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Apostila TJDFT

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CÓD: SL-035FV-22

7908433216933

TJDFT
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Técnico Judiciário - Área Administrativa


EDITAL Nº 1, DE 27 DE JANEIRO DE 2022
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Elementos de construção do texto e seu sentido: gênero do texto (literário e não literário, narrativo, descritivo e argumentativo);
interpretação e organização interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Semântica: sentido e emprego dos vocábulos; campos semânticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3. Emprego de tempos e modos dos verbos em português. Morfologia: reconhecimento, emprego e sentido das classes gramaticais;
processos de formação de palavras; mecanismos de flexão dos nomes e verbos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4. Sintaxe: frase, oração e período; termos da oração; processos de coordenação e subordinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
5. Concordância nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
6. Transitividade e regência de nomes e verbos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
7. Padrões gerais de colocação pronominal no português . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
8. Mecanismos de coesão textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
9. Ortografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
10. Acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
11. Emprego do sinal indicativo de crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
12. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
13. Reescrita de frases: substituição, deslocamento, paralelismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
14. Variação linguística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
15. Norma culta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Ética no Serviço Público


1. Ética e moral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Ética, princípios e valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Ética e democracia: exercício da cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
4. Ética e função pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
5. Ética no setor público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
6. Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União (Lei nº 8.112/1990): regime disciplinar, deveres e proibições, acumulação,
responsabilidade e penalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
7. Lei nº 8.429/1992 e alterações: disposições gerais; atos de improbidade administrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
8. Código de Ética dos Servidores do TJDFT (Resolução TJDFT nº 9/2019 e Portaria Conjunta nº 76/2020) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Noções de Administração de Recursos Humanos e Gestão Pública


1. Modelos de gestão de pessoas - evolução dos modelos de gestão de pessoas. Gestão estratégica de pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Os processos de gestão de pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Treinamento e Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
4. Avaliação do desempenho humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
5. Modelagem do trabalho - descrição e análise de cargos, modelos de desenho de cargos, coleta de dados sobre cargos . . . . . . . . 06
6. Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Gestão por competências. Gestão de processos de mudança organizacional: conceito de mudança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
8. Mudança e inovação organizacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
9. Análise dos ambientes interno e externo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
10. Estratégias de gestão de pessoas para obter sustentação ao processo de mudança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
11. Missão, visão de futuro, valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
12. Indicadores de desempenho de gestão de pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
13. Modelos de gestão pública: patrimonialista, burocrático (Weber) e gerencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
14. Conceitos de eficácia e efetividade aplicados à Administração Pública: avaliação e mensuração do desempenho governamental 72
15. Orçamento público - Princípios orçamentários; diretrizes orçamentárias; processo orçamentário; emendas ao orçamento; conceito,
categorias de classificação e estágios da receita e da despesa públicas; suprimento de fundos; restos a pagar; despesas de exercícios
anteriores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
16. Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) 9ª ed. Parte I - Procedimentos Contábeis Orçamentários - aprovada pela
Portaria Conjunta STN/SOF/ME nº 117, de 28 de outubro de 2021 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
17. Noções de licitação pública: fases, modalidades, dispensa e inexigibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
ÍNDICE

Noções de Direito Constitucional


1. Constituição: conceito, classificações, princípios fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, nacionalidade, cidadania, direitos políti-
cos e partidos políticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Organização políticoadministrativa: União, Estados, Distrito Federal, Municípios e Territórios. Administração pública: disposições
gerais, servidores públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Poder Judiciário. Disposições gerais. Órgãos do Poder Judiciário: competências. Conselho Nacional de Justiça (CNJ): composição e
competência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Funções essenciais à Justiça: Ministério Público, advocacia e defensoria públicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Noções de Direito Administrativo


1. Noções de organização administrativa. Administração direta e indireta, centralizada e descentralizada. Desconcentração . . . . . . 01
2. Princípios expressos e implícitos da administração pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Órgãos públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
4. Agentes públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
5. Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União (Lei nº 8.112/1990) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
6. Processo Administrativo (Lei Federal nº 9.784/1999 e Lei do DF nº 2.834/2001) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
7. Poderes administrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
8. Ato administrativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
9. Controle e responsabilização da administração: controle administrativo; controle judicial; controle legislativo; controle dos Tribunais
de Contas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
10. Improbidade Administrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
11. Responsabilidade civil do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
12. Licitação e Contratos. Leis nºs 8.666/1993, 10.520/2002 e 14.133/2021 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Noções de Direito Civil


1. Lei de introdução às normas do Direito brasileiro. Vigência, aplicação, interpretação e integração das leis. Conflito das leis no tempo.
Eficácia da lei no espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Pessoas naturais. Personalidade. Capacidade. Nome. Estado. Domicílio. Direitos da personalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
3. Pessoas jurídicas. Disposições gerais. Domicílio. Associações e fundações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4. Bens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
5. Fatos jurídicos. Negócio jurídico. Atos jurídicos lícitos. Atos ilícitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
6. Prescrição: disposições gerais. Decadência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Noções de Direito Processual Civil


1. Lei nº 13.105 de 2015 (Novo Código de Processo Civil). Princípios do processo. Princípio do devido processo legal. Princípios do con-
traditório, da ampla defesa e do juiz natural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Jurisdição. Princípio da inércia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
3. Ação. Condições da ação. Elementos da ação. Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
4. Da Cooperação Internacional. Disposições gerais. Do auxílio direto. Da carta rogatória. Da Competência. Disposições gerais. Da modi-
ficação da competência. Da incompetência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
5. Pressupostos processuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
6. Preclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
7. Sujeitos do processo. Capacidade processual e postulatória. Deveres das partes e procuradores. Procuradores. Sucessão e substitu-
ição das partes e dos procuradores. Litisconsórcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
8. Intervenção de terceiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
9. Do Juiz e dos Auxiliares da Justiça. Dos poderes, dos deveres e da responsabilidade do Juiz. Dos Impedimentos e da Suspeição. Dos
Auxiliares da Justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
10. Ministério Público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
11. Advocacia Pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
12. Defensoria Pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
13. Atos processuais. Forma dos atos. Tempo e lugar. Prazos. Comunicação dos atos processuais. Nulidades. Distribuição e registro. Valor
da causa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
14. Tutela provisória. Tutela de urgência. Disposições gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
ÍNDICE

15. Formação, suspensão e extinção do processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49


16. Processo de conhecimento e do cumprimento de sentença. Procedimento comum. Disposições Gerais. Petição inicial. Dos requisitos
da petição inicial. Do pedido. Do indeferimento da petição inicial. Improcedência liminar do pedido. Da audiência de conciliação ou
de mediação. Contestação, reconvenção e revelia. Providências preliminares e de saneamento. Julgamento conforme o estado do
processo. Da audiência de instrução e julgamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
17. Provas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
18. Sentença e coisa julgada. Cumprimento da sentença e sua impugnação. Atos judiciais. Despachos, decisões interlocutórias e sen-
tenças. Coisa julgada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
19. Dos recursos. Disposições gerais. Da apelação. Do agravo de instrumento. Do agravo interno. Dos Embargos de Declaração. Dos recur-
sos para o Supremo Tribunal Federal e para o Superior Tribunal de Justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
20. Controle judicial dos atos administrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
21. Mandado de segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
22. Lei nº 11.419/2006 (Processo Judicial Eletrônico) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

Noções de Direito Penal


1. Aplicação da lei penal - Princípios da legalidade e da anterioridade. A lei penal no tempo e no espaço. Tempo e lugar do crime. Lei
penal excepcional, especial e temporária. Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal. Pena cumprida no estrangeiro. Eficácia
da sentença estrangeira. Contagem de prazo. Frações não computáveis da pena. Interpretação da lei penal. Analogia. Irretroatividade
da lei penal. Conflito aparente de normas penais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Teoria do crime. Tipo penal objetivo. Tipo penal subjetivo. Ilicitude. Causas excludentes. Culpabilidade. Causas dirimentes . . . . . 02
3. Crimes contra a pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Crimes contra o patrimônio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
5. Crimes contra a administração pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
6. Disposições constitucionais aplicáveis ao direito penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
7. Crimes hediondos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
8. Abuso de autoridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
9. Estatuto da Criança e do Adolescente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Noções de Direito Processual Penal


1. Disposições preliminares do Código de Processo Penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Inquérito policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Ação penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
4. Do juiz, do Ministério Público, do acusado e defensor, dos assistentes e auxiliares da justiça, dos peritos e intérpretes . . . . . . . . . 12
5. Das citações e intimações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
6. Da sentença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Do processo comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
8. Da Instrução criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
9. Do procedimento relativo aos processos da competência do tribunal do júri. Da acusação e da instrução preliminar. Da pronúncia,
da impronúncia e da absolvição sumária. Da preparação do processo para julgamento em plenário. Do alistamento dos jurados. Do
desaforamento. Da organização da pauta. Do sorteio e da convocação dos jurados. Da função do jurado. Da composição do Tribunal
do Júri e da formação do Conselho de Sentença. Da reunião e das sessões do Tribunal do Júri. Da instrução em plenário. Dos debates.
Do questionário e sua votação. Da sentença. Da ata dos trabalhos. Das atribuições do presidente do Tribunal do Júri . . . . . . . . . . 24
10. Prisão e liberdade provisória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
11. Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
12. O habeas corpus e seu processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
13. Disposições constitucionais aplicáveis ao direito processual penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
ÍNDICE

Conteúdo Digital Complementar e Exclusivo


Regime Interno do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
1. Portaria GPR 354 de 16 de março de 2016 (republicado no dje no dia 30/03/2016 - edição nº 57, fls. 05-54. Data de publicação:
31/03/2016), com redação alterada pelas emendas regimentais subsequentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01

Lei da Organização Judiciária do Distrito Federal e Territórios


1. Lei nº 11.697/2008 e alterações (organização judiciária do distrito federal e dos territórios). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01

Provimento Geral da Corregedoria Aplicado aos Juízes e Ofícios Judiciais


1. Provimento Geral da Corregedoria aplicado aos Juízes e Ofícios Judiciais, disponibilizado no DJe de 10/10/2014, Edição nº 189, fls.
332/354. Data de publicação: 13/10/2014 e alterações. Provimento nº 07, de 08/09/2010, publicado no DJ-e de 10/09/2010, alterado
pelo Provimento nº 4, de 04/05/2013, publicado no DJ-e de 29/05/2013, e pelo Provimento nº 1, de 06/01/2012, publicado no DJ-e
16/01/2012. Provimento nº 03, publicado no DJ-e de 20/06/2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01

Provimento Judicial Aplicado ao Processo Judicial Eletrônico


1. Disponibilizado no dia de 21/08/2017, edição n. 156, fls. 1003-1018. Data de publicação 22/08/2017 e alterações . . . . . . . . . . . . 01

Atenção
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LÍNGUA PORTUGUESA
1. Elementos de construção do texto e seu sentido: gênero do texto (literário e não literário, narrativo, descritivo e argumentativo);
interpretação e organização interna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Semântica: sentido e emprego dos vocábulos; campos semânticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3. Emprego de tempos e modos dos verbos em português. Morfologia: reconhecimento, emprego e sentido das classes gramaticais;
processos de formação de palavras; mecanismos de flexão dos nomes e verbos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4. Sintaxe: frase, oração e período; termos da oração; processos de coordenação e subordinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
5. Concordância nominal e verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
6. Transitividade e regência de nomes e verbos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
7. Padrões gerais de colocação pronominal no português . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
8. Mecanismos de coesão textual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
9. Ortografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
10. Acentuação gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
11. Emprego do sinal indicativo de crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
12. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
13. Reescrita de frases: substituição, deslocamento, paralelismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
14. Variação linguística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
15. Norma culta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
LÍNGUA PORTUGUESA

ELEMENTOS DE CONSTRUÇÃO DO TEXTO E SEU SENTI-


DO: GÊNERO DO TEXTO (LITERÁRIO E NÃO LITERÁRIO,
NARRATIVO, DESCRITIVO E ARGUMENTATIVO); INTER-
PRETAÇÃO E ORGANIZAÇÃO INTERNA

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro. Além de saber desses conceitos, é importante sabermos
A interpretação é quando você entende o que está implícito, identificar quando um texto é baseado em outro. O nome que
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto damos a este processo é intertextualidade.
ou que faça com que você realize inferências.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. Interpretação de Texto
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz. a uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao
Percebeu a diferença? subentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
de um texto.
Tipos de Linguagem A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que prévios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
facilite a interpretação de textos. texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela uma relação com a informação já possuída, o que leva ao
pode ser escrita ou oral. crescimento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma
apreciação pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido,
afetando de alguma forma o leitor.
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analítica
e, por fim, uma leitura interpretativa.

É muito importante que você:


- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade,
estado, país e mundo;
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões);
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações
ortográficas, gramaticais e interpretativas;
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais
polêmicos;
• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens, - Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre
fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra. qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas.

Dicas para interpretar um texto:


– Leia lentamente o texto todo.
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo.

– Releia o texto quantas vezes forem necessárias.


Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada
parágrafo e compreender o desenvolvimento do texto.

– Sublinhe as ideias mais importantes.


Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto.
– Separe fatos de opiniões.
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo
• Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e
palavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem
mutável).
verbal com a não-verbal.

1
LÍNGUA PORTUGUESA
– Retorne ao texto sempre que necessário. zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
enunciados das questões. se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
– Reescreva o conteúdo lido. podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
tópicos ou esquemas. outro e a parceria deu certo.

Além dessas dicas importantes, você também pode grifar Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
palavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
vocabulário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
são uma distração, mas também um aprendizado. falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
compreensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
nossa imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
nosso foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além As informações que se relacionam com o tema chamamos de
de melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
do texto. conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
a identificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se capaz de identificar o tema do texto!
as ideias secundárias, ou fundamentações, as argumentações,
ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-se-
apresentadas na prova. cundarias/
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um
significado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
o candidato só precisa entendê-la – e não a complementar com TEXTOS VARIADOS
algum valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e
nunca extrapole a visão dele. Ironia
Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).
principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex-
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen- pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um
tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja, novo sentido, gerando um efeito de humor.
você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo Exemplo:
significativo, que é o texto.
Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
o assunto que será tratado no texto.
Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
estudos?
Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?

CACHORROS

Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma


espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-

2
LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três modos:


ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).
ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
Ironia verbal NERO EM QUE SE INSCREVE
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig- Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
intenção são diferentes. pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
Ironia de situação Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. principal. Compreender relações semânticas é uma competência
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces-
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que Busca de sentidos
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
morte. os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
apreensão do conteúdo exposto.
Ironia dramática (ou satírica) Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
A ironia dramática é um dos efeitos de sentido que ocorre nos relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
textos literários quando a personagem tem a consciência de que citadas ou apresentando novos conceitos.
suas ações não serão bem-sucedidas ou que está entrando por um Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
caminho ruim, mas o leitor já tem essa consciência. tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa- entrelinhas. Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer
recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem- que o leitor precise ficar preso na superfície do texto, mas é fun-
plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história damental que não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas.
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a Importância da interpretação
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos. A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter-
Humor pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare- específicos, aprimora a escrita.
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor. Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa-
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti- tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor- sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi-
rer algo fora do esperado numa situação. ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto,
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti- pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico; que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais
acessadas como forma de gerar o riso. presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen-
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es-
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges. tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató-
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários,
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos.

3
LÍNGUA PORTUGUESA
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas. berdade para quem recebe a informação.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas.
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, Fato
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
Diferença entre compreensão e interpretação uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta- Exemplo de fato:
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O A mãe foi viajar.
leitor tira conclusões subjetivas do texto.
Interpretação
Gêneros Discursivos É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou sas, previmos suas consequências.
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun- Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
dárias. ças sejam detectáveis.

Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente Exemplos de interpretação:
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso- A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única tro país.
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
encaminham-se diretamente para um desfecho. do que com a filha.

Opinião
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia-
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a
juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O
que fazemos do fato.
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de-
Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um
cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
curto. pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para anteriores:
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
como horas ou mesmo minutos. A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
do que com a filha. Ela foi egoísta.
Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento, Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião.
a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên-
imagens. cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta-
Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a mos expressando nosso julgamento.
opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião,
que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con- principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando
vencer o leitor a concordar com ele. analisamos um texto dissertativo.

Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um Exemplo:


entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações. A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando
Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas com o sofrimento da filha.
de destaque sobre algum assunto de interesse.
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS
Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali- Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si
za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do
crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as
os professores a identificar o nível de alfabetização delas. ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto.
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento
e o do leitor.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Parágrafo Língua escrita e língua falada
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
sentada na introdução. conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem Linguagem popular e linguagem culta
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa- Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo o diálogo é usado para representar a língua falada.
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria
prova. Linguagem Popular ou Coloquial
Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma expressão dos esta dos emocionais etc.
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con-
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. A Linguagem Culta ou Padrão
É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
Outro aspecto que merece especial atenção são  os conecto- se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe- escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ríodo, e o tópico que o antecede. mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também cas, noticiários de TV, programas culturais etc.
para a clareza do texto.
Gíria
Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como
bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam
vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa-
sem coerência.
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos.
Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam
tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de
Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os
trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode
mais direto. acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário
de pequenos grupos ou cair em desuso.
NÍVEIS DE LINGUAGEM Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”,
“mina”, “tipo assim”.
Definição de linguagem
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias Linguagem vulgar
ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco
gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar
da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti- há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na
cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa comida”.
linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com Linguagem regional
o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa-
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala-
social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico,
e caem em desuso. nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos e genêros textuais Tipo textual expositivo
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma pode ser expositiva ou argumentativa.
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
exemplos e as principais características de cada um deles.
Características principais:
Tipo textual descritivo • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma mar.
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
um movimento etc. • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
Características principais: de ponto de vista.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- • Apresenta linguagem clara e imparcial.
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função
caracterizadora. Exemplo:
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu- O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
meração. questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
• A noção temporal é normalmente estática. pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- terminado tema.
ção. Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.

Exemplo: Tipo textual dissertativo-argumentativo


Era uma casa muito engraçada Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur-
Não tinha teto, não tinha nada sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias
Ninguém podia entrar nela, não apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade,
Porque na casa não tinha chão clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in-
Ninguém podia dormir na rede tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor
Porque na casa não tinha parede (leitor ou ouvinte).
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali Características principais:
Mas era feita com muito esmero • Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento
Na rua dos bobos, número zero e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
(Vinícius de Moraes) gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo,
TIPO TEXTUAL INJUNTIVO enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su-
A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe, gestão/solução).
instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o • Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações
tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente
comportamentos, nas leis jurídicas. nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e
um caráter de verdade ao que está sendo dito.
Características principais: • Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali-
• Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver- zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou
bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados.
do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas). • Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o
• Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª desenvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se ro-
pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc. deios.
Exemplo: Exemplo:
Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito- A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol-
ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente
na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi- administração política (tese), porque a força governamental certa-
nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência
que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró-
suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su- poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os
perior para formação de oficiais. traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula-
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato-

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LÍNGUA PORTUGUESA
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Dissertativo-argumentativo Editorial Jornalístico
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o Carta de opinião
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Resenha
cobrança efetiva (conclusão). Artigo
Ensaio
Tipo textual narrativo Monografia, dissertação de
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta mestrado e tese de doutorado
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo, Narrativo Romance
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo). Novela
Crônica
Características principais: Contos de Fada
• O tempo verbal predominante é o passado. Fábula
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his- Lendas
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
onisciente). Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
prosa, não em verso. nitos e mudam de acordo com a demanda social.

Exemplo: INTERTEXTUALIDADE
Solidão A  intertextualidade  é um recurso realizado entre textos, ou
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. ambos: forma e conteúdo.
Nelson S. Oliveira Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossur- forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções
reais/4835684 textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri-
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música,
GÊNEROS TEXTUAIS dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos,
Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes provérbios, charges, dentre outros.
de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro- Tipos de Intertextualidade
dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem • Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen-
funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego (paro-
passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser- dès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (semelhante)
vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante a outro”. Esse
que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos recurso é muito utilizado pelos programas humorísticos.
textuais que neles predominam. • Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis),
Tipo Textual Predominante Gêneros Textuais
significa a “repetição de uma sentença”.
Descritivo Diário • Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí-
Relatos (viagens, históricos, etc.) ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha
Biografia e autobiografia alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter-
Notícia mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
Currículo e “graphé” (escrita).
Lista de compras • Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção
Cardápio textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa
Anúncios de classificados entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor.
Injuntivo Receita culinária Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re-
Bula de remédio lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo
Manual de instruções “citação” (citare) significa convocar.
Regulamento • Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros
Textos prescritivos textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
Expositivo Seminários • Outras formas de intertextualidade menos discutidas são
Palestras o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem.
Conferências
Entrevistas ARGUMENTAÇÃO
Trabalhos acadêmicos O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa-
Enciclopédia ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva
Verbetes de dicionários de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente,

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LÍNGUA PORTUGUESA
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
propõe. outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- Tipos de Argumento
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a fa-
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas zer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um argu-
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- mento. Exemplo:
cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna Argumento de Autoridade
uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas
domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para
que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos- servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recur-
sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra. so produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do produtor
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao texto a
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto
enunciador está propondo. um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e ver-
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. dadeira.
O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende Exemplo:
demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre- “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para
crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea- ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhe-
mento de premissas e conclusões. cimento. Nunca o inverso.
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento: Alex José Periscinoto.
A é igual a B. In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
A é igual a C.
Então: C é igual a A. A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor-
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela,
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se
que C é igual a A. um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem
Outro exemplo: acreditar que é verdade.
Todo ruminante é um mamífero.
A vaca é um ruminante. Argumento de Quantidade
Logo, a vaca é um mamífero. É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú-
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento
também será verdadeira. desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele, largo uso do argumento de quantidade.
a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau- Argumento do Consenso
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o
banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con- objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-

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LÍNGUA PORTUGUESA
tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que por bem determinar o internamento do governador pelo período
as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu- - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque al-
mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases guns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hospi-
carentes de qualquer base científica. tal por três dias.

Argumento de Existência Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen-
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o ar- deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um
gumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão texto tem sempre uma orientação argumentativa.
do que dois voando”. A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas concre- homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
tas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exérci- O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
to americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não
vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela outras, etc. Veja:
comparação do número de canhões, de carros de combate, de na- “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras troca-
vios, etc., ganhava credibilidade. vam abraços afetuosos.”

Argumento quase lógico O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios são fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até,
chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi- que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra-
elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausí- tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
veis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en- - Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão am-
tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade lógica. plo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu contrá-
Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” rio. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser
não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável. usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas
aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con- de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente,
correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do injustiça, corrupção).
tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se - Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por
fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir
indevidas. o argumento.
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do con-
Argumento do Atributo texto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típi- atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
cas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido,
que é mais grosseiro, etc. uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce- outros à sua dependência política e econômica”.
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza,
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
tende a associar o produto anunciado com atributos da celebrida- ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
de. dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da o assunto, etc).
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da Convém ainda alertar que não se convence ninguém com mani-
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social- festações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo men-
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto tir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente,
dizer dá confiabilidade ao que se diz. afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei- construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas quali-
ras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade- dades não se prometem, manifestam-se na ação.
quada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico: verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar- regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che- série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo da verdade:
de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se - evidência;
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu - divisão ou análise;
comportamento. - ordem ou dedução;
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli- - enumeração.
da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen- encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí- A forma de argumentação mais empregada na redação acadê-
mica e até o choro. mica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a con-
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa- clusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a con-
vor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen- clusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa
ta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns não
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma caracteriza a universalidade.
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta- Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silo-
ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse gística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, de- particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo é o
bate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se em
possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à
de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, de
um texto dissertativo. É necessária também a exposição dos fun- verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação de
damentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista. fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para
Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu- o efeito. Exemplo:
mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia. Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições, Fulano é homem (premissa menor = particular)
é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e Logo, Fulano é mortal (conclusão)
seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas ve-
zes, a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre, A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia-
essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol- caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, par-
ver as seguintes habilidades: te de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconheci-
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma dos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total- O calor dilata o ferro (particular)
mente contrária; O calor dilata o bronze (particular)
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os O calor dilata o cobre (particular)
argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresenta- O ferro, o bronze, o cobre são metais
ria contra a argumentação proposta; Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação opos-
ta. Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar- também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos,
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclu-
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético são falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata,
não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são
Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo de algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques- deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
tão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o mé- argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de
todo de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do sofisma no seguinte diálogo:
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes- - Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
ma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões - Lógico, concordo.
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, co- - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
meçando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio - Claro que não!
de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar
os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos
e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplos de sofismas: A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe-
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
Dedução partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Todo professor tem um diploma (geral, universal) confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Fulano tem um diploma (particular) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
Indução classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou me-
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (parti- nos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são
cular) empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação,
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas caracterís-
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral ticas comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens
– conclusão falsa) integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.

Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são profes- canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
sores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor. sabiá, torradeira.
Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou infun- Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
dadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise su- Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
perficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, basea- Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
dos nos sentimentos não ditados pela razão. Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamen-
tais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verda- Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
de: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem
classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é
outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os
uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de
processos de dedução e indução à natureza de uma realidade par-
uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
ticular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu método próprio
importante para o menos importante, ou decrescente, primeiro
demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é
classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, por-
indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
que pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a
do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou
pesquisa. seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados; (Garcia, 1973, p. 302304.)
a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na in-
todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma de- trodução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expres-
pende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto a sar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e racio-
síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém, nalmente as posições assumidas e os argumentos que as justificam.
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos
o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria de vista sobre ele.
todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combina- A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lingua-
das, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então, gem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma
o relógio estaria reconstruído. ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen-
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con- cia dos outros elementos dessa mesma espécie.
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo- é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
relacionadas: metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. - o termo a ser definido;
- o gênero ou espécie;
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias - a diferença específica.
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação
de abordagens possíveis. A síntese também é importante na esco- O que distingue o termo definido de outros elementos da mes-
lha dos elementos que farão parte do texto. ma espécie. Exemplo:
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou in-
formal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é ca- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
racterística das ciências matemáticas, físico-naturais e experimen-
tais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir”
por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno. Elemento especie diferença
a ser definido específica

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LÍNGUA PORTUGUESA
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par- car ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
tes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpreta-
advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é ção. Na explicitação por definição, empregamse expressões como:
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importan- quer dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista,
te é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está assim, desse ponto de vista.
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
ou instalação”; elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, de-
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; pois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, pois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”; respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de
ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expan- ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma
dida;d forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para esta-
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + belecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, menos
cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as que, melhor que, pior que.
diferenças). Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a pala- mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
vra e seus significados. bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sem- corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer
pre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na li-
necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada nha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais
mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma funda- caráter confirmatório que comprobatório.
mentação coerente e adequada. Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam expli-
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clás-
cação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por
sica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento
consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse
da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reco-
caso, incluem-se
nhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem,
as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, mistu-
mortal, aspira à imortalidade);
rando-se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postula-
reconhecer os elementos que constituem um argumento: premis-
dos e axiomas);
sas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de nature-
são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o argumento está
expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus za subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão
elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os pro- desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se
cessos de raciocínio por dedução e por indução. Admitindo-se que discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que
raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo espe- parece absurdo).
cífico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados con-
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. cretos, estatísticos ou documentais.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nes- realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: cau-
se tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de maior sa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
relevância que. Empregam-se também dados estatísticos, acompa- Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
nhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opi-
apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de niões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprova-
causas e consequências, usando-se comumente as expressões: por- da, e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na
virtude de, em vista de, por motivo de. evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade

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LÍNGUA PORTUGUESA
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
-argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar- mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
gumentação: desenvolvidos;
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demonstran- - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
do o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraargu- - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do pas-
mentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordeiro”; sado; apontar semelhanças e diferenças;
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- banos;
dadeira; - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- mais a sociedade.
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali-
dade da afirmação; Conclusão
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consis- - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/conse-
te em refutar um argumento empregando os testemunhos de auto- quências maléficas;
ridade que contrariam a afirmação apresentada; - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- apresentados.
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se
em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de reda-
Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados ção: é um dos possíveis.
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen-
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em
uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con- SEMÂNTICA: SENTIDO E EMPREGO DOS VOCÁBULOS;
traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento CAMPOS SEMÂNTICOS
é que gera o controle demográfico”.
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
Significação de palavras
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação.
desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui-
E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a
dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os
elaboração de um Plano de Redação.
significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos
que compõem este estudo.
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
tecnológica
Antônimo e Sinônimo
- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
Começaremos por esses dois, que já são famosos.
a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da respos-
ta, justificar, criando um argumento básico;
O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras.
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o signi-
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
ficado de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
homem que é antônimo de mulher.
(rever tipos de argumentação);
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é mui-
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e conse-
to importante para produções textuais, porque evita que você fi-
quência);
que repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
exemplos, para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/conten-
argumento básico;
tamento e homem é sinônimo de macho/varão.
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
Hipônimos e Hiperônimos
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argu-
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa
mento básico;
uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperôni-
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma se-
mo designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, ca-
quência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
chorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
domésticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido
menos a seguinte:
mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com
substantivo coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das
Introdução
palavras, beleza?!?!
- função social da ciência e da tecnologia;
- definições de ciência e tecnologia;
Outros conceitos que agem diretamente no sentido das pala-
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
vras são os seguintes:
Desenvolvimento
Conotação e Denotação
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
Observe as frases:
vimento tecnológico;
Amo pepino na salada.
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
Tenho um pepino para resolver.
condições de vida no mundo atual;

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LÍNGUA PORTUGUESA
As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo, não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja, a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionarizado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.
Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.

EMPREGO DE TEMPOS E MODOS DOS VERBOS EM PORTUGUÊS. MORFOLOGIA: RECONHECIMENTO, EMPREGO E


SENTIDO DAS CLASSES GRAMATICAIS; PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS; MECANISMOS DE FLEXÃO DOS NO-
MES E VERBOS

ESTRUTURA E FORMAÇÃO DAS PALAVRAS


As palavras são formadas por estruturas menores, com significados próprios. Para isso, há vários processos que contribuem para a
formação das palavras.

Estrutura das palavras


As palavras podem ser subdivididas em estruturas significativas menores - os morfemas, também chamados de elementos mórficos: 
– radical e raiz;
– vogal temática;
– tema;
– desinências;
– afixos;
– vogais e consoantes de ligação.

Radical: Elemento que contém a base de significação do vocábulo.


Exemplos
VENDer, PARTir, ALUNo, MAR.

Desinências: Elementos que indicam as flexões dos vocábulos.

Dividem-se em:

Nominais
Indicam flexões de gênero e número nos substantivos.
Exemplos
pequenO, pequenA, alunO, aluna.

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LÍNGUA PORTUGUESA
pequenoS, pequenaS, alunoS, alunas. Exemplos
CONter, INapto, DESleal.
Verbais
Indicam flexões de modo, tempo, pessoa e número nos verbos Sufixação: Formação de palavra nova com acréscimo de um
Exemplos sufixo ao radical da primitiva.
vendêSSEmos, entregáRAmos. (modo e tempo) Exemplos
vendesteS, entregásseIS. (pessoa e número) cafezAL, meninINHa, loucaMENTE.

Indica, nos verbos, a conjugação a que pertencem. Parassíntese: Formação de palavra derivada com acréscimo de
Exemplos um prefixo e um sufixo ao radical da primitiva ao mesmo tempo.
1ª conjugação: – A – cantAr Exemplos
2ª conjugação: – E – fazEr EMtardECER, DESanimADO, ENgravidAR.
3ª conjugação: – I – sumIr
Derivação imprópria: Alteração da função de uma palavra
Observação primitiva.
Nos substantivos ocorre vogal temática quando ela não indica Exemplo
oposição masculino/feminino. Todos ficaram encantados com seu  andar: verbo usado com
Exemplos valor de substantivo.
livrO, dentE, paletó.
Derivação regressiva: Ocorre a alteração da estrutura fonética
Tema: União do radical e a vogal temática. de uma palavra primitiva para a formação de uma derivada. Em
Exemplos geral de um verbo para substantivo ou vice-versa.
CANTAr, CORREr, CONSUMIr. Exemplos
combater – o combate
Vogal e consoante de ligação: São os elementos que se chorar – o choro
interpõem aos vocábulos por necessidade de eufonia.
Exemplos Prefixos
chaLeira, cafeZal. Os prefixos existentes em Língua Portuguesa são divididos em:
vernáculos, latinos e gregos.
Afixos
Os afixos são elementos que se acrescentam antes ou depois do Vernáculos: Prefixos latinos que sofreram modificações ou
radical de uma palavra para a formação de outra palavra. Dividem- foram aportuguesados: a, além, ante, aquém, bem, des, em, entre,
se em: mal, menos, sem, sob, sobre, soto.
Prefixo: Partícula que se coloca antes do radical. Nota-se o emprego desses prefixos em palavras como: 
Exemplos abordar, além-mar, bem-aventurado, desleal, engarrafar, maldição,
DISpor, EMpobrecer, DESorganizar. menosprezar, sem-cerimônia, sopé, sobpor, sobre-humano, etc.

Sufixo Latinos: Prefixos que conservam até hoje a sua forma latina
Afixo que se coloca depois do radical. original:
Exemplos a, ab, abs – afastamento: aversão, abjurar.
contentaMENTO, reallDADE, enaltECER. a, ad – aproximação, direção: amontoar.
ambi – dualidade: ambidestro.
Processos de formação das palavras bis, bin, bi – repetição, dualidade: bisneto, binário.
centum – cem: centúnviro, centuplicar, centígrado.
Composição: Formação de uma palavra nova por meio da
circum, circun, circu – em volta de: circumpolar, circunstante.
junção de dois ou mais vocábulos primitivos. Temos:
cis – aquem de: cisalpino, cisgangético.
com, con, co – companhia, concomitância: combater,
Justaposição: Formação de palavra composta sem alteração na
contemporâneo.
estrutura fonética das primitivas.
contra – oposição, posição inferior: contradizer.
Exemplos
de – movimento de cima para baixo, origem, afastamento:
passa + tempo = passatempo
decrescer, deportar.
gira + sol = girassol des – negação, separação, ação contrária: desleal, desviar.
dis, di – movimento para diversas partes, ideia contrária:
Aglutinação: Formação de palavra composta com alteração da distrair, dimanar.
estrutura fonética das primitivas. entre – situação intermediaria, reciprocidade: entrelinha,
Exemplos entrevista.
em + boa + hora = embora ex, es, e – movimento de dentro para fora, intensidade,
vossa + merce = você privação, situação cessante: exportar, espalmar, ex-professor.
extra – fora de, além de, intensidade: extravasar, extraordinário.
Derivação: im, in, i – movimento para dentro; ideia contraria: importar,
Formação de uma nova palavra a partir de uma primitiva. ingrato.
Temos: inter – no meio de: intervocálico, intercalado.
intra – movimento para dentro: intravenoso, intrometer.
Prefixação: Formação de palavra derivada com acréscimo de justa – perto de: justapor.
um prefixo ao radical da primitiva. multi – pluralidade: multiforme.

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LÍNGUA PORTUGUESA
ob, o – oposição: obstar, opor, obstáculo. Verbais
pene – quase: penúltimo, península. Comuns: -ar, -er, -ir.
per – movimento através de, acabamento de ação; ideia Frequentativos: -açar, -ejar, -escer, -tear, -itar.
pejorativa: percorrer. Incoativos: -escer, -ejar, -itar.
post, pos – posteridade: postergar, pospor. Diminutivos: -inhar, -itar, -icar, -iscar.
pre – anterioridade: predizer, preclaro.
preter – anterioridade, para além: preterir, preternatural. Adverbial = há apenas um
pro – movimento para diante, a favor de, em vez de: prosseguir, MENTE: mecanicamente, felizmente etc.
procurador, pronome.
re – movimento para trás, ação reflexiva, intensidade, repetição: CLASSES DE PALAVRAS
regressar, revirar.
retro – movimento para trás: retroceder. Substantivo
satis – bastante: satisdar. São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi-
sub, sob, so, sus – inferioridade: subdelegado, sobraçar, sopé. nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen-
subter – por baixo: subterfúgio. timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata. 
super, supra – posição superior, excesso: super-homem,
superpovoado. Classificação dos substantivos
trans, tras, tra, tres – para além de, excesso: transpor.
tris, três, tri – três vezes: trisavô, tresdobro. SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/
ultra – para além de, intensidade: ultrapassar, ultrabelo. apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/
uni – um: unânime, unicelular. sua estrutura. macaco/João/sabão
Grego: Os principais prefixos de origem grega são: SUBSTANTIVOS COMPOSTOS: Macacos-prego/
a, an – privação, negação: ápode, anarquia. são formados por mais de um porta-voz/
ana – inversão, parecença: anagrama, analogia. radical em sua estrutura. pé-de-moleque
anfi – duplicidade, de um e de outro lado: anfíbio, anfiteatro. SUBSTANTIVOS PRIMITIVOS: Casa/
anti – oposição: antipatia, antagonista. são os que dão origem a mundo/
apo – afastamento: apólogo, apogeu. outras palavras, ou seja, ela é população
arqui, arque, arce, arc – superioridade: arcebispo, arcanjo. a primeira. /formiga
caco – mau: cacofonia.
cata – de cima para baixo: cataclismo, catalepsia. SUBSTANTIVOS DERIVADOS: Caseiro/mundano/
deca – dez: decâmetro. são formados por outros populacional/formigueiro
dia – através de, divisão: diáfano, diálogo. radicais da língua.
dis – dualidade, mau: dissílabo, dispepsia. SUBSTANTIVOS PRÓPRIOS: Rodrigo
en – sobre, dentro: encéfalo, energia. designa determinado ser /Brasil
endo – para dentro: endocarpo. entre outros da mesma /Belo Horizonte/Estátua da
epi – por cima: epiderme, epígrafe. espécie. São sempre iniciados Liberdade
eu – bom: eufonia, eugênia, eupepsia. por letra maiúscula.
hecto – cem: hectômetro.
SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/
hemi – metade: hemistíquio, hemisfério.
referem-se qualquer ser de cachorro/prima
hiper – superioridade: hipertensão, hipérbole.
uma mesma espécie.
hipo – inferioridade: hipoglosso, hipótese, hipotermia.
homo – semelhança, identidade: homônimo. SUBSTANTIVOS CONCRETOS: Leão/corrente
meta – união, mudança, além de: metacarpo, metáfase. nomeiam seres com existência /estrelas/fadas
míria – dez mil: miriâmetro. própria. Esses seres podem /lobisomem
mono – um: monóculo, monoculista. ser animadoso ou inanimados, /saci-pererê
neo – novo, moderno: neologismo, neolatino. reais ou imaginários.
para – aproximação, oposição: paráfrase, paradoxo. SUBSTANTIVOS ABSTRATOS: Mistério/
penta – cinco: pentágono. nomeiam ações, estados, bondade/
peri – em volta de: perímetro. qualidades e sentimentos que confiança/
poli – muitos: polígono, polimorfo. não tem existência própria, ou lembrança/
pro – antes de: prótese, prólogo, profeta. seja, só existem em função de amor/
um ser. alegria
Sufixos
Os sufixos podem ser: nominais, verbais e adverbial. SUBSTANTIVOS COLETIVOS: Elenco (de atores)/
referem-se a um conjunto acervo (de obras artísticas)/
Nominais de seres da mesma espécie, buquê (de flores)
Coletivos: -aria, -ada, -edo, -al, -agem, -atro, -alha, -ama. mesmo quando empregado
Aumentativos e diminutivos: -ão, -rão, -zão, -arrão, -aço, -astro, -az. no singular e constituem um
Agentes: -dor, -nte, -ário, -eiro, -ista. substantivo comum.
Lugar: -ário, -douro, -eiro, -ório. NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
Estado: -eza, -idade, -ice, -ência, -ura, -ado, -ato. QUE NÃO ESTÃO AQUI!
Pátrios: -ense, -ista, -ano, -eiro, -ino, -io, -eno, -enho, -aico.
Origem, procedência: -estre, -este, -esco.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Flexão dos Substantivos
• Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculino e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou uni-
formes
– Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o pre-
sidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
– Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariáveis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira ma-
cho/palmeira fêmea.
b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a tes-
temunha (o testemunha), o individuo (a individua).
c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente, o/a
estudante, o/a colega.
• Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
– Singular: anzol, tórax, próton, casa.
– Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.

• Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau diminutivo.


– Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
– Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
– Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
– Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula. 

Adjetivo
É a palavra invariável que especifica e caracteriza o substantivo: imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão compos-
ta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo: golpe
de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vespertino).

Flexão do Adjetivos
• Gênero:
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o feminino: homem feliz, mulher feliz.
– Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria japo-
nesa, aluno chorão/ aluna chorona. 

• Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namoradores,
japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:

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LÍNGUA PORTUGUESA
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela,  Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Vossa Senhoria Empregado nas correspondências e textos escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

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LÍNGUA PORTUGUESA

Classificação Pronomes Indefinidos – Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa
quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, sujeito. Veja:
nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, mui- João pulou da cama atrasado
ta, muitos, muitas, pouco, pouca, poucos, – Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas
poucas, todo, toda, todos, todas, outro, ou- recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz
Variáveis tra, outros, outras, certo, certa, certos, cer- passiva analítica é formada por:
tas, vário, vária, vários, várias, tanto, tanta, Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros)
tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, +  verbo principal da ação conjugado no particípio  + preposição
quantas, qualquer, quaisquer, qual, quais, por/pelo/de + agente da passiva.
um, uma, uns, umas. A casa foi aspirada pelos rapazes
quem, alguém, ninguém, tudo, nada, ou-
Invariáveis A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva prono-
trem, algo, cada.
minal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plu-
utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas. ral) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.
Classificação Pronomes Interrogativos Advérbio
qual, quais, quanto, quantos, É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro ad-
Variáveis vérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circuns-
quanta, quantas.
tância. As circunstâncias dos advérbios podem ser:
Invariáveis quem, que.
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, ama-
nhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem,
• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anterior- brevemente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-
mente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser -dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez
variáveis e invariáveis. em quando, em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém,
Classificação Pronomes Relativos perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em
cima, à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja,
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapi-
Variáveis cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quan-
damente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
tas.
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
Invariáveis quem, que, onde. – Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente,
efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc. 
Verbos – Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo al-
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos me- gum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
teorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo. – Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, as-
saz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco,
• Flexão verbal de todo, etc.
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas. – Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, por-
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na ventura, etc.
frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é
dividido em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, Preposição
subjetividade) e imperativo (ordem, pedido). É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo com-
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato ex- plete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:
presso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: pre-
sente, passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito)
e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: pre-
sente, pretérito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º
pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles ama-
ram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exer-
cem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infi-
nitivo (terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particí-
pio (terminado em –DA/DO).

• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação
com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma SINTAXE: FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO; TERMOS DA
oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam ORAÇÃO; PROCESSOS DE COORDENAÇÃO E SUBORDI-
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que li- NAÇÃO
gam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é
determinante e o outro é determinado). Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos
estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo
• Conjunções Coordenativas da sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita
coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar al-
Tipos Conjunções Coordenativas gumas questões importantes:

Aditivas e, mas ainda, mas também, nem... • Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sen-
contudo, entretanto, mas, não obstante, no tido completo. 
Adversativas Os jornais publicaram a notícia.
entanto, porém, todavia...
Silêncio! 
já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…,
Alternativas
quer… • Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma
assim, então, logo, pois (depois do verbo), por locução verbal.
Conclusivas
conseguinte, por isso, portanto... Este filme causou grande impacto entre o público.
pois (antes do verbo), porquanto, porque, A inflação deve continuar sob controle.
Explicativas
que...
• Período Simples: formado por uma única oração.
O clima se alterou muito nos últimos dias.
• Conjunções Subordinativas
• Período Composto: formado por mais de uma oração.
Tipos Conjunções Subordinativas O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.
Causais Porque, pois, porquanto, como, etc. Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período.
Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:
Embora, conquanto, ainda que, mes- • Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.
Concessivas
mo que, posto que, etc. O problema da violência preocupa os cidadãos.
Se, caso, quando, conquanto que, • Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
Condicionais A tecnologia permitiu o resgate dos operários.
salvo se, sem que, etc.
• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo
Conforme, como (no sentido de con- direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da pre-
Conformativas
forme), segundo, consoante, etc. posição.
Para que, a fim de que, porque (no A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Finais
sentido de que), que, etc. Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.
À medida que, ao passo que, à • Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transi-
Proporcionais tivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de
proporção que, etc.
preposição. 
Quando, antes que, depois que, até Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
Temporais
que, logo que, etc. João gosta de beterraba.
Que, do que (usado depois de mais, • Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime
Comparativas determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica
menos, maior, menor, melhor, etc.
um verbo, adjetivo ou advérbio.
Que (precedido de tão, tal, tanto), de O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Consecutivas
modo que, De maneira que, etc. Vamos sair do mar.
Integrantes Que, se. • Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem prati-
ca a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Interjeição Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, • Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um subs-
apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações tantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação
das pessoas. de um verbo.
• Principais Interjeições Um casal de médicos eram os novos moradores do meu pré-
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum! dio.
• Complemento Nominal: Termo da oração que completa no-
Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas mes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicio-
é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a nado.
função de cada classe de palavras, não terá dificuldades para enten- A realização do torneio teve a aprovação de todos.
der o estudo da Sintaxe. • Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao su-
jeito da oração.
A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao
objeto direto ou indireto da oração.

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LÍNGUA PORTUGUESA
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equivalen-
tes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.
• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.
Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, moleza.
Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra para
construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para construir
sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas


Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos, lan-
chamos.
Alternativas Manuela  ora  quer comer hambúrguer,  ora  quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante,  portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar,  ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do jantar.
Exercem a função de sujeito
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a refeição
Exercem a função de predicativo no lugar.
Orações Subordinadas Substantivas
Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se aborrecesse
Exercem a função de aposto com ela.
Objetivas Direta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto indireto
Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de quinta,
Explicam um termo dito anteriormente. terão aula de reforço.
SEMPRE serão acompanhadas por vírgula.
Orações Subordinadas Adjetivas Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo terão aula de reforço.
dito anteriormente. NUNCA serão
acompanhadas por vírgula.

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LÍNGUA PORTUGUESA

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de
consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de
comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de condição reunião.
Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Assumem a função de advérbio de previsto.
Orações Subordinadas Adverbiais
conformidade
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais tarde.
Assumem a função de advérbio de
concessão
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de tenham acesso aos benefícios.
finalidade
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de
proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de tempo suas casas.

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

CONCORDÂNCIA NOMINAL E VERBAL

Concordância Nominal
Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos concordam em gênero e número com os substantivos aos quais se
referem.
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amistosa.

Casos Especiais de Concordância Nominal


• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio:
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam alerta.

• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na formação de palavras compostas:


Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso.

• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam de acordo com o substantivo a que se referem:
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas.

• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quando pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis quando
advérbios:
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou meia dúzia de ovos.

• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio:


Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.

• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o substantivo estiver determinado por artigo:
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.

Concordância Verbal
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa:
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enormes.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Concordância ideológica ou silepse Lembrar Não usa preposição
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gêne-
ro gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido no Pagar (pagar a alguém) a
contexto. Precisar (necessitar) de
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas.
Blumenau estava repleta de turistas. Proceder (realizar) a
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú- Responder a
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no con-
Visar ( ter como objetivo a
texto.
pretender)
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau-
sos. NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes- QUE NÃO ESTÃO AQUI!
soa gramatical que está subentendida no contexto.
O povo temos memória curta em relação às promessas dos po-
líticos.
PADRÕES GERAIS DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL NO
PORTUGUÊS

TRANSITIVIDADE E REGÊNCIA DE NOMES E VERBOS A colocação do pronome átono está relacionada à harmonia da
frase. A tendência do português falado no Brasil é o uso do prono-
• Regência Nominal  me antes do verbo – próclise. No entanto, há casos em que a norma
A regência nominal estuda os casos em que nomes (substan- culta prescreve o emprego do pronome no meio – mesóclise – ou
tivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para completar- após o verbo – ênclise.
-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu comple- De acordo com a norma culta, no português escrito não se ini-
mento é estabelecida por uma preposição. cia um período com pronome oblíquo átono. Assim, se na lingua-
gem falada diz-se “Me encontrei com ele”, já na linguagem escrita,
• Regência Verbal formal, usa-se “Encontrei-me’’ com ele.
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o Sendo a próclise a tendência, é aconselhável que se fixem bem
verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido).  as poucas regras de mesóclise e ênclise. Assim, sempre que estas
Isto pertence a todos. não forem obrigatórias, deve-se usar a próclise, a menos que preju-
dique a eufonia da frase.
Regência de algumas palavras
Próclise
Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo.
Esta palavra combina com Esta preposição
Acessível a Palavra de sentido negativo: Não me falou a verdade.
Apto a, para Advérbios sem pausa em relação ao verbo: Aqui te espero pa-
cientemente.
Atencioso com, para com Havendo pausa indicada por vírgula, recomenda-se a ênclise:
Coerente com Ontem, encontrei-o no ponto do ônibus.
Pronomes indefinidos: Ninguém o chamou aqui.
Conforme a, com
Pronomes demonstrativos: Aquilo lhe desagrada.
Dúvida acerca de, de, em, sobre Orações interrogativas: Quem lhe disse tal coisa?
Empenho de, em, por Orações optativas (que exprimem desejo), com sujeito ante-
posto ao verbo: Deus lhe pague, Senhor!
Fácil a, de, para, Orações exclamativas: Quanta honra nos dá sua visita!
Junto a, de Orações substantivas, adjetivas e adverbiais, desde que não se-
jam reduzidas: Percebia que o observavam.
Pendente de Verbo no gerúndio, regido de preposição em: Em se plantando,
Preferível a tudo dá.
Verbo no infinitivo pessoal precedido de preposição: Seus in-
Próximo a, de
tentos são para nos prejudicarem.
Respeito a, com, de, para com, por
Situado a, em, entre Ênclise
Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo.
Ajudar (a fazer algo) a
Aludir (referir-se) a Verbo no início da oração, desde que não esteja no futuro do
indicativo: Trago-te flores.
Aspirar (desejar, pretender) a Verbo no imperativo afirmativo: Amigos, digam-me a verdade!
Assistir (dar assistência) Não usa preposição Verbo no gerúndio, desde que não esteja precedido pela pre-
posição em: Saí, deixando-a aflita.
Deparar (encontrar) com
Verbo no infinitivo impessoal regido da preposição a. Com
Implicar (consequência) Não usa preposição outras preposições é facultativo o emprego de ênclise ou próclise:
Apressei-me a convidá-los.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Mesóclise Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se
Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen-
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma
É obrigatória somente com verbos no futuro do presente ou no das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos
futuro do pretérito que iniciam a oração. elementos formativos de um texto.
Dir-lhe-ei toda a verdade. A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito
Far-me-ias um favor? aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos
elementos textuais.
Se o verbo no futuro vier precedido de pronome reto ou de A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante
qualquer outro fator de atração, ocorrerá a próclise. de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo-
Eu lhe direi toda a verdade. sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística,
Tu me farias um favor? tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de
imediato a coerência de um discurso.

Colocação do pronome átono nas locuções verbais A coerência:


Verbo principal no infinitivo ou gerúndio: Se a locução verbal - assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto;
não vier precedida de um fator de próclise, o pronome átono deve- - situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
rá ficar depois do auxiliar ou depois do verbo principal. tual;
Exemplos: - relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
Devo-lhe dizer a verdade. o aspecto global do texto;
Devo dizer-lhe a verdade. - estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.

Havendo fator de próclise, o pronome átono deverá ficar antes Coesão


do auxiliar ou depois do principal. É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
Exemplos: numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
Não lhe devo dizer a verdade. ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática,
Não devo dizer-lhe a verdade. fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário,
tem-se a coesão lexical.
Verbo principal no particípio: Se não houver fator de próclise, A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
o pronome átono ficará depois do auxiliar. vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
Exemplo: Havia-lhe dito a verdade. gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
nentes do texto.
Se houver fator de próclise, o pronome átono ficará antes do Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
auxiliar. que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
Exemplo: Não lhe havia dito a verdade. néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
Haver de e ter de + infinitivo: Pronome átono deve ficar depois advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
do infinitivo. A coesão:
Exemplos: - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
Hei de dizer-lhe a verdade. - situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
Tenho de dizer-lhe a verdade. - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
componentes do texto;
Observação - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
Não se deve omitir o hífen nas seguintes construções:
Devo-lhe dizer tudo.
Estava-lhe dizendo tudo.
Havia-lhe dito tudo. ORTOGRAFIA

ORTOGRAFIA OFICIAL
MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL • Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram rein-
troduzidas as letras k, w e y.
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O
Coesão e coerência fazem parte importante da elaboração de
PQRSTUVWXYZ
um texto com clareza. Ela diz respeito à maneira como as ideias são
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a
organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a com-
letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue,
preensão textual. Na redação espera-se do autor capacidade de
mobilizar conhecimentos e opiniões, argumentar de modo coeren- gui, que, qui.
te, além de expressar-se com clareza, de forma correta e adequada.
Regras de acentuação
Coerência – Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se- sílaba)
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com
outra”).

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LÍNGUA PORTUGUESA
Observações:
Como era Como fica
• Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
alcatéia alcateia iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h perdem
apóia apoia essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
apóio apoio vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
• O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemento,
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, coope-
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. rar, cooperação, cooptar, coocupante.
• Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
– Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no mirante.
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. • Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam
a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
Como era Como fica pontapé, paraquedas, paraquedista.
• Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró,
baiúca baiuca usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar,
bocaiúva bocaiuva recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu.

Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominando
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por isso
tuiuiú, tuiuiús, Piauí. vamos passar para mais um ponto importante.

– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem


e ôo(s).
ACENTUAÇÃO GRÁFICA

Como era Como fica


Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
abençôo abençoo com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
crêem creem indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
Vejamos um por um:
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/
Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera.
aberto.
Já cursei a Faculdade de História.
Atenção:
Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode.
fechado.
• Permanece o acento diferencial em pôr/por.
Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural
Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, deter,
caso afundo mais à frente).
reter, conter, convir, intervir, advir etc.).
Sou leal à mulher da minha vida.
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as
palavras forma/fôrma.
As palavras podem ser:
– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
Uso de hífen
-já, ra-paz, u-ru-bu...)
Regra básica:
– Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho-
sa-bo-ne-te, ré-gua...)
mem.
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
Outros casos
1. Prefixo terminado em vogal:
As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos:
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
• São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico,
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto,
íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...)
semicírculo.
• São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L, N,
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis-
R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron, éter,
mo, antissocial, ultrassom.
fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...)
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro-on-
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S),
das.
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô, céu,
dói, coronéis...)
2. Prefixo terminado em consoante:
– Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vogais
-bibliotecário.
(aí, faísca, baú, juízo, Luísa...)
– Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal, su-
persônico.
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei-
– Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.
nar e fixar as regras.

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LÍNGUA PORTUGUESA

EMPREGO DO SINAL INDICATIVO DE CRASE PONTUAÇÃO

A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a Pontuação


é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema
demonstrativo. de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s) organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das
pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as
• Devemos usar crase: funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BE-
– Antes palavras femininas: CHARA, 2009, p. 514)
Iremos à festa amanhã A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a
Mediante à situação. importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns
O Governo visa à resolução do problema. sinais gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], pon-
to e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reti-
– Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de” cências [ ... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos
Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ],
locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a: travessão duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses
Os frangos eram feitos à moda da casa imperial. retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).
Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substanti-
vos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a crase. Ponto ( . )
Mas... há crase, sim! O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pau-
Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir- sa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante. de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as
reticências.
– Expressões fixas Estaremos presentes na festa.
Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de
crase: Ponto de interrogação ( ? )
à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à von- Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogati-
tade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às vezes, às va ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.
pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à esquerda, à Você vai à festa?
direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à mão, às escon-
didas, à medida que, à proporção que. Ponto de exclamação ( ! )
• NUNCA devemos usar crase: Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclama-
– Antes de substantivos masculinos: tiva.
Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado a Ex: Que bela festa!
pé.
Reticências ( ... )
– Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou
plural) usado em sentido generalizador: porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com
Depois do trauma, nunca mais foi a festas. breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a ho- nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
mem. Ex: Essa festa... não sei não, viu.

– Antes de artigo indefinido “uma” Dois-pontos ( : )


Iremos a uma reunião muito importante no domingo. Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluída.
Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma citação
– Antes de pronomes (discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enumerativo,
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa. distributivo ou uma oração subordinada substantiva apositiva.
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa.
Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela.
Ponto e vírgula ( ; )
A quem vocês se reportaram no Plenário?
Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que o
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico.
ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgulas,
para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma enume-
– Antes de verbos no infinitivo
ração (frequente em leis), etc.
A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam-
bém uma linda decoração e bebidas caras.

Travessão ( — )
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e com
o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so-lu-ta-
-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode substituir
vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma expressão inter-
calada e pode indicar a mudança de interlocutor, na transcrição de
um diálogo, com ou sem aspas.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. • Separa aposto.
Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
Parênteses e colchetes ( ) – [ ] • Separa vocativo.
Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico Brasileiros, é chegada a hora de votar.
mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior in- • Separa termos repetidos.
timidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do parên- Aquele aluno era esforçado, esforçado.
tese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ligados
aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes são utiliza- • Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
dos quando já se acham empregados os parênteses, para introduzi- ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
rem uma nova inserção. ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo go- efeito, digo.
vernador) O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
ou seja, de fácil compreensão.
Aspas ( “ ” )
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido • Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoação tos).
especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou para O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particula-
apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utilizada, ain- res. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
da, para marcar o discurso direto e a citação breve.
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo. • Separa orações coordenadas assindéticas.
Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
Vírgula ideias na cabeça...
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes • Isola o nome do lugar nas datas.
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
vírgula:
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti-
• Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim, dessa
mos” o momento certo de fazer uso dela.
forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, expressões
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em
conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado, essas infor-
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula, o
mações comprovam, etc.
leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. Afinal,
Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
nizar o problema.
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de tex-
tos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que ela é
A vírgula realmente tem uma quantidade maior de regras, mas
menos importante e que pode ser colocada depois.
nada impossível de saber, não é?!?! Bom, já vimos muita coisa até
aqui e não vamos parar agora.
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma or-
dem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Verbo >
Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj).
Maria foi à padaria ontem. REESCRITA DE FRASES: SUBSTITUIÇÃO, DESLOCAMEN-
Sujeito Verbo Objeto Adjunto TO, PARALELISMO

Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso ocor-


A reescrita é tão importante quanto a escrita, visto que, difi-
re por alguns motivos:
cilmente, sobretudo para os escritores mais cuidadosos, chegamos
1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
ao resultado que julgamos ideal na primeira tentativa. Aquele que
2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
observa um resultado ruim na primeira versão que escreveu terá,
3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
na reescrita, a possibilidade de alcançar um resultado satisfatório.
verbo e o adjunto.
A reescrita é um processo mais trabalhoso do que a revisão, pois,
nesta, atemo-nos apenas aos pequenos detalhes, cuja ausência não
Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem
implicaria em uma dificuldade do leitor para compreender o texto.
comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
é necessária:
Quando reescrevemos,  refazemos  nosso texto, é um proces-
Ontem, Maria foi à padaria.
so bem mais complexo, que parte do pressuposto de que o autor
Maria, ontem, foi à padaria.
tenha observado aquilo que está ruim para que, posteriormente,
À padaria, Maria foi ontem.
possa melhorar seu texto até chegar a uma versão final, livre dos er-
ros iniciais. Além de aprimorar a leitura, a reescrita auxilia a desen-
Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é neces-
volver e melhorar a escrita, ajudando o aluno-escritor a esclarecer
sário:
melhor seus objetivos e razões para a produção de textos.
• Separa termos de mesma função sintática, numa enumera-
ção.
Nessa perspectiva, esse autor considera que reescrever seja
Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
um processo de descoberta da escrita pelo próprio autor, que passa
serem observadas na redação oficial.
a enfocá-la como forma de trabalho, auxiliando o desenvolvimento
do processo de escrever do aluno.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Operações linguísticas de reescrita: Expressões não recomendadas
A literatura sobre reescrita aponta para uma tipologia de ope- – a partir de (a não ser com valor temporal).
rações linguísticas encontradas neste momento específico da cons- Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de...
trução do texto escrito.
- Adição, ou acréscimo: pode tratar-se do acréscimo de um ele- – através de (para exprimir “meio” ou instrumento).
mento gráfico, acento, sinal de pontuação, grafema (...) mas tam- Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, se-
bém do acréscimo de uma palavra, de um sintagma, de uma ou de gundo...
várias frases.
- Supressão: supressão sem substituição do segmento suprimi- – devido a.
do. Ela pode ser aplicada sobre unidades diversas, acento, grafe- Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de.
mas, sílabas, palavras sintagmáticas, uma ou diversas frases.
- Substituição: supressão, seguida de substituição por um ter- – dito.
mo novo. Ela se aplica sobre um grafema, uma palavra, um sintag- Opção: citado, mencionado.
ma, ou sobre conjuntos generalizados.
- Deslocamento: permutação de elementos, que acaba por mo- – enquanto.
dificar sua ordem no processo de encadeamento. Opção: ao passo que.

Graus de Formalismo – inclusive (a não ser quando significa incluindo-se).


São muitos os tipos de registros quanto ao formalismo, tais Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também.
como: o registro formal, que é uma linguagem mais cuidada; o colo-
quial, que não tem um planejamento prévio, caracterizando-se por – no sentido de, com vistas a.
construções gramaticais mais livres, repetições frequentes, frases Opção: a fim de, para, com a finalidade de, tendo em vista.
curtas e conectores simples; o informal, que se caracteriza pelo uso
de ortografia simplificada e construções simples ( geralmente usado – pois (no início da oração).
entre membros de uma mesma família ou entre amigos). Opção: já que, porque, uma vez que, visto que.

As variações de registro ocorrem de acordo com o grau de for- – principalmente.


malismo existente na situação de comunicação; com o modo de Opção: especialmente, sobretudo, em especial, em particular
expressão, isto é, se trata de um registro formal ou escrito; com a
sintonia entre interlocutores, que envolve aspectos como graus de
cortesia, deferência, tecnicidade (domínio de um vocabulário espe- VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
cífico de algum campo científico, por exemplo).

Expressões que demandam atenção Variedades Linguísticas


– acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se A língua escrita e falada apresenta uma série de variações e
– aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, transformações ao passar do tempo. Tais variações decorrem das
aceito diferenças entre as épocas, condições sociais, culturais e regionais
– acendido, aceso (formas similares) – idem dos falantes. Tomemos como exemplo a transformação ortográfica
– à custa de – e não às custas de do vocábulo “farmácia” que antes era grafado com “ph”, assim, a
palavra era escrita “pharmácia”.
– à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, con-
Todas as variedades linguísticas são adequadas, desde que cumpram
forme
com eficiência o papel fundamental da língua, o de permitir e estabelecer
– na medida em que – tendo em vista que, uma vez que
a comunicação entre as pessoas. Apesar disso, há uma entre as variedades
– a meu ver – e não ao meu ver
que tem maior prestígio social, a norma culta ou norma padrão.
– a ponto de – e não ao ponto de
A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas,
– a posteriori, a priori – não tem valor temporal
contida na maior parte dos livros, registros escritos, nas mídias te-
– em termos de – modismo; evitar
levisivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem:
– enquanto que – o que é redundância a linguagem regional, a gíria, a linguagem específica de grupos ou
– entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a profissões (policiais, jogadores de futebol, advogados, surfistas).
– implicar em – a regência é direta (sem em) O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade de
– ir de encontro a – chocar-se com condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou em
– ir ao encontro de – concordar com nossa comunidade. Ao contrário, o domínio da língua culta, somado
– se não, senão – quando se pode substituir por caso não, se- ao domínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais prepa-
parado; quando não se pode, junto rados para nos comunicarmos nos diferentes contextos lingísticos,
– todo mundo – todos já que a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser
– todo o mundo – o mundo inteiro a mesma utilizada em uma reunião de amigos no final de semana.
– não pagamento = hífen somente quando o segundo termo Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empre-
for substantivo gá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de que
– este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo participamos.
presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando)
– esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte Variação social
(tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do pre- A variação social está relacionada a fatores sociais como etnia,
sente, ou distante ao já mencionado e a ênfase). sexo, faixa etária, grau de escolaridade e grupo profissional. Os vá-
rios estudos que enfocam este tipo de relação língua/fatores sociais
têm privilegiado a variação morfossintática ou a morfo-fonológica.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Fica claro que a variação social não compromete a compreen- Grafias que caíram em desuso:
são entre indivíduos, uma vez que alguns momentos de incoerência – flôr;
são sanados pelo contexto em que a fala se forma. – pharmácia;
Não é difícil perceber que a norma culta – por diversas razões
de ordem política, econômica, social, cultural – é algo reservado Vocabulário e expressões típicas de uma determinada faixa etá-
a poucas pessoas no Brasil; talvez porque haja um distanciamento ria:
entre as normatizações gramaticais e a obediência dos falantes em – Ele é maior barbeiro.
seguir tais normas. Há uma indagação implícita neste fato: “ Existe – Vá catar coquinho.
alguma disfunção, alguma impossibilidade de uso da gramática nor-
mativa pela grande maioria dos falantes? ” Ou “Estamos apenas a Variações diastráticas
observar a língua como um fator de identidade? ” As variações diastráticas, também chamadas de variações so-
Sendo esse o caso, a língua como referencial humano traria ciais, são variações que ocorrem de acordo com os hábitos e cultura
inúmeras variações, porque decididamente não somos todos iguais de diferentes grupos sociais. Este tipo de variação ocorre porque di-
e devido ao meio espacial ou social em que estejamos haverá uma ferentes grupos sociais possuem diferentes conhecimentos, modos
tendência da língua em se caracterizar por esses agentes, sendo de atuação e sistemas de comunicação.
assim, o indivíduo que protagoniza a fala poderá adequá-la a seu Exemplos de variações diastráticas
perfil ou ao grupo a que pertence.
Comunidades diferentes vivenciam experiências diferentes e Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como os
isto se reflete nos respectivos sistemas linguísticos: léxico, morfo- skatistas:
lógico e sintático. Um grupo acadêmico de uma universidade apre- – Prefiro freestyle.
sentará uma variedade linguística bem diferente de um grupo de – O gringo tem um carrinho irado.
vendedores ambulantes do interior do Brasil. Cada qual usará o
recurso linguístico que lhe foi concebido em seu processo de apren- Jargões próprios de um grupo profissional, como os policiais e
dizagem para efetuar a comunicação. militares:
Do exposto, concluímos que a língua signo/privilegiado de – Ele deu sopa na crista.
identidade não é um instrumento neutro, um contingente meio de – Vamos na rota dele.
comunicação entre os homens, mas principalmente a expressão de
sua diferença. Variações diafásicas
Tipos de variação linguística As variações diafásicas, também chamadas de variações situa-
As variações linguísticas ocorrem principalmente nos âmbitos cionais, são variações que ocorrem de acordo com o contexto ou
geográficos, temporais e sociais. situação em que decorre o processo comunicativo. Há momentos
em que é utilizado um registro formal e outros em que é utilizado
Variações diatópicas um registro informal.
As variações diatópicas, também chamadas de variações regio-
nais ou geográficas, são variações que ocorrem de acordo com o Variação linguística e preconceito linguístico
local onde vivem os falantes, sofrendo sua influência. Este tipo de O preconceito linguístico surge porque nem todas as variações
variação ocorre porque diferentes regiões têm diferentes culturas, linguísticas usufruem do mesmo prestígio. Algumas são conside-
com diferentes hábitos, modos e tradições, estabelecendo assim di- radas superiores, mais corretas e cultas e outras são consideradas
ferentes estruturas linguísticas. menos cultas ou mesmo incorretas.
Preconceito linguístico ocorre sempre que uma determinada
Exemplos de variações diatópicas variedade é referida com um tom pejorativo e depreciativo, estan-
Diferentes palavras para os mesmos conceitos: do associada a situações de deboche ou até de violência, o que con-
– aipim, mandioca, macaxeira; tribui para a exclusão social de diversos indivíduos e grupos.
– abóbora, jerimum, moranga;

Diferentes sotaques, dialetos e falares:


– dialeto caipira; NORMA CULTA
– dialeto gaúcho;
A Linguagem Culta ou Padrão
Reduções de palavras ou perdas de fonemas: É aquela ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências
– véio (velho); em que se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pes-
– muié (mulher); soas instruídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela
obediência às normas gramaticais. Mais comumente usada na lin-
Variações diacrônicas guagem escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais
As variações diacrônicas, também chamadas de variações his- artificial, mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas
tóricas, são variações que ocorrem de acordo com as diferentes aulas, conferências, sermões, discursos políticos, comunicações
épocas vividas pelos falantes, sendo possível distinguir o português científicas, noticiários de TV, programas culturais etc.
arcaico do português moderno, bem como diversas palavras que Ouvindo e lendo é que você aprenderá a falar e a escrever bem.
ficam em desuso. Procure ler muito, ler bons autores, para redigir bem.
Exemplos de variações diacrônicas A aprendizagem da língua inicia-se em casa, no contexto fa-
miliar, que é o primeiro círculo social para uma criança. A criança
Palavras que caíram em desuso: imita o que ouve e aprende, aos poucos, o vocabulário e as leis
– vossemecê; combinatórias da língua. Um falante ao entrar em contato com ou-
– botica; tras pessoas em diferentes ambientes sociais como a rua, a escola

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LÍNGUA PORTUGUESA
e etc., começa a perceber que nem todos falam da mesma forma. Ver ou vir
Há pessoas que falam de forma diferente por pertencerem a outras A dúvida no uso de ver e vir ocorre nas seguintes construções:
cidades ou regiões do país, ou por fazerem parte de outro grupo Se eu ver ou se eu vir? Quando eu ver ou quando eu vir? Qual das
ou classe social. Essas diferenças no uso da língua constituem as frases com ver ou vir está correta? Se eu vir você lá fora, você vai
variedades linguísticas. ficar de castigo!
Certas palavras e construções que empregamos acabam de-
nunciando quem somos socialmente, ou seja, em que região do Onde ou aonde
país nascemos, qual nosso nível social e escolar, nossa formação e, Os advérbios onde e aonde indicam lugar: Onde você está?
às vezes, até nossos valores, círculo de amizades e hobbies. O uso Aonde você vai? Qual é a diferença entre onde e aonde? Onde indi-
da língua também pode informar nossa timidez, sobre nossa capa- ca permanência. É sinônimo de em que lugar. Onde, Em que lugar
cidade de nos adaptarmos às situações novas e nossa insegurança. Fica?
A norma culta é a variedade linguística ensinada nas escolas,
contida na maior parte dos livros, registros escritos, nas mídias te- Como escrever o dinheiro por extenso?
levisivas, entre outros. Como variantes da norma padrão aparecem: Os valores monetários, regra geral, devem ser escritos com al-
a linguagem regional, a gíria, a linguagem específica de grupos ou garismos: R$ 1,00 ou R$ 1 R$ 15,00 ou R$ 15 R$ 100,00 ou R$ 100
profissões. O ensino da língua culta na escola não tem a finalidade R$ 1400,00 ou R$ 1400.
de condenar ou eliminar a língua que falamos em nossa família ou
em nossa comunidade. O domínio da língua culta, somado ao do- Obrigado ou obrigada
mínio de outras variedades linguísticas, torna-nos mais preparados Segundo a gramática tradicional e a norma culta, o homem ao
para nos comunicarmos nos diferentes contextos lingísticos, já que agradecer deve dizer obrigado. A mulher ao agradecer deve dizer
a linguagem utilizada em reuniões de trabalho não deve ser a mes- obrigada.
ma utilizada em uma reunião de amigos no final de semana.
Portanto, saber usar bem uma língua equivale a saber empre- Mal ou mau
gá-la de modo adequado às mais diferentes situações sociais de que Como essas duas palavras são, maioritariamente, pronunciadas
participamos. da mesma forma, são facilmente confundidas pelos falantes. Qual a
A norma culta é responsável por representar as práticas lin- diferença entre mal e mau? Mal é um advérbio, antônimo de bem.
guísticas embasadas nos modelos de uso encontrados em textos Mau é o adjetivo contrário de bom.
formais. É o modelo que deve ser utilizado na escrita, sobretudo
nos textos não literários, pois segue rigidamente as regras gramati- “Vir”, “Ver” e “Vier”
cais. A norma culta conta com maior prestígio social e normalmente A conjugação desses verbos pode causar confusão em algumas
é associada ao nível cultural do falante: quanto maior a escolariza- situações, como por exemplo no futuro do subjuntivo. O correto é,
ção, maior a adequação com a língua padrão. por exemplo, “quando você o vir”, e não “quando você o ver”.
Exemplo: Já no caso do verbo “ir”, a conjugação correta deste tempo ver-
Venho solicitar a atenção de Vossa Excelência para que seja bal é “quando eu vier”, e não “quando eu vir”.
conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima
da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao “Ao invés de” ou “em vez de”
movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, “Ao invés de” significa “ao contrário” e deve ser usado apenas
atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem para expressar oposição.
se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte Por exemplo: Ao invés de virar à direita, virei à esquerda.
violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico de suas fun- Já “em vez de” tem um significado mais abrangente e é usado
ções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe. principalmente como a expressão “no lugar de”. Mas ele também
pode ser usado para exprimir oposição. Por isso, os linguistas reco-
A Linguagem Popular ou Coloquial mendam usar “em vez de” caso esteja na dúvida.
É aquela usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mos-
tra-se quase sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de Por exemplo: Em vez de ir de ônibus para a escola, fui de bici-
vícios de linguagem (solecismo – erros de regência e concordância; cleta.
barbarismo – erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; ca-
cofonia; pleonasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela “Para mim” ou “para eu”
coordenação, que ressalta o caráter oral e popular da língua. A lin-
Os dois podem estar certos, mas, se você vai continuar a frase
guagem popular está presente nas conversas familiares ou entre
com um verbo, deve usar “para eu”.
amigos, anedotas, irradiação de esportes, programas de TV e audi-
Por exemplo: Mariana trouxe bolo para mim; Caio pediu para
tório, novelas, na expressão dos esta dos emocionais etc.
eu curtir as fotos dele.
Dúvidas mais comuns da norma culta
“Tem” ou “têm”
Tanto “tem” como “têm” fazem parte da conjugação do verbo
Perca ou perda
Isto é uma perda de tempo ou uma perca de tempo? Tomara “ter” no presente. Mas o primeiro é usado no singular, e o segundo
que ele não perca o ônibus ou não perda o ônibus? Quais são as fra- no plural.
ses corretas com perda e perca? Certo: Isto é uma perda de tempo. Por exemplo: Você tem medo de mudança; Eles têm medo de
mudança.
Embaixo ou em baixo
O gato está embaixo da mesa ou em baixo da mesa? Continua- “Há muitos anos”, “muitos anos atrás” ou “há muitos anos
rei falando em baixo tom de voz ou embaixo tom de voz? Quais atrás”
são as frases corretas com embaixo e em baixo? Certo: O gato está Usar “Há” e “atrás” na mesma frase é uma redundância, já que
embaixo da cama ambas indicam passado. O correto é usar um ou outro.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Por exemplo: A erosão da encosta começou há muito tempo; O (C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o
romance começou muito tempo atrás. poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento
Sim, isso quer dizer que a música Eu nasci há dez mil anos atrás, em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revol-
de Raul Seixas, está incorreta. ta que ambos possam suscitar.
(D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po-
der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o
corpo dos supliciados.
EXERCÍCIOS (E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um
campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con-
1. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualidade é trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua
a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que NÃO organização em delinqüência.
se fundamenta em intertextualidade é:
(A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido 6. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚNIOR –
há muito tempo.” 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à ortografia é:
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se (A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacidade
mete onde não é chamada.” extraordinária de imitar vários estilos musicais.
(C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente (B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti-
mesmo!” mentos pessoais por meio de sua música.
(D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo, (C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das
tudo bem.” composições do músico na cultura ocidental.
(E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.” (D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compo-
sitor termina em uma cena de reconciliação entre os persona-
2. (FUNIVERSA – CEB – ADVOGADO – 2010) Assinale a alterna- gens.
tiva em que todas as palavras são acentuadas pela mesma razão. (E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se
(A) “Brasília”, “prêmios”, “vitória”. deve mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração.
(B) “elétrica”, “hidráulica”, “responsáveis”.
(C) “sérios”, “potência”, “após”. 7. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode ser
(D) “Goiás”, “já”, “vários”. retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma pa-
(E) “solidária”, “área”, “após”. drão na seguinte sentença:
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
3. (CESGRANRIO – CMB – ASSISTENTE TÉCNICO ADMINISTRA- (B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
TIVO – 2012) Algumas palavras são acentuadas com o objetivo ex- (C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
clusivo de distingui-las de outras. Uma palavra acentuada com esse (D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
objetivo é a seguinte: (E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.
(A) pôr.
8. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMAGEM
(B) ilhéu.
DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos sinais de
(C) sábio.
pontuação em:
(D) também.
(A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi-
(E) lâmpada.
dados e retirou-se da sala: era o final da reunião.
(B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra-
4. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a série
teiramente pela porta?
em que o hífen está corretamente empregado nas cinco palavras:
(C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se
(A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra- tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo.
-vermelho. (D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem mui-
(B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in- to branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os
fra-assinado. irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
(C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico. (E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arre-
(D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con- penderia. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria
trarregra. cuidado com as palavras, o que entretanto, não acontecia.
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
-mencionado. 9. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-
mente correta a pontuação do seguinte período:
5. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – 2003) (A) Os personagens principais de uma história, responsáveis
Indique o item em que todas as palavras estão corretamente em- pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
pregadas e grafadas. nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po- sem importância, ditam o rumo de toda a história.
der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de (B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
qualquer excesso e violência. pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata- providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem
mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem importância, ditam o rumo de toda a história.
suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo (C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
isso, num modo de intervenção específico. pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas
providências, que, tomadas por figurantes aparentemente,
sem importância, ditam o rumo de toda a história.

31
LÍNGUA PORTUGUESA
(D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis (C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas (D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem (E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
importância, ditam o rumo de toda a história.
(E) Os personagens principais de uma história, responsáveis, 16. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO –
pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de peque- 2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está cor-
nas providências, que tomadas por figurantes, aparentemente, reta.
sem importância, ditam o rumo de toda a história. (A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
(B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
10. (CONSULPLAN – ANALISTA DE INFORMÁTICA (SDS-SC) – (C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que
2008) A alternativa em que todas as palavras são formadas pelo 35% deles fosse despejado em aterros.
mesmo processo de formação é: (D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo.
(A) responsabilidade, musicalidade, defeituoso; (E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta
(B) cativeiro, incorruptíveis, desfazer; de lixo.
(C) deslealdade, colunista, incrível;
(D) anoitecer, festeiro, infeliz; 17. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012)
(E) reeducação, dignidade, enriquecer. Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as relações
de concordância no texto abaixo.
11. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – O bom desempenho do lado real da economia proporcionou
2010) No verso “Para desentristecer, leãozinho”, Caetano Veloso um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucra-
cria um neologismo. A opção que contém o processo de formação tividade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favo-
utilizado para formar a palavra nova e o tipo de derivação que a ráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, de-
palavra primitiva foi formada respectivamente é: flacionados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as
(A) derivação prefixal (des + entristecer); derivação parassinté- receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição
tica (en + trist + ecer); Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Finan-
(B) derivação sufixal (desentriste + cer); derivação imprópria ciamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de
(en + triste + cer); salários fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa
(C) derivação regressiva (des + entristecer); derivação parassin- Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência
tética (en + trist + ecer); social. Não menos relevantes foram os elevados ganhos de capital,
(D) derivação parassintética (en + trist + ecer); derivação prefi- responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF.
xal (des + entristecer); (A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de
(E) derivação prefixal (en + trist + ecer); derivação parassintéti- plural em “deflacionados”.
ca (des + entristecer). (B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural
em “Elevaram-se”.
12. (IMA – PREF. BOA HORA/PI – PROCURADOR MUNICIPAL – (C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as
2010) A palavra “Olhar” em (meu olhar) é um exemplo de palavra regras de concordância com “economia”.
formada por derivação: (D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de
(A) parassintética; singular em “fez aumentar”.
(B) prefixal; (E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância
(C) sufixal; com “relevantes”.
(D) imprópria;
(E) regressiva. 18. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL
– 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado corretamen-
13. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título do te por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é: (A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
(A) pronome; (B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
(B) adjetivo; (C) Pretendo viajar a Paraíba.
(C) advérbio; (D) Ele gosta de bife à cavalo.
(D) substantivo;
(E) preposição. 19. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração
“Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata-
14. Assinale a alternativa que apresenta a correta classificação que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se
morfológica do pronome “alguém” (l. 44). a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
(A) Pronome demonstrativo. locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser
(B) Pronome relativo. marcada com o acento, EXCETO em:
(C) Pronome possessivo. (A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
(D) Pronome pessoal.
(B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do
(E) Pronome indefinido.
eleitorado pelo resultado final.
(C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema.
15. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto, na
(D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolú-
oração “A abordagem social constitui-se em um processo de traba-
vel.
lho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos subli-
(E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sis-
nhados classificam-se, respectivamente, em
tema.
(A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
(B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.

32
LÍNGUA PORTUGUESA
20. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração (B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética ex-
e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um plicativa;
(a): (C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adver-
“A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças bial concessiva;
americanas, entre na fila.” (D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada
(A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e sindética adversativa;
subordinadas. (E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial con-
(B) Período, composto por três orações. cessiva.
(C) Oração, pois possui sentido completo.
(D) Período, pois é composto por frases e orações. 26. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No pe-
ríodo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve um
21. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS – governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar a
2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não dor- história.”, a oração sublinhada é classificada como:
miu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a segunda (A) coordenada assindética;
oração. (B) subordinada substantiva completiva nominal;
(A) Oração coordenada assindética aditiva. (C) subordinada substantiva objetiva indireta;
(B) Oração coordenada sindética aditiva. (D) subordinada substantiva apositiva.
(C) Oração coordenada sindética adversativa.
(D) Oração coordenada sindética explicativa. Leia o texto abaixo para responder a questão.
(E) Oração coordenada sindética alternativa. A lama que ainda suja o Brasil
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)
22. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) Leia
a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem fazer A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente as duas dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasilei-
orações. ra: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante de
(A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver- um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do Rio
sativa. Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de recu-
(B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva. peração efetivo para a área (apenas uma carta de intenções). Tam-
(C) Oração coordenada assindética e oração coordenada adi- pouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela
tiva. anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi a aplica-
(D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecu- ção da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há garantias de
tiva. que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu e a calha pro-
(E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver- funda e larga se transformou num córrego raso”, diz Malu Ribeiro,
bial consecutiva. coordenadora da rede de águas da Fundação SOS Mata Atlântica,
sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O volume de rejeitos
23. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999) Ana- se tornou uma bomba relógio na região.”
lise sintaticamente a oração em destaque: Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem riscos
“Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recompen- de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Segun-
sados” (Machado de Assis). do o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos 16
(A) oração subordinada substantiva completiva nominal. barragens de mineração em todo o País apresentam condições de
(B) oração subordinada adverbial causal. insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar ór-
(C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida. gãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
(D) oração coordenada sindética conclusiva. Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do
(E) oração coordenada sindética explicativa. senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo mar-
24. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – ADMI- co regulatório da mineração, por sua vez, também concede priori-
NISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de ser dade à ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos
um processo de observação cristalina para assumir um discurso de judiciais, o que não será interessante para o setor empresarial”, diz
políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou quase Maurício Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com
nada retratam as necessidades de populações distintas.”. o avanço dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
A oração grifada no trecho acima classifica-se como: FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+-
(A) subordinada substantiva predicativa; QUE+AINDA+SUJA+O+BRASIL
(B) subordinada adjetiva restritiva;
(C) subordinada substantiva subjetiva; 27. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido:
(D) subordinada substantiva objetiva direta; I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um
(E) subordinada adjetiva explicativa. fato.
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence ao
25. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009) No gênero textual editorial.
trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados são III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como: que se trata de uma reportagem.
“Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia, IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já
mas nunca à custa de nossos filhos...” se trata de um editorial.
(A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada sin-
dética adversativa;

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LÍNGUA PORTUGUESA
Analise as assertivas e responda: — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
(A) Somente a I é correta. Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é
(B) Somente a II é incorreta. que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo
(C) Somente a III é correta e acima…
(D) A III e IV são corretas. A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
28. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que
ainda suja o Brasil”: ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era
I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli-
no desenvolvimento do assunto. c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a
II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro- costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até
blemas no uso de conjunções e preposições. que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que
de palavras e da ordem sintática. a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para
IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da
temática e bom uso dos recursos coesivos. bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali,
alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha,
Analise as assertivas e responda: perguntou-lhe:
(A) Somente a I é correta. — Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da
(B) Somente a II é incorreta. baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que
(C) Somente a III é correta. vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para
(D) Somente a IV é correta. a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?
Vamos, diga lá.
Leia o texto abaixo para responder as questões. Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca-
beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
UM APÓLOGO — Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é
que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze
Machado de Assis.
como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam,
fico.
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
Contei esta história a um professor de melancolia, que me dis-
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrola-
se, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a
da, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
muita linha ordinária!
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está
29. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de Assis
com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as persona-
der na cabeça. gens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual, indique
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. a opção em que a fala não é compatível com a associação entre os
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem elementos dos textos:
o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora
que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pe-
daço ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su- (A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en-
balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02)
trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto… (B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06)
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que (C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en- e mando...” (L.14-15)
fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando (D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?
orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo;
os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando
isto uma cor poética. E dizia a agulha: abaixo e acima.” (L.25-26)

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LÍNGUA PORTUGUESA
(E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para (B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que
ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a
de costura. Faze como eu, que não abro caminho para nin- conhecida Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL).
guém. Onde me espetam, fico.” (L.40-41) (C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento
em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em
30. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar outros que se revela queda no desemprego e até se anuncia a am-
valores semânticos além da noção de dimensão, como afetividade, pliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta de
pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afirmar que novas fontes de petróleo.
os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas “unidi- (D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente,
nha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de: percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuí-
(A) dimensão e pejoratividade; da a Argentina (8,6%) e a alguns outros países com participação
(B) afetividade e intensidade; menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina.
(C) afetividade e dimensão; (E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia,
(D) intensidade e dimensão; com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro
(E) pejoratividade e afetividade. da América Latina, o organismo internacional está atribuindo
um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do
31. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co- que o do Brasil.
mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alterna-
tiva cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da expressi- 35. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS –
vidade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado. 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa ordem,
(A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa o seguinte par de palavras:
ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11) (A) estrondo – ruído;
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. (B) pescador – trabalhador;
Agulha não tem cabeça.” (L.06) (C) pista – aeroporto;
(C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um (D) piloto – comissário;
pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13) (E) aeronave – jatinho.
(D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi-
nária!” (L.43) 36. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?” PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma
(L.25) questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque
32. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de modo tem como antônimo:
metafórico, considerando as relações existentes em um ambiente (A) fortuna;
de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a uma ideia pre- (B) opulência;
sente no texto: (C) riqueza;
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação (D) escassez;
equânime em ambientes coletivos de trabalho; (E) abundância.
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
equânime em ambientes coletivos de trabalho; 37. (IF BAIANO - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO – IF-BA –
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho, 2019)
cada sujeito possui atribuições próprias. Acerca de seus conhecimentos em redação oficial, é correto
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente cole- afirmar que o vocativo adequado a um texto no padrão ofício desti-
tivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes do nado ao presidente do Congresso Nacional é
sujeito. (A) Senhor Presidente.
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho, (B) Excelentíssimo Senhor Presidente.
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais. (C) Presidente.
(D) Excelentíssimo Presidente.
33. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberda- (E) Excelentíssimo Senhor.
des ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase 38. (CÂMARA DE CABO DE SANTO AGOSTINHO - PE - AUXILIAR
acima, na ordem dada, as expressões: ADMINISTRATIVO - INSTITUTO AOCP - 2019 )
(A) a que – de que; Referente à aplicação de elementos de gramática à redação ofi-
(B) de que – com que; cial, os sinais de pontuação estão ligados à estrutura sintática e têm
(C) a cujas – de cujos; várias finalidades. Assinale a alternativa que apresenta a pontuação
(D) à que – em que; que pode ser utilizada em lugar da vírgula para dar ênfase ao que
(E) em que – aos quais. se quer dizer.
(A) Dois-pontos.
34. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008) (B) Ponto-e-vírgula.
Assinale o trecho que apresenta erro de regência. (C) Ponto-de-interrogação.
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de (D) Ponto-de-exclamação.
crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fe-
cha o ano de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a
maior taxa registrada na última década.

35
LÍNGUA PORTUGUESA
39. (UNIR - TÉCNICO DE LABORATÓRIO - ANÁLISES CLÍNICAS-
AOCP – 2018)  GABARITO
Pode-se dizer que redação oficial é a maneira pela qual o Poder Pú-
blico redige atos normativos e comunicações. Em relação à redação de do-
1 E
cumentos oficiais, julgue, como VERDADEIRO ou FALSO, os itens a seguir.
A língua tem por objetivo a comunicação. Alguns elementos 2 A
são necessários para a comunicação: a) emissor, b) receptor, c) con- 3 A
teúdo, d) código, e) meio de circulação, f) situação comunicativa.
Com relação à redação oficial, o emissor é o Serviço Público (Minis- 4 D
tério, Secretaria, Departamento, Divisão, Serviço, Seção). O assunto 5 B
é sempre referente às atribuições do órgão que comunica. O desti-
natário ou receptor dessa comunicação ou é o público, o conjunto 6 C
dos cidadãos, ou outro órgão público, do Executivo ou dos outros 7 B
Poderes da União.
( ) Certo 8 E
( ) Errado 9 A
10 A
40. (IF-SC - ASSISTENTE EM ADMINISTRAÇÃO- IF-SC - 2019 )
Determinadas palavras são frequentes na redação oficial. Con- 11 A
forme as regras do Acordo Ortográfico que entrou em vigor em 12 D
2009, assinale a opção CORRETA que contém apenas palavras gra-
fadas conforme o Acordo. 13 A
I. abaixo-assinado, Advocacia-Geral da União, antihigiênico, ca- 14 E
pitão de mar e guerra, capitão-tenente, vice-coordenador.
II. contra-almirante, co-obrigação, coocupante, decreto-lei, di- 15 B
retor-adjunto, diretor-executivo, diretor-geral, sócio-gerente. 16 E
III. diretor-presidente, editor-assistente, editor-chefe, ex-dire-
tor, general de brigada, general de exército, segundo-secretário. 17 A
IV. matéria-prima, ouvidor-geral, papel-moeda, pós-graduação, pós- 18 A
-operatório, pré-escolar, pré-natal, pré-vestibular; Secretaria-Geral.
19 D
V. primeira-dama, primeiro-ministro, primeiro-secretário, pró-
-ativo, Procurador-Geral, relator-geral, salário-família, Secretaria- 20 B
-Executiva, tenente-coronel. 21 C
Assinale a alternativa CORRETA: 22 C
(A) As afirmações I, II, III e V estão corretas. 23 E
(B) As afirmações II, III, IV e V estão corretas.
(C) As afirmações II, III e IV estão corretas. 24 A
(D) As afirmações I, II e IV estão corretas. 25 D
(E) As afirmações III, IV e V estão corretas.
26 B
41. ( PC-MG - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - FUMARC – 2018) 27 C
Na Redação Oficial, exige-se o uso do padrão formal da língua.
28 D
Portanto, são necessários conhecimentos linguísticos que funda-
mentem esses usos. 29 E
Analise o uso da vírgula nas seguintes frases do Texto 3:
30 D
1. Um crime bárbaro mobilizou a Polícia Militar na Região de
Venda Nova, em Belo Horizonte, ontem. 31 D
2. O rapaz, de 22 anos, se apresentou espontaneamente à 9ª 32 D
Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) e deu detalhes do crime.
3. Segundo a polícia, o jovem informou que tinha um relaciona- 33 A
mento difícil com a mãe e teria discutido com ela momentos antes 34 D
de desferir os golpes.
35 E
INDIQUE entre os parênteses a justificativa adequada para uso 36 D
da vírgula em cada frase.
( ) Para destacar deslocamento de termos. 37 B
( ) Para separar adjuntos adverbiais. 38 B
( ) Para indicar um aposto.
39 A
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é: 40 E
(A) 1 – 2 – 3. 41 C
(B) 2 – 1 – 3.
(C) 3 – 1 – 2.
(D) 3 – 2 – 1.

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
1. Ética e moral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Ética, princípios e valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Ética e democracia: exercício da cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
4. Ética e função pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 02
5. Ética no setor público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
6. Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União (Lei nº 8.112/1990): regime disciplinar, deveres e proibições, acumulação,
responsabilidade e penalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
7. Lei nº 8.429/1992 e alterações: disposições gerais; atos de improbidade administrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
8. Código de Ética dos Servidores do TJDFT (Resolução TJDFT nº 9/2019 e Portaria Conjunta nº 76/2020) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

ÉTICA E MORAL ÉTICA, PRINCÍPIOS E VALORES

São duas ciências de conhecimento que se diferenciam, no en- Princípios, Valores e Virtudes
tanto, tem muitas interligações entre elas. Princípios são preceitos, leis ou pressupostos considerados uni-
A moral se baseia em regras que fornecem uma certa previ- versais que definem as regras pela qual uma sociedade civilizada
são sobre os atos humanos. A moral estabelece regras que devem deve se orientar.
ser assumidas pelo homem, como uma maneira de garantia do seu Em qualquer lugar do mundo, princípios são incontestáveis,
bem viver. A moral garante uma identidade entre pessoas que po- pois, quando adotados não oferecem resistência alguma. Enten-
dem até não se conhecer, mas utilizam uma mesma refêrencia de de-se que a adoção desses princípios está em consonância com o
Moral entre elas. pensamento da sociedade e vale tanto para a elaboração da consti-
A Ética já é um estudo amplo do que é bem e do que é mal. tuição de um país quanto para acordos políticos entre as nações ou
O objetivo da ética é buscar justificativas para o cumprimento das estatutos de condomínio.
regras propostas pela Moral. É diferente da Moral, pois não estabe- O princípios se aplicam em todas as esferas, pessoa, profissio-
lece regras. A reflexão sobre os atos humanos é que caracterizam o nal e social, eis alguns exemplos: amor, felicidade, liberdade, paz e
ser humano ético. plenitude são exemplos de princípios considerados universais.
Ter Ética é fazer a coisa certa com base no motivo certo. Como cidadãos – pessoas e profissionais -, esses princípios fa-
Ter Ética é ter um comportamento que os outros julgam como zem parte da nossa existência e durante uma vida estaremos lutan-
correto. do para torná-los inabaláveis. Temos direito a todos eles, contudo,
A noção de Ética é, portanto, muito ampla e inclui vários princí- por razões diversas, eles não surgem de graça. A base dos nossos
pios básicos e transversais que são: princípios é construída no seio da família e, em muitos casos, eles
1. O da Integridade – Devemos agir com base em princípios e se perdem no meio do caminho.
valores e não em função do que é mais fácil ou do que nos trás mais De maneira geral, os princípios regem a nossa existência e são
benefícios comuns a todos os povos, culturas, eras e religiões, queiramos ou
2. O da Confiança/Credibilidade – Devemos agir com coerência não. Quem age diferente ou em desacordo com os princípios uni-
e consistência, quer na ação, quer na comunicação. versais acaba sendo punido pela sociedade e sofre todas as conse-
3. O da Responsabilidade – Devemos assumir a responsabilida- quências.
de pelos nossos atos, o que implica, cumprir com todos os nossos Valores são normas ou padrões sociais geralmente aceitos ou
deveres profissionais. mantidos por determinado indivíduo, classe ou sociedade, portan-
4. O de Justiça – As nossas decisões devem ser suportadas, to, em geral, dependem basicamente da cultura relacionada com o
transparentes e objetivas, tratando da mesma forma, aquilo que é ambiente onde estamos inseridos. É comum existir certa confusão
igual ou semelhante. entre valores e princípios, todavia, os conceitos e as aplicações são
5. O da Lealdade – Devemos agir com o mesmo espírito de leal- diferentes.
dade profissional e de transparência, que esperamos dos outros. Diferente dos princípios, os valores são pessoais, subjetivos e,
6. O da Competência – Devemos apenas aceitar as funções acima de tudo, contestáveis. O que vale para você não vale neces-
para as quais tenhamos os conhecimentos e a experiência que o sariamente para os demais colegas de trabalho. Sua aplicação pode
exercício dessas funções requer. ou não ser ética e depende muito do caráter ou da personalidade
7. O da Independência – Devemos assegurar, no exercício de da pessoa que os adota.
funções de interesse público, que as nossas opiniões, não são in- Na prática, é muito mais simples ater-se aos valores do que
fluenciadas, por fatores alheios a esse interesse público. aos princípios, pois este último exige muito de nós. Os valores com-
pletamente equivocados da nossa sociedade – dinheiro, sucesso,
Abaixo, alguns Desafios Éticos com que nos defrontamos dia- luxo e riqueza – estão na ordem do dia, infelizmente. Todos os dias
riamente: somos convidados a negligenciar os princípios e adotar os valores
1. Se não é proibido/ilegal, pode ser feito – É óbvio que, exis- ditados pela sociedade.
tem escolhas, que embora, não estando especificamente referidas, Virtudes, segundo o Aurélio, são disposições constantes do es-
na lei ou nas normas, como proibidas, não devem ser tomadas. pírito, as quais, por um esforço da vontade, inclinam à prática do
2. Todos os outros fazem isso – Ao longo da história da humani- bem. Aristóteles afirmava que há duas espécies de virtudes: a inte-
dade, o homem esforçou-se sempre, para legitimar o seu compor- lectual e a moral. A primeira deve, em grande parte, sua geração e
tamento, mesmo quando, utiliza técnicas eticamente reprováveis. crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e tempo; ao
passo que a virtude moral é adquirida com o resultado do hábito.
Nas organizações, é a ética no gerenciamento das informações Segundo Aristóteles, nenhuma das virtudes morais surge em
que vem causando grandes preocupações, devido às consequências nós por natureza, visto que nada que existe por natureza pode ser
que esse descuido pode gerar nas operações internas e externas. alterado pela força do hábito, portanto, virtudes nada mais são do
Pelo Código de Ética do Administrador capítulo I, art. 1°, inc. II, um que hábitos profundamente arraigados que se originam do meio
dos deveres é: “manter sigilo sobre tudo o que souber em função onde somos criados e condicionados através de exemplos e com-
de sua atividade profissional”, ou seja, a manutenção em segredo portamentos semelhantes.
de toda e qualquer informação que tenha valor para a organização Uma pessoa pode ter valores e não ter princípios. Hitler, por
é responsabilidade do profissional que teve acesso à essa informa- exemplo, conhecia os princípios, mas preferiu ignorá-los e adotar
ção, podendo esse profissional que ferir esse sigilo responder até valores como a supremacia da raça ariana, a aniquilação da oposi-
mesmo criminalmente. ção e a dominação pela força.
Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convic- No mundo corporativo não é diferente. Embora a convivência
ções. seja, por vezes, insuportável, deparamo-nos com profissionais que
atropelam os princípios, como se isso fosse algo natural, um meio
de sobrevivência, e adotam valores que nada tem a ver com duas

1
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
grandes necessidades corporativas: a convivência pacífica e o espí- EXERCÍCIO DA CIDADANIA
rito de equipe. Nesse caso, virtude é uma palavra que não faz parte Todo cidadão tem direito a exercer a cidadania, isto é, seus di-
do seu vocabulário e, apesar da falta de escrúpulo, leva tempo para reitos de cidadão; direitos esses que são garantidos constitucional-
destituí-los do poder. mente nos princípios fundamentais.
Valores e virtudes baseados em princípios universais são inego- Exercer os direitos de cidadão, na verdade, está vinculado a
ciáveis e, assim como a ética e a lealdade, ou você tem, ou não tem. exercer também os deveres de cidadão. Por exemplo, uma pessoa
Entretanto, conceitos como liberdade, felicidade ou riqueza não que deixa de votar não pode cobrar nada do governante que está
podem ser definidos com exatidão. Cada pessoa tem recordações, no poder, afinal ela se omitiu do dever de participar do processo de
experiências, imagens internas e sentimentos que dão um sentido escolha dessa pessoa, e com essa atitude abriu mão também dos
especial e particular a esses conceitos. seus direitos.
O importante é que você não perca de vista esses conceitos Direitos e deveres andam juntos no que tange ao exercício da
e tenha em mente que a sua contribuição, no universo pessoal e cidadania. Não se pode conceber um direito sem que antes este
profissional, depende da aplicação mais próxima possível do senso seja precedido de um dever a ser cumprido; é uma via de mão du-
de justiça. E a justiça é uma virtude tão difícil, e tão negligenciada, pla, seus direitos aumentam na mesma proporção de seus deveres
que a própria justiça sente dificuldades em aplicá-la, portanto, lute perante a sociedade.
pelos princípios que os valores e as virtudes fluirão naturalmente. Constitucionalmente, os direitos garantidos, tanto individuais
quanto coletivos, sociais ou políticos, são precedidos de responsa-
bilidades que o cidadão deve ter perante a sociedade. Por exemplo,
ÉTICA E DEMOCRACIA: EXERCÍCIO DA CIDADANIA a Constituição garante o direito à propriedade privada, mas exige-se
que o proprietário seja responsável pelos tributos que o exercício
desse direito gera, como o pagamento do IPTU.
ÉTICA E DEMOCRACIA Exercer a cidadania por consequência é também ser probo, agir
O Brasil ainda caminha a passos lentos no que diz respeito à com ética assumindo a responsabilidade que advém de seus deve-
ética, principalmente no cenário político que se revela a cada dia, res enquanto cidadão inserido no convívio social.
porém é inegável o fato de que realmente a moralidade tem avan-
çado.
Vários fatores contribuíram para a formação desse quadro caó-
tico. Entre eles os principais são os golpes de estados – Golpe de ÉTICA E FUNÇÃO PÚBLICA
1930 e Golpe de 1964.
Durante o período em que o país viveu uma ditadura militar e Função pública é a competência, atribuição ou encargo para o
a democracia foi colocada de lado, tivemos a suspensão do ensino
exercício de determinada função. Ressalta-se que essa função não
de filosofia e, consequentemente, de ética, nas escolas e universi-
é livre, devendo, portanto, estar o seu exercício sujeito ao interesse
dades. Aliados a isso tivemos os direitos políticos do cidadão sus-
público, da coletividade ou da Administração. Segundo Maria Sylvia
pensos, a liberdade de expressão caçada e o medo da repressão.
Z. Di Pietro, função “é o conjunto de atribuições às quais não corres-
Como consequência dessa série de medidas arbitrárias e auto-
ponde um cargo ou emprego”.
ritárias, nossos valores morais e sociais foram se perdendo, levando
No exercício das mais diversas funções públicas, os servidores,
a sociedade a uma “apatia” social, mantendo, assim, os valores que
além das normatizações vigentes nos órgão e entidades públicas
o Estado queria impor ao povo.
Nos dias atuais estamos presenciando uma “nova era” em nos- que regulamentam e determinam a forma de agir dos agentes pú-
so país no que tange à aplicabilidade das leis e da ética no poder: blicos, devem respeitar os valores éticos e morais que a sociedade
os crimes de corrupção e de desvio de dinheiro estão sendo mais impõe para o convívio em grupo. A não observação desses valores
investigados e a polícia tem trabalhado com mais liberdade de atua- acarreta uma série de erros e problemas no atendimento ao públi-
ção em prol da moralidade e do interesse público, o que tem levado co e aos usuários do serviço, o que contribui de forma significativa
os agentes públicos a refletir mais sobre seus atos antes de come- para uma imagem negativa do órgão e do serviço.
tê-los. Um dos fundamentos que precisa ser compreendido é o de que
Essa nova fase se deve principalmente à democracia implanta- o padrão ético dos servidores públicos no exercício de sua função
da como regime político com a Constituição de 1988. pública advém de sua natureza, ou seja, do caráter público e de sua
Etimologicamente, o termo democracia vem do grego de- relação com o público.
mokratía, em que demo significa povo e kratía, poder. Logo, a defi- O servidor deve estar atento a esse padrão não apenas no exer-
nição de democracia é “poder do povo”. cício de suas funções, mas 24 horas por dia durante toda a sua vida.
A democracia confere ao povo o poder de influenciar na ad- O caráter público do seu serviço deve se incorporar à sua vida priva-
ministração do Estado. Por meio do voto, o povo é que determina da, a fim de que os valores morais e a boa-fé, amparados constitu-
quem vai ocupar os cargos de direção do Estado. Logo, insere-se cionalmente como princípios básicos e essenciais a uma vida equili-
nesse contexto a responsabilidade tanto do povo, que escolhe seus brada, se insiram e seja uma constante em seu relacionamento com
dirigentes, quanto dos escolhidos, que deverão prestar contas de os colegas e com os usuários do serviço.
seus atos no poder. O Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Po-
A ética tem papel fundamental em todo esse processo, regula- der Executivo Federal estabelece no primeiro capítulo valores que
mentando e exigindo dos governantes o comportamento adequado vão muito além da legalidade.
à função pública que lhe foi confiada por meio do voto, e conferindo II – O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento
ao povo as noções e os valores necessários para o exercício de seus ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o
deveres e cobrança dos seus direitos. legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente,
E por meio dos valores éticos e morais – determinados pela o oportuno e o inoportuno, mas principalmente entre o honesto e
sociedade – que podemos perceber se os atos cometidos pelos o desonesto, consoante as regras contidas no art. 37, caput, e§ 4°,
ocupantes de cargos públicos estão visando ao bem comum ou ao da Constituição Federal.
interesse público.

2
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Cumprir as leis e ser ético em sua função pública. Se ele cum- titucional, a qual constitui um elemento capital e uma obrigação
prir a lei e for antiético, será considerada uma conduta ilegal, ou central para uma gestão pública que aspira à manutenção de com-
seja, para ser irrepreensível tem que ir além da legalidade. portamentos éticos;
– A formação em ética deve ser um ingrediente imprescindí-
Os princípios constitucionais devem ser observados para que vel nos planos de formação dos funcionários públicos. Ademais se
a função pública se integre de forma indissociável ao direito. Esses devem buscar fórmulas educativas que tornem possível que esta
princípios são: disciplina se incorpore nos programas docentes prévios ao acesso à
– Legalidade – todo ato administrativo deve seguir fielmente os função pública. Embora, deva estar presente na formação contínua
meandros da lei. do funcionário. No ensino da ética pública deve-se ter presente que
– Impessoalidade – aqui é aplicado como sinônimo de igualda- os conhecimentos teóricos de nada servem se não se interiorizam
de: todos devem ser tratados de forma igualitária e respeitando o na práxis do servidor público;
que a lei prevê. – O comportamento ético deve levar o funcionário público à
– Moralidade – respeito ao padrão moral para não comprome- busca das fórmulas mais eficientes e econômicas para levar a cabo
ter os bons costumes da sociedade. sua tarefa;
– Publicidade – refere-se à transparência de todo ato público, – A atuação pública deve estar guiada pelos princípios da igual-
salvo os casos previstos em lei. dade e não discriminação. Ademais a atuação de acordo com o in-
– Eficiência – ser o mais eficiente possível na utilização dos teresse público deve ser o “normal” sem que seja moral receber
meios que são postos a sua disposição para a execução do seu tra- retribuições diferentes da oficial que se recebe no organismo em
balho. que se trabalha;
– O funcionário deve atuar sempre como servidor público e
A GESTÃO PÚBLICA NA BUSCA DE UMA ATIVIDADE ADMINIS- não deve transmitir informação privilegiada ou confidencial. O fun-
TRATIVA ÉTICA cionário como qualquer outro profissional, deve guardar o sigilo de
Com a vigência da Carta Constitucional de 1988, a Administra- ofício;
ção Pública em nosso país passou a buscar uma gestão mais eficaz e – O interesse coletivo no Estado social e democrático de Direito
moralmente comprometida com o bem comum, ou seja, uma ges- existe para ofertar aos cidadãos um conjunto de condições que tor-
tão ajustada aos princípios constitucionais insculpidos no artigo 37 ne possível seu aperfeiçoamento integral e lhes permita um exer-
da Carta Magna. cício efetivo de todos os seus direitos fundamentais. Para tanto, os
Para isso a Administração Pública vem implementando políti- funcionários devem ser conscientes de sua função promocional dos
cas públicas com enfoque em uma gestão mais austera, com revisão poderes públicos e atuar em consequência disto. (tradução livre).”
de métodos e estruturas burocráticas de governabilidade.
Aliado a isto, temos presenciado uma nova gestão preocupada Por outro lado, a nova gestão pública procura colocar à dis-
com a preparação dos agentes públicos para uma prestação de ser- posição do cidadão instrumentos eficientes para possibilitar uma
viços eficientes que atendam ao interesse público, o que engloba fiscalização dos serviços prestados e das decisões tomadas pelos
uma postura governamental com tomada de decisões políticas res- governantes. As ouvidorias instituídas nos Órgãos da Administração
ponsáveis e práticas profissionais responsáveis por parte de todo o Pública direta e indireta, bem como junto aos Tribunais de Contas
funcionalismo público. e os sistemas de transparência pública que visam a prestar infor-
Neste sentido, Cristina Seijo Suárez e Noel Añez Tellería, em ar- mações aos cidadãos sobre a gestão pública são exemplos desses
tigo publicado pela URBE, descrevem os princípios da ética pública, instrumentos fiscalizatórios.
que, conforme afirmam, devem ser positivos e capazes de atrair ao Tais instrumentos têm possibilitado aos Órgãos Públicos res-
serviço público, pessoas capazes de desempenhar uma gestão vol- ponsáveis pela fiscalização e tutela da ética na Administração
tada ao coletivo. São os seguintes os princípios apresentados pelas apresentar resultados positivos no desempenho de suas funções,
autoras: cobrando atitudes coadunadas com a moralidade pública por parte
– Os processos seletivos para o ingresso na função pública de- dos agentes públicos. Ressaltando-se que, no sistema de controle
vem estar ancorados no princípio do mérito e da capacidade, e não atual, a sociedade tem acesso às informações acerca da má gestão
só o ingresso como carreira no âmbito da função pública; por parte de alguns agentes públicos ímprobos.
– A formação continuada que se deve proporcionar aos funcio- Entretanto, para que o sistema funcione de forma eficaz é ne-
nários públicos deve ser dirigida, entre outras coisas, para transmi- cessário despertar no cidadão uma consciência política alavancada
tir a ideia de que o trabalho a serviço do setor público deve realizar- pelo conhecimento de seus direitos e a busca da ampla democracia.
-se com perfeição, sobretudo porque se trata de trabalho realizado Tal objetivo somente será possível através de uma profunda
em benefícios de “outros”; mudança na educação, onde os princípios de democracia e as no-
– A chamada gestão de pessoal e as relações humanas na Ad- ções de ética e de cidadania sejam despertados desde a infância,
ministração Pública devem estar presididas pelo bom propósito e antes mesmo de o cidadão estar apto a assumir qualquer função
uma educação esmerada. O clima e o ambiente laboral devem ser pública ou atingir a plenitude de seus direitos políticos.
positivos e os funcionários devem se esforçar para viver no cotidia- Pode-se dizer que a atual Administração Pública está desper-
no esse espírito de serviço para a coletividade que justifica a própria tando para essa realidade, uma vez que tem investido fortemente
existência da Administração Pública; na preparação e aperfeiçoamento de seus agentes públicos para
– A atitude de serviço e interesse visando ao coletivo deve ser que os mesmos atuem dentro de princípios éticos e condizentes
o elemento mais importante da cultura administrativa. A mentali- com o interesse social.
dade e o talento se encontram na raiz de todas as considerações Além, dos investimentos em aprimoramento dos agentes pú-
sobre a ética pública e explicam por si mesmos, a importância do blicos, a Administração Pública passou a instituir códigos de ética
trabalho administrativo; para balizar a atuação de seus agentes. Dessa forma, a cobrança de
– Constitui um importante valor deontológico potencializar o um comportamento condizente com a moralidade administrativa é
orgulho são que provoca a identificação do funcionário com os fins mais eficaz e facilitada.
do organismo público no qual trabalha. Trata-se da lealdade ins-

3
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Outra forma eficiente de moralizar a atividade administrativa Não é à toa que as organizações estão exigindo habilidades
tem sido a aplicação da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº intelectuais e comportamentais dos seus profissionais, além de
8.429/92) e da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº apurada determinação estratégica. Entre outros requisitos, essas
101/00) pelo Poder Judiciário, onde o agente público que desvia sua habilidades incluem:
atividade dos princípios constitucionais a que está obrigado respon- - atualização constante;
de pelos seus atos, possibilitando à sociedade resgatar uma gestão - soluções inovadoras em resposta à velocidade das mudanças;
sem vícios e voltada ao seu objetivo maior que é o interesse social. - decisões criativas, diferenciadas e rápidas;
Assim sendo, pode-se dizer que a atual Administração Pública - flexibilidade para mudar hábitos de trabalho;
está caminhando no rumo de quebrar velhos paradigmas consubs- - liderança e aptidão para manter relações pessoais e profis-
tanciados em uma burocracia viciosa eivada de corrupção e desvio sionais;
de finalidade. Atualmente se está avançando para uma gestão pú- - habilidade para lidar com os usuários internos e externos.
blica comprometida com a ética e a eficiência.
Para isso, deve-se levar em conta os ensinamentos de Andrés Encerramos esse tópico com o trecho de um texto de Andrés
Sanz Mulas que em artigo publicado pela Escuela de Relaciones Sanz Mulas:
Laborales da Espanha, descreve algumas tarefas importantes que “Para desenhar uma ética das Administrações seria necessário
devem ser desenvolvidas para se possa atingir ética nas Adminis- realizar as seguintes tarefas, entre outras:
trações. - Definir claramente qual é o fim específico pelo qual se cobra
“Para desenhar uma ética das Administrações seria necessário a legitimidade social;
realizar as seguintes tarefas, entre outras: - Determinar os meios adequados para alcançar esse fim e
– Definir claramente qual é o fim específico pelo qual se cobra quais valores é preciso incorporar para alcançá-lo;
a legitimidade social; - Descobrir que hábitos a organização deve adquirir em seu
– Determinar os meios adequados para alcançar esse fim e conjunto e os membros que a compõem para incorporar esses va-
quais valores é preciso incorporar para alcançá-lo; lores e gerar, assim, um caráter que permita tomar decisões acerta-
– Descobrir que hábitos a organização deve adquirir em seu damente em relação à meta eleita;
conjunto e os membros que a compõem para incorporar esses va- - Ter em conta os valores da moral cívica da sociedade em que
lores e gerar, assim, um caráter que permita tomar decisões acerta- se está imerso;
damente em relação à meta eleita; - Conhecer quais são os direitos que a sociedade reconhece às
– Ter em conta os valores da moral cívica da sociedade em que pessoas.”
se está imerso;
– Conhecer quais são os direitos que a sociedade reconhece às Quando falamos sobre ética pública, logo pensamos em cor-
pessoas.” (tradução livre). rupção, extorsão, ineficiência, etc, mas na realidade o que devemos
ter como ponto de referência em relação ao serviço público, ou na
vida pública em geral, é que seja fixado um padrão a partir do qual
possamos, em seguida julgar a atuação dos servidores públicos ou
ÉTICA NO SETOR PÚBLICO daqueles que estiverem envolvidos na vida pública, entretanto não
basta que haja padrão, tão somente, é necessário que esse padrão
Dimensões da qualidade nos deveres dos servidores públicos seja ético, acima de tudo .
Os direitos e deveres dos servidores públicos estão descritos na O fundamento que precisa ser compreendido é que os padrões
Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990. éticos dos servidores públicos advêm de sua própria natureza, ou
Entre os deveres (art. 116), há dois que se encaixamno paradig- seja, de caráter público, e sua relação com o público. A questão da
ma do atendimentoe do relacionamento que tem como foco prin- ética pública está diretamente relacionada aos princípios funda-
cipal o usuário. mentais, sendo estes comparados ao que chamamos no Direito, de
São eles: “Norma Fundamental”, uma norma hipotética com premissas ideo-
- “atender com presteza ao público em geral, prestando as in- lógicas e que deve reger tudo mais o que estiver relacionado ao
formações requeridas” e comportamento do ser humano em seu meio social, aliás, podemos
- “tratar com urbanidade as pessoas”. invocar a Constituição Federal. Esta ampara os valores morais da
boa conduta, a boa fé acima de tudo, como princípios básicos e es-
Presteza e urbanidade nem sempre são fáceis de avaliar, uma senciais a uma vida equilibrada do cidadão na sociedade, lembran-
vez que não têm o mesmo sentido para todas as pessoas, como do inclusive o tão citado, pelos gregos antigos, “bem viver”.
demonstram as situações descritas a seguir. Outro ponto bastante controverso é a questão da impessoali-
• Serviços realizados em dois dias úteis, por exemplo, podem dade. Ao contrário do que muitos pensam, o funcionalismo público
não corresponder às reais necessidades dos usuários quanto ao e seus servidores devem primar pela questão da “impessoalidade”,
prazo. deixando claro que o termo é sinônimo de “igualdade”, esta sim é a
• Um atendimento cortês não significa oferecer ao usuário questão chave e que eleva o serviço público a níveis tão ineficazes,
aquilo que não se pode cumprir. Para minimizar as diferentes inter- não se preza pela igualdade. No ordenamento jurídico está claro e
pretações para esses procedimentos, uma das opções é a utilização expresso, “todos são iguais perante a lei”.
do bom senso: E também a ideia de impessoalidade, supõe uma distinção
• Quanto à presteza, o estabelecimento de prazos para a en- entre aquilo que é público e aquilo que é privada (no sentido do
trega dos serviços tanto para os usuários internos quanto para os interesse pessoal), que gera portanto o grande conflito entre os in-
externos pode ajudar a resolver algumas questões. teresses privados acima dos interesses públicos. Podemos verificar
• Quanto à urbanidade, é conveniente que a organização inclua abertamente nos meios de comunicação, seja pelo rádio, televisão,
tal valor entre aqueles que devem ser potencializados nos setores jornais e revistas, que este é um dos principais problemas que cer-
em que os profissionais que ali atuam ainda não se conscientizaram cam o setor público, afetando assim, a ética que deveria estar acima
sobre a importância desse dever. de seus interesses.

4
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Não podemos falar de ética, impessoalidade (sinônimo de TÍTULO I
igualdade), sem falar de moralidade. Esta também é um dos prin-
cipais valores que define a conduta ética, não só dos servidores CAPÍTULO ÚNICO
públicos, mas de qualquer indivíduo. Invocando novamente o or- DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
denamento jurídico podemos identificar que a falta de respeito ao
padrão moral, implica, portanto, numa violação dos direitos do ci- Art. 1oEsta Lei institui o Regime Jurídico dos Servidores Públi-
dadão, comprometendo inclusive, a existência dos valores dos bons cos Civis da União, das autarquias, inclusive as em regime especial,
costumes em uma sociedade. e das fundações públicas federais.
A falta de ética na Administração Publica encontra terreno fértil Art. 2oPara os efeitos desta Lei, servidor é a pessoa legalmente
para se reproduzir, pois o comportamento de autoridades públicas investida em cargo público.
está longe de se basearem em princípios éticos e isto ocorre devido Art. 3oCargo público é o conjunto de atribuições e responsabi-
a falta de preparo dos funcionários, cultura equivocada e especial- lidades previstas na estrutura organizacional que devem ser come-
mente, por falta de mecanismos de controle e responsabilização tidas a um servidor.
adequada dos atos antiéticos. Parágrafo único.Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasi-
A sociedade por sua vez, tem sua parcela de responsabilidade leiros, são criados por lei, com denominação própria e vencimento
nesta situação, pois não se mobilizam para exercer os seus direitos pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou
e impedir estes casos vergonhosos de abuso de poder por parte do em comissão.
Pode Público. Art. 4oÉ proibida a prestação de serviços gratuitos, salvo os ca-
sos previstos em lei.
Um dos motivos para esta falta de mobilização social se dá, de-
vido á falta de uma cultura cidadã, ou seja, a sociedade não exerce TÍTULO II
sua cidadania. A cidadania Segundo Milton Santos “é como uma lei”, DO PROVIMENTO, VACÂNCIA, REMOÇÃO, REDISTRIBUIÇÃO E
isto é, ela existe, mas precisa ser descoberta, aprendida, utilizada e SUBSTITUIÇÃO
reclamada e só evolui através de processos de luta. Essa evolução
surge quando o cidadão adquire esse status, ou seja, quando passa CAPÍTULO I
a ter direitos sociais. A luta por esses direitos garante um padrão de DO PROVIMENTO
vida mais decente. O Estado, por sua vez, tenta refrear os impulsos
sociais e desrespeitar os indivíduos, nessas situações a cidadania SEÇÃO I
deve se valer contra ele, e imperar através de cada pessoa. Porém DISPOSIÇÕES GERAIS
Milton Santos questiona se “há cidadão neste país”? Pois para ele
desde o nascimento as pessoas herdam de seus pais e ao longo da Art. 5oSão requisitos básicos para investidura em cargo públi-
vida e também da sociedade, conceitos morais que vão sendo con- co:
testados posteriormente com a formação de ideias de cada um, po- I - a nacionalidade brasileira;
rém a maioria das pessoas não sabe se são ou não cidadãos. II - o gozo dos direitos políticos;
A educação seria o mais forte instrumento na formação de ci- III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;
dadão consciente para a construção de um futuro melhor. IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;
No âmbito Administrativo, funcionários mal capacitados e V - a idade mínima de dezoito anos;
sem princípios éticos que convivem todos os dias com mandos e VI - aptidão física e mental.
desmandos, atos desonestos, corrupção e falta de ética tendem a § 1oAs atribuições do cargo podem justificar a exigência de ou-
assimilar por este rol “cultural” de aproveitamento em beneficio tros requisitos estabelecidos em lei.
próprio. § 2oÀs pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direi-
to de se inscrever em concurso público para provimento de cargo
cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são
portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por
REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS cento) das vagas oferecidas no concurso.
DA UNIÃO (LEI Nº 8.112/1990): REGIME DISCIPLINAR, § 3oAs universidades e instituições de pesquisa científica e
DEVERES E PROIBIÇÕES, ACUMULAÇÃO, RESPONSABI- tecnológica federais poderão prover seus cargos com professores,
LIDADE E PENALIDADES técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os
procedimentos desta Lei.(Incluído pela Lei nº 9.515, de 20.11.97)
LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEMBRO DE 1990 Art. 6oO provimento dos cargos públicos far-se-á mediante ato
da autoridade competente de cada Poder.
Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis Art. 7oA investidura em cargo público ocorrerá com a posse.
da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Art. 8oSão formas de provimento de cargo público:
I - nomeação;
PUBLICAÇÃO CONSOLIDADA DA LEI Nº 8.112, DE 11 DE DEZEM- II - promoção;
BRO DE 1990, DETERMINADA PELO ART.13 DA LEI Nº 9.527, DE 10 III - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
DE DEZEMBRO DE 1997. IV - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- V - readaptação;
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: VI - reversão;
VII - aproveitamento;
VIII - reintegração;
IX - recondução.

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
SEÇÃO II § 5oNo ato da posse, o servidor apresentará declaração de
DA NOMEAÇÃO bens e valores que constituem seu patrimônio e declaração quanto
ao exercício ou não de outro cargo, emprego ou função pública.
Art. 9oA nomeação far-se-á: § 6oSerá tornado sem efeito o ato de provimento se a posse
I - em caráter efetivo, quando se tratar de cargo isolado de pro- não ocorrer no prazo previsto no § 1o deste artigo.
vimento efetivo ou de carreira; Art. 14.A posse em cargo público dependerá de prévia inspeção
II - em comissão, inclusive na condição de interino, para cargos médica oficial.
de confiança vagos. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Parágrafo único.Só poderá ser empossado aquele que for julga-
Parágrafo único.O servidor ocupante de cargo em comissão ou do apto física e mentalmente para o exercício do cargo.
de natureza especial poderá ser nomeado para ter exercício, inte- Art. 15.Exercício é o efetivo desempenho das atribuições do
rinamente, em outro cargo de confiança, sem prejuízo das atribui- cargo público ou da função de confiança. (Redação dada pela Lei nº
ções do que atualmente ocupa, hipótese em que deverá optar pela 9.527, de 10.12.97)
remuneração de um deles durante o período da interinidade.(Reda- § 1oÉ de quinze dias o prazo para o servidor empossado em
ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) cargo público entrar em exercício, contados da data da posse. (Re-
Art. 10.A nomeação para cargo de carreira ou cargo isolado dação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
de provimento efetivo depende de prévia habilitação em concurso § 2oO servidor será exonerado do cargo ou será tornado sem
público de provas ou de provas e títulos, obedecidos a ordem de efeito o ato de sua designação para função de confiança, se não
classificação e o prazo de sua validade. entrar em exercício nos prazos previstos neste artigo, observado o
Parágrafo único.Os demais requisitos para o ingresso e o de- disposto no art. 18. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
senvolvimento do servidor na carreira, mediante promoção, serão § 3oÀ autoridade competente do órgão ou entidade para onde
estabelecidos pela lei que fixar as diretrizes do sistema de carreira for nomeado ou designado o servidor compete dar-lhe exercício.
na Administração Pública Federal e seus regulamentos. (Redação (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) § 4oO início do exercício de função de confiança coincidirá com
a data de publicação do ato de designação, salvo quando o servi-
SEÇÃO III dor estiver em licença ou afastado por qualquer outro motivo le-
DO CONCURSO PÚBLICO gal, hipótese em que recairá no primeiro dia útil após o término do
impedimento, que não poderá exceder a trinta dias da publicação.
Art. 11.O concurso será de provas ou de provas e títulos, po- (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
dendo ser realizado em duas etapas, conforme dispuserem a lei e o Art. 16.O início, a suspensão, a interrupção e o reinício do exer-
regulamento do respectivo plano de carreira, condicionada a inscri- cício serão registrados no assentamento individual do servidor.
ção do candidato ao pagamento do valor fixado no edital, quando Parágrafo único.Ao entrar em exercício, o servidor apresenta-
indispensável ao seu custeio, e ressalvadas as hipóteses de isenção rá ao órgão competente os elementos necessários ao seu assenta-
nele expressamente previstas. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de mento individual.
10.12.97) (Regulamento) Art. 17.A promoção não interrompe o tempo de exercício, que
Art. 12.O concurso público terá validade de até 2 (dois ) anos, é contado no novo posicionamento na carreira a partir da data de
podendo ser prorrogado uma única vez, por igual período. publicação do ato que promover o servidor. (Redação dada pela Lei
§ 1oO prazo de validade do concurso e as condições de sua rea- nº 9.527, de 10.12.97)
lização serão fixados em edital, que será publicado no Diário Oficial Art. 18.O servidor que deva ter exercício em outro município
da União e em jornal diário de grande circulação. em razão de ter sido removido, redistribuído, requisitado, cedido ou
§ 2oNão se abrirá novo concurso enquanto houver candidato posto em exercício provisório terá, no mínimo, dez e, no máximo,
aprovado em concurso anterior com prazo de validade não expi- trinta dias de prazo, contados da publicação do ato, para a retoma-
rado. da do efetivo desempenho das atribuições do cargo, incluído nesse
prazo o tempo necessário para o deslocamento para a nova sede.
SEÇÃO IV (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
DA POSSE E DO EXERCÍCIO § 1oNa hipótese de o servidor encontrar-se em licença ou afas-
tado legalmente, o prazo a que se refere este artigo será contado a
Art. 13.A posse dar-se-á pela assinatura do respectivo termo, partir do término do impedimento. (Parágrafo renumerado e alte-
no qual deverão constar as atribuições, os deveres, as responsabi- rado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
lidades e os direitos inerentes ao cargo ocupado, que não poderão § 2oÉ facultado ao servidor declinar dos prazos estabelecidos
ser alterados unilateralmente, por qualquer das partes, ressalvados no caput. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
os atos de ofício previstos em lei. Art. 19.Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em
§ 1oA posse ocorrerá no prazo de trinta dias contados da pu- razão das atribuições pertinentes aos respectivos cargos, respeitada
blicação do ato de provimento. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de a duração máxima do trabalho semanal de quarenta horas e obser-
10.12.97) vados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito horas diárias,
§ 2oEm se tratando de servidor, que esteja na data de publi- respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)
cação do ato de provimento, em licença prevista nos incisos I, III § 1oO ocupante de cargo em comissão ou função de confiança
e V do art. 81, ou afastado nas hipóteses dos incisos I, IV, VI, VIII, submete-se a regime de integral dedicação ao serviço, observado o
alíneas “a”, “b”, “d”, “e” e “f”, IX e X do art. 102, o prazo será contado disposto no art. 120, podendo ser convocado sempre que houver
do término do impedimento. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de interesse da Administração. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de
10.12.97)
10.12.97)
§ 2oO disposto neste artigo não se aplica a duração de traba-
§ 3oA posse poderá dar-se mediante procuração específica.
lho estabelecida em leis especiais.(Incluído pela Lei nº 8.270, de
§ 4oSó haverá posse nos casos de provimento de cargo por no-
17.12.91)
meação. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)

6
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Art. 20.Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para cargo § 2oA readaptação será efetivada em cargo de atribuições
de provimento efetivo ficará sujeito a estágio probatório por pe- afins, respeitada a habilitação exigida, nível de escolaridade e equi-
ríodo de 24 (vinte e quatro) meses, durante o qual a sua aptidão e valência de vencimentos e, na hipótese de inexistência de cargo
capacidade serão objeto de avaliação para o desempenho do cargo, vago, o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a
observados os seguinte fatores: (vide EMC nº 19) ocorrência de vaga. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
I - assiduidade;
II - disciplina; SEÇÃO VIII
III - capacidade de iniciativa; DA REVERSÃO
IV - produtividade; (REGULAMENTO DEC. Nº 3.644, DE 30.11.2000)
V- responsabilidade.
§ 1o4 (quatro) meses antes de findo o período do estágio pro- Art. 25.Reversão é o retorno à atividade de servidor aposenta-
batório, será submetida à homologação da autoridade competen- do: (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
te a avaliação do desempenho do servidor, realizada por comissão I - por invalidez, quando junta médica oficial declarar insubsis-
constituída para essa finalidade, de acordo com o que dispuser a lei tentes os motivos da aposentadoria; ou (Incluído pela Medida Pro-
ou o regulamento da respectiva carreira ou cargo, sem prejuízo da visória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
continuidade de apuração dos fatores enumerados nos incisos I a V II - no interesse da administração, desde que: (Incluído pela
do caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 11.784, de 2008 Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
§ 2oO servidor não aprovado no estágio probatório será exone- a) tenha solicitado a reversão; (Incluído pela Medida Provisória
rado ou, se estável, reconduzido ao cargo anteriormente ocupado, nº 2.225-45, de 4.9.2001)
observado o disposto no parágrafo único do art. 29. b) a aposentadoria tenha sido voluntária; (Incluído pela Medi-
§ 3oO servidor em estágio probatório poderá exercer quais- da Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
quer cargos de provimento em comissão ou funções de direção, c) estável quando na atividade; (Incluído pela Medida Provisó-
chefia ou assessoramento no órgão ou entidade de lotação, e so- ria nº 2.225-45, de 4.9.2001)
mente poderá ser cedido a outro órgão ou entidade para ocupar d) a aposentadoria tenha ocorrido nos cinco anos anterio-
cargos de Natureza Especial, cargos de provimento em comissão do res à solicitação;(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
Grupo-Direção e Assessoramento Superiores - DAS, de níveis 6, 5 e 4.9.2001)
4, ou equivalentes. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) e) haja cargo vago. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-
§ 4oAo servidor em estágio probatório somente poderão ser 45, de 4.9.2001)
concedidas as licenças e os afastamentos previstos nos arts. 81, § 1oA reversão far-se-á no mesmo cargo ou no cargo resultante
incisos I a IV, 94, 95 e 96, bem assim afastamento para participar de sua transformação. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-
de curso de formação decorrente de aprovação em concurso para 45, de 4.9.2001)
outro cargo na Administração Pública Federal. (Incluído pela Lei nº § 2oO tempo em que o servidor estiver em exercício será con-
9.527, de 10.12.97) siderado para concessão da aposentadoria. (Incluído pela Medida
§ 5oO estágio probatório ficará suspenso durante as licenças e Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
os afastamentos previstos nos arts. 83, 84, § 1o, 86 e 96, bem assim § 3oNo caso do inciso I, encontrando-se provido o cargo, o ser-
na hipótese de participação em curso de formação, e será retoma- vidor exercerá suas atribuições como excedente, até a ocorrência
do a partir do término do impedimento. (Incluído pela Lei nº 9.527, de vaga. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
de 10.12.97) § 4oO servidor que retornar à atividade por interesse da admi-
nistração perceberá, em substituição aos proventos da aposenta-
SEÇÃO V doria, a remuneração do cargo que voltar a exercer, inclusive com
DA ESTABILIDADE as vantagens de natureza pessoal que percebia anteriormente à
aposentadoria. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
Art. 21.O servidor habilitado em concurso público e empossa- 4.9.2001)
do em cargo de provimento efetivo adquirirá estabilidade no servi- § 5oO servidor de que trata o inciso II somente terá os pro-
ço público ao completar 2 (dois) anos de efetivo exercício. (prazo 3 ventos calculados com base nas regras atuais se permanecer pelo
anos - vide EMC nº 19) menos cinco anos no cargo. (Incluído pela Medida Provisória nº
Art. 22.O servidor estável só perderá o cargo em virtude de 2.225-45, de 4.9.2001)
sentença judicial transitada em julgado ou de processo administra- § 6oO Poder Executivo regulamentará o disposto neste artigo.
tivo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
Art. 26. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
SEÇÃO VI 4.9.2001)
DA TRANSFERÊNCIA Art. 27.Não poderá reverter o aposentado que já tiver comple-
tado 70 (setenta) anos de idade.
Art. 23. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
SEÇÃO IX
SEÇÃO VII DA REINTEGRAÇÃO
DA READAPTAÇÃO
Art. 28.A reintegração é a reinvestidura do servidor estável no
Art. 24.Readaptação é a investidura do servidor em cargo de cargo anteriormente ocupado, ou no cargo resultante de sua trans-
atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que formação, quando invalidada a sua demissão por decisão adminis-
tenha sofrido em sua capacidade física ou mental verificada em ins- trativa ou judicial, com ressarcimento de todas as vantagens.
peção médica. § 1oNa hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor ficará
§ 1oSe julgado incapaz para o serviço público, o readaptando em disponibilidade, observado o disposto nos arts. 30 e 31.
será aposentado.

7
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 2oEncontrando-se provido o cargo, o seu eventual ocupante CAPÍTULO III
será reconduzido ao cargo de origem, sem direito à indenização ou DA REMOÇÃO E DA REDISTRIBUIÇÃO
aproveitado em outro cargo, ou, ainda, posto em disponibilidade.
SEÇÃO I
SEÇÃO X DA REMOÇÃO
DA RECONDUÇÃO
Art. 36.Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de
Art. 29.Recondução é o retorno do servidor estável ao cargo ofício, no âmbito do mesmo quadro, com ou sem mudança de sede.
anteriormente ocupado e decorrerá de: Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo; por modalidades de remoção:(Redação dada pela Lei nº 9.527, de
II - reintegração do anterior ocupante. 10.12.97)
Parágrafo único.Encontrando-se provido o cargo de origem, o I - de ofício, no interesse da Administração;(Incluído pela Lei nº
servidor será aproveitado em outro, observado o disposto no art. 9.527, de 10.12.97)
30. II - a pedido, a critério da Administração;(Incluído pela Lei nº
9.527, de 10.12.97)
SEÇÃO XI III -a pedido, para outra localidade, independentemente do in-
DA DISPONIBILIDADE E DO APROVEITAMENTO teresse da Administração:(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servi-
Art. 30.O retorno à atividade de servidor em disponibilidade dor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da União, dos
far-se-á mediante aproveitamento obrigatório em cargo de atribui- Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no
ções e vencimentos compatíveis com o anteriormente ocupado. interesse da Administração;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 31.O órgão Central do Sistema de Pessoal Civil determina- b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro
rá o imediato aproveitamento de servidor em disponibilidade em ou dependente que viva às suas expensas e conste do seu assen-
vaga que vier a ocorrer nos órgãos ou entidades da Administração tamento funcional, condicionada à comprovação por junta médica
Pública Federal. oficial;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Parágrafo único.Na hipótese prevista no § 3o do art. 37, o servi- c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em
dor posto em disponibilidade poderá ser mantido sob responsabili- que o número de interessados for superior ao número de vagas, de
acordo com normas preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que
dade do órgão central do Sistema de Pessoal Civil da Administração
aqueles estejam lotados.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Federal - SIPEC, até o seu adequado aproveitamento em outro ór-
gão ou entidade. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
SEÇÃO II
Art. 32.Será tornado sem efeito o aproveitamento e cassada a
DA REDISTRIBUIÇÃO
disponibilidade se o servidor não entrar em exercício no prazo legal,
salvo doença comprovada por junta médica oficial.
Art. 37.Redistribuição é o deslocamento de cargo de provimen-
to efetivo, ocupado ou vago no âmbito do quadro geral de pessoal,
CAPÍTULO II para outro órgão ou entidade do mesmo Poder, com prévia apre-
DA VACÂNCIA ciação do órgão central do SIPEC,observados os seguintes precei-
tos:(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 33.A vacância do cargo público decorrerá de: I - interesse da administração;(Incluído pela Lei nº 9.527, de
I - exoneração; 10.12.97)
II - demissão; II - equivalência de vencimentos; (Incluído pela Lei nº 9.527,
III - promoção; de 10.12.97)
IV - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) III - manutenção da essência das atribuições do cargo; (Incluído
V - (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
VI - readaptação; IV - vinculação entre os graus de responsabilidade e complexi-
VII - aposentadoria; dade das atividades;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
VIII - posse em outro cargo inacumulável; V - mesmo nível de escolaridade, especialidade ou habilitação
IX - falecimento. profissional;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 34.A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do ser- VI - compatibilidade entre as atribuições do cargo e as finalida-
vidor, ou de ofício. des institucionais do órgão ou entidade.(Incluído pela Lei nº 9.527,
Parágrafo único.A exoneração de ofício dar-se-á: de 10.12.97)
I - quando não satisfeitas as condições do estágio probatório; § 1oA redistribuição ocorrerá ex officio para ajustamento de
II - quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em lotação e da força de trabalho às necessidades dos serviços, inclu-
exercício no prazo estabelecido. sive nos casos de reorganização, extinção ou criação de órgão ou
Art. 35.A exoneração de cargo em comissão e a dispensa de entidade.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
função de confiança dar-se-á:(Redação dada pela Lei nº 9.527, de § 2oA redistribuição de cargos efetivos vagos se dará mediante
10.12.97) ato conjunto entre o órgão central do SIPEC e os órgãos e entidades
I - a juízo da autoridade competente; da Administração Pública Federal envolvidos.(Incluído pela Lei nº
II - a pedido do próprio servidor. 9.527, de 10.12.97)
Parágrafo único.(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) § 3oNos casos de reorganização ou extinção de órgão ou en-
tidade, extinto o cargo ou declarada sua desnecessidade no órgão
ou entidade, o servidor estável que não for redistribuído será co-
locado em disponibilidade, até seu aproveitamento na forma dos
arts. 30 e 31.(Parágrafo renumerado e alterado pela Lei nº 9.527,
de 10.12.97)

8
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 4oO servidor que não for redistribuído ou colocado em dispo- Art. 43.(Revogado pela Lei nº 9.624, de 2.4.98)(Vide Lei nº
nibilidade poderá ser mantido sob responsabilidade do órgão cen- 9.624, de 2.4.98)
tral do SIPEC, e ter exercício provisório, em outro órgão ou entida- Art. 44.O servidor perderá:
de, até seu adequado aproveitamento.(Incluído pela Lei nº 9.527, I - a remuneração do dia em que faltar ao serviço, sem motivo
de 10.12.97) justificado;(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
II - a parcela de remuneração diária, proporcional aos atrasos,
CAPÍTULO IV ausências justificadas, ressalvadas as concessões de que trata o art.
DA SUBSTITUIÇÃO 97, e saídas antecipadas, salvo na hipótese de compensação de ho-
rário, até o mês subseqüente ao da ocorrência, a ser estabelecida
Art. 38.Os servidores investidos em cargo ou função de direção pela chefia imediata.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
ou chefia e os ocupantes de cargo de Natureza Especial terão subs- Parágrafo único.As faltas justificadas decorrentes de caso for-
titutos indicados no regimento interno ou, no caso de omissão, pre- tuito ou de força maior poderão ser compensadas a critério da
viamente designados pelo dirigente máximo do órgão ou entidade. chefia imediata, sendo assim consideradas como efetivo exercício.
(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 1oO substituto assumirá automática e cumulativamente, Art. 45.Salvo por imposição legal, ou mandado judicial, ne-
sem prejuízo do cargo que ocupa, o exercício do cargo ou função nhum desconto incidirá sobre a remuneração ou provento.(Vide
de direção ou chefia e os de Natureza Especial, nos afastamentos, Decreto nº 1.502, de 1995)(Vide Decreto nº 1.903, de 1996)(Vide
impedimentos legais ou regulamentares do titular e na vacância do Decreto nº 2.065, de 1996)(Regulamento)(Regulamento)
cargo, hipóteses em que deverá optar pela remuneração de um de- § 1oMediante autorização do servidor, poderá haver consig-
les durante o respectivo período. (Redação dada pela Lei nº 9.527, nação em folha de pagamento em favor de terceiros, a critério da
de 10.12.97) administração e com reposição de custos, na forma definida em re-
§ 2oO substituto fará jus à retribuição pelo exercício do cargo gulamento.(Redação dada pela Lei nº 13.172, de 2015)
ou função de direção ou chefia ou de cargo de Natureza Especial, § 2o O total de consignações facultativas de que trata o § 1o
nos casos dos afastamentos ou impedimentos legais do titular, su- não excederá a 35% (trinta e cinco por cento) da remuneração men-
periores a trinta dias consecutivos, paga na proporção dos dias de sal, sendo 5% (cinco por cento) reservados exclusivamente para:
efetiva substituição, que excederem o referido período. (Redação (Redação dada pela Lei nº 13.172, de 2015) (Vide Lei nº 14.131, de
dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) 2021)
Art. 39.O disposto no artigo anterior aplica-se aos titulares de I - a amortização de despesas contraídas por meio de cartão de
unidades administrativas organizadas em nível de assessoria. crédito; ou(Incluído pela Lei nº 13.172, de 2015)
II - a utilização com a finalidade de saque por meio do cartão de
TÍTULO III crédito.(Incluído pela Lei nº 13.172, de 2015)
DOS DIREITOS E VANTAGENS Art. 46.As reposições e indenizações ao erário, atualizadas até
30 de junho de 1994, serão previamente comunicadas ao servidor
CAPÍTULO I ativo, aposentado ou ao pensionista, para pagamento, no prazo má-
DO VENCIMENTO E DA REMUNERAÇÃO ximo de trinta dias, podendo ser parceladas, a pedido do interessa-
do.(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
Art. 40.Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício de § 1oO valor de cada parcela não poderá ser inferior ao corres-
cargo público, com valor fixado em lei. pondente a dez por cento da remuneração, provento ou pensão.
Parágrafo único.(Revogado pela Medida Provisória nº 431, de (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
2008).(Revogado pela Lei nº 11.784, de 2008) § 2oQuando o pagamento indevido houver ocorrido no mês
Art. 41.Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acres- anterior ao do processamento da folha, a reposição será feita ime-
cido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. diatamente, em uma única parcela.(Redação dada pela Medida Pro-
§ 1oA remuneração do servidor investido em função ou cargo visória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
em comissão será paga na forma prevista no art. 62. § 3oNa hipótese de valores recebidos em decorrência de cum-
§ 2oO servidor investido em cargo em comissão de órgão ou primento a decisão liminar, a tutela antecipada ou a sentença que
entidade diversa da de sua lotação receberá a remuneração de venha a ser revogada ou rescindida, serão eles atualizados até a
acordo com o estabelecido no § 1o do art. 93. data da reposição.(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-
§ 3oO vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens de 45, de 4.9.2001)
caráter permanente, é irredutível. Art. 47.O servidor em débito com o erário, que for demitido,
§ 4oÉ assegurada a isonomia de vencimentos para cargos de exonerado ou que tiver sua aposentadoria ou disponibilidade cas-
atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder, ou entre ser- sada, terá o prazo de sessenta dias para quitar o débito.(Redação
vidores dos três Poderes, ressalvadas as vantagens de caráter indi- dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
vidual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho. Parágrafo único.A não quitação do débito no prazo previsto
§ 5oNenhum servidor receberá remuneração inferior ao salário implicará sua inscrição em dívida ativa(Redação dada pela Medida
mínimo.(Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008 Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)
Art. 42.Nenhum servidor poderá perceber, mensalmente, a Art. 48.O vencimento, a remuneração e o provento não serão
título de remuneração, importância superior à soma dos valores objeto de arresto, seqüestro ou penhora, exceto nos casos de pres-
percebidos como remuneração, em espécie, a qualquer título, no tação de alimentos resultante de decisão judicial.
âmbito dos respectivos Poderes, pelos Ministros de Estado, por
membros do Congresso Nacional e Ministros do Supremo Tribunal CAPÍTULO II
Federal. DAS VANTAGENS
Parágrafo único.Excluem-se do teto de remuneração as vanta-
gens previstas nos incisos II a VII do art. 61. Art. 49.Além do vencimento, poderão ser pagas ao servidor as
seguintes vantagens:

9
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
I - indenizações; as parcelas de despesas extraordinária com pousada, alimentação
II - gratificações; e locomoção urbana, conforme dispuser em regulamento.(Redação
III - adicionais. dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 1oAs indenizações não se incorporam ao vencimento ou pro- § 1oA diária será concedida por dia de afastamento, sendo de-
vento para qualquer efeito. vida pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora
§ 2oAs gratificações e os adicionais incorporam-se ao venci- da sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despe-
mento ou provento, nos casos e condições indicados em lei. sas extraordinárias cobertas por diárias.(Redação dada pela Lei nº
Art. 50.As vantagens pecuniárias não serão computadas, nem 9.527, de 10.12.97)
acumuladas, para efeito de concessão de quaisquer outros acrés- § 2oNos casos em que o deslocamento da sede constituir exi-
cimos pecuniários ulteriores, sob o mesmo título ou idêntico fun- gência permanente do cargo, o servidor não fará jus a diárias.
damento. § 3oTambém não fará jus a diárias o servidor que se deslocar
dentro da mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou
SEÇÃO I microrregião, constituídas por municípios limítrofes e regularmente
DAS INDENIZAÇÕES instituídas, ou em áreas de controle integrado mantidas com países
limítrofes, cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e
Art. 51.Constituem indenizações ao servidor: servidores brasileiros considera-se estendida, salvo se houver per-
I - ajuda de custo; noite fora da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre
II - diárias; as fixadas para os afastamentos dentro do território nacional. (In-
III - transporte. cluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
IV - auxílio-moradia.(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006) Art. 59.O servidor que receber diárias e não se afastar da sede,
Art. 52.Os valores das indenizações estabelecidas nos incisos I a por qualquer motivo, fica obrigado a restituí-las integralmente, no
III do art. 51, assim como as condições para a sua concessão, serão prazo de 5 (cinco) dias.
estabelecidos em regulamento. (Redação dada pela Lei nº 11.355, Parágrafo único.Na hipótese de o servidor retornar à sede em
de 2006) prazo menor do que o previsto para o seu afastamento, restituirá as
diárias recebidas em excesso, no prazo previsto no caput.
SUBSEÇÃO I
DA AJUDA DE CUSTO SUBSEÇÃO III
DA INDENIZAÇÃO DE TRANSPORTE
Art. 53.A ajuda de custo destina-se a compensar as despesas
de instalação do servidor que, no interesse do serviço, passar a ter Art. 60.Conceder-se-á indenização de transporte ao servidor
exercício em nova sede, com mudança de domicílio em caráter per- que realizar despesas com a utilização de meio próprio de locomo-
manente, vedado o duplo pagamento de indenização, a qualquer ção para a execução de serviços externos, por força das atribuições
tempo, no caso de o cônjuge ou companheiro que detenha também próprias do cargo, conforme se dispuser em regulamento.
a condição de servidor, vier a ter exercício na mesma sede. (Reda-
ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) SUBSEÇÃO IV
§ 1oCorrem por conta da administração as despesas de trans- DO AUXÍLIO-MORADIA
porte do servidor e de sua família, compreendendo passagem, ba- (INCLUÍDO PELA LEI Nº 11.355, DE 2006)
gagem e bens pessoais.
§ 2oÀ família do servidor que falecer na nova sede são asse- Art. 60-A.O auxílio-moradia consiste no ressarcimento das des-
gurados ajuda de custo e transporte para a localidade de origem, pesas comprovadamente realizadas pelo servidor com aluguel de
dentro do prazo de 1 (um) ano, contado do óbito. moradia ou com meio de hospedagem administrado por empresa
§ 3oNão será concedida ajuda de custo nas hipóteses de re- hoteleira, no prazo de um mês após a comprovação da despesa pelo
servidor.(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
moção previstas nos incisos II e III do parágrafo único do art. 36.
Art. 60-B.Conceder-se-á auxílio-moradia ao servidor se atendi-
(Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014)
dos os seguintes requisitos:(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
Art. 54.A ajuda de custo é calculada sobre a remuneração do
I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servi-
servidor, conforme se dispuser em regulamento, não podendo ex-
dor;(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
ceder a importância correspondente a 3 (três) meses.
II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel
Art. 55.Não será concedida ajuda de custo ao servidor que se
funcional;(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
afastar do cargo, ou reassumi-lo, em virtude de mandato eletivo.
III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou te-
Art. 56.Será concedida ajuda de custo àquele que, não sendo nha sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promi-
servidor da União, for nomeado para cargo em comissão, com mu- tente cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo,
dança de domicílio. incluída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção,
Parágrafo único.No afastamento previsto no inciso I do art. 93, nos doze meses que antecederem a sua nomeação;(Incluído pela
a ajuda de custo será paga pelo órgão cessionário, quando cabível. Lei nº 11.355, de 2006)
Art. 57.O servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba
quando, injustificadamente, não se apresentar na nova sede no pra- auxílio-moradia;(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
zo de 30 (trinta) dias. V - o servidor tenha se mudado do local de residência para ocupar
cargo em comissão ou função de confiança do Grupo-Direção e Asses-
SUBSEÇÃO II soramento Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de Natureza Especial, de Mi-
DAS DIÁRIAS nistro de Estado ou equivalentes(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006)
VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão ou fun-
Art. 58.O servidor que, a serviço, afastar-se da sede em caráter ção de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, § 3o,
eventual ou transitório para outro ponto do território nacional ou em relação ao local de residência ou domicílio do servidor;(Incluído
para o exterior, fará jus a passagens e diárias destinadas a indenizar pela Lei nº 11.355, de 2006)

10
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido Art. 62-A. Fica transformada em Vantagem Pessoal Nominal-
no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo mente Identificada - VPNI a incorporação da retribuição pelo exer-
em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo in- cício de função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de pro-
ferior a sessenta dias dentro desse período; e(Incluído pela Lei nº vimento em comissão ou de Natureza Especial a que se referem os
11.355, de 2006) arts. 3o e 10 da Lei no 8.911, de 11 de julho de 1994, e o art. 3o da
VIII - o deslocamento não tenha sido por força de alteração Lei no 9.624, de 2 de abril de 1998.(Incluído pela Medida Provisória
de lotação ou nomeação para cargo efetivo.(Incluído pela Lei nº nº 2.225-45, de 4.9.2001)
11.355, de 2006) Parágrafo único.A VPNI de que trata o caput deste artigo so-
IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006. mente estará sujeita às revisões gerais de remuneração dos servi-
(Incluído pela Lei nº 11.490, de 2007) dores públicos federais.(Incluído pela Medida Provisória nº 2.225-
Parágrafo único.Para fins do inciso VII, não será considerado o 45, de 4.9.2001)
prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão
relacionado no inciso V.(Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006) SUBSEÇÃO II
Art. 60-C.(Revogado pela Lei nº 12.998, de 2014) DA GRATIFICAÇÃO NATALINA
Art. 60-D.O valor mensal do auxílio-moradia é limitado a 25%
(vinte e cinco por cento) do valor do cargo em comissão, função co- Art. 63.A gratificação natalina corresponde a 1/12 (um doze
missionada ou cargo de Ministro de Estado ocupado.(Incluído pela avos) da remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezem-
Lei nº 11.784, de 2008 bro, por mês de exercício no respectivo ano.
§ 1oO valor do auxílio-moradia não poderá superar 25% (vinte Parágrafo único. A fração igual ou superior a 15 (quinze) dias
e cinco por cento) da remuneração de Ministro de Estado. (Incluído será considerada como mês integral.
pela Lei nº 11.784, de 2008 Art. 64.A gratificação será paga até o dia 20 (vinte) do mês de
§ 2oIndependentemente do valor do cargo em comissão ou dezembro de cada ano.
função comissionada, fica garantido a todos os que preencherem Parágrafo único. (VETADO).
os requisitos o ressarcimento até o valor de R$ 1.800,00 (mil e oito- Art. 65.O servidor exonerado perceberá sua gratificação nata-
centos reais).(Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008 lina, proporcionalmente aos meses de exercício, calculada sobre a
§ 3o(Incluído pela Medida Provisória nº 805, de 2017)(Vigência remuneração do mês da exoneração.
encerrada) Art. 66.A gratificação natalina não será considerada para cálcu-
§ 4o(Incluído pela Medida Provisória nº 805, de 2017)(Vigência lo de qualquer vantagem pecuniária.
encerrada)
Art. 60-E.No caso de falecimento, exoneração, colocação de SUBSEÇÃO III
imóvel funcional à disposição do servidor ou aquisição de imóvel, o DO ADICIONAL POR TEMPO DE SERVIÇO
auxílio-moradia continuará sendo pago por um mês.(Incluído pela
Lei nº 11.355, de 2006) Art. 67.(Revogado pela Medida Provisória nº 2.225-45, de
2001, respeitadas as situações constituídas até 8.3.1999)
SEÇÃO II
DAS GRATIFICAÇÕES E ADICIONAIS SUBSEÇÃO IV
DOS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE, PERICULOSIDADE OU
Art. 61.Além do vencimento e das vantagens previstas nesta ATIVIDADES PENOSAS
Lei, serão deferidos aos servidores as seguintes retribuições, grati-
ficações e adicionais:(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 68.Os servidores que trabalhem com habitualidade em lo-
I - retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as- cais insalubres ou em contato permanente com substâncias tóxicas,
sessoramento;(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) radioativas ou com risco de vida, fazem jus a um adicional sobre o
II - gratificação natalina; vencimento do cargo efetivo.
III - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) § 1oO servidor que fizer jus aos adicionais de insalubridade e
IV - adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas de periculosidade deverá optar por um deles.
ou penosas; § 2oO direito ao adicional de insalubridade ou periculosidade
V - adicional pela prestação de serviço extraordinário; cessa com a eliminação das condições ou dos riscos que deram cau-
VI - adicional noturno; sa a sua concessão.
VII - adicional de férias; Art. 69.Haverá permanente controle da atividade de servidores em
VIII - outros, relativos ao local ou à natureza do trabalho. operações ou locais considerados penosos, insalubres ou perigosos.
IX - gratificação por encargo de curso ou concurso.(Incluído Parágrafo único.A servidora gestante ou lactante será afastada,
pela Lei nº 11.314 de 2006) enquanto durar a gestação e a lactação, das operações e locais pre-
vistos neste artigo, exercendo suas atividades em local salubre e em
SUBSEÇÃO I serviço não penoso e não perigoso.
DA RETRIBUIÇÃO PELO EXERCÍCIO DE FUNÇÃO DE DIREÇÃO, Art. 70.Na concessão dos adicionais de atividades penosas, de
CHEFIA E ASSESSORAMENTO insalubridade e de periculosidade, serão observadas as situações
(REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 9.527, DE 10.12.97) estabelecidas em legislação específica.
Art. 71.O adicional de atividade penosa será devido aos servi-
Art. 62.Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido em dores em exercício em zonas de fronteira ou em localidades cujas
função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento condições de vida o justifiquem, nos termos, condições e limites
em comissão ou de Natureza Especial é devida retribuição pelo seu fixados em regulamento.
exercício.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 72.Os locais de trabalho e os servidores que operam com
Parágrafo único. Lei específica estabelecerá a remuneração Raios X ou substâncias radioativas serão mantidos sob controle per-
dos cargos em comissão de que trata o inciso II do art. 9o.(Redação manente, de modo que as doses de radiação ionizante não ultra-
dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) passem o nível máximo previsto na legislação própria.

11
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Parágrafo único.Os servidores a que se refere este artigo serão II - a retribuição não poderá ser superior ao equivalente a 120
submetidos a exames médicos a cada 6 (seis) meses. (cento e vinte) horas de trabalho anuais, ressalvada situação de ex-
cepcionalidade, devidamente justificada e previamente aprovada
SUBSEÇÃO V pela autoridade máxima do órgão ou entidade, que poderá autori-
DO ADICIONAL POR SERVIÇO EXTRAORDINÁRIO zar o acréscimo de até 120 (cento e vinte) horas de trabalho anuais;
(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
Art. 73.O serviço extraordinário será remunerado com acrés- III - o valor máximo da hora trabalhada corresponderá aos se-
cimo de 50% (cinqüenta por cento) em relação à hora normal de guintes percentuais, incidentes sobre o maior vencimento básico da
trabalho. administração pública federal:(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
Art. 74.Somente será permitido serviço extraordinário para a) 2,2% (dois inteiros e dois décimos por cento), em se tratando
atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o limite de atividades previstas nos incisos I e II do caput deste artigo;(Reda-
máximo de 2 (duas) horas por jornada. ção dada pela Lei nº 11.501, de 2007)
b) 1,2% (um inteiro e dois décimos por cento), em se tratando
SUBSEÇÃO VI de atividade prevista nos incisos III e IV do caput deste artigo.(Reda-
DO ADICIONAL NOTURNO ção dada pela Lei nº 11.501, de 2007)
§ 2oA Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso somente
Art. 75.O serviço noturno, prestado em horário compreendido en- será paga se as atividades referidas nos incisos do caput deste ar-
tre 22 (vinte e duas) horas de um dia e 5 (cinco) horas do dia seguinte, tigo forem exercidas sem prejuízo das atribuições do cargo de que
terá o valor-hora acrescido de 25% (vinte e cinco por cento), compu- o servidor for titular, devendo ser objeto de compensação de carga
tando-se cada hora como cinqüenta e dois minutos e trinta segundos. horária quando desempenhadas durante a jornada de trabalho, na
Parágrafo único.Em se tratando de serviço extraordinário, o forma do § 4o do art. 98 desta Lei.(Incluído pela Lei nº 11.314 de
acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a remuneração 2006)
prevista no art. 73. § 3oA Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso não se
incorpora ao vencimento ou salário do servidor para qualquer efei-
SUBSEÇÃO VII to e não poderá ser utilizada como base de cálculo para quaisquer
DO ADICIONAL DE FÉRIAS outras vantagens, inclusive para fins de cálculo dos proventos da
aposentadoria e das pensões.(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006)
Art. 76.Independentemente de solicitação, será pago ao servi-
dor, por ocasião das férias, um adicional correspondente a 1/3 (um CAPÍTULO III
terço) da remuneração do período das férias. DAS FÉRIAS
Parágrafo único.No caso de o servidor exercer função de di-
reção, chefia ou assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a Art. 77.O servidor fará jus a trinta dias de férias, que podem
respectiva vantagem será considerada no cálculo do adicional de ser acumuladas, até o máximo de dois períodos, no caso de neces-
que trata este artigo. sidade do serviço, ressalvadas as hipóteses em que haja legislação
específica.(Redação dada pela Lei nº 9.525, de 10.12.97)(Vide Lei
SUBSEÇÃO VIII nº 9.525, de 1997)
DA GRATIFICAÇÃO POR ENCARGO DE CURSO OU CONCURSO § 1oPara o primeiro período aquisitivo de férias serão exigidos
(INCLUÍDO PELA LEI Nº 11.314 DE 2006) 12 (doze) meses de exercício.
§ 2oÉ vedado levar à conta de férias qualquer falta ao serviço.
Art. 76-A.A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso é § 3oAs férias poderão ser parceladas em até três etapas, desde
devida ao servidor que, em caráter eventual:(Incluído pela Lei nº que assim requeridas pelo servidor, e no interesse da administração
11.314 de 2006)(Regulamento) pública.(Incluído pela Lei nº 9.525, de 10.12.97)
I - atuar como instrutor em curso de formação, de desenvol- Art. 78.O pagamento da remuneração das férias será efetuado
vimento ou de treinamento regularmente instituído no âmbito da até 2 (dois) dias antes do início do respectivo período, observan-
administração pública federal;(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006) do-se o disposto no § 1o deste artigo.(Vide Lei nº 9.525, de 1997)
II - participar de banca examinadora ou de comissão para exa- § 1° e § 2°(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
mes orais, para análise curricular, para correção de provas discur- § 3oO servidor exonerado do cargo efetivo, ou em comissão,
sivas, para elaboração de questões de provas ou para julgamento perceberá indenização relativa ao período das férias a que tiver di-
de recursos intentados por candidatos;(Incluído pela Lei nº 11.314 reito e ao incompleto, na proporção de um doze avos por mês de
de 2006) efetivo exercício, ou fração superior a quatorze dias.(Incluído pela
III - participar da logística de preparação e de realização de Lei nº 8.216, de 13.8.91)
concurso público envolvendo atividades de planejamento, coorde- § 4oA indenização será calculada com base na remuneração do
nação, supervisão, execução e avaliação de resultado, quando tais mês em que for publicado o ato exoneratório.(Incluído pela Lei nº
atividades não estiverem incluídas entre as suas atribuições perma- 8.216, de 13.8.91)
nentes;(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006) § 5oEm caso de parcelamento, o servidor receberá o valor
IV - participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exa- adicional previsto no inciso XVII do art. 7o da Constituição Fede-
me vestibular ou de concurso público ou supervisionar essas ativi- ral quando da utilização do primeiro período.(Incluído pela Lei nº
dades.(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006) 9.525, de 10.12.97)
§ 1oOs critérios de concessão e os limites da gratificação de Art. 79.O servidor que opera direta e permanentemente com
que trata este artigo serão fixados em regulamento, observados os Raios X ou substâncias radioativas gozará 20 (vinte) dias consecu-
seguintes parâmetros:(Incluído pela Lei nº 11.314 de 2006) tivos de férias, por semestre de atividade profissional, proibida em
I - o valor da gratificação será calculado em horas, observadas a qualquer hipótese a acumulação.
natureza e a complexidade da atividade exercida;(Incluído pela Lei Parágrafo único.(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
nº 11.314 de 2006)

12
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Art. 80.As férias somente poderão ser interrompidas por moti- SEÇÃO III
vo de calamidade pública, comoção interna, convocação para júri, DA LICENÇA POR MOTIVO DE AFASTAMENTO DO CÔNJUGE
serviço militar ou eleitoral, ou por necessidade do serviço declarada
pela autoridade máxima do órgão ou entidade.(Redação dada pela Art. 84.Poderá ser concedida licença ao servidor para acompa-
Lei nº 9.527, de 10.12.97)(Vide Lei nº 9.525, de 1997) nhar cônjuge ou companheiro que foi deslocado para outro ponto
Parágrafo único.O restante do período interrompido será goza- do território nacional, para o exterior ou para o exercício de manda-
do de uma só vez, observado o disposto no art. 77.(Incluído pela Lei to eletivo dos Poderes Executivo e Legislativo.
nº 9.527, de 10.12.97) § 1oA licença será por prazo indeterminado e sem remunera-
ção.
CAPÍTULO IV § 2oNo deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companhei-
DAS LICENÇAS ro também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municí-
SEÇÃO I pios, poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da
DISPOSIÇÕES GERAIS Administração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que
para o exercício de atividade compatível com o seu cargo.(Redação
Art. 81.Conceder-se-á ao servidor licença: dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
I - por motivo de doença em pessoa da família;
II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro; SEÇÃO IV
III - para o serviço militar; DA LICENÇA PARA O SERVIÇO MILITAR
IV - para atividade política;
V - para capacitação;(Redação dada pela Lei nº 9.527, de Art. 85.Ao servidor convocado para o serviço militar será con-
10.12.97) cedida licença, na forma e condições previstas na legislação espe-
VI - para tratar de interesses particulares; cífica.
VII - para desempenho de mandato classista. Parágrafo único.Concluído o serviço militar, o servidor terá até 30
§ 1oA licença prevista no inciso I do caput deste artigo bem (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do cargo.
como cada uma de suas prorrogações serão precedidas de exame
por perícia médica oficial, observado o disposto no art. 204 desta SEÇÃO V
Lei(Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009) DA LICENÇA PARA ATIVIDADE POLÍTICA
§ 2o(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 3oÉ vedado o exercício de atividade remunerada durante o Art. 86.O servidor terá direito a licença, sem remuneração, du-
período da licença prevista no inciso I deste artigo. rante o período que mediar entre a sua escolha em convenção par-
Art. 82.A licença concedida dentro de 60 (sessenta) dias do térmi- tidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro de
no de outra da mesma espécie será considerada como prorrogação. sua candidatura perante a Justiça Eleitoral.
§ 1oO servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde
SEÇÃO II desempenha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia,
DA LICENÇA POR MOTIVO DE DOENÇA EM PESSOA DA FAMÍ- assessoramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a
LIA partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a
Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte ao do pleito.(Redação
Art. 83.Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padrasto § 2oA partir do registro da candidatura e até o décimo dia se-
ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas e guinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os
conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação por pe- vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses.
rícia médica oficial.(Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009) (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 1oA licença somente será deferida se a assistência direta do
servidor for indispensável e não puder ser prestada simultanea- SEÇÃO VI
mente com o exercício do cargo ou mediante compensação de ho- DA LICENÇA PARA CAPACITAÇÃO
rário, na forma do disposto no inciso II do art. 44.(Redação dada (REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 9.527, DE 10.12.97)
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 2oA licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, Art. 87.Após cada qüinqüênio de efetivo exercício, o servidor
poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do
condições:(Redação dada pela Lei nº 12.269, de 2010) cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses,
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a para participar de curso de capacitação profissional.(Redação dada
remuneração do servidor; e(Incluído pela Lei nº 12.269, de 2010) pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)(Vide Decreto nº 5.707, de 2006)
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu- Parágrafo único.Os períodos de licença de que trata o caput
neração.(Incluído pela Lei nº 12.269, de 2010) não são acumuláveis.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 3oO início do interstício de 12 (doze) meses será contado a Art. 88.(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
partir da data do deferimento da primeira licença concedida.(Incluí- Art. 89.(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
do pela Lei nº 12.269, de 2010) Art. 90.(VETADO).
§ 4oA soma das licenças remuneradas e das licenças não remu-
neradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em um
mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no § 3o,
não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e II do
§ 2o. (Incluído pela Lei nº 12.269, de 2010)

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
SEÇÃO VII cargo efetivo acrescida de percentual da retribuição do cargo em
DA LICENÇA PARA TRATAR DE INTERESSES PARTICULARES comissão, a entidade cessionária efetuará o reembolso das des-
pesas realizadas pelo órgão ou entidade de origem.(Redação dada
Art. 91.A critério da Administração, poderão ser concedidas ao pela Lei nº 11.355, de 2006)
servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em está- § 3oA cessão far-se-á mediante Portaria publicada no Diário
gio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares pelo Oficial da União.(Redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)
prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração. (Redação § 4oMediante autorização expressa do Presidente da Repúbli-
dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) ca, o servidor do Poder Executivo poderá ter exercício em outro ór-
Parágrafo único.A licença poderá ser interrompida, a qualquer gão da Administração Federal direta que não tenha quadro próprio
tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço.(Redação de pessoal, para fim determinado e a prazo certo.(Incluído pela Lei
dada pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) nº 8.270, de 17.12.91)
§ 5º Aplica-se à União, em se tratando de empregado ou servi-
SEÇÃO VIII dor por ela requisitado, as disposições dos §§ 1º e 2º deste artigo.
DA LICENÇA PARA O DESEMPENHO DE MANDATO CLASSISTA (Redação dada pela Lei nº 10.470, de 25.6.2002)
§ 6º As cessões de empregados de empresa pública ou de so-
Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem re- ciedade de economia mista, que receba recursos de Tesouro Nacional
muneração para o desempenho de mandato em confederação, para o custeio total ou parcial da sua folha de pagamento de pessoal,
federação, associação de classe de âmbito nacional, sindicato re- independem das disposições contidas nos incisos I e II e §§ 1º e 2º
presentativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou, deste artigo, ficando o exercício do empregado cedido condicionado
ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade a autorização específica do Ministério do Planejamento, Orçamento e
cooperativa constituída por servidores públicos para prestar servi- Gestão, exceto nos casos de ocupação de cargo em comissão ou função
ços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso gratificada.(Incluído pela Lei nº 10.470, de 25.6.2002)
VIII do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e ob- § 7° O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, com
servados os seguintes limites:(Redação dada pela Lei nº 11.094, de a finalidade de promover a composição da força de trabalho dos
2005)(Regulamento) órgãos e entidades da Administração Pública Federal, poderá de-
I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois) terminar a lotação ou o exercício de empregado ou servidor, inde-
servidores;(Redação dada pela Lei nº 12.998, de 2014) pendentemente da observância do constante no inciso I e nos §§ 1º
II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trin- e 2º deste artigo.(Incluído pela Lei nº 10.470, de 25.6.2002)(Vide
ta mil) associados, 4 (quatro) servidores;(Redação dada pela Lei nº Decreto nº 5.375, de 2005)
12.998, de 2014)
III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados, SEÇÃO II
8 (oito) servidores.(Redação dada pela Lei nº 12.998, de 2014) DO AFASTAMENTO PARA EXERCÍCIO DE MANDATO ELETIVO
§ 1oSomente poderão ser licenciados os servidores eleitos para
cargos de direção ou de representação nas referidas entidades, des- Art. 94.Ao servidor investido em mandato eletivo aplicam-se as
de que cadastradas no órgão competente.(Redação dada pela Lei nº seguintes disposições:
12.998, de 2014) I - tratando-se de mandato federal, estadual ou distrital, ficará
§ 2oA licença terá duração igual à do mandato, podendo ser afastado do cargo;
renovada, no caso de reeleição.(Redação dada pela Lei nº 12.998, II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo,
de 2014) sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;
III - investido no mandato de vereador:
CAPÍTULO V a) havendo compatibilidade de horário, perceberá as vanta-
DOS AFASTAMENTOS gens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo;
b) não havendo compatibilidade de horário, será afastado do
SEÇÃO I cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração.
DO AFASTAMENTO PARA SERVIR A OUTRO ÓRGÃO OU ENTI- § 1oNo caso de afastamento do cargo, o servidor contribuirá
DADE para a seguridade social como se em exercício estivesse.
§ 2oO servidor investido em mandato eletivo ou classista não
Art. 93. O servidor poderá ser cedido para ter exercício em ou- poderá ser removido ou redistribuído de ofício para localidade di-
tro órgão ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, ou do
versa daquela onde exerce o mandato.
Distrito Federal e dos Municípios, nas seguintes hipóteses:(Redação
dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)(Regulamento)(Vide Decreto nº
SEÇÃO III
4.493, de 3.12.2002)(Vide Decreto nº 5.213, de 2004)(Vide Decreto
DO AFASTAMENTO PARA ESTUDO OU MISSÃO NO EXTERIOR
nº 9.144, de 2017)
I - para exercício de cargo em comissão ou função de confiança;
Art. 95.O servidor não poderá ausentar-se do País para estudo
(Redação dada pela Lei nº 8.270, de 17.12.91)
ou missão oficial, sem autorização do Presidente da República, Pre-
II - em casos previstos em leis específicas.(Redação dada pela
Lei nº 8.270, de 17.12.91) sidente dos Órgãos do Poder Legislativo e Presidente do Supremo
§ 1oNa hipótese do inciso I, sendo a cessão para órgãos ou en- Tribunal Federal.(Vide Decreto nº 1.387, de 1995)
tidades dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, o ônus § 1oA ausência não excederá a 4 (quatro) anos, e finda a missão
da remuneração será do órgão ou entidade cessionária, mantido o ou estudo, somente decorrido igual período, será permitida nova
ônus para o cedente nos demais casos. (Redação dada pela Lei nº ausência.
8.270, de 17.12.91) § 2oAo servidor beneficiado pelo disposto neste artigo não será
§ 2ºNa hipótese de o servidor cedido a empresa pública ou concedida exoneração ou licença para tratar de interesse particular
sociedade de economia mista, nos termos das respectivas normas, antes de decorrido período igual ao do afastamento, ressalvada a hi-
optar pela remuneração do cargo efetivo ou pela remuneração do pótese de ressarcimento da despesa havida com seu afastamento.

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 3oO disposto neste artigo não se aplica aos servidores da car- CAPÍTULO VI
reira diplomática. DAS CONCESSÕES
§ 4oAs hipóteses, condições e formas para a autorização de
que trata este artigo, inclusive no que se refere à remuneração do Art. 97.Sem qualquer prejuízo, poderá o servidor ausentar-se
servidor, serão disciplinadas em regulamento.(Incluído pela Lei nº do serviço:
9.527, de 10.12.97) I - por 1 (um) dia, para doação de sangue;
Art. 96.O afastamento de servidor para servir em organismo II - pelo período comprovadamente necessário para alistamen-
internacional de que o Brasil participe ou com o qual coopere dar- to ou recadastramento eleitoral, limitado, em qualquer caso, a 2
-se-á com perda total da remuneração.(Vide Decreto nº 3.456, de (dois) dias;(Redação dada pela Lei nº 12.998, de 2014)
2000) III - por 8 (oito) dias consecutivos em razão de :
a) casamento;
SEÇÃO IV b) falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madrasta ou pa-
(INCLUÍDO PELA LEI Nº 11.907, DE 2009) drasto, filhos, enteados, menor sob guarda ou tutela e irmãos.
DO AFASTAMENTO PARA PARTICIPAÇÃO EM PROGRAMA DE Art. 98.Será concedido horário especial ao servidor estudante,
PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU NO PAÍS quando comprovada a incompatibilidade entre o horário escolar e
o da repartição, sem prejuízo do exercício do cargo.
Art. 96-A.O servidor poderá, no interesse da Administração, e § 1oPara efeito do disposto neste artigo, será exigida a com-
desde que a participação não possa ocorrer simultaneamente com pensação de horário no órgão ou entidade que tiver exercício, res-
o exercício do cargo ou mediante compensação de horário, afastar- peitada a duração semanal do trabalho.(Parágrafo renumerado e
-se do exercício do cargo efetivo, com a respectiva remuneração, alterado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
para participar em programa de pós-graduação stricto sensu em § 2oTambém será concedido horário especial ao servidor por-
instituição de ensino superior no País.(Incluído pela Lei nº 11.907, tador de deficiência, quando comprovada a necessidade por junta
de 2009) médica oficial, independentemente de compensação de horário.
§ 1oAto do dirigente máximo do órgão ou entidade definirá, (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
em conformidade com a legislação vigente, os programas de capa- § 3oAs disposições constantes do § 2o são extensivas ao servi-
citação e os critérios para participação em programas de pós-gra- dor que tenha cônjuge, filho ou dependente com deficiência.(Reda-
duação no País, com ou sem afastamento do servidor, que serão ção dada pela Lei nº 13.370, de 2016)
avaliados por um comitê constituído para este fim.(Incluído pela Lei § 4oSerá igualmente concedido horário especial, vinculado à
nº 11.907, de 2009) compensação de horário a ser efetivada no prazo de até 1 (um) ano,
§ 2oOs afastamentos para realização de programas de mestra- ao servidor que desempenhe atividade prevista nos incisos I e II do
do e doutorado somente serão concedidos aos servidores titulares caput do art. 76-A desta Lei.(Redação dada pela Lei nº 11.501, de
de cargos efetivos no respectivo órgão ou entidade há pelo menos 2007)
3 (três) anos para mestrado e 4 (quatro) anos para doutorado, in- Art. 99.Ao servidor estudante que mudar de sede no interesse
cluído o período de estágio probatório, que não tenham se afastado da administração é assegurada, na localidade da nova residência ou
por licença para tratar de assuntos particulares para gozo de licença na mais próxima, matrícula em instituição de ensino congênere, em
capacitação ou com fundamento neste artigo nos 2 (dois) anos an- qualquer época, independentemente de vaga.
teriores à data da solicitação de afastamento.(Incluído pela Lei nº Parágrafo único.O disposto neste artigo estende-se ao cônjuge
11.907, de 2009) ou companheiro, aos filhos, ou enteados do servidor que vivam na
§ 3oOs afastamentos para realização de programas de pós-dou- sua companhia, bem como aos menores sob sua guarda, com au-
torado somente serão concedidos aos servidores titulares de car- torização judicial.
gos efetivo no respectivo órgão ou entidade há pelo menos quatro
anos, incluído o período de estágio probatório, e que não tenham CAPÍTULO VII
se afastado por licença para tratar de assuntos particulares ou com DO TEMPO DE SERVIÇO
fundamento neste artigo, nos quatro anos anteriores à data da soli-
citação de afastamento.(Redação dada pela Lei nº 12.269, de 2010) Art. 100.É contado para todos os efeitos o tempo de serviço
§ 4oOs servidores beneficiados pelos afastamentos previstos público federal, inclusive o prestado às Forças Armadas.
nos §§ 1o, 2o e 3o deste artigo terão que permanecer no exercício Art. 101.A apuração do tempo de serviço será feita em dias,
de suas funções após o seu retorno por um período igual ao do afas- que serão convertidos em anos, considerado o ano como de trezen-
tamento concedido.(Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009) tos e sessenta e cinco dias.
§ 5oCaso o servidor venha a solicitar exoneração do cargo ou Parágrafo único.(Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
aposentadoria, antes de cumprido o período de permanência pre- Art. 102.Além das ausências ao serviço previstas no art. 97, são
visto no § 4o deste artigo, deverá ressarcir o órgão ou entidade, na considerados como de efetivo exercício os afastamentos em virtude
forma do art. 47 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990, dos de:(Vide Decreto nº 5.707, de 2006)
gastos com seu aperfeiçoamento.(Incluído pela Lei nº 11.907, de I - férias;
2009) II - exercício de cargo em comissão ou equivalente, em órgão
§ 6oCaso o servidor não obtenha o título ou grau que justificou ou entidade dos Poderes da União, dos Estados, Municípios e Dis-
seu afastamento no período previsto, aplica-se o disposto no § 5o trito Federal;
deste artigo, salvo na hipótese comprovada de força maior ou de III - exercício de cargo ou função de governo ou administração,
caso fortuito, a critério do dirigente máximo do órgão ou entidade. em qualquer parte do território nacional, por nomeação do Presi-
(Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009) dente da República;
§ 7oAplica-se à participação em programa de pós-graduação IV - participação em programa de treinamento regularmen-
no Exterior, autorizado nos termos do art. 95 desta Lei, o disposto te instituído ou em programa de pós-graduação stricto sensu no
nos §§ 1o a 6o deste artigo.(Incluído pela Lei nº 11.907, de 2009) País, conforme dispuser o regulamento;(Redação dada pela Lei nº
11.907, de 2009)(Vide Decreto nº 5.707, de 2006)

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
V - desempenho de mandato eletivo federal, estadual, munici- Art. 106.Cabe pedido de reconsideração à autoridade que hou-
pal ou do Distrito Federal, exceto para promoção por merecimento; ver expedido o ato ou proferido a primeira decisão, não podendo
VI - júri e outros serviços obrigatórios por lei; ser renovado.(Vide Lei nº 12.300, de 2010)
VII - missão ou estudo no exterior, quando autorizado o afasta- Parágrafo único.O requerimento e o pedido de reconsideração
mento, conforme dispuser o regulamento;(Redação dada pela Lei de que tratam os artigos anteriores deverão ser despachados no
nº 9.527, de 10.12.97)(Vide Decreto nº 5.707, de 2006) prazo de 5 (cinco) dias e decididos dentro de 30 (trinta) dias.
VIII - licença: Art. 107.Caberá recurso:(Vide Lei nº 12.300, de 2010)
a) à gestante, à adotante e à paternidade; I - do indeferimento do pedido de reconsideração;
b) para tratamento da própria saúde, até o limite de vinte e II - das decisões sobre os recursos sucessivamente interpostos.
quatro meses, cumulativo ao longo do tempo de serviço público § 1oO recurso será dirigido à autoridade imediatamente supe-
prestado à União, em cargo de provimento efetivo;(Redação dada rior à que tiver expedido o ato ou proferido a decisão, e, sucessiva-
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) mente, em escala ascendente, às demais autoridades.
c) para o desempenho de mandato classista ou participação de § 2oO recurso será encaminhado por intermédio da autoridade
gerência ou administração em sociedade cooperativa constituída a que estiver imediatamente subordinado o requerente.
por servidores para prestar serviços a seus membros, exceto para Art. 108.O prazo para interposição de pedido de reconsidera-
efeito de promoção por merecimento;(Redação dada pela Lei nº ção ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar da publicação ou da
11.094, de 2005) ciência, pelo interessado, da decisão recorrida. (Vide Lei nº 12.300,
d) por motivo de acidente em serviço ou doença profissional; de 2010)
e) para capacitação, conforme dispuser o regulamento;(Reda- Art. 109.O recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo,
ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) a juízo da autoridade competente.
f) por convocação para o serviço militar; Parágrafo único.Em caso de provimento do pedido de reconsi-
IX - deslocamento para a nova sede de que trata o art. 18; deração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagirão à data do
X - participação em competição desportiva nacional ou convo- ato impugnado.
cação para integrar representação desportiva nacional, no País ou Art. 110.O direito de requerer prescreve:
no exterior, conforme disposto em lei específica; I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e de cassa-
XI - afastamento para servir em organismo internacional de que ção de aposentadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse
o Brasil participe ou com o qual coopere.(Incluído pela Lei nº 9.527, patrimonial e créditos resultantes das relações de trabalho;
de 10.12.97) II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo quando
Art. 103.Contar-se-á apenas para efeito de aposentadoria e dis- outro prazo for fixado em lei.
ponibilidade: Parágrafo único.O prazo de prescrição será contado da data da
I - o tempo de serviço público prestado aos Estados, Municípios publicação do ato impugnado ou da data da ciência pelo interessa-
e Distrito Federal; do, quando o ato não for publicado.
II - a licença para tratamento de saúde de pessoal da família do Art. 111.O pedido de reconsideração e o recurso, quando cabí-
servidor, com remuneração, que exceder a 30 (trinta) dias em perío- veis, interrompem a prescrição.
do de 12 (doze) meses.(Redação dada pela Lei nº 12.269, de 2010) Art. 112.A prescrição é de ordem pública, não podendo ser re-
III - a licença para atividade política, no caso do art. 86, § 2o;
levada pela administração.
IV - o tempo correspondente ao desempenho de mandato ele-
Art. 113.Para o exercício do direito de petição, é assegurada
tivo federal, estadual, municipal ou distrital, anterior ao ingresso no
vista do processo ou documento, na repartição, ao servidor ou a
serviço público federal;
procurador por ele constituído.
V - o tempo de serviço em atividade privada, vinculada à Pre-
Art. 114.A administração deverá rever seus atos, a qualquer
vidência Social;
tempo, quando eivados de ilegalidade.
VI - o tempo de serviço relativo a tiro de guerra;
Art. 115.São fatais e improrrogáveis os prazos estabelecidos
VII - o tempo de licença para tratamento da própria saúde que
neste Capítulo, salvo motivo de força maior.
exceder o prazo a que se refere a alínea “b” do inciso VIII do art.
102.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 1oO tempo em que o servidor esteve aposentado será conta- TÍTULO IV
do apenas para nova aposentadoria. DO REGIME DISCIPLINAR
§ 2oSerá contado em dobro o tempo de serviço prestado às
Forças Armadas em operações de guerra. CAPÍTULO I
§ 3oÉ vedada a contagem cumulativa de tempo de serviço pres- DOS DEVERES
tado concomitantemente em mais de um cargo ou função de órgão
ou entidades dos Poderes da União, Estado, Distrito Federal e Mu- Art. 116.São deveres do servidor:
nicípio, autarquia, fundação pública, sociedade de economia mista I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
e empresa pública. II - ser leal às instituições a que servir;
III - observar as normas legais e regulamentares;
CAPÍTULO VIII IV - cumprir as ordens superiores, exceto quando manifesta-
DO DIREITO DE PETIÇÃO mente ilegais;
V - atender com presteza:
Art. 104.É assegurado ao servidor o direito de requerer aos Po- a) ao público em geral, prestando as informações requeridas,
deres Públicos, em defesa de direito ou interesse legítimo. ressalvadas as protegidas por sigilo;
Art. 105.O requerimento será dirigido à autoridade competen- b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito
te para decidi-lo e encaminhado por intermédio daquela a que esti- ou esclarecimento de situações de interesse pessoal;
ver imediatamente subordinado o requerente. c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública.

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
VI - levar as irregularidades de que tiver ciência em razão do Parágrafo único.A vedação de que trata o inciso X do caput
cargo ao conhecimento da autoridade superior ou, quando houver deste artigo não se aplica nos seguintes casos:(Incluído pela Lei nº
suspeita de envolvimento desta, ao conhecimento de outra autori- 11.784, de 2008
dade competente para apuração;(Redação dada pela Lei nº 12.527, I - participação nos conselhos de administração e fiscal de em-
de 2011) presas ou entidades em que a União detenha, direta ou indireta-
VII - zelar pela economia do material e a conservação do patri- mente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa
mônio público; constituída para prestar serviços a seus membros; e(Incluído pela
VIII - guardar sigilo sobre assunto da repartição; Lei nº 11.784, de 2008
IX - manter conduta compatível com a moralidade administra- II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na
tiva; forma do art. 91 desta Lei, observada a legislação sobre conflito de
X - ser assíduo e pontual ao serviço; interesses.(Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008
XI - tratar com urbanidade as pessoas;
XII - representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder. CAPÍTULO III
Parágrafo único.A representação de que trata o inciso XII será DA ACUMULAÇÃO
encaminhada pela via hierárquica e apreciada pela autoridade su-
perior àquela contra a qual é formulada, assegurando-se ao repre- Art. 118.Ressalvados os casos previstos na Constituição, é ve-
sentando ampla defesa. dada a acumulação remunerada de cargos públicos.
§ 1oA proibição de acumular estende-se a cargos, empregos
CAPÍTULO II e funções em autarquias, fundações públicas, empresas públicas,
DAS PROIBIÇÕES sociedades de economia mista da União, do Distrito Federal, dos
Estados, dos Territórios e dos Municípios.
Art. 117.Ao servidor é proibido:(Vide Medida Provisória nº § 2oA acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada
2.225-45, de 4.9.2001) à comprovação da compatibilidade de horários.
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia au- § 3oConsidera-se acumulação proibida a percepção de venci-
torização do chefe imediato; mento de cargo ou emprego público efetivo com proventos da ina-
II - retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, tividade, salvo quando os cargos de que decorram essas remune-
qualquer documento ou objeto da repartição; rações forem acumuláveis na atividade.(Incluído pela Lei nº 9.527,
III - recusar fé a documentos públicos; de 10.12.97)
IV - opor resistência injustificada ao andamento de documento Art. 119.O servidor não poderá exercer mais de um cargo em
e processo ou execução de serviço; comissão, exceto no caso previsto no parágrafo único do art. 9o,
V - promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto nem ser remunerado pela participação em órgão de deliberação
da repartição; coletiva.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
VI - cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos pre- Parágrafo único.O disposto neste artigo não se aplica à remu-
vistos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua respon- neração devida pela participação em conselhos de administração e
sabilidade ou de seu subordinado; fiscal das empresas públicas e sociedades de economia mista, suas
VII - coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a subsidiárias e controladas, bem como quaisquer empresas ou enti-
associação profissional ou sindical, ou a partido político; dades em que a União, direta ou indiretamente, detenha participa-
VIII - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de ção no capital social, observado o que, a respeito, dispuser legisla-
confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau ção específica.(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.225-45,
civil; de 4.9.2001)
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de ou- Art. 120.O servidor vinculado ao regime desta Lei, que acumu-
trem, em detrimento da dignidade da função pública; lar licitamente dois cargos efetivos, quando investido em cargo de
X - participar de gerência ou administração de sociedade priva- provimento em comissão, ficará afastado de ambos os cargos efe-
da, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto tivos, salvo na hipótese em que houver compatibilidade de horário
na qualidade de acionista, cotista ou comanditário;(Redação dada e local com o exercício de um deles, declarada pelas autoridades
pela Lei nº 11.784, de 2008 máximas dos órgãos ou entidades envolvidos.(Redação dada pela
XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a reparti- Lei nº 9.527, de 10.12.97)
ções públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários
ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou CAPÍTULO IV
companheiro; DAS RESPONSABILIDADES
XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qual-
quer espécie, em razão de suas atribuições; Art. 121.O servidor responde civil, penal e administrativamente
XIII - aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estran- pelo exercício irregular de suas atribuições.
geiro; Art. 122.A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou
XIV - praticar usura sob qualquer de suas formas; comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao erário ou
XV - proceder de forma desidiosa; a terceiros.
XVI - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em § 1oA indenização de prejuízo dolosamente causado ao erário
serviços ou atividades particulares; somente será liquidada na forma prevista no art. 46, na falta de
XVII - cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo outros bens que assegurem a execução do débito pela via judicial.
que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias; § 2oTratando-se de dano causado a terceiros, responderá o
XVIII - exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis servidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva.
com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho; § 3oA obrigação de reparar o dano estende-se aos sucessores
XIX - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solici- e contra eles será executada, até o limite do valor da herança rece-
tado.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) bida.

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Art. 123.A responsabilidade penal abrange os crimes e contra- V - incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição;
venções imputadas ao servidor, nessa qualidade. VI - insubordinação grave em serviço;
Art. 124.A responsabilidade civil-administrativa resulta de ato VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo
omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou fun- em legítima defesa própria ou de outrem;
ção. VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos;
Art. 125.As sanções civis, penais e administrativas poderão IX - revelação de segredo do qual se apropriou em razão do
cumular-se, sendo independentes entre si. cargo;
Art. 126.A responsabilidade administrativa do servidor será X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio na-
afastada no caso de absolvição criminal que negue a existência do cional;
fato ou sua autoria. XI - corrupção;
Art. 126-A. Nenhum servidor poderá ser responsabilizado civil, XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públi-
penal ou administrativamente por dar ciência à autoridade superior cas;
ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, a outra autori- XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117.
dade competente para apuração de informação concernente à prá- Art. 133.Detectada a qualquer tempo a acumulação ilegal de
tica de crimes ou improbidade de que tenha conhecimento, ainda cargos, empregos ou funções públicas, a autoridade a que se refere
que em decorrência do exercício de cargo, emprego ou função pú- o art. 143 notificará o servidor, por intermédio de sua chefia ime-
blica.(Incluído pela Lei nº 12.527, de 2011) diata, para apresentar opção no prazo improrrogável de dez dias,
contados da data da ciência e, na hipótese de omissão, adotará pro-
CAPÍTULO V cedimento sumário para a sua apuração e regularização imediata,
DAS PENALIDADES cujo processo administrativo disciplinar se desenvolverá nas seguin-
tes fases:(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 127.São penalidades disciplinares: I - instauração, com a publicação do ato que constituir a co-
I - advertência; missão, a ser composta por dois servidores estáveis, e simultanea-
II - suspensão; mente indicar a autoria e a materialidade da transgressão objeto da
III - demissão; apuração;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
IV - cassação de aposentadoria ou disponibilidade;(Vide ADPF II - instrução sumária, que compreende indiciação, defesa e re-
nº 418) latório;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
V - destituição de cargo em comissão; III - julgamento.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
VI - destituição de função comissionada. § 1oA indicação da autoria de que trata o inciso I dar-se-á pelo
Art. 128.Na aplicação das penalidades serão consideradas a nome e matrícula do servidor, e a materialidade pela descrição dos
natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela cargos, empregos ou funções públicas em situação de acumulação
provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou ilegal, dos órgãos ou entidades de vinculação, das datas de ingresso,
atenuantes e os antecedentes funcionais. do horário de trabalho e do correspondente regime jurídico. (Reda-
Parágrafo único.O ato de imposição da penalidade mencionará ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
sempre o fundamento legal e a causa da sanção disciplinar.(Incluído § 2oA comissão lavrará, até três dias após a publicação do ato
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
que a constituiu, termo de indiciação em que serão transcritas as
Art. 129.A advertência será aplicada por escrito, nos casos de
informações de que trata o parágrafo anterior, bem como promo-
violação de proibição constante do art. 117, incisos I a VIII e XIX, e
verá a citação pessoal do servidor indiciado, ou por intermédio de
de inobservância de dever funcional previsto em lei, regulamenta-
sua chefia imediata, para, no prazo de cinco dias, apresentar defe-
ção ou norma interna, que não justifique imposição de penalidade
sa escrita, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição, ob-
mais grave.(Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
servado o disposto nos arts. 163 e 164.(Redação dada pela Lei nº
Art. 130.A suspensão será aplicada em caso de reincidência das
9.527, de 10.12.97)
faltas punidas com advertência e de violação das demais proibições
§ 3oApresentada a defesa, a comissão elaborará relatório con-
que não tipifiquem infração sujeita a penalidade de demissão, não
podendo exceder de 90 (noventa) dias. clusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do servidor, em
§ 1oSerá punido com suspensão de até 15 (quinze) dias o ser- que resumirá as peças principais dos autos, opinará sobre a licitude
vidor que, injustificadamente, recusar-se a ser submetido a inspe- da acumulação em exame, indicará o respectivo dispositivo legal e
ção médica determinada pela autoridade competente, cessando os remeterá o processo à autoridade instauradora, para julgamento.
efeitos da penalidade uma vez cumprida a determinação. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 2oQuando houver conveniência para o serviço, a penalidade § 4oNo prazo de cinco dias, contados do recebimento do pro-
de suspensão poderá ser convertida em multa, na base de 50% (cin- cesso, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão, aplicando-se,
qüenta por cento) por dia de vencimento ou remuneração, ficando quando for o caso, o disposto no § 3o do art. 167.(Incluído pela Lei
o servidor obrigado a permanecer em serviço. nº 9.527, de 10.12.97)
Art. 131.As penalidades de advertência e de suspensão terão § 5oA opção pelo servidor até o último dia de prazo para defesa
seus registros cancelados, após o decurso de 3 (três) e 5 (cinco) configurará sua boa-fé, hipótese em que se converterá automatica-
anos de efetivo exercício, respectivamente, se o servidor não hou- mente em pedido de exoneração do outro cargo.(Incluído pela Lei
ver, nesse período, praticado nova infração disciplinar. nº 9.527, de 10.12.97)
Parágrafo único.O cancelamento da penalidade não surtirá § 6oCaracterizada a acumulação ilegal e provada a má-fé, apli-
efeitos retroativos. car-se-á a pena de demissão, destituição ou cassação de aposenta-
Art. 132.A demissão será aplicada nos seguintes casos: doria ou disponibilidade em relação aos cargos, empregos ou fun-
I - crime contra a administração pública; ções públicas em regime de acumulação ilegal, hipótese em que
II - abandono de cargo; os órgãos ou entidades de vinculação serão comunicados.(Incluído
III - inassiduidade habitual; pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
IV - improbidade administrativa;

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 7oO prazo para a conclusão do processo administrativo disci- III - pelo chefe da repartição e outras autoridades na forma dos
plinar submetido ao rito sumário não excederá trinta dias, contados respectivos regimentos ou regulamentos, nos casos de advertência
da data de publicação do ato que constituir a comissão, admitida ou de suspensão de até 30 (trinta) dias;
a sua prorrogação por até quinze dias, quando as circunstâncias o IV - pela autoridade que houver feito a nomeação, quando se
exigirem.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) tratar de destituição de cargo em comissão.
§ 8oO procedimento sumário rege-se pelas disposições deste Art. 142.A ação disciplinar prescreverá:
artigo, observando-se, no que lhe for aplicável, subsidiariamen- I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demis-
te, as disposições dos Títulos IV e V desta Lei.(Incluído pela Lei nº são, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de
9.527, de 10.12.97) cargo em comissão;
Art. 134.Será cassada a aposentadoria ou a disponibilidade do II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;
inativo que houver praticado, na atividade, falta punível com a de- III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência.
missão. (Vide ADPF nº 418) § 1oO prazo de prescrição começa a correr da data em que o
Art. 135.A destituição de cargo em comissão exercido por não fato se tornou conhecido.
ocupante de cargo efetivo será aplicada nos casos de infração sujei- § 2oOs prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam-se às
ta às penalidades de suspensão e de demissão. infrações disciplinares capituladas também como crime.
Parágrafo único.Constatada a hipótese de que trata este artigo, § 3oA abertura de sindicância ou a instauração de processo dis-
a exoneração efetuada nos termos do art. 35 será convertida em ciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por
destituição de cargo em comissão. autoridade competente.
Art. 136.A demissão ou a destituição de cargo em comissão, § 4oInterrompido o curso da prescrição, o prazo começará a
nos casos dos incisos IV, VIII, X e XI do art. 132, implica a indisponi- correr a partir do dia em que cessar a interrupção.
bilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação
penal cabível. TÍTULO V
Art. 137.A demissão ou a destituição de cargo em comissão, DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
por infringência do art. 117, incisos IX e XI, incompatibiliza o ex-ser-
vidor para nova investidura em cargo público federal, pelo prazo de CAPÍTULO I
5 (cinco) anos.(Vide ADIN 2975) DISPOSIÇÕES GERAIS
Parágrafo único.Não poderá retornar ao serviço público federal
o servidor que for demitido ou destituído do cargo em comissão por Art. 143.A autoridade que tiver ciência de irregularidade no
infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, X e XI. serviço público é obrigada a promover a sua apuração imediata,
Art. 138.Configura abandono de cargo a ausência intencional mediante sindicância ou processo administrativo disciplinar, asse-
do servidor ao serviço por mais de trinta dias consecutivos. gurada ao acusado ampla defesa.
Art. 139.Entende-se por inassiduidade habitual a falta ao ser- § 1o (Revogado pela Lei nº 11.204, de 2005)
viço, sem causa justificada, por sessenta dias, interpoladamente, § 2o (Revogado pela Lei nº 11.204, de 2005)
durante o período de doze meses. § 3o A apuração de que trata o caput, por solicitação da au-
Art. 140.Na apuração de abandono de cargo ou inassiduidade toridade a que se refere, poderá ser promovida por autoridade de
habitual, também será adotado o procedimento sumário a que se órgão ou entidade diverso daquele em que tenha ocorrido a irre-
refere o art. 133, observando-se especialmente que:(Redação dada gularidade, mediante competência específica para tal finalidade,
pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) delegada em caráter permanente ou temporário pelo Presidente da
I - a indicação da materialidade dar-se-á:(Incluído pela Lei nº República, pelos presidentes das Casas do Poder Legislativo e dos
9.527, de 10.12.97) Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral da República, no âmbito
a) na hipótese de abandono de cargo, pela indicação precisa do do respectivo Poder, órgão ou entidade, preservadas as competên-
período de ausência intencional do servidor ao serviço superior a cias para o julgamento que se seguir à apuração.(Incluído pela Lei
trinta dias;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) nº 9.527, de 10.12.97)
b) no caso de inassiduidade habitual, pela indicação dos dias de Art. 144.As denúncias sobre irregularidades serão objeto de apu-
falta ao serviço sem causa justificada, por período igual ou superior ração, desde que contenham a identificação e o endereço do denun-
a sessenta dias interpoladamente, durante o período de doze me- ciante e sejam formuladas por escrito, confirmada a autenticidade.
ses;(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Parágrafo único.Quando o fato narrado não configurar eviden-
II - após a apresentação da defesa a comissão elaborará rela- te infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será arquivada,
tório conclusivo quanto à inocência ou à responsabilidade do ser- por falta de objeto.
vidor, em que resumirá as peças principais dos autos, indicará o Art. 145.Da sindicância poderá resultar:
respectivo dispositivo legal, opinará, na hipótese de abandono de I - arquivamento do processo;
cargo, sobre a intencionalidade da ausência ao serviço superior a II - aplicação de penalidade de advertência ou suspensão de até
trinta dias e remeterá o processo à autoridade instauradora para 30 (trinta) dias;
julgamento.(Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) III - instauração de processo disciplinar.
Art. 141.As penalidades disciplinares serão aplicadas: Parágrafo único.O prazo para conclusão da sindicância não ex-
I - pelo Presidente da República, pelos Presidentes das Casas do cederá 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por igual período, a
Poder Legislativo e dos Tribunais Federais e pelo Procurador-Geral critério da autoridade superior.
da República, quando se tratar de demissão e cassação de aposen- Art. 146.Sempre que o ilícito praticado pelo servidor ensejar
tadoria ou disponibilidade de servidor vinculado ao respectivo Po- a imposição de penalidade de suspensão por mais de 30 (trinta)
der, órgão, ou entidade; dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade,
II - pelas autoridades administrativas de hierarquia imediata- ou destituição de cargo em comissão, será obrigatória a instauração
mente inferior àquelas mencionadas no inciso anterior quando se de processo disciplinar.
tratar de suspensão superior a 30 (trinta) dias;

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
CAPÍTULO II Art. 155.Na fase do inquérito, a comissão promoverá a tomada
DO AFASTAMENTO PREVENTIVO de depoimentos, acareações, investigações e diligências cabíveis,
objetivando a coleta de prova, recorrendo, quando necessário, a
Art. 147.Como medida cautelar e a fim de que o servidor não técnicos e peritos, de modo a permitir a completa elucidação dos
venha a influir na apuração da irregularidade, aautoridade instaura- fatos.
dora do processo disciplinar poderá determinar o seu afastamento Art. 156.É assegurado ao servidor o direito de acompanhar o
do exercício do cargo, pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, sem pre- processo pessoalmente ou por intermédio de procurador, arrolar e
juízo da remuneração. reinquirir testemunhas, produzir provas e contraprovas e formular
Parágrafo único. O afastamento poderá ser prorrogado por quesitos, quando se tratar de prova pericial.
igual prazo, findo o qual cessarão os seus efeitos, ainda que não § 1oO presidente da comissão poderá denegar pedidos con-
concluído o processo. siderados impertinentes, meramente protelatórios, ou de nenhum
interesse para o esclarecimento dos fatos.
CAPÍTULO III § 2oSerá indeferido o pedido de prova pericial, quando a com-
DO PROCESSO DISCIPLINAR provação do fato independer de conhecimento especial de perito.
Art. 157.As testemunhas serão intimadas a depor mediante
Art. 148.O processo disciplinar é o instrumento destinado a mandado expedido pelo presidente da comissão, devendo a segun-
apurar responsabilidade de servidor por infração praticada no exer- da via, com o ciente do interessado, ser anexado aos autos.
cício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições Parágrafo único.Se a testemunha for servidor público, a expe-
do cargo em que se encontre investido. dição do mandado será imediatamente comunicada ao chefe da re-
Art. 149.O processo disciplinar será conduzido por comissão partição onde serve, com a indicação do dia e hora marcados para
composta de três servidores estáveis designados pela autoridade inquirição.
competente, observado o disposto no § 3o do art. 143, que indica- Art. 158.O depoimento será prestado oralmente e reduzido a
rá, dentre eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por escrito.
efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade § 1oAs testemunhas serão inquiridas separadamente.
igual ou superior ao do indiciado.(Redação dada pela Lei nº 9.527, § 2oNa hipótese de depoimentos contraditórios ou que se infir-
de 10.12.97) mem, proceder-se-á à acareação entre os depoentes.
§ 1oA Comissão terá como secretário servidor designado pelo Art. 159.Concluída a inquirição das testemunhas, a comissão
seu presidente, podendo a indicação recair em um de seus mem- promoverá o interrogatório do acusado, observados os procedi-
bros. mentos previstos nos arts. 157 e 158.
§ 2oNão poderá participar de comissão de sindicância ou de § 1oNo caso de mais de um acusado, cada um deles será ouvido
inquérito, cônjuge, companheiro ou parente do acusado, consan- separadamente, e sempre que divergirem em suas declarações so-
güíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau. bre fatos ou circunstâncias, será promovida a acareação entre eles.
Art. 150.A Comissão exercerá suas atividades com independên-
§ 2oO procurador do acusado poderá assistir ao interrogatório,
cia e imparcialidade, assegurado o sigilo necessário à elucidação do
bem como à inquirição das testemunhas, sendo-lhe vedado inter-
fato ou exigido pelo interesse da administração.
ferir nas perguntas e respostas, facultando-se-lhe, porém, reinquiri-
Parágrafo único.As reuniões e as audiências das comissões te-
-las, por intermédio do presidente da comissão.
rão caráter reservado.
Art. 160.Quando houver dúvida sobre a sanidade mental do
Art. 151.O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases:
acusado, a comissão proporá à autoridade competente que ele seja
I - instauração, com a publicação do ato que constituir a co-
submetido a exame por junta médica oficial, da qual participe pelo
missão;
II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa menos um médico psiquiatra.
e relatório; Parágrafo único.O incidente de sanidade mental será processa-
III - julgamento. do em auto apartado e apenso ao processo principal, após a expe-
Art. 152.O prazo para a conclusão do processo disciplinar não dição do laudo pericial.
excederá 60 (sessenta) dias, contados da data de publicação do ato Art. 161.Tipificada a infração disciplinar, será formulada a indi-
que constituir a comissão, admitida a sua prorrogação por igual pra- ciação do servidor, com a especificação dos fatos a ele imputados e
zo, quando as circunstâncias o exigirem. das respectivas provas.
§ 1oSempre que necessário, a comissão dedicará tempo inte- § 1oO indiciado será citado por mandado expedido pelo presi-
gral aos seus trabalhos, ficando seus membros dispensados do pon- dente da comissão para apresentar defesa escrita, no prazo de 10
to, até a entrega do relatório final. (dez) dias, assegurando-se-lhe vista do processo na repartição.
§ 2oAs reuniões da comissão serão registradas em atas que de- § 2oHavendo dois ou mais indiciados, o prazo será comum e de
verão detalhar as deliberações adotadas. 20 (vinte) dias.
§ 3oO prazo de defesa poderá ser prorrogado pelo dobro, para
SEÇÃO I diligências reputadas indispensáveis.
DO INQUÉRITO § 4oNo caso de recusa do indiciado em apor o ciente na cópia
da citação, o prazo para defesa contar-se-á da data declarada, em
Art. 153.O inquérito administrativo obedecerá ao princípio do termo próprio, pelo membro da comissão que fez a citação, com a
contraditório, assegurada ao acusado ampla defesa, com a utiliza- assinatura de (2) duas testemunhas.
ção dos meios e recursos admitidos em direito. Art. 162.O indiciado que mudar de residência fica obrigado a
Art. 154.Os autos da sindicância integrarão o processo discipli- comunicar à comissão o lugar onde poderá ser encontrado.
nar, como peça informativa da instrução. Art. 163.Achando-se o indiciado em lugar incerto e não sabido,
Parágrafo único.Na hipótese de o relatório da sindicância con- será citado por edital, publicado no Diário Oficial da União e em
cluir que a infração está capitulada como ilícito penal, a autoridade jornal de grande circulação na localidade do último domicílio co-
competente encaminhará cópia dos autos ao Ministério Público, in- nhecido, para apresentar defesa.
dependentemente da imediata instauração do processo disciplinar.

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Parágrafo único.Na hipótese deste artigo, o prazo para defesa Art. 172.O servidor que responder a processo disciplinar só
será de 15 (quinze) dias a partir da última publicação do edital. poderá ser exonerado a pedido, ou aposentado voluntariamente,
Art. 164.Considerar-se-á revel o indiciado que, regularmente após a conclusão do processo e o cumprimento da penalidade, aca-
citado, não apresentar defesa no prazo legal. so aplicada.
§ 1oA revelia será declarada, por termo, nos autos do processo Parágrafo único.Ocorrida a exoneração de que trata o parágra-
e devolverá o prazo para a defesa. fo único, inciso I do art. 34, o ato será convertido em demissão, se
§ 2oPara defender o indiciado revel, a autoridade instauradora for o caso.
do processo designará um servidor como defensor dativo, que de- Art. 173.Serão assegurados transporte e diárias:
verá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou I - ao servidor convocado para prestar depoimento fora da sede
ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. (Reda- de sua repartição, na condição de testemunha, denunciado ou in-
ção dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) diciado;
Art. 165.Apreciada a defesa, a comissão elaborará relatório mi- II - aos membros da comissão e ao secretário, quando obriga-
nucioso, onde resumirá as peças principais dos autos e mencionará dos a se deslocarem da sede dos trabalhos para a realização de mis-
as provas em que se baseou para formar a sua convicção. são essencial ao esclarecimento dos fatos.
§ 1oO relatório será sempre conclusivo quanto à inocência ou à
responsabilidade do servidor. SEÇÃO III
§ 2oReconhecida a responsabilidade do servidor, a comissão DA REVISÃO DO PROCESSO
indicará o dispositivo legal ou regulamentar transgredido, bem
como as circunstâncias agravantes ou atenuantes. Art. 174.O processo disciplinar poderá ser revisto, a qualquer
Art. 166.O processo disciplinar, com o relatório da comissão, tempo, a pedido ou de ofício, quando se aduzirem fatos novos ou
será remetido à autoridade que determinou a sua instauração, para circunstâncias suscetíveis de justificar a inocência do punido ou a
julgamento. inadequação da penalidade aplicada.
§ 1oEm caso de falecimento, ausência ou desaparecimento do
SEÇÃO II servidor, qualquer pessoa da família poderá requerer a revisão do
DO JULGAMENTO processo.
§ 2oNo caso de incapacidade mental do servidor, a revisão será
Art. 167. No prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento requerida pelo respectivo curador.
do processo, a autoridade julgadora proferirá a sua decisão. Art. 175.No processo revisional, o ônus da prova cabe ao re-
§ 1oSe a penalidade a ser aplicada exceder a alçada da autori- querente.
dade instauradora do processo, este será encaminhado à autorida- Art. 176.A simples alegação de injustiça da penalidade não
de competente, que decidirá em igual prazo. constitui fundamento para a revisão, que requer elementos novos,
§ 2oHavendo mais de um indiciado e diversidade de sanções, ainda não apreciados no processo originário.
o julgamento caberá à autoridade competente para a imposição da Art. 177.O requerimento de revisão do processo será dirigido
pena mais grave. ao Ministro de Estado ou autoridade equivalente, que, se autorizar
§ 3oSe a penalidade prevista for a demissão ou cassação de a revisão, encaminhará o pedido ao dirigente do órgão ou entidade
aposentadoria ou disponibilidade, o julgamento caberá às autorida- onde se originou o processo disciplinar.
des de que trata o inciso I do art. 141. Parágrafo único.Deferida a petição, a autoridade competente
§ 4oReconhecida pela comissão a inocência do servidor, a auto- providenciará a constituição de comissão, na forma do art. 149.
ridade instauradora do processo determinará o seu arquivamento, Art. 178.A revisão correrá em apenso ao processo originário.
salvo se flagrantemente contrária à prova dos autos. (Incluído pela Parágrafo único. Na petição inicial, o requerente pedirá dia e
Lei nº 9.527, de 10.12.97) hora para a produção de provas e inquirição das testemunhas que
Art. 168.O julgamento acatará o relatório da comissão, salvo arrolar.
quando contrário às provas dos autos. Art. 179.A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para a con-
Parágrafo único.Quando o relatório da comissão contrariar as clusão dos trabalhos.
provas dos autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, Art. 180.Aplicam-se aos trabalhos da comissão revisora, no que
agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de couber, as normas e procedimentos próprios da comissão do pro-
responsabilidade. cesso disciplinar.
Art. 169.Verificada a ocorrência de vício insanável, a autoridade Art. 181.O julgamento caberá à autoridade que aplicou a pena-
que determinou a instauração do processo ou outra de hierarquia lidade, nos termos do art. 141.
superior declarará a sua nulidade, total ou parcial, e ordenará, no Parágrafo único.O prazo para julgamento será de 20 (vinte)
mesmo ato, a constituição de outra comissão para instauração de dias, contados do recebimento do processo, no curso do qual a au-
novo processo. (Redação dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) toridade julgadora poderá determinar diligências.
§ 1oO julgamento fora do prazo legal não implica nulidade do Art. 182.Julgada procedente a revisão, será declarada sem efei-
processo. to a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os direitos do
§ 2oA autoridade julgadora que der causa à prescrição de que servidor, exceto em relação à destituição do cargo em comissão,
trata o art. 142, § 2o, será responsabilizada na forma do Capítulo IV que será convertida em exoneração.
do Título IV. Parágrafo único.Da revisão do processo não poderá resultar
Art. 170.Extinta a punibilidade pela prescrição, a autoridade agravamento de penalidade.
julgadora determinará o registro do fato nos assentamentos indi-
viduais do servidor.
Art. 171.Quando a infração estiver capitulada como crime, o
processo disciplinar será remetido ao Ministério Público para ins-
tauração da ação penal, ficando trasladado na repartição.

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
TÍTULO VI § 1oAs aposentadorias e pensões serão concedidas e mantidas
DA SEGURIDADE SOCIAL DO SERVIDOR pelos órgãos ou entidades aos quais se encontram vinculados os
servidores, observado o disposto nos arts. 189 e 224.
CAPÍTULO I § 2oO recebimento indevido de benefícios havidos por fraude,
DISPOSIÇÕES GERAIS dolo ou má-fé, implicará devolução ao erário do total auferido, sem
prejuízo da ação penal cabível.
Art. 183.A União manterá Plano de Seguridade Social para o
servidor e sua família. CAPÍTULO II
§ 1o O servidor ocupante de cargo em comissão que não seja, DOS BENEFÍCIOS
simultaneamente, ocupante de cargo ou emprego efetivo na admi-
nistração pública direta, autárquica e fundacional não terá direito SEÇÃO I
aos benefícios do Plano de Seguridade Social, com exceção da as- DA APOSENTADORIA
sistência à saúde. (Redação dada pela Lei nº 10.667, de 14.5.2003)
§ 2o O servidor afastado ou licenciado do cargo efetivo, sem Art. 186.O servidor será aposentado: (Vide art. 40 da Consti-
direito à remuneração, inclusive para servir em organismo oficial tuição)
internacional do qual o Brasil seja membro efetivo ou com o qual I - por invalidez permanente, sendo os proventos integrais
coopere, ainda que contribua para regime de previdência social no quando decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional
exterior, terá suspenso o seu vínculo com o regime do Plano de Se- ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, e
guridade Social do Servidor Público enquanto durar o afastamento proporcionais nos demais casos;
ou a licença, não lhes assistindo, neste período, os benefícios do II - compulsoriamente, aos setenta anos de idade, com proven-
mencionado regime de previdência. (Incluído pela Lei nº 10.667, tos proporcionais ao tempo de serviço;
de 14.5.2003) III - voluntariamente:
§ 3o Será assegurada ao servidor licenciado ou afastado sem a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e aos 30
remuneração a manutenção da vinculação ao regime do Plano de (trinta) se mulher, com proventos integrais;
Seguridade Social do Servidor Público, mediante o recolhimento b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções de ma-
mensal da respectiva contribuição, no mesmo percentual devido gistério se professor, e 25 (vinte e cinco) se professora, com proven-
pelos servidores em atividade, incidente sobre a remuneração total tos integrais;
do cargo a que faz jus no exercício de suas atribuições, computan- c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25 (vinte e
do-se, para esse efeito, inclusive, as vantagens pessoais. (Incluído cinco) se mulher, com proventos proporcionais a esse tempo;
pela Lei nº 10.667, de 14.5.2003) d) aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e aos
§ 4o O recolhimento de que trata o § 3o deve ser efetuado até 60 (sessenta) se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de
o segundo dia útil após a data do pagamento das remunerações dos serviço.
servidores públicos, aplicando-se os procedimentos de cobrança e § 1oConsideram-se doenças graves, contagiosas ou incuráveis,
a que se refere o inciso I deste artigo, tuberculose ativa, alienação
execução dos tributos federais quando não recolhidas na data de
mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira poste-
vencimento. (Incluído pela Lei nº 10.667, de 14.5.2003)
rior ao ingresso no serviço público, hanseníase, cardiopatia grave,
Art. 184.O Plano de Seguridade Social visa a dar cobertura aos
doença de Parkinson, paralisia irreversível e incapacitante, espon-
riscos a que estão sujeitos o servidor e sua família, e compreende
diloartrose anquilosante, nefropatia grave, estados avançados do
um conjunto de benefícios e ações que atendam às seguintes fina-
mal de Paget (osteíte deformante), Síndrome de Imunodeficiência
lidades:
Adquirida - AIDS, e outras que a lei indicar, com base na medicina
I - garantir meios de subsistência nos eventos de doença, inva-
especializada.
lidez, velhice, acidente em serviço, inatividade, falecimento e re- § 2oNos casos de exercício de atividades consideradas insalu-
clusão; bres ou perigosas, bem como nas hipóteses previstas no art. 71, a
II - proteção à maternidade, à adoção e à paternidade; aposentadoria de que trata o inciso III, “a” e “c”, observará o dispos-
III - assistência à saúde. to em lei específica.
Parágrafo único.Os benefícios serão concedidos nos termos e § 3oNa hipótese do inciso I o servidor será submetido à junta
condições definidos em regulamento, observadas as disposições médica oficial, que atestará a invalidez quando caracterizada a in-
desta Lei. capacidade para o desempenho das atribuições do cargo ou a im-
Art. 185.Os benefícios do Plano de Seguridade Social do servi- possibilidade de se aplicar o disposto no art. 24. (Incluído pela Lei
dor compreendem: nº 9.527, de 10.12.97)
I - quanto ao servidor: Art. 187.A aposentadoria compulsória será automática, e de-
a) aposentadoria; clarada por ato, com vigência a partir do dia imediato àquele em
b) auxílio-natalidade; que o servidor atingir a idade-limite de permanência no serviço ati-
c) salário-família; vo.
d) licença para tratamento de saúde; Art. 188.A aposentadoria voluntária ou por invalidez vigorará a
e) licença à gestante, à adotante e licença-paternidade; partir da data da publicação do respectivo ato.
f) licença por acidente em serviço; § 1oA aposentadoria por invalidez será precedida de licença
g) assistência à saúde; para tratamento de saúde, por período não excedente a 24 (vinte
h) garantia de condições individuais e ambientais de trabalho e quatro) meses.
satisfatórias; § 2oExpirado o período de licença e não estando em condições
II - quanto ao dependente: de reassumir o cargo ou de ser readaptado, o servidor será aposen-
a) pensão vitalícia e temporária; tado.
b) auxílio-funeral; § 3oO lapso de tempo compreendido entre o término da licen-
c) auxílio-reclusão; ça e a publicação do ato da aposentadoria será considerado como
d) assistência à saúde. de prorrogação da licença.

22
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 4oPara os fins do disposto no § 1o deste artigo, serão con- Art. 199.Quando o pai e mãe forem servidores públicos e vi-
sideradas apenas as licenças motivadas pela enfermidade enseja- verem em comum, o salário-família será pago a um deles; quando
dora da invalidez ou doenças correlacionadas. (Incluído pela Lei nº separados, será pago a um e outro, de acordo com a distribuição
11.907, de 2009) dos dependentes.
§ 5oA critério da Administração, o servidor em licença para Parágrafo único.Ao pai e à mãe equiparam-se o padrasto, a
tratamento de saúde ou aposentado por invalidez poderá ser con- madrasta e, na falta destes, os representantes legais dos incapazes.
vocado a qualquer momento, para avaliação das condições que Art. 200.O salário-família não está sujeito a qualquer tributo,
ensejaram o afastamento ou a aposentadoria. (Incluído pela Lei nº nem servirá de base para qualquer contribuição, inclusive para a
11.907, de 2009) Previdência Social.
Art. 189.O provento da aposentadoria será calculado com ob- Art. 201.O afastamento do cargo efetivo, sem remuneração,
servância do disposto no § 3o do art. 41, e revisto na mesma data e não acarreta a suspensão do pagamento do salário-família.
proporção, sempre que se modificar a remuneração dos servidores
em atividade. SEÇÃO IV
Parágrafo único.São estendidos aos inativos quaisquer bene- DA LICENÇA PARA TRATAMENTO DE SAÚDE
fícios ou vantagens posteriormente concedidas aos servidores em
atividade, inclusive quando decorrentes de transformação ou re- Art. 202.Será concedida ao servidor licença para tratamento de
classificação do cargo ou função em que se deu a aposentadoria. saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem pre-
Art. 190.O servidor aposentado com provento proporcional ao juízo da remuneração a que fizer jus.
tempo de serviço se acometido de qualquer das moléstias especifi- Art. 203.A licença de que trata o art. 202 desta Lei será conce-
cadas no § 1o do art. 186 desta Lei e, por esse motivo, for conside- dida com base em perícia oficial. (Redação dada pela Lei nº 11.907,
rado inválido por junta médica oficial passará a perceber provento de 2009)
integral, calculado com base no fundamento legal de concessão da § 1oSempre que necessário, a inspeção médica será realizada
aposentadoria. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009) na residência do servidor ou no estabelecimento hospitalar onde se
Art. 191.Quando proporcional ao tempo de serviço, o provento encontrar internado.
não será inferior a 1/3 (um terço) da remuneração da atividade. § 2oInexistindo médico no órgão ou entidade no local onde se
Art. 192. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) encontra ou tenha exercício em caráter permanente o servidor, e
Art. 193. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) não se configurando as hipóteses previstas nos parágrafos do art.
Art. 194. Ao servidor aposentado será paga a gratificação nata- 230, será aceito atestado passado por médico particular. (Redação
lina, até o dia vinte do mês de dezembro, em valor equivalente ao dada pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
respectivo provento, deduzido o adiantamento recebido. § 3oNo caso do § 2o deste artigo, o atestado somente produzirá
Art. 195.Ao ex-combatente que tenha efetivamente participa- efeitos depois de recepcionado pela unidade de recursos humanos
do de operações bélicas, durante a Segunda Guerra Mundial, nos do órgão ou entidade. (Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009)
termos da Lei nº 5.315, de 12 de setembro de 1967, será concedida § 4oA licença que exceder o prazo de 120 (cento e vinte) dias
aposentadoria com provento integral, aos 25 (vinte e cinco) anos de no período de 12 (doze) meses a contar do primeiro dia de afasta-
serviço efetivo. mento será concedida mediante avaliação por junta médica oficial.
(Redação dada pela Lei nº 11.907, de 2009)
SEÇÃO II § 5oA perícia oficial para concessão da licença de que trata o
DO AUXÍLIO-NATALIDADE caput deste artigo, bem como nos demais casos de perícia oficial
previstos nesta Lei, será efetuada por cirurgiões-dentistas, nas hi-
Art. 196.O auxílio-natalidade é devido à servidora por motivo póteses em que abranger o campo de atuação da odontologia. (In-
de nascimento de filho, em quantia equivalente ao menor venci- cluído pela Lei nº 11.907, de 2009)
mento do serviço público, inclusive no caso de natimorto. Art. 204.A licença para tratamento de saúde inferior a 15 (quin-
§ 1oNa hipótese de parto múltiplo, o valor será acrescido de ze) dias, dentro de 1 (um) ano, poderá ser dispensada de perícia
50% (cinqüenta por cento), por nascituro. oficial, na forma definida em regulamento. (Redação dada pela Lei
§ 2oO auxílio será pago ao cônjuge ou companheiro servidor
nº 11.907, de 2009)
público, quando a parturiente não for servidora.
Art. 205.O atestado e o laudo da junta médica não se referirão
ao nome ou natureza da doença, salvo quando se tratar de lesões
SEÇÃO III
produzidas por acidente em serviço, doença profissional ou qual-
DO SALÁRIO-FAMÍLIA
quer das doenças especificadas no art. 186, § 1o.
Art. 206.O servidor que apresentar indícios de lesões orgânicas
Art. 197.O salário-família é devido ao servidor ativo ou ao inati-
ou funcionais será submetido a inspeção médica.
vo, por dependente econômico.
Parágrafo único.Consideram-se dependentes econômicos para Art. 206-A.O servidor será submetido a exames médicos perió-
efeito de percepção do salário-família: dicos, nos termos e condições definidos em regulamento. (Incluído
I - o cônjuge ou companheiro e os filhos, inclusive os enteados pela Lei nº 11.907, de 2009) (Regulamento).
até 21 (vinte e um) anos de idade ou, se estudante, até 24 (vinte e Parágrafo único.Para os fins do disposto no caput, a União e
quatro) anos ou, se inválido, de qualquer idade; suas entidades autárquicas e fundacionais poderão: (Incluído pela
II - o menor de 21 (vinte e um) anos que, mediante autoriza- Lei nº 12.998, de 2014)
ção judicial, viver na companhia e às expensas do servidor, ou do I - prestar os exames médicos periódicos diretamente pelo ór-
inativo; gão ou entidade à qual se encontra vinculado o servidor; (Incluído
III - a mãe e o pai sem economia própria. pela Lei nº 12.998, de 2014)
Art. 198.Não se configura a dependência econômica quando o II - celebrar convênio ou instrumento de cooperação ou parce-
beneficiário do salário-família perceber rendimento do trabalho ou ria com os órgãos e entidades da administração direta, suas autar-
de qualquer outra fonte, inclusive pensão ou provento da aposen- quias e fundações; (Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014)
tadoria, em valor igual ou superior ao salário-mínimo.

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
III - celebrar convênios com operadoras de plano de assistência SEÇÃO VII
à saúde, organizadas na modalidade de autogestão, que possuam DA PENSÃO
autorização de funcionamento do órgão regulador, na forma do art.
230; ou (Incluído pela Lei nº 12.998, de 2014) Art. 215.Por morte do servidor, os seus dependentes, nas hipó-
IV - prestar os exames médicos periódicos mediante contrato teses legais, fazem jus à pensão por morte, observados os limites
administrativo, observado o disposto na Lei no 8.666, de 21 de ju- estabelecidos no inciso XI do caput do art. 37 da Constituição Fede-
nho de 1993, e demais normas pertinentes. (Incluído pela Lei nº ral e no art. 2º da Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004. (Redação
12.998, de 2014) dada pela Lei nº 13.846, de 2019)
Art. 216. (Revogado pela Medida Provisória nº 664, de 2014)
SEÇÃO V (Vigência) (Revogado pela Lei nº 13.135, de 2015)
DA LICENÇA À GESTANTE, À ADOTANTE E DA LICENÇA-PATER- Art. 217.São beneficiários das pensões:
NIDADE I - o cônjuge; (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
a) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 207.Será concedida licença à servidora gestante por 120 b) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
(cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração. c) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
(Vide Decreto nº 6.690, de 2008) d) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§ 1oA licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de e) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
gestação, salvo antecipação por prescrição médica. II - o cônjuge divorciado ou separado judicialmente ou de fato,
§ 2oNo caso de nascimento prematuro, a licença terá início a com percepção de pensão alimentícia estabelecida judicialmente;
partir do parto. (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§ 3oNo caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do even- a) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
to, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada apta, b) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
reassumirá o exercício. c) Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
§ 4oNo caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora d) (Revogada); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado. III - o companheiro ou companheira que comprove união está-
Art. 208.Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá vel como entidade familiar; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos. IV - o filho de qualquer condição que atenda a um dos seguin-
Art. 209.Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis tes requisitos: (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de tra- a) seja menor de 21 (vinte e um) anos; (Incluído pela Lei nº
balho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em dois 13.135, de 2015)
períodos de meia hora. b) seja inválido; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 210.À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de c) (Vide Lei nº 13.135, de 2015)(Vigência)
criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias d) tenha deficiência intelectual ou mental; (Redação dada pela
de licença remunerada. (Vide Decreto nº 6.691, de 2008) Lei nº 13.846, de 2019)
Parágrafo único.No caso de adoção ou guarda judicial de crian- V - a mãe e o pai que comprovem dependência econômica do
ça com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este artigo servidor; e (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
será de 30 (trinta) dias. VI - o irmão de qualquer condição que comprove dependência
econômica do servidor e atenda a um dos requisitos previstos no
SEÇÃO VI inciso IV. (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
DA LICENÇA POR ACIDENTE EM SERVIÇO § 1oA concessão de pensão aos beneficiários de que tratam os
incisos I a IV do caput exclui os beneficiários referidos nos incisos V
Art. 211.Será licenciado, com remuneração integral, o servidor e VI. (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
acidentado em serviço. § 2oA concessão de pensão aos beneficiários de que trata o in-
Art. 212.Configura acidente em serviço o dano físico ou mental ciso V do caput exclui o beneficiário referido no inciso VI. (Redação
sofrido pelo servidor, que se relacione, mediata ou imediatamente, dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
com as atribuições do cargo exercido. § 3oO enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho me-
Parágrafo único.Equipara-se ao acidente em serviço o dano: diante declaração do servidor e desde que comprovada dependên-
I - decorrente de agressão sofrida e não provocada pelo servi- cia econômica, na forma estabelecida em regulamento. (Incluído
dor no exercício do cargo;
pela Lei nº 13.135, de 2015)
II - sofrido no percurso da residência para o trabalho e vice-
§ 4º (VETADO).(Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019)
-versa.
Art. 218.Ocorrendo habilitação de vários titulares à pensão, o
Art. 213.O servidor acidentado em serviço que necessite de
seu valor será distribuído em partes iguais entre os beneficiários
tratamento especializado poderá ser tratado em instituição priva-
habilitados. (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
da, à conta de recursos públicos.
§ 1o(Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
Parágrafo único. O tratamento recomendado por junta médica
§ 2o(Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
oficial constitui medida de exceção e somente será admissível quan-
§ 3o(Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
do inexistirem meios e recursos adequados em instituição pública.
Art. 214.A prova do acidente será feita no prazo de 10 (dez) Art. 219.A pensão por morte será devida ao conjunto dos de-
dias, prorrogável quando as circunstâncias o exigirem. pendentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da
data: (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)
I - do óbito, quando requerida em até 180 (cento e oitenta
dias) após o óbito, para os filhos menores de 16 (dezesseis) anos,
ou em até 90 (noventa) dias após o óbito, para os demais depen-
dentes;(Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)

24
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
II - do requerimento, quando requerida após o prazo previs- III - a cessação da invalidez, em se tratando de beneficiário in-
to no inciso I do caput deste artigo; ou (Redação dada pela Lei nº válido, ou o afastamento da deficiência, em se tratando de benefi-
13.846, de 2019) ciário com deficiência, respeitados os períodos mínimos decorren-
III - da decisão judicial, na hipótese de morte presumida. (Reda- tes da aplicação das alíneas a e b do inciso VII do caput deste artigo;
ção dada pela Lei nº 13.846, de 2019) (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)
§ 1º A concessão da pensão por morte não será protelada pela IV - o implemento da idade de 21 (vinte e um) anos, pelo filho
falta de habilitação de outro possível dependente e a habilitação ou irmão; (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015)
posterior que importe em exclusão ou inclusão de dependente só V - a acumulação de pensão na forma do art. 225;
produzirá efeito a partir da data da publicação da portaria de con- VI - a renúncia expressa; e (Redação dada pela Lei nº 13.135,
cessão da pensão ao dependente habilitado. (Redação dada pela de 2015)
Lei nº 13.846, de 2019) VII - em relação aos beneficiários de que tratam os incisos I a III
§ 2º Ajuizada a ação judicial para reconhecimento da condição do caput do art. 217: (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
de dependente, este poderá requerer a sua habilitação provisória a) o decurso de 4 (quatro) meses, se o óbito ocorrer sem que
ao benefício de pensão por morte, exclusivamente para fins de ra- o servidor tenha vertido 18 (dezoito) contribuições mensais ou se o
teio dos valores com outros dependentes, vedado o pagamento da casamento ou a união estável tiverem sido iniciados em menos de 2
(dois) anos antes do óbito do servidor; (Incluído pela Lei nº 13.135,
respectiva cota até o trânsito em julgado da respectiva ação, ressal-
de 2015)
vada a existência de decisão judicial em contrário. (Redação dada
b) o decurso dos seguintes períodos, estabelecidos de acordo
pela Lei nº 13.846, de 2019)
com a idade do pensionista na data de óbito do servidor, depois de
§ 3º Nas ações em que for parte o ente público responsável pela vertidas 18 (dezoito) contribuições mensais e pelo menos 2 (dois)
concessão da pensão por morte, este poderá proceder de ofício à anos após o início do casamento ou da união estável: (Incluído pela
habilitação excepcional da referida pensão, apenas para efeitos de Lei nº 13.135, de 2015)
rateio, descontando-se os valores referentes a esta habilitação das 1) 3 (três) anos, com menos de 21 (vinte e um) anos de idade;
demais cotas, vedado o pagamento da respectiva cota até o trânsito (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
em julgado da respectiva ação, ressalvada a existência de decisão 2) 6 (seis) anos, entre 21 (vinte e um) e 26 (vinte e seis) anos de
judicial em contrário. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
§ 4º Julgada improcedente a ação prevista no § 2º ou § 3º deste 3) 10 (dez) anos, entre 27 (vinte e sete) e 29 (vinte e nove) anos
artigo, o valor retido será corrigido pelos índices legais de reajusta- de idade;(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
mento e será pago de forma proporcional aos demais dependentes, 4) 15 (quinze) anos, entre 30 (trinta) e 40 (quarenta) anos de
de acordo com as suas cotas e o tempo de duração de seus benefí- idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
cios. (Incluído pela Lei nº 13.846, de 2019) 5) 20 (vinte) anos, entre 41 (quarenta e um) e 43 (quarenta e
§ 5º Em qualquer hipótese, fica assegurada ao órgão conces- três) anos de idade; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
sor da pensão por morte a cobrança dos valores indevidamente 6) vitalícia, com 44 (quarenta e quatro) ou mais anos de idade.
pagos em função de nova habilitação. (Incluído pela Lei nº 13.846, (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
de 2019) § 1oA critério da administração, o beneficiário de pensão cuja
preservação seja motivada por invalidez, por incapacidade ou por
Art. 220.Perde o direito à pensão por morte: (Redação dada
deficiência poderá ser convocado a qualquer momento para avalia-
pela Lei nº 13.135, de 2015)
ção das referidas condições. (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
I - após o trânsito em julgado, o beneficiário condenado pela
§ 2oSerão aplicados, conforme o caso, a regra contida no inciso
prática de crime de que tenha dolosamente resultado a morte do III ou os prazos previstos na alínea “b” do inciso VII, ambos do caput,
servidor; (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) se o óbito do servidor decorrer de acidente de qualquer natureza
II - o cônjuge, o companheiro ou a companheira se compro- ou de doença profissional ou do trabalho, independentemente do
vada, a qualquer tempo, simulação ou fraude no casamento ou recolhimento de 18 (dezoito) contribuições mensais ou da compro-
na união estável, ou a formalização desses com o fim exclusivo de vação de 2 (dois) anos de casamento ou de união estável. (Incluído
constituir benefício previdenciário, apuradas em processo judicial pela Lei nº 13.135, de 2015)
no qual será assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa. § 3oApós o transcurso de pelo menos 3 (três) anos e desde
(Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015) que nesse período se verifique o incremento mínimo de um ano
Art. 221.Será concedida pensão provisória por morte presumi- inteiro na média nacional única, para ambos os sexos, correspon-
da do servidor, nos seguintes casos: dente à expectativa de sobrevida da população brasileira ao nascer,
I - declaração de ausência, pela autoridade judiciária compe- poderão ser fixadas, em números inteiros, novas idades para os fins
tente; previstos na alínea “b” do inciso VII do caput, em ato do Ministro de
II - desaparecimento em desabamento, inundação, incêndio ou Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, limitado o acrésci-
acidente não caracterizado como em serviço; mo na comparação com as idades anteriores ao referido incremen-
III - desaparecimento no desempenho das atribuições do cargo to. (Incluído pela Lei nº 13.135, de 2015)
ou em missão de segurança. § 4oO tempo de contribuição a Regime Próprio de Previdência
Parágrafo único.A pensão provisória será transformada em vi- Social (RPPS) ou ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS) será
talícia ou temporária, conforme o caso, decorridos 5 (cinco) anos considerado na contagem das 18 (dezoito) contribuições mensais
de sua vigência, ressalvado o eventual reaparecimento do servidor, referidas nas alíneas “a” e “b” do inciso VII do caput. (Incluído pela
hipótese em que o benefício será automaticamente cancelado. Lei nº 13.135, de 2015)
Art. 222.Acarreta perda da qualidade de beneficiário: § 5º Na hipótese de o servidor falecido estar, na data de seu
I - o seu falecimento; falecimento, obrigado por determinação judicial a pagar alimentos
II - a anulação do casamento, quando a decisão ocorrer após a temporários a ex-cônjuge, ex-companheiro ou ex-companheira, a
concessão da pensão ao cônjuge; pensão por morte será devida pelo prazo remanescente na data do
óbito, caso não incida outra hipótese de cancelamento anterior do
benefício. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019)

25
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 6º O beneficiário que não atender à convocação de que trata § 3oRessalvado o disposto neste artigo, o auxílio-reclusão será
o § 1º deste artigo terá o benefício suspenso, observado o disposto devido, nas mesmas condições da pensão por morte, aos depen-
nos incisos I e II do caput do art. 95 da Lei nº 13.146, de 6 de julho dentes do segurado recolhido à prisão. (Incluído pela Lei nº 13.135,
de 2015. (Redação dada pela Lei nº 13.846, de 2019) de 2015)
§ 7º O exercício de atividade remunerada, inclusive na condi-
ção de microempreendedor individual, não impede a concessão ou CAPÍTULO III
manutenção da cota da pensão de dependente com deficiência in- DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE
telectual ou mental ou com deficiência grave. (Incluído pela Lei nº
13.846, de 2019) Art. 230.A assistência à saúde do servidor, ativo ou inativo, e de
§ 8º No ato de requerimento de benefícios previdenciários, sua família compreende assistência médica, hospitalar, odontoló-
não será exigida apresentação de termo de curatela de titular ou gica, psicológica e farmacêutica, terá como diretriz básica o imple-
de beneficiário com deficiência, observados os procedimentos a se- mento de ações preventivas voltadas para a promoção da saúde e
rem estabelecidos em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.846, será prestada pelo Sistema Único de Saúde – SUS, diretamente pelo
de 2019) órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o servidor, ou median-
Art. 223.Por morte ou perda da qualidade de beneficiário, a te convênio ou contrato, ou ainda na forma de auxílio, mediante
respectiva cota reverterá para os cobeneficiários. (Redação dada ressarcimento parcial do valor despendido pelo servidor, ativo ou
pela Lei nº 13.135, de 2015) inativo, e seus dependentes oupensionistas com planos ou seguros
I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) privados de assistência à saúde, na forma estabelecida em regula-
II - (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.135, de 2015) mento. (Redação dada pela Lei nº 11.302 de 2006)
Art. 224.As pensões serão automaticamente atualizadas na § 1oNas hipóteses previstas nesta Lei em que seja exigida perí-
mesma data e na mesma proporção dos reajustes dos vencimentos cia, avaliação ou inspeção médica, na ausência de médico ou junta
dos servidores, aplicando-se o disposto no parágrafo único do art. médica oficial, para a sua realização o órgão ou entidade celebra-
189. rá, preferencialmente, convênio com unidades de atendimento do
Art. 225.Ressalvado o direito de opção, é vedada a percepção sistema público de saúde, entidades sem fins lucrativos declaradas
cumulativa de pensão deixada por mais de um cônjuge ou compa- de utilidade pública, ou com o Instituto Nacional do Seguro Social -
nheiro ou companheira e de mais de 2 (duas) pensões. (Redação INSS. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
dada pela Lei nº 13.135, de 2015) § 2oNa impossibilidade, devidamente justificada, da aplicação
do disposto no parágrafo anterior, o órgão ou entidade promoverá a
SEÇÃO VIII contratação da prestação de serviços por pessoa jurídica, que cons-
DO AUXÍLIO-FUNERAL tituirá junta médica especificamente para esses fins, indicando os
nomes e especialidades dos seus integrantes, com a comprovação
Art. 226.O auxílio-funeral é devido à família do servidor faleci- de suas habilitações e de que não estejam respondendo a processo
do na atividade ou aposentado, em valor equivalente a um mês da disciplinar junto à entidade fiscalizadora da profissão. (Incluído pela
remuneração ou provento. Lei nº 9.527, de 10.12.97)
§ 1oNo caso de acumulação legal de cargos, o auxílio será pago § 3oPara os fins do disposto no caput deste artigo, ficam a
somente em razão do cargo de maior remuneração. União e suas entidades autárquicas e fundacionais autorizadas a:
§ 2o(VETADO). (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006)
§ 3oO auxílio será pago no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, I - celebrar convênios exclusivamente para aprestação de servi-
por meio de procedimento sumaríssimo, à pessoa da família que ços de assistência à saúde para os seus servidores ou empregados
houver custeado o funeral. ativos, aposentados, pensionistas, bem como para seus respectivos
Art. 227.Se o funeral for custeado por terceiro, este será inde- grupos familiares definidos, com entidades de autogestão por elas
nizado, observado o disposto no artigo anterior. patrocinadas por meio de instrumentos jurídicos efetivamente ce-
Art. 228.Em caso de falecimento de servidor em serviço fora do lebrados e publicados até 12 de fevereiro de 2006 e que possuam
local de trabalho, inclusive no exterior, as despesas de transporte autorização de funcionamento do órgão regulador, sendo certo
do corpo correrão à conta de recursos da União, autarquia ou fun- que os convênios celebrados depois dessa data somente poderão
dação pública. sê-lo na forma da regulamentação específica sobre patrocínio de
autogestões, a ser publicada pelo mesmo órgão regulador, no prazo
SEÇÃO IX de 180 (cento e oitenta) dias da vigência desta Lei, normas essas
DO AUXÍLIO-RECLUSÃO também aplicáveis aos convênios existentes até 12 de fevereiro de
2006; (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006)
Art. 229.À família do servidor ativo é devido o auxílio-reclusão, II - contratar, mediante licitação, na forma da Lei no 8.666, de
nos seguintes valores: 21 de junho de 1993, operadoras de planos e seguros privados de
I - dois terços da remuneração, quando afastado por motivo de assistência à saúde que possuam autorização de funcionamento do
prisão, em flagrante ou preventiva, determinada pela autoridade órgão regulador; (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006)
competente, enquanto perdurar a prisão; III -(VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006)
II - metade da remuneração, durante o afastamento, em virtu- § 4o(VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006)
de de condenação, por sentença definitiva, a pena que não deter- § 5oO valor do ressarcimento fica limitado ao total despendido
mine a perda de cargo. pelo servidor ou pensionista civil com plano ou seguro privado de
§ 1oNos casos previstos no inciso I deste artigo, o servidor terá assistência à saúde. (Incluído pela Lei nº 11.302 de 2006)
direito à integralização da remuneração, desde que absolvido.
§ 2oO pagamento do auxílio-reclusão cessará a partir do dia CAPÍTULO IV
imediato àquele em que o servidor for posto em liberdade, ainda DO CUSTEIO
que condicional.
Art. 231.(Revogado pela Lei nº 9.783, de 28.01.99)

26
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
TÍTULO VII de 28 de outubro de 1952 - Estatuto dos Funcionários Públicos Civis
da União, ou pela Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo
CAPÍTULO ÚNICO Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, exceto os contratados
DA CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERES- por prazo determinado, cujos contratos não poderão ser prorroga-
SE PÚBLICO dos após o vencimento do prazo de prorrogação.
§ 1oOs empregos ocupados pelos servidores incluídos no regi-
Art. 232. (Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) me instituído por esta Lei ficam transformados em cargos, na data
Art. 233. (Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) de sua publicação.
Art. 234. (Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) § 2oAs funções de confiança exercidas por pessoas não in-
Art. 235. (Revogado pela Lei nº 8.745, de 9.12.93) tegrantes de tabela permanente do órgão ou entidade onde têm
exercício ficam transformadas em cargos em comissão, e mantidas
TÍTULO VIII enquanto não for implantado o plano de cargos dos órgãos ou enti-
dades na forma da lei.
CAPÍTULO ÚNICO § 3oAs Funções de Assessoramento Superior - FAS, exercidas
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS por servidor integrante de quadro ou tabela de pessoal, ficam ex-
tintas na data da vigência desta Lei.
Art. 236.O Dia do Servidor Público será comemorado a vinte e § 4o(VETADO).
oito de outubro. § 5oO regime jurídico desta Lei é extensivo aos serventuários
Art. 237.Poderão ser instituídos, no âmbito dos Poderes Exe- da Justiça, remunerados com recursos da União, no que couber.
cutivo, Legislativo e Judiciário, os seguintes incentivos funcionais, § 6oOs empregos dos servidores estrangeiros com estabilidade
além daqueles já previstos nos respectivos planos de carreira: no serviço público, enquanto não adquirirem a nacionalidade bra-
I - prêmios pela apresentação de idéias, inventos ou trabalhos sileira, passarão a integrar tabela em extinção, do respectivo órgão
que favoreçam o aumento de produtividade e a redução dos custos ou entidade, sem prejuízo dos direitos inerentes aos planos de car-
operacionais; reira aos quais se encontrem vinculados os empregos.
II - concessão de medalhas, diplomas de honra ao mérito, con- § 7oOs servidores públicos de que trata o caput deste artigo,
decoração e elogio. não amparados pelo art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais
Art. 238.Os prazos previstos nesta Lei serão contados em dias Transitórias, poderão, no interesse da Administração e conforme
corridos, excluindo-se o dia do começo e incluindo-se o do venci- critérios estabelecidos em regulamento, ser exonerados median-
mento, ficando prorrogado, para o primeiro dia útil seguinte, o pra- te indenização de um mês de remuneração por ano de efetivo
zo vencido em dia em que não haja expediente. exercício no serviço público federal. (Incluído pela Lei nº 9.527, de
Art. 239.Por motivo de crença religiosa ou de convicção filo- 10.12.97)
sófica ou política, o servidor não poderá ser privado de quaisquer § 8oPara fins de incidência do imposto de renda na fonte e na
dos seus direitos, sofrer discriminação em sua vida funcional, nem declaração de rendimentos, serão considerados como indenizações
eximir-se do cumprimento de seus deveres. isentas os pagamentos efetuados a título de indenização prevista
Art. 240.Ao servidor público civil é assegurado, nos termos da no parágrafo anterior. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
Constituição Federal, o direito à livre associação sindical e os se- § 9oOs cargos vagos em decorrência da aplicação do disposto
guintes direitos, entre outros, dela decorrentes: no § 7o poderão ser extintos pelo Poder Executivo quando conside-
a) de ser representado pelo sindicato, inclusive como substitu- rados desnecessários. (Incluído pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
to processual; Art. 244.Os adicionais por tempo de serviço, já concedidos aos
b) de inamovibilidade do dirigente sindical, até um ano após o servidores abrangidos por esta Lei, ficam transformados em anuê-
final do mandato, exceto se a pedido; nio.
c) de descontar em folha, sem ônus para a entidade sindical a Art. 245.A licença especial disciplinada pelo art. 116 da Lei nº
que for filiado, o valor das mensalidades e contribuições definidas 1.711, de 1952, ou por outro diploma legal, fica transformada em
em assembléia geral da categoria. licença-prêmio por assiduidade, na forma prevista nos arts. 87 a 90.
d) (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 246. (VETADO).
e) (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97) Art. 247.Para efeito do disposto no Título VI desta Lei, haverá
Art. 241.Consideram-se da família do servidor, além do cônjuge ajuste de contas com a Previdência Social, correspondente ao pe-
e filhos, quaisquer pessoas que vivam às suas expensas e constem ríodo de contribuição por parte dos servidores celetistas abrangi-
do seu assentamento individual. dos pelo art. 243. (Redação dada pela Lei nº 8.162, de 8.1.91)
Parágrafo único.Equipara-se ao cônjuge a companheira ou Art. 248.As pensões estatutárias, concedidas até a vigência
companheiro, que comprove união estável como entidade familiar. desta Lei, passam a ser mantidas pelo órgão ou entidade de origem
Art. 242.Para os fins desta Lei, considera-se sede o município do servidor.
onde a repartição estiver instalada e onde o servidor tiver exercício, Art. 249.Até a edição da lei prevista no § 1o do art. 231, os
em caráter permanente. servidores abrangidos por esta Lei contribuirão na forma e nos per-
centuais atualmente estabelecidos para o servidor civil da União
TÍTULO IX conforme regulamento próprio.
Art. 250. O servidor que já tiver satisfeito ou vier a satisfazer,
CAPÍTULO ÚNICO dentro de 1 (um) ano, as condições necessárias para a aposentado-
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS ria nos termos do inciso II do art. 184 do antigo Estatuto dos Fun-
cionários Públicos Civis da União, Lei n° 1.711, de 28 de outubro de
Art. 243.Ficam submetidos ao regime jurídico instituído por 1952, aposentar-se-á com a vantagem prevista naquele dispositivo.
esta Lei, na qualidade de servidores públicos, os servidores dos Po- (Mantido pelo Congresso Nacional)
deres da União, dos ex-Territórios, das autarquias, inclusive as em Art. 251. (Revogado pela Lei nº 9.527, de 10.12.97)
regime especial, e das fundações públicas, regidos pela Lei nº 1.711,

27
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
Art. 252.Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, com § 8º Não configura improbidade a ação ou omissão decorrente
efeitos financeiros a partir do primeiro dia do mês subseqüente. de divergência interpretativa da lei, baseada em jurisprudência, ain-
Art. 253.Ficam revogadas a Lei nº 1.711, de 28 de outubro de da que não pacificada, mesmo que não venha a ser posteriormente
1952, e respectiva legislação complementar, bem como as demais prevalecente nas decisões dos órgãos de controle ou dos tribunais
disposições em contrário. do Poder Judiciário. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público
o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ain-
da que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nome-
LEI Nº 8.429/1992 E ALTERAÇÕES: DISPOSIÇÕES GE- ação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investi-
RAIS; ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA dura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
referidas no art. 1º desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.230,
LEI Nº 8.429, DE 2 DE JUNHO DE 1992 de 2021)
Parágrafo único. No que se refere a recursos de origem pública,
Dispõe sobre as sanções aplicáveis em virtude da prática de sujeita-se às sanções previstas nesta Lei o particular, pessoa física
atos de improbidade administrativa, de que trata o § 4º do art. 37 ou jurídica, que celebra com a administração pública convênio, con-
da Constituição Federal; e dá outras providências. (Redação dada trato de repasse, contrato de gestão, termo de parceria, termo de
pela Lei nº 14.230, de 2021) cooperação ou ajuste administrativo equivalente. (Incluído pela
Lei nº 14.230, de 2021)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Na- Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber,
cional decreta e eu sanciono a seguinte lei: àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra
dolosamente para a prática do ato de improbidade. (Redação
CAPÍTULO I dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS § 1º Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de
pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de im-
Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade probidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se,
administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso
exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade em que responderão nos limites da sua participação. (Incluído
do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. (Redação pela Lei nº 14.230, de 2021)
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica,
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº caso o ato de improbidade administrativa seja também sanciona-
14.230, de 2021) do como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº
§ 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as con- 12.846, de 1º de agosto de 2013. (Incluído pela Lei nº 14.230,
dutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados de 2021)
tipos previstos em leis especiais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de Art. 4° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021).
2021) Art. 5° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021).
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar Art. 6° (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021).
o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não bas- Art. 7º Se houver indícios de ato de improbidade, a autoridade
tando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, que conhecer dos fatos representará ao Ministério Público compe-
de 2021) tente, para as providências necessárias. (Redação dada pela Lei
§ 3º O mero exercício da função ou desempenho de compe- nº 14.230, de 2021)
tências públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº
afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa. 14.230, de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao
§ 4º Aplicam-se ao sistema da improbidade disciplinado nesta erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à
Lei os princípios constitucionais do direito administrativo sanciona- obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do patri-
dor. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) mônio transferido. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organiza- Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º
ção do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de
patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Ju- transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária.
diciário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (Inclu- Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a
ído pela Lei nº 14.230, de 2021) responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de repara-
§ 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbida- ção integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferi-
de praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba do, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei
subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes pú- decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão
blicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo. (Inclu- ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente
ído pela Lei nº 14.230, de 2021) intuito de fraude, devidamente comprovados. (Incluído pela Lei
§ 7º Independentemente de integrar a administração indireta, nº 14.230, de 2021)
estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade prati-
cados contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação
ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio
ou receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso,
à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
CAPÍTULO II SEÇÃO II
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE CAUSAM
PREJUÍZO AO ERÁRIO
SEÇÃO I
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE IMPOR- Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa
TAM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efe-
tiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação,
Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importan- malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
do em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato do- referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: (Redação dada
loso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do pela Lei nº 14.230, de 2021):
exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de ati- I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida
vidade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica,
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo
I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; (Reda-
imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire- ção dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica pri-
quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido vada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo
ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a
agente público; observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis
II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa- à espécie;
cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente desper-
a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por sonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, ren-
preço superior ao valor de mercado; das, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades
III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa- mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades
cilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o forne- legais e regulamentares aplicáveis à espécie;
cimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de
mercado; bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas
IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas por preço inferior ao de mercado;
no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empre- V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem
gados ou de terceiros contratados por essas entidades; (Redação ou serviço por preço superior ao de mercado;
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) VI - realizar operação financeira sem observância das normas
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, nea;
de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual- VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a obser-
quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem; vância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à es-
VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta pécie;
ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técni- VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo
co que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucra-
quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercado- tivos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimo-
rias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art. nial efetiva; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
1º desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autoriza-
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de manda- das em lei ou regulamento;
to, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda,
bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio públi-
deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimô- co; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
nio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normas
agente da licitude da origem dessa evolução; (Redação dada
pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irre-
pela Lei nº 14.230, de 2021)
gular;
VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con-
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri-
sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te-
queça ilicitamente;
nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veí-
omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a
culos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza,
atividade;
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencio-
IX - perceber vantagem econômica para intermediar a libera-
ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza; nadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público,
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara- XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por
ção a que esteja obrigado; objeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associa-
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, da sem observar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en- nº 11.107, de 2005)
tidades mencionadas no art. 1° desta lei; XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi-
XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formali-
integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no dades previstas na lei.(Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
art. 1° desta lei.

29
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incor- III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão
poração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando
bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela adminis- beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco
tração pública a entidades privadas mediante celebração de parce- a segurança da sociedade e do Estado; (Redação dada pela Lei
rias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares nº 14.230, de 2021)
aplicáveis à espécie;(Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência) IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua
XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou
privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos de outras hipóteses instituídas em lei; (Redação dada pela Lei
pela administração pública a entidade privada mediante celebração nº 14.230, de 2021)
de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regula- V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial
mentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitató-
(Vigência) rio, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto,
XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entida- ou de terceiros; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
des privadas sem a observância das formalidades legais ou regula- VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo,
mentares aplicáveis à espécie;(Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014) desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar
(Vigência) irregularidades; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fisca- VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de tercei-
lização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas ro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou
pela administração pública com entidades privadas; (Redação econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.
dada pela Lei nº 14.230, de 2021)) VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização
XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administração e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração pú-
pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor- blica com entidades privadas.(Vide Medida Provisória nº 2.088-35,
mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação de 2000)(Redação dada pela Lei nº 13.019, de 2014) (Vigência)
irregular.(Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014, com a redação dada IX - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
pela Lei nº 13.204, de 2015) X - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
XXI - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta,
2021) colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autori-
XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tribu- dade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido
tário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de
Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. (Incluído pela cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada
Lei nº 14.230, de 2021) na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes
§ 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com-
preendido o ajuste mediante designações recíprocas; (Incluído
ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não
pela Lei nº 14.230, de 2021)
ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento
XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recur-
sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. (Incluído
sos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º
pela Lei nº 14.230, de 2021)
do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco
§ 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econô-
enaltecimento do agente público e personalização de atos, de pro-
mica não acarretará improbidade administrativa, salvo se compro-
gramas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públi-
vado ato doloso praticado com essa finalidade. (Incluído pela Lei
cos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
nº 14.230, de 2021) § 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a
Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro
SEÇÃO II-A de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplica-
(INCLUÍDO PELA LEI COMPLEMENTAR Nº 157, DE 2016)(PRO- ção deste artigo, quando for comprovado na conduta funcional do
DUÇÃO DE EFEITO) agente público o fim de obter proveito ou benefício indevido para si
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA DECORREN- ou para outra pessoa ou entidade. (Incluído pela Lei nº 14.230,
TES DE CONCESSÃO OU APLICAÇÃO INDEVIDA DE BENEFÍCIO de 2021)
FINANCEIRO OU TRIBUTÁRIO § 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo a quaisquer atos
(REVOGADO PELA LEI Nº 14.230, DE 2021) de improbidade administrativa tipificados nesta Lei e em leis espe-
ciais e a quaisquer outros tipos especiais de improbidade adminis-
trativa instituídos por lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 10-A (Revogado pela Lei nº 14.230, de 2021) § 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de
que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática
SEÇÃO III de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das
DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA QUE ATEN- normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. (Incluído
TAM CONTRA OS PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis
contra os princípios da administração pública a ação ou omissão de sancionamento e independem do reconhecimento da produção
dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos.
legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: (Re- (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
dação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) § 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indi-
I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) cação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sen-
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) do necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do
agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

30
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
CAPÍTULO III § 5º No caso de atos de menor ofensa aos bens jurídicos tute-
DAS PENAS lados por esta Lei, a sanção limitar-se-á à aplicação de multa, sem
prejuízo do ressarcimento do dano e da perda dos valores obtidos,
Art. 12. Independentemente do ressarcimento integral do dano quando for o caso, nos termos do caput deste artigo. (Incluído
patrimonial, se efetivo, e das sanções penais comuns e de respon- pela Lei nº 14.230, de 2021)
sabilidade, civis e administrativas previstas na legislação específica, § 6º Se ocorrer lesão ao patrimônio público, a reparação do
está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes co- dano a que se refere esta Lei deverá deduzir o ressarcimento ocorri-
minações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, do nas instâncias criminal, civil e administrativa que tiver por objeto
de acordo com a gravidade do fato: (Redação dada pela Lei nº os mesmos fatos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
14.230, de 2021) § 7º As sanções aplicadas a pessoas jurídicas com base nesta
I - na hipótese do art. 9º desta Lei, perda dos bens ou valores Lei e na Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, deverão observar
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública, sus- o princípio constitucional do non bis in idem. (Incluído pela Lei
pensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos, pagamento de nº 14.230, de 2021)
multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial e proibi- § 8º A sanção de proibição de contratação com o poder público
ção de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou deverá constar do Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Sus-
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que pensas (CEIS) de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013,
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, observadas as limitações territoriais contidas em decisão judicial,
pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos; (Redação dada pela conforme disposto no § 4º deste artigo. (Incluído pela Lei nº
Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
II - na hipótese do art. 10 desta Lei, perda dos bens ou valores § 9º As sanções previstas neste artigo somente poderão ser
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstân- executadas após o trânsito em julgado da sentença condenatória.
cia, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos até 12 (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
(doze) anos, pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano § 10. Para efeitos de contagem do prazo da sanção de suspen-
e proibição de contratar com o poder público ou de receber bene- são dos direitos políticos, computar-se-á retroativamente o inter-
fícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, valo de tempo entre a decisão colegiada e o trânsito em julgado da
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio ma- sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
joritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos; (Redação
dada pela Lei nº 14.230, de 2021) CAPÍTULO IV
III - na hipótese do art. 11 desta Lei, pagamento de multa civil DA DECLARAÇÃO DE BENS
de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida
pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou de Art. 13. A posse e o exercício de agente público ficam condicio-
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou in- nados à apresentação de declaração de imposto de renda e proven-
diretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual tos de qualquer natureza, que tenha sido apresentada à Secretaria
seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos; Especial da Receita Federal do Brasil, a fim de ser arquivada no ser-
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) viço de pessoal competente. (Redação dada pela Lei nº 14.230,
IV - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
Parágrafo único. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de
14.230, de 2021) 2021)
§ 2º A declaração de bens a que se refere o caput deste arti-
§ 1º A sanção de perda da função pública, nas hipóteses dos in-
go será atualizada anualmente e na data em que o agente público
cisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma
deixar o exercício do mandato, do cargo, do emprego ou da função.
qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com
(Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
o poder público na época do cometimento da infração, podendo o
§ 3º Será apenado com a pena de demissão, sem prejuízo de
magistrado, na hipótese do inciso I do caput deste artigo, e em ca- outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a prestar a
ráter excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas as declaração dos bens a que se refere o caput deste artigo dentro do
circunstâncias do caso e a gravidade da infração. (Incluído pela prazo determinado ou que prestar declaração falsa. (Redação
Lei nº 14.230, de 2021) dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º A multa pode ser aumentada até o dobro, se o juiz conside- § 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de
rar que, em virtude da situação econômica do réu, o valor calculado 2021)
na forma dos incisos I, II e III do caput deste artigo é ineficaz para
reprovação e prevenção do ato de improbidade. (Incluído pela CAPÍTULO V
Lei nº 14.230, de 2021) DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO E DO PROCESSO JUDI-
§ 3º Na responsabilização da pessoa jurídica, deverão ser con- CIAL
siderados os efeitos econômicos e sociais das sanções, de modo a
viabilizar a manutenção de suas atividades. (Incluído pela Lei Art. 14. Qualquer pessoa poderá representar à autoridade ad-
nº 14.230, de 2021) ministrativa competente para que seja instaurada investigação des-
§ 4º Em caráter excepcional e por motivos relevantes devida- tinada a apurar a prática de ato de improbidade.
mente justificados, a sanção de proibição de contratação com o § 1º A representação, que será escrita ou reduzida a termo e
poder público pode extrapolar o ente público lesado pelo ato de assinada, conterá a qualificação do representante, as informações
improbidade, observados os impactos econômicos e sociais das sobre o fato e sua autoria e a indicação das provas de que tenha
sanções, de forma a preservar a função social da pessoa jurídica, conhecimento.
conforme disposto no § 3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº § 2º A autoridade administrativa rejeitará a representação, em
14.230, de 2021) despacho fundamentado, se esta não contiver as formalidades es-
tabelecidas no § 1º deste artigo. A rejeição não impede a represen-
tação ao Ministério Público, nos termos do art. 22 desta lei.

31
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 3º Atendidos os requisitos da representação, a autoridade § 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem
determinará a imediata apuração dos fatos, observada a legislação exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem in-
que regula o processo administrativo disciplinar aplicável ao agen- cidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de
te. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade
Art. 15. A comissão processante dará conhecimento ao Minis- lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tério Público e ao Tribunal ou Conselho de Contas da existência de § 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar ve-
procedimento administrativo para apurar a prática de ato de im- ículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semo-
probidade. ventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples
Parágrafo único. O Ministério Público ou Tribunal ou Conselho e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência
de Contas poderá, a requerimento, designar representante para desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir a sub-
acompanhar o procedimento administrativo. sistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao
Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser longo do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indis- § 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens
ponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recom- do réu a que se refere o caput deste artigo, observará os efeitos
posição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enri- práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarretar
quecimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) prejuízo à prestação de serviços públicos. (Incluído pela Lei nº
§ 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 14.230, de 2021)
2021) § 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de
§ 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere até 40 (quarenta) salários mínimos depositados em caderneta de
o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente.
representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
nº 14.230, de 2021) § 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de
§ 2º Quando for o caso, o pedido de indisponibilidade de bens a família do réu, salvo se comprovado que o imóvel seja fruto de van-
que se refere o caput deste artigo incluirá a investigação, o exame e tagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei.
o bloqueio de bens, contas bancárias e aplicações financeiras man- (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021).
tidas pelo indiciado no exterior, nos termos da lei e dos tratados Art. 17. A ação para a aplicação das sanções de que trata esta
internacionais. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) Lei será proposta pelo Ministério Público e seguirá o procedimento
§ 3º O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o comum previsto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
caput deste artigo apenas será deferido mediante a demonstração de Processo Civil), salvo o disposto nesta Lei. (Redação dada
no caso concreto de perigo de dano irreparável ou de risco ao re- pela Lei nº 14.230, de 2021)
sultado útil do processo, desde que o juiz se convença da probabili- § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de
dade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com funda- 2021)
mento nos respectivos elementos de instrução, após a oitiva do réu § 2º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de
em 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 2021)
§ 4º A indisponibilidade de bens poderá ser decretada sem a § 3º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de
oitiva prévia do réu, sempre que o contraditório prévio puder com- 2021)
provadamente frustrar a efetividade da medida ou houver outras § 4º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
circunstâncias que recomendem a proteção liminar, não podendo a § 4º-A A ação a que se refere o caput deste artigo deverá ser
urgência ser presumida. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) proposta perante o foro do local onde ocorrer o dano ou da pessoa
§ 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores jurídica prejudicada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado § 5º A propositura da ação a que se refere o caput deste ar-
na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilí- tigo prevenirá a competência do juízo para todas as ações poste-
cito. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) riormente intentadas que possuam a mesma causa de pedir ou o
§ 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de mesmo objeto. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por § 6º A petição inicial observará o seguinte: (Redação dada
caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, pela Lei nº 14.230, de 2021)
a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a I - deverá individualizar a conduta do réu e apontar os elemen-
instrução do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) tos probatórios mínimos que demonstrem a ocorrência das hipóte-
§ 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da de- ses dos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei e de sua autoria, salvo impossibili-
monstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apu- dade devidamente fundamentada; (Incluído pela Lei nº 14.230,
rados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de de 2021)
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser pro- II - será instruída com documentos ou justificação que con-
cessado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, tenham indícios suficientes da veracidade dos fatos e do dolo
de 2021) imputado ou com razões fundamentadas da impossibilidade de
§ 8º Aplica-se à indisponibilidade de bens regida por esta Lei, apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação vi-
no que for cabível, o regime da tutela provisória de urgência da gente, inclusive as disposições constantes dos arts. 77 e 80 da Lei nº
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). (In-
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 9º Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à in- § 6º-A O Ministério Público poderá requerer as tutelas provi-
disponibilidade de bens caberá agravo de instrumento, nos termos sórias adequadas e necessárias, nos termos dos arts. 294 a 310 da
da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil). Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

32
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 6º-B A petição inicial será rejeitada nos casos do art. 330 da § 16. A qualquer momento, se o magistrado identificar a exis-
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), tência de ilegalidades ou de irregularidades administrativas a se-
bem como quando não preenchidos os requisitos a que se referem rem sanadas sem que estejam presentes todos os requisitos para
os incisos I e II do § 6º deste artigo, ou ainda quando manifestamen- a imposição das sanções aos agentes incluídos no polo passivo da
te inexistente o ato de improbidade imputado. (Incluído pela demanda, poderá, em decisão motivada, converter a ação de im-
Lei nº 14.230, de 2021) probidade administrativa em ação civil pública, regulada pela Lei
§ 7º Se a petição inicial estiver em devida forma, o juiz mandará nº 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230,
autuá-la e ordenará a citação dos requeridos para que a contestem de 2021)
no prazo comum de 30 (trinta) dias, iniciado o prazo na forma do § 17. Da decisão que converter a ação de improbidade em ação
art. 231 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Pro- civil pública caberá agravo de instrumento. (Incluído pela Lei nº
cesso Civil). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§ 8º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de § 18. Ao réu será assegurado o direito de ser interrogado sobre
2021) os fatos de que trata a ação, e a sua recusa ou o seu silêncio não
§ 9º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de implicarão confissão. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
2021) § 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:
§ 9º-A Da decisão que rejeitar questões preliminares suscitadas (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
pelo réu em sua contestação caberá agravo de instrumento. (In- I - a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor em
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) caso de revelia; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 10. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de II - a imposição de ônus da prova ao réu, na forma dos §§ 1º e
2021) 2º do art. 373 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
§ 10-A. Havendo a possibilidade de solução consensual, pode- Processo Civil); (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
rão as partes requerer ao juiz a interrupção do prazo para a contes- III - o ajuizamento de mais de uma ação de improbidade admi-
tação, por prazo não superior a 90 (noventa) dias. (Incluído pela nistrativa pelo mesmo fato, competindo ao Conselho Nacional do
Lei nº 13.964, de 2019) Ministério Público dirimir conflitos de atribuições entre membros
§ 10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor, de Ministérios Públicos distintos; (Incluído pela Lei nº 14.230,
o juiz: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
I - procederá ao julgamento conforme o estado do processo, IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de
observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbida- extinção sem resolução de mérito. (Incluído pela Lei nº 14.230,
de; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) de 2021)
II - poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar § 20. A assessoria jurídica que emitiu o parecer atestando a
a instrução processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo adminis-
§ 10-C. Após a réplica do Ministério Público, o juiz proferirá trador público ficará obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este
decisão na qual indicará com precisão a tipificação do ato de im- venha a responder ação por improbidade administrativa, até que
probidade administrativa imputável ao réu, sendo-lhe vedado mo- a decisão transite em julgado. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
dificar o fato principal e a capitulação legal apresentada pelo autor. 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 21. Das decisões interlocutórias caberá agravo de instrumen-
§ 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá to, inclusive da decisão que rejeitar questões preliminares suscita-
necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles pre- das pelo réu em sua contestação. (Incluído pela Lei nº 14.230,
vistos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
de 2021) Art. 17-A. (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 10-E. Proferida a decisão referida no § 10-C deste artigo, as I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
partes serão intimadas a especificar as provas que pretendem pro- II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
duzir. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) III - (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 10-F. Será nula a decisão de mérito total ou parcial da ação de § 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
improbidade administrativa que: (Incluído pela Lei nº 14.230, § 2º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
de 2021) § 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - condenar o requerido por tipo diverso daquele definido na § 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
petição inicial; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - condenar o requerido sem a produção das provas por ele Art. 17-B. O Ministério Público poderá, conforme as circunstân-
tempestivamente especificadas. (Incluído pela Lei nº 14.230, cias do caso concreto, celebrar acordo de não persecução civil, des-
de 2021) de que dele advenham, ao menos, os seguintes resultados: (In-
§ 11. Em qualquer momento do processo, verificada a inexis- cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
tência do ato de improbidade, o juiz julgará a demanda improce- I - o integral ressarcimento do dano; (Incluído pela Lei nº
dente. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§ 12. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de II - a reversão à pessoa jurídica lesada da vantagem indevida
2021) obtida, ainda que oriunda de agentes privados. (Incluído pela
§ 13. (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de Lei nº 14.230, de 2021)
2021) § 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste arti-
§ 14. Sem prejuízo da citação dos réus, a pessoa jurídica in- go dependerá, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.230,
teressada será intimada para, caso queira, intervir no processo. de 2021)
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) I - da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior ou
§ 15. Se a imputação envolver a desconsideração de pessoa ju- posterior à propositura da ação; (Incluído pela Lei nº 14.230,
rídica, serão observadas as regras previstas nos arts. 133, 134, 135, de 2021)
136 e 137 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)

33
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
II - de aprovação, no prazo de até 60 (sessenta) dias, pelo ór- f) a atuação do agente em minorar os prejuízos e as consequ-
gão do Ministério Público competente para apreciar as promoções ências advindas de sua conduta omissiva ou comissiva; (Incluído
de arquivamento de inquéritos civis, se anterior ao ajuizamento da pela Lei nº 14.230, de 2021)
ação; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) g) os antecedentes do agente; (Incluído pela Lei nº 14.230,
III - de homologação judicial, independentemente de o acordo de 2021)
ocorrer antes ou depois do ajuizamento da ação de improbidade V - considerar na aplicação das sanções a dosimetria das san-
administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ções relativas ao mesmo fato já aplicadas ao agente; (Incluído
§ 2º Em qualquer caso, a celebração do acordo a que se refere pela Lei nº 14.230, de 2021)
o caput deste artigo considerará a personalidade do agente, a natu- VI - considerar, na fixação das penas relativamente ao terceiro,
reza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do ato de quando for o caso, a sua atuação específica, não admitida a sua
improbidade, bem como as vantagens, para o interesse público, da responsabilização por ações ou omissões para as quais não tiver
rápida solução do caso. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) concorrido ou das quais não tiver obtido vantagens patrimoniais
§ 3º Para fins de apuração do valor do dano a ser ressarcido, indevidas; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
deverá ser realizada a oitiva do Tribunal de Contas competente, que VII - indicar, na apuração da ofensa a princípios, critérios objeti-
se manifestará, com indicação dos parâmetros utilizados, no prazo vos que justifiquem a imposição da sanção. (Incluído pela Lei nº
de 90 (noventa) dias. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) 14.230, de 2021)
§ 4º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá ser § 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não
celebrado no curso da investigação de apuração do ilícito, no curso configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
da ação de improbidade ou no momento da execução da sentença 2021)
condenatória. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 2º Na hipótese de litisconsórcio passivo, a condenação ocor-
§ 5º As negociações para a celebração do acordo a que se re- rerá no limite da participação e dos benefícios diretos, vedada qual-
fere o caput deste artigo ocorrerão entre o Ministério Público, de quer solidariedade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
um lado, e, de outro, o investigado ou demandado e o seu defensor. § 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) esta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 6º O acordo a que se refere o caput deste artigo poderá con- Art. 17-D. A ação por improbidade administrativa é repressiva,
templar a adoção de mecanismos e procedimentos internos de in- de caráter sancionatório, destinada à aplicação de sanções de ca-
tegridade, de auditoria e de incentivo à denúncia de irregularidades ráter pessoal previstas nesta Lei, e não constitui ação civil, vedado
e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito seu ajuizamento para o controle de legalidade de políticas públicas
da pessoa jurídica, se for o caso, bem como de outras medidas em e para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
favor do interesse público e de boas práticas administrativas. (In- e de outros interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
§ 7º Em caso de descumprimento do acordo a que se refere o
Parágrafo único. Ressalvado o disposto nesta Lei, o controle
caput deste artigo, o investigado ou o demandado ficará impedido
de legalidade de políticas públicas e a responsabilidade de agentes
de celebrar novo acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos, contado do
públicos, inclusive políticos, entes públicos e governamentais, por
conhecimento pelo Ministério Público do efetivo descumprimento.
danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer ou-
Art. 17-C. A sentença proferida nos processos a que se refere
tro interesse difuso ou coletivo, à ordem econômica, à ordem urba-
esta Lei deverá, além de observar o disposto no art. 489 da Lei nº
nística, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos
13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil): (In-
e ao patrimônio público e social submetem-se aos termos da Lei nº
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - indicar de modo preciso os fundamentos que demonstram 7.347, de 24 de julho de 1985. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
os elementos a que se referem os arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, que 2021).
não podem ser presumidos; (Incluído pela Lei nº 14.230, de Art. 18. A sentença que julgar procedente a ação fundada nos
2021) arts. 9º e 10 desta Lei condenará ao ressarcimento dos danos e à
II - considerar as consequências práticas da decisão, sempre perda ou à reversão dos bens e valores ilicitamente adquiridos, con-
que decidir com base em valores jurídicos abstratos; (Incluído forme o caso, em favor da pessoa jurídica prejudicada pelo ilícito.
pela Lei nº 14.230, de 2021) (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
III - considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor § 1º Se houver necessidade de liquidação do dano, a pessoa
e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos jurídica prejudicada procederá a essa determinação e ao ulterior
direitos dos administrados e das circunstâncias práticas que houve- procedimento para cumprimento da sentença referente ao ressar-
rem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente; (Inclu- cimento do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens.
ído pela Lei nº 14.230, de 2021) (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
IV - considerar, para a aplicação das sanções, de forma isolada § 2º Caso a pessoa jurídica prejudicada não adote as providên-
ou cumulativa: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) cias a que se refere o § 1º deste artigo no prazo de 6 (seis) meses,
a) os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; (In- contado do trânsito em julgado da sentença de procedência da
cluído pela Lei nº 14.230, de 2021) ação, caberá ao Ministério Público proceder à respectiva liquidação
b) a natureza, a gravidade e o impacto da infração cometida; do dano e ao cumprimento da sentença referente ao ressarcimento
(Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) do patrimônio público ou à perda ou à reversão dos bens, sem pre-
c) a extensão do dano causado; (Incluído pela Lei nº 14.230, juízo de eventual responsabilização pela omissão verificada. (In-
de 2021) cluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
d) o proveito patrimonial obtido pelo agente; (Incluído pela § 3º Para fins de apuração do valor do ressarcimento, deverão
Lei nº 14.230, de 2021) ser descontados os serviços efetivamente prestados. (Incluído
e) as circunstâncias agravantes ou atenuantes; (Incluído pela pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei nº 14.230, de 2021)

34
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 4º O juiz poderá autorizar o parcelamento, em até 48 (qua- § 5º Sanções eventualmente aplicadas em outras esferas deve-
renta e oito) parcelas mensais corrigidas monetariamente, do débi- rão ser compensadas com as sanções aplicadas nos termos desta
to resultante de condenação pela prática de improbidade adminis- Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
trativa se o réu demonstrar incapacidade financeira de saldá-lo de Art. 22. Para apurar qualquer ilícito previsto nesta Lei, o Minis-
imediato. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) tério Público, de ofício, a requerimento de autoridade administrati-
Art. 18-A. A requerimento do réu, na fase de cumprimento da va ou mediante representação formulada de acordo com o disposto
sentença, o juiz unificará eventuais sanções aplicadas com outras no art. 14 desta Lei, poderá instaurar inquérito civil ou procedimen-
já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual con- to investigativo assemelhado e requisitar a instauração de inquérito
tinuidade de ilícito ou a prática de diversas ilicitudes, observado o policial. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Parágrafo único. Na apuração dos ilícitos previstos nesta Lei,
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior será garantido ao investigado a oportunidade de manifestação por
sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço), ou a soma das pe- escrito e de juntada de documentos que comprovem suas alega-
nas, o que for mais benéfico ao réu; (Incluído pela Lei nº 14.230, ções e auxiliem na elucidação dos fatos. (Incluído pela Lei nº
de 2021) 14.230, de 2021)
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito,
o juiz somará as sanções. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) CAPÍTULO VII
Parágrafo único. As sanções de suspensão de direitos políticos DA PRESCRIÇÃO
e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou cre-
ditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 (vinte) Art. 23. A ação para a aplicação das sanções previstas nesta Lei
anos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) prescreve em 8 (oito) anos, contados a partir da ocorrência do fato
ou, no caso de infrações permanentes, do dia em que cessou a per-
CAPÍTULO VI manência. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
DAS DISPOSIÇÕES PENAIS I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 19. Constitui crime a representação por ato de improbida- III - (revogado). (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021)
de contra agente público ou terceiro beneficiário, quando o autor § 1º A instauração de inquérito civil ou de processo administra-
da denúncia o sabe inocente. tivo para apuração dos ilícitos referidos nesta Lei suspende o curso
Pena: detenção de seis a dez meses e multa. do prazo prescricional por, no máximo, 180 (cento e oitenta) dias
Parágrafo único. Além da sanção penal, o denunciante está su- corridos, recomeçando a correr após a sua conclusão ou, caso não
jeito a indenizar o denunciado pelos danos materiais, morais ou à concluído o processo, esgotado o prazo de suspensão. (Incluído
imagem que houver provocado. pela Lei nº 14.230, de 2021)
Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos § 2º O inquérito civil para apuração do ato de improbidade será
políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença con- concluído no prazo de 365 (trezentos e sessenta e cinco) dias corri-
denatória. dos, prorrogável uma única vez por igual período, mediante ato fun-
§ 1º A autoridade judicial competente poderá determinar o damentado submetido à revisão da instância competente do órgão
afastamento do agente público do exercício do cargo, do emprego ministerial, conforme dispuser a respectiva lei orgânica. (Inclu-
ou da função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida for ído pela Lei nº 14.230, de 2021)
necessária à instrução processual ou para evitar a iminente prática § 3º Encerrado o prazo previsto no § 2º deste artigo, a ação
de novos ilícitos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) deverá ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, se não for caso de
§ 2º O afastamento previsto no § 1º deste artigo será de até arquivamento do inquérito civil. (Incluído pela Lei nº 14.230, de
90 (noventa) dias, prorrogáveis uma única vez por igual prazo, me- 2021)
diante decisão motivada. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo inter-
Art. 21. A aplicação das sanções previstas nesta lei independe: rompe-se: (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
I - da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
quanto à pena de ressarcimento e às condutas previstas no art. 10 (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) II - pela publicação da sentença condenatória; (Incluído
II - da aprovação ou rejeição das contas pelo órgão de controle pela Lei nº 14.230, de 2021)
interno ou pelo Tribunal ou Conselho de Contas. III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Jus-
§ 1º Os atos do órgão de controle interno ou externo serão con- tiça ou Tribunal Regional Federal que confirma sentença condena-
siderados pelo juiz quando tiverem servido de fundamento para a tória ou que reforma sentença de improcedência; (Incluído pela
conduta do agente público. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Lei nº 14.230, de 2021)
§ 2º As provas produzidas perante os órgãos de controle e as
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribu-
correspondentes decisões deverão ser consideradas na formação
nal de Justiça que confirma acórdão condenatório ou que reforma
da convicção do juiz, sem prejuízo da análise acerca do dolo na con-
acórdão de improcedência; (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
duta do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal
§ 3º As sentenças civis e penais produzirão efeitos em relação à
Federal que confirma acórdão condenatório ou que reforma acór-
ação de improbidade quando concluírem pela inexistência da con-
dão de improcedência. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
duta ou pela negativa da autoria. (Incluído pela Lei nº 14.230,
§ 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do
de 2021)
§ 4º A absolvição criminal em ação que discuta os mesmos fa- dia da interrupção, pela metade do prazo previsto no caput deste
tos, confirmada por decisão colegiada, impede o trâmite da ação da artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
qual trata esta Lei, havendo comunicação com todos os fundamen- § 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efei-
tos de absolvição previstos no art. 386 do Decreto-Lei nº 3.689, de tos relativamente a todos os que concorreram para a prática do ato
3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). (Incluído pela de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021)
Lei nº 14.230, de 2021)

35
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
§ 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do II — contribuir para transformar a visão, a missão, os objetivos
mesmo processo, a suspensão e a interrupção relativas a qualquer e os valores institucionais do TJDFT em atitudes, comportamentos,
deles estendem-se aos demais. (Incluído pela Lei nº 14.230, de regras de atuação e práticas organizacionais, orientados segundo
2021) elevado padrão de conduta ético-profissional;
§ 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público, III — preservar a imagem do TJDFT e resguardar a reputação
deverá, de ofício ou a requerimento da parte interessada, reconhe- dos seus
cer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decre- servidores; (Alterado pela Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020)
tá-la de imediato, caso, entre os marcos interruptivos referidos no IV — reduzir a subjetividade das interpretações sobre normas
§ 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo. (Incluído éticas adotadas no TJDFT;
pela Lei nº 14.230, de 2021) V — oferecer instância de consulta e deliberação — por meio
Art. 23-A. É dever do poder público oferecer contínua capacita- da Comissão de Ética —, visando:
ção aos agentes públicos e políticos que atuem com prevenção ou a) esclarecer dúvidas acerca da conformidade da conduta dos
repressão de atos de improbidade administrativa. (Incluído pela seus servidores; (Alterada pela Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020)
Lei nº 14.230, de 2021) b) apreciar procedimentos que versem sobre condutas em de-
Art. 23-B. Nas ações e nos acordos regidos por esta Lei, não sacordo com as normas éticas estabelecidas;
haverá adiantamento de custas, de preparo, de emolumentos, de c) recomendar, acompanhar e avaliar, no âmbito do TJDFT, o
honorários periciais e de quaisquer outras despesas. (Incluído desenvolvimento de ações que objetivem a disseminação, capacita-
pela Lei nº 14.230, de 2021) ção e treinamento sobre as normas e o comportamento ético.
§ 1º No caso de procedência da ação, as custas e as demais Art. 3º São princípios e valores éticos a serem observados no
despesas processuais serão pagas ao final. (Incluído pela Lei nº exercício de cargo ou função:
14.230, de 2021) I — honestidade;
§ 2º Haverá condenação em honorários sucumbenciais em II — dignidade;
caso de improcedência da ação de improbidade se comprovada III — respeito;
má-fé. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IV — empatia;
Art. 23-C. Atos que ensejem enriquecimento ilícito, perda patri- V — inclusão;
monial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação de re- VI — decoro;
cursos públicos dos partidos políticos, ou de suas fundações, serão VII — integridade;
responsabilizados nos termos da Lei nº 9.096, de 19 de setembro de VIII — imparcialidade;
1995. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) IX — sigilo profissional;
X — profissionalismo;
CAPÍTULO VIII XI — competência;
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS XII — sustentabilidade.
Art. 4º Todos os servidores do Tribunal devem seguir este Códi-
Art. 24. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. go de Ética dos Servidores do TJDFT.
Art. 25. Ficam revogadas as Leis n°s 3.164, de 1° de junho de § 1º Para aplicação deste Código, consideram-se servidores
1957, e 3.502, de 21 de dezembro de 1958 e demais disposições aqueles que exercem cargo efetivo ou cargo comissionado no TJDFT,
em contrário. inclusive os requisitados e os cedidos.
§ 2º No ato de posse, ou a qualquer tempo por solicitação da
administração, o servidor deve prestar compromisso de cumpri-
CÓDIGO DE ÉTICA DOS SERVIDORES DO TJDFT (RESO- mento das normas de conduta ética e de integridade contidas neste
LUÇÃO TJDFT Nº 9/2019 E PORTARIA CONJUNTA Nº Código, por meio da assinatura de termo de ciência.
76/2020) § 3º A recusa em assinar o termo de ciência referido no § 2º
deste artigo pode ensejar abertura de processo de apuração ética.
§ 4º Este Código se aplica, no que couber, aos servidores afasta-
RESOLUÇÃO 9 DE 27 DE AGOSTO DE 2019
dos, conforme hipóteses definidas na Lei 8.112, de 11 de dezembro
CÓDIGO DE ÉTICA DOS SERVIDORES DO TJDFT de 1990.
Art. 5º As normas de conduta ética estabelecidas neste Código
O TRIBUNAL PLENO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FE- também se aplicam aos notários e registradores dos serviços extra-
DERAL E DOS TERRITÓRIOS, no uso de suas competências legais e judiciais e a todo aquele que, mesmo pertencendo a outra institui-
regimentais e em vista do decidido em sessão realizada em 23 de ção, preste serviço ou desenvolva atividade no TJDFT, de natureza
agosto de 2019 (PA 0016.790/2019), permanente, temporária ou excepcional, ainda que sem retribuição
RESOLVE: financeira por parte do Tribunal.
§ 1º Constitui obrigação do responsável por contratação de
Art. 1º Instituir o Código de Ética dos Servidores do TJDFT. (Al- empregado, prestador de serviço, terceirizado, estagiário, jovem
terada pela Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020) aprendiz e requisitado de outro órgão dar ciência e fazer constar do
respectivo contrato a exigência da plena observância do disposto
CAPÍTULO I neste Código.
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES § 2º A Corregedoria da Justiça cientificará os notários e registra-
dores dos serviços extrajudiciais sobre a necessidade de cumprirem as
Art. 2º O Código de Ética dos Servidores do TJDFT tem o objeti- normas de conduta ética definidas neste Código, bem como determi-
vo de: (Alterada pela Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020) nará que assinem termo de ciência do respectivo conteúdo.” (NR)
I — estabelecer princípios, valores e normas de conduta ética e Art. 5º-A. Aplicam-se as disposições do Código de Ética dos
de integridade, sem prejuízo da observância dos demais deveres e Servidores do TJDFT, no que couber, a todos os colaboradores, os
proibições legais e regulamentares; quais prestam serviço ou desenvolvem atividades permanentes,

36
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
temporárias ou excepcionais mediante retribuição financeira, ou VI — não aceitar pressão de superiores hierárquicos, de contra-
sem esta, no Tribunal.” (NR) (Incluído pela Portaria Conjunta 76 de tantes e de outros que visem a obter favor, interesse ou vantagem
02/07/2020) indevida em decorrência de ações ou omissões imorais, ilegais ou
Art. 6º Recursos, bens patrimoniais, espaço e imagem do TJDFT antiéticas;
não podem ser usados por pessoa ou entidade para atender a inte- VII — apresentar-se ao trabalho com vestimenta adequada ao
resses pessoais, políticos e partidários. exercício do cargo ou função, não usando vestuário e adereços que
comprometam a boa apresentação pessoal, a imagem institucional
CAPÍTULO II e a neutralidade profissional e político-partidária;
DOS COMPROMISSOS ÉTICOS DO TJDFT VIII — empenhar-se em seu desenvolvimento profissional,
mantendo-se atualizado quanto a novos métodos, técnicas e nor-
Art. 7º São compromissos éticos do TJDFT para com seus agen- mas de trabalho aplicáveis à sua área de atuação;
tes servidores: servidores; (Alterado pela Portaria Conjunta 76 de IX — disseminar, no ambiente de trabalho, informações e co-
02/07/2020) nhecimentos obtidos em razão de treinamento ou de exercício
profissional e que possam contribuir para a eficiência do trabalho
I — disseminar princípios, valores e normas deste Código, bem
realizado pelos demais agentes servidores; (Alterado pela Portaria
como orientar os servidores do TJDFT sobre a necessidade do seu
Conjunta 76 de 02/07/2020)
cumprimento; (Alterado pela Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020)
X — evitar quaisquer ações ou relações conflitantes, ou poten-
II — pautar decisões institucionais pela ética, utilizando de
cialmente conflitantes, com suas responsabilidades profissionais,
forma responsável recursos econômico-financeiros, tecnológicos e
enviando à Comissão de Ética informações sobre relações, situação
força de trabalho;
patrimonial, atividades econômicas ou profissionais que, real ou
III — atuar conforme as boas práticas de governança e gestão
potencialmente, possam suscitar conflito de interesses, indicando
no TJDFT;
o modo pelo qual pretende evitá-las, na forma definida pela Comis-
IV — valorizar a meritocracia e propiciar igualdade de oportuni-
são de Ética;
dades para o desenvolvimento profissional dos servidores do TJDFT,
XI — não exercer atividade, laborativa ou não, que reduza ou
combatendo todas as formas de nepotismo, seja para indicação de
denote reduzir sua autonomia e independência profissional;
funções e cargos em comissão, seja para contratação de estagiários
XII — manter neutralidade no exercício profissional — tanto a
e terceirizados;
real como a percebida —, conservando independência em relação a
V — fomentar a elaboração e o cumprimento de políticas insti-
influências político-partidárias, religiosas ou ideológicas;
tucionais em prol do respeito e da valorização das pessoas;
XIII — manter sob sigilo dados e informações de natureza con-
VI — estimular a interlocução livre entre os servidores , in-
fidencial e pessoal, obtidos em razão do exercício profissional, de
dependente de posição hierárquica, por meio da exposição de
superiores, de colegas e de subordinados;
ideias, pensamentos e opiniões, repudiando ameaças, chantagens,
XIV — abster-se de realizar atividade de interesse pessoal no
discriminações, humilhações ou assédios de qualquer natureza
horário do expediente, buscando, sempre, utilizar os recursos do
nas relações de trabalho; (Alterado pela Portaria Conjunta 76 de
TJDFT para o desempenho das atividades institucionais;
02/07/2020)
XV — denunciar aos canais adequados a ocorrência de ação
VII — fomentar a elaboração e o cumprimento de política ins-
contrária a disposições contidas neste Código, incluindo situação de
titucional que proteja o servidor envolvido em denúncia, seja como
assédio moral e discriminação no âmbito do TJDFT.
denunciante, seja como investigado, para preservar direitos, pro-
teger a neutralidade das decisões e evitar retaliações. servidores;
SEÇÃO II
(Alterado pela Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020)
DAS CONDUTAS ÉTICAS ADEQUADAS DOS GESTORES
CAPÍTULO III
Art. 9º São condutas éticas adequadas aos gestores – servi-
DAS CONDUTAS ÉTICAS ADEQUADAS E DAS VEDAÇÕES
dores ocupantes de cargo em comissão ou função comissionada e
magistrados, incluídos os participantes da Administração Superior
SEÇÃO I
–, os quais exercem atividades de supervisão, coordenação ou ge-
DAS CONDUTAS ÉTICAS ADEQUADAS:
renciamento de servidores e colaboradores:
I — disseminar os princípios, valores e normas deste Código,
Art. 8º São condutas éticas adequadas, a serem seguidas pe-
bem como orientar os integrantes de sua equipe acerca de seu
los agentes servidores do TJDFT, sem prejuízo da observância dos
cumprimento;
demais deveres e proibições legais e regulamentares: servidores;
II — atuar em conformidade com o planejamento estratégico
(Alterado pela Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020)
do TJDFT e com as demais diretrizes adotadas pela administração;
I — resguardar, em sua conduta pessoal, a integridade, a honra
III — proporcionar ambiente de trabalho harmonioso, coopera-
e a dignidade de sua função pública, agindo em harmonia com os
tivo, participativo e produtivo, priorizando a orientação construtiva
princípios e os valores éticos estabelecidos no art. 3º deste Código;
ao corrigir eventuais falhas de membros da equipe;
II — ser probo, íntegro, leal e justo, escolhendo, quando estiver
IV — agir com urbanidade, empatia e respeito, tratando ques-
diante de mais de uma opção, a que melhor atenda ao interesse
tões individuais dos membros da equipe com discrição;
público;
V — cientificar, previamente, o servidor sobre a exoneração de
III — desempenhar suas atividades com responsabilidade so-
cargo em comissão ou função comissionada, evitando, sempre que
cial, privilegiando a adoção de práticas que favoreçam a inclusão so-
possível, a exoneração ou a dispensa em período de licença ou afas-
cial, e com responsabilidade ambiental, combatendo o desperdício
tamento do servidor;
de recursos materiais e evitando danos ao meio ambiente;
VI — valorizar a meritocracia e propiciar igualdade de oportu-
IV — tratar as pessoas com quem se relacionar, em razão do
nidades para o desenvolvimento profissional dos servidores lotados
trabalho, com cordialidade, respeito e empatia;
na unidade sob sua gestão, buscando, inclusive, formas de liberar
V — relacionar-se com as pessoas, em razão do trabalho, sem
o servidor de sua unidade, quando este receber convite para atuar
discriminação em virtude de preconceito ou qualquer distinção, in-
em outra unidade que seja de seu interesse;
clusive quanto às possíveis limitações pessoais;

37
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
VII — observar os princípios, diretrizes e prazos do Programa CAPÍTULO V
de Gestão de Desempenho por Competências, sendo verdadeiro e DISPOSIÇÕES FINAIS
justo nas avaliações de desempenho;
VIII — atuar de modo que suas ações sejam modelo de conduta Art. 12. Os casos não previstos neste Código serão decididos
para sua equipe. pelo Presidente do TJDFT.
Art. 13. Este Código de Ética integrará o conteúdo programático
SEÇÃO III de edital de concurso público para provimento de cargos e de edital
DAS VEDAÇÕES: de seleção de contratação de estagiários para o TJDFT.
Art. 14. O servidor do TJDFT que descumprir as disposições
Art. 10. É vedado ao servidor do TJDFT, sem prejuízo das de- estabelecidas no presente Código poderá responder a processo de
mais obrigações legais e regulamentares: servidores; (Alterado pela apuração ética perante a Comissão de Ética, sem prejuízo da apura-
Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020) ção de condutas que constituam falta disciplinar.
I —compactuar ou praticar, por ação ou omissão, direta ou in- Art. 15. O servidor que receber sanção estabelecida no Regi-
diretamente, ato contrário à ética, à integridade, a este Código e mento Interno da Comissão deve participar de solução educacional
ao interesse público, mesmo que esse ato observe as formalidades sobre ética, ofertada pela Escola de Formação Judiciária do TJDFT,
legais e não cometa violação expressa à lei; no prazo de seis meses, contados da sanção.
II — adotar conduta que interfira no desempenho do trabalho Art. 16. As dúvidas na aplicação deste Código serão dirimidas
ou crie ambiente hostil, ofensivo ou com intimidação, como ações pela Comissão de Ética do TJDFT.
tendenciosas geradas por simpatias, antipatias ou interesses de or- Art. 17. Este Código de Ética deve ser atualizado, no máximo, a
dem pessoal, especialmente o assédio moral, no sentido de des- cada três anos.
qualificar outros, por meio de palavras, gestos ou atitudes que ofen- Art. 18. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publica-
dam a autoestima, a segurança, o profissionalismo ou a imagem; ção.
III — prejudicar deliberadamente a reputação de outro servi- Art. 19. Fica revogada a Resolução 8 de 27 de julho de 2015.
dor ou cidadão; (Alterado pela Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020)
IV — usar de artifício para procrastinar ou dificultar o exercício
de direito por qualquer pessoa;
V — atribuir a outrem erro próprio ou dificultar sua apuração; EXERCÍCIOS
VI — apresentar como de sua autoria ideias ou trabalhos de
outrem; 1-Considerando os conceitos de direito e de moral, assinale a
VII — fazer ou extrair cópia de relatório ou de outro trabalho ou opção correta à luz da filosofia do direito.
documento ainda não publicado, pertencente ao TJDFT, (A) Kant desenvolveu a teoria do mínimo ético, segundo a qual
para utilização em fim estranho ao seu objetivo ou à execução o direito representa todo o conteúdo moral obrigatório para
do trabalho a seu encargo, sem prévia autorização da autoridade que a sociedade possa sobreviver minimamente.
competente; (B) Hans Kelsen formulou a teoria da bilateralidade atributiva,
VIII — exercer atividade incompatível com o afastamento con- asseverando que a moral não se distingue do direito, mas o
cedido pelo TJDFT; complementa por meio da bilateralidade ou intersubjetividade.
IX — utilizar canal de comunicação do TJDFT para a propaga- (C) Christian Thomasius propôs a distinção entre o direito e a
ção e divulgação de trote, boato, propaganda comercial, religiosa moral, sob a inspiração pufendorfiana, com base na ideia de
ou político-partidária; coação.
X — receber salário ou qualquer outra remuneração que esteja (D) Thomas Hobbes desenvolveu a teoria da atributividade, se-
em desacordo com a lei; gundo a qual direito e moral estão inter-relacionados, tendo
XI — exercer atividade que implique a prestação de serviço ou ambos origem no direito natural.
a manutenção de relação de negócio com pessoa física ou jurídi- (E) Max Scheler preconizava uma espécie de moral pura, condi-
ca que tenha interesse em decisão do servidor público ou de co- ção para a existência de um comportamento que, guiado pelo
legiado do qual participe; (Alterado pela Portaria Conjunta 76 de direito e pela ética, não muda segundo as circunstâncias
02/07/2020)
XII — solicitar ou receber vantagem de qualquer natureza com 2-Considerando as noções de ética e de moral, bem como os
vistas a cumprir sua missão ou influenciar outro servidor para o princípios e valores que conduzem nossa sociedade, julgue os itens
mesmo fim. (Alterado pela Portaria Conjunta 76 de 02/07/2020) seguintes.
I- Um indivíduo em situação de miséria que encontrar, caída na
CAPÍTULO IV rua, uma carteira e decidir utilizar o cartão de crédito nela guardado
DA COMISSÃO DE ÉTICA para adquirir medicamentos ao seu filho terá agido de acordo com
as normas éticas, mas não com os princípios morais.
Art. 11. A Comissão de Ética do TJDFT, vinculada à Presidência, II- Os valores morais variam ao longo do tempo.
é a instância responsável por zelar pela aplicabilidade deste Código III- O campo da filosofia dedicado a estudar os valores e prin-
de Ética; é competente para propor, analisar e julgar os procedi- cípios que orientam a conduta dos seres humanos em sociedade é
mentos de natureza ética; e tem sua organização, funcionamento, denominado ética.
composição e competências normatizados pela Resolução 4 de 8
de abril de 2019, que institui o Regimento Interno da Comissão de Assinale a opção correta.
Ética. (A) Apenas os itens I e II estão certos.
(B) Apenas os itens I e III estão certos.
(C) Apenas os itens II e III estão certos.
(D) Todos os itens estão certos.

38
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
3-Acerca da ética, princípios e valores no serviço público, assi- 7-Acerca da ética e função pública, assinale a alternativa incor-
nale a alternativa correta. reta.
“Note-se que a quase totalidade das sociedades ocidentais (A) É dever do servidor atender com presteza ao público em
tem a dignidade humana como princípio ético, muito embora seus geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas as pro-
códigos morais (suas práticas habituais) sejam tão diferentes, por tegidas por sigilo
que diferentes são os valores por elas eleitos, embora todos eles (B) É dever do servidor exercer com zelo e dedicação as atribui-
tenham a dignidade humana como alicerce” (MULLER, 2018) ções do cargo
(A) Os valores possuem uma perspectiva ética, orientando o ser (C) É dever do servidor participar de gerência ou administração
humano a direcionar suas ações para o bem de sociedade privada, personificada ou não personificada
(B)Os princípios são objetos da escolha moral; ou seja, a quali- (D) É dever do servidor cumprir as ordens superiores, exceto
dade de algo preferível ou estimável quando manifestamente ilegais
(C) A probidade administrativa é escolha moral que deve ser
feita por todo servidor público 8-Acerca da ética e função pública, assinale a alternativa incor-
(D) A moralidade administrativa faz parte dos valores morais reta.
que regem o comportamento dos servidores públicos, condu- (A) É dever do servidor público exercer com zelo e dedicação as
zindo seu comportamento profissional para o bem comum atribuições do cargo
(B) É dever do servidor levar as irregularidades de que tiver
4-Acerca de ética, princípios e valores no serviço público, anali- ciência em razão do cargo ao conhecimento da autoridade su-
se as afirmativas abaixo. perior ou, quando houver suspeita de envolvimento desta, ao
I. O princípio é um fundamento ético. conhecimento de outra autoridade competente para apuração
II. O valor é uma escolha moral. (C) O descumprimento dos deveres funcionais do servidor, des-
III. Os princípios são por nós assimilados ao longo de nossa critos no art. 116 da Lei 8.112/1990, ensejará a aplicação da
vida, seja por nossas vivências, seja pelos ensinamentos que rece- pena de advertência (art. 129), sendo que a reincidência impli-
bemos. São objetos de escolha moral, a qual torna algo preferível cará na pena de suspensão (art. 130)
ou estimável. (D) É direito do servidor promover manifestação de apreço ou
Assinale a alternativa correta. desapreço no recinto da repartição
(A) Apenas as afirmativas I e II estão corretas
(B) Apenas a afirmativa III está correta 9-Quanto à ética no Setor Público, assinale a alternativa cor-
(C) As afirmativas I, II e III estão corretas reta.
(D) Apenas as afirmativas I e III estão corretas (A) É desnecessário estabelecer um padrão de comportamento
a ser observado pelos servidores, uma vez que o agir ético deve
5-Sobre a ética, democracia e exercício da cidadania, analise as se basear nas decisões e nos conceitos individuais dos servido-
afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F). res públicos.
( ) Exercício da cidadania é o gozo de direitos e desempenho de (B) A promoção da ética no serviço público prescinde da atua-
deveres pelo cidadão. ção permanente de Conselhos ou Comissões de Ética.
( ) A democracia constitui forma de governo pautada pelo res- (C) A ética, por tratar-se de elemento subjetivo, torna desne-
peito à singularidade, pela defesa da transparência e pela garantia cessário fornecer aos servidores públicos diretrizes que afir-
da perpetuação do exercício do poder. mem o que deve e o que não deve ser feito.
( ) O exercício da cidadania deve pautar-se por contornos éti- (D) A gestão de ética no serviço público deve abordar o exercí-
cos, de modo que o exercício da cidadania deve materializar-se na cio das seguintes funções: normalização; educação; monitora-
escolha da melhor conduta, tendo em vista o bem comum, resul- mento; e aplicação de sistemas de consequências em caso de
tando em uma ação moral como expressão do bem. atividades antiéticas.
( ) Democracia é o regime político em que a soberania é exer- (E) Todo servidor deve ter estabelecido o conceito do que é
cida pelo povo. ético ou antiético, motivo que leva a instituição de códigos de
ética de servidores públicos a ser desnecessária.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de
cima para baixo. 10-Sobre a ética no setor público, assinale a alternativa correta.
(A) V, V, F, V (A) Princípio da diligência se refere a agir com zelo e escrúpulo
(B) V, V, V, F em todas funções
(C) F, F, V, F (B) O princípio da conduta ilibada é o de agir da melhor manei-
(D) V, F, V, V ra esperada em sua profissão e fora dela, com técnica, justiça
e discrição
6-Com relação à ética, à democracia e ao exercício da cidada- (C) O princípio da correção profissional diz respeito a não acu-
nia, assinale a alternativa correta. mular funções incompatíveis
(A) O exercício da cidadania, como uso de direitos e desempe- (D) O princípio da lealdade e da verdade orienta a guardar se-
nho de deveres, deve pautar-se por contornos éticos. gredo sobre as informações que acessa no exercício da profis-
(B) O exercício da cidadania tem em vista o bem individual, sem são
observar a conduta coletiva.
(C) A cidadania é exercida no campo individual.
(D) As atribuições cívico-políticas do cidadão independem da
forma de governo adotada pelo Estado.
(E) A democracia, a transparência e a divergência de ideias não
podem estar associadas.

39
ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

GABARITO ANOTAÇÕES

1 C ______________________________________________________

2 C ______________________________________________________
3 C
______________________________________________________
4 A
______________________________________________________
5 D
6 A ______________________________________________________
7 C ______________________________________________________
8 D
______________________________________________________
9 D
10 A ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________
ANOTAÇÕES ______________________________________________________

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40
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
1. Modelos de gestão de pessoas - evolução dos modelos de gestão de pessoas. Gestão estratégica de pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Os processos de gestão de pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
3. Treinamento e Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
4. Avaliação do desempenho humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
5. Modelagem do trabalho - descrição e análise de cargos, modelos de desenho de cargos, coleta de dados sobre cargos . . . . . . . . 06
6. Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Gestão por competências. Gestão de processos de mudança organizacional: conceito de mudança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
8. Mudança e inovação organizacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
9. Análise dos ambientes interno e externo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
10. Estratégias de gestão de pessoas para obter sustentação ao processo de mudança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
11. Missão, visão de futuro, valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
12. Indicadores de desempenho de gestão de pessoas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
13. Modelos de gestão pública: patrimonialista, burocrático (Weber) e gerencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
14. Conceitos de eficácia e efetividade aplicados à Administração Pública: avaliação e mensuração do desempenho governamental 72
15. Orçamento público - Princípios orçamentários; diretrizes orçamentárias; processo orçamentário; emendas ao orçamento; conceito,
categorias de classificação e estágios da receita e da despesa públicas; suprimento de fundos; restos a pagar; despesas de exercícios
anteriores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
16. Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) 9ª ed. Parte I - Procedimentos Contábeis Orçamentários - aprovada pela
Portaria Conjunta STN/SOF/ME nº 117, de 28 de outubro de 2021 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
17. Noções de licitação pública: fases, modalidades, dispensa e inexigibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Processo evolutivo
MODELOS DE GESTÃO DE PESSOAS – EVOLUÇÃO DOS
MODELOS DE GESTÃO DE PESSOAS. GESTÃO ESTRATÉ-
GICA DE PESSOAS. GESTÃO POR COMPETÊNCIAS. GES- Contabilidade e processos rela-
1º DEPARTAMENTO
TÃO DE PROCESSOS DE MUDANÇA ORGANIZACIONAL: cionados a contratação e demissão de
PESSOAL
CONCEITO DE MUDANÇA funcionários: burocracia
Treinamento e desenvolvimento
2º GESTÃO do indivíduo e suas capacidades, po-
É o método dentro da administração, que abrange um conjunto DE PESSOAS tencializando-as: comunicação, manu-
de técnicas dedicadas a extrair a máxima competência do indivíduo tenção
dentro da organização.
As tarefas dessa gestão são: Definição dos níveis de uma orga-
• Desenvolvimento de líderes nização (pirâmide)
• Atração 3º GESTÃO Topo: estratégico
• Conservação ESTRATÉGICA Intermediário: tático
• Administração DE PESSOAS Base: operacional
• Reconhecimento Passam a fazer parte das decisões
• Orientação da organização – planejamento.

Utilizando uma série de estratégias administrativas, a Gestão Objetivos da Gestão de Pessoas


de Pessoas compreende e ocupa-se com os interesses do indivíduo Permitir que as metas da organização, em conjunto com os ob-
dentro da organização, dedicando-se principalmente pelo espírito jetivos pessoais, sejam alcançadas. Visa:
de equipe, sua motivação e qualificação. É o conjunto integrado de • Gerir pessoas para que a organização atinja seus objetivos,
processos dinâmicos e interativos, segundo a definição de Idalberto missão e visão estratégica sejam atingidos com sucesso: Resultados
Chiavenato (escritor, professor e consultor administrativo, atua na satisfatórios.
área de administração de empresas e recursos humanos). Nela en- • Gerir pessoas para que a manutenção dos talentos seja efeti-
contramos ferramentas que desenvolvem habilidades, comporta- va e contínua: Manter as pessoas motivadas, desenvolvidas, treina-
mento (atitudes) e o conhecimento, que beneficiam a realização do das e principalmente atraí-las e retê-las à organização.
trabalho coletivo, produzindo valor econômico (Capital Humano). • Gerir pessoas de maneira a ampliar a competitividade da or-
Dedica-se a inserir melhoradas práticas de gestão, garantindo ganização: planos de carreira.
satisfação coletiva e produtividade otimizada que visa alcançar re- • Gerir pessoas para aumentar a satisfação do cliente: melhora
sultados favoráveis para o crescimento saudável da organização. a qualidade do produto/serviço.
• Gerir pessoas melhorando a qualidade de vida: aumenta a
Histórico produtividade e a satisfação do indivíduo.
O departamento pessoal foi iniciado no século XIX. Com a res- • Gerir pessoas desenvolvendo culturas dentro da organização:
ponsabilidade apenas de medir os custos da empresa, produtivida- possibilitando o desenvolvimento de mudanças, facilitando e agili-
de não era o foco. Os colaboradores eram apenas citados como Ati- zando a resposta da organização para com as exigências do merca-
vo Contábil na empresa. Não havia amplas relações de motivação, do: Competência.
ou de entendimento de ambiente organizacional com o indivíduo • Gerir pessoas mantendo condutas com base na ética: Dire-
ou vice-e-versa. trizes.
A teoria clássica (mecanicista), entendia que o homem teria
que ter uma organização racional no trabalho e seria estimulado Conceitos da Gestão de Pessoas
através de recursos financeiros, falava-se mais na eficiência opera- Administração de Recursos Humanos - entendimento mais an-
cional. O homem era entendido como homem econômico, que se- tigo (técnicas - tarefas):
ria recompensado e estimulado a partir da quantidade de recursos • É a Provisão, o Treinamento, o Desenvolvimento, a Motivação
financeiros que fossem a ele fornecido. e a Manutenção dos empregados.
Após isso, a Teoria das Relações Humanas começou a compre-
ender que o homem teria outras demandas e que o ambiente or- Gestão de Pessoas (relação – elemento imaterial):
ganizacional agora, também influenciava a sua produtividade, pas- • É o elemento que constrói e é responsável pelo cuidado do
sou-se então, a entender o indivíduo a partir da teoria das relações capital humano.
humanas.
Iniciando a CLT, na década de 30 - 50, as leis trabalhistas de- Principais diferenças
veriam ser seguidas e isso deveria ser supervisionado de perto por • Gestão de Pessoas não é nomeado normalmente como de-
um responsável, foi aí que a estrutura do RH (Recursos Humanos) partamento, como é o RH (Recursos Humanos);
começou a ser formada. • A competência da Gestão de Pessoas é responsabilidade dos
Com a evolução do RH, a partir dos anos 70 o foco voltava-se gestores, dos líderes, que operam em união com a área de Recursos
então para pessoas e não para o burocrático e operacional apenas. Humanos; Assim, para que as atividades de Gestão de Pessoas pos-
Tornando a estrutura mais humanizada inicia-se então, o conceito sam acontecer da melhor forma, o RH disponibiliza as ferramentas
do planejamento estratégico para conservar talentos e engajar a e os mecanismos.
equipe, motivando-a; mais tarde chamaríamos de Gestão de Pes- • Sendo um processo que também foca no desenvolvimento do
soas. indivíduo dentro da organização, a estratégia é mais voltada para o
lado humano das relações de trabalho. Portanto, a Gestão de Pes-
soas não se restringe a apenas uma área da organização, mas inter-
corre em todos os setores.

1
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Desafios da Gestão de Pessoas Os participantes recebem recompensas em troca das contribui-
Uma vez que a Gestão de Pessoas tem como intuito atingir re- ções.
sultados favoráveis, se torna cada vez mais desafiador dentro do
cenário empreendedor formar líderes dentro das organizações, e
liderança é parte fundamental na Gestão de Pessoas. Desafios:
• A compreensão efetiva de adequar a necessidade da organi-
zação ao talento do indivíduo. Entender que dependendo do tipo
de mão-de-obra que a organização necessita, ela terá um perfil es-
pecífico de trabalhador.
• Alinhar os objetivos da Organização com os do Indivíduo.
• Entender e balancear os aspectos internos e externos. Exem-
plo: A organização saberá o valor monetário do indivíduo mediante
a pesquisa de mercado para aquela área específica, isso é aspecto
externo.
• Criar um ambiente de trabalho favorável ao indivíduo que
pode estar descontente com sua organização porque seu ambiente
de trabalho é ruim, isso é aspecto interno.

Características da Gestão de Pessoas


Gestão de Pessoas é Responsabilidade de Linha e Função de Exemplo: Se o colaborador perceber, ao decorrer de sua traje-
STAFF. tória na Organização que está fornecendo mais do que recebendo,
Exemplo: a relação aqui é rompida, e a partir daí a Organização entra em De-
Dentro do Organograma temos os conceitos funcionais da or- sequilíbrio Organizacional.
ganização: Áreas e responsáveis por elas; Se vamos trabalhar a mo- Quanto mais a Organização se mantém em Equilíbrio organiza-
tivação de um determinado indivíduo dentro da organização, o res- cional, mais sucesso ela terá nos seus resultados de suas relações
ponsável diretamente (líder) é chamado de Responsável de Linha: de recompensa e motivação de Pessoas.
seria seu supervisor ou gerente direto.
A assessoria para esse trabalho de desenvolvimento e motiva- Comportamento organizacional
ção do indivíduo, fica por conta do RH (Recursos Humanos) que é a É o estudo da conduta das pessoas e suas implicações no am-
Função de STAFF. biente de uma organização. Visa alcançar maior compreensão acer-
ca do contexto empresarial para compor o desenvolvimento seguro
Principais Mecanismos da Gestão Estratégica de Pessoas e contínuo do trabalho. O indivíduo aqui tem um papel importante
• Planejamento de RH (Recursos Humanos): Que pessoas de- na participação da organização, contudo, ele pode ser ou não o pro-
vemos contratar/demitir? Que áreas temos a melhorar, desenvol- tagonista nos resultados.
ver? Para que a organização seja mais forte, cresça e atinja seus Aqui são abandonadas as posições prescritivas e afirmativas
objetivos. (de como deve ser) para uma abordagem mais explicativa e descri-
• Gestão de Competências: A sinérgica relação do CHA com o tiva. A ênfase nas pessoas é mantida dentro de uma posição organi-
atingimento dos objetivos organizacionais: zacional de forma mais ampla.
(CHA - Conhecimento: saber teórico, formação - Habilidade: sa- Os principais temas de estudos serão sobre: Estilos de admi-
ber prático - Atitude: vontade de executar. Ou seja, pessoas certas nistração, Processo decisório, Motivação, Liderança e Negociação.
nos cargos certos, gerando resultados favoráveis. Evolução no entendimento do indivíduo:
• Capacitação Contínua com base na Competência: Capacitar,
desenvolver e treinar o indivíduo, ampliando suas habilidades para A análise do comportamento humano garante muitos benefí-
o que a organização necessita, atingindo seus resultados. cios à organização no geral. Como por exemplo reter talentos e pro-
• Avaliação de desempenho e competências (permanente). mover engajamento e sinergia entre os públicos alvo.
Garantir benefícios e um ambiente de trabalho harmônico que
Equilíbrio organizacional encoraje a motivação é responsabilidade da organização, assim
É uma teoria que diz respeito a relação das Pessoas com a Or- como, a cocriação e o engajamento. Aplicando ações referente à
ganização e vice-e-versa; ou seja, a Organização e seus colabora- essa área de conhecimento fica claro para os colaboradores que a
dores, seus clientes, ou fornecedores = Pessoas. Em meio a essa organização visa desenvolver cada indivíduo da forma mais adequa-
relação, a Organização entrega incentivos (produtos, serviços, sa- da possível.
lários) e recebem contribuições (pagamentos, matérias-primas e Os agentes que influem no resultado satisfatório de um com-
mão de obra) estabelecendo assim uma balança, pela necessidade portamento organizacional são diversos:
de equilíbrio entre incentivos e contribuições, para a continuidade
de operação da Organização. Ou seja, a relação entre Organização Motivação
e Pessoas deve estar em equilíbrio para que ela continue a existir. É um fator dos principais que cooperam para atingir grandes re-
O sucesso desse conceito transmite o resultado da Organiza- sultados e, assim, uma boa rentabilidade para a organização. Uma
ção quando na motivação e remuneração (não somente moneta- equipe motivada se dedica mais e tem maior facilidade em entregar
riamente, mas também de fins não-materiais) dos colaboradores, a demandas segundo a qualidade esperada ou até acima.
ferramenta da Gestão de Pessoas. Nesse ponto, para obter sucesso é indispensável que o RH (Re-
cursos Humanos) e os líderes tenham sinergia. Atentando-se aos
• Organização: Sistemas de Comportamentos Sociais, Sistema pontos vulneráveis que podem ser corrigidos com métodos e capa-
de relações de Contribuições e Incentivos. É o conjunto de recursos citações. Já os pontos fortes podem ser desenvolvidos de modo a se
e pessoas que estão alinhados para o alcance de um resultado. tornarem efetivamente crescentes.

2
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Não se trata apenas de ações pontuais, as atividades precisam mudanças da área de RH no período. Viu-se uma evolução desde
ser bem planejadas. É importante ter em mente que a continuida- o pensamento pouco estratégico (anterior aos anos da década de
de traz resultados a curto, médio e longo prazo. Se torna crucial 1980 e que resumia a área de RH ao DP – Departamento Pessoal), o
o comprometimento com a gestão correta para que se alcance o aparecimento de estratégias funcionais (década de 80), a proposta
desenvolvimento de pessoas. de desenvolvimento de capacidades estratégicas (nos anos iniciais
da década de 90) até a visão atual, de busca de alinhamento da
Liderança área aos resultados estratégicos. Essas mudanças na área de RH es-
É responsável pelo desafiador papel de gerir e conduzir pesso- pelharam-se nas mudanças do mercado de trabalho e das rupturas
as à resultados satisfatórios. Nesse papel, as organizações conside- verificadas no pensamento relacionado às estratégias de negócios,
ram de extrema importância colocar um indivíduo de excelência, notadamente na discussão que se fez relacionada à competitividade
pois cada área necessita de talentos adequados. e ao desenvolvimento de competências essenciais para o negócio.
Administrar a equipe sinergicamente, alcançando metas, cum-
prindo prazos, motivando e inspirando cada indivíduo a entregar
ANTES AGORA
cada vez melhor seu trabalho é função de um bom líder. Para tanto
o comprometimento, planejamento, empatia e inteligência emocio- • operacional • estratégica
nal, geram e mantêm bons relacionamentos interpessoais. • foco no curto prazo • foco no longo prazo
• papel administrativo • papel consultivo
Desempenho • ênfase na função • ênfase no “negócio”
É o resultado de uma liderança efetiva e equipe motivada. O • foco no público interno • foco públicos
RH (Recursos Humanos) junto aos líderes de cada área, se torna
• reativa/solucionadora interno e externo
responsável por desenvolver, medir, avaliar regularmente esse de-
sempenho, estimulando a melhoria contínua. As ferramentas para de problemas • proativa e preventiva
essa avaliação são: feedbacks periódicos, que promovem a auto • foco no processo • foco nos resultados
avaliação, análise crítica de cada área e da organização no geral. O e atividades
plano de carreira que considera evolução de cargos e salários tem Figura – Síntese das mudanças na função de RH
esse processo como primeiro passo. Fonte: Helena Tonet

Enquanto as estratégias funcionais prendiam-se às funções


OS PROCESSOS DE GESTÃO DE PESSOAS clássicas da área de RH, voltadas para atender a alguma demanda,
as capacidades estratégicas tinham como foco o estudo da cultura,
das competências e do desenvolvimento do comprometimento dos
Administração de recursos humanos empregados para que a empresa alcançasse seus objetivos.
A visão atual pressupõe que a área de RH dê conta: da atração,
Finalidades da gestão de pessoas provimento e retenção de pessoas; do alinhamento, mensuração e
Gestão de Pessoas ou Administração de Recursos Humanos remuneração alinhada à performance da empresa e dos empregados;
(ARH) é o conjunto de políticas e práticas necessárias para conduzir do controle de investimento em pessoas, de acordo com as demandas
os aspectos da posição gerencial relacionados com as “pessoas” ou da empresa (GUBMAN, 2004). Dentro desta nova visão, estratégica, o
recursos humanos, incluindo recrutamento, seleção, treinamento, foco da área de RH é móvel, conforme as mudanças no cenário no qual
recompensa e avaliação de desempenho. É o conjunto de decisões a organização está imersa, mudanças estas que podem interferir no
integradas sobre as relações de emprego que influencia a eficácia mercado de trabalho ou no resultado da empresa. Assim, dá-se impor-
dos funcionários e das organizações (CHIAVENATO, 1999, p.8). Seus tância a ações diferentes dentro da área, dependendo das exigências
objetivos são: da organização para um determinado momento.1
• Ajudar a organização a alcançar seus objetivos e realizar sua Ashton et al. (2004) apontam que a área de RH tem três
missão; capacidades-chave que devem atuar de maneira simultânea para
• Proporcionar competitividade à organização; ajudar as empresas a serem competitivas: em primeiro lugar, dis-
• Proporcionar à organização, empregados bem treinados e tribuir os serviços relacionados a processos de RH, de modo que
bem motivados; todos os empregados possam ter acesso aos canais internos ou
• Aumentar a auto-realização e a satisfação dos empregados externos a eles relacionados. Em segundo lugar, estabelecer serviços
no trabalho; de consultoria de gestão de RH que funcionem como parceiros para
• Desenvolver e manter qualidade de vida no trabalho; executivos, unidades de negócio e gestores de linha; esse tipo de
• Administrar a mudança; consultoria deve estar ligado às necessidades específicas de cada área,
• Manter políticas éticas e comportamento socialmente res- oferecendo serviços ligados às competências essenciais da área e aos
ponsável. aspectos de diferenciação que sejam chave para o negócio. Em terceiro
lugar, a área deve oferecer mais apoio e serviços estratégicos para a
Durante muito tempo as organizações consideraram o capital
direção da organização. Esta terceira opção é vista pelos autores como
financeiro como a principal fonte de desenvolvimento. Todavia
o futuro da área e envolve significativas mudanças, que devem ser
atualmente percebe-se que a força para o desenvolvimento das or-
feitas na mesma velocidade e às mesmas condições de custo exigidos
ganizações está nas pessoas. Empresas tiveram seu desenvolvimen-
para o negócio em si. Além disto, Ashton et al. (2004) propõem seis
to comprometido pela inabilidade na seleção de pessoas; por falta
características para que a área de RH seja estratégica:
de boas ideias; por falta de potencial criativo; falta de entusiasmo e
I – Foco na estratégia do negócio, baseada na compreensão do
motivação da equipe; falta de conhecimentos e competências e não
negócio em si;
pela falta de recursos financeiros (Chiavenato, 2005).
No trabalho de César et. al. (2006), destaca-se que a estratégia
e o planejamento de RH têm mudado e crescido significativamente 1. Ana Maria Roux Valentini Coelho CÉSAR; Roberto CODA; Mauro Neves GARCIA.
nos últimos vinte e cinco anos (GUBMAN, 2004), fato revelado pelas Um novo RH? – avaliando a atuação e o papel da área de RH em organizações
brasileiras. FACEF PESQUISA – v.9 – n.2 – 2006.

3
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
II – medidas de desempenho dos objetivos que sejam alinhadas devem ser legitimadas tanto pelo enfoque do empregado quanto
aos objetivos do negócio; pelo da empresa, para que possam efetivamente atuar como elos
III – alta competência na análise de causa e efeito, priorização entre estes dois polos, buscando atuar de maneira conciliatória na
e execução de programas da área, o que envolve habilidades ana- resolução dos conflitos surgidos.
líticas; II – Busca da melhoria da eficiência dos grupos, calcada nos
IV – excelência em serviços de relacionamento e competências atributos pessoais, cooperação intra e interequipes, capacidade de
para desenvolver o nível de tecnologia da informação; adaptação e desenvolvimento de compromisso entre colaborado-
V – atuação na estrutura da organização e no desenvolvimento res e empresa.
de capacidades que estejam alinhadas a ambientes que exigem alto III – Livre fluxo de informações, tendo cada componente do
desempenho; grupo plena consciência da relação de causa e efeito existente nas
VI – oferta de gestão de relacionamentos de modo a equilibrar tarefas executadas.
oferta, demanda e expectativas de clientes internos, escolhendo IV – Treinamento e reciclagem constantes, permitindo que os
prioridades e alterando alvos, sempre que necessário. Em outras colaboradores incorporem novos conhecimentos que permitam
palavras, é preciso que gestores da área de RH pensem como ges- analisar criticamente o seu trabalho e seu ambiente, permitindo
tores do negócio o que, segundo os autores, tradicionalmente não que busquem a melhoria contínua como indivíduo.
ocorre, vez que gestores de RH não adotam as crenças dos outros V – Cenário propício para o desenvolvimento de estruturas
altos gestores e não atuam como tal. auto-reguladoras a partir de indivíduos autônomos e participantes.
Desta forma, as equipes possuem a capacitação necessária para
Percebe-se que os gestores e áreas de RH precisam migrar de gerir seus próprios recursos de forma otimizada.
um modelo mais transacional para atuarem como parceiros estra-
tégicos do negócio. Esta visão estratégica da área de Recursos Hu- Nesta escala, a gestão de RH está plenamente disseminada
manos é essencial para que uma empresa se expanda globalmente. pela empresa, sendo cada líder um gestor das pessoas sob a sua
Globalização, tecnologia e mudanças sociais têm contribuído para a responsabilidade. A área de recursos humanos atua então como
emergência de mercados e competidores, crescentes pressões de órgão consultivo, constantemente sintonizado com as tendências
acionistas e desafios crescentes em relação a custos, tempo de de- do mercado e introduzindo novas ideias à estrutura vigente. Assim,
senvolvimento de produtos e serviços, e qualidade. As organizações os profissionais de Recursos Humanos devem evitar os vícios inter-
precisam que as funções de RH estejam alinhadas ao propósito da nos, buscando sempre novos patamares de desempenho através da
organização, de modo que as mesmas dêem suporte à estratégia do aplicação de “benchmarkings” (SOLEDADE, 2007).
negócio (ASHTON et al., 2004). A moderna Gestão de Pessoas, segundo Chiavenato (2005),
A questão é ser estratégico quando se tem tempo e recursos baseia-se em três aspectos:
apenas para o operacional, desafiando a área de RH a estruturar-se I – tratar as pessoas como seres humanos que possuem
para criar maior valor às organizações. David Ulrich (1988) sugere conhecimentos, competências, com uma história pessoal que os
cinco ações para que RH crie valor para a organização: torna únicos, diferentes entre si e não como recursos necessitando
I. Entender o mundo externo; que alguém as administre pois são sujeitos passivos das ações das
II. Definir e atender os stakeholders (funcionários, clientes, organizações;
investidores e gerentes de linha); II – tratar como talentos que impulsionam a organização, dotan-
III. Atualizar e inovar as práticas de RH (pessoas, performance, do-a de dinamismo, de conhecimento para continuar competitiva;
informação e trabalho); III – tratar as pessoas como parceiros que investem na orga-
IV. Reger a organização de RH e definir uma estratégia de nização através de seus esforços, dedicação, comprometimento,
recursos humanos; responsabilidade tendo como expectativa o retorno deste investi-
V. Assegurar o profissionalismo dos funcionários de RH por mento traduzidos em autonomia, desenvolvimento, remuneração,
meio de suas atuações e competências. reconhecimento, dentre outros.

Estas ações nada mais são do que parte das competências Os programas de RH devem ser desenhados de modo a ofe-
de qualquer gestor de área de uma organização Assim, Wessling recer benefícios e oportunidades de crescimento profissional aos
(2008) defende que a área de RH deve olhar o negócio com lente empregados. A função de administrar Recursos Humanos é das
estratégica e realizar mudanças profundas e significativas no modo lideranças (supervisores/gerentes) das organizações. A função
de operar, alinhando seu novo papel junto aos clientes internos; de- dos profissionais de Recursos Humanos é de buscar ferramentas e
finir, remanejar e treinar suas competências, e adequar os sistemas práticas modernas de gestão de pessoas para facilitar, dar suporte
de RH com foco nos resultados, uma vez que a Gestão de Pessoas e apoiar as lideranças na fixação das estratégias, na implementação
contribui com o dinamismo, a agilidade e a competitividade pró- dos processos de mudança organizacional, e nos processos de
prias das organizações de sucesso. aprendizagem e desenvolvimento das pessoas; estimular o autode-
A área de RH deve estar totalmente alinhada à cultura da senvolvimento das pessoas; manter os referenciais da organização
empresa, pois a compreensão dos vínculos construídos dentro do transparente.
ambiente de trabalho é a etapa inicial para o desafio de gerir as As organizações necessitam de profissionais de RH que tenham
pessoas. Para Soledade (2007), é através do entendimento dos perfil generalista e não mais de especialistas, dando maior abran-
elementos constituintes da cultura que é possível compreender gência às atividades e responsabilidades, devendo possuir maior
os mecanismos de interação entre os colaboradores e as tarefas qualificação e capacitação profissional (Resende e Takeshima,
que executam, sendo possível destacar ainda os seguintes fatores 2000). Deve-se atentar para:
críticos de sucesso: a) GESTÃO ESTRATÉGICA DE RH: Integrar-se com os objetivos
I – Desenvolvimento de lideranças capazes de alinhar as expec- maiores da organização e como suporte mais efetivo às áreas pro-
tativas do grupo com os objetivos da empresa, criando as condições dutivas e de negócios, favorecendo o cumprimento de suas metas
de reciprocidade essenciais para atingir um desempenho que aten- (Resende e Takeshima, 2000)
da às pressões internas e externas da organização. As lideranças

4
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
b) GESTÃO INTEGRADA DE RH: Entrosar as atividades, os pro- d) folha de pagamento, admissão, demissão.2
jetos, planos e sistemas para garantir que a missão e objetivo da
área sejam cumpridos, obtendo sinergia nas funções principais de Entretanto, o passar das últimas décadas mostra uma mudança
recursos humano(Resende e Takeshima, 2000). neste cenário, com a gestão de RH sendo exercida não mais por uma
área específica, por haver se tornado um atributo de qualquer líder
Das mudanças organizacionais em curso, destacam-se: de equipe. Esta mudança de perspectiva levou à descentralização
• Horizontalização das estruturas, redução de níveis hierárqui- dos objetivos acima citados, que passaram a ser absorvidos pelas
cos, estruturas em rede; diversas áreas da empresa, sendo responsabilidade de cada líder, a
• Equipes multifuncionais com bastante autonomia e com o gestão dos colaboradores sob a sua responsabilidade. Cabe então
compromisso de agregar valor; à nova área de RH, atuar como um agente facilitador do processo
• Visão e ação estratégica fazendo parte do cotidiano das de gestão de pessoas, propiciando as áreas da empresa os recursos
pessoas e orientando resultados; e instrumentos necessários a este novo desafio (SOLEDADE, 2007).
• Necessidade da organização aprender continuamente (lear- Menezes acrescenta que a Gestão de Pessoas é contingencial
ning organization). e situacional por ser dependente da cultura da organização, da
estrutura organizacional adotada, das características do contexto
As tendências relacionadas à estrutura de RH são: ambiental, do negócio da organização, da tecnologia adotada, entre
• formações diversas – predomínio administração e psicologia outros fatores. Seus objetivos são:
– também pedagogia e engenharias consoantes com o negócio. • Ajudar a organização a alcançar seus objetivos e realizar sua
• ênfase no papel consultivo/parceria com as áreas da empresa missão;
– maior exigência de competências conceituais e interpessoais • Proporcionar competitividade à organização;
• por projetos – redução de funções • Proporcionar à organização, empregados bem treinados e
• com poucas pessoas bem motivados;
• atuação em comissões internas • Aumentar a auto-realização e a satisfação dos empregados
• comitês suprassistema no trabalho;
• Desenvolver e manter qualidade de vida no trabalho;
Já a síntese das principais tendências nas ações de gestão de • Administrar a mudança;
pessoas identifica: •Manter políticas éticas e comportamento socialmente res-
• foco nas lideranças ponsável.
• ênfase no trabalho em equipe
• exigência de multiqualificação As novas ideias de gestão de pessoas no serviço público come-
• rodízio na execução de tarefas çam a se consolidar a partir do movimento de Reforma do Estado e
• interesse relaçãopessoal/profissional surgimento do movimento da Nova Gestão Pública ou Gerencialis-
• ênfase em pesquisa mo. A reforma é gerencial porque busca inspiração na administração
• aprendizagem de ferramentas de empresas privadas, e porque visa dar ao administrador público
• treinamento à distância profissional condições efetivas de gerenciar (BRESSER-PEREIRA,
• formação in company 1998). As mudanças na Administração pública se refletem na Admi-
• gestão do conhecimento nistração de Recursos Humanos (ARH), especialmente no estilo de
• compartilhamento de conhecimento lidar com as pessoas.
• T&D estratégico: programas mais voltados para estratégia de
negócio Diferenças de Administração de Recursos Humanos
• aprendizado × performance: maior foco no aumento de
performance Estilo Tradicional Estilo Flexível
• e-learning × presencial: o crescimento dos programas blended
• liderança e coaching: transformação dos modelos de lideran- • Paradigma burocrático- • Preocupação desloca-se
ça mecanicista – ênfase nas da estrutura organizacional
• diversidade: inserção e valorização das diferenças tarefas e na estrutura para os processos e a
• saberes mais demandados: e visão da organização dinâmica organizacional.
• técnico – saber fazer – domínio processos de trabalho, nor- percebida como “máquina”. • Estilo aberto, flexível
mas, tecnologia, know-how • Estilo de administração e participativo, que
• conceitual- saber o porquê – entender as razões, estabelecer rígido e autocrático, baseado dá oportunidades de
relações, know-why em padrões inflexíveis. crescimento individual.
• interpessoal – saber ser – entender as pessoas, estabelecer • As pessoas são • Descentralização
relacionamentos convergentes, estimular motivações, decodificar preguiçosas por natureza e participação nas
emoções, perceber perfis e só são motivadas por decisões e delegação
• sobre o negócio – saber realizar – agir consoante demandas recompensas materiais. de responsabilidades
organizacionais – competências distintivas, essenciais, básicas

Soledade (2007) diz que tradicionalmente são atribuídos 4


objetivos à área de RH:
a) recrutamento e seleção de indivíduos capazes de atender
aos desejos e expectativas da empresa;
b) manutenção dos colaboradores na empresa;
c) desenvolvimento das pessoas; 2. Adilson Silva Soledade. O Novo Papel da Área de Recursos Humanos (2007).
Obtido em http://www.ogerente.com.br/novo/artigos_sug_ler.php?canal=16&-
canallocal=48&canalsub2=154&id=453

5
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

• Paradigma burocrático- • Enriquecimento do cargo, 1º Momento: departamentos de pessoal, destinados a fazer


mecanicista - ênfase nas substituindo a especialização cumprir as exigências legais com relação ao emprego – admissão,
tarefas e na estrutura estrita pela ampliação de anotações cadastrais, controle de frequência, aplicação de penali-
e visão da organização tarefas e responsabilidades. dades, férias etc.
percebida como “máquina”. • O ser humano não 2º Momento: departamento de recursos humanos, responsá-
• Estilo de administração tem desprazer inerente vel pelas funções clássicas de RH.
rígido e autocrático, baseado em trabalhar, nem uma 3º Momento: gestão de pessoas, responsável por um conjunto
em padrões inflexíveis. natureza intrínseca de mais complexo de funções, assumindo papel estratégico.
• As pessoas são passividade e resistência.
preguiçosas por natureza • As pessoas têm Segundo Brito (2008), há uma tendência para entender que a
e só são motivadas por motivação, potencial gestão de pessoas deve ser compartilhada com os gerentes que li-
recompensas materiais. de desenvolvimento e dam cotidianamente com os próprios subordinados. Neste sentido,
• As pessoas não querem capacidade de assumir o RH passa a funcionar como prestador de serviços especializados
responsabilidades e preferem responsabilidades. de gestão de pessoas, no âmbito interno, fornecendo assessoria e
ser dirigidas e dependentes. Falta de ambição, fuga consultoria às demais áreas:
• Por sua natureza à responsabilidade e • Recrutamento e seleção: previsão constitucional para, de
intrínseca, o ser humano preocupação excessiva um lado, concurso público e, de outro, livre nomeação para cargos
é resistente à mudança. com segurança são, muitas comissionados.
As atividades devem vezes, conseqüências de • Desenho de cargos e avaliação de desempenho: algumas
ser padronizadas e as experiências negativas. vezes a criação de cargos não atende a critérios técnicos. Dificul-
pessoas devem ser • Para que as potencialidades dade de implementar programa de avaliação e mensuração de
persuadidas, controladas, intelectuais não fiquem desempenho.
recompensadas e coagidas subutilizadas, deve ser • Remuneração e benefícios: dificuldade de recompensar os
para cumprir seu papel. estimulada a criatividade bons funcionários.
• A remuneração é para a solução de problemas • Treinamento e desenvolvimento de carreiras: ausência de
vista como meio de organizacionais. planejamento, principalmente de médio e longo prazos, e desconti-
recompensa, uma vez que • As pessoas podem atingir nuidade administrativa prejudicam desenvolvimento consistente e
o homem é motivado por objetivos pessoais ao mesmo contínuo das pessoas, com foco em competências.
incentivos econômicos tempo que perseguem os • Banco de dados e Sistema de Informações Gerenciais (SIG):
objetivos organizacionais. ausência de bases de dados e falta de compreensão da importância
de informações que subsidiem o planejamento e a tomada de
decisão.
Fonte: Marcilio de Medeiros Brito, 2008.

Outra distinção é tratar as pessoas como recursos ou como TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO. MODELAGEM
parceiros. DO TRABALHO - DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE CARGOS,
MODELOS DE DESENHO DE CARGOS, COLETA DE DA-
DOS SOBRE CARGOS
Tratar pessoas Tratar pessoas
como recursos como parceiros
– As pessoas são – As pessoas são fornecedoras de Recrutamento e seleção
vistas como recursos conhecimentos, competências, ha- O contexto de Gestão de Pessoas, mais conhecido como
de produção, ao bilidades e inteligência. Constituem Recursos Humanos, é formado, por pessoas e organização, esta-
lado dos recursos o capital intelectual da organização. belecendo uma relação de dependência mútua para o alcance das
financeiros e materiais. – Nesta concepção, as pessoas metas e objetivos (CHIAVENATO 2005). Para que exista esta relação
– Como recursos, são vistas como seres humanos, entre pessoas e organização, há necessidade de que as organiza-
elas precisam ser dotadas de personalidade, possuem ções escolham as pessoas que desejam como empregados e que
administradas, o que uma história de vida particular, as pessoas escolham onde pretendem trabalhar. Este processo de
envolve planejamento, são diferentes e singulares e escolha mútua ocorre quando as organizações divulgam suas vagas
organização, direção possuem necessidades que no mercado de trabalho e as pessoas interessadas, candidatam-se
e controle de suas motivam seu comportamento. as vagas disponíveis (TEDESCO, 2009).
atividades, já que são – São elementos impulsionadores Em termos tradicionais, a seleção busca entre os candidatos
sujeitos passivos da e dinamizadores da organização recrutados aqueles mais adequados aos cargos existentes na em-
ação organizacional. e capazes de dotá-la de inteligên- presa, visando manter ou aumentar a eficiência e o desempenho do
cia, talento e aprendizados pessoal, bem como a eficácia da organização (CHIAVENATO, 2009,
indispensáveis à sua constante p.172).
renovação e adequação a um A seleção é um processo de comparação entre duas variáveis:
mundo em mudanças. de um lado, os critérios da organização (como requisitos do cargo a
– Deve haver reciprocidade ser preenchido ou as competências individuais necessárias à orga-
entre expectativas pessoais nização) e, de outro lado, o perfil das características dos candidatos
e organizacionais que se apresentam. A primeira variável é fornecida pela descrição
e análise do cargo ou das competências requeridas, enquanto a
Assim sendo, o órgão de gestão de pessoas deve apresentar 3 seguida é obtida por meio de aplicação das técnicas de seleção
momentos de atuação: (CHIAVENATO, 2009, p.173).

