
que atingiram o Pentágono e o World Trade Center
são apocalípticos. Sabemos realmente que há sinais
bíblicos que indicam o fim do mundo. Um dos
sinais é que Israel está na terra. O mundo se move
em direção a uma religião mundial que o Anticristo
poderá controlar. O islamismo se move nessa
direção. Tenho me admirado em ver, nestes últimos
dez anos, a Igreja Católica Romana fazendo
aberturas ao islamismo.
O livro de Apocalipse diz que, no final dos
tempos, um terço da população do mundo morrerá
(Ap 9.15-18), e um quarto morrerá (Ap 6.8). Isso
demandará armas de destruição em massa. Você não
pode matar esses muitos com facas, arcos e flechas.
Daniel 9 indica que haverá tanta desordem no
Oriente Médio nos últimos tempos, que um
pacificador será necessário. Esse pacificador será o
Anticristo. Esse é um cenário perfeito para um falso
Cristo aparecer e estabelecer uma falsa paz. Estou
sempre de olho em quem vai ao Oriente Médio para
negociar, apenas para ver se essa pessoa poderia ser
o Anticristo.
Apresentei uma razão natural por que o ataque
terrorista aconteceu. Foi um resultado da
depravação maligna do coração assassino do homem
que tem de ser reprimido por temor e retribuição.
Apresentei também uma razão histórica por que o
ataque terrorista aconteceu: o ódio profundamente
arraigado do mundo árabe para com Israel e o
conflito milenar desses povo quanto à terra. Até os
Estados Unidos foram envolvidos no conflito por
causa do status como nação aliada infiel. Apresentei
uma razão religiosa por que o ataque aconteceu: a
doutrina do islamismo não reconhece nenhuma
segurança quanto à salvação do inferno, exceto
quando alguém morre como mártir em uma guerra
santa. É claro que Satanás está por trás disso.
Apresentei também uma razão sensual por que o
ataque aconteceu: os muçulmanos suicidas agem em
busca de sexo eterno.

A EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Apresentarei uma última razão — a razão
teológica. Por que todas aquelas pessoas morreram?
Elas morreram porque o salário do pecado é a morte
(Rm 6.3). “Aos homens está ordenado morrerem
uma só vez” (Hb 9.27). Nada aconteceu àquelas
pessoas na terça-feira que não iria acontecer em
algum momento. Todas elas morreriam, não naquele
dia, pensavam elas. Não há nada extraordinário em
pessoas morrerem. Você está pronto para isso?
Desde terça-feira, cinquenta mil americanos
morreram. Somente neste ano 2,5 milhões de
americanos morrerão. Por fim, todos morrerão.
Apenas nos sentimos mais tranquilos quando eles
morrem um por um. Não gostamos quando 250
pessoas morrem em um choque de um avião. Às
vezes, alguns milhares de pessoas morrem numa
inundação, ou terremoto, ou erupção vulcânica em
um país do terceiro mundo. Raramente, cinco ou
dez mil pessoas morrem, e nunca nos Estados
Unidos. Mas todos morrem. Cinquenta mil
americanos morrem cada semana. Os americanos
estão preocupados com isso? Não, a maioria de nós
não — apenas continuamos a viver nossa vida com
pouca consideração ao fato de que cinquenta mil
americanos morrem cada semana. Enquanto o nosso
mundo é tranquilo, e não temos de ver aviões
destroçados, trens despedaçados, edifícios em
ruínas, estamos bem. Isso mantém a morte a certa
distância.
As pessoas perguntam: “Por que Deus deixa
isso acontecer?” Acontece a todos. A grande
pergunta não é: por que Deus deixa isso acontecer?
A grande pergunta é: por que qualquer de nós
continua a viver? Devíamos todos ser mortos,
porque o salário do pecado é a morte: “A alma que
pecar, essa morrerá” (Ez 18.4). Vivemos sob
constante misericórdia, de tal modo que, ao revelar-
se a justiça, ficamos chocados. Estamos tão
acostumados com a graça, que não entendemos a
justiça. De vez em quando, Deus retém a sua graça,
um desastre terrível acontece, e ficamos chocados.
Nosso choque deveria ser que somos lembrados do
que merecemos.
As pessoas perguntam: “Então, o que Deus está
dizendo?” Ele está dizendo: “Vocês vão morrer e
não têm controle sobre isso. Isso é um lembrete de
que eu lhes dou vida, lhes dou amor, lhes dou
felicidade. Derramo graça comum para tornar a vida
rica e recompensadora para vocês. Sou paciente.
Sou misericordioso. Mas, de vez em quando, tenho
de dar-lhes uma ilustração impactante a respeito de
para onde vocês estão indo”.
As pessoas pensam que têm o direito de viver.
Acham que a chave para a vida é exercícios e dieta.
Mas não temos o direito de viver. É a graça de Deus
que nos dá vida. Quando Deus permite que uma
tragédia impressionante e dramática aconteça, não
questione a justiça de Deus. Em vez disso, agradeça-
lhe por sua graça.
Vejamos Lucas 13: “Naquela mesma ocasião,
chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos
galileus cujo sangue Pilatos misturara com os
sacrifícios que os mesmos realizavam” (v. 1).
Pilatos era o procurador romano, o governador
romano de Israel ocupado. Os romanos ocuparam
Israel. Os galileus eram judeus da parte norte de
Israel e faziam sacrifícios no templo. Esse era o
único lugar de Israel onde eles podiam fazer
sacrifícios. Por isso, algumas pessoas haviam
descido da Galileia. (Jesus era galileu, bem como
todos os apóstolos.) Alguns galileus foram ao templo
para oferecer seus sacrifícios. Eles era religiosos e
cumpridores de seu dever; faziam o que Deus tinha
revelado que eles deviam fazer. Mas Pilatos
misturou o sangue deles com os sacrifícios.
O que isso significa? Pilatos enviou homens ao
templo para matar essas pessoas religiosas. Jesus
“lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais
pecadores do que todos os outros galileus, por terem
padecido estas coisas?” (v. 2). “Vocês acham que
Deus fez isso porque esses galileus eram piores do
que as outras pessoas?” A pergunta que ecoa na
mente das pessoas é: essas pessoas eram religiosas,
estavam fazendo o que deviam estar fazendo, por
que Deus permitiu que Pilatos entrasse lá e as
matasse de modo que o sangue delas fosse
misturado com os sacrifícios? A resposta humana
lógica é que elas deviam ser piores do que os
demais.
Jesus continuou: “Não eram, eu vo-lo afirmo;
se, porém, não vos arrependerdes, todos
igualmente perecereis” (v. 3). O que é isso? Isso é a
mensagem. Pessoas morrem. O fato de que elas
morrem não implica que são piores do que os
demais. Deus não estava julgando as pessoas que
trabalhavam no World Trade Center ou no
Pentágono ou aquelas que voavam nos aviões,
porque elas eram piores do que as outras pessoas.
Não. Elas não eram diferentes de ninguém. Deus
não permitiu que Pilatos enviasse seus soldados para
matar aquelas pessoas porque elas eram piores do
que os demais. O ensino é este: é melhor você se
arrepender para que não pereça, quando morrer. O
que Deus está dizendo à nossa nação? Está dizendo
que é melhor você se arrepender, porque você não
sabe quando vai morrer. E, se não está preparado,
você perecerá.
Em seguida, no versículo 4, Jesus deu um
exemplo mais vívido: “Ou cuidais que aqueles
dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os
matou eram mais culpados que todos os outros
habitantes de Jerusalém?” Agora, eles tinham outra
pergunta para responder. A torre de Siloé caiu um
dia. Não foi atingida por um avião, mas pode ter
sido vítima de uma construção mal feita ou talvez de
um terremoto. Dezoito pessoas estavam andando
pela rua; a torre caiu sobre elas e as matou. E a
pergunta na mente da pessoas era: por que isso
aconteceu com aquelas pessoas? Elas eram piores do
que as outras pessoas que moravam em Jerusalém?
Jesus respondeu: “Não eram, eu vo-lo afirmo;
mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente
perecereis” (v. 5). Pessoas que estavam no
Pentágono e pessoas que estavam no World Trade
Center pereceram. Tenho certeza de que alguns
deles eram crentes, alguns não. E aqueles que não
eram crentes pereceram e foram para o inferno, para
sempre, sem Deus, sem esperança. Não eram piores
do que os demais. E você perecerá, também, se não
se arrepender. Essa é a mensagem de Deus.
As diferenças entre as pessoas são medidas
apenas em graus; elas não são diferentes em tipo.
Todos somos pecadores. A morte e o julgamento são
certos para os pecadores. Mas você ainda não está
morto. Você não estava naqueles edifícios. Não
estava nos aviões. Você está vivo, e a mensagem de
Jesus é: arrependa-se de seu pecado e receba a
Cristo, para que, quando seu dia chegar, você não
pereça e, em vez disso, vá para a presença de Cristo.
Nos versículos 6 a 9, Jesus contou uma
história: “Certo homem tinha uma figueira
plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela,
não achou. Pelo que disse ao viticultor: Há três
anos venho procurar fruto nesta figueira e não
acho; podes cortá-la; para que está ela ainda
ocupando inutilmente a terra? Ele, porém,
respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que
eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. Se
vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-
la”.
Isso é bastante claro. As pessoas estão vivendo
em um tempo emprestado. Deus poderia dizer sobre
você: “Podes cortá-la”. Mas, em sua graça, ele diz
que esperará. Dará mais um tempo para ver se
haverá fruto. Assim é o coração de Deus. A
mensagem é: arrependa-se do seu pecado e receba o
dom do perdão e o dom da salvação em Cristo.
Dois milhões e meio de americanos morrerão
neste ano, e algum dia todos os americanos
morrerão. Este é o tempo encarar com mais
seriedade a morte e a vida, você não acha? Basta de
festas e jogos; é tempo de arrepender-se, clamar a
Deus para que salve você da eternidade no inferno.
Você está vivendo em um tempo emprestado. É
como se Cristo estivesse dizendo ao Pai: “Deixa-me
trabalhar nela por mais um ano”. É tempo de os
pregadores acabarem com o show, a tagarelice
psicológica, as histórias engraçadas e o
entretenimento trivial e falarem da vida e da morte,
em termos bíblicos, e resgatarem os que perecem e
cuidarem dos que estão morrendo. É tempo de você
fazer sua vida ser reputada como um testemunho
evangélico. O que mais importa?
Eis onde começar: mostre amor e apresente o
evangelho para um muçulmano. Eles precisam de
Cristo; eles não são seus inimigos, são o seu campo
missionário. Você deve ter uma atitude de
compaixão e amor para com pessoas que estão
enredadas numa religião de engano e condenação.
Se você conhece pessoas árabes, se conhece
muçulmanos, diga-lhes que existe um Salvador.
Diga-lhes que há perdão. Somos missionários, e
hoje acho que compreendemos que o mundo
adiante de nós não será igual ao mundo do qual
acabamos de sair. É tempo de sermos sérios quanto
à coisas eternas.
