Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

O Nexo de Causalidade

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 19

jusbrasil.com.

br
13 de Setembro de 2022

O Nexo de Causalidade

Publicado por Sérgio Pontes há 4 anos 51,5K visualizações

Na seara da Responsabilidade Civil, o nexo causal é a ligação entre a conduta do


agente e o resultado danoso. Ou seja, é preciso que o ato ensejador da
responsabilidade seja a causa do dano e que o prejuízo sofrido pela vítima seja
decorrência desse ato. Impõe-se que se prove a ligação causal entre a conduta
do agente e o resultado danoso.

O nexo causal cumpre uma dupla função: determinar o autor do dano, e


verificar a extensão a sua extensão, pois serve como medida de indenização.

Importante salientear que o nexo causal deve ser provado tanto nos casos de
responsabilidade objetiva, como nos de natureza subjetiva. Em ambos os casos
só haverá responsabilização quando devidamente comprovado o nexo de
causalidade. A diferença entre ela encontra-se na segunda hipótese, sobre a
qual exigir-se-á também a demonstração do elemento subjetivo – a culpa – ao
passo que na primeira basta a presença da conduta, do dano e do nexo causal
entre uma e outra.

O nexo de causalidade necessita de limites. Vária teorias pretendem esse papel.


Não fossem elas, poder-se-ia conduzir a cadeia causal de maneira infinita e
absurda. Por exemplo: os ancestrais de uma pessoa que tenha cometido um
determinado crime, nessa linha de raciocínio, poderiam também ser acusados
do mesmo delito porque, se não fosse o relacionamento amoroso havido entre
eles, o agente não teria nascido e o fato delituoso não teria se dado.

Daí a necessidade de as teorias jurídicas elaboradas no campo da


responsabilidade civil restringirem as condutas hábeis a provocar a
responsabilização de seu agente.

Portanto, conforme a teoria adotada, será possível qualificar certa pessoa como
a responsável pelo evento danoso em razão do nexo de causalidade havido entre
o ato por ela praticado e o prejuízo causado à vítima.

No âmbito penal, aplica-se a teoria da equivalência das condições,


expressamente prevista no art. 13 do Código Penal. Já na esfera
cível, em que não há disposição expressa acolhendo uma ou outra doutrina,
admite-se que a teoria prevalente é a da causalidade adequada, em que
pese a existência de posicionamentos em sentido contrário.

Teoria da equivalência das condições

A teoria da equivalência das condições considera causa qualquer evento sem o


qual o dano não teria ocorrido.Seu espectro é bem amplo. É o que se infere do
art. 13 do Código Penal, cuja redação é a seguinte:

“Art. 13: o resultado, de que depende a existência do crime, só é imputável a


quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido”.
Não há distinção entre causa (aquilo de que uma coisa depende quanto à
existência) e condição (o que permite à causa produzir seus efeitos negativos ou
positivos). Se várias causas e condições concorreram para idêntico resultado,
todas elas conservam igual valor e relevância, não se indagando qual delas foi
mais ou menos eficaz, mais ou menos adequada.

Esclarece Agostinho Alvim que “a teoria da equivalência das condições


aceita qualquer das causas como eficiente. A sua equivalência
resulta de que, suprimida uma delas, o dano não se verifica”. Ou seja,
causas e condições de um dano equivalem-se; todos os elementos que
concorreram para a sua realização consideram-se como causa para fins de
responsabilização do agente, sem a necessidade de se apontar qual deles de
modo imediato provocou efetivamente o prejuízo. Considera-se que o dano não
teria ocorrido se não fosse a presença de cada uma das causas ou condições que,
na hipótese concreta, foram identificadas de maneira precedente ao evento
danoso. É por isso que essa teoria também recebe a denominação de
teoria da conditio sine qua non.

Gustavo Tepedino aponta que o inconveniente dessa doutrina está no fato de


que amplia demasiadamente as hipóteses de responsabilização. É por isso que
na esfera penal foram elaborados alguns limitadores da cadeia causal para se
evitar o alcance, como já dito, do infinito.