6
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Existem dois tipos de mercado: o Mercado de Trabalho onde Mas, para que o recrutamento e seleção sejam considerados
são divulgadas as oportunidades de emprego e o Mercado de estratégicos, eles precisam atender a três condições primárias in-
Recursos Humanos, caracterizado pelo conjunto de candidatos que dependentes: integração estratégica; foco no longo prazo; e meca-
estão em busca das oportunidades oferecidas pelas organizações. nismo para transformar demandas estratégicas em especificações
Tanto no mercado de trabalho quanto no mercado de recursos apropriadas para recrutamento e seleção. Sob esta perspectiva, o
humanos, existem constantes alterações, que influenciam nas papel das funções de recrutamento e seleção está no provimento
práticas das organizações no que se refere as gestão de pessoas e de pessoas com as competências vistas como críticas para o futuro
no comportamento das pessoas que estão disponíveis no mercado ou, em outras palavras, em saber escolher as pessoas que “tocarão”
ou que pretendem buscar outro emprego. a gestão da empresa no futuro.
Quando o mercado tem mais ofertas do que procura, os O termo “recrutamento” pode facilmente ser encontrado em
candidatos podem escolher as organizações que oferecem me- dicionários, como por exemplo, na versão on line do http://www.
lhores condições e oportunidades, aumentando assim seu poder priberam.pt/ como ato ou efeito de recrutar uma leva de recrutas.
de negociação. As organizações por outro lado, investem mais Sua morfologia e significado teve origem, praticamente nos exér-
em benefícios sociais e salariais, em treinamento e programas de citos, pois estava vinculado a prática de captar recrutas para vagas
desenvolvimento, dentre outras, para atrair e reter os candidatos. de futuros soldados ou postos de guerrilha. Rapidamente o termo,
Geralmente os critérios de seleção são mais flexíveis e as pessoas bem como seu objetivo (captação de pessoas) foi ampliado para
sentem-se mais propensas a lançar-se no mercado. o sistema de RH, em especial, ao subsistema de Recrutamento e
Quando a situação é inversa, existe mais procura por emprego Seleção de Pessoal.4
do que ofertas de vagas diminui o poder de negociação por parte O papel do recrutamento é ser o elo entre a organização e o
dos candidatos, sentem-se inseguros em deixar seu emprego, mercado de trabalho. Recrutamento e Seleção é um processo que
aumenta a competição entre os candidatos. Há pouco ou nenhum procura integrar pessoas e trabalho, através do estudo das dife-
investimento salarial, benefícios, treinamento e a ênfase acaba renças individuais das pessoas que se apresentam às vagas, com
sendo no recrutamento externo para melhorar o potencial interno. a finalidade de prognosticar, através da utilização das técnicas de
Vários são os fatores que interferem tanto no mercado de seleção, quais estariam capacitadas para ocupar um cargo dentro
recursos humanos quanto no mercado de trabalho. Um deles está
de uma organização (Bruno, 2000).
relacionado ao desenvolvimento tecnológico que aumentou a
O processo de Recrutamento e Seleção terá um resultado posi-
sofisticação do trabalho, demandando habilidades e competências
tivo, quando atender as necessidades com rapidez; com quantidade
mais variadas dos trabalhadores, automatizando os processos,
suficiente de candidatos considerados potencialmente capacitados;
aumentando a produtividade, gerando novos empregos, eliminan-
com custo adequado despendido no processo e que haja perma-
do postos de trabalho. A intensificação da tecnologia possibilitou
nência dos candidatos na organização. O resultado será negativo
ofertas de produtos mais acessíveis, aumentando o consumo o que
quando ocorrer um alto turnover (rotatividade) no período expe-
pode ser um fator gerador de emprego.
rimental, poucos candidatos potenciais para o processo seletivo,
O mercado está cada vez mais competitivo fazendo com que as
organizações criem estratégias para gestão de pessoas mais eficien- alto custo do recrutamento;poucos funcionários qualificados o que
tes para atrair e reter pessoas. A responsabilidade por pesquisar poderá comprometer a eficiência e eficácia da organização.
interna e externamente os candidatos potenciais para preencher as O papel primordial do selecionador de pessoal é garantir,
vagas existentes na organização, cabe ao Recrutamento e Seleção. enquanto estratégia de gestão de Recursos Humanos, a eficiência
Portanto, o processo de recrutamento e seleção desempenha um das atividades mediadas por organismos dentro das organizações
papel essencial. mantendo ou elevando a produtividade via seleção de perfil psico-
Para se alcançar a integração estratégica entre a área de lógico. Tal qualidade está automaticamente vinculada a prática de
Recursos Humanos e os negócios da empresa, é preciso que cada recrutamento, compreendida como as seguintes etapas:
atividade de RH seja integrada verticalmente, de modo a se alinhar
aos imperativos da estratégia da empresa (MILLMORE, 2003). a) Recebimento da Vaga
Recrutamento e seleção são práticas que se mantiveram relativa- O trabalho de recrutamento inicia-se no momento em que
mente imutáveis ao longo do tempo, sendo ainda frequentemente se recebe a liberação da vaga, solicitação de pessoal, perfil profis-
relacionadas aos modelos psicossomáticos, abordagens padroniza- siográfico ou afim. Embora a nomenclatura deste documento se
das onde se procurava a pessoa certa para o lugar certo. Hoje o diferencie de empresa para empresa, o objetivo é único: munir a
enfoque dessas práticas tem se tornado mais orientado estrategi- divisão de recrutamento e seleção sobre os dados e critérios que
camente, buscando-se pessoas para a organização e não mais para servirão de base para preterir ou aprovar currículos.
um cargo específico. O que importa é a busca de capital humano, Em algumas empresas, o RH atua como staff ou Consultoria
que se revela pelo conjunto de competências que as pessoas têm e Interna junto aos departamentos requisitantes no desenho do perfil
que se alinham às competências essenciais da empresa.3 de uma vaga. Em agências de emprego e Consultoria de RH, quando
Se o comportamento estratégico exige que a organização recebemos uma vaga, ligamos para os clientes para confirmar o
combine seus recursos no longo prazo, às demandas de mudanças recebimento e automaticamente, aproveitamos a contingência
ambientais, as organizações consideram que o capital humano para esclarecer ou flexibilizar os requisitos para o desempenho de
seja uma das principais fontes de vantagem competitiva; sob este um cargo vago. Negligenciar quaisquer informações a respeito do
aspecto, recrutamento e seleção são funções essenciais dentro da perfil de um cargo é sinônimo de comprometer o recrutamento e,
área de RH para dar suporte à execução da estratégia da corpora- portanto, o processo seletivo como um todo.
ção, o que já vinha sendo percebido há cerca de quinze anos atrás Assim, o processo de recrutamento e seleção tem início quando
(HENDRY, PETTIGREW; SPARROW, 1988). houver disponibilidade de vaga motivada por substituição em fun-
ção de desligamentos por aposentadoria, promoções, afastamen-
tos, dentre outros ou por necessidade de aumentar a quantidade
3. Ana Maria Roux Valentini Coelho CÉSAR; Roberto CODA; Mauro Neves GARCIA.
Um novo RH? – avaliando a atuação e o papel da área de RH em organizações 4. Eduardo Alencar, Camilla Pauferro, Alcimar Fraga, Érica Soares e Tatiane Rosa.
brasileiras. FACEF PESQUISA – v.9 - n.2 – 2006. Introdução ao Recrutamento de Pessoal (2008)

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
de pessoas em virtude do aumento da produção, novos produtos, Os meios para divulgação das vagas internamente podem ser
ampliações da organização, aquisição de novos maquinários, dentre o quadro-de-avisos; intranet; consulta aos gestores (gerentes /
outros. supervisores); consulta aos planos de desenvolvimento de recursos
Quando surge a vaga, a área requisitante deve encaminhar humanos.
a solicitação para recursos humanos, que iniciará o processo de
recrutamento e seleção. II – Recrutamento Externo: Consiste nas práticas empregadas
Geralmente o processo tem início com a Análise da Descrição à divulgação de vagas em aberto para o mercado de mão de obra
de Cargo e/ou Definição do Perfil de competências, que pode ser externo à organização/empresa, como por exemplo, anúncios em
feita através da leitura da Descrição do Cargo que está sendo solici- jornais, contratação de agências de emprego, consultorias de RH e
tado ou entrevistando o requisitante para conhecer quais requisitos afins. As vantagens consistem em uma gama diversificada de perfis
são necessários para este cargo. para proceder com seleção de pessoal e agilidade na captação de
São necessárias as seguintes definições: requisitos mínimos im- pessoas. As desvantagens são geralmente, custo e desmotivação de
prescindíveis para ocupar o cargo, que se o candidato não possuir, colaboradores internos ao não serem considerados para processos
não poderá ser indicado para a vaga e os requisitos considerados seletivos da empresa.
como adequados, que se o candidato não possuir, poderão ser Assim, o Recrutamento Externo é caracterizado pela identifica-
desenvolvido posteriormente e/ou podem servir como diferencial ção de candidatos no mercado externo. Apresenta como vantagens
no momento da decisão. a geração de novas ideias trazidas pelos candidatos; maior diversi-
As informações que o recrutamento e seleção necessita para dade nos recursos humanos da organização, aproveitamento dos
iniciar o processo são as seguintes: atividades que a pessoa irá treinamentos de outras empresas; e outros e como limitações, a
desempenhar; responsabilidades e autonomia; posição do cargo na falta de candidatos potenciais; a demora dos contratados para
hierarquia; Conhecimentos e habilidades técnicas necessárias para conhecer os processos e procedimentos da organização; maior
desenvolver as funções e atividades; Os comportamento, habilidades tempo despendido no processo; custo mais alto do que no processo
e atitudes para o desenvolvimento das funções e atividades; Desafios interno, e a possibilidade de gerar insatisfações internamente pelo
e dificuldades características deste cargo; Relações diretas e indiretas, não aproveitamento dos funcionários.
tanto internas quanto externas; Horário de trabalho; Oportunidades Os meios para identificação dos candidatos externos podem
de desenvolvimento que esta função gera; dentre outras. ser a consulta ao Banco de Candidatos; a Indicação de Funcionários;
Atualmente os processos estão voltados para a Seleção por a colocação das oportunidades em Agências de Empregos, Consul-
Competências, mapeando-se as competências da organização e a torias; Intercâmbio entre Empresas, os Grupos de Profissionais;
que a organização necessita para cada cargo: as Apresentações espontâneas; Associação de Classes, Sindicatos,
a) técnicas que são os pré-requisitos do cargo, conhecimentos Universidades; Jornais, Revistas, Internet, e outros.
e habilidades especificas para atribuições ou funções específicas e; A decisão sobre qual o melhor meio para divulgação das vagas
b) comportamentais que são as atitudes e comportamentos está relacionada ao custo operacional, retorno rápido; e a eficiência
compatíveis com as atribuições a serem desempenhadas, por e eficácia do processo.
exemplo comunicação, liderança, negociação, persuasão, flexibili- Por exemplo, os anúncios nos jornais, revistas e internet, têm
dade, etc., como vimo anteriormente (para maiores conhecimentos como vantagens, além de ser uma fonte para atrair candidatos
consulte livro “Seleção por Competência” de Maria Odete Rabaglio, potenciais, é um meio para propaganda da organização, se bem
2005). elaborados. Os anúncios nos jornais e revistas têm como desvanta-
gens, o alto custo e o retorno demorado para receber os candidatos
b) Anúncio ou divulgação de vagas em fontes e parceiros de e/ou currículos.
recrutamento Após a divulgação da(s) vaga(s) e o recebimento dos currículos
Na etapa de anúncios, pode-se proceder com três condutas: ou dos candidatos, inicia-se o processo de Triagem que compreende
I – Recrutamento Interno: Consiste nas práticas empregadas a análise do currículo ou da ficha de solicitação de emprego e uma
à divulgação de vagas em aberto dentro das empresas ou orga- entrevista inicial.
nizações, focando o mercado de mão de obra interno, como por Na análise do currículo ou da Ficha de Solicitação devemos
exemplo, um teaser, anúncio na copa, e-mail, comunicado formal considerar: as realizações profissionais; os projetos desenvolvidos
ou semelhante, com o intuito de recrutar colaboradores de outros e implantados; a formação acadêmica; os cursos realizados; a expe-
departamentos que tenham interesse em mudar de área a título riência profissional observando a compatibilidade com os requisitos
de promoção, interesse profissional ou semelhante. A grande van- solicitados; a compatibilidade entre a formação e as funções ou
tagem de um recrutamento interno é o baixo custo com fontes de cargos ocupados pelo candidato; as datas de admissões e demis-
recrutamento. A desvantagem, é que ingressamos em um circulo
sões; o local onde reside, dentre outros, considerando sempre os
vicioso, ou como diríamos no senso comum, “cobre um santo e
requisitos definidos pelo requisitante.
descobre outro”. Caso um colaborador venha ser aprovado para
Após a triagem, os candidatos deverão ser convocados para
um processo de recrutamento e seleção interno, a vaga dele no seu
o processo de seleção. Esta convocação pode ser feita através de
antigo cargo, provavelmente abrirá junto ao subsistema de recruta-
mensagens eletrônicas, telegramas, telefonemas, cartas, recados
mento e seleção de pessoal.
através de funcionários, dentre outros. Deve-se informar horário e
Assim, o Recrutamento Interno é fundamentado na movimen-
local. Na convocação via telefone ou correio eletrônico é possível
tação dos funcionários seja através de transferências, promoções,
baseados geralmente nos programas de desenvolvimento de esclarecer algumas condições de trabalho tais como: horários da
Recursos Humanos. empresa; fases do processo de seleção; faixa salarial; a área em que
Este tipo de recrutamento apresenta como vantagens a rapidez, a vaga está disponível e outras.
economia, conhecimento, aumento da motivação, utilização dos Devem-se preparar o local, materiais e todos meios que serão
investimentos em treinamento e como limitações a frustração dos utilizados no processo de seleção.
candidatos não selecionados; a demora na liberação do candidato
pela supervisão atual, a quantidade insuficiente de candidatos para
o processo de seleção.

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III – Recrutamento Misto: Consiste nas práticas empregadas à D) Convocação de candidatos para processos seletivos
divulgação de vagas em aberto para o mercado de mão de obra O Processo de Seleção tem como objetivo identificar e avaliar o
interno e externo. As vantagens concentram uma flexibilidade de perfil de competências das pessoas no que se referem às habilidades
cenário e vantagens estratégicas mencionadas nos itens anteriores, cognitivas, os conhecimentos técnicos, a comunicação, a criativida-
bem como a flexibilidade para com as consequências negativas. de, a iniciativa, o trabalho em equipe, a liderança, as formas de lidar
– Instituições de Ensino (Técnico, Médio, Graduação, Pós Grad- com situações de pressão, os conflitos, as mudanças, a flexibilidade,
uação, Profissionalizante, Qualificação profissional e afins); a tomada de decisão, a capacidade para solução de problemas, o
– Sites; comportamento ético, a negociação, e outros, conforme solicitação
– Jornais (Locais, Nacionais, regionais) e Mídias; do requisitante (BRUNO, 2000).
– Instituições diversas (Ongs, Associações, Igrejas, eventos, O sucesso do processo de seleção depende fundamentalmente
etc); da definição clara e objetiva do perfil de competências. A definição
– Anúncio(s) na porta da empresa ou consultoria; deve estar voltada não só ao cargo em aberto, mas também a car-
– Agência de Emprego, Consultoria de RH; Outplacement e reira, objetivos da posição e perspectivas da organização.
afins; Devem-se estabelecer os requisitos que se o candidato não
– Indicação de candidatos ou funcionários; possuir, terá pouca probabilidade de sucesso na posição.
– Indicação de empresas parceiras, fornecedores e clientes; Deve-se tomar cuidado com a supervalorização da pessoa em
– Internet e seus recursos; detrimento do cargo efetivo.
– Etc As técnicas utilizadas na Seleção são identificadas a partir dos re-
quisitos definidos no início do processo. Identificamos algumas delas:
Em aspectos gerais, a escolha de fontes de recrutamento varia 1) Entrevista;
conforme perfil da vaga, criatividade do recrutador e recursos 2) Dinâmica de Grupo;
financeiros e institucionais da empresa. 3) Provas Situacionais;
4) Teste Psicológico;
C) Análise e triagem de currículos oriundos destas ações 5) Testes Técnicos ou Prova de conhecimentos e de capacida-
O currículo é praticamente o “cartão de visita” dos candidatos des, dentre outras técnicas.
recrutados ou interessados em oportunidades de trabalho junto a
uma empresa. Não há uma “fórmula” mágica ou modelo padrão, Entrevista
devido à grande diversidade na conduta de confeccionar este “car- É uma forma de coleta de dados e também o recurso mais efi-
tão de visita”. Entretanto, sugere-se: ciente do processo seletivo, se bem elaborada. Portanto não deve
Origem: A palavra Curriculum Vitae é de origem latina e traduz- ser substituída por outra técnica. Os tipos de entrevistas são:
-se como “trajetória de vida”. Hoje em dia, não utilizamos mais esta a) individual, quando o entrevistador e candidato estão face a
nomenclatura e nem é necessário colocar “Currículo”. Indica-se face;
como título, o nome do candidato. b) em Grupo envolvendo vários candidatos e entrevistadores;
Abas: é necessário dados pessoais (endereço, telefone, bairro, c) Por Banca envolvendo dois entrevistadores e um entrevis-
CEP, estado civil, nacionalidade e e-mail), Objetivo (Departamento tado;
e cargo de interesse), Experiência profissional (Empresas onde já d) o Painel de Entrevista envolvendo grupo de entrevistadores,
trabalhou, tempo que permaneceu, destacando cargo, data de geralmente 3, que entrevistam individualmente o candidato.
entrada, saída e síntese de atividades desenvolvidas), escolaridade
(técnico, médio, graduação, pós-graduação e afins), idiomas (em A entrevista por banca, painel ou grupo, em relação à entre-
caso de tê-los, indicar nível e instituição onde cursou), Informática vista individual apresenta algumas vantagens tais como: a redução
(Indicar softwares que sabe operacionalizar, caso tenha feito curso, do tempo tanto dos profissionais envolvidos quanto dos entre-
adicionar a escola e período), Atividades extra-curriculares (em vistadores; evitam repetições de perguntas ou temas; permitem
caso de estágios supervisionados, atividades filantrópicas e afins). o confronto de percepções dos entrevistadores aumentando a
Lay-out: O segredo é nada muito extravagante, com português objetividade e permitem a participação de profissionais de áreas
correto, objetivo, claro, conciso. diferentes, porém interdependentes.
Tendo o currículo em mãos, o recrutador/selecionador de Podemos ter indicar como desvantagens que alguns dados
pessoal verificará se o candidato tem os pré-requisitos da vaga pessoais ou referentes ao emprego anterior não podem ser pesqui-
em aberto, em caso de afirmativo, abordará o candidato para uma sados para não expor os entrevistados, pois estes podem perder a
entrevista, em caso de negativo, o candidato fica preterido nesta espontaneidade ou sentir-se constrangidos.
etapa da seleção. A utilização da técnica de entrevista prevê a preparação dos
Particularmente, em processos de recrutamento em agências e
entrevistadores para que não ocorram perguntas repetidas, que
consultorias de RH, onde a demanda de currículos é muito grande,
não façam perguntas dirigidas apenas para um candidato, para não
qualquer detalhe do candidato que não esteja compatível com
demonstrar falta de planejamento. O método de entrevista pode
o perfil da vaga, o retira do processo. No caso de recrutamento
ser:
interno, é possível levar em consideração outros dados além do
a) Diretivo – baseia-se em um roteiro planejado, permite man-
currículo, como por exemplo, a avaliação de seu gestor imediato.
ter o controle da situação quanto ao tempo a ser utilizado e per-
Outro aspecto a ser considerado é a fidedignidade das infor-
guntas a serem feitas, é recomendado quando se dispõe de pouco
mações mencionadas no currículo. Se o candidato coloca cursos, o
ideal é que traga na entrevista, cópia destes. Se coloca informações tempo para coleta de dados; quando os dados a serem pesquisados
sobre experiência, o ideal é que traga na entrevista sua carteira de são objetivos.
trabalho e assim por diante. Como o agendamento de entrevistas é b) Não Diretivo – enfatiza-se a relação entrevistado e entre-
a ponte entre o recrutamento e a seleção de pessoal propriamente vistador , assim como suas expressões verbais e não verbais, é
dita, é necessário estes cuidados metodológicos para não incluir- adequado para situações onde o entrevistado apresenta acentuada
mos candidatos negligentes ou inadimplentes com as informações tensão emocional; apresenta recursos intelectuais satisfatórios.
mencionadas em seus currículos. O responsável pelo processo de recrutamento e seleção deve

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preparar-se para a entrevista através da elaboração do Roteiro da • O que te levou a deixar a(s) ou que te faz pensar em deixar
Entrevista; ler novamente o currículo ou Ficha de Solicitação de Em- a(s) empresa(s) anterior(es).
prego; preparação dos outros entrevistadores; preparação do local • Quais as decisão mais difícil que você já tomou.
de atendimento garantindo privacidade e outras características • Qual situação faria você desrespeitar alguma norma da
que permitam condições éticas e pessoais mínimas; evitar que haja empresa.
interrupções, que a sala seja fechada, iluminada e arejada. • Dê exemplo de uma situação onde antecipou possíveis pro-
blemas para seu cliente e qual foi à solução recomendada.
No início da entrevista, deve estabelecer o rapport, quebrar o • Exemplifique um trabalho/projeto/nova tecnologia e qual
gelo através de um conversa informal criando um ambiente des- metodologia usaria para implementação.
contraído e cordial, falar sobre a empresa, seu histórico, missão,
valores, produtos, perspectivas, organograma, benefícios, motivo Existem outras questões relevantes dependo da área / cargo/
da abertura da vaga, dentre outras. Deve-se tomar cuidado para perfil estabelecido.
não superdimensionar a organização, falar sobre o cargo, o motivo Além disso, podem-se criar situações relacionadas à área/em-
da abertura da vaga, principais atividades, responsabilidades, presa/atividades e solicitar para que o candidato relate como agiria
perspectivas, fornecer ao candidato as informações sobre o perfil ou o que pensa a respeito da situação ou problemática abordada.
esperado e como será o processo seletivo. Isto possibilita que o Ao convocar candidatos para fase de entrevistas, o ideal é
candidato analise se atende suas expectativas e se deseja continuar. utilizar uma abordagem que perpasse os seguintes itens:
O candidato é cliente da seleção e deve ser tratado com consi- • Empatia;
deração, ética e respeito. • Clareza;
O fechamento da entrevista deve dar oportunidade ao candi- • Apresentação da empresa;
dato para expressar opiniões ou fazer alguma pergunta; devem-se • Apresentação da Vaga, focando condições de trabalho;
dar explicações sobre as próximas fases e comprometer-se com o Etc.
retorno.
A duração da entrevista é de 45 a 60 minutos. Este tempo é Pode-se utilizar o período de contato telefônico com os recru-
utilizado para: Introdução – Informações Pessoais e Profissionais – tados para analisar:
Informações sobre Perfil de Atribuições e Competências. • Fluência verbal;
Após a entrevista, deve-se analisar se o perfil do candidato é • Expectativas;
compatível com o solicitado pela organização e preencher imedia- • Motivação para participar do processo;
tamente o relatório com as devidas avaliações e parecer da seleção • Desenvoltura;
(RABAGLIO, 2005). • Etc.

Analisando a Entrevista: Dinâmica de Grupo


• Correlação entre o que foi narrado e as competências – pos- Técnica que integra o processo seletivo através da aplicação
tura e estilo pessoal do candidato e a adequação com a empresa; de exercícios, jogos e simulações. Ela dá aos examinadores a pos-
• Competências que não atendem as exigências, se são passí- sibilidade de observar as pessoas exercendo diversos papéis onde
veis de treinamento e a viabilidade para a empresa. são encontrados os requisitos básicos exigidos para o cargo a ser
• Se as expectativas e reivindicações do candidato vão ao preenchido. Faz parte de um conjunto de instrumentos para avaliar
encontro às da empresa; o candidato. Sua finalidade é auxiliar a revelar ao selecionador se o
• Contribuições que serão efetivas para a empresa (RABAGLIO, candidato apresenta as características profissionais e pessoais que a
2005). empresa está buscando. Esta técnica consiste em oferecer algumas
situações que possam colocar o grupo em funcionamento, a fim de
Parecer da Seleção: relatar os principais atributos e os aspectos que se estabeleça uma dinâmica, de tal forma que os candidatos
que não atendem a necessidade. Indicar se está: venham a se expor.
• acima do esperado. Embora as etapas e propostas das dinâmicas mudem de uma
• se é favorável ou atende as expectativas. empresa para outra, de modo geral, elas consistem de três etapas:
• se é Favorável, porém com restrições. Estas atividades grupais possibilitam que algumas características dos
• se é inaceitável ou desfavorável. candidatos se revelem e, assim, permitam ao selecionador avaliar
a compatibilidade entre o candidato e a vaga oferecida. Observa-se
Com relação às características do entrevistador, destacam-se: como cada pessoa se comporta em grupo, como é a comunicação,
atenção concentrada, capacidade analítica, receptividade, neutrali- o nível de iniciativa, a liderança, o processo de pensamento, o nível
dade; mobilidade, empatia, sensibilidade, equilíbrio, dentre outras. de frustração, se aceita bem o fato de não ter sua ideia levada em
• Algumas perguntas que podem ser feitas na entrevista: conta, dentre outros.
• Descreva suas tarefas e responsabilidades mais importantes.
• Relate duas ou Três situações que experimentou ou projetos Provas situacionais
que realizou no último(s) trabalho(s) que representaram realização. São simulações de problemas rotineiros e/ou de situações do
• Relate situações/atividades/projetos que representaram dia-a-dia ocorridos nas organizações onde os candidatos devem
frustração e como lidou com estas situações. posicionar-se apresentando soluções para estas situações, demons-
• Na sua vida profissional, qual ou quais metas ou situações trando suas capacidades para percepção, análise e solução de um
que foram as mais desafiadoras – as mais frustrantes e as mais problema concreto. As situações problema permitem mais de um
estressantes. caminho ou forma para solução do problema, pois o objetivo é ava-
• Quais expectativas para esta posição, nesta empresa. liar como o candidato aplica seus conhecimentos, como toma de-
• Como espera contribuir para com esta empresa. cisões muitas vezes colocando-se no lugar do gestor, suas atitudes
• Os objetivos para daqui a dois e cinco anos e o que está diante das situações. Portanto dependendo de como formularem
fazendo para alcançá-los. esta prova, é possível avaliar a ética, a prioridade que o candidato

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estabelece em relação às pessoas e a organização, avaliação da a) Retorno aos Candidatos não aprovados: deve ocorrer logo
relação custo benefício de suas decisões, se consegue enxergar um após a conclusão do processo através de e-mail, carta, telegrama,
mesmo problema sob diversos ângulos, dentre outros Geralmente telefonema ou outra forma julgar conveniente.
são aplicadas individualmente e podem ser utilizadas para discus- b) Retorno ao candidato aprovado: encaminhando para exame
são em grupo. Quanto mais alto o cargo, menor a possibilidade da médico admissional; entrega de documentação para processar a
utilização desta técnica. contratação; Integração de Novos Funcionários.
c) Após o período de experiência ou outro período designado
Testes Psicológicos pela empresa, deverá haver um acompanhamento do novo fun-
Os testes avaliam principalmente aptidões, interesses, atitudes cionário objetivando verificar sua adaptação, se suas expectativas
personalidade com a finalidade de identificar o perfil e as caracterís- estão sendo atendidas, dificuldades que está encontrando e como
ticas e prognosticar o comportamento em determinadas formas de está resolvendo, além de outras e a avaliação do gestor sobre o
trabalho bem como o potencial de desenvolvimento do candidato. desenvolvimento do funcionário.
A escolha de um teste psicológico deve ser feita pelo psicólogo e
este deve observar determinados fatores como atributos e caracte- Análise e descrição de cargos
rísticas que serão avaliadas. Segundo Joelson Matoso, técnico da Secretaria de Adminis-
Os testes são ferramentas auxiliares no processo de decisão, tração do Estado de Mato Grosso, em um modelo de gestão por
nunca podem ser vistos como fim. Eles complementam as impres- processos a quantidade de cargos se dá em função da quantidade
sões que são colhidas nas entrevistas, dinâmicas de grupos e nas de processos e das demandas de trabalho. O conjunto de cargos
provas. Os testes psicológicos para serem usados devem passar responsáveis por um número específico de processos (sistemas)
por um crivo científico que comprovem sua validade (capacidade compõe a estrutura organizacional.
de medir aquilo a que se propõe), precisão e fidedignidade (consis- A análise e descrição de cargos é uma ferramenta gerencial
tência dos resultados e estabilidade das respostas, comparando-se muito eficiente para a uma organização, principalmente pela gran-
grupos de pesquisa e instrumentos similares) e padronização de quantidade de informações que gera e que servem de subsídios
(instruções normativas para aplicação dos testes) e a existência de para diversos processos de gestão de pessoas.
normas específicas e atualizadas para a população brasileira. Como qualquer outra ferramenta de gestão, possui fundamento
teórico, base desse artigo, que objetiva de maneira clara e objetiva
Testes Técnicos ou Prova de conhecimentos e de capacidades
fornecer alguns conceitos e orientações para a sua aplicação.
São instrumentos utilizados para avaliar o nível de conheci-
É um documento formal, geralmente um formulário ou
mentos gerais e específicos dos candidatos exigidos pelo cargo a
relatório com o detalhamento do que um cargo exige em termos
ser preenchido. Podem ser orais ou escritas, através de perguntas e
de conhecimentos, habilidades e capacidades para que possa ser
respostas ou de realização, aplicadas por meio de execução de uma
desempenhada determinada função. A descrição e análise de
tarefa (CHIAVENATO, 2005).
cargos tende a otimizar o desenvolvimento de outras atividades,
Algumas empresas estão utilizando o recrutamento on-line.
tais como: recrutamento, seleção, treinamentos, planejamento de
Existe uma série de funcionalidades de e-Recruitment que orga-
nizam cada processo seletivo de modo que cada candidato em cargos e salários, avaliação de desempenho e segurança no traba-
cada vaga mantenha seu status atualizado, tal como: avaliações lho (MATOSO, 2008).5
do recrutador – entrevistas e dinâmicas, testes on-line etc. Isso Matoso explica que, dentro da estrutura, cada cargo está direta
facilita o trabalho dos recrutadores, consultores, assistentes e das ou indiretamente responsável por um ou mais processos, de forma
áreas coligadas como: Administração de Pessoal, Cargos e Salários, que estes (os processos) requerem profissionais com características
Treinamento e Desenvolvimento, Planejamento de Carreira, já que específicas, daí a necessidade de se fazer a descrição e análise dos
todas as informações podem ser compartilhadas. cargos dos Núcleos Sistêmicos com o objetivo de alocar as pessoas
As empresas podem manter um contato mais personalizado certas nos cargos adequados. Destaca-se aqui as ideias deste servi-
com os candidatos, enviando mensagens de atualização, agrade- dor público sobre análise e descrição de cargos:
cimento, informando sobre os processos seletivos etc., podendo Além disso, a descrição e análise de cargos oferece:
atingir um grande público individualmente, melhorando a sintonia • Insumo para nomear pessoas para os cargos existentes: Uma
com todos os profissionais. Por outro lado, beneficia também os vez que o perfil do cargo já está descrito, basta encontrar a pessoa
candidatos às futuras vagas, pois eles podem manter seus dados que melhor preencha os requisitos exigidos.
atualizados – entrando com login e senha na área destinada a eles, • Insumo para avaliação de desempenho: O desempenho do
no site – facilitando futuros contatos Rapidez e baixo custo caracte- ocupante do cargo pode e deve ser avaliado com base nas caracte-
riza o processo virtual. rísticas que o cargo requer.
Parecer da Seleção após aplicação das técnicas • Insumo para levantar necessidades de capacitação: A análise
Deve-se relatar os principais atributos e os aspectos que não e descrição do cargo contém o perfil de profissional ideal para ocu-
atendem a necessidade. par aquele cargo. Se o ocupante não possui certa habilidade ou co-
Indicar se o parecer é favorável ou desfavorável nhecimento requerido pelo cargo, deve desenvolver tal habilidade
a) Está acima do esperado ou conhecimento para desempenhar de maneira satisfatória suas
b) atende as expectativas/requisitos definidos funções. A necessidade de capacitação é, portanto, a diferença en-
c) Favorável com restrições (citar em quais requisitos) tre a descrição do cargo e a avaliação de desempenho do servidor.
d) desfavorável • Insumo para ações de segurança no trabalho, porque identi-
fica os cargos em que os riscos a saúde do trabalhador são maiores.
Finalização do Processo Seletivo: Após o parecer da seleção • Insumo para revisão de leis de carreira: Na medida em que
indicando ou não o(s) candidato(s) e a decisão do requisitante a descrição dos cargos é analisada periodicamente e sofre mudan-
pela aprovação ou não, o recrutamento e seleção deverá tomar as ças devido as novas demandas dos processos (leia-se sociedade),
seguintes ações:
5. Obtido em http://gestaocomaspessoas.blogspot.com.br/2008/01/anlise-e-
descrio-de-cargos.html

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aumentando a complexidade das atividades pode-se propor al- manter, motivar, orientar, organizar, participar, pesquisar, planejar,
terações nas leis de carreira objetivando adequar o salário/carga preparar, prever, receber, recomendar, reportar, representar, rever,
horária as exigências do cargo. selecionar, supervisionar, treinar, verificar.
• Clareza para os ocupantes dos cargos sobre as atividades,
responsabilidades e a importância do seu trabalho para a melhoria Sugestão de verbos para descrever a missão do cargo
dos serviços públicos. Verbos para você usar no meio da frase, depois de palavras
• Etapas da realização da descrição e análise de cargos (Como) como “visando a”, “afim de”, “para”, “com o objetivo de” etc.
• Objetivamente a descrição de cargos é realizada nas seguin- Alcançar, apoiar, aprimorar, assegurar, assistir, atingir, au-
tes etapas: mentar, auxiliar, conseguir, contribuir, controlar, coordenar, criar,
• Elaboração de formulário cumprir, desenvolver, estabelecer, estimular, facilitar, formular, im-
• Elaboração de manual de instrução de preenchimento do plementar, manter, maximizar, minimizar, motivar, obter, otimizar,
formulário e/ou treinamento dos facilitadores. preservar, promover, proteger, reduzir.
• Preenchimento dos formulários (pode ser por meio de entre-
vista de um facilitador ao ocupante do cargo, ou o próprio ocupante Treinamento
preenchendo o formulário) O Treinamento e Desenvolvimento (T&D) pode ser definido de
• Validação/correção dos formulários preenchidos modo amplo como um processo educacional aplicado de maneira
• Revisão periódica da descrição para adequação do cargo às organizada e sistemática, que visa mudança de atitudes e compor-
mudanças nos processos/atividades tamentos. De modo mais específico:
Desenvolvimento profissional: é a educação profissional que
Entrevista de levantamento de dados para elaboração da des- aperfeiçoa a pessoa para uma carreira dentro de uma profissão. É a
crição e análise de cargos. educação profissional que visa ampliar, desenvolver e aperfeiçoar a
A entrevista é uma das formas de coleta de dados com pessoa para seu crescimento profissional em determinada carreira
maior potencial para refletir de maneira fidedigna a realidade da na organização ou para que se torne mais eficiente e produtiva no
organização. Tanto o entrevistador quanto o entrevistado têm seu cargo. Seus objetivos são menos amplos que os da formação
oportunidades de refletir sobre o cargo de uma forma sistemática. e situados no médio prazo, visando proporcionar conhecimentos
A entrevista levanta pontos e questões que normalmente passam que transcendem o que é exigido no cargo atual, preparando-a para
despercebidos no dia a dia da organização. assumir funções mais complexas. É dado nas organizações ou em
A entrevista deve iniciar com o entrevistado dando uma visão firmas especializadas em desenvolvimento de pessoal.
geral do cargo, em termos de objetivos e responsabilidades. A seguir Treinamento: é a educação profissional que adapta a pessoa
o entrevistador deve iniciar as perguntas diretivas que propiciarão para um cargo ou função. Seus objetivos situados no curto prazo
as respostas para preencher o formulário. As respostas devem são restritos e imediatos, visando dar ao homem os elementos
contemplar os itens de um plano de ação: O que faz? Quando faz? essenciais para o exercício de um cargo, preparando-o adequada-
Como faz? Onde faz? Porque faz? mente para ele. É dado nas empresas ou em firmas especializadas
Algumas perguntas que o entrevistador pode fazer: em treinamento. Nas empresas, é delegado geralmente ao chefe
• Qual o objetivo central que o seu cargo deve alcançar? imediato da pessoa que está trabalhando. Obedece a um programa
• Quais são as principais atividades que você dirige, supervi- preestabelecido e atende a uma ação sistemática visando à adapta-
siona ou controla? (Esta pergunta pode gerar muitas outras. Pode ção do homem ao trabalho. Pode ser aplicado a todos os níveis ou
tomar algum tempo para cobrir todas as atribuições do cargo). setores da empresa (CHIAVENATO, 2009, pp.388-389).
• Qual a participação do seu cargo na definição de políticas, O papel de T&D é o de coordenar e apoiar os processos de
objetivos, normas e procedimentos para sua área? mudança, contribuindo para conquista equilibrada e simultânea
• Como são estabelecidos os objetivos e metas de curto/longo dos resultados das pessoas e das organizações (BOOG, 2005). As
prazos para o seu cargo? funções de treinamento e desenvolvimento têm um papel essen-
• Como é feito o planejamento, o acompanhamento e as corre- cial no crescimento de uma organização. Vários estudos mostram
ções dos planos e objetivos do seu trabalho? isto. Pettigrew et al. (1988) já discutiam, há quase vinte anos, que
• Como você planeja, acompanha, controla e avalia o resultado a função de treinamento podia ir além de promover treinamento
do trabalho dos membros da sua equipe? técnico ou desenvolver capacidades alinhadas ao mercado. Para
• Quais as principais complexidades do seu cargo? esses autores, há quatro aspectos relacionados ao crescimento da
• Que tipos de obstáculos ou de oportunidades exigem o máxi- atividade de treinamento e desenvolvimento em uma empresa: fa-
mo de sua habilidade para atingir seus objetivos? tores estratégicos, política e personalidade da empresa, restrições
• Como o seu superior pode saber se você está tendo um de- de tempo e mobilização para mudanças.
sempenho satisfatório em relação aos objetivos estabelecidos para Os fatores estratégicos relacionam-se às mudanças tecnoló-
o seu cargo? gicas ou às mudanças que ocorrem no mercado e que provocam
• Quais os principais objetivos que poderiam ser tomados gaps de habilidades; isto é especialmente sério em empresas com
como representativos para o seu cargo? base tecnológica onde treinamento em alto nível, às vezes, é uma
• Qual a medida (quantitativa ou qualitativa) poderia ser utili- das únicas opções viáveis para a empresa manter competitividade.
zada para descrever ou medir o seu desempenho? Quanto aos aspectos relacionados à política e à personalidade da
empresa, Pettigrew et al. (1988) comentam a necessidade de uma
Sugestão de verbos para iniciar as frases de descrição das ati- filosofia que seja apoiadora de treinamento e que seja traduzida
vidades em níveis de responsabilidade da companhia no tocante à criação
Aconselhar, adotar, ajustar, ajudar, analisar, apoiar, apresentar, de estruturas para identificação de necessidades, criação e compar-
aprovar, aprimorar, avaliar, aferir, conduzir, consultar, contatar, tilhamento de treinamento. O aspecto relacionado às restrições de
controlar, desenvolver, determinar, dirigir, elaborar, especificar, tempo refere-se mais a questões operacionais do que estratégicas,
estabelecer, estudar, examinar, executar, facilitar, informar, liderar, pois envolve ações de apoio para cobertura temporária de postos

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
de trabalho, uma barreira frequentemente apresentada pelos gestores de linha. Quanto à mobilização para mudança, os autores comen-
tam a necessidade de alinhamento dos programas de mudança propostos pela área de RH e as demandas por mudanças nas demais áreas
da empresa.
Mas como fazer para verificar se o investimento em desenvolvimento de pessoas representa uma estratégia de intervenção efetiva
para a aprendizagem organizacional, tema essencial quando o assunto é competitividade? Berry e Grieves (2003) apontam que o caminho
para a verificação está na extensão em que esse investimento é capaz de promover a transferência de aprendizagem, desenvolver a capa-
cidade de treinamento e encorajar o desenvolvimento de um RH estratégico. Para os autores, a transferência de aprendizagem é avaliada
pela capacidade que as pessoas têm de transferir para suas situações reais de trabalho o que aprenderam em programas de treinamento.
A capacidade de treinamento é vista como a habilidade que as organizações têm para promover, desenvolver continuamente e sustentar
as habilidades para aprender e criar novos conhecimentos aplicáveis.
Esta capacidade é uma mistura de recursos aplicados pela organização para alcançar um determinado fim e o desenvolvimento de
competências essenciais à empresa que garantem à mesma sua vantagem competitiva. Quanto ao desenvolvimento de um RH estratégico,
os autores apontam que este se relaciona à capacidade que a organização tem de operacionalizar sua missão através de fatores de sucesso
críticos; de criar indicadores de desempenho da área que sejam adequados; do desenvolvimento da habilidade para fazer diagnósticos;
da aplicação de conhecimentos no processo de transformação cultural; da capacidade de aplicação de competências para relacionar o
processo de mudança em curso com o processo planejado. Segundo os autores, todas estas ações, embora não exatamente alocadas na
área de RH, dependem do suporte da mesma para que a vantagem competitiva se consolide.
O Processo de T&D prevê as seguintes etapas:
1) Diagnóstico das Necessidades: efetuando o levantamento e análise das necessidades de Treinamento e desenvolvimento;
2) Elaboração e Implementação do Programa de Treinamento e Desenvolvimento;
3) Avaliações: compreende avaliações de reação; de acompanhamento e de conhecimento, quando prevista.
4) Registros e Controles.

PROCESSO DE TREINAMENTO E
DESENVOLVIMENTO

*População
*OBJET IVO
Envolvida

*Diagnóstico
das
Necessidades

*PROGRAMA
*T REINAMENTOS INTERNOS DE T REINAMENT OS EXTERNOS
TREINAMENT O

Implementação Implementação
das ações de das ações de
treinamento treinamento
interno* externo*
AVALIAÇÕES

REGIST ROS E CONT ROLES

Figura – Processo de Treinamento e Desenvolvimento

Existem diversas oportunidades e meios para identificar as necessidades de treinamento e desenvolvimento. É necessário que haja
clareza do por que, para quê, quem e em quanto tempo precisamos treinar. É fundamental para o Planejamento, definir objetivamente
quais habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas e as prioridades para este desenvolvimento (BOOG, 2002). É fundamen-
tal o alinhamento com as Estratégias e metas da organização.
As necessidades apontadas devem ser analisadas considerando os requisitos mínimos da função; as perspectivas para o(s) funcioná-
rio(s); as estratégias e metas da organização; dentre outras.
O Diagnóstico de Treinamento e Desenvolvimento compreende o levantamento e a análise das adequações ou inadequações das
Necessidades de treinamento que pode ser feito através:
a) Pesquisa junto ao gestor: que pode ser feita através de entrevista, questionário ou utilizando outros instrumentos abordando os
tipos de necessidades, por exemplo, fortalecer o relacionamento e a comunicação na equipe de trabalho; justificativa; prioridade que deve
ser estabelecida em função da necessidade, por exemplo, capacitar operadores para operar a máquina X que deverá estar instalada em
três meses. Neste caso a prioridade é alta devendo ser atendida em no máximo dois meses; identificar os funcionários que deverão ser
treinados; etc.
b) Avaliação de Desempenho: resultado da avaliação das competências, habilidades e desempenho e da identificação das ações que
podem ser resolvidas através de treinamento e desenvolvimento, como por exemplo: baixa produtividade e erros frequentes em função de
despreparo para efetuar determinadas análises laboratoriais. Envolve ação de treinamento técnico ou uma recomendação para promoção
em função de bom desempenho, envolve ações de treinamento para identificar os gaps e preparar o funcionário para ocupar a posição
indicada.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
c) Introdução de novas tecnologias ou Mudanças: fornece b) Aperfeiçoamento ou atualização: indicado para melhorar
demanda para que treinamento e desenvolvimento capacitem as o padrão de desempenho na própria função. Pode-se citar como
pessoas para operar os novos equipamentos ou processos, de- exemplo, uma selecionadora com experiência no cargo que irá fazer
senvolver novos produtos; efetuar processos de transferências de um curso sobre técnicas inovadoras na área de seleção.
tecnologias, dentre outros. c) Gerenciais: indicados para desenvolver ou aperfeiçoar as
d) Entrevista de Desligamento: quando o funcionário desli- habilidades de lideranças, de gestão de pessoas.
gar-se da empresa, efetua-se a entrevista para verificar as razões d) Técnicos: indicados para estabelecer novas metodologias,
do desligamento; dificuldades que encontrou no desempenho de novas tecnologias ou técnicas de trabalho.
suas funções, estilo de liderança, ações para que melhorasse seu e) Programas de Trainees ou estagiários: desenvolvimento de
desempenho, dentre outras. recém-formados ou no caso de estagiários, de estudantes de cursos
e) Pesquisa de Clima Organizacional: avaliar a percepção dos técnico ou superior, objetivando que ocupem funções superiores
funcionários relacionadas com as práticas e políticas da organização na organização.
relacionadas ao sistema de gestão; capacitação; oportunidades de f) Outdoor training: realizado em ambiente aberto, utilizando
desenvolvimento; relações interpessoais, processo de comunica- técnicas vivenciais em situações planejadas, possibilitando fixar
ção; imagem da organização; dentre outros, avaliando quais ações conceitos importantes na realidade das organizações e de funções
de treinamento e desenvolvimento pode contribuir para melhorar específicas.
o nível de satisfação ou insatisfação dos funcionários. g) Integração de Novos funcionários: indicado para preparar os
f) Os processos de Qualidade, Segurança e Meio ambiente, funcionários recém admitidos através de orientações sobre políti-
devem indicar necessidades de treinamento e desenvolvimento cas, procedimentos, estrutura, valores, produtos, histórico, dentre
em função de implementação de políticas, certificações, auditorias, outros, sempre com a utilização de um bom planejamento para
exigências legais, ou aumento de índices de acidentes, não cumpri- impactar de forma positiva no funcionário podendo estabelecer
mento das normas e procedimentos, dentre outros. clima de confiança e relação duradoura.
g) Pesquisa com Clientes ou Reclamações de Mercado: se a
organização adota esta prática, deve identificar quais ações de trei- No que se refere aos métodos e técnicas de treinamento, os
namento e desenvolvimento que contribuem para sanar problemas mais usuais são:
indicados pelos clientes ou para prevenir possíveis reclamações. a) Palestras – apresentação de curta duração – atualização
b) Workshops – tem caráter de formação – exercício do conhe-
A elaboração de um programa de treinamento deve levar em cimento
consideração o Estágio de desenvolvimento da organização; deve- c) Multiplicadores – profissionais da própria empresa treinados
-se dimensionar o custo e como pode ser otimizado; cronograma para reproduzir treinamentos
dos treinamentos, conforme prioridades estabelecidas; os recursos d) Seminários – conceituais – indicados para aperfeiçoamento
necessários; as instituições ou instrutores que estarão capacitados e) Job Rotation – deslocamento de pessoas de uma função para
para atender a demanda da organização; análise dos conteúdos e outra, para aprender exercitando.
metodologias; quais e quantas pessoas serão treinadas; e outras. f) On the job – treinamento no local de trabalho
A implementação requer que os profissionais de treinamento e g) Coaching – orientação personalizada para questões especí-
desenvolvimento cuidem da logística para viabilizar a execução de ficas
todos os treinamentos programados, verificando com antecedência h) Mentoring – orientação personalizada que visa estimular o
o local cuidando do acesso, verificando iluminação, ventilação, crescimento e resolução de problemas
espaço, ruído; a data, horários; materiais e equipamentos; convites, i) Vivencial – reprodução de uma situação similar a do dia a dia,
certificados, crachás; alimentação, dentre outros. através de dramatizações, rol playng, Jogos de Empresa, Dinâmicas
de Grupo -.
Quando o treinamento for ministrado por instrutores internos, j) À Distância – (E-Learning) realizado por algum meio de comu-
deve-se elaborar o Plano de treinamento que deve abranger os nicação, internet, intranet, fitas e vídeo e outros.
seguintes tópicos: k) Estudo de casos – pode ser usado casos reais ou fictícios
• Título;
• Objetivo a ser atingido; Quanto aos recursos didáticos, salientam-se: datashow, multi-
• População alvo (quem participará do treinamento); mídia, flip-chart, filmadoras, gravadores, televisor, vídeos, blu-ray,
• Carga horária;
DVD, livros, apostilas, projetores, dentre outros.
• Período ou data para realização;
• Local;
• Conteúdo a ser ministrado;
• Recursos instrucionais; AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO HUMANO
• Metodologia;
• Avaliações.
Avaliação do desempenho humano
Cabe aos profissionais de treinamento e desenvolvimento a Em todas as circunstâncias e momentos se está avaliando tudo
responsabilidade de treinar os instrutores internos para garantir a o que acontece ao redor. Os mais diversos assuntos, como a inflação
eficácia dos treinamentos. na economia nacional, o desempenho das exportações nacionais,
Com relação aos tipos de treinamento, pode-se fazer a seguinte as bolsas de valores, como funciona o celular do colega, a geladei-
divisão: ra, como está o sabor da cerveja importada, como se comporta a
a) Formação: programas desenvolvidos com a finalidade de namorada atual do melhor amigo, qual é a capacidade do professor
instalar competências ou habilidades básicas e necessárias para de matemática, qual é a potência do carro novo do papai, etc., são
o exercício da função atual ou futura, fornecer uma formação ao assuntos continuamente avaliados pelas pessoas6.
treinando. Podemos incluir idiomas, programas em universidades,
cursos técnicos, dentre outros. 6 Chiavenato, Idalberto Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos
nas organizações / Idalberto Chiavenato. – 4ª ed. -- Barueri, SP: Manole, 2014.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
A avaliação do desempenho é um tema constante e corriqueiro na vida particular das pessoas. O mesmo ocorre nas organizações.
Elas sempre se defrontam com a necessidade de avaliar os mais diferentes desempenhos: financeiro, humano, operacional, técnico, em
vendas e marketing.
Como está a qualidade dos produtos, a produtividade da empresa, o atendimento ao cliente, a lucratividade. E, principalmente, como
está o desempenho humano. Afinal, são as pessoas que dão vida e dinâmica à organização.
Elas constituem a mola mestra do sucesso organizacional. Na moderna organização não há mais tempo para remediar um desem-
penho sofrível ou abaixo da média. O desempenho humano precisa ser excelente em todos os momentos para que a organização tenha
competitividade para atuar e se sair bem no mundo globalizado de hoje.

Conceito de avaliação do desempenho


Da mesma forma que os professores avaliam continuamente o desempenho de seus alunos, as organizações estão preocupadas com
o desempenho de seus colaboradores. Em épocas passadas de estabilidade e permanência, a avaliação do desempenho podia ser feita
por esquemas burocráticos e rotineiros.
Até então, a rotina burocrática era a marca registrada. Com os novos tempos de mudança, transformação e instabilidade, o padrão
burocrático cedeu lugar para a inovação e para a necessidade de agregar valor à organização, às pessoas e a todos os stakeholders que
dela se servem.
A avaliação é uma apreciação sistemática do desempenho de cada pessoa, ou de uma equipe, em função das atividades que desen-
volve, das metas e dos resultados a serem alcançados, das competências que oferece e do potencial de desenvolvimento. A avaliação de
desempenho é um processo que serve para julgar ou estimar o valor, a excelência e as competências de uma pessoa ou equipe e, sobre-
tudo, qual é a sua contribuição para o negócio da organização.
Recebe denominações variadas, como reunião devolutiva de resultados, avaliação do mérito, avaliação de pessoal, relatórios de pro-
gresso, avaliação de eficiência individual ou grupal, etc., e varia enormemente de uma organização para outra. Na realidade, a avaliação
do desempenho é um processo dinâmico que envolve o avaliado, seu gerente, seus relacionamentos e representa uma técnica de direção
imprescindível na atividade administrativa de hoje.
É um excelente meio pelo qual localiza problemas de supervisão e gestão, de integração das pessoas à organização e ao trabalho, de
localização de possíveis dissonâncias ou carências de treinamento, de construção de competências e, consequentemente estabelecer os
meios e programas para melhorar continuamente o desempenho humano. No fundo, a avaliação do desempenho constitui um poderoso
meio de melhorar a qualidade do trabalho e a qualidade de vida nas organizações.
Existem seis questões fundamentais na avaliação do desempenho:

1. Por que avaliar o desempenho?


2. Qual é o desempenho que deve ser avaliado?
3. Como avaliar o desempenho?
4. Quem deve fazer a avaliação do desempenho?
5. Quando avaliar o desempenho?
6. Como comunicar a avaliação do desempenho?

O desempenho humano na organização é extremamente contingencial. Varia de pessoa para pessoa e de situação para situação, pois
depende de inúmeros fatores condicionantes que o influenciam poderosamente.
O valor das recompensas e a percepção de que estas dependem de esforço determinam o volume de esforço individual que a pessoa
estará disposta a realizar. É uma apreciação da relação de custo/benefício que cada pessoa faz para poder avaliar até quanto vale a pena
fazer determinado esforço.
Por sua vez, o esforço individual depende das competências individuais da pessoa e da sua percepção do papel a ser desempenhado.
Assim, o desempenho é função de todas essas variáveis que o condicionam fortemente (figura abaixo).

Principais fatores que afetam o desempenho no cargo

https://forumturbo.org/wp-content/uploads/wpforo/attachments/19476/1099-Gestao-de-Pessoas-o-Novo-Papel-Idalberto-Chiavenato.pdf

Qual é o foco da avaliação do desempenho?


A avaliação do desempenho pode focar o cargo ocupado pela pessoa ou as competências que esta oferece à organização como contri-
buição ao sucesso organizacional. Assim, surge a pergunta: o que é mais importante: o desempenho no cargo ou a oferta de competências
requeridas pela organização?

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
A figura a seguir permite uma ideia dos dois tipos de foco.

Avaliação do desempenho baseado em cargos versus avaliação do desempenho baseado em competências

https://forumturbo.org/wp-content/uploads/wpforo/attachments/19476/1099-Gestao-de-Pessoas-o-Novo-Papel-Idalberto-Chiavenato.pdf

Por que avaliar o desempenho?


Toda pessoa precisa receber retroação a respeito de seu desempenho para saber como está fazendo seu trabalho e fazer as devidas
correções. Sem essa retroação, as pessoas caminham às cegas.
Também a organização precisa saber como as pessoas desempenham suas atividades para ter uma ideia de suas potencialidades.
Assim, pessoas e organizações precisam conhecer tudo a respeito de seu desempenho.
As principais razões pelas quais as organizações estão preocupadas em avaliar o desempenho de seus colaboradores são:
• Recompensas: a avaliação do desempenho proporciona o julgamento sistemático para justificar aumentos salariais, promoções,
transferências e, muitas vezes, demissões de funcionários. É a avaliação por mérito.
• Retroação: a avaliação proporciona conhecimento a respeito dos resultados do desempenho e das atitudes e competências.
• Desenvolvimento: permite que cada colaborador saiba exatamente quais são seus pontos fortes (aquilo que poderá aplicar mais
intensamente no trabalho) e pontos frágeis (aquilo que deverá ser objeto de melhoria pelo treinamento)
• Relacionamento: a avaliação permite que cada colaborador possa melhorar seu relacionamento com as pessoas ao seu redor, ge-
rente, pares, subordinados, e saber como estas avaliam o seu desempenho.
• Percepção: a avaliação proporciona meios para que cada colaborador saiba o que as pessoas ao seu redor pensam a seu respeito.
Isso melhora a autopercepção e a percepção do entorno social.
• Potencial de desenvolvimento: a avaliação proporciona meios para conhecer em profundidade o potencial de desenvolvimento de
seus colaboradores a fim de definir programas de T&D, sucessão, carreiras, etc.
• Aconselhamento: a avaliação oferece informações ao gerente ou ao especialista de RH sobre como fazer aconselhamento e orien-
tação aos colaboradores.

A avaliação do desempenho deve proporcionar benefícios para a organização e para as pessoas. Para tanto, ela precisa atender às
seguintes linhas básicas:
• A avaliação deve cobrir o desempenho atual nas atividades, como também o alcance de metas e objetivos: desempenho e objetivos
devem ser tópicos inseparáveis da avaliação do desempenho.
• A avaliação deve enfatizar o colaborador no cargo: e não a impressão a respeito dos hábitos pessoais observados no trabalho. Deve
se concentrar em uma análise objetiva do desempenho e não em uma avaliação subjetiva de hábitos pessoais. Empenho e desempenho
são coisas distintas.
• A avaliação deve ser aceita por ambas as partes: avaliador e avaliado. Ambos devem estar de acordo de que a avaliação deve trazer
benefícios para a organização e para o colaborador.
• A avaliação do desempenho deve melhorar a produtividade do colaborador: tornando-o mais bem equipado para produzir com
eficácia e eficiência.

Os principais pontos fracos do processo de avaliação do desempenho são:


• Quando as pessoas envolvidas na avaliação do desempenho a percebem como uma situação de recompensa/punição pelo desem-
penho passado.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
• Quando a ênfase do processo repousa mais sobre o preen- O indivíduo precisa suprir suas necessidades para motivar-se e
chimento de formulários do que sobre a avaliação crítica e objetiva alcançar seus objetivos. Podemos identificar os seguintes tipos de
do desempenho. motivação:
• Quando as pessoas avaliadas percebem o processo como • Motivação Externa: a pessoa realiza determinadas tarefas por
injusto ou tendencioso. A iniquidade prejudica profundamente o ser “obrigada”, ou seja, são impostas determinações para que essa
processo de avaliação. pessoa cumpra. É a forma mais “primitiva” de motivação, basea-
• Quando os comentários desfavoráveis do avaliador conduzem da na hierarquia e normalmente utilizando as punições como fator
a uma reação negativa e de não aceitação por parte do avaliado. principal de motivação. Trata-se de “fazer o ordenado para não ser
• Quando a avaliação é inócua, isto é, quando está baseada em punido”, “cumprir ordens”.
fatores de avaliação que não conduzem a nada e não agregam valor • Pressão Social: a pessoa cumpre as atividades porque outras
a ninguém. pessoas também o fazem. Ela não age por si, mas sim, para acompa-
nhar um grupo e cumprir as expectativas de outras pessoas. Aqui,
Processo de avaliação do desempenho estamos falando de “fazer o que os outros fazem para ser aceito,
fazer parte do grupo”.
• Automotivação: a pessoa automotivada age por iniciativa
própria, em função de objetivos que escolheu. A automotivação é a
convicção que a pessoa tem de que deseja os frutos das suas ações.
É “fazer o que creio ser adequado aos meus objetivos”.

Não existe motivação “certa”. Em situações de emergência,


por exemplo, provavelmente a simples obediência seja a ação mais
indicada. O sucesso de uma ação coletiva pode depender da con-
formidade das ações individuais à orientação do grupo. Por outro
lado, uma pessoa pode ser fortemente auto motivada a objetivos
destrutivos, como uma ambição excessiva.
O ideal seria o alinhamento de todos estes tipos de motivação;
pessoas auto motivadas atuando em grupos coesos, com orienta-
https://forumturbo.org/wp-content/uploads/wpforo/attachment- ção clara, sólida e coerente.
s/19476/1099-Gestao-de-Pessoas-o-Novo-Papel-Idalberto-Chiavenato.
pdf Afinal o que é motivação? É ser feliz? É enxergar o mundo com
outros olhos? É conquistar resultados, é superar obstáculos, é ser
persistente, é acreditar nos seus sonhos, é o que? 
MOTIVAÇÃO Motivação segundo o dicionário é o ato de motivar; exposição
de motivos ou causas ; conjunto de fatores psicológicos, conscien-
tes ou não, de ordem fisiológica, intelectual ou afetiva, que deter-
Trata-se de processos psíquicos que a pessoa tem que a im- minam um certo tipo de conduta em alguém. Sendo assim Motiva-
pulsiona à ação. Existe uma influência tanto individual como pelo ção está intimamente ligado aos Motivos que segundo o dicionário
contexto em que essa pessoa se encontre. Indivíduos motivados é fato que leva uma pessoa a algum estado ou atividade. 
tendem a ter um melhor desempenho, o que faz com que a organi- Motivação vem de motivos que estão ligados simplesmente ao
zação invista em estímulos para promover essa motivação. que você quer da vida , e seus motivos são pessoais , intransferíveis
A ideia de hierarquizar os motivos humanos foi, sem dúvida, e estão dentro da sua cabeça (e do coração também) , logo seus
a solução inovadora para que se pudesse compreender melhor o motivos são abstratos e só têm significado pra você , por isso moti-
comportamento humano na sua variedade. Um mesmo indivíduo vação é algo tão pessoal , porque vêm de dentro.
ora persegue objetivos que atendem a uma necessidade, ora busca A motivação é uma força interior que se modifica a cada mo-
satisfazer outras. Tudo depende da sua carência naquele momento. mento durante toda a vida, onde direciona e intensifica os objetivos
Duas pessoas não perseguem necessariamente o mesmo objetivo de um indivíduo. Dessa forma, quando dizemos que a motivação
no mesmo momento. O problema das diferenças individuais assu- é algo interior, ou seja, que está dentro de cada pessoa de forma
me importância preponderante quando falamos de motivação. particular erramos em dizer que alguém nos motiva ou desmoti-
va, pois ninguém é capaz de fazê-lo. Existem pessoas que pregam a
Razões da Motivação automotivação, mas tal termo é erroneamente empregado, já que
a motivação é uma força intrínseca, ou seja, interior e o emprego
Razões empresariais  desse prefixo deve ser descartado.
- concorrência  Segundo Abraham Maslow, o homem se motiva quando suas
- produtos e preços necessidades são todas supridas de forma hierárquica. Maslow or-
- fidelização ganiza tais necessidades da seguinte forma:

Razões Pessoais
- empregabilidade
- motivos p/ servir

* (ordem material = cliente =lucro)


* (ordem intelectual = interação / troca / oportunidade)
* (ordem espiritual = crescimento pessoal)

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

- Autorrealização
- Autoestima
- Sociais
- Segurança
- Fisiológicas

Tais necessidades devem ser supridas primeiramente no alicerce das necessidades escritas, ou seja, as necessidades fisiológicas são
as iniciantes do processo motivacional, porém, cada indivíduo pode sentir necessidades acima das que está executando ou abaixo, o que
quer dizer que o processo não é engessado, e sim flexível.
Teoria dos Dois Fatores - Para Frederick Herzberg, a motivação é alcançada através de dois fatores:
 Fatores higiênicos que são estímulos externos que melhoram o desempenho e a ação de indivíduos, mas que não consegue
motivá-los.
 Fatores motivacionais que são internos, ou seja, são sentimentos gerados dentro de cada indivíduo a partir do reconhecimento
e da autorrealização gerada através de seus atos.

Já David McClelland identificou três necessidades que seriam pontos chave para a motivação: poder, afiliação e realização.
Para McClelland, tais necessidades são “secundárias”, são adquiridas ao longo da vida, mas que trazem prestígio, status e outras sen-
sações que o ser humano gosta de sentir.

Em relação às teorias, podemos ainda citar as linhas teóricas, que se dividem em Teorias de Conteúdo e Teorias de Processo, onde, em
cada uma delas, identificamos as correntes pertencentes.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Existem algumas teorias mais clássicas sobre motivação que veremos abaixo:

 Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow:


Organiza as necessidades humanas em cinco categorias hierárquicas: necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, necessi-
dades sociais, necessidades de autoestima e necessidades de autorrealização.

 Teoria ERC de Alderfer:


Tentou aperfeiçoar a hierarquia das necessidades de Maslow, criando três categorias: Existência (necessidades fisiológicas e de se-
gurança), Relacionamento (dividiu a estima em duas partes: o componente externo da estima.(social) e o componente interno da estima
(autoestima) incluindo nessa categoria as necessidades sociais e o componente externo da estima) e Crescimento (incluindo aqui autoes-
tima e a necessidade de autorrealização).

 Teoria dos dois fatores de Herzberg:


Herzberg descobriu que há dois grandes blocos de necessidade humanas: os fatores de higiene (extrínsecos) e os fatores motivacionais
(intrínsecos). Os fatores de Higiene são fatores extrínsecos ou exteriores ao trabalho. Para Herzberg, eles podem causar a insatisfação e
desmotivação se não atendidos, mas, se atendidos, não necessariamente causarão a motivação. Exemplos: segurança, status, relações de
poder, vida pessoal, salário, condições de trabalho, supervisão, política e administração da empresa. Os fatores motivadores são os fatores
intrínsecos, internos ao trabalho. Estes fatores podem causar a satisfação e a motivação. Exemplos: crescimento, progresso, responsabili-
dade, o próprio trabalho, o reconhecimento e a realização.

 Teoria da determinação de metas:


Considera que a determinação de metas motiva os trabalhadores. A equipe deve participar na definição das metas (construção con-
junta), que devem ser claras, desafiadoras mas alcançáveis.

 Teoria da equidade:
Também conhecida como teoria da comparação social. A motivação seria influenciada fortemente pela percepção de igualdade e
justiça existente no ambiente profissional.

 Teoria da expectativa (ou expectância) de Victor Vroom:


Construída em função da relação entre três variáveis: Valência, força (instrumentalidade) e expectativa, referentes a um determinado
objetivo. Valência, ou valor, é a orientação afetiva em direção a resultados particulares. Pode-se traduzi-la como a preferência em direção,
ou não, a determinados objetivos. Valência positiva atrai o comportamento em sua direção, valência zero é indiferente e valência negativa
é algo que o indivíduo prefere não buscar. Expectativa é o grau de probabilidade que o indivíduo atribui a determinado evento, em função
da relação entre o esforço que vai ser despendido no evento e o resultado que se busca alcançar. Força, ou instrumentalidade, por sua vez,
é o grau de energia que o indivíduo irá ter que gastar em sua ação para alcançar o objetivo.

 Teorias X e Y:
McGregor afirmava que havia duas abordagens principais de motivação e liderança: as teorias X e Y.A teoria X apresentava uma visão nega-
tiva da natureza humana: pressupunha que os indivíduos são naturalmente preguiçosos, não gostam de trabalhar, precisam ser guiados, orien-
tados e controlados para realizarem a contento os trabalhos. A teoria Y é o oposto: diz que os indivíduos são automotivados, gostam de assumir
desafios e responsabilidades e irão contribuir criativamente para o processo se tiverem suficientes oportunidades de participação.

Dentre as teorias citadas, a mais difundida é a da Hierarquia das Necessidades, abaixo mais detalhes sobre ela.

Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow: necessidades fisiológicas, necessidades de segurança, necessidades sociais, ne-
cessidades de autoestima e necessidades de auto realização.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

Quanto às implicações dessas teorias

Implicações aos Administradores:


As implicações para os administradores estão relacionadas quanto à forma como motivar os subordinados:
 Devem determinar recompensas que são valorizadas por cada subordinado. Ao serem motivadoras devem ser adequadas aos
indivíduos observando suas reações em diferentes situações e perguntando que tipos de recompensas desejam;
 Determinar o desempenho que você deseja - determinar qual o nível de desempenho que os subordinados têm que ter para
serem recompensados;
 Fazer com que o nível de desempenho seja alcançável - a motivação poderá ser baixa se os subordinados acharem que o que foi
determinado é difícil ou impossível;
 Ligar as recompensas ao desempenho;
 Certificar se a recompensa e adequada - recompensas pequenas significam motivações fracas.

Implicações para a Organização:


A expectativa da motivação também traz várias implicações para a organização:
Geralmente, as organizações recebem o equivalente a recompensa e não o que desejam - o sistema de recompensas devem ser pro-
jetados para motivar os comportamentos desejados; ex.: segurança, aumento de produção.
O trabalho em si pode tornar-se intrinsicamente recompensador - se forem projetados para atender as necessidades mais elevadas
dos empregados, como ex.: independência, criatividade, o trabalho pode ser motivador por si mesmo.
Portanto, a tarefa mais importante para os administradores e organizações é garantir que os subordinados tenham os recursos neces-
sários para dar o melhor de si em prol do planejamento da organização.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Ainda sobre motivação, precisamos entender o processo que de auto realização. É a frustração dessas necessidades que causa
leva o indivíduo a tomar uma ação em busca de um objetivo, con- muitos dos problemas de ajustamento. Como a satisfação dessas
forme mostra o Ciclo Motivacional. necessidades superiores depende muito de outras pessoas, particu-
larmente daquelas que estão em posições de autoridade, torna-se
importante para a administração compreender a natureza do ajus-
tamento e do desajustamento das pessoas.
O ajustamento – assim como a inteligência ou as aptidões – va-
ria de uma pessoa para outra e dentro do mesmo indivíduo de um
momento para outro. Varia dentro de um continuum e pode ser de-
finido em vários graus, mas do que em tipos. Um bom ajustamento
denota “saúde mental”. Uma das maneiras de se definir saúde men-
tal é descrever as características de pessoas mentalmente sadias. As
características básicas de saúde mental são:
- As pessoas sentem-se bem consigo mesmas;
- As pessoas sentem-se bem em relação às outras pessoas;
- As pessoas são capazes de enfrentar por si as demandas da
vida.

Motivação e Satisfação no Trabalho


O CICLO MOTIVACIONAL A relação da motivação com o comportamento e com o de-
sempenho é estabelecida espontaneamente tanto pelos cientistas
como pelas pessoas leigas. O comportamento é percebido como
O ciclo motivacional percorre as seguintes etapas: uma neces- sendo provocado e guiado por metas da pessoa, que realiza um es-
sidade rompe o estado de equilíbrio do organismo, causando um forço para atingir determinado objetivo. A maioria dos autores con-
estado de tensão, insatisfação, desconforto e desequilíbrio. Esse sidera a motivação humana como um processo psicológico estrei-
estado de tensão leva o indivíduo a um comportamento ou ação, tamente relacionado com o impulso ou com a tendência a realizar
capaz de descarregar a tensão ou livrá-lo do desconforto e do dese- com persistência determinados comportamentos. A motivação no
quilíbrio. Se o comportamento ‘for eficaz o indivíduo encontrará a trabalho, por exemplo, manifesta-se pela orientação do empregado
satisfação da necessidade e, portanto, a descarga da tensão provo- para realizar com presteza e precisão as suas tarefas e persistir na
cada por ela’. Satisfeita a necessidade, o organismo volta ao estado sua execução até conseguir o resultado previsto ou esperado. Ge-
de equilíbrio anterior e à sua forma de ajustamento ao ambiente. ralmente, salientam-se três componentes na motivação: o impulso,
As necessidades ou motivos não são estáticos, pelo contrario, a direção e a persistência do comportamento (Mitchell, 1982; Kan-
são forças dinâmicas e persistentes que provocam comportamen- fer, 1990, 1992; Katzel e Thompson, 1990; Locke e Lathan, 1990;
tos. Com a aprendizagem e a repetição (reforço positivo), os com- Vallerand e Thill, 1993).
portamentos tornam-se gradativamente mais eficazes na satisfa- O estudo da motivação no trabalho recebe interesse conside-
ção, de certas necessidades. E quando uma necessidade é satisfeita rável na literatura internacional devido, provavelmente, à sua es-
ela não é mais motivadora de comportamento já que não causa treita relação com a produtividade individual e organizacional. O
tensão ou desconforto. problema da motivação no trabalho situa-se, inevitavelmente, no
O ciclo motivacional pode alcançar vários níveis de resolução contexto da interação dos interesses da organização com os inte-
da tensão: uma necessidade pode ser satisfeita, frustrada (quando resses do empregado. As duas partes envolvem-se numa parceria,
a satisfação é impedida ou bloqueada) ou compensada (a satisfação na qual cada uma delas apresenta, explicita e/ou implicitamente,
é transferida para objeto). Muitas vezes a tensão provocada pelo as suas exigências e demandas. Da parte da organização, existem
surgimento da necessidade encontra uma barreira ou obstáculo demandas explícitas e bastante precisas relacionadas ao desempe-
para a sua liberação. Não encontrando a saída normal, a tensão re- nho do empregado e às normas de comportamento na empresa.
presada no organismo procura um meio indireto de saída, seja por Em relação ao desempenho, a empresa exige que os seus membros
via psicológica (agressividade, descontentamento, tensão emocio- executem tarefas bem delimitadas, em períodos determinados de
nal, apatia, indiferença etc.) seja por via fisiológica (tensão nervosa, trabalho e com padrões de quantidade e qualidade previamente es-
insônia, repercussões cardíacas ou digestivas etc.). Outras vezes, a tabelecidos. Todas estas atividades fazem parte do papel atribuído
necessidade não é satisfeita nem frustrada, mas é transferida ou ao empregado e são, geralmente, regidas pelo próprio contrato de
compensada. Isto se dá quando a satisfação de outra necessidade trabalho. Para a execução das tarefas, a empresa fornece aos seus
reduz ou aplaca a intensidade de uma necessidade que não pode empregados o equipamento e o material necessário, este último
ser satisfeita. podendo, muitas vezes, não corresponder às exigências das tarefas
A satisfação de alguma necessidade é temporal e passageira, e da própria organização.
ou seja, a motivação humana é cíclica e orientada pelas diferentes As demandas da organização referem-se também ao cumpri-
necessidades. O comportamento é quase um processo de resolução mento de normas de comportamento que regulam o convívio dos
de problemas, de satisfação de necessidade, à medida que elas vão seus membros, à própria execução do trabalho e à tramitação inter-
surgindo. na dos processos ou projetos organizacionais. Além disso, existem
O conceito de motivação – ao nível individual – conduz ao de expectativas ou demandas implícitas da empresa quanto a com-
clima organizacional – ao nível da organização. Os seres humanos portamentos espontâneos do empregado. Trata-se de comporta-
estão continuamente engajados no ajustamento a uma variedade mentos altruísticos dos empregados, que são de vital importância
de situações, no sentido de satisfazer suas necessidades e manter para o bom funcionamento da organização (Katz e Kahn, 1974). De
um equilíbrio emocional. Isto pode ser definido com um estado forma geral, pode-se dizer que são atos extra-papel, que os traba-
de ajustamento. Tal ajustamento não se refere somente à satisfa- lhadores executam espontaneamente e que são benéficos para o
ção das necessidades de pertencer a um grupo social de estima e sistema organizacional. Vários comportamentos deste tipo têm sido

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
estudados, tais como: cidadania organizacional (Smith, Organ e Near, 1983), comportamentos extra-papel (Pearce e Gregersen, 1991),
comportamentos pró-social (George, 1991), espontaneidade organizacional (George e Brief, 1992) e civismo organizacional (Porto e Ta-
mayo, 2002; Siqueira, 2002). Estes comportamentos apresentam em comum duas caraterísticas: eles são espontâneos e benéficos para
a organização. Segundo Katz e Kahn (1974), as empresas/organizações que se baseiam exclusivamente no papel prescrito, possuem uma
estrutura extremamente frágil. O comportamento espontâneo é necessário para a consecução das funções organizacionais não estabe-
lecidas formalmente pela organização.
As demandas do empregado no ambiente organizacional referem-se, fundamentalmente, a ser tratado e respeitado como ser humano
e a encontrar na organização oportunidades para satisfazer as suas necessidades e atingir os seus objetivos e expectativas por meio da
própria atividade do trabalho. Quando o ser humano entra numa organização para trabalhar, o seu interesse básico não é aumentar o lucro
dessa organização ou empresa, mas satisfazer necessidades pessoais de ordens diversas. Se ele não encontrar no trabalho meios de satis-
fazer as suas expectativas e de atingir as metas principais da sua existência, ele não se sentirá numa relação de troca, mas de exploração.
O empregado aporta ao trabalho as suas habilidades e conhecimentos, a sua experiência e criatividade, o seu entusiasmo, a sua energia
e a sua motivação. Na sua bagagem inicial, leva também as suas limitações, particularmente ao nível dos conhecimentos e habilidades
necessários para a execução do seu trabalho.
Entre a pessoa e a organização onde ela trabalha, existe uma verdadeira dinâmica que é fundamental para a obtenção dos objetivos
tanto da organização como do empregado. Esta dinâmica é determinada pelas exigências do próprio trabalho e da organização e pelas
demandas do empregado (Peiró e Prieto, 1996). O equilíbrio entre as duas fontes desta dinâmica (o trabalho/empresa e a pessoa) tem
conseqüências positivas tanto para a organização quanto para o empregado. Os benefícios para a organização manifestam-se na qualidade
e na quantidade de trabalho executado pelo empregado. As conseqüências para ele situam-se principalmente no nível da realização pes-
soal, da satisfação, do bem-estar e da auto-estima. Segundo Erez (1997), empregados insatisfeitos não apresentam disposição para dedicar
esforço, conhecimentos e habilidades pessoais no seu trabalho. Portanto é fundamental que a organização valorize, eficientemente, os
seus empregados, se quiser manter um lugar de destaque no mercado altamente competitivo de hoje.

Teorias Motivacionais e Programas de Motivação


Numerosas teorias têm sido elaboradas para tentar explicar a motivação no trabalho. Inicialmente, as explicações eram relativamen-
te simples, baseadas em geral numa única dimensão e não levavam em consideração a dinâmica entre o empregado e o seu trabalho.
Assim, na teoria da administração científica de Taylor, por exemplo, considerava-se que o salário era o motivador fundamental e que ele
era suficiente para obter o desempenho esperado do trabalhador. Desta forma, a partir do modelo econômico do homem foi elaborada
uma teoria motivacional do trabalho. Posteriormente, muitas outras foram elaboradas, caracterizadas pela sua maior complexidade e por
uma abordagem cada vez mais psico-sócio-cultural. Não é objetivo deste artigo apresentar as diversas teorias motivacionais. No Quadro 1,
apresenta-se uma breve síntese das principais categorias em que podem ser classificadas as teorias motivacionais.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

Quando se fala de motivação laboral, existem dois grandes conjuntos de teorias motivacionais. O primeiro compreende as teorias
relacionadas com aspectos motivadores do trabalho, denominadas por Katzell e Thompson (1990) como teorias exógenas. Estas teorias
focalizam aspectos do trabalho relevantes para valorizar e estimular a pessoa no trabalho. Geralmente, dois conjuntos de aspectos ou fato-
res são utilizados: o conteúdo do trabalho e as características do ambiente laboral. Obviamente, estes fatores podem ser modificados pela
organização por meio das suas estratégias de gestão. O segundo grupo compreende as teorias relacionadas com as motivações pessoais.
São as chamadas teorias endógenas que, segundo Katzell e Thompson (1990), exploram os processos ou variáveis mediadoras do compor-
tamento motivado. Campbell et al. (1970) propuseram uma classificação das teorias deste grupo, utilizando como critérios o conteúdo e o
processo da motivação. As teorias centradas no conteúdo tratam de identificar construtos fundamentais que motivam a atividade humana
e, em conseqüência, a atividade laboral. As necessidades constituem o construto mais utilizado nestas teorias (Maslow, 1954; McClelland,
1985). As teorias centradas no processo tentam compreender e explicar o processo motivacional que determina a direção e a persistência
do comportamento. Os construtos mais utilizados são os valores, as expectativas, as intenções e as atribuições (Vroom, 1964; Adams,
1965; Locke e Latham, 1990).
Segundo Katzell e Thompson (1990), apesar dos enormes progressos realizados na compreensão da motivação laboral, ainda existe
longo caminho a percorrer neste sentido e, particularmente, na aplicação dos conhecimentos adquiridos. Eles concluem seu artigo sobre
programas de motivação a partir das teorias exógenas, salientando quatro aspectos que merecem especial atenção nas pesquisas futuras
e nas tentativas de aplicação. Um deles refere-se à necessidade de “prestar mais atenção às diferenças individuais”. Segundo os autores, as
teorias têm focalizado principalmente os determinantes ambientais das atitudes e do comportamento e, pouco, as disposições, interesses,
valores e metas do indivíduo que podem determinar os níveis de energia que eles investem no trabalho.
Qual é a relação das teorias referentes aos fatores motivadores do trabalho com aquelas referentes às motivações pessoais? Poucos
autores têm tentado uma integração destas duas abordagens. Uma tentativa integradora foi realizada por Kanfer (1992). Esta autora classi-
ficou as teorias a partir da maior ou menor proximidade dos construtos utilizados por cada uma delas com a ação. Desta forma, criou uma
espécie de contínuo, no qual as teorias foram dispostas de forma decrescente em função da proximidade ou distância dos seus construtos
em relação à ação. Kanfer (1990), ao terminar o seu extenso capítulo sobre as teorias motivacionais na psicologia industrial e organizacio-
nal, afirma que o progresso nesta área não será obtido por meio do aprofundamento das teorias tradicionais. Novas perspectivas e a sua
integração com as abordagens tradicionais são necessárias. Segundo Kanfer (1990, p. 157), “a direção mais promissora para uma síntese
implica na reconsideração do construto de metas, já que este permeia o funcionamento diário e a longo prazo no contexto do trabalho”.
Qual é a contribuição das teorias endógenas para a elaboração de programas motivadores na empresa? Segundo Katzell e Thompson
(1990), as teorias endógenas explicam a dinâmica da motivação, mas são as teorias exógenas que sugerem ações que podem ser feitas para
mudar a motivação no trabalho. Na prática, as teorias endógenas, que lidam com as motivações dos empregados, ficam no nível teórico
e são as teorias exógenas que fornecem os elementos de base para definir os programas de motivação para o trabalho. Isto porque as
últimas lidam com características do trabalho que podem ser modificadas por agentes externos, tais como oportunidades de promoção,
condições de trabalho e enriquecimento da tarefa. Apesar da eficiência dos motivadores deduzidos a partir das diversas teorias exógenas,
pode acontecer que, numa situação determinada, eles não respondam às expectativas e às metas dos empregados de uma organização.
Qual é a relação das metas, interesses e motivos do trabalhadorcom as estratégias motivacionais utilizadas na empresa? É relevante en-
contrar uma forma para harmonizar os motivadores organizacionais com as metas e interesses concretos dos empregados?
Como valorizar os empregados no trabalho a partir das suas disposições, das suas metas e interesses? Como determinar os níveis
potenciais de energia que os empregados podem investir no trabalho? Os programas ou estratégias geralmente utilizados nas empresas
para estimular o empregado têm sido elaborados, e continuam sendo realizados, a partir das diversas teorias científicas, algumas delas
verificadas por meio de pesquisa empírica. Isto significa que esses programas têm fundamentos sólidos. Contudo, na elaboração de progra-
mas organizacionais de motivação, tem-se negligenciado as diferenças individuais, como foi salientado por Katzell e Thompson (1990), pois
mesmo aquelas teorias que focalizam os motivos pessoais, fazem-no no contexto da adaptação da pessoa ao seu ambiente de trabalho.
Desta forma, os programas motivacionais são elaborados a partir de pressupostos teóricos gerais, universais, abstratos, sem levar direta-
mente em consideração as motivações pessoais dos membros da empresa.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
É possível utilizar como base para a definição e elaboração de qualquer procedimento de valorização dos empregados o seu perfil
motivacional? Isto é, há possibilidade de se utilizar as metas e interesses principais relativos ao trabalhoe à vida como um todo? É evidente
que se as tentativas da organização para valorizar os seus empregados são realizadas a partir de informações concretas sobre o que eles
pretendem atingir na vida e no trabalho, elas podem ser muito mais eficientes do que aquelas baseadas em princípios gerais e abstratos.
Obviamente, um programa de motivação não pode atender às metas e aos interesses de cada um dos empregados, mas pode ser elabora-
do a partir de metas e interesses compartilhados na organização como um todo ou em seus diversos setores.
Recentemente, Erez, Kleinbeck e Thierry (2001) mostraram que a motivação para o trabalho deve ser analisada nos níveis individual,
grupal, organizacional e mesmo cultural. Com a abordagem multinível, a motivação no trabalho pode ser definida e analisada no nível do
indivíduo, das equipes, dos grupos ou setores organizacionais e da organização como um todo, compreendendo assim os níveis micro,
meso e macro. Cada vez mais nas organizações, executam-se muitas tarefas em equipe. A distribuição das tarefas em equipes muda a
unidade de responsabilidade pela execução do trabalho do indivíduo para a equipe, introduzindo uma série de processos que não existem
no nível individual, tais como cooperação, coordenação e conflito, mas que são altamente relevantes para o desempenho da equipe. Atual-
mente, mais do que nunca, a efetividade organizacional depende de pessoas que trabalham em equipe (Ilgen, 1994; Ilgen e Sheppard,
2001).
Por outra parte, a estrutura organizacional tem sido sempre composta por setores ou grupos de trabalho. Freqüentemente, estes
setores apresentam características específicas decorrentes não somente da natureza dos problemas por eles tratados, mas também de
crenças, valores, interesses e motivações compartilhados pelosseus membros. É evidente que a efetividade dos grupos ou setores or-
ganizacionais é influenciada por este tipo de fatores, que não existe no nível individual (Kleinbeck, Wegge e Schmidt, 2001). Contudo, a
maioria dos programas motivacionais elaborados e implantados nas organizações são genéricos, válidos para todos os seus membros, sem
especificidade para equipes ou setores organizacionais. Idealmente, um programa organizacional de motivação laboral não deveria ser
constituído exclusivamente por aspectos gerais, válidos para toda a organização; deveria contemplar também aspectos específicos para os
diversos setores organizacionais, de acordo com o perfil motivacional dos seus membros.
 
Estrutura Motivacional e Perfil Motivacional
Quais são os núcleos motivacionais mais relevantes da pessoa? Como estes núcleos podem ser identificados? Eles são universais ou
tributários da cultura de cada sociedade? O que é o perfil motivacional de um indivíduo? Estas interrogações referem-se a duas categorias
de problemas: a primeira relativa à natureza motivacional da pessoa e a segunda ao perfil motivacional. A estrutura motivacional de uma
pessoa consiste no conjunto de motivações ou metas que dinamizam o seu comportamento e nas relações existentes entre essas moti-
vações. O perfil motivacional refere-se à importância que têm, para cada pessoa, as diversas motivações que orientam a sua vida. Desta
forma, a estrutura motivacional constitui a base ou a matriz para a elaboração do perfil motivacional.
Um modelo de estrutura motivacional foi elaborado e verificado empiricamente por Schwartz (1992, 2001) por meio de pesquisa
transcultural realizada em mais de 60 países. Os resultados apontam para a universalidade desta estrutura. Nessas pesquisas, foram
postuladas diversas motivações, submetidas à verificação empírica. As diversas motivações foram identificadas por meio das prioridades
dadas pelas pessoas aos valores. Qual é a relação dos valores com as motivações individuais? O ponto de partida é que os valores são re-
presentações cognitivas de necessidades e motivos (Locke, 1991). Segundo Rokeach (1973), “o homem é o único animal” capaz de realizar
esse tipo de representações. Além disso, os valores representam não somente as necessidades individuais, mas também as exigências e
demandas culturais. Na seqüência motivacional, os valores medeiam a relação das necessidades com as metas do indivíduo. Segundo Loc-
ke (1991), a seqüência motivacional completa compreende as necessidades na origem do processo, representadas cognitivamente pelos
valores que, por sua vez, medeiam as metas e intenções. Estas últimas são antecedentes do comportamento, que é seguido de algum tipo
de recompensa, o qual dá origem à satisfação. A função dos valores no processo motivacional é fundamental, pois eles fornecem signifi-
cado cognitivo e cultural às necessidades, transformando-as em metas e intenções. Erez (1997, p.205) afirma que como estas últimas são
conscientes, “as necessidades não podem ser transformadas em metas, a menos que elas tenham uma representação cognitiva por meio
dos valores”. As metas e intenções regulam os três elementos básicos da motivação: intensidade, direção e persistência do esforço.

Assim, os valores apresentam forte dimensão motivacional. Antes da existência da psicologia como ciência, os filósofos já tinham sa-
lientado a dimensão motivacional dos valores, vinculado-os à vontade (Nietzsche, 1970) e ao desejo (Lavelle, 1951). Na área da psicologia,
os autores falam de necessidades em vez de desejo. Vários deles colocam a fonte dos valores em exigências ou necessidades universais do
ser humano (Rokeach, 1973; Schwartz e Bilsky, 1987). Assim, os valores são considerados como metas motivacionais, que expressam alvos
que a pessoa quer atingir na sua vida. Schwartz e Bilsky (1990), com base nesta perspectiva, postularam várias motivações subjacentes aos
valores das pessoas. Os resultados de pesquisas interculturais realizadas em numerosos países de todos os continentes identificaram dez
motivações, praticamente presentes em todos os países participantes, sugerindo a quase universalidade dessa tipologia motivacional (Sch-
wartz, 1992, 1994; Tamayo e Schwartz, 1993). O Quadro 2 apresenta as dez motivações, bem como as suas metas específicas. Como pode
ser observado no quadro, as metas dos cinco primeiros tipos motivacionais visam alvos que se relacionam direta e fundamentalmente
com a própria pessoa, tais como o prazer, o sucesso e o prestígio. As metas dos tipos motivacionais tradição, conformidade e benevolência
visam a satisfazer interesses mais diretamente relacionados com a família, a organização e a sociedade. Finalmente, as metas de universa-
lismo e segurança referem-se a interesses tanto da própria pessoa como dos outros.
 

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

 
Esses dez tipos motivacionais expressam a estrutura motivacional do indivíduo. Esta estrutura é composta por conjuntos motivacio-
nais, que parecem estar presentes em indivíduos de todas as culturas. Cada conjunto motivacional tem metas específicas. A estrutura
motivacional não é estática; ela é dinâmica e os seus componentes motivacionais relacionam-se entre si por meio de diversas polaridades.
As tendências motivacionais da pessoa nem sempre são harmoniosas; algumas podem ser conflituosas, dando origem a conflitos internos.
A estrutura motivacional e a dinâmica dos seus componentes foram estudadas empiricamente por meio do método da análise do espaço
menor (smallest space analysis), a qual consiste numa técnica de análise estatística multidimensional indicada para determinar a estrutura
da similaridade de dados. Os resultados desta análise revelam, nas mais diversas culturas, a existência de dez tipos motivacionais e a sua
disposição no espaço multidimensional, que, por sua vez, sugere relações dinâmicas entre eles (vide Figura 1). Os cinco tipos motivacionais
que expressam metas e interesses individuais (autodeterminação, estimulação, hedonismo, realização e poder social) ocupam, no espaço
multidimensional, áreas contíguas opostas àquelas reservadas aos tipos motivacionais que expressam primariamente metas e interesses
coletivos (benevolência, tradição e conformidade). Os tipos motivacionais segurança e universalismo, constituídos por metas e interesses
tanto individuais quanto coletivos, são opostos e situam-se nas fronteiras destas duas áreas. Schwartz (1994) postula compatibilidade
entre os tipos motivacionais que são adjacentes no espaço multidimensional (por exemplo, estimulação e hedonismo, tradição e con-
formidade) e conflito entre as metas motivacionais dos tipos situados em direções opostas (por exemplo, estimulação e conformidade,
hedonismo e tradição). A busca simultânea de alvos pertencentes a áreas adjacentes é compatível porque esses alvos satisfazem interesses
afins, enquanto que a procura de alvos pertencentes a motivações opostas pode ser conflitante, já que estas visam interesses díspares.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
As pesquisas têm mostrado que os dez tipos motivacionais Estudos empíricos realizados por meio de regressão múltipla têm
sintetizam-se em duas dimensões bipolares (vide Figura 1). Esta mostrado a relação consistente da dinâmica motivacional com a
estruturação da motivação tem sido verificada repetidas vezes predição do comportamento no trabalho e na vida em geral (Tama-
em numerosas culturas de todos os continentes e, atualmente, é yo 2000, 2001, 2002; Tamayo et al., 2001; Porto e Tamayo, 2002).
considerada como sendo universal (Schwartz, 1992, 1994, 2001). A estrutura motivacional serve de base para a elaboração do
No Brasil, vários estudos têm mostrado a sua validade (Tamayo e perfil motivacional, que consiste na importância relativa que cada
Schwartz, 1993; Tamayo, 1994). A primeira dimensão, procura de uma das motivações tem para cada pessoa. O perfil implica, portan-
mudança versus estabilidade, expressa a motivação da pessoa para to, numa hierarquia de importância entre as diversas motivações
seguir os seus próprios interesses intelectuais e afetivos por meio do trabalhador. Desta forma, pode-se determinar quais são as moti-
de caminhos incertos e ambíguos, em oposição à tendência a pro- vações e metas mais importantes para ele, bem como aquelas que
curar a estabilidade e a preservar o status quo e a segurança que ocupam um segundo ou terceiro plano. Além disso, a análise deta-
ele gera no relacionamento com os outros e com as instituições. lhada da motivação pessoal pode ser completada por meio da inte-
Teoricamente, situam-se, num dos pólos deste eixo, os tipos mo- gração das dez motivações na estrutura bidimensional, que permite
tivacionais estimulação e autodeterminação e, no outro, os refe- uma visão mais global, e talvez mais consistente, da organização e
rentes aos tipos segurança, conformidade e tradição. Assim, num direção das forças motivacionais do empregado.
extremo desta dimensão encontra-se a motivação para inovar, criar,  
descobrir, se autodeterminar, ter autonomia e ter desafios na vida Motivação Laboral e Perfil Motivacional
e no trabalho. No extremo oposto, encontram-se as forças motiva- Uma organização, segundo Schein (1978), é a coordenação ra-
cionais que levam a pessoa à procura de segurança, de ordem so- cional das atividades de determinado número de pessoas, que per-
cial, de autocontrole, de moderação, de estabilidade e de respeito seguem uma finalidade e um objetivo comum e explícito mediante
pela tradição. A segunda dimensão, autotranscendência versus au- a divisão de funções e do trabalho. Dois elementos são fundamen-
topromoção, apresenta, num dos extremos, os tipos motivacionais tais nesta descrição: as organizações estão compostas por pessoas
universalismo e benevolência e, no outro, poder, realização e hedo- e grupos de pessoas e as organizações existem para obter fins es-
nismo. Este eixo expressa a motivação da pessoa para transcender pecíficos, tais como a eficiência econômica e a produtividade. Tanto
as suas preocupações egoístas e promover o bem-estar dos outros o indivíduo quanto a organização apresentam as suas condições,
e da natureza, em oposição a promover os seus próprios interes- exigências e demandas para interação mútua, mas também ambos
ses mesmo às custas dos outros. Um dos pólos está marcado pela aportam recursos específicos, essenciais para o bom funcionamen-
motivação do empregado com os resultados do grupo, da sua área, to da empresa. A complexa relação das pessoas que compõem a
da organização como um todo. No outro pólo, a ênfase é com os organização com a obtenção dos seus fins específicos passa pela
seus próprios resultados, sem preocupação com os resultados cole- valorização recíproca. A valorização do empregado, por parte da
tivos, numa luta para ser melhor que os outros, para ter prestígio, empresa, fundamenta-se no reconhecimento do valor que o traba-
influência e poder. Esta dimensão também pode ser denominada lho tem em sim mesmo e no reconhecimento da sua relevância no
altruísmo versus prestígio. contexto da obtenção dos fins específicos da organização. A melhor
As dimensões são bipolares e os seus pólos expressam um pon- forma de valorizar o empregado parece consistir em lhe oferecer
to extremo de uma determinada motivação. O eixo que sustenta os oportunidades para que, por meio do seu trabalho, ele possa atingir
dois pólos constitui, então, um contínuo motivacional para repre- as suas metas pessoais. Por natureza, o trabalho é uma estratégia
sentar a intensidade concreta que estas duas motivações opostas de realização pessoal.
apresentam nas pessoas. O eixo da primeira dimensão, procura de O Quadro 3 oferece algumas perspectivas de valorização do
mudança versus estabilidade, expressa um contínuo, que permite empregado que correspondem às suas metas e interesses. Assim,
representar a intensidade ou importância dada pelas pessoas a estes por exemplo, a motivação de autodeterminação, que visa a poder
dois conjuntos de motivações. Certos indivíduos podem se situar no definir por si mesmo o seu caminho na vida e no trabalho, corres-
extremo esquerdo deste contínuo, manifestando forte necessidade de ponde à autonomia, que consiste na possibilidade outorgada ao
desafios e de mudança. Para outros, esta necessidade pode ser me- empregado de agir de forma relativamente independente na execu-
nos forte, situando-se assim mais à direita do contínuo. No extremo ção do seu trabalho, abrindo perspectivas para inovar, criar e apri-
oposto, encontram-se aqueles que sentem grande necessidade de es- morar rotinas de execução do trabalho. Geralmente, a motivação
tabilidade, tanto no contexto físico como social. A dimensão altruísmo para a autodeterminação é fonte de grandes frustrações do traba-
versus prestígio representa também um contínuo, o qual organiza os lhador, algumas delas inevitáveis, por causa de restrições impostas
indivíduos em função das suas motivações procurar o sucesso do gru- pela própria natureza de certos trabalhos e pelo convívio com ou-
po, da organização como um todo ou o seu sucesso pessoal, construí- tras pessoas. Ela é também fonte de profunda satisfação quando
do sem grande preocupação pelos interesses organizacionais, colocan- a organização, como forma de valorizar o empregado, lhe oferece
do os interesses da organização em segundo plano e aproveitando o o máximo de autonomia possível na execução do seu trabalho. A
nome e a estrutura dela para se projetar em primeiro plano. autonomia, junto com o caráter desafiador e interessante do traba-
Esta abordagem oferece um leque motivacional bastante va- lho, é um elemento fundamental também para que o trabalhador
riado, com metas referentes a praticamente todos os aspectos mais encontre prazer no trabalho, satisfazendo assim a sua motivação
significativos da vida quotidiana e da atividade laboral. Esta carac- hedonística. O Quadro 3 apresenta perspectivas específicas para
terística é bastante útil para a compreensão epredição do compor- cada uma das motivações do empregado. Compõe este quadro a
tamento. É uma abordagem que permite uma avaliação bastante maioria dos motivadores que têm sido utilizados nas organizações
diferenciada por meio de dez motivações, cada uma delas com me- no decorrer do tempo.
tas específicas. Além disso, estas motivações apresentam uma or-  
ganização dinâmica, determinada pela natureza dos interesses visa-
dos, que facilita a predição do comportamento a partir da estrutura
motivacional da pessoa. Por exemplo, as pessoas que apresentam
forte motivação hedonística, geralmente, são menos propensas ao
controle de impulsos pessoais que destoam das normas do grupo.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

 
Como foi mencionado anteriormente, as dez motivações do empregado apresentam uma estrutura bidimensional. Os quatro pólos
que constituem estas duas dimensões representam motivações da pessoa e definem quatro conjuntos motivacionais fundamentais que
podem ser utilizados para a gestão da motivação no trabalho. A Figura 2 ilustra esta relação. O pólo da procura de mudança expressa
expectativas e metas que podem muito bem ser atingidas por meio da autonomia dada ao trabalhador para executar o seu trabalho,
oferecendo-lhe assim oportunidades para criar e inovar. Neste contexto, incluem-se também o horário flexível e a responsabilidade pelos
resultados esperados. O trabalho enriquecido, atraente, variado, interessante e desafiador constitui também uma forma excelente de
atender às exigências desta motivação. A participação nas decisões organizacionais abre igualmente um espaço para que o empregado
possa atingir suas metas de autodeterminação.
 

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
 No pólo oposto, situam-se interesses e expectativas da pessoa Na prática, quais são os passos principais na elaboração de um
relativos à estabilidade da organização. A segurança do trabalho e programa motivacional para uma empresa ou para um setor deter-
no trabalho, salário, normas e objetivos claros e precisos, círculos minado dela, levando em consideração o perfil motivacional dos
de qualidade, espaço físico adequado, horário regular e condições empregados? O primeiro passo é identificar o perfil motivacional
favoráveis para a execução do trabalho, constituem ações organiza- dos empregados da empresa utilizando algum dos instrumentos
cionais adequadas para atender às expectativas e metas relaciona- atualmente disponíveis. Como este perfil difere entre os membros
das com este pólo motivacional. da organização, é preciso verificar os interesses e metas que são
O pólo que expressa a motivação altruística focaliza fundamen- compartilhados. Para tanto, utilizam-se os escores médios obtidos
talmente os resultados coletivos e o bem-estar de todos na orga- pelos empregados da empresa nos diversos tipos motivacionais, de
nização. As metas referentes a esta motivação podem ser atingi- forma a determinar as motivações ou metas que são prioritárias
das por meio de um ambiente social agradável, sem conflitos, com para os empregados. Esta análise pode ser realizada no nível global,
oportunidades para interagir com colegas e clientes. As ações con- no nível de cada um dos setores da empresa e, até mesmo, no nível
cretas da empresa para manter um clima organizacional saudável, das equipes. Para determinar as estratégias motivadoras mais apro-
de tolerância e de colaboração também atendem às expectativas priadas para cada setor e/ou equipe, dois procedimentos podem
que têm fonte nesta motivação. As preocupações organizacionais ser sugeridos. O primeiro, o mais simples, consiste em escolher, en-
com a imagem social da empresa e com o respeito à natureza cons- tre os motivadores apresentados no Quadro 3 e na Figura 2, o(s)
tituem igualmente motivadores voltados para os empregados que mais adequado(s) para cada setor em função do perfil motivacional
possuem forte motivação altruística. dos seus participantes. Esta abordagem está baseada na correspon-
Finalmente, o pólo do prestígio, que expressa principalmente dência entre as metas prioritárias dos trabalhadores e uma ou mais
metas relacionadas com resultados pessoais, exige ações organiza- estratégias de motivação já utilizadas no ambiente empresarial. O
cionais tais como as relacionadas com incentivos financeiros, bene- segundo método é mais dinâmico e consiste em discutir com uma
fícios, oportunidades de promoção e reconhecimento do mérito. amostra de trabalhadores do setor alvo estratégias de motivação
Treinamento e oportunidades para utilizar conhecimentos e habili- que eles gostariam que fossem implantadas no ambiente de traba-
dades também constituem uma forma de atender a expectativas e lho. Este método tem a vantagem de contar com a participação dos
trabalhadores, além do menu de motivadores do Quadro 3. Esta
metas deste pólo motivacional.
abordagem é potencialmente inovadora, na medida em que pode
Como se pode observar na Figura 2, os programas ou estraté-
levar à definição de estratégias específicas para uma empresa ou
gias utilizados nas organizações para valorizar os empregados (Kat-
setor e de estratégias que não têm sido utilizadas anteriormente,
zell e Thompson, 1990) relacionam-se, especificamente, com uma
constituindo, neste sentido, uma contribuição para a gestão moti-
ou outra das motivações de ordem superior representadas nos qua-
vacional dos trabalhadores.
tro pólos motivacionais. Esta relação da estrutura motivacional do
 
empregado com as estratégias de motivação abre uma perspectiva
A desvinculação entre metas do trabalhador e estratégias de
interessante, no sentido de poder adequar as ações organizacionais motivação laboral pode ser um fator relevante no insucesso rela-
ao perfil motivacional dos trabalhadores, respeitando não somente tivo de alguns programas de motivação. O conhecimento do perfil
o conteúdo das suas motivações, mas também a sua intensidade. motivacional do trabalhador possibilita o desenvolvimento de pro-
Por exemplo, se na organização ou num setor determinado dela gramas diferenciados de motivação dentro da organização, visan-
predomina entre os empregados a motivação para procura de mu- do à atender metas de diversos grupos de trabalhadores. Como já
dança e de variedade, as formas de valorização mais adequadas foi salientado, isso não quer dizer que para cada funcionário seria
são aquelas que melhor atendem às metas dessa motivação, isto é, necessário desenvolver um programa específico, mas que os pro-
aquelas relacionadas com características internas do próprio traba- gramas motivacionais passariam a considerar as especificidades
lho, tais como a autonomia para a sua execução e as características de diferentes equipes e/ou setores organizacionais. Desta forma,
da própria tarefa. Pelo contrário, se a motivação mais acentuada ao invés de um único programa para toda uma organização, estra-
entre os empregados de um outro setor for a procura de resultados tégias mais específicas e diretivas seriam desenvolvidas, visando
coletivos, as estratégias de valorização mais apropriadas são aque- à atingir os interesses dos grupos alvo. Ainda que a organização
las relacionadas com um clima de tolerância às idéias e opiniões dos como um todo não esteja interessada em desenvolver diferentes
outros, clima organizacional harmônico, preocupação com a quali- estratégias motivacionais para seus vários setores, esta perspectiva
dade de vida no trabalho e aspectos sociais do trabalho. permite que cada gestor implante seu próprio programa para seus
Para viabilizar a adequação entre o perfil motivacional do tra- trabalhadores. Isto é, o gestor que desejar, pode desenvolver um
balhador e ações concretas de motivação é necessário, porém, po- programa de motivação que atinja diretamente as metas e valores
der determinar com precisão o perfil motivacional dos empregados dos trabalhadores pelos quais é responsável, sem depender de pro-
para, a partir daí, identificar as motivações predominantes e com- gramas que estejam sendo desenvolvidos por outros departamen-
partilhadas na empresa ou em setores dela. Atualmente existem tos e unidades da organização. Para tanto, a aplicação do IVS ou do
dois instrumentos apropriados para este tipo de avaliação: o In- QPV fornece o perfil motivacional dos indivíduos integrantes de sua
ventário de Valores de Schwartz (IVS) e o Questionário de Perfis de equipe ou setor e, a partir das metas representativas deste grupo,
Valores (QPV). Os dois foram psicometricamente validados em nu- as estratégias motivacionais podem ser traçadas.
merosos países, até mesmo no Brasil. O primeiro é um instrumento A possibilidade de relacionar motivação no trabalho com o per-
composto por 61 itens, adequado para ser utilizado com sujeitos fil motivacional dos trabalhadores preenche diversas lacunas dei-
com nível de escolaridade a partir do segundo grau. O QPV é muito xadas pelos programas que se baseiam nas abordagens exógenas
mais simples, composto por 40 itens. Ele pode ser aplicado em su- ou endógenas de motivação. Na proposta aqui apresentada, as mo-
jeitos com nível de escolaridade mais baixo. Os dois instrumentos tivações pessoais não ficam exclusivamente no nível teórico; elas
são auto-administrados e a sua correção é simples. Desta forma, a passam a fornecer os elementos básicos para a definição dos pro-
elaboração do perfil motivacional do trabalhador pode ser realizada gramas de motivação laboral. Assim os fatores exógenos da motiva-
com precisão e, a partir daí, podem-se elaborar estratégias de mo- ção podem ser utilizados de forma a alcançar motivações pessoais
tivação para o trabalho. dos empregados.7
7 Fonte: www.scielo.br – Por Alvaro Tamayo/Tatiane Paschoal

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Chiavenato acredita que toda organização funciona como um
MUDANÇA E INOVAÇÃO ORGANIZACIONAL sistema, que detém suas próprias características, de acordo com
sua cultura organizacional. No entanto, para que possa estar em
Falamos acima sobre como o desempenho e o suporte orga- sintonia com seus colaboradores, precisa apresentar alguns dos se-
nizacional interferem e repercutem no comportamento e no de- guintes elementos:
senvolvimento individual, potencializando assim os resultados por - senso de identidade;
esses produzidos. - integração;
A partir de agora, vamos abordar o desenvolvimento da orga- - capacidade de adaptação.
nização.
Costumamos ver o termo desenvolvimento associado a pes- A partir daí, a transformação pode acontecer e deve passar por
soas. No entanto, neste material, você vai conhecer outro tipo de 4 tipos de aprendizagem:
uso para esse conceito que, embora inclua pessoas, diz respeito ao 1. conhecimento;
ambiente organizacional. 2. motivação;
Desenvolvimento organizacional (DO) é uma expressão que já 3. ideologia;
existe há algum tempo e pode ter mais de um sentido. Aqui, você 4. controle dos movimentos corporais.
vai entender alguns dos seus significados e saber qual é a função
desse fator em uma empresa. A função do Desenvolvimento Organizacional em uma empre-
Antes de tudo, vale esclarecer que essa ideia, enquanto campo sa
de estudo, faz parte da área de comportamento organizacional e, Por que uma empresa resolve analisar seu próprio funciona-
com isso, tem total relação com o capital humano de uma empre- mento? Qual a função do desenvolvimento organizacional numa
sa, ainda que a preocupação seja para o funcionamento como um perspectiva global sobre um negócio?
todo. Prossiga com a leitura e saiba mais sobre o assunto. Bom, respondendo à primeira pergunta, as empresas se anali-
sam quando percebem que há problemas a serem resolvidos – os
Algumas definições para desenvolvimento organizacional quais sempre vão afetar os resultados de uma maneira global. Mas
Um primeiro olhar para esse conceito é o de que ele representa por que sempre?
qualquer iniciativa de uma empresa para aumentar a participação Porque tudo numa organização é interdependente – cada pes-
de colaboradores nos assuntos organizacionais. soa, cada processo e ação está inter-relacionado. Geralmente, essa
Outra visão diz respeito a um modelo normativo que estabele- busca por respostas se deve a uma baixa lucratividade ou outras
ce determinados tipos de comportamento como mais adequados questões concretas que representam apenas a ponta do iceberg.
para o contexto de trabalho como um todo, refletindo em melhores Diante disso, como possível resposta ao segundo questiona-
desempenhos. mento, a função do Desenvolvimento Organizacional dentro de
Nos últimos 10 anos, porém, uma visão mais avançada sobre uma empresa é justamente de trazer o autoconhecimento para o
o desenvolvimento organizacional vem ganhando espaço. Ao dar negócio e, com ele, agir de acordo com o que foi analisado e plane-
mais ênfase às relações interpessoais e aos processos grupais, o jado como solução e também com as diretrizes de mercado.
Desenvolvimento Organizacional pode ser definido como uma es- Para melhorar a visualização dos possíveis territórios de mu-
tratégia educacional que visa trabalhar crenças, valores e estruturas dança em que o Desenvolvimento Organizacional atua, veja como
organizacionais para melhorar a adaptação da empresa ao processo se configuram, segundo teóricos:
de inovação (incluindo novas tecnologias) e ao mercado como um - conhecimento, valores, atitudes e comportamentos das pes-
todo. soas e grupos que fazem parte da organização;
Sendo assim, podemos dizer que uma empresa que esteja pas- - hábitos, valores e filosofia da organização;
sando por mudanças internas mais profundas e pretenda alinhar - estruturas, layout, centralização/descentralização, sistemas
sua cultura aos objetivos do negócio, de forma que a força de tra- de controle etc. na organização formal;
balho seja vista em toda a sua complexidade, está colocando em - tecnologia, processo unitário/contínuo, mecanização/manu-
prática o desenvolvimento organizacional. alização etc.

A teoria do desenvolvimento organizacional por Chiavenato O intuito é sempre aumentar a adaptabilidade do negócio dian-
Idalberto Chiavenato é um dos nomes mais influentes no Brasil te das condições externas, aliando a esse processo uma dinâmica
e no mundo quando o assunto é administração e recursos huma- interpessoal favorável para o desenvolvimento individual e coletivo
nos. Com mais de 30 livros publicados, o autor coleciona os best da equipe de trabalho. Isso inclui metas como relações cooperati-
sellers mais populares do mundo dos negócios, como: vas, consenso, integração, criatividade, flexibilidade, inovação, en-
- Teoria Geral da Administração; tre outras.
- Gestão de Pessoas;
- Planejamento Estratégico. Como funciona o processo de Desenvolvimento Organizacio-
nal nas empresas
De acordo com o especialista, a origem do desenvolvimento Se as principais funções do desenvolvimento organizacional
organizacional se deu pela necessidade das empresas de realizar são priorizar as relações interpessoais, a confiança entre contratan-
transformações que as atingissem como um todo. te e contratados, a resolução de conflitos e promover a descentra-
O problema é que os objetivos dos colaboradores nem sempre lização do controle organizacional, a sua implementação demanda
estão alinhados aos do negócio, fazendo com que as equipes se dis- um processo a ser seguido.
tanciem da organização, gerando conflitos relacionados ao engaja- Em sua biografia, Chiavenato escreve que são necessárias 8
mento e prejudicando o alcance de bons resultados. etapas para que um programa de desenvolvimento organizacional
possa ser executado:
1. decidir que está na hora de implementar o Desenvolvimento
Organizacional e definir quem vai coordenar o processo;

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
2. realizar um diagnóstico inicial com o objetivo de estabelecer intermediador, o administrador dos relacionamentos institucionais
o modelo mais adequado; e de negócios da empresa com os seus públicos. Sendo assim, fica
3. levantamento de dados sobre a empresa; claro que esse profissional tem seu campo de ação na política de
4. análise dessas informações; relacionamento da organização.
5. planejamento das ações; A comunicação interna, portanto, deve ser entendida como
6. desenvolvimento das equipes; um feixe de propostas bem encadeadas, abrangentes, coisa signi-
7. integração entre os grupos; ficativamente maior que um simples programa de comunicação
8. avaliação e acompanhamento dos resultados. impressa. Para que se desenvolva em toda sua plenitude, as empre-
sas estão a exigir profissionais de comunicação sistêmicos, abertos,
Dentro dessa perspectiva, é importante salientar que, uma vez treinados, com visões integradas e em permanente estado de alerta
que exige que as estruturas da organização sejam modificadas, exis- para as ameaças e oportunidades ditadas pelo meio ambiente.
tem três modelos de desenvolvimento organizacional que podem Percebe-se com isso, a multivariedade das funções dos Rela-
ser aplicados dentro de uma empresa: ções Públicas: estratégica, política, institucional, mercadológica,
social, comunitária, cultural, etc.; atuando sempre para cumprir os
Modelos com alterações estruturais objetivos da organização e definir suas políticas gerais de relacio-
Está relacionado ao ambiente de trabalho, estrutura física ou namento.
tecnologia utilizada pela empresa. As principais mudanças que po- Em vista do que foi dito sobre o profissional de Relações Públi-
dem ocorrer são: cas, destaca-se como principal objetivo liderar o processo de comu-
- em métodos de operação; nicação total da empresa, tanto no nível do entendimento, como no
- nos produtos utilizados como insumos; nível de persuasão nos negócios.
- na organização como um todo;
- no ambiente de trabalho. Pronúncia correta das palavras
Proferir as palavras corretamente. Isso envolve:
Modelos com alterações comportamentais - Usar os sons corretos para vocalizar as palavras;
Esse é um dos mais comuns, já que tem como principal objetivo - Enfatizar a sílaba certa;
promover a comunicação interna e fomentar a participação e o en- - Dar a devida atenção aos sinais diacríticos
gajamento dos colaboradores com os objetivos da empresa.
Esses modelos visam atender com exclusividade as variáveis Por que é importante?
comportamentais dos indivíduos por meio do desenvolvimento de A pronúncia correta confere dignidade à mensagem que prega-
equipes, reuniões e solução de conflitos. mos. Permite que os ouvintes se concentrem no teor da mensagem
sem ser distraídos por erros de pronúncia.
Modelos relacionados a questões externas
Globalização, tendências comportamentais e estruturais tam- Fatores a considerar. Não há um conjunto de regras de pronún-
bém influenciam no desenvolvimento organizacional. Geralmente, cia que se aplique a todos os idiomas. Muitos idiomas utilizam um
esses modelos são mais complexos. Como lidam com fatores exter- alfabeto. Além do alfabeto latino, há também os alfabetos árabe,
nos, são compostos por uma gama de abordagens que envolvem cirílico, grego e hebraico. No idioma chinês, a escrita não é feita por
conceitos, estratégias e uma sequência de ações destinada a cada meio de um alfabeto, mas por meio de caracteres que podem ser
alteração. compostos de vários elementos.
Esses caracteres geralmente representam uma palavra ou par-
O desenvolvimento organizacional permite que uma organiza- te de uma palavra. Embora os idiomas japonês e coreano usem ca-
ção esteja constantemente adaptada às mudanças do mercado, su- racteres chineses, estes podem ser pronunciados de maneiras bem
perando desafios e valorizando o ativo humano da empresa. O es- diferentes e nem sempre ter o mesmo significado.
forço muda atitudes, valores e até mesmo a estrutura do negócio.8 Nos idiomas alfabéticos, a pronúncia adequada exige que se
use o som correto para cada letra ou combinação de letras. Quando
o idioma segue regras coerentes, como é o caso do espanhol, do
grego e do zulu, a tarefa não é tão difícil. Contudo, as palavras es-
ANÁLISE DE AMBIENTE INTERNO E EXTERNO trangeiras incorporadas ao idioma às vezes mantêm uma pronúncia
parecida à original. Assim, determinadas letras, ou combinações de
Quando se fala em comunicação interna organizacional, auto- letras, podem ser pronunciadas de diversas maneiras ou, às vezes,
maticamente relaciona ao profissional de Relações Públicas, pois simplesmente não ser pronunciadas. Você talvez precise memorizar
ele é o responsável pelo relacionamento da empresa com os seus as exceções e então usá-las regularmente ao conversar. Em chinês,
diversos públicos (internos, externos e misto). a pronúncia correta exige a memorização de milhares de caracteres.
As organizações têm passado por diversas mudanças buscan- Em alguns idiomas, o significado de uma palavra muda de acordo
do a modernização e a sobrevivência no mundo dos negócios. Os com a entonação. Se a pessoa não der a devida atenção a esse as-
maiores objetivos dessas transformações são: tornar a empresa pecto do idioma, poderá transmitir ideias erradas.
competitiva, flexível, capaz de responder as exigências do mercado, Se as palavras de um idioma forem compostas de sílabas, é im-
reduzindo custos operacionais e apresentando produtos competiti- portante enfatizar a sílaba correta. Muitos idiomas que usam esse
vos e de qualidade. tipo de estrutura têm regras bem definidas sobre a posição da sí-
A reestruturação das organizações gerou um público interno laba tônica (aquela que soa mais forte). As palavras que fogem a
de novo perfil. Hoje, os empregados são muito mais conscientes, essas regras geralmente recebem um acento gráfico, o que torna
responsáveis, inseridos e atentos às cobranças das empresas em to- relativamente fácil pronunciá-las de maneira correta. Contudo, se
dos os setores. Diante desse novo modelo organizacional, é que se houver muitas exceções às regras, o problema fica mais complica-
propõe como atribuição do profissional de Relações Públicas ser o do. Nesse caso, exige bastante memorização para se pronunciar
corretamente as palavras.
8 Fonte: www.etalent.com.br

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Em alguns idiomas, é fundamental prestar bastante atenção 118 – cento e dezoito
aos sinais diacríticos que aparecem acima e abaixo de determina- 511 – quinhentos e onze
das letras, como: è, é, ô, ñ, ō, ŭ, ü, č, ç. 0001 – mil ao contrario
Na questão da pronúncia, é preciso evitar algumas armadilhas.
A precisão exagerada pode dar a impressão de afetação e até de Atendimento telefônico
esnobismo. O mesmo acontece com as pronúncias em desuso. Tais Na comunicação telefônica, é fundamental que o interlocutor
coisas apenas chamam atenção para o orador. Por outro lado, é se sinta acolhido e respeitado, sobretudo porque se trata da utili-
bom evitar o outro extremo e relaxar tanto no uso da linguagem zação de um canal de comunicação a distância. É preciso, portanto,
quanto na pronúncia das palavras. Algumas dessas questões já fo- que o processo de comunicação ocorra da melhor maneira possível
ram discutidas no estudo “Articulação clara”. para ambas as partes (emissor e receptor) e que as mensagens se-
Em alguns idiomas, a pronúncia aceitável pode diferir de um jam sempre acolhidas e contextualizadas, de modo que todos pos-
país para outro — até mesmo de uma região para outra no mesmo sam receber bom atendimento ao telefone.
país. Um estrangeiro talvez fale o idioma local com sotaque. Os di- Alguns autores estabelecem as seguintes recomendações para
cionários às vezes admitem mais de uma pronúncia para determi- o atendimento telefônico:
nada palavra. Especialmente se a pessoa não teve muito acesso à • não deixar o cliente esperando por um tempo muito longo.
instrução escolar ou se a sua língua materna for outra, ela se bene- É melhor explicar o motivo de não poder atendê-lo e retornar a
ficiará muito por ouvir com atenção os que falam bem o idioma lo- ligação em seguida;
cal e imitar sua pronúncia. Como Testemunhas de Jeová queremos • o cliente não deve ser interrompido, e o funcionário tem de
falar de uma maneira que dignifique a mensagem que pregamos e se empenhar em explicar corretamente produtos e serviços;
que seja prontamente entendida pelas pessoas da localidade. • atender às necessidades do cliente; se ele desejar algo que o
No dia-a-dia, é melhor usar palavras com as quais se está bem atendente não possa fornecer, é importante oferecer alternativas;
familiarizado. Normalmente, a pronúncia não constitui problema • agir com cortesia. Cumprimentar com um “bom-dia” ou “bo-
numa conversa, mas ao ler em voz alta você poderá se deparar com a-tarde”, dizer o nome e o nome da empresa ou instituição são ati-
palavras que não usa no cotidiano. tudes que tornam a conversa mais pessoal. Perguntar o nome do
cliente e tratá-lo pelo nome transmitem a ideia de que ele é im-
Maneiras de aprimorar portante para a empresa ou instituição. O atendente deve também
Muitas pessoas que têm problemas de pronúncia não se dão esperar que o seu interlocutor desligue o telefone. Isso garante que
conta disso. ele não interrompa o usuário ou o cliente. Se ele quiser comple-
Em primeiro lugar, quando for designado a ler em público, con- mentar alguma questão, terá tempo de retomar a conversa.
sulte num dicionário as palavras que não conhece. Se não tiver prá-
tica em usar o dicionário, procure em suas páginas iniciais, ou finais, No atendimento telefônico, a linguagem é o fator principal
a explicação sobre as abreviaturas, as siglas e os símbolos fonéticos para garantir a qualidade da comunicação. Portanto, é preciso que
usados ou, se necessário, peça que alguém o ajude a entendê-los. o atendente saiba ouvir o interlocutor e responda a suas demandas
Em alguns casos, uma palavra pode ter pronúncias diferentes, de- de maneira cordial, simples, clara e objetiva. O uso correto da língua
pendendo do contexto. Alguns dicionários indicam a pronúncia de portuguesa e a qualidade da dicção também são fatores importan-
letras que têm sons variáveis bem como a sílaba tônica. Antes de tes para assegurar uma boa comunicação telefônica. É fundamental
fechar o dicionário, repita a palavra várias vezes em voz alta. que o atendente transmita a seu interlocutor segurança, compro-
Uma segunda maneira de melhorar a pronúncia é ler para al- misso e credibilidade.
guém que pronuncia bem as palavras e pedir-lhe que corrija seus
erros. Além das recomendações anteriores, são citados, a seguir, pro-
Um terceiro modo de aprimorar a pronúncia é prestar atenção cedimentos para a excelência no atendimento telefônico:
aos bons oradores. • Identificar e utilizar o nome do interlocutor: ninguém gosta
de falar com um interlocutor desconhecido, por isso, o atendente
Pronúncia de números telefônicos da chamada deve identificar-se assim que atender ao telefone. Por
O número de telefone deve ser pronunciado algarismo por al- outro lado, deve perguntar com quem está falando e passar a tratar
garismo. o interlocutor pelo nome. Esse toque pessoal faz com que o interlo-
Deve-se dar uma pausa maior após o prefixo. cutor se sinta importante;
Lê-se em caso de uma sequencia de números de três em três • assumir a responsabilidade pela resposta: a pessoa que aten-
algarismos, com exceção de uma sequencia de quatro números jun- de ao telefone deve considerar o assunto como seu, ou seja, com-
tos, onde damos uma pausa a cada dois algarismos. prometer-se e, assim, garantir ao interlocutor uma resposta rápida.
O número “6” deve ser pronunciado como “meia” e o número Por exemplo: não deve dizer “não sei”, mas “vou imediatamente
“11”, que é outra exceção, deve ser pronunciado como “onze”. saber” ou “daremos uma resposta logo que seja possível”.Se não
Veja abaixo os exemplos for mesmo possível dar uma resposta ao assunto, o atendente de-
011.264.1003 – zero, onze – dois, meia, quatro – um, zero – verá apresentar formas alternativas para o fazer, como: fornecer o
zero, três número do telefone direto de alguém capaz de resolver o problema
021.271.3343 – zero, dois, um – dois, sete, um – três, três – rapidamente, indicar o e-mail ou numero da pessoa responsável
quatro, três procurado. A pessoa que ligou deve ter a garantia de que alguém
031.386.1198 – zero, três, um – três, oito, meia – onze – nove, confirmará a recepção do pedido ou chamada;
oito • Não negar informações: nenhuma informação deve ser nega-
da, mas há que se identificar o interlocutor antes de a fornecer, para
Exceções confirmar a seriedade da chamada. Nessa situação, é adequada a
110 -cento e dez seguinte frase: vamos anotar esses dados e depois entraremos em
111 – cento e onze contato com o senhor
211 – duzentos e onze

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
• Não apressar a chamada: é importante dar tempo ao tempo,  A educação
ouvir calmamente o que o cliente/usuário tem a dizer e mostrar
que o diálogo está sendo acompanhado com atenção, dando fee- Ao telefone, a sua voz é você. A pessoa que está do outro lado
dback, mas não interrompendo o raciocínio do interlocutor; da linha não pode ver as suas expressões faciais e gestos, mas você
• Sorrir: um simples sorriso reflete-se na voz e demonstra que o transmite através da voz o sentimento que está alimentando ao
atendente é uma pessoa amável, solícita e interessada; conversar com ela. As emoções positivas ou negativas, podem ser
• Ser sincero: qualquer falta de sinceridade pode ser catastrófi- reveladas, tais como:
ca: as más palavras difundem-se mais rapidamente do que as boas; • Interesse ou desinteresse,
• Manter o cliente informado: como, nessa forma de comuni- • Confiança ou desconfiança,
cação, não se estabele o contato visual, é necessário que o aten- • Alerta ou cansaço,
dente, se tiver mesmo que desviar a atenção do telefone durante • Calma ou agressividade,
alguns segundos, peça licença para interromper o diálogo e, depois, • Alegria ou tristeza,
peça desculpa pela demora. Essa atitude é importante porque pou- • Descontração ou embaraço,
cos segundos podem parecer uma eternidade para quem está do • Entusiasmo ou desânimo.
outro lado da linha;
• Ter as informações à mão: um atendente deve conservar a O ritmo habitual da comunicação oral é de 180 palavras por
informação importante perto de si e ter sempre à mão as informa- minuto; ao telefone deve-se reduzir para 120 palavras por minuto
ções mais significativas de seu setor. Isso permite aumentar a rapi- aproximadamente, tornando o discurso mais claro.
dez de resposta e demonstra o profissionalismo do atendente; A fala muito rápida dificulta a compreensão da mensagem e
• Estabelecer os encaminhamentos para a pessoa que liga: pode não ser perceptível; a fala muito lenta pode o outro a julgar
quem atende a chamada deve definir quando é que a pessoa deve que não existe entusiasmo da sua parte.
voltar a ligar (dia e hora) ou quando é que a empresa ou instituição
vai retornar a chamada. O tratamento é a maneira como o funcionário se dirige ao
cliente e interage com ele, orientando-o, conquistando sua simpa-
Todas estas recomendações envolvem as seguintes atitudes no tia. Está relacionada a:
atendimento telefônico: • Presteza – demonstração do desejo de servir, valorizando
• Receptividade - demonstrar paciência e disposição para ser- prontamente a solicitação do usuário;
vir, como, por exemplo, responder às dúvidas mais comuns dos usu- • Cortesia – manifestação de respeito ao usuário e de cordia-
ários como se as estivesse respondendo pela primeira vez. Da mes- lidade;
ma forma é necessário evitar que interlocutor espere por respostas; • Flexibilidade – capacidade de lidar com situações não-pre-
• Atenção – ouvir o interlocutor, evitando interrupções, dizer vistas.
palavras como “compreendo”, “entendo” e, se necessário, anotar a
mensagem do interlocutor); A comunicação entre as pessoas é algo multíplice, haja vista,
• Empatia - para personalizar o atendimento, pode-se pro- que transmitir uma mensagem para outra pessoa e fazê-la com-
nunciar o nome do usuário algumas vezes, mas, nunca, expressões preender a essência da mesma é uma tarefa que envolve inúmeras
como “meu bem”, “meu querido, entre outras); variáveis que transformam a comunicação humana em um desafio
• Concentração – sobretudo no que diz o interlocutor (evitar constante para todos nós.
distrair-se com outras pessoas, colegas ou situações, desviando-se E essa complexidade aumenta quando não há uma comunicação
do tema da conversa, bem como evitar comer ou beber enquanto
visual, como na comunicação por telefone, onde a voz é o único ins-
se fala);
trumento capaz de transmitir a mensagem de um emissor para um
• Comportamento ético na conversação – o que envolve tam-
receptor. Sendo assim, inúmeras empresas cometem erros primários
bém evitar promessas que não poderão ser cumpridas.
no atendimento telefônico, por se tratar de algo de difícil consecução.
Atendimento e tratamento
Abaixo 16 dicas para aprimorar o atendimento telefônico, de
O atendimento está diretamente relacionado aos negócios de
modo a atingirmos a excelência, confira:
uma organização, suas finalidades, produtos e serviços, de acordo
com suas normas e regras. O atendimento estabelece, dessa forma, 1 - Profissionalismo: utilize-se sempre de uma linguagem for-
uma relação entre o atendente, a organização e o cliente. mal, privilegiando uma comunicação que transmita respeito e se-
riedade. Evite brincadeiras, gírias, intimidades, etc, pois assim fa-
A qualidade do atendimento, de modo geral, é determinada zendo, você estará gerando uma imagem positiva de si mesmo por
por indicadores percebidos pelo próprio usuário relativamente a: conta do profissionalismo demonstrado.
• competência – recursos humanos capacitados e recursos tec- 2 - Tenha cuidado com os ruídos: algo que é extremamente
nológicos adequados; prejudicial ao cliente são as interferências, ou seja, tudo aquilo que
• confiabilidade – cumprimento de prazos e horários estabele- atrapalha a comunicação entre as partes (chieira, sons de aparelhos
cidos previamente; eletrônicos ligados, etc.). Sendo assim, é necessário manter a linha
• credibilidade – honestidade no serviço proposto; “limpa” para que a comunicação seja eficiente, evitando desvios.
• segurança – sigilo das informações pessoais; 3 - Fale no tom certo: deve-se usar um tom de voz que seja
• facilidade de acesso – tanto aos serviços como ao pessoal de minimamente compreensível, evitando desconforto para o cliente
contato; que por várias vezes é obrigado a “implorar” para que o atendente
• comunicação – clareza nas instruções de utilização dos ser- fale mais alto.
viços. 4 - Fale no ritmo certo: não seja ansioso para que você não co-
meta o erro de falar muito rapidamente, ou seja, procure encontrar
Fatores críticos de sucesso ao telefone: o meio termo (nem lento e nem rápido), de forma que o cliente
 A voz / respiração / ritmo do discurso entenda perfeitamente a mensagem, que deve ser transmitida com
 A escolha das palavras clareza e objetividade.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
5 - Tenha boa dicção: use as palavras com coerência e coesão mensagem para outra pessoa. Sendo assim, devemos ficar atentos
para que a mensagem tenha organização, evitando possíveis erros para não repetirmos esses erros e consequentemente aumentar-
de interpretação por parte do cliente. mos nossa capacidade de comunicação com nosso semelhante.
6 - Tenha equilíbrio: se você estiver atendendo um cliente sem
educação, use a inteligência, ou seja, seja paciente, ouça-o aten- Resoluções de situações conflitantes ou problemas quanto ao
tamente, jamais seja hostil com o mesmo e tente acalmá-lo, pois atendimento de ligações ou transferências
assim, você estará mantendo sua imagem intacta, haja vista, que O agente de comunicação é o cartão de visita da empresa.. Por
esses “dinossauros” não precisam ser atacados, pois, eles se matam isso é muito importante prestar atenção a todos os detalhes do seu
sozinhos. trabalho. Geralmente você é a primeira pessoa a manter contato
7 - Tenha carisma: seja uma pessoa empática e sorridente para com o público. Sua maneira de falar e agir vai contribuir muito para
que o cliente se sinta valorizado pela empresa, gerando um clima a imagem que irão formar sobre sua empresa. Não esqueça: a pri-
confortável e harmônico. Para isso, use suas entonações com criati- meira impressão é a que fica.
vidade, de modo a transmitir emoções inteligentes e contagiantes. Alguns detalhes que podem passar despercebidos na rotina do
8 - Controle o tempo: se precisar de um tempo, peça o cliente seu trabalho:
para aguardar na linha, mas não demore uma eternidade, pois, o - Voz: deve ser clara, num tom agradável e o mais natural possí-
cliente pode se sentir desprestigiado e desligar o telefone. vel. Assim você fala só uma vez e evita perda de tempo.
9 - Atenda o telefone o mais rápido possível: o ideal é atender - Calma: Ás vezes pode não ser fácil mas é muito importante
o telefone no máximo até o terceiro toque, pois, é um ato que de- que você mantenha a calma e a paciência . A pessoa que esta cha-
monstra afabilidade e empenho em tentar entregar para o cliente mando merece ser atendida com toda a delicadeza. Não deve ser
a máxima eficiência. apressada ou interrompida. Mesmo que ela seja um pouco grossei-
10 - Nunca cometa o erro de dizer “alô”: o ideal é dizer o nome ra, você não deve responder no mesmo tom. Pelo contrário, procu-
da organização, o nome da própria pessoa seguido ainda, das tra- re acalmá-la.
dicionais saudações (bom dia, boa tarde, etc.). Além disso, quando - Interesse e iniciativa: Cada pessoa que chama merece atenção
for encerrar a conversa lembre-se de ser amistoso, agradecendo e especial. E você, como toda boa telefonista, deve ser sempre simpá-
reafirmando o que foi acordado. tica e demonstrar interesse em ajudar.
11 - Seja pró ativo: se um cliente procurar por alguém que não - Sigilo: Na sua profissão, às vezes é preciso saber de detalhes
está presente na sua empresa no momento da ligação, jamais peça importantes sobre o assunto que será tratado. Esses detalhes são
a ele para ligar mais tarde, pois, essa é uma função do atendente, confidenciais e pertencem somente às pessoas envolvidas. Você
ou seja, a de retornar a ligação quando essa pessoa estiver de volta deve ser discreta e manter tudo em segredo. A quebra de sigilo nas
à organização. ligações telefônicas é considerada uma falta grave, sujeita às pena-
12 - Tenha sempre papel e caneta em mãos: a organização é um lidades legais.
dos princípios para um bom atendimento telefônico, haja vista, que
é necessário anotar o nome da pessoa e os pontos principais que O que dizer e como dizer
foram abordados. Aqui seguem algumas sugestões de como atender as chama-
13 – Cumpra seus compromissos: um atendente que não tem das externas:
responsabilidade de cumprir aquilo que foi acordado demonstra - Ao atender uma chamada externa, você deve dizer o nome da
desleixo e incompetência, comprometendo assim, a imagem da sua empresa seguido de bom dia, boa tarde ou boa noite.
empresa. Sendo assim, se tiver que dar um recado, ou, retornar - Essa chamada externa vai solicitar um ramal ou pessoa. Você
uma ligação lembre-se de sua responsabilidade, evitando esqueci- deve repetir esse número ou nome, para ter certeza de que enten-
mentos. deu corretamente. Em seguida diga: “ Um momento, por favor,” e
14 – Tenha uma postura afetuosa e prestativa: ao atender o te- transfira a ligação.
lefone, você deve demonstrar para o cliente uma postura de quem
realmente busca ajudá-lo, ou seja, que se importa com os proble- Ao transferir as ligações, forneça as informações que já possui;
mas do mesmo. Atitudes negativas como um tom de voz desinteres- faça uso do seu vocabulário profissional; fale somente o necessário
sado, melancólico e enfadado contribuem para a desmotivação do e evite assuntos pessoais.
cliente, sendo assim, é necessário demonstrar interesse e iniciativa Nunca faça a transferência ligeiramente, sem informar ao seu
para que a outra parte se sinta acolhida. interlocutor o que vai fazer, para quem vai transferir a ligação, man-
15 – Não seja impaciente: busque ouvir o cliente atentamente, tenha-o ciente dos passos desse atendimento.
sem interrompê-lo, pois, essa atitude contribui positivamente para Não se deve transferir uma ligação apenas para se livrar dela.
a identificação dos problemas existentes e consequentemente para Deve oferecer-se para auxiliar o interlocutor, colocar-se à disposi-
as possíveis soluções que os mesmos exigem. ção dele, e se acontecer de não ser possível, transfira-o para quem
16 – Mantenha sua linha desocupada: você já tentou ligar para realmente possa atendê-lo e resolver sua solicitação. Transferir o
alguma empresa e teve que esperar um longo período de tempo cliente de um setor para outro, quando essa ligação já tiver sido
para que a linha fosse desocupada? Pois é, é algo extremamente transferida várias vezes não favorece a imagem da empresa. Nesse
inconveniente e constrangedor. Por esse motivo, busque não delon- caso, anote a situação e diga que irá retornar com as informações
gar as conversas e evite conversas pessoais, objetivando manter, na solicitadas.
medida do possível, sua linha sempre disponível para que o cliente - Se o ramal estiver ocupado quando você fizer a transferência,
não tenha que esperar muito tempo para ser atendido. diga à pessoa que chamou: “O ramal está ocupado. Posso anotar
o recado e retornar a ligação.” É importante que você não deixe
Buscar a excelência constantemente na comunicação huma- uma linha ocupada com uma pessoa que está apenas esperando a
na é um ato fundamental para todos nós, haja vista, que estamos liberação de um ramal. Isso pode congestionar as linhas do equipa-
nos comunicando o tempo todo com outras pessoas. Infelizmente mento, gerando perda de ligações. Mas caso essa pessoa insista em
algumas pessoas não levam esse importante ato a sério, compro- falar com o ramal ocupado, você deve interromper a outra ligação e
metendo assim, a capacidade humana de transmitir uma simples dizer: “Desculpe-me interromper sua ligação, mas há uma chamada

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
urgente do (a) Sr.(a) Fulano(a) para este ramal. O (a) senhor (a) pode - Consultores: empregados da Telems que dão orientação às
atender?” Se a pessoa puder atender , complete a ligação, se não, empresas quanto ao melhor funcionamento dos sistemas de tele-
diga que a outra ligação ainda está em andamento e reafirme sua comunicações.
possibilidade em auxiliar. - Mantenedora: empresa habilitada para prestar serviço e dar
assistência às CPCTs.
Lembre-se: - Serviço Noturno: direciona as chamadas recebidas nos horá-
Você deve ser natural, mas não deve esquecer de certas for- rios fora do expediente para determinados ramais. Só é possível em
malidades como, por exemplo, dizer sempre “por favor” , “Queira CPCTs do tipo PBX e PABX.
desculpar”, “Senhor”, “Senhora”. Isso facilita a comunicação e induz
a outra pessoa a ter com você o mesmo tipo de tratamento. Em casos onde você se depara com uma situação que repre-
A conversa: existem expressões que nunca devem ser usadas, sente conflito ou problema, é necessário adequar a sua reação à
tais como gírias, meias palavras, e palavras com conotação de inti- cada circunstância. Abaixo alguns exemplos.
midade. A conversa deve ser sempre mantida em nível profissional.
1ª - Um cliente chega nervoso – o que fazer?
Equipamento básico  Não interrompa a fala do Cliente. Deixe-o liberar a raiva.
Além da sala, existem outras coisas necessárias para assegurar  Acima de tudo, mantenha-se calmo.
o bom andamento do seu trabalho:  Por nenhuma hipótese, sintonize com o Cliente, em um
- Listas telefônicas atualizadas. estado de nervosismo.
- Relação dos ramais por nomes de funcionários (em ordem al-  Jamais diga ao Cliente: “Calma, o (a) senhor (a) está muito
fabética). nervoso (a), tente acalmar-se”.
- Relação dos números de telefones mais chamados.  Use frases adequadas ao momento. Frases que ajudam
- Tabela de tarifas telefônicas. acalmar o Cliente, deixando claro que você está ali para ajudá-lo
- Lápis e caneta
- Bloco para anotações 2ª – Diante de um Cliente mal-educado – o que fazer?
- Livro de registro de defeitos.  O tratamento deverá ser sempre positivo, independente-
mente das circunstâncias.
O que você precisa saber:  Não fique envolvido emocionalmente. Aprenda a enten-
O seu equipamento telefônico não é apenas parte do seu mate- der que você não é o alvo.
rial de trabalho. É o que há de mais importante. Por isso você deve  Reaja com mais cortesia, com suavidade, cuidando para
saber como ele funciona. Tecnicamente, o equipamento que você não parecer ironia. Quando você toma a iniciativa e age positiva-
usa é chamado de CPCT - Central Privada de Comunicação Telefôni- mente, coloca uma pressão psicológica no Cliente, para que ele re-
ca, que permite você fazer ligações internas (de ramal para ramal) e aja de modo positivo.
externas. Atualmente existem dois tipos: PABX e KS.
- PABX (Private Automatic Branch Exchange): neste sistema, 3ª – Diante de erros ou problemas causados pela empresa
todas as ligaçõesinternas e a maioria das ligações para fora da em-  ADMITA o erro, sem evasivas, o mais rápido possível.
presa são feitas pelos usuários de ramais. Todas as ligações que en-  Diga que LAMENTA muito e que fará tudo que estiver ao
tram, passam pela telefonista. seu alcance para que o problema seja resolvido.
- KS (Key System): todas as ligações, sejam elas de entrada, de  CORRIJA o erro imediatamente, ou diga quando vai cor-
saída ou internas, são feitas sem passar pela telefonista rigir.
 Diga QUEM e COMO vai corrigir o problema.
Informações básicas adicionais  EXPLIQUE o que ocorreu, evitando justificar.
- Ramal: são os terminais de onde saem e entram as ligações  Entretanto, se tiver uma boa justificativa, JUSTIFIQUE, mas
telefônicas. Eles se dividem em: com muita prudência. O Cliente não se interessa por “justificativas”.
* Ramais privilegiados: são os ramais de onde se podem fazer Este é um problema da empresa.
ligações para fora sem passar pela telefonista
* Ramais semi-privilegiados: nestes ramais é necessário o auxi- 4ª – O Cliente não está entendendo – o que fazer?
lio da telefonista para ligar para fora.  Concentre-se para entender o que realmente o Cliente
* Ramais restritos: só fazem ligações internas. quer ou, exatamente, o que ele não está entendendo e o porquê.
-Linha - Tronco: linha telefônica que ligaa CPCT à central Tele-  Caso necessário, explique novamente, de outro jeito, até
fônica Pública. que o Cliente entenda.
- Número-Chave ou Piloto: Número que acessa automatica-  Alguma dificuldade maior? Peça Ajuda! Chame o gerente,
mente as linhas que estão em busca automática, devendo ser o úni- o chefe, o encarregado, mas evite, na medida do possível, que o
co número divulgado ao público. Cliente saia sem entender ou concordar com a resolução.
- Enlace: Meio pelo qual se efetuam as ligações entre ramais e
linhas-tronco. 5ª – Discussão com o Cliente
- Bloqueador de Interurbanos: Aparelho que impede a realiza- Em uma discussão com o Cliente, com ou sem razão, você sem-
ção de ligações interurbanas. pre perde!
- DDG: (Discagem Direta Gratuita), serviço interurbano fran- Uma maneira eficaz de não cair na tentação de “brigar” ou “dis-
queado, cuja cobrança das ligações é feita no telefone chamado. cutir” com um cliente é estar consciente – sempre alerta -, de forma
- DDR : (Discagem direta a Ramal) , as chamadas externas vão que se evite SINTONIZAR na mesma frequência emocional do Clien-
direto para o ramal desejado, sem passar pela telefonista . Isto só é te, quando esta for negativa. Exemplos:
possível em algumas CPCTs do tipo PABX.
- Pulso : Critério de medição de uma chamada por tempo, dis-
tância e horário.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Estas empresas que perdem 68% dos seus clientes, não contra-
O Cliente está... Reaja de forma oposta
tam profissionais com características básicas para atender o públi-
co, não treinam estes profissionais na postura adequada, não criam
Falando alto, gritando. Fale baixo, pausadamente. um padrão de atendimento e este passa a ser realizado de acordo
com as características individuais e o bom senso de cada um.
Irritado Mantenha a calma. A falta de noção clara da causa primária da perda de clientes
faz com que as empresas demitam os funcionários “porque eles não
Desafiando Não aceite. Ignore o desafio. sabem nem atender o cliente”. Parece até que o atendimento é a
tarefa mais simples da empresa e que menos merece preocupação.
Ao contrário, é a mais complexa e recheada de nuances que perpas-
Diga-lhe que é possível resolver o sam pela condição individual e por condições sistêmicas.
Ameaçando problema sem a necessidade de uma Estas condições sistêmicas estão relacionadas a:
ação extrema. 1. Falta de uma política clara de serviços;
2. Indefinição do conceito de serviços;
Diga-lhe que o compreende, que 3. Falta de um perfil adequado para o profissional de atendi-
Ofendendo gostaria que ele lhe desse uma opor- mento;
tunidade para ajudá-lo. 4. Falta de um padrão de atendimento;
5. Inexistência do follow up;
6. Falta de treinamento e qualificação de pessoal.
6ª – Equilíbrio Emocional
Em uma época em que manter um excelente relacionamento Nas condições individuais, podemos encontrar a contratação
com o Cliente é um pré-requisito de sucesso, ter um alto coeficien- de pessoas com características opostas ao necessário para atender
te de IE (Inteligência Emocional) é muito importante para todos os ao público, como: timidez, avareza, rebeldia...
profissionais, particularmente os que trabalham diretamente no
atendimento a Clientes. SERVIÇO E POSTURA DE ATENDIMENTO
Observando estas duas condições principais que causam a vin-
Você exercerá melhor sua Inteligência Emocional à medida que: culação ou o afastamento do cliente da empresa, podemos separar
 For paciente e compreensivo com o Cliente. a estrutura de uma empresa de serviços em dois itens: os serviços e
 Tiver uma crescente capacidade de separar as questões a postura de atendimento.
pessoais dos problemas da empresa. O SERVIÇO assume uma dimensão macro nas organizações e,
 Entender que o foco de “fúria” do Cliente não é você, mas, como tal, está diretamente relacionado ao próprio negócio.
sim, a empresa. Que você só está ali como uma espécie de “para- Nesta visão mais global, estão incluídas as políticas de servi-
-raios”. ços, a sua própria definição e filosofia. Aqui, também são tratados
 Não fizer pré julgamentos dos clientes. os aspectos gerais da organização que dão peso ao negócio, como:
 Entender que cada cliente é diferente do outro. o ambiente físico, as cores (pintura), os jardins. Este item, portan-
 Entender que para você o problema apresentado pelo to, depende mais diretamente da empresa e está mais relacionado
cliente é um entre dezenas de outros; para o cliente não, o proble- com as condições sistêmicas.
ma é único, é o problema dele.
 Entender que seu trabalho é este: atender o melhor pos- Já a POSTURA DE ATENDIMENTO, que é o tratamento dispensa-
sível. do às pessoas, está mais relacionado com o funcionário em si, com
 Entender que você e a empresa dependem do cliente, não as suas atitudes e o seu modo de agir com os clientes. Portanto, está
ele de vocês. ligado às condições individuais.
 Entender que da qualidade de sua REAÇÃO vai depender o É necessário unir estes dois pontos e estabelecer nas políticas
futuro da relação do cliente com a empresa. das empresas, o treinamento, a definição de um padrão de aten-
dimento e de um perfil básico para o profissional de atendimento,
POSTURA DE ATENDIMENTO - (Conduta/Bom senso/Cordia- como forma de avançar no próprio negócio. Dessa maneira, estes
lidade) dois itens se tornam complementares e inter-relacionados, com de-
pendência recíproca para terem peso.
A FUGA DOS CLIENTES Para conhecermos melhor a postura de atendimento, faz-se
As pesquisas revelam que 68% dos clientes das empresas fo- necessário falar do Verdadeiro profissional do atendimento.
gem delas por problemas relacionados à postura de atendimento.
Numa escala decrescente de importância, podemos observar Os três passos do verdadeiro profissional de atendimento:
os seguintes percentuais: 01. Entender o seu VERDADEIRO PAPEL, que é o de compre-
 68% dos clientes fogem das empresas por problemas de ender e atender as necessidades dos clientes, fazer com que ele
postura no atendimento; seja bem recebido, ajudá-lo a se sentir importante e proporcioná-lo
 14% fogem por não terem suas reclamações atendidas; um ambiente agradável. Este profissional é voltado completamente
 9% fogem pelo preço; para a interação com o cliente, estando sempre com as suas ante-
 9% fogem por competição, mudança de endereço, morte. nas ligadas neste, para perceber constantemente as suas necessida-
des. Para este profissional, não basta apenas conhecer o produto ou
A origem dos problemas está nos sistemas implantados nas serviço, mas o mais importante é demonstrar interesse em relação
organizações, muitas vezes obsoletos. Estes sistemas não definem às necessidades dos clientes e atendê-las.
uma política clara de serviços, não definem o que é o próprio ser- 02. Entender o lado HUMANO, conhecendo as necessidades
viço e qual é o seu produto. Sem isso, existe muita dificuldade em dos clientes, aguçando a capacidade de perceber o cliente. Para
satisfazer plenamente o cliente. entender o lado humano, é necessário que este profissional tenha

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
uma formação voltada para as pessoas e goste de lidar com gente. O olhar
Se espera que ele fique feliz em fazer o outro feliz, pois para este Os olhos transmitem o que está na nossa alma. Através do
profissional, a felicidade de uma pessoa começa no mesmo instante olhar, podemos passar para as pessoas os nossos sentimentos mais
em que ela cessa a busca de sua própria felicidade para buscar a profundos, pois ele reflete o nosso estado de espírito.
felicidade do outro. Ao analisar a expressão do olhar, não vamos nos prender so-
03. Entender a necessidade de manter um ESTADO DE ESPÍRITO mente a ele, mas a fisionomia como um todo para entendermos o
POSITIVO, cultivando pensamentos e sentimentos positivos, para real sentido dos olhos.
ter atitudes adequadas no momento do atendimento. Ele sabe que Um olhar brilhante transmite ao cliente a sensação de acolhi-
é fundamental separar os problemas particulares do dia a dia do mento, de interesse no atendimento das suas necessidades, de von-
trabalho e, para isso, cultiva o estado de espírito antes da chegada tade de ajudar. Ao contrário, um olhar apático, traduz fraqueza e
do cliente. O primeiro passo de cada dia, é iniciar o trabalho com a desinteresse, dando ao cliente, a impressão de desgosto e dissabor
consciência de que o seu principal papel é o de ajudar os clientes pelo atendimento.
a solucionarem suas necessidades. A postura é de realizar serviços Mas, você deve estar se perguntando: O que causa este brilho
para o cliente. nos nossos olhos ? A resposta é simples:
Gostar do que faz, gostar de prestar serviços ao outro, gostar
Os requisitos para contratação deste profissional de ajudar o próximo.
Para trabalhar com atendimento ao público, alguns requisitos Para atender ao público, é preciso que haja interesse e gosto,
são essenciais ao atendente. São eles: pois só assim conseguimos repassar uma sensação agradável para
 Gostar de SERVIR, de fazer o outro feliz. o cliente. Gostar de atender o público significa gostar de atender
 Gostar de lidar com gente. as necessidades dos clientes, querer ver o cliente feliz e satisfeito.
 Ser extrovertido.
 Ter humildade. Como o olhar revela a atitude da mente, ele pode transmitir:
 Cultivar um estado de espírito positivo. 01. Interesse quando:
 Satisfazer as necessidades do cliente.  Brilha;
 Cuidar da aparência.  Tem atenção;
 Vem acompanhado de aceno de cabeça.
Com estes requisitos, o sinal fica verde para o atendimento.
A POSTURA pode ser entendida como a junção de todos os as- 02. Desinteresse quando:
pectos relacionados com a nossa expressão corporal na sua totali-  É apático;
dade e nossa condição emocional.  É imóvel, rígido;
Podemos destacar 03 pontos necessários para falarmos de  Não tem expressão.
POSTURA. São eles:
01. Ter uma POSTURA DE ABERTURA: que se caracteriza por um O olhar desbloqueia o atendimento, pois quebra o gelo. O olhar
posicionamento de humildade, mostrando-se sempre disponível nos olhos dá credibilidade e não há como dissimular com o olhar.
para atender e interagir prontamente com o cliente. Esta POSTURA A aproximação - raio de ação.
DE ABERTURA do atendente suscita alguns sentimentos positivos A APROXIMAÇÃO do cliente está relacionada ao conceito de
nos clientes, como por exemplo: RAIO DE AÇÃO, que significa interagir com o público, independente
a) postura do atendente de manter os ombros abertos e o peito deste ser cliente ou não.
aberto, passa ao cliente um sentimento de receptividade e acolhi- Esta interação ocorre dentro de um espaço físico de 3 metros
mento; de distância do público e de um tempo imediato, ou seja, pronta-
b) deixar a cabeça meio curva e o corpo ligeiramente inclinado mente.
transmite ao cliente a humildade do atendente; Além do mais, deve ocorrer independentemente do funcioná-
c) o olhar nos olhos e o aperto de mão firme traduzem respeito rio estar ou não na sua área de trabalho. Estes requisitos para a
e segurança; interação, a tornam mais eficaz.
d) a fisionomia amistosa, alenta um sentimento de afetividade Esta interação pode se caracterizar por um cumprimento ver-
e calorosidade. bal, uma saudação, um aceno de cabeça ou apenas por um aceno
de mão. O objetivo com isso, é fazer o cliente sentir-se acolhido e
02. Ter SINTONIA ENTRE FALA E EXPRESSÃO CORPORAL: que se certo de estar recebendo toda a atenção necessária para satisfazer
caracteriza pela existência de uma unidade entre o que dizemos e o os seus anseios.
que expressamos no nosso corpo.
Quando fazemos isso, nos sentimos mais harmônicos e confor- Alguns exemplos são:
táveis. Não precisamos fingir, mentir ou encobrir os nossos senti- 1. No hotel, a arrumadeira está no corredor com o carrinho de
mentos e eles fluem livremente. Dessa forma, nos sentimos mais limpeza e o hóspede sai do seu apartamento. Ela prontamente olha
livres do stress, das doenças, dos medos. para ele e diz com um sorriso: “bom dia!”.
2. O caixa de uma loja que cumprimenta o cliente no momento
03. As EXPRESSÕES FACIAIS: das quais podemos extrair dois as- do pagamento;
pectos: o expressivo, ligado aos estados emocionais que elas tradu- 3. O frentista do posto de gasolina que se aproxima ao ver o
zem e a identificação destes estados pelas pessoas; e a sua função carro entrando no posto e faz uma sudação...
social que diz em que condições ocorreu a expressão, seus efeitos
sobre o observador e quem a expressa. A INVASÃO
Podemos concluir, entendendo que, qualquer comportamento Mas, interagir no RAIO DE AÇÃO não tem nada a ver com INVA-
inclui posturas e é sempre fruto da interação complexa entre o or- SÃO DE TERRITÓRIO.
ganismo e o seu meio ambiente. Vamos entender melhor isso.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Todo ser humano sente necessidade de definir um TERRITÓ- No mínimo seremos obrigados a dizer que será difícil a empre-
RIO, que é um certo espaço entre si e os estranhos. Este território sa ter uma segunda chance para tentar mudar a impressão inicial,
não se configura apenas em um espaço físico demarcado, mas prin- se esta foi negativa, pois dificilmente o cliente irá voltar.
cipalmente num espaço pessoal e social, o que podemos traduzir É muito mais difícil e também mais caro, trazer de volta o clien-
como a necessidade de privacidade, de respeito, de manter uma te perdido, aquele que foi mal atendido ou que não teve os seus
distância ideal entre si e os outros de acordo com cada situação. desejos satisfeitos.
Quando estes territórios são invadidos, ocorrem cortes na Estes clientes perdem a confiança na empresa e normalmen-
privacidade, o que normalmente traz consequências negativas. te os custos para resgatá-la, são altos. Alguns mecanismos que as
Podemos exemplificar estas invasões com algumas situações corri- empresas adotam são os contatos via telemarketing, mala-direta,
queiras: uma piada muito picante contada na presença de pessoas visitas, mas nem sempre são eficazes.
estranhas a um grupo social; ficar muito próximo do outro, quase se A maioria das empresas não têm noção da quantidade de clien-
encostando nele; dar um tapinha nas costas... tes perdidos durante a sua existência, pois elas não adotam meca-
Nas situações de atendimento, são bastante comuns as inva- nismos de identificação de reclamações e/ou insatisfações destes
sões de território pelos atendentes. Estas, na sua maioria, causam clientes. Assim, elas deixam escapar as armas que teriam para re-
mal-estar aos clientes, pois são traduzidas por eles como atitudes forçar os seus processos internos e o seu sistema de trabalho.
grosseiras e poucos sensíveis. Alguns são os exemplos destas atitu- Quando as organizações atentam para essa importância, elas
des e situações mais comuns: passam a aplicar instrumentos de medição.
 Insistência para o cliente levar um item ou adquirir um Mas, estes coletores de dados nem sempre traduzem a realida-
bem; de, pois muitas vezes trazem perguntas vagas, subjetivas ou pedem
 Seguir o cliente por toda a loja; a opinião aberta sobre o assunto.
 O motorista de taxi que não pára de falar com o cliente Dessa forma, fica difícil mensurar e acaba-se por não colher as
passageiro; informações reais.
 O garçom que fica de pé ao lado da mesa sugerindo pratos A saída seria criar medidores que traduzissem com fatos e da-
sem ser solicitado; dos, as verdadeiras opiniões do cliente sobre o serviço e o produto
adquiridos da empresa.
 O funcionário que cumprimenta o cliente com dois beiji-
nhos e tapinhas nas costas;
Apresentação pessoal
 O funcionário que transfere a ligação ou desliga o telefone
Que imagem você acha que transmitimos ao cliente quando o
sem avisar.
atendemos com as unhas sujas, os cabelos despenteados, as roupas
mal cuidadas... ?
Estas situações não cabem na postura do verdadeiro profissio-
O atendente está na linha de frente e é responsável pelo conta-
nal do atendimento.
to, além de representar a empresa neste momento. Para transmitir
confiabilidade, segurança, bons serviços e cuidado, se faz necessá-
O sorriso rio, também, ter uma boa apresentação pessoal.
O SORRISO abre portas e é considerado uma linguagem uni- Alguns cuidados são essenciais para tornar este item mais com-
versal. pleto. São eles:
Imagine que você tem um exame de saúde muito importante 01. Tomar um BANHO antes do trabalho diário: além da função
para receber e está apreensivo com o resultado. Você chega à clí- higiênica, também é revigorante e espanta a preguiça;
nica e é recebido por uma recepcionista que apresenta um sorriso 02. Cuidar sempre da HIGIENE PESSOAL: unhas limpas, cabelos
caloroso. Com certeza você se sentirá mais seguro e mais confiante, cortados e penteados, dentes cuidados, hálito agradável, axilas as-
diminuindo um pouco a tensão inicial. Neste caso, o sorriso foi in- seadas, barba feita;
terpretado como um ato de apaziguamento. 03. Roupas limpas e conservadas;
O sorriso tem a capacidade de mudar o estado de espírito das 04. Sapatos limpos;
pessoas e as pesquisas revelam que as pessoas sorridentes são ava- 05. Usar o CRACHÁ DE IDENTIFICAÇÃO, em local visível pelo
liadas mais favoravelmente do que as não sorridentes. cliente.
O sorriso é um tipo de linguagem corporal, um tipo de comu-
nicação não-verbal . Como tal, expressa as emoções e geralmente Quando estes cuidados básicos não são tomados, o cliente se
informa mais do que a linguagem falada e a escrita. Dessa forma, questiona : “ puxa, se ele não cuida nem dele, da sua aparência
podemos passar vários tipos de sentimentos e acarretar as mais di- pessoal, como é que vai cuidar de me prestar um bom serviço ? “
versas emoções no outro. A apresentação pessoal, a aparência, é um aspecto importante
para criar uma relação de proximidade e confiança entre o cliente
Ir ao encontro do cliente e o atendente.
Ir ao encontro do cliente é um forte sinal de compromisso no
atendimento, por parte do atendente. Este item traduz a importân- Cumprimento caloroso
cia dada ao cliente no momento de atendimento, na qual o aten- O que você sente quando alguém aperta a sua mão sem fir-
dente faz tudo o que é possível para atender as suas necessidades, meza ?
pois ele compreende que satisfazê-las é fundamental. Indo ao en- Às vezes ouvimos as pessoas comentando que se conhece al-
contro do cliente, o atendente demonstra o seu interesse para com guém, a sua integridade moral, pela qualidade do seu aperto de
ele. mão.
O aperto de mão “ frouxo “ transmite apatia, passividade, baixa
A primeira impressão energia, desinteresse, pouca interação, falta de compromisso com
Você já deve ter ouvido milhares de vezes esta frase: A PRIMEI- o contato.
RA IMPRESSÃO É A QUE FICA. Ao contrário, o cumprimento muito forte, do tipo que machuca
Você concorda com ela? a mão, ao invés de trazer uma mensagem positiva, causa um mal
estar, traduzindo hiperatividade, agressividade, invasão e desres-

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
peito. O ideal é ter um cumprimento firme, que prenda toda a mão, Agilidade
mas que a deixe livre, sem sufocá-la. Este aperto de mão demons- Atender com agilidade significa ter rapidez sem perder a quali-
tra interesse pelo outro, firmeza, bom nível de energia, atividade e dade do serviço prestado.
compromisso com o contato. A agilidade no atendimento transmite ao cliente a idéia de res-
É importante lembrar que o cumprimento deve estar associado peito. Sendo ágil, o atendente reconhece a necessidade do cliente
ao olhar nos olhos, a cabeça erguida, os ombros e o peito abertos, em relação à utilização adequada do seu tempo.
totalizando uma sintonia entre fala e expressão corporal. Quando há agilidade, podemos destacar:
Não se esqueça: apesar de haver uma forma adequada de cum-  o atendimento personalizado;
primentar, esta jamais deverá ser mecânica e automática.  a atenção ao assunto;
 o saber escutar o cliente;
Tom de voz  cuidar das solicitações e acompanhar o cliente durante
A voz é carregada de magnetismo e como tal, traz uma onda de todo o seu percurso na empresa.
intensa vibração. O tom de voz e a maneira como dizemos as pala-
vras, são mais importantes do que as próprias palavras. O calor no atendimento
Podemos dizer ao cliente: “a sua televisão deveria sair hoje do O atendimento caloroso evita dissabores e situações constran-
conserto, mas por falta de uma peça, ela só estará pronta na próxi- gedoras, além de ser a comunhão de todos os pontos estudados
ma semana “. De acordo com a maneira que dizemos e de acordo sobre postura.
com o tom de voz que usamos, vamos perceber reações diferentes O atendente escolhe a condição de atender o cliente e para
do cliente. isto, é preciso sempre lembrar que o cliente deseja se sentir impor-
Se dizemos isso com simpatia, naturalmente nos desculpando tante e respeitado. Na situação de atendimento, o cliente busca ser
pela falha e assumindo uma postura de humildade, falando com reconhecido e, transmitindo calorosidade nas atitudes, o atendente
calma e num tom amistoso e agradável, percebemos que a reação satisfaz as necessidades do cliente de estima e consideração.
do cliente será de compreensão. Ao contrário, o atendimento áspero, transmite ao cliente a
Por outro lado, se a mesma frase é dita de forma mecânica, sensação de desagrado, descaso e desrespeito, além de retornar ao
estudada, artificial, ríspida, fria e com arrogância, poderemos ter atendente como um bumerangue.
um cliente reagindo com raiva, procurando o gerente, gritando... O EFEITO BUMERANGUE é bastante comum em situações de
As palavras são símbolos com significados próprios. A forma atendimento, pois ele reflete o nível de satisfação, ou não, do clien-
como elas são utilizadas também traz o seu significado e com isso, te em relação ao atendente. Com este efeito, as atitudes batem e
cada palavra tem a sua vibração especial. voltam, ou seja, se você atende bem, o cliente se sente bem e trata
o atendente com respeito. Se este atende mal, o cliente reage de
Saber escutar forma negativa e hostil. O cliente não está na esteira da linha de
Você acha que existe diferença entre OUVIR e ESCUTAR? Se produção, merecendo ser tratado com diferenciação e apreço.
você respondeu que não, você errou. Precisamos ter em atendimento, pessoas descontraídas, que
Escutar é muito mais do que ouvir, pois é captar o verdadeiro façam do ato de atender o seu verdadeiro sentido de vida, que é
sentido, compreendendo e interpretando a essência, o conteúdo da SERVIR AO PRÓXIMO.
comunicação. Atitudes de apatia, frieza, desconsideração e hostilidade, re-
O ato de ESCUTAR está diretamente relacionado com a nossa tratam bem a falta de calor do atendente. Com estas atitudes, o
capacidade de perceber o outro. E, para percebermos o outro, o atendente parece estar pedindo ao cliente que este se afaste, vá
cliente que está diante de nós, precisamos nos despojar das bar- embora, desapareça da sua frente, pois ele não é bem vindo. Assim,
reiras que atrapalham e empobrecem o processo de comunicação. o atendente esquece que a sua MISSÃO é SERVIR e fazer o cliente
São elas: FELIZ.
* os nossos PRECONCEITOS;
* as DISTRAÇÕES; As gafes no atendimento
* os JULGAMENTOS PRÉVIOS; Depois de conhecermos a postura correta de atendimento,
* as ANTIPATIAS. também é importante sabermos quais são as formas erradas, para
jamais praticá-las. Quem as pratica, com certeza não é um verdadei-
Para interagirmos e nos comunicarmos a contento, precisamos ro profissional de atendimento. Podemos dividi-las em duas partes,
compreender o TODO, captando os estímulos que vêm do outro, que são:
fazendo uma leitura completa da situação.
Precisamos querer escutar, assumindo uma postura de recepti- Postura inadequada
vidade e simpatia, afinal, nós temos dois ouvidos e uma boca, o que A postura inadequada é abrangente, indo desde a postura física
nos sugere que é preciso escutar mais do que falar. ao mais sutil comentário negativo sobre a empresa na presença do
Quando não sabemos escutar o cliente - interrompendo-o, fa- cliente.
lando mais que ele, dividindo a atenção com outras situações - tira- Em relação à postura física, podemos destacar como inadequa-
mos dele, a oportunidade de expressar os seus verdadeiros anseios do, o atendente:
e necessidades e corremos o risco de aborrecê-lo, pois não iremos * se escorar nas paredes da loja ou debruçar a cabeça no seu
conseguir atende-las. birô por não estar com o cliente (esta atitude impede que ele inte-
A mais poderosa forma de escutar é a empatia ( que vamos raja no raio de ação);
conhecer mais na frente ). Ela nos permite escutar de fato, os sen- * mascar chicletes ou fumar no momento do atendimento;
timentos por trás do que está sendo dito, mas, para isso, é preciso * cuspir ou tirar meleca na frente do cliente (estas coisas só
que o atendente esteja sintonizado emocionalmente com o cliente. devem ser feitas no banheiro);
Esta sintonia se dá através do despojamento das barreiras que já * comer na frente do cliente (comum nas empresas que ofere-
falamos antes. cem lanches ou têm cantina);
* gritar para pedir alguma coisa;

38
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
* se coçar na frente do cliente; Este verdadeiro profissional trabalha em cada momento da
* bocejar (revela falta de interesse no atendimento). verdade, considerando-o único e fundamental para definir a satis-
fação do cliente. Ele se fundamenta na chamada TRÍADE DO ATEN-
Em relação aos itens mais sutis, podemos destacar: DIMENTO OU TRIÂNGULO DO ATENDIMENTO, que é composto de
* se achar íntimo do cliente a ponto de lhe pedir carona, por elementos básicos do processo de interação, que são:
exemplo;
* receber presentes do cliente em troca de um bom serviço; A ) a pessoa
* fazer críticas a outros setores, pessoas, produtos ou serviços A pessoa mais importante é aquela que está na sua frente. En-
na frente do cliente; tão, podemos entender que a pessoa mais importante é o cliente
* desmerecer ou criticar o fabricante do produto que vende, o que está na frente e precisa de atenção.
parceiro da empresa, denegrindo a sua imagem para o cliente; No Momento da Verdade, o atendente se relaciona diretamen-
* falar mau das pessoas na sua ausência e na presença do clien- te com o cliente, tentando atender a todas as suas necessidades.
te; Não existe outra forma de atender, a não ser pelo contato direto e,
* usar o cliente como desabafo dos problemas pessoais; portanto, a pessoa fundamental neste momento é o cliente.
* reclamar na frente do cliente;
* lamentar; B ) a hora
* colocar problemas salariais; A hora mais importante das nossas vidas é o agora, o presente,
* “ lavar a roupa suja “ na frente do cliente. pois somente nele podemos atuar.
O passado ficou para atrás, não podendo ser mudado e o fu-
LEMBRE-SE: A ÉTICA DO TRABALHO É SERVIR AOS OUTROS E turo não nos cabe conhecer. Então, só nos resta o presente como
NÃO SE SERVIR DOS OUTROS. fonte de atuação. Nele, podemos agir e transformar. O aqui e agora
são os únicos momentos nos quais podemos interagir e precisamos
Usar chavões fazer isto da melhor forma.
O mau profissional utiliza-se de alguns chavões como forma de
C ) a tarefa
fugir à sua responsabilidade no atendimento ao cliente. Citamos
Para finalizar, falamos da tarefa. A nossa tarefa mais importante
aqui, os mais comuns:
diante desta pessoa mais importante para nós, na hora mais impor-
tante que é o aqui e o agora, é FAZER O CLIENTE FELIZ, atendendo
PARE E REFLITA: VOCÊ GOSTARIA DE SER COMPARADO A ESTE
as suas necessidades.
ATENDENTE?
Esta tríade se configura no fundamento dos Momentos da Ver-
* o senhor como cliente TEM QUE ENTENDER...
dade e, para que estes sejam plenos, é necessário que os funcioná-
* o senhor DEVERIA AGRADECER O QUE A EMPRESA FAZ PELO
rios de linha de frente, ou seja, que atendem os clientes, tenham
SENHOR... poder de decisão. É necessário que os chefes concedam autonomia
* o CLIENTE É UM CHATO QUE SEMPRE QUER MAIS... aos seus subordinados para atuarem com precisão nos Momentos
* AÍ VEM ELE DE NOVO... da Verdade.
Estas frases geram um bloqueio mental, dificultando a libera- Teleimagem
ção do lado bom da pessoa que atende o cliente. Através do telefone, o atendente transmite a TELEIMAGEM da
Aqui, podemos ter o efeito bumerangue, que torna um círculo empresa e dele mesmo.
vicioso na postura inadequada, pois, o atendente usa os chavões TELEIMAGEM, então, é a imagem que o cliente forma na sua
(pensa dessa forma em relação ao cliente e a situação de atendi- mente ( imagem mental ) sobre quem o está atendendo e , con-
mento ), o cliente se aborrece e descarrega no atendente, ou sim- sequentemente, sobre a empresa ( que é representada por este
plesmente não volta mais. atendente).
Para quebrar este ciclo, é preciso haver uma mudança radical Quando a TELEIMAGEM é positiva, a facilidade do cliente enca-
no pensamento e postura do atendente. minhar os seus negócios é maior, pois ele supõe que a empresa é
comprometida com o cliente. No entanto, se a imagem é negativa,
Impressões finais do cliente vemos normalmente o cliente fugindo da empresa. Como no aten-
Toda a postura e comportamento do atendente vai levar o dimento telefônico, o único meio de interação com o cliente, é atra-
cliente a criar uma impressão sobre o atendimento e, consequente- vés da palavra e sendo a palavra o instrumento, faz-se necessário
mente, sobre a empresa. usá-la de forma adequada para satisfazer as exigências do cliente.
Duas são as formas de impressões finais mais comuns do clien- Dessa forma, classificamos 03 itens básicos ligados a palavra e as
te: atitudes, como fundamentais na formação da TELEIMAGEM.
1) MOMENTO DA VERDADE: através do contato direto (pesso-
al) e/ou telefônico com o atendente; São eles:
2) TELEIMAGEM: através do contato telefônico. Vamos conhe- 01. O tom de voz: é através dele que transmitimos interesse e
cê-las com mais detalhes. atenção ao cliente. Ao usarmos um tom frio e distante, passamos
ao cliente, a ideia de desatenção e desinteresse.
Momentos da verdade Ao contrário, se falamos com entusiasmo, de forma decidida e
Segundo Karl Albrecht, Momento da Verdade é qualquer epi- atenciosamente, satisfazemos as necessidades do cliente de sentir-
sódio no qual o cliente entra em contato com qualquer aspecto da -se assistido, valorizado, respeitado, importante.
organização e obtem uma impressão da qualidade do seu serviço.
O funcionário tem poucos minutos para fixar na mente do 02. O uso de PALAVRAS ADEQUADAS: pois com elas o atenden-
cliente a imagem da empresa e do próprio serviço prestado. Este é te passa a ideia de respeito pelo cliente. Aqui fica expressamente
o momento que separa o grande profissional dos demais. PROIBIDO o uso de termos como: amor, bem, benzinho, chuchu,
mulherzinha, queridinha, colega...

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
03. As ATITUDES CORRETAS: dando ao cliente, a impressão de PERCEPÇÃO
educação e respeito. São INCORRETAS as atitudes de transferir a li- PERCEPÇÃO é a capacidade que temos de compreender e cap-
gação antes do cliente concluir o que iniciou a falar; passar a ligação tar as situações, o que exige sintonia e é fundamental no processo
para a pessoa ou ramal errado ( mostrando com isso que não ouviu de atendimento ao público. Para percebermos melhor, precisamos
o que ele disse ); desligar sem cumprimento ou saudação; dividir a passar pelo “esvaziamento” de nós mesmos, ficando assim, mais
atenção com outras conversas; deixar o telefone tocar muitas vezes próximos do outro. Mas, como é isso? Vamos ficar vazios? É isso
sem atender; dar risadas no telefone. mesmo. Vamos ficar vazios dos nossos preconceitos, das nossas an-
tipatias, dos nossos medos, dos nossos bloqueios, vamos observar
Aspectos psicológicos do atendente as situações na sua totalidade, para entendermos melhor o que o
Nós falamos sobre a importância da postura de atendimento. cliente deseja. Vamos ilustrar com um exemplo real: certa vez, em
Porém, a base dela está nos aspectos psicológicos do atendimento. uma loja de carros, entra um senhor de aproximadamente 65 anos,
Vamos a eles. usando um chapéu de palha, camiseta rasgada e calça amarrada na
cintura por um barbante. Ele entrou na sala do gerente, que imedia-
Empatia tamente se levantou pedindo para ele se retirar, pois não era permi-
O termo empatia deriva da palavra grega EMPATHÉIA, que sig- tido “pedir esmolas ali “. O senhor com muita paciência, retirou de
nifica entrar no sentimento. Portanto, EMPATIA é a capacidade de um saco plástico que carregava, um “bolo“ de dinheiro e disse: “eu
nos colocarmos no lugar do outro, procurando sempre entender quero comprar aquele carro ali”.
as suas necessidades, os seus anseios, os seus sentimentos. Dessa Este exemplo, apesar de extremo, é real e retrata claramente o
forma, é uma aptidão pessoal fundamental na relação atendente - que podemos fazer com o outro quando pré-julgamos as situações.
cliente. Para conseguirmos ser empáticos, precisamos nos despojar Precisamos ver o TODO e não só as partes, pois o todo é muito
dos nossos preconceitos e preferências, evitando julgar o outro a mais do que a soma das partes. Ele nos diz o que é e não é harmôni-
partir de nossas referências e valores. co e com ele percebemos a essência dos fatos e situações.
A empatia alimenta-se da autoconsciência, que significa estar- Ainda falando em PERCEPÇÃO, devemos ter cuidado com a
mos abertos para conhecermos as nossas emoções. Quanto mais PERCEPÇÃO SELETIVA, que é uma distorção de percepção, na qual
isto acontece, mais hábeis seremos na leitura dos sentimentos dos vemos, escutamos e sentimos apenas aquilo que nos interessa. Esta
outros. Quando não temos certeza dos nossos próprios sentimen- seleção age como um filtro, que deixa passar apenas o que convém.
tos, dificilmente conseguimos ver os dos outros. Esta filtragem está diretamente relacionada com a nossa condição
E, a chave para perceber os sentimentos dos outros, está na física-psíquica emocional. Como é isso? Vamos entender:
capacidade de interpretar os canais não verbais de comunicação a)Se estou com medo de passar em rua deserta e escura, a
do outro, que são: os gestos, o tom de voz, as expressões faciais... sombra do galho de uma árvore pode me assustar, pois eu posso
Esta capacidade de empatizar-se com o outro, está ligada ao percebê-lo como um braço com uma faca para me apunhalar;
envolvimento: sentir com o outro é envolver-se. Isto requer uma b) Se estou com muita fome, posso ter a sensação de um cheiro
atitude muito sublime que se chama HUMILDADE. Sem ela é impos- agradável de comida;
sível ser empático. c) Se fiz algo errado e sou repreendida, posso ouvir a parte mais
Quando não somos humildes, vemos as pessoas de maneira amena da repreensão e reprimir a mais severa.
deturpada, pois olhamos através dos óculos do orgulho e do egoís-
mo, com os quais enxergamos apenas o nosso pequenino mundo. Em alguns casos, a percepção seletiva age como mecanismo
O orgulho e o egoísmo são dois males que atacam a humanida- de defesa.
de, impedindo-a de ser feliz.
O ESTADO INTERIOR
Com eles, não conseguimos sair do nosso mundinho , crian-
O ESTADO INTERIOR, como o próprio nome sugere, é a condi-
do uma couraça ao nosso redor para nos proteger. Com eles, nós
ção interna, o estado de espírito diante das situações.
achamos que somos tudo o que importa e esquecemos de olhar
A atitude de quem atende o público está diretamente relacio-
para o outro e perguntar como ele está, do que ele precisa, em que
nada ao seu estado interior. Ou seja, se o atendente mantém um
podemos ajudar.
equilíbrio interno, sem tensões ou preocupações excessivas, as suas
Esquecemos de perceber principalmente os seus sentimentos
atitudes serão mais positivas frente ao cliente.
e necessidades. Com o orgulho e o egoísmo, nos tornamos vaidosos Dessa forma, o estado interior está ligado aos pensamentos e
e passamos a ver os outros de acordo com o que estes óculos regis- sentimentos cultivados pelo atendente. E estes, dão suporte as ati-
tram: os nossos preconceitos, nossos valores, nossos sentimentos... tudes frente ao cliente.
Sendo orgulhosos e egoístas não sabemos AMAR, não sabemos Se o estado de espírito supõe sentimentos e pensamentos ne-
repartir, não sabemos doar. gativos, relacionados ao orgulho, egoísmo e vaidade, as atitudes
Só queremos tudo para nós, só “amamos” a nós mesmos, só advindas deste estado, sofrerão as suas influências e serão:
lembramos de nós. É aqui que a empatia se deteriora, quando os * Atitudes preconceituosas;
nossos próprios sentimentos são tão fortes que não permitem har- * Atitudes de exclusão e repulsa;
monização com o outro e passam por cima de tudo. * Atitudes de fechamento;
OS EGOÍSTAS E ORGULHOSOS NÃO PODEM TRABALHAR COM * Atitudes de rejeição.
O PÚBLICO, POIS ELES NÃO TÊM CAPACIDADE DE SE COLOCAR NO
LUGAR DO OUTRO E ENTENDER OS SEUS SENTIMENTOS E NECES- É necessário haver um equilíbrio interno, uma estabilidade,
SIDADES. para que o atendente consiga manter uma atitude positiva com os
clientes e as situações.
Ao contrário dos egoístas, os empáticos são altruístas, pois
as raízes da moralidade estão na empatia. Para concluir, podemos O ENVOLVIMENTO
lembrar a frase de Saint-Exupéry no livro O Pequeno Príncipe: “Só A demonstração de interesse, prestando atenção ao cliente e
se vê bem com o coração; o essencial é invisível aos olhos“. Isto é voltando-se inteiramente ao seu atendimento, é o caminho para o
empatia. verdadeiro sentido de atender.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Na área de serviços, o produto é o próprio serviço prestado, No atendimento ao público, é fundamental haver autonomia
que se traduz na INTERAÇÃO do funcionário com o cliente. Um ser- do pessoal de linha de frente e é uma das condições básicas para o
viço é, então, um resultado psicológico e pessoal que depende de sucesso deste tipo de trabalho.
fatores relacionados com a interação com o outro. Quando o aten- Mas, para ter autonomia se faz necessário um mínimo de poder
dente tem um envolvimento baixo com o cliente, este percebe com para atuar de acordo com a situação e esse poder deve ser conquista-
clareza a sua falta de compromisso. As preocupações excessivas, o do. O poder aos funcionários serve para agilizar o negócio. Às vezes, a
trabalho estafante, as pressões exacerbadas, a falta deliderança, o falta de autonomia se relaciona com fraca liderança do chefe.
nível de burocracia, são fatores que contribuem para uma intera-
ção fraca com o cliente. Esta fraqueza de envolvimento não permite Para o cliente, a autonomia traduz a ideia de agilidade, desbu-
captar a essência dos desejos do cliente, o que se traduz em insatis- rocratização, respeito, compromisso, organização.
fação. Um exemplo simples disso é a divisão de atenção por parte Com ela, o cliente não é jogado de um lado para o outro , não
do atendente. Quando este divide a atenção no atendimento entre precisa passear pela empresa, ouvindo dos atendentes: “Esse as-
o cliente e os colegas ou outras situações, o cliente sente-se desres- sunto eu não resolvo; é só com o fulano; procure outro setor...”
peitado, diminuído e ressentido. A sua impressão sobre a empresa A autonomia na ponta, na linha de frente, demonstra que a
é de fraqueza e o Momento da Verdade é pobre. empresa está totalmente voltada para o cliente, pois todo o sistema
Esta ação traz consequências negativas como: impossibilidade funciona para atendê-lo integralmente, e essa postura é vital, visto
de escutar o cliente, falta de empatia, desrespeito com o seu tem- que a imagem transmitida pelo atendente é a imagem que será ge-
po, pouca agilidade, baixo compromisso com o atendimento. rada no cliente em relação à organização, dessa forma, ao atender,
Às vezes, a própria empresa não oferece uma estrutura ade- o atendente precisa se lembrar que naquele cargo, ele representa
quada para o atendimento ao público, obrigando o atendente a di- uma marca, uma instituição, um nome, e que todas as suas atitudes
vidir o seu trabalho entre atendimento pessoal e telefônico, quando devem estar em conformidade com a proposta de visão que essa
normalmente há um fluxo grande de ambos no setor. Neste caso, o organização possui, focando sempre em um atendimento efetiva-
ideal seria separar os dois tipos de atendimento, evitando proble- mente eficaz e de qualidade.
mas desta espécie.
Alguns exemplos comuns de divisão de atenção são:
* atender pessoalmente e interromper com o telefone ESTRATÉGIAS PARA OBTER SUSTENTAÇÃO AO PRO-
* atender o telefone e interromper com o contato direto CESSO DE MUDANÇA
* sair para tomar café ou lanchar
* conversar com o colega do lado sobre o final de semana, fé-
rias, namorado, tudo isso no momento de atendimento ao cliente. A área de Administração de Recursos Humanos (ARH), atual-
mente conhecida como Gestão de Pessoas, surgiu a partir de uma
Estes exemplos, muitas vezes, soam ao cliente como um exibi- necessidade global das organizações de evoluírem no sentido de
cionismo funcional, o que não agrega valor ao trabalho. O cliente desenvolver seus colaboradores e tornarem-se mais competitivas
deve ser poupado dele. no mercado9.
Nas empresas e grandes indústrias, após a Era Industrial, com
Os desafios do profissional de atendimento o surgimento das tecnologias injetadas nas máquinas e equipamen-
Mas, nem tudo é tão fácil no trabalho de atender. Algumas si- tos para aceleração da produtividade, o empresário notou que os
tuações exigem um alto grau de maturidade do atendente e é nes- investimentos de uma organização não poderiam ser voltados so-
tes momentos que este profissional tem a grande oportunidade de mente à produção e ao lucro.
mostrar o seu real valor. Aqui estão duas destas situações. De modo gradativo, percebeu-se que aquele antigo sistema das
organizações, com ênfase nos recursos tecnológicos, materiais e pa-
trimoniais, foi sendo tomado pela grande necessidade de investir
Encantando o cliente
nas pessoas. Tais recursos são considerados hoje como primordiais
Fazer apenas o que está definido pela empresa como sendo o
para a engrenagem dos negócios em qualquer área ou setor de
seu padrão de atendimento, pode até satisfazer as necessidades do
atuação.
cliente, mas talvez não ultrapasse o normal.
Com os deveres abusivos impostos pelos proprietários das in-
Encantar o cliente é exatamente aquele algo mais que faz a
dústrias, houve uma grande revolta dos operários ou trabalhadores,
grande diferença no atendimento.
surgiram os direitos trabalhistas, de forma a resguardar as condi-
ções de trabalho, assegurando assim, maior qualidade de vida.
Atuação extra Porém, as pessoas ainda não eram vistas como um bem neces-
A ATUAÇÃO EXTRA é uma forma de encantar o cliente que se sário ao desenvolvimento do negócio. Ainda não se tinha a percep-
caracteriza por atitudes ou ações do atendente, não estabelecidas ção da significância que as pessoas representavam, pois estas são
nos procedimentos de trabalho. É produzir um serviço acima da ex- formadas de habilidades e competências.
pectativa do cliente. Habilidades são as capacidades técnicas que um indivíduo
possui para realizar determinadas tarefas ou atividades. Já a com-
Autonomia petência seria a soma de talento com a habilidade, como um pro-
Na verdade, a autonomia não deveria estar no encantamento fissional que gosta do que faz e, portanto, coloca em prática da me-
do cliente; ela deveria fazer parte da estrutura da empresa. Mas, lhor forma possível.
nem sempre a realidade é esta. Colocamos aqui porque o consumi- Sendo assim, as pessoas dotadas com as habilidades e com-
dor brasileiro ainda se encanta ao encontrar numa loja, um balco- petências podem contribuir para o futuro de uma organização. As
nista que pode resolver as suas queixas sem se dirigir ao gerente. pessoas não são apenas fonte de mão-de-obra, muito além disso,
A AUTONOMIA está diretamente relacionada ao processo de são agentes transformadores que contribuem com melhores ideias
tomada de decisão. Onde existir uma situação na qual o funcionário e novas práticas.
precise decidir, deve haver autonomia.
9 CHIAVENATO, Idalberto. Princípios da Administração - o essencial em Teoria
Geral da Administração - 2ª Ed. 2012

41
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
As pessoas ou os trabalhadores, deixaram de ocupar um papel A administração estratégica visa cooperar com a organização,
mecanicista dentro da gestão de uma empresa, para passar a ocu- em prol do alcance de seus objetivos, utilizando como meio, as po-
par uma posição mais estratégica. líticas de manutenção dos recursos humanos. Em suma, a organiza-
Assim, a Administração de Recursos Humanos (ARH) trata es- ção passa a visualizar melhor os impactos que as ações podem cau-
pecificamente de um conjunto de políticas e práticas necessárias sar ao seu ambiente, tanto interno quanto externo. Logo, o Gerente
para conduzir os aspectos da posição gerencial relacionados com as de RH passa a integrar a diretoria, em nível estratégico.
“pessoas” ou recursos humanos, incluindo recrutamento, seleção, Nesse contexto, é possível compreender a importância da
treinamento, recompensas e avaliação do desempenho10. Gestão de Pessoas e da área de recursos humanos. Pois agora as
Sendo a AR a função administrativa devotada à aquisição, trei- empresas estão diante de um ambiente marcado por constante
namento, avaliação, e remuneração dos empregos, os gerentes po- competitividade, pela busca de novos modelos de gestão eficazes
dem conduzir análise de cargo (determinar a natureza do trabalho e pela velocidade de informações que sejam capazes de reagir ao
de cada funcionário), prever a necessidade de trabalho e recrutar dinamismo do mercado.
candidatos, selecionar candidatos, orientar novos funcionários, O ambiente empresarial está cada vez mais complexo, hierar-
gerenciar recompensas e salários, oferecer incentivos e benefícios quizado e especializado e requer cada vez mais supervisão e gerên-
(remunerar funcionários), avaliar o desempenho, comunicar-se cia. Como resultado, há a necessidade de planejar, controlar, coor-
(entrevistando, aconselhando, disciplinando), treinar, desenvolver denar, delegar responsabilidade e autoridade, além de melhorar as
e construir o comprometimento do funcionário. relações no trabalho.
De modo que é inerente à Gestão de Pessoas a prática de lidar Discutir gestão estratégica de pessoas é discutir práticas de ges-
com o comportamento humano e administrar a justiça nos rela- tão de pessoas com foco no negócio e nos resultados da empresa,
cionamentos. A Gestão de Pessoas é a área que constrói talentos ou seja, é garantir um estreito alinhamento das ações e programas
por meio de um conjunto integrado de processos e cuida do capital da área com as estratégias e objetivos globais da organização. Com-
humano das organizações, o elemento fundamental do seu capital pete a todos os gestores da empresa, desde a alta administração
intelectual e a base do seu sucesso. até a baixa gerência, assumir o papel de gestão de pessoas.
Uma Gestão Estratégica de Pessoas significa estreitar laços e
Administração Estratégica de Pessoas aproximar-se dos colaboradores, dos gestores e área de gestão de
A área de Gestão de Pessoas tem passado por uma grande pessoas, de forma a mobilizá-los para alcançar os resultados e me-
transformação nos últimos anos, sendo como principal mudança tas planejados para a organização.
notável nesse modelo de gestão, a sua atuação, que vem deixando
de ter papel somente operacional para atuar em campo mais estra- Objetivos Individuais e Objetivos Organizacionais
tégico dentro das organizações. As organizações são constituídas de pessoas e dependem delas
A administração dos recursos humanos era concebida como para atingir seus objetivos e cumprir suas missões. Para as pessoas,
uma área operacional, pois atuava principalmente como departa- as organizações constituem o meio através do qual elas podem al-
mento de pessoal. Conhecida como o departamento da empresa cançar vários objetivos pessoais, com um custo mínimo de tempo,
que se restringia apenas na execução de contratações, realização de esforço e de conflito.
da folha de pagamento e demissões. Trazendo para outras palavras, Muitos dos objetivos pessoais jamais poderiam ser alcançados
uma área que apenas executava decisões tomadas por outros de- apenas por meio do esforço pessoal isolado. Assim, as organizações
partamentos e ainda taxada como um departamento burocrático surgem para aproveitar a sinergia dos esforços de várias pessoas
por ter que fazer cumprir muitas leis, normas e regras que envol- que trabalham em conjunto. Sem organizações e sem pessoas cer-
vem o trabalhador. tamente não haveria a Gestão de Pessoas.
Essa área foi considerada por muito tempo como uma fonte de Termos como empregabilidade e empresabilidade são usados
despesa, por ser vista por muitos gestores como um “mal neces- para indicar, de um lado, a capacidade das pessoas em conquistar
sário”. Esse ponto de vista mal explorado pela administração das e manter seus empregos e, de outro, a capacidade das empresas
empresas foi mudando consideravelmente, ao ponto de nos dias em desenvolver e utilizar as habilidades intelectuais e capacidades
atuais, ser considerada a área de maior importância em uma orga- competitivas dos seus membros.
nização. São os principais objetivos organizacionais e os objetivos indi-
Houveram alguns marcos históricos que contribuíram para que viduais das pessoas:
as empresas passassem a enxergar as pessoas como recursos-cha-
ves e não apenas despesas. No Brasil, entre 1930 e 1950, Getúlio → Objetivos Organizacionais
Vargas passa a criar a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), - Sobrevivência;
abrangendo os direitos e deveres tanto dos empregados como do - Crescimento Sustentado;
empregador. - Lucratividade;
A partir desse contexto, surge o conceito de gestão de pessoas, - Produtividade;
sendo uma área vulnerável e sujeita a instabilidade frente à cultura - Qualidade nos Produtos/Serviços;
que se aplica às organizações. Assim, o colaborador passa a ser vis- - Redução de Custos;
to como o principal patrimônio das organizações, se tornando um - Participação no mercado;
parceiro, um colaborador no negócio e um recurso intelectual que - Novos mercados;
contribui unicamente para o crescimento da empresa. - Novos clientes;
Mas revelando também ser um grande desafio para as organi- - Competitividade;
zações, uma vez que reconhecido o real papel dos colaboradores - Imagem no mercado.
dentro da administração de uma empresa, passa-se também a se
exigir muito mais de seus profissionais. → Objetivos Individuais
- Melhores salários;
- Melhores benefícios;
10 CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas - 3ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, - Estabilidade no emprego;
2010.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
- Segurança no trabalho; → Pessoas como recursos
- Qualidade de vida no trabalho; - Empregados isolados nos cargos;
- Satisfação no trabalho; - Horário rigidamente estabelecido;
- Consideração e respeito; - Preocupação com normas e regras;
- Oportunidade de crescimento; - Subordinação ao chefe;
- Liberdade para trabalhar; - Fidelidade à organização;
- Liderança liberal; - Dependência da chefia;
- Orgulho da organização. - Alienação à organização;
- Ênfase na especialização;
As pessoas como Parceiras da Organização - Executoras de tarefas;
Nos tempos atuais, as organizações estão ampliando sua visão - Ênfase nas destrezas manuais;
e atuação estratégica. Todo processo produtivo somente se realiza - Mão de obra.
com a participação conjunta de diversos parceiros, cada qual contri-
buindo com algum recurso. → Pessoas como parceiras
Muitas organizações utilizam meios para obter a inclusão de - Colaboradores agrupados em equipes;
novos e diferentes parceiros para consolidar e fortificar seus ne- - Metas negociadas e compartilhadas;
gócios e expandir suas fronteiras através de alianças estratégicas. - Preocupação com resultados;
Cada parceiro está disposto a continuar investindo seus recursos na - Atendimento e satisfação do cliente;
medida em que obtém retornos e resultados satisfatórios de seus - Vinculação à missão e à visão;
investimentos. - Interdependência com colegas e equipes;
Graças ao emergente sistêmico, que é o efeito sinergístico da - Participação e comprometimento;
organização, se consegue reunir e juntar todos os recursos ofereci- - Ênfase na ética e na responsabilidade;
dos pelos diversos parceiros e aumentar seus resultados. Através - Fornecedoras de atividades;
desses resultados a organização pode proporcionar um retorno - Ênfase no conhecimento;
- Inteligência e talento.
maior às contribuições efetuadas pelos parceiros e manter a con-
tinuidade do negócio.
Assim, a Gestão de Pessoas se baseia em três aspectos funda-
Geralmente, as organizações procuram privilegiar os parceiros
mentais:
mais importantes. Os acionistas e investidores eram, até há pouco
- As pessoas como seres humanos;
tempo, os mais privilegiados na distribuição e apropriação dos re-
- As pessoas como ativadores inteligentes de recursos orga-
sultados organizacionais. Essa assimetria está sendo substituída por
nizacionais;
uma visão sistêmica e integrada de todos os parceiros do negócio,
- As pessoas como parceiros da organização.
já que todos eles são indispensáveis para o sucesso da empresa.
Acontece que o parceiro mais íntimo da organização é o empre- Objetivos da Gestão de Pessoas
gado, aquele que está dentro dela, que lhe dá vida e dinamismo e A gestão de pessoas deve contribuir para a eficácia organizacio-
que faz as coisas acontecerem. nal através dos seguintes meios:
Pessoas como Recursos ou como Parceiras da Organização? → Ajudar a organização a alcançar seus objetivos e realizar sua
Dentro desse contexto, a questão básica é escolher entre tratar missão;
as pessoas como Recursos Organizacionais ou como Parceiras da → Proporcionar competitividade à organização;
Organização. Os empregados podem ser tratados como Recursos → Proporcionar à organização pessoas bem treinadas e bem
Produtivos das Organizações, os chamados recursos humanos. motivadas;
Como recursos, eles precisam ser administrados, o que envolve → Aumentar a auto atualização e a satisfação das pessoas no
planejamento, organização, direção e controle de suas atividades, trabalho;
já que são considerados sujeitos passivos da ação organizacional. → Desenvolver e manter qualidade de vida no trabalho;
Daí, a necessidade de administrar os recursos humanos para obter → Administrar e impulsionar a mudança;
deles o máximo rendimento possível. → Manter políticas éticas de comportamento socialmente res-
Neste sentido, as pessoas constituem parte do patrimônio fí- ponsável;
sico na contabilidade organizacional. Isso significa “coisificar” as → Construir a melhor empresa e a melhor equipe.
pessoas.
As pessoas devem ser visualizadas como Parceiras das Organi- Os Processos de Gestão de Pessoas
zações. Como tais, elas são fornecedoras de conhecimentos, habili- A Gestão de Pessoas é um conjunto integrado de processos di-
dades, competências e, sobretudo, o mais importante aporte para nâmicos e interativos. Os seis processos básicos de Gestão de Pes-
as organizações, a inteligência que proporciona decisões racionais e soas são os seguintes:
que imprime significado e rumo aos objetivos globais. 1. Processos de agregar pessoas;
Neste sentido, as pessoas constituem parte integrante do ca- 2. Processos de aplicar pessoas;
pital intelectual da organização. As organizações bem-sucedidas se 3. Processos de recompensar pessoas;
deram conta disso e tratam seus funcionários como parceiros do 4. Processos de desenvolver pessoas;
negócio e fornecedores de competências e não mais como simples 5. Processos de manter pessoas;
empregados contratados (como recursos). 6. Processos de monitorar pessoas.
Observe a seguir a diferença em organizações que percebem
as pessoas como recursos das que percebem as pessoas como par- Todos esses processos estão bastante relacionados entre si, de
ceiros: tal maneira que se interpenetram e se influenciam reciprocamente.
Cada processo tende a favorecer ou prejudicar os demais, quando
bem ou mal utilizado.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Além disso, todos esses processos são desenhados de acordo A função de staff e a responsabilidade de linha na Gestão de
com as exigências das influências ambientais externas e das influên- Pessoas
cias organizacionais internas para obter a melhor compatibilização
entre si. Ele deve funcionar como um sistema aberto e interativo. Função de Staff (Órgão de ARH)
- Cuidar das políticas de RH;
Administração de RH como responsabilidade de Linha e Fun- - Prestar assessoria e suporte;
ção de Staff - Dar Consultoria interna de RH;
Há um princípio básico em ARH: “Gerir pessoas é uma respon- - Proporcionar serviços de RH;
sabilidade de linha e uma função de staff.” Isso significa que quem - Dar orientação de RH;
deve gerir as pessoas é o próprio gerente, supervisor ou líder de - Cuidar da estratégia de RH.
equipe, ao qual elas estão subordinadas. Ele tem a responsabilida-
de linear e direta pela condução de seus subordinados. Responsabilidade de Linha - Gestor de Pessoas (gestores de
Por essa razão, existe o princípio da unidade de comando, se- linha)
gundo o qual, cada pessoa deve ter um e apenas um gerente. A con- - Cuidar da sua equipe de pessoas;
trapartida desse princípio é que cada gerente é o único e exclusivo - Tomar decisões sobre subordinados;
chefe dos seus subordinados. - Executar as ações de RH;
Para que o gerente possa assumir plena autonomia essa res- - Cumprir as metas de RH;
ponsabilidade de gerir seu pessoal, ele precisa receber assessoria e - Alcançar resultados de RH;
consultoria do órgão de ARH, que lhe proporciona os meios e servi- - Cuidar da tática e operações.
ços de apoio. Assim, gerir pessoas é uma responsabilidade de cada
gerente que deve receber orientação do staff a respeito das políti- Estratégias para obter sustentação ao processo de mudança
cas e procedimentos adotados pela organização. A mudança em geral pode ser considerada como uma alteração
ou modificação do estado normal de algo, uma mudança de caráter,
As Responsabilidades da Administração de Recursos Huma- uma modificação ou transferência de alguma coisa, geralmente mó-
nos e dos Gerentes de Linha veis ou objetos pessoais, para um outro lugar, a alteração ou substi-
Lidar com pessoas sempre foi parte integral da responsabilida- tuição de uma pessoa ou coisa por outra, e etc.11.
de de linha de cada executivo, desde o presidente até o mais baixo
nível de supervisão. Organizações bem-sucedidas definem as se- Mudança Organizacional
guintes responsabilidades de linha para os gerentes: A Mudança Organizacional é um aspecto essencial da criativi-
dade e inovação nas organizações de hoje. A mudança está em toda
→ Colocar a pessoa certa no lugar certo, isto é, recrutar e se- parte, nas organizações, nas pessoas, nos clientes, nos produtos e
lecionar; serviços, na tecnologia, no tempo e no clima. A mudança represen-
→ Integrar e orientar os novos funcionários na equipe; ta a principal característica dos tempos modernos.
→ Treinar e preparar as pessoas para o trabalho; Portanto as mudanças no ambiente organizacional são cada vez
→ Avaliar e melhorar o desempenho de cada pessoa no cargo mais frequentes, e é por isso que as empresas precisam se adap-
ocupado; tar as variações, incertezas e oscilações, tanto no ambiente interno
→ Ganhar cooperação criativa e desenvolver relações agradá- como no ambiente externo.
veis de trabalho;
→ Interpretar e aplicar as políticas e procedimentos da orga- Processo de Mudança
nização; A mudança significa a passagem de um estado para outro dife-
→ Controlar os custos trabalhistas; rente, ou seja, ela é a transição de uma situação para outra, assim o
→ Desenvolver as habilidades e competências de cada pessoa; processo de mudança envolve transformação, interrupção, pertur-
→ Criar e manter elevado moral na equipe; bação, ruptura, mas isso depende de sua intensidade12.
→ Proteger a saúde e proporcionar condições adequadas de O processo de mudança é constituído por 3 fases, o desconge-
trabalho. lamento, a mudança e o recongelamento:

Em organizações de pequeno porte, os gerentes de linha assu- → Descongelamento


mem todas as funções e responsabilidades sem qualquer assistên- Essa é a fase inicial da mudança, é aqui que as velhas ideias
cia interna ou externa. À medida que as organizações crescem, o e práticas organizacionais são “derretidas”, ou seja, elas são aban-
trabalho dos gerentes de linha se divide e se especializa e eles pas- donas, para assim prosseguir para a próxima fase que é a própria
sam a necessitar de assistência através da consultoria de um staff mudança.
de RH. A partir daí a ARH torna-se então uma função especializada O descongelamento representa a renúncia ao padrão atual de
de staff. comportamento para ser substituído por um padrão novo e mais
Com o princípio da responsabilidade de linha e função de staff atualizado, normalmente para trazer melhorias para a empresa. Se
em vista, deve-se descentralizar a gestão das pessoas no nível das não houver essa fase, a tendência será o retorno ao padrão habitual
gerências de linha de um lado, enquanto, de outro, mantém-se a de comportamento. O descongelamento significa a percepção da
função de assessoria e consultoria interna através do órgão de RH. necessidade de mudança.
Cada qual no seu papel para proporcionar o melhor em termos de
condução de pessoas em direção aos objetivos da organização, per-
mitindo também o alcance dos objetivos individuais.

11 CHIAVENATO, I.; Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas
organizações, Elsevier, RJ, 2010.
12 LEWIN, K.; Frontiers in Group Dynamics: Concept, Method, and Reality in
Social Science. Human Relations, 1947.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
→ Mudança
É a segunda fase do processo, nessa fase acontece a implementação, as novas ideias e práticas, elas são aprendidas, experimentadas,
e por fim exercitadas, com isso nessa fase ocorre a descoberta de adoção de novas atitudes, valores e comportamentos.
A mudança é a fase em que as novas ideias e práticas são aprendidas, de modo que as pessoas passam a pensar e a executar de uma
nova maneira. Para a execução dessa fase, é necessário levar em conta dois aspectos fundamentais:

1) A identificação: que é o processo pelo qual as pessoas percebem a eficácia da nova atitude ou comportamento e aceitam eles;
2) A internalização: nesse aspecto as pessoas passam a desempenhar novas atitudes e comportamentos, como parte de seu padrão
normal de comportamento.

→ Recongelamento
Essa é a etapa da estabilização, a última fase do processo de mudança, aqui as novas ideias e práticas são incorporadas definitivamen-
te na cultura da empresa, e principalmente no comportamento, ou seja, a incorporação de um novo padrão de comportamento de uma
forma que ele se torne o único.
O recongelamento significa que o padrão aprendido foi incorporado à prática atual e passa a ser a nova maneira que a pessoa adota
no seu comportamento, e para que essa fase seja executada é necessário observar dois aspectos:

1) O apoio: é o suporte através de recompensas que mantém a mudança;


2) O reforço positivo: é a prática proveitosa que torna a mudança bem-sucedida.

Agente de Mudanças
O agente de mudanças é a pessoa que guia e conduz o processo de mudança organizacional da empresa, ele tem como função iniciar
o processo e ajudar a fazer acontecer, essa pessoa tanto pode ser um colaborador interno que já trabalha na empresa, como também uma
pessoa de fora, contratada apenas para realizar esse processo.
Normalmente esses agentes são especialistas em Gestão de Pessoas (GP), ou gerente e líderes, que se tornam consultores internos.
Os agentes de mudanças funcionam como facilitadores do processo de mudança, ou seja, o agente deve atuar de maneira a incentivar
as fases do processo (descongelamento, mudança e recongelamento), como a tabela abaixo nos mostra:

As fases do Processo de Mudança e o papel do Agente de Mudança

Fase 1: Descongelamento Fase 2: Mudança Fase 3: Recongelamento


Tarefa do gerente...
Criar um sentimento de necessidade
Implementar a mudança. Estabilizar a mudança.
de mudança.
Através de...
Incentivo a criatividade e a inovação, Identificação de comportamentos novos e Criação da aceitação e de continuidade de
a riscos e erros. mais eficazes. novos comportamentos.
Boas relações com as pessoas envol- Escolha de mudança adequadas em tarefas,
Estimulo e apoio necessário as mudanças.
vidas. pessoas, cultura, tecnologia e/ou estrutura.
Ajuda as pessoas com comportamen-
to pouco eficaz. Uso de recompensas contingenciais de
Ação para colocar as mudanças em prática.
Minimização das resistências mani- desempenho e do reforço positivo.
festadas a mudança.
CHIAVENATO, I.; Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações, Elsevier, RJ, 2010.

Portanto, o processo de mudança ocorre dentro de um campo de forças que atuam dinamicamente em vários sentidos, de um lado,
existem forças positivas de apoio e suporte à mudança e, de outro, forças negativas de oposição e resistência à mudança.
Em todas as organizações, sejam elas públicas ou privadas, existem forças positivas e forças negativas, em relação ao processo de
mudança. As forças positivas apoiam e impulsionam a mudança, já as forças negativas restringem e impendem a mudança acontecer.
O agente de mudanças deve tentar maximizar o efeito das forças positivas, e minimizar o efeito das forças negativas, para assim poder
conduzir o processo de mudança com mais facilidade e eficácia.
Para a empresa, a mudança traz novas práticas e com isso novas soluções, mas para que elas possam funcionar perfeitamente é ne-
cessário mudar também as pessoas, e esse papel fica por conta do desenvolvimento humano de pessoas13.

Objetivos da Mudança
Apresentam-se cinco tipos básicos de objetivos de mudança organizacional:

1. Objetivos Estratégicos: são aqueles objetivos de mudança preocupados em alterar a relação entre a organização como um todo e
seu ambiente, por exemplo: objetivos revisados, novo composto de produto ou de clientes, expansão geográfica, uma mudança na ênfase
competitiva;
13 CHIAVENATO, I.; Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações, Elsevier, RJ, 2010.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
2. Objetivos Tecnológicos: diretamente relacionados com mu- → Demora e ineficiência imprevista na etapa de implantação;
danças na tecnologia de produção, fábrica, equipamento e outras → Esforços objetivando sabotar o processo de mudança.
partes físicas de uma organização;
3. Objetivos Estruturais: objetivos de mudança preocupados Os grupos resistirão à mudança na proporção dos níveis de
com alterações nas relações de subordinação; processos de comu- ameaça e desconforto introduzidos pela implantação corrente de
nicação/decisão, relações de autoridades e aspectos similares da mudança, a resistência, ansiedade e poder são problemas ligados
“anatomia” de uma organização cabem nesta categoria; com a introdução da mudança organizacional.
4. Objetivos Comportamentais: voltados para a mudança das A resistência à mudança diminui muito quando a organização
crenças, valores, atitudes, relações interpessoais, comportamento consegue compartilhar de forma inteligível com seus colaboradores
grupal, comportamento intergrupal e fenômenos humanos simila- os objetivos da mesma, ou seja, os colaboradores conseguem per-
res; ceber a importância da nova visão. Caso contrário, as pessoas não
5. Objetivos do Programa: que se destinam a alterar a estrutu- arão sacrifícios, ainda que estejam insatisfeitas com o status quo15,
ra ou aspectos dos planos de implementação técnica na produção, a não ser que imaginem que os benefícios potenciais da mudança
marketing, pesquisa e desenvolvimento e outras áreas, como por serão atraentes ou, ao menos, acreditem realmente que a transfor-
exemplo, mudanças nos canais de distribuição, requisitos e procedi- mação é possível16.
mentos do controle de qualidade e territórios de vendas. Problemas relativos ao poder são, portanto, fundamentais de
serem conhecidos durante o período de transição, uma vez que a
Quanto a esta classificação, deve-se notar que os cinco tipos mudança constitui uma ameaça ao equilíbrio das forças entre os
não são mutuamente exclusivos e que dois ou mais podem operar vários grupos de interesse, formais e informais.
simultaneamente. As mudanças na estrutura e comportamentos As organizações em processo de mudança organizacional de-
organizacionais podem ser buscadas pelos funcionários, mas mu- vem trabalhar a mudança sem subestimar a organização informal,
danças em estratégia e tecnologia precisam de alterações na estru- porque toda mudança organizacional, para ser eficaz e alcançar os
tura e comportamento para que tenham êxito. objetivos, tem que avaliar a organização informal e procurar tra-
balhá-la a favor da própria mudança. Este é, sem dúvida, um dos
Tipos ou Métodos de Mudanças maiores desafios e um dos grandes motivos de insucesso das mu-
Existem quatro tipos de mudanças organizacionais. Abaixo, de- danças nas organizações.
monstram-se alguns exemplos comuns de mudanças que podem É imprescindível que as organizações percebam que não
ocorrer dentro de uma empresa: basta uma mudança adaptativa, mas uma mudança integrada,
sistêmica, que compreenda a essência do fenômeno da mudança
1. Mudança na Estrutura Organizacional social. Partindo do princípio de que todas as organizações estão
- Redesenho da estrutura dos órgãos e cargos; continuamente em processo de mudança, bem como seus
- Novos paradigmas organizacionais; ambientes, a empresa pode redefinir, mudar e influenciar este
- Redução de níveis hierárquicos; processo a seu favor.
- Novas redes de comunicação. Dessa forma, o processo de mudança é muito mais amplo e
complexo do que um simples entendimento das dimensões am-
2. Mudanças na Tecnologia bientais. A mudança estratégica é, antes de tudo, um processo po-
- Redesenho do fluxo de trabalho; lítico, que implica na modificação da distribuição de recursos e de
- Novas máquinas, equipamentos e instalações; poder pelos vários níveis e unidades organizacionais. Para se pro-
- Novos processos de trabalho; mover um processo de mudança organizacional eficaz, este deve se
- Novos métodos de trabalho. ancorar em estratégias consistentes17.

3. Mudanças nos produtos ou serviços Gestão da mudança


- Criação e desenvolvimento de produtos; Seja qual for a mudança, é um processo que necessita ser ge-
- Criação e desenvolvimento de serviços; renciado, e dependendo do nível de mudança e a dificuldade do seu
- Melhoria dos produtos/serviços atuais; gerenciamento, pode ser necessário definir uma equipe responsá-
- Melhoria dos serviços ao cliente. vel pela mudança, no entanto, cada membro da organização deve
ser envolvido18.
4. Mudanças nas pessoas ou na cultura da organização Muitos programas de mudanças organizacionais simplesmente
- Novos paradigmas culturais; não funcionam porque se limitam somente a mudança no trabalho
- Novos relacionamentos entre pessoas; e não no comportamento e nas atitudes das pessoas. Quando se
- Novos conhecimentos, capacidades e habilidades; fala em Mudança Organizacional, o primeiro passo é mudar o com-
- Novas expectativas, percepções e motivações. portamento das pessoas, ou seja, deve-se primeiro mudar o com-
portamento individual, para assim posteriormente ter condições de
As organizações que resolvem promover mudança organiza- mudar o comportamento organizacional.
cional têm que avaliar qual dimensão ou tipo de mudança estão Portanto, é necessário que as pessoas vejam o que deve ser
dispostas a fazer. É importante ressaltar que o quarto tipo de mu- mudado e concordem com isso para depois alcançar a mudança,
dança, se bem trabalhado, proporciona um compromisso e um em- porque daí para a frente pode-se então mudar a estrutura organiza-
penho das pessoas durante todo o processo de mudança, favore- cional que envolve as pessoas, como:
cendo muito o seu sucesso. 15 É uma expressão originada no latim, cujo significado é “no mesmo estado
que antes” ou então “o estado atual das coisas” e é usada para expressar a
Resistência à Mudança Organizacional14 situação em que algo se encontra atualmente.
A resistência se manifesta de várias formas, como: 16 KOTTER, J. P. Liderando mudança. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
→ Atraso e demora no início do processo de mudança; 17 http://re.granbery.edu.br/artigos/Mg==.pdf
18 LOPES, P. C. B.; STADLER, C. C.; KOVALESKI, J. C. Gestão da Mudança Organi-
14 http://re.granbery.edu.br/artigos/Mg==.pdf zacional; 2003.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
→ Cultura organizacional;
- Prática e uso de novas
→ Arquitetura e modelagem do trabalho;
4. Habilidade para implementar habilidades
→ Sistemas de reconhecimento e recompensas; porém tudo
as habilidades e comportamentos - Coaching
em sintonia com o novo tipo de comportamento.
requeridos - Mentoring
- Remoção de barreiras
As empresas precisam ser capazes de atuar em um ambiente
no qual, independente do lugar, tempo, volume ou qualquer fator, - Incentivos e recompensas
as premissas e as regras do jogo mudem continuamente, pois a mu- - Mudanças na remuneração
5. Reforço consistente para man-
dança, além de desejável, é necessária, e os gestores precisam estar - Reconhecimento as pes-
ter a mudança
preparados para ela. soas
Conhecer o presente e projetar um futuro melhor é o que cria a - Celebrações
tensão que impulsiona as pessoas durante o processo de mudança. Fim: Habilidade a executar a mudança Organizacional.
Por isso, é desejável que a equipe responsável pela mudança tenha
a capacidade de: Para atender às suas necessidades de mudanças, muitas em-
presas já incorporaram a necessidade de adquirir continuamente
- Ser criativa; novos conhecimentos organizacionais, o que dificulta um processo
- Trabalhar em equipe; de mudança e coíbe o aprendizado organizacional é a capacidade
- Motivar os demais integrantes; de aprender das pessoas e da equipe.
- Assumir riscos e resolver conflitos;
- Projetar o futuro dentro e fora da organização;
- Ser flexível e se adaptar facilmente aos novos processos;
- Usar eficientemente seu conhecimento e as informações; MISSÃO, VISÃO DE FUTURO, VALORES
- Ter ótima comunicação (interna e externa à organização).
O planejamento estratégico poderia ser definido como um pro-
Toda mudança traz incertezas, mas também oportunidades. cesso de gestão que apresenta, de maneira integrada, o aspecto
Em geral, criam pressões dentro de qualquer organização, especial- futuro das decisões institucionais, a partir da formulação da filoso-
mente quando os gerentes não têm experiência em lidar com elas. fia, da instituição, sua missão, sua orientação, seus objetivos, suas
Assim, a sentença de ordem dentro de uma organização que decide metas, seus programas e as estratégias a serem utilizadas para as-
mudar é: “Aprender a Aprender”. segurar sua implementação. É a identificação de fatores competiti-
A maioria das empresas entende de uma forma enganosa a vos de mercado e potencial interno, para atingir metas e planos de
Gestão de Mudanças, pois acham que significa fazer apenas pe- ação que resultem em vantagem competitiva, com base na análise
quenas alterações em alguns aspectos que estejam causando pro- sistemática de mudanças ambientais previstas para um determi-
blemas, mas administrar um processo de mudança é um processo nado período. Portanto, o planejamento estratégico não deve ser
muito mais amplo e sistêmico, o diagrama abaixo irá mostrar os 5 considerado apenas como uma afirmação das aspirações de uma
níveis da gestão de mudança: empresa, pois inclui também o que deve ser feito para transformar
essas aspirações em realidade. Quando se considera a metodologia
Início: Fases da Mudança Individual para o desenvolvimento do planejamento estratégico nas empre-
sas, têm-se duas possibilidades, que se definem:
- Comunicações dos geren-
• em termos da empresa como um todo, “aonde se quer che-
tes
gar e depois se estabelece “como a empresa está para se chegar à
1. Consciência quanto a necessi- - Insumos dos clientes
situação desejada”; ou
dade de mudança - Mudanças nos mercados
• em termos da empresa como um todo “como se está” e
- Acesso online à informa-
depois se estabelece “aonde se quer chegar”. Pode-se considerar
ção
uma terceira possibilidade que é definir “aonde se quer chegar”
- Medo de perder o em- juntamente com “como se está para chegar lá”. Cada uma dessas
prego possibilidades tem a sua principal vantagem. No primeiro caso, é a
- Insatisfação com o status possibilidade de maior criatividade no processo pela não existência
quo de grandes restrições. A segunda possibilidade apresenta a grande
- Consequências negativas vantagem de colocar o executivo com o pé no chão quando inicia o
iminentes processo de planejamento estratégico.
- Afiliação e senso de per-
2. Desejo de participar e de
tencer O planejamento estratégico é o processo por meio do qual a
apoiar a mudança
- Avanço na carreira estratégia organizacional será explicitada.
- Alcance de poder ou Podemos identificar, como características do planejamento es-
posição tratégico:
- Confiança e respeito pela - É responsabilidade da cúpula da organização;
liderança - Envolve a organização como um todo;
- Esperança em um futuro - Planejamento de longo prazo;
melhor - Outros níveis do planejamento (tático e operacional) serão
- Treinamento e educação desdobrados dele.
3. Conhecimento de como imple- - Acesso à informação
mentar a mudança - Exemplos e modelos de Um bom planejamento estratégico deve, em seu início, incluir a
papéis definição do referencial estratégico da organização. Este referencial
é o grande guia das organizações, são as diretrizes que norteiam a

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
sua atuação e o seu posicionamento frente ao mercado. Represen- Etapas do Planejamento Estratégico: vamos abaixo analisar al-
tam o planejamento estratégico no seu nível mais amplo e são as guns dos apontamentos sobre essas etapas conforme seus autores.
bases para que a organização possua uma estratégia sólida e sus-
tentável. Segundo Maximiano, o planejamento estratégico compreende
Esse referencial inclui o negócio, a missão, a visão de futuro e quatro etapas principais:
os valores organizacionais. A) Análise da situação estratégica presente. Esta etapa busca
Missão: pode ser entendida como o papel que a empresa terá compreender a situação atual da empresa, e as decisões que foram
perante a sociedade, enfim, quais são os benefícios que a sua ativi- tomadas e levaram a tal posição. Deve considerar o referencial es-
dade produtiva - seja ela industrial, comercial ou prestação de ser- tratégico, os produtos e mercados atuais ou potenciais da organiza-
viços - trará para a coletividade ou, pelo menos, aos seus clientes. ção, as vantagens competitivas (elementos capazes de diferenciar
Missão é, portanto, a função social da atividade da empresa dentro a organização de outras no mercado), o desempenho atual e o uso
de um contexto global. de recursos.
B) Análise do ambiente. Na classificação do Maximiano, esta
Vejamos quatro exemplos de missão organizacional: etapa abrange apenas o ambiente externo.
Receita Federal do Brasil: “Exercer a administração tributária e C) Análise interna. É a análise do ambiente interno.
o controle aduaneiro, com justiça fiscal e respeito ao cidadão, em D) Elaboração do plano estratégico.
benefício da sociedade”.
MPOG – “Promover o planejamento participativo e a melhoria A análise de ambiente corresponde à avaliação de variáveis
da gestão pública para o desenvolvimento sustentável e socialmen- do ambiente interno (pontos fortes e pontos fracos) e variáveis do
te includente do País”. ambiente externo (oportunidades e ameaças) relevantes para a or-
TCU – “Assegurar a efetiva e regular gestão dos recursos públi- ganização. As variáveis do ambiente interno normalmente são con-
cos, em benefício da sociedade”. troláveis, enquanto as variáveis do ambiente externo estão fora da
Petrobrás – “Atuar de forma segura e rentável nas atividades de governabilidade da organização.
indústria de óleo, gás e energia, nos mercados nacional e interna-
cional, fornecendo produtos e serviços de qualidade, respeitando Segundo Djalma de Oliveira o Planejamento Estratégico apre-
o meio ambiente, considerando os interesses dos seus acionistas e senta estas etapas:
contribuindo para o desenvolvimento do país”. a) Diagnóstico estratégico: abrange a definição da visão, a aná-
lise externa, análise interna e análise dos concorrentes;
b) Definição da missão: esta nós já vimos: é a definição da ra-
Negócio: É o ramo de atuação da organização, delimita o cam-
zão de ser da empresa e as consequências de tal definição;
po em que ela estará desenvolvendo suas atividades. Está muito
c) Definição dos instrumentos prescritivos e quantitativos:
ligado ao tipo de produto ou serviço que a organização oferece e
instrumentos prescritivos são aqueles que irão dizer como a organi-
nem sempre é tão óbvio. Por exemplo, o negócio da Copenhagen
zação deve atuar para alcançar os objetivos definidos. Instrumentos
não é chocolates e sim presentes finos. Para exemplificar com uma
quantitativos, basicamente, são aqueles ligados ao planejamento
organização pública, o negócio do TCU é o “controle externo da ad-
orçamentário;
ministração pública e da gestão dos recursos públicos federais”.
d) Controle e avaliação: são verificações, etapas em que se
avalia se o que está sendo feito corresponde ao que foi planejado.
Visão de futuro: É considerada como os limites que os princi-
pais responsáveis pela empresa conseguem enxergar dentro de um
período de tempo mais longo e uma abordagem mais ampla. Repre-
senta o que a empresa quer ser em um futuro próximo ou distante INDICADORES DE DESEMPENHO DE GESTÃO DE PES-
A visão deve ser: SOAS
- Compartilhada e apoiada por todos na organização
- Abrangente e detalhada O que são indicadores de desempenho?
- Positiva e inovadora Entender o que são esses indicadores não é uma tarefa difícil.
- Desafiadora mas viável Você já deve saber que KPI significa Key Performance Indicator (em
- Transmitir uma promessa de novos tempos português, Indicador-chave de Desempenho), certo? Mas o que
- Agregar um aspecto emocional realmente isso quer dizer na prática?

Exemplos de visão: Tenha em mente que os KPIs são instrumentos para ajudar
Receita Federal: “Ser uma instituição de excelência em adminis- na gestão organizacional. São parte de um sistema bem maior de
tração tributária e aduaneira, referência nacional e internacional”. acompanhamento e de melhoria de processos.
TCU: “Ser instituição de excelência no controle e contribuir
para o aperfeiçoamento da administração pública”. Em poucas palavras, você pode compreender o que são os
indicadores com a seguinte definição: são ferramentas de gestão
Valores: Representam o conjunto dos princípios, crenças e muito usadas por organizações do mundo todo para avaliar e medir
questões éticas fundamentais de uma empresa, bem como forne- o desempenho de seus processos — o que ajuda a gerenciá-los de
cem sustentação a todas as suas principais decisões. forma mais eficiente, a fim de conquistar objetivos e metas previa-
Influencia na qualidade do desenvolvimento e operacionaliza- mente determinados pelas empresas.
ção do planejamento estratégico. Há vários tipos de indicadores, cada qual com o seu propósito
Os valores da empresa devem ter forte interação com as ques- diferente. Essas ferramentas podem ser qualitativas ou quantitati-
tões éticas e morais da empresa vas. Isso significa que, dependendo dos tipos de KPI escolhidos e da
intenção do gestor, eles podem tanto avaliar os processos nume-
O planejamento estratégico deve estar alinhado a este referen- ricamente quanto mensurar a qualidade com a qual estão sendo
cial. realizados.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Além de serem ferramentas de gestão de processos muito po- No início de todas as empresas, é normal ocorrer o Burn Rate
derosas, os KPIs também funcionam como veículos de comunicação (ou também em épocas de crise). Mas o empreendedor deve sem-
empresarial. Isso porque é por meio deles que o desenvolvimento pre acompanhar esse indicador para que o seu negócio não vá por
das organizações é compartilhado com profissionais de vários níveis água abaixo.
hierárquicos. Nesse sentido, um bom plano de comunicação interna
pode auxiliar muito. Os diferentes tipos de indicadores ajudam a Nível de endividamento
transmitir simultaneamente a visão, a missão e os valores das em- O nível de endividamento deve ser monitorado de perto, pois
presas a todos os seus colaboradores. informa o quanto a empresa necessita de capital de terceiros. O
nível de endividamento do negócio é calculado com os dados conti-
Qual é a importância de calcular esses números? dos no Balanço Patrimonial, dividindo-se o total do Passivo (as dívi-
Os indicadores de desempenho são usados para monitorar as das com empréstimos, contas a pagar e obrigações com fornecedo-
atividades do negócio. Isto é, para acompanhar o andamento da res, por exemplo) pelo total do Ativo:
empresa, coletar informações importantes e disponibilizá-las de total do Passivo ÷ total do Ativo
modo acessível. Assim, os gerentes conseguem estudá-las a fim de
tomar as melhores decisões. Months Of Cash Left (tempo de dinheiro restante)
Esse indicador informa quanto tempo ainda você terá o seu ca-
Os indicadores trazem eficiência ao cotidiano e, como conse- pital inicial. Assim, você pode planejar a prospecção de mais clien-
quência, geram resultados positivos para o empreendimento. Eles tes para geração de lucro suficiente para manter o seu negócio. O
têm a função de trazer à luz as informações necessárias para que cálculo é realizado da seguinte maneira:
seja possível analisar os processos, a fim de aprimorá-los continua- capital remanescente ÷ Burn Rate = Months Of Cash Left
mente e alcançar os objetivos estratégicos de negócios.
Custo de Aquisição de Cliente — CAC
É bastante comum encontrar gestores que, no desejo de con- Esse indicador também é conhecido como Customer Acquisi-
trolar as suas operações, acabam criando um grande volume de tion Cost, que mostra o quanto de dinheiro é gasto na captação de
KPIs. Isso faz com que haja vários dados que, muitas vezes, não são cada novo cliente. Nesse momento deve ser levantado todo o custo
úteis e nem chegam a ser analisados. que a empresa tem com prospecção de novos clientes — como pu-
blicidade, call center e marketing de conteúdo, entre outros.
Existem ainda os que dão tanto foco naquilo que se refere à
rotina — negociação, captação de clientes, vendas etc. — que aca- Para que seja feita a análise, basta realizar o cálculo da seguinte
bam se esquecendo de desenvolver análises capazes de disponibi- forma:
lizar um diagnóstico preciso sobre a situação em que o negócio se total de despesas com aquisição de cliente ÷ quantidade de no-
encontra. Esses indicadores só funcionam quando estão alinhados vos clientes = Custo de Aquisição de Cliente
com as suas estratégias e quando há disposição e disciplina para
acompanhá-los cuidadosamente. Ticket médio
O ticket médio é o valor médio de cada venda, a partir do qual
Quais são os principais indicadores de desempenho organi- o empreendedor consegue entender a dinâmica varejista. O cálculo
zacional? é feito da seguinte forma:
Conheça a seguir os indicadores de desempenhos mais utili- faturamento ÷ demanda de vendas do período
zados!
Esse indicador auxilia em várias tomadas de decisões. Por
Margem de Lucro exemplo:
Como um dos maiores objetivos de um negócio é ter lucro, esse indica quem são os seus melhores vendedores;
indicador sempre deve ser inserido na sua empresa para o acompa- mostra se estão sendo vendidos produtos de maior ou menor
nhamento das metas. A margem de lucro é calculada da seguinte valor;
maneira: verifica se a organização está cumprindo a meta estabelecida;
valor do produto ÷ serviço – custo auxilia o empresário a analisar a necessidade de capacitação
da equipe;
Dessa forma, o empreendedor deve verificar o percentual utili- ajuda na definição das estratégias de marketing.
zado pelo seu setor, pois esse indicador não é padronizado. A média
para o setor de prestação de serviços é de 20%, enquanto para o Produtividade
varejo é de 4% sobre o total de vendas. A produtividade consiste na relação entre aquilo que foi produ-
zido e os recursos utilizados para isso. O propósito maior é sempre
Lucratividade ter equipes e profissionais produtivos, que entreguem mais usando
Não confunda: a lucratividade é diferente da margem de lucro. menos recursos e atinjam os objetivos do negócio. A grande ques-
A lucratividade é calculada da seguinte forma: tão é: como fazer o cálculo desse índice? É bem simples:
lucro líquido ÷ faturamento bruto mensal produtos ou serviços gerados ÷ recursos utilizados

O resultado é um valor percentual: trata-se da referência mais Para que fique mais claro, pense que a equipe de vendas aten-
essencial para saber se o negócio é rentável ou não. deu um total de 680 clientes em apenas um dia. Para isso, contou
com todo o expediente de trabalho, ou seja, 11 horas. Ao utilizar
Burn Rate a fórmula, vamos ter a produtividade de 61,81 clientes atendidos
Nada mais é que o caixa negativo da empresa, calculado da se- por hora.
guinte forma:
total das despesas – faturamento = Burn Rate

49
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Ao identificar o padrão produtivo atual, você vai poder deter-
minar metas mais desafiadoras e realistas para o futuro. Além disso, MODELOS DE GESTÃO PÚBLICA: PATRIMONIALISTA,
também vai ser capaz de projetar resultados em gráficos consisten- BUROCRÁTICO (WEBER) E GERENCIAL
tes e compartilhar tudo com a equipe. Dessa forma, todos vão po-
der produzir mais. O estabelecimento de um novo padrão de administração pú-
blica no Brasil altera, sensivelmente, a relação do Estado com a
Turnover (rotatividade) sociedade, definindo novas formas de atuação do ponto de vista
Avaliar o grau de turnover dos colaboradores ajuda a com- econômico e de execução das políticas públicas. O momento atual
preender as questões internas do negócio. Grandes taxas de ro- é de expectativa sobre a implementação dos princípios e diretrizes
tatividade podem mostrar problemas de clima organizacional, de do Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado - PDRAE1 de
liderança e de valorização dos funcionários. Quando a empresa en- 1995. O objetivo deste estudo é o de avaliar alguns aspectos do
frenta problemas internos, é bem provável que eles vão refletir no plano de reforma para criar um pensamento crítico a respeito das
atendimento ao consumidor. mudanças propostas, verificando como ficam os mecanismos de
controle da administração. Além disso, pretende-se conhecer um
O grau de rotatividade pode ser calculado com base no tempo pouco mais sobre as mudanças na administração pública estabele-
médio de permanência de cada colaborador na organização. A fór- cidas no PDRAE, propiciando um melhor entendimento dos concei-
mula mais comum é: tos no estudo do novo modelo que está sendo adotado.
([quantidade de demissões + quantidade de admissões] ÷2) ÷ A importância da reforma administrativa reside nas implicações
total de colaboradores desta restruturação para a nação, tais como a redução da presença
do Estado na economia, redução de déficit público e a melhoria na
A taxa de turnover é relevante para que a empresa compreen- qualidade e eficiência dos serviços públicos. As modificações intro-
da os seus problemas e crie ações para resolvê-los e melhorar, as- duzidas por uma ampla reforma administrativa irão marcar profun-
sim, os resultados do negócio como um todo. damente a realidade das relações da sociedade com o governo, in-
terferindo nos mecanismos de democracia e cidadania e alterando
Indicadores de capacidade as relações de poder no Estado. Com tantos pontos importantes em
Os indicadores de capacidade são bem semelhantes aos de jogo, é preciso avaliar qual será o resultado final desta reforma e
produtividade, mas, nesse caso, eles são fundamentais para men- quais serão as formas de controle da aplicação dos recursos públi-
surar a capacidade que um processo específico apresenta de res- cos no novo modelo.
posta. Um ótimo exemplo disso é o cálculo da quantidade total de O controle da administração é um instrumento fundamental
produtos que podem ser embalados em um único dia. para o sucesso da reforma. Este fato foi reconhecido no próprio
plano de reforma que coloca a Secretaria Federal de Controle como
Indicadores estratégicos de importância estratégica na reforma e que muito contribuirá para
São indicadores mais voltados para a definição de estratégias a implementação de uma filosofia de controle por resultados. O
e para a criação de um planejamento, uma vez que ajudam no Ministério da Fazenda, como órgão responsável, também é dest-
acompanhamento dos resultados da organização, comparando aos acado pelo controle efetivo das despesas e pelo controle interno.
objetivos que foram determinados previamente. Assim, é possível A reforma, como está concebida no plano, vai alterar consid-
visualizar, de forma prática e com maior precisão, qual é o cenário eravelmente a distribuição de poder dentro do Estado e a relação
atual e o previsto. deste com a sociedade civil. Por isso, é fundamental uma análise
criteriosa, considerando não só os aspectos da administração, mas,
Fluxo de caixa operacional principalmente, os aspectos políticos envolvidos.
Uma das principais ferramentas usadas por gestores para medir Diante destes fatos, o problema que se coloca é: como ficam
o desempenho financeiro de um negócio é o fluxo de caixa opera- os mecanismos de controle da administração pública federal com a
cional. De forma simplificada, podemos afirmar que o fluxo de caixa implantação do modelo gerencial (pós-burocrático)?
é um demonstrativo que apresenta todas as saídas e as entradas de Para responder a essa questão, serão analisados os mecanis-
recursos financeiros de uma empresa. Se esse indicador é positivo, mos de descentralização, o controle formal e a participação da so-
isso significa que a organização teve mais entrada de dinheiro do ciedade no controle da administração pública, buscando-se verific-
que saída, gerando muitos lucros para o empreendimento. ar como ficarão após a introdução do modelo.
O público alvo, deste trabalho, são os acadêmicos das áreas de
É muito fácil definir o fluxo de caixa operacional. É um indi- administração e de ciências sociais e políticas, políticos e público
cador que precisa ser sempre acompanhado e analisado de tem- em geral, interessados em entender melhor os fatos relacionados
pos em tempos, afinal, ele vai indicar o quanto de dinheiro que a ao processo de reforma administrativa em curso no Brasil.
empresa está conseguindo gerar a partir do negócio principal da A análise será realizada por meio de alguns aspectos admin-
istrativos, políticos e históricos no processo de reforma proposto.
corporação. O fluxo de caixa operacional torna-se mais relevante
Serão utilizados dados de artigos e textos de diversos atores como
ainda quando olhamos para as organizações que têm um modelo
fonte de dados secundários para estabelecimento do marco teórico
de negócios extremamente baseado em vendas a prazo.
dos principais conceitos envolvidos. O PDRAE, as primeiras medidas
adotadas pelo Governo para implementação da reforma, a Consti-
Chega de teoria e vamos colocar a mão na massa! Comece já a
tuição Federal e a legislação infra-constitucional serão utilizados
realizar os indicadores de desempenhoorganizacional para enten-
como fontes de dados primários.
der melhor a importância deles no progresso de sua empresa. Mas
Quando se fala em controle da administração pública não po-
lembre-se: não adianta analisar uma vez e abandonar. Todo negócio demos separar o lado político do lado administrativo. O controle
de sucesso deve ter a sua saúde financeira controlada diariamente. da administração pública, seja ele interno ou externo, está intima-
mente ligado aos processos políticos envolvidos. As reformas ad-
fonte: https://blog.alterdata.com.br/indicadores-de-desempenho-or- ministrativas ocorridas no Brasil têm sempre se caracterizado pela
ganizacional-o-que-sao-e-como-usar/ dicotomia entre política.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
E administração. Isto é o que demonstra Martins (1997) me- A dominação política racional-legal decorreu do casamento
diante a análise dos mecanismos de regulação política e inserção entre o patrimonialismo dos regimes absolutistas e a burguesia
social na administração pública sob várias situações. emergente na Europa. Ou seja, o surgimento da burocracia racion-
O autor mostra que a dosagem dos mecanismos de inserção al-legal em países com burguesia emergente decorreu de deman-
social e regulação são fundamentais no processo de redefinição das por igualdade ante a lei (democracia de massas) combinadas à
institucional trazido pela reforma. Para Martins, se, por um lado, necessidade de refrear as pretensões dos vassalos e funcionários,
os atributos intrínsecos e as tecnicidades de modelos e estratégias que é uma espécie de aliança entre patrimonialismo e burguesia
de inovação gerencial são exaltados, por outro, algumas questões emergente (interesses capitalistas). Mas o que ocorreria nos países
permanecem sem resposta. O autor coloca a seguinte questão: “em onde não havia uma burguesia ascendente com a mesma força e
que extensão a busca da excelência burocrática ou pós-burocrática importância que na Europa? Continuariam “tradicionais”? Este é
..... pode figurar-se dicotomizante?”. justamente o caso do Brasil que mantém traços do patrimonialismo
Apesar da verificação do problema, equacionar os mecanismos no Estado Burocrático. O neopatrimonialismo não é simplesmente
de regulação e inserção social é algo complexo e requer consider- uma sobrevivência das estruturas tradicionais em sociedades con-
ações em casos específicos. Os extremos da dicotomia são: primei- temporâneas, mas uma forma bastante atual de dominação política
ro, decorrente da excessiva regulação política e pouca autonomia por um “estrato social sem propriedades e que não tem honra so-
burocrática o que caracterizaria a captura; segundo, devido a uma cial por mérito próprio”, ou seja pela burocracia e a chamada classe
situação de excessiva autonomia burocrática e baixa regulação política (Schwartzman, 1988)
política o que caracterizaria o insulamento (Martins, 1997). Os dois Entendidos os motivos da existência de traços patrimoniais no
extremos devem ser evitados. O controle social da administração é Brasil, vamos entender o que significa o componente formal ou ra-
necessário para garantir uma situação caracterizada como inserida cionalidade formal da burocracia. Reduzir controles formais pode
e regulada. significar reduzir a racionalidade formal da burocracia ou deixar a
A revolução gerencial traz uma série de ensinamentos. Cer- racionalidade substancial se sobrepor.
tamente que sua qualidade mais ou menos dicotômica varia de Para Schwartzman (1988), baseando-se em Weber, a racionali-
acordo com o contexto social e o segmento da ação pública. No dade formal é o mesmo que racionalidade legal, ou seja, uma série
caso brasileiro, a modernização gerencial e a inserção social são
de normas explícitas de comportamento, ou “leis” que definem o
certamente requisitos de excelência para as organizações públicas,
que deve ou não ser feito pelo administrador em todas as circun-
tendencialmente ortodoxas e insuladas. Porém, a tendência de in-
stâncias. Já a racionalidade substancial tende a maximizar uma con-
serção social está perfeitamente correspondente com a tendência
junto de objetivos independentemente de regras e regulamentos
de consolidação de um padrão de representação de interesses soci-
formais. O surgimento da racionalidade substancial dentro do pro-
ais em bases neocorporativas (Martins, 1997).
cesso de dominação pode estar associado a dois fatores. O primei-
Os riscos decorrentes da regulação política são inserções au-
ro fator é a emergência da opinião pública e seus instrumentos e,
to-orientadas o que, na hipótese pessimista, levaria a neo-insula-
mento burocrático ou insulamento pós-burocrático. A construção de maneira mais específica, a democracia do tipo plebiscitária, que
da regulação política em bases racionais é uma tarefa complexa e colocaria em risco os sistemas políticos baseados em normas estri-
esbarra nos imperativos fisiológicos da governabilidade e no blo- tas e consensuais. O segundo são as próprias “razões de Estado”,
queio à burocratização política. Nos processos de reforma adimin- tal como são defendidas pelos detentores do poder. As “razões de
istrativa no Brasil parece haver um hiato entre política e adminis- Estado” em combinação com as massas passivas, destituídas e mo-
tração (Martins, 1997). bilizáveis são a receita para os regimes patrimoniais modernos (ne-
A reforma administrativa gerencial, traz justamente em seu opatrimonialismo).
bojo, o ímpeto descentralizante que busca dar mais autonomia No caso da burocracia sem o componente legal ou com este re-
burocrática. Com a autonomia dada pela redução de controles for- duzido, vai predominar uma racionalidade exclusivamente técnica,
mais e devido à falta de estrutura de controle social para suprir a onde o papel do contrato social e da legalidade jurídica seja mínimo
regulação política necessária, corre-se o risco de um processo de ou inexistente. Neste ponto fica caracterizada uma racionalidade
insulamento pós-burocrático. apenas substancial, que é justamente a base do neopatrimonialis-
mo (Schwartzman, 1988).
O Patrimonialismo e o Neopatrimonialismo A formação patrimonialista da administração pública no Brasil
A modificação dos mecanismos de controle na reforma admin- é fundamentada com base na formação histórica de nosso Estado e
istrativa em curso tem como pressuposto a redução da rigidez bu- sociedade civil (Pinho, 1998). Talvez o clímax dos processos de pat-
rocrática, o que implica a redução do componente formal da buro- rimonialismo e corrupção se deu no Governo de Fernando Collor e
cracia. Para entendermos o que significa a redução do componente culminou no impeachment do mesmo.
formal da burocracia, analisaremos o conceito de neopatrimonial- Em 06 dezembro de 1993, após o impeachment, foi criada uma
ismo. Comissão Especial pela Presidência da República que tinha como
Em primeiro lugar é necessário relembrar o conceito de patri- essência a averiguação dos processos de corrupção que se alastra-
monialismo. Segundo Schwartzman (1988), na concepção de We- vam na administração pública brasileira. No relatório “A Comissão
ber o patrimonialismo é forma de dominação onde não existe uma Especial e a corrupção na administração pública federal”, de dezem-
diferenciação clara entre a esfera pública e a privada. O conceito bro de 1994, está o resultado dos trabalhos de investigação dos me-
de patrimonialismo quando aplicado a sociedades contemporâneas andros da corrupção dentro da administração. O relatório é claro
leva aos conceitos de sociedades “tradicionais” em contrapartida às e confirma que as práticas patrimoniais estavam profundamente
sociedades “modernas”, ou sem traços patrimoniais. Ainda, segun- enraizadas na cultura do Estado brasileiro. São identificados proble-
do Schwartzman (1988), Marx também enxergava uma espécie de mas em praticamente todos os setores da administração federal. Os
patrimonialismo no “modo de produção asiático”. Este existia em sistemas de controle são vistos como ausentes ou ineficazes.
sociedades pré-capitalistas e se caracterizava pela inexistência par- Este problema cultural de patrimonialismo no Estado brasileiro
cial ou total de propriedade privada ou, pelo menos, pela existência não pode de maneira nenhuma ser encarado de forma simplista e
de um setor público na economia. considerado superado no embasamento do plano de reforma. Aliás,
deve ser tratado com a importância suficiente para que se possa

51
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
pensar em mecanismos de controles adequados. Reduzir o compo- No entanto, outra forma de analisar o processo de descentral-
nente formal da burocracia pode justamente implicar em adoção ização é colocado por Felicíssimo (1994). Para o autor, a descentral-
de uma racionalidade apenas substancial, justificada somente pelas ização pode ser vista de duas formas diferentes.
“razões de Estado”, tornando o controle da administração ineficaz Uma, na qual a descentralização envolve necessariamente a
ou inexistente. ampliação da cidadania. Porém, segundo o autor, isto nem sempre
A flexibilização da administração, nesta reforma, será resulta- vai além de um desejo que não se realiza. A segunda forma é justa-
do da descentralização e da introdução de uma maior autonomia mente o contraponto desta concepção e, segundo o autor, decorre
para os gestores públicos. A descentralização e a flexibilização são, da pressão da ideologia eficientista que pensa apenas na resolução
sem dúvida, um benefício do ponto de vista administrativo que na imediata dos problemas mais evidentes, restringindo o volume de
administração pública deve ser vista com cautela pelas implicações demandas, resultado da participação nas decisões.
políticas possíveis. O controle destas estruturas descentralizadas é Entendemos que o processo de reforma atual é marcado por
pretendido via contratos de gestão. Os controles serão exercidos esse eficientismo, desprezando-se os problemas políticos e cul-
em cima dos parâmetros negociados nos contratos de gestão e os turais da administração pública e não prevendo os mecanismos de
gestores terão grande autonomia de administração dos recursos. controle adequados. A reforma pressupõe uma participação social
Médici e Barros Silva (1993) afirmam que a administração flex- ativa, por meio do controle social, e uma responsabilização dos ge-
ível surgiu como um requisito básico de modernização das organ- stores públicos (accountability) que precisa ser concebida dentro
izações públicas e privadas, não como modismo, mas em decorrên- do contexto de nossa sociedade.
cia das mudanças que ocorreram no contexto mundial da economia O PDRAE estabelece as diretrizes de implantação de um mod-
globalizada e do ambiente cultural e tecnológico das organizações. elo “gerencial” ou “pós-burocrático” para a administração pública
A crise econômica mundial dos anos 70 influenciou na mudança no Brasil.
dos estilos de gestão do setor público, os quais passaram a ser uma O modelo burocrático clássico é marcado por algumas carac-
importante condição de competitividade para a nação. O Estado terísticas tais como a impessoalidade, o formalismo (legalidade),
passou a ter que enfrentar novas estratégias internacionais de com- a idéiade carreira, hierarquia e profissionalização. Neste modelo o
petitividade, que utilizavam métodos comparativos de vantagens e controle é fortemente marcado pela característica da legalidade e
se baseavam na redução dos custos e na melhoria da qualidade. Os realizado a priori.
investimentos nacionais passaram a utilizar a estratégia de atração No novo modelo “gerencial”, a maioria destas características
dos capitais internacionais, cuja capacidade de atração depende de da burocracia são mantidas com exceção do formalismo, ao qual
máquinas estatais desburocratizadas e de legislações compatíveis é sugerida a sua redução, dando-se uma liberdade maior ao ges-
com lucratividade e desempenho. A transferência de capitais inter- tor público para este expressar a sua criatividade. A autonomia do
nacionais não mais enfrenta barreiras graças às novas tecnologias gestor é aumentada através de mecanismos de descentralização.
e às possibilidades de integração competitiva. Em função disso, o Também, são utilizados vários conceitos e práticas de administração
Estado necessita empreender esforços no sentido de tornar o país privada aplicadas à administração pública, tais como: Reengenha-
atrativo para esses capitais internacionais. A administração pública ria, Qualidade Total e outros. O controle no modelo deve ter ênfase
por sua vez precisa abandonar as estratégias de isonomia e padro- nos resultados (a posteriori) e, além disso, a sociedade deverá ter
nização das condições de trabalho, tendo em vista as mudanças de uma participação mas efetiva na fiscalização dos atos dos gestores
hábitos provocadas pela mundialização da economia. Sendo assim, públicos atuando como controle social.
a necessidade de adaptação às mudanças e a rapidez nas respostas Entre as principais mudanças a serem introduzidas pelo PDRAE,
passa a ser uma exigência nas administrações flexíveis dos tempos em relação ao modelo burocrático clássico, temos a redução do for-
modernos, o que muitas vezes implica em montagem e desmon- malismo, descentralização das funções públicas com o horizontal-
tagem de estruturas produtivas com grande facilidade. ização das estruturas, incentivo à criatividade e, ainda, a introdução
Osborne e Gaebler (1990) descrevem os benefícios da descen- da competição administrada. Neste enfoque, a Constituição Federal
tralização. O princípio é dar mais autonomia `a unidade de admin- de 1988 é encarada, nas premissas do plano, como um retrocesso
istração local, dando mais liberdade aos seus gestores, e com isso a burocrático, principalmente, pelas restrições impostas à admissão
estrutura como um todo terá grandes vantagens, tais como: primei- e demissão de servidores e, ainda, pelos privilégios concedidos
ro, instituições descentralizadas são mais flexíveis que as institu- ou mantidos a determinadas categorias que elevaram o custo da
ições centralizadas e podem responder com muito mais rapidez a máquina pública.
mudanças nas circunstâncias ou nas necessidades dos clientes; se- Bresser Pereira (1997) fala que no século dezenove a adminis-
gundo, instituições descentralizadas são muito mais eficientes que tração pública burocrática substituiu a patrimonialista e isto repre-
as centralizadas; terceiro: instituições descentralizadas são muito sentou um grande avanço no cerceamento da corrupção e do nep-
mais inovadoras do que as centralizadas; e quarto, instituições de- otismo. Mais tarde, com o crescimento do Estado, a burocracia se
scentralizadas têm moral elevada, são mais comprometidas e pro- tornou ineficiente. Assim, considerando que o patrimonialismo es-
dutivas. taria extinto ou reduzido pela introdução de um modelo burocráti-
A argumentação de Osborne e Gaebler (1990) traz a ideia de co e considerando a ineficiência do modelo burocrático no momen-
empreendedorismo na administração pública e do controle social to atual, não haveria mais necessidade de critérios rígidos formais,
uma vez que a sociedade passa a ter uma atuação importante na como os adotados na administração burocrática, sendo permitido
fiscalização dos atos dos gestores públicos. Os autores dizem, ain- a redução da rigidez burocrática mediante estabelecimento de um
da, que os líderes empreendedores empregam um variado número modelo gerencial mais eficiente2 .
de estratégias para fazer o controle retornar às mãos daqueles que Esta avaliação não leva em conta os mecanismos de persistên-
se encontram na ponta mais baixa da hierarquia, onde as coisas, cia do patrimonialismo nos Estados modernos e, particularmente,
acontecem de fato. Uma das formas é a administração participa- nos Estados onde não houve, no seu processo histórico, a existência
tiva, visando descentralizar o processo de tomada de decisões. A de uma burguesia emergente como no caso do Brasil. O relatório “A
responsabilidade sobre os recursos gera, também, uma responsab- comissão especial e a corrupção na administração pública federal”
ilidade sobre os resultados. de dezembro de 1994 da Comissão Especial, criada pela Presidência
da Pública por meio do Decreto 1001/93, mostra como está nossa

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
administração e confirma que as práticas patrimoniais estão pro- O plano de reforma não esboça claramente mecanismos de
fundamente enraizadas na cultura do Estado brasileiro. A possibil- controle social. O que se tem bem claro são os mecanismos de con-
idade de manutenção de práticas neopatrimoniais é um problema trole de resultado com a introdução cada vez maior dos contratos
que deve ser muito bem avaliado nos processos de reforma do Es- de gestão. A questão que colocamos é: será que uma organização
tado, desde que interferem diretamente nos mecanismos de poder. pública dando resultado estará, necessariamente, aplicando os re-
Esta questão política não pode ser desconsiderada num processo cursos da melhor maneira do ponto de vista social? Sem dúvida que
de reforma institucional tão amplo como o pretendido pelo gover- os valores na administração pública devem ser outros, diferentes
no por meio do PDRAE de 1995. dos princípios da administração privada. Não se pode apenas pen-
Fleury (1997) fala sobre o que considera os pressupostos sar em resultados na administração pública. A controle social deve
doutrinários do plano de reforma. Entre eles, a autora lembra as ser justamente o fiel da balança.
palavras de Bresser Pereira(1996) “....Já chegamos a um nível cul- Segundo Ribeiro (1997), a reforma administrativa, no Brasil, não
tural e político em que o patrimonialismo está condenado, que o é um fenômeno isolado. Simultaneamente, existem fatores de or-
burocratismo está condenado, e que é possível desenvolver estraté- dens diversas que influenciam a condução dos negócios. Os fatores
gias administrativas baseadas na ampla delegação de autoridade e de dimensão econômica forçam a eficiência; os fatores de ordem
na cobrança a posteriori de resultados”. política cobram a efetividade, enquanto os fatores de dimensão tec-
Em contraposição, a autora cita Martins(1995) que diz que esse nológica possibilitam a transparência e a qualidade dos serviços. O
pensamento é puro caso de Wishful thinking (ou seja um pensam- controle dos resultados depende da conjugação desses fatores. Um
ento apenas de desejo e não de realidade) contra todas as evidên- esforço de adequação institucional e uma reflexão mais profunda
cias conhecidas, nas quais se observa que a administração pública sobre o papel do controle nas organizações públicas, em qualquer
brasileira foi-se expandindo por camadas, como em um bolo de fes- que seja o tipo de controle utilizado (preventivo, corretivo, quer na
tas, somando à administração patrimonial e clientelista - prepon- linguagem do paradigma gerencial), em contexto democrático e de
derante até os anos 30 - a camada da administração burocrática revolução tecnológica, se fazem necessários.
- “daspiniana”-, acrescentada da camada gerencial - desde os gru- Assim, uma ampla reforma, que implica maior flexibilidade para
pos executivos dos anos 60 aos empresários das estatais do anos a gestão, requer além de uma boa estruturação dos mecanismos
70. Para Fleury “... na política e na administração a coexistência de de controle formais, também, que se abra perspectivas, principal-
formas pretéritas com as mais modernas apenas indica que elas mente, para uma maior participação social e, consequentemente,
cumprem diferentes funções no processo de circulação do poder.” para a ampliação da democracia participativa. O importante é que
Um segundo pressuposto doutrinário, colocado por Fl- alcancemos uma situação inserida e regulada, como colocado por
eury(1997), é sobre a afirmação, que orienta a reforma, do caráter Martins (1997). Quando falamos em participação social, nos referi-
antidemocrático da burocracia. Segundo a autora “Ora, qualquer mos entre outras coisas à responsabilização dos gestores públicos
leitor com alguma familiaridade com a teoria sociológica, weberia- pelos atos praticados e participação social nas políticas públicas, ou
na ou não, sabe que a emergência de uma administração burocráti- seja, ao que se chama de accountability. Isto significa um estímulo à
ca é a contra face da cidadania, um dos pilares, portanto, do Estado organização social, educação para a cidadania e participação efetiva
democrático.” na formulação das políticas públicas do governo.
Muitos outros autores também mostram o simplismo de al- Entretanto, segundo Cunill Grau (1996), deve-se ter cuidado
guns enfoques de reformas administrativas na América Latina3 . na geração de mecanismos de participação social. Os mecanismos
Este simplismo, muitas vezes, decorre da dicotomia entre política institucionalizados podem não estimular a organização social e, em
e administração nos planos de reforma. No Brasil, especificamente, contrapartida, vir a se constituir em uma desarticulação do tecido
temos que considerar os traços de dominação tradicional, resultado social e fortalecer as assimetrias da representação social, redundan-
da formação histórica, da persistência de práticas neopatrimoniais, do no enfraquecimento da sociedade civil. Apesar disso, a autora
da realidade do nível de desenvolvimento político e da cultura de fala que é necessária a criação de uma discriminação positiva para
nossa sociedade. Ainda no Brasil, as reformas administrativas tem envolvimento dos atores interessados. As experiências mostram
se caracterizado por uma centralização política, administrativa e que esta é uma tarefa extremamente complicada, sobretudo devido
inacessibilidade da participação individual e comunitária à formu- às limitações do próprio Estado. A autora ressalta, por fim, que se
lação da política pública. deve questionar o grau de influência dos processos de reforma do
Entretanto, é ponto pacífico que a administração pública bra- Estado, em curso na América Latina, na alteração de sua dimensão
sileira precisa de uma reformulação. Os traços tradicionais marcar- político-institucional, por meio de reformas políticas, de reformas
am profundamente a cultura dentro das organizações públicas, ge- jurídicas e de processos de descentralização político-administrativa,
rando ineficiência, clientelismo, nepotismo e outros degenerações de forma que criem um modelo institucional estável, aumentem a
que a burocracia não conseguiu debelar. A crise do Estado de bem representatividade política e evitem a orientação patrimonialista e
estar social, a integração econômica com o resto do mundo e o défi- clientelista da máquina administrativa.
cit do setor público exigem uma elevação do padrão de eficiência e Outra forma de analisar este problema é do ponto de vista de
eficácia das ações públicas. capacidade de articulação dos diversos atores interessados pelo
Diante desse quadro, é consenso a necessidade de reforma do Estado na consecução dos interesses públicos. Ou seja, a capaci-
aparelho do Estado. A flexibilização da administração traz diversas dade de governança. Esta capacidade de articulação implica em se
vantagens do ponto de vista administrativo. Porém, em contra par- ter condições possíveis de controle sobre os recursos públicos dis-
tida, é importante o estabelecimento de mecanismos de controle poníveis para os atores envolvidos. Bresser Pereira (1996) coloca a
da atuação dos gestores públicos nos programas do governo. Os reforma administrativa como o desencadeamento do processo de
mecanismos de controle interno formais têm demonstrado que não governança na administração pública. Para ele, existe governança
são suficientes para garantir que o serviço público sirva sua clientela quando o Estado tem as condições financeiras e administrativas
de acordo com os padrões normativos do governo democrático. A para transformar em realidade as decisões que toma.
organização burocrática tem demonstrado incapacidade em contra- Tornar realidade as decisões que toma necessita de um siste-
balançar abusos como corrupção, conduta aética e arbitrariedades ma de controle que corrija os rumos para se alcançar os objetivos.
do poder (Campos, 1990). Assim, o conceito de governance, colocado por Diniz (1997, 1998),

53
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
nos parece mais adequado para enfocar o problema quando a au- istração é enfatizada, no plano de reforma, como forma de tornar a
tora inclui o conjunto de mecanismos e procedimentos para lidar administração mais eficiente e eficaz, porém pode estar deixando a
com a dimensão participativa e plural da sociedade, o que impli- situação ainda mais crítica, já que não há grandes perspectivas de
ca expandir e aperfeiçoar os meios de interlocução e de adminis- controle social.
tração do jogo de interesses. As condições internacionais e a com- Segundo Schwartzman (1996), a visão moderna da administra-
plexidade crescente da ordem social pressupõe um Estado dotado ção parte do princípio de que o administrador é honesto até prova
de maior flexibilidade, capaz de descentralizar funções, transferir em contrário, dá ampla flexibilidade de ação para os dirigentes das
responsabilidades e alargar, em lugar de restringir, o universo dos organizações, e substitui os controles formais pela avaliação de re-
atores participantes, sem abrir mão dos instrumentos de controle sultados. Porém, os controles formais continuam existindo pelo fato
e supervisão. Evitar a captura do poder público é uma tarefa com- de que a simples eliminação das restrições e controles burocráticos
plexa e implica estimular ou mesmo produzir um tecido associativo não é suficiente para garantir o bom desempenho e a correção no
favorável ao desempenho governamental eficiente. uso dos recursos públicos por parte das instituições governamen-
O controle é uma ferramenta importante dentro da admin- tais.
istração. Sem controle os rumos não são corrigidos, os objetivos Neste problema temos dois pontos chaves: o desempenho e o
principais muitas vezes ficam colocados em segundo plano, há des- controle. O primeiro é marcado pela cultura e depende do mercado
perdício e inadequação no uso dos recursos. Além disso, quando e das profissões que se exerce. Mercado e profissões dentro do jogo
prevalece a má-fé ocorrem também roubos e desmandos. econômico são mais fáceis de se criar, enquanto cultura faz parte de
O controle da administração pública surge dessa necessidade um processo de longa duração. O segundo problema diz respeito
de correção de rumos frente aos interesses da sociedade, que fo- ao controle, cujos órgãos oficiais, Tribunal de Contas e Secretarias
ram legitimados nas propostas dos candidatos vencedores nas de Controle interno pecam pela falta de capacidade técnica e legit-
eleições, e da obrigação da utilização regular dos recursos públicos. imidade para exercer a função. Na perspectiva do controle, o autor
Aqui não nos interessa classificar o controle como interno, externo cita os contratos de gestão, tendo os conselhos como um impor-
ou qualquer outra das diversas classificações possíveis. Nos inter- tante instrumento de coordenação e acompanhamento das ações
essa entender os mecanismos de controle de uma forma mais am- governamentais. Este conselhos devem satisfazer aos critérios de
pla como parte de um processo administrativo e político. Assim, o representatividade de pessoas da sociedade e devem ter um forte
processo poderia ser encarado com a seguinte sequência: proposta componente profissional que lhes possa dar prestígio, respeitabili-
do candidato, eleição, planejamento (Plano Plurianual, Lei de Dire- dade e capacidade de trabalho coordenado (Schwartzman, 1996).
trizes Orçamentárias e Lei orçamentária anual), execução, controle Os contratos de gestão se tornam peça muito importante, pois
e realimentação. O controle aparece como uma etapa do processo a relação entre as entidades de prestação de serviços descentral-
que procura assegurar o planejamento, dando informações para izados e o Estado se darão basicamente por este tipo de contrato
serem retroalimentadas. após a reforma. Os controles passam a se restringir aos parâmet-
Dentro deste enfoque, tudo estaria perfeito se não fosse ques- ros que foram negociados nos contratos de gestão e, desta forma,
tionável a própria legitimidade do processo de democracia repre-
é importante verificar as possibilidades efetivas de convergência
sentativa na elaboração da proposta e no planejamento fixado no
com o interesse público. Não podemos apenas mostrar os exem-
orçamento, além do ineficiente sistema de controle. Ou seja, existe
plos positivos e esquecer de avaliar com muita atenção as possibil-
uma grande distância entre o que é planejado e o interesse público
idades de deficiências. Principalmente, se esta ferramenta passar a
e, ainda, uma ineficácia dos mecanismos de controle que poderiam
ser o instrumento de definição de parâmetros de controle. Podem
corrigir os rumos. Sem conhecimento do funcionamento do sistema
surgir diversas dificuldades na elaboração de contratos de gestão,
a sociedade assiste sem reação ao jogo político de interesses na
tais como: o que significa resultado para a administração pública?;
utilização dos recursos públicos.
quais devem ser os parâmetros de controle?; os conselhos não
Então, como controlar a administração? Como reduzir as práti-
cas neopatrimoniais? Os controles formais não são suficientes e poderiam ser cooptados?; existirá capacitação técnica para exercer
sabe-se que é necessário controle de resultados. Muito se fala em a atividade de fiscalização?; qual deve ser o fluxo financeiro para as
redução dos controles formais, atuação mais intensa no resultado e entidades de prestação de serviço descentralizado?
controle social. A mudança de foco para os resultados depende de Ramos (1997) recomenda a necessidade de se adotar as medi-
mudanças na estrutura e nos procedimentos da administração. Já o das sugeridas pela teoria do agente-principal4 a fim de se enfrentar
controle social pressupõe uma sociedade organizada e consciente os problemas de adequação da estrutura de incentivos e da efe-
de seus direitos. Uma sociedade que conhece os caminhos da bu- tivação do controle social. Além disso, fala que se deve levar em
rocracia e tem condições efetivas de fiscalizar e cobrar resultados. conta o processo de negociação dos instrumentos e os sistemas de
O controle social pressupõe mecanismos formais de atuação aprendizado na administração pública com ênfase na capacitação
da sociedade e, ainda, que estes mecanismos sejam ágeis e conhe- do núcleo estratégico.
cidos. Porém, todos sabemos que mesmo as camadas mais privile- Przeworski(1998) faz uma discussão da teoria agent x princi-
giadas da nossa sociedade não tem o conhecimento suficiente de pal no texto “Sobre o desenho do Estado uma perspectiva agent x
como funciona a máquina pública. Os procedimentos são obscuros principal”. Outro ponto a ressaltar, diz despeito ao controle da ad-
e não há a publicidade adequada dos atos que afetam diretamente ministração pública sendo analisado sob dois aspectos: o político
as comunidades. Quando há a publicidade, os mecanismos de atu- e o administrativo. A reforma estabelece uma separação completa
ação não são suficientes para impedir e/ou coibir abusos. O patri- entre a política e administração, porém há laços indissociáveis nos
monialismo é muito forte na cultura de nossa administração (Pinho, dois temas.
1998). Torna-se difícil admitir que o controle social passará a atuar Analisando-se a história recente, veremos que a autonomia
naturalmente numa sociedade civil sem tradição de organização. pretendida na atual reforma já existia desde a Decreto Lei 200/67.
No entanto, a reforma administrativa em curso parte do princípio Naquele período, o Estado cresceu desordenadamente mediante a
que nossa sociedade está preparada e lança ao seu encargo tarefas multiplicação de entidades da administração indireta. O processo
que dificilmente serão cumpridas. A responsabilização dos gestores foi tão intenso que, apesar de excessivas normas e regulamentos,
(Accountability) fica longe de ser atingida. A Flexibilidade na admin- o controle político saiu das mãos do governo (Pinho, 1998). As em-

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
presas estatais, autarquias e fundações por vezes estavam estabe- mocrático. Além disso, a organização burocrática tem demonstrado
lecendo políticas públicas. O controle político do governo central incapacidade em contrabalançar abusos como corrupção, condu-
estava profundamente comprometido. ta aética e arbitrariedades do poder. Estabelecer uma situação de
Na atual reforma, ao modificar-se a estrutura das relações com participação social equilibrada é uma tarefa difícil, porém deve-se
as atividades descentralizadas do governo, estabelece-se, entretan- ter a preocupação, na condução da reforma, no estabelecimento
to, uma vinculação política fechada com o governo central. Princi- de mecanismos de controle adequados e, ainda, na estimulação da
palmente no caso das Organizações Sociais5 , onde os servidores participação social que possibilite aos grupos organizados da socie-
deixam de entrar por concurso e são contratados no mercado por dade uma participação efetiva neste processo de descentralização,
conselhos gestores. Tanto os conselhos gestores como a comissão para que possamos ter um mínimo da dimensão do que se chama
de fiscalização da entidade serão indicados diretamente pelo mi- accountability no setor público.
nistro da área. As políticas públicas serão elaboradas no núcleo es- A reforma administrativa em curso parte do princípio que nos-
tratégico de forma centralizada (Bresser Pereira, 1996). Fica difícil sa sociedade está preparada para o controle social e muda a es-
controlar as contratações políticas e malversação dos recursos pú- trutura da administração, transferindo para a sociedade uma tarefa
blicos se há autonomia para tal e se os parâmetros estabelecidos que dificilmente será cumprida a curto prazo. Sem controle social,
nos contratos de gestão forem cumpridos. O número de servidores a responsabilização dos gestores (Accountability) fica longe de ser
nas atividades descentralizadas é muito grande e, no sistema atu- atingida.
al, de difícil controle político. Com a reforma, a cooptação destas O principal instrumento de relação do Estado com as entidades
camadas da administração se torna um trunfo poderoso dentro do de prestação de serviços descentralizados, no plano de reforma,
cenário político. Ficam ligados diretamente apenas uma parcela será o contrato de gestão. Existem grandes dificuldades na elabo-
menor de servidores, carreiras típicas de Estado, que continuariam ração dos contratos de gestão que devem ser consideradas no pro-
entrando por concurso, porém com salários maiores e certamente cesso de reforma, que generaliza este tipo de instrumento como
por esse motivo vinculados aos preceitos da organização burocráti- peça única para estabelecimento dos mecanismos de controle dos
ca do núcleo estratégico. Sem meios de controle social adequados, recursos públicos repassados às entidades descentralizadas.
os recursos públicos ficam à disposição dos grupos políticos no po- O processo de informatização estabelecido com a reforma ad-
der e distantes do interesse público. ministrativa traz uma grande possibilidade de restabelecimento de
Finalmente, vale colocar aqui um breve comentário sobre as controles e avaliação de resultados na administração pública. No
possibilidade de controle via sistemas informatizados. Independen- futuro, os sistemas informatizados podem se tornar o grande aliado
te da mudança estrutural proposta, a reforma administrativa traz a nos mecanismos de controle social da administração pública.19
intenção de fortalecimento dos sistemas informatizados de gestão
pública que desempenham controles sobre a administração finan- A estrutura do Estado Brasileiro é uma República, ou seja, o
ceira, orçamentária, patrimonial e de pessoal, a exemplo do SIAFI, Chefe de Estado é eleito pelo povo, Republica essa formada pela
SIDOR, SISPLAN e SIAPE e outros sistemas que restabelecem me- União, Estados e Municípios, onde o exercício do poder é atribuído
canismos de controle há muito tempo perdidos. Estes sistemas vis- a Poderes distintos, independentes e harmônicos entre si, sendo
am a centralização das informações que abrangem diversas áreas: esses poderes o Legislativo (responsável pela elaboração das leis),
pessoal civil, serviços gerais, organização e modernização adminis- Executivo (execução dos programas de governo) e Judiciário (solu-
trativa, informação e informática, planejamento e orçamento e con- cionador dos conflitos entre cidadãos, entidades e Estado).
trole interno do governo federal. Esta é uma medida de importância Além dessas características a Estrutura apresenta um sistema
imensurável no contexto de controle dos recursos públicos. O con- político pluripartidário, ou seja, é cabível o surgimento e a regular-
trole formal, antes exercidos com normas e procedimentos escritos, ização de vários partidos políticos, sendo esses, a associação livre e
agora passam a ser padronizados nos sistemas informatizados, tor- voluntaria de pessoas que comungam dos mesmos objetivos, inter-
nando-se uma arma poderosa no acompanhamento dos resultados. esses e ideais.
A Internet pode ser também um canal para o controle efetivo das A Administração Pública é a atividade do Estado exercida pelos
ações e projetos das instituições públicas (Sato, 1997). A informa- seus órgãos encarregados do desempenho das atribuições públicas,
tização será no futuro a grande arma do sistema de controle social. em outras palavras é o conjunto de órgãos e funções instituídos e
Para isso é preciso uma grande vontade política, visto que os meios necessários para a obtenção dos objetivos do governo.
só dependem de investimento para viabilizar mecanismos de con- A atividade administrativa, em qualquer dos poderes ou esfe-
trole social estruturados com base em informação desses sistemas ras, obedece aos princípios da legalidade, impessoalidade, morali-
de informação. dade, publicidade e eficiência, como impõe a norma fundamental
Existem muitos benefícios no processo de descentralização, do artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de
entre os quais flexibilidade e respostas mais rápidas a mudanças, 1988, que assim dispõe em seu caput: “Art. 37. A administração
mais eficiência, mais compromisso com os resultados e maior pro- pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Es-
dutividade. tados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
Entretanto, não se pode esquecer o lado político. A reforma ad- de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
ministrativa introduzida pelo PDRAE é marcada fortemente pela di- e, também, ao seguinte”.
cotomia entre política e administração. O processo de flexibilização,
pelo lado meramente administrativo traz maior dinâmica e eficiên- PRINCÍPIOS
cia. Porém, pelo lado político, pode implicar a manutenção e re- Os princípios jurídicos orientam a interpretação e a aplicação
forço de práticas neopatrimonialistas e de processos de corrupção, de outras normas. São verdadeiras diretrizes do ordenamento ju-
nepotismo, clientelismo e outras patologias no país, quando reduz rídico, guias de interpretação, às quais a administração pública fica
mecanismos de controle formal em alguns setores e não estabelece subordinada. Possuem um alto grau de generalidade e abstração,
claramente mecanismos de controle social que traria uma regu- bem como um profundo conteúdo axiológico e valorativo.
lação política.
Os mecanismos de controle interno têm demonstrado que
não são suficientes para garantir que o serviço público sirva sua 19 Fonte: www.anpad.org.br - Texto adaptado de Francisco Carlos da Cruz Silva
clientela de acordo com os padrões normativos do governo de- e Cláudio Fernando Macedo

55
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Os principais princípios da Administração Pública estão inseri- 2. Princípio da Impessoalidade
dos no artigo 37 “caput” da Constituição Federal (CF): legalidade, Significa que a Administração Pública não poderá atuar discri-
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. minando pessoas de forma gratuita, a Administração Pública deve
São cinco princípios, podendo ser facilmente memorizados permanecer numa posição de neutralidade em relação às pessoas
através da palavra LIMPE, vejam: L (legalidade); I (impessoalidade); privadas. A atividade administrativa deve ser destinada a todos os
M (moralidade); P (publicidade); e E (eficiência). administrados, sem discriminação nem favoritismo, constituindo
Esses princípios têm natureza meramente exemplificativa, pos- assim um desdobramento do princípio geral da igualdade, art. 5.º,
to que representam apenas o mínimo que a Administração Pública caput, CF.
deve perseguir quando do desempenho de suas atividades. Exem- Ex.: Quando da contratação de serviços por meio de licitação, a
plos de outros princípios: razoabilidade, motivação, segurança das Administração Pública deve estar estritamente vinculada ao edital,
relações jurídicas. as regras devem ser iguais para todos que queiram participar da
Os princípios da Administração Pública são regras que surgem licitação.
como parâmetros para a interpretação das demais normas jurídi-
cas. Têm a função de oferecer coerência e harmonia para o ordena- 3. Princípio da Moralidade
mento jurídico. Quando houver mais de uma norma, deve-se seguir A atividade da Administração Pública deve obedecer não só à
aquela que mais se compatibiliza com a Constituição Federal, ou lei, mas também à moral.
seja, deve ser feita uma interpretação conforme a Constituição. A Lei n. 8.429/92, no seu art. 9.º, apresentou, em caráter ex-
Os princípios da Administração abrangem a Administração Pú- emplificativo, as hipóteses de atos de improbidade administrativa;
blica direta e indireta de quaisquer dos Poderes da União, dos Esta- esse artigo dispõe que todo aquele que objetivar algum tipo de van-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 37 da CF/88). tagem patrimonial indevida, em razão de cargo, mandato, emprego
ou função que exerce, estará praticando ato de improbidade admin-
1. Princípio da Legalidade istrativa. São exemplos:
Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa Usar bens e equipamentos públicos com finalidade particular;
senão em virtude de lei (art. 5.º, II, da CF). O princípio da legalidade Intermediar liberação de verbas;
representa uma garantia para os administrados, pois qualquer ato Estabelecer contratação direta quando a lei manda licitar;
da Administração Pública somente terá validade se respaldado em Vender bem público abaixo do valor de mercado;
lei. Representa um limite para a atuação do Estado, visando à pro- Adquirir bens acima do valor de mercado (superfaturamento).
teção do administrado em relação ao abuso de poder.
O princípio em estudo apresenta um perfil diverso no campo Os atos de improbidade podem ser combatidos através de in-
do Direito Público e no campo do Direito Privado. No Direito Priva- strumentos postos à disposição dos administrados, são eles;
do, tendo em vista o interesse privado, as partes poderão fazer tudo Ação Popular, art. 5.º, LXXIII, da CF; e
o que a lei não proíbe; no Direito Público, diferentemente, existe Ação Civil Pública, Lei n. 7347/85, art. 1.º.
uma relação de subordinação perante a lei, ou seja, só se pode fazer
o que a lei expressamente autorizar. 4. Princípio da Publicidade
Nesse caso, faz-se necessário o entendimento a respeito do É o dever atribuído à Administração, de dar total transparência
ato vinculado e do ato discricionário, posto que no ato vinculado o a todos os atos que praticar, ou seja, como regra geral, nenhum ato
administrador está estritamente vinculado ao que diz a lei e no ato administrativo pode ser sigiloso.
discricionário o administrador possui uma certa margem de discri- A regra do princípio que veda o sigilo comporta algumas ex-
cionariedade. Vejamos: ceções, como quando os atos e atividades estiverem relacionados
a) No ato vinculado, o administrador não tem liberdade para com a segurança nacional ou quando o conteúdo da informação for
decidir quanto à atuação. A lei previamente estabelece um único resguardado por sigilo (art. 37, § 3.º, II, da CF/88).
comportamento possível a ser tomado pelo administrador no fato A publicidade, entretanto, só será admitida se tiver fim educa-
concreto; não podendo haver juízo de valores, o administrador não tivo, informativo ou de orientação social, proibindo-se a promoção
poderá analisar a conveniência e a oportunidade do ato. pessoal de autoridades ou de servidores públicos por meio de apa-
b) O ato discricionário é aquele que, editado debaixo da lei, recimento de nomes, símbolos e imagens. Exemplo: É proibido plac-
confere ao administrador a liberdade para fazer um juízo de con- as de inauguração de praças com o nome do prefeito.
veniência e oportunidade.
5. Princípio da Eficiência
A diferença entre o ato vinculado e o ato discricionário está no A Emenda Constitucional nº 19 trouxe para o texto con-
grau de liberdade conferido ao administrador. stitucional o princípio da eficiência, que obrigou a Administração
Tanto o ato vinculado quanto o ato discricionário só poderão Pública a aperfeiçoar os serviços e as atividades que presta, buscan-
ser reapreciados pelo Judiciário no tocante à sua legalidade, pois o
do otimização de resultados e visando atender o interesse público
judiciário não poderá intervir no juízo de valor e oportunidade da
com maior eficiência.
Administração Pública.
Para uma pessoa ingressar no serviço público, deve haver con-
Importante também destacar que o princípio da legalidade, no
curso público. A Constituição Federal de 1988 dispõe quais os títu-
Direito Administrativo, apresenta algumas exceções: Exemplo:
los e provas hábeis para o serviço público, a natureza e a complex-
Medidas provisórias: são atos com força de lei que só podem
idade do cargo.
ser editados em matéria de relevância e urgência. Dessa forma, o
Para adquirir estabilidade, é necessária a eficiência (nomeação
administrado só se submeterá ao previsto em medida provisória se
elas forem editadas dentro dos parâmetros constitucionais, ou seja, por concurso, estágio probatório etc.). E para perder a condição de
se presentes os requisitos da relevância e da urgência; servidor, é necessária sentença judicial transitada em julgado, pro-
Estado de sítio e estado de defesa: são momentos de anor- cesso administrativo com ampla defesa e insuficiência de desem-
malidade institucional. Representam restrições ao princípio da le- penho.
galidade porque são instituídos por um decreto presidencial que Há ainda outros princípios que a Administração Pública deve
poderá obrigar a fazer ou deixar de fazer mesmo não sendo lei. perseguir, dentre eles, podemos citar dois de grande importância;

56
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
a) Princípio da Motivação: É o princípio mais importante, visto • (Ex.; Justiça, desporto, educação etc.)
que sem a motivação não há o devido processo legal. • Poderes Legislativo e Judiciário.
No entanto, motivação, neste caso, nada tem haver com aque- • Têm sua estrutura orgânica definida em seus respectivos
le estado de ânimo. Motivar significa mencionar o dispositivo legal atos de organização administrativa. O legislativo tem poder consti-
aplicável ao caso concreto, relacionar os fatos que concretamente tucional de dispor sobre sua organização e funcionamento
levaram à aplicação daquele dispositivo legal. • Judiciário, da mesma forma, tem capacidade de auto orga-
Todos os atos administrativos devem ser motivados para que nização em relação a cada um dos seus tribunais.
o Judiciário possa controlar o mérito do ato administrativo quanto • Esfera Estadual.
à sua legalidade. Para efetuar esse controle, devem-se observar os • Similar ao Federal.
motivos dos atos administrativos. • - Executivo, legislativo e Judiciário.
Hely Lopes Meirelles entende que o ato discricionário, edita- • Esfera Municipal
do sob a lei, confere ao administrador uma margem de liberdade • - Administração direta na esfera municipal.
para fazer um juízo de conveniência e oportunidade, não sendo • - O município não tem judiciário próprio.
necessária a motivação, porém, se houver tal motivação, o ato
deverá condicionar-se à referida motivação. O entendimento ma- Já a ADM indireta é o conjunto de pessoas administrativas,
joritário, no entanto, é de que, mesmo no ato discricionário, é vinculadas à administração direta, cuja natureza de função é a ex-
necessária a motivação para que se saiba qual o caminho adotado. ecução de algumas tarefas de seu interesse por outras pessoas ju-
rídicas, sendo que, em conformidade com a CF, todas as entidades
b) Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Par- federativas poder ter sua Administração Indireta, desde que, a com-
ticular: Sempre que houver necessidade de satisfazer um interesse petência para a atividade seja sua e haja interesse na descentral-
público, em detrimento de um interesse particular, prevalece o in- ização. Conforme previsto no Decreto-Lei 200/67, a ADM indireta
teresse público. São as prerrogativas conferidas à Administração é composta por:
Pública, porque esta atua por conta dos interesses públicos. • autarquia
O administrador, para melhor se empenhar na busca do inter- • empresa publica
esse público, possui direitos que asseguram uma maior amplitude e • sociedade de economia mista
segurança em suas relações. • fundação publica
No entanto, sempre que esses direitos forem utilizados para
finalidade diversa do interesse público, o administrador será re- Vale ressaltar que, tanto uma como a outra obedecerão os
sponsabilizado e surgirá o abuso de poder. princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, mor-
alidade, publicidade e eficiência (art. 37, Constituição Federal de
O autor Censo Antonio Bandeira de Mello, defende que a 1988).
função do Estado ou a função publica como sendo a atividade ex- A Administração pode assumir duas vertentes: a primeira é a
ercida no cumprimento do dever de alcançar o interesse publico. ideia de servir e executar; a segunda envolve a ideia de direção ou
A Administração se dá de forma Direta que é representada pelos gestão. Nas duas visões há a presença da relação de subordinação
orgãos do poder público cujas atribuições lhe são típicas (União, e hierarquia. Administrar para muitos significa não só prestar servi-
Estados, DF e Municípios), definida pela Presidência e Ministérios, ços e executá-los, como também governar e exercer a vontade com
Governo e Secretarias Estaduais e Municipais e de forma Indireta, o objetivo de obter um resultado útil a coletividade. Administrar
que é composta pelas Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades significa também planejar e elaborar ações no sentido de enfrentar
de Economia Mista e Fundações Públicas, com personalidade juríd- os problemas vividos diariamente pela sociedade, ou seja, elaborar
ica própria, mas ligadas ao Estado, enquanto que a administração Políticas Públicas que possam orientar as ações governamentais.
indireta compreende as entidades, dotadas de personalidade ju- Em suma podemos definir Administração Pública como toda ativi-
rídica própria, como autarquias, empresas públicas, sociedades de dade do Estado. Logo, podemos formular conceito próprio partindo
economia mista, fundações e o consórcio público. da visão de Hely Lopes Meirelles: “O estudo da Administração Pú-
A ADM Pública representa a atuação direta do Estado através blica em geral, compreendendo a sua estrutura e as suas atividades,
de suas unidades. deve partir do conceito de Estado, sobre o qual repousa toda a con-
A ADM indireta é um conjunto de entidades com personalidade cepção moderna de organização.
jurídica que estão vinculados à um órgão da Administração Dire- O autor Censo Antonio Bandeira de Mello, defende que a
ta, prestando serviço publico ou de interesse publico, isto é, corre- função do Estado ou a função publica como sendo a atividade ex-
sponde àquelas pessoas jurídicas de direito publico e privado, que ercida no cumprimento do dever de alcançar o interesse publico.
tem por finalidade auxiliar a administração direta na execução de A Administração se dá de forma Direta que é representada pe-
determinadas atividades. los órgãos do poder público cujas atribuições lhe são típicas (União,
Estados, DF e Municípios), definida pela Presidência e Ministérios,
A ADM direta desempenha atividade centralizada, abrangendo Governo e Secretarias Estaduais e Municipais e de forma Indireta,
os três poderes estruturais e sua composição é assim formada: que é composta pelas Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades
• Executivo de Economia Mista e Fundações Públicas, com personalidade juríd-
• - Esfera Federal. ica própria, mas ligadas ao Estado, enquanto que a administração
• Presidência da República indireta compreende as entidades, dotadas de personalidade ju-
• (Casa civil e a secretaria geral) rídica própria, como autarquias, empresas públicas, sociedades de
• Órgãos de assessoramento imediato. economia mista, fundações e o consórcio público.
• (Assessoria especial e advogado-geral da união)
• Órgão de consulta. A estruturação da Máquina Administrativa veio de um modelo
• (Conselho da República e conselho de defesa nacional) patrimonial percebida até década de 30, na sequencia veio a Era
• Ministérios. Vargas, onde vemos o modelo burocrático e na segunda metade
• - Cada um destinado à determinada área de atuação ad- da década de 90, deu início a implementação do modelo gerencial.
ministrativa.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Podemos dividir essa estruturação em sete etapas, quais se- O modelo de administração pública burocrática, ou racional-le-
jam: gal, foi adotado em muitos países visando a substituição aquele tipo
1) 1930 a 1945 – Burocratização da Era Vargas: Nessa primei- de administração onde patrimônio público e privado eram confun-
ra etapa, em decorrência do Estado patrimonial, da falta de qua- didos, O modelo burocrático visava o combate do clientelismo, nep-
lificação técnica dos servidores, da crise econômica mundial e da otismo, empreguismo e, até mesmo, da corrupção
difusão da teoria keynesiana, que pregava a intervenção do Estado Ocorre que o modelo burocrático sofreu o ataque natural do
na Economia, o governo autoritário de Vargas resolve modernizar a tempo, não sendo o mais apropriado para gerir as estruturas do
máquina administrativa brasileira através dos paradigmas burocrá- Estado. Para responder a essas limitações do modelo burocrático,
ticos difundidos por Max Weber. O auge dessas mudanças ocorre houve a adoção de certos padrões gerenciais na administração pú-
em 1936 com a criação do Departamento Administrativo do Serviço blica. Esses novos modelos teóricos acerca da gestão do Estado foi
Público (DASP), que tinha como atribuição modernizar a máquina chamado de Nova Administração Pública.
administrativa utilizando como instrumentos a afirmação dos prin- Trata-se de um modelo mais flexível e mais próximo das práti-
cípios do mérito, a centralização, a separação entre público e priva- cas de gestão do setor privado, conhecido como administração pú-
do, a hierarquia, a impessoalidade, a rigidez e universalidade das blica gerencial. No Brasil, a tentativa de se implantar tais teorias se
regras e a especialização e qualificação dos servidores. deu com a publicação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho,
2) 1956 a 1960 – A administração paralela de JK: A administra- com uma série de diretrizes a serem implementadas na adminis-
ção paralela foi um artifício utilizado pelo governo JK para atingir o tração pública denominando esse modelo de pós-burocrático.
seu Plano de Metas e seguir seu projeto desenvolvimentista. Surgiu A partir da década de 90, o foco central das discussões de políti-
com a criação de estruturas alheias à Administração Direta. cos e formuladores de políticas públicas passou a ser a reforma ad-
3) 1967 – A reforma militar: Durante a ditadura militar, a ad- ministrativa. Com isso, deu-se início à implementação de novas for-
ministração pública passa por novas transformações, tais como: A mas de gestão, com modelos mais próximos daqueles empregados
ampliação da função econômica do Estado com a criação de várias na iniciativa privada.
empresas estatais, a facilidade de implantação de políticas – em de- Assim, a denominação de gerencialismo na administração pú-
corrência da natureza autoritária do regime, e o aprofundamento blica seria referente ao desafio de realizar programas direcionados
da divisão da administração pública, mais especificamente através ao aumento da eficiência e melhoria da qualidade dos serviços
do Decreto-Lei 200/67, que distinguiu claramente a Administração prestados pelo Estado. O gerencialismo seria um pluralismo organ-
Direta (exercida por órgãos diretamente subordinados aos minis- izacional sob bases pós-burocráticas vinculadas aos padrões históri-
térios) da indireta (formada por autarquias, fundações, empresas cos (institucionais e culturais) de cada nação, não se constituindo
públicas e sociedades de economia mista). Essa reforma trouxe num novo paradigma capaz de substituir por completo o antigo pa-
modernização, padronização e normatização nas áreas de pessoal, drão burocrático.
compras e execução orçamentária, estabelecendo ainda, cinco prin- Esse novo modelo não se materializou de modo completo, de
cípios estruturais da administração pública: planejamento, coorde- forma a poder ser reconhecido um novo mecanismo de governança
nação, descentralização, delegação de competências e controle. do Estado, capaz de atuar totalmente independente da burocracia.
4) 1988 – A administração pública na nova Constituição: A Autores mais recentes definem o tipo organizacional pós-buro-
nova Constituição da República Federativa do Brasil voltou a fortale- crático como organizações simbolicamente intensivas, produtoras
cer a Administração Direta instituindo regras iguais as que deveriam de consenso através da institucionalização do diálogo. Essas organ-
ser seguidas pela administração pública indireta, principalmente izações seriam mais especificamente caracterizadas por:
em relação à obrigatoriedade de concursos públicos para investidu- • constituir grupos de trabalho flexíveis e forças-tarefa com ob-
ra na carreira e aos procedimentos de compras públicas. jetivos claros;
5) 1990 – O governo Collor e o desmonte da máquina públi- • criar espaços para diálogo e conversação;
ca : Essa etapa da administração pública brasileira é marcada pelo • enfatizar confiança mútua;
retrocesso da máquina administrativa, o governo promoveu a ex- • usar o conceito de missão como ferramenta estratégica;
tinção de milhares de cargos de confiança, a reestruturação e a ex- • disseminar informação;
tinção de vários órgãos, a demissão de outras dezenas de milhares • criar redes de difusão e recuperação de conhecimento;
de servidores sem estabilidade e tantos outros foram colocados em • criar mecanismos de feedback e avaliação de performance
disponibilidade. Segundo estimativas, foram retirados do serviço • criar capacidade de resiliência e flexibilidade na organização
público, num curto período e sem qualquer planejamento, cerca de
100 mil servidores. No entanto, organizações baseadas em princípios como esses
6) 1995/2002 – O gerencialismo da Era FHC: A reforma admi- são particularmente raras e, na verdade, mesmo os defensores do
nistrativa foi o ícone do governo Fernando Henrique Cardoso em conceito de pós-burocracia concedem que, como tipo ideal, organ-
relação à administração pública brasileira. A reforma gerencial teve izações verdadeiramente pós-burocráticas não existem.
como instrumento básico o Plano Diretor da Reforma do Aparelho
do Estado (PDRAE), que visava à reestruturação do aparelho do Es- A evolução dos modelos de gestão na Administração Pública
tado para combater, principalmente, a cultura burocrática. Vamos a partir de agora tratar da Administração Pública no Bra-
7) Nova Administração Pública: O movimento “reinventando sil, considerando a evolução histórica do modo pelo qual a gestão
o governo” difundido nos EUA e a reforma administrativa de 95, das organizações governamentais vem sendo praticada em nosso
introduziram no Brasil a cultura do management, trazendo técnicas país. A importância do tema reside no fato de que a Administração
do setor privado para o setor público e tendo como características Pública em todo o mundo vem experimentando um processo de
básicas: profundas transformações, que se iniciou na década de 70, formado
● O foco no cliente por um conjunto amplo de correntes de pensamento, que formam
● A reengenharia a chamada “Nova Gestão Pública”. Esse processo também ocorre
● Governo empreendedor no Brasil. Para entender o que é a gestão pública hoje, precisamos
● Administração da qualidade total retroceder no tempo e analisar sua evolução ao longo das décadas.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Nos últimos anos assistimos em todo o mundo a um debate 3. A reforma da previdência social, procurando-se dar sustenta-
acalorado – ainda longe de concluído – sobre o papel que o Estado bilidade à mesma, equilibrando-se os montantes de contribuições
deve desempenhar na vida contemporânea e o grau de intervenção e benefícios;
que deve ter na economia. Nos anos 50, o economista Richard Mus- 4. A inovação dos instrumentos de política social, proporcio-
grave enunciou as três funções clássicas do Estado: nando maior abrangência e promovendo melhor qualidade para os
• Função alocativa: prover os bens e serviços não adequada- serviços sociais;
mente fornecidos pelo mercado 5. A reforma do aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua
• Função distributiva: promover ajustamentos na distribuição “governança” ou seja, sua capacidade de implementar de forma efi-
da renda; ciente as políticas públicas.
• Função estabilizadora: evitar grandes flutuações nos níveis
de inflação e desemprego. A reforma do Estado envolve múltiplos aspectos. O ajuste fiscal
devolveria ao Estado a capacidade de definir e implementar políti-
De fato, entre o período que vai de 1945 (final da segunda cas públicas. Através da liberalização comercial, o Estado abando-
guerra mundial) e 1973(ano do choque do petróleo), a economia naria a estratégia protecionista da substituição de importações. Nesse
mundial experimentou uma grande expansão econômica, levando contexto, o programa de privatizações levado a cabo nos anos90 foi uma
este período a ser denominado de “era dourada”. das formas de se perseguir tais objetivos. Por esse programa, transferiu se
Desenvolveu-se a figura do Estado-Provedor de bens e servi- para o setor privado a tarefa da produção, dado o pressuposto de que este,
ços, também chamado de Estado de Bem-Estar Social. Houve uma a princípio, realizaria tal atividade de forma mais eficiente.
grande expansão do Estado (e, consequentemente, da Adminis- Finalmente, por meio de um programa de publicação, preten-
tração Pública), logicamente com um crescimento importante dos dia-se transferir para o setor público não-estatal a produção dos
custos de funcionamento da máquina pública. A partir dos anos 70, serviços competitivos ou não-exclusivos de Estado, estabelecendo-
o ritmo de expansão da economia mundial diminui, e o Estado co- -se um sistema de parceria entre Estado e sociedade para seu finan-
meça a ter problemas no desempenho de suas funções, perdendo ciamento e controle.
gradativamente a capacidade de atender às crescentes demandas Portanto, segundo a ideia da reforma, o Estado reduziria seu
sociais. Esta situação, aliada a um processo de crescente endivi- papel de executor ou provedor direto de serviços, mantendo-se,
damento público, acarretaria mais tarde, principalmente nos anos entretanto, no papel de regulador e provedor indireto ou promotor
80, a chamada crise fiscal do Estado: a perda de sua capacidade de destes, principalmente dos serviços sociais como educação e saúde,
realizar os investimentos públicos necessários a um novo ciclo de etc. Como promotor desses serviços, o Estado continuará a subsi-
expansão econômica. Da crise fiscal passamos à crise de gestão do diá-los, buscando, ao mesmo tempo, o controle social direto e a
Estado, uma vez que a percepção dos cidadãos sobre a disponibili- participação da sociedade.
dade de serviços públicos se deteriora gradativamente, à medida Nessa nova perspectiva, busca-se o fortalecimento das funções
que o Estado perde a capacidade de realizar suas funções básicas, e de regulação e de coordenação do Estado, particularmente no nível
não consegue acompanhar as pressões crescentes por mais saúde, federal, e a progressiva descentralização vertical, para os níveis es-
educação, segurança pública, saneamento, etc…Essa crise de gestão tadual e municipal, das funções executivas no campo da prestação
implica na tentativa de superar as limitações do modelo de gestão de serviços sociais e de infraestrutura.
vigente até então, conhecido como “modelo burocrático”, transfor- Considerando essa tendência, pretende-se reforçar a gover-
mando-o em algo novo, mais parecido como o modo de gestão do nança, a capacidade de governo do Estado, através da transição
setor privado, conhecido na área pública como “modelo gerencial”. programada de um tipo de administração pública burocrática, rígida
Assim, a redefinição do próprio papel do Estado é um tema de e ineficiente, voltada para si própria e para o controle interno, para
alcance universal nos anos 90. No Brasil, essa questão adquiriu im- uma administração pública gerencial, flexível e eficiente, voltada
portância decisiva, tendo em vista o peso da presença do Estado para o atendimento do cidadão, melhorando a capacidade do Esta-
na economia nacional: tornou-se um tema constante a questão da do de implementar as políticas públicas, sem os limites, a rigidez e
reforma do Estado, uma vez que o mesmo não conseguia mais aten- a ineficiência da sua máquina administrativa.
der com eficiência a sobrecarga de demandas a ele dirigidas, sobre-
tudo na área social. Em resumo, a Crise do Estado define-se como: As três formas de Administração Pública
1. Uma crise fiscal, caracterizada pela deterioração crescente No plano administrativo, a administração pública burocrática
das finanças públicas, sendo o déficit público um fator de redução surgiu no século passado conjuntamente com o Estado liberal, exa-
de investimentos na área privada; tamente como uma forma de defender a coisa pública contra o pa-
2. Uma crise do modo de intervenção do Estado na economia, trimonialismo. Na medida, porém, que o Estado assumia a respon-
com o esgotamento da estratégia estatizante; as empresas públicas sabilidade pela defesa dos direitos sociais e crescia em dimensão,
não mais teriam condições de alavancar o crescimento econômico os custos dessa defesa passaram a ser mais altos que os benefícios
dos países; o paradigma do Estado interventor, nos moldes da eco- do controle. Por isso, neste século as práticas burocráticas vêm ce-
nomia Keynesiana estava cada vez mais ultrapassado; dendo lugar a um novo tipo de administração: a administração ge-
3. Uma crise da forma de administrar o Estado, isto é, a supe- rencial.
ração da administração pública burocrática, rumo à administração Assim, partindo-se de uma perspectiva histórica, verifica-se que
pública gerencial. a administração pública evoluiu através de três modelos básicos: a
administração pública patrimonialista, a burocrática e a gerencial.
No Brasil, a principal repercussão destes fatos foi a Reforma do Essas três formas se sucedem no tempo, sem que, no entanto, qual-
Estado nos anos 90,cujos principais pontos eram: quer uma delas seja inteiramente abandonada.
1. O ajuste fiscal duradouro, com a busca do equilíbrio das con-
tas públicas; Administração Pública Patrimonialista
2. A realização de reformas econômicas orientadas para o mer- Nas sociedades anteriores ao advento do Capitalismo e da De-
cado, que, acompanhadas de uma política industrial e tecnológica, mocracia, o Estado aparecia como um ente “privatizado”, no senti-
garantissem a concorrência interna e criassem as condições para o do de que não havia uma distinção clara, por parte dos governan-
enfrentamento da competição internacional; tes, entre o patrimônio público e o seu próprio patrimônio privado.

59
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
O Rei ou Monarca estabelecia seu domínio sobre o país de Weber estudou e procurou descrever o alicerce formal-legal
forma absoluta, não aceitando limites entre a res publica e a res em que as organizações reais se assentam. Sua atenção estava di-
principis. Ou seja, a “coisa pública” se confundia com o patrimô- rigida para o processo de autoridade obediência (ou processo de
nio particular dos governantes, pois não havia uma fronteira muito dominação) que, no caso das organizações modernas, depende de
bem definida entre ambas. leis. No modelo de Weber, as expressões “organização formal” e
Nessas condições, o aparelho do Estado funcionava como uma “organização burocrática” são sinônimas.
extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, “Dominação” ou autoridade, segundo Weber, é a probabilida-
possuiam status de nobreza real. Os cargos eram considerados pre- de de haver obediência dentro de um grupo determinado. Há três
bendas, ou seja, títulos passíveis de negociação, sujeitos à discricio- tipos puros de autoridade ou dominação legítima (aquela que conta
nariedade do governante. com o acordo dos dominados):
A corrupção e o nepotismo eram inerentes a esse tipo de ad-
ministração. O foco não se encontrava no atendimento das neces- Dominação de caráter carismático
sidades coletivas mas, sobretudo, nos interesses particulares do Repousa na crença da santidade ou heroísmo de uma pessoa.
soberano e de seus auxiliares. A obediência é devida ao líder pela confiança pessoal em sua re-
Este cenário muda no final do século XIX, no momento em que velação, heroísmo ou exemplaridade, dentro do círculo em que se
o capitalismo e a democracia se tornam dominantes. Mercado e acredita em seu carisma.
Sociedade Civil passam a se distinguir do Estado. Neste novo mo- A atitude dos seguidores em relação ao dominador carismático
mento histórico, a administração patrimonialista torna-se inaceitá- é marcada pela devoção. Exemplos são líderes religiosos, sociais ou
vel, pois não mais cabia um modelo de administração pública que políticos, condutores de multidões de adeptos. O carisma está asso-
privilegiava uns poucos em detrimento de muitos. ciado a um tipo de influência que depende de qualidades pessoais.
As novas exigências de um mundo em transformação, com o
desenvolvimento econômico que se seguia, trouxeram a necessida- Dominação de caráter tradicional
de de reformulação do modo de gestão do Estado. Deriva da crença quotidiana na santidade das tradições que vi-
goram desde tempos distantes e na legitimidade daqueles que são
Administração Pública Burocrática indicados por essa tradição para exercer a autoridade.
Surge na segunda metade do século XIX, na época do Estado A obediência é devida à pessoa do “senhor”, indicado pela tra-
liberal, como forma de combater a corrupção e o nepotismo patri- dição. A obediência dentro da família, dos feudos e das tribos é do
monialista. Constituem princípios orientadores do seu desenvolvi- tipo tradicional. Nos sistemas em que vigora a dominação tradicio-
mento a profissionalização, a ideia de carreira, a hierarquia funcio- nal, as pessoas têm autoridade não por causa de suas qualidades
nal, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional intrínsecas, como acontece no caso carismático, mas por causa das
legal. instituições tradicionais que representam. É o caso dos sacerdotes
Os controles administrativos implantados visam evitar a cor- e das lideranças, no âmbito das instituições, como os partidos polí-
rupção e o nepotismo. A forma de controle é sempre a priori, ou ticos e as corporações militares.
seja, controle dos procedimentos, das rotinas que devem nortear a
realização das tarefas. Dominação de caráter racional
Parte-se de uma desconfiança prévia nos administradores pú- Decorre da legalidade de normas instituídas racionalmente e
blicos e nos cidadãos que a eles dirigem suas diversas demandas dos direitos de mando das pessoas a quem essas normas respon-
sociais. Por isso, são empregados controles rígidos dos processos sabilizam pelo exercício da autoridade. A autoridade, portanto, é a
como, por exemplo, na admissão de pessoal, nas compras e no contrapartida da responsabilidade.
atendimento aos cidadãos. No caso da autoridade legal, a obediência é devida às normas
Uma consequência disto é que os próprios controles se tornam impessoais e objetivas, legalmente instituídas, e às pessoas por elas
o objetivo principal do funcionário. Dessa forma, o Estado volta-se designadas, que agem dentro de uma jurisdição. A autoridade ra-
para si mesmo, perdendo a noção de sua missão básica, que é servir cional fundamenta-se em leis que estabelecem direitos e deveres
à sociedade. para os integrantes de uma sociedade ou organização. Por isso, a
A principal qualidade da administração pública burocrática é autoridade que Weber chamou de racional é sinônimo de autori-
o controle dos abusos contra o patrimônio público; o principal de- dade formal.
feito, a ineficiência, a incapacidade de voltar-se para o serviço aos
cidadãos vistos como “clientes”. Uma sociedade, organização ou grupo que depende de leis ra-
Esse defeito, entretanto, não se revelou determinante na épo- cionais tem estrutura do tipo legal-racional ou burocrática. É uma
ca do surgimento da administração pública burocrática porque os burocracia.
serviços do Estado eram muito reduzidos. O Estado limitava-se a A autoridade legal-racional ou autoridade burocrática substi-
manter a ordem e administrar a justiça, a garantir os contratos e a tuiu as fórmulas tradicionais e carismáticas nas quais se baseavam
propriedade. O problema começou a se tornar mais evidente a par- as antigas sociedades. A administração burocrática é a forma mais
tir da ampliação da participação do Estado na vida dos indivíduos. racional de exercer a dominação. A burocracia, ou organização bu-
Valem aqui alguns comentários adicionais sobre o termo “Bu- rocrática, possibilita o exercício da autoridade e a obtenção da obe-
rocracia”. diência com precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiança.
Max Weber, importante cientista social, ocupou-se de inúme- Portanto, todas as organizações formais são burocracias. A
ros aspectos das sociedades humanas. Na década de 20, publicou palavra burocracia identifica precisamente as organizações que se
estudos sobre o que ele chamou o tipo ideal de burocracia, ou seja, baseiam em regulamentos. A sociedade organizacional é, também,
um esquema que procura sintetizar os pontos comuns à maioria uma sociedade burocratizada. A burocracia é um estágio na evolu-
das organizações formais modernas, que ele contrastou com as so- ção das organizações.
ciedades primitivas e feudais. As organizações burocráticas seriam De acordo com Weber, as organizações formais modernas ba-
máquinas totalmente impessoais, que funcionam de acordo com seiam-se em leis, que as pessoas aceitam por acreditarem que são
regras que ele chamou de racionais – regras que dependem de lógi- racionais, isto é, definidas em função do interesse das próprias pes-
ca e não de interesses pessoais. soas e não para satisfazer aos caprichos arbitrários de um dirigente.

60
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
O tipo ideal de burocracia, formulado por Weber, apresenta • A existência de um sistema estruturado e universal de remu-
três características principais que diferenciam estas organizações neração (planos de carreira);
formais dos demais grupos sociais: • A avaliação constante de desempenho (dos funcionários e de
• Formalidade: significa que as organizações são constituídas suas equipes de trabalho);
com base em normas e regulamentos explícitos, chamadas leis, que • O treinamento e a capacitação contínua do corpo funcional.
estipulam os direitos e deveres dos participantes.
• Impessoalidade: as relações entre as pessoas que integram A diferença fundamental está na forma de controle, que deixa
as organizações burocráticas são governadas pelos cargos que elas de basear-se nos processos para concentrar-se nos resultados. A ri-
ocupam e pelos direitos e deveres investidos nesses cargos. Assim, gorosa profissionalização da administração pública continua sendo
o que conta é o cargo e não a pessoa. A formalidade e a impesso- um princípio fundamental.
alidade, combinadas, fazem a burocracia permanecer, a despeito
das pessoas. Na administração pública gerencial a estratégia volta-se para:
• Profissionalismo: os cargos de uma burocracia oferecem a 1. A definição precisa dos objetivos que o administrador públi-
seus ocupantes uma carreira profissional e meios de vida. A partici- co deverá atingir sua unidade;
pação nas burocracias tem caráter ocupacional. 2. A garantia de autonomia do administrador na gestão dos re-
Apesar das vantagens inerentes nessa forma de organização, as cursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à
burocracias podem muitas vezes apresentar também uma série de disposição para que possa atingir os objetivos contratados;
disfunções, conforme a seguir: 3. O controle ou cobrança posterior dos resultados.
• Particularismo – Defender dentro da organização interesses
de grupos internos, por motivos de convicção, amizade ou interesse Adicionalmente, pratica-se a competição administrada no in-
material. terior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer
• Satisfação de Interesses Pessoais – Defender interesses pes- concorrência entre unidades internas.
soais dentro da organização. No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a
• Excesso de Regras – Multiplicidade de regras e exigências redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. Em suma,
para a obtenção de determinado serviço. afirma-se que a administração pública deve ser permeável à maior
• Hierarquia e individualismo – A hierarquia divide responsabi- participação dos agentes privados e/ou das organizações da socie-
lidades e atravanca o processo decisório. Realça vaidades e estimu- dade civil e deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os
la disputas pelo poder. resultados (fins).
• Mecanicismo – Burocracias são sistemas de cargos limitados, A administração pública gerencial inspira-se na administra-
que colocam pessoas em situações alienantes. ção de empresas, mas não pode ser confundida com esta última.
Enquanto a administração de empresas está voltada para o lucro
Portanto, as burocracias apresentam dois grandes “problemas” privado, para a maximização dos interesses dos acionistas, esperan-
ou dificuldades: em primeiro lugar, certas disfunções, que as des- do-se que, através do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a
caracterizam e as desviam de seus objetivos; em segundo lugar, administração pública gerencial está explícita e diretamente volta-
ainda que as burocracias não apresentassem distorções, sua estru- da para o interesse público.
tura rígida é adequada a certo tipo de ambiente externo, no qual Neste último ponto, como em muitos outros (profissionalismo,
não há grandes mudanças. A estrutura burocrática é, por natureza, impessoalidade), a administração pública gerencial não se diferencia
conservadora, avessa a inovações; o principal é a estabilidade da da administração pública burocrática. Na burocracia pública clássica
organização. existe uma noção muito clara e forte do interesse público. A diferença,
Mas, como vimos, as mudanças no ambiente externo determi- porém, está no entendimento do significado do interesse público, que
nam a necessidade de mudanças internas, e nesse ponto o paradig- não pode ser confundido com o interesse do próprio Estado. Para a ad-
ma burocrático torna-se superado. ministração pública burocrática, o interesse público é frequentemente
identificado com a afirmação do poder do Estado.
Administração Pública Gerencial A administração pública gerencial vê o cidadão como contri-
Surge na segunda metade do século XX, como resposta à ex- buinte de impostos e como uma espécie de “cliente” dos seus ser-
pansão das funções econômicas e sociais do Estado e ao desenvol- viços. Os resultados da ação do Estado são considerados bons não
vimento tecnológico e à globalização da economia mundial, uma porque os processos administrativos estão sob controle estão segu-
vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados à ado- ros, como quer a administração pública burocrática, mas porque as
ção do modelo anterior. necessidades do cidadão-cliente estão sendo atendidas.
Torna-se essencial a necessidade de reduzir custos e aumentar O paradigma gerencial contemporâneo, fundamentado nos
a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como beneficiário, resul- princípios da confiança e da descentralização da decisão, exige for-
mas flexíveis de gestão, de estruturas, descentralização de funções,
tando numa maior eficiência da administração pública. A reforma
incentivos à criatividade. Contrapõe-se à ideologia do formalismo e
do aparelho do Estado passa a ser orientada predominantemente
do rigor técnico da burocracia tradicional. À avaliação sistemática,
pelos valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços pú-
à recompensa pelo desempenho, e à capacitação permanente, que
blicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas orga-
já eram características da boa administração burocrática, acrescen-
nizações.
tam-se os princípios da orientação para o cidadão-cliente, do con-
A administração pública gerencial constitui um avanço, e até
trole por resultados, e da competição administrada.
certo ponto um rompimento com a administração pública burocrá-
tica. Isso não significa, entretanto, que negue todos os seus princí-
Alguns fatores contribuíram para o surgimento das teorias da
pios. Pelo contrário, a administração pública gerencial está apoiada
administração, entre eles podemos citar:
na anterior, da qual conserva, embora flexibilizando, alguns dos
• Consolidação do capitalismo (lógica de mercado) e de novos
seus princípios fundamentais, como:
modos de produção e organização de trabalho, que levou ao pro-
• A admissão segundo rígidos critérios de mérito (concurso pú-
cesso de modernização da sociedade (substituição da autoridade
blico);
tradicional pela autoridade racional-legal);

61
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
• Crescimento acelerado da produção e força de trabalho des- • Abordagem Prescritiva e Normativa.
qualificada;
• Ausência de sistematização de conhecimentos em gestão. Funções da Administração Clássica - processo organizacional
• Prever: adiantar-se ao futuro e traçar plano de ação;
Vamos estudar detalhadamente cada uma das principais abor- • Organizar: constituir o organismo material e social da empre-
dagens. sa;
• Comandar: dirigir o pessoal;
Abordagem Clássica – • Coordenar: ligar, unir e harmonizar os esforços;
A abordagem clássica da administração se divide em: • Controlar: tudo corra de acordo com as regras.
• Administração Científica – defendida por Frederick Taylor
• Teoria Clássica – defendida por Henry Fayol Princípios Gerais da Administração Clássica
• Divisão do Trabalho: especializar funções;
Os dois autores acima citados partiram de pontos distintos com • Autoridade e Responsabilidade: direito de mandar e poder de
a preocupação de aumentar a eficiência na empresa. se fazer obedecer;
Taylor se preocupava basicamente com a execução das tarefas • Disciplina: estabelecer convenções, formais e informais com
enquanto Fayol se preocupava com a estrutura da organização. seus agentes, para trazer obediência e respeito;
• Unidade de comando: recebimento de ordens de apenas um
• Administração Científica - Pressupostos de Frederick Taylor superior – princípio escalar;
• Organização Formal. • Unidade de direção: um só chefe e um só programa para um
• Visão de baixo para cima; das partes para o todo. conjunto de operações que tenham o mesmo objetivo;
• Estudo das Tarefas, Métodos, Tempo padrão. • Subordinação do particular ao geral: O interesse da empresa
• Salário, incentivos materiais e prêmios de produção. deve prevalecer ao interesse individual;
• Sistema fechado: foco nos processos internos e operacionais. • Remuneração do pessoal: premiar e recompensar;
• Padrão de Produção: eficiência, racionalidade. • Centralização: concentrar autoridade no topo;
• Divisão equitativa de trabalho e responsabilidade entre di- • Cadeia escalar ou linha de comando: linha de autoridade que
reção e operário. vai do topo ao mais baixo escalão;
• Ser humano egoísta, racional e material: homo economicus; • Ordem: um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar;
• Estudo de Tempos e Movimentos e Métodos; • Equidade: tratar de forma benevolente e justa;
• Desenho de Cargos e Tarefas; • Estabilidade: manter as pessoas em suas funções para que
• Seleção Científica do Trabalhador (eliminação de todos que possam desempenhar bem;
não adotem os métodos); • Iniciativa: liberdade de propor, conceber e executar;
• Preocupação com Fadiga e com as condições de trabalho; • Espírito de equipe: harmonia e união entre as pessoas.
• Padronização de instrumentos de trabalho;
• Divisão do Trabalho e Especialização; Comparativo entre Administração Científica e Escola Clássica
• Supervisão funcional: autoridade relativa e dividida a de- Enquanto a administração científica preocupava-se na melho-
pender da especialização e da divisão de trabalho. ria da produtividade no nível operacional a gestão administrativa
preocupava-se com a organização em geral e a busca da efetividade.
Princípios da Administração Científica
• Desenvolvimento de uma ciência de Trabalho: uma investi- Abordagem Burocrática – Trata-se de uma teoria que também
gação científica poderá dizer qual a capacidade total de um dia de tem por escopo a estrutura organizacional. Foi defendida pelo so-
trabalho, para que os chefes saibam a capacidade de seus operári- ciólogo e economista alemão Max Weber que é considerado o “pai
os; da burocracia”.
• Seleção e Desenvolvimento Científicos do Empregado: para Weber distingue três tipos de sociedade e autoridades legíti-
atingir o nível de remuneração prevista o operário precisa preench- mas:
er requisitos; • Tradicional: patrimonial, patriarcal, hereditário e delegável.
• Combinação da Ciência do trabalho com a Seleção do Pes- • Carismática: personalística, mística.
soal: os operários estão dispostos a fazer um bom trabalho, mas os • Legal, racional ou burocrática: impessoal, formal, meri-
velhos hábitos da administração resistem à inovação de métodos; tocrática.
• Cooperação entre Administração e Empregados: uma con-
stante e íntima cooperação possibilitará a observação e medida Além disso, Weber faz uma distinção entre os conceitos de Au-
sistemática do trabalho e permitirá fixar níveis de produção e in- toridade e Poder:
centivos financeiros • Autoridade: probabilidade de que um comando ou ordem
específica seja obedecido – poder oficializado.
Princípios de Taylor • Poder: potencial de exercer influência sobre outros, im-
• Princípio da separação entre o planejamento e a execução; posição de arbítrio de uma pessoa sobre outras.
• Princípio do preparo;
• Princípio do controle; A Burocracia surge na década de 40 em razão da fragilidade
• Princípio da exceção.
da teoria clássica e relações humanas; necessidade de um modelo
aplicado a todas as formas de organização; racionalização do dire-
• Teoria Clássica – Pressupostos de Henry Fayol
ito e consolidação da sociedade em massa e capitalista. Ela busca
• Anatomia – estrutura.
organizar de forma estável, duradoura e especializada a cooperação
• Fisiologia – funcionamento.
de indivíduos, apresentando uma abordagem descritiva e explica-
• Visão de cima para baixo; do todo para as partes.
tiva, mantendo foco interno e estudando a organização como um
• Funções da Empresa: Técnica, Comercial, Financeira, Segu-
todo.
rança, Contábil, Administrativa (coordena as demais).

62
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Principais características: • Resiliência: determina o grau de defesa ou vulnerabilidade do
• Caráter legal das normas; sistema a pressões ambientais externas.
• Caráter formal das comunicações; • Holismo: o sistema só pode ser explicado em sua globalidade;
• Divisão do trabalho e racionalidade; • Sinergia: o todo é maior que a soma das partes;
• Impessoalidade do relacionamento; • Morfogênese: capacidade das organizações de modificar a si
• Hierarquização da autoridade; mesmo e a estrutura;
• Rotinas e procedimentos padronizados; • Fluxos: componentes que entram e saem do sistema (infor-
• Competência técnica e mérito; mação, energia, material);
• Especialização da administração – separação do público e • Feedback: é a retroalimentação, como controle do sistema,
privado; no qual os resultados retornam ao indivíduo, para que os procedi-
• Profissionalização: especialista, assalariado; segue carreira. mentos sejam analisados e corrigidos;
• Homem Funcional: desempenha um papel específico nas or-
Vantagens Principais: ganizações, inter-relacionando-se com os demais indivíduos.
• Racionalidade
• Precisão na definição do cargo A teoria dos sistemas desmistifica a “ótima solução administra-
• Rapidez nas decisões tiva” para a ideia de “soluções alternativas satisfatórias”.
• Univocidade de interpretação
• Continuidade da organização: Uma sociedade, organização ou grupo que depende de leis
• Redução do atrito entre pessoas racionais tem estrutura do tipo legal-racional ou burocrática. É
• Constância uma burocracia.
• Confiabilidade A autoridade legal-racional ou autoridade burocrática substi-
• Benefícios para as pessoas tuiu as fórmulas tradicionais e carismáticas nas quais se baseavam
• O nepotismo é evitado, dificulta a corrupção. as antigas sociedades. A administração burocrática é a forma mais
racional de exercer a dominação. A burocracia, ou organização bu-
A maior vantagem é a democracia: em razão da impessoalidade rocrática, possibilita o exercício da autoridade e a obtenção da obe-
e das regras legais, que permitem igualdade de acesso. diência com precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiança.
Portanto, todas as organizações formais são burocracias. A palavra
Desvantagens burocracia identifica precisamente as organizações que se baseiam em
• Internalização das normas; regulamentos. A sociedade organizacional é, também, uma sociedade
• Excesso de formalismo e papelório; burocratizada. A burocracia é um estágio na evolução das organizações.
• Resistência a mudanças; De acordo com Weber, as organizações formais modernas ba-
• Despersonalização do relacionamento; seiam-se em leis, que as pessoas aceitam por acreditarem que são
• Categorização do relacionamento; racionais, isto é, definidas em função do interesse das próprias pes-
• Superconformidade às rotinas e procedimentos; soas e não para satisfazer aos caprichos arbitrários de um dirigente.
• Exibição de sinais de autoridade; O tipo ideal de burocracia, formulado por Weber, apresenta
• Dificuldades com clientes. três características principais que diferenciam estas organizações
formais dos demais grupos sociais:
• Formalidade: significa que as organizações são constituí-
Abordagem Sistêmica – Trata-se da teoria de Sistemas por Lud-
das com base em normas e regulamentos explícitos, chamadas leis,
wig Von Bertalanffy, onde defende que os sistemas existem dentro
que estipulam os direitos e deveres dos participantes.
de sistemas; apresenta a Teoria da forma ou Gestalt; os Sistemas
• Impessoalidade: as relações entre as pessoas que inte-
abertos; tem um objetivo ou propósito; e as partes são interdepen-
gram as organizações burocráticas são governadas pelos cargos que
dentes, provocando globalismo.
elas ocupam e pelos direitos e deveres investidos nesses cargos.
Assim, o que conta é o cargo e não a pessoa. A formalidade e a
Características: impessoalidade, combinadas, fazem a burocracia permanecer, a
• Sistema é um conjunto ou combinação de partes, formando despeito das pessoas.
um todo complexo ou unitário; • Profissionalismo: os cargos de uma burocracia oferecem a
• Organização como sistema vivo: orgânico seus ocupantes uma carreira profissional e meios de vida. A partici-
• Comportamento não determinístico e probabilístico; pação nas burocracias tem caráter ocupacional.
• Interdependência entre as partes;
• Entropia: característico dos sistemas fechados e orgânicos, Apesar das vantagens inerentes nessa forma de organização, as
estabelece que todas as formas de organização tendem à desor- burocracias podem muitas vezes apresentar também uma série de
dem ou à morte; disfunções, conforme a seguir:
• Negentropia ou Entropia negativa: os sistemas sociais se rea- • Particularismo – Defender dentro da organização interes-
bastecem de energia, assegurando suprimento contínuo de mate- ses de grupos internos, por motivos de convicção, amizade ou inte-
riais e pessoas; resse material.
• Homeostase dinâmica ou Estado Firme: regula o sistema in- • Satisfação de Interesses Pessoais – Defender interesses
terno para manter uma condição estável, mediante múltiplos ajust- pessoais dentro da organização.
es de equilíbrio dinâmico de ruptura e inovação; • Excesso de Regras – Multiplicidade de regras e exigências
• Fronteiras ou limites: define a área da ação do sistema e o para a obtenção de determinado serviço.
grau de abertura em relação ao meio ambiente; • Hierarquia e individualismo – A hierarquia divide respon-
• Diferenciação: os sistemas tendem a criar funções especial- sabilidades e atravanca o processo decisório. Realça vaidades e es-
izadas – Integração (coordenação); timula disputas pelo poder.
• Equifinalidade: um sistema pode alcançar o mesmo estado • Mecanicismo – Burocracias são sistemas de cargos limita-
final a partir de diferentes condições iniciais; dos, que colocam pessoas em situações alienantes.

63
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Portanto, as burocracias apresentam dois grandes “problemas” ou dificuldades: em primeiro lugar, certas disfunções, que as desca-
racterizam e as desviam de seus objetivos; em segundo lugar, ainda que as burocracias não apresentassem distorções, sua estrutura rígida
é adequada a certo tipo de ambiente externo, no qual não há grandes mudanças. A estrutura burocrática é, por natureza, conservadora,
avessa a inovações; o principal é a estabilidade da organização.
Mas, como vimos, as mudanças no ambiente externo determinam a necessidade de mudanças internas, e nesse ponto o paradigma
burocrático torna-se superado.

Administração Pública Gerencial


Surge na segunda metade do século XX, como resposta à expansão das funções econômicas e sociais do Estado e ao desenvolvimento
tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados à adoção do modelo
anterior.
Torna-se essencial a necessidade de reduzir custos e aumentar a qualidade dos serviços, tendo o cidadão como beneficiário, resul-
tando numa maior eficiência da administração pública. A reforma do aparelho do Estado passa a ser orientada predominantemente pelos
valores da eficiência e qualidade na prestação de serviços públicos e pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial nas organizações.
A administração pública gerencial constitui um avanço, e até certo ponto um rompimento com a administração pública burocrática.
Isso não significa, entretanto, que negue todos os seus princípios. Pelo contrário, a administração pública gerencial está apoiada na ante-
rior, da qual conserva, embora flexibilizando, alguns dos seus princípios fundamentais, como:
• A admissão segundo rígidos critérios de mérito (concurso público);
• A existência de um sistema estruturado e universal de remuneração (planos de carreira);
• A avaliação constante de desempenho (dos funcionários e de suas equipes de trabalho);
• O treinamento e a capacitação contínua do corpo funcional.

A diferença fundamental está na forma de controle, que deixa de basear-se nos processos para concentrar-se nos resultados. A rigo-
rosa profissionalização da administração pública continua sendo um princípio fundamental.

Na administração pública gerencial a estratégia volta-se para:


1. A definição precisa dos objetivos que o administrador público deverá atingir sua unidade;
2. A garantia de autonomia do administrador na gestão dos recursos humanos, materiais e financeiros que lhe forem colocados à
disposição para que possa atingir os objetivos contratados;
3. O controle ou cobrança posterior dos resultados.

Adicionalmente, pratica-se a competição administrada no interior do próprio Estado, quando há a possibilidade de estabelecer con-
corrência entre unidades internas.
No plano da estrutura organizacional, a descentralização e a redução dos níveis hierárquicos tornam-se essenciais. Em suma, afirma-
-se que a administração pública deve ser permeável à maior participação dos agentes privados e/ou das organizações da sociedade civil e
deslocar a ênfase dos procedimentos (meios) para os resultados (fins).
A administração pública gerencial inspira-se na administração de empresas, mas não pode ser confundida com esta última. Enquanto
a administração de empresas está voltada para o lucro privado, para a maximização dos interesses dos acionistas, esperando-se que, atra-
vés do mercado, o interesse coletivo seja atendido, a administração pública gerencial está explícita e diretamente voltada para o interesse
público.
Neste último ponto, como em muitos outros (profissionalismo, impessoalidade), a administração pública gerencial não se diferencia
da administração pública burocrática. Na burocracia pública clássica existe uma noção muito clara e forte do interesse público. A diferença,
porém, está no entendimento do significado do interesse público, que não pode ser confundido com o interesse do próprio Estado. Para a
administração pública burocrática, o interesse público é frequentemente identificado com a afirmação do poder do Estado.
A administração pública gerencial vê o cidadão como contribuinte de impostos e como uma espécie de “cliente” dos seus serviços. Os
resultados da ação do Estado são considerados bons não porque os processos administrativos estão sob controle estão seguros, como quer
a administração pública burocrática, mas porque as necessidades do cidadão-cliente estão sendo atendidas.
O paradigma gerencial contemporâneo, fundamentado nos princípios da confiança e da descentralização da decisão, exige formas
flexíveis de gestão, de estruturas, descentralização de funções, incentivos à criatividade. Contrapõe-se à ideologia do formalismo e do
rigor técnico da burocracia tradicional. À avaliação sistemática, à recompensa pelo desempenho, e à capacitação permanente, que já eram
características da boa administração burocrática, acrescentam-se os princípios da orientação para o cidadão-cliente, do controle por resul-
tados, e da competição administrada.

CONVERGÊNCIAS E DIFERENÇAS
Embora com focos diferentes, observamos que a Administração Pública traz para sua forma de gestão cada vez mais conceitos uti-
lizados na Administração Privada, visto que, mesmo em cenários diferentes os desafios e problemas organizacionais, são de certo modo,
muito semelhantes em alguns aspectos.
Apesar dessa tendência, alguns aspectos ainda apresentam diferenças, conforme colocaremos no quadro comparativo abaixo para
melhor visualização.

ASPECTO ADM. PÚBLICA ADM. PRIVADA


Atender necessidades coletivas
Objetivo Atender Interesses Individuais (Lucro)
(sociedade)

64
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

Investimento privado e receitas advindas


Obtenção de recursos Receitas derivadas de Tributos
dos negócios praticados
Controle pelo Mercado, através da
Mecanismo de controle do desempenho Controle Político através das eleições
concorrência com outras organizações.
Tudo o que não está juridicamente Tudo o que não está juridicamente
determinado está juridicamente proibido está juridicamente facultado.
Subordinação ao ordenamento jurídico proibido. Preponderância de normas de Preponderância de normas de direito
direito público (direito constitucional e privado (contratual; direito civil e direito
administrativo). comercial)
Sobrevivência depende da eficiência
Tempo de existência indeterminado: o
Garantia da sobrevivência organizacional; competitividade acirrada no
Estado não vai à falência.
mercado
Decisões mais lentas, influenciadas por
Decisões mais rápidas, buscando a
variáveis de ordem política. Políticas
Processo de Tomada de decisão racionalidade. Políticas Empresariais
Públicas de acordo com os programas
voltadas para objetivos de mercado.
de Governo
Através de instrumento contratual ou
Modo de criação, alteração ou extinção Através da Lei
societário
Outras empresas ou profissionais do
Concorrência Tendencialmente inexistente ou limita
segmento no mercado

EXCELÊNCIA NA GESTÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS.


Um dos fatores que mais provoca perda de produtividade nos serviços públicos é o excesso de burocracia, que além de não impedir
corrupções e fraudes, tem inibido o desempenho das empresas, motivado a sonegação fiscal e incentivado a informalidade. Um dos
maiores entraves para a melhoria dos serviços públicos no Brasil era a maneira secundária com que a administração pública encarava a ne-
cessidade da formação de quadros e de uma profissionalização muito mais intensa. Enquanto o Brasil não fizesse a reforma administrativa
para modernizar a administração pública.
Baseado nos princípios constitucionais que regem a administração pública (legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade e
eficiência), é dever do servidor prezar pela prestação de serviços de qualidade. Para a excelência pode ser atingida por meio de avaliação
de desempenho e produtividade. Esse modelo foi implantado pelo governo de São Paulo e pode ser usado como ferramenta na busca da
excelência do serviço público.
Agregar valor na gestão pública significa investir em projetos que aumentem a produtividade oferecendo à população um dos mais
valiosos bens da atualidade - a praticidade. Os ganhos em produtividade passam por uma revisão de cada detalhe dos processos opera-
cionais, objetivando a redução de etapas, inovação em cada uma delas, minimizando tempo e, melhor ainda, a eliminação de normas de
procedimento.
Os prestadores de serviços devem ter consciência que usam a mais valiosa das matérias-primas - o tempo - a única que não tem re-
posição. A excelência dos serviços públicos, especialmente em educação e saúde, é a melhor das estratégias para reduzir a desigualdade
social. A chave da eficácia também pode ser encontrada na redução das atividades-meios e na eliminação das formalidades que não
agregam valores às atividades-fins. O maior desafio da classe política e dos gestores públicos é transformar uma instituição mecânica, em
orgânica. Gestão transparente, interativa e que coloque o cidadão em primeiro lugar - é um modelo exemplar. Os profissionais de Recur-
sos Humanos, dos órgãos públicos, têm a gratificante missão de dinamizar os programas de capacitação funcional, focando a excelência
organizacional. Enquanto as organizações privadas são custeadas pela comercialização de produtos e serviços, as organizações públicas
são criadas por lei e custeadas pelos impostos e taxas pagas pelos cidadãos, ai se incluem todos os órgãos e suas diversas unidades organ-
izacionais, em todos os poderes e níveis de governo. Espera-se que elas sejam bem administradas e possam cumprir as suas finalidades,
pois representam os interesses da coletividades e exercem ações decorrentes das funções do Estado. Num mundo globalizado ampliam-se
as exigências de uma administração de qualidade e refinada, no sentido do uso de técnicas e metodologias que contribuam para a implan-
tação do desenvolvimento social baseado em resultados efetivos.
A busca da excelência organizacional deve nortear a administração pública, por meio do desempenho aprimorado das funções ad-
ministrativas. Pensar no aprimoramento dessas funções é pensar no conjunto das organizações do Setor Público e de forma sistêmica.
Reconhecer que ações de aprimoramento deve envolver todos os níveis organizacionais, todas as unidades administrativas de modo a
obter um comprometimento estratégico.
Sob o ponto de vista formal, uma organização empresarial consiste em um conjunto de encargos funcionais e hierárquicos, orientados
para o objetivo econômico de produzir bens ou serviços. A estrutura orgânico deste conjunto de encargos está condicionada à natureza do
ramo de atividade, aos meios de trabalho, às circunstâncias sócioeconômicas da comunidade e à maneira de conceber a atividade empre-
sarial. As principais características da organização formal são:
1. Divisão do Trabalho;
2. Especialização;
3. Hierarquia;
4. Distribuição da autoridade e da responsabilidade;
5. Racionalismo.