11
O PRINCIPIO INICIAL DO
DISCIPULADO

Lucas 9.23
3 de novembro de 2002

Esta mensagem admirável é uma retrospectiva


maravilhosa do debate do senhorio e de várias
outras doutrinas relacionadas que surgiram no
decorrer dos anos. Ela trata da mensagem do
evangelho, a exigência de Cristo quanto à
autorrenúncia e as implicações da do crer fácil, da
pregação de autoestima e outras formas de fé
espúria. Lucas 9.23 resume o tema de O Evangelho
Segundo Jesus, mas no livro esse versículo foi
referido apenas indiretamente, porque, quando o
livro estava sendo escrito, John MacArthur ainda
não tinha começado a pregar sobre Lucas. (O livro
lida amplamente com Mateus 10.38, que é um
referência correspondente.) Neste sermão, uns
quinze anos depois que irrompeu a controvérsia do
senhorio, John oferece uma recapitulação excelente
e condensada dos assuntos em jogo e dos perigos
atuais constituídos por apresentações vulgarizadas
e contemporâneas do evangelho.
Porções deste sermão se tornaram a base e o
ponto de partida para um novo livro sobre o
evangelho: Hard to Believe (Difícil de Crer). Este
livro é mais evangelístico e menos polêmico do que
O Evangelho Segundo Jesus, mas a mensagem é
exatamente a mesma.
Um dia antes da pregação desta mensagem,
milhares de ateístas, pensadores livres,
humanistas, agnósticos e feministas participaram
da The Godless Americans March, em Washington,
uma marcha de quase dois quilômetros através do
National Mall, na capital de nosso país.

E Examinemos Lucas 9. Toda e qualquer


passagem da Escritura procede de Deus, sendo rica
e instrutiva. Mas a passagem que consideraremos é
bastante rica e instrutiva. Nos versículos 23 a 26,
lemos: “Dizia a todos: Se alguém quer vir após
mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua
cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida
perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa,
esse a salvará. Que aproveita ao homem ganhar o
mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar
dano a si mesmo? Porque qualquer que de mim e
das minhas palavras se envergonhar, dele se
envergonhará o Filho do Homem, quando vier na
sua glória e na do Pai e dos santos anjos”.
Essa é uma passagem breve, não contém
muitos versículos, nem mesmo muitas palavras —
mas está no âmago do ensino de Jesus. É ouro
bíblico puro. É uma diamante de verdade, clara e
brilhante. O assunto é seguir a Jesus: “Se alguém
quer vir após mim”. Esta é uma passagem que fala
sobre como seguir a Jesus, como tornar-se um
cristão, como ser salvo, como ser redimido e nascer
de novo. É um ensino crucial.
Uma coisa impressiona você desde o início:
seguir a Jesus envolve autorrenúncia. “Se alguém
quer vir após mim, a si mesmo se negue.” O
evangelho é um chamado a autorrenúncia; não é um
chamado a autorrealização. Isso coloca o verdadeiro
evangelho em oposição ao evangelho do
evangelicalismo contemporâneo, que se baseia em
autorrealização e autoajuda. Jesus é frequentemente
visto como um gênio bastante útil — você esfrega a
lâmpada, ele sai e diz: “Peça o que quiser”. Você lhe
dá a sua lista, e ele a atende. Dentro do
evangelicalismo, há aqueles que dizem que Jesus
deseja que você esteja bem, e, se você não está bem,
você não reivindicou sua cura. Jesus quer que você
seja próspero e rico, e, se você não é isso, você não
o reivindicou. Jesus quer que você seja livre de
dívidas, e, se você mandar bastante dinheiro para o
tele-evangelista, por virtude de sua fé, você se livrará
do demônio de dívidas, como ele é frequentemente
chamado, porque Jesus não quer que você tenha
dificuldades ou problemas. A sua salvação é uma
garantia de saúde, riqueza, prosperidade e felicidade.
Evangélicos psicológicos, centrados no homem
lhe dizem que Jesus veio para lhe dar paz e alegria.
Jesus faz de você um melhor vendedor e o ajuda a
ser bem-sucedido nos esportes. Jesus realmente quer
fazer você se sentir melhor a respeito de si mesmo,
quer elevar a sua autoimagem e por um fim em sua
maneira de pensar negativa.
É interessante notar como essa tendência se
introduziu na igreja. Eu a vi chegar no decorrer dos
anos — tenho estado no ministério tempo suficiente
para que eu a visse chegar. Ela chegou mais
notoriamente pelo ministério de Robert Schuller.
Alguns anos atrás, ele escreveu um livro chamado
Self-Esteem: The New Reformation (Autoestima: a
Nova Reforma). Resenhei aquele livro, e a resenha
foi publicada numa revista de alcance nacional. Fiz a
resenha porque achei que o livro era um marco de
mudança — era uma tentativa de uma nova
reforma. Era uma tentativa de substituir o evangelho
bíblico por um novo evangelho. E deu certo. No
livro Self-Esteem: The New Reformation, Robert
Schuller escreveu: “É precisamente neste ponto que
a teologia clássica tem errado, em sua insistência de
que a teologia seja ‘centrada em Deus’, e não
‘centrada no homem’” ([Waco, Tex.: Word, 1982]
p. 64). Isso é um começo iconoclasta. A primeira
coisa que temos de fazer é acabar com a teologia
clássica. Temos de acabar com a teologia centrada
em Deus e substitui-la pela teologia centrada no
homem. Isso é muito ousado, mas era exatamente o
que estava acontecendo.
Ele escreveu adiante: “Este plano mestre de
Deus é elaborado ao torno das profundas
necessidades dos seres humanos — dignidade
pessoal, autorrespeito, valor próprio, autoestima”
(ibid., p. 71). Para Schuller, a pérola de grande valor
é autorrespeito e autoestima genuínos.
Ele escreveu mais: “Se seguirmos o plano de
Deus tão fielmente quanto pudermos, nos
sentiremos bem quanto a nós mesmos” (ibid., p.
76). Esse é o evangelho do evangelicalismo, é o
evangelho de sentir-se bem. Sinta-se bem a respeito
de si mesmo. Schuller prossegiu: “Deus precisa de
você e de mim para ajudar a criar uma sociedade de
pessoas de autoestima” (ibid., p. 79). Perdoe-me se
não quero unir-me. Não posso pensar em um grupo
com o qual eu gostaria menos de associar-me.
Portanto, nesse esforço por uma nova reforma,
a primeira coisa que você tem de fazer é eliminar a
teologia centrada em Deus, clássica e história, e
substitui-la por uma teologia centrada no homem,
psicológica e de autoestima, fazendo assim tudo que
há na Bíblia e no evangelho trabalhar para ajudar as
pessoas a sentirem-se melhores a respeito de si
mesmas, para satisfazerem seus sonhos e suas
visões. Schuller disse também: “O objetivo crucial
de Deus é tornar a você e a mim pessoas
autoconfiantes” (ibid., p. 80).
Mais uma citação: “Se alguém crê que é um
‘pecador indigno’, é duvidoso que ele possa aceitar
honestamente a graça salvadora que Deus oferece
em Cristo” (ibid., p. 98).
Se você quer ser salvo no novo evangelho, não
pode crer que você mesmo é um pecador indigno.
Quão distorcido é isso? Quão contrário à verdade é
isso? Mas isso é o evangelho centrado no homem e
de autoestima que foi absorvido pelo número um
dos discípulos de Robert Schuller, Bill Hybels, e
transportado ao movimento de satisfação dos
interessados que tem prejudicado o evangelicalismo.
É um tipo de narcisismo e amor próprio quase
cristão que é característico dos falsos mestres. De
acordo com 2 Timóteo 3.1-2: “Nos últimos dias,
sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão
egoístas”. O cristianismo se tornou um movimento
de “consiga o que você quer”, em vez de um
movimento de “dar”. A intenção divina para o
evangelho tem sido prostituída. A glória de Deus foi
substituída pela satisfação do homem. Abandonar
sua vida para a honra de Cristo foi substituído por
Cristo honrar você. Tudo é distorcido, e o
verdadeiro evangelho não está mais em voga.
Muitos séculos atrás, houve um santo que
entendeu bem isso. Esta é uma oração que ele
escreveu: “Senhor, nobre e elevado, simples e
humilde, faze-me aprender pelo paradoxo que o
caminho para baixo é o caminho para cima, que ser
humilde é ser exaltado, que o contrito de coração é
o coração curado, que o espírito contrito é o espírito
que se regozija, que a alma que se arrepende é a
alma vitoriosa, que ter nada é possuir tudo, que
tomar a cruz é vestir a coroa, que dar é receber.
Faze-me achar tua luz em minhas trevas, tua alegria
em minha tristeza, tua graça em meu pecado, tuas
riquezas em minha pobreza, tua glória em meu vale,
tua vida em minha morte” (Arthur Bennett, ed., The
Valley of Vision [Edinburgh: Banner of Truth,
1975], oração introdutória). Tua vida em minha
morte? Isso é o verdadeiro evangelho. O evangelho
não é a respeito de exaltar-me, é a respeito de matar-
me. Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, a si
mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-
me”. É a morte do “eu”. Você ganha por perder.
Você vive por morrer. Isso é o âmago, a mensagem
central do evangelho. Isso é a essência do
discipulado.
Lucas 9.23-25 não é uma passagem obscura.
Não é diferente do ensino costumeiro de Jesus.
Esses são os princípios que ele ensinou repetidas
vezes durante seu ministério, em todos os diferentes
contextos.
Quero mostrar-lhe algo. Volte a Mateus 10.34.
Antes, Jesus havia falado sobre confessá-lo como
Senhor e Salvador: “Todo aquele que me confessar
diante dos homens, também eu o confessarei diante
de meu Pai, que está nos céus” (v. 32). Em seguida,
ele disse isto: “Não penseis que vim trazer paz à
terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim
causar divisão entre o homem e seu pai; entre a
filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim,
os inimigos do homem serão os da sua própria
casa” (vv. 34-36). Primeira coisa, se você vier a
Jesus, isso pode tornar sua família pior, e não
melhor. Pode criar em sua família uma divisão que
você nunca antes experimentou. Mas é isso que
acontece se você entrega sua vida a Jesus Cristo.
Haverá um abismo intransponível entre você e as
pessoas de sua família que não entregaram sua vida
a ele. O versículo 37 diz: “Quem ama seu pai ou
sua mãe mais do que a mim não é digno de mim;
quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim
não é digno de mim”. Se você não quer correr o
risco de ter uma divisão permanente em sua família
ou pagar o preço de um trauma maior, conflito e
sofrimento em sua família, então não você não é
digno de ser discípulo de Cristo.
Jesus disse mais: “E quem não toma a sua
cruz e vem após mim não é digno de mim” (v. 38).