A priori, como no Direito Penal não se admite a responsabilidade objetiva (sem


o elemento anímico do agente) não há de se falar em responsabilização sem
dolo ou culpa, elementos que se impõem e limitam a corrente causal.

Em seguida, outro limitador da teoria da equivalência das condições, aduz que


a conduta que interessa ao Direito Penal tem de estar tipificada na legislação
penal, sob pena de não haver crime e, portanto, não há de se falar em nexo de
causalidade e em responsabilização penal.

É importante salientar ainda que, toda vez que ocorrer uma causa
relativamente independente, que, por si só, provocar o resultado, o nexo causal
se romperá, e o agente ensejador da causa primária, será responsável somente
pelos atos anteriores por ele praticados. O exemplo clássico desta hipóstese é
aquele referente ao crime de lesões corporais em que a vítima é transportada ao
hospital em uma ambulância, a qual vem a colidir com outro veículo durante o
trajeto. Com a colisão, a vítima cai, fato que lhe causa a morte. Trata-se de
causa relativamente independente que, por si só, produziu o resultado morte. O
agente primitivio responderá somente pelo crime de lesões corporais.

Contudo, quando a causa superveniente, por si só não der causa ao resultado,


não rompe o nexo causal. Seria, por exemplo, o caso de a vítima ser levada ao
hospital e falecer em decorrência de infecção hospitalar. O agente será
responsabilizado pelo evento morte.

A teoria da conditio sine qua non (equivalência das condições), com os


limitadores supramencionados, é aplicada no âmbito penal, conforme já
referido. Porém, a sua transposição pura e simples para o âmbito do direito
civil, em especial para o plano da responsabilidade civil objetiva, conduziria a
exageros. Isso porque, elevando ao patamar de causa toda e qualquer condição,
permitiria a responsabilização solidária de todos os participantes na causação
de um dano, ainda que sua participação tenha sido mínima ou quase
inexpressiva, pois não há o limite do elemento da culpa. Em razão disso,
desenvolveram-se outras teorias que atenuaram a amplitude da teoria da
conditio sine qua non, como veremos a seguir.

Teoria da causalidade direta ou imediata

O jurista Agostinho Alvim ao discorrer sobre a inexecução das obrigações e suas


consequências em obra específica sobre esse tema, defende ser esta a teoria
adotada pelo código civil brasileiro no art. 403, cuja redação é a seguinte:

Gustavo Tepedino, além de defender ideia de Agostinho Alvim, entende que o


STF a adotada, como se verifica das decisões prolatadas após a Constituição
Federal de 1988. Vide acórdão proferido pela 1ª Turma que:
Em nosso sistema jurídico, como resulta do disposto no
artigo 1.060 do Código Civil, a teoria adotada quanto ao
nexo de causalidade é a teoria do dano direto e imediato,
também denominada teoria da interrupção do nexo causal.

É possível concluir, com base nessas assertivas, que a teoria que aqui vem sendo
abordada, muito embora esteja prevista em dispositivo que trata da
responsabilidade contratual, também pode ser estendida a outras hipóteses. É o
que fez o Supremo Tribunal Federal.

Para a teoria da causalidade necessária, extraída da interpretação ampliativa do


art. 403 do diploma civil, pois, o nexo causal implica a necessariedade do dano.
Será indiferente se o evento danoso é ou não consequência direta do ato ilícito.
Mesmo o dano que deriva de uma causa remota será indenizado, desde que ela
seja causa necessária por não existir outra que explique o mesmo dano. O que
importa, logo, é que o dano seja consequência certa e necessária do ato ilícito.

Dessa forma, mesmo que seja nos dias de hoje discutível o significado de efeito
direto e imediato, não há dúvidas de que falar em causalidade necessária, como
quer Agostinho Alvim, representa significativo progresso em relação à fórmula
estreita do efeito direto e imediato.