65
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
1. Divisão do Trabalho 5. Racionalismo da Organização Formal
O objetivo imediato e fundamental de todo e qualquer tipo de Uma das características básicas da organização formal é o ra-
organização é a produção. Para ser eficiente, a produção deve base- cionalismo. Uma organização é substancialmente um conjunto de
ar-se na divisão do trabalho, que nada mais é do que a maneira pela encargos funcionais e hierárquicos a cujas prescrições e normas de
qual um processo complexo pode ser decomposto em uma série de comportamento todos os seus membros se devem sujeitar. O prin-
pequenas tarefas. O procedimento de dividir o trabalho começou cípio básico desta forma de conceber uma organização é que, den-
a ser praticado mais intensamente com o advento da Revolução tro de limites toleráveis, os seus membros se comportarão racional-
Industrial, provocando uma mudança radical no conceito de pro- mente, isto é, de acordo com as normas lógicas de comportamento
dução, principalmente no fabrico maciço de grandes quantidades prescritas para cada um deles. Dito de outra forma, a formulação
através do uso da máquina, substituindo o artesanato, e o uso do orgânica de um conjunto lógico de encargos funcionais e hierárqui-
trabalho especializado na linha de montagem. O importante era cos está baseada no princípio de que os homens vão funcionar efe-
que cada pessoa pudesse produzir o máximo de unidades dentro de tivamente de acordo com tal sistema racional.
um padrão aceitável, objetivo que somente poderia ser atingido au- De qualquer forma, via de regra, toda organização se estrutura
tomatizando a atividade humana ao repetir a mesma tarefa várias a fim de atingir os seus objetivos, procurando com a sua estrutura
vezes. Essa divisão do trabalho foi iniciada ao nível dos operários organizacional a minimização de esforços e a maximização do rendi-
com a Administração Científica no começo deste século. mento. Em outras palavras, o maior lucro, pelo menor custo, dentro
de um certo padrão de qualidade. A organização, portanto, não é
2. Especialização um fim, mas um meio de permitir à empresa atingir adequadamen-
A especialização do trabalho proposta pela Administração te determinados objetivos.
Científica constitui uma maneira de aumentar a eficiência e de di-
minuir os custos de produção. Simplificando as tarefas, atribuindo a DEPARTAMENTALIZAÇÃO
cada posto de trabalho tarefas simples e repetitivas que requeiram Quando uma empresa é pequena e constituída de poucas pes-
pouca experiência do executor e escassos conhecimentos prévios, soas, nenhum arranjo formal para definir e agrupar as suas ativi-
reduzem-se os períodos de aprendizagem, facilitando substituições dades é necessário. As pequenas empresas não requerem diferen-
de uns indivíduos por outros, permitindo melhorias de métodos de ciação ou especialização para distinguir o trabalho de uma pessoa
incentivos no trabalho e, consequentemente, aumentando o rendi- ou unidade dos demais. Mas, à medida que as empresas se tornam
mento de produção. maiores e envolvem atividades mais diversificadas, elas são força-
das a dividir as principais tarefas empresariais e transformá-las em
3. Hierarquia responsabilidades departamentais ou divisionais.
Uma das consequências do princípio da divisão do trabalho é Departamento designa uma área, divisão ou um segmento dis-
a diversificação funcional dentro da organização. Porém, uma plu- tinto de uma empresa sobre o qual um administrador (seja diretor,
ralidade de funções desarticuladas entre si não forma uma organi- gerente, chefe, supervisor etc) tem autoridade para o desempen-
zação eficiente. Como decorrência das funções especializadas, sur- ho de atividades específicas. Assim, um departamento ou divisão é
ge inevitavelmente a de comando, para dirigir e controlar todas as empregado com um significado genérico e aproximativo: pode ser
atividades para que sejam cumpridas harmoniosamente. Portanto, um órgão de produção, uma divisão de vendas, a seção de contabil-
a organização precisa, além de uma estrutura de funções, de uma idade, a unidade de pesquisa e desenvolvimento ou o setor de com-
estrutura hierárquica, cuja missão é dirigir as operações dos níveis pras. Em algumas empresas, a terminologia departamental é levada
que lhes estão subordinados. Em toda organização formal existe a sério e indica relações hierárquicas bem definidas: um superinten-
uma hierarquia. Esta divide a organização em camadas ou escalas dente cuida de uma divisão; um gerente de um departamento; um
ou níveis de autoridade, tendo os superiores autoridade sobre os chefe de uma seção; um supervisor de um setor. Em outras empre-
inferiores. À medida que se sobe na escala hierárquica, aumenta a sas, a terminologia é simplesmente casual e pouco ordenada. Daí a
autoridade do ocupante do cargo. dificuldade de uma terminologia universal.
O desenho departamental decorre da diferenciação de ativi-
4. Distribuição da Autoridade e da Responsabilidade dades dentro da empresa. À medida que ocorre a especialização
A hierarquia na organização formal representa a autoridade e com o trabalho e o aparecimento de funções especializadas, a
a responsabilidade em cada nível da estrutura. Por toda a organiza- empresa passa a necessitar de coordenação dessas diferentes
ção, existem pessoas cumprindo ordens de outras situadas em ní- atividades, agrupando-as em unidades maiores. Daí o princípio da
veis mais elevados, o que denota suas posições relativas, bem como homogeneidade: as funções devem ser atribuídas a unidades or-
o grau de autoridade em relação às demais. A autoridade é, pois, o ganizacionais na base da homogeneidade de conteúdo, no sentido
fundamento da responsabilidade, dentro da organização formal, ela de alcançar operações mais eficientes e econômicas. As funções são
deve ser delimitada explicitamente. De um modo geral, a generali- homogêneas na medida em que o seu conteúdo apresente semel-
dade do direito de comandar diminui à medida que se vai do alto hanças entre si. O desenho departamental é mais conhecido como
para baixo na estrutura hierárquica. departamentalização ou divisionalização. A departamentalização é
Fayol dizia que a “autoridade” é o direito de dar ordens e o po- uma característica típica das grandes empresas e está relacionada
der de exigir obediência, conceituando-a, ao mesmo tempo, como com o tamanho da empresa e com a natureza de suas operações.
poder formal e poder legitimado. Assim, como a condição básica Quando a empresa cresce, as suas atividades não podem ser su-
para a tarefa administrativa, a autoridade investe o administrador pervisionadas diretamente pelo proprietário ou pelo diretor. Essa
do direito reconhecido de dirigir subordinados, para que desempe- tarefa de supervisão pode ser facilitada atribuindo-se a diferentes
nhem atividades dirigidas pra a obtenção dos objetivos da empresa. departamentos a responsabilidade pelas diferentes fases ou aspec-
A autoridade formal é sempre um poder, uma faculdade, concedi- tos dessa atividade.
dos pela organização ao indivíduo que nela ocupe uma posição de-
terminada em relação aos outros. O desenho departamental ou departamentalização apresenta
uma variedade de tipos.Os principais tipos de departamentalização
são:

66
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
a)funcional; tuição de missão trouxe muitos desafios ao Estado, entre os quais a
b)por produtos e serviços; redefinição dos conceitos de administração, gestão pública e valor
c)por base territorial; público.
d) por clientela: Além disso, essas transformações têm afetado profundamente
e) por processo; as práticas dos dirigentes públicos (políticos e gerentes) e a teoria
f) por projeto; na qual fundamentavam suas ações.
g) matricial. Da mesma forma, esta mudança afetou o sistema de controle
da ação do Estado; está-se migrando da exigência de rigor nos pro-
A gestão privada prioriza o econômico-mercantil e desenvolve cedimentos para a exigência de resultados – inerente a um Estado
seus instrumentos e processos de gestão sempre dando prioridade que se apresenta como provedor de serviços, capacitador de de-
às finalidades de ordem econômica, sobretudo mercadológica. A senvolvimento e fornecedor de bem-estar. Desta troca de missão se
gestão pública tem como atribuição a gestão de necessidades do deriva uma variação na posição do cidadão perante o Estado.
social, principalmente por meio das chamadas políticas públicas e O cidadão comum se preocupa em assegurar-se uma correta
políticas sociais. e burocrática (homogênea, idêntica e não discricionária) aplicação
da lei e da norma. O cidadão-usuário se interessa por conseguir o
Gestão pública refere-se às funções de gerência pública dos ne- melhor retorno fiscal – enquanto bens coletivos.
gócios do governo. Vê-se, pois, que o Estado deve deslocar sua atenção, antes
De uma maneira sucinta, pode-se classificar o agir do adminis- colocada no procedimento como produto principal de sua ativi-
trador público em três níveis distintos: dade, agora voltada para o de serviços e bem-estar. A gestão por
a) atos de governo, que situam-se na órbita política; resultados é um dos lemas que melhor representa o novo desafio.
b) atos de administração, atividade neutra, vinculada à lei; e Isto não significa que não interessa o modo de fazer as coisas, ap-
c) atos de gestão, que compreendem os seguintes parâmetro enas exprime que agora é muito mais relevante o quê se faz pelo
básicos: bem da comunidade.
I - tradução da missão; Nestes últimos tempos, a Gestão Pública – como disciplina –
II - realização de planejamento e controle; tem abordado estes desafios novos com o auxílio da lógica geren-
III - administração de recursos humanos, materiais, tecnológi- cial, isto é, pela racionalidade econômica que procura conseguir
cos e financeiros; eficácia e eficiência. Esta lógica compartilha, mais ou menos ex-
IV - inserção de cada unidade organizacional no foco da orga- plicitamente, três propósitos fundamentais:
nização; e • Assegurar a constante otimização do uso dos recursos pú-
V - tomada de decisão diante de conflitos internos e externos. blicos na produção e distribuição de bens públicos como resposta
às exigências de mais serviços e menos impostos, mais eficácia e
Portanto, fica clara a importância da gestão pública na realiza- mais eficiência, mais equidade e mais qualidade.
ção do interesse público, porque é ela que vai viabilizar o controle • Assegurar que o processo de produção de bens e serviços
da eficiência do Estado na realização do bem comum estabelecido públicos (incluindo a concessão, a distribuição e a melhoria da pro-
politicamente e normatizado administrativamente. dutividade) seja transparente, equitativo e controlável.
No que tange a gestão por resultados, temos que a sociedade • Promover e desenvolver mecanismos internos que mel-
demanda – de modo insistente – a necessidade de promover um horem o desempenho dos dirigentes e servidores públicos, e, com
crescimento constante da produtividade no ambiente público, ex- isso, fomentar a efetividade dos organismos governamentais, visan-
igindo a redução da pressão fiscal e o incremento, ao mesmo tem- do a concretização dos objetivos anteriores.
po, da produção de bens públicos. O resultado se transforma, as-
sim, em um instrumento-chave para a valorização da ação pública; Estes objetivos, presentes nas atuais demandas cidadãs e aos
e a gestão para resultados e do resultado surge como instrumento quais se orienta a Gestão por Resultados (GpR), são, conjunta-
e objetivo da melhoria e modernização da administração pública. mente com a democracia, o principal pilar de legitimidade do Esta-
As especificidades nacionais, a natureza abrangente do concei- do atual. Desta forma, a Nova Gestão Pública fornece os elementos
to gestão para resultados – derivada da própria lógica integrado- necessários à melhoria da capacidade de gerenciamento da admin-
ra do processo de gestão – e a enorme quantidade de produção istração pública bem como à elevação do grau de governabilidade
teórica, conceitual, operacional e experimental existente sobre o do sistema político.
tema, convidam e obrigam à mais absoluta humildade em qualquer O conceito e a prática da GpR no setor público têm um grau de
tentativa de aproximação ao tema. desenvolvimento e consolidação relativamente baixo. Inicialmente,
O Estado tem passado a desempenhar um papel-chave como a GpR se utilizou principalmente no setor privado, mesmo quando
produtor de valor público, e como tal tem priorizado a criação de o governo federal dos Estados Unidos da América começou a usar
condições para o desenvolvimento e o bem-estar social, além da algumas de suas propostas no gerenciamento de diferentes órgãos
produção de serviços e da oferta de infra-estrutura. públicos. Somente durante o governo do presidente Nixon é que se
Esta mudança na função do Estado tem transformado várias começou a implantar no conjunto da administração pública o que
frentes da administração pública, pela exigência cada vez mais con- passou a ser conhecida como a Nova Gestão Pública.
tundente dos cidadãos que exercem também o papel de usuários Esta moderna filosofia sugere a passagem de uma gestão buro-
dos serviços. crática a uma de tipo gerencial.
A crise fiscal do modelo anterior, uma vez esgotado o período Na base destas novas ideias se encontrava uma preocupação
de esplendor do Estado do Bem-Estar, tem trazido novos proble- generalizada sobre as mudanças que o entorno exigia e sobre a im-
mas. Dentre eles, destaca-se a crescente necessidade de atender periosa necessidade de repensar o papel do Estado; de melhorar a
uma demanda irrefreável de bens públicos de boa qualidade, típica eficiência, a eficácia e a qualidade dos serviços públicos; de otimizar
do Estado de Bem-Estar, porém hoje acompanhada da exigência de o desempenho dos servidores públicos e das organizações em que
diminuir a pressão fiscal – inclusive naqueles casos em que ainda trabalhavam.
persiste um modelo de estado anterior ao de bem-estar. Esta substi-

67
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Vários estudiosos e especialistas em gestão pública alertaram conhecimento, maior capacidade de análise, desenho de alternati-
para os benefícios que o enfoque da GpR poderia trazer para este vas e tomada de decisões para que sejam alcançados os melhores
novo cenário. De acordo com Emery, a GpR acarreta três tipos de resultados possíveis, afinados com os objetivos pré-fixados.
considerações para a administração do setor público: É importante assinalar esta diferença porque, muito embora a
• Constitucionais: a maioria das constituições regula o uso GpR seja uma boa base para uma melhor prestação de contas (e
dos fundos públicos por parte das autoridades em cumprimento de uma maior transparência), sua função principal não é a de servir
mandato. como instrumento de controle da atuação dos gerentes públicos,
• Políticas: as autoridades devem responder pelas suas mas a de proporcionar a eles um meio de monitoramento e regu-
ações e pelo conteúdo dos seus programas eleitorais, por respeito lação que lhes garanta o exercício de suas
ao princípio da responsabilidade do cargo. A Gestão por Resultados (GpR) está caracterizada por:
• Cidadãs: por obediência ao princípio de delegação de- • Uma estratégia na qual se definam os resultados espera-
mocrática, os cidadãos confiam nas autoridades eleitas, delegan- dos por um organismo público no que se refere à mudança social e
do-lhes a gestão dos fundos públicos – produto da coleta de seus à produção de bens e serviços;
impostos. • Uma cultura e um conjunto de ferramentas de gestão ori-
entado à melhoria da eficácia, da eficiência, da produtividade e da
Apesar de existirem muitos documentos que tratem da GpR, efetividade no uso dos recursos do Estado para uma melhora dos
não existe uma definição única para ela. A maioria dos textos usa resultados no desempenho das organizações públicas e de seus
este termo como uma noção “guarda-chuvas”, por assim dizer. Na funcionários;
literatura em língua espanhola é comum achar um uso indistinto de • Sistemas de informação que permitam monitorar a ação
conceitos: controle de gestão, gestão do desempenho, gestão por pública, informar à sociedade e identificar o serviço realizado, aval-
resultados, gestão por objetivos, avaliação do desempenho, aval- iando-o;
iação de resultados, sem uma clara diferenciação. • Promoção da qualidade dos serviços prestados aos ci-
Trata-se, portanto, de um conceito muito amplo quanto ao seu dadãos, mediante um processo de melhoramento contínuo;
uso, interpretação e definição. A heterogeneidade da expressão e • Sistemas de contratação de funcionários de gerência pú-
do conceito também se observa na sua aplicação operacional: os blica, visando aprofundar a responsabilidade, o compromisso e a
países põem em prática a GpR segundo suas próprias perspectivas. capacidade de ação dos mesmos;
Um estudo para identificar o significado que lhe atribuem os • Sistemas de informação que favoreçam a tomada de de-
gestores públicos de diferentes nações demonstrou que frequen- cisões dos que participam destes processos.
temente eles empregam os mesmo termos com sentido diferente.
É assim como o conceito “resultados” varia notavelmente entre as
Por conseguinte, com base nestes elementos, sugere-se a
distintas instituições públicas. Isto não ocorre na empresa privada,
seguinte definição para a GpR:
onde os indicadores-chave do êxito se conhecem nitidamente: rent-
A Gestão para Resultados é um marco conceitual cuja função
abilidade, benefícios, quotas de mercado etc. Muitos autores dest-
é a de facilitar às organizações públicas a direção efetiva e integra-
acam a dificuldade de determinar e avaliar os resultados da ação
da de seu processo de criação de valor público, a fim de otimizá-lo,
estatal como uma das características que diferenciam a gestão do
assegurando a máxima eficácia, eficiência e efetividade de desem-
setor público do privado.
penho, além da consecução dos objetivos de governo e a melhora
Pode-se observar que a GpR possui as seguintes dimensões:
• É um marco conceitual de gestão organizacional, públi- contínua de suas instituições.
ca ou privada, em que o fator resultado se converte na referên-
cia-chave quando aplicado a todo o processo de gestão. Dentre as principais transformações na direção das empresas
• É um marco de assunção de responsabilidade de gestão, e nas práticas gerenciais em geral, destaca-se o desenvolvimento
por causa da vinculação dos dirigentes ao resultado obtido. de organizações articuladas em redes, com a finalidade de agregar
• É um marco de referência capaz de integrar os diver- valor à sua cadeia produtiva.
sos componentes do processo de gestão, pois se propõe inter- As novas formas organizacionais vêm sendo visualizadas basi-
conectá-los para otimizar o seu funcionamento. camente de duas maneiras: como representação de uma lógica de
• Finalmente, e especialmente na esfera pública, a GpR se ação diferente da instrumental, que é típica do modelo modernista
apresenta como uma proposta de cultura organizadora, diretora, de organização, e como simples aperfeiçoamento da abordagem
de gestão, mediante a qual se põe ênfase nos resultados e não nos contingencial da administração.
processos e procedimentos. É importante salientar que os traços que compõem as novas
formas organizacionais trazem à tona a condição implícita da flex-
Todas estas dimensões situam a GpR como uma ferramen- ibilidade na gestão das organizações. No entanto a flexibilidade
ta cultural, conceitual e operacional, que se orienta a priorizar o compreende diversos aspectos relacionados à adaptação da organ-
resultado em todas as ações, e que é capaz de otimizar o desem- ização frente às mudanças constantes no ambiente tanto externo
penho governamental. Assim, se trata de um exercício de direção quanto interno.
dos organismos públicos que procura conhecer e atuar sobre todos O surgimento de uma economia informacional global deve-se
aqueles aspectos que afetem ou modelem os resultados da organ- a transformações profundas ocorridas no ambiente econômico nos
ização. últimos anos, mais especificamente na organização da produção
A GpR tem, portanto, uma dimensão de controle organizacion- e na configuração dos mercados ao redor do mundo. Apoiadas na
al que convém esclarecer, pois o conceito de controle no setor pú- tecnologia da informação, estas mudanças eram uma resposta das
blico possui conotações particulares derivadas, fundamentalmente, organizações ao acelerado ritmo dos acontecimentos.
do sistema de auditoria externa que domina nesse Estado. A ferra- Desenvolver a gestão de agentes sociais em redes, ao mesmo
menta GpR não faz parte dessa concepção de controle, mas de out- tempo que possibilita articular vários saberes e habilidades em
ro universo: o de gestão e direção estratégico/operacional, porque torno de uma atividade de forma dinâmica, estimula a iniciativa,
permite e facilita aos gerentes da administração pública melhor a flexibilidade e a participação dos integrantes, direcionados ao in-

68
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
cremento da conectividade. Isso faz com que as parcerias sejam o Hoje, na era do planejamento e dos mapas estratégicos, as or-
instrumento principal de geração de informação e conhecimento ganizações, além de traçarem seus planos de negócio e resultados
destinados ao serviço que visam prestar. esperados, também definem as expectativas de seus clientes, as
A constituição de uma teia de relações em torno de objetivos competências essenciais da organização, traços de cultura e valores
delimitados e fortemente compartilhados, articulada para a concre- e diferenciais dos produtos e de serviços que não podem ser tradu-
tização de atividades diversas e mutáveis, amplia o campo de ação zidos apenas em números e que demandam uma avaliação compor-
das organizações não governamentais, gerando oportunidades e tamental, por parte dos gestores, tornando o processo mais subje-
aumentando seu potencial competitivo. tivo e cheio de significados específicos para o sucesso do negócio.
Participar de uma rede organizacional envolve, portanto, algo A partir das definições de metas e objetivos do negócio, da cla-
mais do que apenas trocar informações a respeito dos trabalhos rificação dos valores e competências requeridas para a organização
que um grupo de organizações realiza isoladamente. Estar em rede e para o cargo e dos profissionais expressarem suas aspirações e
significa comprometer-se a realizar conjuntamente ações concre- registrarem seu histórico profissional e de aprendizagem, um banco
tas, compartilhando valores e atuando de forma flexível, transpon- de dados pode ser elaborado e com a ajuda da tecnologia, pode
do, assim, fronteiras geográficas, hierárquicas, sociais ou políticas. ser acompanhado pela empresa gerando um verdadeiro mapa de
Redes são sistemas organizacionais capazes de reunir indivídu- talentos e potenciais, onde os critérios do desempenho superior
ficam mais claros e transparentes para todos os envolvidos no pro-
os e instituições, de forma democrática e participativa, em torno de
cesso.
causas afins. Estruturas flexíveis e estabelecidas horizontalmente,
Em outras palavras a gestão do desempenho tem sido uma
as dinâmicas de trabalho das redes supõem atuações colaborativas
importante ferramenta de competitividade e de identidade orga-
e se sustentam pela vontade e afinidade de seus integrantes, car-
nizacional. Ela permite que colaboradores, gestores e a área de Re-
acterizando-se como um significativo recurso organizacional para a
cursos Humanos, construam ciclos virtuosos de comprometimento,
estruturação social.
na medida em que articulam os interesses da empresa, da área e
A palavra rede é bem antiga e vem do latim retis, significando o
do indivíduo, atingindo um elevado nível de qualidade e excelência
entrelaçamento de fios com aberturas regulares que formam uma
gerencial.
espécie de tecido. A partir da noção de entrelaçamento, malha e
estrutura reticulada, a palavra rede foi ganhando novos significa-
CLICLO PDCA
dos ao longo dos tempos, passando a ser empregada em diferentes
situações.
Uma estrutura em rede significa que seus integrantes se ligam
horizontalmente a todos os demais, diretamente ou através dos
que os cercam. O conjunto resultante é como uma malha de múl-
tiplos fios, que pode se espalhar indefinidamente para todos os la-
dos, sem que nenhum dos seus nós possa ser considerado principal
ou representante dos demais. Pode-se dizer que no trabalho em
rede não há um “chefe”, o que há é uma equipe trabalhando com
uma vontade coletiva de realizar determinado objetivo.
Dessa forma, as redes apresentam-se como uma solução viável
e desejável aos cidadãos ativos e conscientes das necessidades de
transformações do mundo, reduzindo o nível de incertezas causa-
do pelas constantes e abruptas mudanças no mercado. As organ-
izações, sejam empresariais ou não, estão constantemente em
busca de estruturas capazes de enfrentar ambientes de maior com-
plexidade. Uma das respostas a esta busca por estruturas e estraté-
gias alternativas de trabalho é o surgimento de uma forma de atu-
ação que articula organizações e pessoas em um padrão de rede.
No mundo empresarial, identificar o profissional de desempe-
nho superior, aquele que traz resultados significativos para a em-
presa e que não deveria ser “perdido” para o mercado é ainda um
desafio para os gestores, para a área de Recursos Humanos e para
O ciclo PDCA, ciclo de Shewhart ou ciclo de Deming, é um ciclo
o próprio profissional que, na maioria das vezes, não sabe se seu
de desenvolvimento que tem foco na melhoria contínua.
desempenho está de acordo com as expectativas, qual é o seu valor
O PDCA foi idealizado por Shewhart e divulgado por Deming,
para a empresa e onde poderá chegar caso permaneça nesta em-
quem efetivamente o aplicou. Inicialmente deu-se o uso para es-
presa ou vá para outra qualquer.
tatística e métodos de amostragem. O ciclo de Deming tem por
Uma das práticas mais úteis para ajudar a encarar este desafio
princípio tornar mais claros e ágeis os processos envolvidos na ex-
tem sido o processo de gestão do desempenho.
ecução da gestão, como por exemplo na gestão da qualidade, di-
Trata-se de um processo mais recente, no âmbito da gestão
vidindo-a em quatro principais passos.
de pessoas, que vem evoluindo muito nas organizações, passando
O PDCA é aplicado para se atingir resultados dentro de um sis-
de um mero processo de avaliação para um processo de gestão da
tema de gestão e pode ser utilizado em qualquer empresa de forma
aprendizagem, do autodesenvolvimento, da gestão da própria car-
a garantir o sucesso nos negócios, independentemente da área de
reira, das aspirações profissionais, além da contratação de resulta-
atuação da empresa.
dos quantitativos do negócio.
O ciclo começa pelo planejamento, em seguida a ação ou con-
Antes praticava-se a avaliação de desempenho focando-se es-
junto de ações planejadas são executadas, checa-se se o que foi
sencialmente números, metas e objetivos, identificando-se ao final
feito estava de acordo com o planejado, constantemente e repet-
de um período os resultados obtidos pela empresa, área ou unida-
de de trabalho e dos indivíduos que tinham seus objetivos cascate- idamente (ciclicamente), e toma-se uma ação para eliminar ou ao
ados dos objetivos e metas mais amplos da empresa. menos mitigar defeitos no produto ou na execução.

69
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Os passos são os seguintes: 3) Cultura da inovação
• Plan (planejamento): estabelecer uma meta ou identific- Promoção de um ambiente favorável à criatividade, à experi-
ar o problema (um problema tem o sentido daquilo que impede mentação e à implementação de novas ideias que possam gerar um
o alcance dos resultados esperados, ou seja, o alcance da meta); diferencial para a atuação da organização.
analisar o fenômeno (analisar os dados relacionados ao problema); Esse conceito é colocado em prática ao buscar e desenvolv-
analisar o processo (descobrir as causas fundamentais dos proble- er continuamente ideias originais e incorporá-las aos processos,
mas) e elaborar um plano de ação. produtos, serviços e relacionamentos, associado ao rompimento
• Do (execução): realizar, executar as atividades conforme das barreiras do serviço público antiquado e burocrático de forma
o plano de ação. a otimizar o uso dos recursos públicos e produzir resultados efi-
• Check (verificação): monitorar e avaliar periodicamente cientes para a sociedade.
os resultados, avaliar processos e resultados, confrontando-os com
o planejado, objetivos, especificações e estado desejado, consoli- 4) Liderança e constância de propósitos
dando as informações, eventualmente confeccionando relatórios. A liderança é o elemento promotor da gestão, responsável pela
Atualizar ou implantar a gestão à vista. orientação, estímulo e comprometimento para o alcance e melho-
• Act (ação): Agir de acordo com o avaliado e de acordo com ria dos resultados organizacionais e deve atuar de forma aberta,
os relatórios, eventualmente determinar e confeccionar novos pla- democrática, inspiradora e motivadora das pessoas, visando o de-
nos de ação, de forma a melhorar a qualidade, eficiência e eficácia, senvolvimento da cultura da excelência, a promoção de relações de
aprimorando a execução e corrigindo eventuais falhas. qualidade e a proteção do interesse público. É exercida pela alta
administração, entendida como o mais alto nível gerencial e asses-
Fundamentos de Excelência Gerencial soria da organização.
Os fundamentos da excelência são conceitos que definem o Esse conceito é colocado em prática por meio da participação
entendimento contemporâneo de uma gestão de excelência na ad- pessoal, ativa e continuada da alta administração que é fundamen-
ministração pública e que, orientados pelos princípios constitucion- tal para dar unidade de propósitos à organização. Seu papel inclui a
ais, compõem a estrutura de sustentação do Modelo de Excelência criação de um ambiente propício à inovação e ao aperfeiçoamento
em Gestão Pública e estão classificados como: constantes, à gestão do conhecimento, ao aprendizado organizacional,
ao desenvolvimento da capacidade da organização de se antecipar e
1) Pensamento sistêmico se adaptar com agilidade às mudanças no seu ecossistema e de esta-
Entendimento das relações de interdependência entre os di- belecer conexões estratégicas. A alta administração deve atuar como
versos componentes de uma organização, bem como entre a organ- mentora, precisa ter visão sistêmica e abrangente, ultrapassando
ização e o ambiente externo, com foco na sociedade. as fronteiras da organização e as restrições de curto prazo, manten-
Esse conceito é colocado em prática quando se considera que do comportamento ético e habilidade de negociação, liderando pelo
as organizações são constituídas por uma complexa combinação de exemplo. A sua ação da liderança deve conduzir ao cumprimento da
recursos humanos e organizacionais, cujo desempenho pode afe- missão e alcance da visão de futuro da organização.
tar, positiva ou negativamente, a organização em seu conjunto. As
organizações públicas são vistas como sistemas vivos, integrantes 5) Orientação por processos e informações
de ecossistemas complexos que devem interagir com o meio e Compreensão e segmentação do conjunto das atividades e pro-
se adaptar. Assim, é importante que o seu sistema de gestão seja cessos da organização que agreguem valor para as partes interessa-
dinâmico e capaz de contemplar a organização como um todo para das, sendo que a tomada de decisões e a execução de ações devem
rever e consolidar os seus objetivos e suas estratégias, observando ter como base a medição e análise do desempenho, levando-se em
o alinhamento e a interconexão dos seus componentes, ou seja, a consideração as informações disponíveis.
consistência entre os seus objetivos, planos, processos, ações e as Esse conceito é colocado em prática por meio da compreensão
respectivas mensurações. do processo como um conjunto de atividades inter-relacionadas
Como sistemas vivos, as organizações precisam aprender a ou interativas que transformam insumos (entradas) em produtos/
valorizar as redes formais com cidadãos-usuários, interessados e serviços (saídas) com alto valor agregado. Os fatos e dados gerados
parceiros, bem como as redes que emergem informalmente, en- em cada um desses processos, bem como os obtidos externamente
tre as pessoas que as integram, e destas com pessoas de outras à organização, se transformam em informações que subsidiam a to-
organizações e entidades. Dessa forma, o pensamento sistêmico mada de decisão e alimentam a produção de conhecimentos.
pressupõe que as pessoas da organização entendam o seu papel no Esses conhecimentos dão à organização pública alta capacidade
todo (as inter-relações entre os elementos que compõem a organ- para agir e poder para inovar. A tomada de decisões e a execução
ização – a dimensão interna e a dimensão externa). de ações devem estar suportadas por medição e análise do desem-
penho, levando-se em consideração as informações disponíveis,
2) Aprendizado organizacional além de incluir os riscos identificados. As informações e dados de-
Busca contínua e alcance de novos patamares de conhecimen- finem tendências, projeções e causas e efeitos e devem, portanto,
to, individuais e coletivos, por meio da percepção, reflexão, aval- subsidiar o planejamento, a avaliação, a tomada de decisões e a
iação e compartilhamento de informações e experiências. implementação de melhorias. A excelência em gestão pressupõe:
Esse conceito é colocado em prática na medida em que a or- obtenção e tratamento sistemáticos de dados e informações de
ganização busca de maneira estruturada, específica e proativa, o qualidade, alinhados às suas necessidades; sistemas de infor-
conhecimento compartilhado, incentiva a experimentação, utiliza mações estruturados e adequados; e obtenção e uso sistemáticos
o erro como instrumento pedagógico, dissemina suas melhores de informações comparativas. A orientação por processos permite
práticas, desenvolve soluções e implementa refinamentos e ino- planejar e executar melhor as atividades pela definição adequada
vações de forma sustentável, coloca em prática o aprendizado or- de responsabilidades, uso dos recursos de modo mais eficiente, re-
ganizacional. Preservar o conhecimento que a organização tem de alização de prevenção e solução de problemas, eliminação de ativ-
si própria, de sua gestão e de seus processos é fator básico para a idades redundantes, aumentando a produtividade. A orientação
sua evolução. por processos e informações implica postura próativa relacionada à

70
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
noção de antecipação e resposta rápida às mudanças do ambiente Esse conceito é colocado em prática considerando que os ci-
– percepção dos sinais do ambiente e antecipação – com vistas a dadãos usuários, atuais e potenciais, e a sociedade são sujeitos de
evitar problemas e/ou aproveitar oportunidades. A resposta rápida direitos e as organizações públicas têm obrigação de atender, com
agrega valor à prestação dos serviços públicos e aos resultados do qualidade e presteza, às suas necessidades e às suas demandas, de
exercício do poder de Estado. forma regular e contínua. Nesse sentido, a organização tem que al-
inhar as suas ações e os seus resultados às necessidades e às expec-
6) Visão de futuro tativas dos cidadãos e da sociedade e antecipar suas necessidades
Indica o rumo de uma organização e a constância de propósitos futuras o que implica estabelecer um compromisso com a socie-
que a mantém nesse rumo. Está diretamente relacionada à capaci- dade no sentido de fazer o melhor no cumprimento da sua missão
dade de estabelecer um estado futuro desejado que dê coerência institucional considerando o interesse público. A administração pú-
ao processo decisório e que permita à organização antecipar-se às blica tem o dever de garantir o direito dos cidadãos de acesso dos
necessidades e expectativas dos cidadãos e da sociedade. Inclui, serviços públicos de maneira contínua (princípio da Continuidade
também, a compreensão dos fatores externos que afetam a organ- do Serviço Público), com o objetivo de não prejudicar o atendimen-
ização com o objetivo de gerenciar seu impacto na sociedade. to à população, particularmente no que se refere aos serviços es-
Por meio da formulação das estratégias a organização se prepa- senciais.
ra para colocar em prática sua Visão de Futuro. O alcance dessa visão
é o resultado da implementação dessas estratégias sistematicamente 10) Desenvolvimento de parcerias
monitoradas, levando em consideração as tendências do ambiente Desenvolvimento de atividades conjuntamente com outras
externo, as necessidades e expectativas das partes interessadas, os organizações com objetivos específicos comuns, buscando o pleno
desenvolvimentos tecnológicos, os requisitos legais, as mudanças es- uso das suas competências complementares para desenvolver sin-
tratégicas dos concorrentes e as necessidades da sociedade, no sen- ergias.
tido de readequá-las e redirecioná-las, quando for o caso. Assim uma Na prática as organizações modernas reconhecem que no mun-
organização com Visão de Futuro pensa, planeja e aprende estrategica- do de hoje - de mudanças constantes e aumento da demanda - o
mente, obtendo resultados de alto desempenho e sustentáveis. sucesso pode depender das parcerias que elas desenvolvem. Essas
organizações procuram desenvolver maior interação, relaciona-
7) Geração de valor mento e atividades compartilhadas com outras organizações, de
Alcance de resultados consistentes, assegurando o aumento de modo a permitir a entrega de valor agregado a suas partes interes-
valor tangível e intangível de forma sustentada para todas as partes sadas por meio da otimização das suas competências essenciais. Es-
interessadas. sas parcerias podem ser com clientes, fornecedores, organizações
Esse conceito é colocado em prática considerando que gerar de cunho social, ou mesmo com competidores e são baseadas em
valor para todas as partes interessadas visa aprimorar relações de benefícios mútuos claramente identificados. O trabalho conjunto
qualidade e assegurar o desenvolvimento da organização. Ao agir dos parceiros, apoiado nas competências, no conhecimento e nos
desta forma a organização enfatiza o acompanhamento dos resulta- recursos comuns, assim como o relacionamento baseado em confi-
dos em relação às suas finalidades e às suas metas, a comparação ança mútua, respeito e abertura facilitam o alcance dos objetivos.
destes com referenciais pertinentes e o monitoramento da satis- As parcerias são usualmente estabelecidas para atingir um objetivo
fação de todas as partes interessadas, obtendo sucesso de forma estratégico ou entrega de um produto ou serviço, sendo formaliza-
sustentada e adicionando valor para todas elas. A geração de valor das por um determinado período e envolvem a negociação e o claro
depende cada vez mais dos ativos intangíveis, que atualmente rep- entendimento das funções de cada parte, bem como dos benefícios
resentam a maior parte do valor das organizações públicas. Isto im- decorrentes.
plica visão estratégica das lideranças para possibilitar à sociedade a
percepção da utilidade e da credibilidade da própria organização.
11) Responsabilidade social
Atuação voltada para assegurar às pessoas a condição de ci-
8) Comprometimento com as pessoas
dadania com garantia de acesso aos bens e serviços essenciais, e ao
Estabelecimento de relações com as pessoas, criando
mesmo tempo tendo também como um dos princípios gerenciais
condições de melhoria da qualidade nas relações de trabalho, para
a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas naturais, po-
que elas se realizem profissional e humanamente, maximizando
tencializando a capacidade das gerações futuras de atender suas
seu desempenho por meio do comprometimento, de oportunidade
próprias necessidades.
para desenvolver competências e de empreender, com incentivo e
reconhecimento. A prática pressupõe o reconhecimento da sociedade como
A prática desse conceito pressupõe dar autonomia para atingir parte integrante do ecossistema da organização, com necessidades
metas e alcançar resultados, assumir riscos, criar oportunidade de e expectativas que precisam ser identificadas, compreendidas e
aprendizado e desenvolvimento de competência e reconhecendo o atendidas. Trata-se do exercício constante da consciência moral e
bom desempenho, criando práticas flexíveis e produtivas para atrair cívica da organização, advinda da ampla compreensão de seu pa-
e reter talentos, propiciando um clima organizacional participativo pel no desenvolvimento da sociedade. O respeito à individualidade,
e agradável. Criar um ambiente flexível e estimulante à geração do ao sentimento coletivo e à liberdade de associação, assim como a
conhecimento, disseminando os valores e as crenças da organização adoção de políticas não-discriminatórias e de proteção das minori-
e assegurando um fluxo aberto e contínuo de informações é funda- as são regras básicas nas relações da organização com as pessoas.
mental para que as pessoas se motivem e atuem com autonomia. A organização deve buscar o desenvolvimento sustentáv-
el, identificar os impactos na sociedade que possam decorrer de
9) Foco no cidadão e na sociedade suas instalações, processos, produtos e serviços e executar ações
Direcionamento das ações públicas para atender, regular e preventivas para eliminar ou minimizar esses impactos em todo o
continuamente, as necessidades dos cidadãos e da sociedade, na ciclo de vida das instalações, produtos e serviços. Adicionalmente,
condição de sujeitos de direitos, beneficiários dos serviços públicos deve preservar os ecossistemas naturais, conservar os recursos
e destinatários da ação decorrente do poder de Estado exercido pe- não-renováveis e racionalizar o uso dos recursos renováveis. Além
las organizações públicas. do atendimento e superação dos requisitos legais e regulamentar-

71
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
es associados aos seus bens, serviços, processos e instalações. O exercício da cidadania pressupõe o apoio a ações de interesse social e
pode incluir: a educação e a assistência comunitária; a promoção da cultura, do esporte e do lazer; e a participação no desenvolvimento
nacional, regional ou setorial.

12) Controle social


Atuação que se define pela participação das partes interessadas no planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades da
Administração Pública e na execução das políticas e dos programas públicos.
Para promover a prática desse conceito a alta administração das organizações públicas tem que estimular a sociedade a exercer ati-
vamente o seu papel de guardiã de seus direitos e de seus bens comuns. A transparência e a participação social são os requisitos funda-
mentais para a efetivação do controle social. Assim, a gestão pública de excelência pressupõe viabilizar as condições necessárias para que
o controle social possa ser exercido pela sociedade. Nesse sentido, a administração pública deve garantir visibilidade de seus atos e ações
e implementar mecanismos de participação social.
Propiciar transparência significa democratizar o acesso às informações sobre o funcionamento da organização, o que implica: disponi-
bilizar informações sobre as ações públicas em condições de serem entendidas, interpretadas e de possibilitarem efetivamente o controle
social (informações claras, detalhadas, completas e com dados desagregados); tornar acessíveis aos cidadãos as informações sobre o fun-
cionamento da administração pública. Participação social é ação democrática dos cidadãos nas decisões e ações que definem os destinos
da sociedade. Colocá-la em prática implica aprender a lidar e interagir com as mobilizações e movimentos sociais.

13) Gestão participativa


Estilo de gestão que determina uma atitude gerencial da alta administração que busque o máximo de cooperação das pessoas, recon-
hecendo a capacidade e o potencial diferenciado de cada um e harmonizando os interesses individuais e coletivos, a fim de conseguir a
sinergia das equipes de trabalho.
Na prática uma gestão participativa é implementada dando-se às pessoas autonomia para o alcance de metas e cobrando a cooper-
ação, o compartilhamento de informações e a confiança para delegar. Como resposta, as pessoas tomam posse dos desafios e dos proces-
sos de trabalho dos quais participam, tomam decisões, criam, inovam e geram um clima organizacional saudável.
Em suma, temos aqui uma natureza gerencial da administração que busca pela qualidade na prestação do serviço ao público de forma
imperativa, sendo o cidadão o foco sempre, proporcionando a ele atendimento de excelência, que coloque os serviços e as rotinas de
maneira transparente, participativa e que permita o controle social.
Essa excelência é inclusive tema de legislação e também de alguns programas, por exemplo:
• Decreto nº 3.507/2000 (padrões de qualidade do atendimento prestado aos cidadãos);
• Decreto nº 5.378/2005 (GESPÚBLICA e seu Comitê Gestor);
• Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP);
• Programa da Qualidade e Participação na Administração Pública (PQPAP);
• Programa da Qualidade no Serviço Público (PQSP);
• GesPública: Sistema Nacional de Avaliação da Satisfação do Usuário dos Serviços Públicos
• Instrumento Padrão de Pesquisa de Satisfação (IPPS).

CONCEITOS DE EFICÁCIA E EFETIVIDADE APLICADOS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: AVALIAÇÃO E MENSURAÇÃO DO


DESEMPENHO GOVERNAMENTAL

Gestão Pública
É a gestão dos bens e interesses qualificados da comunidade, agindo in concreto, segundo os preceitos da lei e da moral, visando o
bem comum, porém delimitado no tempo e no espaço.

É um modelo de gestão em que o setor público passa a atuar para alcançar resultados, adotando postura empreendedora, voltada
para atender as necessidades da população.

72
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
No setor privado é voltado para atender o cliente.
A atuação governamental é caracterizada pela busca de padrões de eficiência, eficácia, efetividade e sustentabilidade, buscando re-
duzir custos para a sociedade e comprometendo o Estado com os cidadãos.

O que o Gestor Público Visa?

EFICIÊNCIA
Capacidade de produção da entidade, com o uso mais racional possível, de um conjunto de insumos necessários a essa produção.

EFICÁCIA
É o grau em que as metas de uma organização, para um dado período, foram efetivamente atingidas.

EFETIVIDADE
É o grau de satisfação das necessidades e dos desejos da sociedade pelos serviços prestados pela instituição.

Sustentabilidade - É uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes sem comprometer a satisfação das neces-
sidades das gerações futuras.

73
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA GESTÃO PARA RESULTADOS

Implementação – Fatores críticos


- Compromisso e administração das mudanças: revisão do modelo de gestão, adaptação a nova cultura, descentralização, integração
vertical e horizontal;
- Apoio e comprometimento dos dirigentes: formulação de objetivos viáveis e operáveis (mapas estratégicos);
- Iniciativa e compromisso gerencial: compromisso com a ferramenta de gestão e sinergia de ações;
- Gestão do tempo: maximização da produtividade e melhoria contínua;
- Adaptação ao contexto: conflitos de poder, oportunidades, habilidades e capacidades, resistências, equilíbrio e sustentabilidade;
- Análise e uso da Informação: confiabilidade, consistência, resolutividade e aplicação na tomada de decisão;
- Aprendizado Organizacional e individual: transformação de padrões de conduta; aprendizagem como fator de desenvolvimento
pessoal e institucional;
- Plano de trabalho para resultados: instituição de um plano de aplicação e “praticar o que se prega”.

Avaliação de Políticas, Programas e Projetos: Notas Introdutórias


A avaliação de políticas públicas, programas e projetos governamentais tem finalidades bastante precisas:
(1) accountability, significando estabelecer elementos para julgar e aprovar decisões, ações e seus resultados.
(2) desenvolver e melhorar estratégias de intervenção na realidade, ou seja, a avaliação tem que ser capaz de propor algo a respeito
da política que está sendo avaliada.
(3) empoderamento, promoção social e desenvolvimento institucional, significando que a avaliação deve ser capaz de abrir espaço
para a democratização da atividade pública, para a incorporação de grupos sociais excluídos e para o aprendizado institucional e fortale-
cimento das instituições envolvidas.

Toda avaliação tem que enfrentar uma série de desafios. Primeiro, deve lidar com as limitações resultantes do fato de que uma das
suas principais fontes de informações são registros administrativos. Ora, como a avaliação nem sempre é concebida ex-ante, os registros
administrativos não são elaborados com a perspectiva de prover os dados necessários à avaliação. Com isso, o avaliador sempre tem que
lidar com lacunas nesses dados e tentar ir além delas.

74
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Segundo, uma outra fonte de informações são os beneficiários, ou diminuição de infecções hospitalares. Para isso adota-se a ava-
dos quais se obtém dados diretos. Isso coloca a necessidade de liação formal, que é o exame sistemático de certos objetos, basea-
construir instrumentos fidedignos de coleta, bases de dados preci- do em procedimentos científicos de coleta e análise de informação
sas e confiáveis o suficiente para sustentar as apreciações a serem sobre o conteúdo, estrutura, processo, resultados e/ou impactos de
feitas. Assim, quanto mais sólido o treinamento metodológico do políticas, programas, projetos ou quaisquer intervenções planeja-
avaliador, melhor, embora a avaliação não se resuma à aplicação de das na realidade.
técnicas metodológicas. Muitos dos princípios da avaliação formal foram desenvolvidos
Terceiro, é fundamental que sejam avaliados os contextos. Há nos EUA no final dos anos 1960 e início da década de 1970, espe-
uma importante pergunta neste sentido: porque é que em contex- cialmente a partir do desenvolvimento das avaliações de impacto
tos diferentes as mesmas ações apresentam resultados diferentes? ambiental (AIA). Em 1969 observou-se que, embora fosse possível
Esta indagação dá a medida da relevância do contexto e indica a prever as mudanças físicas no meio ambiente, resultantes da cons-
necessidade de métodos próprios para o seu estudo. trução de um oleoduto no Alaska, não foram previstas as mudanças
Quarto, ao mesmo tempo que a avaliação implica associar sociais trazidas por tais mudanças físicas e nem o modo como as
meios e fins, é preciso abrir a possibilidade de exame de resultados mudanças sociais provocariam novas mudanças físicas. A constru-
não antecipados. Isto tem sido feito com métodos de “avaliação li- ção do oleoduto não somente provocou mudanças que afetaram
vre dos resultados” ou “avaliação independente dos objetivos”, que os animais da região e portanto afetou a atividade de caça dos na-
permite questionar se há outros processos que podem produzir tais tivos, alterando seus modos de vida e sua cultura. As construtoras
resultados, independentemente dos objetivos e atos dos gestores. do oleoduto levaram seus trabalhadores para realizar as obras, e
Quinto, é preciso que a avaliação seja capaz de captar mudan- estes tinham cultura, língua e modos de vida diferentes. Além dis-
ças através do tempo, retroalimentando as políticas, programas e so, muitos nativos acabaram precisando trabalhar na construção do
projetos. oleoduto para sobreviver, já que a caça tinha se tornado escassa.
Isto requer que, ao invés de representar uma iniciativa pontual, Tudo isso gerou novas mudanças ambientais e sociais. Em 1973,
a avaliação seja concebida como um processo contínuo. pela primeira vez, foi usado o termo “impacto social” para relatar as
Sexto, é preciso abrir a possibilidade da avaliação orientada mudanças na cultura indígena nativa do Alaska devido ao oleoduto.
para a inovação. Trata-se da avaliação que começa com início do Em 1981 foi criada a Associação Internacional de Avaliação de
ciclo de uma política, quando há pouco conhecimento sobre a mes- Impacto, reunindo os interessados em avaliar impactos ambientais,
ma. Este tipo de avaliação implica uma concepção ex-ante, ou seja, sociais, tecnológicos, bem como outros tipos de avaliação. O desen-
a avaliação que é construída anteriormente à própria formulação, a volvimento da avaliação formal, inclusive da avaliação de impacto,
partir da qual se realizam simulações com a finalidade de identificar mudou a maneira pela qual os governantes e a sociedade encara-
estratégias e propor cursos de ação . Isso, evidentemente, vai re- vam o planejamento e o desenvolvimento em geral, introduzindo a
querer o estabelecimento de uma base de informação (baseline) e a idéia-chave de que, em grande parte as mudanças podem ser ante-
coleta e análise de evidências capazes de sustentar políticas novas. vistas, acompanhadas e conduzidas.
Um aspecto que deve ser considerado tem a ver com os avalia-
dores, suas habilidades e competências (além das habilidades analí- A avaliação como instrumento de gestão
ticas que são tomadas como dadas). É fundamental que os avaliado- Entre as inúmeras definições existentes pode-se sustentar que
res tenham capacidade de trabalhar com policy-makers no sentido avaliação formal é
de estabelecer com eles parcerias estratégicas visando o melhor (1) um julgamento (porque envolve valores)
resultado das políticas públicas; isso significa superar a postura (2) sistemático (porque baseia-se em critérios e procedimentos
de que avaliadores e gestores se situam em campos opostos, sem previamente reconhecidos)
perder a características da independência da avaliação. Também é (3) dos processos ou dos produtos de
essencial que o avaliadores sejam capazes de atuar junto aos sta- (4) uma política, programa ou projeto, tendo como referência
keholders, estabelecendo diálogos, ajudando a construir consensos (5) critérios explícitos, a fim de contribuir para
e a gerenciar mudanças. É igualmente necessário que o avaliador (6) o seu aperfeiçoamento, a melhoria do processo decisório, o
seja capaz de analisar a coerência da política e interpretar resulta- aprendizado institucional e/ou o aumento da accountability.
dos com o distanciamento necessário. Finalmente, é indispensável
que a avaliação tenha consequências. E isso significa elaborar pla- Assim sendo, é possível reconhecer que a avaliação contém
nos de ação, formular recomendações visando o aperfeiçoamento duas dimensões. A primeira é técnica, e caracteriza-se por produ-
das políticas, programas e projetos. Essas habilidades são a base zir ou coletar, segundo procedimentos reconhecidos, informações
para a formação e consolidação de uma cultura de avaliação, capaz que poderão ser utilizadas nas decisões relativas a qualquer polí-
de encarar as falhas como oportunidades de aprendizado para fazer tica, programa ou projeto. A segunda é valorativa, consistindo na
mais e melhor em termos de políticas públicas. ponderação das informações obtidas com a finalidade de extrair
conclusões acerca do valor da política, programa ou projeto. Ainda
Entendendo o que significa “avaliação” assim, a finalidade da avaliação não é necessariamente distinguir
O termo “avaliação” é amplamente usado em muitos e diversos as intervenções de qualquer natureza segundo sejam “boas” ou
contextos, sempre referindo-se a julgamentos. Por exemplo, se va- “más”, “exitosas” ou “fracassadas”. Muito mais importante e pro-
mos ao cinema ou ao teatro formamos uma opinião pessoal sobre veitoso é apropriar-se da avaliação como um processo de apoio
o que vimos, considerando satisfatório ou não. Se assistimos a um a um aprendizado contínuo, de busca de melhores decisões e de
jogo de futebol, formamos opinião sobre as habilidades dos joga- amadurecimento da gestão.
dores. E assim por diante. Estes são julgamentos informais que efe- A avaliação formal permite julgar processos e produtos de vá-
tuamos cotidianamente sobre todos os aspectos das nossas vidas. rios modos. Primeiro, levantando questões básicas tais como os
Porém, há avaliações muito mais rigorosas e formais, envol- motivos de certos fenômenos (por exemplo: o que causa os ele-
vendo julgamentos detalhados e criteriosos, sobre a consecução de vados índices de morte violenta entre os jovens brasileiros?). Este
metas, por exemplo, em programas de redução da exclusão social, tipo de avaliação pode focalizar relações de causa e efeito com a
melhoria da saúde dos idosos, prevenção da delinquência juvenil finalidade de recomendar medidas para lidar com o problema.

75
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Em segundo lugar, a avaliação formal pode ser usada como ins- 3 - Avaliação de Processo – significa o conjunto de ações desti-
trumento de acompanhamento de políticas ou programas de longo nadas a produzir um bem ou serviço ou a desencadear alguma mu-
prazo. Nesses casos são realizadas várias avaliações em estágios- dança numa dada realidade. Este tipo de avaliação se subdivide em:
-chave da política ou programa, a fim de prover dados confiáveis 3.1 – Monitoramento ou avaliação em processo – trata-se
sobre os seus impactos e sobre como podem ser estes mitigados da utilização de um conjunto de estratégias destinadas a realizar
ou melhorados. o “acompanhamento” de uma política, programa ou projeto, de
Em terceiro, ao final de um programa ou projeto a avaliação modo a identificar de maneira oportuna e tempestivamente as
pode indicar o seu sucesso na consecução dos seus objetivos e per- vantagens e pontos frágeis na sua execução, a fim de efetuar os
mitir avaliar a sua sustentabilidade, ou seja, a possibilidade da sua ajustes e correções necessários à maximização dos seus resultados
continuidade através do tempo. e impactos.
A avaliação formal pode contribuir para aperfeiçoar a formu-
lação de políticas e projetos especialmente tornando mais respon- O monitoramento tem por base o plano de trabalho de uma
sável a formulação de metas, e apontar em que medida os gover- política, programa ou projeto e representa uma ferramenta de uso
nos se mostram responsivos frente às necessidades dos cidadãos. cotidiano na gestão destes. Orienta-se para a busca de respostas
Pode mostrar se as políticas e programas estão sendo concebidos às seguintes indagações: Em que medida são cumpridas as ativi-
de modo coordenado ou articulado; e em que medida estão sendo dades especificadas na programação? Em que medida estão pre-
adotadas abordagens inovadoras na resolução de problemas que sentes os recursos necessários? Com que grau de tempestividade?
antes pareciam intratáveis. Em que medida está sendo observada a sequência das ações? Qual
Pode indicar como vão sendo construídas as parcerias entre o grau de proximidade observado entre a quantidade e qualidade
governo central e local, entre os setores público, privado e terceiro das ações, serviços ou produtos planejados e os que estão sendo
setor, identificar as condições de sucesso ou fracasso dessas parce- executados? Em que medida a intervenção vem atingindo a popu-
rias e apontar como podem ser aperfeiçoadas a fim de ganharem lação-alvo? Que manifestações de queixa ou satisfação ocorrem
abrangência e se tornarem estratégias nacionais das políticas de entre os diversos atores envolvidos na execução da política, pro-
desenvolvimento. grama? Onde podem ser identificados pontos de estrangulamento
Os modelos contemporâneos de formulação de políticas enfati- na produção de bens ou serviços? Que recursos vem se mostrando
zam a importância dos objetivos compartilhados em lugar das estru- sub-utilizados? Que oportunidades existem para otimizar a explora-
turas organizacionais ou das funções existentes. Mas a articulação ção do recurso X?
de políticas/programas não se resume a abordagens compartilha-
das de questões comuns. A articulação horizontal entre agências ou 3.2 – Avaliação de processo ou “a posteriori’ - trata-se do exame
organizações requer melhor coordenação entre os gestores e me- das estratégias, procedimentos e arranjos (inclusive institucionais)
lhor articulação vertical entre os que tomam as decisões e os que adotados na implementação de uma política, programa ou projeto,
os implementam. Isto não é um fim em si mesmo, mas deve estar com a finalidade de identificar os pontos onde podem ser obtidos
presente onde agrega valor, e é especialmente importante quando ganhos de eficiência e eficácia. Tem por hipótese central a idéia de
as políticas ou programas se dirigem às questões socialmente per- que os meios adotados afetam os resultados. Portanto, o seu objeto
versas. Nesses casos, a avaliação formal permite aprender e incor- de análise é o “como” uma ação foi executada, ou seja, a cadeia de
porar lições à implementação de novas políticas/programas. passos adotados desde a formulação da política ou programa até a
obtenção do seu produto final.
Tipologia da Avaliação 4 - Avaliação de Produto – é toda avaliação cujo foco recai so-
Desde a década de 1980 foram feitos significativos avanços na bre os produtos de uma política, programa ou projeto, em suas vá-
área de avaliação, tornando-se os conceitos mais precisos, as es- rias dimensões, as quais dão origem a diferentes modalidades:
tratégias e as técnicas mais adequadas e os instrumentos de coleta 4.1 – Avaliação de Resultados: Tem por objeto os resultados,
mais acurados. também chamados de “outputs”, significando bens ou serviços de
Além disso passou-se a distinguir os diversos tipos de avalia- um programa ou projeto que são necessários para que seus objeti-
ção que se pode efetuar. Hoje é possível discriminar as avaliações vos finais sejam alcançados. Por exemplo, os serviços de extensão
segundo o foco ou objeto, a lógica que orienta sua concepção, a agrícola proporcionados aos agricultores para que produzam uma
ênfase metodológica, etc. A fim de ordenar um pouco a discussão cultura “x” ou para que aumentem a sua produtividade. Mas tam-
são apresentadas a seguir algumas das possibilidades da avaliação bém pode focalizar os resultados obtidos com uma política, pro-
formal. grama ou projeto, indicados como seus objetivos de curto prazo
Segundo o foco ou objeto, as avaliações podem ser: ou intermediários, chamados de “outcomes”. Ex.: aumento da área
1 - Avaliação Jurídica ou Avaliação de Conformidade – corres- cultivada com a cultura “x” ou aumento da produção por hectare ou
ponde ao exame da conformidade dos atos do gestor em relação à aumento da venda dos agricultores.
lei, na condução da política pública, programa ou projeto. 4.2 – Avaliação de Impactos: trata-se de avaliação de um ou
2 - Avaliação de Desempenho - refere-se ao que se faz com re- mais resultados de médio ou longo prazo, definidos como “impac-
lação a uma política, programa ou projeto. Compreende dois sub- tos”, ou seja, consequências dos resultados imediatos. Ex.: elevação
tipos: da qualidade de vida no meio rural, melhoria do abastecimento dos
2.1 - Desempenho institucional - tem como finalidade apreciar centros urbanos, aumento da poupança devido à redução das im-
em que medida uma instituição realiza a missão que lhe foi atribuí- portações, etc.. Adiante, neste texto, serão apresentados detalhes
da, mediante a consecução dos seus objetivos e o cumprimento de das avaliações de impactos.
suas metas. 4.3- Avaliação de Qualidade: o produto pode ser avaliado, tam-
2.2 - Desempenho pessoal1 - destina-se a averiguar em que bém, quanto à sua qualidade. Ou seja, a capacidade de um bem
medida cada indivíduo em uma instituição cumpre suas atribuições ou serviço atender às expectativas do seu público-alvo. Nesta di-
e contribui para o alcance dos objetivos e metas da instituição. Tam- mensão se incluem, por exemplo, as avaliações de satisfação dos
bém focaliza a produtividade do desempenho pessoal e a qualidade usuários de um serviço, tão em voga nos anos recentes.
dos serviços prestados.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
A avaliação pode variar, também, conforme a lógica que orien- (d) Há alguma evidência de desempenho subótimo requerendo
ta sua concepção. Nesse caso, pode-se falar de avaliação ex-ante e redesenho da implementação ou ações de correção?
de avaliação ex-post. (e) Se o desempenho é sub-ótimo, quais as suas causas e como
podem ser tratados?
Numa acepção mais generalizada, a avaliação ex-ante expres- (f) A população alvo, os beneficiários ou as pessoas mais afeta-
sa uma concepção holística, interativa e iterativa, segundo a qual a das pela política/programa estão satisfeitas com o serviço ou bens
avaliação se inicia desde o momento em que se define o problema que estão recebendo?
ou necessidade que justifica a política, programa ou projeto, integra (g) A política ou programa está sendo implementada de modo
as discussões em torno da formulação das alternativas, envolve a articulado com outras ações, de forma a contribuir para os objeti-
tomada de decisão, e acompanha o processo de gestão, informan- vos governamentais mais amplos?
do-o sobre os seus avanços, riscos e limitações, desvios a corrigir,
vantagens a maximizar, etc. Avaliação de substância ou de conteúdo
Numa outra acepção, mais restrita, a avaliação ex-ante consiste Destina-se a informar os gestores para que decidam se uma
na análise de eficiência e na análise de impacto. A primeira cor- política ou programa deve continuar, ser interrompida ou mudada.
responde, especificamente, ao cálculo de custos de cada alterna- O foco recai sobre os resultados (eficácia) e impactos (efetividade).
tiva. Além das categorias básicas, os projetos sociais podem envol- As questões típicas desse tipo de avaliação são:
ver ainda custos adicionais do usuário e custos de oportunidade3. (a) A política ou programa tem produzido os outputs, resulta-
Essa modalidade de avaliação ex-ante envolve a construção de uma dos e impactos pretendidos?
matriz de custos, que contém todos os custos que se espera que
uma intervenção requeira em cada período de execução, divididos Em que medida?
entre as diversas categorias acima mencionadas. A análise ex-ante (b) Esses resultados mostram-se sustentáveis pelo período pre-
de impacto consiste na estimação do impacto de cada alternativa, tendido?
derivado dos objetivos propostos. Essa estimação pode basear-se (c) Os pretendidos beneficiários estão de fato se beneficiando?
no Método Delphi4 ou pode envolver o cálculo do “custo por unida- Há algum grau de exclusão social ou geográfica não pretendida? (
de de impacto”, que corresponde ao custo de realização de 1% do d) Há algum efeito negativo para o qual os resultados tenham
impacto para um determinado objetivo, usando uma determinada contribuído? Ou que deveria ter sido evitado? Ou para o qual será
alternativa, em um período de um ano (por exemplo, a redução do necessária alguma ação de mitigação?
índice de mortalidade infantil). Em ambos os casos, a matriz de cus- (e) A política ou programa é condição para ou é complementar
tos é usada para a tomada de decisão, monitoramento e avaliação. a políticas mais amplas?
Uma outra lógica de concepção é usada na avaliação ex-post. (f) Que lições podem ser extraídas, que possam contribuir para
Em se tratando da perspectiva generalizada, refere-se à avaliação aperfeiçoar a busca de resultados em programas futuros?
que é concebida sem relação com planejamento e nem mesmo com Várias outras dimensões e aspectos podem ser usados para
o processo de implementação, sendo desenhada quando a política, mapear os tipos e as possibilidades de avaliação, mas estas são as
programa ou projeto já se encontra consolidado ou em fase final. principais. A seguir serão apresentados os conceitos e descritas as
Na acepção restrita, a avaliação ex-post não diz respeito ao mo- estratégias e técnicas adotadas na sua realização.
mento em que se pensa ou se planeja a avaliação. O foco, nesse
caso recai sobre o que é calculado: o custo efetivo de cada alternati- Conceitos Básicos na Avaliação
va, pelo mesmo processo de análise de custos da avaliação ex-ante, I) Causa e efeito – as avaliações geralmente buscam relações de
porém tendo como referência os valores efetivamente dispendidos. causa e efeito entre a política/programa e a mudança social, econô-
Embora usando os mesmos procedimentos de cálculo, os impactos mica, cultural, tecnológica, etc.
são mensurados por meio da comparação entre a situação inicial da Como regra, nessas hipóteses, a política/programa avaliado é a
população-alvo (baseline) e a sua situação ao final de um certo pe- variável independente e a mudança planejada é a variável depen-
ríodo de tempo. É possível comparar os impactos observados tam- dente. Não se trata de relações causais segundo o máximo rigor
bém com os impactos estimados na avaliação ex-ante, para verificar da metodologia científica. Na verdade, os avaliadores estão procu-
se a seleção de alternativas de intervenção foi ótima. rando regularidades ou padrões em séries de eventos. Em geral,
As avaliações também podem se distinguir segundo suas fina- quando se atribui um valor numérico às variáveis torna-se possível
lidades e, portanto as questões que colocam. Nesta perspectiva há usar técnicas estatísticas como análise bivariada e multivariada. A
dois tipos: análise se torna mais difícil quando não é possível quantificar. Por
exemplo, diferentes padrões de comportamento social podem ser
Avaliação de matriz, de estrutura, ou de modelo o principal fator que afeta as reações das pessoas numa campanha
Destina-se a identificar os pontos fortes e as fraquezas de uma de educação sanitária, mas é difícil colocar isto em termos numé-
intervenção. A informação coletada refere-se ao desenho e imple- ricos. Nestas situações é útil distinguir os fatores que podem ser
mentação da política/programa ou projeto, de modo a julgar a sua claramente atribuídos a um resultado e aqueles que apenas con-
eficácia. O objetivo é verificar se alguma mudança é necessária a tribuem para o mesmo. Em qualquer caso é essencial ter uma clara
fim de aperfeiçoar a política/programa/projeto. Pode ser realizada compreensão dos outputs e outcomes.
como monitoramento ou a posteriori, periodicamente
As questões típicas deste tipo de avaliação são: II) Efeito atribuído e contribuição – acima foi feita uma distin-
(a) Os objetivos da política/programa estão claramente formu- ção entre o que pode ser atribuído a um resultado e o que contribui
lados em termos de resultados a serem obtidos? para o mesmo. Como diferenciar estes dois status? Os fatores atri-
(b)Existe uma compreensão compartilhada dos significados buídos a um resultado podem ser identificados indagando-se: “se o
dos objetivos e um compromisso dos envolvidos para com a imple- fator “X” não existisse ou se não fosse assegurado, o resultado “Y”
mentação dos objetivos? aconteceria?” Se a resposta for Não o fator em tela provavelmente
(c) A política/programa foi implementada conforme o preten- é atribuído.
dido?

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Por outro lado, se outros fatores podem afetar o resultado, mas 3 – Os critérios que serão usados para avaliar a política/pro-
a sua força é menor, eles terão contribuído para aquele resultado. grama/projeto. Esses critérios estabelecem quais as características
Por exemplo, na hipótese de que “na falta de emprego entre ex- esperadas dos processos (ações) e/ou dos resultados (outputs/out-
-presidiários resulta na reincidência no crime”. O fator que pode ser comes/impactos). Usualmente são cinco os critérios adotados nas
atribuído à reincidência é a falta de emprego. Mas há fatores que avaliações de política/programas/projetos:
contribuem para a reincidência, como a falta de apoio social para a • Eficácia – a capacidade de produzir os resultadosesperados/
adaptação à vida livre, etc. Podem ocorrer casos onde não há um desejados.
fator especificamente atribuído, mas vários fatores que contribuem • Eficiência – a capacidade de produzir os resultadosdesejados
para um resultado, todos eles merecedores de ações intecionais de com o menor dispêndio de recursos (humanos, materiais e finan-
mudança. ceiros).
III) Paradigmas diferentes – um paradigma é um modelo ou um • Efetividade –a capacidade de produzir resultadospermanen-
conjunto de postulados que expressam uma forma de conceituar tes, diretos e indiretos, usualmente definidos como impactos, ou
e interpretar certas situações. Isto significa que o paradigma do seja, as conseqüências maiores de um resultado; e de produzir o
avaliador provavelmente influenciará os métodos de análise que número possível de efeitos colaterais ou externalidades negativas.
ele escolhe, mas também que a própria política ou programa é in- • Equidade – a capacidade de contribuir para a redução das
fluenciada pelo paradigma do seu planejador/gestor. Portanto é útil desigualdades e da exclusão social.
identificar o paradigma subjacente a uma política/programa, pois • Sustentabilidade –a capacidade de desencadear mudanças
facilita entender o seu contexto. sociais permanentes, que alteram o perfil da própria demanda por
IV) Aspectos comportamentais e efetividade organizacional – políticas/programas sociais e que retroalimentam o sistema de po-
os comportamentos dos indivíduos e a cultura organizacional afe- líticas sociais.
tam os outputs e outcomes de uma política/programa. Estes aspec-
tos costumam ser difíceis de avaliar e geralmente são considerados A tarefa de avaliação de políticas/programas/projetos pode ser
evidências “ fracas”. Porém, a adaptabilidade é a base da sustenta- facilitada quando são observados alguns passos essenciais:
bilidade e pode ser útil avaliar a capacidade das organizações para 1 – Identificação e caracterização dos stakeholders, ou seja os
mudar e responder à inovação5. atores individuais e/ou coletivos e as agências governamentais e or-
V) Análise Longitudinal – trata-se da análise diacrônica, que ganizações privadas que têm seus interesses afetados pela política/
pode ser realizada durante vários anos. Permite acompanhar resul- programa ou projeto em avaliação.
tados e impactos ao longo do tempo. Permite reduzir o risco de 2 – Identificação dos usuários do processo de avaliação e de-
bias. Pode-se valer de registros administrativos e dados secundá- mais interessados no mesmo e sua incorporação ao desenho e ma-
rios. nejo do processo.
VI) Abordagem experimental – é a mais adequada ao exame de 3 – Identificação do marco conceitual da política/programa/
relações de causa e efeito. Requer a criação/definição de grupo ex- projeto, com a definição dos objetivos, recursos necessários, ações
perimental e grupo de controle (que não foi exposto à intervenção). ou estratégias e seus responsáveis ou encarregados e dos resulta-
Usualmente, procura-se manter constantes as características de dos esperados.
ambos os grupos e efetuar seleção aleatória dos seus componen- 4 – Definição das questões de avaliação: perguntas que os in-
tes. Há situações em que não é possível formar grupos de controle, teressados pretendem responder mediante o processo avaliativo e
então usa-se a chamada “abordagem quasi-experimental”, exami- dos critérios a serem usados na avaliação.
nando o momento anterior e o momento posterior a uma política 5 – Identificação das informações necessárias e das fontes de
ou programa. informação. Seleção dos indicadores.
VII) Sustentabilidade – trata-se de identificar fatores essenciais 6 – Seleção, elaboração e teste das estratégias, técnicas e ins-
trumentos de coleta de dados.
à produção de certos outputs, outcomes e impactos e averiguar se
7 – Definição dos métodos de análise dos dados obtidos.
(a) estão todos disponíveis;
8 – Coleta e sistematização dos dados.
(b) estão adequadamente garantidos para assegurar que a polí-
9 – Análise dos dados e elaboração de conclusões.
tica/programa provavelmente terá continuidade e não será apenas
10 – Estratégias para disseminação dos resultados da avaliação
um evento isolado. Os fatores essenciais podem ser infraestrutura, e para aperfeiçoamento do processo avaliativo.
treinamento, incentivos, mudanças de comportamento, recursos
organizacionais, etc. Estratégias de Avaliação
Uma política, programa ou projeto pode ser tratada de diversas
O Processo de Avaliação formas, abordando diferentes dimensões, segundo sua especifici-
A definição, desenho e manejo da avaliação requerem o conhe- dade e segundo os aspectos considerados mais prioritários para a
cimento de três elementos: avaliação.
1 – O marco conceitual que define o que a política/programa Dependendo das características da intervenção e dos interes-
ou projeto deve realizar. Ou seja: os objetivos máximos, as metas, as ses quanto ao foco da avaliação, pode-se adotar uma ou outra das
estratégias ou atividades (ações) selecionadas para atingir objetivos seguintes estratégias de avaliação:
e metas e as relações supostamente existentes entre os objetivos 1) Avaliação Participativa – trata-se de um conjunto de proce-
estabelecidos e as ações propostas. dimentos desenvolvidos com a finalidade de incorporar tanto os
2 – Os stakeholders, ou seja todos os atores que tenham al- usuários como as equipes de gestores ao processo de monitora-
gum tipo de interesse na política/programa/projeto: os gestores, as mento e avaliação. A seguir são descritas algumas das modalidades
populaçõesalvo, os fornecedores de insumos, os financiadores (in- de Avaliação Participativa
clusive os contribuintes), os excluídos e os diferentes segmentos da
sociedade civil envolvidos direta ou indiretamente. Especialmente
útil, neste ponto, é a matriz de análise de stakeholders, em anexo.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Participatory Impact Monitoring (PIM) – não focaliza planos ou sistemas de objetivos formalizados, mas as percepções individuais dos
beneficiários e outros afetados pelas políticas, programas ou projetos, com a finalidade de tornar rotineira e amadurecida a prática de
refletir e analisar as atividades e mudanças introduzidas por uma intervenção em suas vidas e na sua comunidade. Consiste nos seguintes
passos:
I – promoção de um debate entre os beneficiários/afetados sobre as suas principais expectativas e receios para o futuro próximo,
envolvendo a política, programa ou projeto em tela.
II – a partir dos elementos levantados neste debate, a equipe externa, facilitadora deste processo, constrói alguns indicadores, usando
o detalhamento, pelos participantes, de exemplos concretos daquilo a que se referem. Esses exemplos são generalizados e tomados como
indicadores a partir daí.
III – escolha de uma comissão de observadores que fica encarregado de acompanhar as atividades e mudanças priorizadas no debate
inicial. A cada reunião (realizada em intervalos regulares) esta comissão abre o debate falando sobre as mudanças constatadas desde a
ultima reunião.
Esta descrição serve de insumo para o debate do grupo, que procede a uma avaliação conjunta da situação e decide sobre possíveis
medidas corretivas, novas atividades e sugere novos indicadores.
Avaliação Independente de Objetivos – não se inicia pelos objetivos da política ou programa, mas com a população-alvo mais afetada
pelo mesmo. A finalidade é apurar os resultados e impactos da política ou programa, examinando como e quanto a população-alvo é afeta-
da e comparando esses dados com o que a política/programa especificamente indica como objetivos. Dessa forma procura-se evitar o bias
trazido pelo prévio conhecimento dos objetivos: o avaliador conhece a clientela e o programa, mas não seus objetivos precisos.
Avaliação de Quarta Geração – focaliza as queixas, interesses e reinvidicações dos stakeholders. O objetivo é capturar e compreender
as percepções dos atores envolvidos e afetados pela política/programa. Em vez dos objetivos explicitados, os custos, riscos e benefícios são
examinados “através dos olhos” dos stakeholders.
2) Meta Avaliação - freqüentemente uma política ou programa passa por diversas avaliações em diferentes estágios da sua formulação
e implementação. Essas avaliações podem focalizar diversos aspectos e informantes. Elas são o material para a Meta-avaliação. Não podem
ser tomadas pelo seu valor de face, mas são examinadas de modo a propiciar uma visão da qualidade e do contexto em que a política/
programa se desenvolveu. A Meta-avaliação serve para nos situarmos melhor sobre a política/programa, identificarmos problemas recor-
rentes, contradições, etc6. Os critérios para apreciar esses relatórios de avaliação são:
a) confiabilidade das evidências ou dados nos quais as avaliações se baseiam;
b) período em que foram realizadas, que dá o contexto da avaliação e indica se os dados ainda são válidos;
c) qualidade, expertise e independência dos avaliadores;
d) aceitabilidade das recomendações apresentadas;
e) ações que resultaram da avaliação.

3) Mapeamento Organizacional – trata-se de examinar o arranjo organizacional para a decisão/implementação de uma política, pro-
grama ou projeto, já que podem ser muitas e complexas as ligações entre agências e instâncias envolvidas. A análise focaliza como (e se)
as agências envolvidas em uma política/programa são organizadas de modo a
(a) evitar duplicação ou superposição e assegurar que suas ações sejam articuladas e complementares;
(b) garantir um interface consistente e facilmente compreensível com os usuários/clientes;
(c) atingir um objetivo comum e sustentável;
(d) a presença dos incentivos adequados e os procedimentos necessários para promover efetiva parceria. Este tipo de técnica requer
os seguintes passos:

[1] – identificar todas as organizações ou partes de uma organização que possam influenciar o sucesso ou fracasso da política/progra-
ma/projeto ou um exame.).
[2]– estimar a contribuição de cada agência para a consecução de cada um dos objetivos da política/programa/projeto. Procurar es-
clarecer tal contribuição segundo pontuação ou níveis (alto/médio/baixo).
[3]– produzir um “mapa” organizacional mostrando os vínculos entre as agências e entre estas e os principais resultados.
[4]– usando tal mapa, avaliar se o envolvimento de cada agência é relevante, consistente e complementar.
[5]– investigar lacunas aparentes, gargalos, superposições, contradições (por exemplo, onde os inputs de uma organização parecem
inconsistentes com os de outra; onde os mais afetados pelos resultados desejados são incapazes de procurar esclarecimentos porque a
interface com os clientes não está clara; ou onde o programa como um todo parece incoerente e mal organizado, colocando em risco seus
resultados e impactos).

Para o mapeamento organizacional é útil usar critérios como: compartilhamento de objetivos e metas; clareza da comunicação; com-
partilhamento dos riscos (e ônus) de não consecução dos resultados; grau de compartilhamento do financiamento do programa; apoio
para atuar em conjunto; responsabilização compartilhada. Usa-se surveys e grupos focais para obter dados que permitam estimar o peso
de cada critério.

4) Marco Lógico – Trata-se de uma estratégia que permite definir os fatores e os vários estágios de uma política/programa. Na sua
forma mais simples um marco lógico pode assumir a seguinte representação:

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

Vantagens desta estratégia:


a) provê a compreensão de como o programa foi concebido em termos de funcionamento , principais impactos, outputs, outcomes e
de como efetivamente se realizou; permite avaliar o afastamento entre o planejado e o realizado.
b) ajuda a identificar projetos que necessitam ser incrementados ou componentes (recursos financeiros, tecnológicos e humanos,
parcerias, etc.) que são condições para produzir os outputs e outcomes pretendidos.
c) ajuda a identificar onde os vários inputs e outputs têm relações implausíveis ou inconsistentes.
d) permite identificar pontos-chave para a mensuração de resultados e questões essenciais para a avaliação, tornando mais fácil fo-
calizar a coleta de dados.
Um aspecto crítico do Marco Lógico é a identificação e descrição dos fatores contextuais externos ao programa, que não estão sob
controle (governabilidade) e que podem influenciar positiva e negativamente os seus resultados e impactos. É preciso examinar as condi-
ções externas sob as quais um programa é implementado e definir como estas podem afetar os outputs, outcomes e impactos.

5) Análise de Custo-benefício – corresponde à estimação dos benefícios tangíveis e intangíveis de um programa e os custos de sua
realização.
Por exemplo, num programa de alfabetização, os benefícios tangíveis seriam a redução do analfabetismo, o aumento da escolarização
global, etc. Os benefícios intangíveis seriam o aumento da auto estima, do exercício da cidadania, etc.
Após serem identificados, tantos os custos como os benefícios devem ser transformados em uma medida comum, geralmente uma
unidade monetária. Evidentemente, há custos que são imensuráveis do ponto de vista ético. Porém, ainda assim é útil tentar transforma-
-los em medidas. Por exemplo, é sempre válido o esforço de estimar o custo da violência e/ou o custo da miséria, em termos objetivos, de
modo a mostrar como são vantajosas as medidas de mitigação.
Uma variante desta análise é a de custo-efetividade, na qual somente os custos são estimados em unidades monetárias. Os benefícios
são expressos de alguma outra forma quantitativa. Por exemplo:
Num programa de distribuição de renda a famílias com crianças carentes o custo-efetividade pode ser expresso da seguinte forma:
“cada R$ 1.000,00 dispendidos pelo programa aumentam os níveis de escolaridade, na média, em 1 ano para cada 100 crianças.”
É importante ter claro que todo programa ou projeto pode apresentar efeitos colaterais ou externalidades, ou conseqüências não
pretendidas, que podem ser benéficas ou prejudiciais. Tais efeitos devem ser incluídos na análise.

6) Mapeamento Cognitivo – é uma técnica de coleta de dados adequada tanto à formulação de políticas/programas quanto à sua
análise. É um instrumento para saber como os indivíduos percebem a operação de uma política/programa ou projeto. Possibilita
(a) visualizar e esclarecer as percepções dos informantes no momento de coleta de dados;
(b) focalizar os pontos fortes e as fraquezas do programa;
(c) focalizar as percepções sobre os outcomes e impactos dos programas;
(d) compreender os problemas a partir da perspectiva das pessoas envolvidas e afetadas pelo programa examinado.

O Mapeamento Cognitivo compreende os seguintes passos:


(1) Identificar os atores que tem maior influência ou que são mais afetados pelo programa examinado.
(2) Realizar sessões de brainstorming com esses atores, individualmente ou em grupos focais, de modo a formar um quadro de como
eles percebem o programa em termos de: interesses, incentivos, operação, vantagens, fragilidades, outputs, outcomes, impactos.
(3) Com a participação dos entrevistados, inicia-se um esforço de ordenar e representar graficamente suas visões. O resultado deve ser
um mapa lógico apontando os fatores que exercem influência sobre o funcionamento do programa. Quando são identificadas dificuldades,
deve-se solicitar aos informantes que digam sob que condições tais dificuldades podem ser consideradas aceitáveis ou como podem ser
solucionadas.
(4) Analisar o mapa completo com o foro na identificação de vantagens e desvantagens, lacunas e superposições recorrentemente
apontadas pelos diversos informantes.

7) Mystery Shopping – é uma estratégia observacional, baseada no princípio de que a melhor maneira de avaliar a qualidade de um
serviço ou de compreender os seus efeitos sobre os usuários é experimentar a condição de usuário daquele serviço. O que a diferencia
de qualquer outra forma de observação participante é o fato de que o avaliador não revela a sua identidade ou condição. Esta estratégia
requer bastante cuidado na seleção da amostra para assegurar que os locais visitados sejam representativos.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
8) Avaliação de Impacto Social – trata-se de um conjunto de estratégias destinadas a isolar e mensurar as conseqüências dos resulta-
dos obtidos com as políticas, programas ou projetos. Um dos grandes desafios da Avaliação de Impacto é conseguir isolar, em uma situação
específica, as mudanças “naturais” - por assim dizer - e as mudanças “provocadas”, ou seja:
(i) resultantes de uma determinada intervenção, cujo impacto se pretende avaliar; e
(ii) resultantes de outras intervenções.

Na tentativa de responder a este desafio podem ser adotados três métodos para avaliar impacto social. O primeiro baseia-se numa
abordagem sincrônica. Significa, basicamente, identificar um conjunto de situações reais comparáveis (S), dotadas de características si-
milares ou equivalentes, de acordo com as variáveis selecionadas para a análise de impacto. Em seguida, separa-se dois subconjuntos:
o primeiro (S1), composto por situações onde se pretende realizar intervenções; o segundo (S2), constituído de situações onde isso não
ocorre. A seguir, tendo início as intervenções (X), acompanha-se, nos dois subconjuntos, sob perspectiva comparativa, o comportamento
das variáveis selecionadas. Este método, de lógica sincrônico-comparativa, é também denominado “acompanhamento de impactos”.
Outro método envolve a abordagem diacrônica. Significa identificar uma ou mais situações-objeto de intervenções. Realiza-se uma
descrição/mensuração/caracterização de cada uma das situações (diagnóstico) no momento imediatamente anterior à intervenção (Tze-
ro), a partir das variáveis selecionadas para a análise de impacto. Em seguida, examina-se os diversos aspectos da intervenção (X). E, por
fim, compara-se o comportamento das variáveis em Tzero com o seu comportamento em um momento dado, após a intervenção (T1).
Nesse caso, é preciso dispor, primeiro, de um diagnóstico adequado quanto a Tzero; e segundo, de capacidade de isolar outras inter-
venções que não aquela cujos impactos se pretende medir, de modo a evitar interveniências. Este método é conhecido como “diagnóstico
de impactos”.
O terceiro método equivale, por assim dizer, a uma combinação dos dois anteriores. Permite comparar situações similares para rea-
lizar previsões para o futuro. Se as situações examinadas compõem áreas relativamente próximas ou contíguas, permite avaliar o alcance
(extensão no espaço) dos impactos. E permite re-examinar situações de intervenção para avaliar quais foram os impactos efetivos, de
modo a medir a consistência entre o impacto previsto e o impacto efetivo. É o que se entitula “análise de controle de impactos e análise
prospectiva”.
Qualquer que seja o método adotado, entretanto, a primeira tarefa, para a Avaliação de Impacto Social é, sempre, selecionar as
situações a serem examinadas. Os critérios básicos de seleção são similaridade e comparabilidade. Tais critérios compreendem algumas
dimensões-chave que devem ser contempladas:
(1) unidade sócio-espacial de análise (município, assentamento, etc), pois cada um destes possui diversas características próprias; por
exemplo, o grau de autonomia e de complexidade de um município é muito distinto do de um bairro, e assim por diante. Isto não significa
que só se possa analisar um tipo de unidade, mas que devem ser selecionados vários exemplares de cada tipo, de maneira a permitir a
comparação intra-tipos e entre-tipos.
(2) características geográficas e sócio-culturais similares. Vale a mesma observação feita quanto às unidades de análise.
(3) projetos de magnitude, metodologia, tipo e finalidades (resultados) similares. Observe-se que deve-se compatibilizar esta dimen-
são (3) com as dimensões (1) e (2). Como princípio metodológico deve-se compor grupos homogêneos – tanto quanto possível - de situa-
ções a serem analisadas, combinando-se estas três dimensões, que se referem à natureza da comunidade e do projeto.
As duas outras dimensões referem-se aos dados disponíveis para análise: (4) bases de dados com datas similares (horizonte de tempo
coberto,); (5) fontes de dados comparáveis (variáveis e categorias compatíveis).

A segunda tarefa, na avaliação de impacto social, é selecionar a(s) perspectiva(s) de análise, porque isso estabelece a referência para a
elaboração/seleção dos indicadores. Vale assinalar que a clara definição da perspectiva de análise é essencial, porque os impactos sociais
podem variar conforme diversas dimensões.
Para começar, podem variar quanto à escala. Por exemplo, uma determinada intervenção pode gerar 50 ou 1000 empregos, etc. Pode
alterar a produtividade de uma certo tipo de cultivo em 1% ou em 500%.
Isto exemplifica a variação de escala do impacto obtido.
Os impactos sociais igualmente podem variar em intensidade. Por exemplo, uma intervenção pode transformar radicalmente os pa-
drões de vida, hábitos e comportamentos de um grupo ou população ou mudá-los apenas marginalmente.
Os impactos sociais variam, também, conforme a extensão no espaço. Ou seja, determinadas intervenções têm impacto localizado,
outras têm desdobramentos sobre áreas contíguas, mais ou menos amplas, alterando a distribuição da população, provocando migrações,
etc.
Os impactos sociais variam, ainda, quanto à duração no tempo. Vale dizer, uma intervenção pode gerar empregos em uma área du-
rante curto período de tempo, podendo atrair trabalhadores temporários, etc, até se esgotar. Outras têm impacto de maior duração pois
geraram atividades econômicas dotadas de sustentabilidade, de modo que, quando a intervenção se esgota, persistem seus efeitos, que
geram novos impactos, e assim por diante. Esta dimensão é especialmente delicada para a análise de impacto social, havendo analistas que
afirmam que somente podem ser efetivamente avaliados os impactos de curta duração, já que é impossível isolar os demais.
Ademais, os impactos sociais variam quanto à cumulatividade. Ou seja, podem expressar mudanças que se reforçam mutuamente ou,
ao invés, que se neutralizam umas às outras. Por exemplo, sabe-se que renda e saúde, interagem e geram impactos cumulativos sobre a
qualidade de vida. Mas também sabe-se que determinados programas de geração de emprego neutralizam os ganhos em saúde porque
contêm externalidades como atividades de risco, deterioração ambiental, etc, que geram efeitos negativos sobre a qualidade de vida.
Finalmente, os impactos variam quanto à sua racionalidade. Neste caso, inclui-se um componente de valor que é a desejabilidade de
um impacto frente aos seus custos, às suas possíveis consequências e à capacidade do planejador de prever estas últimas. Assim, tem-se
as seguintes possibilidades:

81
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA

Cuidados para assegurar a qualidade da avaliação


A avaliação formal não possui uma metodologia específica. Pode lançar mão de um conjunto de métodos de diagnóstico e análise, de
técnicas de coleta de dados como surveys, observação, entrevistas em profundidade, individuais ou em grupos focais; e de instrumentos
como questionários, formulários, roteiros de observação, etc. A experiência tem ensinado que a avaliação ganha precisão quando recorre
a dados quantitativos e qualitativos, combinando abordagens em extensão e em profundidade. Por outro lado, a mesma experiência tem
mostrado que há alguns cuidados imprescindíveis à qualidade das avaliações.
1) Incorporação da avaliação ao processo regular de planejamento, sendo assumida como disciplina pelos stakeholders.
2) Julgamento de avaliabilidade. Trata-se de um estudo exploratório a ser efetuado antes de começar a avaliação. Nem todos os
programas estão prontos para ser avaliados. O objetivo deste estudo é definir o que precisa ser feito para preparar o programa para ser
avaliado e identificar os aspectos/questões que requerem atenção.
3) Definição dos objetivos da avaliação, claramente; e escolher o tipo de avaliação adequada a tais objetivos.
4) Identificação e inclusão dos stakeholders – quem é afetado pela política/programa, desde os gestores até os usuários finais – como
interlocutores.
5) Identificação da teoria que orienta a política ou programa a ser avaliado. Seja o “marco lógico” ou outro modelo qualquer, é neces-
sário definir uma teoria ou modelo que indica as condições e ações necessárias para a política ou programa funcionar.
6) Identificação e teste dos métodos, que devem ser consistentes com os objetivos e tipo de avaliação a ser realizada.
7) Apresentação de recomendações práticas, claras, exeqüíveis e consistentes com os custos e benefícios esperados.

Conceituação básica de indicadores


Para Merico (1996 apud REIS 2005, p. 34), “o termo indicador origina-se do latim indicare que significa destacar, anunciar, tornar
público, estimar. Indicadores comunicam informações que podem ser simplesmente luzes acesas ou piscando em um aparelho eletrônico,
bem como tornar perceptível um conjunto de fenômenos que não é imediatamente detectável”.
Segundo Waterhouse (1984 apud GRATERON 1999, p.9), os indicadores podem ser definidos como “unidades de medição que permi-
tem acompanhar e avaliar em forma periódica, as variáveis consideradas importantes em uma organização. Esta variação é feita através
da comparação com os valores ou padrões correspondentes preestabelecidos como referência, sejam internos ou externos à organização”.
Os indicadores são medidores de uma atividade. Expressam um número que indica que as coisas podem ser medidas; e, se, podem
ser medidas, podem ser comparadas e administradas, como preconizam Globerson e Frampton, apud Camargo (2000, p.51), ao afirmarem
que “você não pode administrar o que não pode medir”.
Outra definição trazida por Fernandes (2004, p.3) mostra que “a tarefa básica de um indicador é expressar, da forma mais simples
possível, uma determinada situação que se deseja avaliar. O resultado de um indicador é uma fotografia de dado momento, e demonstra,
sob uma base de medida, aquilo que está sendo feito, ou o que se projeta para ser feito”.
Fernandes (2004, p.5) dissertando ainda sobre o assunto diz que “levando em conta que um indicador é um número que expressa o
estado de alguma coisa que se considera relevante e importante para a empresa, sua construção passa, primeiramente, pela análise da
contribuição para a tomada de decisão. O indicador deve ser representante de algo que se toma como necessário para a rotina de ge-
renciamento da empresa. Em função disso, são necessários cuidados quando do estabelecimento da coleta e tratamento de dados, que
constituem a base para a formação de um indicador”.

Importância do indicador
Conforme Furtado (2003), um grupo especial de indicadores de desempenho de gestão tem como objetivo medir os níveis de eficiên-
cia e eficácia das decisões tomadas, verificando se as ações implementadas estão atingindo os resultados esperados, a que custos e outros
impactos que estão gerando e suas tendências. Esses indicadores são essenciais ao planejamento e ao controle dos processos porque pos-
sibilitam o estabelecimento de metas e visualização de seus desdobramentos, ao tempo em que permitem a análise crítica que embasará
o re-planejamento ao longo da gestão.
Os indicadores são sinais vitais da organização. Eles informam às pessoas o que estão fazendo, como estão se saindo e se estão agindo
como parte do todo. Eles comunicam o que é importante para a organização: a estratégia do primeiro escalão para os demais níveis, re-
sultados de processo, desde os níveis inferiores até o primeiro escalão, o controle e melhoria dentro dos processos. Os indicadores devem
interligar estratégia, recursos e processos. Hronec (apud REIS, 2005, p.37)
Wright citado por Neves Júnior (2003, p.10), destaca que o processo de controle estratégico é exercido pela alta administração, que
decide quais elementos do ambiente e da empresa devam ser avaliados e controlados. Segundo o autor, o processo de controle estratégico
possibilita a adoção de alguns passos que visam à tomada de decisão corretivas:
1) dentro do parâmetro da missão e dos objetivos gerais e específicos da organização, determinar que necessidades devem ser moni-
toradas, avaliadas e controladas;
2) estabelecer padrões;
3) mensurar o desempenho;

82
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
4) comparar desempenho com padrões; Segundo a Associación Española de Contabilidad y Administra-
5) não tomar medida alguma se o desempenho se harmonizar ción de Empresas (apud Grateron, 1999, p. 15), a utilização e a apli-
com os padrões; cação de técnicas de gestão, como por exemplo, os indicadores para
6) tomar medidas corretivas se o desempenho não se harmo- medir e comparar o desempenho dos gestores no setor publico, são
nizar com os padrões. muito mais complicados, se comparados como setor privado. Algu-
mas das limitações mais conhecidas são a falta de indicadores, a
Para Kaplan e Norton (1997, apud REIS 2005, p. 38), os indica- dificuldade para fixar e quantificar os objetivos sociais, a utilização
dores são usados para controlar e melhorar a qualidade e o desem- de termos não monetários, a falta de clareza nos objetivos, metas e
penho de produtos e processos. A apuração dos resultados através atividades realizadas, entre outros.
dos indicadores permite avaliar o desempenho em relação à meta
e a outros referenciais, possibilitando o controle e a tomada de de- Características da gestão por resultados
cisão gerencial. Outra importante função é a de induzir atitudes nas Para que seja possível adotar esse tipo de gestão na empresa, é
pessoas cujo desempenho está medido, pois as pessoas tendem a preciso saber como o processo realmente funciona e se ele de fato
agir influenciadas pela forma como são avaliadas. é adequado para atingir seus objetivos. Algumas características da
gestão por resultados podem ajudar a entender melhor como ela
O controle da gestão pública acontece dentro da empresa:
Segundo Cruz Silva (1999, p.1), “os mecanismos de controle • A chave para todo o processo é o foco no resultado e não
representam o elemento essencial para assegurar que o governo nos procedimentos;
atinja os objetivos estabelecidos nos programas de longa duração • A responsabilidade por atingir ou não os resultados pro-
com eficiência, efetividade e dentro dos preceitos legais da ordem postos é de todos;
democrática”. • A liderança é mais participativa;
Para Grateron (1999, p.2) “o sistema tradicional de contabilida- • Todas as unidades da empresa andam juntas e estão inte-
de e de informação que auxilia o gestor não cumpre sua missão de gradas para que seja possível obter o resultado desejado, cada uma
garantir as melhores decisões ou, no mínimo, prestarlhes suporte; contribuindo com sua tarefa.
por isso, é necessário considerar a possibilidade de um modelo que
responda às necessidades de informação para contribuir com a me- Vantagens desse modelo de gestão
lhoria de uma gestão que tem sido objeto permanente de crítica: a Uma das maiores vantagens de se adotar a gestão orientada
gestão pública”. para resultados é o fato de que os colaboradores se sentem mais
O autor ressalta ainda que “a gestão pública precisa ser avalia- motivados, pois estão envolvidos em todo o processo e sabem que
da para conhecer e dar respostas ao cidadão, comum quanto o grau sua participação realmente faz diferença para o alcance das metas.
de adequação e coerência existente entre as decisões dos gestores Isso sem contar que a comunicação também melhora, com a boa
e a eficácia, eficiência e economia com que foram administrados interação entre os membros da equipe surgindo como fundamental
os recursos públicos para serem atingidos os objetivos e metas da para o sucesso do empreendimento. O comprometimento do time
organização, estabelecidos nos planos e orçamentos e; para realizar
e sua produtividade também aumentam, uma vez que cada um pas-
avaliação da gestão pública, é necessário considerar a possibilidade
sa a ter clareza do seu papel para chegar aos resultados. Assim a
de um modelo de contabilidade desenhado para a gestão, que con-
sensação de pertencimento é maior e o engajamento e a produção
sidere indicadores ou parâmetros de gestão adequados”.
consequentemente melhoram.
Cruz Silva afirma ainda que: “sem controle, os rumos não são
corrigidos, os objetivos fundamentais ficam colocados em segundo
Aplicação da gestão de resultados na empresa
plano, há desperdício e inadequação no uso dos recursos”.
Existem várias metodologias para a aplicação da gestão de
serviços ou de produtos orientada a resultados em uma empresa,
Indicadores de gestão na administração pública
“Na avaliação das organizações públicas é usual que resultados havendo entre elas alguns passos em comum para que a implemen-
sejam definidos por indicadores físicos ou qualitativos”. (CATELLI, tação tenha êxito:
2001, p. 6). • Revisar os objetivos da empresa: para que os gestores e
Ainda segundo Catelli (2001, p.174), “não é possível adminis- empresários tenham uma visão clara dos objetivos e do planeja-
trar algo que não tenha seus resultados mensurados, pois, as de- mento estratégico do negócio;
cisões devem ser tomadas sobre elementos que representem a • Definir os objetivos da equipe: gestores e colaboradores
realidade da forma mais precisa possível. Esta é uma característica precisam se reunir para estabelecer os objetivos de cada um, deter-
essencial do sistema de medição que são instrumentos de gestão minando um prazo para a apresentação dos resultados;
para diversos modelo de administração dos negócios” . • Monitorar o processo: antes de o prazo estabelecido ter-
De acordo com Toscano Jr. (2000, p.12) o desenvolvimento de minar, é preciso organizar algumas reuniões para saber se os objeti-
sistemas contábeis gerenciais que permitam a criação de informa- vos efetivamente serão alcançados;
ções úteis para a tomada de decisão, é de importância fundamental • Avaliar o desempenho: análise baseada no atingimento
para a instrumentalização do processo de geração e monitoramen- ou não dos objetivos;
to de indicadores de performance, a fim de viabilizar a mensuração • Recompensar: os colaboradores são recompensados por
do desempenho da gestão pública. atingirem os resultados.
Conforme Grateron (1999, p. 15), a variação fundamental para
a mensuração da gestão de um organismo público é avaliar a gestão O sucesso da gestão por resultados leva a empresa a enxugar
através da análise e confrontação restrita dos valores monetários custos, otimizar um projeto ou aumentar a produtividade da equi-
da contabilidade tradicional, ou introduzir, na análise e avaliação, pe. Tudo isso requer um envolvimento maior entre os gestores e
outras variáveis não monetárias que permitam relacionar as variá- os colaboradores e o estabelecimento de objetivos e prazos cla-
veis tradicionais à finalidade da entidade pública. ros para cada um. A equipe deve ser monitorada, acompanhada e
poder contar com os líderes para os momentos de dificuldade. Ao

83
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
final, se os resultados forem obtidos, deve haver uma recompen- Avaliação e mensuração do desempenho governamental ba-
sa pelo envolvimento e comprometimento com o trabalho. Assim seia-se na mensuração dos resultados alcançados na execução das
todos saem ganhando. políticas públicas, projetos, programas, e ações governamentais,
por meio de indicadores de desempenho capazes de demonstrar
AVALIAÇÃO E MENSURAÇÃO DO DESEMPENHO GOVERNA- o cumprimento das metas previstas nos instrumentos de planeja-
MENTAL mento (PPA, LDO, LOA, e outros).
Bruno Palvarini, autor do “Guia referencial de mensuração do
desempenho na administração pública” apresenta os conceitos de
desempenho e mensuração do desempenho governamental. De- ORÇAMENTO PÚBLICO – PRINCÍPIOS ORÇAMEN-
sempenho é um termo sujeito a inúmeras variações semânticas TÁRIOS; DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS; PROCESSO
e conceituais, embora existam alguns consensos majoritários em ORÇAMENTÁRIO; RECEITA PÚBLICA: CATEGORIAS,
torno de uma definição. Segundo uma abordagem abrangente, o FONTES, ESTÁGIOS; DÍVIDA ATIVA; DESPESA PÚBLICA:
desempenho pode ser compreendido como esforços empreendidos CATEGORIAS, ESTÁGIOS; SUPRIMENTO DE FUNDOS;
na direção de resultados a serem alcançados. A equação simplifica- RESTOS A PAGAR; DESPESAS DE EXERCÍCIOS ANTERIO-
da é: desempenho = esforços + resultados; ou desempenho = esfor- RES
ços → resultados.
Uma vez definido desempenho, o conceito de gestão do de-
sempenho precisa ser qualificado. A gestão do desempenho consti- A administração financeira e orçamentária é uma área que
tui um conjunto sistemático de ações que buscam definir o conjunto trata dos assuntos relacionados às operações financeiras das or-
de resultados a serem alcançados e os esforços e capacidades ne- ganizações, tais como as operações de fluxo de caixa, transações
cessários para seu alcance, incluindo-se a definição de mecanismos financeiras, operações de crédito, pagamentos, etc. A maioria dos
de alinhamento de estruturas implementadoras e de sistemática de casos de falência das organizações ocorre, principalmente, devido
monitoramento e avaliação. A mensuração é parte essencial de um a falta de informações financeiras precisas sobre o balanço patri-
modelo de gestão do desempenho. Mas, não é apenas a ação que monial da empresa e problemas decorrentes do setor financeiro.
apura, em sentido estrito, por meio de indicadores, valores ou me- Muitas vezes as falhas derivam de um controle inadequado,
didas dos esforços e resultados. e acometem em grande parte um gestor de finanças (CFO) pouco
Os sistemas de avaliação podem ser caracterizados a partir qualificado e despreparado. O setor financeiro é considerado por
dos mecanismos e instrumentos que definem um fluxo regular e muitos o principal combustível de uma empresa, pois se o mesmo
contínuo de demandas, que orientam um conjunto de práticas ava- não estiver bem das pernas, com certeza a organização não apre-
liativas, formalizadas, estruturadas e coordenadas, para produzir e sentará um crescimento adequado e autossuficiente. A administra-
fornecer conhecimento, com o objetivo de subsidiar os processos ção financeira e orçamentária visa a melhor rentabilidade possível
decisórios e de aprendizado para aperfeiçoamento da gestão e da sobre o investimento efetuado pelos sócios e acionistas, através
implementação de programas e políticas públicas (SERPA; CALMON, de métodos otimizados de utilização de recursos, que por muitas
2012). vezes, são escassos. Por isso, todos os aspectos de uma empresa
O professor Antônio Alan de Freitas Gonçalves, gerente de estão sob a ótica deste setor.
avaliação de desempenho da área pública, em seus estudos expli-
ca que a Avaliação e mensuração do desempenho governamental Objetivos da administração financeira
aborda os múltiplos aspectos da Gestão Administrativa, Orçamen- Primeiramente, é necessário dizer que o objetivo primário da
tária, Financeira, Contábil e Patrimonial, com o intuito de verificar administração financeira e orçamentária é a maximização do lucro,
a adequação dos atos em relação ao ordenamento jurídico-admi- ou seja, o valor de mercado do capital investido. Não importa o tipo
nistrativo, tendo em vista o foco nos resultados e na transparência de empresa, pois em qualquer delas, as boas decisões financeiras
governamental. A seguir estão algumas de suas colocações sobre tendem a aumentar o valor de mercado da organização em si. De-
esse tema. vido a esse aspecto, a administração financeira deve se dedicar a
Notadamente no que se refere: avaliar e tomar decisões financeiras que impulsionem a criação de
• Aos princípios Constitucionais e Administrativos; valor para a companhia. Pode-se dizer que a administração finan-
• À forma como os Órgãos e Entidades Públicos adquirem, ceira e orçamentária possui três objetivos distintos, que são:
guardam e utilizam seus recursos; > Criar valor para os acionistas: Como dito acima, o lucro é
• Às causas das práticas antieconômicas e ineficientes; uma excelente maneira de medir a eficácia organizacional, ou seja,
• À obediência aos dispositivos legais aplicáveis aos aspec- seu desempenho. Contudo, esse indicador está sujeito a diversas
tos da economicidade, eficácia e eficiência da gestão; restrições, uma vez que é determinado por princípios contábeis,
• À adequação dos objetivos estratégicos às prioridades do mas que não evidenciam a capacidade real da organização. É im-
titular do Poder; portante salientar também que o lucro contábil não mensura o ris-
• À identificação dos principais produtos, indicadores de de- co inerente à atividade empresarial, pois suas projeções não levam
sempenho e metas organizacionais; em conta as variações no rendimento.
• À matriz SWOT (FOFA); > Maximizar o valor de mercado: O valor de mercado é consi-
• À existência de superposição e duplicação de funções; derado um dos melhores critérios para a tomada de decisão finan-
• À adequação da estrutura organizacional aos objetivos do ceira. A taxa mínima de atratividade deve representar a remunera-
Órgão ou Entidade; ção mínima aceitável para os acionistas diante do risco assumido.
• À existência de controles adequados; Nesse objetivo, duas variáveis são importantes de se levar em con-
• À existência de rotinas e procedimentos de trabalho docu- sideração: o retorno esperado e a taxa de oportunidade. O impor-
mentados e atualizados. tante é a capacidade da empresa de gerar resultado, promovendo
a maximização do valor de mercado de suas ações e a satisfação
dos stakeholders.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
> Maximizar a riqueza: Como último objetivo nós temos a ma- Todas as atividades empresariais envolvem recursos e, portan-
ximização da riqueza, ou seja, a elevação da receita obtida pelos to, devem ser conduzidas para obtenção de lucro (criação de valor
acionistas. Esse objetivo é alcançado mediante o incremento do é o objetivo máximo da administração financeira e orçamentária).
valor de mercado (sucede os objetivos anteriores). O alcance desse As atividades financeiras de uma empresa possuem como base as
objetivo fica por conta dos investimentos em gestão, tecnologia e informações retiradas de seu balanço patrimonial e do fluxo de cai-
inovação, assim como no descobrimento de oportunidades futu- xa (onde se percebe o disponível circulante para investimentos e fi-
ras. A geração de riqueza não deve ser vista de forma isolada, mas nanciamentos). As funções típicas da administração financeira são:
como uma consequência determinada pelos objetivos secundários. planejamento financeiro (seleção de ativos rentáveis), controlado-
ria (avaliação do desempenho financeiro), administração de Ativos
Áreas e funções da administração financeira e orçamentária (gestão do capital de giro), administração de Passivos (gestão da
estrutura do capital - financiamentos).

Administração de caixa (Gestão Financeira)


A Administração do caixa, ou gestão financeira compreende
uma atividade muito importante para a organização. O principal
fator de fracassos nas organizações vem sendo apontado como a
inabilidade financeira gerencial de seus administradores. É funda-
mental que o administrador tenha conhecimento acerca dos proce-
dimentos financeiros e contábeis disponíveis, bem como realize o
acompanhamento, o controle, reajuste e projeção dos resultados
da companhia. O fluxo de caixa é o instrumento que evidencia o
equilíbrio entre a entrada e saída de recursos.
É o fluxo de caixa que permite a antecipação de medidas que
permitam assegurar a disponibilidade dos recursos financeiros or-
ganizacionais. Elaborado em períodos o fluxo de caixa compreende
um resumo das despesas, investimentos, receitas, pagamentos,
etc. Uma boa administração financeira do caixa, constitui pedra
fundamental para a saúde da companhia. Nós podemos dividir a
correta administração de caixa em três etapas, que são: o controle
A administração financeira e orçamentária está estritamente li- sobre as movimentações financeiras (recursos materiais e huma-
gada à Economia e Contabilidade, podendo ser vista como uma for- nos), a montagem do fluxo de caixa e o custo de capital (que nós
ma de economia aplicada, que se baseia amplamente em conceitos falaremos um pouco a seguir).
econômicos, como também em dados contábeis para suas análises. O Custo de capital pode ser definido como os custos por re-
As áreas mais importantes da administração financeira podem cursos próprios ou de terceiros usados pela organização. Por isso,
ser resumidas ao se analisar as oportunidades profissionais desse a boa administração financeira e orçamentária propõe que para
setor. Essas oportunidades em geral caem em três categorias inter- todo investimento deve preceder uma análise de viabilidade eco-
dependentes:o operacional, os serviços financeiros e a administra- nômica-financeira, com o intuito de avaliar as possíveis alternativas
ção financeira. ao custo capital. É extremamente importante que o administrador
> Operacional: As atividades operacionais de uma organização financeiro procure estudar os custos do ciclo operacional e do ca-
existem de acordo com os setores da empresa. Ela visa propor- pital de giro, uma vez que suas alternativas são inúmeras. Vale sa-
cionar por meio de operações viáveis um retorno ensejado pelos lientar também que, a utilização de capital de terceiros é vantajosa
acionistas. A atividade operacional também também reflete no apenas no momento em que esta apresentar um custo inferior a
que acontece na demonstração de resultados, uma vez que é parte taxa de retorno prevista.
integrante da maioria dos processos empresariais e caso não de-
monstra retorno pode sofrer certo enxugamento. Por outro lado, O Profissional da administração financeira e orçamentária
quando a operação demonstra um retorno acima do esperado ela
tende a ser ampliada.
> Serviços Financeiros: Essa é área de finanças voltada à con-
cepção e prestação de assessoria, como também, na entrega de
produtos financeiros a indivíduos, empresas e governos. Envolve
oportunidades em bancos (instituições financeiras), investimentos,
bem imóveis e seguros. É importante ressaltar que, é necessário o
conhecimento de economia para se entender o ambiente financei-
ro e assim poder prestar um serviço de qualidade. As teorias (macro
e microeconômicas) constituem a base da administração financeira
contemporânea.
> Gestão financeira: Trata-se das obrigações do administrador
financeiro nas empresas, ou seja, as finanças corporativas. Ques-
tões como, concessão de crédito, avaliações de investimentos,
obtenção de recursos e operações financeiras, fazem parte dessas
obrigações. Reflete principalmente as decisões tomadas diante das O principal papel do administrador financeiro é o relativo à te-
atividades operacionais e de investimentos. Alguns consideram a souraria (setor de finanças), no qual ele é o responsável pela pre-
função financeira (corporativa) e a contábil como sendo virtual- servação do dinheiro, entrada e saída do mesmo, e logicamente, do
mente a mesma. Embora existe uma certa relação entre as duas, retorno exigido pelos acionistas.
uma é vista como um insumo necessário à outra.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
A função da administração financeira geralmente é associada A Administração Pública é a atividade do Estado exercida pelos
à um alto executivo denominado diretor financeiro, ou vice pre- seus órgãos encarregados do desempenho das atribuições públi-
sidente de finanças. Comumente a controladoria ocupa-se com o cas, em outras palavras é o conjunto de órgãos e funções instituí-
controle dos custos e a contabilidade financeira com o pagamento dos e necessários para a obtenção dos objetivos do governo.
de impostos e sistemas de informação gerencial. Por fim, o setor de A atividade administrativa, em qualquer dos poderes ou esfe-
tesouraria é o responsável pela gestão do caixa da empresa. ras, obedece aos princípios da legalidade, impessoalidade, morali-
dade, publicidade e eficiência, como impõe a norma fundamental
A administração financeira e orçamentária é vista como uma do artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de
das áreas mais promissoras em termos de oportunidades no mer- 1988, que assim dispõe em seu caput: “Art. 37. A administração
cado de trabalho. A gestão financeira de uma empresa pode ser pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Es-
realizada por pessoas ou grupos de pessoas, tais como: vice pre- tados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
sidente de finanças (CFO), controller, analista financeiro, gerente de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
financeiro e fiscal de finanças. O maior desafio do administrador e, também, ao seguinte”.
financeiro é conciliar o equilíbrio entre liquidez e rentabilidade. O A atividade financeira é exercida pelo Estado visando ao bem
primeiro é fundamental para a oxigenação das finanças da empre- comum da coletividade. Ela está vinculada à arrecadação de recur-
sa, através da utilização do fluxo de caixa que permite a projeção sos destinados à satisfação de necessidades públicas básicas inse-
das entradas e saídas dos recursos. Já o segundo, é a capacidade ridas na ordem jurídico-constitucional, atendidas mediante a pres-
do administrador de investir recursos e conseguir retornar com os tação de serviços públicos, a intervenção no domínio econômico, o
lucros desejados. exercício regular do poder de polícia e o fomento às atividades de
Todos os administradores de uma empresa, sem levar em con- interesse público/social.
sideração as descrições de seu trabalho, atuam com o pessoal de O Governo intervém na economia para garantir dois objetivos
finanças para justificar necessidades de sua área, negociar orça- principais: estabilidade e crescimento. Visa também corrigir as fa-
mentos, etc. Aqueles administradores que entendem o processo lhas de mercado e as distorções, manter a estabilidade, melhorar
de tomada de decisões financeiras, estarão mais capacitados a lidar a distribuição de renda, aumentar o nível de emprego etc. Política
com tais questões e consequentemente captar mais recursos para Econômica é a forma pela qual o Governo intervém na economia.
a execução de seus projetos e metas. Portanto, é evidente a neces- Essa intervenção ocorre, principalmente, por meio das políticas fis-
sidade do conhecimento financeiro para todo administrador que cal, monetária, cambial e regulatória, e tem como principal instru-
trabalhe de forma direta ou indireta com a administração finan- mento de intervenção o Orçamento Público.
ceira, uma vez que sabemos, que se trata de uma área vital para o Atualmente, em face da crise econômica mundial de 2008 que
funcionamento de toda e qualquer organização. retornou com força em 2012, tanto a intervenção do Estado na
Resumindo, a administração financeira e orçamentária é uma economia com vistas a evitar a recessão, manter a estabilidade e
ciência objetivada a determinar o processo empresarial mais efi- fomentar o crescimento econômico, quanto a utilização do orça-
ciente de captação e alocação de recursos e capital. Como dito ao mento público como principal instrumento dessa intervenção fo-
longo do texto, a geração de valor é o objetivo máximo da adminis- ram fortalecidos. As finanças públicas fazem parte da economia e
tração financeira, já que fazer com que os ganhos do investimento se referem especificamente às Receitas e Despesas do Estado, que
sejam superior aos custos de seu financiamento é essencial à todo são objetos da política fiscal. Finanças públicas é o ramo da eco-
acionista, ou proprietário. Criar valor é uma das responsabilidades nomia que trata da gestão dos recursos públicos: compreende a
do administrador financeiro que vem sendo cada vez mais exigido gestão e o controle financeiro públicos.
diante do mercado e da concorrência acirrada.
Em geral, a administração financeira e orçamentária é uma Teoria das Finanças Públicas
ferramenta utilizada para controlar de forma mais eficaz a conces- A teoria das finanças públicas trata dos fundamentos do Estado
são de créditos, o planejamento e a análise de investimentos, as e das funções de governo, e dá suporte teórico (fundamentação) à
viabilidades financeiras e econômicas das operações e o equilíbrio intervenção do Estado na economia. De forma geral, a teoria das
do fluxo de caixa da companhia, visando sempre o desenvolvimen- finanças públicas gira em torno da existência das falhas de mercado
to por meio dos melhores caminhos para a boa condução financeira que tornam necessária a presença do Governo, o estudo das fun-
da empresa, além de evitar os gastos desnecessários e o desperdí- ções do Governo, da teoria da tributação e do gasto público.
cio de recursos (financeiros e materiais). Sua finalidade principal é As falhas de mercado são fenômenos que impedem que a eco-
o alcance do lucro empresarial, através de um controle eficaz da nomia alcance o estágio de welfare economics ou Estado de Bem-
entrada e saída de recursos financeiros. -Estar Social, através do livre mercado, sem interferência do Gover-
É importante ressaltar que, diante da crescente complexidade no. As falhas de mercado normalmente citadas são:
do mercado empresarial (principalmente no que tange o lado finan- Existência dos bens públicos – bens que são consumidos por
ceiro do negócio), o administrador financeiro não deve ficar restrito diversas pessoas ao mesmo tempo (ex.: rua, praça, segurança pú-
apenas aos aspectos econômicos. As decisões financeiras precisam blica, justiça). Os bens públicos puros são de consumo indivisível e
levar em consideração a empresa como um todo, uma vez que to- não excludente (não rival). Assim, uma pessoa utilizando um bem
das as atividades empresariais possuem participação direta ou in-
público não tira o direito de outra também utilizá-lo. Bens públi-
direta nas questões financeiras da organização. Acima de tudo, os
cos puros são oferecidos diretamente pelo Estado porque são es-
resultados financeiros de uma empresa são reflexos das decisões e
senciais ao bem-estar da população – ao mesmo tempo em que
ações empresariais que são tomadas, independentemente do setor
não são passíveis de comércio pelo mercado (são indivisíveis e não
responsável pela ação. Portanto a administração financeira e orça-
excludentes). Os bens semipúblicos ou meritórios são oferecidos
mentária deve apresentar uma postura questionadora, ampliando
tanto pelo Estado como pelo mercado porque não possuem as ca-
sua esfera de atuação e importância dentro do negócio.20
racterísticas de indivisibilidade e não exclusão.
A função/papel do Estado e a atuação do governo nas finan- Existência de monopólios naturais – monopólios que tendem a
ças públicas. surgir devido ao ganho de escala que o setor oferece (ex.: água, ener-
gia elétrica). Considerando o bem-estar coletivo, o Governo acaba as-
20 Fonte: www.portal-administracao.com

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
sumindo a produção desses bens/serviços com vistas a assegurar pre- Aqueles órgãos vinculados ou subordinados ao órgão central,
ços razoáveis e o acesso de todos a esses bens/serviços – ou, quando como funções direcionadas a planejamento e orçamento são os ór-
transfere para a iniciativa privada , cria agências para regular/fiscalizar gãos específicos.
e impedir a exploração dos cidadãos/consumidores. Depois temos os órgãos do planejamento federal e o do orça-
Externalidades – uma fábrica pode poluir um rio e ao mesmo mento. No quadro abaixo temos a descrição das funções para cada
tempo gerar empregos. Assim, a poluição é uma externalidade uma dessas unidades.
negativa porque causa danos ao meio ambiente, e a geração de
empregos é uma externalidade positiva por aumentar o bem-estar
Do Planejamento Federal Do Orçamento
e diminuir a criminalidade. O Governo deverá agir no sentido de
inibir atividades que causem externalidades negativas e incentivar I - elaborar e supervisionar I – coordenar, consolidar e
atividades causadoras de externalidades positivas. a execução de planos e supervisionar a elaboração
Desenvolvimento, emprego e estabilidade – há regiões que programas nacionais e setoriais dos projetos da LDO e da LOA
não se desenvolvem sem a ação do Estado – principalmente nas de desenvolvimento econômico da União compreendendo
economias em desenvolvimento a ação governamental é muito im- e social; os orçamentos fiscal, da
portante no sentido de gerar crescimento econômico através de seguridade social e de
bancos de desenvolvimento, como o BNDES, criar postos de traba- investimentos das empresas
lho e buscar a estabilidade econômica e social.21 estatais
II – coordenar a elaboração do II – estabelecer normas
Sistema de Administração Financeira
projeto de PPA e o item “metas e procedimentos
O Sistema de Administração Financeira Federal compreende as
atividades de programação financeira da União, de administração e prioridades” do projeto necessários à elaboração
de direitos e haveres, garantias e obrigações de responsabilidade de LDO, compatibilizando as e à implementação dos
do Tesouro Nacional e de orientação técnico-normativa referente à propostas de todos os órgãos orçamentos federais,
execução orçamentária e financeira. e entidades com os objetivos harmonizando-os com o PPA
O instrumento legal que realiza a gestão organizacional das fi- governamentais e os recursos
nanças públicas é a Lei no 10.180/01. O principal a destacarmos des- disponíveis.
sa lei é o fato dela ter instituído quatro sistemas governamentais na III – acompanhar física e III - Realizar estudos e
esfera da Administração Federal. financeiramente os planos e pesquisas concernentes
Organizar esses sistemas significa que as unidades envolvidas programas governamentais, ao desenvolvimento e ao
e esparsas entro órgãos e entidades do Poder Executivo Federal es- avaliando-os em sua eficiência aperfeiçoamentos do processo
tão sujeitos à uma hierarquia imediata e também no sentido técni- e efetividade, visando subsidiar orçamentário federal.
co estão vinculadas à supervisão dos órgãos centrais dos referidos o processo de alocação dos
sistemas, além de propiciar um maior nível de harmonia entre elas, recursos públicos, além
alinhadas às orientações e diretrizes indicadas pelo órgão central. da politica de gastos e a
Tem por finalidade organizar e disciplinar os Sistemas de Pla- coordenação das ações do
nejamento de Orçamento Federal, de Administração Financeira governo.
Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Internos do Poder
Executivo Federal, e dá outras providências IV - assegurar que as unidades IV - acompanhar e avaliar
administrativas responsáveis a execução orçamentária
Os quatro referidos sistemas são: pela execução dos programas, e financeira, sem prejuízo
Planejamento e Orçamento – compreende as atividades de projetos e atividades da da competência atribuída a
elaboração, acompanhamento e avaliação de planos, programas e Administração Pública Federal outros órgãos;
orçamentos, e de realização de estudos e pesquisas socioeconômi- mantenham rotinas de
cas (art. 3º). acompanhamento e avaliação
da sua programação;
Sua finalidade é: V - manter sistema de V - estabelecer classificações
I – formular o planejamento estratégico nacional informações relacionados orçamentárias, tendo em
II – formulas planos nacionais, setoriais e regionais de desen- a indicadores econômicos vista as necessidades de
volvimento econômico e social e sociais, assim como sua harmonização com o
III – formular o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e mecanismos para desenvolver planejamento e o controle;
os orçamentos anuais previsões e informação
IV – gerenciar o processo de planejamento e orçamento fede- estratégica sobre tendências e
ral mudanças no âmbito nacional e
V – promover a articulação com os Estados, o Distrito Federal
internacional;
e os Municipios, visando a compatibilização de normas e tarefas
afins aos diversos Sistemas, nos planos federal, estadual, distrital VI - identificar, analisar e avaliar VI - propor medidas que
e municipal. os investimentos estratégicos objetivem a consolidação das
do Governo, suas fontes de informações orçamentárias
Em sua organização temos: financiamento e sua articulação das diversas esferas de
O Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, como ór- com os investimentos privados, governo.
gão central. bem como prestar o apoio
Unidades de Planejamento e Orçamento dos Ministérios, da gerencial e institucional à sua
AGU, da Vice-Presidência e da Casa Civil da Presidência da Republi- implementação;
ca como órgãos setoriais.
21 Fonte: www.contabilidadeagora.com

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Controle Interno do Poder Executivo Federal – visa a avaliação
VII - realizar estudos e pesquisas
da ação governamental e da gestão dos administradores públicos
sócio-econômicas e análises de
federais, por intermédio da fiscalização contábil, financeira, orça-
políticas públicas;
mentária, operacional e patrimonial, e a apoiar o controle externo
VIII - estabelecer políticas e no exercício de sua missão institucional. Avalia inclusive o cumpri-
diretrizes gerais para a atuação mento do PPA.
das empresas estatais.
Em sua organização temos:
Administração Financeira Federal – visa o equilíbrio financei- A Secretaria Federal de Controle Interno como órgão central,
ro do Governo Federal, dentro dos limites da receita e da despesa abrangendo todos os órgãos do Poder Executivo Federal, com ex-
pública. ceção dos órgãos setoriais, cabendo a ele a prestação de contas
anual do Presidente da Republica a ser encaminhadaao Congresso
Em sua organização temos: Nacional.
A Secretaria do Tesouro Nacional como órgão central. Os órgãos de controle interno que integram a estrutura do Mi-
As unidades de programação financeira dos Ministérios, da nistério das Relações Exteriores, do Ministério da Defesa, da Advo-
AGU, da Vice-Presidência e da Casa Civil da Presidência da Repúbli- cacia-Geral da União e da Casa Civil são os órgãos setoriais.
ca como órgãos setoriais. Outro ponto importante a ressaltar é o de que nenhum proces-
Subordinam-se tecnicamente à Secretaria do Tesouro Nacio- so, documento ou informação poderá ser sonegado aos servidores
nal os representantes do Tesouro Nacional nos conselhos fiscais, dos Sistemas de Contabilidade Federal e de Controle Interno do
ou órgãos equivalentes das entidades da administração indireta, Poder Executivo Federal, no exercício das atribuições inerentes às
controladas direta ou indiretamente pela União. atividades de registros contábeis, de auditoria, fiscalização e ava-
Os representantes do Tesouro Nacional nos conselhos fiscais liação de gestão.
deverão ser, preferencialmente, servidores integrantes da carreira E também que é vedado aos dirigentes dos órgãos e das unida-
Finanças e Controle que não estejam em exercício nas áreas de con- des dos Sistemas referidos exercerem:
trole interno no ministério ou órgão equivalente ao qual a entidade I - atividade de direção político-partidária;
esteja vinculada. II - profissão liberal;
III - demais atividades incompatíveis com os interesses da Ad-
Contabilidade Federal – visa evidenciar a situação orçamentá- ministração Pública Federal, na forma que dispuser o regulamento.
ria, financeira e patrimonial da União.
Esta lei estatui normas gerais de direito financeiro para elabo-
Em sua organização temos: ração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados,
A Secretaria do Tesouro Nacional, como órgão central; dos Municípios e do Distrito Federal, de acordo com o disposto no
As unidades de gestão interna dos Ministérios e da Advocacia- art. 5º, inciso XV, letra b, da Constituição Federal.
-Geral da União como órgãos setoriais. A Lei em questão dispõe sobre o Exercício Financeiro, que é o
O órgão de controle interno da Casa Civil exercerá também as período definido para fins de segregação e organização dos regis-
atividades de órgão setorial contábil de todos os órgãos integran- tros relativos à arrecadação de receitas, à execução de despesas e
tes da Presidência da República, da Vice-Presidência da República, aos atos gerais de administração financeira e patrimonial da admi-
além de outros determinados em legislação específica. nistração pública.
Tem por finalidade: Embora as operações orçamentárias e extra-orçamentárias
I - manter e aprimorar o Plano de Contas Único da União; das entidades públicas se desenrolem de forma contínua, existe a
II - estabelecer normas e procedimentos para o adequado re- necessidade de se delimitar as operações em períodos temporais.
gistro contábil dos atos e dos fatos da gestão orçamentária, finan- É essa delimitação que se convenciona chamar de exercício finan-
ceira e patrimonial nos órgãos e nas entidades da Administração ceiro.
Pública Federal; No Brasil, o exercício financeiro tem duração de doze meses e
III - com base em apurações de atos e fatos inquinados de ile- coincide com o ano civil, conforme disposto no art. 34 da Lei Fede-
gais ou irregulares, efetuar os registros pertinentes e adotar as pro- ral nº 4.320, de 17 de março de 1964.
vidências necessárias à responsabilização do agente, comunicando A Lei nº 4320/64, supriu uma enorme carência no setor público
o fato à autoridade a quem o responsável esteja subordinado e ao e estabeleceu uma nova cultura, com padrões, formas, modelos e
órgão ou unidade do Sistema de Controle Interno; regras que orientam até dos dias atuais a União, os Estados, os Mu-
IV - instituir, manter e aprimorar sistemas de informação que nicípios e o Distrito Federal em matéria orçamentária e, por todos
permitam realizar a contabilização dos atos e fatos de gestão orça- esses anos, permaneceu quase intocável, em parte pelos seus mé-
mentária, financeira e patrimonial da União e gerar informações ritos, em parte pela falta de interesse de enfrentar e disciplinar um
gerenciais necessárias à tomada de decisão e à supervisão minis- novo padrão para as questões orçamentárias, contábeis e de con-
terial; trole e de uma política fiscal estratégica para que o país continue a
V - realizar tomadas de contas dos ordenadores de despesa e enfrentar seus grandes desafios de desenvolvimento sustentável e
demais responsáveis por bens e valores públicos e de todo aquele econômico-social mais redistributivo.
que der causa a perda, extravio ou outra irregularidade que resulte O primeiro dispositivo de planejamento de longo prazo se deu
dano ao erário; na Lei 4.320, de 17 de março de 1964, no seu art. 23, que com-
VI - elaborar os Balanços Gerais da União; preendia que a receita e a despesas de capital eram aprovados por
VII - consolidar os balanços da União, dos Estados, do Distrito decreto do Poder Executivo, com um período mínimo de 3 anos e
Federal e dos Municípios, com vistas à elaboração do Balanço do era ajustado anualmente. O referido artigo continha programas e
Setor Público Nacional; metas de realizações de obras e prestação de serviços ou seja, na
VIII - promover a integração com os demais Poderes e esferas sua essência tratava-se apenas da discriminação e classificação da
de governo em assuntos de contabilidade. categoria das receitas e despesas contabilizadas e da organização

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
do orçamento. Necessitava portanto de uma lei que incrementa os pelo o gestor público”. Neste caso, tudo o que possa desrespeitar
gestores a uma ação planejada para gerir os recursos disponibiliza- economicamente o patrimônio deve ser claro, pois o objeto princi-
dos pela sociedade. Com a promulgação da Constituição Federal- pal das instituições públicas é o bem-estar social e não o lucro. Com
de1967, criou o Orçamento Plurianual de Investimentos (OPI), com a nova Constituição Federal de 1988, e da Lei de Responsabilidade
as mesmas características que continha o art. 23 da Lei 4.320/64, Fiscal (LRF), foram a administração pública, refletindo diretamente
com dois diferenciais: era aprovado por Lei e não era um instru- no bem-estar da sociedade.
mento legal do planejamento a longo prazo. É de relevância im-
portância citar que até a C.F. de 1967, cada Estado e Município da Foram introduzidos novos mecanismos de controle das finan-
Federação estabelecia leis sobre seus orçamentos de acordo com ças públicas e de seus gastos, os quais, vão ser citados no decorrer
suas necessidades. Com a vigência da Constituição Federal de 1988, deste trabalho. A Lei 4.320/64 representa um marco em termos de
foi introduzido profundas mudanças quanto as normas de finanças avanços na elaboração do orçamento público, pois foi através da
públicas, especialmente quanto ao orçamento público. Foi previs- mesma que se deu a unificação e padronização dos orçamentos e
ta , no seu art. 165 , a existência do plano plurianual, as diretrizes dos balanços públicos em todas as esferas administrativas (União,
orçamentárias e o orçamento anual, que são os instrumentos de os Estados e Municípios). Continuam em vigência todos os seus ar-
planejamento.(Vasconcelos 2010, p.39). tigos que não entrem em choque com a Lei de Responsabilidade
Outro objeto de muita atenção e importância neste trabalho, Fiscal. Conforme os seus Art. 2 e 22, a proposta orçamentária anual
está previsto na Constituição Federal de 1988, no seu art. 163 que deve conter:
prevê a edição de Lei Complementar para fixar os princípios das • Mensagem: é a apresentação da proposta orçamentária do
finanças públicas. No dia 04 de Maio de 2000, foi sancionada a Lei Executivo ao Legislativo. Nela deverá conter informações sobre a
Complementar nº. 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal, que situação econômica financeira do setor público, dos parâmetros
tem como objetivo principal o equilíbrio das contas públicas, como macro-econômicos adotados para a estimativa da receita e a fixa-
também serve para fixar a ação dos governantes para evitar os er- ção da da despesa e do estoque da divida pública. • Projeto de Lei
ros de gerência orçamentária e financeira de antigamente. Antes Orçamentário: é o texto legal, propriamente dito. Deve levar em
da Lei da Responsabilidade Fiscal havia uma total falta de controle consideração o principio da exclusividade. O texto legal deve apre-
das finanças públicas, os governantes gastavam mais do que arre- sentar ainda quadros sintéticos demonstrando as receitas por fon-
cadavam gerando assim, vários efeitos insatisfatórios para com a tes e as despesas por categorias econômicas, funções e órgãos de
economia nacional, como também para toda coletividade, como governo. • Explicativas: são os anexos da proposta orçamentária,
afirma Vasconcelos (2009, p.153), “as consequências disso para a compreendendo quadros demonstrativos e como também as esti-
sociedade foram bastante negativas, refletindo-se em inflação des- mativas de receitas e despesas. A mesma Lei(4320/64), recomenda
controlada, redução de investimento, baixa taxa de crescimento no seu art. 32 que: “se não receber a proposta orçamentária nos
econômico e perda de bem estar social”; Após a Lei de Responsabi- prazos fixados na Constituição ou na Lei Orgânica dos Municípios,
lidade Fiscal, foi verificado um maior equilíbrio das contas públicas, o Poder Legislativo considera como proposta a Lei de Orçamento
levando-se em conta uma maior aproximação do orçamento reali- Vigente”.
zado em relação ao orçamento planejado. Planejar é essencial, é o A Lei 4320/64 estabelece dois sistemas de controle da exe-
ponto de partida para uma gestão eficiente e eficaz, pois é através cução orçamentária: interno e externo. A Constituição Federal de
dele que se medirá a boa ou má qualidade d Como já exposto an- 1988 manteve essa concepção e deu-lhe um sentido ainda mais
teriormente foi a Lei 4.320/64, que primeiro traçou e estabeleceu amplo.
os princípios orçamentário no Brasil, os quais perduram até hoje Enquanto a Constituição anterior enfatizava a fiscalização fi-
como principal diretriz para a elaboração do Orçamento Geral da nanceira e orçamentária, a atual ampliou o conceito, passando a
União. Foi ela que primeiro estabeleceu as bases para a Contabi- abranger, também, as áreas operacional e patrimonial, além de
lidade Governamental tornando o seu instrumento regulador. Tal cobrir de forma explicita, o controle da aplicação de subvenções e
instrumento determina que seus resultados sejam demonstrados a própria política de isenções, estímulos e incentivos fiscais. Ficou
por meio de quatro balanços demonstrativos: Balanço Orçamentá- demonstrado, igualmente de forma clara, a abrangência do con-
rio (BO), Balanço Patrimonial (BP), Balanço Financeiro (BF) e a De- trole constitucional sobre as entidades de administração indireta,
monstração das Variações Patrimoniais (DVP), que são os Balanços questão controversa na sistemática anterior.
Públicos. “Está previsto no Art. 83 da referida Lei, que o objetivo da O controle da execução orçamentária compreenderá:
Contabilidade Pública ou Governamental é:” evidenciar perante a I - a legalidade dos atos que resultem a arrecadação da receita
Fazenda Pública, a situação de todos quantos, de qualquer modo, ou a realização da despesa, o nascimento ou a extinção de direitos
arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem bens a ela e obrigações;
pertencentes ou confiados”. Sendo assim, a sua finalidade consiste II- a fidelidade funcional dos agentes da administração respon-
produzir informações de qualidade aos seus usuários”. Conforme sáveis por bens e valores públicos;
define Reis (2004, p.146), A evidenciação integra o elenco de nor- III- o cumprimento do programa de trabalho, expresso em ter-
mas estabelecidas pela Lei 4.230, para regular a organização e os mos monetários e em termos de realização de obras e prestação
procedimentos de contabilidade a serem empregados nos registros de serviços.
dos fatos administrativos governamentais, inclusive da elaboração
do orçamento. Não raro a evidenciação tem sido desobedecida Veja a lei na íntegra acessando o link a seguir: http://www.pla-
pela contabilidade governamental, mais pela desinformação da nalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm
administração da entidade, que não lhe tem dado a devida impor-
tância, deixando muitas vezes de revelar fatos que tornariam mais Como vimos no tópico anterior, o Orçamento público é o ins-
visível a situação econômicofinanceira. De acordo com Silva (2004, trumento utilizado pelo Governo Federal para planejar a utilização
p. 201), a contabilidade pública “atua como um sistema que integra do dinheiro arrecadado com os tributos (impostos, taxas, contri-
registros orçamentários, econômicos, financeiros e patrimoniais, buições de melhoria, entre outros). Esse planejamento é essencial
com a finalidade de evidenciar os movimentações do patrimônio para oferecer serviços públicos adequados, além de especificar gas-
público em sua totalidade, visando subsidiar a prestação de contas tos e investimentos que foram priorizados pelos poderes.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Essa ferramenta estima tanto as receitas que o Governo espera Modalidades de créditos
arrecadar quanto fixa as despesas a serem efetuadas com o dinhei-
ro. Assim, as receitas são estimadas porque os tributos arrecadados Adicionais
(e outras fontes) podem sofrer variações ano a ano, enquanto as a) Créditos Suplementares: são destinados ao reforço de dotações
despesas são fixadas para garantir que o governo não gaste mais orçamentárias existentes, dessa forma, eles aumentam as despesas fi-
do que arrecada. xadas no orçamento. Quanto à forma processual, eles são autorizados
previamente por lei, podendo essa autorização legislativa constar da
Uma vez que o orçamento detalha as despesas, pode-se acom- própria lei orçamentária, e aberta por decreto do Poder Executivo.
panhar as prioridades do governo para cada ano, como, por exem- A vigência do crédito suplementar é restrita ao exercício finan-
plo: o investimento na construção de escolas, a verba para trans- ceiro referente ao orçamento em execução.
porte e o gasto com a saúde. Esse acompanhamento contribui para b) Créditos Especiais: São destinados a autorização de despe-
fiscalizar o uso do dinheiro público e a melhoria da gestão pública sas não previstas ou fixadas nos orçamentos aprovados. Sendo as-
e está disponível aqui, no Portal da Transparência do Governo Fe- sim, o crédito especial cria um novo projeto ou atividade, o uma
deral. categoria econômica ou grupo de despesa inexistente em projeto
ou atividade integrante do orçamento vigente.
Elaboração do Orçamento
O processo de elaboração do orçamento é complexo, pois en- Os créditos especiais são sempre autorizados por lei específica
volve as prioridades do Brasil, um país com mais de 200 milhões de e abertos por decreto do Executivo.
habitantes. Se já é difícil planejar e controlar os gastos em nossa A sua vigência é no exercício em que forem autorizados, sal-
casa, imagine a complexidade de planejar as prioridades de um país vo se o ato autorizativo for promulgado nos últimos quatro meses
(setembro a dezembro) do referido exercício, caso em que, é fa-
do tamanho do Brasil. No entanto, o planejamento é essencial para
cultada sua reabertura no exercício subsequente, nos limites dos
a melhor aplicação dos recursos públicos.
respectivos saldos, sendo incorporados ao orçamento do exercício
O processo de planejamento envolve várias etapas, porém três
financeiro subsequente (CF, art. 167, § 2°).
delas se destacam: a aprovação da Lei do Plano Plurianual (PPA), da
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual c) Créditos Extraordinários: São destinados para atender a des-
(LOA). pesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, co-
Cada uma dessas leis é proposta pelo Poder Executivo, a par- moção interna ou calamidade pública (CF. art. 167, § 3).
tir de objetivos específicos, e depende da aprovação do Congresso Os créditos extraordinários, quanto à forma procedimental,
Nacional. Isso permite que os deputados e senadores eleitos como são abertos por Decreto do Poder Executivo, que encaminha para
nossos representantes influenciem o orçamento, adequando as leis conhecimento do Poder Legislativo, devendo ser convertido em lei
às necessidades mais críticas da população que representam. no prazo de trinta dias.
Para organizar e viabilizar a ação pública, o PPA declara as po- Com relação à vigência, os créditos extraordinários vigoram
líticas e metas previstas para um período de 4 anos, assim como os dentro do exercício financeiro em que foram abertos, salvo se o ato
caminhos para alcançá-las. A LDO e a LOA devem estar alinhadas às da autorização ocorrer nos meses (setembro a dezembro) daquele
políticas e metas presentes no PPA, e, por sua vez, são elaboradas exercício, hipótese pela qual poderão ser reabertos, nos limites dos
anualmente. seus saldos, incorporando-se ao orçamento do exercício seguinte.
A LDO determina quais metas e prioridades do PPA serão trata-
das no ano seguinte - além de trazer algumas obrigações de trans- Recursos para financiamento dos Créditos Adicionais
parência. A partir daí, a LOA é elaborada, detalhando todos os gas- Os recursos financeiros disponíveis para abertura de crédi-
tos que serão realizados pelo governo: quanto será gasto, em que tos suplementares e especiais estão listados no art. 43 da Lei n°
área de governo (saúde, educação, segurança pública) e para que. 4.320/64, no art. 91 do Decreto-Lei n°200/67 e no § 8° do art. 166
A ideia é terminar cada ano com a LOA aprovada para o ano da Constituição Federal:
seguinte, ou seja, com todo o detalhamento dos gastos e receitas. - O superávit financeiro apurado em balanço patrimonial do
A LOA é o que chamamos, de fato, de orçamento anual. A lei por exercício anterior, sendo a diferença positiva entre o ativo financei-
si só também é grande e complexa, por isso é estruturada em três ro e o passivo financeiro, conjugando-se, ainda, os saldos dos crédi-
documentos: orçamento fiscal, orçamento da seguridade social e tos adicionais reaberto sou transferidos, no exercício da apuração,
orçamento de investimento das estatais. e as operações de créditos a eles vinculadas.
- O excesso de arrecadação, constituído pelo saldo positivo das
diferenças, acumuladas mês a mês, entre a arrecadação prevista e
Créditos adicionais
a realizada, considerando-se, ainda, a tendência do exercício. Do
Créditos Adicionais são as autorizações para despesas não
referido saldo será deduzida a importância dos créditos extraordi-
computadas ou insuficientemente dotadas na Lei Orçamentária nários abertos no exercício.
Anual, visando atender: - A anulação parcial ou total de dotações orçamentárias ou de
• Insuficiência de dotações ou recursos alocados nos orça- créditos adicionais autorizados em lei, adicionando àquelas consi-
mentos; deradas insuficientes.
• Necessidade de atender a situações que não foram previs- - Neste tipo, inclui-se a anulação da reserva de contingência, concei-
tas, inclusive por serem imprevisíveis, nos orçamentos. tuada como a dotação global não destinada especificamente a órgão, uni-
dade orçamentária ou categoria econômica e natureza da despesa;
Os créditos adicionais, portanto, constituem-se em procedi- - O produto das operações de crédito, desde que haja condi-
mentos previstos na Constituição e na Lei 4.320/64 para corrigir ou ções jurídicas para sua realização pelo Poder Executivo.
amenizar situações que surgem, durante a execução orçamentária, - Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição
por razões de fatos de ordem econômica ou imprevisíveis. Os crédi- do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas cor-
tos adicionais são incorporados aos orçamentos em execução. respondentes poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante
créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica auto-
rização legislativa. (CF, art. 166, §8°).

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
O ato que abrir crédito adicional indicará a importância, a sua importância paga a maior ou indevidamente, sua reposição aos ór-
espécie e a classificação da despesa. gãos públicos deverá ocorrer dentro do próprio exercício, mediante
Esses créditos tem sua vigência, ou seja, no caso dos créditos crédito à conta bancária da UG que efetuou o pagamento. Quando
suplementares, como são destinados a cobrir uma insuficiência do a reposição se efetuar em outro exercício, o seu valor deverá ser
orçamento anual, eles serão extintos no final do exercício financei- restituído por DARF ao Tesouro Nacional.22
ro. Já os Especiais ou Extraordinários, poderão ter vigência até o
final do exercício subsequente. Tradicionalmente o orçamento é compreendido como uma
peça que contém apenas a previsão das receitas e a fixação das
Execução Orçamentária despesas para determinado período, sem preocupação com planos
Uma vez publicada a LOA, observadas as normas de execução governamentais de desenvolvimento, tratando-se assim de mera
orçamentária e de programação financeira da União estabelecidas peça contábil - financeira. Tal conceito não pode mais ser admitido,
para o exercício e lançadas as informações orçamentárias, forneci- pois, conforme vimos no módulo anterior, a intervenção estatal na
das pela Secretaria de Orçamento Federal, no SIAFI , por intermé- vida da sociedade aumentou de forma acentuada e com isso o pla-
dio da geração automática do documento Nota de Dotação – ND, nejamento das ações do Estado é imprescindível.
cria-se o crédito orçamentário e, a partir daí, tem-se o início da exe- Hoje, o orçamento é utilizado como instrumento de planeja-
cução orçamentária propriamente dita.
mento da ação governamental, possuindo um aspecto dinâmico, ao
Executar o Orçamento é, portanto, realizar as despesas públi-
contrário do orçamento tradicional já superado, que possuía cará-
cas nele previstas, seguindo à risca os três estágios da execução
ter eminentemente estático.
das despesas previstos na Lei nº 4320/64 : empenho, liquidação e
Para Aliomar Baleeiro, o orçamento público “é o ato pelo qual
pagamento.
o Poder Executivo prevê e o Poder Legislativo autoriza, por certo
período de tempo, a execução das despesas destinadas ao funcio-
Primeiro Estágio: Empenho
namento dos serviços públicos e outros fins adotados pela política
Pois bem, o empenho é o primeiro estágio da despesa e pode
econômica ou geral do país, assim como a arrecadação das receitas
ser conceituado como sendo o ato emanado de autoridade compe-
já criadas em lei”.
tente que cria para o Estado a obrigação de pagamento, pendente
ou não, de implemento de condição.
A função do Orçamento é permitir que a sociedade acompa-
Todavia, estando a despesa legalmente empenhada, nem as-
nhe o fluxo de recursos do Estado (receitas e despesas). Para isto, o
sim o Estado se vê obrigado a efetuar o pagamento, uma vez que o
governo traduz o seu plano de ação em forma de lei. Esta lei passa
implemento de condição poderá estar concluído ou não. Seria um
a representar seu compromisso executivo com a sociedade que lhe
absurdo se assim não fosse, pois a Lei 4320/64 determina que o
delegou poder.
pagamento de qualquer despesa pública, seja ela de que importân-
O projeto de lei orçamentária é elaborado pelo Executivo, e
cia for, passe pelo crivo da liquidação. É nesse segundo estágio da
submetido à apreciação do Legislativo, que pode realizar alterações
execução da despesa que será cobrada a prestação dos serviços ou
no texto final. A partir daí, o Executivo deve promover sua imple-
a entrega dos bens, ou ainda, a realização da obra, evitando, dessa
mentação de forma eficiente e econômica, dando transparência
forma, o pagamento sem o implemento de condição.
pública a esta implementação. Por isso o orçamento é um proble-
ma quando uma administração tem dificuldades para conviver com
Segundo Estágio: Liquidação
a vontade do Legislativo e da sociedade: devido à sua força de lei, o
O segundo estágio da despesa pública é a liquidação, que con-
orçamento é um limite à sua ação.
siste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base
Em sua expressão final, o orçamento é um extenso conjunto
os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito.
de valores agrupados por unidades orçamentárias, funções, pro-
Ou seja, é a comprovação de que o credor cumpriu todas as
gramas, atividades e projetos. Com a inflação, os valores não são
obrigações constantes do empenho. A finalidade é reconhecer ou
imediatamente compreensíveis, requerendo vários cálculos e o
apurar a origem e o objeto do que se deve pagar, a importância
conhecimento de conceitos de matemática financeira para seu en-
exata a pagar e a quem se deve pagar para extinguir a obrigação
tendimento. Isso tudo dificulta a compreensão do orçamento e a
e é efetuado no SIAFI pelo documento Nota de Lançamento – NL.
sociedade vê debilitada sua possibilidade de participar da elabora-
Ele envolve, portanto, todos os atos de verificação e conferên-
ção, da aprovação, e, posteriormente, acompanhar a sua execução.
cia, desde a entrega do material ou a prestação do serviço até o
Pode-se melhorar a informação oferecida aos cidadãos sem di-
reconhecimento da despesa. Ao fazer a entrega do material ou a
ficultar o entendimento, através da técnica chamada análise verti-
prestação do serviço, o credor deverá apresentar a nota fiscal, fatu-
cal, agrupando as receitas e despesas em conjuntos (atividade, gru-
ra ou conta correspondente, acompanhada da primeira via da nota
po, função), destacando-se individualmente aqueles que tenham
de empenho, devendo o funcionário competente atestar o recebi-
participação significativa. É apresentada a participação percentual
mento do material ou a prestação do serviço correspondente, no
dos valores destinados a cada item no total das despesas ou recei-
verso da nota fiscal, fatura ou conta.
tas. Em vez de comunicar um conjunto de números de difícil enten-
dimento ou valores sem base de comparação, é possível divulgar
Terceiro Estágio: Pagamento
informações do tipo “a prefeitura vai gastar 15% dos seus recursos
O último estágio da despesa é o pagamento e consiste na en-
com pavimentação”, por exemplo.
trega de numerário ao credor do Estado, extinguindo dessa forma o
Uma outra análise que pode ser realizada é a análise horizontal
débito ou obrigação. Esse procedimento normalmente é efetuado
do orçamento. Esta técnica compara os valores do orçamento com
por tesouraria, mediante registro no SIAFI do documento Ordem
os valores correspondentes nos orçamentos anteriores (expressos
Bancária – OB, que deve ter como favorecido o credor do empenho.
em valores reais, atualizados monetariamente, ou em moeda for-
Este pagamento normalmente é efetuado por meio de crédito
te).
em conta bancária do favorecido uma vez que a OB especifica o
domicílio bancário do credor a ser creditado pelo agente financei-
ro do Tesouro Nacional, ou seja, o Banco do Brasil S/ª. Se houver 22 Fonte: www.danielgiotti.com.br/www.tesouro.fazenda.gov.br/ www.portal-
transparencia.gov.br

91
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Essas técnicas e princípios de simplificação devem ser aplica- A gestão das contas públicas brasileiras passou por melhorias
dos na apresentação dos resultados da execução orçamentária (ou institucionais tão expressivas que é possível falar-se de uma verda-
seja, do cumprimento do orçamento), confrontando o previsto com deira revolução. Mudanças relevantes abrangeram os processos e
o realizado em cada período e para cada rubrica. Deve-se apresen- ferramentas de trabalho, a organização institucional, a constituição
tar, também, qual a porcentagem já recebida das receitas e a por- e capacitação de quadros de servidores, a reformulação do arca-
centagem já realizada das despesas. bouço legal e normativo e a melhoria do relacionamento com a so-
É fundamental que a peça orçamentária seja convertida em ciedade, em âmbito federal, estadual e municipal.
valores constantes, permitindo avaliar o montante real de recursos Os diferentes atores que participam da gestão das finanças pú-
envolvidos. blicas tiveram suas funções redefinidas, ampliando-se as prerroga-
Uma outra forma de alteração do valor real é através das mar- tivas do Poder Legislativo na condução do processo decisório perti-
gens de suplementação. Para garantir flexibilidade na execução nente à priorização do gasto e à alocação da despesa. Esse processo
do orçamento, normalmente são previstas elevadas margens de se efetivou fundamentalmente pela unificação dos orçamentos do
suplementação, o que permite um uso dos recursos que modifica Governo Federal, antes constituído pelo orçamento da União, pelo
profundamente as prioridades estabelecidas. Com a indexação or- orçamento monetário e pelo orçamento da previdência social.
çamentária mensal à inflação real, consegue-se o grau necessário Criou-se a Secretaria do Tesouro Nacional, em processo em
de flexibilidade na execução orçamentária, sem permitir burlar o que foram redefinidas as funções do Banco do Brasil, do Banco Cen-
orçamento através de elevadas margens de suplementação. Pode- tral e do Tesouro Nacional.
-se restringir a margem a um máximo de 3%. Consolidou-se a visão de que o horizonte do planejamento
Não basta dizer quanto será arrecadado e gasto. É preciso deve compreender a elaboração de um Plano Plurianual (PPA) e, a
apresentar as condições que permitiram os níveis previstos de en- cada ano, uma Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que por sua
trada e dispêndio de recursos. vez deve preceder a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA).
No caso da receita, é importante destacar o nível de evolução Introduziu-se o conceito de responsabilidade fiscal, reconhe-
econômica, as melhorias realizadas no sistema arrecadador, o nível cendo-se que os resultados fiscais e, por consequência, os níveis
de inadimplência, as alterações realizadas na legislação, os meca- de endividamento do Estado, não podem ficar ao sabor do acaso,
nismos de cobrança adotados. mas devem decorrer de atividade planejada, consubstanciada na
No caso da despesa, é importante destacar os principais custos fixação de metas fiscais. Os processos orçamentário e de plane-
unitários de serviços e obras, as taxas de juros e demais encargos jamento, seguindo a tendência mundial, evoluíram das bases do
financeiros, a evolução do quadro de pessoal, a política salarial e a orçamento-programa para a incorporação do conceito de resulta-
política de pagamento de empréstimos e de atrasados. dos finalísticos, em que os recursos arrecadados devem retornar à
Os resultados que a simplificação do orçamento geram são, sociedade na forma de bens e serviços que transformem positiva-
fundamentalmente, de natureza política. Ela permite transformar mente sua realidade.
um processo nebuloso e de difícil compreensão em um conjunto de A transparência dos gastos públicos tornou-se possível graças
atividades caracterizadas pela transparência. à introdução de modernos recursos tecnológicos, propiciando re-
Como o orçamento passa a ser apresentado de forma mais gistros contábeis mais ágeis e plenamente confiáveis. A execução
simples e acessível, mais gente pode entender seu significado. A orçamentária e financeira passou a contar com facilidades opera-
cionais e melhores mecanismos de controle. Por consequência, a
sociedade passa a ter mais condições de fiscalizar a execução orça-
atuação dos órgãos de controle tornou-se mais eficaz, com a ado-
mentária e, por extensão, as próprias ações do governo municipal.
ção de novo instrumental de trabalho, como a introdução do SIAFI
Se, juntamente com esta simplificação, forem adotados instrumen-
e da conta única do Tesouro Nacional, acompanhados de diversos
tos efetivos de intervenção da população na sua elaboração e con-
outros aperfeiçoamentos de ferramentas de gestão.
trole, a participação popular terá maior eficácia.
Os orçamentos sintéticos, ao apresentar o orçamento (ou par-
Evolução histórica dos princípios orçamentários constitucio-
tes dele, como o plano de obras e os orçamentos setoriais) de for-
nais
ma resumida, fornecem uma informação rápida e acessível. Resultado da experiência histórica da gestão dos recursos pú-
A análise vertical permite compreender o que de fato influen- blicos, os princípios orçamentários foram sendo desenvolvidos pela
cia a receita e para onde se destinam os recursos, sem a “poluição doutrina e pela jurisprudência, permitindo às normas orçamentá-
numérica” de dezenas de rubricas de baixo valor. Funciona como rias adquirirem crescente eficácia.
um demonstrativo de origens e aplicações dos recursos da prefei- Assim, os princípios, sendo enunciados em sua totalidade de
tura, permitindo identificar com clareza o grau de dependência do maneira genérica que quase sempre se expressam em linguagem
governo de recursos próprios e de terceiros, a importância relativa constitucional ou legal, estão entre os valores e as normas na escala
das principais despesas, através do esclarecimento da proporção da concretização do direito e com eles não se confundem.
dos recursos destinada ao pagamento do serviço de terceiros, dos Os princípios representam o primeiro estágio de concretização
materiais de consumo, encargos financeiros, obras, etc. dos valores jurídicos a que se vinculam. A justiça e a segurança jurí-
A análise horizontal facilita as comparações com governos e dica começam a adquirir concretitude normativa e ganham expres-
anos anteriores. são escrita.
A evidenciação das premissas desnuda o orçamento ao públi- Mas os princípios ainda comportam grau elevado de abstração
co, trazendo possibilidades de comparação. Permite perguntas do e indeterminação.
tipo: “por que a prefeitura vai pagar x por este serviço, se o seu Os princípios financeiros são dotados de eficácia, isto é, produ-
preço de mercado é metade de x ?”. Contribui para esclarecer os zem efeitos e vinculam a eficácia principiológica, conducente à nor-
motivos de ineficiência da prefeitura nas suas atividades-meio e na mativa plena, e não a eficácia própria da regra concreta, atributiva
execução das políticas públicas. de direitos e obrigações.
Apesar dos muitos avanços alcançados na gestão das contas Assim, os princípios não se colocam, pois, além ou acima do
públicas no Brasil, a sociedade ainda não se desfez da sensação de Direito (ou do próprio Direito positivo); também eles - numa visão
caixa preta quando se trata de acompanhar as contas públicas. ampla, superadora de concepções positivistas, literalista e absoluti-
zantes das fontes legais - fazem parte do complexo ordenamental.

92
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Não se contrapõem às normas, contrapõem-se tão-somente gatoriedade de os ministros de Estado apresentarem relatórios im-
aos preceitos; as normas jurídicas é que se dividem em normas- pressos sobre o estado dos negócios a cargo das respectivas pastas
-princípios e normas-disposições. e a utilização das verbas sob sua responsabilidade.
Resultado da experiência histórica da gestão dos recursos pú- A reforma na Constituição imperial de 1824, emendada pela
blicos, os princípios orçamentários foram sendo desenvolvidos pela Lei de 12.08.1834, regulou o funcionamento das assembléias le-
doutrina e pela jurisprudência, permitindo às normas orçamentá- gislativas provinciais definindo-lhes a competência na fixação das
rias adquirirem crescente eficácia, ou seja, que produzissem o efei- receitas e despesas municipais e provinciais, bem como regrando a
to desejado, tivessem efetividade social, e fossem realmente ob- repartição entre os municípios e a sua fiscalização.
servadas pelos receptores da norma, em especial o agente público.
Como princípios informadores do direito - e são na verdade as A Constituição republicana de 1891 introduziu profundas alte-
idéias centrais do sistema dando-lhe sentido lógico - foram sendo, rações no processo orçamentário. A elaboração do orçamento pas-
gradativa e cumulativamente, incorporados ao sistema normativo. sou à competência privativa do Congresso Nacional.
Os princípios orçamentários, portanto, projetam efeitos sobre Embora a Câmara dos Deputados tenha assumido a responsa-
a criação - subsidiando o processo legislativo -, a integração - pos- bilidade pela elaboração do orçamento, a iniciativa sempre partiu
sibilitando a colmatagem das lacunas existentes no ordenamento do gabinete do ministro da Fazenda que, mediante entendimentos
- e a interpretação do direito orçamentário, auxiliando no exercício reservados e extra-oficiais, orientava a comissão parlamentar de
da função jurisdicional ao permitir a aplicação da norma a situação finanças na confecção da lei orçamentária.
não regulada especificamente. A experiência orçamentária da República Velha revelou-se ina-
Alguns desses princípios foram adotados em certo momento dequada. Os parlamentos, em toda parte, são mais sensíveis à cria-
por condizerem com as necessidades da época e posteriormen- ção de despesas do que ao controle do déficit.
te abandonados, ou pelo menos transformados, relativizados, ou A reforma Constitucional de 1926 tratou de eliminar as distor-
mesmo mitigados, e o que ocorreu com o princípio do equilíbrio ções observadas no orçamento da República. Buscou-se, para tan-
orçamentário, tão precioso ao estado liberal do século XIX, e que to, promover duas alterações significativas: a proibição da conces-
foi em parte relativizado com o advento do estado do bem estar são de créditos ilimitados e a introdução do princípio constitucional
social no período pós guerra. da exclusividade, ao inserir-se preceito prevendo: “Art. 34. § 1º As
Nos anos oitenta e noventa, em movimento pendular, o prin- leis de orçamento não podem conter disposições estranhas à pre-
cípio do equilíbrio orçamentário foi revigorado e dada nova roupa- visão da receita e à despesa fixada para os serviços anteriormen-
gem em face dos crescentes déficits estruturais advindos da dificul- te criados. Não se incluem nessa proibição: a) a autorização para
dade do Estado em financiar os extensos programas de segurança abertura de créditos suplementares e para operações de crédito
social e de alavancagem do desenvolvimento econômico. como antecipação da receita; b) a determinação do destino a dar
Nossas Constituições, desde a Imperial até a atual, sempre de- ao saldo do exercício ou do modo de cobrir o deficit.”
ram tratamento privilegiado à matéria orçamentária. O PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE, ou da pureza orçamentá-
De maneira crescente, foram sendo incorporados novos princí- ria, limita o conteúdo da lei orçamentária, impedindo que nela se
pios orçamentários às várias cartas constitucionais reguladoras do pretendam incluir normas pertencentes a outros campos jurídicos,
Estado brasileiro. como forma de se tirar proveito de um processo legislativo mais
Instaura-se a ordem constitucional soberana em nosso Impé- rápido, as denominadas “caudas orçamentárias”, tackings dos in-
rio, e a Carta de 1824, em seus arts.171 e 172, institui as primeiras gleses, os riders dos norte-americanos, ou os Bepackungen dos ale-
normas sobre o orçamento público no Brasil . mães, ou ainda os cavaliers budgetaires dos franceses. Prática essa
Estatui-se a reserva de lei - a aprovação da peça orçamentária denominada por Epitácio Pessoa em 1922 de “verdadeira calamida-
deve observar regular processo legislativo - e a reserva de parla- de nacional”. No dizer de Ruy Barbosa, eram os “orçamentos rabi-
mento - a competência para a aprovação é privativa do Poder Le- longos”, que introduziram o registro de hipotecas no Brasil e até a
gislativo, sujeita à sanção do Poder Executivo - para a aprovação do alteração no processo de desquite propiciaram. Essa foi a primeira
orçamento. inserção deste princípio em textos constitucionais brasileiros, já
Insere-se O PRINCÍPIO DA ANUALIDADE, ou temporalidade- na sua formulação clássica, segundo a qual a lei orçamentária não
significa que a autorização legislativa do gasto deve ser renovada a deveria conter matéria estranha à previsão da receita e à fixação
cada exercício financeiro - o orçamento era para viger por um ano da despesa, ressalvadas: a autorização para abertura de créditos
e sua elaboração competência do Ministro da Fazenda, cabendo à suplementares e para operações de crédito como antecipação de
Assembléia-Geral - Câmara dos Deputados e Senado - sua discussão receita; e a determinação do destino a dar ao saldo do exercício ou
e aprovação. do modo de cobrir o déficit.
Pari passu com a inserção da anualidade, fixa-se o PRINCÍPIO O princípio da exclusividade sofreu duas modificações na Cons-
DA LEGALIDADE DA DESPESA - advindo do princípio geral da sub- tituição de 1988. Na primeira, não mais se autoriza a inclusão na lei
orçamentária de normas sobre o destino a dar ao saldo do exercício
missão da Administração à lei, a despesa pública deve ter prévia
como o fazia a Constituição de 1967.
autorização legal. Entretanto, no período de 1822 a 1829, o Brasil
Na segunda, podem ser autorizadas quaisquer operações de
somente teve orçamentos para a Corte e a Província do Rio de Ja-
crédito, por antecipação de receita ou não.
neiro, não sendo observado o PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE
A mudança refletiu um aprimoramento da técnica orçamen-
- o orçamento deve conter todas as receitas e despesas da entida-
tária, com o advento principalmente da Lei 4.320, de 1964, que
de, de qualquer natureza, procedência ou destino, inclusive a dos
regulou a utilização dos saldos financeiros apurados no exercício
fundos, dos empréstimos e dos subsídios.
anterior pelo Tesouro ou entidades autárquicas e classificou como
O primeiro orçamento geral do Império somente seria apro-
receita do orçamento o produto das operações de crédito.
vado oito anos após a Independência, pelo Decreto Legislativo de
A Constituição de 1934 restaurou, no plano constitucional, a
15.12.1830, referente ao exercício 1831-32.
competência do Poder Executivo para elaboração da proposta, que
Este orçamento continha normas relativas à elaboração dos
passou à responsabilidade direta do Presidente da República. Cabia
orçamentos futuros, aos balanços, à instituição de comissões par-
ao Legislativo a análise e votação do orçamento, que podia, inclu-
lamentares para o exame de qualquer repartição pública e à obri-
sive, ser emendado.

93
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Além disso, a Constituição de 1934, como já mencionado an- Gerais de Direito Financeiro para a elaboração e controle dos or-
teriormente, estabelecia que a despesa deveria ser discriminada, çamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do
obedecendo, pelo menos a parte variável, a rigorosa especializa- Distrito Federal”.
ção. Verdadeiro estatuto das finanças públicas, levando mais de
Trata-se do PRINCÍPIO DA ESPECIFICAÇÃO, ou especialida- dez anos sua tramitação legislativa, tal lei incorporou importantes
de, ou ainda, da discriminação da despesa, que se confunde com a avanços em termos de técnica orçamentária, inclusive com a in-
própria questão da legalidade da despesa pública e é a razão de ser trodução da técnica do orçamento-programa a nível federal. A Lei
da lei orçamentária, prescrevendo que a autorização legislativa se 4.320/64, art. 15, estabeleceu que a despesa fosse discriminada no
refira a despesas específicas e não a dotações globais. mínimo por elementos.
O princípio da especialidade abrange tanto o aspecto qualita-
tivo dos créditos orçamentários quanto o quantitativo, vedando a A Constituição de 1967 registrou pela primeira vez em um tex-
concessão de créditos ilimitados. to constitucional o PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO ORÇAMENTÁRIO.
Tal princípio só veio a ser expresso na Constituição de 1934, O axioma clássico de boa administração para as finanças públicas
encerrando a explicitação da finalidade e da natureza da despesa e perdeu seu caráter absoluto, tendo sido abandonado pela doutrina
dando efetividade à indicação do limite preciso do gasto, ou seja, o equilíbrio geral e formal, embora não se deixe de postular a busca
a dotação. de um equilíbrio dinâmico. Inserem-se neste contexto as normas
Norma no sentido da limitação dos créditos orçamentários que limitam os gastos com pessoal, acolhidas nas Constituições de
permaneceu em todas as constituições subseqüentes à reforma de 67 e de 88 (CF art. 169) e a vedação à realização de operações de
1926, com a exceção da Super lei de 1937. créditos que excedam o montante das despesas de capital (CF art.
O princípio da especificação tem profunda significância para a 167, III).
eficácia da lei orçamentária, determinando a fixação do montante Hoje não mais se busca o equilíbrio orçamentário formal, mas
dos gastos, proibindo a concessão de créditos ilimitados, que na sim o equilíbrio amplo das finanças públicas.
Constituição de 1988, como nas demais anteriores, encontra-se ex- O grande princípio da Lei de Responsabilidade Fiscal é o prin-
presso no texto constitucional, art. 167, VII (art. 62, § 1º, “b”, na de cípio do equilíbrio fiscal. Esse princípio é mais amplo e transcende
1969 e art. 75 na de 1946). o mero equilíbrio orçamentário. Equilíbrio fiscal significa que o Es-
Pode ser também de caráter qualitativo, vedando a transposi- tado deverá pautar sua gestão pelo equilíbrio entre receitas e des-
ção, remanejamento ou a transferência de recursos de uma cate- pesa. Dessa forma, toda vez que ações ou fatos venham a desviar
goria de programação para outra ou de um órgão para outro, como a gestão da equalização, medidas devem ser tomadas para que a
hoje dispõe o art. 167, VI (art. 62, §1º, “a”, na de 1969 e art. 75 na trajetória de equilíbrio seja retomada.
de 1946). Os PRINCÍPIOS DA UNIDADE E DA UNIVERSALIDADE tam-
Ou, finalmente pode o princípio referir-se ao aspecto tempo- bém sofreriam alterações na Constituição de 1967. Esses princípios
ral, limitando a vigência dos créditos especiais e extraordinários são complementares: todas as receitas e todas as despesas de to-
ao exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato dos os Poderes, órgãos e entidades devem estar consignadas num
de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele único documento, numa única conta, de modo a evidenciar a com-
exercício, caso em que reabertos nos limites dos seus saldos, serão pleta situação fiscal para o período.
incorporados ao orçamento do exercício financeiro subseqüente, A partir de 1967, a Constituição deixou de consignar expres-
ex vi do atual art. 167, § 2º (art. 62, § 4º, na de 1969 e sem previsão samente o mandamento de que o orçamento seria uno, inserto
na de 1946). no texto constitucional desde 1934. Coincidentemente, foi nessa
Exceção a este princípio basilar foi a Constituição de 1937, que Constituição que, ao lado do orçamento anual, se introduziu o or-
previa a aprovação pelo Legislativo de verbas globais por órgãos e çamento plurianual de investimentos. Desta maneira, introduziu-se
entidades. A elaboração do orçamento continuava sendo de res- um novo PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL-ORÇAMENTÁRIO, O DA
ponsabilidade do Poder Executivo - agora a cargo de um departa- PROGRAMAÇÃO - a programação constante da lei orçamentária
mento administrativo a ser criado junto à Presidência da República relativa aos projetos com duração superior ao exercício financeiro
- e seu exame e aprovação seria da competência da Câmara dos devem observar o planejamento de médio e longo prazo constante
Deputados e do Conselho Fiscal. Durante o Estado Novo, entretan- de outras normas preordenadoras. Sem ferir o princípio da unida-
to, nem mesmo essa prerrogativa chegou a ser exercida, uma vez de, por se tratar de instrumento de planejamento, complementar
à autorização para a despesa contida na lei orçamentária anual, ou
que as casas legislativas não foram instaladas e os orçamentos do
o princípio da universalidade, que diz respeito unicamente ao or-
período 1938-45 terminaram sendo elaborados e aprovados pelo
çamento anual, veio propiciar uma ligação entre o planejamento
Presidente da República, com o assessoramento do recém criado
de médio e longo prazo com a orçamentação anual. O Orçamento
Departamento Administrativo do Serviço Público-DASP.
Plurianual de Investimentos - OPI não chegou a ter eficácia, não
O período do Estado Novo marca de forma indelével a ausência
encontrando abrigo na Constituição de 1988, que estabeleceu, ao
do estado de direito, demonstrando cabalmente a importância da
invés, um plano plurianual (PPA).
existência de uma lei orçamentária, soberanamente aprovada pelo
Não obstante o fato das Constituições e normas a ela inferiores
Parlamento, para a manutenção da equipotência dos poderes cons-
alardearem os princípios da universalidade e unidade orçamentá-
tituídos, esteio da democracia. ria, na prática, até meados dos anos oitenta, parcela considerável
A Constituição de 1946 reafirmaria a competência do Poder dos dispêndios da União não passavam pelo Orçamento Geral da
Executivo quanto à elaboração da proposta orçamentária, mas de- União - OGU. O orçamento discutido e aprovado pelo Congresso
volveria ao Poder Legislativo suas prerrogativas quanto à análise e Nacional não incluía os encargos da dívida mobiliária federal, os
aprovação do orçamento, inclusive emendas à proposta do gover- gastos com subsídios e praticamente a totalidade das operações de
no. crédito de responsabilidade do Tesouro, como fundos e programas.
Manteria, também, intactos os princípios orçamentários até Tais despesas eram realizadas autonomamente pelo Banco Central
então consagrados. Sob a égide da Constituição de 1946 foi apro- e Banco do Brasil por intermédio do denominado “Orçamento Mo-
vada e sancionada a Lei nº 4.320, de 17.03.64, estatuindo “Normas netário-OM” E “Conta-movimento”, respectivamente. Ainda tinha-

94
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
-se o Orçamento-SEST, que consistia no orçamento de investimen- Princípios Orçamentários
to das empresas públicas, de economia mista, suas subsidiárias e Os princípios orçamentários básicos para a elaboração, execu-
controladas direta ou indiretamente pela União. ção e controle do orçamento público, válidos para todos os pode-
Todos estes documentos eram aprovados exclusivamente pelo res e nos três níveis de governo, estão definidos na Constituição
Presidente da República. Somente a partir de 1984, com a gradativa Federal de 1988 e na Lei nº 4.320/1964, que estatui normas gerais
inclusão no OGU do OM, extinção da “conta-movimento” no Banco de direito financeiro, aplicadas à elaboração e ao controle dos or-
do Brasil e de outras medidas administrativas, coroadas pela pro- çamentos.
mulgação da carta constitucional de 1988, passou-se a dar efetivi-
dade ao princípio da unidade e universalidade orçamentária. Princípio Orçamentário da Unidade
De acordo com este princípio previsto no artigo 2º da Lei nº
A aplicação do PRINCÍPIO DA UNIDADE foi elastecido na 4.320/1964, cada ente da federação (União, Estado ou Município)
Constituição de 1988, embora o art. 165 § 5º diga “A lei orçamentá- deve possuir apenas um orçamento, estruturado de maneira uni-
ria anual compreenderá”, porquanto deixou de fora do orçamento forme.
fiscal as ações de saúde e assistência social, tipicamente financia- Tal princípio é reforçado pelo princípio da “unidade de caixa”,
das com os recursos ordinários do Tesouro, para compor com elas previsto no artigo 56 da referida Lei, segundo o qual todas as recei-
um orçamento distinto, em relação promíscua com as prestações tas e despesas convergem para um fundo geral (conta única), a fim
da Previdência Social. de se evitar as vinculações de certos fundos a fins específicos.
Esta última sim, e somente esta, merecedora de tratamento O objetivo é apresentar todas as receitas e despesas numa só
em documento separado, observadas em seu âmbito a unidade e conta, a fim de confrontar os totais e apurar o resultado: equilíbrio,
a universalidade, já que se trata de um sistema distinto de presta- déficit ou superávit. Atualmente, o processo de integração planeja-
ções e contraprestações de caráter continuado, que deve manter mento-orçamento tornou o orçamento necessariamente multi-do-
um equilíbrio econômico- financeiro auto-sustentado. cumental, em virtude da aprovação, por leis diferentes, de vários
Outra inovação da Constituição de 1988 foi o orçamento de documentos (Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentá-
investimentos das empresas estatais. Não há aqui, entretanto, que- rias – LDO e Lei Orçamentária Anual – LOA), uns de planejamento
bra da unidade orçamentária, uma vez que se trata, obviamente, de e outros de orçamento e programas. Em que pese tais documentos
um segmento nitidamente distinto do orçamento fiscal, a não ser serem distintos, inclusive com datas de encaminhamento diferen-
no que se refere àquelas unidades empresariais dependentes de tes para aprovação pelo Poder Legislativo, devem, obrigatoria-
recursos do Tesouro para sua manutenção, caso em que devem ser mente ser compatibilizados entre si, conforme definido na própria
incluídas integralmente no orçamento fiscal, como vem ocorrendo Constituição Federal.
por força de disposições contidas na últimas LDOs. O modelo orçamentário adotado a partir da Constituição Fe-
A adoção do Orçamento de Investimento nas empresas nas deral de 1988, com base no § 5º do artigo165 da CF 88 consiste em
quais a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capi- elaborar orçamento único, desmembrado em: Orçamento Fiscal,
tal com direito a voto, nos termos do art. 165, § 5º, correspondeu a da Seguridade Social e de Investimento da Empresas Estatais, para
um avanço na aplicação do princípio da universalidade dos gastos, melhor visibilidade dos programas do governo em cada área. O ar-
ainda que excluídos os dispêndios relativos à manutenção destas tigo 165 da Constituição Federal define em seu parágrafo 5º o que
entidades. deverá constar em cada desdobramento do orçamento:
O PRINCÍPIO DA NÃO AFETAÇÃO DE RECEITAS determina “§ 5º –A lei orçamentária anual compreenderá:
que essas não sejam previamente vinculadas a determinadas des- I – o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fun-
pesas, a fim de que estejam livres para sua alocação racional, no dos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive
momento oportuno, conforme as prioridades públicas. fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;
A Constituição de 1967 o adotou, relativamente aos tributos, II – o orçamento de investimento das empresas em que a
ressalvados os impostos únicos e o disposto na própria Constituição União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social
e em leis complementares. com direito a voto;
A Carta de 1988, por sua vez, restringe a aplicação do princípio III – o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as
aos impostos, observadas as exceções indicadas na Constituição e entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou in-
somente nesta, não permitindo sua ampliação mediante lei com- direta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo
plementar. Poder Público.”
A emenda constitucional revisional nº 1, de 1994, ao criar o
Fundo Social de Emergência-FSE e desvincular, ainda que somente Princípio Orçamentário da Universalidade
para os exercícios financeiros de 1994 e 1995, 20% dos impostos e Segundo os artigos 3º e 4º da Lei nº 4.320/1964, a Lei Orça-
contribuições da União, demonstrou a necessidade de se permitir mentária deverá conter todas as receitas e despesas. Isso possi-
a flexibilidade na alocação dos recursos na elaboração e execução bilita controle parlamentar sobre todos os ingressos e dispêndios
orçamentária. administrados pelo ente público.
A Constituição de 1988 inovou em termos de constitucionali- “Art. 3º A Lei de Orçamentos compreenderá todas as receitas,
zação de princípios regentes dos atos administrativos em geral e inclusive as de operações de crédito autorizadas em lei.
aplicando-os à matéria orçamentária, elevando a nível constitucio- Parágrafo único. Não se consideram para os fins deste artigo
nal os PRINCÍPIOS DA CLAREZA E DA PUBLICIDADE, a exemplo as operações de crédito por antecipação da receita, as emissões de
do previsto no art. 165, § 6º - que determina que o projeto da lei papel-moeda e outras entradas compensatórias, no ativo e passivo
orçamentária venha acompanhado de demonstrativo regionalizado financeiros.
do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrentes de isenções, Art. 4º A Lei de Orçamento compreenderá todas as despesas
anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira, próprias dos órgãos do Governo e da administração centralizada,
tributária e creditícia - e no art. 165, §3º - que estipula a publicação ou que, por intermédio deles se devam realizar, observado o dispos-
bimestralmente de relatório resumido da execução orçamentária. to no artigo 2°.”

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Tal princípio complementa-se pela “regra do orçamento bru- I – financiar, direta ou indiretamente, despesas correntes;
to”, definida no artigo 6º da Lei nº4.320/1964: II – refinanciar dívidas não contraídas junto à própria institui-
“Art. 6º.Todas as receitas e despesas constarão da lei de orça- ção concedente.
mento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções.”
§ 2º O disposto no caput não impede Estados e Municípios de
Princípio Orçamentário da Anualidade ou Periodicidade comprar títulos da dívida da União como aplicação de suas dispo-
O orçamento deve ser elaborado e autorizado para um deter- nibilidades.
minado período de tempo, geralmente um ano. No Brasil, o exercí- Art. 36. É proibida a operação de crédito entre uma institui-
cio financeiro coincide com o ano civil, conforme dispõe o artigo 34 ção financeira estatal e o ente da Federação que a controle, na
da Lei nº 4320/1964: qualidade de beneficiário do empréstimo.
“Art. 34.O exercício financeiro coincidirá com o ano civil.” Parágrafo único. O disposto no caput não proíbe instituição
financeira controlada de adquirir, no mercado,títulos da dívida
Observa-se, entretanto, que os créditos especiais e extraordi- pública para atender investimento de seus clientes, ou títulos da
nários autorizados nos últimos quatro meses do exercício podem dívida de emissão da União para aplicação de recursos próprios.
ser reabertos, se necessário, e, neste caso, serão incorporados ao Art. 37. Equiparam-se a operações de crédito e estão veda-
orçamento do exercício subseqüente, conforme estabelecido no § dos:
3º do artigo 167 da Carta Magna. I – captação de recursos a título de antecipação de receita de
tributo ou contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorri-
Princípio Orçamentário da Exclusividade do, sem prejuízo do disposto no § 7 o do art. 150 da Constituição;
Tal princípio tem por objetivo impedir a prática, muito comum II – recebimento antecipado de valores de empresa em que o
no passado, da inclusão de dispositivos de natureza diversa de ma- Poder Público detenha, direta ou indiretamente, a maioria do ca-
téria orçamentária, ou seja, previsão da receita e fixação da despe- pital social com direito a voto, salvo lucros e dividendos, na forma
sa. Previsto no artigo 165, § 8º da Constituição Federal, estabelece da legislação;
que a Lei Orçamentária Anual não conterá dispositivo estranho à III – assunção direta de compromisso, confissão de dívida ou
previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proi- operação assemelhada, com fornecedor de bens,mercadorias ou
bição a autorização para abertura de créditos suplementares e a serviços, mediante emissão, aceite ou aval de título de crédito,
contratação de operações de crédito, inclusive por antecipação de
não se aplicando esta vedação a empresas estatais dependentes;
receita orçamentária (ARO), nos termos da lei. As leis de créditos
IV – assunção de obrigação, sem autorização orçamentária,
adicionais também devem observar esse princípio.
com fornecedores para pagamento a posteriori de bens e servi-
ços.”
Princípio Orçamentário do Equilíbrio
Esse princípio estabelece que o montante da despesa autori-
Princípio Orçamentário da Legalidade
zada em cada exercício financeiro não poderá ser superior ao total
Tem o mesmo fundamento do princípio da legalidade aplica-
de receitas estimadas para o mesmo período. Havendo reestimati-
va de receitas com base no excesso de arrecadação e na observa- do à administração pública, segundo o qual cabe ao Poder Público
ção da tendência do exercício, pode ocorrer solicitação de crédito fazer ou deixar de fazer somente aquilo que a lei expressamente
adicional. Nesse caso, para fins de atualização da previsão, devem autorizar, ou seja, se subordina aos ditames da lei.
ser considerados apenas os valores utilizados para a abertura de A Constituição Federal de 1988, no artigo 37 estabelece os
crédito adicional. princípios da administração pública, dentre os quais o da legalidade
Conforme o caput do artigo 3º da Lei nº 4.320/1964, a Lei de e, no seu art. 165 estabelece a necessidade de formalização legal
Orçamentos compreenderá todas as receitas, inclusive as de opera- das leis orçamentárias:
ções de crédito autorizadas em lei. “ Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
Assim, o equilíbrio orçamentário pode ser obtido por meio de I – o plano plurianual;
operações de crédito. Entretanto, conforme estabelece o artigo II – as diretrizes orçamentárias;
167, III, da Constituição Federal é vedada a realização de operações III – os orçamentos anuais.”
de crédito que excedam o montante das despesas de capital, dispo-
sitivo conhecido como “regra de ouro”. De acordo com esta regra, Princípio Orçamentário da Publicidade
cada unidade governamental deve manter o seu endividamento O princípio da publicidade está previsto no artigo 37 da Cons-
vinculado à realização de investimentos e não à manutenção da tituição Federal e também se aplica às peças orçamentárias. Justi-
máquina administrativa e demais serviços. fica-se especialmente no fato de o orçamento ser fixado em lei, e
A Lei de Responsabilidade Fiscal também estabelece regras li- esta, para criar, modificar, extinguir ou condicionar direitos e deve-
mitando o endividamento dos entes federados, nos artigos 34 a 37: res, obrigando a todos, há que ser publicada.Portanto, o conteúdo
“ Art. 34. O Banco Central do Brasil não emitirá títulos da orçamentário deve ser divulgado nos veículos oficiais para que te-
dívida pública a partir de dois anos após a publicação desta Lei nha validade.
Complementar.
Art. 35. É vedada a realização de operação de crédito entre Princípio Orçamentário da Especificação ou Especialização
um ente da Federação, diretamente ou por intermédio de fundo, Segundo este princípio, as receitas e despesas orçamentárias
autarquia, fundação ou empresa estatal dependente, e outro, in- devem ser autorizadas pelo Poder Legislativo em parcelas discrimi-
clusive suas entidades da administração indireta, ainda que sob nadas e não pelo seu valor global, facilitando o acompanhamento
a forma de novação, refinanciamento ou postergação de dívida e o controle do gasto público. Esse princípio está previsto no artigo
contraída anteriormente. 5º da Lei nº 4.320/1964:
§ 1º Excetuam-se da vedação a que se refere o caput as ope- “Art. 5º A Lei de Orçamento não consignará dotações globais
rações entre instituição financeira estatal e outro ente da Federa- destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, ma-
ção, inclusive suas entidades da administração indireta, que não se terial, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras [...]”
destinem a:

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
O princípio da especificação confere maior transparência ao precisa se basear em estudos e documentos cuidadosamente trata-
processo orçamentário, possibilitando a fiscalização parlamentar, dos que irão compor todo o processo de elaboração orçamentária
dos órgãos de controle e da sociedade, inibindo o excesso de flexi- do governo.
bilidade na alocação dos recursos pelo poder executivo. Além disso, No Brasil (Orçamento Geral da União) inicia-se com um tex-
facilita o processo de padronização e elaboração dos orçamentos, to elaborado pelo Poder Executivo e entregue ao Poder Legislativo
bem como o processo de consolidação de contas. para discussão, aprovação e conversão em lei. O documento con-
Princípio Orçamentário da Não-Afetação da Receita tém a estimativa de arrecadação das receitas federais para o ano
Tal princípio encontra-se consagrado, como regra geral, no seguinte e a autorização para a realização de despesas do Governo.
inciso IV, do artigo 167, da Constituição Federal de 1988, quando Porém, está atrelado a um forte sistema de planejamento público
veda a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou des- das ações a realizar no exercício.
pesa: O Orçamento Geral da União é constituído de três peças em
“Art. 167. São vedados: [...] sua composição: o Orçamento Fiscal, o Orçamento da Seguridade
IV – a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou Social e o Orçamento de Investimento das Empresas Estatais Fe-
despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos derais.
impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de re- Existem princípios básicos que devem ser seguidos para ela-
cursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manuten- boração e controle dos Orçamentos Públicos, que estão definidos
ção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades no caso brasileiro na Constituição, na Lei 4.320/64, no Plano Plu-
da administração tributária, como determinado, respectivamente, rianual, na Lei de Diretrizes Orçamentárias e na recente Lei de Res-
pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às ponsabilidade Fiscal.
operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. É no Orçamento que o cidadão identifica a destinação dos re-
165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo; (Redação dada cursos que o governo recolhe sob a forma de impostos. Nenhuma
pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003); [...] despesa pública pode ser realizada sem estar fixada no Orçamento.
§ 4º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pe- O Orçamento Geral da União (OGU) é o coração da administração
los impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de pública federal.
que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação
de garantia ou contra garantia à União e para pagamento de dé- DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS
bitos para com esta. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 3, de No Brasil, as principais normas jurídicas relativas ao Orçamen-
1993).” to Público encontram-se contidas nos seguintes dispositivos legais:
As ressalvas são estabelecidas pela própria Constituição e es- ● Constituição Federal da República, de 1988, nos seus artigos
tão relacionadas à repartição do produto da arrecadação dos im- 163 a 169 (Capítulo II – Das Finanças Públicas);
postos (Fundos de Participação dos Estados – FPE e dos Municípios ● Lei Federal nº 4.320/64 – Estatui Normas Gerais de Direito
– FPM e Fundos de Desenvolvimento das Regiões Norte, Nordeste Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços
e Centro-Oeste), à destinação de recursos para as áreas de saúde da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal;
e educação, além do oferecimento de garantias às operações de ● Lei Complementar nº 101/2000– Lei de Responsabilidade Fis-
crédito por antecipação de receitas. cal – LRF–Estabelece Normas de Finanças Públicas voltadas para a
Trata-se de medida de bom-senso, uma vez que possibilita ao responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências;
administrador público dispor dos recursos de forma mais flexível ●Portaria nº 42/99 do Ministério do Planejamento, Orçamento
para o atendimento de despesas em programas prioritários. e Gestão –Atualiza a discriminação da despesa por funções de que
No âmbito federal, a Constituição reforça a não-vinculação das trata a Lei 4.320/64,estabelece os conceitos de função, subfunção,
receitas por meio do artigo 76 do Ato das Disposições Constitucio- programa, projeto, atividade, operações especiais, e dá outras pro-
nais Transitórias – ADCT, ao criar a “Desvinculação das Receitas da vidências;
União – DRU”, abaixo transcrito: ● Portaria Interministerial nº163/2001 da Secretaria do Tesou-
“Art. 76. É desvinculado de órgão, fundo ou despesa, até 31 ro Nacional– STN e Secretaria de Orçamento Federal – SOF, conso-
de dezembro de 2011, 20% (vinte por cento) da arrecadação da lidada com as Portarias 212/2001, 325/2001 e 519/2001.
União de impostos, contribuições sociais e de intervenção no do-
mínio econômico, já instituídos ou que vierem a ser criados até a ORÇAMENTO NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
referida data, seus adicionais e respectivos acréscimos legais. O Estado Nacional, por meio de seus órgãos administrativos, é
§ 1º O disposto no caput deste artigo não reduzirá a base de o ente responsável pela gestão da máquina pública, e, mais recen-
cálculo das transferências a Estados, Distrito Federal e Municípios temente, pela consecução do bem-estar social da população, so-
na forma dos arts. 153, § 5º; 157, I; 158, I e II; e 159, I, a e b; e II, da bretudo no que diz respeito à execução da política de atendimento
Constituição, bem como a base de cálculo das destinações a que de suas necessidades básicas.
se refere o art. 159, I, c, da Constituição. Nesse sentido, o legislador constitucional originário houve por
§ 2º Excetua-se da desvinculação de que trata o caput deste bem traçar objetivos a serem alcançados pelo Estado brasileiro, es-
artigo a arrecadação da contribuição social do salário-educação a tabelecendo-os no art. 3º da Carta Magna, a saber:
que se refere o art. 212, § 5 o, da Constituição.” «Art. 3º - Constituem objetivos fundamentais da República Fe-
derativa do Brasil:
Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), I - construir uma sociedade livra, justa e solidária;
Lei Orçamentária Anual (LOA), outros planos e programas. II - garantir o desenvolvimento nacional;
O Orçamento Público, em sentido amplo, é um documento III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desi-
legal (aprovado por lei) contendo a previsão de receitas e a esti- gualdades sociais e regionais;
mativa de despesas a serem realizadas por um Governo em um IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
determinado exercício, geralmente compreendido por um ano. No raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discrimina-
entanto, para que o orçamento seja elaborado corretamente, ele ção.”

97
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Muito mais do que um rol casuístico, o citado dispositivo legal III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as
é, na verdade, uma norma constitucional dirigente, pois presta-se a entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou in-
estabelecer um plano para a evolução política do Estado, ocupan- direta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo
do-se, assim, não com uma situação presente, mas com um ideal Poder Público.
futuro, visto que condiciona a atividade estatal à sua concreta rea- § 6º - O projeto de lei orçamentária será acompanhado de de-
lização. monstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas,
decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios
Tais objetivos constituem, por assim dizer, as razões fundamen- de natureza financeira, tributária e creditícia.
tais para a existência do planejamento e do orçamento no âmbito § 7º - Os orçamentos previstos no § 5º, I e II, deste artigo, com-
do setor público, pois estes mecanismos são as principais ferramen- patibilizados com o plano plurianual, terão entre suas funções a de
tas para a consecução de políticas condizentes com as exigências de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério populacio-
uma sociedade democrática e participativa, cujos membros devem nal.
ser partes integrantes do processo de gestão dos recursos públicos. § 8º - A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estra-
A origem da palavra orçamento é de origem italiana: “orzare”, nho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo
que significa “fazer cálculos”. na proibição a autorização para abertura de créditos suplementa-
Lembra o professor CELSO RIBEIRO BASTOS que a finalidade res e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipa-
última do orçamento “é de se tornar um instrumento de exercício ção de receita, nos termos da lei.
da democracia pelo qual os particulares exercem o direito, por in- § 9º - Cabe à lei complementar:
termédio de seus mandatários, de só verem efetivadas as despesas I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a
e permitidas as arrecadações tributárias que estiverem autorizadas elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes
na lei orçamentária” orçamentárias e da lei orçamentária anual;
O citado jurista conclui afirmando que “o orçamento é, por- II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da
tanto, uma peça jurídica, visto que aprovado pelo legislativo para administração direta e indireta bem como condições para a institui-
vigorar como lei cujo objeto disponha sobre a atividade financeira ção e funcionamento de fundos.
do Estado, quer do ponto de vista das receitas, quer das despesas. Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às di-
O seu objeto, portanto, é financeiro” retrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicio-
Definindo como jurídica a natureza do orçamento, tem-se que nais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na
o mesmo encontra fundamento constitucional nos arts. 165 a 169. forma do regimento comum.
Vamos conferir: § 1º - Caberá a uma Comissão mista permanente de Senadores
e Deputados:
CAPÍTULO II I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos neste
DAS FINANÇAS PÚBLICAS artigo e sobre as contas apresentadas anualmente pelo Presidente
da República;
SEÇÃO II II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas na-
DOS ORÇAMENTOS cionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituição e exercer
o acompanhamento e a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: atuação das demais comissões do Congresso Nacional e de suas Ca-
I - o plano plurianual; sas, criadas de acordo com o art. 58.
II - as diretrizes orçamentárias; § 2º - As emendas serão apresentadas na Comissão mista, que
III - os orçamentos anuais. sobre elas emitirá parecer, e apreciadas, na forma regimental, pelo
Plenário das duas Casas do Congresso Nacional.
§ 1º - A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de for-
§ 3º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos
ma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração
projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso:
pública federal para as despesas de capital e outras delas decorren-
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de
tes e para as relativas aos programas de duração continuada.
diretrizes orçamentárias;
§ 2º - A lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as metas
II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os pro-
e prioridades da administração pública federal, incluindo as despe-
venientes de anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre:
sas de capital para o exercício financeiro subseqüente, orientará a
a) dotações para pessoal e seus encargos;
elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações b) serviço da dívida;
na legislação tributária e estabelecerá a política de aplicação das c) transferências tributárias constitucionais para Estados, Mu-
agências financeiras oficiais de fomento. nicípios e Distrito Federal; ou
§ 3º - O Poder Executivo publicará, até trinta dias após o en- III - sejam relacionadas:
cerramento de cada bimestre, relatório resumido da execução or- a) com a correção de erros ou omissões; ou
çamentária. b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
§ 4º - Os planos e programas nacionais, regionais e setoriais § 4º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentá-
previstos nesta Constituição serão elaborados em consonância com rias não poderão ser aprovadas quando incompatíveis com o plano
o plano plurianual e apreciados pelo Congresso Nacional. plurianual.
§ 5º - A lei orçamentária anual compreenderá: § 5º - O Presidente da República poderá enviar mensagem ao
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fun- Congresso Nacional para propor modificação nos projetos a que se
dos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive refere este artigo enquanto não iniciada a votação, na Comissão
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; mista, da parte cuja alteração é proposta.
II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, § 6º - Os projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes orça-
direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com mentárias e do orçamento anual serão enviados pelo Presidente da
direito a voto; República ao Congresso Nacional, nos termos da lei complementar
a que se refere o art. 165, § 9º.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
§ 7º - Aplicam-se aos projetos mencionados neste artigo, no Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentá-
que não contrariar o disposto nesta seção, as demais normas rela- rias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, destina-
tivas ao processo legislativo. dos aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério
§ 8º - Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou Público e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20
rejeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despe- de cada mês, em duodécimos, na forma da lei complementar a que
sas correspondentes poderão ser utilizados, conforme o caso, me- se refere o art. 165, § 9º.
diante créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos
autorização legislativa. Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os
Art. 167. São vedados: limites estabelecidos em lei complementar.
I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orça- § 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remu-
mentária anual; neração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de
II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações dire- estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de
tas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais; pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administra-
III - a realização de operações de créditos que excedam o mon- ção direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas
tante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante pelo poder público, só poderão ser feitas:
créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, apro- I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para aten-
vados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; der às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela de-
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou correntes;
despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orça-
impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de re- mentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de
cursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manuten- economia mista.
ção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades § 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar refe-
da administração tributária, como determinado, respectivamente, rida neste artigo para a adaptação aos parâmetros ali previstos, se-
pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às rão imediatamente suspensos todos os repasses de verbas federais
operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. ou estaduais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que
165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo; não observarem os referidos limites.
V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia auto- § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base
rização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes; neste artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida
VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
recursos de uma categoria de programação para outra ou de um adotarão as seguintes providências:
órgão para outro, sem prévia autorização legislativa; I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com
VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados; cargos em comissão e funções de confiança;
VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de II - exoneração dos servidores não estáveis.
recursos dos orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir § 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior
necessidade ou cobrir déficit de empresas, fundações e fundos, in- não forem suficientes para assegurar o cumprimento da determi-
clusive dos mencionados no art. 165, § 5º; nação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável
IX - a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada
autorização legislativa. um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou uni-
X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de dade administrativa objeto da redução de pessoal.
empréstimos, inclusive por antecipação de receita, pelos Governos § 5º O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo an-
Federal e Estaduais e suas instituições financeiras, para pagamento terior fará jus a indenização correspondente a um mês de remune-
de despesas com pessoal ativo, inativo e pensionista, dos Estados, ração por ano de serviço.
do Distrito Federal e dos Municípios. § 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos ante-
XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições so- riores será considerado extinto, vedada a criação de cargo, empre-
ciais de que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas go ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo
distintas do pagamento de benefícios do regime geral de previdên- de quatro anos. § 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a
cia social de que trata o art. 201 serem obedecidas na efetivação do disposto no § 4º.
§ 1º - Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exer-
cício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano Da análise dos citados dispositivos depreende-se a instituição
plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime
de uma moderna estrutura, que abre amplas possibilidades de in-
de responsabilidade.
tegração das esferas referentes ao planejamento e à questão orça-
§ 2º - Os créditos especiais e extraordinários terão vigência
mentária (esta tomada numa acepção de instrumento de apoio à
no exercício financeiro em que forem autorizados, salvo se o ato
consecução dos respectivos programas de governo).
de autorização for promulgado nos últimos quatro meses daquele
Com efeito, para a gestão de recursos públicos, considerando
exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão
principalmente as finalidades últimas do Estado, mister a existência
incorporados ao orçamento do exercício financeiro subsequente.
de um estudo prévio consolidado sobre o montante da receita e o
§ 3º - A abertura de crédito extraordinário somente será ad-
mitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as quantitativo de despesas necessários à execução do plano de ação
decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, governamental. Dessa necessidade foi que surgiu o orçamento,
observado o disposto no art. 62. cujo conceito prestar-se a espelhar a situação financeira de um país
§ 4.º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pe- em determinado período de tempo.
los impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de Importante ressaltar que nos Estados que adotam a forma
que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação de federativa a repartição de competências observa, antes de tudo,
garantia ou contragarantia à União e para pagamento de débitos a autonomia dos entes federados. Tal característica encontra-se
para com esta. presente, inclusive, no tocante ao orçamento, de modo que União,
Estados-membros, Distrito Federal e Municípios podem e devem

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
definir seus orçamentos, levando em conta suas prioridades e ca- b) Orçamento de Seguridade Social: compreende todos os ór-
racterísticas. Isso, contudo, não impede que alguns aspectos de gãos e entidades a quem compete executar ações nas áreas de saú-
interesse geral exijam ações conjuntas que acabam por criar uma de, previdência e assistência social, quer sejam da Administração
interdependência e, por conseguinte, exigir uma coordenação en- Direta ou Indireta, bem como os fundos e fundações instituídas e
tre os orçamentos. mantidas pelo Poder Público; compreende, ainda, os demais sub-
O Orçamento Geral da União (OGU) prevê todas as receitas e projetos ou subatividades, não integrantes do Programa de Traba-
fixa todas as despesas do Governo Federal, referentes aos Poderes lho dos Órgãos e Entidades mencionados, mas que se relacionem
Legislativo, Executivo e Judiciário. com as referidas ações, tendo em vista o disposto no art. 194 da
As despesas fixadas no orçamento são cobertas com o produto CF; e
da arrecadação dos impostos federais, como o Imposto de Renda c) Orçamento de Investimento das Empresas Estatais: previs-
(IR) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), bem como to no inciso II, parágrafo 5º do art. 165 da CF, abrange as empresas
das contribuições, como a Contribuição para Financiamento da Se- públicas e sociedades de economia mista em que a União, direta ou
guridade Social (Cofins). Além das receitas tributárias, os gastos do indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto.
governo podem ainda ser financiados por operações de crédito -
que nada mais são do que o endividamento do Tesouro Nacional O processo orçamentário compreende as fases de elaboração
junto ao mercado financeiro interno e externo. e execução das leis orçamentárias – PPA, LDO e LOA. Cada uma
As receitas são estimadas pelo governo. Por isso mesmo, elas dessas leis tem ritos próprios de elaboração, aprovação e imple-
podem ser maiores ou menores do que foram inicialmente previs- mentação pelos Poderes Legislativo e Executivo.
tas. Se a economia crescer durante o ano mais do que se esperava, Vamos verificar como ocorre o processo orçamentário em cada
a arrecadação com os impostos tende a aumentar. O movimento uma de suas fases.
inverso também pode ocorrer.
Com base na receita prevista, são fixadas as despesas dos po- ORÇAMENTO ANUAL:
deres Executivo, Legislativo e Judiciário. Depois que o Orçamento é Na lei orçamentária anual (LOA) estão estimadas as receitas
aprovado pelo Congresso, o governo passa a gastar o que foi auto- que serão arrecadadas durante o ano e definidas as despesas que
rizado. Se a receita do ano for superior à previsão inicial, o governo o governo espera realizar com esses recursos, conforme aprovado
encaminha ao Congresso um projeto de lei solicitando autorização pelo Legislativo. A LOA contém três orçamentos, previstos na Cons-
para incorporar e executar o excesso de arrecadação. Nesse proje- tituição Federal: o orçamento fiscal, o orçamento da seguridade
to, definem-se as despesas que serão custeadas pelos novos recur- social (previdência, assistência e saúde) e o orçamento de investi-
sos. Se, ao contrário, a receita cair, o governo fica impossibilitado mentos das empresas estatais.
de executar o orçamento na sua totalidade, o que exigirá corte nas
despesas programadas, constituindo o chamado “contingencia- 01) PROJETO DE LEI: O projeto de lei orçamentária é elabo-
mento”. rado pela Secretaria de Orçamento Federal (SOF) e encaminhado
ao Congresso Nacional pelo Presidente da República. O Executivo
PLANEJAMENTO PÚBLICO possui exclusividade na iniciativa das leis orçamentárias. Composto
O plano plurianual (PPA) estabelece os projetos e os programas pelo texto da lei, quadros orçamentários consolidados e anexos dos
de longa duração do governo, definindo objetivos e metas da ação Orçamentos Fiscal, da Seguridade Social e de Investimento das Em-
pública para um período de quatro anos. presas Estatais, o projeto de lei deve ser encaminhado para apre-
A LDO tem a finalidade precípua de orientar a elaboração dos ciação do Congresso Nacional até 31 de agosto de cada ano.
orçamentos fiscal e da seguridade social e de investimento das em- Recebido pelo Congresso Nacional, o projeto é publicado e
presas estatais. Busca sintonizar a Lei Orçamentária Anual - LOA encaminhado à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e
com as diretrizes, objetivos e metas da administração pública, es- Fiscalização – CMO. A Resolução nº. 01, de 2006 – CN regula a tra-
tabelecidas no PPA. De acordo com o parágrafo 2º do art. 165 da mitação legislativa do orçamento.
CF, a LDO: Para conhecer o conteúdo do projeto e promover o debate
- compreenderá as metas e prioridades da administração pú- inicial sobre a matéria, a CMO realiza audiências públicas com Mi-
blica, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro nistros ou representantes dos órgãos de Planejamento, Orçamento
subsequente; e Fazenda do Executivo e com representantes das diversas áreas
- orientará a elaboração da LOA;
que compõem o orçamento. Nessa oportunidade os parlamentares
- disporá sobre as alterações na legislação tributária; e
começam a avaliar a proposta apresentada e têm a possibilidade
- estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras
de ouvir tanto as autoridades governamentais como a sociedade.
oficiais de fomento.
02) RELATÓRIO DA RECEITA: Cabe ao relator da receita, com
O orçamento anual visa concretizar os objetivos e metas pro-
o auxílio do Comitê de Avaliação da Receita, avaliar, inicialmente,
postas no PPA, segundo as diretrizes estabelecidas pela LDO.
a receita prevista pelo Executivo no projeto de lei orçamentária. O
A proposta da LOA compreende os três tipos distintos de orça-
mentos da União, a saber: objetivo é verificar se o montante estimado da receita está de acor-
a) Orçamento Fiscal: compreende os poderes da União, os do com os parâmetros econômicos previstos para o ano seguinte.
Fundos, Órgãos, Autarquias, inclusive as especiais e Fundações Caso encontre algum erro ou omissão, é facultado ao Legislativo
instituídas e mantidas pela União; abrange, também, as empresas reavaliar a receita e propor nova estimativa.
públicas e sociedades de economia mista em que a União, direta O relator da receita apresenta suas conclusões no Relatório da
ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a Receita. Esse documento deve conter, entre outros assuntos, o exa-
voto e que recebam desta quaisquer recursos que não sejam prove- me da conjuntura macroeconômica e do impacto do endividamen-
nientes de participação acionária, pagamentos de serviços presta- to sobre as finanças públicas, a análise da evolução da arrecadação
dos, transferências para aplicação em programas de financiamento das receitas nos últimos exercícios e da sua estimativa no projeto, o
atendendo ao disposto na alínea “c” do inciso I do art. 159 da CF e demonstrativo das receitas reestimadas e os pareceres às emendas
refinanciamento da dívida externa; apresentadas.

100
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
O Relatório da Receita deve ser aprovado pela CMO. O relator 05) CICLO SETORIAL: O projeto de lei orçamentária anual é di-
da receita pode propor atualização do Relatório da Receita aprova- vido em 10 áreas temáticas, com o objetivo de dar atenção às par-
do pela CMO, no caso de alterações nos parâmetros utilizados para ticularidades dos diversos temas que permeiam a proposta, como
a projeção ou na legislação tributária ocorridas durante a tramita- educação, saúde, transporte, agricultura, entre outros. Para cada
ção do projeto no Congresso. O prazo máximo para propor altera- área temática é designado um relator setorial, que deve avaliar o
ções é de até dez dias após a votação do último relatório setorial. projeto encaminhado, analisar as emendas apresentadas e elabo-
rar relatório setorial com as suas conclusões e pareceres.
03) PARECER PRELIMINAR: O parlamentar designado para ser Os Relatores Setoriais devem debater o projeto nas Comissões
o relator-geral do projeto de lei orçamentária deve elaborar Rela- Permanentes, antes de apresentar o relatório, podendo ser convi-
tório Preliminar sobre a matéria, o qual, aprovado pela CMO, passa dados, na oportunidade, representantes da sociedade civil.
a denominar-se Parecer Preliminar. Esse parecer estabelece os pa- Na elaboração dos relatórios setoriais, serão observados, es-
râmetros e critérios a serem obedecidos na apresentação de emen- tritamente, os limites e critérios fixados no Parecer Preliminar. O
das e na elaboração do relatório pelo relator-geral e pelos relatores Relator deve verificar a compatibilidade do projeto com o PPA, a
setoriais. LDO e a Lei de Responsabilidade Fiscal, a execução orçamentária re-
O Relatório Preliminar é composto de duas partes. A primeira cente e os efeitos dos créditos adicionais dos últimos quatro meses.
parte – geral – apresenta análise das metas fiscais, exame da com- Os critérios utilizados para a distribuição dos recursos e as medidas
patibilidade com o plano plurianual, a lei de diretrizes orçamentá- adotadas quanto às obras e serviços com indícios de irregularida-
rias e a lei de responsabilidade fiscal, avaliação das despesas por des graves apontadas pelo TCU também devem constar do relató-
área temática, incluindo a execução recente, entre outros temas. rio. Os relatórios setoriais são discutidos e votados individualmente
A segunda parte – especial – contém as regras para a atuação dos na CMO.
relatores setoriais e geral e as orientações específicas referentes à
apresentação e apreciação de emendas, inclusive as de relator. De- 06) CICLO GERAL: Após a aprovação dos relatórios setoriais, é
fine, também, a composição da Reserva de Recursos a ser utilizada tarefa do Relator Geral compilar as decisões setoriais em um único
para o atendimento das emendas apresentadas. documento, chamado Relatório Geral, que será submetido à CMO.
Ao relatório preliminar podem ser apresentadas emendas por O papel do relator geral é verificar a constitucionalidade e legali-
parlamentares e pelas Comissões Permanentes das duas Casas do dade das alocações de recursos e zelar pelo equilíbrio regional da
Congresso Nacional. distribuição realizada.
No relatório geral, assim como nos setoriais, são analisados a
04) EMENDAS: As emendas à despesa são classificadas como compatibilidade do projeto com o PPA, a LDO e a Lei de Responsa-
de remanejamento, de apropriação ou de cancelamento. bilidade Fiscal, a execução orçamentária recente e os efeitos dos
Emenda de remanejamento é a que propõe acréscimo ou in- créditos adicionais dos últimos quatro meses. Os critérios utiliza-
clusão de dotações e, simultaneamente, como fonte exclusiva de dos pelo relator na distribuição dos recursos e as medidas adotadas
recursos, a anulação equivalente de dotações constantes do proje- quanto às obras e serviços com indícios de irregularidades graves
to, exceto as da Reserva de Contingência. Com isso, somente pode- apontadas pelo TCU também devem constar do relatório.
rá ser aprovada com a anulação das dotações indicadas na própria Integram, ainda, o Relatório Geral os relatórios dos Comitês
emenda, observada a compatibilidade das fontes de recursos. Permanentes e daqueles constituídos para assessorar o relator
Emenda de apropriação é a que propõe acréscimo ou inclu- geral. As emendas ao texto e as de cancelamento são analisadas
são de dotações e, simultaneamente, como fonte de recursos, a exclusivamente pelo relator geral, que sobre elas emite parecer. A
anulação equivalente de valores da Reserva de Recursos ou outras apreciação do Relatório Geral, na CMO, somente terá início após
dotações definidas no Parecer Preliminar. a aprovação, pelo Congresso Nacional, do projeto de plano pluria-
nual ou de projeto de lei que o revise.
Emenda de Cancelamento é a que propõe, exclusivamente, a
O Relatório Geral é lido, discutido e votado no plenário da
redução de dotações constantes do projeto.
CMO. Os Congressistas podem solicitar destaque para a votação
A emenda ao projeto que propõe acréscimo ou inclusão de do-
em separado de emendas, com o objetivo de modificar os parece-
tações somente será aprovada se:
res propostos pelo Relator. O relatório aprovado em definitivo pela
I) estiver compatível com o plano plurianual e com a lei de di-
Comissão constitui o parecer da CMO, o qual será encaminhado à
retrizes orçamentárias;
Secretaria-Geral da Mesa do Congresso Nacional, para ser submeti-
II) indicar os recursos necessários;
do à deliberação das duas Casas, em sessão conjunta.
III) não for constituída de várias ações que devam ser objeto de
emendas distintas; e 07) AUTÓGRAFOS E LEIS: O parecer da CMO é submetido à
IV) não contrariar as normas regimentais sobre a matéria. Não discussão e votação no Plenário do Congresso Nacional. Os Con-
serão aprovadas emendas em valor superior ao solicitado, ressal- gressistas podem solicitar destaque para a votação em separado
vados os casos de remanejamento entre emendas individuais, res- de emendas, com o objetivo de modificar os pareceres aprovados
peitado o limite global. na CMO. Esse requerimento deve ser assinado por um décimo dos
congressistas e apresentado à Mesa do Congresso Nacional até o
As bancadas estaduais no Congresso Nacional e as comissões dia anterior ao estabelecido para discussão da matéria no Plenário
permanentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados po- do Congresso Nacional.
dem apresentar emendas ao projeto nas matérias diretamente li- Concluída a votação, a matéria é devolvida à CMO para a re-
gadas às suas áreas de atuação. dação final. Recebe o nome de Autógrafo o texto do projeto ou do
Cada parlamentar pode apresentar até 25 emendas individuais, substitutivo aprovado definitivamente em sua redação final assina-
no valor total definido pelo Parecer Preliminar. Os relatores somen- do pelo Presidente do Congresso, que será enviado à Casa Civil da
te podem apresentar emendas para corrigir erros e omissões de Presidência da República para sanção.
ordem técnica e legal, recompor, total ou parcialmente, dotações O Presidente da República pode vetar o autógrafo, total ou
canceladas e atender às especificações do Parecer Preliminar. parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento. Nesse caso, comunicará ao Presidente do Senado os

101
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
motivos do veto. A parte não vetada é publicada no Diário Oficial 04) RELATÓRIO: O relator deve analisar o projeto de diretrizes
da União como lei. O veto deve ser apreciado pelo Congresso Na- orçamentárias e as emendas apresentadas, tendo como orientação
cional. as regras estabelecidas no Parecer Preliminar, e formalizar, em re-
DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS latório, as razões pelas quais acolhe ou rejeita as emendas. Deve
A lei de diretrizes orçamentárias - LDO define as metas e prio- também justificar quaisquer outras alterações que tenham sido in-
ridades do governo para o ano seguinte, orienta a elaboração da lei troduzidas no texto do projeto de lei. O produto final desse traba-
orçamentária anual, dispõe sobre alterações na legislação tributá- lho, contendo as alterações propostas ao texto do PLDO, decorren-
ria e estabelece a política das agências de desenvolvimento (Banco tes das emendas acolhidas pelo relator e das por ele apresentadas,
do Nordeste, Banco do Brasil, BNDES, Banco da Amazônia, etc.). constitui a proposta de substitutivo. O relatório e a proposta de
Também fixa limites para os orçamentos dos Poderes Legislati- substitutivo são discutidos e votados no Plenário da CMO, sendo
vo e Judiciário e do Ministério Público e dispõe sobre os gastos com necessário para aprová-los a manifestação favorável da maioria dos
pessoal. A Lei de Responsabilidade Fiscal remeteu à LDO diversos membros de cada uma das Casas, que integram a CMO.
outros temas, como política fiscal, contingenciamento dos gastos, A Constituição Federal não estabelece prazo final para a apro-
transferências de recursos para entidades públicas e privadas e po- vação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias. No entanto,
lítica monetária determina que o Congresso Nacional não tenha direito a recesso
a partir de 17 de julho enquanto o PLDO não for aprovado. O rela-
01) PROJETO DE LEI: O projeto de LDO (PLDO) é elaborado pela tório aprovado em definitivo pela Comissão constitui o parecer da
Secretaria de Orçamento Federal e encaminhado ao Congresso Na- CMO, o qual será encaminhado à Secretaria-Geral da Mesa do Con-
cional pelo Presidente da República, que possui exclusividade na gresso Nacional, para ser submetido à deliberação das duas Casas,
iniciativa das leis orçamentárias. Composto pelo texto da lei e di- em sessão conjunta.
versos anexos, o projeto de lei deve ser encaminhado ao Congresso
Nacional até 15 de abril de cada ano. 05) AUTÓGRAFOS E LEIS: Após aprovado, o parecer da CMO é
Recebido pelo Congresso Nacional, o projeto inicia a tramita- submetido à discussão e votação no Plenário do Congresso Nacio-
ção legislativa, observadas as normas constantes da Resolução nº. nal. Os Congressistas podem solicitar destaque para a votação em
01, de 2006 – CN. O projeto de lei é publicado e encaminhado à Co- separado de emendas, com o objetivo de modificar os pareceres
missão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização – CMO. aprovados na CMO. Esse requerimento deve ser assinado por um
décimo dos congressistas e apresentado à Mesa do Congresso Na-
02) PARECER PRELIMINAR: O parlamentar designado para ser cional até o dia anterior ao estabelecido para discussão da matéria
o relator do projeto de diretrizes orçamentárias (PLDO) deve, pri- no Plenário do Congresso Nacional.
meiramente, elaborar Relatório Preliminar sobre o projeto, o qual, Concluída a votação, a matéria é devolvida à CMO para a re-
aprovado pela CMO, passa a denominar-se Parecer Preliminar. Esse dação final. Recebe o nome de Autógrafo o texto do projeto ou do
parecer estabelece regras e parâmetros a serem observados quan- substitutivo aprovado definitivamente em sua redação final assina-
do da análise e apreciação do projeto, tais como: do pelo Presidente do Congresso, que será enviado à Casa Civil da
I) condições para o cancelamento de metas constantes do pro- Presidência da República para sanção.
jeto; O Presidente da República pode vetar o autógrafo, total ou
II) critérios para o acolhimento de emendas; e parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
III) disposições sobre apresentação e apreciação de emendas recebimento. Nesse caso, comunicará ao Presidente do Senado os
individuais e coletivas. motivos do veto. A parte não vetada é publicada no Diário Oficial
da União como lei. O veto deve ser apreciado pelo Congresso Na-
Além disso, o parecer preliminar avalia os cenários econômico- cional.
-fiscal e social, bem como os parâmetros macroeconômicos utiliza-
dos na elaboração do projeto e as informações constantes de seus PLANO PLURIANUAL
anexos, com o objetivo de promover análises prévias ao conteúdo O plano plurianual – PPA é instrumento de planejamento de
apresentado. Como complemento à análise inicial, a CMO realiza médio prazo, que estabelece as diretrizes, objetivos e metas do
audiência pública com o Ministro do Planejamento, Orçamento e governo para os projetos e programas de longa duração, para um
Gestão, antes da apresentação do Relatório Preliminar. período de quatro anos. Nenhuma obra de grande vulto ou cuja
Ao relatório preliminar podem ser apresentadas emendas por execução ultrapasse um exercício financeiro pode ser iniciada sem
parlamentares e pelas Comissões Permanentes da Câmara e do Se- prévia inclusão no plano plurianual.
nado.
03) EMENDAS: Após aprovado o parecer preliminar, abre-se 01) PROJETO DE LEI: O projeto de PPA (PPPA) é elaborado pela
prazo para a apresentação de emendas ao projeto de lei de dire- Secretaria de Investimentos e Planejamento Estratégico (SPI) do
trizes orçamentárias, com vistas a inserir, suprimir, substituir ou Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão e encaminhado
modificar dispositivos constantes do projeto. ao Congresso Nacional pelo Presidente da República, que possui
Cada parlamentar, Comissão Permanente do Senado Federal e exclusividade na iniciativa das leis orçamentárias. Composto pelo
da Câmara dos Deputados e Bancada Estadual do Congresso Nacio- texto da lei e diversos anexos, o projeto de lei deve ser encami-
nal pode apresentar até cinco emendas ao anexo de metas e priori- nhado ao Congresso Nacional até 31 de agosto do primeiro ano de
dades. Não se incluem nesse limite as emendas ao texto do projeto mandato presidencial, devendo vigorar por quatro anos.
de lei. Para essa finalidade, as emendas são ilimitadas. Recebido pelo Congresso Nacional, o projeto inicia a tramita-
As emendas são apresentadas perante a CMO, que sobre elas ção legislativa, observadas as normas constantes da Resolução nº.
emite parecer conclusivo e final, que somente poderá ser modifi- 01, de 2006 – CN. O projeto de lei é publicado e encaminhado à Co-
cado mediante a aprovação de destaque no Plenário do Congresso missão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização – CMO.
Nacional.

102
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
02) PARECER PRELIMINAR: O parlamentar designado para ser motivos do veto. A parte não vetada é publicada no Diário Oficial
o relator do projeto de plano plurianual (PPPA) deve, primeiramen- da União como lei. O veto deve ser apreciado pelo Congresso Na-
te, elaborar Relatório Preliminar sobre o projeto, o qual, aprovado cional.
pela CMO, passa a denominar-se Parecer Preliminar. Esse parecer A Lei 4320/64 estabelece dois sistemas de controle da exe-
estabelece regras e parâmetros a serem observados quando da cução orçamentária: interno e externo. A Constituição Federal de
análise e apreciação do projeto, tais como: 1988 manteve essa concepção e deu-lhe um sentido ainda mais
I) condições para o remanejamento e cancelamento de valores amplo.
financeiros constantes do projeto; Enquanto a Constituição anterior enfatizava a fiscalização fi-
II) critérios para alocação de eventuais recursos adicionais de- nanceira e orçamentária, a atual ampliou o conceito, passando a
correntes da reestimativa das receitas; e abranger, também, as áreas operacional e patrimonial, além de
III) orientações sobre apresentação e apreciação de emendas. cobrir de forma explicita, o controle da aplicação de subvenções e
Em complemento à análise inicial, a CMO pode realizar audiên- a própria política de isenções, estímulos e incentivos fiscais. Ficou
cias públicas regionais para debater o projeto. demonstrado, igualmente de forma clara, a abrangência do con-
trole constitucional sobre as entidades de administração indireta,
Ao relatório preliminar podem ser apresentadas emendas por questão controversa na sistemática anterior.
parlamentares, Comissões Permanentes da Câmara e do Senado e O controle da execução orçamentária compreenderá:
Bancadas Estaduais. I - a legalidade dos atos que resultem a arrecadação da receita
ou a realização da despesa, o nascimento ou a extinção de direitos
03) EMENDAS: Após aprovado o parecer preliminar, abre-se e obrigações;
prazo para a apresentação de emendas ao projeto de plano pluria- II- a fidelidade funcional dos agentes da administração respon-
nual, com vistas a inserir, suprimir, substituir ou modificar disposi- sáveis por bens e valores públicos;
tivos constantes do projeto. III- o cumprimento do programa de trabalho, expresso em ter-
Ao projeto podem ser apresentadas até dez emendas por par- mos monetários e em termos de realização de obras e prestação
lamentar, até cinco emendas por Comissão Permanente da Câmara de serviços.
e do Senado e até cinco emendas por Bancada Estadual.
As emendas são apresentadas perante a CMO, que sobre elas AVALIAÇÃO ORÇAMENTÁRIA
emite parecer conclusivo e final, o qual somente poderá ser modifi- A avaliação orçamentária é a parte do controle orçamentário
cado mediante a aprovação de destaque no Plenário do Congresso que analisa a eficácia e eficiência dos cursos de ação cumpridos e
Nacional. proporciona elementos de juízo aos responsáveis da gestão admi-
nistrativa para adotar as medidas tendentes à consecução de seus
04) RELATÓRIO: O relator deve analisar o projeto de plano plu- objetivos e à otimização do uso dos recursos colocados à sua dis-
rianual e as emendas apresentadas, tendo como orientação as re- posição, o que contribui para realimentar o processo de adminis-
gras estabelecidas no Parecer Preliminar, e formalizar, em relatório, tração orçamentária. Esta definição traz dois critérios de análise
as razões pelas quais acolhe ou rejeita as emendas. Deve também eficiência e eficácia que são conceituados a seguir:
justificar quaisquer outras alterações que tenham sido introduzidas O teste da eficiência na avaliação das ações governamentais
no texto do projeto de lei. O produto final desse trabalho, contendo busca considerar os resultados em face dos recursos disponíveis.
as alterações propostas ao texto do PPPA, decorrentes das emen- Busca-se representar as realizações em índices e indicadores, para
das acolhidas pelo relator e das por ele apresentadas, constitui a possibilitar comparação com parâmetros técnicos de desempenho
proposta de substitutivo. e com padrões já alcançados anteriormente.
O relatório e a proposta de substitutivo são discutidos e vota- Tais medidas demonstram a maior ou menor capacidade de
dos no Plenário da CMO, sendo necessário para aprová-los a mani- consumir recursos escassos, disponíveis para a realização de uma
festação favorável da maioria dos membros de cada uma das Casas, tarefa determinada. Ou, em outras palavras, indicam a justeza e
que integram a CMO. propriedade com que a forma de elaboração de determinado pro-
O relatório aprovado em definitivo pela Comissão constitui o duto final foi selecionada, de modo a que se minimize o seu custo
parecer da CMO, o qual será encaminhado à Secretaria-Geral da respectivo.
Mesa do Congresso Nacional, para ser submetido à deliberação das A avaliação da eficácia procura considerar o grau em que os
duas Casas, em sessão conjunta. objetivos e as finalidades do progresso alcançado dentro da progra-
mação de realizações governamentais. Tanto a análise da eficácia
05) AUTÓGRAFOS E LEIS: Após aprovado, o parecer da CMO é como da eficiência são possibilidades pelas formas modernas de
submetido à discussão e votação no Plenário do Congresso Nacio- estruturação dos orçamentos. A classificação por programas, pro-
nal. Os Congressistas podem solicitar destaque para a votação em jetos e atividades e a explicitação das metas físicas orçamentárias
separado de emendas, com o objetivo de modificar os pareceres viabilizam os testes de eficácia, enquanto a incorporação de cus-
aprovados na CMO. Esse requerimento deve ser assinado por um tos, estimativos (no orçamento) e efetivos ( na execução), auxilia as
décimo dos congressistas e apresentado à Mesa do Congresso Na- avaliações da eficiência.
cional até o dia anterior ao estabelecido para discussão da matéria
no Plenário do Congresso Nacional. A Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO
Concluída a votação, a matéria é devolvida à CMO para a re- A LDO, devidamente compatibilizada com o PPA, deverá con-
dação final. Recebe o nome de Autógrafo o texto do projeto ou do ter:
substitutivo aprovado definitivamente em sua redação final assina- ● As metas e prioridades da Administração Pública, incluindo
do pelo Presidente do Congresso, que será enviado à Casa Civil da as despesas de capital, para o exercício seguinte;
Presidência da República para sanção. ● Orientações para a elaboração da Lei Orçamentária Anual;
O Presidente da República pode vetar o autógrafo, total ou ● Disposições sobre alterações na Legislação Tributária;
parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do ● A política de aplicação das agências financeiras oficiais de
recebimento. Nesse caso, comunicará ao Presidente do Senado os fomento;

103
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
● Autorização específica para a concessão de qualquer vanta- Em seguida, redistribui a previsão de gastos de acordo com os
gem ou aumento de remuneração, criação de cargos ou alteração parâmetros macroeconômicos, estabelecendo as quotas finais de
de estrutura de carreiras,bem como admissão de pessoal, a qual- recursos para cada órgão.
quer título, pelos órgãos e entidades da administração direta ou Finalmente, é produzido o texto do projeto da Lei Orçamen-
indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Pú- tária Anual, juntamente com os diversos anexos que irão detalhar
blico, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de econo- todas as receitas e despesas, de acordo com classificação orçamen-
mia mista; tária própria.
Os limites para elaboração da proposta orçamentária dos po- O projeto da LOA é então remetido ao Poder Legislativo, junto
deres judiciário e legislativo com mensagem do chefe do Poder Executivo, para aprovação.
Na União, o prazo para envio do projeto de Lei da LDO pelo
Executivo ao Legislativo é até o dia 15 de abril do exercício anterior 2. Discussão e Aprovação da Lei Orçamentária
ao da Lei Orçamentária Anual. Ao chegar no Poder Legislativo, o projeto da LOA será apre-
A sessão legislativa ordinária não será interrompida até que o ciado pelos congressistas, que poderão propor emendas ao texto
projeto de Lei da LDO seja aprovado. inicial, dando origem a um texto substitutivo.
Vale lembrar que, conforme a Emenda Constitucional nº 50, O projeto da LOA cumprirá um rito semelhante ao das demais
de14/02/2006, a sessão legislativa vai do período de 02 de feverei- leis que tramitam pelo Congresso Nacional, sendo exigido apenas
ro a 17 de julho, e de 1º. de agosto a 22 de dezembro. maioria simples para sua aprovação.
Após a devida aprovação da LOA, com ou sem emendas, o
A LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – LOA Poder Legislativo devolve para o Poder Executivo, para sanção ou
A composição da Lei Orçamentária Anual está prevista na veto.
CF/88, art. 165, § 5°: Sendo sancionada pelo Presidente da República, a LOA agora
●Orçamento fiscal, incluindo todas as receitas e despesas, re- será promulgada, e com sua publicação no Diário Oficial da União,
ferentes aos Poderes do Estado, seus fundos, órgãos da administração estará produzindo os seus devidos efeitos legais.
direta, autarquias, fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público;
●Orçamento de investimento das empresas em que o Estado, 3. Execução Orçamentária
direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital com direito Esta fase transcorre durante todo o exercício financeiro, pois
a voto; consiste na efetiva arrecadação, por parte do Governo, das diversas
●Orçamento da seguridade social, abrangendo todos os ór- receitas previstas, bem como a realização das despesas programa-
gãos e entidades da administração direta ou autárquica, bem como das para o período.
os fundos e fundações instituídas pelo Poder Público, vinculados à
saúde, previdência e assistência social. 4. Controle e Avaliação
O controle se inicia junto com a execução do orçamento, uma
Constitui matéria exclusiva da lei orçamentária a previsão da vez que o próprio Governo, através dos seus órgãos de controle
receita e a fixação da despesa, podendo conter, ainda segundo a interno ou de controle externo, iniciam a fiscalização sobre os ges-
norma constitucional: tores públicos, com relação à legalidade dos procedimentos exe-
●Autorização para abertura de créditos suplementares; cutados.
● Autorização para contratação de operações de crédito, inclu- No tocante à avaliação, trata-se de preocupação específica
sive por antecipação de receita orçamentária (ARO) na forma da lei. com os resultados efetivos dos programas realizados durante o
ano, em termos de benefícios gerados para a população.
Os orçamentos fiscais e de investimentos serão compatibiliza-
dos com o PPA; terão a função de reduzir as desigualdades inter-re- Outros planos e programas
gionais, segundo critérios de população e renda per capita. O programa é o instrumento de organização da atuação gover-
As emendas ao projeto de LOA ou aos projetos que o modi- namental. Articula um conjunto de ações que concorrem para um
fiquem terão que ser compatíveis com o PPA e com a LDO, para objetivo comum preestabelecido, mensurado por indicadores esta-
serem aprovadas. belecidos no plano plurianual, visando à solução de um problema
O prazo para envio do projeto da LOA ao Poder Legislativo é ou o atendimento de uma necessidade ou demanda da sociedade.
até 31 de agosto. Toda a ação finalística do Governo Federal deverá ser estru-
No prazo de trinta dias após o encerramento de cada bimestre, turada em programas, orientados para consecução dos objetivos
o Poder Executivo publicará relatório resumido da execução orça- estratégicos definidos, para o período, no PPA. A ação finalística
mentária. é a que proporciona bem ou serviço para atendimento direto às
demandas da sociedade.
Ciclo do Orçamento Anual Os programas de ações não finalísticas são programas consti-
Uma vez que a cada exercício será preciso uma nova Lei Orça- tuídos predominantemente de ações continuadas, devendo conter
mentária Anual, verifica-se que o processo orçamentário se dá na metas de qualidade e produtividade a serem atingidas em prazo
forma de um verdadeiro ciclo, com quatro fases bem distintas: definido.
São quatro os tipos de programas previstos:
1. Elaboração da Proposta Orçamentária
- Programas finalísticos;
Trata-se do momento em que cada um dos diversos órgãos
- Programas de gestão das políticas públicas;
e entidades que compõem a Administração Pública faz o levanta-
- Programas de serviços ao Estado;
mento das suas necessidades de e cursos para o exercício seguinte,
- Programa de apoio administrativo.
levando em consideração os programas do Governo e os objetivos
de desenvolvimento econômico e social do país.
Programas Finalísticos
O órgão central de planejamento recebe todas estas demandas
e as consolida num único documento, compatibilizando-o com a São programas que resultam em bens e serviços ofertados di-
estimativa das receitas esperadas para o próximo ano. retamente à sociedade. Seus atributos básicos são: denominação,

104
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
objetivo, público-alvo, indicador(es), fórmulas de cálculo do índice, II. fornecer meios para agilizar os processos de elaboração do
órgão(s), unidades orçamentárias e unidade responsável pelo pro- PPA, LDO, LOA e tramitação de pedidos de alterações orçamentá-
grama O indicador quantifica a situação que o programa tenha por rias;
fim modificar, de modo a explicitar o impacto das ações sobre o III. fornecer fonte segura e tempestiva de informações orça-
público alvo. mentárias;
IV. integrar e compatibilizar as informações disponíveis nos di-
Programas de Gestão de Políticas Públicas - volta versos órgãos e entidades participantes;
Os programas de gestão de políticas públicas assumirão deno- V. permitir aos segmentos da sociedade obter a necessária
minação específica de acordo com a missão institucional de cada transparência das informações orçamentárias (BRASIL, 2013).
órgão. Portanto, haverá apenas um programa dessa natureza por
órgão. Exemplo: “Gestão da Política de Saúde”. Dessa forma, o SIOP é o sistema informatizado (artefato) que
Seus atributos básicos são: denominação, objetivo, órgão(s), dá suporte às rotinas orçamentárias do Governo Federal em tempo
unidades orçamentárias e unidade responsável pelo programa Na real. Por meio do acesso à internet, os usuários dos órgãos setoriais
Presidência da República e nos Ministérios que constituam órgãos e unidades orçamentárias integrantes do Sistema de Planejamento
centrais de sistemas (Orçamento e Gestão, Fazenda), poderá haver e de Orçamento Federal, bem como de outros sistemas automati-
mais de um programa desse tipo. zados, registram suas operações e efetuam suas consultas on-line
Os Programas de Gestão de Políticas Públicas abrangem as (BRASIL, 2013).
ações de gestão de Governo e serão compostos de atividades de Assim, a implantação e, principalmente, o uso do SIOP têm re-
planejamento, orçamento, controle interno, sistemas de informa- flexos nas diversas rotinas orçamentárias desenvolvidas no âmbito
ção e diagnóstico de suporte à formulação, coordenação, supervi- do Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, uma vez que
são, avaliação e divulgação de políticas públicas. As atividades de- a sua interação com estas rotinas pode influenciar tanto a flexibili-
verão assumir as peculiaridades de cada órgão gestor setorial. zação quanto a estabilidade das mesmas.
De acordo com D’Adderio (2011), concentrar-se na relação en-
Programas de Serviços ao Estado tre artefatos e aspecto ostensivo possibilita captar a dinâmica pela
Programas de Serviços ao Estado são os que resultam em bens qual as visões ostensivas específicas são selecionadas e incorpora-
e serviços ofertados diretamente ao Estado, por instituições criadas das em artefatos de rotinas, ou seja, regras e procedimentos, e, por
para esse fim específico. Seus atributos básicos são: denominação, outro lado, concentrar-se sobre as relações entre artefatos e per-
objetivo, indicador(es), órgão(s), unidades orçamentárias e unida- formances possibilita captar a micro dinâmica pela qual artefatos
de responsável pelo programa. influenciam e são influenciados por performances. Dessa forma, o
SIOP, como artefato criado com base nos aspectos ostensivos das
Programas de Apoio Administrativo rotinas orçamentárias da União e que, por meio do seu uso, man-
Os programas de Apoio Administrativo correspondem ao con- tém interação com tais rotinas.
junto de despesas de natureza tipicamente administrativa e outras A tecnologia da informação é indispensável para que as orga-
que, embora colaborem para a consecução dos objetivos dos pro- nizações aprimorem sua agilidade, efetividade e inteligência (RE-
gramas finalísticos e de gestão de políticas públicas, não são passí- ZENDE, 2008). No que tange ao Sistema de Planejamento e de Or-
veis de apropriação a esses programas. Seus objetivos são, portan- çamento Federal, a implantação do SIOP deve corresponder a tal
to, os de prover os órgãos da União dos meios administrativos para expectativa, uma vez que mudanças nas rotinas orçamentárias são
a implementação e gestão de seus programas finalísticos. necessárias para dinamizar um sistema caracterizado por arranjos
institucionais mais estáveis, como, por exemplo, a Lei no 4.320, de
O Sistema de Orçamento compreende as atividades de acom- 1964, que completou cinquenta anos de vigência em 2014.
panhamento e avaliação de planos, programas e orçamentos no Tendo em vista que o SIOP envolve uma série de custos opera-
âmbito de cada esfera de Poder. cionais, é importante verificar as mudanças geradas com a sua im-
Ao Órgão Central de Orçamento cabe a responsabilidade de plantação, principalmente as que se referem ao aperfeiçoamento
coordenar o processo de preparação, elaboração e avaliação do Or- da gestão das rotinas orçamentárias no âmbito da União, as quais
çamento Anual, normatizando e supervisionando a ação dos outros viabilizam a implementação das políticas públicas desenvolvidas no
órgãos que compõem o sistema de orçamento. âmbito do Governo Federal, com impactos em outras esferas de
O Órgão Setorial do Orçamento é o articulador entre o órgão governo, na economia e, sobretudo, na sociedade.
central e os órgãos executores, dentro de um sistema, sendo res- Dentre as rotinas orçamentárias desenvolvidas no âmbito do
ponsável pela coordenação das ações na sua esfera de atuação. Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal (SPOF), cabe
destacar a rotina de elaboração das alterações orçamentárias, a
SIAFI e SIOF qual tem significativa importância no contexto orçamentário fede-
ral, uma vez que envolve todos os órgãos dos três Poderes e uma
SIOP considerável quantidade de profissionais, que atuam de forma con-
Com a finalidade de dar suporte às rotinas desenvolvidas no tínua e integrada nesta rotina ao longo de todo o exercício finan-
Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, foram implan- ceiro.23
tados o Sistema Integrado de Dados Orçamentários (SIDOR) e o Sis-
tema de Informações Gerenciais e de Planejamento (SIGPLAN), nos SIAF
anos de 1987 e 2000, respectivamente. SIAFI - É o Sistema Integrado de Administração Financeira do
Estes dois sistemas informatizados foram substituídos a partir Governo Federal;
de 2009, de forma gradativa, pelo Sistema Integrado de Planeja- Órgão Gestor: Secretaria do Tesouro Nacional - STN / Ministé-
mento e Orçamento (SIOP), com os seguintes objetivos: rio da Fazenda - MF;
I. prover mecanismos adequados ao registro e controle dos Função: registro, acompanhamento e controle da execução or-
processos de planejamento e orçamento; çamentária, financeira e patrimonial do Governo Federal.
23Fonte: www.repositorio.unb.br

105
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
A história do SIAFI a) prover mecanismos adequados ao controle diário da execu-
Até o exercício de 1986, o Governo Federal convivia com uma ção orçamentária, financeira e patrimonial aos órgãos da Adminis-
série de problemas de natureza administrativa que dificultavam a tração Pública;
adequada gestão dos recursos públicos e a preparação do orça- b) fornecer meios para agilizar a programação financeira, oti-
mento unificado, que passaria a vigorar em 1987: mizando a utilização dos recursos do Tesouro Nacional, através da
- Emprego de métodos rudimentares e inadequados de traba- unificação dos recursos de caixa do Governo Federal;
lho, onde, na maioria dos casos, os controles de disponibilidades or- c) permitir que a contabilidade pública seja fonte segura e tem-
çamentárias e financeiras eram exercidos sobre registros manuais; pestiva de informações gerenciais destinadas a todos os níveis da
- Falta de informações gerenciais em todos os níveis da Admi- Administração Pública Federal;
nistração Pública e utilização da Contabilidade como mero instru- d) padronizar métodos e rotinas de trabalho relativas à gestão
mento de registros formais; dos recursos públicos, sem implicar rigidez ou restrição a essa ativi-
- Defasagem na escrituração contábil de pelo menos, 45 dias dade, uma vez que ele permanece sob total controle do ordenador
entre o encerramento do mês e o levantamento das demonstra- de despesa de cada unidade gestora;
ções Orçamentárias, Financeiras e Patrimoniais, inviabilizando o e) permitir o registro contábil dos balancetes dos estados e
uso das informações para fins gerenciais; municípios e de suas supervisionadas;
- Inconsistência dos dados utilizados em razão da diversidade f) permitir o controle da dívida interna e externa, bem como o
de fontes de informações e das várias interpretações sobre cada das transferências negociadas;
conceito, comprometendo o processo de tomada de decisões; g) integrar e compatibilizar as informações no âmbito do Go-
- Despreparo técnico de parte do funcionalismo público, que verno Federal;
desconhecia técnicas mais modernas de administração financeira e h) permitir o acompanhamento e a avaliação do uso dos recur-
ainda concebia a contabilidade como mera ferramenta para o aten- sos públicos; e
dimento de aspectos formais da gestão dos recursos públicos; i) proporcionar a transparência dos gastos do Governo Federal.
- Inexistência de mecanismos eficientes que pudessem evitar o
desvio de recursos públicos e permitissem a atribuição de respon- Vantagens do siafi
sabilidades aos maus gestores; O SIAFI representou tão grande avanço para a contabilidade
- Estoque ocioso de moeda dificultando a administração de pública da União que ele é hoje reconhecido no mundo inteiro e
caixa, decorrente da existência de inúmeras contas bancárias, no recomendado inclusive pelo Fundo Monetário Internacional. Sua
âmbito do Governo Federal. Em cada Unidade havia uma conta performance transcendeu de tal forma as fronteiras brasileiras e
bancária para cada despesa. Exemplo: Conta Bancária para Mate- despertou a atenção no cenário nacional e internacional, que vá-
rial Permanente, Conta bancária para Pessoal, conta bancária para rios países, além de alguns organismos internacionais, têm enviado
Material de Consumo, etc. delegações à Secretaria do Tesouro Nacional, com o propósito de
absorver tecnologia para a implantação de sistemas similares.
A solução desses problemas representava um verdadeiro de- Veja os ganhos que a implantação do SIAFI trouxe para a Admi-
safio à época para o Governo Federal. O primeiro passo para isso nistração Pública Federal :
foi dado com a criação da Secretaria do Tesouro Nacional - STN, - Contabilidade: o gestor ganha tempestividade na informação,
em 10 de março de 1986., para auxiliar o Ministério da Fazenda na qualidade e precisão em seu trabalho;
execução de um orçamento unificado a partir do exercício seguinte. - Finanças: agilização da programação financeira, otimizando a uti-
A STN, por sua vez, identificou a necessidade de informações lização dos recursos do Tesouro Nacional, por meio da unificação dos
que permitissem aos gestores agilizar o processo decisório, tendo recursos de caixa do Governo Federal na Conta Única no Banco Central;
sido essas informações qualificadas, à época, de gerenciais. Dessa - Orçamento: a execução orçamentária passou a ser realizada
forma, optou-se pelo desenvolvimento e implantação de um sis- tempestivamente e com transparência, completamente integrada
tema informatizado, que integrasse os sistemas de programação a execução patrimonial e financeira;
financeira, de execução orçamentária e de controle interno do Po- - Visão clara de quantos e quais são os gestores que executam
der Executivo e que pudesse fornecer informações gerenciais, con- o orçamento : os números da época da implantação do SIAFI indica-
fiáveis e precisas para todos os níveis da Administração. vam a existência de aproximadamente 1.800 gestores. Na verdade,
Desse modo, a STN definiu e desenvolveu, em conjunto com eram mais de 4.000 que hoje estão cadastrados e executam seus
o SERPRO, o Sistema Integrado de Administração Financeira do gastos através do sistema de forma “on-line”;
Governo Federal – SIAFI em menos de um ano, implantando-o em - Desconto na fonte de impostos: hoje, no momento do paga-
janeiro de 1987, para suprir o Governo Federal de um instrumento mento, já é recolhido o imposto devido;
moderno e eficaz no controle e acompanhamento dos gastos pú- - Auditoria: facilidade na apuração de irregularidades com o
blicos. dinheiro público;
Com o SIAFI, os problemas de administração dos recursos pú- - Transparência: poucas pessoas tinham acesso às informações
blicos que apontamos acima ficaram solucionados. Hoje o Governo sobre as despesas do Governo Federal antes do advento do SIAFI. A
Federal tem uma Conta Única para gerir, de onde todas as saídas prática da época era tratar essas despesas como “assunto sigiloso”.
de dinheiro ocorrem com o registro de sua aplicação e do servidor Hoje a história é outra, pois na democracia o cidadão é o grande
público que a efetuou. Trata-se de uma ferramenta poderosa para acionista do estado; e
executar, acompanhar e controlar com eficiência e eficácia a corre- - Fim da multiplicidade de contas bancárias: os números da
ta utilização dos recursos da União. época indicavam 3.700 contas bancárias e o registro de aproximada-
mente 9.000 documentos por dia. Com a implantação do SIAFI, cons-
Objetivos do siafi tatou-se que existiam em torno de 12.000 contas bancárias e se re-
O SIAFI é o principal instrumento utilizado para registro, acom- gistravam em média 33.000 documentos diariamente. Hoje, 98% dos
panhamento e controle da execução orçamentária, financeira e pagamentos são identificados de modo instantâneo na Conta Única e
patrimonial do Governo Federal. Desde sua criação, o SIAFI tem al- 2% deles com uma defasagem de, no máximo, cinco dias.
cançado satisfatoriamente seus principais objetivos:

106
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Além de tudo isso, o SIAFI apresenta inúmeras vantagens que À semelhança, as fianças, cauções, empréstimos públicos, pos-
o distinguem de outros sistemas em uso no âmbito do Governo Fe- to que restituíveis.
deral: Receita é a quantia recolhida aos cofres públicos não sujeita a
- Sistema disponível 100% do tempo e on-line; restituição, ou, por outra, a importância que integra o patrimônio
- Sistema centralizado, o que permite a padronização de méto- do Estado em caráter definitivo.
dos e rotinas de trabalho; Na lição de Aliomar Baleeiro receita pública é a entrada que,
- Interligação em todo o território nacional; integrando-se no patrimônio público sem quaisquer reservas, con-
- Utilização por todos os órgãos da Administração Direta (pode- dições ou correspondência no passivo vem acrescer o seu vulto
res Executivo, Legislativo e Judiciário); como elemento novo e positivo Associando os princípios expostos,
- Utilização por grande parte da Administração Indireta; e concluímos que toda receita (em sentido estrito) é entrada, mas a
- Integração periódica dos saldos contábeis das entidades que recíproca não é verdadeira.
ainda não utilizam o SIAFI, para efeito de consolidação das infor-
mações econômico-financeiras do Governo Federal - à exceção das Contabilização Da Receita Pública
Sociedades de Economia Mista, que têm registrada apenas a parti- Conforme a variação na situação patrimonial que possa pro-
cipação acionária do Governo - e para proporcionar transparência vocar, sendo:
sobre o total dos recursos movimentados. - Receita pública efetiva; e
- Receita pública não-efetiva.
Principais atribuições do siafi
O SIAFI é um sistema informatizado que processa e controla, Receita Publica Efetiva
por meio de terminais instalados em todo o território nacional, a - Não representam obrigação do ente público
execução orçamentária, financeira, patrimonial e contábil dos ór- - Alteram a situação líquida patrimonial incorporando-se defi-
gãos da Administração Pública Direta federal, das autarquias, fun- nitivamente ao patrimônio público.
dações e empresas públicas federais e das sociedades de economia
mista que estiverem contempladas no Orçamento Fiscal e/ou no Receita Pública Não-Efetiva
Orçamento da Seguridade Social da União. - São as que possuem reconhecimento do direito
O sistema pode ser utilizado pelas Entidades Públicas Federais, - Não alteram a situação patrimonial líquida do ente.
Estaduais e Municipais apenas para receberem, pela Conta Única - No momento da entrada do recurso, registra-se, também,
do Governo Federal, suas receitas (taxas de água, energia elétrica, uma obrigação.
telefone, etc) dos Órgãos que utilizam o sistema. Entidades de cará-
ter privado também podem utilizar o SIAFI, desde que autorizadas Classificação das Receitas Públicas
pela STN. No entanto, essa utilização depende da celebração de
convênio ou assinatura de termo de cooperação técnica entre os a) Quanto à Origem: Originárias X Derivadas
interessados e a STN, que é o órgão gestor do SIAFI. Receitas Originárias são aquelas provenientes da exploração
Muitos são as facilidades que o SIAFI oferece a toda Adminis- do patrimônio da pessoa jurídica de direito público, ou seja, o Esta-
tração Pública que dele faz uso, mas podemos dizer, a título de sim- do coloca parte do seu patrimônio a disposição de pessoas físicas
plificação, que essas facilidades foram desenvolvidas para registrar ou jurídicas, que poderão se beneficiar de bens ou de serviços, me-
as informações pertinentes às três tarefas básicas da gestão pública diante pagamento de um preço estipulado.
federal dos recursos arrecadados legalmente da sociedade: Elas independem de autorização legal e pode ocorrer a qual-
- Execução Orçamentária; quer momento, e são oriundas da exploração do patrimônio mo-
- Execução Financeira; e biliário ou imobiliário, ou do exercício de atividade econômica, in-
- Elaboração das Demonstrações Contábeis, consolidadas no dustrial, comercial ou de serviços, pelo Estado ou suas entidades.
Balanço Geral da União.24 Exemplos: Rendas obtidas sobre os bens sujeitos à sua propriedade
(aluguéis, dividendos, aplicações financeiras).
RECEITA PÚBLICA Receitas Derivadas são aquelas cobradas pelo Estado, por for-
Os recursos financeiros canalizados para os cofres públicos os- ça do seu poder de império, sobre as relações econômicas pratica-
tentam, na prática, natureza e conteúdo bastante diversificados. das pelos particulares, pessoas físicas ou jurídicas, ou sobre seus
Nem sempre derivam da atividade impositiva do Estado - cam- bens. Na atualidade, constitui-se na instituição de tributos, que
po de abrangência do Direito Tributário - podendo resultar de con- serão exigidos da população, para financiar os gastos da adminis-
tratos firmados pela administração, com caráter de bilateralidade. tração pública em geral, ou para o custeio de serviços públicos
Uns e outros devem ser tidos como receitas públicas, cujo estu-
específicos prestados ou colocados a disposição da comunidade.
do amplo, pertence ao campo do Direito Financeiro, e mais remota-
Exemplos: Taxas, Impostos e Contribuições de Melhoria.
mente, ao da Ciência das Finanças.
Por isso, ao definirmos o Direito Financeiro como ramo do
b) Quanto à Natureza: Receitas Orçamentárias X Receitas Ex-
Direito Administrativo que regula a atividade desenvolvida pelo
tra Orçamentárias
Estado na obtenção, gestão e aplicação dos recursos financeiros,
Receitas Orçamentárias são todos os ingressos financeiros de
referimo-nos à receita pública como um dos capítulos dessa disci-
caráter não devolutivo auferidos pelo Poder Público. A receita orça-
plina: justamente aquele que versa sobre a captação de recursos
financeiros. mentária se subdivide ainda nas seguintes categorias econômicas:
Entrada ou ingresso é todo dinheiro recolhido aos cofres públi- receitas correntes e receitas de capital.
cos, mesmo sujeito à restituição. Receita Extra Orçamentária correspondem aos valores prove-
A noção compreende as importâncias e valores realizados a nientes de toda e qualquer arrecadação que não figurem no orça-
qualquer título. Assim, os tributos (impostos, taxas, e contribuição mento público e, consequentemente, que não lhe pertencem. O
de melhoria) e as rendas da atividade econômica do Estado (pre- Governo fica como mero depositário dos valores recebidos. Exem-
ços), não restituíveis, são ingressos ou entradas. plos: Depósitos recebidos, Cauções em dinheiro recebidas, Consig-
nações retidas a pagar, etc.
24Fonte: www.ceap.br – Por Glaucio Bezerra

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
c) Quanto à Repercussão Patrimonial: Efetivas X Não efetivas ●Receita Industrial obtida com atividades ligadas à indústria
Receitas Públicas Efetivas são aquelas em que os ingressos de de transformação. Exemplos: indústria editorial e gráfica, recicla-
disponibilidades de recursos não foram precedidos de registro de gem de lixo, etc.
reconhecimento do direito e não constituem obrigações correspon- ●Receitas de Serviços são provenientes de atividades caracte-
dentes: Por isso, aumentam a situação liquida do patrimônio finan- rizadas pela prestação se serviços por órgãos do Estado; por exem-
ceiro e a situação líquida patrimonial. Exemplos: Receita Tributária, plo: serviços comerciais (compra e venda de mercadorias), etc.
Receita Patrimonial, Receita de Serviços, etc. ●Transferências Correntes são recursos recebidos de outras
Receitas Públicas Não efetivas são aquelas em que os ingres- pessoas de direito público ou privado, destinados ao atendimento
sos de disponibilidades de recursos foram precedidos de registro de despesas correntes.
de reconhecimento do direito. Por isso, aumentam a situação líqui-
da do patrimônio financeiro, mas não altera a situação líquida pa- Outras Receitas Correntes são o grupo que compreende as
trimonial. São exemplos: Alienação de bens; Operações de crédito; Receitas de Multas e Juros de Mora, Indenizações e Restituições,
Amortização de empréstimo concedido; Cobrança de dívida ativa. Receita da Dívida Ativa, etc.

d) Quanto à Regularidade: Ordinárias X Extraordinárias Receitas de Capital são aquelas provenientes de realização de
Receitas Ordinárias são aquelas que representam certa regu- recursos oriundos da contratação de dívidas; da conversão em es-
laridade na sua arrecadação, sendo normatizadas pela Constituição pécie de bens (alienação de bens móveis e imóveis); dos recursos
ou por leis específicas. Exemplos: Arrecadação de Impostos (Fede- recebidos de outras pessoas de direito público ou privados destina-
rais, Estaduais ou Municipais), Transferências do Fundo de Partici- dos a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital. São
pação dos Estados e do Distrito Federal, do Fundo de Participação destinadas ao atendimento das Despesas de Capital e classificam-
dos Municípios, Cota parte do ICMS destinado aos Municípios, etc. -se em:
Receitas Extraordinárias são aquelas inconstantes, esporádi- • Operações de Crédito são os financiamentos obtidos den-
cas, às vezes excepcionais, e que, por isso, não se renovam de ano tro e fora do País; trata-se de recursos captados de terceiros para
a ano na peça orçamentária. Como exemplo mais típico, costuma- obras e serviços públicos. Exemplos: colocação de títulos públicos,
-se citar o imposto extraordinário, previsto no art. 76 do Código contratação de empréstimos e financiamentos, etc.;
Tributário Nacional, e decretado, em circunstâncias anormais, nos • Alienação de Bens são receitas provenientes da venda de
casos de guerra ou sua iminência. As receitas patrimoniais devem, bens móveis e imóveis;
também, ser consideradas como extraordinárias, sob o aspecto or- • Amortização de Empréstimos são receitas provenientes
çamentário. do recebimento do principal mais correção monetária, de emprés-
e) Quanto à forma de sua realização: Receitas Próprias, de timos efetuados a terceiros;
Transferência se de Financiamentos. • Transferências de Capital são recursos recebidos de ou-
●Receitas Próprias se dão quando seu ingresso é promovido tras entidades; aplicação desses recursos deverá ser em despesas
pela própria entidade, diretamente, ou através de agentes arreca- de capital. O recebimento desses recursos não gera nenhuma con-
dadores autorizados. Exemplo: tributos, aluguéis, rendimento de traprestação direta em bens e serviços;
aplicações financeiras, multas e juros de mora, alienação de bens,
etc. Outras Receitas de Capital são as que envolvem as receitas de
●Transferências se dão quando a sua arrecadação se processa capital não classificáveis nas anteriores.
através de outras entidades, em virtude de dispositivos constitucio-
nais e/ou legais, ou ainda, mediante celebração de acordos e/ou Estágios ou Fases Da Receita Pública
convênios. Exemplo: cota parte de Tributos Federais aos Estados e A realização da receita pública se dá mediante uma sequencia
Municípios (FPE e FPM), Cota parte de Tributos Estaduais aos Mu- de atividades, cujo resultado é o recebimento de recursos financei-
nicípios (ICMS e IPV A), convênios, etc. ros pelos cofres públicos. Os estágios são os seguintes:
●Financiamentos são as operações de crédito realizadas com
destinação específica, vinculadas à comprovação da aplicação dos a) Previsão
recursos. São exemplos os financiamentos para implantação de Compreende a estimativa das receitas para compor a proposta
parques industriais, aquisição de bens de consumo durável, obras orçamentária e aprovação do orçamento público pelo legislativo,
de saneamento básico, etc. transformando-o em Lei Orçamentária.
Na previsão de receita devem ser observadas as normas téc-
f) Segundo a Categoria Econômica: Receitas Correntes X Re- nicas e legais,considerados os efeitos das alterações na legislação,
ceitas de Capital da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de
●Receitas Correntes são destinadas a financiar as Despesas qualquer outro fator relevante, sendo acompanhada de demons-
Correntes. Classificam-se em: trativo de sua evolução nos três últimos anos, da projeção para os
●Receitas Tributárias que são provenientes da cobrança de dois seguintes àquele a que se referir a estimativa, e da metodolo-
impostos, taxas e contribuições de melhoria. gia de cálculo e premissas utilizadas, segundo dispõe o art. 12 da
●Receitas de Contribuições que são provenientes da arreca- LRF.
dação de contribuições sociais e econômicas; por exemplo: contri-
buições para o PIS/PASEP, contribuições para fundo de saúde de b) Lançamento (aplicável às receitas tributárias)
servidores públicos, etc.
É o ato da repartição competente que verifica a procedência
●Receita Patrimonial são proveniente do resultado financeiro
do crédito fiscal, identifica a pessoa que é devedora e inscreve o
da fruição do patrimônio, decorrente da propriedade de bens mo-
débito desta.
biliários ou imobiliários; por exemplo: Aluguéis, dividendos, receita
Compreende os procedimentos determinação da matéria tri-
oriunda de aplicação financeira, etc.
butável, cálculo do imposto, identificação do sujeito passivo e no-
●Receita Agropecuária decorre da exploração das atividades
tificação.
agropecuárias; por exemplo: receita da produção vegetal, receita
da produção animal e derivados.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
As importâncias relativas a tributos, multas e outros créditos da Fazenda Pública, lançadas mas não cobradas ou não recolhidas no
exercício de origem, constituem Dívida Ativa a partir da sua inscrição pela repartição competente.

c) Arrecadação
É o ato pelo qual o Estado recebe os tributos, multas e demais créditos, sendo distinguida em;
•Direta, a que é realizada pelo próprio Estado ou seus servidores e;
•Indireta, a que é efetuada sob a responsabilidade de terceiros credenciados pelo Estado.
Os agentes da arrecadação são devidamente autorizados para receberem os recursos e entregarem ao Tesouro Público, sendo divi-
didos em dois grupos:
•Agentes públicos (coletorias, tesourarias, delegacias, postos fiscais, etc);
•Agentes privados (bancos autorizados).

d) Recolhimento
Consiste na entrega do numerário, pelos agentes arrecadadores, públicos ou privados, diretamente ao Tesouro Público ou ao banco
oficial.
O recolhimento de todas as receitas deve ser feito com a observância do princípio de unidade de tesouraria, vedada qualquer frag-
mentação para a criação de caixas especiais. (art.56 da Lei 4.320/64).
Os recursos de caixa do Tesouro Nacional serão mantidos no Banco do Brasil S/A, somente sendo permitidos saques para o paga-
mento de despesas formalmente processadas e dentro dos limites estabelecidos na programação financeira; A conta única do Tesouro
Nacional é mantida no Banco Central, mas o agente financeiro é o Banco do Brasil, que deve receber as importâncias provenientes da
arrecadação de tributos ou rendas federais e realizar os pagamentos e suprimentos necessários à execução do Orçamento Geral da União.

DÍVIDA ATIVA
Dívida ativa corresponde a uma RECEITA, o que justifica ser chamada de ATIVA.
Representa um conjunto de créditos ou direitos de distintas naturezas em favor da Fazenda Pública, sendo que esses créditos ou
direitos possuem prazos estabelecidos na legislação pertinente e que, caso não sejam pagos ao vencimento, terá sua cobrança realizada
por meio de órgão ou unidade específica instituída em lei.
Sendo assim, a inscrição de créditos em Dívida Ativa representa um fato permutativo que resulta da transferência de um valor não
recebido no prazo estabelecido, representando um aumento da situação líquida patrimonial.

*** Para a Dívida Ativa ser considerada presume-se a legalidade ao crédito como dívida passível de cobrança e a inscrição equivale a
uma prova pré-constituída contra o devedor.
*** Outro aspecto relevante quanto à esse crédito é que, sendo ele passível de cobrança, essa gerará um custo, que por vez gera uma
despesa, PORÉM, essa despesa não transita pelas contas relativas à Dívida Ativa.

Essa inscrição poderá ser cancelada e esse cancelamento está relacionado ao raciocínio de extinção e consequente diminuição na
situação líquida patrimonial.
*** Outra forma de cancelamento da inscrição da dívida ativa pode ser percebida através de registros de abatimentos, anistia e ou-
tros valores, DESDE QUE essa diminuição não seja decorrente do recebimento efetivo da dívida ativa.

DESPESA PÚBLICA
Despesa pública é o conjunto de dispêndios do Estado ou de outra pessoa de direito público a qualquer título, a fim de saldar gastos
fixados na lei do orçamento ou em lei especial, visando à realização e ao funcionamento dos serviços públicos. Nesse sentido, a despesa é
parte do orçamento, ou seja, aquela em que se encontram classificadas todas as autorizações para gastos com as várias atribuições e fun-
ções governamentais. Em outras palavras, as despesas públicas formam o complexo da distribuição e emprego das receitas das receitas
para custeio e investimento em diferentes setores da administração governamental.
Quanto à sua natureza, classificam-se em:
Despesa Orçamentária: é aquela que depende de autorização legislativa para ser realizada e que não pode ser efetivada sem a exis-
tência de crédito orçamentário que a corresponda suficientemente.
Despesa Extra Orçamentária: trata-se dos pagamentos que não dependem de autorização legislativa, ou seja, não integram o orça-
mento público. Correspondem à restituição ou entrega de valores arrecadados sob o titulo de receita extra orçamentária. Ex.: devolução
de fianças e cauções; recolhimento de imposto de renda retido na fonte, etc.

109
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
A despesa Orçamentária se divide ainda conforme figura abaixo:

Despesa Efetiva e Não Efetiva


Para fins contábeis, a despesa orçamentária pode ser classificada quanto ao impacto na situação líquida patrimonial em: - Despesa
Orçamentária Efetiva - aquela que, no momento de sua realização, reduz a situação líquida patrimonial da entidade. Constitui fato contábil
modificativo diminutivo. - Despesa Orçamentária Não Efetiva – aquela que, no momento da sua realização, não reduz a situação líquida
patrimonial da entidade e constitui fato contábil permutativo. Neste caso, além da despesa orçamentária, registra-se concomitantemente
conta de variação aumentativa para anular o efeito dessa despesa sobre o patrimônio líquido da entidade.
Em geral, a despesa orçamentária efetiva é despesa corrente. Entretanto, pode haver despesa corrente não efetiva como, por exem-
plo, a despesa com a aquisição de materiais para estoque e a despesa com adiantamentos, que representam fatos permutativos. A despe-
sa não efetiva normalmente se enquadra como despesa de capital. Entretanto, há despesa de capital que é efetiva como, por exemplo, as
transferências de capital, que causam variação patrimonial diminutiva e, por isso, classificam-se como despesa efetiva.
Segundo o Professor Garrido Neto, aideia da classificação das despesas em efetivas ou não efetivas é saber qual a afetação patrimo-
nial trazida pelas mesmas, em virtude da execução do orçamento. A LOA é uma lei de execução financeira, onde constam fluxos de caixa
de entradas e saídas de recursos, autorizados por lei pelo poder legislativo. Por natureza, receitas deveriam aumentar o patrimônio da
entidade que as reconhece e as despesas deveriam diminuí-lo.
Mas essa lógica não funciona em sua totalidade na execução orçamentária, em virtude do conceito de receita e despesa, sob o ponto
de vista do patrimônio, ser diferente daquele conceito orçamentário, de fluxo de caixa. No patrimônio, receita representa o acréscimo
definitivo de recursos, sem o surgimento de um passivo correspondente ou o consumo de um ativo. Já a despesa representa a diminuição
de um ativo, em virtude de seu consumo, ou a transferência de propriedade de um bem, necessário para obtenção de receitas. No orça-
mento, receita é entrada, em dinheiro e disponível para atendimento das políticas públicas. Já a despesa é uma saída, em dinheiro e que
consome recursos disponíveis, autorizados através do empenho de despesas. Quando o conceito de receita, sob o aspecto patrimonial,
coincide com o conceito orçamentário, de fluxo de caixa de entrada, temos uma receita efetiva, que afeta o patrimônio positivamente.
EX: arrecadação de impostos.

110
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Quando o conceito de despesa, sob o aspecto patrimonial, A classificação funcional segrega as dotações orçamentárias
coincide com o conceito orçamentário, de fluxo de caixa de saída, em funções e subfunções, buscando responder basicamente à in-
autorizado por um empenho, temos uma despesa efetiva, que afe- dagação “em que” área de ação governamental a despesa será rea-
ta o patrimônio negativamente. EX: reconhecimento de despesas lizada. A atual classificação funcional foi instituída pela Portaria nº
com serviços de terceiros. Ocorre que nem toda receita orçamen- 42, de 14 de abril de 1999, do então Ministério do Orçamento e
tária tem afetação positiva no patrimônio, porque tem como con- Gestão, e é composta de um rol de funções e subfunções prefixa-
trapartida um consumo de um ativo ou o surgimento de um passi- das, que servem como agregador dos gastos públicos por área de
vo. Ex: arrecadação da dívida ativa (entra dinheiro, mas se baixa o ação governamental nas três esferas de Governo. Trata-se de clas-
direito a receber, previamente contabilizado quando da inscrição), sificação de aplicação comum e obrigatória, no âmbito da União,
obtenção de empréstimos (entra dinheiro, mas surge um passivo - dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o que permite a
empréstimos a pagar). consolidação nacional dos gastos do setor público. A classificação
Do mesmo modo, nem toda despesa orçamentária tem afe- funcional é representada por cinco dígitos. Os dois primeiros refe-
tação negativa no patrimônio, porque tem como contrapartida o rem-se à função, enquanto que os três últimos dígitos representam
surgimento de um ativo ou a baixa de um passivo. Ex: aquisição de a subfunção, que podem ser traduzidos como agregadores das di-
bens (sai o dinheiro, com uma despesa empenhada previamente, versas áreas de atuação do setor público, nas esferas legislativa,
mas entra o bem adquirido. Note que não há despesa no patrimô- executiva e judiciária.
nio, já que ocorre ingresso de um bem), amortização da dívida (sai o Função - A função é representada pelos dois primeiros dígitos
dinheiro, mas há uma baixa concomitante no passivo, empréstimos da classificação funcional e pode ser traduzida como o maior ní-
a pagar. Note que não há despesa no patrimônio, já que houve di- vel de agregação das diversas áreas de atuação do setor público. A
minuição de um passivo, tornando o ente menos devedor. função quase sempre se relaciona com a missão institucional do ór-
Ou seja, a saída de dinheiro compensa com a diminuição da gão, por exemplo, cultura, educação, saúde, defesa, que, na União,
dívida. Não há despesa). Por isso, a despesa não efetiva é aquela guarda relação com os respectivos Ministérios.
que afeta o orçamento, mas, como gera um fato permutativo, não A função “Encargos Especiais” engloba as despesas orçamentá-
afeta a situação líquida patrimonial do ente. Vamos ver mais uma rias em relação às quais não se pode associar um bem ou serviço a
ser gerado no processo produtivo corrente, tais como: dívidas, res-
vez o exemplo da aquisição de bens; Quando se compra um bem,
sarcimentos, indenizações e outras afins, representando, portanto,
é preciso empenhar/pagar a despesa orçamentária. Portanto essa
uma agregação neutra. Nesse caso, na União, as ações estarão as-
despesa diminui o ativo disponível da entidade. Caso se verificasse
sociadas aos programas do tipo “Operações Especiais” que consta-
apenas essa diminuição, a despesa seria efetiva, pois reduziria um
rão apenas do orçamento, não integrando o PPA. A dotação global
ativo de forma definitiva. Mas a operação contábil não está concluí-
denominada “Reserva de Contingência”, permitida para a União no
da, pois é preciso dar entrada no bem.
art. 91 do Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, ou em
Quando contabilizamos o bem, aumentamos outro ativo, o
atos das demais esferas de Governo, a ser utilizada como fonte de
ativo permanente bens móveis/imóveis. Portanto, vendo isolada- recursos para abertura de créditos adicionais e para o atendimento
mente esse segundo registro, houve aumento do patrimônio, pela ao disposto no art. 5º, inciso III, da Lei Complementar nº 101, de
entrada do item, causando uma mutação (conjugando a diminuição 2000, sob coordenação do órgão responsável pela sua destinação,
do caixa com o aumento do bem) ativa (pela entrada de um ativo será identificada nos orçamentos de todas as esferas de Governo
no patrimônio do governo). Daí o porquê da questão ter utilizado pelo código “99.999.9999.xxxx.xxxx”, no que se refere às classifi-
essas expressões, beleza? Para maiores detalhes, consulte o ma- cações por função e subfunção e estrutura programática, onde o
nual da receita/despesa nacional, encontrado no site da STN, e pro- “x” representa a codificação da ação e o respectivo detalhamento.
cure pelo item reconhecimento de receitas/despesas pelo aspecto Subfunção - A subfunção, indicada pelos três últimos dígitos da
orçamentário e patrimonial. classificação funcional, representa um nível de agregação imedia-
tamente inferior à função e deve evidenciar cada área da atuação
Classificação Institucional e Funcional governamental, por intermédio da agregação de determinado sub-
A classificação institucional reflete a estrutura de alocação dos conjunto de despesas e identificação da natureza básica das ações
créditos orçamentários e está estruturada em dois níveis hierárqui- que se aglutinam em torno das funções. As subfunções podem ser
cos: órgão orçamentário e unidade orçamentária. Constitui unida- combinadas com funções diferentes daquelas às quais estão rela-
de orçamentária o agrupamento de serviços subordinados ao mes- cionadas na Portaria MOG nº 42/1999. Deve-se adotar como fun-
mo órgão ou repartição a que serão consignadas dotações próprias ção aquela que é típica ou principal do órgão. Assim, a programação
(art. 14 da Lei nº 4.320/1964). Os órgãos orçamentários, por sua de um órgão, via de regra, é classificada em uma única função, ao
vez, correspondem a agrupamentos de unidades orçamentárias. As passo que a subfunção é escolhida de acordo com a especificidade
dotações são consignadas às unidades orçamentárias, responsáveis de cada ação governamental. A exceção à combinação encontra-se
pela realização das ações. No caso do Governo Federal, o código da na função 28 – Encargos Especiais e suas subfunções típicas que só
classificação institucional compõe-se de cinco dígitos, sendo os dois podem ser utilizadas conjugadas.
primeiros reservados à identificação do órgão e os demais à unida-
de orçamentária. Não há ato que estabeleça , sendo definida no Classificação por Estrutura Programática
contexto da elaboração da lei orçamentária anual ou da abertura Toda ação do Governo está estruturada em programas orienta-
de crédito especial. dos para a realização dos objetivos estratégicos definidos no Plano
Cabe ressaltar que uma unidade orçamentária não correspon- Plurianual (PPA) para o período de quatro anos. Conforme estabe-
de necessariamente a uma estrutura administrativa, como ocorre, lecido no art. 3º da Portaria MOG nº 42/1999, a União, os Estados,
por exemplo, com alguns fundos especiais e com as Unidades Or- o Distrito Federal e os Municípios estabelecerão, em atos próprios,
çamentárias “Transferências a Estados, Distrito Federal e Muni- suas estruturas de programas, códigos e identificação, respeitados
cípios”, “Encargos Financeiros da União”, “Operações Oficiais de os conceitos e determinações nela contidos. Ou seja, todos os entes
Crédito”, “Refinanciamento da Dívida Pública Mobiliária Federal” e devem ter seus trabalhos organizados por programas e ações, mas
“Reserva de Contingência” cada um estabelecerá seus próprios programas e ações de acordo
com a referida Portaria.

111
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
1. Programa - Programa é o instrumento de organização da Cada programa deverá conter, no mínimo, objetivo, indicador
atuação governamental que articula um conjunto de ações que que quantifique a situação que o programa tenha por fim modificar
concorrem para a concretização de um objetivo comum preesta- e os produtos (bens e serviços) necessários para atingir o objetivo.
belecido, mensurado por indicadores instituídos no plano, visan- Os produtos dos programas darão origem aos projetos e atividades.
do à solução de um problema ou ao atendimento de determinada A cada projeto ou atividade só poderá estar associado um produto,
necessidade ou demanda da sociedade. O programa é o módulo que, quantificado por sua unidade de medida, dará origem à meta.
comum integrador entre o plano e o orçamento. O plano termina Os programas serão compostos por atividades, projetos e uma
no programa e o orçamento começa no programa, o que confere nova categoria de programação denominada operações especiais.
a esses instrumentos uma integração desde a origem. O progra- Essas últimas poderão fazer parte dos programas quando enten-
ma age como módulo integrador, e as ações, como instrumentos dido que efetivamente contribuem para a consecução de seus ob-
de realização dos programas. A organização das ações do governo jetivos. Quando não, as operações especiais não se vincularão a
sob a forma de programas visa proporcionar maior racionalidade programas.
e eficiência na administração pública e ampliar a visibilidade dos A estruturação de programas e respectivos produtos, con-
resultados e benefícios gerados para a sociedade, bem como elevar substanciados em projetos e em atividades, está sendo definida no
a transparência na aplicação dos recursos públicos. Cada progra- atual momento, na etapa de validação SOF/SPI e Setoriais, e seu
ma deve conter objetivo, indicador que quantifica a situação que resultado será disponibilizado para que os órgãos setoriais e as uni-
o programa tenha como finalidade modificar e os produtos (bens e dades orçamentárias apresentem as suas propostas orçamentárias.
serviços) necessários para atingir o objetivo. A partir do programa
são identificadas as ações sob a forma de atividades, projetos ou A despesa pública é executada em três estágios: empenho, li-
operações especiais, especificando os respectivos valores e metas quidação e pagamento.
e as unidades orçamentárias responsáveis pela realização da ação.
A cada projeto ou atividade só poderá estar associado um produto, 1º ESTÁGIO – EMPENHO DA DESPESA
que, quantificado por sua unidade de medida, dará origem à meta. - Ordinário – despesas normais
Os programas da União constam no Plano Plurianual e podem ser - Estimativa – despesas variáveis
visualizados no sítio www.planejamento.gov.br. - Global – despesas contratuais e sujeitas a parcelamentos
2. Ação - As ações são operações das quais resultam produtos
(bens ou serviços), que contribuem para atender ao objetivo de um Empenho é o primeiro estágio da despesa e “é o ato emana-
programa. Incluem-se também no conceito de ação as transferên- do de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de
cias obrigatórias ou voluntárias a outros Entes da Federação e a pagamento pendente ou não de implemento de condição”. O em-
pessoas físicas e jurídicas, na forma de subsídios, subvenções, auxí- penho é prévio, ou seja, precede a realização da despesa e está
lios, contribuições e financiamentos, dentre outros. As ações, con- restrito ao limite de crédito orçamentário (art. 59). É vedada a rea-
forme suas características podem ser classificadas como atividades, lização da despesa sem prévio empenho (art. 60). A formalização
projetos ou operações especiais. a) Atividade É um instrumento de do empenho se dá com a emissão do pedido de empenho, pelos
programação utilizado para alcançar o objetivo de um programa, setores competentes, e devidamente autorizados, no Módulo Fi-
envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo nanceiro. A emissão da Nota de Empenho representa uma garantia
contínuo e permanente, das quais resulta um produto ou serviço para o fornecedor ou para o prestador de serviço contratado pela
necessário à manutenção da ação de Governo. Exemplo: “Fiscaliza- Administração Pública de que a parcela referente a seu contrato
ção e Monitoramento das Operadoras de Planos e Seguros Privados foi bloqueada para honrar os compromissos assumidos. Pode-se
de Assistência à Saúde”. b) Projeto É um instrumento de programa- deduzir, portanto, que o orçamento é compromissado através do
ção utilizado para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo empenho. O empenho da despesa é o instrumento de utilização de
um conjunto de operações, limitadas no tempo, das quais resulta créditos orçamentários.
um produto que concorre para a expansão ou o aperfeiçoamento Entende-se por nota de empenho o documento utilizado para
da ação de Governo. Exemplo: “Implantação da rede nacional de fins de registro da operação de empenho de uma despesa. Para
bancos de leite humano”. c) Operação Especial Despesas que não cada empenho será extraída uma nota de empenho, que indicará
contribuem para a manutenção, expansão ou aperfeiçoamento das o nome do credor (beneficiário do empenho), a especificação e a
ações de governo, das quais não resulta um produto, e não gera importância da despesa.
contraprestação direta sob a forma de bens ou serviços.25 O empenho para compras, obras e serviços só pode ser emi-
tido após a conclusão da licitação, salvo nos casos de dispensa ou
Estrutura Programática inexigibilidade, desde que haja amparo legal na legislação que re-
Como já assinalado anteriormente, os programas deixam de gulamenta as licitações (Lei nº 8.666/93). As despesas só podem ser
ter o caráter de classificador e cada nível de governo passará a ter empenhadas até o limite dos créditos orçamentários iniciais e adi-
a sua estrutura própria, adequada à solução dos seus problemas, cionais, e de acordo com o cronograma de desembolso da unidade
e originária do processo de planejamento desenvolvido durante a gestora, devidamente aprovado.
formulação do Plano Plurianual – PPA, ora em fase de elaboração. O empenho deverá ser anulado:
Haverá convergência entre as estruturas do plano plurianual • no decorrer do exercício:
e do orçamento anual a partir do programa, “módulo” comum in- – parcialmente, quando seu valor exceder o montante da des-
tegrador do PPA com o Orçamento. Em termos de estruturação, o pesa realizada; ou – totalmente, quando o serviço contratado não
plano termina no programa e o orçamento começa no programa, o tiver sido prestado, quando o material encomendado não tiver sido
que confere a esses documentos uma integração desde a origem, entregue ou quando o empenho tiver sido emitido incorretamente.
sem a necessidade, portanto, de buscar-se uma compatibilização • no encerramento do exercício, quando o empenho referir-se
entre módulos diversificados. O programa, como único módulo in- a despesas não liquidadas, salvo aquelas que se enquadrarem nas
tegrador, e os projetos e as atividades, como instrumento de reali- condições previstas para a inscrição em restos a pagar.
zação dos programas.
25Fonte: www.eventos.fecam.org.br

112
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
O valor correspondente ao empenho anulado reverte ao cré- Assim a despesa pública é a soma de gastos realizados pelo
dito, tornando-se disponível para novo empenho ou descentraliza- Estado para a realização de obras e para a prestação de serviços
ção, respeitado o regime de exercício. públicos.
Por outro lado, há o entendimento que, por despesa públi-
2º ESTÁGIO – LIQUIDAÇÃO ca deve-se entender a inversão ou distribuição de riqueza que as
A liquidação da despesa consiste na verificação do direito ad- entidades públicas realizam, objetivando a produção dos serviços
quirido pelo credor, tendo por base os títulos e documentos com- reclamados para satisfação das necessidades públicas e para fazer
probatórios do respectivo crédito. em face de outras exigências da vida pública, as quais não são cha-
A liquidação tem por fim apurar: madas propriamente serviços.
- a origem e o objeto do que se deve pagar;
- a importância exata a ser paga e Despesa Pública no Período Clássico e no Período Moderno
- a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obri- No período clássico o Estado realizava o mínimo possível de
gação despesas públicas porque restringia as suas atividades somente ao
desempenho das denominadas atividades essenciais, em razão de
O estágio da liquidação da despesa envolve, portanto, todos os ser encarado apenas como consumidor, deixando a maior parte das
atos de verificação e conferência, desde a entrada do material ou a atividades para o particular.
prestação do serviço até o reconhecimento da despesa. Assim, a despesa pública tinha apenas a finalidade de possibili-
A liquidação da despesa por fornecimentos feitos ou por servi- tar ao Estado o exercício das mencionadas atividades básicas.
ços prestados terá por base: Mas, nos dias de hoje, ocorre uma análise preponderante da
- Contrato, ajuste ou acordo respectivo; natureza econômica das despesas públicas, que são também utili-
- A nota de empenho; zadas para outros fins, como o combate ao desemprego. Em suma,
- Os comprovantes da entrega de material ou da prestação efe- no período clássico das finanças públicas, em razão da prevalência
tiva do serviço. da escola liberal, o Estado procurava comprimir as despesas aos
seus menores limites, e era encarado apenas como consumidor.
3º ESTÁGIO – PAGAMENTO Tal política se devia à absoluta supremacia da iniciativa privada e à
A ordem de pagamento é o despacho exarado pela autoridade teoria da imutabilidade das leis financeiras.
competente determinando que a despesa seja paga. As despesas visavam apenas a cobrir os gastos essenciais do
A ordem de pagamento só poderá ser exarada em documentos governo.
processados pelos serviços de contabilidade. Por outro lado, na concepção moderna das finanças públicas, o
O pagamento da despesa será efetuado por tesouraria ou pa- Estado funciona como um órgão de redistribuição da riqueza, con-
gadoria regularmente instituído por estabelecimentos bancários correndo com a iniciativa privada. O Estado passa a realizar despe-
credenciados, ou em casos excepcionais, por meio de adiantamen- sas que, embora não sejam úteis sob o ponto de vista econômico,
to são úteis sob o ponto de vista da coletividade, como, por exemplo,
Não confundir ordem de pagamento com ordem bancária.A as despesas de guerra, vigendo, pois, hoje, a regra de que a neces-
ordem de pagamento é despacho exarado pela autoridade compe- sidade pública faz a despesa.
tente, determinando que a despesa seja paga. Ordem bancária é o Elementos Da Despesa Pública
documento emitido através do Siaf, que transfere o recurso finan- Os elementos da despesa pública são os seguintes:
ceiro para a conta do credor. a) De natureza econômica: o dispêndio, incidente em um gasto
Vale ressaltar que, a Secretaria do Tesouro Nacional considera, para os cofres do Estado e em consumo para os beneficiados; a
durante o exercício financeiro, a despesa pela sua liquidação, en- riqueza pública, bem econômico, representada pelo acervo origi-
tretanto, para fins de encerramento do exercício financeiro, toda a nário das rendas do domínio privado do Estado e da arrecadação
despesa empenhada e não anulada até 31 de dezembro, será con- dos tributos;
siderada despesa nas demonstrações contábeis. b) De natureza jurídica: a autorização legal dada pelo poder
O exame da despesa pública deve anteceder ao estudo da re- competente para a efetivação da despesa;
ceita pública, pois não pode mais ser compreendida apenas vincu- c) De natureza política: a finalidade de satisfação da necessi-
lada ao conceito econômico privado, isto é, de que a despesa deva dade pública pelo Estado, o que é feita pelo processo do serviço
ser realizada após o cálculo da receita, como ocorre normalmente público, como medida de sua política financeira.
com as empresas particulares.
Aliás, hoje em dia, os particulares recorrem ao empréstimo É universal o princípio de que a escolha do objetivo da despe-
sempre que a receita se apresenta deficiente em relação à despesa. sa pública envolve um ato político, referente à determinação das
O Estado tem como objetivo, no exercício de sua atividade necessidades públicas que deverão ser satisfeitas pelo processo do
financeira, a realização de seus fins, pelo que procura ajustar a re- serviço público.
ceita à programação de sua política, ou seja, a despesa precede a
esta. Tal ocorre porque o Estado cuida primeiro de conhecer as ne- Despesa Pública e a Constituição Federal De 88
cessidades públicas ditadas pelos reclamos da comunidade social, A Constituição de 1988 demonstra que o constituinte se preo-
ao contrário do que acontece com o particular, que regula as suas cupou com o problema do limite da despesa pública.
despesas em face de sua receita. Assim, o art. 169 revela a preocupação do constituinte com a
Deve-se conceituar a despesa pública sob os pontos de vista limitação de despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Es-
orçamentário e científico. tados do Distrito Federal e dos Municípios, que não poderá exceder
Aliomar Baleeiro ensina que a despesa pública, sob o enfoque os limites estabelecidos em lei complementar.
orçamentário, é “a aplicação de certa quantia em dinheiro, por par- “Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos
te da autoridade ou agente público competente, entro de uma au- Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os
torização legislativa, para execução de um fim a cargo do governo”. limites estabelecidos em lei complementar.

113
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
§ 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remu- b) Despesa em natureza, forma que predominava na antiguida-
neração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de de mas que hoje está praticamente abolida, embora ainda ocorra,
estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de como no caso de indenização pela desapropriação de imóvel rural
pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da administra- mediante títulos da dívida pública com cláusula de correção mone-
ção direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas tária (CF, art.184);2)
pelo poder público, só poderão ser feitas:
I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para aten- Quanto ao aspecto econômico em geral
der às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela de- a) Despesa real ou de serviço é a efetivamente realizada pelo
correntes; Estado em razão da utilização de bens e serviços particulares na sa-
II - se houver autorização específica na lei de diretrizes orça- tisfação de necessidades públicas, havendo uma amputação desses
mentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de bens ou serviços do setor privado em proveito do setor público;
economia mista. corresponde, pois, à vida dos serviços públicos e à atividade das
§ 2º Decorrido o prazo estabelecido na lei complementar refe- administrações, caracterizando-se pela contraprestação que é feita
rida neste artigo para a adaptação aos parâmetros ali previstos, se- em favor do Estado;
rão imediatamente suspensos todos os repasses de verbas federais b) Despesa de transferência, que é aquela que é efetivada pelo
ou estaduais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que Estado sem que receba diretamente qualquer contraprestação a
não observarem os referidos limites. seu favor, tendo o propósito meramente redistributivo, já que o
§ 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base dinheiro de uns se transfere para outros, como, por exemplo, no
neste artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida pagamento de pensões e de subvenções a atividades ou empresas
no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios privadas;
adotarão as seguintes providências
I - redução em pelo menos vinte por cento das despesas com Quanto ao ambiente
cargos em comissão e funções de confiança; a) Despesa interna é a feita para atender às necessidades de
II - exoneração dos servidores não estáveis. ordem interna do país e se realiza em moeda nacional e dentro do
§ 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior território nacional;
não forem suficientes para assegurar o cumprimento da determi- b) Despesa externa, que se realiza fora do país, em moeda es-
nação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável trangeira e visa a liquidar dívidas externas;
poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado de cada
um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou uni- Quanto à duração
dade administrativa objeto da redução de pessoal. a) Despesa ordinária, que visa a atender às necessidades pú-
§ 5º O servidor que perder o cargo na forma do parágrafo an- blicas estáveis, permanentes e periodicamente previstas no orça-
terior fará jus a indenização correspondente a um mês de remune- mento, constituindo mesmo uma rotina no serviço público, como,
ração por ano de serviço. por exemplo, a despesa relativa ao pagamento do funcionalismo
§ 6º O cargo objeto da redução prevista nos parágrafos ante- público;
riores será considerado extinto, vedada a criação de cargo, empre- b) Despesa extraordinária, que objetiva satisfazer necessida-
go ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo des públicas acidentais, imprevisíveis e, portanto, não constantes
de quatro anos do orçamento, não apresentando, por outro lado, regularidade em
§ 7º Lei federal disporá sobre as normas gerais a serem obede- sua verificação, e estão mencionadas na Constituição Federal (art.
cidas na efetivação do disposto no § 4º.” 167, §3º) como sendo as despesas decorrentes de guerra, comoção
interna ou calamidade pública, que por serem urgentes e inadiáveis
Por outro lado, a concessão de qualquer vantagem ou aumen- não podem esperar o processo prévio da autorização legal;
to de remuneração, a criação de cargos ou alterações de estruturas c) Despesa especial, que tem por finalidade permitir o aten-
de carreiras, bem como a admissão de pessoal, a qualquer título, dimento de necessidades públicas novas, surgidas no decorrer do
pelos órgãos e entidades da administração direta ou indireta, inclu- exercício financeiro e, portanto, após a aprovação do orçamento,
sive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, só pode- embora não apresentem as características de imprevisibilidade e
rão ser feitas se atendidos os pressupostos constantes dos incisos I urgência; assim, dependem de prévia lei para a sua efetivação, sen-
e II do art. 169 da CF. do de se citar, como exemplo, a despesa que o Estado é obrigado a
Por sua vez, o art. 38 do ADCT estabelece que até “a promulga- fazer em decorrência de sentença judicial;
ção da lei complementar referida no art. 169, a União, os Estados,
o Distrito Federal e os Municípios não poderão despender com o Quanto à importância de que se revestem
pessoal mais do que sessenta e cinco por cento do valor das respec- a) Despesa necessária é aquela intransferível em face da neces-
tivas receitas correntes”. sidade pública, sendo sua efetivação provocada pela coletividade;
O parágrafo único do mesmo art. 38 determina que os mencio- b) Despesa útil é aquela que, embora não seja reclamada pela
nados entes políticos, quando a respectiva despesa de pessoal ex- coletividade e não vise a atender necessidades públicas premen-
ceder o limite previsto no caput do artigo, deverão retornar àquele tes,é feita pelo Estado para produzir uma utilidade à comunidade
limite, reduzindo o percentual excedente à razão de um quinto por social, como as despesas de assistência social; portanto, à luz deste
ano. critério, não se pode falar em despesa inútil, e mesmo as despesas
de guerra podem produzir uma utilidade, como a independência
Espécies De Despesa Pública nacional e a realização de unidade nacional, podendo, inclusive;
esta utilidade ser de caráter econômico, pois o Estado quando evi-
Quanto à forma ta ou limita uma invasão ao seu território, impede ou diminui um
a) Despesa em espécie, que constitui hoje a forma usual de sua prejuízo econômico.
execução, embora, como já se disse anteriormente, ainda existam
alguns serviços públicos que não são remunerados pelo Estado;

114
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Quanto aos efeitos econômicos de direito público ou privado, compreendendo todos os gastos sem
a) Despesa produtiva, que, além de satisfazer necessidades pú- aplicação governamental direta dos recursos de produção nacional
blicas, enriquece o patrimônio do Estado ou aumenta a capacidade de bens e serviços (art. 12, § 2º, Ebert. 13): Subvenções sociais -
econômica do contribuinte, como as despesas referentes à cons- Subvenções econômicas – Inativos – Pensionistas - Salário-família
trução de portos, estradas de ferro, etc.; e Abono familiar - Juros da dívida pública - Contribuições de Previ-
b) Despesa improdutiva é aquela que não gera um benefício de dência Social - Diversas transferências correntes.
ordem econômica em favor da coletividade;
II) Despesas de capital são as que determinam uma modifica-
Quanto à mobilidade ção do patrimônio público através de seu crescimento,sendo, pois,
a) Despesa fixa é aquela que consta do orçamento e é obrigató- economicamente produtivas, e assim se dividem:
ria pela Constituição, não podendo ser alterada a não ser por uma a) Despesas de investimentos são as que não revelam fins re-
lei anterior, e não pode deixar de ser efetivada pelo Estado; produtivos (art. 12, § 42, e art. 13): Obras públicas - Serviços em
b) Despesa variável é aquela que não é obrigatória pela Cons- regime de programação especial - Equipamentos e instalações -
tituição, sendo limitativa, isto é, o Poder Executivo fica obrigado a Material permanente -Participação em constituição ou aumento de
respeitar seu limite, mas não imperativa; daí o Estado ter a faculda- capital de empresas ou entidades industriais ou agrícolas.
de de realizá-la ou não, dependendo de seus critérios administrati- b) Despesas de inversões financeiras são as que correspondem
vo e de oportunidade, sendo de se citar, como exemplo, um auxílio a aplicações feitas pelo Estado e suscetíveis de lhe produzir rendas
pecuniário em favor de uma instituição de caridade, não gerando, (art. 12, § 5º, e art. 13): - Aquisição de imóveis - Participação em
por outro lado, direito subjetivo em favor do beneficiário; constituição ou aumento de capital de empresas ou entidades co-
merciais ou financeiras - Aquisição de títulos representativos de ca-
Quanto à competência pital de empresas em funcionamento - Constituição de fundos rota-
a) Despesa federal, que visa a atender a fins e serviços da União tivos - Concessão de empréstimos - Diversas inversões financeiras.
Federal, em cujo orçamento está consignada; c) Despesas de transferências de capital são as que correspon-
b) Despesa estadual, que objetiva atender a fins e serviços do dem a dotações para investimentos ou inversões financeiras a se-
Estado, estando fixada em seu orçamento; rem realizadas por outras pessoas jurídicas de direito público ou
c) Despesa municipal, que tem por finalidade atender a fins e de direito privado, independentemente de contraprestação direta
serviços do Município, sendo consignada no orçamento municipal; em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou
contribuições, segundo derivem diretamente da lei de orçamento
Quanto ao fim ou de lei especial anterior, bem como dotações para amortização
da dívida pública (art. 12, § 6º, e art. 13):
a) Despesa de governo é a despesa pública própria e verdadei-
- Amortização da dívida pública
ra, pois se destina à produção e à manutenção do serviço público,
- Auxílios para obras públicas
estando enquadrados nesta categoria os gastos com os pagamen-
- Auxílios para equipamentos e instalações
tos dos funcionários, militares, magistrados, etc., à aplicação de ri-
- Auxílios para inversões financeiras
quezas na realização de obras públicas e emprego de materiais de
- Outras contribuições.
serviçoe à conservação do domínio público;
b) Despesa de exercício é a que se destina à obtenção e utili-
Princípios Da Legalidade Da Despesa Pública
zação da receita, como a despesa para a administração do domínio
fiscal (fiscalização de terras, de bosques, das minas, manutenção Noções Gerais
de fábricas, etc.) e para a administração financeira (arrecadação e A despesa pública somente pode ser realizada mediante prévia
fiscalização de receitas tributárias, serviço de dívida pública, com o autorização legal, conforme prescrevem os arts. 165, § 8º, e 167, I,
pagamento dos juros e amortização dos empréstimos contraídos). II, V, VI e VII da Constituição Federal.
Tal regra aplica-se inclusive às despesas que são objeto de cré-
Classificação da Lei nº4.320/64 ditos adicionais e visam a atender a necessidades novas, não previs-
Finalmente, deve ser mencionada a classificação adotada pela tas (créditos especiais), ou insuficientemente previstas no orçamento
Lei nº 4.320, de 17/03/64, que estatui normas de direito financeiro (créditos suplementares), em razão do disposto no art. 167, V, da CF.
para a elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União,
Estados, Municípios e Distrito Federal, tendo a referida lei procedi- As Despesas Ordinárias
do à classificação com base nas diversas categorias econômicas da São aquelas que visam a atender a necessidades públicas está-
despesa pública: veis, permanentes, que têm um caráter de periodicidade, e sejam
previstas e autorizadas no orçamento, como o pagamento do fun-
I) Despesas correntes são aquelas que não enriquecem o patri- cionalismo público.
mônio público e são necessárias à execução dos serviços públicos e Daí, se tais despesas não foram previstas, ou foram insuficien-
à vida do Estado, sendo, assim, verdadeiras despesas operacionais temente previstas, a sua execução dependerá também da prévia
e economicamente improdutivas: autorização do Poder Legislativo.
a) Despesas de custeio são aquelas que são feitas objetivan- Tal exigência justifica-se plenamente, pois caso o Poder Execu-
do assegurar o funcionamento dos serviços públicos, inclusive às tivo pudesse livremente aumentar as despesas a votação do orça-
destinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens mento pelo Poder Legislativo não passaria, segundo Gaston Jèze,
imóveis, recebendo o Estado, em contraprestação, bens e serviços de uma formalidade meramente ilusória.
(art. 12, §12, e art. 13): Pessoal civil - Pessoal militar - Material de
consumo - Serviços de terceiros - Encargos diversos. As Despesas Extraordinárias
b) Despesas de transferências correntes são as que se limitam A exigência da prévia autorização legal não se aplica a estas,
a criar rendimentos para os indivíduos, sem qualquer contrapresta- porque sendo urgentes e imprevisíveis, não admitem delongas na
ção direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e sub- sua satisfação, como as decorrentes de calamidade pública, como-
venções destinadas a atender à manifestação de outras entidades ção interna e guerra externa (CF, art. 167, § 3º).

115
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Nestes casos, a autoridade realizará a despesa, cabendo ao Po- tuações apontadas, cujos objetos já sofreram empenhos no pas-
der Legislativo ratificá-la ou não (Lei nº 4.320/64, art. 44). sado. Quanto às despesas relativas ao mês de janeiro e seguintes,
Observe-se que a autoridade pública deve ter muito cuidado serão empenhadas no elemento de despesa correspondente.
na efetivação de tais despesas, uma vez que ficará sujeita a san- Pode-se citar como exemplo dessa última situação: o caso de
ções, caso realize uma despesa considerando-a como extraordiná- um servidor, cujo filho tenha nascido em setembro e somente re-
ria, sem que a necessidade pública atendida se revista das caracte- quereu o benefício do salário-família em março do ano seguinte.
rísticas exigidas. As despesas referentes aos meses de setembro a dezembro irão à
Como um corolário do princípio da legalidade da despesa pú- conta de despesas de exercícios anteriores, classificados, como de
blica, a autoridade somente pode efetivar a despesa se for compe- transferências correntes; as dos demais meses no elemento de des-
tente para tal e se cinja ao limite e fim previstos na lei. pesa próprio. A promoção de um funcionário com data retroativa e
que alcance anos anteriores ao exercício financeiro, também é caso
Despesas de Exercícios Anteriores de despesa de exercícios anteriores.
O assunto está regulado pelo art. 37 da Lei nº 4.320/64, regu-
lamentada pelo Decreto nº 93.872, de 23/12/86, que incorporou os Formalização
conceitos do Decreto nº 62.115, de 15/01/68. Constituem elementos próprios e essenciais à instrução do
Além desse dispositivo, cada ente da Federação poderá regu- processo relativo a despesas de exercícios anteriores, para fins de
lamentar a matéria visando atender às suas peculiaridades, desde autorização do pagamento:
que, é evidente, observe os limites traçados pelo Diploma Legal. a) nome do credor, CGC/CPF e endereço;
b) importância a pagar;
Conceito c) data do vencimento do compromisso;
Despesas de Exercícios Anteriores são as dívidas resultantes de d) causa da inobservância do empenho prévio de despesa;
compromissos gerados em exercícios financeiros anteriores àque- e) indicação do nome do ordenador da despesa à época do fato
les em que ocorreram os pagamentos. gerador do compromisso; e
O regime de competência exige que as despesas sejam conta- f) reconhecimento expresso do atual ordenador de despesa.
bilizadas conforme o exercício a que pertençam, ou seja, em que
foram geradas. Se uma determinada despesa tiver origem, por Prescrição
exemplo, em 1987 e só foi reconhecida e paga em 1989, a sua con- As dívidas de exercícios anteriores, que dependam de reque-
tabilização deverá ser feita à “Conta de Despesas de Exercícios An- rimento do favorecido, prescrevem em 05 (cinco) anos, contados
teriores” para evidenciar o regime do exercício. da data do ato ou fato que tiver dado origem ao respectivo direito.
O início do período da dívida corresponde à data constante do
Ocorrência fato gerador do direito, não devendo ser considerado, para fins de
Poderão ser pagas à conta de despesas de exercício anteriores, prescrição quinquenal, o tempo de tramitação burocrática e o de
mediante autorização do ordenador de despesa, respeitada a cate- providências administrativas a que estiver sujeito o processo.
goria econômica própria:
a) as despesas de exercícios encerrados, para as quais o orça- Consoante doutrina dominante, o dispositivo em causa foi in-
mento respectivo consignava crédito próprio com saldo suficiente serido no texto da referida lei a fim de se tentar coibir a prática
para atendê-las, que não se tenham processado na época própria; (comum entre nós) de, a cada virada de mandato, os governantes
assim entendidas aquelas cujo empenho tenha sido considerado transferirem para seus sucessores dívidas constituídas no último
insubsistente e anulado no encerramento do exercício correspon- ano de seus mandatos. A partir da Lei de Responsabilidade Fiscal,
dente, mas que, dentro do prazo estabelecido, o credor tenha cum- mencionada prática, a princípio, deveria ter sido obstada ante à
prido sua obrigação; proibição legal. Dizemos “deveria” porque o que se observa é que
b) os restos a pagar com prescrição interrompida; retomando a muitos governantes, a fim de fugirem ao regramento em referên-
situação descrita no item precedente, na hipótese de o administra- cia, passaram a incorporar a prática (nociva) de cancelar os em-
dor público, entretanto, optar por manter o empenho correspon- penhos emitidos em sua gestão deixando tão-somente, no último
dente, inscrevendo-o em restos a pagar, também é possível, por ano de seus mandatos, aqueles com suficiente disponibilidade fi-
razões diversas, que o fornecedor não implemente a prestação que nanceira. Com tal prática, acabam “atendendo” ao comando legal,
se obrigou durante todo o transcorrer do exercício seguinte. Nessa mas continuando a transferir as dívidas por eles constituídas a seus
hipótese, o administrador público poderá cancelar o valor inscrito. sucessores.
Se assim ocorrer, o valor que vier a ser reclamado no futuro
pelo fornecedor, também poderá ser reempenhado à conta de Des- SUPRIMENTO DE FUNDOS
pesas de Exercícios Anteriores ; e O suprimento de fundos (também denominado de regime de
c) os compromissos decorrentes de obrigação de pagamento adiantamento) é caracterizado por ser um adiantamento de valores
criada em virtude de lei e reconhecidos após o encerramento do a um servidor para futura prestação de contas. Esse adiantamento
exercício - em dadas situações, alguns compromissos são reconhe- constitui despesa orçamentária, ou seja, para conceder o recurso
cidos pelo administrador público após o término do exercício em ao suprido é necessário percorrer os três estágios da despesa orça-
que foram gerados. Um bom exemplo dessas situações é o caso mentária: empenho, liquidação e pagamento.
de um servidor público cujo filho tenha nascido em dezembro de Apesar disso, não representa uma despesa pelo enfoque pa-
um ano qualquer mas que somente veio a solicitar o benefício do trimonial, pois no momento da concessão não ocorre redução no
salário-família em janeiro do ano subsequente. Para proceder ao patrimônio líquido. Na liquidação da despesa orçamentária, ao
pagamento das despesas relativas ao mês de dezembro, é preci- mesmo tempo em que ocorre o registro de um passivo, há também
so, primeiramente, reconhecê-las e, após, empenhá-las à conta de a incorporação de um ativo, que representa o direito de receber um
Despesas de Exercícios Anteriores. Tais despesas, portanto, sofrem bem ou serviço, objeto do gasto a ser efetuado pelo suprido, ou a
o empenho pela primeira vez, diferentemente das outras duas si- devolução do numerário adiantado.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
O artigo 37 da Lei nº 4.320/64 dispõe que as despesas de exer- a necessidade imperiosa de contratação do serviço, encontrando
cícios encerrados, para as quais o orçamento respectivo consignava o seu limite para cada comprovante de despesa no valor de R$-
crédito próprio, com saldo suficiente para atendê-las, que não se 200,00.
tenham processado na época própria, bem como os Restos a Pa- Sendo assim, o suprimento de fundos é um instrumento de
gar com prescrição interrompida e os compromissos reconhecidos exceção ao qual pode recorrer o Ordenador de Despesas, em situa-
após o encerramento do exercício correspondente poderão ser pa- ções que não permitam o processo normal de execução da despe-
gos à conta de dotação específica consignada no orçamento, discri- sa pública, isto é, licitação, dispensa ou inexigibilidade, empenho,
minada por elementos, obedecida, sempre que possível, a ordem liquidação e pagamento, Por isso, é recomendável muita prudência
cronológica. na sua concessão, no sentido de evitar a generalização do seu uso.
O reconhecimento da obrigação de pagamento das despesas
com exercícios anteriores cabe à autoridade competente para em- b) Não se concederá suprimento de fundos:
penhar a despesa. I. A responsável por dois suprimentos;
As despesas que não se tenham processado na época própria II. A servidor que tenha a seu cargo a guarda ou utilização do
são aquelas cujo empenho tenha sido considerado insubsistente e material a adquirir, salvo quando não houver na repartição outro
anulado no encerramento do exercício correspondente, mas que, servidor;
dentro do prazo estabelecido, o credor tenha cumprido sua obri- III. A responsável por suprimento de fundos que, esgotado o
gação. Os restos a pagar com prescrição interrompida são aqueles prazo, não tenha prestado contas de sua aplicação; e
cancelados, mas ainda vigente o direito do credor. IV. A servidor declarado em alcance.
Os compromissos reconhecidos após o encerramento do exer-
cício são aqueles cuja obrigação de pagamento foi criada em virtu- Quando do seu uso, é necessário observar o seguinte:
de de lei, mas somente reconhecido o direito do reclamante após o A) NA AQUISIÇÃO DE MATERIAL DE CONSUMO
encerramento do exercício correspondente. - Inexistência de fornecedor contratado/registrado. Atualmen-
Portanto, Suprimento de Fundos consiste na entrega de nu- te, com a possibilidade de registrar-se preços - Ata de Registro de
merário a servidor, sempre precedida de empenho na dotação Preços, é possível ter fornecedores registrados para a grande maio-
própria, para o fim de realizar despesas que não possam subordi- ria das necessidades de material de consumo da unidade;
nar-se ao processo normal de aplicação. Os artigos 68 e 69 da Lei - Se não se trata de aquisições de um mesmo objeto, passíveis
nº 4.320/1964 definem e estabelecem regras gerais de observância de planejamento, e que ao longo do exercício possam vir a ser ca-
obrigatória para a União, Estados, Distrito Federal e Municípios apli- racterizadas como fracionamento de despesa e, consequentemen-
cáveis ao regime de adiantamento. Segundo a Lei nº 4.320/1964, te, como fuga ao processo licitatório; e
não se pode efetuar adiantamento a servidor em alcance e nem a - Se as despesas a serem realizadas estão vinculadas às ativi-
responsável por dois adiantamentos. dades da unidade e, como é óbvio, se servem ao interesse público.
Por servidor em alcance, entende-se aquele que não efetuou,
no prazo, a comprovação dos recursos recebidos ou que, caso te- B) NA CONTRATAÇÃO DE SERVIÇOS
nha apresentado a prestação de contas dos recursos, a mesma te- - Inexistência de cobertura contratual;
nha sido impugnada total ou parcialmente. - Se não se trata de contratações de um mesmo objeto, pas-
Cada ente da federação deve regulamentar o seu regime de síveis de planejamento, e que ao longo do exercício possam vir a
adiantamento, observando as peculiaridades de seu sistema de ser caracterizadas como fracionamento de despesa e, consequen-
controle interno, de forma a garantir a correta aplicação do dinhei- temente, como fuga ao processo licitatório; e
ro público. Destacam-se algumas regras estabelecidas para esse - Se as despesas a serem realizadas estão vinculadas às ativi-
regime: dades da unidade e, como é óbvio, se servem ao interesse público;
a) O suprimento de fundos deve ser utilizado nos seguintes ca-
sos: C) LIMITES PARA CONCESSÃO
- Para atender despesas de pequeno vulto. (item I, do art. 2º do Os limites para concessão de Suprimento de Fundos são os se-
Decreto Estadual nº 1.180/08); guintes, de acordo com o Decreto Estadual nº 1.180/08:
- Para atender despesas eventuais, inclusive em viagens e com
serviços especiais, que exijam pronto pagamento em espécie. (item
II, do art. 2º do Decreto Estadual nº 1.180/08); VALOR (EM
TIPO DE DESPESA DISPOSITIVO LEGAL
- Para atender despesas de caráter secreto ou reservado, reali- R$)
zadas pela Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Estado de Art. 2º, item I, §1º,
Até 2.000,00 Pequeno Vulto
Justiça e Direitos Humanos, pelo Gabinete da Governadoria ou pela alínea “a”.
Casa Militar, conforme dispuser regulamento. (item II, do art. 2º do
Art. 2º, item I, §1º,
Decreto Estadual nº 1.180/08). Até 4.000,00 Despesas Eventuais
alínea “b”.
Despesas de pequeno vulto devem ser entendidas como des-
pesas não rotineiras ou normais, cujo valor do suprimento não D) PRAZO PARA APLICAÇÃO E PRESTAÇÃO DE CONTAS
poderá exceder a R$-2.000,00(dois mil reais) e cujo comprovante Para prestação de contas do Suprimento de Fundos o prazo é
de despesa não poderá ultrapassar o valor de R$-200,00(duzentos de até15(quinze) dias após o período de aplicação.
reais), consoante preveem as alíneas “a” e “b” do §1º do art. 2º do
Decreto Estadual nº 1.180/08, como por exemplo gastos com pos- NOTA: Os suprimentos de fundos concedidos no mês de de-
tagem e autenticação de documentos, reconhecimento de firmas, zembro devem ser aplicados até o dia 31 deste mês, não podendo
confecção de carimbos, pequenos reparos etc., desde que não aco- em nenhuma hipótese ser utilizados no exercício financeiro seguin-
bertados por contratos. te. A recomendação é que, caso haja saldo, o suprido o deposite
É importante esclarecer que quando se solicita suprimento na conta da instituição, sob pena de ter que devolver o numerário
de fundos para pagamento de despesas de pequeno vulto deve- gasto em desacordo com a legislação.
-se sempre atestar a falta momentânea dos materiais a adquirir ou

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
E) FORMA DE CONCESSÃO f) Cópia da Guia de Recolhimento (GR) do saldo não aplicado
Será concedido através de Portaria assinada pelo Ordenador (se houver).
de Despesas e publicada no Diário Oficial do Estado, emitida em
nome do servidor sempre precedida de Nota de Empenho, onde É importante frisar que os documentos fiscais deverão obser-
irá constar o nome completo, posto ou graduação, cargo ou fun- var ainda as seguintes exigências:
ção e matrícula do suprido; destinação ou a finalidade da despesa a) Serem emitidos em nome da UEPA por quem forneceu o ma-
a realizar; o valor do suprimento, em algarismos e por extenso, da terial ou prestou o serviço;
importância a ser entregue; a classificação funcional e a natureza b) Serem obrigatoriamente emitidos sempre igual ou posterior
de despesa; prazo de aplicação e prestação de contas. à data da concessão do suprimento de fundos;
c) Conterem o detalhamento do material fornecido ou do ser-
F) ELEMENTOS DE DESPESA QUE PODEM SER UTILIZADOS viço prestado (discriminação da quantidade de produto ou serviço),
O suprimento de fundos será concedido nos seguintes elemen- evitando generalizações ou abreviaturas que impeçam o conheci-
tos de despesa: mento da natureza das despesas e da unidade fornecida.
3390.30 – Material de Consumo;
3390.36 – Serviços de Terceiros/Pessoa Física; I) ATESTO DOS COMPROVANTES DE DESPESAS
3390.39 – Serviços de Terceiros/Pessoa Jurídica; Para comprovar o efetivo recebimento do material e da pres-
339033 – Passagem e Locomoção. tação de serviço no que concerne à quantidade e à qualidade ad-
quirida, os comprovantes de despesas deverão ser atestados por
NOTA: A aplicação de suprimentos de fundos em elemento servidor suficientemente identificado (cargo, função, assinatura
de despesa diverso dos que foram citados acima, como, por exem- legível) que não seja necessariamente o suprido.
plo, para aquisição de Equipamentos ou Material Permanente
(339052) constitui irregularidade insanável, estando o suprido obri- J) IRREGULARIDADES NA APLICAÇÃO
gado a devolver o recurso gasto incorretamente. Por isso, quando o São consideradas irregularidades na aplicação e comprovação
suprido esteja em dúvida quanto à classificação correta do material de recursos liberados a título de suprimento de fundos:
a adquirir, recomendamos que antes de realizar a compra, procure a) Qualquer despesa realizada anteriormente ou posterior ao
obter informações junto à Coordenação de Prestação de Contas – prazo de aplicação;
CPC, ao Departamento de Administração de Recursos Materiais – b) Quando forem aplicados em projeto ou atividade incompa-
DARM ou à Coordenação de Controle Interno. tíveis com a finalidade de sua concessão;
Da mesma forma terá a prestação de contas impugnada, isto é, c) Quando forem aplicados em desacordo com o elemento de
considerada IRREGULAR, não sujeita à aprovação pelo Ordenador despesa especificado no ato da concessão e na Nota de Empenho;
de Despesas, o suprido que utilizar recurso de uma rubrica para d) Quando aplicado em outro exercício financeiro do ato con-
pagamento de produto ou serviço classificado em outra. Por exem- cessivo;
plo, utilizar recurso da rubrica 339039(Serviços de Terceiro Pessoa e) Quando constatado o parcelamento de despesa na aplica-
Jurídica) pagar despesas classificadas na rubrica339030 (Material ção do numerário, ou seja, a soma das Notas Fiscais com o mesmo
de Consumo). Portanto, a recomendação é que se evite terminan- objeto;
temente este tipo de prática. f) Realizar os pagamentos que não seja em dinheiro e à vista,
dada a vedação legal para aquisição/contratação a prazo.
G) SERVIDOR IMPEDIDO DE RECEBER
a) Responsável por dois Suprimentos de Fundos ainda não Se configurada alguma das situações acima previstas, o suprido
comprovados; terá que devolver o numerário gasto em desacordo com as normas
b) Declarado em alcance, assim entendido aquele que tenha legais, independentemente de outras sanções disciplinares cabí-
cometido apropriação indevida, extravio, desvio ou falta verifica- veis.
da na prestação de contas, de dinheiro ou valores confiados à sua
guarda; Registro de passivos sem execução orçamentária
c) Que esteja respondendo a inquérito administrativo; A característica fundamental da despesa orçamentária é de
d) Que exerça as funções de Ordenador de Despesas; ser precedida de autorização legislativa, por meio do orçamento.
e) Responsável pelo setor financeiro; A Constituição Federal veda, no inciso II do artigo 167, a reali-
f) Que esteja de licença, férias ou afastado. zação de despesas ou a assunção de obrigações diretas que exce-
dam os créditos orçamentários ou adicionais.
H)DOCUMENTOS QUE DEVEM COMPOR A PRESTAÇÃO DE Não obstante a exigência constitucional, para evidenciar a real
CONTAS situação patrimonial da entidade, todos os fatos devem ser regis-
O processo de comprovação de suprimento de fundos deve ser trados na sua totalidade e no momento em que ocorrerem.
organizado com os documentos comprobatórios da efetivação da Assim, mesmo pendente de autorização legislativa, deve haver
despesa em ordem cronológica e com a rubrica do responsável pelo o reconhecimento de obrigação pelo enfoque patrimonial no mo-
referido suprimento, contendo as seguintes peças e nesta ordem: mento do fato gerador, observando-se o regime de competência e
a) Memorando de encaminhamento da prestação de contas; da oportunidade da despesa, conforme estabelece a Resolução do
b) Cópia da Portaria de concessão do Suprimento de Fundos; Conselho Federal de Contabilidade nº 750/93 que trata dos Princí-
c) Cópia da Ordem de Saque ou do extrato bancário; pios Fundamentais de Contabilidade. Como apresentado no início
d) Demonstrativos de Comprovação do Suprimento de Fundos, deste Manual, o Princípio da Competência estabelece que as des-
preenchidos de acordo com o elemento de despesa; pesas deverão ser incluídas na apuração do resultado do período
e) Originais dos documentos comprobatórios da despesa (No- em que ocorrerem, independentemente do pagamento e o Princí-
tas Fiscais de vendas, Notas Fiscais de prestação de serviços – pes- pio da Oportunidade dispõe que os registros no patrimônio e das
soa jurídica, faturas e recibos de pessoas físicas) sem emendas, ra- suas mutações devem ocorrer de imediato e com a extensão corre-
suras, acréscimos ou entrelinhas; ta, independentemente das causas que as originaram.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
O momento de reconhecimento da despesa por competência coma obrigação de pagar sob pena de estar deixando de cumprir os
também foi adotado pela Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, no Princípios da Moralidade que rege a Administração Pública e está
inciso II, do artigo 50, reforçando entendimento patrimonialista so- previsto no artigo 37 da Constituição Federal, abaixo transcrito.
bre a utilização da ocorrência do fato gerador como o momento O cancelamento caracteriza, inclusive, forma de enriquecimen-
determinante para o registro da despesa. to ilícito, conforme Parecer nº 401/2000 da Procuradoria-Geral da
A LRF também determina que o Anexo de Metas Fiscais de- Fazenda Nacional.
monstre a real evolução do patrimônio líquido do exercício e dos “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qual-
últimos três. quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Para que essa informação seja útil e confiável é necessário que Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalida-
os lançamentos observem os Princípios Fundamentais de Contabi- de, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte”.
lidade.
Portanto, ocorrendo o fato gerador de uma despesa e não ha- Somente poderão ser inscritas em Restos a Pagar as despesas
vendo dotação no orçamento, a contabilidade, em observância aos de competência do exercício financeiro, considerando-se como
Princípios Fundamentais de Contabilidade e às legislações citadas, despesa liquidada aquela em que o serviço, obra ou material con-
deverá registrá-la no sistema patrimonial. tratado tenha sido prestado ou entregue e aceito pelo contratante,
O reconhecimento dessa despesa ocorrerá com a incorporação e não liquidada, mas de competência do exercício, aquela em que o
de passivo em contrapartida ao registro no Sistema Patrimonial de serviço ou material contratado tenha sido prestado ou entregue e
variação passiva. que se encontre, em 31 de dezembro de cada exercício financeiro,
Ressalta-se que esse passivo pertence ao Sistema Patrimonial, em fase de verificação do direito adquirido pelo credor ou quando
portanto depende de autorização legislativa para amortização. o prazo para cumprimento da obrigação assumida pelo credor es-
No momento do registro da despesa orçamentária, o passivo tiver vigente.
patrimonial deve ser baixado em contrapartida de variação ativa Observando-se o Princípio da Anualidade Orçamentária, as
patrimonial. Simultaneamente, ocorre o registro de passivo cor- parcelas dos contratos e convênios somente deverão ser empe-
respondente no Sistema Financeiro em contrapartida da despesa nhadas e contabilizadas no exercício financeiro se a execução for
orçamentária, em substituição ao passivo do Sistema Patrimonial. realizada até 31 de dezembro ou se o prazo para cumprimento da
Logo, tendo ocorrido a contraprestação de bens e serviços ou obrigação assumida pelo credor estiver vigente.
qualquer outra situação que enseje obrigação a pagar para uma As parcelas remanescentes deverão ser registradas nas Contas
determinada unidade gestora, mesmo sem previsão orçamentária, de Compensação e incluídas na previsão orçamentária para o exer-
esta deverá registrar o passivo correspondente, sem prejuízo das cício financeiro em que estiver prevista a competência da despesa.
possíveis responsabilidades e providências previstas na legislação, A inscrição de despesa em Restos a Pagar não processados é
inclusive as citadas pela Lei de Crimes Fiscais. procedida após a depuração das despesas pela anulação de empe-
nhos, no exercício financeiro de sua emissão, ou seja, verificam-se
Caso o crédito orçamentário conste em orçamento de exer- quais despesas devem ser inscritas em Restos a Pagar, anulam-se
cício posterior à ocorrência do fato gerador da obrigação, deverá as demais e inscrevem-se os Restos a Pagar não processados do
ser utilizada natureza de despesa com elemento 92 – Despesas de exercício.
Exercícios Anteriores, em cumprimento à Portaria Interministerial No momento do pagamento de Restos a Pagar referente à des-
STN/SOF nº 163/01 e ao artigo 37 da Lei nº4.320/1964, que dispõe: pesa empenhada pelo valor estimado, verifica-se se existe diferen-
“Art. 37.As despesas de exercícios encerrados, para os quais o ça entre o valor da despesa inscrita e o valor real a ser pago; se
orçamento respectivo consignava crédito próprio, com saldo sufi- existir diferença, procede-se da seguinte forma:
ciente para atendê-las, que não se tenham processados na época Se o valor real a ser pago for superior ao valor inscrito, a di-
própria, bem como os Restos a Pagar com prescrição interrom- ferença deverá ser empenhada a conta de despesas de exercícios
pida e os compromissos reconhecidos após o encerramento do anteriores;
exercício correspondente, poderão ser pagos à conta de dotação Se o valor real for inferior ao valor inscrito, o saldo existente
específica consignada no orçamento, discriminada por elemento, deverá ser cancelado.
obedecida, sempre que possível, a ordem cronológica.” A inscrição de Restos a Pagar deve observar aos limites e condi-
A falta de registro de obrigações oriundas de despesas já in- ções de modo a prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar
corridas resultará em demonstrações incompatíveis com as normas o equilíbrio das contas públicas, conforme estabelecido na Lei de
de contabilidade, além da geração de informações incompletas em Responsabilidade Fiscal – LRF.
demonstrativos exigidos pela LRF, a exemplo do Demonstrativo da A LRF determina ainda, em seu artigo 42, que qualquer despe-
Dívida Consolidada Líquida, tendo como consequência análise dis- sa empenhada nos últimos oito meses do mandato deve ser total-
torcida da situação fiscal e patrimonial do ente. mente paga no exercício, acabando por vetar sua inscrição ou parte
dela em Restos a Pagar, a não ser que haja suficiente disponibilida-
RESTOS A PAGAR de de caixa para viabilizar seu correspondente pagamento.
No final do exercício, as despesas orçamentárias empenhadas Observa-se que, embora a Lei de Responsabilidade Fiscal não
e não pagas serão inscritas em Restos a Pagar e constituirão a Dí- aborde o mérito do que pode ou não ser inscrito em Restos a Pagar,
vida Flutuante. veda contrair obrigação no último ano do mandato do governante
Podem-se distinguir dois tipos de Restos a Pagar, os Processa- sem que exista a respectiva cobertura financeira, eliminando desta
dos e os Não processados. forma as heranças fiscais, conforme disposto no seu artigo 42:
Os Restos a Pagar Processados são aqueles em que a despesa “Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no
orçamentária percorreu os estágios de empenho e liquidação, res- art. 20, nos últimos dois quadrimestres do seu mandato, contrair
tando pendente, apenas, o estágio do pagamento. obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente
Os Restos a Pagar Processados não podem ser cancelados, dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício se-
tendo em vista que o fornecedor de bens/serviços cumpriu com a guinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este
obrigação de fazer e a administração não poderá deixar de cumprir efeito.

119
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Parágrafo único. Na determinação da disponibilidade de cai- (3). Ao efetuar o pagamento de parte da despesa liquidada o
xa serão considerados os encargos e despesas compromissadas a saldo na conta movimento diminuirá no mesmo valor da diminui-
pagar até o final do exercício.” ção do passivo.
(4). Registrando de forma simplificada as operações na conta-
É prudente que a inscrição de despesas orçamentárias em Res- bilidade do ente teríamos a seguinte apresentação das contas num
tos a Pagar não processados observe a disponibilidade de caixa e a balancete
competência da despesa.
Reconhecimento da despesa orçamentária inscrita em restos a 2 – PASSIVO
pagar não processados no encerramento do exercício. Fornecedores – 700 (C) (3)
A norma legal estabeleceu que, no encerramento do exercício, 1 – ATIVO
400 (D) (4)
a parcela da despesa orçamentária que se encontrar em qualquer Conta Movimento – 1.000 (D) (1)
Saldo –300 (C)
fase de execução posterior à emissão do Empenho e anterior ao 400 (C) (4)
2.9 – PASSIVO COMPENSA-
Pagamento será considerada restos a pagar. Saldo – 600 (D)
DO
O raciocínio implícito na lei é de que a receita orçamentária 1.9 – ATIVO COMPENSADO
a ser utilizada para pagamento da despesa empenhada em deter- Empenhos a Liquidar – R$ 900
Crédito Disponível – R$900
minado exercício já foi arrecadada ou ainda será arrecadada no (C) (2)
(D) (2)
mesmo ano e estará disponível no caixa do governo ainda neste 3 – DESPESA
4 – RECEITA
exercício. Despesa Corrente – 700 (D) (3)
Receitas Tributárias – 1.000
Logo, como a receita orçamentária que ampara o empenho Total 2.200 (C) (1+2+3+4)
(C) (1)
pertence ao exercício e serviu de base, dentro do princípio orça- Total 2.200 (D) (1+2+3+4)
mentário do equilíbrio, para a fixação da despesa orçamentária au-
torizada pelo congresso, a despesa que for empenhada com base Se ao final do exercício somente existiram essas operações se-
nesse crédito orçamentário também deverá pertencer ao exercício. rão inscritos em restos a pagar a despesa empenhada e não paga
Supondo que determinada receita tenha sido arrecadada e ($900-$400), separando-se a liquidada da não liquidada.
permaneça no caixa, portanto, integrando o ativo financeiro do Assim o total de restos a pagar inscrito será de $500, sendo
ente público no final do exercício. $300 ($700-400) referente a restos a pagar processados (liquida-
Existindo concomitantemente uma despesa empenhada, que dos) e $200 ($900-$700) restos a apagar não processado (liquida-
criou para o estado uma obrigação pendente do cumprimento do do).
programo de condição, terá que ser registrada também numa con- Os restos apagar processado já está registrado no passivo fi-
ta de passivo financeiro, senão o ente público estará apresentando nanceiro em contrapartida da despesa ($700), resta agora registrar
em seu balanço patrimonial, ao final do exercício, superávit finan- a inscrição de restos a pagar não processado.
ceiro (ativo financeiro – passivo financeiro), que poderia ser objeto Verifica-se que na situação anterior ao momento da inscrição
de abertura de crédito adicional no ano seguinte na forma prevista dos restos a pagar, o ente está apresentando um superávit finan-
na lei. ceiro (ativo financeiro - passivo financeiro) de $300 ($600-$300),
No entanto, a receita que permaneceu no caixa na virada do pois possui saldo na conta movimento de $600 e passivo com for-
exercício já está comprometida com o empenho que foi inscrito em necedores de $300. No entanto, do total empenhado ($900) per-
restos a pagar e, portanto, não poderia ser utilizada para abertura manecem ($200) que ainda não foram liquidados até o final do
de novo crédito. exercício, mas que tem um compromisso assumido entre o ente e
Dessa forma, o registro do passivo financeiro é inevitável, mes- o fornecedor.
mo não se tratando de um passivo consumado, pois falta o cum- Assim, o superávit financeiro real não é de $300, mas de $100,
primento do programo de condição, mas por força do artigo 35 da pois parte do saldo de caixa está comprometido com o empenho que
Lei 4.320/1964 e da apuração do superávit financeiro tem que ser está a liquidar. Dessa forma, a contabilidade deve reconhecer um pas-
registrado. sivo financeiro quando da inscrição do resto a pagar não processado,
Assim, suponha os seguintes fatos a serem registrados na con- em contrapartida de despesa, como foi explicado anteriormente.
tabilidade de um determinado ente público:
1) recebimento de receitas tributárias no valor de $1000 uni-
dades monetárias 1. ATIVO 2. PASSIVO 300 (C)
2) empenho da despesa no valor de $900 unidades monetárias 600 (C) 200 (C)
3) liquidação de despesa corrente no valor de $ 700 unidades Conta Movi- Fornecedores 500(C)
monetárias mento (5) Saldo
4) pagamento da despesa no valor de $ 400 900 (C)
5) inscrição de restos a pagar, sendo $300 de restos a pagar 1.9 Ativo Com- 2.9 Passivo 900 (D)
processado ($700-$400) e $200de restos a apagar não processado pensado Compensado
($900-700). 700 (D)
Empenhos a 200 (D) Crédito Dispo-
O ingresso no caixa será registrado no sistema financeiro em Liquidar 900 (D) nível 1.000 (C)
contrapartida de receita orçamentária.
(1). O empenho da despesa é um ato que potencialmente po- 3. Despesa 4 -Receita
derá afetar o patrimônio após o cumprimento do implemento de Despesa Cor- 2400 (D) Receitas Tribu-
condição e a verificação do direito adquirido pelo credor,devendo rente tárias
então ser registrado no ativo e passivo compensado (5) Total
(2).O reconhecimento da despesa orçamentária ao longo do Saldo
exercício deve ser realizado no momento da liquidação, em contra-
partida da assunção de uma obrigação a pagar (passivo) Total

120
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
(5) Agora, após o lançamento da inscrição do restos a pagar O Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, que promo-
não processado o superávit financeiro será de $100 (Saldo Conta veu a organização da Administração Federal e estabeleceu as dire-
Movimento – Saldo Fornecedores), ou seja, a contabilidade infor- trizes para Reforma Administrativa, determinou ao Ministério da
ma para o gestor que somente $100 unidades monetárias estão Fazenda que implementasse a unificação dos recursos movimen-
livres para consecução de novas despesas, a partir da abertura de tados pelo Tesouro Nacional, através de sua Caixa junto ao agente
novos créditos orçamentários, pois o empenho não liquidado é um financeiro da União, de forma a garantir maior economia operacio-
compromisso assumido que só depende agora do cumprimento nal e a racionalização dos procedimentos relativos a execução da
do implemento de condição por parte do fornecedor, que quan- programação financeira de desembolso.
do acontecer deverá ser reconhecido pela entidade e registrado na Tal determinação legal só foi integralmente cumprida com a
contabilidade para posterior pagamento com a receita ingressada promulgação da Constituição de 1988, quando todas as disponibili-
no ano anterior, ou seja, no mesmo exercício da despesa. dades do Tesouro Nacional, existentes nos diversos agentes finan-
ceiros, foram transferidas para o Banco Central do Brasil, em Conta
O Balanço Financeiro simplificado ao final do exercício em Única centralizada, exercendo o Banco do Brasil a função de agente
cumprimento ao artigo 103 da Lei4.320/1964 será: financeiro do Tesouro.
As regras dispondo sobre a unificação dos recursos do Tesou-
INGRESSOS 1.000 DISPÊNDIOS 400 ro Nacional em Conta Única foram estabelecidas pelo Decreto nº.
500 93.872, de 23 de dezembro de 1986.
Receita Orça- 300 Despesa Orça-
mentária (Saldo 200 mentária
Atual) (Saldo Atual) MANUAL DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR
600 PÚBLICO (MCASP) 9ª ED. PARTE I - PROCEDIMENTOS
Inscrição de Restos 0 Paga CONTÁBEIS ORÇAMENTÁRIOS - APROVADA PELA POR-
A Pagar (Saldo Não Paga TARIA CONJUNTA STN/SOF/ME Nº 117, DE 28 DE OU-
Atual) 1.500 TUBRO DE 2021
1.500 Disponível
Processados (For- saldo atual
necedor) Prezado Candidato, devido ao formato do material disponibi-
Não processados Total lizaremos o conteúdo para estudo na “Área do cliente” em nosso
site.
Disponível (Saldo Disponibilizamos o passo a passo no índice da apostila.
Anterior)

Total NOÇÕES DE LICITAÇÃO PÚBLICA: FASES, MODALIDA-


DES, DISPENSA E INEXIGIBILIDADE 
Ao determinar que, no final do exercício, fosse reconhecida
como despesa orçamentária aquela empenhada, independente-
mente de sua liquidação, observa-se claramente que o legislador Princípios
deu mais importância ao princípio da legalidade da despesa e da Diante do cenário atual, pondera-se que ocorreram diversas
anualidade do Orçamento, em detrimento do registro da despesa mudanças na Lei de Licitações. Porém, como estamos em fase
sob o regime da competência restrita. de transição em relação às duas leis, posto que nos dois primei-
Porém, para atender ao Princípio da Competência e aos Prin- ros anos, as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na
cípios da Legalidade da Despesa e da Anualidade do Orçamento, aplicação para processos que começaram na Lei anterior, deverão
é necessário fazer alguns ajustes no encerramento do exercício, a continuar a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que
saber: começarem após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos
Com o objetivo de evitar demonstrar um superávit financeiro com a aplicação da nova Lei.
inexistente, que pode ser utilizado para abertura de créditos adicio- Aprovada recentemente, a Nova Lei de Licitações sob o nº.
nais sem lastro, comprometendo a situação financeira do ente, é 14.133/2.021, passou por significativas mudanças, entretanto, no
recomendável que se proceda a execução da despesa orçamentária que tange aos princípios, manteve o mesmo rol do art. 3º da Lei nº.
mesmo faltando o cumprimento do implemento de condição. 8.666/1.993, porém, dispondo sobre o assunto, no Capítulo II, art.
Tal procedimento é concebido mediante o registro da despesa 5º, da seguinte forma:
orçamentária em contrapartida com uma conta de passivo no sis- Art. 5º Na aplicação desta Lei, serão observados os princípios
tema financeiro. Observa-se que tal registro criou um passivo “fic- da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade,
tício” e, portanto, deve-se registrar, simultaneamente, uma conta da eficiência, do interesse público, da probidade administrativa,
redutora deste passivo, no sistema patrimonial. da igualdade, do planejamento, da transparência, da eficácia, da
segregação de funções, da motivação, da vinculação ao edital, do
CONTA ÚNICA DO TESOURO julgamento objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da
A Conta Única do Tesouro Nacional, mantida no Banco Central competitividade, da proporcionalidade, da celeridade, da economi-
do Brasil, acolhe todas as disponibilidades financeiras da União, in- cidade e do desenvolvimento nacional sustentável, assim como as
clusive fundos, de suas autarquias e fundações. disposições do Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1.942, (Lei
Constitui importante instrumento de controle das finanças pú- de Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
blicas, uma vez que permite a racionalização da administração dos O objetivo da Lei de Licitações é regular a seleção da proposta
recursos financeiros, reduzindo a pressão sobre a caixa do Tesouro, que for mais vantajosa para a Administração Pública. No condizente
além de agilizar os processos de transferência e descentralização à promoção do desenvolvimento nacional sustentável, entende-se
financeira e os pagamentos a terceiros.

121
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
que este possui como foco, determinar que a licitação seja destina- o mesmo significado, ao passo que outros procuram diferenciar
da com o objetivo de garantir a observância do princípio constitu- os conceitos. O que perdura, é que, ao passo que a moralidade é
cional da isonomia. constituída em um conceito vago e sem definição legal, a probidade
Denota-se que a quantidade de princípios previstos na lei não administrativa, ou melhor dizendo, a improbidade administrativa
é exaustiva, aceitando-se quando for necessário, a aplicação de ou- possui contornos paramentados na Lei 8.429/1992.
tros princípios que tenham relação com aqueles dispostos de forma
expressa no texto legal. Princípio da Publicidade
Verificamos, por oportuno, que a redação original do caput do Possui a Administração Pública o dever de realizar seus atos pu-
art. 3º da Lei 8.666/1993 não continha o princípio da promoção do blicamente de forma a garantir aos administrados o conhecimento
desenvolvimento nacional sustentável e que tal menção expressa, do que os administradores estão realizando, e também de manei-
apenas foi inserida com a edição da Lei 12.349/2010, contexto no ra a possibilitar o controle social da conduta administrativa. Em se
qual foi criada a “margem de preferência”, facilitando a concessão tratando especificamente de licitação, determina o art. 3º, § 3º, da
de vantagens competitivas para empresas produtoras de bens e Lei 8.666/1993 que “a licitação não será sigilosa, sendo públicos e
serviços nacionais. acessíveis ao público os atos de seu procedimento, salvo quanto ao
conteúdo das propostas, até a respectiva abertura”.
Princípio da legalidade Advindo do mesmo princípio, qualquer cidadão tem o direito
A legalidade, que na sua visão moderna é chamado também de de acompanhar o desenvolvimento da licitação, desde que não in-
juridicidade, é um princípio que pode ser aplicado à toda atividade terfira de modo a atrapalhar ou impedir a realização dos trabalhos
de ordem administrativa, vindo a incluir o procedimento licitatório. (Lei 8.666/1993, art. 4º, in fine).
A lei serve para ser usada como limite de base à atuação do gestor A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro esclarece que “a publici-
público, representando, desta forma, uma garantia aos administra- dade é tanto maior, quanto maior for a competição propiciada pela
dos contra as condutas abusivas do Estado. modalidade de licitação; ela é a mais ampla possível na concorrên-
No âmbito das licitações, pondera-se que o princípio da lega- cia, em que o interesse maior da Administração é o de atrair maior
lidade é fundamental, posto que todas as fases do procedimento número de licitantes, e se reduz ao mínimo no convite, em que o
licitatório se encontram estabelecidas na legislação. Considera-se valor do contrato dispensa maior divulgação. “
que todos os entes que participarem do certame, têm direito pú- Todo ato da Administração deve ser publicado de forma a for-
blico subjetivo de fiel observância do procedimento paramentado necer ao cidadão, informações acerca do que se passa com as ver-
na legislação por meio do art. 4° da Lei 8.666/1993, podendo, caso bas públicas e sua aplicação em prol do bem comum e também por
venham a se sentir prejudicados pela ausência de observância de obediência ao princípio da publicidade.
alguma regra, impugnar a ação ou omissão na esfera administrativa
ou judicial. Princípio da eficiência do interesse público
Diga-se de passagem, não apenas os participantes, mas qual- Trata-se de um dos princípios norteadores da administração
quer cidadão, pode por direito, impugnar edital de licitação em de- pública acoplado aos da legalidade, finalidade, motivação, razoabili-
corrência de irregularidade na aplicação da lei, vir a representar ao dade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
Ministério Público, aos Tribunais de Contas ou aos órgãos de con- da segurança jurídica e do interesse público.
trole interno em face de irregularidades em licitações públicas, nos Assim sendo, não basta que o Estado atue sobre o manto da
termos dos arts. 41, § 1º, 101 e 113, § 1º da Lei 8666/1993. legalidade, posto que quando se refere serviço público, é essencial
que o agente público atue de forma mais eficaz, bem como que
Princípio da impessoalidade haja melhor organização e estruturação advinda da administração
Com ligação umbilical ao princípio da isonomia, o princípio da pública.
impessoalidade demonstra, em primeiro lugar, que a Administra- Vale ressaltar que o princípio da eficiência deve estar subme-
ção deve adotar o mesmo tratamento a todos os administrados que tido ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a
estejam em uma mesma situação jurídica, sem a prerrogativa de atuação administrativa agindo de forma contrária ao ordenamento
quaisquer privilégios ou perseguições. Por outro ângulo, ligado ao jurídico, posto que por mais eficiente que seja, ambos os princípios
princípio do julgamento objetivo, registra-se que todas as decisões devem atuar de forma acoplada e não sobreposta.
administrativas tomadas no contexto de uma licitação, deverão ob- Por ser o objeto da licitação a escolha da proposta mais vanta-
servar os critérios objetivos estabelecidos de forma prévia no edital josa, o administrador deverá se encontrar eivado de honestidade ao
do certame. Desta forma, ainda que determinado licitante venha a cuidar da Administração Pública.
apresentar uma vantagem relevante para a consecução do objeto
do contrato, afirma-se que esta não poderá ser levada em consi- Princípio da Probidade Administrativa
deração, caso não haja regra editalícia ou legal que a preveja como A Lei de Licitações trata dos princípios da moralidade e da pro-
passível de fazer interferências no julgamento das propostas. bidade administrativa como formas distintas uma da outra. Os dois
princípios passam a noção de que a licitação deve ser configurada
Princípios da moralidade e da probidade administrativa pela honestidade, boa-fé e ética, tanto por parte da Administração
A Lei 8.666/1993, Lei de Licitações, considera que os princípios Pública, como por parte dos licitantes. Desta forma, para que um
da moralidade e da probidade administrativa possuem realidades comportamento tenha validade, é necessário que seja legal e esteja
distintas. Na realidade, os dois princípios passam a informação de em conformidade com a ética e os bons costumes.
que a licitação deve ser pautada pela honestidade, boa-fé e ética, Existe divergência quanto à distinção entre esses dois princí-
isso, tanto por parte da Administração como por parte dos entes pios. Alguns doutrinadores usam as duas expressões com o mesmo
licitantes. Sendo assim, para que um comportamento seja conside- significado, ao passo que outros procuram diferenciar os conceitos.
rado válido, é imprescindível que, além de ser legalizado, esteja nos O correto é que, enquanto a moralidade se constitui num conceito
ditames da lei e de acordo com a ética e os bons costumes. Exis- vago, a probidade administrativa, ou melhor dizendo, a improbida-
tem desentendimentos doutrinários acerca da distinção entre esses de administrativa se encontra eivada de contornos definidos na Lei
dois princípios. Alguns autores empregam as duas expressões com 8.429/1992.

122
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Princípio da igualdade Princípio da eficácia
Conhecido como princípio da isonomia, decorre do fato de que Por meio desse princípio, deverá o agente público agir de for-
a Administração Pública deve tratar, de forma igual, todos os licitan- ma eficaz e organizada promovendo uma melhor estruturação por
tes que estiverem na mesma situação jurídica. O princípio da igual- parte da Administração Pública, mantendo a atuação do Estado
dade garante a oportunidade de participar do certame de licitação, dentro da legalidade.
todos os que tem condições de adimplir o futuro contrato e proíbe, Vale ressaltar que o princípio da eficácia deve estar submetido
ainda a feitura de discriminações injustificadas no julgamento das ao princípio da legalidade, pois nunca se poderá justificar a atuação
propostas. administrativa contrária ao ordenamento jurídico, por mais eficien-
Aplicando o princípio da igualdade, o art. 3º, I, da Lei te que seja, na medida em que ambos os princípios devem atuar de
8.666/1993, veda de forma expressa aos agentes públicos admitir, maneira conjunta e não sobrepostas.
prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação por meio de edital
ou convite, as cláusulas que comprometam, restrinjam ou frustrem Princípio da segregação de funções
o seu caráter de competição, inclusive nos casos de sociedades co- Trata-se de uma norma de controle interno com o fito de evitar
operativas, e estabeleçam preferências ou diferenças em decorrên- falhas ou fraudes no processo de licitação, vindo a descentralizar o
cia da naturalidade, da sede ou do domicílio dos licitantes ou de poder e criando independência para as funções de execução opera-
“qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o cional, custódia física, bem como de contabilização
específico objeto do contrato”, com ressalva ao disposto nos §§ 5º a Assim sendo, cada setor ou servidor incumbido de determinada ta-
12 do mesmo artigo, e no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991. refa, fará a sua parte no condizente ao desempenho de funções, evitando
Ante o exposto, conclui-se que, mesmo que a circunstância que nenhum empregado ou seção administrativa venha a participar ou
restrinja o caráter de competição do certame, se for pertinente ou controlar todas as fases relativas à execução e controle da despesa pública,
relevante para o objeto do contrato, poderá ser incluída no instru- vindo assim, a possibilitar a realização de uma verificação cruzada.
mento de convocação do certame. O princípio da segregação de funções, advém do Princípio da
O princípio da isonomia não impõe somente tratamento igua- moralidade administrativa e se encontra previsto no art. 37, caput,
litário aos assemelhados, mas também a diferenciação dos desi- da CFB/1.988 e o da moralidade, no Capítulo VII, seção VIII, item
guais, na medida de suas desigualdades. 3, inciso IV, da IN nº 001/2001 da Secretaria Federal de Controle
Interno do Ministério da Fazenda.
Princípio do Planejamento
A princípio, infere-se que o princípio do planejamento se en- Princípio da motivação
contra dotado de conteúdo jurídico, sendo que é seu dever fixar o O princípio da motivação predispõe que a administração no
processo licitatório possui o dever de justificar os seus atos, vindo
dever legal do planejamento como um todo.
a apresentar os motivos que a levou a decidir sobre os fatos, com
Registra-se que a partir deste princípio, é possível compreen-
a observância da legalidade estatal. Desta forma, é necessário que
der que a Administração Pública tem o dever de planejar toda a
haja motivo para que os atos administrativos licitatórios tenham
licitação e também toda a contratação pública de forma adequada
sido realizados, sempre levando em conta as razões de direito que
e satisfatória. Assim, o planejamento exigido, é o que se mostre de
levaram o agente público a proceder daquele modo.
forma eficaz e eficiente, bem como que se encaixe a todos os outros
princípios previstos na CFB/1.988 e na jurisdição pátria como um
Princípio da vinculação ao edital
todo. Trata-se do corolário do princípio da legalidade e da objetivi-
Desta forma, na ausência de justificativa para realizar o pla- dade das determinações de habilidades, que possui o condão de
nejamento adequado da licitação e do contrato, ressalta-se que a impor tanto à Administração, quanto ao licitante, a imposição de
ausência, bem como a insuficiência dele poderá vir a motivar a res- que este venha a cumprir as normas contidas no edital de maneira
ponsabilidade do agente público. objetiva, porém, sempre zelando pelo princípio da competitividade.
Denota-se que todos os requisitos do ato convocatório devem estar
Princípio da transparência em conformidade com as leis e a Constituição, tendo em vista que se
O princípio da transparência pode ser encontrado dentro da trata de ato concretizador e de hierarquia inferior a essas entidades.
aplicação de outros princípios, como os princípios da publicidade, Nos ditames do art. 3º da Lei nº 8.666/93, a licitação destina-se
imparcialidade, eficiência, dentre outros. a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a
Boa parte da doutrina afirma o princípio da transparência não é seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a pro-
um princípio independente, o incorporando ao princípio da publici- moção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada
dade, posto ser o seu entendimento que uma das inúmeras funções e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da le-
do princípio da publicidade é o dever de manter intacta a trans- galidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publi-
parência dos atos das entidades públicas. Entretanto, o princípio cidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento
da transparência pode ser diferenciado do princípio da publicida- convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.
de pelo fato de que por intermédio da publicidade, existe o dever O princípio da vinculação ao instrumento convocatório princí-
das entidades públicas consistente na obrigação de divulgar os seus pio se destaca por impor à Administração a não acatar qualquer
atos, uma vez que nem sempre a divulgação de informações é feita proposta que não se encaixe nas exigências do ato convocatório,
de forma transparente. sendo que tais exigências deverão possuir total relação com o obje-
O Superior Tribunal de Justiça entende que o “direito à infor- to da licitação, com a lei e com a Constituição Federal.
mação, abrigado expressamente pelo art. 5°, XIV, da Constituição
Federal, é uma das formas de expressão concreta do Princípio da Princípio do julgamento objetivo
Transparência, sendo também corolário do Princípio da Boa-fé Ob- O objetivo desse princípio é a lisura do processo licitatório. De
jetiva e do Princípio da Confiança […].” (STJ. RESP 200301612085, acordo com o princípio do julgamento objetivo, o processo licitató-
Herman Benjamin – Segunda Turma, DJE DATA:19/03/2009). rio deve observar critérios objetivos definidos no ato convocatório,
para o julgamento das propostas apresentadas, devendo seguir de
forma fiel ao disposto no edital quando for julgar as propostas.