A cruz estava associada com uma única coisa — era
um instrumento de morte, de execução. Jesus estava
dizendo: “Se você não está disposto a ter conflito
em sua família, você não é digno de ser meu
discípulo. Se você não está disposto a ter conflito
com o mundo a ponto de que isso possa lhe custar a
vida, você não é digno de mim”. O versículo 39 diz:
“Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia,
perde a vida por minha causa achá-la-á”. O foco
do ensino de Jesus é perder a vida. Isso não é uma
teologia centrada no homem; é teologia centrada em
Cristo. Você tem de estar disposto a dar tudo a
Cristo, não importando o que isso lhe custará.
Marcos 10 é outra ilustração desta verdade que
está completamente no âmago do ensino de Jesus.
Em Marcos 10.21, lemos que Jesus estava falando
com um jovem rico que queria a vida eterna. Ele
perguntou a Jesus como poderia obter a vida eterna
(v. 17). Jesus lhe disse como e, por fim, confrontou
seu pecado. Ele não quis admitir e não quis desistir
de sua justiça própria, que é o pior pecado. Jesus o
confrontou quanto ao seu dinheiro, mas ele não
desistiria de seu dinheiro. Ele queria a Jesus, queria
a vida eterna, mas Jesus assegurou-lhe que teria de
abandonar sua justiça própria — teria de
reconhecer-se como pecador ímpio e indigno e teria
de estar disposto a abandonar todos os seus bens
terrenos, se Jesus lhe pedisse que fizesse isso. Mas o
jovem rico não faria isso. O versículo 21 diz:
“Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te
falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e
terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me”.
Jesus disse: “O preço é este: seja disposto a desistir
de tudo. Posso não pedir isso, mas posso pedi-lo.
O preço é seja disposto”.
“Ele, porém, contrariado com esta palavra,
retirou-se triste, porque era dono de muitas
propriedades” (v. 22). Ele preferia ter seu dinheiro
e seus bens a ter Jesus. Ele não era digno de ser
discípulo de Jesus. Se você não está disposto a ser
separado de sua família, se não está disposto a ser
separado do mundo, se não está disposto a ser
separado das coisas materiais que possui, então,
Jesus não é valioso para você. Tem de ser uma
proposição de tudo ou nada.
Em Lucas 9.57-58, lemos que Jesus estava
andando pelo caminho com alguns dos potenciais
discípulos quando “alguém lhe disse: Seguir-te-ei
para onde quer que fores. Mas Jesus lhe
respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do
céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde
reclinar a cabeça”. Jesus estava lhe dizendo: “Não
vamos para um hotel de luxo. Espero que isso não o
afete negativamente. Saiba isso: não tenho qualquer
lugar onde possa reclinar minha cabeça. Se você me
seguir, perderá tudo. Esse é o preço”. Jesus não
disse: “Oh! que maravilhoso! Siga-me, você será
feliz, terá saúde, será rico, próspero e bem-
sucedido”.
“A outro disse Jesus: Segue-me! Ele, porém,
respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu
pai.” A implicação é que seu pai ainda nem estava
morto. O que ele quis dizer com “permite-me ir
primeiro sepultar meu pai” — estava falando do
funeral? Não, ele falava de demorar até que
recebesse a herança. Ele tinha acabado de ouvir
Jesus dizer que, se seguisse a ele, não teria nada e
que Jesus não tinha nada para lhe dar, por isso, ele
queria demorar-se até que pudesse ganhar uma
fortuna e vir e seguir a Jesus. Ele também
desapareceu.
Jesus estabeleceu o padrão para a
autorrenúncia total. Em Lucas 14, você percebe que
a mensagem é sempre a mesma. Há uma grande
multidão acompanhando Jesus, e “ele, voltando-se,
lhes disse: Se alguém vem a mim e não aborrece a
seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs
e ainda a sua própria vida, não pode ser meu
discípulo”. O evangelho não é a respeito de você,
não é a respeito de sua autoestima, e sim a respeito
de seu pecado, seu desespero e sua necessidade de
ver a Cristo como tão precioso como seu Salvador
da morte, do pecado e do inferno, que você
renunciará espontaneamente tudo, ainda que isso lhe
custe a família ou o casamento. Jesus disse: “E
qualquer que não tomar a sua cruz e vier após
mim não pode ser meu discípulo” (v. 27). Não
pode ser mais claro do que isso.
Em Lucas 17.33, lemos que Jesus disse:
“Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e
quem a perder de fato a salvará”. É o mesmo
princípio. Se você tenta se apegar a seus planos, sua
agenda, seu sucesso e sua autoestima... você perde.
O apóstolo João não deixou este ensino
essencial de Jesus fora de seu evangelho. Em João
12.24, lemos que Jesus disse: “Em verdade, em
verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na
terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer,
produz muito fruto”. Se você tem de ser frutífero
em seguir a Jesus, isso custará a sua vida. “Quem
ama a sua vida”, disse Jesus, “perde-a; mas aquele
que odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á
para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me”
(vv. 25-26). O caminho pelo qual Jesus andava era
um caminho de morte e perseguição.
Então, você quer seguir a Jesus? Isso lhe
custará tudo. O Senhor pode não tomar sua vida,
pode não tomar seu dinheiro, pode não tomar sua
família ou sua esposa, pode não tomar seu trabalho,
mas você precisa estar disposto a desistir deles, se
isso é o que ele quer. Você precisa sentir-se tão
desesperado que receberá a Cristo, não importando
o preço.
Vamos a Mateus 16 porque você não pode
entender todo o quadro da passagem de Lucas sem
compará-la com sua passagem correspondente, que
é Mateus 16. Estabelecendo o cenário, esse é um
tempo de teste para os discípulos. Há uma única
pergunta no teste: “Mas vós, continuou ele, quem
dizeis que eu sou?” (v. 15). Depois de alguns anos
de treinamento, revelação, milagres, sinais e
maravilhas que Jesus havia realizado, juntamente
com toda o seu ensino, era tempo de dar aos
discípulos um teste final na escola do discipulado. E
a única pergunta era: “Vós... quem dizeis que eu
sou?” Eles a entenderam corretamente.
“Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo,
o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou:
Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não
foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai,
que está nos céus” (vv. 16-17). Os discípulos
haviam aceitado a revelação de Deus por meio de
Cristo e sabiam que essa era a resposta certa.
Esse é o clímax de todo o treinamento do
discipulado. Eles chegaram à conclusão correta
sobre Jesus Cristo, o que é absolutamente necessário
para a salvação. Jesus é o Cristo de Deus, o Messias
de Deus, o Filho de Deus, o Salvador de Deus; tudo
que o Antigo Testamento prometia, tudo que Jesus
afirmou é realmente verdadeiro. Essa é a grande
confissão, a suprema confissão. Os evangelhos
foram “registrados para que creiais que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). Eles creram
e tiveram vida em nome de Cristo; esse foi o seu
grande momento de confissão.
Em reposta à afirmação de Pedro, Jesus
proferiu estas palavras: “Também eu te digo que tu
és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela” (v. 18). Aqui há um contraste: “Você é
Pedro, uma rocha pequena, mas sobre este leito de
rocha edificarei minha igreja”. O que é este leito de
rocha? É a confissão de quem Jesus é, a realidade
do que ele é.
“Edificarei a minha igreja”, disse Jesus, “e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela” (v.
18). As portas do inferno representam simplesmente
a morte. Satanás tem o poder da morte, diz Hebreus
2.14; ele exerce o poder da morte no mundo. Mas
nem mesmo o poder de morte de Satanás impedirá o
Senhor de edificar a sua igreja. Essa é uma nota de
triunfo. Jesus está dizendo: “Você deu a resposta
certa para a pergunta, passou no teste com A+,
estou dizendo a vocês, rapazes, que é sobre essa
grande e gloriosa realidade que edificarei minha
igreja, e o grande poder de morte de Satanás não
prevalecerá contra ela”.
Em seguida, Jesus acrescentou: “Dar-te-ei as
chaves do reino dos céus” (v. 19). Em outras
palavras, eles abrirão a porta do reino e deixarão as
pessoas entrarem. Como? Eles proclamarão o
evangelho. Como você entra no reino do céu? Qual
é a chave que abre a porta? É o evangelho. Portanto,
eles seriam os pregadores do evangelho de Cristo.
Ele disse: “O que ligares na terra terá sido ligado
nos céus; e o que desligares na terra terá sido
desligado nos céus” (v. 19). Ligar e desligar era um
antigo conceito rabínico. O rabino diria a uma
pessoa que não se arrependia: “Você está ligado ao
pecado”. E diria a uma pessoa que se arrependera:
“Você está desligado do pecado, porque Deus
perdoa aqueles que se arrependem”. Jesus estava
dizendo aos apóstolos: “Vocês farão o mesmo.
Vocês abrirão o reino com o evangelho, e dirão aos
pecadores que se arrependerem que eles estão
desligados de seu pecado, e dirão aos pecadores que
não se arrependerem que eles estão ligados ao seu
pecado. Vocês serão meus representantes; serão
meus agentes com autoridade, no mundo, e trarão
pessoas ao reino”. Você pode até sentir o entusiasmo
surgindo nos discípulos: “É isso mesmo — isso é o
que temos esperado nestes últimos dois anos. Ele é o
Messias, ele edificará a igreja, e nada parará a igreja.
Seremos aqueles que terão a autoridade de abrir e
fechar o reino, não a religião estabelecida do
judaísmo, não os escribas, não os principais
sacerdotes ou os anciãos. Seremos os preeminentes
no reino”.
No entanto, por meio de uma declaração
chocante, Jesus “advertiu os discípulos de que a
ninguém dissessem ser ele o Cristo” (v. 20). Isso
parecia não fazer sentido para eles. Eles haviam
acabado de ser dominados pela emoção do
momento, na compreensão da autoridade e da
invencibilidade da igreja e da deidade de Jesus, e
agora ele diz: “Não contem isso a ninguém”. O
versículo 21 diz: “Desde esse tempo, começou
Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe
era necessário seguir para Jerusalém e sofrer
muitas coisas dos anciãos, dos principais
sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado
no terceiro dia”. Que ducha de água fria! Jesus
estava dizendo: “Não digam isso a ninguém porque
o plano não é que eu assuma meu reino agora, o
plano não é que entre em minha glória agora — o
plano é que eu seja morto pelo Estado judaico”.
Isso deve ter sido totalmente desestimulante
para os discípulos. Eles tinham sido enlevados pelas
realidades de que Jesus era o Messias, de que ele
edificaria a igreja, de que nem o poder da morte
prevaleceria contra ela e de que autoridade lhes fora
delegada — eles puderam saborear o reino.
Puderam sentir a glória vindo. Talvez possamos
dizer que eles puderam sentir a glória da Shekina.
Saúde, riqueza e prosperidade viriam em breve.