Teoria da causalidade adequada


O racioncínio aqui se opera de maneira abstrata. Segundo a teoria da
causalidade adequada, haverá responsabilização quando o ato do agente é
potencialmente apto a produzir os efeitos danosos. O julgador procura
identificar, levando em conta aquilo que normalmente acontece, se a prática
ilícita poderia, hipoteticamente falando, haver causado o dano. Se, após a
análise de algum ato, concluir-se que era provável a ocorrência do evento
danoso, impõe-se o reconhecimento da relação de causa e efeito entre eles. A
causa é aquela condição que demonstrar melhor aptidão para
causação de um resultado lesivo.

Essa teoria se apresenta sob duas formulações, denominadas de formulações


positiva e negativa.

Segundo a teoria da causalidade adequada considerada sob o enfoque positivo,


um fato será visto como causa adequada de um determinado evento lesivo
quando constituir uma consequência normal ou previsível daquele. Em outras
palavras, faz-se necessário demonstrar que, efetivamente, o evento resultou de
um determinado ato que, num raciocínio hipotético, é considerado como causa
natural ou provável daquele evento.

A formulação negativa, opera no sentido inverso. Ao invés de indagar se uma


determinada causa é adequada para a produção do dano, pergunta se
porventura o ato ilícito não é causa inadequada para a ocorrência do evento
danoso. Causa adequada, sob esse ponto de vista, é a que, segundo as regras da
experiência, não é indiferente ao surgir do dano. Em vez de se caracterizar a
adequação, diz-se o que é causa inadequada: nesta formulação, a causalidade
só fica excluída quando se trate de consequências indiferentes ao fato,
estranhas ou extraordinárias.

Por exemplo, se alguém negligencia o dever de guardar uma arma e a empresta


a menor que vem a causar dano a outrem, haverá nexo de causalidade entre
aquele fato e o dano sofrido por terceiro. Se, ainda, uma pessoa atropelada ficou
caída no chão, desacordada, o furto de que tenha sido vítima nesse interregno
será consequência adequada do atropelamento.

O conceito de causa inadequada, como é fácil intuir, revela-se mais benéfico ao


lesado, pois a prova da inadequação é colocada a cargo do agente, e não da
vítima. Bastará a essa realizar a prova do evento danoso, do ato ilícito e de que
tal ato coloca-se dentro da zona de risco de produção do dano. Ao lesante, dessa
forma, incumbirá demonstrar que, apesar da condicionalidade, não houve
adequação ente fato e dano.

Teoria adotada pelo direito brasileiro = causalidade adequada

Na doutrina brasileira, predomina o entendimento de que a teoria


que melhor explica o nexo causal em matéria de responsabilidade
civil é a da causalidade adequada, que nos ensina que nem todas as causas
que concorrem para o resultado são equivalentes, sendo tão somente aquela
que foi mais adequada a produzir o resultado. Assim sendo, se duas ou
mais circunstâncias concorrerem para a produção do evento lesivo,
será causa adequada aquela que, hipoteticamente falando, tinha
potencial para naturalmente produzir o resultado que se manifestou
no caso concreto.

Analisadas as teorias sobre nexo causal, o presente estudo passará a partir de


agora a abordar a temática relativa à pluralidade de causas determinantes do
mesmo evento danoso.

Concurso de causas

Os danos sofridos pela vítima podem ser decorrência não só de uma única
causa, mas de uma pluralidade de causas. O problema que surge a partir dessa
assertiva coloca-se na identificação da (s) causa (s) que, sob o ponto de vista
jurídico, pode (m) ser considerada (s) como a origem do evento danoso.