123
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Esse princípio possui o condão de impedir quaisquer interpre- Sobre o assunto, no que condiz ao princípio da economicidade,
tações subjetivas do edital que possam favorecer um concorrente e, entende o jurista Marçal Justen Filho, que “… Não basta honestida-
por consequência, vir a prejudicar de forma desleal a outros. de e boas intenções para validação de atos administrativos. A eco-
nomicidade impõe adoção da solução mais conveniente e eficiente
Princípio da razoabilidade sob o ponto de vista da gestão dos recursos públicos”. (Justen Filho,
Trata-se de um princípio de grande importância para o contro- 1998, p.66).
le da atividade administrativa dentro do processo licitatório, posto
que se incumbe de impor ao administrador, a atuação dentro dos Princípio da licitação sustentável
requisitos aceitáveis sob o ponto de vista racional, uma vez que ao Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “o princípio da susten-
trabalhar na interdição de decisões ou práticas discrepantes do mí- tabilidade da licitação ou da licitação sustentável liga-se à ideia de
nimo plausível, prova mais uma vez ser um veículo de suma im- que é possível, por meio do procedimento licitatório, incentivar a
portância do respeito à legalidade, na medida em que é a lei que preservação do meio ambiente”.
determina os parâmetros por intermédio dos quais é construída a Esse princípio passou a constar de maneira expressa do contido
razão administrativa como um todo. na Lei 8.666/1993 depois que o seu art. 3º sofreu alteração pela Lei
Pondera-se que o princípio da razoabilidade se encontra aco- 12.349/2010, que incluiu entre os objetivos da licitação a promoção
plado ao princípio da proporcionalidade, além de manter relação do desenvolvimento nacional sustentável.
com o princípio da finalidade, uma vez que, caso não seja atendida Da mesma maneira, a Lei 12.462/2011, que institui o Regime
a razoabilidade, a finalidade também irá ficar ferida. Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), dispõe o desenvolvi-
mento nacional sustentável como forma de princípio a ser obser-
Princípio da competitividade vado nas licitações e contratações regidas por seu diploma legal.
O princípio da competição se encontra relacionado à competiti- Assim, prevê a mencionada Lei que as contratações realizadas com
vidade e às cláusulas que são responsáveis por garantir a igualdade fito no Regime Jurídico Diferenciado de Contratações Públicas de-
de condições para todos os concorrentes licitatórios. Esse princípio vem respeitar, em especial, as normas relativas ao art. 4º, § 1º:
se encontra ligado ao princípio da livre concorrência nos termos do A) disposição final ambientalmente adequada dos resíduos só-
inciso IV do art. 170 da Constituição Federal Brasileira. Desta manei- lidos gerados pelas obras contratadas;
ra, devido ao fato da lei recalcar o abuso do poder econômico que B) mitigação por condicionantes e compensação ambiental,
pretenda eliminar a concorrência, a lei e os demais atos normativos que serão definidas no procedimento de licenciamento ambiental;
pertinentes não poderão agir com o fulcro de limitar a competitivi- c) utilização de produtos, equipamentos e serviços que, comprova-
dade na licitação. damente, reduzam o consumo de energia e recursos naturais;
Assim, havendo cláusula que possa favorecer, excluir ou infrin- D) avaliação de impactos de vizinhança, na forma da legislação
gir a impessoalidade exigida do gestor público, denota-se que esta urbanística;
poderá recair sobre a questão da restrição de competição no pro- E) proteção do patrimônio cultural, histórico, arqueológico e
cesso licitatório. imaterial, inclusive por meio da avaliação do impacto direto ou indi-
Obs. importante: De acordo com o Tribunal de Contas, não é reto causado pelas obras contratadas;
aceitável a discriminação arbitrária no processo de seleção do con- F) acessibilidade para o uso por pessoas com deficiência ou com
tratante, posto que é indispensável o tratamento uniforme para si- mobilidade reduzida.
tuações uniformes, uma vez que a licitação se encontra destinada
a garantir não apenas a seleção da proposta mais vantajosa para a Princípios correlatos
Administração Pública, como também a observância do princípio Além dos princípios anteriores determinados pela Lei
constitucional da isonomia. Acórdão 1631/2007 Plenário (Sumá- 8.666/1993, a doutrina revela a existência de outros princípios que
rio). também são atinentes aos procedimentos licitatórios, dentre os
quais se destacamos:
Princípio da proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade, conhecido como princípio Princípio da obrigatoriedade
da razoabilidade, possui como objetivo evitar que as peculiaridades Consagrado no art. 37, XXI, da CF, esse princípio está disposto
determinadas pela Constituição Federal Brasileira sejam feridas ou no art. 2º do Estatuto das Licitações. A determinação geral é que
suprimidas por ato legislativo, administrativo ou judicial que possa as obras, serviços, compras, alienações, concessões, permissões e
exceder os limites por ela determinados e avance, sem permissão locações da Administração Pública, quando forem contratadas por
no âmbito dos direitos fundamentais. terceiros, sejam precedidas da realização de certame licitatório,
com exceção somente dos casos previstos pela legislação vigente.
Princípio da celeridade
Devidamente consagrado pela Lei nº 10.520/2.002 e conside- Princípio do formalismo
rado um dos direcionadores de licitações na modalidade pregão, o Por meio desse princípio, a licitação se desenvolve de acordo
princípio da celeridade trabalha na busca da simplificação de pro- com o procedimento formal previsto na legislação. Assim sendo, o
cedimentos, formalidades desnecessárias, bem como de intransi- art. 4º, parágrafo único, da Lei 8.666/1993 determina que “o pro-
gências excessivas, tendo em vista que as decisões, sempre que for cedimento licitatório previsto nesta lei caracteriza ato administrati-
possível, deverão ser aplicadas no momento da sessão. vo formal, seja ele praticado em qualquer esfera da Administração
Pública”.
Princípio da economicidade
Sendo o fim da licitação a escolha da proposta que seja mais Princípio do sigilo das propostas
vantajosa para a Administração Pública, pondera-se que é neces- Até a abertura dos envelopes licitatórios em ato público ante-
sário que o administrador esteja dotado de honestidade ao cuidar cipadamente designado, o conteúdo das propostas apresentadas
coisa pública. O princípio da economicidade encontra-se relaciona- pelos licitantes deve ser mantido em sigilo nos termos do art. 43,
do ao princípio da moralidade e da eficiência. § 1º, da Lei 8.666/1993. Deixando claro que violar o sigilo de pro-

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
postas apresentadas em procedimento licitatório, ou oportunizar c) a redução dos prazos de publicidade ou de recursos.
a terceiro a oportunidade de devassá-lo, além de prejudicar os de-
mais licitantes, constitui crime tipificado no art. 94 do Estatuto das É importante registrar que a EC 19/1998, em alteração ao art.
Licitações, vindo a sujeitar os infratores à pena de detenção, de 2 173, § 1º, da Constituição Federal, anteviu que deverá ser editada
(dois) a 3 (três) anos, e multa; lei com o fulcro de disciplinar o estatuto jurídico da empresa pú-
blica, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que
Princípio da adjudicação compulsória ao vencedor explorem atividade econômica de produção ou comercialização de
Significa que a Administração não pode, ao concluir o procedi- bens ou de prestação de serviços, sendo que esse estatuto deverá
mento, atribuir o objeto da licitação a outro agente ou ente que não dispor a respeito de licitação e contratação de obras, serviços, com-
seja o vencedor. Esse princípio, também impede que seja aberta pras e alienações, desde que observados os princípios da adminis-
nova licitação enquanto for válida a adjudicação anterior. tração pública.
Registra-se que a adjudicação é um ato declaratório que ga- A mencionada modificação constitucional, teve como objeti-
rante ao vencedor que, vindo a Administração a celebrar um con- vo possibilitar a criação de normas mais flexíveis sobre licitação e
trato, o fará com o agente ou ente a quem foi adjudicado o objeto. contratos e com maior adequação condizente à natureza jurídica
Entretanto, mesmo que o objeto licitado tenha sido adjudicado, é das entidades exploradoras de atividades econômicas, que traba-
possível que não aconteça a celebração do contrato, posto que a lham sob sistema jurídico predominantemente de direito privado.
licitação pode vir a ser revogada de forma lícita por motivos de in- O Maior obstáculo, é o fato de que essas instituições na maioria das
teresse público, ou anulada, caso seja constatada alguma irregula- vezes entram em concorrência com a iniciativa privada e precisam
ridade Insanável. ter uma agilidade que pode, na maioria das situações, ser prejudi-
cada pela necessidade de submissão aos procedimentos burocráti-
Princípio da competitividade cos da administração direta, autárquica e fundacional.
É advindo do princípio da isonomia. Em outras palavras, ha- Em observância e cumprimento à determinação da Constitui-
vendo restrição à competição, de maneira a privilegiar determi- ção Federal, foi promulgada a Lei 13.303/2016, Lei das Estatais, que
nado licitante, consequentemente ocorrerá violação ao princípio criou regras e normas específicas paras as licitações que são dirigi-
da isonomia. Por esse motivo, como manifestação do princípio da das por qualquer empresa pública e sociedade de economia mista
competitividade, tem-se a regra de que é proibido aos agentes pú- da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Ponde-
blicos “admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação, ra-se que tais regras forma mantidas pela nova Lei de Licitações, Lei
cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem nº: 14.133/2.021 em seu art. 1º, inciso I.
o seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedades coope- De acordo com as regras e normas da Lei 13.303/2016, tais em-
rativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razão da natu- presas públicas e sociedades de economia mista não estão dispen-
ralidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualquer outra sadas do dever de licitar. Mas estão somente adimplindo tal obriga-
circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto ção com seguimento em procedimentos mais flexíveis e adequados
do contrato”, com exceção do disposto nos §§ 5º a 12 deste art. e a sua natureza jurídica. Assim sendo, a Lei 8.666/1993 acabou por
não mais ser aplicada às estatais e às suas subsidiárias.
no art. 3º da Lei 8.248, de 23.10.1991” .
Entretanto, com a entrada em vigor da nova Lei de Licitações de
Convém mencionar que José dos Santos Carvalho Filho, enten-
nº. 14.133/2.021, advinda do Projeto de Lei nº 4.253/2020, obser-
de que o dispositivo legal mencionado anteriormente é tido como
va-se que ocorreu um impacto bastante concreto para as estatais
manifestação do princípio da indistinção.
naquilo que se refere ao que a Lei nº 13.303/16 expressa ao reme-
ter à aplicação das Leis nº 8.666/93 e Lei nº 10.520/02.
Princípio da vedação à oferta de vantagens imprevistas
Nesse sentido, denota-se em relação ao assunto acima que são
É um corolário do princípio do julgamento objetivo. No referen-
pontos de destaque com a aprovação da Nova Lei de Licitações de
te ao julgamento das propostas, a comissão de licitação não poderá, nº. 14.133/2.021:
por exemplo, considerar qualquer oferta de vantagem que não es- 1) O pregão, sendo que esta modalidade não será mais regula-
teja prevista no edital ou no convite, inclusive financiamentos sub- da pela Lei nº 10.520/02, que consta de forma expressa no art. 32,
sidiados ou a fundo perdido, nem preço ou vantagem baseada nas IV, da Lei nº 13.303/16;
ofertas dos demais licitantes, nos ditames do art. 44, parag. 2°da 2) As normas de direito penal que deverão ser aplicadas na
Lei 8.666/1993. seara dos processos de contratação, que, por sua vez, deixarão de
ser regulados pelos arts. 89 a 99 da Lei nº 8.666/93; e
Competência Legislativa 3) Os critérios de desempate de propostas, sendo que a Lei
A União é munida de competência privativa para legislar sobre nº 13.303/16 dispõe de forma expressa, dentre os critérios de de-
normas gerais de licitações, em todas as modalidades, para a admi- sempate contidos no art. 55, inc. III, a adoção da previsão que se
nistração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito encontra inserida no § 2º do art. 3º da Lei nº 8.666/93, que por sua
Federal e dos Municípios, conforme determinação do art. 22, XXVII, vez, passará a ter outro tratamento pela Nova Lei de Licitações.
da CFB/1988.
Desse modo, denota-se que de modo geral, as normas edita- Dispensa e inexigibilidade
das pela União são de observância obrigatória por todos os entes Verificar-se-á a inexigibilidade de licitação sempre que houver
federados, competindo a estes, editar normas específicas que são inviabilidade de competição. Com a entrada em vigor da Nova Lei
aplicáveis somente às suas próprias licitações, de modo a comple- de Licitações, Lei nº. 14.133/2.021 no art. 74, I, II e III, foi disposto
mentar a disciplina prevista na norma geral sem contrariá-la. as hipóteses por meio das quais a competição é inviável e que, por-
Nessa linha, a título de exemplo, a competência para legislar tanto, nesses casos, a licitação é inexigível. Vejamos:
supletivamente não permite: Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição,
a) a criação de novas modalidades licitatórias ou de novas hipó- em especial nos casos de:
teses de dispensa de licitação; I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou
b) o estabelecimento de novos tipos de licitação (critérios de contratação de serviços que só possam ser fornecidos por produtor,
julgamento das propostas); empresa ou representante comercial exclusivos;

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente Conforme já estudado, a licitação é tida como dispensada
ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado pela quando, mesmo a competição sendo viável, o certame deixou de
crítica especializada ou pela opinião pública; ser realizado pelo fato da própria lei o dispensar. Tem natureza dife-
III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados rente da ausência de exigibilidade da licitação dispensável porque
de natureza predominantemente intelectual com profissionais ou nesta, o gestor tem a possibilidade de decidir por realizar ou não o
empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para procedimento.
serviços de publicidade e divulgação: A licitação dispensada está acoplada às hipóteses de alienação
a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou proje- de bens móveis ou imóveis da Administração Pública. Em grande
tos executivos; parte das vezes, quando, ao pretender a Administração alienar bens
b) pareceres, perícias e avaliações em geral; de sua propriedade, sejam estes móveis ou imóveis, deverá proce-
c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras der à realização de licitação. No entanto, em algumas situações, em
ou tributárias; razão das peculiaridades do caso especifico, a lei acaba por dispen-
d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou ser- sar o procedimento, o que é verificado, por exemplo, na hipótese da
viços; doação de um bem para outro órgão ou entidade da Administração
e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas; Pública de qualquer esfera de governo. Ocorre que nesse caso, a
f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal; Administração já determinou previamente para qual órgão ou en-
g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico; tidade irá doar o bem. Assim sendo, não existe a necessidade de
h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e en- realização do certame licitatório.
saios de campo e laboratoriais, instrumentação e monitoramento
de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais Critérios de Julgamento
serviços de engenharia que se enquadrem no disposto neste inciso; Os novos critérios de julgamento tratam-se das referências
IV - objetos que devam ou possam ser contratados por meio de que são utilizadas para a avaliação das propostas de licitação. Regis-
credenciamento; tra-se que as espécies de licitação encontram-se dotadas de carac-
V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de ins- terísticas e exigências diversas, sendo que as espécies de licitação
talações e de localização tornem necessária sua escolha. tendem sempre a variam de acordo com seus prazos e ritos espe-
Em entendimento ao inc. I, afirma-se que o fornecedor exclu- cíficos como um todo. Com a aprovação da Lei 14.133/2.021 em
sivo, vedada a preferência de marca, deverá a comprovar a exclu- seu art. 33, foram criados novos tipos de licitação designados para
sividade por meio de atestado fornecido pelo órgão de registro do a compra de bens e serviços. Sendo eles: menor preço, maior des-
comércio do local em que se realizaria a licitação ou a obra ou o conto, melhor técnica ou conteúdo artístico, técnica e preço, maior
serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, lance (leilão), maior retorno econômico.
ainda, pelas entidades equivalentes. Vejamos:
Em relação ao inc. II do referido diploma legal, verifica-se a dis-
pensabilidade da exigência de licitação para a contratação de profis- Menor preço
sionais da seara artística de forma direta ou através de empresário, Trata-se do principal objetivo da Administração Pública que é
levando em conta que este deverá ser reconhecido publicamente. o de comprar pelo menor preço possível. É o critério padrão bási-
Por fim, o inc. III, aduz sobre a contratação de serviços técnicos co e o mais utilizado em qualquer espécie de licitação, inclusive o
especializados, de natureza singular, com profissionais ou empresas pregão. Desta forma, vence, aquele que apresentar o preço menor
de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de entre os participantes do certame, desde que a empresa licitante
publicidade e divulgação. atenda a todos os requisitos estipulados no edital.
Nesta espécie de licitação, vencerá a proposta que oferecer e
Ressalta-se que além das mencionadas hipóteses previstas de comprovar maiores vantagens para a Administração Pública, ape-
forma exemplificativa na legislação, sempre que for impossível a nas em questões de valores, o que, na maioria das vezes, termina
competição, o procedimento de inexigibilidade de licitação deverá por prejudicar a população, tendo em vista que ao analisar apenas
ser adotado.
a questão de menor preço, nem sempre irá conseguir contratar um
Vale destacar com grande importância, ainda, em relação ao
trabalho de qualidade.
inc. III da Nova Lei de Licitações, que nem todo serviço técnico espe-
cializado está apto a ensejar a inexigibilidade de licitação, fato que
Maior desconto
se verificará apenas se ao mesmo tempo, tal serviço for de natureza
Pondera-se que caso a licitação seja julgada pelo critério de
singular e o seu prestador for dotado de notória especialização. O
maior desconto, o preço com o valor estimado ou o máximo aceitá-
serviço de natureza singular é reconhecido pela sua complexidade,
vel, deverá constar expressamente do edital. Isso acontece, por que
relevância ou pelos interesses públicos que estiverem em jogo, vin-
do demandar a contratação de prestador com a devida e notória nessas situações específicas, a publicação do valor de referência da
especialização. Administração Pública é extremamente essencial para que os pro-
Por sua vez, a legislação considera como sendo de notória ponentes venham a oferecer seus descontos.
especialização, aquele profissional ou empresa que o conceito no Denota-se que o texto de lei determina que a administração li-
âmbito de sua especialidade, advindo de desempenho feito ante- citante forneça o orçamento original da contratação, mesmo que tal
riormente como estudos, experiências, publicações, organização, orçamento tenha sido declarado sigiloso, a qualquer instante tanto
equipe técnica, ou de outros atributos e requisitos pertinentes com para os órgãos de controle interno quanto externo. Esse fato é de
suas atividades, que permitam demonstrar e comprovar que o seu grande importância para a administração Pública, tendo em vista
trabalho é essencial e o mais adequado à plena satisfação do objeto que a depender do mercado, a divulgação do orçamento original no
do contrato. instante de ocorrência da licitação acarretará o efeito âncora, fazen-
Vale mencionar que em situações práticas, a contratação de do com que os valores das propostas sejam elevados ao patamar
serviços especializados por inexigibilidade de licitação tem criado mais aproximado possível no que diz respeito ao valor máximo que
várias controvérsias, principalmente quando se refere à contrata- a Administração admite.
ção de serviços de advocacia e também de contabilidade.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Melhor técnica ou conteúdo artístico Em termos práticos, trata-se a concorrência de modalidade
Nesse tipo de licitação, a escolha da empresa vencedora leva licitatória conveniente para contratações de grande aspecto. Isso
em consideração a proposta que oferecer mais vantagem em ques- ocorre, por que a Lei de Licitações e Contratos dispôs uma espécie
tão de fatores de ordem técnica e artística. Denota-se que esta es- de hierarquia quando a definição da modalidade de licitação acon-
pécie de licitação deve ser aplicada com exclusividade para serviços tece em razão do valor do contrato. Ocorre que quanto maiores
de cunho intelectual, como ocorre na elaboração de projetos, por forem os valores envolvidos, mais altos e maiores serão o nível de
exemplo incluindo-se nesse rol, tanto os básicos como os executi- publicidade bem como os prazos estipulados para a realização do
vos como: cálculos, gerenciamento, supervisão, fiscalização e ou- procedimento. Em alguns casos, não obstante, é permitido uso da
tros pertinentes à matéria. modalidade de maior publicidade no lugar das de menor publicida-
de, jamais o contrário.
Técnica e preço Nesta linha de pensamento, a regra passa a exigir o uso da con-
Depreende-se que esta espécie de licitação é de cunho obri- corrência para valores elevados, vindo a permitir que seja realizada
gatório quando da contratação de bens e serviços na área tecnoló- a tomada de preços ou concorrência para montantes de cunho in-
gica como de informática e áreas afins, e também nas modalidade de termediário e convite (ou tomada de preços ou concorrência), para
concorrência, segundo a nova lei de Licitações. Nesse caso específico, contratos de valores mais reduzidos. Os gestores, na prática, ge-
o licitante demonstra e apresenta a sua proposta e a documentação ralmente optam por utilizar a modalidade licitatória que seja mais
usando três envelopes distintos, sendo eles: o primeiro para a habilita- simplificada dentro do possível, de maneira a evitar a submissão a
ção, o segundo para o deslinde da proposta técnica e o terceiro, com o prazos mais extensos de publicidade do certame.
preço, que deverão ser avaliados nessa respectiva ordem.
Concurso
Maior lance (leilão) Disposto no art. 30 da Nova Lei de Licitações, esta modalidade
Nos ditames da nova Lei de Licitações, esse critério se encon- de licitação pode ser utilizada para a escolha de trabalho técnico,
tra restrito à modalidade de leilão, disciplina que estudaremos nos científico ou artístico. Vejamos o que dispõe a Nova Lei de Licita-
próximos tópicos. ções:
Art. 30. O concurso observará as regras e condições previstas
Maior retorno econômico em edital, que indicará:
Registra-se que esse tema se trata de uma das maiores novida- I - a qualificação exigida dos participantes;
des advindas da Nova Lei de Licitações, pelo fato desse requisito ser II - as diretrizes e formas de apresentação do trabalho;
um tipo de licitação de uso para licitações cujo objeto e fulcro sejam III - as condições de realização e o prêmio ou remuneração a ser
uma espécie de contrato de eficiência. concedida ao vencedor.
Assim dispõe o inc. LIII do Art. 6º da Nova Lei de Licitações: Parágrafo único. Nos concursos destinados à elaboração de
LIII - contrato de eficiência: contrato cujo objeto é a prestação projeto, o vencedor deverá ceder à Administração Pública, nos ter-
de serviços, que pode incluir a realização de obras e o fornecimento mos do art. 93 desta Lei, todos os direitos patrimoniais relativos ao
de bens, com o objetivo de proporcionar economia ao contratante, projeto e autorizar sua execução conforme juízo de conveniência e
na forma de redução de despesas correntes, remunerado o contra- oportunidade das autoridades competentes.
tado com base em percentual da economia gerada;
Desta forma, depreende-se que a pretensão da Administração Leilão
não se trata somente da obra, do serviço ou do bem propriamente Disposto no art. 31 da Nova Lei de Licitações, o leilão poderá
dito, mas sim do resultado econômico que tenha mais vantagens ser cometido a leiloeiro oficial ou a servidor designado pela auto-
advindas dessas prestações, razão pela qual, a melhor proposta de ridade competente da Administração, sendo que seu regulamento
ajuste trata-se daquela que oferece maior retorno econômico à ma- deverá dispor sobre seus procedimentos operacionais.
quina pública. Se optar pela realização de leilão por intermédio de leiloeiro
oficial, a Administração deverá selecioná-lo mediante credencia-
Modalidades mento ou licitação na modalidade pregão e adotar o critério de jul-
De antemão, infere-se que com o advento da nova Lei de Lici- gamento de maior desconto para as comissões a serem cobradas,
tações de nº. 14.133/2.021, foram excluídas do diploma legal da utilizados como parâmetro máximo, os percentuais definidos na lei
Lei 8.666/1.993 as seguintes modalidades de licitação: tomada de que regula a referida profissão e observados os valores dos bens a
preços, convite e RDC – Lei 12.462/2.011. Desta forma, de acordo serem leiloados
com a Nova Lei de Licitações, são modalidades de licitação: con- O leilão não exigirá registro cadastral prévio, não terá fase de
corrência, concurso, leilão, pregão e diálogo competitivo. habilitação e deverá ser homologado assim que concluída a fase
Lembrando que conforme afirmado no início desse estudo, de lances, superada a fase recursal e efetivado o pagamento pelo
pelo fato do ordenamento jurídico administrativo estar em fase de licitante vencedor, na forma definida no edital.
transição em relação às duas leis, posto que nos dois primeiros anos Quaisquer interessados podem participar do leilão. Denota-se
as duas se encontrarão válidas, tendo em vista que na aplicação que o bem será vendido para o licitante que fizer a oferta de maior
para processos que começaram na Lei anterior, deverão continuar lance, o qual deverá obrigatoriamente ser igual ou superior ao valor
a ser resolvidos com a aplicação dela, e, processos que começarem de avaliação do bem.
após a aprovação da nova Lei, deverão ser resolvidos com a aplica- A realização do leilão poderá ser por meio de leiloeiro oficial ou
ção da nova Lei. por servidor indicado pela Administração, procedendo-se conforme
os ditames da legislação pertinente.
Concorrência
Com fundamento no art. 29 da Lei 14.133/2.021, concorrência Destaca-se ainda, que algumas entidades financeiras da Admi-
é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados que, na nistração indireta executam contratos de mútuo que são garantidos
fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requi- por penhor e que, restando-se vencido o contrato, se a dívida não
sitos mínimos de qualificação exigidos no edital para execução de for liquidada, promover-se-á o leilão do bem empenhado que deve-
seu objeto. rá seguir as regras pertinentes à Lei de licitações.

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Pregão Art. 32. A modalidade diálogo competitivo é restrita a contrata-
Com fundamento no art. 29 da Nova Lei de Licitações, trata- ções em que a Administração:
-se o pregão de uma modalidade de licitação do tipo menor preço, I - vise a contratar objeto que envolva as seguintes condições:
designada ao aferimento de aquisição de bens e serviços comuns. a) inovação tecnológica ou técnica;
Existem duas maneiras de ocorrência dos pregões, sendo estas nas b) impossibilidade de o órgão ou entidade ter sua necessidade
formas eletrônica e presencial. satisfeita sem a adaptação de soluções disponíveis no mercado; e
Pondera-se que a Lei geral que rege os pregões é a Lei c) impossibilidade de as especificações técnicas serem definidas
10.520/02. No entanto, em âmbito federal, o pregão presencial é com precisão suficiente pela Administração;
fundamentado e regulamentado pelo Decreto3.555/00, já o pregão II - verifique a necessidade de definir e identificar os meios e as
eletrônico, por meio do Decreto 5.450/05. alternativas que possam satisfazer suas necessidades, com desta-
Os referidos decretos, em razão da natureza institucional de que para os seguintes aspectos:
processamento dos pregões, são estabelecidos por meio de regras a) a solução técnica mais adequada;
diferentes que serão adotadas pelo Poder Público. b) os requisitos técnicos aptos a concretizar a solução já defi-
Em âmbito federal, a modalidade pregão é obrigatória para nida;
contratação de serviços e bens comuns. No entanto, o Decreto c) a estrutura jurídica ou financeira do contrato.
5.459/05 determina que a forma eletrônica é, via de regra, prefe-
rencial. Obs. Importante: § 1º, inc. VIII , Lei 14.133/2021- a Adminis-
Ressalta-se que aqueles que estiverem interessados em partici- tração deverá, ao declarar que o diálogo foi concluído, juntar aos
par do pregão presencial, deverão comparecer em hora e local nos autos do processo licitatório os registros e as gravações da fase de
quais deverá ocorrer a Sessão Pública, onde será feito o credencia- diálogo, iniciar a fase competitiva com a divulgação de edital con-
mento, devendo ainda, apresentar os envelopes de proposta, bem tendo a especificação da solução que atenda às suas necessidades
como os documentos pertinentes. e os critérios objetivos a serem utilizados para seleção da proposta
Referente ao pregão eletrônico, deverão os interessados fazer mais vantajosa e abrir prazo, não inferior a 60 (sessenta) dias úteis,
cadastro no sistema de compras a ser usado pelo ente licitante, vin- para todos os licitantes pré-selecionados na forma do inciso II deste
do, por conseguinte, cadastrar a sua proposta. parágrafo apresentarem suas propostas, que deverão conter os ele-
A classificação a respeito das formas de pregão está também mentos necessários para a realização do projeto.
eivada de diferenças. Infere-se que no pregão presencial, o prego-
Habilitação, Julgamento e recursos
eiro deverá fazer a seleção de todas as propostas de até 10% acima
da melhor proposta e as classificar para a fase de lances. Havendo
Habilitação
ausência de propostas que venham a atingir esses 10%, restarão
Com determinação expressa no Capítulo VI da Nova Lei de Lici-
selecionadas, por conseguinte, as três melhores propostas.
tações, art. 62, denota-se que a habilitação se mostra como a fase
Diversamente do que ocorre no pregão eletrônico, levando em
da licitação por meio da qual se verifica o conjunto de informações
conta que todos os participantes são classificados e tem o direito de
e documentos necessários e suficientes para demonstrar a capaci-
participar da fase na qual ocorrem os lances por meio do sistema, dade do licitante de realizar o objeto da licitação.
dentro dos parâmetros pertinentes ao horário indicado no edital ou Registra-se no dispositivo legal, que os critérios inseridos foram
carta convite. renovados pela Nova Lei, como por exemplo, a previsão em lei de
Inicia-se a fase de lances do pregão presencial com o lance da aceitação de balanço de abertura.
licitação que possui a maior proposta, vindo a seguir, por conse- No que condiz à habilitação econômico-financeira, com supe-
guinte, a lista decrescente até alcançar ao menor valor. dâneo legal no art. 68 da Nova Lei, observa-se que possui utilidade
É importante destacar que no pregão eletrônico, os lances são para demonstrar que o licitante se encontra dotado de capacidade
lançados no sistema na medida em que os participantes vão ofer- para sintetizar com suas possíveis obrigações futuras, devendo a
tando, devendo ser sempre de menor valor ao último lance que por mesma ser comprovada de forma objetiva, por intermédio de coefi-
este foi ofertado. Assim, lances são lançados e registrados no siste- cientes e índices econômicos que deverão estar previstos no edital
ma, até que esta fase venha a se encerrar. e devidamente justificados no processo de licitação.
Desde o início da Sessão, no pregão presencial o pregoeiro de- De acordo com a Nova lei, os documentos exigidos para a ha-
verá se informar de antemão, quem são os participantes, tendo em bilitação são: a certidão negativa de feitos a respeito de falência ex-
vista que estes se identificam no momento do em que fazem o cre- pedida pelo distribuidor da sede do licitante, e, por último, exige-se
denciamento. o balanço patrimonial dos últimos dois exercícios sociais, salvo das
No pregão eletrônico, até que chegue a fase de habilitação, empresas que foram constituídas no lapso de menos de dois anos.
o pregoeiro não possui a informação sobre quem são os licitantes Registra-se que base legal no art. 66 da referida Lei, habilita-
participantes, para evitar conluio. ção jurídica visa a demonstrar a capacidade de o licitante exercer
A intenção de recorrer no pregão presencial, deverá por parâ- direitos e assumir obrigações, e a documentação a ser apresentada
metros legais, ser manifestada e eivada com as motivações ao final por ele limita-se à comprovação de existência jurídica da pessoa e,
da Sessão. quando cabível, de autorização para o exercício da atividade a ser
No pregão eletrônico, havendo a intenção de recorrer, deverá contratada.
de imediato a parte interessada se manifestar, devendo ser regis- Já o art. 67, dispõe de forma clara a respeito da documentação
trado no campo do sistema de compras pertinente, no qual deverá exigida para a qualificação técnico-profissional e técnico-operacio-
conter as exposições com a motivação da interposição. nal. Vejamos:
Art. 67. A documentação relativa à qualificação técnico-profis-
Diálogo competitivo sional e técnico-operacional será restrita a:
Com supedâneo no art. 32 da Nova Lei de Licitações, modali- I - apresentação de profissional, devidamente registrado no
dade diálogo competitivo é restrita a contratações em que a Admi- conselho profissional competente, quando for o caso, detentor de
nistração: atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou ser-
viço de características semelhantes, para fins de contratação;

128
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
II - certidões ou atestados, regularmente emitidos pelo conse- Ressalta-se que os procedimentos legais de adjudicação têm
lho profissional competente, quando for o caso, que demonstrem início com o fim da fase de classificação das propostas. Adilson
capacidade operacional na execução de serviços similares de com- Dallari (1992:106), doutrinariamente separando as fases de classi-
plexidade tecnológica e operacional equivalente ou superior, bem ficação e adjudicação, ensina que esta não é de cunho obrigatório,
como documentos comprobatórios emitidos na forma do § 3º do embora não seja livre.
art. 88 desta Lei; Podemos conceituar a homologação como o ato que perfaz o
III - indicação do pessoal técnico, das instalações e do apare- encerramento da licitação, abrindo espaço para a contratação. Ho-
lhamento adequados e disponíveis para a realização do objeto da mologação é a aprovação determinada por autoridade judicial ou
licitação, bem como da qualificação de cada membro da equipe téc- administrativa a determinados atos particulares com o fulcro de
nica que se responsabilizará pelos trabalhos; produzir os efeitos jurídicos que lhes são pertinentes.
IV - prova do atendimento de requisitos previstos em lei espe- Considera-se que a homologação do processo de licitação re-
cial, quando for o caso; presenta a aceitação da proposta. De acordo com Sílvio Rodrigues
V - registro ou inscrição na entidade profissional competente, (1979:69), a aceitação consiste na “formulação da vontade concor-
quando for o caso; dante e envolve adesão integral à proposta recebida.”
VI - declaração de que o licitante tomou conhecimento de todas Registre-se por fim, que a homologação vincula tanto a Admi-
as informações e das condições locais para o cumprimento das obri- nistração como o licitante, para buscar o aperfeiçoamento do con-
gações objeto da licitação. trato.

Julgamento Registro de preços


Sob a vigência do nº. 14.133/2.021, a Nova Lei de Licitações Registro de preços é a modalidade de licitação que se encontra
trouxe em seu art. 33, a nova forma de julgamento, sendo que de apropriada para possibilitar diversas contratações que sejam conco-
agora em diante, as propostas deverão ser julgadas de acordo sob mitantes ou sucessivas, sem que haja a realização de procedimento
os seguintes critérios: de licitação de forma específica para cada uma destas contratações.
1. Menor preço; Registra-se que o referido sistema é útil tanto a um, quanto a
2. Maior desconto; mais órgãos pertencentes à Administração.
3. Melhor técnica ou conteúdo artístico; De modo geral, o registro de preços é usado para compras cor-
4. Técnica e preço; riqueiras de bens ou serviços específicos, em se tratando daqueles
5. Maior lance, no caso de leilão; que não se sabe a quantidade que será preciso adquirir, bem como
6. Maior retorno econômico. quando tais compras estiverem sob a condição de entregas parcela-
das. O objetivo destas ações é evitar que se formem estoques, uma
Observa-se que os títulos por si só já dão a noção a respeito do vez que estes geram alto custo de manutenção, além do risco de
seu funcionamento, bem como já foram estudados anteriormente tais bens vir a perecer ou deteriorar.
nesta obra. Entretanto, é possível afirmar que a maior novidade, Por fim, vejamos os dispositivos legais contidos na Nova lei de
trata-se do critério de maior retorno econômico, que é uma espécie Lictações que regem o sistema de registro de preços:
de licitação usada somente para certames cujo objeto seja contrato Art. 82. O edital de licitação para registro de preços observará
de eficiência de forma geral. as regras gerais desta Lei e deverá dispor sobre:
Nesta espécie de contrato, busca-se o resultado econômico I - as especificidades da licitação e de seu objeto, inclusive a
que proporcione a maior vantagem advinda de uma obra, serviço quantidade máxima de cada item que poderá ser adquirida;
ou bem, motivo pelo qual, a melhor proposta deverá ser aquela que II - a quantidade mínima a ser cotada de unidades de bens ou,
trouxer um maior retorno econômico. no caso de serviços, de unidades de medida;
III - a possibilidade de prever preços diferentes:
Recursos a) quando o objeto for realizado ou entregue em locais dife-
Com base legal no art. 71 da nova Lei de Licitações, não ocor- rentes;
rendo inversão de fases na licitação, pondera-se que os recursos em b) em razão da forma e do local de acondicionamento;
face dos atos de julgamento ou habilitação, deverão ser apresenta- c) quando admitida cotação variável em razão do tamanho do
dos no término da fase de habilitação, tendo em vista que tal ato lote;
deverá acontecer em apenas uma etapa. d) por outros motivos justificados no processo;
Caso os licitantes desejem recorrer a despeito dos atos do jul- IV - a possibilidade de o licitante oferecer ou não proposta em
gamento da proposta e da habilitação, denota-se que deverão se quantitativo inferior ao máximo previsto no edital, obrigando-se
manifestar de imediato o seu desejo de recorrer, logo após o térmi- nos limites dela;
no de cada sessão, sob pena de preclusão V - o critério de julgamento da licitação, que será o de menor
Havendo a inversão das fases com a habilitação de forma pre- preço ou o de maior desconto sobre tabela de preços praticada no
cedente à apresentação das propostas, bem como o julgamento, mercado;
afirma-se que os recursos terão que ser apresentados em dois in- VI - as condições para alteração de preços registrados;
tervalos de tempo, após a fase de habilitação e após o julgamento VII - o registro de mais de um fornecedor ou prestador de servi-
das propostas. ço, desde que aceitem cotar o objeto em preço igual ao do licitante
vencedor, assegurada a preferência de contratação de acordo com
Adjudicação e homologação a ordem de classificação;
O Direito Civil Brasileiro conceitua a adjudicação como sendo VIII - a vedação à participação do órgão ou entidade em mais
o ato por meio do qual se declara, cede ou transfere a propriedade de uma ata de registro de preços com o mesmo objeto no prazo de
de uma pessoa para outra. Já o Direito Processual Civil a conceitua validade daquela de que já tiver participado, salvo na ocorrência de
como uma forma de pagamento feito ao exequente ou a terceira ata que tenha registrado quantitativo inferior ao máximo previsto
pessoa, por meio da transferência dos bens sobre os quais incide no edital;
a execução.

129
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
IX - as hipóteses de cancelamento da ata de registro de preços aos licitantes que manifestem interesse em contestar o respectivo
e suas consequências ato prazo apto a lhes assegurar o exercício do direito ao contraditó-
§ 1º O critério de julgamento de menor preço por grupo de rio e à ampla defesa”.
itens somente poderá ser adotado quando for demonstrada a invia- Já na seara da lei nº 8.666/93, ressalta-se que a norma tratou
bilidade de se promover a adjudicação por item e for evidenciada a de limitar a indicar, por meio do art. 49, §3º, que em caso de des-
sua vantagem técnica e econômica, e o critério de aceitabilidade de fazimento do processo licitatório, ficará assegurado o contraditório
preços unitários máximos deverá ser indicado no edital. e a ampla defesa.
§ 2º Na hipótese de que trata o § 1º deste artigo, observados Por fim, registra-se que em se tratando da obrigatoriedade da
os parâmetros estabelecidos nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 23 desta Lei, aprovação de espaço aos licitantes interessados no exercício do di-
a contratação posterior de item específico constante de grupo de reito ao contraditório e à ampla defesa, de forma anterior ao ato
itens exigirá prévia pesquisa de mercado e demonstração de sua de decisório de revogação e anulação, criou-se de forma tradicio-
vantagem para o órgão ou entidade. nal diversos debates tanto na doutrina quanto na jurisprudência
§ 3º É permitido registro de preços com indicação limitada a nacional. Um exemplo da informação acima, trata-se dos diversos
unidades de contratação, sem indicação do total a ser adquirido, julgados que ressalvam a aplicação contida no art. 49, §3º da Lei
apenas nas seguintes situações: 8.666/1.993 nas situações de revogação de licitação antes de sua
I - quando for a primeira licitação para o objeto e o órgão ou homologação. Pondera-se que esse entendimento afirma que o
entidade não tiver registro de demandas anteriores; contraditório e a ampla defesa apenas seriam exigíveis quando o
II - no caso de alimento perecível; procedimento de licitação tiver sido concluído.
III - no caso em que o serviço estiver integrado ao fornecimento Obs. Importante: Ainda que em situações por meio das quais é
de bens. considerado dispensável dar a oportunidade aos licitantes do con-
§ 4º Nas situações referidas no § 3º deste artigo, é obrigatória traditório e a ampla defesa, a obrigação da administração em mo-
a indicação do valor máximo da despesa e é vedada a participação tivar o ato revogatório não será afastada, uma vez que devendo se
de outro órgão ou entidade na ata. ater aos princípios da transparência e da motivação, o gestor por
§ 5º O sistema de registro de preços poderá ser usado para força de lei, deverá sempre evidenciar as razões pelas quais foram
a contratação de bens e serviços, inclusive de obras e serviços de fundamentadas a conclusão pela revogação do certame, bem como
engenharia, observadas as seguintes condições: os motivos de não prosseguir com o processo licitatório.
I - realização prévia de ampla pesquisa de mercado;
II - seleção de acordo com os procedimentos previstos em re- Breves considerações adicionais acerca das mudanças no pro-
gulamento; cesso de licitação após a aprovação da Lei 14.133/2.021
III - desenvolvimento obrigatório de rotina de controle; • Com a aprovação da Nova Lei, nos ditames do §2º do art. 17,
IV - atualização periódica dos preços registrados; será utilizada como regra geral, a forma eletrônica de contratação
V - definição do período de validade do registro de preços; para todos os procedimentos licitatórios.
VI - inclusão, em ata de registro de preços, do licitante que acei- • Como exceção, caso seja preciso que a forma de contratação
tar cotar os bens ou serviços em preços iguais aos do licitante vence- seja feita presencialmente, o órgão deverá expor os motivos de fato
dor na sequência de classificação da licitação e inclusão do licitante e de direito no processo administrativo, porém, ficará incumbido da
que mantiver sua proposta original. obrigação de gravar a sessão em áudio e também em vídeo.
§ 6º O sistema de registro de preços poderá, na forma de regu- • O foco da Nova Lei, é buscar o incentivo para o uso do siste-
lamento, ser utilizado nas hipóteses de inexigibilidade e de dispen- ma virtual nos certames, vindo, assim, a dar mais competitividade,
sa de licitação para a aquisição de bens ou para a contratação de segurança e isonomia para as licitações de forma geral.
serviços por mais de um órgão ou entidade. • A Nova Lei de Licitações criou o PNCP (Portal Nacional de
Art. 83. A existência de preços registrados implicará compro- Contratações Públicas), que irá servir como um portal obrigatório.
misso de fornecimento nas condições estabelecidas, mas não obri- • Todos os órgãos terão obrigação de divulgar suas licitações,
gará a Administração a contratar, facultada a realização de licita- sejam eles federais, estaduais ou municipais.
ção específica para a aquisição pretendida, desde que devidamente • Art. 20. Os itens de consumo adquiridos para suprir as de-
motivada. mandas das estruturas da Administração Pública deverão ser de
Art. 84. O prazo de vigência da ata de registro de preços será de qualidade comum, não superior à necessária para cumprir as finali-
1 (um) ano e poderá ser prorrogado, por igual período, desde que dades às quais se destinam, vedada a aquisição de artigos de luxo.
comprovado o preço vantajoso. • Art. 95, § 2º É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com
Parágrafo único. O contrato decorrente da ata de registro de a Administração, salvo o de pequenas compras ou o de prestação
preços terá sua vigência estabelecida em conformidade com as dis- de serviços de pronto pagamento, assim entendidos aqueles de va-
posições nela contidas. lor não superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).
• São atos da Administração Pública antes de formalizar ou
Revogação e anulação da licitação prorrogar contratos administrativos: verificar a regularidade fiscal
De antemão, em relação à revogação e a anulação do proce- do contratado; consultar o Cadastro Nacional de Empresas idôneas
dimento licitatório, aplica-se o mesmo raciocínio, posto que caso e suspensas (CEIS) e punidas (CNEP).
tenha havido vício no procedimento, busca-se por vias legais o a • A Nova Lei de Licitações inseriu vários crimes do Código Pe-
possibilidade de corrigi-lo. Em se tratando de caso de vício que não nal, no que se refere às licitações, dentre eles, o art. 337-H do Có-
se possa sanar, ou haja a impossibilidade de saná-lo, a anulação se digo Penal de 1.940:
impõe. Entretanto, caso não exista qualquer espécie de vício no cer- Art. 337-H. Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer mo-
tame, mas, a contratação tenha sido deixada de ser considerada de dificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor
interesse público, impõe-se a aplicação da revogação. do contratado, durante a execução dos contratos celebrados com a
Nos ditames do art. 62 da Lei nº 13.303/2016, após o início da Administração Pública sem autorização em lei, no edital da licitação
fase de apresentação de lances ou propostas, “a revogação ou a ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatu-
anulação da licitação somente será efetivada depois de se conceder ra com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade:

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NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
Pena – reclusão, de 4 (quatro) anos a 8 (oito) anos, e multa. 4. (CONSULPLAN/MANAUS ENERGIA) As opções a seguir apre-
sentam afirmações a respeito de aspectos gerais da estratégia, es-
Perturbação de processo licitatório trutura e desempenho de uma organização. Assinale a única ver-
• Os valores fixados na Lei, serão anualmente corrigidos pelo dadeira:
IPCA-E, nos termos do art. 182: O Poder Executivo federal atua- (A) O ambiente de uma empresa é tudo aquilo que pode ser
lizará, a cada dia 1º de janeiro, pelo Índice Nacional de Preços ao controlado.
Consumidor Amplo Especial (IPCA-E) ou por índice que venha a subs- (B) Na integração horizontal, procuram-se produtos e serviços
tituí-lo, os valores fixados por esta Lei, os quais serão divulgados no complementares.
PNCP. (C) O desempenho de uma empresa independe de sua estra-
tégia.
(D) A integração empresarial depende apenas da estrutura or-
EXERCÍCIOS ganizacional.
(E) A estratégia de uma empresa depende principalmente de
1. (CESPE/MCT-FINEP) Quanto à evolução histórica do pensa- sua estrutura.
mento administrativo, assinale a opção correta.
(A) Weber propõe que uma das principais vantagens da buro- 5. (CESPE/TJ-ROo) Com relação à análise dos ambientes exter-
cracia consiste em conferir rapidez à tomada de decisões. no e interno de uma organização, assinale a opção correta.
(B) A organização que busca mensurar e analisar as atitudes (A) Na análise externa, os pontos fortes e fracos de uma em-
de seus empregados de modo a conseguir a sua satisfação no presa devem ser determinados por meio da relação entre os
trabalho está alinhada aos pressupostos da administração cien- segmentos de mercados e a atual posição dos produtos ou ser-
tífica. viços dessa empresa.
(C) A organização que ressalta o papel dos gerentes como co- (B) Quanto menos uma empresa conhece sobre seu concorren-
nhecedores dos detalhes das tarefas desenvolvidas por seus te, menor o risco estratégico dessa empresa em face das estra-
empregados alinha-se aos pressupostos da teoria clássica. tégias do concorrente.
(D) A abordagem contingencial se preocupa em analisar as (C) Ameaças são fatores do ambiente externo que impactam
funções da organização, dividindo-as em seis funções clássicas, diretamente nas organizações, podendo ser controladas antes
que incluem as comerciais, as financeiras e as contábeis. de prejudicarem o desenvolvimento das empresas.
(E) A teoria de sistemas adota uma visão reducionista e analí- (D) Os pontos fortes e fracos correspondem a variáveis contro-
tica da administração. láveis por uma empresa, enquanto as oportunidades e as ame-
aças correspondem a variáveis não controláveis.
2. (CESPE/TSE) A respeito das novas tecnologias gerenciais que
(E) Mediante a análise das oportunidades e das fraquezas de
causam impacto nas organizações, assinale a opção correta.
um ambiente organizacional, obtêm-se a atual situação das
(A) Reengenharia é o processo sistemático, planejado, geren-
vantagens competitivas de uma empresa.
ciado, executado e acompanhado sob a liderança da alta admi-
nistração da instituição, envolvendo e comprometendo todos
6. (CESPE/CNJ) A área de recursos humanos considera as pes-
os gerentes e responsáveis e colaboradores da organização.
soas administradores, independentemente do cargo e do nível or-
(B) Qualidade é o repensar fundamental e é a reestruturação
ganizacional que ocupam, pois, de acordo com os postulados dessa
radical dos processos empresariais que visam alcançar drás-
ticas melhorias em indicadores críticos e contemporâneos de área de conhecimento, as organizações dependem de pessoas para
desempenho, tais como custos, atendimento e velocidade. sua operação, direção e controle. Essa proposição rompe com a tra-
(C) Gestão estratégica está relacionada a propriedades ou ca- dição de pensar nas pessoas como meros recursos organizacionais.
racterísticas de um produto ou serviço que influenciam relacio- A partir dessas informações, e considerando os conceitos e práticas
nadas à sua capacidade de satisfazer as necessidades explícitas relacionados a recursos humanos, julgue o item seguinte.
ou implícitas dos que o utilizam. A aplicação, um processo básico na gestão de pessoas, refere-
(D) Empreendedorismo governamental significa a capacidade -se ao recrutamento de pessoas e à seleção e à pesquisa de merca-
de promover a sintonia entre os governos e as novas condições do de recursos humanos.
sócio-econômicas, políticas e culturais. ( ) Certo
( ) Errado
3. (UnB/CESPE/TJ-AL) Acerca das diferentes abordagens da ad-
ministração, assinale a opção correta. 7. (CESPE/ANAC) A respeito de gestão de pessoas, julgue os
(A) A abordagem sistêmica pressupõe uma alta especialização item abaixo.
no desenvolvimento de uma tarefa específica de modo que o O mapeamento de competências origina tanto lacunas de
trabalhador consiga ter uma visão holística do processo pro- aprendizagem a serem desenvolvidas como insumos para a reali-
dutivo. zação de avaliações de desempenho nas organizações, o que repre-
(B) A abordagem clássica da administração tem como princípio senta uma tendência da gestão de pessoas no setor público.
aumentar o nível de entropia da organização. ( ) CERTO
(C) A abordagem burocrática considera as pessoas em primeiro ( ) ERRADO
plano por serem as responsáveis pela aplicação de suas normas
e regras. 8. (CESPE/MTE) - Agente Administrativo ) No que se refere ao
(D) A visão mecanicista proposta por Bertalanffy revela que, comportamento organizacional, julgue o item a seguir.
para compreender a realidade, é preciso analisar não apenas A motivação para o trabalho, por vincular-se a um aspecto in-
elementos isolados, mas também suas inter-relações. trínseco ao indivíduo, de difícil observação, não pode ser influencia-
(E)De acordo com os princípios da administração científica des- da por práticas de gestão de pessoas.
critos por Taylor, o objetivo da boa administração é pagar altos ( ) CERTO
salários e ter baixos custos. ( ) ERRADO

131
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
9. (IADES/METRÔ-DF) No que diz respeito à atração e à reten- III. A abordagem do new public management é mais um recur-
ção de talentos nas organizações, assinale a alternativa correta. so estruturador da discussão sobre as transformações ocorridas na
(A) O recrutamento integra o processo de agregar pessoas e gestão pública nas duas últimas décadas que um paradigma prescri-
funciona logo após a seleção tivo de reforma do estado.
(B) Enquanto o objetivo da seleção é abastecer o processo se- IV. A “administração pública gerencial” busca diferenciar-se da
letivo de candidatos, o objetivo do recrutamento é escolher e burocrática no sentido de que se proclama orientada para resulta-
classificar os candidatos mais adequados às necessidades do dos, focada no cidadão, flexível e aberta ao controle social.
cargo e da organização. V. A implementação da “administração pública gerencial”, con-
(C) O processo seletivo pode estar fundamentado no cargo a forme proposta pelo Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Es-
ser preenchido ou nas competências a serem capturadas. tado, requer prévia implementação da administração burocrática e
(D) A seleção de pessoal não é um sistema de comparação, mas completa eliminação da administração patrimonial.
sim de escolha (tomada de decisão).
(E) A entrevista de seleção é considerada uma técnica altamen- Estão corretos apenas os itens
te objetiva, com baixa margem de erro e variação. (A) I, II e I
(B) I, III e IV
10. (CESPE/FUB) Considerando a gestão do clima e da cultura (C) I, IV e V
organizacional como estratégia necessária à gestão de pessoas, jul- (D) II, III e V
gue o item seguinte. (E) III, IV e V
O nível de favorabilidade do clima organizacional pode ser ava-
liado com base em taxa de turnover e de absenteísmo, em resulta- 14. (ESAF) - “Estrutura formal, objeto de grande parte de estu-
dos de avaliações de desempenho e em tipos de queixas no serviço dos das organizações empresariais, é aquela deliberadamente pla-
médico. nejada, em alguns de seus aspectos, pelo organograma. Estrutura
( ) CERTO informal é a rede de relações sociais e pessoais que não é estabe-
( ) ERRADO lecida ou requerida pela estrutura formal. Surge da interação social
das pessoas, o que significa que se desenvolve espontaneamente
11. CESGRANRIO/Petrobras) Na gestão do desempenho, o de- quando as pessoas se reúnem. Portanto, apresenta relações que
senvolvimento da avaliação do desempenho apresenta objetivos usualmente não aparecem no organograma.”
fundamentais para o alcance do sucesso da organização. (Trecho extraído do livro Sistemas, organização e métodos: uma abor-
Entre os objetivos da avaliação de desempenho NÃO se inclui dagem gerencial, de Djalma de Pinho Rebouças de Oliveira. 11. ed. São
o de Paulo: Atlas, 2000, p. 82).
(A) fornecer oportunidade de crescimento e condições de efe-
tiva participação a todos os membros da organização, levando Indique, nas opções abaixo, aquela que não se apresenta como
em consideração os objetivos organizacionais e individuais. uma das características da organização formal:
(B) garantir o reconhecimento e o tratamento dos recursos (A) Divisão do trabalho.
humanos como importante vantagem competitiva da organiza- (B) Especialização.
ção, cuja produtividade pode ser desenvolvida. (C) Hierarquia.
(C) permitir condições de medição do potencial humano, no (D) Distribuição da autoridade e de responsabilidade.
sentido de determinar sua plena aplicação. (E) Ênfase nas relações entre pessoas no trabalho.
(D) propor providências no sentido de melhorar o padrão de
desempenho de subordinados. 15. (CESPE/TRE-MT) - Com relação ao processo organizacional,
(E) viabilizar a avaliação de comportamento dos subordinados, assinale a opção correta.
contando com um sistema amplo de medição capaz de levar (A) Na realidade das organizações modernas, não há motivo
em consideração as subjetividades individuais. administrativo para se manter uma estrutura organizacional
predominantemente centralizada.
12. (CESPE/TC-DF) A respeito das funções de caráter estraté- (B) A abordagem divisional da departamentalização ocorre
gico desempenhadas por organizações públicas, julgue o próximo quando as atividades são agrupadas de acordo com as habili-
item. dades, conhecimentos e recursos similares.
O termo educação corporativa, adotado por unidades de ges- (C) Os administradores que atuam de acordo com a teoria X dos
tão de pessoas, relaciona-se ao diagnóstico e ao planejamento de estilos de direção tendem a dirigir e controlar os subordinados
programas e de ações de aprendizagem direcionados por objetivos de maneira rígida e intensiva, fiscalizando constantemente seu
organizacionais de curto prazo. trabalho.
( ) CERTO (D) No exercício do controle, o administrador deve estar mais
( ) ERRADO atento aos casos padronizados do que às exceções.
(E) Os controles táticos devem estar localizados no mais alto
13. Julgue as sentenças a respeito do paradigma pós-burocrá- nível da organização.
tico, da administração pública gerencial e da nova administração
pública. 16. (FCC/Sergipe Gás S.A) - Estrutura Organizacional é
I. O ideal do movimento da nova administração pública nos (A) o conjunto de tarefas desempenhado por uma ou mais pes-
anos 60 era a superação da burocracia no sentido do resgate da soas, servindo como base para a departamentalização
racionalidade substantiva dos sistemas administrativos. (B) a posição hierárquica que uma pessoa ocupa na empresa e
II. O termo “pós-burocrático” está mais associado à relativa o conjunto de atribuições a ela conferido.
perda de poder das organizações públicas contemporâneas que (C) a forma pela qual as atividades de uma organização são di-
às emergentes novas formas organizacionais discrepantes do tipo vididas, organizadas e coordenadas
ideal weberiano.

132
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
(D) a cadeia de comando que se inicia nos gestores de topo e (C) a limitação de recursos.
segue até os trabalhadores não gestores, passando sucessiva- (D) a hierarquia de responsabilidades.
mente por todos os níveis organizacionais (E) o excesso de liberdade.
(E) a guia de conduta, estável e de longo prazo, estabelecida
para dirigir a tomada de decisões 22. (FCC/TRT 9ª)Em uma organização que atua num ambiente
competitivo, em constante mudança, e que necessita se adaptar e
17. (FCC/TCE-AP) - Em relação aos processos organizacionais, inovar constantemente seus processos, o tipo de departamentaliza-
considere: ção mais adequado é o
I. A função de planejamento numa organização guarda uma (A) por processos.
relação direta com a função de controle, enquanto a função de di- (B) por área geográfica.
reção tem relação direta com a função de organização do trabalho. (C) por clientes.
II. As habilidades técnicas são mais relevantes entre supervisores de (D) matricial.
1a linha, as habilidades conceituais maiores na administração superior e as (E) funcional.
habilidades humanas, mais requeridas no nível da gerência intermediária.
III. A organização matricial prevê maior flexibilização dos limi- 23. (FCC/TRF) Numa visão estratégica de recursos humanos, a
tes entre departamentos, possibilitando que os funcionários repor- soma dos conhecimentos, informações e experiência de todos em
tem-se a diferentes gestores. uma empresa, que podem ser administrados a fim de gerar riqueza
IV. Um elenco de maneiras para se superar barreiras de comu- e vantagem competitiva, é:
nicação inclui a utilização de feedback, observar sinais não-verbais, (A) inteligência emocional.
escutar com atenção, simplificar a linguagem, além de conter as (B) empowerment.
emoções. (C) downsizing.
V. Indiferentemente ao controle preventivo, simultâneo ou de (D) capital intelectual.
feedback adotados na gestão, os mesmos servem para medir o de- (E) capital social.
sempenho real, comparar o desempenho com o padrão, e tomar
medidas de ação corretiva. 24. (TRT 10ª/ 2013 - CESPE - Analista Judiciário – Administra-
tiva) Acerca de noções de administração, julgue os itens a seguir.
Está correto o que se afirma APENAS em Os modos de conversão do conhecimento (externalização, in-
(A) I, II, III e IV ternalização, socialização e combinação) são operacionalizados nas
(B) I, II, IV e V. organizações a partir dos espaços de interação, chamados de ba,
(C) I, III,IV e V. em que conhecimentos, experiências, habilidades e demais recur-
(D) II,III e IV. sos valiosos são combinados nas interações entre as pessoas.
(E) II, IV e V ( ) CERTO
( ) ERRADO
18. (FCC/TRF - 1ª REGIÃO) - Na fase de iniciação de um projeto,
antes de tudo, deve-se 25. (CONSULPLAN/TSE) Em relação à comunicação nas organi-
(A) decidir se um projeto deve ser iniciado, entre vários pos- zações, analise.
síveis I. Uma comunicação eficaz é um processo horizontal, em que
(B) definir as atividades necessárias para desenvolvimento do todos os envolvidos mantêm uma ética relacional.
produto a ser entregue II. É possível melhorar a comunicação por meio de treinamento
(C) detalhar o escopo e os requisitos básicos do projeto e desenvolvimento de pessoal.
(D) elaborar detalhadamente as informações sobre o projeto III. A comunicação é elemento acessório no processo de busca
(E) escolher as pessoas certas para a implantação e avaliação de qualidade nas organizações.
do projeto.
Assinale
19. (CNJ/CESPE) Com referência a organização e processo deci- (A) se apenas a afirmativa I estiver correta.
sório, julgue os próximos itens. (B) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas.
O processo racional de tomada de decisão pressupõe que o (C) se apenas a afirmativa II estiver correta.
agente tenha conhecimento absoluto de todas as opções disponí- (D) se apenas a afirmativa III estiver correta.
veis para a ação.
( ) CERTO 26. (FCC/TRT - 13ª) - Técnico Judiciário - Tecnologia da Infor-
( ) ERRADO mação) Entre as etapas do planejamento estratégico de uma insti-
tuição se inclui o diagnóstico institucional que contempla as análi-
20. (CNJ/CESPE) Com referência a organização e processo deci- ses interna e externa. Uma das formas de realizar essas análises é
sório, julgue os próximos itens. elaborando uma Matriz SWOT, que identifica:
As decisões do tipo não programadas ou descritivas são aque- (A) as probabilidades de ocorrência de eventos positivos e ne-
las preparadas uma a uma para tratar de problemas que não foram gativos.
resolvidos mediante a aplicação de soluções padronizadas. (B) a missão, visão e valores da instituição.
( ) CERTO (C) as oportunidades e ameaças externas, e as forças e fraque-
( ) ERRADO zas da instituição.
(D) as competências disponíveis na instituição e aquelas que
21. (FCC/TRF - 1ª REGIÃO) Uma causa frequente de conflitos devem ser desenvolvidas.
nas organizações é (E) os objetivos e metas a serem perseguidos e os correspon-
(A) a ambiguidade de papéis. dentes indicadores de resultado.
(B) a existência de objetivos compartilhados.

133
NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS E GESTÃO PÚBLICA
27. (FCC/TRE-RS) -No processo de elaboração do planejamento 23 D
estratégico o desenvolvimento de uma estratégia competitiva é, em
essência: 24 CERTA
I. o desenvolvimento de uma fórmula ampla para o modo como 25 B
a empresa irá competir, quais serão suas metas e quais as políticas
necessárias para levar a cabo estas metas. 26 C
II. uma combinação da estrutura de apoio da empresa com os 27 A
meios pelos quais ela busca alcançar seus objetivos.
III. o envolvimento de quatro fatores básicos que determinam
os limites daquilo que uma empresa pode realizar com sucesso: 1)
os pontos fortes e os pontos fracos; 2) os valores pessoais dos exe- ANOTAÇÕES
cutivos implementadores; 3) oportunidades e ameaças; 4) expecta-
tivas mais amplas da Sociedade.
IV. a busca pela vantagem competitiva sustentável, por meio da ______________________________________________________
implementação de estratégias que gerem valor e, ao mesmo tempo,
dificultem a reprodução das mesmas por empresas concorrentes. ______________________________________________________
V. um conjunto de informações operacionais pertinentes, ob-
______________________________________________________
tidas a partir da realização de análises dos ambientes interno e ex-
terno. ______________________________________________________
É correto o que consta SOMENTE em ______________________________________________________
(A) I, III e IV.
(B) II e III ______________________________________________________
(C) III, IV e V.
(D) IV e V. ______________________________________________________
(E) I, II e IV
______________________________________________________

______________________________________________________

GABARITO ______________________________________________________

______________________________________________________
1 A
______________________________________________________
2 D
______________________________________________________
3 E
4 B ______________________________________________________
5 D ______________________________________________________
6 ERRADA
______________________________________________________
7 CERTO
8 ERRADO ______________________________________________________

9 C ______________________________________________________
10 CERTO ______________________________________________________
11 E
______________________________________________________
12 ERRADO
13 B ______________________________________________________
14 E ______________________________________________________
15 C
______________________________________________________
16 C
_____________________________________________________
17 C
18 A _____________________________________________________
19 ERRADA ______________________________________________________
20 CERTA
______________________________________________________
21 A
22 D ______________________________________________________

134
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
1. Constituição: conceito, classificações, princípios fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, nacionalidade, cidadania, direitos políti-
cos e partidos políticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Organização políticoadministrativa: União, Estados, Distrito Federal, Municípios e Territórios. Administração pública: disposições ge-
rais, servidores públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Poder Judiciário. Disposições gerais. Órgãos do Poder Judiciário: competências. Conselho Nacional de Justiça (CNJ): composição e
competência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
5. Funções essenciais à Justiça: Ministério Público, advocacia e defensoria públicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
República Federativa, os objetivos estão relacionados à destinação,
CONSTITUIÇÃO: CONCEITO, CLASSIFICAÇÕES, PRINCÍ- ao que se pretende, às finalidades e metas traçadas no texto cons-
PIOS FUNDAMENTAIS titucional que a República Federativa do Estado brasileiro anseia
alcançar.
— Princípios fundamentais O Estado brasileiro é democrático porque é regido por normas
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união democráticas, pela soberania da vontade popular, com eleições
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti- livres, periódicas e pelo povo, e de direito porque pauta-se pelo
tui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias funda-
I - a soberania; mentais, refletindo a afirmação dos direitos humanos. Por sua vez,
II - a cidadania o Estado de Direito caracteriza-se pela legalidade, pelo seu sistema
III - a dignidade da pessoa humana; de normas pautado na preservação da segurança jurídica, pela se-
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei paração dos poderes e pelo reconhecimento e garantia dos direitos
nº 13.874, de 2019). fundamentais, bem como pela necessidade do Direito ser respeito-
V - o pluralismo político. so com as liberdades individuais tuteladas pelo Poder Público.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS: DIREITOS
E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS, DIREITOS SO-
Os princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988
CIAIS, NACIONALIDADE, CIDADANIA, DIREITOS POLÍ-
estão previstos no art. 1º da Constituição e são:
TICOS E PARTIDOS POLÍTICOS
A soberania, poder político supremo, independente interna-
cionalmente e não limitado a nenhum outro na esfera interna. É o
poder do país de editar e reger suas próprias normas e seu ordena- — Direitos e deveres individuais e coletivos
mento jurídico. Os direitos e deveres individuais e coletivos são todos aqueles
A cidadania é a condição da pessoa pertencente a um Estado, previstos nos incisos do art. 5º da Constituição Federal.
dotada de direitos e deveres. O status de cidadão é inerente a todo
jurisdicionado que tem direito de votar e ser votado. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
A dignidade da pessoa humana é valor moral personalíssimo quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros re-
inerente à própria condição humana. Fundamento consistente no sidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
respeito pela vida e integridade do ser humano e na garantia de igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
condições mínimas de existência com liberdade, autonomia e igual-
dade de direitos. Princípio da igualdade entre homens e mulheres:
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, pois é atra- I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
vés do trabalho que o homem garante sua subsistência e contribui termos desta Constituição;
para com a sociedade. Por sua vez, a livre iniciativa é um princípio
que defende a total liberdade para o exercício de atividades econô- Princípio da legalidade e liberdade de ação:
micas, sem qualquer interferência do Estado. II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
O pluralismo político que decorre do Estado democrático de coisa senão em virtude de lei;
Direito e permite a coexistência de várias ideias políticas, consubs-
tanciadas na existência multipartidária e não apenas dualista. O Vedação de práticas de tortura física e moral, tratamento de-
Brasil é um país de política plural, multipartidária e diversificada e sumano e degradante:
não apenas pautada nos ideais dualistas de esquerda e direita ou III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desu-
democratas e republicanos. mano ou degradante;
Importante mencionar que união indissolúvel dos Estados, Mu-
nicípios e do Distrito Federal é caracterizada pela impossibilidade Liberdade de manifestação do pensamento e vedação do ano-
de secessão, característica essencial do Federalismo, decorrente da nimato, visando coibir abusos e não responsabilização pela veicu-
impossibilidade de separação de seus entes federativos, ou seja, o lação de ideias e práticas prejudiciais:
vínculo entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios é indis- IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
solúvel e nenhum deles pode abandonar o restante para se trans- nimato;
formar em um novo país.
Quem detém a titularidade do poder político é o povo. Os go- Direito de resposta e indenização:
vernantes eleitos apenas exercem o poder que lhes é atribuído pelo V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
povo. além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
Além de ser marcado pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, a separação dos poderes estatais Liberdade religiosa e de consciência:
– Executivo, Legislativo e Judiciário é também uma característica VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
do Estado Brasileiro. Tais poderes gozam, portanto, de autonomia e assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na for-
independência no exercício de suas funções, para que possam atuar ma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
em harmonia.  VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
Fundamentos, também chamados de princípios fundamentais religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;
(art. 1º, CF), são diferentes dos objetivos fundamentais da Repú- VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença re-
blica Federativa do Brasil (art. 3º, CF). Assim, enquanto os funda- ligiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para
mentos ou princípios fundamentais representam a essência, cau- eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir
sa primária do texto constitucional e a base primordial de nossa prestação alternativa, fixada em lei;

1
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Liberdade de expressão e proibição de censura: XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade com-
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, cientí- petente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao pro-
fica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; prietário indenização ulterior, se houver dano;

Proteção à imagem, honra e intimidade da pessoa humana: Pequena propriedade rural:


X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, des-
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano de que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para
material ou moral decorrente de sua violação; pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis-
pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;
Proteção do domicílio do indivíduo:
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo Direitos autorais:
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagran- XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização,
te delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdei-
por determinação judicial; (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência). ros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
Proteção do sigilo das comunicações: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no úl- desportivas;
timo caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei es- b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das
tabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intér-
penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996). pretes e às respectivas representações sindicais e associativas;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais pri-
Liberdade de profissão: vilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às cria-
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profis- ções industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas
são, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
Acesso à informação:
XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguar- Direito de herança:
dado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será
Liberdade de locomoção, direito de ir e vir: regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal
podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permane- do “de cujus”;
cer ou dele sair com seus bens;
Direito do consumidor:
Direito de reunião: XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do con-
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em lo- sumidor;
cais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que
não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo Direito de informação, petição e obtenção de certidão junto
local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; aos órgãos públicos:
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos infor-
Liberdade de associação: mações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral,
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
a de caráter paramilitar; ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de coope- sociedade e do Estado; (Regulamento) (Vide Lei nº 12.527, de 2011).
rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do paga-
estatal em seu funcionamento; mento de taxas:
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvi- a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direi-
das ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo- tos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a perma- de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal;
necer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente auto- Princípio da proteção judiciária ou da inafastabilidade do con-
rizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou trole jurisdicional:
extrajudicialmente; XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito;
Direito de propriedade e sua função social:
XXII - é garantido o direito de propriedade;
Segurança jurídica:
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada;
Intervenção do Estado na propriedade:
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação
Direito adquirido é aquele incorporado ao patrimônio jurídico
por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, me-
diante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos de seu titular e cujo exercício não pode mais ser retirado ou tolhido.
previstos nesta Constituição;

2
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Ato jurídico perfeito é a situação ou direito consumado e defi- b) perda de bens;
nitivamente exercido, sem nulidades perante a lei vigente. c) multa;
d) prestação social alternativa;
Coisa julgada é a matéria submetida a julgamento, cuja sen- e) suspensão ou interdição de direitos;
tença transitou em julgado e não cabe mais recurso, não podendo,
portanto, ser modificada. Proibição de penas:
XLVII – não haverá penas:
Tribunal de exceção: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; art. 84, XIX;
O juízo ou tribunal de exceção seria aquele criado exclusiva- b) de caráter perpétuo;
mente para o julgamento de um fato específico já acontecido, onde c) de trabalhos forçados;
os julgadores são escolhidos arbitrariamente. A Constituição veda d) de banimento;
tal prática, pois todos os casos devem se submeter a julgamento e) cruéis.
dos juízos e tribunais já existentes, conforme suas competências
pré-fixadas. Estabelecimentos para cumprimento de pena:
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos,
Tribunal do Júri: de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização Respeito à Integridade Física e Moral dos Presos:
que lhe der a lei, assegurados: XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física
a) a plenitude de defesa; e moral;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos; Direito de permanência e amamentação dos filhos pela pre-
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra sidiária mulher:
a vida; L – às presidiárias serão asseguradas condições para que pos-
sam permanecer com seus filhos durante o período de amamenta-
Princípio da legalidade, da anterioridade e da retroatividade ção;
da lei penal:
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena Extradição:
sem prévia cominação legal; LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado,
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
Princípio da não discriminação: gas afins, na forma da lei;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direi- LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime
tos e liberdades fundamentais; político ou de opinião;

Crimes inafiançáveis, imprescritíveis e insuscetíveis de graça Direito ao julgamento pela autoridade competente
e anistia: LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela au-
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e impres- toridade competente;
critível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de Devido Processo Legal:
graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecen- LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
tes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hedion- devido processo legal;
dos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem; (Regulamento). Contraditório e a ampla defesa:
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
o Estado Democrático. com os meios e recursos a ela inerentes;
• Crimes inafiançáveis e imprescritíveis: Racismo e ação de
grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Demo- Provas ilícitas:
crático; LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por
• Crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça e anistia: Prá- meios ilícitos;
tica de Tortura, Tráfico de drogas e entorpecentes, terrorismo e cri-
mes hediondos. Presunção de inocência:
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em jul-
Princípio da intranscendência da pena: gado de sentença penal condenatória;
XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, poden-
do a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de Identificação criminal:
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles LVIII – o civilmente identificado não será submetido a identifi-
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; cação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; (Regulamento).

Individualização da pena: Ação Privada Subsidiária da Pública:


XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se
outras, as seguintes: esta não for intentada no prazo legal;
a) privação ou restrição da liberdade;

3
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
A publicidade dos atos processuais e o segredo de Justiça: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à
LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo
Legalidade da prisão: por processo sigiloso, judicial ou administrativo;
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por or-
dem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, Ação Popular:
salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente mi- LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
litar, definidos em lei; popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
Comunicabilidade da prisão: ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o
LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família da sucumbência;
do preso ou à pessoa por ele indicada;
Assistência Judiciária:
Informação ao preso: LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita
LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o aos que comprovarem insuficiência de recursos;
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da famí-
lia e de advogado; Indenização por erro judiciário:
LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, as-
Identificação dos responsáveis pela prisão: sim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;
LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por
sua prisão ou por seu interrogatório policial; Gratuidade de serviços públicos:
LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na for-
Relaxamento da prisão ilegal: ma da lei: (Vide Lei nº 7.844, de 1989)
LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autori- a) o registro civil de nascimento;
dade judiciária; b) a certidão de óbito;
LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas
Garantia da liberdade provisória: data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidada-
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a nia (Regulamento).
lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
Princípio da Celeridade Processual:
Prisão civil: LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são asse-
LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do respon- gurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
sável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional
alimentícia e a do depositário infiel; nº 45, de 2004).

Habeas corpus: Aplicabilidade das normas de direitos e garantias fundamen-


LXVIII – conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer tais:
ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberda- § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamen-
de de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; tais têm aplicação imediata.
Assim, todas as normas relativas aos direitos e garantias funda-
Mandado de Segurança: mentais são autoaplicáveis.
LXIX – conceder-se-á mandado de segurança para proteger di-
reito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas Rol é exemplificativo:
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atri- excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela ado-
buições do Poder Público; tados, ou dos tratados internacionais em que a República Federati-
LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado va do Brasil seja parte.
por: O rol dos direitos elencados no art. 5º da CF/88 não é taxativo,
a) partido político com representação no Congresso Nacional; mas sim exemplificativo. Os direitos e garantias ali expressos não
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legal- excluem outros de caráter constitucional, decorrentes de princípios
mente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em constitucionais, do regime democrático, ou de tratados internacio-
defesa dos interesses de seus membros ou associados; nais.

Mandado de Injunção: Tratados e Convenções Internacionais de Direitos Humanos


LXXI – conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos hu-
de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e manos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à naciona- em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos mem-
lidade, à soberania e à cidadania; bros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma
Habeas data: deste parágrafo: DLG nº 186, de 2008, DEC 6.949, de 2009, DLG 261,
de 2015, DEC 9.522, de 2018).
LXXII – conceder-se-á habeas data:

4
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Com a Emenda Constitucional n° 45 de 2004, as normas de Piso salarial:
tratados internacionais sobre direitos humanos passaram a ser re- V – piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do
conhecidas como normas de hierarquia constitucional, porém, so- trabalho;
mente se aprovadas pelas duas casas do Congresso por 3/5 de seus
membros em dois turnos de votação. Irredutibilidadade do salário:
VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção
Submissão à Jurisdição do Tribunal Penal Internacional: ou acordo coletivo;
§ 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Inter-
nacional a cuja criação tenha manifestado adesão. (Incluído pela Proteção aos que percebem remuneração variável:
Emenda Constitucional nº 45, de 2004). VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que
O Brasil se submeteu expressamente à jurisdição do Tribunal percebem remuneração variável;
Penal Internacional, também conhecido por Corte ou Tribunal de
Haia, instituído pelo Estatuto de Roma e ratificado em 20 de junho Décimo Terceiro Salário ou Gratificação Natalina:
de 2002 pelo Brasil. A Emenda Constitucional n° 45/2004, deu a VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração inte-
esta adesão força constitucional. O objetivo do TPI é identificar e gral ou no valor da aposentadoria;
punir autores de crimes contra a humanidade.
— Direitos sociais Remuneração superior por trabalho noturno:
Os chamados Direitos Sociais são aqueles que visam garantir IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
qualidade de vida, a melhoria de suas condições e o desenvolvi- Proteção do salário contra retenção dolosa:
mento da personalidade. São meios de se atender ao princípio basi- X – proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua
lar da dignidade humana e estão previstos no art. 6º, CF. retenção dolosa;
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ- Participação nos lucros:
dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da re-
aos desamparados, na forma desta Constituição (Redação dada muneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empre-
pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015). sa, conforme definido em lei;

Do direito ao trabalho Salário-família:


Os direitos relativos aos trabalhadores podem ser de duas or- XII – salário-família pago em razão do dependente do trabalha-
dens: dor de baixa renda nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda
- Direitos individuais, previstos no art. 7º, CF; Constitucional nº 20, de 1998).
- Direitos coletivos dos trabalhadores, previstos nos arts. 9º a
11, CF. Jornada de Trabalho:
XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas
Os direitos individuais dos trabalhadores são aqueles destina- diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de
dos a proteger a relação de trabalho contra uma profunda desigual- horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção
dade, de modo a compatibilizar a função laboral com a dignidade e coletiva de trabalho; (Vide Decreto-Lei nº 5.452, de 1943).
o bem-estar do trabalhador que é a parte hipossuficiente da relação
trabalhista. Jornada especial para turnos ininterruptos de revezamento:
XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social:
Repouso (ou descanso) semanal remunerado (DSR):
XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente aos do-
Proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa:
mingos;
I – relação de emprego protegida contra despedida arbitrária
ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá
Pagamentos de horas extras:
indenização compensatória, dentre outros direitos;
XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no mí-
nimo, em cinqüenta por cento à do normal; (Vide Del 5.452, art. 59
Seguro-Desemprego: § 1º).
II – seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
Férias remuneradas:
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS): XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
III – fundo de garantia do tempo de serviço; terço a mais do que o salário normal;
Salário mínimo: Licença à gestante:
IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salá-
capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua fa- rio, com a duração de cento e vinte dias;
mília com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos Licença-paternidade:
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação XIX – licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
para qualquer fim;
Proteção da mulher no mercado de trabalho:
XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante
incentivos específicos, nos termos da lei;

5
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Aviso Prévio: Empregados domésticos:
XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalha-
mínimo de trinta dias, nos termos da lei; dores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X,
XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII
Redução dos riscos do trabalho: e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a sim-
XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de plificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e
normas de saúde, higiene e segurança; acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiarida-
des, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como
Adicional por atividades penosas, insalubres ou perigosas: a sua integração à previdência social (Redação dada pela Emenda
XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, Constitucional nº 72, de 2013).
insalubres ou perigosas, na forma da lei;
Os Direitos Coletivos dos Trabalhadores “são aqueles exerci-
Aposentadoria: dos pelos trabalhadores, coletivamente ou no interesse de uma co-
XXIV – aposentadoria; letividade” (LENZA, 2019, p. 2038) e compreendem:
Liberdade de Associação Profissional Sindical: prerrogativa
Assistência aos filhos pequenos: dos trabalhadores para defesa de seus interesses profissionais e
XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o econômicos.
nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; Direito de Greve: direito de abstenção coletiva e simultânea
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006). do trabalho, de modo organizado para defesa de interesses dos
trabalhadores. Importante mencionar que serviços considerados
Reconhecimento das convenções e acordos coletivos de tra- essenciais e inadiáveis à sociedade não podem ser paralisados to-
balho: talmente para o exercício do direito de greve. Ademais, o STF (2017)
XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de entende que servidores que atuam diretamente na área de segu-
trabalho; rança pública não podem entrar em greve em nenhuma hipótese.
Direito de Participação Laboral: assegura a participação dos
Proteção em face da automação: trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos
XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei; em que interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de
discussão.
Seguro contra acidentes de trabalho: Direito de Representação na Empresa: Nos termos do art. 11,
XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empre- CF: nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada
gador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de
incorrer em dolo ou culpa; promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

Ação trabalhista nos prazos prescricionais: — Direitos de nacionalidade


XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das relações de A nacionalidade é a condição de sujeito natural do Estado, que
trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalha- pode participar dos atos pertinentes à nação. A atribuição da nacio-
dores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do nalidade se dá por dois critérios:
contrato de trabalho; (Redação dada pela Emenda Constitucional Jus solis: será brasileiro todo aquele nascido em território na-
nº 28, de 2000). cional;
Jus sanguinis: será brasileiro todo filho de nacional, mesmo
Não discriminação: nascido no exterior.
XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de fun- O Brasil adota, em regra, o critério do jus solis, mitigado por cri-
ções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou térios do jus sanguinis. O art. 12 da Constituição Federal elenca os
estado civil; direitos da nacionalidade, dividindo os brasileiros em dois grandes
XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário grupos: os brasileiros natos e os naturalizados.
e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;
Art. 12 São brasileiros:
Proibição de distinção do trabalho: I - natos:
XXXII – proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de
intelectual ou entre os profissionais respectivos; pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasilei-
Trabalho do menor: ra, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federa-
XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a tiva do Brasil;
menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe bra-
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Re- sileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira com-
dação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998). petente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e
• De 14 a 16 anos: Só pode trabalhar na condição de aprendiz. optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
• De 16 a 18 anos: É vedado o exercício de trabalho noturno, nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
perigoso ou insalubre. nal nº 54, de 2007).
• A partir de 18 anos: Trabalho normal. II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
Igualdade ao trabalhador avulso: exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas resi-
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo dência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
empregatício permanente e o trabalhador avulso

6
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na Re- a reclama. Não haverá extradição de brasileiro nato. Também não
pública Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de
sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade bra- opinião.
sileira (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, Repatriação é medida administrativa consistente no processo
de 1994). de devolução voluntária de uma pessoa ao seu local de origem ou
de cidadania, por estar impedida de permanecer em território bra-
Cargos privativos do brasileiro nato: (art. 12, § 3º, CF) sileiro após determinado período.
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: A deportação será aplicada nas hipóteses de entrada ou esta-
I - de Presidente e Vice-Presidente da República; da irregular de estrangeiros no território nacional e a repatriação
II - de Presidente da Câmara dos Deputados; ocorre quando o clandestino é impedido de ingressar em território
III - de Presidente do Senado Federal; nacional pela fiscalização fronteiriça e aeroportuária brasileira.
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; A expulsão consiste em medida administrativa de retirada com-
V - da carreira diplomática; pulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada
VI - de oficial das Forças Armadas. com o impedimento de reingresso por prazo determinado, configu-
VII - de Ministro de Estado da Defesa (Incluído pela Emenda rado pela prática de crimes em território brasileiro.
Constitucional nº 23, de 1999). O banimento, que é a entrega de um brasileiro para julgamento
no exterior, prática comum na época da ditadura militar, é vedado
Naturalização pela Constituição.
A naturalização é um meio derivado, de aquisição secundária — Direitos políticos
da nacionalidade brasileira, permitida ao estrangeiro ou apátrida Os Direitos Políticos visam assegurar a participação do cidadão
que preencher determinados requisitos. na vida política e estrutural de seu Estado, garantindo-lhe o acesso
Também chamado de heimatlos, o apátrida é aquele que não à condução da coisa pública. Abrangem o poder que qualquer ci-
possui nenhuma nacionalidade, já o polipátrida é aquele que tem dadão tem na condução dos destinos de sua coletividade, de uma
mais de uma nacionalidade. forma direta ou indireta, ou seja, sendo eleito ou elegendo repre-
A Lei nº 13.445/2017, que institui a Lei de Migração trata de sentantes junto aos poderes públicos.
diversas questões acerca da nacionalidade e do processo de natu- Cidadania e nacionalidade são conceitos distintos, logo nacio-
ralização, sendo vedada a diferenciação arbitrária entre brasileiros nal é diferente de cidadão. A condição de nacional é um pressupos-
natos e naturalizados. to para a de cidadão. A cidadania em sentido estrito é o status de
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros nacional acrescido dos direitos políticos, isto é, o poder participar
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. do processo governamental, sobretudo pelo voto.
Nos termos do art. 14 da Constituição Federal a soberania po-
Portugueses: pular é exercida pelo sufrágio (voto) universal, direto e secreto, com
Aos portugueses com residência permanente no país serão valor igual para todos. Ademais, estabelece também os instrumen-
atribuídos os mesmos direitos dos brasileiros, desde que haja re- tos de participação semidireta pelo povo.
ciprocidade. Plebiscito: manifestação popular do eleitorado que decide
acerca de uma determinada questão. Assim, em termos práticos, é
Art. 12 feita uma pergunta à qual responde o eleitor. É uma consulta prévia
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se à elaboração da lei.
houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os Referendo: manifestação popular, em que o eleitor aprova ou
direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Cons- rejeita uma atitude governamental, normalmente uma lei ou proje-
tituição (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº to de lei já existente.
3, de 1994). Iniciativa Popular: é o direito de uma parcela da população (1%
do eleitorado) apresentar ao Poder Legislativo um projeto de lei
Perda da Nacionalidade: que deverá ser examinado e votado. Os eleitores também podem
§ 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: usar deste instrumento em nível estadual e municipal.
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em
virtude de atividade nociva ao interesse nacional; Alistamento eleitoral (direitos políticos ativos):
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:(Redação Consiste na capacidade de votar, participar de plebiscito e re-
dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994). ferendo, subscrever projeto de lei de iniciativa popular e de propor
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei es- ação popular e se dá através do alistamento eleitoral, obrigatório
trangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de para os maiores de dezoito anos e facultativo para os maiores de
1994). dezesseis e menores de dezoito, para os analfabetos e para os maio-
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao res de setenta anos.
brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para São inalistáveis os estrangeiros e os conscritos durante serviço
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; militar obrigatório, ou seja, aqueles que se alistaram no exército e
(Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994). foram convocados a prestar serviço militar.

Extradição, repatriação, deportação e expulsão Elegibilidade eleitoral (direitos políticos passivos):


A extradição, repatriação, deportação e expulsão são medidas Os direitos políticos passivos consistem na possibilidade de ser
do Estado soberano para enviar uma pessoa que se encontra refu- votado, ou seja, na elegibilidade que é a capacidade eleitoral passi-
giada em seu território a outro Estado estrangeiro. va consistente na possibilidade de o cidadão pleitear determinados
Segundo o Ministério da Justiça (2021), a extradição é um ato mandatos políticos, mediante eleição popular, desde que preenchi-
de cooperação internacional que consiste na entrega de uma pes- dos os devidos requisitos.
soa, acusada ou condenada por um ou mais crimes, ao país que

7
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: § 11 A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo
I - a nacionalidade brasileira; de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de
II - o pleno exercício dos direitos políticos; manifesta má-fé.
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; Suspensão e Perda dos Direitos Políticos
V - a filiação partidária; Regulamento. A perda e a suspensão dos direitos políticos podem-se dar,
VI - a idade mínima de: respectivamente, de forma definitiva ou temporária. Ocorrerá a
a) 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da República e perda quando houver cancelamento da naturalização por sentença
Senador; transitada em julgado, no caso de recusa em cumprir obrigação a
b) 30 para Governador e Vice-Governador de Estado e do Dis- todos imposta ou prestação alternativa (é o caso do serviço militar
trito Federal; obrigatório). Por sua vez, a suspensão dos direitos políticos se dá
c) 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distri- enquanto persistirem os motivos desta, ou seja, enquanto não re-
tal, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; toma a capacidade civil, o indivíduo terá seus direitos políticos sus-
d) 18 anos para Vereador. pensos; readquirindo-a, alcançará, novamente o status de cidadão.
Também são passíveis de suspensão os condenados criminalmente
Inelegibilidades: (com sentença transitado em julgado). Cumprida a pena, readqui-
A Constituição não menciona exaustivamente todas hipóteses rem os direitos políticos; no caso de improbidade administrativa, a
de inelegibilidade, apenas fixa algumas. Em regra: suspensão será, da mesma forma, temporária.
§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou
suspensão só se dará nos casos de:
Há também a inelegibilidade derivada do casamento ou do pa- I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em
rentesco com o Presidente da República, com os Governadores de julgado;
Estado e do Distrito Federal e com os Prefeitos, ou com quem os II - incapacidade civil absoluta;
haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito. III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto du-
rarem seus efeitos;
§7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o côn- IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação
juge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou alternativa, nos termos do art. 5º, VIII
por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja
substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já — Partidos Políticos
titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. Partidos políticos são associações de pessoas de ideologia e in-
teresses comuns, com a finalidade de exercer o poder a partir da
Quanto à Reeleição e desincompatibilização, a Emenda Consti- vontade popular, determinando o governo e a orientação política
tucional nº 16 trouxe a possibilidade de reeleição para o chefe dos nacional. Juridicamente, são verdadeiras instituições, pessoas jurí-
Poderes Executivos federal, estadual, distrital e municipal. Ao con- dicas de direito privado, constituídas na forma da lei civil, perante
trário do sistema americano de reeleição, que permite apenas a re- o Registro Civil de Pessoas Jurídicas e que gozam de imunidade e
condução por um período somente, no Brasil, após o período de um autonomia para gerir sua organização interna.
mandato, o governante pode voltar a se candidatar para o posto. No Brasil, o pluralismo político é um dos fundamentos da Repú-
blica, e diferente de outras nações aqui não foi instituído o dualis-
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do mo. (direita e esquerda ou democratas e republicanos). Os partidos
Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substi- políticos têm liberdade de organização partidária, sendo livres a
tuído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único criação, fusão, incorporação e a sua extinção, observados o caráter
período subsequente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nacional, a proibição de subordinação e recebimento de recursos
nº 16, de 1997). financeiros de entidades ou governo estrangeiros, a vedação da uti-
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da Repú- lização de organização paramilitar, além do dever de prestar contas
blica, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos à Justiça Eleitoral e do funcionamento parlamentar de acordo com
devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do a lei.
pleito. De acordo com a Lei das Eleições, coligações partidárias são
permitidas.
Por sua vez, o militar é elegível, se cumpridos alguns requisitos: Os partidos políticos, uma vez devidamente constituídos e re-
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes con- gistrados no TSE, têm direito a recursos do fundo partidário e aces-
dições: so gratuito ao rádio e à televisão para fins de propaganda eleitoral
I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se
da atividade;
II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela
autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato
da diplomação, para a inatividade.

O Mandato Eletivo pode ser impugnado:


§ 10 O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça
Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruí-
da a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou
fraude;

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NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
ORGANIZAÇÃO POLÍTICOADMINISTRATIVA: UNIÃO, Todo ente federativo possui suas competências. Competência
ESTADOS, DISTRITO FEDERAL, MUNICÍPIOS E TERRI- é o poder legal de uma autoridade pública para a prática de atos
TÓRIOS. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: DISPOSIÇÕES administrativos e tomada de decisões.
GERAIS, SERVIDORES PÚBLICOS Como ente federativo, a União possui competências adminis-
trativas que lhe são exclusivas (art. 21, CF), competências legisla-
— Estado federal brasileiro, União, Estados, Distrito Federal, tivas privativas (art. 22, CF), competências administrativas comuns
municípios e territórios com Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 23, CF) e competên-
cias legislativas concorrentes com Estados, Distrito Federal e Muni-
Estado Federal Brasileiro cípios (art. 24, CF).
São elementos do Estado a soberania, a finalidade, o povo e o
território. Assim, Dalmo de Abreu Dallari (apud Lenza, 2019, p. 719) Estados
define Estado como “a ordem jurídica soberana que tem por fim o O Brasil é composto de estados federados que gozam de uma
bem comum de um povo situado em determinado território”. autonomia, consubstancianda na capacidade de auto-organização,
A Constituição de 1988 adotou a forma republicana de gover- auto-legislação, auto-governo e autoadministração.
no, o sistema presidencialista de governo e a forma federativa de Os Estados podem se formar a partir de incorporação, subdi-
Estado. Note tratar-se de três definições distintas. visão ou desmembramento, que por sua vez, pode se dar por ane-
xação ou formação. A incorporação ou fusão é a junção de dois ou
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL: mais Estados para formação de um único Estado novo. A cisão ou
• Forma de Estado: Federação subdivisão é a separação de um Estado em dois ou mais Estados
• Forma de Governo: República autônomos e independentes. E, o desmembramento consiste na
• Regime de Governo: Democrático separação de parte de um Estado para formação de um novo Estado
• Sistema de Governo: Presidencialismo (formação) ou anexação a outro Estado já existente.
As competências estaduais estão previstas no art. 25, CF e os
bens dos Estados estão elencados no art. 26, CF:
O federalismo é a forma de Estado marcado essencialmente
Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constitui-
pela união indissolúvel dos entes federativos, ou seja, pela impossi-
ções e leis que adotarem, observados os princípios desta Constitui-
bilidade de secessão, separação. São entes da federação brasileira:
ção.
a União; os Estados-Membros; o Distrito Federal e os Municípios.
§ 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes
Brasília é a capital federal e o Estado brasileiro é considerado lai-
sejam vedadas por esta Constituição.
co, mantendo uma posição de neutralidade em matéria religiosa,
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante con-
admitindo o culto de todas as religiões, sem qualquer intervenção.
cessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada
a edição de medida provisória para a sua regulamentação. (Reda-
União
ção dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995).
A União é o ente federativo com dupla personalidade. Inter-
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir
namente, é uma pessoa jurídica de direito público interno, com
regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
autonomia financeira, administrativa e política e capacidade de au-
constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para inte-
to-organização, autogoverno, autolegislação e autoadministração.
Internacionalmente, a União é soberana e representa a República grar a organização, o planejamento e a execução de funções públi-
Federativa do Brasil a quem cabe exercer as prerrogativas da so- cas de interesse comum.
berania do Estado brasileiro. Os bens da União são todos aqueles Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
elencados, no art. 20, CF. I - As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes
São bens da União os previstos no art. 20, CF: e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorren-
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser tes de obras da União;
atribuídos; II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios
das fortificações e construções militares, das vias federais de comu- ou terceiros;
nicação e à preservação ambiental, definidas em lei; III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele Municípios
provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; O Município, que também é um ente federado que possui au-
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros tonomia administrativa (autoadministração) e política (auto-organi-
países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluí- zação, autogoverno e capacidade normativa própria). E, vinculado
das, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas ao Estado onde se localiza, depende na sua criação, incorporação,
áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e fusão ou desmembramento, de lei estadual dentro do período de-
as referidas no art. 26, II; Redação dada pela Emenda Constitucional terminado por lei complementar federal, além da realização de ple-
nº 46, de 2005). biscito.
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona Sua capacidade de auto-organização consiste na possibilidade
econômica exclusiva; da elaboração da lei orgânica própria. O município possui o Poder
VI - o mar territorial; Executivo, exercido pelo Prefeito e o Poder Legislativo, exercido
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; pela Câmara Municipal. Entretanto, não há Poder Judiciário na es-
VIII - os potenciais de energia hidráulica; fera municipal. É regido por lei orgânica, nos termos do art. 29, CF.
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; A Constituição prevê ainda a composição das Câmaras Municipais
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e o subsídio dos vereadores, de acordo com a quantidade de habi-
e pré-históricos; tantes do município.

9
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
A competência dos municípios está elencada no art. 30, CF.
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar
contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;
IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de
transporte coletivo, que tem caráter essencial;
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamen-
tal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

A fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios se dá sob duas modalidades: controle externo, exercido pela Câmara Munici-
pal e o controle interno, exercido pelo próprio executivo municipal, nos termos do art. 31, CF.

Distrito Federal
O Distrito Federal é reconhecido como ente integrante da Federação e goza de autonomia política, embora não se enquadre nem
como estado-membro ou município. Sua principal função é servir como sede do Governo Federal e não pode haver divisões em municí-
pios. O Distrito Federal não possui constituição, mas lei orgânica própria, que define os princípios básicos de sua organização, suas compe-
tências e a organização de seus poderes governamentais, nos termos do art. 32, CF.
Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo
de dez dias, e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios.
§ 2º A eleição do Governador e do Vice-Governador, observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com a dos
Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de igual duração.
§ 3º Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no art. 27.
§ 4º Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal, da polícia civil, da polícia penal, da polícia militar e do
corpo de bombeiros militar (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019).

Atualmente, não existe no Brasil nenhum Território. Com a CF/88, os territórios de Roraima e Amapá foram transformados em Estados
e Fernando de Noronha foi incorporado ao Estado de Pernambuco.

PODER JUDICIÁRIO. DISPOSIÇÕES GERAIS. ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO: COMPETÊNCIAS. CONSELHO NACIONAL
DE JUSTIÇA (CNJ): COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIA

— Disposições gerais
Mais do que o Poder incumbido da função e prestação jurisdicional, é o Poder Judiciário o guardião da Constituição e garantidor dos
direitos fundamentais. A função jurisdicional só pode ser desempenhada pelo Poder Judiciário, único poder capaz de produzir decisões
que venham se revestir da força de coisa julgada.
O Judiciário não é subordinado ao governo e suas principais características são a independência, autonomia a imparcialidade, funda-
mentais para que a lei possa ser aplicada ao caso concreto até mesmo em desfavor do governo e da administração.
A função típica do Poder Judiciário é a prestação jurisdicional, mas este também exerce funções atípicas, legislativas, como a edição
de normas regimentais de seus órgãos, e administrativas, como a concessão de férias aos seus membros e serventuários e o provimento
dos cargos de juiz de carreira na respectiva jurisdição.
Para garantir a independência do exercício da jurisdição, os membros do Poder judiciário gozam de algumas garantias, tais como:
vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos.

— Órgãos do poder judiciário


Conforme art. 92, CF são órgãos do Poder Judiciário:
— Supremo Tribunal Federal (STF);
— Conselho Nacional de Justiça (CNJ);
— Superior Tribunal de Justiça (STJ);
— Tribunal Superior do Trabalho (TST);
— Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais (TRFs);
— Tribunais e Juízes do Trabalho (TRTs);
— Tribunais e Juízes Eleitorais (TREs);
— Tribunais e Juízes Militares (TJM);
— Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios (TJs).

10
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal e jurisdição em
todo o território nacional.
O CNJ é um órgão do Poder Judiciário, entretanto, goza de autonomia e independência e não está hierarquicamente subordinado a
nenhum outro órgão de nenhuma das instâncias. Também não está acima do STF ou abaixo dele, pois exerce a fiscalização dos atos de
todos os outros órgãos e o controle disciplinar de todos os membros do Judiciário.

O STF é o órgão máximo e a mais alta instância do Judiciário brasileiro. É o guardião da Constituição Federal.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de
lei ou ato normativo federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993),
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Mi-
nistros e o Procurador-Geral da República;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e
da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de
missão diplomática de caráter permanente; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999).
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data
contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do
Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal;
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas enti-
dades da administração indireta;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;
i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos
estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única ins-
tância; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 22, de 1999).
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados;
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos
processuais;
n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade
dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e
qualquer outro tribunal;
p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;
q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso
Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de
um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; (Incluída pela Emenda Constitu-
cional nº 45, de 2004).
II - julgar, em recurso ordinário:

11
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de incons-
o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais titucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais
Superiores, se denegatória a decisão; em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitima-
b) o crime político; ção para agir a um único órgão.
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal
em única ou última instância, quando a decisão recorrida: de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau,
a) contrariar dispositivo desta Constituição; pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Mili-
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face tar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil inte-
desta Constituição. grantes (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal. (In- § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
cluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a com-
decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tri- petência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal com-
bunal Federal, na forma da lei. (Transformado em § 1º pela Emen- petente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da
da Constitucional nº 3, de 17/03/93). graduação das praças (Redação dada pela Emenda Constitucional
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supre- nº 45, de 2004).
mo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar
nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao
do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e
esferas federal, estadual e municipal. (Redação dada pela Emenda julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda Cons-
Constitucional nº 45, de 2004). titucional nº 45, de 2004).
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demons- § 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentralizada-
trar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas mente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno
no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a ad- acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.
missão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
de dois terços de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitu- § 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicio-
cional nº 45, de 2004).
nal, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de
equipamentos públicos e comunitários (Incluído pela Emenda Cons-
Por sua vez, o STJ é a corte jurisdicional responsável por unifor-
titucional nº 45, de 2004).
mizar a interpretação da lei federal em todo o Brasil, composta por
33 ministros.
— Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
Segundo dados do próprio site do STJ (2021), é de sua res-
Segundo conceitua o próprio site do CNJ (2021), o Conselho
ponsabilidade a solução definitiva dos casos civis e criminais que
Nacional de Justiça (CNJ) é uma instituição pública que visa aperfei-
não envolvam matéria constitucional nem a justiça especializada. çoar o trabalho do sistema judiciário brasileiro, principalmente no
O principal tipo de processo julgado pelo STJ é o recurso especial, que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e pro-
que serve fundamentalmente para que o tribunal resolva interpre- cessual, desenvolvendo políticas judiciárias que promovam a efeti-
tações divergentes sobre um determinado dispositivo de lei. vidade e a unidade do Poder Judiciário, orientadas para os valores
É ainda de responsabilidade do STJ resolver crimes de autori- de justiça e paz social, impulsionando cada vez mais a efetividade
dades, magistrados e políticos, federalizar processos de grande vio- da Justiça brasileira.
lação de Direitos Humanos, julgar habeas corpus, habeas data ou
mandado de segurança, contra ato ilegal de governadores, desem- Composição
bargadores ou conselheiros de tribunais de contas e outras autori- Criado com a Emenda Constitucional nº 45, o Conselho Nacio-
dades, bem como habeas corpus e mandados de segurança nega- nal de Justiça é composto por 15 (quinze) membros com mandato
dos em 2ª instância pelos Tribunais de Justiça ou Tribunais Federais. de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, nos termos do art.
É também responsável pela administração da Justiça Federal e por 103-B, CF, sendo: o Presidente do Supremo Tribunal Federal; um
solucionar conflitos de competência entre Tribunais. Todas as suas Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo
competências estão expressas no art. 105, CF (STJ, 2021). tribunal; um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado
Já os Tribunais de Justiça compreendem a 2ª instância do ju- pelo respectivo tribunal; um desembargador de Tribunal de Justiça,
diciário brasileiro e os juízes estaduais ou juízes de direito corres- indicado pelo Supremo Tribunal Federal; um juiz estadual, indicado
pondem à primeira instância da Justiça comum. Cada estado tem pelo Supremo Tribunal Federal; um juiz de Tribunal Regional Fede-
seu tribunal. Os tribunais são também responsáveis pelos Juizados ral, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; um juiz federal, indi-
Especiais Cíveis e Criminais suas Turmas recursais, regidos pela Lei cado pelo Superior Tribunal de Justiça; um juiz de Tribunal Regional
9099/1995, e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cida- do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; um juiz
dania – CEJUSCs. Em sede de 1ª instância, os juízes de direito são os do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; um mem-
responsáveis pelas diversas varas, espalhadas nas comarcas. Cada bro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral
tribunal será responsável por sua organização estrutural. da República; um membro do Ministério Público estadual, escolhi-
do pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os pelo órgão competente de cada instituição estadual; dois advoga-
princípios estabelecidos nesta Constituição. dos, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição Brasil; dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada,
do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tri- indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Fe-
bunal de Justiça. deral. É sempre presidido pelo Presidente do STF.

12
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Competências IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representa-
— Elaborar projetos, propostas ou estudos sobre matérias de ção para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos pre-
competência do CNJ e apresentá-los nas sessões plenárias ou re- vistos nesta Constituição;
uniões de Comissões, observada a pauta fixada pelos respectivos V - defender judicialmente os direitos e interesses das popula-
Presidentes; ções indígenas;
— Requisitar de quaisquer órgãos do Poder Judiciário, do CNJ e VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de
de outras autoridades competentes as informações e os meios que sua competência, requisitando informações e documentos para ins-
considerem úteis para o exercício de suas funções; truí-los, na forma da lei complementar respectiva;
— Propor à Presidência a constituição de grupos de trabalho ou VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma
Comissões necessários à elaboração de estudos, propostas e proje- da lei complementar mencionada no artigo anterior;
tos a serem apresentados ao Plenário do CNJ; VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de
— Propor a convocação de técnicos, especialistas, representan- inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas ma-
tes de entidades ou autoridades para prestar os esclarecimentos nifestações processuais;
que o CNJ entenda convenientes; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que
— Pedir vista dos autos de processos em julgamento; compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação
— Participar das sessões plenárias para as quais forem regular- judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
mente convocados; § 1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis
— Despachar, nos prazos legais, os requerimentos ou expe- previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipó-
dientes que lhes forem dirigidos; teses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
— Desempenhar as funções de Relator nos processos que lhes § 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas
forem distribuídos (CNJ, 2021).
por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da res-
pectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA: MINISTÉRIO PÚBLI- § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á me-
CO, ADVOCACIA E DEFENSORIA PÚBLICAS diante concurso público de provas e títulos, assegurada a partici-
pação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exi-
Para a efetiva a prestação jurisdicional não basta que existam gindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade
os juízes e tribunais. O acesso à Justiça só é possível graças a algu- jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação.   
mas funções essenciais: o Ministério Público, a Advocacia Pública, a
Advocacia e a Defensoria Pública. — Advocacia pública
A Advocacia Pública é a instituição que representa a União, ju-
— Ministério público dicial e extrajudicialmente, que, assim como todo ente jurídico, tem
O Ministério Público é instituição permanente e essencial ao seus problemas e interesses, que precisam ser defendidos perante
Judiciário, atuando como custus legis – fiscal da lei, na defesa da o Poder Público. Assim, é a Advocacia-Geral da União, chefiada por
ordem jurídica, regime democrático e dos interesses individuais e um Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente
coletivos. O MP está fora da estrutura dos demais poderes da Re- da República, entre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de
pública, consagrando sua total autonomia e independência para o notável saber jurídico e reputação ilibada e integrada por muitos
cumprimento de suas funções sempre em defesa dos direitos, ga- advogados que atuam vinculados e subordinados à defesa dos in-
rantias e prerrogativas da sociedade. teresses da nação.
Constitucionalmente, o Ministério Público abrange duas gran- É importante não confundir a Advocacia Pública com advocacia
des Instituições, sem que haja qualquer relação de hierarquia e gratuita ou Assistência Judiciária. A assessoria jurídica prestada gra-
subordinação entre elas: o Ministério Público da União, que com- tuitamente ao cidadão se dá pela Defensoria Pública ou por órgãos
preende o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Tra- de assistência judiciária, normalmente municipais, que contratam
balho; o Ministério Público Militar, o Ministério Público do Distrito profissionais para tal fim, ou ainda, por nomeação de advogados
Federal e Territórios; e o Ministério Público dos Estados. dativos feita pelos Tribunais. Também não se pode confundir Procu-
Os membros do Ministério Público Federal são os procuradores radores do Estado com Procuradores de Justiça ou Procuradores da
da República e os do Ministério Público dos Estados e do Distrito República, que não são advogados, mas sim membros do Ministério
Federal são os Promotores e Procuradores de Justiça.
Público Estadual e Federal.
São princípios institucionais do Ministério Público: a unidade, a
indivisibilidade, a independência funcional e o princípio do promo-
— Defensoria Pública
tor natural. Ao Ministério Público compete a função de custos legis
Função essencial individualizada da advocacia pela Emenda
(fiscal da lei), a defesa do patrimônio público e os direitos constitu-
cionais do cidadão, além de ter poder investigativo, dentre tantas Constitucional nº 80/2014, a Defensoria Pública é instituição per-
outras funções de grande relevância elencadas no art. 129, CF e na manente do Estado, que também tem como finalidade primordial a
Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625/93). orientação jurídica e a defesa do cidadão em todos os graus, carac-
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: teriza-se por garantir o acesso à justiça aos mais necessitados. Pos-
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma sui autonomia funcional e administrativa, competindo-lhe a promo-
da lei; ção dos direitos humanos, a defesa, em todos os graus, judicial e
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos servi- extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos e a orientação ju-
ços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constitui- rídica dos cidadãos que não possuem recursos financeiros suficien-
ção, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; tes para a contratação de um advogado particular. A independência
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a pro- funcional no desempenho de suas atribuições, a inamovibilidade,
teção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros a irredutibilidade de vencimentos e a estabilidade são também
interesses difusos e coletivos; garantias dos defensores públicos. São princípios institucionais da

13
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência (D) soberania.
funcional. O ingresso na carreira de defensor também deve se dar (E) valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
por concurso público.
Diante da omissão constitucional sobre a necessidade de o de- 3. (ALTERNATIVE CONCURSOS – 2021) De acordo com a Cons-
fensor público continuar inscrito nos quadros da OAB, dada a si- tituição Federal de 1988, assinale a opção que contém a afirmação
militude das atividades da Defensoria Pública com a advocacia, se INCORRETA:
discute nos Tribunais superiores a obrigatoriedade da inscrição na (A) A República Federativa do Brasil, formada pela união indis-
OAB para os defensores públicos. solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, cons-
titui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fun-
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essen- damentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da
cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expres- pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre
são e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a iniciativa; V - o pluralismo político.
orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, (B) São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e si, apenas o Executivo e o Judiciário.
coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma (C) Constituem objetivos fundamentais da República Federati-
do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal (Redação dada va do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidá-
pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014). ria; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a
§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos
gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e tí- discriminação.
tulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade (D) São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previ-
(Renumerado pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). dência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistên-
§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas au- cia aos desamparados, na forma desta Constituição.
tonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta (E) É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes nicípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencio-
orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º (Incluído ná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). ou seus representantes relações de dependência ou aliança,
§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
União e do Distrito Federal (Incluído pela Emenda Constitucional nº II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções en-
74, de 2013). tre brasileiros ou preferências entre si.
§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a uni-
dade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se 4. (CESPE / CEBRASPE – 2021) Julgue o item a seguir, a respeito
também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. das normas constitucionais de eficácia plena, contida e limitada.
96 desta Constituição Federal (Incluído pela Emenda Constitucional Em se tratando de normas constitucionais de eficácia limitada,
nº 80, de 2014). o legislador constituinte fixa rol restritivo para a atuação discricio-
nária do poder público; seus efeitos são diretos e imediatos, como
é o caso do habeas corpus e do habeas data.
( ) CERTO
EXERCÍCIOS ( ) ERRADO

1. (ADVISE – 2021) Após a aula de Direito Constitucional, Sa- 5. (NC-UFPR – 2021) Sobre a classificação das constituições e
mira, estudante do 4º período do curso de direito da Universidade das normas constitucionais, assinale a alternativa correta.
Kappa Beta, estava em dúvida sobre a definição dos princípios fun- (A) A vedação à censura prévia para a liberdade de expressão
damentais previstos na Constituição Federal de 1988. A principal confirma que as normas que expressam vedações e proibições
dúvida de Samira, dizia respeito à classificação constitucional do podem ser consideradas normas de eficácia imediata.
que dispõe a Constituição ao prever a expressão “garantir o desen- (B) São consideradas formalmente constitucionais as dispo-
volvimento nacional”. Dessa forma, buscou auxílio com a professora sições que regulam o exercício das funções políticas, a estru-
Roberta, que prontamente lhe explicou que a garantia do desenvol- turação do sistema de governo e da federação, e os direitos
vimento nacional, constitui: fundamentais.
(A) Um dos objetivos fundamentais da República Federativa do (C) As constituições dirigentes correspondem a um ideal de
Brasil. Constituição típico do constitucionalismo liberal que prescreve
(B) Um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. um Estado mínimo.
(C) Um dos princípios que rege a República Federativa do Brasil (D) As constituições garantias são a expressão de um constitu-
nas relações internacionais. cionalismo social que defende a Constituição como forma de
(D) Um dos princípios econômicos da Constituição. garantia dos direitos sociais e de um Estado interventor.
(E) Um dos preceitos tributários. (E) São consideradas normas materialmente constitucionais as
disposições que estão escritas na Constituição, não importan-
2. (AVANÇA SP – 2021) De acordo com o artigo 1° da Constitui- do o seu tema e sua relevância para a comunidade política.
ção Federal, são fundamentos da República, EXCETO:
(A) dignidade da pessoa jurídica.
(B) cidadania.
(C) pluralismo político.

14
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
6. (QUADRIX – 2021) Julgue o item no que diz respeito aos prin- (B) A República Federativa do Brasil, formada pela união indis-
cípios fundamentais na Constituição Federal de 1988. solúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, consti-
A partir de meados do século XX, um novo direito constitucio- tui-se em Estado democrático de direito.
nal passou a reconhecer a força normativa dos princípios, enxergan- (C) São Poderes da União, independentes e harmônicos entre
do‐os como as principais normas a veicular a supremacia axiológica si, o Legislativo, o Executivo, o Judiciário e o Ministério Público.
da Constituição. (D) A República Federativa do Brasil buscará a integração eco-
( ) CERTO nômica, política, social e cultural dos povos da América Latina,
( ) ERRADO visando à formação de uma comunidade latino-americana de
nações.
7. (INSTITUTO CONSULPLAN – 2020) Considerando os princí-
pios fundamentais do Estado Brasileiro, segundo a Constituição da 11. (CESPE / CEBRASPE – 2021) A respeito dos direitos e deve-
República Federativa do Brasil, marque V para as afirmativas verda- res individuais e coletivos previstos na Constituição Federal de 1988
deiras e F para as falsas. (CF), julgue o item a seguir.
( ) A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é, São inafiançáveis e imprescritíveis os crimes de racismo e terro-
em toda a história constitucional brasileira, a mais preocupada com rismo, bem como a ação de grupos armados contra a ordem consti-
a tutela dos direitos humanos, o que fica nítido pela escolha dos tucional e o Estado democrático.
princípios fundamentais do Estado, quais sejam: a cidadania, a dig- ( ) CERTO
nidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho postos ( ) ERRADO
juntamente com a livre iniciativa.
( ) Uma análise sistemática do texto constitucional faz ver que 12. (OBJETIVA – 2021) De acordo com a Constituição Federal,
um grande número de dispositivos constitucionais palmilhou clara- todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
mente o caminho do chamado estado do bem-estar social, clarifi- garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
cando a intenção constitucional de evitar as desigualdades sociais inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à seguran-
que poderiam advir da consagração apenas da livre iniciativa como ça e à propriedade, nos seguintes termos, entre outros:
princípio fundamental, sem compatibilizá-la com os valores sociais I. É vedada a expressão da atividade intelectual, artística, cien-
do trabalho. tífica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.
( ) Consagrou-se, ainda, o princípio do pluralismo político, se- II. É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o
gundo o qual devem ser compatibilizadas as opiniões políticas di- sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.
vergentes, para a melhor gestão do Estado Brasileiro, impedindo, III. É relativo o caráter de inviolabilidade do sigilo da corres-
entretanto, que o exercício do poder venha a ser exercido de forma pondência e das comunicações telefônicas, uma vez que, poderá
direta. A sequência está correta em: ser mitigado por ordem judicial para fins de instrução processual
penal e, nos casos de investigação criminal, por determinação do
(A) V, V, F. delegado responsável pela investigação.
(B) V, F, V.
(C) F, V, V. Está(ão) CORRETO(S):
(D) V, V, V. (A) Somente o item I.
(B) Somente o item II.
8. (CESPE-CEBRASPE – 2020) Ao tratar dos princípios funda- (C) Somente os itens I e III.
mentais, a CF estabelece, em seu art. 1.º, (D) Somente os itens II e III.
(A) a forma republicana de Estado, cláusula pétrea expressa, (E) Todos os itens.
caracterizada pela eletividade, temporariedade e responsabili-
dade do governante. 13. (FUNDATEC – 2021) Conforme o Art. 5º da Constituição da
(B) a forma republicana de governo, caracterizada pela eletivi- República Federativa do Brasil de 1988, assinale a alternativa IN-
dade, temporariedade e responsabilidade do governante. CORRETA.
(C) a forma federativa de Estado, cláusula pétrea implícita, ca- (A) É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o ano-
racterizada pela tripartição dos poderes da União. nimato.
(D) a forma federativa de Estado e o sistema presidencialista (B) É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,
de governo. além da indenização por dano material, moral ou à imagem.
(E) a forma republicana de governo e a forma federativa de Es- (C) É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
tado, cláusulas pétreas expressas. independentemente das qualificações profissionais que a lei
estabelecer.
9. (IBFC – 2020) Assinale a alternativa que apresenta um dos (D) É assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, segundo religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.
a Constituição Federal de 1988: (E) É plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a
(A) Valorizar o trabalho e a livre iniciativa de caráter paramilitar.
(B) Defender o pluralismo político
(C) Garantir o desenvolvimento nacional 14. (FGV – 2021) Conforme disposto na Constituição Federal é
(D) Permitir o exercício da cidadania direito dos trabalhadores urbanos e rurais o décimo terceiro salário,
que será baseado:
10. (IESES – 2019) Marque a alternativa INCORRETA sobre os (A) na remuneração integral ou no valor da aposentadoria.
princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988: (B) no valor suplementar do bônus de participação do lucro.
(A) Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de (C) na alíquota de encargos previdenciários do período vigente.
representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Consti- (D) no maior salário mínimo do país ou conforme for estipulado
tuição Federativa da República do Brasil de 1988. no estatuto da empresa.

15
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
(E) no salário completo ou no valor pago de imposto sobre a 19. (FUNDEP – 2021) De acordo com a Constituição da Repúbli-
renda retido na fonte. ca Federativa do Brasil, encontra-se entre as condições de elegibili-
dade a idade mínima de
15. (VUNESP – 2021) É um dos direitos constitucionais dos tra- (A) trinta anos para Presidente e Vice-Presidente da República
balhadores urbanos e rurais: e Senador.
(A) relação de emprego protegida contra despedida arbitrária (B) vinte e um anos para Governador e Vice-Governador de es-
com ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que tado e do Distrito Federal.
preverá indenização compensatória. (C) dezoito anos para Deputado Federal e Deputado Estadual
(B) participação nos lucros, ou resultados, vinculada à última ou Distrital.
remuneração do trabalhador. (D) dezoito anos para Vereador.
(C) assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nas-
cimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas. 20. (IBGP – 2021) O voto é facultativo para brasileiros com:
(D) jornada de oito horas para o trabalho realizado em turnos (A) 18 anos.
ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva. (B) 20 anos.
(E) licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, (C) 16 anos.
com a duração de 180 (cento e oitenta) dias. (D) 19 anos.

16. (FGV – 2021) Ingrid nasceu no território da Bélgica à época 21. (FGV – 2021) Maria, Promotora de Justiça, que ingressara
em que seu pai, brasileiro, ali atuava em uma indústria privada de na carreira do Ministério Público do Estado Alfa há cinco anos, em
conectores eletrônicos. Sua mãe era belga. Considerando que In- razão de sua elevada expertise na área dos direitos humanos, foi
grid foi registrada apenas perante o órgão competente belga, não convidada pelo Governador do Estado a ocupar o cargo de Secretá-
perante uma repartição brasileira, ela é considerada: ria Estadual de Direitos Humanos.
(A) estrangeira, somente lhe restando a opção de se naturalizar À luz da sistemática constitucional, Maria:
brasileira, na forma da lei; (A) não pode exercer qualquer outra função pública, incluindo
(B) brasileira nata, já que seu pai era brasileiro e se encontrava a de Secretária de Estado, salvo uma de magistério;
em território belga a trabalho; (B) pode ocupar o cargo de Secretária de Estado, desde que
haja aquiescência expressa do Procurador-Geral de Justiça;
(C) brasileira nata, pois a ordem constitucional brasileira adota,
(C) pode ocupar o cargo de Secretária de Estado, independen-
em caráter conjunto, os modelos do jus soli e do jus sanguinis;
temente da aquiescência de qualquer órgão do Ministério Pú-
(D) estrangeira, mas, caso venha a residir no território brasilei-
blico;
ro e opte, a qualquer tempo, após atingir a maioridade, pela
(D) não pode exercer outra função pública, incluindo a de Se-
nacionalidade brasileira, adquiri-la-á em caráter nato;
cretária de Estado, salvo se for temporariamente afastada do
(E) estrangeira, mas pode adquirir a nacionalidade brasileira,
cargo de Promotora de Justiça;
em caráter nato, caso o requeira, em território belga, perante
(E) pode ocupar o cargo de Secretária de Estado, desde que
repartição consular brasileira, no ano seguinte à maioridade. haja compatibilidade de horários com o cargo de Promotora de
Justiça e a soma das remunerações não ultrapasse o teto.
17. (VUNESP – 2021) É um cargo público privativo de brasileiro
nato: 22. (QUADRIX – 2021) Relativamente às normas de conduta
(A) de Procurador Geral da República. dos servidores públicos, julgue o item.
(B) de Ministro do Tribunal de Contas da União. Na hipótese de um agente público causar dano a qualquer bem
(C) de Presidente da Câmara dos Deputados. pertencente ao patrimônio público, por descuido ou má vontade,
(D) de Presidente do Superior Tribunal de Justiça. não constitui apenas uma ofensa à Administração Pública, mas a
(E) de Senador da República. todos os homens de boa vontade que dedicaram sua inteligência,
seu tempo, suas esperanças e seus esforços para construí-lo.
18. (CESPE / CEBRASPE – 2021) Com base no disposto na Cons- ( ) CERTO
tituição Federal, julgue os seguintes itens, relativos a direitos políti- ( ) ERRADO
cos e partidos políticos.
I Direito político passivo corresponde ao direito do eleitor de 23. (FGV – 2021) A Constituição da República de 1988
votar. (CRFB/1988) é reconhecida pelo seu caráter democrático e proteti-
II O cancelamento da naturalização por sentença transitada em vo, e promoveu ampliação no rol de direitos e garantias individuais
julgado implica perda dos direitos políticos. e sociais. Em termos de reforma administrativa, contudo, a doutrina
III Em se tratando de eleições proporcionais, o mandato per- especializada aponta a ocorrência de retrocessos, tornando a admi-
tence ao candidato eleito, e não ao partido político sob cuja legen- nistração pública mais burocrática.
da o candidato disputou o processo eleitoral. Nesse sentido, é exemplo de retrocesso trazido pela CRFB/1988:
(A) o incentivo à descentralização político-administrativa;
Assinale a opção correta. (B) o apoio ao clientelismo e ao fisiologismo como política de
(A) Apenas o item I está certo. Estado;
(B) Apenas o item II está certo. (C) a institucionalização de mecanismos de democracia direta,
(C) Apenas os itens I e III estão certos. favorecendo o controle social e a accountability;
(D) Apenas os itens II e III estão certos. (D) a extensão às entidades da administração indireta de proce-
(E) Todos os itens estão certos. dimentos e mecanismos de controle aplicáveis à administração
direta;
(E) a criação do Departamento Administrativo do Serviço Públi-
co (DASP), para comandar as reformas administrativas e imple-
mentar as políticas de governo.

16
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
24. (VUNESP – 2021) No tocante às disposições constitucionais, V. A exigência de concurso público para investidura em cargo
que tratam do tema dos servidores públicos, é correto afirmar que ou emprego público prevista no art. 37, inciso II, da Constituição
(A) o tempo de contribuição federal, estadual, distrital ou mu- Federal de 1988 é exemplo de aplicação do princípio da impessoali-
nicipal e o tempo de serviço público correspondente serão con- dade. Estão corretas apenas as afirmativas
tados para fins de disponibilidade e aposentadoria do servidor.
(B) aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de (A) I, II.
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exo- (B) I, III.
neração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, (C) II, V.
o Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores. (D) III, IV.
(C) por motivos de segurança, é expressamente vedado aos Po- (E) IV, V.
deres Executivo, Legislativo e Judiciário divulgar ou publicar os
valores do subsídio e da remuneração dos cargos e empregos 27. (QUADRIX – 2021) Relativamente às normas de conduta
públicos dos seus respectivos servidores. dos servidores públicos, julgue o item.
(D) o membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Mi- O servidor público está sujeito a penalidades administrativas
nistros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão em razão de condutas que venham a atentar contra a ética e a mo-
remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela ralidade administrativa.
única, que poderá ser acrescido de gratificação, adicional, abo- ( ) CERTO
no, prêmio e verba de representação. ( ) ERRADO
(E) é vedada a incorporação de vantagens de caráter tempo-
rário ou vinculadas ao exercício de função de confiança ou de 28. (UFPel-CES – 2021) Considerando as normas constitucio-
cargo em comissão à remuneração do cargo efetivo. nais sobre servidores públicos, é correto afirmar que
(A) o servidor vinculado a regime próprio de previdência social
25. (VUNESP – 2021) Nos moldes da Constituição Federal, o será aposentado compulsoriamente, com proventos proporcio-
servidor público titular de cargo efetivo, que tenha sofrido limitação nais ao tempo de contribuição, aos 65 anos de idade.
em sua capacidade física ou mental, poderá, atendidas as demais (B) em decorrência do direito a privacidade, é vedada a publi-
exigências, ser readaptado, cação dos valores da remuneração dos servidores públicos.
(A) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita- (C) a remuneração dos servidores públicos organizados em car-
ção, devendo receber pelo menos 70% (setenta por cento) da reira será fixada, exclusivamente, por subsídio.
remuneração do cargo de origem. (D) lei complementar de competência exclusiva da União esta-
(B) para exercício do mesmo cargo, com os necessários ajustes belecerá a relação entre a maior e a menor remuneração dos
servidores públicos de todos os entes federados.
à sua limitação, garantida a mesma remuneração do cargo.
(E) a fixação dos padrões de vencimento e dos demais compo-
(C) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita-
nentes do sistema remuneratório observará as peculiaridades
ção, podendo o servidor optar entre a remuneração do cargo
do cargo.
de origem e a do cargo de destino.
(D) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita-
29. (FUNDATEC – 2021) Em relação aos princípios constitu-
ção, mantida a remuneração do cargo de origem.
cionais que regem a administração pública(conforme artigo 37 da
(E) para exercício de novo cargo compatível com a sua limita-
Constituição Federal vigente), analise as assertivas a seguir:
ção, devendo receber a remuneração do cargo de destino. • O Princípio da __________ exige que a atividade administra-
tiva seja desenvolvida de modo leal e que assegure a toda a comu-
26. (CEFET – 2021) Em relação aos princípios constitucionais da nidade a obtenção de vantagens justas.
Administração Pública, analise as afirmações abaixo: • As ações do administrador público são plenamente vincula-
I. O agente público no exercício das atribuições do seu cargo das ao que estabelecem as normas vigentes, ou seja, ele somente
pode adotar quaisquer atos que a lei não proíba, tendo em vista pode fazer o que a lei autoriza ou determina. Diferente do gestor
que tudo que não é proibido é permitido, sendo este um postulado privado, que pode fazer tudo o que a lei não proíbe. Esse é o Prin-
basilar do princípio da legalidade administrativa. cípio da __________.
II. São princípios da Administração Pública expressos no caput • O Princípio da __________ exige que os atos estatais sejam
do art. 37 da Constituição Federal de 1988: publicidade, eficiência, levados ao conhecimento de todos, ressalvadas hipóteses em que
impessoalidade, legalidade e moralidade. se justificar o sigilo.
III. Um prefeito autorizou contratação de empresa publicitária
para campanha de divulgação de notícia em diversos outdoors da Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamen-
cidade e no site oficial da Prefeitura, enumerando e elogiando as te, as lacunas dos trechos acima.
obras realizadas durante seu mandato, além de ressaltar a econo- (A) Eficiência – Impessoalidade – Transparência
mia praticada no período, afirmando ser o prefeito perfeito para (B) Eficiência – Legalidade – Transparência
o município. Tal notícia não afronta princípios da Administração (C) Moralidade – Impessoalidade – Publicidade
Pública, denotando a aplicação dos princípios da publicidade e da (D) Moralidade – Impessoalidade – Transparência
eficiência, tendo em vista que o prefeito tornou públicos atos de (E) Moralidade – Legalidade – Publicidade
gestão por ele praticados e comprovou ser econômico.
IV. Os atos de improbidade administrativa denotam afronta ao 30. (UFPel-CES – 2021) De acordo com o art. 41 da Constituição
princípio da eficiência. Conforme disposto no art. 37, §4º, da Cons- Federal, são estáveis após três anos de exercício, os servidores no-
tituição Federal de 1988, “os atos de improbidade administrativa meados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso
importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função público, sendo
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, (A) condição para a aquisição da estabilidade a avaliação es-
na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal pecial de desempenho por comissão instituída para essa fina-
cabível”. lidade.

17
NOÇÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL
(B) vedada a invalidação da demissão de servidor estável por
sentença judicial, pois não pode o Poder Judiciário intervir em
ANOTAÇÕES
ato da administração pública.
(C) que em caso de extinção do cargo, o servidor estável será ______________________________________________________
demitido.
(D) inadmissível que o servidor conteste o resultado da avalia- ______________________________________________________
ção periódica de desempenho.
(E) o processo administrativo meio inviável para proceder a de- ______________________________________________________
missão de servidor público estável.
______________________________________________________

______________________________________________________
GABARITO
______________________________________________________

1 A ______________________________________________________

2 A ______________________________________________________
3 B
______________________________________________________
4 ERRADO
______________________________________________________
5 A
6 CERTO ______________________________________________________
7 A ______________________________________________________
8 B
______________________________________________________
9 C
10 C ______________________________________________________

11 ERRADO ______________________________________________________
12 B ______________________________________________________
13 C
______________________________________________________
14 A
15 C ______________________________________________________
16 D ______________________________________________________
17 C
______________________________________________________
18 B
______________________________________________________
19 D
20 C ______________________________________________________
21 A ______________________________________________________
22 CERTO
_____________________________________________________
23 D
24 E _____________________________________________________
25 D ______________________________________________________
26 C
______________________________________________________
27 CERTO
______________________________________________________
28 E
29 E ______________________________________________________
30 A ______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

18
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Noções de organização administrativa. Administração direta e indireta, centralizada e descentralizada. Desconcentração . . . . . . 01
2. Princípios expressos e implícitos da administração pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
3. Órgãos públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
4. Agentes públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
5. Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União (Lei nº 8.112/1990) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
6. Processo Administrativo (Lei Federal nº 9.784/1999 e Lei do DF nº 2.834/2001) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
7. Poderes administrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
8. Ato administrativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
9. Controle e responsabilização da administração: controle administrativo; controle judicial; controle legislativo; controle dos Tribunais
de Contas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
10. Improbidade Administrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
11. Responsabilidade civil do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
12. Licitação e Contratos. Leis nºs 8.666/1993, 10.520/2002 e 14.133/2021 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Criação, extinção e capacidade processual dos órgãos públicos
NOÇÕES DE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA. AD- Os arts. 48, XI e 61, § 1º da CFB/1988 dispõem que a criação
MINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA, CENTRALIZADA E e a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei
DESCENTRALIZADA. DESCONCENTRAÇÃO. ÓRGÃOS de iniciativa privativa do chefe do Executivo a quem compete, de
PÚBLICOS forma privada, e por meio de decreto, dispor sobre a organização
e funcionamento desses órgãos públicos, quando não ensejar au-
Administração direta e indireta mento de despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos
A princípio, infere-se que Administração Direta é correspon- (art. 84, VI, b, CF/1988). Desta forma, para que haja a criação e ex-
dente aos órgãos que compõem a estrutura das pessoas federativas tinção de órgãos, existe a necessidade de lei, no entanto, para dis-
que executam a atividade administrativa de maneira centralizada. O por sobre a organização e o funcionamento, denota-se que poderá
vocábulo “Administração Direta” possui sentido abrangente vindo a ser utilizado ato normativo inferior à lei, que se trata do decreto.
compreender todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto Caso o Poder Executivo Federal desejar criar um Ministério a mais,
os que fazem parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do o presidente da República deverá encaminhar projeto de lei ao Con-
Poder Judiciário, que são os responsáveis por praticar a atividade gresso Nacional. Porém, caso esse órgão seja criado, sua estrutu-
administrativa de maneira centralizada. ração interna deverá ser feita por decreto. Na realidade, todos os
Já a Administração Indireta, é equivalente às pessoas jurídicas regimentos internos dos ministérios são realizados por intermédio
criadas pelos entes federados, que possuem ligação com as Admi- de decreto, pelo fato de tal ato se tratar de organização interna do
nistrações Diretas, cujo fulcro é praticar a função administrativa de órgão. Vejamos:
maneira descentralizada.
ÓRGÃO — é criado por meio de lei.
Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser exer-
ORGANIZAÇÃO INTERNA — pode ser feita por DECRETO, des-
cidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com persona-
de que não provoque aumento de despesas, bem como a criação
lidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a particu-
ou a extinção de outros órgãos.
lares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito público
ÓRGÃOS DE CONTROLE — Trata-se dos prepostos a fiscalizar e
ou de direito privado para esta finalidade. Optando pela segunda
controlar a atividade de outros órgãos e agentes”. Exemplo: Tribu-
opção, as novas entidades passarão a compor a Administração Indi-
nal de Contas da União.
reta do ente que as criou e, por possuírem como destino a execução
especializado de certas atividades, são consideradas como sendo Pessoas administrativas
manifestação da descentralização por serviço, funcional ou técnica, Explicita-se que as entidades administrativas são a própria Ad-
de modo geral. ministração Indireta, composta de forma taxativa pelas autarquias,
fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia
Desconcentração e Descentralização mista.
Consiste a desconcentração administrativa na distribuição in- De forma contrária às pessoas políticas, tais entidades, nao são
terna de competências, na esfera da mesma pessoa jurídica. Assim reguladas pelo Direito Administrativo, não detendo poder político
sendo, na desconcentração administrativa, o trabalho é distribuído e encontram-se vinculadas à entidade política que as criou. Não
entre os órgãos que integram a mesma instituição, fato que ocorre existe hierarquia entre as entidades da Administração Pública in-
de forma diferente na descentralização administrativa, que impõe direta e os entes federativos que as criou. Ocorre, nesse sentido,
a distribuição de competência para outra pessoa, física ou jurídica. uma vinculação administrativa em tais situações, de maneira que os
Ocorre a desconcentração administrativa tanto na administra- entes federativos somente conseguem manter-se no controle se as
ção direta como na administração indireta de todos os entes fede- entidades da Administração Indireta estiverem desempenhando as
rativos do Estado. Pode-se citar a título de exemplo de desconcen- funções para as quais foram criadas de forma correta.
tração administrativa no âmbito da Administração Direta da União,
os vários ministérios e a Casa Civil da Presidência da República; em Pessoas políticas
âmbito estadual, o Ministério Público e as secretarias estaduais, As pessoas políticas são os entes federativos previstos na Cons-
dentre outros; no âmbito municipal, as secretarias municipais e tituição Federal. São eles a União, os Estados, o Distrito Federal e os
as câmaras municipais; na administração indireta federal, as várias Municípios. Denota-se que tais pessoas ou entes, são regidos pelo
agências do Banco do Brasil que são sociedade de economia mista, Direito Constitucional, vindo a deter uma parcela do poder político.
ou do INSS com localização em todos os Estados da Federação. Por esse motivo, afirma-se que tais entes são autônomos, vindo a
Ocorre que a desconcentração enseja a existência de vários se organizar de forma particular para alcançar as finalidades aven-
órgãos, sejam eles órgãos da Administração Direta ou das pessoas çadas na Constituição Federal.
jurídicas da Administração Indireta, e devido ao fato desses órgãos Assim sendo, não se confunde autonomia com soberania, pois,
estarem dispostos de forma interna, segundo uma relação de su- ao passo que a autonomia consiste na possibilidade de cada um dos
bordinação de hierarquia, entende-se que a desconcentração admi- entes federativos organizar-se de forma interna, elaborando suas leis e
nistrativa está diretamente relacionada ao princípio da hierarquia. exercendo as competências que a eles são determinadas pela Consti-
Registra-se que na descentralização administrativa, ao invés tuição Federal, a soberania nada mais é do que uma característica que
de executar suas atividades administrativas por si mesmo, o Estado se encontra presente somente no âmbito da República Federativa do
transfere a execução dessas atividades para particulares e, ainda a Brasil, que é formada pelos referidos entes federativos.
outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado.
Explicita-se que, mesmo que o ente que se encontre distribuin- Autarquias
do suas atribuições e detenha controle sobre as atividades ou ser- As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno,
viços transferidos, não existe relação de hierarquia entre a pessoa criadas por lei específica para a execução de atividades especiais e
que transfere e a que acolhe as atribuições. típicas da Administração Pública como um todo. Com as autarquias,
a impressão que se tem, é a de que o Estado veio a descentralizar
determinadas atividades para entidades eivadas de maior especia-
lização.

1
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
As autarquias são especializadas em sua área de atuação, dan- lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da socieda-
do a ideia de que os serviços por elas prestados são feitos de forma de de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
mais eficaz e venham com isso, a atingir de maneira contundente a econômica de produção ou comercialização de bens ou de presta-
sua finalidade, que é o bem comum da coletividade como um todo. ção de serviços, dispondo sobre:
Por esse motivo, aduz-se que as autarquias são um serviço público I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela
descentralizado. Assim, devido ao fato de prestarem esse serviço sociedade;
público especializado, as autarquias acabam por se assemelhar em II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas priva-
tudo o que lhes é possível, ao entidade estatal a que estiverem ser- das, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, tra-
vindo. Assim sendo, as autarquias se encontram sujeitas ao mesmo balhistas e tributários;
regime jurídico que o Estado. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e alie-
as autarquias são uma “longa manus” do Estado, ou seja, são exe- nações, observados os princípios da Administração Pública;
cutoras de ordens determinadas pelo respectivo ente da Federação IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de Admi-
a que estão vinculadas. nistração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários;
As autarquias são criadas por lei específica, que de forma obri- V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabili-
gacional deverá ser de iniciativa do Chefe do Poder Executivo do dade dos administradores
ente federativo a que estiver vinculada. Explicita-se também que
a função administrativa, mesmo que esteja sendo exercida tipica- Vejamos em síntese, algumas características em comum das
mente pelo Poder Executivo, pode vir a ser desempenhada, em re- empresas públicas e das sociedades de economia mista:
gime totalmente atípico pelos demais Poderes da República. Em tais • Devem realizar concurso público para admissão de seus em-
situações, infere-se que é possível que sejam criadas autarquias no pregados;
âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, oportunidade na • Não estão alcançadas pela exigência de obedecer ao teto
qual a iniciativa para a lei destinada à sua criação, deverá, obriga- constitucional;
toriamente, segundo os parâmetros legais, ser feita pelo respectivo • Estão sujeitas ao controle efetuado pelos Tribunais de Contas,
Poder. bem como ao controle do Poder Legislativo;
• Não estão sujeitas à falência;
Empresas Públicas • Devem obedecer às normas de licitação e contrato adminis-
Sociedades de Economia Mista trativo no que se refere às suas atividades-meio;
São a parte da Administração Indireta mais voltada para o di- • Devem obedecer à vedação à acumulação de cargos prevista
reito privado, sendo também chamadas pela maioria doutrinária de constitucionalmente;
empresas estatais. • Não podem exigir aprovação prévia, por parte do Poder Legis-
Tanto a empresas públicas, quanto as sociedades de economia lativo, para nomeação ou exoneração de seus diretores.
mista, no que se refere à sua área de atuação, podem ser divididas
entre prestadoras diversas de serviço público e plenamente atuan- Fundações e outras entidades privadas delegatárias
tes na atividade econômica de modo geral. Assim sendo, obtemos Identifica-se no processo de criação das fundações privadas,
dois tipos de empresas públicas e dois tipos de sociedades de eco- duas características que se encontram presentes de forma contun-
nomia mista. dente, sendo elas a doação patrimonial por parte de um instituidor
Ressalta-se que ao passo que as empresas estatais explorado- e a impossibilidade de terem finalidade lucrativa.
ras de atividade econômica estão sob a égide, no plano constitu- O Decreto 200/1967 e a Constituição Federal Brasileira de 1988
cional, pelo art. 173, sendo que a sua atividade se encontra regida conceituam Fundação Pública como sendo um ente de direito pre-
pelo direito privado de maneira prioritária, as empresas estatais dominantemente de direito privado, sendo que a Constituição Fe-
prestadoras de serviço público são reguladas, pelo mesmo diploma deral dá à Fundação o mesmo tratamento oferecido às Sociedades
legal, pelo art. 175, de maneira que sua atividade é regida de forma de Economia Mista e às Empresas Públicas, que permite autoriza-
exclusiva e prioritária pelo direito público. ção da criação, por lei e não a criação direta por lei, como no caso
das autarquias.
Observação importante: todas as empresas estatais, sejam Entretanto, a doutrina majoritária e o STF aduzem que a Fun-
prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade eco- dação Pública poderá ser criada de forma direta por meio de lei
nômica, possuem personalidade jurídica de direito privado. específica, adquirindo, desta forma, personalidade jurídica de direi-
to público, vindo a criar uma Autarquia Fundacional ou Fundação
O que diferencia as empresas estatais exploradoras de ativida- Autárquica.
de econômica das empresas estatais prestadoras de serviço público
é a atividade que exercem. Assim, sendo ela prestadora de serviço Observação importante: a autarquia é definida como serviço
público, a atividade desempenhada é regida pelo direito público, personificado, ao passo que uma autarquia fundacional é concei-
nos ditames do artigo 175 da Constituição Federal que determina tuada como sendo um patrimônio de forma personificada destina-
que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou do a uma finalidade específica de interesse social.
sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação,
a prestação de serviços públicos.” Já se for exploradora de atividade Vejamos como o Código Civil determina:
econômica, como maneira de evitar que o princípio da livre con- Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno:(...)
corrência reste-se prejudicado, as referidas atividades deverão ser IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
reguladas pelo direito privado, nos ditames do artigo 173 da Consti- V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
tuição Federal, que assim determina: No condizente à Constituição, denota-se que esta não faz dis-
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a tinção entre as Fundações de direito público ou de direito privado.
exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será per- O termo Fundação Pública é utilizado para diferenciar as fundações
mitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional da iniciativa privada, sem que haja qualquer tipo de ligação com a
ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A Administração Pública.

2
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
No entanto, determinadas distinções poderão ser feitas, como X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos
por exemplo, a imunidade tributária recíproca que é destinada so- direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
mente às entidades de direito público como um todo. Registra-se XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu-
que o foro de ambas é na Justiça Federal. manos, da democracia e de outros valores universais;
XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al-
Delegação Social ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos
técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas
Organizações sociais neste artigo.
As organizações sociais são entidades privadas que recebem A lei das Oscips apresenta um rol de entidades que não podem
o atributo de Organização Social. Várias são as entidades criadas receber a qualificação. Vejamos:
por particulares sob a forma de associação ou fundação que de- Art. 2º Não são passíveis de qualificação como Organizações
sempenham atividades de interesse público sem fins lucrativos. Ao da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de
passo que algumas existem e conseguem se manter sem nenhuma qualquer forma às atividades descritas no art. 3º desta Lei:
ligação com o Estado, existem outras que buscam se aproximar do I – as sociedades comerciais;
Estado com o fito de receber verbas públicas ou bens públicos com II – os sindicatos, as associações de classe ou de representação
o objetivo de continuarem a desempenhar sua atividade social. Nos de categoria profissional;
parâmetros da Lei 9.637/1998, o Poder Executivo Federal poderá III – as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação
constituir como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais;
privado, que não sejam de fins lucrativos, cujas atividades sejam IV – as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tec- fundações;
nológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à V – as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar
saúde, atendidos os requisitos da lei. Ressalte-se que as entidades bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios;
privadas que vierem a atuar nessas áreas poderão receber a quali- VI – as entidades e empresas que comercializam planos de saú-
ficação de OSs. de e assemelhados;
Lembremos que a Lei 9.637/1998 teve como fulcro transferir os VII – as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas
serviços que não são exclusivos do Estado para o setor privado, por mantenedoras;
intermédio da absorção de órgãos públicos, vindo a substituí-los VIII – as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra-
por entidades privadas. Tal fenômeno é conhecido como publiciza- tuito e suas mantenedoras;
ção. Com a publicização, quando um órgão público é extinto, logo,
IX – as Organizações Sociais;
outra entidade de direito privado o substitui no serviço anterior-
X – as cooperativas;
mente prestado. Denota-se que o vínculo com o poder público para
que seja feita a qualificação da entidade como organização social é
Por fim, registre-se que o vínculo de união entre a entidade
estabelecido com a celebração de contrato de gestão. Outrossim, as
Organizações Sociais podem receber recursos orçamentários, utili- e o Estado é denominado termo de parceria e que para a qualifi-
zação de bens públicos e servidores públicos. cação de uma entidade como Oscip, é exigido que esta tenha sido
constituída e se encontre em funcionamento regular há, pelo me-
Organizações da sociedade civil de interesse público nos, três anos nos termos do art. 1º, com redação dada pela Lei n.
São conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado, 13.019/2014. O Tribunal de Contas da União tem entendido que
sem fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatu- o vínculo firmado pelo termo de parceria por órgãos ou entidades
tárias devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da da Administração Pública com Organizações da Sociedade Civil de
Lei n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência Interesse Público não é demandante de processo de licitação. De
do Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com acordo com o que preceitua o art. 23 do Decreto n. 3.100/1999,
o da OS, entretanto, é mais amplo. Vejamos: deverá haver a realização de concurso de projetos pelo órgão es-
Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em tatal interessado em construir parceria com Oscips para que venha
qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res- a obter bens e serviços para a realização de atividades, eventos,
pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi- consultorias, cooperação técnica e assessoria.
da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos
objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades: Entidades de utilidade pública
I – promoção da assistência social; O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado trouxe em
II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio seu bojo, dentre várias diretrizes, a publicização dos serviços esta-
histórico e artístico; tais não exclusivos, ou seja, a transferência destes serviços para o
III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma setor público não estatal, o denominado Terceiro Setor.
complementar de participação das organizações de que trata esta Podemos incluir entre as entidades que compõem o Terceiro
Lei; Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade pública,
IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com- os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por exem-
plementar de participação das organizações de que trata esta Lei; plo, as organizações sociais (OS) e as organizações da sociedade civil
V – promoção da segurança alimentar e nutricional;
de interesse público (OSCIP).
VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e
É importante explicitar que o crescimento do terceiro setor
promoção do desenvolvimento sustentável; VII – promoção do vo-
está diretamente ligado à aplicação do princípio da subsidiarieda-
luntariado;
de na esfera da Administração Pública. Por meio do princípio da
VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e com-
bate à pobreza; subsidiariedade, cabe de forma primária aos indivíduos e às orga-
IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos sociopro- nizações civis o atendimento dos interesses individuais e coletivos.
dutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego Assim sendo, o Estado atua apenas de forma subsidiária nas de-
e crédito; mandas que, devido à sua própria natureza e complexidade, não

3
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
puderam ser atendidas de maneira primária pela sociedade. Dessa ou seja, a administração somente poderá agir quando estiver devi-
maneira, o limite de ação do Estado se encontraria na autossufi- damente autorizada por lei, dentro dos limites estabelecidos por
ciência da sociedade. lei, vindo, por conseguinte, a seguir o procedimento que a lei exigir.
Em relação ao Terceiro Setor, o Plano Diretor do Aparelho do O Princípio da Legalidade, segundo a doutrina clássica, se des-
Estado previa de forma explícita a publicização de serviços públicos dobra em duas dimensões fundamentais ou subprincípios, sendo
estatais que não são exclusivos. A expressão publicização significa eles: o Princípio da supremacia da lei (primazia da lei ou da lega-
a transferência, do Estado para o Terceiro Setor, ou seja um setor lidade em sentido negativo); e o Princípio da reserva legal (ou da
público não estatal, da execução de serviços que não são exclusivos legalidade em sentido positivo). Vejamos:
do Estado, vindo a estabelecer um sistema de parceria entre o Es- De acordo com os contemporâneos juristas Ricardo Alexandre
tado e a sociedade para o seu financiamento e controle, como um e João de Deus, o princípio da supremacia da lei, pode ser concei-
todo. Tal parceria foi posteriormente modernizada com as leis que tuado da seguinte forma:
instituíram as organizações sociais e as organizações da sociedade
civil de interesse público. O princípio da supremacia da lei, ou legalidade em sentido ne-
O termo publicização também é atribuído a um segundo sen- gativo, representa uma limitação à atuação da Administração, na
tido adotado por algumas correntes doutrinárias, que corresponde medida em que ela não pode contrariar o disposto na lei. Trata- se
à transformação de entidades públicas em entidades privadas sem de uma consequência natural da posição de superioridade que a
fins lucrativos. lei ocupa no ordenamento jurídico em relação ao ato administra-
No que condizente às características das entidades que com- tivo. (2.017, ALEXANDRE e DEUS, p. 103).
põem o Terceiro Setor, a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro enten- Entende-se, desta forma, que o princípio da supremacia da lei,
de que todas elas possuem os mesmos traços, sendo eles: ou legalidade em sentido negativo, impõe limitações ao poder de
atuação da Administração, tendo em vista que esta não pode agir
1. Não são criadas pelo Estado, ainda que algumas delas te- em desconformidade com a lei, uma vez que a lei se encontra em
nham sido autorizadas por lei; posição de superioridade no ordenamento jurídico em relação ao
2. Em regra, desempenham atividade privada de interesse pú- ato administrativo como um todo. Exemplo: no ato de desapropria-
blico (serviços sociais não exclusivos do Estado); ção por utilidade pública, caso exista atuação que não atenda ao
interesse público, estará presente o vício de desvio de poder ou de
3. Recebem algum tipo de incentivo do Poder Público;
finalidade, que torna o ato plenamente nulo.
4. Muitas possuem algum vínculo com o Poder Público e, por
isso, são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos à Admi-
Em relação ao princípio da reserva legal, ou da legalidade em
nistração
sentido positivo, infere-se que não basta que o ato administrativo
5. Pública e ao Tribunal de Contas;
simplesmente não contrarie a lei, não sendo contra legem, e nem
6. Possuem regime jurídico de direito privado, porém derroga-
mesmo de ele pode ir além da lei praeter legem, ou seja, o ato ad-
do parcialmente por normas direito público;
ministrativo só pode ser praticado segundo a lei secundum legem.
Por esta razão, denota-se que o princípio da reserva legal ou da le-
Assim, estas entidades integram o Terceiro Setor pelo fato de
galidade em sentido positivo, se encontra dotado do poder de con-
não se enquadrarem inteiramente como entidades privadas e tam-
dicionar a validade do ato administrativo à prévia autorização legal
bém porque não integram a Administração Pública Direta ou Indi-
de forma geral, uma vez que no entendimento do ilustre Hely Lopes
reta.
Meirelles, na administração pública não há liberdade nem vontade
Convém mencionar que, como as entidades do Terceiro Setor
pessoal, pois, ao passo que na seara particular é lícito fazer tudo o
são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado,
que a lei não proíbe, na Administração Pública, apenas é permitido
seu regime jurídico, normalmente, via regra geral, é de direito pri-
fazer o que a lei disponibiliza e autoriza.
vado. Acontece que pelo fato de estas gozarem normalmente de
Pondera-se que em decorrência do princípio da legalidade, não
algum incentivo do setor público, também podem lhes ser aplicá-
pode a Administração Pública, por mero ato administrativo, permi-
veis algumas normas de direito público. Esse é o motivo pelo qual a
tir a concessão por meio de seus agentes, de direitos de quaisquer
conceituada professora afirma que o regime jurídico aplicado às en-
espécies e nem mesmo criar obrigações ou impor vedações aos ad-
tidades que integram o Terceiro Setor é de direito privado, podendo
ministrados, uma vez que para executar tais medidas, ela depende
ser modificado de maneira parcial por normas de direito público.
de lei. No entanto, de acordo com Celso Antônio Bandeira de Mello,
existem algumas restrições excepcionais ao princípio da legalidade
no ordenamento jurídico brasileiro, sendo elas: as medidas provisó-
PRINCÍPIOS EXPRESSOS E IMPLÍCITOS DA ADMINIS- rias, o estado de defesa e o estado de sítio.
TRAÇÃO PÚBLICA Em resumo, temos:
• Origem: Surgiu com o Estado de Direito e possui como obje-
tivo, proteger os direitos individuais em face da atuação do Estado;
Princípios Expressos da Administração Pública
• A atividade administrativa deve exercida dentro dos limites
que a lei estabelecer e seguindo o procedimento que a lei exigir,
Princípio da Legalidade
devendo ser autorizada por lei para que tenha eficácia;
Surgido na era do Estado de Direito, o Princípio da Legalidade
• Dimensões: Princípio da supremacia da lei (primazia da lei ou
possui o condão de vincular toda a atuação do Poder Público, seja
legalidade em sentido negativo); e Princípio da reserva legal (legali-
de forma administrativa, jurisdicional, ou legislativa. É considerado
dade em sentido positivo);
uma das principais garantias protetivas dos direitos individuais no
• Aplicação na esfera prática (exemplos): Necessidade de pre-
sistema democrático, na medida em que a lei é confeccionada por
visão legal para exigência de exame psicotécnico ou imposição de
intermédio dos representantes do povo e seu conteúdo passa a li-
limite de Idade em concurso público, ausência da possibilidade de
mitar toda a atuação estatal de forma geral.
decreto autônomo na concessão de direitos e imposição de obriga-
Na seara do direito administrativo, a principal determinação
ções a terceiros, subordinação de atos administrativos vinculados e
advinda do Princípio da Legalidade é a de que a atividade adminis-
atos administrativos discricionários;
trativa seja exercida com observância exata dos parâmetros da lei,

4
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• Aplicação na esfera teórica: Ao passo que no âmbito parti- restringir a promoção pessoal de agentes públicos, por intermédio
cular é lícito fazer tudo o que a lei não proíbe, na administração de propaganda financiada exclusivamente com os cofres públicos,
pública só é permitido fazer o que a lei devidamente autorizar; o art. 37, § 1.º, da Constituição Federal, em socorro à população,
• Legalidade: o ato administrativo deve estar em total confor- determina:
midade com a lei e com o Direito, fato que amplia a seara do con- Art. 37. [...]
trole de legalidade; § 1.º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
• Exceções existentes: medida provisória, estado de defesa e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, infor-
estado de sítio. mativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes,
símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de auto-
Princípio da Impessoalidade ridades ou servidores públicos.
É o princípio por meio do qual todos os agentes públicos devem Desta maneira, em respeito ao mencionado texto constitucio-
cumprir a lei de ofício de maneira impessoal, ainda que, em decor- nal, ressalta-se que a propaganda anunciando a disponibilização de
rência de suas convicções pessoais, políticas e ideológicas, conside- um recente serviço ou o primórdio de funcionamento de uma nova
rem a norma injusta. escola, por exemplo, é legítima, possuindo importante caráter in-
Esse princípio possui quatro significados diferentes. São eles: a formativo.
finalidade pública, a isonomia, a imputação ao órgão ou entidade Em resumo, temos:
administrativa dos atos praticados pelos seus servidores e a proibi- • Finalidade: Todos os agentes públicos devem cumprir a lei
ção de utilização de propaganda oficial para promoção pessoal de de ofício de maneira impessoal, ainda que, em decorrência de suas
agentes públicos. convicções pessoais, políticas e ideológicas, considerem a norma
Pondera-se que a Administração Pública não pode deixar de injusta.
buscar a consecução do interesse público e nem tampouco, a con- • Significados: A finalidade pública, a isonomia, a imputação
servação do patrimônio público, uma vez que tal busca possui cará- ao órgão ou entidade administrativa dos atos praticados pelos seus
ter institucional, devendo ser independente dos interesses pessoais servidores e a proibição de utilização de propaganda oficial para
dos ocupantes dos cargos que são exercidos em conluio as ativida- promoção pessoal de agentes públicos.
des administrativas, ou seja, nesta acepção da impessoalidade, os • Princípio implícito: O princípio da finalidade, posto que se
fins públicos, na forma determinada em lei, seja de forma expressa por ventura o agente público vier a praticar o ato administrativo
ou implícita, devem ser perseguidos independentemente da pessoa sem interesse público, visando tão somente satisfazer interesse pri-
que exerce a função pública. vado, tal ato sofrerá desvio de finalidade, vindo, por esse motivo a
Pelo motivo retro mencionado, boa parte da doutrina conside- ser invalidado.
ra implicitamente inserido no princípio da impessoalidade, o prin- • Aspecto importante: A imputação da atuação administrativa
cípio da finalidade, posto que se por ventura, o agente público vier ao Estado, e não aos agentes públicos que a colocam em prática.
a praticar o ato administrativo sem interesse público, visando tão • Nota importante: proibição da utilização de propaganda ofi-
somente satisfazer interesse privado, tal ato sofrerá desvio de fina- cial com o fito de promoção pessoal de agentes públicos.
lidade, vindo, por esse motivo a ser invalidado. • Dispositivo de Lei combatente à violação do princípio da im-
É importante ressaltar também que o princípio da impessoa- pessoalidade e a promoção pessoal de agentes públicos, por meio
lidade traz o foco da análise para o administrado. Assim sendo, in- de propaganda financiada exclusivamente com os cofres públicos:
dependente da pessoa que esteja se relacionando com a adminis- Art. 37, § 1.º, da CFB/88:
tração, o tratamento deverá ser sempre de forma igual para todos. § 1.º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e
Desta maneira, a exigência de impessoalidade advém do princípio campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, in-
da isonomia, vindo a repercutir na exigência de licitação prévia às formativo ou de orientação social, dela não podendo constar no-
contratações a ser realizadas pela Administração; na vedação ao mes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de
nepotismo, de acordo com o disposto na Súmula Vinculante 13 do autoridades ou servidores públicos.
Supremo Tribunal Federal; no respeito à ordem cronológica para
pagamento dos precatórios, dentre outros fatores. Princípio da Moralidade
Outro ponto importante que merece destaque acerca da acep- A princípio ressalta-se que não existe um conceito legal ou
ção do princípio da impessoalidade, diz respeito à imputação da constitucional de moralidade administrativa, o que ocorre na ver-
atuação administrativa ao Estado, e não aos agentes públicos que dade, são proclamas de conceitos jurídicos indeterminados que são
a colocam em prática. Assim sendo, as realizações estatais não são formatados pelo entendimento da doutrina majoritária e da juris-
imputadas ao agente público que as praticou, mas sim ao ente ou prudência.
entidade em nome de quem foram produzidas tais realizações. Nesse diapasão, ressalta-se que o princípio da moralidade é
Por fim, merece destaque um outro ponto importante do prin- condizente à convicção de obediência aos valores morais, aos prin-
cípio da impessoalidade que se encontra relacionado à proibição cípios da justiça e da equidade, aos bons costumes, às normas da
da utilização de propaganda oficial com o fito de promoção pes- boa administração, à ideia de honestidade, à boa-fé, à ética e por
soal de agentes públicos. Sendo a publicidade oficial, custeada com último, à lealdade.
recursos públicos, deverá possuir como único propósito o caráter A doutrina denota que a moral administrativa, trata-se daquela
educativo e informativo da população como um todo, o que, assim que determina e comanda a observância a princípios éticos retira-
sendo, não se permitirá que paralelamente a estes objetivos o ges- dos da disciplina interna da Administração Pública.
tor utilize a publicidade oficial de forma direta, com o objetivo de Dentre os vários atos praticados pelos agentes públicos viola-
promover a sua figura pública. dores do princípio da moralidade administrativa, é coerente citar:
Lamentavelmente, agindo em contramão ao princípio da im- a prática de nepotismo; as “colas” em concursos públicos; a práti-
pessoalidade, nota-se com frequência a utilização da propaganda ca de atos de favorecimento próprio, dentre outros. Ocorre que os
oficial como meio de promoção pessoal de agentes públicos, agin- particulares também acabam por violar a moralidade administrati-
do como se a satisfação do interesse público não lhes fosse uma va quando, por exemplo: ajustam artimanhas em licitações; fazem
obrigação. Entretanto, em combate a tais atos, com o fulcro de “colas” em concursos públicos, dentre outros atos pertinentes.

5
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
É importante destacar que o princípio da moralidade é possui- • Alguns atos que violam o princípio da moralidade adminis-
dor de existência autônoma, portanto, não se confunde com o prin- trativa a prática de nepotismo; as “colas” em concursos públicos; a
cípio da legalidade, tendo em vista que a lei pode ser vista como prática de atos de favorecimento próprio, dentre outros.
imoral e a seara da moral é mais ampla do que a da lei. Assim sendo, • Possuidor de existência autônoma: O princípio da moralida-
ocorrerá ofensa ao princípio da moralidade administrativa todas as de não se confunde com o princípio da legalidade;
vezes que o comportamento da administração, embora esteja em • É requisito de validade do ato administrativo: Assim quando
concordância com a lei, vier a ofender a moral, os princípios de jus- a moralidade não for observada, poderá ocorrer a invalidação do
tiça, os bons costumes, as normas de boa administração bem como ato;
a ideia comum de honestidade. • Autotutela: Ocorre quando a invalidação do ato administra-
Registra-se em poucas palavras, que a moralidade pode ser tivo imoral pode ser decretada pela própria Administração Pública
definida como requisito de validade do ato administrativo. Desta ou pelo Poder Judiciário;
forma, a conduta imoral, à semelhança da conduta ilegal, também • Ações judiciais para controle da moralidade administrativa
se encontra passível de trazer como consequência a invalidade do que merecem destaque: ação popular e ação de improbidade ad-
respectivo ato, que poderá vir a ser decretada pela própria adminis- ministrativa.
tração por meio da autotutela, ou pelo Poder Judiciário.
Denota-se que o controle judicial da moralidade administrativa Princípio da Publicidade
se encontra afixado no art. 5.º, LXXIII, da Constituição Federal, que Advindo da democracia, o princípio da publicidade é carac-
dispõe sobre a ação popular nos seguintes termos: terizado pelo fato de todo poder emanar do povo, uma vez que
Art. 5.º [...] sem isso, não teria como a atuação da administração ocorrer sem
LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação o conhecimento deste, fato que acarretaria como consequência a
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de impossibilidade de o titular do poder vir a controlar de forma con-
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, tundente, o respectivo exercício por parte das autoridades consti-
ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o tuídas.
autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência. Pondera-se que a administração é pública e os seus atos devem
Pontua-se na verdade, que ao atribuir competência para que ocorrer em público, sendo desta forma, em regra, a contundente e
agentes públicos possam praticar atos administrativos, de forma ampla publicidade dos atos administrativos, ressalvados os casos de
implícita, a lei exige que o uso da prerrogativa legal ocorra em con- sigilo determinados por lei.
sonância com a moralidade administrativa, posto que caso esse re- Assim sendo, denota-se que a publicidade não existe como um
quisito não seja cumprido, virá a ensejar a nulidade do ato, sendo fim em si mesmo, ou apenas como uma providência de ordem me-
passível de proclamação por decisão judicial, bem como pela pró- ramente formal. O principal foco da publicidade é assegurar trans-
pria administração que editou a ato ao utilizar-se da autotutela. parência ou visibilidade da atuação administrativa, vindo a possibi-
Registra-se ainda que a improbidade administrativa constitui- litar o exercício do controle da Administração Pública por meio dos
-se num tipo de imoralidade administrativa qualificada, cuja gra- administrados, bem como dos órgãos determinados por lei que se
vidade é preponderantemente enorme, tanto que veio a merecer encontram incumbidos de tal objetivo.
especial tratamento constitucional e legal, que lhes estabeleceram Nesse diapasão, o art. 5º, inciso XXXIII da CFB/88, garante a to-
consequências exorbitantes ante a mera pronúncia de nulidade do dos os cidadãos o direito a receber dos órgãos públicos informações
ato e, ainda, impondo ao agente responsável sanções de caráter de seu interesse particular, ou de interesse coletivo, que deverão
pessoal de peso considerável. Uma vez reconhecida, a improbidade serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, com
administrativa resultará na supressão do ato do ordenamento jurí- exceção daquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da so-
dico e na imposição ao sujeito que a praticou grandes consequên- ciedade como um todo e do Estado de forma geral, uma vez que
cias, como a perda da função pública, indisponibilidade dos bens, esse dispositivo constitucional, ao garantir o recebimento de infor-
ressarcimento ao erário e suspensão dos direitos políticos, nos ter- mações não somente de interesse individual, garante ainda que tal
mos do art. 37, § 4.º da Constituição Federal.
recebimento seja de interesse coletivo ou geral, fato possibilita o
Por fim, de maneira ainda mais severa, o art. 85, V, da Consti-
exercício de controle de toda a atuação administrativa advinda por
tuição Federal Brasileira, determina e qualifica como crime de res-
parte dos administrados.
ponsabilidade os atos do Presidente da República que venham a
É importante ressaltar que o princípio da publicidade não pode
atentar contra a probidade administrativa, uma vez que a prática de
ser interpretado como detentor permissivo à violação da intimida-
crime de responsabilidade possui como uma de suas consequências
de, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, conforme
determinadas por lei, a perda do cargo, fato que demonstra de for-
explicita o art. 5.º, X da Constituição Federal, ou do sigilo da fonte
ma contundente a importância dada pelo legislador constituinte ao
princípio da moralidade, posto que, na ocorrência de improbidade quando necessário ao exercício profissional, nos termos do art. 5.º,
administrativa por agressão qualificada, pode a maior autoridade XIV da CFB/88.
da República ser levada ao impeachment. Destaca-se que com base no princípio da publicidade, com
Em resumo, temos: vistas a garantir a total transparência na atuação da administração
• Conceito doutrinário: Moral administrativa é aquela deter- pública, a CFB/1988 prevê: o direito à obtenção de certidões em
minante da observância aos princípios éticos retirados da disciplina repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de si-
interna da administração; tuações de interesse pessoal, independentemente do pagamento de
• Conteúdo do princípio: Total observância aos princípios da taxas (art. 5.º, XXXIV, “b”); o direito de petição aos Poderes Públicos
justiça e da equidade, à boa-fé, às regras da boa administração, aos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder, in-
valores morais, aos bons costumes, à ideia comum de honestidade, dependentemente do pagamento de taxas (art. 5.º, XXXIV, “a”); e o
à ética e por último à lealdade; direito de acesso dos usuários a registros administrativos e atos de
• Observância: Deve ser observado pelos agentes públicos e governo (art. 37, § 3.º, II).
também pelos particulares que se relacionam com a Administração
Pública;

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Pondera-se que havendo violação a tais regras, o interessado • Possui como foco assegurar a transparência da atuação admi-
possui à sua disposição algumas ações constitucionais para a tutela nistrativa, vindo a possibilitar o exercício do controle da Administra-
do seu direito, sendo elas: o habeas data (CF, art. 5.º, LXXII) e o ção Pública de modo geral;
mandado de segurança (CF, art. 5.º, LXIX), ou ainda, as vias judiciais • Em relação à sua manifestação, concede ao cidadão: direito
ordinárias. à obtenção de certidões em repartições públicas; direito de petição;
No que concerne aos mecanismos adotados para a concretiza- direito de acesso dos usuários a registros administrativos e atos de
ção do princípio, a publicidade poderá ocorrer por intermédio da governo; direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
publicação do ato ou, dependendo da situação, por meio de sua interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, com exceção
simples comunicação aos destinatários interessados. daquelas informações, cujo sigilo seja indispensável à segurança da
Registra-se, que caso não haja norma determinando a publi- sociedade e do Estado.
cação, os atos administrativos não geradores de efeitos externos • Não se trata de um princípio absoluto, necessitando que seja
à Administração, como por exemplo, uma portaria que cria deter- harmonizado com os demais princípios constitucionais;
minado evento, não precisam ser publicados, bastando que seja • A publicação é exigida desde que exista previsão legal ou de
atendido o princípio da publicidade por meio da comunicação aos atos que sejam produtores de efeitos externos;
interessados. Entendido esse raciocínio, pode-se afirmar que o de- • Não havendo exigência legal, a publicidade dos atos internos
ver de publicação recai apenas sobre os atos geradores de efeitos poderá ser feita por intermédio de comunicação direta ao interes-
externos à Administração. É o que ocorre, por exemplo, num edital sado;
de abertura de um concurso público, ou quando exista norma legal • A Lei 12.527/2011 foi aprovada como um mecanismo amplo
determinando a publicação. e eficaz de concretização do acesso à informação, vindo a se tornar
Determinado a lei a publicação do ato, ressalta-se que esta de- um genuíno corolário do princípio da publicidade.
verá ser feita na Imprensa Oficial, e, caso a divulgação ocorra ape- • A publicação deverá ser feita pela Imprensa Oficial, ou, onde
nas pela televisão ou pelo rádio, ainda que em horário oficial, não não houver órgão oficial, em consonância com a Lei Orgânica do
se considerará atendida essa exigência. No entanto, conforme o en- Município, a publicação oficial poderá ser feita pela afixação dos
sinamento do ilustre Hely Lopes Meirelles, onde não houver órgão atos e leis municipais na sede da Prefeitura ou da Câmara Munici-
oficial, em consonância com a Lei Orgânica do Município, a publica- pal.
ção oficial poderá ser feita pela afixação dos atos e leis municipais
na sede da Prefeitura ou da Câmara Municipal. Princípio da Eficiência
Dotada de importantes mecanismos para a concretização do A princípio, registra-se que apenas com o advento da Emenda
princípio da publicidade, ganha destaque a Lei 12.527/2011, tam- Constitucional nº 19/1998, também conhecida como “Emenda da
bém conhecida como de Lei de Acesso à Informação ou Lei da Reforma Administrativa”, o princípio da eficiência veio a ser previs-
Transparência Pública. A mencionada Lei estabelece regras gerais, to no caput do art. 37 da Constituição Federal Brasileira de 1988.
de caráter nacional, vindo a disciplinar o acesso às informações Acrescido a tais informações, o princípio da eficiência também se
contidas no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 encontra previsto no caput do art. 2.º da Lei 9.784/1999, lei que
e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal Brasileira de 1.988. regula o processo administrativo na seara da Administração Pública
Encontram-se subordinados ao regime da lei 12.527/2011, tanto Federal.
a Administração Direta, quanto as entidades da Administração In- Desta forma, elevado à categoria de princípio constitucional ex-
direta e demais entidades controladas de forma direta ou indireta presso pela Emenda Constitucional 19/1998, o dever de eficiência
pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios. corresponde ao dever de bem administrar a Máquina Pública.
Também estão submetidas à ordenança da Lei da Transparência Pú- No entendimento de Hely Lopes Meirelles, “o princípio da efi-
blica as entidades privadas sem fins lucrativos, desde que recebam ciência exige que a atividade administrativa seja exercida com pres-
recursos públicos para a realização de ações de interesse público, teza, perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio
especialmente as relativas à publicidade da destinação desses re- da função administrativa, que já não se contenta em ser desem-
cursos, sem prejuízo de efetuarem as prestações de contas a que penhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para
estejam obrigadas por lei. o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da
Por fim, pontua-se que embora a regra ser a publicidade, a Lei comunidade e de seus membros”.
12.527/2011 excetua com ressalvas, o sigilo de informações que Pondera-se que princípio da eficiência deverá estar eivado de
sejam imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado de valores e uma boa administração pública que dê preferência por
forma geral. Ocorre que ainda nesses casos, o sigilo não será eter- produtividade elevada, economicidade, excelente qualidade e ce-
no, estando previstos prazos máximos de restrição de acesso às leridade dos serviços prestados, vindo a reduzir os desperdícios e,
informações, conforme suas classificações da seguinte forma, nos ainda, que trabalhe pela desburocratização e pelo elevado rendi-
ditames do art. 24, § 1º: mento funcional como um todo.
a) Informação ultrassecreta (25 anos de prazo máximo de res- De acordo com a Constituição Federal Brasileira, existem nor-
trição ao acesso); mas inseridas no ordenamento jurídico pátrio que possuem o con-
b) Informação secreta (15 anos de prazo máximo de restrição dão de tornar mais eficiente a prestação de serviços públicos. Pas-
ao acesso); semos a analisar almas destas regras:
c) Informação reservada (cinco anos de prazo máximo de res- 1. Nos termos do art. art. 41, § 4.º da CFB/88, com o fito de
trição ao acesso). adquirir estabilidade, o servidor público, após ser aprovado em con-
curso, terá que passar por uma avaliação especial de desempenho
Em síntese, temos: por comissão instituída para essa finalidade;
• É advindo da democracia e se encontra ligado ao exercício da 2. Segundo o art. 41, §1º da CFB/88, após ter adquirido estabi-
cidadania; lidade, o servidor não pode relaxar, uma vez que se encontra sujeito
• Exige divulgação ampla dos atos da Administração Pública, a passar por periódicas avaliações de desempenho, podendo correr
com exceção das hipóteses excepcionais de sigilo; o risco de perder o cargo, caso seja declarado insuficiente, assegu-
• Se encontra ligado à eficácia do ato administrativo; rada ampla defesa;

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Apelidada de “Lei de Responsabilidade das Estatais”, a Lei Princípios da Razoabilidade e da Proporcionalidade
13.303/2016, dentre as diversas novidades estatuídas em seu di- Sendo princípios gerais de direito, a razoabilidade e a propor-
ploma, destacamos com ênfase no art. 17, a estipulação de notório cionalidade, embora não estejam previstos expressamente no texto
conhecimento, bem como tempo de experiência profissional e for- da CFB/88, transpassam vários dispositivos da CF/1988, vindo a se
mação acadêmica como pré-requisitos legais para que alguém pos- constituir em princípios constitucionais implícitos.
sa ser nomeado para o Conselho de Administração ou Diretoria de Assim sendo, pondera-se que não existe nenhuma uniformida-
uma Empresa Pública ou sociedade de economia mista. Pondera-se de na doutrina em relação ao conteúdo dos princípios da razoabi-
que tais exigências são uma autêntica homenagem ao princípio da lidade e da proporcionalidade, tendo em vista que há autores que
eficiência, bem como aos princípios da moralidade e da isonomia. entendem os dois princípios como sendo sinônimos, ao passo que
Por fim, denota-se que o princípio da eficiência não se sobrepõe consideram que a proporcionalidade se trata apenas uma das ca-
aos demais princípios, aliás, acrescente-se, que ela se soma aos racterísticas do princípio da razoabilidade, havendo ainda, uma cor-
demais princípios administrativos, fatos que demonstram que a rente que considera os dois como princípios distintos um do outro.
função administrativa executada de forma eficiente, deverá sempre Embora haja doutrinárias divergentes em relação ao assunto,
ser exercida nos parâmetros de conformidade com o princípio da entende-se de modo geral, que o princípio da razoabilidade está re-
legalidade. lacionado ao aceitamento explícito da conduta em face de padrões
Em suma, temos: racionais de comportamento, que buscam levar em conta tanto o
• Se encontra expresso na Constituição Federal e foi inserido bom senso do homem médio, quanto a finalidade para a qual foi
pela EC 19/1998; outorgada a competência legítima ao agente público. Assim sen-
• Princípio da eficiência ou dever de eficiência é o dever bem do, o princípio da razoabilidade exige de maneira contundente do
administrar; administrador, atuação com bom senso, coerência e racionalidade.
• É o mais moderno princípio da função administrativa, que Em relação ao princípio da proporcionalidade, entende-se que
já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, este se refere à postura de conduta equilibrada, sendo proporcional
exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório à finalidade que se destina e também sem excessos em si mesmo.
atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros; Ponto importante que merece registro, é que o que considera uma
• Exigências legais: as atividades administrativas devem ser conduta como proporcional em um caso concreto, uma vez que de-
exercidas com presteza, perfeição e rendimento funcional; deverão vem estar presentes três elementos, sendo eles:
surtir resultados positivos para o serviço público, bem como um 1. A adequação: Trata-se da compatibilidade entre o meio em-
atendimento que possa satisfazer as necessidades da população e pregado e o fim almejado;
de seus membros; prima-se por economicidade, produtividade ele- 2. A exigibilidade: Por meio da qual, a conduta praticada deve
vada, qualidade e celeridade na prestação dos serviços bem como ser necessária, não existindo meio menos gravoso para alcançar o
pela redução dos desperdícios e desburocratização; fim público;
• Aspectos importantes: o modo como o agente público atua; 3. A proporcionalidade em sentido estrito: Por meio da qual,
a forma de organizar, estruturar e disciplinar a Administração Públi- as vantagens obtidas com conduta acabam por superar as desvan-
ca como um todo; tagens.
• Trata-se de um princípio que se encontra relacionado à admi-
nistração pública gerencial; Na seara de controle de constitucionalidade, denota-se que o
• É um princípio de se soma-se aos demais princípios da Ad- Supremo Tribunal Federal tem adotado com enorme frequência os
ministração Pública, não se sobrepõe a nenhum deles e deve ser princípios da razoabilidade e proporcionalidade, de forma especial
exercido nos conformes ditados pelo princípio da legalidade. nas situações em que o legislador ordinário edita lei que, embo-
ra aparentemente não contrarie qualquer dispositivo disposto na
Princípios Implícitos da Administração Pública CFB/88, definha de ausência plena de razoabilidade.
No estudo anterior, foi exposto com ênfase os princípios apli- Explicita-se ainda, que a jurisprudência do Supremo Tribunal
cáveis à administração pública expressos na Constituição Federal Federal tem usado de maneira contundente o princípio da razoa-
de 1988. Entretanto, a doutrina também reconhece outros princí- bilidade como forma de examinar se discriminações usadas pelo
pios que, embora não estejam contidos de forma expressa no texto legislador ordinário ou pela Administração Pública, são ou não de
constitucional, são retirados da Carta Magna e são igualmente aco- fato agressivas ao princípio da isonomia que se encontra inserido
lhidos pelo sistema constitucional e importantes no estudo do direi- na Constituição Federal.
to administrativo. Trata-se dos princípios administrativos implícitos, Ressalte-se, por fim, que o princípio da isonomia, além de auto-
os quais iremos abordar em estudo neste tópico. rizar, exige também tratamentos de forma diferente entre pessoas
Afirma-se que diversos desses princípios constitucionais implí- que se encontram em situações distintas. Desta maneira, o proble-
citos são encontrados contemporaneamente em diversas leis. A Lei ma não é diferenciar, mas sim saber aplicar a razoabilidade do cri-
9.784/1999, por exemplo se encontra eivada de normas e regras tério utilizado para a diferenciação. Um exemplo clássico disso, é a
básicas sobre o processo administrativo na seara da Administração exigência de altura mínima para cargos de carreiras policiais, uma
Federal, vindo a citar diversos princípios que não se encontram vez que esta é considerada razoável e válida, levando em conta que
dispostos na Constituição Federal de 1.988, embora sejam desta o porte físico é característica importante e relevante para o exercí-
advindos, como o interesse público, a segurança jurídica, a finalida- cio de tais cargos.
de, a motivação, dentre outros. Desta maneira, depreende-se que Em resumo, temos:
quando um princípio administrativo é qualificado como implícito,
significa que ele não se encontra nominalmente expresso no texto Razoabilidade
constitucional, fato que não importa para efeito tal classificação, se • Exige do administrador atuação coerente, racional e com
ele se encontra ou não previsto de modo explícito em alguma forma bom senso;
de norma respectivamente infraconstitucional. • Diz respeito à aceitabilidade de uma conduta, dentro de pa-
drões e ditames normais de comportamento;

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• Permite o controle de legalidade das leis e atos administra- considerados nulos os atos que dependem de motivação. Porém,
tivos, vindo a se constituir em limitação ao poder discricionário da a autoridade competente, de modo geral, compreende que ela se
Administração Pública como um todo. encontra implícita nas circunstâncias causadoras da edição do ato,
ou que aponta motivos complexos, ou que não possuem nada a ver
Proporcionalidade com a medida tomada, ou, ainda, que estejam eivados da necessi-
• Exige do administrador conduta equilibrada, balanceada, sem dade de providência colocada de forma oposta à que foi adotada.
excessos, proporcional ao fim ao qual se destina; Por fim, é importante registrar que o momento da motivação
• É uma das características do princípio da razoabilidade; pode ocorrer de forma prévia ou simultaneamente ao ato, caso não
• Elementos: se tenha atendido ao requisito com uma posterior declinação de
1) adequação; motivos. Isso ocorre por que a doutrina e a jurisprudência afugen-
2) exigibilidade; tam o uso de fórmulas prontas e vazias como forma de motivação
3) proporcionalidade em sentido estrito; para a prática de atos administrativos. Desta maneira, não se aceita
por exemplo, como sendo suficiente a afirmação de que o ato ad-
• É permissionário do controle de legalidade das leis e atos ad- ministrativo foi praticado por causa de interesse público, ou, ainda
ministrativos, vindo a se constituir em limitação ao poder discricio- porque os argumentos que foram demonstrados pelo administrado
nário da Administração Pública. não são suficientes, sendo necessário que seja indicado, no primei-
ro caso, a correlação existente entre o ato e o interesse público vi-
Princípio da motivação sado e, no segundo, o porquê da falta de suficiência dos argumento
Trata-se de um princípio implícito que determina à Adminis- apresentados.
tração Púbica a indicação dos fundamentos de fato e de direito Em síntese, temos:
referentes às suas decisões. Por permitir o controle por meio dos • É um princípio implícito que determina à Administração Pú-
administrados, tendo em vista a licitude, a existência e a ampla sufi- bica a indicação dos fundamentos de fato e de direito referentes às
ciência dos motivos indicados pela Administração na prática de seus suas decisões;
atos, o princípio da motivação é considerado como um princípio • É considerado como um princípio moralizador;
moralizador. • Motivo é a circunstância de fato ou de direito determinadora
Depreende-se que motivo é a circunstância de fato ou de di- ou autorizadora da prática de ato específico;
reito determinadora ou autorizadora da prática de ato específico. • Na Legislação Pátria, a regra geral é a necessidade de moti-
Referindo-se a atos vinculados, o motivo passa a determinar que o vação de todos os atos ou decisões administrativas, fato que indica
ato seja praticado. Porém, quando o ato é discricionário, havendo que a Administração Pública deve, por força de lei, deixar sempre
a presença do motivo, ela apenas irá validar a consumação do ato. expressos os motivos que a levaram a praticar um ato ou a tomar
Exemplo: contemplando uma manobra proibida no trânsito, sendo certa decisão, seja esta de ato vinculado ou de ato discricionário;
esta o “motivo”, o agente deverá aplicar a multa correspondente, • De acordo com o art. 50, § 1º da Lei 9.784/1999, a motivação
não sendo permitido e nem lícito à autoridade de trânsito analisar deve ser explícita, clara, harmônica ou congruente, ainda que, via
a conveniência e nem tampouco a oportunidade em relação à puni- de regra, esta não exija uma forma específica.
ção da infração cometida, tendo em vista que o ato é vinculado e a • O momento da motivação pode ocorrer de forma prévia ou
presença do motivo acabam por determinar sua prática. simultaneamente ao ato, caso não se tenha atendido o requisito
Na Legislação Pátria, a regra geral é a necessidade de motiva- com uma posterior declinação de motivos.
ção de todos os atos ou decisões administrativas, fato que indica
que a Administração Pública deve, por força de lei, deixar sempre Princípio da autotutela
expressos os motivos que a levaram a praticar um ato ou a tomar O princípio da autotutela consiste na possibilidade de a Ad-
certa decisão, seja esta de ato vinculado ou de ato discricionário. ministração rever seus próprios atos. É o poder acompanhado do
Bastante reconhecido pela doutrina e pela jurisprudência, o dever concedido à administração para zelar pela legalidade, pela
princípio da motivação encontra-se previsto em diversos diplomas conveniência e pela oportunidade dos atos que pratica.
normativos. Um exemplo disso, é o art. 50 da Lei 9.784/1999 que
Levando em conta que a Administração Pública poderá agir
ordena que os atos administrativos deverão ocorrer sempre de for-
apenas quando autorizada por lei e nos termos legalmente esta-
ma motivada eivados da indicação dos fatos e dos fundamentos ju-
belecidos, dessa enunciação, decorre a presunção de que os atos
rídicos, quando:
administrativos são dotados de presunção de legalidade, ou seja,
a) Negarem, limitarem ou vierem a afetar direitos ou interes-
são legais e se encontram fundamentados em presunção de veraci-
ses;
dade, sendo por isso, considerados verdadeiros.
b) Agravarem ou imporem deveres, encargos ou sanções;
Tendo a Administração a prerrogativa de agir de ofício, pode-
c) Decidirem a respeito de processos administrativos de con-
curso ou seleção pública; -se afirmar que esta possui o deve anular seus atos ilegais, e pode,
d) Dispensarem ou declararem a inexigibilidade de processo também revogar os atos que considerar inoportunos ou inconve-
licitatório; nientes, independentemente de houver ou não a intervenção de
e) Decidirem a respeito de recursos administrativos; terceiros.
f) Decorrerem de reexame de ofício; Pondera-se que a autotutela possui dois aspectos do controle
g) Sempre que deixarem de aplicar jurisprudência firmada so- interno dos atos administrativos, sendo eles:
bre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e re- 1) O controle de legalidade: Por meio do qual a Administração
latórios oficiais; Pública anula os atos ilegais;
h) Importarem sobre anulação, suspensão, revogação ou con- 2) O controle de mérito: Por meio do qual a Administração
validação de ato administrativo. pode revogar os atos inoportunos ou inconvenientes.

De acordo com o art. 50, § 1º da Lei 9.784/1999, a motivação Registra-se com grande ênfase, o fato de o princípio autotutela
deve ser explícita, clara, harmônica ou congruente, ainda que, via se achar consagrado em duas súmulas do Supremo Tribunal Fede-
de regra, que não exija uma forma específica. Por esse motivo, são ral, sendo elas:

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
STF – Súmula 346: “A administração pública pode declarar a Súmulas:
nulidade dos seus próprios atos.” STF – Súmula 346: “A administração pública pode declarar a
STF – Súmula 473: “A Administração pode anular seus próprios nulidade dos seus próprios atos.”
atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles STF – Súmula 473: “A Administração pode anular seus próprios
não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles
ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência
em todos os casos, a apreciação judicial”. ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada,
em todos os casos, a apreciação judicial”.
Denota-se que embora as Súmulas mencionadas acima afir- • Para Maria Sylvia Zanella não podem ser revogados os se-
mem que a administração “pode anular seus próprios atos”, ela guintes atos:
na verdade, “deve anular seus atos”, tendo em vista que anular a a) Os atos vinculados;
revogação é um poder-dever, e não uma somente uma simples pos- b) Os atos que extenuaram seus efeitos;
sibilidade. c) Os atos que estiverem sendo apreciados por autoridade de
Destaca-se com grande importância, o fato da autotutela, se instância superior;
diferenciar do controle judicial no sentido de que ela depende de d) Os meros atos administrativos como certidões, atestados,
provocação externa para poder se manifestar, bem como pode ser votos, dentre outros, porque os efeitos deles advindos são estabe-
exercida de ofício, ou, ainda por meio de provocação de terceiros lecidos pela lei;
estranhos à Administração. Colocando em prática, quando uma e) Os atos que integram um procedimento, tendo em vista que
autoridade pública recebe uma comunicação de irregularidade na a cada novo ato praticado ocorre a preclusão quanto ao ato ante-
Administração Pública, ela obtém a obrigação de dar ciência do rior;
ocorrido ao seu chefe imediato ou, sendo esta competente, poderá f) Os atos geradores de direitos adquiridos, posto que violam a
a adotar as providências cabíveis para a apuração dos fatos, bem Constituição Federal Brasileira de 1.988.
como dos demais procedimentos necessários para a correção da ili-
citude ocorrida e, caso seja necessário, punir os culpados, sob pena Princípios da segurança jurídica, da proteção à confiança e da
de ser responsabilizada por omissão. Assim sendo, é plenamente boa-fé
possível afirmar que a provocação do exercício da autotutela pode De antemão, salienta-se que a segurança jurídica é um dos
vir de fora da Administração Pública. princípios fundamentais do direito e possui como atributos garan-
A respeito da revogação de atos da Administração Pública, Ma- tir a estabilidade das relações jurídicas consolidadas, bem como a
ria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que não podem ser revogados os certeza das consequências jurídicas dos atos praticados pelos indi-
seguintes atos: víduos em suas diversas relações sociais.
a) Os atos vinculados, tendo em vista que não há nestes os Tendo em vista garantir os retro mencionados atributos, em re-
aspectos da oportunidade e conveniência de sua prática como um lação à estabilidade das relações jurídicas, o ordenamento jurídico
todo; pugna pela exigência do respeito ao direito adquirido e também ao
b) Os atos que extenuaram seus efeitos. Isso ocorre pelo fato ato jurídico perfeito e à coisa julgada. Já em relação à certeza das
da revogação não retroagir, mas apenas impedir que o ato continue consequências jurídicas dos atos praticados, é possível se prever a
a produzir seus efeitos, uma vez que não haveria proveito em revo- regra geral da irretroatividade da lei acompanhada de sua interpre-
gar um ato que já produziu todos os seus efeitos; tação de modo geral.
c) Os atos que estiverem sendo apreciados por autoridade de No âmbito do Direito Administrativo, são plenamente aplicá-
instância superior. Isso acontece, porque a competência da autori- veis todas as regras mencionadas, porém, ganha destaque a impor-
dade que o praticou para revogá-lo se esgotou; tância da vedação em relação à interpretação retroativa da norma
d) Os meros atos administrativos como certidões, atestados, jurídica. Ocorre que ao expressar seu entendimento a respeito de
votos, dentre outros, porque os efeitos deles advindos são estabe- determinada matéria, a Administração Pública acaba por subme-
lecidos pela lei; ter o administrado à orientação administrativa e passa por boa-fé a
e) Os atos que integram um procedimento, tendo em vista que guiar o seu comportamento. Entretanto, não pode a Administração,
a cada novo ato praticado ocorre a preclusão quanto ao ato ante- sob pena de ferir o princípio da segurança jurídica, prejudicar o par-
rior; ticular, aplicando a este, nova interpretação a casos retrógrados já
f) Os atos geradores de direitos adquiridos, posto que violam a interpretados em concordância com as concepções anteriormente
Constituição Federal Brasileira. vigentes. Por esse motivo, em âmbito federal, a Lei 9.784/1999 em
Em resumo, temos: seu art. 2.º, parágrafo único, XIII, veda de forma expressa a aplica-
• Consiste na possibilidade de a Administração rever seus pró- ção retroativa de nova interpretação de matéria administrativa que
prios atos. É o poder acompanhado do dever concedido à adminis- já fora anteriormente avaliada.
tração para zelar pela legalidade, pela conveniência e pela oportu- Em suma, como consequências do princípio da segurança jurí-
nidade dos atos que pratica. dica, podemos citar: a vedação da interpretação retroativa da nor-
• A Administração pode de agir de ofício, deve anular seus atos ma jurídica; a limitação temporal ao exercício da autotutela; o res-
ilegais, e pode, também, revogar os atos que considerar inoportu- peito ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito.
nos ou inconvenientes, independentemente de haver ou não a in- Em relação ao princípio da proteção à confiança ou proteção
tervenção de terceiros. à confiança legítima, denota-se que se trata esse princípio de as-
pecto subjetivo da segurança jurídica, de forma que é considerado
Aspectos do controle interno dos atos administrativos: como um desdobramento deste.
1) O controle de legalidade: Por meio do qual a Administração A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, leciona que o “princípio
Pública anula os atos ilegais; da proteção à confiança leva em conta a boa-fé do cidadão, que
2) O controle de mérito: Por meio do qual a Administração acredita e espera que os atos praticados pelo Poder Público sejam
pode revogar os atos inoportunos ou inconvenientes. lícitos e, nessa qualidade, serão mantidos e respeitados pela pró-
pria Administração e por terceiros”.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Ressalte-se que o princípio da proteção à confiança possui o • Consequências legais: A manutenção de atos ilegais ou in-
condão de fundamentar a manutenção de atos ilegais e inconstitu- constitucionais, a manutenção de atos praticados por funcionários
cionais, condições nas quais, o juízo que os pondera tem tido como de fato, dentre outros.
consequência, uma graduação redutiva do alcance do princípio da
legalidade como um todo. Um exemplo disso é o que ocorre nos ca- Princípio da boa-fé
sos em que a Administração, em decorrência de interpretação errô- • Aspecto objetivo: Ter conduta leal e honesta;
nea da lei, adimple com o pagamento de valores que não são devi- • Aspecto subjetivo: A crença do agente de que está agindo de
dos a servidores que, de boa-fé, entendem ter direito a tais verbas. forma correta;
Ocorrendo esse tipo de erro, o Judiciário, para proteger a confiança • A boa-fé deve ser exigida da Administração e do Administra-
que os servidores possuem na Administração, tem se manifestado do;
de maneira constante pela desnecessidade de reposição ao erário • Consequências: manutenção de atos ilegais ou inconstitucio-
público de forma geral. nais, dentre outros.
Por fim, vale a pena mencionar outro efeito concreto do prin-
cípio da proteção à confiança, que trata-se da manutenção de atos Princípio da Continuidade dos Serviços Públicos
praticados por funcionário de fato, posto que, de forma teórica, O foco fundamental do Estado é a consecução do bem comum
caso o servidor tenha sido investido de forma irregular no cargo, do seu povo como um todo. Pondera-se que para atingir tal objeti-
via de regra, não teria este a competência para praticar atos admi- vo, é necessário que a Administração disponibilize para os adminis-
nistrativos, uma vez que tais atos seriam considerados nulos. No trados utilidades específicas, atenda necessidades determinadas, e,
entanto, os atos praticados, por terem aparência de legalidade e ainda que possa oferecer comodidades a depender de cada caso
que vierem a gerar a crença nos destinatários de que realmente são específico. Ressalta-se que estas atividades podem ser encaixadas
válidos, deverão ser mantidos. no sentido amplo do vocábulo da prestação de serviços públicos,
Passemos à análise do princípio da boa-fé, que mesmo se en- tendo em vista que a interrupção da prestação de serviços públicos
contrando implícito no texto da Carta Magna, depreende-se que ele não pode ser vedada.
pode ser extraído do princípio da moralidade. Ademais, esse prin- Sem sombra de dúvidas, a busca do bem comum deverá sem-
cípio se encontra previsto nos artigos 2º, parágrafo único, IV, e 4.º, pre acontecer de maneira incessante e sem vedação de continui-
II, da Lei 9.784/1999. dade. Desse cenário, podemos extrair o conteúdo do princípio da
Registra-se que a boa-fé está subdividida em dois aspectos, continuidade do serviço público, cuja materialização é assegurada
sendo eles: por inúmeros ordenamentos. Como exemplo, podemos citar o di-
1) Aspecto objetivo: Esta relacionado à conduta leal e honesta, reito de greve no serviço público de modo geral, que, embora seja
considerada de forma objetiva; reconhecido, se encontra eivado de sujeições e restrições, tendo
2) Aspecto subjetivo: Refere-se à crença do agente de que está em vista que uma vez que o disposto no art. 37, VII da Constituição
agindo de forma correta. Pois, caso contrário, se o agente tiver ciên- Federal que o explicita, prevê a edição de uma lei específica que
cia de que o seu comportamento não se encontra em consonância limita os seus termos e limites.
com as normas jurídicas, estará agindo de má-fé. Assim sendo, com vistas ao mesmo objetivo e reconhecendo
que alguns serviços públicos são delegados a particulares, a Cons-
Alguns doutrinadores identificam o princípio da boa-fé como tituição Federal no art. 9º, § 1º, ao disciplinar o direito de greve
sendo o princípio da proteção à confiança. Entretanto, entende-se assegurado aos trabalhadores em geral, estipula que a lei deverá
que ao passo que a proteção à confiança visa proteger somente a elencar com ênfase os serviços ou atividades essenciais, vindo a dis-
boa-fé dos administrados, é necessário que o princípio da boa-fé por sobre o atendimento das necessidades da comunidade que são
se encontre presente do lado da Administração Pública em geral e consideradas inadiáveis.
também do lado dos administrados. Outro ponto importante que merece ser explanado é o fato da
Por fim, vale a pena registrar que o princípio da boa-fé, seme- existência da inoponibilidade da exceção de contrato não cumpri-
lhantemente ao princípio da proteção à confiança, também tem do, exceptio non adimpleti contractus, nos contratos de concessão
sido invocado como forma de justificativa da manutenção de atos de serviços públicos, fato que nos parâmetros legais, ainda que o
administrativos sem validade, bem como de atos praticados por poder concedente se exima de cumprir as normas contratuais, os
funcionário de fato. serviços prestados pela concessionária correspondente não pode-
Em síntese: rão jamais ser interrompidos, nem tampouco paralisados sem que
haja decisão judicial transitada em julgado, nos parâmetros do art.
Princípio da segurança jurídica 39, parágrafo único da Lei 8.987/1995.
• Objetivo: Busca a garantia da estabilidade das relações jurídi- Ressalta-se que relacionado ao princípio da continuidade dos
cas consolidadas, bem como a certeza das consequências jurídicas serviços públicos, nos ditames do art. 80, II da Lei 8.666/1993, caso
dos atos que são praticados pelos indivíduos em suas distintas re- a administração venha a rescindir unilateralmente um contrato ad-
lações sociais; ministrativo, ela passará a obter o direito à ocupação e utilização
• Consequências: Busca vedar a interpretação retroativa da do local, bem como das instalações, dos equipamentos ali utiliza-
norma jurídica; a limitação temporal ao exercício da autotutela; o dos, do material e pessoal empregados na execução do contrato e
respeito ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico per- tudo o mais que for necessário à continuidade do serviço público
feito. essencial.
Nos parâmetros do art. 36 da Lei 8.897/1995, depreende-se
Princípio da proteção à confiança que ao término da concessão, existe previsão de lei para reverter
• Foco: A proteção da confiança dos administrados nos atos da ao poder público os bens do concessionário necessários à continui-
Administração Pública; dade e atualização dos serviços públicos que haviam sido concedi-
• Aspecto ou dimensão subjetiva do princípio da segurança ju- dos. É importante registrar também a existência dos institutos da
rídica; suplência, da substituição de servidores públicos, bem como da de-
legação, para se possa evitar que diante da ausência de um servidor

11
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
público ao trabalho, possa a Administração Pública e aqueles que Em resumo:
dela dependem, vir a sofrer com a paralisação do serviço público • Conteúdo: A presunção de que os atos praticados pela Admi-
prestado. nistração são verdadeiros, bem como são praticados de acordo com
Entretanto, ante o mencionado acima, ressalta-se que nos pa- as normas legais”;
râmetros do art. 6.º, § 3.º, da Lei 8.987/1995, é caracterizada como • Aspectos: A presunção da verdade no que diz respeito à ve-
descontinuidade do serviço público a sua interrupção em situação racidade das alegações da Administração Pública; e a presunção de
de casos excepcionais de emergência, ou, após aviso previamente legalidade;
dado, quando estiver motivada por razões de ordem técnica ou de • Presunção relativa juris tantum: Possuindo o efeito de inver-
segurança das instalações presentes, ou em decorrência de falta de ter o ônus da prova;
adimplemento do usuário, considerando, por conseguinte o inte- • Consequências da presunção de legitimidade: decisões
resse da coletividade de modo geral. administrativas possuem execução imediatas; decisões adminis-
Em suma, temos: trativas podem criar obrigações particulares, ainda que estes não
• Conteúdo: Vedação da interrupção da prestação de serviços concordem; em algumas situações, a própria Administração pode
públicos; executar suas próprias decisões
• Regras para garantir a continuidade do serviço público: restri-
ção ao direito de greve no serviço público; inoponibilidade ou res- Princípio da Especialidade
trição a exceção do contrato não cumprido, exceptio non adimpleti O princípio da especialidade consiste na criação de entidades
contractus; encampação de serviços públicos delegados; da Administração Pública Indireta, fazendo alusão à ideia de des-
centralização administrativa. Pondera-se que tais entidades, ao se-
Objeto: A busca do bem comum deverá sempre acontecer de rem criadas, terão como missão a prestação de serviços públicos,
maneira incessante e sem cessação de continuidade. de forma descentralizada acrescida da especialização da função.
Além disso, podemos afirmar com concomitante certeza, que
• Inoponibilidade da exceção de contrato não cumprido, ex- o princípio da especialidade se encontra diretamente ligado aos
ceptio non adimpleti contractus: nos contratos de concessão de princípios da legalidade e da indisponibilidade do interesse público.
serviços públicos, ainda que o poder concedente se exima de cum- Denota-se que esta ligação com a legalidade, decorre do fato
prir as normas contratuais, os serviços prestados pela concessio- da criação de entidades da Administração Indireta da Administra-
nária correspondente não poderão jamais ser interrompidos, nem ção, que só pode ser executada diretamente por lei ou, dependen-
tampouco paralisados sem que haja decisão judicial transitada em do do caso, por autorização legal. E, ainda, da indisponibilidade do
julgado. interesse público, pelo motivo segundo o qual, a lei criadora ou au-
torizadora da criação de entidades da Administração Indireta, de-
talha com exatidão as finalidades que deverão ser executadas por
• Hipóteses legais de interrupção dos serviços públicos:
essas entidades, de forma que não cabe ao administrador da enti-
Em situação de emergência e sem aviso prévio; razões de or-
dade criada, dispor com precisão a respeito dos objetivos definidos
dem técnica ou de segurança das instalações, após prévio aviso;
pela legislação equivalente.
inadimplemento do usuário, após prévio aviso.
Registra-se, por fim, que o princípio da especialidade possui
abrangência somente para a criação de entidades da administra-
Princípio da Presunção de Legitimidade ou de Veracidade
ção indireta. Isso significa que sua abrangência não diz respeito, por
Trata-se de um importante princípio que diz respeito a duas
exemplo, a parcerias feitas pelo poder público com as entidades do
características dos atos praticados pela Administração Pública, sen- terceiro setor e suas funções gerenciais como um todo.
do elas: Em breve síntese:
1) A presunção de verdade: Que se encontra relacionada aos • O princípio da especialidade consiste na criação de entidades
fatos; da Administração Pública Indireta, fazendo alusão à ideia de des-
2) A presunção de legalidade: Que se encontra relacionada ao centralização administrativa.
direito. • É composto por meio da criação de entidades da Adminis-
tração Indireta, que se tornarão prestadoras de serviços públicos
Infere-se que em decorrência da presunção de legitimidade ou de forma descentralizada acrescida com especialização de função;
de veracidade dos atos administrativos, todos os fatos argumenta- • Relaciona-se com princípios da legalidade e da indisponibili-
dos pela Administração são verdadeiros e os seus atos são prati- dade do interesse público;
cados de acordo com as normas determinadas por lei, até que se • O princípio da especialidade não é adaptável às parcerias fir-
prove o contrário, assegurada a ampla defesa. madas pelo Poder Público com as organizações do terceiro setor.
Refere-se à presunção relativa ou juris tantum, vindo a acolher
a produção de prova em contrário com o fito de afastá-la, sendo Princípio da Hierarquia
que o efeito primordial e principal da referida presunção trata-se de De antemão, afirma-se que existe em decorrência princípio da
inverter o ônus da prova. Desta maneira, caso um agente de trânsi- hierarquia, uma ligação correlata de coordenação e subordinação
to aplique uma autuação a um condutor de veículo automotor em entre os órgãos da Administração Pública. Depreende-se que desta
decorrência de avanço de sinal, para que o motorista afaste a multa, ligação advém um rol de funções laborativas para o superior hie-
terá que provar que não cometeu a infração. rárquico. As que mais se destacam, são: fazer a revisão dos atos
Denota-se que como consequência da presunção de legitimi- dos subordinados, fazer a delegação de competências e punir os
dade, em regra, as decisões administrativas que podem ser feitas de agentes subordinados. Em relação ao agente público subordinado à
forma imediata, vindo a gerar obrigações para os particulares, fato relação hierárquica, por sua vez, é imposto o dever de prestar obe-
que independe de sua concordância. Ademais, em determinadas diência às ordens imediatamente superiores, ressalvadas aquelas
situações, poderá a própria Administração Pública vir a executar as manifestamente ilegais.
suas próprias decisões, utilizando-se de meios diretos bem como Ressalta-se que a relação de hierarquia é condizente aos órgãos
indiretos de coação que lhes forem disponíveis e permitidos. de uma mesma pessoa jurídica. Isso significa dizer que o princípio
da hierarquia se encontra diretamente relacionado à ideia de des-

12
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
concentração administrativa, fato que não diz respeito, por exem- militares como sendo uma categoria à parte, designando-os apenas
plo, ao processo de descentralização administrativa ou de criação de militares, e, por conseguinte, usando a expressão servidores pú-
de entidades da Administração Pública Indireta como um todo. blicos para se referir somente aos servidores públicos civis.
Em breve síntese: De acordo com as regras e normas pelas quais são regidos, os
• É composto por meio de uma relação de coordenação e su- servidores públicos civis podem ser subdivididos da seguinte ma-
bordinação entre os órgãos da Administração Pública de modo am- neira:
plo e total;
• Consequências do princípio da hierarquia: Existe a possibili- Servidores estatutários: ocupam cargo público e são regidos
dade de o superior fazer revisão junto aos atos dos subordinados; pelo regime estatutário.
há a possibilidade de o superior vir a delegar ou a avocar competên- Servidores ou empregados públicos: são os servidores contra-
cias; existe a possibilidade de punir na forma da lei ao subordina- tados sob o regime da CLT e ocupantes de empregos públicos.
do; dever do subordinador de obedecer as ordens do seu superior Servidores temporários: são os contratados por determinado
imediato, ressalvadas as manifestamente ilegais; o princípio da hie- período de tempo com o objetivo de atender à necessidade tempo-
rarquia se encontra relacionado à ideia de desconcentração admi- rária de excepcional interesse público. Exercem funções públicas,
nistrativa; o princípio da hierarquia não se encontra relacionado ao mas não ocupam cargo ou emprego público. São regidos por regime
processo de descentralização administrativa. jurídico especial e disciplinado em lei de cada unidade federativa.
Servidores militares: antes do advento da EC 19/1998, os mi-
litares eram tratados como “servidores militares”. Militares são
aqueles que prestam serviços às Forças Armadas como a Marinha,
AGENTES PÚBLICOS
o Exército e a Aeronáutica, às Polícias Militares ou aos Corpos de
Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos territórios,
Conceito que estão sob vínculo jurídico estatutário e são remunerados pe-
A Constituição Federal Brasileira de 1988 trouxe em seu bojo, los cofres públicos. Por estarem submetidos a um regime jurídico
várias regras de organização do Estado brasileiro, dentre elas, as estatutário disciplinado em lei por lei, os militares estão submeti-
concernentes à Administração Pública e seus agentes como um dos à regras jurídicas diferentes das aplicadas aos servidores civis
todo. estatutários, justificando, desta forma, o enquadramento em uma
A designação “agente público” tem sentido amplo e serve para categoria propícia de agentes públicos.
conceituar qualquer pessoa física exercente de função pública, de
forma remunerada ou gratuita, de natureza política ou administra- Destaca-se que a Constituição Federal assegurou aos militares
tiva, com investidura definitiva ou transitória. alguns direitos sociais conferidos aos trabalhadores de forma geral,
são eles: o 13º salário; o salário-família, férias anuais remuneradas
Espécies (classificação) com acréscimo ao menos um terço da remuneração normal; licença
Maria Sylvia Zanella Di Pietro, entende que quatro são as ca-
à gestante com a duração de 120 dias; licença paternidade e assis-
tegorias de agentes públicos: agentes políticos, servidores públicos
tência gratuita aos filhos e demais dependentes desde o nascimen-
civis, militares e particulares em colaboração com o serviço público.
to até cinco anos de idade em creches e pré-escolas.
Ademais, os servidores militares estão submetidos por força da
Vejamos cada classificação detalhadamente:
Constituição Federal a determinadas regras próprias dos servidores
públicos civis, como por exemplo: teto remuneratório, irredutibili-
Agentes políticos
dade de vencimentos, dentre outras peculiaridades.
Exercem atividades típicas de governo e possuem a incumbên-
cia de propor ou decidir as diretrizes políticas dos entes públicos. Embora haja tais assimilações, aos militares são aplicadas algu-
Nesse patamar estão inclusos os chefes do Poder Executivo federal, mas vedações que constituem direito dos demais agentes públicos,
estadual e municipal e de seus auxiliares diretos, quais sejam, os como por exemplo, os casos da sindicalização, bem como da greve
Ministros e Secretários de Governo e os membros do Poder Legisla- e, quando estiverem em serviço ativo, da filiação a partidos políti-
tivo como Senadores, Deputados e Vereadores. cos.
De forma geral, os agentes políticos exercem mandato eletivo,
com exceção dos Ministros e Secretários que são ocupantes de car- Cargo, Emprego e Função Pública
gos comissionados, de livre nomeação e exoneração. Para que haja melhor organização na Administração Pública, os
Autores como Hely Lopes Meirelles, acabaram por enfatizar de servidores públicos são amparados e organizados a partir de qua-
forma ampla a categoria de agentes políticos, de forma a transpare- dros funcionais. Quadro funcional é o acoplado de cargos, empre-
cer que os demais agentes que exercem, com alto grau de autono- gos e funções públicas de um mesmo ente federado, de uma pessoa
mia, categorias da soberania do Estado em decorrência de previsão jurídica da Administração Indireta de ou de seus órgãos internos.
constitucional, como é o caso dos membros do Ministério Público,
da Magistratura e dos Tribunais de Contas. Cargo
O art. 3º do Estatuto dos Servidores Civis da União da Lei
Servidores Públicos Civis 8.112/1990 conceitua cargo público como “o conjunto de atribui-
De forma geral, servidor público são todas as pessoas físicas ções e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que
que prestadoras de serviços às entidades federativas ou as pessoas devem ser cometidas a um servidor”. Via de regra, podemos consi-
jurídicas da Administração Indireta em função da relação de traba- derar o cargo como sendo uma posição na estrutura organizacional
lho que ocupam e com remuneração ou subsídio pagos pelos co- da Administração Pública a ser preenchido por um servidor público.
fres públicos, vindo a compor o quadro funcional dessas pessoas Em geral, os cargos públicos somente podem ser criados, trans-
jurídicas. formados e extinguidos por força de lei.
Depreende-se que alguns autores dividem os servidores públi- Ao Poder Legislativo, caberá, mediante sanção do chefe do Po-
cos em civis e militares. Pelo fato de termos adotado a classificação der Executivo, dispor sobre a criação, transformação e extinção de
aludida por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, trataremos os servidores cargos, empregos e funções públicas.

13
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, a criação não as empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações
depende de temos exatos de lei, mas, sim de uma norma que mes- públicas de direito privado, infere-se que somente é possível a exis-
mo possuindo hierarquia de lei, não depende de sanção ou veto do tência de empregados públicos, nos termos legais.
chefe do Executivo. É o que chamamos de Resoluções, que são leis
sem sanção. Função Pública
A despeito da criação de cargos, vejamos: Função pública também é uma espécie de ocupação de agen-
a) Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe te público. Denota-se que ao lado dos cargos e empregos públicos
desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”). existem determinadas atribuições que também são exercidas por
b) Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e do servidores públicos, mas no entanto, essas funções não compõem
Ministério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos respec- a lista de atribuições de determinado cargo ou emprego público,
tivos Tribunais ou Procuradores - Gerais em se tratando da criação como por exemplo, das funções exercidas por servidores contrata-
de cargos para o Ministério Público. dos temporariamente, em razão de excepcional interesse público,
c) Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou com base no art. 37, IX, da CFB/88.
transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder Esse tipo de servidor ocupa funções temporárias, desempe-
(Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora. nhando suas funções sem titularizar cargo ou emprego público.
Além disso, existem funções de chefia, direção e assessoramento
Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se para as quais o legislador não cria o cargo respectivo, já que serão
estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por exercidas com exclusividade por ocupantes de cargos efetivos, nos
decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver termos do art. 37, V, da CFB/88.
ocupado, só poderá ser extinto por lei.
Observação importante: nos parâmetros do art. 37, V da
Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados. Ve- CFB/88, da mesma forma que previsto para os cargos em comissão,
jamos: as funções de confiança destinam-se apenas às atribuições de dire-
Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes ção, chefia e assessoramento.
podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em
razão do regime de progressão do servidor na carreira. Regimente Jurídico
Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de seus
titulares. Provimento
Provimento é a forma de ocupação do cargo público pelo ser-
Em relação às garantias e características especiais que lhe são vidor. Além disso, é um ato administrativo por intermédio do qual
conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos; ocorre o preenchimento de cargo, por conseguinte, atribuindo as
e comissionados. Vejamos: funções a ele específicas e inerentes a uma determinada pessoa.
Tanto a doutrina quanto a lei dividem as espécies de provimento de
Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de per- cargos públicos em dois grupos. São eles:
manência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação para es-
ses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso público. Provimento originário: é ato administrativo que designa um
Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o art. cargo a servidor que antes não integrava o quadro de servidores
37, V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às atri- daquele órgão, ou seja, o agente está iniciando a carreira pública.
buições de direção, chefia e assessoramento. São ocupados de ma- O provimento originário é a única forma de nomeação reco-
nhecida pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro, isso, é claro, ressal-
neira temporária, em função da confiança depositada pela autori-
te-se, dependendo de prévia habilitação em concurso público de
dade nomeante. A nomeação para esse tipo de cargo não depende
provas ou de provas e títulos, obedecidos, nos termos da lei, a or-
de aprovação em concurso público, podendo a exoneração do seu
dem de classificação e o prazo de sua validade. Destaque-se que o
ocupante pode ser feita a qualquer tempo, a critério da autoridade momento da nomeação configura discricionariedade do adminis-
nomeante. trador, na qual devem ser respeitados os prazos do concurso públi-
co, nos moldes do art. 9° e seguintes da Lei 8112/90, devendo, por
Emprego conseguinte, ainda ser feita uma análise a respeito dos requisitos
Os empregos públicos são entidades de atribuições com o fito para a ocupação do cargo.
de serem ocupadas por servidores regidos sob o regime da CLT, que Entretanto, uma vez realizada a nomeação do candidato, este
também chamados de celetistas ou empregados públicos. ato não lhe atribui a qualidade de servidor público, mas apenas a
A diferença entre cargo e emprego público consiste no vínculo garantia de ocupação do referido cargo. Para que se torne servidor
que liga o servidor ao Estado. Ressalta-se que o vínculo jurídico do público, o particular deverá assinar o termo de posse, se submeten-
empregado público é de natureza contratual, ao passo que o do ser- do a todas as normas estatuárias da instituição.
vidor titular de cargo público é de natureza estatutária. O provimento do cargo ocorre com a nomeação, mas a inves-
No âmbito das pessoas de Direito Público como a União, os tidura no cargo acontece com a posse nos termos do art. 7°da Lei
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, bem como em suas au- 8.112/90.
tarquias e fundações públicas de direito público, levando em conta De acordo com a Lei Federal, o prazo máximo para a posse é
a restauração da redação originária do caput do art. 39 da CF/1988 de 30 (trinta) dias, contados a partir da publicação do ato de pro-
(ADIn 2135 MC/DF), afirma-se que o regime a ser adotado é o esta- vimento, nos termos do art. 13, §1°, sendo que, desde haja a devi-
tutário. Entretanto, é plenamente possível a convivência entre o re- da comprovação, a legislação admite que a posse ocorra por meio
gime estatutário e o celetista relativo aos entes que, anteriormente de procuração específica, conforme disposto no art. 13, §3° da lei
à concessão da medida cautelar mencionada, tenham realizado 8.112/90.
contratações e admissões no regime de emprego público. No to- Havendo a efetivação da posse dentro do prazo legal, o ser-
cante às pessoas de Direito Privado da Administração Indireta como vidor público federal terá o prazo máximo de 15 (dias) dias para
iniciar a exercer as funções do cargo, nos trâmites do art. 15, §1°

14
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
do Estatuto dos Servidores Públicos da União, das Autarquias e das ção mediante a apresentação de laudo laboral expedido por junta
Fundações Públicas Federais, Lei 8112/90, sendo que não sendo médica oficial, que ateste demonstrando detalhadamente a impos-
respeitado este prazo, o agente poderá ser exonerado. Vejamos: sibilidade de o agente se manter no exercício de suas atividades de
trabalho.
Art. 15. § 2º - O servidor será exonerado do cargo ou será tor- Na fase de readaptação ficará garantida o recebimento de ven-
nado sem efeito o ato de sua designação para função de confiança, cimentos, não podendo haver alteração do subsídio recebido pelo
se não entrar em exercício nos prazos previstos neste artigo, ob- servidor em virtude da readaptação.
servado o disposto no art. 18. (Redação dada pela Lei n. 9.527, de
10.12.97). Observação importante: esta modalidade de provimento deri-
vado independe da existência de cargo vago na carreira, porque ain-
Ademais, se o candidato for nomeado e não se apresentar para da que este não exista, o servidor sempre terá direito de ser readap-
posse, no prazo de determinado por lei, não ocorrerá exoneração, tado e poderá exercer suas funções no novo cargo como excedente.
tendo em vista ainda não havia sido investido na qualidade de ser- Caso não haja nenhum cargo na carreira, com funções compatíveis,
vidor. Assim sendo, o ato de nomeação se torna sem efeito, vindo o servidor poderá ser aposentado por invalidez. Para que haja rea-
a ficar vago o cargo que havia sido ocupado pelo ato de nomeação. daptação, não há necessidade de a limitação ter ocorrido por causa
do exercício do labor ou da função. A princípio, independentemen-
Provimento Derivado: o cargo público deverá ser entregue a te de culpa, o servidor tem direito a ser readaptado.
um servidor que já tenha uma relação anterior com a Administra-
ção Pública e que se encontra exercendo funções na carreira em Provimento derivado por reingresso: ocorre quando o servi-
que pretende assumir o novo cargo. Denota-se que provimento de- dor de alguma forma, deixou de atuar no labor das funções de cargo
rivado somente será possível de ser concretizado, se o agente pro- específico e retorna às suas atividades. Esse provimento pode ocor-
vier de outros cargos na mesma carreira em que houve provimento rer de quatro formas. São elas:
originário anterior. Não pode haver provimento derivado em outra
carreira. a) Reversão: nos termos do art. 25 da Lei 8.112/90, é o retorno
Nesses casos, deverá haver a realização de concurso público do servidor público aposentado ao exercício do cargo público. A re-
de provas ou de provas e títulos, para que se faça novo provimento versão pode ocorrer por meio da aposentadoria por invalidez, quando
originário. A permissão para que o agente ingresse em nova carreira cessarem os motivos da invalidez. Neste caso, por meio de laudo médi-
por meio de provimento derivado violaria os princípios da isonomia co oficial, o poder público toma conhecimento de que os motivos que
e da impessoalidade, mediante os benefícios oferecidos de forma ensejaram a aposentadoria do servidor se tornaram insubsistentes, do
defesa. Nesse diapasão, vejamos o que estabelece a súmula vincu- que resulta a obrigatoriedade de retorno do servidor ao cargo.
lante nº 43 do Supremo Tribunal Federal
Também pode ocorrer a reversão do servidor aposentado de
Súmula 43 do STF: É inconstitucional toda modalidade de pro- forma voluntária. Dessa maneira, atendidos os requisitos dispostos
vimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em lei, a legislação ordena que havendo interesse da Administração
em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que Pública, que o servidor tenha requerido a reversão, que a aposenta-
não integra a carreira na qual anteriormente investido. doria tenha sido de forma voluntária, que o agente público já tives-
se, antes, adquirido estabilidade quando no exercício da atividade,
Assim sendo, analisaremos as espécies de provimento derivado que a aposentadoria tenha se dado nos cinco anos anteriores à so-
permitidas no ordenamento Jurídico Brasileiro e suas característi- licitação e também que haja cargo vago, no momento da petição
cas específicas. Vejamos: de reversão.

Provimento derivado vertical: é a promoção na carreira ense- b) Reintegração: trata-se de provimento derivado que requer o
jando a garantia de o servidor público ocupar cargos mais altos, na retorno do servidor público estável ao cargo que ocupava anterior-
carreira de ingresso, de forma alternada por antiguidade e mereci- mente, em decorrência da anulação do ato de demissão.
mento. Para que isso ocorra, é necessário que ele tenha ingressado, Ocorre a reintegração quando tornada sem validade a demis-
mediante aprovação em concurso público no serviço público, bem são do servidor estável por decisão judicial ou administrativa, pon-
como mediante assunção de cargo escalonado em carreira. derando que o reintegrado terá o direito de ser indenizado por tudo
Denota-se que a escolha do servidor a progredir na carreira que deixou de ganhar em consequência da demissão ilegal.
deve ser realiza por critérios de antiguidade e merecimento e de
forma alternada por critérios de antiguidade e merecimento. c) Recondução: conforme dispõe o art. 29, da lei 8.112/90, tra-
Destaque-se que, intermédio de promoção, não será possível ta-se a recondução do retorno do servidor ao cargo anteriormente
assumir um cargo em outra carreira mais elevada. Como por exem- ocupado por ele, podendo ocorrer em duas hipóteses:
plo, ao ser promovido do cargo de técnico do Tribunal para o cargo • Inabilitação em estágio probatório relacionado a outro car-
de analista do mesmo órgão. Isso não é possível, uma vez que tal go: quando o servidor público retorna à carreira anterior na qual
situação significaria a possibilidade de mudança de carreira sem a já havia adquirido estabilidade, evitando assim, sua exoneração do
realização de concurso público, o que ensejaria a ascensão que foi serviço público.
• Reintegração do anterior ocupante: cuida-se de situação ex-
abolida pela Constituição Federal de 1988.
posta, na situação prática apresentada anteriormente, através da
Provimento derivado horizontal: trata-se da readaptação dis-
qual, o servidor público ocupa cargo de outro servidor que é poste-
posta no art. 24 da Lei 8112/90. É o aproveitamento do servidor
riormente reintegrado.
em um novo cargo, em decorrência de uma limitação sofrida por
este na capacidade física ou mental. Em ocorrendo esta hipótese,
Observação importante: A recondução não gera direito à per-
o agente deverá ser readaptado vindo a assumir um novo cargo,
cepção de indenização, em nenhuma das duas hipóteses. Assim, o
no qual as funções sejam compatíveis com as limitações que sofreu
servidor público retornará ao cargo de origem, percebendo a remu-
em sua capacidade laboral, dependendo a verificação desta limita-
neração deste cargo.

15
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
d) Aproveitamento: é retorno do servidor público que se en- c) Readaptação: é a de investidura do servidor em cargo de
contra em disponibilidade, para assumir cargo com funções com- atribuições e responsabilidades compatíveis com a limitação que
patíveis com as que anteriormente exercia, antes de ter extinto o tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, comprovada em
cargo que antes ocupava. inspeção minuciosamente realizada por junta médica oficial do ór-
Isso ocorre, por que a Carta Magna prevê que havendo a ex- gão competente.
tinção ou declaração de desnecessidade de determinado cargo pú- O servidor que for readaptado, assumindo o novo cargo desde
blico, o servidor público estável ocupante do cargo não deverá ser que seja com funções compatíveis com sua nova situação, deverá
demitido ou exonerado, mas sim ser removido para a disponibilida- retornar ao cargo anteriormente ocupado. Assim, a readaptação
de. Nesses casos, o servidor deixará de exercer as funções de forma ensejará o provimento de um cargo e, por conseguinte, a vacância
temporária, mantendo o vínculo com a administração pública. de outro, acopladas num só ato.
Destaque-se que não há prazo para o término da disponibilida-
de, porém, por lei, o servidor tem a garantia de que, surgindo novo d) Promoção: ocorre no momento em que o servidor público,
cargo vago compatível com o que ocupava, seu aproveitamento por antiguidade e merecimento, alternadamente, passa a assumir
será obrigatório. cargo mais elevado na carreira de ingresso.

Observação importante: o aproveitamento é obrigatório tan- e) Posse em cargo inacumulável: todas as vezes que o servi-
to para o poder público quanto para o agente. Isso ocorre porque dor tomar posse em cargo ou emprego público de carreira nova,
a Administração Pública não pode deixar de executar o aproveita- mediante aprovação em concurso público de provas ou de provas
mento para nomear novos candidatos, da mesma forma que o ser- e títulos, de forma que o novo cargo não seja acumulável com o
vidor não poderá optar por ficar em disponibilidade, vindo a recu- primeiro.
sar o aproveitamento. Ocorrendo isso, em decorrência da vedação estabelecida pela
Carta Magna de acumulação de cargos e empregos públicos, será
Vacância necessária a vacância do cargo anteriormente ocupado. Não fazen-
As situações de vacância são as hipóteses de desocupação do do o servidor a opção, após a concessão de prazo de dez dias, por
cargo público. Vacância é o termo utilizado para designar cargo pú- conseguinte, o poder público poderá instaurar, nos termos da lei,
blico vago. É um fato administrativo que informa que o cargo públi- processo administrativo sumário, pugnando na aplicação da penali-
co não está provido e poderá preenchido por novo agente. dade de demissão do servidor.
A lei dispõe sete hipóteses de vacância. São elas:
Efetividade
a) Aposentadoria: acontece quando mediante ato praticado A efetividade não se confunde com a estabilidade. Ao passo
pela Administração Pública, o servidor público passa para a inati- que a estabilidade é a garantia constitucional disposta no art.14,
vidade. No Regime Próprio de Previdência do Servidor Público, a que garante a permanência no serviço público outorgada ao servi-
aposentadoria pode-se dar voluntariamente, compulsoriamente ou dor que, no ato de nomeação por concurso público para cargo de
por invalidez, devendo ser aprovada pelo Tribunal de Contas para provimento efetivo, tenha transposto o período de estágio proba-
que tenha validade. A aposentadoria pode ocorrer pelas seguintes tório e aprovado numa avaliação específica e especial de desempe-
maneiras: nho, a efetividade é a situação jurídica daquele servidor que ocupa
cargo de provimento efetivo.
• Falecimento Os cargos de provimento efetivo são aqueles que só podem ser
Quando se tratar de fato administrativo alheio ao interesse do titularizados por servidores estatutários. Sua nomeação depende
servidor ou da Administração Pública, torna inevitavelmente inviá- explicitamente da aprovação em concurso público.
vel a ocupação do cargo. Ao ingressar no serviço público, o servidor ao ocupar cargo de
provimento efetivo, já é considerado um servidor efetivo. Entretan-
• Exoneração to, o mencionado servidor efetivo só terá garantida sua permanên-
Acontece sempre que o desfazimento do vínculo com o poder cia no serviço público, a estabilidade, depois de três anos de exercí-
público ocorre por situação prevista em lei, sem penalidades, dan- cio, desde que seja aprovado no estágio probatório.
do fim à relação jurídica funcional que havia tido início com a posse.
Ressalte-se que a exoneração pode ocorrer a pedido do servi- Criação, transformação e extinção de cargos, empregos e fun-
dor, situação na qual, por vontade do agente público, o vínculo se ções
restará desfeito e o cargo vago. Via de regra, os cargos públicos apenas podem ser criados,
transformados ou extintos por determinação de lei. Cabe ao Poder
b) Demissão: será cabível todas as vezes em que o servidor co- Legislativo, com o sancionamento do chefe do Poder Executivo, dis-
meter infração funcional, prevista em lei e será punível com a perda por sobre a criação, transformação e extinção de cargos, empregos
do cargo público. A demissão está disposta na lei 8.112/90 em for- e funções públicas.
ma de sanção aplicada ao servidor que cometer. Em se tratando de cargos do Poder Legislativo, o processo de cria-
Quaisquer das infrações dispostas no art. 132 que são configu- ção não depende apenas de lei, mas sim de uma norma que mesmo
radas como condutas consideradas graves. Em determinados casos, apesar de possuir a mesma hierarquia de lei, não está na dependência
definidos pelo legislador, a demissão proporá de forma automática de deliberação executiva com sanção ou veto do chefe do Executivo.
a indisponibilidade dos bens do servidor até que esse faça os de- Referidas normas, em geral, são chamadas de Resoluções.
vidos ressarcimentos ao erário. Em se tratando de situações mais Denota-se que é a norma criadora do cargo a responsável pela
extremas, o legislador vedará por completo a o retorno do servidor denominação, as atribuições e a remuneração correspondentes aos
ao serviço público. cargos públicos, nos termos da lei.
A penalidade deverá ser por meio de processo administrativo Uma questão de suma relevância, é a iniciativa da lei que cria,
disciplinar no qual se observe o direito ao contraditório e a ampla extingue ou transforma cargos. A despeito da criação de cargos, ve-
defesa. jamos:

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Cargos do Poder Executivo: a iniciativa é privativa do chefe Infere-se que a alteração mais importante trazida a esse dispoi-
desse Poder (CF, art. 61, § 1º, II, “a”). tivo por meio da EC 19/1998, foi a exigência de lei específica para
que seja fixada ou que haja alteração na remuneração em sentido
Cargos do Poder Judiciário: dos Tribunais de Contas e do Minis- amplo de todos os servidores públicos. Isso significa que cada alte-
tério Público a lei em questão, partirá de iniciativa dos respectivos ração de remuneração de cargo público deverá ser feita através da
Tribunais ou Procuradores - Gerais em se tratando da criação de edição de lei ordinária específica para tratar desse assunto.
cargos para o Ministério Público.
O termo “subsídio”, o qual o texto do inciso X do art. 3 7 men-
Cargos do Legislativo: os cargos serão criados, extintos ou ciona, é um tipo de remuneração inserida em nosso ordenamento
transformados por atos normativos de âmbito interno desse Poder jurídico através da EC 19/1998, que é de medida obrigatória para
(Resoluções), sendo sua iniciativa da respectiva Mesa Diretora. alguns cargos e facultativa para outros.
Nos parâmetros do § 4.º do art. 39 da Constituição Federal,
Embora sejam criados por lei, os cargos ou funções públicas, se o subsídio deverá ser “fixado em parcela única, vedado o acrésci-
estiverem vagos, podem ser extintos por intermédio de lei ou por mo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de
decreto do chefe do Poder Executivo. No entanto, se o cargo estiver representação ou outra espécie remuneratória”. No estudo desse
ocupado, só poderá ser extinto por lei. paramento legal, depreende-se que o subsídio é uma espécie remu-
Os cargos podem ser organizados em carreira ou isolados. Ve- neração em sentido amplo.
jamos: Não obstante, a redação do inciso X do art. 3 7 não tenha usa-
Cargos organizados em carreira: são cargos cujos ocupantes do o termo “vencimento”, convém anotar que este é usado com
podem percorrer várias classes ao longo da sua vida funcional, em frequência para indicar a remuneração dos servidores estatutários
razão do regime de progressão do servidor na carreira. que não percebem subsídio.
Nesse conceito, os “vencimentos”, também são considerados
Cargos isolados: não permitem a progressão funcional de seus um tipo de remuneração em sentido amplo. São compostos pelo
titulares. vencimento normal do cargo com o acréscimo das vantagens pecu-
niárias estabelecidas em lei.
Em relação às garantias e características especiais que lhe são Portanto, o disposto no inciso X do art. 37 da CFB/88, ao deter-
conferidas, os cargos podem ser classificados em vitalícios, efetivos; minar “a remuneração dos servidores públicos e o subsídio”, está,
e comissionados. Vejamos: em síntese, acoplando as duas espécies remuneratórias, vencimen-
tos e subsídios que os servidores públicos estatutários podem re-
Cargos vitalícios e cargos efetivos: oferecem garantia de per- ceber.
manência aos seus ocupantes. De forma geral, a nomeação para es- Pondera-se que o termo “salário” não é alcançado pelo cita-
ses cargos é dependente de prévia aprovação em concurso público. do dispositivo, posto que este trata-se do nome usado para o pa-
gamento ou quitação de serviços profissionais prestados em uma
Cargos em comissão ou comissionados: de acordo com o art. 37, relação de emprego quando a mesma é sujeita ao regime traba-
V, da CF, os cargos comissionados se destinam apenas às atribuições de lhista, que é controlado e direcionado pela Consolidação das Leis
direção, chefia e assessoramento. São ocupados de maneira temporá- do Trabalho. Assim sendo, entende-se que os empregados públicos
ria, em função da confiança depositada pela autoridade nomeante. A recebem salário.
nomeação para esse tipo de cargo não depende de aprovação em con- Dependerá do cargo conforme o dispositivo de lei que o rege,
curso público, podendo a exoneração do seu ocupante pode ser feita a para que a iniciativa privativa das leis que fixem ou alterem as re-
qualquer tempo, a critério da autoridade nomeante. munerações e subsídios dos servidores públicos. De acordo com a
Ressalte-se que antes da EC 32/2001, os cargos e as funções Constituição, atinente às principais hipóteses de iniciativa de leis
públicas só podiam ser extintos por determinação de lei. Entretan- que tratem a respeito da remuneração de cargos públicos, pode-
to, a mencionada emenda constitucional alterou a redação do art. mos resumir das seguintes formas:
84, VI, “b”, da CF, passando a legislar admitindo que o Presidente da
República possa extinguir funções ou cargos públicos por meio de
decreto, quando estes se encontrarem vagos. A iniciativa é privativa do
CARGO DO PODER
O resultado disso, é que, ao aplicar o princípio da simetria, a Presidente da República
EXECUTIVO FEDERAL
consequência é que os Governadores e Prefeitos, se houver seme- (CFB, art. 61, § 1.º, II, “a”);
lhante previsão nas respectivas Constituições Estaduais ou Leis Or- CARGOS DA CÂMARA a iniciativa é privativa dessa Casa
gânicas, também podem extinguir por decreto funções ou cargos DOS DEPUTADOS (CFB, art. 51, IV);
públicos vagos nos Estados, Distrito Federal e Municípios.
Assim sendo, em se restando vagos, os cargos ou funções pú- CARGOS DO SENADO a iniciativa é privativa dessa Casa (CF,
blicas, embora sejam criados por lei, poderão ser extintos por lei FEDERAL art. 52, XIII);
ou por decreto do chefe do Poder Executivo. Entretanto, se o cargo
estiver ocupado, só poderá ser extinto através de lei, uma vez que Compete de forma privativa ao Supremo Tribunal Federal, aos
não se admite a edição de decreto com essa finalidade. Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Le-
gislativo a respectiva remuneração dos seus serviços auxiliares e
Remuneração dos juízos que lhes forem vinculados, e, ainda a fixação do subsídio
A Constituição Federal Brasileira aduz no art. 37, inciso X do art. de seus membros e dos Juízes, inclusive dos tribunais inferiores,
37, a seguinte redação: onde houver (CF, art. 48, XV, e art. 96, II, ‘b ).
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que Observe-se que a fixação do subsídio dos deputados federais,
trata o § 4.º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados dos senadores, do Presidente e do Vice-Presidente da República e
por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, as- dos Ministros de Estado é da competência exclusiva do Congresso
segurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distin- Nacional e não se encontra sujeita à sanção ou veto do Presiden-
ção de índices; te da República. Nesse sentido específico, em virtude de previsão

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
constitucional, a determinação dos aludidos subsídios não é reali- Consolidando o entendimento, enfatiza-se que a Suprema Cor-
zada por meio de lei, mas sim por intermédio de Decreto Legislativo te editou a Súmula Vinculante 6, por meio da qual afirma que “não
do Congresso Nacional. viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao
Nesse sentido, em relação entendimento do Supremo Tribu- salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial”.
nal Federal, esse órgão entende que a concessão da revisão geral
anual” a que se refere o inciso X do art. 37 da Constituição deve Referente ao limite máximo, foi estabelecido o teto remune-
ser efetivada por intermédio de lei de iniciativa privativa do Poder ratório pelo art. 37, XI, da CF, com redação dada pela EC 41/2003.
Executivo de cada Federação. Vejamos:
O inciso X do art. 37 da Constituição Federal em sua parte final, XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, fun-
garante a” revisão geral anual” da remuneração e do subsídio dos ções e empregos públicos da administração direta, autárquica e
“servidores públicos” sempre na mesma data e sem distinção de fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos
índices. Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de
A Constituição da República em seu texto original, usava os ter- mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos,
mos “servidor público civil” e “servidor público militar”. No entanto, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativa-
a partir da aprovação da EC 1811998, estas expressões deixaram mente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer ou-
de existir e o texto constitucional passou a se referir aos servidores tra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie,
civis, apenas como “servidores públicos” e aos servidores militares, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como li-
apenas como “militares. mite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no
Também em seu texto original e primitivo, a Constituição Fe- Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
deral de 1988 determinava a obrigatoriedade do uso de índices de Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no
revisão de remuneração idênticos para servidores públicos civis e âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do
para servidores públicos militares (expressões usadas antes da EC Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco cen-
18/1998). Acontece que no atual inciso X do art. 37, que resultou tésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
da EC 1911998, existe referência apenas a “servidores públicos”, o Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável
que leva a entender que o preceito nele contido não pode ser apli- este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e
cado aos militares, uma vez que estes não se englobam mais como aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda Constitucio-
espécie do gênero “servidores públicos”. nal nº 41, 19.12.2003).
A remuneração dos servidores públicos passa anualmente por O art. 37, § 11, da CFB/88 também regulamenta o assunto ao
período revisional. Esse ato também faz parte do contido na EC afirmar que estão submetidos ao teto a remuneração e o subsídio
19/1998. dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da admi-
O objetivo da revisão geral anual, ao menos, em tese, possui o nistração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qual-
fulcro de recompor o poder de compra da remuneração do servidor, quer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
devido a inflação que normalmente está em alta. Por não se tratar Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agen-
de aumento real da remuneração ou do subsídio, mas somente de tes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remunera-
um aumento nominal, por esse motivo, é denominado, às vezes, de tória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens
“aumento impróprio”. pessoais ou de qualquer outra natureza. Referente às parcelas de
caráter indenizatório, estas não serão computadas para efeito de
Esclarece-se que a revisão geral de remuneração e subsídio que cálculo do teto remuneratório.
o dispositivo constitucional em exame menciona, não é implanta-
da mediante a reestruturação de algumas carreiras, posto que as Perceba que a regra do teto remuneratório também e plena-
reestruturações de carreiras não são anuais, nem, tampouco gerais, mente aplicável às empresas públicas e às sociedades de economia
pois se limitam a cargos específicos, além de não manterem ligação mista, e suas subsidiárias, que percebem recursos da União, dos
com a perda de valor relativo da moeda nacional. Já a revisão geral, Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de
de forma adversa das reestruturações de carreiras, tem o condão despesas de pessoal ou de custeio em geral (art. 37, § 9º, da CF).No
de alcançar todos os servidores públicos estatutários de todos os entanto, se essas entidades não vierem a receber recursos públicos
Poderes da Federação em que esteja efetuando e deve ocorrer a para a quitação de despesas de custeio e de pessoal, seus empre-
cada ano. gados não estarão submetidos ao teto remuneratório previsto no
art. 37, XI, da CF.
Registre-se que a remuneração do servidor público é submeti- Nos trâmites desse dispositivo constitucional, resta-se existen-
da aos valores mínimo e máximo. te um teto geral remuneratório que deve ser aplicado a todos os Po-
Em relação ao valor mínimo, a Carta Magna predispõe aos ser- deres da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, sendo este,
vidores públicos a mesma garantia que é dada aos trabalhadores o subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Além disso,
em geral, qual seja, a de que a remuneração recebida não pode ser referente a esse teto geral, existem tetos específicos aplicáveis aos
inferior ao salário mínimo. No entanto, tal garantia se refere ao total da Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
remuneração recebida, e não em relação ao vencimento-base. Sobre o Em se tratando da esfera estadual e distrital, denota-se que a
assunto, o STF deixou regulamentado na Súmula Vinculante 16. remuneração dos servidores públicos não podem exceder o subsí-
Ressalta-se que a garantia da percepção do salário mínimo não dio mensal dos Ministros do STF, bem como, ainda, não pode ultra-
foi assegurada pela Constituição Federal aos militares. Para o STF, passar os limites a seguir:
a obrigação do Estado quanto aos militares está limitada ao forne- Na alçada do Poder Executivo: o subsídio do Governador;
cimento das condições materiais para a correta prestação do ser- Na alçada do Poder Legislativo: o subsídio dos Deputados Es-
viço militar obrigatório nas Forças Armadas. Para tanto, denota-se taduais e Distritais;
que os militares são enquadrados em um sistema que não se con- Na alçada do Poder Judiciário: o subsídio dos Desembargado-
funde com o que se aplica aos servidores civis, uma vez que estes res do Tribunal de Justiça, limitado este a 90,25% do subsídio dos
têm direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos próprios (RE Ministros do STF. Infere-se que esse limite também é nos termos da
570177/MG).

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Lei, aplicável aos membros do Ministério Público, aos Procuradores Com o fito de evitar enriquecimento sem causa, a lei determina
e aos Defensores Públicos, mesmo que estes não integrem o Poder que o servidor ficará obrigado a restituir a ajuda de custo quando,
Judiciário. sem se justificar, não se apresentar na nova sede no prazo de 30
Em relação aos Estados e ao Distrito Federal, a Carta Magna, no dias.
art. 37, § 12 com redação incluída pela EC 47/2005, facultou a cada
um desses entes fixar, em sua alçada, um limite remuneratório local Observação importante: O STJ entende que a ajuda de custo
único, sendo ele o subsídio mensal dos Desembargadores do res- somente é devida aos servidores que, no interesse da Administra-
pectivo Tribunal de Justiça que é limitado a 90,25% do subsídio dos ção, forem removidos ex officio, com fundamento no art. 36, pará-
Ministros do STF. Se os Estados ou Distrito Federal desejarem ado- grafo único, I, da Lei 8.112/1990. No entanto, quando a remoção
tar o subteto único, deverão realizar tal tarefa por meio de emenda ocorrer em decorrência de interesse particular do servidor, a ajuda
às respectivas Constituições estaduais ou, ainda, à Lei Orgânica do de custo não é devida. Assim, por exemplo, se o servidor público
Distrito Federal. Entretanto, em consonância com a Constituição Fe- passar a ter exercício em nova sede, com mudança de domicílio em
deral, o limite local único não deve ser aplicado aos subsídios dos caráter permanente, por meio de processo seletivo de remoção,
Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. não terá direito à percepção da verba de ajuda de custo (AgRg no
Finalizando, em relação à esfera municipal, a remuneração dos REsp 1.531.494/SC).
agentes públicos não poder exceder o teto geral e também não
pode exceder o subsídio do Prefeito que cuida-se do subteto mu- Diárias
nicipal. São devidas ao servidor que a serviço, se afastar da sede em
Registre-se ainda, que a Constituição Federal carrega em seu caráter eventual ou transitório para outro ponto do território nacio-
bojo a regra de que “os vencimentos dos cargos do Poder Legislati- nal ou para o Exterior, que também fará jus a passagens destinadas
vo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo a indenizar as despesas extraordinárias com pousada, alimentação
Poder Executivo” (art. 37, XII, da CF). No entanto, esta norma tem e locomoção urbana.
sido de pouca aplicação, pelo fato de possuir conteúdo genérico, ao As diárias são devidas apenas nas hipóteses de deslocamentos
contrário da previsão inserida no art. 37, XI, da CFB/88, que explici- eventuais ou transitórios. Assim, o servidor não fará jus a diárias se
tamente estabelece limites precisos para os tetos remuneratórios. o deslocamento da sede constituir exigência permanente do cargo
(art. 58, § 2º).
Direitos e deveres Não terá direito a diárias o servidor que se deslocar dentro da
Adentrando ao tópico dos direitos e deveres dos agentes pú- mesma região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião,
blicos, com o amparo da Lei 8112/90, que dispõe sobre o regime constituídas por municípios limítrofes e regularmente instituídas,
jurídico único dos servidores públicos civis da União, das autarquias ou em áreas de controle integrado mantidas com países limítrofes,
e das fundações públicas federais, é importante explanar que além cuja jurisdição e competência dos órgãos, entidades e servidores
do vencimento - base, a lei prevê que o servidor federal poderá re- brasileiros consideram-se estendidas, salvo se houver pernoite fora
ceber vantagens pecuniárias, sendo elas: da sede, hipóteses em que as diárias pagas serão sempre as fixadas
para os afastamentos dentro do território nacional (art. 58, § 3º).
Indenizações A diária será concedida por dia de afastamento, sendo devida
Têm como objetivo ressarcir aos servidores em razão de despe- pela metade quando o deslocamento não exigir pernoite fora da
sas que tenham tido por motivo do exercício de suas funções. São sede, ou quando a União custear, por meio diverso, as despesas
previstos por determinação legal, os seguintes tipos de indeniza- extraordinárias cobertas por diárias (art. 58, § 1º).
ções a serem pagas ao servidor federal: Além disso, o servidor que receber diárias e porventura, não
a) Ajuda de custo: é destinada a compensar as despesas de se afastar da sede, será obrigado a restituí-las em valor integral no
instalação do servidor que, a trabalho em prol do interesse do ser- prazo de cinco dias.
viço público, passar a laborar em nova sede, isso com mudança de Da mesma forma, retornando o servidor à sede antes do pre-
domicílio em caráter permanente. visto, também ficará obrigado a devolver as diárias percebidas em
A ajuda de custo também será devida àquele agente que, não excesso no prazo de cinco dias.
sendo servidor da União, for nomeado para cargo em comissão,
com mudança de domicílio. Por outro ângulo, não será concedida a) Indenização de transporte: é devida ao servidor que no
ajuda de custo ao servidor que em virtude de mandato eletivo se exercício de serviço de interesse público realizar despesas com a
afastar do cargo, ou vier a reassumi-lo. utilização de meio próprio de locomoção para a execução de servi-
O cálculo pecuniário da ajuda de custo é feito sobre a remune- ços externos, por força das atribuições próprias do cargo (art. 60 da
ração do servidor, e não pode exceder a importância corresponden- Lei 8.112/90).
te a três meses de remuneração.
Referente a cônjuge ou companheiro do servidor beneficiado b) Auxílio - moradia: é o ressarcimento das despesas devida-
pela ajuda de custo que também seja servidor e, a qualquer tempo, mente comprovadas e realizadas pelo servidor público com aluguel
passe a ter exercício na mesma sede do seu cônjuge ou companhei- de moradia ou, ainda com outro meio de hospedagem devidamen-
ro, não é permitido pela legislação que ocorra o pagamento de uma te administrado por empresa hoteleira, no decurso do prazo de um
segunda ajuda de custo. mês após a comprovação da despesa pelo servidor.
Além de receber o valor pago pela ajuda de custo, todas as
despesas de transporte do servidor e de sua família, deverão ser Para fazer jus ao recebimento do auxílio - moradia, o servidor
arcadas pela Administração Pública, compreendendo passagem, deverá atender a alguns requisitos cumulativos previstos na lei (art.
bagagem e bens pessoais. 60-B). Vejamos:
Falecendo o servidor estando lotado na nova sede, sua família, Art. 60-B. Conceder-se-á auxílio - moradia ao servidor se aten-
por conseguinte, fará jus à ajuda de custo bem como de transporte didos os seguintes requisitos: (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).
para retornar à localidade de origem, no prazo de um ano, contado I - não exista imóvel funcional disponível para uso pelo servidor;
do óbito. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006).

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
II - o cônjuge ou companheiro do servidor não ocupe imóvel (art. 73). No entanto, somente será permitido serviço extraor-
funcional; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). dinário para atender a situações excepcionais e temporárias, res-
III - o servidor ou seu cônjuge ou companheiro não seja ou te- peitado o limite máximo de duas horas por jornada (art. 74).
nha sido proprietário, promitente comprador, cessionário ou promi- e) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido en-
tente cessionário de imóvel no Município aonde for exercer o cargo, tre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor que
incluída a hipótese de lote edificado sem averbação de construção, exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional noturno,
nos doze meses que antecederem a sua nomeação; (Incluído pela cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre a hora tra-
Lei nº 11.355, de 2006). balhada no turno diurno. Além disso, será considerado como uma
IV - nenhuma outra pessoa que resida com o servidor receba hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois minutos e
auxílio - moradia; (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). trinta segundos (art. 75).
V - o servidor tenha se mudado do local de residência para ocu- f) Adicional de férias: é garantido pela Constituição Federal e
par cargo em comissão ou função de confiança do Grupo - Direção disciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente
e Assessoramento Superiores - DAS, níveis 4, 5 e 6, de Natureza Es- de solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias,
pecial, de Ministro de Estado ou equivalentes; (Incluído pela Lei nº um adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período das
11.355, de 2006). férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia ou
VI - o Município no qual assuma o cargo em comissão ou função assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva vanta-
de confiança não se enquadre nas hipóteses do art. 58, § 3o, em re- gem será considerada no cálculo do adicional de férias.
lação ao local de residência ou domicílio do servidor; (Incluído pela h) Gratificação por encargo de curso ou concurso: é direito
Lei nº 11.355, de 2006). assegurado ao servidor que, em caráter eventual, se encaixar nas
VII - o servidor não tenha sido domiciliado ou tenha residido hipóteses do art.76-A, tais como: atuar como instrutor em curso
no Município, nos últimos doze meses, aonde for exercer o cargo de formação, de desenvolvimento ou de treinamento regularmente
em comissão ou função de confiança, desconsiderando-se prazo in- instituído no âmbito da administração pública federal; participar de
ferior a sessenta dias dentro desse período; e (Incluído pela Lei nº banca examinadora ou de comissão para exames orais, para análise
11.355, de 2006). curricular, para correção de provas discursivas, para elaboração de
VIII - o deslocamento não tenha sido por força de alteração questões de provas ou para julgamento de recursos intentados por
de lotação ou nomeação para cargo efetivo. (Incluído pela Lei nº candidatos; participar da logística de preparação e de realização de
11.355, de 2006). concurso público envolvendo atividades de planejamento, coorde-
IX - o deslocamento tenha ocorrido após 30 de junho de 2006. nação, supervisão, incluídas entre as suas atribuições permanentes
(Incluído pela Lei nº 11.490, de 2007). e participar da aplicação, fiscalizar ou avaliar provas de exame ves-
Parágrafo único. Para fins do inciso VII, não será considerado o tibular ou de concurso público ou supervisionar essas atividades.
prazo no qual o servidor estava ocupando outro cargo em comissão Vale a pena registrar que, em tempos remotos, a lei contem-
relacionado no inciso V. (Incluído pela Lei nº 11.355, de 2006). plava o pagamento do adicional por tempo de serviço. Entretanto,
o dispositivo legal que previa o mencionado adicional foi revogado.
Gratificações Contemporaneamente, esta vantagem é paga somente aos servido-
São vantagens pecuniárias que constituem acréscimos de esti- res que à época da revogação restavam munidos de direito adquiri-
pêndio, que acopladas ao vencimento constituem a remuneração do à sua percepção.
do servidor público.
Em consonância com o art. 61 da Lei 8.112/1990 depreende-se Adicionais
que, além do vencimento e das indenizações, poderão ser deferidas Adicionais são formas de remuneração do risco à vida e à saúde
aos servidores as seguintes retribuições em forma de gratificações dos trabalhadores com caráter transitório, enquanto durar a exposi-
e adicionais: ção aos riscos de trabalho do servidor. No serviço público, podemos
a) Retribuição pelo exercício de função de direção, chefia e as- resumi-los da seguinte forma:
sessoramento: “Ao servidor ocupante de cargo efetivo investido em a) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas
função de direção, chefia ou assessoramento, cargo de provimento ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores
em comissão ou de Natureza Especial é devida retribuição pelo seu que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que provo-
exercício” (art. 62). O valor dessa retribuição será fixado por lei es- cam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de pe-
pecífica. riculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha
b) Gratificação natalina: equivale ao 13º salário do trabalhador habitualmente colocam em risco a sua vida.
da iniciativa privada, ou pública sendo calculada à razão de 1/12 da b) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele
remuneração a que o servidor fizer jus no mês de dezembro, por exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor.
mês de exercício no respectivo ano. Para efeito de pagamento da Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será
gratificação natalina, a fração igual ou superior a 15 dias de exercí- remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de
cio será considerada como mês integral. trabalho.
c) Adicional pelo exercício de atividades insalubres, perigosas No entanto, somente será permitido serviço extraordinário
ou penosas: O adicional de insalubridade é devido aos servidores para atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o
que trabalhem com habitualidade em locais insalubres, que provo- limite máximo de duas horas por jornada, nos ditames do art.74.
cam a deterioração da sua saúde. Em relação ao adicional de pe- c) Adicional noturno: é prestado no horário compreendido en-
riculosidade, é devido ao servidor cujas funções que desempenha tre 22 horas de um dia e cinco horas do dia seguinte. O servidor que
habitualmente colocam em risco a sua vida. exercer serviço noturno terá direito a perceber o adicional noturno,
d) Adicional pela prestação de serviço extraordinário: é aquele cujo valor corresponderá ao acréscimo de 25% sobre a hora tra-
exercido além da jornada ordinária de trabalho do servidor. balhada no turno diurno. Além disso, será considerado como uma
Nos termos da Lei 8.112/1990, o serviço extraordinário será hora de serviço noturno o tempo de cinquenta e dois minutos e
remunerado com acréscimo de 50% em relação à hora normal de trinta segundos (art. 75).
trabalho.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
d) Adicional de férias: é disposto na Constituição Federal e dis- serviço, o direito à fruição das férias não gozadas nem indenizadas
ciplinado no art. 76 do estatuto funcional. Independentemente de transfere-se para o novo cargo, ainda que este último tenha remu-
solicitação, será pago ao servidor, por ocasião das suas férias, um neração maior (STJ, 5ª Turma, AgRg no Ag 1008567/DF, Rel. Min.
adicional correspondente a 1/3 da remuneração do período das Napoleão Nunes Maia Filho, j. 18.09.2008, DJe 20.10.2008).
férias. No caso de o servidor exercer função de direção, chefia ou
assessoramento, ou ocupar cargo em comissão, a respectiva vanta- Via de regra, as férias dos servidores públicos devem ser goza-
gem será considerada no cálculo do adicional de férias. das sem quaisquer tipos de interrupção. Entretanto, como exceção,
e) Adicional de atividade penosa: será devido aos servidores a lei estabelece dispositivo que determina que as férias somente
que estejam em exercício de suas funções em zonas de fronteira ou poderão ser interrompidas nas seguintes hipóteses art. 80 da Lei
em localidades cujas condições de vida o justifiquem, nos termos, 8112/90:
condições e limites fixados em regulamento (art. 71). a) calamidade pública;
b) comoção interna;
Observação importante: O direito ao adicional de insalubrida- c) convocação para júri, serviço militar ou eleitoral; ou
de ou periculosidade cessa com a eliminação das condições ou dos d) por necessidade do serviço declarada pela autoridade máxi-
riscos que deram causa a sua concessão (art. 68, § 2º). ma do órgão ou entidade.
O servidor que pelas circunstâncias fizer jus aos adicionais de
insalubridade e de periculosidade deverá optar por um deles, não Licenças
podendo perceber ditas vantagens cumulativamente (art. 68, § 1º). São períodos por meio dos quais o servidor tem direito de se
afastar das suas atividades, com ou sem remuneração, de acordo
Férias com o tipo de licença.
De modo geral, podemos afirmar que as férias correspondem A Lei 8112/90 prevê várias espécies de licenças, são elas:
ao direito do servidor a um período de descanso anual remunerado, Art. 81. Conceder-se-á ao servidor licença:
por meio do qual, para a maioria dos servidores é de trinta dias. I - por motivo de doença em pessoa da família;
Esse direito do servidor está garantido pela Constituição Federal, II - por motivo de afastamento do cônjuge ou companheiro;
porém, a disciplina do seu exercício pelos servidores estatutários III - para o serviço militar;
federais está inserida nos arts. 77 a 80 da Lei 8.112/1990. IV - para atividade política;
Normalmente, o servidor fará jus a trinta dias de férias a cada V - para capacitação;
ano, que por sua vez, podem ser acumuladas até o máximo de dois VI - para tratar de interesses particulares;
VII - para desempenho de mandato classista;
períodos, em se tratando de caso de necessidade do serviço, com
VIII - para tratamento de saúde;
exceção das hipóteses em que haja legislação específica (art. 77).
IX - Licença por acidente em serviço (art. 211);
Entretanto, o servidor que opera direta em permanência constante
X - Licença à Gestante (art. 207);
com equipamentos de raios X ou substâncias radioativas, terá direi-
XI - Licença à Adotante (art. 210);
to ao gozo de 20 dias consecutivos de férias semestrais de atividade
XII – Licença Paternidade (art. 208).
profissional, sendo proibida em qualquer hipótese a acumulação
desses períodos (art. 79).
Nos parâmetros do referido Estatuto, temos a seguinte expla-
nação:
Observação importante: A lei proíbe que seja levada à conta Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de
de férias qualquer falta ao serviço (art. 77, § 2º). doença do cônjuge ou companheiro, dos pais, dos filhos, do padras-
to ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas
É interessante salientar que no primeiro período aquisitivo de e conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação
férias serão exigidos 12 meses de exercício (art. 77, § 1º); a partir por perícia médica oficial.
daí os períodos aquisitivos de férias são contados por exercício. § 1º A licença somente será deferida se a assistência direta do
Infere-se que o gozo do período de férias é decisão exclusiva- servidor for indispensável e não puder ser prestada simultaneamen-
mente discricionária da administração, que só o fará se compreen- te com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário,
der que o pedido atende ao interesse público. na forma do disposto no inciso II do art. 44.
No condizente à remuneração das férias, depreende-se que § 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações,
esta será acrescida do adicional que corresponda a 1/3 incidente poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes
sobre a remuneração original. Já o pagamento da remuneração de condições:
férias, com o acréscimo do adicional, poderá ser efetuado até dois I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a
dias antes do início do respectivo período do gozo (art. 78). remuneração do servidor;
Havendo parcelamento de gozo do período de férias, o servidor II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu-
receberá o adicional de férias somente após utilizado o primeiro neração.
período (art. 78, § 5º). § 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a
Caso o servidor seja exonerado do cargo efetivo, ou em comis- partir da data do deferimento da primeira licença concedida.
são, terá o direito de receber indenização relativa ao período das § 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não re-
férias a que tiver direito, bem como ao incompleto, na exata pro- muneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em
porção de um doze avos por mês de efetivo exercício, ou, ainda de um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no §
fração superior a quatorze dias (art. 78, § 3º). Ocorrendo isso, a 3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e
indenização poderá ser calculada com base na remuneração do mês II do § 2º.
em que for publicado o ato exoneratório (art. 78, § 4º). § 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações,
poderá ser concedida a cada período de doze meses nas seguintes
Observação importante: o STJ vem aplicando de forma pacífica condições:
o entendimento de que, ocorrendo vacância, por posse em outro I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a
cargo inacumulável, sem solução de continuidade no tempo de remuneração do servidor;

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remu- Art. 202. Será concedida ao servidor licença para tratamento
neração. de saúde, a pedido ou de ofício, com base em perícia médica, sem
§ 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a prejuízo da remuneração a que fizer jus.
partir da data do deferimento da primeira licença concedida. Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por 120
§ 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não re- (cento e vinte) dias consecutivos, sem prejuízo da remuneração.
muneradas, incluídas as respectivas prorrogações, concedidas em § 1º . A licença poderá ter início no primeiro dia do nono mês de
um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no § gestação, salvo antecipação por prescrição médica.
3o, não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e § 2º No caso de nascimento prematuro, a licença terá início a
II do § 2º. partir do parto.
§ 2º No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companheiro § 3º No caso de natimorto, decorridos 30 (trinta) dias do even-
também seja servidor público, civil ou militar, de qualquer dos Po- to, a servidora será submetida a exame médico, e se julgada apta,
deres da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, reassumirá o exercício.
poderá haver exercício provisório em órgão ou entidade da Adminis- § 4º No caso de aborto atestado por médico oficial, a servidora
tração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde que para o terá direito a 30 (trinta) dias de repouso remunerado.
exercício de atividade compatível com o seu cargo. Art. 208. Pelo nascimento ou adoção de filhos, o servidor terá
Art. 85. Ao servidor convocado para o serviço militar será con- direito à licença-paternidade de 5 (cinco) dias consecutivos.
cedida licença, na forma e condições previstas na legislação espe- Art. 209. Para amamentar o próprio filho, até a idade de seis
cífica. meses, a servidora lactante terá direito, durante a jornada de tra-
Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor terá até balho, a uma hora de descanso, que poderá ser parcelada em dois
30 (trinta) dias sem remuneração para reassumir o exercício do car- períodos de meia hora.
go. Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de
Art. 86. O servidor terá direito a licença, sem remuneração, criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias
durante o período que mediar entre a sua escolha em convenção de licença remunerada.
partidária, como candidato a cargo eletivo, e a véspera do registro Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de
de sua candidatura perante a Justiça Eleitoral. criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este
§ 1º O servidor candidato a cargo eletivo na localidade onde artigo será de 30 (trinta) dias.
desempenha suas funções e que exerça cargo de direção, chefia, Art. 211. Será licenciado, com remuneração integral, o servidor
assessoramento, arrecadação ou fiscalização, dele será afastado, a acidentado em serviço.
partir do dia imediato ao do registro de sua candidatura perante a
Justiça Eleitoral, até o décimo dia seguinte ao do pleito. Observação importante: a licença-prêmio não faz mais parte
§ 2º A partir do registro da candidatura e até o décimo dia se- do rol dos direitos dos servidores federais e foi suprimida pela Lei
guinte ao da eleição, o servidor fará jus à licença, assegurados os 9.527/1997. A licença-prêmio permitia que o servidor, encerrado
vencimentos do cargo efetivo, somente pelo período de três meses. cada quinquênio ininterrupto de serviço, pudesse gozar, como prê-
Art. 87. Após cada quinquênio de efetivo exercício, o servidor mio pela assiduidade de três meses de licença, com a remuneração
poderá, no interesse da Administração, afastar-se do exercício do do cargo efetivo. A legislação vigente à época facultava ao servidor
cargo efetivo, com a respectiva remuneração, por até três meses, gozar a licença ou contar em dobro o período da licença para efeito
para participar de curso de capacitação profissional. de aposentadoria (o que atualmente não é mais possível, já que
Art. 91. A critério da Administração, poderão ser concedidas ao a EC 20/1998 proibiu a contagem de tempo de contribuição fictí-
servidor ocupante de cargo efetivo, desde que não esteja em está- cio para aposentadoria). Entretanto, em análise ao caso específico
gio probatório, licenças para o trato de assuntos particulares pelo daqueles que adquiriram legitimamente o direito antes da supres-
prazo de até três anos consecutivos, sem remuneração. são legal, o STJ entende pacificamente que “o servidor aposentado
Parágrafo único. A licença poderá ser interrompida, a qualquer tem direito à conversão em pecúnia da licença-prêmio não gozada
tempo, a pedido do servidor ou no interesse do serviço. e contada em dobro, sob pena de enriquecimento sem causa da
Art. 92. É assegurado ao servidor o direito à licença sem re- Administração Pública” (AgRg no AREsp 270.708/RN).
muneração para o desempenho de mandato em confederação, fe-
deração, associação de classe de âmbito nacional, sindicato repre- Concessões
sentativo da categoria ou entidade fiscalizadora da profissão ou, Três são as espécies de concessão:
a) Primeira espécie de concessão: permite ao servidor se au-
ainda, para participar de gerência ou administração em sociedade
sentar do serviço, sem qualquer prejuízo a sua remuneração, nas
cooperativa constituída por servidores públicos para prestar servi-
seguintes condições (art. 97): por um dia, para doação de sangue;
ços a seus membros, observado o disposto na alínea c do inciso VIII
por dois dias, para se alistar como eleitor; por oito dias consecuti-
do art. 102 desta Lei, conforme disposto em regulamento e obser-
vos em razão de: casamento; falecimento do cônjuge, companhei-
vados os seguintes limites:
ro, pais, madrasta ou padrasto, filhos, enteados, menor sob guarda
I - para entidades com até 5.000 (cinco mil) associados, 2 (dois)
ou tutela e irmãos.
servidores;
b) Segunda espécie de concessão: relacionada à concessão de
II - para entidades com 5.001 (cinco mil e um) a 30.000 (trinta
horário especial, nas seguintes situações (art. 98): ao servidor estu-
mil) associados, 4 (quatro) servidores; dante, quando comprovada a incompatibilidade entre o horário es-
III - para entidades com mais de 30.000 (trinta mil) associados, colar e o da repartição, sendo exigida a compensação de horário; ao
8 (oito) servidores. servidor portador de deficiência, quando comprovada a necessida-
§ 1o Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos para de por junta médica oficial, independentemente de compensação
cargos de direção ou de representação nas referidas entidades, des- de horário;ao servidor que tenha cônjuge, filho ou dependente com
de que cadastradas no órgão competente. deficiência, quando comprovada a necessidade por junta médica
§ 2º. A licença terá duração igual à do mandato, podendo ser oficial, independentemente da compensação de horário; ao servi-
renovada, no caso de reeleição. dor que atue como instrutor em curso instituído no âmbito da ad-

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
ministração pública federal ou que participe de banca examinadora Quanto o Estado repara o dano, em homenagem à responsa-
de concursos, vinculado à compensação de horário a ser efetivada bilidade objetiva do Estado, fica com direito de regresso contra o
no prazo de até um ano. responsável que efetivamente causou o dano, isto é, com o direito
c) Terceira espécie de concessão: cuida dos casos relacionados de recuperar o valor da indenização junto ao agente que causador
à matrícula em instituições de ensino. Por amparo legal, “ao servi- do dano. 
dor estudante que mudar de sede no interesse da administração é Efetivamente, o direito de regresso, em sede de responsabili-
assegurada, na localidade da nova residência ou na mais próxima, dade estatal, configura-se na pretensão do Estado em buscar do seu
matrícula em instituição de ensino congênere, em qualquer época, agente, responsável pelo dano, a recomposição do erário, uma vez des-
independentemente de vaga” (art. 99). Denota-se que esse benefí- falcado do montante destinado ao pagamento da indenização à vítima.
cio se estende também “ao cônjuge ou companheiro, aos filhos, ou Nesse aspecto, o direito de regresso é o direito assegurado ao Es-
enteados do servidor que vivam na sua companhia, bem como aos tado no sentido de dirigir sua pretensão indenizatória contra o agente
menores sob sua guarda, com autorização judicial” (art. 99, pará- responsável pelo dano, quando tenha este agido com culpa ou dolo.
grafo único). Neste contexto, o agente público poderá ser responsabilizado
nos âmbitos civil, penal e administrativo.
Direito de petição
De acordo com o art. 104 da Lei 8.112/1990, é direito do servi- a) Responsabilidade Civil: A responsabilidade civil decorre de
dor público, requerer junto aos Poderes Públicos, a defesa de direi- ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em pre-
to ou interesse legítimo. juízo ao erário ou a terceiros.
O direito de petição pode ser manifestado por intermédio de Neste caso, responsabilidade civil se refere à responsabilidade
requerimento, pedido de reconsideração ou de recurso. patrimonial, que faz referência aos Atos Ilícitos e que traz consigo a
Nos termos da Lei, o requerimento deverá ser dirigido à auto- regra geral da responsabilidade civil, que é de reparar o dano cau-
ridade competente para decidi-lo e encaminhado por intermédio sado a outrem.
daquela a que estiver imediatamente subordinado o requerente A Administração Pública, confirmada a responsabilidade de
(art. 105). seus agentes, como preceitua a no art.37, §6, parte final do Texto
Além disso, nos trâmites do art. 106, caberá pedido de reconsi- Maior, é “assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
deração dirigido à autoridade que houver expedido o ato ou profe- casos de dolo ou culpa”, descontará nos vencimentos do servidor
rido a primeira decisão, não podendo ser renovado. público, respeitando os limites mensais, a quantia exata para o res-
De acordo com o art. 107 do Estatuto em estudo, caberá re- sarcimento do dano.
curso nas seguintes hipóteses: do indeferimento do pedido de re-
consideração e das decisões sobre os recursos sucessivamente in- b) Responsabilidade Administrativa: A responsabilidade admi-
terpostos. nistrativa é apurada em processo administrativo, assegurando-se
Nos termos do art. 109, o recurso será dirigido à autoridade ao servidor o contraditório e a ampla defesa.
imediatamente superior à que tiver expedido o ato ou proferido a Uma vez constatada a prática do ilícito administrativo, ficará
decisão, e, sucessivamente, em escala ascendente, às demais auto- o servidor sujeito à sanção administrativa adequada ao caso, que
ridades, sendo encaminhado por intermédio da autoridade a que poderá ser advertência, suspensão, demissão, cassação de aposen-
estiver imediatamente subordinado o requerente. Dando continui- tadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão ou
dade, o recurso poderá ser recebido com efeito suspensivo, a juízo destituição de função comissionada.
da autoridade competente e em caso de provimento do pedido de A penalidade deve sempre ser motivada pela autoridade com-
reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão retroagirão à petente para sua aplicação, sob pena de nulidade.
data do ato impugnado, nos parâmetros do art. 109, parágrafo úni- Se durante a apuração da responsabilidade administrativa a
co da Lei 8112/90. autoridade competente verificar que o ilícito administrativo tam-
O prazo para interposição de recurso ou de pedido de recon- bém está capitulado como ilícito penal, deve encaminhar cópia do
sideração é de 30 dias, a contar da publicação ou da ciência, pelo processo administrativo ao Ministério Público, que irá mover ação
interessado, da decisão recorrida (art. 108). penal contra o servidor 
Já o direito de requerer prescreve, nos termos do art. 110, em c) Responsabilidade Penal: A responsabilidade penal do servi-
cinco anos, quanto aos atos de demissão e de cassação de aposen- dor é a que resulta de uma conduta tipificada por lei como infração
tadoria ou disponibilidade, ou que afetem interesse patrimonial e penal. A responsabilidade penal abrange crimes e contravenções
créditos resultantes das relações de trabalho; em 120 dias, nos de-
imputadas ao servidor, nessa qualidade.
mais casos, exceto quando outro prazo for fixado em lei.
Em relação à prescrição, merece também destaque:
Os crimes funcionais estão definidos no Código Penal, artigos
Art. 112: a prescrição é de ordem pública, não podendo ser re-
312 a 326, como o peculato, a concussão, a corrupção passiva, a
levada pela administração; o pedido de reconsideração e o recurso,
prevaricação etc. Outros estão previstos em leis especiais federais.
quando cabíveis, interrompem a prescrição (art. 111); o prazo de
prescrição será contado da data da publicação do ato impugnado
A responsabilidade penal do servidor é apurada em Juízo Cri-
ou da data da ciência pelo interessado, quando o ato não for publi-
cado (art. 110, parágrafo único da Lei 8112/90). minal. Se o servidor for responsabilizado penalmente, sofrerá uma
sanção penal, que pode ser privativa de liberdade (reclusão ou de-
RESPONSABILIDADE tenção), restritiva de direitos (prestação pecuniária, perda de bens
Ao exercer funções públicas, os servidores públicos não estão e valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públi-
desobrigados de se responsabilizar por seus atos, tanto atos públi- cas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana)
cos quanto atos administrativos, além dos atos políticos, dependen- ou multa (Código Penal, art. 32).
do de sua função, cargo ou emprego. Importante ressaltar que a decisão penal, apurada por causa
Esta responsabilidade é algo indispensável na atividade admi- da responsabilidade penal do servidor, só terá reflexo na responsa-
nistrativa, ou seja, enquanto houver exercício irregular de direito ou bilidade civil do servidor se o ilícito penal tiver ocasionado prejuízo
de poder a responsabilidade deve estar presente. patrimonial (ilícito civil). 

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Nos termos do que estabelece o artigo 125 da Lei 8.112/90, as - manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de con-
sanções civis, penais e administrativas poderão cumular-se, sendo fiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil;
independentes entre si. - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem,
A responsabilidade administrativa do servidor será afastada em detrimento da dignidade da função pública;
se, no processo criminal, o servidor for absolvido por ter sido de- - participar de gerência ou administração de sociedade privada,
clarada a inexistência do fato ou, quando o fato realmente existiu, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na
não tenha sido imputada sua autoria ao servidor. Notem que, se o qualidade de acionista, cotista ou comanditário;
servidor for absolvido por falta ou insuficiência de provas, a respon-
sabilidade administrativa não será afastada. A essa vedação existe duas exceções, já que o servidor poderá:
I - participação nos conselhos de administração e fiscal de em-
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR presas ou entidades em que a União detenha, direta ou indireta-
O Regime Disciplinar é o conjunto de deveres, proibições, que mente, participação no capital social ou em sociedade cooperativa
geram responsabilidades aos agentes públicos. Descumprido este constituída para prestar serviços a seus membros; 
rol, se apura os ilícitos administrativos, onde gera as sanções dis- II - gozo de licença para o trato de interesses particulares, na
ciplinares. forma do art. 91 (8.112), observada a legislação sobre conflito de
Com o intuito de responsabilizar quem comete faltas adminis- interesses.
trativas, atribui-se à Administração o Poder Disciplinar do Estado, - atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições
que assegura a responsabilização dos agentes públicos quando co- públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou
mentem ações que contrariam seus deveres e proibições relacio- assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou com-
nados às atribuições do cargo, função ou emprego de que estão panheiro;
investidos. Por consequência dos descumprimentos legais, há a - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qual-
aplicação de sanções disciplinares, conforme dispõe a legislação. quer espécie, em razão de suas atribuições;
- aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro;
Dos Deveres - praticar usura sob qualquer de suas formas;
Via de regra, os estatutos listam condutas e proibições a serem - proceder de forma desidiosa;
observadas pelos servidores, configurando, umas e outras, os seus - utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em servi-
deveres como dois lados da mesma moeda. Por exemplo: a proibi- ços ou atividades particulares;
ção de proceder de forma desidiosa equivale ao dever de exercer - cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que
com zelo as atribuições do cargo. Por isso, podem ser englobados ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias;
sob a rubrica “deveres” os que os estatutos assim intitulam e os que - exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o
os estatutos arrolam como proibições. exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho;
- Dever de Agir: Devem os administradores agirem em benefí- - recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicita-
cio da coletividade. do. 
- Dever de Probidade: O agente público deve agir de forma Infrações e Sanções Administrativas/Penalidades
honesta e em conformidade com os princípios da legalidade e da Os servidores públicos de cada âmbito - União, Estados, Distrito
moralidade. Federal e Municípios - têm um Estatuto próprio. Quanto aos agen-
- Dever de Prestar Contas: Todo administrador deve prestar tes públicos Federais rege a Lei nº 8.112/1990, já o regimento dos
contas do dinheiro público. demais depende de cada Estado/Município.
- Dever de Eficiência: Deve elaborar suas funções perfeição e Devido ao princípio da Legalidade, todos os agentes devem fa-
rendimento funcional.  zer aquilo que está restrito em lei, e caso algum deles descumpram
- Dever de Urbanidade: Deve o servidor ser cordial com os de- a legislação, ocorre uma infração administrativa, pelo poder discipli-
mais colegas de trabalho e com o público em geral. nar, os agentes infratores estão sujeitos a penalidades, que podem
- Dever de Assiduidade: O servidor deve comparecer em seu ser: advertência, suspensão, demissão, cassação de aposentadoria
serviço, a fim de cumprir seu horário conforme determinado. ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão e destituição
de função comissionada.
Das Proibições Para uma aplicação de penalidade justa deve ser considerada
De acordo com o estatuto federal, aplicável aos Servidores Pú- a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela
blicos Civis da União, das autarquias e fundações públicas federais, provierem para o serviço público, as circunstâncias agravantes ou
ocupantes de cargos público, seu artigo 117 traz um rol de proibi- atenuantes e os antecedentes funcionais.
ções sendo elas: É necessário que cada penalidade imposta mencione o funda-
- ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia au- mento legal e a causa da sanção disciplinar.
torização do chefe imediato;
- retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qual-
quer documento ou objeto da repartição; REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS
- recusar fé a documentos públicos; DA UNIÃO (LEI Nº 8.112/1990)
- opor resistência injustificada ao andamento de documento e
processo ou execução de serviço;
- promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado na
da repartição; matéria de ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO
- cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previs-
tos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabi-
lidade ou de seu subordinado;
- coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a as-
sociação profissional ou sindical, ou a partido político;

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
II. Processo Administrativo Disciplinar Propriamente Dito: utili-
PROCESSO ADMINISTRATIVO (LEI FEDERAL Nº zado nos casos de infrações gravíssimas. Este processo administra-
9.784/1999 E LEI DO DF Nº 2.834/2001) tivo disciplinar possui três fases, sendo elas:
* Primeira Fase: Compreende a instauração do processo. Para a
Processo administrativo instauração do processo é necessário que o Administrador Público
O Processo Administrativo Disciplinar tem como objetivo apu- tome conhecimento de uma conduta indisciplinar, assim, é preciso
rar possíveis infrações disciplinares e, conforme o caso, aplicar a conhecer a conduta, para depois instaurar um PAD.
penalidade cabível. *Diante de uma denuncia anônima é preciso instaurar o PAD? A
As regras disciplinares são de competência de cada ente fede- Lei 8.112/90 de a entender que a denuncia anônima está vedada de
rativo, que irão regular os devidos procedimentos disciplinares de maneira geral para evitar o chamado denuncismo. Uma vez que, a
seus respectivos servidores públicos. Lei fala que a denúncia deve ser clara, demonstrando seu endereço,
Na esfera federal, temos o nosso estudo baseado na Lei nome, ou seja, você tem que ser responsável pela sua denúncia –
8.112/90, sendo o estatuto dos servidores públicos. Vale destacar, assumir a responsabilidade. Ocorre que, nessa situação, ao exigir
que as regras estatutárias não podem desrespeitar os princípios e que a denúncia seja sempre clara, pode estar evitando que certas
as regras constitucionais. denúncias cheguem à Administração Pública. Assim, conclui-se que
Dentro da Lei 8.112/90 existem três modalidades de Processo a denúncia anônima não deve ser desconsiderada de fato, sendo
Administrativo Disciplinar, logo nas três hipóteses, por se tratar de necessário analisar a presença de elementos concretos na denúncia
processo administrativo disciplinar é possível à existência de uma anônima.
penalidade ao final. São modalidades do PAD:
De modo que, ao receber a denúncia anônima a Autoridade
I. Processo Administrativo Disciplinar Simplificado/ Sindicância competente não pode abrir um PAD de prontidão. Mas, caso a Au-
(Art. 145 da Lei 8.112/90): possui como objetivo a apuração das toridade verifique elementos concretos nesta denúncia anônima,
condutas que em tese são de menor potencial ofensivo, pressupõe instaura-se um PAD de sindicância investigatório, se neste proces-
então que os tipos de penalidade a serem aplicadas aqui possuem so for confirmado os elementos instaura-se um PAD propriamente
natureza leve. dito, para apurar a fundo as infrações e aplicar as penalidades ne-
Caso ao dar início a esta modalidade de PAD e, verifica-se a não cessárias.
existência do fato, o PAD é arquivado, uma vez que está ausente de O PAD Propriamente Dito pode ser instaurado de prontidão
provas/ elementos probatórios. caso verifique-se uma conduta gravíssima, de uma denúncia clara
Por outro lado, caso o PAD simplificado seja confirmado, apli- (pessoa assumi a responsabilidade), desta forma percebe-se que a
ca-se uma advertência, ou então, uma suspensão de até 30 dias ao sindicância não é pré-requisito para a instauração do PAD, desde
servidor público. que a denúncia seja clara.
Assim, a punição para condutas do servidor público de natu- Um dos elementos da Portaria que instaura o PAD é o afasta-
reza leve é de advertência ou suspensão de até 30 dias. Nota-se mento preventivo da servidor público (Ato Administrativo – Porta-
que caso conclua-se, diante da apuração do PAD simplificado, que a ria). Esse afastamento ocorre, pois muitas vezes, os demais servi-
infração é gravíssima, finaliza-se o PAD simplificado e instaura-se o dores não se sentem confortáveis em testemunharem algo com o
PAD propriamente dito. acusado ainda ocupando o cargo, pois ele poderia utilizar sua in-
Ex. Ocorre uma denuncia de um servidor, que está vendendo fluência – por exemplo, se vocês testemunharem acontecerá algo.
pão de mel dentro da administração pública, as pessoas sabem que Assim, o afastamento é utilizado como um acautelamento do Admi-
este servidor não sabe cozinhar. A autoridade recebe a informação. nistrador Público em relação ao processo administrativo disciplinar.
Sabe-se que essa conduta não é gravíssima, assim abre-se um PAD Vale ressaltar que o afastamento temporário não é uma puni-
simplificado para apurar a situação, mas com a informação de que ção, tendo em vista que ainda não houve PAD. Sendo assim, neste
a pessoa não sabe cozinhar, ao abrir o PAD simplificado ele não se afastamento é razoável que o servidor público continue recebendo
confirma, assim arquiva-se. No caso de confirmação, por exemplo, a sua remuneração. O prazo de afastamento temporário do servidor
não era pão de mel, mas cocada, aqui não se arquiva o processo, público é de no máximo 60 dias, prorrogáveis, desde que justificá-
mas aplica-se uma advertência. vel, por mais 60 dias (Art. 147 da Lei 8.112/90).
Obs. Cuidado com o termo sindicância, na doutrina do Direito Caso passe o período total de 120 dias (60 + 60 prorrogáveis), e
Administrativo em Geral (Processo Administrativo – Lei 9.784/99), a Autoridade necessite de mais tempo para a investigação, não tem
existe o termo sindicância, no sentido investigativo-inquisitório e como aumentar o prazo e o servidor continuar afastado, assim o
acusatória- punitivo. Assim, dentro do Processo Administrativo Ge- servidor retorna para o seu cargo e o PAD continua.
ral, existem duas modalidades de sindicância. O Ato Administrativo que instaura o PAD indica o nome de três
O PAD simplificado possui uma sindicância punitiva/acusatória, servidores públicos para compor uma Comissão Processante. Ou
uma vez que ao final ela apresenta uma penalidade. Esta distinção seja, uma autoridade instaura o PAD, sendo somente os Ministros
ocorre, pois, caso esteja-se diante de uma sindicância investigati- que possuem competência para tanto, entretanto não são os Minis-
va/ inquisitória, não é necessário fornecer a ninguém o direito de tros que tocam o Processo Administrativo Disciplinar, mas sim uma
ampla defesa e contraditório, uma vez que não se está acusando Comissão Processante.
ninguém, mas apenas investigando. Dentro do ato de instauração o Ministro já indica os servido-
Não existe muitas regras sobre o processo administrativo dis- res públicos, sendo a regra geral que a Comissão Processante seja
ciplinar simplificado, de modo que, de maneira geral, utiliza-se o composta por três Servidores Estáveis (estabilidade é um requisito
procedimento do propriamente dito como margem. – Artigo 149 da Lei 8.112/90). Um desses três Servidores será Presi-
O prazo para a conclusão de um PAD simplificado é de 30 dias, dente da Comissão, este tem que ter o cargo superior ou similar ao
ou seja, após o início da sindicância tem-se 30 dias para encerrar, do servidor púbico acusado.
podendo ser prorrogados por mais 30 dias. A regra geral prevê a estabilidade, pois esta funciona como
uma garantia do servidor público que compõe a comissão, de modo
a garantir que este não pode ser retirado/ perder o cargo a não ser

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
nas hipóteses do artigo 41 da CF, ou seja, não sofro o risco de ser panhada pelo Servidor acusado, uma vez que, caso não tenha este
ameaça a ser mandada embora. (Obs. Não pode estar este Servidor acompanhamento não existirá a possibilidade do contraditório e
Público somente no cargo de comissão, uma vez que cargos em co- nem da ampla defesa.
missão não possuem a estabilidade). Outro princípio que rege esta fase é o Princípio da Oficialidade,
no sentido de que a Comissão Processante ao tocar o inquérito ad-
Obs. É muito comum na jurisprudência quando se anula um ministrativo age de ofício, não sendo necessário que a Autoridade
processo administrativo, anula-se a comissão processante em um Administrativa de comandos para a Comissão Processante.
sentido geral. Assim qual é o ato que a autoridade competente tem Nesta fase também é necessário buscar a verdade material/
que fazer? Instaurar um novo PAD, com a nomeação de novas pes- real, ou seja, a verdade mais próxima do que realmente aconteceu,
soas para compor a comissão processante, uma vez que a anterior nesse sentido, pode se falar que o PAD é muito parecido com o pro-
foi desfeita, pois não garantiu a ampla defesa e o contraditório. cesso penal.
Caso anteriormente tenha ocorrido alguma nulidade que tenha ge- Durante a Instrução do Processo serão tomadas todas as me-
rado o desfazimento da comissão processante, pode esta mesma didas necessárias como, por exemplo: oitiva de testemunhas, pe-
comissão ser escolhida novamente. Assim, a Comissão Processante rícias, acareações, sempre com a possibilidade de o servidor pú-
só não pode ser a mesma caso esta não garanta o contraditório e a blico causado intervir no procedimento, ou seja, apresentar seus
ampla defesa. próprios laudos, testemunhas.
Nota-se que caso ocorra à violação ao contraditório e a ampla
A Suspensão e Advertência podem ser aplicadas no PAD, no defesa, o PAD deverá ser arquivado.
momento em que o Servidor Público é suspenso ou advertido,
começa a correr um prazo para o cancelamento desse registro de Obs. É possível emprestar provas produzidas em processos ju-
penalidades na sua ficha de servidor público. De modo que, após dicias em andamento? Sim, desde que esta prova emprestada seja
3 (para o caso de advertência) ou 5 (para a suspensão) anos o servi- lícita.
dor cometa outro ilícito/ não sofra nenhuma outra sanção, ele não Obs. É necessário que se dê a possibilidade de participação de
será considerado como reincidente. Assim, aqui não se cancela os advogado, não podendo ser vedada a sua participação no PAD.
efeitos da suspensão e da advertência, mas o Registro de Penalida-
des em sua ficha. Esta situação do Advogado gerou a Súmula Vinculante nº 5 do
Prazo de Prescrição do PAD: o Servidor Público no exercício da STF, que prevê que a falta de defesa técnica, ou seja, de advoga-
sua atividade, pratica uma conduta em que a penalidade típica é do em um PAD não ofende a Constituição Federal. Entretanto o STJ
demissão, assim, o poder público / administração pública, tem o acredita que é necessária a presença do advogado no PAD. O que
prazo de 5 anos, a partir do conhecimento do fato da conduta pela vale, neste caso, é a posição do STF na Súmula Vinculante nº 5.
autoridade competente para abrir um PAD, sob pena de prescrição. - Defesa
Caso a conduta leve a suspensão do servidor, a Administração - Relatório
Pública tem dois anos, a partir do conhecimento da conduta, para
abrir o PAD sob pena de prescrição. * Terceira Fase: Julgamento
Por outro lado, caso a conduta leve a advertência ao servidor,
a Administração Pública tem 180 dias, a partir do conhecimento da
conduta, para abrir o PAD, sob pena de prescrição. LEI Nº 9.784 , DE 29 DE JANEIRO DE 1999
Vale ressaltar, que nos três casos acima (demissão, suspen-
são e advertência), caso a Autoridade competente, tome conheci- Regula o processo administrativo no âmbito da Administração
mento da conduta e não instaure o PAD ela sofre as sanções da Lei Pública Federal.
8.112/90, ou seja, assume a responsabilidade. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
Ademais, importante ressaltar que no momento em que o PAD cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
é aberto, o prazo prescricional do mesmo se interrompe até a de-
cisão da autoridade competente (Art. 142, § 3º da Lei 8.112/90). CAPÍTULO I
Entretanto existem discussões acerca da razoabilidade desse tempo DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
de decisão da autoridade competente, de modo que a previsão le-
gal diverge da jurisprudencial. Art. 1o Esta Lei estabelece normas básicas sobre o processo ad-
A lei entende que a Autoridade tem o tempo necessário para ministrativo no âmbito da Administração Federal direta e indireta,
se chegar a uma decisão, já a jurisprudência, entende que, uma vez visando, em especial, à proteção dos direitos dos administrados e
interrompido o prazo prescricional do PAD, após 140 dias, diante ao melhor cumprimento dos fins da Administração.
da ausência de uma decisão pela autoridade competente, o pra- § 1o Os preceitos desta Lei também se aplicam aos órgãos dos
zo prescricional volta a correr. Isto é, uma vez instaurado o PAD, a Poderes Legislativo e Judiciário da União, quando no desempenho
autoridade competente tem 140 dias para concluí-lo, uma vez que de função administrativa.
o PAD normalmente deve durar 60 dias, prorrogáveis por mais 60, § 2o Para os fins desta Lei, consideram-se:
após isso a autoridade competente tem 20 dias para julgá-lo – to- I - órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura da Ad-
talizando 140 dias. ministração direta e da estrutura da Administração indireta;
II - entidade - a unidade de atuação dotada de personalidade
* Segunda Fase: esta se subdivide em: jurídica;
- Inquérito Administrativo: é tocado pela Comissão Processan- III - autoridade - o servidor ou agente público dotado de poder
te, composta por três servidores públicos que possuem estabilida- de decisão.
de. Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos
- Instrução do Processo: nesta fase mantem-se a regra funda- princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, pro-
mental inserida no artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal. Em porcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, seguran-
que, toda fase de Processo Administrativo Disciplinar será acom- ça jurídica, interesse público e eficiência.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observa- CAPÍTULO IV
dos, entre outros, os critérios de: DO INÍCIO DO PROCESSO
I - atuação conforme a lei e o Direito;
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia to- Art. 5o O processo administrativo pode iniciar-se de ofício ou a
tal ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei; pedido de interessado.
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada Art. 6o O requerimento inicial do interessado, salvo casos em
a promoção pessoal de agentes ou autoridades; que for admitida solicitação oral, deve ser formulado por escrito e
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e conter os seguintes dados:
boa-fé; I - órgão ou autoridade administrativa a que se dirige;
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as II - identificação do interessado ou de quem o represente;
hipóteses de sigilo previstas na Constituição; III - domicílio do requerente ou local para recebimento de co-
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obri- municações;
gações, restrições e sanções em medida superior àquelas estrita- IV - formulação do pedido, com exposição dos fatos e de seus
mente necessárias ao atendimento do interesse público; fundamentos;
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que deter- V - data e assinatura do requerente ou de seu representante.
minarem a decisão; Parágrafo único. É vedada à Administração a recusa imotivada
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos de recebimento de documentos, devendo o servidor orientar o in-
direitos dos administrados; teressado quanto ao suprimento de eventuais falhas.
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar ade- Art. 7o Os órgãos e entidades administrativas deverão elaborar
quado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos admi- modelos ou formulários padronizados para assuntos que importem
nistrados; pretensões equivalentes.
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de ale- Art. 8o Quando os pedidos de uma pluralidade de interessados
gações finais, à produção de provas e à interposição de recursos, tiverem conteúdo e fundamentos idênticos, poderão ser formula-
nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de dos em um único requerimento, salvo preceito legal em contrário.
litígio;
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas CAPÍTULO V
as previstas em lei; DOS INTERESSADOS
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem pre-
juízo da atuação dos interessados; Art. 9o São legitimados como interessados no processo admi-
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que me- nistrativo:
lhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada I - pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de
aplicação retroativa de nova interpretação. direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de re-
presentação;
CAPÍTULO II II - aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos
DOS DIREITOS DOS ADMINISTRADOS ou interesses que possam ser afetados pela decisão a ser adotada;
III - as organizações e associações representativas, no tocante a
Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos perante a Ad- direitos e interesses coletivos;
ministração, sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados: IV - as pessoas ou as associações legalmente constituídas quan-
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que to a direitos ou interesses difusos.
deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de Art. 10. São capazes, para fins de processo administrativo, os
suas obrigações; maiores de dezoito anos, ressalvada previsão especial em ato nor-
II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em mativo próprio.
que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter có-
pias de documentos neles contidos e conhecer as decisões profe- CAPÍTULO VI
ridas; DA COMPETÊNCIA
III - formular alegações e apresentar documentos antes da deci-
são, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente; Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
quando obrigatória a representação, por força de lei. delegação e avocação legalmente admitidos.
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
CAPÍTULO III houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou-
DOS DEVERES DO ADMINISTRADO tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica-
mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns-
Art. 4o São deveres do administrado perante a Administração, tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
sem prejuízo de outros previstos em ato normativo: Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à
I - expor os fatos conforme a verdade; delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; presidentes.
III - não agir de modo temerário; Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colabo- I - a edição de atos de caráter normativo;
rar para o esclarecimento dos fatos. II - a decisão de recursos administrativos;
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori-
dade.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi-
cados no meio oficial.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes Parágrafo único. O prazo previsto neste artigo pode ser dilatado
transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob- até o dobro, mediante comprovada justificação.
jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva Art. 25. Os atos do processo devem realizar-se preferencial-
de exercício da atribuição delegada. mente na sede do órgão, cientificando-se o interessado se outro for
§ 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela au- o local de realização.
toridade delegante.
§ 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar expli- CAPÍTULO IX
citamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado. DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS
Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos
relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de Art. 26. O órgão competente perante o qual tramita o processo
competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior. administrativo determinará a intimação do interessado para ciência
Art. 16. Os órgãos e entidades administrativas divulgarão publi- de decisão ou a efetivação de diligências.
camente os locais das respectivas sedes e, quando conveniente, a § 1o A intimação deverá conter:
unidade fundacional competente em matéria de interesse especial. I - identificação do intimado e nome do órgão ou entidade ad-
Art. 17. Inexistindo competência legal específica, o processo ministrativa;
administrativo deverá ser iniciado perante a autoridade de menor II - finalidade da intimação;
grau hierárquico para decidir. III - data, hora e local em que deve comparecer;
IV - se o intimado deve comparecer pessoalmente, ou fazer-se
CAPÍTULO VII representar;
DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO V - informação da continuidade do processo independente-
mente do seu comparecimento;
Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o ser- VI - indicação dos fatos e fundamentos legais pertinentes.
vidor ou autoridade que: § 2o A intimação observará a antecedência mínima de três dias
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria; úteis quanto à data de comparecimento.
II - tenha participado ou venha a participar como perito, teste- § 3o A intimação pode ser efetuada por ciência no processo, por
munha ou representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao via postal com aviso de recebimento, por telegrama ou outro meio
cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau; que assegure a certeza da ciência do interessado.
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o inte- § 4o No caso de interessados indeterminados, desconhecidos
ressado ou respectivo cônjuge ou companheiro. ou com domicílio indefinido, a intimação deve ser efetuada por
Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimen- meio de publicação oficial.
to deve comunicar o fato à autoridade competente, abstendo-se § 5o As intimações serão nulas quando feitas sem observância
de atuar. das prescrições legais, mas o comparecimento do administrado su-
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedi- pre sua falta ou irregularidade.
mento constitui falta grave, para efeitos disciplinares. Art. 27. O desatendimento da intimação não importa o reco-
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor nhecimento da verdade dos fatos, nem a renúncia a direito pelo
que tenha amizade íntima ou inimizade notória com algum dos inte- administrado.
ressados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes Parágrafo único. No prosseguimento do processo, será garanti-
e afins até o terceiro grau. do direito de ampla defesa ao interessado.
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser Art. 28. Devem ser objeto de intimação os atos do processo
objeto de recurso, sem efeito suspensivo. que resultem para o interessado em imposição de deveres, ônus,
sanções ou restrição ao exercício de direitos e atividades e os atos
CAPÍTULO VIII de outra natureza, de seu interesse.
DA FORMA, TEMPO E LUGAR DOS ATOS DO PROCESSO
CAPÍTULO X
Art. 22. Os atos do processo administrativo não dependem de DA INSTRUÇÃO
forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir.
§ 1o Os atos do processo devem ser produzidos por escrito, em
Art. 29. As atividades de instrução destinadas a averiguar e
vernáculo, com a data e o local de sua realização e a assinatura da
comprovar os dados necessários à tomada de decisão realizam-se
autoridade responsável.
de ofício ou mediante impulsão do órgão responsável pelo proces-
§ 2o Salvo imposição legal, o reconhecimento de firma somente
so, sem prejuízo do direito dos interessados de propor atuações
será exigido quando houver dúvida de autenticidade.
probatórias.
§ 3o A autenticação de documentos exigidos em cópia poderá
§ 1o O órgão competente para a instrução fará constar dos au-
ser feita pelo órgão administrativo.
§ 4o O processo deverá ter suas páginas numeradas sequencial- tos os dados necessários à decisão do processo.
mente e rubricadas. § 2o Os atos de instrução que exijam a atuação dos interessados
Art. 23. Os atos do processo devem realizar-se em dias úteis, devem realizar-se do modo menos oneroso para estes.
no horário normal de funcionamento da repartição na qual tramitar Art. 30. São inadmissíveis no processo administrativo as provas
o processo. obtidas por meios ilícitos.
Parágrafo único. Serão concluídos depois do horário normal os Art. 31. Quando a matéria do processo envolver assunto de
atos já iniciados, cujo adiamento prejudique o curso regular do pro- interesse geral, o órgão competente poderá, mediante despacho
cedimento ou cause dano ao interessado ou à Administração. motivado, abrir período de consulta pública para manifestação de
Art. 24. Inexistindo disposição específica, os atos do órgão ou terceiros, antes da decisão do pedido, se não houver prejuízo para
autoridade responsável pelo processo e dos administrados que dele a parte interessada.
participem devem ser praticados no prazo de cinco dias, salvo mo-
tivo de força maior.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 1o A abertura da consulta pública será objeto de divulgação Art. 43. Quando por disposição de ato normativo devam ser
pelos meios oficiais, a fim de que pessoas físicas ou jurídicas pos- previamente obtidos laudos técnicos de órgãos administrativos e
sam examinar os autos, fixando-se prazo para oferecimento de ale- estes não cumprirem o encargo no prazo assinalado, o órgão res-
gações escritas. ponsável pela instrução deverá solicitar laudo técnico de outro ór-
§ 2o O comparecimento à consulta pública não confere, por si, gão dotado de qualificação e capacidade técnica equivalentes.
a condição de interessado do processo, mas confere o direito de Art. 44. Encerrada a instrução, o interessado terá o direito de
obter da Administração resposta fundamentada, que poderá ser manifestar-se no prazo máximo de dez dias, salvo se outro prazo for
comum a todas as alegações substancialmente iguais. legalmente fixado.
Art. 32. Antes da tomada de decisão, a juízo da autoridade, Art. 45. Em caso de risco iminente, a Administração Pública
diante da relevância da questão, poderá ser realizada audiência pú- poderá motivadamente adotar providências acauteladoras sem a
blica para debates sobre a matéria do processo. prévia manifestação do interessado.
Art. 33. Os órgãos e entidades administrativas, em matéria Art. 46. Os interessados têm direito à vista do processo e a ob-
relevante, poderão estabelecer outros meios de participação de ter certidões ou cópias reprográficas dos dados e documentos que
administrados, diretamente ou por meio de organizações e associa- o integram, ressalvados os dados e documentos de terceiros prote-
ções legalmente reconhecidas. gidos por sigilo ou pelo direito à privacidade, à honra e à imagem.
Art. 34. Os resultados da consulta e audiência pública e de ou- Art. 47. O órgão de instrução que não for competente para emi-
tros meios de participação de administrados deverão ser apresen- tir a decisão final elaborará relatório indicando o pedido inicial, o
tados com a indicação do procedimento adotado. conteúdo das fases do procedimento e formulará proposta de deci-
Art. 35. Quando necessária à instrução do processo, a audiên- são, objetivamente justificada, encaminhando o processo à autori-
cia de outros órgãos ou entidades administrativas poderá ser reali- dade competente.
zada em reunião conjunta, com a participação de titulares ou repre-
sentantes dos órgãos competentes, lavrando-se a respectiva ata, a CAPÍTULO XI
ser juntada aos autos. DO DEVER DE DECIDIR
Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha ale-
gado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a Art. 48. A Administração tem o dever de explicitamente emitir
instrução e do disposto no art. 37 desta Lei. decisão nos processos administrativos e sobre solicitações ou recla-
Art. 37. Quando o interessado declarar que fatos e dados estão mações, em matéria de sua competência.
registrados em documentos existentes na própria Administração Art. 49. Concluída a instrução de processo administrativo, a Ad-
responsável pelo processo ou em outro órgão administrativo, o ór- ministração tem o prazo de até trinta dias para decidir, salvo prorro-
gão competente para a instrução proverá, de ofício, à obtenção dos gação por igual período expressamente motivada.
documentos ou das respectivas cópias.
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e antes da CAPÍTULO XII
tomada da decisão, juntar documentos e pareceres, requerer dili- DA MOTIVAÇÃO
gências e perícias, bem como aduzir alegações referentes à matéria
objeto do processo. Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com
§ 1o Os elementos probatórios deverão ser considerados na indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
motivação do relatório e da decisão. I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
§ 2o Somente poderão ser recusadas, mediante decisão fun- II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;
damentada, as provas propostas pelos interessados quando sejam III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou protelatórias. pública;
Art. 39. Quando for necessária a prestação de informações ou IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici-
a apresentação de provas pelos interessados ou terceiros, serão tatório;
expedidas intimações para esse fim, mencionando-se data, prazo, V - decidam recursos administrativos;
forma e condições de atendimento.
VI - decorram de reexame de ofício;
Parágrafo único. Não sendo atendida a intimação, poderá o ór-
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão
gão competente, se entender relevante a matéria, suprir de ofício a
ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;
omissão, não se eximindo de proferir a decisão.
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida-
Art. 40. Quando dados, atuações ou documentos solicitados ao
ção de ato administrativo.
interessado forem necessários à apreciação de pedido formulado, o
§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, po-
não atendimento no prazo fixado pela Administração para a respec-
dendo consistir em declaração de concordância com fundamentos
tiva apresentação implicará arquivamento do processo.
Art. 41. Os interessados serão intimados de prova ou diligência de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que,
ordenada, com antecedência mínima de três dias úteis, mencionan- neste caso, serão parte integrante do ato.
do-se data, hora e local de realização. § 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode
Art. 42. Quando deva ser obrigatoriamente ouvido um órgão ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das
consultivo, o parecer deverá ser emitido no prazo máximo de quin- decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos inte-
ze dias, salvo norma especial ou comprovada necessidade de maior ressados.
prazo. § 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comis-
§ 1o Se um parecer obrigatório e vinculante deixar de ser emiti- sões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo
do no prazo fixado, o processo não terá seguimento até a respectiva escrito.
apresentação, responsabilizando-se quem der causa ao atraso.
§ 2o Se um parecer obrigatório e não vinculante deixar de ser
emitido no prazo fixado, o processo poderá ter prosseguimento e
ser decidido com sua dispensa, sem prejuízo da responsabilidade
de quem se omitiu no atendimento.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
CAPÍTULO XIII Art. 59. Salvo disposição legal específica, é de dez dias o pra-
DA DESISTÊNCIA E OUTROS CASOS DE EXTINÇÃO DO PROCES- zo para interposição de recurso administrativo, contado a partir da
SO ciência ou divulgação oficial da decisão recorrida.
§ 1o Quando a lei não fixar prazo diferente, o recurso adminis-
Art. 51. O interessado poderá, mediante manifestação escrita, trativo deverá ser decidido no prazo máximo de trinta dias, a partir
desistir total ou parcialmente do pedido formulado ou, ainda, re- do recebimento dos autos pelo órgão competente.
nunciar a direitos disponíveis. § 2o O prazo mencionado no parágrafo anterior poderá ser
§ 1o Havendo vários interessados, a desistência ou renúncia prorrogado por igual período, ante justificativa explícita.
atinge somente quem a tenha formulado. Art. 60. O recurso interpõe-se por meio de requerimento no
§ 2o A desistência ou renúncia do interessado, conforme o caso, qual o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de ree-
não prejudica o prosseguimento do processo, se a Administração xame, podendo juntar os documentos que julgar convenientes.
considerar que o interesse público assim o exige. Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso não tem
Art. 52. O órgão competente poderá declarar extinto o proces- efeito suspensivo.
so quando exaurida sua finalidade ou o objeto da decisão se tornar Parágrafo único. Havendo justo receio de prejuízo de difícil ou
impossível, inútil ou prejudicado por fato superveniente. incerta reparação decorrente da execução, a autoridade recorrida
ou a imediatamente superior poderá, de ofício ou a pedido, dar
CAPÍTULO XIV efeito suspensivo ao recurso.
DA ANULAÇÃO, REVOGAÇÃO E CONVALIDAÇÃO Art. 62. Interposto o recurso, o órgão competente para dele
conhecer deverá intimar os demais interessados para que, no prazo
Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quan- de cinco dias úteis, apresentem alegações.
do eivados de vício de legalidade, e pode revogá-los por motivo de Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto:
conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos. I - fora do prazo;
Art. 54. O direito da Administração de anular os atos adminis- II - perante órgão incompetente;
trativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários III - por quem não seja legitimado;
decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, IV - após exaurida a esfera administrativa.
salvo comprovada má-fé. § 1o Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a auto-
§ 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de de- ridade competente, sendo-lhe devolvido o prazo para recurso.
cadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2o O não conhecimento do recurso não impede a Administra-
§ 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer me- ção de rever de ofício o ato ilegal, desde que não ocorrida preclusão
dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali- administrativa.
dade do ato. Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá con-
Art. 55. Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão firmar, modificar, anular ou revogar, total ou parcialmente, a deci-
ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresen- são recorrida, se a matéria for de sua competência.
tarem defeitos sanáveis poderão ser convalidados pela própria Ad- Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder
ministração. decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientifi-
cado para que formule suas alegações antes da decisão.
CAPÍTULO XV Art. 64-A.Se o recorrente alegar violação de enunciado da sú-
DO RECURSO ADMINISTRATIVO E DA REVISÃO mula vinculante, o órgão competente para decidir o recurso explici-
tará as razões da aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, con-
Art. 56. Das decisões administrativas cabe recurso, em face de forme o caso. (Incluído pela Lei nº 11.417, de 2006).Vigência
razões de legalidade e de mérito. Art. 64-B.Acolhida pelo Supremo Tribunal Federal a reclamação
§ 1o O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, fundada em violação de enunciado da súmula vinculante, dar-se-á
a qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará ciência à autoridade prolatora e ao órgão competente para o julga-
à autoridade superior. mento do recurso, que deverão adequar as futuras decisões admi-
§ 2o Salvo exigência legal, a interposição de recurso administra- nistrativas em casos semelhantes, sob pena de responsabilização
tivo independe de caução. pessoal nas esferas cível, administrativa e penal.(Incluído pela Lei
§ 3oSe o recorrente alegar que a decisão administrativa contra- nº 11.417, de 2006). Vigência
ria enunciado da súmula vinculante, caberá à autoridade prolatora Art. 65. Os processos administrativos de que resultem san-
da decisão impugnada, se não a reconsiderar, explicitar, antes de ções poderão ser revistos, a qualquer tempo, a pedido ou de ofício,
encaminhar o recurso à autoridade superior, as razões da aplicabili- quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes suscetí-
dade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso. (Incluído pela veis de justificar a inadequação da sanção aplicada.
Lei nº 11.417, de 2006).Vigência Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar
Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por três agravamento da sanção.
instâncias administrativas, salvo disposição legal diversa.
Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso administrativo: CAPÍTULO XVI
I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no pro- DOS PRAZOS
cesso;
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente Art. 66. Os prazos começam a correr a partir da data da cienti-
afetados pela decisão recorrida; ficação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluin-
III - as organizações e associações representativas, no tocante a do-se o do vencimento.
direitos e interesses coletivos; § 1o Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil se-
IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses guinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente
difusos. ou este for encerrado antes da hora normal.

30
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
§ 2o Os prazos expressos em dias contam-se de modo contínuo. agente público. Assim sendo, é preciso que haja uma distribuição
§ 3o Os prazos fixados em meses ou anos contam-se de data a dessas competências e atribuições entre os diversos órgãos e agen-
data. Se no mês do vencimento não houver o dia equivalente àque- tes integrantes da Administração Pública.
le do início do prazo, tem-se como termo o último dia do mês. Entretanto, para que essa divisão de tarefas aconteça de ma-
Art. 67. Salvo motivo de força maior devidamente comprovado, neira harmoniosa, os órgãos e agentes públicos são organizados
os prazos processuais não se suspendem. em graus de hierarquia e poder, de maneira que o agente que se
encontra em plano superior, detenha o poder legal de emitir ordens
CAPÍTULO XVII e fiscalizar a atuação dos seus subordinados. Essa relação de subor-
DAS SANÇÕES dinação e hierarquia, por sua vez, causa algumas sequelas, como o
dever de obediência dos subordinados, a possibilidade de o imedia-
Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade compe- to superior avocar atribuições, bem como a atribuição de rever os
tente, terão natureza pecuniária ou consistirão em obrigação de fa- atos dos agentes subordinados.
zer ou de não fazer, assegurado sempre o direito de defesa. Denota-se, porém, que o dever de obediência do subordinado
não o obriga a cumprir as ordens manifestamente ilegais, advindas
CAPÍTULO XVIII de seu superior hierárquico. Ademais, nos ditames do art. 116, XII,
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS da Lei 8.112/1990, o subordinado tem a obrigação funcional de re-
presentar contra o seu superior caso este venha a agir com ilegali-
Art. 69. Os processos administrativos específicos continuarão a dade, omissão ou abuso de poder.
reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente Registra-se que a delegação de atribuições é uma das mani-
os preceitos desta Lei. festações do poder hierárquico que consiste no ato de conferir a
Art. 69-A.Terão prioridade na tramitação, em qualquer órgão outro servidor atribuições que de âmbito inicial, faziam parte dos
ou instância, os procedimentos administrativos em que figure como atos de competência da autoridade delegante. O ilustre Hely Lopes
parte ou interessado: (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). Meirelles aduz que a delegação de atribuições se submete a algu-
I - pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos;(In- mas regras, sendo elas:
cluído pela Lei nº 12.008, de 2009). A) A impossibilidade de delegação de atribuições de um Po-
II - pessoa portadora de deficiência, física ou mental; (Incluído der a outro, exceto quando devidamente autorizado pelo texto da
pela Lei nº 12.008, de 2009). Constituição Federal. Exemplo: autorização por lei delegada, que
III – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). ocorre quando a Constituição Federal autoriza o Legislativo a dele-
IV - pessoa portadora de tuberculose ativa, esclerose múltipla, gar ao Chefe do Executivo a edição de lei.
neoplasia maligna, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitan- B) É impossível a delegação de atos de natureza política. Exem-
te, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anqui- plos: o veto e a sanção de lei;
losante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da C) As atribuições que a lei fixar como exclusivas de determina-
doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, da autoridade, não podem ser delegadas;
síndrome de imunodeficiência adquirida, ou outra doença grave, D) O subordinado não pode recusar a delegação;
com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a E) As atribuições não podem ser subdelegadas sem a devida
doença tenha sido contraída após o início do processo.(Incluído autorização do delegante.
pela Lei nº 12.008, de 2009). Sem prejuízo do entendimento doutrinário a respeito da dele-
§ 1oA pessoa interessada na obtenção do benefício, juntando gação de competência, a Lei Federal 9.784/1999, que estabelece os
prova de sua condição, deverá requerê-lo à autoridade administra- ditames do processo administrativo federal, estabeleceu as seguin-
tiva competente, que determinará as providências a serem cumpri- tes regras relacionadas a esse assunto:
das. (Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). • A competência não pode ser renunciada, porém, pode ser
§ 2oDeferida a prioridade, os autos receberão identificação pró- delegada se não houver impedimento legal;
pria que evidencie o regime de tramitação prioritária. (Incluído pela • A delegação de competência é sempre exercida de forma par-
Lei nº 12.008, de 2009). cial, tendo em vista que um órgão administrativo ou seu titular não
§ 3o(VETADO)(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). detém o poder de delegar todas as suas atribuições;
§ 4o(VETADO)(Incluído pela Lei nº 12.008, de 2009). • A título de delegação vertical, depreende-se que esta pode
Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. ser feita para órgãos ou agentes subordinados hierarquicamente, e,
a nível de delegação horizontal, também pode ser feita para órgãos
e agentes não subordinados à hierarquia.

PODERES ADMINISTRATIVOS Não podem ser objeto de delegação:


• A edição de atos de caráter normativo;
• A decisão de recursos administrativos;
Poder Hierárquico
• As matérias de competência exclusiva do órgão ou autorida-
Trata-se o poder hierárquico, de poder conferido à autoridade
de;
administrativa para distribuir e dirimir funções em escala de seus
órgãos, vindo a estabelecer uma relação de coordenação e subordi-
Ressalta-se com afinco que o ato de delegação e a sua revo-
nação entre os servidores que estiverem sob a sua hierarquia.
gação deverão ser publicados no meio oficial, nos trâmites da lei.
A estrutura de organização da Administração Pública é baseada Ademais, deverá o ato de delegação especificar as matérias e os po-
em dois aspectos fundamentais, sendo eles: a distribuição de com- deres transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e
petências e a hierarquia. os objetivos da delegação e também o recurso devidamente cabível
Em decorrência da amplitude das competências e das res- à matéria que poderá constar a ressalva de exercício da atribuição
ponsabilidades da Administração, jamais seria possível que toda a delegada.
função administrativa fosse desenvolvida por um único órgão ou

31
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
O ato de delegação poderá ser revogado a qualquer tempo pela Esquematizando, temos:
autoridade delegante como forma de transferência não definitiva
de atribuições, devendo as decisões adotadas por delegação, men-
cionar de forma clara esta qualidade, que deverá ser considerada
como editada pelo delegado.
No condizente à avocação, afirma-se que se trata de procedi-
mento contrário ao da delegação de competência, vindo a ocor-
rer quando o superior assume ou passa a desenvolver as funções
que eram de seu subordinado. De acordo com a doutrina, a norma
geral, é a possibilidade de avocação pelo superior hierárquico de
qualquer competência do subordinado, ressaltando-se que nesses
casos, a competência a ser avocada não poderá ser privativa do ór-
gão subordinado.
Dispõe a Lei 9.784/1999 que a avocação das competências do
órgão inferior apenas será permitida em caráter excepcional e tem-
porário com a prerrogativa de que existam motivos relevantes e im- Poder conferido à autoridade administra-
preterivelmente justificados. tiva para distribuir e dirimir funções em
O superior também pode rever os atos dos seus subordinados, PODER escala de seus órgãos, que estabelece
como consequência do poder hierárquico com o fito de mantê-los, HIERÁRQUICO uma relação de coordenação e subordina-
convalidá-los, ou ainda, desfazê-los, de ofício ou sob provocação do ção entre os servidores que estiverem sob
interessado. Convalidar significa suprir o vício de um ato adminis- a sua hierarquia.
trativo por intermédio de um segundo ato, tornando válido o ato vi-
ciado. No tocante ao desfazimento do ato administrativo, infere-se A edição de atos de caráter normativo
que pode ocorrer de duas formas: NÃO PODEM SER
a) Por revogação: no momento em que a manutenção do ato A decisão de recursos administrativos
OBJETO
válido se tornar inconveniente ou inoportuna; DE DELEGAÇÃO As matérias de competência exclusiva do
b) Por anulação: quando o ato apresentar vícios. órgão ou autoridade
Por revogação: quando a manutenção do
No entanto, a utilização do poder hierárquico nem sempre po- ato válido se tornar inconveniente ou ino-
DESFAZIMENTO
derá possibilitar a invalidação feita pela autoridade superior dos portuna
DO ATO
atos praticados por seus subordinados. Nos ditames doutrinários, a
ADMINISTRATIVO Por anulação: quando o ator apresentar
revisão hierárquica somente é possível enquanto o ato não tiver se
tornado definitivo para a Administração Pública e, ainda, se houver vícios
sido criado o direito subjetivo para o particular.
Poder Disciplinar
Observação importante: “revisão” do ato administrativo não O poder disciplinar confere à Administração Pública o poder de
se confunde com “reconsideração” desse mesmo ato. A revisão de autorizar e apurar infrações, aplicando as devidas penalidades aos
ato é condizente à avaliação por parte da autoridade superior em servidores público, bem como às demais pessoas sujeitas à discipli-
relação à manutenção ou não de ato que foi praticado por seu su- na administrativa em decorrência de determinado vínculo específi-
bordinado, no qual o fundamento é o exercício do poder hierárqui- co. Assim, somente está sujeito ao poder disciplinar o agente que
co. Já na reconsideração, a apreciação relativa à manutenção do possuir vínculo certo e preciso com a Administração, não importan-
ato administrativo é realizada pela própria autoridade que confec- do que esse vínculo seja de natureza funcional ou contratual.
cionou o ato, não existindo, desta forma, manifestação do poder Existindo vínculo funcional, infere-se que o poder disciplinar é
hierárquico. decorrente do poder hierárquico. Em razão da existência de distri-
buição de escala dos órgãos e servidores pertencentes a uma mes-
ma pessoa jurídica, competirá ao superior hierárquico determinar o
Ressalte-se, também, que a relação de hierarquia é inerente
cumprimento de ordens e exigir daquele que lhe for subordinado,
à função administrativa e não há hierarquia entre integrantes do
o cumprimento destas. Não atendendo o subordinado às determi-
Poder Legislativo e do Poder Judiciário no desempenho de suas fun-
nações do seu superior ou descumprindo o dever funcional, o seu
ções típicas constitucionais. No entanto, os membros dos Poderes
chefe poderá e deverá aplicar as sanções dispostas no estatuto fun-
Judiciário e Legislativo também estão submetidos à relação de hie-
cional.
rarquia no que condiz ao exercício de funções atípicas ou adminis-
Conforme dito, o poder disciplinar também detém o poder de
trativas. Exemplo: um juiz de Primeira Instância, não é legalmente alcançar particulares que mantenham vínculo contratual com o Po-
obrigado a adotar o posicionamento do Presidente do Tribunal no der Público, a exemplo daqueles contratados para prestar serviços
julgamento de um processo de sua competência, porém, encontra- à Administração Pública. Nesse sentido, como não existe relação de
-se obrigado, por ditames da lei a cumprir ordens daquela autorida- hierarquia entre o particular e a Administração, o pressuposto para
de quando versarem a respeito do horário de funcionamento dos a aplicação de sanções de forma direta não é o poder hierárqui-
serviços administrativos da sua Vara. co, mas sim o princípio da supremacia do interesse público sobre
Por fim, é de suma importância destacar que a subordinação o particular.
não se confunde com a vinculação administrativa, pois, a subordi- Denota-se que o poder disciplinar é o poder de investigar e
nação decorre do poder hierárquico e existe apenas no âmbito da punir crimes e contravenções penais não se referem ao mesmo
mesma pessoa jurídica. Já a vinculação, resulta do poder de super- instituto e não se confundem. Ao passo que o primeiro é aplicado
visão ou do poder de tutela que a Administração Direta detém so- somente àqueles que possuem vínculo específico com a Adminis-
bre as entidades da Administração Indireta. tração de forma funcional ou contratual, o segundo é exercido so-
mente sobre qualquer indivíduo que viole as leis penais vigentes.

32
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Da mesma forma, o exercício do poder de polícia também não competência exclusiva dos Chefes do Poder Executivo para editar
se confunde com as penalidades decorrentes do poder disciplinar, regulamentos, mantendo, por sua vez, a expressão “poder normati-
que, embora ambos possuam natureza administrativa, estas deve- vo” para os demais atos normativos emitidos por outras espécies de
rão ser aplicadas a qualquer pessoa que esteja causando transtor- autoridades da Administração Direta e Indireta, como por exemplo,
nos ou pondo em risco a coletividade, pois, no poder de polícia, de dirigentes de agências reguladoras e de Ministros.
denota-se que o vínculo entre a Administração Pública e o adminis- Registra-se que os regulamentos são publicados através de
trado é de âmbito geral, ao passo que nas penalidades decorrentes decreto, que é a maneira pela qual se revestem os atos editados
do poder disciplinar, somente são atingidos os que possuem relação pelo chefe do Poder Executivo. O conteúdo de um decreto pode ser
funcional ou contratual com a Administração. por meio de conteúdo ou de determinado regulamento ou, ainda,
Em suma, temos: a pela adoção de providências distintas. A título de exemplo desta
1º - Sanção Disciplinar: Possui natureza administrativa; advém última situação, pode-se citar um decreto que dá a designação de
do poder disciplinar; é aplicável sobre as pessoas que possuem vín- determinado nome a um prédio público.
culo específico com a Administração Pública. Em razão de os regulamentos serem editados sob forma con-
2º - Sanção de Polícia: Possui natureza administrativa; advém dizente de decreto, é comum serem chamados de decretos regu-
do poder de polícia; aplica-se sobre as pessoas que desobedeçam lamentares, decretos de execução ou regulamentos de execução.
às regulamentações de polícia administrativa. Podemos classificar os regulamentos em três espécies diferen-
3º - Sanção Penal: Possui natureza penal; decorre do poder ge- tes:
ral de persecução penal; aplica-se sobre as pessoas que cometem A) Regulamento executivo;
crimes ou contravenções penais. B) Regulamento independente ou autônomo;
c) Regulamento autorizado.
Por fim, registre-se que é comum a doutrina afirmar que o Vejamos a composição de cada em deles:
poder disciplinar é exercido de forma discricionária. Tal afirmação
deve ser analisada com cuidado no que se refere ao seu alcance Regulamento Executivo
como um todo, pois, se ocorrer de o agente sob disciplina adminis- Existem leis que, ao serem editadas, já reúnem as condições
trativa cometer infração, a única opção que restará ao gestor será
suficientes para sua execução, enquanto outras pugnam por um re-
aplicar á situação a penalidade devidamente prevista na lei, pois, a
gulamento para serem executadas. Entretanto, em tese, qualquer
aplicação da pena é ato vinculado. Quando existente, a discriciona-
lei é passível de ser regulamentada. Diga-se de passagem, até mes-
riedade refere-se ao grau da penalidade ou à aplicação correta das
sanções legalmente cabíveis, tendo em vista que no direito adminis- mo aquelas cuja execução não dependa de regulamento. Para isso,
trativo não é predominável o princípio da pena específica que se re- suficiente é que o Chefe do Poder Executivo entenda conveniente
fere à necessidade de prévia definição em lei da infração funcional detalhar a sua execução.
e da exata sanção cabível. O ato de regulamento executivo é norma geral e abstrata. Sen-
Em resumo, temos: do geral pelo fato de não possuir destinatários determinados ou
determináveis, vindo a atingir quaisquer pessoas que estejam nas
Poder Disciplinar situações reguladas; é abstrata pelo fato de dispor sobre hipóteses
• Apura infrações e aplica penalidades; que, se e no momento em que forem verificadas no mundo con-
• Para que o indivíduo seja submetido ao poder disciplinar, é creto, passarão a gerar as consequências abstratamente previstas.
preciso que possua vínculo funcional com a administração; Desta forma, podemos afirmar que o regulamento possui conteúdo
• A aplicação de sanção disciplinar deve ser acompanhada de material de lei, porém, com ela não se confunde sob o aspecto for-
processo administrativo no qual sejam assegurados o direito ao mal.
contraditório e à ampla defesa, devendo haver motivação para que O ato de regulamento executivo é constituído por importantes
seja aplicada a penalidade disciplinar cabível; funções. São elas:
• Pode ter caráter discricionário em relação à escolha entre
sanções legalmente cabíveis e respectiva gradação. 1.º) Disciplinar a discricionariedade administrativa
Ocorre, tendo em vista a existência de discricionariedade quan-
Poder regulamentar do a lei confere ao agente público determinada quantidade de li-
Com supedâneo no art. 84, IV, da Constituição Federal, consiste berdade para o exercício da função administrativa. Tal quantidade e
o poder regulamentar na competência atribuída aos Chefes do Po- margem de liberdade termina sendo reduzida quando da editação
der Executivo para que venham a editar normas gerais e abstratas de um regulamento executivo que estipula regras de observância
destinadas a detalhar as leis, possibilitando o seu fiel regulamento obrigatória, vindo a determinar a maneira como os agentes devem
e eficaz execução. proceder no fiel cumprimento da lei.
A doutrina não é unânime em relação ao uso da expressão po- Ou seja, ao disciplinar por intermédio de regulamento o exer-
der regulamentar. Isso acontece, por que há autores que, asseme- cício da discricionariedade administrativa, o Chefe do Poder Exe-
lhando-se ao conceito anteriormente proposto, usam esta expres- cutivo, termina por voluntariamente limitá-la, vindo a estabelecer
são somente para se referirem à faculdade de editar regulamentos autêntica autovinculação, diminuindo, desta forma, o espaço para
conferida aos Chefes do Executivo. Outros autores, a usam com a discussão de casos e fatos sem importância para a administração
conceito mais amplo, acoplando também os atos gerais e abstra- pública.
tos que são emitidos por outras autoridades, tais como: resoluções,
portarias, regimentos, deliberações e instruções normativas. Há 2.º) Uniformizar os critérios de aplicação da lei
ainda uma corrente que entende essas providências gerais e abs- É interpretada no contexto da primeira, posto que o regula-
tratas editadas sob os parâmetros e exigências da lei, com o fulcro mento ao disciplinar a forma com que a lei deve ser fielmente cum-
de possibilitar-lhe o cumprimento em forma de manifestações do prida, estipula os critérios a serem adotados nessa atividade, fato
poder normativo. que impede variações significativas nos casos sujeitos à lei aplicada.
No entanto, em que pese a mencionada controvérsia, prevalece Exemplo: podemos citar o desenvolvimento dos servidores na car-
como estudo e aplicação geral adotada pela doutrina clássica, que reira de Policial Rodoviário Federal.
utiliza a expressão “poder regulamentar” para se referir somente à

33
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Criadora da carreira de Policial Rodoviário Federal, a Lei Ademais, lembremos que os regulamentos se submetem ao
9.654/1998 estabeleceu suas classes e determinou que a investidu- controle de legalidade, de tal forma que a nulidade decorrente da
ra no cargo de Policial Rodoviário Federal teria que se dar no padrão exorbitância do poder regulamentar também está passível de ser
único da classe de Agente, na qual o titular deverá permanecer por reconhecida pelo Poder Judiciário ou pelo próprio Chefe do Poder
pelo menos três anos ou até obter o direito à promoção à classe Executivo no exercício da autotutela.
subsequente, nos termos do art. 3.º, § 2.º.
A antiguidade e o merecimento são os principais requisitos Regulamento independente ou autônomo
para que os servidores públicos sejam promovidos. No entanto, Ressalte-se que esta segunda espécie de regulamento, tam-
o vocábulo “merecimento” é carregado de subjetivismo, fato que bém adota a forma de decreto. Diversamente do regulamento exe-
abriria a possibilidade de que os responsáveis pela promoção dos cutivo, esse regulamento não se presta a detalhar uma lei, detendo
servidores, alegando discricionariedade, viessem a agir com base o poder de inovar na ordem jurídica, da mesma maneira que uma
em critérios obscuros e casuístas, vindo a promover perseguições e lei. O regulamento autônomo (decreto autônomo) é considerado
privilégios. E é por esse motivo que existe a necessidade de regula- ato normativo primário porque retira sua força exclusivamente e
mentação dos requisitos de promoção, como demonstra o próprio diretamente da Constituição.
estatuto dos servidores públicos civis federais em seu art. 10, pará- A Carta Magna de 1988, em sua redação original, deletou a fi-
grafo único da Lei 8.112/1990. gura do decreto autônomo no direito brasileiro. No entanto, com
Com o fulcro de regulamentar a matéria, foi editado o Decreto a Emenda Constitucional 32/2001, a possibilidade foi novamente
8.282/2014, que possui como atributo, detalhar os requisitos e es- inserida na alínea a do inciso VI do art. 84 da CFB/88.
tabelecer os devidos critérios para promoção dos Policiais Rodoviá- Mesmo havendo controvérsias, a posição dominante na doutri-
rios Federais, dentre os quais se encontra a obtenção de “resultado na é no sentido de que a única hipótese de regulamento autônomo
satisfatório na avaliação de desempenho no interstício considerado que o direito brasileiro permite é a contida no mencionado dispo-
para a progressão”, disposta no art. 4.º, II, “b”. Da mesma forma, sitivo constitucional, que estabelece a competência do Presidente
a expressão “resultado satisfatório” também é eivada de subjetivi- da República para dispor, mediante decreto, sobre organização e
dade, motivo pelo qual o § 3.º do mesmo dispositivo regulamentar funcionamento da administração federal, isso, quando não implicar
designou que para o efeito de promoção, seria considerado satisfa- em aumento de despesa nem mesmo criação ou extinção de órgãos
tório o alcance de oitenta por cento das metas estipuladas em ato públicos.
do dirigente máximo do órgão. Por oportuno, registarmos que a autorização que está prevista
Assim sendo, verificamos que a discricionariedade do dirigente na alínea b do mesmo dispositivo constitucional, para que o Presi-
máximo da PRF continua a existir, e o exemplo disso, é o estabe- dente da República, mediante decreto, possa extinguir cargos públi-
lecimento das metas. Entretanto, ela foi reduzida no condizente cos vagos, não se trata de caso de regulamento autônomo. Cuida-se
à avaliação da suficiência de desempenho dos servidores para o de uma xucra hipótese de abandono do princípio do paralelismo
efeito de promoção. O que nos leva a afirmar ainda que, diante da das formas. Isso por que em decorrência do princípio da hierarquia
regulamentação, erigiu a existência de vinculação da autoridade ad- das normas, se um instituto jurídico for criado por intermédio de
determinada espécie normativa, sua extinção apenas poderá ser
ministrativa referente ao percentual considerado satisfatório para
veiculada pelo mesmo tipo de ato, ou, ainda, por um de superior
o efeito de promoção dos servidores, critério que inclusive já foi
hierarquia.
uniformizado.
Nesse sentido, sendo os cargos públicos criados por lei, nos pa-
Embora exista uma enorme importância em termos de pratici-
râmetros do art. 48, inc. X da CFB/88, apenas a lei poderia extingui-
dade, denota-se que os regulamentos de execução gozam de hie-
-los pelo sistema do paralelismo das formas. Entretanto, deixando
rarquia infralegal e não detém o poder de inovar na ordem jurídica,
de lado essa premissa, o legislador constituinte derivado permitiu
criando direitos ou obrigações, nem contrariando, ampliando ou
que, estando vago o cargo público, a extinção aconteça por decreto.
restringindo as disposições da lei regulamentada. São, em resumo, Poderíamos até dizer que foi autorizado um decreto autônomo, mas
atos normativos considerados secundários que são editados pelo nunca um regulamento autônomo, isso posto pelo fato de tal de-
Chefe do Executivo com o fulcro de detalhar a execução dos atos creto não gozar de generalidade e abstração, não regulamentando
normativos primários elaborados pelas leis. determinada matéria. Cuida-se, nesse sentido, de um ato de efeitos
Dando enfoque à subordinação dos regulamentos executivos à concretos, amplamente desprovido de natureza regulamentar.
lei, a Constituição Federal prevê a possibilidade de o Congresso Na- De forma diversa do decreto regulamentar ou regulamento
cional sustá-los, caso exorbite do poder regulamentar nos parâme- executivo, que é editado para minuciar a fiel execução da lei, desta-
tros do art. 49, inc. V da CF/88. É o que a doutrina chama de “veto ca-se que o decreto autônomo ou regulamento independente, en-
legislativo”, dentro de uma analogia com o veto que o Chefe do Exe- contra-se sujeito ao controle de constitucionalidade. O que justifica
cutivo poderá apor aos projetos de lei aprovados pelo Parlamento. a mencionada diferenciação, é o fato de o conflito entre um decreto
Pondera-se que a aproximação terminológica possui limitações, regulamentar e a lei que lhe atende de fundamento vir a configurar
uma vez que o veto propriamente dito do executivo, pode ocorrer ilegalidade, não cabendo o argumento de que o decreto é inconsti-
em função de o Presidente da República entender que o projeto tucional porque exorbitou do poder regulamentar. Assim, havendo
de lei é incompatível com a Constituição Federal, que configuraria agressão direta à Constituição, a lei, com certeza pode ser conside-
o veto jurídico, ou, ainda, contrário ao interesse público, que seria rada inconstitucional, mas não o decreto que a regulamenta. Agora,
o veto político. Por sua vez, o veto legislativo só pode ocorrer por em se tratando do decreto autônomo, infere-se que este é norma
exorbitância do poder regulamentar, sendo assim, sempre jurídico. primária, vindo a fundamentar-se no próprio texto constitucional,
Melhor dizendo, não há como imaginar que o Parlamento venha a de forma a ser possível uma agressão direta à Constituição Federal
sustar um decreto regulamentar por entendê-lo contrário ao inte- de 1988, legitimando desta maneira, a instauração de processo de
resse público, uma vez que tal norma somente deve detalhar como controle de constitucionalidade. Assim sendo, podemos citar a lição
a lei ao ser elaborada pelo próprio Legislativo, será indubitavelmen- do Supremo Tribunal Federal:
te cumprida. Destarte, se o Parlamento entende que o decreto edi- Com efeito, o que é necessário demonstrar, é que o decreto do
tado dentro do poder regulamentar é contrário ao interesse públi- Chefe do Executivo advém de competência direta da Constituição,
co, deverá, por sua vez, revogar a própria lei que lhe dá o sustento. ou que retire seu fundamento da Carta Magna. Nessa sentido, caso

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
o regulamento não se amolde ao figurino constitucional, caberá, sido adotados com frequência para a fixação de normas técnicas,
por conseguinte, análise de constitucionalidade pelo Supremo tri- como por exemplo, daquelas condições determinadas pelas agên-
bunal Federal. Se assim não for, será apenas vício de inconstitucio- cias reguladoras.
nalidade reflexa, afastando desta forma, o controle concentrado
em ADI porque, como adverte Carlos Velloso: “é uma questão de Regulamentos jurídicos e regulamentos administrativos
opção. Hans Kelsen, no debate com Carl Schmitt, em 1929, deixou A ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma que é possível
isso claro. E o Supremo Tribunal fez essa opção também no controle fazer a distinção entre os regulamentos jurídicos ou normativos e
difuso, quando estabeleceu que não se conhece de inconstitucio- os regulamentos administrativos ou de organização.
nalidade indireta. Não há falar-se em inconstitucionalidade indireta Afirma-se que os regulamentos jurídicos ou normativos, criam
reflexa. É uma opção da Corte para que não se realize o velho adá- regras ou normas para o exterior da Administração Pública, que
gio: ‘muita jurisdição, resulta em nenhuma jurisdição’” (ADI 2.387- passam a vincular todos os cidadãos de forma geral, como acontece
0/DF, Rel. Min. Marco Aurélio). com as normas inseridas no poder de polícia. No condizente aos
Em suma, conforme dito anteriormente, convém relembrar regulamentos administrativos ou de organização, denota-se que es-
que o art. 13, I, da Lei 9.784/1999 proíbe de forma expressa a de- tes estabelecem normas sobre a organização administrativa ou que
legação de atos de caráter normativo. No entanto, com exceção a se relacionam aos particulares que possuem um vínculo específico
essa regra, o decreto autônomo, diversamente do que acontece com o Estado, como por exemplo, os concessionários de serviços
com o decreto regulamentar que é indelegável, pode vir a ser ob- públicos ou que possuem um contrato com a Administração.
jeto de delegação aos Ministros de Estado, ao Procurador Geral da De acordo com a ilustre professora, outra nota que merece
República e ao Advogado destaque em relação à distinção entre os mencionados institutos,
Geral da União, conforme previsão contida no parágrafo único é a de que os regulamentos jurídicos, pelo fato de se referirem à
do art. 84 da Constituição Federal. liberdade e aos direitos dos particulares sem uma relação especí-
fica com a Administração, são, por sua vez, elaborados com menor
Regulamento autorizado ou delegado grau de discricionariedade em relação aos regulamentos adminis-
Denota-se que além das espécies anteriores de regulamento trativos.
apresentadas, a doutrina administrativista e jurista também men- Esquematicamente, temos:
ciona a respeito da existência do regulamento autorizado ou dele-
gado. ESPÉCIES DE Regulamentos jurídicos ou normativos
De acordo com a doutrina tradicional, o legislador ordinário REGULAMENTO
não poderá, fora dos casos previstos na Constituição, delegar de QUANTO AOS Regulamentos administrativos ou de orga-
forma integral a função de legislar que é típica do Poder Legislativo, DESTINATÁRIOS nização
aos órgãos administrativos.
Entretanto, em decorrência da complexidade das atividades Poder de Polícia
técnicas da Administração, contemporaneamente, embora haja O poder de polícia é a legítima faculdade conferida ao Estado
controvérsias em relação ao aspecto da constitucionalidade, a dou- para estabelecer regras restritivas e condicionadoras do exercício
trina maior tem aceitado que as competências para regular deter- de direitos e garantias individuais, tendo sempre em vista o inte-
minadas matérias venham a ser transferidas pelo próprio legislador resse público.
para órgãos administrativos técnicos. Cuida-se do fenômeno da
deslegalização, por meio do qual a normatização sai da esfera da lei Limites
para a esfera do regulamento autorizado. No exercício do poder de polícia, os atos praticados, assim
No entanto, o regulamento autorizado não se encontra limita- como todo ato administrativo, mesmo sendo discricionário, está
do somente a explicar, detalhar ou complementar a lei. Na verdade, eivado de limitações legais em relação à competência, à forma, aos
ele busca a inovação do ordenamento jurídico ao criar normas téc- fins, aos motivos ou ao objeto.
nicas não contidas na lei, ato que realiza em decorrência de expres- Ressalta-se de antemão com ênfase, que para que o ato de po-
sa determinação legal. lícia seja considerado legítimo, deve respeitar uma relação de pro-
Depreende-se que o regulamento autorizado não pode ser porcionalidade existente entre os meios e os fins. Assim sendo, a
confundido com o regulamento autônomo. Isso ocorre, porque, medida de polícia não poderá ir além do necessário com o fito de
ao passo que este último retira sua força jurídica da Constituição, atingir a finalidade pública a que se destina. Imaginemos por exem-
plo, a hipótese de um estabelecimento comercial que somente pos-
aquele é amplamente dependente de expressa autorização contida
suía licença do poder público para atuar como revenda de roupas,
na lei. Além disso, também se diverge do decreto de execução por-
mas que, além dessa atividade, funcionava como atelier de costura.
que, embora seja um ato normativo secundário que retira sua força
Caso os fiscais competentes, na constatação do fato, viessem a in-
jurídica da lei, detém o poder de inovar a ordem jurídica, ao contrá- terditar todo o estabelecimento, pondera-se que tal medida seria
rio do que ocorre com este último no qual sua destinação é apenas desproporcional, tendo em vista que, para por fim à irregularidade,
a de detalhar a lei para que seja fielmente executada. seria suficiente somente interditar a parte da revenda de roupas.
Nos moldes da jurisprudência, não é admitida a edição de regu- Acontece que em havendo eventuais atos de polícia que este-
lamento autorizado para matéria reservada à lei, um exemplo disso jam eivados de vícios de legalidade ou que se demostrem despro-
é a criação de tributos ou da criação de tipos penais, tendo em vista porcionais devem ser, por conseguinte, anulados pelo Poder Judi-
que afrontaria o princípio da separação dos Poderes, pelo fato de ciário por meio do controle judicial, ou, pela própria administração
estar o Executivo substituindo a função do Poder Legislativo. no exercício da autotutela.
Entretanto, mesmo nos casos de inexistência de expressa de-
terminação constitucional estabelecendo reserva legal, tem sido Prescrição
admitida a utilização de regulamentos autorizados, desde que a lei Determina a Lei 9.873/1999 que na Administração Pública Fe-
venha a os autorizar e estabeleça as condições, bem como os limi- deral, direta e indireta, são prescritíveis em cinco anos a ação pu-
tes da matéria a ser regulamentada. É nesse sentido que eles têm nitiva para apuração da infração e a aplicação da sanção de polícia,

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
desde que contados da data da prática do ato ou, em se tratando de não conceder a autorização, posto que esse ato é de natureza dis-
infração de forma permanente ou continuada, do dia em que tiver cricionária e está sujeito ao juízo de conveniência e oportunidade
cessado (art. 1.º). Entretanto, se o fato objeto da ação punitiva da da autoridade administrativa. É o que ocorre, por exemplo, coma
Administração também for considerado crime, a prescrição deverá autorização para porte de arma, bem como para a produção de ma-
se reger pelo prazo previsto na lei penal em seu art. 1.º, § 2.º. terial bélico.
Ademais, a Lei determina que prescreve em cinco anos a ação
de execução da administração pública federal relativa a crédito não Autoexecutoriedade
tributário advindo da aplicação de multa por infração à legislação Nos sábios dizeres de Hely Lopes Meirelles, o atributo da au-
em vigor, desde que devidamente contados da constituição defini- toexecutoriedade consiste na “faculdade de a Administração decidir
tiva do crédito, nos termos da Lei 9.873/1999, art. 1.º-A, com sua e executar diretamente sua decisão por seus próprios meios, sem
redação incluída pela Lei 11.941/2009. intervenção do Judiciário”. Assim, se um estabelecimento comer-
Denota-se que a mencionada norma prevê, ainda, a possibi- cial estiver comercializando bebidas deteriorados, o Poder Público
lidade de prescrição intercorrente, ou seja, aquela que ocorre no poderá usar do seu poder para apreendê-los e incinerá-los, sendo
curso do processo, quando o procedimento administrativo vir a fi- desnecessário haver qualquer ordem judicial. Ocorre, também, que
car paralisado por mais de três anos, desde que pendente de des- tal fato não impede ao particular, que se sentir prejudicado pelo
pacho ou julgamento, tendo em vista que os autos serão arquivados excesso ou desvio de poder, de buscar o amparo do Poder Judiciário
de ofício ou mediante requerimento da parte interessada, sem que para fazer cessar o ato de polícia abusivo.
haja prejuízo da apuração da responsabilidade funcional decorren- Entretanto, denota-se que nem todas as medidas de polícia
te da paralisação, se for o caso, nos parâmetros do art. 1.º, § 1.º. são dotadas de autoexecutoriedade. A doutrina majoritária afirma
Vale a pena mencionar com destaque que a prescrição da ação que a autoexecutoriedade só pode existir em duas situações, sen-
punitiva, no caso das sanções de polícia, se interrompe no decurso do elas: quando estiver prevista expressamente em lei; ou mesmo
das seguintes hipóteses: não estando prevista expressamente em lei, se houver situação de
A) Notificação ou citação do indiciado ou acusado, inclusive por urgência que demande a execução direta da medida. O que infere
meio de edital; que, não sendo cumprido nenhum desses requisitos, o ato de po-
B) ocorrer qualquer ato inequívoco que importe apuração do lícia autoexecutado será considerado abusivo. Cite-se como exem-
fato; pela decisão condenatória recorrível; plo, o de ato de polícia que não contém autoexecutoriedade, como
C)Por qualquer ato inequívoco que importe em manifestação
o caso de uma autuação por desrespeito à normas sanitárias. Nesse
expressa de tentativa de solução conciliatória no âmbito interno da
caso específico, se o poder público tiver a pretensão de cobrar o
Administração Pública Federal.
mencionado valor, não poderá fazê-lo de forma direta, sendo ne-
Registramos que a Lei em estudo, prevê a possibilidade de em
cessário que promova a execução judicial da dívida.
determinadas situações específicas, quando o interessado inter-
A renomada Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro, afirma
romper a prática ou sanar a irregularidade, que haja a suspensão
que alguns autores dividem o atributo da autoexecutoriedade em
do prazo prescricional para aplicação das sanções de polícia, nos
dois, sendo eles: a exigibilidade (privilège du préalable) e a execu-
parâmetros do art. 3.º.
toriedade (privilège d’action d’office). Nesse diapasão, a exigibili-
Por fim, denota-se que as determinações contidas na Lei
9.873/1999 não se aplicam às infrações de natureza funcional e aos dade ensejaria a possibilidade de a Administração tomar decisões
processos e procedimentos de natureza tributária, nos termos do executórias, impondo obrigações aos administrados mesmo sem a
art. 5.º. concordância destes, e a executoriedade, que consiste na faculdade
de se executar de forma direta todas essas decisões sem que haja a
Atributos necessidade de intervenção do Poder Judiciário, usando-se, quando
Segundo a maior parte da doutrina, são atributos do poder de for preciso, do emprego direto da força pública. Imaginemos como
polícia: a discricionariedade, a autoexecutoriedade e a coercibilida- exemplo, um depósito antigo de carros que esteja ameaçado de
de. Entretanto, vale explicitar que nem todas essas características desabar. Nessa situação específica, a Administração pode ordenar
estão presentes de forma simultânea em todos os atos de polícia. que o proprietário promova a sua demolição (exigibilidade). E não
Vejamos detalhadamente a definição e atribuição de cada atri- sendo a ordem cumprida, a própria Administração possui o poder
buto: de mandar seus servidores demolirem o imóvel (executoriedade).
Ainda, pelos ensinamentos da ilustre professora, ao passo que
Discricionariedade a exigibilidade se encontra relacionada com a aplicação de meios
Consiste na liberdade de escolha da autoridade pública em re- indiretos de coação, como a aplicação de multa ou a impossibilida-
lação à conveniência e oportunidade do exercício do poder de polí- de de licenciamento de veículo enquanto não forem pagas as mul-
cia. Entretanto, mesmo que a discricionariedade dos atos de polícia tas de trânsito, a executoriedade irá se consubstanciar no uso de
seja a regra, em determinadas situações o exercício do poder de meios diretos de coação, como por exemplo dissolução de reunião,
polícia é vinculado e por isso, não deixa margem para que a autori- da apreensão de mercadorias, da interdição de estabelecimento e
dade responsável possa executar qualquer tipo de opção. da demolição de prédio.
Como exemplo do mencionado no retro parágrafo, compare- Adverte-se, por fim, que a exigibilidade se encontra presente
mos os atos de concessão de alvará de licença e de autorização, em todas as medidas de polícia, ao contrário da executoriedade,
respectivamente. Em se tratando do caso do alvará de licença, de- que apenas se apresenta nas hipóteses previstas por meio de lei ou
preende-se que o ato é vinculado, significando que a licença não em situações de urgência.
poderá ser negada quando o requerente estiver preenchendo os
requisitos legais para sua obtenção. Diga-se de passagem, que isso Coercibilidade
ocorre com a licença para dirigir, para construir bem como para É um atributo do poder de polícia que faz com que o ato seja
exercer certas profissões, como a de enfermagem, por exemplo. Re- imposto ao particular, concordando este, ou não. Em outras termos,
ferente à hipótese de alvará de autorização, mesmo o requerente o ato de polícia, como manifestação do ius imperi estatal, não está
atendendo aos requisitos da lei, a Administração Pública poderá ou consignado à dependência da concordância do particular para que

36
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
tenha validade e seja eficaz. Além disso, a coercibilidade é indisso-
ciável da autoexecutoridade, e o ato de polícia só poderá ser autoe- ATO ADMINISTRATIVO
xecutável pelo fato de ser dotado de força coercitiva.
Assim sendo, a coercibilidade ou imperatividade, definida Conceito
como a obrigatoriedade do ato para os seus destinatários, acaba se Hely Lopes Meirelles conceitua ato administrativo como sendo
confundindo com a definição dada de exigibilidade que resulta do “toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública
desdobramento do atributo da autoexecutoriedade. que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, res-
guardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor
Poder de polícia originário e poder de polícia delegado obrigações aos administrados ou a si própria”.
Nos parâmetros doutrinários, o poder de polícia originário é Já Maria Sylvia Zanella Di Pietro explana esse tema, como: “a
aquele exercido pelos órgãos dos próprios entes federativos, tendo declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos
como fundamento a própria repartição de competências materiais jurídicos imediatos, com observância da lei, sob regime jurídico de
e legislativas constante na Constituição Federal Brasileira de 1988. direito público e sujeita a controle pelo Poder Judiciário”.
Referente ao poder de polícia delegado, afirma-se que este faz O renomado, Celso Antônio Bandeira de Mello, por sua vez,
referência ao poder de polícia atribuído às pessoas de direito pú- explica o conceito de ato administrativo de duas formas. São elas:
blico da Administração Indireta, posto que esta delegação deve ser A) Primeira: em sentido amplo, na qual há a predominância de
feita por intermédio de lei do ente federativo que possua o poder atos gerais e abstratos. Exemplos: os contratos administrativos e os
de polícia originário. regulamentos.
Como uma das mais claras manifestações do princípio segun- No sentido amplo, de acordo com o mencionado autor, o ato
do o qual o interesse público se sobrepõe ao interesse privado, no administrativo pode, ainda, ser considerado como a “declaração do
exercício do poder de polícia, o Estado impõe aos particulares ações Estado (ou de quem lhe faça as vezes – como, por exemplo, um
e omissões independentemente das suas vontades. Tal possibilida- concessionário de serviço público), no exercício de prerrogativas
de envolve exercício de atividade típica de Estado, com clara ma- públicas, manifestada mediante providências jurídicas complemen-
nifestação de potestade (poder de autoridade). Assim, estão pre- tares da lei a título de lhe dar cumprimento, e sujeitas a controle de
sentes características ínsitas ao regime jurídico de direito público, legitimidade por órgão jurisdicional”.
o que tem levado o STF a genericamente negar a possibilidade de
delegação do poder de polícia a pessoas jurídicas de direito privado, B) Segunda: em sentido estrito, no qual acrescenta à definição
ainda que integrantes da administração indireta (ADI 1717/DF). anterior, os atributos da unilateralidade e da concreção. Desta for-
Esquematizando, temos: ma, no entendimento estrito de ato administrativo por ele expos-
ta, ficam excluídos os atos convencionais, como os contratos, por
ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA
exemplo, bem como os atos abstratos.
Embora haja ausência de uniformidade doutrinária, a partir da
DISCRICIONARIEDADE AUTOEXECUTORIEDADE COERCIBILIDADE
análise lúcida do tópico anterior, acoplada aos estudos dos concei-
Liberdade de esco- Faculdade de a Ad- tos retro apresentados, é possível extrair alguns elementos funda-
lha da autoridade ministração decidir e Faz com que o ato mentais para a definição dos conceitos do ato administrativo.
pública em relação executar diretamen- seja imposto ao De antemão, é importante observar que, embora o exercício
à conveniência e te sua decisão por particular, con- da função administrativa consista na atividade típica do Poder Exe-
oportunidade do seus próprios meios, cordando este, ou cutivo, os Poderes Legislativo e Judiciário, praticam esta função
exercício do poder sem intervenção do não. de forma atípica, vindo a praticar, também, atos administrativos.
de polícia. Judiciário. Exemplo: ao realizar concursos públicos, os três Poderes devem no-
mear os aprovados, promovendo licitações e fornecendo benefícios
Uso e abuso de poder legais aos servidores, dentre outras atividades. Acontece que em
De antemão, depreende-se que o exercício de poder acontece todas essas atividades, a função administrativa estará sendo exerci-
de forma legítima quando desempenhado pelo órgão competente, da que, mesmo sendo função típica, mas, recordemos, não é função
desde que esteja nos limites da lei a ser aplicada, bem como em exclusiva do Poder Executivo.
atendimento à consecução dos fins públicos. Denota-se também, que nem todo ato praticado no exercício
No entanto, é possível que a autoridade, ao exercer o poder, da função administrativa é ato administrativo, isso por que em inú-
venha a ultrapassar os limites de sua competência ou o utilize para meras situações, o Poder Público pratica atos de caráter privado,
fins diversos do interesse público. Quando isto ocorre, afirma-se desvestindo-se das prerrogativas que conformam o regime jurídico
que houve abuso de poder. Ressalta-se que o abuso de poder ocor- de direito público e assemelhando-se aos particulares. Exemplo: a
re tanto por meio de um ato comissivo, quando é feita alguma coisa emissão de um cheque pelo Estado, uma vez que a referida provi-
que não deveria ser feita, quanto por meio de um ato omissivo, por dência deve ser disciplinada exclusivamente por normas de direito
meio do qual se deixa de fazer algo que deveria ser feito. privado e não público.
Pode o abuso de poder se dividido em duas espécies, são elas: Há de se desvencilhar ainda que o ato administrativo pode ser
• Excesso de poder: Ocorre a partir do momento em que a au- praticado não apenas pelo Estado, mas também por aquele que
toridade atua extrapolando os limites da sua competência. o represente. Exemplo: os órgãos da Administração Direta, bem
• Desvio de poder ou desvio de finalidade: Ocorre quando a como, os entes da Administração Indireta e particulares, como
autoridade vem a praticar um ato que é de sua competência, po- acontece com as permissionárias e com as concessionárias de ser-
rém, o utiliza para uma finalidade diferente da prevista ou contrária viços públicos.
ao interesse público como um todo. Destaca-se, finalmente, que o ato administrativo por não apre-
sentar caráter de definitividade, está sujeito a controle por órgão
Convém mencionar que o ato praticado com abuso de poder jurisdicional. Em obediência a essas diretrizes, compreendemos
pode ser devidamente invalidado pela própria Administração por que ato administrativo é a manifestação unilateral de vontade pro-
intermédio da autotutela ou pelo Poder Judiciário, sob controle ju- veniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais ampara-
dicial.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
das pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito públi- Em relação às fontes, temos as competências primária e secun-
co, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a controle dária. Vejamos a definição de cada uma delas nos tópicos abaixo:
judicial específico. a) Competência primária: quando a competência é estabeleci-
Em suma, temos: da pela lei ou pela Constituição Federal.
ATO ADMINISTRATIVO: é a manifestação unilateral de vontade b) Competência Secundária: a competência vem expressa em
proveniente de entidade arremetida em prerrogativas estatais am- normas de organização, editadas pelos órgãos de competência pri-
paradas pelos atributos provenientes do regime jurídico de direito mária, uma vez que é produto de um ato derivado de um órgão ou
público, destinadas à produção de efeitos jurídicos e sujeitos a con- agente que possui competência primária.
trole judicial específico. Entretanto, a distribuição de competência não ocorre de forma
aleatória, de forma que sempre haverá um critério lógico informan-
ATOS ADMINISTRATIVOS EM SENTIDO AMPLO do a distribuição de competências, como a matéria, o território, a
hierarquia e o tempo. Exemplo disso, concernente ao critério da
Atos de Direito Privado matéria, é a criação do Ministério da Saúde.
Atos materiais Em relação ao critério territorial, a criação de Superintendên-
cias Regionais da Polícia Federal e, ainda, pelo critério da hierarquia,
Atos de opinião, conhecimento, juízo ou valor
a criação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF),
Atos políticos órgão julgador de recursos contra as decisões das Delegacias da Re-
Contratos ceita Federal de Julgamento criação da Comissão Nacional da Ver-
dade que trabalham na investigação de violações graves de Direitos
Atos normativos
Humanos nos períodos entre 18.09.1946 e 05.10.1988, que resulta
Atos normativos em sentido estrito e propriamente ditos na combinação dos critérios da matéria e do tempo.
A competência possui como características:
Requisitos a) Exercício obrigatório: pelos órgãos e agentes públicos, uma
A lei da Ação Popular, Lei nº 4.717/1965, aponta a existência vez que se trata de um poder-dever de ambos.
de cinco requisitos do ato administrativo. São eles: competência, b) Irrenunciável ou inderrogável: isso ocorre, seja pela vonta-
finalidade, forma, motivo e objeto. É importante esclarecer que a de da Administração, ou mesmo por acordo com terceiros, uma vez
falta ou o defeito desses elementos pode resultar. que é estabelecida em decorrência do interesse público. Exemplo:
De acordo com o a gravidade do caso em consideração, em diante de um excessivo aumento da ocorrência de crimes graves e
simples irregularidade com possibilidade de ser sanada, invalidan- da sua diminuição de pessoal, uma delegacia de polícia não poderá
do o ato do ato, ou até mesmo o tornando inexistente. jamais optar por não mais registrar boletins de ocorrência relativos
No condizente à competência, no sentido jurídico, esta palavra a crimes considerados menos graves.
designa a prerrogativa de poder e autorização de alguém que está c) Intransferível: não pode ser objeto de transação ou acordo
legalmente autorizado a fazer algo. Da mesma maneira, qualquer com o fulcro de ser repassada a responsabilidade a outra pessoa.
pessoa, ainda que possua capacidade e excelente rendimento para Frise-se que a delegação de competência não provoca a transfe-
fazer algo, mas não alçada legal para tal, deve ser considerada in- rência de sua titularidade, porém, autoriza o exercício de deter-
competente em termos jurídicos para executar tal tarefa. minadas atribuições não exclusivas da autoridade delegante, que
Pensamento idêntico é válido para os órgãos e entidades pú- poderá, conforme critérios próprios e a qualquer tempo, revogar a
blicas, de forma que, por exemplo, a Agência Nacional de Aviação delegação.
Civil (ANAC) não possui competência para conferir o passaporte e d) Imodificável: não admite ser modificada por ato do agente,
liberar a entrada de um estrangeiro no Brasil, tendo em vista que o quando fixada pela lei ou pela Constituição, uma vez que somente
controle de imigração brasileiro é atividade exclusiva e privativa da estas normas poderão alterá-la.
Polícia Federal.
e) Imprescritível: o agente continua competente, mesmo que
Nesse sentido, podemos conceituar competência como sendo
não tenha sido utilizada por muito tempo.
o acoplado de atribuições designadas pelo ordenamento jurídico às
f) Improrrogável: com exceção de disposição expressa prevista
pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos, com o fito de facilitar
em lei, o agente incompetente não passa a ser competente pelo
o desempenho de suas atividades.
mero fato de ter praticado o ato ou, ainda, de ter sido o primeiro a
A competência possui como fundamento do seu instituto a di-
tomar conhecimento dos fatos que implicariam a motivação de sua
visão do trabalho com ampla necessidade de distribuição do con-
prática.
junto das tarefas entre os agentes públicos. Desta forma, a distri-
buição de competências possibilita a organização administrativa
do Poder Público, definindo quais as tarefas cabíveis a cada pessoa Cabem dentro dos critérios de competência a delegação e a
política, órgão ou agente. avocação, que podem ser definidas da seguinte forma:
Relativo à competência com aplicação de multa por infração à a) Delegação de competência: trata-se do fenômeno por in-
legislação do imposto de renda, dentre as pessoas políticas, a União termédio do qual um órgão administrativo ou um agente público
é a competente para instituir, fiscalizar e arrecadar o imposto e tam- delega a outros órgãos ou agentes públicos a tarefa de executar
bém para estabelecer as respectivas infrações e penalidades. Já em parte das funções que lhes foram atribuídas. Em geral, a delegação
relação à instituição do tributo e cominação de penalidades, que é transferida para órgão ou agente de plano hierárquico inferior.
é de competência do legislativo, dentre os Órgãos Constitucionais No entanto, a doutrina contemporânea considera, quando justifi-
da União, o Órgão que possui tal competência, é o Congresso Na- cadamente necessário, a admissão da delegação fora da linha hie-
cional no que condizente à fiscalização e aplicação das respectivas rárquica.
penalidades. Considera-se ainda que o ato de delegação não suprime a atri-
buição da autoridade delegante, que continua competente para o
exercício das funções cumulativamente com a autoridade a que foi
delegada a função. Entretanto, cada agente público, na prática de

38
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
atos com fulcro nos poderes que lhe foram atribuídos, agirá sempre te estabelecidas para órgãos ou agentes hierarquicamente inferio-
em nome próprio e, respectivamente irá responder por seus atos. res. Diferentemente da delegação, não cabe avocação fora da linha
Por todas as decisões que tomar. Do mesmo modo, adotando de hierarquia, posto que a utilização do instituto é dependente de
cautelas parecidas, a autoridade delegante da ação também pode- poder de vigilância e controle nas relações hierarquizadas.
rá revogar a qualquer tempo a delegação realizada anteriormen- Vejamos a diferença entre a avocação com revogação de dele-
te. Desta maneira, a regra geral é a possibilidade de delegação de gação:
competências, só deixando esta de ser possível se houver quaisquer
impedimentos legais vigentes. • Na avocação, sendo sua providência de forma excepcional e
temporária, nos termos do art. 15 da Lei 9.787/1999, a competên-
É importante conhecer a respeito da delegação de competên- cia é de forma originária e advém do órgão ou agente subordinado,
cia o disposto na Lei 9.784/1999, Lei do Processo Administrativo sendo que de forma temporária, passa a ser exercida pelo órgão ou
Federal, que tendo tal norma aplicada somente no âmbito federal, autoridade avocante.
incorporou grande parte da orientação doutrinária existente, dis- • Já na revogação de delegação, anteriormente, a competên-
pondo em seus arts. 11 a 14: cia já era de forma original da autoridade ou órgão delegante, que
achou por conveniência e oportunidade revogar o ato de delega-
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos
ção, voltando, por conseguinte a exercer suas atribuições legais por
administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de
cunho de mão própria.
delegação e avocação legalmente admitidos.
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não
Finalmente, adverte-se que, apesar de ser um dever ser exer-
houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a ou-
cido com autocontrole, o poder originário de avocar competência
tros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquica-
também se constitui em regra na Administração Pública, uma vez
mente subordinados, quando for conveniente, em razão de circuns-
que é inerente à organização hierárquica como um todo. Entretan-
tâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
to, conforme a doutrina de forma geral, o órgão superior não pode
Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à
delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos avocar a competência do órgão subordinado em se tratando de
presidentes. competências exclusivas do órgão ou de agentes inferiores atribuí-
Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: das por lei. Exemplo: Secretário de Segurança Pública, mesmo es-
I - a edição de atos de caráter normativo; tando alguns degraus hierárquicos acima de todos os Delegados da
II - a decisão de recursos administrativos; Polícia Civil, não poderá jamais avocar para si a competência para
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autori- presidir determinado inquérito policial, tendo em vista que esta
dade. competência é exclusiva dos titulares desses cargos.
Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publi- Não convém encerrar esse tópico acerca da competência sem
cados no meio oficial. mencionarmos a respeito dos vícios de competência que é concei-
§ 1º O ato de delegação especificará as matérias e poderes tuado como o sofrimento de algum defeito em razão de problemas
transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os ob- com a competência do agente que o pratica que se subdivide em:
jetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva a) Excesso de poder: acontece quando o agente que pratica o
de exercício da atribuição delegada. ato acaba por exceder os limites de sua competência, agindo além
§ 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela das providências que poderia adotar no caso concreto, vindo a pra-
autoridade delegante. ticar abuso de poder. O vício de excesso de poder nem sempre po-
§ 3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar derá resultar em anulação do ato administrativo, tendo em vista
explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo de- que em algumas situações será possível convalidar o ato defeituoso.
legado. b) Usurpação de função: ocorre quando uma pessoa exerce
Convém registrar que a delegação é ato discricionário, que atribuições próprias de um agente público, sem que tenha esse
leva em conta para sua prática circunstâncias de índole técnica, so- atributo ou competência. Exemplo: uma pessoa que celebra casa-
cial, econômica, jurídica ou territorial, bem como é ato revogável mentos civis fingindo ser titular do cargo de juiz.
a qualquer tempo pela autoridade delegante, sendo que o ato de c) Função de fato: ocorre quando a pessoa que pratica o ato
delegação bem como a sua revogação deverão ser expressamente está irregularmente investida no cargo, emprego ou função pública
publicados no meio oficial, especificando em seu ato as matérias e ou ainda que, mesmo devidamente investida, existe qualquer tipo
poderes delegados, os parâmetros de limites da atuação do delega- de impedimento jurídico para a prática do ato naquele momento.
do, o recurso cabível, a duração e os objetivos da delegação. Na função de fato, o agente pratica o ato num contexto que tem
toda a aparência de legalidade. Por esse motivo, em decorrência da
Importante ressaltar: teoria da aparência, desde que haja boa-fé do administrado, esta
Súmula 510 do STF: Praticado o ato por autoridade, no exercí- deve ser respeitada, devendo, por conseguinte, ser considerados
cio de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segu- válidos os atos, como se fossem praticados pelo funcionário de fato.
rança ou a medida judicial. Em suma, temos:
Com fundamento nessa orientação, o STF decidiu no julgamen- Relativo à finalidade, denota-se que a finalidade pública é uma
to do MS 24.732 MC/DF, que o foro da autoridade delegante não das características do princípio da impessoalidade. Nesse diapasão,
poderá ser transmitido de forma alguma à autoridade delegada. a Administração não pode atuar com o objetivo de beneficiar ou
Desta forma, tendo sido o ato praticado pela autoridade delegada, prejudicar determinadas pessoas, tendo em vista que seu compor-
todas e quaisquer medidas judiciais propostas contra este ato deve- tamento deverá sempre ser norteado pela busca do interesse públi-
rão respeitar o respectivo foro da autoridade delegada. co. Além disso, existe determinada finalidade típica para cada tipo
de ato administrativo.
Seguindo temos:
a) Avocação: trata-se do fenômeno contrário ao da delegação e
se resume na possibilidade de o superior hierárquico trazer para si
de forma temporária o devido exercício de competências legalmen-

39
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Assim sendo, identifica-se no ato administrativo duas espécies tido de formas rígidas e solenes, mas é imprescindível que ele seja
de finalidade pública. São elas: escrito. Ainda assim, tal exigência, não é absoluta, tendo em vista
a) Geral ou mediata: consiste na satisfação do interesse públi- que em alguns casos, via de regra, o agente público tem a possibi-
co considerado de forma geral. lidade de se manifestar de outra forma, como acontece nas ordens
b) Pública específica ou imediata: é o resultado específico pre- verbais transmitidas de forma emergencial aos subordinados, ou,
visto na lei, que deve ser alcançado com a prática de determinado ainda, por exemplo, quando um agente de trânsito transmite orien-
ato. tações para os condutores de veículos através de silvos e gestos.
Está relacionada ao atributo da tipicidade, por meio do qual a Pondera-se ainda, que o ato administrativo é denominado vício
lei dispõe uma finalidade a ser alcançada para cada espécie de ato. de forma quando é enviado ou emitido sem a obediência à forma e
sem cumprimento das formalidades previstas em lei. Via de regra,
Destaca-se que o descumprimento de qualquer dessas finali- considera-se plenamente possível a convalidação do ato adminis-
dades, seja geral ou específica, resulta no vício denominado desvio trativo que contenha vício de forma. No entanto, tal convalidação
de poder ou desvio de finalidade. O desvio de poder é vício que não não será possível nos casos em que a lei estabelecer que a forma é
pode ser sanado, e por esse motivo, não pode ser convalidado. requisito primordial à validade do ato.
A Lei de Ação Popular, Lei 4.717/1965 em seu art. 2º, parágra- Devemos explanar também que a motivação declarada e escri-
fo único, alínea e, estabelece que “o desvio de finalidade se veri- ta dos motivos que possibilitaram a prática do ato, quando for de
fica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele caráter obrigatório, integra a própria forma do ato. Desta maneira,
previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”. quando for obrigatória, a ausência de motivação enseja vício de for-
Destaque-se que por via de regra legal atributiva de competência ma, mas não vício de motivo.
estatui de forma explícita ou implicitamente, os fins que devem ser Porém, de forma diferente, sendo o motivo declinado pela au-
seguidos e obedecidos pelo agente público. Caso o ato venha a ser toridade e comprovadamente ilícito ou falso, o vício consistirá no
praticado visando a fins diversos, verificar-se-á a presença do vício elemento motivo.
de finalidade.
O desvio de finalidade, segundo grandes doutrinadores, se ve- Motivo
rifica em duas hipóteses. São elas: O motivo diz respeito aos pressupostos de fato e de direito que
a) o ato é formalmente praticado com finalidade diversa da estabelecem ou autorizam a edição do ato administrativo.
prevista por lei. Exemplo: remover um funcionário com o objetivo Quando a autoridade administrativa não tem margem para de-
de punição. cidir a respeito da conveniência e oportunidade para editar o ato
b) ocorre quando o ato, mesmo formalmente editado com a administrativo, diz-se que este é ato vinculado. No condizente ao
finalidade legal, possui, na prática, o foco de atender a fim de inte- ato discricionário, como há espaço de decisão para a autoridade
resse particular da autoridade. Exemplo: com o objetivo de perse- administrativa, a presença do motivo simplesmente autoriza a prá-
guir inimigo, ocorre a desapropriação de imóvel alegando interesse tica do ato.
público. Nesse diapasão, existem também o motivo de direito que se
trata da abstrata previsão normativa de uma situação que ao ser
Em resumo, temos: verificada no mundo concreto que autoriza ou determina a prática
do ato, ao passo que o motivo de fato é a concretização no mundo
Específica ou Imediata e empírico da situação prevista em lei.
FINALIDADE PÚBLICA Assim sendo, podemos esclarecer que a prática do ato adminis-
Geral ou Mediata
trativo depende da presença adjunta dos motivos de fato e de direi-
Ato praticado com finalidade di- to, posto que para isso, são imprescindíveis à existência abstrata de
versa da prevista em Lei. previsão normativa bem como a ocorrência, de fato concreto que
e se integre à tal previsão.
DESVIO DE FINALIDADE
Ato praticado formalmente com De acordo com a doutrina, o vício de motivo é passível de ocor-
OU DESVIO DE PODER
finalidade prevista em Lei, porém, rer nas seguintes situações:
visando a atender a fins pessoais a) quando o motivo é inexistente.
de autoridade. b) quando o motivo é falso.
c) quando o motivo é inadequado.
Concernente à forma, averígua-se na doutrina duas formas dis-
tintas de definição como requisito do ato administrativo. São elas: É de suma importância estabelecer a diferença entre motivo e
A) De caráter mais restrito, demonstrando que a forma é o motivação. Vejamos:
modo de exteriorização do ato administrativo. • Motivo: situação que autoriza ou determina a produção do
B) Considera a forma de natureza mais ampla, incluindo no ato administrativo. Sempre deve estar previsto no ato administrati-
conceito de forma apenas o modo de exteriorização do ato, bem vo, sob pena de nulidade, sendo que sua ausência de motivo legíti-
como todas as formalidades que devem ser destacadas e observa- mo ou ilegítimo é causa de invalidação do ato administrativo.
das no seu curso de formação. • Motivação: é a declinação de forma expressa do motivo, sen-
Ambas as acepções estão meramente corretas, cuidando-se do a declaração das razões que motivaram à edição do ato. Já a mo-
simplesmente de modos diferentes de examinar a questão, sendo tivação declarada e expressa dos motivos dos atos administrativos,
que a primeira analisa a forma do ato administrativo sob o aspecto via de regra, nem sempre é exigida. Porém, se for obrigatória pela
exterior do ato já formado e a segunda, analisa a dinâmica da for- lei, sua ausência causará invalidade do ato administrativo por vício
mação do ato administrativo. de forma, e não de motivo.