Certamente, Jesus destruiria os líderes apóstatas do
judaísmo, e eles, os apóstolos, seriam os novos
líderes de Israel. Certamente, Jesus destruiria os
opressores romanos e os pagãos. Certamente, ele
curaria todas as doenças e proveria alimento como o
fizera quando alimentou as multidões. Aquele era o
momento glorioso pelo qual eles haviam por tanto
tempo. E Jesus disse: “Não digam isso a ninguém;
primeiro, eu tenho de morrer”.
O versículo 22 continua a narrativa: “E Pedro,
chamando-o à parte, começou a reprová-lo,
dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de
modo algum te acontecerá”. Observe a
personalidade forte de Pedro! Ele repreende o Filho
do Deus vivo — as palavras jorram dos lábios de
Pedro, dizendo na realidade: “Venha cá, Senhor,
precisamos ter uma conversa particular — eu
preciso corrigi-lo. Isso não acontecerá. O Senhor
não morrerá; esse não é o plano”. Mas Jesus
respondeu: “Arreda, Satanás! Tu és para mim
pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de
Deus, e sim das dos homens” (v. 23). Pedro tinha
uma agenda centrada no homem. Este poderia ser o
lema para o evangelicalismo contemporâneo: você
não está fixando sua mente nos interesses de Deus, e
sim nos interesses do homem. A repreensão dirigida
a Pedro é a mesma que o evangelicalismo
contemporâneo precisa ouvir: “Tudo isso é a
respeito de você. É a respeito do que você quer.
Trata de poder e glória. Trata de coroa, recompensa
e autoridade. Você não entende. O caminho para
cima é para baixo. Você não receberá a coroa sem
passar pela cruz”.
No versículo 24, Jesus apresentou o princípio
aos seus discípulos, aos apóstolos e ao resto da
multidão: “Se alguém quer vir após mim, a si
mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”.
Lucas 9.23 acrescenta “Dia a dia”.
Com isso, voltamos a Lucas 9. Aquela foi uma
experiência chocante para os apóstolos: ter chegado
àquela confissão gloriosa, mas ser instruído a não
dizer nada e ser informado de que Jesus iria morrer.
A tudo isso acrescente estas palavras de Jesus: “Se
alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue,
dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (v. 23). Com
essa afirmação, Jesus expôs o paradoxo do
discipulado.
Examinemos o principio apresentado no
versículo 23. Não é difícil determinar o princípio. É
simples: se você quer seguir a Cristo, se você quer
ser um cristão, você tem de negar a si mesmo, tomar
a sua cruz e segui-lo.
Você ouve essa mensagem no evangelho
contemporâneo? Você ouve isso? Você ouve isso
numa mensagem apresentada por um pregador ou
um evangelista na televisão? Você já ouviu alguém
se levantar diante de uma multidão e dizer: “Se você
quer se tornar um cristão, mate a si mesmo, negue a
si mesmo todas as coisas pelas quais você espera e
anseia? Esteja disposto a morrer e submeter-se
servilmente à obediência de Jesus Cristo”.
Essa mensagem não vende — não é marketing
inteligente. Mas ela é a verdade. Então, o que você
quer — que alguém se converta artificialmente?
Essa é a maneira popular. Dê às pessoas a ilusão de
que são salvas quando elas realmente não o são,
para que no dia em que estiverem diante de Cristo
digam: “Senhor, Senhor!”, e eles lhes responda:
“Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim” (Mt
7.22-23). O evangelho tem de ser o evangelho. O
princípio é: se você quer seguir a Cristo, isso é o seu
fim. É o seu fim — você não existe mais. Paulo o
expressou nos seguintes termos: “Para mim, o viver
é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21); “Tanto sei
estar humilhado como também ser honrado”
(4.12); “Se vivemos, para o Senhor vivemos; se
morremos, para o Senhor morremos” (Rm 14.8).
Essa é a atitude. Os homens querem glória, querem
riqueza, querem saúde, querem felicidade e querem
que todas as suas necessidades sentidas sejam
supridas. Eles querem uma vida sem sofrimento.
Querem a coroa sem a cruz. Querem o ganho sem a
dor. É assim que as pessoas pensam; e pensam assim
não visando ao interesse de Deus. De acordo com
Hebreus 2.10, o Autor de nossa salvação foi
aperfeiçoado por meio de sofrimento. Nós
amadurecemos quando Deus nos faz passar pelo
crisol do sofrimento. Onde precisamos sofrer
primeiramente é na morte de todas as nossas
esperanças, de todas as nossas ambições, de todos
os nossos desejos, de todos os nossos anseios, de
todas as necessidade que são humanas.
Portanto, se você quer ser um cristão, deixe-me
dizer-lhe que isso não é fácil. Pelo que você já ouviu
por aí, talvez pensava que era fácil: se você quer ser
um cristão, apenas faça esta pequena oração e você
será um cristão. Mas não é tão fácil assim.
Mateus 7.13 é uma parte do Sermão do Monte
e contém estas palavras familiares: “Entrai pela
porta estreita”. Primeiramente, para tornar-se um
cristão, você deve entrar pela porta estreita.
“Estreita” significa apertada. Você não pode levar
nada consigo. Tem de entrar sem nada. “Larga é a
porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a
perdição” (v. 13). Há uma espaçosa porta religiosa
pela qual as pessoas entram com toda a sua
bagagem, com todas as suas necessidades, com toda
a sua autoestima e com todo desejo de realização e
autossatisfação. Mas esse caminho não leva ao céu.
Diz que leva ao céu, mas termina no inferno. E
muitos tomam esse caminho.
No entanto, “estreita é a porta, e apertado, o
caminho que conduz para a vida, e são poucos os
que acertam com ela” (v. 14). A ideia é que é difícil
achar a porta estreita. Concordo em que é difícil
achá-la — e especialmente difícil em nossos dias.
Você pode ir a uma igreja após outra e nunca achar
essa porta.
Em Lucas 13.23, há mais elementos deste
mesmo ensino. Quando Jesus passava por cidades e
aldeias em seu caminho para Jerusalém, “alguém lhe
perguntou: Senhor, são poucos os que são salvos?”
Isso foi a implicação do ensino de Jesus. Se a porta
é estreita e é difícil achá-la, a reação natural é que
parece haver poucos que são salvos. Jesus lhes disse:
“Esforçai-vos [no grego, agonizomai] por entrar
pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos
procurarão entrar e não poderão” (v. 24). Por que
é tão difícil achá-la e por que é tão difícil entrar por
ela? Porque é muito difícil negar-se a si mesmo.
A realidade dominante nos seres humanos
caídos é que o homem é o senhor de sua própria
alma, o dono de sua própria fé, o monarca de seu
próprio mundo, o rei de sua própria vida. Dizer-lhe
que tem de matar a si mesmo, negar a si mesmo,
isso é demais para ele admitir. Você prega um
evangelho que não inclui essa verdade, e as pessoas
correrão para você, para saírem do inferno e
entrarem no céu. Você começa a pregar o
verdadeiro evangelho que exige autorrenúncia
completa e total, o reconhecimento de que você não
tem nada pelo que é digno, nada pelo que pode ser
recomendado e nada em você que precisa ser
recuperado, e você obterá uma resposta diferente.
Estar disposto a matar tudo que você é — suas
esperanças, sonhos e ambições — por amor à
pérola, por amor a Cristo, não é fácil. Primeiro de
tudo, é difícil achar a verdade; é ainda mais difícil,
depois de tê-la ouvido, submeter-se a ela, porque o
homem adora a si mesmo. Ele é seu próprio deus.
O que precisamos estar dizendo às pessoas é:
não venha a Cristo para sentir-se melhor quanto a si
mesmo. Jesus não quer satisfazer suas necessidades
mundanas, terrenas e humanas. Ele quer que você
esteja disposto a dizer: “Abandonarei todas as coisas
que acho preciso abandonar por causa de Cristo”.
Vejamos Lucas 14.28-30: “Pois qual de vós,
pretendendo construir uma torre, não se assenta
primeiro para calcular a despesa e verificar se tem
os meios para a concluir? Para não suceder que,
tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar,
todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este
homem começou a construir e não pôde acabar”.
Se você quer vir a Cristo, tem de considerar o custo.
E você precisa fazer isso antes de ter a pretensão de
vir a Cristo? Sabemos qual é o preço. Odiar pai e
mãe, se necessário, odiar a própria vida, tomar a sua
cruz — esse é o preço. Não deve haver nada neste
mundo que você ama tanto que o faz perder a
Cristo.
Em seguida, Jesus disse: “Ou qual é o rei que,
indo para combater outro rei, não se assenta
primeiro para calcular se com dez mil homens
poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte
mil? Caso contrário, estando o outro ainda longe,
envia-lhe uma embaixada, pedindo condições de
paz” (vv. 31-32). Você precisa fazer as pazes com o
inimigo, se não pode vencê-lo, ou assegurar-se de
que tem as tropas que vencerão a batalha. Em outras
palavras, Jesus disse: “Não venha a mim se não
aceitou o preço”. O preço é auto-renúncia,
crucificação de si mesmo e a submissão do ego.
No versículo 33, Jesus enfatizou esta verdade:
“Assim, pois, todo aquele que dentre vós não
renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu
discípulo”. Você tem de ser disposto a renunciar
tudo. Você não será salvo por livrar-se de todos os
seus bens terrenos, mas tem de estar pronto a
renunciar tudo. Isso é quão dedicado você tem de
ser à causa de Cristo. Você negará a si mesmo todos
os seus anseios mundanos, negará a si mesmo seu
próprio direito de viver; dará a sua vida, se
necessário, pela causa de Jesus Cristo. E você se
submeterá à vontade de Cristo, seguindo-o aonde
quer que ele peça que você vá.
Em Mateus 13.44-46, há duas parábolas
importantes que Jesus contou. Ele disse que havia
um homem que achara um tesouro escondido num
campo; o homem reconheceu o valor do tesouro e
vendeu tudo que tinha para comprar aquele campo.
Depois, Jesus disse que havia um homem que
achara uma pérola de grande valor e vendeu tudo
para obter aquela pérola. É o vender tudo que é a
essência da salvação. Você tem de ser disposto a
renunciar tudo, negar a si mesmo, dar sua vida em
termos de morte, se necessário, e em termos de
obediência, em vida. Essa é a mensagem do
evangelho. Portanto, quando você prega o
evangelho, isso é o que você tem de dizer.
Você diz: “Mas as pessoas não aceitarão essa
mensagem”. Certamente, as pessoas não a aceitarão,
a menos que o Espírito de Deus esteja operando no
coração delas. O Espírito de Deus tem de operar a
obra de convicção, o avivamento do coração morto,
a fé regeneradora. Mas o evangelho é a única
mensagem verdadeira conectada com a obra do
Espírito que produzirá a verdadeira salvação. Não
reinvente o evangelho para que lhe seja conveniente.
Isso é o que outros estão fazendo hoje. Se alguém
quer vir após Jesus, tem de crer nele. Tem de
confessá-lo como o Cristo, o Filho do Deus vivo, o
Senhor e Salvador. Você precisa estar disposto a ter
uma divisão em sua família, uma divisão em seu
casamento, um rompimento com o mundo que
poderá custar-lhe a vida e um rompimento com suas
ambições pessoais. Depois, você pode submeter
toda a sua vida a seguir a Jesus e a fazer o que
agrada a ele. Jesus disse: “Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas
aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos
céus” (Mt 7.21). E a vontade do Pai é que você se
submeta ao Filho.