Primeira hipótese: quando a própria vítima também tomou parte na


cadeia causal, o que refletirá na redução do valor da indenização a ela devido.
O próprio Código Civil reconhece essa hipótese, ao afirmar que, se a vítima tiver
concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada
tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do
dano (art. 945). Registre-se que, embora o texto legal refira-se à concorrência
de culpa – expressão essa consagrada no ambiente doutrinário e
jurisprudencial – na verdade a questão não se coloca tecnicamente no plano da
culpabilidade, mas sim no plano da causalidade (concorrência de causas ou
concausalidade).
Segunda hipótese: Poderá ocorrer também que, embora não haja
participação da vítima, mais de um agente haja ensejado o resultado
danoso. Em regra, todos os concausadores serão responsabilizados de maneira
solidária. Por outro lado, eventualmente pode acontecer que o dano seja
originário de atos independentes. Haverá ainda a possibilidade de não se
conseguir fixar exatamente, dentro de uma coletividade, quem foi o causador do
dano.

Terceira hipótese: Em outros casos, embora haja a concorrência de causas,


somente uma ou alguma delas poderá(ão) ser concebida (s) como a
(s) causadora (s) do evento danoso.

Além disso, nem sempre é fácil saber se a contribuição de um fato para um


dano é suficiente para enquadrá-lo como gerador deste.
Tanto na primeira como na segunda e terceira hipóteses, observa-se a
concorrência de causas na produção do resultado danoso. Como determinar a
responsabilidade dos agentes envolvidos – atribuir solidariamente o dever de
indenizar a todos eles ou apenas a um dos agentes – é exatamente a questão
que o presente capítulo procurará responder.

Vale adiantar desde logo que não há consenso no ambiente doutrinário,


tampouco em sede jurisprudencial, acerca da terminologia adotada para
classificar as hipóteses de pluralidade de causas. Enquanto alguns juristas
conceituam causalidade concorrente de uma forma, por exemplo, outros optam
por definição diversa. Isso nada mais faz do que dificultar ainda mais o estudo
sobre a matéria, já complexa por natureza.

Classificação proposta por Gustavo Tepedino

Gustavo Tepedino, ao abordar a temática, resume o tratamento da matéria da


seguinte forma:

Em se tratando, ao revés, de causas sucessivas, pergunta-se:


O enfoque no vínculo de necessariedade entre causa e efeito, visível no trecho
acima transcrito, deve-se ao fato da adoção pelo referido autor da teoria da
causalidade necessária. Para os seguidores da teoria da causalidade adequada, é
possível adotar as mesmas ideias, substituindo apenas o vínculo da
necessariedade pelo da causalidade adequada.

Ao nosso sentir, a disciplina da matéria proposta por Gustavo Tepedino é


bastante simples, facilitando a tomada de decisão pelo operador jurídico. Isso
porque a solução será determinada a partir da teoria sobre nexo de causalidade
seguida pelo operador. Caso a doutrina adotada seja a da causalidade adequada
– que, repita-se, é a melhor aceita entre os doutrinadores pátrios –, deve-se
verificar quais das causas em jogo são adequadas à produção do resultado
lesivo. Resolvido esse problema, o passo seguinte consiste no indagar se há a
predominância de alguma das causas sobre outra. Havendo causa
predominante, somente o seu autor será responsabilizado pelo dano; em não
sendo possível determinar a predominância, a responsabilidade será solidária
entre os vários agentes.

A classificação de Sérgio Cavalieri Filho

Sergio Cavalieri Filho, ao abordar a temática das concausas, as conceitua como


“circunstâncias que concorrem para o agravamento do dano, mas
que não têm a virtude de excluir o nexo causal desencadeado pela
conduta principal, nem de, por si sós, produzir o dano”. Elas não
iniciam, tampouco interrompem o processo causal, apenas o reforçam, sendo
que o agente suporta os riscos porque, não fosse a sua conduta, a vítima não se
encontraria na situação em que o evento danoso a colocou.

O jurista divide as concausas em preexistentes, supervenientes e


concomitantes.

As primeiras são aquelas que já preexistiam à conduta do agente. O agente


que fere levemente uma pessoa hemofílica que vem a perder muito sangue,
nesse sentido, responderá pelo evento morte, caso venha a ocorrer, haja vista a
existência de causalidade adequada entre o ferimento de pessoa hemofílica e a
sua morte decorrente da perda de sangue.