Via de regra, no Direito Privado, o que prevalece é a liberdade Convém ressaltar que a Lei 9.784/1999, que regulamenta o
de forma do ato jurídico, ao passo que no Direito Público, a regra é processo administrativo na esfera federal, dispõe no art. 50, o se-
o formalismo moderado. O ato administrativo não precisa ser reves- guinte:

40
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com — Só é aplicada apenas se o ato conter motivação.
indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: — STJ: “Não se decreta a invalidade de um ato administrativo
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; quando apenas um, entre os diversos motivos determinantes, não
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; está adequado à realidade fática”.
III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção
pública; Objeto
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo lici- O objeto do ato administrativo pode ser conceituado como
tatório; sendo o efeito jurídico imediato produzido pelo ato. Em outras pala-
V - decidam recursos administrativos; vras, podemos afirmar que o objeto do ato administrativo cuida-se
VI - decorram de reexame de ofício; da alteração da situação jurídica que o ato administrativo se propõe
VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão a realizar. Desta forma, no ato impositivo de multa, por exemplo, o
ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; objeto é a punição do transgressor.
VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalida- Para que o ato administrativo tenha validade, seu objeto deve
ção de ato administrativo. ser lícito, possível, certo e revestido de moralidade conforme os pa-
drões aceitos como éticos e justos.
Prevê a mencionada norma em seu § 1º, que a motivação deve Havendo o descumprimento dessas exigências, podem incidir
ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração os esporádicos vícios de objeto dos atos administrativos. Nesse sen-
de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, infor- tido, podemos afirmar que serão viciados os atos que possuam os
mações, decisões ou propostas, que, nesse caso, serão parte inte- seguintes objetos, seguidos com alguns exemplos:
grante do ato. Tal hipótese é denominada pela doutrina de “motiva- a) Objeto lícito: punição de um servidor público com suspen-
ção aliunde” que significa motivação “em outro local”, mas que está são por prazo superior ao máximo estabelecido por lei específica.
sendo admitida no direito brasileiro. b) Objeto impossível: determinação aos subordinados para
evitar o acontecimento de chuva durante algum evento esportivo.
A motivação dos atos administrativos c) Objeto incerto: em ato unificado, a suspensão do direito de
É a teoria dos motivos determinantes. Convém explicitar a res- dirigir das pessoas que por ventura tenham dirigido alcoolizadas
peito da motivação dos atos administrativo e da teoria dos motivos nos últimos 12 meses, tanto as que tenham sido abordadas por au-
determinantes que se baseia na ideia de que mesmo a lei não exi- toridade pública ou flagradas no teste do bafômetro.
gindo a motivação, se o ato administrativo for motivado, ele só terá d) Objeto moral: a autorização concedida a um grupo de pes-
validade se os motivos declarados forem verdadeiros. soas específicas para a ocupação noturna de determinado trecho
de calçada para o exercício da prostituição. Nesse exemplo, o objeto
Exemplo é tido como imoral.
A doutrina cita o caso do ato de exoneração ad nutum de ser-
vidor ocupante de cargo comissionado, uma vez que esse tipo de Atributos do Ato Administrativo
ato não exige motivação. Entretanto, caso a autoridade competente Tendo em vista os pormenores do regime jurídico de direito
venha a alegar que a exoneração transcorre da falta de pontualida- público ou regime jurídico administrativo, os atos administrativos
de habitual do comissionado, a validade do ato exoneratório virá são dotados de alguns atributos que os se diferenciam dos atos pri-
a ficar na dependência da existência do motivo declarado. Já se o vados.
interessado apresentar a folha de ponto comprovando sua pontua- Acontece que não há unanimidade doutrinária no condizente
lidade, a exoneração, seja por via administrativa ou judicial, deverá ao rol desses atributos. Entretanto, para efeito de conhecimento,
ser anulada. bem como a enumeração que tem sido mais cobrada em concursos
É importante registrar que a teoria dos motivos determinantes públicos, bem como em teses, abordaremos o conceito utilizado
pode ser aplicada tanto aos atos administrativos vinculados quanto pela Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro.
aos discricionários, para que o ato tenha sido motivado. Nos dizeres da mencionada administrativista, os atributos dos
Em suma, temos: atos administrativos são:

• Motivo do ato administrativo • Presunção de legitimidade


— Definição: pressuposto de fato e direito que fundamenta a Decorre do próprio princípio da legalidade e milita em favor dos
edição do ato administrativo. atos administrativos. É o único atributo presente em todos os atos
— Motivo de Direito: é a situação prevista na lei, de forma abs- administrativos. Pelo fato de a administração poder agir somente
trata que autoriza ou determina a prática do ato administrativo. quando autorizada por lei, presume-se, por conseguinte que se a
— Motivo de fato: circunstância que se realiza no mundo real administração agiu e executou tal ato, observando os parâmetros
que corresponde à descrição contida de forma abstrata na lei, ca- legais. Desta forma, em decorrência da presunção de legitimidade,
racterizando o motivo de direito. os atos administrativos presumem-se editados em conformidade
com a lei, até que se prove o contrário.
VÍCIOS DE MOTIVO DO ATO ADMINISTRATIVO De forma parecida, por efeito dos princípios da moralidade e
da legalidade, quando a administração alega algo, presume-se que
Inexistente suas alegações são verdadeiras. É o que a doutrina conceitua como
Falso presunção de veracidade dos atos administrativos que se cuida da
presunção de que o ato administrativo foi editado em conformida-
Inadequado
de com a lei, gerando a desconfiança de que as alegações produzi-
das pela administração são verdadeiras.
• Teoria dos motivos determinantes As presunções de legitimidade e de veracidade são elementos
— O ato administrativo possui sua validade vinculada aos moti- e qualificadoras presentes em todos os atos administrativos. No
vos expostos mesmo que não seja exigida a motivação. entanto, ambas serão sempre relativas ou juris tantum, podendo

41
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
ser afastadas em decorrência da apresentação de prova em sentido Tipicidade
contrário. Assim sendo, se o administrado se sentir prejudicado por De antemão, infere-se que a maior parte dos autores não cita
algum ato que refutar ilegal ou fundado em mentiras, poderá sub- a tipicidade como atributo do ato administrativo. Isso ocorre pelo
metê-lo ao controle pela própria administração pública, bem como fato de tal característica não estabelecer um privilégio da adminis-
pelo Judiciário. Já se o órgão provocado alegar que a prática não tração, mas sim uma restrição. Se adotarmos o entendimento de
está em conformidade com a lei ou é fundada em alegações falsas, que a título de “atributos” devemos estudar as particularidades dos
poderá proclamará a nulidade do ato, desfazendo os seus efeitos. atos administrativos que os divergem dos demais atos jurídicos, de-
Denota-se que a principal consequência da presunção de vera- veremos incluir a tipicidade na lista. Entretanto, se entendermos
cidade é a inversão do ônus da prova. Nesse sentido, relembremos que apenas são considerados atributos as prerrogativas que aca-
que em regra, segundo os parâmetros jurídicos, o dever de provar bam por verticularizar as relações jurídicas nas quais a administra-
é de quem alega o fato a ser provado. Desta maneira, se o particu- ção toma parte, a tipicidade não poderia ser considerada.
lar “X” alega que o particular “Y” cometeu ato ilícito em prejuízo Nos termos da primeira corrente, para a Professora Maria Syl-
do próprio “X”, incumbe a “X” comprovar o que está alegando, de via Zanella Di Pietro, a “tipicidade é o atributo pelo qual o ato admi-
maneira que, em nada conseguir provar os fatos, “Y” não poderá nistrativo deve corresponder a figuras definidas previamente pela
ser punido. lei como aptas a produzir determinados resultados”. Assim sendo,
em consonância com esse atributo, para cada finalidade que a Ad-
• Imperatividade ministração Pública pretender alcançar, deverá haver um ato pre-
Em decorrência desse do atributo, os atos administrativos são viamente definido na lei.
impostos pelo Poder Público a terceiros, independentemente da Denota-se que a tipicidade é uma consequência do princípio
concordância destes. Infere-se que a imperatividade é provenien- da legalidade. Esse atributo não permite à Administração praticar
te do poder extroverso do Estado, ou seja, o Poder Público poderá atos em desacordo com os parâmetros legais, motivo pelo qual o
editar atos, de modo unilateral e com isso, constituir obrigações atributo da tipicidade é considerado como uma ideia contrária à da
para terceiros. A imperatividade representa um traço diferenciado autonomia da vontade, por meio da qual o particular tem liberda-
em relação aos atos de direito privado, uma vez que estes somente de para praticar atos desprovidos de disciplina legal, inclusive atos
possuem o condão de obrigar os terceiros que manifestarem sua inominados.
expressa concordância. Ainda nos trâmites com o entendimento exposto, ressalta-se
Entretanto, nem todo ato administrativo possui imperativida- que a tipicidade só existe nos atos unilaterais, não se encontran-
de, característica presente exclusivamente nos atos que impõem do presente nos contratos. Isso ocorre porque não existe qualquer
obrigações ou restrições aos administrados. Pelo contrário, se o ato impedimento de ordem jurídica para que a Administração venha a
administrativo tiver por objetivo conferir direitos, como por exem- firmar com o particular um contrato inominado desprovido de regu-
plo: licença, admissão, autorização ou permissão, ou, ainda, quan- lamentação legal, desde que esta seja a melhor maneira de atender
do possuir conteúdo apenas enunciativo como certidão, atestado tanto ao interesse público como ao interesse particular.
ou parecer, por exemplo, não haverá imperatividade.
Classificação dos Atos Administrativos
• Autoexecutoriedade A Doutrina não é uniforme no que condiz à atribuição dada
Consiste na possibilidade de os atos administrativos serem exe- à diversidade dos critérios adotados com esse objetivo. Por esse
cutados diretamente pela Administração Pública, por intermédio de motivo, sem esgotar o assunto, apresentamos algumas classifica-
meios coercitivos próprios, sem que seja necessário a intervenção ções mais relevantes, tanto no que se refere a uma maior utilidade
prévia do Poder Judiciário. prática na análise dos regimes jurídicos, tanto pela concomitante
Esse atributo é decorrente do princípio da supremacia do inte- abordagem nas provas de concursos públicos.
resse público, típico do regime de direito administrativo, fato que
acaba por possibilitar a atuação do Poder Público no condizente à a) Em relação aos destinatários: atos gerais e individuais. Os
rapidez e eficiência. atos gerais ou normativos, são expedidos sem destinatários deter-
No entender de Maria Sylvia Zanella Di Pietro, a autoexecuto- minados ou determináveis e aplicáveis a todas as pessoas que de
riedade somente é possível quando estiver expressamente previs- uma forma ou de outra se coloquem em situações concretas que
ta em lei, ou, quando se tratar de medida urgente, que não sendo correspondam às situações reguladas pelo ato. Exemplo: o Regula-
adotada de imediato, ocasionará, por sua vez, prejuízo maior ao mento do Imposto de Renda.
interesse público.
• Atos individuais ou especiais: são dirigidos a destinatários
EXEMPLOS DE ATOS ADMINISTRATIVOS AUTOEXECUTÓRIOS individualizados, podendo ser singulares ou plúrimos. Sendo que
será singular quando alcançar um único sujeito determinado e será
Apreensão de mercadorias impróprias para o consumo humano plúrimo, quando for designado a uma pluralidade de sujeitos deter-
Demolição de edifício em situação de risco minados em si.
Internação de pessoa com doença contagiosa
Exemplo:
Dissolução de reunião que ameace a segurança O decreto de desapropriação que atinja um único imóvel. Por
outro lado, como hipótese de ato individual plúrimo, cita-se: o ato
Por fim, ressalta-se que o princípio da inafastabilidade da pres- de nomeação de servidores em forma de lista. Quanto aos desti-
tação jurisdicional possui o condão de garantir ao particular que natários: ATOS GERAIS, ATOS INDIVIDUAIS, SINGULARES PLÚRIMOS
considere que algum direito seu foi lesionado ou ameaçado, possa
livremente levar a questão ao Poder Judiciário em busca da defesa b) Em relação ao grau de liberdade do agente, os atos podem
dos seus direitos. ser atos vinculados e discricionários.
• Os atos vinculados são aqueles nos quais a Administração
Pública fica sem liberdade de escolha, nos quais, desde que com-

42
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
provados os requisitos legais, a edição do ato se torna obrigatória, Ademais, é importante explicar a definição de Hely Lopes Mei-
nos parâmetros previstos na lei. Exemplo: licença para a construção relles, para quem o ato administrativo composto “é o que resulta da
de imóvel. vontade única de um órgão, mas depende da verificação por parte
• Já os discricionários são aqueles em que a Administração de outro, para se tornar exequível”. A mencionada definição, em-
Pública possui um pouco mais de liberdade para, em consonância bora seja discutível, vem sendo muito utilizada pelas bancas exa-
com critérios subjetivos de conveniência e oportunidade, tomar de- minadoras na elaboração de questões de provas de concurso pú-
cisões quando e como o ato será praticado, com a definição de seu blico. Isso ocorreu na aplicação da prova para Assistente Jurídico
conteúdo, destinatários, a motivação e a forma de sua prática. do DF, elaborada pelo CESPE em 2001, que foi considerado correto
o seguinte tópico: “Ao ato administrativo cuja prática dependa de
c) Em relação às prerrogativas da Administração, os atos admi- vontade única de um órgão da administração, mas cuja exequibili-
nistrativos podem ser atos de império, de gestão e de expediente. dade dependa da verificação de outro órgão, dá-se o nome de ato
• Atos de império são atos por meio dos quais a Administração administrativo composto”.
Pública pratica no uso das prerrogativas tipicamente estatais usan-
do o poder de império para impô-los de modo unilateral e coerciti- Espécies
vo aos seus administrados. Exemplo: interdição de estabelecimen- O saudoso jurista Hely Lopes Meirelles propõe que os atos
tos comerciais. administrativos sejam divididos em cinco espécies. São elas: atos
normativos, atos ordinatórios, atos negociais, atos enunciativos e
d) Em relação aos atos de gestão, são atos por meio dos quais atos punitivos.
a Administração Pública atua sem o uso das prerrogativas prove-
nientes do regime jurídico administrativo. Exemplo: atos de admi- Atos normativos
nistração dos bens e serviços públicos e dos atos negociais com os Os atos normativos são aqueles cuja finalidade imediata é es-
particulares. miuçar os procedimentos e comportamentos para a fiel execução
Quando praticados de forma regular os atos de gestão, passam da lei, posto que as dispostas e utilizadas por tais atos são gerais,
a ter caráter vinculante e geram direitos subjetivos. não possuem destinatários específicos e determinados, e abstratas,
versando sobre hipóteses e nunca sobre casos concretos.
Exemplo:
Uma autarquia ao alugar um imóvel a ela pertencente, de for- Em relação à forma jurídica adotada, os atos normativos po-
ma vinculante entre a administração e o locatário aos termos do dem ser:
contrato, acaba por gerar direitos e deveres para ambos. a) Decreto: é ato administrativo de competência privativa dos
• Já os atos de expediente são tidos como aqueles que im- chefes do Poder Executivo utilizados para regulamentar situação
pulsionam a rotina interna da repartição, sem caráter vinculante e geral ou individual prevista na legislação, englobando também de
sem forma especial, cujo objetivo é dar andamento aos processos e forma ampla, o decreto legislativo, cuja competência é privativa das
papéis que tramitam internamente nos órgãos públicos. Casas Legislativas.
O decreto é de suma importância no direito brasileiro, moti-
Exemplo: vo pelo qual, de acordo com seu conteúdo, os decretos podem ser
Um despacho com o teor: “ao setor de contabilidade para as classificados em decreto geral e individual. Vejamos:
devidas análises”. b) Decreto geral: possui caráter normativo veiculando regras
gerais e abstratas, fato que visa facilitar ou detalhar a correta apli-
e) Quanto à formação, os atos administrativos podem ser atos cação da Lei. Exemplo: o decreto que institui o “Regulamento do
simples, complexos e compostos. Imposto de Renda”.
• O ato simples decorre da declaração de vontade de apenas c) Decreto individual: seu objetivo é tratar da situação específi-
um órgão da administração pública, pouco importando se esse ór- ca de pessoas ou grupos determinados, sendo que a sua publicação
gão é unipessoal ou colegiado. Assim sendo, a nomeação de um produz de imediato, efeitos concretos.
servidor público pelo Prefeito de um Município, será considerada
como ato simples singular, ao passo que a decisão de um processo Exemplo:
administrativo por órgão colegiado será apenas ato simples cole- Decreto que declara a utilidade pública de determinado bem
giado. para fim de desapropriação.
• O ato complexo é constituído pela manifestação de dois ou Nesse ponto, passaremos a verificar a respeito do decreto re-
mais órgãos, por meio dos quais as vontades se unem em todos os gulamentar, também designado de decreto de execução. A doutrina
sentidos para formar um só ato. Exemplo: um decreto assinado pelo o conceitua como sendo aquele que introduz um regulamento, não
Presidente da República e referendado pelo Ministro de Estado. permitindo que o seu conteúdo e o seu alcance possam ir além da-
É importante não confundir ato complexo com procedimento queles do que é permitido por Lei.
administrativo. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, “no ato com- Por sua vez, o decreto autônomo é aquele que dispõe sobre
plexo integram-se as vontades de vários órgãos para a obtenção de matéria não regulada em lei, passando a criar um novo direito. Pon-
um mesmo ato, ao passo que no procedimento administrativo pra- dera-se que atualmente, as únicas hipóteses de decreto autônomo
ticam-se diversos atos intermediários e autônomos para a obtenção admitidas no direito brasileiro, são as disposta no art. 84, VI, “a”, da
de um ato final e principal”. Constituição Federal, incluída pela Emenda Constitucional 32/2001,
que predispõe a competência privativa do Presidente da República
f) Em relação ao ato administrativo composto, pondera que para dispor, mediante decreto, sobre a organização e
este também decorre do resultado da manifestação de vontade de Funcionamento da administração federal, quando não incorrer
dois ou mais órgãos. O que o diferencia do ato complexo é o fato de em aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públi-
que, ao passo que no ato complexo as vontades dos órgãos se unem cos.
para formar um só ato, no ato composto são praticados dois atos,
um principal e outro acessório.

43
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Extinção do ato administrativo Em relação à competência, a anulação do ato administrativo
Diversas são as causas que causam e determinam a extinção viciado pode ser promovida tanto pela Administração como pelo
dos atos administrativos ou de seus efeitos. No entendimento de Poder Judiciário.
Celso Antônio Bandeira de Mello, o ato administrativo eficaz poderá Muitas vezes, a Administração anula o seu próprio ato. Quando
ser extinto pelos seguintes motivos: cumprimento de seus efeitos, isso acontece, dizemos que ela agiu com base no seu poder de au-
vindo a se extinguir naturalmente; desaparecimento do sujeito, totutela, devidamente paramentado nas seguintes Súmulas do STF:
vindo a causar a extinção subjetiva, ou sendo do objeto, extinção
objetiva; retirada do ato pelo Poder Público e pela renúncia do be-
neficiário. PODER DE AUTOTUTELA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A Administração Pública pode declarar
SÚMULA 346
Nesse tópico trataremos do condizente a outras situações por a nulidade dos seus próprios atos.
meio das quais a extinção do ato administrativo ou de seus efeitos A Administração pode anular seus pró-
ocorre pelo fato do Poder Público ter emitido novo ato que surtiu prios atos, quando eivados de vícios
efeito extintivo sobre o ato anterior. Isso pode ocorrer nas seguintes
que os tornam ilegais, porque deles
situações:
não se originam direitos; ou revogá-
SÚMULA 473 -los, por motivo de conveniência ou
Cassação
oportunidade, respeitados os direitos
É a supressão do ato pelo fato do destinatário ter descumprido
adquiridos, e ressalvada, em todos os
condições que deveriam permanecer atendidas com o fito de dar
casos, a apreciação judicial.
continuidade à0situação jurídica. Como modalidade de extinção
do ato administrativo, a cassação relaciona-se ao ato que, mesmo
sendo legítimo na sua origem e formação, tornou-se ilegal na sua Assim, percebe-se que o instituto da autotutela pode ser in-
execução. Exemplo: cassação de uma licença para funcionamento vocado para anular o ato administrativo por motivo de ilegalidade,
de hotel que passou a funcionar ilegalmente como casa de prosti-
bem como para revogá-lo por razões de conveniência e oportuni-
tuição.
dade.
A anulação do ato administrativo pode se dar de ofício ou por
Vale ressaltar que um dos principais requisitos da cassação de
um ato administrativo é a preeminente necessidade de sua vincu- provocação do interessado.
lação obrigatória às hipóteses previstas em lei ou norma similar. Tendo em vista o princípio da inércia Poder Judiciário, no exer-
Desta forma, a Administração Pública não detém o poder de de- cício de função jurisdicional, este apenas poderá anular o ato admi-
monstrar ou indicar motivos diferentes dos previstos para justificar nistrativo havendo pedido do interessado.
a cassação, estando, desta maneira, limitada ao que houver sido Destaque-se que a anulação de ato administrativo pela própria
fixado nas referidas leis ou normas similares. Esse entendimento, Administração, somente pode ser realizada dentro do prazo legal-
em geral, evita que os particulares sejam coagidos a conviver com mente estabelecido. À vista da autonomia administrativa atribuída
extravagante insegurança jurídica, posto que, a qualquer momento de forma igual à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, cada
a administração estaria apta a propor a cassação do ato adminis- uma dessas esferas tem a possibilidade de, observado o princípio
trativo. da razoabilidade e mediante legislação própria, fixar os prazos para
Relativo à sua natureza jurídica, sendo a cassação considerada o exercício da autotutela.
como um ato sancionatório, uma vez que a cassação só poderia ser
proposta contra particulares que tenham sido flagrados pelos agen- Em decorrência do disposto no art. 54 da Lei 9.784/1999, no
tes de fiscalização em descumprimento às condições de subsistên- âmbito federal, em razão do direito de a Administração anular os
cia do ato, bem como por ato revisional que implicasse auditoria, atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os
acoplando até mesmo questões relativas à intercepção de bases de destinatários de boa-fé, o prazo de anulação decai em cinco anos,
dados públicas. contados da data em que foram praticados. Infere-se que como tal
Vale ressaltar que a cassação e a anulação possuem efeitos pa- norma não possui caráter nacional, não há impedimentos para a
recidos, porém não são equivalentes, uma vez que a cassação ad- estipulação de prazos diferentes em outras esferas.
vém do não cumprimento ou alteração dos requisitos necessários
para a formação ou manutenção de uma situação jurídica, ao passo Revogação
que a anulação tem parte quando é verificado que o defeito do ato É a extinção do ato administrativo válido, promovido pela pró-
ocorreu na formação do ato. pria Administração, por motivos de conveniência e oportunidade,
sendo que o ato é suprimido pelo Poder Público por motivações de
Anulação
conveniência e oportunidade, sempre relacionadas ao atendimento
É a retirada ou supressão do ato administrativo, pelo motivo
do interesse público. Assim, se um ato administrativo legal e per-
de ele ter sido produzido com ausência de conformidade com a lei
feito se torna inconveniente ao interesse público, a administração
e com o ordenamento jurídico. A anulação é resultado do controle
de legalidade ou legitimidade do ato. O controle de legalidade ou pública poderá suprimi-lo por meio da revogação.
legitimidade não permite que se aprofunde na análise do mérito do A revogação resulta de um controle de conveniência e oportu-
ato, posto que, se a Administração contiver por objetivo retirar o nidade do ato administrativo promovido pela própria Administra-
ato por razões de conveniência e oportunidade, deverá, por conse- ção que o editou.
guinte, revogá-lo, e não o anular. É fundamental compreender que a revogação somente pode
Diferentemente da revogação, que mantém incidência somen- atingir os atos administrativos discricionários. Isso ocorre por que
te sobre atos discricionários, a anulação pode atingir tanto os atos quando a administração está à frente do motivo que ordena a prá-
discricionários quanto os vinculados. Isso que é explicado pelo fato tica do ato vinculado, ela deve praticá-lo de forma obrigatória, não
de que ambos deterem a prerrogativa de conter vícios de legalida- lhe sendo de forma alguma, facultada a possibilidade de analisar a
de. conveniência e nem mesmo a oportunidade de fazê-lo. Desta ma-

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
neira, não havendo possibilidade de análise de mérito para a edição Celso Antônio Bandeira de Mello considera esse instituto como
do ato, essa abertura passará a não existir para que o ato seja des- sendo a “perda do próprio direito, em si, por não o utilizar no prazo
feito pela revogação. previsto para o seu exercício, evento, este, que sucede quando a
única forma de expressão do direito coincide conaturalmente com
Mesmo não se submetendo a qualquer limite de prazo, a prin- o direito de ação”. Ou seja, “quando o exercício do direito se con-
cípio, a revogação do ato administrativo pode ser realizada a qual- funde com o exercício da ação para manifestá-lo”.
quer tempo. Nesse sentido, a doutrina infere a existência de certos Nos trâmites do artigo 54 da Lei 9.784/99, encontramos o dis-
limites ao poder de revogar. Nos dizeres de Maria Sylvia Zanella Di posto legal sobre a decadência do direito de a administração pú-
Pietro12, não são revogáveis os seguintes atos: blica anular seus próprios atos, a partir do momento em que esses
a) Os atos vinculados, porque sobre eles não é possível a aná- vierem a gerar efeitos favoráveis a seus destinatários. Vejamos:
lise de conveniência e oportunidade; Artigo 54. O direito da administração de anular os atos admi-
b) Os atos que exauriram seus efeitos, como a revogação não nistrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários
retroage e os atos já produziram todos os efeitos que lhe seriam decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados,
próprios, não há que falar em revogação; é o que ocorre quando salvo comprovada má-fé.
transcorre o prazo de uma licença concedida ao servidor público, § 1° - No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de
após o gozo do direito, não há como revogar o ato; decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento.
c) Quando a prática do ato exauriu a competência de quem o § 2° - Considera-se exercício do direito de anular qualquer me-
praticou, o que ocorre quando o ato está sob apreciação de autori- dida de autoridade administrativa que importe impugnação à vali-
dade superior, hipótese em que a autoridade inferior que o praticou dade do ato.”
deixou de ser competente para revogá-lo;
d) Os meros atos administrativos, como certidões, atestados, O mencionado direito de anulação do ato administrativo decai
votos, porque os efeitos deles decorrentes são estabelecidos pela no prazo de cinco anos, contados da data em que o ato foi prati-
lei; cado. Isso significa que durante esse decurso, o administrado per-
e) Os atos que integram um procedimento, porque a cada manecerá submetido a revisões ou anulações do ato administrativo
novo ato ocorre a preclusão com relação ao ato anterior; que o beneficia.
f) Os atos que geram direitos a terceiros, (o chamado direito Entretanto, após o encerramento do prazo decadencial, o ad-
adquirido), conforme estabelecido na Súmula 473 do STF. ministrado poderá ter suas relações com a administração consolida-
das contando com a proteção da segurança jurídica.
Convalidação Anote-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
É a providência tomada para purificar o ato viciado, afastando Mandado de Segurança 28.953, adotou o seguinte entendimento
por sua vez, o vício que o maculava e mantendo seus efeitos, inclu- sobre a matéria na qual o ministro Luiz Fux desta forma esclareceu:
sive aqueles que foram gerados antes da providência saneadora. “No próprio Superior Tribunal de Justiça, onde ocupei durante
Em sentido técnico, a convalidação gera efeitos ex tunc, uma vez dez anos a Turma de Direito Público, a minha leitura era exatamente
que retroage à data da edição do ato original, mantendo-lhe todos essa, igual à da ministra Carmen Lúcia; quer dizer, a administração
os efeitos. tem cinco anos para concluir e anular o ato administrativo, e não
Sendo admitida a convalidação, a convalidação perderia sua para iniciar o procedimento administrativo. Em cinco anos tem que
razão de ser, equivalendo em tudo a uma anulação, apagando os estar anulado o ato administrativo, sob pena de incorrer em deca-
efeitos passados, seguida da edição de novo ato que por sua vez, dência (grifo aditado). Eu registro também que é da doutrina do
passaria a gerar os seus tradicionais efeitos prospectivos. Supremo Tribunal Federal o postulado da segurança jurídica e da
Por meio da teoria dualista é admitida a existência de vícios proteção da confiança, que são expressões do Estado Democrático
sanáveis e insanáveis, bem como de atos administrativos nulos e de Direito, revelando-se impregnados de elevado conteúdo ético,
anuláveis. social e jurídico, projetando sobre as relações jurídicas, inclusive,
À vista da atual predominância doutrinária, a teoria dualista foi as de Direito Público. De sorte que é absolutamente insustentável
incorporada formalmente à legislação brasileira. Nesse diapasão, o o fato de que o Poder Público não se submente também a essa
art. 55 da Lei 9.784/1999 atribui à Administração pública a possibi- consolidação das situações eventualmente antijurídicas pelo de-
lidade de convalidar os atos que apresentarem defeitos sanáveis, curso do tempo.”
levando em conta que tal providência não acarrete lesão ao interes- Destaca-se que ao afirmar que a Administração Pública dispõe
se público nem prejuízo a terceiros. Embora tal regra seja destinada de cinco anos para anular o ato administrativo, o ministro Luiz Fux
à aplicação no âmbito da União, o mesmo entendimento tem sido promoveu maior confiabilidade na relação entre o administrado e
aplicado em todas as esferas, tanto em decorrência da existência de Administração Pública, suprimindo da administração o poder de
dispositivo similar nas leis locais, quanto mediante analogia com a usar abusivamente sua prerrogativa de anulação do ato adminis-
esfera federal e também com fundamento na prevalência doutriná- trativo, o que proporciona maior equilíbrio entre as partes interes-
ria vigente. sadas.
Assim, é de suma importância esclarecermos que a jurispru- Em resumo, é de grande importância o posicionamento adota-
dência tem entendido que mesmo o ato nulo pode, em determina- do pela Corte Suprema, levando em conta que ao mesmo só tempo,
das lides, deixar de ter sua nulidade proclamada em decorrência do propicia maior segurança jurídica e respeita a regra geral de conta-
princípio da segurança jurídica. gem do prazo decadencial.

Decadência Administrativa
O instituto da decadência consiste na perda efetiva de um direi-
to existente, pela falta de seu exercício, no período de tempo deter-
minado em lei e também pela vontade das próprias partes e, ainda
no fim de um direito subjetivo em face da inércia de seu titular, que
não ajuizou uma ação constitutiva no prazo estabelecido pela lei.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
tivos do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do próprio Poder
CONTROLE E RESPONSABILIZAÇÃO DA ADMINISTRA- Judiciário. O controle judicial é aquele por meio do qual, o Poder
ÇÃO: CONTROLE ADMINISTRATIVO; CONTROLE JUDI- Judiciário, ao exercer de a função jurisdicional, aprecia a juridicida-
CIAL; CONTROLE LEGISLATIVO; CONTROLE DOS TRIBU- de que engloba a regularidade, a legalidade e a constitucionalidade
NAIS DE CONTAS da conduta administrativa.
Denota-se que o controle externo da Administração por meio
Controle exercido pela Administração Pública (controle inter- do Poder Judiciário foi majorado e fortalecido pela Constituição
no) Federal de 1988, tendo previsto novos instrumentos de controle,
A princípio, infere-se que a teoria da separação dos poderes como por exemplo, o mandado de segurança coletivo, o mandado
possui em sua essência, de acordo com Montesquieu, o objetivo de injunção e o habeas data.
certo de limitar arbítrios de maneira que venha a proteger os direi- O Brasil, contemporaneamente adota o sistema de unidade de
tos individuais. Isso por que, grande parte dos detentores do Poder jurisdição, também conhecido por sistema de monopólio de juris-
tende a adquirir mais poder, situação tal, que, caso não esteja sujei- dição ou sistema inglês, por intermédio do qual o Poder Judiciário
ta a controle, culminará no abuso, ou até no absolutismo. possui a exclusividade da função jurisdicional, vindo a inferir que
Para evitar esse tipo de distorção, Montesquieu propôs a teoria somente as decisões judiciais fazem coisa julgada em sentido pró-
dos freios e contrapesos, por meio da qual os poderes constituídos prio, vindo a tornar-se juridicamente insuscetíveis de serem modi-
possuem a incumbência de controlar, freando e contrabalanceando ficadas.
as atuações dos demais poderes, de maneira que cada um deles Desta maneira, percebe-se que a decisão que é proferida pela
tenha autonomia, possua liberdade, porém, uma liberdade sob vi- Administração Pública ou, ainda, qualquer ato administrativo en-
gilância. Nesse sentido, o Poder Legislativo edita leis que podem ser contram-se passíveis de revisão pelo Poder Judiciário.
vetadas ou freadas pelo Poder Executivo, que poderá ter seu veto É importante registrar que o fundamento da adoção do siste-
derrubado ou freado pelo Poder Legislativo. Ou seja, não concor- ma de unidade jurisdicional no Brasil é a previsão que se encontra
dando o Executivo com a derrubada de um veto vindo a entender inserida no art. 5º, XXXV, da CFB/1988, por meio da qual ficou es-
que a lei aprovada seja inconstitucional, deterá o poder de incumbir tabelecido que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
a matéria à análise do Poder Judiciário que irá dirimir o conflito, lesão ou ameaça a direito”.
como por exemplo, uma ADI ajuizada pelo Presidente da Repúbli- Há países, que de forma diferente do Brasil, adotam o sistema
ca. O Judiciário contém os membros de sua cúpula (STF), que são de dualidade de jurisdição ou sistema do contencioso administrati-
indicados pelo chefe de outro Poder, no caso, o Presidente da Repú- vo ou sistema francês. Denota-se que nesses países, a função juris-
blica, sendo a indicação restrita à aprovação de uma das Casas do dicional é exercida por duas estruturas orgânicas que são regidas
Parlamento (Senado Federal), o que acaba por ser uma espécie de de forma independente, sendo elas a Justiça Judiciária e a Justiça
controle prévio. Administrativa, posto que cada uma profere decisão com força de
Desta maneira, percebe-se que no Estado Democrático de Di- coisa julgada no âmbito de suas competências.
Referente à Justiça Administrativa, explica-se que no sistema
reito, o próprio ordenamento jurídico dispõe de mecanismos que
de dualidade de jurisdição, esta é composta por juízes e tribunais
possibilitam o controle de toda a atuação do Estado. Tais instru-
administrativos cuja competência cuida-se em geral, de resolver
mentos tem como objetivo, garantir que tal atuação se mantenha
litígios nos quais o Poder Público seja parte. Pareando a Justiça Ad-
sempre consolidada com o direito, visando ao interesse público e
ministrativa, está a Justiça Judiciária, composta por órgãos do Poder
mantendo o respeito aos direitos dos administrados.
Judiciário, tendo competência para julgar com definitividade confli-
Em relação à localização do órgão de controle, infere-se que
tos que envolvam somente particulares.
pode ser interno ou externo. Vejamos:
Pondera-se que o controle exercido pelo Poder Judiciário, via
• Controle interno: é realizado por órgãos de um Poder sobre- de regra, será sempre um controle de legalidade ou legitimidade do
pondo condutas que são praticadas na direção desse mesmo Poder, ato administrativo. No exercício da função jurisdicional, os Magis-
ou, ainda, por um órgão de uma pessoa jurídica da Administração trados não apreciam o mérito do ato administrativo, não analisando
indireta sobre atos que foram praticados pela própria pessoa jurídi- a conveniência e a oportunidade da prática do ato.
ca da qual faz parte. No controle interno o órgão controlador encon- Devido ao fato de se tratar de um controle de legalidade ou
tra-se inserido na estrutura administrativa que deve ser controlada. de legitimidade, sempre que o ato estiver eivado de algum vício, a
Em alguns casos, o controle interno decorre da hierarquia, pois decisão judicial será revertida no sentido de anulação do ato admi-
esta possibilita aos órgãos hierarquicamente superiores controlar nistrativo que se encontra viciado. Vale enfatizar que não é cabível
os atos praticados pelos que lhe são subordinados. Em resumo, o no exercício da função jurisdicional a revogação do ato administra-
controle interno que venha a depender da existência de hierarquia tivo, tendo em vista que esta pressupõe a análise do mérito do ato.
entre controlador e controlado, é aquele exercido pelas chefias so- É de suma importância destacar que o controle judicial possui
bre seus subordinados, sendo o tradicional “sistema de controle in- abrangência tanto em relação aos atos vinculados quanto aos dis-
terno” é organizado por lei incumbida de lhe definir as atribuições, cricionários, posto que ambos devem obedecer aos requisitos de
não dependendo de hierarquia para o exercício de suas prerroga- validade como a competência, a forma e a finalidade. Desta forma,
tivas. é possível que tanto os atos administrativos vinculados quanto os
discricionários venham a apresentar vícios de legalidade ou ilegiti-
• Controle externo: é realizado por órgão estranho à estrutu- midade, em decorrência dos quais poderão vir a ser anulados pelo
ra do Poder controlado. Verificamos tal fato, em termos práticos, Poder Judiciário quando estiver no exercício do controle jurisdicio-
quando por exemplo, um Tribunal de Contas Estadual passa a julgar nal.
as contas no âmbito dos poderes legislativo ou judiciário. Explicita-se que o controle judicial da Administração, de modo
geral, é sempre provocado, isso por que ele depende da iniciativa
Controle Judicial de alguma pessoa, que poderá ser física ou jurídica. Qualquer pes-
Registremos, a princípio, que o controle judicial da Administra- soa que tenha a pretensão de provocar o controle da administração
ção Pública, trata-se daquele exercido pelo Poder Judiciário, quan- pelo Poder Judiciário, deverá, de antemão, propor judicialmente a
do em exercício de função jurisdicional, sobre os atos administra- ação cabível para o alcance desse objetivo.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Por fim, diga-se de passagem, que existem várias espécies de De modo geral, a doutrina diferencia dois tipos de controle le-
ações judiciais que permitem ao Judiciário apreciar lesão ou amea- gislativo: o político e o financeiro.
ça a direito decorrente de ato administrativo. Exemplos: o habeas O controle financeiro é exercido com o auxílio dos tribunais de
corpus, o habeas data, o mandado de injunção, etc. A relação das contas. Já o controle político, alcança aspectos de legalidade e de
ações que dão possibilidade ao controle judicial da Administração mérito, vindo a ser preventivo, concomitante ou repressivo, con-
será sempre a título de exemplificação, tendo em vista que o con- forme o caso.
trole pode ser exercido, inclusive, por intermédio de ação judicial
ordinária sem denominação especial ou específica. Formas de controle político:
1. Da competência exclusiva do Congresso Nacional (CF, art.
Nota: a Emenda Constitucional 45/2004 ao introduzir no di- 49): resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos inter-
reito brasileiro o instituto das súmulas vinculantes, inaugurou um nacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
novo mecanismo de controle judicial da Administração Pública, ato patrimônio nacional; autorizar o Presidente da República a declarar
por meio do qual passou-se a admitir o cabimento de reclamação guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transi-
ao STF contra ato administrativo que contrarie súmulas vinculantes tem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamen-
editadas pela Corte Suprema. te, ressalvados os casos previstos em lei complementar; autorizar
o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do
Controle Legislativo País, quando a ausência exceder a quinze dias; aprovar o estado de
O controle legislativo é aquele executado pelo Poder Legisla- defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou sus-
tivo sobre as autoridades e os órgãos dos outros poderes, como pender qualquer uma dessas medidas; sustar os atos normativos
ocorre por exemplo, nos casos de convocação de autoridades com o do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos
objetivo de prestar esclarecimentos ou, ainda, do controle externo limites de delegação legislativa; julgar anualmente as contas pres-
exercido pelo Poder Legislativo auxiliado pelo Tribunal de Contas. tadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre a
O controle legislativo, também denominado de controle parla- execução dos planos de governo; fiscalizar e controlar, diretamente,
mentar, se refere àquele no qual o Poder Legislativo exerce poder ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluí-
sobre os atos do Poder Executivo e sobre os atos do Poder Judi- dos os da administração indireta; apreciar os atos de concessão e
ciário, sendo este último somente no que condiz ao desempenho renovação de concessão de emissoras de rádio e televisão; aprovar
da função administrativa. Trata-se assim, o controle parlamentar de iniciativas do Poder Executivo referentes a atividades nucleares; au-
um controle externo sobre os demais Poderes. torizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de
Infere-se que a estrutura do Poder Legislativo Brasileira deve
recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais; aprovar,
ser verificada com atenção às peculiaridades de cada ente federa-
previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área
do, posto que não somente o princípio da simetria, como também
superior a dois mil e quinhentos hectares.
as regras específicas que a Constituição Federal predispõe para os
âmbitos federal, estadual, municipal e distrital.
2. Da competência privativa do Senado Federal (CF, art. 52):
Em análise ao plano federal, verifica-se que vigora o bicamera-
processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República
lismo federativo, sendo o Poder Legislativo Federal composto por
nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Esta-
duas Casas: a Câmara dos Deputados que é composta por represen-
do e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
tantes do povo e o Senado Federal que é composto por represen-
tantes dos Estados-membros e do Distrito Federal. nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; processar e
De acordo com o sistema constitucional, o controle parlamen- julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do
tar pode ser exercido: a) por uma das Casas isoladamente; b) pelas Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério
duas Casas reunidas em sessão conjunta; c) pela mesa diretora do Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da
Congresso Nacional ou de cada Casa; d) pelas comissões do Con- União nos crimes de responsabilidade; autorizar operações exter-
gresso Nacional ou de cada Casa. nas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do
Levando em conta o princípio da simetria de organização, as Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; fixar, por propos-
regras mencionadas também devem ser aplicadas, no que lhes cou- ta do Presidente da República, limites globais para o montante da
ber, ao Poder Legislativo em âmbito estadual, municipal e distrital, dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
desde que realizadas as devidas adaptações, principalmente aque- Municípios; dispor sobre limites globais e condições para as opera-
las que advém do fato de nos planos estadual, municipal e distrital a ções de crédito externo e interno da União, dos Estados, do Distrito
organização do Poder Legislativo serem do tipo unicameral. Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades
Com fundamento no princípio da autotutela, o Poder Legislati- controladas pelo Poder Público federal; dispor sobre limites e con-
vo também possui o poder de exercer o controle interno sobre os dições para a concessão de garantia da União em operações de cré-
seus próprios atos. Nessa situação, aduz-se que o Poder Legislativo dito externo e interno; estabelecer limites globais e condições para
estará realizando um controle administrativo interno. Esse é o mo- o montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e
tivo pelo qual quando falamos no controle parlamentar, estamos dos Municípios; aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a
abordando somente o controle externo exercido pelo Poder Legis- exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do
lativo. término de seu mandato; aprovar previamente, por voto secreto,
Destaca-se que o controle que o Poder Legislativo detém sobre após arguição pública, a escolha de:
a Administração Pública, encontra-se limitado às hipóteses previs- • Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;
tas na Constituição Federal. Isso ocorre, por que porque caso con- • Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Pre-
trário, haveria inferiorização do princípio da separação dos poderes. sidente da República;
Acontece que em razão disso, não podem leis ordinárias, comple- • Governador de Território;
mentares ou Constituições Estaduais predispor outras modalidades • Presidente e diretores do Banco Central;
de controle diversas das que são previstas na Constituição Federal, • Procurador-Geral da República;
sob risco de ferir o mesmo princípio. • Titulares de outros cargos que a lei determinar.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• Aprovar previamente, por voto secreto, após arguição em Controle pelos Tribunais de Contas
sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de ca- Previstos na Constituição Federal, os Tribunais de Contas são
ráter permanente; órgãos com a finalidade de auxiliar o Poder Legislativo na execução
3. Da competência privativa da Câmara dos Deputados (CF, do exercício do controle externo da Administração Pública. São ór-
art. 51): autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração gãos especializados e não integram a estrutura administrativa do
de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e Parlamento e também não mantém com ele mantém qualquer es-
os Ministros de Estado; proceder à tomada de contas do Presiden- pécie de relação hierárquica.
te da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional Denota-se que a Carta Magna de 1988 preservou a estrutura
dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa. de organização dos Tribunais de Contas vigente nos diversos entes
da federação à época de sua promulgação. Com isso, nos termos
4. Outros controles políticos (CF, art. 50): a Câmara dos Depu- do art. 31, § 4º da CFB/1988, tornou-se proibida a criação de novos
tados e o Senado Federal, ou qualquer de suas Comissões, poderão tribunais, conselhos ou órgãos de contas municipais.
convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de órgãos dire- Em seguimento a essa diretriz, em âmbito federal, temos o TCU
tamente subordinados à Presidência da República para prestarem, (Tribunal de Contas da União); no plano estadual, os Tribunais de
pessoalmente, informações sobre assunto previamente determina- Contas dos Estados; no Distrito Federal, o TCDF (Tribunal de Con-
do, importando crime de responsabilidade a ausência sem justifi- tas do Distrito Federal), sendo que na esfera municipal, percebe-se
cação adequada; as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado a organização dos tribunais de contas não ocorre de maneira uni-
Federal poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Mi- forme. Devido ao fato da maioria dos municípios ter criado até a
nistros de Estado ou a quaisquer titulares de órgãos diretamente CF/1988 o seu próprio Tribunal de Contas, a função de prestar auxí-
subordinados à Presidência da República, importando em crime de lio ao Poder Legislativo municipal no exercício do controle externo é
responsabilidade a recusa, ou o não atendimento, no prazo de trin- normalmente repassada ao Tribunal de Contas do respectivo Estado
ta dias, bem como a prestação de informações falsas. que é dotado de atribuições de controle ao das administrações es-
Por fim, em relação ao controle político legislativo, cabe espe- tadual e municipal.
cial destaque referente ao controle exercido pelas comissões parla- Em relação à sua composição, verificamos com afinco que os
mentares de inquérito (CPIs). Tribunais de Contas são órgãos colegiados, com quadro de pessoal
As CPIs são comissões temporárias designadas a investigar fato próprio (inspetores, procuradores, analistas, técnicos etc.), sendo
certo e determinado e fazem parte do contexto de uma das funções o TCU composto por nove ministros, ao passo que os demais Tri-
típicas do Parlamento que é a função de fiscalização. bunais de contas são compostos, em regra, por sete conselheiros,
De acordo com a Constituição Federal, as comissões parlamen- número sempre observado nos Estados, com exceção do Tribunal
tares de inquérito possuem poderes de investigação que são pró- de Contas do Município de São Paulo que conta com apenas cinco
prios das autoridades judiciais, além de outros poderes que estão conselheiros, nos parâmetros do art. 49 da Lei Orgânica daquele
previstos nos regimentos das Casas Legislativa. As CPIs são criadas Município.
pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, seja em conjun- Embora, não obstante a existência dos chamados “tribunais”
to ou de forma separada mediante pugnação de um terço de seus de contas, as cortes de contas também não exercem jurisdição em
membros, com o objetivo de apurar fato determinado e por prazo sentido próprio, isso por que suas decisões não possuem o caráter
certo, sendo que as suas conclusões, quando for preciso, serão en- de definitividade, vindo a sofrer a possibilidade de serem anuladas
caminhadas ao Ministério Público, para que este órgão promova a pelo Poder Judiciário. Entretanto, o processo ajuizado com o fito
responsabilidade civil ou criminal dos infratores, nos termos dispos- de anular a decisão da corte de contas é distinto do processo de
tos no art. 58, § 3º da CFB/1988. natureza administrativa em que foi proferida tal decisão. Desta for-
Em decorrência do exercício dos seus poderes de investigação, ma, o interessado não poderá interpor um recurso para o Judiciário
a CPI é dotada de ato próprio, sem a necessidade de autorização em desfavor da decisão final do Tribunal de Contas com o fulcro
judicial para: de reformá-la, mas sim ajuizar processo autônomo perante o órgão
• realizar as diligências que entender necessárias; jurisdicional competente com o objetivo de anular o mencionado
• convocar e tomar o depoimento de autoridades, inquirir tes- julgado.
temunhas sob compromisso e ouvir indiciados; Registra-se que em relação ao controle externo financeiro e
• requisitar de órgãos públicos informações e documentos de as atribuições dos tribunais de contas, a Constituição Federal criou
qualquer natureza; um sistema harmonizado de controle, que prevê a existência de um
• requerer ao Tribunal de Contas da União a realização de ins- controle externo associada a um controle interno executado por
peções e auditorias que entender necessárias. cada órgão sobre seus agentes e seus atos.
O controle exercido pelo Poder Legislativo é uma forma de con-
Ademais, conforme decisão do STF, por autoridade própria, a trolar de maneira externa os atos dos órgãos dos outros Poderes
CPI pode sem necessidade de intervenção judicial, porém, sempre e das entidades da administração indireta. Esse controle, além de
por meio de decisão fundamentada e motivada, observadas todas controlar a parte financeira dos outros órgãos, também abrange de
as formalidades da legislação, determinar a quebra de sigilo fiscal, forma ampla o controle contábil, financeiro, orçamentário, opera-
bancário e de dados do investigado. (MS 23.452/RJ). cional e patrimonial, levando em conta os aspectos da legalidade,
Em esquema básico, temos: legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia
de receitas.
Financeiro: é exercido com o auxílio dos tribu- No campo contábil a análise abrange o registro dos fatos contá-
nais de contas. beis e a elaboração de demonstrativos. Em âmbito financeiro, é veri-
CONTROLE ficado o verdadeiro ingresso das receitas, através de comprovantes
LEGISLATIVO Político: alcança aspectos de legalidade e de de depósito ou transferência de recursos, bem como a realização de
ESPÉCIES mérito, vindo a ser preventivo, concomitante forma efetiva de despesas, vindo a comprovar os seus tradicionais
ou repressivo. estágios de licitação, empenho, liquidação e pagamento. Por sua
vez, o controle orçamentário é aquele que acompanha a execução

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
do orçamento, que é a legislação em que se encontram as receitas D) fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais
previstas e também as despesas fixadas. Em referência ao controle de cujo capital social a União participe, de forma direta ou indireta,
operacional, ressaltamos que o mesmo trata de diversos aspectos nos termos do tratado constitutivo;
do desempenho da atividade administrativa, como por exemplo, E) Fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela
numa auditoria operacional, pode ser computado o tempo médio União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos
que o usuário usa esperando por atendimento médico em uma uni- congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município;
dade do sistema público de saúde. Finalmente, temos o controle F) Prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional,
patrimonial, que cuida da fiscalização do patrimônio público. por qualquer de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comis-
Analisando a legalidade do controle externo, observamos que sões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, opera-
este investiga se a conduta administrativa está de acordo com as cional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções
diversas normas jurídicas. realizadas;
O controle de legitimidade atua complementando o controle G) Aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa
de legalidade, permitindo a apreciação de outros aspectos além da ou irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que es-
adequação formal da conduta à legislação pertinente. Nesse diapa- tabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano
são, são passíveis de averiguação aspectos como a finalidade do ato causado ao erário;
e a obediência aos princípios constitucionais como a moralidade H) Assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as pro-
administrativa, por exemplo. vidências necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada
Em continuidade, o controle de economicidade é relativo à uti- ilegalidade;
lização dos recursos de forma racional, uma vez que com ele, pre- I) sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comu-
tende-se averiguar se a despesa realizada atende aos aspectos da nicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
melhor relação custo-benefício. J) Representar ao Poder competente sobre irregularidades ou
Destaca-se que o controle externo também investiga se hou- abusos apurados.
ve a aplicação de forma correta das subvenções, que se tratam de
transferências de recursos feitas pelo governo com o fito de cobrir Observação: As normas retro mencionadas acima relativas ao
despesas de custeio das entidades beneficiadas. Tribunal de Contas da União aplicam-se, no que couber, à organi-
As subvenções podem ser de duas espécies. São elas: subven- zação, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Es-
ções sociais e subvenções econômicas. tados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos
A) Subvenções sociais: são destinadas ao custeio de institui- de Contas dos Municípios, onde houver, nos termos do art.75 da
ções públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, que CFB/1988.
não possuem finalidade lucrativa, nos ditames da Lei 4.320/1964,
art. 12, § 3º, I. Aspectos importantes sobre as atribuições dos Tribunais de
B) Subvenções econômicas: são as destinadas ao custeio de Contas
empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrí- Vejamos a diferença entre os atributos de “apreciar contas” e
cola ou pastoril, nos termos da Lei 4.320/1964, art. 12, § 3º, II. “julgar contas”.
Em relação às contas do chefe do Poder Executivo, os Tribu-
Registra-se, que o controle externo também se incumbe de nais de Contas têm atribuição para “apreciá-las”, desde que haja a
apreciar a regularidade da renúncia de receita. Há vários mecanis- emissão de parecer conclusivo, que deverá ser elaborado no prazo
mos que tornam possível a renúncia de receita, como por exemplo: de 60 dias a contar de seu recebimento (art. 71, I), sendo que é
a remissão, o subsídio, a isenção e a modificação da alíquota ou da competência do Poder
base de cálculo de tributo que implique sua redução. Legislativo julgar as contas de cada ente federado. Desta ma-
Nos ditames constitucionais, a cargo de Congresso Nacional, o neira, as contas anuais do Presidente da República são julgadas pelo
controle externo, será exercido com a ajuda do Tribunal de Contas Congresso Nacional nos ditames do art. 49, IX, CF/1988; as dos Go-
da União, ao qual compete, nos parâmetros do art. 71 da CFB/1988: vernadores, pela Assembleia Legislativa do respectivo Estado; a do
A) Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da Governador do Distrito Federal, pela Câmara Legislativa do Distrito
República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em Federal; e as contas dos Prefeitos, pelas respectivas câmaras muni-
sessenta dias a contar de seu recebimento; cipais.
B) Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis Existe uma particularidade em relação ao parecer que o tri-
por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e in- bunal de contas do Estado ou do município emite a respeito das
direta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas contas anuais do chefe do Poder Executivo municipal. Nos termos
pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa do previsto no art. 31, § 2º, da CF/1988, o parecer prévio, emitido
a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao pelo tribunal de contas sobre as contas que o Prefeito deve anual-
erário público; apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos mente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços
de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta dos membros da Câmara Municipal. Assim sendo, é por essa razão
e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder que grande parte da doutrina afirma que nessa hipótese, o parecer
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em prévio é relativamente vinculante, não sendo absolutamente vin-
comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas culante pelo fato de poder ser superado, porém, como a superação
e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o depende de quórum qualificado, tem-se uma vinculação relativa.
fundamento legal do ato concessório; Em relação a esse assunto, o STF explicou que a expressão “só
C) Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do deixará de prevalecer”, contida no mencionado § 2º, não quer di-
Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e zer que o parecer conclusivo do tribunal de contas poderia produ-
auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacio- zir efeitos imediatos, que se poderiam se tornar permanentes em
nal e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legisla- caso do silêncio da casa legislativa. Para a Suprema Corte, o parecer
tivo, Executivo e Judiciário, e demais entidades referidas na letra b; do Tribunal de Contas que rejeita as contas do chefe do executivo
possui natureza opinativa, só podendo produzir o efeito de inelegi-

49
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
bilidade do prefeito (LC 64/1990, art. 1º, I, alínea “g”) após transcor- um ato administrativo, podendo ser configurado como quaisquer
rido o julgamento das contas pela respectiva Câmara de Vereadores tipos de conduta comissiva ou omissiva praticadas no exercício da
(RE 729.744/MG e RE 848.826/DF). função ou, ainda, fora dela.
De outro ângulo, o parecer antecedente emitido pela Corte de Nesse diapasão, auferindo um pouco mais de segurança ao res-
Contas é indispensável ao julgamento das contas anuais dos Prefei- peito do subprincípio da probidade, a Carta Magna paramentou,
tos. Foi justamente por esse motivo que o STF julgou inconstitucio- em seu artigo 37, § 4º, as consequência a seguir, elencadas, para
nal dispositivo de constituição estadual que permitia às Câmaras configurar a prática dos atos de improbidade:
Legislativas apreciarem as contas anuais prestadas pelos prefeitos, § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a sus-
independentemente do parecer do Tribunal de Contas do Estado, pensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indispo-
quando este não fosse oferecido no prazo de 180 dias. (ADI 3.077/ nibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e grada-
SE). ção previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
Os Tribunais de Contas possuem competência distinta para jul- Trata-se o referido artigo, de norma constitucional com eficá-
gar as contas dos administradores e demais responsáveis por verba cia limitada, que requer regulamentação para que produza efeitos
pública, bens e valores públicos da administração direta e indireta, jurídicos.
inclusive das fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Assim sendo, com a edição da Lei n. 8.429/1992, Lei da Im-
Poder Público, e ainda, as contas dos entes que ensejarem e de- probidade Administrativa de observância obrigatória por parte da
rem causa à perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte administração direta e indireta de todos os entes federativos, o le-
prejuízo ao erário público, nos termos do disposto no art. 71, III da gislador infraconstitucional veio a estabelecer as regras e procedi-
CFB/1988. mentos a serem observados quando ocorrer a prática de atos de
Outro ponto importante a ser destacado, é o fato de que ao improbidade.
julgar as contas dos gestores públicos e demais agentes que cau-
sarem danos ao erário, em diversos casos, os tribunais de contas Sujeitos da Ação de Improbidade – sujeitos ativos, sujeitos
imputam débito com o objetivo de ressarcir o dano, ou multa com passivos
caráter de punição. Denota-se que decisões das Cortes de Contas Sujeitos ativos da ação de improbidade administrativa são
que imputam débito ou multa terão validade de título executivo aqueles que estão sujeitos ao cometimento dos atos de improbida-
nos termos do art. 71, § 3º da CFB/198. Ou seja, caso a pessoa a de administrativa, vindo a figurar no polo passivo da corresponden-
quem foi imputada a multa ou o débito não vier a adimplir a refe- te ação. Já os sujeitos passivos, são as pessoas jurídicas vítimas dos
rida importância dentro do prazo estipulado por lei, poderá sofrer atos de improbidade vindo a figurar no polo ativo da ação.
a cobrança judicial da importância diretamente por intermédio de
uma ação de execução, sendo desnecessário o ajuizamento de uma Assim, temos:
ação de conhecimento para rediscutir a matéria que já foi objeto de
decisão da corte de contas. SUJEITOS São os que cometem atos de improbidade admi-
Pelo fato das decisões definitivas dos tribunais de contas que ATIVOS nistrativa e figuram no polo passivo da ação.
imputam débito ou aplicam multa terem, por si só, força de títu-
lo executivo, sua execução independe da inscrição em dívida ati- São os que sofrem as consequências dos atos de
SUJEITOS
va. Entretanto, os entes federados têm o costume de inscrever to- improbidade administrativa e figuram no polo ati-
PASSIVOS
dos os seus créditos passíveis de execução em dívida ativa, o que vo da ação.
ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, por que a inscrição dá
possibilidade para que a execução siga o rito estabelecido na Lei Sujeitos Ativos
6.830/1980, Lei das Execuções Fiscais, trazendo uma série de van- Nos trâmites do art. 2º da Lei n. 8.429/1992, encontramos a
tagens para o exequente. Em segundo lugar, a inscrição acaba por relação de pessoas vinculadas ao Poder Público que são passíveis se
submeter o crédito a um controle mais amplo, na medida em que tornar sujeito passivo da ação de improbidade.
ele fica registrado em sistemas informatizados criados para a admi- Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo
nistração, controle de prazos e cobrança dos valores inscritos. aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remunera-
ção, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Cuida-se de um conceito amplo de agente público, de maneira
Conceito que mesmo os que exerçam suas atribuições em caráter transitório
Para uma melhor compreensão acerca das disposições relati- ou mesmo sem remuneração, como os estagiários voluntários, pro
vas à lei da improbidade administrativa, adentraremos à origem da exemplo, são considerados, para efeitos legais, como possíveis su-
prática dos atos desses atos. jeitos ativos.
Fazendo-se menção ao princípio da moralidade, relembremo- Nesse diapasão, prevê o art., 3º da Lei n. 8.429/1992:
-nos que este comporta em seu bojo os subprincípios da boa-fé, Art. 3º - As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,
probidade e decoro. Sendo a moralidade um princípio estabelecido àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra
pela Constituição federal de 1.988, de forma a ser cumprido pelos para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qual-
órgãos e entidades de todos os entes federativos, o fato de inadim- quer forma direta ou indireta.
plir no respeito à moralidade ou seus subprincípios, de consequên- Ante o estudo do mencionado artigo, entende-se que duas são
cia, virá a causar a anulação do ato administrativo praticado. as classes de pessoas passíveis de figurar como sujeito ativo dos
Assim, podemos conceituar a improbidade administrativa atos de improbidade administrativa, sendo elas: as que mantenham
como um designativo técnico que aduz corrupção administrativa, algum vínculo com o Poder Público, mesmo que transitório ou sem
sendo contrário à boa-fé, à honestidade, à correção de atitude e, remuneração, bem como os particulares que induzam ou concor-
ainda, contra a honradez. Nem sempre o ato de improbidade será ram para a prática de improbidade

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Para que o agente público atue na condição de sujeito ativo, Violação aos princípios: tais situações não criam e nem geram,
deverá ter agido com dolo ou com culpa por negligência, imperícia por si só, vantagem indevida ao agente público ou a terceiros.
ou imprudência. Violação da legislação do ISS: trata-se de situações condizen-
No condizente ao particular que tenha induzido ou concorrido tes a benefícios financeiros e de tributos.
para a improbidade, figurar como sujeito ativo, é preciso de forma
obrigatória, que ele tenha agido com dolo. Atos que Importam Enriquecimento Ilícito
Ressalta-se que todos os agentes administrativos encontram- São atos resultantes da mais gravosa espécie de improbidade
-se subordinados às disposições da Lei n. 8.429/1992 no condizente administrativa, nos termos do art. 9º da Lei n. 8.429/1992:
aos atos de improbidade administrativa. Assim temos: Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importan-
• Os agentes políticos, em consonância com recente entendi- do enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patri-
mento do STF, estão sujeitos a uma dupla responsabilização no cri- monial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função,
me de responsabilidade e nos atos de improbidade administrativa. emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º desta
• O Presidente da República, em exceção, não está sujeito à du- lei, e notadamente:
pla responsabilização, mas responde ao regulamento estabelecido 1– receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou
na Constituição Federal de 1.988. imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indire-
ta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de
• Sujeitos Passivos quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou
Os sujeitos passivos são as pessoas jurídicas lesadas pela prá- amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agen-
tica de improbidade administrativa, vindo a figurar no polo ativo te público;
da lide. Nos termos do art. 1º da Lei n. 8.429/1992, podem figurar 2 – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para fa-
como sujeitos passivos nas ações de improbidade administrativa: cilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou
a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1º por
Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente preço superior ao valor de mercado;
público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou III – perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Dis- facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o for-
trito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada necimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de
ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio mercado;
o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por IV – utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,
cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou
desta lei. à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º des-
As mencionadas entidades, são as que podem vir a ser lesadas ta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou
com a prática de atos de improbidade administrativa, podendo figu- terceiros contratados por essas entidades;
rar no polo ativo da demanda de improbidade administrativa. V – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
Ressalte-se que o Ministério Público, mesmo não sendo uma ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar,
das entidades relacionadas pela Lei n. 8.429/1992, é passível de fi- de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qual-
gurar como polo ativo da lide da mesma forma que as demais pes- quer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;
soas jurídicas. Vejamos o fundamento legal, no art. 127 da Consti- VI – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
tuição Federal: ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação
Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essen- em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade,
cial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta
individuais indisponíveis. lei;
VII – adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato,
Atos de Improbidade Administrativa cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo
Nos ditames da Lei 8.429/1992, quatro são as espécies de atos valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do
de improbidade administrativa, sendo elas: agente público;
1) atos que importam em enriquecimento ilícito; VIII – aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de con-
2) atos que causam prejuízo ao erário; sultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que te-
3) atos que atentam contra os princípios da administração pú- nha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou
blica; e omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a
4) atos que violam a legislação do ISS no que se refere aos be- atividade;
nefícios financeiros ou tributários. IX – perceber vantagem econômica para intermediar a libera-
ção ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;
A eventual necessidade de o candidato memorizar todas as X – receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta
condutas previstas em lei. ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declara-
ção a que esteja obrigado;
Vejamos algumas condutas que ensejam os atos de improbida- XI – incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,
de administrativa: rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en-
Enriquecimento ilícito: aqui, o agente público recebe vanta- tidades mencionadas no art. 1º desta lei;
gem indevida. XII – usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores
Prejuízo ao erário: um terceiro que não se trata do agente pú- integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no
blico, recebe a vantagem ou alguma norma prevista em lei ou regu- art. 1º desta lei.
lamento não observada.

51
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Atos de Prejuízo ao Erário XVI – facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a incor-
As condutas que causam prejuízo ao erário estão dispostas no poração, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica, de
artigo 10 da Lei n. 8.429/1992. bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pela adminis-
Esse tipo de ato poder resultar tanto de condutas omissivas tração pública a entidades privadas mediante celebração de parce-
quanto comissivas do agente público, podendo dar margem à lesão rias, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares
ao erário de atos dolosos, ou culposos nos quais houve a imperícia, aplicáveis à espécie;
a negligência ou a imprudência do agente do Estado. XVII – permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica
privada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos
Vejamos: pela administração pública a entidade privada mediante celebração
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa de parcerias, sem a observância das formalidades legais ou regula-
lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que mentares aplicáveis à espécie;
enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou XVIII – celebrar parcerias da administração pública com entida-
dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º des privadas sem a observância das formalidades legais ou regula-
desta lei, e notadamente: mentares aplicáveis à espécie;
I – facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorpora- XIX – agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise
ção ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das en- pública com entidades privadas;
tidades mencionadas no art. 1º desta lei; XX – liberar recursos de parcerias firmadas pela administração
II – permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica pri- pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor-
vada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a irregular.
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis XXI – liberar recursos de parcerias firmadas pela administração
à espécie; pública com entidades privadas sem a estrita observância das nor-
III – doar à pessoa física ou jurídica bem como ao ente des- mas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação
personalizado, ainda que de fins educativos ou assistências, bens, irregular.
rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância das formalidades Atos Contra os Princípios da Administração Pública
legais e regulamentares aplicáveis à espécie; Denota-se que mesmo que não tenha ocorrido a vantagem do
IV – permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de agente público ou de terceiros, determinados princípios ou deveres
bem integrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas do Poder Público deixaram de ser cumpridos ou observados pelo
agente público.
no art. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas,
Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que aten-
por preço inferior ao de mercado;
ta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou
V – permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de
omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, lega-
bem ou serviço por preço superior ao de mercado;
lidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
VI – realizar operação financeira sem observância das normas
I – praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou
legais e regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidô-
diverso daquele previsto, na regra de competência;
nea;
II – retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
VII – conceder benefício administrativo ou fiscal sem a obser- III – revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão
vância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à es- das atribuições e que deva permanecer em segredo;
pécie; IV – negar publicidade aos atos oficiais;
VIII – frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo V – frustrar a licitude de concurso público;
seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucra- VI – deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;
tivos, ou dispensá-los indevidamente; VII – revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de tercei-
IX – ordenar ou permitir a realização de despesas não autoriza- ro, antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política ou
das em lei ou regulamento; econômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço;
X – agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, VIII – descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização
bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público; e aprovação de contas de parcerias firmadas pela administração
XI – liberar verba pública sem a estrita observância das normas pública com entidades privadas.
pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irre- IX – deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilida-
gular; de previstos na legislação.
XII – permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enri- X – transferir recurso a entidade privada, em razão da presta-
queça ilicitamente; ção de serviços na área de saúde sem a prévia celebração de con-
XIII – permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veí- trato, convênio ou instrumento congênere, nos termos do parágrafo
culos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, único do art. 24 da Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990.
de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencio-
nadas no art. 1º desta lei, bem como o trabalho de servidor público, Atos advindos de Concessão ou Aplicação Indevida de Benefí-
empregados ou terceiros contratados por essas entidades. cio Financeiro ou Tributário
XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por ob- São uma modalidade de atos de improbidade administrativa
jeto a prestação de serviços públicos por meio da gestão associada advindos da Lei Complementar 157, de 2016.
sem observar as formalidades previstas na lei; Nos parâmetros da Lei 8.429/1992, encaixa-se nesta modali-
XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público sem sufi- dade qualquer ação ou omissão destinada a conceder, aplicar ou
ciente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar as formali- manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que determi-
dades previstas na lei. na o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar n. 116, de 31
de julho de 2003.

52
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Art. 8º-A. A alíquota mínima do Imposto sobre Serviços de • perda dos bens e valores acrescidos ilicitamente ao patrimô-
Qualquer Natureza é de 2% (dois por cento). (Incluído pela Lei Com- nio;
plementar nº 157, de 2016) • multa.
§ 1º O imposto não será objeto de concessão de isenções, in-
centivos ou benefícios tributários ou financeiros, inclusive de redu- Relativo às sanções de natureza política, afirma-se que as apli-
ção de base de cálculo ou de crédito presumido ou outorgado, ou cam em restrições aos direitos políticos, sendo, nos termos do dis-
sob qualquer outra forma que resulte, direta ou indiretamente, em positivo legal, apenas uma:
carga tributária menor que a decorrente da aplicação da alíquota • suspensão dos direitos políticos;
mínima estabelecida no caput, exceto para os serviços a que se refe-
rem os subitens 7.02, 7.05 e 16.01 da lista anexa a esta Lei Comple- Temos também as sanções administrativas que implicam na
mentar. (Incluído pela Lei Complementar nº 157, de 2016) supressão da possibilidade de ser mantido vínculo com a adminis-
tração pública. Em suma, são:
Da Indisponibilidade dos Bens • perda da função pública;
O artigo 37, § 4º, da Constituição Federal estabelece Um rol de • proibição de contratar com o Poder Público;
consequências para os atos de improbidade administrativa, dentre • proibição de receber incentivos fiscais ou creditícios por par-
os quais, pode-se incluir a possibilidade da decretação da indispo- te do Poder Público.
nibilidade dos bens.
Em apoio à disposição constitucional, a Lei n. 8.429/1992 dis- Esquematicamente, temos:
põe em seu artigo 7º, que a indisponibilidade dos bens será decla-
rada sempre que o ato de improbidade administrativa ficar caracte-
rizado como enriquecimento ilícito ou lesão ao patrimônio público. • Ressarcimento ao erário.
Confirmemos: SANÇÃO • Perda dos bens e valores acrescidos ilici-
Art. 7° Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimô- CÍVEL tamente ao patrimônio.
nio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá a autoridade • Multa.
administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério • Perda da função pública.
Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado. • Proibição de contratar com o Poder Pú-
SANÇÃO
blico.
ADMINISTRATIVA
A indisponibilidade a que aduz o caput do referido artigo re- • Proibição de receber incentivos fiscais
cairá sobre bens que possam assegurar o integral ressarcimento do ou creditícios por parte do Poder Público.
dano, ou sobre o acréscimo patrimonial que resultou do enriqueci- SANÇÃO
mento ilícito. • Suspensão dos direitos políticos.
POLÍTICA
Em consonância com boa parte da doutrina, dois são os requi-
sitos que devem estar presentes para que ocorra a determinação Estas sanções, não importando a da natureza, seja administra-
da indisponibilidade dos bens no decurso da ação de improbidade tiva, civil ou política, são aplicadas de acordo com a gravidade da
administrativa, sendo eles o fumus boni juris e o periculum in mora. conduta praticada pelo agente público ou por terceiro, conforme
Assim, temos: menciona o artigo 12 da Lei 8.429/92:
• Fumus boni juris: é a probabilidade de os fatos imputados ao Art.12 Independentemente das sanções penais, civis e adminis-
agente público serem verdadeiros, ou ao menos, haver uma grande trativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo
possibilidade da ocorrência do ato de improbidade administrativa. ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser
• Periculum in mora: é o perigo de dano iminente e irreparável. aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade
Consiste na possibilidade do indiciado dilapidar o seu patrimônio, do fato.
tornando impossível a devolução dos valores devidos aos cofres
públicos. Da Declaração de Bens
Estando presentes estas duas características, a autoridade ad- Nos parâmetros legais, o agente público deverá declarar de
ministrativa representa ao Ministério Público que analisará os fatos, bens na posse e no exercício da função pública.
pugnando ao juiz responsável pela ação a decretação da indisponi- Desta forma, o tomar posse em cargo público, deverá o servi-
bilidade dos bens. dor apresentar a declaração dos bens que constituem o seu patri-
mônio, medida esta que deverá ser feita anualmente, até que ocor-
Das Penas passíveis de aplicação ra a sua saída do respectivo cargo, mandato, emprego ou função.
A Lei n. 8.429/1992 dita um rol de sanções de natureza admi- O objetivo de tal medida é dar a oportunidade para que a au-
nistrativa, civil e política para cada uma das condutas que dão en- toridade administrativa possa averiguar a evolução patrimonial do
sejo às quatro diferentes espécies de improbidade administrativa, agente público, posto que, quando incompatível com a soma das
sendo que estas sanções estão classificadas em consonância com remunerações do servidor, constitui um dos principais indícios de
a gravidade da conduta, de maneira que as ações que dão causa improbidade administrativa. A comprovação dos valores pode ser
ao enriquecimento ilícito, tem como consequência as sanções mais feita mediante cópia de sua declaração do Imposto de Renda à re-
graves, as que causam lesão ao patrimônio público possuem san- partição pública.
ções intermediárias e as que atentam contra os princípios da admi- Não cumprindo o servidor a mencionada obrigação, ou, caso apre-
nistração pública, encontram-se eivadas de as sanções de menor sente falsa declaração, restará ensejada, nos ditames do § 3º do art. 13
gravidade. da Lei n. 8.429/1992, a demissão a bem do serviço público, sem sofrer
Ressalte-se que as sanções de natureza civil, implicam na obri- prejuízo das demais sanções previstas pela legislação pertinente.
gação explícita de pagar ou devolver algo ao poder público. Sendo § 3º - Será punido com a pena de demissão, a bem do serviço
elas de acordo com as normas da Lei n. 8.429/1992: público, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público
• ressarcimento ao Erário; que se recusar a prestar declaração dos bens, dentro do prazo de-
terminado, ou que a prestar falsa.

53
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Procedimento: Administrativo e Judicial Porém, o STF através da ADIN 2.797, manifestou seu parecer
No âmbito do procedimento administrativo e judicial destinado de que era impossível ao legislador ordinário opor-se a um entendi-
a investigar a ocorrência de improbidade administrativa, infere-se mento diverso, ao até então definido pelo tribunal superior.
que a Lei n. 8.429/1992 estabelece regras processuais a serem cum- Entretanto, surgiram controvérsias quando o STF decidiu, no
pridas. julgamento da Questão de Ordem 3.211/DF, que caberia a ele mes-
Denota-se que qualquer pessoa é parte devidamente compe- mo o julgamento das ações de improbidade administrativa em face
tente para representar à autoridade administrativa pugnando pela de seus próprios membros:
instauração das investigações para a apuração de ato de improbida- 1. Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar ação de impro-
de administrativa. bidade contra seus membros.
Registre-se que, via de regra, a representação deverá ser feita 2. Arquivamento da ação quanto ao Ministro da Suprema Corte
por escrito ou reduzida a termo, eivada, ainda, com a qualificação e remessa dos autos ao Juízo de 1º grau de jurisdição no tocante
e demais dados do denunciante. Feito isso, com os pressupostos aos demais.
legais, a autoridade competente instaurará o procedimento admi-
nistrativo disciplinar e acordo com o estatuto de cada categoria fun- Prescrição
cional. Da mesma maneira como acontece com as demais penalidades
que são aplicadas no Direito Administrativo, as sanções previstas
É importante ressaltar que mesmo que a autoridade adminis- pela prática de improbidade administrativa somente podem ser
trativa seja competente para a apuração das eventuais faltas fun- propostas até certo período de tempo específico, sendo que pós
cionais arremetidas por servidores públicos, restando a conduta em esse decurso de tempo, ocorrerá a prescrição e o fim da possibilida-
questão caracterizada como improbidade, a autoridade administra- de da aplicação de pena ao agente público ou terceiro beneficiado.
tiva não deterá o poder de aplicar a penalidade, devendo, desta Nos ditames da Lei n. 8.429/1992, esse lapso temporal encon-
forma, formular representação junto ao Ministério Público, que tra-se previsto no artigo 23, que dispõe:
representará ao Poder Judiciário para o ajuizamento da lide, bem Art.23 As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previs-
como da aplicação da penalidade cabível. tas nesta lei podem ser propostas:
Destaque-se que em todas as ações destinadas ao apuramen- I – até cinco anos após o término do exercício de mandato, de
to de improbidade administrativa, obrigatoriamente deverá haver cargo em comissão ou de função de confiança;
a participação do Ministério Público, conforme determina o artigo II – dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para
17, § 4º, da Lei n. 8.429/1992: faltas disciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público,
§ 4º O Ministério Público, se não intervir no processo como nos casos de exercício de cargo efetivo ou emprego.
parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal da lei, sob pena de nu- III – até cinco anos da data da apresentação à administração
lidade. pública da prestação de contas final pelas entidades referidas no
parágrafo único do art. 1º desta Lei.
Competência De acordo com o artigo 37, § 5º, da Constituição Federal Bra-
Esse tema não se encontra pacificado na doutrina. Isso ocorre sileira, as ações de ressarcimento de prejuízos causados ao erário,
pelo motivo da existência das inúmeras controvérsias dos tribunais quando advindas de improbidade administrativa, são imprescrití-
superiores em relação à possibilidade ou não de aplicação do foro veis e possuem a prerrogativa de serem propostas a qualquer tem-
por prerrogativa de função no âmbito das ações em questão. po.
Sendo o foro por prerrogativa de função, ou foro privilegiado, A legislação estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos
uma prerrogativa concedida a autoridades detentoras de poder, praticados por qualquer agente, servidor ou não, que venham a
como os Magistrados, os Chefes do Poder Executivo, dentre outras, causar prejuízos ao erário, com exceção às respectivas ações de res-
depreende-se que estas autoridades possuem a prerrogativa de se- sarcimento.
rem processadas e julgadas no campo das ações de natureza penal, O fundamento legal para esta possibilidade, é a indisponibili-
por tribunais e juízes especializados, livrando-se assim do julgamen- dade do interesse público que permeia toda a atividade do Poder
to realizado pela justiça comum. Público.
Desde os primórdios, o entendimento do STF foi no sentido de Assim sendo, pelo fato da administração somente gerar a coisa
que o foro por prerrogativa de função referia-se à prerrogativa de alheia pertencente ao povo, o que motiva as ações de ressarcimen-
que apenas poderia ser realizada no campo das ações penais, den- to de prejuízos causados aos cofres públicos, é o ressarcimento dos
tre as quais não é inclui a ação de improbidade administrativa da danos causados à própria coletividade.
área cível. Contudo, a imprescritibilidade das ações de ressarcimentos
Da mesma maneira, o entendimento do tribunal mencionado, advindas de ilícitos civis, sofreu alterações depois do julgamento
era no sentido de que tal prerrogativa somente poderia ser exer- do Recurso Extraordinário 669069, realizado pelo STF no mês de
cida durante o período em que o seu titular estivesse no exercício fevereiro de 2016.
no mandato, não se estendendo, após a quebra do vínculo com o Infere-se que se até aquele instante, todas as ações de ressar-
Estado. cimento advindas de ilícitos cíveis, eram consideradas imprescrití-
Em consonância com os referidos entendimentos, e levando veis, a jurisprudência, mas depois do julgado em questão, posicio-
em conta que a ação de improbidade administrativa possui nature- na-se no sentido de admitir que as ações de ressarcimento, exceto
za cível, a competência para processar e julgar sempre foi designa- as hipóteses expressamente ressalvadas, são prescritíveis.
da à justiça comum ao juiz de primeiro grau.
Com a aprovação da Lei 10.628/2002, houve a alteração de vá-
rios artigos do Código de Processo Penal, de maneira que passou a
existir no ordenamento jurídico pátrio, a possibilidade do foro por
prerrogativa de função ser estendido para as ações de improbidade
administrativa.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Em âmbito contemporâneo, a Constituição Federal de 1988, no
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO art. 37, § 6º, determina: “As pessoas jurídicas de Direito Público e
as de Direito Privado prestadoras de serviços públicos responderão
Evolução histórica pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a tercei-
De início, adentraremos esse módulo respaldando sobre o con- ros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos ca-
ceito de responsabilidade civil do Estado. Consiste esse instituto sos de dolo ou culpa”.
na obrigação estatal de indenizar os danos patrimoniais, morais ou O referido dispositivo constitucional em alusão, trouxe infor-
estéticos que os seus agentes, agindo nessa qualidade, causarem a mação inovadora ao ampliar a responsabilidade civil objetiva do
terceiros. A responsabilidade civil do Estado pode ser dividida em Estado, que por sua vez, passou também a alcançar as pessoas jurí-
dois grupos: a contratual, que advém da ausência de cumprimento dicas de direito privado prestadoras de serviços públicos, como por
de cláusulas inclusas em contratos administrativos, e a extracontra- exemplo: as fundações governamentais de direito privado, as em-
tual ou aquiliana, que alcança as demais situações. presas públicas, sociedades de economia mista, e, ainda qualquer
Em relação à evolução histórica, de acordo com o Professor Cel- pessoa jurídica de direito privado, desde que estejam devidamente
so Antônio Bandeira de Mello, a tese da responsabilidade civil do paramentadas sob delegação do Poder Público e a qualquer título
Estado sempre foi aceita em forma de princípio amplo. Isso ocorreu para a prestação de serviços públicos.
mesmo no período em que não existia dispositivo de norma espe- Esclarece-se, nesse sentido, que a regra da responsabilidade
cífica. Para o mencionado autor, desde os primórdios, predominou civil objetiva não pode ser aplicada aos atos das empresas públicas
no Brasil a tese da responsabilidade do Estado com base na teo- e das sociedades de economia mista exploradoras de atividade eco-
ria da culpa civil. Logo após, houve o avanço para que houvesse a nômica, tendo em vista que o art. 173, § 1º, da CF/1988, determina
admissão da culpa pela ausência de serviço. Por fim, chegou-se à de forma expressa que elas sejam regidas pelas mesmas normas
aprovação da responsabilidade objetiva do Estado. aplicáveis às empresas privadas. Por consequência, tais entidades
Nos tempos imperiais, a Constituição de 1824 vigente à épo- estão sujeitas à responsabilidade subjetiva, sendo controladas pe-
ca, previa somente a responsabilidade pessoal do agente público, las normas comuns pertinentes ao Direito Civil.
conforme disposto no art. 179, XXIX: “Os empregados públicos são Aduz-se que a aglutinação do art. 37, § 6º, com o art. 5º, X, am-
estritamente responsáveis pelos abusos e omissões praticados no bos da CF/1988, leva à conclusão de que a responsabilização estatal
exercício de suas funções e por não fazerem efetivamente respon- tem ampla abrangência tanto no condizente ao dano material como
sáveis aos seus subalternos”. o dano moral. Entretanto, a jurisprudência achou por bem ampliar
Ressalta-se, que nesse período, mesmo não existindo previsão as espécies de danos indenizáveis, passando a determinar que o
constitucional a respeito da responsabilidade do Estado, a doutrina dano estético se constituiria em uma espécie de dano autônomo
e a jurisprudência compreendiam que existia solidariedade do Esta- no qual a indenização poderia ser expressamente cumulada com a
do em alusão aos atos de seus agentes. reparação pelos danos materiais e morais.
No art. 82 da Constituição Federal de 1891, no seu art. 82, car- Ressalta-se que a responsabilidade objetiva do Estado deve se-
regou e trouxe em seu bojo, dispositivo semelhante ao da Consti- guir a teoria do risco administrativo, conforme previsto na CF/1988
tuição de 1824. e a teoria do risco integral jamais recebeu acolhimento como nor-
Em âmbito civilista, o Código Civil de 1916, em seu art. 15, dispôs: ma ou regra em nenhuma das constituições brasileiras.
“As pessoas jurídicas de Direito Público são civilmente responsáveis No entanto, no ordenamento jurídico brasileiro algumas hipó-
por atos de seus representantes que nessa qualidade causem danos a teses em que se aplica a teoria do risco integral foram inseridas.
terceiros, procedendo de modo contrário ao direito ou faltando a de- A título de exemplo disso, temos os casos de danos causados por
ver prescrito em lei, salvo o direito regressivo contra os causadores do acidentes nucleares (CF, art. 21, XXIII, “d”, disciplinado pela Lei
dano”. Para a doutrina, o entendimento é de que o referido dispositivo 6.453/1977), e, ainda, de danos decorrentes de atentados terroris-
legal consagrava a responsabilidade subjetiva do Estado tanto no senti- tas ou atos de guerra contra aeronaves de empresas aéreas brasilei-
do de culpa civil, quanto por ausência de serviço. ras (Leis 10.309/2001 e 10.744/2003).
Referente à Constituição de 1934, depreende-se que esta man- Finalmente, após inúmeras delongas ao longo da história, che-
teve a responsabilidade civil subjetiva do Estado, determinando no ga-se ao Código Civil de 2002 que, em seu art. 43, reitera a mesma
art. 171, o seguinte: “Os funcionários públicos são responsáveis so- orientação inserida na Constituição Federal de 1988, suprimindo,
lidariamente com a Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, por no entanto, a alusão à responsabilidade das pessoas jurídicas de
quaisquer prejuízos decorrentes de negligência, omissão ou abuso direito privado prestadoras de serviço público. Entretanto, ressal-
no exercício dos seus cargos”. ta-se que a omissão, nesse caso, não impede a responsabilização
A Carta Magna de 1937, por sua vez, reiterou no art. 158 o mes- objetiva dessas pessoas jurídicas, posto que está prevista no texto
mo dispositivo da Constituição de 1934. constitucional.
No condizente à Constituição de 1946, aduz-se que esta repre- Ante o exposto, aduz-se que as conclusões a respeito da maté-
sentou uma importante e grande inovação no assunto ao introduzir, ria podem ser resumidas da seguinte maneira:
por sua vez, a teoria da responsabilidade objetiva do Estado, con- • A teoria da irresponsabilidade civil do Estado nunca foi aceita
forme ditado no dispositivo a seguir: no direito brasileiro.
Art. 194. As pessoas jurídicas de Direito Público Interno são ci- • A evolução legislativa mostra que o ordenamento jurídico pá-
vilmente responsáveis pelos danos que os seus funcionários, nessa trio previu de início a responsabilidade civil do Estado com base na
qualidade, causem a terceiros. culpa civil, vindo a evoluir para a responsabilidade pela ausência de
Parágrafo único. Caber-lhes-á ação regressiva contra os funcio- trabalho até chegar à responsabilidade objetiva.
nários causadores do dano, quando tiver havido culpa destes. • A responsabilidade objetiva do Estado foi inserida no ordena-
mento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de 1946.
A Constituição de 1967, acoplada à Emenda 1, de 1969, foi • A Constituição Federal de 1988, veio a ampliar a responsabi-
audaz e manteve a responsabilidade objetiva do Estado, fazendo o lidade objetiva do Estado, vindo a responsabilizar objetivamente as
acréscimo referente de que a ação regressiva contra o funcionário pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público.
ocorreria também nos casos de dolo, e não somente nos casos de
culpa, como era disposto na Constituição de 1946.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
• A Constituição Federal de 1988 consagrou a responsabilidade Responsabilidade por omissão do Estado
por danos morais ou extrapatrimoniais. Atos omissivos são aqueles por meio dos quais o agente pú-
• A responsabilidade objetiva do Estado adotada pela Carta blico deixa de agir e sua omissão, ainda que não venha a causar
Magna de 1988, segue a teoria do risco administrativo, sendo que a diretamente o dano, possibilita sua ocorrência.
teoria do risco integral foi acolhida apenas em situações e hipóteses Quando o Estado é omisso no seu dever de agir de acordo com
excepcionais. os parâmetros legais, terá o dever de reparar o prejuízo causado.
• Divergindo da Constituição Federal de 1988, pelo fato de não No entanto, a responsabilidade será aplicada na forma subjetiva,
haver feito referência à responsabilidade objetiva das pessoas jurí- posto que deverá ser demonstrada a culpa do Estado, ou seja, a
dicas que prestam serviços ao poder público, o Código Civil de 2002, omissão estatal.
prevê também a responsabilidade objetiva do Estado. Prevalece entre os doutrinadores, apesar de não haver pacifi-
cidade doutrinária e nem tampouco nos tribunais, o entendimento
Responsabilidade por ato comissivo do Estado de que a redação do art. 37, § 6º, da CFB/88, só consagra a respon-
De antemão, convém respaldar que responsabilidade civil do sabilidade objetiva nos atos comissivos.
Estado é passível de advir de atos comissivos ou omissivos pratica- Destaque-se que não é qualquer ato omissivo praticado por
dos por seus agentes. agente público que intitula a responsabilidade civil do Estado. A
Em consonância com o estudo em questão, aduz-se que atos responsabilização estatal em função de omissivos, ocorre somente
comissivos são aqueles por meio dos quais o agente público atua de quando o agente público omisso possui o dever legal de praticar um
forma positiva causando danos a um terceiro. Exemplo: um condu- determinado ato, e deixa de fazê-lo. Exemplo: em situação hipoté-
tor de veículo automotor e servidor do Estado, embriagado e sob o tica, um agente salva-vidas que ao se deparar diante de situação na
efeito de drogas, dirigindo a serviço, atropela um pedestre. qual um banhista está se afogando, permanece inerte, permitindo
Cumpre ressaltar que a teoria adotada em relação à responsa- que o banhista venha a falecer sem ser socorrido. Nesta situação,
bilidade civil do Estado por prática de conduta omissa, não é a mes- o Estado explicitamente será responsabilizado pelo ato de omis-
ma a ser aplicada à responsabilização por atos comissivos. Infere-se são do agente público, tendo em vista que este tinha o dever legal
que o artigo 37, § 6º da Constituição Federal de 1988 é de aplicação de agir, ao menos tentando salvar a vida do banhista e não o fez.
restrita em relação aos atos comissivos, sendo, assim, incorreta a Em outro ângulo, aproveitando o mesmo exemplo, se, ao invés do
sua invocação nos casos específicos de responsabilidade por omis- guarda salva-vidas, a mencionada omissão fosse praticada por um
são estatal. Analista Judiciário do Tribunal de Justiça de algum Estado da Fede-
Para melhor entendimento do raciocínio, o artigo 37, § 6º, da ração, o Estado não poderia ser responsabilizado, tendo em vista
Constituição Federal, em relação à responsabilidade civil do Estado, que ao Analista, não era incumbido o dever legal de tentar salvar
dispõe: o banhista.
Não obstante, afirma-se que é inaplicável o uso do artigo 37,
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito pri- § 6º da Constituição Federal de 1988, bem como da teoria do ris-
co administrativo às lides de responsabilidade civil por omissão do
vado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que
Estado.
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
Registre-se ainda, que a responsabilidade civil por omissão
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
estatal é subjetiva. Isso ocorre, também, devido à inaplicabilidade
do artigo 37, § 6º da Constituição Federal, que é a instituidora da
O mencionado dispositivo, sob plena concordância unânime da
responsabilidade objetiva aos casos de omissão estatal, o que ense-
doutrina e jurisprudência, consagra de forma expressa a responsa-
ja ao entendimento de que a responsabilização do mesmo apenas
bilidade civil objetiva do Estado. No entendimento desse parâmetro
poderá ser invocada se sua ausência de ação houver sido culposa.
Constitucional, a vítima se encontra de forma ampla, dispensada do Em outras palavras, aduz-se que a responsabilidade civil do
ônus da prova da culpa da Administração, tendo a incumbindo-lhe estatal por conduta omissa é subjetiva. Ressalte-se que tal posicio-
somente comprovar o nexo causal entre o ato desta e o prejuízo namento já foi referendado por muitos de nossos mais renomados
sofrido. e importantes administrativistas. Ótimos exemplos disso, são Hely
Contudo, ressalta-se que o dispositivo se reporta apenas aos Lopes Meirelles e Celso Antônio Bandeira de Mello, sendo desse úl-
danos causados pelos agentes das pessoas jurídicas de direito pú- timo, o esclarecedor ensinamento de que a partir do momento em
blico ou, ainda, das pessoas jurídicas de direito privado que pres- que o dano foi constatado em decorrência de uma omissão do Esta-
tam serviço público, não tendo qualquer espécie de alcance às si- do, sendo pelo serviço que não funcionou, ou, funcionou de forma
tuações nas quais o dano tenha decorrido de ato de terceiro ou de ineficientemente ou tardia, aduz-se que caberá a aplicabilidade da
fatos advindos de caso fortuito ou força maior. teoria da responsabilidade subjetiva. Entretanto, se o Estado não
Assim sendo, afirma-se que o artigo 37, § 6º, Constituição Fe- agiu, não será, por conseguinte, ser ele o autor do dano. E, não sen-
deral de 1988, não enseja ao alcance das hipóteses de omissão es- do ele o autor, só será responsabilizado se caso estivesse obrigado
tatal, posto que, nestas situações, o dano não decorre, exatamente a impedir o dano.
da ação de um agente do Estado, mas sim da atitude de um terceiro, Em alusão ao retro ensinamento, afirma-se que a teoria apli-
denotando que a omissão do Estado apenas contribui para o resul- cada não poderia ser a objetiva, isso porque tal teoria admite a co-
tado. brança de responsabilização até mesmo quando o dano é advindo
Adverte-se que a conduta omissa do Estado não é o que causa de atuação lícita do Estado.
diretamente o dano, uma vez que este é proveniente de ato de ter- Nos casos relacionados à omissão estatal, o Estado não é o ver-
ceiro, razão pela qual pode-se afirmar que o dano à vítima não foi dadeiro autor do dano, uma vez este o advém de atividade de ter-
consequência de forma direta da conduta omissa do agente do Es- ceiro. Assim sendo, sua responsabilidade somente poderá ser invo-
tado, o que faz inaplicável o artigo 37, § 6º, da CFB/88 às hipóteses cada caso esteja obrigado a agir com o fulcro de impedir que o dano
de omissão do Estado, restando incabível a teoria da responsabili- ocorra, isso, em havendo ilegalidade na sua omissão. Resta registrar
dade objetiva com base no risco administrativo. também, inclusive, que a responsabilidade estatal não poderá ser
invocada quando existir a impossibilidade real de impedimento do
dano mediante atuação aplicadora do Estado.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Por fim, devido ao fato de a responsabilização estatal ocorrer cia que explicitamente atenua ou diminui a responsabilidade civil
apenas quando sua omissão for caracterizada por uma atitude ilíci- estatal é a existência de culpa concorrente da vítima, comprovan-
ta, a Administração não será responsabilizada se houver utilizado e do assim a inexistência de culpa exclusiva do Estado. Desta forma,
esgotado suas possibilidades e formas de amparo no limite máximo na situação hipotética de colisão entre veículo que pertence a ente
e, mesmo desta forma, não tiver conseguido impedir o dano, posto público e a um particular, na qual tenha ocorrido imprudência de
que a Administração Pública somente poderá ser responsabilizada ambos os condutores, o Estado não responde pela integralidade do
por danos que estava obrigada a impedir. dano, o que faz por força de lei, com que os prejuízos deverão ser
rateados na proporção da culpa de cada responsável pelo ato.
Requisitos para a demonstração da responsabilidade do es- Em relação às circunstâncias excludentes da responsabilidade
tado do Estado, a doutrina e a jurisprudência consideram as seguintes:
Os requisitos que compõem a estrutura e demarcam o perfil da culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros, caso fortuito e
responsabilidade civil objetiva do Poder Público, são: a alteridade força maior.
do dano; a causalidade material entre o eventus damni e o com-
portamento positivo por ação, ou negativo por omissão do agen- Vejamos:
te público; a oficialidade da atividade causal e lesiva, imputável a
agente público que tenha, nessa condição de servidor, incidido em Culpa ou dolo exclusivo da vítima ou de terceiros
conduta comissiva ou omissiva, isso, independentemente da licitu- É excludente da responsabilidade do Estado, uma vez que afas-
de, ou não, do comportamento funcional e a inexistência de causa ta o nexo causal entre a conduta do agente público e o dano exis-
excludente da responsabilidade do Estado. tente. A esse respeito, é de suma importância ressaltarmos que não
Em suma, os requisitos para a demonstração da responsabi- é cabível a invocação de culpa ou de dolo exclusiva da vítima na
lidade do Estado são necessariamente a conduta a ser praticada hipótese de suicídio de detento. Isso ocorre pelo fato do preso se
pelo agente que poderá ser lícita ou ilícita. Veja-se por exemplo, encontrar sob a custódia do Estado que tem o dever de manter-lhe
no caso de odontologista que realiza cirurgia pertinente à sua área a integridade física e moral, buscando sua total proteção, inclusive
de atuação em hospital público e venha a cometer algum erro, ca- do suicídio. Nesse sentido, o STF entende que o suicídio de detento
racterizado como ato ilícito, ou em campanha de aplicação de flúor é motivo de omissão ilegítima, que por sua vez, gera responsabili-
contra cáries, quando a substância vem a causar situação adversa dade civil objetiva do Estado, que passará a ter o dever de indenizar
irreversível caracterizada como ato lícito, são atos que acabam por por meio de danos morais os familiares do falecido.
gerar danos passíveis de reparação, na forma objetiva. Em algumas situações ocorrem no mundo dos fatos eventos
Para que a responsabilidade objetiva estatal seja configurada, imprevisíveis, extraordinários e de força irresistível, externos à ad-
deve haver um dano, tendo em vista que indenizar é “suprimir o ministração pública e que causam danos aos administrados. Ten-
dano” por meio do adimplemento de uma contraprestação de na- do em vista a inexistência de qualquer nexo de causalidade entre
tureza pecuniária. Isso pode ser tanto dano de efeito moral como a a atuação administrativa e o prejuízo sofrido pelo terceiro, ter-se-á
violação à dignidade e à honra, por exemplo, quanto dano material por excluída a responsabilidade civil do Estado, não lhe sendo impu-
que cause prejuízo financeiro a outrem. tado qualquer dever de indenizar.
Assegura-se ainda, que quando houver mera possibilidade de
dano, esta não será passível de indenização. Exemplo: a constru- Caso fortuito e força maior
ção de um presídio perto de pré-escola. Isso é fato que pode vir a Boa parte dos doutrinadores denominam consideram esta ex-
causar danos irreparáveis tanto aos alunos, como às suas famílias. cludente como sendo os eventos naturais, a exemplo das tempes-
Pondera-se também que deve haver o nexo causal, que se trata da tades, dos furacões, dos raios, dentre outros, vindo a reservar a ex-
necessária e importante relação de causa e efeito entre a conduta pressão “caso fortuito” para os acontecimentos humanos, como os
praticada pelo agente e o dano causado. Não existindo o nexo cau- arrastões, as guerras, as greves, etc., ao passo que outros possuem
sal, ou for disseminado por algum fator, estará afastada a responsa- conceitos opostos, designando a “força maior” para os eventos que
bilidade do Estado. podem ser imputados aos homens e o “caso fortuito” para os even-
No contexto acima, compreende-se que é insuficiente a de- tos naturais.
monstração somente do dano e da conduta do Estado. É necessário Pondera-se que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tri-
e devido também que se prove o nexo causal. bunal de Justiça tem atribuído aos eventos extraordinários, im-
previsíveis e de força irresistível, ocorridos de forma externa à
Observação importante: O STF tem entendido que, havendo administração pública com causídico de danos aos administrados,
fuga de preso na qual o detento se encontre há muito tempo fo- a especificidade de excludentes do nexo causal ocorridas entre a
ragido e venha a cometer algum crime, com a geração de dano a atuação administrativa e o evento danoso, de modo a impedir a
particular, não existe a responsabilidade do Estado, pelo fato de não responsabilização estatal pelos prejuízos causados.
haver mais nexo causal, interrompido pelo prolongado período de Desta maneira, nos julgados de ambos os Tribunais, não exis-
fuga. Entende o STF que o longo período do tempo entre a fuga e te a preocupação em diferenciar caso fortuito de força maior, mas
somente a tentativa de averiguar a presença deles em cada caso
o crime faz com que o nexo causal deixe de existir, não sendo mais
específico do objeto de exame.
possível imputar ao Estado o dano causado. O tempo que o STF en-
Nesse entendimento, o STJ já validou que “somente se afas-
tende como longo, pondera-se que não existe uma tabela de prazos
ta a responsabilidade se o evento danoso resultar de caso fortuito
que regule tal entendimento. O que a Suprema Corte faz é a análise
ou força maior, ou decorrer de culpa da vítima” (REsp 721.439/RJ),
de casos concretos e específicos.
enquanto o STF asseverou que “o princípio da responsabilidade ob-
jetiva não se reveste de caráter absoluto, eis que admite o abran-
Causas Excludentes e Atenuantes da Responsabilidade do Es-
damento e, até mesmo, a exclusão da própria responsabilidade civil
tado
do Estado, nas hipóteses excepcionais configuradoras de situações
Dentro do instituto da responsabilidade civil do Estado existem
liberatórias – como o caso fortuito e a força maior – ou evidenciado-
algumas causas que excluem ou atenuam a sua obrigação de acatar
ras de ocorrência de culpa atribuível à própria vítima” (RE109.615/
ou não com tais prerrogativas. Pondera-se que a única circunstân-
RJ).

57
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
Esquematizando, temos: parte do efetivo desfalque nos cofres públicos. Denota-se que caso
ocorra a propositura da ação regressiva antes do pagamento, pode-
CULPA OU DOLO ria denotar e ensejar o enriquecimento sem causa do Estado.
CASO FORTUITO Pondera-se que em fase inicial, a cobrança regressiva em face
EXCLUSIVO DA VÍTIMA
E FORÇA MAIOR do agente público deve ocorrer na esfera administrativa. Em se
OU DE TERCEIROS
tratando de caso de acordo administrativo, o agente deverá, nos
O STF e o STJ tem atribuído aos trâmites legais, providenciar o ressarcimento aos cofres públicos.
eventos extraordinários, imprevi- Restando ausente o acordo, o Poder Público terá o dever de propor
síveis e de força irresistível, ocor- a ação regressiva contra o agente público culpado.
ridos de forma externa à adminis- Apesar de grande parte da doutrina e jurisprudência com-
É excludente da responsa-
tração pública com causídico de preender que a ação de ressarcimento proposta pelo Poder Público
bilidade do Estado, uma vez
danos aos administrados, a espe- em face de seus agentes é definitivamente imprescritível, à vista do
que afastam o nexo causal
cificidade de excludentes do nexo
entre a conduta do agente disposto na parte final do § 5.° do art. 37 da Constituição Federal,
causal ocorridas entre a atuação
público e o dano existente o Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral, acabou
administrativa e o evento danoso,
por decidir que é prescritível nos trâmites do art. 206, § 3.°, V, do
de modo a impedir a responsa-
Código Civil, no prazo de três anos, a ação de reparação de danos à
bilização estatal pelos prejuízos
Fazenda Pública advinda de ilícito civil e de origem de acidente de
causados.
trânsito, o que não alcança à primeira vista, os ilícitos relacionados
às infrações ao direito público, como por exemplo, os de natureza
Infere-se que o Código Civil brasileiro, no parágrafo único do
penal e os atos de improbidade.
art. 393, determina que “O caso fortuito ou de força maior verifica-
-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impe- Direito de regresso
dir.” Percebe-se que, à semelhança das decisões do STF e do STJ, a O parágrafo 6º do art. 37 da Constituição Federal Brasileira pre-
referência é a “caso fortuito ou de força maior”, com as expressões nuncia a responsabilidade civil objetiva das pessoas jurídicas de di-
objeto de tanta discussão acadêmica citadas em conjunto, separa- reito público e das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras
das apenas pela partícula “ou”, como que querendo demonstrar de serviços públicos pelos danos que seus agentes, nessa qualida-
que, se as consequências são semelhantes, estando regidas pelo de, causarem a terceiros. Assegura ainda ao Estado ou a seus pres-
mesmo regime jurídico, não há relevância na tentativa de diferen- tadores de serviços públicos, o direito de regresso contra o agente
ciação. responsável, nos casos em que este aja com dolo ou culpa.
Levando em conta os princípios constitucionais da ampla defe-
Reparação do dano sa e do contraditório, o direito de regresso deve ser desempenhado
Em sentido geral, a reparação do dano pode ser viabilizada na e exercido sob o manuseio de ação própria e regressiva, não admi-
esfera administrativa por meio de acordo administrativo, ou na via tindo ao Estado efetuar de forma direta o desconto nos subsídios do
judicial. servidor, sem o consentimento deste.
O agente estatal, na qualidade de agente público, em se tra- Existe ainda, a possível hipótese de o servidor reconhecer a
tando de caso de dolo ou culpa, pode causar danos ao Estado ou sua responsabilidade vindo a optar por recolher espontaneamente
a terceiros. a quantia devida aos cofres públicos e até mesmo autorizar que o
Na primeira situação, a responsabilidade deverá ser apurada valor venha a ser descontado de seus vencimentos, desde que res-
por intermédio de processo administrativo, garantidos a ampla de- peitados os percentuais máximos previstos em lei para essa espécie
fesa e o contraditório. Comprovada a responsabilidade subjetiva do de desconto.
agente, o adimplemento poderá ser feito de forma espontânea ou, Sobre o assunto, é importante destacar alguns pontos:
caso contrário, por medida judicial. A) A ação de responsabilização do agente público deduz que o
No entanto, ressalte-se, que é ilegal usar com imposição o des- Poder Público tenha indenizado o particular, tanto em virtude de
conto em folha de pagamento dos agentes públicos de valores re- acordo com o reconhecimento da responsabilidade civil estatal,
ferentes ao ressarcimento ao erário, exceto se houver autorização como em decorrência de condenação em ação ajuizada pelo lesado.
prévia do agente ou procedimento administrativo com a aplicação B) Em ação regressiva, a responsabilidade do agente público é
da ampla defesa e do contraditório. de natureza subjetiva, às expensas da comprovação de que ele agiu
Na segunda situação, o terceiro, como vítima do dano, pode- com culpa ou dolo. Desta forma, é possível que o Estado venha a
rá ajuizar ação em face do Estado, aplicando a responsabilidade indenizar o particular e não reconheça o direito de ser ressarcido
objetiva, ou do próprio agente público, se valendo nesse caso da pelo servidor responsável. Para isso, basta que não seja comprova-
responsabilidade subjetiva, exceto nos casos em que houver a ado- do dolo ou culpa advinda desse agente público.
ção da teoria da dupla garantia, por meio da qual, a única medida C) A parte final do § 5º do art. 37 da CFB/88, pode levar ao
cabível seria o direcionamento da pugnação de reparação em face entendimento precípuo de que quaisquer e todos as espécies de
do Estado. ações de ressarcimento movidas pelo Poder Público são imprescri-
De qualquer maneira, o Estado, ao indenizar a vítima, deterá o tíveis. Entretanto, o STF, no julgamento do RE 669.069/MG, decidiu,
dever de cobrar, de forma regressiva, o valor desembolsado perante com repercussão geral, que “é prescritível a ação de reparação de
o agente público que causou o dano efetivo e que agiu com dolo ou danos à fazenda pública decorrentes de ilícito civil.
culpa. D)É transmitida aos herdeiros a qualquer tempo, a obrigação
Entende-se que o direito de regresso do Estado em face do de ressarcir o Estado, respeitada, sem dúvidas, a possibilidade de
agente público nasce com o pagamento da indenização à vítima. prescrição na hipótese de danos decorrentes de ilícito civil, ten-
Assim sendo, não basta o que ocorra o trânsito em julgado da sen- do como limite o valor do patrimônio transferido (art. 5º, XLV, da
tença que condena o Estado na ação indenizatória, posto que o in- CF/1988). Entretanto, ocorrendo a prescrição da ação regressiva,
teresse jurídico para propor a ação regressiva depende em grande beneficiará também aos herdeiros, que não poderão mais ser de-
mandados pelos danos advindos pelo falecido.

58
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
E) O servidor responde pelos seus atos, inclusive após a extin- 4. A Constituição de 1967, acoplada à Emenda 1, de 1969, foi
ção de seu vínculo com a Administração Pública, desde a ação re- audaz e manteve a responsabilidade objetiva do Estado, fazendo o
gressiva não esteja prescrita. Desta forma, o agente que foi exone- acréscimo referente de que a ação regressiva contra o funcionário
rado ou demitido, pode, nos trâmites legais, ser obrigado a ressarcir ocorreria também nos casos de dolo, e não somente nos casos de
os prejuízos causados ao ente público. culpa, como era disposto na Constituição de 1946.
( ) CERTO
Nota – Sobre Súmulas Vinculantes ( ) ERRADO
Súmula 187, STF: A responsabilidade contratual do transpor-
tador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de 5. O ato de delegação não poderá ser revogado a qualquer
terceiro, contra o qual tem ação regressiva. tempo pela autoridade delegante como forma de transferência não
Súmula 188, STF: O segurador tem ação regressiva contra o definitiva de atribuições, não podendo as decisões adotadas por
causador do dano, pelo que efetivamente pagou, até ao limite pre- delegação, mencionar de forma clara esta qualidade, que deverá
visto no contrato de seguro. ser considerada como editada pelo delegado.
( ) CERTO
( ) ERRADO

LICITAÇÃO E CONTRATOS. LEIS NºS 8.666/1993, 6. A avocação é um procedimento contrário ao da delegação de


10.520/2002 E 14.133/2021 competência, vindo a ocorrer quando o superior assume ou passa
a desenvolver as funções que eram de seu subordinado. De acor-
Prezado Candidato, o tema acima supracitado, já foi abordado na do com a doutrina, a norma geral, é a impossibilidade de avocação
matéria de NOÇÕES DE ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS pelo superior hierárquico de qualquer competência do subordina-
E GESTÃO PÚBLICA do, ressaltando-se que nesses casos, a competência a ser avocada
poderá ser privativa do órgão subordinado.
( ) CERTO
( ) ERRADO
EXERCÍCIOS
7. Devido ao fato de se tratar de um controle de legalidade ou
de legitimidade, sempre que o ato estiver eivado de algum vício, a
1. (ESAF- 2012-CGU -ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE-
decisão judicial será revertida no sentido de anulação do ato admi-
PROVA 3 -ADMINISTRATIVA)
nistrativo que se encontra viciado. Vale enfatizar que é cabível no
Quanto ao regime jurídico dos servidores públicos da União, é
exercício da função jurisdicional a revogação do ato administrativo,
correto afirmar que:
tendo em vista que esta pressupõe a análise do mérito do ato.
(A) consumado o suporte fático previsto na lei e preenchidos ( ) CERTO
os requisitos para o seu exercício, o servidor passa a ter direito ( ) ERRADO
adquirido ao benefício ou à vantagem que o favorece.
(B) além do estatuto legal específico, no tocante aos direitos e 8. O controle judicial possui abrangência tanto em relação aos
deveres dos servidores, deve ser observado também o dispos- atos vinculados quanto aos discricionários, posto que ambos não
to na Consolidação das Leis do Trabalho CLT. devem obedecer aos requisitos de validade como a competência, a
(C) os benefícios e as vantagens previstos na legislação no mo- forma e a finalidade.
mento da posse do servidor público passam a ser direitos ad- ( ) CERTO
quiridos. ( ) ERRADO
(D) o cargo público é o conjunto de atribuições e responsabi-
lidades previstas na estrutura organizacional que devem ser 9. (FGV/TCE-BA/2013/AGENTE PÚBLICO) Dentre as medidas a
acometidas a um servidor e podem ser criados por lei ou por seguir, assinale aquela que pode ser imposta a quem pratica ato de
decreto do Presidente da República. improbidade administrativa.
(E) a investidura em cargo público pode ocorrer com a posse ou (A) Prisão ainda que o fato não seja tipificado como crime.
com a reintegração. (B) Perda dos direitos políticos.
(C) Perda dos direitos civis.
2. (CESPE- 2012-TJ-RR- TÉCNICO JUDICIÁRIO) No que se refe- (D) Perda da nacionalidade brasileira.
re à classificação e às espécies de agentes públicos, julgue os itens (E) Ressarcimento ao erário, ainda que as sanções estejam
seguintes. prescritas.
Os empregados públicos, embora sujeitos à legislação traba-
lhista, submetem-se às normas constitucionais referentes a concur- 10. (FGV/CONDER/2013/ADVOGADO) No que concerne ao su-
so público e à acumulação remunerada de cargos públicos. jeito ativo do ato de improbidade administrativa, assinale a afirma-
( ) CERTO tiva correta.
( ) ERRADO (A) Aquele que não é considerado agente público pela Lei n.
8.429/1992 poderá responder por improbidade administrativa.
3. Em âmbito tributarista, o Código Civil de 1916, em seu art. (B) A Lei de Improbidade aplica-se apenas a servidores públi-
15, dispôs: “As pessoas jurídicas de Direito Público são civilmente cos.
responsáveis por atos de seus representantes que nessa qualidade (C) A Lei de Improbidade aplica-se apenas contra agentes pú-
causem danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao direi- blicos que venham a lesar entidade na qual o poder público
to ou faltando a dever prescrito em lei, salvo o direito regressivo contribua com mais de 50% para a criação ou custeio.
contra os causadores do dano”. (D) A pessoa que é vinculada a entidade pública sem remunera-
( ) CERTO ção não pode ser considerada agente público para fins de apli-
( ) ERRADO cação da Lei de Improbidade Administrativa.

59
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO
(E) A pessoa que é vinculada a entidade pública de forma tran-
sitória não pode ser considerada agente público para fins de GABARITO
aplicação da Lei de Improbidade Administrativa.

11. A legalidade, que na sua visão moderna é chamado tam- 1 C


bém de juridicidade, é um princípio que pode ser aplicado à toda 2 C
atividade de ordem administrativa, vindo a incluir o procedimento
licitatório. A lei serve para ser usada como limite de base à atuação 3 ERRADO
do gestor público, representando, desta forma, uma garantia aos 4 CERTO
administrados contra as condutas abusivas do Estado.
5 ERRADO
A assertiva se encontra:
( ) CERTO 6 ERRADO
( ) ERRADO 7 ERRADO
12. O princípio da segregação de funções é uma norma de con- 8 ERRADO
trole interno com o fito de evitar falhas ou fraudes no processo de 9 E
licitação, vindo a descentralizar o poder e criando independência
para as funções de execução operacional, custódia física, bem como 10 A
de contabilização. Assim sendo, cada setor ou servidor incumbido 11 CERTO
de determinada tarefa, fará a sua parte no condizente ao desempe-
12 CERTO
nho de funções, evitando que nenhum empregado ou seção admi-
nistrativa venha a participar ou controlar todas as fases relativas à 13 CERTO
execução e controle da despesa pública, vindo assim, a possibilitar 14 CERTO
a realização de uma verificação cruzada.
A assertiva se encontra: 15 CERTO
( ) CERTO
( ) ERRADO

13. As organizações da sociedade civil de interesse público,


ANOTAÇÕES
são conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado, sem
fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatutárias ______________________________________________________
devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da Lei
n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência do ______________________________________________________
Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com o da
OS, entretanto, é mais amplo. ______________________________________________________
( ) CERTO
( ) ERRADO ______________________________________________________

______________________________________________________
14. O vínculo de união entre a entidade e o Estado é denomi-
nado termo de parceria e que para a qualificação de uma entidade ______________________________________________________
como Oscip, é exigido que esta tenha sido constituída e se encontre
em funcionamento regular há, pelo menos, três anos nos termos do ______________________________________________________
art. 1º, com redação dada pela Lei n. 13.019/2014.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________
15. O Tribunal de Contas da União tem entendido que o vínculo
firmado pelo termo de parceria por órgãos ou entidades da Admi- ______________________________________________________
nistração Pública com Organizações da Sociedade Civil de Interesse
______________________________________________________
Público não é demandante de processo de licitação.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

______________________________________________________

60
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
1. Lei de introdução às normas do Direito brasileiro. Vigência, aplicação, interpretação e integração das leis. Conflito das leis no tempo.
Eficácia da lei no espaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Pessoas naturais. Personalidade. Capacidade. Nome. Estado. Domicílio. Direitos da personalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
3. Pessoas jurídicas. Disposições gerais. Domicílio. Associações e fundações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
4. Bens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
5. Fatos jurídicos. Negócio jurídico. Atos jurídicos lícitos. Atos ilícitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
6. Prescrição: disposições gerais. Decadência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
b) supletivas ou permissivas: são as leis dispositivas, que visam
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASI- tutelar interesses patrimoniais, e, por isso, podem ser modificadas
LEIRO. VIGÊNCIA, APLICAÇÃO, INTERPRETAÇÃO E IN- pelas partes. Tal ocorre, por exemplo, com a maioria das leis con-
TEGRAÇÃO DAS LEIS. CONFLITO DAS LEIS NO TEMPO. tratuais.
EFICÁCIA DA LEI NO ESPAÇO
Segundo a intensidade da sanção, as leis podem ser:
A respeito da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasilei- a) perfeitas: são as que preveem como sanção à sua violação a
ro, iremos trazer o artigo científico do Professor Flávio Monteiro de nulidade ou anulabilidade do ato ou negócio jurídico.
Barros, no qual aborda este assunto de forma simplificada e eluci- b) mais que perfeitas: são as que preveem como sanção à sua
dativa, como veremos a seguir: violação, além da anulação ou anulabilidade, uma pena criminal. Tal
A Lei de Introdução (Decreto-lei 4.657/1942) não faz parte do ocorre, por exemplo, com a bigamia.
Código Civil. Embora anexada a ele, antecedendo-o, trata-se de um c) menos perfeitas: são as que estabelecem como sanção à sua
todo separado. Com o advento da Lei nº. 12.376, de 30 de dezem- violação uma consequência diversa da nulidade ou anulabilidade.
bro de 2010, alterou-se o nome desse diploma legislativo, substi- Exemplo: o divorciado que se casar sem realizar a partilha dos bens
tuindo-se a terminologia “Lei de Introdução às Normas do Direito sofrerá como sanção o regime da separação dos bens, não obstante
Brasileiro” por outra mais adequada, isto é, “Lei de Introdução às a validade do seu matrimônio.
Normas do Direito Brasileiro”, espancando-se qualquer dúvida acer- d) imperfeitas: são aquelas cuja violação não acarreta qualquer
ca da amplitude do seu campo de aplicação. consequência jurídica. O ato não é nulo; o agente não é punido.
Ademais, o Código Civil regula os direitos e obrigações de or-
dem privada, ao passo que a Lei de Introdução disciplina o âmbito Lei de Efeito Concreto
de aplicação das normas jurídicas. Lei de efeito concreto é a que produz efeitos imediatos, pois
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro é norma traz em si mesma o resultado específico pretendido. Exemplo: lei
de sobre direito ou de apoio, consistente num conjunto de normas que proíbe certa atividade.
cujo objetivo é disciplinar as próprias normas jurídicas. De fato, Em regra, não cabe mandado de segurança contra a lei, salvo
norma de sobre direito é a que disciplina a emissão e aplicação de quando se tratar de lei de efeito concreto. Aludida lei, no que tange
outras normas jurídicas. aos seus efeitos, que são imediatos, assemelha-se aos atos admi-
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro cuida dos nistrativos.
seguintes assuntos:
a) Vigência e eficácia das normas jurídicas; Código, Consolidação, Compilação e Estatuto.
b) Conflito de leis no tempo; Código é o conjunto de normas estabelecidas por lei. É, pois, a
c) Conflito de leis no espaço; regulamentação unitária de um mesmo ramo do direito. Exemplos:
d) Critérios hermenêuticos; Código Civil, Código Penal etc.
e) Critérios de integração do ordenamento jurídico; Consolidação é a regulamentação unitária de leis preexisten-
f) Normas de direito internacional privado (arts. 7º a 19). tes. A Consolidação das Leis do Trabalho, por exemplo, é formada
por um conjunto de leis esparsas, que acabaram sendo reunidas
Na verdade, como salienta Maria Helena Diniz, é uma lei de num corpo único. Não podem ser objeto de consolidação as me-
introdução às leis, por conter princípios gerais sobre as normas sem didas provisórias ainda não convertidas em lei (art. 14, § 1.º, da LC
qualquer discriminação. É, pois, aplicável a todos os ramos do di- 95/1998, com redação alterada pela LC 107/2001).
reito. Assim, enquanto o Código cria e revoga normas, a Consolida-
ção apenas reúne as já existentes, isto é, não cria nem revoga as
Conceito e Classificação normas. O Código é estabelecido por lei; a Consolidação pode ser
Lei é a norma jurídica escrita, emanada do Poder Legislativo, criada por mero decreto. Nada obsta, porém, que a Consolidação
com caráter genérico e obrigatório. seja ordenada por lei, cuja iniciativa do projeto compete à mesa di-
retora do Congresso Nacional, de qualquer de suas casas e qualquer
A lei apresenta as seguintes características: membro ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Fede-
a) generalidade ou impessoalidade: porque se dirige a todas as ral ou do Congresso Nacional. Será também admitido projeto de lei
pessoas indistintamente. Abre-se exceção à lei formal ou singular, de consolidação destinado exclusivamente à declaração de leis ou
que é destinada a uma pessoa determinada, como, por exemplo, a dispositivos implicitamente revogados ou cuja eficácia ou validade
lei que concede aposentadoria a uma grande personalidade públi- encontra-se completamente prejudicada, outrossim, para inclusão
ca. A rigor, a lei formal, conquanto aprovada pelo Poder Legislativo, de dispositivos ou diplomas esparsos em leis preexistentes (art. 14,
não é propriamente uma lei, mas um ato administrativo; § 3º, da LC 95/1998, com redação alterada pela LC 107/2001).
b) obrigatoriedade e imperatividade: porque o seu descumpri- Por outro lado, a compilação consiste num repertório de nor-
mento autoriza a imposição de uma sanção; mas organizadas pela ordem cronológica ou matéria.
c) permanência ou persistência: porque não se exaure numa Finalmente, o Estatuto é a regulamentação unitária dos inte-
só aplicação; resses de uma categoria de pessoas. Exemplos: Estatuto do Idoso,
d) autorizante: porque a sua violação legitima o ofendido a Estatuto do Índio, Estatuto da Mulher Casada, Estatuto da Criança
pleitear indenização por perdas e danos. Nesse aspecto, a lei se dis- e do Adolescente. No concernente ao consumidor, o legislador op-
tingue das normas sociais; tou pela denominação Código do Consumidor, em vez de Estatuto,
porque disciplina o interesse de todas as pessoas, e não de uma
Segundo a sua força obrigatória, as leis podem ser: categoria específica, tendo em vista que todos podem se enquadrar
a) cogentes ou injuntivas: são as leis de ordem pública, e, por no conceito de consumidor.
isso, não podem ser modificadas pela vontade das partes ou do juiz.
Essas leis são imperativas, quando ordenam certo comportamento;
e proibitivas, quando vedam um comportamento.

1
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Vigência das Normas Saliente-se, contudo, que o alto mar não é território estrangeiro,
logo, no silêncio, a lei entra em vigor 45 dias depois da publicação
Sistema de Vigência (Oscar Tenório).
O Direito é uno. A sua divisão em diversos ramos é apenas para Os prazos de 45 dias e de três meses, mencionados acima, apli-
fins didáticos. Por isso, o estudo da vigência e eficácia da lei é apli- cam-se às leis de direito público e de direito privado, outrossim,
cável a todas as normas jurídicas e não apenas às do Direito Civil. às leis federais, estaduais e municipais, bem como aos Tratados e
Dispõe o art. 1.º da Lei de Introdução às Normas do Direito Convenções, pois estes são leis e não atos administrativos.
Brasileiro que: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar Conforme preceitua o § 2.º do art. 8.º da LC 95/1998, as leis
em todo o país 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente que estabelecem período de vacância deverão utilizar a cláusula
publicada”. Acrescenta seu § 1.º: “Nos Estados estrangeiros, a obri- “esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua
gatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 3 (três) me- publicação oficial”. No silêncio, porém, o prazo de vacância é de 45
ses depois de oficialmente publicada”. dias, de modo que continua em vigor o art. 1º da LINDB.
Vê-se, portanto, que se adotou o sistema do prazo de vigência
único ou sincrônico, ou simultâneo, segundo o qual a lei entra em Forma de Contagem
vigor de uma só vez em todo o país. Quanto à contagem do prazo de vacatio legis, dispõe o art. 8.º,
O sistema de vigência sucessiva ou progressiva, pelo qual a lei § 1.º, da LC 95/1998, que deve ser incluído o dia da publicação e o
entra em vigor aos poucos, era adotado pela antiga Lei de Introdu- último dia, devendo a lei entrar em vigor no dia seguinte.
ção às Normas do Direito Brasileiro. Com efeito, três dias depois de Conta-se o prazo dia a dia, inclusive domingos e feriados, como
publicada, a lei entrava em vigor no Distrito Federal, 15 dias depois salienta Caio Mário da Silva Pereira. O aludido prazo não se suspen-
no Rio de Janeiro, 30 dias depois nos Estados marítimos e em Minas de nem se interrompe, entrando em vigor no dia seguinte ao último
Gerais, e 100 dias depois nos demais Estados. dia, ainda que se trate de domingo e feriado.
Conquanto adotado o sistema de vigência único, Oscar Tenó- Convém esclarecer que se a execução da lei depender de regu-
rio sustenta que a lei pode fixar o sistema sucessivo. No silêncio, lamento, o prazo de 45 dias, em relação a essa parte da lei, conta-se
porém, a lei entra em vigor simultaneamente em todo o território a partir da publicação do regulamento (Serpa Lopes).
brasileiro.
Lei Corretiva
Vacatio Legis Pode ocorrer de a lei ser publicada com incorreções e erros ma-
Vacatio legis é o período que medeia entre a publicação da lei teriais. Nesse caso, se a lei ainda não entrou em vigor, para corrigi-
e a sua entrada em vigor. -la, não é necessária nova lei, bastando à repetição da publicação,
Tem a finalidade de fazer com que os futuros destinatários da sanando-se os erros, reabrindo-se, destarte, o prazo da vacatio le-
lei a conheçam e se preparem para bem cumpri-la. gis em relação aos artigos republicados. Entretanto, se a lei já en-
A Constituição Federal não exige que as leis observem o pe- trou em vigor, urge, para corrigi-la, a edição de uma nova lei, que é
ríodo de vacatio legis. Aliás, normalmente as leis entram em vigor denominada lei corretiva, cujo efeito, no silêncio, se dá após o de-
na data da publicação. Em duas hipóteses, porém, a vacatio legis é curso do prazo de 45 dias a contar da sua publicação. Enquanto não
obrigatória: sobrevém essa lei corretiva, a lei continua em vigor, apesar de seus
a) Lei que cria ou aumenta contribuição social para a Segurida- erros materiais, ressalvando-se, porém, ao juiz, conforme esclarece
de Social. Só pode entrar em vigor noventa dias após sua publicação Washington de Barros Monteiro, o poder de corrigi-la, ainda que
(art. 195, § 6.º, da CF). faça sentido o texto errado.
Por outro lado, se o Poder Legislativo aprova um determinado
b) Lei que cria ou aumenta tributo. Só pode entrar em vigor
projeto de lei, submetendo-o à sanção do Presidente da República,
noventa dias da data que haja sido publicada, conforme art. 150,
e este acrescenta determinados dispositivos, publicando em segui-
III, c, da CF, com redação determinada pela EC 42/2003. Saliente-se,
da o texto, a hipótese será de inconstitucionalidade, por violação do
ainda, que deve ser observado o princípio da anterioridade.
princípio da separação dos poderes. De fato, o Presidente da Repú-
blica não pode acrescentar ou modificar os dispositivos aprovados
Em contrapartida, em três hipóteses, a vigência é imediata,
pelo Poder Legislativo, devendo limitar-se a suprimi-los, pois, no
sem que haja vacatio legis, a saber:
Brasil, é vedado o veto aditivo ou translativo, admitindo-se apenas
a) Atos Administrativos. Salvo disposição em contrário, entram
o veto supressivo.
em vigor na data da publicação (art. 103, I, do CTN).
b) Emendas Constitucionais. No silêncio, como esclarece Oscar Local de Publicação das Leis
Tenório, entram em vigor no dia da sua publicação. A lei é publicada no Diário Oficial do Executivo. Nada obsta a
c) Lei que cria ou altera o processo eleitoral. Tem vigência ime- sua publicação no Diário Oficial do Legislativo ou Judiciário. Toda-
diata, na data da sua publicação, todavia, não se aplica à eleição via, o termo inicial da vacatio legis é a publicação no Diário Oficial
que ocorra até um ano da data de sua vigência (art. 16 da CF). do Executivo.
Caso o Município ou o Estado-membro não tenham imprensa
Cláusula de Vigência oficial, a lei pode ser publicada na imprensa particular.
Cláusula de vigência é a que indica a data a partir da qual a lei Nos municípios em que não há imprensa oficial nem particular,
entra em vigor. a publicação pode ser feita mediante fixação em lugar público ou
Na ausência dessa cláusula, a lei começa a vigorar em todo então em jornal vizinho ou no órgão oficial do Estado.
o país 45 dias depois de oficialmente publicada. Nos Estados es-
trangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, Princípio da Obrigatoriedade das Leis
inicia-se três meses depois de oficialmente publicada. A obrigato- De acordo com esse princípio, consagrado no art. 3.º da LINDB,
riedade da lei nos países estrangeiros é para os juízes, embaixadas, ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
consulados, brasileiros residentes no estrangeiro e para todos os Trata-se da máxima: nemine excusat ignorantia legis.
que fora do Brasil tenham interesses regulados pela lei brasileira.

2
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Assim, uma vez em vigor, todas as pessoas sem distinção de- Dentre as fontes materiais, merecem destaques: a sociologia, a
vem obedecer a lei, inclusive os incapazes, pois ela se dirige a todos. filosofia, a ética, a política, os pareceres dos especialistas, etc.
Diversas teorias procuram justificar a regra acima. Para uns, As fontes materiais, como se vê, abrangem as causas que in-
trata-se de uma presunção jure et jure, legalmente estabelecida fluenciaram o surgimento da norma jurídica. Kelsen nega a essas
(teoria da presunção). Outros defendem a teoria da ficção jurídica. fontes o caráter científico-jurídico, considerando apenas as fontes
Há ainda os adeptos da teoria da necessidade social, segundo a qual formais.
a norma do art. 3.º da LINDB é uma regra ditada por uma razão de De fato, a Teoria Pura do Direito de Kelsen elimina da Ciência
ordem social e jurídica, sendo, pois, um atributo da própria norma. Jurídica as influências filosóficas, sociológicas, políticas etc.
Aludido princípio encontra exceção no art. 8.º da Lei das Con- Já a Teoria Egológica, idealizada por Carlos Cossio e, no Brasil,
travenções Penais, que permite ao juiz deixar de aplicar a pena se aceita por Maria Helena Diniz, assevera que “o jurista deve ater-se
reconhecer que o acusado não tinha pleno conhecimento do cará- tanto as fontes materiais como às formais, preconizando a supres-
ter ilícito do fato. são da distinção, preferindo falar em fonte formal-material, já que
toda fonte formal contém, de modo implícito, uma valoração, que
Princípio Jura Novit Curia só pode ser compreendida como fonte do direito no sentido mate-
O princípio do jura novit curia significa que o juiz conhece a rial”.
lei. Consequentemente, torna-se desnecessário provar em juízo a
existência da lei. Fontes Formais
Esse princípio comporta as seguintes exceções: As fontes formais do direito compreendem os modos pelos
a) direito estrangeiro; quais as normas jurídicas se revelam.
b) direito municipal; Referidas fontes, classificam-se em estatais e não estatais.
c) direito estadual; As fontes estatais, por sua vez, subdividem-se em:
d) direito consuetudinário. a) Legislativas: Constituição Federal, Leis e Atos Administrati-
vos;
Nesses casos, a parte precisa provar o teor e a vigência do di- b) Jurisprudenciais: são as decisões uniformes dos tribunais.
reito. Exemplos: súmulas, precedentes judiciais etc.
c) Convencionais: são os tratados e convenções internacionais
Princípio da Continuidade das Leis devidamente ratificados pelo Brasil.
De acordo com esse princípio, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue (art. 2.º da LINDB). Assim, só a lei pode revo- As fontes não estatais são as seguintes:
gar a lei. Esta não pode ser revogada por decisão judicial ou por ato a) Costume Jurídico: direito consuetudinário;
do Poder Executivo. b) Doutrina: direito científico;
Em regra, as leis têm efeito permanente, isto é, uma vigência c) Convenções em geral ou negócios jurídicos. De fato, os con-
por prazo indeterminado, salvo quanto as leis de vigência tempo- tratos e outros negócios jurídicos são evidentemente celebrados
rária. com o fim de produzir efeito jurídico e por isso torna-se inegável o
A não aplicação da lei não implica na renúncia do Estado em seu ingresso no rol das fontes formais.
atribuir-lhe efeito, pois a lei só pode ser revogada por outra lei.
Convém, porém, salientar que a classificação das fontes for-
Repristinação mais do direito é tema polêmico no cenário jurídico. Numerosos
Repristinação é a restauração da vigência de uma lei anterior- autores propõem sobre o assunto a seguinte classificação:
mente revogada em virtude da revogação da lei revogadora. a) Fonte formal imediata ou principal ou direta: é a lei, pois o
Sobre o assunto, dispõe o § 3º do art. 2.º da LINDB: “salvo dis- sistema brasileiro é o do Civil Law ou romano germânico.
posição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei b) Fontes formais mediatas ou secundárias: são aquelas que
revogadora perdido a vigência”. só têm incidência na falta ou lacuna da lei. Compreendem a analogia,
Assim, o efeito repristinatório não é automático; só é possível os costumes e os princípios gerais do direito (art. 4º da LINDB). Alguns
mediante cláusula expressa. No silêncio da lei, não há falar-se em autores ainda incluem a equidade. Na Inglaterra, que adota o sistema
repristinação. Se, por exemplo, uma terceira lei revogar a segunda, da Common Law, os costumes são erigidos a fonte formal principal.
a primeira não volta a viger, a não ser mediante cláusula expressa.
Quanto à doutrina e jurisprudência, diversos autores classifi-
Fontes do Direito cam como sendo fontes não formais do direito.
Analisando essa classificação, que divide as fontes formais em
Conceito principais e secundárias, ganha destaque o enquadramento das
As fontes do direito compreendem as causas do surgimento súmulas vinculantes editadas pelo Supremo Tribunal Federal, com
das normas jurídicas e os modos como elas se exteriorizam. base no art. 103-A da CF, introduzida pela EC 45/2004. Trata-se, sem
São, pois, duas espécies: dúvida, de fonte formal principal, nivelando-se à lei, diante do seu
- Fontes materiais ou fontes no sentido sociológico ou ainda caráter obrigatório.
fonte real;
- Fontes formais. Eficácia da Norma

Fontes Materiais ou Reais Hipóteses


As fontes materiais são as causas determinantes da origem da A norma jurídica perde a sua validade em duas hipóteses: re-
norma jurídica. vogação e ineficácia.
O assunto extrapola os limites da ciência jurídica, registrando Desde já cumpre registrar que a lei revogada pode manter a
conotação metafísica, levando o intérprete a investigar a razão filo- sua eficácia em determinados casos. De fato, ela continua sendo
sófica, sociológica, histórica, social, ética, etc., que determinaram o aplicada aos casos em que há direito adquirido, ato jurídico perfeito
surgimento da norma jurídica. e coisa julgada.

3
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Em contrapartida, a lei em vigor, às vezes, não goza de eficácia, Tratando-se, porém, de competência concorrente, referente-
conforme veremos adiante. mente às matérias previstas no art. 24 da CF, atribuídas simulta-
neamente à União, aos Estados e ao Distrito Federal, reina a hierar-
Revogação quia entre as leis. Com efeito, à União compete estabelecer normas
Revogação é a cessação definitiva da vigência de uma lei em gerais, ao passo que aos Estados-membros e ao Distrito Federal
razão de uma nova lei. competem legislar de maneira suplementar, preenchendo os vazios
Só a lei revoga a lei, conforme o princípio da continuidade das deixados pela lei federal. Todavia, inexistindo lei federal sobre normas
leis. Saliente-se que o legislador não pode inserir na lei a proibição gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para aten-
de sua revogação. der as suas peculiaridades. A superveniência de lei federal sobre nor-
A revogação pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derroga- mas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
ção). Algumas Leis estaduais, para serem editadas, dependem de autoriza-
A revogação ainda pode ser expressa, tácita ou global. ção de lei complementar. O art. 22, parágrafo único, da CF permite, por
A revogação expressa ou direta é aquela em que a lei indica os exemplo, que lei estadual verse sobre questões específicas de Direito
dispositivos que estão sendo por ela revogados. A propósito, dispõe Civil, desde que autorizada por lei complementar. Todavia, a validade
o art. 9º da LC 107/2001: “A cláusula de revogação deverá enume- da lei estadual não depende da aprovação do Governo Federal.
rar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas”. O §2º do art. 1º da LINDB, que exigia essa aprovação viola-
A revogação tácita ou indireta ocorre quando a nova lei é in- dora do princípio federativo, foi revogado expressamente pela Lei
compatível com a lei anterior, contrariando-a de forma absoluta. A 12.036/2009.
revogação tácita não se presume, pois é preciso demonstrar essa
incompatibilidade. Saliente-se, contudo, que a lei posterior geral Princípio da Segurança e da Estabilidade Social
não revoga lei especial. Igualmente, a lei especial não revoga a De acordo com esse princípio, previsto no art. 5º, inc. XXXVI
geral (§2º do art. 2º da LINDB). Assim, o princípio da conciliação da CF, a lei não pode retroagir para violar o direito adquirido, o ato
ou das esferas autônomas consiste na possibilidade de convivên- jurídico perfeito e a coisa julgada. Devem ser respeitadas, portanto,
cia das normas gerais com as especiais que versem sobre o mesmo as relações jurídicas constituídas sob a égide da lei revogada.
assunto. Esse princípio, porém, não é absoluto. De fato, a lei geral - Direito Adquirido: é o que pode ser exercido desde já por já
pode revogar a especial e vice-versa, quando houver incompatibi- ter sido incorporado ao patrimônio jurídico da pessoa. O §2º do art.
lidade absoluta entre essas normas; essa incompatibilidade não se 6º da LINDB considera também adquirido:
presume; na dúvida, se considerará uma norma conciliável com a a) O direito sob termo. O art.131 do CC também reza que o
outra, vale dizer, a lei posterior se ligará à anterior, coexistindo am- termo, isto é, o fato futuro e certo, suspende o exercício, mas não a
bas. Sobre o significado da expressão “revogam-se as disposições aquisição do direito.
b) O direito sob condição preestabelecida inalterável a arbí-
em contrário”, Serpa Lopes sustenta que se trata de uma revogação
trio de outrem: Trata-se, a rigor, de termo, porque o fato é futuro
expressa, enquanto Caio Mário da Silva Pereira, acertadamente,
e certo, porquanto inalterável pelo arbítrio de outrem. Exemplo:
preconiza que essa fórmula designa a revogação tácita. Trata-se de
Dar-te-ei a minha casa no dia que chover, sob a condição de João
uma cláusula inócua, pois de qualquer maneira as disposições são
não impedir que chova. Ora, chover é um fato certo e inalterável
revogadas, por força da revogação tácita prevista no § 1º do art. 2º
pelo arbítrio de João e, portanto, trata-se de termo, logo o direito
da LINDB. Convém lembrar que o art. 9º da LC 107/2001 determina
é adquirido.
que a cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as
leis ou disposições legais revogadas, de modo que o legislador não - Ato Jurídico Perfeito: é o já consumado de acordo com a lei
deve mais se valer daquela vaga expressão “revogam-se as disposi- vigente ao tempo em que se efetuou. Exemplo: contrato celebrado
ções em contrário”. antes da promulgação do Código Civil não é regido por este diploma
A revogação global ocorre quando a lei revogadora disciplina legal, e sim pelo Código Civil anterior.
inteiramente a matéria disciplinada pela lei antiga. Nesse caso, os - Coisa Julgada: é a sentença judicial de que já não caiba mais
dispositivos legais não repetidos são revogados, ainda que compa- recurso. É, pois, a imutabilidade da sentença.
tíveis com a nova lei. Regular inteiramente a matéria significa disci-
pliná-la de maneira global, no mesmo texto. Atente-se que a Magna Carta não impede a edição de leis re-
troativas; veda apenas a retroatividade que atinja o direito adquiri-
Competência para revogar as Leis do, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Federação é a autonomia recíproca entre a União, Estados- A retroatividade, consistente na aplicação da lei a fatos ocorri-
-Membros e Municípios. Trata-se de um dos mais sólidos princípios dos antes da sua vigência, conforme ensinamento do Min. Celso de
constitucionais. Por força disso, não há hierarquia entre lei federal, Melo, é possível mediante dois requisitos:
lei estadual e lei municipal. Cada uma das pessoas políticas inte- a) cláusula expressa de retroatividade;
grantes da Federação só pode legislar sobre matérias que a Cons- b) respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa
tituição Federal lhes reservou. A usurpação de competência gera a julgada.
inconstitucionalidade da lei. Assim, por exemplo, a lei federal não Assim, a retroatividade não se presume, deve resultar de texto
pode versar sobre matéria estadual. Igualmente, a lei federal e esta- expresso em lei e desde que não viole o direito adquirido, o ato jurí-
dual não podem tratar de assunto reservado aos Municípios. dico perfeito e a coisa julgada. Abre-se exceção à lei penal benéfica,
Força convir, portanto, que lei federal só pode ser revogada por cuja retroatividade é automática, vale dizer, independe de texto ex-
lei federal; lei estadual só por lei estadual; e lei municipal só por lei presso, violando inclusive a coisa julgada.
municipal. Podemos então elencar três situações de retroatividade da lei:
No que tange às competências exclusivas, reservadas pela a) lei penal benéfica;
Magna Carta a cada uma dessas pessoas políticas, não há falar-se b) lei com cláusula expressa de retroatividade, desde que não
em hierarquia entre leis federais, estaduais e municipais, pois deve viole o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Na
ser observado o campo próprio de incidência sobre as matérias pre- área penal, porém, é terminantemente vedada a retroatividade de
vistas na CF. lei desfavorável ao réu.

4
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
c) lei interpretativa: é a que esclarece o conteúdo de outra lei, contrariam, como no exemplo clássico da lei que passou a proibir a
tornando obrigatória uma exegese, que já era plausível antes de usura, considerando-a crime, subsistindo, porém, os efeitos preté-
sua edição. É a chamada interpretação autêntica ou legislativa. A lei ritos, isto é, que fluíram até a data da entrada em vigor da lei, mas
interpretativa não cria situação nova; ela simplesmente torna obri- que, a partir dela, como salienta Serpa Lopes, não podem mais ser
gatória uma exegese que o juiz, antes mesmo de sua publicação, já exigidos.
podia adotar. Aludida lei retroage até a data de entrada em vigor Portanto, nos atos ou negócios de execução continuada, a pro-
da lei interpretada, aplicando-se, inclusive, aos casos pendentes de teção ao direito adquirido ou ao ato jurídico perfeito, que está es-
julgamento, respeitando apenas a coisa julgada. Cumpre, porém, tabelecido no plano constitucional, é limitada à data de entrada em
não confundir lei interpretativa, que simplesmente opta por uma vigor da lei de ordem pública, estancando os seus efeitos a partir
exegese razoável, que já era admitida antes da sua edição, com lei de então.
que cria situação nova, albergando exegese até então inadmissível. De fato, nenhum direito é absoluto. Todo direito deve ser pro-
Neste último caso, a retroatividade só é possível mediante cláusu- tegido à vista de uma finalidade ética. Se um fato anteriormente
la expressa, desde que não viole o direito adquirido, o ato jurídico lícito tornou-se ilícito em razão de uma nova lei, esta deve ser apli-
perfeito e a coisa julgada. cada imediatamente sob pena de, sob o manto do direito adquirido
ou ato jurídico perfeito, permitir-se que a ilicitude perdure no seio
Em algumas situações, porém, uma parcela da doutrina admite da sociedade, contrariando os fins do Direito, que é combatê-la.
a retroatividade de uma norma, inclusive para violar o direito ad- Portanto, o direito adquirido e o ato jurídico perfeito não podem
quirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. As hipóteses são sobrepor-se à função do próprio Direito.
as seguintes: A argumentação acima, a meu ver, resolve o problema da apli-
a) A Lei penal benéfica pode retroagir, conforme já vimos, para cação imediata, que, no entanto, não se confunde com a retroativi-
violar a coisa julgada (art.5º, XL, da CF). dade, isto é, a aplicação da lei de ordem pública aos negócios jurí-
b) Princípio da relativização da coisa julgada: A flexibilização da dicos celebrados antes de sua vigência para considerá-los ineficazes
coisa julgada passou a ter importância a partir da análise de decisões desde a data da sua celebração.
que transitaram em julgado, não obstante a afronta à Constituição Em princípio, prevalece a Escala Ponteana, os planos de exis-
Federal, outrossim, no tocante às decisões distantes dos ditames da tência e validade regem-se pela lei vigente ao tempo de sua cele-
justiça. Segundo o parágrafo único do artigo 741 do CPC, é inexigível bração, enquanto o plano da eficácia submete-se à lei de ordem
o título judicial fundado em lei ou ato normativo declarados incons- pública vigente ao tempo dos efeitos. Dentro dessa visão, a lei de
titucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplica- ordem pública superveniente não poderia afetar a existência ou va-
ção ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo lidade do negócio jurídico, mas apenas os seus efeitos.
Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal. Imaginemos, porém, que o sujeito tenha adquirido uma fazen-
A inconstitucionalidade exigida pelo Código é aquela emanada de da num tempo em que o desmatamento era permitido e posterior-
uma ação direta de inconstitucionalidade, ou seja, não se contenta mente leis ambientais proibissem ou limitassem esse seu direito.
a lei com a mera inconstitucionalidade declarada incidentalmente Ora, não há, nesse caso, que se falar em prevalência do direito ad-
no processo, cujo efeito é desprovido de eficácia erga omnes. Para quirido, pois a pretensão, até então lícita, tornou-se ilícita, colidin-
o Ministro do Superior Tribunal de Justiça, José Augusto Delgado, do com os novos postulados do ordenamento jurídico, impondo-se,
a coisa julgada não deve ser via para o cometimento de injustiças, pois, a retroatividade da nova lei.
pois se assim fosse se estaria fazendo o mau uso do Direito, que não Outro exemplo: João celebra com Pedro um contrato de venda
estaria atendendo aos seus ideais de justiça. de determinada mercadoria, para ser entregue em 30 (trinta) dias.
c) Emenda Constitucional pode retroagir para violar o direito Antes desse prazo, porém, surge uma lei proibindo a comercializa-
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, porque, no plano ção dessa mercadoria. A meu ver, o contrato, anteriormente válido,
hierárquico, posiciona-se acima da lei, sendo que apenas a lei, se- deve ser extinto, impondo-se a retroatividade da nova lei, inviabili-
gundo o art.5º, inciso XXXVI, da CF, não pode retroagir para prejudi- zando-se a entrega da mercadoria, sob pena de o ato jurídico per-
car o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Este feito funcionar como exceção à ilicitude, contrariando a função do
posicionamento, no entanto, é minoritário, prevalecendo a tese de próprio Direito.
que a expressão “lei” mencionada no inciso XXXVI do art.5º da CF Nesse caso, a máxima res perit domino soluciona o problema,
estende-se também às Emendas Constitucionais, logo elas não po- devendo a superveniência de lei de ordem pública ser equiparada
deriam retroagir para violar o direito adquirido, o ato jurídico per- a caso fortuito ou força maior, resolvendo-se o negócio nos termos
feito e a coisa julgada. do art. 234 do CC. De fato, a ilicitude superveniente da prestação
d) O parágrafo único do art. 2.035 do CC prevê a retroativida- representa a destruição jurídica desta, equiparando-se ao pereci-
de das normas de ordem pública, tais como as que visam assegu- mento material.
rar a função social da propriedade e dos contratos. Assim, referido Vê-se, assim, que o princípio da segurança jurídica não é abso-
dispositivo legal consagrou a retroatividade das normas de ordem luto. Ele sucumbe diante da superveniência de lei de ordem pública
pública, acolhendo o posicionamento doutrinário de Serpa Lopes e e, a meu ver, com maior razão, em virtude da Emenda Constitucio-
outros juristas de escol. A menção à retroatividade dos preceitos do nal, pois a manutenção de privilégios, como certas aposentadorias
Código Civil sobre a função social da propriedade e dos contratos, a conflitantes com os novos postulados do ordenamento jurídico, não
meu ver, é meramente exemplificativa, porquanto em outras situa- devem persistir acobertadas pelo manto do direito adquirido, por-
ções a lei de ordem pública também poderá retroagir. que a par desse princípio, há, no Estado Democrático de Direito,
outros mais importantes.
É preciso, no entanto, compatibilizar o preceito legal que prevê
a retroatividade das normas de ordem pública com os preceitos, Ineficácia
legais e constitucionais, que protegem o direito adquirido, o ato ju- Vimos que a lei só é revogada em razão da superveniência de
rídico perfeito e a coisa julgada. uma nova lei. Em certas hipóteses, porém, a lei perde a sua valida-
Em relação ao direito adquirido e ato jurídico perfeito (por de, deixando de ser aplicada ao caso concreto, não obstante con-
exemplo: contratos já celebrados), não se nega a aplicabilidade serve a sua vigência em razão da inexistência da lei superveniente
imediata da lei de ordem pública, para fazer cessar os efeitos que a revogadora.

5
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Assim, é possível a ineficácia de uma lei vigente, bem como a O artigo 22 se refere a obstáculos e dificuldades reais do gestor,
eficácia de uma lei revogada. Essa última hipótese ocorre quando a reiterando que as decisões que anulam atos públicos, contratos,
lei revogada é aplicada aos casos em que há direito adquirido, ato ajustes, processos ou normas administrativas, deverão de funda-
jurídico perfeito e coisa julgada. mentar nas consequências, levando em consideração as circunstân-
Malgrado a sua vigência, a lei é ineficaz, isto é, inaplicável nas cias práticas que a suspensão daquele ato pode impor ao gestor ou
seguintes hipóteses: ao administrado, que sofrerá ao dar cumprimento à decisão admi-
a) caducidade: ocorre pela superveniência de uma situação nistrativa ou judicial.
cronológica ou factual que torna a norma inválida, sem que ela pre- Ao afirmar que as sanções aplicadas ao agente serão levadas
cise ser revogada. Exemplo: leis de vigência temporária. em conta na dosimetria das demais sanções de mesma natureza e
b) desuso: é a cessação do pressuposto de aplicação da norma. relativas ao mesmo fato, o legislador passa a tornar heterogênea as
Exemplo: a lei que proíbe a caça da baleia deixará de ser aplicada se decisões das esferas penal, civil e administrativa. Não pode um ges-
porventura desaparecerem todas as baleias do planeta. tor ser absolvido na ação penal e condenado na ação de improbi-
c) costume negativo ou contra legem: é o que contraria a lei. O dade, sem que se considere a decisão da sentença que o absolveu.
costume não pode revogar a lei, por força do princípio da continui- Os artigos 23 e o 24 exigem do juiz e do gestor, que estabele-
dade das leis. Todavia, prevalece a opinião de que ele pode gerar çam parâmetros em suas decisões, fazendo revisão do ato admi-
a ineficácia da lei, desde que não se trate de lei de ordem pública. nistrativo, do ato judicial, que não considerou fato novo, mesmo
Como ensina Rubens Requião, verificada que a intenção das partes tendo sido este exibido no processo. O princípio da revisão já está
foi a de adotar certos costumes, o julgador deve aplicá-lo, sobre- entranhado nos princípios administrativos. O poder/dever de rever
pondo-o à norma legal não imperativa. De acordo com Serpa Lopes, atos prejudiciais aos cidadãos e aos próprios interesses públicos, é
a realidade, através de um costume reiterado, enraizado nos dados inerente à responsabilidade do gestor.
sociológicos, em harmonia com as necessidades econômicas e mo- Já o artigo 26 regula a hipótese de assunção de compromisso,
rais de um povo, é capaz de revogar a norma. Não se trata, data entre o particular e a administração, creio que até entre o particular,
venia, de revogação, pois esta só é produzida pelo advento de uma jurisdicionado e o investigado, processado ou sentenciado, sempre
nova lei; a hipótese é de ineficácia. Como exemplos de costumes visando o interesse público. O artigo seguinte fixa a possibilidade do
contra legem, podemos citar: a emissão de cheque pré-datado; a gestor ou do juiz decidir impondo compensações à administração,
expedição de triplicata pelo fato da duplicata não ter sido devolvida em casos de erros formais, que não constituam infração graves e
tornou-se praxe, embora a lei preveja para a hipótese o protesto que possam ser reparados, quando se detecta que o administrado
por indicações, ao invés da triplicata; admissibilidade de prova tes- recebeu benefícios indevidos ou causou prejuízos à administração.
temunhal em contrato superior a dez salários mínimos, nos casos O artigo 29 traz regramento sobre a soberania popular, im-
em que o costume dispensar a prova escrita exigida pela lei. pondo regras a este princípio, há também outros princípios den-
d) decisão do STF declarando a lei inconstitucional em ação di- tro da referida lei: princípio da motivação e da consequência do
reta de inconstitucionalidade (controle por via de ação ou aberto). ato administrativo, princípio da fundamentação e da justificativa,
Cumpre observar que essa decisão judicial não revoga a lei, apenas princípio da obediência aos obstáculos reais, princípio do respeito
retira a sua eficácia. à transição, princípio da revisão, princípio da obediência aos com-
e) resolução do Senado Federal cancelando a eficácia de lei de- promissos, princípio da compensação, princípio da vinculação aos
clarada incidentalmente inconstitucional pelo STF (controle por via pareceres, princípio da soberania popular e o princípio da seguran-
de exceção ou difuso). ça jurídica.
f) princípio da anterioridade da lei tributária, pois, uma vez pu-
blicada, sua eficácia permanece suspensa até o exercício financeiro Eficácia da lei no espaço constantes da Lei de Introdução às
seguinte. Normas do Direito Brasileiro (LINDB),
g) a lei que altera o processo eleitoral entra em vigor na data a)Regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a
de sua publicação, mas não tem eficácia em relação à eleição que capacidade e os direitos de família: Determinada pela lei do país em
ocorra até um ano da data de sua vigência. que domiciliada a pessoa
b) Casamento realizado no Brasil: é aplicada a lei brasileira
Em decorrência da publicação da lei federal nº 13.655, hou- quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebra-
ve mudanças na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, ção
com aplicações nas decisões administrativas, controladoras e judi- c) Nubentes com domicílio diverso: regerá os casos de invalida-
ciais, ou seja, decisões dos Tribunais de Contas (TCU, TCE e TCM). de do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
Ela traz mais responsabilidades ao gestor, especialmente a no- d) O regime de bens, legal ou convencional: obedece à lei do
vel obrigação de fundamentar suas decisões, analisando as ques- país em que os nubentes tiverem domicílio, e, se este for diverso, a
tões práticas e os resultados que ela produzirá no mundo jurídico. do primeiro domicílio conjugal
O artigo 20 exige da administração que em suas decisões, sejam e) Divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os côn-
consideradas as consequências práticas que redundará no mundo juges forem brasileiros: (Atenção: é uma regra nova, implementa-
jurídico, afastando-se de decisões fundadas em direitos abstratos e da em 2009, por isso fique esperto) só será reconhecido no Brasil
que haja a explicitação da verdadeira motivação para os atos admi- depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido
nistrativos, despachos e decisões. antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a
Já o artigo seguinte referenda o texto já trazido nos antece- homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições
dentes, ou seja, o legislador quer que o operador do direito haja estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O
com responsabilidade, principalmente valorizando o interesse pú- Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno,
blico, que deve sobrepor aos demais. E dependendo da situação a
poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já pro-
sua fundamentação deverá dar alternativa para o caso em questão.
feridas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de
Desta forma, ao obrigar o magistrado a indicar outra solução, que
divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os
não seja a paralisação da obra, de modo a regularizar a situação
efeitos legais.
e não gerar maiores prejuízos aos cidadãos, o legislador amplia os
deveres desses.

6
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
f) Quando a pessoa não tiver domicílio: considera-se domicilia- PARTE GERAL
da no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre
g) Qualificação dos os bens e regular as relações a eles concer- LIVRO I
nentes: aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados DAS PESSOAS
h) Bens móveis que o proprietário trouxer ou se destinarem a
transporte para outros lugares: aplica-se a lei do país em que for TÍTULO I
domiciliado o proprietário DAS PESSOAS NATURAIS
i) Para qualificar e reger as obrigações: aplicar-se-á a lei do país
em que se constituírem CAPÍTULO I
j) A obrigação resultante do contrato: reputa-se constituída no DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE
lugar em que residir o proponente
k) A sucessão por morte ou por ausência: obedece à lei do país Art. 1 o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem
em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que civil.
seja a natureza e a situação dos bens. Art. 2 o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento
l) A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País: será com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do
regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos nascituro.
brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes seja Art. 3 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente
mais favorável a lei pessoal do de cujus. (Atenção: lei mais favorável os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. (Redação
será aplicada) dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
m) Réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a I - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vi-
obrigação: Competente a autoridade judiciária brasileira julgar a gência)
ação relativa II - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
n) Ações relativas a imóveis situados no Brasil: Só à autoridade (Vigência)
judiciária brasileira compete conhecer (competência exclusiva) III - (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
o) Prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro: rege-se pela (Vigência)
lei que nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos ou à ma-
admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desco- neira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
nheça (Vigência)
p) Requisitos para a execução de sentença estrangeira no Bra- I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
sil: (cumulativos) II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada
1) haver sido proferida por juiz competente; pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
2) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verifi- III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não pu-
cado à revelia; derem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
3) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades 2015) (Vigência)
necessárias para a execução no lugar em que foi proferida; IV - os pródigos.
4) estar traduzida por intérprete autorizado; Parágrafo único.A capacidade dos indígenas será regulada por
5) ter sido homologada pelo Superior Tribunal de Justiça (vale o legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vi-
que está na CF/88 prevê que cabe ao STJ e não ao STF) gência)
q) Leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quan-
declarações de vontade não terão eficácia no Brasil, quando ofen- do a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
derem: a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro,
mediante instrumento público, independentemente de homologa-
PESSOAS NATURAIS. PERSONALIDADE. CAPACIDADE. ção judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor
NOME. ESTADO. DOMICÍLIO. DIREITOS DA PERSONA- tiver dezesseis anos completos;
LIDADE II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
LEI N° 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência
de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com
Institui o Código Civil. dezesseis anos completos tenha economia própria.
Art. 6 o A existência da pessoa natural termina com a morte;
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei auto-
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: riza a abertura de sucessão definitiva.
Art. 7 o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação
de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em
perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro,
não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses ca-
sos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas
e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do faleci-
mento.

7
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Art. 8 o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma oca- Momento da consideração jurídica do nascituro:
sião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu Ante as novas técnicas de fertilização in vitro e do congela-
aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. mento de embriões humanos, houve quem levantasse o problema
Art. 9 o Serão registrados em registro público: relativo ao momento em que se deve considerar juridicamente o
I - os nascimentos, casamentos e óbitos; nascitum, entendendo-se que a vida tem início, naturalmente, com
II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; a concepção no ventre materno. Assim sendo, na fecundação na
III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa; proveta, embora seja a fecundação do óvulo, pelo espermatozoi-
IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida. de, que inicia a vida, é a nidação do zigoto ou ovo que a garantirá;
Art. 10. Far-se-á averbação em registro público: logo, para alguns autores, o nascituro só será “pessoa” quando o
I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do ovo fecundado for implantado no útero materno, sob a condição do
casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da nascimento com vida. O embrião humano congelado não poderia
sociedade conjugal; ser tido como nascituro, apesar de dever ter proteção jurídica como
II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reco- pessoa virtual, com uma carga genética própria. Embora a vida se
nhecerem a filiação; inicie com a fecundação, e a vida viável com a gravidez, que se dá
III - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) com a nidação, entendemos que na verdade o início legal da consi-
deração jurídica da personalidade é o momento da penetração do
Conforme entendimento doutrinário personalidade e capaci- espermatozóide no óvulo, mesmo fora do corpo da mulher. Por isso,
dade jurídica transmite a ideia de personalidade, que revela a apti- a Lei n. 8.974/95, nos arts. 8, II, III e IV, e 13, veio a reforçar, em boa
dão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações. hora, essa ideia não só ao vedar:
Segundo Maria Helena Diniz: a pessoa natural o sujeito ‘das a) manipulação genética de células germinais humanas;
relações jurídicas e a personalidade, a possibilidade de ser sujeito, b) intervenção em material genético humano in vivo, salvo para
toda pessoa é dotada de personalidade. Esta tem sua medida na o tratamento de defeitos genéticos;
capacidade, que é reconhecida, num sentido de universalidade, no c) produção, armazenamento ou manipulação de embriões
art. 12 do Código Civil, que, ao prescrever “toda pessoa é capaz de humanos destinados a servir como material biológico disponível,
direitos e deveres”, emprega o termo “pessoa” na acepção de todo como também ao considerar tais atos como crimes, punindo-os se-
ser humano, sem qualquer distinção de sexo, idade, credo ou raça. veramente.
- Capacidade de direito e capacidade de exercício: À aptidão
oriunda da personalidade para adquirir direitos e contrair obriga- Com isso, parece-nos que a razão está com a teoria concepcio-
ções na vida civil dá-se o nome de capacidade de gozo ou de direito. nista, uma vez que o Código Civil resguarda desde a concepção os
- Quando o Código enuncia, no seu art. 1º, que toda pessoa é direitos do nascituro e além disso, no art. 1.597, presume concebi-
capaz de direitos e deveres na ordem civil, não dá a entender que do na constância do casamento o filho havido, a qualquer tempo,
possua concomitantemente o gozo e o exercício desses direitos, quando se tratar de embrião excedente, decorrente de concepção
pois nas disposições subsequentes faz referência àqueles que ten- artificial heteróloga.
do o gozo dos direitos civis não podem exercê-los, por si, ante o Em relação aos incapazes, são considerados absolutamente in-
fato de, em razão de menoridade ou de insuficiência somática, não capazes:
terem a capacidade de fato ou de exercício. - Menoridade de dezesseis anos: Os menores de dezesseis anos
Para discorrer sobre este tema, iremos trazer o entendimento são tidas como absolutamente incapazes para exercer atos na vida
da professora Maria Helena Diniz: civil, porque devido à idade não atingiram o discernimento para
Começo da personalidade natural: distinguir o que podem ou não .fazer que lhes, é conveniente ou
Pelo Código Civil, para que um ente seja pessoa e adquira per- prejudicial Por isso para a validade dos seus atos, será preciso que
sonalidade jurídica, será suficiente que tenha vivido por um segun- estejam representados por seu pai, por sua mãe, ou por tutor.
do. Já em relação aos relativamente incapazes:
- Incapacidade relativa: A incapacidade relativa diz respeito
- Direitos do nascituro: àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil desde que
Conquanto comece do nascimento com vida a personalidade assistidos por quem o direito encarrega desse ofício, em razão de
civil do homem, a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do parentesco, de relação de ordem civil ou de designação judicial, sob
nascituro (CC, ais. 22, 1.609, 1.779 e parágrafo único e 1.798), como pena de anulabilidade daquele ato (CC, art. 171), dependente da
o direito à vida (CF, art. 52, CP, ais. 124 a 128, 1 e II), à filiação (CC, iniciativa do lesado, havendo até hipóteses em que tal ato poderá
ais. 1.596 e 1.597), à integridade física, a alimentos (RT 650/220; ser confirmado ou ratificado. Há atos que o relativamente incapaz
RJTJSP 150/906), a uma adequada assistência pré-natal, a um cura- pode praticar, livremente, sem autorização.
dor que zele pelos seus interesses em caso de incapacidade de seus - Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos: Os maiores
genitores, de receber herança (CC, arts. 1.798 e 1.800, § 3º), de ser de dezesseis e menores de dezoito anos só poderão praticar atos
contemplado por doação (CC, art. 542), de ser reconhecido como válidos se assistidos pelo seu representante. Caso contrário, serão
filho etc. anuláveis.
Poder-se-ia até mesmo afirmar que, na vida intrauterina, tem o - Ébrios habituais ou viciados em tóxicos: Alcoólatras, dipsô-
nascituro, e na vida extrauterina, tem o embrião, personalidade ju- manos e toxicômanos.Aqueles que, por causa transitória ou per-
rídica formal, no que atina aos direitos personalíssimos, ou melhor, manente, não puderem exprimir sua vontade: Abrangidos estão,
aos da personalidade, visto ter a pessoa carga genética diferenciada aqui: os fracos de mente, surdos mudos e portadores de anomalia
desde a concepção, seja ela in vivo ou in vitro (Recomendação n. psíquica que apresentem sinais de desenvolvimento mental incom-
1.046/89, n. 7 do Conselho da Europa), passando a ter a persona- pleto, comprovado e declarado em sentença de interdição, que os
lidade jurídica material, alcançando os direitos patrimoniais, que tornam incapazes de praticar atos na vida civil, sem a assistência de
permaneciam em estado potencial, somente com o nascimento um curador (CC, art. 1.767. IV). E portadores de deficiência mental,
com vida (CC, art. 1.800, § 3º). Se nascer com vida, adquire perso- que sofram redução na sua capacidade de entendimento, não po-
nalidade jurídica material, mas, se tal não ocorrer, nenhum direito derão praticar atos na vida civil sem assistência de curador (CC, art.
patrimonial terá. 1.767, III). Desde que interditos.

8
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
- Pródigos: São considerados relativamente incapazes os pró- com oitenta anos de idade (CC, art. 38), será declarada a sua morte
digos, ou seja, aqueles que, comprovada, habitual e desordenada- presumida a requerimento de qualquer interessado, convertendo-
mente, dilapidam seu patrimônio, fazendo gastos excessivos. Com -se a sucessão provisória em definitiva. Se o ausente retornar em
a interdição do pródigo, privado estará ele dos atos que possam até dez anos após a abertura da sucessão definitiva, terá os bens no
comprometer seus bens, não podendo, sem a assistência de seu estado em que se encontrarem e direito ao preço que os herdeiros
curador (CC, art. 1.767, V), alienar, emprestar, dar quitação, transi- houverem recebido com sua venda. Porém, se regressar após esses
gir, hipotecar, agir em juízo e praticar, em geral, atos que não sejam dez anos, não terá direito a nada.
de mera administração (CC, art. 1.782).
Morte presumida sem decretação de ausência:
A capacidade dos indígenas será regulada por legislação espe- Admite-se declaração judicial de morte presumida sem decre-
cial. tação de ausência em casos excepcionais, apenas depois de esgota-
Quanto à maioridade, Maria Helena Diniz defende que a inca- das todas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
pacidade cessará quando o menor completar dezoito anos, segun- provável do óbito, e tais casos são:
do nossa legislação civil. Ao atingir dezoito anos a pessoa tornar-se- a) probabilidade da ocorrência da morte de quem se encontra-
-á maior, adquirindo a capacidade de fato, podendo, então, exercer va em perigo de vida e
pessoalmente os atos da vida civil. b) desaparecimento em campanha ou prisão de pessoa, não
- Emancipação expressa ou voluntária: Antes da maioridade sendo ela encontrada até dois anos após o término da guerra.
legal, tendo o menor atingido dezesseis anos, poderá haver a ou-
torga de capacidade civil por concessão dos pais, no exercício do A comoriência é a morte de duas ou mais pessoas na mesma
poder familiar, mediante escritura pública inscrita no Registro Civil ocasião e em razão do mesmo acontecimento. Embora o problema
competente (Lei n. 6.015/73, arts. 89 e 90; CC, art. 92, II), indepen- da comoriência, em regra, alcance casos de morte conjunta, ocor-
dentemente de homologação judicial. Além dessa emancipação por rida no mesmo acontecimento, ela coloca-se, com igual relevância,
concessão dos pais, ter-se-á a emancipação por sentença judicial, no que concerne a efeitos dependentes de sobrevivência, na hipó-
se o menor com dezesseis anos estiver sob tutela e ouvido o tutor. tese de pessoas falecidas em locais e acontecimentos distintos, mas
- Emancipação tácita ou legal: A emancipação legal decorre dos
em datas e horas simultâneas ou muito próximas.
seguintes casos:
a) casamento, pois não é plausível que fique sob a autoridade
- Efeito da morte simultânea no direito sucessório:
de outrem quem tem condições de casar e constituir família; as-
A comoriência terá grande repercussão na transmissão de di-
sim, mesmo que haja anulação do matrimônio, viuvez, separação
reitos sucessórios, pois, se os comorientes são herdeiros uns dos
judicial ou divórcio, o emancipado por esta forma não retoma à in-
outros, não há transferência de direitos; um não sucederá ao outro,
capacidade;
sendo chamados à sucessão os seus herdeiros ante a presunção ju-
b) exercício de emprego público efetivo, por funcionário no-
ris tantum de que faleceram ao mesmo tempo. Se dúvida houver no
meado em caráter efetivo (não abrangendo a função pública ex-
sentido de se saber quem faleceu primeiro, o magistrado aplicará
tranumerária ou em comissão), com exceção de funcionário de
o art. 8º, caso em que, então, não haverá transmissão de direitos
autarquia ou entidade paraestatal, que não é alcançado pela eman-
entre as pessoas que morreram na mesma ocasião.
cipação.
CAPÍTULO II
De acordo com o art. 6º a existência da pessoa natural termina
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
com a morte podendo esta ser morte real ou presumida.
- Morte real: Com a morte real, cessa a personalidade jurídica
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da
da pessoa natural, que deixa de ser sujeito de direitos e deveres,
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o
acarretando:
seu exercício sofrer limitação voluntária.
a) dissolução do vínculo conjugal e do regime matrimonial;
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito
b) extinção do poder familiar; dos contratos personalíssimos,
da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de ou-
com prestação de serviço e mandato;
tras sanções previstas em lei.
c) cessação da obrigação, alimentos com o falecimento do cre-
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação
dor; do pacto de preempção; da obrigação oriunda de ingratidão de
para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobreviven-
donatário; á extinção de usufrutos; da doação na forma de subven-
te, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto
ção periódica e do encargo da testamentaria.
grau.
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposi-
- Morte presumida: A morte presumida pela lei se dá ausên-
ção do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da
cia de uma pessoa nos casos dos arts 22 a 39 do Código Civil. Se
integridade física, ou contrariar os bons costumes.
uma pessoa desaparecer, sem deixar notícias, qualquer interessado
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para
na sua sucessão ou o Ministério Público poderá requerer ao juiz a
fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
declaração de sua ausência e a nomeação de curador. Se após um
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a dispo-
ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se deixou algum re-
sição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois
presentante. em se passando três anos, sem que dê sinal de vida,
da morte.
poderá ser requerida sua sucessão provisória (CC, art.. 26) e o início
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revo-
do processo de inventário e partilha de seus bens, ocasião em que a
gado a qualquer tempo.
ausência do desaparecido passa a ser considerada presumida. Feita
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com
a partilha, seus herdeiros deverão administrar os bens, prestando
risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
caução real, garantindo a restituição no caso de o ausente aparecer.
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos
Após dez anos do trânsito em julgado da sentença da abertura da
o prenome e o sobrenome.
sucessão provisória (CC, art. 37), sem que o ausente apareça, ou
cinco anos depois das últimas notícias do desaparecido que conta

9
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por ou- moral, mas terão maior ônus de prova, uma vez que deverão provar,
trem em publicações ou representações que a exponham ao des- convincentemente. o prejuízo e demonstrar que se ligavam à vítima
prezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. por vínculos estreitos de amizade ou de insuspeita afeição.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em - Elementos constitutivos do nome: Dois, em regra, são os ele-
propaganda comercial. mentos constitutivos do nome: o prenome próprio da pessoa, que
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da pode ser livremente escolhido, desde que não exponha o portador
proteção que se dá ao nome. ao ridículo; e o sobrenome, que é o sinal que identifica a procedên-
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administra- cia da pessoa, indicando sua filiação ou estirpe, podendo advir do
ção da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de apelido de família paterno, materno ou de ambos.
escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição A aquisição do sobrenome pode decorrer não só do nascimen-
ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, to, por ocasião de sua transcrição no Registro competente reco-
a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se nhecendo sua filiação, também da adoção, do casamento, da união
lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se estável, ou ato de interessado, mediante requerimento ao magis-
destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815) trado.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são A pessoa tem autorização de usar seu nome e de defendê-lo
partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascen- de abuso cometido por terceiro, que, em publicação ou represen-
dentes ou os descendentes. tação, venha a expô-la ao desprezo público — mesmo que não haja
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a intenção de difamar — por atingir sua boa reputação, moral e pro-
requerimento do interessado, adotará as providências necessárias fissional, no seio da coletividade (honra objetiva). Em regra, a repa-
para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma. (Vide ADIN ração por essa ofensa é pecuniária, mas há casos em que é possível
4815) a restauração in natura, publicando-se desagravo.
É vedada a utilização de nome alheio em propaganda comer-
De acordo com o art. 11, os direitos da personalidade são in- cial, por ser o direito ao nome indisponível, admitindo-se sua re-
transmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer lativa disponibilidade mediante consentimento de seu titular, em
limitação voluntária, salvo exceções previstas em lei. prol de algum interesse social ou de promoção de venda de algum
- Sanções suscitadas pelo ofendido em razão de ameaça ou le- produto, mediante pagamento de remuneração convencionada.
são a direito da personalidade: Os direitos da personalidade desti- A imagem-retrato é a representação física da pessoa como um
nam-se a resguardar a dignidade humana, mediante sanções, que todo ou em partes separadas do corpo, desde que identificáveis,
devem ser suscitadas pelo ofendido (lesado direto). Essa sanção implicando o reconhecimento de seu titular por meio de fotografia,
deve ser feita por meio de medidas cautelares que suspendam os escultura, desenho, pintura. Intepretação dramática, cinematográ-
atos que ameacem ou desrespeitem a integridade físico-psíquica, fica, televisão, sites etc., que requer autorização do retratado. E a
intelectual e moral, movendo-se, em seguida, uma ação que irá de- imagem-atributo é o conjunto de caracteres ou qualidades cultiva-
clarar ou negar a existência da lesão, que poderá ser cumulada com das pela pessoa, reconhecidos socialmente.
ação ordinária de perdas e danos a fim de ressarcir danos morais e Abrange o direito: á própria imagem ou a difusão da imagem,
patrimoniais. a imagem das coisas próprias e á imagem em coisas, palavras ou
- Lesado indireto: Se se tratar de lesão a interesses econômicos, escritos ou em publicações; de obter imagem ou de consentir em
o lesado indireto será aquele que sofre um prejuízo em interesse sua captação por qualquer meio tecnológico.
patrimonial próprio, resultante de dano causado a um bem jurídi- O direito à imagem é autônomo, não precisando estar em con-
co alheio, podendo a vítima estar falecida ou declarada ausente. A junto com a intimidade, a identidade, a honra etc. Embora possam
indenização por morte de outrem é reclamada jure próprio, pois estar em certos casos, tais bens a ele conexos, isso não faz com que
ainda que o dano, que recai sobre a mulher e os filhos menores sejam partes integrantes um do outro.
do finado, seja resultante de homicídio ou acidente, quando eles - Direito de interpretação, direito à imagem e direito autoral: O
agem contra o responsável, procedem em nome próprio, reclaman- direito de interpretação, ou seja, o do ator numa representação de
do contra prejuízo que sofreram e não contra o que foi irrogado ao certo personagem, pode estar conexo como direito à voz, à imagem
marido e pai. e com o direito autoral. O autor de obra intelectual pode divulgá-la
Como o exemplo trazido pela autora Maria Helena Diniz: a viú- por apresentação pública, quando a obra é representada drama-
va e os filhos menores da pessoa assassinada são lesados indiretos, ticamente, executada, exibida, projetada em fita cinematográfica,
pois obtinham da vítima do homicídio o necessário para sua subsis- transmitida por radiodifusão etc., e é neste terreno que se situa o
tência. A privação de alimentos é uma consequência do dano. No contrato de representação e execução, de conteúdo complexo por
caso do dano moral, pontifica Zannoni, os lesados indiretos seriam se referir não só ao desempenho pessoal, mas também à atuação
aquelas pessoas que poderiam alegar um interesse vinculado a bens por meios mecânicos e eletrônicos dos diferentes gêneros de pro-
jurídicos extrapatrimoniais próprios, que se satisfaziam mediante a dução intelectual, suscetíveis de comunicação audiovisual.
incolumidade do bem jurídico moral da vítima direta do fato lesivo. Na representação pública há imagens transmitidas para difun-
Por ex.: o marido ou os pais poderiam pleitear indenização por injú- dir obra literária, musical ou artística que deverão ser tuteladas ju-
rias feitas à mulher ou aos filhos, visto que estas afetariam também ridicamente, juntamente com os direitos do autor. Os direitos dos
pessoalmente o esposo ou os pais, em razão da posição que eles artistas, intérpretes e executantes são conexos aos dos escritores,
ocupam dentro da unidade familiar. Haveria um dano próprio pela pintores, compositores, escultores etc. Logo, podem eles impedir a
violação da honra da esposa ou dos filhos. Ter-se-á sempre uma utilização indevida de suas interpretações, bem como de sua ima-
presunção juris tantum de dano moral, em favor dos ascendentes, gem.
descendentes, cônjuges, irmãos, tios, sobrinhos e primos, em caso - Proteção da imagem como direito autoral: A imagem é prote-
de ofensa a pessoas da família mortas ou ausentes. Essas pessoas gida pelo art. 52, XXVIII, a, da CF, como direito autoral, desde que
não precisariam provar o dano extrapatrimonial, ressalvando-se ligada à criação intelectual de obra fotográfica, cinematográfica,
a terceiros o direito de elidir aquela presunção. O convivente, ou publicitária etc.
concubino, noivo, amigos, poderiam pleitear indenização por dano

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
- Limitações ao direito à imagem: Todavia, há certas limitações Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará cura-
do direito à imagem, com dispensa da anuência para sua divulga- dor, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não
ção, quando: possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem
a) se tratar de pessoa notória, pois isso não constitui permissão insuficientes.
para devassar sua privacidade, pois sua vida íntima deve ser pre- Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes
servada. A pessoa que se toma de interesse público, pela fama ou e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for
significação intelectual, moral, artística ou política não poderá ale- aplicável, o disposto a respeito dos tutores e curadores.
gar ofensa ao seu direito à imagem se sua divulgação estiver ligada Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado
à ciência, às letras, à moral, à arte e a política. Isto é assim porque judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração
a difusão de sua imagem sem seu consenso deve estar relacionada da ausência, será o seu legítimo curador.
com sua atividade ou com o direito à informação; § 1 o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente
b) se referir a exercício de cargo público, pois quem tiver função incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo
pública de destaque não poderá impedir que no exercício de sua impedimento que os iniba de exercer o cargo.
atividade, seja filmada ou fotografada, salvo na intimidade; § 2 o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os
c) se procurar atender à administração ou serviço da justiça ou mais remotos.
de polícia, desde que a pessoa não sofra dano à sua privacidade; § 3 o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a es-
d) se tiver de garantir a segurança pública nacional, em que colha do curador.
prevalecer o interesse social sobre o particular, requerendo a divul-
gação da imagem, p. ex., de um procurado pela policia ou a mani- SEÇÃO II
pulação de arquivos fotográficos de departamentos policiais para DA SUCESSÃO PROVISÓRIA
identificação de delinquente. Urge não olvidar que o civilmente
identificado não possa ser submetido a identificação criminal, salva Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausen-
nos casos autorizados legalmente; te, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando
e) se buscar atender ao interesse público, aos fins culturais, três anos, poderão os interessados requerer que se declare a au-
científicos e didáticos; sência e se abra provisoriamente a sucessão.
f) se houver necessidade de resguardar a saúde pública. Assim, Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se
portador de moléstia grave e contagiosa não pode evitar que se no- consideram interessados:
ticie o fato; I - o cônjuge não separado judicialmente;
g) se obtiver imagem, em que a figura seja tão-somente par- II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
te do cenário (congresso, enchente, praia, tumulto, show, desfile, III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependen-
festa carnavalesca, restaurante etc.), sem que se a destaque, pois te de sua morte;
se pretende divulgar o acontecimento e não a pessoa que integra IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.
a cena; Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão pro-
h) se tratar de identificação compulsória ou imprescindível a visória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada
algum ato de direito público ou privado. pela imprensa; mas, logo que passe em julgado, proceder-se-á à
- Reparação do dano à imagem: O lesado pode pleitear a repa- abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos
bens, como se o ausente fosse falecido.
ração pelo dano moral e patrimonial (Súmula 37 do STJ) provocado
§ 1 o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo
por violação à sua imagem-retrato ou imagem-atributo e pela divul-
interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público
gação não autorizada de escritos ou de declarações feitas. Se a ví-
requerê-la ao juízo competente.
tima vier a falecer ou for declarada ausente, serão partes legítimas
§ 2 o Não comparecendo herdeiro ou interessado para re-
para requerer a tutela ao direito à imagem, na qualidade de lesados
querer o inventário até trinta dias depois de passar em julgado a
indiretos, seu cônjuge, ascendentes ou descendentes e também, no
sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à
nosso entender, o convivente, visto ter interesse próprio, vinculado
arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts.
a dano patrimonial ou moral causado a bem jurídico alheio. Este 1.819 a 1.823.
parágrafo único do art. 20 seria supérfluo ante o disposto no art. Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente,
12, parágrafo único. ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a
extravio, em imóveis ou em títulos garantidos pela União.
O direito à privacidade da pessoa contém interesses jurídicos, Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do
por isso seu titular pode impedir ou fazer cessar invasão em sua es- ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores
fera íntima, usando para sua defesa: mandado de injunção, habeas ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.
data, habeas corpus, mandado de segurança, cautelares inomina- § 1 o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder
das e ação de responsabilidade civil por dano moral e patrimonial. prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se
os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou
CAPÍTULO III de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia.
DA AUSÊNCIA § 2 o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez
provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemen-
SEÇÃO I te de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.
DA CURADORIA DOS BENS DO AUSENTE Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sen-
do por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela lhes evitar a ruína.
haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios fica-
a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de rão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que
qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausên- contra eles correrão as ações pendentes e as que de futuro àquele
cia, e nomear-lhe-á curador. forem movidas.

11
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for suces- Com isso, o ausente ficará sem representante que venha a gerir
sor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos seu patrimônio, urgindo, pois, que se nomeie curador.
dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém, de- O curador dos bens do ausente, uma vez nomeado, terá seus
verão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o deveres e poderes estabelecidos pelo juiz de conformidade com as
disposto no art. 29, de acordo com o representante do Ministério circunstancias do caso. Logo, o magistrado, conforme o caso, no ato
Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente. da nomeação determinará pormenorizadamente as providências
Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a a serem tomadas e as atividades a serem realizadas, observando
ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do su- os dispositivos legais, sempre no que forem aplicáveis, reguladores
cessor, sua parte nos frutos e rendimentos. da situação similar dos tutores e curadores, para que a atuação do
Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória po- curador dos bens do ausente seja realmente eficiente e responsá-
derá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade vel.
dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria. A curadoria dos bens do ausente deverá ser deferida, se casado
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata for, não estando separado judicialmente, ao seu cônjuge, para que
do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a seu patrimônio não se perca ou deteriore, assumindo sua adminis-
sucessão em favor dos herdeiros, que o eram àquele tempo. tração. Ante o interesse na conservação dos bens do ausente, qual-
Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, quer que seja o regime matrimonial de bens, seu curador legítimo
depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as será seu cônjuge.
vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados - Nomeação de curador dos bens do ausente na falta do cônju-
a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens ge: Se o ausente que deixou bens não tiver consorte, nomear-se-á
a seu dono. o pai ou a mãe do desaparecido como curador, e, na falta destes, os
descendentes, desde que tenham idoneidade para exercer o cargo.
SEÇÃO III - Ordem de nomeação entre os descendentes: Na curadoria
DA SUCESSÃO DEFINITIVA dos bens do ausente cabível a descendente seguir-se-á o princípio
de que os mais próximos excluem os mais remotos.
Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que - Escolha de curador dos bens de ausente pelo órgão judicante:
concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessa- Na falta de cônjuge, ascendente ou descendente do ausente com-
dos requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções petirá ao juiz a escolha do curador, desde que idôneo a exercer o
prestadas. cargo.
Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, pro- A curadoria dos bens do ausente perdura por um ano, durante
vando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco o qual o juiz ordenará a publicação de editais, de dois em dois me-
datam as últimas notícias dele. ses, convocando o ausente a reaparecer para retornar seus haveres
Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à aber- (CPC, art 1.161).
tura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou as- - Abertura da sucessão provisória: Passado um ano da arre-
cendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado cadação dos bens do ausente sem que se saiba do seu paradeiro,
em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que ou, se ele deixou algum representante, em se passando três anos,
os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens poderão os interessados requerer que se abra, provisoriamente, a
alienados depois daquele tempo. sucessão, cessando a curatela (CPC, art. 1.162,III).
Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o A sucessão provisória poderá ser requerida por qualquer inte-
ausente não regressar, e nenhum interessado promover a sucessão ressado:
definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município a) cônjuge não separado judicialmente;
ou do Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, b) herdeiros presumidos legítimos e testamentários;
incorporando-se ao domínio da União, quando situados em territó- c) pessoas que tiverem sobre os bens do ausente direito subor-
rio federal. dinado à condição de morte, ou seja, se houver fideicomisso;
d) credores de obrigações vencidas e não pagas (CPC, art.
Verificado o desaparecimento de uma pessoa do seu domicí- 1.163, § lº).
lio, sem dar qualquer notícia de seu paradeiro e sem deixar procura-
dor, ou representante, para administrar seus bens, o juiz a requeri- - Abertura da sucessão provisória pelo Ministério Público: Se,
mento de qualquer interessado, seja ou não parente, bastando que findo o prazo legal de um ano, não houver interessado na suces-
tenha interesse pecuniário ou do Ministério Público, nomeará um são provisória, ou se entre os herdeiros houver interdito ou menor,
curador para administrar seu patrimônio resguardando-o. competirá ao Ministério Público requerer a abertura da sucessão
Não havendo bens, não se terá nomeação de curador. Em caso provisória (CPC, art. 1.163, § 2º).
de ausência, a curadoria é dos bens do ausente e não da pessoa do - Efeitos da sentença declaratória da abertura da sucessão pro-
ausente. Há quem ache, acertadamente, não se tratar de ausência visória: A sentença que determinar a abertura da sucessão provi-
o desaparecimento de alguém num acidente aéreo, rodoviário, fer- sória produzirá efeitos somente 180 dias depois de sua publicação
roviário etc. em que, pelos indícios, a sua morte parece óbvia, ape- pela imprensa. Assim que transitar em julgado, ter-se-á a abertura
sar de não ter sido encontrado seu cadáver já que não há incerteza do testamento, se houver, e proceder-se-á ao inventário e partilha
de seu paradeiro. dos bens como se fosse o ausente falecido (CPC, art. 1.165).
A nomeação de curador a bens de um ausente dar-se-á mesmo - Ausência de herdeiro: Se, dentro de trinta dias do trânsito em
que ele tenha deixado procurador que se recuse a administrar seu julgado da sentença que manda abrir a sucessão provisória, não
patrimônio ou que não possa exercer ou continuar o mandato, seja aparecer nenhum interessado, ou herdeiro, que requeira o inventá-
por ter ocorrido o término da representação a termo, seja por sua rio, sendo a sucessão requerida pelo Ministério Público, a herança
renúncia, não aceitando a fortiori o mandato, seja por sua morte será considerada jacente (CPC, art. 1.165, parágrafo único; CC, ais.
ou incapacidade. O mesmo se diga se os poderes outorgados ao 1.819 a 1.823).
procurador forem insuficientes para a gestão dos bens do ausente.

12
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Para garantir ao ausente a devolução de seus bens, por ocasião A sucessão definitiva poderá ser requerida dez anos depois de
de sua volta, o juiz, antes da partilha, deverá ordenar a conversão, passada em julgado a sentença que concedeu abertura de sucessão
por meio de hasta pública, dos bens móveis, sujeitos a deterioração provisória.
ou a extravio, em imóveis ou em títulos de dívida pública da União,
adquiridos com o produto obtido. Efeitos da abertura da sucessão definitiva:
Os herdeiros que forem imitidos na posse dos bens do ausente Com a sucessão definitiva, os sucessores:
deverão dar garantias de sua devolução mediante penhor ou hipo- a) passarão a ter a propriedade resolúvel dos bens recebidos;
teca proporcionais ao quinhão respectivo (CPC, art. 1.166), exceto b) perceberão os frutos e rendimentos desses bens, podendo
se ascendentes, descendentes ou cônjuge, desde que comprovada utilizá-los como quiser;
a sua qualidade de herdeiros. c) poderão alienar onerosa ou gratuitamente tais bens, e
d) poderão requerer o levantamento das cauções prestadas.
- Falta de condição para prestar garantia: Se o herdeiro que
tiver direito à posse provisória não puder prestar as garantias exi- Abertura de sucessão definitiva de ausente com oitenta anos:
gidas no caput deste artigo, não poderá entrar na posse dos bens, Se se provar que o ausente tem oitenta anos de nascido e que
que ficarão sob a administração de um curador, ou de outro herdei- de cinco datam as últimas notícias suas; poder-se-á ter a abertura
ro designado pelo magistrado, se prontifique a prestar a referida da sucessão definitiva, considerando-se a média de vida da pessoa,
garantia. mesmo que não tenha havido anteriormente sucessão provisória.
Os imóveis do ausente, não só os arrecadados, mas também - Regresso do ausente ou de seu herdeiro necessário: Se o au-
os convertidos por venda dos móveis, não poderão ser alienados, sente, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, regressar
salvo em caso de desapropriação ou por ordem judicial para lhes nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, apenas
evitar a ruína. poderá requerer ao magistrado a devolução dos bens existentes no
Os sucessores provisórios, uma vez empossados nos bens, fi- estado em que se encontrarem os sub-rogados em seu lugar ou o
carão representando ativa e passivamente o ausente; logo, contra preço os herdeiros ou interessados receberam pelos alienados de-
eles correrão as ações pendentes e as que de futuro, após a abertu- pois daquele tempo, respeitando-se assim, os direitos de terceiro.
ra da sucessão provisória, àquele se moverem. - Declaração da vacância dos bens do ausente: Se, nos dez anos
Consequentemente, o curador dos bens do ausente não mais a que se refere o caput do artigo ora examinado, o ausente não
será o representante legal, pois, uma vez que os herdeiros, em ca- retornar, e nenhum interessado requerer a sucessão definitiva os
ráter provisório, entraram na posse da herança, justificativa alguma bens serão arrecadados como vagos, passando sua propriedade
há para que o curador continue na representação daqueles bens, plena ao Município, ao Distrito Federal, se situados nas respectivas
quer ativa, quer passivamente, ou seja, como réu ou como autor. circunscrições, ou à União.
Se o sucessor provisório do ausente for seu descendente, as-
cendente ou cônjuge, terá a propriedade de todos os frutos e rendi- TÍTULO III
mentos dos bens que a este couberem, podendo deles dispor como DO DOMICÍLIO
quiser. Se se tratar de outros sucessores que não aqueles acima
enumerados, sendo. p. ex., parentes colaterais, deverão converter Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela esta-
a metade desses rendimentos e frutos em imóveis ou títulos de dí- belece a sua residência com ânimo definitivo.
vida pública, a fim de garantir sua ulterior e possível restituição ao Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências,
ausente. Tal capitalização deverá ser feita de acordo com o Minis- onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer
tério Público, que, além de determinar qual o melhor emprego da delas.
metade daqueles rendimentos, deverá fiscalizá-lo. Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às rela-
Os sucessores provisórios deverão prestar contas, anualmente, ções concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.
ao juiz, do emprego da metade dos frutos e rendimentos. Se o au- Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares di-
sente aparecer e ficar comprovado que sua ausência foi voluntária versos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe
e injustificada ele perderá, em favor dos sucessores provisórios, a corresponderem.
parte que lhe caberia nos frutos e rendimentos. Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha
O sucessor provisório que não pôde entrar na posse de seu residência habitual, o lugar onde for encontrada.
quinhão, por não ter oferecido a garantia legal, poderá justificar-se Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a
provando a falta de recursos, requerendo judicialmente, que lhe intenção manifesta de o mudar.
seja entregue metade dos frutos e rendimentos produzidos pela Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar
parte que lhe caberia, e que foi retida, para poder fazer frente à sua a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde
subsistência. vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as
Retornando o ausente ou enviando notícias suas, cessarão para circunstâncias que a acompanharem.
os sucessores provisórios todas as vantagens, ficando obrigados a Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
tornar medidas assecuratórias até a devolução dos bens a seu dono, I - da União, o Distrito Federal;
conservando-os e preservando-os sob pena de perdas e danos. II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
Sucessores provisórios como herdeiros presuntivos: Os suces- III - do Município, o lugar onde funcione a administração mu-
sores provisórios são herdeiros presuntivos, uma vez que adminis- nicipal;
tram patrimônio supostamente seu: o real proprietário é o ausente, IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as
cabendo-lhe, também a posse dos bens, bem como os seus frutos e respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicí-
rendimentos, ou seja, o produto da capitalização ordenada pelo art. lio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
3º. O sucessor provisório, com o retorno do ausente, deverá prestar § 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lu-
contas dos bens e de seus acrescidos, devolvendo-os , assim como, gares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os
se for o caso, os sub-rogados, se não mais existirem. atos nele praticados.

13
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
§ 2º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estran- Ter-se-á o domicílio necessário ou legal quando for determina-
geiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às do por lei, em razão da condição ou situação de ceias pessoas. O do-
obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do micilio do incapaz é legal, pois sua fixação operar-se-á por determi-
estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder. nação de lei e não por volição. O recém-nascido adquire o domicilio
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, de seus pais. Os absoluta ou relativamente incapazes terão por do-
o militar, o marítimo e o preso. micilio o de seus representantes legais (pais, tutores ou curadores).
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representan-
te ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer per- - Domicilio necessário do servidor público: Deriva o domicílio
manentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da legal ou necessário do servidor público de lei, pois o artigo sub exa-
Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar mine entende por domiciliado o funcionário público no local onde
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver exerce suas funções por investidura efetiva. Logo tem por domicílio
matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença. o lugar onde exerce sua função permanente.
Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estran- O domicilio do militar do Exército é o lugar onde servir e o do da
geiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, Marinha ou da Aeronáutica em serviço ativo, a sede do comando a
o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no que se encontra imediatamente subordinado. Marinha mercante é a
último ponto do território brasileiro onde o teve. encarregada de transportar mercadorias e passageiros. Os oficiais e tri-
Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes espe- pulantes dessa marinha mercante têm por domicílio necessário o lugar
cificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obriga- onde estiver matriculado o navio, embora passem a vida em viagens.
ções deles resultantes. O preso terá por domicílio o lugar onde cumprir a sentença.
Tratando-se de preso internado em manicômio judiciário, é compe-
Conceito legal de domicilio civil da pessoa natural: Pelo art. 70 tente o juízo local para julgar pedido de sua interdição, nos termos
do Código Civil, o domicílio civil é o lugar onde a pessoa estabelece do art. 76 do Código Civil. Se se tratar de preso ainda não condena-
sua residência com animo definitivo tendo, portanto, por critério do, seu domicilio será o voluntário.
a residência. Nesta conceituação, legal há dois elementos: o obje-
tivo, que é a fixação da pessoa em dado lugar, e o subjetivo, que - Citação de ministro ou agente diplomático no estrangeiro: Se
é a intenção de ali permanecer com animo definitivo. Importa em o ministro ou agente diplomático brasileiro for citado no exterior e
fixação espacial permanente da pessoa natural. A nossa legislação alegar a imunidade sem designar o local onde tem, no país, o seu
admite a pluralidade de domicilio se a pessoa natural tiver mais de domicílio, deverá responder perante a Justiça do Distrito Federal ou
uma residência, pois se considerará domicilio o seu qualquer uma do último ponto do território brasileiro onde o teve.
delas. Admite também que, excepcionalmente, pode haver casos - Domicílio contratual ou de eleição é o estabelecido contra-
em que uma pessoa natural não tenha domicílio certo ou fixo, ao tualmente pelas partes em contrato escrito, que especificam onde
estabelecer que aquele que não tiver residência habitual, como, p. se cumprirão os direitos e os deveres oriundos da avença feita. O
ex., o caixeiro-viajante, o circense, terá por domicilio o lugar onde domicilio de eleição dependerá de manifestação expressa dos con-
traentes, da qual surge a competência especial, determinada pelo
for encontrado.
contrato, do foro que irá apreciar os possíveis litígios decorrentes
As pessoas jurídicas têm seu domicílio que é sua sede jurídica,
do negócio jurídico contratual. O local indicado no contato para o
onde os credores podem demandar o cumprimento das obrigações.
adimplemento obrigacional será também aquele onde o inadim-
Como não têm residência, é o local de suas atividades habituais, de
plente irá ser demandado ou acionado.
seu governo, administração ou direção, ou, ainda, o determinado
no ato constitutivo.
As pessoas jurídicas de direito público interno têm por domicí-
lio a sede de seu governo. De maneira que a União aforará as causas PESSOAS JURÍDICAS. DISPOSIÇÕES GERAIS. DOMICÍ-
na capital do Estado ou Território em que tiver domicílio a outra LIO. ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES
parte e será demandada, àescolha do autor, no Distrito Federal ou
na capital do Estado em que se deu o ato que deu origem à deman- DAS PESSOAS JURÍDICAS
da, ou em que se situe o bem. Os Estados e Territórios têm por sede Conceito de pessoa jurídica: A pessoa jurídica é a unidade de
jurídica as suas capitais, e os Municípios, o lugar da Administração pessoas naturais ou de patrimônios que visa à obtenção de certas
municipal. finalidades, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direi-
As pessoas jurídicas de direito privado têm por domicilio o lu- tos e obrigações.
gar onde funcionarem sua diretoria e administração ou onde ele- Pessoas jurídicas de direito público interno: São pessoas jurídi-
gerem domicilio especial nos seus estatutos ou atos constitutivos, cas de direito público interno:
devidamente registrados. a) a União, que designa a nação brasileira, nas suas relações
- Pluralidade do domicilio da pessoa jurídica de direito privado: com os Estados federados que a compõem e com os cidadãos que
O art.75, § 1º, admite a pluralidade domiciliar da pessoa jurídica se encontram em seu território; logo, indica a organização política
de direito privado desde que tenham diversos estabelecimentos (p. dos poderes nacionais considerada em seu conjunto. Assim, o Es-
ex., agências, escritórios de representação, departamentos, filiais), tado Federal (União) seria ao mesmo tempo Estado e Federação;
situados em comarcas diferentes, caso em que poderão ser deman- b) os Estados federados, que se regem pela Constituição e
dadas no foro em que tiverem praticado o ato. De forma que o local pelas leis que adotarem. Cada Estado federado possui autonomia
de cada estabelecimento dotado de autonomia será considerado administrativa, competência e autoridade na seara legislativa, exe-
domicilio para os atos ou negócios nele efetivados, com o intuito cutiva e judiciária, decidindo sobre negócios locais;
de beneficiar os indivíduos que contratarem com a pessoa jurídica. c) o Distrito Federal, que é a capital da União. É um município
Se a sede da Administração, ou diretoria, da pessoa jurídica se equiparado ao Estado federado por ser a sede da União, tendo ad-
acha no exterior, os estabelecimentos, agências, filiais ou sucursais ministração, autoridades próprias e leis atinentes aos serviços lo-
situados no Brasil terão por domicilio o local onde as obrigações cais. Possui personalidade jurídica por ser um organismo político
foram contraídas pelos respectivos agentes. administrativo, constituído para a consecução de fins comuns;

14
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
d) os Territórios, autarquias territoriais (Hely Lopes Meirelles), As sociedades empresárias deverão ter assento no Registro
ou melhor, pessoas jurídicas de direito público interno, com capaci- Público de Empresas Mercantis. E as simples, no Registro Civil das
dade administrativa e de nível constitucional, ligadas à União, tendo Pessoas Jurídicas;
nesta a fonte de seu regime jurídico infraconstitucional (Michel Te- e) partidos políticos, no interesse do regime democrático, da
mer) e criadas mediante lei complementar; autenticidade do sistema representativo e defensoras dos direitos
e) os Municípios legalmente constituídos, por terem interesses fundamentais definidos na Constituição Federal.
peculiares e economia própria. A Constituição Federal assegura sua
autonomia política, ou seja, a capacidade para legislar relativamen- O fato que dá origem a pessoa jurídica de direito privado é a
te a seus negócios e por meio de suas próprias autoridades. vontade humana, sem necessidade de qualquer ato administrativo
de concessão ou autorização, salvo os casos especiais do Código
Ampliação legal do número das pessoas jurídicas de direito pú- Civil, porém a sua personalidade jurídica permanece em estado po-
blico interno: Além das pessoas enumeradas pelo por este artigo, tencial, adquirindo status jurídico, quando preencher as formalida-
a lei estendeu a personalidade de direito público, como já tivemos des ou exigências legais.
oportunidade de dizer ao comentarmos o art. 40, às autarquias.
Pessoas jurídicas de direito público externo: São as regulamen- - Fases do processo genético da pessoa jurídica de direito priva-
tadas pelo direito internacional público, abrangendo: nações es- do: Na criação da pessoa jurídica de direito privado há duas fases:
trangeiras, Santa Sé e organismos internacionais (ONU, OEA, Unes- a) a do ato constitutivo, que deve ser escrito, podendo reves-
co, FAO etc.). tir-se de forma pública ou particular, com exceção da fundação, que
O artigo 43 traz a teoria do risco e responsabilidade objetiva, requer instrumento público ou testamento. Além desses requisitos,
e por essa teoria cabe indenização estatal de todos os danos cau- há certas sociedades que para adquirir personalidade jurídica de-
sados, por comportamentos dos funcionários, a direitos de parti- pendem de previa autorização ou aprovação do Poder Executivo
culares. Trata-se da responsabilidade objetiva do Estado, bastando Federal, como, p. ex., as sociedades estrangeiras;
a comprovação da existência do prejuízo a administrados. Mas o b) a do registro público, pois para que a pessoa jurídica de di-
Estado tem ação regressiva contra o agente, quando tiver havido reito privado exista legalmente é necessário inscrever os contratos
culpa ou dolo deste, de forma a não ser o patrimônio público des- ou estatutos no seu registro peculiar; o mesmo deve fazer quando
falcado pela sua conduta ilícita. Logo, na relação entre poder públi- conseguir a imprescindível autorização ou aprovação do Poder Exe-
co e agente, a responsabilidade civil é subjetiva, por depender da cutivo Federal.
apuração de sua culpabilidade pela lesão causada ao administrado. Apenas com o assento adquirirá personalidade jurídica, poden-
Classificação das pessoas jurídicas de direito privado: As pes- do, então, exercer todos os direitos; além disso, quaisquer altera-
soas jurídicas de direito privado, instituídas por iniciativa de parti- ções supervenientes havidas em seus atos constitutivos deverão ser
culares, dividem-se, segundo o artigo focado, em: averbadas no registro. Como se vê esse sistema do registro sob o
a) Fundações particulares, que são universalidades de bens, regime da liberdade contratual, regulado por norma especial, ou
personalizadas pela ordem pública, em consideração a um fim es- com autorização legal, é de grande utilidade em razão da publici-
tipulado pelo fundador, sendo este objetivo imutável e seus órgãos dade que determinará os direitos de terceiros. O registro do ato
servientes, pois todas as resoluções estão delimitadas pelo institui- constitutivo é uma exigência de ordem pública no que atina à prova
dor. Deve ser constituída por escrito e lançada no registro geral; e à aquisição da personalidade jurídica das entidades coletivas.
b) Associações civis, religiosas, pias, morais, cientificas ou li-
terárias e as associações de utilidade pública, que abrangem um - Prazo decadencial para anular constituição de pessoa jurídica
conjunto de pessoas, que almejam fins ou interesses dos sócios, de direito privado: Havendo defeito no ato constitutivo de pessoa
que podem ser alterados, pois os sócios deliberam livremente, já jurídica de direito privado, pode-se desconstituí-la dentro do prazo
que seus órgãos são dirigentes. Na associaçãonão há fim lucrati- decadencial de três anos, contado da publicação de sua inscrição
vo, embora tenha patrimônio formado com a contribuição de seus no Registro.
membros para a obtenção de fins culturais, educacionais, esporti-
vos, religiosos, recreativos, morais etc.; - Registro civil da pessoa jurídica: Somente com o registro ter-
c) sociedade simples, na qual se visa o fim econômico ou lucra- -se-á a aquisição da personalidade jurídica.
tivo, pois o lucro obtido deve ser repartido entre os sócios, sendo Tal registro de atos constitutivos de sociedades simples dar-se-
alcançado pelo exercício de cenas profissões ou pela prestação de -á no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, sendo que as sociedades
serviços técnicos (p. ex., uma sociedade imobiliária ou uma socie- empresárias deverão ser registradas no Registro Público de Empre-
dade cooperativa — CC, ais. 982, parágrafo único, e 1.093 a 1.096). sas Mercantis, sendo competentes para a prática de tais atos as Jun-
As sociedades devem constituir-se por escrito, lançar-se no registro tas Comerciais, e seguem o disposto nas normas dos arts. 1.150 e
civil das pessoas jurídicas; 1.154 do Código Civil.
d) sociedades empresárias, que visam o lucro, mediante exercí-
cio de atividade empresarial ou comercial (RT, 468/207), assumindo - Requisitos para o registro da pessoa jurídica de direito priva-
as formas de: sociedade cm nome coletivo; sociedade em coman- do: O artigo sub examine aponta os requisitos do assento, pois este
dita simples; sociedade em comandita por ações; sociedade limi- declarará:
tada; sociedade anônima ou por ações. Assim, para saber se dada a) a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fun-
sociedade é simples ou empresária basta considerar a natureza de do social, quando houver;
suas operações habituais; se estas tiverem por objeto o exercício de b) nome e individualização dos fundadores ou instituidores e
atividades econômicas organizadas para a produção ou circulação dos diretores;
de bens ou de serviços próprias de empresário, sujeito a registro, c) a forma de administração e a representação ativa e passiva,
a sociedade será empresária; caso contrario, simples, mesmo que judicial e extrajudicial;
adote quaisquer das formas empresariais, como permite o Art. 983 d) a possibilidade e o modo de reforma do estatuto social no
do Código Civil, exceto se for anônima, que, por força de lei, será que atina à administração da pessoa jurídica;
sempre empresária. e) a responsabilidade subsidiária dos sócios pelas obrigações
sociais;

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
f) as condições de extinção da pessoa jurídica e ras fraudes a credores, desde que requerida em casos extremos de
g) o destino do seu patrimônio nesse caso. desvio de finalidade da empresa e abuso da personalidade jurídica
dos sócios, entre outros.
- Vinculação da pessoa jurídica aos atos praticados pelos admi- Atualmente a desconsideração da personalidade jurídica é um
nistradores: Se seus administradores a representam ativa e passiva- remédio bastante eficaz, utilizado ao caso concreto, pois se torna
mente, em juízo ou fora dele, todos os atos negociais exercidos por cada vez mais necessário a existência de mecanismos, para garantir
eles, dentro dos limites de seus poderes estabelecidos no estatuto o pagamento de credores que sofreram de alguma forma prejuízos
social, obrigarão a pessoa jurídica, que deverá cumpri-los. ocasionados por fraude permeando assim pela eficácia real do Di-
reito.
- Administração coletiva: Se por lei ou pelo contrato social vá- A desconsideração é um instrumento para a efetividade do pro-
rios forem os administradores, as deliberações deverão ser toma- cesso, a fim de elencar os responsáveis pelos danos, executar o fiel
das por maioria de votos dos presentes, contados segundo o valor cumprimento do pagamento do crédito aos credores e o retorno da
das quotas de cada um, exceto se ato constitutivo dispuser de modo atividade empresarial.
contrário. Para a formação dessa maioria, é necessário votos cor-
respondentes a mais de metade do capital. Havendo dissolução da pessoa jurídica ou cassada sua auto-
rização para funcionamento, ela subsistirá para fins de liquidação,
- Anulação de decisão contrária à lei e ao estatuto ou eivada de mas aquela dissolução ou cassação deverá ser averbada no registro
vício de consentimento ou social: O direito de anular deliberação de onde ela estiver inscrita.
administradores que violar norma legal ou estatutária ou for eivada - Liquidação da sociedade: Percebe-se que a extinção da pes-
de erro, dolo, simulação ou fraude, poderá ser exercido dentro do soa jurídica não se opera instantaneamente, pois se houver bens
prazo decadencial de três anos. de seu patrimônio e dívidas a resgatar, ela continuará em fase de
Como a pessoa jurídica precisa ser representada, ativa ou pas- liquidação, durante a qual subsiste para a realização do ativo e pa-
sivamente, em juízo ou fora dele, deverá ser administrada por quem gamento de débitos, cessando, de uma só vez, quando se der ao
o estatuto indicar ou por quem seus membros elegerem. Por isso, acervo econômico o destino próprio.
se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o magistrado, - Cancelamento da inscrição da pessoa jurídica: Encenada a
mediante requerimento de qualquer interessado, deverá nomear liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pes-
um administrador provisório, que a representará enquanto não se soa jurídica. A extinção da pessoa jurídica, com tal cancelamento,
nomear seu representante legal, que exteriorizará sua vontade, no produzirá efeitos ex nunc, mantendo-se os atos negociais por ela
exercício dos poderes que lhe forem conferidos pelo contrato social. praticados até o instante de seu desaparecimento, respeitando-se
direitos de terceiro.
Desconsideração da pessoa jurídica:
A teoria da desconsideração permite que o juiz não mais con- Conceito de associação:
sidere os efeitos da personificação ou da autonomia jurídica da so- É uma pessoa jurídica de direito privado voltada à realização de
ciedade para atingir e vincular a responsabilidade dos sócios, com finalidades culturais, sociais, pias, religiosas, recreativas etc., cuja
o intuito de impedir a consumação de fraudes e abusos de direito existência legal surge com a inscrição do estatuto social que a disci-
cometidos por meio da personalidade jurídica que causem prejuí- plina, no registro competente. Por exemplo: APAE, UNE, Associação
zos ou danos a terceiros. de Pais e Mestres, Associação dos Advogados de São Paulo.
Em muitas situações os sócios ou acionistas administradores - Inexistência de reciprocidade de direitos e obrigações entre os
das sociedades, sejam elas de capital ou pessoas, acabam agindo associados: Com a personificação da associação, para os efeitos ju-
com excesso de poder ou má-fé, contrariam o contrato e estatuto rídicos, ela passará a ter aptidão para ser sujeito de direitos e obri-
social da sociedade, ou até mesmo as leis. gações. Cada um dos associados constituirá uma individualidade e
Esta teoria foi desenvolvida pelos tribunais norte-americanos, a associação uma outra (CC, art. 50, 2a parte), tendo cada um seus
tendo em vista aqueles casos concretos, em que o controlador da direitos, deveres e bens, não havendo, porém, entre os associados
sociedade a desviava de suas finalidades, para impedir fraudes direitos e deveres recíprocos.
mediante o uso da personalidade jurídica, responsabilizando seus
membros. Conteúdo do estatuto da associação:
Pelo Código Civil, quando a pessoa jurídica se desviar dos fins A associação é constituída por escrito e o estatuto social, que a
regerá, sob pena de nulidade, poderá revestir-se de forma pública
que determinarem sua constituição, em razão do fato de os sócios
ou particular, devendo conter: a denominação, a finalidade e a sede
ou administradores a utilizarem para alcançar finalidade diversa do
da associação; requisitos para admissão, demissão e exclusão de
objetivo societário para prejudicar alguém ou fazer mau uso da fina-
associados; direitos e deveres dos associados; fontes de recursos
lidade social, ou quando houver confusão patrimonial (mistura do
para sua manutenção; modo de constituição e funcionamento dos
patrimônio social com o particular do sócio, causando dano a ter-
órgãos deliberativos e administrativos e condições para alteração
ceiro) em razão de abuso de personalidade jurídica, o magistrado,
de disposições estatutárias e para dissolução da associação. Isto é
a pedido do interessado ou do Ministério Público, está autorizado,
assim porque toda estruturação do grupo social baseia-se nessas
com base na prova material do dano, a desconsiderar, episodica-
normas estatutárias.
mente, a personalidade jurídica, para coibir fraudes e abusos dos Exige-se uma regulamentação bastante uniforme e severa, no
sócios que dela se valerem como escudo, sem importar essa medi- estatuto, dos direitos e deveres dos associados, que deverão ter tra-
da numa dissolução da pessoa jurídica. tamento igual.
Em relação à questão processual, esta teoria propõe a vincular O ato constitutivo poderá, apesar de os associados deverem
todos os possíveis responsáveis previstos, ou seja, todos os sócios, ter direitos iguais, criar posições privilegiadas ou conferir direitos
fazendo uso de institutos processuais que regulam o litisconsórcio a preferenciais para certas categorias de membros, como, p. ex.: a
fim de garantir um grau de aproveitamento e otimização do proces- dos fundadores, que não poderá ser alterada sem o seu consenso,
so. É de certa forma uma maneira eficaz para fins de prevenir futu- mesmo que haja decisão assemblear aprovando tal alteração; a de

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
sócios remidos de determinado clube, que pagam certa importân- E se porventura não houver no Município, no Estado, no Distrito
cia em dinheiro para ter o direito de pertencer vitaliciamente à as- Federal ou no Território, em que a extinta associação está sediada,
sociação, sem mais dispêndios, não podendo, assim, a assembleia estabelecimento, ou instituição, nas condições indicadas, seus bens
deles exigir pagamento de outra contribuição, salvo se houver seu remanescentes irão para os cofres do Estado, do Distrito Federal ou
expresso consentimento ou se for tal exigência imprescindível para da União.
obter meios necessários à sobrevivência da associação. - Possibilidade de restituição da contribuição social aos associa-
A qualidade de associado somente poderá ser transferida a ter- dos: Os associados poderão receber em restituição, com a devida
ceiro com o consenso da associação ou com permissão estatutária. atualização, as contribuições que prestaram à formação do patri-
- Transferência de quota ideal do patrimônio da associação: Se, mônio social, antes da destinação do remanescente, se cláusula
p. ex., por morte, falência, interdição ou retirada de associado que estatutária permitir ou se houver deliberação dos associados nesse
tenha uma fração ideal do patrimônio da associação houver trans- sentido.
ferência de sua quota, tal fato não importará, obrigatoriamente, na
atribuição da qualidade de membro da associação ao seu sucessor Constituir-se-á a fundação mediante escritura pública ou tes-
(adquirente ou herdeiro), a não ser que haja, no estatuto, conven- tamento, contendo ato de dotação que compreende a reserva de
ção nesse sentido. bens livres (propriedades, créditos ou dinheiro) legalmente dispo-
- Exclusão de associado: Há imposição de sanções disciplinares níveis, indicação do fim lícito colimado e o modo de administração.
ao associado que infringir as normas estatutárias ou que praticar O próprio instituidor poderá providenciar a elaboração das normas
ato prejudicial ao grupo, que poderão, ante a gravidade do motivo, estatutárias e o registro da fundação (forma direta) ou encarregar
chegar até mesmo à expulsão, desde que haja justa causa e delibe- outrem para este fim (forma fiduciária). Se, porventura, na dotação
ração fundamentada da maioria absoluta dos presentes à assem- de bens o instituidor vier a lesar a legítima de seus herdeiros neces-
bleia geral especialmente convocada para essa finalidade. sários, estes poderão pleitear o respeito ao quantum legitimário.
- Injustiça ou arbitrariedade na exclusão de associado: O esta- Dever-se-á proceder ao registro, mediante intervenção do Ministé-
tuto poderá indicar, taxativamente, as causas graves determinantes rio Público, que deverá analisar o estatuto elaborado pelo fundador,
da exclusão do membro associado, sendo que, se a apreciação da verificando se houve observância das bases da fundação, se os bens
sua conduta for considerada injusta ou arbitrária, o lesado poderá, são suficientes aos fins colimados e há licitude de seu objeto.
da decisão do órgão que decretou sua expulsão, interpor recurso à Estando tudo em perfeita ordem o Ministério Público apro-
assembleia geral e, ainda, defender seu direito de associado por via vará o estatuto, dentro de quinze dias da autuação do pedido de
jurisdicional, embora a jurisprudência tenha negado provimento à aprovação. Se, porventura, o fundador não elaborar o estatuto nem
ação judicial para indenização de danos, em razão do afastamento ordenar algum para fazê-lo ou se o estatuto elaborado no prazo
ilícito do associado, devido à natureza do vínculo contratual que o assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em 180 dias, o
une à associação, sujeitando-o aos termos estatutários e às deci- Ministério Público poderá tornar a iniciativa.
sões dos órgãos da associação. Portanto, para que a fundação tenha personalidade jurídica
será preciso dotação, elaboração e aprovação dos estatutos e re-
Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou gistro.
função que lhe foi conferida pelo pacto social a não ser nos casos A lei prevê a possibilidade de ter bens insuficientes para a cons-
e no modo previsto legal ou estatutariamente são invulneráveis tituição da fundação, doados por escritura pública ou deixados por
direitos individuais especiais, como p. ex., o direito á presidência, via testamentária, ordenando, então, que sejam incorporados em
ao voto reforçado, ás atribuições especificas etc., Apesar de seus
outra fundação que vise igual ou semelhante objetivo, exceto se
vastos poderes, a assembleia não poderá efetivar todas as delibe-
outra coisa não houver disposto o instituidor.
rações da maioria, uma vez que há certos direitos essenciais dos
Se a fundação for constituída por meio de escritura pública, o
associados oriundos do pacto social, insuscetíveis de violação.
instituidor terá a obrigação de transferir a propriedade, ou outro
Compete à assembleia a deliberação sobre: eleição e destitui-
direito real, dos bens livres colocados a serviço de um fim lícito e
ção de administradores; aprovação de contas e alteração do esta-
especial por ele pretendido, sob pena de, não o fazendo, serem re-
tuto social.
gistrados em nome dela, por mandado judicial.
- Princípio da maioria: Consagra-se o princípio da maioria nas
Caso o instituidor não elaborou os estatutos da fundação, es-
deliberações assembleares, exigindo-se, para destituição de dire-
toria e alteração estatutária, o voto concorde de dois terços dos tes deverão ser organizados e formulados por aqueles a quem foi
presentes à assembleia especialmente convocada para esse fim, incumbida a aplicação do patrimônio, de conformidade com a fi-
não podendo ela deliberar em primeira convocação, sem a maioria nalidade específica e com as restrições impostas pelo fundador, de
absoluta dos associados, ou com menos de um terço nas convoca- maneira a não ser violada a vontade do instituidor. E, se os estatu-
ções seguintes. tos não forem elaborados dentro do prazo imposto pelo instituidor,
ou, não havendo prazo, em 180 dias, caberá ao Ministério Público
Todos os associados têm direito de participação na assembleia tal incumbência.
geral e de nela votar; logo, tal assembleia é convocada, na forma Uma vez elaborados os estatutos com base nos objetivos que
do estatuto, garantindo-se a um quinto dos associados o direito de se pretende alcançar, deverão ser eles submetidos à aprovação
promovê-la. do órgão local do Ministério Público, que é o órgão fiscalizador da
Sendo extinta uma associação, o remanescente do seu patri- fundação em virtude de lei. Se, porventura, este vier a recusar tal
mônio líquido depois de deduzidas quando for o caso, as quotas aprovação, o elaborador das normas estatutárias poderá requerer
ou frações ideais do patrimônio, em razão de transferência a ad- aquela aprovação denegada, mediante recurso ao juiz.
quirente ou a herdeiro de associado, será destinado a entidade de O órgão legítimo para velar pela fundação, impedindo que se
fins não econômicos indicada pelo estatuto. Ante a omissão esta- desvirtue a finalidade específica a que se destina, é o Ministério
tutária, por deliberação dos associados, os seus bens remanescen- Público. Consequentemente, o órgão do Ministério Público de cada
tes deverão ser transferidos para um estabelecimento municipal, Estado ou o Ministério Público Federal, se funcionar no Distrito Fe-
estadual ou federal que tenha finalidade similar ou idêntica à sua. deral ou em Território, terá o encargo de fiscalizar as fundações que

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
estiverem localizadas em sua circunscrição, aprovar seus estatutos
no prazo de quinze dias e as suas eventuais alterações ou reformas, BENS
zelando pela boa administração da entidade jurídica e de seus bens.
A ação da fundação poderá circunscrever-se a um só Estado ou Bens imóveis: Os bens imóveis são aqueles que não se podem
a mais de um. Se sua atividade estender-se a vários Estados, o Mi- transportar, sem destruição, de um lugar para outro, ou seja, são
nistério Público de cada um terá o ônus de fiscalizá-la, verificando os que não podem ser removidos sem alteração de sua substancia.
se atende à consecução do seu objetivo específico. Ter-se-á, então,
uma multiplicidade de fiscalização, embora dentro dos limites de - Classificação dos bens imóveis: Os bens imóveis podem ser
cada Estado. classificados em:
A Alteração dos estatutos apenas será admitida nos casos em a) imóveis por sua natureza, abrangendo o solo, pois sua con-
que houver necessidade de sua reforma. A Fundação, como qual- versão em bem móvel só seria possível com modificação de sua
quer pessoa jurídica devido aos progressos sociais precisará amol- substância. Entretanto, o legislador ampliou esse conceito, incluin-
dar-se ás novas necessidades, adaptando seus estatutos á nova rea- do os acessórios e adjacências naturais, as árvores, os frutos pen-
lidade jurídico-social. dentes, o espaço aéreo e o subsolo. A propriedade do solo abrange
Se na reforma estatutária houver minoria vencida, os adminis- a do espaço aéreo e a do subsolo, embora sofra limitações legais
tradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Mi- impostas pelo Código Civil;
nistério Público, requererão que se cientifique o fato àquela mino- b) imóveis por acessão física artificial, que incluem tudo aquilo
ria, que poderá, se quiser, estando inconformada, impugnar aquela que o homem incorporar permanentemente ao solo, como a se-
alteração recorrendo ao Judiciário dentro do prazo decadencial de mente lançada à terra, os edifícios e construções (pontes, viadutos
dez dias, pleiteando a invalidação das modificações estatutárias fei- etc.), de modo que se não possa retirar sem destruição, modifica-
tas pela maioria absoluta dos membros da Administração da funda- ção, fratura ou dano;
ção e aprovadas pelo órgão local do Ministério Público. c) imóveis por acessão intelectual ou por destinação do pro-
Isto é assim porque a lei apenas conferiu ao Ministério Público prietário, que são todas as coisas móveis que o proprietário man-
o dever de fiscalizar e não o direito de decidir, uma vez que o con- tiver, intencionalmente, empregadas em sua exploração industrial,
trole da legalidade compete ao Judiciário. O magistrado terá, então, aformoseamento ou comodidade.
a competência para decidir e conhecer das nulidades que, porven-
tura, apareçam no processo de alteração do estatuto da fundação, São qualificados como “pertenças”: máquinas agrícolas, orna-
mediante recurso interposto pela minoria vencida dos membros de mentos, instalações, animais ou materiais empregados no cultivo
sua Administração, cuja decadência se opera em dez dias. da terra, geradores, escadas de emergência justapostas nos edifí-
Constatado ser ilícito, impossibilidade, ou inútil o objetivo da cios, equipamentos de incêndio, aparelhos de ar-condicionado etc.
fundação, o órgão do Ministério Público, ou ainda, qualquer inte- - Imóveis por determinação legal: Com o escopo de garantir a
ressado poderá requerer a extinção da instituição. segurança das relações jurídicas, o art. 80 considera como imóvel o
Terminará a existência da fundação com o vencimento do prazo direito real sobre imóveis e as ações que o asseguram, e o direito à
de sua duração. Para tanto, o Ministério Público ou qualquer inte- sucessão aberta.
ressado deverá, mediante requerimento, promover a extinção da
fundação. Tais bens incorpóreos são considerados pela lei como imóveis
Com a decretação judicial da extinção da fundação pelos moti- para que possam receber proteção jurídica.
vos acima arrolados, seus bens serão, salvo disposição em contrário - Direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram:
no seu ato constitutivo ou no seu estatuto, incorporados em ou- São bens imobiliários não só os direitos reais sobre imóveis, como
tra fundação, designada pelo juiz, que almeje a consecução de fins propriedade, usufruto, uso, habitação, enfiteuse, anticrese, penhor,
idênticos ou similares aos seus. O Poder Público dará destino ao seu inclusive o agrícola, hipoteca, renda constituída sobre imóvel, ser-
patrimônio, entregando-o a uma fundação que persiga o mesmo vidão predial, mas também as ações que os asseguram, como as
objetivo, exceto se o instituidor dispôs de forma diversa, hipótese reivindicatórias, as hipotecárias, as pignoratícias, as negatórias de
em que se respeitará sua vontade e a do estatuto. servidão, as de nulidade ou de rescisão de contratos translativos de
Com o advento da Lei n.º 13.151 de 2015, a fundação somente propriedade etc.
poderá ser constituir somente para as seguintes finalidades: - Direito à sucessão aberta: Para os casos de alienação e plei-
– assistência social; tos judiciais a legislação considera o direito à sucessão aberta como
– cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e ar- bem imóvel, ainda que a herança só seja formada por bens móveis
tístico; ou abranja apenas direitos pessoais. Ter-se-á a abertura da suces-
– educação; são no instante da morte do de cujus; daí, então, seus herdeiros po-
– saúde; derão ceder seus direitos hereditários, que são tidos como imóveis.
– segurança alimentar e nutricional; Logo, para aquela cessão, será imprescindível a escritura pública.
– defesa, preservação e conservação do meio ambiente e pro-
moção do desenvolvimento sustentável; Imobilização de edificação para fins de remoção: Edificação
– pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alterna- que, apesar de separada do solo, conservar sua unidade e for re-
tivas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação movida para outro local, não perderá seu caráter de bem imóvel.
de informações e conhecimentos técnicos e científicos; Considerar-se-á imóvel qualquer material retirado provisoria-
– promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direi- mente de uma construção, como tijolo, telha, madeira etc., para
tos humanos e ser nela reempregado após o conserto ou reparo. Assim, o que se
– atividades religiosas. tira de um prédio para novamente nele incorporar pertencerá ao
imóvel e será imóvel (Ulpiano, Digesto, Liv. XIX e XXXII ad edictum).
Se empregado for em outro prédio, perderá temporariamente sua
imobilidade enquanto não for utilizado na nova construção.

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
- Mobilização do material por demolição do prédio: Se o pré- c) por vontade das partes, pois uma coisa divisível poderá
dio for demolido, o material de construção será tido como móvel, transformar-se em indivisível se assim o acordarem as partes, mas a
se não for mais empregado em reconstrução, pois, pelo art. 81, II, qualquer tempo poderá voltar a ser divisível. Por exemplo, na obri-
não perdem o de imóveis os materiais provisoriamente separados gação indivisível (CC, art. 314), toma-se indivisível bem divisível,
de um prédio, para nele mesmo se reempregarem. Os materiais, ajustando conservar a sua indivisibilidade por tempo determinado
enquanto não forem empregados em alguma construção, conser- ou não, ou, então, acordando em dividir em partes ideais coisa indi-
varão a sua qualidade de móveis, readquirindo essa qualidade os visível, como sucede no condomínio.
provenientes de demolição de algum prédio, se não forem reem-
pregados. Bens singulares:
As coisas singulares são as que, embora reunidas, se conside-
Os bens móveis são os que, sem deterioração na substância ram de per si, independentemente das demais. As coisas singulares
ou na forma, podem ser transportados de um lugar para outro, por poderão ser simples ou compostas. Serão simples se formarem um
força própria (animais) ou estranha (coisas inanimadas). todo homogêneo, cujas partes componentes estão unidas em virtu-
- Semoventes: São os animais considerados como móveis por de da própria natureza ou da ação humana, sem reclamar quaisquer
terem movimento próprio, daí serem semoventes. regulamentações especiais por norma jurídica. Podem ser materiais
- Bens móveis propriamente ditos: As coisas inanimadas sus- (pedra, caneta-tinteiro, folha de papel, cavalo) ou imateriais (crédi-
cetíveis de remoção por força alheia constituem os bens móveis to). As coisas compostas são aquelas cujas partes heterogêneas são
propriamente ditos, p. ex., mercadorias, moedas, objetos de uso, ligadas pelo engenho humano, hipótese em que há objetos inde-
títulos de dívida pública, ações de companhia etc. pendentes que se unem num só todo sem que desapareça a con-
- Materiais de construção como móveis por natureza: Os ma- dição jurídica de cada pane. Por exemplo, materiais de construção
teriais empregados numa construção, como madeiras, telhas, azu- que estão ligados à edificação de uma casa.
lejos, tijolos, enquanto não aderirem ao prédio, constituindo parte
integrante do imóvel, conservarão a natureza de bens móveis por Universalidade de fato:
natureza. Se alguma edificação for demolida, os materiais de cons- É um conjunto de bens singulares, corpóreos e homogêneos,
trução readquirirão a qualidade de móveis, porque não mais parti- Ligados entre si pela vontade humana para a consecução de um
ciparão da natureza do principal. fim (p. ex., uma biblioteca, um rebanho, uma galeria de quadros).
Em relação à mesma pessoa têm destinação unitária, podendo ser
Se o material de construção separar-se temporariamente do objeto de relações jurídicas próprias.
prédio que está sendo reformado, p. ex., continuará sendo bem
imóvel, uma vez que sua destinação é continuar a fazer parte do Universalidade de direito:
mesmo edifício. É a constituída por bens singulares corpóreos heterogêneos ou
A fungibilidade é própria dos bens móveis. Os bens fungíveis incorpóreos (complexo de relações jurídicas), a que a norma jurídi-
são os que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, ca, com o intuito de produzir certos efeitos, dá unidade, por serem
qualidade e quantidade (p. ex., dinheiro, café, lenha etc.). Os bens dotados de valor econômico, como, p. ex., o patrimônio, a herança
infungíveis são os que, pela sua qualidade individual, têm valor es- etc.
pecial, não podendo, por este motivo, ser substituídos sem que isso
acarrete a alteração de seu conteúdo, como um quadro de Renoir. A - Coisa principal:
infungibilidade pode apresentar-se em bens imóveis e móveis. Coisa principal é a que existe por si, exercendo sua função e
Já os bens consumíveis são os que terminam logo com o pri- finalidade, independentemente de outra (p. ex., o solo).
meiro uso, havendo imediata destruição de sua substância (p. ex.,
os alimentos, o dinheiro etc.). Os bens inconsumíveis são os que - Coisa acessória:
podem ser usados continuadamente, possibilitando que se retirem A coisa acessória é a que supõe, para existir juridicamente,
todas as suas utilidades sem atingir sua integridade. Coisas incon- uma principal. Nos imóveis, o solo é o principal, sendo acessório
sumíveis podem tornar-se consumíveis se destinadas à alienação. tudo aquilo o que nele se incorporar permanentemente (p. ex., uma
Nesta hipótese ter-se-á a consuntibilidade jurídica. árvore plantada ou uma construção, já que é impossível separar a
São divisíveis os bens que puderem ser fracionados em partes
ideia de árvore e de construção da ideia de solo). Nos móveis, prin-
homogêneas e distintas, sem alteração das qualidades essenciais
cipal é aquela para a qual as outras se destinam, para fins de uso,
do todo, sem desvalorização e sem prejuízo ao uso a que se desti-
enfeite ou complemento (p. ex., uma joia - a pedra é acessório do
nam, formando um todo perfeito. Por exemplo, se repartirmos uma
colar). Não só os bens corpóreos comportam tal distinção; os in-
saca de açúcar, cada metade conservará as qualidades do produto,
corpóreos também, pois um crédito é coisa principal, uma vez que
podendo ter a mesma utilização do todo, pois nenhuma alteração
tem autonomia e individualidade próprias, o mesmo não se dando
de sua substância houve. Apenas se transformou em duas porções
com a cláusula penal, que se subordina a uma obrigação principal.
reais e distintas de açúcar em menor proporção, ou quantidade,
Prevalecerá a regra “o acessório segue o principal”.
mantendo cada qual a mesma qualidade do todo.

Classificação das coisas indivisíveis: Os bens serão indivisíveis: Pertenças:


a) por natureza, se não puderem ser partidos sem alteração na Bens acessórios destinados de modo duradouro, a conservar
sua substância ou no seu valor (p. ex., um cavalo vivo dividido ao ou facilitar o uso ou prestar serviço ou, ainda, a servir de adorno
meio deixa de ser semovente); ao bem principal sem ser parte integrante. Apesar de acessórios,
b) por determinação legal, se a lei estabelecer sua indivisibili- conservam sua individualidade e autonomia, tendo apenas com
dade. É o que ocorre, p. ex., com o art. 1.386 do Código Civil, que o principal uma subordinação econômico jurídica, pois sem haver
estabelece que as servidões prediais são indivisíveis em relação ao qualquer incorporação vinculam-se ao principal para que este atinja
prédio serviente; suas finalidades. São pertenças todos os bens móveis que o proprie-
tário, intencionalmente, empregar na exploração industrial de um

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
imóvel, no seu aformoseamento ou na sua comodidade, como, p. - Benfeitoria e acessão natural:
ex., molduras de quadros, acessórios de um automóvel, máquinas Se benfeitorias são obras e despesas feitas pelo homem na
de uma fábrica. São imóveis por acesso intelectual. coisa, com o intuito de conservá-la, melhorá-la ou embelezar, claro
Partes integrantes: São acessórios que, unidos ao principal, for- está que não abrangem os melhoramentos (acessões naturais) so-
mam com ele um todo, sendo desprovidos de existência material brevindos àquela coisa sem a intervenção do proprietário possuidor
própria, embora mantenham sua identidade. P. ex.: as lâmpadas ou detentor por ocorrerem de um fato natural (p. ex., o aumento de
de um lustre; frutos e produtos enquanto não separados da coisa urna área de terra em razão de desvio natural de um rio).
principal.
- Melhoramentos que constituem acessão natural:
Inexistência de pertenças de direito: A acessão natural é o aumento do volume ou do valor do bem
A relação de pertinência só existe entre coisas e não entre di- devido a forças eventuais. Assim sendo não é indenizável, pois para
reitos. sua realização o possuidor ou detentor não concorreu com seu es-
No plano dos negócios jurídicos, por não ser o das relações en- forço nem com seu patrimônio. Por ser coisa acessória segue o des-
tre coisas, mas entre credor e devedor, se eles disserem respeito ao tino da principal. O Código Civil no seu art. 1.248, I a IV, contempla
bem principal, não alcançarão as pertenças, a não ser que o contrá- as seguintes formas de acessão natural, no que concerne à proprie-
rio resulte de lei, de manifestação de vontade ou das circunstâncias dade imóvel: formação de ilhas, aluvião, avulsão e abandono de ál-
do caso, visto que a finalidade econômica ou social delas pode auxi- veo. A acessão altera a substância da coisa, e a benfeitoria apenas
liar o principal. Para que um campo de tênis, separado de um hotel, objetiva a sua conservação ou valorização ou o seu maior deleite.
a ele pertença, será preciso que sete assente e averbe no Registro
Imobiliário. O piano não é pertença do imóvel residencial, mas o Classificação dos bens quanto aos sujeitos a que pertencem os
será de um conservatório, ante as circunstâncias do caso, uma vez Bens públicos são os que pertencem ao domínio nacional, ou seja,
que é imprescindível para que este possa atingir sua finalidade. à União, aos Estados ou aos Municípios.
- Frutos: No dizer de Clóvis Beviláqua, frutos são utilidades que De modo que, conforme a pessoa jurídica de direito público
a coisa produz periodicamente, cuja percepção mantém intacta a interno a que pertencerem os bens públicos serão federais, esta-
substância do bem que as gera. São, como assevera Lafayette, os duais, municípios
produtos que periodicamente nascem e renascem da coisa, sem Os bens particulares são os que tiverem como titular de seu
acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte, como o algodão, domínio pessoa natural ou jurídica de direito privado.
a lã, o leite etc.
- Rendimentos: Os rendimentos são os frutos civis (CC, arts. - Bens públicos de uso comum do povo:
1.215 e 206, § 3’, III), ou prestações periódicas, em dinheiro, de- Os bens de uso comum do povo, embora pertencentes a pes-
correntes da concessão do uso e gozo de um bem que uma pessoa soa jurídica de direito público interno, podem ser utilizados, sem
concede a outra. restrição e gratuita ou onerosamente, por todos, sem necessidade
de qualquer permissão especial desde que cumpridas as condições
- Produtos: Os produtos são utilidades que se pode retirar da impostas por regulamentos administrativos.
coisa, alterando sua substância, com a diminuição da quantidade
Nada obsta a que o Poder Público venta a suspender seu uso
até o esgotamento, porque não se reproduzem periodicamente (p.
por razões de segurança nacional ou do próprio povo usuário. Por
ex., pedras de uma pedreira, petróleo de um poço).
exemplo, interdição do porto, barragem do rio etc.
- Frutos e produtos como objeto de negócio jurídico: Os frutos
- Bens públicos de uso especial:
e produtos, mesmo não separados do bem principal, podem ser ob-
Os bens públicos de uso especial são os utilizados pelo próprio
jeto de negócio jurídico. IR ex., pelo art. 237 do Código Civil, quanto
Poder Público, constituindo-se por imóveis aplicados ao serviço
aos frutos de coisa certa, os percebidos até a tradição serão do de- ou estabelecimento federal, estadual ou municipal, como prédios
vedor e os pendentes ao tempo da tradição, do credor. onde funcionam tribunais, escolas públicas, secretarias, ministé-
rios, quartéis etc. São os que têm destinação especial.
- Benfeitorias voluptuárias:
As benfeitorias voluptuárias, de mero deleite ou recreio, têm - Bens dominicais: Os bens dominicais são os que compõem o
por escopo tão somente dar comodidade àquele que as fez, não patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios, como objeto
tendo qualquer utilidade por serem obras para embelezar a coisa do direito pessoal ou real dessas pessoas de direito público interno.
(p. ex., construção de piscina numa casa particular, revestimento Se a lei não dispuser o contrário, são dominicais os que pertence-
em mármore de um piso de cerâmica em bom estado, decoração rem a pessoa jurídica de direito público a que se tenha dado estru-
luxuosa de um aposento etc.). tura de direito privado.

- Benfeitorias úteis: Abrangem bens móveis ou imóveis, como: títulos de dívida


As benfeitorias úteis são as que visam aumentar ou facilitar o pública; estradas de ferro, telégrafos, oficinas e fazendas do Esta-
uso do bem, apesar de não serem necessárias (p.ex., instalação de do; ilhas formadas em mares territoriais ou rios navegáveis; terras
aparelhos sanitários modernos, construção de uma garagem). devolutas; terrenos da marinha e acrescidos; mar territorial, terras
ocupadas pelos índios, sítios arqueológicos e pré-históricos; bens
- Benfeitorias necessárias: vagos, bens perdidos pelos criminosos condenados por sentença
As benfeitorias necessárias são obras indispensáveis à con- proferida em processo judiciário federal; quedas-d’água, jazidas e
servação do bem, para impedir a sua deterioração (p. ex., serviços minérios, arsenais com todo o material da marinha, exército e avia-
realizados num alicerce da casa que cedeu, reconstrução de um as- ção; bens que foram do domínio da Coroa. Abrangem, ainda, os
soalho que apodreceu, colocação de cerca de arame farpado para títulos de crédito e dinheiro arrecadado pelos tributos. Os bens pú-
proteger a agricultura). blicos dominicais podem, por determinação legal, ser convertidos
em bens de uso comum ou especial.

20
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Inalienabilidade dos bens públicos: Os bens públicos de uso co- Objeto lícito, possível, determinado ou determinável:
mum do povo e os de uso especial são inalienáveis, logo não podem O negócio jurídico válido deverá ter, como diz Crome, em todas
ser vendidos, doados ou trocados. Tal inalienabilidade poderá ser as partes que o constituírem, um conteúdo legalmente permitido.
revogada desde que: Deverá ser lícito, ou seja, conforme a lei, não sendo contrário aos
a) o seja mediante lei especial; bons costumes, à ordem pública e à moral. Se tiver objeto ilícito
b) tenham tais bens perdido sua utilidade ou necessidade, não será. E o que ocorrerá, p. ex., com a compra e venda de coisa rou-
mais conservando sua qualificação; e bada. Deverá ter ainda objeto possível, física ou juridicamente. Se o
c) a entidade pública os aliene em hasta pública ou por meio de ato negocial contiver prestação impossível, como a de dar volta ao
concorrência administrativa. mundo em uma hora ou de vender herança de pessoa viva, deverá
ser declarado nulo.
Inalienabilidade dos bens públicos e a questão do usucapião: Deverá ter objeto determinado ou, pelo menos, suscetível de
Os bens públicos, por serem inalienáveis, não poderão ser usu- determinação, pelo gênero e quantidade, sob pena de nulidade ab-
capidos. soluta.

Imprescritibilidade e impenhorabilidade dos bens públicos Consentimento dos interessados:


como caracteres decorrentes da sua inalienabilidade: As partes deverão anuir, expressa ou tacitamente, para a for-
Os bens públicos são imprescritíveis, não podendo ser adqui- mação de uma relação jurídica sobre determinado objeto, sem que
ridos por usucapião. Mas há alguns juristas, como Silvio Rodrigues, se apresentem quaisquer vícios de consentimento, como erro, dolo,
que, ante o disposto na Constituição Federal, art. 188, admitem o coação, estado de perigo e lesão, ou vícios sociais, como simulação
usucapião de terras devolutas. São impenhoráveis, porque inalie- e fraude contra credores.
náveis, sendo, portanto, insuscetíveis de serem dados em garantia.
A impenhorabilidade impede que o bem passe do patrimônio do Forma prescrita ou não defesa em lei:
devedor ao do credor, ou de outrem, por força de execução judicial Às vezes será imprescindível seguir determinada forma de ma-
(adjudicação ou arrematação). nifestação de vontade ao se praticar ato negocial dirigido à aquisi-
ção, ao resguardo, à modificação ou extinção de relações jurídicas.
Uso gratuito ou oneroso dos bens públicos: O princípio geral é que a declaração de vontade independe de for-
Os bens podem ser utilizados gratuita ou onerosamente, con- ma especial, sendo suficiente que se manifeste de modo a tornar
forme for estabelecido, por lei, pela entidade a cuja administração conhecida a intentio do declarante, dentro dos limites em que seus
pertencerem. A regra geral é o seu uso gratuito, dado que são des- direitos podem ser exercidos. Apenas, excepcionalmente, a lei vem
tinados ao serviço do povo ou da comunidade, que para tanto paga a exigir determinada forma, cuja inobservância invalidará o negó-
impostos. Todavia, não perderão a natureza de bens públicos se leis cio.
ou regulamentos administrativos condicionarem ou restringirem o
seu uso a certos requisitos ou mesmo se instituírem pagamento de Incapacidade relativa como exceção pessoal:
retribuição. Por exemplo, pedágio nas estradas, venda de ingresso Por ser a incapacidade relativa uma exceção pessoal, ela so-
em museus, para contribuir para sua conservação ou custeio. mente poderá ser formulada pelo próprio incapaz ou pelo seu re-
presentante. Como a anulabilidade dó ato negocial praticado por
relativamente incapaz é um beneficio legal para a defesa de seu
FATOS JURÍDICOS. NEGÓCIO JURÍDICO. ATOS JURÍDI- patrimônio contra abusos de outrem, apenas o próprio incapaz ou
COS LÍCITOS. ATOS ILÍCITOS seu representante legal o deverá invocar. Assim, se num negócio
um dos contratantes for capaz e o outro incapaz, aquele não poderá
alegar a incapacidade deste em seu próprio proveito, porque de-
Elementos essenciais do ato negocial: via ter procurado saber com quem contratava e porque se trata de
Os elementos essenciais são imprescindíveis à existência e proteção legal oferecida ao relativamente incapaz. Se o contratante
validade do ato negocial, pois formam sua substância; podem ser for absolutamente incapaz, o ato por ele praticado será nulo, pou-
gerais, se comuns à generalidade dos negócios jurídicos, dizendo co importando que a incapacidade tenha sido invocada pelo capaz
respeito à capacidade do agente, ao objeto lícito e possível e ao ou pelo incapaz, tendo em vista que o Código Civil, pelo art. 168,
consentimento dos interessados; e particulares, peculiares a deter- parágrafo único, não possibilita ao magistrado suprir essa nulidade,
minadas espécies por serem concernentes à sua forma e prova. nem mesmo se os contratantes o solicitarem, impondo-se lhe até
mesmo o dever de declará-la de ofício.
Capacidade do agente:
Como todo ato negocial pressupõe uma declaração de vonta- Invocação da incapacidade de uma das partes ante a indivisi-
de, a capacidade do agente é indispensável à sua participação váli- bilidade do objeto do direito ou da obrigação comum:
da na seara jurídica. Tal capacidade poderá ser: Se o objeto do direito ou da obrigação comum for indivisível,
a) geral, ou seja, a de exercer direitos por si, logo o ato prati- ante a impossibilidade de separar o interesse dos contratantes, a
cado pelo absolutamente incapaz sem a devida representação será incapacidade de um deles poderá tornar anulável o ato negocial
nulo e o realizado pelo relativamente incapaz sem assistência será praticado, mesmo que invocada pelo capaz, aproveitando aos coin-
anulável; teressados capazes, que porventura houver. Logo, nesta hipótese,
b) especial, ou legitimação, requerida para a validade de certos o capaz que veio a contratar com relativamente incapaz estará au-
negócios em dadas circunstâncias (p. ex., pessoa casada é plena- torizado legalmente a invocar em seu favor a incapacidade relativa
mente capaz, embora não tenha capacidade para vender imóvel deste, desde que indivisível a prestação, objeto do direito ou da
sem autorização do outro consorte ou suprimento judicial desta, obrigação comum.
exceto se o regime matrimonial de bens for o de separação).

21
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Impossibilidade relativa do objeto: Conceito de representação:
Se a impossibilidade do objeto for relativa, isto é, se a presta- A representação é a relação jurídica pela qual certa pessoa se
ção puder ser realizada por outrem, embora não o seja pelo deve- obriga diretamente perante terceiro, por meio de ato praticado em
dor, não invalidade o negócio jurídico. seu nome por um representante, cujos poderes são conferidos por
Cessação da impossibilidade do objeto negocial antes do imple- lei ou por mandato.
mento da condição. Se o negócio jurídico contendo objeto impos-
sível, tiver sua eficácia subordinada a um evento futuro e incerto, Representante legal:
e aquela impossibilidade cessar antes de realizada aquela condição O representante legal é aquele a quem a norma jurídica con-
válida será a avença. fere poderes para administrar bens alheios, como o pai, ou mãe,
em relação a filho menor, tutor, quanto ao pupilo e curador, no que
Previsão contratual de forma especial: concerne ao curatelado. A representação legal serve aos interesses
A emissão da vontade é dotada de poder criador; assim sendo, do incapaz.
se houver cláusula negocial estipulando a invalidade do negócio ju-
rídico, se ele não se fizer por meio de escritura pública, esta passará Representante convencional ou voluntário:
a ser de sua substância. Logo, tal declaração de vontade somente O representante convencionado é o munido de mandato ex-
terá eficácia jurídica se o ato negocial revestir a forma prescrita con- presso ou tácito, verbal ou escrito, do representante, como o pro-
tratualmente. curador, no contrato de mandato.

Reserva mental lícita: Efeitos da representação:


A reserva mental é a emissão de uma intencional declaração A manifestação da vontade pelo representante ao efetivar um
não querida em seu conteúdo, nem tampouco em seu resultado, negócio em nome do representado, nos limites dos poderes que lhe
pois o declarante tem por único objetivo enganar o declaratário. foram conferidos, produz efeitos jurídicos relativamente ao repre-
Logo, se conhecida da outra parte, não toma nula a declaração sentado, que adquirirá os direitos dele decorrentes ou assumirá as
da vontade, pois esta inexiste, e, consequentemente, não se forma obrigações que dele advierem. Logo, uma vez realizado o negócio
qualquer ato negocial, uma vez que não havia intentio de criar di- pelo representante, os direitos serão adquiridos pelo representado,
reito, mas apenas de iludir o declaratário. Se for desconhecida pelo incorporando-se em seu patrimônio; igualmente os deveres con-
destinatário, subsiste o ato. traídos em nome do representado devem ser por ele cumpridos, e
por eles responde o seu acervo patrimonial.
Reserva mental ilícita conhecida do declaratário: Se o representante vier a efetivar negócio jurídico consigo mes-
Se, além de enganar, houver intenção de prejudicar, ter-se-á mo no seu interesse ou por conta de outrem anulável será tal ato,
vício social similar à simulação, ensejando nulidade do ato negocial. exceto se houver permissão legal ou autorização do representado.
É preciso esclarecer que o conhecimento da reserva mental que
acarreta a invalidade do negócio somente pode ser admissível até Consequência jurídica do substabelecimento:
Se, em caso de representação voluntária, houve substabeleci-
o momento da consumação do ato negocial, pois se o declaratário
mento de poderes, o ato praticado pelo substabelecido reputar-se-á
comunicar ao reservante, antes da efetivação do negócio, que co-
como tendo sido celebrado pelo substabelecente, pois não houve
nhece a reserva, não haverá esta figura, que tem por escopo enga-
transmissão do poder, mas mera outorga do poder de representa-
nar o declaratário.
ção. É preciso esclarecer que o poder de representação legal é in-
suscetível de substabelecimento. Os pais, os tutores ou os curado-
O silêncio pode dar origem a um negócio jurídico, visto que
res não podem substabelecer os poderes que têm em virtude de lei.
indica consentimento, sendo hábil para produzir efeitos jurídicos,
Como os negócios jurídicos realizados pelo representante são
quando cedas circunstâncias ou os usos o autorizarem, não sendo assumidos pelo representado, aquele terá o dever de provar àque-
necessária a manifestação expressa da vontade. Caso contrário, o les, com quem vier a tratar em nome do representado, não só a
silêncio não terá força de declaração volitiva. Se assim é, o órgão sua qualidade, mas também a extensão dos poderes que lhe foram
judicante deverá averiguar se o silêncio traduz, ou não, vontade. conferidos, sob pena de, não o fazendo, ser responsabilizado civil-
Logo, a parêmia “quem cala consente” não tem juridicidade. O puro mente pelos atos que excederem àqueles poderes.
silêncio apenas terá valor jurídico se a lei à determinar, ou se acom- Se, porventura, o representante concluir negócio jurídico, ha-
panhado de certas circunstâncias ou de usos e costumes do lugar, vendo conflito de interesses com o representado, com pessoa que
indicativos da possibilidade de manifestação da vontade, e desde devia ter conhecimento desse fato, aquele ato negocial deverá ser
que não seja imprescindível a forma expressa para a efetivação ne- declarado anulável.
gocial. Prazo decadencial para anulação de ato efetuado por repre-
A interpretação do ato negocial situa-se na seara do conteú- sentante em conflito de interesses com o representado: Pode-se
do da declaração volitiva, pois o intérprete do sentido negocial não pleitear anulação do negócio celebrado com terceiro, pelo repre-
deve ater-se, unicamente, à exegese do negócio jurídico, ou seja, sentante em conflito de interesses com o representado, dentro de
ao exame gramatical de seus termos, mas sim em fixar a vontade, cento e oitenta dias, contados da conclusão do negócio jurídico ou
procurando suas consequências jurídicas, indagando sua intenção, da cessação da incapacidade do representado.
sem se vincular, estritamente, ao teor linguístico do ato negocial.
Caberá, então, ao intérprete investigar qual a real intenção dos con- Papel do curador especial:
tratantes, pois sua declaração apenas terá significação quando lhes Havendo conflito de interesses entre representado e represen-
traduzir a vontade realmente existente. O que importa é a vontade tante, os atos negociais deverão, para ser válidos, ser celebrados
real e não a declarada; daí a importância de desvendar a intenção por curador especial.
consubstanciada na declaração.
Conceito de condição:
Condição é a cláusula que subordina o efeito do negócio jurídi-
co, oneroso ou gratuito, a evento futuro e incerto.

22
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Requisitos: Condição resolutiva impossível:
Para a configuração da condição será preciso a ocorrência dos Se for aposta num negócio condição resolutiva impossível ou
seguintes requisitos: de não fazer coisa impossível, será tida como não escrita; logo, o ne-
a) aceitação voluntária, por ser declaração acessória da vonta- gócio valerá como ato incondicionado, sendo puro e simples, como
de incorporada a outra, que é a principal por se referir ao negócio se condição alguma se houvesse estabelecido, por ser considerado
a que a cláusula condicional se adere com o objetivo de modificar inexistente.
uma ou algumas de suas consequências naturais;
b) futuridade do evento, visto que exigirá sempre um fato futu- Condição suspensiva: Será suspensiva a condição se as partes
ro, do qual o efeito do negócio dependerá; e protelarem, temporariamente, a eficácia do negócio até a realiza-
c) incerteza do acontecimento, pois a condição relaciona-se ção do acontecimento futuro e incerto.
com um acontecimento incerto, que poderá ocorrer ou não. Efeito da condição suspensivo pendente: Pendente a condição
suspensiva não se terá direito adquirido, mas expectativa de direito
Condição lícita: ou direito eventual. Só se adquire o direito após implemento da
Lícita será a condição quando o evento que a constitui não for condição. A eficácia do ato negocial ficará suspensa até que se rea-
contrário à lei, à ordem pública ou aos bons costumes. lize o evento futuro e incerto. A condição se diz realizada quando o
acontecimento previsto se verificar. Ter-se-á, então, o aperfeiçoa-
Estão defesas as condições: mento do ato negocial, operando-se ex tunc, ou seja, desde o dia de
a) perplexos, se privarem o ato negocial de todo o efeito, como sua celebração, se inter vivos, e da data da abertura da sucessão, se
a venda de um prédio sob a condição de não ser ocupado pelo com- causa mortis, daí ser retroativo.
prador; e A retroatividade da condição suspensiva não é aplicável aos
b) puramente potestativas, se advindas de mero arbítrio de contratos reais, uma vez que só há transferência de propriedade
um dos sujeitos. Por exemplo, constituição de uma renda em seu após a entrega do objeto sobre que versam ou da escritura públi-
favor se você vestir tal roupa amanhã; aposição de cláusula que, ca devidamente transcrita. Esclarece Clóvis Beviláqua que o imple-
em contrato de risco, dê ao credor poder unilateral de provocar o mento da condição suspensiva não terá efeito retroativo sobre bens
vencimento antecipado da dívida, diante de simples circunstancia fungíveis, móveis adquiridos de boa-fé e imóveis, se não constar do
de romper-se o vínculo empregatício entre as partes. Urge lembrar registro hipotecário a inscrição do título, onde se acha consignada
que a condição resolutiva puramente potestativa é admitida juridi- a condição.
camente, pois não subordina o efeito do negócio jurídico ao arbítrio Inserção posterior de novas disposições: A norma não veda a
de uma das partes, mas sim sua ineficácia. Sendo tal condição re- possibilidade de, na pendência de uma condição suspensiva, fazer
solutiva, nulidade não há porque existe um vínculo jurídico válido novas disposições, que, todavia, não terão validade se, realizada a
consistente na vontade atual de se obrigar, de cumprir a obrigação condição, forem com ela incompatíveis.
assumida, de sorte que, como observa Vicente Ráo, o ato jurídico A condição resolutiva subordina a ineficácia do negócio a um
chega a produzir os seus efeitos, só se resolvendo se a condição, evento futuro e incerto. Enquanto a condição não se realizar o ne-
positiva ou negativa, se realizar e quando se realizar. O art. 122 veda gócio jurídico vigorará, podendo exercer-se desde a celebração des-
a condição suspensiva puramente potestativa. te o direito por ele estabelecido. Mas, verificada a condição, para
todos os efeitos extingue-se o direito a que ela se opõe. Por exem-
Condições suspensivas física ou juridicamente impossíveis: plo, constituo uma renda em seu favor, enquanto você estudar.
As condições fisicamente impossíveis são as que não podem Se uma condição resolutiva for aposta em um ato negocial, en-
efetivar-se por serem contrárias à natureza. Por exemplo, a doação quanto ela não se der; vigorará o negócio jurídico, mas, ocorrida a
de uma casa a quem trouxer o mar até a Praça da República da cida- condição, operar-se-á a extinção do direito a que ela se opõe. Mas,
de de São Paulo será inválida, visto que a condição suspensiva que se tal negócio for de execução continuada, a efetivação da condi-
subordina a eficácia negocial a evento futuro incerto é impossível ção, exceto se houver disposição em contrário, não atingirá os atos
fisicamente. As condições juridicamente impossíveis são as que in- já praticados, desde que conformes com a natureza da condição
validamos atos negociais a elas subordinados, por serem contrarias pendente e aos ditames da boa-fé. Acatado está princípio da irre-
à ordem legal, como, p. ex., a outorga de uma vantagem pecuniária troatividade da condição resolutiva.
sob condição de haver renúncia ao trabalho. A condição suspensiva ou resolutiva valerá como realizada se
seu implemento for intencionalmente impedido por quem tirar
Condições ilícitas ou de fazer coisa ilícita: vantagem com sua não-realização. Se a parte beneficiada com o
As condições ilícitas ou as de fazer coisa ilícita são condenadas implemento da condição forçar maliciosamente sua realização, esta
pela norma jurídica, pela moral e pelos bons costumes e, por isso, será tida aos olhos da lei como não verificada para todos os efeitos;
invalidam os negócios a que forem apostas. Por exemplo: prometer p. ex., se alguém contempla certa pessoa com um legado sob condi-
uma recompensa sob a condição de alguém viver em concubinato; ção de prestar serviços a outrem, e o legatário maliciosamente cria
dispensar, se casado, os deveres de coabitação e fidelidade mútua; uma situação que venha forçá-lo a ser despedido sem justa causa,
mudar de religião, ou, ainda, não se casar. para receber o legado sem ter de prestar serviços. Provada a má-
-fé do legatário, não se lhe entregará o legado. Se, ao contrário, se
Condições incompreensíveis ou contraditórias: forçar uma justa causa para despedir o legatário, com o intuito de
Se os negócios contiverem cláusulas que subordinem seus efei- privá-lo de receber o legado, provada a má-fé, o legado ser-lhe-á
tos a evento futuro e incerto, mas eivadas de obscuridades, possibi- entregue, mesmo que não continue a prestação de serviços.
litando várias interpretações pelas dúvidas que levantam, tais atos Quanto aos atos de administração praticados na pendência da
negociais invalidar-se-ão. condição, ela não terá efeito retroativo, salvo se a lei expressamen-
te o determinar, de maneira que tais atos serão intocáveis, e os fru-
tos colhidos não precisarão ser restituídos. Porém, a norma jurídica
estabelece que a condição terá efeito retroativo quanto aos atos de
disposição, que, com sua ocorrência, serão tidos como nulos.

23
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Não há que confundir o termo com o prazo, que é o lapso de da coisa. Poderá abranger o erro de direito, relativo à existência de
tempo compreendido entre a declaração de vontade e a superve- uma norma jurídica dispositiva, desde que afete a manifestação da
niência do termo em que começa o exercício do direito ou extingue- vontade, caso em que viciará o consentimento.
-se o direito até então vigente.
- Erro sobre o objeto principal da declaração:
Contagem dos prazos: Ter-se-á erro substancial quando atingir o objeto principal da
O prazo é contado por unidade de tempo (hora, dia, mês e declaração em sua identidade, isto é, o objeto não é o pretendido
ano), excluindo-se o dia do começo (dies a quo) e incluindo-se o do pelo agente (p. ex., se um contratante supõe estar adquirindo um
vencimento (dies ad quem), salvo disposição, legal ou convencional, lote de terreno de excelente localização, quando na verdade está
em contrário. Se se assumir uma obrigação dia 15 de maio, com pra- comprando um situado em péssimo local).
zo de um mês, não se computará o dia 15, e a obrigação vencer-se-á
dia 16 de junho. - Erro sobre a qualidade essencial do objeto:
Apresentar-se-á o erro substancial quando recair sobre a qua-
Para resolver questões alusivas a prazo, o Código Civil apresen- lidade essencial do objeto, como, p. ex., se a pessoa pensa adquirir
ta os seguintes princípios: um relógio de prata que, na realidade, é de aço.
a) se o vencimento do ato negocial cair em feriado ou domingo,
será prorrogado até o primeiro dia útil subsequente. Logo, como - Erro de direito:
sábado não é feriado, não há qualquer prorrogação, a não ser que O errar juris não consiste apenas na ignorância da norma jurí-
o pagamento tenha de ser efetuado em Banco que não tiver expe- dica, mas também em seu falso conhecimento e na sua interpre-
diente aos sábados; tação errônea, podendo ainda abranger a ideia errônea sobre as
b) se o termo vencer em meados de qualquer mês, o vencimen- consequências jurídicas do ato negocial. Se o erro de direito afetar
to dar-se-á no décimo quinto dia, qualquer que seja o número de a manifestação volitiva, tendo sido o principal ou o único motivo
dias que o acompanham; assim sendo, pouco importará que o mês da realização do ato negocial, sem, contudo importar em recusa à
tenha 28 ou 31 dias; aplicação da lei vicia o consentimento. Para anular o negócio não
c) se o prazo estipulado for estabelecido por mês, este será poderá, contudo recair sobre norma cogente, mas tão somente so-
contado do dia do início ao dia correspondente do mês seguinte. Se bre normas dispositivas, sujeitas ao livre acordo das partes.
no mês do vencimento não houver o dia correspondente, o prazo
findar-se-á no primeiro dia subsequente; - Erro na transmissão da vontade por instrumento ou por in-
d) se o prazo for fixado em horas, a contagem far-se-á de mi- terposta pessoa:
nuto a minuto. Se alguém recorrer a rádio, televisão, telefone, mensageiro ou
telégrafo para transmitir uma declaração de vontade, e o veículo
Os atos negociais inter vivos sem prazo serão exequíveis ime- utilizado o fizer com incorreções, acarretando desconformidade
diatamente, abrangendo tanto a execução promovida pelo credor entre a vontade declarada e a interna, poder-se-á alegar erro nas
como o cumprimento pelo devedor. Todavia, como nos ensina João mesmas condições em que a manifestação volitiva se realiza inter
Franzen de Lima: “não se deve entender ao pé da letra, como sinô- presentes.
nimo de imediatamente, a expressão desde logo, contida na regra
deste dispositivo. Entendida ao pé da letra poderia frustrar o bene- Se uma declaração de vontade com certo conteúdo for trans-
fício, poderia anular o negócio. Deve haver o tempo bastante para mitida com conteúdo diverso, o negócio poderá ser passível de nu-
que se realize o fim visado, ou se empreguem meios para realizá-lo”. lidade relativa, porque a manifestação de vontade do emitente não
Caso haverá em que impossível será o adimplemento imediato. chegou corretamente à outra parte. Se, contudo, a alteração não
vier a prejudicar o real sentido da declaração expedida, o erro será
Prazo tácito: insignificante e o negócio efetivado prevalecerá.
Para evitar hipóteses em que o adimplemento do contrato não
se pode dar de imediato, esclarece o artigo sub examine que, se a - Erro acidental:
execução tiver de ser feita em local diverso ou depender de tempo, O erro acidental diz respeito às qualidades secundárias ou
não poderá, obviamente, prevalecer o imediatismo da execução. O acessórias da pessoa, ou do objeto. Não terá qualquer influência na
prazo tâcito decorrerá, portanto, da natureza do negócio ou das cir- perfeição do negócio jurídico. O erro acidental não induz anulação
cunstâncias. Por exemplo, no transporte de uma mercadoria de São do ato negocial por não incidir sobre a declaração da vontade, se se
Paulo a Manaus, mesmo que não haja prazo, mister será um espaço puder, por seu contexto e pelas circunstâncias. identificar a pessoa
de tempo para que seja possível a efetivação da referida entrega no ou a coisa. Assim, o erro sobre a qualidade da pessoa, de ser ela ca-
local designado; na compra de uma safra de laranja, o prazo será a sada ou solteira, não terá o condão de anular um legado que lhe for
época da colheita, mesmo que não tenha sido estipulado. feito, se se puder identificar a pessoa visada pelo testador, apesar
de ter sido erroneamente indicada.
Erro substancial:
O erro é uma noção inexata sobre um objeto, que influência a - Erro de cálculo e sua retificação:
formação da vontade do declarante, que a emitirá de maneira di- O errar in quantitate diz respeito a engano sobre peso, medida
versa da que a manifestaria se dele tivesse conhecimento exato. ou quantidade do bem, logo é erro acidental, não induzindo anu-
Para viciar a vontade e anular o ato negocial, deste deverá ser subs- lação do negócio, por não incidir sobre a declaração da vontade.
tancial, escusável e real. Escusável, no sentido de que há de ter por Se assim é, o erro de cálculo não anula o negócio, nem vicia o con-
fundamento uma razão plausível ou ser de tal monta que qualquer sentimento, autorizando tão-somente a retificação da declaração
pessoa de atenção ordinária seja capaz de cometê-lo em face da volitiva.
circunstância do negócio. Real, por importar efetivo dano para o in-
teressado. O erro substancial é erro de fato por recair sobre circuns-
tância de fato, ou seja, sobre as qualidades essenciais da pessoa ou

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Conceito de dolo: c) o dolo é obra de terceiro, sem que dele tenha ciência o con-
Dolo, segundo Clóvis Beviláqua, é o emprego de um artifício tratante favorecido.
astucioso para induzir alguém à prática de um ato que o prejudica
e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. O dolus malus, de que Se o dolo de terceiro apresentar-se por cumplicidade de um
cuida o art. 145, é defeito do ato jurídico, idôneo a provocar sua dos contratantes ou se este dele tiver conhecimento, o ato negocial
anulabilidade, dado que tal artifício consegue ludibriar pessoas sen- anular-se-á, por vício de consentimento, e se terá indenização de
satas e atentas. perdas e danos a que será obrigado o autor do dolo, mesmo que o
O dolo principal é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem negócio jurídico subsista. Se o contratante favorecido não tiver co-
o qual ele não se teria concluído, acarretando a anulação daquele nhecimento do dolo de terceiro, o negócio efetivado continuará vá-
ato negocial. Para que o dolo principal se configure e tome passível lido, mas o terceiro deverá responder pelos danos que causar. Logo,
de anulação o ato negocial, será preciso que: se houver dolo principal de terceiro, e uma das partes tiver ciência
a) haja intenção de induzir o declarante a praticar o negócio dele, não advertindo o outro contratante da manobra, tornar-se-á
lesivo à vítima; corresponsável pelo engano a que a outra parte foi induzida, que
b) os artifícios maliciosos sejam graves, aproveitando a quem terá, por isso, o direito de anular o ato, desde quê prove que o ou-
os alega, por indicar fatos falsos, por suprimir ou alterar os verda- tro contratante sabia da dolosa participação do terceiro. Assim, se
deiros ou por silenciar algum fato que se devesse revelar ao outro não se provar, no negócio, que uma das partes conhecia o dolo de
contratante; terceiro, e mesmo que haja presunção desse conhecimento, não
c) seja a causa determinante da declaração de vontade, cujo poderá o ato ser anulado.
efeito será a anulabilidade do ato, por consistir num vício de con-
sentimento; e - Dolo de representante legal ou convencional:
d) proceda do outro contratante, ou seja, deste conhecido, se O dolo de representante legal ou convencional de uma das par-
procedente de terceiro. tes não pode ser considerado de terceiro, pois, nessa qualidade,
age como se fosse o próprio representado, sujeitando-o à respon-
- Dolus incidens: sabilidade civil até a importância do proveito que tirou do ato ne-
O dolo acidental ou dolus incidens é o que leva a vítima a rea-
gocial, com ação regressiva contra o representante. O representado
lizar o negócio, porém em condições mais onerosas ou menos van-
deverá restituir o lucro ou vantagem oriunda do ato doloso de seu
tajosas, não afetando sua declaração de vontade, embora venha a
representante ante o princípio que veda o enriquecimento sem
provocar desvios, não se constituindo vício de consentimento, por
causa, tendo, porém, uma actio de in rem verso. E se o represen-
não influir diretamente na realização do ato negocial que se teria
tante for convencional, deverá responder solidariamente com ele
praticado independentemente do emprego das manobras astucio-
por perdas e danos.
sas.
O dolo acidental, por não ser vício de consentimento nem cau-
Pode haver dolo de ambas as partes que agem dolosamente,
sa do contrato, não acarretará a anulação do negócio, obrigando
apenas à satisfação de perdas e danos ou a uma redução da presta- praticando ato comissivo ou configurando-se torpeza bilateral. Se o
ção convencionada. ato negocial foi realizado em virtude de dolo principal ou acidental
de ambos os contratantes, não poderá ser anulado, nem se poderá
- Dolo positivo e dolo negativo: pleitear indenização; ter-se-á uma neutralização do delito porque
O dolo positivo é o artifício astucioso decorrente de ato comis- há compensação entre dois ilícitos; a ninguém caberá se aproveitar
sivo em que a outra parte é levada a contratar por força de afirma- do próprio dolo. Se ambas as partes contratantes se enganaram re-
ções falsas sobre a qualidade da coisa. O dolo negativo, previsto no ciprocamente, uma não poderá invocar contra a outra o dolo, que
Art. 147, vem a ser a manobra astuciosa que constitui uma omissão ficará paralisado pelo dolo próprio.
dolosa ou reticente para induzir um dos contratantes a realizar o
negócio. Ocorrerá quando uma das partes vem a ocultar algo que a Coação:
outra deveria saber e se sabedora não teria efetivado o ato negocial. Para que haja coação moral, suscetível de anular ato negocial,
O dolo negativo acarretará anulação do ato se for dolo principal. será preciso que:
Para o dolo negativo deverá haver: a) seja a causa determinante do negócio jurídico, pois deverá
a) um contrato bilateral; haver um nexo causal entre o meio intimidativo e o ato realizado
b) intenção de induzir o outro contratante a praticar o negócio pela vítima;
jurídico; b) incuta à vítima um temor justificado, por submetê-la a um
c) silêncio sobre uma circunstância ignorada pela outra parte; processo que lhe produza ou venha a produzir dor (morte, cárce-
d) relação de causalidade entre omissão intencional e a decla- re privado, desonra, mutilação, escândalo etc.), fazendo-a recear a
ração volitiva; continuação ou o agravamento do mal se não manifestar sua vonta-
e) ato omissivo do outro contratante e não de terceiro; de no sentido que se lhe exige;
f) prova da não-realização do negócio se o fato omitido fosse c) o temor diga respeito a um dano iminente, suscetível de atin-
conhecido da outra parte contratante. gir a pessoa da vítima, sua família ou seus bens. E se o ato coativo
disser respeito a pessoa não pertencente à família da vítima, o ór-
Se o dolo for provocado por terceira pessoa a mando de um gão judicante, com equidade e com base nas circunstâncias, decidi-
dos contratantes ou com o concurso direto deste, o terceiro e o rá se houve, ou não, coação;
contratante serão tidos como autores do dolo. Poder-se-á apresen- d) o dano seja considerável ou grave, podendo ser moral, se
tar três hipóteses: a ameaça se dirigir contra a vida, liberdade, honra da vítima ou de
a) o dolo poderá ser praticado por terceiro com a cumplicidade pessoa de sua família, ou patrimonial, se a coação disser respeito
de um dos contratantes; aos seus bens. O dano ameaçado deverá ser efetivo ou potencial
b) o artifício doloso advém de terceiro, mas a pane, a quem a um bem pessoal ou patrimonial. E necessário, portanto, que a
aproveita, o conhece ou o deveria conhecer; e ameaça se refira a prejuízo que influencie a vontade do coacto a

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
ponto de alterar suas determinações, embora não possa, no mo- ante o prejuízo sofrido na conclusão do contrato, devido à despro-
mento, verificar, com justeza, se será inferior ou superior ao resul- porção existente entre as prestações das duas partes, dispensan-
tante do ato extorquido. do-se a verificação do dolo, ou má-fé, da pane que se aproveitou.
Ao apreciar a gravidade da via compulsiva, o magistrado de- A desproporção das prestações, ocorrendo lesão, deverá ser
verá, em cada caso concreto, ater-se aos meios empregados pelo apreciada segundo os valores vigentes ao tempo da celebração do
coator, verificando se produzem constrangimento moral, sem olvi- negócio jurídico pela técnica pericial e avaliada pelo magistrado. Se
dar o sexo, a idade, a condição social, a saúde e o temperamento da a desproporcionalidade for superveniente à formação do negócio,
vítima. Deverá, portanto, averiguar quaisquer circunstâncias, sejam será juridicamente irrelevante.
elas pessoais ou sociais, que concorram ou influam sobre o estado A lesão inclui-se entre os vicio de consentimento e acarretará
moral do coacto, levando-o a executar ato negocial que se lhe é a anulabilidade do negócio, permitindo-se, porém, para evitá-la, a
exigido. Isto é assim porque a lei, ao pressupor que todos somos oferta de suplemento suficiente, ou, se o favorecido concordar, a
dotados de certa energia ou grau de resistência, não desconhece redução da vantagem, aproveitando, assim, o negócio.
que sexo, idade, saúde, condição social, temperamento podem tor-
nar decisiva a coação, que, exercida em certas circunstâncias, pode Fraude contra credores e seus elementos:
pressionar e influir mais poderosamente. A fraude contra credores constitui a prática maliciosa, pelo de-
vedor, de atos que desfalcam seu patrimônio, com o fim de colocá-
- Excludentes da coação: -lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos
Não se considerará coação, portanto, vício de consentimento creditórios alheios. Dois são seus elementos: o objetivo, que é todo
suscetível de anular negócio, a ameaça do exercício normal de um ato prejudicial ao credor, por tornar o devedor insolvente ou por ter
direito e o simples temor reverencial. Assim, se algum negócio for sido realizado em estado de insolvência, ainda quando o ignore ou
levado a efeito por um dos contratantes nas circunstâncias acima ante o fato de a garantia tornar-se insuficiente; e o subjetivo que é
enumeradas, não se justificará a anulabilidade do ato, que perma- a má-fé, a intenção de prejudicar do devedor ou do devedor aliado
necerá válido, uma vez que não se trata de coação. a terceiro, ilidindo os efeitos da cobrança.

- Ameaça do exercício normal de um direito: - Estado de insolvência:


A ameaça do exercício normal de um direito exclui a coação, Pelo art. 748 do Código de Processo Civil, ter-se-á insolvência
porque se exige que a violência seja injusta. Desse modo, se um sempre que os débitos forem superiores à importância dos bens do
credor de dívida vencida e não paga ameaçar o devedor de protes- devedor. A prova da insolvência far-se-á, em regra, com a execução
tar o título e requerer falência, não se configurará a coação por ser da dívida.
ameaça justa que se prende ao exercício normal de um direito; logo
o devedor não poderá reclamar a anulação do protesto. O simples - Ação pauliana:
temor reverencial vem a ser o receio de desgostar ascendente ou A fraude contra credores, que vicia o negócio de simples anu-
pessoa a quem se deve obediência e respeito, que não poderá anu- labilidade, somente é atacável por ação pauliana ou revogatória,
lar o negócio, desde que não esteja acompanhado de ameaças ou movida pelos credores quirografários (sem garantia) que já o eram
violências irresistíveis. ao tempo da prática desse ato fraudulento que se pretende invali-
A coação exercida por terceiro vicia o negócio jurídico, causan- dar. O credor com garantia real (penhor, hipoteca ou anticrese) não
do sua anulabilidade, se dela teve ou devesse ter conhecimento o poderá reclamar a anulação, por ter no ônus real a segurança de
contratante que dela se aproveitar. Havendo coação exercida por seu reembolso.
terceiro, urge averiguar, para apurar a responsabilidade civil, se a
parte a quem aproveite teve prévio conhecimento dela, pois esta Contrato oneroso fraudulento:
responderá solidariamente com o coator por todas as perdas e da- Será suscetível de fraude o negócio jurídico a título oneroso se
nos causados ao coacto. Logo, além da anulação do ato negocial praticado por devedor insolvente ou quando a insolvência for notó-
pelo vício de consentimento, a vitima terá direito de ser indenizada ria ou se houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
pelos prejuízos sofridos, ficando solidariamente obrigados a isso o Podendo ser anulado pelo credor. Por exemplo, quando se vender
autor da via compulsiva e o outro contraente que dela teve ciência imóvel em data próxima ao vencimento das 0brigações inexistindo
e dela auferiu vantagens. outros bens para saldaria dívida.
Será notória a insolvência de certo devedor se for tal estado
Estado de perigo: do conhecimento geral. Todavia, desta notoriedade não se poderá
No estado de perigo, há temor de grave dano moral ou mate- dispensar prova; logo todos os meios probatórios serão admitidos.
rial à própria pessoa, ou a parente seu, que compele o declarante Por exemplo, será notória a insolvência se o devedor tiver seus tí-
a concluir contrato, mediante prestação exorbitante. A pessoa na- tulos protestados ou ações judiciais que impliquem a vinculação de
tural premida pela necessidade de salvar-se a si própria, ou a um seus bens.
familiar seu, de algum mal conhecido pelo outro contratante, vem Será presumida a insolvência quando as circunstâncias indica-
a assumir obrigação demasiadamente onerosa. Por exemplo: venda rem tal estado, que já devia ser do conhecimento do outro con-
de casa a preço fora do valor mercadológico para pagar um débito traente que tinha motivos para saber da situação financeira precária
assumido em razão de urgente intervenção cirúrgica, por encontrar- do alienante. Por exemplo, preço vil, parentesco próximo alienação
-se em perigo de vida. de todos os bens, relações de amizade, de negócios mútuos etc.
Em se tratando de pessoa não pertencente à família do decla-
rante, o juiz decidirá pela ocorrência, ou não, do estado de perigo, - Perda da legitimação ativa para mover ação pauliana:
segundo as circunstâncias, guiando-se pelo bom senso. Perderão os credores a legitimação ativa para mover a ação re-
vocatória dos bens do devedor insolvente que ainda não pagou q
Lesão: preço, que é o corrente, depositá-lo em juízo, com citação em edital
E um vício de consentimento decorrente do abuso praticado de todos os interessados ou, ainda, se o adquirente, sendo o preço
em situação de desigualdade de um dos contratantes, por estar sob inferior, para conservar os bens, depositar quantia correspondente
premente necessidade, ou por inexperiência, visando a protegê-lo ao valor real.

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
Para que não haja nulidade relativa do negócio jurídico lesivo a beneficio do acervo do devedor, que deverá ser partilhado entre
credor, será mister que o adquirente: todos os credores que legalmente estiverem habilitados no concur-
a) ainda não tenha pago o preço real, justo ou corrente; so creditório.
b) promova o depósito judicial desse preço; e Se o devedor insolvente vier a contrair novo débito, visando be-
c) requeira a citação em edital de todos os interessados, para neficiar os próprios credores, por ter o escopo de adquirir objetos
que tomem ciência do depósito. imprescindíveis não só ao funcionamento do seu estabelecimento
mercantil, rural ou industrial, evitando a paralisação de suas ativi-
Com isso estará assegurando a satisfação dos credores, não se dades e consequentemente a piora de seu estado de insolvência e
justificando a rescisão contratual, pois ela não trará qualquer van- o aumento do prejuízo aos seus credores, mas também à sua sub-
tagem aos credores defraudados, que, no processo de consignação sistência e a de sua família, o negócio por ele contraído será válido,
em pagamento, poderão, se for o caso, contestar o preço alegado, ante a presunção em favor da boa-fé.
hipótese em que o magistrado deverá determinar a perícia avalia- Todos os novos compromissos indispensáveis à conservação e
tória. administração do patrimônio do devedor insolvente, mesmo que
o novo credor saiba de sua insolvência, serão tidos como válidos,
- Ação pauliana contra o devedor insolvente: e o novel credor equiparar-se-á aos credores anteriores. A dívida
Em regra a revocatória deverá ser intentada contra o devedor contraída pelo insolvente com tal finalidade não constituirá fraude
insolvente, seja em caso de transmissão gratuita de bens, seja na contra credores, sendo incabível a ação pauliana.
hipótese de alienação onerosa, tendo-se em vista que tal ação visa A ação pauliana tem por primordial efeito a revogação do ne-
tão-somente anular um negócio celebrado em prejuízo do credor. gócio lesivo aos interesses dos credores quirografários, repondo o
Mas nada obsta a que seja movida contra a pessoa que com ele veio bem no patrimônio do devedor, cancelando a garantia real concedi-
a efetivar o ato fraudulento ou contra terceiro adquirente de má-fé. da em proveito ao acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso
Logo, poderá ser proposta contra os que intervieram na fraude con- de credores, possibilitando a efetivação do rateio, aproveitando a
tra credores, citando-se todos que nela tiverem tomado pane. “O todos os credores e não apenas ao que a intentou.
litisconsórcio, na ação pauliana, é obrigatório. Não podem as partes Se, porventura, o ato invalidado tinha por único escopo confe-
dispensá-lo” (RT, 447/147). rir garantias reais, como penhor, hipoteca e anticrese, sua anulabili-
dade alcançará tão-somente a da preferência estabelecida pela re-
- Revocatória contra a pessoa que celebrou o ato fraudatório ferida garantia; logo a obrigação principal (débito) continuará tendo
com o devedor insolvente: validade. Com a anulação da garantia, o credor não irá perder seu
Poderão ser acionados por terem celebrado estipulação frau- crédito, pois figurará, perdendo a preferência, como quirografário,
dulenta com o devedor insolvente: entrando no rateio final do concurso creditório.
a) herdeiros do adquirente, com a restrição do art. 1.792 do
Código Civil; Conceito de nulidade:
b) contratante ou adquirente de boa-fé, sendo o ato a título Nulidade é a sanção, imposta pela norma jurídica, que deter-
gratuito, embora não tenha o dever de restituir os frutos percebi- mina a privação dos efeitos jurídicos do ato negocial praticado em
dos (CC, art. 1.214) nem o de responder pela perda ou deterioração desobediência ao que prescreve.
da coisa, a que não deu causa (CC, art. 1.217), tendo, ainda, o direi-
to de ser indenizado pelas benfeitorias úteis e necessárias que fez - Efeitos da nulidade absoluta:
(CC, art. 1.219); Com a declaração da nulidade absoluta do negócio jurídico,
c) adquirente de boa-fé, sendo o negócio oneroso, hipótese em este não produzirá qualquer efeito por ofender princípios de ordem
que, com a revogação do ato lesivo e restituição do bem ao pa- pública, por estar inquinado por vícios essenciais. Por exemplo, se
trimônio do devedor, se entregará ao contratante acionado a con- for praticado por pessoa absolutamente incapaz (CC, art. 32); se ti-
traprestação que forneceu, em espécie ou no equivalente. Quem ver objeto ilícito ou impossível; se não revestir a forma prescrita
receber bem do devedor insolvente, por ato oneroso ou gratuito, em lei ou preterir alguma solenidade imprescindível para sua va-
conhecendo seu estado de insolvência, será obrigado a devolvê-lo, lidade; se tiver por objetivo fraudar lei imperativa; e quando a lei
com os frutos percebidos e percipiendos (CC, art. 1.216), tendo, ain- taxativamente o declarar nulo ou lhe negar efeito. De modo que um
da, de indenizar os danos sofridos pela perda ou deterioração da negócio nulo é como se nunca tivesse existido desde sua formação,
coisa, exceto se demonstrar que eles sobreviriam se ela estivesse pois a declaração de sua invalidade produz efeito ex tunc (Súmula
em poder do devedor (CC, art. 1.218). Todavia, resguardado estará 346 do STF).
seu direito à indenização das benfeitorias necessárias que, porven-
tura, tiver feito no bem (CC, art. 1.220). - Simulação como vício social:
Consiste num desacordo intencional entre a vontade interna e
- Ação pauliana contra terceiro adquirente de má-fé: a declarada para criar, aparentemente, um ato negocial que inexis-
O terceiro será aquele que veio a adquirir o bem daquele que o te, ou para ocultar, sob determinada aparência, o negócio quando,
obteve diretamente do alienante insolvente, ou melhor, é o segun- enganando terceiro, acarretando a nulidade do negócio. Mas en-
do adquirente ou sub adquirente que, estando de má-fé, deverá ser tendemos que tecnicamente mais apropriado seria admitir a sua
acionado e restituir o bem. anulabilidade, por uma questão de coerência lógica ao disposto no
O pagamento antecipado do débito a credores frustra a igual- caput do art. 167, em que se admite a subsistência do ato dissimu-
dade que deve existir entre os credores quirografários, que, por tal lado se válido for na forma e na substância e diante, por exemplo,
razão, poderão propor ação pauliana para invalidá-lo, determinan- como veremos logo mais, do prescrito no art. 496 do Código Civil.
do que o beneficiado reponha o que recebeu em proveito do acer-
vo. - Simulação absoluta:
O credor que vier a receber pagamento de dívida ainda não Ter-se-á simulação absoluta quando a declaração enganosa da
vencida será obrigado a devolver o que recebeu, mas essa devolu- vontade exprime um negócio jurídico bilateral ou unilateral, não
ção não apenas aproveitará aos que o acionaram, pois reverterá em havendo intenção de realizar ato negocial algum. Por exemplo, é o

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
caso da emissão de títulos de crédito, que não representam qual- A nulidade relativa ou anulabilidade refere-se, na lição de Cló-
quer negócio, feita pelo marido antes da separação judicial para le- vis Beviláqua, “a negócios que se acham inquinados de vício capaz
sar a mulher na partilha de bens. de lhes determinar a ineficácia, mas que poderá ser eliminado, res-
tabelecendo-se a sua normalidade”.
- Simulação relativa:
A simulação relativa é a que resulta no intencional desacordo - Atos negociais anuláveis:
entre a vontade interna e a declarada. Ocorrerá sempre que al- Serão anuláveis os negócios se:
guém, sob a aparência de um negócio fictício, realizar outro que a) praticados por pessoa relativamente incapaz (CC, art. 42)
é o verdadeiro, diverso, no todo ou em parte, do primeiro, com o sem a devida assistência de seus legítimos representantes legais
escopo de prejudicar terceiro. Apresentam-se dois contratos: um (CC, art. 1.634, V);
real e outro aparente. Os contratantes visam ocultar de terceiros o b) viciados por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou
contrato real, que é o querido por eles. fraude contra credores, simulação ou fraude (CC, arts. 138 e 165); e
c) a lei assim o declarar, tendo em vista a situação particular em
- Modalidades de simulação relativa: que se encontra determinada pessoa (CC, Art. 1.650).
A simulação relativa poderá ser:
a) subjetiva, se a parte contratante não tira proveito do ne- Confirmação:
gócio, por ser o sujeito aparente. O negócio não é efetuado pelas A nulidade relativa pode convalescer, sendo confirmada, ex-
próprias partes, mas por pessoa interposta ficticiamente. Por exem- pressa ou tacitamente, pelas partes, salvo direito de terceiro. A
plo, é o que sucede na venda realizada a um terceiro para que ele confirmação é, portanto, segundo Serpa Lopes, o ato jurídico pelo
transmita a coisa a um descendente do alienante, a quem se tem qual uma pessoa faz desaparecer os vícios dos quais se encontra in-
a intenção de transferi-la desde o início, burlando-se o disposto no quinada uma obrigação contra a qual era possível prover-se por via
Art. 496 do Código Civil, mas tal simulação só se efetivará quando de nulidade ou de rescisão. O ato nulo, por sua vez, será insuscetível
se completar com a transmissão dos bens ao real adquirente (STF, de ratificação, por prevalecer o interesse público.
Sumulas 152 e 494); A confirmação retroage à data do ato, logo, seu efeito é ex tunc,
b) objetiva, se respeitar à natureza do negócio pretendido, ao tornando válido o negócio desde sua formação, resguardados os di-
objeto ou a um de seus elementos contratuais; se o negócio conti- reitos, já constituídos, de terceiros. Para tanto será necessário que o
ver declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira - é o ratificante conceda a ratificação no momento em que haja cessado
que se dá, p. ex., com a hipótese em que as partes na escritura de o vício que maculava o negócio e que o ato confirmativo não incorra
compra e venda declaram preço inferior ao convencionado com a em vício de nulidade.
intenção de burlar o fisco, pagando menos imposto; se as partes co-
locarem, no instrumento particular, a antedata ou a pós-data, cons- - Confirmação expressa:
tante no documento, não aquela em que o mesmo foi assinado, O ato de confirmação deverá conter a substância da obrigação
pois a falsa data indica intenção discordante da verdade. confinada e a vontade expressa de confirmá-la. Logo, preciso será
que se deixe patente a livre intentio de confirmar ato negocial que
- Direitos de terceiro de boa-fé: se sabe anulável, devendo-se, para tanto, conter, por extenso, o
Havendo decretação da invalidação do negócio jurídico simula- contrato primitivo que se pretende confinar, indicando-o de modo
do, os direitos de terceiro de boa-fé em face dos contratantes deve- que não haja dúvida alguma. Não se poderá fazer uso de frases va-
rão ser respeitados. gas ou imprecisas, pois a vontade de ratificar deverá constar de de-
clarações explícitas e claras.
- Dissimulação e simulação: - Forma da confirmação: O ato de confirmação deverá observar
Não há que confundir a simulação com a dissimulação. A simu- a mesma forma prescrita para o contrato que se quer confirmar.
lação provoca falsa crença num estado não real; quer enganar sobre Assim, se se for confirmar uma doação de imóvel, o ato de ratifica-
a existência de uma situação não verdadeira, tornando nulo o negó- ção deverá constar de escritura pública, por ser esta da substância
cio. A dissimulação oculta ao conhecimento de outrem uma situa- do ato.
ção existente, pretendendo, portanto, incutir no espírito de alguém
a inexistência de uma situação real. No negócio jurídico subsistirá o - Confirmação tácita:
que se dissimulou se válido for, na substância e na forma.
A confirmação tácita dar-se-á quando a obrigação já tiver sido
O negócio nulo não poderá ser confirmado, nem convalescerá
parcialmente cumprida pelo devedor conhecedor do vício que a
pelo decurso do tempo.
maculava, tomando-a anulável. A vontade de confirmar está ínsita,
pois, mesmo sabendo do vício, o confirmador não se importou com
- Conversão do ato negocial nulo:
ele, e teve a intenção de confirmá-lo e de reparar a mácula.
A conversão acarreta nova qualificação do negócio jurídico.
Refere-se à hipótese em que o negócio nulo não pode prevalecer
- Requisitos: Para que se configure a confirmação tácita será
na forma pretendida pelas partes, mas, como seus elementos são
idôneos para caracterizar outro, pode ser transformado em outro mister que haja:
de natureza diversa, desde que isso não seja proibido, taxativamen- a) voluntária execução parcial da obrigação;
te, como sucede nos casos de testamento. Assim sendo, ter-se-á b) conhecimento do vício que a toma anulável; e
conversão própria apenas se se verificar que os contratantes teriam e) intenção de confirmá-la.
pretendido a celebração de outro contrato, se tivessem ciência da
nulidade do que realizaram. A conversão subordinar-se-á à inten- Prova: A prova da confirmação tácita competirá a quem a ar-
ção das partes de dar vida a um contrato diverso, na hipótese de guir.
nulidade do contrato que foi por elas estipulado, mas também à
forma, por ser imprescindível que, no contrato nulo, tenha havido A confirmação expressa, ou a execução voluntária da obriga-
observância dos requisitos de substância e de forma do contrato em ção anulável, conduzirá ao entendimento de que houve renúncia
que poderá ser transformado para produzir efeitos. a todas as ações, ou exceções, de que o devedor dispusesse contra

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
o ato. Deveras, se o ato for passível de anulação, o lesado poderá Com a invalidação do ato negocial ter-se-á a restituição das
lançar mão de uma ação, mas se houve confirmação expressa ou partes contratantes ao statu quo ante, ou seja, ao estado em que
tácita, subentende-se que houve renúncia a qualquer providência se encontravam antes da efetivação do negócio. O pronunciamento
que possa obter a decretação judicial da nulidade relativa. da nulidade absoluta ou relativa requer que as partes retomem ao
estado anterior, como se o ato nunca tivesse ocorrido. Por exemplo,
- Irrevogabilidade da renúncia com a nulidade de uma escritura de compra e venda, o comprador
Com a ratificação não mais será possível anular o ato negocial devolve o imóvel, e o vendedor, o preço.
viciado, pois a nulidade deixou de existir, ante a irrevogabilidade do Se for impossível que os contratantes voltem ao estado em que
ato ratificatório, que validou a obrigação em definitivo. se achavam antes da efetivação negocial, por não mais existir a coi-
Se a nulidade relativa do ato negocial ocorrer por falta de au- sa ou por ser inviável a reconstituição da situação jurídica, o lesado
torização de terceiro, passará a ter validade se, posteriormente, tal será indenizado com o equivalente.
anuência se der. - Exceções: A norma do art. 182, ora comentado, comporta’ as
seguintes exceções:
- Efeito “ex nunc” da declaração judicial de nulidade relativa: a) impossibilidade de reclamação do que se pagou a incapaz,
A declaração judicial de ineficácia do ato negocial opera ex se não se provar que reverteu em proveito dele a importância paga
nunc, de modo que o negócio produz efeitos até esse momento, (CC, art. 181); e
respeitando-se as consequências geradas anteriormente. Tal ocorre b) o possuidor de boa-fé poderá fruir das vantagens que lhe são
porque a anulabilidade prende-se a uma desconformidade que a inerentes, como no caso dos frutos percebidos e das benfeitorias
norma considera menos grave, uma vez que o negócio anulável vio- que fizer (CC, arts. 1.214 e 1.219).
la preceito concernente a interesses meramente individuais, acar-
retando uma reação menos extrema. - Nulidade parcial de um negócio:
A anulabilidade só pode ser alegada pelos prejudicados com A nulidade parcial de um ato negocial não o atingirá na pane
o negócio ou por seus representantes legítimos, não podendo ser válida, se esta puder subsistir autonomamente, devido ao princípio
decretada ex officio pelo juiz. Sendo que só aproveitará à parte que utile per mutile non vitiatur.
a alegou, com exceção de indivisibilidade ou solidariedade.
- Nulidade da obrigação principal:
O prazo de decadência para pleitear, judicialmente, a anulação A nulidade da obrigação principal implicará a da acessória, p.
do negócio jurídico é de quatro anos, contado, havendo: ex., a nulidade de um contrato de locação acarretará a da fiança,
a) coação, do dia em que ela cessar; devido ao princípio de que o accessorium sequitur suum principale.
b) erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou le-
são, do dia da celebração do ato negocial; e - Nulidade da obrigação acessória:
c) ato de incapaz, do dia em que cessar a incapacidade. A nulidade da obrigação acessória não atingirá a obrigação
principal, que permanecerá válida e eficaz. Se numa locação for
- Proibição de alegação da menoridade para eximir-se de obri- anulada a fiança, o pacto locatício subsistirá.
gação assumida:
O menor, entre dezesseis e vinte um- anos não poderá invocar Disciplina jurídica dos atos jurídicos em sentido estrito:
a proteção legal em favor de sua incapacidade para eximir-se da Os atos jurídicos em sentido estrito geram consequências jurí-
obrigação ou para anular um ato negocial que tenha praticado, sem dicas previstas em lei e não pelas partes interessadas, não havendo,
a devida assistência, se agiu dolosamente, escondendo sua idade, como ocorre nos negócios jurídicos, regulamentação da autonomia
quando inquirido pela outra parte, ou se espontaneamente se de- privada. Trata-se dos atos materiais (acessão, fixação e transferên-
clarou maior. O menor não poderá, portanto, em tais circunstan- cia de domicilio, especificação etc.) e das participações (aviso, con-
cias, alegar sua menoridade para escapar à obrigação contraída. fissão, notificação etc.).
Não será juridicamente admissível que alguém se prevaleça de Juntamente com os negócios jurídicos constituem espécie de
sua própria malícia para tirar proveito de um ato ilícito, causando um gênero, que é o ato jurídico em sentido amplo. E, assim sendo,
dano ao outro contratante de boa-fé, protegendo-se, assim, o inte- aos atos lícitos, que não são negócios jurídicos, aplicam-se, no que
resse público. couberem, as disposições atinentes aos negócios jurídicos.
Se não houver malícia por parte do incapaz, ter-se-á a invali-
dação de seu ato, que será, então, nulo, se sua incapacidade for
absoluta, ou anulável, se relativa for, sendo que, neste último caso, PRESCRIÇÃO: DISPOSIÇÕES GERAIS. DECADÊNCIA
competirá ao incapaz, e não àquele que com ele contratou, pleitear
a anulabilidade do negócio efetivado. Se a incapacidade for absolu-
ta, qualquer interessado poderá pedir a nulidade do ato negocial, e Para resguardar seus direitos, o titular deve praticar atos con-
até mesmo o magistrado poderá pronunciá-la de ofício. servatórios, como: protesto, retenção (CC, Art. 1.219), arresto, se-
questro, caução fidejussória ou real, interpelações judiciais para
- Impossibilidade de reclamar a devolução da importância constituir devedor em mora. E quando sofrer ameaça ou violação, o
paga a incapaz: direito subjetivo será protegido por ação judicial Nasce então, para
O absoluta ou relativamente incapaz não terá o dever de resti- o titular, a pretensão que se extinguirá nos prazos arrolados nos
tuir o que recebeu em razão do ato negocial contraído e declarado arts. 205 e 206.
inválido, a não ser que o outro contratante prove que o pagamento Somente depois de consumada a prescrição, desde que não
feito reverteu em proveito do incapaz. A parte contrária, para obter haja prejuízo de terceiro, é que poderá haver renúncia expressa ou
a devolução do quantum pago ao menor, deverá demonstrar que o tácita por parte do interessado. Como se vê, não se permite a re-
incapaz veio a se enriquecer com o pagamento que lhe foi feito em núncia prévia ou antecipada à prescrição, a fim de não destruir sua
virtude do ato negocial invalidado. eficácia prática, caso contrário, todos os credores poderiam impô-
-la aos devedores; portanto, somente o titular poderá renunciar à

29
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
prescrição após a consumação do lapso previsto em lei. Na renúncia - Casos em que a prescrição não se inicia:
expressa, o prescribente abre mão da prescrição de modo explícito, Não corre a prescrição entre cônjuges, na constância do matri-
declarando que não a quer utilizar, e na tácita, pratica atos incom- mônio (24, 526/193); entre ascendentes e descendentes, durante
patíveis com a prescrição, p. ex., se pagar dívida prescrita. O pátrio poder; entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou
curadores, durante a tutela ou curatela. Nestas hipóteses a prescri-
- Sujeição aos efeitos da prescrição: ção ficará impedida de fluir no tempo.
Tanto as pessoas naturais como as jurídicas sujeitam-se aos
efeitos da prescrição ativa ou passivamente, ou seja, podem invocá- - Incapacidade absoluta impede prescrição:
-la em seu proveito ou sofrer suas consequências quando alegada O Art. 198 contém causa impeditiva da prescrição, logo esta
ex adverso, sendo que o prazo prescricional fixado legalmente não não correrá contra os absolutamente incapazes. Por exemplo, supo-
poderá ser alterado por acordo das partes. nha-Se que, após o vencimento da dívida, venha a falecer o credor,
deixando herdeiro de oito anos de idade; contra ele não correrá a
- Alegação da prescrição em qualquer grau de jurisdição: prescrição até que atinja dezesseis anos, ocasião em que terá início
A prescrição poderá ser arguida na primeira instância, que está o curso prescricional. tendo-se aqui uma exceção ao Art. 196 do Có-
sob a direção de um juiz singular, e na segunda instância, que se en- digo Civil, segundo o qual a prescrição iniciada contra uma pessoa
contra em mãos de um colegiado de Juízes superiores. Pode ser invo- continua a correr contra seu herdeiro (RT 260/332).
cada em qualquer fase processual: na contestação, na audiência de
instrução e julgamento, nos debates, em apelação, em embargos in- - Causas suspensivas da prescrição:
fringentes, sendo que no processo em fase de execução não é cabível a As causas suspensivas da prescrição são as que, temporaria-
arguição da prescrição, exceto se superveniente à sentença transitada mente paralisam ø seu curso; superado o fato suspensivo, a pres-
em julgado. Os arts. 193 do CC e 303, III, do CPC são exceções à regra crição continua a correr, computado o tempo decorrido antes dele.
geral do art 300 do CPC de que toda a matéria de- defesa do réu deverá Tais causas estão arroladas no Art. 198, II e III, ante a situação es-
concentra-se na contestação. Isto é assim porque o art. 193 do CC é pecial em que se encontram o titular e o sujeito passivo. De forma
norma especial, prevalecendo sobre o art. 300 do CPC, que é norma que suspensa estará a prescrição: contra os ausentes do Brasil em
legal. Logo, a prescrição é matéria que pode ser alegada em qualquer serviço público da União, dos Estados e dos Municípios e os que se
instancia ( CPC art. 300 , III ), mesmo depois da contestação e até , pela acharem servindo na armada e no exército nacionais em tempo de
primeira vez, no recurso da apelação ( CPC , art. 741, VI ). guerra. Essas duas causas poderão transformar-se em impeditivas
se a ação surgir durante a ausência ou serviço militar temporário.
- Invocação pela parte a quem aproveita:
A prescrição somente poderá ser invocada por quem ela apro- - Condição suspensiva e termo não vencido impedem a pres-
veite, seja pessoa física ou jurídica, p. ex., o herdeiro do prescriben- crição:
te, o credor do prescribente, o fiador, é o devedor em obrigação São causas impeditivas da prescrição a condição suspensiva e
solidária, o coobrigado em obrigação indivisível, desde que se be- o não-vencimento do prazo. Não corre a prescrição, pendendo con-
neficiem com a decretação da prescrição. dição suspensiva. Não realizada tal condição, o titular não adquire
O juiz não poderá conhecer da prescrição da ação relativa a direito, logo não tem ação; assim, enquanto não nascer a ação, não
direitos patrimoniais, reais ou pessoais, se não for invocada pelos pode ela prescrever. Igualmente impedida estará a prescrição não
interessados, não podendo, portanto, decretá-la ex officio, por ser estando vencido o prazo, pois o titular da relação jurídica submeti-
a prescrição um meio de defesa ou exceção peremptória. O juiz, da a termo não vencido não poderá acionar ninguém para efetivar
a não ser para beneficiar absolutamente incapaz, poderá suprir ex seu direito.
officio a alegação da prescrição.
- Pendencia de ação de evicção como causa suspensiva da
Ação regressiva: prescrição:
As pessoas que a lei priva de administrar os próprios bens têm Se pender ação de evicção, suspende-se a prescrição em an-
ação regressiva contra os seus representantes legais quando estes, damento; somente depois de ela ter sido definitivamente decidida,
por dolo ou negligência, derem causa à prescrição, assegurando-se, resolvendo-se o destino da coisa evicta, o prazo prescritivo volta a
assim, a incolumidade patrimonial dos incapazes, que têm, ainda, correr.
mesmo que não houvesse essa disposição, o direito ao ressarcimen-
to dos danos que sofrerem, em razão do disposto nos arts. 186 e - Efeitos da suspensão da prescrição na solidariedade ativa:
927 do Código Civil, de que o artigo ora comentado é aplicação. Se a obrigação for indivisível e solidários forem os credores,
Com isso, dá-se uma proteção legal aos incapazes. suspensa a prescrição em favor de um dos credores, tal suspensão
aproveitará aos demais.
- Prescrição iniciada contra “de cujus”:
A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr con- - Prescrição e obrigação divisível:
tra o seu herdeiro a título universal ou singular, salvo se for absolu- Se a obrigação for divisível, a prescrição não se suspenderá para
tamente incapaz. A prescrição iniciada contra o de cujus continuará todos os coobrigados, ante o fato de ser um beneficio personalíssi-
a correr contra seus sucessores, sem distinção entre singulares e mo. Se vários forem os cointeressados, ocorrendo em relação a um
universais; logo, continuará a correr contra o herdeiro, o cessioná- deles uma causa suspensiva de prescrição, esta aproveitará apenas
rio ou o legatário. A prescrição iniciada contra o auctor successionis a ele, não alcançando os outros, para os quais correrá a prescrição
continuará, e não recomeçará a correr contra seu sucessor. sem qualquer solução de continuidade.

- Causas impeditivas da prescrição: - Causas interruptivas da prescrição:


As causas impeditivas da prescrição são as circunstancias que As causas interruptivas da prescrição são as que inutilizam a
impedem que seu curso inicie, por estarem fundadas no status da prescrição iniciada, de modo que o seu prazo recomeça a correr da
pessoa individual ou familiar, atendendo razões de confiança, ami- data do ato que a interrompeu ou do ultimo ato do processo que a
zade e motivos de ordem moral. interromper.

30
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
- Casos de interrupção da prescrição: Decadência
Interrompem a prescrição atos do titular reclamando seu di- Inaplicabilidade à decadência das normas contidas nos arts.
reito, tais como: citação pessoal feita ao devedor, ordenada por 197 a 204 do Código Civil: As normas relativas ao impedimento,
juiz; protesto judicial e cambial, que tem apenas efeito constituir suspensão e interrupção de prescrição apenas serão aplicáveis à
o devedor em mora; apresentação do título de crédito em juízo de decadência nos casos admitidos por lei. A decadência corre con-
inventário, ou em concurso de credores, o mesmo sucedendo com tra todos, não admitindo sua suspensão ou interrupção em favor
o processo de falência e de liquidação extrajudicial de bancos, bem daqueles contra os quais não corre a prescrição, com exceção do
como das companhias de seguro, a favor ou contra a massa; atos caso do art. 198, 1 (CC, art. 208); a prescrição pode ser suspensa,
judiciais que constituam em mora o devedor, incluindo as interpe- interrompida ou impedida pelas causas legais.
lações, notificações judiciais e atos praticados na execução da parte
líquida do julgado, com relação à parte ilíquida; e atos inequívocos - Ação regressiva contra representante:
ainda extrajudiciais que importem reconhecimento do direito do As pessoas jurídicas e os relativamente incapazes têm ação
devedor. Como pagamento parcial por parte do devedor; pedido regressiva contra representante legal que der causa à decadência
deste ao credor, solicitando mais prazo; transferência do saldo de ou não a alegar no momento oportuno, e direito à reparação dos
certa conta, de um ano para outro (Súmula 154 do STF). danos sofridos.

- Legitimidade para promover a interrupção da prescrição: - Incapacidade absoluta como causa impeditiva da decadên-
Podem promover a interrupção do lapso prescricional quais- cia:
quer interessados, tais como: o titular do direito em via de pres- O Art. 198 contém causa impeditiva da decadência; logo, esta
tação; seu representante legal salvo o dos incapazes do art. 3º do não correrá contra as pessoas arroladas no Art. 32 do Código Civil,
Código Civil; e terceiro com legítimo interesse econômico ou moral, ou seja, os absolutamente incapazes.
como o seu credor, o credor do credor ou o fiador do credor.
- Renúncia de decadência prevista em lei:
- Efeitos da interrupção da prescrição: A decadência resultante de prazo legal não pode ser renuncia-
Quanto aos efeitos da interrupção da prescrição, o princípio é da pelas partes, nem antes nem depois de consumada, sob pena de
de que ela aproveita tão-somente a quem a promove, prejudicando nulidade. A decadência decorrente de prazo legal deve ser conside-
aquele contra quem se processa. Contudo, a interrupção da pres- rada e julgada pelo magistrado, de ofício, independentemente de
crição por um credor não aproveita aos outros, como, semelhante- arguição do interessado.
mente, operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudi-
cará aos demais coobrigados.
Se se tratar de obrigação solidária passiva ou ativa, a interrup-
ção efetuada contra o devedor solidário envolverá os demais, e a EXERCÍCIOS
interrupção aberta por um dos credores solidários aproveitará aos
outros, em razão de consequência da solidariedade prevista nos 1. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). José e Ma-
arts. 264 a 285 do Código Civil, pela qual os vários credores solidá- ria (grávida de 9 meses) sofreram um acidente automobilístico.
rios são considerados como um só credor, da mesma forma que os José faleceu no acidente. Maria foi levada com vida ao hospital e
vários devedores solidários são tidos como um só devedor. Além o filho que estava em seu ventre faleceu alguns minutos após o
disso, a interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor nascimento, tendo respirado. Na manhã seguinte, Maria também
solidário não lesará os outros herdeiros ou devedores, senão quan- faleceu em decorrência dos ferimentos causados pelo acidente.
do se tratar de obrigação ou de defeito indivisível. José e Maria não tinham outros filhos. O casal tinha uma fortuna de
Isto é assim porque a solidariedade ativa ou passiva não passa R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) em aplicações finan-
aos herdeiros (CC, arts. 270 e 276); logo, apenas serão atingidos ceiras, numa conta conjunta, valores acumulados exclusivamente
os demais coerdeiros pela interrupção se houver indivisibilidade da durante o período do casamento, sob o regime legal de bens (co-
obrigação. E, finalmente, a interrupção produzida pelo credor con- munhão parcial). Os pais de José (Josefa e João) e os pais de Maria
tra o principal devedor prejudicará o fiador, independentemente de (Ana e Paulo) ingressaram em juízo postulando seus direitos here-
notificação especial, pelo simples fato de ser a fiança uma obriga- ditários. Assinale a alternativa correta.
ção acessória. (A) Os pais de Maria têm direito a 75% do valor da herança e os
Desaparecendo a responsabilidade do afiançado, não mais a pais de José ao restante.
terá o fiador; igualmente, se o credor interrompe a prescrição con- (B) Os pais de José têm direito a 75% do valor da herança e os
tra o devedor, esta interromper-se-á também relativamente ao fia- pais de Maria ao restante.
dor. (C) A herança deve ser atribuída totalmente aos pais de José,
nada cabendo aos pais de Maria.
Prazos: (D) A herança deve ser atribuída totalmente aos pais de Maria,
Se a lei não fixar prazo menor para a pretensão ou exceção, nada cabendo aos pais de José.
este será de dez anos. (E) Os pais de José e os pais de Maria têm direito, cada um de-
les, à metade da herança.
Prazo de prescrição especial:
Há casos de prescrição especial para os quais a norma jurídica
estatui prazos mais exíguos, pela conveniência de reduzir o prazo
geral para possibilitar o exercício de certos direitos ou pretensões.
Tal prazo pode ser ânuo (CC, Art. 206, § 12, 1, II, a e b, III, IV, bie-
nal (CC, Art. 206, § 22), trienal (CC. Art. 206, § 3º, Ia IX), quatrienal
(CC, Art. 206, § 42) e quinquenal (CC, Art. 206, § 52, 1 a III).

31
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
2. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Joaquina nas- Assinale a alternativa correta.
ceu com o diagnóstico de síndrome de Down; aos 18 anos, conhe- (A) O negócio jurídico é anulável. Em razão da doença de Joa-
ceu Raimundo e decidiu casar. Os pais de Joaquina declararam que na, o casal estava numa situação que os levou à conclusão de
somente autorizam o casamento se o mesmo for celebrado sob o um negócio jurídico eivado pelo vício da lesão que poderia ser
regime da separação convencional de bens, tendo em vista que a decretada para restituir as partes à situação anterior, mas que
família é possuidora de uma grande fortuna e Raimundo é de ori- não poderá ser realizada em razão do decurso do prazo deca-
gem humilde. Joaquina, que tem plena capacidade de comunica- dencial de 3 (três) anos.
ção, não aceitou a sugestão dos pais e deseja casar sob o regime (B) O negócio jurídico é anulável. Em razão da doença de Joa-
legal (comunhão parcial de bens). Assinale a alternativa correta. na, o casal estava numa situação que os levou à conclusão de
(A) Para que possa casar sob o regime da comunhão parcial de um negócio jurídico eivado pelo vício do estado de perigo que,
bens, deverá Joaquina ser submetida, mesmo contra sua von- entretanto, não pode ser reconhecido em razão do decurso do
tade, ao procedimento de tomada de decisão apoiada. prazo decadencial de 2 (dois) anos.
(B) Joaquina poderá casar sob o regime de bens que melhor en- (C) O negócio jurídico é válido e eficaz. Não há qualquer norma
tender, tendo em vista que é dotada de plena capacidade civil. que impeça um vendedor, por livre e espontânea vontade, de
(C) O juiz deverá nomear um curador para que possa analisar as alienar um bem por valores abaixo dos praticados no mercado,
pretensões do noivo em relação a Joaquina e decidir acerca do em razão do princípio da autonomia da vontade que prevalece,
melhor regime patrimonial para o casal. principalmente no presente caso, onde não se verifica que uma
(D) Joaquina é relativamente incapaz e deve ser assistida no ato das partes seja hipossuficiente em relação à outra.
do casamento que somente pode ser celebrado sob o regime (D) O negócio jurídico é nulo de pleno direito por ilicitude do
da separação legal. objeto. Não existe uma contraprestação válida, tendo em vista
(E) Joaquina somente poderá casar se obtiver autorização dos o valor da prestação, comparada ao preço real do bem adqui-
pais que poderá ser suprida pelo juiz, ouvido o Ministério Pú- rido, bem como pela ausência de vontade válida, podendo a
blico. nulidade ser declarada a qualquer tempo.
(E) O negócio jurídico é anulável. Em razão da doença de Joana,
3. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Sobre a pres- o casal estava numa situação que os levou à conclusão de um
crição e a decadência, é correto afirmar: negócio jurídico eivado pelo vício da lesão que pode ser des-
(A) contra os ébrios habituais, os viciados em tóxico e aqueles constituído; caso Raimundo concorde em suplementar o valor
que, por causa transitória ou permanente, não puderem expri- anteriormente pago, o negócio pode ser mantido.
mir sua vontade, a prescrição e a decadência correm normal-
mente. 5. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Sobre os vícios
(B) antes de sua consumação, a interrupção da prescrição pode redibitórios, assinale a alternativa correta.
ocorrer mais de uma vez; aplicam-se à decadência as normas (A) O adquirente que já estava na posse do bem decai do di-
que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição, salvo reito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de
disposição legal em contrário. trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel.
(C) a prescrição e a decadência legal e convencional podem ser (B) No caso de bens móveis, quando o vício, por sua natureza,
alegadas em qualquer grau de jurisdição, podendo o juiz co- só puder ser conhecido mais tarde, se ele aparecer em até 180
nhecê-las de ofício, não havendo necessidade de pedido das dias, terá o comprador mais 30 dias para requerer a redibição
partes. ou abatimento no preço.
(D) é válida a renúncia à prescrição e à decadência fixada em (C) Somente existe o direito de obter a redibição se a coisa foi
lei, desde que não versem sobre direitos indisponíveis ou sobre adquirida em razão de contrato comutativo, não se aplicando
questões de ordem pública ou interesse social. aos casos em que a aquisição decorreu de doação, mesmo one-
(E) os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação rosa.
contra os seus assistentes ou representantes legais que derem (D) O prazo para postular a redibição ou abatimento no preço,
causa à prescrição ou não a alegarem oportunamente; no que quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais
se refere à decadência, a lei não prevê a referida ação regres- tarde, somente começa a correr a partir do aparecimento do
siva. vício, o que pode ocorrer a qualquer tempo.
(E) No caso de bens imóveis, quando o vício, por sua natureza,
4. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Egídio desco- só puder ser conhecido mais tarde, o prazo é de um ano para
bre que sua esposa Joana está com um câncer. Ao iniciar o trata- que o vício apareça, tendo o comprador, a partir disso, mais
mento, o plano de saúde de Joana se recusa a cobrir as despesas, 180 dias para postular a redibição ou abatimento no preço.
em razão da doença ser preexistente à contratação. Em razão dis-
so, o casal coloca à venda um imóvel de propriedade do casal com 6. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). Maria vivia em
valor de mercado de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) por R$ união estável com José, sob o regime da comunhão parcial de bens.
150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), visando obter, de forma Este possuía dois filhos decorrentes de relacionamento anterior e
rápida, valores necessários para o pagamento do tratamento de três filhos com Maria. José faleceu. Considerando a disciplina cons-
saúde de Joana. Raimundo, tomando ciência da oferta da venda do tante do Código Civil, bem como o entendimento do STF proferido
imóvel de Egídio e Joana, não tendo qualquer intenção de auferir em Repercussão Geral sobre o tema, podemos afirmar que caberá
um ganho exagerado na compra e nem causar prejuízo aos vende- a Maria, na sucessão dos bens particulares de José,
dores, apenas aproveitando o que considera um excelente negó- (A) um sexto da herança.
cio, compra o imóvel em 01.01.2015. Em 02.01.2018, Egídio e Joana (B) um terço da herança.
ajuízam uma ação judicial contra Raimundo, na qual questionam a (C) metade do que couber a cada um dos filhos de José.
validade do negócio jurídico. (D) um quarto da herança.
(E) metade da herança.

32
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
7. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto - VUNESP). João empres- (C) Os prazos de prescrição podem ser alterados por acordo
tou a José, Joaquim e Manuel o valor de R$ 300.000,00 (trezentos das partes; a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de
mil reais); foi previsto no instrumento contratual a solidariedade jurisdição pela parte a quem aproveita e, iniciada contra uma
passiva. Manuel faleceu, deixando dois herdeiros, Paulo e André. É pessoa, continua a correr contra o seu sucessor.
possível afirmar que João poderá (D) A interrupção da prescrição pode se dar por qualquer inte-
(A) cobrar de Paulo e André, reunidos, somente até o valor da ressado, somente poderá ocorrer uma vez e, após interrompi-
parte relativa a Manuel, ou seja, R$ 100.000,00 (cem mil reais), da, recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do
tendo em vista que o falecimento de um dos devedores extin- último ato do processo para a interromper.
gue a solidariedade em relação aos herdeiros do falecido. (E) Não corre a prescrição entre os cônjuges e/ou companhei-
(B) cobrar a totalidade da dívida somente se acionar conjunta- ros, na constância da sociedade conjugal, entre ascendentes e
mente todos os devedores, tendo em vista que o falecimento descendentes, durante o poder familiar, bem como contra os
de um dos devedores solidários ocasiona a extinção da solida- relativamente incapazes.
riedade em relação a toda a obrigação.
(C) cobrar de Paulo e André a totalidade da dívida, tendo em 10. (PC/BA/2018 - Delegado de Polícia - VUNESP). Com rela-
vista que ambos, reunidos, são considerados como um deve- ção à posse, assinale a alternativa correta.
dor solidário em relação aos demais devedores; porém, isola- (A) A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
damente, somente podem ser demandados pelo valor corres- temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não
pondente ao seu quinhão hereditário. anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possui-
(D) cobrar o valor da totalidade da dívida de José, Joaquim, dor direto defender a sua posse contra o possuidor indireto.
Paulo ou André, isolada ou conjuntamente, tendo em vista que, (B) Tendo em vista que a posse somente é defendida por ser
após o falecimento de Manuel, resultou numa obrigação soli- um indício de propriedade, obsta à manutenção ou reintegra-
dária passiva com 4 (quatro) devedores. ção na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito
(E) cobrar de Paulo ou André, isoladamente, a importância de sobre a coisa.
R$ 100.000,00 (cem mil reais) tendo em vista que o quinhão (C) Não autorizam a aquisição da posse justa os atos violentos,
senão depois de cessar a violência; entretanto, se a coisa obti-
hereditário de Manuel é uma prestação indivisível em relação
da por violência for transferida, o adquirente terá posse justa e
aos herdeiros.
de boa-fé, mesmo ciente da violência anteriormente praticada.
(D) É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obs-
8. (PC/BA/2018 - Delegado de Polícia - VUNESP). De acordo
táculo que impede a aquisição da coisa. O possuidor com justo
com a disciplina constante do Código Civil acerca dos vícios de von-
título tem por si a presunção de boa-fé, mesmo após a ciência
tade dos negócios jurídicos, assinale a alternativa correta.
inequívoca que possui indevidamente.
(A) O erro de indicação da pessoa ou da coisa a que se referir
(E) O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou
a declaração de vontade viciará o negócio, mesmo se, por seu restituir-se por sua própria força, a qualquer tempo; os atos de
contexto e pelas circunstâncias, for possível identificar a coisa defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à
ou pessoa cogitada. manutenção, ou restituição da posse.
(B) O silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato
ou qualidade que a outra parte haja ignorado, nos negócios ju- 11. (PC/BA/2018 - Delegado de Polícia - VUNESP). A respeito
rídicos bilaterais, constitui omissão culposa, provando-se que, da responsabilidade civil, assinale a alternativa correta.
sem ela, o negócio não teria sido celebrado, ou o seria de outro (A) A indenização mede-se pela extensão do dano, não poden-
modo. do ser reduzida pelo juiz, mesmo na existência de excessiva
(C) A coação, para viciar o negócio jurídico, deve incutir ao pa- desproporção entre a gravidade da culpa e o dano; se a vítima
ciente temor de dano iminente à sua pessoa, à sua família, aos tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua in-
seus bens ou a terceiros, devendo ser levados em conta o sexo, denização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua
a idade, a condição, a saúde e, no temor referencial, o grau de culpa em confronto com a do autor do dano.
parentesco. (B) A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no
(D) Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao ofendido;
da necessidade de salvar-se, ou a pessoa pertencente ou não à se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao
sua família, de grave dano conhecido ou não pela outra parte, juiz fixar, equitativamente, o valor da indenização, na confor-
assume obrigação excessivamente onerosa. midade das circunstâncias do caso; considera-se ofensiva da
(E) Se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favore- liberdade pessoal a denúncia falsa e de má-fé.
cida concordar com a redução do proveito, segundo os valores (C) No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir
vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico, não outras reparações, no pagamento das despesas com o trata-
se decretará a anulação do negócio, nos casos de lesão. mento da vítima, seu funeral e o luto da família e na prestação
de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se
9. (PC/BA/2018 - Delegado de Polícia - VUNESP). A respeito da em conta a duração provável da vida do alimentado.
prescrição e decadência, assinale a alternativa correta. (D) No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor in-
(A) Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se denizará o ofendido das despesas do tratamento e dos danos
extingue pela prescrição; a exceção prescreve nos prazos pro- emergentes, além de algum outro prejuízo que o ofendido pro-
cessuais previstos em lei especial, não havendo coincidência ve haver sofrido, não sendo devidos lucros cessantes.
com os prazos da pretensão, em razão da sua disciplina própria. (E) Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não pos-
(B) A renúncia à prescrição pode ser expressa ou tácita, e só va- sa exercer o seu ofício ou profissão, a indenização, além das
lerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, antes de a prescrição despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da con-
se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos valescença, incluirá pensão correspondente à importância do
do interessado, incompatíveis com a prescrição. trabalho para que se inabilitou, não podendo a indenização ser
arbitrada e paga de uma só vez.