Isto é o evangelho. É um evangelho de
autorrenúncia. É um evangelho de autossacrifício e
submissão do ego. Negue a si mesmo, tome a sua
cruz dia a dia, ponha sua vida à disposição da causa
de Cristo e siga-o com o senso de que você fará o
que ele quer.
Se você apresentar menos do que isso como os
termos do evangelho, alguém poderá ser enganado.
Você diz: “E se as pessoas não responderem?” Isso
não é o problema. Determinar isso está no poder de
Deus. Você é responsável por comunicar a pureza
do evangelho.
12
A HUMILDADE DOS
CRENTES:
Confrontando o pecado

Mateus 18.15-20
6 de janeiro de 2008

John MacArthur pregou muitas vezes sobre


disciplina eclesiástica e Mateus 18 no decorrer dos
anos, começando nos primeiros anos da década de
1970. Mas este sermão, revendo a passagem, foi o
primeiro, em vários anos, no qual John MacArthur
dedicou uma passagem inteira ao assunto da
instrução do próprio Jesus quanto a lidarmos com
o pecado na igreja. Foi pregado no primeiro
domingo do ano novo, e John escolheu este assunto
porque estávamos tecnicamente em um feriado de
fim de semana e ele não queria interromper o fluxo
da série de sermões sobre Lucas para aqueles que
poderiam estar ausentes durante o feriado.
Para muitos da atual geração da Grace
Community Church, esta foi a primeira vez que
tiveram uma análise clara e concisa de Mateus
18.15-20 em uma única mensagem. Gravações do
sermão atingiram rapidamente demanda alta, e a
mensagem logo se tornou um dos sermões mais
ouvidos de todos.
Naquela semana, o petróleo atingiu pela
primeira vez o preço de US$ 100,00 por barril.

H Há muito tempo, quando eu tinha quase trinta


anos, cheguei à Grace Community Church. Ela era e
ainda é uma igreja vibrante. As pessoas eram
entusiasmadas, ativas, comprometidas com Cristo,
prontas a seguir em frente e ver o que Deus faria.
Era uma igreja que havia desfrutado a bênção de
Deus até aquele ponto. Todos estávamos prontos a
começar uma grande aventura para ver o que
aconteceria no futuro.
Quando tive a oportunidade de tornar-me
pastor desta igreja, estou bem certo de que as
pessoas que tomaram a decisão não tinham
nenhuma ideia do que estavam conseguindo.
Olhando em retrospectiva, todos temos visto a mão
de Deus operando de maneira maravilhosa.
O anseio, a paixão e o desejo desta igreja era
evangelizar e ver pessoas vindo a Cristo. Esse era o
seu anseio e compromisso como igreja. Com base
nesse compromisso, todos supúnhamos que a igreja
iria crescer. Não tínhamos ideia de que ela cresceria
da maneira como cresceu. Não penso que uma
igreja sempre chama um pastor sem a suposição de
ele será bom para a igreja — ele representa um novo
dia e um novo começo. Iríamos florescer. Iríamos
crescer. Mais pessoas virão e mais pessoas
conhecerão a Cristo. Essa era a expectativa. Era
também a minha expectativa.
Mas, bem no início, meus pensamentos não
eram a respeito de como podemos fazer esta igreja
crescer ou como podemos ter mais pessoas neste
edifício. Não eram como podemos encher os
assentos vazios, os poucos que existiam. Não eram
também como podemos atrair pessoas ou como
podemos tornar a igreja atraente. Nunca tive
pensamentos desse tipo.
De fato, quando vim para a Grace Church, um
pensamento predominante se fixara em minha
mente: um texto da Escritura que me preocupava
profundamente; ele está em Mateus 18. Eu tinha
estudado essa passagem antes de eu vir para cá. Em
vim em 1969, e durante dois ou três anos antes
estive labutando com Mateus 18.15-20. Quero que
você abra sua Bíblia nesta passagem, e eu lerei. E a
própria leitura o ajudará a entender por que ela era
uma passagem muito importante da Escritura para
mim, sendo ainda um ministro jovem.
A passagem começa: “Se teu irmão pecar
[contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te
ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te
ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas,
para que, pelo depoimento de duas ou três
testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele
não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir
também a igreja, considera-o como gentio e
publicano. Em verdade vos digo que tudo o que
ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo
o que desligardes na terra terá sido desligado nos
céus. Em verdade também vos digo que, se dois
dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito
de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-
lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus.
Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em
meu nome, ali estou no meio deles” (vv. 15-20).
Tive grande dificuldade com essa passagem da
Escritura, porque em toda a minha vida nunca tinha
participado de uma igreja nem mesmo tinha ouvido
falar de uma igreja que fazia isso. Nenhuma das
igrejas das quais eu fizera parte confrontava os
membros quanto ao seu pecado, pessoas tomando
consigo duas ou três testemunhas ou a liderança
falando com toda a igreja sobre um membro
impenitente, em pecado. A única parte dessa
passagem que eu sempre ouvia era: “Onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no
meio deles”. Isso era quase um axioma popular
usado para lembrar às pessoas que, se apenas duas
pessoas aparecerem para a reunião de oração, Deus
estaria ali também. Essa era a exegese universal
desse versículo.
Visto que eu não conhecia nenhuma igreja que
seguia esse padrão, a passagem consumia meus
pensamentos. Li amplamente sobre o assunto e
achei comentadores e teólogos que explicavam o
texto, mas não achei ninguém que o aplicasse.
Portanto, em minha ingenuidade naqueles dias,
perguntei a alguns pastores se eles já haviam
aplicado ou implementado a passagem ou se
conheciam alguém que o fizera. A isso recebi um
“Não” universal. Não, ninguém o fizera. Ninguém
conhecia alguém que já havia aplicado a passagem.
Eu pensei: mas essa é a instrução inicial para a
igreja. É onde aparece a palavra “igreja” em Mateus
18. Esse é o interesse prioritário de nosso Senhor
para a igreja: ela precisa lidar com o pecado em seus
próprios membros. É a primeira mensagem do
Senhor para a igreja, e não está no fim da lista, e
sim no começo; e isso a torna uma prioridade
crucial. Como podemos ler esta passagem, entendê-
la e não implementá-la?
Homens mais velhos e mais experimentados do
que eu me disseram que, se eu tentasse implementar
isso na Grace Church, se tentasse levar uma igreja a
fazer o que essa passagem diz, eu esvaziaria a igreja.
As pessoas não suportariam. Disseram-me: “Você
pensa que pode permitir que, em sua igreja, pessoas
se dirijam a outras e confrontem-nas com seu
pecados, sem que elas saiam da igreja? Você pensa
que talvez conseguiria que um pequeno grupo de
pessoas fosse ao encontro de um crente em pecado,
sem amedrontar a todos? E certamente você não crê
que pode anunciar o nome de alguém e seu pecado
para toda a congregação e esperar que tal pessoa
apareça na semana seguinte. Você não pode fazer
isso. E, se você está interessado no crescimento da
igreja e em acrescentar pessoas à igreja, esqueça
isso”.
Os comentários deles me lembraram Atos 5.
Essa passagem bíblica nos conta a história de um
homem chamado Ananias e sua esposa, Safira. Eles
faziam parte da igreja primitiva e venderam uma
propriedade. Ananias, com o pleno conhecimento de
sua esposa, reteve para si mesmo parte do preço. Ele
não tinha de vender a propriedade; tinha a liberdade
de decidir vender a propriedade e o fez (vv. 1-2).
Também tinha o direito de reter para si o quanto
quisesse. Não há qualquer ordem da parte de Deus
no sentido de que você venda sua propriedade, e
não há uma ordem de Deus no sentido de que você
dê à igreja tudo que obtém com a venda de uma
propriedade.
No entanto, o versículo 2 diz que Ananias
“reteve parte do preço e, levando o restante,
depositou-o aos pés dos apóstolos. Então, disse
Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu
coração, para que mentisses ao Espírito Santo,
reservando parte do valor do campo?
Conservando-o, porventura, não seria teu? E,
vendido, não estaria em teu poder? Como, pois,
assentaste no coração este desígnio? Não mentiste
aos homens, mas a Deus” (vv. 2-4). Onde estava a
mentira? Evidentemente, Ananias havia dito algo
assim: “Estou dando tudo ao Senhor. Estou dando à
igreja tudo que recebi nesta transação. Estou
trazendo tudo e depositando-o aos pés dos apóstolos
para a obra do evangelho no começo da igreja”.
Ele não tinha de vender a propriedade. Não
tinha de dar tudo que recebera por vendê-la.
Também não tinha de mentir. Ananias não mentiu
para os homens, mentiu para Deus. “Ouvindo estas
palavras, Ananias caiu e expirou, sobrevindo
grande temor a todos os ouvintes” (v. 5). Uau! Ele
caiu morto em frente de toda a igreja. Quem o
matou? Deus o matou, “sobrevindo grande temor a
todos os ouvintes” (v. 5). É claro que essa é uma
grande maneira de manter as pessoas fora da igreja.
Não vá lá; pessoas morrem. É semelhante a Jim
Jones e ao suco envenenado que sua seita distribuiu
aos seus membros. Você não quer ter nada com essa
organização; pessoas morrem lá. O versículo 6 diz:
“Levantando-se os moços, cobriram-lhe o corpo e,
levando-o, o sepultaram”. Os judeus não
embalsamavam o corpo. Quando alguém morria,
eles o sepultavam.
“Quase três horas depois, entrou a mulher de
Ananias, não sabendo o que ocorrera” (v. 7). Há
várias coisas interessantes a observar neste versículo.
Primeira, a igreja continuou bem durante três horas.
Isso á algo maravilhoso — estou vivendo na época
errada. Segunda coisa, a esposa de Ananias
apareceu três horas mais tarde. E, quando ela
entrou, eles já tinham levado seu esposo. Pedro
perguntou-lhe, e com isso descobrimos o que eles
fizeram: “Dize-me, vendestes por tanto aquela
terra? Ela respondeu: Sim, por tanto” (v. 8). O
preço havia sido mais do que isso, mas eles tinham
guardado a outra parte. “Tornou-lhe Pedro: Por que
entrastes em acordo para tentar o Espírito do
Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o
teu marido, e eles também te levarão. No mesmo
instante, caiu ela aos pés de Pedro e expirou.
Entrando os moços, acharam-na morta e, levando-
a, sepultaram-na junto do marido. E sobreveio
grande temor a toda a igreja e a todos quantos
ouviram a notícia destes acontecimentos” (vv. 9-
11).