As causas supervenientes são aquelas que se manifestam após o


desencadeamento no nexo causal. É o que acontece quando a vítima é
atropelada e não socorrida em tempo, vindo a falecer. Essa causa, no dizer de
Sérgio Cavalieri:

“será irrelevante em relação ao agente, porque, por si só,


não produziu o resultado, apenas o reforçou. A causa
superveniente, conforme já salientado por Agostinho Alvim
e Aguiar Dias, só terá relevância quando, rompendo o nexo
causal anterior, erige-se em causa direta e imediata do novo
dano; vale dizer, dá origem a novo nexo causal”

Essa ruptura do nexo causal também pode suceder na hipótese de concausas


concomitantes. Se, por exemplo, durante a realização de um parto normal, a
parturiente sofre a ruptura de um aneurisma cerebral, vindo a falecer, não
poderá ser atribuído ao hospital o dever de indenização porque o evento morte
foi ocasionado exclusivamente pela ruptura do aneurisma. Em outras palavras,
a causa concomitante erigiu-se como causa direta e independente do dano, que
por si só ensejou o evento morte. Não houve, isto é, causalidade adequada entre
o parto e a morte causada pela ruptura do aneurisma cerebral.

Classificação de Paulo de Tarso Sanseverino

Paulo de Tarso Sanseverino, por exemplo, divide as teorias sobre as


pluralidades de causadores em: teoria da concausalidade (quando resultado
lesivo é fruto de fatores diversos que, isoladamente, não teriam eficácia
suficiente para causar o dano), da causalidade concorrente (quando houver
causas independentes agindo de forma paralela e simultânea) e da causalidade
alternativa (dano é causado por uma pessoa indeterminada que participa de um
grupo determinado).
Classificação de Fernando Noronha

Fernando Noronha, por sua vez, refere as hipóteses de co-autoria (único fato
gerador, mas com a participação de várias pessoas), concorrência de causas ou
causalidade concorrente (mais de um fato gerador do dano atribuíveis a pessoas
diferentes) e causalidade alternativa.

A primeira situação vem tratada pelo art. 942, caput, in fine, do Código Civil
brasileiro, em que se lê que, “se a ofensa tiver mais de um autor, todos
responderão solidariamente pela reparação”. Trata-se de preceito que também
se aplica às formas de causalidade concorrente.

Dentro dessa segunda hipótese (causalidade concorrente), Fernando Noronha


sustenta que cabem várias situações, resultantes da conjugação de duas
variáveis. De um lado, pode ocorrer que nenhum dos vários fatos concorrentes
fosse, por si só, suscetível de causar o evento danoso, mas somado aos demais
acaba causando-o. A par disso, pode acontecer que cada um dos vários fatos
cause uma parte delimitada do dano total. Por outro lado, esses fatos
concorrentes podem ser caracterizados como fortuitos ou de força maior, como
ainda podem ser atribuídos a outras pessoas, ou ao próprio lesado.

Como exemplo de concurso entre fato do responsável e caso fortuito ou de força


maior, cita-se a hipótese de inundação que ocorreu porque os bueiros da cidade
não estavam bem dimensionados, o que vem aliado ao fato da excepcionalidade
do excesso de chuva. Nesse caso, se não for possível averiguar em que
proporção cada um dos elementos participou do evento danoso, presumir-se-á
que a contribuição foi igual. Observe-se que é a solução que também pode ser
extraída a partir das conclusões de Gustavo Tepedino: havendo mais de uma
causa necessária (ou adequada, para os adeptos da teoria da causalidade
adequada) e não se sabendo quais delas foi predominante para a ocorrência do
efeito lesivo, haverá solidariedade entre elas.