33
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
12. (Prefeitura de Bauru/SP/2018 - Procurador Jurídico - VU- (B) Fraude contra credores; prazo de decadência de quatro
NESP). Sobre a extinção dos contratos, assinale a alternativa cor- anos, contados da data em que Ana transferiu o seu carro.
reta. (C) Coação; prazo de decadência de cinco anos, contados da
(A) Para os casos de distrato, não há que se falar em atendi- data em que cessar a coação de Ana em sua tia.
mento ao princípio do paralelismo entre as formas. (D) Simulação; prazo de decadência de quatro anos, contados
(B) No caso de um contrato em que houve investimentos consi- da data em que Ana transferir o carro para o seu nome.
deráveis por uma das partes, a denúncia unilateral só produzirá (E) Estado de perigo; prazo de decadência de quatro anos, con-
efeitos após o transcurso de prazo compatível com a natureza e tados da data em que cessar a dívida de Ana.
valor dos investimentos.
(C) Tanto a cláusula resolutiva tácita quanto a expressa depen- 16. (PauliPrev/SP/2018 - Procurador Autárquico - VUNESP).
dem de interpelação judicial. Pedro é dono de um laticínio que fornecia queijos para o restauran-
(D) Nos contratos bilaterais, não é permitida a alegação de te de Paulo. Um certo dia, Paulo encomendou duzentos quilos de
exceptio non adimpleti contractus caso um dos contratantes, queijo para a realização de um grande casamento, mas Pedro não
antes de cumprida a sua obrigação, exija o implemento da obri- realizou a entrega. Paulo, dois anos após o incidente, ajuizou ação
gação do outro. de reparação de danos materiais e morais contra Pedro, alegando
(E) Nos contratos por execução continuada, a resolução por o enriquecimento sem causa e exigindo a reparação civil dos danos
onerosidade excessiva só poderá ser alegada em casos de ex- experimentados. Após análise do caso hipotético, é correto afirmar
trema vantagem para uma das partes, decorrentes de eventos que a pretensão de Paulo
previsíveis. (A) está prescrita, considerando que o prazo para ressarcimen-
to de enriquecimento sem causa é de um ano.
13. (Prefeitura de Bauru/SP/2018 - Procurador Jurídico - VU- (B) não está prescrita, considerando que o prazo para ressarci-
NESP). Mandato ocorre quando alguém recebe de outrem poderes mento de enriquecimento sem causa é de cinco anos.
para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A res- (C) está prescrita, mas o prazo pode ser alterado por acordo
peito do mandato, assinale a alternativa correta. entre as partes.
(A) O mandato, por ser um contrato, pode ser verbal ou escrito, (D) não está prescrita, considerando que o prazo para ressarci-
mas não tácito. mento de enriquecimento sem causa é de três anos.
(B) O mandato presume-se oneroso, devendo o próprio instru- (E) não será conhecida em juízo, considerando a extinção do
mento prever o valor e a forma de remuneração. direito pelo decurso do tempo.
(C) O mandato pode ser outorgado por instrumento público ou
particular. Em ambos os casos, pode substabelecer-se median- 17. (PauliPrev/SP/2018 - Procurador Autárquico - VUNESP).
te instrumento particular. Dois moradores da cidade de Paulínia firmaram um contrato preli-
(D) Os atos praticados por quem não tenha o mandato são ine- minar de compromisso de compra e venda de um imóvel situado no
ficazes, não sendo possível a ratificação pelo mandante. centro da cidade. Sobre esse tipo de contrato, assinale a alternativa
(E) A aceitação do mandato deve ser expressa e por escrito. correta.
(A) Os contratos preliminares devem ter todos os requisitos es-
14. (Prefeitura de Bauru/SP/2018 - Procurador Jurídico - VU- senciais do contrato a ser celebrado, inclusive quanto à forma.
NESP). Sobre o direito real de servidão, assinale a alternativa cor- (B) Concluído o contrato preliminar, qualquer das partes tem
reta. o direito de exigir a celebração do contrato definitivo no prazo
(A) A servidão não pode ser removida de um local para outro, legal de trinta dias.
por se tratar de direito real relativo ao imóvel. (C) O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao
(B) Uma das hipóteses de extinção da servidão é pela morte do registro do compromisso de compra e venda no cartório de
titular do prédio serviente. imóveis
(C) A servidão predial, em regra, é automaticamente dividida (D) É vedada a inclusão de cláusula de arrependimento nos
em caso de divisão dos imóveis, devendo apenas posterior- contratos preliminares.
mente ser levada a registro. (E) Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar,
(D) O dono do prédio serviente é obrigado a sofrer a imposi- poderá a outra parte considerá-lo desfeito, não sendo possível
ção de maior largueza à servidão no caso de necessidade da o pedido de perdas e danos.
indústria do prédio dominante, mas tem direito a ser indeniza-
do pelo excesso. 18. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Registros/
(E) Quando constituída para certo fim, pode se ampliar para Provimento - VUNESP). A substituição compendiosa é
outro, desde que com o pagamento das despesas e indeniza- (A) a concorrência da substituição ordinária e da substituição
ção correspondente. recíproca.
(B) aquela em que o testador determina que certa parte de seu
15. (Prefeitura de Bauru/SP/2018 - Procurador Jurídico - VU- patrimônio ou um ou mais bens dele destacado fiquem sob a
NESP). Ana contraiu um empréstimo no valor de quarenta mil reais confiança de um herdeiro instituído, sobre o qual pesará a obri-
com o Banco Z. Após o pagamento de duas parcelas, no valor de gação de transmitir o conteúdo da deixa testamentária a um
cinco mil reais cada, não conseguiu realizar o pagamento das de- outro herdeiro ou legatário.
mais. Antes que o Banco Z buscasse judicialmente o cumprimen- (C) aquela em que o testador designa vários substitutos simul-
to da obrigação, Ana transferiu seu carro, único bem que possuía tâneos ao herdeiro instituído.
em seu nome, à sua tia, que sabia de toda sua situação financeira. (D) a concorrência da substituição vulgar e da substituição fi-
Diante do caso hipotético, assinale a alternativa que corresponde deicomissária.
ao defeito do negócio jurídico e ao respectivo prazo de decadência.
(A) Dolo; prazo de decadência de quatro anos, contados da
data em que Ana contraiu o empréstimo.

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NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
19. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Registros/ (C) O processo de habilitação se desenvolve sob o mesmo rito
Provimento - VUNESP). Pompeu era solteiro, não vivia em união previsto para o casamento, devendo constar dos editais que se
estável e faleceu sem deixar ascendentes ou descendentes e testa- trata de conversão, seguindo-se a lavratura do respectivo as-
mento. Entretanto, deixou um tio materno, dois irmãos germanos, sento independentemente de autorização do Juiz Corregedor
um irmão unilateral e um sobrinho - filho de um irmão unilateral Permanente, prescindindo o registro da celebração do matri-
premorto. O acervo hereditário corresponde ao montante em pe- mônio.
cúnia de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais). Nesse caso, assinale a (D) O assento de conversão da união estável em casamento será
alternativa correta referente à divisão do acervo hereditário. lavrado imediatamente após a celebração do matrimônio, com
(A) Cada um dos irmãos germanos receberá R$ 100.000,00 expressa indicação da data do início de seu estabelecimento.
(cem mil reais), o irmão unilateral receberá R$ 50.000,00 (cin-
quenta mil reais) e o sobrinho R$ 50.000,00 (cinquenta mil re- 23. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Registros/
ais). Provimento - VUNESP). A presunção de paternidade dos filhos con-
(B) Cada um dos irmãos e o tio materno receberão, respectiva- cebidos na constância do casamento, prevista no artigo 1.597 do
mente, R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais). Código Civil,
(C) Cada um dos irmãos receberá um quinhão de R$ 100.000,00 (A) tem caráter absoluto em relação ao pai e relativo em rela-
(cem mil reais). ção a terceiros.
(D) Cada um dos irmãos germanos receberá R$ 100.000,00 (B) configura-se para os havidos a qualquer tempo, quando se
(cem mil reais), o irmão unilateral receberá R$ 50.000,00 (cin- tratar de embriões excedentários decorrentes de concepção
quenta mil reais), o tio materno e o sobrinho receberão, res- artificial heteróloga.
pectivamente, R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) cada um. (C) é estabelecida para os havidos por fecundação artificial ho-
móloga, mesmo que falecido o marido.
20. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Registros/ (D) é estabelecida para os havidos por inseminação artificial
Provimento - VUNESP). No que concerne à deserdação e à exclusão heteróloga, desde que haja prévia autorização do marido e
por indignidade, é correto afirmar: mediante comprovação de que esse seja incapaz de procriar.
(A) na exclusão por indignidade, os fatos que a fundamentam
não podem ser posteriores à morte do autor da herança. 24. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Registros/
(B) se a deserdação não se concretizar por ser nulo o testamen- Provimento - VUNESP). O ato da criação de uma obrigação com a
to que a contempla, e a causa invocada pelo testador for cau- finalidade de extinguir uma obrigação antiga encerra:
sa também de exclusão por indignidade, poderá ser proposta (A) Novação.
ação para exclusão do herdeiro indigno. (B) Transação.
(C) a deserdação e a exclusão por indignidade atingem herdei- (C) Imputação em pagamento.
ros necessários e testamentários. (D) Compensação.
(D) todos os motivos que ensejam a deserdação configuram
causas que servem de fundamento para a exclusão por indig- 25. (IPSM/2018 – Procurador – VUNESP). José, funcionário
nidade. público, casou-se com Maria em 2015. Entretanto, ambos tinham
uma relação tumultuada, razão pela qual José saiu de casa no mês
21. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Registros/ de dezembro do ano de 2016 e foi morar em outro imóvel aluga-
Provimento - VUNESP).Em relação à imissão provisória de posse do, não tendo se divorciado. O casal não teve filhos. Em janeiro de
em processo de desapropriação judicial, assinale a alternativa cor- 2017 José conheceu Paulo e Renata, irmãos, e iniciou, concomitan-
reta. temente, uma relação amorosa com ambos, pública e notória. José
(A) Por se tratar de ato de transmissão de posse e não de pro- faleceu em outubro de 2017 em razão de um infarto fulminante,
priedade, a mesma não poderá ser objeto de registro, mas tão em sua residência, onde morava sozinho. Nesse caso hipotético, a
somente de averbação. pensão
(B) Por ser ato meramente processual, não há previsão de in- (A) por morte não será paga nem a Maria e nem a Renata e/ou
gresso no registro. Paulo. Houve a dissolução do vínculo conjugal existente entre
(C) Quando houver expressa concordância do expropriado, ela Maria e José, em razão do abandono do lar. A união homoa-
pode ser registrada na matrícula, como aquisição do domínio fetiva não é reconhecida para fins previdenciários. Como não
pelo expropriante, mesmo em caso de contestação do valor
havia coabitação, Renata não ostentava a condição de compa-
ofertado como indenização.
nheira de José.
(D) Somente quando se tratar de implementação de projetos
(B) por morte deverá ser paga a Renata e Paulo. Pela atual
habitacionais ou de regularização fundiária, em área urbana
disciplina constitucional, havendo a separação de fato, inde-
ou de expansão urbana, poderão ser unificados dois ou mais
pendentemente do prazo, considera-se imediatamente extinto
imóveis, mesmo quando imitidos em favor do expropriante em
o vínculo conjugal. Não há impedimentos legais ao reconheci-
processos distintos; todavia, a unificação não poderá abranger
mento de uniões estáveis poliafetivas para fins previdenciários.
imóvel contíguo, cuja propriedade já tenha sido adquirida pelo
mesmo expropriante. (C) por morte deverá ser paga exclusivamente a Maria, que
ostentava a condição legal de cônjuge de José. Mesmo com
22. (TJ/SP/2018 - Titular de Serviços de Notas e de Registros/ o abandono do lar, não houve dissolução do vínculo conjugal.
Provimento - VUNESP). A propósito da conversão da união estável Renata e Paulo ostentam a condição de concubinos de José,
em casamento, assinale a alternativa correta. não tendo, assim direitos previdenciários.
(A) A união estável poderá converter-se em casamento median- (D) somente poderá ser paga a Renata e Paulo. Entretanto, am-
te pedido dos companheiros ao Juiz Corregedor Permanente, bos devem, preliminarmente, obter o reconhecimento judicial
independentemente de prévia habilitação para o casamento. da existência de uma sociedade de fato com José, configurada
(B) Não se admite, para fins de registro, a conversão de união pela confusão patrimonial e rateio de despesas comuns. Tal
estável em casamento de pessoas do mesmo sexo. ação deverá correr perante a Vara Cível.

35
NOÇÕES DE DIREITO CIVIL
(E) será paga exclusivamente a Renata. O vínculo conjugal com
Maria estava dissolvido pelo abandono do lar. A união homo-
ANOTAÇÕES
afetiva não é prevista na Constituição Federal e leis civis, não
podendo, assim, ser reconhecida para fins previdenciários. A ______________________________________________________
inexistência de coabitação não impede o reconhecimento da
união estável. ______________________________________________________

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GABARITO ______________________________________________________

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1 D
______________________________________________________
2 B
3 A ______________________________________________________
4 E ______________________________________________________
5 B
______________________________________________________
6 A
7 C ______________________________________________________

8 E ______________________________________________________
9 D ______________________________________________________
10 A
______________________________________________________
11 B
12 B ______________________________________________________
13 C ______________________________________________________
14 D
______________________________________________________
15 B
______________________________________________________
16 D
17 C ______________________________________________________
18 D ______________________________________________________
19 A
______________________________________________________
20 B
21 C ______________________________________________________
22 C ______________________________________________________
23 C
______________________________________________________
24 A
_____________________________________________________
25 C
_____________________________________________________

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36
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1. Lei nº 13.105 de 2015 (Novo Código de Processo Civil). Princípios do processo. Princípio do devido processo legal. Princípios do con-
traditório, da ampla defesa e do juiz natural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Jurisdição. Princípio da inércia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
3. Ação. Condições da ação. Elementos da ação. Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 05
4. Da Cooperação Internacional. Disposições gerais. Do auxílio direto. Da carta rogatória. Da Competência. Disposições gerais. Da modi-
ficação da competência. Da incompetência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
5. Pressupostos processuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
6. Preclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
7. Sujeitos do processo. Capacidade processual e postulatória. Deveres das partes e procuradores. Procuradores. Sucessão e substitui-
ção das partes e dos procuradores. Litisconsórcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
8. Intervenção de terceiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
9. Do Juiz e dos Auxiliares da Justiça. Dos poderes, dos deveres e da responsabilidade do Juiz. Dos Impedimentos e da Suspeição. Dos
Auxiliares da Justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
10. Ministério Público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
11. Advocacia Pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
12. Defensoria Pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
13. Atos processuais. Forma dos atos. Tempo e lugar. Prazos. Comunicação dos atos processuais. Nulidades. Distribuição e registro. Valor
da causa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
14. Tutela provisória. Tutela de urgência. Disposições gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
15. Formação, suspensão e extinção do processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
16. Processo de conhecimento e do cumprimento de sentença. Procedimento comum. Disposições Gerais. Petição inicial. Dos requisitos
da petição inicial. Do pedido. Do indeferimento da petição inicial. Improcedência liminar do pedido. Da audiência de conciliação ou
de mediação. Contestação, reconvenção e revelia. Providências preliminares e de saneamento. Julgamento conforme o estado do
processo. Da audiência de instrução e julgamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
17. Provas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
18. Sentença e coisa julgada. Cumprimento da sentença e sua impugnação. Atos judiciais. Despachos, decisões interlocutórias e senten-
ças. Coisa julgada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
19. Dos recursos. Disposições gerais. Da apelação. Do agravo de instrumento. Do agravo interno. Dos Embargos de Declaração. Dos recur-
sos para o Supremo Tribunal Federal e para o Superior Tribunal de Justiça . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
20. Controle judicial dos atos administrativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
21. Mandado de segurança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
22. Lei nº 11.419/2006 (Processo Judicial Eletrônico) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
inadas competências (territoriais, materiais, etc.) – servem apenas
LEI Nº 13.105 DE 2015 (NOVO CÓDIGO DE PROCESSO para fins administrativos, não significam uma real repartição da ju-
CIVIL). PRINCÍPIOS DO PROCESSO. PRINCÍPIO DO DE- risdição.
VIDO PROCESSO LEGAL. PRINCÍPIOS DO CONTRADI-
TÓRIO, DA AMPLA DEFESA E DO JUIZ NATURAL 3. Lei processual civil no tempo
Art. 1º, caput, LINDB. Salvo disposição contrária, a lei começa a
1. Conceito e Aplicação do Direito Processual Civil vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
É a área do Direito que contém as normas e princípios gerais publicada.
relacionados à jurisdição civil, aplicados aos processos e aos atos Art. 14, CPC. A norma processual não retroagirá e será aplicáv-
processuais neles praticados. Vale destacar que a jurisdição civil não el imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos
incorpora apenas conflitos de direito privado (matéria civil e empre- processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a
sarial), mas também conflitos de direito público (matéria tributária, vigência da norma revogada.
administrativa, previdenciária, direitos difusos e coletivos). Em termos de vacatio legis, segue-se o mesmo raciocínio apli-
O Direito Processual Civil é o ramo do Direito que traz as regras cado à lei material quanto à lei processual. A regra é que a norma
e os princípios que cuidam da jurisdição civil. Aquele que se pre- processual entra em vigor em 45 dias após a publicação, salvo se a
tenda titular de um direito que não vem sendo respeitado pelo seu própria lei estabelecer prazo diverso. Por exemplo, o Código de Pro-
adversário pode ingressar em juízo, para que o Estado faça valer a cesso Civil – CPC, Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015, entrou em
norma de conduta que se aplica ao fato em concreto. O processo vigor 1 ano após sua publicação, ou seja, em 16 de março de 2016,
civil estabelece as regras que serão parâmetro na relação entre o pois o seu artigo 1.045 previu 1 ano de vacatio legis.
Estado-juiz e as partes. Se o processo já estava extinto, a lei processual não retroage.
O juiz deve se atentar ao fato de que o processo não é um fim Se ainda não começou, segue totalmente a lei processual nova. A
em si mesmo, mas um meio para solucionar os conflitos. Logo, as questão controversa se dá quanto aos processos em curso porque
regras processuais devem ser respeitadas, mas não a ponto de ser- a lei processual tem aplicabilidade imediata – significa que os atos
virem de obstáculo para a efetiva aplicação do Direito no caso con- processuais já praticados serão preservados, mas os que irão ser
creto. Assim, diligências desnecessárias e formalidades excessivas praticados seguirão a lei nova. Noutras palavras, todos os proces-
sos em andamento em 16 de março de 2016 passaram a seguir o
devem ser evitadas. Esta é a ideia da instrumentalidade do processo
CPC/2015 a partir daquela data, preservando-se os atos praticados
– é instrumento e não fim em si mesmo. Sendo assim, o processo
antes desta data consoante ao CPC/1973.
deverá ser efetivo, aplicar sem demora, a não ser a razoável, o Dire-
A lei processual, diferente da lei material, tem aplicabilidade
ito no caso concreto.
imediata. Se uma lei material nova surge, ela só se aplica aos ca-
O Direito Processual Civil pode ser visto como disciplina
sos novos depois dela. Agora, se uma lei processual surge, aplica-se
autônoma, mas nem sempre foi assim. Somente em 1868, com a
aos litígios em curso, mas não afeta os atos do processo praticados
teoria de Oskar von Bulow, desenvolvida na obra “teoria dos pres-
anteriormente nos termos da norma processual anterior (não ret-
supostos processuais e das exceções dilatórias”, foi concebida uma roatividade).
ideia de relação processual (conjunto de ônus, poderes e sujeições
aplicados às partes do processo) e o Direito Processual Civil passou 4. Fontes do Direito Processual Civil
a ser visto com autonomia. As fontes formais são as maneiras pelas quais o direito positivo se
Apesar de ser autônomo, o Direito Processual Civil não é inde- manifesta. São fontes formais do direito a lei, a analogia, o costume, os
pendente do sistema jurídico e, portanto, deve sempre ser condiz- princípios gerais do direito e as súmulas vinculantes do STF.
ente e respeitar as normas da Constituição Federal, hierarquica- A lei que origina a principal fonte formal do Direito Processual
mente superiores. Isso é objeto de destaque já no primeiro artigo Civil é a lei processual civil. Neste viés, a Constituição Federal prevê
do CPC: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado que compete à União legislar em matéria de direito processual (arti-
conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na go 22, I, CF). As normas estaduais, por seu turno, somente estão au-
Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as torizadas a legislar sobre procedimento. Logo, a essência do proces-
disposições deste Código”. so civil está nas leis federais devidamente aprovadas no Congresso
Vale ressaltar que as normas de Direito Processual Civil se apli- Nacional e ratificadas/promulgadas pelo Presidente da República.
cam supletiva (complementam) e subsidiariamente (quando a nor- As fontes não formais são as maneiras pelas quais o direito
ma mais específica nada diz sobre o assunto, segue o CPC) às demais positivo é interpretado. Neste sentido, apresentam-se a doutrina
normas processuais. Neste sentido, o artigo 15, CPC, prevê que “na e a jurisprudência. Frisa-se que o papel da jurisprudência tem se
ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas mostrado cada vez mais decisivo, havendo uma aproximação entre
ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas esta fonte não formal com as demais fontes formais.
supletiva e subsidiariamente”. Sendo assim, omissões do Código de
Processo Penal ou omissões da CLT a respeito do Direito Processual 5. Princípios de Direito Processual Civil
do Trabalho não são propriamente normas omissas, uma vez que as São diversos os princípios que afetam o Direito Processual Civ-
normas do Código de Processo Civil são responsáveis por completar il, dividindo-se eles em: constitucionais, infraconstitucionais e in-
estas lacunas. formativos, conforme segue.

2. Lei processual civil no espaço 5.1 Constitucionais


Art. 16, CPC. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos - Isonomia – necessidade de se dar tratamento igualitário às
tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições partes (artigo 5o, I, CF), igualdade esta que não pode ser apenas for-
deste Código. mal, mas também material (ex.: Assistência Judiciária e Gratuidade
Todos os processos que correm no território nacional devem da Justiça asseguram que pessoas hipossuficientes, sem recursos
respeitar as normas do Código de Processo Civil. A jurisdição, que para arcar com custas e despesas judiciais sem prejuízo de sua sub-
é o poder-dever do Estado de dizer o Direito, é una e indivisível, sistência e de sua família, recebam isenção – assim, a Justiça não
abrangendo todo o território nacional. Eventuais divisões – denom- pertence apenas aos que podem pagar por ela).

1
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
- Contraditório/ampla defesa – “aos litigantes, em processo ju- - Publicidade – “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
dicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela iner- exigirem” (artigo 5º, LX, CF). Quanto às partes e seus procuradores,
entes” (artigo 5º, LV, CF). Significa dar ciência às partes do que está não há restrição à publicidade. Em relação a terceiros, a publicidade
ocorrendo no processo com possibilidade de reação. sofrerá restrições nas hipóteses de segredo de justiça, especifica-
O direito ao contraditório deve ser garantido em todas as sit- mente em “casos nos quais a preservação do direito à intimidade
uações, razão pela qual, em regra, o magistrado não pode decidir do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à infor-
sobre nenhuma matéria sem antes ouvir as partes, mesmo que se mação” (artigo 93, IX, CF). O artigo 11, CPC, prevê que “todos os jul-
trate de uma matéria sobre a qual poderia se manifestar de ofício. gamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos [...]” e frisa
Há, contudo, casos em que o contraditório pode ser postergado, em seu parágrafo único que “nos casos de segredo de justiça, pode
ouvindo-se a parte contrária após a tomada da decisão, sendo eles: ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados,
concessão de tutela de urgência (até porque nem sempre será pos- de defensores públicos ou do Ministério Público”.
sível aguardar a oitiva da parte contrária sem prejuízo ou risco ao - Juiz natural – “não haverá juízo ou tribunal de exceção” (artigo
direito); tutela de evidência no caso de prova documental imediata 5o, XXXVII, CF) e “ninguém será processado nem sentenciado senão
e entendimento proferido em julgamento de casos repetitivos ou pela autoridade competente” (artigo 5o, LIII, CF). O órgão julgador
súmula vinculante; tutela de evidência no caso de pedido reiper- deve ser legítimo para proferir o julgamento, isto é, deve estar in-
secutório fundado em prova documental adequada do contrato vestido de jurisdição e de competência. Para evitar que a jurisdição
de depósito (trata-se do pedido de devolução de coisa entregue seja arbitrária e parcial, é garantido o princípio do juiz natural, se-
em depósito havendo recusa do depositário devolvê-la voluntari- gundo o qual cabe à lei fixar com antecedência qual órgão deverá
amente, a chamada situação do depositário infiel); e expedição de julgar determinada matéria. No Código de Processo Civil, tal papel é
mandado monitório. cumprido pelas regras de competência.
- Duplo grau de jurisdição – trata-se do direito de recurso para
Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que julgamento de decisões judiciais, não sendo obrigada a parte a con-
ela seja previamente ouvida. cordar com a decisão de primeira instância, considerado princípio
Parágrafo único.O disposto no caput não se aplica: constitucional implícito.
I - à tutela provisória de urgência; - Devido processo legal – “ninguém será privado da liberdade
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, ou de seus bens sem o devido processo legal” (artigo 5º, LIV, CF). No
incisos II e III; sentido material, é a autolimitação ao poder estatal, que não pode
III - à decisão prevista no art. 701. editar normas que ofendam a razoabilidade e afrontem as bases
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, do regime democrático. No sentido processual, é a necessidade de
com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado respeito às garantias processuais e às exigências necessárias para a
às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de obtenção de uma sentença justa.
matéria sobre a qual deva decidir de ofício. - Licitude das provas – “são inadmissíveis, no processo, as pro-
vas obtidas por meios ilícitos” (artigo 5o, LVI, CF). As provas devem
- Inafastabilidade da jurisdição – “a lei não excluirá da apre- ser obtidas por meios lícitos, isto é, com respeito ao devido pro-
ciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (artigo 5º, cesso legal e às regras que determinam os requisitos para sua for-
XXXV, CF). É garantido a todos o acesso à justiça, de modo que re- mação. O CPC adota a regra da atipicidade das provas, no sentido
strições ao direito de ação devem ser compatíveis com o sistema de que apesar de enumerar provas expressamente admitidas não
jurídico-processual constitucional. inibe que as partes produzam outras provas nele não abordadas,
A inafastabilidade da jurisdição não impede a adoção de méto- desde que sejam lícitas. Destaca-se a teoria dos frutos da árvore
dos consensuais de solução de conflitos e nem da arbitragem, o que envenenada, já reconhecida pelo STF, no sentido de que a prova
é ressaltado no artigo 3o do CPC: lícita obtida em razão de conhecimento que somente se obteve por
prova ilícita também é contaminada pela ilicitude.
Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou - Razoável duração do processo/celeridade – “a todos, no âmb-
lesão a direito. ito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei. processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”
§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução con- (artigo 5o, LXXVIII, CF). Ainda, “as partes têm o direito de obter em
sensual dos conflitos. prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade sat-
§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução isfativa” (artigo 4o, CPC). O juiz deve proferir a sentença de mérito
consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, ad- no processo em tempo razoável, não pode demorar em excesso.
vogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, in- - Assistência jurídica integral e gratuita – “o Estado prestará
clusive no curso do processo judicial. assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insu-
ficiência de recursos” (artigo 5o, LXXIV, CF). A ausência de recursos
- Imparcialidade – trata-se da necessidade do magistrado não financeiros não pode ser óbice ao exercício das pretensões materi-
levar em conta questões pessoais no julgamento da causa. Neste ais dos jurisdicionados. Por isso, o Estado deve fornecer assistência
sentido, a Constituição garante o princípio do juiz natural (artigo 5º, jurídica integral (em todos graus de jurisdição e sem limitação ao
LIII, CF) e proíbe a criação de juízos ou tribunais de exceção (artigo
contraditório e à ampla defesa) e gratuita (sem custos, nem pro-
5º, XXXVII, CF).
cessuais e nem de honorários) às pessoas que comprovem insufi-
- Fundamentação das decisões – “todos os julgamentos dos
ciência de recursos. A defesa dos jurisdicionados hipossuficientes
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
incumbe à Defensoria Pública, que é função essencial à justiça, nos
as decisões, sob pena de nulidade, [...]” (artigo 93, IX). O magistrado
termos dos artigos 134 e 135, CF.
tem o dever de fundamentar todas as suas decisões, sob pena de
- Indispensabilidade e inviolabilidade do advogado – “o ad-
nulidade. O CPC frisa tal dever no seu artigo 11 e, adiante, discrimi-
vogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável
na situações em que não se considerada fundamentada a decisão
do juiz (artigo 489, § 1o, CPC). por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites

2
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
da lei” (artigo 133, CF). Pela indispensabilidade, para postularem 5.2 Infraconstitucionais
em juízo, as partes precisam estar representadas por advogado. A - Perpetuação da jurisdição/perpetuatio jurisdictionis – “deter-
capacidade postulatória é pressuposto processual indispensável, mina-se a competência no momento do registro ou da distribuição
fundado em norma constitucional, mas o princípio da indispensa- da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de
bilidade admite exceções, como a permissão de que a parte não fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprim-
seja representada por advogado perante os juizados especiais cíveis irem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta” (artigo
nas causas cujo valor seja de até 20 salários mínimos e apenas em 43, CPC). A jurisdição, isto é, o poder-dever do Estado de dizer o
primeiro grau (artigo 9º, Lei nº 9.099/95) e nem quando pretender Direito, se perpetua, no sentido de que o órgão eleito nos moldes
apresentar reclamação perante a justiça do trabalho (artigos 791 e do juiz natural para julgar certa matéria não será alterado. O órgão
839, “a”, CLT). Com efeito, o princípio da inviolabilidade assegura inicialmente competente para o julgamento da causa, seguirá com-
que o advogado é inviolável por seus atos e manifestações no ex- petente até o final do julgamento, em regra.
ercício da profissão. - Dispositivo/impulso oficial – “o processo começa por iniciati-
- Acesso à Justiça – os direitos à razoável duração do processo va da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções
e à celeridade na tramitação conferem a faceta da efetividade ao previstas em lei” (artigo 2o, CPC). Significa, hoje, que a iniciativa de
acesso à justiça, complementando a inafastabilidade da jurisdição e ação é das partes. Proposta a ação, o processo corre por impulso
a garantia de assistência jurídica integral e gratuita (artigo 5º, LXXIV, oficial e o juiz, como destinatário das provas, pode exigir a produção
LXXVIII e XXXV, CF). de outras necessárias à formação de sua convicção. Antes, o juiz
A formação do conceito de acesso à justiça possui diversos deveria se manter inerte mesmo na fase de produção de provas,
enfoques, o que se verifica pelo posicionamento de Cappelletti e vigia o princípio dispositivo (hoje, vige o princípio inquisitivo quanto
Garth1, que apontaram três ondas para a realização efetiva de tal à produção de provas, permitindo que o juiz determine a produção
acesso. Primeiramente, Cappelletti e Garth entendem que surgiu das provas que considerar necessárias para a formação do seu con-
uma onda de concessão de assistência judiciária para os pobres, vencimento).
partindo da prestação sem interesse de remuneração por parte dos - Congruência/correlação – “é vedado ao juiz proferir decisão
advogados e, ao final do processo, levando à criação de um aparato de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em
estrutural para a prestação da assistência pelo Estado. Em segundo quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi deman-
lugar, no entender de Cappelletti e Garth, veio a onda de super- dado” (artigo 492, caput, CPC). O juiz não pode conceder à parte
ação do problema na representação dos interesses difusos, saindo nada mais (ultra petita) e nada fora (extra petita) do que foi pedido.
da concepção tradicional de processo como algo restrito a apenas Vale destacar que o CPC/2015 ampliou os limites do princípio da
duas partes individualizadas e ocasionando o surgimento de novas congruência ao prever que “a interpretação do pedido considerará
instituições, como o Ministério Público. Finalmente, Cappelletti e o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé” (artigo
Garth apontam uma terceira onda consistente no surgimento de 322, § 2o, CPC).
uma concepção mais ampla de acesso à justiça, considerando o Há exceções à congruência, como o caso de pedidos implíci-
conjunto de instituições, mecanismos, pessoas e procedimentos tos, fungibilidade admitida em lei e concessão de tutela diversa da
utilizados. pretendida em obrigação de fazer ou não fazer. Outra exceção está
- Segurança jurídica/coisa julgada – “a lei não prejudicará o di- na possibilidade de o Supremo Tribunal Federal declarar a incon-
reito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” (artigo 5o, stitucionalidade da norma com base em fundamento diverso do
XXXVI, CF). A coisa julgada é um fenômeno processual que assegura invocado pela parte, no sentido de que no controle de constitucion-
que a matéria já discutida em juízo não será novamente apreciada, alidade é possível que a Corte constitucional não se prenda à causa
nem no mesmo processo e nem em outro processo. Conforme arti- de pedir formulada na inicial e aborde todos os fundamentos corre-
go 337, § 4o, CPC, “há coisa julgada quando se repete ação que já foi latos à compatibilidade da norma com a CF.
decidida por decisão transitada em julgado”. Ainda, nos termos do - Persuasão racional ou livre convencimento motivado – “o
artigo 502, CPC, “denomina-se coisa julgada material a autoridade juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente
que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais su- do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões
jeita a recurso”. As partes podem ter segurança no pronunciamento da formação de seu convencimento” (artigo 371, CPC). No sistema
jurisdicional e cumprir as decisões do Poder Judiciário, pois sabe, da prova legal, o legislador valora a prova de forma determinada;
que não ocorrerão mudanças inesperadas no conteúdo da decisão. no sistema do livre convencimento puro, o julgador pode decidir
A coisa julgada é, portanto, corolário da segurança jurídica, num as- conforme sua consciência; no sistema do livre convencimento mo-
pecto estritamente correlato ao exercício do poder jurisdicional. Há tivado, adotado no Brasil, o juiz apreciará livremente a prova, mas
situações excepcionais, contudo, em que se admite a relativização ao proferir a sentença deve indicar os motivos que formaram o seu
da coisa julgada, como é o caso da propositura de ação rescisória. convencimento.
- Dignidade da pessoa humana – a dignidade da pessoa huma- - Vedação às decisões surpresa/não-surpresa – este princípio,
na é fundamento da República Federativa brasileira (artigo 1o, III, que é novidade no CPC/2015, é uma decorrência direta do princí-
CF) e é motor de todo o sistema de direitos e garantias fundamen- pio constitucional do contraditório, implicando, essencialmente, na
tais, tanto materiais quanto processuais. Por isso, ao aplicar o orde- proibição de que o magistrado profira decisões sem ouvir às partes.
namento jurídico, o juiz deve promover e respeitar a dignidade da “Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja
pessoa humana, conforme artigo 8o, CPC. previamente ouvida” (artigo 9o, caput, CPC) e “o juiz não pode
- LIMPE – Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a
e Eficiência (artigo 37, caput, CF) são princípios constitucionais que respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se
guiam a atuação da Administração Pública em todas suas esferas, manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir
isto é, também devem ser respeitados no âmbito do Poder Ju- de ofício” (artigo 10, CPC). Assim, a parte não pode ser surpreen-
diciário. Assim prevê, inclusive, o artigo 8o, CPC. dida com uma decisão do juiz sobre a qual não teve oportunidade
de se manifestar, mesmo que o juiz possa se manifestar de ofício
na matéria.
1 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução Ellen Grace
Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1998.

3
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
- Direito à solução de mérito – “as partes têm o direito de obter - Boa-fé – “aquele que de qualquer forma participa do processo
em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade deve comportar-se de acordo com a boa-fé” (artigo 5o, CPC). Boa-
satisfativa” (artigo 4o, CPC). O juiz deve priorizar a resposta de méri- fé significa agir com honestidade, com veracidade, com probidade,
to, que é aquela que de fato soluciona o litígio, em detrimento às sempre tratando os demais envolvidos no processo de forma trans-
respostas terminativas, que apenas colocam fim ao processo. parente.
- Instrumentalidade das formas – significa que mais importante - Cooperação – “todos os sujeitos do processo devem cooperar
que a forma como é praticado o ato processual é o cumprimento de entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de méri-
sua finalidade. Por isso, o processo deve ser instrumental, isto é, at- to justa e efetiva” (artigo 6o, CPC). O CPC/2015 elege o princípio
ender a determinado fim, jamais ser um fim em si mesmo. A forma da cooperação como um dos mais importantes de todo o sistema
é apenas o instrumento, o caminho para que o ato processual seja processual, disciplinando-o de forma extensa em seu corpo. Neste
realizado. A respeito, “quando a lei prescrever determinada forma, sentido, as partes e todos envolvidos no processo devem cooperar
o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe al- entre si para alcançar o melhor resultado possível.
cançar a finalidade” (artigo 277, CPC). A forma não pode ser privile- - Paridade de tratamento – “é assegurada às partes paridade
giada em detrimento da substância do ato. de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades
- Substanciação – pela teoria da substanciação, o autor deve processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à apli-
colacionar em sua petição inicial todos os fatos que suportam a sua cação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo
pretensão e nela indicar qual a base jurídica que permite associar contraditório” (artigo 7o, CPC). O magistrado deve tratar as partes
tais fatos à pretensão. Por isso, “a petição inicial indicará: [...] III - o de forma imparcial e igualitária, o que significa garantir os mesmos
fato e os fundamentos jurídicos do pedido” (artigo 319, III, CPC). En- direitos e faculdades processuais, bem como o contraditório em sua
tende-se que o CPC adota a teoria da substanciação, em detrimento plenitude. Caso uma das partes seja hipossuficiente, o magistrado
da teoria da individuação, mas a doutrina diverge sobre o que seria tomará providências para que isso não prejudique o exercício de
a causa de pedir próxima e o que seria a causa de pedir remota, se seus direitos e pretensões.
os fatos ou o fundamento jurídico. Para Magalhães2, o fato é a causa - Atendimento aos fins sociais e às exigências do bem comum
próxima e o fundamento jurídico é a causa remota; para Bueno3, o – “ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins soci-
ais e às exigências do bem comum resguardando e promovendo a
fato é a causa remota e o fundamento jurídico é a causa próxima. A
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a
distinção gera pouco ou nenhum efeito na prática processual.
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência” (artigo 8o,
- Impugnação especificada – não é aceita a formulação de def-
CPC). Além do artigo 8o fazer referência a importantes princípios
esa genérica por parte do réu. Por isso mesmo, o réu não pode se
constitucionais, também esclarece que a aplicação do ordenamen-
limitar à apresentação de uma negativa geral em relação aos fatos
to jurídico deve atender aos fins sociais e às exigências do bem co-
suscitados pelo autor (a regra admite exceções, como no caso de
mum.
curador especial nomeado pelo juízo). As alegações que o réu não
- Obediência prioritária à ordem cronológica – “os juízes e os
impugnar de forma específica são presumidas verdadeiras, salvo tribunais atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de
quando o CPC prever de forma diversa. A respeito, prevê o artigo conclusão para proferir sentença ou acórdão”. Os juízes e tribunais
341, CPC: “incumbe também ao réu manifestar-se precisamente não são obrigados a seguir o critério cronológico de julgamento,
sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumin- mas devem dar preferência a ele.
do-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se: I - não for admissív-
el, a seu respeito, a confissão; II - a petição inicial não estiver acom- 5.3 Informativos
panhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato; - Lógico – o processo deve seguir uma determinada ordem es-
III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu trutural.
conjunto. Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos - Econômico – o processo deve buscar os melhores resultados
fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao possíveis com o menor dispêndio de recursos.
curador especial”. - Jurídico – o processo deve obedecer a regras do ordenamento
- Eventualidade/preclusão temporal – “decorrido o prazo, ex- jurídico.
tingue-se o direito de praticar ou de emendar o ato processual, - Político – o processo deve obter a pacificação social.
independentemente de declaração judicial, ficando assegurado, - Instrumental – o conteúdo deve prevalecer sobre a forma.
porém, à parte provar que não o realizou por justa causa” (artigo
233, CPC). As partes possuem momentos oportunos para se mani- 6. Estrutura das normas fundamentais do processo civil
festarem sobre fatos no processo e, em regra, se não o fizerem em Art. 1o Disciplinado e interpretado conforme os valores e as
tal momento oportuno, não mais poderão fazê-lo, configurando-se normas fundamentais da CF.
a preclusão temporal. Art. 2o Princípio da demanda – Processo por iniciativa da parte;
- Estabilidade da lide – após o saneamento do processo, o autor Impulso oficial.
não pode mais aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, nem Art. 3o Princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário – não
mesmo com o consentimento do réu (artigo 329, II, CPC). Basica- exclui os métodos alternativos de solução do litígio.
mente, o saneamento torna a lide estável, não senso possível retor- Art. 4o Princípio da celeridade
nar à fase postulatória do processo. Art. 5o Princípio da boa-fé
- Oralidade – significa, hoje, que o julgador deve aproximar-se Art. 6o Princípio da cooperação
o quanto possível da instrução e das provas realizadas ao longo do Art. 7o Princípio da paridade – Igualdade entre as partes no pro-
processo. Dela se extrai o subprincípio da imediação, pois o julgador cesso
deve colher diretamente a prova, estar em contato direto com as Art. 8o Fins sociais e bem comum – Dignidade – proporcionali-
partes, o objeto e a prova do processo. dade, razoabilidade, legalidade, publicidade e eficiência.
Art. 9o Contraditório – Oitiva prévia das partes antes de se de-
2 MAGALHÃES, Jorge de Miranda. Princípios gerais do direito no processo civil. cidir – Exceção no caso de tutelas de urgência e evidência.
Revista da EMERJ, v. 2, n.5, 1999, p. 150-195. Art. 10 Contraditório – Oportunidade de manifestação, mesmo
3 BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: nas decisões que possa tomar de ofício o juiz.
Saraiva, 2015.

4
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 11 Publicidade e Motivação. quando pertencente ao titular do direito que vai a juízo postulá-lo
Art. 12 Ordem cronológica preferencial de julgamento em nome próprio, ou extraordinária, quando a lei autoriza que um
Art. 13 Jurisdição civil – normas processuais brasileiras terceiro substituto vá a juízo como parte postular um direito que
Art. 14 Aplicação imediata e não retroativa das normas pro- não lhe pertence (art. 6º, CPC). Nota-se que se relaciona ao ele-
cessuais mento da ação chamado partes (quem irá compor os polos ativos e
Art. 15 Aplicação supletiva e subsidiária das normas proces- passivo da ação).
suais civis às demais normas processuais b) Interesse de agir: é formado pelo binômio necessidade e
adequação, entendendo-se por necessária a ação quando sem ela
o sujeito não tiver como obter o bem desejado e por adequada
quando o meio processual escolhido foi o pertinente nos termos
AÇÃO. CONDIÇÕES DA AÇÃO. ELEMENTOS DA AÇÃO. da legislação processual. O interesse de agir relaciona-se ao ele-
CLASSIFICAÇÃO mento causa de pedir da ação, pois nos fatos o sujeito irá descrever
porque precisa da ação (necessidade) e nos fundamentos jurídicos
Ação é a forma pela qual se provoca a jurisdição. Em sentido apontará as normas que fundamentam o seu Direito e delimitam a
genérico, ação é o direito de demandar, ou seja, de ingressar em espécie de meio que ele deve utilizar para levar a pretensão a juízo
juízo para obter do Judiciário uma resposta a toda e qualquer pres- (adequação).
tação a ele dirigida. c) Possibilidade jurídica do pedido: não se admitem
Quando uma demanda é proposta há um curso natural. Espe- formulações de pretensões que contrariem o ordenamento jurídico
ra-se que ela vá até o final, sendo conferida uma resposta de mérito (não podem ir contra à lei nem à moral e aos bons costumes).
com o consequente trânsito em julgado da decisão que o faça. Para Para entender se o pedido é juridicamente possível o juiz deve se
tanto, é preciso que ela preencha requisitos e contenha determina- atentar aos demais elementos da ação que não o pedido, quais
dos elementos correlatos a estes requisitos. sejam, partes e causa de pedir.
Assim que recebe a petição inicial, o juiz verifica se ela está
apta, o que envolve detectar a presença dos elementos da ação A cada uma das clássicas condições da ação corresponde um
(partes, causa de pedir, pedido), entre outros requisitos descritos elemento da ação, isto é, um aspecto essencial que está presente
no art. 319 e 330, CPC. Não estando apta, se possível, o juiz de- em toda demanda. Os elementos da ação devem ser identificados
terminará sua emenda, sendo que a ausência da correção implica em todo tipo de ação, delimitando a resposta esperada do juízo ao
em extinção sem resolução do mérito por indeferimento da petição apreciar o mérito. São eles partes, causa de pedir e pedido.
inicial (art. 485, I, CPC). Estando apta, o juiz determinará a citação a) Partes: parte é o sujeito ativo e passivo, ou seja, é quem
do réu. Contudo, ainda depois da citação o juiz poderá extinguir a pede a tutela e em face de quem ela é postulada. Assim, são partes
demanda sem resolução do mérito (art. 485, CPC), inclusive poden- o autor e o réu.
do tomar como base os argumentos da contestação do réu, caso em Uma ação pode não ter autor? Somente se o processo puder
que também deverá ouvir a parte autora (art. 350, CPC). ser iniciado de ofício, ou seja, pelo juiz sem a provocação externa.
Em sentido estrito, a definição de ação muda conforme a espé- Um exemplo é o inventário, que pode ser iniciado tanto de ofício
cie de teoria da ação adotada: quanto por uma parte.
a) Teorias concretistas: só tem ação aquele que é titular efetivo Uma ação pode não ter réu? Isso é mais comum. É o que ocorre
do direito postulado. Então, se alguém ingressou com uma deman- nos procedimentos de jurisdição voluntária, aqueles nos quais não
da, mas ela foi julgada improcedente ao final, nunca houve ação. há litígio, mas a lei determina que devam ser levados a juízo mes-
b) Teorias abstratistas puras: criadas na tentativa doutrinária mo assim, por exemplo, divórcio consensual (ambos cônjuges são
de que o direito processual fosse considerado uma ciência autôno- autores ou requerentes). No campo da jurisdição contenciosa isso
ma, a ação é um direito de exigir resposta do Judiciário às preten- fica bem difícil, mas um exemplo é a investigação de paternidade
sões a ele dirigidas sem importar se o direito material existe ou não. cujo pai faleceu e não deixou herdeiros, pois o espólio é uma massa
Logo, para haver ação basta qualquer resposta do Judiciário, ainda patrimonial que não poderia ser acionada numa ação que não tem
que não aprecie diretamente a matéria levada a juízo. natureza patrimonial e sim pessoal.
c) Teoria eclética: somente haverá ação se for conferida uma É possível que mais de uma pessoa figure nos polos da ação?
resposta de mérito pelo Judiciário. Logo, a demanda preenche re- Sim, é o chamado litisconsórcio, pelo qual duas ou mais pessoas
quisitos iniciais e permite ao juízo apreciar diretamente a matéria podem figurar como autoras ou rés no processo.
levada até ele, dando uma resposta de mérito, seja pela procedên- O representante é parte? Não é parte aquele que representa
cia, seja pela improcedência. A teoria eclética é majoritária e é ado- uma pessoa física incapaz ou uma pessoa jurídica (por exemplo, um
tada pelo CPC, considerando-se assim que somente haverá ação se menor de idade vem representado por seu pai ou sua mãe, quem é
a resposta dada à demanda for de mérito. Vale destacar que é di- parte é o menor, não o pai ou a mãe).
reito das partes a solução integral do mérito (artigo 4o, CPC), o que Desta afirmação extrai-se que todas as pessoas, físicas e ju-
obriga o magistrado a buscar solucionar o conflito em definitivo, rídicas, e até alguns entes despersonalizados, têm capacidade de
conferindo a resposta de mérito (artigo 487, CPC). ser parte, mas nem todas estas possuem capacidade processual,
ou seja, capacidade para estar em juízo. Somente possuem capaci-
Existem requisitos para que o juiz possa dar uma resposta à dade processual pessoas naturais maiores e capazes (os incapazes
pretensão formulada na petição inicial, sem os quais não existe precisarão, conforme o caso, serem representados ou assistidos).
ação, daí serem chamados de condições da ação. Classicamente, Quanto às pessoas jurídicas, a lei lhes atribui personalidade civil
são três as condições da ação – legitimidade “ad causam”, interesse e aptidão para ser titular de direitos e obrigações, sendo sempre
de agir e possibilidade jurídica do pedido. Vejamos: representadas por quem seus estatutos designarem e, se não o fi-
a) Legitimidade “ad causam”: é a relação de pertinência sub- zerem, por seus diretores. Já os entes despersonalizados que po-
jetiva (adequação dos sujeitos) quanto ao conflito trazido a juízo e dem ser partes são aqueles que a princípio não deveriam o ser, mas
a qualidade para litigar sobre ele, seja como demandante (sujeito a lei lhes confere a capacidade para que postulem ou defendam
ativo), seja como demandado (sujeito passivo). Pode ser ordinária, determinados interesses em juízo, quais sejam: massa falida (uni-

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
versalidade jurídica de bens e interesses da empresa cuja falência mediato, referente ao bem da vida almejado. Os artigos 322 a 329
foi decretada/administrador judicial), espólio (universalidade de do CPC cuidam da questão do pedido, trazendo os casos em que
bens e interesses de quem morreu/inventariante), herança jacen- cabe pedido genérico, os pedidos implícitos que são aceitos e as
te e vacante (sem herdeiros conhecidos ou testamento/curador), possibilidades de cumulação.
condomínio (edifícios/administrador ou síndico), sociedades sem Em regra, o pedido deve ser certo e determinado. Certo é o que
personalidade jurídica (de fato/administrador dos bens), pessoa identifica seu objeto, individualizando-o perfeitamente; determina-
jurídica estrangeira (representante ou administrador da filial), nas- do é o pedido líquido, no qual o autor indica a quantidade dos bens
cituro (nascimento com vida é condição suspensiva para o exercício que pretende haver.
de direitos e deveres/genitores). Quando o pedido pode ser ilíquido e genérico? Nos incisos do
O advogado é parte? Não, ele é apenas um representante da art. 324, § 1o, CPC estão algumas exceções que autorizam o pedido
parte porque possui uma capacidade que ela não possui. Para pos- ilíquido ou genérico: ações universais, quais sejam as que têm por
tular em juízo é preciso possuir capacidade postulatória e quem a objeto uma universalidade de direito (como herança e patrimônio);
tem, em regra, são os advogados e o Ministério Público. Se a par- quando não for possível determinar em definitivo as consequências
te for advogado, poderá postular em nome próprio. Senão, deverá do ato ou fato ilícito, pois no ingresso da ação ainda não se sabe
outorgar procuração a um advogado. Excepcionalmente, atribui-se a extensão do dano sofrido, incluindo neste inciso o dano moral;
à parte capacidade postulatória sem que ela precise de advogado, quando o valor da condenação depender de ato que deva ser prati-
por exemplo, juizado especial cível em ações de até 20 salários mí- cado pelo réu, como as ações de exigir contas.
nimos, Justiça do Trabalho e Habeas Corpus. O pedido pode ser implícito? Em regra, os pedidos devem ser
b) Causa de pedir: fundamentos de fato e de Direito que emba- interpretados restritivamente, não cabendo ao juiz decidir extra,
sam o pedido. A causa de pedir justifica o pedido que é dirigido ao ultra ou citra petita: além, fora ou menos que o pedido. Contudo,
órgão jurisdicional. Quem ingressa em juízo deve expor ao juiz os fa- existem casos de pedidos implícitos, que o juiz deve conceder mes-
tos que justificam seu pleito e indicar a maneira que o ordenamento mo que o autor não peça expressamente, notadamente juros legais,
jurídico regula aquela situação. Em suma, o autor deve apresentar correção monetária, custas e despesas processuais (art. 322, § 1o,
o fato e seu nexo com o fundamento jurídico. Afinal, a atividade CPC) e prestações periódicas (art. 323, CPC).
jurisdicional consiste em aplicar o Direito a um fato. Como funciona a cumulação de pedidos? É preciso que os pe-
O que importa mais para o juiz na causa de pedir? Por mais que didos se relacionem, justificando-se o julgamento conjunto na mes-
a indicação dos fundamentos jurídicos seja necessária, o juiz irá se ma ação. Haverá cumulação subjetiva no caso da demanda ser pro-
ater principalmente aos fatos quando julgar a demanda, até mesmo posta contra mais de um réu (litisconsórcio passivo) e cumulação
porque o juiz presumivelmente conhece o Direito (jura novit curia). objetiva havendo fundamentos ou pedidos múltiplos. Aqui se fala
A consequência disso é que o juiz poderá decidir favoravelmente ao da cumulação objetiva de pedidos, que pode ser simples, quando o
autor utilizando fundamento jurídico diverso, desde que se atenha autor formula múltiplos pedidos e deseja obter êxito em todos, mas
aos fatos. Cada vez que os fatos da causa de pedir são alterados, um pedido não depende do outro; sucessiva, quando o autor for-
modifica-se a ação, razão pela qual o juiz deve se ater aos fatos para mula múltiplos pedidos e deseja obter êxito em todos, mas o resul-
não prolatar sentença extra petita (fora do pedido). tado do exame de um repercute no do outro; alternativa, quando o
Qual é a causa de pedir próxima e qual a remota? Há diver- autor formula mais de um pedido mas o acolhimento de um exclui
gência na doutrina a respeito de qual parte da causa de pedir é a o do outro, não havendo assim soma de pedidos; eventual ou sub-
remota e qual é a próxima. Nery Júnior está entre os que chamam sidiária, idêntica à alternativa, mas havendo uma ordem de prefe-
de causa de pedir próxima os fatos e remota os fundamentos jurídi- rência. Para cumular pedidos, eles devem ser compatíveis entre si,
cos, Greco Filho e Bueno invertem a nomenclatura. Na prática, não o juízo competente deve ser o mesmo e o procedimento escolhido
é uma distinção relevante. deve ser adequado a todos os pedidos.
É possível que a petição inicial invoque mais de uma causa Os elementos funcionam para delinear as relações que podem
de pedir? Sim, em três casos: quando invocados fatos de igual existir entre duas demandas: litispendência, continência, conexão e
estrutura, que repercutem na esfera jurídica de uma pessoa (ex.: prejudicialidade.
várias violações de uma mesma cláusula contratual pelo réu, Se os elementos de uma ação forem os mesmos de outra, tem-
buscando sua anulação, isto é, mesmo fato ocorreu várias vezes -se ações idênticas, mas basta que um deles se diferencie para que
e atingiu uma esfera jurídica); quando invocados fatos de igual as ações sejam consideradas diferentes (art. 337, §2°, CPC). Ima-
estrutura, que conduzem a efeitos jurídicos que repercutem em ginemos que duas ações possuem os mesmos elementos, sendo
diferentes esferas jurídicas (ex.: dois autores vizinhos afirmam assim idênticas: como consequência, será impedido o prossegui-
que o réu causou danos a seus imóveis, no caso, os mesmos fatos mento da que foi proposta posteriormente, extinguindo-a sem re-
atingiram duas esferas jurídicas); quando invocados fatos de solução do mérito (art. 485, V, CPC).
estrutura diferente (ex.: não pagamento e uso indevido do imóvel, Os fenômenos associados a ações idênticas são a litispendência
buscando-se o despejo). e a coisa julgada: assemelham-se porque em ambas se reproduz
É possível modificar a causa de pedir depois da citação? Não, uma ação que foi anteriormente ajuizada, diferenciam-se pelo fato
a não ser que o réu concorde, mantendo-se as mesmas partes, da ação repetida já estar extinta ou não. Haverá litispendência se a
salvo as substituições permitidas por lei (art. 329, II, CPC). Antes da ação repetida estiver em curso e coisa julgada se a ação repetida já
citação é possível modificá-la sem restrições, sendo que o mesmo foi decidida por sentença, de que não caiba recurso (art. 337, §§1o,
vale para o pedido (art. 329, I, CPC). 3o e 4o, CPC).
c) Pedido: provimento jurisdicional postulado e bem da vida
que se almeja. Em outras palavras, é aquilo que, em virtude da cau- Obs.: o tema conexão e continência foi abordado no tópico an-
sa de pedir, postula-se ao órgão julgador. terior sobre jurisdição e competência.
Qual é o pedido mediato e qual o imediato? Quando ingressa
com uma ação o autor deve indicar o pedido imediato, correspon-
dente ao provimento jurisdicional que deseja obter (condenatório,
declaratório, constitutivo, executivo, mandamental), e o pedido

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
LIVRO II Com vistas a instrumentalizar a jurisdição, impedindo que ela
DA FUNÇÃO JURISDICIONAL seja exercida de maneira caótica, ela é distribuída entre juízos e fo-
ros – órgãos competentes em localidades determinadas. A esta dis-
TÍTULO I tribuição das parcelas de jurisdição dá-se o nome de competência.
DA JURISDIÇÃO E DA AÇÃO
1. Competência internacional
Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribu- A competência jurisdicional é restrita ao território nacional,
nais em todo o território nacional, conforme as disposições deste conforme se extrai do CPC:
Código. Art. 16, CPC. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tri-
Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e le- bunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste
gitimidade. Código.
Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome pró- O juiz brasileiro não possui jurisdição em outros territórios. A
prio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. jurisdição, como manifestação de poder, encontra óbice na sobe-
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituí- rania de outros países. Da mesma forma, para que uma sentença
do poderá intervir como assistente litisconsorcial. estrangeira seja reconhecida no país deverá ser homologada, sendo
Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: que certas matérias somente podem ser julgadas no Brasil e por
I - da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma isso não serão homologadas (ex.: ação que verse sobre bens imó-
relação jurídica; veis situados no Brasil ou ações de inventário e semelhantes).
II - da autenticidade ou da falsidade de documento. Neste viés, a sentença proferida em outro país é ineficaz en-
Art. 20. É admissível a ação meramente declaratória, ainda quanto tal e não poder ser executada no Brasil e nem aqui produz
que tenha ocorrido a violação do direito. seus efeitos. Não obstante, a existência de processo em país estran-
geiro não obsta o ingresso da ação no Brasil (não induz litispendên-
cia) e nem impede que o Judiciário brasileiro julgue ações conexas.
Quanto à competência do juiz brasileiro, no Código de Processo
JURISDIÇÃO.PRINCÍPIO DA INÉRCIA. DA COOPERAÇÃO Civil, está regulada nos artigos 21 a 23.
INTERNACIONAL. DISPOSIÇÕES GERAIS. DO AUXÍLIO Os artigos 21 e 22 tratam dos casos de competência concorren-
DIRETO. DA CARTA ROGATÓRIA. DA COMPETÊNCIA. te, cabível o julgamento, em tese, tanto por autoridade brasileira
DISPOSIÇÕES GERAIS. DA MODIFICAÇÃO DA COMPE- quanto por estrangeira:
TÊNCIA. DA INCOMPETÊNCIA Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e
julgar as ações em que:
Jurisdição é o poder-dever do Estado de dizer o Direito. Sendo I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domi-
assim, trata-se de atividade estatal exercida por intermédio de um ciliado no Brasil;
agente constituído com competência para exercê-la, o juiz. II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
Nos primórdios da humanidade não existia o Direito e nem III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
existiam as leis, de modo que a justiça era feita pelas próprias mãos, Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se
na denominada autotutela. Com a evolução das instituições, o Es- domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver
tado avocou para si o poder-dever de solucionar os litígios, o que é agência, filial ou sucursal.
feito pela jurisdição. Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira pro-
O poder-dever de dizer o direito é uno, apenas existindo uma cessar e julgar as ações:
separação de funções: o Legislativo regulamenta normas gerais e I - de alimentos, quando:
abstratas (função legislativa) e o Judiciário as aplica no caso concre- a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
to (função jurisdicional). b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou pro-
Tradicionalmente, são enumerados pela doutrina os seguintes priedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios
princípios inerentes à jurisdição: investidura, porque somente exer- econômicos;
ce jurisdição quem ocupa o cargo de juiz; aderência ao território, II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor
posto que juízes somente têm autoridade no território nacional e tiver domicílio ou residência no Brasil;
nos limites de sua competência; indelegabilidade, não podendo o III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem
Poder Judiciário delegar sua competência; inafastabilidade, pois a à jurisdição nacional.
lei não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma le- Já o artigo 23 trata dos casos de competência exclusiva, em que
são ou ameaça a direito. somente autoridade brasileira pode julgar, recusando-se a homolo-
Embora a jurisdição seja una, em termos doutrinários é pos- gação de sentença estrangeira caso decisão sobre uma destas ma-
sível classificá-la: a) quanto ao objeto – penal, trabalhista e civil (a térias seja proferida por jurisdição estrangeira:
civil é subsidiária, envolvendo todo direito material que não seja Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclu-
penal ou trabalhista, não somente questões inerentes ao direito são de qualquer outra:
civil); b) quanto ao organismo que a exerce – comum (estadual ou I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
federal) ou especial (trabalhista, militar, eleitoral); c) quanto à hie- II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirma-
rarquia – superior e inferior. ção de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens
Neste sentido, com vistas a instrumentalizar a jurisdição, im- situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionali-
pedindo que ela seja exercida de maneira caótica, ela é distribuída dade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
entre juízos e foros (órgãos competentes em localidades determi- III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união es-
nadas). A esta distribuição das parcelas de jurisdição dá-se o nome tável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o
de competência. Em verdade, a competência é o principal limite à titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do
jurisdição. território nacional.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
2. Competência interna 2.2 Distinção entre foro e juízo
Art. 44. Obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição Foro é a base territorial sobre a qual cada órgão do Poder Ju-
Federal, a competência é determinada pelas normas previstas nes- diciário exerce sua jurisdição. Em primeira instância, foro é uma
te Código ou em legislação especial, pelas normas de organização expressão utilizada para indicar a comarca ou seção judiciária de
judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados. determinada cidade. Nas demais instâncias, designa toda a zona
Com efeito, é importante observar tanto a disciplina da Cons- territorial na qual o Tribunal exerce sua jurisdição: STF e outros Tri-
tituição Federal quanto a do Código de Processo Civil, uma vez que bunais Superiores – Brasil; TJMG – Estado de Minas Gerais; etc.
as regras de organização judiciária são determinantes para a deter- Juízo é o órgão jurisdicional designado para o julgamento do
minação da competência. caso – justiça comum estadual, justiça comum federal, justiça elei-
toral, justiça trabalhista, justiça militar. Basicamente, refere-se à jus-
2.1 Estrutura do Poder Judiciário tiça competente para decidir sobre aquela matéria.
O Poder Judiciário tem por função essencial aplicar a lei ao caso
concreto, julgar os casos levados à sua apreciação, é o responsável 2.3 Competência absoluta e relativa
pelo exercício da função jurisdicional. O artigo 92 da Constituição As regras de competência absoluta são imperativas, cogentes
disciplina os órgãos que compõem o Poder Judiciário, sendo que e podem ser reconhecidas de ofício pelo juiz a qualquer tempo no
os artigos posteriores delimitam a competência de cada um deles. processo. As regras de competência relativa se sujeitam a prorroga-
Os órgãos que ficam no topo do sistema possuem sede na Capital ção e derrogação e somente é possível reconhecer a incompetência
Federal, Brasília, e são dotados de jurisdição em todo o território se questionada (o CPC inovou ao permitir que o Ministério Público
nacional. alegue este tipo de competência).
Artigo 92, CF. São órgãos do Poder Judiciário: A competência de juízo é sempre absoluta.
I - o Supremo Tribunal Federal; Art. 62. A competência determinada em razão da matéria, da
I-A - o Conselho Nacional de Justiça;  pessoa ou da função é inderrogável por convenção das partes.
II - o Superior Tribunal de Justiça; O principal exemplo de competência absoluta, em razão da ma-
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho; téria, é a justiça federal, conforme preconiza o artigo 45, CPC:
III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e funda-
VI - os Tribunais e Juízes Militares; ções, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qua-
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e lidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações:
Territórios. I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e aciden-
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de te de trabalho;
Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal.  II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho.
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm § 1o Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apre-
jurisdição em todo o território nacional. ciação seja de competência do juízo perante o qual foi proposta a
O Supremo Tribunal Federal é o órgão de cúpula do Poder Judi- ação.
ciário, desempenhando a função de Tribunal Constitucional. Não é § 2o Na hipótese do § 1o, o juiz, ao não admitir a cumulação de
exatamente correto chamá-lo de quarta instância porque em alguns pedidos em razão da incompetência para apreciar qualquer deles,
casos é possível que dos Tribunais ou Turmas recursais (segunda não examinará o mérito daquele em que exista interesse da União,
instância) se vá direto ao Supremo Tribunal Federal. de suas entidades autárquicas ou de suas empresas públicas.
Por sua vez, os Tribunais Superiores desempenham o papel de § 3o O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem
terceira instância, são eles: Superior Tribunal de Justiça, Tribunal suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa
Superior Eleitoral, Tribunal Superior do Trabalho e Superior Tribunal for excluído do processo.
Militar. Neste sentido, não sendo a matéria específica eleitoral, tra- Assim, a justiça federal tem competência específica, ao passo
balhista ou militar, o papel de terceira instância será exercido pelo que a justiça estadual tem competência residual. Sempre que na
Superior Tribunal de Justiça. causa intervier a União, ou suas empresas públicas, autarquias e
Na segunda instância se encontram outros Tribunais: os tri- fundações (não se incluem as sociedades de economia mista), ou
bunais regionais federais compõem a segunda instância da justiça conselho de fiscalização de atividade profissional, os autos serão
comum federal; os tribunais de justiça são a segunda instância da remetidos à justiça federal. As exceções são: ações de recuperação
justiça comum estadual; os tribunais regionais do trabalho formam judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho, que devi-
a segunda instância da justiça trabalhista; os tribunais regionais do à especialidade da matéria tramitam na justiça estadual (salvo as
eleitorais são a segunda instância da justiça eleitoral; os tribunais de acidente de trabalho, que tramitam perante a justiça do traba-
de justiça militares, quando criados, compõem a segunda instância lho); causas de competência ainda mais específica, isto é, sujeitas à
da justiça militar. justiça eleitoral e à justiça do trabalho.
O acesso à primeira instância se dá perante as varas na justiça A competência de foro, em regra, é relativa, mas pode em al-
estadual, eleitoral (geralmente cumulativa com uma vara comum), guns casos ser absoluta.
na justiça trabalhista e na justiça militar e as seções/subseções na Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do
justiça federal. valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriun-
Art. 42. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo da de direitos e obrigações.
juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito § 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de ins-
de instituir juízo arbitral, na forma da lei. trumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio
Havendo a possibilidade de instituição de juízo arbitral, por jurídico.
terem as partes acordado resolver seus conflitos por arbitragem, § 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das
afasta-se competência do Judiciário. partes.
§ 3o A

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
ntes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode 2.8 Foro competente
ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remes- O Código de Processo Civil fez algumas alterações sensíveis na
sa dos autos ao juízo do foro de domicílio do réu. matéria, notadamente: exclusão do foro da mulher nas ações de
§ 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula divórcio; criação de foro específico para reparação de dano sofrido
de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão. em razão de delito ou acidente de veículos; e exclusão da exceção
Quando a competência for determinada por valor ou território, de incompetência como instrumento de arguição.
há foro. Como o foro é relativo, então existe a possibilidade de mo-
dificação do juízo competente. Se a incompetência relativa não for - Regra geral: domicílio do réu
alegada, se convalida, havendo prorrogação de competência. A regra geral para a competência territorial é a do domicílio
Isso pode ser feito também por eleição de foro, isto é, com as do réu
partes de comum acordo escolhendo que o conflito será soluciona- Art. 46. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre
do em determinada localidade. As partes podem eleger o foro, no- bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
tadamente pela via contratual, lembrando-se que a eleição de foro § 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro
no direito do consumidor tende a ser relativizada, notadamente nos de qualquer deles.
contratos de adesão. Quando ocorre eleição de foro, há derrogação § 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu,
de competência. A eleição de foro não pode derrogar a conexão. ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de
No caso da eleição de foro, a incompetência pode ser reconhe- domicílio do autor.
cida de ofício pelo juiz. § 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a
ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também
2.4 Perpetuatio jurisdictionis residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
O princípio da perpetuação da competência está previsto no § 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios,
CPC nos seguintes termos: serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro § 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do
ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modifi- réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.
cações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, [...]
salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a compe- Art. 50.  A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro
tência absoluta. de domicílio de seu representante ou assistente.
Se o órgão judiciário for suprimido, os processos que por ele Art. 51.  É competente o foro de domicílio do réu para as causas
tramitavam serão remetidos a outro juízo, o que também ocorre em em que seja autora a União.
caso de alteração de competência em razão da matéria (ex.: criação Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá
de vara de família) ou da hierarquia. É um caso de modificação de ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do
competência após a propositura da ação. ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no
Distrito Federal.
2.5 Critérios para fixação de competência Art. 52.  É competente o foro de domicílio do réu para as causas
em que seja autor Estado ou o Distrito Federal.
a) Objetivo: fixa a competência em razão da matéria, absoluta,
Parágrafo único.  Se Estado ou o Distrito Federal for o deman-
e em razão do valor da causa, relativa;
dado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no
b) Territorial: competência de foro, relativa, em regra;
de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situa-
c) Funcional: abrange a competência hierárquica – casos de
ção da coisa ou na capital do respectivo ente federado.
foro em razão da função, mais conhecidos como de foro especial ou
privilegiado – e outros de competência originária, regra de compe-
- Competência territorial absoluta: foro do local do imóvel
tência absoluta.
O único caso em que a competência territorial é absoluta é o
das ações fundadas em direito real sobre imóveis que versem sobre
2.6 Regras de apuração da competência direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação
Um roteiro simples de perguntas deve ser percorrido para a de terras, de nunciação de obra nova e ação possessória. Nestas,
determinação do juízo e do foro competentes para julgamento: necessariamente a ação deve ser proposta no local do imóvel.
1 – O processo é de competência originária de algum Tribunal? Art. 47.  Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis
2 – Se não, o processo deve ser julgado por alguma das justiças é competente o foro de situação da coisa.
especiais? § 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo
3 – Sendo a justiça comum competente, a matéria é de cunho foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade,
federal ou estadual? vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nuncia-
4 – Em qual local deverá ser proposta a ação (comarca ou se- ção de obra nova.
ção)? § 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de
5 – Em qual juízo do local deve ser feita a propositura (vara situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta.
cível, de família...)?
- Competência nas ações de inventário
2.7 Disciplina constitucional Nas ações de inventário, a competência é do domicílio do autor
- Supremo Tribunal Federal: artigo 102, CF; da herança, de onde residia o de cujus. Não havendo domicílio cer-
- Superior Tribunal de Justiça: artigo 105, CF; to, cabe a propositura no foro de situação dos bens imóveis (ou em
- Tribunais Regionais Federais: artigo 108, CF; um deles, se houver mais de um bem imóvel).
- Justiça Federal – 1ª instância: artigo 109, CF; Art. 48.  O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o
- Justiça Trabalhista – artigo 114, CF; competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumpri-
- Justiça Comum Estadual – competência subsidiária. mento de disposições de última vontade, a impugnação ou anula-
ção de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio
for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio § 4o Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-
certo, é competente: -ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até
I - o foro de situação dos bens imóveis; que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente.
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes; Art. 65. Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos alegar a incompetência em preliminar de contestação.
bens do espólio. Parágrafo único. A incompetência relativa pode ser alegada
pelo Ministério Público nas causas em que atuar.
- Competência na ação de ausência
Nas ações propostas contra pessoa ausente ou naquelas que se 2.10 Conflito de competência
proponham a fazer arrecadação, inventário, partilha e cumprimen- Mediante suscitação de conflito de competência que juízes que
to de testamento cabe a propositura no foro do último domicílio do se digam competentes ou incompetentes questionam perante um
ausente. órgão superior qual deles é o competente para julgar o caso. Quan-
Art. 49.  A ação em que o ausente for réu será proposta no foro do dois ou mais juízes se dão por competentes há conflito positivo;
de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, quando se dão por incompetentes há conflito negativo. Também é
o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamen- possível que o conflito de competência surja a partir de uma contro-
tárias. vérsia sobre reunir ou separar processos entre juízes.
Art. 66. Há conflito de competência quando:
- Competência territorial relativa para ações específicas I - 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes;
Em ações específicas, há competências territoriais específicas, II - 2 (dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atri-
sendo todas elas relativas: buindo um ao outro a competência;
Art. 53.  É competente o foro: III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da
I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento reunião ou separação de processos.
e reconhecimento ou dissolução de união estável: Parágrafo único. O juiz que não acolher a competência decli-
a) de domicílio do guardião de filho incapaz; nada deverá suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo.
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; Quando um juiz entende não ser competente, envia para o juiz
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo que entende sê-lo o processo. Caso o juiz que receba o processo
domicílio do casal; entenda também não ser competente, deve suscitar o conflito de
II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em competência. Contudo, caso entenda que há um terceiro juiz que
que se pedem alimentos; seria o competente para julgar o conflito, deverá remeter os autos
III - do lugar: a este. Sempre o conflito de competência será julgado por Tribunal,
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica; razão pela qual se encontra disciplinado entre os “Processos nos
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que Tribunais” no CPC (artigos 961 a 959).
a pessoa jurídica contraiu;
c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré so- 2.11 Conexão e continência
ciedade ou associação sem personalidade jurídica; Art. 54. A competência relativa poderá modificar-se pela co-
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se nexão ou pela continência, observado o disposto nesta Seção.
lhe exigir o cumprimento; Se a competência for absoluta nas duas causas, mesmo causas
e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito conexas ou continentes não poderão ser juntadas. Noutras palavras,
previsto no respectivo estatuto (o Estatuto do Idoso corresponde à se a competência de uma causa é determinada de forma absoluta,
Lei nº 10.741/2003); não se autoriza a mudança da competência em razão de conexão ou
f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de continência. Sendo assim, deve ser relativa a competência na causa
reparação de dano por ato praticado em razão do ofício; que será juntada em razão da conexão ou continência.
IV - do lugar do ato ou fato para a ação: Ex.: uma causa na justiça federal conexa com a estadual – parte
a) de reparação de dano; da doutrina diz que a federal atrai a estadual, outra que cada uma
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios; deverá tramitar no local competente; ex.: uma causa na justiça tra-
V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de balhista conexa com outra na justiça comum estadual.
reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veí- Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando
culos, inclusive aeronaves. lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
§ 1o Os processos de ações conexas serão reunidos para deci-
2.9 Alegação de incompetência são conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado.
O CPC/2015 excluiu a exceção de incompetência, de modo que § 2o Aplica-se o disposto no caput:
toda e qualquer incompetência deverá ser arguida em preliminar I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento
de contestação, mas manteve a regra de que a incompetência abso- relativa ao mesmo ato jurídico;
luta deve ser declarada de ofício e não se prorroga, ao passo que a II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.
incompetência relativa deve ser alegada sob pena de prorrogação. § 3o Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que
Art. 64. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contra-
como questão preliminar de contestação. ditórias caso decididos separadamente, mesmo sem conexão entre
§ 1o A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer eles.
tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício. Conexão é a relação que se estabelece entre duas ou mais de-
§ 2o Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá ime- mandas quanto aos seus elementos. Havendo mesmo pedido ou
diatamente a alegação de incompetência. mesma causa de pedir entre ações há conexão. No caso de ações
§ 3o Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos conexas, serão reunidas para julgamento conjunto. Cabe o reconhe-
serão remetidos ao juízo competente. cimento de ofício.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quan- 1. Pressupostos processuais
do houver identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o Existem requisitos indispensáveis para a regularidade do pro-
pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais. cesso, que devem ser obedecidos para que o juiz possa examinar o
Art. 57. Quando houver continência e a ação continente tiver mérito, ou seja, a pretensão jurisdicional propriamente dita.
sido proposta anteriormente, no processo relativo à ação contida Já se viu, quando do estudo da ação, que é necessário o preen-
será proferida sentença sem resolução de mérito, caso contrário, chimento do que se denominam condições da ação, que devem
as ações serão necessariamente reunidas. ser verificadas para saber se o autor tem direito a uma resposta
A continência é uma modalidade mais intensa de conexão, na de mérito. Por sua vez, também é preciso verificar se o caminho
qual existem mesmas partes e mesma causa de pedir, mas pedi- percorrido para se chegar a esta resposta de mérito preencheu os
do diverso, sendo que uma causa contém a outra. Basicamente, há requisitos indispensáveis – estes são os pressupostos processuais.
uma ação continente, que é a mais abrangente, e uma ação contida. A ausência das condições da ação ou dos pressupostos processuais
Ex.: numa causa a pessoa questiona a exigência de cheque caução gera a consequência da extinção sem resolução do mérito. Ambos
e pagamentos abusivos em razão de despesas hospitalares contra são matérias consideradas “de ofício”, posto que podem ser recon-
um hospital, noutra causa o hospital ingressa com uma ação de hecidas pelo juiz a qualquer tempo no processo independente de
cobrança baseada no cheque caução – a ação da pessoa contra o alegação das partes.
hospital abrange a ação do hospital contra a pessoa, sendo um caso Alguns pressupostos processuais são tão importantes que afe-
de continência. tam a própria existência do processo (pressupostos de existência),
Se a ação continente tiver sido proposta primeiro (a mais ao passo que outros afetam a sua validade (pressupostos de vali-
abrangente), a ação contida será extinta sem resolução do mérito, dade). Vale ressaltar que, na medida do possível, deve-se permitir a
afinal, o mérito será julgado na própria ação principal. Contudo, se correção destes vícios com o aproveitamento dos atos processuais.
a ação contida tiver sido proposta primeiro, esta será reunida à ação Em outras palavras, em processo civil, as nulidades só serão recon-
continente e serão julgadas em conjunto. hecidas se evidenciarem prejuízo às partes e, se puderem ser sana-
Art. 58. A reunião das ações propostas em separado far-se-á das, o serão sem a extinção do processo.
no juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente.
A reunião das ações conexas ou continentes deve ser feita no 1.1 Pressupostos processuais de existência
juízo prevento. - Jurisdição: somente existem os atos processuais praticados
Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna por aqueles que estiverem investidos na função jurisdicional. Ex.:
prevento o juízo. pessoa diz que é juiz e julga o feito, mas não é, nunca tomou posse,
Devido à prevenção, o mesmo juízo e o mesmo órgão no Tribu- nunca foi aprovada no concurso.
nal atrairão todos os casos relacionados ao primeiro que foi regis- - Demanda: a jurisdição é inerte, ou seja, o juiz deverá ser
trado ou distribuído ao órgão. provocado pelo autor da ação. Se o autor não demandar, não há
Art. 60. Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado,
processo.
comarca, seção ou subseção judiciária, a competência territorial
- Citação: enquanto não é citado, para o réu o processo é inex-
do juízo prevento estender-se-á sobre a totalidade do imóvel.
istente. Afinal, a relação jurídico-processual é formada por autor,
Se um imóvel se situar em mais de uma comarca, haveria uma
juiz e réu. A citação é o ato processual que chama o réu ao processo,
situação complicada, porque o CPC coloca como regra absoluta a
conferindo-lhe oportunidade de exercer seu direito de exceção. A
propositura no local do imóvel. Essa situação se resolve pela pre-
citação pode ser real – por oficial de justiça ou por carta, pessoal-
venção, onde primeiro se propuser a ação será julgado o conflito.
mente – ou ficta – por hora certa, quando na terceira tentativa de
Art. 61. A ação acessória será proposta no juízo competente
para a ação principal. encontrar o réu ele permanecer desaparecido e ficar evidente o in-
Ex.: ação cautelar (acessória) e ação de conhecimento (princi- tuito de esquivar-se o oficial pode avisar um familiar e conhecido
pal). Deve ser proposta a cautelar no juízo que seria competente que irá comparecer em data e hora certas e se mesmo assim o réu
para julgar a ação principal. não estiver no local será a carta de citação entregue a este familiar
ou conhecido, ou por edital, quando o réu estiver em local incerto e
não sabido mediante publicação em diário oficial e jornal de grande
circulação.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
1.2 Pressupostos processuais de validade
Processo é o instrumento da jurisdição, ou seja, é ele que pos- - Petição inicial apta: Sem a demanda, o processo não existe.
sibilita ao Estado que diga o direito no caso concreto. Duas são as Contudo, para se demandar é preciso preencher requisitos que con-
noções essenciais que se ligam à de processo: uma formal, que é a firam validade ao ato. Como a demanda ocorre pela petição inicial,
de procedimento; e uma material, que é a de relação jurídico-pro- então esta deve preencher os requisitos determinados.
cessual. - Competência e imparcialidade: competência é o estabe-
Para que o processo aconteça é necessário estabelecer uma lecimento das parcelas de jurisdição, definindo-se o foro e o juízo
sequência de atos processuais, logicamente encadeados, até que competentes para o julgamento da causa. A propositura da ação
ao final se ofereça a prestação jurisdicional, o que se denomina no juízo correto – principalmente – e no foro correto – nem tanto,
procedimento. A legislação irá estabelecer uma vasta gama de pro- por ser relativa a competência – são pressupostos processuais de
cedimentos, alguns mais extensos, outros mais resumidos, ou ainda validade do processo.
outros com caráter especial. Notadamente, o Código de Processo - Capacidade para ser parte: A princípio, toda pessoa física ou
Civil traz o procedimento comum e os procedimentos especiais. jurídica, além de alguns entes despersonalizados, possuem capaci-
Além disso, o processo somente existe sob uma estrutura for- dade para ser parte. Neste sentido, basta que a lei permita ao su-
mada na qual as partes se ligam a uma autoridade com o poder jeito que seja titular de direitos e obrigações para que ele possa ser
jurisdicional. Esta relação entre autor, réu e juiz, numa tríade, se parte. Neste sentido, alguns entes despersonalizados que podem
denomina relação jurídico-processual. Neste tipo de relação se so- ser partes são: herança jacente (herança de quem falece sem deixar
brelevam poderes, deveres, faculdades e ônus. herdeiros conhecidos ou testamento, cujos bens serão arrecadados

11
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
e, infrutífera a tentativa de encontrar herdeiros por edital, declara- ta para fora do processo e torna definitivos os efeitos da decisão,
dos vacantes), herança vacante (herança jacente assim declarada chamado de coisa julgada material, impedindo que a mesma pre-
quando do não comparecimento de herdeiros, implicando na trans- tensão seja rediscutida posteriormente em outro processo, que
ferência após 5 anos dos bens ao Município), massa falida (univer- ocorre apenas nas sentenças de mérito (extraprocessual) (se a sen-
salidade jurídica de bens e interesses deixados por empresa que tença irrecorrível não for de mérito, a pretensão pode ser objeto de
teve a falência decretada), espólio (universalidade jurídica de bens outra demanda). Assim, num processo sempre haverá coisa julgada
e interesses, incluindo débitos, deixados por aquele que morreu), formal, mas nem sempre coisa julgada material.
condomínio (em edifícios, representando os interesses comuns Devido à sua eficácia preclusiva, a coisa julgada material im-
e defendendo as partes comuns do prédio), sociedades sem per- pede não só a repropositura da mesma ação, mas a discussão, em
sonalidade jurídica (sociedades não constituídas de acordo com as qualquer outro processo com mesmas partes, das questões decidi-
exigências legais), pessoa jurídica estrangeira (sociedade não regis- das (art. 507, CPC).
trada de maneira regular no Brasil) e nascituros (apesar da person-
alidade civil começar com o nascimento com vida, o nascituro tem 2. Tipos de processo civil
legítima expectativa de direitos condicionada a este nascimento Quando se trabalha com a noção de tipos de processo busca-se
com vida). esclarecer que um processo pode ter naturezas diversas conforme
- Capacidade processual: Também é chamada de capacidade o fim ao qual se preste. Notadamente, são tipos de processo: con-
para estar em juízo. Somente possuem capacidade processual as hecimento, execução e de urgência.
pessoas naturais (físicas) maiores e capazes. Os que não preenchem O processo de conhecimento é aquele em que se busca a sat-
estas condições, notadamente incapazes e outras partes mencion- isfação de uma pretensão. Ou seja, nele que a parte apresenta uma
adas anteriormente, necessitarão ter sua capacidade integrada me- expectativa de Direito e postula à autoridade jurisdicional que a
diante representação ou assistência. reconheça. A pretensão poderá ter cunhos variados, o que implica
- Capacidade postulatória: O ato processual praticado por em naturezas diversas de tutela jurisdicional (declaratória, constitu-
quem não tenha capacidade postulatória deve ser sanado em tem- tiva/desconstitutiva, condenatória, mandamental e executiva lato
po hábil, sob pena de não produzir efeitos no processo, nos ter- sensu).
mos do art. 104, §2º: “o ato não ratificado será considerado ineficaz O processo de execução é o que se presta à satisfação do cre-
relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o dor. Em outras palavras, a pessoa que ingressa com o processo de
advogado pelas despesas e por perdas e danos”. execução já possui um título executivo, que pode ser judicial ou ex-
trajudicial, mas o devedor se recusa a cumprir com a obrigação ali
1.3 Pressupostos processuais negativos reconhecida. Então, não é preciso declarar um direito ou obter uma
- Perempção: é a perda do Direito de Ação, Ou seja, de deman- condenação – a obrigação existe e já está consubstanciada no títu-
dar acerca do mesmo objeto da ação, quando o autor abandona lo – mas sim é necessário tomar providências concretas para que o
o processo por três vezes. É a sanção processual ocasionada pelo devedor cumpra com a obrigação.
descaso do requerente, na condução da ação privada. Ao propor O processo cautelar ou de antecipação de tutela (processo de
pela quarta vez a ação, o processo será extinto sem resolução do urgência), por seu turno, pode trazer um pedido cautelar ou um
mérito por perempção. pedido de antecipação de tutela. A diferença é que na tutela anteci-
- Litispendência e coisa julgada: Os fenômenos associados a pada de mérito o juiz concede (total ou parcialmente) o provimento
ações idênticas são a litispendência e a coisa julgada que assemel- jurisdicional, ainda que em caráter provisório, antes do momento
ham-se porque em ambas reproduz-se uma ação que foi anterior- em que normalmente o faria (sentença). Então, na tutela antecipa-
mente ajuizada, diferenciam-se pelo fato da ação repetida já estar da o juiz adianta a resposta de mérito que, caso contrário, apenas
extinta ou não (haverá litispendência se a ação repetida estiver em viria na sentença. Diferentemente, na medida cautelar são tomadas
curso e coisa julgada se a ação repetida já foi decidida por sentença, providências que visam afastar um risco existente para garantir a
de que não caiba recurso, sendo que uma ação é idêntica a outra eficácia do provimento jurisdicional. Logo, não há adiantamento do
quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mes- pedido.
mo pedido). Tanto o pedido cautelar quando o pedido de tutela antecipa-
Quando se afirma que os elementos da ação delimitam os lim- da podem ser feitos em processo autônomo, antes do processo de
ites subjetivos e objetivos da coisa julgada deve-se entender que é conhecimento principal (caráter antecipado), ou dentro do proces-
com base nestes elementos que identifica-se uma ação quanto aos so principal (caráter incidental). Neste sentido, merece menção a
sujeitos envolvidos e ao objeto demandado e uma vez julgada em regra prevista no artigo 299 que vale tanto para a solicitação inci-
definitivo esta ação formar-se-á coisa julgada, não se aceitando que dental quanto para a antecedente: “a tutela provisória será requeri-
no futuro se proponha uma ação idêntica para alterar o dispositivo da ao juízo da causa e, quando antecedente, ao juízo competente
da decisão de mérito (limites objetivos) ou para excluir os efeitos da para conhecer do pedido principal. Parágrafo único. Ressalvada
decisão em relação a uma das partes (limites subjetivos). disposição especial, na ação de competência originária de tribunal
Basicamente, coisa julgada é o fenômeno que impede a prop- e nos recursos a tutela provisória será requerida ao órgão jurisdi-
ositura de uma ação que já foi anteriormente julgada em seu méri- cional competente para apreciar o mérito”. No mais, a competência
to, transitando em julgado a decisão, diga-se, não cabendo mais jurisdicional para a formulação do pedido de tutela provisória ob-
recurso da decisão. Esgotados os recursos, a sentença transita em serva as regras comuns.
julgado, e não pode mais ser modificada. Até então, a decisão não ATENÇÃO: Embora o novo Código de Processo Civil tenha ex-
terá se tornado definitiva, podendo ser substituída por outra. Sem a tinguido o livro exclusivamente dedicado ao processo cautelar, não
coisa julgada, não haveria segurança jurídica nas decisões. se pode dizer que este tipo de processo deixou de existir, notada-
A coisa julgada é um fenômeno único ao qual correspondem mente porque ainda é possível a formulação de pedido cautelar em
dois aspectos: um meramente processual ou formal, que ocorre no processo autônomo.
processo em que a sentença é proferida, independentemente dela Quando da sua elaboração, o Código de Processo Civil de 1973
ser de mérito ou não, apenas impedindo outro recurso daquela era bastante rigoroso quanto a estes processos, impedindo que
sentença naquele processo (endoprocessual); outro que se proje- mais de uma modalidade se fizesse presente nos mesmos autos

12
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
processuais. Por exemplo, às vezes, para solucionar um litígio, era no qual são apresentadas duas peças contestatórias pelo réu. A se-
preciso um processo cautelar, um processo de conhecimento e um gunda delas não deve ser conhecida pelo magistrado, por ter se
processo de execução – três processos diferentes para resolver um operado a preclusão consumativa.
só problema. Evidentemente, acabava-se criando um obstáculo ao Em relação aos magistrados, a doutrina é pacífica no sentido
acesso à justiça. Aos poucos o sistema processual foi se adaptan- de que a preclusão opera-se pro iudicato. Cuida-se de modalidade
do. Primeiramente, pela aceitação de que tanto a cautelar quanto preclusiva na qual um juiz não pode, após decidir determinado
a tutela antecipada poderiam ser admitidas no curso do processo caso, voltar a decidí-lo, sob pena de quebra da segurança jurídica.
de conhecimento ou requeridas na petição inicial deste, conforme Encontra-se estabelecida no Art. 505 do Novo Diploma Processual,
surgisse a urgência/emergência. Depois, pela Lei nº 11.232/2005, o “nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas
processo de execução deixou de ser autônomo em regra, podendo a a mesma lide”.
pessoa ao final do processo executar a sentença nos próprios autos
(cumprimento de sentença). Os processos, antes autônomos, foram
transformados em fases: fase cautelar, fase de conhecimento, fase
de execução. Este novo modo de estrutura do processo denomi- SUJEITOS DO PROCESSO. CAPACIDADE PROCESSUAL E
na-se processo sincrético. O novo CPC adotou a mesma sistemática POSTULATÓRIA. DEVERES DAS PARTES E PROCURADO-
de processo sincrético e inclusive a intensificou quando passou a RES. PROCURADORES.SUCESSÃO DAS PARTES E DOS
disciplinar no mesmo livro os processos/as fases de conhecimento PROCURADORES.LITISCONSÓRCIO
e de urgência (cautelar/antecipada).
A relação jurídico-processual é, essencialmente, composta por
partes que se contrapõem e por um terceiro imparcial que tem o
poder-dever de resolver a controvérsia entre elas. Sendo assim, não
PRECLUSÃO há relação jurídico-processual sem partes. Isso coloca as partes na
posição de sujeitos do processo.
A preclusão significa, para Chiovenda, a perda, extinção ou Contudo, como se aprofundará adiante, não basta a capacida-
consumação de uma faculdade processual pelo fato de se haverem de para ser parte, razão pela qual na maior parte das vezes se faz
alcançado os limites assinalados por lei ao seu exercício. necessária a representação.
O novo diploma processual estatui, em seu Art. 507, que é “ve-
dado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas 1. Capacidade processual e postulatória
a cujo respeito se operou a preclusão”. Três tipos de capacidades se fazem presentes enquanto pres-
A preclusão tem como corolário lógico o fato de ser o proces- supostos processuais:
so um fluxo continuado, que se direciona à prestação da atividade
jurisdicional, e busca, dentre outros objetivos, ser efetivo e célere. a) Capacidade para ser parte
Neste sentido, o legislador veda, por regra, a nova prática de Todas as pessoas, físicas e jurídicas, e até alguns entes desper-
atos processuais já praticados, ou que se deixaram de praticar, ou, sonalizados, têm capacidade de ser parte. Neste sentido, disciplina
ainda, que contradizem com atos anteriormente praticados pelos o artigo 70, CPC: “Toda pessoa que se encontre no exercício de seus
sujeitos processuais. Tem-se, portanto, três principais espécies de direitos tem capacidade para estar em juízo”.
preclusão: Enfim, basta ser titular de direitos e deveres perante a ordem
a) preclusão temporal; jurídica para poder ser parte. São exemplos de entes despersonali-
b) preclusão lógica; zados que possuem capacidade para ser parte: massa falida (univer-
c) preclusão consumativa. salidade de bens e interesses, ativos e passivos, deixados por uma
empresa que teve a falência decretada); espólio (universalidade de
Passa-se a uma breve classificação: bens e interesses deixados por aquele que faleceu); herança jacen-
A) A preclusão temporal: encontra-se manifestada no Art. 223 te e vacante (herança de alguém que faleceu sem deixar herdeiros
do NCPC. conhecidos e que será recolhida pelo Estado); condomínio em edi-
Art. 223. Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou fícios; sociedades de fato/irregulares; pessoa jurídica estrangeira; e
de emendar o ato processual, independentemente de declaração nascituro (para ele a aquisição de direitos e obrigações está sujeita
judicial, ficando assegurado, porém, à parte provar que não o real- a um evento futuro e incerto, o nascimento com vida).
izou por justa causa
Cuida-se, evidentemente, de sanção processual imposta aos b) Capacidade processual
desatentos, pois decorre da ausência de prática do ato processual Somente pessoas que se achem no exercício de seus direitos
no prazo assinalado. Tal modalidade de preclusão direciona-se têm capacidade para estar em juízo, ou seja, somente pessoas físi-
às partes, pois os magistrados possuem prazos impróprios para a cas maiores e capazes têm capacidade processual. Incapazes, para
prática de seus atos processuais, por regra. irem a juízo, terão que ser representados (absolutamente incapa-
Exemplo: A parte que não apresentou a contestação no prazo zes) ou assistidos (relativamente incapazes). Neste sentido, o artigo
legal, após citada, não pode apresentá-la intempestivamente, pois 71, CPC prevê que “o incapaz será representado ou assistido por
operou-se a preclusão temporal. seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei”.
B) A preclusão lógica: Segundo Theodoro, “É a que ‘decorre da Pessoas jurídicas, para irem a juízo, necessitarão da represen-
incompatibilidade entre o ato praticado e outro, que se queria prat- tação pelas pessoas designadas no contrato social ou estatuto no
icar também’. Quem, por exemplo, aceitou uma sentença, expressa caso de pessoas jurídicas de direito privado e pelos gestores da coi-
ou tacitamente, não mais poderá interpor recurso contra ela (art. sa pública no caso das pessoas jurídicas de direito público (ex.: Pre-
1.000 CPC)”. feito ou Procurador Municipal representam o município). A massa
C) Preclusão consumativa: Decorre da prática do ato, não im- falida é representada por um administrador judicial; o espólio por
portando o êxito do mesmo. Uma vez praticado o ato, não pode um inventariante; a herança jacente/vacante pelo curador; o con-
este ser praticado novamente. Um exemplo clássico é o processo domínio em edifícios pelo síndico; as sociedades irregulares pelos

13
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
que exercem as suas atividades; a pessoa jurídica estrangeira pelo § 1o Descumprida a determinação, caso o processo esteja na
representante autorizado no Brasil; o nascituro por seus genitores; instância originária:
tal como consta do artigo 75, CPC: I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor;
Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber;
I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo,
mediante órgão vinculado; dependendo do polo em que se encontre.
II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores; § 2o Descumprida a determinação em fase recursal perante
III - o Município, por seu prefeito ou procurador; tribunal de justiça, tribunal regional federal ou tribunal superior, o
IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei relator:
do ente federado designar; I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao re-
V - a massa falida, pelo administrador judicial; corrente;
VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador; II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a
VII - o espólio, pelo inventariante; providência couber ao recorrido.
VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitu- d) Capacidade para consentir livremente
tivos designarem ou, não havendo essa designação, por seus dire- A lei, às vezes, para a celebração de certos negócios jurídicos,
tores; exige além da capacidade geral uma capacidade específica, mais
IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes orga- intensa que a normal. É o que ocorre quando se exige a chamada
nizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a outorga uxória ou autorização marital, quando um cônjuge precisar
administração de seus bens; autorizar que o outro aliene ou onere bem imóvel, sempre que o
X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante regime de bens não for o de separação absoluta.
ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou insta- Tal disposição do direito material gera reflexos no direito pro-
lada no Brasil; cessual, razão pela qual as ações que versem sobre direito real imo-
XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico. biliário devem ser propostas com consentimento do cônjuge (pro-
§ 1o Quando o inventariante for dativo, os sucessores do faleci- prietário + cônjuge no polo ativo). Da mesma forma, contra ambos
do serão intimados no processo no qual o espólio seja parte. os cônjuges serão citados se a ação proposta contra um deles versar
§ 2o A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não sobre direito real imobiliário, disser respeito a fato ou ato relacio-
poderá opor a irregularidade de sua constituição quando deman- nado a ambos, se referir a dívida contraída por um deles a bem
dada. da família ou buscar reconhecer, constituir ou extinguir ônus sobre
§ 3o O gerente de filial ou agência presume-se autorizado pela imóvel que pertença a um ou a ambos. Neste sentido, os artigos 73
pessoa jurídica estrangeira a receber citação para qualquer proces- e 74, CPC:
so. Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro
§ 4o Os Estados e o Distrito Federal poderão ajustar compromis- para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo
so recíproco para prática de ato processual por seus procuradores quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.
em favor de outro ente federado, mediante convênio firmado pelas § 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para
respectivas procuradorias. a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casa-
c) Capacidade postulatória dos sob o regime de separação absoluta de bens;
Trata-se da capacidade para postular em juízo, somente confe- II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges
rida a pessoas determinadas que obtiveram o reconhecimento da ou de ato praticado por eles;
qualificação para tanto perante os órgãos competentes. É o caso III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem
do advogado, bacharel em Direito aprovado em exame da Ordem da família;
dos Advogados do Brasil; ou do Promotor de Justiça ou Procurador IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou
da República, representantes do Ministério Público bacharéis em a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
Direito com três anos de atividade jurídica aprovados em concurso § 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do au-
de provas e títulos. Disciplina o artigo 103, CPC, que “a parte será tor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse
representada em juízo por advogado regularmente inscrito na Or- ou de ato por ambos praticado.
dem dos Advogados do Brasil”, assegurando no parágrafo único que § 3o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável compro-
“é lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitação vada nos autos.
legal”, ou seja, pode um advogado atuar diretamente como parte Art. 74. O consentimento previsto no art. 73 pode ser suprido
e advogado de si mesmo. Vale destacar que em alguns processos é
judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo
dispensada a capacidade postulatória permitindo que a parte pos-
motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo.
tule em juízo sozinha, como ocorre nos juizados especiais cíveis em
Parágrafo único. A falta de consentimento, quando necessário
causas de até 20 salários mínimos na primeira instância.
e não suprido pelo juiz, invalida o processo.
Caso a capacidade processual ou a representação processual
estejam deficientes, o juiz deve suspender o processo e marcar pra-
2. Deveres das partes e dos procuradores
zo suficiente para que o vício seja sanado. Na instância originária,
Os deveres das partes e dos seus procuradores estão descritos
se o erro for da parte do autor, o juiz extinguirá o processo se per-
sistir a irregularidade; se do réu, reputá-lo-á revel; se de terceiro, o no CPC, tendo como ponto de partida o reconhecimento de que de-
excluirá do processo. Na instância recursal, se o erro for do recor- vem agir com lealdade e boa-fé. Proceder com lealdade e boa-fé, a
rente, não conhecerá do recurso; se o erro for do recorrido, serão rigor, abrange todas as outras obrigações. Não obstante, a questão
desentranhadas as contrarrazões. Neste sentido, disciplina o artigo é complementada pela disciplina da litigância de má-fé.
76, CPC: Consta nos artigos 77 e 78 do Código de Processo Civil:
Art. 76. Verificada a incapacidade processual ou a irregulari- Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das
dade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer
designará prazo razoável para que seja sanado o vício. forma participem do processo:

14
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
I - expor os fatos em juízo conforme a verdade; reza provisória ou final, e de não criar embaraços à sua efetivação,
Exige-se que deliberadamente se falseie a verdade sobre fato bem como a prática de fraude à execução, caso em que se retomará
fundamental da causa. O que não se admite é a mentira consciente o estado patrimonial anterior à fraude (artigo 77, IV e VI). A multa
e intencional. Não há violação quando a parte examina os fatos de será revertida à União ou ao Estado (conforme a justiça seja federal
maneira mais favorável aos seus interesses. ou estadual). Seu valor é de até 20% sobre o valor da causa ou, se
II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando este for irrisório ou inestimável, de até 10 vezes o salário mínimo. O
cientes de que são destituídas de fundamento; não pagamento gera inscrição de dívida ativa. A multa é aplicada à
Aquele que relata os fatos e formula pretensão deve crer nos parte, sendo que a conduta do representante, advogado ou outro,
fatos e na pretensão oriunda deles. Como é complicado perquirir deve ser apurada perante o respectivo órgão de classe.
este nível de subjetividade, na prática, somente o erro grosseiro As demais hipóteses do artigo 77, incisos I a III e V, são práticas
gera a violação deste dever e a consequente pena de litigância de de litigância de má-fé.
má-fé. Art. 78. É vedado às partes, a seus procuradores, aos juízes, aos
III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desne- membros do Ministério Público e da Defensoria Pública e a qualquer
cessários à declaração ou à defesa do direito; pessoa que participe do processo empregar expressões ofensivas
As provas produzidas devem ser pertinentes, apropriadas para nos escritos apresentados.
demonstrar aquilo que é objeto de discussão no curso do processo. § 1º Quando expressões ou condutas ofensivas forem
IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natu- manifestadas oral ou presencialmente, o juiz advertirá o ofensor
reza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação; de que não as deve usar ou repetir, sob pena de lhe ser cassada a
Não embaraçar a efetividade do processo e das decisões judi- palavra.
ciais. § 2º De ofício ou a requerimento do ofendido, o juiz determinará
V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos que as expressões ofensivas sejam riscadas e, a requerimento do
autos, o endereço residencial ou profissional onde receberão inti- ofendido, determinará a expedição de certidão com inteiro teor das
mações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer expressões ofensivas e a colocará à disposição da parte interessada.
modificação temporária ou definitiva; Considerado o teor dos dispositivos mencionados, relevante
No inciso V há inclusão de uma hipótese não prevista no estudar a questão da litigância de má-fé.
CPC/1973, consistente no dever de informar na primeira oportu- Art. 79. Responde por perdas e danos aquele que litigar de
nidade o endereço para recebimento de intimações, renovando a má-fé como autor, réu ou interveniente.
informação sempre que for o caso. Art. 80. Considera-se litigante de má-fé aquele que:
VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou
direito litigioso. fato incontroverso;
No inciso VI também se encontra uma hipótese não menciona- II - alterar a verdade dos fatos;
da no CPC/1973, referente à prática de fraude à execução. III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;
§ 1º Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
das pessoas mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato
punida como ato atentatório à dignidade da justiça. do processo;
§ 2º A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato VI - provocar incidente manifestamente infundado;
atentatório à dignidade da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protela-
sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsá- tório.
vel multa de até vinte por cento do valor da causa, de acordo com Além das práticas descritas no artigo 80, também aquelas enu-
a gravidade da conduta. meradas no artigo 77, incisos I a III e V, são consideradas atos de
§ 3º Não sendo paga no prazo a ser fixado pelo juiz, a multa litigância de má-fé.
prevista no § 2º será inscrita como dívida ativa da União ou do Art. 81. De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigan-
Estado após o trânsito em julgado da decisão que a fixou, e sua exe- te de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento
cução observará o procedimento da execução fiscal, revertendo-se e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar
aos fundos previstos no art. 97. a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os
§ 4º A multa estabelecida no § 2º poderá ser fixada honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou.
independentemente da incidência das previstas nos arts. 523, § 1º, § 1º Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o
e 536, § 1º. juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse
§ 5º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a
multa prevista no § 2º poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o parte contrária.
valor do salário-mínimo. § 2º Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a
§ 6º Aos advogados públicos ou privados e aos membros da multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-
Defensoria Pública e do Ministério Público não se aplica o disposto -mínimo.
nos §§ 2º a 5º, devendo eventual responsabilidade disciplinar ser § 3º O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não
apurada pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria, ao qual seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo proce-
o juiz oficiará. dimento comum, nos próprios autos.
§ 7º Reconhecida violação ao disposto no inciso VI, o juiz No caso de litigância de má-fé, a multa se reverte a favor da
determinará o restabelecimento do estado anterior, podendo, ain- vítima, partindo de 1% a 10% do valor da causa, sem prejuízo de
da, proibir a parte de falar nos autos até a purgação do atentado, indenização (se necessário, liquidada por arbitramento ou proce-
sem prejuízo da aplicação do § 2º. dimento comum nos próprios autos, isto é, por meio do procedi-
§ 8º O representante judicial da parte não pode ser compelido mento de liquidação de sentença) e honorários advocatícios. Se o
a cumprir decisão em seu lugar. valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa pode ser de até
Os parágrafos do artigo 77 regulamentam os atos atentatórios 10 vezes o salário mínimo.
à dignidade da justiça. É considerado ato atentatório falhar com o
dever de cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natu-

15
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Adiante, finalizando a abordagem sobre os deveres das partes § 2o A procuração deverá conter o nome do advogado, seu nú-
e de seus procuradores, o Código de Processo Civil aborda as despe- mero de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço
sas, os honorários advocatícios e as multas, do artigo 82 ao 97, para completo.
então especificar sobre a gratuidade da justiça, do artigo 98 a 102. § 3o Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a pro-
Neste sentido, é dever das partes prover as despesas dos atos curação também deverá conter o nome dessa, seu número de re-
que realizarem ou requererem no processo, salvo se beneficiárias gistro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo.
da gratuidade da justiça. A parte deverá pagar de forma adiantada § 4o Salvo disposição expressa em sentido contrário constante
todas as despesas que realizar no curso do processo e, ao final, a do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de conhe-
parte vencida terá o dever de ressarci-las. Em caso de procedên- cimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive para o
cia parcial, as despesas serão repartidas proporcionalmente entre cumprimento de sentença.
as partes, salvo se um deles sucumbir em parte mínima. Em caso A procuração é o instrumento que habilita o advogado para a
de desistência, renúncia ou reconhecimento do pedido, cabe o pa- prática dos atos processuais, devendo constar todos os poderes que
gamento das despesas a quem desistiu, renunciou ou reconheceu. a parte confere ao advogado de forma específica. Algumas informa-
Consideram-se despesas: as custas dos atos do processo, a indeni- ções são obrigatórias, como nome do advogado, número da OAB,
zação de viagem, a remuneração do assistente técnico e a diária de endereço e dados sobre a sociedade de advogados se houver. Basta
testemunha. uma outorga de procuração ao longo de todo o processo.
Além da condenação ao pagamento de despesas processuais, Art. 106. Quando postular em causa própria, incumbe ao ad-
também caberá ao vencido arcar com os honorários de sucumbên- vogado:
cia, que consistem em parcela de honorários devida ao advogado I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço,
representante da parte vitoriosa. No caso de procedência parcial, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o
a sucumbência é recíproca. O valor será de no mínimo de dez e no nome da sociedade de advogados da qual participa, para o recebi-
máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação. O per- mento de intimações;
centual varia no caso de ações em que a Fazenda Pública for parte, II - comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço.
reduzindo-se o percentual quanto maior o valor da condenação, § 1o Se o advogado descumprir o disposto no inciso I, o juiz or-
conforme faixas instituídas no artigo 85, CPC. Já se o proveito eco- denará que se supra a omissão, no prazo de 5 (cinco) dias, antes de
nômico for inestimável ou irrisório, o juiz arbitrará os honorários de determinar a citação do réu, sob pena de indeferimento da petição.
sucumbência de forma equitativa. Os honorários de sucumbência § 2o Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão con-
são devidos mesmo se o advogado atuar em causa própria e tam- sideradas válidas as intimações enviadas por carta registrada ou
bém devem ser pagos aos advogados públicos. meio eletrônico ao endereço constante dos autos.
Art. 107. O advogado tem direito a:
3. Procuradores I - examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribunal,
A atuação dos procuradores, representantes das partes, está mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independen-
disciplinada no CPC dos artigos 103 a 107, que trata da representa- temente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias
ção e de seu instrumento (procuração), bem como da possibilidade e o registro de anotações, salvo na hipótese de segredo de justiça,
de advocacia em causa própria àqueles que possuam capacidade nas quais apenas o advogado constituído terá acesso aos autos;
postulatória (advogados) e das prerrogativas processuais. II - requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer
Art. 103. A parte será representada em juízo por advogado re- processo, pelo prazo de 5 (cinco) dias;
gularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. III - retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo prazo
Parágrafo único. É lícito à parte postular em causa própria legal, sempre que neles lhe couber falar por determinação do juiz,
quando tiver habilitação legal. nos casos previstos em lei.
É preciso ser advogado para postular em causa própria. § 1o Ao receber os autos, o advogado assinará carga em livro
Noutros casos, a parte deve ser representada por advogado. Trata- ou documento próprio.
se da chamada capacidade postulatória. § 2o Sendo o prazo comum às partes, os procuradores poderão
Art. 104. O advogado não será admitido a postular em juízo retirar os autos somente em conjunto ou mediante prévio ajuste,
sem procuração, salvo para evitar preclusão, decadência ou pres- por petição nos autos.
crição, ou para praticar ato considerado urgente. § 3o Na hipótese do § 2o, é lícito ao procurador retirar os autos
§ 1o Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, in- para obtenção de cópias, pelo prazo de 2 (duas) a 6 (seis) horas,
dependentemente de caução, exibir a procuração no prazo de 15 independentemente de ajuste e sem prejuízo da continuidade do
(quinze) dias, prorrogável por igual período por despacho do juiz. prazo.
§ 2o O ato não ratificado será considerado ineficaz relativa- § 4o O procurador perderá no mesmo processo o direito a que
mente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o advoga- se refere o § 3o se não devolver os autos tempestivamente, salvo se
do pelas despesas e por perdas e danos. o prazo for prorrogado pelo juiz.
O advogado somente pode atuar sem procuração no caso de O advogado tem direito de consultar qualquer processo (salvo
atos urgentes, exibindo procuração em 15 dias, prorrogáveis por segredo de justiça), podendo requerer vista com retirada do cartó-
mais 15, sob pena de tornar-se sem efeito o ato. rio daqueles em que atue como procurador.
Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por ins-
trumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advo- 4. Sucessão das partes e dos procuradores
gado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, Dos artigos 108 a 112, disciplina-se a sucessão das partes e dos
confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, procuradores, que basicamente significa a troca de uma das par-
renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar tes (por motivos como morte em ações não personalíssimas) ou do
quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossufi- procurador (revogação ou renúncia de mandato), com o seguinte
ciência econômica, que devem constar de cláusula específica. teor:
§ 1o A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma Art. 108.  No curso do processo, somente é lícita a sucessão
da lei. voluntária das partes nos casos expressos em lei.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 109.  A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato querimento de limitação feito pelo réu interrompe o prazo e, caso
entre vivos, a título particular, não altera a legitimidade das partes. seja feito com intuito protelatório, enseja pena de litigância de má-
§ 1o O adquirente ou cessionário não poderá ingressar em juí- -fé (não se caça a interrupção porque a lei não prevê esta sanção).
zo, sucedendo o alienante ou cedente, sem que o consinta a parte Todos os processos que, em decorrência do desmembramento,
contrária. se formarem correrão perante o mesmo juízo ao qual foi distribuído
§ 2o O adquirente ou cessionário poderá intervir no processo o processo originário.
como assistente litisconsorcial do alienante ou cedente. Artigo 113, CPC.
§ 3o Estendem-se os efeitos da sentença proferida entre as par- § 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto
tes originárias ao adquirente ou cessionário. ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de
Art. 110.  Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solu-
a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o ção do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.
disposto no art. 313, §§ 1o e 2o. § 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para ma-
Art. 111.  A parte que revogar o mandato outorgado a seu ad- nifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão
vogado constituirá, no mesmo ato, outro que assuma o patrocínio que o solucionar.
da causa.
Parágrafo único.   Não sendo constituído novo procurador no 3. Litisconsórcio necessário
prazo de 15 (quinze) dias, observar-se-á o disposto no art. 76. A respeito do litisconsórcio necessário, dispõe o CPC:
Art. 112.  O advogado poderá renunciar ao mandato a qual- Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de
quer tempo, provando, na forma prevista neste Código, que comu- lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a
nicou a renúncia ao mandante, a fim de que este nomeie sucessor. eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser
§ 1o Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continua- litisconsortes.
rá a representar o mandante, desde que necessário para lhe evitar Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a inte-
prejuízo gração do contraditório, será:
§ 2o Dispensa-se a comunicação referida no caput quando a I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos
procuração tiver sido outorgada a vários advogados e a parte conti- que deveriam ter integrado o processo;
nuar representada por outro, apesar da renúncia. II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram
citados.
Litisconsórcio Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário,
Trata-se de um fenômeno processual no qual duas ou mais o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que
pessoas figuram como autoras e/ou rés no processo. Não há multi- devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de
plicidade de processos, mas multiplicidade de partes num mesmo extinção do processo.
processo. Litisconsórcio necessário é aquele que obrigatoriamente deve-
As razões pelas quais a lei o admite e, por vezes, o obriga, são: rá ser formado. Neste sentido, o juiz poderá adotar medidas para a
economia processual, fazendo num só processo o que antes seria integração dos polos da ação, obrigando ao autor requerer a cita-
feito em vários, e harmonia dos julgados, evitando que partes em ção ou juntar procuração dos demais que deveriam figurar no polo
situação jurídica idêntica recebam uma resposta jurisdicional dife- ativo, aditando a inicial para acrescentar tais partes, sob pena de
rente. extinção do processo por ausência de pressupostos processuais de
existência (ausência de partes).
1. Classificação
a) Quanto à composição: será ativo se figurarem múltiplas par- São duas as hipóteses de litisconsórcio necessário:
tes como autoras (polo ativo da ação); será passivo se figurarem a) Por força de lei: sempre que a lei determinar, deverá ser
múltiplas partes como rés (polo passivo da ação); será misto ou bi- formado o litisconsórcio. No caso, não importa se o resultado será
lateral se figurarem múltiplas partes tanto no polo ativo quanto no ou não o mesmo, o litisconsórcio poderá ser simples ou unitário.
polo passivo da ação. Ex.: usucapião – devem ser citados todos os confrontantes, tercei-
b) Quanto à obrigatoriedade: será necessário quando a sua ros possivelmente interessados, proprietário que conste no registro
formação for obrigatória e será facultativo quando a sua formação (para cada qual o resultado será diverso). Outra hipótese de litiscon-
for optativa. sórcio necessário por força de lei é o que se forma entre cônjuges.
c) Quanto ao resultado: será unitário se o resultado tiver que Obs.: No caso dos cônjuges, vale ressaltar que deverão estar
ser o mesmo para os litisconsortes e será simples se o resultado juntos no polo processual sempre que o bem pertencer aos dois,
puder ser diferente para estes. independente de estar ou não registrado no nome dos dois. Basica-
mente, sempre deverão estar juntos se o bem foi adquirido na cons-
2. Litisconsórcio multitudinário tância do casamento para a comunhão parcial e demais regimes; a
O Código de Processo Civil prevê a possibilidade de limitação qualquer tempo para a comunhão universal. Mesmo se o regime
no número de litisconsortes no processo pelo magistrado em cir-
for o de separação total, se adquiriram juntos o bem e registraram
cunstâncias determinadas. Trata-se da situação de litisconsórcio
como pertencente a ambos, precisam litigar juntos (não por conta
multitudinário.
do vínculo matrimonial, mas sim devido ao vínculo patrimonial de
Exige-se que o litisconsórcio seja facultativo, pois se for neces-
copropriedade). A questão se refere aos bens adquiridos fora da
sário não importa o número de litisconsortes porque obrigatoria-
constância da união, como bens possuídos anteriormente a ela. No
mente terão que litigar juntos, bem como que se façam presentes
caso, ainda assim, será preciso outorga uxória (mulher para o ho-
alternativamente um dos seguintes requisitos: comprometimento à
mem) e autorização marital (homem para a mulher), regularizando
rápida solução do litígio (número exagerado de réus) ou prejuízo ao
direito de defesa (número exagerado de autores). o polo processual. Somente se dispensa esta nos regimes da separa-
A limitação poderá ser determinada pelo juiz de ofício ou a re- ção total de bens e de participação final nos aquestos com cláusula
querimento do réu, mas não a requerimento do autor, pois foi ele específica em pacto antenupcial.
que propôs a demanda e definiu quem iria compor os polos. O re-

17
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
b) Por conta da natureza da relação jurídica: Se a relação ju-
rídica for uma e incindível, tanto que a resposta tenha que ser a INTERVENÇÃO DE TERCEIROS
mesma para as partes, então o litisconsórcio será necessário. Em
outras palavras, se o litisconsórcio for unitário, será necessário. Ex.: Terceiro é aquele que não figura como parte no processo. A in-
todos proprietários do bem precisam ingressar com uma ação de tervenção de terceiros ocorre quando alguém ingressa em processo
nunciação de obra juntos. alheio que esteja pendente. Tal intervenção somente se justifica se
Ocorre que a legislação prevê um caso em que, mesmo que o a esfera jurídica do terceiro puder ser atingida de alguma maneira
litisconsórcio seja unitário, será facultada a composição do litiscon- pela decisão judicial. Sendo assim, a pessoa não é parte, mas como
sórcio. Trata-se de litisconsórcio facultativo unitário. Isso aconte- pode ser juridicamente afetada pela decisão ingressa na relação ju-
ce sempre que a lei prevê hipótese de legitimidade extraordinária, rídico-processual como terceiro.
quando uma pessoa pode litigar em nome de direito alheio (ex.: um As diversas modalidades de intervenção podem ser agrupadas
síndico pode defender o prédio inteiro; o Ministério Público pode em dois grupos:
defender certos interesses indisponíveis; uma pessoa que tenha a) Intervenções voluntárias ou espontâneas – aquelas em que
posse com outras pode sozinha proteger a coisa toda de terceiros). a iniciativa parte do terceiro – assistência e recurso de terceiro pre-
judicado, notadamente. Ressalta-se que a oposição foi extinta no
4. Litisconsórcio facultativo CPC/2015 e se enquadraria nesta categoria. Por seu turno, cria-se
Art. 113, CPC. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo no CPC/2015 a figura do “amicus curiae” (antes restrita aos recur-
processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: sos extraordinários e às ações diretas de inconstitucionalidade) que
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações pode ser enquadrada nesta modalidade.
relativamente à lide; b) Intervenções provocadas – aquelas que são provocadas pe-
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa las partes, que postulam que o terceiro seja compelido a participar
de pedir; – denunciação da lide e chamamento ao processo, notadamente. A
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou nomeação à autoria que se enquadraria neste grupo foi extinta no
de direito. CPC/2015. Por sua vez, o CPC/2015 cria a modalidade de incidente
Todos os incisos se referem à conexão, partindo da espécie de desconsideração da personalidade jurídica, chamando os sócios
mais intensa que é a comunhão de direitos e obrigações (ex.: solida- aos autos como terceiros, que se enquadra nesta modalidade.
riedade), passando pela conexão clássica intermediária, chegando à Não obstante, é possível dividi-las em outros dois grupos:
conexão mínima por simples afinidade. a) Com natureza de ação – aquelas que implicam na formu-
lação de novo pedido – denunciação da lide (se formula em face
5. Litisconsórcio unitário e simples do denunciado uma postulação de exercício de direito de regresso)
Art. 116. O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza e chamamento ao processo (fiador e devedor solidário possuem a
da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo unifor- pretensão de reembolso em face do devedor principal ou dos code-
me para todos os litisconsortes. vedores). Inclui-se também a futuramente extinta oposição (o ter-
Se o resultado tem que ser o mesmo para todas as partes, en- ceiro tem a mesma pretensão que as partes). O incidente de des-
tão o litisconsórcio é unitário. Ex.: num divórcio não é possível que consideração da personalidade jurídica tem natureza de ação, pois
o resultado seja diferente para os cônjuges. chama aos autos uma nova parte, que poderá ter seu patrimônio
Se o resultado pode ser diferente para as partes em litisconsór- atingido.
cio (basta poder ser diferente, não tem que ser diferente), então o b) Sem natureza de ação – aquelas que não ampliam os limi-
litisconsórcio é simples. tes objetivos da demanda, que não implicam em formulação de um
novo pedido – assistência (o terceiro apenas auxilia uma das partes
6. Regime de litisconsórcio a obter um resultado mais favorável). Inclui-se a futuramente ex-
Art. 117, CPC. Os litisconsortes serão considerados, em suas tinta nomeação à autoria (ocorre substituição processual no polo
relações com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no passivo). A modalidade “amicus curiae” se enquadra nesta classifi-
litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um cação, pois ele atua em busca do melhor interesse do órgão juris-
não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar. dicional (decisão mais justa), não alterando os limites da demanda.
Por regime de litisconsórcio entenda-se o tratamento jurídico
que será dado aos atos praticados pelos litisconsortes no processo. 1. Assistência
O regime que é a regra geral é o da autonomia, aplicável a to- Com o nome de assistência, o CPC trata de dois institutos dis-
dos os casos de litisconsórcio simples. Sendo assim, as atitudes de tintos, tanto nos requisitos quanto nos poderes do interveniente e
um litisconsorte não prejudicarão nem beneficiarão os demais. os efeitos que ele sofre.
Contudo, no litisconsórcio unitário o resultado tem que ser o O procedimento de ingresso, por seu turno, é o mesmo – o as-
mesmo. Então, o regime não é o da autonomia, mas o da interde- sistente peticiona ao juiz, requerendo o seu ingresso e indicando o
pendência, de modo que o que um fizer beneficiará o outro, mas interesse jurídico que autoriza a sua admissão. O juiz pode indeferir
não poderá prejudicar. Ex.: se um produz uma prova contundente, de plano se perceber que a intervenção não é cabível. Se a interven-
ela o beneficiará; se o mesmo renuncia ao direito ou reconhece a ção parecer cabível, abrirá prazo para as partes se manifestarem so-
procedência do pedido, o ato não o prejudicará. bre o ingresso. Se permanecerem silentes, significa que o ingresso
Preconiza ainda a legislação processual civil: foi aceito. Se impugnarem o ingresso, o juiz decidirá sem suspender
Art. 118, CPC. Cada litisconsorte tem o direito de promover o o processo.
andamento do processo, e todos devem ser intimados dos respec- Art. 120, CPC. Não havendo impugnação no prazo de 15 (quin-
tivos atos. ze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo se for caso de
rejeição liminar.
Parágrafo único. Se qualquer parte alegar que falta ao reque-
rente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem
suspensão do processo.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
a) Assistência simples Art. 123, CPC. Transitada em julgado a sentença no processo
O fundamento principal para que o terceiro intervenha na qua- em que interveio o assistente, este não poderá, em processo poste-
lidade de assistente simples é que tenha interesse jurídico em que rior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que:
a sentença seja favorável a uma das partes, a assistida. Para tanto, é I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações
preciso que o terceiro seja atingido pelos efeitos da sentença. e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis
O assistente simples não é, nem se alega, titular da relação jurí- de influir na sentença;
dica que está sendo discutida em juízo. Se o fosse, não seria tercei- II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das
ro, mas parte. No entanto, é titular de relação jurídica que mantém quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.
estreita ligação com a que está em juízo. Sob o aspecto dos efeitos da sentença, o assistente simples não
Os terceiros devem ser juridicamente interessados, ou seja, é atingido pela sentença – e nem poderia, pois não é titular da re-
não podem ser desinteressados e nem interessados de fato. Os de- lação jurídica.
sinteressados não possuem nenhuma afetação pelo vínculo. Os in-
teressados de fato possuem afetação econômica, mas não jurídica b) Assistência litisconsorcial
(ex.: se a pessoa perder o processo não terá dinheiro para pagar o O assistente litisconsorcial é o substituído processual. O que o
que me deve). Nenhum destes pode ser assistente, mas somente diferencia do assistente simples é que ele é titular da própria rela-
o que possui interesse jurídico, isto é, que mantém com uma das ção jurídica em juízo. Só existe assistência litisconsorcial no campo
partes uma relação jurídica que será afetada com o resultado do da legitimidade extraordinária, isto é, somente pode ser assistente
processo. litisconsorcial aquele que poderia ter sido parte na ação e que não o
Art. 119, CPC. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, foi porque existia alguém com legitimidade para sozinho plenamen-
o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favo- te representá-lo na ação. Em outras palavras, a pessoa poderia ter
rável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. ingressado com a ação juntamente com o assistido, mas o assistido
Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer pro- tinha legitimidade para ingressar sozinho e o fez – se tivesse ingres-
cedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente sado junto estaríamos diante de uma hipótese de legitimidade fa-
o processo no estado em que se encontre. cultativa unitária.
Sua atuação é subordinada e dependente do assistido. ATENÇÃO: Há litisconsórcio facultativo unitário quando aqueles
A atuação é possível em qualquer tipo de processo de conhe- que poderiam estar sozinhos no polo da ação estão acompanhados.
cimento. Excepcionalmente, pode se admitir em processo cautelar. Há assistência litisconsorcial com o ingresso posterior daquele que
Art. 121, CPC. O assistente simples atuará como auxiliar da par- poderia ter sido litisconsorte facultativo unitário.
te principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mes- Art. 124, CPC. Considera-se litisconsorte da parte principal o
mos ônus processuais que o assistido. assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica entre
Parágrafo único. Sendo revel ou, de qualquer outro modo, ele e o adversário do assistido.
omisso o assistido, o assistente será considerado seu substituto Sua atuação não é subordinada e é independente do assistido.
processual. Na qualidade de titular da lide, o assistente litisconsorcial desde o
Art. 122, CPC. A assistência simples não obsta a que a parte momento em que ingressa é tratado como litisconsorte do assisti-
principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação, re- do, devendo a ambos ser aplicado o regime do litisconsórcio unitá-
nuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre di- rio. A assistência litisconsorcial é, muitas vezes, um litisconsórcio fa-
reitos controvertidos. cultativo unitário ulterior. O regime será o mesmo do litisconsórcio
Como não é titular da relação jurídica principal em juízo, os po- unitário: os atos benéficos praticados beneficiam a todos e os atos
deres do assistente simples são limitados. Ele é um auxiliar da parte prejudiciais praticados só valem se praticados por todos litisconsor-
principal, exercendo mesmos poderes e se sujeitando aos mesmos tes porque não prejudicam a todos.
ônus, contudo não tem poder de impedir que a parte principal re- Sob o aspecto dos efeitos da sentença, é atingido pela coisa jul-
conheça a procedência do pedido, desista da ação ou transija sobre gada. Aliás, o seria mesmo se não participasse do processo, porque
direitos controvertidos, hipóteses em que, terminado o processo, se estaria diante de legitimidade extraordinária.
acaba a intervenção do assistente. Sendo assim, ele pratica todos os
atos, menos aqueles dos quais o assistido tenha desistido. Também 2. Denunciação da lide
não pratica atos que são exclusivos das partes, como reconvir, apre- Trata-se de forma provocada de intervenção de terceiros, com
sentar ação declaratória incidental, valer-se da denunciação da lide natureza de ação, também conhecida por litisdenunciação. Nela, a
ou do chamamento ao processo, ou opor exceção de incompetên- existência do processo é denunciada ao terceiro. Todas as hipóteses
cia relativa. Pode apresentar contestação e, se o réu for revel, será se relacionam ao exercício do direito de regresso, de modo que o
considerado seu substituto processual segundo o CPC. terceiro ao qual a lide é denunciada é um sujeito que poderá ser
O assistente não paga os honorários advocatícios ao final do processado futuramente pelo réu da ação caso ele seja condenado,
processo e nem se beneficia deles (claro, isso não inclui os hono- obtendo de volta aquilo que foi condenado a pagar.
rários particulares negociados com o advogado que o represente, Tanto o autor quanto o réu podem fazer a denunciação da lide.
fala-se aqui da condenação por honorários e na sucumbência). Con- Neste sentido, o autor denuncia na petição inicial se com a impro-
tudo, o assistente arca com custas, na proporção de sua participa- cedência da ação puder obter de volta o que tiver que arcar de um
ção no processo. terceiro; e o réu denuncia na contestação se com a procedência da
Se o terceiro que tem interesse jurídico não tiver ingressado ação puder obter de volta o que tiver sido condenado a pagar. Nes-
como assistente simples no processo, mas quiser fazê-lo para recor- tes termos, destaca-se a legislação:
rer deverá apresentar o chamado recurso de terceiro prejudicado. Art. 126, CPC. A citação do denunciado será requerida na pe-
Sendo assim, o recurso de terceiro prejudicado não é uma modali- tição inicial, se o denunciante for autor, ou na contestação, se o
dade de intervenção autônoma, mas sim um tipo de assistência tar- denunciante for réu, devendo ser realizada na forma e nos prazos
dia. Se a parte assistida tiver renunciado ao direito de recorrer, não previstos no art. 131.
poderá o assistente apresentar o recurso de terceiro prejudicado.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 127, CPC. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado coisa em si. O alienante tem responsabilidade de tornar o evicto
poderá assumir a posição de litisconsorte do denunciante e acres- indene, sem dano algum. Sendo assim, se ao final do processo se
centar novos argumentos à petição inicial, procedendo-se em segui- decidir que o evictor estava certo, a ele será devolvido o bem, mas
da à citação do réu. no mesmo processo o evicto exercerá o direito de regresso contra
Art. 128, CPC. Feita a denunciação pelo réu: o alienante denunciado, que deverá torná-lo indene pagando por
I - se o denunciado contestar o pedido formulado pelo autor, perdas e danos.
o processo prosseguirá tendo, na ação principal, em litisconsórcio,
denunciante e denunciado; b) Possibilidade de ação regressiva
II - se o denunciado for revel, o denunciante pode deixar de Trata-se da hipótese mais abrangente, que envolve qualquer
prosseguir com sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-se de situação em que o exercício do direito de regresso seja possível. Um
recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva; exemplo bastante clássico é o dos contratos de seguro, posto que
III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor na a seguradora irá indenizar o dano em caso de condenação do seu
ação principal, o denunciante poderá prosseguir com sua defesa ou, segurado.
aderindo a tal reconhecimento, pedir apenas a procedência da ação Art. 125, II, CPC. Àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo
de regresso. contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for
Parágrafo único. Procedente o pedido da ação principal, pode vencido no processo.
o autor, se for o caso, requerer o cumprimento da sentença também
contra o denunciado, nos limites da condenação deste na ação re- 3. Chamamento ao processo
gressiva. É uma forma provocada de intervenção de terceiros, pela qual
O denunciado terá interesse de que o resultado seja favorá- se atribui ao réu a possibilidade de chamar ao processo os outros
vel ao denunciante, de modo que não tenha que arcar com nada devedores para que ocupem também a posição de réus, sendo
a título de regresso (se o resultado for favorável ao denunciante, todos condenados na mesma sentença em caso de procedência.
extingue-se sem julgamento do mérito a decisão sobre o direito Somente o réu pode promover o chamamento ao processo. Os
de regresso, que fica prejudicada). Ainda, poderá postular que não chamados passam a ocupar o polo passivo na qualidade de corréus
seja reconhecido o direito de regresso em relação ao denuncian- e litisconsortes, de modo que o chamamento provoca uma amplia-
te (sendo assim, quando deferida a denunciação amplia o objeto ção do polo passivo da ação. Sendo assim, o réu e os chamados
do processo, acrescentando a decisão sobre o direito de regresso). serão condenados em caso de procedência da ação e todos eles
Neste sentido: poderão ser executados.
Art. 129, CPC. Se o denunciante for vencido na ação principal, o O chamamento é facultativo e caso seja condenado o réu que
juiz passará ao julgamento da denunciação da lide. não o tenha feito pode processar o coobrigado posteriormente em
Parágrafo único. Se o denunciante for vencedor, a ação de de- ação autônoma.
nunciação não terá o seu pedido examinado, sem prejuízo da con- Somente é possível em processo de conhecimento.
denação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência Art. 131, CPC. A citação daqueles que devam figurar em litis-
em favor do denunciado. consórcio passivo será requerida pelo réu na contestação e deve ser
Indeferido o ingresso do terceiro, cabe agravo de instrumento. promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito
Não é possível denunciação da lide nos processos de execução o chamamento.
e cautelar, mas somente em processo de conhecimento. Parágrafo único. Se o chamado residir em outra comarca, se-
Cabe estudar, por fim, as hipóteses de denunciação da lide e ção ou subseção judiciárias, ou em lugar incerto, o prazo será de 2
questões correlatas. Conforme o CPC, “o direito regressivo será (dois) meses.
exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for Em relação à sentença, permitindo que o réu que arque com a
indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida” (artigo obrigação se sub-rogue nos direitos do credor, destaca-se:
125, §1º, CPC). Art. 132, CPC. A sentença de procedência valerá como título
Quanto à denunciação sucessiva (o denunciado se torna de- executivo em favor do réu que satisfizer a dívida, a fim de que possa
nunciante de outro denunciado), o CPC a prevê: exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou, de cada um dos code-
Art. 125, § 2º, CPC. Admite-se uma única denunciação suces- vedores, a sua quota, na proporção que lhes tocar.
siva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato O devedor que, condenado, pagar a dívida, fica sub-rogado nos
na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não direitos do credor. Caso tenham sido condenados fiador e devedor
podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hi- principal, o primeiro pode exigir que antes sejam excutidos bens do
pótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação segundo.
autônoma. Em relação às hipóteses de chamamento ao processo, desta-
Somente cabe uma única vez a denunciação sucessiva. ca-se:
Art. 130, CPC. É admissível o chamamento ao processo, reque-
São casos em que cabe a denunciação da lide: rido pelo réu:
a) Evicção I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu;
Art. 125, I, CPC. Ao alienante imediato, no processo relativo à II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns
coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que pos- deles;
sa exercer os direitos que da evicção lhe resultam. III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de
Evicção é a perda da coisa adquirida em contrato oneroso por um ou de alguns o pagamento da dívida comum.
força de sentença judicial transitada em julgado ou decisão admi- Nota-se que apesar da redação ligeiramente diversa as hipó-
nistrativa. Evicto é o sujeito que perde a coisa, que sofre a evicção teses permanecem as mesmas, quais sejam, fiança e solidariedade
(no caso, o réu da ação e denunciante); evictor é aquele indivíduo passiva.
que busca a coisa, ou seja, que entende ter o melhor direito sobre Quanto à fiança, o fiador é obrigado a chamar o devedor princi-
a coisa transmitida (no caso, o autor da ação); alienante é o res- pal no processo de conhecimento, sob pena de não poder fazê-lo na
ponsável pela evicção (no caso, o denunciado). O evictor faz jus à fase de execução invocando seu benefício de ordem, ou seja, apon-

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
tando bens do devedor que possam satisfazer a dívida para que os jeto jurídico. Este desvio gera a presunção de que o sócio utilizou
seus não sejam atingidos. Evidentemente, se não houver processo a pessoa jurídica para obter uma proteção de fachada. Ex.: utiliza
de conhecimento prévio, como não cabe o chamamento no proces- restaurante para compra e venda de veículos, comprometendo os
so de execução, o benefício de ordem não fica prejudicado. reais credores da área de alimentação. Para a prova, basta compa-
Quanto à solidariedade passiva, se caracteriza pela possibili- rar a origem da dívida com o objeto social. O objeto social pode ter
dade do credor poder exigir o total da dívida de qualquer um dos finalidade direta ou indireta.
devedores. Contudo, este devedor não é obrigado a ficar sozinho no Presente a confusão patrimonial ou o desvio de finalidade, é
polo passivo, podendo chamar seus codevedores para dividirem a cabível a instauração do incidente de desconsideração da persona-
responsabilidade. Se o réu pagar a integralidade da dívida, se sub- lidade jurídica, em qualquer fase do processo de conhecimento, no
-rogará nos direitos do credor, podendo inclusive promover a exe- cumprimento de sentença ou no processo de execução.
cução destes codevedores nos mesmos autos. Não obstante, o CPC inova com a modalidade do “amicus
curiae”, que é toda pessoa natural ou jurídica que possua conheci-
4. Modalidades incluídas no CPC/2015 mento especializado na matéria em litígio. Ela atuará como amiga
O Código de Processo Civil de 2015, que entrou em vigor em da Corte, não como auxiliar de nenhuma das partes no processo.
2016, incluiu duas novas modalidades de intervenção de terceiros, Colaborará, assim, para que o juiz tenha uma decisão mais justa
quais sejam o incidente de desconsideração da personalidade jurí- no caso concreto, fazendo-se vale de conhecimentos especializados
dica e o “amicus curiae”. que fogem à sua alçada.
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica está Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da
disciplinado nos artigos 133 a 137, sendo modalidade de interven- matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a reper-
ção de terceiros porque inclui na relação jurídico-processual o(s) cussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de
sócio(s) da pessoa jurídica na desconsideração da personalidade ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda mani-
jurídica comum ou a pessoa jurídica na desconsideração inversa. festar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou
Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade ju- jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade
rídica será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
quando lhe couber intervir no processo. § 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração
§ 1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica de competência nem autoriza a interposição de recursos, ressal-
observará os pressupostos previstos em lei. vadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3o.
§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de § 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou
desconsideração inversa da personalidade jurídica. admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as § 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o
fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença incidente de resolução de demandas repetitivas.
e na execução fundada em título executivo extrajudicial.
§ 1º A instauração do incidente será imediatamente 5. Modalidades excluídas no CPC/2015
comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. Duas modalidades de intervenção de terceiros foram excluídas
§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração pelo novo CPC que entrou em vigor no ano de 2016, quais sejam
da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese a oposição e a nomeação à autoria. O legislador entendeu que es-
em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica. tas modalidades tornavam complexa a relação jurídico-processual
§ 3º A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo e que poderiam ser excluídas sem grandes prejuízos, afinal, nada
na hipótese do § 2º. impede que a mesma situação que seria invocada por estas modali-
§ 4º O requerimento deve demonstrar o preenchimento dades o seja em relação jurídico-processual autônoma.
dos pressupostos legais específicos para desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídi- DO JUIZ E DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA.DOS PODERES,
ca será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no DOS DEVERES E DA RESPONSABILIDADE DO JUIZ. DOS
prazo de 15 (quinze) dias. IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO. DOS AUXILIARES
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será DA JUSTIÇA
resolvido por decisão interlocutória.
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe
agravo interno. 1. Do juiz: poderes, deveres, responsabilidade; impedimento
Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou e suspeição.
a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz Embora o Estatuto da Magistratura ainda não tenha tomado
em relação ao requerente. a forma de Lei complementar, prevalece o entendimento de que o
A regra geral sobre a desconsideração da personalidade jurídi- artigo 93, CF, que traz suas diretrizes basilares, é autoaplicável. A
ca se encontra no artigo 50 do Código Civil. O grande requisito é a observância do dispositivo permite compreender as noções sobre a
comprovação de fraude também chamada de abuso patrimonial. função de magistrado, a qual necessariamente deve ser desempe-
Ela se verifica pela confusão patrimonial ou pelo desvio de finalida- nhada para o exercício legítimo da jurisdição.
de. Na confusão patrimonial, o sócio ou administrador usa o patri- Artigo 93, CF. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribu-
mônio da pessoa jurídica como se dela fosse. Isto acontece muito nal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados
em empresas de administração familiar. O patrimônio deve sair lici- os seguintes princípios:
tamente da sociedade, sem que seja na informalidade, deve dividir I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substi-
os lucros, garantir o pagamento dos credores. Ex.: se o sócio compra tuto, mediante concurso público de provas e títulos, com a partici-
um carro de luxo em seu nome com o dinheiro da empresa, cheque pação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exi-
da empresa. No desvio de finalidade, a pessoa jurídica é utilizada gindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade
com finalidade diversa. A finalidade essencial é a vinculação ao ob- jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, XII - a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado
por antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionan-
a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes do, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes
consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento; em plantão permanente;
b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exer- XIII - o número de juízes na unidade jurisdicional será propor-
cício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta cional à efetiva demanda judicial e à respectiva população; 
parte da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais XIV - os servidores receberão delegação para a prática de atos
requisitos quem aceite o lugar vago; de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório;
c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos XV - a distribuição de processos será imediata, em todos os
critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da ju- graus de jurisdição.
risdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou As garantias da magistratura encontram previsão no caput do
reconhecidos de aperfeiçoamento; artigo 95 da Constituição Federal, sendo elas vitaliciedade, inamo-
d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá re- vibilidade e irredutibilidade de subsídio.
cusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços Artigo 95, CF. Os juízes gozam das seguintes garantias:
de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após
ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação;  dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período,
e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos de-
autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-los mais casos, de sentença judicial transitada em julgado;
ao cartório sem o devido despacho ou decisão;  II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na
III - o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por anti- forma do art. 93, VIII;
guidade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arti-
única entrância;  gos 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.
IV - previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamen- a) Vitaliciedade – trata-se da garantia de que o magistrado não
to e promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do perderá o cargo a não ser em caso de sentença judicial transitada
processo de vitaliciamento a participação em curso oficial ou re- em julgado. Nos primeiros dois anos de exercício, não se adquire
conhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de a garantia da vitaliciedade, de modo que caberá a perda do cargo
magistrados;  mesmo em caso de deliberação do tribunal ao qual o juiz estiver
V - o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corres- vinculado.
ponderá a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado b) Inamovibilidade – o magistrado não pode ser transferido da
para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos comarca ou seção na qual é titular e nem mesmo de sua vara, salvo
demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível motivo de interesse público, exigindo-se no caso decisão por voto
federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional
judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser de Justiça, assegurada ampla defesa.
superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder c) Irredutibilidade de subsídio – o subsídio do magistrado não
a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos pode ser reduzido, mas é necessário observar o respeito aos limi-
Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos tes de teto e demais limites financeiros e orçamentários fixados na
arts. 37, XI, e 39, § 4º;  Constituição.
Prossegue o artigo 95 estabelecendo vedações aos juízes no
VI - a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus de-
exercício de suas funções ou em decorrência dele.
pendentes observarão o disposto no art. 40; 
Artigo 95, parágrafo único, CF. Aos juízes é vedado:
VII - o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autori-
I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou fun-
zação do tribunal; 
ção, salvo uma de magistério;
VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do
II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participa-
magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto
ção em processo;
da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacio-
III - dedicar-se à atividade político-partidária.
nal de Justiça, assegurada ampla defesa;  IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui-
VIII-A - a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalva-
comarca de igual entrância atenderá, no que couber, ao disposto das as exceções previstas em lei; 
nas alíneas “a”, “b”, “c” e “e” do inciso II;  V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou,
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposen-
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nuli- tadoria ou exoneração. 
dade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às Em consonância com a previsão constitucional, o Código de
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos Processo Civil aborda os poderes e deveres do juiz:
nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições des-
sigilo não prejudique o interesse público à informação;  te Código, incumbindo-lhe:
X - as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas I - assegurar às partes igualdade de tratamento;
e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da II - velar pela duração razoável do processo;
maioria absoluta de seus membros;  III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da
XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgado- justiça e indeferir postulações meramente protelatórias;
res, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, man-
o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribui- damentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumpri-
ções administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do mento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto
tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a prestação pecuniária;
outra metade por eleição pelo tribunal pleno; V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferen-
cialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produ- Por sua vez, a exceção de suspeição é de fato uma exceção e, se
ção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito não apresentada no prazo legal há preclusão. A arguição de suspei-
de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito; ção deve ser suscitada na primeira oportunidade em que couber à
VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessá- parte interessada se manifestar nos autos. Ultrapassado o prazo, a
rio, força policial, além da segurança interna dos fóruns e tribunais; situação se convalida.
VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal Disciplina o Código de Processo Civil:
das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer
que não incidirá a pena de confesso; suas funções no processo:
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como
saneamento de outros vícios processuais; perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repe- depoimento como testemunha;
titivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medi- II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo profe-
da do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5o da Lei rido decisão;
no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 III - quando nele estiver postulando, como defensor público, ad-
de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura vogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou compa-
da ação coletiva respectiva. nheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta
Parágrafo único.  A dilação de prazos prevista no inciso VI so- ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
mente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular. IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou
Art. 140.  O juiz não se exime de decidir sob a alegação de companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. colateral, até o terceiro grau, inclusive;
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos pre- V - quando for sócio ou membro de direção ou de administra-
vistos em lei. ção de pessoa jurídica parte no processo;
Art. 141.  O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador
partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a de qualquer das partes;
cujo respeito a lei exige iniciativa da parte. VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual
Art. 142.  Convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação
réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conse- de serviços;
guir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os ob- VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advoca-
jetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância cia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim,
de má-fé. em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que
Art. 143. O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas patrocinado por advogado de outro escritório;
e danos quando: IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude; § 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando
II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência o defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já
que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte. integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz.
Parágrafo único. As hipóteses previstas no inciso II somente se- § 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de
rão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine caracterizar impedimento do juiz.
a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 § 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no
(dez) dias. caso de mandato conferido a membro de escritório de advocacia
que tenha em seus quadros advogado que individualmente ostente
A Constituição Federal não menciona expressamente o dever a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente
de imparcialidade, mas garante ao jurisdicionado o direito ao juiz no processo.
natural, e essa qualidade só pode ser atribuída àquele órgão que Art. 145. Há suspeição do juiz:
seja o competente e ao juiz que possa apreciar o conflito submetido I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus
à sua decisão com imparcialidade. A lei enumera as situações em advogados;
que o juiz não terá isenção de ânimos suficiente para julgar o litígio. II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na
Em outras palavras, estabelece as situações em que o juiz deverá se causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar algu-
afastar do processo por ser impedido ou suspeito. ma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios
No impedimento o grau de comprometimento é mais intenso, para atender às despesas do litígio;
ao passo que na suspeição é menor, mas em ambos o esperado III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora,
é que o magistrado se afaste do julgamento do processo. É mais de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha
fácil provar o impedimento, detectável por documentos do que a reta até o terceiro grau, inclusive;
suspeição. IV - interessado no julgamento do processo em favor de qual-
Ambos podem ser alegados por petição simples no processo na quer das partes.
primeira oportunidade que se tiver conhecimento do fato, tal como § 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro
na contestação. íntimo, sem necessidade de declarar suas razões.
Não obstante, a consequência de se prolatar uma sentença em § 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
impedimento é mais grave do que em suspeição. Embora a lei fale I - houver sido provocada por quem a alega;
em exceção tanto para o impedimento quanto para a suspeição, a II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique ma-
verdade é que a exceção de impedimento tem natureza de objeção nifesta aceitação do arguido.
e pode ser proposta a qualquer momento no processo – aliás, se Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conheci-
proferida a sentença por juiz impedido poderá ser anulada por ação mento do fato, a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em
rescisória. petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará
o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em
que se fundar a alegação e com rol de testemunhas.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 1o Se reconhecer o impedimento ou a suspeição ao receber Situação 2: Caso o juiz não se afaste voluntariamente, determi-
a petição, o juiz ordenará imediatamente a remessa dos autos a nará a autuação em apartado da petição e apresentará suas razões
seu substituto legal, caso contrário, determinará a autuação em em 15 dias, com documentos e rol de testemunhas. Em seguida,
apartado da petição e, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentará suas remeterá ao Tribunal para julgamento.
razões, acompanhadas de documentos e de rol de testemunhas, se - No Tribunal, o relator decidirá sobre o recebimento do inci-
houver, ordenando a remessa do incidente ao tribunal. dente com ou sem efeito suspensivo. Se conceder o efeito, o pro-
§ 2o Distribuído o incidente, o relator deverá declarar os seus cesso ficará parado até o julgamento do incidente. Se negar, conti-
efeitos, sendo que, se o incidente for recebido: nuará andando normalmente.
I - sem efeito suspensivo, o processo voltará a correr; - Se o Tribunal julgar a favor do juiz, o processo seguirá seu
II - com efeito suspensivo, o processo permanecerá suspenso rumo. Se o Tribunal entender que era caso de impedimento ou sus-
até o julgamento do incidente. peição, condenará o juiz às custas e remeterá os autos ao substituto
§ 3o Enquanto não for declarado o efeito em que é recebido legal, fixando ainda a partir de qual momento o juiz não poderia ter
o incidente ou quando este for recebido com efeito suspensivo, a atuado e anulando atos que possam ter sido praticados de forma
tutela de urgência será requerida ao substituto legal. parcial.
§ 4o  Verificando que a alegação de impedimento ou de
suspeição é improcedente, o tribunal rejeitá-la-á. 2. Mediadores e conciliadores
§ 5o Acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou O CPC inova ao especificar as figuras dos conciliadores e media-
de manifesta suspeição, o tribunal condenará o juiz nas custas e dores como auxiliares de justiça. Neste sentido, destaca a criação
remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o juiz recorrer de centros judiciários de solução consensual de conflitos aos quais
da decisão. se vincularão estes auxiliares. Sobre a distinção entre as funções,
§ 6o  Reconhecido o impedimento ou a suspeição, o tribunal destaca-se:
fixará o momento a partir do qual o juiz não poderia ter atuado. Art. 165.  Os tribunais criarão centros judiciários de solução
§ 7o O tribunal decretará a nulidade dos atos do juiz, se consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e
praticados quando já presente o motivo de impedimento ou de audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de
suspeição. programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocom-
Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes, con- posição.
sanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, § 1o A composição e a organização dos centros serão definidas
inclusive, o primeiro que conhecer do processo impede que o outro pelo respectivo tribunal, observadas as normas do Conselho
nele atue, caso em que o segundo se escusará, remetendo os autos Nacional de Justiça.
ao seu substituto legal. § 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em
Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspei- que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir
ção: soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo
I - ao membro do Ministério Público; de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
II - aos auxiliares da justiça; § 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em
III - aos demais sujeitos imparciais do processo. que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interes-
§ 1o A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a sados a compreender as questões e os interesses em conflito, de
suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação,
primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos. identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem bene-
§ 2o O juiz mandará processar o incidente em separado e sem fícios mútuos.
suspensão do processo, ouvindo o arguido no prazo de 15 (quinze) A principal diferença entre conciliação e mediação é que na
dias e facultando a produção de prova, quando necessária. primeira há uma atuação mais ativa por parte do auxiliar da justiça,
§ 3o  Nos tribunais, a arguição a que se refere o § 1o será que pode inclusive fornecer opções de acordos; ao passo que na
disciplinada pelo regimento interno. segunda é necessária uma atuação mais cautelosa, respeitando os
§ 4o O disposto nos §§ 1o e 2o não se aplica à arguição de conflitos pretéritos entre as partes. A conciliação é mais utilizada
impedimento ou de suspeição de testemunha. em conflitos patrimoniais, já a mediação é utilizada em conflitos
de família.
É interessante observar que as hipóteses de configuração do Art. 166.  A conciliação e a mediação são informadas pelos
impedimento e da suspeição são as mesmas para os juízes e para princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da
demais sujeitos imparciais do processo, inclusive Ministério Público, vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e
Defensoria Pública e auxiliares da justiça em geral. A mudança se dá da decisão informada.
em relação ao procedimento, posto que o incidente para apurar o § 1o A confidencialidade estende-se a todas as informações
impedimento e a suspeição será instalado pelo próprio magistrado, produzidas no curso do procedimento, cujo teor não poderá ser
em separado nos autos, que continuarão a andar normalmente, utilizado para fim diverso daquele previsto por expressa deliberação
sem suspensão. das partes.
Deve ser adotado o seguinte procedimento para impedimento/ § 2o Em razão do dever de sigilo, inerente às suas funções, o
suspeição do juiz: conciliador e o mediador, assim como os membros de suas equipes,
- Petição específica/alegação na contestação, na qual se indi- não poderão divulgar ou depor acerca de fatos ou elementos
que o fundamento da recusa, instruída com documentos e rol de oriundos da conciliação ou da mediação.
testemunhas – Prazo: 15 dias da ciência do fato que motivou a ale- § 3o Admite-se a aplicação de técnicas negociais, com o objetivo
gação de impedimento ou suspeição – Dirigida ao juiz do processo. de proporcionar ambiente favorável à autocomposição.
§ 4o A mediação e a conciliação serão regidas conforme a
Situação 1: O juiz pode reconhecer a alegação de impedimento livre autonomia dos interessados, inclusive no que diz respeito à
ou suspeição e ordenar a remessa dos autos ao substituto legal. definição das regras procedimentais.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Existem, assim, princípios que regem a conciliação e a media- gem as partes definem uma pessoa ou uma entidade privada (são
ção, garantindo que estas técnicas serão utilizadas de forma positi- comuns os Tribunais arbitrais) para solucionar a controvérsia que
va e respeitando a autonomia dos indivíduos envolvidos. surgiu ou poderá vir a surgir entre elas, sem a participação do Poder
Estes auxiliares da justiça serão inscritos em cadastro nacional Judiciário. A sentença arbitral tem o mesmo efeito da sentença ju-
e em cadastro de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal, dicial, sendo obrigatória para as partes envolvidas na controvérsia.
mantendo-se registro e controlando-se a capacitação (artigo 167, Na autocomposição, ao contrário, nada se decide. São as pró-
CPC). prias partes, por intermédio de um terceiro facilitador, que traba-
Não há prejuízo das partes escolherem, de comum acordo, o lham o conflito, podendo chegar a um acordo (que normalmente
conciliador, o mediador ou a câmara privada de conciliação e de é uma transação, em que cada parte cede e ganha algo em relação
mediação (artigo 168, CPC). ao conflito, mas nada impede que seja um reconhecimento ou uma
É devido o pagamento de remuneração, mas é possível a renúncia). A autocomposição pode se viabilizar tanto pelas técnicas
realização de trabalho voluntário (artigo 169, CPC). da mediação, quanto pelas técnicas da conciliação.
Os mediadores e conciliadores devem se manter imparciais, a A mediação é uma forma de solução de conflitos na qual uma
eles se aplicando as hipóteses de impedimento e suspeição, bem terceira pessoa, neutra e imparcial, facilita o diálogo entre as par-
como se fixando que não poderão atuar representando ou patro- tes, para que elas construam, com autonomia e solidariedade, a
cinando qualquer das partes por 1 ano (artigos 170 a 172, CPC). melhor solução para o problema. Em regra, é utilizada em conflitos
Caso atue impedido ou suspeito, ou então aja com dolo ou culpa multidimensionais ou complexos, como os conflitos em Direito de
na condução da conciliação ou mediação, será excluído do cadastro Família. A mediação é um procedimento estruturado, não tem um
(artigo 173, CPC). prazo definido, e pode terminar ou não em acordo, pois as partes
Art. 175.  As disposições desta Seção não excluem outras for- têm autonomia para buscar soluções que compatibilizem seus inte-
mas de conciliação e mediação extrajudiciais vinculadas a órgãos resses e necessidades.
institucionais ou realizadas por intermédio de profissionais inde- A conciliação é um método utilizado em conflitos mais simples
pendentes, que poderão ser regulamentadas por lei específica. ou restritos, pois nela o terceiro facilitador pode adotar uma po-
Parágrafo único. Os dispositivos desta Seção aplicam-se, no sição mais ativa, inclusive sugerindo caminhos para a transação,
que couber, às câmaras privadas de conciliação e mediação. porém neutra com relação ao conflito e imparcial. É um processo
Neste sentido, não se trata de atribuição exclusiva destes au- consensual breve, que busca uma efetiva harmonização social e a
xiliares da justiça o desempenho das funções de conciliação e de restauração, dentro dos limites possíveis, da relação social das par-
mediação. tes. A conciliação resolve tudo em um único ato, sem necessidade
de produção de provas. Também é barata porque as partes evitam
3. Noções gerais sobre mediação e conciliação gastos com documentos e deslocamentos aos fóruns. E é eficaz por-
Nas sociedades primitivas, quando se perceberam os riscos e que as próprias partes chegam à solução dos seus conflitos, sem a
danos da autotutela, atribuiu-se a solução dos conflitos a terceiros, imposição de um terceiro (juiz). É, ainda, pacífica por se tratar de
que atuavam como árbitros ou como facilitadores, para que se atin- um ato espontâneo, voluntário e de comum acordo entre as partes.
gisse o consenso, sendo este o embrião da jurisdição. Incumbia-se
dessa função uma pessoa respeitável da comunidade – sacerdote,
ancião, cacique, o próprio rei (como Salomão) – e se obtinha a paci-
ficação, sem necessidade de recorrer à justiça pelas próprias mãos. MINISTÉRIO PÚBLICO
Quando se observam as bases em que se fundou a noção de
jurisdição, constata-se que os métodos consensuais de solução de O Ministério Público é um órgão de cooperação nas atividades
conflitos precederam, historicamente, a jurisdição estatal tal como governamentais. Não se encaixa em nenhum dos Poderes, pois ape-
hoje concebida. Só mais tarde, quando o Estado assumiu todo seu sar de ser considerado uma função essencial à justiça não faz parte
poder, nasceu o processo judicial, que foi considerado monopólio do Poder Judiciário, mas sim é um órgão que coopera com ele. As-
estatal. sim, trata-se de órgão cooperativo que exerce suas atribuições jun-
Entretanto, esse processo mostrou todas as suas fraquezas, le- to ao Poder Judiciário, notadamente atribuições relativas à tutela
vando o próprio Estado a questionar a opção pelo monopólio da dos interesses sociais indisponíveis.
jurisdição. Uma série de fatores contribuiu para demonstrar a in- Deste modo, o Ministério Público (MP) é um órgão de Estado
suficiência ou inadequação da exclusividade da tutela estatal, a sa- que atua na defesa da ordem jurídica e fiscaliza o cumprimento da
ber: o formalismo; a complicação procedimental; a burocratização; lei no Brasil. Na Constituição de 1988, o MP está incluído nas fun-
a dificuldade de acesso ao Poder Judiciário; o aumento das causas ções essenciais à justiça e não possui vinculação funcional a qual-
de litigiosidade em uma sociedade cada vez mais complexa e confli- quer dos poderes do Estado.
tuosa; a própria mentalidade dos operadores do Direito. O perfil constitucional do Ministério Público está traçado dos
Em razão disso, ressurgiu, em todo o mundo, o interesse pelas artigos 127 a 130-A da Constituição Federal de 1988. Estrutural-
chamadas vias alternativas, capazes de encurtar ou evitar o proces- mente, cada um dos dispositivos indica:
so. Claro, não seria devido retornar às bases da autotutela, ao “olho - Artigo 127 – Função institucional, princípios institucionais,
por olho, dente por dente”, mas sim aos precedentes da jurisdição, autonomia funcional e administrativa, elaboração de proposta or-
quais sejam, outros métodos de autocomposição e heterocomposi- çamentária;
ção de conflitos que não envolvessem a intervenção do Estado-juiz. - Artigo 128 – Espécies de Ministério Público, iniciativa legis-
De uns anos para cá, os institutos dos meios alternativos fo- lativa, investidura e destituição do Procurador-Geral da República,
ram analisados, dissecados e implantados, sendo o Brasil integrante atuação dos demais Procuradores-Gerais, garantias e vedações;
desse movimento. - Artigo 129 – Aprofundamentos sobre funções institucionais
Na heterocomposição, a decisão do litígio é atribuída a pessoa exclusivas e concorrentes e aplicabilidade do disposto sobre o esta-
neutra e imparcial, estranha ao Poder Judiciário. Com efeito, as par- tuto da Magistratura no que couber;
tes não compõem entre si, mas sim aceitam que um terceiro tome a - Artigo 130 – Aplicabilidade aos membros do Ministério Públi-
decisão no lugar do Estado-Juiz. Trata-se da arbitragem. Na arbitra- co dos Tribunais de Contas da União;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
- Artigo 130-A – Conselho Nacional do Ministério Público. Os princípios institucionais do Ministério Público encontram-se
Evitando a repetição de conteúdo, exposto o perfil constitucio- no artigo 127, §1º da Constituição Federal e são reafirmados no ar-
nal do Ministério Público, aprofunda-se no estudo de suas funções tigo 4º da Lei Orgânica do Ministério Público da União:
institucionais. Art. 127, §1º, CF. São princípios institucionais do Ministério Pú-
Artigo 127, caput, CF. O Ministério Público é instituição perma- blico a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.
nente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a Art. 4º, LOMPU. São princípios institucionais do Ministério Pú-
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses blico da União a unidade, a indivisibilidade e a independência fun-
sociais e individuais indisponíveis. cional.
O Ministério Público desempenha um papel importantíssimo Explica Mazzilli6:
frente ao Poder Judiciário e, por isso, o artigo 127, caput da Consti- a) Unidade – Se tem chefia, uma pessoa que está na cabeça da
tuição Federal o considera essencial à função jurisdicional do Esta- estrutura institucional, tem-se unidade. Sendo assim, unidade insti-
do e o coloca como instituição permanente. tucional relaciona-se ao princípio hierárquico. Se existe hierarquia,
O papel institucional, descrito no caput do artigo 127, envol- existe o poder de avocar, delegar e designar (no Brasil, estes po-
ve alguns aspectos, aqui estudados com base no entendimento de deres são limitados). Contudo, evidente que a hierarquia não tem
azzilli4: força absoluta por conta da independência funcional e por conta
a) Defesa da ordem jurídica – fazer valer o ordenamento ju- do próprio modelo de federação adotado pelo Brasil – trata-se de
rídico pátrio, buscar a efetividade na aplicação de suas normas, hierarquia exclusivamente administrativa, na atividade-meio.
eventualmente, utilizar-se de princípios constitucionais para bus- É fácil falar em unidade e indivisibilidade num Estado unitário,
car a efetividade da própria Constituição quanto aos direitos sem onde o Ministério Público só tem um chefe. No Brasil, cada um dos
regulamentação extensa. O Ministério Público funciona como um Ministérios Públicos tem o seu chefe. A verdade é que o constituinte
guardião da lei e da ordem, fazendo com que ela seja cumprida, brasileiro se inspirou na doutrina francesa, aplicável a um Estado
notadamente nos casos em que interesses da coletividade ou de unitário, e a incorporou à Constituição Federal sem se atinar para
indivíduos hipossuficientes estão em jogo. as consequências práticas do conceito.
Neste sentido, o Ministério Público não atua em todos os casos b) Indivisibilidade – a rigor, significaria dizer que o Ministério
em que há violação da lei, ou seja, em que há desrespeito à ordem Público seria uma única instituição e os seus membros poderiam se
jurídica – existe prestação jurisdicional sem Ministério Público. Nos substituir por possuírem as mesmas competências. Este conceito
casos mais graves de violação da ordem jurídica o Ministério Pú- da doutrina francesa não pode ser transportado para o contexto
blico atua, o que o constituinte define como toda situação em que jurídico-constitucional brasileiro. Afinal, existem vários Ministérios
está em jogo o interesse social ou o interesse indisponível. Então, Públicos e o membro de um não pode exercer a atribuição do mem-
a defesa da ordem jurídica depende da lei violada, pois ela deve bro de outro – um Ministério Público não pode se imiscuir na com-
pertencer ao campo de atuação do Ministério Público. petência do outro.
b) Defesa do regime democrático – O Ministério Público pode Como a finalidade do Ministério Público é uma só – servir ao
existir sem a democracia, num regime autoritário, mas somente há interesse público – pode-se afirmar a unidade e a indivisibilidade
efetiva autonomia e independência do Ministério Público no regime enquanto uma característica institucional. Como instituição, o Mi-
democrático. A manutenção da ordem jurídica e do sistema demo- nistério Público é uno e indivisível. No sentido orgânico, é incorreto
crático é condição para a paz e a liberdade das pessoas, ou seja, afirmar a unidade e a indivisibilidade.
do interesse social, razão pela qual é papel do Ministério Público Trata-se de um órgão com uma só chefia e uma só função den-
defender o regime democrático. Os direitos garantidos na Cons- tro de cada órgão do Ministério Público (MPU, MPT, MPE, MPM,
tituição Federal são a base da democracia instituída na República MPDFT) – este é o verdadeiro sentido de unidade e indivisibilidade.
brasileira e cabe ao Ministério Público garantir o respeito a estes c) Independência funcional – É a liberdade de escrita e fala na
direitos. Ex.: fiscalização do processo eleitoral, coibição de violações tomada dos atos institucionais. A independência funcional é uma
aos direitos fundamentais, buscar o respeito aos direitos das mino- prerrogativa conferida aos membros do Ministério Público que
rias, etc. deve coexistir com a unidade e a indivisibilidade. Questiona-se até
c) Defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis que ponto a hierarquia decorrente da unidade e da indivisibilidade
– Mazzilli5 aprofunda o tema: “Os direitos difusos compreendem limita a independência funcional, afinal, os próprios conceitos de
grupos menos determinados de pessoas (melhor do que pessoas unidade e de indivisibilidade não são absolutos. Na prática, a unida-
indeterminadas, são antes pessoas indetermináveis), entre as quais de e a indivisibilidade são opostas à independência funcional.
inexiste vínculo jurídico ou fático preciso. São como feixe ou conjun- Continuando o estudo do artigo 127 da Constituição Federal,
to de interesses individuais, de objeto indivisível, compartilhados seu §2º estabelece a autonomia funcional e administrativa do Mi-
por pessoas indetermináveis, que se encontram unidas por circuns- nistério Público nos seguintes termos: “ao Ministério Público é as-
tâncias de fato conexas. [...] Coletivos, em sentido estrito, são in- segurada autonomia funcional e administrativa, podendo, obser-
teresses transindividuais indivisíveis de um grupo determinado ou vado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação
determinável de pessoas, reunidas por uma relação jurídica básica e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por
comum. [...] Em sentido lato, os direitos individuais homogêneos concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remu-
não deixam de ser também interesses coletivos. Tanto os interesses neratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organiza-
individuais homogêneos como os difusos originaram-se de circuns- ção e funcionamento”.
tâncias de fato comuns; entretanto, são indetermináveis os titulares a) Autonomia funcional – Para que um órgão tenha autonomia
de interesses difusos e o objeto de seu interesse é indivisível; já nos funcional é preciso que “reúna, em torno de si, três pressupostos
interesses individuais homogêneos, os titulares são determinados básicos, quais sejam, uma lei, conforme os ditames da Constituição,
ou determináveis, e o objeto da pretensão é divisível), isto é, o dano que o institua juridicamente; uma própria dotação orçamentária,
ou a responsabilidade se caracterizam por sua extensão divisível ou que seja a ele designada; e uma função especforífica que seja por
individualmente variável entre os integrantes do grupo)”. ele desempenhada, isto é, uma função peculiar”7.
4 MAZZILLI, Hugo Nigro. Aulas em teleconferência ministradas na Escola Supe- 6 MAZZILLI, Hugo Nigro. Aulas em teleconferência ministradas na Escola Supe-
rior do Ministério Público. Disponível: <https://www.youtube.com/>. rior do Ministério Público. Disponível: <https://www.youtube.com/>.
5 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 22. ed. São 7 AZEVEDO, Bernardo Montalvão Varjão de. Ministério Público por uma ver-
Paulo: Saraiva, 2009, p. 53-56. dadeira autonomia funcional. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/3893/

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
b) Autonomia administrativa – A autonomia administrativa Art. 181. O membro do Ministério Público será civil e regressi-
significa a soma de poderes da pessoa ou entidade para adminis- vamente responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício
trar os seus próprios negócios, sob qualquer aspecto, consoante as de suas funções.
normas e princípios institucionais de sua existência e dessa admi-
nistração. Neste sentido, o poder conferido ao Ministério Público de
elaborar sua própria proposta orçamentária.
Por seu turno, o artigo 128, CF traz a estrutura do Ministério ADVOCACIA PÚBLICA
Público, dizendo quais órgãos o compõem e por quem serão che-
fiados, além de vedações e garantias semelhantes às impostas à O caput do artigo 131 da Constituição traz as funções institu-
magistratura. Não obstante, o artigo 130, CF faz menção a outro cionais da Advocacia-Geral da União: representação judicial e extra-
Ministério Público, o Ministério Público do Tribunal de Contas. judicial da União, além de consultoria e assessoramento ao Poder
Artigo 128, CF. O Ministério Público abrange: Executivo Federal, conforme regulamentação a ser elaborada em lei
I - o Ministério Público da União, que compreende: complementar. No caso, a Lei Complementar nº 73, de 10 de feve-
a) o Ministério Público Federal; reiro de 1993 institui a Lei Orgânica da Advocacia-Geral da União e
b) o Ministério Público do Trabalho; dá outras providências.
c) o Ministério Público Militar; O chefe da Advocacia-Geral da União é o Advogado-Geral da
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; União, livremente nomeado pelo Presidente da República, deven-
II - os Ministérios Públicos dos Estados. do possuir notável saber jurídico, reputação ilibada e menos de 35
Artigo 130, CF. Aos membros do Ministério Público junto aos anos. No entanto, os integrantes da Advocacia-Geral da União de
Tribunais de Contas aplicam-se as disposições desta seção perti- início de carreira nela ingressam por concurso público de provas e
nentes a direitos, vedações e forma de investidura. títulos.
No mesmo viés, o artigo 24 da Lei Orgânica do MPU, especifica- Não é atribuição da Advocacia-Geral da União promover a exe-
damente sobre os diversos Ministérios Públicos no âmbito do MPU: cução de dívida ativa de natureza tributária, o que é feito pela Pro-
Art. 24. O Ministério Público da União compreende: curadoria-Geral da Fazenda Nacional.
I - O Ministério Público Federal; Respeitando uma relação de compatibilidade entre as unida-
II - o Ministério Público do Trabalho; des federadas, estabelece-se nos Estados e no Distrito Federal uma
III - o Ministério Público Militar; Procuradoria em cada qual deles.
IV - o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
Parágrafo único. A estrutura básica do Ministério Público da Artigo 131, CF. A Advocacia-Geral da União é a instituição que,
União será organizada por regulamento, nos termos da lei. diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União,
Cada um destes Ministérios Públicos atuará em seu âmbito de judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei com-
competência jurisdicional na qualidade de parte ou de fiscal da lei. plementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento,
Neste sentido, disciplina o CPC sobre a atuação do órgão na esfera as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder
cível: Executivo.
Art. 176. O Ministério Público atuará na defesa da ordem ju- § 1º A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-
rídica, do regime democrático e dos interesses e direitos sociais e -Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República
individuais indisponíveis. dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber
Art. 177. O Ministério Público exercerá o direito de ação em jurídico e reputação ilibada.
conformidade com suas atribuições constitucionais. § 2º O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição
Art. 178. O Ministério Público será intimado para, no prazo de de que trata este artigo far-se-á mediante concurso público de pro-
30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóte- vas e títulos.
ses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que § 3º Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a re-
envolvam: presentação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Na-
I - interesse público ou social; cional, observado o disposto em lei.
II - interesse de incapaz;
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. Artigo 132, CF. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Fe-
Parágrafo único. A participação da Fazenda Pública não confi- deral, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de
gura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público. concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem
Art. 179. Nos casos de intervenção como fiscal da ordem jurí- dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a repre-
dica, o Ministério Público: sentação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades
I - terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de federadas. 
todos os atos do processo; Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é
II - poderá produzir provas, requerer as medidas processuais assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, me-
pertinentes e recorrer. diante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após
Art. 180. O Ministério Público gozará de prazo em dobro para relatório circunstanciado das corregedorias. 
manifestar-se nos autos, que terá início a partir de sua intimação
pessoal, nos termos do art. 183, § 1º. 1. Prazo diferenciado
§ 1º Findo o prazo para manifestação do Ministério Público Art. 183, CPC. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Muni-
sem o oferecimento de parecer, o juiz requisitará os autos e dará cípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público
andamento ao processo. gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações pro-
§ 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a cessuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o Ministério O prazo da Fazenda Pública para se manifestar se conta sempre
Público. em dobro. No Código de Processo Civil de 1973 o prazo da Fazenda
Pública para contestar era em quádruplo e em dobro para recor-
ministerio-publico>. Acesso em: 15 jan. 2015.

27
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
rer. A regra se aplica a qualquer procedimento, comum, especial, § 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou
cumprimento de sentença (exceto impugnação) e execução (exceto suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repar-
embargos). A contagem de prazo diferenciado ocorre não somente tição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento
quando a Fazenda Pública atua como parte, mas também como as- de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo. 
sistente ou interveniente. Computa-se na contagem apenas os dias § 9º No momento da expedição dos precatórios,
úteis no caso de prazos processuais. independentemente de regulamentação, deles deverá ser abatido,
a título de compensação, valor correspondente aos débitos líqui-
2. Pagamento em precatórios dos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra
Precatório é o instrumento pelo qual o Poder Judiciário requisi- o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas
ta, à Fazenda Pública, o pagamento a que esta tenha sido condena- vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução es-
da em processo judicial. Grosso modo, é o documento pelo qual o teja suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial. 
Presidente de Tribunal, por solicitação do Juiz da causa, determina § 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará
o pagamento de dívida da União, de Estado, Distrito Federal ou do à Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias,
Município, por meio da inclusão do valor do débito no orçamento sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os
público. débitos que preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os
O tratamento dos precatórios na Constituição Brasileira foi fins nele previstos.
substancialmente alterado pela Emenda Constitucional nº 62/2009, § 11. É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei da
que conferiu nova redação ao artigo 100 do texto da Constituição. entidade federativa devedora, a entrega de créditos em precató-
rios para compra de imóveis públicos do respectivo ente federado. 
Artigo 100, CF. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional,
Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até
judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apre- o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será
sentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proi- feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de
bida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentá- poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros
rias e nos créditos adicionais abertos para este fim.  simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta
§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aque- de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensató-
les decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas rios.
complementações, benefícios previdenciários e indenizações por § 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus crédi-
morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em vir- tos em precatórios a terceiros, independentemente da concordân-
tude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com cia do devedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos §§
preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles re- 2º e 3º. 
feridos no § 2º deste artigo.  § 14. A cessão de precatórios somente produzirá efeitos após
§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, origi- comunicação, por meio de petição protocolizada, ao tribunal de ori-
nários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de gem e à entidade devedora. 
idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com defi- § 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar
ciência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferên- a esta Constituição Federal poderá estabelecer regime especial
cia sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo para pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Fe-
fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido deral e Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente
o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será líquida e forma e prazo de liquidação. 
pago na ordem cronológica de apresentação do precatório..  § 16. A seu critério exclusivo e na forma de lei, a União poderá
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição assumir débitos, oriundos de precatórios, de Estados, Distrito Fede-
de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações defi- ral e Municípios, refinanciando-os diretamente. 
nidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas § 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. aferirão mensalmente, em base anual, o comprometimento de
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por suas respectivas receitas correntes líquidas com o pagamento de
leis próprias, valores distintos às entidades de direito público, se- precatórios e obrigações de pequeno valor.
gundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual § 18. Entende-se como receita corrente líquida, para os fins de
ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social.
que trata o § 17, o somatório das receitas tributárias, patrimoniais,
§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de
industriais, agropecuárias, de contribuições e de serviços, de
direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débi-
transferências correntes e outras receitas correntes, incluindo as
tos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de
oriundas do § 1º do art. 20 da Constituição Federal, verificado no
precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o
período compreendido pelo segundo mês imediatamente anterior
pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus va-
ao de referência e os 11 (onze) meses precedentes, excluídas as
lores atualizados monetariamente.
duplicidades, e deduzidas:
§ 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão
consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presi- I - na União, as parcelas entregues aos Estados, ao Distrito Fe-
dente do Tribunal que proferir a decisão exequenda determinar o deral e aos Municípios por determinação constitucional;
pagamento integral e autorizar, a requerimento do credor e exclusi- II - nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por deter-
vamente para os casos de preterimento de seu direito de precedên- minação constitucional;
cia ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfa- III - na União, nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios,
ção do seu débito, o sequestro da quantia respectiva.  a contribuição dos servidores para custeio de seu sistema de previ-
§ 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato dência e assistência social e as receitas provenientes da compensa-
comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação ção financeira referida no § 9º do art. 201 da Constituição Federal.
regular de precatórios incorrerá em crime de responsabilidade e
responderá, também, perante o Conselho Nacional de Justiça. 

28
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 19. Caso o montante total de débitos decorrentes de § 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em
condenações judiciais em precatórios e obrigações de pequeno processo de ação cautelar inominada, no processo de ação popular
valor, em período de 12 (doze) meses, ultrapasse a média do e na ação civil pública, enquanto não transitada em julgado.
comprometimento percentual da receita corrente líquida nos 5 § 2º O Presidente do Tribunal poderá ouvir o autor e o
(cinco) anos imediatamente anteriores, a parcela que exceder Ministério Público, em setenta e duas horas.
esse percentual poderá ser financiada, excetuada dos limites § 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá
de endividamento de que tratam os incisos VI e VII do art. agravo, no prazo de cinco dias, que será levado a julgamento na
52 da Constituição Federal e de quaisquer outros limites de sessão seguinte a sua interposição.
endividamento previstos, não se aplicando a esse financiamento a § 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar
vedação de vinculação de receita prevista no inciso IV do art. 167 a manutenção ou o restabelecimento da decisão que se pretende
da Constituição Federal. suspender, caberá novo pedido de suspensão ao Presidente do
§ 20. Caso haja precatório com valor superior a 15% (quinze Tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial
por cento) do montante dos precatórios apresentados nos termos ou extraordinário.
do § 5º deste artigo, 15% (quinze por cento) do valor deste § 5º É cabível também o pedido de suspensão a que se refere
precatório serão pagos até o final do exercício seguinte e o restante o § 4º, quando negado provimento a agravo de instrumento
em parcelas iguais nos cinco exercícios subsequentes, acrescidas de interposto contra a liminar a que se refere este artigo.
juros de mora e correção monetária, ou mediante acordos diretos, § 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar
concedida nas ações movidas contra o Poder Público e seus
perante Juízos Auxiliares de Conciliação de Precatórios, com redu-
agentes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de
ção máxima de 40% (quarenta por cento) do valor do crédito atuali-
suspensão a que se refere este artigo.
zado, desde que em relação ao crédito não penda recurso ou defesa
§ 7º O Presidente do Tribunal poderá conferir ao pedido efeito
judicial e que sejam observados os requisitos definidos na regula-
suspensivo liminar, se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade
mentação editada pelo ente federado.
do direito invocado e a urgência na concessão da medida.
§ 8º As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas
3. Tutela provisória
em uma única decisão, podendo o Presidente do Tribunal estender
Em seu art. 1.059 o CPC determina que “à tutela provisória re-
os efeitos da suspensão a liminares supervenientes, mediante
querida contra a Fazenda Pública aplica-se o disposto nos arts. 1º
simples aditamento do pedido original.
a 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992, e no art. 7º, § 2º, da
§ 9º A suspensão deferida pelo Presidente do Tribunal vigorará
Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009”. Trata-se da disciplina que
até o trânsito em julgado da decisão de mérito na ação principal.
limita a fixação de tutela de urgência contra o poder público, com
Art. 7º, §2º, Lei nº 12.016/2009. Não será concedida medida
o seguinte teor:
liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários,
Art. 1°, Lei nº 8.437/1992. Não será cabível medida liminar con-
a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclas-
tra atos do Poder Público, no procedimento cautelar ou em quais-
sificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de
quer outras ações de natureza cautelar ou preventiva, toda vez que
aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer
providência semelhante não puder ser concedida em ações de man-
natureza.
dado de segurança, em virtude de vedação legal.
§ 1° Não será cabível, no juízo de primeiro grau, medida cautelar
4. Tutela executiva
inominada ou a sua liminar, quando impugnado ato de autoridade
A tutela executiva deve ser analisada sob duas perspectivas, em
sujeita, na via de mandado de segurança, à competência originária
face da fazenda pública e a favor da fazenda pública. A execução de
de tribunal.
um modo geral realiza-se no interesse do exequente, que conforme
§ 2° O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos
o art. 797, do CPC, adquire pela penhora o direito de preferência
processos de ação popular e de ação civil pública.
sobre os bens penhorados.
§ 3° Não será cabível medida liminar que esgote, no todo ou
em qualquer parte, o objeto da ação.
a) Tutela executiva em face da fazenda pública
§ 4° Nos casos em que cabível medida liminar, sem prejuízo
Entretanto, quando a fazenda pública é o executado há regras
da comunicação ao dirigente do órgão ou entidade, o respectivo
próprias pois, os bens públicos são em geral impenhoráveis e ina-
representante judicial dela será imediatamente intimado.
lienáveis. Nesse sentido, não há que se falar em adoção de medidas
§ 5º Não será cabível medida liminar que defira compensação
expropriatórias para satisfação do crédito, devendo o pagamento
de créditos tributários ou previdenciários.
ser feito mediante precatório ou requisição de pequeno valor (RPV).
Art. 2º, Lei nº 8.437/1992. No mandado de segurança coletivo e
Em relação a execução proposta pela fazenda pública encontra-
na ação civil pública, a liminar será concedida, quando cabível, após
-se sistematizada pelas normas do Código de Processo Civil, com as
a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito
modificações e particularidades da Lei 6.830. No antigo CPC a exe-
público, que deverá se pronunciar no prazo de setenta e duas horas.
cução contra fazenda pública seguia processo executivo autônomo,
Art. 3°, Lei nº 8.437/1992. O recurso voluntário ou ex officio,
o novo código evoluindo para o sincretismo processual estabeleceu
interposto contra sentença em processo cautelar, proferida contra
que para os títulos executivos judicias o procedimento sincrético de
pessoa jurídica de direito público ou seus agentes, que importe em
cumprimento de sentença, conforme os arts. 534 e 535.
outorga ou adição de vencimentos ou de reclassificação funcional,
Os títulos executivos judiciais reconhecem a existência de obri-
terá efeito suspensivo.
gação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia. Não hou-
Art. 4°, Lei nº 8.437/1992. Compete ao presidente do tribunal,
ve modificações nas regras para a execução de obrigação de fazer
ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso, suspender,
ou não fazer contra a fazenda pública, sendo cumpridas na forma
em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações mo-
do art.536 do CPC. Já a obrigação de entregar coisa certa segue a
vidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do
disciplina do art. 538. E por fim, a obrigação de pagar quantia certa
Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público interes-
sada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante ilegi- encontra-se prevista nos arts. 534 e 535. É importante ressaltar que
timidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança poucas alterações foram promovidas pelo NCPC, que retratou a ma-
e à economia públicas. téria semelhante ao CPC/73 (art. 461/461-A).

29
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Tratando-se do cumprimento se sentença que reconhece a exi- 1.000 salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias
gibilidade da obrigação de fazer ou não fazer, em relação a fixação e e fundações de direito público; (II) 500 salários-mínimos para os
exigência de multa, o agente público responsável pelo cumprimen- Estados, o Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações
to da ordem judicial deve responder tanto pelas astreintes como públicas de direito público e os Municípios que constituem capitais
pela punição de ato atentatório à dignidade da justiça. Na obriga- dos Estados; (III) 100 salários-mínimos para todos os demais Muni-
ção de fazer, o STJ aceita a execução (cumprimento) provisória de cípios e respectivas autarquias e fundações de direito público. Essa
sentença contra a Fazenda Pública. Porém, para obrigação de pagar mudança contribui para a eficiência da prestação jurisdicional, prin-
quantia certa, há de se observar o regime de precatórios e a ve- cipalmente, por a fazenda pública ser parte em grande número de
dação da Lei 9.494, art. 2.-B. Nos casos de obrigação de entregar processos. No antigo, nas hipóteses de reexame de ofício, determi-
coisa certa, repetem-se as exigências de indicação discriminada e nava-se que o juiz remetesse o processo para o tribunal, houvesse
valorada das benfeitorias, com alegação exclusiva na fase de conhe- ou não apelação (art. 475, § 1º). No CPC/15, o dever de remessa
cimento (art. 538, 1). está limitado aos casos em que não houver apelação.
O cumprimento de sentença é uma execução fiscal fundada em
título judicial, podendo ser provisório ou definitivo, quando ocorre
o trânsito em julgado o título é definitivo. O art.100 da Constituição
Federal exige, para expedição de precatório ou RPV, o trânsito em DEFENSORIA PÚBLICA
julgado. Entretanto, isso não impede o cumprimento provisório de
sentença contra a Fazenda Pública, pois, pode haver o ajuizamento TÍTULO VII
da ação de cumprimento de sentença adiantando o procedimento. DA DEFENSORIA PÚBLICA
No que diz respeito aos honorários na fase de cumprimento de sen-
tença a Lei 9.494/97, define que: “Art. 1.-D. Não serão devidos ho- Art. 185. A Defensoria Pública exercerá a orientação jurídica, a
norários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções não em- promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais
bargadas”. Assim, condiz entendimento do STF: “Na medida em que e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral
o caput do art. 100 condiciona o pagamento dos débitos da Fazenda e gratuita.
Publica à apresentação dos precatórios e sendo estes provenientes Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para
de uma provocação do Poder Judiciário, é razoável que seja a execu- todas as suas manifestações processuais.
tada desonerada do pagamento de honorários nas execuções não § 1º O prazo tem início com a intimação pessoal do defensor
embargadas, às quais inevitavelmente se deve se submeter para público, nos termos do art. 183, § 1º .
adimplir o crédito” (RE 420816/PR). § 2º A requerimento da Defensoria Pública, o juiz determinará
b) Tutela executiva a favor da fazenda pública a intimação pessoal da parte patrocinada quando o ato processual
depender de providência ou informação que somente por ela possa
Em relação a execução em favor da Fazenda Pública Manuten- ser realizada ou prestada.
ção as disposições do NCPC pouco alteram o procedimento de exe- § 3º O disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática
cução fiscal de forma substancial, haja vista sua aplicação subsidiá- jurídica das faculdades de Direito reconhecidas na forma da lei e
ria (Lei 6.830/80, art. 1). No que se refere a competência o antigo às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de
código previa no art. 578 que “ A execução fiscal será proposta no convênios firmados com a Defensoria Pública.
foro do domicílio do réu; se não o tiver, no de sua residência ou § 4º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a
no do lugar onde for encontrado”, já o novo CPC trouxe a seguinte lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para a Defensoria
redação “Art. 46. § 5o A execução fiscal será proposta no foro de Pública.
domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for en- Art. 187. O membro da Defensoria Pública será civil e regressi-
contrado assim, houve pequena alteração no texto da Lei que pos- vamente responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício
sibilitou uma abrangência maior de possibilidades de competência. de suas funções.
Quanto as certidões da dívida ativa poderão ser levadas a protesto.
O procedimento para realizar a execução fiscal começa a partir de Atribuição: orientação jurídica, a promoção dos direitos huma-
uma petição inicial simples, indicando o juiz a que deve ser dirigida, nos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados,
pedido e requerimento para citação do executado, valor da causa em todos os graus, de forma integral e gratuita.
que é o da dívida, e a certidão da dívida ativa. Ao exequente é per- A Defensoria Pública goza de prazo em dobro, não se aplicando
mitido averbar o ato de distribuição da execução fiscal, conforme caso a lei estabeleça prazo próprio.
o art.828: “O exequente poderá obter certidão de que a execução → A intimação pessoal ocorre por carga, remessa ou meio ele-
foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor da trônico.
causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou → A requerimento da Defensoria Pública, o juiz determinará
de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade”. A a intimação pessoal da parte patrocinada quando o ato processual
averbação permite que a Fazenda Pública caracterize como fraude depender de providência ou informação que somente por ela possa
à execução possíveis alienações ou onerações que forem feitas nos ser realizada ou prestada.
registros. Se frustradas as tentativas de citação do executado essa → O presente regramento é aplicado aos escritórios de prática
poderá ocorrer por meio de edital, caso o executado por edital não jurídica das faculdades de Direito reconhecidas na forma da lei e
se manifeste será nomeado curador especial. O executado será ci- às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de
tado para, no prazo de 5 dias pagar a dívida com os juros e multa de convênios firmados com a Defensoria Pública.
mora, além de encargos, ou garantir a execução, nomeando bens à
penhora conforme a regra de ordem do art.1, Lei 6.830/1980. Há Responsabilidade civil e regressivamente do membro da De-
uma diferença no prazo para o devedor solvente, 3 dias, e , para a fensoria Pública quando agir com dolo ou fraude no exercício de
execução que são 5 dias. Sobre a remessa necessária, a maior alte- suas funções.
ração trazida pelo CPC de 2015 foi em a relação a inaplicabilidade
quando a condenação for de valor certo e líquido inferior a: (I )

30
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
SEÇÃO II
ATOS PROCESSUAIS. FORMA DOS ATOS. TEMPO E LU- DA PRÁTICA ELETRÔNICA DE ATOS PROCESSUAIS
GAR. PRAZOS.COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSU-
AIS. NULIDADES. DISTRIBUIÇÃO E REGISTRO. VALOR Art. 193. Os atos processuais podem ser total ou parcialmente
DA CAUSA digitais, de forma a permitir que sejam produzidos, comunicados,
armazenados e validados por meio eletrônico, na forma da lei.
LIVRO IV Parágrafo único. O disposto nesta Seção aplica-se, no que for
DOS ATOS PROCESSUAIS cabível, à prática de atos notariais e de registro.
Art. 194. Os sistemas de automação processual respeitarão
TÍTULO I a publicidade dos atos, o acesso e a participação das partes e de
DA FORMA, DO TEMPO E DO LUGAR DOS ATOS PROCESSUAIS seus procuradores, inclusive nas audiências e sessões de julgamen-
to, observadas as garantias da disponibilidade, independência da
CAPÍTULO I plataforma computacional, acessibilidade e interoperabilidade dos
DA FORMA DOS ATOS PROCESSUAIS sistemas, serviços, dados e informações que o Poder Judiciário ad-
ministre no exercício de suas funções.
SEÇÃO I Art. 195. O registro de ato processual eletrônico deverá ser
DOS ATOS EM GERAL feito em padrões abertos, que atenderão aos requisitos de auten-
ticidade, integridade, temporalidade, não repúdio, conservação e,
Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de for- nos casos que tramitem em segredo de justiça, confidencialidade,
ma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, con- observada a infraestrutura de chaves públicas unificada nacional-
siderando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preen- mente, nos termos da lei.
cham a finalidade essencial. Art. 196. Compete ao Conselho Nacional de Justiça e, supleti-
Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam vamente, aos tribunais, regulamentar a prática e a comunicação
em segredo de justiça os processos: oficial de atos processuais por meio eletrônico e velar pela compa-
I - em que o exija o interesse público ou social; tibilidade dos sistemas, disciplinando a incorporação progressiva
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, di- de novos avanços tecnológicos e editando, para esse fim, os atos
vórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de que forem necessários, respeitadas as normas fundamentais deste
crianças e adolescentes; Código.
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucio- Art. 197. Os tribunais divulgarão as informações constantes de
nal à intimidade; seu sistema de automação em página própria na rede mundial de
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento computadores, gozando a divulgação de presunção de veracidade
de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbi- e confiabilidade.
tragem seja comprovada perante o juízo. Parágrafo único. Nos casos de problema técnico do sistema e
§ 1º O direito de consultar os autos de processo que tramite de erro ou omissão do auxiliar da justiça responsável pelo registro
em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às dos andamentos, poderá ser configurada a justa causa prevista no
partes e aos seus procuradores. art. 223, caput e § 1o.
§ 2º O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode reque- Art. 198. As unidades do Poder Judiciário deverão manter gra-
rer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inven- tuitamente, à disposição dos interessados, equipamentos necessá-
tário e de partilha resultantes de divórcio ou separação. rios à prática de atos processuais e à consulta e ao acesso ao siste-
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam au- ma e aos documentos dele constantes.
tocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mu- Parágrafo único. Será admitida a prática de atos por meio não
danças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa eletrônico no local onde não estiverem disponibilizados os equipa-
e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres mentos previstos no caput.
processuais, antes ou durante o processo. Art. 199. As unidades do Poder Judiciário assegurarão às pes-
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará soas com deficiência acessibilidade aos seus sítios na rede mundial
a validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes de computadores, ao meio eletrônico de prática de atos judiciais, à
aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva comunicação eletrônica dos atos processuais e à assinatura eletrô-
em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em nica.
manifesta situação de vulnerabilidade.
Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar ca- SEÇÃO III
lendário para a prática dos atos processuais, quando for o caso. DOS ATOS DAS PARTES
§ 1º O calendário vincula as partes e o juiz, e os prazos nele
previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devi- Art. 200. Os atos das partes consistentes em declarações uni-
damente justificados. laterais ou bilaterais de vontade produzem imediatamente a consti-
§ 2º Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato tuição, modificação ou extinção de direitos processuais.
processual ou a realização de audiência cujas datas tiverem sido de- Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeitos
signadas no calendário. após homologação judicial.
Art. 192. Em todos os atos e termos do processo é obrigatório Art. 201. As partes poderão exigir recibo de petições, arrazoa-
o uso da língua portuguesa. dos, papéis e documentos que entregarem em cartório.
Parágrafo único. O documento redigido em língua estrangeira Art. 202. É vedado lançar nos autos cotas marginais ou interli-
somente poderá ser juntado aos autos quando acompanhado de neares, as quais o juiz mandará riscar, impondo a quem as escrever
versão para a língua portuguesa tramitada por via diplomática ou multa correspondente à metade do salário-mínimo.
pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado.

31
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
SEÇÃO IV Art. 211. Não se admitem nos atos e termos processuais es-
DOS PRONUNCIAMENTOS DO JUIZ paços em branco, salvo os que forem inutilizados, assim como en-
trelinhas, emendas ou rasuras, exceto quando expressamente res-
Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em senten- salvadas.
ças, decisões interlocutórias e despachos.
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos CAPÍTULO II
especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, DO TEMPO E DO LUGAR DOS ATOS PROCESSUAIS
com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do
procedimento comum, bem como extingue a execução. SEÇÃO I
§ 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de DO TEMPO
natureza decisória que não se enquadre no § 1º.
§ 3º São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz Art. 212. Os atos processuais serão realizados em dias úteis,
praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte. das 6 (seis) às 20 (vinte) horas.
§ 4º Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista § 1º Serão concluídos após as 20 (vinte) horas os atos iniciados
obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de antes, quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave
ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário. dano.
Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos § 2º Independentemente de autorização judicial, as citações,
tribunais. intimações e penhoras poderão realizar-se no período de férias fo-
Art. 205. Os despachos, as decisões, as sentenças e os acórdãos renses, onde as houver, e nos feriados ou dias úteis fora do horário
serão redigidos, datados e assinados pelos juízes. estabelecido neste artigo, observado o disposto no art. 5º, inciso XI,
§ 1º Quando os pronunciamentos previstos no caput forem da Constituição Federal.
proferidos oralmente, o servidor os documentará, submetendo-os § 3º Quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição
aos juízes para revisão e assinatura. em autos não eletrônicos, essa deverá ser protocolada no horário
§ 2º A assinatura dos juízes, em todos os graus de jurisdição, de funcionamento do fórum ou tribunal, conforme o disposto na lei
pode ser feita eletronicamente, na forma da lei. de organização judiciária local.
§ 3º Os despachos, as decisões interlocutórias, o dispositivo Art. 213. A prática eletrônica de ato processual pode ocorrer
das sentenças e a ementa dos acórdãos serão publicados no Diário em qualquer horário até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia
de Justiça Eletrônico. do prazo.
Parágrafo único. O horário vigente no juízo perante o qual o
SEÇÃO V ato deve ser praticado será considerado para fins de atendimento
DOS ATOS DO ESCRIVÃO OU DO CHEFE DE SECRETARIA do prazo.
Art. 214. Durante as férias forenses e nos feriados, não se pra-
Art. 206. Ao receber a petição inicial de processo, o escrivão ou ticarão atos processuais, excetuando-se:
o chefe de secretaria a autuará, mencionando o juízo, a natureza I - os atos previstos no art. 212, § 2o;
do processo, o número de seu registro, os nomes das partes e a II - a tutela de urgência.
data de seu início, e procederá do mesmo modo em relação aos Art. 215. Processam-se durante as férias forenses, onde as
volumes em formação. houver, e não se suspendem pela superveniência delas:
Art. 207. O escrivão ou o chefe de secretaria numerará e rubri-
cará todas as folhas dos autos. I - os procedimentos de jurisdição voluntária e os necessários
Parágrafo único. À parte, ao procurador, ao membro do Mi- à conservação de direitos, quando puderem ser prejudicados pelo
nistério Público, ao defensor público e aos auxiliares da justiça é adiamento;
facultado rubricar as folhas correspondentes aos atos em que in- II - a ação de alimentos e os processos de nomeação ou remo-
tervierem. ção de tutor e curador;
Art. 208. Os termos de juntada, vista, conclusão e outros se- III - os processos que a lei determinar.
melhantes constarão de notas datadas e rubricadas pelo escrivão Art. 216. Além dos declarados em lei, são feriados, para efeito
ou pelo chefe de secretaria. forense, os sábados, os domingos e os dias em que não haja expe-
Art. 209. Os atos e os termos do processo serão assinados diente forense.
pelas pessoas que neles intervierem, todavia, quando essas não
puderem ou não quiserem firmá-los, o escrivão ou o chefe de secre- SEÇÃO II
taria certificará a ocorrência. DO LUGAR
§ 1º Quando se tratar de processo total ou parcialmente docu-
Art. 217. Os atos processuais realizar-se-ão ordinariamente na
mentado em autos eletrônicos, os atos processuais praticados na
sede do juízo, ou, excepcionalmente, em outro lugar em razão de
presença do juiz poderão ser produzidos e armazenados de modo
deferência, de interesse da justiça, da natureza do ato ou de obstá-
integralmente digital em arquivo eletrônico inviolável, na forma da
culo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz.
lei, mediante registro em termo, que será assinado digitalmente
pelo juiz e pelo escrivão ou chefe de secretaria, bem como pelos
1. Conceito
advogados das partes.
Atos são condutas humanas que geram repercussão no Direi-
§ 2º Na hipótese do § 1º, eventuais contradições na transcri-
to. Os atos processuais são os atos que possuem ligação com um
ção deverão ser suscitadas oralmente no momento de realização processo e repercutem nele. Na verdade, por definição, o processo
do ato, sob pena de preclusão, devendo o juiz decidir de plano e é um conjunto de atos que se sucedem no tempo e que têm por
ordenar o registro, no termo, da alegação e da decisão. objetivo a obtenção da tutela jurisdicional.
Art. 210. É lícito o uso da taquigrafia, da estenotipia ou de
outro método idôneo em qualquer juízo ou tribunal.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
2. Classificação quanto ao sujeito processual CAPÍTULO III
a) Atos da parte DOS PRAZOS
- Declarações unilaterais de vontade – postulações em geral e
manifestações de vontade. Ex: petição inicial e impugnação à con- SEÇÃO I
testação para o autor; contestação, exceções, impugnações e ações DISPOSIÇÕES GERAIS
declaratórias incidentais pelo réu.
- Declarações bilaterais de vontade – transações, acordos. Art. 218.  Os atos processuais serão realizados nos prazos pres-
critos em lei.
b) Atos do juiz § 1o Quando a lei for omissa, o juiz determinará os prazos em
No âmbito dos atos do juiz estão diversos provimentos ou pro- consideração à complexidade do ato.
nunciamentos, notadamente: § 2o Quando a lei ou o juiz não determinar prazo, as intimações
- Despacho ou despachos de mero expediente – são os atos somente obrigarão a comparecimento após decorridas 48 (quaren-
desprovidos de conteúdo decisório, dos quais não cabe recurso al- ta e oito) horas.
gum. § 3o Inexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz,
- Decisões interlocutórias – quando o juiz, no curso do proces- será de 5 (cinco) dias o prazo para a prática de ato processual a
so, resolve uma questão incidente, profere decisão durante o trâ- cargo da parte.
mite processual. § 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes do ter-
- Sentenças – art. 162, §1º – é o ato do juiz que implica numa mo inicial do prazo.
das situações, isto é, que contém uma das matérias, previstas nos Art. 219.  Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei
artigos 267 ou 269, desde que coloque fim ao processo todo ou à ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.
fase de cognição. Parágrafo único.  O disposto neste artigo aplica-se somente aos
- Acórdãos – decisões tomadas por um órgão colegiado. prazos processuais.
- Decisões monocráticas – as proferidas por um dos integran- Art. 220.  Suspende-se o curso do prazo processual nos dias
tes do colegiado, por exemplo, relator do acórdão. Cabe recurso, o compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive.
agravo interno (mesmo os embargos de declaração, se interpostos, § 1o Ressalvadas as férias individuais e os feriados instituídos
poderão ser recebidos como agravo interno), no prazo de 5 dias. por lei, os juízes, os membros do Ministério Público, da Defensoria
Pública e da Advocacia Pública e os auxiliares da Justiça exercerão
c) Atos dos servidores suas atribuições durante o período previsto no caput.
Os auxiliares da justiça também praticam atos processuais. § 2o Durante a suspensão do prazo, não se realizarão audiên-
Ex.: Oficial de justiça praticando o ato de penhora, citação ou cias nem sessões de julgamento.
intimação. Art. 221.  Suspende-se o curso do prazo por obstáculo criado
em detrimento da parte ou ocorrendo qualquer das hipóteses do
3. Formas e requisitos art. 313, devendo o prazo ser restituído por tempo igual ao que fal-
A lei buscou conciliar o princípio da liberdade de forma com o tava para sua complementação.
da legalidade. Parágrafo único.  Suspendem-se os prazos durante a execução
Em regra, os atos processuais não dependem de forma deter- de programa instituído pelo Poder Judiciário para promover a auto-
minada. Contudo, há casos em que a lei impõe determinada forma composição, incumbindo aos tribunais especificar, com antecedên-
para o ato processual, cominando a pena de nulidade para o seu cia, a duração dos trabalhos.
desrespeito. Por seu turno, a nulidade só será declarada se o ato Art. 222.  Na comarca, seção ou subseção judiciária onde for
não preencher a sua finalidade. difícil o transporte, o juiz poderá prorrogar os prazos por até 2 (dois)
São requisitos gerais: meses.
- redação no vernáculo, exigindo-se tradução juramentada se § 1o Ao juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem anuência
não estiverem em português; das partes.
- atos orais também praticados em português, podendo se fa- § 2o Havendo calamidade pública, o limite previsto no caput
zer presente intérprete; para prorrogação de prazos poderá ser excedido.
- atos datilografados ou escritos (salvo a possibilidade de grava- Art. 223.  Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar
ção fonográfica nos juizados especiais); ou de emendar o ato processual, independentemente de declaração
- veda-se o uso de abreviaturas e de espaços em branco; judicial, ficando assegurado, porém, à parte provar que não o rea-
- necessária a conferência de publicidade em regra (salvo se- lizou por justa causa.
gredo de justiça – interesse público e ações de família); praticados § 1o Considera-se justa causa o evento alheio à vontade da par-
na sede do juízo; te e que a impediu de praticar o ato por si ou por mandatário.
- praticados no prazo determinado; § 2o Verificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática
- realizados em dias úteis (sábado – predomina que é possível do ato no prazo que lhe assinar.
praticar atos externos com autorização do juiz como penhora e ci- Art. 224.  Salvo disposição em contrário, os prazos serão con-
tação, mas a contagem de prazos não pode começar nem terminar tados excluindo o dia do começo e incluindo o dia do vencimento.
nele porque não existe expediente forense), no curso do dia (das § 1o Os dias do começo e do vencimento do prazo serão protraí-
6 às 20 horas, sendo que o protocolo pode fechar antes conforme dos para o primeiro dia útil seguinte, se coincidirem com dia em que
previsão da lei de organização judiciária do órgão); nas férias foren- o expediente forense for encerrado antes ou iniciado depois da hora
ses, que somente existem em órgãos da 1ª instância, atos urgentes normal ou houver indisponibilidade da comunicação eletrônica.
e excepcionais podem ser praticados. § 2o Considera-se como data de publicação o primeiro dia útil
seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça
eletrônico.
§ 3o A contagem do prazo terá início no primeiro dia útil que
seguir ao da publicação.

33
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 225.  A parte poderá renunciar ao prazo estabelecido ex- Art. 232.  Nos atos de comunicação por carta precatória, ro-
clusivamente em seu favor, desde que o faça de maneira expressa. gatória ou de ordem, a realização da citação ou da intimação será
Art. 226.  O juiz proferirá: imediatamente informada, por meio eletrônico, pelo juiz deprecado
I - os despachos no prazo de 5 (cinco) dias; ao juiz deprecante.
II - as decisões interlocutórias no prazo de 10 (dez) dias;
III - as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias. SEÇÃO II
Art. 227.  Em qualquer grau de jurisdição, havendo motivo jus- DA VERIFICAÇÃO DOS PRAZOS E DAS PENALIDADES
tificado, pode o juiz exceder, por igual tempo, os prazos a que está
submetido. Art. 233.  Incumbe ao juiz verificar se o serventuário excedeu,
Art. 228.  Incumbirá ao serventuário remeter os autos conclu- sem motivo legítimo, os prazos estabelecidos em lei.
sos no prazo de 1 (um) dia e executar os atos processuais no prazo § 1o Constatada a falta, o juiz ordenará a instauração de pro-
de 5 (cinco) dias, contado da data em que: cesso administrativo, na forma da lei.
I - houver concluído o ato processual anterior, se lhe foi imposto § 2o Qualquer das partes, o Ministério Público ou a Defensoria
pela lei; Pública poderá representar ao juiz contra o serventuário que injusti-
II - tiver ciência da ordem, quando determinada pelo juiz. ficadamente exceder os prazos previstos em lei.
§ 1o Ao receber os autos, o serventuário certificará o dia e a Art. 234.  Os advogados públicos ou privados, o defensor pú-
hora em que teve ciência da ordem referida no inciso II. blico e o membro do Ministério Público devem restituir os autos no
§ 2o Nos processos em autos eletrônicos, a juntada de petições prazo do ato a ser praticado.
ou de manifestações em geral ocorrerá de forma automática, inde- § 1o É lícito a qualquer interessado exigir os autos do advogado
pendentemente de ato de serventuário da justiça. que exceder prazo legal.
Art. 229.  Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, § 2o Se, intimado, o advogado não devolver os autos no prazo
de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em do- de 3 (três) dias, perderá o direito à vista fora de cartório e incorrerá
bro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribu- em multa correspondente à metade do salário-mínimo.
nal, independentemente de requerimento. § 3o Verificada a falta, o juiz comunicará o fato à seção local
§ 1o Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas da Ordem dos Advogados do Brasil para procedimento disciplinar e
2 (dois) réus, é oferecida defesa por apenas um deles. imposição de multa.
§ 2o Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos § 4o Se a situação envolver membro do Ministério Público, da
eletrônicos. Defensoria Pública ou da Advocacia Pública, a multa, se for o caso,
Art. 230.  O prazo para a parte, o procurador, a Advocacia Pú- será aplicada ao agente público responsável pelo ato.
blica, a Defensoria Pública e o Ministério Público será contado da § 5o Verificada a falta, o juiz comunicará o fato ao órgão com-
citação, da intimação ou da notificação. petente responsável pela instauração de procedimento disciplinar
Art. 231.  Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia contra o membro que atuou no feito.
do começo do prazo: Art. 235.  Qualquer parte, o Ministério Público ou a Defensoria
I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento, quan- Pública poderá representar ao corregedor do tribunal ou ao Conse-
do a citação ou a intimação for pelo correio; lho Nacional de Justiça contra juiz ou relator que injustificadamente
II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando exceder os prazos previstos em lei, regulamento ou regimento in-
a citação ou a intimação for por oficial de justiça; terno.
III - a data de ocorrência da citação ou da intimação, quando § 1o Distribuída a representação ao órgão competente e ouvido
ela se der por ato do escrivão ou do chefe de secretaria; previamente o juiz, não sendo caso de arquivamento liminar, será
IV - o dia útil seguinte ao fim da dilação assinada pelo juiz, instaurado procedimento para apuração da responsabilidade, com
quando a citação ou a intimação for por edital; intimação do representado por meio eletrônico para, querendo,
V - o dia útil seguinte à consulta ao teor da citação ou da inti- apresentar justificativa no prazo de 15 (quinze) dias.
mação ou ao término do prazo para que a consulta se dê, quando a § 2o Sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis, em até
citação ou a intimação for eletrônica; 48 (quarenta e oito) horas após a apresentação ou não da justifica-
VI - a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 tiva de que trata o § 1o, se for o caso, o corregedor do tribunal ou
ou, não havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de ori- o relator no Conselho Nacional de Justiça determinará a intimação
gem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação se do representado por meio eletrônico para que, em 10 (dez) dias,
realizar em cumprimento de carta; pratique o ato.
VII - a data de publicação, quando a intimação se der pelo Diá- § 3o Mantida a inércia, os autos serão remetidos ao substituto
rio da Justiça impresso ou eletrônico; legal do juiz ou do relator contra o qual se representou para decisão
VIII - o dia da carga, quando a intimação se der por meio da em 10 (dez) dias.
retirada dos autos, em carga, do cartório ou da secretaria.
§ 1o Quando houver mais de um réu, o dia do começo do prazo Prazo é a distância de tempo entre dois atos. No processo é ne-
para contestar corresponderá à última das datas a que se referem cessário o estabelecimento de prazos para que ele não se eternize.
os incisos I a VI do caput. Quando o prazo tem a capacidade de gerar preclusão, trata-se de
§ 2o Havendo mais de um intimado, o prazo para cada um é prazo próprio; quando não existe a possibilidade de preclusão pelo
contado individualmente. desrespeito, o prazo é impróprio.
§ 3o Quando o ato tiver de ser praticado diretamente pela par- De modo geral, a natureza dos prazos impostos às partes é
te ou por quem, de qualquer forma, participe do processo, sem a preclusiva, significa que o desrespeito implica na perda da facul-
intermediação de representante judicial, o dia do começo do prazo dade processual de praticar o ato. Por exemplo, se não contestar a
para cumprimento da determinação judicial corresponderá à data ação será revel. Contudo, nem todos os prazos são preclusivos. Por
em que se der a comunicação. exemplo, se não se manifestar sobre os documentos juntados pelo
§ 4o Aplica-se o disposto no inciso II do caput à citação com réu pode fazê-lo depois.
hora certa.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Já os atos impostos ao juiz e aos seus auxiliares não são preclu- III - precatória, para que órgão jurisdicional brasileiro pratique
sivos, não há perda da faculdade e nem desaparecimento da obriga- ou determine o cumprimento, na área de sua competência territo-
ção de praticar o ato. Por exemplo, o juiz não se exime do dever de rial, de ato relativo a pedido de cooperação judiciária formulado por
sentenciar porque passou o prazo de 10 dias previsto em lei. órgão jurisdicional de competência territorial diversa;
Nos prazos impróprios, sanções administrativas e outras são IV - arbitral, para que órgão do Poder Judiciário pratique ou de-
possíveis, mas não sanções processuais. termine o cumprimento, na área de sua competência territorial, de
A lei fixa o prazo – em anos, meses, dias, horas ou minutos. Em ato objeto de pedido de cooperação judiciária formulado por juízo
casos excepcionais as partes podem convencionar os prazos. arbitral, inclusive os que importem efetivação de tutela provisória.
Os prazos legais se classificam em peremptórios, que não po- Parágrafo único.  Se o ato relativo a processo em curso na justi-
dem ser modificados pela vontade das partes (ex: resposta, recurso, ça federal ou em tribunal superior houver de ser praticado em local
incidente de falsidade, nomeação de bens à penhora, embargos do onde não haja vara federal, a carta poderá ser dirigida ao juízo
devedor, ajuizamento de ação principal após cautelar), e dilatórios, estadual da respectiva comarca.
que podem ser reduzidos ou prorrogados por convenção das par-
tes (ex: arrolar testemunhas, formular quesitos, manifestar sobre a O CPC/2015 inova ao criar uma modalidade de carta denomi-
produção de provas). nada arbitral, que serve para que um juízo de arbitragem solicite ao
Na contagem de prazo, exclui-se o dia do começo e inclui-se o Judiciário as providências para fazer com que a decisão arbitral seja
dia do vencimento, mas o prazo não pode iniciar e nem terminar cumprida. A Lei nº 9307/1996 reformulou o instituto da arbitragem
em dia que seja dia útil. no Brasil, de modo que a sentença arbitral não estaria mais sujeita à
O prazo pode ser suspenso (hipóteses do artigo 180, CPC) ou homologação pelo Poder Judiciário, tendo caráter definitivo, sendo
interrompido (quando o réu requerer desmembramento do proces- que a escolha do juízo arbitral geraria extinção do processo sem jul-
so em virtude de litisconsórcio multitudinário). gamento do mérito. Logo, para fins de dizer o direito o juízo arbitral
Na falta de determinação legal, o prazo é de 5 dias. tem bastante força, mas a lei não transfere a ele o poder de coação
que só o Estado tem. Então, para que o juízo arbitral faça valer na
TÍTULO II prática suas decisões, satisfazendo o credor, precisa da colaboração
DA COMUNICAÇÃO DOS ATOS PROCESSUAIS do Judiciário e o instrumento para fazê-lo é a carta arbitral.

CAPÍTULO I CAPÍTULO II
DISPOSIÇÕES GERAIS DA CITAÇÃO

Os atos processuais serão comunicados a quem de interesse Art. 238.  Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o
– partes, testemunhas, Ministério Público, intervenientes. A lei pro- executado ou o interessado para integrar a relação processual.
cessual regula como se dá a comunicação destes atos.
Citação é o ato pelo qual se dá ciência ao réu, ao executado
Art. 236.  Os atos processuais serão cumpridos por ordem ju- (na ação de execução autônoma, pois quando a execução se dá em
dicial. fase seguida ao processo de conhecimento ou no curso dele – exe-
§ 1o Será expedida carta para a prática de atos fora dos limites cução provisória – não é necessária nova citação) ou ao interessado
territoriais do tribunal, da comarca, da seção ou da subseção judi- (interveniente. Ex.: denunciação da lide; chamamento ao proces-
ciárias, ressalvadas as hipóteses previstas em lei. so) da existência do processo, concedendo-lhe a possibilidade de
§ 2o O tribunal poderá expedir carta para juízo a ele vinculado, se defender. A finalidade da citação é cientificar o réu, o executado
se o ato houver de se realizar fora dos limites territoriais do local de ou o interessado de que há um processo em curso e que eles têm
sua sede. oportunidade para defender-se.
§ 3o Admite-se a prática de atos processuais por meio de video- A citação é um ato essencial no processo, porque ela que com-
conferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e pleta a relação jurídico-processual. Até que ocorra a citação válida o
imagens em tempo real. processo existe apenas para autor e juiz, mas não para o réu. Neste
sentido, a citação é pressuposto processual de existência. Por seu
O juiz determina a prática do ato processual que deva ser le- turno, é preciso lembrar que no início da fase postulatória o réu ain-
vado a conhecimento alheio. Ex.: manifestar-se sobre determinado da não foi chamado ao processo, como quando a inicial é indeferida
assunto ou comparecer a uma audiência. Logo, para que o ato seja ou quando se dá a improcedência liminar do pedido sem interposi-
praticado é preciso dar ciência da determinação judicial neste sen- ção de apelação. Além disso, mesmo que a citação se dê contrária
tido. à forma estabelecida em lei, se convalidará com o comparecimento
Contudo, o juiz possui competência limitada porque a jurisdi- do citando ao processo. Em outras palavras, se o citando compa-
ção, ainda que seja una, é dividida em parcelas. Cada juiz possui recer ao processo para arguir a nulidade ele será tido como citado
uma parcela de jurisdição e não pode ingressar na parcela alheia. (a citação não precisa se renovar) e se sua arguição for acolhida se
Então, se o juiz determinar a prática de um ato processual fora dos abrirá novo prazo para resposta (se não for acolhida será tido como
limites de sua jurisdição precisará solicitar a cooperação do juízo revel no processo de conhecimento e perderá o prazo para opor
competente mediante carta (precatória entre juízos dentro do Bra- embargos à execução no processo de execução).
sil, rogatória para juízo fora do Brasil, de ordem quando partir do
Tribunal para juízo de primeira instância). Art. 239.  Para a validade do processo é indispensável a citação
do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento
Art. 237.  Será expedida carta: da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido.
I - de ordem, pelo tribunal, na hipótese do § 2o do art. 236; § 1o O comparecimento espontâneo do réu ou do executado
II - rogatória, para que órgão jurisdicional estrangeiro pratique supre a falta ou a nulidade da citação, fluindo a partir desta data
ato de cooperação jurídica internacional, relativo a processo em o prazo para apresentação de contestação ou de embargos à exe-
curso perante órgão jurisdicional brasileiro; cução.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 2o Rejeitada a alegação de nulidade, tratando-se de processo tante, se relativamente incapaz tanto pessoalmente quanto pelo
de: seu representante), ou indireta, quando feita a alguém que tenha
I - conhecimento, o réu será considerado revel; poderes de vincular o réu (procurador legalmente habilitado ou ter-
II - execução, o feito terá seguimento. ceiro que por força de lei ou contrato tenha poderes de vincular
o réu, como seu empregado ou preposto, aceitando-se quanto a
A citação válida gera efeitos determinados: pessoas jurídicas a dispensa da formalidade de entrega direta ao
a) Induz litispendência: a ação considera-se proposta quando destinatário/sócio ou administrador).
distribuída, eis que o artigo 312 do CPC/2015 prevê que “considera-
-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, toda- Art. 242.  A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita
via, a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos men- na pessoa do representante legal ou do procurador do réu, do exe-
cionados no art. 240 depois que for validamente citado”. Uma vez cutado ou do interessado.
proposta, existe lide pendente. Contudo, o efeito da litispendência § 1o Na ausência do citando, a citação será feita na pessoa de
somente se opera com a citação válida. Por isso, se existirem, em seu mandatário, administrador, preposto ou gerente, quando a
curso, duas ou mais demandas idênticas, deverá permanecer ape- ação se originar de atos por eles praticados.
nas aquela em que se aperfeiçoou a primeira citação válida. As de- § 2o O locador que se ausentar do Brasil sem cientificar o lo-
mais deverão ser extintas. catário de que deixou, na localidade onde estiver situado o imó-
b) Faz litigiosa a coisa: é com a citação válida que o objeto do vel, procurador com poderes para receber citação será citado na
processo se torna litigioso. Isso é muito importante para fins de pessoa do administrador do imóvel encarregado do recebimento
fraude contra credores e fraude À execução, porque a alienação de dos aluguéis, que será considerado habilitado para representar o
bem, quando sobre ele pender ação fundada em direito real, ou de locador em juízo.
bens, quando correr contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo § 3o A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
à insolvência, será em fraude à execução, desde que o devedor já Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações de direito
tenha sido citado. público será realizada perante o órgão de Advocacia Pública respon-
c) Constitui em mora o devedor: o devedor reputa-se em mora sável por sua representação judicial.
desde o momento em que citado, salvo se tiver sido constituído em
mora anteriormente. Há obrigações que possuem termo certo de Art. 243.  A citação poderá ser feita em qualquer lugar em que
vencimento nas quais o devedor está em mora transcorrido o prazo se encontre o réu, o executado ou o interessado.
para adimplemento (ex.: contratos com prazo); além de casos em Parágrafo único.  O militar em serviço ativo será citado na uni-
que a lei fixa termo anterior para a mora, como no caso dos atos dade em que estiver servindo, se não for conhecida sua residência
ilícitos, constituindo-se em mora da data do fato. Não obstante, é ou nela não for encontrado.
possível constituir em mora antes da citação, por exemplo, median-
te notificação extrajudicial. Art. 244. Não se fará a citação, salvo para evitar o perecimento
d) Interrompe a prescrição: a citação válida interrompe a pres- do direito:
crição, ainda quando ordenada por juízo incompetente. Tal efeito se I - de quem estiver participando de ato de culto religioso;
estende aos prazos decadenciais. Frisa-se que para o efeito retroa- II - de cônjuge, de companheiro ou de qualquer parente do mor-
tivo à propositura da ação se operar é preciso que a citação ocorra to, consanguíneo ou afim, em linha reta ou na linha colateral em
dentro de 10 dias da propositura, mas se houver demora que não segundo grau, no dia do falecimento e nos 7 (sete) dias seguintes;
se justifique por culpa do autor (ex: ele recolheu as custas e o oficial III - de noivos, nos 3 (três) primeiros dias seguintes ao casa-
de justiça demorou pra fazer a diligência, ou a carta de citação se mento;
extraviou) o efeito se opera mesmo ultrapassado o prazo. Caso não IV - de doente, enquanto grave o seu estado.
seja interrompida a tempo e se consume, o juiz declarará a prescri-
ção de ofício, extinguindo o processo. Art. 245.  Não se fará citação quando se verificar que o citando
é mentalmente incapaz ou está impossibilitado de recebê-la.
Art. 240.  A citação válida, ainda quando ordenada por juízo in- § 1o O oficial de justiça descreverá e certificará minuciosamen-
competente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui te a ocorrência.
em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da § 2o Para examinar o citando, o juiz nomeará médico, que apre-
Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). sentará laudo no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 1o A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que § 3o Dispensa-se a nomeação de que trata o § 2o se pessoa da
ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, re- família apresentar declaração do médico do citando que ateste a
troagirá à data de propositura da ação. incapacidade deste.
§ 2o Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as pro- § 4o Reconhecida a impossibilidade, o juiz nomeará curador ao
vidências necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não se citando, observando, quanto à sua escolha, a preferência estabele-
aplicar o disposto no § 1o. cida em lei e restringindo a nomeação à causa.
§ 3o A parte não será prejudicada pela demora imputável ex- § 5o A citação será feita na pessoa do curador, a quem incum-
clusivamente ao serviço judiciário. birá a defesa dos interesses do citando.
§ 4o O efeito retroativo a que se refere o § 1o aplica-se à deca-
dência e aos demais prazos extintivos previstos em lei. Por sua vez, a lei processual estabelece quatro tipos de citação:
pelo correio, por oficial de justiça, por edital e por meio eletrônico.
Quanto às modalidades de citação, a regra é que seja pessoal Distinguem-se, entre essas espécies, formas de citação real e ficta.
(mediante correio ou oficial de justiça), aceitando-se excepcional- É real quando se tem certeza de que ela chegou a conhecimento do
mente que seja ficta (por hora certa pelo oficial de justiça ou por réu e é ficta aquela que não é recebida diretamente pelo réu (moti-
edital mediante publicação). vo pelo qual, se ele não comparece, é nomeado curador especial).
A citação pessoal pode ser direta, quando feita na pessoa do A citação por edital e a citação por hora certa (que é uma espé-
citando ou de seu representante legal (se for capaz o citando será cie de citação por mandado – oficial de justiça) são as duas espécies
citado pessoalmente, se absolutamente incapaz pelo seu represen- de citação ficta. A citação real se dá por correio ou por mandado.

36
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
A citação deve ser real, aceitando-se a ficta excepcionalmente. da portaria responsável pelo recebimento de correspondência, que,
Então, primeiro serão tomadas providências para localizar o citando entretanto, poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito,
caso faltem informações neste sentido, viabilizando a citação real. sob as penas da lei, que o destinatário da correspondência está au-
Em regra, a citação real se fará por correio com AR (aviso de rece- sente.
bimento), mas a lei prevê casos em que a citação deve ser feita por Art. 249.  A citação será feita por meio de oficial de justiça nas
oficial de justiça e assegura que quando a citação por correio for hipóteses previstas neste Código ou em lei, ou quando frustrada a
infrutífera será feita nova tentativa por oficial de justiça. Também citação pelo correio.
ocorre citação real quando feita por meio eletrônico para pessoas Art. 250.  O mandado que o oficial de justiça tiver de cumprir
devidamente cadastradas no sistema para recebê-la. conterá:
Quando não for possível a citação real, por exemplo, porque o I - os nomes do autor e do citando e seus respectivos domicílios
réu não foi encontrado apesar das diligências ou porque ele está se ou residências;
esquivando propositalmente de recebê-la, parte-se para a citação II - a finalidade da citação, com todas as especificações cons-
ficta. A citação ficta por hora certa é realizada por oficial de justiça tantes da petição inicial, bem como a menção do prazo para contes-
munido de mandado quando por duas vezes ele tenta encontrar o tar, sob pena de revelia, ou para embargar a execução;
citando e não consegue, percebendo que ele na verdade está se III - a aplicação de sanção para o caso de descumprimento da
ocultando (requisitos cumulativos: não encontrar + intenção de ordem, se houver;
ocultação), de modo que ele deixa avisado que voltará em dia e IV - se for o caso, a intimação do citando para comparecer,
hora seguintes para citar, mesmo que o citando não esteja presen- acompanhado de advogado ou de defensor público, à audiência de
te. A citação ficta por edital mediante publicação na internet é feita conciliação ou de mediação, com a menção do dia, da hora e do
quando o réu não é encontrado apesar de inúmeras tentativas, não lugar do comparecimento;
sendo o caso de citar por hora certa porque não se tem certeza do V - a cópia da petição inicial, do despacho ou da decisão que
endereço e nem se percebe a ocultação, ou quando a lei determina deferir tutela provisória;
a citação geral de réus indeterminados. VI - a assinatura do escrivão ou do chefe de secretaria e a de-
claração de que o subscreve por ordem do juiz.
Art. 246.  A citação será feita: Art. 251.   Incumbe ao oficial de justiça procurar o citando e,
I - pelo correio; onde o encontrar, citá-lo:
II - por oficial de justiça; I - lendo-lhe o mandado e entregando-lhe a contrafé;
III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando compa- II - portando por fé se recebeu ou recusou a contrafé;
recer em cartório; III - obtendo a nota de ciente ou certificando que o citando
IV - por edital; não a apôs no mandado.
V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei. Art. 252.  Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver
§ 1o Com exceção das microempresas e das empresas de peque- procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o encon-
no porte, as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter trar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer pes-
cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efei- soa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia útil
to de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetua- imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que designar.
das preferencialmente por esse meio. Parágrafo único.  Nos condomínios edilícios ou nos loteamen-
§ 2o O disposto no § 1o aplica-se à União, aos Estados, ao Dis- tos com controle de acesso, será válida a intimação a que se refere o
trito Federal, aos Municípios e às entidades da administração in- caput feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimento
direta. de correspondência.
§ 3o Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão cita- Art. 253.  No dia e na hora designados, o oficial de justiça, inde-
dos pessoalmente, exceto quando tiver por objeto unidade autôno- pendentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou à
ma de prédio em condomínio, caso em que tal citação é dispensada. residência do citando a fim de realizar a diligência.
Art. 247.  A citação será feita pelo correio para qualquer co- § 1o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça pro-
marca do país, exceto: curará informar-se das razões da ausência, dando por feita a ci-
I - nas ações de estado, observado o disposto no art. 695, § 3o; tação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca,
II - quando o citando for incapaz; seção ou subseção judiciárias.
III - quando o citando for pessoa de direito público; § 2o A citação com hora certa será efetivada mesmo que a pes-
IV - quando o citando residir em local não atendido pela entre- soa da família ou o vizinho que houver sido intimado esteja au-
ga domiciliar de correspondência; sente, ou se, embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se
V - quando o autor, justificadamente, a requerer de outra for- recusar a receber o mandado.
ma.
§ 3o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará con-
Art. 248.  Deferida a citação pelo correio, o escrivão ou o chefe
trafé com qualquer pessoa da família ou vizinho, conforme o caso,
de secretaria remeterá ao citando cópias da petição inicial e do
declarando-lhe o nome.
despacho do juiz e comunicará o prazo para resposta, o endereço
§ 4o O oficial de justiça fará constar do mandado a advertência
do juízo e o respectivo cartório.
de que será nomeado curador especial se houver revelia.
§ 1o A carta será registrada (AR)para entrega ao citando, exi-
Art. 254.  Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe
gindo-lhe o carteiro, ao fazer a entrega, que assine o recibo.
de secretaria enviará ao réu, executado ou interessado, no prazo
§ 2o Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entrega do
mandado a pessoa com poderes de gerência geral ou de adminis- de 10 (dez) dias, contado da data da juntada do mandado aos au-
tração ou, ainda, a funcionário responsável pelo recebimento de tos, carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de
correspondências. tudo ciência.
§ 3o Da carta de citação no processo de conhecimento consta- Art. 255.  Nas comarcas contíguas de fácil comunicação e nas
rão os requisitos do art. 250. que se situem na mesma região metropolitana, o oficial de justiça
§ 4o Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com con- poderá efetuar, em qualquer delas, citações, intimações, notifica-
trole de acesso, será válida a entrega do mandado a funcionário ções, penhoras e quaisquer outros atos executivos.
Art. 256.  A citação por edital será feita:

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
I - quando desconhecido ou incerto o citando; Entre os requisitos essenciais das cartas estão a menção do juí-
II - quando ignorado, incerto ou inacessível o lugar em que se zo deprecante e do deprecado, a íntegra do ato judicial sobre o qual
encontrar o citando; se refere a carta, além do mandato dos advogados e da assinatura
III - nos casos expressos em lei. do juiz.
§ 1o Considera-se inacessível, para efeito de citação por edital,
o país que recusar o cumprimento de carta rogatória. Art. 261.  Em todas as cartas o juiz fixará o prazo para cumpri-
§ 2o No caso de ser inacessível o lugar em que se encontrar o mento, atendendo à facilidade das comunicações e à natureza da
réu, a notícia de sua citação será divulgada também pelo rádio, se diligência.
na comarca houver emissora de radiodifusão. § 1o As partes deverão ser intimadas pelo juiz do ato de expe-
§ 3o O réu será considerado em local ignorado ou incerto se dição da carta.
infrutíferas as tentativas de sua localização, inclusive mediante § 2o Expedida a carta, as partes acompanharão o cumprimento
requisição pelo juízo de informações sobre seu endereço nos cadas- da diligência perante o juízo destinatário, ao qual compete a prática
tros de órgãos públicos ou de concessionárias de serviços públicos. dos atos de comunicação.
Art. 257.  São requisitos da citação por edital: § 3o A parte a quem interessar o cumprimento da diligência
I - a afirmação do autor ou a certidão do oficial informando a cooperará para que o prazo a que se refere o caput seja cumprido.
presença das circunstâncias autorizadoras;
II - a publicação do edital na rede mundial de computadores, Toda carta tem fixado prazo para ser cumprido. No mais, a car-
no sítio do respectivo tribunal e na plataforma de editais do Conse- ta não se cumprirá automaticamente, caberá à parte interessada
lho Nacional de Justiça, que deve ser certificada nos autos; tomar providências para tanto. Sempre que a carta é distribuída se
III - a determinação, pelo juiz, do prazo, que variará entre 20 cria um número de acompanhamento do processo, cadastrando-se
(vinte) e 60 (sessenta) dias, fluindo da data da publicação única ou, os advogados, que irão praticar atos no curso da carta.
havendo mais de uma, da primeira;
IV - a advertência de que será nomeado curador especial em Art. 262.  A carta tem caráter itinerante, podendo, antes ou
caso de revelia. depois de lhe ser ordenado o cumprimento, ser encaminhada a juízo
Parágrafo único.  O juiz poderá determinar que a publicação diverso do que dela consta, a fim de se praticar o ato.
do edital seja feita também em jornal local de ampla circulação ou Parágrafo único.  O encaminhamento da carta a outro juízo
por outros meios, considerando as peculiaridades da comarca, da será imediatamente comunicado ao órgão expedidor, que intima-
seção ou da subseção judiciárias. rá as partes.
Art. 258.  A parte que requerer a citação por edital, alegando
dolosamente a ocorrência das circunstâncias autorizadoras para Nos termos da legislação, se o juízo deprecado não tiver como
sua realização, incorrerá em multa de 5 (cinco) vezes o salário-mí- cumprir a Carta porque esta deve ser cumprida em outro lugar de-
nimo. verá remetê-la ao juízo competente e não devolvê-la não cumpri-
Parágrafo único.  A multa reverterá em benefício do citando. da ao juízo deprecante. Na prática, sabemos que nem sempre isso
Art. 259.  Serão publicados editais:  ocorre.
I - na ação de usucapião de imóvel;
II - na ação de recuperação ou substituição de título ao por- Art. 263.  As cartas deverão, preferencialmente, ser expedidas
tador; por meio eletrônico, caso em que a assinatura do juiz deverá ser
III - em qualquer ação em que seja necessária, por determina- eletrônica, na forma da lei.
ção legal, a provocação, para participação no processo, de interes-
sados incertos ou desconhecidos. Art. 264.  A carta de ordem e a carta precatória por meio eletrô-
nico, por telefone ou por telegrama conterão, em resumo substan-
CAPÍTULO III cial, os requisitos mencionados no art. 250, especialmente no que
DAS CARTAS se refere à aferição da autenticidade.

Art. 260.  São requisitos das cartas de ordem, precatória e ro- Art. 265.  O secretário do tribunal, o escrivão ou o chefe de se-
gatória: cretaria do juízo deprecante transmitirá, por telefone, a carta de
I - a indicação dos juízes de origem e de cumprimento do ato; ordem ou a carta precatória ao juízo em que houver de se cumprir o
II - o inteiro teor da petição, do despacho judicial e do instru- ato, por intermédio do escrivão do primeiro ofício da primeira vara,
mento do mandato conferido ao advogado; se houver na comarca mais de um ofício ou de uma vara, observan-
III - a menção do ato processual que lhe constitui o objeto; do-se, quanto aos requisitos, o disposto no art. 264.
IV - o encerramento com a assinatura do juiz. § 1o O escrivão ou o chefe de secretaria, no mesmo dia ou no
§ 1o O juiz mandará trasladar para a carta quaisquer outras dia útil imediato, telefonará ou enviará mensagem eletrônica ao se-
peças, bem como instruí-la com mapa, desenho ou gráfico, sempre cretário do tribunal, ao escrivão ou ao chefe de secretaria do juízo
que esses documentos devam ser examinados, na diligência, pelas deprecante, lendo-lhe os termos da carta e solicitando-lhe que os
partes, pelos peritos ou pelas testemunhas. confirme.
§ 2o Quando o objeto da carta for exame pericial sobre docu- § 2o Sendo confirmada, o escrivão ou o chefe de secretaria sub-
mento, este será remetido em original, ficando nos autos reprodu- meterá a carta a despacho.
ção fotográfica. Art. 266.  Serão praticados de ofício os atos requisitados por
§ 3o A carta arbitral atenderá, no que couber, aos requisitos a meio eletrônico e de telegrama, devendo a parte depositar, contu-
que se refere o caput e será instruída com a convenção de arbitra- do, na secretaria do tribunal ou no cartório do juízo deprecante, a
gem e com as provas da nomeação do árbitro e de sua aceitação importância correspondente às despesas que serão feitas no juízo
da função. em que houver de praticar-se o ato.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
A carta emitida por meio eletrônico tem os mesmos requisitos ria Pública ou pelo Ministério Público implicará intimação de qual-
da carta impressa. Por uma questão de celeridade processual o ato quer decisão contida no processo retirado, ainda que pendente de
é praticado de ofício e depois a parte pagará por ele. publicação.
§ 7o O advogado e a sociedade de advogados deverão requerer
Art. 267.  O juiz recusará cumprimento a carta precatória ou o respectivo credenciamento para a retirada de autos por prepos-
arbitral, devolvendo-a com decisão motivada quando: to.
I - a carta não estiver revestida dos requisitos legais; § 8o A parte arguirá a nulidade da intimação em capítulo pre-
II - faltar ao juiz competência em razão da matéria ou da hie- liminar do próprio ato que lhe caiba praticar, o qual será tido por
rarquia; tempestivo se o vício for reconhecido.
III - o juiz tiver dúvida acerca de sua autenticidade. § 9o Não sendo possível a prática imediata do ato diante da
Parágrafo único.  No caso de incompetência em razão da ma- necessidade de acesso prévio aos autos, a parte limitar-se-á a ar-
téria ou da hierarquia, o juiz deprecado, conforme o ato a ser pra- guir a nulidade da intimação, caso em que o prazo será contado da
ticado, poderá remeter a carta ao juiz ou ao tribunal competente. intimação da decisão que a reconheça.
Art. 268. Cumprida a carta, será devolvida ao juízo de origem Art. 273.  Se inviável a intimação por meio eletrônico e não
no prazo de 10 (dez) dias, independentemente de traslado, pagas as houver na localidade publicação em órgão oficial, incumbirá ao es-
custas pela parte. crivão ou chefe de secretaria intimar de todos os atos do processo
os advogados das partes:
A carta poderá ser cumprida e devolvida ao juízo de origem ou I - pessoalmente, se tiverem domicílio na sede do juízo;
então o juízo deprecado poderá se recusar a cumpri-la, apresentan- II - por carta registrada, com aviso de recebimento, quando fo-
do justificativas. Não cabe recusa desmotivada ou justificada fora rem domiciliados fora do juízo.
das hipóteses do artigo 267. Art. 274.  Não dispondo a lei de outro modo, as intimações se-
rão feitas às partes, aos seus representantes legais, aos advogados
CAPÍTULO IV e aos demais sujeitos do processo pelo correio ou, se presentes em
DAS INTIMAÇÕES cartório, diretamente pelo escrivão ou chefe de secretaria.
Parágrafo único.  Presumem-se válidas as intimações dirigidas
Art. 269.  Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém ao endereço constante dos autos, ainda que não recebidas pes-
dos atos e dos termos do processo. soalmente pelo interessado, se a modificação temporária ou defi-
§ 1o É facultado aos advogados promover a intimação do ad- nitiva não tiver sido devidamente comunicada ao juízo, fluindo os
vogado da outra parte por meio do correio, juntando aos autos, a prazos a partir da juntada aos autos do comprovante de entrega da
seguir, cópia do ofício de intimação e do aviso de recebimento. correspondência no primitivo endereço.
§ 2o O ofício de intimação deverá ser instruído com cópia do Art. 275.  A intimação será feita por oficial de justiça quando
despacho, da decisão ou da sentença. frustrada a realização por meio eletrônico ou pelo correio.
§ 3o A intimação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos § 1o  A certidão de intimação deve conter:
Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações de direito I - a indicação do lugar e a descrição da pessoa intimada, men-
público será realizada perante o órgão de Advocacia Pública res- cionando, quando possível, o número de seu documento de identi-
ponsável por sua representação judicial. dade e o órgão que o expediu;
Art. 270.  As intimações realizam-se, sempre que possível, por II - a declaração de entrega da contrafé;
meio eletrônico, na forma da lei. III - a nota de ciente ou a certidão de que o interessado não a
Parágrafo único.  Aplica-se ao Ministério Público, à Defensoria apôs no mandado.
§ 2o Caso necessário, a intimação poderá ser efetuada com
Pública e à Advocacia Pública o disposto no § 1o do art. 246.
hora certa ou por edital.
Art. 271.  O juiz determinará de ofício as intimações em pro-
cessos pendentes, salvo disposição em contrário.
Intimação é o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e
Art. 272.  Quando não realizadas por meio eletrônico, consi-
termos do processo, geralmente para que faça ou deixe de fazer
deram-se feitas as intimações pela publicação dos atos no órgão
alguma coisa. A intimação pode ser voltada às partes, aos auxilia-
oficial.
res da justiça (peritos, depositários, testemunhas) ou a terceiros a
§ 1o Os advogados poderão requerer que, na intimação a eles
quem cumpre realizar determinado ato no processo. A intimação é
dirigida, figure apenas o nome da sociedade a que pertençam, des-
necessária sempre que o destinatário não tome ciência do ato dire-
de que devidamente registrada na Ordem dos Advogados do Brasil. tamente (ex.: se está na audiência não precisa ser intimado). Quase
§ 2o Sob pena de nulidade, é indispensável que da publicação sempre a intimação é feita na pessoa do advogado.
constem os nomes das partes e de seus advogados, com o respec- São pessoais à parte aquelas intimações em que há determi-
tivo número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, ou, se nação judicial para que ela própria cumpra determinado ato para o
assim requerido, da sociedade de advogados. qual não se exige capacidade postulatória. Os demais atos devem
§ 3o A grafia dos nomes das partes não deve conter abrevia- ser comunicados ao advogado porque em geral ele que toma ciên-
turas. cia das decisões, das designações de audiência, das provas determi-
§ 4o A grafia dos nomes dos advogados deve corresponder ao nadas e da sentença.
nome completo e ser a mesma que constar da procuração ou que Sempre que possível a intimação se faz por meio eletrônico,
estiver registrada na Ordem dos Advogados do Brasil. com publicação no Diário Oficial eletrônico (portal próprio disponí-
§ 5o Constando dos autos pedido expresso para que as comuni- vel na Internet). Dispensa-se a publicação no Diário Oficial impres-
cações dos atos processuais sejam feitas em nome dos advogados so. A intimação deve conter os nomes das partes (salvo segredo de
indicados, o seu desatendimento implicará nulidade. justiça, resumindo-se às iniciais) e dos advogados com o número da
§ 6o A retirada dos autos do cartório ou da secretaria em carga OAB, informações suficientes para a identificação. O prazo corre da
pelo advogado, por pessoa credenciada a pedido do advogado ou data da publicação, excluído o dia de início e incluído o do final. É
da sociedade de advogados, pela Advocacia Pública, pela Defenso- nestes moldes que se faz a intimação do advogado.

39
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Determinados órgãos têm o Direito de serem intimados pes- familiar, ação rescisória e rescisão de contrato. Perceba-se que a
soalmente com abertura de vistas, como o Ministério Público, a De- ação constitutiva pode ser voluntária (há litígio) ou necessária (não
fensoria Pública, a Fazenda Pública. há litígio mas a lei obriga).
Já o modo prioritário de intimação das partes e dos seus repre- c) Condenatórias (execução forçada) – É aquela em que se re-
sentantes legais é a intimação pelo correio, cabendo, no entanto, conhece um dever de prestar cujo inadimplemento autoriza o início
a intimação em cartório se eles se fizerem presentes. Frustrada a da fase de cumprimento e de execução. Resulta na formação de um
intimação pelo correio, se faz por oficial de justiça. título executivo judicial. O juiz não só declara a existência do direito
em favor do autor, mas concede a ele a possibilidade de valer-se
- Nulidades de sanção executiva, fornecendo-lhe meios para tanto. A eficácia é
Quando a lei estabelece forma, a sua inobservância pode ex tunc, retroagindo à data da propositura da ação. Ex.: cobrança,
acarretar ineficácia do ato processual. O mesmo ocorre se houver indenizatória, repetição de indébito, ação de regresso.
desrespeito a requisitos quanto ao seu modo, tempo e lugar. Tais Em geral, as sentenças condenatórias já indicam qual o bem
imperfeições podem ser reduzidas a três categorias: meras irregu- devido pelo réu e sua quantidade. No entanto, admitem-se senten-
laridades, nulidades e inexistência. ças condenatórias alternativas (decide pela existência de uma obri-
Os atos meramente irregulares derivam da não observância de gação de dar coisa incerta ou de uma obrigação alternativa, reco-
formalidades que não são tão relevantes, não gerando nenhuma nhecendo ambas, embora só uma deva ser cumprida), genéricas ou
consequência no processo. Ex.: usou tinta clara e não escura na prá- ilíquidas (é necessário propor uma fase de liquidação da sentença
tica do ato. determinando o quantum), e condicionais (exigência condicionada
Nulidades processuais são as que decorrem da não observân- de evento futuro certo – termo – ou incerto – condição).
cia de requisitos de validade. A nulidade sana-se com o decurso do d) Executivas lato sensu (autoexecutoriedade) – É aquela que
tempo. No processo civil, não existem nulidades de pleno direito. contém mecanismos que permitem a imediata satisfação do ven-
Sendo assim, a nulidade deve ser declarada. Reconhecida, faz com cedor sem a necessidade de início da nova fase no processo. Têm
que sejam refeitos os atos processuais prejudicados pela nulidade. natureza condenatória e dispensam a fase de execução para que o
As nulidades podem ser absolutas, quando atingirem interesse de comando da sentença seja cumprido, isto é, a satisfação não é obti-
ordem pública (podendo ser reconhecidas de ofício e alegadas por da em 2 fases, mas em uma só. Logo que transita em julgado, é ex-
qualquer das partes e pelo Ministério Público), e relativas, quando pedido mandado judicial para cumprir a sentença, sem que se exija
somente atingirem os interesses das partes (somente a parte inte- outro ato processual. Ex.: despejo, reintegração de posse, todas as
ressada poderá alegar). Independente do tipo de nulidade, o siste- demandas para entrega de coisa que sejam procedentes.
ma processual adota o critério da instrumentalidade das formas e e) Mandamentais ou injuncionais (ordem) – São aquelas que
da preservação dos atos processuais – sendo assim, não há nulida- contêm uma ordem que deve ser cumprida pelo próprio destina-
de sem prejuízo. Se buscará a regularização das nulidades repetindo tário (e não por um serventuário), sob pena de crime ou multa e
apenas os atos visivelmente prejudicados por ela. penas do artigo 14. Enfim, o juiz profere uma declaração reconhe-
Atos inexistentes são aqueles sem os quais o processo nem ao cendo o direito, condena o réu, aplicando uma sanção, que não é
menos existe. Por exemplo, se a citação não respeitar os requisitos simplesmente a condenação, é também a imposição de uma me-
e o réu não comparecer ao processo, para ele este é inexistente. Ele dida, um comando, que permite a tomada de medidas concretas e
poderá entrar com ação declaratória de inexistência. efetivas para o vencedor satisfazer seu direito sem a necessidade
de processo autônomo de execução. Descumprida a ordem, o juiz
pode determinar providências que pressionem o devedor, como a
fixação de multa diária, conhecidas como astreintes. Ex.: mandado
TUTELA PROVISÓRIA. TUTELA DE URGÊNCIA.DISPOSI- de segurança, obrigações de fazer ou não fazer.
ÇÕES GERAIS
Obs.: A principal diferença entre a executiva lato sensu e a
Tipos e formas de tutela jurisdicional mandamental é que na mandamental quem tem que cumprir é o
- Tutelas de conhecimento: nos processos de conhecimento devedor, ao passo que na executiva, se o devedor não cumprir es-
é possível detectar 5 espécies de tutela jurisdicional que podem pontaneamente, o Estado o fará.
ser prestadas, conforme a classificação de Pontes de Miranda. Esta
classificação doutrinária fixa as tutelas cuja eficácia prepondera na Não obstante, há quem defenda uma sexta categoria. A catego-
sentença que presta a jurisdição. ria “f” seria a das sentenças determinativas ou dispositivas (norma-
a) Meramente declaratórias (certificação) – É aquela pela qual tização) – Alguns autores estabelecem esta categoria – É aquela em
o juiz atesta ou certifica a existência ou não de uma relação / si- que o juiz, com sua vontade, complementa a vontade do legislador
tuação jurídica controvertida ou a falsidade / autenticidade de um e cria uma norma jurídica específica para o caso concreto. Ex.: regu-
documento. Natureza ex tunc. Não forma título executivo. Ex.: in- lamentação de visitas, revisão de cláusula contratual.
vestigatória de paternidade, usucapião, nulidade de negócio jurídi- Marcus Vinícius Rios Gonçalves, contra a classificação de Pon-
co, sentenças de improcedência, interdição (posição majoritária). tes de Miranda, diz que mandamental e executiva são 2 espécies de
Obs.: Em toda sentença, mesmo que o pedido tenha por essên- tutela condenatória.
cia outro cunho, o juiz declara quem tem razão. Então, toda senten- - Tutelas de urgência: existem tutelas jurisdicionais que serão
ça é declaratória, ainda que não em sua essência. Contudo, algumas prestadas em caráter de urgência, podendo ser cautelar ou anteci-
são exclusivamente declaratórias. pada.
b) Constitutivas ou desconstitutivas (inovação) – É aquela pela a) Cautelar – A tutela jurisdicional cautelar é aquela que serve
qual o juiz cria (positivas, constituem), modifica (modificativas, al- para proteger pessoas, provas e bens em situação de risco: as medi-
teram) ou extingue (negativas, desconstituem) uma relação ou si- das para assegurar bens compreendem as que visam garantir uma
tuação jurídica. Natureza ex nunc. Não forma título executivo. Ex.: futura execução forçada e as que somente procuram manter um
adoção, adjudicação compulsória, ação de revisão de cláusula con- estado de coisa; as medidas para assegurar pessoas compreendem
tratual, modificação de guarda, divórcio, desconstituição do poder providências relativas à guarda provisória de pessoas e as destina-

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
das a satisfazer suas necessidades urgentes; as medidas para asse- TÍTULO II
gurar provas compreendem a antecipação de coleta de elementos DA TUTELA DE URGÊNCIA
de convicção a serem utilizadas na futura instrução do processo
principal. CAPÍTULO I
b) Antecipada – A tutela jurisdicional antecipada é aquela que DISPOSIÇÕES GERAIS
antecipa o resultado útil do processo e confere ao postulante aquilo
que somente teria quando da decisão final transitada em julgado. Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver
- Tutela inibitória: Esta forma de tutela tem por objetivo, prote- elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
ger o direito, a pretensão antes que efetivamente venha ser lesado de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
ou mesmo ameaçado, sendo, portanto, forma preventiva de tutela. § 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, confor-
Trata-se de tutela anterior à sua prática, e não de uma tutela volta- me o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir
da para o passado, como a tradicional tutela ressarcitória. os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser
dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder
Tutela definitiva oferecê-la.
Foi aprofundada anteriormente. § 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou
após justificação prévia.
Tutela provisória § 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será con-
cedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da
LIVRO V decisão.
DA TUTELA PROVISÓRIA Art. 301.  A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser
efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, regis-
TÍTULO I tro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida
DISPOSIÇÕES GERAIS idônea para asseguração do direito.
Art. 302.  Independentemente da reparação por dano proces-
Art. 294.  A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência sual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de
ou evidência. urgência causar à parte adversa, se:
Parágrafo único.  A tutela provisória de urgência, cautelar ou I - a sentença lhe for desfavorável;
antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou inci- II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não
dental. fornecer os meios necessários para a citação do requerido no prazo
A tutela de urgência é baseada na necessidade de se assegurar de 5 (cinco) dias;
o provimento jurisdicional, retirando do risco o bem jurídico; já a III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hi-
tutela de evidência se baseia apenas no fato de ser autoevidente a pótese legal;
alegação ou no fato de persistir uma conduta protelatória no feito. IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da
Sendo assim, a primeira pode ser antecedente ou incidental, ao pas- pretensão do autor.
so que a segunda somente será incidental. Parágrafo único.  A indenização será liquidada nos autos em
Art. 295. A tutela provisória requerida em caráter incidental que a medida tiver sido concedida, sempre que possível.
independe do pagamento de custas.
Se requeria a tutela provisória (cautelar ou de mérito) no curso CAPÍTULO II
do processo de conhecimento dispensa-se o recolhimento de custas. DO PROCEDIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA
EM CARÁTER ANTECEDENTE
Art. 296.  A tutela provisória conserva sua eficácia na pendên-
cia do processo, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou mo- Art. 303.  Nos casos em que a urgência for contemporânea à
dificada. propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao requeri-
Parágrafo único.  Salvo decisão judicial em contrário, a tutela mento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela fi-
provisória conservará a eficácia durante o período de suspensão nal, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do
do processo. perigo de dano ou do risco ao resultado útil do processo.
Art. 297.  O juiz poderá determinar as medidas que considerar § 1o Concedida a tutela antecipada a que se refere o caput des-
adequadas para efetivação da tutela provisória. te artigo:
Parágrafo único.  A efetivação da tutela provisória observará I - o autor deverá aditar a petição inicial, com a complemen-
as normas referentes ao cumprimento provisório da sentença, no tação de sua argumentação, a juntada de novos documentos e a
que couber. confirmação do pedido de tutela final, em 15 (quinze) dias ou em
Art. 298.  Na decisão que conceder, negar, modificar ou revogar outro prazo maior que o juiz fixar;
a tutela provisória, o juiz motivará seu convencimento de modo II - o réu será citado e intimado para a audiência de conciliação
claro e preciso. ou de mediação na forma do art. 334;
Art. 299.  A tutela provisória será requerida ao juízo da causa III - não havendo autocomposição, o prazo para contestação
e, quando antecedente, ao juízo competente para conhecer do pe- será contado na forma do art. 335.
dido principal. § 2o Não realizado o aditamento a que se refere o inciso I do §
Parágrafo único.  Ressalvada disposição especial, na ação de 1o deste artigo, o processo será extinto sem resolução do mérito.
competência originária de tribunal e nos recursos a tutela provisó- § 3o O aditamento a que se refere o inciso I do § 1o deste ar-
ria será requerida ao órgão jurisdicional competente para apreciar tigo dar-se-á nos mesmos autos, sem incidência de novas custas
o mérito. processuais.
§ 4o Na petição inicial a que se refere o caput deste artigo, o
autor terá de indicar o valor da causa, que deve levar em conside-
ração o pedido de tutela final.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 5o O autor indicará na petição inicial, ainda, que pretende va- I - o autor não deduzir o pedido principal no prazo legal;
ler-se do benefício previsto no caput deste artigo. II - não for efetivada dentro de 30 (trinta) dias;
§ 6o Caso entenda que não há elementos para a concessão de III - o juiz julgar improcedente o pedido principal formulado
tutela antecipada, o órgão jurisdicional determinará a emenda da pelo autor ou extinguir o processo sem resolução de mérito.
petição inicial em até 5 (cinco) dias, sob pena de ser indeferida e de Parágrafo único.  Se por qualquer motivo cessar a eficácia da
o processo ser extinto sem resolução de mérito. tutela cautelar, é vedado à parte renovar o pedido, salvo sob novo
Art. 304.  A tutela antecipada, concedida nos termos do art. fundamento.
303, torna-se estável se da decisão que a conceder não for interpos-
to o respectivo recurso. Art. 310. O indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a
§ 1o No caso previsto no caput, o processo será extinto. parte formule o pedido principal, nem influi no julgamento desse,
§ 2o Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intui- salvo se o motivo do indeferimento for o reconhecimento de deca-
to de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada dência ou de prescrição.
nos termos do caput.
§ 3o A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não TÍTULO III
revista, reformada ou invalidada por decisão de mérito proferida na DA TUTELA DA EVIDÊNCIA
ação de que trata o § 2o.
§ 4o Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independente-
dos autos em que foi concedida a medida, para instruir a petição mente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resulta-
inicial da ação a que se refere o § 2o, prevento o juízo em que a tute- do útil do processo, quando:
la antecipada foi concedida. I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o mani-
§ 5o O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela anteci- festo propósito protelatório da parte;
pada, previsto no § 2o deste artigo, extingue-se após 2 (dois) anos, II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas do-
contados da ciência da decisão que extinguiu o processo, nos ter- cumentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos re-
mos do § 1o. petitivos ou em súmula vinculante;
§ 6o A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova do-
a estabilidade dos respectivos efeitos só será afastada por decisão cumental adequada do contrato de depósito, caso em que será de-
que a revir, reformar ou invalidar, proferida em ação ajuizada por cretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação
uma das partes, nos termos do § 2o deste artigo. de multa;
IV - a petição inicial for instruída com prova documental sufi-
CAPÍTULO III ciente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não
DO PROCEDIMENTO DA TUTELA CAUTELAR REQUERIDA EM oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
CARÁTER ANTECEDENTE Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá
decidir liminarmente.
Art. 305.  A petição inicial da ação que visa à prestação de tute-
la cautelar em caráter antecedente indicará a lide e seu fundamen- 1. Tutela provisória: cautelar e antecipada de mérito
to, a exposição sumária do direito que se objetiva assegurar e o Basicamente, o pedido cautelar e o pedido de antecipação de
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. tutela8 visam preservar os possíveis resultados finais a serem obti-
Parágrafo único.  Caso entenda que o pedido a que se refere dos pelas vias de conhecimento e de execução. Tratam-se de ins-
o caput tem natureza antecipada, o juiz observará o disposto no trumentos de que a atividade jurisdicional dispõe para contornar
art. 303. os efeitos deletérios do tempo sobre o processo: por exemplo, de
Art. 306.  O réu será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, nada valeria condenar o obrigado a entregar a coisa devida se ela
contestar o pedido e indicar as provas que pretende produzir. não existisse com o término do processo ou garantir à parte o di-
Art. 307.  Não sendo contestado o pedido, os fatos alegados reito de recolher o depoimento de uma testemunha se ela já tiver
pelo autor presumir-se-ão aceitos pelo réu como ocorridos, caso falecido antes da fase instrutória, tal como de nada adianta obrigar
em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias. o autor a esperar que seja proferida a decisão final transitada em
Parágrafo único.  Contestado o pedido no prazo legal, observar- julgado se ele não tiver condições de esperar este momento e aca-
-se-á o procedimento comum. be exposto a risco, ou então se a justiça tardar em excesso.
Art. 308.  Efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de
8 Destaca-se que popularmente a “tutela antecipada de mérito” é conhecida
ser formulado pelo autor no prazo de 30 (trinta) dias, caso em que
como “liminar”. A popularidade decorre do fato de que apenas com a Lei nº
será apresentado nos mesmos autos em que deduzido o pedido de
8.952, de 13.12.1994, que alterou o CPC/1973, é que foi criada a expressão “tu-
tutela cautelar, não dependendo do adiantamento de novas custas
tela antecipada de mérito”, aplicável a toda espécie de ação em que se fizessem
processuais.
presentes os requisitos. Até este momento, a única possibilidade de o juiz ante-
§ 1o O pedido principal pode ser formulado conjuntamente
cipar o resultado útil do processo decorria da chamada “liminar” prevista para
com o pedido de tutela cautelar.
as ações possessórias. O CPC/1973 utilizava a expressão “liminar” também, em
§ 2o A causa de pedir poderá ser aditada no momento de for-
outros momentos, para se referir ao momento processual em que uma decisão
mulação do pedido principal.
era tomada – e o mesmo ocorre no CPC/2015. No último caso, “liminar” corres-
§ 3o  Apresentado o pedido principal, as partes serão intima-
ponde a uma circunstância em que o juiz pode decidir numa fase muito inicial
das para a audiência de conciliação ou de mediação, na forma do
do processo, antes mesmo de ouvir o réu. Logo, quando se fala em concessão de
art. 334, por seus advogados ou pessoalmente, sem necessidade de
tutela antecipada de mérito de forma liminar, refere-se tecnicamente à situação
nova citação do réu.
em que o juiz dá a medida antes de permitir o pleno exercício do contraditório
§ 4o Não havendo autocomposição, o prazo para contestação
pelo réu: “inaudita altera pars” ou após audiência de justificação. Com efeito, a
será contado na forma do art. 335.
expressão “liminar”, apesar de popular, não é tecnicamente a mais correta para
Art. 309.  Cessa a eficácia da tutela concedida em caráter an-
ser empregada, devendo-se preferir pelas expressões “antecipação de tutela”,
tecedente, se:
“tutela antecipada” ou “tutela antecipada de mérito”.

42
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
No código de processo civil existem duas tutelas provisórias, perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo”. Como o
a tutela antecipada de mérito e a medida cautelar. A diferença é próprio nome diz, quando a tutela é de urgência, significa que a
que na tutela antecipada de mérito o juiz concede (total ou parcial- sua concessão é de necessidade premente, sob pena de se criar um
mente) o provimento jurisdicional, ainda que em caráter provisório, risco ou um dano ao resultado do processo. Aqui, se expressam os
antes do momento em que normalmente o faria (sentença). Então, requisitos clássicos da tutela cautelar, com pequenas adaptações
na tutela antecipada o juiz adianta a resposta de mérito que, caso terminológicas: “fumus boni iuris” e “periculum in mora”.
contrário, apenas viria na sentença. O objeto da tutela de urgência consiste na pretensão de que o
Diferentemente, na medida cautelar são tomadas providên- juiz afaste a crise de segurança, a situação de perigo, motivo pelo
cias que visam afastar um risco existente para garantir a eficácia qual o “fumus boni juris” e o “periculum in mora” constituem o mé-
do provimento jurisdicional. Logo, não há adiantamento do pedi- rito a ser discutido, em cognição sumária. Sem estes, o pedido deve
do. A cautelar serve para proteger pessoas, provas e bens em si- ser rejeitado, embora tal rejeição não impeça, em regra, a conces-
tuação de risco: as medidas para assegurar bens compreendem as são da tutela definitiva.
que visam garantir uma futura execução forçada e as que somente a) “Fumus boni juris”: é a aparência do bom direito ou, melhor
procuram manter um estado de coisa; as medidas para assegurar dizendo, conforme a redação do novo Código, é a probabilidade do
pessoas compreendem providências relativas à guarda provisória direito. O juiz precisa verificar se o provimento no processo princi-
de pessoas e as destinadas a satisfazer suas necessidades urgentes; pal tem probabilidade de ser deferido. O juiz deve valer-se da pro-
as medidas para assegurar provas compreendem a antecipação de porcionalidade, sobrepesando as consequências da concessão ou
coleta de elementos de convicção a serem utilizadas na futura ins- não da medida. O CPC/1973, como não unificava as tutelas anteci-
trução do processo principal. pada e cautelar, utilizava expressões diversas ao fixar os requisitos
Tanto o pedido cautelar quando o pedido de tutela antecipada destas: falava-se, para a tutela antecipada, em verossimilhança da
podem ser feitos em processo autônomo, antes do processo de co- alegação. Na época, alguns doutrinadores defendiam que o grau de
nhecimento principal (caráter antecipado), ou dentro do processo certeza para a concessão da tutela antecipada deveria ser maior, eis
principal (caráter incidental). A tutela cautelar cabe enquanto hou- que verossimilhança da alegação é mais forte do que aparência do
ver risco ao provimento jurisdicional, antes ou durante o processo direito. Hoje, com a unificação das tutelas, a discussão perde o sen-
de conhecimento. Cabe na execução somente para assegurar a sa- tido: o requisito é o mesmo, tanto para as cautelares quanto para
tisfação do crédito. as tutelas antecipadas, bastando a probabilidade do direito. Ressal-
ta-se, nos dizeres de Theodoro Jr, que “incertezas ou imprecisões
2. Da fungibilidade à unificação das tutelas provisórias a respeito do direito material do requerente não podem assumir a
A distinção entre as duas tutelas de urgência – tutela antecipa- força de impedir-lhe o acesso à tutela cautelar. [...] Somente é de
da de mérito e tutela cautelar – era mais importante até a criação cogitar-se da ausência do ‘fumus boni juris’ quando, pela aparência
da fungibilidade, segundo a qual o juiz pode conceder uma medida exterior da pretensão substancial, se divise a fatal carência de ação
pela outra. Basicamente, o juiz, diante de um pedido de tutela pro- ou a inevitável rejeição do pedido, pelo mérito”.
visória cautelar pode entender que é mais adequado conferir uma b) “Periculum in mora”: é o perigo da demora, ou, conforme
tutela provisória de antecipação, e vice-versa, optando por uma tu- a redação do novo Código, o perigo de dano ou o risco ao resulta-
tela cautelar quando a parte solicitou uma tutela de antecipação de do útil do processo. No CPC/1973, falava-se em “fundado receio de
mérito. Não se exige requerimento expresso da parte, trata-se de dano irreparável ou de difícil reparação” no que tange às tutelas
liberdade do juiz que se insere em seu poder-dever geral de cautela antecipadas e em “fundado receio de que uma parte, antes do jul-
e antecipação. gamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil
A fungibilidade já vinha prevista no artigo 273 do CPC/1973, reparação” no que tange às cautelares – a redação era bastante se-
mas o novo CPC foi além, tratando de ambas em um título único melhante e queria dizer a mesma coisa: é preciso perigo decorrente
(“tutela de urgência e tutela de evidência”). Isso é a unificação das da demora. O novo Código opta por expressar “periculum in mora”
tutelas. Não significa que as tutelas deixaram de ser fungíveis, ainda com a redação “perigo de dano ou o risco ao resultado útil do pro-
o são. Contudo, hoje, mais que fungíveis, são unificadas e se sujei- cesso”. O provimento final deve estar correndo um risco, não sendo
tam a regime jurídico muito semelhante e, em alguns pontos, como possível aguardar o julgamento. O temor deve ser fundado e objeti-
em relação aos requisitos para a concessão, idêntico. Destaca-se a vo, mesmo que se trate de cognição sumária. Basicamente, há o ris-
previsão sobre a fungibilidade de tutelas no artigo 305, parágrafo co de perecimento, destruição, desvio, deterioração ou de qualquer
único, permitindo que o juiz siga outro procedimento na tutela pe-
mutação das pessoas, bens ou provas que sejam necessários para a
dida em caráter antecedente se pensar que se trata de tutela ante-
perfeita e eficaz atuação do provimento final do processo principal.
cipada e não cautelar.
O dano deve ser fundado (trata-se de um receio objetivo de
que ele ocorrerá, demonstrado por um fato concreto), iminente (o
3. Tutelas de urgência e de evidência: requisitos e traços co-
dano ocorrerá em breve) e de grave ou de difícil reparação (deve
muns
afetar o objeto da ação principal a ponto de tornar impossível a re-
Disciplina o artigo 294, CPC: “A tutela provisória pode funda-
paração, impedindo ou dificultando imensamente a restituição ao
mentar-se em urgência ou evidência”. Com efeito, existem duas
modalidades de tutela provisória previstas no Código de Processo estado original).
Civil, cada qual se voltando a circunstâncias específicas e exigindo Com efeito, as tutelas de urgência se baseiam, fundamental-
também requisitos próprios. Em comum, tem-se que ambas são mente, na existência de risco. A elas não basta que a parte consiga
providências de caráter provisório, que serão substituídas em algum provar com clareza, desde logo, o seu direito. É preciso mais, é exi-
momento pela tutela definitiva, que vem apenas com a sentença ou gido que se prove que a não concessão da medida gerará risco de
acórdão transitado em julgado, do qual não caiba mais recurso. Am- dano ou perigo ao resultado útil do processo. Eis o principal traço
bas conservam eficácia durante todo o processo, embora possam distintivo das tutelas de evidência, eis que nestas há um conten-
a qualquer momento ser revogadas (artigo 296, parágrafo único). tamento com o requisito da aparência do direito, dispensada por
Quanto aos requisitos das tutelas de urgência, tem-se o caput completo a existência de perigo. No entanto, as tutelas de evidên-
do artigo 300, CPC: “A tutela de urgência será concedida quando cia, como o próprio nome diz, exigem mais do que um direito que
houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o seja aparente: o direito deve ser praticamente certo, garantido. Ba-

43
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
sicamente, o juiz sabe que é muito difícil que o resultado útil con- d) “a petição inicial for instruída com prova documental sufi-
ferido em tutela definitiva sofra qualquer alteração em relação à ciente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não
tutela provisória de evidência. oponha prova capaz de gerar dúvida razoável” (inciso IV): mais uma
Disciplina, sobre as tutelas de evidência, o artigo 311: “A tutela vez exige-se, de um lado, que o autor consiga provar seu direito
da evidência será concedida, independentemente da demonstra- apenas por provas documentais, o que caracteriza a essência pro-
ção de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, batória do “direito líquido e certo”; e, cumulativamente, que o réu
quando: não tenha oposto provas com capacidade de gerar dúvida razoável
I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o mani- em sua defesa.
festo propósito protelatório da parte;
II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas do- ATENÇÃO: o parágrafo único do artigo 311 prevê que “nas hipó-
cumentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos re- teses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente”, o que
petitivos ou em súmula vinculante; significa que o juiz poderá decidir independentemente da oitiva do
III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova do- réu, ficando o contraditório diferido para um momento processual
cumental adequada do contrato de depósito, caso em que será de- futuro após a concessão da tutela de evidência. O motivo é bastan-
cretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação te óbvio: no caso do inciso I, para que ocorra abuso de direito de de-
de multa; fesa/intuito protelatório é preciso que o processo já tenha durado
IV - a petição inicial for instruída com prova documental sufi- algum tempo e que o réu nele já esteja se defendendo; no caso do
ciente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não inciso IV, o juiz é obrigado a dar oportunidade para que o réu gere
oponha prova capaz de gerar dúvida razoável”. “dúvida razoável”, o que não ocorreria se a tutela de evidência fosse
concedida imediatamente. Nos casos dos incisos II e III, a existência
A primeira coisa a se notar é a expressa dispensa da demons- de defesa do réu é dispensável.
tração do “periculum in mora” quando se utiliza a expressão “inde-
pendentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco 4. Características gerais das tutelas provisórias
ao resultado útil do processo”. Exige-se, contudo, a aparência do a) Acessoriedade ou instrumentalidade das cautelares: as me-
direito, mas esta não se consubstancia simplesmente com a “pro- didas cautelares não possuem natureza satisfativa e não existem
babilidade do direito”, é preciso ir além. O “fumus boni iuris” é mais
por si mesmas. Ainda que seja autônomo o processo cautelar, ele
rigoroso, e exige a caracterização de uma das seguintes situações:
será acessório. Quanto às tutelas antecipadas de mérito, como
a) “ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o mani-
adiantam o provimento jurisdicional, podem ser satisfativas, tanto
festo propósito protelatório da parte” (inciso I): as expressões são
é que se estabilizam (situação na qual o processo autônomo ante-
bastante vagas, abrindo margem para a interpretação do julgador
cipado de antecipação de tutela não vai ter caráter acessório e sim
no caso concreto. Geralmente, abusa do direito de defesa aquele
principal).
que apenas se defende com o fim de protelar o processo. O proces-
b) Autonomia: se a medida cautelar for requerida em um pro-
so estaria sendo usado de forma indevida, apenas para atender aos
cesso próprio, ele será autônomo, há uma relação jurídico-proces-
interesses escusos do réu. Não importa se há sucesso ou não com o
abuso, gerando efetiva proteção do feito. Basta o abuso em si. São sual própria. Ainda, é possível que a parte que logrou êxito em sede
exemplos de situação em que isso ocorre: a defesa de pontos de de tutela provisória saia vencida na tutela definitiva, ou vice-versa.
vista antagônicos relativos ao mesmo negócio jurídico em proces- c) Urgência ou evidência: a cautelar é uma tutela de urgência,
sos diferentes, defesa contra ato incontroverso, defesa carecedora pressupondo uma situação de risco que deve ser afastada o mais
de consistência, fato alegado somente em grau de apelação de for- rápido possível (em sede de processo autônomo, a urgência será
ma injustificada, legações infundadas que contrariam documentos o próprio mérito da cautelar); já a tutela antecipada pode ser de
juntados ou apresentados pelo próprio réu, recurso que contradiz urgência ou evidência, verificados os requisitos legais.
laudo que o próprio réu trouxe ao processo, interposição de recurso d) Cognição sumária: a cognição nas tutelas provisórias é su-
claramente impróprio. perficial, bastando a aparência do direito para a sua proteção, isto
b) “as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas do- é, a possibilidade de que o perigo se concretize.
cumentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos re- e) Provisoriedade: as decisões cautelares não se tornam defini-
petitivos ou em súmula vinculante” (inciso II): exige-se, de um lado, tivas, não se sujeitam à preclusão e à coisa julgada material; regra
que o autor consiga provar seu direito apenas por provas documen- que no geral vale para as tutelas antecipadas, salvo quando ocorrer
tais, o que caracteriza a essência probatória do “direito líquido e estabilização definitiva da tutela concedida em caráter anteceden-
certo”; e, ainda, que exista bastante consistência de que a decisão te. Em regra, no momento oportuno, serão proferidas decisões em
lhe será favorável porque há entendimentos firmados em grau su- sede de tutela definitiva.
perior em julgamentos de casos repetitivos (recursos extraordinário f) Revogabilidade: por serem provisórias, as tutelas provisórias
e especial repetitivos, incidente de resolução de demandas repetiti- podem ser revogadas ou modificadas a qualquer tempo, inclusive
vas) ou há súmula vinculante (emanada do STF). de ofício, conforme cesse ou não a situação de risco ou de evidência.
c) “se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova docu- Com o fim do processo principal, a decisão provisória é substituída
mental adequada do contrato de depósito, caso em que será decre- por uma definitiva: se improcedente, perde a eficácia a medida; se
tada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de procedente o provimento provisório é substituído pelo definitivo.
multa” (inciso III): trata-se de pedido de devolução da coisa deposi- g) Inexistência de coisa julgada material: as decisões provisó-
tada, fundado em prova documental – que deve ser um contrato de rias não se sujeitam à coisa julgada material. Contudo, se sujeitam
depósito. O juiz determinará que o depositário entregue o objeto, à coisa julgada formal, senão o processo não se encerraria nunca.
fixando multa. Vale destacar que o depositário que se recusa a en- Então, a decisão provisória pode ser modificada em outro processo,
tregar a coisa depositada é também conhecido como depositário até mesmo no principal. Mesmo no caso de estabilização da tutela
infiel. Não cabe mais a sua prisão civil, considerada ilícita pela sú- antecipada conferida em caráter antecedente, o Código é expresso
mula vinculante nº 25. Entretanto, o legislador viu por bem criar em afirmar que não há coisa julgada.
uma hipótese de tutela de evidência para estas situações.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
h) Fungibilidade: as tutelas provisórias são fungíveis entre si, Então, surge o novo CPC, que nada menciona sobre a questão:
de modo que o juiz pode conceder uma medida distinta da reque- não exige e nem dispensa o requerimento da parte para a conces-
rida sem que sua decisão seja considerada ultra ou extrapetita, ou são de tutela provisória. Abre-se espaço para as opiniões doutriná-
mesmo dar uma tutela antecipada pela cautelar, ou uma cautelar rias divergentes. Os que entendem que o juiz pode agir de ofício
pela antecipada. alegam que o CPC/2015 não reproduz o art. 2º do CPC/73, segundo
o qual “nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando
5. Poder-dever geral da cautela e de antecipação: art. 297, a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais”, exi-
caput gindo de forma mais comedida apenas o requerimento para que
Prevê o artigo 297, caput, CPC: “O juiz poderá determinar as tenha início o processo, mas não a concessão da tutela (art. 2º do
medidas que considerar adequadas9 para efetivação da tutela pro- CPC/2015). Os que entendem que o juiz não pode agir de ofício
visória”. Trata-se da previsão expressa do poder-dever geral de cau- alegam, primeiramente, que o art. 141 do CPC/2015 veda que o
tela e antecipação do juiz. juiz conheça de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exija
No CPC/1973 apenas se falava em “poder geral de cautela”. O iniciativa da parte; em segundo lugar, que a tutela provisória está
CPC/2015 permite claramente perceber que existe, na verdade, um cercada por um regime de responsabilidade objetiva do requeren-
“dever-poder” que pode ser empregado tanto para fins de caute- te (art. 302 do CPC/2015), não sendo razoável que o juiz conceda
lar, isto é, para assegurar o resultado útil do processo, como tam- a medida de ofício colocando em risco a parte que não quis cor-
bém para fins de satisfação imediata de um direito que, pelo que se rê-lo (conscientemente ou não); e, por fim, que o art. 932, II, do
pode depreender do art. 294, é caso de “tutela antecipada”. Neste CPC/2015, segundo o qual incumbe ao relator “apreciar o pedido
sentido, e tendo em conta o texto do próprio caput do art. 297, é de tutela provisória nos recursos e nos processos de competência
irrecusável que a nova regra quer também desempenhar o papel originária do tribunal”, faz crer que a medida é sempre antecedida
que deriva do art. 273, caput, do CPC atual, e, portanto, do “dever- por um pedido10.
-poder geral de antecipação”.
Fala-se, ainda, em dever-poder porque o juiz tem limites para 6. Reversibilidade das tutelas provisórias
o seu exercício, entre eles destaca-se o dever de fundamentação Preconiza o artigo 296, CPC: “A tutela provisória conserva sua
previsto no artigo 298: “na decisão que conceder, negar, modificar eficácia na pendência do processo, mas pode, a qualquer tempo,
ou revogar a tutela provisória, o juiz motivará seu convencimento ser revogada ou modificada. Parágrafo único. Salvo decisão judi-
de modo claro e preciso”. Apesar do dever de motivar as decisões cial em contrário, a tutela provisória conservará a eficácia durante
nem ao menos precisar estar expresso no CPC, até porque decorre o período de suspensão do processo”. Uma vez concedida, a tutela
da própria Constituição Federal (artigo 93, IX, CPC), busca-se evitar provisória permanece produzindo seus efeitos, inclusive nos perío-
que práticas comuns no Judiciário voltem a se repetir, tendo a nor- dos de suspensão do processo.
mativa um efeito pedagógico. Quer se escapar do juiz que se limita En. 140, FPPC: “a decisão que julga improcedente o pedido fi-
a julgar as tutelas provisórias dizendo apenas que “estão presentes nal gera a perda de eficácia da tutela antecipada”.
os requisitos” ou que “estão ausentes os requisitos” sem fazer a de- Entretanto, é da essência das tutelas provisórias que elas se-
vida apreciação deles. Abre-se margem para a oposição de embar- jam reversíveis ou modificáveis, a qualquer tempo. Logo, é possível
gos de declaração da decisão do juiz em sede de tutela provisória reverter, caçando a medida anteriormente concedida ou conceden-
que não aprecie o pedido de forma suficiente. do medida previamente negada, bem como é possível modificar,
O poder-dever geral de cautela e de antecipação abrange: substituindo uma medida por outra ou alterando os seus termos. O
a) O poder que o magistrado tem de tomar todas as medidas magistrado pode fazer isso de ofício ou a requerimento das partes.
que entender necessárias para efetivar a tutela provisória conce-
dida; 7. Perigo de dano reverso na tutela antecipada de urgência
b) O poder de conceder medida provisória diversa da solicitada Nos termos do artigo 300, § 3º, CPC, “a tutela de urgência de
caso entenda ser outra mais adequada (dando a cautelar pela ante- natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
cipada e vice-versa); irreversibilidade dos efeitos da decisão”. A disciplina especificamen-
c) A possibilidade de o juiz conceder qualquer outra medida te se volta às tutelas de urgência, não de evidência, até mesmo por-
provisória, além das expressamente mencionadas no art. 301 do que nas últimas as chances de alteração da decisão da tutela provi-
CPC, para proteger os direitos das partes; sória para a tutela definitiva são mínimas. Ainda, precisamente se
d) O poder de revogar, a qualquer tempo, a medida conferida, volta à tutela antecipada, não à cautelar. Afinal, a medida cautelar
inclusive de ofício (artigo 296); não antecipa o resultado útil do processo.
e) O dever de fundamentar todas as decisões tomadas neste A preocupação é que se conceda uma tutela de urgência an-
âmbito (artigo 298). tecipada e a medida seja irreversível, que seus efeitos não possam
ser mudados. Em outras palavras, preocupa-se em dar ao autor o
O CPC nada menciona sobre a possibilidade de o juiz exercer de que ele quer no início do processo e, ao final, caso ele perca, não
ofício o poder-dever geral de cautela ou de antecipação. Quando a tenha como restituir o réu ao estado anterior em que estava antes
disciplina era regida pelo CPC/1973, o legislador permitia que o juiz de cumprir o determinado na decisão concessiva da tutela anteci-
agisse de ofício na tutela cautelar de forma excepcional, vedando a pada. Imagine o seguinte exemplo: um pai pede à justiça que supra
ação de ofício na tutela antecipada de mérito. Apesar da disciplina, o consentimento da mãe e autorize um menor a viajar ao exterior,
a doutrina majoritária criticava de forma veemente a possibilidade pedindo a concessão da tutela antecipada; a mãe alega ao juiz que
de ação de ofício do juiz. Por outro lado, alguns precedentes come- não deu a autorização por receio de que o menor não voltasse e
çaram a flexibilizar a norma, inclusive admitindo em casos extremos o genitor se fixasse em definitivo no exterior – mesmo que o pai
a tutela antecipada de mérito de ofício se o risco for muito alto e demonstre a fumaça do direito e o perigo da demora, o juiz não
houver verossimilhança. poderá dar a medida devido à dúvida razoável levantada pela mãe,
9 Obs.: no projeto da Câmara dos Deputados se proibia a efetivação da medida
provisória mediante bloqueio e penhora de dinheiro, de aplicação financeira e 10 Vide: DONOSO, Denis. Tutela Provisória de ofício? Carta Capital, 23 nov.
outros ativos financeiros. No Senado, após inúmeras críticas da doutrina proces- 2015. Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2015/11/23/tute-
sualista, o dispositivo caiu. la-provisoria-de-oficio/>. Acesso em: 13 fev. 2017.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
pois mesmo a remota possibilidade dela estar certa deve ser consi- mental, ata notarial ou estudo técnico), sendo o caso, por exemplo,
derada devido ao perigo do dano reverso (se ao final o juiz decidir de ouvir testemunhas ou o próprio requerente da medida. Nesta
que a criança deveria ficar no país, de nada adiantaria, pois ela já hipótese, o mais correto não é indeferir o pedido de tutela de ur-
teria viajado). gência, mas designar a referida audiência para colheita da prova.
Por isso, o juiz deve analisar no caso concreto se a medida é Em regra, o réu não participa da justificação prévia, não fazendo
reversível, pois se não for e surgir o risco de que ela seja definitiva, contraprova. Pode apenas comparecer à audiência e arguir even-
não poderá concedê-la. Mesmo que exista urgência, deverá guardar tuais testemunhas ou buscar acordo.
sua decisão para a cognição exauriente, não podendo tomá-la em Quanto às tutelas de evidência, relembra-se que o parágrafo
cognição sumária. único do artigo 311 prevê que “nas hipóteses dos incisos II e III, o
juiz poderá decidir liminarmente”, o que significa que o juiz poderá
8. Contracautela decidir independentemente da oitiva do réu, ficando o contraditó-
Nos termos do artigo 300, §1º, “para a concessão da tutela de rio diferido para um momento processual futuro após a concessão
urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fide- da tutela de evidência. Logo, é possível a concessão de tutela de
jussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir evidência “inaudita altera pars” apenas em dois casos, nos outros
a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economica- dois o juiz deve fazê-lo apenas depois do direito de defesa ser exer-
mente hipossuficiente não puder oferecê-la”. O dispositivo trata cido.
da denominada contracautela, que é uma contramedida que visa Por fim, destaca-se que embora o juiz possa, em alguns casos,
prevenir os possíveis efeitos danosos da concessão de tutela de ur- conceder a medida de forma liminar, este não é o único modo que
gência. Basicamente, exterioriza a preocupação de que a decisão pode dar a tutela provisória, afinal, são medidas que podem ser
concessiva da tutela de urgência em sede de cognição sumária seja modificadas, revogadas ou concedidas a qualquer tempo no pro-
alterada e o autor não tenha condições de ressarcir o réu dos prejuí- cesso, desde que se façam presentes os requisitos.
zos causados durante o período em que a tutela provisória produziu
efeitos. 10. Responsabilidade objetiva por danos causados pela tutela
A contracautela se opera como a prestação de caução por parte de urgência
do autor ao réu. Tal caução pode ser real, operada em garantia na O artigo 302, CPC fixa um regime jurídico de responsabilização
forma de bem, ou fidejussória, operada em garantia pessoal, como civil objetiva do solicitante da tutela de urgência quando esta cau-
a de um fiador ou a de uma seguradora. A caução deve correspon- sar prejuízos à parte adversa. Não será analisada a culpa, bastando
der ao valor dos prejuízos que o réu irá, eventualmente, sofrer du- que a ação (solicitação da medida), o nexo causal (solicitação que
rante o período em que a medida produzir efeitos. dê causa ao prejuízo) e o dano (prejuízo). Este dano é autônomo
Destaca-se que somente existe a previsão de contracautela em relação ao dano processual e às penas de litigância de má-fé ou
para as tutelas de urgência, não se aplicando às tutelas de evidên- ato atentatório à dignidade da justiça. É o que se deduz do teor do
cia. caput: “Independentemente da reparação por dano processual, a
Ainda, é preciso que o juiz analise as circunstâncias do caso parte responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência
concreto, notadamente os efetivos riscos de danos ao réu que exis- causar à parte adversa, se: [...]”.
tem e as condições de ambas partes. O prejuízo será reparado por aquele que solicitou a tutela de
Vale tomar nota que a mera hipossuficiência da parte autora, urgência em detrimento daquele que sofreu seus efeitos. Na maior
impedindo-a de prestar a caução idônea, não deve ser motivo para parte dos casos, será o autor que pediu a tutela de urgência em sua
barrar a concessão da tutela provisória. Se for possível o pagamen- petição inicial ou em momento posterior. Entretanto, pode ser o
to de caução, o juiz irá determinar, mas se não for ele apenas irá réu reconvinte que pediu a antecipação da tutela pedida em recon-
dispensá-la, concedendo a tutela provisória mesmo assim. Trata-se venção ou o réu em qualquer outra condição no processo quando
de medida de acesso à justiça, pois caso contrário se estaria prejudi- ele pedir tutela cautelar. Deve se caracterizar uma das seguintes
cando uma pessoa que preenche os requisitos para a concessão da hipóteses:
medida apenas pelo fato dela não ter condições econômicas. Afinal, a) “a sentença lhe for desfavorável” (inciso I): sentença de im-
os requisitos para a tutela provisória são apenas “fumus boni iuris” procedência ao pedido formulado pela parte;
e “periculum in mora” – em nenhum momento o legislador exige b) “obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não
que a pessoa tenha condições financeiras de prestar caução para fornecer os meios necessários para a citação do requerido no pra-
conseguir a tutela provisória. Se não é requisito legal, não pode ser zo de 5 (cinco) dias” (inciso II): autor que pede a tutela provisória
exigido. em caráter antecedente (processo autônomo) e não providencia a
citação;
9. Momento processual: possibilidade de concessão da medi- c) “ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hi-
da “inaudita altera pars” ou após justificação pótese legal” (inciso III): cessa a medida quando, pedida em cará-
Quanto às tutelas de urgência, o artigo 300, §2º, CPC prevê: “a ter antecedente, perde seus efeitos devido à inércia do autor que
tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justifi- a solicitou;
cação prévia”. Por concessão liminarmente, entende-se a que se dá
antes mesmo da oitiva do réu, isto é, “inaudita altera pars” – sem d) “o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da
ouvir a parte contrária. Em que pese o teor do dispositivo não dei- pretensão do autor” (inciso IV): se a pretensão antecipada decaiu
xar isso claro, a liminar “inaudita altera pars” é excepcional e pode ou prescreveu, há dever de indenizar se os efeitos da tutela provi-
ser concedida se a urgência for tamanha que não haja tempo hábil sória causaram prejuízo.
para citar o réu ou se a citação for prejudicar a eficácia da medida. Destaca-se, pelo artigo 302, parágrafo único, CPC, que “a inde-
O juiz deve viabilizar o mínimo de contraditório se sentir que não há nização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido conce-
prejuízo em fazê-lo. dida, sempre que possível”. Logo, não há necessidade de promover
Já a justificação prévia é alternativa àqueles casos em que os um processo autônomo para apurar a indenização se for possível
pressupostos para a concessão da tutela de urgência não são pas- fazê-lo nos próprios autos por meio de liquidação.
síveis de demonstração com a própria petição inicial (prova docu-

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
11. Procedimento para a concessão em caráter antecedente: tratará como tal (artigo 303, §5º).
processo autônomo 2) Em 15 dias ou em prazo maior fixado pelo juiz o autor aditará
A primeira questão procedimental que merece menção se refe- a inicial com argumentos, provas e confirmação do pedido de tutela
re à competência, regra prevista no artigo 299 que vale tanto para final (artigo 303, §1º). Esta emenda à petição inicial não tem por
a solicitação incidental quanto para a antecedente: “a tutela pro- objetivo a correção de vícios, mas serve para aprofundar e especi-
visória será requerida ao juízo da causa e, quando antecedente, ficar os fundamentos da lide principal. Com efeito, a emenda terá
ao juízo competente para conhecer do pedido principal. Parágrafo verdadeiro caráter de petição inicial do processo de conhecimento.
único. Ressalvada disposição especial, na ação de competência ori- Se a emenda não for apresentada, o processo será extinto sem
ginária de tribunal e nos recursos a tutela provisória será requeri- resolução do mérito (artigo 303, §2º). Entretanto, vale destacar que
da ao órgão jurisdicional competente para apreciar o mérito”. No se esgotar o prazo para recurso do réu, mesmo que a emenda não
mais, a competência jurisdicional para a formulação do pedido de tenha sido apresentada, estabiliza-se a tutela.
tutela provisória observa as regras comuns. ATENÇÃO: O aditamento é feito nos próprios autos, que se-
O pedido de tutela provisória deve ser requerido ao juízo da guem como lide principal. Não há novo processo quando feito o
causa sempre que já houver causa tramitando (pedido incidental). pedido principal através da emenda. Por isso mesmo, não incidem
Nesta circunstância, a requisição de tutela provisória será processa- novas custas (artigo 303, §3º).
da como qualquer outra requisição feita no curso de processo prin- ATENÇÃO: O §6º do artigo 303 fala em outro tipo de emenda
cipal – feita a requisição, se possível, o juiz ouvirá a parte contrária à inicial, este sim serve para a correção de vícios da petição inicial
antes de decidir, ou decidirá liminarmente ou após justificação se a apresentada para pedir tutela antecipada em caráter antecedente.
oitiva da parte contrária puder colocar em risco a eficácia da medi- Também serve para que o juiz permita ao autor complementar seus
da ou se a urgência for tamanha que não seja possível aguardá-la. argumentos e convencê-lo a dar a tutela antecipada, não podendo
Vale destacar que se a ação estiver tramitando no âmbito de Tribu- assim indeferir tal tutela liminarmente. (“Caso entenda que não há
nal (seja pela pendência de recurso, seja pela competência originá- elementos para a concessão de tutela antecipada, o órgão juris-
ria), é dele a competência de apreciar o pedido de tutela provisória. dicional determinará a emenda da petição inicial em até 5 (cinco)
Se ainda não houver causa em trâmite, tratando-se assim de dias, sob pena de ser indeferida e de o processo ser extinto sem
pedido antecedente de tutela de urgência (pois não existe tutela resolução de mérito”).
de evidência antecedente), deve ser solicitada perante o juízo que 3) Concedida a tutela, o réu será intimado para a audiência de
terá competência para apreciar o pedido principal feito em tutela conciliação, abrindo-se prazo para contestação se ela restar infru-
definitiva. tífera. Esta conciliação e posterior contestação já se referem à lide
Vale destacar, independentemente de se tratar de decisão em principal, não apenas à tutela antecipada. Além disso, para a dou-
processo antecedente ou em pedido incidental, que é cabível re- trina majoritária, independentemente de comparecimento à conci-
curso da decisão do juiz sobre a tutela provisória, qual seja, agravo liação e apresentação de contestação, se não houver interposição
de instrumento: “Art. 1.015, CPC. Cabe agravo de instrumento con- de recurso da decisão que concedeu a tutela por parte do réu, ela
tra as decisões interlocutórias que versarem sobre: I - tutelas pro- se estabiliza e o processo é extinto (artigo 304).
visórias”. Ainda, é possível fazer a execução provisória da decisão, ATENÇÃO: qualquer das partes, autor ou réu, pode demandar
mediante cumprimento provisório, com vistas a efetivar a medida com o intuito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada
(artigo 297, parágrafo único). estabilizada, no prazo de dois anos. Enquanto isso não ocorrer, a tu-
Parte-se, então, para o aprofundamento da questão procedi- tela estabilizada conservará seus efeitos e, passado o prazo de dois
mental. O CPC estabelece dois procedimentos para os pedidos de anos, se estabilizará em definitivo. Apesar disso, não formará coisa
tutelas provisórias: os artigos 303 e 304 regulam o procedimento julgada em hipótese alguma.
da tutela antecipada requerida em caráter antecedente, ao passo Quanto ao procedimento da tutela cautelar requerida em ca-
que os artigos 305 a 310 regulam o procedimento da tutela cautelar ráter antecedente, além de reafirmar a fungibilidade desta tutela
requerida em caráter antecedente. São, respectivamente, os capí- em relação à antecipada, o legislador fixa o seguinte procedimento:
tulos II e III da disciplina do título II, sobre tutelas de urgência. Com 1) Apresentação de petição inicial que deve indicar a lide e o
efeito, ambos são procedimentos de pedidos antecedentes, não in- seu fundamento, com exposição sumária do direito que se preten-
cidentais, feitos com relação a uma das duas espécies de tutela de de assegurar, perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo
urgência – antecipada ou cautelar. (artigo 305, caput).
Em resumo, quanto à tutela antecipada requerida em caráter an- 2) Citação do réu para, no prazo de 5 (cinco) dias, contestar
tecedente, que se apresenta bastante útil sempre que o autor da ação o pedido e indicar as provas que pretende produzir (artigo 306).
carecer de provas documentais essenciais e não tiver condições de es- Destaca-se aqui a primeira grande diferença em relação à tutela an-
pera-las para acostar à inicial e entrar com pedido principal devido à tecipada pedida em caráter antecedente, pois naquela não há con-
urgência da situação (ex.: certidão de nascimento para entrar com a testação na fase antecedente, enquanto nesta há. Logo, o réu será
ação de alimentos), adota-se o seguinte procedimento: citado para contestar o pedido cautelar e, futuramente, intimado
para comparecer à audiência de conciliação e, se o caso, contestar o
1) Indicação na petição inicial do pedido principal que será feito pedido definitivo, nos termos do rito do processo de conhecimento.
em tutela definitiva, com o pedido de tutela antecipada, com expo-
sição da lide (mérito), do direito a ser realizado e do perigo de dano Neste sentido, prevê o artigo 307: “Não sendo contestado o
ou risco ao resultado útil do processo (artigo 303, caput). pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão aceitos pelo
ATENÇÃO: Nesta petição inicial deve constar o valor da causa, réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco)
o qual vai ser calculado não com base no pedido de tutela anteci- dias. Parágrafo único. Contestado o pedido no prazo legal, obser-
pada, mas com base no pedido principal que será feito em tutela var-se-á o procedimento comum”. Com efeito, a não apresentação
definitiva (artigo 303, §4º). da contestação impõe ao juiz que julgue o pedido cautelar. Se apre-
ATENÇÃO: O autor deve indicar expressamente que se trata de sentada, o juiz seguirá com a realização de audiência de conciliação
pedido de tutela antecipada em caráter antecedente, senão o juiz após a emenda de inicial para elaborar o pedido principal (artigo
vai presumir que já se trata de pedido feito em tutela definitiva e 308, §3º).

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
2) Se a tutela cautelar for concedida, o autor terá um prazo de Tal prazo será tratado como prazo decadencial e, se não ajuiza-
30 (trinta) dias para propor o pedido principal a contar de sua efe- da a ação em tal prazo, ter-se-á a estabilização definitiva da decisão
tivação (artigo 308). Quando o pedido principal for reformulado ca- sumária, mas mesmo assim sem formar a coisa julgada. O legisla-
berá o aditamento da causa de pedir (artigo 308, §2º). Ocorre aqui dor, mesmo considerando a hipótese do art. 304, §5º, CPC, expres-
uma apresentação de emenda à inicial, também apresentada nos samente indicou logo a seguir, no §6º, que tal decisão de cognição
mesmos autos em que foi deduzido o pedido cautelar, não depen- sumária não faz coisa julgada, então nem mesmo após estes dois
dendo da mesma forma de pagamento de novas custas. A alteração anos ela se formaria. Contudo, há sim uma certa estabilidade de
principal em relação ao pedido antecedente de tutela antecipada efeitos. Neste sentido, o Código diz que não faz coisa julgada, mas
é que naquele caso o prazo é de 15 dias e, neste caso, de 30 dias. a doutrina é controversa – os que associam julgamento de mérito
a coisa julgada dizem que se este julgamento for de mérito há sim
ATENÇÃO: Nada impede que o pedido principal seja formulado coisa julgada, então a extinção teria que ser sem resolver o mérito.
junto com o pedido cautelar, quando haverá tutela cautelar reque- É preciso ficar atento que a previsão de estabilização de tutela
rida em caráter incidental (artigo 308, §1º). apenas vale para a tutela de urgência antecipada requerida em ca-
ATENÇÃO: Mesmo que o pedido cautelar feito em caráter ante- ráter antecedente. As demais tutelas provisórias não se estabilizam:
cedente seja indeferido, caso em que não haverá efetivação da cau- a de evidência porque nunca é antecedente e sempre é incidental; a
telar e, por lógica, não existirá o prazo de 30 dias aqui mencionado, de urgência cautelar porque não tem caráter satisfativo (logicamen-
nada impede que a parte formule o pedido principal, nos termos do te, não é possível estabilizar algo que não satisfaz a parte).
artigo 310 (“o indeferimento da tutela cautelar não obsta a que a
parte formule o pedido principal, nem influi no julgamento desse, 13. Exclusão do rol de cautelares específicas
salvo se o motivo do indeferimento for o reconhecimento de deca- Muitos dos procedimentos cautelares específicos são realoca-
dência ou de prescrição”). dos em todo o CPC, sendo desformalizados ou descautelarizados.
ATENÇÃO: Mesmo que obtida a tutela cautelar em caráter an- A produção antecipada de provas, que ainda absorve o arrola-
tecedente, é possível que esta perca seus efeitos se o autor não mento de bens, e a exibição de documento ou coisa foram remeti-
tomar providências para efetivá-la, ou se perder o prazo de 30 dias dos ao estudo do direito probatório, se inserindo na abordagem das
para emenda à inicial contados da efetivação, ou se o pedido prin- provas no CPC.
cipal formulado for julgado improcedente ou extinto sem resolução O atentado foi realocado como dever da parte de não praticar
do mérito, conforme prevê o artigo 309 (“Art. 309. Cessa a eficácia inovação legal no estado do bem ou direito litigioso, acompanhado
da tutela concedida em caráter antecedente, se: I - o autor não de- de procedimento próprio e caracterizando ato atentatório à digni-
duzir o pedido principal no prazo legal; II - não for efetivada dentro dade da justiça (art. 77, VI e §7º).
de 30 (trinta) dias; III - o juiz julgar improcedente o pedido princi- A caução foi alocada entre as despesas processuais (art. 83).
pal formulado pelo autor ou extinguir o processo sem resolução de A busca e apreensão se consolidou como medida de execução,
mérito. Parágrafo único. Se por qualquer motivo cessar a eficácia da o que faz bastante sentido devido ao seu cunho satisfativo.
tutela cautelar, é vedado à parte renovar o pedido, salvo sob novo Colocaram-se entre os procedimentos especiais a homologa-
fundamento”). ção de penhor legal e a notificação e interpelação.
ATENÇÃO: A medida cautelar concedida em caráter anteceden- Outras medidas foram simplesmente omitidas, embora pos-
te nunca se estabiliza. A razão disso é que somente faz sentido esta- sam se inserir no âmbito do poder-dever geral de cautela e de ante-
bilizar uma tutela que seja satisfativa. A cautelar jamais é satisfativa, cipação, como alimentos provisionais, posse em nome do nascituro,
se o fosse seria tutela antecipada e o juiz teria que tratá-la como tal, separação de corpos, apreensão de títulos, etc. Afinal, o juiz pode
sendo eventualmente possível a estabilização. adotar qualquer medida idônea para a asseguração do direito, seja
ela de caráter antecipado ou cautelar.
3) Apenas depois que for apresentado o pedido principal que De outro lado, o CPC menciona expressamente algumas medi-
se realizará a audiência de conciliação do processo de conhecimen- das cautelares, embora não se aprofunde fixando procedimentos
to nos moldes do artigo 334 (artigo 308, §3º). Como o réu já foi próprios, conforme o teor do artigo 301, CPC: “A tutela de urgência
citado, dispensa-se nova intimação. Se as partes não chegarem a de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, seques-
acordo, o réu terá prazo para resposta, sendo contestação obriga- tro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de
toriamente e, se quiser, reconvenção e exceções (artigo 308, §4º). bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito”.
a) Arresto: é a apreensão e depósito judiciais de bens perten-
12. Estabilização da tutela satisfativa antecipada centes ao devedor, com o objetivo de garantir a obrigação por ele
A decisão concessiva da tutela antecipada requerida em cará- assumida. Aqui, não interessa ao credor qual bem será apreendido,
ter antecedente, nos termos do art. 303, CPC, torna-se estável se desde que seja suficiente ao pagamento do débito.
não houver interposição do respectivo recurso, qual seja, agravo de b) Sequestro: é apreensão judicial para a garantia do cumpri-
instrumento. Interpreta-se a palavra “recurso” em sentido estrito, mento da obrigação assumida pelo devedor. Aqui, interessa um
como a maior parte da doutrina. Contudo, para a doutrina de Da- bem em específico ao credor.
niel Mitidiero, a contestação ou manifestação no sentido da reali- c) Arrolamento de bens: Acontecerá sempre que houver fun-
zação da audiência de conciliação/mediação, no prazo do recurso, dado receio de extravio ou dissipação de bens, direito que assistirá
surtiria o mesmo efeito do agravo de instrumento e impediria a es- a todo aquele que tenha interesse na conservação dos bens, ex-
tabilização da tutela antecipada. cetuadas as pretensões de garantia de crédito (para isso existem
O processo será extinto, independentemente da apresentação o arresto e o sequestro). Costuma ser utilizado quanto a massas
de emenda à inicial por parte do autor. É possível que uma parte patrimoniais deixadas por pessoas físicas falecidas (inventário) ou
demande a outra, por seu turno, para rever, reformar ou invalidar a pessoas jurídicas falidas (falência).
tutela antecipada estabilizada (requerer o desarquivamento dos au- d) Registro de protesto contra a alienação de bens: o regis-
tos, juízo que concedeu a tutela é prevento), no prazo de dois anos trador responsável pelo registro de bem imóvel ou, quando existir
(após ele, o direito de demandar se extingue e a tutela se estabiliza registro próprio, móvel (ex.: veículos, navios e aeronaves) pode-
em definitivo). rá averbar protesto contra alienação de bens, tornando pública a

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
condição daquele bem como objeto que futuramente irá garantir § 6º A interposição do agravo de instrumento contra liminar
o pagamento de dívida. Referida publicidade é relevante, pois em concedida nas ações movidas contra o Poder Público e seus agentes
caso de alienação a situação será tratada como fraude à execução não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspen-
e não como fraude contra credores, presumindo-se a má-fé do ad- são a que se refere este artigo.
quirente. § 7º O Presidente do Tribunal poderá conferir ao pedido efeito
suspensivo liminar, se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do
14. Tutela provisória contra a Fazenda Pública direito invocado e a urgência na concessão da medida.
Em seu art. 1.059 o CPC determina que “à tutela provisória re- § 8º As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspen-
querida contra a Fazenda Pública aplica-se o disposto nos arts. 1º sas em uma única decisão, podendo o Presidente do Tribunal esten-
a 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992, e no art. 7º, § 2º, da der os efeitos da suspensão a liminares supervenientes, mediante
Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009”. Trata-se da disciplina que simples aditamento do pedido original.
limita a fixação de tutela de urgência contra o poder público, com § 9º A suspensão deferida pelo Presidente do Tribunal vigorará
o seguinte teor: até o trânsito em julgado da decisão de mérito na ação principal.
Art. 1°, Lei nº 8.437/1992. Não será cabível medida liminar con- Art. 7º, §2º, Lei nº 12.016/2009. Não será concedida medida
tra atos do Poder Público, no procedimento cautelar ou em quais- liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários,
quer outras ações de natureza cautelar ou preventiva, toda vez que a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclas-
providência semelhante não puder ser concedida em ações de man- sificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de
dado de segurança, em virtude de vedação legal. aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer
§ 1° Não será cabível, no juízo de primeiro grau, medida cau- natureza.
telar inominada ou a sua liminar, quando impugnado ato de au-
toridade sujeita, na via de mandado de segurança, à competência
originária de tribunal.
§ 2° O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos proces- FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO
sos de ação popular e de ação civil pública.
§ 3° Não será cabível medida liminar que esgote, no todo ou Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento comum,
em qualquer parte, o objeto da ação. salvo disposição em contrário deste Código ou de lei.
§ 4° Nos casos em que cabível medida liminar, sem prejuízo da Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidia-
comunicação ao dirigente do órgão ou entidade, o respectivo repre- riamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de
sentante judicial dela será imediatamente intimado. execução.
§ 5º Não será cabível medida liminar que defira compensação
de créditos tributários ou previdenciários. Observação inicial: O Novo CPC (Lei nº 13.105/2015) entrou
Art. 2º, Lei nº 8.437/1992. No mandado de segurança coletivo e em vigor dia 17 de março de 2016. Entre suas inovações, tece al-
na ação civil pública, a liminar será concedida, quando cabível, após gumas bastante substanciais em termos de procedimento, como a
a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito unificação de prazos (em geral de 15 dias) e a adoção de um único
público, que deverá se pronunciar no prazo de setenta e duas horas. procedimento comum (não há mais divisão entre ordinário e su-
Art. 3°, Lei nº 8.437/1992. O recurso voluntário ou ex officio, mário).
interposto contra sentença em processo cautelar, proferida contra Antes de estudarmos os detalhes de cada fase do procedimen-
pessoa jurídica de direito público ou seus agentes, que importe em to, vamos buscar construir uma noção geral do tema.
outorga ou adição de vencimentos ou de reclassificação funcional,
terá efeito suspensivo. a) O que é o processo?
Art. 4°, Lei nº 8.437/1992. Compete ao presidente do tribunal, Processo é o procedimento animado por relação jurídico-pro-
ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso, suspender, cessual.
em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações mo- - Processo é o procedimento no qual há contraditório.
vidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do - Relação jurídico-processual é o vínculo que se forma entre
Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público interes- autor, juiz e réu, criando direitos e deveres entre eles no processo.
sada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante ilegi- Mais que isso, criando situações jurídicas no processo, que podem
timidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança ser ativas (poderes, direitos e faculdades) ou passivas (estado de
e à economia públicas. sujeição, deveres e ônus).
§ 1° Aplica-se o disposto neste artigo à sentença proferida em - Procedimento é uma sequência de atos.
processo de ação cautelar inominada, no processo de ação popular
e na ação civil pública, enquanto não transitada em julgado. b) Quais são os tipos de processo?
§ 2º O Presidente do Tribunal poderá ouvir o autor e o Ministé- Processo de conhecimento; processo de execução; processo de
rio Público, em setenta e duas horas. urgência.
§ 3º Do despacho que conceder ou negar a suspensão, caberá - O ato fim do processo de conhecimento é a sentença, certifi-
agravo, no prazo de cinco dias, que será levado a julgamento na cando a existência de um direito.
sessão seguinte a sua interposição. - O ato fim do processo de execução é a satisfação do credor.
§ 4º Se do julgamento do agravo de que trata o § 3º resultar - O ato fim do processo de urgência é a medida cautelar ou uma
a manutenção ou o restabelecimento da decisão que se pretende medida de antecipação de efeitos de sentença futura, assegurando
suspender, caberá novo pedido de suspensão ao Presidente do Tri- a utilidade e a efetividade de outro processo de conhecimento.
bunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou
extraordinário. Obs.: Tanto o processo de conhecimento quanto o processo de
§ 5º É cabível também o pedido de suspensão a que se refere o urgência possuem natureza cognitiva, enquanto que o processo de
§ 4º, quando negado provimento a agravo de instrumento interpos- execução possui natureza executiva.
to contra a liminar a que se refere este artigo.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Obs. 2: Vale lembrar que as atividades destes processos se mis- h) Citado e não sendo frutífera eventual audiência de concilia-
turam, no chamado sincretismo processual. Logo, nada impede que ção, quais respostas o réu pode apresentar?
se inicie uma fase de execução após o processo de conhecimento, Principalmente, contestação, reconvenção (natureza de ação)
nem que a medida de urgência seja requerida incidentalmente nes- e exceção (impedimento e suspeição remanescem, as demais ex-
te em vez de feita em autos apartados. ceções – notadamente de incompetência – e as impugnações – ao
valor da causa e à assistência judiciária – foram excluídas no novo
c) Quais são as espécies de procedimento? CPC/2015). O prazo para resposta é de 15 dias.
Comum
Especial – Contenciosa ou Voluntária i) Na contestação, quais espécies de defesa podem ser apre-
- A regra é a do procedimento comum. Por isso, às regras pro- sentadas?
cedimentais específicas se aplicam as regras do procedimento co- Defesas processuais – preliminares, inclusive exceção de in-
mum. Além disso, quando a lei não diz que um procedimento é es- competência, impugnação ao valor da causa e impugnação ao pe-
pecífico, segue-se ele. dido de assistência judiciária (antes alegáveis em peça apartada).
Defesas materiais – de mérito, que atacam o direito material
d) Qual a consequência de se desrespeitar um procedimento? alegado.
Procedimento é matéria de ordem pública, por isso, o desres-
peito gera nulidade, cabendo ao juiz controlar o respeito às regras j) Se o réu não contesta, o que acontece?
procedimentais. No entanto, não há nulidade sem prejuízo. É revel, sendo consequências da revelia a presunção da veraci-
dade dos fatos alegados e o julgamento antecipado da lide.
e) Qual a estrutura básica do processo de conhecimento?
Fase postulatória – Petição inicial, audiência de conciliação, ci- k) Após a contestação, quais as providências preliminares?
tação, respostas do réu. Chama-se o autor para se manifestar em 15 dias se o réu tiver
* Providências preliminares – especificação de provas, réplica, alegado fato novo (réplica, impugnação à contestação).
ação declaratória incidental.
* Julgamento conforme o estado do processo. l) Quando haverá julgamento conforme o estado do processo?
Fase de saneamento (ordinatória) – saneamento. Sempre que não for necessário fazer o processo seguir todas
Fase instrutória – produção de provas. as fases ordinárias.
Fase decisória – sentença. - Extinção do processo.
- Julgamento antecipado da lide – além da revelia, quando a
f) Quais os requisitos mínimos da petição inicial? matéria for só de direito ou quando, sendo de fato, não se mostre
Endereçamento a juízo competente. necessário produzir provas em audiência.
Qualificação das partes.
Causa de pedir (fatos + fundamentos jurídicos). m) Não sendo o caso de julgar conforme o estado do proces-
Pedido (imediato, que tem natureza processual, no qual pede- so, o que o juiz faz?
-se a tutela jurisdicional – conhecimento ou execução, declaratório, Profere o despacho saneador, fixando os pontos controvertidos
condenatório ou constitutivo / mediato, que tem natureza material, e distribuindo o ônus da prova. Pode fazer isso de forma colaborati-
no qual pede-se o bem da vida que de fato se quer). va com as partes, notadamente determinando que as partes se ma-
nifestem sobre as provas que pretendem produzir. Após, segue-se
Valor da causa. para a instrução.
Requerimento de provas.
Pedido de citação do réu. n) Quais as provas que poderão ser produzidas?
Indicação sobre a vontade de não realizar prévia audiência de Poderão ser produzidas todas as provas admitidas em Direito,
conciliação, se for o caso. isto é, que não violem a lei e não contrariem a moral e os bons
costumes.
g) Recebida a petição, o que o juiz faz? Existem provas típicas tratadas no CPC, que são: depoimento
Se estiver tudo certo, recebe e determina a citação do réu. pessoal, confissão, exibição de documento ou coisa, prova docu-
Se não estiver tudo certo, mas for possível consertar, o juiz mental, prova testemunhal, inspeção judicial, prova pericial.
manda emendar no prazo de 15 dias e, somente se isso não for Algumas destas provas serão colhidas logo após o saneador e
feito, indefere. outras na própria audiência de instrução.
Se não estiver tudo certo e o vício for insanável, indefere.
o) O que acontece na audiência de instrução?
ATENÇÃO: Contra o indeferimento da petição inicial cabe ape- Apregoadas as partes, tenta-se uma nova conciliação entre as
lação, aceito juízo de retratação em 5 dias (efeito regressivo) e não partes.
havendo participação do réu. Se a matéria for repetitiva e a ação Frustrada, passa-se à colheita de prova (1º perito e assistentes,
só de direito (não discute fatos), havendo posicionamentos dos tri- 2º depoimentos pessoais, 3º oitiva das testemunhas do autor, 4º
bunais superiores ou do próprio Tribunal ao qual o juízo se vincula, oitiva das testemunhas da defesa).
pode proferir sentença liminar de improcedência. ATENÇÃO: Contra Encerrada a instrução, entra-se na fase de julgamento e rea-
a improcedência de plano cabe recurso de apelação, com juízo de lizam-se debates orais (20 minutos prorrogáveis por mais 10 mi-
retratação a ser exercido em 5 dias. Se o juiz não se retratar, o réu é nutos) ou então (o que é muito comum) abre-se prazo para apre-
citado para oferecer contrarrazões. sentação de memoriais escritos (prazo sucessivo – primeiro autor e
depois réu – de 15 dias).
Feitos debates, o juiz profere sentença na própria audiência ou
então escolhe proferir sentença por escrito.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1. Formação do processo I - falecido o réu, ordenará a intimação do autor para que pro-
O CPC/1973 era impreciso neste capítulo que abordava a for- mova a citação do respectivo espólio, de quem for o sucessor ou,
mação do processo, notadamente porque incluía dispositivo sobre se for o caso, dos herdeiros, no prazo que designar, de no mínimo 2
a alteração do pedido. O CPC/2015 somente traz um dispositivo (dois) e no máximo 6 (seis) meses;
neste capítulo, seu artigo 312. II - falecido o autor e sendo transmissível o direito em litígio,
Neste sentido, o artigo 2º do CPC/2015, correspondente ao ar- determinará a intimação de seu espólio, de quem for o sucessor ou,
tigo 262 do CPC/1973, prevê que “o processo começa por iniciati- se for o caso, dos herdeiros, pelos meios de divulgação que reputar
va da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções mais adequados, para que manifestem interesse na sucessão pro-
previstas em lei”. Basicamente, se traz o princípio da demanda, de cessual e promovam a respectiva habilitação no prazo designado,
modo que o Judiciário não pode agir de ofício para iniciar a ativi- sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito.
dade jurisdicional, devendo ser provocado. Uma vez provocada a § 3º No caso de morte do procurador de qualquer das partes,
jurisdição, o Judiciário poderá tocar o processo, fazendo com que ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz de-
ele siga seu rumo, o que se denomina impulso oficial. terminará que a parte constitua novo mandatário, no prazo de 15
Por seu turno, o artigo 312 do CPC/2015, em igual teor que o (quinze) dias, ao final do qual extinguirá o processo sem resolução
artigo 263 do CPC/1973, dispõe que “considera-se proposta a ação de mérito, se o autor não nomear novo mandatário, ou ordenará o
quando a petição inicial for protocolada, todavia, a propositura da prosseguimento do processo à revelia do réu, se falecido o procu-
ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 rador deste.
depois que for validamente citado”. Basicamente, o dispositivo nos § 4º O prazo de suspensão do processo nunca poderá exceder 1
lembra que a citação, ato que chama o réu ao processo, é um pres- (um) ano nas hipóteses do inciso V e 6 (seis) meses naquela prevista
suposto de existência. Com efeito, a ação é considerada proposta no inciso II.
com a petição inicial, mas a relação jurídico-processual só estará § 5º O juiz determinará o prosseguimento do processo assim
completa quando o réu for validamente citado para compô-la. que esgotados os prazos previstos no § 4º.
Deixa-se o estudo da alteração do pedido para o momento § 6º No caso do inciso IX, o período de suspensão será de 30
oportuno, notadamente quando da sua análise enquanto elemento (trinta) dias, contado a partir da data do parto ou da concessão da
da inicial. adoção, mediante apresentação de certidão de nascimento ou do-
cumento similar que comprove a realização do parto, ou de termo
CPC/1973 CPC/2015 judicial que tenha concedido a adoção, desde que haja notificação
ao cliente.
Artigo 262 Artigo 2º § 7º No caso do inciso X, o período de suspensão será de 8
Artigo 263 Artigo 312 (oito) dias, contado a partir da data do parto ou da concessão da
adoção, mediante apresentação de certidão de nascimento ou do-
Artigo 264 Artigo 329 cumento similar que comprove a realização do parto, ou de termo
judicial que tenha concedido a adoção, desde que haja notificação
2. Suspensão do processo ao cliente.
É a suspensão do curso do procedimento, a paralisação pro- Art. 314. Durante a suspensão é vedado praticar qualquer ato
cessual. Pode dizer respeito à prática de apenas alguns atos pro- processual, podendo o juiz, todavia, determinar a realização de atos
cessuais. urgentes a fim de evitar dano irreparável, salvo no caso de arguição
de impedimento e de suspeição.
Art. 313. Suspende-se o processo: Art. 315. Se o conhecimento do mérito depender de verificação
I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qual- da existência de fato delituoso, o juiz pode determinar a suspensão
quer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador; do processo até que se pronuncie a justiça criminal.
II - pela convenção das partes; § 1º Se a ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) me-
III - pela arguição de impedimento ou de suspeição; ses, contado da intimação do ato de suspensão, cessará o efeito
IV- pela admissão de incidente de resolução de demandas re- desse, incumbindo ao juiz cível examinar incidentemente a questão
petitivas; prévia.
V - quando a sentença de mérito: § 2º Proposta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo
a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração prazo máximo de 1 (um) ano, ao final do qual aplicar-se-á o disposto
de existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o na parte final do § 1º.
objeto principal de outro processo pendente;
b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determi- 3. Extinção do processo
nado fato ou a produção de certa prova, requisitada a outro juízo; Extinção é o fim do processo. Todo processo precisa de uma de-
VI - por motivo de força maior; cisão final, que será uma sentença ou um acórdão, que a ela equi-
VII - quando se discutir em juízo questão decorrente de aciden- vale. Quando o artigo 316 utiliza a expressão sentença se refere a
tes e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo; este sentido genérico.
VIII - nos demais casos que este Código regula. O novo Código exige do juiz genuíno esforço para correção dos
IX - pelo parto ou pela concessão de adoção, quando a advoga- vícios processuais, buscando a decisão de mérito. Apenas excepcio-
da responsável pelo processo constituir a única patrona da causa; nalmente deverá o juiz extinguir o processo diante da presença de
X - quando o advogado responsável pelo processo constituir o vícios, abstendo-se de julgar a pretensão levada a juízo.
único patrono da causa e tornar-se pai.
§ 1º Na hipótese do inciso I, o juiz suspenderá o processo, nos Art. 316. A extinção do processo dar-se-á por sentença.
termos do art. 689. Art. 317. Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o
§ 2º Não ajuizada ação de habilitação, ao tomar conhecimento juiz deverá conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir
da morte, o juiz determinará a suspensão do processo e observará o vício.
o seguinte:

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
As partes constituem um dos elementos identificadores da
PROCESSO DE CONHECIMENTO E DO CUMPRIMENTO ação. Pequenos equívocos na indicação do nome ou da qualificação
DE SENTENÇA PROCEDIMENTO COMUM. DISPOSI- das partes são considerados meros erros materiais, não implicando
ÇÕES GERAIS. PETIÇÃO INICIAL.DOS REQUISITOS DA nulidade desde que não tragam prejuízo.
PETIÇÃO INICIAL. DO PEDIDO. DO INDEFERIMENTO Se houver dificuldade para nomear e qualificar os réus se admi-
DA PETIÇÃO INICIAL.IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO te a propositura contra réus desconhecidos ou incertos (ex.: ocupa-
PEDIDO. DA CONVERSÃO DA AÇÃO INDIVIDUAL EM ção do MST, não sabendo o nome de todos os invasores para cons-
AÇÃO COLETIVA. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO tar no polo passivo da ação possessória).
OU DE MEDIAÇÃO.CONTESTAÇÃO, RECONVENÇÃO E Evidentemente que a ampliação da exigência de requisitos na
REVELIA.PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E DE SANE- qualificação das partes gerou uma maior possibilidade de que o
AMENTO. JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO autor não obtenha todas estas informações. Por isso, o legislador
PROCESSO. DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGA- regulamentou nos parágrafos do dispositivo as consequências da
MENTO não obtenção de informações:
§ 1o Caso não disponha das informações previstas no inciso II,
1. Petição inicial poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências neces-
Petição inicial é o ato que dá início ao processo, é a peça por sárias a sua obtenção.
meio da qual se faz a propositura da ação. Ela é extremamente im- § 2o A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta
portante porque fixa os limites subjetivos (partes) e objetivos (cau- de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do
sa de pedir e pedido) da demanda. réu.
Neste viés, “o registro ou a distribuição da petição inicial tor- § 3o A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento
na prevento o juízo” (artigo 59, CPC). Prevenção é um critério de ao disposto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais infor-
confirmação e manutenção da competência do juiz que conheceu a mações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à
causa em primeiro lugar, perpetuando a sua jurisdição e excluindo justiça.
possíveis competências concorrentes de outros juízos. Por se tratar O primeiro parágrafo se refere à adoção de diligências em bus-
de matéria de ordem pública, não se sujeita à preclusão, podendo ca de informações sobre o réu. Por exemplo, se a pessoa tem o CPF
ser alegada a qualquer tempo. do réu, ainda que não tenha seu endereço, não poderá requerer
Os artigos 319 e 320 do CPC fixam os requisitos da petição ini- desde logo a citação por edital e sim deverá pedir diligências para
cial, no geral de maneira bem semelhante ao que faziam os artigos que o endereço seja encontrado a partir do CPF, o que também é
282 e 283 do CPC/1973. possível pelo nome completo do réu e de sua genitora.
Art. 319. A petição inicial indicará: O segundo parágrafo esclarece que as exigências de maiores
I - o juízo a que é dirigida; informações não podem ser um óbice ao acesso à justiça, de modo
II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união que ainda que não constem todas as informações, se a citação for
estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas possível a inicial não será indeferida (por exemplo, se tem o ende-
Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço ele- reço não faz sentido exigir o CPF ou o e-mail).
trônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; Da mesma forma, pelo terceiro parágrafo, a inicial não será in-
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; deferida se a obtenção de tais informações, ainda que possível, seja
IV - o pedido com as suas especificações; extremamente onerosa ou inviabilize o acesso à justiça.
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade b) Causa de pedir
dos fatos alegados; Nos moldes do artigo 319, III do CPC/2015, cabe à petição indi-
VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de car “o fato e os fundamentos jurídicos do pedido”, ou seja, a causa
conciliação ou de mediação. de pedir. A sua importância para o processo é a de dar os limites
[...] objetivos dentro dos quais será dado o provimento jurisdicional. O
Art. 320.  A petição inicial será instruída com os documentos que efetivamente vincula o juiz é a descrição dos fatos, e não os
indispensáveis à propositura da ação. fundamentos jurídicos, pois ele conhece o direito e deve aplicá-lo
Exige-se, ainda, que a petição inicial seja escrita em linguagem corretamente. Não basta ao autor narrar a violação de seu direito,
correta e adequada, bem como que esteja ao final assinada pelo mas é preciso que ele descreva também os fatos em que ele está
advogado do autor. fundado (teoria da substanciação).

a) Juízo e qualificação das partes c) Pedido e suas especificações


A petição inicial deve indicar “o juízo a que é dirigida” (artigo Além disso, a petição inicial indicará “o pedido com as suas es-
319, I, CPC). O juízo é o órgão ao qual a petição inicial é dirigida. pecificações” (artigo 319, IV, CPC). O pedido é o núcleo essencial
Para a delimitação do juízo é preciso observar as regras de compe- da petição inicial porque delimita os limites objetivos da demanda
tência. Se houver erro na indicação e a demanda for proposta pe- ao lado da causa de pedir. Nele o autor deve indicar o provimento
rante juízo ou Tribunal incompetente, nem por isso a inicial deverá jurisdicional postulado (pedido imediato – julgar procedente a ação
ser indeferida, mas apenas remetida ao competente. para declarar/constituir/condenar) e o bem da vida que se quer ob-
Não obstante, a petição inicial indicará a qualificação das par- ter (pedido mediato – direito material – ex.: alimentos no valor X,
tes: “os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união indenização no valor Y, resolução do contrato...).
estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas O juiz não pode decidir fora dos limites objetivos traçados no
Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço ele- pedido. Será extra petita a sentença em que o juiz apreciar pedido
trônico, o domicílio e a residência do autor e do réu” (artigo 319, diverso ou fundamento distinto dos formulados na inicial (ex.: pede
II, CPC). Nota-se um aprofundamento em relação ao mesmo dispo- apenas dano material e o juiz dá também dano moral); ultra petita
sitivo no CPC/1973: “os nomes, prenomes, estado civil, profissão, a sentença em que conceder o pedido feito mas em quantia maior
domicílio e residência do autor e do réu” (artigo 282, II, CPC/1973). que a pedida (ex.: pede 10.000 de dano material e o juiz dá 15.000);

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
citra petita a sentença em que deixar de apreciar um dos pedidos O valor da causa pode influir principalmente na questão da
feitos (ex.: pede dano material e dano moral e ele só julga o dano competência (até 40 salários mínimos a ação pode ser proposta no
material – atenção: não julgar é uma coisa, julgar improcedente é Juizado Especial Cível) e do recolhimento de custas e do preparo (o
outra, caso em que não é citra petita). valor da causa é a base de cálculo).
Em regra, o pedido deve ser certo e determinado. Certo é o que A lei fixa para algumas causas critérios determinados de fixação
identifica seu objeto, individualizando-o perfeitamente; determina- do valor da causa. Quando o faz, aborda a questão das prestações
do é o pedido líquido, no qual o autor indica a quantidade dos bens vincendas, que irão vencer no curso do processo, mas que, por con-
que pretende haver. ta do litígio, vencem antecipadamente com a constituição da mora
Nos incisos do art. 324 estão algumas exceções que autorizam (ex.: busca e apreensão de veículo financiado) – no caso, devem ser
o pedido ilíquido ou genérico: ações universais, quais sejam as que tidas por incluídas as vincendas no valor da causa, até o máximo de
têm por objeto uma universalidade de direito (como herança e patri- 12 prestações.
mônio), não sendo possível individualizar os bens demandados; quan- O CPC manteve a disciplina sobre o valor da causa quanto aos
do não for possível determinar em definitivo as consequências do ato critérios de atribuição, inovando apenas ao incluir valor específico
ou fato, pois no ingresso da ação ainda não se sabe a extensão do dano na ação de indenização. Contudo, inovou bastante ao prever a pos-
sofrido, incluindo neste inciso a cobrança de dano moral; quando a de- sibilidade de correção de ofício e por arbitramento pelo juiz se ve-
terminação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que rificar que não corresponde ao conteúdo patrimonial em discussão
deva ser praticado pelo réu, como na ação de exigir contas. ou ao proveito econômico perseguido pelo autor, caso em que se
Em regra, os pedidos devem ser interpretados restritivamente, procederá ao recolhimento das custas correspondentes. Também
não cabendo ao juiz decidir extra, ultra ou citra petita: além, fora inovou ao prever que a impugnação ao valor da causa pelo réu não
ou menos que o pedido. Contudo, existem casos de pedidos implíci- mais precisaria ser feita em instrumento apartado, mas sim em pre-
tos, que o juiz deve conceder mesmo que o autor não peça expres- liminar na própria contestação (não há mais o incidente de impug-
samente, notadamente juros legais, correção monetária, custas e nação ao valor da causa).
despesas processuais e prestações periódicas. A respeito da impugnação ao valor da causa, agora por preli-
Para a cumulação de pedidos é preciso que os pedidos se re- minar de contestação, visa fazer com que ele seja reduzido equi-
lacionem, justificando-se o julgamento conjunto na mesma ação. tativamente pelo juiz a valores moderados, que não constituam
Haverá cumulação subjetiva no caso da demanda ser proposta con- mais empecilho ao exercício das faculdades processuais pela parte
tra mais de um réu (litisconsórcio passivo) e cumulação objetiva contrária. Mas o juiz, ao examinar a impugnação, não deve pronun-
havendo fundamentos ou pedidos múltiplos. Aqui se fala da cumu- ciar-se sobre a pretensão do autor, nem decidir se ela é ou não ex-
lação objetiva de pedidos, que pode ser simples, quando o autor cessiva pois se o fizer estará antecipando o julgamento.
formula múltiplos pedidos e deseja obter êxito em todos, mas um Neste sentido, os artigos 291 a 293 do CPC:
pedido não depende do outro; sucessiva, quando o autor formula Art. 291. A toda causa será atribuído valor certo, ainda que
múltiplos pedidos e deseja obter êxito em todos, mas o resultado não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível.
do exame de um repercute no do outro; alternativa, quando o autor Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da re-
formula mais de um pedido mas o acolhimento de um exclui o do convenção e será:
outro, não havendo assim soma de pedidos; eventual ou subsidiá- I - na ação de cobrança de dívida, a soma monetariamente cor-
ria, idêntica à alternativa, mas havendo uma ordem de preferência. rigida do principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalida-
Para cumular pedidos, eles devem ser compatíveis entre si, o juízo des, se houver, até a data de propositura da ação;
competente deve ser o mesmo e o procedimento escolhido deve II - na ação que tiver por objeto a existência, a validade, o cum-
ser adequado a todos os pedidos. primento, a modificação, a resolução, a resilição ou a rescisão de
Quanto à alteração do pedido, o artigo 329 do CPC traz: “O au- ato jurídico, o valor do ato ou o de sua parte controvertida;
tor poderá: III - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações men-
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, sais pedidas pelo autor;
independentemente de consentimento do réu; IV - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o
II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido valor de avaliação da área ou do bem objeto do pedido;
e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o con- V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral,
traditório mediante a possibilidade de manifestação deste no pra- o valor pretendido;
zo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova VI - na ação em que há cumulação de pedidos, a quantia cor-
suplementar. Parágrafo único.  Aplica-se o disposto neste artigo à respondente à soma dos valores de todos eles;
reconvenção e à respectiva causa de pedir”. VII - na ação em que os pedidos são alternativos, o de maior
valor;
Basicamente, proposta a inicial o autor pode alterar o pedido VIII - na ação em que houver pedido subsidiário, o valor do pe-
ou a causa de pedir até a citação sem consentimento do réu; da dido principal.
citação até o saneamento pode fazê-lo como consentimento do § 1o Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, con-
réu; e a partir do saneamento não pode mais fazê-lo. Inversamen- siderar-se-á o valor de umas e outras.
te, caso o réu apresente reconvenção, poderá alterar sua causa de § 2o O valor das prestações vincendas será igual a uma pres-
pedir ou pedido até que o autor seja intimado para contestá-la; da tação anual, se a obrigação for por tempo indeterminado ou por
intimação ao saneamento pode fazê-lo com anuência do autor; e a tempo superior a 1 (um) ano, e, se por tempo inferior, será igual à
partir do saneamento não pode mais fazê-lo. soma das prestações.
§ 3o O juiz corrigirá, de ofício e por arbitramento, o valor da
d) Valor da causa causa quando verificar que não corresponde ao conteúdo patrimo-
Toda causa tem um valor certo ainda que seu objeto não tenha nial em discussão ou ao proveito econômico perseguido pelo autor,
conteúdo economicamente aferível. Se o objeto da ação não tiver caso em que se procederá ao recolhimento das custas correspon-
valor econômico ou o seu valor for inestimável fixa-se por estimati- dentes.
va ou outros critérios. Se o objeto tiver valor econômico o valor será
fixado por critérios objetivos e legais.

53
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 293.  O réu poderá impugnar, em preliminar da contesta- terminará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou
ção, o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão, e o a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou
juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação completado.
das custas. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz in-
deferirá a petição inicial.
e) Requerimento de produção de provas Quanto a estes defeitos e irregularidades, o CPC discrimina ca-
Nos termos do artigo 319, VI, CPC, “a petição inicial indicará: sos de indeferimento da inicial no art. 330:
[...] as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:
fatos alegados”. Tem havido tolerância quanto ao desrespeito des- I - for inepta;
te requisito, de modo que sua ausência não gera indeferimento da II - a parte for manifestamente ilegítima;
inicial. Destaca-se que o requerimento de produção de provas da III - o autor carecer de interesse processual;
inicial (e também o da contestação) são genéricos, sendo que no IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 (advogado em
momento oportuno as partes se manifestarão sobre as provas que causa própria) e 321 (emenda).
desejam produzir. § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:
I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;
f) Requerimento de citação do réu II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais
Embora o CPC tenha excluído o inciso que exigia o requerimen- em que se permite o pedido genérico;
to de citação do réu, este é decorrência lógica do pedido em jurisdi- III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a con-
ção contenciosa e deve ser feito. O pedido de citação está implícito, clusão;
não havendo motivo para o juiz indeferir a demanda por sua au- IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.
sência, mas é da melhor técnica mantê-lo. Contudo, não se deverá § 2o Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação
requerer que se cite o réu para que conteste à ação, mas para que decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de
compareça à audiência de conciliação e, caso esta seja infrutífera, bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição
que conteste à ação (salvo, evidente, que o autor requeira que não inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende
aconteça tal audiência). controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito.
§ 3o Na hipótese do § 2o, o valor incontroverso deverá conti-
g) Outros requerimentos possíveis nuar a ser pago no tempo e modo contratados.
Existem outros requerimentos possíveis, como o pedido de A maior inovação, além da compactação de hipóteses, é a abor-
assistência judiciária gratuita quando o autor não tiver condições dagem da inépcia da inicial por não apontamento de valores discri-
de arcar com despesas e custas processuais sem prejuízo de sua minados no pedido de revisão contratual.
subsistência e de sua família. Ainda, o autor pode solicitar uma me- Quanto ao procedimento em caso de indeferimento, por não
dida cautelar incidental ou pedir a tutela antecipada do mérito por ter sido sanado o vício no prazo de emenda, preconiza o art. 331,
fundamento de urgência ou evidência. CPC:
Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar,
h) Documentos indispensáveis facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se.
Nos termos do artigo 320 do CPC, “a petição inicial será instruí- § 1o Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu para
da com os documentos indispensáveis à propositura da ação”. Os responder ao recurso.
documentos indispensáveis à propositura da ação são um requisito § 2o Sendo a sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a
extrínseco da petição inicial. Um exemplo é a procuração, que deve contestação começará a correr da intimação do retorno dos autos,
ser juntada, outro são as custas judiciais recolhidas com a inicial. Se observado o disposto no art. 334.
ausente um documento indispensável, o juiz dará prazo para jun- § 3o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito
tada (emenda à inicial), sob pena de indeferimento. Os documen- em julgado da sentença.
tos dispensáveis podem ser juntados posteriormente. Documentos
meramente úteis são dispensáveis. Uma mudança se dá quanto ao prazo do juízo de retratação,
1.1 Indeferimento da petição inicial não mais de 48 horas e sim de 5 dias. Em regra, a extinção será
Compete ao juiz fazer um exame cuidadoso da admissibilidade sem julgamento do mérito, mas excepcionalmente poderá ser com
da petição inicial. Verificando que a petição inicial está em termos, julgamento do mérito (prescrição e decadência). A diferença com
o juiz a recebe e determina a citação do réu. Do contrário, concede relação à regra geral da apelação é que, interposta a apelação, o
prazo para regularização. Se o vício não for solucionado, o juiz a juiz tem o prazo de 5 dias para reformar sua própria sentença, isto
rejeita. Sendo assim, na fase inicial é que eventuais defeitos e irre- é, cabe juízo de retratação. Se o juiz não voltar atrás, receberá a
gularidades poderão ser danados, devendo o juiz conceder prazo ao apelação e mandará subir ao Tribunal após citar o réu.
autor para que a regularize. Contudo, a maior alteração procedimental com o CPC veio da
Marcus Vinícius Rios Gonçalves11 entende que “é preciso que exigência de que o réu seja citado para apresentar contrarrazões.
ele lhe conceda a possibilidade de manifestar-se, ainda que o vício Antes, tal exigência apenas existia no caso de improcedência limi-
da inicial seja aparentemente insanável, porque o princípio do con- nar do pedido. Agora, mesmo que o juiz indefira a petição inicial,
traditório assim o exige. Não se pode extinguir o processo sem ouvir deverá o réu ser citado em caso de apelação e intimado em caso de
o autor, pois ele pode, ao manifestar-se, convencer o juiz ou de que trânsito em julgado da sentença de indeferimento.
o vício apontado não existe, ou de que ele é sanável”. Caso o autor apele e o juiz não se retrate, após as contrarrazões
Prevê o artigo 321 do CPC, de forma semelhante ao artigo 284 do réu, subirão os autos ao Tribunal. O Tribunal poderá manter ou
do CPC/1973 (salvo quanto ao prazo antes de 10 e agora de 15 dias): reformar a sentença. Se reformar, volta para a 1ª instância e conti-
Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preen- nua a correr. O réu não mais poderá alegar o argumento que serviu
che os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e de fundamento ao indeferimento da petição inicial e foi afastado
irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, de- pelo Tribunal, mas poderá apresentar contestação e reconvenção
normalmente, com todos os argumentos que tiver em relação aos
11 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. fatos alegados pelo autor.
10. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1.2 Improcedência liminar do pedido autor e com as alegações do réu.
A improcedência liminar do pedido permite que o juiz, baseado O Tribunal poderá: manter a sentença (condenando o autor a
na existência de entendimento uniformizado sobre o caso, que trata pagar honorários advocatícios, pois já houve contraditório); anular
de matéria exclusivamente de direito ou cuja prova documental é a sentença, devolvendo para prosseguimento (bastará intimar o réu
suficiente, julgue improcedente o pedido do autor desde logo, an- para oferecer contestação, porque já foi citado); reformar a senten-
tes mesmo do réu apresentar defesa. Neste caso, está tudo certo ça julgando totalmente procedente a ação (não será procedência
com a petição do autor, nisso se diferindo do indeferimento da pe- de plano porque o réu já exerceu o contraditório), caso a causa já
tição inicial. Apesar da petição conforme, o pedido não merece ser esteja madura ou envolva matéria de direito.
acolhido, então é julgado improcedente de plano – a extinção se dá
com julgamento do mérito. 2. Audiência de conciliação ou de mediação
A agora denominada improcedência liminar do pedido corres- A mediação é uma forma de solução de conflitos na qual uma
ponde à improcedência de plano, também conhecida como súmula terceira pessoa, neutra e imparcial, facilita o diálogo entre as par-
do juízo, ora prevista no artigo 285-A do CPC/1973 (alteração do tes, para que elas construam, com autonomia e solidariedade, a
ano de 2007). Ocorre que a disciplina se alterou substancialmente, melhor solução para o problema. Em regra, é utilizada em conflitos
porque não mais se coloca a improcedência liminar do pedido como multidimensionais, ou complexos. A mediação é um procedimento
decorrência de decisões repetitivas daquele juízo, mas sim como estruturado, não tem um prazo definido, e pode terminar ou não
a aplicação da lógica dos tribunais (súmula do TJ ou TRF local ou em acordo, pois as partes têm autonomia para buscar soluções que
então entendimentos repetitivos de tribunais superiores). Em ver- compatibilizem seus interesses e necessidades.
dade, acata-se o que a doutrina já recomendava que o dispositivo A conciliação é um método utilizado em conflitos mais simples,
objetivasse desde o início, a uniformização de decisões não ape- ou restritos, no qual o terceiro facilitador pode adotar uma posição
nas do juízo, mas de todo o Judiciário. O processamento continua mais ativa, porém neutra com relação ao conflito e imparcial. É um
o mesmo, o que mudou foram os requisitos para a improcedência processo consensual breve, que busca uma efetiva harmonização
liminar. social e a restauração, dentro dos limites possíveis, da relação social
Permanece o requisito da matéria exclusivamente de Direi- das partes.
to ou que, sendo de fato, seja provada apenas pelos documentos A conciliação resolve tudo em um único ato, sem necessidade
acostados à inicial; acrescido do requisito de que a sentença seja de de produção de provas. Também é barata porque as partes evitam
improcedência, ou seja, não existe procedência de plano (o que vio- gastos com documentos e deslocamentos aos fóruns. E é eficaz por-
laria o contraditório e a ampla defesa), mas apenas improcedência que as próprias partes chegam à solução dos seus conflitos, sem a
de plano (afinal, é benéfico para o réu não ser incomodado para se imposição de um terceiro (juiz). É, ainda, pacífica por se tratar de
defender no processo quando desde logo ele é julgado a seu favor um ato espontâneo, voluntário e de comum acordo entre as partes.
– se o autor não apelar e transitar em julgado a favor deste réu, ele O direito de acesso à Justiça, previsto no art. 5º, XXXV, da Cons-
será notificado da decisão). tituição Federal, além da vertente formal perante os órgãos judiciá-
Com efeito, a citação do réu é dispensada para que o juiz julgue rios, implica acesso à ordem jurídica justa. Por isso, cabe ao Poder
improcedente liminarmente o pedido. Contudo, se o autor apelar Judiciário estabelecer política pública de tratamento adequado dos
da decisão o réu será citado para apresentar contrarrazões. Se o problemas jurídicos e dos conflitos de interesses, que ocorrem em
autor não apelar, o réu será apenas informado após o trânsito em larga e crescente escala na sociedade, de forma a organizar, em âm-
julgado. bito nacional, não somente os serviços prestados nos processos ju-
Sobre a improcedência liminar do pedido, preconiza o CPC: diciais, como também os que possam sê-lo mediante outros meca-
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, nismos de solução de conflitos, em especial dos consensuais, como
independentemente da citação do réu, julgará liminarmente im- a mediação e a conciliação.
procedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do A conciliação e a mediação são instrumentos efetivos de paci-
Superior Tribunal de Justiça; ficação social, solução e prevenção de litígios, e a sua apropriada
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo disciplina nos programas já implementados no país tem reduzido a
Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; excessiva judicialização dos conflitos de interesses, a quantidade de
III - entendimento firmado em incidente de resolução de de- recursos e de execução de sentenças. 
mandas repetitivas ou de assunção de competência; O legislador brasileiro incentiva a conciliação no país e não há
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito novidades nisso. Várias são as campanhas desenvolvidas no país em
local. prol da conciliação. Basicamente, conciliação é o ato no qual autor
§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente e réu dialogam sobre o litígio e buscam alcançar a transação, cada
o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de qual abrindo mão ou não de parcelas dos direitos postulados con-
prescrição. forme o caso concreto. A audiência de conciliação é um momento
§ 2o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito no qual isso pode ocorrer.
em julgado da sentença, nos termos do art. 241. Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou
§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cin- lesão a direito.
co) dias. § 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento § 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução con-
do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação, de- sensual dos conflitos.
terminará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo § 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução
de 15 (quinze) dias. consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advo-
Interposta a apelação, há juízo de retratação, no prazo de 5 gados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclu-
dias. Se o juiz se retratar o processo continua, se não se retratar, sive no curso do processo judicial.
antes de remeter ao Tribunal, deverá mandar citar o réu para apre- Nota-se que o legislador processual quer que a conciliação seja
sentar suas contrarrazões. A apelação subirá com as alegações do estimulada e por isso facilita a sua realização no processo. A audiên-
cia de conciliação não é o único momento que as partes têm para

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
conciliar, nada impede que elas entrem em acordo fora dos autos plo, ação declaratória incidental (agora extinta) e impugnações ao
e juntem petição escrita ou que conciliem na própria audiência de valor da causa e à assistência judiciária (agora alegáveis em prelimi-
instrução. Até a sentença, todo momento é um possível momento nar de contestação), além das exceções de incompetência (agora
de conciliação. tanto absoluta quanto relativa são alegáveis em contestação por
Um dos requisitos da petição inicial é a indicação do interesse preliminar).
em realizar ou não a audiência de conciliação (artigo 319, VII, CPC). Nota-se que o CPC/2015 trouxe uma maior concentração de
Trata-se de inovação do CPC de 2015. Não se quer desmerecer a defesas possíveis na contestação, o que a torna ainda mais relevan-
conciliação, mas sim evitar que o processo se prolongue por mo- te. De qualquer forma, a contestação é a peça mais relevante que o
tivos desnecessários, sabendo-se que as partes não entrarão em réu apresenta no processo. Dentre as respostas possíveis, é a única
acordo. obrigatória. Apresentar reconvenção ou exceções é uma faculdade,
O legislador evidencia a importância da conciliação ao colocar a mas apresentar a contestação é obrigatório.
audiência de conciliação como o primeiro ato após a citação do réu, O réu pode simplesmente se defender das alegações contidas
antecedendo a sua resposta. Era assim que ocorria no agora extinto na petição inicial por meio da contestação, mas pode também con-
procedimento sumário e ainda ocorre nos juizados especiais, prá- tra-atacar formulando pretensões em face do autor por meio de
tica que era transferida no cotidiano do Judiciário também para os nova lide no mesmo processo, o que se denomina reconvenção. A
procedimentos ordinários e que agora se formaliza. resposta do réu deve vir na forma escrita.
Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e
não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará 3.1 Contestação
audiência de conciliação ou de mediação com antecedência míni-
ma de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 a) Contagem do prazo
(vinte) dias de antecedência. O prazo de resposta é de 15 dias, mas Fazenda Pública, Ministé-
§ 1o O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessa- rio Público, Defensoria Pública e litisconsortes que tiverem diferen-
riamente na audiência de conciliação ou de mediação, observando tes procuradores possuem prazo em dobro. No caso de litisconsor-
o disposto neste Código, bem como as disposições da lei de organi- tes, caso o prazo comece a correr de dias diferentes para cada um
zação judiciária. deles, conta-se do último, ou seja, do fim do ciclo citatório.
§ 2o Poderá haver mais de uma sessão destinada à conciliação Art. 335.  O réu poderá oferecer contestação, por petição, no
e à mediação, não podendo exceder a 2 (dois) meses da data de prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial será a data:
realização da primeira sessão, desde que necessárias à composição I - da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última
das partes. sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou,
§ 3o A intimação do autor para a audiência será feita na pessoa comparecendo, não houver autocomposição;
de seu advogado. II - do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de
§ 4o A audiência não será realizada: conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer
I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinte- a hipótese do art. 334, § 4o, inciso I; (ambas as partes manifestando
resse na composição consensual; desinteresse na composição)
II - quando não se admitir a autocomposição. (ex.: MP em ação III - prevista no art. 231, de acordo com o modo como foi feita
de improbidade administrativa). a citação, nos demais casos. (data da juntada aos autos do aviso de
§ 5o O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteres- recebimento ou do mandado cumprido por oficial de justiça, dia
se na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apre- útil seguinte do vencimento do prazo do edital, dia útil seguinte à
sentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da citação eletrônica, data de ocorrência da citação quando se der por
audiência. ato do escrivão ou do chefe de secretaria)
§ 6o Havendo litisconsórcio, o desinteresse na realização da au-
diência deve ser manifestado por todos os litisconsortes. § 1o No caso de litisconsórcio passivo, ocorrendo a hipótese do
§ 7o A audiência de conciliação ou de mediação pode realizar- art. 334, § 6o, o termo inicial previsto no inciso II será, para cada
-se por meio eletrônico, nos termos da lei. um dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de
§ 8o O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à cancelamento da audiência.
audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade § 2o Quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4o, inciso II, ha-
da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vendo litisconsórcio passivo e o autor desistir da ação em relação
vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida a réu ainda não citado, o prazo para resposta correrá da data de
em favor da União ou do Estado. intimação da decisão que homologar a desistência.
§ 9o As partes devem estar acompanhadas por seus advogados
ou defensores públicos. b) Princípio da eventualidade e ônus da impugnação especí-
§ 10.  A parte poderá constituir representante, por meio de fica
procuração específica, com poderes para negociar e transigir. (pre- Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a ma-
posto) téria de defesa, expondo as razões de fato e de direito com que
§ 11.  A autocomposição obtida será reduzida a termo e homo- impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende
logada por sentença. produzir.
§ 12.  A pauta das audiências de conciliação ou de mediação O artigo 336 consagra o princípio da eventualidade, que per-
será organizada de modo a respeitar o intervalo mínimo de 20 (vin- mite ao réu apresentar na contestação todas as matérias que possa
te) minutos entre o início de uma e o início da seguinte. invocar em sua defesa, ainda que elas não sejam necessariamente
compatíveis entre si. Pode apresentá-las em ordem sucessiva, sen-
3. Resposta do réu do as últimas para hipóteses de não acolhimento das primeiras.
Entre as respostas que o réu pode apresentar estão: contes- É fundamental que o réu apresente todas as defesas que tiver na
tação, reconvenção e exceções de impedimento/suspeição. O própria contestação, sob pena de preclusão. Neste sentido, prevê
CPC/1973 criava uma gama maior de respostas do réu, por exem- o artigo 342, CPC:

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 342. Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas § 3o Há litispendência quando se repete ação que está em cur-
alegações quando: so.
I - relativas a direito ou a fato superveniente; § 4o Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida
II - competir ao juiz conhecer delas de ofício; por decisão transitada em julgado.
III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas § 5o Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência
em qualquer tempo e grau de jurisdição. relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias enumeradas neste
O princípio da eventualidade se liga ao ônus da impugnação artigo.
específica que exterioriza a responsabilidade que tem o réu de, em § 6o A ausência de alegação da existência de convenção de
sua defesa, impugnar de forma especificada e precisa cada um dos arbitragem, na forma prevista neste Capítulo, implica aceitação da
fatos narrados pelo autor na inicial, sob pena de, não o fazendo, jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.
consumar-se a preclusão. O ônus da impugnação específica é um Nota-se uma ampliação das matérias alegáveis na contestação.
verdadeiro encargo processual, do qual decorre a necessidade de Em geral, o juiz pode reconhecer de ofício as matérias alegáveis em
atenção e cuidados extremos por parte do advogado do réu ao ofer- preliminar, salvo no que tange a arbitragem e incompetência rela-
tar uma contestação. Ele não se aplica, contudo, ao defensor dativo. tiva.
Sobre o ônus de impugnação específica, destaca-se o artigo 341,
CPC: d) Adaptação da nomeação à autoria
Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente O CPC excluiu a modalidade de nomeação à autoria do rol de
sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumin- intervenção de terceiros, mas não retirou a possibilidade do réu de
do-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se: indicar quem seja a parte legítima para figurar no polo passivo. O
I - não for admissível, a seu respeito, a confissão; que muda é que isso será feito na própria contestação e não me-
II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento diante modalidade de intervenção de terceiros. Basicamente, o réu
que a lei considerar da substância do ato; indicará aquele que deveria figurar no polo passivo e o autor terá 15
III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em dias para emendar a inicial se acolher a indicação, nada impedindo
seu conjunto. que mantenha este réu ali e acresça o indicado em litisconsórcio
Parágrafo único.  O ônus da impugnação especificada dos fatos passivo.
não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao cura- Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima
dor especial. ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará
ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para
c) Matérias alegáveis substituição do réu.
A contestação não amplia os limites objetivos da lide, o obje- Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará
to litigioso, tendo em vista o seu caráter defensivo. Contudo, pode as despesas e pagará os honorários ao procurador do réu excluído,
ampliar a cognição do juiz, obrigando-o a apreciar as questões nela que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou,
alegadas, na parte da fundamentação da sentença. Isso ocorre sem- sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8o.
pre que o réu arguir fato impeditivo, modificativo ou extintivo do Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu in-
direito do autor. dicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que
As defesas do réu podem ser divididas em três grandes grupos: tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais
a) as processuais, cujo acolhimento implique a extinção do proces- e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indi-
so sem resolução do mérito; b) as processuais que não impliquem cação.
a extinção do processo mas a sua dilação; c) as substanciais ou de § 1o O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15
mérito, sendo que a defesa de mérito direta é aquela em que o réu (quinze) dias, à alteração da petição inicial para a substituição do
nega os fatos narrados na petição inicial ou o efeito que o autor réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338.
pretende deles tirar, enquanto que a defesa indireta é a que o réu § 2o No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar
contrapõe aos fatos constitutivos do direito do autor fatos impedi- a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito
tivos, extintivos ou modificativos. As duas primeiras são as defesas indicado pelo réu.
preliminares e a terceira é a defesa de mérito.
Art. 337.  Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: e) Alegação de incompetência
I - inexistência ou nulidade da citação;
Na disciplina do CPC/1973 a alegação de incompetência ab-
II - incompetência absoluta e relativa;
soluta se dava em preliminar de contestação, mas a alegação de
III - incorreção do valor da causa;
incompetência relativa deveria se dar por exceção de incompetên-
IV - inépcia da petição inicial;
cia. O CPC/2015 unificou as duas situações, de modo que tanto a
V - perempção;
incompetência absoluta quanto a relativa devem ser alegadas por
VI - litispendência;
preliminar de contestação.
VII - coisa julgada;
O artigo 340 do CPC regula o procedimento que será seguido:
VIII - conexão;
IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta Art. 340. Havendo alegação de incompetência relativa ou ab-
de autorização; soluta, a contestação poderá ser protocolada no foro de domicílio
X - convenção de arbitragem; do réu, fato que será imediatamente comunicado ao juiz da causa,
XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual; preferencialmente por meio eletrônico.
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como § 1o A contestação será submetida a livre distribuição ou, se o
preliminar; réu houver sido citado por meio de carta precatória, juntada aos
XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça. autos dessa carta, seguindo-se a sua imediata remessa para o juízo
§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se da causa.
reproduz ação anteriormente ajuizada. § 2o Reconhecida a competência do foro indicado pelo réu, o
§ 2o  Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas juízo para o qual for distribuída a contestação ou a carta precató-
partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. ria será considerado prevento.