O que o Senhor estava tentando fazer? Estava
tendo impedir que a igreja crescesse? Por que a
primeira instrução dada a igreja, conforme Mateus
18, não foi o tipo de instrução que a tornaria um
ambiente caloroso e indefinido ao qual as pessoas
gostariam de ir? Por que bem no início, na própria
igreja primitiva em Jerusalém, o Senhor fez esta
coisa dramática, executar duas pessoas que
mentiram para ele bem na frente da igreja, para que
todos soubessem que se podia morrer naquele lugar?
Isso não é o que eu chamaria de estender o tapete de
boas vindas.
Eu estava lutando com essas passagens. Mas
em seguida há um versículo importante em Atos
5.13: “Mas, dos restantes, ninguém ousava
ajuntar-se a eles [os apóstolos]; porém o povo lhes
tributava grande admiração”. Um dos objetivos da
igreja é deixar tão claro o seu compromisso com a
santidade, que as pessoas não se unem à igreja por
iniciativa própria. Mas hoje essa noção tem sido
invertida em nossa sociedade e em nosso
evangelicalismo. Um dos objetivos da igreja é estar
tão comprometida com a santidade, tão
comprometida com a pureza, tão comprometida
com a virtude, tão comprometida com a justiça, e
esse compromisso com essas coisas deve ser tão
claro, que as pessoas que não estão interessadas
nessas coisas não aparecerão. Isso é totalmente
contrário à abordagem contemporânea de esconder
nosso compromisso com a justiça, esconder nosso
compromisso com a santidade, esconder nosso
compromisso com a virtude, para que ninguém
pense, de maneira alguma, que não somos as
pessoas mais amáveis, aceitáveis, abertas e
acolhedoras do planeta.
Você diz: “Bem, como a igreja vai crescer no
mundo hoje?” O versículo 14 diz: “E crescia mais e
mais a multidão de crentes, tanto homens como
mulheres, agregados ao Senhor”. Se você quer que
a igreja cresça, aqui está a estratégia, aqui está o
plano. Você gostaria de uma igreja como essa
descrita no versículo 14, não gostaria? Ela não
deveria ser um modelo para o movimento evangélico
moderno? Este deveria ser o versículo deles: “E
crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto
homens como mulheres, agregados ao Senhor”.
Como você faz isso acontecer? Oh! que Deus mate
algumas pessoas injustas bem no momento da
oferta. Torne-se pessoalmente, verbalmente e
visivelmente preocupado com a santidade. Seja tão
justo e tão comprometido com a obediência à
Palavra de Deus, que ninguém, de si mesmo, se
ajuntará à igreja. Então, o que acontecerá é que o
Senhor acrescentará pessoas à igreja.
Atos 2.47 diz: “Louvando a Deus e contando
com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso,
acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam
sendo salvos”. A igreja é um grupo de pessoas que
foram salvas. Não é um lugar que se acomoda aos
não-salvos. Caso você não seja salvo, a igreja lhe
parecerá o lugar a ser mais evitado. Não é um lugar
idealizado para fazer o não-salvo sentir-se em casa e
confortável.
Tem sido interessante para mim rever tudo isso
em minha mente. Não tencionava dizer nada disso.
Mas era assim que minha mente estava em 1969,
quando cheguei aqui. É claro que havia muita coisa
em jogo. Trouxe minha preciosa Patricia e nossos
quatro filhos. Queríamos ser amados. Queríamos ser
aceitos. Queríamos que a obra florescesse.
Queríamos honrar a Deus. Não queríamos fracassar.
Queríamos que mais pessoas viessem à igreja, assim
mais pessoas ouviriam a Palavra de Deus e seriam
salvas; assim, estenderíamos o reino e faríamos o
evangelho avançar.
Mesmo naquele tempo, eu entendia que é o
Senhor quem edifica a sua igreja. Naqueles anos
iniciais, um repórter me perguntou: “Você tem um
grande desejo de edificar esta igreja?” Ele perguntou
isso porque em pouco tempo a Grace Church
cresceu rapidamente. Nos primeiros dois anos, a
membresia dobrou. Nos dois anos seguintes, dobrou
novamente. Por isso, eu lhe respondi: “Na verdade,
não tenho nenhum desejo de edificar a igreja,
porque Jesus disse que ele edificaria a igreja; não
quero competir com ele”. Esta igreja não é minha; é
dele. Quero apenas saber como ele edifica sua igreja
e fazer aquilo que ele me chamou a fazer como um
instrumento pelo qual ele pode realizar sua obra. No
que concerne à santidade na igreja, era bastante
claro para mim que lidar com o pecado era
importantíssimo.
A primeira vez que me reuni com um grupo de
presbíteros aqui, eles me apresentaram uma
pergunta sobre realizar certo casamento na igreja.
Era o casamento de uma moça de uma família muito
proeminente, que servia em muitas funções na
igreja. A filha deles ia casar, eu lembro, com um
homem divorciado que era mais velho e não era
crente. Eu disse: “Não posso fazer isso; não posso
casar um crente com um não-crente”. Alguém
respondeu: “Bem, isso os ofenderá”. Eu disse:
“Sinto muito por isso, mas há alguém mais
envolvido na questão de ofender-se, e esse alguém é
o Senhor da igreja. Por isso, não posso fazer o
casamento”. Um dos homens respondeu, dizendo:
“Bem, entendo isso; essa é a sua convicção.
Portanto, o que faremos é o seguinte: você não
precisa realizar o casamento, mas nós o teremos —
isso os fará sentirem-se melhores”. Lembrem que
aquela era a minha primeira reunião. Então, eu
disse: “Esta igreja é sua? Ela não é minha, ela é sua?
De quem é esta igreja?” A mesma pessoa respondeu:
“É a igreja do Senhor”. Eu disse: “Talvez devamos
fazer o que o Senhor deseja que seja feito em sua
igreja. Não posso fazer o casamento, e o casamento
não pode ser feito nesta igreja, porque é errado unir
um crente com um incrédulo; isso é ensinado
claramente na Escritura”.
Aquele foi um momento determinante. Eu
continuei: “Se esta igreja é de Cristo e honra a
Cristo, e ele vai edificar sua igreja à sua maneira,
temos de ser comprometidos com a obediência à sua
Palavra”. Pouco tempo depois, começamos a tratar
do assunto de disciplina na igreja conforme
delineado em Mateus 18. Ora, eu havia sido
avisado, fui realmente avisado, de que isso seria o
fim, não somente da experiência desta igreja, mas
também de qualquer outra oportunidade que eu
poderia ter no futuro, porque, uma vez que eu
destruísse esta igreja pela convicção de que eu tinha
de seguir este padrão, ninguém mais me tocaria, eu
seria um pária ministerial.
No entanto, eu não podia entender como você
prega contra o pecado e não implementa algo tão
óbvio. Parecia-me que você não poderia convencer
as pessoas de que você era realmente sério a respeito
do pecado, se tudo que você fazia era pregar contra
o pecado. Você podia tentar convencê-las de que
você era sério. Podia oferecer ilustrações, podia
preparar-se, podia pregar toda a Bíblia e mostrar o
ponto de vista de Deus sobre o pecado, mas, se não
podia implementar a disciplina eclesiástica da
maneira como a Bíblia diz que você deve
implementá-la, como as pessoas crerão que você é
genuinamente sério em relação ao pecado?
De fato, o problema era muito mais grave. Se
existia algo que sabíamos ser verdadeiro na Escritura
e estávamos indispostos a seguir isso, então, havia
uma ruptura severa em nossa integridade. Isso
aconteceu quando nossa maneira de abordar a
Escritura se tornou completamente seletiva. E não
havia como se apartar desse comprometimento.
Agradeço ao Senhor pelo fato de que, talvez devido
à influência de meu avô, de meu pai e de alguns de
meu conselheiros no seminário, mas principalmente,
eu penso, como resultado da influência do Espírito
Santo em meu coração, eu sempre tive e sempre tive
este compromisso inflexível com a Escritura, não
somente crendo que ela é verdadeira, mas também
crendo que ela tem de ser implementada, porque
esse é o único caminho possível para a vida. É o
único caminho para uma vida cristã produtiva e
cheia de gozo. É a única maneira de ter uma igreja
que o Senhor mesmo edifica e o honra.
Eu havia estado em igrejas e conhecia igrejas
que pregavam contra o pecado. Mas nunca soube de
qualquer igreja que fazia alguma coisa em relação ao
pecado. Parecia-me que você destruía tudo que dizia
no púlpito. Se as pessoas assimilassem a ideia de que
você era bom em pregar contra o pecado, mas
indiferente em lidar com o pecado, isso era uma
falta de integridade muito séria.
Portanto, naqueles primeiros anos, bem no
início, começamos a estudar Mateus 18, Atos 5 e 1
Coríntios 5. Neste última passagem, Paulo diz que
devemos lançar fora o fermento que leveda toda a
massa, excluir o homem imoral; e em 2
Tessalonicenses 3.6-15 somos instruídos, como
igreja, a excluir alguém que é contencioso ou
transgressor da verdade. Outro exemplo é 1 Timóteo
1.3-7, que fala sobre líderes que tinham de ser
excluídos da igreja. Parecia-me que não havia como
evitar essa responsabilidade.
Portanto, o resultado é que temos de entender
esta passagem. Vamos examinar Mateus 18.15. Qual
é o contexto? O contexto é o de humildade do
crente. O lugar é, provavelmente, a cidade de
Cafarnaum, nesta parte específica do ministério de
Jesus. E talvez eles estavam na casa de Pedro. Jesus
estava segurando no colo uma criança que serviu
como ilustração. Estava falando sobre a humildade
do crente. A criança é uma ilustração de humildade.
E Jesus começou esta maravilhosa apresentação por
dizer que todos entramos no reino como crianças.
Se você não se tornar como criança, não pode entrar
no reino. Chegamos ao reino humildes,
dependentes, sem realizações e sem conquistas.
Uma vez que estamos no reino, permanecemos
como crianças. Precisamos ser cuidados como
crianças. Precisamos ser protegidos como crianças.
E precisamos ser respeitados como crianças. Todo
esse ensino está nos primeiros catorze versículos.
Isso levou Jesus a ensinar que precisamos ser
disciplinados como crianças. Isso não é um exagero.
Todos entendemos isso, não entendemos? “Senhor,
livra-me de um lar que tem crianças indisciplinadas.”
E há muitos delas nestes dias. As crianças precisam
ser disciplinadas. Quando elas fazem o que é errado,
precisam ser confrontadas, corrigidas e restauradas.
A própria Palavra de Deus faz isso: “Toda a
Escritura é... útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça”
(2Tm 3.16). É a Palavra que purifica (Ef 5.26).
Portanto, é obra da Palavra purificar a igreja por
confrontar o pecado e mostrar o caminho de
obediência e restauração. Essa é a obra do Espírito.
É o Espírito de santidade que deseja que a igreja
seja santa. É por isso que ele faz sua obra de
santificação em nós. Essa é a obra da Palavra e a
obra do Espírito de Deus. Por isso, precisa também
ser nossa obra. Paulo disse: “Para vos apresentar
como virgem pura a um só esposo, que é Cristo”.