No caso de concurso entre fatos do responsável e do lesado, seria possível


repartir a reparação segundo três critérios: o da proporção em que o fato
praticado por cada co-responsável concorreu para o evento; o da gravidade da
culpa de cada um (critério adotado por Aguiar Dias); e o da divisão igualitária
dos prejuízos. O critério com base na medida da culpa é aquele que vem
referido nos poucos dispositivos legais que aludem à questão: art. 945 do CC e
art. 12, parágrafo 3º, III, e art. 14, parágrafo 3º, II, do CDC.

Causalidade alternativa

Tem-se causalidade alternativa quando existem dois ou mais fatos com


potencialidade para causar um dano, mas não se sabe qual deles foi o
verdadeiro causador.

Em situação como essa, já decidiu o Tribunal gaúcho por responsabilizar todos


os componentes do grupo. Tratava-se de ação indenizatória movida pela vítima
de disparo de arma de fogo proveniente de carro alegórico que desfilava por
ocasião da 1ª Festa da Vindima em Flores da Cunha. Nenhum dos integrantes
do referido carro assumiu a autoria, tendo sido todos absolvidos na esfera
penal, mas condenados solidariamente no âmbito civil.

Outro caso de invocação da teoria da causalidade alternativa é a hipótese de


danos causados a terceiro em virtude da queda ou lançamento de objeto de
edifício, em que não for viável evidenciar o apartamento de onde partiu o
referido objeto. O condomínio, nesse caso, será responsável pela totalidade da
indenização, e terá direito à ação de regresso contra o verdadeiro responsável
pelo dano, caso esse seja encontrado.

Causa virtual e sua irrelevância

Às vezes pode ocorrer que um dano, cuja verificação podia ter sido
consequência adequada de um determinado fato, venha a ser produzido por
outro fato, sem relação de causa e efeito com o primeiro. O primeiro fato, tido
como adequado para produzir o resultado danoso mas que acabou por não
produzi-lo, é chamado de causa virtual. Se a causa virtual poderia ter
acarretado o efeito lesivo, o certo é que não o fez. Segundo Fernando Noronha,

causa real
virtual

não tem relevância


Responsabilidade civil agravada

Conforme já explicitado, a obrigação de indenizar, como regra, só surgirá a


partir do momento em que for demonstrada a existência de um nexo de
causalidade entre a atividade desenvolvida pelo apontado responsável (ou por
alguém sob sua responsabilidade) e o dano ocorrido.

Todavia, há situações em que, embora não provado o nexo de causalidade


adequada, também haverá o dever de indenizar. Refere-se aqui às
hipóteses de responsabilidade civil objetiva agravada, que diz
respeito a determinadas atividades e a certos riscos específicos.
Mesmo nesses casos, vale sublinhar, exige-se especial conexão entre a atividade
e o dano, “em termos tais que se possa considerar como risco inerente,
característico ou típico da atividade em questão”.

Seriam exemplos dessa espécie de responsabilidade:

1. a responsabilidade do estabelecimento prisional pela incolumidade do


detento, em caso de suicídio ou de homicídio por outros presos;

2. a responsabilidade do hospital pela incolumidade do paciente;

3. do estabelecimento bancário pela incolumidade do cliente, ainda que não


correntista;

4. do transportador pela incolumidade do passageiro, ainda que este não


tenha adquirido o bilhete;

5. do fabricante ou consumidor em razão do acidente de consumo, dentre


outros.
Fatores que excluem o nexo de causalidade

Dentre os fatores que afastam a relação de causalidade, situam-se o fato da


vítima, de terceiro, o caso fortuito ou a força maior.

O fato da vítima é aquele atribuído exclusivamente a comportamento do


próprio lesado. Em outras palavras, o evento danoso não foi provocado pelo
agente, mas é decorrência de ato da vítima. Pode ocorrer que o lesado tenha
concorrido para o evento, o que determinará tão-somente uma redução no valor
da indenização devida pelo agente, como já referido em capítulo anterior.