57
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 3o Alegada a incompetência nos termos do caput, será sus- 3.3 Revelia
pensa a realização da audiência de conciliação ou de mediação, se A não apresentação de contestação pelo réu gera revelia, que
tiver sido designada. pode gerar efeitos como o da presunção da veracidade dos fatos
§ 4o  Definida a competência, o juízo competente designará alegados na inicial. Revel é aquele que, citado, permanece inerte,
nova data para a audiência de conciliação ou de mediação. que não se contrapõe ao pedido formulado pelo autor. Logo, so-
mente o réu pode ser revel. No mais, somente há revelia em proces-
3.2 Reconvenção so de conhecimento e de urgência, não na execução.
É a ação incidente aforada pelo réu em face do autor, ao en- Quando o autor que deixa de cumprir ônus que lhe incumbe,
sejo de sua resposta. Citado, o demandado pode se limitar a con- diz-se que há contumácia. Também há contumácia quando o réu
testar, ficando na posição passiva, ou então assumir uma posição deixa de cumprir ônus que lhe incumbe, diverso da contestação.
ativa, formulando pretensões conexas em face do autor. Trata-se É preciso cuidado para não confundir revelia com os efeitos
de nova ação que ocupa o mesmo processo. Ela sempre amplia os que decorrem dela, pois há hipóteses em que a revelia não produz
limites objetivos da lide, porque o juiz terá de decidir não só sobre os seus efeitos tradicionais
a pretensão originária, mas sobre aquela formulada pelo réu. Even- Quando se limitar a reconvir, mas trouxer na reconvenção fatos
tualmente, pode ampliar os limites subjetivos, se proposta contra o e alegações que tornem controvertidos os fatos alegados na inicial
autor e um terceiro, ou em conjunto entre réu e o terceiro. (a revelia advém da completa inércia do réu), não é revel.
O réu se denomina reconvinte e o autor se denomina recon- São dois os efeitos gerados pela revelia: desnecessidade de in-
vindo. O prazo é o mesmo da contestação, 15 dias. Na condição de timação do revel, pois ele demonstrou desinteresse pelo processo
nova ação, deve preencher as condições da ação e os pressupostos e vontade de permanecer omisso, embora ele possa intervir a qual-
processuais, além dos requisitos da inicial, com as devidas adapta- quer momento no curso do processo (caso em que demonstrado o
ções. Não obstante, existem requisitos específicos para a reconven- interesse em participar o juiz passará a intimá-lo); e presunção de
ção: conexidade, competência, procedimentos compatíveis e que o veracidade dos fatos alegados pelo autor.
autor não seja legitimado extraordinário. A presunção de veracidade, o principal efeito que a revelia
A reconvenção não é possível nem em processo cautelar nem gera, torna desnecessária a produção de provas e conduz ao julga-
em processo de execução, ocorrendo apenas no processo de co- mento antecipado da lide. Tal presunção não é, contudo, absoluta.
nhecimento. Também não cabe em embargos do devedor e em pro- Neste sentido, o juiz presume a verdade dos fatos, mas pode retirar
cessos de liquidação, nem em procedimentos especiais incompatí- deles a consequência jurídica que entender correta.
veis. Caso seja aceito o pedido contraposto (pedido contra o autor Ainda, a lei cria casos em que a presunção de veracidade não
formulado na própria inicial), como nos juizados especiais, também será aplicada, mesmo que o réu seja revel: a) pluralidade de réus
não cabe reconvenção. Em tese, não há óbice à reconvenção su- em litisconsórcio unitário, sendo que um deles conteste a ação
cessiva. (apesar do CPC não falar é preciso litisconsórcio unitário porque
Quanto ao procedimento, a reconvenção é analisada pelo juiz só nele a defesa de um beneficia os demais já que a sentença tem
como se fosse uma petição inicial quanto à sua admissibilidade, sen- que ser igual para todos); b) litígio que verse sobre direitos indis-
do o autor citado para contestar na pessoa de seu procurador. Se o poníveis, que são, em geral, aqueles de natureza extrapatrimonial
autor-reconvindo não contestar a ação nem por isso se presumirão ou pública (ex.: estado e capacidade de pessoas); c) petição inicial
desacompanhada de instrumento essencial ao ato (ex.: contrato de
verdadeiros os fatos alegados na reconvenção, afinal, ele ajuizou a
compra e venda quando a ação versa sobre o reconhecimento da
demanda e já trouxe seus fatos, que provavelmente se opõem aos
obrigação que decorra de tal contrato); e d) quando as alegações de
narrados pelo réu. Abre-se para a réplica do réu conforma a maté-
fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em
ria alegada na contestação. A instrução será conjunta e a sentença
contradição com prova constante dos autos, hipótese incluída neste
única, julgando ação e reconvenção. Nada impede a extinção da re-
dispositivo pelo CPC/2015 e antes dispersa na lei.
convenção sem julgamento de mérito. Caso a ação originária venha
Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado re-
a ser extinta prematuramente, a reconvenção prosseguirá.
vel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas
Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção pelo autor.
para manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se:
com o fundamento da defesa. I - havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;
§ 1o Proposta a reconvenção, o autor será intimado, na pessoa II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
de seu advogado, para apresentar resposta no prazo de 15 (quinze) III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento
dias. que a lei considere indispensável à prova do ato;
§ 2o A desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossí-
que impeça o exame de seu mérito não obsta ao prosseguimento meis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos.
do processo quanto à reconvenção. Art. 346. Os prazos contra o revel que não tenha patrono nos
§ 3o A reconvenção pode ser proposta contra o autor e tercei- autos fluirão da data de publicação do ato decisório no órgão ofi-
ro. cial.
§ 4o A reconvenção pode ser proposta pelo réu em litisconsór- Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qual-
cio com terceiro. quer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar.
§ 5o Se o autor for substituto processual, o reconvinte deverá Não obstante, prevê o CPC/2015:
afirmar ser titular de direito em face do substituído, e a reconven- Art. 348. Se o réu não contestar a ação, o juiz, verificando a
ção deverá ser proposta em face do autor, também na qualidade de inocorrência do efeito da revelia previsto no art. 344, ordenará que
substituto processual. o autor especifique as provas que pretenda produzir, se ainda não
§ 6o O réu pode propor reconvenção independentemente de as tiver indicado.
oferecer contestação. Art. 349. Ao réu revel será lícita a produção de provas, con-
trapostas às alegações do autor, desde que se faça representar nos
autos a tempo de praticar os atos processuais indispensáveis a essa
produção.

58
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Neste sentido, se não aplicado o efeito da presunção de veraci- I - resolver as questões processuais pendentes, se houver;
dade dos fatos alegados pelo autor, este apresentará as provas que II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a ativi-
pretende produzir. Se o réu for revel e comparecer depois no pro- dade probatória, especificando os meios de prova admitidos;
cesso poderá produzir provas (ex.: perdeu o prazo para contestar, III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art.
mas está ciente do feito e quer acompanhá-lo). 373;
IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão
4. Contumácia do mérito;
“Incorre em contumácia qualquer das partes que deixa de exer- V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamen-
cer atividade no processo num momento em que, em tese, deveria to.
atuar. Por isso, tanto o autor como o réu podem incorrer em contu- § 1º Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir
mácia. Além disso, a contumácia pode se dar em qualquer momen- esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco)
to processual. Assim, por exemplo, incorre em contumácia o autor dias, findo o qual a decisão se torna estável.
ou o réu que, no prazo para se manifestar sobre o laudo pericial, § 2º As partes podem apresentar ao juiz, para homologação,
permanece em silêncio; o autor ou o réu que, no prazo para arrolar delimitação consensual das questões de fato e de direito a que se
testemunhas, nada faz; o autor que, no prazo assinado pelo juiz, não referem os incisos II e IV, a qual, se homologada, vincula as partes
corrige um defeito da petição inicial; e o réu que, intimado para se e o juiz.
manifestar sobre um documento apresentado pelo autor, silencia. § 3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato
Já a revelia é a contumácia do réu no momento em que ele deveria ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o sanea-
apresentar a contestação”12. A contumácia é mais abrangente que mento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em
a revelia, considerando que se configura tanto para o autor quanto que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer
para o réu em caso de descumprimento de ônus processual. A reve- suas alegações.
lia é um tipo específico de contumácia, que apenas se configura se § 4º Caso tenha sido determinada a produção de prova teste-
o réu descumprir o ônus de apresentar contestação. munhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze) dias
para que as partes apresentem rol de testemunhas.
5. Providências preliminares e saneamento
§ 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem levar, para a audiên-
Dos artigos 347 a 353 do CPC são descritas as providências pre-
cia prevista, o respectivo rol de testemunhas.
liminares que antecedem a fase saneatória, notadamente: a mais
§ 6º O número de testemunhas arroladas não pode ser superior
comum, sempre tomada se o réu apresenta contestação, que é a
a 10 (dez), sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato.
abertura de prazo para o autor apresentar a impugnação à contes-
§ 7º O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando
tação no prazo de 15 dias; e a menos comum, que é a abertura de
em conta a complexidade da causa e dos fatos individualmente con-
prazo para o autor se manifestar sobre a produção de provas devido
siderados.
à revelia do réu por não poderem ser aplicados os efeitos da revelia.
§ 8º Caso tenha sido determinada a produção de prova peri-
Tomadas as providências preliminares, o juiz terá duas opções:
cial, o juiz deve observar o disposto no art. 465 e, se possível, esta-
proferir o julgamento conforme o estado do processo, também co-
belecer, desde logo, calendário para sua realização.
nhecido como julgamento antecipado da lide; ou seguir para a fase
§ 9º As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo
instrutória após o saneamento do processo.
de 1 (uma) hora entre as audiências.
O saneamento serve para decidir questões processuais penden-
tes, fixar pontos controvertidos e definir os rumos da fase probató-
6. Julgamento conforme o estado do processo
ria. O despacho saneador já assumia uma relevância no CPC/1973,
O juiz poderá proferir sentença sempre que for o caso de ex-
mas muitas vezes era ignorado pelos magistrados na prática. O sa-
tinção sem resolução do mérito ou, no caso de extinção com reso-
neamento possui verdadeiro caráter decisório, tanto que contra ele
lução do mérito, para homologar acordo ou afim, para reconhecer
pode ser interposto agravo de instrumento. Contudo, inegável que
prescrição ou decadência ou para se dar por satisfeito quanto às
ganha maior importância no CPC/2015, que a ele dedica extenso
provas produzidas, julgando procedente ou improcedente. É o que
dispositivo, sendo inevitável que o juiz se atenha a ele com os devi-
se extrai do artigo 354, CPC:
dos cuidados para não gerar nulidades processuais. Ressalta-se que
Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts.
com a criação da regra dinâmica de distribuição do ônus da prova
485 e 487, incisos II e III, o juiz proferirá sentença.
o saneamento assumiu ainda maior importância, pois é no sanea-
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer
dor que o juiz deverá fazê-lo (nada impede, contudo, que as partes
respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugná-
apresentem acordo decidindo por si como se dará a distribuição do
vel por agravo de instrumento.
ônus da prova).
O CPC inova ao permitir que esta sentença que julga antecipa-
Do saneador as partes possuem 5 dias para apresentar ques-
damente a lide seja parcial, no que se denomina julgamento anteci-
tionamentos sobre seu conteúdo, pedindo esclarecimentos e suge-
pado parcial do mérito.
rindo alterações, e 15 dias para apresentar rol de testemunhas se
Quanto ao julgamento antecipado da lide, coloca-se ser cabível
o juiz determinar (no máximo 10, sendo 3 o máximo por cada fato
quando não for necessário seguir adiante com a fase instrutória ou
a ser provado – o juiz pode reduzir o número se achar que o fato
probatória (fatos que não dependam de outras provas ou matéria
não é complexo a este ponto) e para arguir impedimento/suspeição
exclusivamente de direito), bem como no caso de revelia, de acordo
do perito nomeado pelo juízo se este ordenar prova pericial, bem
com o artigo 355:
como indicar assistente técnico e apresentar quesitos.
Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítu-
sentença com resolução de mérito, quando:
lo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do
I - não houver necessidade de produção de outras provas;
processo:
II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não
12 VIANA, Salomão. Qual a relação entre contumácia e revelia? O autor pode
houver requerimento de prova, na forma do art. 349.
incorrer em contumácia? Disponível em: <https://salomaoviana.jusbrasil.com.
Em relação ao julgamento antecipado parcial do mérito, dispõe
br/artigos/182920234/qual-a-relacao-entre-contumacia-e-revelia-o-autor-po-
o artigo 356:
de-incorrer-em-contumacia>. Acesso em: 25 abr. 2019.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou Art. 362. A audiência poderá ser adiada:
mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I - por convenção das partes;
I - mostrar-se incontroverso; II - se não puder comparecer, por motivo justificado, qualquer
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos pessoa que dela deva necessariamente participar;
do art. 355. III - por atraso injustificado de seu início em tempo superior a
§ 1º A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reco- 30 (trinta) minutos do horário marcado.
nhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. § 1o O impedimento deverá ser comprovado até a abertura da
§ 2º A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obri- audiência, e, não o sendo, o juiz procederá à instrução.
gação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, § 2o O juiz poderá dispensar a produção das provas requeridas
independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa pela parte cujo advogado ou defensor público não tenha compare-
interposto. cido à audiência, aplicando-se a mesma regra ao Ministério Público.
§ 3º Na hipótese do § 2º, se houver trânsito em julgado da de- § 3o Quem der causa ao adiamento responderá pelas despesas
cisão, a execução será definitiva. acrescidas.
§ 4º A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar par- Art. 363. Havendo antecipação ou adiamento da audiência, o
cialmente o mérito poderão ser processados em autos suplemen- juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinará a intima-
tares, a requerimento da parte ou a critério do juiz. ção dos advogados ou da sociedade de advogados para ciência da
§ 5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável nova designação.
por agravo de instrumento. Art. 364. Finda a instrução, o juiz dará a palavra ao advogado
Supondo que a causa conte com cumulação de pedidos, não do autor e do réu, bem como ao membro do Ministério Público,
pairando controvérsia sobre um deles, ou estando o mesmo em se for o caso de sua intervenção, sucessivamente, pelo prazo de 20
condições de julgamento de imediato independente de outras pro- (vinte) minutos para cada um, prorrogável por 10 (dez) minutos,
vas, o juiz poderá julgá-lo desde logo. Por exemplo, se um casal quer a critério do juiz.
se divorciar, mas ainda há litígio sobre bens, guarda e alimentos, § 1o Havendo litisconsorte ou terceiro interveniente, o prazo,
pode sentenciar parcialmente pelo divórcio e seguir o processo no que formará com o da prorrogação um só todo, dividir-se-á entre os
restante. Não interposto recurso, a decisão transitará em julgado. do mesmo grupo, se não convencionarem de modo diverso.
Contudo, não cabe recorrer como se fosse uma sentença qualquer, § 2o Quando a causa apresentar questões complexas de fato
eis que o processo terá que continuar, razão pela qual cabe agravo ou de direito, o debate oral poderá ser substituído por razões finais
de instrumento e não apelação. A parte incontroversa pode ser exe- escritas, que serão apresentadas pelo autor e pelo réu, bem como
cutada desde logo, mediante cumprimento de sentença provisório. pelo Ministério Público, se for o caso de sua intervenção, em prazos
sucessivos de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos.
7. Audiência de instrução e julgamento Art. 365. A audiência é una e contínua, podendo ser excepcio-
A audiência de instrução e julgamento ocorrerá sempre que for nal e justificadamente cindida na ausência de perito ou de testemu-
necessária a produção de provas em audiência, como depoimentos nha, desde que haja concordância das partes.
das partes, oitiva de peritos e, principalmente, testemunhal. Será, Parágrafo único. Diante da impossibilidade de realização da
assim, o ato derradeiro da produção de provas, que encerrará a fase instrução, do debate e do julgamento no mesmo dia, o juiz marcará
probatória para dar abertura à fase de julgamento. seu prosseguimento para a data mais próxima possível, em pauta
Art. 358. No dia e na hora designados, o juiz declarará aberta preferencial.
a audiência de instrução e julgamento e mandará apregoar as par- Art. 366. Encerrado o debate ou oferecidas as razões finais,
tes e os respectivos advogados, bem como outras pessoas que dela o juiz proferirá sentença em audiência ou no prazo de 30 (trinta)
devam participar. dias.
Art. 359. Instalada a audiência, o juiz tentará conciliar as par- Art. 367. O servidor lavrará, sob ditado do juiz, termo que con-
tes, independentemente do emprego anterior de outros métodos de terá, em resumo, o ocorrido na audiência, bem como, por extenso,
solução consensual de conflitos, como a mediação e a arbitragem. os despachos, as decisões e a sentença, se proferida no ato.
Art. 360. O juiz exerce o poder de polícia, incumbindo-lhe: § 1o Quando o termo não for registrado em meio eletrônico, o
I - manter a ordem e o decoro na audiência;
juiz rubricar-lhe-á as folhas, que serão encadernadas em volume
II - ordenar que se retirem da sala de audiência os que se com-
próprio.
portarem inconvenientemente;
§ 2o Subscreverão o termo o juiz, os advogados, o membro do
III - requisitar, quando necessário, força policial;
Ministério Público e o escrivão ou chefe de secretaria, dispensadas
IV - tratar com urbanidade as partes, os advogados, os mem-
as partes, exceto quando houver ato de disposição para cuja prática
bros do Ministério Público e da Defensoria Pública e qualquer pes-
os advogados não tenham poderes.
soa que participe do processo;
§ 3o O escrivão ou chefe de secretaria trasladará para os autos
V - registrar em ata, com exatidão, todos os requerimentos
apresentados em audiência. cópia autêntica do termo de audiência.
Art. 361. As provas orais serão produzidas em audiência, ouvin- § 4o Tratando-se de autos eletrônicos, observar-se-á o disposto
do-se nesta ordem, preferencialmente: neste Código, em legislação específica e nas normas internas dos
I - o perito e os assistentes técnicos, que responderão aos que- tribunais.
sitos de esclarecimentos requeridos no prazo e na forma do art. 477, § 5o A audiência poderá ser integralmente gravada em ima-
caso não respondidos anteriormente por escrito; gem e em áudio, em meio digital ou analógico, desde que assegure
II - o autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoimentos o rápido acesso das partes e dos órgãos julgadores, observada a
pessoais; legislação específica.
III - as testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu, que serão § 6o A gravação a que se refere o § 5o também pode ser reali-
inquiridas. zada diretamente por qualquer das partes, independentemente de
Parágrafo único. Enquanto depuserem o perito, os assistentes autorização judicial.
técnicos, as partes e as testemunhas, não poderão os advogados e Art. 368. A audiência será pública, ressalvadas as exceções le-
o Ministério Público intervir ou apartear, sem licença do juiz. gais.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
que o STF considera ilícita, até que seja regulamentado o art. 5º, XII,
PROVAS da CF (“é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no úl-
1. Teoria Geral das Provas timo caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei es-
A prova é fundamental no processo civil. Embora existam mui- tabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual
tos processos em que a questão controvertida seja exclusivamente penal”) –, o Tribunal, por maioria de votos, aplicando a doutrina dos
de direito, não cabendo a produção de produção de provas, diver- “frutos da árvore envenenada”, concedeu habeas corpus impetrado
sos são os que exigem a apuração de fatos mediante provas especí- em favor de advogado acusado do crime de exploração de prestígio
ficas. Com efeito, é por meio das atividades probatórias que o juiz (CP, art. 357, par. único), por haver solicitado a seu cliente (preso em
terá elementos para decidir sobre a veracidade e a credibilidade das penitenciária) determinada importância em dinheiro, a pretexto de
alegações. Basicamente, pelas provas se forma o convencimento do entregá-la ao juiz de sua causa. Entendeu-se que o testemunho do
magistrado sobre a existência de fatos controvertidos que tenham cliente – ao qual se chegara exclusivamente em razão da escuta –,
relevância para o processo. confirmando a solicitação feita pelo advogado na conversa telefô-
A prova pode ser examinada sob o aspecto objetivo e subjetivo. nica, estaria “contaminado” pela ilicitude da prova originária. Ven-
Sob o objetivo, é o conjunto de meios que produz a certeza jurídica; cidos os Ministros Carlos Velloso, Octavio Gallotti, Sydney Sanches,
sob o subjetivo, é a convicção que se forma no espírito do julgador. Néri da Silveira e Moreira Alves, que indeferiam o habeas corpus,
ao fundamento de que somente a prova ilícita – no caso, a escuta –
1.1 Classificação da prova deveria ser desprezada. Precedentes citados: AHC 69912-RS (DJ de
As provas classificam-se de acordo com o objeto, o sujeito e a 26.11.93), HC 73351-SP (Pleno, 09.05.96; v. Informativo nº 30). HC
forma pela qual são produzidas. 72.588-PB, rel. Min. Maurício Corrêa, 12.06.96.
Quanto ao objeto, podem ser diretas, quando mantiverem uma A doutrina defende a aplicação da teoria da proporcionalidade,
relação imediata com o fato a ser provado (ex.: recibo prova o pa- não se levando aos extremos a teoria dos frutos da árvore envene-
gamento), ou indiretas, que se referem a fato distinto do que pre- nada.
tende provas (ex.: prova que estava em outro lugar para provar que
não estava no local do fato). 1.3 Objeto da prova
Quanto ao sujeito, pode ser pessoal, quando consistir em de- O objeto da prova são exclusivamente os fatos, devendo estes
claração ou afirmação de pessoa (como a prova testemunhal ou o ser relevantes para o processo.
depoimento pessoal), ou real, quando obtida de exame de coisa ou O Direito não deve ser provado, em regra, pois o juiz conhece
pessoa (prova pericial ou documental, por exemplo). o Direito – jura novit curia. Contudo, o juiz não tem como conhecer
Quanto à forma, pode ser oral (ex.: depoimento) ou escrita o Direito do mundo inteiro e de cada região. Neste sentido, prevê
(ex.: laudo pericial e documento). o art. 376, CPC: “a parte que alegar direito municipal, estadual, es-
trangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se
1.2 Vedação das provas ilícitas assim o juiz determinar”. Logo, a parte deverá provar a vigência e o
Nos termos do artigo 5º, LVI, CF, “são inadmissíveis, no proces- teor do direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário.
so, as provas obtidas por meios ilícitos”. Ainda, prevê o artigo 369, Voltando aos fatos, mesmo entre os fatos relevantes, há alguns
CPC: “as partes têm o direito de empregar todos os meios legais, que não precisam ser provados, conforme prevê o CPC:
bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados Art. 374. Não dependem de prova os fatos:
neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o I - notórios;
pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”. II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrá-
Compreende-se a consagração de um sistema de provas atípi- ria;
cas, de modo que podem ser produzidas não apenas as provas ar- III - admitidos no processo como incontroversos;
roladas como tais no Código de Processo Civil, mas todas as outras IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de
que não contrariem a lei, inclusive os direitos e garantias funda- veracidade.
mentais assegurados na Constituição, a moral e os bons costumes. Os notórios são aqueles de conhecimento geral na região em
A ilicitude da prova pode advir ou do modo como ela foi obtida, que o processo tramita (ex.: há intenso tráfego de veículos em São
ou do meio empregado para a demonstração do fato. A causa mais Paulo); os afirmados por uma parte e confessados pela contrária
frequente de ilicitude é a obtenção de prova por meio antijurídico, são incontroversos; os incontroversos, de modo que a terceira hi-
como a interceptação telefônica fora das hipóteses legais e a viola- pótese se relaciona com a segunda, ampliando-a; e os presumidos,
ção do sigilo de correspondência, entre outros. absoluta ou relativamente.
Contudo, não se resume à violação da lei, se estendendo à Os fatos negativos, por seu turno, não precisam ser provados
desobediência da moral e dos bons costumes. “Moralmente legí- no caso de negações absolutas, mas o precisam no caso de nega-
timas” seria algo próximo da não ofensa ao que a sociedade, de ções relativas. Exemplo: não é possível provar que não estava num
modo geral, considera como padrão de comportamento. O conhe- determinado local, mas é possível provar que se estava em outro no
cido adágio moral e bons costumes. Trata-se de uma regra aberta, mesmo momento, gerando álibi.
por meio da qual o julgador irá interpretar, em cada situação, quais
meios de provas seriam moralmente aceitáveis para o processo no 1.4 Poderes instrutórios do juiz
qual são produzidas. Os juristas têm o hábito de tentar escapar da problemática das
A preocupação com a utilização da prova ilícita é tal que o Su- provas e verdade recorrendo à distinção entre verdade formal, ju-
premo Tribunal Federal tem adotado a teoria dos frutos da árvore dicial ou processual e material, de um lado, e histórica, empírica
contaminada, estendendo a ilicitude às provas advindas de um des- ou simplesmente verdade, de outro. É comum, também a distinção
dobramento da produção da prova proibida, conforme se extrai do entre uma chamada verdade relativa, que é aquela típica do pro-
Informativo nº 35 do STF: cesso, e uma verdade absoluta, a qual existiria em algum lugar fora
Examinando novamente o problema da validade de provas cuja dos autos. Outra questão interessante é a correspondência, ou não,
obtenção não teria sido possível sem o conhecimento de informa- entre a realidade dos fatos e a verdade processual.
ções provenientes de escuta telefônica autorizada por juiz – prova

61
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
A distinção entre verdade formal e verdade material é inacei- ele para definir quais devem ser produzidas, a fim de que se consiga
tável por várias razões que a doutrina menos superficial tem pos- atingir o grau de certeza necessário para que a decisão seja profe-
to em evidência desde algum tempo. Afinal, a existência de regras rida com segurança.
jurídicas e de limites de distinta natureza serve, no máximo, para Em termos de fundamentação jurídica, o Código de Processo
excluir a possibilidade de obter verdades absolutas, mas não é sufi- Civil segue a toada da Constituição Federal e garante ao juiz ampla
ciente para diferenciar totalmente a verdade que se estabelece no liberdade para determinar, de ofício, as provas que lhe pareçam ne-
processo daquela que se fala fora do mesmo. cessárias para apuração da verdade e para assegurar a igualdade
Na época em que se defendia a duplicidade de verdade, con- real de tratamento entre as partes:
forme acima exposto, não se falava em processo como instrumento Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte,
público voltado a entregar a prestação jurisdicional com qualidade, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito.
eficiência e segurança. Do mesmo modo, o estudo dos poderes ins- Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada,
trutórios do julgador não merecia a atenção de hoje, sobretudo no as diligências inúteis ou meramente protelatórias.
Brasil, após a segunda metade do século passado. As provas formarão o convencimento do juiz, de modo que ele
Sempre que se fala sobre poderes instrutórios do julgador os encontre e verdade e não tenha dúvidas sobre os fatos, evitando
princípios que vêm à mente são o dispositivo e inquisitivo. De um que ele tenha que se utilizar das regras de julgamento do ônus da
lado, diz-se que o primeiro limita os poderes instrutórios do julga- prova para decidir. Por sua vez, ele deverá apreciar tais provas e
dor, uma vez que a iniciativa em termos de ação e provas caberia, indicar como o fez na decisão, que deverá ser fundamentada.
de forma exclusiva, às partes. De outra banda, o segundo quer fazer Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, inde-
crer que cabe ao julgador perquirir sobre as provas acerca dos fatos pendentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na de-
sobre os quais a demanda está assentada. cisão as razões da formação de seu convencimento.
Ocorre que tradicionalmente a doutrina relaciona o conteúdo Podem viger num sistema processual três sistemas de decisão
do princípio dispositivo com a atividade do magistrado no campo quanto às provas: o da prova legal, em que é estabelecida uma hie-
das provas. A doutrina clássica tem por hábito vincular os poderes rarquia entre as provas à qual o juiz fica vinculado (ex.: prova peri-
instrutórios do juiz à natureza da relação de Direito Material trazida cial vale mais que prova testemunhal); o do convencimento íntimo,
ao processo, afirmando-se que se for de direito disponível a inicia- no qual o juiz decide como quiser e não precisa dizer quais provas
tiva e a condução do feito são praticamente exclusivas das partes, usou para fazê-lo; e o do livre convencimento motivado, adotado
enquanto se for de direito indisponível a amplitude de poderes do nos Estados Democráticos de Direito, obrigando o juiz a apontar os
julgador é potencializada. fundamentos jurídicos e fáticos de sua decisão, que é tomada pelo
Ocorre que a ideia de dicotomia entre os princípios mencio- seu livre convencimento. Logo, não há hierarquia entre as provas,
nados é derivada de mentalidade atrasada e relativa à fase em que mas o juiz precisa dizer por que valorou mais uma do que a outra,
o Direito Processual Civil não possuía o reconhecimento e autono- fundamentando juridicamente sua decisão.
mia científica dos dias atuais. Hoje em dia não se pode mais manter
posições herméticas como a mencionada. É preciso que seja feita 1.5 Meios e fontes de provas
a conjugação entre os diversos institutos jurídicos envolvidos nos Meios de prova são os instrumentos por meio dos quais os su-
questionamentos, a fim de que deles seja extraído o resultado mais jeitos processuais buscam comprovar os fatos controvertidos deba-
útil para o sistema. Com o princípio dispositivo não é diferente. tidos nos autos. Não se confundem com as fontes das provas, pois
Deve ele ser encarado com base na visão publicista do processo, estas são os objetos e pessoas sobre os quais recaem as alegações e
sem deixar de notar que o papel do julgador mudou e não é mais fatos que precisam ser demonstrados nos autos. Os meios, por sua
aquele de mero expectador do embate travado entre as partes. vez, são os procedimentos adotados para instruir o processo com as
Os sujeitos processuais têm a capacidade de estabelecer limi- informações necessárias sobre os fatos nos quais se fundamentam
tações quanto aos fatos a serem examinados pelo juiz, porém não a demanda.
têm o poder de definir quais meios de prova serão utilizados para Por meio do que se extrai do Código de Processo Civil brasileiro,
tanto, ou seja, não podem delimitar os meios de prova que o julga- o legislador pátrio optou por não prever, em rol fechado, todos os
dor irá entender necessários para a formação do convencimento meios de prova. Preferiu, e nisso andou bem, estabelecer alguns
dele. E quanto a essa atuação do julgador, não se trata de simples meios de prova de forma exemplificativa, deixando consignado no
conduta supletiva, pois ele deve atuar de forma dinâmica, visando a art. 332 do Código de Processo Civil que são aceitos no processo to-
reproduzir nos autos um retrato fiel da realidade jurídico-material. dos os meios legais, bem como moralmente legítimos, mesmo que
A atividade instrutória do juiz, como se nota, está diretamente vin- não especificados em Lei.
A título de exemplo, tem-se como meios de prova típicos o tes-
culada aos limites da demanda, que, ao menos em princípio, não
temunhal, documental, confissão, depoimento pessoal, inspeção
podem ser ampliados de ofício. Nessa medida, à luz dos fatos de-
judicial e perícias em geral. Não serão estudados, um a um, pois isto
duzidos pelas partes, deve o julgador desenvolver toda a atividade
acabaria por subverter o objetivo da presente pesquisa. Em vista do
possível para atingir os escopos do processo, limitado apenas aos
rol não ser taxativo, costuma-se dizer que existem provas atípicas
fatos, porém não impedido de lançar mão de todos os meios de
no sistema brasileiro.
prova necessários para a solução da demanda.
O CPC/2015 inovou ao mencionar expressamente a possibilida-
Assim sendo, a interpretação que se deve dar ao princípio dis-
de de se buscar provas em outros processos, no que se denomina
positivo é no sentido de que ele limita a atividade do julgador ape-
prova emprestada, conforme art. 372: “o juiz poderá admitir a utili-
nas em relação às possibilidades das partes abrirem mão do direito zação de prova produzida em outro processo, atribuindo-lhe o valor
material em si, jamais alcançando o instrumento processual, sob que considerar adequado, observado o contraditório”. Quando a
pena de perda da sua utilidade e isso, caso venha ocorrer, é extre- prova vier de outro processo o juiz deve garantir que tenha havido
mamente prejudicial para a efetividade e a justiça dos provimen- contraditório em sua produção ou suprir a ausência deste nos autos
tos jurisdicionais, pois se correria o risco de deixar ao alvedrio das principais.
partes o controle da instrução do processo, quando na verdade o
magistrado é o destinatário das provas e ninguém melhor do que

62
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1.6 Dever de colaboração com a justiça Ônus são aquelas atividades que a parte realiza no processo
O dever de cooperação justifica a intervenção do julgador em seu próprio benefício. A lei não obriga as partes a fazer prova,
quanto à produção de provas, pois revela que todos os sujeitos mas, se elas o fizerem, obterão a vantagem de demonstrar suas ale-
processuais devem se ajudar, mutuamente, com o objeto único de gações, e, se se omitirem, sofrerão as consequências da ausência
provocar a melhor decisão possível. disso.
É certo que cada uma das partes defende, em primeiro plano, Além disso, se a prova fosse considerada um dever, caberia
interesses individuais, mas em segundo deve haver essa coope- coagir uma parte a produzi-la, aplicando sanções à pessoa em caso
ração, sobretudo no aspecto relativo às provas, e para tanto é de de descumprimento. Se tomarmos como pressuposto que a um de-
suma relevância a intervenção do Estado, pois o magistrado, como ver corresponde um direito, haveria direito da parte contrária de
sujeito processual imparcial, pode e deve servir de fiel da balança, ver a prova produzida.
quanto ao cumprimento desse dever. Talvez seja exatamente o ponto citado logo acima que configu-
Atrelado ao dever de cooperação entre os sujeitos processuais, re a questão primordial para se distinguir ônus de dever, ou seja, no
está o princípio da aquisição processual ou da comunhão da prova, dever, por existir uma responsabilidade, há o correspondente meio
o qual, em síntese, indica que a prova na verdade não pertence às de coerção que pode ser utilizado para fazer com que a parte seja
partes, mas sim ao processo, pois em última análise, a prova tem coagida a cumprir a obrigação que lhe incumbe, lembrando, confor-
como destinatário natural o julgador. me nos ensina a doutrina civilista que as obrigações são compostas
Quando se parte da premissa de que as provas, após serem pelos elementos subjetivo (sujeitos das obrigações), objetivo (pres-
produzidas, pertencem ao processo, fica evidente que existe, antes tação) e vínculo jurídico (responsabilidade que sujeita o devedor a
de tudo, o dever de cooperação entre os sujeitos processuais, tendo cumprir determinada prestação em favor do credor). É justamente
o julgador como o fiscal natural do jogo de ônus e sujeições existen- esse último elemento que o ônus não possui, de modo que não é
te entre todos os participantes da relação jurídico-processual. tecnicamente possível se falar em dever ou obrigação de provar.
Art. 378. Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Basicamente, a implicância em se falar num dever de provar é
Judiciário para o descobrimento da verdade. a de permitir a coação, bem como a sanção pelo não cumprimento.
Art. 379. Preservado o direito de não produzir prova contra si Na prática, não há nenhum dos dois no ônus. Basta pensar que é
própria, incumbe à parte: reconhecido o direito de não produzir prova contra si mesmo de
I - comparecer em juízo, respondendo ao que lhe for interro- maneira pacífica nas cortes brasileiras, do que se extrai a ausência
gado; de dever, de obrigação de produzir esta ou aquela prova. Trata-se
II - colaborar com o juízo na realização de inspeção judicial que de faculdade, a qual, caso colocada em prática, somente à parte
for considerada necessária; que detém o ônus beneficia. Além disso, é possível que uma parte
III - praticar o ato que lhe for determinado. que não atenda ao ônus não sofra qualquer consequência: basta
Art. 380. Incumbe ao terceiro, em relação a qualquer causa: pensar num réu que não comprove um fato modificativo alegado,
I - informar ao juiz os fatos e as circunstâncias de que tenha ele poderá não ser condenado se o autor não comprovar o fato
conhecimento; constitutivo de seu direito.
II - exibir coisa ou documento que esteja em seu poder.
Parágrafo único. Poderá o juiz, em caso de descumprimento, - Premissas teóricas do ônus da prova
determinar, além da imposição de multa, outras medidas indutivas, O ônus da prova, como o próprio processo, em nosso sentir
coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias. busca sua razão de ser, seu fundamento, no escopo da jurisdição, ou
seja, na necessidade do Estado intervir nas relações travadas entre
1.7 Distribuição do ônus da prova particulares, a fim de que seja possível a estabilização das relações
O Código de Processo Civil de 2015 consagra uma sistemática jurídicas e, em última escala, a pacificação social, sempre com o
de distribuição do ônus da prova bastante diversa da que foi consa- máximo de segurança para os pronunciamentos jurisdicionais, pois
grada no Código de Processo Civil de 1973, admitindo sua dinami- acreditamos que a razão de existir as regras de distribuição do ônus
zação, tal como já o faziam diplomas como o Código de Defesa do da prova é a legitimação das decisões judiciais, ou seja, ao se con-
Consumidor. Para melhor entender tais regras, primeiro vale com- ceder às partes a oportunidade de produzir as provas sobre o que
preender a abrangência e a importância do ônus da prova. lhes interessa, bem como ao se fixar regras de distribuição do ônus,
com consequências processuais para o descumprimento, o pano de
- Diferença entre ônus e dever
fundo de tal estrutura é na verdade a tentativa de se conceder à
No presente tópico, discutiremos uma questão de nomenclatu-
parte o sentimento de que teve oportunidade de influir na decisão
ra muito relevante: por que se falar em ônus da prova? É incorreto
que lhe diga respeito. Entra em tal estrutura, como se nota, o efei-
se falar num dever de provar? De início, vale apontar os critérios
to psicológico da parte ter, efetivamente à sua disposição, meios
doutrinários que implicam em se falar em ônus da prova e não em
de participar da produção e valoração da prova, o que, em tese,
dever ou em obrigação da prova.
confere sentimento de justiça para os pronunciamentos judiciais,
Ônus é o imperativo do próprio interesse; é a necessidade de
legitimando-os.
que seja adotado certo comportamento como condição para que
seja alcançado ou mantido algum benefício para sujeito onerado. Sobre as regras de distribuição do ônus da prova, quando uma
Dever é a necessidade de se observar certas ordens ou comandos, questão de fato se apresenta como irredutivelmente incerta no pro-
sob pena de sanção (no ônus não há sanção, se não cumprir a par- cesso, o juiz poderá, teoricamente, deixar de resolvê-la ou então
te sofre consequências não sancionatórias). Obrigação é o vínculo insistir em resolvê-la. Adotada a segunda postura, será possível:
jurídico pelo qual o credor pode exigir do devedor uma prestação. que o problema seja adiado por uma decisão provisória, que seja
O cerne da questão está no fato de que ao se considerar algo como utilizado um meio mecânico de prova (como o duelo ou o juramen-
ônus, será um imperativo do próprio interesse. Não se pode impor to) ou então, o que parece mais adequado, empregar as regras de
a ninguém cumprir um ônus, embora consequências possam advir distribuição do ônus da prova. Trata-se do único critério equânime
da inércia. e racional. A premissa do ônus da prova é a de que a parte que
deseje obter sucesso numa demanda judicial irá buscar de todas as

63
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
formas convencer o magistrado. Assim, as partes não têm apenas o Fato constitutivo é aquele que dá vida a uma vontade concreta
encargo de alegar, mas também de provar. Faz-se uma distribuição da lei, que tem essa função específica e que normalmente produz
porque não seria justo que apenas uma das partes tivesse o ônus. esse efeito. Extintivo, porque faz cessar essa vontade. Impeditivo é
Não se pode olvidar ainda que as regras sobre ônus da pro- inexistência do fato que deve concorrer com o constitutivo, a fim
va são imprescindíveis dentro da sistemática do Direito Processual de que ele produza normalmente os seus efeitos; enquanto o fato
Civil, porém, nos dias atuais, podem ser conceituadas como meca- constitutivo é causa eficiente, o impeditivo é a ausência de uma
nismos processuais a serem levados a cabo de forma subsidiária, causa concorrente.
isso com o fim de se obter, o mais próximo possível, uma decisão Constitutivo é aquele fato que dá fundamento ao pedido, ao
que espelhe sentimento de justiça no seio da sociedade. Com isso, direito postulado. Impeditivo é aquele que, existente, desconfigura
o que se pretende dizer é que as regras de ônus da prova somente algum elemento do fato constitutivo, não permitindo que o direito
devem ser aplicadas ao final do pleito judicial, como forma de se so- seja garantido. Extintivo é aquele fato que fez cessar o fato consti-
lucionar eventual defeito ou desídia das partes no que toca às pro- tutivo, por exemplo, pagamento numa ação de cobrança. Modifica-
vas que lhes incumbiam, isso em razão do magistrado se deparar, tivo é aquele que confere nova roupagem à situação fática.
de um lado com a perplexidade de provas inconclusivas e de outro O resultado da atividade probatória, em regra, decorre do que
com o dever de dar a resposta judicial ao caso que lhe fora apresen- contribuíram as partes, com sua atividade, para o processo. Há ex-
tado, dever esse que deriva do conhecido adágio non liquet, o qual ceções, por exemplo, quem alega um fato positivo deve prová-lo
indica que o Judiciário não pode se eximir de dar resposta ao caso prioritariamente a quem alega um fato negativo, salvo se o fato ne-
apresentado alegando deficiência na Lei ou mesmo deficiência no gativo trouxer uma afirmativa a ele inerente. Ainda, não cabe inci-
processo. Ainda que não seja uma resposta de mérito, incumbe ao dência do ônus da prova sobre fatos que dispensam a prova.
magistrado ou aos órgãos colegiados dar uma resposta à demanda. Marinoni e Arenhart asseveram que há dúvida sobre a inci-
Considerando o aspecto objetivo, o ônus serve quando a con- dência do artigo 333 nas ações declaratórias negativas, nas quais o
vicção do juiz não tiver sido formada a ponto de ter certeza do autor postula que o juiz declare inexistente um direito, cabendo ao
ocorrido e, como o juiz não pode se eximir de julgar, precisará de autor provar que existe um estado de incerteza objetivo (não mera-
uma regra que direcione sua ação quando as provas produzidas não mente subjetivo) que paira sobre o direito. Se o réu contesta que o
forem suficientes para julgar a ação. Mas, considerando o aspecto direito existe, cabe-lhe provar o fato que embasa o direito, ou seja,
subjetivo do ônus, entende-se que tais regras são um norte para as o fato constitutivo do direito que o autor alega ser inexistente. As-
partes, no sentido de que elas sabem o que deverá ser comprovado sim, a prova da inexistência com base numa dúvida concretamente
no processo, bem como quem tem a incumbência de fazê-lo, além verificável não é considerada fato constitutivo, de modo que não se
de ficarem estabelecidas, desde o início, quem poderá ser prejudi- estaria aplicando em sentido estrito o disposto no artigo 333.
cado pelo não atendimento das regras sobre os ônus da prova. Relembra-se o teor do §3º do artigo 373 do CPC, pelo qual “é
nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da pro-
- Disciplina Jurídica no CPC va quando: I - recair sobre direito indisponível da parte; II - tornar
No âmbito processual civil, o principal dispositivo que trata do excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito”. Como a
ônus da prova é o artigo 373 do CPCerior: regra do caput, na maioria das vezes, é dispositiva, estabelecida no
Art. 373. O ônus da prova incumbe: interesse das partes, estas podem modificar livremente os critérios
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; legais adotados, sem que isto viole garantia legal ou constitucional.
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo Excepcionam a regra de liberdade de regulamentação do ônus da
ou extintivo do direito do autor. prova os incisos § 3º.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades Entretanto, o CPC/2015 inova ao incorporar a regra da distri-
da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade buição dinâmica do ônus da prova. Em virtude também da preo-
de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade cupação com a efetivação dos direitos fundamentais e do acesso
de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o à justiça, sobretudo no que diz respeito à aplicação das regras de
ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fun- distribuição do ônus da prova, é reconhecida pela doutrina e juris-
damentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se prudência a denominada teoria dinâmica do ônus da prova, a qual
desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. foi divulgada de forma ampla no meio hispânico-americano e inter-
§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar nacional por Jorge Walter Peyrano, jurista argentino, o qual mencio-
situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja im- nou a teoria pela primeira vez em 198113.
possível ou excessivamente difícil. A teoria em questão tem o mérito de alterar a forma pela qual
§ 3º A distribuição diversa do ônus da prova também pode se interpreta a produção probatória, uma vez que fomenta a inter-
ocorrer por convenção das partes, salvo quando: pretação das regras de distribuição do ônus da prova não apenas
I - recair sobre direito indisponível da parte; sob o prisma de preenchimento de regras formais e abstratas, mas
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do di- sim por meio de interpretação que busque fazer incidir sobre tais
reito. regras o critério da justiça, o que seria feito, principalmente, lan-
§ 4º A convenção de que trata o § 3º pode ser celebrada antes çando-se mão dos princípios gerais do processo e das garantias
ou durante o processo. processuais, sendo, por tal motivo, ela interpretada em nosso país
sempre em consonância com o prisma constitucional do processo,
Numa interpretação literal do caput do artigo 373, CPC, reti- objetivando-se uma valoração maior dos elementos e sujeitos do
ram-se as seguintes assertivas: 1) o autor só poderá dar consistên- processo no que diz respeito ao acesso efetivo à justiça14.
cia de objeto à sua pretensão se afirmar a existência ou não de fatos
pertinentes ao Direito pleiteado que se pretende ver reconhecido;
13 GUILHERME, Thiago Azevedo. Regras de distribuição do ônus da prova e de
2) se o réu, ao se defender, fizer afirmações em sentido contrário,
efetivação do acesso à justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2011.
terá o dever de prová-las, mas se não o fizer a ele não caberá ne-
14 GUILHERME, Thiago Azevedo. Regras de distribuição do ônus da prova e de
nhum ônus.
efetivação do acesso à justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,
2011.

64
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Como podemos notar, a teoria dinâmica do ônus da prova traz Para parte da doutrina, como Watanabe16, quando a lei de-
em seu bojo, em sua essência, a evolução do próprio Direito Proces- termina ou autoriza a inversão do ônus da prova não caberia falar
sual Civil contemporâneo, isso na tentativa de se suprir as imper- em prevalência dos poderes instrutórios do juiz, determinando de
feições, lacunas e injustiças que poderiam surgir da aplicação fria ofício a produção das provas que entender necessárias à formação
e formal das regras de distribuição do ônus da prova previstas na de seu convencimento. Para outra, como Bedaque17, o magistrado
legislação de regência. não pode pautar sua atuação processual com fulcro em garantir
eventual direito que tenha a parte a favor da qual se inverteu o
- Inversão do ônus da prova ônus, devendo o juiz buscar sempre um resultado justo, que deve
Em geral, ônus é de quem alega, de quem tem interesse na ser necessariamente o que mais se aproxime da verdade real, não
comprovação, regra que se altera na inversão. A inversão do ônus havendo que se falar em alteração de postura devido à quebra do
pode ser: ônus da prova.
- Convencional, quando decorrer da vontade das partes no
contrato, não sendo permitido se dificultar demais o direito de de- 2. Provas em espécie
fesa (artigo 373, §3º, CPC). O Código de Processo Civil delimita as provas no capítulo XII
- Legal, quando decorrer da lei, se verificando quando for pre- inserido no título I do livro I da parte especial do Código de Processo
vista em lei alguma presunção relativa (por exemplo, quem ostenta Civil, voltado ao procedimento comum. Depois de uma seção intro-
o título, presumivelmente, o pagou). Somente na presunção relati- dutória, discorre em seções específicas sobre cada uma das provas
va há inversão porque o adversário pode provar a ausência de vera- em espécie.
cidade do fato presumido (as simples decorrem da observação do
que acontece, as legais da lei). 2.1 Produção Antecipada de Provas
Não raras vezes, a parte se vê na necessidade de produzir pro-
Sobre a inversão do ônus da prova como decorrência de pre- vas antecipadamente para a justa composição da lide a fim de evitar
sunções, considerando a já apontada inconveniência da aplicação ou superar o perigo de tornar impossível ou deficiente a produção
dos critérios de distribuição do ônus da prova, previsto no art. 373 da prova se tiver que aguardar a propositura da ação principal e a
do CPC, em algumas situações (tornando difícil ou até mesmo im- chegada da fase instrutória, isto é, o perigo de perderem os vestí-
possível o exercício do direito à prova), afirma parte da doutrina gios necessários à comprovação de fatos que sejam de vital impor-
nacional a possibilidade de o julgador do caso valer-se das presun- tância do julgamento da lide.
ções simples (também conhecidas como presunções judiciais), bem Basicamente a produção antecipada de provas tem cabimento
como da teoria dos fatos ordinários e extraordinários para estipular, quando existe o fundado receio que não se possa fazê-la no mo-
de acordo com a realidade fática e o direito material, o ônus da mento processual oportuno, ou porque o fato é passageiro, ou por-
prova no caso concreto. De acordo com tal técnica, os fatos ordiná- que a coisa ou a pessoa podem desaparecer ou perecer. Em não
rios são presumidos, enquanto os fatos extraordinários devem ser existindo este risco, não há de se falar em cabimento da produção
provados. Tal modalidade de distribuição do ônus da prova é mani- antecipada de provas, tornando a produção antecipada desneces-
festamente fundada em critérios lógicos baseados em máximas de sária e onerosa.
experiência, ou seja, o normal conhecimento da vida e das coisas. Embora a produção antecipada de provas se encontre discipli-
Neste sentido, preconiza o artigo 375, CPC: “O juiz aplicará as nada no novo Código de Processo Civil em meio à disciplina das
regras de experiência comum subministradas pela observação do provas, não perde a sua natureza, que é de medida cautelar.
que ordinariamente acontece e, ainda, as regras de experiência téc- A disciplina do CPC/2015 é bem mais extensa do que a dos ar-
nica, ressalvado, quanto a estas, o exame pericial”. tigos 846 a 851 do antigo CPC, antes localizada entre as cautelares
Através da presunção, permite-se inferir, do conhecimento da específicas.
ocorrência de um fato, a grande probabilidade de que tenha ocor- Art. 381. A produção antecipada da prova será admitida nos
rido outro fato. Interessa, para a atividade probatória, a presunção casos em que:
relativa, já que a presunção absoluta é ficção legal que não admite I - haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou
prova em contrário. Estabelecida uma presunção relativa, inverte- muito difícil a verificação de certos fatos na pendência da ação;
-se o ônus da prova. Um exemplo seria a presunção da paternidade II - a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a auto-
do réu que recusa se submeter ao exame de DNA, conforme vere- composição ou outro meio adequado de solução de conflito;
mos em detalhes mais adiante. III - o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o
- Judicial, a decidida pelo juiz quando autorizado pela lei, como ajuizamento de ação.
no caso em que o juiz pode inverter o ônus em favor do consumidor, § 1º O arrolamento de bens observará o disposto nesta Seção
de acordo com a previsão do artigo 6o, VIII, CDC: “São direitos bási- quando tiver por finalidade apenas a realização de documentação e
cos do consumidor: [...] VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, não a prática de atos de apreensão.
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo § 2º A produção antecipada da prova é da competência do juízo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando do foro onde esta deva ser produzida ou do foro de domicílio do
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiên- réu.
cias”. Cabe ao juiz decidir se será ou não concedida a inversão do § 3º A produção antecipada da prova não previne a competên-
ônus da prova, adotando um dos seguintes critérios: verossimilhan- cia do juízo para a ação que venha a ser proposta.
ça da alegação ou hipossuficiência do consumidor. Não se admite a § 4º O juízo estadual tem competência para produção anteci-
incidência do dispositivo de não comprovada a existência de rela- pada de prova requerida em face da União, de entidade autárquica
ção de consumo ou se inexistente justificativa convincente quanto ou de empresa pública federal se, na localidade, não houver vara
à pertinência e verossimilhança dos fatos alegados. Logo, a inversão federal.
do ônus da prova nas relações de consumo não é automática15.
16 WATANABE, Kazuo. CDC comentado pelos autores do anteprojeto.
São Paulo: Forense Universitária, 2001.
15 MEDINA, José Miguel Garcia; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Parte geral e 17 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz. 5. ed. São
processo de conhecimento. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 5º Aplica-se o disposto nesta Seção àquele que pretender jus- 2.3 Depoimento Pessoal
tificar a existência de algum fato ou relação jurídica para simples O depoimento pessoal consiste na deposição ou arguição da
documento e sem caráter contencioso, que exporá, em petição cir- parte contrária em juízo. Não cabe à própria parte, por meio de seu
cunstanciada, a sua intenção. advogado, requerer depoimento pessoal de si mesma. O que cabe é
Art. 382. Na petição, o requerente apresentará as razões que que uma parte, intermediada por advogado, requeira o depoimen-
justificam a necessidade de antecipação da prova e mencionará to pessoal da outra. Tal requerimento é facultativo, mas é importan-
com precisão os fatos sobre os quais a prova há de recair. te destacar que, ainda que não seja feito, o magistrado pode optar
§ 1º O juiz determinará, de ofício ou a requerimento da parte, por ouvir a parte em depoimento pessoal para a formação de seu
a citação de interessados na produção da prova ou no fato a ser convencimento, ordenando a produção de prova de ofício.
provado, salvo se inexistente caráter contencioso. Art. 385. Cabe à parte requerer o depoimento pessoal da ou-
§ 2º O juiz não se pronunciará sobre a ocorrência ou a inocor- tra parte, a fim de que esta seja interrogada na audiência de ins-
rência do fato, nem sobre as respectivas consequências jurídicas. trução e julgamento, sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo
§ 3º Os interessados poderão requerer a produção de qualquer de ofício.
prova no mesmo procedimento, desde que relacionada ao mesmo § 1o Se a parte, pessoalmente intimada para prestar depoi-
fato, salvo se a sua produção conjunta acarretar excessiva demora. mento pessoal e advertida da pena de confesso, não comparecer
§ 4º Neste procedimento, não se admitirá defesa ou recurso, ou, comparecendo, se recusar a depor, o juiz aplicar-lhe-á a pena.
salvo contra decisão que indeferir totalmente a produção da prova § 2o É vedado a quem ainda não depôs assistir ao interroga-
pleiteada pelo requerente originário. tório da outra parte.
Art. 383. Os autos permanecerão em cartório durante 1 (um) § 3o O depoimento pessoal da parte que residir em comarca, se-
mês para extração de cópias e certidões pelos interessados. ção ou subseção judiciária diversa daquela onde tramita o processo
Parágrafo único. Findo o prazo, os autos serão entregues ao poderá ser colhido por meio de videoconferência ou outro recurso
promovente da medida. tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, o
que poderá ocorrer, inclusive, durante a realização da audiência de
2.2 Ata Notarial instrução e julgamento.
Art. 384. A existência e o modo de existir de algum fato podem A intimação da parte para prestar o depoimento pessoal deve
ser atestados ou documentados, a requerimento do interessado, ser feita pessoalmente, não por intermédio de advogado, com o
mediante ata lavrada por tabelião. alerta de que o não comparecimento ou a recusa gerarão a pena
Parágrafo único. Dados representados por imagem ou som de confissão.
gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial. Se ambas partes forem depor, a que ficar por último não pode-
A ata notarial é um dos instrumentos notariais mais antigos. rá ouvir o depoimento da primeira.
Na antiguidade remota, os eventos, em primeiro momento, eram Nada impede a colheita do depoimento por meio de videocon-
fixados pela memória. Em seguida, vieram as testemunhas; após, ferência ou outro recurso tecnológico, caso a parte resida em outra
testemunhos privilegiados; e por fim, os documentos escritos, isso comarca ou seção.
em razão da complexidade que foram ganhando as relações huma- Art. 386.   Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de
nas. Em seguida, os escritos passaram a ser elaborados por pessoas responder ao que lhe for perguntado ou empregar evasivas, o juiz,
com testemunho privilegiado, quando surge então a função nota- apreciando as demais circunstâncias e os elementos de prova, de-
rial, com o que se confunde o próprio surgimento da ata notarial, clarará, na sentença, se houve recusa de depor.
já que os primeiros atos notariais eram feitos em forma de relato, Se a parte prestar depoimento, mas deixar de responder ou
inclusive os contratos, sendo que, posteriormente, com a evolução responder de forma evasiva, o juiz apreciará o caso para verificar se
da teoria contratual, a ata é substituída pela escritura pública.18 o comportamento pode ser considerado uma recusa de depor. Se o
No Direito pátrio, a ata notarial está prevista de forma expressa for, poderá considerar o depoente confesso.
no artigo 7º da Lei n. 8.935/94 (Lei dos Notários e Registradores), Art. 387. A parte responderá pessoalmente sobre os fatos ar-
como ato a ser praticado de forma exclusiva pelos tabeliães de no- ticulados, não podendo servir-se de escritos anteriormente pre-
tas. O instrumento ganha força no meio jurídico, em especial com o parados, permitindo-lhe o juiz, todavia, a consulta a notas breves,
CPC/2015, como forma de perpetuar situações jurídicas, conferindo desde que objetivem completar esclarecimentos.
a elas fé pública e produzindo-se um documento capaz de ser utili- A ideia é de que a parte responda cada questionamento de
zado como meio de prova. forma sincera, atestando a forma como percebeu os fatos na reali-
A ata notarial aproxima-se, em termos de estrutura, muito de dade. Em razão disso, não pode consultar as petições apresentadas
uma escritura pública, porém dela se distancia em relação ao con- por seu advogado ou os documentos dos autos. O juiz, se quiser,
teúdo, pois diferentemente desta, na ata não se estabelece relação pode consultar notas breves para completar esclarecimentos.
jurídica entre duas ou mais pessoas, bem como a declaração feita Art. 388. A parte não é obrigada a depor sobre fatos:
não é em virtude dos elementos negociais travados entre os nego-
I - criminosos ou torpes que lhe forem imputados;
ciantes, mas sim em virtude do que o próprio tabelião comprova e
II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar si-
conclui. Trata-se, como se nota, de um ato unilateral e declaratório
gilo;
do notário, um relato escrito, elaborado com segurança e fé públi-
III - acerca dos quais não possa responder sem desonra pró-
ca, devendo ser rico em detalhes, capazes de esclarecer e caracteri-
pria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau
zar o fato ocorrido e certificado por meio de simples leitura19.
sucessível;
Na ata notarial, segundo o artigo 384, CPC, pode ser registrada
IV - que coloquem em perigo a vida do depoente ou das pes-
a existência ou o modo de existir de um fato, podendo inclusive o
tabelião reproduzir e transcrever imagens e sons (ex.: escrever por soas referidas no inciso III.
escrito áudios do WhatsApp). Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de es-
tado e de família.
18 KOLLET, Ricardo Guimarães. Manual do Tabelião de Notas Para Con- Existem situações em que a parte pode se recusar a depor so-
cursos e Profissionais. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 191. bre fatos determinados. Uma delas é o direito à não incriminação,
19 CENEVIVA, Walter. Lei dos Notários e dos Registradores Comentada. 6. ed. isto é, não se pode obrigar alguém a confessar fatos criminosos ou
São Paulo: Saraiva, 2008, p. 65.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
torpes que lhe forem imputados. Outra delas é o dever de sigilo, A confissão é irrevogável, quer dizer, não é possível voltar atrás
não podendo a parte depor sobre fatos que deva guardar sigilo. da confissão feita. Contudo, se houve erro de fato ou coação, cabe
Além disso, o CPC/2015 situa duas novas situações em relação ao ação anulatória, que apenas pode ser proposta por aquele que con-
seu antecessor, permitindo a recusa de depor sobre fatos que ge- fessou. Caso quem confessou faleça no curso do processo, cabe a
rem desonra ou exponham a vida a perigo do depoente e de seu transferência da ação aos herdeiros. Contudo, os herdeiros não pos-
cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível. suem legitimidade ativa para propor a ação.
Tais escusas não se aplicam às ações de estado e de família (ex.: Art. 394. A confissão extrajudicial, quando feita oralmente, só
divórcio, separação, guarda, visitas, filiação, etc.). terá eficácia nos casos em que a lei não exija prova literal.
A confissão extrajudicial verbal apenas tem validade se a lei
2.4 Confissão não exigir de forma expressa a forma escrita.
Confissão é a admissão da verdade de fato contrário ao seu Art. 395.  A confissão é, em regra, indivisível, não podendo a
interesse e favorável ao interesse de seu adversário. Pode ser feita parte que a quiser invocar como prova aceitá-la no tópico que a be-
judicialmente, no bojo do processo ou mesmo em depoimento pes- neficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável, porém cindir-se-á
soal, ou extrajudicialmente. quando o confitente a ela aduzir fatos novos, capazes de constituir
Art. 389. Há confissão, judicial ou extrajudicial, quando a parte fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção.
admite a verdade de fato contrário ao seu interesse e favorável ao A confissão é indivisível, isto é, não pode a parte que se bene-
do adversário. ficie dela aceitar apenas partes de seu conteúdo – ou utiliza todos
Art. 390.  A confissão judicial pode ser espontânea ou provo- os tópicos, ou nenhum. Já a parte que confessou pode utilizar-se
cada. de um dos tópicos da confissão, desde que traga fatos novos, para
§ 1o A confissão espontânea pode ser feita pela própria parte eventualmente ajuizar reconvenção ou fundamentar sua defesa
ou por representante com poder especial. material.
§ 2o A confissão provocada constará do termo de depoimento
pessoal. 2.5 Da Exibição de Documento ou Coisa
É possível confessar por meio de representante, desde que ele Pela exibição de documento ou coisa o juiz determina que a
tenha poderes expressos para tanto, ou pessoalmente. A confissão parte exiba documento ou coisa que se encontre em seu poder. Per-
pode ser um ato espontâneo, que surja da parte de forma conscien- cebe-se que nada impede que tal exibição seja requisitada cautelar-
te e deliberada, ou pode ser provocada, quando a parte é questio- mente, pela via da produção antecipada de provas.
nada e pela sua resposta acaba, inconscientemente, por confessar Art. 396. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou
(por exemplo, quando arguida no depoimento pessoal). coisa que se encontre em seu poder.
Art. 391. A confissão judicial faz prova contra o confitente, não Art. 397.  O pedido formulado pela parte conterá:
prejudicando, todavia, os litisconsortes. I - a individuação, tão completa quanto possível, do documento
Parágrafo único.  Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou da coisa;
ou direitos reais sobre imóveis alheios, a confissão de um cônjuge II - a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam
ou companheiro não valerá sem a do outro, salvo se o regime de com o documento ou com a coisa;
casamento for o de separação absoluta de bens. III - as circunstâncias em que se funda o requerente para afir-
A confissão judicial faz prova contra aquele que confessou, de mar que o documento ou a coisa existe e se acha em poder da parte
forma que os fatos confessados não precisam ser provados por ou- contrária.
tros meios. Contudo, a confissão não pode prejudicar litisconsortes O documento ou a coisa devem ser descritos de forma específi-
ou cônjuges. Daí se dizer que no litisconsórcio a confissão de um ca. O requerente deve justificar o porquê da necessidade da prova,
não pode afetar o outro – em se tratando de litisconsórcio unitário, tal como indicar os motivos para acreditar que o documento ou coi-
o magistrado não poderá usar da confissão para prejudicar o litis- sa está com o requerido.
consorte. Também por isso se exige do cônjuge ou companheiro Art. 398. O requerido dará sua resposta nos 5 (cinco) dias sub-
a confissão conjunta, salvo se tratar de casamento em regime de sequentes à sua intimação.
separação absoluta de bens. Parágrafo único. Se o requerido afirmar que não possui o do-
cumento ou a coisa, o juiz permitirá que o requerente prove, por
Art. 392. Não vale como confissão a admissão, em juízo, de qualquer meio, que a declaração não corresponde à verdade.
fatos relativos a direitos indisponíveis. O requerido terá oportunidade de se manifestar sobre o re-
§ 1o A confissão será ineficaz se feita por quem não for capaz querimento. Se for feito de forma autônoma por via cautelar, será
de dispor do direito a que se referem os fatos confessados. citado. Já no bojo de processo, será intimado. Se o requerido alegar
§ 2o A confissão feita por um representante somente é eficaz que não possui o documento ou a coisa, o requerente terá oportu-
nos limites em que este pode vincular o representado. nidade de se manifestar, provando ser falta a alegação.
Em se tratando de direitos indisponíveis, mesmo que exista Art. 399. O juiz não admitirá a recusa se:
confissão, é dever do magistrado promover toda a instrução do pro- I - o requerido tiver obrigação legal de exibir;
cesso, buscando atestar a veracidade da confissão por outras pro- II - o requerido tiver aludido ao documento ou à coisa, no pro-
vas. Assim, pura e simplesmente, a confissão não vale como prova cesso, com o intuito de constituir prova;
contra direitos indisponíveis. III - o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.
Da mesma forma, é ineficaz a confissão por quem não tenha
Havendo obrigação legal de exibir, tendo o requerido aludido
capacidade para dispor do direito. Além disso, a confissão feita por
ao documento ou à coisa no processo ou sendo comum às partes
representante somente vale nos limites que que puder vincular o
o documento (documento que se refira a ambas partes), não será
representado.
aceita pelo juiz a recusa de exibir documento ou coisa).
Art. 393.  A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se
Art. 400. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros
decorreu de erro de fato ou de coação.
os fatos que, por meio do documento ou da coisa, a parte pretendia
Parágrafo único. A legitimidade para a ação prevista no caput
provar se:
é exclusiva do confitente e pode ser transferida a seus herdeiros se
ele falecer após a propositura.

67
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
I - o requerido não efetuar a exibição nem fizer nenhuma de- documental é fundamental ao processo e são raros os processos
claração no prazo do art. 398; que, mesmo com matéria de direito, não contem, pelo menos, com
II - a recusa for havida por ilegítima. documentos fundamentais juntados à inicial.
Parágrafo único. Sendo necessário, o juiz pode adotar medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias para que - Da Força Probante dos Documentos
o documento seja exibido. O legislador tratou nos artigos 405 a 429 do Código de Proces-
Conferido prazo para a exibição do documento ou coisa, se não so Civil da força probante dos documentos. No entanto, os valores
efetuada, ou se a recusa de apresentação for ilegítima, haverá pre- ali estabelecidos devem ser harmonizados com o princípio do livre
sunção de que os fatos alegados pela parte requerente quanto ao convencimento motivado, não se pretendendo resgatar o sistema
documento ou à coisa são verdadeiros. da prova legal ou tarifada.
Art. 401.  Quando o documento ou a coisa estiver em poder de Art. 405. O documento público faz prova não só da sua forma-
terceiro, o juiz ordenará sua citação para responder no prazo de 15 ção, mas também dos fatos que o escrivão, o chefe de secretaria,
(quinze) dias. o tabelião ou o servidor declarar que ocorreram em sua presença.
Se o documento ou coisa estiver em poder de terceiro, este O escrivão, o chefe de secretaria, o tabelião e o servidor pos-
será citado para responder no prazo de 15 dias. Afinal, o terceiro suem fé pública, razão pela qual os fatos que eles atestem terem
não está participando do processo e para que passe a participar ocorrido em sua presença são presumidos verdadeiros.
tem que ser citado. Art. 406. Quando a lei exigir instrumento público como da
Art. 402. Se o terceiro negar a obrigação de exibir ou a posse substância do ato, nenhuma outra prova, por mais especial que
do documento ou da coisa, o juiz designará audiência especial, to- seja, pode suprir-lhe a falta.
mando-lhe o depoimento, bem como o das partes e, se necessário, Quando a lei exige expressamente forma determinada para a
o de testemunhas, e em seguida proferirá decisão. prática de um ato, apenas documento que preencha os requisitos
Antes de decidir sobre o dever de exibir ou a posse do docu- formais será aceito como tal. Ex.: Registro do Imóvel prova a pro-
mento ou coisa por parte do terceiro, o juiz designará audiência priedade, escritura pública não registrada não prova.
especial para a colheita de provas. Art. 407. O documento feito por oficial público incompeten-
Art. 403. Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar te ou sem a observância das formalidades legais, sendo subscri-
a exibição, o juiz ordenar-lhe-á que proceda ao respectivo depósito to pelas partes, tem a mesma eficácia probatória do documento
em cartório ou em outro lugar designado, no prazo de 5 (cinco) particular.
dias, impondo ao requerente que o ressarça pelas despesas que ti- Para ter eficácia probatória de documento público, o documen-
ver. to deve ser feito por oficial competente e com observância das for-
Parágrafo único. Se o terceiro descumprir a ordem, o juiz ex- malidades legais. Contudo, se for subscrito pelas partes, tem força
pedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força probatória de documento particular.
policial, sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediên- Art. 408. As declarações constantes do documento particular
cia, pagamento de multa e outras medidas indutivas, coercitivas, escrito e assinado ou somente assinado presumem-se verdadeiras
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar a efe- em relação ao signatário.
tivação da decisão. Parágrafo único. Quando, todavia, contiver declaração de ciên-
Se o terceiro se recusar à exibição, o juiz pode requerer que cia de determinado fato, o documento particular prova a ciência,
seja feito o depósito em 5 dias. Não efetuado, o juiz pode determi- mas não o fato em si, incumbindo o ônus de prová-lo ao interessa-
nar medidas coercitivas, expedindo mandado de apreensão. do em sua veracidade.
Art. 404.  A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o Art. 409.  A data do documento particular, quando a seu res-
documento ou a coisa se: peito surgir dúvida ou impugnação entre os litigantes, provar-se-á
I - concernente a negócios da própria vida da família; por todos os meios de direito.
II - sua apresentação puder violar dever de honra; Parágrafo único.  Em relação a terceiros, considerar-se-á data-
III - sua publicidade redundar em desonra à parte ou ao tercei- do o documento particular:
ro, bem como a seus parentes consanguíneos ou afins até o tercei- I - no dia em que foi registrado;
ro grau, ou lhes representar perigo de ação penal; II - desde a morte de algum dos signatários;
IV - sua exibição acarretar a divulgação de fatos a cujo respei- III - a partir da impossibilidade física que sobreveio a qualquer
to, por estado ou profissão, devam guardar segredo; dos signatários;
V - subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente IV - da sua apresentação em repartição pública ou em juízo;
arbítrio do juiz, justifiquem a recusa da exibição; V - do ato ou do fato que estabeleça, de modo certo, a anterio-
VI - houver disposição legal que justifique a recusa da exibição. ridade da formação do documento.
Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os incisos I a VI Surgindo controvérsia sobre a data do documento particular,
do caput disserem respeito a apenas uma parcela do documento, a caberá prova desta. Quanto a terceiros, considera-se nos termos do
parte ou o terceiro exibirá a outra em cartório, para dela ser extraí- parágrafo único.
da cópia reprográfica, de tudo sendo lavrado auto circunstanciado. Art. 410. Considera-se autor do documento particular:
Não há dever de exibir o documento ou coisa se ocorrer viola- I - aquele que o fez e o assinou;
ção aos direitos à intimidade, à honra, à não incriminação ou deson- II - aquele por conta de quem ele foi feito, estando assinado;
ra própria ou de familiares, ou pela subsistência de motivos graves, III - aquele que, mandando compô-lo, não o firmou porque,
nada impedindo a exibição parcial. conforme a experiência comum, não se costuma assinar, como li-
vros empresariais e assentos domésticos.
2.6 Prova Documental O autor do documento particular é aquele que o fez e o assi-
A disciplina sobre a prova documental, que consiste naquela nou, ou aquele por conta de quem ele foi feito com assinatura, ou
extraída de documentos públicos ou particulares juntados ao pro- aquele que mandar compor e que não tenha assinado por não ser
cesso, se divide em três subseções: força probante dos documen- costumeiro.
tos, arguição de falsidade e produção de prova documental. A prova Art. 411. Considera-se autêntico o documento quando:

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
I - o tabelião reconhecer a firma do signatário; Art. 419. A escrituração contábil é indivisível, e, se dos fatos que
II - a autoria estiver identificada por qualquer outro meio le- resultam dos lançamentos, uns são favoráveis ao interesse de seu
gal de certificação, inclusive eletrônico, nos termos da lei; autor e outros lhe são contrários, ambos serão considerados em
III - não houver impugnação da parte contra quem foi produ- conjunto, como unidade.
zido o documento. Art. 420. O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibi-
O documento é considerado autêntico quando houver reco- ção integral dos livros empresariais e dos documentos do arquivo:
nhecimento de firma, quando houver certificação ou quando não I - na liquidação de sociedade;
houver impugnação. Nos dois primeiros casos, a autenticidade é II - na sucessão por morte de sócio;
inquestionável. No último, não foi questionada. III - quando e como determinar a lei.
Art. 412. O documento particular de cuja autenticidade não se Art. 421. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição par-
duvida prova que o seu autor fez a declaração que lhe é atribuída. cial dos livros e dos documentos, extraindo-se deles a suma que
Parágrafo único. O documento particular admitido expressa interessar ao litígio, bem como reproduções autenticadas.
ou tacitamente é indivisível, sendo vedado à parte que pretende O livro empresarial é o local onde o empresário deve efetuar os
utilizar-se dele aceitar os fatos que lhe são favoráveis e recusar os lançamentos em geral, sendo que tais lançamentos se presumem
que são contrários ao seu interesse, salvo se provar que estes não verdadeiros. O autor pode, contudo, provar que são inverídicos.
ocorreram. Aplica-se a indivisibilidade, o que significa que não se pode pedir
A ausência de questionamento quanto à autenticidade de do- que apenas parte dos fatos sejam tidos como verídicos a seu favor.
cumento, tanto público quanto particular, gera presunção de sua Em situações determinadas, o juiz pode determinar a exibição inte-
veracidade. O que muda é que nos documentos públicos há casos gral. Noutras, pode determinar a exibição parcial.
em que nem ao menos cabe questionamento. Art. 422. Qualquer reprodução mecânica, como a fotográfica,
A indivisibilidade também se aplica aos documentos, o que im- a cinematográfica, a fonográfica ou de outra espécie, tem aptidão
plica na impossibilidade de se utilizar apenas parte do documento para fazer prova dos fatos ou das coisas representadas, se a sua
por qualquer das partes a seu favor. conformidade com o documento original não for impugnada por
Art. 413. O telegrama, o radiograma ou qualquer outro meio aquele contra quem foi produzida.
de transmissão tem a mesma força probatória do documento par- § 1o As fotografias digitais e as extraídas da rede mundial de
ticular se o original constante da estação expedidora tiver sido assi- computadores fazem prova das imagens que reproduzem, deven-
nado pelo remetente. do, se impugnadas, ser apresentada a respectiva autenticação ele-
Parágrafo único. A firma do remetente poderá ser reconhecida trônica ou, não sendo possível, realizada perícia.
pelo tabelião, declarando-se essa circunstância no original deposi- § 2o Se se tratar de fotografia publicada em jornal ou revista,
tado na estação expedidora. será exigido um exemplar original do periódico, caso impugnada a
Art. 414.  O telegrama ou o radiograma presume-se conforme veracidade pela outra parte.
com o original, provando as datas de sua expedição e de seu rece- § 3o Aplica-se o disposto neste artigo à forma impressa de men-
bimento pelo destinatário. sagem eletrônica.
Pela amplitude do que se considera documento particular, po- Silva20 alega que “sempre que se faz alusão a documento ou,
de-se aqui incluir também e-mails, mensagens eletrônicas, etc. em direito processual, a prova documental, imagina-se que estas
Art. 415. As cartas e os registros domésticos provam contra categorias de direito probatório equivalham ao conceito de prova
quem os escreveu quando: literal, elaborada e produzida por meio da escrita (littera, a letra,
I - enunciam o recebimento de um crédito; aquilo que está escrito). O conceito de documento, todavia, é bem
II - contêm anotação que visa a suprir a falta de título em favor mais amplo, abrangendo outras formas de representação além
de quem é apontado como credor; das formas gráficas ou simplesmente literais”. Como imagens, se
III - expressam conhecimento de fatos para os quais não se exi- incluem aquelas extraídas da rede mundial de computadores, in-
ja determinada prova. clusive de mensagens, cabendo autenticação ou, caso impossível,
Os documentos de que as pessoas se utilizam para guardar a perícia.
memória de fatos de sua vida pessoal ou profissional, como é o caso Art. 423. As reproduções dos documentos particulares, foto-
de diários, agendas, orçamentos, servem de prova caso enunciem gráficas ou obtidas por outros processos de repetição, valem como
o recebimento de um crédito (pagamento recebido), ou para suprir certidões sempre que o escrivão ou o chefe de secretaria certificar
a prova de um título (ex.: empréstimo que só é registrado nestes e sua conformidade com o original.
não por contrato), ou para expressar o conhecimento de fatos que Art. 424. A cópia de documento particular tem o mesmo valor
possam ser provados por qualquer meio. probante que o original, cabendo ao escrivão, intimadas as partes,
Art. 416. A nota escrita pelo credor em qualquer parte de do- proceder à conferência e certificar a conformidade entre a cópia e
cumento representativo de obrigação, ainda que não assinada, faz o original.
prova em benefício do devedor. Art. 425.  Fazem a mesma prova que os originais:
Parágrafo único. Aplica-se essa regra tanto para o documento I - as certidões textuais de qualquer peça dos autos, do pro-
que o credor conservar em seu poder quanto para aquele que se tocolo das audiências ou de outro livro a cargo do escrivão ou do
achar em poder do devedor ou de terceiro. chefe de secretaria, se extraídas por ele ou sob sua vigilância e por
Nota escrita pelo credor faz prova em benefício do devedor, ele subscritas;
estando o documento em poder de qualquer um deles. II - os traslados e as certidões extraídas por oficial público de
Art. 417. Os livros empresariais provam contra seu autor, sen- instrumentos ou documentos lançados em suas notas;
do lícito ao empresário, todavia, demonstrar, por todos os meios III - as reproduções dos documentos públicos, desde que au-
permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à tenticadas por oficial público ou conferidas em cartório com os res-
verdade dos fatos. pectivos originais;
Art. 418. Os livros empresariais que preencham os requisitos
exigidos por lei provam a favor de seu autor no litígio entre em-
20 SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de processo civil. 7. ed. São Paulo:
presários.
Forense, 2006, v. 1, p. 358.

69
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
IV - as cópias reprográficas de peças do próprio processo judi- recaindo os efeitos da coisa julgada; ou que a parte requeira que
cial declaradas autênticas pelo advogado, sob sua responsabilida- seja tratada como se questão principal fosse, constando sobre ela
de pessoal, se não lhes for impugnada a autenticidade; no dispositivo da sentença e havendo afetação pelo fenômeno da
V - os extratos digitais de bancos de dados públicos e priva- coisa julgada.
dos, desde que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que O prazo é de 15 dias da juntada do documento. Quanto aos
as informações conferem com o que consta na origem; documentos acostados à inicial, deve ser arguida na contestação.
VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento pú- Quanto aos documentos acostados à contestação, deve ser arguida
blico ou particular, quando juntadas aos autos pelos órgãos da jus- na impugnação. A parte contrária será ouvida e, após, no prazo de
tiça e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pela 15 dias, se fará o exame pericial, salvo se a parte que produziu o
Defensoria Pública e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas re- documento concordar em retirá-lo.
partições públicas em geral e por advogados, ressalvada a alegação Art. 430. A falsidade deve ser suscitada na contestação, na ré-
motivada e fundamentada de adulteração. plica ou no prazo de 15 (quinze) dias, contado a partir da intimação
§ 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no da juntada do documento aos autos.
inciso VI deverão ser preservados pelo seu detentor até o final do Parágrafo único. Uma vez arguida, a falsidade será resolvida
prazo para propositura de ação rescisória. como questão incidental, salvo se a parte requerer que o juiz a deci-
§ 2o Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudi- da como questão principal, nos termos do inciso II do art. 19.
cial ou de documento relevante à instrução do processo, o juiz pode- Art. 431. A parte arguirá a falsidade expondo os motivos em
rá determinar seu depósito em cartório ou secretaria. que funda a sua pretensão e os meios com que provará o alegado.
Reproduções e cópias são válidas se certificada a autenticida- Art. 432.  Depois de ouvida a outra parte no prazo de 15 (quin-
de. Também fazem mesma prova que os originais as certidões e os ze) dias, será realizado o exame pericial.
traslados feitos por oficial público, além de reproduções autentica- Parágrafo único.  Não se procederá ao exame pericial se a par-
das de documentos públicos, cópias do processo certificadas autên- te que produziu o documento concordar em retirá-lo.
ticas pelo advogado, extratos digitais e reproduções digitalizadas de Art. 433.  A declaração sobre a falsidade do documento, quan-
documentos. do suscitada como questão principal, constará da parte dispositi-
Art. 426. O juiz apreciará fundamentadamente a fé que deva va da sentença e sobre ela incidirá também a autoridade da coisa
merecer o documento, quando em ponto substancial e sem ressalva julgada.
contiver entrelinha, emenda, borrão ou cancelamento.
Art. 427.  Cessa a fé do documento público ou particular sen- - Da Produção da Prova Documental
do-lhe declarada judicialmente a falsidade. A prova documental, em regra, é apresentada na primeira
Parágrafo único.  A falsidade consiste em: oportunidade em que as partes falam nos autos. Isto é, o autor jun-
I - formar documento não verdadeiro; ta à petição inicial e o réu à contestação. As partes podem juntar
II - alterar documento verdadeiro. documentos em outros momentos, caso sejam posteriores à peti-
Há falsidade do documento público sempre que ele não for ver- ção inicial ou à contestação (ou caso venham a se tornar conheci-
dadeiro ou que o documento verdadeiro for alterado, declarando- dos e acessíveis depois delas), ou simplesmente para contrapor os
-se judicialmente a falsidade e fazendo cessar a fé pública. documentos novos juntados pela parte contrária. Se o documento
Art. 428. Cessa a fé do documento particular quando: juntado for reprodução cinematográfica ou fonográfica, a exposição
I - for impugnada sua autenticidade e enquanto não se com- ocorrerá em audiência.
provar sua veracidade; Art. 434.  Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a con-
testação com os documentos destinados a provar suas alegações.
II - assinado em branco, for impugnado seu conteúdo, por
Parágrafo único.  Quando o documento consistir em reprodu-
preenchimento abusivo.
ção cinematográfica ou fonográfica, a parte deverá trazê-lo nos
Parágrafo único. Dar-se-á abuso quando aquele que recebeu
termos do caput, mas sua exposição será realizada em audiência,
documento assinado com texto não escrito no todo ou em parte
intimando-se previamente as partes.
formá-lo ou completá-lo por si ou por meio de outrem, violando o
Art. 435. É lícito às partes, em qualquer tempo, juntar aos au-
pacto feito com o signatário.
tos documentos novos, quando destinados a fazer prova de fatos
A parte contra quem foi produzido um documento particular
ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que fo-
poderá impugnar a autenticidade da assinatura e a veracidade do ram produzidos nos autos.
contexto, bem como eventual preenchimento abusivo do docu-
mento. Parágrafo único. Admite-se também a juntada posterior de do-
Art. 429. Incumbe o ônus da prova quando: cumentos formados após a petição inicial ou a contestação, bem
I - se tratar de falsidade de documento ou de preenchimento como dos que se tornaram conhecidos, acessíveis ou disponíveis
abusivo, à parte que a arguir; após esses atos, cabendo à parte que os produzir comprovar o mo-
II - se tratar de impugnação da autenticidade, à parte que pro- tivo que a impediu de juntá-los anteriormente e incumbindo ao juiz,
duziu o documento. em qualquer caso, avaliar a conduta da parte de acordo com o art.
O ônus da prova é da parte que arguir falsidade do documento 5o.
ou preenchimento abusivo. O ônus da prova é da parte que produ- Art. 436. A parte, intimada a falar sobre documento constante
ziu o documento em caso de impugnação de autenticidade. dos autos, poderá:
I - impugnar a admissibilidade da prova documental;
- Da Arguição de Falsidade II - impugnar sua autenticidade;
Se for declarada pela Justiça a falsidade de um documento, ele III - suscitar sua falsidade, com ou sem deflagração do inciden-
perderá sua força probante. A arguição de falsidade tem natureza te de arguição de falsidade;
jurídica de questão prejudicial, sendo seu objetivo declarar que o IV - manifestar-se sobre seu conteúdo.
documento juntado aos autos é falso. Como questão prejudicial, é Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, a impugnação
possível tanto que a parte requeira que seja julgada como tal, ape- deverá basear-se em argumentação específica, não se admitindo
nas servindo de fundamentação na sentença, mas sobre ela não alegação genérica de falsidade.

70
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 437. O réu manifestar-se-á na contestação sobre os do- eletrônicos aqueles que foram reproduzidos eletronicamente, em
cumentos anexados à inicial, e o autor manifestar-se-á na réplica processos administrativos ou judiciais eletrônicos ou em vias admi-
sobre os documentos anexados à contestação. nistrativas do Estado, ora transcritos nos autos.
§ 1o Sempre que uma das partes requerer a juntada de docu- Art. 439. A utilização de documentos eletrônicos no processo
mento aos autos, o juiz ouvirá, a seu respeito, a outra parte, que convencional dependerá de sua conversão à forma impressa e da
disporá do prazo de 15 (quinze) dias para adotar qualquer das pos- verificação de sua autenticidade, na forma da lei.
turas indicadas no art. 436. Art. 440. O juiz apreciará o valor probante do documento ele-
§ 2o Poderá o juiz, a requerimento da parte, dilatar o prazo trônico não convertido, assegurado às partes o acesso ao seu teor.
para manifestação sobre a prova documental produzida, levando Se o processo for eletrônico, o documento eletrônico poderá
em consideração a quantidade e a complexidade da documentação. simplesmente ser anexado. Se o processo for físico, deverá ser im-
Na oportunidade em que for intimada para se manifestar sobre presso e ter sua autenticidade verificada. Isso não afetará o valor
os documentos, a parte também poderá impugnar a admissibilida- probatório do documento.
de da prova (por exemplo, apegando que deveria ter sido juntada Art. 441.  Serão admitidos documentos eletrônicos produzidos
anteriormente), impugnar a autenticidade (alegando que o docu- e conservados com a observância da legislação específica.
mento não provém daquele autor), suscitar a falsidade (mediante Castro23 conceitua documento eletrônico como “[...] a repre-
incidente ou sem) e manifestar-se sobre seu conteúdo. sentação de um fato concretizada por meio de um computador e
A oportunidade se dá, para o réu, na contestação, para o autor, armazenado em formato específico (organização singular de bits e
na impugnação à contestação, em se tratando dos documentos jun- bytes), capaz de ser traduzido ou apreendido pelos sentidos me-
tados até aquele momento. Quanto aos documentos posteriores, o diante o emprego de programa (software) apropriado”. Em com-
juiz deverá intimar a parte contrária para se manifestar ou tomar a plemento, destaca-se que no processo informatizado o documento
providência que entenda devida no prazo de 15 dias. virá aos autos de maneira diversa (geralmente mídia de CD ou cópia
Art. 438. O juiz requisitará às repartições públicas, em qual- do registro eletrônico aos autos), perdendo menos a sua estrutu-
quer tempo ou grau de jurisdição: ra original; ao passo que no processo comum o que tem se visto,
I - as certidões necessárias à prova das alegações das partes; geralmente, é a impressão de páginas da rede mundial de compu-
II - os procedimentos administrativos nas causas em que forem tadores. Como visto, o CPC/2015 adota conceito semelhante ao do
interessados a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios autor, prevendo de forma expressa a possibilidade de conversão do
ou entidades da administração indireta. documento digital em documento físico.
§ 1o Recebidos os autos, o juiz mandará extrair, no prazo má-
ximo e improrrogável de 1 (um) mês, certidões ou reproduções 2.8 Prova Testemunhal
fotográficas das peças que indicar e das que forem indicadas pelas A prova testemunhal é a declaração perante juízo a respeito
partes, e, em seguida, devolverá os autos à repartição de origem. de fato relevante à questão litigiosa, feita por pessoa diferente das
§ 2o As repartições públicas poderão fornecer todos os docu- partes do processo, que tenha visto ou ouvido algo relevante. A dis-
mentos em meio eletrônico, conforme disposto em lei, certifican- ciplina se divide em duas seções, a primeira sobre a admissibilidade
do, pelo mesmo meio, que se trata de extrato fiel do que consta em e o valor da prova testemunhal, a segunda sobre a produção da
seu banco de dados ou no documento digitalizado. prova testemunhal.
Sem prejuízo dos documentos juntados pelas partes, o juiz
pode requisitar documentos de repartições públicas, que poderão - Da Admissibilidade e do Valor da Prova Testemunhal
enviar cópia física ou disponibilizar o acesso por meio eletrônico. Art. 442. A prova testemunhal é sempre admissível, não dis-
pondo a lei de modo diverso.
2.7 Documentos Eletrônicos A prova testemunhal é sempre admissível, salvo se a lei não a
Tradicionalmente, o conceito de documento adquire um senti- permitir. Por exemplo, em alguns procedimentos é vedada a oitiva
do estrito, envolvendo a retratação materializada de algum fato, ou de testemunha, como no caso do mandado de segurança, em que
seja, a princípio, a legislação exigiria que um documento fosse fir- o direito líquido e certo tem que ser provado de plano apenas com
mado no plano ordinário das relações sociais, consubstanciando-as documentos.
em escrito, em papel, constando a participação direta ou indireta Art. 443. O juiz indeferirá a inquirição de testemunhas sobre
das partes da relação jurídica em questão. Tal sentido se depreende fatos:
da doutrina e da legislação, muito embora tanto os estudiosos do I - já provados por documento ou confissão da parte;
Direito quanto o legislador estejam se aplicando para incorporar ao II - que só por documento ou por exame pericial puderem ser
tradicional conceito de documento a questão informática21. provados.
Nesta linha, surge o chamado documento eletrônico, que pode Se o fato não for incontroverso ou bastar documento ou perícia
ser tomado em dois sentidos: o primeiro enquanto meio de exte- para prová-lo, o juiz indeferirá a prova testemunhal. Ex.: foi feito
riorização de alguma relação jurídica ou de certo ato processual, DNA e constatada a paternidade, não faria sentido o juiz deferir de-
seguindo as diretrizes da infraestrutura de chaves públicas e da as- poimento de testemunha para sustentar o fato alegado pelo pai em
sinatura digital; o segundo, como qualquer prova de algum aconte- defesa de que não haveria vínculo com o autor.
cimento na Internet relacionado com a discussão do processo, de Art. 444. Nos casos em que a lei exigir prova escrita da obri-
maneira direta ou indireta, que algum dos envolvidos na relação gação, é admissível a prova testemunhal quando houver começo
jurídico-processual trouxe aos autos por qualquer meio, como o im- de prova por escrito, emanado da parte contra a qual se pretende
presso, a descrição de um link ou o relato em ata notarial22. Nesta produzir a prova.
segunda perspectiva, pode-se falar também que são documentos A prova testemunhal pode complementar a prova escrita exi-
gida por lei.
21 GARCIA, Bruna Pinotti; SANTOS, Cássio Roberto dos. Prova documental e a
evolução informática: força probante da ata notarial de páginas da Internet e
dos impressos da web. Revista Dialética de Direito Processual, n. 113, p. 9-26, 23 CASTRO, Aldemario Araujo. O Documento Eletrônico e a Assinatura Digital.
ago. 2012. Disponível em: <http://www.aldemario.adv.br/doceleassdig.htm>. Acesso em:
22 Ibid. 15 jan. 2012.

71
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 445. Também se admite a prova testemunhal quando o As testemunhas serão ouvidas na sede do juízo, salvo se por
credor não pode ou não podia, moral ou materialmente, obter a enfermidade ou outro motivo relevante estiver impossibilitada de
prova escrita da obrigação, em casos como o de parentesco, de comparecer, quando o juiz por designar dia, hora e local diverso.
depósito necessário ou de hospedagem em hotel ou em razão das
práticas comerciais do local onde contraída a obrigação. - Da Produção da Prova Testemunhal
Em situações em que a prova escrita de obrigação não seja Art. 450. O rol de testemunhas conterá, sempre que possível, o
usual, impedindo que o credor obtenha prova escrita da obrigação, nome, a profissão, o estado civil, a idade, o número de inscrição no
aceita-se a prova testemunhal. Cadastro de Pessoas Físicas, o número de registro de identidade e
Art. 446. É lícito à parte provar com testemunhas: o endereço completo da residência e do local de trabalho.
I - nos contratos simulados, a divergência entre a vontade real O rol de testemunhas deve apresentar a qualificação completa
e a vontade declarada; de cada testemunha.
II - nos contratos em geral, os vícios de consentimento. Art. 451. Depois de apresentado o rol de que tratam os §§ 4o e
Havendo simulação de contrato, é possível usar a prova teste- 5o do art. 357, a parte só pode substituir a testemunha:
munhal para demonstrar que a vontade manifestada por escrito no I - que falecer;
contrato não corresponde à intenção das partes que o celebraram. II - que, por enfermidade, não estiver em condições de depor;
Da mesma forma, é possível usar a prova testemunhal para provar III - que, tendo mudado de residência ou de local de trabalho,
que o contrato foi celebrado com vício de consentimento, como não for encontrada.
erro, dolo, coação, estado de perigo ou lesão. Pode ser substituída após a apresentação do rol: a testemunha
Art. 447. Podem depor como testemunhas todas as pessoas, que falecer, não tiver condições de depor por doença ou tiver se
exceto as incapazes, impedidas ou suspeitas. mudado e não for encontrada.
§ 1o São incapazes: Art. 452. Quando for arrolado como testemunha, o juiz da cau-
I - o interdito por enfermidade ou deficiência mental; sa:
II - o que, acometido por enfermidade ou retardamento men- I - declarar-se-á impedido, se tiver conhecimento de fatos que
tal, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia discerni-los, possam influir na decisão, caso em que será vedado à parte que o
ou, ao tempo em que deve depor, não está habilitado a transmitir incluiu no rol desistir de seu depoimento;
as percepções; II - se nada souber, mandará excluir o seu nome.
III - o que tiver menos de 16 (dezesseis) anos; Se o juiz da causa for arrolado como testemunha, mandará ex-
IV - o cego e o surdo, quando a ciência do fato depender dos cluir seu nome, salvo se tiver conhecimento dos fatos que possam
sentidos que lhes faltam. influir em sua decisão, quando se declarará impedido.
§ 2o São impedidos: Art. 453. As testemunhas depõem, na audiência de instrução e
I - o cônjuge, o companheiro, o ascendente e o descendente julgamento, perante o juiz da causa, exceto:
em qualquer grau e o colateral, até o terceiro grau, de alguma das I - as que prestam depoimento antecipadamente;
partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se o exigir o inte- II - as que são inquiridas por carta.
resse público ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, § 1o A oitiva de testemunha que residir em comarca, seção ou
não se puder obter de outro modo a prova que o juiz repute neces- subseção judiciária diversa daquela onde tramita o processo poderá
sária ao julgamento do mérito; ser realizada por meio de videoconferência ou outro recurso tec-
II - o que é parte na causa; nológico de transmissão e recepção de sons e imagens em tempo
III - o que intervém em nome de uma parte, como o tutor, o real, o que poderá ocorrer, inclusive, durante a audiência de instru-
representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros ção e julgamento.
que assistam ou tenham assistido as partes. § 2o Os juízos deverão manter equipamento para a transmis-
§ 3o São suspeitos: são e recepção de sons e imagens a que se refere o § 1o.
I - o inimigo da parte ou o seu amigo íntimo; Na audiência de instrução e julgamento, serão ouvidas as tes-
II - o que tiver interesse no litígio. temunhas pelo juiz da causa, salvo se ouvidas antecipadamente ou
§ 4o Sendo necessário, pode o juiz admitir o depoimento das por carta (é o caso de precatória ou rogatória enviada para oitiva de
testemunhas menores, impedidas ou suspeitas. testemunha).
§ 5o Os depoimentos referidos no § 4o serão prestados inde- Art. 454. São inquiridos em sua residência ou onde exercem
pendentemente de compromisso, e o juiz lhes atribuirá o valor que sua função:
possam merecer. I - o presidente e o vice-presidente da República;
Art. 448. A testemunha não é obrigada a depor sobre fatos: II - os ministros de Estado;
I - que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu cônjuge ou III - os ministros do Supremo Tribunal Federal, os conselheiros
companheiro e aos seus parentes consanguíneos ou afins, em linha do Conselho Nacional de Justiça e os ministros do Superior Tribu-
reta ou colateral, até o terceiro grau; nal de Justiça, do Superior Tribunal Militar, do Tribunal Superior
II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar si- Eleitoral, do Tribunal Superior do Trabalho e do Tribunal de Contas
gilo. da União;
A pessoa pode se recusar a depor sobre fatos que causem a IV - o procurador-geral da República e os conselheiros do Con-
si ou à sua família (até colateral de terceiro grau) grave dano, bem selho Nacional do Ministério Público;
como sobre fatos que deva guardar sigilo. V - o advogado-geral da União, o procurador-geral do Estado,
Art. 449. Salvo disposição especial em contrário, as testemu- o procurador-geral do Município, o defensor público-geral federal
e o defensor público-geral do Estado;
nhas devem ser ouvidas na sede do juízo.
VI - os senadores e os deputados federais;
Parágrafo único. Quando a parte ou a testemunha, por enfer-
VII - os governadores dos Estados e do Distrito Federal;
midade ou por outro motivo relevante, estiver impossibilitada de
VIII - o prefeito;
comparecer, mas não de prestar depoimento, o juiz designará, con-
IX - os deputados estaduais e distritais;
forme as circunstâncias, dia, hora e lugar para inquiri-la.

72
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
X - os desembargadores dos Tribunais de Justiça, dos Tribunais Parágrafo único. O juiz poderá alterar a ordem estabelecida no
Regionais Federais, dos Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribu- caput se as partes concordarem.
nais Regionais Eleitorais e os conselheiros dos Tribunais de Contas As testemunhas serão ouvidas de forma separada e em ordem
dos Estados e do Distrito Federal; sucessiva, primeiro as do autor e depois as do réu, não podendo
XI - o procurador-geral de justiça; uma ouvir o depoimento da outra. Se as partes concordarem, o juiz
XII - o embaixador de país que, por lei ou tratado, concede pode inverter a ordem de oitiva.
idêntica prerrogativa a agente diplomático do Brasil. Art. 457. Antes de depor, a testemunha será qualificada, de-
§ 1o O juiz solicitará à autoridade que indique dia, hora e local clarará ou confirmará seus dados e informará se tem relações de
a fim de ser inquirida, remetendo-lhe cópia da petição inicial ou da parentesco com a parte ou interesse no objeto do processo.
defesa oferecida pela parte que a arrolou como testemunha. § 1o É lícito à parte contraditar a testemunha, arguindo-lhe a
§ 2o Passado 1 (um) mês sem manifestação da autoridade, o incapacidade, o impedimento ou a suspeição, bem como, caso a
juiz designará dia, hora e local para o depoimento, preferencial- testemunha negue os fatos que lhe são imputados, provar a contra-
mente na sede do juízo. dita com documentos ou com testemunhas, até 3 (três), apresen-
§ 3o O juiz também designará dia, hora e local para o depoi- tadas no ato e inquiridas em separado.
mento, quando a autoridade não comparecer, injustificadamente, § 2o Sendo provados ou confessados os fatos a que se refere o
à sessão agendada para a colheita de seu testemunho no dia, hora § 1 , o juiz dispensará a testemunha ou lhe tomará o depoimento
o

e local por ela mesma indicados. como informante.


Prestarão depoimento em dia, hora e local de sua escolha: che- § 3o A testemunha pode requerer ao juiz que a escuse de de-
fes do Executivo federal e estadual, vice-presidente, ministros de por, alegando os motivos previstos neste Código, decidindo o juiz de
Estado; chefe do Executivo estadual; representantes legislativos fe- plano após ouvidas as partes.
derais; conselheiros do CNJ/CNMP; chefes das funções essenciais à A testemunha, antes de depor, poderá pedir ao juiz que seja
justiça no âmbito federal, estadual e municipal; desembargadores; escusada de depor, por ser incapaz, suspeita ou impedida. Também
prefeitos; representantes diplomáticos estrangeiros. é possível que a parte contrária contradite a testemunha, alegan-
Art. 455. Cabe ao advogado da parte informar ou intimar a tes- do ser incapaz, impedida ou suspeita, podendo provar a contradita
temunha por ele arrolada do dia, da hora e do local da audiência com documentos e testemunhas. Acolhida a contradita, o juiz ouvi-
designada, dispensando-se a intimação do juízo. rá a testemunha como informante ou a dispensará.
§ 1o A intimação deverá ser realizada por carta com aviso de Art. 458. Ao início da inquirição, a testemunha prestará o com-
recebimento, cumprindo ao advogado juntar aos autos, com ante- promisso de dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado.
cedência de pelo menos 3 (três) dias da data da audiência, cópia da Parágrafo único. O juiz advertirá à testemunha que incorre em
correspondência de intimação e do comprovante de recebimento. sanção penal quem faz afirmação falsa, cala ou oculta a verdade.
§ 2o A parte pode comprometer-se a levar a testemunha à A testemunha prestará compromisso de dizer a verdade. Caso
audiência, independentemente da intimação de que trata o § 1o, a falseie, cale ou oculte, poderá responder por falso testemunho
presumindo-se, caso a testemunha não compareça, que a parte de- (artigo 342, CP).
sistiu de sua inquirição. Art. 459. As perguntas serão formuladas pelas partes direta-
§ 3o A inércia na realização da intimação a que se refere o § 1o mente à testemunha, começando pela que a arrolou, não admi-
importa desistência da inquirição da testemunha. tindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem
§ 4o A intimação será feita pela via judicial quando: relação com as questões de fato objeto da atividade probatória ou
I - for frustrada a intimação prevista no § 1o deste artigo; importarem repetição de outra já respondida.
II - sua necessidade for devidamente demonstrada pela parte § 1o O juiz poderá inquirir a testemunha tanto antes quanto
ao juiz; depois da inquirição feita pelas partes.
III - figurar no rol de testemunhas servidor público ou militar, § 2o As testemunhas devem ser tratadas com urbanidade, não
hipótese em que o juiz o requisitará ao chefe da repartição ou ao se lhes fazendo perguntas ou considerações impertinentes, capcio-
comando do corpo em que servir; sas ou vexatórias.
IV - a testemunha houver sido arrolada pelo Ministério Público § 3o As perguntas que o juiz indeferir serão transcritas no ter-
ou pela Defensoria Pública; mo, se a parte o requerer.
V - a testemunha for uma daquelas previstas no art. 454. O advogado da parte apresentará a pergunta diretamente à
§ 5o A testemunha que, intimada na forma do § 1o ou do § 4o, testemunha, mas o juiz pode indeferir caso busquem induzir res-
deixar de comparecer sem motivo justificado será conduzida e res- posta, não se relacionarem às questões de fato do processo ou fo-
ponderá pelas despesas do adiamento. rem repetitivas. Se indeferir, constará o indeferimento no termo da
audiência. As testemunhas devem ser tratadas com urbanidade e
Cabe ao advogado realizar a intimação da testemunha por respeito. O juiz pode complementar a arguição feita pelas partes ou
meio de carta, com aviso de recebimento, ou se comprometer a começar arguindo. Entre as partes, começa arguindo a que arrolou
levá-la na audiência independente de intimação. Caso o advogado a testemunha.
efetue tal intimação e a testemunha não compareça, o juiz efetuará Art. 460. O depoimento poderá ser documentado por meio de
a intimação judicial e poderá determinar sua condução. gravação.
Não é preciso intimação por carta com AR, cabendo ao juízo § 1o Quando digitado ou registrado por taquigrafia, estenoti-
promover: frustração da intimação feita por advogado; demonstra- pia ou outro método idôneo de documentação, o depoimento será
ção de necessidade de intimação judicial pela parte; testemunha assinado pelo juiz, pelo depoente e pelos procuradores.
que seja servidora pública ou militar; testemunha arrolada pelo MP § 2o Se houver recurso em processo em autos não eletrônicos, o
ou DP; autoridades com direito de depor em residência pessoal ou depoimento somente será digitado quando for impossível o envio
oficial no dia e hora designados. de sua documentação eletrônica.
Art. 456. O juiz inquirirá as testemunhas separada e sucessi- § 3o Tratando-se de autos eletrônicos, observar-se-á o disposto
vamente, primeiro as do autor e depois as do réu, e providenciará neste Código e na legislação específica sobre a prática eletrônica de
para que uma não ouça o depoimento das outras. atos processuais.

73
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Evidentemente, o depoimento da testemunha tem que ser re- Art. 472. O juiz poderá dispensar prova pericial quando as par-
gistrado e, se possível, assinado pelo depoente, pelo juiz e pelos tes, na inicial e na contestação, apresentarem, sobre as questões de
procuradores. fato, pareceres técnicos ou documentos elucidativos que conside-
Art. 461. O juiz pode ordenar, de ofício ou a requerimento da rar suficientes.
parte: Nem sempre a perícia será necessária ou possível. Em razão
I - a inquirição de testemunhas referidas nas declarações da disso, o juiz pode indeferir a perícia se: não for necessário conheci-
parte ou das testemunhas; mento técnico, se desnecessária em face de outras provas ou se for
II - a acareação de 2 (duas) ou mais testemunhas ou de algu- impraticável (impossível). Tal disposição expressa é uma inovação
ma delas com a parte, quando, sobre fato determinado que possa que o CPC/2015 trouxe.
influir na decisão da causa, divergirem as suas declarações. Destaca-se que já havia previsão no CPC/1973 acerca da possi-
§ 1o Os acareados serão reperguntados para que expliquem os bilidade de o juiz dispensar a produção de prova pericial se as par-
pontos de divergência, reduzindo-se a termo o ato de acareação. tes já apresentarem com a inicial pareceres técnicos ou documen-
§ 2o A acareação pode ser realizada por videoconferência ou tos elucidativos suficientes.
por outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em O CPC/2015 também inova ao prever de forma expressa a pro-
tempo real. va técnica simplificada em relação a ponto controvertido de menor
O juiz pode ordenar de ofício ou a requerimento da parte a complexidade. Nestes casos, o juiz se limitará a arguir o especialista
inquirição de testemunhas referidas (pessoas mencionadas nos de- sobre o ponto controvertido que exija conhecimento científico ou
poimentos de outras testemunhas e que não tenham sido arroladas técnico.
originalmente) e a acareação de testemunhas (havendo pontos de Do art. 465 ao 480, CPC, estão descritos aspectos inerentes ao
divergência entre seus depoimentos). procedimento de produção da prova pericial:
Art. 462. A testemunha pode requerer ao juiz o pagamento da Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da pe-
despesa que efetuou para comparecimento à audiência, devendo rícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo.
a parte pagá-la logo que arbitrada ou depositá-la em cartório den- § 1o Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da
tro de 3 (três) dias. intimação do despacho de nomeação do perito:
Cabe à parte que arrolou pagar as despesas que a testemunha I - arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso;
efetuou para comparecer à audiência. II - indicar assistente técnico;
Art. 463. O depoimento prestado em juízo é considerado ser- III - apresentar quesitos.
viço público. § 2o Ciente da nomeação, o perito apresentará em 5 (cinco)
Parágrafo único. A testemunha, quando sujeita ao regime da dias:
legislação trabalhista, não sofre, por comparecer à audiência, per- I - proposta de honorários;
da de salário nem desconto no tempo de serviço. II - currículo, com comprovação de especialização;
O depoimento prestado em juízo é serviço público e a testemu- III - contatos profissionais, em especial o endereço eletrônico,
nha que comparecer em juízo para depor e, em razão disso, perder para onde serão dirigidas as intimações pessoais.
dia de trabalho, não sofrerá perda de salário ou desconto no tempo § 3o As partes serão intimadas da proposta de honorários para,
de serviço. querendo, manifestar-se no prazo comum de 5 (cinco) dias, após
o que o juiz arbitrará o valor, intimando-se as partes para os fins
2.9 Prova Pericial do art. 95.
A prova pericial é um exame técnico, uma vistoria ou uma ava- § 4o O juiz poderá autorizar o pagamento de até cinquenta
liação, que é realizada por um profissional especializado da área, o por cento dos honorários arbitrados a favor do perito no início dos
qual será responsável por emitir um laudo técnico com a exposição trabalhos, devendo o remanescente ser pago apenas ao final, de-
do objeto da perícia, complementada pela análise realizada em re- pois de entregue o laudo e prestados todos os esclarecimentos ne-
lação a ele, bem como indicação de método e resposta aos quesitos cessários.
apresentados pelo juiz e pelas partes. § 5o Quando a perícia for inconclusiva ou deficiente, o juiz po-
Art. 464. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou ava- derá reduzir a remuneração inicialmente arbitrada para o trabalho.
liação. § 6o Quando tiver de realizar-se por carta, poder-se-á proceder
§ 1o O juiz indeferirá a perícia quando: à nomeação de perito e à indicação de assistentes técnicos no juí-
I - a prova do fato não depender de conhecimento especial de zo ao qual se requisitar a perícia.
técnico; Art. 466. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que
II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas; lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso.
III - a verificação for impraticável. § 1o Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não
§ 2o De ofício ou a requerimento das partes, o juiz poderá, em estão sujeitos a impedimento ou suspeição.
substituição à perícia, determinar a produção de prova técnica § 2o O perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso
simplificada, quando o ponto controvertido for de menor comple- e o acompanhamento das diligências e dos exames que realizar,
xidade. com prévia comunicação, comprovada nos autos, com antecedên-
§ 3o A prova técnica simplificada consistirá apenas na inquiri- cia mínima de 5 (cinco) dias.
ção de especialista, pelo juiz, sobre ponto controvertido da causa Art. 467. O perito pode escusar-se ou ser recusado por impedi-
que demande especial conhecimento científico ou técnico. mento ou suspeição.
§ 4o Durante a arguição, o especialista, que deverá ter forma- Parágrafo único. O juiz, ao aceitar a escusa ou ao julgar proce-
ção acadêmica específica na área objeto de seu depoimento, po- dente a impugnação, nomeará novo perito.
derá valer-se de qualquer recurso tecnológico de transmissão de Art. 468. O perito pode ser substituído quando:
sons e imagens com o fim de esclarecer os pontos controvertidos I - faltar-lhe conhecimento técnico ou científico;
da causa. II - sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo
[...] que lhe foi assinado.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 1o No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocorrên- II - divergente apresentado no parecer do assistente técnico
cia à corporação profissional respectiva, podendo, ainda, impor da parte.
multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possível § 3o Se ainda houver necessidade de esclarecimentos, a parte
prejuízo decorrente do atraso no processo. requererá ao juiz que mande intimar o perito ou o assistente técnico
§ 2o O perito substituído restituirá, no prazo de 15 (quinze) a comparecer à audiência de instrução e julgamento, formulando,
dias, os valores recebidos pelo trabalho não realizado, sob pena de desde logo, as perguntas, sob forma de quesitos.
ficar impedido de atuar como perito judicial pelo prazo de 5 (cinco) § 4o O perito ou o assistente técnico será intimado por meio
anos. eletrônico, com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência da au-
§ 3o Não ocorrendo a restituição voluntária de que trata o § 2o, diência.
a parte que tiver realizado o adiantamento dos honorários poderá Art. 478. Quando o exame tiver por objeto a autenticidade ou
promover execução contra o perito, na forma dos arts. 513 e se- a falsidade de documento ou for de natureza médico-legal, o peri-
guintes deste Código, com fundamento na decisão que determinar to será escolhido, de preferência, entre os técnicos dos estabeleci-
a devolução do numerário. mentos oficiais especializados, a cujos diretores o juiz autorizará a
Art. 469. As partes poderão apresentar quesitos suplementa- remessa dos autos, bem como do material sujeito a exame.
res durante a diligência, que poderão ser respondidos pelo perito § 1o Nas hipóteses de gratuidade de justiça, os órgãos e as
previamente ou na audiência de instrução e julgamento. repartições oficiais deverão cumprir a determinação judicial com
Parágrafo único. O escrivão dará à parte contrária ciência da preferência, no prazo estabelecido.
juntada dos quesitos aos autos. § 2o A prorrogação do prazo referido no § 1o pode ser requerida
Art. 470. Incumbe ao juiz: motivadamente.
I - indeferir quesitos impertinentes; § 3o Quando o exame tiver por objeto a autenticidade da letra
II - formular os quesitos que entender necessários ao esclare- e da firma, o perito poderá requisitar, para efeito de comparação,
cimento da causa. documentos existentes em repartições públicas e, na falta destes,
[...] poderá requerer ao juiz que a pessoa a quem se atribuir a autoria
Art. 473. O laudo pericial deverá conter: do documento lance em folha de papel, por cópia ou sob ditado,
I - a exposição do objeto da perícia; dizeres diferentes, para fins de comparação.
II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito; Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o dis-
III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demons- posto no art. 371, indicando na sentença os motivos que o levaram
trando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área a considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo, le-
do conhecimento da qual se originou; vando em conta o método utilizado pelo perito.
IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo Art. 480. O juiz determinará, de ofício ou a requerimento da
juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público. parte, a realização de nova perícia quando a matéria não estiver
§ 1o No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em suficientemente esclarecida.
linguagem simples e com coerência lógica, indicando como alcan- § 1o A segunda perícia tem por objeto os mesmos fatos sobre
çou suas conclusões. os quais recaiu a primeira e destina-se a corrigir eventual omissão
§ 2o É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua desig- ou inexatidão dos resultados a que esta conduziu.
nação, bem como emitir opiniões pessoais que excedam o exame § 2o A segunda perícia rege-se pelas disposições estabelecidas
técnico ou científico do objeto da perícia. para a primeira.
§ 3o Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes § 3o A segunda perícia não substitui a primeira, cabendo ao
técnicos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo juiz apreciar o valor de uma e de outra.
testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que - Juiz nomeará perito especializado e fixará prazo para entrega
estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, do laudo (cabendo, uma única vez, concessão pelo juiz de prorro-
bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, dese- gação por metade do prazo originalmente fixado por justo motivo)
nhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclareci- – é possível que em perícias complexas, que exijam conhecimento
mento do objeto da perícia. técnico e especializado em mais de uma área, o juiz nomeie mais
Art. 474. As partes terão ciência da data e do local designa- de um perito (por consequência, as partes poderão nomear mais
dos pelo juiz ou indicados pelo perito para ter início a produção da de um assistente técnico) – será priorizada a escolha de técnicos
prova. dos estabelecimentos oficiais especializados em perícias de caráter
Art. 475. Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de médico-legal.
uma área de conhecimento especializado, o juiz poderá nomear - Se o perito não entregar no prazo, além da comunicação ao
mais de um perito, e a parte, indicar mais de um assistente técnico. órgão de classe e de imposição de multa, o perito poderá ser subs-
Art. 476. Se o perito, por motivo justificado, não puder apresen- tituído, tal como se provado que não detém o conhecimento técni-
tar o laudo dentro do prazo, o juiz poderá conceder-lhe, por uma co-científico necessário para promover a perícia – o perito substi-
vez, prorrogação pela metade do prazo originalmente fixado. tuído deverá restituir eventual valor adiantado no prazo de 15 dias,
Art. 477. O perito protocolará o laudo em juízo, no prazo fi- sob pena de ficar impedido de atuar como perito por 5 anos, sem
xado pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias antes da audiência de prejuízo da promoção de cumprimento de sentença pela parte que
instrução e julgamento. adiantou os honorários;
§ 1o As partes serão intimadas para, querendo, manifestar-se - As partes serão intimadas do despacho e poderão, no prazo
sobre o laudo do perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) de 15 dias: arguir impedimento ou suspeição do perito, se o caso
dias, podendo o assistente técnico de cada uma das partes, em (o juiz julgará e, se for o caso, nomeará novo perito); indicar as-
igual prazo, apresentar seu respectivo parecer. sistente técnico (se for indicado, o perito deve promover acesso e
§ 2o O perito do juízo tem o dever de, no prazo de 15 (quinze) acompanhamento das diligências, comunicando previamente com
dias, esclarecer ponto: antecedência de 5 dias o assistente – a tal assistente não se aplicam
I - sobre o qual exista divergência ou dúvida de qualquer das as causas de impedimento e suspeição, até mesmo por ser pessoa
partes, do juiz ou do órgão do Ministério Público; de confiança da parte); apresentar quesitos (é possível a apresen-

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
tação de quesitos suplementares durante e após a diligência, que 2.10 Inspeção Judicial
serão respondidos pelo perito nos próprios autos ou na audiência A inspeção judicial consiste no comparecimento do juiz para
de instrução); inspecionar pessoas ou coisas, esclarecendo fato que interesse à
- O perito nomeado será intimado da nomeação e poderá de- decisão da causa. É preciso garantir o contraditório na inspeção,
clarar-se impedido ou suspeito (se o fizer, o juiz irá julgar e, even- razão pela qual as partes possuem o direito de estarem presentes,
tualmente, nomeará novo perito) ou apresentará, no prazo de 5 assistindo-a, prestando esclarecimentos e fazendo observações.
dias: proposta de honorários, currículo com prova de especialização O juiz fará inspeção judicial se considerar necessário para a ve-
e contatos profissionais; rificação e interpretação dos fatos, se a coisa não puder ser apre-
- Se quiserem, as partes podem se manifestar sobre a proposta sentada em juízo sem consideráveis despesas ou graves dificulda-
de honorários, no prazo de 5 dias, após o qual o juiz arbitrará os des e para reconstituir fatos.
honorários, podendo autorizar o pagamento de 50% do valor desde A inspeção judicial pode ser determinada de ofício ou a reque-
logo e 50% ao final e podendo, ainda, reduzir o valor arbitrado se a rimento da parte. O juiz poderá ser assistido por um ou mais peri-
perícia for inconclusiva ou deficiente; tos. Ao final, o juiz mandará redigir laudo circunstanciado.
- O juiz apresentará quesitos para que sejam respondidos pelo Art. 481. O juiz, de ofício ou a requerimento da parte, pode, em
perito, podendo ainda indeferir quesitos impertinentes apresenta- qualquer fase do processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de
dos pelas partes; se esclarecer sobre fato que interesse à decisão da causa.
- As partes serão comunicadas do dia e local da realização da Art. 482. Ao realizar a inspeção, o juiz poderá ser assistido por
perícia; um ou mais peritos.
- O perito protocolará o laudo em juízo, no prazo fixado pelo Art. 483. O juiz irá ao local onde se encontre a pessoa ou a
juiz, com pelo menos 20 dias de antecedência da audiência de ins- coisa quando:
trução; I - julgar necessário para a melhor verificação ou interpreta-
- As partes terão 15 dias para se manifestarem sobre a perícia, ção dos fatos que deva observar;
podendo no mesmo prazo o assistente técnico apresentar parecer; II - a coisa não puder ser apresentada em juízo sem considerá-
- O perito terá 15 dias para esclarecer divergências e dúvidas veis despesas ou graves dificuldades;
das partes, do juiz, do MP ou apresentadas pelo assistente técnico; III - determinar a reconstituição dos fatos.
- O juiz poderá intimar, com 10 dias de antecedência, o perito Parágrafo único. As partes têm sempre direito a assistir à ins-
para comparecer à audiência de instrução e julgamento para escla- peção, prestando esclarecimentos e fazendo observações que con-
recer aspectos relacionados à perícia, apresentando desde logo os siderem de interesse para a causa.
quesitos; Art. 484. Concluída a diligência, o juiz mandará lavrar auto
- Conteúdo do laudo pericial: exposição do objeto da perícia, circunstanciado, mencionando nele tudo quanto for útil ao julga-
análise técnica ou científica, indicação do método utilizado, res- mento da causa.
posta conclusiva a todos quesitos – a linguagem deve ser simples e Parágrafo único. O auto poderá ser instruído com desenho,
coerente o perito não pode emitir opiniões pessoais nem exceder gráfico ou fotografia.
os limites de sua designação – o laudo poderá ser instruído com pla-
nilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos,
sem prejuízo da oitiva de testemunhas, obtenção de informações e SENTENÇA E COISA JULGADA. CUMPRIMENTO DA
solicitação de documentos; SENTENÇA E SUA IMPUGNAÇÃO. ATOS JUDICIAIS.
- Embora não exista um sistema de tarifação de provas, há que DESPACHOS, DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS E SENTEN-
se firmar que o convencimento do juiz não é totalmente livre e, para ÇAS. COISA JULGADA
que ele afaste a conclusão de um laudo pericial, deverá justificar de
forma motivada e específica, até mesmo porque é difícil sobrepor
1. Sentença
seu entendimento ao conhecimento técnico exposto no laudo; A disciplina acerca da sentença e da coisa julgada se encontra
- É possível a realização de segunda perícia, caso a primeira não como etapa final do processo de conhecimento, denominada fase
tenha esclarecido de forma suficiente todos os aspectos necessá- do julgamento. Com efeito, o processo já passou pelo saneamento,
rios sobre os fatos, mas tal perícia não substitui a primeira, e sim pela produção de provas (dentro e fora de audiência) e agora será
a complementa, e o juiz deve considerar ambas em sua sentença. proferido o julgamento por meio da sentença.
Art. 471. As partes podem, de comum acordo, escolher o peri- A sentença se insere dentro dos atos do juiz (expressão utili-
to, indicando-o mediante requerimento, desde que: zada em sentido amplo, abrangendo ministros, desembargadores,
I - sejam plenamente capazes; etc.).
II - a causa possa ser resolvida por autocomposição. O CPC de 1973 havia acabado com as controvérsias do CPC
§ 1o As partes, ao escolher o perito, já devem indicar os respec- de 1939 ao definir sentença como o ato que põe fim ao processo.
tivos assistentes técnicos para acompanhar a realização da perícia, Contudo, a Lei n. 11.232/05 alterou a redação do artigo 162, §1º
que se realizará em data e local previamente anunciados. (alguma das situações dos artigos 267 e 269 – a sentença voltou
§ 2o O perito e os assistentes técnicos devem entregar, respecti- a ser considerada conforme o seu conteúdo). Não importava mais
vamente, laudo e pareceres em prazo fixado pelo juiz. em necessária extinção do processo. O recurso cabível ainda seria
§ 3o A perícia consensual substitui, para todos os efeitos, a que o de apelação, ao menos em todos os casos em que os autos de
seria realizada por perito nomeado pelo juiz. processo possam integralmente subir à segunda instância. A razão
O CPC/2015 inova ao prever a possibilidade de perícia consen- da alteração do texto legal é que a partir da Lei n. 11.232/05 o pro-
sual, quando em vez do juiz nomear um perito as partes escolhem cesso não mais se encerrava com a sentença, mas apenas a fase
consensualmente quem será o perito que realizará a perícia. Tal de conhecimento, podendo continuar com uma fase de execução
escolha apenas não é possível se as partes não forem plenamente (processo sincrético).
capazes e se for vedada a autocomposição na causa. Na perícia con- O artigo 203, §1º do novo Código de Processo Civil mantém
sensual será possível indicar assistentes técnicos, da mesma forma. em partes o referido conceito de sentença, agora fazendo menção
aos artigos 485 e 487, que no novo CPC correspondem aos artigos

76
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
267 e 269 do CPC/1973: “§ 1º Ressalvadas as disposições expres- III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir,
sas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;
meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim É necessário que o processo não possa seguir, que exista omis-
à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a são da prática de um ato indispensável pelo autor e, conforme §1º,
execução”. O dispositivo inova ao colocar como sentença também que ele seja intimado pessoalmente a dar andamento ao feito em 5
ato que ponha fim ao processo de execução com base nos arts. 485 dias sob pena de extinção (vide §2º deste artigo quanto às custas).
e 487, por exemplo, caso acolhidos embargos do devedor. Nos termos da súmula 240 do STJ, o processo não será extinto nes-
a) Espécies de atos do juiz tes termos sem que tenha havido prévio requerimento do réu. Nes-
No âmbito dos atos do juiz estão diversos provimentos ou pro- te sentido, o §6º do artigo no novo CPC: “Oferecida a contestação,
nunciamentos, notadamente: a extinção do processo por abandono da causa pelo autor depende
a) Despacho ou despachos de mero expediente – são os atos de requerimento do réu”.
desprovidos de conteúdo decisório, dos quais não cabe recurso al- IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
gum. desenvolvimento válido e regular do processo;
b) Decisões interlocutórias – quando o juiz, no curso do pro- Há pressupostos cuja inobservância pode acarretar a extinção
cesso, resolve uma questão incidente, profere decisão durante o do processo, mas antes o juiz deve permitir a regularização. Por
trâmite processual. exemplo, capacidade processual ou capacidade postulatória.
c) Sentenças – art. 203, §1º – é o ato do juiz que implica numa Todavia, há pressupostos processuais cuja ausência é insanável
das situações, isto é, que contém uma das matérias, previstas nos e levará irremediavelmente à extinção do processo. Por exemplo,
artigos 485 ou 487, desde que coloque fim ao processo todo ou à capacidade para ser parte.
fase de cognição ou de execução. Se a inicial for recebida e, após citação do réu, se verificar que
d) Acórdãos – decisões tomadas por um órgão colegiado. ela estava irregular, entende-se que deixou de haver pressuposto
e) Decisões monocráticas – as proferidas por um dos integran- processual de desenvolvimento válido do processo, aplicando-se
tes do colegiado, por exemplo, relator do acórdão. Cabe recurso, o este inciso.
agravo interno ou regimental (mesmo os embargos de declaração, Por vezes, a ausência de um pressuposto gerará nulidade, não
se interpostos, poderão ser recebidos como agravo interno). extinção do processo. Por exemplo, juízo competente (declara-se
nulidade e remete-se ao juízo competente).
b) Classificação das sentenças A falta de um pressuposto processual é matéria de ordem pú-
blica, devendo ser declarada de ofício pelo juiz a qualquer tempo
- Quanto à resolução do mérito e grau de jurisdição, salvo em sede de recurso especial e extraor-
a) Terminativas ou processuais – artigo 485, CPC/2015. dinário.
b) Definitivas ou de mérito – artigo 487, CPC/2015 – Podem V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou
ser típicas ou próprias (no caso do inciso I, em que se acolhe ou se de coisa julgada;
rejeita o pedido) e atípicas ou impróprias (incisos II a V). Em sentido Abrange o inciso anterior, pois são todos pressupostos proces-
estrito, só é de mérito a sentença que decide a pretensão formula- suais negativos. Perempção é quando por 3 vezes o juiz extingue a
da. Contudo, o legislador optou por um conceito mais amplo. causa do autor por abandono, não se permitindo ajuizar uma quar-
Enfim, são duas as espécies de sentença, ou acórdãos, que po- ta vez (perda do direito de ação).
dem ser proferidas no processo de conhecimento: as que apreciam VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse proces-
a pretensão formulada, seja em sentido afirmativo ou negativo, e sual;
que por isso são denominadas de mérito; e aquelas em que não foi Estas matérias não se sujeitam à preclusão. Alterada a redação,
possível, pelas mais variadas razões, apreciar a pretensão do autor excluindo-se a possibilidade jurídica do pedido, conforme doutrina
em face do réu, que são as de extinção sem resolução do mérito. mais moderna sobre as condições da ação.
O objetivo natural do processo é atingir uma sentença com re- VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitra-
solução do mérito. As sentenças sem resolução do mérito são anô- gem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência;
malas, pois ele foi encerrado sem ter cumprido sua finalidade. Se já foi resolvido em arbitragem, não pode ser resolvido pelo
Estado. O STF ainda discute a constitucionalidade desta hipótese.
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: VIII - homologar a desistência da ação;
I - indeferir a petição inicial; A desistência pode ser proferida a qualquer momento, desde
Trata-se do não preenchimento dos requisitos da petição ini- que não proferida a sentença de mérito. Desistência não é o mesmo
cial. Se o vício é sanável, antes de extinguir o juiz manda emendar que renúncia porque possui caráter processual, não material.
em 15 dias. Se o vício é insanável, extingue o processo, mas deve Vide §4º. Se o prazo correr in albis (em branco), a desistência
dar à parte o direito de se manifestar. Na sentença de indeferimen- não depende do assentimento do réu (revel). Justifica-se a neces-
to da inicial o juiz nem sequer determinou a citação do réu. sidade de consentimento, pois a desistência não impede a repro-
Obs.: O juiz pode indeferir a petição inicial em razão de pres- positura da demanda. Cabe a desistência até a sentença (previsão
crição e decadência, mas nestes casos a extinção é com resolução do §5º).
do mérito. Pode haver desistência parcial do autor em relação a um dos li-
II - o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por ne- tisconsortes passivos, mas o litisconsórcio não pode ser necessário.
gligência das partes; Se a desistência for só em relação a um, somente ele deve consentir.
A hipótese é rara, pois devido ao princípio do impulso oficial, O réu não pode se opor à desistência de maneira injustificada,
dificilmente o juiz deixará o processo parado por mais de 1 ano. É deve fundamentar sua oposição.
necessário que o processo não possa seguir, que exista omissão da IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intrans-
prática de um ato indispensável e que o autor, conforme o §1º, seja missível por disposição legal; e;
intimado a dar andamento ao feito em 5 dias sob pena de extinção Certas ações possuem cunho personalíssimo, como separação
(vide §2º deste artigo quanto às custas). e divórcio, anulação de casamento, interdição.
X - nos demais casos prescritos neste Código.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 486.  O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de novo a ação.
§ 1o No caso de extinção em razão de litispendência e nos casos dos incisos I, IV, VI e VII do art. 485, a propositura da nova ação depen-
de da correção do vício que levou à sentença sem resolução do mérito.
§ 2o A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advo-
gado.
§ 3o Se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença fundada em abandono da causa, não poderá propor nova ação contra o réu
com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito.
Nota-se que a principal diferença entre a extinção sem julgamento do mérito em relação à extinção com julgamento do mérito é que
nada obsta que a ação seja proposta novamente. Afinal, as decisões são terminativas, apenas encerram aquele processo, não colocam
fim ao litígio que surgiu entre as partes. A única exceção é o inciso V, pois uma vez que ocorrer perempção, litispendência ou coisa julgada
torna-se impossível sanar o vício.
O único óbice é a exigência de que custas e honorários do processo anteriormente extinto sem resolver o mérito tenham sido quita-
dos; bem como, evidentemente, a correção dos vícios que geraram a extinção.

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:


I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na reconvenção;
Somente esta é a verdadeira sentença de mérito, na qual o pedido é apreciado. Trata-se da sentença de mérito típica.
II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;
A rigor, seria meramente terminativa, mas como jamais deixará de decair ou de estar prescrita, faz sentido ser com resolução do mé-
rito. Podem ser alegadas em qualquer tempo ou grau de jurisdição.
III - homologar:
a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção;
Não precisa da anuência da outra parte, como a sentença tem o mérito resolvido.
b) a transação;
É o acordo celebrado entre as partes, mesmo que extrajudicial. Não pode haver desistência unilateral, no máximo, arrependimento
bilateral (distrato, que nada mais é que outra transação). Dispensa-se a participação de advogados.
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.
A renúncia unilateral, diferente da desistência, atinge o próprio direito material em discussão. Dispensa a anuência da outra parte.

- Quanto à eficácia preponderante


A classificação de Pontes de Miranda é dividida em 5 categorias.
a) Meramente declaratórias (certificação) – É aquela pela qual o juiz atesta ou certifica a existência ou não de uma relação / situação
jurídica controvertida ou a falsidade / autenticidade de um documento. Natureza ex tunc. Não forma título executivo. Ex.: investigatória de
paternidade, usucapião, nulidade de negócio jurídico, sentenças de improcedência, interdição (posição majoritária).

Obs.: Em toda sentença, mesmo que o pedido tenha por essência outro cunho, o juiz declara quem tem razão. Então, toda sentença
é declaratória, ainda que não em sua essência.
b) Constitutivas ou desconstitutivas (inovação) – É aquela pela qual o juiz cria (positivas, constituem), modifica (modificativas, alte-
ram) ou extingue (negativas, desconstituem) uma relação ou situação jurídica. Natureza ex nunc. Não forma título executivo. Ex.: adoção,
adjudicação compulsória, ação de revisão de cláusula contratual, modificação de guarda, divórcio, desconstituição do poder familiar, ação
rescisória e rescisão de contrato. Perceba-se que a ação constitutiva pode ser voluntária (há litígio) ou necessária (não há litígio mas a lei
obriga).
c) Condenatórias (execução forçada) – É aquela em que se reconhece um dever de prestar cujo inadimplemento autoriza o início da
fase de cumprimento e de execução. Resulta na formação de um título executivo judicial. O juiz não só declara a existência do direito em
favor do autor, mas concede a ele a possibilidade de valer-se de sanção executiva, fornecendo-lhe meios para tanto. A eficácia é ex tunc,
retroagindo à data da propositura da ação. Ex.: cobrança, indenizatória, repetição de indébito, ação de regresso.
Em geral, as sentenças condenatórias já indicam qual o bem devido pelo réu e sua quantidade. No entanto, admitem-se sentenças
condenatórias alternativas (decide pela existência de uma obrigação de dar coisa incerta ou de uma obrigação alternativa, reconhecendo
ambas, embora só uma deva ser cumprida), genéricas ou ilíquidas (é necessário propor uma fase de liquidação da sentença determinando
o quantum), e condicionais (exigência condicionada de evento futuro certo – termo – ou incerto – condição).
d) Executivas lato sensu (autoexecutoriedade) – É aquela que contém mecanismos que permitem a imediata satisfação do vencedor
sem a necessidade de início da nova fase no processo. Têm natureza condenatória e dispensam a fase de execução para que o comando da
sentença seja cumprido, isto é, a satisfação não é obtida em 2 fases, mas em uma só. Logo que transita em julgado, é expedido mandado
judicial para cumprir a sentença, sem que se exija outro ato processual. Ex.: despejo, reintegração de posse, todas as demandas para en-
trega de coisa que sejam procedentes.
e) Mandamentais ou injuncionais (ordem) – São aquelas que contêm uma ordem que deve ser cumprida pelo próprio destinatário (e
não por um serventuário), sob pena de crime ou multa e penas do artigo 14. Enfim, o juiz profere uma declaração reconhecendo o direito,
condena o réu, aplicando uma sanção, que não é simplesmente a condenação, é também a imposição de uma medida, um comando, que
permite a tomada de medidas concretas e efetivas para o vencedor satisfazer seu direito sem a necessidade de processo autônomo de exe-
cução. Descumprida a ordem, o juiz pode determinar providências que pressionem o devedor, como a fixação de multa diária, conhecidas
como astreintes. Ex.: mandado de segurança, obrigações de fazer ou não fazer.

Obs.: A principal diferença entre a executiva lato sensu e a mandamental é que na mandamental quem tem que cumprir é o devedor,
ao passo que na executiva, se o devedor não cumprir espontaneamente, o Estado o fará.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Não obstante, há quem defenda uma sexta categoria. A categoria “f” seria a das sentenças determinativas ou dispositivas (normatiza-
ção) – Alguns autores estabelecem esta categoria – É aquela em que o juiz, com sua vontade, complementa a vontade do legislador e cria
uma norma jurídica específica para o caso concreto. Ex.: regulamentação de visitas, revisão de cláusula contratual.
Marcus Vinícius Rios Gonçalves, contra a classificação de Pontes de Miranda, diz que mandamental e executiva são 2 espécies de
tutela condenatória.

Declaratória Constitutiva ou Condenatória Executivas lato Mandamental


Desconstitutiva sensu
Declaratória X
Constitutiva ou Desconstitutiva X X
Condenatória X X
Executivas lato sensu X X X
Mandamental X X X

c) Elementos da sentença
- Relatório – É onde se relata tudo que ocorreu no processo até o momento de forma resumida. Dispensa-se no JEC (procedimento
sumaríssimo). Indicar-se-á o nome das partes, o resumo da pretensão do autor e seus fundamentos, a defesa do réu, as principais ocorrên-
cias do processo (como incidentes processuais e provas produzidas) e o conteúdo das alegações finais.
- Fundamentação ou motivação – É onde o juiz explica o porquê de ter tomado aquela decisão, afinal, é dever do juiz expor o raciocínio
que adotou. Enfim, são os fundamentos de fato e de direito sobre os quais o juiz apoiará sua decisão. A Constituição Federal determina
que os atos judiciais sejam fundamentados (artigo 93, IX, CF). A motivação deve ser coerente, isto é, manter vínculo com o relatório e com
o dispositivo.
Nem sempre o juiz precisará apreciar todos os fundamentos levantados pelas partes. Por vezes, o reconhecimento ou a rejeição de
um fundamento, logicamente, exclui a obrigação de apreciação do outro. O importante é a sentença apreciar exatamente os pedidos feitos
no processo, sob pena de ser citra petita, logo, nula. A fundamentação também não precisa ser extensa, mas deve deixar claro porque o
julgador tomou a decisão.
- Dispositivo – Decisão ou decisum – Pelo que já foi dito, é aqui onde o juiz julga procedente, improcedente, com ou sem resolução do
mérito. O dispositivo deve manter estreita correspondência lógica com as partes anteriores. É sobre o dispositivo da sentença que recairá
a coisa julgada material quando não couber mais recurso.

Falta de relatório e de fundamentação gera nulidade, ao passo que falta de dispositivo gera inexistência da sentença.

d) Oportunidades em que pode ser proferida a sentença


A sentença pode ser proferida em diversas situações, sendo que a ocasião propícia levará em conta sua natureza (terminativa ou defi-
nitiva) e a necessidade ou não de produção de provas.
As sentenças terminativas podem ser proferidas a qualquer momento no processo, inclusive logo após a propositura da demanda, a
partir da detecção do vício insanável, impossibilitando prosseguir com o exame de mérito. As matérias que geram este tipo de extinção são
de ordem pública, podendo ser reconhecidas de ofício a qualquer momento no processo, de ofício ou a requerimento.
Já as sentenças definitivas, em regra, são proferidas após a audiência de instrução e debates, exceto em dois casos:
a) aplicação da improcedência liminar do pedido;
b) julgamento antecipado da lide, quando a matéria for somente de direito ou, sendo de direito e de fato, não forem mais necessárias
provas a serem produzidas.

e) Defeitos da sentença
A inobservância de requisitos de forma e substância gera a nulidade da sentença. Em processo civil, as nulidades podem ser de duas
naturezas: absoluta ou relativa.
Somente a nulidade absoluta permite a rescisão da sentença. E mesmo as nulidades absolutas acabam por sanar-se, passado o pra-
zo de 2 anos da ação rescisória. Assim, a sentença nula se reveste da autoridade da coisa julgada, mas pode ser rescindida. A nulidade
absoluta pode decorrer de vícios intrínsecos da própria sentença, ou se vícios processuais anteriores, não sanados, que nela repercutem.
Os vícios intrínsecos são aqueles que se encontram nos três elementos fundamentais da sentença: relatório, fundamentação e dis-
positivo. A falta (não inclusão na sentença) ou deficiência (ausência de correlação lógica, julgamento ultra ou extra petita) de relatório
ou fundamentação geram nulidade, ao passo que a falta de dispositivo gera inexistência. A sentença citra petita é válida no que decide,
cabendo ao autor propor nova ação na parte em que o juiz deixou de julgar.
Há, no entanto, vícios que comprometem de forma mais profunda a sentença e são insuperáveis. Quando ocorrem, a sentença é ine-
xistente em termos jurídicos. Mesmo que passe o prazo da ação rescisória, o vício não se convalida. No caso, caberá ação declaratória de
inexistência.
Em regra, a alteração da sentença somente cabe nas hipóteses do art. 494 do CPC/2015: “Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só
poderá alterá-la: I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de cálculo; II - por meio de em-
bargos de declaração”. A correção pode ser feita a qualquer tempo no caso do inciso I e não suspende ou interrompe o prazo dos recursos.
Já a hipótese do inciso II é um recurso em si, servindo para sanar obscuridades ou omissões na sentença. Além destes dois casos, somente
se corrige sentença via ação rescisória.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
f) Cumprimento da sentença a autoridade da coisa julgada material impede a rediscussão não
A sentença forma título executivo judicial, caso transite em jul- apenas das questões que tenham sido expressamente decididas no
gado, e deverá ser cumprida. A fase de cumprimento da sentença dispositivo, porque expressamente alegadas pelas partes, mas tam-
objetiva promover a obediência ao comando jurisdicional caso o bém das que poderiam ter sido alegadas, mas não foram.
réu não o faça de forma voluntária. O assunto será aprofundado Em outras palavras, se mantida a mesma pretensão e a mesma
adiante no tópico sobre execuções. causa de pedir, resolvidos e discutidos estarão todos os argumentos
expressos quanto os que lá poderiam ser levantados e não foram.
2. Coisa julgada Por exemplo, se alegou pagamento da dívida e ele não foi reconhe-
Basicamente, coisa julgada é o fenômeno que impede a propo- cido na ação que produziu a coisa julgada material, não poderá no
situra de uma ação que já foi anteriormente julgada em seu mérito, futuro propor ação semelhante na qual alegue remissão da dívida
transitando em julgado a decisão, diga-se, não cabendo mais recur- (deveria ter alegado as duas coisas antes).
so da decisão.
Art. 502, CPC/2015. Denomina-se coisa julgada material a au- c) Limites objetivos e subjetivos da coisa julgada
toridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não A coisa julgada material possui limites objetivos e subjetivos
mais sujeita a recurso. que se relacionam com os elementos da ação.
Esgotados os recursos, a sentença transita em julgado, e não a) Limites objetivos: de todas as partes da sentença, somente o
pode mais ser modificada. Até então, a decisão não terá se tornado dispositivo, que contém o comando emitido pelo juiz, fica revestido
definitiva, podendo ser substituída por outra. Sem a coisa julgada, da autoridade da coisa julgada material.
não haveria segurança jurídica nas decisões, que sempre poderiam Como se depreende do artigo 504 do CPC/2015, “não fazem
ser modificadas. coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar
A coisa julgada é um fenômeno único ao qual correspondem o alcance da parte dispositiva da sentença; II - a verdade dos fatos,
dois aspectos: um meramente processual ou formal, que ocorre no estabelecida como fundamento da sentença”. Aquilo que serviu de
processo em que a sentença é proferida, independentemente dela fundamento de uma sentença torna-se imutável apenas no proces-
ser de mérito ou não, apenas impedindo outro recurso daquela so em que foi utilizado, mas não projeta seus efeitos para outros,
sentença naquele processo (endoprocessual); outro que se projeta como ocorre com o dispositivo.
para fora do processo e torna definitivos os efeitos da decisão, cha- b) Limites subjetivos: a sentença faz coisa julgada às partes en-
mado de coisa julgada material, impedindo que a mesma preten- tre as quais é dada, não beneficiando nem prejudicando terceiros.
são seja rediscutida posteriormente em outro processo, que ocorre São incluídos autores, réus, denunciados, chamados ao processo,
apenas nas sentenças de mérito (extraprocessual) (se a sentença opoentes e nomeados que tenham sido admitidos, bem como o as-
irrecorrível não for de mérito, a pretensão pode ser objeto de outra sistente litisconsorcial que tenha ou não intervindo e o assistente
simples que tenha participado do processo. São excluídos os ter-
demanda). Assim, num processo sempre haverá coisa julgada for-
ceiros que não participaram do processo, até porque não puderam
mal, mas nem sempre coisa julgada material.
se manifestar e nem defender ou expor suas razões. Neste sentido:
“Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é
a) Aspectos da coisa julgada
dada, não prejudicando terceiros”.
Em resumo, tem-se o seguinte:
a) Coisa julgada formal: consiste na imutabilidade da sentença
d) Questão prejudicial e coisa julgada
contra a qual não caiba mais recurso dentro do processo em que
Segundo Carnelutti, questão é um ponto duvidoso, de fato ou
foi proferida. Mesmo que não caiba mais recurso, que a sentença de direito. Já prejudicial é aquilo que deve ser julgado antes. Logo,
coloque fim ao processo, isso não significa que a matéria não possa questão prejudicial é aquela que deve ser julgada antes no processo
ser colocada em discussão noutro processo – isso é a produção de para poder ser apreciada a matéria que é objeto central da lide. Ex.:
coisa julgada formal. Em toda sentença encontramos a coisa julga- a ação reivindicatória discute propriedade, se o réu argumenta que
da formal, que pode ou não estar acompanhada da coisa julgada é proprietário porque usucapiu, então a usucapião é uma questão
material. prejudicial que deverá ser decidida antes da reivindicatória em si.
b) Coisa julgada material: é própria dos julgamentos de mérito, Antes do CPC/2015, as questões prejudiciais não eram atingi-
podendo ser definida como a imutabilidade não mais da sentença, das pela coisa julgada, salvo quando expressamente houvesse re-
mas de seus efeitos. Projeta-se para fora do processo em que ela querimento neste sentido mediante ação declaratória incidental.
foi proferida, impedindo que a pretensão seja novamente posta em Significa que o juiz decidiria a questão para julgar o mérito, mas
juízo. Aquilo não pode mais ser discutido em juízo, não apenas na- que se tal questão fosse levantada em outro processo poderia. O
quele processo, mas em qualquer outro. CPC/2015, no entanto, excluiu a ação declaratória incidental do sis-
Evidencia-se a natureza substancial deste aspecto da coisa jul- tema, mas estabeleceu casos em que a questão prejudicial pode ser
gada, além do meramente processual decorrente da coisa julgada julgada com força de coisa julgada em seu artigo 503.
formal. O fundamento constitucional da coisa julgada material é o Art. 503.  A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito
art. 5º, XXXVI, CF: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato tem força de lei nos limites da questão principal expressamente de-
jurídico perfeito e a coisa julgada”. cidida.
§ 1o O disposto no caput aplica-se à resolução de questão preju-
b) Eficácia preclusiva da coisa julgada material dicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se:
Em outras palavras, devido à sua eficácia preclusiva, a coisa jul- I - dessa resolução depender o julgamento do mérito;
gada material impede não só a repropositura da mesma demanda, II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não
mas a discussão, em qualquer outro processo com mesmas partes, se aplicando no caso de revelia;
das questões decididas, conforme art. 508, CPC/2015: “Transitada III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa
em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repe- para resolvê-la como questão principal.
lidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto § 2o A hipótese do § 1o não se aplica se no processo houver res-
ao acolhimento quanto à rejeição do pedido”. Essa regra é deno- trições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o apro-
minada por alguns de princípio do “deduzido e do dedutível”, pois fundamento da análise da questão prejudicial.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
e) Julgamento antecipado parcial de mérito e coisa julgada
parcial DOS RECURSOS. DISPOSIÇÕES GERAIS. DA APELAÇÃO.
Tradicionalmente se estudou a coisa julgada como um fenôme- DO AGRAVO DE INSTRUMENTO. DO AGRAVO INTER-
no único, que ocorria apenas uma vez no processo. Significa que NO.DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DOS RECURSOS
enquanto houvessem controvérsias não se formaria coisa julgada PARA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E PARA O SU-
com relação a nada e tudo no processo transitaria em julgado a um PERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
só tempo. No entanto, atendendo ao dinamismo demandado nas
relações jurídico-sociais levadas em litígio ao Judiciário, o CPC/2015 Recurso é uma manifestação de inconformismo da parte que
criou o julgamento antecipado parcial de mérito, que possibilitará busca um novo pronunciamento judicial, em regra, por parte de ou-
a formação de coisa julgada parcial antes da extinção do processo. tro órgão judicial, modificando a decisão a qual lhe foi desfavorável.
Seção III Recursos são remédios processuais de que podem se valer as
Do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito partes, o MP e os terceiros interessados prejudicados para subme-
Art. 356.  O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou ter uma decisão judicial a nova apreciação, modificando-a, invali-
mais dos pedidos formulados ou parcela deles: dando-a, esclarecendo-a ou complementando-a, sanando, assim,
I - mostrar-se incontroverso; eventuais vícios desta, enfim, purgando-a de erros. Em regra, é
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos apreciado por órgão diverso de que proferiu a decisão.
do art. 355.
§ 1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reco- 1. Características
nhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. - Todo recurso é interposto em relação jurídica-processual exis-
§ 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obriga- tente. Não cria um novo processo. Mandado de segurança, ação
ção reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, in- rescisória e habeas corpus não são recursos.
dependentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa - É da essência dos recursos impedir que a decisão/sentença se
interposto. torne definitiva. Logo, ainda pode ser alterada. Impede-se a preclu-
§ 3o Na hipótese do § 2o, se houver trânsito em julgado da deci- são (com relação às decisões interlocutórias) e o trânsito em julga-
são, a execução será definitiva. do (com relação às decisões definitivas).
§ 4o A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar par- Enquanto há recurso pendente, as decisões não são definiti-
cialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementa- vas nem imutáveis. Para que isso ocorra, é preciso que se esgote o
res, a requerimento da parte ou a critério do juiz. prazo para interpor recursos ou então que os recursos interpostos
§ 5o A decisão proferida com base neste artigo é impugnável tenham sido apreciados.
por agravo de instrumento. Obs.: Se tiver agravo de instrumento correndo no Tribunal e
chegar o momento de juiz sentenciar não poderá deixar de fazê-lo.
f) Relativização da coisa julgada Assim, o juiz sentencia e se o agravo for improvido a sentença de
Destaca-se que não são somente as sentenças sem resolução convalida. Contudo, se o agravo for provido todos os atos posterio-
de mérito que não se sujeitam à coisa julgada material. Há ainda as res à decisão agravada serão anulados.
sentenças de jurisdição voluntária, as que conferem tutela cautelar Todos os recursos interpostos no mesmo processo devem ser
(por sua natureza provisória) e as que se referem a relações conti- julgados pela mesma câmara/turma, julgando-se primeiro o agravo
nuativas. eventualmente pendente e depois a apelação (pois se o agravo for
Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já deci- provido à sentença não terá eficácia e a apelação ficara prejudica-
didas relativas à mesma lide, salvo: da). Isso vale inclusive se a parte não apelar.
I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, so- - Os recursos servem para corrigir o error in procedendo e o
breveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que error in judicando, isto é, erros em relação ao procedimento ade-
poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; quado e erro em relação ao julgamento (erro de forma ou erro de
II - nos demais casos prescritos em lei. fundo).
- Como regra geral, não é possível inovar nos recursos: não
A autoridade da coisa julgada material sempre foi considerada se pode invocar em fase recursal matéria que não foi discutida ou
um dogma absoluto no processo. A lei estabelece expressamente questionada no juízo inferior.
apenas um mecanismo apto a relativizá-la, cabível em situações
excepcionais e no limite temporal de 2 anos, a ação rescisória. Pas- Exceções:
sado tal prazo, eventual nulidade se convalida, não cabendo mais a) Artigo 493, CPC24 – Fato modificativo, constitutivo ou extin-
rediscutir a sentença. tivo do direito que influa no julgamento da lide posterior à propo-
Contudo, entende-se que a coisa julgada material, em situa- situra da ação.
ções excepcionais, pode ser relativizada. Isso só ocorrerá caso o b) Artigo 1014, CPC25 – Se a parte provar que não suscitou a
respeito à coisa julgada material vá acarretar grave ofensa a valores questão antes da apelação por motivo de força maior.
éticos e garantias constitucionais (tais valores ultrapassam a coisa c) Matérias de ordem pública e prescrição podem ser alegadas
julgada material e a segurança jurídica em termos de importância). a qualquer momento.
A aplicação da relativização deve ser vista com reservas e somente
reconhecida em situações teratológicas. É o exemplo das investiga-
ções de paternidade improcedentes da época em que não havia o 24 “Art. 493. Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, mo-
exame de DNA e dos laudos periciais fraudulentos de valor extre- dificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito, caberá ao juiz
mamente elevado em ações de desapropriação. tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento
de proferir a decisão. Parágrafo único. Se constatar de ofício o fato novo, o juiz
ouvirá as partes sobre ele antes de decidir”.
25 “Art. 1.014. As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser
suscitadas na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de
força maior”.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
- O órgão que proferiu a decisão impugnada é o a quo e o que parte, conforme for mais conveniente ao advogado (vamos supor
vai julgar é o ad quem. Nos embargos de declaração é o próprio juí- que tenha que recorrer de outros aspectos, não apenas dos hono-
zo a quo que julga. Os recursos são interpostos perante o juízo a quo rários advocatícios).
e remetidos ao juízo ad quem, exceto no caso de agravo de instru-
mento. O juízo a quo processa o recurso, adiantando o trabalho do - Interesse
Tribunal. Perante o juízo ad quem é feito o juízo de admissibilidade Para o interesse é preciso sucumbência. Isto é, para se recorrer
(conhece ou não conhece o recurso e, uma vez conhecido, julgara o é necessário ter sucumbido. Tecnicamente, sucumbir é não obter o
mérito do recurso, isto é, dará ou negará provimento). melhor resultado que seria possível naquele caso concreto.
Por exemplo, se A pediu 120 e o juiz deu 100, pode recorrer.
2. Atos processuais sujeitos a recursos Ou então, se A pediu 100 e o juiz deu 120, também pode re-
Só cabe recurso contra atos processuais que possuam conteú- correr, pois apesar de ter recebido mais que o pedido, a sentença é
do decisório. Os atos das partes, dos serventuários da justiça ou do ultra petita, logo, nula e, se A não recorrer, pode se arriscar a sofrer
MP não se sujeitam a ele. Contra despachos, espécie de atos do juiz, ação rescisória no futuro.
também não cabe recurso. As partes podem recorrer da extinção sem julgamento do méri-
Contra as sentenças cabe apelação. Contra decisões interlocu- to? Sim, pois para elas pode ser melhor uma sentença de procedên-
tórias, agravo. Contra ambas, embargos de declaração. Contra acór- cia ou improcedência, que fazem coisa julgada material.
dãos, cabem embargos de declaração, além de recurso especial e Em regra, não há interesse para recorrer da fundamentação,
extraordinário. apenas do resultado, sendo exceções: as ações civis públicas e
ações populares – nelas, se a improcedência for por insuficiência
3. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito dos recursos de provas, a sentença não faz coisa julgada material (chamada coisa
Antes de apreciar o mérito dos recursos, é preciso que sejam julgada secundum eventun litis, que só faz coisa julgada material se
examinados os requisitos de admissibilidade. São pressupostos in- o fundamento for diverso de insuficiência de provas, por exemplo,
dispensáveis para que o recurso possa ser conhecido. A matéria é melhor se reconhecer a inexistência do dano do que a insuficiência
de ordem pública. de provas da autoria).
Se denegado o prosseguimento de um recurso por falta de re- Não há interesse em recorrer de sentença que homologa acor-
quisito de admissibilidade, cabe desta decisão agravo. do, pois recorrer de acordo é ato logicamente incompatível (preclu-
Os requisitos podem ser reexaminados até que se passe ao mé- são lógica), a não ser que o juiz vá além do acordo celebrado.
rito do julgamento do recurso. Se o autor formula pedidos alternativos (quer um ou outro sem
ordem e preferência), não pode recorrer se um for concedido; mas
se os pedidos forem subsidiários (prefere um ao outro), pode recor-
4. Requisitos de admissibilidade
rer para obter o que mais queria.
A doutrina varia ao trazer os requisitos de admissibilidade, mas
a lista mais completa deles é a de Barbosa Moreira, que os divide
b) Extrínsecos
em intrínsecos (cabimento, legitimidade, interesse) e extrínsecos
São fatos externos ao recurso em si, nem é preciso ler o recurso
(tempestividade, regularidade formal, preparo, inexistência de fato
para analisa-los.
impeditivo ou extintivo).
a) Intrínsecos
- Tempestividade
Dizem respeito à decisão recorrida em si mesma, seu conteúdo O recurso deve ser interposto dentro do prazo previsto em lei,
e forma. Os requisitos intrínsecos se assemelham às condições da notadamente: embargos de declaração em 5 dias, demais recursos
ação: cabimento – possibilidade jurídica; legitimidade – legitimida- em 15 dias.
de; interesse – interesse de agir. Para a contagem do prazo, inclui-se o dia do final e exclui-se o
dia do início. Além disso, contam-se apenas os dias úteis.
- Cabimento Exceções: artigos 180, 183, 186 e 229, CPC (dobro para Fazenda
Recurso cabível é aquele que tem previsão legal. Cada recurso Pública, Ministério Público, Defensoria Pública e litisconsortes com
é típico e adequado para certas circunstâncias. O rol legal dos recur- procuradores diversos).
sos é taxativo (numerus clausus), tanto é que o Código de Processo Atenção: Embargos de declaração, quando opostos, interrom-
Civil, no artigo 994, enumera os recursos nele previstos. Além disso, pem o prazo para interposição de outros recursos. Opondo de má-
leis especiais podem prever outros recursos. -fé, apenas protelatórios para ganhar tempo, o juiz não pode retirar
a eficácia interruptiva dos embargos de declaração, mas pode apli-
- Legitimidade car multa (1% a 10% do valor da causa, ou 10 vezes o salário mínimo
É das partes, intervenientes, Ministério Público (parte/fiscal), se o valor for insuficiente). Não há efeito interruptivo se os próprios
terceiro prejudicado (mesma pessoa que antes poderia ser assis- embargos de declaração forem opostos fora do prazo (só embargos
tente simples). de declaração tempestivos interrompem o prazo).
Quando o juiz submete um processo ao reexame necessário,
também conhecido como recurso de ofício, significa que está recor- - Preparo
rendo? Não, apesar do nome, o recurso de ofício não é um recurso, São as custas com o processamento do recurso, destinadas à
então o juiz não pode recorrer. Fazenda Pública da esfera da federação em que se encontra a jus-
Predomina que perito só pode discutir seus honorários em tiça (federal – União, estadual – Estados). Embargos de declaração
ação própria, não em recurso. Então, não pode recorrer. não têm preparo. Leis estaduais podem eximir o preparo de outros
O advogado também tem legitimidade de recorrer, em nome recursos no âmbito de seus Judiciários.
próprio, mas apenas no tocante aos honorários advocatícios. O STJ Para Recurso Especial e Recurso Extraordinário, além do prepa-
reconhece este direito devido à previsão da Lei nº 8.906/1994, que ro, exige-se porte de remessa e retorno, todos previstos nos regi-
no artigo 23 diz que os honorários de sucumbência, fixados na sen- mentos internos do STJ e do STF, respectivamente.
tença, pertencem ao advogado, podendo ele executá-los em nome Fazenda Pública é dispensada do preparo por ser a beneficiária
próprio. Também é possível recorrer sobre honorários em nome da do mesmo.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Ministério Público é dispensado por sua natureza. No entanto, mesmo quando o resultado não é o mais favorá-
Também são dispensados os beneficiários da Lei nº 1.060/1950. vel possível, é comum que a parte se conforme em perder parte
Calcula-se com base no valor da causa ou no valor da conde- do desejado para obter em troca a finalização da lide, com o seu
nação. trânsito em julgado. Ex.: Pediu danos materiais e morais, mas o juiz
No ato de interposição do recurso deve ser comprovado o reco- só deu os danos materiais, contentando-se a parte com isso desde
lhimento do preparo, sob pena de não ser admitido – artigo 1007, que o processo acabe e receba a parte que o juiz considerou devida.
CPC. O STJ tem dado ao artigo 1007 uma interpretação rigorosa, Perceba-se que quem recorre adesivamente é aquele que, em prin-
não bastando que o preparo seja recolhido no prazo recursal, sendo cípio, estava conformado com a decisão. Contudo, a outra parte,
preciso que já esteja recolhido no ato de interposição (se esquecer que também sucumbiu, recorre, deixando de existir a expectativa
de juntar a guia, mas tiver pago antes da interposição, aceita-se jun- do trânsito em julgado do processo, caindo por terra o fundamento
tada posterior). que levou uma das partes a não recorrer. Assim, já que o outro está
Pelo artigo 1007, §2º, CPC, se o preparo for recolhido a menor, recorrendo, decide legitimamente também o fazer.
é concedido o prazo de 5 dias para recolher a diferença. Não dá O recurso adesivo é interposto no prazo das contrarrazões
para aplicar o dispositivo se ao menos uma parte do preparo não (apresenta-se duas peças, uma com as contrarrazões e outra com
for recolhida. A diferença não pode ser tamanha que caracterize as razões do recurso adesivo e a respectiva folha de interposição,
erro grosseiro. sendo que na primeira se pede a manutenção do que foi concedi-
do e na segunda o que ainda não foi concedido). E, já que a parte
- Regularidade formal preferiria o trânsito em julgado em vez de recorrer, seu recurso é
Para um recurso ser admitido, deve preencher os requisitos de considerado acessório ao recurso principal interposto pela outra
forma. Por exemplo, forma escrita (em regra, salvo agrado retido parte, de modo que somente será apreciado se o recurso principal
em audiência da instrução e julgamento); acompanhamento das for admitido.
razões no ato de interposição (sob pena de preclusão consumativa, Se apresentado o recurso adesivamente, abre-se prazo para
isto é, de não ser possível complementar posteriormente o recurso contrarrazões.
interposto, salvo se tiver apelado antes do julgamento dos embar- O recurso adesivo se sujeita aos mesmos requisitos de admissi-
gos de declaração opostos pela outra parte que mudem a sentença, bilidade que o recurso principal.
devendo o aditamento versar sobre os aspectos alterados). Quem recorreu sob a forma convencional exauriu seu direito
de recorrer, não podendo recorrer de novo na forma adesiva, há
- Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de re- preclusão consumativa.
correr A Fazenda Pública tem prazo em dobro para recorrer, mas o
Normalmente, a doutrina enumera como fatos extintivos a prazo para contrarrazões é simples. Então, deve interpor recurso
renúncia e a aquiescência, e como impeditivos a desistência. A fi- adesivo no prazo em dobro ou no prazo simples? Para o STJ, como
nalidade da distinção é que os fatos extintivos são prévios à inter- se trata de forma de interposição de recurso, o prazo dobra, ha-
posição do recurso, ao passo que os impeditivos exigem recurso vendo descompasso entre o prazo das contrarrazões e do recurso
interposto (só dá para desistir do recurso interposto). adesivo.
Renúncia é um ato unilateral irrevogável do interessado pelo
qual ele manifesta a vontade de não recorrer (o que se ganha com - Reexame necessário
isso é a antecipação do trânsito em julgado). A remessa necessária foi estudada anteriormente em tópico
Aquiescência é a prática de um ato incompatível com a vontade autônomo.
de recorrer (ex: pagamento no prazo do recurso).
Desistência, tal como a renúncia e a aquiescência, é sempre - Pedidos de reconsideração
ato unilateral, não dependendo da concordância da parte contrária; Significa pedir para que o juiz mude de ideia e volte atrás em
também é sempre ato irrevogável; se desistir, transita em julgado. É sua decisão. Contudo, a regra é que a decisão do juiz é irretratável.
possível desistir de um recurso até o início do julgamento. Então, o juiz só pode conceder o pedido de reconsideração se recair
sobre decisão da qual possa se retratar, notadamente: agravo, ape-
5. Princípios fundamentais do direito recursal lação de sentença de improcedência liminar do pedido, apelação
a) Princípio da taxatividade de sentença de extinção sem julgamento do mérito por inépcia da
O rol dos recursos previsto em lei é taxativo, numerus clausus. inicial.
Tanto é que o Código de Processo Civil, no artigo 994, enumera os Quer dizer que o juiz sempre pode mudar de ideia nestas deci-
recursos cabíveis. Há também outros recursos em leis especiais, por sões? Ou não, que apenas pode fazê-lo se a parte recorrer? Enfim,
exemplo, o recurso inominado dos juizados especiais cíveis. entende-se que somente pode mudar a decisão, retratando-se, se a
No entanto, somente é recurso o que a lei diz que é recurso, parte recorrer ou então se expressamente fizer o pedido de recon-
sendo necessário cuidado para não confundir com estes outros in- sideração, senão a decisão se convalida, houve preclusão. Contudo,
cidentes processuais, notadamente: existem as matérias de ordem pública e, com relação a elas, o juiz
pode mudar de decisão independentemente de ter sido ou não in-
- Recurso adesivo terposto recurso.
É uma forma de interposição de alguns recursos, que são: ape- O pedido de reconsideração não é recurso, será examinado
lação, recurso extraordinário e recurso especial. Assim, recurso é pelo mesmo juiz (que pode nem recebe-lo) e não impede que a
a apelação, o recurso extraordinário e o recurso especial, sendo decisão preclua por si só (se o juiz não mudar a decisão, não pode
“adesivo” apenas uma forma de interpor estes recursos de maneira recorrer depois). O comum – e correto – que tem sido feito é cons-
acessória à forma principal. tar o pedido de reconsideração na petição de interposição ao juízo
O requisito essencial para utilizar esta forma é a sucumbência a quo ou então na petição de informação ao juízo a quo do agravo
recíproca, isto é, ambas as partes teriam interesse para recorrer de instrumento interposto perante o juízo ad quem, então se o juiz
porque o resultado não foi o mais favorável possível para nenhuma não mudar de ideia não há preclusão da decisão.
delas.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
- Correição parcial 6. Efeitos dos recursos
Tem natureza administrativa. Contudo, no CPC/1939 a jurispru- Em regra, quem dá é a lei e quanto o juiz recebe num ou noutro
dência aceitava em alguns casos como recurso. É que nele o siste- efeito nada faz senão declarar os efeitos atribuídos na lei. Se o juiz
ma recursal não era perfeito, ao passo que no atual CPC o agravo se equivocar quanto ao efeito atribuído pela lei pode a qualquer
e a apelação cobrem todas as possibilidades, não sobrando espaço tempo mudar (matéria de ordem pública não sujeita a preclusão).
para a correição parcial. Dos efeitos, a parte pode agravar de instrumento (não agrava o re-
cebimento de apelação, mas os efeitos atribuídos ao recurso).
b) Singularidade ou unirrecorribilidade
Contra cada tipo de ato judicial só cabe um tipo de recurso pos- a) Devolutivo
tulando a sua reforma. Os embargos de declaração cabem contra Todos os recursos têm. Consiste na aptidão de devolver à
qualquer decisão, mas não se confundem com o recurso específico apreciação do Judiciário a matéria questionada. Em regra, o órgão
para modificá-la. A única exceção ao princípio é que contra o mes- julgador é diverso do que proferiu a decisão (salvo embargos de
mo acórdão pode caber recurso especial e recurso extraordinário (a declaração). O efeito devolutivo deve ser examinado em 2 planos –
rigor, nem seria exceção, pois cada qual trata de uma parte especí- extensão e profundidade.
fica da decisão, respectivamente, violação de lei federal e violação No aspecto extensão, se houver cumulação de pedidos o juiz
de Constituição Federal). deve apreciar todos, mas se o réu recorrer de apenas um deles irá
Devido ao princípio da singularidade é preciso ficar atento nas limitar o que será examinado pelo Tribunal. Assim, O RECORRENTE
audiências de instrução e julgamento: das decisões interlocutórias CONFERE A EXTENSÃO DO RECURSO, devolvendo ao Tribunal a par-
tomadas em seu curso cabe agravo, mas da sentença cabe apela- te da decisão que impugnou. Isto é, o efeito devolutivo no aspecto
ção, sendo necessário interpor ambos recursos se de interesse, sob da extensão é a qualidade do recurso de devolver ao órgão ad quem
pena de preclusão da decisão interlocutória caso se interponha o conhecimento apenas da matéria impugnada – tantum devolu-
apenas a apelação. Por isso mesmo, cabe interpor agravo retido tum quantum appelatum.
oralmente e reiterar o pedido de sua apreciação na apelação. No aspecto profundidade, imagine-se ação proposta com um
único pedido (por exemplo, anulação de contrato) mas com dois
c) Fungibilidade fundamentos (por exemplo, anulabilidade por ser relativamente
Expressão que remonta a coisa que pode ser substituída por incapaz e por coação), sendo que cada fundamento pode, por si
outra. Há institutos processuais fungíveis entre si, por exemplo, só, gerar a procedência do pedido se o juiz constatar que um deles
ações possessórias, cautelares. Existe também a fungibilidade en- ficou provado desde logo poderá julgar sem nem ao menos abrir
tre os recursos, mas o CPC/1973 não a previu de forma expressa a instrução. Se ao final julgar improcedente, deverá apreciar os 2
e nem o CPC/2015 o faz, ao contrário do CPC/1939, que trazia a fundamentos. Se for julgar procedente, pode apreciar apenas 1 fun-
fungibilidade de maneira expressa, exigindo que não houvesse erro damento, acolhendo o pedido (claro, se feitos 2 pedidos cumulados
grosseiro e nem má-fé. Mas o sistema de recursos atual é muito tem que apreciar os 2). No exemplo, se o réu apelar e o Tribunal
mais organizado, sendo raros os casos de dúvida objetiva quanto ao rejeitar a tese da incapacidade relativa, ele não deve desde logo
recurso a ser interposto, de modo que o autor do projeto conside- reformar a sentença de procedente para improcedente, pois é ne-
rou que a fungibilidade era dispensável. cessário apreciar o outro fundamento (tese da coação). O recurso
Ainda assim, surgiram situações de dúvida na jurisprudência, permite que o Tribunal aprecie não só os fundamentos da senten-
por exemplo, impugnação à concessão de justiça gratuita, sendo ça, mas todos os fundamentos discutidos no processo (artigo 1013,
necessário ressuscitar o princípio da fungibilidade, enquanto prin- §2º). Se não houverem elementos necessários (no exemplo, não
cípio implícito. há elementos para apreciar a coação porque o juiz não instruiu o
Hoje, se exige dúvida objetiva sobre o recurso cabível (a dúvi- processo), para que o Tribunal aprecie o outro fundamento deverá
da subjetiva é a que só a pessoa tem e decorre de uma ignorância, anular a sentença e devolver o processo a 1º grau para produzir as
ao passo que a dúvida objetiva pressupõe controvérsia na doutrina provar e proferir nova sentença (que agora excluirá um dos funda-
e na jurisprudência em decorrência da lei). mentos e só apreciará a questão da coação). Sendo assim, o aspecto
da extensão tem a ver com a causa de pedir, com os fundamentos
d) Proibição da reformatio in pejus dos pedidos feitos no processo.
Quanto o Tribunal examina recurso de um dos litigantes não Nos termos do artigo 1013, §3º, o juiz extingue sem julgamen-
pode piorar a situação dele. Afinal, no recurso só se pede a melhora to do mérito e, havendo apelação, o Tribunal pode julgar o méri-
e o Tribunal fica restrito ao recurso. Claro, pode piorar ao exami- to, se presentes todos os elementos, por exemplo, réu já citado,
nar recurso do adversário. Entretanto, há a questão das matérias contestação. Se julgar improcedente, o Tribunal estará piorando a
de ordem pública, que devem ser reconhecidas de ofício, podendo situação do autor? Não, pois reformatio in pejus pressupõe que as
o Tribunal piorar a situação de quem recorreu. duas instâncias tenham examinado o mérito, e no caso da sentença
meramente extintiva não houve este exame.
e) Duplo grau de jurisdição Obs.: apesar de a sentença que reconhece a prescrição ser sen-
Não há nenhum dispositivo expresso determinando o respeito tença de mérito, apenas o é para formar a coisa julgada material e
ao duplo grau de jurisdição. Ele está implícito na Constituição Fede- evitar reproposituras, na prática se aproximando mais da sentença
ral, que criou juízes e Tribunais, atribuindo à 2ª instância a compe- sem julgamento do mérito. Sob o efeito em estudo, cabe ao Tribu-
tência para rever as decisões de 1ª. Não há triplo/quádruplo grau nal, se afastá-la, apreciar o mérito propriamente dito, ou julgando
pois os recursos ao STJ e ao STF são excepcionais. pelo artigo 1013, §3º ou determinando que volte à 1ª instância.
Como não há disposição expressa, o sistema admite, excepcio-
nalmente, situações em que não há duplo grau de jurisdição. Ex.: b) Suspensivo
ações de competência originária do STF; execuções da Fazenda Pú- Aptidão que alguns recursos tem de paralisar a eficácia da de-
blica contra particulares de pequeno valor. cisão recorrida. Todo recurso adota uma regra (tem ou não) e tem
exceções (não ou tem). Em regra:

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL

TEM NÃO TEM d) Regressivo


É a aptidão de alguns recursos de permitir que o órgão a quo
• Apelação • Agravo reconsidere a sua decisão, tornando com isso o recurso prejudi-
• Embargos de cado. Por essência, por natureza, o recurso que sempre tem este
declaração efeito é o agravo (retido, regimental ou de instrumento), isto é, no
• Recursos aos Tribunais agravo sempre é possível o juízo de retratação.
Superiores (Recurso Em duas hipóteses específicas a apelação tem efeito regres-
Ordinário, Recurso sivo: a) sentença de indeferimento de petição inicial – o juiz nem
Especial, Recurso sequer mandou citar o réu – geralmente, o processo foi extinto sem
Extraordinário o julgamento do mérito (exceto prescrição e decadência) e, confor-
e Embargos de me artigo 331, havendo a apelação o juiz poderá reconsiderar a sua
Divergência) sentença no prazo de 5 dias; b) sentença de improcedência liminar
– artigo 332 – no caso, o pedido da inicial foi examinado e julgado
Se a apelação é parcial, o efeito suspensivo de que é dotada no mérito improcedente de plano, sendo que se houver apelação o
será total ou parcial? O efeito suspensivo será total ou parcial con- juiz tem 5 dias para reconsiderar.
forme a extensão do efeito devolutivo do recurso? Se os pedidos
da inicial forem autônomos entre si, o capítulo da sentença que os e) Expansivo
analisa terá partes autônomas e independentes, assim, parte tran- O efeito expansivo pode ser visto sob duas perspectivas: obje-
sita em julgado e parte não. Se os pedidos forem inter-relacionados, tivo e subjetivo.
o capítulo será uno, o trânsito em julgado não será parcial, pois se No efeito expansivo objetivo, embora o recurso só tenha um
o Tribunal reformar um pedido terá que reformar o outro. Neste objeto, o Tribunal poderá apreciar outros pedidos inter-relacio-
caso, embora a apelação seja parcial, o efeito suspensivo é total. nados com aquele que foi objeto, isto é, aumenta-se o objeto do
Em suma: quando houver cumulação de pedidos na inicial o juiz recurso. Pressupõe que na petição inicial tenham sido formulados
deve decidir todos no dispositivo se eles gozarem de autonomia e, pedidos interligados. Por exemplo, o acolhimento de alimentos de-
se houver apelação parcial, o efeito suspensivo será parcial; se eles pende do resultado positivo na investigação de paternidade nesta
forem independentes, ainda que a apelação seja parcial, o efeito ação cumulada. Se a parte só apelar da investigação de paternidade
suspensivo será total. e o Tribunal acolher, modificará a questão dos alimentos.
Uma apelação pode ser parcial mesmo que o pedido seja único, No efeito expansivo subjetivo, pressupõe-se a existência de li-
por exemplo, condenado a 100 apela só de 40. Do capítulo único, tisconsórcio unitário (aquele em que forçosamente o resultado final
recorreu só de uma parte. Existe risco de o autor ficar sem nada? do processo tem que ser o mesmo para todos os litisconsortes).
Sim, por causa do efeito translativo, que permite o reconhecimento
de matérias de ordem pública. Então, cabe executar a parte da qual Apelação
não se recorreu, mas a execução será provisória.
Resumo: 1. Cabimento
- Há pedido único ou cumulação de pedidos? Apelação é o recurso que cabe contra sentença (artigo 1009,
- Havendo cumulação, os pedidos são autônomos ou interliga- CPC). Sentença, até 2005, era o ato capaz de por fim ao processo
dos? em 1º grau de jurisdição; a partir de 2005, passou a ser o ato capaz
de por fim à fase de conhecimento, isto é, a decisão de extinção
Se autônomos, o efeito suspensivo é parcial, se não é total. Se proferida nos termos dos artigos 485 ou 487, CPC (antigos 267 ou
pedido único, a execução é provisória, isto é, efeito suspensivo par- 269, CPC/1973), proferida em 1ª instância.
cial com ressalvas. Há exceções nas leis especiais, casos em que apesar de se ter
Se a apelação for interposta somente no 15º dia, antes disso sentença o recurso cabível não é apelação – por exemplo, sentença
poderia ter sido executada? Não, pois o efeito suspensivo existe que decreta falência, da qual cabe agravo; ou sentença dos juiza-
desde antes da interposição, bastando a possibilidade de interpo- dos especiais cíveis ou federais, da qual cabe agravo inominado; ou
sição. ainda, no novo Código, a decisão do julgamento antecipado parcial
Apelação contra sentença cautelar não tem efeito suspensivo, de mérito.
mas apelação no processo principal sim. Se o juiz der só uma sen- Ressalta-se, contudo, que a partir do CPC/2015 não apenas
tença, tem que discriminar no recebimento os efeitos. a sentença será objeto da apelação, eis que o §1º do artigo 1009
prevê que “as questões resolvidas na fase de conhecimento, se a
c) Translativo decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não
É a aptidão dos recursos em geral de permitir ao órgão ad são cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar
quem examinar matérias de ordem pública, mesmo não suscitadas de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou
no recurso (exame de ofício). De maneira geral, todos os recursos nas contrarrazões”. Antes qualquer decisão interlocutória no pro-
ordinários são dotados de efeito translativo. cesso da qual não coubesse agravo de instrumento deveria ser im-
ATENÇÃO: Recursos extraordinários lato sensu (Recurso Ex- pugnada em agravo retido e o pedido de apreciação reiterado na
traordinário, Recurso Especial e Embargos de Divergência) não pos- apelação, mas como o recurso foi extinto caberá a alegação em pre-
suem este efeito. STF e STJ são pacíficos no sentido de que Recurso liminar de apelação. No caso, se abrirá prazo de 15 dias para con-
Extraordinário e Recurso Especial não possuem o efeito: só se co- trarrazões (artigo 1009, §2º, CPC). A disposição “aplica-se mesmo
nhece do que foi questionado, não importando o que esteja fora quando as questões mencionadas no art. 1.015 integrarem capítulo
disso, ainda que se trate de matéria de ordem pública. da sentença” (artigo 1009, §3º, CPC).
Quer dizer, inclui o agravo. Se nele verificada a falta de uma
condição da ação ou a prescrição, por exemplo, pode o Tribunal ex- 2. Tempestividade
tinguir o processo. Os embargos de declaração também possuem O prazo para interposição é de 15 dias.
este efeito, podendo gerar uma reviravolta no processo.

85
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
3. Preparo IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;
Em regra, há preparo, a ser apurado na perspectiva da lei esta- V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
dual de custas (TJ) ou da lei federal de custas (TRF). Não há porte de VI - decreta a interdição.
remessa e retorno. § 2o Nos casos do § 1o, o apelado poderá promover o pedido de
cumprimento provisório depois de publicada a sentença.
4. Regularidade formal § 3o O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses
Somente é possível interpor recurso de apelação na forma es- do § 1o poderá ser formulado por requerimento dirigido ao:
crita, contendo petição de interposição ao juízo “a quo”, que profe- I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da
riu a decisão recorrida, e petição de razões ao juízo “ad quem”, que apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu
poderá reformá-la (TJ na justiça estadual e TRF na justiça federal). exame prevento para julgá-la;
Há preclusão consumativa se as razões não são apresentadas junto II - relator, se já distribuída a apelação.
com a petição de interposição. § 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser
A apelação deverá conter, nos termos do artigo 1010, CPC: suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de
I - os nomes e a qualificação das partes; provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação,
II - a exposição do fato e do direito; houver risco de dano grave ou de difícil reparação.
III - as razões do pedido de reforma ou de decretação de nuli- Art. 1.013.  A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento
dade; da matéria impugnada.
IV - o pedido de nova decisão”. Não se pode inovar na apelação, § 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tri-
salvo motivo de força maior (artigo 1014, CPC). bunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda
que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo
5. Improcedência ou procedência em julgamento monocrático impugnado.
Aplicam-se à apelação todos os requisitos gerais de admissi- § 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamen-
bilidade e uma especificidade prevista nos artigos 1011, I, CPC c/c to e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribu-
932, III e IV, CPC: nal o conhecimento dos demais.
IV - negar provimento a recurso que for contrário a: § 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamen-
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal to, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando:
de Justiça ou do próprio tribunal; I - reformar sentença fundada no art. 485;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente
Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; com os limites do pedido ou da causa de pedir;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese
repetitivas ou de assunção de competência; em que poderá julgá-lo;
V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamenta-
provimento ao recurso se a decisão recorrida for contrária a: ção.
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal
§ 4o Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou
de Justiça ou do próprio tribunal;
a prescrição, o tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo
demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de
Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
primeiro grau.
c) entendimento firmado em incidente de resolução de deman-
das repetitivas ou de assunção de competência”. § 5o O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a
tutela provisória é impugnável na apelação.
É como se fosse uma “súmula impeditiva”. Toda vez que a ape-
lação visar contrariar a súmula do STF ou do STJ, o juiz relator a 7. Processamento – regra geral
julgará monocraticamente. Esta súmula impeditiva não é necessa- - A apelação é apresentada em 1º grau (juízo “a quo”), que a
riamente súmula vinculante. Por isso, a regra não é absoluta, o juiz recebe e dá processamento. Dos efeitos indevidamente concedidos
pode dar regular processamento se achar que a súmula merece ser à apelação cabe pedido de concessão do efeito suspensivo ou en-
revista. tão agravo de instrumento para pedido de retirada do efeito sus-
pensivo.
6. Efeitos - Recebida, o juiz intimará o apelado para as contrarrazões e
Há efeito devolutivo (artigo 1013, CPC). depois encaminhará ao Tribunal.
Em regra, há efeito suspensivo, mas se a lei quiser pode ex- - Chegando em 2º grau, a apelação é distribuída para alguma
pressamente retirá-lo – por exemplo, o faz no artigo 1002, §1º, CPC das câmaras do Tribunal. Se já houver recurso anterior no mesmo
(sentença produzirá efeitos imediatos mesmo que se apele), que processo, a apelação será distribuída por dependência. Após, será
traz casos como o de sentença que concede alimentos, sentença escolhido um relator.
cautelar, sentença que mantém liminar e sentença de improcedên- - O relator tem poderes, inclusive o de negar de plano o segui-
cia a embargos à execução. Mesmo nestes casos em que a lei retira mento à apelação fazendo juízo negativo de admissibilidade e o de
o efeito suspensivo, a parte pode pedir ao juiz que o conceda (art. negar ou dar provimento de plano ao recurso caso contrarie súmula
1002, §2º). Se o efeito for somente devolutivo, cabe execução pro- de Tribunal superior ou julgamento em recurso repetitivo do STF
visória. ou STJ. Contra a decisão neste sentido cabe agravo interno, sendo
Art. 1.012.  A apelação terá efeito suspensivo. julgado pela câmara julgadora do recurso principal.
§ 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a pro- - Se o relator entender que não é caso de julgar de plano, fará
duzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que: relatório e encaminhará ao julgamento pela câmara.
I - homologa divisão ou demarcação de terras;
- No julgamento, a apelação é examinada por 3 juízes e a deci-
II - condena a pagar alimentos;
são é tomada por maioria de votos, tanto na admissibilidade quan-
III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes
to no mérito. De início, será efetuado novo juízo de admissibilidade
os embargos do executado;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
(conhece ou não conhece). Cada requisito de admissibilidade que - Decisão do relator que julgou um recurso sozinho (decisão
for questionado deve ser votado individualmente (a maioria dos vo- monocrática) – agravo regimental ou agravo interno (são as 2 ex-
tos deve ser alcançada isoladamente pelo requisito). pressões usadas).
- Decisão de inadmissibilidade em Recurso Especial e Recurso
8. Processamento – regras específicas Extraordinário proferida pelo presidente ou vice-presidente do STF
Há duas hipóteses em que o processamento regra geral sofre ou STJ – agravo em recurso especial ou extraordinário.
modificações, notadamente em seus estágios iniciais:
a) Apelação contra sentença de indeferimento de inicial – art. 3. Agravo de instrumento
331, CPC
Em regra, a extinção será sem julgamento do mérito (artigo 3.1 Cabimento
485), mas excepcionalmente poderá ser com julgamento do mérito Forma de interposição do agravo que exige previsão expressa
(prescrição e decadência, artigo 487). da lei, destacando-se o artigo 1015:
A diferença procedimental com relação à regra geral é que, in- Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões in-
terposta a apelação, o juiz tem o prazo de 5 dias para reformar sua terlocutórias que versarem sobre:
própria sentença, isto é, cabe juízo de retratação. I - tutelas provisórias;
Se o juiz voltar atrás, receberá a apelação e mandará subir ao Possibilidade de perigo de prejuízo irreparável ou de difícil re-
Tribunal sem contrarrazões. paração (situações de urgência).
O Tribunal poderá manter ou reformar a sentença. Se reformar, II - mérito do processo;
volta para a 1ª instância e continua a correr. O réu poderá alegar na A exemplo a sentença que decreta falência.
contestação o mesmo fundamento que havia embasado o indeferi- III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
mento da inicial, apesar da reforma do Tribunal (pois o afastamento IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
que o Tribunal faz é “inaudita altera parte”, ou seja, sem oitiva da V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento
outra parte, sem contraditório, possuindo por natureza caráter pro- do pedido de sua revogação;
visório), trazendo argumentos e provas de que o Tribunal deveria VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
ter mantido a decisão de indeferimento da inicial, ou trazer outro VII - exclusão de litisconsorte;
fundamento favorável ao indeferimento da inicial. VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
Em ambos os casos, sendo o argumento acatado pelo juiz, cabe
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo
recurso de apelação, que agora tramitará pelo procedimento ge-
aos embargos à execução;
ral, sem especificidades, pois já não se trata mais propriamente de
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, §
inépcia da inicial, mas de extinção sem julgamento do mérito.
1º;
XII - (VETADO);
b) Apelação contra sentença de improcedência de plano – art.
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
332, CPC
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento con-
Aqui, a sentença é de improcedência, que é proferida desde tra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sen-
logo. tença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e
Interposta a apelação, também há juízo de retratação, no prazo no processo de inventário.
de 5 dias. Se o juiz se retratar o processo continua, se não se retra- Pois se o agravo fosse retido, jamais seria julgado, já que os
tar, antes de remeter ao Tribunal, deverá mandar citar o réu para autos somente sobem no momento da apelação, recurso interposto
apresentar suas contrarrazões. A apelação subirá com as alegações ao final da fase de conhecimento em 1º grau, e já se está na fase de
do autor e com as alegações do réu. execução, quando não mais poderia ser interposta.
3.2 Formação do instrumento
O Tribunal poderá: manter a sentença (condenando o autor a Este é o único recurso do ordenamento jurídico interposto no
pagar honorários advocatícios, pois já houve contraditório); anular órgão “ad quem”.
a sentença, devolvendo para prosseguimento (bastará intimar o réu Art. 1.016. O agravo de instrumento será dirigido diretamente
para oferecer contestação, porque já foi citado); reformar a senten- ao tribunal competente, por meio de petição com os seguintes re-
ça julgando totalmente procedente a ação (não será procedência quisitos:
de plano porque o réu já exerceu o contraditório), caso a causa já I - os nomes das partes;
esteja madura ou envolva matéria de direito. II - a exposição do fato e do direito;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da deci-
Agravos são e o próprio pedido;
IV - o nome e o endereço completo dos advogados constantes
Agravo é um recurso que pode ser interposto de mais de uma do processo.
maneira, sempre contra decisões de natureza interlocutória. O instrumento formado é composto de cópias do processo, que
ainda está em trâmite, para que o Tribunal conheça o necessário do
1. Cabimento processo. Quem forma o instrumento é o agravante.
Cabe contra decisões de 1º grau e contra decisões proferidas Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
nos Tribunais. I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da con-
Em 1º grau, cabe agravo contra decisões interlocutórias profe- testação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria
ridas pelo juiz (são atos de conteúdo decisório que não põem fim ao decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro do-
processo). Nos Tribunais, cabe agravo contra decisões unilaterais do cumento oficial que comprove a tempestividade e das procurações
relator ou do presidente/vice-presidente do órgão. outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos
2. Formas referidos no inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de
- 1º grau – agravo de instrumento. sua responsabilidade pessoal;

87
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
III - facultativamente, com outras peças que o agravante re- 4. Agravo interno ou regimental
putar úteis. Há críticas à nomenclatura agravo regimental, pois não está
§ 1º Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das previsto em regimento, mas em lei. Contudo, é regulado pelo regi-
respectivas custas e do porte de retorno, quando devidos, confor- mento. O novo CPC adota a nomenclatura agravo interno, que tec-
me tabela publicada pelos tribunais. nicamente é a mais correta.
Bastam cópias, não precisam ser autenticadas. Cabe contra decisões unilaterais do relator que julguem o re-
curso: não conhece/conhece e nega provimento/conhece e dá pro-
3.3 Processamento vimento.
- O agravo de instrumento é sempre escrito. O prazo para interposição é de 15 dias.
- Prazo: 15 dias, para razões e contrarrazões. O relator poderá se retratar quando de sua interposição. Se
- É possível protocolar no Tribunal direto, enviar por correio ou não o fizer, o recurso será julgado pela Câmara julgadora.
faz e utilizar o protocolo integrado no próprio fórum (artigo 1017, § Se não for interposto este agravo, a decisão transita em julga-
2o: “No prazo do recurso, o agravo será interposto por: I - protocolo do, sendo que não caberá Recurso Especial ou Recurso Extraordiná-
realizado diretamente no tribunal competente para julgá-lo; II - pro- rio, pois não se respeitou o esgotamento das instâncias.
tocolo realizado na própria comarca, seção ou subseção judiciárias; Caso seja considerado inadmissível ou improcedente em vota-
III - postagem, sob registro, com aviso de recebimento; IV - trans- ção unânime, cabe 1% a 5% de multa sobre o valor da causa estabe-
missão de dados tipo fac-símile, nos termos da lei; V - outra forma lecida em decisão fundamentada do órgão julgador.
prevista em lei”). Art. 1.021.  Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo
- Em princípio, existe preparo, mas isso pode variar de um Tri- interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao
bunal para outro. processamento, as regras do regimento interno do tribunal.
- Interposto o agravo, o agravante deve, no prazo de 3 dias, co- § 1o Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará es-
municar a interposição ao órgão “a quo”. É um ônus do agravante. pecificadamente os fundamentos da decisão agravada.
Sem esta comunicação: a) o juiz não saberia que sai decisão não § 2o O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado
está preclusa; b) o juiz não teria ciência da possibilidade de exercer para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao
juízo de retratação. A consequência para o agravante do não cum- final do qual, não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julga-
primento da tarefa – cabendo ao agravado informar este fato – é mento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta.
o não conhecimento do recurso pelo Tribunal (mas o Tribunal não § 3o É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamen-
pode de ofício não conhecer do agravo pela falta de cumprimento tos da decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno.
deste ônus, é o agravado que deve comunicar o órgão “ad quem”). § 4o Quando o agravo interno for declarado manifestamente
Art. 1.018.  O agravante poderá requerer a juntada, aos au- inadmissível ou improcedente em votação unânime, o órgão cole-
tos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento, do giado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar
comprovante de sua interposição e da relação dos documentos que ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento do valor atua-
instruíram o recurso. lizado da causa.
§ 1o Se o juiz comunicar que reformou inteiramente a decisão, § 5o A interposição de qualquer outro recurso está condiciona-
o relator considerará prejudicado o agravo de instrumento. da ao depósito prévio do valor da multa prevista no § 4o, à exceção
§ 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a pro- da Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que
vidência prevista no caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da farão o pagamento ao final.
interposição do agravo de instrumento.
§ 3o O descumprimento da exigência de que trata o § 2o, desde 5. Agravo em recurso especial e extraordinário
que arguido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do Cabe contra decisões de inadmissibilidade do recurso especial
agravo de instrumento. ou extraordinário proferidas pelo presidente ou vice-presidente do
- No Tribunal, o primeiro passo é a designação de um relator STJ ou do STF. Será estudado a parte quando do estudo dos recursos
(não há revisor). O relator tem o poder de: a) negar ou dar provi- nos tribunais superiores.
mento de plano quando verificar que é contrário a súmula de tribu-
nal superior ou julgamento em demanda repetitiva do STF ou STJ Embargos de Declaração
(artigo 932, III e IV, CPC) – decisão esta unilateral, da qual cabe agra- 1. Cabimento e sucumbência
vo interno; b) em regra, o agravo de instrumento não tem os efeitos O CPC diz que os embargos de declaração são recurso, disci-
suspensivo e ativo, mas é permitido ao agravante pedir a concessão
plinando-os nos artigos 1022 e seguintes do CPC, então não faria
destes efeitos, cabendo ao relator unilateralmente decidir; d) não
sentido dizer que não são. No entanto, inegável que se tratam de
sendo o caso das hipóteses anteriores, o relator intimará o agrava-
recurso que prestam a função diversa daquela que os demais recur-
do, na pessoa de seu advogado, para oferecer contrarrazões em 15
sos possuem, que é a alteração da decisão judicial.
dias; e) o relator deve abrir vista ao Ministério Público de 2ª instân-
Basicamente, a finalidade dos embargos é a de aclarar ou in-
cia se for o caso para manifestação em 15 dias (artigo 1019, CPC)
tegrar a decisão judicial. Busca-se um esclarecimento do juízo por
(após o MP se manifestar, é designada data para o julgamento do
alguma omissão, obscuridade ou contradição. Em regra, não se pre-
recurso). “O relator solicitará dia para julgamento em prazo não su-
perior a 1 (um) mês da intimação do agravado” (artigo 1020, CPC). tende qualquer alteração.
- Juízo de retratação – o juiz tomará conhecimento da interposi- Por isso, não se exige que o embargante seja sucumbente. O
ção do agravo de instrumento, bem como do seu teor. Quando isso vencedor pode embargar de declaração.
ocorrer, querendo, o juiz de 1º grau pode alterar sua decisão. O juiz
pode se retratar até o agravo ser julgado. Havendo retratação, deve 2. Decisão recorrida
ser imediatamente comunicada ao Tribunal. Se houver retratação Conforme o artigo 1022, embargos de declaração cabem con-
parcial o Tribunal declarará o agravo parcialmente prejudicado e só tra qualquer ato decisório (de qualquer processo – conhecimento,
julgará a parte que o juiz manteve. Se a retratação for completa, cautelar, execução, juizados especiais, jurisdição voluntária e pro-
o agravo ficará inteiramente prejudicado – neste caso, cabe ainda cessos administrativos), não importa se decisão interlocutória, sen-
novo agravo. tença, acórdão, decisão monocrática.

88
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Além disso, os embargos de declaração se justificam até contra § 3o O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração
a fundamentação, pois a Constituição Federal determina que todas como agravo interno se entender ser este o recurso cabível, desde
as decisões devem ser fundamentadas. que determine previamente a intimação do recorrente para, no pra-
zo de 5 (cinco) dias, complementar as razões recursais, de modo a
3. Fundamentos ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1o.
Os embargos devem se fundamentar em obscuridade, contra- § 4o Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique
dição ou omissão. O CPC anterior falava em dúvida, expressão que modificação da decisão embargada, o embargado que já tiver in-
foi eliminada devido ao seu cunho subjetivo. Na fundamentação do terposto outro recurso contra a decisão originária tem o direito de
recurso, deve-se apontar o vício, independente de dizer se há obs- complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modifi-
curidade, contradição ou omissão. cação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da deci-
a) Obscuridade: falta de clareza, duplo sentido, ambiguidade. são dos embargos de declaração.
Ex.: citação em alemão de 4 páginas e procedência abaixo. § 5o Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não al-
b) Contradição: falta de coerência, aspectos que se excluem, terarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto
entre duas partes da fundamentação, entre duas partes do disposi- pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos
tivo ou entre uma parte da fundamentação e outra do dispositivo. de declaração será processado e julgado independentemente de
Não há contradição entre a lei externa e a aplicação dela ao caso, ratificação.
isso é manifestação de inconformismo.
c) Omissão: o juiz deixa de se manifestar sobre algo que seja 6. Efeitos
relevante ao processo, sobre algo a respeito do qual o juiz deveria a) Devolutivo: devolve para o mesmo juiz a matéria específica
se manifestar. para nova decisão.
b) Suspensivo: não há, a decisão pode ser executada.
4. Embargos de declaração com efeito infringente ou modifi- c) Translativo: existe, permitindo o exame de ofício de matéria
cativo de ordem pública.
Pode ser que o juiz altere a decisão para sanar vício existente. d) Interruptivo: os embargos de declaração tem efeito exclu-
Aliás, em alguns casos, é uma consequência natural, embora indire- sivo de interromper o prazo para outros recursos. O legislador o
ta. Ex.: juiz fundamenta a decisão dizendo que o autor tem razão e estabeleceu porque aquele que entra com embargos de declaração
julga improcedente. quer sanar um vício e não manifestar seu inconformismo. Não há,
Se a parte não apontar nenhum destes vícios e opor embargos então, prejuízo ao recurso que manifestará o inconformismo, pos-
de declaração para modificar a decisão, não obterá sucesso. O juiz sibilitando ainda que ele seja interposto de uma decisão clara. O
não pode modificar a decisão nos embargos com exclusivo efeito in- prazo é interrompido para todas as partes, ainda que por apenas
fringente. Há pouquíssimas exceções. Só cabem embargos de decla- uma delas.
ração com efeito infringente exclusivo quando houver erro de fato
comprovável de plano. Ex.: acórdão faz contagem errada do prazo e 7. Embargos protelatórios
não admite o recurso, a parte opõe embargos de declaração e eles Para existir a eficácia interruptiva, não importa se os embargos
são admitidos, o que modifica a decisão sem que haja obscuridade, foram opostos de má-fé (apenas para interromper o prazo) ou não
contradição ou omissão, mas sim ERRO DE FATO (não se trata de foram acolhidos. A jurisprudência só admite uma hipótese na qual
erro de julgamento). Ex.: houve desistência ou acordo antes da sen- os embargos de declaração não possuem eficácia interruptiva: se os
tença, não foi juntada contestação tempestiva e decisão decretou próprios embargos de declaração estiverem fora do prazo (senão,
revelia – nos dois casos, há erro de fato. a pessoa sempre teria um meio para afastar a intempestividade
de qualquer recurso). Nos casos de oposição com má-fé é prevista
5. Procedimento uma multa se o juiz verificar o caráter protelatório – 2% do valor da
Nos juizados especiais cíveis, são orais; nos demais casos, são causa, chegando a 10% em caso de reiteração. Também não serão
escritos, devendo ser opostos em 5 dias. O prazo corre em dobro admitidos novos se os dois anteriores tiverem sido considerados
para Fazenda Pública, Ministério Público, Defensoria Pública e litis- protelatórios.
consortes com advogados diversos. Deverão ser opostos contra o
mesmo órgão que proferiu a decisão, de preferência com aprecia- 8. Complementação da apelação
ção pelo mesmo juiz (salvo aposentadoria ou morte). Se uma parte interpõe apelação sem razões, há preclusão con-
Cabe embargos de declaração de embargos de declaração se o sumativa. Então, se o fizer antes de a outra parte opor embargos
juiz não esclarecer o suficiente ou trouxer mais dúvidas. de declaração, quando sobrevier a decisão dos embargos, poderá
Como em regra eles não modificam a decisão, não há sentido complementar as razões da apelação, mas este aditamento deverá
em abrir para contrarrazões. Contudo, o novo CPC/2015 prevê que ficar restrito ao conteúdo modificado nos embargos.
deve ser aberto prazo para a parte contrária contrarrazoar faculta-
tivamente, caso sinta que os embargos podem gerar alteração na 9. Embargos de declaração como pré-questionamento
decisão que a desfavoreça. A súmula 98 do STJ diz que embargos de declaração podem ser-
Art. 1.024.  O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias. vir de pré-questionamento, requisito essencial de admissibilidade
§ 1o Nos tribunais, o relator apresentará os embargos em mesa nos recursos extraordinário e especial.
na sessão subsequente, proferindo voto, e, não havendo julgamen- Art. 1.025, CPC. Consideram-se incluídos no acórdão os elemen-
to nessa sessão, será o recurso incluído em pauta automaticamente. tos que o embargante suscitou, para fins de pré-questionamento,
§ 2o Quando os embargos de declaração forem opostos contra ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejei-
decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribu- tados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão,
nal, o órgão prolator da decisão embargada decidi-los-á monocra- contradição ou obscuridade.
ticamente.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
1. Espécies 3. Recursos extraordinários “lato sensu”
Os recursos dirigidos aos Tribunais Superiores, notadamente, A disciplina de admissibilidade e processamento dos recursos
para fins de direito processual civil, Supremo Tribunal Federal e Su- extraordinário e especial é muito semelhante, com a diferença de
perior Tribunal de Justiça, dividem-se em: ordinário e extraordiná- que o primeiro volta-se ao STF e concentra-se em matéria constitu-
rios “lato sensu”. cional, e o segundo volta-se ao STJ e concentra-se em matéria de lei
a) Ordinário (tipo de recurso comum, semelhante a uma ape- federal (mudam o órgão “ad quem” e as hipóteses de cabimento).
lação);
b) Extraordinário “lato sensu” (recursos de natureza excepcio- 3.1 Requisitos de admissibilidade gerais
nal), que são: Aplicam-se os 7 requisitos gerais de admissibilidade:
- Extraordinário “stricto sensu” (STF); 1) Cabimento
- Especial (STJ); 2) Legitimidade – parte ou terceiro interessado.
- Embargos de divergência (STF e STJ). 3) Interesse – sucumbência.
4) Tempestividade – prazo de 15 dias a contar da intimação da
A diferença é que nos recursos comuns ou ordinários não há decisão. As causas de interrupção e suspensão são as mesmas e
limitação cognitiva, isto é, não se limita a discussão de defeitos, pro- aplicam-se os prazos especiais para Fazenda Pública, Ministério Pú-
blemas e elementos de convicção, servindo apenas para a simples blico, Defensoria Pública, advogado com litisconsorte diferente. O
manifestação de inconformismo. prazo corre da intimação da decisão.
Os recursos extraordinários em geral não servem para a pura 5) Preparo – no STF e no STJ se exige, além do preparo, o porte
manifestação de inconformismo, servem para o resguardo e a uni- de remessa e retorno.
formidade de interpretação da Constituição Federal e das leis fe- 6) Regularidade formal – forma escrita, petição de interposição
derais. Por isso, são recursos de fundamentação restrita, a qual é ao órgão “a quo” e de razões ao “ad quem”.
estabelecida pela Constituição Federal (perante o STF, fundamenta- 7) Ausência de fato impeditivo/modificativo do direito de re-
ção em violação da CF; perante o STJ, fundamentação em violação correr.
de lei federal).
Com efeito, o caráter extraordinário destes recursos não decor- 3.2 Requisitos de admissibilidade específicos
re do fato de serem interpostos perante Tribunais Superiores, mas Além dos 7 requisitos gerais de admissibilidade, teremos 7 re-
sim da limitação cognitiva. quisitos específicos para o STJ e mais 1 para o STF (totalizando 8):
esgotamento de recursos, decisão de única ou última instância, dis-
2. Recurso ordinário cussão de matéria exclusivamente de direito, prequestionamento,
interposição simultânea, regime de retenção, recursos repetitivos
2.1 Cabimento e, somente para o STF, repercussão geral.
Disciplina a Constituição Federal:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamen- 1) Esgotamento de recursos
te, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: [...] II - julgar, em recurso É necessário que tenham se esgotado todos os recursos pos-
ordinário: síveis nas vias ordinárias ou então não poderá opor REXT ou RESP.
a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e
o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais 2) Decisões de única ou última instância
Superiores, se denegatória a decisão; Não se admitem saltos de instância. A diferença é que para o
b) o crime político; STF basta que a decisão seja de única ou última instância (“III - jul-
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: [...] gar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única
II - julgar, em recurso ordinário: ou última instância [...]”), enquanto que para o STJ esta única ou
a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pe- última instância precisa ser Tribunal (“III - julgar, em recurso espe-
los Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do cial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribu-
Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; nais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito
b) os mandados de segurança decididos em única instância pe- Federal e Territórios [...]”). Em razão disso, nos juizados especiais
los Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do cíveis somente cabe Recurso Extraordinário, não Especial. Afinal, o
Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; recurso inominado é dirigido a um Colégio Recursal, não a um Tri-
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou orga- bunal, sendo ele a última instância antes dos Tribunais Superiores.
nismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa Se a decisão final não foi proferida por Tribunal, não cabe Recurso
residente ou domiciliada no País; Especial; mas sendo este órgão a última instância, independente de
Os recursos ordinários cabem, em regra, contra decisões de ser ou não Tribunal, cabe Recurso Extraordinário.
competência originária dos tribunais. Pode ser que as partes do
processo de competência originária do tribunal não fiquem satis- 3) Discussão exclusiva de matéria de direito
feitas com o acórdão e queiram manifestar seu inconformismo (não Os recursos extraordinários não se prestam a discutir matéria
cabe apelação, interposta contra sentença, pois não há sentença e de fato, mas somente matéria de direito, consistente, para o STF,
sim acórdão). Assim, cabe recurso ordinário para o STF em se tra- em questões relativas à CF, e para o STJ, em questões relativas às
tando de acórdão proferido em ação de competência originária dos leis federais, sempre buscando conferir a melhor interpretação.
Tribunais Superiores (STJ, TST, STM, TSE); cabe recurso ordinário RESP e REXT não tem nada a ver com a interpretação de contratos
para o STJ em se tratando de acórdão proferido por tribunais co- ou provas. (súmulas 279 e 454, STF; súmulas 7 e 5, STJ).
muns, de 2ª instância, isto é, TJ ou TRF. Ex.: Não é possível REXT para discutir se uma interceptação te-
lefônica provou a traição da parte, mas é se for discutir se a mesma
2.2 Processamento foi inconstitucional.
Os recursos ordinários têm o mesmo processamento da apela-
ção. São interpostos, assim, no órgão “a quo” em 15 dias. O recurso
ordinário é idêntico à apelação nos aspectos forma e processamento.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
4) Prequestionamento § 2o Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o
É necessário e decorre do previsto na CF, que exige para o REXT recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, sobrestará o julga-
e para o RESP causas decididas (STF – “art. 102, III - julgar, median- mento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal Federal.
te recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última § 3o Na hipótese do § 2o, se o relator do recurso extraordiná-
instância [...]”; STJ – “art. 105, III - julgar, em recurso especial, as rio, em decisão irrecorrível, rejeitar a prejudicialidade, devolverá os
causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Re- autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso
gionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal especial.
e Territórios [...]”). Art. 1.032.   Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, en-
Assim, primeiramente, não cabe de decisões administrativas. tender que o recurso especial versa sobre questão constitucional,
Em segundo lugar, por causas decididas entende-se que a questão deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente
deve ser ventilada antes de ir para o STF ou STJ. Como dizer que o demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a
acórdão violou CF ou lei federal se ele nem ao menos discute a ma- questão constitucional.
téria? Então, há prequestionamento quando a matéria de lei federal Parágrafo único.  Cumprida a diligência de que trata o caput,
ou constitucional foi ventilada/analisada/abordada em acórdão. o relator remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em
Na prática, a palavra prequestionamento tem sido usada em 2 juízo de admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de
sentidos: ato da parte de suscitar a questão e ato judicial de venti- Justiça.
lar/abordar a questão. Art. 1.033.  Se o Supremo Tribunal Federal considerar como re-
Só há verdadeiro prequestionamento se a decisão judicial flexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário,
abordar a questão, de modo que só o 2º sentido apontado aceita por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tra-
REXT e RESP. tado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para julgamento
E se a parte questionou a matéria o tempo todo e, ainda assim, como recurso especial.
o Tribunal não abordou? O instrumento jurídico adequado é a opo-
sição de embargos de declaração (súmula 98, STJ, aplicada também 6) Possível interposição em sede de agravo de instrumento
pelo STF). E se, ainda assim, não apreciar? STF e STJ conferem solu- Se interposto agravo de instrumento, ele subirá sozinho ao Tri-
ção diferente: bunal, sendo sempre apreciado por outro acórdão. Contra este úl-
- O STF editou a súmula 356 que diz que o ponto omisso sobre timo acórdão também cabe REXT/RESP. No CPC/1973 o REXT/RESP
o qual não foram opostos embargos de declaração não enseja REXT. interposto contra decisão interlocutória ficava retido nos autos no
Logo, se foram opostos, cabe REXT. Basta a oposição dos embargos chamado regime de retenção do REXT/RESP quando interposto de
de declaração para que a matéria esteja prequestionada, mesmo decisão interlocutória, mas o regime de retenção foi extinto. Logo,
que a matéria não seja examinada no acórdão. Parte da doutrina este REXT/RESP será processado como qualquer outro.
chama isso de prequestionamento tácito.
- O STJ editou a súmula 211, que diz que não cabe RESP quando 7) Repercussão geral
a questão, a despeito dos embargos de declaração, não foi examina- Aplicável somente ao STF.
da pelo Tribunal de origem. Logo, é exigido um prequestionamento
real. E no caso levantado, isto é, se mesmo opostos embargos de 8) Recursos repetitivos
declaração o acórdão não tratar? Cabe RESP, mas argumentando Aplicável ao STF e ao STJ.
violação ao artigo do CPC, que trata dos embargos de declaração
(artigo 535). Se o STJ entender que a questão deveria ter sido exa- 3.3 Hipóteses de cabimento
minada, devolve o processo para o Tribunal apreciar a questão e Art. 102, CF. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipua-
abrir a via do RESP. mente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
Não se considera prequestionada questão que tenha sido ven- III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decidi-
tilada apenas no voto vencido (súmula 320, STJ). Tem que se ventila- das em única ou última instância, quando a decisão recorrida:
da no voto vencedor, ele que contrariará ou não a CF ou lei federal. a) contrariar dispositivo desta Constituição;
5) Contrariedade simultânea de CF e lei federal Antes da CF de 1988, falava-se em negar vigência. A expres-
É possível que o mesmo acórdão contrarie a CF e a lei federal. são atual, contrariar, é mais abrangente. Negar vigência significava
São dois recursos com matérias diversas, ambos devem ser inter- afrontar, descumprir (dizia a súmula 400 do STF, hoje revogada, que
postos e simultaneamente. Se interpõe só um, há preclusão consu- decisão que deu uma interpretação razoável a CF, ainda que não
mativa quanto ao outro. a melhor, não está negando vigência à CF). A expressão contrariar
Será primeiro remetido o RESP ao STJ, sendo que o STJ terá três abrange negar vigência e também não dar à CF a melhor interpreta-
opções: ção possível. Assim, a súmula foi revogada.
- Julgar e dar o REXT por prejudicado;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
- Julgar e remeter o REXT;
Trata-se de Recurso Extraordinário em sede de controle de
- Não julgar se entender que o REXT prejudicará o RESP, caso
constitucionalidade difuso.
em que o relator do REXT, se não concordar, devolverá o RESP ao
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face
STJ em decisão irrecorrível.
desta Constituição;
Há quem diga ser dispositivo dispensável, pois estaria abrangi-
Não obstante, é possível que interposto um dos recursos o Tri-
do pela alínea “a”.
bunal entenda que deveria ter sido interposto o outro e faça a re-
messa (fungibilidade recursal). d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.
Art. 1.031.  Na hipótese de interposição conjunta de recurso Antes da Emenda Constitucional nº 45/2004, cabia RESP. A CF
extraordinário e recurso especial, os autos serão remetidos ao Su- é atingida de forma indireta porque diz que lei federal prevalece
perior Tribunal de Justiça. sobre a local, ou seja, institui o pacto federativo e colaciona uma
§ 1o Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão divisão hierárquica de competências, sendo que decisão em senti-
remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso do contrário atinge estas premissas. A verdade é que, na prática, a
extraordinário, se este não estiver prejudicado. matéria acabava sendo constitucional.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 105, CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - ao tribunal superior respectivo, no período compreendido
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única entre a publicação da decisão de admissão do recurso e sua distri-
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tri- buição, ficando o relator designado para seu exame prevento para
bunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a deci- julgá-lo; (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016)
são recorrida: II - ao relator, se já distribuído o recurso;
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; III - ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido,
Critica-se a redação porque contrariar inclui negar vigência. no período compreendido entre a interposição do recurso e a publi-
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei cação da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de
federal; o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art. 1.037. (Redação
Ato de governo não se confunde com lei, se fosse lei caberia dada pela Lei nº 13.256, de 2016)
REXT. Art.  1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tri-
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja bunal, o recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no
atribuído outro tribunal. prazo de 15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao
Ao se afirmar que outro Tribunal deu interpretação melhor, presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá:
significa dizer que o Tribunal que proferiu a decisão violou a lei fe- I – negar seguimento:
deral. No fundo, este dispositivo seria dispensável, pois se a inter- a)  a recurso extraordinário que discuta questão constitucional
pretação de outro Tribunal foi melhor quer dizer que não foi dada a à qual o Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a exis-
melhor interpretação possível, hipótese abrangida pela alínea “a”. tência de repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto
Para comprovar é preciso cópia autenticada, pedido de certidão ou contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do
citação do repositório oficial. Divergência no mesmo Tribunal não Supremo Tribunal Federal exarado no regime de repercussão geral;
leva à aplicação da alínea “c” (súmula 13, STJ), mas da “a”. b)  a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto
Pela súmula 83 do STJ, “não se conhece de RESP pela divergên- contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do
cia, quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo sentido Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, res-
da decisão recorrida”. Significa que se o entendimento do STJ for pectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos repe-
aquele do qual se recorreu, não será admitido, ainda que outro TJ titivos;
ou TRF esteja decidindo de maneira diversa que a parte considere II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização
ser melhor. do juízo de retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendi-
mento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Jus-
tiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou
Recurso Extraordinário Recurso Especial
de recursos repetitivos;
Contrariar CF Contrariar lei federal III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de ca-
Lei local contra lei federal Ato de governo local contra lei ráter repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal Federal
federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria
constitucional ou infraconstitucional;
Lei ou ato de governo contra Decisões diferentes em outros IV – selecionar o recurso como representativo de controvér-
CF Tribunais sia constitucional ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do art.
Controle difuso 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o
3.4 Processamento feito ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justi-
O rito pelo qual o recurso extraordinário e o recurso especial ça, desde que:
serão processados é o mesmo, regido nos seguintes termos: a)  o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de re-
Art. 1.029.  O recurso extraordinário e o recurso especial, nos percussão geral ou de julgamento de recursos repetitivos;
casos previstos na Constituição Federal, serão interpostos perante b)   o recurso tenha sido selecionado como representativo da
o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em peti- controvérsia; ou
ções distintas que conterão: c)  o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
I - a exposição do fato e do direito; §  1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamen-
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto; to no inciso V caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art.
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da deci- 1.042.
são recorrida. §  2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III
§ 1o  Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021.
o recorrente fará a prova da divergência com a certidão, cópia ou O artigo 1.033 teve redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016.
citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, in- Art. 1.034.  Admitido o recurso extraordinário ou o recurso es-
clusive em mídia eletrônica, em que houver sido publicado o acór- pecial, o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça
dão divergente, ou ainda com a reprodução de julgado disponível julgará o processo, aplicando o direito.
na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva Parágrafo único.  Admitido o recurso extraordinário ou o recur-
fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias so especial por um fundamento, devolve-se ao tribunal superior o
que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados. conhecimento dos demais fundamentos para a solução do capítulo
§ 2o (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016). impugnado.
§ 3o O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Jus-
tiça poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou 3.5 Repercussão geral
determinar sua correção, desde que não o repute grave. A repercussão geral é um dos mecanismos criado pelo Legis-
[...] lativo para restringir o número de recursos no STF. Prevista no art.
§ 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso ex- 102, §3º, CF, desde a Emenda Constitucional nº 45/2004, passou a
traordinário ou a recurso especial poderá ser formulado por reque- ser requisito de admissibilidade do REXT, exigindo que a matéria
rimento dirigido:

92
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
tenha relevante valor social, político, econômico ou jurídico, trans- Aqui, será possível a manifestação de sindicatos, associações e
cendendo o interesse individual das partes. Nota-se que a lei usa outras entidades, na condição de amicus curiae.
expressões um tanto quanto vagas, de modo a deixar ao julgador, Obs.: Se o STF disser que não há repercussão geral, não exami-
STF, a possibilidade de examinar cada caso concreto, dizendo se há nará o recurso paradigma e nem todos os que ficaram suspensos, os
repercussão geral. Aquele que interpõe REXT deve dizer, primeira- quais restarão prejudicados e não deverão ser admitidos.
mente, porque há repercussão geral. Dos 11 ministros, ao menos Dada a decisão recorrida em conformidade com o paradigma,
8 (2/3) devem dizer que não há repercussão geral. Logo, a falta de todos os REXT/RESP não serão admitidos (se a decisão do Tribunal
repercussão geral deve ser bem evidente. de origem coincidir com a decisão do STF/STJ). Se a decisão recor-
Art. 1.035.  O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecor- rida não estiver em conformidade com o paradigma, ou seja, se a
rível, não conhecerá do recurso extraordinário quando a questão decisão do STF/STJ for diferente do acórdão proferido no Tribunal
constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos de origem, a mesma câmara que o julgou terá a oportunidade de
deste artigo. rever a questão, de se retratar (se se retratarem e reformularem
§ 1o Para efeito de repercussão geral, será considerada a exis- o acórdão em consonância com o STF/STJ, ele não irá subir). Obs.:
tência ou não de questões relevantes do ponto de vista econômico, trata-se de um acórdão que aceita o juízo de retratação.
político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos O Tribunal não é obrigado a se retratar, isto é, não há eficácia
do processo. vinculante da decisão do STF/STJ. Se o tribunal mantiver sua de-
§ 2o O recorrente deverá demonstrar a existência de repercus- cisão, o RESP/REXT será encaminhado ao STJ/STF para exame de
são geral para apreciação exclusiva pelo Supremo Tribunal Federal. admissibilidade.
§ 3o Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar O recurso caracterizado nestes moldes possui prioridade de
acórdão que: julgamento, estando atrás apenas de habeas corpus com réu preso.
I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Art. 1.029, § 4o   Quando, por ocasião do processamento do
Tribunal Federal; incidente de resolução de demandas repetitivas, o presidente do
II - (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016) Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça receber
III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou requerimento de suspensão de processos em que se discuta questão
de lei federal, nos termos do art. 97 da Constituição Federal. federal constitucional ou infraconstitucional, poderá, considerando
§ 4o O relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, es-
tender a suspensão a todo o território nacional, até ulterior decisão
manifestação de terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos
do recurso extraordinário ou do recurso especial a ser interposto.
termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.
[...]
§ 5o Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tri-
bunal Federal determinará a suspensão do processamento de todos
SUBSEÇÃO II
os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre
DO JULGAMENTO DOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIO E ESPE-
a questão e tramitem no território nacional.
CIAL REPETITIVOS
§ 6o O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-pre-
sidente do tribunal de origem, que exclua da decisão de sobresta- Art. 1.036.  Sempre que houver multiplicidade de recursos ex-
mento e inadmita o recurso extraordinário que tenha sido interpos- traordinários ou especiais com fundamento em idêntica questão de
to intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco) dias direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as dispo-
para manifestar-se sobre esse requerimento. sições desta Subseção, observado o disposto no Regimento Interno
§ 7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de Justiça.
ou que aplicar entendimento firmado em regime de repercussão § 1o  O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça
geral ou em julgamento de recursos repetitivos caberá agravo inter- ou de tribunal regional federal selecionará 2 (dois) ou mais recur-
no. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) sos representativos da controvérsia, que serão encaminhados ao
§ 8o Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-pre- Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça para
sidente do tribunal de origem negará seguimento aos recursos fins de afetação, determinando a suspensão do trâmite de todos
extraordinários sobrestados na origem que versem sobre matéria os processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no
idêntica. Estado ou na região, conforme o caso.
§ 9o O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deve- § 2o  O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-
rá ser julgado no prazo de 1 (um) ano e terá preferência sobre os -presidente, que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o
demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos recurso especial ou o recurso extraordinário que tenha sido inter-
de habeas corpus. posto intempestivamente, tendo o recorrente o prazo de 5 (cinco)
§ 10. (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016) dias para manifestar-se sobre esse requerimento.
§ 11.  A súmula da decisão sobre a repercussão geral constará § 3º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 2º
de ata, que será publicada no diário oficial e valerá como acórdão. caberá apenas agravo interno. (Redação dada pela Lei nº 13.256,
de 2016)
3.6 Recursos repetitivos § 4o A escolha feita pelo presidente ou vice-presidente do tribu-
Outro mecanismo criado pelo Legislativo para permitir um jul- nal de justiça ou do tribunal regional federal não vinculará o relator
gamento mais ágil e diminuir o número de recursos, válido tanto no no tribunal superior, que poderá selecionar outros recursos repre-
STF quando no STJ. O STF e o STJ se viam obrigados a julgar diversos sentativos da controvérsia.
recursos sobre as mesmas questões jurídicas. Por isso, criou-se um § 5o O relator em tribunal superior também poderá selecionar
mecanismo de unificação do julgamento destes recursos repetiti- 2 (dois) ou mais recursos representativos da controvérsia para jul-
vos. gamento da questão de direito independentemente da iniciativa do
Se identificados recursos repetitivos, serão escolhidos os mais presidente ou do vice-presidente do tribunal de origem.
representativos (2 ou mais) que servirão de paradigma, de modelo. § 6o Somente podem ser selecionados recursos admissíveis que
Serão remetidos ao STF ou STJ e os demais ficarão suspensos no contenham abrangente argumentação e discussão a respeito da
Tribunal de origem. questão a ser decidida.

93
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 1.037.  Selecionados os recursos, o relator, no tribunal I - solicitar ou admitir manifestação de pessoas, órgãos ou en-
superior, constatando a presença do pressuposto do caput do art. tidades com interesse na controvérsia, considerando a relevância
1.036, proferirá decisão de afetação, na qual: da matéria e consoante dispuser o regimento interno;
I - identificará com precisão a questão a ser submetida a jul- II - fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de
gamento; pessoas com experiência e conhecimento na matéria, com a finali-
II - determinará a suspensão do processamento de todos os dade de instruir o procedimento;
processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a III - requisitar informações aos tribunais inferiores a respeito
questão e tramitem no território nacional; da controvérsia e, cumprida a diligência, intimará o Ministério Pú-
III - poderá requisitar aos presidentes ou aos vice-presidentes blico para manifestar-se.
dos tribunais de justiça ou dos tribunais regionais federais a remes- § 1o No caso do inciso III, os prazos respectivos são de 15 (quin-
sa de um recurso representativo da controvérsia. ze) dias, e os atos serão praticados, sempre que possível, por meio
§ 1o Se, após receber os recursos selecionados pelo presidente eletrônico.
ou pelo vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regio- § 2o Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida
nal federal, não se proceder à afetação, o relator, no tribunal su- cópia do relatório aos demais ministros, haverá inclusão em pauta,
perior, comunicará o fato ao presidente ou ao vice-presidente que devendo ocorrer o julgamento com preferência sobre os demais fei-
os houver enviado, para que seja revogada a decisão de suspensão tos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas
referida no art. 1.036, § 1o. corpus.
§ 2o (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016). § 3º O conteúdo do acórdão abrangerá a análise dos funda-
§ 3o Havendo mais de uma afetação, será prevento o relator mentos relevantes da tese jurídica discutida. (Redação dada pela
que primeiro tiver proferido a decisão a que se refere o inciso I Lei nº 13.256, de 2016)
do caput. Art. 1.039.  Decididos os recursos afetados, os órgãos colegia-
§ 4o Os recursos afetados deverão ser julgados no prazo de 1 dos declararão prejudicados os demais recursos versando sobre
(um) ano e terão preferência sobre os demais feitos, ressalvados os idêntica controvérsia ou os decidirão aplicando a tese firmada.
que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus. Parágrafo único.  Negada a existência de repercussão geral no
§ 5o (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016) recurso extraordinário afetado, serão considerados automatica-
§ 6o Ocorrendo a hipótese do § 5o, é permitido a outro relator mente inadmitidos os recursos extraordinários cujo processamento
do respectivo tribunal superior afetar 2 (dois) ou mais recursos re- tenha sido sobrestado.
presentativos da controvérsia na forma do art. 1.036. Art. 1.040.  Publicado o acórdão paradigma:
§ 7o  Quando os recursos requisitados na forma do inciso III I - o presidente ou o vice-presidente do tribunal de origem ne-
do caput contiverem outras questões além daquela que é objeto da gará seguimento aos recursos especiais ou extraordinários sobres-
afetação, caberá ao tribunal decidir esta em primeiro lugar e depois tados na origem, se o acórdão recorrido coincidir com a orientação
as demais, em acórdão específico para cada processo. do tribunal superior;
§ 8o  As partes deverão ser intimadas da decisão de suspen- II - o órgão que proferiu o acórdão recorrido, na origem, reexa-
são de seu processo, a ser proferida pelo respectivo juiz ou relator minará o processo de competência originária, a remessa necessária
quando informado da decisão a que se refere o inciso II do caput. ou o recurso anteriormente julgado, se o acórdão recorrido contra-
§ 9o Demonstrando distinção entre a questão a ser decidida no riar a orientação do tribunal superior;
processo e aquela a ser julgada no recurso especial ou extraordi- III - os processos suspensos em primeiro e segundo graus de
nário afetado, a parte poderá requerer o prosseguimento do seu jurisdição retomarão o curso para julgamento e aplicação da tese
processo. firmada pelo tribunal superior;
§ 10.  O requerimento a que se refere o § 9o será dirigido:
I - ao juiz, se o processo sobrestado estiver em primeiro grau; IV - se os recursos versarem sobre questão relativa a prestação
II - ao relator, se o processo sobrestado estiver no tribunal de de serviço público objeto de concessão, permissão ou autorização,
origem; o resultado do julgamento será comunicado ao órgão, ao ente ou à
III - ao relator do acórdão recorrido, se for sobrestado recurso agência reguladora competente para fiscalização da efetiva aplica-
especial ou recurso extraordinário no tribunal de origem; ção, por parte dos entes sujeitos a regulação, da tese adotada.
IV - ao relator, no tribunal superior, de recurso especial ou de § 1o A parte poderá desistir da ação em curso no primeiro grau
recurso extraordinário cujo processamento houver sido sobrestado. de jurisdição, antes de proferida a sentença, se a questão nela dis-
§ 11.  A outra parte deverá ser ouvida sobre o requerimento a cutida for idêntica à resolvida pelo recurso representativo da con-
que se refere o § 9o, no prazo de 5 (cinco) dias. trovérsia.
§ 12.  Reconhecida a distinção no caso: § 2o Se a desistência ocorrer antes de oferecida contestação,
I - dos incisos I, II e IV do § 10, o próprio juiz ou relator dará a parte ficará isenta do pagamento de custas e de honorários de
prosseguimento ao processo; sucumbência.
II - do inciso III do § 10, o relator comunicará a decisão ao pre- § 3o A desistência apresentada nos termos do § 1o independe
sidente ou ao vice-presidente que houver determinado o sobres- de consentimento do réu, ainda que apresentada contestação.
tamento, para que o recurso especial ou o recurso extraordinário Art. 1.041.  Mantido o acórdão divergente pelo tribunal de ori-
seja encaminhado ao respectivo tribunal superior, na forma do art. gem, o recurso especial ou extraordinário será remetido ao respec-
1.030, parágrafo único. tivo tribunal superior, na forma do art. 1.036, § 1o.
§ 13.  Da decisão que resolver o requerimento a que se refere § 1o Realizado o juízo de retratação, com alteração do acórdão
o § 9o caberá: divergente, o tribunal de origem, se for o caso, decidirá as demais
I - agravo de instrumento, se o processo estiver em primeiro questões ainda não decididas cujo enfrentamento se tornou neces-
grau; sário em decorrência da alteração.
II - agravo interno, se a decisão for de relator. § 2º Quando ocorrer a hipótese do inciso II do caput do art.
Art. 1.038.  O relator poderá: 1.040 e o recurso versar sobre outras questões, caberá ao presiden-
te ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, depois do reexame

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
pelo órgão de origem e independentemente de ratificação do recur- IV - (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016);
so, sendo positivo o juízo de admissibilidade, determinar a remessa § 1o Poderão ser confrontadas teses jurídicas contidas em jul-
do recurso ao tribunal superior para julgamento das demais ques- gamentos de recursos e de ações de competência originária.
tões. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) § 2o A divergência que autoriza a interposição de embargos de
divergência pode verificar-se na aplicação do direito material ou do
4. Agravo em recurso especial ou extraordinário direito processual.
§ 3o Cabem embargos de divergência quando o acórdão para-
SEÇÃO III digma for da mesma turma que proferiu a decisão embargada, des-
DO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL E EM RECURSO EXTRA- de que sua composição tenha sofrido alteração em mais da metade
ORDINÁRIO de seus membros.
§ 4o O recorrente provará a divergência com certidão, cópia ou
Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do citação de repositório oficial ou credenciado de jurisprudência, in-
vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraor- clusive em mídia eletrônica, onde foi publicado o acórdão divergen-
dinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de te, ou com a reprodução de julgado disponível na rede mundial de
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em jul- computadores, indicando a respectiva fonte, e mencionará as cir-
gamento de recursos repetitivos. cunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados.
§ 1o (Revogado) § 5o (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016).
§ 2o A petição de agravo será dirigida ao presidente ou ao vice- Art. 1.044.  No recurso de embargos de divergência, será ob-
-presidente do tribunal de origem e independe do pagamento de servado o procedimento estabelecido no regimento interno do res-
custas e despesas postais, aplicando-se a ela o regime de repercus- pectivo tribunal superior.
são geral e de recursos repetitivos, inclusive quanto à possibilidade § 1o A interposição de embargos de divergência no Superior
de sobrestamento e do juízo de retratação. Tribunal de Justiça interrompe o prazo para interposição de recurso
§ 3o O agravado será intimado, de imediato, para oferecer res- extraordinário por qualquer das partes.
posta no prazo de 15 (quinze) dias. § 2o Se os embargos de divergência forem desprovidos ou não
§ 4o Após o prazo de resposta, não havendo retratação, o agra- alterarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso extraordi-
vo será remetido ao tribunal superior competente. nário interposto pela outra parte antes da publicação do julgamen-
§ 5o O agravo poderá ser julgado, conforme o caso, conjun- to dos embargos de divergência será processado e julgado indepen-
tamente com o recurso especial ou extraordinário, assegurada, dentemente de ratificação.
neste caso, sustentação oral, observando-se, ainda, o disposto no
regimento interno do tribunal respectivo. 6. Reclamação
§ 6o Na hipótese de interposição conjunta de recursos extraor- Art. 988, caput. Caberá reclamação da parte interessada ou do
dinário e especial, o agravante deverá interpor um agravo para Ministério Público para:
cada recurso não admitido. I - preservar a competência do tribunal;
§ 7o  Havendo apenas um agravo, o recurso será remetido ao II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;
tribunal competente, e, havendo interposição conjunta, os autos III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante
serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça. e de decisão do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado
§ 8o Concluído o julgamento do agravo pelo Superior Tribunal de constitucionalidade; (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016)
de Justiça e, se for o caso, do recurso especial, independentemente IV – garantir a observância de acórdão proferido em julga-
de pedido, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal mento de incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
para apreciação do agravo a ele dirigido, salvo se estiver prejudica- incidente de assunção de competência; (Redação dada pela Lei nº
do. 13.256, de 2016)
O artigo teve redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016. Regulamenta-se no CPC, ainda, a reclamação, agora não mais
restrita ao STF e à súmula vinculante (artigo 103-B, CF), servindo
5. Embargos de divergência para todo Tribunal, salvaguardando a competência destes e pre-
Somente cabíveis no STF e no STJ, visa uniformizar a juris- servando a autoridade de suas decisões. Especificamente, serve
prudência nestes Tribunais Superiores. Havendo embargos de di- para garantir que se observe teor de súmula vinculante, decisão do
vergência no STF, o pleno vai se reunir e decidir a decisão de qual STF em controle concentrado de constitucionalidade e julgamento
das 2 turmas prevalecerá. O mesmo ocorre no STJ, composto por 6 de incidente de resolução de demandas repetitivas e assunção de
turmas – o pleno se reúne e diz qual expressa o entendimento do competência.
Tribunal. É comum que das decisões dos embargos de divergência Art. 988. [...]
se originem súmulas. O prazo é de 15 dias. § 1º A reclamação pode ser proposta perante qualquer tribu-
nal, e seu julgamento compete ao órgão jurisdicional cuja compe-
SEÇÃO IV tência se busca preservar ou cuja autoridade se pretenda garantir.
DOS EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA § 2º A reclamação deverá ser instruída com prova documental
e dirigida ao presidente do tribunal.
Art. 1.043.  É embargável o acórdão de órgão fracionário que: § 3º Assim que recebida, a reclamação será autuada e distri-
I - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir buída ao relator do processo principal, sempre que possível.
do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo § 4º As hipóteses dos incisos III e IV compreendem a aplicação
os acórdãos, embargado e paradigma, de mérito; indevida da tese jurídica e sua não aplicação aos casos que a ela
II - (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016); correspondam.
III - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir § 5º É inadmissível a reclamação:
do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo I – proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada;
um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recur- (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016)
so, embora tenha apreciado a controvérsia;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
II – proposta para garantir a observância de acórdão de re- § 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a
curso extraordinário com repercussão geral reconhecida ou de súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclama-
acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou ção ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anu-
especial repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordiná- lará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada,
rias. (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016) e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da
§ 6º A inadmissibilidade ou o julgamento do recurso interposto súmula, conforme o caso. 
contra a decisão proferida pelo órgão reclamado não prejudica a
reclamação.
Quando se afirma que a competência é de qualquer tribunal,
deve se observar que o legislador quis dizer que a reclamação pode CONTROLE JUDICIAL DOS ATOS ADMINISTRATIVOS
ser apresentada em qualquer tribunal, mas que deve ser propos-
ta perante aquele que realmente teve afetada sua competência ou ORIGEM HISTÓRICA DO CONTROLE EXERCIDO PELO PODER
autoridade, ou que proferiu o julgamento que se pretende garantir JUDICIÁRIO
a aplicação (no caso, ou a tese jurídica foi aplicada indevidamente O Controle judicial sobre os atos administrativos tem origem,
ou não foi aplicada quando deveria). Não se admite se a decisão assim como o Direito Administrativo, com a formação do Estado de
reclamada já tiver transitado em julgado ou se de sua uniformiza- Direito, sendo este estruturado sobre a égide do princípio da legal-
ção do entendimento pela via do recurso repetitivo ainda houver idade e da separação dos poderes, princípios estes que têm como
julgamento pendente. A reclamação impede o trânsito em julgado objetivo primordial assegurar e promover os direitos individuais e
da decisão, mesmo que dela não se tenha interposto outro recurso coletivos.
ou se este não foi admitido. A partir das revoluções liberais do século XVIII que tinham
Art. 989. Ao despachar a reclamação, o relator: como objetivo por fim ao regime absolutista derivado da Idade
I - requisitará informações da autoridade a quem for imputada Média, é formado o chamado Estado de Direito. Enquanto durante
a prática do ato impugnado, que as prestará no prazo de 10 (dez) o absolutismo, o poder era todo instituído ao Monarca sendo que
dias; a lei era derivada da sua própria vontade e este ainda possuía um
II - se necessário, ordenará a suspensão do processo ou do ato poder ilimitado para governar; o Estado de Direito assentou suas
impugnado para evitar dano irreparável; bases nos princípios da legalidade e da separação de poderes, este
III - determinará a citação do beneficiário da decisão impug- último derivado da teoria defendida por Montesquieu.
nada, que terá prazo de 15 (quinze) dias para apresentar a sua con- Ainda no absolutismo, a Administração Pública era de re-
testação. sponsabilidade do Soberano, que possuía poderes ilimitados para
Entre as providências que o relator deve tomar, como requisi- administrar os órgãos estatais, o povo e todos os outros bens pú-
ção de informações, destaca-se que a suspensão de processo ou ato blicos. Por conseguinte, os atos do Soberano se sobrepunham in-
não é obrigatória, apenas ocorrendo quando for necessária, e que clusive ao controle de qualquer ordenamento jurídico, posto que,
aquele que foi beneficiado pela decisão impugnada deve ser citado conforme exposto acima, a sua vontade é que era lei.
para que se preserve o contraditório. De acordo com a Teoria da Separação dos Poderes, defendida
Art. 990. Qualquer interessado poderá impugnar o pedido do por Montesquieu, podemos observar a sistematização de três po-
reclamante. deres essenciais para a formação do Estado, quais sejam: o Poder
Art. 991. Na reclamação que não houver formulado, o Ministé- Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário. Assim, o poder,
rio Público terá vista do processo por 5 (cinco) dias, após o decurso que é uno, estaria sujeito a uma divisão de competências para or-
do prazo para informações e para o oferecimento da contestação ganizar as funções estatais; cada órgão teria funções atribuídas que
pelo beneficiário do ato impugnado. limitariam a centralização de poderes. Ocorre que justamente pelo
Art. 992. Julgando procedente a reclamação, o tribunal cas- fato de que o poder é uno e deriva da instituição de um Estado,
sará a decisão exorbitante de seu julgado ou determinará medida é que podemos dizer que não há uma separação absoluta de po-
adequada à solução da controvérsia. deres, visto que a própria Constituição Federal Brasileira, logo em
Art. 993. O presidente do tribunal determinará o imediato seu artigo 2º, expõe que “São poderes da União, independentes e
cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão posteriormente. harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Ao
expor isso o Legislador coloca que cada poder é independente, no
7. Súmula vinculante entanto todos derivam de um poder maior, derivado da instituição
Art. 103-A. CF. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício de um Estado de Direito e que, por isso, eventualmente alguns
ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus mem- desses poderes podem sofrer algumas interferências como forma
bros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, apro- de assegurar a harmonia entre eles. É o que chamamos de adoção
var súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá do sistema de freios e contrapesos.
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário Dessa forma, constatada a possibilidade de haver controle so-
e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, es- bre o exercício de alguma das funções desempenhadas por esses
tadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancela- três poderes, é preciso ressaltar que este se faz, essencialmente,
mento, na forma estabelecida em lei. pela busca de um maior equilíbrio e harmonia no desempenho das
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a funções estatais, evitando ainda que a sobreposição de um poder
eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvér- ao outro, conforme expõe Silva abaixo:
sia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração A harmonia entre os poderes verifica-se primeiramente pelas
pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multi- normas de cortesia no trato recíproco e no respeito às prerrogativas
plicação de processos sobre questão idêntica.  e faculdades a que mutuamente todos têm direito. De outro lado,
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a apro- cabe assinalar que nem a divisão de funções entre os órgãos do
vação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada poder nem sua independência são absolutas. Há interferências, que
por aqueles que podem propor a ação direta de inconstituciona- visam ao estabelecimento de um sistema de freios e contrapesos, à
lidade. busca do equilíbrio necessário à realização do bem da coletividade

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
e indispensável para evitar o arbítrio e o desmando de um em det- risdicional. Ato algum escapa ao controle do Judiciário, pois nenhu-
rimento do outro e especialmente dos governados”. (SILVA, 2005, ma ameaça ou lesão de direito pode ser subtraída à sua apreciação
p. 110) (art. 5º, XXXV, da Constituição). Assim, todo e qualquer comporta-
Dessa forma, podemos dizer então que o controle exercido mento da Administração Pública que se faça gravoso a direito pode
pelo Poder Judiciário sobre os atos administrativos tem origem com ser fulminado pelo Poder Judiciário, sem prejuízo das reparações
a instituição do Estado de Direito, estruturado principalmente sobre patrimoniais cabíveis. (MELO, 2009, p. 86)
o princípio da separação de poderes e sobre o princípio da legali- Deste modo, cabe ao Poder Judiciário, portanto, o controle so-
dade, o qual é traduzido na Constituição Federal Brasileira em seu bre os atos administrativos, principalmente em razão da adoção do
artigo 5º, inciso II, que estabelece que “ninguém será obrigado a sistema de jurisdição única no Brasil, traduzido no artigo 5º, inciso
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. XXXV, o qual estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.
SISTEMAS ADMINISTRATIVOS
Por sistema administrativo entendemos o regime adotado em CONTROLE JUDICIAL SOBRE OS ATOS ADMINISTRATIVOS
cada Estado para regular as atividades administrativas ilegais prat- Conforme exposto anteriormente, o controle judicial sobre os
icadas pelo Poder Público em qualquer repartição governamental. atos administrativos tem exigência em razão da ideia de Estado de
São basicamente dois os modelos de sistemas administrativos: o Direito e do sistema de jurisdição única adotado em nosso país.
contencioso administrativo e o sistema de jurisdição única. Nesse sentido, a Administração Pública deve exercer seus atos
O sistema do contencioso administrativo foi desenvolvido na em conformidade com a Constituição Federal, espelhando-se nela
França e se espalhou para outros países da Europa, tendo decorrido e em busca do cumprimento das finalidades expressas nesta, em
das revoluções liberais que ocorreram no século XVIII. Conforme razão do princípio da legalidade. Com efeito, cabe ressaltar aqui
exposto acima durante a análise da teoria desenvolvida por Mon- que o legislador pátrio achou por bem incluí-lo expressamente no
tesquieu, a Revolução Francesa buscava por fim ao antigo regime dispositivo do inciso II do artigo 5º da Constituição Federal Bra-
absolutista e, por conseguinte, a separação dos poderes. Diante sileira. Desta forma, nota-se, inclusive, uma distinção entre os atos
deste cenário, e ainda o instituído pelas teorias liberais, o controle praticados por particulares, para os quais o que a lei não proíbe é
da Administração Pública foi separada do controle da Justiça Co- permitido, dos atos praticados pela Administração, para os quais só
mum, o que se observa pela instituição da Lei nº 16 de 24/08/1790 poderá fazer aquilo que a lei expressamente permitir, em decorrên-
na França, a qual estabelecia que: cia do princípio da legalidade.
As funções judiciárias são distintas e permanecerão separadas Em decorrência da veiculação legal aos atos administrativos,
das funções administrativas. Não poderão os juízes, sob pena de podemos classificar estes em dois tipos: os atos administrativos vin-
prevaricação, perturbar, de qualquer maneira, as atividades dos culados e os atos administrativos discricionários.
corpos administrativos. (Revista de Informação Legislativa, v.16, nº Os atos administrativos vinculados são aqueles atos aos quais
62, p. 271-280, abr./jun. de 1979) a lei estabelece os requisitos e condições para a sua realização. Ao
Assim, devido à rígida separação de poderes que ocorreu na administrador não é dada nenhuma margem de liberdade para a
França, e consoante a instituição da lei acima, o controle dos atos prática do ato uma vez que as ações são baseadas em pressupostos
administrativos estaria exclusivamente reservado à apreciação da estabelecidos pela lei, que vinculam a legalidade, eficácia e validade
jurisdição do contencioso administrativo que possui como órgão do ato. Caso não sejam atendidos tais requisitos, o ato fica submeti-
máximo de fiscalização o Conselho de Estado Francês. Dessa forma, do ao controle pela própria Administração, ou pelo Poder Judiciário.
à Justiça Comum desse país cabe somente o controle dos atos prati- De outro lado, os atos discricionários são aqueles aos quais é
cados por particulares, mas não dos praticados pela Administração. dada uma certa liberdade ao administrador quanto a sua prática,
Já o sistema de jurisdição única foi desenvolvido na Inglaterra conveniência, oportunidade e até mesmo o modo de sua realização.
e posteriormente foi adotado nos Estados Unidos, Brasil, e outros A discricionariedade para a prática do ato se faz em razão de que a
países que não compartilharam do modelo desenvolvido na França, lei não pode prever uma solução para todos os casos e problemas
tendo como fundamento que todos os litígios, seja os administra- que surgem, daí porque é dada a liberdade para a Administração,
tivos ou os particulares, sejam julgados por um único órgão, ou seja, em faltando a regulamentação legal, praticar seus atos conforme a
pelo Poder Judiciário. A formação desse sistema também decorreu sua conveniência, sempre em prol do interesse público. Da mesma
em virtude das reivindicações do povo contra os privilégios da Co- forma segue o entendimento de Carvalho Filho:
roa Inglesa, posto que antes todo o poder, seja de administração A lei não é capaz de traçar rigidamente todas as condutas de
ou de julgamento, era concentrado nas mãos do Soberano. Logo um agente administrativo. Ainda que procure definir alguns ele-
depois as funções de administração passaram a ser exercidas pelo mentos que lhe restringem a atuação, o certo é que em várias sit-
parlamento, no entanto as funções de julgamento ainda se encon- uações a própria lei lhes oferece a possibilidade de valoração da
travam atribuídas ao Monarca com a instituição do Tribunal do Rei. conduta. Nesses casos, pode o agente avaliar a conveniência e a
Somente posteriormente, com a instituição do Decreto de Estabe- oportunidade dos atos que vai praticar na qualidade de administra-
lecimento de 1971 é que temos a separação do Poder Judiciário do dor dos interesses coletivos. (CARVALHO FILHO, 2009, p. 47)
Poder Real, quando as questões comuns e administrativas passar- Vale lembrar que o ato discricionário não deve ser confundido
am a ser julgadas por este. com os atos arbitrários, posto que enquanto aqueles são pratica-
O Brasil adotou o sistema de jurisdição única, derivado do dos com liberdade devendo observar sua conveniência conforme os
modelo adaptado pelos Estados Unidos, posto que cabe ao Poder preceitos legais, os atos arbitrários são sempre ilegítimos e, portan-
judiciário, em caráter definitivo, o julgamento dos atos praticados to, devem ser invalidados, seja pela Administração ou pelo próprio
tanto pelos particulares quanto pela Administração Pública, e in- Poder Público.
clusive nas questões que envolvam ambas as partes. Nessa mesma Ainda no que concerne ao poder discricionário da Adminis-
linha, Bandeira de Melo expõe que: tração Pública, vale observar que no que tange o mérito dos atos
Entre nós, que adotamos, neste particular – e felizmente -, o administrativos, estes se consubstanciam com a valoração dos mo-
sistema anglo-americano, há unidade de jurisdição, isto é, cabe ex- tivos e na escolha do objeto do ato pela própria Administração Pú-
clusivamente ao Poder Judiciário o exercício pleno da atividade ju- blica, que se incumbe sobre a conveniência e sobre a oportunidade

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
da sua prática. Dessa forma, não há que se falar em mérito nos atos Os atos administrativos sujeitos ao controle especial são os
administrativos vinculados, posto que estes se traduzem na atuação atos políticos, os atos legislativos e os “interna corporis”.
da Administração sobre os ditames legais, mas verifica-se o méri- Por ato político entende-se aquele ato que é praticado por
to em relação aos atos praticados em decorrência do poder discri- agentes do Governo, no uso de prerrogativas inerentes ao exercício
cionário do administrador. de seus cargos. Apesar de estes agentes possuírem maior discri-
Em relação ao controle judicial, temos que todos os atos ad- cionariedade quando da execução destes atos, por se tratar de atos
ministrativos estão sujeitos ao controle do Poder Judiciário, sejam de condução de negócios públicos, estes também se encontram
eles praticados pelo poder Executivo, Legislativo ao até mesmo pelo sujeitos à apreciação do Poder Judiciário quando dizem respeito
próprio Judiciário, quando realizam atividade administrativa. Resta aos atos cometidos em desconformidade com o interesse coletivo e
saber, no entanto, de que forma se dá esse controle pelo Poder Ju- contra o patrimônio público. É o que ocorre, por exemplo, quando
diciário. Sobre essa questão, Hely Lopes assevera que: alguma autoridade pública falta com o dever de probidade, ou seja,
É controle a posteriori, unicamente de legalidade, por restrito à quando a conduta do administrador não se coaduna com a conduta
verificação da conformidade do ato com a norma legal que o rege. esperada para tal autoridade.
Mas é sobretudo um meio de preservação de direitos individuais, Por sua vez, os atos legislativos são essencialmente as leis,
porque visa a impor a observância da lei em cada caso concreto, enquanto normas gerais e abstratas, que também se sujeitam ao
quando reclamada por seus beneficiários. (MEIRELLES, 2010, p. controle do Poder Judiciário, no entanto não pela via comum, mas
744) sim pela via especial com o uso da ação direta de inconstitucional-
Dessa forma, podemos dizer que todos os atos administra- idade ou com a ação declaratória de constitucionalidade. Ou seja,
tivos são sujeitos à apreciação judicial em razão da observância do somente pela via especial, com a provocação do Supremo Tribunal
princípio da legalidade. Por certo, os atos vinculados se sujeitam Federal, é que se poderá declarar qualquer inconstitucionalidade
ao controle do Poder Judiciário por serem praticados conforme os sobre leis ou sobre qualquer outro ato normativo. As exceções que
requisitos previstos na própria lei, bastando a confrontação do ato se fazem a controle pela via especial decorrem das leis e decretos
com a própria lei para aferir se este é válido ou não. com efeitos concretos, ou seja, possuem objeto determinado, que
No que tange aos atos administrativos discricionários é preciso podem ser impugnados pela própria Justiça Comum.
constar que estes se sujeitam ao controle do Poder Judiciário em Por fim, os “interna corporis” dizem respeito aos atos pratica-
razão dos elementos vinculados ao cumprimento dos requisitos da dos pelas Câmaras aos quais é negada a apreciação pelo controle
lei, ou seja, sua forma, a competência da autoridade que o praticou, da via comum. São os atos que dizem respeito as questões ligadas
sua finalidade e etc. Não poderá, no entanto, ser apreciado pelo a gestão e funcionamento do Plenário das Câmaras, elaboração de
Poder Judiciário o mérito do ato administrativo, ou seja, a valoração regimentos e etc. Sendo assim, se encontram sobre o controle ju-
de seus motivos, conveniência, eficiência e oportunidade em que dicial as decisões administrativas e as deliberações normativas que
este foi praticado. Esse tipo de controle compete normalmente à venham a lesar direitos individuais e coletivos ou que não se coadu-
Administração, mas não ao Poder Judiciário. Tal ressalva diz respei- nem com a Constituição.
to ao fato de que o Juiz não pode substituir o administrador nas
tarefas deste, e ainda sobre a conveniência e oportunidade dos atos MEIOS DE CONTROLE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS PELO PO-
administrativos praticados em prol do interesse público. DER JUDICIÁRIO
Constituem-se como meios de controle dos atos administra-
ATOS SUJEITOS AO CONTROLE DO PODER JUDICIÁRIO tivos as vias processuais da Justiça Comum, com os procedimen-
Doutrinariamente, os atos judiciais estão sujeitos ao controle tos ordinário, sumário e especial, os quais podem ser buscados por
comum e ao controle especial. qualquer pessoa que se sinta lesada pela prática dos atos pela Ad-
Os atos sujeitos ao controle comum são os atos administrativos ministração Pública, ou ainda que vise à proteção dos interesses co-
em geral, consoante a instituição do sistema de jurisdição única ad- letivos ou difusos, tal como é o caso da ação popular ou da ação civil
otado no Brasil, traduzido no inciso XXXV do artigo 5º da Consti- pública, e ainda pelo uso da ação direta de inconstitucionalidade ou
tuição Federal. O objeto de controle do Poder Judiciário deve ser da ação declaratória de constitucionalidade.
sobre a legalidade do ato, sendo que lhe é vedado qualquer pro- Em caso de abuso ou ato de ilegalidade que atinja direito indi-
nunciamento acerca da conveniência, oportunidade, motivos ou vidual praticada pela Administração Pública, quem se sentir lesado
eficiência deste, posto que dizem respeito ao mérito do ato admin- poderá impetrar mandado de segurança, conforme o que estabe-
istrativo, que é de controle da própria Administração. lece o inciso LXIX do artigo 5º da Constituição Federal Brasileira que
Nesse sentido, a verificação da legalidade do ato é condição dispõe o seguinte: “conceder-se-á mandado de segurança para pro-
primordial para aferir a sua eficácia ou validade e a adequação à teger direito líquido e certo, não amparado por “habeas-corpus”
norma legal, bem como se o ato foi praticado em conformidade com ou “habeas-data”, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso
a moral da instituição, para a finalidade ao qual se destinava, se foi de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
divulgado em tempo pelo órgão oficial e se foi praticado tendo em exercício de atribuições do Poder Público”. De outro lado, pode ser
vista a eficiência do funcionalismo público. Em tal verificação pode- impetrado mandado de segurança coletivo para defesa de interess-
mos aferir a conformação do ato administrativo como os princípios es referentes aos integrantes de partidos políticos, conforme o que
constitucionais da Administração Pública, quais sejam: o princípio dispõe o inciso LXX do artigo 5º da Constituição Federal.
da legalidade, da moralidade, da finalidade, da publicidade e da Pode ser impetrado também mandado de injunção quando al-
eficiência. Caso o ato foi praticado desviando-se desses princípios, guém se sentir prejudicado pela falta de alguma norma regulamen-
este estará sujeito à invalidação pela própria Administração Pública tadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades con-
ou pelo Poder Judiciário. stitucionais (artigo 5º, inciso LXXI) e habeas data para que qualquer
É de se observar ainda que não somente os atos praticados pessoa tenha acesso aos registros públicos que lhe concernem per-
pela Administração serão objeto de controle, mas também as suas ante as repartições públicas (artigo 5º, inciso LXXII).
omissões quando decorrentes de comandos normativos e precei- Poderá ser proposta ação direta de inconstitucionalidade para
tos constitucionais que deveriam ser cumpridos pela Administração aferir se determinada lei se encontra em consonância com os pre-
Pública. ceitos normativos constitucionais (artigo 102, inciso I, alínea “a”),

98
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
ou a ação declaratória de constitucionalidade para que se afaste ização sindical, entidade de classe ou associação legalmente con-
qualquer dúvida sobre a constitucionalidade ou não de determina- stituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos
da lei (artigo 102, inciso I, alínea “a”), dentre outras ações ordinári- interesses de seus membros ou associados”.
as que podem ser ajuizadas pelo particular em face da Adminis- a) Origem: Constituição Federal de 1988.
tração Pública, tais como ações possessórias, ações monitórias, de b) Escopo: preservação ou reparação de direito líquido e certo
cobrança e etc. relacionado a interesses transindividuais (individuais homogêneos
Isto posto, estes são alguns meios que podem ser utilizados, ou coletivos), e devido à questão da legitimidade ativa, pertencente
tanto pelos particulares como por outras entidades, para o controle a partidos políticos e determinadas associações.
sobre os atos administrativos, chegando até mesmo a invalidação c) Natureza jurídica: ação constitucional de natureza civil, inde-
destes. pendente da natureza do ato, de caráter coletivo.
d) Objeto: o objeto do mandado de segurança coletivo são os
direitos coletivos e os direitos individuais homogêneos. Tal instituto
MANDADO DE SEGURANÇA não se presta à proteção dos direitos difusos, conforme posiciona-
mento amplamente majoritário, já que, dada sua difícil individual-
1) Mandado de segurança individual ização, fica improvável a verificação da ilegalidade ou do abuso do
Dispõe a Constituição no artigo 5º, LXIX: “LXIX - conceder-se-á poder sobre tal direito (art. 21, parágrafo único, Lei nº 12.016/09).
mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não e) Legitimidade ativa: como se extrai da própria disciplina con-
amparado por habeas-corpus ou habeas-data, quando o responsáv- stitucional, aliada ao artigo 21 da Lei nº 12.016/09, é de partido
el pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou político com representação no Congresso Nacional, bem como de
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Pú- organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
blico”. constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em
a) Origem: Veio com a finalidade de preencher a lacuna decor- defesa de direitos líquidos e certos que atinjam diretamente seus
rente da sistemática do habeas corpus e das liminares possessórias. interesses ou de seus membros.
b) Escopo: Trata-se de remédio constitucional com natureza f) Disciplina específica na Lei nº 12.016/09: “Art. 22. No man-
subsidiária pelo qual se busca a invalidação de atos de autoridade dado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limit-
ou a suspensão dos efeitos da omissão administrativa, geradores adamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo
impetrante. § 1º O mandado de segurança coletivo não induz li-
de lesão a direito líquido e certo, por ilegalidade ou abuso de pod-
tispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa jul-
er. São protegidos todos os direitos líquidos e certos à exceção da
gada não beneficiarão o impetrante a título individual se não req-
proteção de direitos humanos à liberdade de locomoção e ao aces-
uerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30
so ou retificação de informações relativas à pessoa do impetrante, (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da se-
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governa- gurança coletiva. § 2º No mandado de segurança coletivo, a liminar
mentais ou de caráter público, ambos sujeitos a instrumentos es- só poderá ser concedida após a audiência do representante judicial
pecíficos. da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no
c) Natureza jurídica: ação constitucional de natureza civil, in- prazo de 72 (setenta e duas) horas”.
dependente da natureza do ato impugnado (administrativo, jurisdi-
cional, eleitoral, criminal, trabalhista).
d) Espécies: preventivo, quando se estiver na iminência de vio- LEI Nº 12.016, DE 7 DE AGOSTO DE 2009
lação a direito líquido e certo, ou reparatório, quando já consumado
o abuso/ilegalidade. Disciplina o mandado de segurança individual e coletivo e dá
e) Direito líquido e certo: é aquele que pode ser demonstra- outras providências.
do de plano mediante prova pré-constituída, sem a necessidade
de dilação probatória, isto devido à natureza célere e sumária do O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
procedimento. cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
f) Legitimidade ativa: a mais ampla possível, abrangendo não Art. 1o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger di-
só a pessoa física como a jurídica, nacional ou estrangeira, residente reito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
ou não no Brasil, bem como órgãos públicos despersonalizados e data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer
universalidades/pessoas formais reconhecidas por lei. pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de
g) Legitimidade passiva: A autoridade coatora deve ser au- sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam
toridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de quais forem as funções que exerça.
atribuições do Poder Público. Neste viés, o art. 6º, §3º, Lei nº § 1o Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os
12.016/09, preceitua que “considera-se autoridade coatora aquela representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores
que tenha praticado o ato impugnado ou da qual emane a ordem de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas ju-
para a sua prática”. rídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder
público, somente no que disser respeito a essas atribuições.
h) Competência: Fixada de acordo com a autoridade coatora.
§ 2o Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão
i) Regulamentação específica: Lei nº 12.016, de 07 de agosto
comercial praticados pelos administradores de empresas públicas,
de 2009.
de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço
j) Procedimento: artigos 6º a 19 da Lei nº 12.016/09.
público.
§ 3o Quando o direito ameaçado ou violado couber a várias
2) Mandado de segurança coletivo pessoas, qualquer delas poderá requerer o mandado de segurança.
A Constituição Federal prevê a possibilidade de ingresso com Art. 2o Considerar-se-á federal a autoridade coatora se as con-
mandado de segurança coletivo, consoante ao artigo 5º, LXX: “LXX sequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o
- o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) par- mandado houverem de ser suportadas pela União ou entidade por
tido político com representação no Congresso Nacional; b) organ- ela controlada.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Art. 3o O titular de direito líquido e certo decorrente de direito, § 2o Não será concedida medida liminar que tenha por objeto
em condições idênticas, de terceiro poderá impetrar mandado de a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias
segurança a favor do direito originário, se o seu titular não o fizer, e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação
no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente. de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de
Parágrafo único. O exercício do direito previsto no caput deste vantagens ou pagamento de qualquer natureza.
artigo submete-se ao prazo fixado no art. 23 desta Lei, contado da § 3o Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada,
notificação. persistirão até a prolação da sentença.
Art. 4o Em caso de urgência, é permitido, observados os requi- § 4o Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para
sitos legais, impetrar mandado de segurança por telegrama, radio- julgamento.
grama, fax ou outro meio eletrônico de autenticidade comprovada. § 5o As vedações relacionadas com a concessão de liminares
§ 1o Poderá o juiz, em caso de urgência, notificar a autoridade previstas neste artigo se estendem à tutela antecipada a que se
por telegrama, radiograma ou outro meio que assegure a autentici- referem os arts. 273 e 461 da Lei no 5.869, de 11 janeiro de 1973 -
dade do documento e a imediata ciência pela autoridade. Código de Processo Civil.
§ 2o O texto original da petição deverá ser apresentado nos 5 Art. 8o Será decretada a perempção ou caducidade da medida
(cinco) dias úteis seguintes. liminar ex officio ou a requerimento do Ministério Público quando,
§ 3o Para os fins deste artigo, em se tratando de documento concedida a medida, o impetrante criar obstáculo ao normal anda-
eletrônico, serão observadas as regras da Infra-Estrutura de Chaves mento do processo ou deixar de promover, por mais de 3 (três) dias
Públicas Brasileira - ICP-Brasil. úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem.
Art. 5o Não se concederá mandado de segurança quando se Art. 9o As autoridades administrativas, no prazo de 48 (quaren-
tratar: ta e oito) horas da notificação da medida liminar, remeterão ao
I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito sus- Ministério ou órgão a que se acham subordinadas e ao Advoga-
pensivo, independentemente de caução; do-Geral da União ou a quem tiver a representação judicial da Un-
II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspen- ião, do Estado, do Município ou da entidade apontada como coatora
sivo; cópia autenticada do mandado notificatório, assim como indicações
III - de decisão judicial transitada em julgado. e elementos outros necessários às providências a serem tomadas
Parágrafo único. (VETADO) para a eventual suspensão da medida e defesa do ato apontado
Art. 6o A petição inicial, que deverá preencher os requisitos es- como ilegal ou abusivo de poder.
tabelecidos pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias Art. 10. A inicial será desde logo indeferida, por decisão moti-
com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na se- vada, quando não for o caso de mandado de segurança ou lhe faltar
gunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para
esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições. a impetração.
§ 1o No caso em que o documento necessário à prova do alega- § 1o Do indeferimento da inicial pelo juiz de primeiro grau ca-
do se ache em repartição ou estabelecimento público ou em poder berá apelação e, quando a competência para o julgamento do man-
de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de tercei- dado de segurança couber originariamente a um dos tribunais, do
ro, o juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse ato do relator caberá agravo para o órgão competente do tribunal
documento em original ou em cópia autêntica e marcará, para o que integre.
cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrai- § 2o O ingresso de litisconsorte ativo não será admitido após o
rá cópias do documento para juntá-las à segunda via da petição. despacho da petição inicial.
§ 2o Se a autoridade que tiver procedido dessa maneira for a Art. 11. Feitas as notificações, o serventuário em cujo cartório
própria coatora, a ordem far-se-á no próprio instrumento da noti- corra o feito juntará aos autos cópia autêntica dos ofícios endereça-
ficação. dos ao coator e ao órgão de representação judicial da pessoa ju-
§ 3o Considera-se autoridade coatora aquela que tenha pratica- rídica interessada, bem como a prova da entrega a estes ou da sua
do o ato impugnado ou da qual emane a ordem para a sua prática. recusa em aceitá-los ou dar recibo e, no caso do art. 4o desta Lei, a
§ 4o (VETADO) comprovação da remessa.
§ 5o Denega-se o mandado de segurança nos casos previstos Art. 12. Findo o prazo a que se refere o inciso I do caput do art.
pelo art. 267 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de 7o desta Lei, o juiz ouvirá o representante do Ministério Público, que
Processo Civil. opinará, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias.
§ 6o O pedido de mandado de segurança poderá ser renovado Parágrafo único. Com ou sem o parecer do Ministério Público,
dentro do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe hou- os autos serão conclusos ao juiz, para a decisão, a qual deverá ser
ver apreciado o mérito. necessariamente proferida em 30 (trinta) dias.
Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: Art. 13. Concedido o mandado, o juiz transmitirá em ofício,
I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, en- por intermédio do oficial do juízo, ou pelo correio, mediante corre-
viando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documen- spondência com aviso de recebimento, o inteiro teor da sentença à
tos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações; autoridade coatora e à pessoa jurídica interessada.
II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o juiz observar o
da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem disposto no art. 4o desta Lei.
documentos, para que, querendo, ingresse no feito; Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado,
III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando cabe apelação.
houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a § 1o Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigato-
ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo faculta-
riamente ao duplo grau de jurisdição.
do exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo
§ 2o Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer.
de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica.
§ 3o A sentença que conceder o mandado de segurança pode
§ 1o Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou den-
ser executada provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada
egar a liminar caberá agravo de instrumento, observado o disposto
a concessão da medida liminar.
na Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

100
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 4o O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias as- há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos
segurados em sentença concessiva de mandado de segurança a ser- da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na for-
vidor público da administração direta ou autárquica federal, estad- ma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades,
ual e municipal somente será efetuado relativamente às prestações dispensada, para tanto, autorização especial.
que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial. Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segu-
Art. 15. Quando, a requerimento de pessoa jurídica de direi- rança coletivo podem ser:
to público interessada ou do Ministério Público e para evitar grave I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transin-
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, o pres- dividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou cate-
idente do tribunal ao qual couber o conhecimento do respectivo re- goria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
curso suspender, em decisão fundamentada, a execução da liminar relação jurídica básica;
e da sentença, dessa decisão caberá agravo, sem efeito suspensivo, II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito des-
no prazo de 5 (cinco) dias, que será levado a julgamento na sessão ta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação
seguinte à sua interposição. específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do
§ 1o Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo impetrante.
a que se refere o caput deste artigo, caberá novo pedido de sus- Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará
pensão ao presidente do tribunal competente para conhecer de coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria
eventual recurso especial ou extraordinário. substituídos pelo impetrante.
§ 2o É cabível também o pedido de suspensão a que se refere § 1o O mandado de segurança coletivo não induz litispendência
o § 1o deste artigo, quando negado provimento a agravo de instru- para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não bene-
mento interposto contra a liminar a que se refere este artigo. ficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistên-
§ 3o A interposição de agravo de instrumento contra liminar cia de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a
concedida nas ações movidas contra o poder público e seus agen- contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.
tes não prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de sus- § 2o No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá
pensão a que se refere este artigo. ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa
§ 4o O presidente do tribunal poderá conferir ao pedido efeito jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72
suspensivo liminar se constatar, em juízo prévio, a plausibilidade do (setenta e duas) horas.
direito invocado e a urgência na concessão da medida. Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extin-
§ 5o As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser sus- guir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência,
pensas em uma única decisão, podendo o presidente do tribunal pelo interessado, do ato impugnado.
estender os efeitos da suspensão a liminares supervenientes, medi- Art. 24. Aplicam-se ao mandado de segurança os arts. 46 a 49
ante simples aditamento do pedido original. da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.
Art. 16. Nos casos de competência originária dos tribunais, ca- Art. 25. Não cabem, no processo de mandado de segurança,
berá ao relator a instrução do processo, sendo assegurada a def- a interposição de embargos infringentes e a condenação ao pag-
esa oral na sessão do julgamento do mérito ou do pedido liminar. amento dos honorários advocatícios, sem prejuízo da aplicação de
(Redação dada pela Lei nº 13.676, de 2018) sanções no caso de litigância de má-fé.
Parágrafo único. Da decisão do relator que conceder ou dene- Art. 26. Constitui crime de desobediência, nos termos do art.
gar a medida liminar caberá agravo ao órgão competente do tribu- 330 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940, o não cum-
nal que integre. primento das decisões proferidas em mandado de segurança, sem
Art. 17. Nas decisões proferidas em mandado de segurança prejuízo das sanções administrativas e da aplicação da Lei no 1.079,
e nos respectivos recursos, quando não publicado, no prazo de 30 de 10 de abril de 1950, quando cabíveis.
(trinta) dias, contado da data do julgamento, o acórdão será sub- Art. 27. Os regimentos dos tribunais e, no que couber, as leis de
stituído pelas respectivas notas taquigráficas, independentemente organização judiciária deverão ser adaptados às disposições desta
de revisão. Lei no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, contado da sua publi-
Art. 18. Das decisões em mandado de segurança proferidas cação.
em única instância pelos tribunais cabe recurso especial e extraor- Art. 28. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
dinário, nos casos legalmente previstos, e recurso ordinário, quando Art. 29. Revogam-se as Leis nºs 1.533, de 31 de dezembro de
a ordem for denegada. 1951, 4.166, de 4 de dezembro de 1962, 4.348, de 26 de junho de
Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de 1964, 5.021, de 9 de junho de 1966; o art. 3º da Lei nº 6.014, de
segurança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, 27 de dezembro de 1973, o art. 1º da Lei nº 6.071, de 3 de julho de
por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos 1974, o art. 12 da Lei nº 6.978, de 19 de janeiro de 1982, e o art. 2º
patrimoniais. da Lei nº 9.259, de 9 de janeiro de 1996.
Art. 20. Os processos de mandado de segurança e os respec-
tivos recursos terão prioridade sobre todos os atos judiciais, salvo Brasília, 7 de agosto de 2009; 188o da Independência e 121o da
habeas corpus. República.
§ 1o Na instância superior, deverão ser levados a julgamento
na primeira sessão que se seguir à data em que forem conclusos
ao relator.
§ 2o O prazo para a conclusão dos autos não poderá exceder de
5 (cinco) dias.
Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetra-
do por partido político com representação no Congresso Nacional,
na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes
ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de
classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento

101
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
extravagantes abrangendo a informatização foram promulgadas,
LEI NO . 11.419/2006 (PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNI- destacando-se a Lei n. 11.280/06 e, de maior importância, a Lei n.
CO) 11.419/06.
A legislação que regulamenta em detalhes a informatização
1 – Apontamentos doutrinários do processo judicial é a Lei n. 11.419/06. As origens do referido
Por sua vez, a informatização judiciária constitui um modo de diploma legal: a Lei do Fax (Lei n. 9.800/99), o artigo 8º da Lei n.
incorporação da evolução tecnológica ao dia-a-dia de todos. Toda 10.259/01 e a Instrução Normativa TST n. 28, sendo que a última
a sociedade precisa que a prestação de tutela jurisdicional ocorra, instituiu o Sistema Integrado de Protocolização e Fluxo de Docu-
de maneira direta ou indireta, pois este é o único modo de garantir mentos Eletrônicos da Justiça do Trabalho.
a segurança e a preservação dos direitos de cada cidadão. Quanto Nos dizeres de Batista , esta lei “é recente e vai contribuir mui-
mais efetiva for tal prestação, mais ampla a realização da justiça, o to para a celeridade processual, pois, ao se protocolizar um pro-
fim social máximo em prol do bem comum. cesso, perde-se muito tempo no cartório, os cartorários têm que
Neste sentido, a informatização do Poder Judiciário desponta numerá-lo, encapá-lo, carimbá-lo etc., ou seja, é um outro óbice ao
como uma das diretrizes do acesso à justiça, considerando que aliar acesso à Justiça”. De maneira geral, afirma-se que a Lei n. 11.419/06
a tecnologia à aplicação do Direito possibilita um processo mais é o principal diploma regulamentador do processo judicial informa-
rápido, eficaz e, consequentemente, justo. tizado, trazendo as diretrizes para a atuação dos profissionais que
A falta de estrutura tecnológica do Poder Judiciário desponta utilizem o sistema e disciplinando a estrutura que deverá ser imple-
como um dos entraves para a efetiva realização do acesso à justiça, mentada pelo Poder Judiciário em obediência à lei.
eis que não existirá um verdadeiro acesso sem a implementação de Entre outros aspectos, destaca-se a facultatividade para se ade-
recursos técnicos que alterem a morosidade existente na aplicação rir ao processo eletrônico, decorrente da redação do artigo 1°: “o
da lei. uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comu-
O fato é que a sociedade e suas instituições precisam aproveit- nicação de atos e transmissão de peças processuais será admitido
ar as vantagens da evolução tecnológica e compreender que com o nos termos desta Lei”. A Lei n. 11.419/06 acerta ao não impor a
surgimento de recursos como a Internet ocorreu uma modificação utilização dos meios eletrônicos, pois isso seria muito precipitado,
radical no modo de desenvolvimento de diversas atividades. Por apesar de não existirem dúvidas de que, num futuro próximo, o pro-
isso, defende Marcacini : “Não se vê solução possível se a Justiça cesso seja totalmente eletrônico.
não se modernizar, não se aparelhar, não se tornar mais eficiente. Coloca-se os principais aspectos da Lei: protocolo eletrônico
Alterações na lei processual, ou discussões doutrinárias neste cam- no momento de envio da mensagem, prorrogação dos prazos nos
po do Direito soam inócuas [...]. E, diga-se, nestes esforços por mais casos de falhas do sistema, criação do Diário de Justiça Eletrônico,
agilidade e eficiência, pouco adianta a informatização em si [...] Uma desnecessidade de apresentação dos originais da maior parte dos
informatização incorretamente implementada não só pode signific- documentos digitalizados.
ar desperdício de dinheiro do contribuinte, como ainda pode, por Destacam-se, ainda: o prazo estendido até 24 horas do últi-
incrível que possa parecer, piorar a eficiência da máquina judicial”. mo dia (artigo 3°, parágrafo único), citações e intimações por meio
De fato, é preciso que o processo de informatização judiciária eletrônico (artigos 5° e 6°), os autos digitais transmitidos pela Inter-
se desenvolva de forma consciente, possibilitando a maximização net (artigo 8°), a dispensa da intervenção do cartório na juntada de
da efetividade processual e do acesso à justiça. Não basta investir petições (artigo 10), o envio eletrônico de documentos (artigo 13) e
em tecnologia, é preciso propiciar recursos para a adequação dos as diversas alterações no Código de Processo Civil, modernizando-o
profissionais e para a interação entre os sistemas de todos os tribu- (artigo 20).
nais brasileiros. Com isso, diversos benefícios serão alcançados. Subchefia para Assuntos Jurídicos
Aliás, sobre os benefícios do processo eletrônico, entende Men-
donça : “[...] a operacionalização do processo aproxima ainda mais
o cidadão da Justiça, já que os envolvidos poderão acompanhar o
andamento de seus processos, tendo acesso ao teor destes, de suas LEI Nº 11.419, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006.
próprias casas o que garantirá uma maior transparência da ativi-
dade jurisdicional. O processo eletrônico desponta no afã da har- Dispõe sobre a informatização do processo judicial; altera a
monização da atividade jurisdicional com os reclames da sociedade Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil; e
contemporânea, que preza pela segurança, pela celeridade e pela dá outras providências.
transparência”.
A origem jurídica do processo de informatização judiciária se O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na-
encontra na Constituição Federal, que ao tratar do acesso à justiça cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
estabeleceu a necessidade de um processo judicial célere.
Referida previsão surgiu com o advento da Emenda Con- CAPÍTULO I
stitucional n. 45/04, que deu ao artigo 5°, LXXVIII o seguinte teor: DA INFORMATIZAÇÃO DO PROCESSO JUDICIAL
“a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a ra-
zoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade Art. 1º O uso de meio eletrônico na tramitação de processos
de sua tramitação”. judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças processuais
Numa iniciativa de colocar as diretrizes constitucionais em será admitido nos termos desta Lei.
prática, os três Poderes se reuniram e firmaram, logo após a Emen- § 1º Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos proces-
da transcrita, o Pacto do Estado por uma Justiça mais Rápida e Re- sos civil, penal e trabalhista, bem como aos juizados especiais, em
publicana, o qual trata expressamente da informatização judiciária qualquer grau de jurisdição.
no item 8, prevendo: a apresentação de metas expansivas pelo § 2º Para o disposto nesta Lei, considera-se:
Poder Judiciário, o estabelecimento de convênios com o Poder Ex- I - meio eletrônico qualquer forma de armazenamento ou
ecutivo e a inclusão na agenda parlamentar de projetos de lei so- tráfego de documentos e arquivos digitais;
bre a questão. Deste que o pacto foi firmado, diversas legislações

102
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
II - transmissão eletrônica toda forma de comunicação a distân- § 4º Em caráter informativo, poderá ser efetivada remessa de
cia com a utilização de redes de comunicação, preferencialmente a correspondência eletrônica, comunicando o envio da intimação e a
rede mundial de computadores; abertura automática do prazo processual nos termos do § 3º deste
III - assinatura eletrônica as seguintes formas de identificação artigo, aos que manifestarem interesse por esse serviço.
inequívoca do signatário: § 5º Nos casos urgentes em que a intimação feita na forma
a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por deste artigo possa causar prejuízo a quaisquer das partes ou nos ca-
Autoridade Certificadora credenciada, na forma de lei específica; sos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema,
b) mediante cadastro de usuário no Poder Judiciário, conforme o ato processual deverá ser realizado por outro meio que atinja a
disciplinado pelos órgãos respectivos. sua finalidade, conforme determinado pelo juiz.
Art. 2º O envio de petições, de recursos e a prática de atos pro- § 6º As intimações feitas na forma deste artigo, inclusive da
cessuais em geral por meio eletrônico serão admitidos mediante Fazenda Pública, serão consideradas pessoais para todos os efeitos
uso de assinatura eletrônica, na forma do art. 1º desta Lei, sendo legais.
obrigatório o credenciamento prévio no Poder Judiciário, conforme Art. 6º Observadas as formas e as cautelas do art. 5º desta Lei,
disciplinado pelos órgãos respectivos. as citações, inclusive da Fazenda Pública, excetuadas as dos Direi-
§ 1º O credenciamento no Poder Judiciário será realizado me- tos Processuais Criminal e Infracional, poderão ser feitas por meio
diante procedimento no qual esteja assegurada a adequada identi- eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja acessível ao citando.
ficação presencial do interessado. Art. 7º As cartas precatórias, rogatórias, de ordem e, de um
§ 2º Ao credenciado será atribuído registro e meio de acesso ao modo geral, todas as comunicações oficiais que transitem entre
sistema, de modo a preservar o sigilo, a identificação e a autentici- órgãos do Poder Judiciário, bem como entre os deste e os dos de-
dade de suas comunicações. mais Poderes, serão feitas preferentemente por meio eletrônico.
§ 3º Os órgãos do Poder Judiciário poderão criar um cadastro
único para o credenciamento previsto neste artigo. CAPÍTULO III
Art. 3º Consideram-se realizados os atos processuais por meio DO PROCESSO ELETRÔNICO
eletrônico no dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciário,
do que deverá ser fornecido protocolo eletrônico. Art. 8º Os órgãos do Poder Judiciário poderão desenvolver sis-
Parágrafo único. Quando a petição eletrônica for enviada para temas eletrônicos de processamento de ações judiciais por meio de
atender prazo processual, serão consideradas tempestivas as trans- autos total ou parcialmente digitais, utilizando, preferencialmente,
mitidas até as 24 (vinte e quatro) horas do seu último dia. a rede mundial de computadores e acesso por meio de redes inter-
nas e externas.
CAPÍTULO II Parágrafo único. Todos os atos processuais do processo
DA COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA DOS ATOS PROCESSUAIS eletrônico serão assinados eletronicamente na forma estabelecida
nesta Lei.
Art. 4º Os tribunais poderão criar Diário da Justiça eletrônico, Art. 9º No processo eletrônico, todas as citações, intimações
disponibilizado em sítio da rede mundial de computadores, para e notificações, inclusive da Fazenda Pública, serão feitas por meio
publicação de atos judiciais e administrativos próprios e dos órgãos eletrônico, na forma desta Lei.
a eles subordinados, bem como comunicações em geral. § 1º As citações, intimações, notificações e remessas que via-
§ 1º O sítio e o conteúdo das publicações de que trata este bilizem o acesso à íntegra do processo correspondente serão con-
artigo deverão ser assinados digitalmente com base em certificado sideradas vista pessoal do interessado para todos os efeitos legais.
emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei § 2º Quando, por motivo técnico, for inviável o uso do meio
específica. eletrônico para a realização de citação, intimação ou notificação,
§ 2º A publicação eletrônica na forma deste artigo substitui esses atos processuais poderão ser praticados segundo as regras
qualquer outro meio e publicação oficial, para quaisquer efeitos ordinárias, digitalizando-se o documento físico, que deverá ser pos-
legais, à exceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista teriormente destruído.
pessoal. Art. 10. A distribuição da petição inicial e a juntada da con-
§ 3º Considera-se como data da publicação o primeiro dia útil testação, dos recursos e das petições em geral, todos em formato
seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça digital, nos autos de processo eletrônico, podem ser feitas direta-
eletrônico. mente pelos advogados públicos e privados, sem necessidade da
§ 4º Os prazos processuais terão início no primeiro dia útil que intervenção do cartório ou secretaria judicial, situação em que a
seguir ao considerado como data da publicação. autuação deverá se dar de forma automática, fornecendo-se recibo
§ 5º A criação do Diário da Justiça eletrônico deverá ser acom- eletrônico de protocolo.
panhada de ampla divulgação, e o ato administrativo correspond- § 1º Quando o ato processual tiver que ser praticado em deter-
ente será publicado durante 30 (trinta) dias no diário oficial em uso. minado prazo, por meio de petição eletrônica, serão considerados
Art. 5º As intimações serão feitas por meio eletrônico em por- tempestivos os efetivados até as 24 (vinte e quatro) horas do último
tal próprio aos que se cadastrarem na forma do art. 2º desta Lei, dia.
dispensando-se a publicação no órgão oficial, inclusive eletrônico. § 2º No caso do § 1º deste artigo, se o Sistema do Poder Ju-
§ 1º Considerar-se-á realizada a intimação no dia em que o in- diciário se tornar indisponível por motivo técnico, o prazo fica au-
timando efetivar a consulta eletrônica ao teor da intimação, certifi- tomaticamente prorrogado para o primeiro dia útil seguinte à res-
cando-se nos autos a sua realização. olução do problema.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, nos casos em que a con- § 3º Os órgãos do Poder Judiciário deverão manter equipamen-
sulta se dê em dia não útil, a intimação será considerada como real- tos de digitalização e de acesso à rede mundial de computadores à
izada no primeiro dia útil seguinte. disposição dos interessados para distribuição de peças processuais.
§ 3º A consulta referida nos §§ 1º e 2º deste artigo deverá ser Art. 11. Os documentos produzidos eletronicamente e junta-
feita em até 10 (dez) dias corridos contados da data do envio da dos aos processos eletrônicos com garantia da origem e de seu sig-
intimação, sob pena de considerar-se a intimação automaticamente natário, na forma estabelecida nesta Lei, serão considerados origi-
realizada na data do término desse prazo. nais para todos os efeitos legais.

103
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
§ 1º Os extratos digitais e os documentos digitalizados e jun- § 1º Consideram-se cadastros públicos, para os efeitos deste
tados aos autos pelos órgãos da Justiça e seus auxiliares, pelo artigo, dentre outros existentes ou que venham a ser criados, ainda
Ministério Público e seus auxiliares, pelas procuradorias, pelas que mantidos por concessionárias de serviço público ou empresas
autoridades policiais, pelas repartições públicas em geral e por privadas, os que contenham informações indispensáveis ao ex-
advogados públicos e privados têm a mesma força probante dos ercício da função judicante.
originais, ressalvada a alegação motivada e fundamentada de adul- § 2º O acesso de que trata este artigo dar-se-á por qualquer
teração antes ou durante o processo de digitalização. meio tecnológico disponível, preferentemente o de menor custo,
§ 2º A arguição de falsidade do documento original será pro- considerada sua eficiência.
cessada eletronicamente na forma da lei processual em vigor. § 3º (VETADO)
§ 3º Os originais dos documentos digitalizados, mencionados
no § 2º deste artigo, deverão ser preservados pelo seu detentor até CAPÍTULO IV
o trânsito em julgado da sentença ou, quando admitida, até o final DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS
do prazo para interposição de ação rescisória.
§ 4º (VETADO) Art. 14. Os sistemas a serem desenvolvidos pelos órgãos do
§ 5º Os documentos cuja digitalização seja tecnicamente in- Poder Judiciário deverão usar, preferencialmente, programas com
viável devido ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade de- código aberto, acessíveis ininterruptamente por meio da rede mun-
verão ser apresentados ao cartório ou secretaria no prazo de 10 dial de computadores, priorizando-se a sua padronização.
(dez) dias contados do envio de petição eletrônica comunicando o Parágrafo único. Os sistemas devem buscar identificar os casos
fato, os quais serão devolvidos à parte após o trânsito em julgado. de ocorrência de prevenção, litispendência e coisa julgada.
§ 6º Os documentos digitalizados juntados em processo Art. 15. Salvo impossibilidade que comprometa o acesso à
eletrônico estarão disponíveis para acesso por meio da rede exter- justiça, a parte deverá informar, ao distribuir a petição inicial de
na pelas respectivas partes processuais, pelos advogados, indepen- qualquer ação judicial, o número no cadastro de pessoas físicas ou
dentemente de procuração nos autos, pelos membros do Ministério jurídicas, conforme o caso, perante a Secretaria da Receita Federal.
Público e pelos magistrados, sem prejuízo da possibilidade de visu- Parágrafo único. Da mesma forma, as peças de acusação crimi-
alização nas secretarias dos órgãos julgadores, à exceção daqueles nais deverão ser instruídas pelos membros do Ministério Público ou
que tramitarem em segredo de justiça. (Incluído pela Lei nº 13.793, pelas autoridades policiais com os números de registros dos acusa-
de 2019) dos no Instituto Nacional de Identificação do Ministério da Justiça,
§ 7º Os sistemas de informações pertinentes a processos se houver.
eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e Art. 16. Os livros cartorários e demais repositórios dos órgãos
membros do Ministério Público cadastrados, mas não vinculados do Poder Judiciário poderão ser gerados e armazenados em meio
a processo previamente identificado, acessem automaticamente totalmente eletrônico.
todos os atos e documentos processuais armazenados em meio Art. 17. (VETADO)
eletrônico, desde que demonstrado interesse para fins apenas de Art. 18. Os órgãos do Poder Judiciário regulamentarão esta Lei,
registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça. (Incluí- no que couber, no âmbito de suas respectivas competências.
do pela Lei nº 13.793, de 2019) Art. 19. Ficam convalidados os atos processuais praticados por
Art. 12. A conservação dos autos do processo poderá ser efetu- meio eletrônico até a data de publicação desta Lei, desde que ten-
ada total ou parcialmente por meio eletrônico. ham atingido sua finalidade e não tenha havido prejuízo para as
§ 1º Os autos dos processos eletrônicos deverão ser protegi- partes.
dos por meio de sistemas de segurança de acesso e armazenados Art. 20. A Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de
em meio que garanta a preservação e integridade dos dados, sendo Processo Civil, passa a vigorar com as seguintes alterações:
dispensada a formação de autos suplementares. “Art. 38. ...........................................................................
§ 2º Os autos de processos eletrônicos que tiverem de ser Parágrafo único. A procuração pode ser assinada digitalmente
remetidos a outro juízo ou instância superior que não disponham com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora cre-
de sistema compatível deverão ser impressos em papel, autuados denciada, na forma da lei específica.” (NR)
na forma dos arts. 166 a 168 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de “Art. 154. ........................................................................
1973 - Código de Processo Civil, ainda que de natureza criminal ou Parágrafo único. (Vetado). (VETADO)
trabalhista, ou pertinentes a juizado especial.
§ 2º Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos,
§ 3º No caso do § 2º deste artigo, o escrivão ou o chefe de
transmitidos, armazenados e assinados por meio eletrônico, na for-
secretaria certificará os autores ou a origem dos documentos pro-
ma da lei.” (NR)
duzidos nos autos, acrescentando, ressalvada a hipótese de existir
“Art. 164. .......................................................................
segredo de justiça, a forma pela qual o banco de dados poderá ser
Parágrafo único. A assinatura dos juízes, em todos os graus de
acessado para aferir a autenticidade das peças e das respectivas as-
jurisdição, pode ser feita eletronicamente, na forma da lei.” (NR)
sinaturas digitais.
“Art. 169. .......................................................................
§ 4º Feita a autuação na forma estabelecida no § 2º deste ar-
tigo, o processo seguirá a tramitação legalmente estabelecida para § 1º É vedado usar abreviaturas.
os processos físicos. § 2º Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrôni-
§ 5º A digitalização de autos em mídia não digital, em co, os atos processuais praticados na presença do juiz poderão ser
tramitação ou já arquivados, será precedida de publicação de ed- produzidos e armazenados de modo integralmente digital em arquivo
itais de intimações ou da intimação pessoal das partes e de seus eletrônico inviolável, na forma da lei, mediante registro em termo que
procuradores, para que, no prazo preclusivo de 30 (trinta) dias, se será assinado digitalmente pelo juiz e pelo escrivão ou chefe de secre-
manifestem sobre o desejo de manterem pessoalmente a guarda taria, bem como pelos advogados das partes.
de algum dos documentos originais. § 3º No caso do § 2º deste artigo, eventuais contradições na
Art. 13. O magistrado poderá determinar que sejam realizados transcrição deverão ser suscitadas oralmente no momento da re-
por meio eletrônico a exibição e o envio de dados e de documentos alização do ato, sob pena de preclusão, devendo o juiz decidir de
necessários à instrução do processo. plano, registrando-se a alegação e a decisão no termo.” (NR)

104
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
“Art. 202. .....................................................................
..................................................................................... EXERCÍCIOS
§ 3º A carta de ordem, carta precatória ou carta rogatória pode
ser expedida por meio eletrônico, situação em que a assinatura do 1. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Judiciária)
juiz deverá ser eletrônica, na forma da lei.” (NR) Em um tribunal, o relator de determinado recurso concedeu o prazo
“Art. 221. .................................................................... de cinco dias ao recorrente para que fosse sanado vício e comple-
.................................................................................... mentada a documentação exigida pela legislação para interposição
IV - por meio eletrônico, conforme regulado em lei própria.” de recurso.
(NR) Nessa situação, o magistrado tomou tal providência com base
“Art. 237. .................................................................... no princípio denominado
Parágrafo único. As intimações podem ser feitas de forma (A) dialeticidade.
eletrônica, conforme regulado em lei própria.” (NR) (B) fungibilidade.
“Art. 365. ................................................................... (C) primazia do julgamento do mérito.
................................................................................... (D) dispositivo.
V - os extratos digitais de bancos de dados, públicos e privados, (E) identidade física do juiz.
desde que atestado pelo seu emitente, sob as penas da lei, que as
informações conferem com o que consta na origem; 2. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Judiciária)
VI - as reproduções digitalizadas de qualquer documento, públi- Julgue os itens a seguir, com base no Código de Processo Civil.
co ou particular, quando juntados aos autos pelos órgãos da Justiça I - É cabível a fixação de honorários de sucumbência na recon-
e seus auxiliares, pelo Ministério Público e seus auxiliares, pelas venção, no cumprimento de sentença, na execução e em grau re-
procuradorias, pelas repartições públicas em geral e por advogados cursal.
públicos ou privados, ressalvada a alegação motivada e fundamen- II - A legislação processual proíbe que a tutela da evidência seja
tada de adulteração antes ou durante o processo de digitalização. concedida antes da manifestação do réu.
§ 1º Os originais dos documentos digitalizados, mencionados III - Somente para rescindir decisão de mérito pode-se utilizar
no inciso VI do caput deste artigo, deverão ser preservados pelo seu ação rescisória.
detentor até o final do prazo para interposição de ação rescisória. IV - A concessão do benefício da prioridade de tramitação de
§ 2º Tratando-se de cópia digital de título executivo extrajudi- processo a parte idosa que figure como beneficiado deve ser esten-
cial ou outro documento relevante à instrução do processo, o juiz dido em favor de seu cônjuge supérstite no caso de óbito da parte.
poderá determinar o seu depósito em cartório ou secretaria.” (NR)
“Art. 399. ................................................................ Estão certos apenas os itens
§ 1º Recebidos os autos, o juiz mandará extrair, no prazo máx- (A) I e II.
imo e improrrogável de 30 (trinta) dias, certidões ou reproduções (B) I e III.
fotográficas das peças indicadas pelas partes ou de ofício; findo o (C) I e IV.
prazo, devolverá os autos à repartição de origem. (D) II e III.
§ 2º As repartições públicas poderão fornecer todos os docu- (E) III e IV.
mentos em meio eletrônico conforme disposto em lei, certificando,
pelo mesmo meio, que se trata de extrato fiel do que consta em seu 3. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Judiciária)
banco de dados ou do documento digitalizado.” (NR) Tendo examinado uma petição inicial com dois pedidos, em deman-
“Art. 417. ............................................................... da que tramitava pelo procedimento comum, o juiz indeferiu par-
§ 1º O depoimento será passado para a versão datilográfica cialmente a petição quanto a um dos pedidos apresentados pelo
quando houver recurso da sentença ou noutros casos, quando o autor e determinou a citação do réu para que o processo prosse-
juiz o determinar, de ofício ou a requerimento da parte. guisse apenas em relação ao outro pedido.
§ 2º Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o dis- Nesse momento processual, o pronunciamento do juiz será
posto nos §§ 2º e 3º do art. 169 desta Lei.” (NR) (A) recorrível por apelação.
“Art. 457. ............................................................. (B) irrecorrível.
............................................................................. (C) recorrível por agravo retido.
§ 4º Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o dis- (D) recorrível por agravo de instrumento.
posto nos §§ 2º e 3º do art. 169 desta Lei.” (NR) (E) recorrível por agravo interno.
“Art. 556. ............................................................
Parágrafo único. Os votos, acórdãos e demais atos processuais 4. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Judiciária)
podem ser registrados em arquivo eletrônico inviolável e assinados De acordo com o Código de Processo Civil, o amicus curiae
eletronicamente, na forma da lei, devendo ser impressos para jun- (A) deve ser pessoa jurídica, órgão ou entidade especializada,
tada aos autos do processo quando este não for eletrônico.” (NR) sendo vedado à pessoa natural atuar nessa condição.
Art. 21. (VETADO) (B) depende de autorização da parte interessada para partici-
Art. 22. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua par da relação processual.
publicação. (C) pode opor embargos de declaração e ainda recorrer da
decisão que julgar o incidente de resolução de demandas re-
petitivas.
(D) pode ingressar somente em demandas que tramitem nos
tribunais.
(E) tem o direito, assegurado na lei, de realizar sustentação
oral em julgamento de qualquer causa da qual participe.

105
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
5. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Judiciária) Assinale a opção correta.
De acordo com a jurisprudência dos tribunais superiores, julgue os (A) Apenas o item I está certo
itens que se seguem. (B) Apenas o item II está certo.
I - A fixação de astreintes pelo juiz faz coisa julgada material, (C) Apenas os itens I e III estão certos.
caso não seja objeto de recurso pela parte interessada, não poden- (D) Apenas os itens II e III estão certos.
do ser alterada posteriormente. (E) Todos os itens estão certos.
II - Tendo sido a intimação feita por oficial de justiça, a con-
tagem do prazo recursal inicia-se da data em que a parte tomou 9. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Adminis-
conhecimento da intimação, porque a contagem a partir da data da trativa) De acordo com o CPC, é atribuição expressa do chefe de
juntada do mandado somente se aplica para hipóteses de citação. secretaria redigir, na forma legal,
III - O prazo decadencial para a impetração de mandado de se- (A) ordens judiciais.
gurança em razão de redução ilegal do valor de vantagem integran- (B) intimações.
te de remuneração de servidor público se renova a cada mês. (C) citações.
IV - São protelatórios os embargos de declaração cuja finalida- (D) mandados.
de seja rediscutir matéria julgada em conformidade com preceden- (E) decisões interlocutórias.
te firmado pelo rito dos recursos repetitivos.
10. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Adminis-
Estão certos apenas os itens trativa) Acerca do procedimento ordinário, assinale a opção correta.
(A) I e II. (A) A audiência de instrução poderá ser fracionada injustifica-
(B) I e IV. damente pelo juiz.
(C) II e III. (B) Se não houver conexão, não é lícita a cumulação de vários
(D) III e IV. pedidos em um único processo, ainda que contra o mesmo réu.
(E) II, III e IV. (C) Não se presumem verdadeiros os fatos não impugnados
que estiverem em contradição com a defesa, considerada em
6. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Judiciária) seu conjunto.
É sabido que o advogado é indispensável à administração da justiça (D) Como regra, a confissão é irrevogável e divisível, podendo
a parte que a quiser invocar aceitá-la tão somente quanto ao
e que a capacidade postulatória é pressuposto processual de valida-
tópico que a beneficiar.
de dos atos decorrente da representação por advogado. Contudo,
(E) Os fatos, ainda que notórios, dependem de prova.
conforme o Código de Processo Civil (CPC), mesmo sem procuração
o advogado pode
11. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Administrati-
(A) postular em juízo para praticar ato considerado urgente.
va) João ajuizou ação contra Maria e Joana, as quais, citadas, se fizeram
(B) obter cópias de todo e qualquer processo independente-
representar por diferentes procuradores, de escritórios de advocacia
mente da fase de tramitação.
distintos. As procurações foram juntadas aos autos eletrônicos.
(C) requerer vista dos autos de qualquer processo. Nessa situação hipotética, o prazo para Maria e Joana apresen-
(D) examinar autos de todo e qualquer processo em cartório tarem suas contestações no processo é de
de fórum e secretaria de tribunal. (A) 5 dias.
(E) retirar os autos em conjunto com o procurador da outra par- (B) 15 dias.
te do processo. (C) 10 dias.
(D) 8 dias.
7. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Administra- (E) 30 dias.
tiva) De acordo com o CPC, no que se refere aos atos processuais,
cabe ao servidor 12. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do
(A) documentar sentenças pronunciadas oralmente, dispensa- Município) No que concerne aos meios de impugnação das deci-
da a revisão pelo juiz. sões judiciais, julgue o item a seguir, de acordo com o CPC e com a
(B) praticar os atos ordinatórios de juntada e vista obrigatória, jurisprudência dos tribunais superiores.
com revisão do juiz, se necessário. Situação hipotética: Ao interpor recurso de agravo contra de-
(C) tomar decisões interlocutórias, com a revisão do juiz, se cisão monocrática no tribunal, o recorrente deixou de impugnar
necessário. especificamente os fundamentos da decisão recorrida. Assertiva:
(D) documentar acórdão pronunciado oralmente, dispensada Nesse caso, em observância ao princípio da primazia do julgamento
a revisão pelo juiz prolator. do mérito, o relator deverá intimar o agravante para complementar
(E) redigir despachos, com a revisão do juiz, se necessário. seu recurso no prazo de cinco dias.
( ) CERTO
8. (CESPE/2017 - TRE-BA - Analista Judiciário – Área Adminis- ( ) ERRADO
trativa) Acerca do sistema recursal previsto no CPC, julgue os itens
a seguir. 13. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do
I - O recorrente só poderá desistir do recurso com a anuência Município) No que concerne aos meios de impugnação das deci-
do recorrido e dos litisconsortes. sões judiciais, julgue o item a seguir, de acordo com o CPC e com a
II - Os embargos de declaração interrompem o prazo para a in- jurisprudência dos tribunais superiores.
terposição de recurso. Ainda que, em exame de embargos declaratórios, seja mantido
III - Não comprovado o recolhimento do preparo no ato da o resultado do julgamento anterior, o recorrente deverá ratificar re-
interposição do recurso, a parte será intimada, na pessoa do seu curso especial que tenha sido interposto antes do julgamento dos
advogado, para realizar o pagamento em dobro, sob pena de de- embargos.
serção. ( ) CERTO
( ) ERRADO

106
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
14. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do 20. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do
Município) No que concerne aos meios de impugnação das deci- Município) Julgue o item que se segue, referentes ao procedimento
sões judiciais, julgue o item a seguir, de acordo com o CPC e com a comum no processo civil.
jurisprudência dos tribunais superiores. No polo ativo ou passivo da reconvenção poderão ser incluídos
A certidão de concessão de vistas dos autos ao ente público terceiros legitimados em litisconsórcio ativo ou passivo.
é elemento suficiente para a demonstração da tempestividade do ( ) CERTO
agravo de instrumento e se equipara à certidão de intimação da ( ) ERRADO
decisão agravada para essa finalidade.
( ) CERTO 21. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do
( ) ERRADO Município) No que tange à fazenda pública em juízo, julgue o item
subsecutivo.
15. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do Se, antes do trânsito em julgado, ocorrer a estabilização da tu-
Município) Julgue o item seguinte, com base no que dispõe o CPC tela antecipada requerida contra a fazenda pública, decorrente da
sobre atos processuais, deveres das partes e dos procuradores e não interposição de recurso pelo ente público, será possível a ime-
tutela provisória. diata expedição de precatório.
Com a consagração do modelo sincrético de processo, as tu- ( ) CERTO
telas provisórias de urgência e da evidência somente podem ser ( ) ERRADO
requeridas no curso do procedimento em que se pleiteia a provi-
dência principal. 22. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do
( ) CERTO Município) Julgue o próximo item, a respeito de litisconsórcio, inter-
( ) ERRADO venção de terceiros e procedimentos especiais previstos no CPC e
na legislação extravagante.
16. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do Caso seja convocado de forma superveniente a participar de
Município) Julgue o item seguinte, com base no que dispõe o CPC processo judicial, o litisconsorte unitário ativo poderá optar por
sobre atos processuais, deveres das partes e dos procuradores e manter-se inerte ou por ingressar na relação processual como litis-
tutela provisória. consorte do autor ou assistente do réu.
É dever do magistrado manifestar-se de ofício quanto ao ina- ( ) CERTO
dimplemento de qualquer negócio jurídico processual válido cele- ( ) ERRADO
brado pelas partes, já que, conforme expressa determinação legal,
as convenções processuais devem ser objeto de controle pelo juiz. 23. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do Mu-
( ) CERTO nicípio) Com base na legislação processual e no Código Civil, julgue o
( ) ERRADO seguinte item, acerca de ações possessórias e servidão urbanística.
No âmbito das ações possessórias, se houver pedido de reinte-
17. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do gração de posse e a propriedade do imóvel for controvertida, o juiz
Município) Julgue o item seguinte, com base no que dispõe o CPC deverá, em primeiro lugar, decidir quanto ao domínio do bem e,
sobre atos processuais, deveres das partes e dos procuradores e depois, conceder ou não a ordem de reintegração.
tutela provisória. ( ) CERTO
Situação hipotética: Em ação que tramita pelo procedimento ( ) ERRADO
comum, determinado município foi intimado de decisão por meio
de publicação no diário de justiça eletrônico. Assertiva: Nessa situa- 24. (CESPE/2017 - TRE-PE - AnalistaJudiciário - Área Judiciária)
ção, segundo o CPC, a intimação é válida, uma vez que é tida como Acerca do prazo decadencial para impetrar mandado de segurança
pessoal por ter sido realizada por meio eletrônico. contra a redução ilegal de vantagem integrante de remuneração de
( ) CERTO servidor público e dos efeitos financeiros decorrentes de eventu-
( ) ERRADO al concessão da ordem mandamental, assinale a opção correta de
acordo com o entendimento do STJ.
18. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do (A) O prazo renova-se mês a mês e os efeitos financeiros da
Município) Julgue o item que se segue, referentes ao procedimento concessão da ordem retroagem à data do ato impugnado.
comum no processo civil. (B) O prazo conta-se a partir da redução, não havendo efeitos
Situação hipotética: Ao receber a petição inicial de determinada financeiros retroativos de valores eventualmente vencidos, por
ação judicial, o magistrado deferiu pedido de tutela provisória e deter- não haver direito adquirido no regime jurídico.
minou que o município réu fosse comunicado para ciência e apresenta- (C) O prazo conta-se a partir da redução, devendo o impetrante
ção de defesa. Assertiva: Nessa situação, a apresentação de embargos ajuizar nova demanda de natureza condenatória para reivindi-
de declaração pelo réu pode interromper o prazo para contestação. car os valores vencidos.
( ) CERTO (D) O prazo renova-se mês a mês, devendo o impetrante ajui-
( ) ERRADO zar nova demanda de natureza condenatória para reivindicar
os valores vencidos.
19. (CESPE/2017 - Prefeitura de Fortaleza - CE - Procurador do (E) O prazo conta-se a partir da redução e os efeitos financeiros
Município) Julgue o item que se segue, referentes ao procedimento da concessão da ordem retroagem à data do ato impugnado.
comum no processo civil.
A decisão de saneamento e de organização do processo esta- 25. (CESPE/2017 - TRE-PE - AnalistaJudiciário - Área Judiciária)
biliza-se caso não seja objeto de impugnação pelas partes no prazo Acerca das normas processuais civis, assinale a opção correta.
de cinco dias, vinculando a atividade jurisdicional a partir desse mo- (A) O juiz não pode decidir com base em fundamento a respei-
mento processual. to do qual não tenha sido dada oportunidade de manifestação
( ) CERTO às partes, ressalvado o caso de matéria que deva decidir de
( ) ERRADO ofício.

107
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
(B) Os juízes e tribunais terão de, inexoravelmente, atender à 29. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Direi-
ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou de- to e Legislação) Julgue o item subsequente, relativo à improcedên-
cisão. cia liminar do pedido e ao cumprimento de sentença.
(C) A boa-fé processual objetiva, que não se aplica ao juiz, Situação hipotética: Órgão colegiado de um Tribunal Regional
prevê que as partes no processo tenham um comportamento Federal negou provimento a recurso de apelação e aplicou tese di-
probo e leal. versa da proferida pelo Superior Tribunal Federal em julgamento de
(D) O modelo cooperativo, que atende à nova ordem do pro- casos repetitivos. Assertiva: Nesse caso, a parte sucumbente pode-
cesso civil no Estado constitucional, propõe que o juiz seja assi- rá valer-se de reclamação constitucional para reformar a decisão
métrico no decidir e na condução do processo. proferida pelo Tribunal Regional Federal após o trânsito em julgado
(E) O contraditório substancial tem por escopo propiciar às par- desta.
tes a ciência dos atos processuais, bem como possibilitar que ( ) CERTO
elas influenciem na formação da convicção do julgador. ( ) ERRADO

26. (CESPE/2017 - TRE-PE - AnalistaJudiciário - Área Judiciária) 30. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Direi-
A respeito dos poderes, deveres e responsabilidades do juiz e dos to e Legislação) Acerca do Ministério Público e da tutela de urgên-
atos processuais, assinale a opção correta à luz do Código de Pro- cia, julgue o próximo item.
cesso Civil (CPC). Concedida e efetivada a tutela provisória de urgência antecipa-
(A) Não podem ocorrer durante as férias forenses citações, inti- da em caráter antecedente, se o réu não interpuser recurso contra
mações e penhoras, ainda que haja autorização judicial. essa decisão, a tutela concedida se estabilizará mesmo que o pro-
(B) Na ausência de preceito legal ou prazo determinado pelo cesso seja extinto sem resolução de mérito. Todavia, essa decisão
juiz, será de cinco dias úteis o prazo para a prática de ato pro- poderá ser revista, reformada ou invalidada a pedido da parte inte-
cessual a cargo da parte. ressada no prazo de dois anos, contados da ciência da decisão que
(C) O juiz pode dilatar e reduzir os prazos processuais, ade- extinguir o processo.
quando-os às necessidades do conflito, de modo a conferir ( ) CERTO
maior efetividade à tutela do direito. ( ) ERRADO
(D) Pode o magistrado declarar-se suspeito no processo por
razões de foro íntimo; contudo, para assim fazer, ele deve ex- 31. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Direi-
ternar tais razões. to e Legislação) Acerca do Ministério Público e da tutela de urgên-
(E) O terceiro que demonstre interesse jurídico poderá reque- cia, julgue o próximo item.
rer ao juiz certidão de inteiro teor da sentença, no caso de pro- Nas relações processuais que envolvam interesse de incapaz, o
cesso que tramite sob segredo de justiça. Ministério Público será intimado para intervir como fiscal da ordem
jurídica, caso em que poderá produzir provas e recorrer, bem como
27. (CESPE/2017 - TRE-PE - AnalistaJudiciário - Área Judiciária) terá vista dos autos depois das partes.
João e José, residentes em Recife – PE, foram vítimas de acidente ( ) CERTO
automobilístico provocado por Pedro, maior e capaz, domiciliado ( ) ERRADO
em Olinda – PE. As vítimas impetraram ações indenizatórias indivi-
duais em 10/3/2016, ambas no juízo de Recife – PE. 32. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Direi-
Nessa situação hipotética, to e Legislação) Julgue o item subsequente, relativo à improcedên-
(A) caso Pedro oponha incidente de exceção de incompetência cia liminar do pedido e ao cumprimento de sentença.
relativa após a entrada em vigor do novo CPC, o juiz deverá Contra a decisão que julgue liminarmente improcedente o pe-
declinar da competência. dido do autor por contrariar acórdão do Superior Tribunal de Justiça
(B) João e José poderiam optar por ingressar em litisconsórcio em julgamento de recursos repetitivos caberá recurso de agravo de
ativo e, nesse caso, seriam considerados como litigantes distin- instrumento cujo prazo é de quinze dias.
tos em suas relações com Pedro. ( ) CERTO
(C) se as ações forem distribuídas para juízos distintos, os pro- ( ) ERRADO
cessos deverão ser reunidos em razão da existência de conti-
nência. 33. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Direi-
(D) ambos os processos devem seguir o rito ordinário, por- to e Legislação) Julgue o item subsequente, relativo à improcedên-
quanto o procedimento sumário foi extinto no novo CPC. cia liminar do pedido e ao cumprimento de sentença.
(E) a citação de Pedro deve ocorrer por mandado, por meio de Situação hipotética: Um ente do poder público federal firmou
oficial de justiça. contrato de concessão de serviço de transporte de passageiro inte-
restadual com uma empresa privada em desobediência às regras
28. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Direi- que exigem concorrência pública. Assertiva: Nesse caso, segundo
to e Legislação) Julgue o item subsequente, relativo à improcedên- interpretação do Supremo Tribunal Federal, uma pessoa jurídica de
cia liminar do pedido e ao cumprimento de sentença. direito privado que atue no ramo e que demonstre ter interesse em
Compete ao juízo cível processar o cumprimento de sentença explorar tal serviço terá legitimidade ativa para propor ação popular
penal condenatória e de sentença arbitral que reconheçam a obri- com o fim de obter a declaração de nulidade do referido contrato
gação de pagar quantia. Tais processos sujeitam-se a distribuição e de concessão.
podem ser impugnados pelos executados nos mesmos moldes das ( ) CERTO
sentenças condenatórias provenientes do juízo cível. ( ) ERRADO
( ) CERTO
( ) ERRADO

108
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
34. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Direi- 40. (CESPE/2016 - PGE-AM - Procurador do Estado) A respeito
to e Legislação) Julgue o item subsequente, relativo à improcedên- das normas processuais civis pertinentes a jurisdição e ação, julgue
cia liminar do pedido e ao cumprimento de sentença. o item seguinte.
Situação hipotética: A defensoria pública ingressou em juízo O novo CPC reconhece a competência concorrente da jurisdi-
com uma ação civil pública contra empresa privada que praticava ção internacional para processar ação de inventário de bens situa-
ato lesivo ao meio ambiente e à ordem urbanística de determinado dos no Brasil, desde que a decisão seja submetida à homologação
ente federativo. Assertiva: Nesse caso, a defensoria pública poderia do STJ.
requerer a condenação da empresa requerida ao pagamento em ( ) CERTO
dinheiro em função dos danos provocados, e cumular a esse pedido ( ) ERRADO
a cessação dos atos lesivos, bem como o cumprimento de recupe-
ração dos danos causados ao meio ambiente e à ordem urbanística. 41. (CESPE/2016 - PGE-AM - Procurador do Estado) A respeito
( ) CERTO das normas processuais civis pertinentes a jurisdição e ação, julgue
( ) ERRADO o item seguinte.
O novo CPC aplica-se aos processos que se encontravam em
35. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Di- curso na data de início de sua vigência, assim como aos processos
reito e Legislação) Julgue o item a seguir, relativo a normas proces- iniciados após sua vigência que se referem a fatos pretéritos.
suais civis, capacidade processual e postulatória e intervenção de ( ) CERTO
terceiros. ( ) ERRADO
Caso o titular do direito lesado ou ameaçado seja uma pessoa
incapaz, a legitimidade ativa passa a ser dos seus pais, que poderão 42. (CESPE/2016 - PGE-AM - Procurador do Estado) Em relação
agir em conjunto ou isoladamente. a análise de petição inicial e julgamento antecipado parcial de mé-
( ) CERTO rito, julgue o seguinte item.
( ) ERRADO Cabe recurso de apelação contra julgamento antecipado par-
cial de mérito proferido sobre matéria incontroversa
36. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Di- ( ) CERTO
reito e Legislação) Julgue o item a seguir, relativo a normas proces- ( ) ERRADO
suais civis, capacidade processual e postulatória e intervenção de
terceiros. 43. (CESPE/2016 - PGE-AM - Procurador do Estado) Em relação
O novo Código de Processo Civil que entrou em vigor em março a análise de petição inicial e julgamento antecipado parcial de mé-
de 2016 não se aplica aos processos que já estavam tramitando na rito, julgue o seguinte item.
data da sua vigência. Se, ao analisar a petição inicial, o juiz constatar que o pedido
( ) CERTO funda-se em questão exclusivamente de direito e contraria entendi-
( ) ERRADO mento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas,
ele deverá, sem ouvir o réu, julgar liminarmente improcedente o
37. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Di- pedido do autor.
reito e Legislação) Julgue o item a seguir, relativo a normas proces- ( ) CERTO
suais civis, capacidade processual e postulatória e intervenção de ( ) ERRADO
terceiros.
A denunciação da lide constitui uma forma de intervenção de 44. (CESPE/2016 - FUNPRESP-JUD - Analista - Direito) Com re-
terceiro por meio da qual o réu, quando demandado isoladamente, lação aos poderes, aos deveres e à responsabilidade do juiz, julgue
poderá convocar outro(s) devedor(es) solidário(s) para assumir(em) o item seguinte.
com ele o ônus da relação processual. O magistrado poderá solicitar o comparecimento da parte caso
( ) CERTO entenda ser necessário o esclarecimento de fatos narrados na con-
( ) ERRADO testação. Nessa situação, a parte será ouvida informalmente.
( ) CERTO
38. (CESPE/2017 - SEDF - Analista de Gestão Educacional - Di- ( ) ERRADO
reito e Legislação) Julgue o item a seguir, relativo a normas proces-
suais civis, capacidade processual e postulatória e intervenção de 45. (CESPE/2016 - FUNPRESP-JUD - Analista - Direito) Com re-
terceiros. lação aos poderes, aos deveres e à responsabilidade do juiz, julgue
Após a juntada da procuração nos autos de uma relação pro- o item seguinte.
cessual, é vedado ao constituinte revogar os poderes conferidos ao Ao analisar a especificidade do caso, o juiz da causa poderá
seu advogado sem a anuência deste. conferir prazo de vinte e cinco dias para que o réu apresente sua
( ) CERTO contestação, mesmo após o encerramento do prazo regular.
( ) ERRADO ( ) CERTO
( ) ERRADO
39. (CESPE/2016 - PGE-AM - Procurador do Estado) A respeito
das normas processuais civis pertinentes a jurisdição e ação, julgue 46. (MPE-RS/2017 - MPE-RS - Secretário de Diligências) Assina-
o item seguinte. le a alternativa INCORRETA acerca do Ministério Público e da audi-
Segundo as regras contidas no novo CPC, a legitimidade de par- ência de instrução e julgamento, a teor do disposto no Novo Código
te deixou de ser uma condição da ação e passou a ser analisada de Processo Civil.
como questão prejudicial. Sendo assim, tal legitimidade provoca (A) Intervindo nos processos como fiscal da ordem jurídica, o
decisão de mérito. Ministério Público poderá produzir provas, requerer as medi-
( ) CERTO das processuais pertinentes e recorrer.
( ) ERRADO

109
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
(B) Considerando o princípio da publicidade dos atos processu- 51. (VUNESP/2016 - TJ-SP - Titular de Serviços de Notas e de Re-
ais, a audiência será sempre pública. gistros - Provimento) A respeito da tutela provisória no CPC/2015,
(C) O Ministério Público possui prazo em dobro para manifes- é correto afirmar que
tação nos autos, não se aplicando o benefício da contagem em (A) pode fundar-se em urgência ou evidência, dividindo--se a
dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo pró- primeira em cautelar ou antecipada.
prio para o Ministério Público. (B) a tutela provisória de urgência de natureza antecipada so-
(D) A audiência é una e contínua, todavia, havendo concordân- mente admite a forma incidental.
cia das partes, na ausência de perito ou de testemunha, poderá (C) por emanar do poder jurisdicional, aspecto da própria so-
ser excepcional e justificadamente cindida. berania estatal, não implica responsabilidade do autor pelos
(E) O Ministério Público, atuando como fiscal da ordem jurídi- eventuais prejuízos que a efetivação da medida ocasionar ao
ca, intervirá nos processos que envolvam litígios coletivos pela réu.
posse de terra rural ou urbana. (D) a tutela provisória conserva sua eficácia durante a pendên-
cia do processo, exceto em caso de suspensão deste, quando
47. (FGV/2016 - MPE-RJ - Técnico do Ministério Público - Notifi- então terá sustados seus efeitos independentemente de pro-
cações e Atos Intimatórios) Tendo-se iniciado o prazo de quinze dias nunciamento judicial.
para contestar uma demanda, o réu apresentou contestação no oi-
tavo dia do prazo. Porém, no décimo quarto dia do prazo, optou 52. (VUNESP/2016 - TJ-SP - Titular de Serviços de Notas e de
o demandado por protocolizar uma nova peça contestatória, nela Registros - Remoção) A tutela específica das obrigações de fazer ou
deduzindo linha defensiva essencialmente diversa daquela exposta não fazer consiste
em sua primeira peça. Nesse cenário, deve o juiz: (A) na vedação a que o juiz profira sentença de natureza diver-
(A) receber a segunda contestação, já que ofertada ainda den- sa da que pedida, ou condene o réu em quantidade superior ou
tro do prazo legal; em objeto diverso do que lhe foi demandado.
(B) receber a segunda contestação, em observância aos princí- (B) na concessão da tutela liminarmente sempre que relevante
pios constitucionais da ampla defesa e do contraditório; o fundamento da demanda e havendo receio de ineficácia do
(C) deixar de receber a segunda contestação, em razão do ins- provimento final.
tituto da preclusão lógica; (C) na conversão, de plano, em perdas e danos, verificado o
(D) deixar de receber a segunda contestação, em razão do ins- descumprimento pelo devedor.
tituto da preclusão consumativa; (D) no poder atribuído ao juiz para que determine as medi-
(E) deixar de receber a segunda contestação, em razão do insti- das necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de
tuto da preclusão temporal. atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfa-
zimento de obras, impedimento de atividade nociva com requi-
48. (FGV/2016 - MPE-RJ - Técnico do Ministério Público - Notifi- sição, sempre que necessário, de força policial.
cações e Atos Intimatórios) A possibilidade de concessão, pelo juiz
da causa, de tutela antecipatória do mérito, inaudita altera parte, 53. (CGU/2012 - ESAF - Analista de Finanças e Controle) A ação
em razão de requerimento formulado nesse sentido pela parte au- civil pública é um instrumento de status constitucional que tem por
tora em sua petição inicial, está diretamente relacionada ao prin- finalidade a defesa de interesses coletivos, difusos e individuais ho-
cípio: mogêneos. Não é cabível a ação civil pública nas ações de responsa-
(A) do juiz natural; bilidade de danos morais e patrimoniais ou que envolvam:
(B) da inércia da jurisdição; (A) meio ambiente.
(C) da inafastabilidade do controle jurisdicional; (B) bens de valor estéticos.
(D) do contraditório; (C) ordem urbanística.
(E) da motivação das decisões judiciais. (D) Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS.
(E) direito de valor turístico.
49. (FGV/2016 - MPE-RJ - Técnico do Ministério Público - Noti-
ficações e Atos Intimatórios) São condições para o regular exercício 54. (FCC - 2015 - TJ-RR - Juiz Substituto) As nulidades proces-
da ação: suais civis,
(A) legitimidade ad causam e demanda regularmente formu- (A) só podem ser declaradas após provocação das partes, ve-
lada; dado ao juiz reconhecê-las de ofício, pelo caráter privado das
(B) interesse de agir e competência do juízo; normas do processo civil.
(C) legitimidade ad processum e possibilidade jurídica do pe- (B) devem ser declaradas necessariamente sempre que a maté-
dido; ria disser respeito a questões de ordem pública.
(D) possibilidade jurídica do pedido e competência do juízo; (C) serão decretadas de imediato se a citação do réu for irregu-
(E) legitimidade ad causam e interesse de agir. lar, sem possibilidade de regularização por seu comparecimen-
to espontâneo aos autos.
50. (FGV/2016 - MPE-RJ - Técnico do Ministério Público - Notifi- (D) por falta de intervenção do Ministério Público em processo
cações e Atos Intimatórios) São elementos identificadores da ação: com interesse de incapazes, são insanáveis, haja ou não preju-
(A) juízo, partes e pedido; ízo ao incapaz.
(B) juízo competente, causa de pedir e demanda; (E) são passíveis de sanação, pela incidência do princípio da ins-
(C) partes, causa de pedir e pedido; trumentalidade das formas.
(D) partes, interesse processual e pedido;
(E) causa de pedir, legitimidade e demanda.

110
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL
55. (FCC -2015 - MANAUSPREV - Procurador Autárquico) A ci- 34 CERTO
tação
(A) pode ser feita pelo correio se o réu estiver em lugar incer- 35 ERRADO
to e não sabido. 36 ERRADO
(B) por hora certa será feita sempre em pessoa da família do
réu 37 ERRADO
(C) é feita como regra por oficial de justiça e, excepcionalmen- 38 ERRADO
te, pelo correio ou por hora certa.
39 ERRADO
(D) é ato formal e não pode ser convalidada, em nenhuma
hipótese. 40 ERRADO
(E) é ato formal mas pode ser convalidada. 41 CERTO
42 ERRADO
43 CERTO
GABARITO
44 CERTO
45 ERRADO
1 C 46 B
2 C 47 D
3 D 48 C
4 C 49 E
5 D 50 C
6 A 51 A
7 B 52 D
8 D 53 D
9 D 54 E
10 C 55 E
11 B
12 ERRADO
ANOTAÇÕES
13 ERRADO
14 CERTO ______________________________________________________
15 ERRADO
______________________________________________________
16 ERRADO
17 ERRADO ______________________________________________________
18 ERRADO ______________________________________________________
19 CERTO
______________________________________________________
20 CERTO
______________________________________________________
21 ERRADO
22 CERTO ______________________________________________________
23 ERRADO ______________________________________________________
24 A
______________________________________________________
25 E
26 B ______________________________________________________
27 B ______________________________________________________
28 CERTO
______________________________________________________
29 ERRADO
______________________________________________________
30 CERTO
31 CERTO ______________________________________________________
32 ERRADO ______________________________________________________
33 ERRADO

111
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

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112
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
1. Aplicação da lei penal - Princípios da legalidade e da anterioridade. A lei penal no tempo e no espaço. Tempo e lugar do crime. Lei
penal excepcional, especial e temporária. Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal. Pena cumprida no estrangeiro. Eficácia
da sentença estrangeira. Contagem de prazo. Frações não computáveis da pena. Interpretação da lei penal. Analogia. Irretroatividade
da lei penal. Conflito aparente de normas penais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Teoria do crime. Tipo penal objetivo. Tipo penal subjetivo. Ilicitude. Causas excludentes. Culpabilidade. Causas dirimentes . . . . . 02
3. Crimes contra a pessoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
4. Crimes contra o patrimônio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
5. Crimes contra a administração pública . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
6. Disposições constitucionais aplicáveis ao direito penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
7. Crimes hediondos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
8. Abuso de autoridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
9. Estatuto da Criança e do Adolescente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
A exceção fica por conta da lei excepcional e temporária:
APLICAÇÃO DA LEI PENAL – PRINCÍPIOS DA LEGALI- Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o
DADE E DA ANTERIORIDADE. A LEI PENAL NO TEMPO período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a deter-
E NO ESPAÇO. TEMPO E LUGAR DO CRIME. LEI PENAL minaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
EXCEPCIONAL, ESPECIAL E TEMPORÁRIA. TERRITO- Mesmo com a revogação da lei excepcional ou temporário o
RIALIDADE E EXTRATERRITORIALIDADE DA LEI PENAL. agente responde pelos atos praticados no período de sua vigência,
PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO. EFICÁCIA DA com o escopo de evitar a impunidade do agente.
SENTENÇA ESTRANGEIRA. CONTAGEM DE PRAZO. Sobre o tempo do crime, é importante saber que a teoria da
FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA. INTERPRETA- atividade é adotada pelo Código Penal, de maneira que, conside-
ÇÃO DA LEI PENAL. ANALOGIA. IRRETROATIVIDADE ra-se praticado o crime no momento da ação ou omissão (data da
DA LEI PENAL. CONFLITO APARENTE DE NORMAS PE- conduta):
NAIS Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação
ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.
Lei Penal em Branco
Nos crimes permanentes e continuados aplica-se a lei em vigor
▪ Interpretação e Analogia ao final da prática criminosa, ainda que mais gravosa. Não é caso de
As normas penais em branco são normas que dependem do retroatividade, pois na verdade, a lei mais grave está sendo aplicada
complemento de outra norma. a um crime que ainda está sendo praticado.
Sobre o conflito aparente de leis penais, a doutrina resolve essa
aparente antinomia através dos seguintes princípios:
Norma Penal em Norma Penal em bran-
• Princípio da especialidade = norma especial prevalece sobre
branco Homogênea co Heterogênea
a geral, ex. infanticídio.
A norma comple- • Princípio da subsidiariedade = primeiro tentar aplicar o crime
mentar possui o mesmo mais grave, se não for o caso, aplicar a norma subsidiária, menos
nível hierárquico da A norma complementar grave.
norma penal. Quando não possui o mesmo nível • Consunção = ao punir o todo pune a parte. Ex. crime progres-
homovitelina, correspon- hierárquico da norma penal. sivo (o agente necessariamente precisa passar pelo crime menos
de ao mesmo ramo do Ex. o complemento da lei de grave), progressão criminosa (o agente queria praticar um crime
Direito, ex. Penal e Penal. drogas está em decreto que menos grave, mas em seguida pratica crime mais grave), atos impu-
Quando heterovitenila, define substâncias conside- níveis (prévios, simultâneos ou subsequentes).
abrange ramos diferentes radas drogas.
do Direito, ex. Penal e Lei Penal no Espaço
Civil.
▪ Lugar do Crime, Territorialidade e Extraterritorialidade
Outro ponto fundamental é a diferenciação entre analogia e Quanto à aplicação da lei penal no espaço, a regra adotada no
interpretação analógica: Brasil é a utilização do princípio da territorialidade, ou seja, aplica-
-se a lei penal aos crimes cometidos no território nacional.
A lei penal admite in- Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,
terpretação analógica para Já a analogia só pode tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no ter-
incluir hipóteses análogas ser utilizada em normas ritório nacional.
às elencadas pelo legisla- não incriminadoras, para § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do
dor, ainda que prejudiciais beneficiar o réu. território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de na-
ao agente. tureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectiva-
Lei Penal no Tempo mente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados
▪ Conflito Aparente de Leis Penais e Tempo do Crime a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de proprieda-
A lei penal é regida pelo princípio da anterioridade, em conso- de privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou
nância com a legalidade: em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há territorial do Brasil.
pena sem prévia cominação legal.
Primeiro o fato tem que ser criminalizado para depois ser puni- Como o CP admite algumas exceções, podemos dizer que foi
do. Sem a previsão legal não há crime e punição estatal. adotado o princípio da territorialidade mitigada/temperada.
No mesmo sentido, existe o princípio da abolitio criminis: Fique atento, pois são considerados como território brasileiro
Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior por extensão:
deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e • Navios e aeronaves públicos;
os efeitos penais da sentença condenatória. • Navios e aeronaves particulares, desde que se encontrem em
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favore- alto mar ou no espaço aéreo. Ou seja, não estando no território de
cer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por nenhum outro país.
sentença condenatória transitada em julgado.
Assim, caso a lei ocorra a descriminação de uma conduta crimi- Por outro lado, a extraterritorialidade é a aplicação da lei penal
nosa, ela retroage para apagar os efeitos penais do passado, ex. o brasileira a um fato criminoso que não ocorreu no território nacio-
condenado para de cumprir a pena. nal.

1
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Extraterritorialidade • Crime de mera conduta: não há previsão de resultado natu-
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no ralístico.
estrangeiro:
I - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA): Fato Típico e Teoria do Tipo
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; O fato típico divide-se em elementos:
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Fe- • Conduta humana;
deral, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, so- • Resultado naturalístico;
ciedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo • Nexo de causalidade;
Poder Público; • Tipicidade.
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado ▪ Teorias que explicam a conduta
no Brasil;
II - os crimes (EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA): Teoria Causal- Teoria Finalista
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; Teoria Social
Naturalística (Hans Welzel)
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mer- Conduta é ação
Conduta como Ação humana
cantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro voluntária (dolosa ou
movimento voluntária com
e aí não sejam julgados. culposa) destinada a
corporal. relevância social.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei uma finalidade.
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depen- A teoria finalista da conduta foi adotada pelo Código Penal,
de do concurso das seguintes condições: pois como veremos adiante o erro constitutivo do tipo penal exclui
a) entrar o agente no território nacional; o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; Isso demonstra que o dolo e a culpa se inserem na conduta.
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasilei- A conduta humana pode ser uma ação ou omissão. Há também
ra autoriza a extradição; o crime omissivo impróprio, no qual a ele é imputado o resulta-
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí do, em razão do descumprimento do dever de vigilância, de acordo
cumprido a pena; com a TEORIA NATURALÍSTICO-NORMATIVA.
Perceba a diferença:
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro
• Crime comissivo = relação de causalidade física ou natural
motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favo-
que enseja resultado naturalístico, ex. eu mato alguém.
rável.
• Crime comissivo por omissão (omissivo impróprio) = relação
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por
de causalidade normativa, o descumprimento de um dever leva ao
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condi-
resultado naturalístico, ex. uma babá fica no Instagram e não vê a
ções previstas no parágrafo anterior:
criança engolir produtos de limpeza – se tivesse agido teria evitado
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
o resultado.
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

Quanto ao lugar do crime, a teoria adotada é a da ubiquidade: O dever de agir incumbe a quem?
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocor- A quem tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou
reu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se vigilância, ex. os pais.
produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Portanto, o lugar do crime é tanto o local da ação/omissão, A quem tenha assumido a responsabilidade de impedir o
quanto o local da ocorrência do resultado, ex. o local do disparo da resultado, ex. por contrato.
arma e o local da morte. A quem com o seu comportamento anterior, criou o risco
da ocorrência do resultado (norma de ingerência), ex. trote de
faculdade.
TEORIA DO CRIME. TIPO PENAL OBJETIVO. TIPO PE- Quanto ao resultado naturalístico, é considerado como mudança
NAL SUBJETIVO. ILICITUDE. CAUSAS EXCLUDENTES. do mundo real provocado pela conduta do agente. Nos crimes materiais
CULPABILIDADE. CAUSAS DIRIMENTES exige-se um resultado naturalístico para a consumação, ex. o homicídio
tem como resultado naturalístico um corpo sem vida.
Conceito Nos crimes formais, o resultado naturalístico pode ocorrer, mas
O crime, para a teoria tripartida, é fato típico, ilícito e culpável. a sua ocorrência é irrelevante para o Direito Penal, ex. auferir de
Alguns, entendem que a culpabilidade não é elemento do crime fato vantagem no crime de corrupção passiva é mero exaurimento.
(teoria bipartida). Já os crimes de mera conduta são crimes em que não há um
resultado naturalístico, ex. invasão de domicílio – nada muda no
Classificações mundo exterior.
• Crime comum: qualquer pessoa pode cometê-lo. Mas não confunda! O resultado normativo/jurídico ocorre em
• Crime próprio: exige determinadas qualidades do sujeito. todo e qualquer crime, isto é, lesão ao bem jurídico tutelado pela
• Crime de mão própria: só pode ser praticado pela pessoa. norma penal.
Não cabe coautoria. O nexo de causalidade consiste no vínculo que une a conduta
• Crime material: se consuma com o resultado. do agente ao resultado naturalístico ocorrido no mundo exterior.
• Crime formal: se consuma independente da ocorrência do No Brasil adotamos a Teoria da Equivalência dos Antecedentes
resultado. (conditio sine qua non), que considera causa do crime toda conduta

2
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
sem a qual o resultado não teria ocorrido. Criar ou aumentar um risco + O risco deve ser proibido pelo
Por algum tempo a teoria da equivalência dos antecedentes foi Direito + O risco deve ser criado no resultado
criticada, no sentido de até onde vai a sua extensão?! Em resposta
a isso, ficou definido que como filtro o dolo. Ou seja, só será consi- Por fim, a tipicidade consiste na subsunção – adequação da
derada causa a conduta que é indispensável ao resultado e que foi conduta do agente a uma previsão típica. Algumas vezes é necessá-
querida pelo agente. Assim, toda conduta que leva ao resultado do rio usar mais de um tipo penal para fazer a subsunção (conjugação
crime deve ser punida, desde que haja dolo ou culpa. de artigos).
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, Ainda dentro do fato típico, vamos analisar dolo e culpa. Com o
somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a finalismo (Hans Welzel), o dolo e a culpa, que são elementos subje-
ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. tivos, foram transportados da culpabilidade para o fato típico (con-
Em contraposição a essa teoria, existe a Teoria da Causalidade duta). Assim, a conduta passou a ser definida como ação humana
Adequada, adotada parcialmente pelo sistema brasileiro. Trata-se dirigida a um fim.
de hipótese de concausa superveniente relativamente independen- Crime Doloso
te que, por si só, produz o resultado. • Dolo direto = vontade livre e consciente de praticar o crime.
Mas pera... O que é uma concausa? Circunstância que atua pa- • Dolo eventual = assunção do risco produzido pela conduta.
ralelamente à conduta do agente em relação ao resultado. As con-
causas absolutamente independentes são aquelas que não se jun- Perceba que no dolo eventual existe consciência de que a con-
tam à conduta do agente para produzir o resultado, e podem ser: duta pode gerar um resultado criminoso, e mesmo diante da proba-
• Preexistentes: Já tinham colocado veneno no chá do meu de- bilidade de dar algo errado, o agente assume esse risco.
safeto quando eu vou matá-lo.
• Concomitantes: Atiro no meu desafeto, mas o teto cai e mata
ele. Vontade de praticar a conduta
• Supervenientes: Dou veneno ao meu desafeto, mas antes de Dolo genérico descrita no tipo penal sem
fazer efeito alguém o mata. nenhuma outra finalidade
Dolo específico O agente pratica a conduta típica
Consequência em todas as hipóteses de concausa absoluta- (especial fim de agir) por alguma razão especial.
mente independente: O AGENTE SÓ RESPONDE POR TENTATIVA,
PORQUE O RESULTADO SE DEU POR CAUSA ABSOLUTAMENTE IN- Dolo direto de primeiro A vontade é direcionada para a
DEPENDENTE. SE SUBTRAIR A CONDUTA DO AGENTE, O RESULTADO grau produção do resultado.
TERIA OCORRIDO DE QUALQUER JEITO (TEORIA DA EQUIVALÊNCIA O agente possui uma vontade,
DOS ANTECEDENTES). mas sabe que para atingir
Até aí fácil né? Mas agora vem o pulo do gato! Existem as con- sua finalidade existem
causas relativamente independentes, que se unem a outras cir- efeitos colaterais que irão
cunstâncias para produzir o resultado. Dolo direto de
necessariamente lesar outros bens
• Preexistente: O agente provoca hemofilia no seu desafeto, segundo grau (dolo
jurídicos.
já sabendo de sua doença, que vem a óbito por perda excessiva de de consequências
Ex. dolo direto de primeiro grau é
sangue. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e ele teve necessárias)
atingir o Presidente, dolo direto de
dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio consuma- segundo grau é atingir o motorista
do), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes. do Presidente, ao colocar uma
• Concomitante: Doses de veneno se unem e levam a óbito bomba no carro.
a vítima. Sem sua conduta o resultado não teria ocorrido e existe
Ocorre quando o agente,
dolo, logo, o agente responde pelo resultado (homicídio consuma-
acreditando ter alcançado seu
do), conforme a teoria da equivalência dos antecedentes.
objetivo, pratica nova conduta,
• Superveniente: Aqui tudo muda, pois é utilizada a teoria da Dolo geral, por erro
com finalidade diversa, mas depois
causalidade adequada. Se a concausa não é um desdobramento na- sucessivo, aberratio
se constata que esta última foi
tural da conduta, o agente só responde por tentativa, ex. eu dou um causae (erro de relação
a que efetivamente causou o
tiro no agente, mas ele morre em um acidente fatal dentro da am- de causalidade)
resultado. Ex. enforco e depois
bulância. Todavia, se a concausa é um desdobramento da conduta
atiro no lago, e a vítima morre de
do agente, ele responde pelo resultado, ex. infecção generalizada
afogamento.
gerada pelo ferimento do tiro (homicídio consumado).
O dolo antecedente é o que se
Agora vem a cereja do bolo, com a Teoria da Imputação Ob- dá antes do início da execução. O
jetiva (Roxin). Em linhas gerais, nessa visão, só ocorre imputação dolo atual é o que está presente
ao agente que criou ou aumentou um risco proibido pelo Direito, durante a execução. O dolo
Dolo antecedente,
desde que esse risco tenha ligação com o resultado. Ex. Eu causo subsequente ocorre quando
atual e subsequente
um incêndio na casa do meu desafeto, serei imputada pelo incên- o agente inicia a conduta com
dio, não pela morte de alguém que entrou na casa para salvar bens. finalidade lícita, mas altera o seu
Explicando melhor, para a teoria da imputação objetiva, a im- ânimo e passa a agir de forma
putação só pode ocorrer quando o agente tiver dado causa ao fato ilícita.
(causalidade física), mas, ao mesmo tempo, haja uma relação de
causalidade normativa, isto é, criação de um risco não permitido Crime Culposo
para o bem jurídico que se pretende tutelar. No crime culposo, a conduta do agente viola um dever de cui-
dado:
• Negligência: o agente deixa de fazer algo que deveria.