Não é surpreendente que nosso Senhor tenha
começado por dizer: “Meu interesse na igreja é a
santidade, a pureza, a retidão e a obediência de meu
povo”.
Creio que a maior tristeza que tenho a respeito
do estado da igreja hoje é sua falta de santidade e
sua acomodação aos não-salvos. Se alguém
trouxesse qualquer destes ensinos para essas igrejas,
isso seria destrutivo para o sistema. Eu poderia
acrescentar que isso seria um benefício crucial, mas
isso provavelmente não acontece quando líderes
espirituais não são comprometidos com todos os
ensinos da Palavra de Deus. Como cristãos, não
temos escolha. Esta é a vontade do Senhor para sua
igreja. Ainda que as pessoas começassem a cair
mortas em frente deste púlpito nos domingos, por
mentirem ao Espírito Santo, o que era um pecado
exclusivo à era apostólica, o Senhor não seria
restringido em seu propósito e poder divino de
acrescentar pessoas à igreja, porque essa é a obra
dele. A ilusão é que temos o poder de dar
crescimento à igreja por meio de nossa esperteza,
nossa ingenuidade, nosso estilo, nossa
agradabilidade e nossas palavras.
Antes de começarmos, deixe-me fazer esta
observação. Não há tribunal mais elevado do que a
igreja. O que pretendendo dizer com o termo
“igreja” é qualquer corpo devidamente constituído
de pessoas redimidas. A igreja atual não existia antes
do dia de Pentecostes, em Atos 2. O Senhor estava
se referindo preliminarmente à igreja no sentido
técnico, mas ainda uma ekklesia — uma assembleia
de pessoas chamadas para fora, unidas sob o
governo de Deus como pessoas redimidas. A
instrução dada nesta passagem é para qualquer
assembleia dessas pessoas e contempla
antecipadamente a igreja. Nesse momento específico
de tempo, havia crentes reunidos em Cafarnaum que
constituiriam o corpo de redimidos que teriam esse
tipo de responsabilidade. Não muito depois desse
momento, a igreja nasceu, e essa instrução se tornou
a ordem para a vida da igreja. Não há um tribunal
superior. Digo isso porque através dos séculos todo
tipo de autoridade se desenvolveu, tal como papas,
bispos, cardeais, colégio de bispos, sínodos
formados de clérigos e assim por diante. O Novo
Testamento não ensina nada disso. Tudo que ele
ensina é uma igreja local, uma assembleia de crentes
que têm sido ekkaleo, chamados para fora com uma
chamada de salvação eficaz e salvadora. Eles
constituem um corpo de pessoas que são
responsáveis por buscar a sua própria santidade.
Pode haver ocasiões em que um grupo de
pastores tem de se intrometer numa igreja e lidar
com ela, porque essa igreja se corrompeu muito e,
assim, caiu em erro. Mas a igreja local continua
sendo o tribunal mais elevado.
Eis o plano que Jesus delineou: “Se teu irmão
pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só” (Mt
18.15). Isso é muito direto. As pessoas dizem: “Que
pecado? Em que grau?” Nesta passagem, Jesus não
nos diz que pecado e não nos diz em que grau,
porque qualquer pecado, em qualquer grau, é
contaminação. Observe que Jesus disse que
devemos mostrar em particular ao nosso irmão o seu
pecado. Não devemos falar sobre o pecado para
outras pessoas; essa é a tendência frequente. “Você
ouviu o que ela fez?” Isso é, em si mesmo, pecado.
Qualquer pecado é contaminação. Ele contamina a
nossa vida, o nosso relacionamento e se torna,
potencialmente, uma contaminação de toda a igreja,
porque somos um corpo. Você deve falar com seu
irmão em particular.
O versículo 15 diz: “Se ele te ouvir”. Isso
significaria que ele reagiu favoravelmente,
entendendo suas ações como pecado; ele se
arrepende de suas ações e quer abandoná-las. Essa é
a resposta que você busca. Por isso, Jesus disse:
“Ganhaste a teu irmão”.
Você sabia que pode perder pessoas dentro da
igreja? Isso está implícito nesta passagem. Você não
pode ganhá-la de volta, se ela não estava perdida.
Você não pode ganhá-la, se ela não era uma perda.
A palavra grega traduzida por “ganhaste” era um
termo comercial usado no contexto de mercado. Ela
nos mostra, bem no início, qual é o propósito desta
confrontação. O propósito é ganhar o irmão.
Algumas pessoas têm a ideia de que o objetivo da
disciplina eclesiástica é lançar pessoas fora da igreja.
Isso não é verdade. O objetivo é manter as pessoas
na igreja pura. De fato, a forma verbal de
“ganhaste” era usada para se referir a acumular
riqueza. Quando você a usa no seu contexto, ela
expressa a ideia de que um irmão em pecado é uma
perda para a comunhão. Quando ele é restaurado,
ele é um ganho. Ele é como uma riqueza
readquirida. Deixe-me esclarecer que os tipos de
pecados aos quais nos referimos são aqueles
pecados que mais nos assediam, com os quais
lutamos, que tendemos não abandonar, que não
deixamos e dos quais não nos arrependemos.
Quando alguém cai nesse tipo de pecado,
perdemos aquela pessoa como irmão, e isso, como
resultado daquele pecado. Essa é a razão por que
vamos recuperá-lo, porque ele é valioso. Por que ele
é valioso? O Espírito de Deus habita nele. Ele
recebeu o dom do Espírito Santo para ministrar na
igreja em favor do resto do corpo. Ele é um
instrumento pelo qual Deus pode fazer sua obra na
igreja e, pela igreja, no mundo. Essa é a ideia
inerente nestas palavras de Jesus. Esse irmão que
peca é tão valioso que você vai até ele e tentar
ganhá-lo de volta. Se ele não quer voltar, tome duas
ou três pessoas e tente ganhá-lo. E, se ele ainda não
quer voltar, diga a toda a igreja que o busque,
porque ele tem muito valor. Tudo isso diz respeito a
readquirir riqueza espiritual.
G. Campbell Morgan escreveu muitos anos
atrás: “É a grande tragédia de um homem perdido
que caracteriza toda esta instrução. E o propósito
que deve estar em nosso coração, quando lidamos
com um irmão que peca, é ganhá-lo. A palavra
‘ganhaste’ sugere não meramente o efeito sobre o
perdido, mas também o valor que ela cria para
aqueles que o procuram. Quando acabarmos com as
sombras e névoas deste curto espaço de tempo,
entenderemos, na luz das eras intermináveis, que, se
ganharmos um homem, seremos mais ricos do que
se acumularmos todas as riquezas do mundo”. Que
pensamento bendito — ganhar um homem, possuí-
lo para a igreja, para a comunhão de amigos, para o
empreendimento do evangelho, para o programa dos
céus.
Se você não está disposto a confrontar o
pecado de alguém, você não o vê como uma pessoa
que tem qualquer valor. Cristo vê as pessoas como
que tendo valor. Ele pagou um preço infinito por
elas, não pagou? Ele nos dá a responsabilidade,
como qualquer pai, de ir atrás de nosso filho errante.
Agora, temos filhos adultos, mas, quando estávamos
criando quatro nossos filhos pequenos, a disciplina
era uma rotina regular em nossa família. Era
motivada totalmente por nosso amor intenso por
nossos filhos. O temor era de que eles seriam
perdidos para nós e para o reino. Qualquer disciplina
que era necessária para fazê-los sentir a dor de sua
própria pecaminosidade, nós a aplicávamos neles.
Toda vez que eles se desviavam para o pecado, eram
disciplinados com o propósito de restauração,
porque eram muito preciosos. Você sente isso
quanto a seus filhos, e nosso Senhor estava dizendo
que é isso que devemos sentir quanto aos filhos de
Deus.
Veja Gálatas 6.1: “Irmãos, se alguém for
surpreendido nalguma falta, vós, que sois
espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e
guarda-te para que não sejas também tentado”.
Todos nós entendemos o que é ser tentando e pecar.
Isso não difícil de compreender. Visto que
entendemos a fraqueza humana, entendemos o
poder da tentação e entendemos nossa carne
pecaminosa, procuramos essas pessoas, desejando
restaurá-las porque elas têm valor. A palavra grega
traduzida por “corrigi” (katartizo) significa
“reparar”. É um termo médico usado para referir-se
a restaurar fraturas, ou emendar ossos, ou colocar
membros deslocados de volta no seu lugar.
A ideia por trás de tratar do pecado não é,
certamente, a de excluir pessoas da igreja — é a de
restaurá-las porque têm muito valor. E isso deve ser
feito em um espírito de brandura — nunca deve ser
feito com severidade. Deve ser banhado de
compaixão, ternura, simpatia, paciência e
misericórdia, porque você entende as implicações de
ser uma pessoa caída. Isso é nossa experiência
universal.
Nosso modelo para isso é Deus, o modelo que
ele estabeleceu nos versículos anteriores de Mateus
18. No versículo 12, lemos que Jesus disse: “Que
vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e
uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes
as noventa e nove, indo procurar a que se
extraviou? E, se porventura a encontra, em
verdade vos digo que maior prazer sentirá por
causa desta do que pelas noventa e nove que não
se extraviaram. Assim, pois, não é da vontade de
vosso Pai celeste que pereça um só destes
pequeninos” (vv. 12-14).
Estamos seguindo o padrão de Deus, o padrão
de restauração. Ele vai ao encontro de seu filho que
peca para trazê-lo de volta. Ele usa a igreja como
um meio para fazer isso. É por essa razão que essa
instrução é tão importante. Isto é obra de Deus. O
próximo princípio, no versículo 16, é vital porque a
busca de um irmão que peca precisa ser um
processo incansável, por causa do valor da pessoa.
“Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma
ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de
duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça.” Isso nos leva de volta ao Antigo
Testamento e ao livro de Deuteronômio, no qual
Deus estabeleceu o padrão de que acusações
precisam ser provadas e confirmadas por duas ou
três testemunhas (17.6; 19.15). A comprovação de
qualquer fato exigia duas ou três testemunhas
confirmadoras.
Se, ao ser confrontado por você, o crente que
peca não responde, pegue dois amigos, volte até ele
e confronte-o novamente, para assegurar-se de que
toda a informação seja correta e exigir que a pessoa
volte ao arrependimento e à restauração. Você faz
isso coletivamente, na esperança de que ele ou ela o
ouça, e você ganhará seu irmão ou irmã. Você chega
ao extremo de ganhá-lo de volta.
E se ele não ouvir? O versículo 17 diz: “E, se
ele não os atender, dize-o à igreja”. Você está
brincando? Não, diga a toda a igreja que aquela
pessoa está seguindo um padrão pecaminoso.
Quando você diz à igreja, os membros da igreja
ficam sabendo que você confrontou várias vezes a
pessoa que está em pecado. Você diz à igreja para
que os membros possam se unir contra ele ou ela.