O fato de terceiro, por sua vez, dá-se quando o fato antijurídico é praticado
por alguém que não seja nem o lesado nem a pessoa de cuja responsabilidade se
esteja cogitando. É o que ocorre, por exemplo, em situações de
“engavetamento” de veículos, devido ao chamado “efeito dominó”. O veículo da
frente que parou e deu origem à sucessão de albarroamentos será
responsabilizado por todos os eventos danosos, porque foi ele o único causador
de todos os prejuízos verificados.

Diversa é a situação de dano acarretado por alguém que se encontra em estado


de necessidade em razão de perigo atual não provocado por sua vontade. É o
caso do motorista que, para não atropelar pedestre que se atravessa
indevidamente diante de seu veículo, desvia sua direção, vindo a albarroar
automóvel estacionado na calçada. Nesse caso, embora o evento tenha sido
provocado por terceiro, o motorista optou por causar o mal menor, devendo
indenizar o proprietário do automóvel e, em ação de regresso, voltar-se contra o
pedestre.

Pelo exemplo exposto, conclui-se que somente haverá isenção de pagamento da


indenização em virtude de fato de terceiro quando este for completamente
independente do comportamento do ofensor demandado, não podendo ser, de
forma alguma, a ele atribuído.

Em se tratando de relação de consumo, o Código de Defesa do Consumidor


acolheu diversas causas que excluem ou atenuam a responsabilidade do
fornecedor pelos danos causados em razão de fato do produto ou do serviço.
Como refere Paulo de Tarso Sanseverino, algumas dessas causas foram
expressamente previstas pelo legislador como modalidades de defesa (não-
colocação do produto no mercado; inexistência de defeito; culpa exclusiva do
consumidor e o fato de terceiro). Todavia, outras formas de defesa podem ser
buscadas no próprio microssistema normativo do consumidor ou no sistema
comum de responsabilidade civil (caso fortuito e a força maior; a prescrição; o
fato do príncipe; os riscos do desenvolvimento e a cláusula de não indenizar).

O caso fortuito ou de força maior encontra-se descrito no parágrafo único


do art. 393 do Código Civil como sendo o “fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir”. Muito embora os doutrinadores costumem
diferenciá-los, não havendo sequer concordância entre as várias conceituações
elaboradas, do ponto de vista prático não há porque proceder à referida
diferenciação. O próprio código, como visto, fornece igual tratamento jurídico
às duas modalidades. Dessa forma, parece adequada a definição dada por
Fernando Noronha como sendo todo “aquele acontecimento inevitável e
independente de qualquer atividade da pessoa de cuja possível
responsabilidade civil se cogita, que constitui causa adequada do
dano verificado”.

imprevisibilidade, irresistibilidade e
externalidade. Quanto a esse último elemento, se não estiver
presente, não há como afastar a responsabilidade

A quebra na barra da direção de veículo, ou cuja possível


ocorrência normalmente indetectável em comuns revisões
não constituirão caso fortuito ou força maior, para efeitos
de isenção da obrigação de indenizar, na eventualidade de
acidente (...) o mal súbito que acomete o
motorista de caminhão ou ônibus, levando ao desgoverno do
veículo e à causação de danos diversos, não pode ser
considerado caso fortuito ou de força maior, para efeitos de
exclusão da responsabilidade da empresa proprietária,
porque o motorista ainda é peça fundamental da atividade
desta”.
Conclusão

Para que se possa falar em responsabilidade civil, revela-se indispensável a


prova dos seguintes elementos: ato ilícito, dano, nexo causal e, nas hipóteses de
responsabilidade subjetiva, a demonstração do dolo ou culpa. Além do fato e do
evento danoso, pois, exige-se que entre os dois elementos exista uma ligação,
uma relação de causa e efeito.

Há de se ter presente que não são todos e quaisquer danos que sobrevenham ao
fato ilícito merecedores de reparação. Serão indenizados apenas aqueles que
possam ser efetivamente considerados como produzidos pelo ato ilícito, cuja
resposta variará conforme a teoria adotada. O nexo de causalidade, de qualquer
forma, desempenha “a dupla função de pressuposto da responsabilidade civil e
de medida da obrigação de indenizar”.