Por você chega a esse extremo? Quem quer
confrontar alguma pessoa quanto ao seu pecado?
Contudo, isso é uma coisa nobre; mostra que você
se importa com a pessoa. Se você pode ser
indiferente quanto ao pecado de alguém, então, você
não se importa com ele. Se você realmente se
importa, não pode ser indiferente ao pecado dele.
Prometo-lhe que nunca tenho sido indiferente ao
pecado das pessoas que eu amo. Quero fazer tudo,
de toda maneira que eu puder, para restaurá-las. E,
na igreja, somos chamados a amar uns aos outros
sem barreiras ou restrições.
Não deve ser difícil entender por que falamos a
toda a igreja. A igreja é uma congregação de pessoas
que são salvas, que são redimidas. Você fala com a
igreja sobre a pessoa em pecado, sobre o seu
pecado, não em detalhes sensacionais e insiste com
os membros da igreja a que vão até àquela pessoa e
traga-a de volta. Esse é a maneira de expressar quão
valiosas é essa pessoa.
Mas, se ela não ouvir a igreja, isso é tudo que
você pode fazer. O versículo 17 diz: “Considera-o
como gentio e publicano”. Um publicano era a
pessoa mais desprezível e menosprezada na
sociedade judaica. Os judeus publicanos tinham
vendido sua alma a Roma para fazer parte de um
sistema de arrecadação de impostos e extorquir
dinheiro de seu próprio povo para uma nação
idólatra e pagã. Eram tratados como traidores, como
proscritos. Você tem de tratar um crente em pecado
como um não-crente, se ele não quer voltar atrás.
O que isso significa? Isso significa que você
não o aceita na comunhão da igreja porque o pecado
estragará a igreja. A igreja tem de proteger sua
santidade. E, num esforço para proteger a santidade,
ela chama o cristão professo que está em pecado a
abandonar o pecado. Se esse cristão em pecado não
responder à chamada, então você manda dois ou
três. Se isso não obtém a resposta correta, você diz à
igreja, e toda a igreja vai até ele. E, se isso não o traz
de volta, então, exclua-o.
Em 1 Coríntios 5.6, temos um lembrete
importante: “Não sabeis que um pouco de fermento
leveda a massa toda?” Você não pode permitir que
influência pecaminosa se estabeleça
confortavelmente na igreja. Sempre esperei e espero
que a Grace Community Church seja conhecida
como uma igreja amorosa. Creio que o somos
porque somos pessoas que amam. Temos essa
reputação em nosso país, fora de nosso país e ao
redor do mundo. Mas também espero, e oro por
isso, que pessoas em pecado nunca se sintam
confortáveis aqui. Posso dizer por mim mesmo que,
se eu fosse um cristão professo que queria viver em
pecado, eu não viria a esta igreja. Eu não quereria a
tristeza. Isso acontece. Temos pessoas que
confessam a Cristo, depois desenvolvem um
comportamento de pecado, são confrontadas e
abordadas, mas deixam a igreja. Nós falamos sobre
elas quando nos reunimos para a Ceia do Senhor.
A maior parte da disciplina interna na igreja
nunca chega à Ceia do Senhor. Confrontação e
restauração está acontecendo frequentemente na
base de pessoa a pessoa em sua família, entre seus
amigos e outros membros da igreja.
Ora, você diz: “John, isso é algo difícil de
fazer?” Sim, mas essa não é uma instrução difícil de
entender. Lembre o apóstolo Paulo, que confrontou
ninguém menos do que Pedro. Ele teve de
confrontar Pedro face a face. Gálatas 2.11 diz:
“Quando, porém, Cefas [Pedro] veio a Antioquia,
resisti-lhe face a face, porque se tornara
repreensível”. Você pode imaginar isso —
confrontar Pedro? Paulo era, por si mesmo, um
homem bastante forte, mas estou certo de que não o
era mais do que Pedro.
Não imagino que Pedro era um homem fácil de
convencer quanto ao seu próprio pecado. Talvez
você diga: “Isso podia ter sido o fim do
relacionamento deles”. Tenho passado por essa
experiência e, muitas vezes, sinto tristeza em dizer
isso. Tenho confrontado, amorosa, graciosa e
esperançosamente, ministros e pastores
proeminentes a respeito de algum erro sério. O
resultado da confrontação foi o fim de um
relacionamento permanente. Talvez esse seja o
preço que você tem de pagar. Você poderia
perguntar se valeu a pena Paulo confrontar Pedro, se
não teria sido melhor que eles tivessem um
relacionamento de cooperação. Mas Paulo fez o que
era certo por causa da honra do Senhor e da igreja.
Ele confrontou Pedro, face a face, porque este se
tornara repreensível.
Isso acabou com o relacionamento deles? Eis o
que Pedro disse: “Por essa razão, pois, amados,
esperando estas coisas, empenhai-vos por serdes
achados por ele em paz, sem mácula e
irrepreensíveis, e tende por salvação a
longanimidade de nosso Senhor, como igualmente
o nosso amado irmão Paulo vos escreveu” (2Pedro
3.14-15). Paulo era irmão amado de Pedro porque,
em confrontar Pedro, tudo que Paulo tinha em
mente era a restauração.
Se isto parece difícil, quero oferecer-lhe
algumas verdades bíblicas encorajadoras. Mateus
18.18 diz: “Em verdade vos digo que tudo o que
ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo
o que desligardes na terra terá sido desligado nos
céus”. Esta afirmação aparece várias vezes no Novo
Testamento (cf. Mt 16.19; Jo 20.23).
Isto é uma ideia simples. Talvez tenha sido uma
afirmação axiomática usada pelos rabinos. Significa
apenas que, quando você liga alguma coisa na terra,
ela é ligada no céu ou já estava ligada no céu. E,
quando você desliga algo na terra, isso foi desligado
no céu. Ligar e desligar, os rabinos diziam, estava
relacionado ao pecado. Se alguém se arrependeu,
seu pecado foi desligado. Se alguém não quer se
arrepender, ele está ligado ao seu pecado.
Portanto, quando confrontamos um pecador, e
ele não quer se arrepender, dizemos que ele está
ligado ao seu pecado, o céu já fez esse julgamento.
Quando confrontamos um pecador, e ele se
arrepende, e dizemos que ele está desligado de seu
pecado, temos a revelação bíblica dizendo que, se
alguém se arrepender, será desligado de seu pecado.
Quando dizemos que alguém está desligado de seu
pecado, estamos dizendo apenas na terra o que o
céu já declarou.
O princípio fundamental é este: quando você
confronta o pecado, chama a pessoa ao
arrependimento, considera-a responsável por sua
falta de arrependimento e se regozija quando ela se
arrepende, está apenas fazendo na terra o que é feito
no céu. Podemos orar: “Faça-se a tua vontade,
assim na terra como no céu” (Mt 6.10). E esta é a
maneira como podemos implementá-la. O céu já
deu o veredito de que alguém está ligado ao pecado
ou de que alguém está desligado do pecado.
Estamos apenas refletindo o céu, quando fazemos o
mesmo.
O versículo 19 diz: “Em verdade também vos
digo que, se dois dentre vós, sobre a terra,
concordarem a respeito de qualquer coisa que,
porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu
Pai, que está nos céus”. Isso significa que, se dois
ou três se reúnem e afirmam o arrependimento de
alguém, e o céu está de acordo, podemos pedir ao
Senhor que purifique e restaure essa pessoa, e ele o
fará. Se a pessoa não quer arrepender-se, e o céu
está de acordo, podemos pedir ao Senhor que
discipline e corrija tal pessoa, e ele o fará. Em outras
palavras, estamos fazendo a obra do céu. Estamos
fazendo a obra do Pai. E Jesus mesmo tem a palavra
final: “Porque, onde estiverem dois ou três
reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (v.
20). Ora, este versículo não está falando a respeito
de quantas pessoas são necessárias para que Deus se
faça presente em uma reunião de oração. O contexto
é uma situação de disciplina. Quando dois ou três se
reúnem, isso significa que o processo prescrito está
em andamento, e o Senhor está no meio disso. A
igreja nunca está mais em harmonia com céu, mais
em harmonia com o Pai e mais em harmonia com o
próprio Cristo do que quando ela está tratando do
pecado.
Não queremos ser hesitantes em cumprir
qualquer destas responsabilidades. E devemos fazer
isso por causa da pureza da igreja. Isso é a obra do
céu. Isso é a obra do Pai. Isso é a obra do Filho.
Nosso compromisso com esta prioridade não
esvaziou nossa igreja. O Senhor continuou
enchendo-a e enchendo-a. Por isso, continuamos a
construir mais edifícios. As pessoas ainda vêm, o
Senhor dá crescimento à sua igreja, e muitos creem,
são salvos e acrescentados à igreja. Ela é um lugar
de amor. É um lugar de restauração. É um lugar de
santidade. É um lugar de temor. Isso é exatamente o
que Deus planejou que a igreja deve ser. Nunca
deveria haver uma pergunta sobre por que uma
igreja cresce. Aprecio o fato de que as pessoas não
podem nos compreender. Somos o que somos
porque Deus determinou que isso seja o que
deveríamos ser. Esta é a igreja do Senhor, e ele é
quem a edifica.
Anos atrás, o Seminário Fuller costumava
realizar suas aulas aqui, sempre que tinha, durante o
ano, um grupo ingressando em seu departamento de
crescimento. Um dia recebi um telefonema do chefe
daquele departamento. Ele disse: “Não levaremos
mais os alunos à sua igreja, porque a sua igreja
desafia toda análise. Vocês não crescem de acordo
com os princípios de crescimento de igreja”.
Fiquei contente por ouvir que não podíamos
ser analisados em um nível humano. Quando
realizamos a Sheperd’s Conference, e milhares de
pastores vêm, estou certo de que há entre eles alguns
que desejariam que eu lhes dissesse as cinco coisas
que garantem que você terá uma grande igreja. Eu
poderia fazer isso — isso é fácil. Abrande a
mensagem e distribua dinheiro. Isso é tudo que você
precisa fazer para encher um edifício. Ou você pode
colocar o púlpito de lado e deixar as pessoas
realizarem lutas no templo. Isso atrairia uma
multidão. Eu sempre quis que nossa igreja fosse
explicada somente a partir da perspectiva divina.
Essa é a razão por que tentamos fazer o que a
Palavra de Deus nos diz que devemos fazer e
deixamos o Senhor dá crescimento à sua igreja. Que
deleite e gozo isso nos tem causado! Obrigado por
serem uma congregação que segue a santidade e
demonstra o amor de Cristo, como sempre o fazem
a mim, à minha família e uns aos outros.
A Editora Fiel tem como propósito servir a
Deus através do serviço ao povo de Deus, a Igreja.
Em nosso site, na internet, disponibilizamos
centenas de recursos gratuitos, como vídeos de
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áudio, blog e muito mais.
Oferecemos ao nosso leitor materiais que,
cremos, serão de grande proveito para sua
edificação, instrução e crescimento espiritual.
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