No âmbito penal, a teoria adotada é a da equivalência das condições ou dos


antecedentes, ao passo que no campo civil predomina a aceitação da
teoria da causalidade adequada.

É essa teoria que auxiliará na solução dos casos em que o julgador estiver diante
de uma pluralidade de causas produtoras do evento danoso. Nesses casos, lhe
caberá verificar, à luz de um raciocínio hipotético, qual ou quais das causas
poderia (m) ter dado origem, como consequência normal e provável de sua
ocorrência, ao evento lesivo. Se houver mais de uma causa adequada, sejam elas
sucessivas ou contemporâneas, os agentes serão solidariamente responsáveis.
Se, ao invés, somente houver uma causa adequada, somente ao agente
provocador desta causa será atribuído o respectivo dever de indenizar.

Em se tratando de causas sucessivas, quando houver quebra do nexo causal e a


segunda, por si só, produzir o resultado danoso, somente o agente dessa
segunda causa será responsabilizado pelo evento final; o agente da primeira
causa, todavia, deverá responder pelos atos anteriormente cometidos.

Entendemos, nessa linha de perspectiva, que a solução adotada pelo Código


Penal, em seu art. 13, parágrafo único – “em caso de superveniência de causa
relativamente independente que por si só causou o resultado, o agente
responderá somente pelos atos anteriormente cometidos” – também se aplica à
pluralidade de causas no campo da responsabilidade civil, quando houver
sucessão de causas, sendo que a primeira não foi adequada para produção do
resultado final. Ou seja, quando for possível identificar causas adequadas de
eventos distintos, cada um dos autores será responsabilizado pelos respectivos
atos.

Se gostou do texto, siga o meu perfil para acompanhar as próximas


postagens.

Sérgio Pontes - Advogado

www.sergiopontesadvocacia.com.br

Disponível em: https://sergiopontes.jusbrasil.com.br/artigos/608749366/o-nexo-de-causalidade

Informações relacionadas

Marcus Vinicius Mariot Pereira


Artigos • há 6 anos

Responsabilidade Civil: Resumo


Doutrinário e principais
apontamentos
Atualizado e Revisado em 2 7/01/202 2
Conceito: A responsabilidade civil consiste no
dever de indenizar o dano suportado por
outrem. Assim, a obrigação de indenizar,
nasce da prática de um ato…

Cledes Junio
C Artigos • há 5 anos

Causas excludentes de
responsabilidade civil
CLEDES JUNIO A RODRIGUES ELIANA
CÂNDIDA VALÉRIO RESUMO: O presente
artigo aborda as hipóteses em que não se faz
necessário à obrigação de indenizar, mesmo
em casos que tenha ocorrido um dano. Será…
Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes
Notícias • há 14 anos

Causas excludentes da
responsabilidade civil
Resolução da questão nº. 44 - Versão 1 -
Direito Civil 44. A teoria da responsabilidade
civil integra o direito obrigacional, pois a
principal conseqüência prática de um ato
ilícito é a obrigação que…

Victor Sousa
Notícias • há 2 anos

Responsabilidade Civil - Nexo de


Causalidade - Teoria Adotada Pelo
Código Civil Brasileiro
INTRODUÇÃO Nessa breve pesquisa será
exposto qual a teoria adotada pelo Código
Civil Brasileiro, a respeito do elemento
chamado nexo causal, pertinente para que
seja definida a responsabilidade civil…

Paulo Alcestre Teixeira da Cunha Junior


P Artigos • há 6 anos

Elementos da Responsabilidade Civil


1. Conduta: A responsabilidade Civil,
independente de qual seja, deverá sempre
haver uma conduta, sendo esta um
comportamento humano, comissivo ou
omissivo, voluntário ou imputável. Como se
trata de…

Você também pode gostar