3
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Imprudência: o agente se excede no que faz. que compõe o tipo penal. Quem nunca pegou a coisa de alguém
• Imperícia: O agente desconhece uma regra técnica profissio- pensando que era sua?! Cometeu furto? Não, pois faltou você saber
nal, ex. o médico dá um diagnóstico errado ao paciente que vem a que a coisa era alheia. O erro de tipo exclui o dolo e a culpa (se foi
receber alta e falecer. um erro perdoável/escusável) ou exclui o dolo e o agente só respon-
de por culpa, se prevista (no caso de erro inescusável).
• Requisitos do crime culposo Outros exemplos: não sabe que o agente é funcionário público,
a) Conduta Voluntária: o fim da conduta pode ser lícito ou ilíci- em desacato; não sabe que é garantidor em crime comissivo por
to, mas quando ilícito não é o mesmo que se produziu (a finalidade omissão; erro sobre o elemento normativo, ex. justa causa.
não é do resultado). Não restam mais dúvidas, certo? Erro de tipo é erro sobre a
b) Violação de um dever objetivo de cuidado: negligência, im- existência fática de um dos elementos que compõe o tipo penal.
prudência, imperícia.
c) Resultado naturalístico involuntário (não querido).
d) Nexo causal. ▪ Erro de tipo acidental
e) Tipicidade: o fato deve estar previsto como crime culposo Aqui o erro ocorre na execução ou há um desvio no nexo causal
expressamente. da conduta com o resultado.
f) Previsibilidade objetiva: o homem médio seria capaz de pre- • Erro sobre a pessoa: O agente pratica o ato contra pessoa
ver o resultado. diversa da pessoa visada, por confundi-la com o seu alvo, que nem
está no local dos fatos. Consequência: o agente responde como se
tivesse praticado o crime contra a pessoa visada (teoria da equiva-
Culpa Consciente Culpa Inconsciente
lência).
O agente prevê o resultado O agente não prevê que o • Erro sobre o nexo causal: o resultado é alcançado mediante
como possível, mas acredita resultado possa ocorrer. Só tem a um nexo causal diferente daquele que planejou.
sinceramente que este não previsibilidade objetiva, mas não a) Erro sobre o nexo causal em sentido estrito: com um ato o
irá ocorrer. subjetiva. agente produz o resultado, apesar do nexo causal ser diferente, ex.
eu disparo contra o meu desafeto, mas ele morre afogado ao cair na
Culpa Própria Culpa Imprópria piscina. Consequência: o agente responde pelo o que efetivamente
O agente quer o resultado, mas ocorreu (morte por afogamento).
acha que está amparado por b) Dolo geral/aberratio causae/dolo geral ou sucessivo: O agen-
O agente não quer o uma excludente de ilicitude ou te acredita que já ocorreu o resultado pretendido, então, pratica
resultado criminoso. culpabilidade. outro ato (+ de 1 ato). Ao final verifica-se que o último ato foi o que
Consequência: exclui o dolo, mas provocou o resultado. Consequência: o agente responde pelo nexo
imputa culpa. causal efetivamente ocorrido, não pelo pretendido.

Não existe no Direito Penal brasileiro compensação de culpas, de • Erro na execução (aberratio ictus): é o famoso erro de pon-
maneira que cada um deve responder pelo o que fez. Outro ponto inte- taria, no qual a pessoa visada e a de fato acertada estão no mesmo
ressante é que o crime preterdoloso é uma espécie de crime qualificado local.
pelo resultado. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica o crime a) Erro sobre a execução com unidade simples (aberratio ictus
é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resultado que ocorreu. de resultado único): O agente somente atinge a pessoa diversa da
O crime material consumado exige conduta + resultado natura- pretendida. Consequência: responde como se tivesse atingido a
lístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes tentados, por pessoa visada.
não haver consumação (resultado naturalístico), não estarão pre- b) Erro sobre a execução com unidade complexa (aberratio
sentes resultado e nexo de causalidade. Eventualmente, a tentativa ictus de resultado duplo): O agente atinge a vítima pretendida, e,
pode provocar resultado naturalístico e nexo causal, mas diverso do também, a vítima não pretendida. Consequência: responde pelos
pretendido pelo agente no momento da prática criminosa. dois crimes em concurso formal.
Na adequação típica mediata, o agente não pratica exatamen-
te a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra • Erro sobre o crime ou resultado diverso do pretendido (aber-
norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo ratio delicti ou aberratio criminis): o agente pretendia cometer um
penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia a execução crime, mas por acidente ou erro na execução acaba cometendo ou-
penal, mas em razão a circunstâncias alheias à vontade do agente o tro (relação pessoa x coisa ou coisa x pessoa).
resultado pretendido (consumação) não ocorre – o agente é punido a) Com unidade simples: O agente atinge apenas o resultado
pelo crime, mas de forma tentada. não pretendido. Ex. uma pessoa é visada, mas uma coisa é atin-
gida – responde pelo dolo em relação a pessoa, na forma tentada
Crime Preterdoloso (tentativa de homicídio, tentativa de lesão corporal). Ex. Uma coisa
O crime preterdoloso é uma espécie de crime qualificado pelo é visada, mas a pessoa é atingida – responde apenas pelo resultado
resultado. No delito preterdoloso, o resultado que qualifica o crime ocorrido em relação à pessoa, de forma culposa (homicídio culposo,
é culposo: Dolo na conduta inicial e culpa no resultado que ocorreu. lesão corporal culposa).
Como consequência, o crime preterdoloso não admite tentativa, já b) Com unidade complexa: O agente atinge tanto a pessoa
que o resultado é involuntário. quanto a coisa. Consequência: responde pelos dois crimes em con-
curso formal.
Erro de Tipo
• Erro sobre o objeto (Error in objecto): imagine que o agente
▪ Erro de tipo essencial deseja furtar uma valiosa obra de arte, mas acaba subtraindo um
O agente desconhece algum dos elementos do tipo penal. Ou quadro de pequeno valor, por confundir-se. Consequência: o agen-
seja, há uma representação errônea da realidade, na qual o agente te responde pelo o que efetivamente fez.
acredita não se verificar a presença de um dos elementos essenciais

4
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
▪ Erro determinado por terceiro Atenção: se o resultado, ainda assim, vier a ocorrer, o agente
O agente erra porque alguém o induz a isso, de maneira que o responde pelo crime com uma atenuante genérica.
autor mediato (quem provocou o erro) será punido. O autor ime- Atenção: se o crime for cometido em concurso de pessoas e
diato (quem realiza) é mero instrumento, e só responderá caso ficar somente um deles realiza a conduta de desistência voluntária ou
demonstrada alguma forma de culpa. arrependimento eficaz, esta circunstância se comunica aos demais.
Motivo: Trata-se de exclusão da tipicidade, o crime não foi come-
Iter Criminis tido, respondendo todos apenas pelos atos praticados até então.
Iter Criminis significa caminho percorrido pelo crime. A cogita-
ção (fase interna) não é punida – ninguém pode ser punido pelos Arrependimento Posterior
seus pensamentos. Os atos preparatórios, em regra, também, não É uma causa de diminuição de pena para o crime já consuma-
são punidos. do, desde que:
1. Crime praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa,
A partir do início da execução do crime, o agente sofre punição. ou culposo;
Caso complete o que é dito pelo tipo penal, o crime estará consu- 2. O juiz ainda não recebeu a denúncia ou queixa;
mado; caso não se consume por circunstâncias alheias à vontade do 3. O agente reparou o dano ou restituiu a coisa voluntariamen-
agente, pune-se a tentativa. te.
— A diminuição é de 1/3 a 2/3, a depender da celeridade e
Tentativa voluntariedade do ato.
O crime material consumado exige conduta + resultado natura- — O arrependimento posterior se comunica aos demais agen-
lístico + nexo de causalidade + tipicidade. Nos crimes tentados, por tes.
não haver consumação (resultado naturalístico), não estarão pre- — Se a vítima se recusar a receber a reparação mesmo assim o
sentes resultado e nexo de causalidade. Eventualmente, a tentativa agente terá a diminuição de pena.
pode provocar resultado naturalístico e nexo causal, mas diverso do
pretendido pelo agente no momento da prática criminosa. Crime Impossível (tentativa inidônea)
Na adequação típica mediata, o agente não pratica exatamen- Embora o agente inicie a execução do delito, jamais o crime se
te a conduta descrita no tipo penal, mas em razão de uma outra consumará.
norma que estende subjetiva ou objetivamente o alcance do tipo Por quê? O meio utilizado é completamente ineficaz ou o obje-
penal, ele deve responder pelo crime. Ex. O agente inicia a execução to material do crime é impróprio para aquele crime.
penal, mas em razão a circunstâncias alheias à vontade do agente o Ex. Ineficácia absoluta do meio = arma que não dispara.
resultado pretendido (consumação) não ocorre – o agente é punido Ex. Absoluta impropriedade do objeto = atirar em corpo sem
pelo crime, mas de forma tentada. vida.
O CP adotou a teoria dualística/realista/objetiva da punibi- O CP adotou a teoria objetiva da punibilidade do crime impos-
lidade da tentativa. Assim, a pena do crime tentado é a pena do sível, ou seja, não é punido (atipicidade).
crime consumado com diminuição de 1/3 a 2/3 (varia de acordo o Câmeras e dispositivos de segurança em estabelecimentos co-
quanto chegou perto do resultado). Isso ocorre porque o desvalor merciais não tornam o crime impossível.
do resultado para a sociedade é menor.
— Tentativa branca ou incruenta = o agente não atinge o bem Ilicitude
que pretendia lesar; Estado de Necessidade, Legítima Defesa, Estrito Cumprimento
— Tentativa vermelha ou cruenta = o agente atinge o bem que de Dever Legal, Exercício Regular de Direito.
pretendia lesar;
— Tentativa perfeita = o agente completa os atos de execução; A ilicitude, também conhecida como antijuridicidade, nos traz
— Tentativa imperfeita = o agente não esgota os meios de exe- a ideia de que a conduta está em desacordo com o Direito.
cução. Presente o fato típico, presume-se que o fato é ilícito. Assim, o
ônus da prova passa a ser do acusado, ou seja, o acusado é quem
▪ Crimes que não admitem tentativa vai precisar comprovar a existência de uma excludente de ilicitude.
• Culposo (é involuntário); As excludentes da ilicitude podem ser genéricas (incidem em
• Preterdoloso (o resultado é involuntário); todos os crimes) ou específicas (próprias de alguns crimes).
• Unissubsistente (um ato só); Causas genéricas = estado de necessidade; legítima defesa;
• Omissivo puro (não dá para tentar se omitir); exercício regular de direito; estrito cumprimento do dever legal.
• Perigo abstrato (só de gerar o perigo o crime se consuma); Causa supralegal de exclusão da ilicitude = consentimento do
• Contravenção (a lei quis assim); ofendido nos crimes contra bens disponíveis.
• De atentado/empreendimento (a tentativa já gera consuma-
ção); a) Estado de Necessidade:
• Habitual (atos isolados são indiferentes penais). Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica
o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vonta-
Desistência Voluntária e Arrependimento Eficaz de, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
Ambas afastam a tipicidade do dolo inicial e o agente só res- sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.         
ponde pelo o que fez (danos que efetivamente causou). § 1º  - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o
• Na desistência voluntária, o agente voluntariamente desiste
dever legal de enfrentar o perigo.         
de dar sequência aos atos executórios iniciados, mesmo podendo
§ 2º  - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito
fazê-lo (fórmula de Frank). O resultado não se consuma por desis-
ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.    
tência do agente.
• No arrependimento eficaz, o agente pratica todos os atos de
execução, mas após isto se arrepende e adota medidas que impe-
dem a consumação.

5
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
De acordo com a TEORIA UNITÁRIA, o bem jurídico protegido • É possível que ocorra LD sucessiva, ex. A agride B, B repele a
deve ser de valor igual ou superior ao sacrificado. Ex. vida x vida. Se agressão de forma excessiva, A passa ter o direito de agir em LD em
compromete um bem de maior valor para salvar um bem de menor razão do excesso (agressão injusta).
valor incide uma causa de diminuição de pena (-1/3 a 2/3). • Se o bem é indisponível, a vontade do dono (consentimento)
Requisitos: é indiferente para a atuação da LD de terceiro.
— Perigo a um bem jurídico próprio ou de terceiro; • Não cabe LD real em face de LD real, porque falta injusta
— Conduta do agente na qual ele sacrifica o bem alheio para agressão. Por outro lado, pode ter LD putativa (agressão injusta)
salvar o próprio ou do terceiro; sucedida por LD real (repelir agressão injusta).
— A situação de perigo não pode ter sido criada voluntaria-
mente pelo agente; c) Estrito Cumprimento do Dever Legal:
— O perigo tem que estar ocorrendo (atual); O agente comete um fato típico, em razão de um dever legal.
— O agente não pode ter o dever jurídico de impedir o resulta- Mas não confunda! Quando um policial numa troca de tiros mata
do, ex. bombeiro; um bandido não age em estrito cumprimento de dever legal, mas
— A conduta do agente precisa ser inevitável (o bem jurídico só em LD, pois não existe o dever legal de matar, mas sim injusta agres-
pode ser salvo se ele agir); são.
— A conduta do agente precisa ser proporcional (salvar bem de • O estrito cumprimento do dever legal se comunica aos de-
valor igual ou maior). mais agentes.
• Particular também pode estar amparado pelo estrito cumpri-
Estado de Estado de Estado de Estado de mento do dever legal.
necessidade necessidade necessidade necessidade
agressivo defensivo real putativo d) Exercício Regular de Direito:
O agente age no legítimo exercício de um direito seu (previsto
Quando a em lei). Ex. lutas desportivas.
situação de
perigo não existe EXCESSO PÚNIVEL: EM TODAS AS EXCLUDENTES DE ILICUTDE,
O agente de fato, apenas EVENTUAL EXCESSO SERÁ PUNIDO, SEJA ELE DOLOSO OU CULPO-
prejudica o na imaginação SO!
O agente
bem jurídico do agente.
sacrifica o
de terceiro Consequência: Culpabilidade: Imputabilidade Penal, Potencial Consciência
bem jurídico
que não O perigo se o erro é da Ilicitude, Exigibilidade de Conduta Diversa
de quem
produziu o existe. escusável, O último elemento da análise analítica do crime é a culpabili-
provocou o
perigo. exclui dolo e dade. Lembre-se, para a teoria tripartida o crime é fato típico, anti-
perigo.
Obs. o agente culpa; se o erro jurídico e culpável. Para a teoria bipartida a culpabilidade é pressu-
precisa é inescusável, posto para a aplicação da pena.
indenizar. exclui o dolo, A culpabilidade é o juízo de reprovabilidade, e divide-se nas
mas responde seguintes teorias:
por culpa, se • Teoria Psicológica: Os causalistas acreditavam que o agente
prevista. era culpável se imputável no momento do crime e se havia agido
com dolo ou culpa.
• Estado de necessidade recíproco é possível, se nenhum deles • Teoria normativa (psicológico-normativa): Além de imputá-
provocou o perigo. vel e com dolo ou culpa o agente tinha que estar consciente da ilici-
• O estado de necessidade se comunica a todos os agentes. tude e ser exigível conduta diversa.
• Teoria extremada da culpabilidade (normativa pura): Se coa-
b) Legítima Defesa: duna com a teoria finalista, pois dolo e culpa transportaram-se para
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando mode- a tipicidade (dolo subjetivo). Para essa teoria, os elementos da cul-
radamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou pabilidade são: imputabilidade + potencial consciência da ilicitude
iminente, a direito seu ou de outrem.         (dolo normativo) + exigibilidade de conduta diversa.
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos • Teoria limitada da culpabilidade: A teoria normativa pura se
no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o divide em teoria extremada e teoria limitada. O que as diferencia é
agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agres- o tratamento dado ao erro sobre as causas de justificação (exclusão
são a vítima mantida refém durante a prática de crimes.    da ilicitude), isto é, descriminantes putativas. A teoria extremada
defende que todo erro que recaia sobre uma causa de justificação
O agente pratica um fato para repelir uma agressão injusta, seja equiparado ao ERRO DE PROIBIÇÃO. A teoria limitada divide
atual ou iminente (prestes a ocorrer), contra direito próprio ou o erro sobre pressuposto fático da causa de justificação e o erro
alheio. Ex. o dono de um animal bravo utiliza o animal como instru- sobre a existência ou limites jurídicos de uma causa de justificação.
mento de agressão contra outrem – o agente poderá se defender. No primeiro caso (erro de fato) aplicam-se as regras do erro de tipo,
• Cabe LD contra agressão de inimputável; que aqui passa a se chamar erro de tipo permissivo. No segundo
• Ainda que possa fugir, o agente pode escolher ficar e repelir a caso (erro sobre a ilicitude da conduta) aplicam-se as regras do erro
agressão (no estado de necessidade não); de proibição.
• Os meios utilizados devem ser suficientes e necessários para
repelir a injusta agressão (proporcionalidade); Obs.: O CP adota a teoria normativa pura limitada, ou seja, se-
• Na LD putativa, o agente pensa que está sendo agredido. para o erro de tipo do erro de proibição.
Consequência: se o erro é escusável, exclui dolo e culpa; se o erro
é inescusável, exclui o dolo, mas responde por culpa, se prevista.

6
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
▪ Elementos da culpabilidade: mal grave. Obs. se a coação é física exclui a tipicidade pela falta de
1. Imputabilidade Penal: Capacidade de entender o caráter ilí- conduta. Obs. se podia resistir a coação, recebe apenas uma ate-
cito da conduta e autodeterminar-se conforme o Direito. Na ausên- nuante genérica. Ex. obediência hierárquica – funcionário público
cia de qualquer desses elementos será inimputável, de acordo com cumpre ordem não manifestamente ilegal emanada pelo seu su-
o critério biopsicológico. perior (isenção de pena). Obs. se a ordem é manifestamente ilegal
O CP também adota o critério biológico, pois os menores de 18 comete crime.
anos são inimputáveis.
Lembre-se que a imputabilidade penal deve ser aferida no mo- Concurso de Pessoas
mento que ocorreu o fato criminoso. O concurso de pessoas consiste na colaboração de dois ou mais
Lembre-se, também, que em crime permanente só cessa a con- agentes para a prática de um delito ou contravenção penal. De acor-
duta quando a vítima é liberada (ex. sequestro), logo, a idade do do com a teoria monista (unitária), todos respondem pelo mesmo
agente vai ser analisada até que realmente cesse a conduta, com a crime, na medida de sua culpabilidade. Ex. 3 amigos furtam uma
libertação da vítima/apreensão do agente. casa, todos respondem pelo crime de furto, mas o juiz vai valorar a
O ordenamento jurídico prevê a completa inimputabilidade, conduta de cada um de acordo com a individualidade dos agentes.
que exclui a culpabilidade e impõe medida de segurança (sentença
absolutória imprópria); bem como, prevê a semi-imputabilidade,
Concurso de pessoas
que enseja medida de segurança (sentença absolutória imprópria) Concurso de pessoas necessário
eventual
ou sentença condenatória com causa de diminuição de pena (-1/3
a 2/3). O tipo penal não exige a O tipo penal exige que a
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou presença de mais de uma conduta seja praticada por mais
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo pessoa. de uma pessoa.
da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimen- ▪ Requisitos do concurso de pessoas:
to. — Pluralidade de agentes: Se um imputável determina que um
Redução de pena inimputável realize um crime não existe concurso de pessoas, mas
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, sim autoria mediata (o mandante é o autor do crime e o inimputá-
se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por de- vel instrumento).
senvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramen- Nos crimes plurissubjetivos (concurso de pessoas necessário),
te capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de se um dos colaboradores não é culpável, mesmo assim haverá cri-
acordo com esse entendimento.  me.
Nos crimes eventualmente plurissubjetivos (concurso de pes-
Atenção soas eventual) não é necessário que todos os agentes sejam cul-
— Os índios podem ser imputáveis (integrados à sociedade), páveis, basta um deles para qualificar o crime, ex. o concurso de
semi-imputáveis (parcialmente integrados à sociedade) ou inimpu- pessoas qualifica o furto, logo, se um é imputável, não importa se os
táveis (não integrados). demais são inimputáveis, pois o furto estará qualificado.
— A conduta do sonâmbulo é atípica, pois falta conduta (dolo/ Nesses casos que tem inimputáveis, mas eu considero o con-
culpa). curso para tipificar ou qualificar o crime a doutrina os denomina de
— A embriaguez acidental gera inimputabilidade (isenção de concurso impróprio/aparente.
pena), desde que decorrente de caso fortuito ou força maior + com- — Relevância da colaboração: A participação do agente deve
pleta + retirar totalmente a capacidade de discernimento do agen- ser relevante para a produção do resultado. Ou seja, a colabora-
te. Obs. se for parcial (retirar parcialmente a capacidade de discer- ção que em nada contribui para o resultado é um indiferente penal.
Além disso, a colaboração deve ser prévia ou concomitante à exe-
nimento do agente) a pena será reduzida.
cução. A colaboração posterior à execução enseja crime autônomo,
• Nos casos de embriaguez não se aplica medida de segurança,
salvo o ajuste tenha ocorrido previamente.
pois o agente não é doente mental.
— Vínculo subjetivo (concurso de vontades): Ajuste ou adesão
• A embriaguez voluntária e culposa não exclui a imputabili-
de um à conduta do outro. Caso não haja vínculo subjetivo entre os
dade!
agentes haverá autoria colateral, e não coautoria.
• A lei de drogas exclui a imputabilidade do inebriado patoló-
— Unidade de crime (identidade de infração): todos respon-
gico. dem pelo mesmo crime.
— A embriaguez preordenada (se embriaga para cometer cri- — Existência de fato punível: a colaboração só é punível se o
me) não retira a imputabilidade do agente, pelo contrário, trata-se crime for, pelo menos, tentado (princípio da exterioridade – exige o
de circunstância agravante da pena. início da execução).
• Na autoria mediata por inimputabilidade do agente não basta
2. Potencial consciência da ilicitude: neste elemento da impu- que o executor seja inimputável, ele deve ser um instrumento do
tabilidade, é verificado se a pessoa tinha a possibilidade de conhe- mandante (não ter o mínimo discernimento).
cer o caráter ilícito do fato, de acordo com as suas características • Na autoria mediata por erro do executor, quem pratica a con-
(não como parâmetro o homem médio). duta é induzido a erro pelo mandante (erro de tipo ou erro de proi-
Quando o agente age acreditando que sua conduta não é pe- bição), ex. médico determina que enfermeira aplique uma injeção
nalmente ilícita comete erro de proibição. tóxica no paciente alegando que é um medicamento normal.
• Na autoria mediata por coação do executor existe coação mo-
3. Exigibilidade de conduta diversa: É verificado se o agente ral irresistível, a culpabilidade é apenas do coator, não do coagido
podia agir de outro modo. Caso comprovado que não dava para (inexigibilidade de conduta diversa).
agir de outra maneira, no caso concreto, a culpabilidade é excluída • Para ter autoria mediata em crime próprio, o autor mediato
(isenção de pena). Ex. coação moral irresistível – uma pessoa coage (mandante) precisa reunir as condições especiais exigidas pelo tipo
outra a praticar determinado crime, sob ameaça de lhe fazer algum penal. Se o mandante não reúne as condições do crime próprio há

7
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
autoria por determinação, punindo quem exerce sobre a conduta Teoria da Teoria da
domínio equiparado à figura da autoria (autor da determinação da Teoria da Teoria da
acessoriedade acesso-
conduta/responsável pela sua ocorrência). acessoriedade hiperacesso-
limitada riedade
• Nos crimes de mão própria não se admite autoria mediata, mínima riedade
(adotada) máxima
porque o crime não pode ser realizado por interposta pessoa. To-
davia, pode ter a figura do autor por determinação (pune quem de- Exige que O
terminou o crime). a conduta partícipe Exige que o
A conduta
principal seja só é fato principal
principal só
Autor é quem pratica a conduta descrita no núcleo do tipo pe- típica e ilícita. punido seja típico,
precisa ser
nal, todos os demais que de alguma forma prestarem colaboração Recorda que se o fato ilícito,
típica para a
serão partícipes. Essa teoria foi adotada pelo Código Penal e é de- as excludentes principal culpável e
punição do
nominada de teoria objetivo-formal. de ilicitude se for típico, o autor seja
partícipe.
No entanto, atente-se para a teoria do domínio do fato (nos comunicam?! ilícito e punido.
crimes dolosos), criada por Hans Welzel e desenvolvida por Claus Ahá! culpável.
Roxin: o autor é todo aquele que possui domínio da conduta cri-
minosa, seja ele executor ou não. O importante, para essa teoria, — A lei admite a redução da pena de 1/6 a 1/3 se a participação
é que tenha o poder de decidir sobre o rumo da prática delituosa, é de menor importância.
o cabeça do crime. O partícipe, por sua vez, é quem contribui, mas — A doutrina admite participação nos crimes comissivos por
sem poder de direção. Ou seja, o controle da situação (quem pode omissão, quando o partícipe devia e podia evitar o resultado.
intervir a qualquer momento para fazer cessar a conduta) é o crité-
rio utilizado para definir o autor. — Participação inócua não se pune, ex. eu emprestei a arma
A coautoria é espécie de concurso de pessoas na qual duas ou para o agente, mas ele matou com o uso de veneno.
mais pessoas praticam a conduta descrita no núcleo do tipo penal. — Participação em cadeia é possível, ex. eu empresto a arma
Na coautoria funcional, os agentes realizam condutas diversas que para A, para este emprestar para B e matar a vítima. Eu e A somos
se somam para produzir o resultado. Na coautoria material (direta) partícipes de B.
todos realizam a mesma conduta.
• Cabe coautoria em crimes próprios (todos reúnem as condi- Comunicam-se: Não se comunicam:
ções ou pelo menos tem ciência que um deles as possui), mas não
cabe coautoria em crime de mão própria (só participação). Elementares do crime Circunstâncias subjetivas
• Nos crimes omissivos não cabe coautoria, só participação. (caracteriza o crime) e (influencia a pena de acordo
• Nos crimes culposos cabe coautoria, mas não participação. circunstâncias objetivas com a pessoa do agente) e
• Na autoria mediata não há concurso entre autor mediato e (influencia a pena de acordo condições de caráter pessoal
autor imediato, respondendo apenas o autor mediato, que se valeu com o fato). (relativas à pessoa do agente).
de alguém sem culpabilidade para a execução do delito. Entretan-
to, é possível coautoria e participação na autoria mediata (vários Preste atenção, circunstâncias e condições de caráter pessoal
mandantes). não se comunicam. Por outro lado, as circunstâncias de caráter real
• Na coação física irresistível, o coator é autor direto. ou objetivas (se referem ao fato), se comunicam, sob uma condi-
• Existe autoria mediata de crime próprio, mas não de crime ção: é necessário que a circunstância tenha entrado na esfera de
de mão própria. conhecimento dos demais agentes. Ex. A informa o seu partícipe
que usará emboscada para matar, ambos respondem por essa qua-
Participação é modalidade de concurso de pessoas, na qual o lificadora.
agente colabora para a prática delituosa, mas não pratica a conduta Outro ponto interessante é que elementares sempre se comu-
descrita no núcleo do tipo penal. nicam, sejam objetivas ou subjetivas, desde que tenham entrado na
esfera de conhecimento do partícipe.
Para fechar com chave de ouro vale abordar a autoria colateral.
Participação Moral Participação Material O que é isso? Não se confunde com o concurso de pessoas, pois não
Instiga (reafirma a ideia) ou Presta auxílio fornecendo existe acordo de vontades. Imagine que 2 pessoas atiram na mesma
induz (cria a ideia) em outrem. objeto ou condições para a vítima, mas os peritos não conseguem identificar quem efetuou o
fuga (cumplicidade). disparo fatal. O resultado desta autoria incerta é que ambos res-
pondem de forma tentada.
Pela teoria da adequação típica mediata, o partícipe mesmo Outra figura curiosa é a cooperação dolosamente distinta, que
sem praticar a conduta descrita no núcleo do tipo pode ser punido, consiste em participação em crime menos grave (desvio subjetivo
uma vez que, as normas de extensão da adequação típica possibili- de conduta). Ambos os agentes decidem praticar determinado cri-
tam o raio de aplicação do tipo penal. Ou seja, soma o art. do crime me, mas durante a execução um deles decide praticar outro crime,
+ o art. 29 do CP = o resultado é conseguir punir o partícipe. mais grave. Aquele que escolheu praticar somente o crime inicial
Conforme a teoria da acessoriedade, o partícipe é punido mes- só responderá por este, salvo ficar comprovado que podia prever a
mo que sua conduta seja considerada acessória em relação ao au- ocorrência do crime mais grave. Neste último caso, a pena do crime
tor. Vejamos: inicial é aumentada até a metade.
Obs.: No concurso de multidão criminosa, quem lidera o crime
terá pena agravada e quem adere a conduta tem a pena atenuada.
Há concurso de pessoas, pois existe vínculo subjetivo, no sentido
de que um adere a conduta do outro, mesmo que de forma tácita.

8
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Quanto a qualificadora do motivo fútil, o STJ não a enquadra
CRIMES CONTRA A PESSOA nos casos de racha. Todavia, aplica-se a qualificadora do meio cruel
no caso de reiteração de golpes na vítima. Ademais, a qualificadora
Os crimes contra a pessoa protegem os bens jurídicos vida e inte- do motivo fútil é compatível com o homicídio praticado com dolo
gridade física da pessoa, encontram-se entre os artigos 121 ao 154 do eventual. Mas a qualificadora da traição/emboscada/dissimulação
Código Penal. A jurisprudência é vasta sobre tais tipos penais e muitas não é compatível com dolo eventual, pois exige-se um planejamen-
vezes repleta de polêmicas, como, por exemplo, no caso do aborto. to do crime que o dolo eventual não proporciona.
A qualificadora do feminicídio é compatível com o motivo tor-
Homicídio pe, pois está solidificado nos tribunais superiores o entendimento
• O homicídio simples consiste em matar alguém. que o feminicídio é uma qualificadora objetiva que combina com
• O homicídio privilegiado recebe causa de diminuição de pena as qualificadoras subjetivas (motivo do crime), bem como com o
de 1/6 a 1/3, desde que o motivo seja de relevante valor moral ou homicídio privilegiado.
social (ex. matou o estuprador da filha); sob domínio de violenta Por fim, lembre-se que a jurisprudência considera que algumas
emoção logo após injusta provocação da vítima (ex. matou o aman- situações merecem a extinção da punibilidade pelo perdão judicial,
te da esposa ao pegá-los no flagra). quando o homicídio é culposo e o agente já sofreu suficientemente
• O homicídio é qualificado e recebe pena-base maior nos ca- as consequências do crime. Exemplo: pai atropela o filho.
sos de paga ou promessa de recompensa ou outro motivo torpe Ainda sobre o homicídio culposo, a causa de aumento não é
(ex. matar por dinheiro); emprego de veneno, fogo, explosivo, as- afastada se o agente deixa de prestar socorro em caso de morte
fixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (ex. queimar a pes- instantânea da vítima, salvo se o óbito realmente for evidente.
soa viva), ou de que possa resultar perigo comum (ex. incendiar um
prédio para matar seu desafeto); traição, emboscada, dissimulação ▪ Homicídio simples
ou outro recurso que dificulte a defesa do ofendido (ex. mata-lo em Art. 121. Matar alguém:
rua sem saída); para assegurar a execução, ocultação, impunidade Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
ou vantagem de outro crime (ex. matar a testemunha de um crime).
• Caso de diminuição de pena
Obs.: O feminicídio é uma espécie de homicídio qualificado, no § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele-
qual o agente mata a mulher por razões da condição de sexo fe- vante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção,
minino, isto é, no contexto de violência doméstica ou familiar, ou, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir
menosprezo/discriminação à condição de mulher. a pena de um sexto a um terço.

Causas de Causas de ▪ Homicídio qualificado


Causas de aumento § 2° Se o homicídio é cometido:
aumento do aumento do
do feminicídio I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
homicídio culposo homicídio doloso
motivo torpe;
Ocorrer durante a II - por motivo fútil;
gestação ou nos 3 III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura
Vítima menor de
meses posteriores ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
14 anos ou maior
ao parto; contra comum;
de 60 anos; crime
menor de 14 anos IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou ou-
Se ocorrer a praticado por
ou maior de 60 anos tro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
inobservância milícia privada,
ou pessoa portadora V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
de regra técnica sob o pretexto
de deficiência/ vantagem de outro crime:
profissional; deixar de prestação
doença degenerativa; Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
de prestar socorro. de serviço
na presença de
de segurança
ascendente ou ▪ Feminicídio
ou grupo de
descendente; VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
extermínio.
descumprindo VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
medida protetiva. da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da For-
ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
Obs.: O homicídio contra autoridade da Segurança Pública, no decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição:
companheiro ou parente até 3º grau qualifica o homicídio. VIII - (VETADO):
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
É interessante que recentemente o STJ entendeu que o sim-
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino
ples fato do condutor do automóvel estar embriagado não gera a
quando o crime envolve:
presunção de que tenha havido dolo eventual, no caso de acidente
I - violência doméstica e familiar;
de trânsito com o resultado morte. O STF, no mesmo sentido, con-
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
siderou que não havia homicídio doloso na conduta de um homem
que entregou o seu carro a uma mulher embriagada para que esta
dirigisse o veículo, mesmo tendo havido acidente por causa da em- ▪ Homicídio culposo
briaguez, resultando a morte da mulher condutora. § 3º Se o homicídio é culposo:
Por outro lado, já foi reconhecido o dolo eventual por estar diri- Pena - detenção, de um a três anos.
gindo na contramão embriagado, uma vez que, o condutor assumiu
o risco de causar lesões/morte de outrem. Inclusive, a tentativa é
compatível com o dolo eventual.

9
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
▪ Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil;
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um ter- (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
ço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profis- II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa,
são, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada
para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida
aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou co-
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de ordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968,
aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio de 2019)
agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desneces- § 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em le-
sária. são corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de
§ 6oA pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência
crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste
metade se o crime for praticado: Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao par- § 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido
to; contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o ne-
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (ses- cessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
senta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerati- outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo
vas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código.
ou mental;
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascen- O crime consiste em colocar a ideia ou incentivar a ideia do
dente da vítima; suicídio ou automutilação, bem como prestar auxílio material (ex.
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência emprestar a faca). As penas são diferentes, a depender do resultado
previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de do crime.
7 de agosto de 2006. • Lesão corporal de natureza grave ou gravíssima: Reclusão de
1 a 3 anos;
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automuti- • Resultado morte: Reclusão de 2 a 6 anos.
lação
Este crime sofreu alteração com o Pacote Anticrime, em razão Ademais, as penas são duplicadas se o crime é praticado por
do episódio da “Baleia Azul”, jogo desenvolvido entre jovens, no motivo egoístico, torpe ou fútil (motivo banal), bem como se a ví-
qual incitava-se a automutilação e o suicídio. tima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade
de resistência. No mesmo sentido, a pena é aumentada até o do-
▪ Antes do Pacote Anticrime bro se a conduta é realizada por meio da internet (ex. jogo baleia
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe azul). Ademais, aumenta-se a pena em metade se o agente é o líder
auxílio para que o faça: (quem manda).
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou Se o resultado é lesão corporal de natureza gravíssima e é co-
reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão metido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por
corporal de natureza grave. enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discerni-
Parágrafo único - A pena é duplicada: mento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de Lesão
Aumento de pena Corporal qualificada como gravíssima.
I - se o crime é praticado por motivo egoístico; Se o resultado é a morte e o crime é cometido contra menor
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discer-
a capacidade de resistência. nimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa,
não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de
Após o Pacote Anticrime homicídio.
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar
automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Re- Infanticídio
dação dada pela Lei nº 13.968, de 2019) Consiste em matar o filho sob influência dos hormônios (esta-
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação do puerperal), durante o parto ou logo após.
dada pela Lei nº 13.968, de 2019) Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta le- filho, durante o parto ou logo após:
são corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º Pena - detenção, de dois a seis anos.
e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei nº Aborto
13.968, de 2019) O Código Penal divide o aborto em:
§ 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta ▪ Aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimen-
morte:(Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) to: Consiste em provocar o aborto em si mesma, ex. mediante chás.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº Ou, consentir que alguém o provoque, ex. ir em uma clínica abor-
13.968, de 2019) tiva.
§ 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019)

10
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
▪ Aborto provocado por terceiro: No aborto provocado por Qualificadora de natureza
terceiro, pode existir ou não o consentimento da gestante. No pri- Qualificadora de natureza grave
gravíssima
meiro caso perceba que cada um vai responder por um crime, a
gestante por consentir, o terceiro por abortar. Incapacidade para as ocupações
Incapacidade permanente
habituais por mais de 30 dias,
para o trabalho, ex. não
É considerado aborto sem o consentimento da gestante se ela ex. passar roupa.
consegue mais trabalhar.
é menor de 14 anos, sofre de problemas mentais, se o consenti- Perigo de vida, ex. correu risco
Enfermidade incurável, ex.
mento é obtido mediante fraude/grave ameaça/violência. na cirurgia.
adquire deficiência mental.
Tanto no aborto com ou sem o consentimento da gestante exis- Debilidade permanente de
Deformidade permanente,
te causa de aumento de pena se ela morre ou sofre lesão corporal membro, sentido ou função, ex.
ex. rosto queimado.
grave. não consegue escrever como
Aborto.
▪ Aborto necessário: Não se pune o aborto praticado por médi- antes.
Perda de membro, sentido
co caso não haja outro meio se salvar a vida da gestante. Aceleração do parto, ex. nasce
ou função, ex. fica cego.
▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro: Não se prematuro.
pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de estu-
pro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou seu No caso de lesão corporal seguida de morte, a morte é culposa
representante legal, no caso de incapacidade. e a lesão corporal dolosa. A morte qualifica a lesão corporal. Ex.
João tem a intenção de espancar seu desafeto, que acaba falecen-
A grande polêmica do aborto circunda na questão da interrup- do.
ção da gravidez no primeiro trimestre. O STF já decidiu que não há A lesão corporal é privilegiada se o agente comete o crime im-
crime se existe o consentimento da gestante ou trata-se de auto- pelido por motivo de relevante valor moral ou social (ex. espanca
aborto. A Suprema Corte fundamentou que a criminalização, nessa o estuprador de sua filha); sob o domínio de violenta emoção logo
hipótese, viola os direitos fundamentais da mulher e o princípio da após injusta provocação da vítima (ex. espanca o amante da esposa
proporcionalidade. ao pegá-los no flagra). Resultado: O juiz pode diminuir a pena, ou,
não sendo grave a lesão, o juiz pode substituir a pena de detenção
▪ Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento por multa. No mesmo sentido, se a lesão não é grave e as lesões
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que ou- são recíprocas, o juiz pode substituir a pena de detenção por multa.
trem lho provoque: São causas de aumento:
Pena - detenção, de um a três anos. • Na lesão corporal culposa – inobservância de regra técnica
profissional, deixar de prestar socorro.
▪ Aborto provocado por terceiro • Na lesão corporal dolosa – vítima menor de 14 anos ou maior
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: de 60 anos, praticado por milícia privada ou grupo de extermínio.
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Obs.: Causar lesão contra autoridade de segurança pública no
Pena - reclusão, de um a quatro anos. exercício de função ou em decorrência dela, bem como contra pa-
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a ges- rente até 3º grau dessas pessoas enseja causa de aumento.
tante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental,
ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou Bem como no homicídio culposo, a lesão corporal culposa pos-
violência sibilita a aplicação do perdão judicial e a isenção da pena. Ex. ma-
chucou o filho sem querer.
▪ Forma qualificada A lesão corporal praticada contra o cônjuge, ascendente, des-
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são cendente e irmão, com quem conviva ou tenha convivido, ou, pre-
aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos valecendo-se das relações domésticas enseja aumento na pena do
meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal crime qualificado por lesão grave ou gravíssima. Ademais, aumenta
de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas cau- a pena o crime de lesão corporal em âmbito doméstico se a vítima
sas, lhe sobrevém a morte. é portadora de deficiência.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: A jurisprudência caminha no sentido que a qualificadora da
deformidade permanente não é afastada em razão de posterior ci-
▪ Aborto necessário rurgia plástica reparadora. Ademais, perda de dois dentes configura
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; lesão grave, uma vez que, ocasiona debilidade permanente (dificul-
dade para mastigar).
▪ Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de Lesão corporal
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu represen- Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
tante legal. Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão Corporal Lesão corporal de natureza grave


Consiste em ofender a integridade corporal ou saúde de ou- § 1º Se resulta:
trem. A pena é aumentada em caso de violência doméstica, como I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta
forma de prestígio à Lei Maria da Penha. Ademais, qualifica o crime dias;
a depender do resultado das lesões: II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

11
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 2° Se resulta: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
I - Incapacidade permanente para o trabalho; § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
II - enfermidade incurável; Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; § 2º - Somente se procede mediante representação.
IV - deformidade permanente;
V - aborto: • Perigo de contágio de moléstia grave: consiste em praticar
Pena - reclusão, de dois a oito anos. ato capaz de produzir contágio, tendo o dolo se transmitir a outrem
a moléstia (doença) de que está contaminado. Ex. sabendo que es-
Lesão corporal seguida de morte tou com coronavírus espirro na face do meu desafeto.
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Diminuição de pena • Perigo para a vida ou saúde de outrem: consiste em expor


§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de rele- a vida ou saúde de outrem a perigo direto e iminente. A pena é
vante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, aumentada se o perigo ocorre em transporte de pessoas. Ex. trans-
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir portar crianças de uma creche sem que o automóvel respeite as
a pena de um sexto a um terço. normas de segurança.
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e
Substituição da pena iminente:
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui
pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos crime mais grave.
de réis: Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do
II - se as lesões são recíprocas. transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabeleci-
mentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa: • Abandono de incapaz: Abandonar a pessoa que está sob o
Pena - detenção, de dois meses a um ano. seu cuidado/guarda/vigilância/autoridade incapaz de se defender
dos riscos do abandono. Ex. deixo meu sobrinho menor de idade
Aumento de pena em uma viela perigosa. Eventual lesão corporal ou morte qualificam
§ 7oAumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer o crime. Aumenta a pena se o abandono ocorrer em local ermo,
das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. entre parentes próximos/tutor/curador, se a vítima é maior de 60
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. anos.
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda,
Violência Doméstica vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defen-
§ 9oSe a lesão for praticada contra ascendente, descendente, der-se dos riscos resultantes do abandono:
irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha Pena - detenção, de seis meses a três anos.
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domés- § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
ticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - reclusão, de um a cinco anos.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. § 2º - Se resulta a morte:
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as cir- Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
cunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a
pena em 1/3 (um terço). Aumento de pena
§ 11.Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de terço:
deficiência. I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão,
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes tutor ou curador da vítima.
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão • Exposição de abandono de recém nascido: consiste em ex-
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. por/abandonar o recém nascido para ocultar desonra própria. Ex.
tenho um filho fora do casamento e o abandono para o meu esposo
Periclitação da vida e da saúde não saber. Eventual lesão corporal ou morte do recém-nascido qua-
• Perigo de contágio venéreo: Consiste em expor outrem por
lificam o crime.
meio de relações sexuais a contágio de moléstia venérea, quando
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar de-
sabe ou deve saber que está contaminado. Ex. João sabe que tem
sonra própria:
AIDS, mas insiste em ter relações sexuais com a sua esposa de ma-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
neira desprotegida.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Se a intenção do agente é transmitir a moléstia venérea o crime
Pena - detenção, de um a três anos.
qualifica-se, isto é, possui uma pena mais severa.
§ 2º - Se resulta a morte:
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qual-
quer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou Pena - detenção, de dois a seis anos.
deve saber que está contaminado:

12
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Omissão de socorro: crime omissivo, no sentido de deixar de Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato de-
prestar assistência quando possível fazê-lo a criança abandonado, finido como crime:
pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, em grave ou iminente pe- Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
rigo. Se não for possível o socorro direto, o agente deve, pelo me- § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputa-
nos, pedir socorro à autoridade pública, para não cometer o crime ção, a propala ou divulga.
de omissão de socorro. A lesão corporal grave e a morte aumentam § 2º - É punível a calúnia contra os mortos.
a pena. Para se livrar do crime de calúnia o agente pode provar que re-
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo almente está certo no fato criminal que contou. Esse é o instituto da
sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa exceção da verdade, mas que não pode ser usado em alguns casos:
inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o
não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omis- I do art. 141 (contra o Presidente da República, ou contra chefe de
são resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta governo estrangeiro);
a morte. III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido
foi absolvido por sentença irrecorrível.
• Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emer-
gencial: exigir garantia, bem como preenchimento de formulários • Difamação: Atribuir a outrem um fato desabonador. Ex. Eu
administrativos, como condição para o atendimento médico hos- digo que Joana se prostitui nas horas vagas.
pitalar emergencial. Ex. chego no PS infartando e me mandam dar Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
uma garantia financeira para que ocorra o meu atendimento. Au- reputação:
mentam a pena eventual morte ou lesão corporal grave. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 135-A.Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer Exceção da verdade
garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários admi- Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se
nistrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício
emergencial: de suas funções.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Motivo: é do interesse da Administração Pública saber sobre a
Parágrafo único.A pena é aumentada até o dobro se da negati- conduta dos seus funcionários.
va de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o
triplo se resulta a morte. • Injúria: É o famoso xingar outrem. Ex. palavrões.
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o de-
• Maus tratos: Expor a perigo de vida/saúde uma pessoa que coro:
está sob sua autoridade/guarda/vigilância, tendo como finalidade Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
educação, ensino, tratamento, custódia, privando-a de alimentação Não cabe exceção da verdade. Mas o juiz pode deixar de aplicar
ou cuidados indispensáveis, sujeitando-a a trabalho excessivo ou a pena se o ofendido provocou a injúria ou no caso de retorsão ime-
inadequado, abusando dos meios de correção e disciplina. Ex. pai diata que consista em outra injúria (um injuria o outro).
espanca o filho com a intenção de educá-lo. Caso ocorra lesão cor-
poral grave ou morte da vítima a pena é aumentada, bem como se Obs.: A injúria possui duas qualificadoras: 1) se há violência/
ela possui menos de 14 anos de idade. vias de fato, ex. puxão de orelha para dizer que Juquinha é burro;
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua 2) Injúria racial, ex. dizer que Juquinha é um macaco em razão da
autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tra- sua cor.
tamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequa- Em qualquer dos 3 crimes a pena é aumentada quando prati-
do, quer abusando de meios de correção ou disciplina: cado contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. estrangeiro; contra funcionário público, em razão de suas funções;
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação
Pena - reclusão, de um a quatro anos. da calúnia, da difamação ou da injúria; contra pessoa maior de 60
§ 2º - Se resulta a morte: (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injú-
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. ria (neste caso qualifica). Se o crime é cometido mediante paga ou
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. Existe a exclusão do crime de injúria ou difamação se:
▪ Rixa: Consiste em participar da rixa, salvo se a intenção do I - a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte
agente é separar a briga. Qualifica o crime eventual lesão corporal ou por seu procurador (ex. discussões nas sessões de julgamento);
grave ou morte. II - a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou cientí-
fica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar (ex.
Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: crítica de um especialista no assunto);
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. III - o conceito desfavorável emitido por funcionário público,
Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natu-
em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever
reza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de
do ofício (ex. avaliação de funcionário).
detenção, de seis meses a dois anos.
Todavia, nos casos dos nº I e III, responde pela injúria ou pela
▪ Crimes contra a honra
difamação quem lhe dá publicidade.
• Calúnia: Atribuir a outrem um fato criminoso que o sabe fal-
so. Ex. Eu digo que Juquinha subtraiu o relógio de Joana enquanto
ela dormia, mesmo sabendo que isso não é verdade.

13
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Por fim, cabe retratação, isto é, o agente antes da sentença se Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro
retrata cabalmente da calúnia ou difamação. A consequência é que ou cárcere privado:
ficará isento de pena. Outra opção para evitar a responsabilização Pena - reclusão, de um a três anos.
criminal é se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, di- § 1º - A pena é de reclusão, de dois a cinco anos:
famação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou compa-
em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as nheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
dá satisfatórias, responde pela ofensa. II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em
Quanto ao entendimento dos tribunais, algumas decisões me- casa de saúde ou hospital;
recem destaque: III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias.
• Em uma única carta pode estar configurado o crime de calú- IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;
nia, difamação e injúria. V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
• Configura difamação edição e publicação de vídeo que faz § 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natu-
parecer que a vítima está falando mal de negros e pobres. reza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
• A esposa tem legitimidade para propor queixa-crime contra Pena - reclusão, de dois a oito anos.
autor de postagem que sugere relação extraconjugal do marido
com outro homem. • Redução à condição análoga a de escravo: consiste em sub-
• Deputado que em entrevista afirma que determinada depu- meter alguém a trabalhos forçados ou jornada exaustiva, condições
tada não merece ser estuprada pratica, em tese, crime de injúria. degradantes de trabalho, restringindo a sua locomoção em razão de
• Não deve ser punido deputado federal que profere palavras dívida contraída. Responde pela mesma pena quem cerceia o meio
injuriosas contra adversário político que também o ofendeu ime- de transporte para reter a vítima no local de trabalho, mantém vi-
diatamente antes. gilância ou se apodera de documentos da vítima com o fim retê-la.
• O advogado não comete calúnia se não ficar provada a sua Aumenta a pena se existe motivo de preconceito ou se é contra
intenção de ofender a honra, ainda que contra magistrado. criança/adolescente.

Crimes contra a liberdade pessoal Obs.: Não é requisito para a configuração do crime a restrição
• Constrangimento ilegal: Consiste em constranger alguém da liberdade de locomoção dos trabalhadores.
mediante violência ou grave ameaça, ou depois de reduzir a sua
capacidade de resistência, para não fazer o que a lei permite ou Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer
a fazer o que ela não mandar. Além da pena do constrangimento, submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer
é aplicada a pena da violência. Exceções: intervenção médica ou sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringin-
cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou seu representante do, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída
legal, se justificada por iminente perigo de vida, e no caso de impe- com o empregador ou preposto:
dimento de suicídio. Aumento de pena: reunião de mais de 3 pes- Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena cor-
soas ou emprego de arma. respondente à violência.
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do
a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
fazer o que ela não manda: II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apo-
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. dera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim
de retê-lo no local de trabalho.
Aumento de pena § 2o A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quan- I – contra criança ou adolescente;
do, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
há emprego de armas. origem.
§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as corresponden-
tes à violência. •Tráfico de Pessoas: Consiste em agenciar/ aliciar/recrutar/
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo: transportar/transferir/comprar/alojar/acolher, mediante violência,
I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do grave ameaça, coação, fraude ou abuso uma pessoa tendo a finali-
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente dade de remover partes do corpo, submetê-la a trabalho em con-
perigo de vida; dições análogas a de escravo, submetê-la a servidão, adoção ilegal
II - a coação exercida para impedir suicídio. ou exploração sexual. Aumenta a pena se o crime é cometido por
funcionário público; contra criança/adolescente/idoso/deficiente;
• Ameaça: Ameaçar alguém de lhe causar mal injusto e grave. se há retirada do território nacional; se prevalece da relação que
Ex. vou te matar. tem com a vítima. A pena é diminuída caso o agente seja primário e
Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou não integre organização criminosa.
qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Art. 149-A.Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir,
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação. comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante grave ameaça, violên-
cia, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
• Sequestro e cárcere privado: Consiste em privar alguém da
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
sua liberdade. Ex. Juquinha prende Maria no quarto por dias. Qua-
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
lifica o crime se a vítima é maior de 60 anos ou menor de 18 anos,
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
parente, o modus operandi é a internação da vítima, se dura mais
IV - adoção ilegal; ou
de 15 dias, se há fins libidinosos, resulta grave sofrimento físico ou
V - exploração sexual.
moral.

14
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. Crimes contra a inviolabilidade dos segredos
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de Violação do segredo
suas funções ou a pretexto de exercê-las; Divulgação de segredo
profissional
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa
idosa ou com deficiência; Divulgar alguém, sem justa
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domés- causa, conteúdo de documento
ticas, de coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, particular ou de correspondência
de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício confidencial, de que é Revelar alguém, sem justa
de emprego, cargo ou função; ou destinatário ou detentor, e cuja causa, segredo, de que
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território na- divulgação possa produzir dano tem ciência em razão de
cional. a outrem. função, ministério, ofício ou
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for pri- Qualifica divulgar, sem justa profissão, e cuja revelação
mário e não integrar organização criminosa. causa, informações sigilosas ou possa produzir dano a
reservadas, assim definidas em outrem.
Crimes contra a inviolabilidade do domicílio - Violação de do- lei, contidas ou não nos sistemas
micílio de informações ou banco de
Entrar ou permanecer em casa alheia, de maneira clandestina/ dados da Administração Pública.
astuciosa, contra a vontade de quem de direito (ex. proprietário).
Qualifica quando o crime é cometido no período da noite, lugar Por fim, configura o crime de invasão de dispositivo informá-
ermo, mediante violência ou arma, 2 ou mais pessoas. Aumenta tico o indivíduo que invade dispositivo informático alheio, conecta-
se o agente é funcionário público. Não configura o crime se é caso do ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de
de prisão em flagrante ou efetuar prisão/diligências durante o dia. mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou des-
truir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do
titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vanta-
É casa Não é casa gem ilícita. Ex. Hacker.
I - qualquer compartimento Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende
habitado; I - hospedaria, estalagem ou ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito
II - aposento ocupado de habita- qualquer outra habitação de permitir a prática da conduta. Aumenta-se a pena de um sexto
ção coletiva; coletiva, enquanto aberta; a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. Qualifica o
III - compartimento não aberto II - taverna, casa de jogo e ou- crime se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunica-
ao público, onde alguém exerce tras do mesmo gênero. ções eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, infor-
profissão ou atividade. mações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não
autorizado do dispositivo invadido. Nesse último caso, aumenta-se
Em recente decisão, o STJ entendeu que configura o crime de a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização
violação de domicílio o ingresso e permanência, sem autorização, ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informa-
em gabinete de delegado de polícia, embora faça parte de um pré- ções obtidas.
dio/repartição pública.
Obs.: Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for
Crimes contra a inviolabilidade de correspondências praticado contra: Presidente da República, governadores e prefei-
• Violação de correspondência: Devassar indevidamente o tos; Presidente do Supremo Tribunal Federal; Presidente da Câmara
conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem. dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de
• Sonegação ou destruição de correspondência: Se apossa in- Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Mu-
devidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no nicipal; ou dirigente máximo da administração direta e indireta fe-
todo ou em parte, a sonega ou destrói. deral, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
• Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou tele-
fônica: Quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza
abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas;
Em primeiro lugar, é importante conhecer as alterações que o
Quem impede a comunicação ou a conversação referidas no
Pacote Anticrime fez nos crimes contra o patrimônio:
número anterior;
• No crime de roubo, a pena passou a ser aumentada de 1/3
Quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico.
até 1/2 se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de
• Correspondência comercial:Abusar da condição de sócio ou
ARMA BRANCA. Ademais, a pena aumenta-se de 2/3 se a violên-
empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no cia ou ameaça é exercida com emprego de ARMA DE FOGO. Por
todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspon- fim, aplica-se a pena em DOBRO se a violência ou grave ameaça é
dência, ou revelar a estranho seu conteúdo. exercida com emprego de ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO OU
PROIBIDO.
Obs.:As penas aumentam-se de metade, se há dano para ou- • O crime de estelionato passou a ter como regra de Ação Pe-
trem. Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço nal Pública Condicionada a Representação. Exceção: Será de Ação
postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico o crime qualifica-se. penal pública INCONDICIONADA quando a vítima for: I - a Admi-
nistração Pública, direta ou indireta; II - criança ou adolescente; III
- pessoa com deficiência mental; ou IV - maior de 70 anos de idade
ou incapaz.

15
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• A pena do crime de concussão também mudou: De Reclusão, — Causa de aumento
de 2 a 8 anos, e multa, passou para Reclusão, de 2 a 12 anos, e mul- § 2ºA pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade:
ta. Essa é uma novatio legis in pejus, logo, não retroage. II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o
Furto agente conhece tal circunstância.
Consiste na subtração de bem alheio, sem violência nem grave IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
ameaça. transportado para outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: sua liberdade.
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de aces-
— Causa de aumento sórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação,
A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante montagem ou emprego.
o repouso noturno. Ex. enquanto os moradores da casa estavam VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego
dormindo o agente furta o lar. de arma branca;
— Qualificadoras § 2º-AA pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):
A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma
cometido: de fogo;
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o
da coisa; emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo co-
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou mum.
destreza;
III - com emprego de chave falsa; — Qualificadora
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. § 2º-B.Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego
A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a
se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause pena prevista no caput deste artigo.
perigo comum. § 3º Se da violência resulta:
A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18
veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado (dezoito) anos, e multa;
ou para o exterior. II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos,
A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração e multa.
for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes no local da subtração. Extorsão e Extorsão mediante sequestro
A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, Os dois tipos penais não se confundem. Na extorsão, constran-
se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, ge-se alguém, de forma violenta ou com grave ameaça, para obter
conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem vantagem econômica. Na extorsão, mediante sequestro, seques-
ou emprego. tra-se a pessoa para obter qualquer vantagem, como condição ou
preço do resgate.
▪ Furto privilegiado
Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, ▪ Extorsão
o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminu- Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave
í-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Obs. ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
outros crimes patrimoniais sem violência/grave ameaça, também, vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
recebem o benefício. alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
▪ Furto de Coisa Comum § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o dis-
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. posto no § 3º do artigo anterior.
§ 1º - Somente se procede mediante representação. § 3ºSe o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem
valor não excede a quota a que tem direito o agente. econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além
da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as
Roubo penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.
É a subtração de bens alheios violenta, com grave ameaça ou
reduzindo a possibilidade de resistência da vítima (ex. boa noite ▪ Extorsão mediante sequestro
cinderela). Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê- Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: § 1o Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta)
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
ou para terceiro. Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.

16
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 3º - Se resulta a morte: Apropriação indébita
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. O agente apropria-se de coisa alheia, valendo-se da posse ou
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que detenção que tem dela. Ex. o motoboy que ia levar a sua pizza por
o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, delivery, aproveita para apropriar-se dela. A pena é aumentada de
terá sua pena reduzida de um a dois terços. um terço, quando o agente recebeu a coisa: em depósito neces-
sário; na qualidade de tutor, curador, síndico (atual administrador
▪ Extorsão indireta judicial), liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando judicial; em razão de ofício, emprego ou profissão.
da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedi-
mento criminal contra a vítima ou contra terceiro: Atenção: O STF, já decidiu que ressarcimento em acordo homo-
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. logado no juízo cível é fundamento válido para trancar a ação penal.

Usurpação Obs. a apropriação indébita previdenciária (forma qualificada)


Dentro do capítulo usurpação estão inseridos os seguintes cri- caracteriza-se por deixar de repassar à previdência social as con-
mes: tribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou
• Alteração de limites: suprimir ou deslocar tapume, marco, ou convencional, independente de dolo específico.
qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se,
no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia. § 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:
• Usurpação de águas: desviar ou represar, em proveito próprio I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância
ou de outrem, águas alheias. destinada à previdência social que tenha sido descontada de paga-
• Esbulho possessório: invadir, com violência a pessoa ou grave mento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno II – recolher contribuições devidas à previdência social que te-
ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. Obs. Se a pro- nham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de
priedade é particular, e não há emprego de violência, somente se produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas
procede mediante queixa.
cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela pre-
• Supressão ou alteração de marca em animais: Suprimir ou
vidência social.
alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente,
indicativo de propriedade.
declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, impor-
tâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência
Dano
social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da
No crime de dano, os verbos núcleos do tipo são 3 - Destruir,
ação fiscal.
inutilizar ou deteriorar (coisa alheia). Ademais, em 4 situações o cri- § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente
me é qualificado: a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
• com violência à pessoa ou grave ameaça; I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de ofe-
• com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato recida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciá-
não constitui crime mais grave; ria, inclusive acessórios; ou
• contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja
de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, admi-
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de servi- nistrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
ços públicos; execuções fiscais.
• por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a víti- § 4oA faculdade prevista no § 3o deste artigo não se aplica aos
ma (somente se procede mediante queixa). casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos
acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente,
No mesmo capítulo, o Código Penal traz mais algumas figuras como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.
típicas:

Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia Apropriação de


(somente se procede mediante queixa) coisa havida por
Apropriação de Apropriação de
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, erro, caso fortuito
tesouro coisa achada
sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte ou força da natu-
prejuízo: reza
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa. II - quem acha coi-
sa alheia perdida
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico I - quem acha e dela se apropria,
Art. 169 - Apro-
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela tesouro em prédio total ou parcial-
priar-se alguém de
autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico alheio e se apro- mente, deixando
coisa alheia vinda
ou histórico: pria, no todo ou de restituí-la ao
ao seu poder por
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. em parte, da quota dono ou legítimo
erro, caso fortuito
a que tem direito possuidor ou de
ou força da natu-
Alteração de local especialmente protegido o proprietário do entregá-la à autori-
reza.
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o as- prédio. dade competente,
pecto de local especialmente protegido por lei: dentro no prazo de
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. quinze dias.

17
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Estelionato e outras fraudes § 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou
O estelionato caracteriza-se por obter, para si ou para outrem, o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por
vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo al- falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadei-
guém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio ra; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
fraudulento. Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Após o Pacote Anticrime a ação passou a ser pública condicio- § 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
nada à representação, salvo: se a vítima for a Administração Públi-
ca, criança ou adolescente, pessoa com deficiência mental, maior Outras fraudes
de 70 anos de idade ou incapaz. Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel
O Código Penal determina que deve incorrer na mesma pena ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para
do estelionato quem comete: efetuar o pagamento:
• Disposição de coisa alheia como própria; Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
• Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria; Parágrafo único - Somente se procede mediante representação,
• Defraudação do penhor; e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
• Fraude na entrega de coisa;
• Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro; Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade
• Fraude no pagamento por meio de cheque. por ações
Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazen-
Estelionato contra idoso do, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembleia,
§ 4ºAplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
idoso. fraudulentamente fato a ela relativo:
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não
vítima for: constitui crime contra a economia popular.
I - a Administração Pública, direta ou indireta; § 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime
II - criança ou adolescente; contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de 1951)
III - pessoa com deficiência mental; ou I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que,
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz. em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao pú-
blico ou à assembleia, faz afirmação falsa sobre as condições eco-
O Código Penal, inclusive, se preocupa em tipificar algumas nômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em
outras fraudes, menos incidentes em prova: parte, fato a elas relativo;
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer
Duplicata simulada artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade;
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou
corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualida- usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais,
de, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de sem prévia autorização da assembleia geral;
27.12.1990) IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.(Reda- sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite;
ção dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social,
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsi- aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade;
ficar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desa-
(Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968) cordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou divi-
dendos fictícios;
Abuso de incapazes VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa,
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessida- ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou pa-
de, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade recer;
mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato susce- VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
tível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro: IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autori-
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. zada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados nos ns. I
e II, ou dá falsa informação ao Governo.
Induzimento à especulação § 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos,
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiên- e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para
cia ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzin- outrem, negocia o voto nas deliberações de assembleia geral.
do-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou
mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa: Emissão irregular de conhecimento de depósito ou «warrant»
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em de-
sacordo com disposição legal:
Fraude no comércio Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adqui-
rente ou consumidor: Fraude à execução
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsifi- Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo
cada ou deteriorada; ou danificando bens, ou simulando dívidas:
II - entregando uma mercadoria por outra: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Parágrafo único - Somente se procede mediante queixa.

18
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Alguns pontos merecem atenção: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando
• Adulterar o sistema de medição de energia elétrica para pagar haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa;
menos que o devido é estelionato (e não furto mediante fraude); II - ao estranho que participa do crime.
• Uso de processo judicial para obter lucro é figura atípica; III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou
• É justificável a exasperação da pena-base em caso de confian- superior a 60 (sessenta) anos.
ça da vítima no autor do crime de estelionato;
• O delito de estelionato não é absorvido pelo roubo de talão
de cheque.
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Receptação
Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito Neste ponto algumas informações são essenciais:
próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir • A elementar do crime de peculato se comunica aos coautores
para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. Perceba e partícipes estranhos ao serviço público;
que no crime de receptação, o agente tem contato com um bem • Consuma-se o crime de PECULATO-DESVIO no momento em
obtido por meio de crime anterior, ex. objeto furtado. que o funcionário efetivamente desvia o dinheiro, valor ou outro
bem móvel, em proveito próprio ou de terceiro, ainda que NÃO ob-
▪ Receptação Qualificada tenha a vantagem indevida;
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em • Configura o crime de CONCUSSÃO a conduta do funcionário
depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou público que, fora do exercício de sua função, mas em razão dela,
de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exer- exige o pagamento de uma verba indevida (“taxa de urgência), para
cício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser a aprovação de uma obra que sabe irregular;
produto de crime: • O EXCESSO DE EXAÇÃO – funcionário exige tributo ou con-
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. tribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do pará- devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei
grafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandesti- NÃO autoriza;
no, inclusive o exercício em residência. • O crime de CORRUPÇÃO PASSIVA possui natureza FORMAL e
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela independe de resultado, NÃO se exigindo a prática de ato de ofício;
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a • Para o STJ, ao contrário do que ocorre no peculato culposo, a
oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: reparação do dano antes do recebimento da denúncia NÃO exclui
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as o crime de peculato doloso, diante da ausência de previsão legal,
penas. mas pode configurar arrependimento posterior (v. HC 239127/RS);
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento • Nos crimes contra a Administração Pública não incide o prin-
de pena o autor do crime de que proveio a coisa. cípio da insignificância.
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o
juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a Peculato-Apropriação e Peculato-Desvio
pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qual-
§ 6oTratando-se de bens do patrimônio da União, de Estado, do quer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse
Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio.
empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa conces- Obs. É peculato-furto, se o funcionário público, embora não
sionária de serviços públicos, aplica-se em dobro a pena prevista no tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre
caput deste artigo. Ex. receptação de bens do correio. para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se
de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
▪ Receptação de Animal
Art. 180-A.Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter Peculato Culposo
em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comer- § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de
cialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido outrem:
ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime: Pena - detenção, de três meses a um ano.
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se
precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é
Nos crimes patrimoniais existem causas de isenção de pena, posterior, reduz de metade a pena imposta.
e causas que a ação deixa de ser pública incondicionada, para ser
tratada como ação penal pública condicionada à representação: Peculato mediante erro de outrem
Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que,
previstos neste título, em prejuízo: no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo
ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o
crime previsto neste título é cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:

19
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Modificação ou alteração Por fim, é importante conhecer a descrição de quem é funcio-
Inserção de dados falsos em nário público, para as leis penais:
não autorizada de sistema de
sistema de informações
informações
Funcionário público
Art. 313-B. Modificar ou alte- Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos pe-
Art. 313-A. Inserir ou facilitar,
rar, o funcionário, sistema de nais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce
o funcionário autorizado, a
informações ou programa de cargo, emprego ou função pública.
inserção de dados falsos, alte-
informática sem autorização § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, em-
rar ou excluir indevidamente
ou solicitação de autoridade prego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para
dados corretos nos sistemas
competente: empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a
informatizados ou bancos de
Pena – detenção, de 3 (três) execução de atividade típica da Administração Pública.(Incluído
dados da Administração Públi-
meses a 2 (dois) anos, e multa. pela Lei nº 9.983, de 2000)
ca com o fim de obter vanta-
Parágrafo único. As penas são § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores
gem indevida para si ou para
aumentadas de um terço até a dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em
outrem ou para causar dano:
metade se da modificação ou comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da
Pena – reclusão, de 2 (dois) a
alteração resulta dano para a administração direta, sociedade de economia mista, empresa públi-
12 (doze) anos, e multa.
Administração Pública ou para ca ou fundação instituída pelo poder público.
o administrado. Quanto aos crimes praticados por particular contra a Adminis-
tração temos: usurpação de função pública; resistência; desobedi-
• Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento: ência; desacato; tráfico de influência; corrupção ativa; descaminho;
Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda contrabando; impedimento, perturbação ou fraude de concorrên-
em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente. cia; inutilização de edital ou sinal; subtração de inutilização de livro
• Emprego irregular de verbas ou rendas pública: Dar às ver- ou documento; sonegação de contribuição previdenciária.
bas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei. Aqui é importante memorizar que resistência, desobediência e
• Concussão: Exigir, para si ou para outrem, direta ou indire- desacato não se confundem:
tamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida. Obs. é crime formal, se consuma Resistência
com a exigência da vantagem indevida. Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência
• Excesso de exação: Se o funcionário exige tributo ou contri- ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe
buição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devi- esteja prestando auxílio:
do, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
autoriza. § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
• Corrupção passiva: Solicitar ou receber, para si ou para ou- Pena - reclusão, de um a três anos.
trem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das cor-
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar pro- respondentes à violência.
messa de tal vantagem. Obs. configura corrupção passiva receber Desobediência
propina sob o disfarce de doações eleitorais.
• Facilitação de contrabando ou descaminho: Facilitar, com in- Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
fração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho. Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
• Prevaricação: Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,
Desacato
ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para
Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função
satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Obs. Deixar o Diretor de
ou em razão dela:
Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que
O tráfico de influência consiste em: Solicitar, exigir, cobrar ou
permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente ex-
obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem,
terno.
a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no
• Condescendência criminosa: Deixar o funcionário, por indul- exercício da função (qualquer funcionário público). A pena é au-
gência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no mentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é
exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o também destinada ao funcionário.
fato ao conhecimento da autoridade competente. É importante conhecer a literalidade do crime de corrupção
• Advocacia administrativa: Patrocinar, direta ou indiretamen- ativa:
te, interesse privado perante a administração pública, valendo-se
da qualidade de funcionário. Corrupção ativa
• Violência arbitrária: Praticar violência, no exercício de função Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcio-
ou a pretexto de exercê-la. nário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato
• Abandono de função: Abandonar cargo público, fora dos ca- de ofício:
sos permitidos em lei. Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
• Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado: En- Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em ra-
trar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências zão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato
legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber ofi- de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
cialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso. De acordo com o STJ, a inépcia da denúncia de corrupção ativa
• Violação de sigilo funcional: Revelar fato de que tem ciência não induz, por si só, o trancamento da ação penal de corrupção
em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar- passiva. Os dois crimes estão em tipos penais autônomos, e um não
-lhe a revelação. pressupõe o outro.

20
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Ademais, o CP elenca os crimes praticados por particular contra
a Administração Pública Estrangeira:Corrupção ativa em transação DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS
comercial internacional; Tráfico de influência em transação comer- AO DIREITO PENAL
cial internacional. E, também, estabelece os crimes contra a Admi-
nistração da Justiça: Princípio da Legalidade
• Reingresso de estrangeiro expulso; Nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena
• Denunciação caluniosa; criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência deste fato
• Comunicação falsa de crime ou contravenção; exista uma lei definindo-o como crime e cominando-lhe a sanção
• Auto-acusação falsa; correspondente (nullum crimen sine praevia lege). Ou seja, a lei
• Falso Testemunho ou falsa perícia; precisa existir antes da conduta, para que seja atendido o princípio
• Coação no Curso do Processo; da legalidade.
• Exercício arbitrário das próprias razões;
• Fraude processual; Princípio da Reserva Legal
• Favorecimento pessoal; Somente a lei em sentido estrito, emanada do Poder Legislati-
• Favorecimento real; vo, pode definir condutas criminosas e estabelecer sanções penais.
• Fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança;
Todavia, de acordo com posicionamento do STF, norma não incrimi-
• Evasão mediante violência contra a pessoa;
nadora (mais benéfica ao réu) pode ser editada por medida provi-
• Arrebatamento de preso;
sória. Outro entendimento interessante do STF é no sentido de que
• Motim de presos;
no Direito Penal cabe interpretação extensiva, uma vez que, nesse
• Patrocínio infiel;
caso a previsão legal encontra-se implícita.
• Patrocínio simultâneo ou tergiversação;
• Sonegação de papel ou objeto de valor probatório;
• Exploração de prestígio; Princípio da Taxatividade
• Violência ou fraude em arrematação judicial; Significa a proibição de editar leis vagas, com conteúdo impre-
• Desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão ciso. Ou seja, ao dizer que a lei penal precisa respeitar a taxativida-
de direitos. de enseja-se a ideia de que a lei tem que estabelecer precisamente
a conduta que está sendo criminalizada. No Direito Penal não resta
Aqui, o mais importante é ter em mente que denunciação ca- espaço para palavras não ditas.
luniosa exige dolo direto do agente. Ou seja, o agente saiba que a
pessoa é inocente: Princípio da anterioridade da lei penal
Em uma linguagem simples, a lei que tipifica uma conduta pre-
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de pro- cisa ser anterior à conduta.
cedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo Na data do fato a conduta já precisa ser considerada crime,
administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbi- mesmo porque como veremos adiante, no Direito Penal a lei não
dade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração retroage para prejudicar o réu, só para beneficiá-lo.
ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: Ou seja, a anterioridade culmina no princípio da irretroativida-
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. de da lei penal. Somente quando a lei penal beneficia o réu, estabe-
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve lecendo uma sanção menos grave para o crime ou quando deixa de
de anonimato ou de nome suposto. considerar a conduta como criminosa, haverá a retroatividade da lei
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prá- penal, alcançando fatos ocorridos antes da sua vigência.
tica de contravenção. • 1º fato;
Ademais, tanto no falso testemunho como na falsa perícia: O • Depois lei;
fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que • A lei volta para ser aplicada aos fatos anteriores a ela.
ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
É importante saber diferenciar o favorecimento real do favo- Por outro lado, o princípio da irretroatividade determina que se
recimento pessoal: a lei penal não beneficia o réu, não retroagirá. E você pode estar se
• Exemplo de favorecimento real: um amigo do criminoso guar- perguntando, caso uma nova lei deixar de considerar uma conduta
da em sua casa o proveito do crime (um objeto furtado). como crime o que acontece? Abolitio criminis. Nesse caso, a lei pe-
• Exemplo de favorecimento pessoal: um amigo do criminoso es- nal, por ser mais benéfica ao réu, retroagirá.
conde o foragido em sua casa. Se quem presta o auxílio é ascendente, No caso das leis temporárias, a lei continua a produzir efeitos
descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. mesmo após o fim da sua vigência, caso contrário, causaria impu-
nidade. Não gera abolitio criminis, mas sim uma situação de ultra-
Por fim, vale diferenciar patrocínio infiel de patrocínio simultâ- tividade da lei. A lei não está mais vigente, porque só abrangia um
neo ou tergiversação: período determinado, mas para os fatos praticados no período que
estava vigente há punição.
Patrocínio infiel Patrocínio simultâneo ou
Art. 355 - Trair, na qualidade tergiversação Princípio da individualização da pena
de advogado ou procurador, Parágrafo único - Incorre na As pessoas são diferentes, os crimes por mais que se enqua-
o dever profissional, prejudi- pena deste artigo o advogado drem em um tipo penal, ocorrem de maneira distinta. Assim, a in-
cando interesse, cujo patrocí- ou procurador judicial que dividualização da pena busca se adequar à individualidade de cada
nio, em juízo, lhe é confiado: defende na mesma causa, um, em 3 fases:
Pena - detenção, de seis me- simultânea ou sucessivamente, • Legislativa: o legislador ao pensar no crime e nas penas em
ses a três anos, e multa. partes contrárias. abstrato precisa ter proporcionalidade para adequar a cominação
de punições à gravidade dos crimes;

21
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
• Judicial: o juiz ao realizar a dosimetria da pena precisa ade- ▪ Vedações constitucionais aplicáveis a crimes graves
quar o tipo penal abstrato ao caso concreto;
• Administrativa: na execução da pena as decisões do juiz da Não recebem
execução precisam ser pautadas na individualidade de cada um. Imprescritível Inafiançável anistia, graça,
indulto
Princípio da intranscendência da pena
Este princípio impede que a pena ultrapasse a pessoa do infra- Racismo; Ação de
Racismo e
tor, ex. não se estende aos familiares. Todavia, a obrigação de repa- grupos armados
Ação de grupos
rar o dano e a decretação do perdimento de bens podem ser atribu- civis ou militares
armados civis Hediondos e
ídas aos sucessores, mas somente até o limite do valor da herança. contra a ordem
ou militares equiparados
Isso ocorre porque tecnicamente o bem é do infrator, os sucessores constitucional
contra a ordem (terrorismo, tráfico
vão utilizar o dinheiro do infrator para realizarem o pagamento. e o Estado
constitucional e tortura).
Multa é espécie de pena, portanto, não pode ser executada em Democrático;
e o Estado
face dos herdeiros. Com a morte do infrator extingue-se a punibili- Hediondos e
Democrático.
dade, não podendo ser executada a pena de multa. equiparados (TTT).

Princípio da limitação das penas ou da humanidade ▪ Menoridade Penal


De acordo com a Constituição Federal, são proibidas as seguin- A menoridade penal até os 18 anos consta expressamente na
tes penas: CF. Alguns consideram cláusula pétrea, outros entendem que uma
• Morte (salvo em caso de guerra declarada); emenda constitucional poderia diminuir a idade. De toda forma,
• Perpétua; atualmente, os menores de 18 anos não respondem penalmente,
• Trabalho forçado; estando sujeitos ao ECA.
• Banimento;
• Cruéis.
CRIMES HEDIONDOS
Esse ditame consiste em cláusula pétrea, não podendo ser
suprimido por emenda constitucional. Ademais, em razões dessas
proibições, outras normas desdobram-se – ex. o limite de cumpri- A Lei dos Crimes Hediondos origina-se na Constituição de 1988,
mento de pena é de 40 anos, para que o condenado não fique para em seu artigo 5º, inciso XLIII,
sempre preso; o trabalho do preso sempre é remunerado. Em 1990, surgiu a lista de crimes hediondos, que classificou
como inafiançáveis os crimes de extorsão mediante sequestro, la-
Princípio da Presunção de Inocência ou presunção de não cul- trocínio ou seja, roubo seguido de morte e o estupro, negando aos
pabilidade autores destes crimes os benefícios da progressão de regime.
Arrisco dizer que é um dos princípios mais controversos no STF. O autor do crime hediondo é obrigado a cumprir pena em regi-
Em linhas gerais, significa que nenhuma pessoa pode ser conside- me integralmente fechado, salvo no caso do benefício do livramen-
rada culpada antes do trânsito em julgado da sentença penal con- to condicional com 2/3 da pena.
denatória. A Lei foi alterada em 1994, através da lei 8.930/1994. A altera-
Tal princípio está relacionado ao in dubio pro reo, pois enquan- ção consistiu em incluir o homicídio qualificado na Lei dos Crimes
to existir dúvidas, o juiz deve decidir a favor do réu. Outra implica- Hediondos.
ção relacionada é o fato de que o acusador possui a obrigação de Atualmente dispõe a Lei acerca do tema:
provar a culpa do réu. Ou seja, o réu é inocente até que o acusador
prove sua culpa e a decisão se torne definitiva. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipifi-
Exceções: utiliza-se o princípio in dubio pro societate no caso cados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
de recebimento de denúncia ou queixa; na decisão de pronúncia. Penal, consumados ou tentados:
Não é uma exceção, faz parte da regra: prisões cautelares não I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica
ofendem a presunção de inocência, pois servem para garantir que o de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e
processo penal tenha seu regular trâmite. homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII);
(Redação dada pela Lei nº 13.142, de 2015)
Obs.: Prisão como cumprimento de pena não se confunde com I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, §
prisão cautelar! 2º) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando pra-
• Processos criminais em curso e IP não podem ser considera- ticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
dos maus antecedentes; da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da For-
• Não há necessidade de condenação penal transitada em jul- ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em
gado para que o preso sofra regressão de regime; decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
• A descoberta da prática de crime pelo acusado beneficiado consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído
com a suspensão condicional do processo enseja revogação do be- pela Lei nº 13.142, de 2015)
nefício, sem a necessidade do trânsito em julgado da sentença con- II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);
denatória do crime novo. III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);
IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art.
159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).
VII-A – (VETADO)

22
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de pro- VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de ex-
duto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e ploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art.
§ 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014)
julho de 1998). IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de ex- análogo que cause perigo comum (art. 155, § 4º-A). (Incluído pela
ploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. Lei nº 13.964, de 2019)
218-B, caput, e §§ 1º e 2º) (Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014). Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados
ou consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Assim, nota-se que a Lei de Crimes Hediondos é norma que I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº
trouxe significativa mudança ao ordenamento, uma vez que o Esta- 2.889, de 1º de outubro de 1956; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
do passou a tratar determinados crimes de maior gravidade social 2019)
com maior rigidez, classificando-os como crimes hediondos. II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro
de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990 III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no
art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela
Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inci- Lei nº 13.964, de 2019)
so XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório
ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na- de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
cional decreta e eu sanciono a seguinte lei: V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à
prática de crime hediondo ou equiparado. (Incluído pela Lei nº
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos 13.964, de 2019)
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilíci-
Código Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº to de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis
8.930, de 1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984) de: (Vide Súmula Vinculante)
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica I - anistia, graça e indulto;
de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e II - fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e § 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida ini-
VIII); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) cialmente em regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 11.464,
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § de 2007)
2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando pra- § 2º (Revogado pela Lei nº 13.964, de 2019)
ticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 § 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fun-
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da For- damentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. (Redação
ça Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em dada pela Lei nº 11.464, de 2007)
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente § 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o
pela Lei nº 13.142, de 2015) prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de
II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) extrema e comprovada necessidade. (Incluído pela Lei nº 11.464,
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. de 2007)
157, § 2º, inciso V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de segu-
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § rança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a
2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios
ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública.
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte Art. 4º (Vetado).
(art. 157, § 3º); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 5º Ao art. 83 do Código Penal é acrescido o seguinte inciso:
III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, “Art. 83. ..............................................................
ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º); (Redação ........................................................................
dada pela Lei nº 13.964, de 2019) V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de con-
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. denação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de
159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); (Inciso incluído pela Lei nº 8.930, de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for
1994) reincidente específico em crimes dessa natureza.”
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); (Redação dada pela Art. 6º Os arts. 157, § 3º; 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º; 213;
Lei nº 12.015, de 2009) 214; 223, caput e seu parágrafo único; 267, caput e 270; caput, to-
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e dos do Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação:
4o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009) “Art. 157. .............................................................
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). (Inciso in- § 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de
cluído pela Lei nº 8.930, de 1994) reclusão, de cinco a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a
VII-A – (VETADO) (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998) reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de pro- ........................................................................
duto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e Art. 159. ...............................................................
§ 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
julho de 1998). (Inciso incluído pela Lei nº 9.695, de 1998) § 1º .................................................................
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

23
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 2º ................................................................. LEI Nº 13.869, DE 5 DE SETEMBRO DE 2019
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º ................................................................. Dispõe sobre os crimes de abuso de autoridade; altera a Lei nº
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. 7.960, de 21 de dezembro de 1989, a Lei nº 9.296, de 24 de julho
........................................................................ de 1996, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e a Lei nº 8.906, de
Art. 213. ............................................................... 4 de julho de 1994; e revoga a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de
Pena - reclusão, de seis a dez anos. 1965, e dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
Art. 214. ............................................................... 1940 (Código Penal).
Pena - reclusão, de seis a dez anos.
........................................................................ O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Art. 223. ...............................................................
Pena - reclusão, de oito a doze anos. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
Parágrafo único. ........................................................ seguinte Lei:
Pena - reclusão, de doze a vinte e cinco anos.
........................................................................ CAPÍTULO I
Art. 267. ............................................................... DISPOSIÇÕES GERAIS
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
........................................................................ Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, come-
Art. 270. ............................................................... tidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas
Pena - reclusão, de dez a quinze anos. funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha
.......................................................................” sido atribuído.
Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte § 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso
parágrafo: de autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade es-
“Art. 159. .............................................................. pecífica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a tercei-
........................................................................ ro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.
§ 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o co-autor § 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de
que denunciá-lo à autoridade, facilitando a libertação do seqüestra- fatos e provas não configura abuso de autoridade.
do, terá sua pena reduzida de um a dois terços.”
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no CAPÍTULO II
art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, DOS SUJEITOS DO CRIME
prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou
terrorismo. Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qual-
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à quer agente público, servidor ou não, da administração direta, indi-
reta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantela-
do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo,
mento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
mas não se limitando a:
Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equipara-
nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213,
das;
caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único,
II - membros do Poder Legislativo;
214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, to-
III - membros do Poder Executivo;
dos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite
IV - membros do Poder Judiciário;
superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer V - membros do Ministério Público;
das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal. VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.
Art. 10. O art. 35 da Lei nº 6.368, de 21 de outubro de 1976, Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos des-
passa a vigorar acrescido de parágrafo único, com a seguinte reda- ta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
ção: remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
“Art. 35. ................................................................ qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
Parágrafo único. Os prazos procedimentais deste capítulo serão emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput
contados em dobro quando se tratar dos crimes previstos nos arts. deste artigo.
12, 13 e 14.”
Art. 11. (Vetado). CAPÍTULO III
Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. DA AÇÃO PENAL
Art. 13. Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 3º (VETADO).
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública
incondicionada. (Promulgação partes vetadas)
ABUSO DE AUTORIDADE
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não
for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar
Destarte, cumpre ilustrar que a criação dessa lei é garantir que a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
ninguém, venha ser vítima de abuso de autoridade e, caso seja víti- todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, inter-
ma, garante-lhe o direito de levar ao conhecimento de autoridade por recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante,
competente para defender seus direitos, consoante será verificado retomar a ação como parte principal.
a seguir. § 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6
(seis) meses, contado da data em que se esgotar o prazo para ofe-
recimento da denúncia.

24
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
CAPÍTULO IV II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou
DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE de conceder liberdade provisória, quando manifestamente cabível;
DIREITOS III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando mani-
festamente cabível.’
SEÇÃO I Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou in-
DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO vestigado manifestamente descabida ou sem prévia intimação de
comparecimento ao juízo:
Art. 4º São efeitos da condenação: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo Art. 11. (VETADO).
crime, devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na senten- Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em fla-
ça o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, grante à autoridade judiciária no prazo legal:
considerando os prejuízos por ele sofridos; Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:
pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos; I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública. temporária ou preventiva à autoridade judiciária que a decretou;
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer
deste artigo são condicionados à ocorrência de reincidência em cri- pessoa e o local onde se encontra à sua família ou à pessoa por ela
me de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser indicada;
declarados motivadamente na sentença. III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da
SEÇÃO II prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;
DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de pri-
são temporária, de prisão preventiva, de medida de segurança ou
Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privati- de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de
vas de liberdade previstas nesta Lei são: executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas; promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, legal.
pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência,
e das vantagens; grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a:
III - (VETADO). I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser apli- pública;
cadas autônoma ou cumulativamente. II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não
autorizado em lei;
CAPÍTULO V III - (VETADO).
DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: (Pro-
mulgação partes vetadas)
Art. 6º As penas previstas nesta Lei serão aplicadas indepen- Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem
dentemente das sanções de natureza civil ou administrativa cabí- prejuízo da pena cominada à violência.
veis. Art. 14. (VETADO).
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa
descreverem falta funcional serão informadas à autoridade compe- que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guar-
tente com vistas à apuração. dar segredo ou resguardar sigilo:
Art. 7º As responsabilidades civil e administrativa são inde- Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
pendentes da criminal, não se podendo mais questionar sobre a Parágrafo único. (VETADO).
existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com
decididas no juízo criminal. o interrogatório: (Promulgação partes vetadas)
Art. 8º Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no ad- I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio;
ministrativo-disciplinar, a sentença penal que reconhecer ter sido ou
o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de di- ou defensor público, sem a presença de seu patrono.
reito. Art. 16. (VETADO).
Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao
CAPÍTULO VI preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante
DOS CRIMES E DAS PENAS sua detenção ou prisão: (Promulgação partes vetadas)
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Art. 9º (VETADO). Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como respon-
Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifes- sável por interrogatório em sede de procedimento investigatório de
ta desconformidade com as hipóteses legais: (Promulgação partes infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si mes-
vetadas) mo falsa identidade, cargo ou função.
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 17. (VETADO).
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o
que, dentro de prazo razoável, deixar de: período de repouso noturno, salvo se capturado em flagrante delito
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal; ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar declarações:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

25
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de plei- Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de pro-
to de preso à autoridade judiciária competente para a apreciação va, em desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio conheci-
da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de sua custódia: mento de sua ilicitude.
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 26. (VETADO).
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento in-
ciente do impedimento ou da demora, deixa de tomar as providên- vestigatório de infração penal ou administrativa, em desfavor de
cias tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para decidir alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito
sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária que funcional ou de infração administrativa:
o seja. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Art. 20. (VETADO). Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reser- ou investigação preliminar sumária, devidamente justificada.
vada do preso com seu advogado: (Promulgação partes vetadas) Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. com a prova que se pretenda produzir, expondo a intimidade ou
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do investigado ou
o réu solto ou o investigado de entrevistar-se pessoal e reservada- acusado:
mente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável, antes de Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar- Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial,
-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso policial, fiscal ou administrativo com o fim de prejudicar interesse
de audiência realizada por videoconferência. de investigado:
Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
espaço de confinamento: Parágrafo único. (VETADO).
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 30. (VETADO).
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou ad-
mesma cela, criança ou adolescente na companhia de maior de ministrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe
idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei inocente: (Promulgação partes vetadas)
nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adoles- Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
cente). Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrasti-
Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou nando-a em prejuízo do investigado ou fiscalizado:
à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependên- Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
cias, ou nele permanecer nas mesmas condições, sem determina- Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo
ção judicial ou fora das condições estabelecidas em lei: prazo para execução ou conclusão de procedimento, o estende de
forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do investigado ou
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
do fiscalizado.
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste
Art. 32. (VETADO).
artigo, quem:
Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado aces-
I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a fran-
so aos autos de investigação preliminar, ao termo circunstanciado,
quear-lhe o acesso a imóvel ou suas dependências;
ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de
II - (VETADO);
infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a ob-
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as
tenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências
21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h (cinco horas). em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, sigilo seja imprescindível: (Promulgação partes vetadas)
ou quando houver fundados indícios que indiquem a necessidade Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou de desastre. Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclu-
Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de in- sive o dever de fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal:
vestigação ou de processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de car-
criminalmente alguém ou agravar-lhe a responsabilidade: go ou função pública ou invoca a condição de agente público para
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. se eximir de obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a condu- indevido.
ta com o intuito de: Art. 34. (VETADO).
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por ex- Art. 35. (VETADO).
cesso praticado no curso de diligência; Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informa- ativos financeiros em quantia que extrapole exacerbadamente o va-
ções incompletos para desviar o curso da investigação, da diligência lor estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante a demons-
ou do processo. tração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la:
Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcio- Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
nário ou empregado de instituição hospitalar pública ou privada a Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de
admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido, com processo de que tenha requerido vista em órgão colegiado, com o
o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apu- intuito de procrastinar seu andamento ou retardar o julgamento:
ração: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da Art. 38. (VETADO).
pena correspondente à violência. Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio
Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de de comunicação, inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de
investigação ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito: concluídas as apurações e formalizada a acusação: (Promulgação
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. partes vetadas)

26
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
CAPÍTULO VII
DO PROCEDIMENTO LEI FEDERAL Nº 8.069/90 – DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE;
Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos
previstos nesta Lei, no que couber, as disposições do Decreto-Lei nº O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal
3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), e da Lei (8.069 promulgada em julho de 1990), que trata sobre os direitos
nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. das crianças e adolescentes em todo o Brasil.
CAPÍTULO VIII Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em par-
DISPOSIÇÕES FINAIS tes geral e especial, onde a primeira traça, como as demais codifica-
ções existentes, os princípios norteadores do Estatuto. Já a segunda
Art. 40. O art. 2º da Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, parte estrutura a política de atendimento, medidas, conselho tute-
passa a vigorar com a seguinte redação: lar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais.
“Art.2º ........................................................................................ A partir do Estatuto, crianças e adolescentes brasileiros, sem
............... distinção de raça, cor ou classe social, passaram a ser reconhecidos
.................................................................................................... como sujeitos de direitos e deveres, considerados como pessoas
.................... em desenvolvimento a quem se deve prioridade absoluta do Es-
§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o perí- tado.
odo de duração da prisão temporária estabelecido no caput deste O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 anos,
artigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado. proporcionando a eles um desenvolvimento físico, mental, moral e
.................................................................................................... social condizentes com os princípios constitucionais da liberdade e
..................... da dignidade, preparando para a vida adulta em sociedade.
§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a au- O ECA estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à
toridade responsável pela custódia deverá, independentemente de educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso em respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária para me-
liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da pri- ninos e meninas, e também aborda questões de políticas de aten-
são temporária ou da decretação da prisão preventiva. dimento, medidas protetivas ou medidas socioeducativas, entre
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no outras providências. Trata-se de direitos diretamente relacionados
cômputo do prazo de prisão temporária.” (NR) à Constituição da República de 1988.
Art. 41. O art. 10 da Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, passa Para o Estatuto, considera-se criança a pessoa de até doze
a vigorar com a seguinte redação: anos de idade incompletos, e adolescente aquela compreendida
“Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunica- entre doze e dezoito anos. Entretanto, aplica-se o estatuto, excep-
ções telefônicas, de informática ou telemática, promover escuta cionalmente, às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade,
ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial em situações que serão aqui demonstradas.
ou com objetivos não autorizados em lei: Dispõe, ainda, que nenhuma criança ou adolescente será ob-
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. jeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial violência, crueldade e opressão, por qualquer pessoa que seja, de-
que determina a execução de conduta prevista no caput deste arti- vendo ser punido qualquer ação ou omissão que atente aos seus
go com objetivo não autorizado em lei.” (NR) direitos fundamentais. Ainda, no seu artigo 7º, disciplina que a
Art. 42. A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde,
Criança e do Adolescente), passa a vigorar acrescida do seguinte mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam
art. 227-A: o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condi-
“Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do ções dignas de existência.
caput do art. 92 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 As medidas protetivas adotadas pelo ECA são para salvaguar-
(Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por dar a família natural ou a família substituta, sendo está ultima pela
servidores públicos com abuso de autoridade, são condicionados à guarda, tutela ou adoção. A guarda obriga a prestação de assis-
ocorrência de reincidência. tência material, moral e educacional, a tutela pressupõe todos os
Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, deveres da guarda e pode ser conferida a pessoa de até 21 anos
nesse caso, independerá da pena aplicada na reincidência.” incompletos, já a adoção atribui condição de filho, com mesmos
Art. 43. (VETADO). direito e deveres, inclusive sucessórios.
Art. 43. A Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, passa a vigorar A instituição familiar é a base da sociedade, sendo indispensá-
acrescida do seguinte art. 7º-B: (Promulgação partes vetadas) vel à organização social, conforme preceitua o art. 226 da CR/88.
‘Art. 7º-B Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advo- Não sendo regra, mas os adolescentes correm maior risco quando
gado previstos nos incisos II, III, IV e V do caput do art. 7º desta Lei: fazem parte de famílias desestruturadas ou violentas.
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.’” Cabe aos pais o dever de sustento, guarda e educação dos fi-
Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, lhos, não constituindo motivo de escusa a falta ou a carência de
e o § 2º do art. 150 e o art. 350, ambos do Decreto-Lei nº 2.848, de recursos materiais, sob pena da perda ou a suspensão do pátrio
7 de dezembro de 1940 (Código Penal). poder.
Art. 45. Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e Caso a família natural, comunidade formada pelos pais ou
vinte) dias de sua publicação oficial. qualquer deles e seus descendentes, descumpra qualquer de suas
obrigações, a criança ou adolescente serão colocados em família
substituta mediante guarda, tutela ou adoção.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado Os crimes praticados por adolescentes entre 12 e 18 anos
no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, incompletos são denominados atos infracionais passíveis de apli-
assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre cação de medidas socioeducativas. Os dispositivos do Estatuto da
da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecen- Criança e do Adolescente disciplinam situações nas quais tanto o
tes. responsável, quanto o menor devem ser instados a modificarem
Por tal razão que a responsabilidade dos pais é enorme no de- atitudes, definindo sanções para os casos mais graves.
senvolvimento familiar e dos filhos, cujo objetivo é manter ao má- Nas hipóteses do menor cometer ato infracional, cuja conduta
ximo a estabilidade emocional, econômica e social. sempre estará descrita como crime ou contravenção penal para os
A perda de valores sociais, ao longo do tempo, também são fa- imputáveis, poderão sofrer sanções específicas aquelas descritas
tores que interferem diretamente no desenvolvimento das crianças no estatuto como medidas socioeducativas.
e adolescentes, visto que não permanecem exclusivamente inseri- Os menores de 18 anos são penalmente inimputáveis, mas res-
dos na entidade familiar. pondem pela prática de ato infracional cuja sanção será desde a
Por isso é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou adoção de medida protetiva de encaminhamento aos pais ou res-
violação dos direitos das crianças e dos adolescentes. Tanto que ponsável, orientação, apoio e acompanhamento, matricula e frequ-
cabe a sociedade, família e ao poder público proibir a venda e co- ência em estabelecimento de ensino, inclusão em programa de au-
mercialização à criança e ao adolescente de armas, munições e xílio à família, encaminhamento a tratamento médico, psicológico
explosivos, bebida alcoólicas, drogas, fotos de artifício, revistas de ou psiquiátrico, abrigo, tratamento toxicológico e, até, colocação
conteúdo adulto e bilhetes lotéricos ou equivalentes. em família substituta.
Cada município deverá haver, no mínimo, um Conselho Tutelar Já o adolescente entre 12 e 18 anos incompletos (inimputáveis)
composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade local, que pratica algum ato infracional, além das medidas protetivas já
regularmente eleitos e empossados, encarregado pela sociedade descritas, a autoridade competente poderá aplicar medida socioe-
de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. ducativa de acordo com a capacidade do ofensor, circunstâncias do
O Conselho Tutelar é uma das entidades públicas competentes a fato e a gravidade da infração, são elas:
salvaguardar os direitos das crianças e dos adolescentes nas hipóteses 1) Advertências – admoestação verbal, reduzida a termo e assi-
em que haja desrespeito, inclusive com relação a seus pais e responsá- nada pelos adolescentes e genitores sob os riscos do envolvimento
veis, bem como aos direitos e deveres previstos na legislação do ECA e em atos infracionais e sua reiteração,
na Constituição. São deveres dos Conselheiros Tutelares: 2) Obrigação de reparar o dano – caso o ato infracional seja
1. Atender crianças e adolescentes e aplicar medidas de pro- passível de reparação patrimonial, compensando o prejuízo da ví-
teção. tima,
2. Atender e aconselhar os pais ou responsável e aplicar medi- 3) Prestação de serviços à comunidade – tem por objetivo
das pertinentes previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. conscientizar o menor infrator sobre valores e solidariedade social,
3. Promover a execução de suas decisões, podendo requisitar 4) Liberdade assistida – medida de grande eficácia para o en-
serviços públicos e entrar na Justiça quando alguém, injustificada- fretamento da prática de atos infracionais, na medida em que atua
mente, descumprir suas decisões. juntamente com a família e o controle por profissionais (psicólogos
4. Levar ao conhecimento do Ministério Público fatos que o e assistentes sociais) do Juizado da Infância e Juventude,
Estatuto tenha como infração administrativa ou penal. 5) Semiliberdade – medida de média extremidade, uma vez
5. Encaminhar à Justiça os casos que a ela são pertinentes. que exigem dos adolescentes infratores o trabalho e estudo duran-
6. Tomar providências para que sejam cumpridas as medidas te o dia, mas restringe sua liberdade no período noturno, mediante
sócio-educativas aplicadas pela Justiça a adolescentes infratores. recolhimento em entidade especializada
7. Expedir notificações em casos de sua competência. 6) Internação por tempo indeterminado – medida mais extre-
8. Requisitar certidões de nascimento e de óbito de crianças e ma do Estatuto da Criança e do Adolescente devido à privação total
adolescentes, quando necessário. da liberdade. Aplicada em casos mais graves e em caráter excep-
9. Assessorar o Poder Executivo local na elaboração da pro- cional.
posta orçamentaria para planos e programas de atendimento dos
direitos da criança e do adolescente. Antes da sentença, a internação somente pode ser determina-
10. Entrar na Justiça, em nome das pessoas e das famílias, para
da pelo prazo máximo de 45 dias, mediante decisão fundamentada
que estas se defendam de programas de rádio e televisão que con-
baseada em fortes indícios de autoria e materialidade do ato infra-
trariem princípios constitucionais bem como de propaganda de
cional.
produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao
Nessa vertente, as entidades que desenvolvem programas de
meio ambiente.
internação têm a obrigação de:
11. Levar ao Ministério Público casos que demandam ações ju-
1) Observar os direitos e garantias de que são titulares os ado-
diciais de perda ou suspensão do pátrio poder.
lescentes;
12. Fiscalizar as entidades governamentais e não-governamen-
tais que executem programas de proteção e socioeducativos. 2) Não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de
restrição na decisão de internação,
Considerando que todos têm o dever de zelar pela dignidade 3) Preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e
da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer trata- dignidade ao adolescente,
mento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constran- 4) Diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação
gedor, havendo suspeita ou confirmação de maus-tratos contra dos vínculos familiares,
alguma criança ou adolescente, serão obrigatoriamente comunica- 5) Oferecer instalações físicas em condições adequadas, e toda
dos ao Conselho Tutelar para providências cabíveis. infraestrutura e cuidados médicos e educacionais, inclusive na área
Ainda com toda proteção às crianças e aos adolescentes, a de- de lazer e atividades culturais e desportivas.
linquência é uma realidade social, principalmente nas grandes cida- 6) Reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo
des, sem previsão de término, fazendo com que tenha tratamento de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade compe-
diferenciado dos crimes praticados por agentes imputáveis. tente.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Uma vez aplicada as medidas socioeducativas podem ser im- Lei Federal nº 13.431/2017 – Lei da Escuta Protegida
plementadas até que sejam completados 18 anos de idade. Contu- Esta lei estabelece novas diretrizes para o atendimento de
do, o cumprimento pode chegar aos 21 anos de idade nos casos de crianças ou adolescentes vítimas ou testemunhas de violências,
internação, nos termos do art. 121, §5º do ECA. e que frequentemente são expostos a condutas profissionais não
Assim como no sistema penal tradicional, as sanções previstas qualificadas, sendo obrigados a relatar por várias vezes, ou para
no Estatuto da Criança e do Adolescente apresentam preocupação pessoas diferentes, violências sofridas, revivendo desnecessaria-
com a reeducação e a ressocialização dos menores infratores. mente seu drama.
Antes de iniciado o procedimento de apuração do ato infracio- Denominada “Lei da Escuta Protegida”, essa lei tem como ob-
nal, o representante do Ministério Público poderá conceder o perdão jetivo a proteção de crianças e adolescentes após a revelação da
(remissão), como forma de exclusão do processo, se atendido às cir- violência sofrida, promovendo uma escuta única nos serviços de
cunstâncias e consequências do fato, contexto social, personalidade atendimento e criando um protocolo de atendimento a ser adota-
do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional. do por todos os órgãos do Sistema de Garantia de Direitos.
Por fim, o Estatuto da Criança e do Adolescente institui medi-
das aplicáveis aos pais ou responsáveis de encaminhamento a pro- Lei 13.436, de 12 de abril de 2017 - Garantia do direito a acom-
grama de proteção a família, inclusão em programa de orientação panhamento e orientação à mãe com relação à amamentação
a alcoólatras e toxicômanos, encaminhamento a tratamento psi- Esta lei introduziu no artigo 10 do ECA uma responsabilidade
cológico ou psiquiátrico, encaminhamento a cursos ou programas adicional para os hospitais e demais estabelecimentos de atenção
de orientação, obrigação de matricular e acompanhar o aproveita- à saúde de gestantes, públicos e particulares: daqui em diante eles
mento escolar do menor, advertência, perda da guarda, destituição estão obrigados a acompanhar a prática do processo de amamen-
da tutela e até suspensão ou destituição do pátrio poder. tação, prestando orientações quanto à técnica adequada, enquan-
O importante é observar que as crianças e os adolescentes não to a mãe permanecer na unidade hospitalar.
podem ser considerados autênticas propriedades de seus genito-
res, visto que são titulas de direitos humanos como quaisquer pes- Lei 13.438, de 26 de abril de 2017 – Protocolo de Avaliação de
soas, dotados de direitos e deveres como demonstrado. riscos para o desenvolvimento psíquico das crianças
A implantação integral do ECA sofre grande resistência de par- Esta lei determina que o Sistema Único de Saúde (SUS) será
te da sociedade brasileira, que o considera excessivamente pater- obrigado a adotar protocolo com padrões para a avaliação de riscos
nalista em relação aos atos infracionais cometidos por crianças e ao desenvolvimento psíquico de crianças de até 18 meses de ida-
adolescentes, uma vez que os atos infracionais estão ficando cada de. A lei estabelece que crianças de até 18 meses de idade façam
vez mais violentos e reiterados. acompanhamento através de protocolo ou outro instrumento de
Consideram, ainda, que o estatuto, que deveria proteger e detecção de risco. Esse acompanhamento se dará em consulta pe-
educar a criança e o adolescente, na prática, acaba deixando-os diátrica. Por meio de exames poderá ser detectado precocemente,
sem nenhum tipo de punição ou mesmo ressocialização, bem como por exemplo, o transtorno do espectro autista, o que permitirá um
é utilizado por grupos criminosos para livrar-se de responsabilida- melhor acompanhamento no desenvolvimento futuro da criança.
des criminais fazendo com que adolescentes assumam a culpa. Lei nº 13.440, de 8 de maio de 2017 – Aumento na penali-
Cabe ao Estado zelas para que as crianças e adolescentes se zação de crimes de exploração sexual de crianças e adolescentes
desenvolvam em condições sociais que favoreçam a integridade Esta lei promoveu a inclusão de mais uma penalidade no artigo
física, liberdade e dignidade. Contudo, não se pode atribuir tal res- 244-A do ECA. A pena previa reclusão de quatro a dez anos e multa
ponsabilidade apenas a uma suposta inaplicabilidade do estatuto nos crimes de exploração sexual de crianças e adolescentes. Agora
da criança e do adolescente, uma vez que estes nada mais são do o texto está acrescido de perda de bens e que os valores advindos
que o produto da entidade familiar e da sociedade, as quais têm dessas práticas serão revertidos em favor do Fundo dos Direitos
importância fundamental no comportamento dos mesmos.1 da Criança e do Adolescente da unidade da Federação (Estado ou
Distrito Federal) em que foi cometido o crime.
Últimas alterações no ECA Lei nº 13.441, de 8 de maio de 2017 - Prevê a infiltração de
agentes de polícia na internet com o fim de investigar crimes con-
As mais recentes: tra a dignidade sexual de criança e de adolescente
São quatro os pontos modificados no ECA durante a atual ad- Esta lei prevê a infiltração policial virtual no combate aos crimes
ministração: contra a dignidade sexual de vulneráveis. A nova lei acrescentou ao
- A instituição da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez ECA os artigos 190-A a 190-E e normatizou a investigação em meio
na Adolescência, na lei nº 13.798, de 3 de janeiro de 2019; cibernético.
- A criação do Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas - na
lei nº 13.812, de 16 de março 2019;
Revogação do artigo 248 que versava sobre trabalho domés-
- A mudança na idade mínima para que uma criança ou adoles-
tico de adolescentes
cente possa viajar sem os pais ou responsáveis e sem autorização
Foi revogado o artigo 248 do ECA que possibilitava a regu-
judicial, passando de 12 para 16 anos - na mesma lei nº 13.812;
larização da guarda de adolescentes para o serviço doméstico. A
- A mudança na lei sobre a reeleição dos conselheiros tutelares,
Constituição Brasileira proíbe o trabalho infantil, mas este artigo
que agora podem ser reeleitos por vários mandatos consecutivos,
estabelecia prazo de cinco dias para que o responsável, ou novo
em vez de apenas uma vez - lei 13.824, de 9 de maio 2019.
guardião, apresentasse à Vara de Justiça de sua cidade ou comarca
Lei nº 13.509/17, publicada em 22 de novembro de 2017 al- o adolescente trazido de outra localidade para prestação de serviço
tera o ECA ao estabelecer novos prazos e procedimentos para o doméstico, o que, segundo os autores do projeto de lei que resul-
trâmite dos processos de adoção, além de prever novas hipóteses tou na revogação do artigo, abria espaço para a regularização do
de destituição do poder familiar, de apadrinhamento afetivo e dis- trabalho infantil ilegal.
ciplinar a entrega voluntária de crianças e adolescentes à adoção.
1 Fonte: www.ambito-juridico.com.br – Texto adaptado de Cláudia Mara de Al-
meida Rabelo Viegas / Cesar Leandro de Almeida Rabelo

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Lei 13.306 de 2016 publicada no dia 04 de julho, alterou o Es- dizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de
tatuto da Criança e do Adolescente fixando em cinco anos a idade moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou
máxima para o atendimento na educação infantil.2 a comunidade em que vivem.(incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em
(8.069 promulgada em julho de 1990), que trata sobre os direitos geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
das crianças e adolescentes em todo o Brasil. efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação,
Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em par- à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
tes geral e especial, onde a primeira traça, como as demais codifica- dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e co-
ções existentes, os princípios norteadores do Estatuto. Já a segunda munitária.
parte estrutura a política de atendimento, medidas, conselho tute- Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
lar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais. a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer cir-
Na presente Lei estão dispostos os procedimentos de adoção cunstâncias;
(Livro I, capítulo V), a aplicação de medidas socioeducativas (Livro b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de re-
II, capítulo II), do Conselho Tutelar (Livro II, capítulo V), e também levância pública;
dos crimes cometidos contra crianças e adolescentes. c) preferência na formulação e na execução das políticas so-
O objetivo estatutário é a proteção dos menores de 18 anos, ciais públicas;
proporcionando a eles um desenvolvimento físico, mental, moral e d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas rela-
social condizentes com os princípios constitucionais da liberdade e cionadas com a proteção à infância e à juventude.
da dignidade, preparando para a vida adulta em sociedade. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qual-
O ECA estabelece direitos à vida, à saúde, à alimentação, à quer forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado,
respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária para me- por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
ninos e meninas, e também aborda questões de políticas de aten- Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins
dimento, medidas protetivas ou medidas socioeducativas, entre sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos
outras providências. Trata-se de direitos diretamente relacionados e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e
à Constituição da República de 1988. do adolescente como pessoas em desenvolvimento.

Dispõe a Lei 8.069/1990 que nenhuma criança ou adolescente TÍTULO II


será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, ex- DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
ploração, violência, crueldade e opressão, por qualquer pessoa que
seja, devendo ser punido qualquer ação ou omissão que atente aos CAPÍTULO I
seus direitos fundamentais. DO DIREITO À VIDA E À SAÚDE

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida


LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990 e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que
permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá ou- em condições dignas de existência.
tras providências. Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos progra-
mas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodu-
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Na- tivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gra-
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: videz, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e
pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde. (Redação
TÍTULO I dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES § 1o O atendimento pré-natal será realizado por profissionais
da atenção primária. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao § 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante ga-
adolescente. rantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao esta-
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa belecimento em que será realizado o parto, garantido o direito de
até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
doze e dezoito anos de idade. § 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado assegu-
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excep- rarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta hospitalar
cionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um responsável e contrarreferência na atenção primária, bem como o
anos de idade. acesso a outros serviços e a grupos de apoio à amamentação. (Re-
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos dação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da prote- § 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência psi-
ção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou cológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive
por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado
lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e puerperal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
social, em condições de liberdade e de dignidade. § 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser pres-
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se tada também a gestantes e mães que manifestem interesse em en-
a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nasci- tregar seus filhos para adoção, bem como a gestantes e mães que
mento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou se encontrem em situação de privação de liberdade. (Redação dada
crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e apren- pela Lei nº 13.257, de 2016)
2 Fonte: www.equipeagoraeupasso.com.br/www.g1.globo.com

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 6o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acom- Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado vol-
panhante de sua preferência durante o período do pré-natal, do tadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Siste-
trabalho de parto e do pós-parto imediato. (Incluído pela Lei nº ma Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a
13.257, de 2016) ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.
§ 7o A gestante deverá receber orientação sobre aleitamento (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
materno, alimentação complementar saudável e crescimento e de- § 1o A criança e o adolescente com deficiência serão atendi-
senvolvimento infantil, bem como sobre formas de favorecer a cria- dos, sem discriminação ou segregação, em suas necessidades ge-
ção de vínculos afetivos e de estimular o desenvolvimento integral rais de saúde e específicas de habilitação e reabilitação. (Redação
da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável du- § 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àque-
rante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, estabelecendo- les que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e outras
-se a aplicação de cesariana e outras intervenções cirúrgicas por tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou rea-
motivos médicos. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) bilitação para crianças e adolescentes, de acordo com as linhas de
§ 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da gestante cuidado voltadas às suas necessidades específicas. (Redação dada
que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré-natal, bem pela Lei nº 13.257, de 2016)
como da puérpera que não comparecer às consultas pós-parto. (In- § 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou frequen-
cluído pela Lei nº 13.257, de 2016) te de crianças na primeira infância receberão formação específica
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à mulher e permanente para a detecção de sinais de risco para o desenvol-
com filho na primeira infância que se encontrem sob custódia em vimento psíquico, bem como para o acompanhamento que se fizer
unidade de privação de liberdade, ambiência que atenda às normas necessário. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
sanitárias e assistenciais do Sistema Único de Saúde para o acolhi- Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde, inclu-
mento do filho, em articulação com o sistema de ensino competen- sive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de cuidados in-
te, visando ao desenvolvimento integral da criança. (Incluído pela termediários, deverão proporcionar condições para a permanência
Lei nº 13.257, de 2016) em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de
Art. 8º-A. Fica instituída a Semana Nacional de Prevenção da internação de criança ou adolescente. (Redação dada pela Lei nº
Gravidez na Adolescência, a ser realizada anualmente na semana 13.257, de 2016)
que incluir o dia 1º de fevereiro, com o objetivo de disseminar in- Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico,
formações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança
para a redução da incidência da gravidez na adolescência. (Incluído ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho
pela Lei nº 13.798, de 2019) Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providên-
Parágrafo único. As ações destinadas a efetivar o disposto no cias legais. (Redação dada pela Lei nº 13.010, de 2014)
caput deste artigo ficarão a cargo do poder público, em conjunto § 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em en-
com organizações da sociedade civil, e serão dirigidas prioritaria- tregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente encaminha-
mente ao público adolescente.(Incluído pela Lei nº 13.798, de 2019) das, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude.
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores pro- (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
piciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive § 2o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de entra-
aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade. da, os serviços de assistência social em seu componente especia-
§ 1o Os profissionais das unidades primárias de saúde desenvolve- lizado, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social
rão ações sistemáticas, individuais ou coletivas, visando ao planejamen- (Creas) e os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos da
to, à implementação e à avaliação de ações de promoção, proteção e Criança e do Adolescente deverão conferir máxima prioridade ao
apoio ao aleitamento materno e à alimentação complementar saudável, atendimento das crianças na faixa etária da primeira infância com
de forma contínua. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) suspeita ou confirmação de violência de qualquer natureza, formu-
§ 2o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal de- lando projeto terapêutico singular que inclua intervenção em rede
verão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta de e, se necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela Lei nº
leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) 13.257, de 2016)
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de
saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermida-
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de des que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas
prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos; de educação sanitária para pais, educadores e alunos.
II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua im-
§ 1o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomen-
pressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem preju-
dados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado do parágrafo úni-
ízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa
co pela Lei nº 13.257, de 2016)
competente;
§ 2o O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à saúde
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica
bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal, integral e
de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como
intersetorial com as demais linhas de cuidado direcionadas à mu-
prestar orientação aos pais;
lher e à criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem neces-
sariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do § 3o A atenção odontológica à criança terá função educativa
neonato; protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer, por
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no sexto e
permanência junto à mãe. no décimo segundo anos de vida, com orientações sobre saúde bu-
VI - acompanhar a prática do processo de amamentação, pres- cal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
tando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a mãe § 4o A criança com necessidade de cuidados odontológicos es-
permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo técnico já peciais será atendida pelo Sistema Único de Saúde.(Incluído pela
existente. (Incluído pela Lei nº 13.436, de 2017) (Vigência) Lei nº 13.257, de 2016)

31
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus pri- I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de pro-
meiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro instrumento teção à família; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
construído com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
pediátrica de acompanhamento da criança, de risco para o seu (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
desenvolvimento psíquico. (Incluído pela Lei nº 13.438, de 2017) III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
(Vigência) (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especiali-
CAPÍTULO II zado; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
DO DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADE V - advertência. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão apli-
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao cadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras providências
respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de de- legais. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
senvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis. CAPÍTULO III
Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspec- DO DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA
tos:
I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitá- SEÇÃO I
rios, ressalvadas as restrições legais; DISPOSIÇÕES GERAIS
II - opinião e expressão;
III - crença e culto religioso; Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e edu-
IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; cado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substi-
V - participar da vida familiar e comunitária, sem discrimina- tuta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente
ção; que garanta seu desenvolvimento integral. (Redação dada pela Lei
VI - participar da vida política, na forma da lei; nº 13.257, de 2016)
VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. § 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em pro-
Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da grama de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação re-
integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, avaliada, no máximo, a cada 3 (três) meses, devendo a autoridade
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autono- judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe
mia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamenta-
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do da pela possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art.
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. 28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educa- § 2o A permanência da criança e do adolescente em progra-
dos e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ma de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 18
ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou (dezoito meses), salvo comprovada necessidade que atenda ao seu
qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade ju-
ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores diciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada § 3o A manutenção ou a reintegração de criança ou adolescen-
de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. (Incluído pela te à sua família terá preferência em relação a qualquer outra pro-
Lei nº 13.010, de 2014) vidência, caso em que será esta incluída em serviços e programas
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se: (Incluído de proteção, apoio e promoção, nos termos do § 1o do art. 23, dos
pela Lei nº 13.010, de 2014) incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art.
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva apli- 129 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
cada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que § 4o Será garantida a convivência da criança e do adolescente
resulte em: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas perió-
a) sofrimento físico; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) dicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de acolhimen-
b) lesão; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) to institucional, pela entidade responsável, independentemente de
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)
tratamento em relação à criança ou ao adolescente que: (Incluído § 5o Será garantida a convivência integral da criança com a
pela Lei nº 13.010, de 2014) mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional. (Incluí-
a) humilhe; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) do pela Lei nº 13.509, de 2017)
b) ameace gravemente; ou (Incluído pela Lei nº 13.010, de § 6o A mãe adolescente será assistida por equipe especializada
2014) multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
c) ridicularize. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em en-
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os res- tregar seu filho para adoção, antes ou logo após o nascimento, será
ponsáveis, os agentes públicos executores de medidas socioedu- encaminhada à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído pela Lei
cativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de nº 13.509, de 2017)
adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem § 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe interprofissio-
castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como formas de nal da Justiça da Infância e da Juventude, que apresentará relatório
correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão à autoridade judiciária, considerando inclusive os eventuais efeitos
sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes me- do estado gestacional e puerperal. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
didas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso: (In- 2017)
cluído pela Lei nº 13.010, de 2014)

32
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá de- § 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento apoiados
terminar o encaminhamento da gestante ou mãe, mediante sua pela Justiça da Infância e da Juventude poderão ser executados por
expressa concordância, à rede pública de saúde e assistência so- órgãos públicos ou por organizações da sociedade civil. (Incluído
cial para atendimento especializado. (Incluído pela Lei nº 13.509, pela Lei nº 13.509, de 2017)
de 2017) § 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os res-
§ 3o A busca à família extensa, conforme definida nos termos ponsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento deverão
do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará o prazo máximo imediatamente notificar a autoridade judiciária competente. (Inclu-
de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período. (Incluído pela ído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Lei nº 13.509, de 2017) Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento,
§ 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
existir outro representante da família extensa apto a receber a quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
guarda, a autoridade judiciária competente deverá decretar a ex- Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de con-
tinção do poder familiar e determinar a colocação da criança sob a dições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação
guarda provisória de quem estiver habilitado a adotá-la ou de enti- civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discor-
dade que desenvolva programa de acolhimento familiar ou institu- dância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução
cional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) da divergência. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de Vigência
ambos os genitores, se houver pai registral ou pai indicado, deve Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e edu-
ser manifestada na audiência a que se refere o § 1o do art. 166 cação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes,
desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega. (Incluído pela Lei nº a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.
13.509, de 2017) Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direi-
§ 6º Na hipótese de não comparecerem à audiência nem o ge- tos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no cuida-
nitor nem representante da família extensa para confirmar a inten- do e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito
ção de exercer o poder familiar ou a guarda, a autoridade judiciária de transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados
suspenderá o poder familiar da mãe, e a criança será colocada sob os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. (Incluído pela Lei nº
a guarda provisória de quem esteja habilitado a adotá-la. (Incluído 13.257, de 2016)
pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não consti-
§ 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15 (quinze) tui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder fami-
dias para propor a ação de adoção, contado do dia seguinte à data liar. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do término do estágio de convivência. (Incluído pela Lei nº 13.509, § 1o Não existindo outro motivo que por si só autorize a de-
de 2017) cretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em
§ 8o Na hipótese de desistência pelos genitores - manifestada sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída
em audiência ou perante a equipe interprofissional - da entrega da em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção.
criança após o nascimento, a criança será mantida com os genito- (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
res, e será determinado pela Justiça da Infância e da Juventude o § 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a
acompanhamento familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias. destituição do poder familiar, exceto na hipótese de condenação
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem igual-
§ 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o nascimen- mente titular do mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou ou-
to, respeitado o disposto no art. 48 desta Lei. (Incluído pela Lei nº tro descendente. (Redação dada pela Lei nº 13.715, de 2018)
13.509, de 2017) Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decre-
§ 10. Serão cadastrados para adoção recém-nascidos e crian- tadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos
ças acolhidas não procuradas por suas famílias no prazo de 30 (trin- previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumpri-
ta) dias, contado a partir do dia do acolhimento. (Incluído pela Lei mento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.
nº 13.509, de 2017) (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de acolhi-
mento institucional ou familiar poderão participar de programa de SEÇÃO II
apadrinhamento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) DA FAMÍLIA NATURAL
§ 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcio-
nar à criança e ao adolescente vínculos externos à instituição para Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade forma-
fins de convivência familiar e comunitária e colaboração com o seu da pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. (Vide Lei nº
desenvolvimento nos aspectos social, moral, físico, cognitivo, edu- 12.010, de 2009) Vigência
cacional e financeiro. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada
§ 2º Podem ser padrinhos ou madrinhas pessoas maiores de aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da
18 (dezoito) anos não inscritas nos cadastros de adoção, desde que unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a
cumpram os requisitos exigidos pelo programa de apadrinhamento criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e
de que fazem parte. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) afetividade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou adolescen- Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reco-
te a fim de colaborar para o seu desenvolvimento. (Incluído pela Lei nhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo
nº 13.509, de 2017) de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro docu-
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinha- mento público, qualquer que seja a origem da filiação.
do será definido no âmbito de cada programa de apadrinhamento, Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nasci-
com prioridade para crianças ou adolescentes com remota possibi- mento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descen-
lidade de reinserção familiar ou colocação em família adotiva. (In- dentes.
cluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 27

33
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalís- Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável presta-
simo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra rá compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, me-
os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o se- diante termo nos autos.
gredo de Justiça.
SUBSEÇÃO II
SEÇÃO III DA GUARDA
DA FAMÍLIA SUBSTITUTA
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material,
SUBSEÇÃO I moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu de-
DISPOSIÇÕES GERAIS tentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. (Vide Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo
guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tu-
da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. tela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.
§ 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos
previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir
estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as im- a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o
plicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada. direito de representação para a prática de atos determinados.
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de
§ 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será ne- dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previ-
cessário seu consentimento, colhido em audiência. (Redação dada denciários.
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em con-
§ 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de trário, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida
parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evi- for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda
tar ou minorar as consequências decorrentes da medida. (Incluído de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimen-
§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela tos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do
ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada interessado ou do Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 12.010,
existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plena- de 2009) Vigência
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de assistência
mente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em
jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma
qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos frater-
de guarda, de criança ou adolescente afastado do convívio familiar.
nais. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 5o A colocação da criança ou adolescente em família subs-
§ 1o A inclusão da criança ou adolescente em programas de
tituta será precedida de sua preparação gradativa e acompanha-
acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento institucio-
mento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço
nal, observado, em qualquer caso, o caráter temporário e excepcio-
da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com o
nal da medida, nos termos desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010,
apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política munici- de 2009) Vigência
pal de garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal cadas-
nº 12.010, de 2009) Vigência trado no programa de acolhimento familiar poderá receber a crian-
§ 6o Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou ça ou adolescente mediante guarda, observado o disposto nos arts.
proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é ainda 28 a 33 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
obrigatório: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 3o A União apoiará a implementação de serviços de acolhi-
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social mento em família acolhedora como política pública, os quais de-
e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas institui- verão dispor de equipe que organize o acolhimento temporário de
ções, desde que não sejam incompatíveis com os direitos funda- crianças e de adolescentes em residências de famílias selecionadas,
mentais reconhecidos por esta Lei e pela Constituição Federal; (In- capacitadas e acompanhadas que não estejam no cadastro de ado-
cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência ção. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no seio de § 4o Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais, distri-
sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia; (Incluído tais e municipais para a manutenção dos serviços de acolhimento
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência em família acolhedora, facultando-se o repasse de recursos para a
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão federal própria família acolhedora. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
responsável pela política indigenista, no caso de crianças e adoles- Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, me-
centes indígenas, e de antropólogos, perante a equipe interprofis- diante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.
sional ou multidisciplinar que irá acompanhar o caso. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência SUBSEÇÃO III
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pes- DA TUTELA
soa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natu-
reza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado. Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa
Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transfe- de até 18 (dezoito) anos incompletos. (Redação dada pela Lei nº
rência da criança ou adolescente a terceiros ou a entidades gover- 12.010, de 2009) Vigência
namentais ou não-governamentais, sem autorização judicial. Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia
Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica ne-
medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção. cessariamente o dever de guarda. (Expressão substituída pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência

34
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer docu- § 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado
mento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art. efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda compar-
1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, tilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei no 10.406, de 10 de
deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, janeiro de 2002 - Código Civil. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato, obser- 2009) Vigência
vando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. (Re- § 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após ine-
dação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência quívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do pro-
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados cedimento, antes de prolatada a sentença.(Incluído pela Lei nº
os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo 12.010, de 2009) Vigência
deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vonta- Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vanta-
de, se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e gens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.
que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la. Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o pupilo ou o
Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art. 24. curatelado.
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do
SUBSEÇÃO IV representante legal do adotando.
DA ADOÇÃO § 1º. O consentimento será dispensado em relação à criança ou
adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido desti-
Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á se- tuídos do poder familiar. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
gundo o disposto nesta Lei. de 2009) Vigência
§ 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se § 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade,
deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manuten- será também necessário o seu consentimento.
ção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência
forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei. (Incluído pela Lei nº com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 (noventa)
12.010, de 2009)Vigência dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as peculiarida-
§ 2o É vedada a adoção por procuração. (Incluído pela Lei nº des do caso. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
12.010, de 2009) Vigência § 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado se o ado-
§ 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do ado- tando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante
tando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos, devem tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da
prevalecer os direitos e os interesses do adotando. (Incluído pela constituição do vínculo. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
Lei nº 13.509, de 2017) Vigência
Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos § 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a dispensa
à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos da realização do estágio de convivência. (Redação dada pela Lei nº
adotantes. 12.010, de 2009) Vigência
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com § 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo
os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o pode ser prorrogado por até igual período, mediante decisão fun-
de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos damentada da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509,
matrimoniais. de 2017)
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, § 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou domi-
mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou ciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no mínimo, 30
concubino do adotante e os respectivos parentes. (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco) dias, prorrogável
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus des- por até igual período, uma única vez, mediante decisão fundamen-
cendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colate- tada da autoridade judiciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
rais até o 4º grau, observada a ordem de vocação hereditária. 2017)
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, inde- § 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo, deverá
pendentemente do estado civil. (Redação dada pela Lei nº 12.010, ser apresentado laudo fundamentado pela equipe mencionada no
de 2009) Vigência § 4o deste artigo, que recomendará ou não o deferimento da ado-
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do ado- ção à autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
tando. § 4o O estágio de convivência será acompanhado pela equi-
§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes pe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude,
sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprova- preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela exe-
da a estabilidade da família. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de cução da política de garantia do direito à convivência familiar, que
2009) Vigência apresentarão relatório minucioso acerca da conveniência do defe-
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais rimento da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
velho do que o adotando. § 5o O estágio de convivência será cumprido no território na-
§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex-com- cional, preferencialmente na comarca de residência da criança ou
panheiros podem adotar conjuntamente, contanto que acordem adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade limítrofe, respeitada,
sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o estágio de con- em qualquer hipótese, a competência do juízo da comarca de resi-
vivência tenha sido iniciado na constância do período de convivên- dência da criança. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
cia e que seja comprovada a existência de vínculos de afinidade e Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial,
afetividade com aquele não detentor da guarda, que justifiquem a que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se
excepcionalidade da concessão. (Redação dada pela Lei nº 12.010, fornecerá certidão.
de 2009) Vigência § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais,
bem como o nome de seus ascendentes.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o regis- § 5o Serão criados e implementados cadastros estaduais e na-
tro original do adotado. cional de crianças e adolescentes em condições de serem adotados
§ 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado e de pessoas ou casais habilitados à adoção. (Incluído pela Lei nº
no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência. (Reda- 12.010, de 2009) Vigência
ção dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais residen-
§ 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá cons- tes fora do País, que somente serão consultados na inexistência de
tar nas certidões do registro. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de postulantes nacionais habilitados nos cadastros mencionados no §
2009) Vigência 5o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, § 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de ado-
a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do ção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a troca
prenome. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de informações e a cooperação mútua, para melhoria do sistema.
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo ado- (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
tante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto nos § 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48
§§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010, (quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes em
de 2009) Vigência condições de serem adotados que não tiveram colocação familiar
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julga- na comarca de origem, e das pessoas ou casais que tiveram deferi-
do da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no § 6o do da sua habilitação à adoção nos cadastros estadual e nacional refe-
art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito. ridos no § 5o deste artigo, sob pena de responsabilidade. (Incluído
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a ele rela- § 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela manu-
cionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu armazena- tenção e correta alimentação dos cadastros, com posterior comu-
mento em microfilme ou por outros meios, garantida a sua conser- nicação à Autoridade Central Federal Brasileira. (Incluído pela Lei nº
vação para consulta a qualquer tempo. (Incluído pela Lei nº 12.010, 12.010, de 2009) Vigência
de 2009) Vigência § 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de pre-
§ 9º Terão prioridade de tramitação os processos de adoção tendentes habilitados residentes no País com perfil compatível e
em que o adotando for criança ou adolescente com deficiência ou interesse manifesto pela adoção de criança ou adolescente inscri-
com doença crônica. (Incluído pela Lei nº 12.955, de 2014) to nos cadastros existentes, será realizado o encaminhamento da
§ 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção será criança ou adolescente à adoção internacional. (Redação dada pela
de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por igual Lei nº 13.509, de 2017)
período, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. § 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado em
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que possível e re-
Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem bioló-
comendável, será colocado sob guarda de família cadastrada em
gica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a
programa de acolhimento familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18
2009) Vigência
(dezoito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser § 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos
também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério Público. (In-
pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica. cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de candi-
Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder fami- dato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos termos
liar dos pais naturais. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de desta Lei quando: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
2009) Vigência I - se tratar de pedido de adoção unilateral; (Incluído pela Lei nº
Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou 12.010, de 2009) Vigência
foro regional, um registro de crianças e adolescentes em condições II - for formulada por parente com o qual a criança ou adoles-
de serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção. cente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; (Incluído pela
(Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal
aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério Público. de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satis- de tempo de convivência comprove a fixação de laços de afinidade
fizer os requisitos legais, ou verificada qualquer das hipóteses pre- e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé ou qual-
vistas no art. 29. quer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei. (Incluí-
§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de um do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
período de preparação psicossocial e jurídica, orientado pela equi- § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o candidato
pe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente deverá comprovar, no curso do procedimento, que preenche os re-
com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política mu- quisitos necessários à adoção, conforme previsto nesta Lei. (Incluí-
nicipal de garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas inte-
§ 4o Sempre que possível e recomendável, a preparação re- ressadas em adotar criança ou adolescente com deficiência, com
ferida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças e ado- doença crônica ou com necessidades específicas de saúde, além de
lescentes em acolhimento familiar ou institucional em condições
grupo de irmãos. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, supervisão e
Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual o
avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude,
pretendente possui residência habitual em país-parte da Conven-
com apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de acolhimen-
to e pela execução da política municipal de garantia do direito à ção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crian-
convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência ças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, promul-

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
gada pelo Decreto no 3.087, de 21 junho de 1999, e deseja adotar to, tanto à luz do que dispõe esta Lei como da legislação do país de
criança em outro país-parte da Convenção. (Redação dada pela Lei acolhida, será expedido laudo de habilitação à adoção internacio-
nº 13.509, de 2017) nal, que terá validade por, no máximo, 1 (um) ano; (Incluído pela
§ 1o A adoção internacional de criança ou adolescente bra- Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
sileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando restar VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será auto-
comprovado: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência rizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Infância e
I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada ao da Juventude do local em que se encontra a criança ou adolescente,
caso concreto; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) conforme indicação efetuada pela Autoridade Central Estadual. (In-
II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
da criança ou adolescente em família adotiva brasileira, com a com- § 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, ad-
provação, certificada nos autos, da inexistência de adotantes habi- mite-se que os pedidos de habilitação à adoção internacional sejam
litados residentes no Brasil com perfil compatível com a criança ou intermediados por organismos credenciados. (Incluído pela Lei nº
adolescente, após consulta aos cadastros mencionados nesta Lei; 12.010, de 2009) Vigência
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) § 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o creden-
III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi ciamento de organismos nacionais e estrangeiros encarregados de
consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvi- intermediar pedidos de habilitação à adoção internacional, com
mento, e que se encontra preparado para a medida, mediante pa- posterior comunicação às Autoridades Centrais Estaduais e publica-
ção nos órgãos oficiais de imprensa e em sítio próprio da internet.
recer elaborado por equipe interprofissional, observado o disposto
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de organis-
2009) Vigência
mos que: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 2o Os brasileiros residentes no exterior terão preferência
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção de
aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou
Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade Central
adolescente brasileiro. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
do país onde estiverem sediados e no país de acolhida do adotando
Vigência
para atuar em adoção internacional no Brasil; (Incluído pela Lei nº
§ 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção das Auto- 12.010, de 2009) Vigência
ridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção interna- II - satisfizerem as condições de integridade moral, competên-
cional. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência cia profissional, experiência e responsabilidade exigidas pelos paí-
Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento pre- ses respectivos e pela Autoridade Central Federal Brasileira; (Inclu-
visto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes adaptações: ído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação
I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança e experiência para atuar na área de adoção internacional; (Incluído
ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação à pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção inter- IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento jurídi-
nacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde está si- co brasileiro e pelas normas estabelecidas pela Autoridade Central
tuada sua residência habitual; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Federal Brasileira. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Vigência § 4o Os organismos credenciados deverão ainda: (Incluído pela
II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um re- I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e
latório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do país
jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pes- onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela Autoridade
soal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam Central Federal Brasileira; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
e sua aptidão para assumir uma adoção internacional; (Incluído Vigência
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas e de
III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório reconhecida idoneidade moral, com comprovada formação ou ex-
à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central periência para atuar na área de adoção internacional, cadastradas
Federal Brasileira; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência pelo Departamento de Polícia Federal e aprovadas pela Autorida-
IV - o relatório será instruído com toda a documentação ne- de Central Federal Brasileira, mediante publicação de portaria do
cessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por equipe inter- órgão federal competente; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009)
profissional habilitada e cópia autenticada da legislação pertinente, Vigência
acompanhada da respectiva prova de vigência; (Incluído pela Lei nº III - estar submetidos à supervisão das autoridades competen-
12.010, de 2009) Vigência tes do país onde estiverem sediados e no país de acolhida, inclusive
V - os documentos em língua estrangeira serão devidamente quanto à sua composição, funcionamento e situação financeira; (In-
autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
convenções internacionais, e acompanhados da respectiva tradu- IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a cada
ção, por tradutor público juramentado; (Incluído pela Lei nº 12.010, ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem como relató-
de 2009) Vigência rio de acompanhamento das adoções internacionais efetuadas no
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências e período, cuja cópia será encaminhada ao Departamento de Polícia
solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do postulan- Federal; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
te estrangeiro à adoção, já realizado no país de acolhida; (Incluído V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Bra-
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade Central sileira, pelo período mínimo de 2 (dois) anos. O envio do relatório
Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira com a nacio- será mantido até a juntada de cópia autenticada do registro civil,
nal, além do preenchimento por parte dos postulantes à medida estabelecendo a cidadania do país de acolhida para o adotado; (In-
dos requisitos objetivos e subjetivos necessários ao seu deferimen- cluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os adotan- Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em país
tes encaminhem à Autoridade Central Federal Brasileira cópia da ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção tenha
certidão de registro de nascimento estrangeira e do certificado de sido processado em conformidade com a legislação vigente no país
nacionalidade tão logo lhes sejam concedidos. (Incluído pela Lei nº de residência e atendido o disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da
12.010, de 2009) Vigência referida Convenção, será automaticamente recepcionada com o
§ 5o A não apresentação dos relatórios referidos no § 4o deste reingresso no Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar a suspensão § 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea “c” do
de seu credenciamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi- Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser homologa-
gência da pelo Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
§ 6o O credenciamento de organismo nacional ou estrangeiro en- 2009) Vigência
carregado de intermediar pedidos de adoção internacional terá vali- § 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em país
dade de 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no
§ 7o A renovação do credenciamento poderá ser concedida Brasil, deverá requerer a homologação da sentença estrangeira
mediante requerimento protocolado na Autoridade Central Fede- pelo Superior Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
ral Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao término do res- 2009) Vigência
pectivo prazo de validade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o país
de acolhida, a decisão da autoridade competente do país de origem
Vigência
da criança ou do adolescente será conhecida pela Autoridade Cen-
§ 8o Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu a
tral Estadual que tiver processado o pedido de habilitação dos pais
adoção internacional, não será permitida a saída do adotando do
adotivos, que comunicará o fato à Autoridade Central Federal e de-
território nacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
terminará as providências necessárias à expedição do Certificado
§ 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade judiciária de Naturalização Provisório. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
determinará a expedição de alvará com autorização de viagem, Vigência
bem como para obtenção de passaporte, constando, obrigatoria- § 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério Pú-
mente, as características da criança ou adolescente adotado, como blico, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela decisão
idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços peculiares, assim como se restar demonstrado que a adoção é manifestamente contrária
foto recente e a aposição da impressão digital do seu polegar di- à ordem pública ou não atende ao interesse superior da criança
reito, instruindo o documento com cópia autenticada da decisão ou do adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
e certidão de trânsito em julgado. (Incluído pela Lei nº 12.010, de § 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, prevista
2009) Vigência no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá imediatamente re-
§ 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a qual- querer o que for de direito para resguardar os interesses da criança
quer momento, solicitar informações sobre a situação das crianças ou do adolescente, comunicando-se as providências à Autoridade
e adolescentes adotados. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi- Central Estadual, que fará a comunicação à Autoridade Central Fe-
gência deral Brasileira e à Autoridade Central do país de origem. (Incluído
§ 11. A cobrança de valores por parte dos organismos creden- pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ciados, que sejam considerados abusivos pela Autoridade Central Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for o
Federal Brasileira e que não estejam devidamente comprovados, é país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país de ori-
causa de seu descredenciamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de gem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, ou, ainda,
2009) Vigência na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o adolescente
§ 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser re- ser oriundo de país que não tenha aderido à Convenção referida, o
presentados por mais de uma entidade credenciada para atuar na processo de adoção seguirá as regras da adoção nacional. (Incluído
cooperação em adoção internacional. (Incluído pela Lei nº 12.010, pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de 2009) Vigência
§ 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou domiciliado CAPÍTULO IV
fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano, podendo ser DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO
renovada. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência LAZER
§ 14. É vedado o contato direto de representantes de organis-
mos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com dirigentes de pro- Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, vi-
gramas de acolhimento institucional ou familiar, assim como com sando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o
crianças e adolescentes em condições de serem adotados, sem a exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, asseguran-
devida autorização judicial. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) do-se-lhes:
Vigência I - igualdade de condições para o acesso e permanência na es-
§ 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá limitar ou cola;
suspender a concessão de novos credenciamentos sempre que jul- II - direito de ser respeitado por seus educadores;
gar necessário, mediante ato administrativo fundamentado. (Inclu- III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer
ído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência às instâncias escolares superiores;
Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e descre- IV - direito de organização e participação em entidades estu-
denciamento, o repasse de recursos provenientes de organismos dantis;
estrangeiros encarregados de intermediar pedidos de adoção inter- V - acesso à escola pública e gratuita, próxima de sua residên-
nacional a organismos nacionais ou a pessoas físicas. (Incluído pela cia, garantindo-se vagas no mesmo estabelecimento a irmãos que
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência frequentem a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica.
Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser efe- (Redação dada pela Lei nº 13.845, de 2019)
tuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente e esta- Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência
rão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de Direitos da do processo pedagógico, bem como participar da definição das pro-
Criança e do Adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) postas educacionais.
Vigência Art. 53-A.É dever da instituição de ensino, clubes e agremia-

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
ções recreativas e de estabelecimentos congêneres assegurar me- II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescen-
didas de conscientização, prevenção e enfrentamento ao uso ou te;
dependência de drogas ilícitas.(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) III - horário especial para o exercício das atividades.
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegura-
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os da bolsa de aprendizagem.
que a ele não tiveram acesso na idade própria; Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários.
ensino médio; Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado
III - atendimento educacional especializado aos portadores de trabalho protegido.
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime fa-
IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero miliar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade
a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016) governamental ou não-governamental, é vedado trabalho:
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as
criação artística, segundo a capacidade de cada um; cinco horas do dia seguinte;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições II - perigoso, insalubre ou penoso;
do adolescente trabalhador; III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu
VII - atendimento no ensino fundamental, através de progra- desenvolvimento físico, psíquico, moral e social;
mas suplementares de material didático-escolar, transporte, ali- IV - realizado em horários e locais que não permitam a frequ-
mentação e assistência à saúde. ência à escola.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho edu-
subjetivo. cativo, sob responsabilidade de entidade governamental ou não-
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder pú- -governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar ao adoles-
blico ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autorida- cente que dele participe condições de capacitação para o exercício
de competente. de atividade regular remunerada.
§ 3º Compete ao poder público recensear os educandos no en- § 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em
sino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pes-
responsável, pela frequência à escola. soal e social do educando prevalecem sobre o aspecto produtivo.
Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. efetuado ou a participação na venda dos produtos de seu trabalho
Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino funda- não desfigura o caráter educativo.
mental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à pro-
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; teção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre outros:
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgo- I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
tados os recursos escolares; II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
III - elevados níveis de repetência.
Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências e TÍTULO III
novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo, meto- DA PREVENÇÃO
dologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de crianças e
adolescentes excluídos do ensino fundamental obrigatório. CAPÍTULO I
Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores DISPOSIÇÕES GERAIS
culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da crian-
ça e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da criação e Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou
o acesso às fontes de cultura. violação dos direitos da criança e do adolescente.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União, esti- Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municí-
mularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para pro- pios deverão atuar de forma articulada na elaboração de políticas
gramações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo
e a juventude. físico ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas não
violentas de educação de crianças e de adolescentes, tendo como
CAPÍTULO V principais ações: (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
DO DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO NO I - a promoção de campanhas educativas permanentes para a
TRABALHO divulgação do direito da criança e do adolescente de serem educa-
dos e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze ou degradante e dos instrumentos de proteção aos direitos huma-
anos de idade, salvo na condição de aprendiz. (Vide Constituição nos; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014)
Federal) II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do Minis-
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada tério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho Tutelar, com
por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei. os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e com as en-
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-pro- tidades não governamentais que atuam na promoção, proteção e
fissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de defesa dos direitos da criança e do adolescente; (Incluído pela Lei
educação em vigor. nº 13.010, de 2014)
Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguin- III - a formação continuada e a capacitação dos profissionais
tes princípios: de saúde, educação e assistência social e dos demais agentes que
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regu- atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do
lar; adolescente para o desenvolvimento das competências necessárias

39
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
à prevenção, à identificação de evidências, ao diagnóstico e ao en- Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão,
frentamento de todas as formas de violência contra a criança e o no horário recomendado para o público infanto juvenil, programas
adolescente; (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas.
IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica de Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou
conflitos que envolvam violência contra a criança e o adolescente; anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua transmissão,
(Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) apresentação ou exibição.
V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de
garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a atenção empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de programa-
pré-natal, e de atividades junto aos pais e responsáveis com o obje- ção em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em de-
tivo de promover a informação, a reflexão, o debate e a orientação sacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente.
sobre alternativas ao uso de castigo físico ou de tratamento cruel Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão exibir,
ou degradante no processo educativo; (Incluído pela Lei nº 13.010, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a faixa etária
de 2014) a que se destinam.
VI - a promoção de espaços intersetoriais locais para a articula- Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio
ção de ações e a elaboração de planos de atuação conjunta focados ou inadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializa-
nas famílias em situação de violência, com participação de profis- das em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo.
sionais de saúde, de assistência social e de educação e de órgãos de Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que
promoção, proteção e defesa dos direitos da criança e do adoles- contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam protegi-
cente. (Incluído pela Lei nº 13.010, de 2014) das com embalagem opaca.
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes com Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público infan-
deficiência terão prioridade de atendimento nas ações e políticas to-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas,
públicas de prevenção e proteção. (Incluído pela Lei nº 13.010, de crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e mu-
2014) nições, e deverão respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e
Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas da família.
áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar, em Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que explorem
seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e comunicar comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de jogos,
ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus-tratos praticados assim entendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmen-
contra crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de te, cuidarão para que não seja permitida a entrada e a permanência
2014) de crianças e adolescentes no local, afixando aviso para orientação
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela comunica- do público.
ção de que trata este artigo, as pessoas encarregadas, por razão de
cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ocupação, do cuida- SEÇÃO II
do, assistência ou guarda de crianças e adolescentes, punível, na DOS PRODUTOS E SERVIÇOS
forma deste Estatuto, o injustificado retardamento ou omissão, cul-
posos ou dolosos. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014) Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito a informação, I - armas, munições e explosivos;
cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e servi- II - bebidas alcoólicas;
ços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvol- III - produtos cujos componentes possam causar dependência
vimento. física ou psíquica ainda que por utilização indevida;
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da pre- IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo
venção especial outras decorrentes dos princípios por ela adotados. seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará físico em caso de utilização indevida;
em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos desta V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
Lei. VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
CAPÍTULO II Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou adolescente
DA PREVENÇÃO ESPECIAL em hotel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se
autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável.
SEÇÃO I
DA INFORMAÇÃO, CULTURA, LAZER, ESPORTES, DIVERSÕES E SEÇÃO III
ESPETÁCULOS DA AUTORIZAÇÃO PARA VIAJAR

Art. 74. O poder público, através do órgão competente, regu- Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezes-
lará as diversões e espetáculos públicos, informando sobre a na- seis) anos poderá viajar para fora da comarca onde reside desa-
tureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e companhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa autoriza-
horários em que sua apresentação se mostre inadequada. ção judicial. (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e espetáculos § 1º A autorização não será exigida quando:
públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança ou
do local de exibição, informação destacada sobre a natureza do es- do adolescente menor de 16 (dezesseis) anos, se na mesma uni-
petáculo e a faixa etária especificada no certificado de classificação. dade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;
Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
e espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa b) a criança ou o adolescente menor de 16 (dezesseis) anos
etária.
estiver acompanhado: (Redação dada pela Lei nº 13.812, de 2019)
Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente po-
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, com-
derão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou exibi-
provado documentalmente o parentesco;
ção quando acompanhadas dos pais ou responsável.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe V - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério
ou responsável. Público, Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, pre-
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou res- ferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do
ponsável, conceder autorização válida por dois anos. atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização infracional;
é dispensável, se a criança ou adolescente: VI - integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; Público, Defensoria, Conselho Tutelar e encarregados da execução
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressa- das políticas sociais básicas e de assistência social, para efeito de
mente pelo outro através de documento com firma reconhecida. agilização do atendimento de crianças e de adolescentes inseridos
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma em programas de acolhimento familiar ou institucional, com vista
criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair na sua rápida reintegração à família de origem ou, se tal solução
do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no se mostrar comprovadamente inviável, sua colocação em família
exterior. substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 des-
ta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
PARTE ESPECIAL VII - mobilização da opinião pública para a indispensável parti-
cipação dos diversos segmentos da sociedade. (Incluído pela Lei nº
TÍTULO I 12.010, de 2009)Vigência
DA POLÍTICA DE ATENDIMENTO VIII - especialização e formação continuada dos profissionais
que trabalham nas diferentes áreas da atenção à primeira infância,
CAPÍTULO I incluindo os conhecimentos sobre direitos da criança e sobre de-
DISPOSIÇÕES GERAIS senvolvimento infantil;(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
IX - formação profissional com abrangência dos diversos direi-
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do tos da criança e do adolescente que favoreça a intersetorialidade
adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações no atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimen-
governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do to integral;(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Distrito Federal e dos municípios. X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvi-
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: (Vide Lei mento infantil e sobre prevenção da violência.(Incluído pela Lei nº
nº 12.010, de 2009) Vigência 13.257, de 2016)
I - políticas sociais básicas; Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos con-
II - serviços, programas, projetos e benefícios de assistência selhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do adoles-
social de garantia de proteção social e de prevenção e redução de cente é considerada de interesse público relevante e não será re-
violações de direitos, seus agravamentos ou reincidências; (Reda- munerada.
ção dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico CAPÍTULO II
e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, DAS ENTIDADES DE ATENDIMENTO
abuso, crueldade e opressão;
IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, SEÇÃO I
crianças e adolescentes desaparecidos; DISPOSIÇÕES GERAIS
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direi-
tos da criança e do adolescente. Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento
período de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo e execução de programas de proteção e sócio-educativos destina-
exercício do direito à convivência familiar de crianças e adolescen- dos a crianças e adolescentes, em regime de:
tes; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência I - orientação e apoio sócio-familiar;
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de II - apoio sócio-educativo em meio aberto;
guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e III - colocação familiar;
à adoção, especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de IV - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº
adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com de- 12.010, de 2009) Vigência
ficiências e de grupos de irmãos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de V - prestação de serviços à comunidade; (Redação dada pela
Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
2009) Vigência
VI - liberdade assistida; (Redação dada pela Lei nº 12.594, de
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:
2012) (Vide)
I - municipalização do atendimento;
VII - semiliberdade; e (Redação dada pela Lei nº 12.594, de
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos
2012) (Vide)
direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e contro-
VIII - internação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
ladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação po-
§ 1o As entidades governamentais e não governamentais de-
pular paritária por meio de organizações representativas, segundo
verão proceder à inscrição de seus programas, especificando os re-
leis federal, estaduais e municipais;
gimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho
III - criação e manutenção de programas específicos, observada Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual manterá
a descentralização político-administrativa; registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunica-
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais ção ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária. (Incluído pela Lei
vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do nº 12.010, de 2009) Vigência
adolescente;

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 2o Os recursos destinados à implementação e manutenção § 1o O dirigente de entidade que desenvolve programa de
dos programas relacionados neste artigo serão previstos nas dota- acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para todos os
ções orçamentárias dos órgãos públicos encarregados das áreas de efeitos de direito. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Educação, Saúde e Assistência Social, dentre outros, observando-se § 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem programas
o princípio da prioridade absoluta à criança e ao adolescente preco- de acolhimento familiar ou institucional remeterão à autoridade ju-
nizado pelo caput do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput diciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, relatório circunstanciado
e parágrafo único do art. 4o desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua
de 2009) Vigência família, para fins da reavaliação prevista no § 1o do art. 19 desta
§ 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo Con- Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
selho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no máxi- § 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes Execu-
mo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para renovação tivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a permanente qua-
da autorização de funcionamento: (Incluído pela Lei nº 12.010, de lificação dos profissionais que atuam direta ou indiretamente em
2009) Vigência programas de acolhimento institucional e destinados à colocação
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem como familiar de crianças e adolescentes, incluindo membros do Poder
às resoluções relativas à modalidade de atendimento prestado ex- Judiciário, Ministério Público e Conselho Tutelar. (Incluído pela Lei
pedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, nº 12.010, de 2009)Vigência
em todos os níveis; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência § 4o Salvo determinação em contrário da autoridade judiciá-
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, atesta- ria competente, as entidades que desenvolvem programas de aco-
das pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela Justiça lhimento familiar ou institucional, se necessário com o auxílio do
da Infância e da Juventude; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Conselho Tutelar e dos órgãos de assistência social, estimularão o
Vigência contato da criança ou adolescente com seus pais e parentes, em
III - em se tratando de programas de acolhimento institucional cumprimento ao disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
ou familiar, serão considerados os índices de sucesso na reintegra- (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
ção familiar ou de adaptação à família substituta, conforme o caso. § 5o As entidades que desenvolvem programas de acolhimen-
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência to familiar ou institucional somente poderão receber recursos pú-
Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão blicos se comprovado o atendimento dos princípios, exigências e
funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direi- finalidades desta Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
tos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao § 6o O descumprimento das disposições desta Lei pelo dirigen-
Conselho Tutelar e à autoridade judiciária da respectiva localidade. te de entidade que desenvolva programas de acolhimento familiar
§ 1o Será negado o registro à entidade que: (Incluído pela Lei ou institucional é causa de sua destituição, sem prejuízo da apura-
nº 12.010, de 2009) Vigência ção de sua responsabilidade administrativa, civil e criminal. (Incluí-
a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas de do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; § 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos
b) não apresente plano de trabalho compatível com os princí- em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à atuação
pios desta Lei; de educadores de referência estáveis e qualitativamente significa-
c) esteja irregularmente constituída; tivos, às rotinas específicas e ao atendimento das necessidades bá-
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. sicas, incluindo as de afeto como prioritárias. (Incluído pela Lei nº
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e delibe- 13.257, de 2016)
rações relativas à modalidade de atendimento prestado expedidas Art. 93. As entidades que mantenham programa de acolhimen-
pelos Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, em todos to institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência,
os níveis. (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação da auto-
§ 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, ca- ridade competente, fazendo comunicação do fato em até 24 (vinte
bendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adoles- e quatro) horas ao Juiz da Infância e da Juventude, sob pena de res-
cente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua renovação, ponsabilidade. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
observado o disposto no § 1o deste artigo.(Incluído pela Lei nº Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade judi-
12.010, de 2009)Vigência ciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o apoio do
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de acolhi- Conselho Tutelar local, tomará as medidas necessárias para promo-
mento familiar ou institucional deverão adotar os seguintes princí- ver a imediata reintegração familiar da criança ou do adolescente
pios: (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência ou, se por qualquer razão não for isso possível ou recomendável,
I - preservação dos vínculos familiares e promoção da reinte- para seu encaminhamento a programa de acolhimento familiar,
gração familiar;(Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência institucional ou a família substituta, observado o disposto no § 2o
II - integração em família substituta, quando esgotados os do art. 101 desta Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
recursos de manutenção na família natural ou extensa; (Redação Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de interna-
dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência ção têm as seguintes obrigações, entre outras:
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; I - observar os direitos e garantias de que são titulares os ado-
IV - desenvolvimento de atividades em regime de co-educação; lescentes;
V - não desmembramento de grupos de irmãos; II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para outras restrição na decisão de internação;
entidades de crianças e adolescentes abrigados; III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unida-
VII - participação na vida da comunidade local; des e grupos reduzidos;
VIII - preparação gradativa para o desligamento; IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e
IX - participação de pessoas da comunidade no processo edu- dignidade ao adolescente;
cativo. V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preserva-
ção dos vínculos familiares;

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os ca- II - às entidades não-governamentais:
sos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vín- a) advertência;
culos familiares; b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;
VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de c) interdição de unidades ou suspensão de programa;
habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos ne- d) cassação do registro.
cessários à higiene pessoal; § 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades
VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados de atendimento, que coloquem em risco os direitos assegurados
à faixa etária dos adolescentes atendidos; nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao Ministério Público ou
IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e representado perante autoridade judiciária competente para as
farmacêuticos; providências cabíveis, inclusive suspensão das atividades ou dis-
X - propiciar escolarização e profissionalização; solução da entidade. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; Vigência
XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de § 2o As pessoas jurídicas de direito público e as organizações
acordo com suas crenças; não governamentais responderão pelos danos que seus agentes
XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; causarem às crianças e aos adolescentes, caracterizado o descum-
XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máxi- primento dos princípios norteadores das atividades de proteção es-
mo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade com- pecífica. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
petente;
XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre TÍTULO II
sua situação processual; DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de
adolescentes portadores de moléstias infecto-contagiosas; CAPÍTULO I
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos DISPOSIÇÕES GERAIS
adolescentes;
XVIII - manter programas destinados ao apoio e acompanha- Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente
mento de egressos; são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da ameaçados ou violados:
cidadania àqueles que não os tiverem; I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e cir- II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
cunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou III - em razão de sua conduta.
responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento
da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que CAPÍTULO II
possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento. DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO
§ 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes des-
te artigo às entidades que mantêm programas de acolhimento ins- Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser apli-
titucional e familiar. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) cadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qual-
Vigência quer tempo.
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este artigo as Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as ne-
entidades utilizarão preferencialmente os recursos da comunidade. cessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao forta-
Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que abriguem ou lecimento dos vínculos familiares e comunitários.
recepcionem crianças e adolescentes, ainda que em caráter tempo- Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação
rário, devem ter, em seus quadros, profissionais capacitados a re- das medidas:(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
conhecer e reportar ao Conselho Tutelar suspeitas ou ocorrências I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de direi-
de maus-tratos. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014) tos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos previstos
nesta e em outras Leis, bem como na Constituição Federal; (Incluí-
SEÇÃO II do pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
DA FISCALIZAÇÃO DAS ENTIDADES II - proteção integral e prioritária: a interpretação e aplicação
de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser voltada à pro-
Art. 95. As entidades governamentais e não-governamentais teção integral e prioritária dos direitos de que crianças e adoles-
referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministé- centes são titulares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
rio Público e pelos Conselhos Tutelares. III - responsabilidade primária e solidária do poder público: a
plena efetivação dos direitos assegurados a crianças e a adolescen-
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas serão tes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo nos casos por esta
apresentados ao estado ou ao município, conforme a origem das expressamente ressalvados, é de responsabilidade primária e soli-
dotações orçamentárias. dária das 3 (três) esferas de governo, sem prejuízo da municipaliza-
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de atendimento ção do atendimento e da possibilidade da execução de programas
que descumprirem obrigação constante do art. 94, sem prejuízo da por entidades não governamentais; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
responsabilidade civil e criminal de seus dirigentes ou prepostos: 2009) Vigência
(Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência IV - interesse superior da criança e do adolescente: a inter-
I - às entidades governamentais: venção deve atender prioritariamente aos interesses e direitos da
a) advertência; criança e do adolescente, sem prejuízo da consideração que for
b) afastamento provisório de seus dirigentes; devida a outros interesses legítimos no âmbito da pluralidade dos
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; interesses presentes no caso concreto; (Incluído pela Lei nº 12.010,
d) fechamento de unidade ou interdição de programa. de 2009) Vigência

43
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança § 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para
e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providên-
direito à imagem e reserva da sua vida privada;(Incluído pela Lei nº cias a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou
12.010, de 2009) Vigência adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da au-
VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades com- toridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministé-
petentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja co- rio Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento
nhecida; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável
VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida ex- legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.(Incluído pela
clusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja indis- Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
pensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da criança § 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser encami-
e do adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência nhados às instituições que executam programas de acolhimento
VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de
necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o Acolhimento, expedida pela autoridade judiciária, na qual obriga-
adolescente se encontram no momento em que a decisão é toma- toriamente constará, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010,
da; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de 2009) Vigência
IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser efetuada I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou
de modo que os pais assumam os seus deveres para com a criança e de seu responsável, se conhecidos;(Incluído pela Lei nº 12.010, de
o adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 2009) Vigência
X - prevalência da família: na promoção de direitos e na prote- II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com
ção da criança e do adolescente deve ser dada prevalência às me- pontos de referência;(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
didas que os mantenham ou reintegrem na sua família natural ou III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-
extensa ou, se isso não for possível, que promovam a sua integra- -los sob sua guarda;(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ção em família adotiva; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio
XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o adolescente, familiar.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
respeitado seu estágio de desenvolvimento e capacidade de com- § 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do ado-
preensão, seus pais ou responsável devem ser informados dos seus lescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento
direitos, dos motivos que determinaram a intervenção e da forma institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendi-
como esta se processa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi- mento, visando à reintegração familiar, ressalvada a existência de
gência ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judi-
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o adolescen- ciária competente, caso em que também deverá contemplar sua
te, em separado ou na companhia dos pais, de responsável ou de colocação em família substituta, observadas as regras e princípios
pessoa por si indicada, bem como os seus pais ou responsável, têm desta Lei.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
direito a ser ouvidos e a participar nos atos e na definição da me- § 5o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade
dida de promoção dos direitos e de proteção, sendo sua opinião da equipe técnica do respectivo programa de atendimento e levará
devidamente considerada pela autoridade judiciária competente, em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva
observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.(Incluído dos pais ou do responsável.(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Vigência
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. § 6o Constarão do plano individual, dentre outros: (Incluído
98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
seguintes medidas: I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído pela Lei
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo nº 12.010, de 2009) Vigência
de responsabilidade; II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a
oficial de ensino fundamental; criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou responsável,
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por
de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adoles- expressa e fundamentada determinação judicial, as providências a
cente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob dire-
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátri- ta supervisão da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência
co, em regime hospitalar ou ambulatorial;
§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a ne-
VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº
cessidade, a família de origem será incluída em programas oficiais
12.010, de 2009) Vigência
de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação
estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido.
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº
§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o res-
12.010, de 2009) Vigência ponsável pelo programa de acolhimento familiar ou institucional
§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista
medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de tran- ao Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) dias, decidindo em
sição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para igual prazo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
colocação em família substituta, não implicando privação de liber- § 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração
dade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência da criança ou do adolescente à família de origem, após seu enca-

44
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
minhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito
apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considera-
providências tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos da a idade do adolescente à data do fato.
técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política mu- Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponde-
nicipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destitui- rão as medidas previstas no art. 101.
ção do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.(Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência CAPÍTULO II
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de DOS DIREITOS INDIVIDUAIS
15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de destituição do po-
der familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade
complementares ou de outras providências indispensáveis ao ajui- senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fun-
zamento da demanda. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) damentada da autoridade judiciária competente.
§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos
foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas so- responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de
bre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar seus direitos.
e institucional sob sua responsabilidade, com informações porme- Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local onde
norizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as pro- se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade
vidências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por
família substituta, em qualquer das modalidades previstas no art. ele indicada.
28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de res-
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Con- ponsabilidade, a possibilidade de liberação imediata.
selho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os Conselhos Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determina-
Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistên- da pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
cia Social, aos quais incumbe deliberar sobre a implementação de Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-
políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e -se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada
adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período a necessidade imperiosa da medida.
de permanência em programa de acolhimento. (Incluído pela Lei nº Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será sub-
12.010, de 2009) Vigência metido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, de prote-
Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo ção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, havendo dúvida
serão acompanhadas da regularização do registro civil. (Vide Lei nº fundada.
12.010, de 2009) Vigência
§ 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o assento CAPÍTULO III
de nascimento da criança ou adolescente será feito à vista dos ele- DAS GARANTIAS PROCESSUAIS
mentos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária.
§ 2º Os registros e certidões necessários à regularização de que Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade
trata este artigo são isentos de multas, custas e emolumentos, go-
sem o devido processo legal.
zando de absoluta prioridade.
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as se-
§ 3o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado
guintes garantias:
procedimento específico destinado à sua averiguação, conforme
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracio-
previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de 1992. (Incluído
nal, mediante citação ou meio equivalente;
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se
§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é dispen-
com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias
sável o ajuizamento de ação de investigação de paternidade pelo
Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do à sua defesa;
suposto pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for III - defesa técnica por advogado;
encaminhada para adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados,
Vigência na forma da lei;
§ 5o Os registros e certidões necessários à inclusão, a qualquer V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade com-
tempo, do nome do pai no assento de nascimento são isentos de petente;
multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta prioridade. VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável
(Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016) em qualquer fase do procedimento.
§ 6o São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação requerida
do reconhecimento de paternidade no assento de nascimento e CAPÍTULO IV
a certidão correspondente. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de DAS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS
2016)
SEÇÃO I
TÍTULO III DISPOSIÇÕES GERAIS
DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade
CAPÍTULO I competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
DISPOSIÇÕES GERAIS I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como III - prestação de serviços à comunidade;
crime ou contravenção penal. IV - liberdade assistida;

45
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
V - inserção em regime de semi-liberdade; I - promover socialmente o adolescente e sua família, forne-
VI - internação em estabelecimento educacional; cendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do
capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infra- adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;
ção. III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a e de sua inserção no mercado de trabalho;
prestação de trabalho forçado. IV - apresentar relatório do caso.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência
mental receberão tratamento individual e especializado, em local SEÇÃO VI
adequado às suas condições. DO REGIME DE SEMI-LIBERDADE
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e 100.
Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II a VI Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado
do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes da autoria desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto,
e da materialidade da infração, ressalvada a hipótese de remissão, possibilitada a realização de atividades externas, independente-
nos termos do art. 127. mente de autorização judicial.
Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre § 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, de-
que houver prova da materialidade e indícios suficientes da autoria. vendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes
na comunidade.
SEÇÃO II § 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se,
DA ADVERTÊNCIA no que couber, as disposições relativas à internação.

Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal, que SEÇÃO VII


será reduzida a termo e assinada. DA INTERNAÇÃO

SEÇÃO III Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade,


DA OBRIGAÇÃO DE REPARAR O DANO sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos pa- § 1º Será permitida a realização de atividades externas, a cri-
trimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o tério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação
adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, judicial em contrário.
por outra forma, compense o prejuízo da vítima. § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no
poderá ser substituída por outra adequada. máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação
SEÇÃO IV excederá a três anos.
DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o
adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semi-li-
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na re- berdade ou de liberdade assistida.
alização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.
excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de
escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em pro- autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
gramas comunitários ou governamentais. § 7o A determinação judicial mencionada no § 1o poderá ser
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as apti- revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária. (Incluído pela
dões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada má- Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
xima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quan-
em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à do:
jornada normal de trabalho. I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave amea-
ça ou violência a pessoa;
SEÇÃO V II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
DA LIBERDADE ASSISTIDA III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida
anteriormente imposta.
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afi- § 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo
gurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar
não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser decretada
e orientar o adolescente.
judicialmente após o devido processo legal. (Redação dada pela Lei
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompa-
nº 12.594, de 2012) (Vide)
nhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou pro-
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, haven-
grama de atendimento.
do outra medida adequada.
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade ex-
seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada
clusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao
ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério
Público e o defensor. abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, com-
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da pleição física e gravidade da infração.
autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive
outros: provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, en- II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
tre outros, os seguintes: orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Minis- III - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;
tério Público; IV - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade; V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua
III - avistar-se reservadamente com seu defensor; frequência e aproveitamento escolar;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que so- VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a trata-
licitada; mento especializado;
V - ser tratado com respeito e dignidade; VII - advertência;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela VIII - perda da guarda;
mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável; IX - destituição da tutela;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente; X - suspensão ou destituição do poder familiar. (Expressão
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos; substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pes- Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos inci-
soal; sos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23 e 24.
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou
salubridade; abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade ju-
XI - receber escolarização e profissionalização; diciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer: do agressor da moradia comum.
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social; Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a fixação
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e des- provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o adoles-
de que assim o deseje; cente dependentes do agressor. (Incluído pela Lei nº 12.415, de
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local 2011)
seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porven-
tura depositados em poder da entidade; TÍTULO V
XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos DO CONSELHO TUTELAR
pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade. CAPÍTULO I
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamen- DISPOSIÇÕES GERAIS
te a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos
sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do ado- Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo,
lescente. não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumpri-
Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e men- mento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei.
tal dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de con- Art. 132. Em cada Município e em cada Região Administrati-
tenção e segurança. va do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) Conselho Tutelar
como órgão integrante da administração pública local, composto
CAPÍTULO V de 5 (cinco) membros, escolhidos pela população local para manda-
DA REMISSÃO to de 4 (quatro) anos, permitida recondução por novos processos
de escolha.(Redação dada pela Lei nº 13.824, de 2019)
Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para apu- Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho Tutelar,
ração de ato infracional, o representante do Ministério Público po- serão exigidos os seguintes requisitos:
derá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, I - reconhecida idoneidade moral;
atendendo às circunstâncias e consequências do fato, ao contexto II - idade superior a vinte e um anos;
social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou III - residir no município.
menor participação no ato infracional. Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local, dia e
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da re- horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive quanto à
missão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou extin- remuneração dos respectivos membros, aos quais é assegurado o
ção do processo. direito a: (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)
Art. 127. A remissão não implica necessariamente o reconhe- I - cobertura previdenciária; (Incluído pela Lei nº 12.696, de
cimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para 2012)
efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3
de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em
(um terço) do valor da remuneração mensal; (Incluído pela Lei nº
regime de semi-liberdade e a internação.
12.696, de 2012)
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá ser
III - licença-maternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido expres-
IV - licença-paternidade; (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
so do adolescente ou de seu representante legal, ou do Ministério
V - gratificação natalina. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
Público.
Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e da
do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao funciona-
TÍTULO IV
DAS MEDIDAS PERTINENTES AOS PAIS OU RESPONSÁVEL mento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação continu-
ada dos conselheiros tutelares. (Redação dada pela Lei nº 12.696,
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: de 2012)
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou comu- Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro consti-
nitários de proteção, apoio e promoção da família; (Redação dada tuirá serviço público relevante e estabelecerá presunção de idonei-
pela Lei nº 13.257, de 2016) dade moral. (Redação dada pela Lei nº 12.696, de 2012)

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
CAPÍTULO II § 1o O processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar
DAS ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada 4
(quatro) anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano sub-
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: sequente ao da eleição presidencial. (Incluído pela Lei nº 12.696,
I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas de 2012)
nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a § 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 de
VII; janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. (Incluído pela
II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as Lei nº 12.696, de 2012)
medidas previstas no art. 129, I a VII; § 3o No processo de escolha dos membros do Conselho Tute-
III - promover a execução de suas decisões, podendo para tan- lar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao
to: eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive
a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, brindes de pequeno valor. (Incluído pela Lei nº 12.696, de 2012)
serviço social, previdência, trabalho e segurança;
b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de des- CAPÍTULO V
cumprimento injustificado de suas deliberações. DOS IMPEDIMENTOS
IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que cons-
titua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho marido
ou adolescente; e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro ou nora, ir-
V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua compe- mãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou
tência; madrasta e enteado.
VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judi- Parágrafo único. Estende-se o impedimento do conselheiro, na
ciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente forma deste artigo, em relação à autoridade judiciária e ao repre-
autor de ato infracional; sentante do Ministério Público com atuação na Justiça da Infância
VII - expedir notificações; e da Juventude, em exercício na comarca, foro regional ou distrital.
VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança
ou adolescente quando necessário; TÍTULO VI
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da pro- DO ACESSO À JUSTIÇA
posta orçamentária para planos e programas de atendimento dos
direitos da criança e do adolescente; CAPÍTULO I
X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a viola- DISPOSIÇÕES GERAIS
ção dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição
Federal; Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à
XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por
perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibili- qualquer de seus órgãos.
dades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família § 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela
natural. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência necessitarem, através de defensor público ou advogado nomeado.
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profis- § 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância
sionais, ações de divulgação e treinamento para o reconhecimento e da Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a
de sintomas de maus-tratos em crianças e adolescentes. (Incluído hipótese de litigância de má-fé.
pela Lei nº 13.046, de 2014) Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão representados
Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conse- e os maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos assistidos
lho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, por seus pais, tutores ou curadores, na forma da legislação civil ou
comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando- processual.
-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as provi- Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador especial
dências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da à criança ou adolescente, sempre que os interesses destes colidi-
família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência rem com os de seus pais ou responsável, ou quando carecer de re-
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser presentação ou assistência legal ainda que eventual.
revistas pela autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e ad-
interesse. ministrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se
atribua autoria de ato infracional.
CAPÍTULO III Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não pode-
DA COMPETÊNCIA rá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, refe-
rência a nome, apelido, filiação, parentesco, residência e, inclusive,
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de competência iniciais do nome e sobrenome. (Redação dada pela Lei nº 10.764,
constante do art. 147. de 12.11.2003)
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se
CAPÍTULO IV refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade
DA ESCOLHA DOS CONSELHEIROS judiciária competente, se demonstrado o interesse e justificada a
finalidade.
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do Conselho
Tutelar será estabelecido em lei municipal e realizado sob a res-
ponsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, e a fiscalização do Ministério Público. (Redação dada
pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)

48
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
CAPÍTULO II f) designar curador especial em casos de apresentação de quei-
DA JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE xa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais ou ex-
trajudiciais em que haja interesses de criança ou adolescente;
SEÇÃO I g) conhecer de ações de alimentos;
DISPOSIÇÕES GERAIS h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento
dos registros de nascimento e óbito.
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar varas Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar, através
especializadas e exclusivas da infância e da juventude, cabendo ao de portaria, ou autorizar, mediante alvará:
Poder Judiciário estabelecer sua proporcionalidade por número de I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, desa-
habitantes, dotá-las de infraestrutura e dispor sobre o atendimen- companhado dos pais ou responsável, em:
to, inclusive em plantões. a) estádio, ginásio e campo desportivo;
b) bailes ou promoções dançantes;
SEÇÃO II c) boate ou congêneres;
DO JUIZ d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas;
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão.
Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da Infân- II - a participação de criança e adolescente em:
cia e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na forma da a) espetáculos públicos e seus ensaios;
lei de organização judiciária local. b) certames de beleza.
Art. 147. A competência será determinada: § 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade judiciá-
I - pelo domicílio dos pais ou responsável; ria levará em conta, dentre outros fatores:
II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à fal- a) os princípios desta Lei;
ta dos pais ou responsável. b) as peculiaridades locais;
§ 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a autorida- c) a existência de instalações adequadas;
de do lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão, d) o tipo de frequência habitual ao local;
continência e prevenção. e) a adequação do ambiente a eventual participação ou frequ-
§ 2º A execução das medidas poderá ser delegada à autorida- ência de crianças e adolescentes;
de competente da residência dos pais ou responsável, ou do local f) a natureza do espetáculo.
onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou adolescente. § 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo deve-
§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão si- rão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as determinações de
multânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma comarca, caráter geral.
será competente, para aplicação da penalidade, a autoridade judi-
SEÇÃO III
ciária do local da sede estadual da emissora ou rede, tendo a sen-
DOS SERVIÇOS AUXILIARES
tença eficácia para todas as transmissoras ou retransmissoras do
respectivo estado.
Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua pro-
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente
posta orçamentária, prever recursos para manutenção de equipe
para:
interprofissional, destinada a assessorar a Justiça da Infância e da
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério
Juventude.
Público, para apuração de ato infracional atribuído a adolescente, Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras
aplicando as medidas cabíveis; atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou extinção subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiên-
do processo; cia, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orien-
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; tação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais, subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifesta-
difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente, observado o ção do ponto de vista técnico.
disposto no art. 209; Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de servidores pú-
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em enti- blicos integrantes do Poder Judiciário responsáveis pela realização
dades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; dos estudos psicossociais ou de quaisquer outras espécies de ava-
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de infrações liações técnicas exigidas por esta Lei ou por determinação judicial,
contra norma de proteção à criança ou adolescente; a autoridade judiciária poderá proceder à nomeação de perito, nos
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho Tutelar, termos do art. 156 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Códi-
aplicando as medidas cabíveis. go de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou adolescente
nas hipóteses do art. 98, é também competente a Justiça da Infân- CAPÍTULO III
cia e da Juventude para o fim de: DOS PROCEDIMENTOS
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela;
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, perda SEÇÃO I
ou modificação da tutela ou guarda; (Expressão substituída pela Lei DISPOSIÇÕES GERAIS
nº 12.010, de 2009) Vigência
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o casamento; Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna ou subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação proces-
materna, em relação ao exercício do poder familiar; (Expressão sual pertinente.
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando fal-
tarem os pais;

49
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade, prioridade § 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver pro-
absoluta na tramitação dos processos e procedimentos previstos curado o citando em seu domicílio ou residência sem o encontrar,
nesta Lei, assim como na execução dos atos e diligências judiciais deverá, havendo suspeita de ocultação, informar qualquer pessoa
a eles referentes. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência da família ou, em sua falta, qualquer vizinho do dia útil em que vol-
§ 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus tará a fim de efetuar a citação, na hora que designar, nos termos
procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia do do art. 252 e seguintes da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015
começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em dobro (Código de Processo Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
para a Fazenda Pública e o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº § 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local in-
13.509, de 2017) certo ou não sabido, serão citados por edital no prazo de 10 (dez)
Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não corresponder dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios para a lo-
a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a autoridade judici- calização. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
ária poderá investigar os fatos e ordenar de ofício as providências Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir
necessárias, ouvido o Ministério Público. advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família, po-
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para o derá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado dativo, ao qual
fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua família de incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o prazo a partir
origem e em outros procedimentos necessariamente contenciosos. da intimação do despacho de nomeação.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de liberda-
Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214. de, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento da citação
pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor. (Incluído pela
SEÇÃO II Lei nº 12.962, de 2014)
DA PERDA E DA SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária requisitará
(EXPRESSÃO SUBSTITUÍDA PELA LEI Nº 12.010, DE 2009) de qualquer repartição ou órgão público a apresentação de docu-
VIGÊNCIA mento que interesse à causa, de ofício ou a requerimento das par-
tes ou do Ministério Público.
Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do po- Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido concluí-
der familiar terá início por provocação do Ministério Público ou de do o estudo social ou a perícia realizada por equipe interprofissio-
quem tenha legítimo interesse. (Expressão substituída pela Lei nº nal ou multidisciplinar, a autoridade judiciária dará vista dos autos
12.010, de 2009) Vigência ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, salvo quando este for o
Art. 156. A petição inicial indicará: requerente, e decidirá em igual prazo. (Redação dada pela Lei nº
I - a autoridade judiciária a que for dirigida; 13.509, de 2017)
II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do reque- § 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das
rente e do requerido, dispensada a qualificação em se tratando de partes ou do Ministério Público, determinará a oitiva de testemu-
pedido formulado por representante do Ministério Público; nhas que comprovem a presença de uma das causas de suspensão
III - a exposição sumária do fato e o pedido; ou destituição do poder familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da
IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), ou no art. 24
rol de testemunhas e documentos. desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judici- § 2o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
ária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão do poder § 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, será
familiar, liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança ou
causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de
mediante termo de responsabilidade. (Expressão substituída pela compreensão sobre as implicações da medida. (Incluído pela Lei nº
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência
§ 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária determi- § 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem iden-
nará, concomitantemente ao despacho de citação e independen- tificados e estiverem em local conhecido, ressalvados os casos de
temente de requerimento do interessado, a realização de estudo não comparecimento perante a Justiça quando devidamente cita-
social ou perícia por equipe interprofissional ou multidisciplinar dos. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
para comprovar a presença de uma das causas de suspensão ou § 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a auto-
destituição do poder familiar, ressalvado o disposto no § 10 do art. ridade judicial requisitará sua apresentação para a oitiva. (Incluído
101 desta Lei, e observada a Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017. pela Lei nº 12.962, de 2014)
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária dará
§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, é vista dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, salvo quando
ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe interprofissional ou este for o requerente, designando, desde logo, audiência de instru-
multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, de representantes ção e julgamento.
do órgão federal responsável pela política indigenista, observado § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
o disposto no § 6o do art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, § 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público,
de 2017) serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmente o parecer
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias, técnico, salvo quando apresentado por escrito, manifestando-se
oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem produzidas e sucessivamente o requerente, o requerido e o Ministério Público,
oferecendo desde logo o rol de testemunhas e documentos. pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada um, prorrogável por mais 10
§ 1o A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os meios (dez) minutos. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
para sua realização. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) § 3o A decisão será proferida na audiência, podendo a autori-
§ 2o O requerido privado de liberdade deverá ser citado pesso- dade judiciária, excepcionalmente, designar data para sua leitura
almente. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014) no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
2017)

50
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 4o Quando o procedimento de destituição de poder familiar § 4o O consentimento prestado por escrito não terá validade
for iniciado pelo Ministério Público, não haverá necessidade de no- se não for ratificado na audiência a que se refere o § 1o deste arti-
meação de curador especial em favor da criança ou adolescente. go. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) § 5o O consentimento é retratável até a data da realização da
Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento audiência especificada no § 1o deste artigo, e os pais podem exer-
será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de notó- cer o arrependimento no prazo de 10 (dez) dias, contado da data de
ria inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir esforços prolação da sentença de extinção do poder familiar. (Redação dada
para preparar a criança ou o adolescente com vistas à colocação pela Lei nº 13.509, de 2017)
em família substituta. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) § 6o O consentimento somente terá valor se for dado após o
Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a suspen- nascimento da criança. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
são do poder familiar será averbada à margem do registro de nas- gência
cimento da criança ou do adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, § 7o A família natural e a família substituta receberão a devi-
de 2009) Vigência da orientação por intermédio de equipe técnica interprofissional
a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente
SEÇÃO III com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política mu-
DA DESTITUIÇÃO DA TUTELA nicipal de garantia do direito à convivência familiar. (Redação dada
pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o procedimen- Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento
to para a remoção de tutor previsto na lei processual civil e, no que das partes ou do Ministério Público, determinará a realização de
couber, o disposto na seção anterior. estudo social ou, se possível, perícia por equipe interprofissional,
decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem como, no
SEÇÃO IV caso de adoção, sobre o estágio de convivência.
DA COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda provisória ou
do estágio de convivência, a criança ou o adolescente será entregue
Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de coloca- ao interessado, mediante termo de responsabilidade. (Incluído pela
ção em família substituta: Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
I - qualificação completa do requerente e de seu eventual côn- Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e
juge, ou companheiro, com expressa anuência deste; ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar-se-á
II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco dias, de-
cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, especifi- cidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a per-
cando se tem ou não parente vivo;
da ou a suspensão do poder familiar constituir pressuposto lógico
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus
da medida principal de colocação em família substituta, será ob-
pais, se conhecidos;
servado o procedimento contraditório previsto nas Seções II e III
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexan-
deste Capítulo. (Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
do, se possível, uma cópia da respectiva certidão;
Vigência
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendi-
Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá
mentos relativos à criança ou ao adolescente.
ser decretada nos mesmos autos do procedimento, observado o
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão disposto no art. 35.
também os requisitos específicos. Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o dis-
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou posto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47.
suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente sob
ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser for- a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento familiar
mulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos pró- será comunicada pela autoridade judiciária à entidade por este res-
prios requerentes, dispensada a assistência de advogado. (Redação ponsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído pela Lei nº
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Redação
dada pela Lei nº 13.509, de 2017) SEÇÃO V
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, devi- DA APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL
damente assistidas por advogado ou por defensor público, para ATRIBUÍDO A ADOLESCENTE
verificar sua concordância com a adoção, no prazo máximo de 10
(dez) dias, contado da data do protocolo da petição ou da entrega Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial
da criança em juízo, tomando por termo as declarações; e (Incluído será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.
pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infra-
II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído pela Lei nº cional será, desde logo, encaminhado à autoridade policial compe-
13.509, de 2017) tente.
§ 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe para atendimento de adolescente e em se tratando de ato infra-
interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial, cional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a atribuição da
no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida. (Incluído repartição especializada, que, após as providências necessárias e con-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência forme o caso, encaminhará o adulto à repartição policial própria.
§ 3o São garantidos a livre manifestação de vontade dos de- Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido me-
tentores do poder familiar e o direito ao sigilo das informações. diante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade policial,
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único, e 107, de-
verá:

51
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o ado- § 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade
lescente; judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da medi-
II - apreender o produto e os instrumentos da infração; da.
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprova- § 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos au-
ção da materialidade e autoria da infração. tos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamen-
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a lavratura tado, e este oferecerá representação, designará outro membro do
do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência circuns- Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento
tanciada. ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o a homologar.
adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministé-
sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresen- rio Público não promover o arquivamento ou conceder a remissão,
tação ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a ins-
sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, exceto quando, tauração de procedimento para aplicação da medida sócio-educati-
pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o va que se afigurar a mais adequada.
adolescente permanecer sob internação para garantia de sua segu- § 1º A representação será oferecida por petição, que conte-
rança pessoal ou manutenção da ordem pública. rá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e,
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial enca- quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida
minhará, desde logo, o adolescente ao representante do Ministério oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim § 2º A representação independe de prova pré-constituída da
de ocorrência. autoria e materialidade.
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a conclusão do
policial encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente,
que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no será de quarenta e cinco dias.
prazo de vinte e quatro horas. Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendi- designará audiência de apresentação do adolescente, decidindo,
mento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta de desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, ob-
repartição policial especializada, o adolescente aguardará a apre- servado o disposto no art. 108 e parágrafo.
sentação em dependência separada da destinada a maiores, não § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão cientifica-
podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no pa- dos do teor da representação, e notificados a comparecer à audiên-
rágrafo anterior. cia, acompanhados de advogado.
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a autori-
encaminhará imediatamente ao representante do Ministério Públi- dade judiciária dará curador especial ao adolescente.
co cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência. § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade judici-
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios ária expedirá mandado de busca e apreensão, determinando o so-
de participação de adolescente na prática de ato infracional, a au- brestamento do feito, até a efetiva apresentação.
toridade policial encaminhará ao representante do Ministério Pú- § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua
blico relatório das investigações e demais documentos. apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou responsável.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato in- Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade
fracional não poderá ser conduzido ou transportado em compar- judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional.
timento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à § 1º Inexistindo na comarca entidade com as características de-
sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou finidas no art. 123, o adolescente deverá ser imediatamente trans-
mental, sob pena de responsabilidade. ferido para a localidade mais próxima.
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do Mi- § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente
nistério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão, aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em seção
boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo
pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de responsa-
adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e, bilidade.
em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemu- Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsá-
nhas. vel, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos, poden-
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o represen- do solicitar opinião de profissional qualificado.
tante do Ministério Público notificará os pais ou responsável para § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão,
apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo decisão.
polícias civil e militar. § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo ante- internação ou colocação em regime de semi-liberdade, a autorida-
rior, o representante do Ministério Público poderá: de judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado
constituído, nomeará defensor, designando, desde logo, audiência
I - promover o arquivamento dos autos;
em continuação, podendo determinar a realização de diligências e
II - conceder a remissão;
estudo do caso.
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de me-
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo
dida sócio-educativa.
de três dias contado da audiência de apresentação, oferecerá defe-
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a
sa prévia e rol de testemunhas.
remissão pelo representante do Ministério Público, mediante ter-
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas
mo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos serão
arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as dili-
conclusos à autoridade judiciária para homologação.
gências e juntado o relatório da equipe interprofissional, será dada

52
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
a palavra ao representante do Ministério Público e ao defensor, I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, iní-
sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, pror- cio, término, duração, endereço de Protocolo de Internet (IP) utili-
rogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em zado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela Lei nº 13.441,
seguida proferirá decisão. de 2017)
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não com- II – dados cadastrais: informações referentes a nome e ende-
parecer, injustificadamente à audiência de apresentação, a autori- reço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado para a
dade judiciária designará nova data, determinando sua condução conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário ou código
coercitiva. de acesso tenha sido atribuído no momento da conexão.
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do § 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não será
processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento, admitida se a prova puder ser obtida por outros meios. (Incluído
antes da sentença. pela Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, Art. 190-B. As informações da operação de infiltração serão
desde que reconheça na sentença: encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela autorização da
I - estar provada a inexistência do fato; medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela Lei nº 13.441, de
II - não haver prova da existência do fato; 2017)
III - não constituir o fato ato infracional; Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado
ato infracional. de polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir o
Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o adoles- sigilo das investigações. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
cente internado, será imediatamente colocado em liberdade. Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua iden-
Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de inter- tidade para, por meio da internet, colher indícios de autoria e ma-
nação ou regime de semi-liberdade será feita: terialidade dos crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B,
I - ao adolescente e ao seu defensor; 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A e218-B
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais ou do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal).
responsável, sem prejuízo do defensor. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á unica- Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de ob-
mente na pessoa do defensor. servar a estrita finalidade da investigação responderá pelos exces-
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente, deverá sos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público poderão
incluir nos bancos de dados próprios, mediante procedimento si-
SEÇÃO V-A giloso e requisição da autoridade judicial, as informações necessá-
(INCLUÍDO PELA LEI Nº 13.441, DE 2017) rias à efetividade da identidade fictícia criada. (Incluído pela Lei nº
DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES DE POLÍCIA PARA A INVESTI- 13.441, de 2017)
GAÇÃO DE CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL DE CRIAN- Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta Se-
ÇA E DE ADOLESCENTE” ção será numerado e tombado em livro específico. (Incluído pela
Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet com Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos eletrôni-
o fim de investigar os crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, cos praticados durante a operação deverão ser registrados, grava-
241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218, 218-A dos, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público,
e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código juntamente com relatório circunstanciado. (Incluído pela Lei nº
Penal), obedecerá às seguintes regras: (Incluído pela Lei nº 13.441, 13.441, de 2017)
de 2017) Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no
I – será precedida de autorização judicial devidamente circuns- caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e apensados
tanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites da infiltra- ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, assegu-
ção para obtenção de prova, ouvido o Ministério Público; (Incluído rando-se a preservação da identidade do agente policial infiltrado e
pela Lei nº 13.441, de 2017) a intimidade das crianças e dos adolescentes envolvidos. (Incluído
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público ou pela Lei nº 13.441, de 2017)
representação de delegado de polícia e conterá a demonstração de
sua necessidade, o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou SEÇÃO VI
apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de DA APURAÇÃO DE IRREGULARIDADES
conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas pesso- EM ENTIDADE DE ATENDIMENTO
as; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem pre- Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades em
juízo de eventuais renovações, desde que o total não exceda a 720 entidade governamental e não-governamental terá início mediante
(setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua efetiva necessi- portaria da autoridade judiciária ou representação do Ministério
dade, a critério da autoridade judicial. (Incluído pela Lei nº 13.441, Público ou do Conselho Tutelar, onde conste, necessariamente, re-
de 2017) sumo dos fatos.
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão requi- Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a autoridade
sitar relatórios parciais da operação de infiltração antes do término judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar liminarmente o
do prazo de que trata o inciso II do § 1º deste artigo. (Incluído pela afastamento provisório do dirigente da entidade, mediante decisão
Lei nº 13.441, de 2017) fundamentada.
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste artigo, Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo de
consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e
indicar as provas a produzir.

53
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo necessário, a I - qualificação completa; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
autoridade judiciária designará audiência de instrução e julgamen- Vigência
to, intimando as partes. II - dados familiares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
§ 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o Ministério gência
Público terão cinco dias para oferecer alegações finais, decidindo a III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casa-
autoridade judiciária em igual prazo. mento, ou declaração relativa ao período de união estável; (Incluí-
§ 2º Em se tratando de afastamento provisório ou definitivo de do pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
dirigente de entidade governamental, a autoridade judiciária ofi- IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de
ciará à autoridade administrativa imediatamente superior ao afas- Pessoas Físicas; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
tado, marcando prazo para a substituição. V - comprovante de renda e domicílio; (Incluído pela Lei nº
§ 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade judi- 12.010, de 2009) Vigência
ciária poderá fixar prazo para a remoção das irregularidades verifi- VI - atestados de sanidade física e mental; (Incluído pela Lei nº
cadas. Satisfeitas as exigências, o processo será extinto, sem julga- 12.010, de 2009) Vigência
mento de mérito. VII - certidão de antecedentes criminais; (Incluído pela Lei nº
§ 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da 12.010, de 2009) Vigência
entidade ou programa de atendimento. VIII - certidão negativa de distribuição cível. (Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência
SEÇÃO VII Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e
DA APURAÇÃO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA ÀS oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério Público, que no pra-
NORMAS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE zo de 5 (cinco) dias poderá: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade admi- I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe in-
nistrativa por infração às normas de proteção à criança e ao ado- terprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a que se
lescente terá início por representação do Ministério Público, ou do refere o art. 197-C desta Lei; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado por servidor efe- Vigência
tivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas testemunhas, II - requerer a designação de audiência para oitiva dos pos-
se possível. tulantes em juízo e testemunhas; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, pode- 2009) Vigência
rão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a natureza e as III - requerer a juntada de documentos complementares e a
circunstâncias da infração. realização de outras diligências que entender necessárias. (Incluído
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir-se-á pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, dos motivos Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe inter-
do retardamento. profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para apresentação deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que
de defesa, contado da data da intimação, que será feita: permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado na exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz
presença do requerido; dos requisitos e princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010,
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, de 2009) Vigência
que entregará cópia do auto ou da representação ao requerido, ou § 1o É obrigatória a participação dos postulantes em programa
a seu representante legal, lavrando certidão; oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmen-
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for encon- te com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política
trado o requerido ou seu representante legal; municipal de garantia do direito à convivência familiar e dos grupos
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não sabi- de apoio à adoção devidamente habilitados perante a Justiça da
do o paradeiro do requerido ou de seu representante legal. Infância e da Juventude, que inclua preparação psicológica, orien-
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a au- tação e estímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adoles-
toridade judiciária dará vista dos autos do Ministério Público, por centes com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades
cinco dias, decidindo em igual prazo. específicas de saúde, e de grupos de irmãos. (Redação dada pela Lei
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária pro- nº 13.509, de 2017)
cederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo necessário, § 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigató-
designará audiência de instrução e julgamento. (Vide Lei nº 12.010, ria da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá o contato
de 2009) Vigência com crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão suces- institucional, a ser realizado sob orientação, supervisão e avaliação
sivamente o Ministério Público e o procurador do requerido, pelo da equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude e dos gru-
tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez, pos de apoio à adoção, com apoio dos técnicos responsáveis pelo
a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá sen- programa de acolhimento familiar e institucional e pela execução
tença. da política municipal de garantia do direito à convivência familiar.
(Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
SEÇÃO VIII § 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes acolhi-
(INCLUÍDA PELA LEI Nº 12.010, DE 2009) VIGÊNCIA dos institucionalmente ou por família acolhedora sejam prepara-
DA HABILITAÇÃO DE PRETENDENTES À ADOÇÃO dos por equipe interprofissional antes da inclusão em família adoti-
va. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil, Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação
apresentarão petição inicial na qual conste: (Incluído pela Lei nº no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autoridade judiciá-
12.010, de 2009) Vigência ria, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das dili-

54
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
gências requeridas pelo Ministério Público e determinará a juntada se a reformar, a remessa dos autos dependerá de pedido expresso
do estudo psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de da parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de cinco
instrução e julgamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi- dias, contados da intimação.
gência Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. 149
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou sen- caberá recurso de apelação.
do essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a juntada Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito des-
do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministé- de logo, embora sujeita a apelação, que será recebida exclusiva-
rio Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído mente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de adoção internacio-
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência nal ou se houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito ao adotando. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua convoca- Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer dos
ção para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de ha- genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que deverá ser
bilitação e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes recebida apenas no efeito devolutivo. (Incluído pela Lei nº 12.010,
adotáveis. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência de 2009) Vigência
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente poderá Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de
deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses destituição de poder familiar, em face da relevância das questões,
previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa serão processados com prioridade absoluta, devendo ser imedia-
a melhor solução no interesse do adotando. (Incluído pela Lei nº tamente distribuídos, ficando vedado que aguardem, em qualquer
12.010, de 2009) Vigência situação, oportuna distribuição, e serão colocados em mesa para
§ 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo julgamento sem revisão e com parecer urgente do Ministério Públi-
trienalmente mediante avaliação por equipe interprofissional. (Re- co. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
dação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa para
§ 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção, julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contado da sua
será dispensável a renovação da habilitação, bastando a avaliação conclusão. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
por equipe interprofissional. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da data do
§ 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à ado- julgamento e poderá na sessão, se entender necessário, apresen-
ção de crianças ou adolescentes indicados dentro do perfil escolhi- tar oralmente seu parecer. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
do, haverá reavaliação da habilitação concedida. (Incluído pela Lei Vigência
nº 13.509, de 2017) Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a instauração
§ 5o A desistência do pretendente em relação à guarda para de procedimento para apuração de responsabilidades se constatar
fins de adoção ou a devolução da criança ou do adolescente depois o descumprimento das providências e do prazo previstos nos arti-
do trânsito em julgado da sentença de adoção importará na sua gos anteriores. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
exclusão dos cadastros de adoção (Incluído pela Lei nº 13.509, de
2017) CAPÍTULO V
Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habilitação à DO MINISTÉRIO PÚBLICO
adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável por igual pe-
ríodo, mediante decisão fundamentada da autoridade judiciária. Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta Lei
(Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
Art. 201. Compete ao Ministério Público:
CAPÍTULO IV I - conceder a remissão como forma de exclusão do processo;
DOS RECURSOS II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às in-
frações atribuídas a adolescentes;
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os proce-
Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas socioe- dimentos de suspensão e destituição do poder familiar, nomeação
ducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei no 5.869, de 11 de e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em
janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), com as seguintes adap- todos os demais procedimentos da competência da Justiça da In-
tações: (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) fância e da Juventude; (Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
I - os recursos serão interpostos independentemente de pre- de 2009) Vigência
paro; IV - promover, de ofício ou por solicitação dos interessados, a
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de declaração, o especialização e a inscrição de hipoteca legal e a prestação de con-
prazo para o Ministério Público e para a defesa será sempre de 10 tas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de bens de
(dez) dias; (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) crianças e adolescentes nas hipóteses do art. 98;
III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a prote-
revisor; ção dos interesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infân-
IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência cia e à adolescência, inclusive os definidos no art. 220, § 3º inciso II,
V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência da Constituição Federal;
VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência VI - instaurar procedimentos administrativos e, para instruí-los:
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior ins- a) expedir notificações para colher depoimentos ou esclareci-
tância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de agravo, mentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar
a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado, manten- condução coercitiva, inclusive pela polícia civil ou militar;
do ou reformando a decisão, no prazo de cinco dias; b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão reme- autoridades municipais, estaduais e federais, da administração di-
terá os autos ou o instrumento à superior instância dentro de vinte reta ou indireta, bem como promover inspeções e diligências in-
e quatro horas, independentemente de novo pedido do recorrente; vestigatórias;

55
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
c) requisitar informações e documentos a particulares e insti- Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária integral e
tuições privadas; gratuita àqueles que dela necessitarem.
VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de
e determinar a instauração de inquérito policial, para apuração de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processado
ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à juventude; sem defensor.
VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais § 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado
assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de
judiciais e extrajudiciais cabíveis; sua preferência.
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas § 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de
corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda
interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e ao que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.
adolescente; § 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade por de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido indicado por
infrações cometidas contra as normas de proteção à infância e à ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária.
juventude, sem prejuízo da promoção da responsabilidade civil e
penal do infrator, quando cabível; CAPÍTULO VII
XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de atendi- DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES
mento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto INDIVIDUAIS, DIFUSOS E COLETIVOS
as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de
irregularidades porventura verificadas; Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de res-
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos ser- ponsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao
viços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência social, adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular:
públicos ou privados, para o desempenho de suas atribuições. (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações cíveis I - do ensino obrigatório;
previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipó- II - de atendimento educacional especializado aos portadores
teses, segundo dispuserem a Constituição e esta Lei. de deficiência;
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem ou- III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero
tras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério Público. a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306, de 2016)
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do edu-
suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre crian- cando;
ça ou adolescente. V - de programas suplementares de oferta de material didáti-
§ 4º O representante do Ministério Público será responsável co-escolar, transporte e assistência à saúde do educando do ensino
pelo uso indevido das informações e documentos que requisitar, fundamental;
nas hipóteses legais de sigilo. VI - de serviço de assistência social visando à proteção à famí-
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII lia, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao ampa-
deste artigo, poderá o representante do Ministério Público: ro às crianças e adolescentes que dele necessitem;
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, instaurando o VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
competente procedimento, sob sua presidência; VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade re- privados de liberdade.
clamada, em dia, local e horário previamente notificados ou acer- IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e pro-
tados; moção social de famílias e destinados ao pleno exercício do direito
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços pú- à convivência familiar por crianças e adolescentes. (Incluído pela
blicos e de relevância pública afetos à criança e ao adolescente, Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
fixando prazo razoável para sua perfeita adequação. X - de programas de atendimento para a execução das medidas
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for parte, socioeducativas e aplicação de medidas de proteção. (Incluído pela
atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa dos direitos Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que terá vista dos XI - de políticas e programas integrados de atendimento à
autos depois das partes, podendo juntar documentos e requerer criança e ao adolescente vítima ou testemunha de violência.(Inclu-
diligências, usando os recursos cabíveis. ído pela Lei nº 13.431, de 2017) (Vigência)
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, § 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da prote-
será feita pessoalmente. ção judicial outros interesses individuais, difusos ou coletivos, pró-
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público acarreta prios da infância e da adolescência, protegidos pela Constituição e
a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a re- pela Lei. (Renumerado do Parágrafo único pela Lei nº 11.259, de
querimento de qualquer interessado. 2005)
Art. 205. As manifestações processuais do representante do § 2o A investigação do desaparecimento de crianças ou adoles-
Ministério Público deverão ser fundamentadas. centes será realizada imediatamente após notificação aos órgãos
competentes, que deverão comunicar o fato aos portos, aeropor-
CAPÍTULO VI tos, Polícia Rodoviária e companhias de transporte interestaduais e
DO ADVOGADO internacionais, fornecendo-lhes todos os dados necessários à iden-
tificação do desaparecido. (Incluído pela Lei nº 11.259, de 2005)
Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou responsável, Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no
e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse na solução da lide foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo
poderão intervir nos procedimentos de que trata esta Lei, através juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalva-
de advogado, o qual será intimado para todos os atos, pessoalmen- das a competência da Justiça Federal e a competência originária
te ou por publicação oficial, respeitado o segredo de justiça. dos tribunais superiores.

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NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao réu
ou difusos, consideram-se legitimados concorrentemente: os honorários advocatícios arbitrados na conformidade do § 4º do
I - o Ministério Público; art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Pro-
II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os cesso Civil), quando reconhecer que a pretensão é manifestamente
territórios; infundada.
III - as associações legalmente constituídas há pelo menos um Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação
ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos inte- autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão
resses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a autorização solidariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo de
da assembleia, se houver prévia autorização estatutária. responsabilidade por perdas e danos.
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá
Públicos da União e dos estados na defesa dos interesses e direitos adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
de que cuida esta Lei. quaisquer outras despesas.
§ 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por asso- Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá
ciação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-lhe informa-
assumir a titularidade ativa. ções sobre fatos que constituam objeto de ação civil, e indicando-
Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos -lhe os elementos de convicção.
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exi- Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e tribunais
gências legais, o qual terá eficácia de título executivo extrajudicial. tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a propositura
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por de ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as provi-
esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações pertinentes. dências cabíveis.
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as normas do Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado poderá re-
Código de Processo Civil. querer às autoridades competentes as certidões e informações que
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública ou julgar necessárias, que serão fornecidas no prazo de quinze dias.
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder pú- Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua pre-
blico, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Lei, caberá sidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa, organismo
ação mandamental, que se regerá pelas normas da lei do mandado público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no
de segurança. prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a dez dias úteis.
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obri- § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as dili-
gação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da gências, se convencer da inexistência de fundamento para a pro-
obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado positura da ação cível, promoverá o arquivamento dos autos do
prático equivalente ao do adimplemento. inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamenta-
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo damente.
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação ar-
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando quivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta grave,
o réu. no prazo de três dias, ao Conselho Superior do Ministério Público.
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de ar-
sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedi- quivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério públi-
do do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixan- co, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas
do prazo razoável para o cumprimento do preceito. ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou ane-
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado xados às peças de informação.
da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em § 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame e
que se houver configurado o descumprimento. deliberação do Conselho Superior do Ministério Público, conforme
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido pelo dispuser o seu regimento.
Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção
município. de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão do Ministério
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito em Público para o ajuizamento da ação.
julgado da decisão serão exigidas através de execução promovida Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as dis-
posições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
pelo Ministério Público, nos mesmos autos, facultada igual iniciati-
va aos demais legitimados.
TÍTULO VII
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro fica-
DOS CRIMES E DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
rá depositado em estabelecimento oficial de crédito, em conta com
correção monetária. CAPÍTULO I
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, DOS CRIMES
para evitar dano irreparável à parte.
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser con- SEÇÃO I
denação ao poder público, o juiz determinará a remessa de peças à DISPOSIÇÕES GERAIS
autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil e
administrativa do agente a que se atribua a ação ou omissão. Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do
sentença condenatória sem que a associação autora lhe promova a disposto na legislação penal.
execução, deverá fazê-lo o Ministério Público, facultada igual inicia- Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as normas
tiva aos demais legitimados. da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo, as pertinen-
tes ao Código de Processo Penal.

57
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública in- Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.
condicionada Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece ou
Art. 227-AOs efeitos da condenação prevista no inciso I do efetiva a paga ou recompensa.
caput do art. 92 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao
(Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância
servidores públicos com abuso de autoridade, são condicionados das formalidades legais ou com o fito de obter lucro:
à ocorrência de reincidência.(Incluído pela Lei nº 13.869. de 2019) Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.
Parágrafo único.A perda do cargo, do mandato ou da função, Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça ou
nesse caso, independerá da pena aplicada na reincidência.(Incluído fraude: (Incluído pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
pela Lei nº 13.869. de 2019) Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena corres-
pondente à violência.
SEÇÃO II Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou re-
DOS CRIMES EM ESPÉCIE gistrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfi-
ca, envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de es- 11.829, de 2008)
tabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter registro Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Reda-
das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 ção dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu responsá- § 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta,
vel, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança
constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do ne- ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda
onato: quem com esses contracena. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de
Pena - detenção de seis meses a dois anos. 2008)
Parágrafo único. Se o crime é culposo: § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. o crime: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabe- I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de
lecimento de atenção à saúde de gestante de identificar correta- exercê-la; (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
mente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou
deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei: de hospitalidade; ou (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena - detenção de seis meses a dois anos. III – prevalecendo-se de relações de parentesco consanguíneo
Parágrafo único. Se o crime é culposo: ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, pre-
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. ceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título,
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. (Incluído
procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infra- pela Lei nº 11.829, de 2008)
cional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária com- Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou ou-
petente: tro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
Pena - detenção de seis meses a dois anos. envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à 11.829, de 2008)
apreensão sem observância das formalidades legais. Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Reda-
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apre- ção dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
ensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distri-
à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à buir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de
pessoa por ele indicada: sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro
Pena - detenção de seis meses a dois anos. registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica en-
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, volvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de
guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento: 2008)
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído
Art. 233. (Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997: pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de § 1o Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído pela Lei nº
ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo 11.829, de 2008)
tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão: I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das
Pena - detenção de seis meses a dois anos. fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo;
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Lei em benefício de adolescente privado de liberdade: II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de compu-
Pena - detenção de seis meses a dois anos. tadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciá- artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
ria, membro do Conselho Tutelar ou representante do Ministério § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste
Público no exercício de função prevista nesta Lei: artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do
Pena - detenção de seis meses a dois anos. serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. (Incluído pela Lei
tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim nº 11.829, de 2008)
de colocação em lar substituto: Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio,
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
terceiro, mediante paga ou recompensa: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)

58
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato
pela Lei nº 11.829, de 2008) não constitui crime mais grave. (Redação dada pela Lei nº 13.106,
§ 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pe- de 2015)
quena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo. Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entre-
(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) gar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de estampi-
§ 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a fi- do ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu reduzido potencial,
nalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de uti-
das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, lização indevida:
quando a comunicação for feita por: (Incluído pela Lei nº 11.829, Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.
de 2008) Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais defi-
I – agente público no exercício de suas funções; (Incluído pela nidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração
Lei nº 11.829, de 2008) sexual: (Incluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da per-
entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o processa- da de bens e valores utilizados na prática criminosa em favor do
mento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da Fe-
parágrafo;(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) deração (Estado ou Distrito Federal) em que foi cometido o crime,
III – representante legal e funcionários responsáveis de prove- ressalvado o direito de terceiro de boa-fé. (Redação dada pela Lei
dor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de computado- nº 13.440, de 2017)
res, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autori- § 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou
dade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. (Incluído o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança
pela Lei nº 11.829, de 2008) ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo. (Incluído
§ 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão manter pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
sob sigilo o material ilícito referido. (Incluído pela Lei nº 11.829, de § 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da
2008) licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. (In-
cluído pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18
em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adultera-
(dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a
ção, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer
praticá-la:(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
outra forma de representação visual: (Incluído pela Lei nº 11.829,
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.(Incluído pela Lei
de 2008)
nº 12.015, de 2009)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído
§ 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo quem
pela Lei nº 11.829, de 2008)
pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, ex- eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da internet. (Incluído pela
põe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qual- Lei nº 12.015, de 2009)
quer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na § 2o As penas previstas no caput deste artigo são aumenta-
forma do caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) das de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qual- incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990.
quer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
ato libidinoso:(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Incluído CAPÍTULO II
pela Lei nº 11.829, de 2008) DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: (Incluído
pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por esta-
I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo belecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental, pré-es-
cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela prati- cola ou creche, de comunicar à autoridade competente os casos de
car ato libidinoso;(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o maus-tratos contra criança ou adolescente:
fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexual- Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se
mente explícita.(Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) o dobro em caso de reincidência.
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expres- Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade de
são “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos II, III,
situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se
uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais(In- o dobro em caso de reincidência.
cluído pela Lei nº 11.829, de 2008) Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização de-
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entre- vida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou documento
gar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição de procedimento policial, administrativo ou judicial relativo a crian-
ou explosivo: ça ou adolescente a que se atribua ato infracional:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se
Lei nº 10.764, de 12.11.2003) o dobro em caso de reincidência.
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda § 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou parcialmen-
que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, te, fotografia de criança ou adolescente envolvido em ato infracio-
bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros produtos cujos com- nal, ou qualquer ilustração que lhe diga respeito ou se refira a atos
ponentes possam causar dependência física ou psíquica: (Redação que lhe sejam atribuídos, de forma a permitir sua identificação, di-
dada pela Lei nº 13.106, de 2015) reta ou indiretamente.

59
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
§ 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou emissora Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o em-
de rádio ou televisão, além da pena prevista neste artigo, a auto- presário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso de crian-
ridade judiciária poderá determinar a apreensão da publicação ou ça ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua participação
a suspensão da programação da emissora até por dois dias, bem no espetáculo: (Vide Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
como da publicação do periódico até por dois números. (Expressão Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso
declara inconstitucional pela ADIN 869-2). de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha-
Art. 248. (Revogado pela Lei nº 13.431, de 2017) (Vigência) mento do estabelecimento por até quinze dias.
Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres ine- Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de providenciar a
rentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem instalação e operacionalização dos cadastros previstos no art. 50 e
assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho Tutelar: no § 11 do art. 101 desta Lei: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Vigência
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil
o dobro em caso de reincidência. reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente desacompanhado Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade que
dos pais ou responsável, ou sem autorização escrita desses ou da deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de adolescentes
autoridade judiciária, em hotel, pensão, motel ou congênere:(Re- em condições de serem adotadas, de pessoas ou casais habilitados
dação dada pela Lei nº 12.038, de 2009). à adoção e de crianças e adolescentes em regime de acolhimento
Pena – multa. (Redação dada pela Lei nº 12.038, de 2009). institucional ou familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vi-
§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de multa, gência
a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do esta- Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de esta-
belecimento por até 15 (quinze) dias. (Incluído pela Lei nº 12.038, belecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar imediato
de 2009). encaminhamento à autoridade judiciária de caso de que tenha co-
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a 30 nhecimento de mãe ou gestante interessada em entregar seu filho
(trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente fechado e terá para adoção: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
sua licença cassada. (Incluído pela Lei nº 12.038, de 2009). Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três mil
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 desta Lei: Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de pro-
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se grama oficial ou comunitário destinado à garantia do direito à con-
o dobro em caso de reincidência. vivência familiar que deixa de efetuar a comunicação referida no
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo pú- caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
blico de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso II do
de exibição, informação destacada sobre a natureza da diversão ou art. 81: (Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
espetáculo e a faixa etária especificada no certificado de classifica- Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00 (dez
ção: mil reais);(Redação dada pela Lei nº 13.106, de 2015)
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se Medida Administrativa - interdição do estabelecimento comer-
o dobro em caso de reincidência. cial até o recolhimento da multa aplicada. (Redação dada pela Lei
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer repre- nº 13.106, de 2015)
sentações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade a que não
se recomendem: DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicada
em caso de reincidência, aplicável, separadamente, à casa de espe- Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da pu-
táculo e aos órgãos de divulgação ou publicidade. blicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo sobre
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da política de
em horário diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação: atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece o Título V do
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada Livro II.
em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar Parágrafo único. Compete aos estados e municípios promove-
a suspensão da programação da emissora por até dois dias. rem a adaptação de seus órgãos e programas às diretrizes e princí-
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere clas- pios estabelecidos nesta Lei.
sificado pelo órgão competente como inadequado às crianças ou Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos Fun-
adolescentes admitidos ao espetáculo: dos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital,
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na reinci- estaduais ou municipais, devidamente comprovadas, sendo essas
dência, a autoridade poderá determinar a suspensão do espetáculo integralmente deduzidas do imposto de renda, obedecidos os se-
ou o fechamento do estabelecimento por até quinze dias. guintes limites:(Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de pro- I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido apurado
gramação em vídeo, em desacordo com a classificação atribuída pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real; e(Reda-
pelo órgão competente: ção dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado pelas
de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fecha- pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado o dispos-
mento do estabelecimento por até quinze dias. to no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de 1997.(Redação
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79 des- dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
ta Lei: § 1º - (Revogado pela Lei nº 9.532, de 10.12.1997)
Pena - multa de três a vinte salários de referência, duplicando- § 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas com
-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de apreensão da os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais e municipais
revista ou publicação. dos direitos da criança e do adolescente, serão consideradas as

60
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
disposições do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com os acréscimos
Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comu- legais previstos na legislação. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
nitária e as do Plano Nacional pela Primeira Infância. (Redação dada (Vide)
dada pela Lei nº 13.257, de 2016) § 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na De-
§ 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos direi- claração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo ano-ca-
tos da criança e do adolescente fixarão critérios de utilização, por lendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos Direitos da
meio de planos de aplicação, das dotações subsidiadas e demais Criança e do Adolescente municipais, distrital, estaduais e nacional
receitas, aplicando necessariamente percentual para incentivo ao concomitantemente com a opção de que trata o caput, respeitado
acolhimento, sob a forma de guarda, de crianças e adolescentes e o limite previsto no inciso II do art. 260. (Incluído pela Lei nº 12.594,
para programas de atenção integral à primeira infância em áreas de 2012) (Vide)
de maior carência socioeconômica e em situações de calamidade. Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 poderá
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) ser deduzida: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas jurídicas
Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a comprovação que apuram o imposto trimestralmente; e (Incluído pela Lei nº
das doações feitas aos fundos, nos termos deste artigo. (Incluído 12.594, de 2012) (Vide)
pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991) II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para as
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a for- pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente. (Incluído pela
ma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Municipal dos Direitos Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais referidos neste Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do pe-
artigo. (Incluído pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991) ríodo a que se refere a apuração do imposto. (Incluído pela Lei nº
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no 9.249, 12.594, de 2012) (Vide)
de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata o inciso I do Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei podem
caput: (Redação dada pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) ser efetuadas em espécie ou em bens. (Incluído pela Lei nº 12.594,
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a limite de 2012) (Vide)
em conjunto com outras deduções do imposto; e (Incluído pela Lei Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem ser
nº 12.594, de 2012) (Vide) depositadas em conta específica, em instituição financeira pública,
II - não poderá ser computada como despesa operacional na vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. 260. (Incluído
apuração do lucro real. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário de Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das
2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata o inciso contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente na-
II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração de Ajuste cional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo em fa-
Anual. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) vor do doador, assinado por pessoa competente e pelo presidente
§ 1o A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até os do Conselho correspondente, especificando: (Incluído pela Lei nº
seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado na decla- 12.594, de 2012) (Vide)
ração: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) I - número de ordem; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012)
I - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) (Vide)
II - (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e ende-
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. (Incluído reço do emitente; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do doa-
§ 2o A dedução de que trata o caput: (Incluído pela Lei nº dor; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
12.594, de 2012) (Vide) IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e (Incluído
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto so- pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
bre a renda apurado na declaração de que trata o inciso II do caput V - ano-calendário a que se refere a doação. (Incluído pela Lei
do art. 260; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) nº 12.594, de 2012) (Vide)
II - não se aplica à pessoa física que: (Incluído pela Lei nº 12.594, § 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode ser
de 2012) (Vide) emitido anualmente, desde que discrimine os valores doados mês
a) utilizar o desconto simplificado; (Incluído pela Lei nº 12.594, a mês. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
de 2012) (Vide) § 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve conter
b) apresentar declaração em formulário; ou (Incluído pela Lei a identificação dos bens, mediante descrição em campo próprio ou
nº 12.594, de 2012) (Vide) em relação anexa ao comprovante, informando também se houve
c) entregar a declaração fora do prazo; (Incluído pela Lei nº avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço dos avaliadores. (Inclu-
ído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
12.594, de 2012) (Vide)
Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador deverá:
III - só se aplica às doações em espécie; e (Incluído pela Lei nº
(Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
12.594, de 2012) (Vide)
I - comprovar a propriedade dos bens, mediante documenta-
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em vi-
ção hábil; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
gor. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos,
§ 3o O pagamento da doação deve ser efetuado até a data de
quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de pes-
vencimento da primeira quota ou quota única do imposto, obser-
soa jurídica; e (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
vadas instruções específicas da Secretaria da Receita Federal do
III - considerar como valor dos bens doados: (Incluído pela Lei
Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) nº 12.594, de 2012) (Vide)
§ 4o O não pagamento da doação no prazo estabelecido no a) para as pessoas físicas, o valor constante da última declara-
§ 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução, ficando ção do imposto de renda, desde que não exceda o valor de merca-
a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença de imposto do; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)

61
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens. (Incluído tendo a relação atualizada dos Fundos dos Direitos da Criança e do
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) Adolescente nacional, distrital, estaduais e municipais, com a indi-
Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será cação dos respectivos números de inscrição no CNPJ e das contas
considerado na determinação do valor dos bens doados, exceto se bancárias específicas mantidas em instituições financeiras públicas,
o leilão for determinado por autoridade judiciária. (Incluído pela Lei destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos. (Incluído
nº 12.594, de 2012) (Vide) pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D e Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil expedirá as
260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo de 5 instruções necessárias à aplicação do disposto nos arts. 260 a 260-
(cinco) anos para fins de comprovação da dedução perante a Re- K. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
ceita Federal do Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da crian-
Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das ça e do adolescente, os registros, inscrições e alterações a que se
contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente na- referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei serão efetuados
cional, estaduais, distrital e municipais devem: (Incluído pela Lei nº perante a autoridade judiciária da comarca a que pertencer a en-
12.594, de 2012) (Vide) tidade.
I - manter conta bancária específica destinada exclusivamente Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos estados
a gerir os recursos do Fundo; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) e municípios, e os estados aos municípios, os recursos referentes
(Vide) aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão logo estejam
II - manter controle das doações recebidas; e (Incluído pela Lei criados os conselhos dos direitos da criança e do adolescente nos
nº 12.594, de 2012) (Vide) seus respectivos níveis.
III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal do Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, as
Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os seguintes atribuições a eles conferidas serão exercidas pela autoridade judi-
dados por doador: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) ciária.
a) nome, CNPJ ou CPF; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Vide) (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações:
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou em 1) Art. 121 ............................................................
bens. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço,
Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações pre- se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão,
vistas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do Brasil dará arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à
conhecimento do fato ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge
12.594, de 2012) (Vide) para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena
Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adoles- é aumentada de um terço, se o crime é praticado contra pessoa
cente nacional, estaduais, distrital e municipais divulgarão ampla- menor de catorze anos.
mente à comunidade: (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) 2) Art. 129 ...............................................................
I - o calendário de suas reuniões; (Incluído pela Lei nº 12.594, § 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer das
de 2012) (Vide) hipóteses do art. 121, § 4º.
II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de atendi- § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.
mento à criança e ao adolescente; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 3) Art. 136.................................................................
2012) (Vide) § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado
III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem be- contra pessoa menor de catorze anos.
neficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do
4) Art. 213 ..................................................................
Adolescente nacional, estaduais, distrital ou municipais; (Incluído
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos:
pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Pena - reclusão de quatro a dez anos.
IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano-calendário
5) Art. 214...................................................................
e o valor dos recursos previstos para implementação das ações, por
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
projeto; (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide)
Pena - reclusão de três a nove anos.»
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, por
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de
projeto atendido, inclusive com cadastramento na base de dados
do Sistema de Informações sobre a Infância e a Adolescência; e (In- 1973, fica acrescido do seguinte item:
cluído pela Lei nº 12.594, de 2012) (Vide) “Art. 102 ....................................................................
VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados com 6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. “
recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente na- Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União, da
cional, estaduais, distrital e municipais. (Incluído pela Lei nº 12.594, administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e
de 2012) (Vide) mantidas pelo poder público federal promoverão edição popular
Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada Comar- do texto integral deste Estatuto, que será posto à disposição das
ca, a forma de fiscalização da aplicação dos incentivos fiscais refe- escolas e das entidades de atendimento e de defesa dos direitos da
ridos no art. 260 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.594, de 2012) criança e do adolescente.
(Vide) Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla divul-
Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts. 260- gação dos direitos da criança e do adolescente nos meios de comu-
G e 260-I sujeitará os infratores a responder por ação judicial pro- nicação social. (Redação dada dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
posta pelo Ministério Público, que poderá atuar de ofício, a reque- Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será vei-
rimento ou representação de qualquer cidadão. (Incluído pela Lei culada em linguagem clara, compreensível e adequada a crianças
nº 12.594, de 2012) (Vide) e adolescentes, especialmente às crianças com idade inferior a 6
Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da (seis) anos. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria da Receita Federal Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua publi-
do Brasil, até 31 de outubro de cada ano, arquivo eletrônico con- cação.

62
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão ser (C) não seriam aplicáveis a Renato, Bruno nem a Diego, já que
promovidas atividades e campanhas de divulgação e esclarecimen- os fatos imputados teriam ocorrido antes de sua entrada em
tos acerca do disposto nesta Lei. vigor, aplicando-se o princípio da irretroatividade da lei penal;
Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, de 10 (D) seriam aplicáveis a Renato, Bruno e Diego, em razão do
de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais disposições princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica;
em contrário. (E) seriam aplicáveis apenas a Bruno e Diego, mas não a Rena-
to, diante do princípio do tempus regit actum.

EXERCÍCIOS 3. (VUNESP - 2018 - PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA) Se-


gundo o disposto na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
1. (AV MOREIRA - 2020 - PREFEITURA DE NOSSA SENHORA DE NA- “Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de
ZARÉ - PI - PROCURADOR MUNICIPAL) Marque a alternativa em que o pena mais leve, o delinquente será por isso beneficiado.” Essa nor-
princípio constitucional do direito penal NÃO corresponde ao seu conceito. ma de direito penal é representada pelo Princípio
(A) Princípio da Individualização da Pena: Qualquer que seja (A) da Individualização da Pena.
a pena aplicada, ela estará restrita à liberdade, ao patrimônio (B) da Legalidade.
e à pessoa do condenado. A exceção é o uso do patrimônio (C) da Norma Penal em Branco.
transferido em herança para quitar obrigação de decretação de (D) da Presunção da Inocência.
perdimento de bens e de reparação de dano. (E) da Retroatividade.
(B) Princípio da Irretroatividade: Enquanto as leis em geral go-
zam de retroatividade mínima – alcançam obrigações vencidas 4. (CESPE - 2019 - TJ-DFT - TITULAR DE SERVIÇOS DE NOTAS E
não pagas e por vencer –, a lei definidora de crime não retroage DE REGISTROS – REMOÇÃO) Acerca das regras de territorialidade e
senão para beneficiar o réu. de extraterritorialidade da lei penal, assinale a opção correta.
(C) Princípio da Legalidade: A norma basilar do Direito Penal é (A) Crime de genocídio praticado fora do território brasileiro
a não existência de crime sem lei anterior que o defina. Isto é, poderá ser julgado no Brasil quando cometido contra povo alie-
para que uma conduta seja considerada um delito, é preciso nígena por estrangeiro domiciliado no Brasil.
que seu dispositivo e sua hipótese de incidência estejam pre- (B) O brasileiro que praticar crime em território estrangeiro po-
vistos em um documento escrito que superou todas as etapas derá ser punido, devendo ser aplicada ao fato a lei penal brasi-
do processo legislativo. leira, ainda que o agente não mais ingresse no Brasil.
(D) Princípio da Presunção da Inocência: Ninguém será consi- (C) Crime contra a administração pública nacional praticado no
derado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal exterior ficará sujeito à lei brasileira quando o agente criminoso
condenatória. que estava a serviço da administração regressar ao Brasil.
(E) Princípio da Responsabilidade Pessoal: Qualquer que seja (D) Crime praticado em embarcação de propriedade de gover-
a pena aplicada, ela estará restrita à liberdade, ao patrimônio no estrangeiro, quando se encontrar em mar territorial brasilei-
e à pessoa do condenado. A exceção é o uso do patrimônio ro, ficará sujeito à lei penal brasileira.
transferido em herança para quitar obrigação de decretação de (E) Crime praticado em aeronave brasileira de propriedade pri-
perdimento de bens e de reparação de dano. vada em território estrangeiro não se sujeita à lei penal brasi-
leira, mesmo que não seja julgado no exterior.
2. (FGV - 2019 - MPE-RJ - ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
PROCESSUAL) Renato, Bruno e Diego praticaram diferentes crimes 5. (CONSULPLAN - 2019 - TJ-MG - TITULAR DE SERVIÇOS DE
de roubo com emprego de armas brancas. Renato, no ano de 2017, NOTAS E DE REGISTROS – REMOÇÃO) A norma penal incriminadora
foi condenado definitivamente pelo crime de roubo majorado pelo é formada basicamente por dois preceitos: o preceito primário (ou
emprego de arma, pois, em 2015, teria, com grave ameaça exercida preceptum juris), em que se prevê a conduta abstrata que a socie-
com emprego de faca, subtraído um celular. Bruno foi condenado, dade pretende punir, o preceito secundário (ou sanctio juris), em
em primeira instância, em março de 2018, também pelo crime de que se fixa a sanção penal correspondente. As normas que necessi-
roubo majorado pelo emprego de arma, já que teria utilizado um tam de complementação no preceito secundário, por não trazerem
canivete para ameaçar a vítima e subtrair sua bolsa. A decisão ain- a cominação da pena correspondente à prática da conduta típica
da está pendente de confirmação diante de recurso do Ministério são chamadas de normas penais:
Público, apenas. Diego, por sua vez, responde à ação penal pela su- (A) Explicativas.
posta prática de crime de roubo majorado pelo emprego de arma, (B) Em branco homogêneas.
que seria um martelo, por fatos que teriam ocorrido em fevereiro (C) Em branco heterogêneas.
de 2018, estando o processo ainda em fase de instrução probatória. (D) Imperfeitas (ou incompletas strictu sensu).
Ocorre que, em abril de 2018, entrou em vigor lei alterando o art.
157 do CP, sendo revogado o inciso I do parágrafo 2º, e passando 6. (FGV - 2012 - PC-MA - DELEGADO DE POLÍCIA) Ocorrido um
a prever que apenas o crime de roubo com emprego de arma de fato criminoso, às vezes duas ou mais normas se apresentam para
fogo funcionaria como causa de aumento de pena. Considerando regulá-lo, surgindo o chamado conflito aparente de normas. A res-
apenas as informações expostas e que a inovação legislativa não peito de tal questão, assinale a afirmativa incorreta.
teria inconstitucionalidades, as novas previsões: (A) A pluralidade de fatos e a pluralidade de normas são pressu-
(A) seriam aplicáveis a Diego, que ainda não possui sentença postos do conflito, que aparentemente com eles se identificam.
condenatória em seu desfavor, com base no princípio da re- (B) O princípio da subsidiariedade atua como “soldado de re-
troatividade da lei penal benéfica, mas não seriam aplicáveis a serva”, aplicando a norma subsidiária menos grave quando im-
Renato e Bruno; possível a aplicação da norma principal mais grave.
(B) não seriam aplicáveis a Renato, que já possui condenação (C) A questão da progressão criminosa e do crime progressivo é
com trânsito em julgado, aplicando-se o princípio da irretro- resolvida pelo princípio da absorção ou consunção.
atividade da lei penal, mas deveriam ser aplicadas a Bruno e
Diego;

63
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
(D) Na progressão criminosa, o agente inicialmente pretender 10. (VUNESP - 2020 - EBSERH – Advogado) O crime de roubo
praticar um crime menos grave, e, depois, resolve progredir tem pena aumentada (CP, art. 157, § 2° e 2° A) se
para o mais grave. (A) o bem subtraído é de propriedade de ente público Munici-
(E) No crime progressivo, o sujeito, para alcançar o crime queri- pal, Estadual ou Federal.
do, passa necessariamente por outro menos grave que aquele (B) a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente
desejado. conhece tal circunstância.
(C) praticado em transporte público ou coletivo.
7. (CESPE - 2020 - MPE-CE - PROMOTOR DE JUSTIÇA DE EN- (D) cometido por quem, embora transitoriamente ou sem re-
TRÂNCIA INICIAL) Acerca do delito de homicídio doloso, assinale a muneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
opção correta. (E) cometido por quem for ocupante de cargos em comissão ou
(A) Constitui forma privilegiada desse crime o seu cometimen- de função de direção ou assessoramento de órgão de empresa
to por agente impelido por motivo de relevante valor social ou pública.
moral, ou sob influência de violenta emoção provocada por ato
injusto da vítima. 11. (FAFIPA - 2019 - CREA-PR - AGENTE PROFISSIONAL – AD-
(B) A qualificadora do feminicídio, caso envolva violência do- VOGADO) Considerando o seguinte fato: Tício finge ser cliente da
méstica, menosprezo ou discriminação à condição de mulher, loja X e ali efetua a compra de um par de meias no valor de R$
não é incompatível com a presença da qualificadora da moti- 10,90. No momento do pagamento, faz confusão dentro da loja,
vação torpe. finge que paga pelo produto e induz o funcionário a lhe devolver
(C) A prática desse crime contra autoridade ou agente das for- troco. Esse fato típico enquadra-se como o delito de:
ças de segurança pública é causa de aumento de pena. (A) Furto.
(D) É possível a aplicação do privilégio ao homicídio qualificado (B) Furto mediante fraude.
independentemente de as circunstâncias qualificadoras serem (C) Apropriação indébita.
de ordem subjetiva ou objetiva. (D) Estelionato.
(E) Constitui forma qualificada desse crime o seu cometimento (E) Roubo.
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio. 12. (INSTITUTO AOCP - 2019 - PC-ES – INVESTIGADOR) Em re-
lação aos crimes contra o patrimônio, assinale a alternativa correta.
8. (IBFC - 2020 - EBSERH – ADVOGADO) O atual Código de Di- (A) É isento de pena o agente que pratica o crime de roubo con-
reito Penal, recepcionado pela Constituição de 1988, inicia a Parte tra seu cônjuge, na constância da sociedade conjugal.
Especial tratando dos crimes contra a pessoa. Sobre eles, assinale a (B) É isento de pena o agente que pratica o crime de furto em
alternativa incorreta. prejuízo de seu cônjuge, que possui 50 anos de idade, na cons-
(A) Também é crime se a lesão corporal for praticada contra tância da sociedade conjugal.
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou (C) A pena do delito de receptação é reduzida de um a dois
com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecen- terços se o crime for praticado contra descendente, seja o pa-
do-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de rentesco legítimo ou ilegítimo.
hospitalidade (D) A pena do delito de furto é aumentada de um terço se o
(B) Trata-se de homicídio qualificado aquele cometido contra a crime for praticado em prejuízo do cônjuge, na constância da
mulher por razões da condição do sexo feminino sociedade conjugal.
(C) É crime o aborto de feto com anencefalia (E) É isento de pena quem pratica o crime de extorsão em pre-
(D) É crime contra a pessoa praticar, com o fim de transmitir a juízo do cônjuge judicialmente separado.
outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de
produzir contágio 13. (UNIFAL-MG - 2021 - UNIFAL-MG - MÉDICO – PEDIATRIA)
(E) É crime abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guar- João Paulo, devidamente aprovado dentro do número de vagas
da, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de ofertadas no Edital do concurso para o cargo de médico, técnico-
defender-se dos riscos resultantes do abandono -administrativo em educação, realizado pela Universidade Federal
de Alfenas, já convocado para a posse a ser realizada em 10 (dez)
9. (CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-BA - JUIZ LEIGO) Márcio e dias, recebe do Diretor do campus responsável pelo espaço físico da
Pedro eram amigos havia anos. Tendo descoberto que Pedro estava Universidade, uma oferta da melhor sala disponível dentre as exis-
saindo com a sua ex-esposa, Márcio planejou matar Pedro durante tentes para os médicos, desde que ele emita atestados médicos em
uma pescaria que fariam juntos. Durante uma tempestade, em al- favor do Diretor, quando esse precisar faltar ao trabalho sem justifi-
to-mar, Márcio aproveitou-se de um deslize de Pedro para de fato cativa. João Paulo, que ainda não entrou em exercício na função de
matá-lo. Logo após a conduta, Márcio percebeu que na canoa onde médico, aceita a promessa do Diretor do campus. Nesse caso, João
estavam só havia um colete salva-vidas e que, em razão disso, a Paulo incorreu naquele momento:
eliminação de Pedro foi sua única chance de sobreviver. A canoa (A) Em crime de corrupção passiva, uma vez que, ainda que
afundou e Márcio sobreviveu ao naufrágio. Nessa situação hipoté-
João Paulo não estivesse no exercício da função, aceitou vanta-
tica, Márcio
gem em razão dela, condição suficiente para a configuração do
(A) cometeu crime de homicídio qualificado.
crime de corrupção passiva.
(B) não cometeu crime, porque agiu em legítima defesa da
(B) Em crime de falsidade de atestado médico, considerando
honra.
que a mera promessa do atestado falso já configura a efetiva-
(C) cometeu crime, mas sua conduta será justificada pelo esta-
ção da infração penal.
do de necessidade putativo.
(C) Em tentativa de falsidade de atestado médico, porque não
(D) não cometeu crime, porque agiu em estado de necessida-
de. houve a concretização do ato ilícito, mas ainda sim João Paulo
(E) cometeu crime, mas sua pena será diminuída porque agiu está sujeito a uma punição mais branda.
em estado de necessidade.

64
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
(D) Em nenhuma infração penal, haja vista que João Paulo ain-
da não havia assumido a função de médico na Universidade, e EXERCÍCIOS
a mera conversa entre ele e o Diretor não configura ato ilícito.

14. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - ANALISTA DE CON- 1 A


TROLE EXTERNO - ESPECIALIDADE: DIREITO) Com relação aos cri- 2 D
mes contra a administração pública, julgue o item subsequente: A
oposição manifestada pelo indivíduo, mediante resistência passiva, 3 E
sem o uso da violência, contra ordem emanada por autoridades 4 A
policiais que pretendessem levá-lo à delegacia, sem que houvesse
5 D
flagrante, é suficiente para caracterizar o delito de resistência.
( ) CERTO 6 A
( ) ERRADO 7 B

15. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - TCE-RJ - ANALISTA DE CON- 8 C


TROLE EXTERNO - ESPECIALIDADE: DIREITO) Com relação aos cri- 9 A
mes contra a administração pública, julgue o item subsequente: 10 B
Servidor público que, violando dever funcional, facilite a prática de
contrabando responderá como partícipe pela prática desse crime. 11 D
( ) CERTO 12 B
( ) ERRADO
13 A
16. Camila é investigadora da Polícia Civil, sendo ferida gra- 14 ERRADO
vemente em confronto com grupo de pessoas portando armas de 15 ERRADO
grosso calibre. Nos termos da Lei nº 8.072/90, é considerado crime
hediondo o praticado dolosamente contra agente de segurança que 16 C
resulte em: 17 E
(A) lesão corporal de natureza leve
18 B
(B) lesão corporal de natureza média
(C) lesão corporal de natureza gravíssima
(D) lesão corporal de natureza grave
ANOTAÇÕES
17. Conforme a Lei n.º 8.072/1990, é considerado hediondo o
crime de
(A) favorecimento da prostituição ou de outra forma de explo- ______________________________________________________
ração sexual de mulheres.
______________________________________________________
(B) infanticídio.
(C) extorsão qualificada por qualquer resultado. ______________________________________________________
(D) lavagem de dinheiro.
(E) epidemia com resultado morte. ______________________________________________________

18. Segundo o que dispõe a legislação nacional acerca dos cri- ______________________________________________________
mes hediondos (Lei n° 8.072/1990),
(A) o feminicídio não consta do rol dos crimes hediondos. ______________________________________________________
(B­) o crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma
de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerá- ______________________________________________________
vel é hediondo.
______________________________________________________
(C) o crime de corrupção é definido como hediondo de acordo
com o ordenamento jurídico. ______________________________________________________
(D) o delito de exposição a perigo embarcação ou aeronave,
própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ______________________________________________________
ou dificultar navegação marítima, fluvial ou aérea é hediondo,
conforme o Código Penal. ______________________________________________________
(E) o crime de lesão corporal dolosa, em nenhuma de suas mo-
dalidades, é, para efeito da lei brasileira, hediondo. ______________________________________________________

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65
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
ANOTAÇÕES ANOTAÇÕES

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66
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. Disposições preliminares do Código de Processo Penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
2. Inquérito policial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01
3. Ação penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 06
4. Do juiz, do Ministério Público, do acusado e defensor, dos assistentes e auxiliares da justiça, dos peritos e intérpretes . . . . . . . . . 12
5. Das citações e intimações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
6. Da sentença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7. Do processo comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
8. Da Instrução criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
9. Do procedimento relativo aos processos da competência do tribunal do júri. Da acusação e da instrução preliminar. Da pronúncia,
da impronúncia e da absolvição sumária. Da preparação do processo para julgamento em plenário. Do alistamento dos jurados. Do
desaforamento. Da organização da pauta. Do sorteio e da convocação dos jurados. Da função do jurado. Da composição do Tribunal
do Júri e da formação do Conselho de Sentença. Da reunião e das sessões do Tribunal do Júri. Da instrução em plenário. Dos debates.
Do questionário e sua votação. Da sentença. Da ata dos trabalhos. Das atribuições do presidente do Tribunal do Júri . . . . . . . . . . 24
10. Prisão e liberdade provisória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
11. Processo e julgamento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
12. O habeas corpus e seu processo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
13. Disposições constitucionais aplicáveis ao direito processual penal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Como exceção, os tratados, as convenções e as regras de di-
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO CÓDIGO DE PROCES- reito internacional podem ser aplicadas, excluindo-se a jurisdição
SO PENAL pátria. Tal fato acontece por conta da imunidade diplomática, po-
sitivada na Convenção de Viena, aprovado pelo Decreto Legislativo
DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941 nº 103/1964.

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL Exemplo: A regra é a aplicação do processo penal para todos
os crimes praticados em território brasileiro. Porém, uma pessoa
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que Ihe com imunidade diplomática, como embaixadores, secretários de
confere o art. 180 da Constituição, decreta a seguinte Lei: embaixada, familiares, além de funcionários de organizações inter-
nacionais, como a ONU, serão submetidos à lei material (Código
LIVRO I Penal) de seu país, consequentemente a lei processual penal de seu
DO PROCESSO EM GERAL país também.

TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES INQUÉRITO POLICIAL
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasi-
leiro, por este Código, ressalvados: Inquérito Policial
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; O inquérito policial é um procedimento administrativo investi-
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, gatório, de caráter inquisitório e preparatório, consistente em um
dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presiden- conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa para
te da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos apuração da infração penal e de sua autoria, presidido pela auto-
crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100); ridade policial, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar
III - os processos da competência da Justiça Militar; em juízo.
IV - os processos da competência do tribunal especial (Consti- A mesma definição pode ser dada para o termo circunstancia-
tuição, art. 122, no 17); do (ou “TC”, como é usualmente conhecido), que são instaurados
V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130) em caso de infrações penais de menor potencial ofensivo, a saber,
Parágrafo único.Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos pro- as contravenções penais e os crimes com pena máxima não supe-
cessos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os rior a dois anos, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a
regulam não dispuserem de modo diverso. procedimento especial.
Art. 2oA lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem pre- A natureza jurídica do inquérito policial, como já dito no item
juízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior. anterior, é de “procedimento administrativo investigatório”. E, se é
Art. 3oA lei processual penal admitirá interpretação extensiva administrativo o procedimento, significa que não incidem sobre ele
e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios ge- as nulidades previstas no Código de Processo Penal para o proces-
rais de direito. so, nem os princípios do contraditório e da ampla defesa.
Desta maneira, eventuais vícios existentes no inquérito policial
LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO, NO ESPAÇO E EM RELA- não afetam a ação penal a que der origem, salvo na hipótese de
ÇÃO ÀS PESSOAS provas obtidas por meios ilícitos, bem como aquelas provas que,
excepcionalmente na fase do inquérito, já foram produzidas com
Lei Processual Penal no tempo observância do contraditório e da ampla defesa, como uma produ-
Ao contrário da lei penal, a lei processual penal no tempo, uma ção antecipada de provas, por exemplo.
vez em vigência, tem aplicação imediata, ou seja, passa a atingir A finalidade do inquérito policial é justamente a apuração do
todos os processos que ainda se encontram em curso, não impor- crime e sua autoria, e à colheita de elementos de informação do
tando situações gravosas que possam ser originadas ao acusado. delito no que tange a sua materialidade e seu autor.
Tal afirmação ocorre em virtude do princípio do efeito imediato ou
da aplicação imediata. “Notitia criminis”
É o conhecimento, pela autoridade policial, acerca de um fato
Importante esclarecer que os atos praticados anteriormen- delituoso que tenha sido praticado. São as seguintes suas espécies:
te da nova lei não serão invalidados, em decorrência do princípio A) “Notitia criminis” de cognição imediata. Nesta, a autoridade
tempus regit actum. policial toma conhecimento do fato por meio de suas atividades
corriqueiras (exemplo: durante uma investigação qualquer desco-
Como exemplo: O Código de Processo Penal atualmente é de
bre uma ossada humana enterrada no quintal de uma casa);
1941. Caso tenhamos um novo Código de Processo Penal em 2019,
B) “Notitia criminis” de cognição mediata. Nesta, a autoridade
todos os atos praticados na vigência da lei de 1941 continuam vali-
policial toma conhecimento do fato por meio de um expediente
dos, sendo que somente a partir da vigência do Código de 2019 (e
escrito (exemplo: requisição do Ministério Público; requerimento
consequente revogação do Código de 1941) que passarão a serem
da vítima);
validos os atos com base no novo Código.
C) “Notitia criminis” de cognição coercitiva. Nesta, a autorida-
de policial toma conhecimento do fato delituoso por intermédio do
Lei Processual Penal no espaço
auto de prisão em flagrante.
A lei processual penal no espaço aplica-se em com base no
princípio da territorialidade absoluta, ou seja, o processo penal é
“Delatio criminis”
aplicado em todo território brasileiro.
Nada mais é que uma espécie de notitia criminis, consiste na
comunicação de uma infração penal à autoridade policial, feita por
qualquer pessoa do povo.

1
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Características do inquérito policial Grau de Cognição
- Peça escrita. Segundo o art. 9º, do Código de Processo Penal, Consiste no valor probatório a criar um juízo de verossimilhan-
todas as peças do inquérito policial serão, num só processo, reduzi- ça, assim, não é um juízo de certeza da autoria delitiva a fase de
das a escrito (ou a termo) ou datilografadas e, neste caso, rubrica- inquérito policial. Compete à fase processual a análise probatória
das pela autoridade policial. Vale lembrar, contudo, que o fato de de autoria.
ser peça escrita não obsta que sejam os atos produzidos durante
tal fase sejam gravados por meio de recurso de áudio e/ou vídeo; Identificação criminal
Peça sigilosa. De acordo com o art. 20, caput, CPP, a autorida- Envolve a identificação fotográfica e a identificação datiloscó-
de assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato pica. Antes da atual Constituição Federal, a identificação criminal
ou exigido pelo interesse da sociedade. era obrigatória (a Súmula nº 568, STF, anterior a 1988, inclusive,
Mas, esse sigilo não absoluto, pois, em verdade, tem acesso dizia isso), o que foi modificado na atual Lei Fundamental pelo art.
aos autos do inquérito o juiz, o promotor de justiça, e a autoridade 5º, LVIII, segundo o qual o civilmente identificado não será subme-
policial, e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art. 7º, tido à identificação criminal, “salvo nas hipóteses previstas em lei”.
XIV, da Lei nº 8.906/94 - Estatuto da Ordem dos Advogados do Bra- A primeira Lei a tratar do assunto foi a de nº 8.069/90 (“Es-
sil - e com a Súmula Vinculante nº 14, o advogado tem acesso aos tatuto da Criança e do Adolescente”), em seu art. 109, segundo o
atos já documentados nos autos, independentemente de procura- qual a identificação criminal somente será cabível quando houver
ção, para assegurar direito de assistência do preso e investigado. fundada dúvida quanto à identidade do menor.
Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e ir- Depois, em 1995, a Lei nº 9.034 (“Lei das Organizações Crimi-
restrito. Seu acesso é apenas às informações já introduzidas nos nosas”) dispôs em seu art. 5º que a identificação criminal de pes-
autos, mas não em relação às diligências em andamento. soas envolvidas com a ação praticada por organizações criminosas
Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos será realizada independentemente de identificação civil.
já documentados, é cabível Reclamação ao STF para ter acesso às Posteriormente, a Lei nº 10.054/00 veio especialmente para
informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), habeas tratar do assunto, e, em seu art. 3º, trouxe um rol taxativo de delitos
corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido que é o em que a identificação criminal deveria ser feita obrigatoriamente,
mandado de segurança em nome do próprio advogado, já que a sem mencionar, contudo, os crimes praticados por organizações
prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele. criminosas, o que levou parcela da doutrina e da jurisprudência a
Por fim, ainda dentro desta característica da sigilosidade, há considerar o art. 5º, da Lei nº 9.034/90 parcialmente revogado.
Como último ato, a Lei nº 10.054/00 foi revogada pela Lei nº
se chamar atenção para o parágrafo único, do art. 20, CPP, com
12.037/09, que também trata especificamente apenas sobre o
nova redação dada pela Lei nº 12.681/2012, segundo o qual, nos
tema “identificação criminal”. Esta lei não traz mais um rol taxativo
atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade
de delitos nos quais a identificação será obrigatória, mas sim um
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à
art. 3º com situações em que ela será possível:
instauração de inquérito contra os requerentes.
A) Quando o documento apresentar rasura ou tiver indícios de
Isso atende a um anseio antigo de parcela considerável da
falsificação (inciso I);
doutrina, no sentido de que o inquérito, justamente por sua ca-
B) Quando o documento apresentado for insuficiente para
racterística da pré-judicialidade, não deve ser sequer mencionado identificar o indivíduo de maneira cabal (inciso II);
nos atestados de antecedentes. Já para outro entendimento, agora C) Quando o indiciado portar documentos de identidade distin-
contra a lei, tal medida representa criticável óbice a que se descu- tos, com informações conflitantes entre si (inciso III);
bra mais sobre um cidadão em situações como a investigação de D) Quando a identificação criminal for essencial para as inves-
vida pregressa anterior a um contrato de trabalho. tigações policiais conforme decidido por despacho da autoridade
- Peça inquisitorial. No inquérito não há contraditório nem am- judiciária competente, de ofício ou mediante representação da
pla defesa. Por tal motivo não é autorizado ao juiz, quando da sen- autoridade policial/promotor de justiça/defesa (inciso IV). Nesta
tença, a se fundar exclusivamente nos elementos de informação hipótese, de acordo com o parágrafo único, do art. 5º da atual lei
colhidos durante tal fase administrativa para embasar seu decreto (acrescido pela Lei nº 12.654/2012), a identificação criminal pode-
(art. 155, caput, CPP). Ademais, graças a esta característica, não há rá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do perfil
uma sequência pré-ordenada obrigatória de atos a ocorrer na fase genético;
do inquérito, tal como ocorre no momento processual, devendo E) Quando constar de registros policiais o uso de outros nomes
estes ser realizados de acordo com as necessidades que forem sur- ou diferentes qualificações (inciso V);
gindo. F) Quando o estado de conservação ou a distância temporal ou
- Peça Discricionária. A autoridade policial possui liberdade da localidade da expedição do documento apresentado impossibi-
para realizar aquelas diligências investigativas que ela julga mais litar a completa identificação dos caracteres essenciais (inciso VI).
adequadas para aquele caso.
- Peça oficiosa/oficial. Pode ser instaurada de oficio. Por fim, atualmente, os dados relacionados à coleta do perfil
- Peça indisponível. Uma vez instaurado o inquérito policial ele genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis
se torna indisponível. O delegado não pode arquivar o inquérito genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal (art.
policial (art. 17, CPP). Quem vai fazer isso é a autoridade judicial, 5º-A, acrescido pela Lei nº 12.654/2012). Tais bancos de dados de-
mediante requerimento do promotor de justiça. vem ter caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrati-
vamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins
Valor probatório diversos do previsto na lei ou em decisão judicial.
Fernando Capez ensina que, “o inquérito tem valor probatório
meramente relativo, pois serve de base para a denúncia e para as Aplicação do Princípio da Insignificância no Inquérito Policial
medidas cautelares, mas não serve sozinho para sustentar sentença O princípio da insignificância tem origem no Direito Romano.
condenatória, pois os elementos colhidos no inquérito o foram de E refere-se, então, à relevância ou à insignificância dos objetos das
modo inquisitivo, sem contraditório e ampla defesa.” lides. Vale analise sobre a relevância jurídica do ato praticado pelo
autor do delito e sua significância para o bem jurídico tutelado.

2
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
No caso do Direito Penal, não se trata de um princípio previsto Condução Coercitiva no Inquérito Policial
na legislação. É, por outro lado, uma construção doutrinária. E foi A condução coercitiva é o meio pelo qual determinada pessoa
assimilado, então, pela jurisprudência. é levada à presença de autoridade policial ou judiciária. É comando
A depender da natureza do fato, os prejuízos ocasionados po- impositivo, que independente da voluntariedade da pessoa, admi-
dem ser considerados ínfimos ou insignificante. E, desse modo, in- tindo-se o uso de algemas nos limites da Súmula 11 do Supremo
cidir o princípio da bagatela para absolvição do réu. Tribunal Federal.
Nessa perspectiva, dispõe, então, o art. 59 do Código Penal:
Art. 59 – O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à Incomunicabilidade do indiciado preso
conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circuns- De acordo com o art. 21, do Código de Processo Penal, seria
tâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento possível manter o indiciado preso pelo prazo de três dias, quando
da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para conveniente à investigação ou quando houvesse interesse da so-
reprovação e prevenção do crime... ciedade
O entendimento prevalente, contudo, é o de que, por ser o
Como o Princípio da Insignificância decorre de uma construção Código de Processo Penal da década de 1940, não foi o mesmo re-
histórica, doutrinária e jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal cepcionado pela Constituição Federal de 1988. Logo, prevalece de
houve por bem fixar critérios que direcionem a aplicabilidade ou forma maciça, atualmente, que este art. 21, CPP está tacitamente
não da ‘insignificância’ aos casos concretos. Para tanto, estabele- revogado.
ceu os seguintes critérios, de observação cumulativa:
- a mínima ofensividade da conduta do agente; Prazo para conclusão do inquérito policial
- a ausência de periculosidade social da ação; De acordo com o Código de Processo Penal, em se tratando de
- o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; indiciado preso, o prazo é de dez dias improrrogáveis para conclu-
- a inexpressividade da lesão jurídica provocada. são. Já em se tratando de indiciado solto, tem-se trinta dias para
conclusão, admitida prorrogações a fim de se realizar ulteriores e
Não há qualquer dúvida de que o princípio da insignificância necessárias diligências.
pode ser aplicado pelo magistrado ou tribunal quando verificada a Convém lembrar que, na Justiça Federal, o prazo é de quinze
presença dos mencionados requisitos autorizadores e se tratar de dias para acusado preso, admitida duplicação deste prazo (art. 66,
crimes que admitam a sua aplicação. da Lei nº 5.010/66). Já para acusado solto, o prazo será de trinta
No entanto, apesar de ainda controverso, a jurisprudência dias admitidas prorrogações, seguindo-se a regra geral.
atual vem sendo direcionada no sentido de que não é possível a Também, na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), o prazo é de
analise jurídica da conduta do acusado, em sede de inquérito po- trinta dias para acusado preso, e de noventa dias para acusado sol-
licial, para então aplicar desde logo o princípio da insignificância to. Em ambos os casos pode haver duplicação de prazo.
diante de eventual atipicidade da conduta imputada ao autor do Por fim, na Lei nº 1.551/51 (“Lei dos Crimes contra a Economia
ilícito. Popular”), o prazo, esteja o acusado solto ou preso, será sempre de
Para o STJ, a resposta é negativa. A análise quanto à insignifi- dez dias.
cância ou não do fato seria restrita ao Poder Judiciário, em juízo, a E como se dá a contagem de tal prazo? Trata-se de prazo pro-
posteriori. Cabe à autoridade policial o dever legal de agir em fren- cessual, isto é, exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do venci-
te ao suposto fato criminoso. Este entendimento consta do Infor- mento, tal como disposto no art. 798, §1º, do Código de Processo
mativo 441 do STJ: Penal.

A Turma concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus a Conclusão do inquérito policial


paciente condenado pelos delitos de furto e de resistência, reconhe- De acordo com o art. 10, §1º, CPP, o inquérito policial é con-
cendo a aplicabilidade do princípio da insignificância somente em cluído com a confecção de um relatório pela autoridade policial, no
relação à conduta enquadrada no art. 155, caput, do CP (subtração qual se deve relatar, minuciosamente, e em caráter essencialmente
de dois sacos de cimento de 50 kg, avaliados em R$ 45). Asseverou- descritivo, o resultado das investigações. Em seguida, deve o mes-
-se, no entanto, ser impossível acolher o argumento de que a refe- mo ser enviado à autoridade judicial.
rida declaração de atipicidade teria o condão de descaracterizar a Não deve a autoridade policial fazer juízo de valor no relatório,
legalidade da ordem de prisão em flagrante, ato a cuja execução o em regra, com exceção da Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), em
apenado se opôs de forma violenta. cujo art. 52 se exige da autoridade policial juízo de valor quanto à
Segundo o Min. Relator, no momento em que toma conheci- tipificação do ilícito de tráfico ou de porte de drogas.
mento de um delito, surge para a autoridade policial o dever legal Por fim, convém lembrar que o relatório é peça dispensável,
de agir e efetuar o ato prisional. O juízo acerca da incidência do logo, a sua falta não tornará inquérito inválido.
princípio da insignificância é realizado apenas em momento pos-
Recebimento do inquérito policial pelo órgão do Ministério
terior pelo Poder Judiciário, de acordo com as circunstâncias ati-
Público
nentes ao caso concreto. Logo, configurada a conduta típica descri-
Recebido o inquérito policial, tem o agente do Ministério Públi-
ta no art. 329 do CP, não há de se falar em consequente absolvição
co as seguintes opções:
nesse ponto, mormente pelo fato de que ambos os delitos imputa-
A) Oferecimento de denúncia. Ora, se o promotor de justiça é
dos ao paciente são autônomos e tutelam bens jurídicos diversos.
o titular da ação penal, a ele compete se utilizar dos elementos co-
HC 154.949-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 3/8/2010.
lhidos durante a fase persecutória para dar o disparo inicial desta
ação por intermédio da denúncia;
Indiciamento B) Requerimento de diligências. Somente quando forem indis-
O ato de “Indiciar” é atribuir a alguém a prática de uma infra- pensáveis;
ção penal. Trata-se de ato privativo do delegado policial. C) Promoção de arquivamento. Se entender que o investigado
não constitui qualquer infração penal, ou, ainda que constitua, en-
contra óbice nas máximas sociais que impedem que o processo se

3
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
desenvolva por atenção ao “Princípio da Insignificância”, por exem- de autoria e materialidade para essa oferta de denúncia pela via
plo, o agente ministerial pode solicitar o arquivamento do inquérito do inquérito policial (que é o “menos”). Ademais, o procedimento
à autoridade judicial; investigatório utilizado pela autoridade policial seria o mesmo, ape-
D) Oferecer arguição de incompetência. Se não for de sua com- nas tendo uma autoridade presidente diferente, no caso, o agente
petência, o membro do MP suscita a questão, para que a autorida- ministerial. Por fim, como último argumento, tem-se que a bem do
de judicial remeta os autos à justiça competente; direito estatal de perseguir o crime, atribuir funções investigatórias
E) Suscitar conflito de competência ou de atribuições. Confor- ao Ministério Público é mais uma arma na busca deste intento;
me o art. 114, do Código de Processo Penal, o “conflito de compe- B) Argumentos desfavoráveis. Como primeiro argumento des-
tência” é aquele que se estabelece entre dois ou mais órgãos juris- favorável à possibilidade investigatória do Ministério Público, tem-
dicionais. Já o “conflito de atribuições” é aquele que se estabelece -se que tal função atenta contra o sistema acusatório. Ademais,
entre órgãos do Ministério Público. fala-se em desequilíbrio entre acusação e defesa, já que terá o
membro do MP todo o aparato estatal para conseguir a condena-
Arquivamento do inquérito policial ção de um acusado, restando a este, em contrapartida, apenas a
No arquivamento, uma vez esgotadas todas as diligências cabí- defesa por seu advogado caso não tenha condições financeiras de
veis, percebendo o órgão do Ministério Público que não há indícios conduzir uma investigação particular. Também, fala-se que o Minis-
suficientes de autoria e/ou prova da materialidade delitiva, ou, em tério Público já tem poder de requisitar diligências e instauração de
outras palavras, em sendo caso de futura rejeição da denúncia (art. inquérito policial, de maneira que a atribuição para presidi-lo seria
395 do CPP) ou de absolvição sumária (397 do CPP), deverá ser for- “querer demais”. Por fim, alega-se que as funções investigativas
mulado ao juiz pedido de arquivamento do inquérito policial. Quem são uma exclusividade da polícia judiciária, e que não há previsão
determina o arquivamento é o juiz por meio de despacho. O arqui- legal nem instrumentos para realização da investigação Ministério
vamento transmite uma ideia de “encerramento” do IP. Público.
Assim, quem determina o arquivamento do inquérito é a auto-
ridade judicial, após solicitação efetuada pelo membro do Ministé- Controle externo da atividade policial
rio Público. Disso infere-se que, nem a autoridade policial, nem o O controle externo da atividade policial é aquele realizado pelo
membro do Ministério Público, nem a autoridade judicial, podem Ministério Público no exercício de sua atividade fiscalizatória em
promover o arquivamento de ofício. Ademais, em caso de ação prol da sociedade (art. 127 e 129, II, da Constituição Federal de
penal privada, o juiz pode promover o arquivamento caso assim 1988) e em virtude de mandamento constitucional expresso (art.
requeira o ofendido. 129, VII, da Constituição Federal de 1988).

Desarquivamento Vejamos o que estabelece a norma processual em relação ao


Quem pode desarquivar o Inquérito Policial é do Ministério Pú- Inquérito Policial nos termos do Código de Processo Penal.
blico, quando surgem fatos novos. Assim, deve a autoridade policial
representar neste sentido, mostrando-lhe que existem fatos novos TÍTULO II
que podem dar ensejo a nova investigação. Vejamos o mencionada DO INQUÉRITO POLICIAL
na Súmula 524do STF:
“Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requeri- Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades poli-
mento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, ciais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a
sem novas provas”. apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não ex-
Trancamento do inquérito policial cluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometi-
Trata-se de medida de natureza excepcional, somente sendo da a mesma função.
possível nas hipóteses de atipicidade da conduta, de causa extintiva Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será ini-
da punibilidade, e de ausência de elementos indiciários relativos à ciado:
autoria e materialidade. Ou seja, é cabível quando a investigação é I - de ofício;
absolutamente infundada, abusiva, não indica o menor indício de II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministé-
prova da autoria ou da materialidade. Aqui a situação é de paralisa- rio Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver quali-
ção do inquérito policial, determinada através de acórdão proferi- dade para representá-lo.
do no julgamento de habeas corpus que impede o prosseguimento § 1º O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que
do IP. possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
Investigação pelo Ministério Público b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos
Apesar do atual grau de pacificação acerca do tema, no sen- e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da in-
tido de que o Ministério Público pode, sim, investigar - o que se fração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
confirmou com a rejeição da Proposta de Emenda à Constituição c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profis-
nº 37/2011, que acrescia um décimo parágrafo ao art. 144 da Cons- são e residência.
tituição Federal no sentido de que a apuração de infrações penais § 2º Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de
caberia apenas aos órgãos policiais -, há se disponibilizar argumen- inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
tos favoráveis e contrários a tal prática: § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da exis-
A) Argumentos favoráveis. Um argumento favorável à possi- tência de infração penal em que caiba ação pública poderá, ver-
bilidade de investigar atribuída ao Ministério Público é a chamada balmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta,
“Teoria dos Poderes Implícitos”, oriunda da Suprema Corte Norte- verificada a procedência das informações, mandará instaurar in-
-americana, segundo a qual “quem pode o mais, pode o menos”, quérito.
isto é, se ao Ministério Público compete o oferecimento da ação § 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
penal (que é o “mais”), também a ele compete buscar os indícios representação, não poderá sem ela ser iniciado.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 5º Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autorida-
poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha quali- des judiciárias;
dade para intentá-la. IV - representar acerca da prisão preventiva.
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração pe- Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no
nal, a autoridade policial deverá: § 3º do art. 158 e no art. 159 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de de-
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem zembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da Lei nº 8.069, de 13
o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos cri- de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro
minais; do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar,
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa
liberados pelos peritos criminais; privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)
do fato e suas circunstâncias; Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de
IV - ouvir o ofendido; 24 (vinte e quatro) horas, conterá:
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do I - o nome da autoridade requisitante;
disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respec- II - o número do inquérito policial; e
tivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ou- III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável
vido a leitura; pela investigação.
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a aca- Art. 13-B. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes
reações; relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização
de delito e a quaisquer outras perícias; judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo dati- ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios técnicos
loscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de ante- adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
cedentes; localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.(Incluído
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vis- pela Lei nº 13.344, de 2016)
ta individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude § 1º Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamen-
e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quais- to da estação de cobertura, setorização e intensidade de radiofre-
quer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu quência.
temperamento e caráter. § 2º Na hipótese de que trata o caput, o sinal:
X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qual-
idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de quer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme
eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pes- disposto em lei;
soa presa. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel ce-
Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração sido lular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma
praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá pro- única vez, por igual período;
ceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contra- III - para períodos superiores àquele de que trata o inciso II, será
rie a moralidade ou a ordem pública. necessária a apresentação de ordem judicial.
Art. 8º Havendo prisão em flagrante, será observado o disposto
§ 3º Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial de-
no Capítulo II do Título IX deste Livro.
verá ser instaurado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas,
Art. 9º Todas as peças do inquérito policial serão, num só pro-
contado do registro da respectiva ocorrência policial.
cessado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubri-
§ 4º Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze)
cadas pela autoridade.
horas, a autoridade competente requisitará às empresas prestado-
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o
ras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibi-
indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventiva-
lizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais,
mente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se
executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver informações e outros – que permitam a localização da vítima ou dos
solto, mediante fiança ou sem ela. suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação ao juiz.
§ 1º A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
apurado e enviará autos ao juiz competente. poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a
§ 2º No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que juízo da autoridade.
não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às institui-
encontradas. ções dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e
solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação
para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado de fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício
pelo juiz. profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as situa-
Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que ções dispostas no art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro
interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor. (In-
Art. 12. O inquérito policial acompanhará a denúncia ou quei- cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
xa, sempre que servir de base a uma ou outra. § 1º Para os casos previstos no caput deste artigo, o investi-
Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: gado deverá ser citado da instauração do procedimento investiga-
I - fornecer às autoridades judiciárias as informações necessá- tório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e
rias à instrução e julgamento dos processos; oito) horas a contar do recebimento da citação. (Incluído pela Lei nº
II - realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Minis- 13.964, de 2019)
tério Público;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2º Esgotado o prazo disposto no § 1º deste artigo com au-
sência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade AÇÃO PENAL
responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que es-
tava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para Com o fato delituoso, nasce para o Estado o direito de buscar e
que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor punir um culpado. Esta busca punição necessitam respeitar um per-
para a representação do investigado. (Incluído pela Lei nº 13.964, curso que, prejudicialmente, em geral se dá pelo inquérito policial,
de 2019) e, judicialmente, se inicia com a ação penal.
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) A ação penal consiste no direito de buscar junto ao Estado tu-
§ 4º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) tela jurisdicional para decidir sobre um determinado problema que
§ 5º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) concretamente se apresenta.
§ 6º As disposições constantes deste artigo se aplicam aos ser-
vidores militares vinculados às instituições dispostas no art. 142 da Pressupostos processuais
Constituição Federal, desde que os fatos investigados digam respei- Os pressupostos processuais e as condições da ação são os re-
to a missões para a Garantia da Lei e da Ordem. (Incluído pela Lei quisitos, sem os quais não pode o juiz sequer examinar a situação
nº 13.964, de 2019) deduzida.
Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador Pressupostos processuais são aqueles que possibilitam a cons-
pela autoridade policial. tituição e desenvolvimento válidos do processo.
Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução Há duas correntes a respeito do tema: uma inclui nos pressu-
do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, im- postos processuais todos os requisitos necessários ao nascimento
prescindíveis ao oferecimento da denúncia. e desenvolvimento válido e regular do processo; outra, uma ten-
Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar au- dência mais restritiva dos pressupostos processuais, entende como
tos de inquérito. únicos requisitos o pedido, a capacidade de quem o formula e a
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela investidura do destinatário.
autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autorida- Pressupostos processuais, nessa visão restrita, seriam os requi-
de policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas sitos mínimos para a existência de um processo válido, de uma re-
tiver notícia. lação jurídica regular, sem qualquer nexo com a situação de direito
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos material deduzida na demanda.
do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguarda- A grande vantagem dessa posição consiste exatamente em res-
rão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão saltar a autonomia da relação processual frente à de direito subs-
entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado. tancial. Aquela teria seus requisitos básicos, fundamentais, que não
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo neces- guardam qualquer elo com esta última.
sário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Deste modo, pode-se afirmar que existem pressupostos de
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem existência e de validade do processo. Sejam completos ou restritos
solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer os pressupostos processuais, fato é que, para emitir o provimento
anotações referentes a instauração de inquérito contra os reque- final sobre o caso concreto, o magistrado precisa que o processo se
rentes. desenvolva sem vícios.
Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre Sem prejuízo, vamos elencar os pressupostos processuais indi-
de despacho nos autos e somente será permitida quando o interes- cados pela corrente mais restritiva:
se da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. O primeiro pressuposto processual, portanto, refere-se à capa-
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de cidade para ser parte. Assim, não podem oferecer denúncia aquele
três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a re- que não integre o Ministério Público ou queixa o ente desprovido
querimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Públi- da condição de pessoa – natural, jurídica ou judiciária.
co, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo 89, inciso Nestas circunstâncias, incabível, por exemplo, a denúncia ofe-
III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 4.215, de recida apenas por “estagiário”, ou a queixa apresentada por pessoa
27 de abril de 1963) falecida ou por sociedade de fato.
Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que houver À capacidade para ser parte acrescenta-se a capacidade postu-
mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício em latória, isto é, de estar em juízo regularmente representado.
uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar Logo, para o recebimento de queixa-crime, não basta o seu
diligências em circunscrição de outra, independentemente de pre- oferecimento pelo ofendido, devendo estar firmada por advogado,
catórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que compa- com os poderes específicos, observados os requisitos do art. 44, do
reça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em Código de Processo Penal. Tais requisitos são essenciais para que o
sua presença, noutra circunscrição. pedido possa ser aceito.
Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz com- Ausentes os pressupostos relativos às partes, a denúncia ou
petente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Identificação a queixa deverão ser rejeitadas, de acordo com a redação do art.
e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo a que 396, parágrafo único, primeira parte, do Código de Processo Penal.
tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração penal e à Além dos pressupostos relativos às partes, a inicial acusatória
pessoa do indiciado. deve ser oferecida a quem tem jurisdição, poder para decidir a cau-
sa, isto é, a juiz regularmente investido no cargo. Assim, absoluta-
mente nula a ação penal recebida por juiz afastado de suas funções
ou aposentado.
Tratando-se de juízo incompetente, todavia, somente são pas-
síveis de anulação os atos decisórios, devendo o processo, ao ser
declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente, conforme
previsão do art. 567, do Código de Processo Penal.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Condições da Ação Penal seja, havendo indícios suficientes, surge para o Ministério Público
Tratam-se de condições que regulam o exercício do direito. o dever de propor a ação. A peça processual que dá início à ação
Com efeito, estas condições podem ser genéricas ou específicas. penal pública é a denúncia, sendo suas características principais:
A) A denúncia conterá a exposição do fato criminoso, com to-
1 Condições genéricas. São aquelas que devem estar presen- das as suas circunstâncias, a qualificação do acusado (ou esclareci-
tes em toda e qualquer ação penal. São elas: mentos pelos quais se possa identificá-lo), a classificação do crime
A) Possibilidade jurídica do pedido. O pedido formulado deve e, quando necessário, o rol de testemunhas (art. 41, CPP). A ausên-
encontrar amparo no ordenamento jurídico, ou seja, deve se referir cia destes requisitos pode levar à inépcia da denúncia.
a uma providência admitida pelo direito objetivo. Deve ser um fato Também, a impossibilidade de identificar o acusado com seu
típico; verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação pe-
B) Legitimidade para agir. Deve-se perguntar “quem pode”, e nal, quando certa a identidade física. Assim, se descoberta poste-
“contra quem se pode” manejar ação penal. riormente a qualificação, basta fazer retificação por termo nos au-
A regra geral é a de que no polo ativo da ação penal pública tos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes (art. 259, CPP);
figura o Ministério Público. No polo ativo da ação penal de iniciativa B) Na hipótese de concurso de agentes, ou em crimes de con-
privada figura o ofendido. No polo passivo, sendo a ação penal pú- curso necessário, a denúncia deve especificar a conduta de cada
blica ou privada, figurará o provável autor do fato delituoso maior um. É posicionamento pacífico no Supremo Tribunal Federal e no
de dezoito anos; Superior Tribunal de Justiça de que a “denúncia genérica” deve ser
C) Interesse de agir. Composto pelo trinômio necessidade/ade- de todo evitada, por prejudicar o direito de defesa do(s) agente(s)
quação/utilidade. envolvido(s);
Pela necessidade, analisa-se até que ponto a existência de ação C) É possível “denúncia alternativa”? Neste caso, o agente mi-
penal é fundamental para esclarecimento da causa. Pode ser que nisterial pede a condenação por um crime “X”, ou, caso isso não
em um determinado caso uma solução extrajudicial seja muito me- fique provado, que seja o agente condenado, com a mesma narra-
lhor, por exemplo. tiva acusatória fática, pelo crime “Y”.
Já a adequação consiste no enquadramento da medida busca- Diverge amplamente a doutrina quanto a essa possibilidade:
da por meio da ação penal com o instrumento apto a isso. Assim, a quem entende que isso não é possível, ampara-se no argumento
título ilustrativo, caso se deseje trancar uma ação penal cuja única de que isso torna a acusação incerta e causa insegurança jurídica
sanção cominada ao delito seja a de multa, não se mostra como ao acusado; quem entende que isso é possível, afirma que, como o
medida mais adequada à utilização do habeas corpus, já que não acusado se defende meramente de fatos, e não de uma tipificação
há risco à liberdade de locomoção, mas sim por meio do mandado imposta, nada obsta que subsista um crime em detrimento de ou-
de segurança. tro e a condenação por um ou por outro seja pedida na acusação;
Por fim, a utilidade consiste na eficácia prática que uma ação D) Pouco importa a definição jurídica que o agente ministerial
deve ter. Se não há nada a ser apurado, ou não há qualquer sanção atribui ao acusado. Este sempre se defenderá dos fatos narrados, e
a ser aplicada, inútil e desnecessária será a ação penal; não do tipo penal imputado;
D) Justa causa. Trata-se de condição genérica da ação prevista E) Com base no art. 46, CPP, o prazo para oferecimento da
apenas no processo penal (art. 395, III, CPP), mas não no processo denúncia (que é um prazo de natureza processual penal, isto é,
civil. Consiste em se obter o mínimo de provas indispensável para o contado da forma do art. 798, CPP) será de cinco dias, estando o
início de um processo, até para com isso não submeter o cidadão à réu preso (contado da data em que o órgão do Ministério Público
situação degradante e embaraçosa que desempenha a persecução receber o inquérito policial), e de quinze dias, estando o réu solto
criminal na vida de uma pessoa. ou afiançado. Agora, se o agente do MP tiver dispensado o inqué-
rito, o prazo para a exordial acusatória contar-se-á da data em que
2 Condições específicas. São condições exigidas apenas para tiver recebido as peças informativas substitutivas do procedimento
alguns delitos. Assim, por exemplo, nos crimes de ação de inicia- administrativo investigatório (art. 46, §1º, CPP).
tiva pública condicionada, indispensável será o oferecimento de Há, ainda, prazos especiais na legislação extravagante para
representação pelo ofendido, nos termos do art. 39, do Código de oferecimento de denúncia, como o de dez dias para crime eleitoral,
Processo Penal, ou a requisição do Ministro da Justiça, em se tra- o de dez dias para tráfico de drogas, o de quarenta e oito horas
tando de crime contra a honra praticado contra o Presidente da para crime de abuso de autoridade, e o de dois dias para crimes
República, contra chefe de governo estrangeiro, conforme art. 145, contra a economia popular;
parágrafo único, do Código Penal; no crime de induzimento a erro F) De acordo com o art. 395, CPP, a denúncia será rejeitada quan-
essencial e ocultação de impedimento (art. 236,do CP), constitui do for manifestamente inepta (inciso I); quando faltar pressuposto
condição específica da ação penal – queixa – o trânsito em julgado processual ou condição para o exercício da ação penal (inciso II); e
da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o ca- quando faltar justa causa para o exercício da ação penal (inciso III);
samento. Ainda podemos citar o laudo pericial nos crimes contra a G) Da decisão que recebe a denúncia não cabe qualquer recur-
propriedade imaterial; o exame preliminar em crimes de tóxicos; a so, devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou mandado de
representação do ofendido etc. segurança, que não são recursos, mas sim meios autônomos de im-
Deste modo, ausente condição específica de procedibilidade pugnação. Já da que rejeita a denúncia ou a acolhe apenas parcial-
exigida pela lei, de rigor será a rejeição da denúncia ou queixa. mente cabe recurso em sentido estrito, por força do art. 581, I, CPP.
Vale lembrar apenas que, excepcionalmente, na Lei nº
9.099/95, de acordo com seu art. 82, a rejeição da inicial acusatória
Classificação / Espécies das ações penais.
desafia o recurso de apelação.
A classificação das ações penais observa, em regra, o titular
para sua propositura.
Súmula 707 do STF: “constitui nulidade a falta de intimação
1 Ação penal pública. É de iniciativa exclusiva do Ministério Pú-
do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto
blico (órgão do Estado, composto por promotores e procuradores
da rejeição da denúncia, não suprimindo a nomeação do defensor
de justiça no âmbito estadual, e por procuradores da República, no
dativo”.
federal). Na ação pública vigora o princípio da obrigatoriedade, ou

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
1.1 Ação penal pública incondicionada. É a regra no ordena- F) Retratação da representação. Antes do oferecimento da de-
mento processual penal. Para que ação penal seja de outra espécie, núncia pode ocorrer a retratação. Depois de oferecida a denúncia,
isso deve estar expressamente previsto. Se não houver previsão di- não é mais possível retratar-se da representação. Eis o teor do art.
versa, entende-se pública a ação penal. 25, do Código de Processo Penal;
Com efeito, a titularidade da ação penal pública incondicio- G) Retratação da retratação da representação. Trata-se de
nada é do Ministério Público, com fundamento no art. 129, I, da uma nova representação, ou seja, o agente representou, se retra-
Constituição Federal, que a exercerá por meio de denúncia, como tou, e então se retrata da retratação. Ela é possível, desde que den-
já dito. tro do prazo decadencial de seis meses;
H) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja re-
1.2 Ação penal pública condicionada. O Ministério Público de- presentação. A representação oferecida não vincula o agente mi-
pende do implemento de uma condição, que pode ser a represen- nisterial a oferecer denúncia se averiguar que o fato descrito não
tação do ofendido, ou a requisição do Ministro da Justiça. constitui delito, ou, ainda que constitua, não mais é possível sua
A sua titularidade também compete ao Ministério Público, que punibilidade;
o faz por meio de denúncia. A diferença é que, enquanto na ação I) Requisição do Ministro da Justiça. É condição específica de
pública incondicionada não carece o MP de qualquer autorização, procedibilidade (ex.: crimes contra a honra do Presidente da Repú-
na condicionada fica o órgão ministerial subordinado justamente blica, nos moldes do art. 145, CP). Trata-se, essencialmente, de ato
a uma autorização prévia que se faz por meio de representação/ político praticado pelo Ministro da Justiça, endereçado ao Ministé-
requisição. rio Público na figura de seu Procurador Geral;
Os princípios que norteiam esta espécie de ação são os mes- J) A requisição do Ministro da Justiça está sujeita a prazo de-
mos da ação penal pública incondicionada. cadencial? Não. O crime contra o qual se exige a requisição está
Com efeito, há se estudar algumas questões pertinentes à re- sujeito à prescrição, mas a requisição do Ministro da Justiça não se
presentação do ofendido e à requisição do Ministro da Justiça: sujeita a prazo decadencial;
A) Representação do ofendido. É a manifestação do ofendido K) Possibilidade de retratação da requisição. Há divergência na
ou de seu representante legal no sentido de que tem interesse doutrina. Para uma primeira corrente, não se admite retratação da
na persecução penal do fato delituoso. Ela deve ser oferecida por requisição, justamente pela grande natureza política que este ato
pessoa maior de dezoito anos através de advogado, ou, se menor importa; para uma segunda corrente, essa retratação é, sim, admi-
de dezoito anos, é o representante legal deste quem procura um tida, desde que feita antes do oferecimento da peça acusatória. O
advogado para que o faça. Se houver colisão de interesses entre o posicionamento que vem se consolidando na doutrina bem como
menor e seu representante, nomeia-se curador especial, na forma nos Tribunais é que não é cabível a retratação da requisição (Touri-
do art. 33, do Código de Processo Penal. nho Filho, Fernando Capez).
Ademais, com fundamento no primeiro parágrafo, do art. 24, L) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja requi-
CPP, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente sição. Vale o mesmo que foi dito para a representação.
por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge
(ou convivente), ao ascendente, ao descendente, ou irmão; 2 Ação penal de iniciativa privada. Trata-se de oportunidade
B) Natureza jurídica da representação do ofendido. Em regra, conferida ao ofendido de oferecer queixa-crime, caso entenda ter
a representação funciona como condição específica de procedibili- sido vítima de delito. Vale dizer que, como a regra no silêncio do
dade aos processos que ainda não tiveram início. Por outro lado, se legislador é a ação penal pública incondicionada, para que a ação
o processo já está em andamento, a representação passa a ser uma penal seja de iniciativa privada deve haver previsão legal neste sen-
condição de prosseguibilidade da ação penal, já que, para que o tido.
processo prossiga, uma condição superveniente tem de ser sanada; Importante ainda, discorrer sobre algumas das características
C) Forma da representação do ofendido. Trata-se de peça sem principais da queixa-crime:
rigor formal, bastando que fique devidamente demonstrado o in- A) De acordo com o art. 30, do Código de Processo Penal, ao
teresse da vítima ou de seu representante legal em representar o ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo (querelan-
ofensor. Conforme o art. 39, da Lei Processual Penal, o direito de te) caberá intentar ação privada contra o ofensor (querelado). Ade-
representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procura- mais, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente
dor com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na
feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade poli- ação passará ao cônjuge (ou convivente), ascendente, descendente,
cial. Ato contínuo, o primeiro parágrafo do mencionado dispositivo ou irmão (se houver colisão de interesses entre o menor e seu re-
prevê que a representação feita oralmente ou por escrito, sem as- presentante, nomeia-se curador especial, na forma do art. 33, do
sinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu represen- Código de Processo Penal).
tante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou Como se não bastasse, de acordo com o art. 36, CPP, se compa-
autoridade policial, presente o órgão do MP, quando a este houver recer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o
sido dirigida. Por fim, o parágrafo segundo do art. 39 prevê que a cônjuge (ou convivente), e, em seguida, o parente mais próximo da
representação conterá todas as informações que possam servir à ordem de enumeração constante do art. 31 (cônjuge, ascendente,
apuração do fato e da autoria; descendente, irmão), podendo, entretanto, qualquer delas prosse-
D) Direcionamento da representação. É feita à autoridade po- guir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone;
licial, ao Ministério Público, ou ao juiz, pessoalmente ou por repre- B) Com supedâneo no art. 44, CPP, a queixa poderá ser dada
sente com procuração atribuidora de poderes especiais para tal; por procurador com poderes especiais, devendo constar do ins-
E) Prazo para oferecimento da representação. Assim como a trumento do mandado o nome do querelante e a menção do fato
queixa-crime, a representação está sujeita ao prazo decadencial de criminoso (salvo quando tais esclarecimentos dependerem de dili-
seis meses, em regra contados do conhecimento da autoria. Tra- gências que devem previamente ser requeridas no juízo criminal);
ta-se de prazo penal, isto é, o dia do início é contabilizado (art. 10, C) A queixa-crime deve conter todos os elementos da denúncia
CP); previstos no art. 41, CPP, valendo a mesma ressalva feita no art.
259, da Lei Processual;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
D) De acordo com o art. 45, CPP, a queixa, ainda quando a ação 2.3 Ação penal privada subsidiária da pública (ou ação penal
penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério privada supletiva). Somente é cabível diante da inércia deliberada
Público, a quem caberá intervir em todos os termos subsequentes do Ministério Público.
do processo; De acordo com o inciso LIX, do art. 5º, da Constituição Federal,
E) O prazo para oferta de queixa-crime é decadencial de seis será admitida ação penal privada nos crimes de ação pública, se
meses, contados com a natureza de prazo penal (art. 10, CP) do esta não for intentada no prazo legal. No mesmo sentido, o art.
conhecimento da autoridade delitiva, tal como o prazo para a re- 29, d Código Processual Penal, regulamenta o preceito constitucional
presentação do ofendido nos delitos de ação penal pública condi- e prevê que será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se
cionada à representação. A exceção ao início da contagem de prazo esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público
se dá no caso do crime previsto no art. 236, do Código Penal (crime aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento ao todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor re-
casamento), em que o prazo de seis meses para queixa começa a curso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar
contar do trânsito em julgado da sentença que anule o casamento a ação como parte principal (o terceiro parágrafo, do art. 100, CP, tam-
no âmbito cível, conforme disposto no parágrafo único do aludido bém trata da ação penal privada supletiva que aqui se estuda).
dispositivo; Vale lembrar que, para caber tal ação, é necessária deliberada
F) Da decisão que recebe a queixa não cabe qualquer recur- desídia do agente do Ministério Público. Caso tal membro não te-
so, devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou mandado nha ofertado denúncia, porque entendeu não ser o caso, desauto-
de segurança, que não são recursos, mas sim meios autônomos de rizado fica o agente ofendido a manejar a ação privada subsidiária
impugnação. Já da que rejeita a queixa ou a acolhe apenas parcial- da pública.
mente cabe recurso em sentido estrito, por força do art. 581, I, CPP. Por fim, cabe ressaltar que caso o Ministério Público retome a
Isto posto, feitas estas considerações acerca da queixa-crime, ação penal manejada pelo querelante subsidiário por negligência
há se discorrer sobre as espécies de ação penal privada. deste, a doutrina costuma designar tal retomada de “ação penal
indireta”.
2.1 Ação penal exclusivamente privada. É possível sucessão
processual, já que, apesar de competir ao ofendido a iniciativa de Seguem os dispositivos legais previstos no Código de Processo
manejo, o art. 31, CPP permite que cônjuge (ou convivente), ascen- Penal sobre Ação Penal.
dente, descendente ou irmão nela prossigam no caso de morte do
TÍTULO III
ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial.
DA AÇÃO PENAL
Dentro de tal postulado, temos ainda que estudar dois institu-
tos, a saber, o perdão da vítima e a perempção.
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
O perdão é ato bilateral, isto é, precisa ser aceito pelo imputa-
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exi-
do (ao contrário da renúncia, que é ato unilateral). Ocorre quando
gir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do
já instaurado o processo (não é pré-processual como a renúncia);
ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
é irretratável; pode ser expresso ou tácito (o silêncio do acusado,
§1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado au-
de acordo com o art. 58, CPP, implica aceitação do perdão); pro- sente por decisão judicial, o direito de representação passará ao
cessual ou extrajudicial (de acordo com o art. 59, CPP, a aceitação cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
do perdão fora do processo constará de declaração assinada pelo §2º Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do
querelado, ou por seu representante legal, ou por procurador com patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal
poderes especiais); e por fim, pode ser ofertado até o trânsito em será pública.
julgado da sentença final. Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida
Já a perempção, prevista no art. 60, CPP, revela a desídia do a denúncia.
querelante quando, iniciada a ação penal, deixa de promover o an- Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o
damento do processo durante trinta dias seguidos (inciso I); quan- auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela
do, falecendo o querelante ou sobrevindo sua incapacidade, não autoridade judiciária ou policial.
comparece em juízo para prosseguir no processo dentro do prazo Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciati-
de sessenta dias qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo (res- va do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública,
salvado o disposto no art. 36, CPP) (inciso II); quando o querelante fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e
deixa de comparecer sem motivo justificado a qualquer ato do pro- indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.
cesso a que deva estar presente (inciso III, primeira parte); quando Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de
o querelante deixa de formular o pedido de condenação nas alega- quaisquer elementos informativos da mesma natureza, o órgão do
ções finais (inciso III, segunda parte); quando, sendo o querelante Ministério Público comunicará à vítima, ao investigado e à autori-
pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor (inciso IV); dade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão
ministerial para fins de homologação, na forma da lei. (Redação
2.2 Ação penal privada personalíssima. Não é possível a su- dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
cessão processual. No caso de morte da vítima, extingue-se a puni- § 1º Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com
bilidade por não admitir sucessão (ex: o delito previsto no art. 236, o arquivamento do inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta)
do Código Penal). dias do recebimento da comunicação, submeter a matéria à revisão
É como se vê, um direito personalíssimo e intransferível. da instância competente do órgão ministerial, conforme dispuser a
Os princípios aplicáveis à ação penal exclusivamente privada respectiva lei orgânica. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
também se aplicam à ação penal privada personalíssima. § 2º Nas ações penais relativas a crimes praticados em detri-
mento da União, Estados e Municípios, a revisão do arquivamen-
to do inquérito policial poderá ser provocada pela chefia do órgão
a quem couber a sua representação judicial. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investi- § 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não
gado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração atender aos requisitos legais ou quando não for realizada a adequa-
penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a ção a que se refere o § 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964,
4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não de 2019)
persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprova- § 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Mi-
ção e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajus- nistério Público para a análise da necessidade de complementação
tadas cumulativa e alternativamente: (Incluído pela Lei nº 13.964, das investigações ou o oferecimento da denúncia. (Incluído pela Lei
de 2019) nº 13.964, de 2019)
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impos- § 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não
sibilidade de fazê-lo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) persecução penal e de seu descumprimento. (Incluído pela Lei nº
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo 13.964, de 2019)
Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do cri- § 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no
me; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comu-
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por nicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de
período correspondente à pena mínima cominada ao delito dimi- denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
nuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da exe- § 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal
cução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezem- pelo investigado também poderá ser utilizado pelo Ministério Públi-
bro de 1940 (Código Penal); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) co como justificativa para o eventual não oferecimento de suspen-
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do são condicional do processo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Códi- § 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecu-
go Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada ção penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, ex-
pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função ceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. (Incluído
proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente pela Lei nº 13.964, de 2019)
lesados pelo delito; ou (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução pe-
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada nal, o juízo competente decretará a extinção de punibilidade. (In-
pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com cluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
a infração penal imputada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá re-
se refere o caput deste artigo, serão consideradas as causas de au- querer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28
mento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. (Incluído pela Lei deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
nº 13.964, de 2019) Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação públi-
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguin- ca, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério
tes hipóteses: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substituti-
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados va, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de
Especiais Criminais, nos termos da lei; (Incluído pela Lei nº 13.964, prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
de 2019) querelante, retomar a ação como parte principal.
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos Art. 30. Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para represen-
probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou tá-lo caberá intentar a ação privada.
profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado au-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) sente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
ao cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, Art. 32. Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da
transação penal ou suspensão condicional do processo; e (Incluído parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado para pro-
pela Lei nº 13.964, de 2019) mover a ação penal.
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou §1º Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às
familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de despesas do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis ao
sexo feminino, em favor do agressor. (Incluído pela Lei nº 13.964, próprio sustento ou da família.
de 2019) §2º Será prova suficiente de pobreza o atestado da autoridade
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por policial em cuja circunscrição residir o ofendido.
escrito e será firmado pelo membro do Ministério Público, pelo in- Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente
vestigado e por seu defensor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa
será realizada audiência na qual o juiz deverá verificar a sua volun- poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a
tariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o
defensor, e sua legalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) processo penal.
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas Art. 34. Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos, o
as condições dispostas no acordo de não persecução penal, devol- direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu represen-
verá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a tante legal.
proposta de acordo, com concordância do investigado e seu defen- Art. 35. Revogado pela Lei nº 9.520/97.
sor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais
penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para que inicie próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo,
sua execução perante o juízo de execução penal. (Incluído pela Lei entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante
nº 13.964, de 2019) desista da instância ou a abandone.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 37. As fundações, associações ou sociedades legalmente Art. 47. Se o Ministério Público julgar necessários maiores es-
constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser representa- clarecimentos e documentos complementares ou novos elementos
das por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou, de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer auto-
no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes. ridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu re- Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obri-
presentante legal, decairá no direito de queixa ou de representa- gará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
ção, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia indivisibilidade.
em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação
do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia. a um dos autores do crime, a todos se estenderá.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de quei- Art. 50. A renúncia expressa constará de declaração assinada
xa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos arts. pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com po-
24, parágrafo único, e 31. deres especiais.
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pes- Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor
soalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante de- que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do direito
claração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Públi- de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.
co, ou à autoridade policial. Art. 51. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará
§1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assi- a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que o re-
natura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante cusar.
legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autori- Art. 52. Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos, o
dade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu represen-
houver sido dirigida. tante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposição do
§2º A representação conterá todas as informações que possam outro, não produzirá efeito.
servir à apuração do fato e da autoria. Art. 53. Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado
§3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a auto- mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses
ridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, deste com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao cura-
remetê-lo-á à autoridade que o for. dor que o juiz Ihe nomear.
§4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este re- Art. 54. Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á,
duzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52.
proceda a inquérito. Art. 55. O perdão poderá ser aceito por procurador com pode-
§5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se res especiais.
com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem Art. 56. Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o dis-
a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no posto no art. 50.
prazo de quinze dias. Art. 57. A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos os
Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os meios de prova.
juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pública, Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos
remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos neces- autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o
sários ao oferecimento da denúncia. aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato crimi- silêncio importará aceitação.
noso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado Parágrafo único. Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a puni-
ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação bilidade.
do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. Art. 59. A aceitação do perdão fora do processo constará de
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal. declaração assinada pelo querelado, por seu representante legal ou
Art. 43. Revogado pela Lei nº 11.719/08. procurador com poderes especiais.
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante quei-
especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do xa, considerar-se-á perempta a ação penal:
querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais escla- I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o
recimentos dependerem de diligências que devem ser previamente andamento do processo durante 30 dias seguidos;
requeridas no juízo criminal. II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua inca-
Art. 45. A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do pacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo,
ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem cabe- dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem
rá intervir em todos os termos subsequentes do processo. couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo jus-
preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério tificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou
Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extin-
inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data guir sem deixar sucessor.
em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer ex-
§1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, tinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício.
o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em Parágrafo único. No caso de requerimento do Ministério Públi-
que tiver recebido as peças de informações ou a representação co, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em apartado,
§2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, conta- ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá o pra-
do da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos, zo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão dentro de cinco
e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que não dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença final.
tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo.

11
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 62. No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da Ademais, nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo
certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, declarará processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou
extinta a punibilidade. afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive (art.
253, CPP).
Há se tomar cuidado, neste prumo, com as hipóteses previstas
nestes dois artigos. Aqui, veda-se ao juiz o exercício de jurisdição.
DO JUIZ, DO MINISTÉRIO PÚBLICO, DO ACUSADO E Algo totalmente diferente do art. 254, que traz causas de suspei-
DEFENSOR, DOS ASSISTENTES E AUXILIARES DA JUSTI- ção/impedimento. Enquanto nos arts. 252 e 253 se disciplina um
ÇA, DOS PERITOS E INTÉRPRETES “não atuar” do juiz (já que o dispositivo é claro ao falar que o jul-
gador “não exercerá jurisdição”), no art. 254, que se verá a seguir,
Juiz até pode o magistrado receber o processo para julgar, embora não
De acordo com o art. 251, do Código de Processo Penal, ao juiz deva (ou melhor, não possa) fazê-lo por questão de vício de impar-
incumbirá prover a regularidade do processo e manter a ordem no cialidade.
curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força  
pública. Hipóteses de suspeição/impedimento do juiz 
Assim, para garantir a regularidade do processo, o juiz exerce São elas (art. 254, CPP):
os seguintes poderes: A) Se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles (in-
a) de polícia: para garantir o desenvolvimento regular e impe- ciso I);
dir atos capazes de perturbar o bom andamento do processo; B) Se ele, seu cônjuge (convivente), ascendente ou descenden-
b) jurisdicionais: que compreendem atos ordinatórios, que or- te, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo ca-
denam e impulsionam o processo; e ráter criminoso haja controvérsia (inciso II);
c) instrutórios: que compreendem a colheita de provas. C) Se ele, seu cônjuge (convivente), ou parente, consanguíneo,
ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou res-
Garantias  ponder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das par-
São elas, de acordo com o art. 95, da Constituição Federal: tes (inciso III);
A) Vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após D) Se tiver aconselhado qualquer das partes (inciso IV);
dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse perío- E) Se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das
do, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos partes (inciso V);
demais casos, de sentença judicial transitada em julgado (inciso I); F) Se for sócio, acionista ou administrador de sociedade inte-
B) Inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na ressada no processo (inciso VI).
forma do art. 93, VIII, da Constituição Federal (inciso II);
C) Irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. Urge ressaltar que o impedimento ou suspeição decorrente
37, X e XI, 39, §4º, 150, II, 153, III, e 153, §2º, I, todos da CF (inciso de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento
IV). (união estável) que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo descen-
dentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes,
Vedações impostas aos juízes  não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro
Aos juízes é vedado (parágrafo único, do art. 95, da Constitui- ou enteado de quem for parte no processo (art. 255, CPP).
ção): Urge ressalvar, por fim, que a suspeição não poderá ser decla-
A) Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou fun- rada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósi-
ção, salvo uma de magistério (inciso I); to der motivo para criá-la (art. 256, CPP).
B) Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participa-  
ção em processo (inciso II); TÍTULO VIII
C) Dedicar-se à atividade político-partidária (inciso III); DO JUIZ, DO MINISTÉRIO PÚBLICO, DO ACUSADO E DEFEN-
D) Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui- SOR, DOS ASSISTENTES E AUXILIARES DA JUSTIÇA
ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas
as exceções previstas em lei (inciso IV); CAPÍTULO I
E) Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, DO JUIZ
antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposen-  
tadoria ou exoneração (inciso V). Art. 251. Ao juiz incumbirá prover à regularidade do processo
  e manter a ordem no curso dos respectivos atos, podendo, para tal
Hipóteses em que o juiz não poderá exercer jurisdição  fim, requisitar a força pública.
De acordo com o art. 252, do Código de Processo Penal, o juiz Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em
não poderá exercer jurisdição no processo em que: que:
A) Tiver funcionado seu cônjuge (convivente) ou parente, con- I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou
sanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como
inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, defensor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade po-
autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito (inciso I); licial, auxiliar da justiça ou perito;
B) Ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções II - ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções
ou servido como testemunha (inciso II); ou servido como testemunha;
C) Tiver funcionado como juiz de outra instância, pronuncian- III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronuncian-
do-se, de fato ou de direito, sobre a questão (inciso III); do-se, de fato ou de direito, sobre a questão;
D) Ele próprio ou seu cônjuge (convivente) ou parente, con- IV - ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou
sanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for
inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito (inciso IV). parte ou diretamente interessado no feito.

12
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo D) Exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra fun-
processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíneos ou ção pública, salvo uma de magistério (alínea “d”);
afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive. E) Exercer atividade político-partidária, em regra (alínea “e”);
 Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá F) Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribui-
ser recusado por qualquer das partes: ções de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; as exceções previstas em lei (alínea “f”).
II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver res-
pondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso Suspeição/impedimento/proibição do exercício de jurisdição
haja controvérsia; do membro do Ministério Público
III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até Consoante o art. 258, CPP, os órgãos do Ministério Público não
o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a pro- funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes for
cesso que tenha de ser julgado por qualquer das partes; seu cônjuge (convivente), ou parente, consanguíneo ou afim, em li-
IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; nha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se esten-
V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das dem, no que lhe for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e
partes; aos impedimentos dos juízes.
Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade inte-
ressada no processo. CAPÍTULO II
  Art. 255. O impedimento ou suspeição decorrente de paren- DO MINISTÉRIO PÚBLICO
tesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que Ihe
tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que Art. 257. Ao Ministério Público cabe:
dissolvido o casamento sem descendentes, não funcionará como I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma
juiz o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem estabelecida neste Código; e
for parte no processo. II - fiscalizar a execução da lei.
Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhe-  Art. 258. Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos
cida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der motivo para
processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou
criá-la.
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o ter-
ceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que Ihes for aplicável,
Ministério Público
as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes.
A atividade do Ministério Público é de suma importância na
seara penal, seja porque titular da ação penal pública (art. 129, I,
Acusado E Seu Defensor 
CF), seja porque fiscal da lei. Eis as duas funções que lhe são expres-
Conforme o art. 261, CPP, nenhum acusado, ainda que ausente
samente atribuídas em rol meramente exemplificativo pelos dois
ou foragido, será processado ou julgado sem defensor. Nesta fre-
incisos do art. 257, do Diploma Processual Penal.
O Ministério Público é instituição permanente, essencial à fun- quência, de acordo com a Súmula nº 523, do Supremo Tribunal Fe-
ção jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem ju- deral, no processo penal, a falta de defesa constitui nulidade abso-
rídica, do regime democrático, e dos interesses sociais e individuais luta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo
indisponíveis. Neste diapasão, são seus princípios institucionais, para o réu.
previstos no primeiro parágrafo, do art. 127, da Constituição Fede- Com isso, deve ficar superado qualquer entendimento quanto
ral: à possibilidade de se imaginar um réu no processo penal, qualquer
A) A unidade. Todos os membros do Ministério Público formam que seja a gravidade do delito, desprovido de defesa e de defen-
um órgão único; sor. Uma prova dessa necessidade pode ser observada no segundo
B) A indivisibilidade. Todos os membros do Ministério Público parágrafo, do art. 396-A, CPP, segundo o qual não apresentada a
formam um órgão indivisível; resposta à acusação no prazo legal, ou se o acusado, citado, não
C) A independência funcional. A independência funcional de- constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, conce-
corre da autonomia do Ministério Público, que é tanto administrati- dendo-lhe vista dos autos pelo prazo de dez dias.
va, como normativa e financeira. Ato contínuo, a defesa do acusado divide-se em autodefesa
(que é aquela exercida pelo próprio acusado, como quando sim-
Garantias atribuídas aos membros do Ministério Público plesmente assinala no mandado de intimação o seu interesse de
São elas (art. 128, §5º, I, CF): recorrer da decisão) e em defesa técnica (que é aquela feita por
A) Vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo profissional competente e especializado). Neste sentido, consoante
perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado o parágrafo único, do art. 261, CPP, a defesa técnica, quando reali-
(alínea “a”); zada por defensor público ou dativo, será sempre exercida através
B) Inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, me- de manifestação fundamentada.
diante decisão da maioria absoluta de órgão colegiado do Ministé- Se o acusado não tiver defensor, lhe será nomeado um pelo
rio Público, assegurada ampla defesa, obviamente (alínea “b”); juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro de
C) Irredutibilidade de subsídio, em regra (alínea “c”). sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilitação
(art. 263, caput, CPP).
Vedações aos membros do Ministério Público  A constituição de defensor independerá de instrumento de
São elas (art. 128, §5º, II, CF): mandato, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório (art.
A) Receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorá- 266, CPP). Este defensor tanto poderá ser um advogado particular,
rios, percentagens ou custas processuais (alínea “a”); como um advogado dativo, como um defensor público.
B) Exercer a advocacia (alínea “b”); Ainda, o defensor não poderá abandonar o processo senão por
C) Participar de sociedade comercial, na forma de lei (alínea motivo imperioso, comunicando previamente o juiz, sob pena de
“c”); multa de dez a cem salários mínimos, sem prejuízo das demais san-

13
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
ções cabíveis (art. 265, caput, CPP). A audiência poderá ser adiada ricamente que o fato não ocorreu, isso faz coisa julgada no cível e
se o defensor, por motivo justificado, não puder comparecer (art. impede a ação de reparação; se a decisão penal aplicar uma pena
265, §1º, CPP). branda, provavelmente a reparação possível de ser pleiteada será
em um valor menor; se a decisão aplicar pena grave, provavelmente
CAPÍTULO III a reparação pleiteada será maior. Veja-se, portanto, que a despeito
DO ACUSADO E SEU DEFENSOR de entendimento minoritário que defende a inconstitucionalidade
  da figura do assistente de acusação, são muitos os interesses em
Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o jogo defendidos por este agente que só recentemente vem tendo
seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação seu prisma de atuação maximizado.
penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no cur- Nem todo tipo de delito admite a figura do assistente de acusa-
so do processo, do julgamento ou da execução da sentença, se for ção. Para que isso seja possível, mister se faz que o delito tenha um
descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo, nos sujeito passivo determinado. Em um delito contra o meio ambiente,
autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes. p. ex., não é possível a figura assistencial, dada a absoluta impro-
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interro- priedade de se saber quais foram, realmente, os sujeitos passivos
gatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não do delito.
possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua A admissão do assistente é possível enquanto não passar em
presença. julgado a sentença (lembrando que o assistente receberá a causa no
Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condu- estado em que esta se encontrar) (art. 269, CPP). Durante a audiên-
ção, os requisitos mencionados no art. 352, no que Ihe for aplicável. cia de instrução, debates e julgamento, do procedimento comum,
Art. 261. Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, o assistente terá o prazo de dez minutos para falar (prorrogáveis)
será processado ou julgado sem defensor. após a fala do membro do Ministério Público. Já no procedimento
Parágrafo único. A defesa técnica, quando realizada por defen- do júri, o assistente somente será admitido se tiver requerido sua
sor público ou dativo, será sempre exercida através de manifestação habilitação até cinco dias antes da data da sessão de julgamento na
fundamentada. qual pretende atuar (art. 430, CPP).
Art. 262. Ao acusado menor dar-se-á curador. Ainda, ao assistente será permitido propor meios de prova, re-
Art. 263. Se o acusado não o tiver, ser-lhe-á nomeado defensor querer perguntas às testemunhas, participar do debate oral e ar-
pelo juiz, ressalvado o seu direito de, a todo tempo, nomear outro razoar os recursos interpostos pelo Ministério Público ou por ele
de sua confiança, ou a si mesmo defender-se, caso tenha habilita- próprio (art. 271, caput, CPP). A título ilustrativo, o art. 598, CPP,
ção. prevê que, nos crimes de competência do tribunal do júri ou do juiz
Parágrafo único. O acusado, que não for pobre, será obrigado a singular, se da sentença não for interposta apelação pelo Ministério
pagar os honorários do defensor dativo, arbitrados pelo juiz. Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das pessoas elen-
Art. 264. Salvo motivo relevante, os advogados e solicitadores cadas no art. 31, CPP (cônjuge, convivente, ascendente e irmão),
serão obrigados, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá interpor
a prestar seu patrocínio aos acusados, quando nomeados pelo Juiz. apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo. Isso significa que,
Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão habilitado ou não, diante da desídia ministerial, poderá o assistente
por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de recorrer via apelação.
multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das Noutro exemplo, há se defender a revogação tácita da Súmula
demais sanções cabíveis. nº 208, do Supremo Tribunal Federal, a qual dispõe que o assisten-
§1º A audiência poderá ser adiada se, por motivo justificado, o te do Ministério Público não pode recorrer extraordinariamente
defensor não puder comparecer. da decisão concessiva de habeas corpus. A revogação tácita de tal
§2º Incumbe ao defensor provar o impedimento até a abertura dispositivo deve-se à grande tendência de legitimação recursal do
da audiência. Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento assistente de acusação.
de ato algum do processo, devendo nomear defensor substituto, Dando prosseguimento às funções do assistente, o juiz, ouvido
ainda que provisoriamente ou só para o efeito do ato. o agente ministerial, decidirá acerca da realização das provas pro-
 Art. 266. A constituição de defensor independerá de instrumen- postas pelo assistente (art. 271, §1º, CPP). O processo prosseguirá
to de mandato, se o acusado o indicar por ocasião do interrogatório. independentemente de nova intimação do assistente quando este,
 Art. 267. Nos termos do art. 252, não funcionarão como defen- intimado, deixar de comparecer a qualquer dos atos da instrução ou
sores os parentes do juiz. do julgamento, sem motivo de força maior devidamente comprova-
  do (art. 271, §2º, CPP). O Ministério Público será ouvido previamen-
Assistente  te sobre a admissão do assistente (art. 272, CPP).
O assistente o é do Ministério Público, e será representado pelo
ofendido ou seu representante legal, ou, na falta destes, qualquer Decisão que admite ou não a figura do assistente 
pessoa mencionada no art. 31, CPP (cônjuge, convivente, ascenden- Do despacho que admitir ou não o assistente, preceitua o art.
te, irmão). 273, da Lei Processual, não caberá recurso, devendo, entretanto,
Convém frisar, apenas, que o co-réu no mesmo processo não constar dos autos o pedido e a decisão.
poderá intervir como assistente do Ministério Público (art. 270,
CPP). CAPÍTULO IV
A finalidade de sua participação nos autos tanto pode se dar DOS ASSISTENTES
em razão de ver aplicada uma pena condizente à gravidade do dano  
ao acusado (num clamor meramente de justiça), como interessado Art. 268. Em todos os termos da ação pública, poderá intervir,
em futura reparação civil partindo-se de decreto penal. como assistente do Ministério Público, o ofendido ou seu representante
Afinal, vale lembrar que, a depender da espécie de decisão pe- legal, ou, na falta, qualquer das pessoas mencionadas no art. 31.
nal, se poderá ou não manejar a ação civil ex delicto. São muitos, Art. 269. O assistente será admitido enquanto não passar em
pois, os interesses envolvidos: se a decisão penal afirmar catego- julgado a sentença e receberá a causa no estado em que se achar.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 270. O corréu no mesmo processo não poderá intervir prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre
como assistente do Ministério Público. o objeto da perícia (inciso II); bem como os analfabetos e menores
Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, de vinte e um anos (inciso III).
requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os articulados, Por fim, há se lembrar que é extensivo aos peritos e intérpre-
participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Mi- tes, no que lhes for aplicável, o disposto sobre suspeição de juízes
nistério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, §1º, e (art. 280, CPP).
598.  Vamos acompanhar a seguir os dispositivos contidos no Código
§1º O juiz, ouvido o Ministério Público, decidirá acerca da reali- de Processo Penal referente ao assunto:
zação das provas propostas pelo assistente.  
§2º O processo prosseguirá independentemente de nova inti- CAPÍTULO V
mação do assistente, quando este, intimado, deixar de comparecer DOS FUNCIONÁRIOS DA JUSTIÇA
a qualquer dos atos da instrução ou do julgamento, sem motivo de  
força maior devidamente comprovado. Art. 274. As prescrições sobre suspeição dos juízes estendem-se
Art. 272. O Ministério Público será ouvido previamente sobre a aos serventuários e funcionários da justiça, no que Ihes for aplicável.
admissão do assistente.  
  CAPÍTULO VI
Art. 273. Do despacho que admitir, ou não, o assistente, não DOS PERITOS E INTÉRPRETES
caberá recurso, devendo, entretanto, constar dos autos o pedido e  
a decisão. Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à
disciplina judiciária.
Funcionários Do Poder Judiciário – Serventuários Da Justiça Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito.
Segundo o ilustre jurista Guilherme de Souza Nucci, as expres- Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a
sões funcionários e serventuários da justiça são termos correlatos, aceitar o encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis,
pois, denominam tanto os ocupantes de cargos públicos efetivos, salvo escusa atendível.
como também os ocupantes de cargo ou função comissionados, Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem
desde que pagos pelo Estado e estejam a serviço do Poder Judiciá- justa causa, provada imediatamente:
rio, a exemplo, os escrivães, escreventes, oficiais de justiça, dentre a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;
outros. b) não comparecer no dia e local designados para o exame;
Durante toda a instrução processual, vários atos são realizados c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja
pelos funcionários da justiça, em decorrência das atribuições ine- feita, nos prazos estabelecidos.
rentes aos próprios cargos ou funções, de acordo com as respec-  Art. 278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa
tivas normas regulamentadoras, em regra, são os chamados atos causa, a autoridade poderá determinar a sua condução.
ordinatórios que independem de despacho e podem ser praticados  Art. 279. Não poderão ser peritos:
de ofício. I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada
De acordo com o art. 274 do Código de Processo Penal, es- nos ns. I e IV do art. 69 do Código Penal;
tendem-se aos funcionários da justiça as disposições relativas aos II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opina-
casos de impedimento e suspeição dos juízes. Nesses casos, estes do anteriormente sobre o objeto da perícia;
deverão abster-se de servir no processo e imediatamente prestar III - os analfabetos e os menores de 21 anos.
declaração nos autos, de acordo com o art. 112 do referido diplo-  Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o
ma. Caso isto não ocorra, o impedimento poderá ser argüido pelas disposto sobre suspeição dos juízes.
partes, através do instrumento da exceção de suspeição, nos ter-  Art. 281. Os intérpretes são, para todos os efeitos, equiparados
mos do art. 105 do CPP. aos peritos.

Peritos e Intérpretes 
São os auxiliares do juízo, isto é, agentes que, embora não ser- DAS CITAÇÕES E INTIMAÇÕES
vidores da justiça propriamente ditos, fornecem esclarecimentos e
conhecimentos específicos acerca de determinados temas quando
consultados. CITAÇÃO DO RÉU
Os peritos e intérpretes, ainda quando não-oficiais, estão su- É o ato pelo qual o réu toma ciência da acusação, com o efeito
jeitos à disciplina judiciária, e as partes não intervirão em sua no- de conferir eficácia à relação processual e tornar válidos os atos
meação. Em contrapartida, o perito/intérprete não poderá se furtar posteriores. A citação do acusado, de acordo com o Novo Código
Processual Civil, é o ato pelo qual são convocados o réu, o execu-
de seu ofício de forma injustificável, sob pena de multa, e, se for o
tado ou o interessado para integrar a relação processual (art. 238
caso, condução coercitiva (também incorrerão em multa se deixa-
NCPC).
rem de atender à intimação ou a chamado de autoridade, se não
A citação é uma garantia individual (decorrência do art. 5, LV,
comparecerem no dia e local designados para o exame, ou se não
CR/88), tratando-se de ato essencial do processo, cuja falta lhe de-
derem o laudo ou concorrerem para que a perícia não seja feita nos
termina a nulidade absoluta (art. 564, III, “e”), sendo o processo
prazos estabelecidos).
inteiramente nulo a partir do ato e mesmo que haja sentença com
Ademais, de acordo com o art. 279, do Código de Processo, não
trânsito em julgado poderá ser desfeita a res judicata seja por meio
poderão ser peritos os que estiverem sujeitos à interdição de direito
de habeas corpus (art. 648, VI), seja pela revisão criminal.
mencionada no art. 47, I (proibição de exercício de cargo, função ou A falta de citação no processo penal causa nulidade absoluta
atividade pública) e II (proibição do exercício de profissão, atividade do processo (art. 564, III e IV, do CPP), pois contraria os princípios
ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou auto- constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Exceção: o art.
rização do poder público), do Código Penal (inciso I); os que tiverem 570 do Código de Processo Penal dispõe que se o réu comparece

15
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
em juízo antes de consumado o ato, ainda que para arguir a au- No Processo Penal, completada a citação com hora certa, se o
sência de citação, sana a sua falta ou a nulidade. Nesse caso, o juiz acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo. (art.
ordenará a suspensão ou o adiamento do ato. 362, parágrafo único, CPP).
“Não ocorrendo a rejeição liminar, o juiz recebe a denúncia ou
queixa e determina a citação do acusado para, em 10 dias, respon- Caso o réu compareça antes da audiência de instrução, nada
der por escrito à acusação (art. 396, CPP). impede que o juiz renove o prazo de defesa escrita – garantindo
o constitucional princípio da ampla defesa e adotando o mesmo
Com a citação do acusado, o processo completa a sua forma- procedimento previsto para a citação editalícia (art. 363, § 4º, CPP).
ção (art. 363, CPP).”
Citado por hora certa, o prazo para o oferecimento da resposta
O Código de Processo Penal tratou da citação em capítulo pró- inicia-se na data do ato citatório (Súmula 710 – STF).
prio, compreendendo os arts. 351 ao 369. “NCPC - Art. 254. Feita a citação com hora certa, o escrivão ou che-
fe de secretaria enviará ao réu, executado ou interessado, no prazo de
A citação pode ser de duas espécies: 10 (dez) dias, contado da data da juntada do mandado aos autos, carta,
- citação real (pessoal); telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo ciência.”
- citação ficta (por edital).
c) Por edital (art. 361)
Citação “Art. 361. Se o réu não for encontrado, será citado por edital,
a) Por mandado (regra) – oficial de justiça (art. 351) com o prazo de 15 (quinze) dias.”
- Classificada como citação real. - Classificada como citação ficta, ou seja, presumida.
- A citação pessoal far-se-á quando o réu estiver na jurisdição - Após o término do prazo de 15 dias (prazo do edital), inicia-se
do juiz que a determinar. o prazo de 10 dias para a apresentação da resposta à acusação.
- A citação deve ser feita pelo menos 24 horas antes do momen-
to em que o acusado deverá ser interrogado, não se tem admitido Em se tratando de citação por edital, se o acusado não com-
à citação no mesmo dia em que o acusado deva ser interrogado. parecer nem constituir advogado, o processo ficará suspenso, sus-
- O oficial deverá fazer a leitura do mandado e entregar a con- pendendo-se, também, o prazo prescricional, podendo o juiz deter-
minar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e,
trafé.
se for o caso, decretar a prisão preventiva nos termos do disposto
no art. 312.
b) Por hora certa (art. 362)
A Lei 11.719/08 introduziu a citação por hora certa no processo
d) Citação do réu preso (art. 360)
penal. Adotando-se o mesmo procedimento do processo civil (arts.
O réu preso deverá ser citado pessoalmente, e, depois, requi-
252 a 254 do CPC/2015).
sitado junto à autoridade policial, para o acompanhamento da au-
“Art. 252. Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça hou-
diência de instrução e interrogatório (art. 399, § 1º, CPP).
ver procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o en- Não é mais possível a citação por edital, independente de onde
contrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, intimar qualquer estiver o preso.
pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho de que, no dia Será por mandado quando o réu estiver na sede da jurisdição
útil imediato, voltará a fim de efetuar a citação, na hora que desig- da ação penal em curso. E será por precatória quando em outra
nar. jurisdição.
Parágrafo único. Nos condomínios edilícios ou nos loteamen-
tos com controle de acesso, será válida a intimação a que se refere e) Citação do militar (art. 358)
o caput feita a funcionário da portaria responsável pelo recebimen- A citação do militar deve ser feita mediante requisição de sua
to de correspondência. apresentação para interrogatório ao superior hierárquico, ainda
Art. 253. No dia e na hora designados, o oficial de justiça, inde- que o militar esteja fora da comarca.
pendentemente de novo despacho, comparecerá ao domicílio ou à
residência do citando a fim de realizar a diligência. f) Citação do funcionário público (art. 359)
§ 1o Se o citando não estiver presente, o oficial de justiça No caso do funcionário público a citação será feita pessoal-
procurará informar-se das razões da ausência, dando por feita a mente, devendo ser notificado, também, o chefe da repartição.
citação, ainda que o citando se tenha ocultado em outra comarca,
seção ou subseção judiciárias. g) Citação do incapaz
§ 2o A citação com hora certa será efetivada mesmo que a A citação do réu incapaz é feita pessoalmente, até mesmo por-
pessoa da família ou o vizinho que houver sido intimado esteja au- que pode-se não ter notícia ainda da incapacidade. Se, porém, a
sente, ou se, embora presente, a pessoa da família ou o vizinho se incapacidade já for conhecida (art. 149, CPP), a citação deverá ser
recusar a receber o mandado. feita na pessoa do curador designado pelo juízo criminal ou que
§ 3o Da certidão da ocorrência, o oficial de justiça deixará con- estiver no exercício legal da curatela.
trafé com qualquer pessoa da família ou vizinho, conforme o caso, Sendo a incapacidade comprovada após a instauração da ação
declarando-lhe o nome. penal, deverão ser anulados quaisquer efeitos resultantes do não-
§ 4o O oficial de justiça fará constar do mandado a advertência -atendimento oportuno ao ato de citação.
de que será nomeado curador especial se houver revelia.
Art. 254. Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de CARTA PRECATÓRIA (art. 353)
secretaria enviará ao réu, executado ou interessado, no prazo de Quando o réu residir fora do território em que o juiz exerce a
10 (dez) dias, contado da data da juntada do mandado aos autos, jurisdição, a citação será feita por meio de carta precatória, via da
carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo qual o juiz deprecante (o da causa) pede ao juiz deprecado (aquele
ciência.” da jurisdição onde reside o réu) o cumprimento do ato processual
citatório (Pacelli, 2011, p. 596).

16
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
FORMA, LUGAR E TEMPO A classificação mais tradicional divide as decisões em:
“Forma, em direito, é fruto da necessidade de manifestação A) Decisões interlocutórias simples. São as decisões que resol-
da vontade obedecer a certos moldes, quando o próprio sistema vem nuanças pertinentes à marcha procedimental, sem adentrar
define o modelo a ser seguido.” (Arruda Alvim) o mérito da causa propriamente dito (ex.: a decisão que recebe a
denúncia);
“É o conjunto de formalidades que se devem observar para que B) Decisões interlocutórias mistas (ou decisões com força de
o ato jurídico seja plenamente eficaz.” (Humberto Teodoro Júnior) definitivas). São aquelas que encerram uma etapa do procedimen-
Atos solenes são aqueles para os quais a lei prevê determinada to sem encerrar o processo, ou mesmo encerram o processo sem
forma como condição de validade. adentrar o mérito da causa. Podem ser interlocutórias mistas não
terminativas (quando meramente encerram uma etapa procedi-
Atos não solenes são aqueles de forma livre - Art. 188. Os atos mental, como a decisão de pronúncia no rito do tribunal do júri,
e os termos processuais independem de forma determinada, sal- p. ex.) ou interlocutórias mistas terminativas (quando encerram o
vo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os processo sem julgamento de mérito, como a decisão que rejeita a
que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essen- inicial acusatória, p. ex.);
cial. C) Decisões definitivas (ou decisões em sentido próprio). É a de-
cisão definitiva em que o juiz adentra o mérito da causa.
O direito processual é direito formal, pois visa garantir o regu-
lar desenvolvimento do processo e dos direitos das partes. Caso o Classificação das decisões definitivas (ou decisões em sentido
ato não seja praticado conforme a forma estabelecida e não atinja próprio). As sentenças em sentido estrito podem ser:
o seu fim o mesmo será declarado nulo. A) Sentenças condenatórias. Quando julgam procedente, total
ou parcialmente, a pretensão punitiva;
Entretanto, “o CPC prestigia o sistema que se oriente no sen- B) Sentenças absolutórias. Quando não acolhem a pretensão
tido de aproveitar ao máximo os atos processuais, regularizando, punitiva. Podem ser próprias (quando não se impõe qualquer san-
sempre que possível, as nulidades sanáveis.” (RT 659/183). Prevale- ção ao acusado) ou impróprias (quando se impõe ao acusado me-
ce, então, o princípio da instrumentalidade das formas como meio dida de segurança);
para atingir a finalidade do ato. C) Sentenças terminativas de mérito. São aquelas que julgam
Assim, a substância do ato (sua finalidade) prevalece sobre a o mérito, embora não condenem nem absolvam o acusado (ex.: a
forma. Atingida a finalidade, ainda que a lei prescreva a formalida- sentença que reconhece a extinção da punibilidade).
de, não há nulidade. O ato só é declarado nulo se não observadas as
suas formas processuais e por isso não alcançar seu fim. Classificação quanto ao órgão que prolata a sentença. A sen-
tença pode ser, conforme esta classificação:
Lugar A) Subjetivamente simples. São as emanadas por um juízo sin-
Estabelece o Art. 217. Os atos processuais realizar-se-ão ordi- gular, monocrático;
nariamente na sede do juízo, ou, excepcionalmente, em outro lugar B) Subjetivamente plúrimas. São as exaradas de órgãos cole-
em razão de deferência, de interesse da justiça, da natureza do ato giados homogêneos, como as decisões oriundas de Turmas ou Câ-
ou de obstáculo arguido pelo interessado e acolhido pelo juiz. As- maras Recursais;
sim, os atos são realizados, em regra, na sede do juízo onde tramita C) Subjetivamente complexas. São as que resultam da decisão
o processo. Com o avanço da tecnologia, foram criadas exceções a de mais de um órgão, como uma decisão em sede do procedimento
esta regra (exemplo: protocolo integrado para alguns casos). Mas do tribunal do júri, que advém tanto do corpo de jurados como do
existem alguns atos que devem ser praticados fora da sede do juízo, juiz presidente do júri.
estes atos serão praticados mediante carta.
Requisitos
Tempo Nos termos do art. 381 do CPP, ela deve conter:
O legislador estabelece prazos e tempos para a prática de atos A) Relatório. Trata-se de uma síntese procedimental. Nos Jui-
processuais com o objetivo de atingir o fim do processo, que nada zados Especiais Criminais dispensa-se o relatório (art. 81, §3º, da
mais é do que a obtenção de uma sentença. Lei nº 9.099/95);
Se o processo nada mais é do que o desenvolvimento de uma B) Fundamentação. A autoridade julgadora motiva as razões
atividade que objetiva a solução da lide, é obvio que essa atividade que auxiliaram em sua tomada de decisão. De acordo com o nono
deve, necessariamente, desenvolver-se dentro de um lapso tempo- inciso, do art. 93, da Lei Fundamental da República, todas as deci-
ral. Daí os limites de tempo para a realização dos atos processuais. sões devem ser fundamentadas;
C) Dispositivo. É o perfilhamento da fundamentação aos dispo-
sitivos materiais que lhe são inerentes (isto é, trata-se da indicação
dos artigos de lei, sob pena de nulidade, em que o agente está in-
DA SENTENÇA
curso).
A par desses requisitos genéricos, obrigatórios em qualquer
A sentença representa a essência mais pura da materialização tipo de sentença, há aqueles específicos. Na decisão absolutória,
da atividade jurisdicional, isto é, o fim almejado quando se ingressa por exemplo, a libertação do réu, cessação de medidas cautelares
em juízo solicitando a resolução de uma questão concreta que se e a restituição da fiança, dentre outras determinações (arts. 386,
apresenta por meio da lide. parágrafo único, I e II, e 337, ambos do CPP). Na sentença penal
É na sentença que a autoridade judicial vai manifestar sua aná- condenatória, os requisitos específicos estão elencados no art. 387
lise sintetizada de tudo o que foi produzido nos autos e, como con- do CPP. Cuidar-se-á de abordar os requisitos genéricos, pois os es-
sequência, tomará uma decisão, seja pela condenação, seja pela pecíficos serão tratados quando da análise dos tipos de sentença.
absolvição (própria ou imprópria), seja pela extinção do feito sem a
apreciação de mérito.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
“Sentença suicida”. Expressão oriunda da doutrina italiana, a C) Não constituir o fato infração penal (inciso III). Isto não im-
“sentença suicida” é aquela em que há divergência entre a funda- possibilita o manejo da ação civil ex delicto, afinal, o fato de não
mentação e o dispositivo, desafiando, pois, o recurso de embargos haver infração penal não significa que o ato praticado seja ao me-
de declaração a fim de sanar contradição. nos ilícito;
D) Estar provado que o réu não concorreu para a infração penal
“Emendatio libelli”. Está prevista no art. 383, do Código de (inciso IV). Isto impossibilita o manejo da ação civil ex delicto, pois
Processo Penal. Se o juiz atribuir aos fatos definição jurídica diversa retira do réu qualquer suspeita de participação na conduta crimi-
da constante da inicial acusatória, ainda que, em razão disso, tenha nosa;
de aplicar pena mais grave, dá-se a “emendatio libelli”. Neste caso, E) Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração pe-
não há modificação dos fatos apurados durante a marcha proces- nal (inciso V). Isto não impossibilita o manejo da ação civil ex delic-
sual. Tendo em mãos o que foi apurado, a autoridade judicial ape- to, já que não se consegue saber se o acusado participou ou não da
nas confere definição jurídica diversa daquela constante da inicial. conduta criminosa;
Neste diapasão, se, em consequência da definição jurídica di- F) Existirem circunstâncias que excluam o crime ou isente o réu
versa, houver a possibilidade de suspensão condicional do proces- de pena, ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existên-
so, o juiz encaminhará os autos ao Ministério Público para que as- cia (inciso VI). A possibilidade de ação civil ex delicto dependerá do
sim proceda, sem prejuízo da aplicação, se for o caso, do art. 28, do caso concreto: se houver legítima defesa real, p. ex., não será pos-
Código de Processo (art. 383, §1º, CPP). Por sua vez, caso a infração sível a reparação do dano na seara cível; se houver legítima defesa
torne-se de competência de outro juízo, a este devem ser os autos putativa, por outro lado, não haverá óbice a que se busque a devida
encaminhados (art. 383, §2º, CPP). indenização;
G) Não existir prova suficiente para a condenação (inciso VII).
“Mutatio libelli”. Se, durante a apuração dos fatos, surgir pro- Isso não impossibilita o manejo da ação civil ex delicto, já que o
va nova que leve a uma definição jurídica diversa daquela constan- contexto probatório apenas é insuficiente para uma condenação,
te da inicial acusatória, tem-se a “mutatio libelli”, prevista no art. mas não para uma pretensão de reparação civil.
384, da Lei Processual. Neste caso, o Ministério Público deverá adi-
tar a exordial acusatória no prazo de cinco dias, bem como ouvido Efeitos da sentença absolutória. Na sentença absolutória o
deve ser o defensor do acusado acerca dos fatos novos. juiz mandará por o réu em liberdade (em se tratando de absolvição
Esta necessidade de aditamento deve-se ao chamado “Princí- própria) ou aplicará medida de segurança (em se tratando de absol-
pio da Correlação”, segundo o qual a decisão judicial deve cingir-se vição imprópria). Ademais, deverá ordenar a cessação das medidas
aos preceitos contidos da inicial acusatória. Sendo assim, não pode cautelares e provisoriamente aplicadas. Eis o teor dos três incisos,
a autoridade julgadora decidir com base em argumentos que não do parágrafo único, do art. 386, da Lei Processual Penal.
constem da denúncia, embora isso não obste, obviamente, que o
juiz decida de maneira contrária ao que é requerido na exordial Sentença condenatória. Consoante o art. 387, CPP, o juiz, ao
acusatória. proferir sentença condenatória:
Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até três teste- A) Mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes de-
munhas, no prazo de cinco dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito finidas no Código Penal, e cuja existência reconhecer (inciso I);
aos termos do aditamento (art. 384, §4º, CPP). B) Mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais
Ademais, ouvido o defensor do acusado neste prazo de cinco que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo com
dias e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer o disposto nos arts. 59 e 60, do Código Penal (inciso II);
das partes, designará dia e hora para continuação da audiência de C) Aplicará as penas de acordo com essas conclusões (inciso
instrução, debates, e julgamento (já que, conforme se verá quan- III);
do do estudo dos procedimentos, esta audiência é, em regra, una), D) Fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados
com inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, pela infração, considerando-se os prejuízos sofridos pelo ofendido
realização de debates, e o julgamento propriamente dito (art. 384, (inciso IV);
§2º, CPP). E) Decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção, ou,
Por sua vez, se o órgão ministerial se recusar ao aditamento (o se for o caso, imposição de prisão preventiva ou de outra medida
que, segundo parcela da doutrina, não deve ser possível, apesar da cautelar, sem prejuízo do conhecimento da apelação que vier a ser
previsão legal), utilizável o art. 28, CPP. interposta (§1º);
Ainda, convém obtemperar que se aplica à “mutatio” o contido F) Computará, para fins de determinação do regime inicial de
nos dois parágrafos do art. 383, CPP: possibilidade de proposta de pena privativa de liberdade, o tempo de prisão provisória, de pri-
suspensão condicional do processo, ante os novos fatos; e remessa são administrativa, e de internação do condenado, no Brasil ou no
dos autos ao juiz competente, caso importe a “mutatio” mudança estrangeiro (detração) (§2º). Trata-se de novidade trazida pela Lei
de competência. nº 12.736/2012.
Por fim, vale lembrar que a Súmula nº 453, do Supremo Tribu-
nal Federal, a fim de evitar supressão de instância, preceitua que Efeitos da sentença condenatória. Como efeitos da sentença
não se aplicam a segunda instância o art. 384, CPP. penal condenatória tem-se a obrigação de reparar o dano, bem
como a perda de instrumentos ou do produto do crime (art. 91,
Sentença absolutória. De acordo com o art. 386, do Código de II, CP) e outros efeitos específicos previstos no art. 92, do Diploma
Processo Penal, o juiz absolverá o réu, desde que reconheça: Penal (inabilitação para dirigir veículo quando utilizado como meio
A) Estar provada a inexistência do fato (inciso I). Isto impossibi- para a prática de crime doloso, incapacidade para o exercício de
lita o manejo da ação civil ex delicto, já trabalhada outrora, já que pátrio poder, tutela e curatela etc.).
o fato imputado sequer existiu; Obtempera-se, neste contexto, que a prisão do condenado não
B) Não haver prova da inexistência do fato (inciso II). Isto não é um efeito automático da condenação. Deverá o juiz, fundamen-
impossibilita o manejo da ação civil ex delicto, já que o fato pode tadamente, se pronunciar acerca da imposição ou da manutenção
perfeitamente ter existido; da medida.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Publicação da sentença. Uma sentença, para que produza efei- IV - a indicação dos artigos de lei aplicados;
tos perante as partes e perante terceiros, deve ser publicada. Neste V - o dispositivo;
diapasão, de acordo com o art. 389, da Lei Processual, a sentença VI - a data e a assinatura do juiz.
será publicada em mão do escrivão, que lavrará nos autos o res- Art. 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias,
pectivo termo, registrando-a em livro especialmente destinado a pedir ao juiz que declare a sentença, sempre que nela houver obs-
este fim. curidade, ambiguidade, contradição ou omissão.
Com a publicação, a sentença torna-se irretratável (em regra), Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na
ressalvados erros materiais que, a despeito de previsão processual denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa,
expressa neste sentido, devem poder ser corrigidos até mesmo ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.
pelo juiz, de ofício. § 1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver
possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o
Intimação da sentença. Segundo o art. 392, do CPP, a intima- juiz procederá de acordo com o disposto na lei.
ção da sentença será feita: § 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a
A) Ao réu, pessoalmente, se estiver preso (inciso I); este serão encaminhados os autos.
B) Ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível
quando se livrar solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver presta- nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existen-
do fiança (inciso II); te nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não
C) Ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia
não, a infração, expedido o mandado de prisão, não tiver sido en- ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver
contrado, e assim o certificar o oficial de justiça (inciso III); sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se
D) Mediante edital, nos casos do inciso II, se o réu e o defensor a termo o aditamento, quando feito oralmente.
que houver constituído não forem encontrados, e assim certificar o § 1º Não procedendo o órgão do Ministério Público ao adita-
oficial de justiça (inciso IV); mento, aplica-se o art. 28 deste Código.
E) Mediante edital, nos casos do inciso III, se o defensor que § 2º Ouvido o defensor do acusado no prazo de 5 (cinco) dias
o réu houver constituído também não for encontrado, e assim o e admitido o aditamento, o juiz, a requerimento de qualquer das
certificar o oficial de justiça (inciso V); partes, designará dia e hora para continuação da audiência, com
F) Mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, reali-
não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça (inciso zação de debates e julgamento.
VI). § 3º Aplicam-se as disposições dos §§ 1o e 2o do art. 383 ao
O prazo do edital será de noventa dias, se tiver sido imposta caput deste artigo.
penal privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, § 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3
e de sessenta dias, nos outros casos (art. 392, §1º, CPP). (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na
O prazo para apelação correrá após o término do fixado no edi- sentença, adstrito aos termos do aditamento.
tal, salvo se, no curso deste, for feita a intimação por qualquer das § 5º Não recebido o aditamento, o processo prosseguirá.
outras formas estabelecidas no art. 392, CPP (art. 392, §2º, CPP). Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sen-
tença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado
Coisa julgada material (e sua diferença para a coisa julgada pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhu-
formal, para a preclusão, e para a questão prejudicial). A coisa jul- ma tenha sido alegada.
gada material é o nome que se dá ao fenômeno segundo o qual Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte
da decisão proferida nenhum ato mais pode ser praticado a não dispositiva, desde que reconheça:
ser uma ação autônoma de impugnação que almeje desconstituí-la. I - estar provada a inexistência do fato;
Trata-se de medida que visa assegurar a segurança jurídica de que II - não haver prova da existência do fato;
todo processo tenha um começo, um meio, e, sobretudo, um fim. III - não constituir o fato infração penal;
Se os efeitos da decisão irradiam para dentro e fora do proces- IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração
penal;
so, haverá a coisa julgada material, o que impede a repropositura
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração
da ação; se os efeitos da decisão irradiarem apenas para dentro do
penal;
processo, se está falando de coisa julgada formal, o que não impe-
VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem
de a repropositura da ação; caso haja a perda de alguma faculdade
o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do
processual, se estará falando de preclusão; se houver questão a ser
Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua exis-
decidida antes da decisão penal final, se está falando de questão
tência;
prejudicial.
VII – não existir prova suficiente para a condenação.
Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz:
Vamos acompanhar a seguir os dispositivos contidos no Código I - mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade;
de Processo Penal referente ao presente assunto: II – ordenará a cessação das medidas cautelares e provisoria-
mente aplicadas;
TÍTULO XII III - aplicará medida de segurança, se cabível.
DA SENTENÇA Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: (Vide Lei nº
11.719, de 2008)
Art. 381. A sentença conterá: I - mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes de-
I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações finidas no Código Penal, e cuja existência reconhecer;
necessárias para identificá-las; II - mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o
II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; mais que deva ser levado em conta na aplicação da pena, de acordo
III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fun- com o disposto nos arts. 59 e 60 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dar a decisão; dezembro de 1940 - Código Penal;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
III - aplicará as penas de acordo com essas conclusões; C) Será sumaríssimo, para as infrações penais de menor poten-
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados cial ofensivo (art. 394, §1º, III, CPP).
pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; Com efeito, o procedimento comum terá incidência geral, sal-
V - atenderá, quanto à aplicação provisória de interdições de vo disposição em contrário prevista no CPP ou em legislação espe-
direitos e medidas de segurança, ao disposto no Título Xl deste Li- cial (art. 394, §2º, CPP). Ademais, as disposições do procedimento
vro; comum ordinário se aplicarão subsidiariamente aos procedimentos
VI - determinará se a sentença deverá ser publicada na íntegra especial, sumário, e sumaríssimo, em caso de lacuna normativa.
ou em resumo e designará o jornal em que será feita a publicação Por fim, lembra-se de quatro questões fundamentais: que a
(art. 73, § 1o, do Código Penal). influência das qualificadoras interfere no procedimento, por altera-
§ 1º O juiz decidirá, fundamentadamente, sobre a manutenção rem os limites mínimo e máximo de pena; que a influência das cau-
ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou de outra me- sas de aumento e diminuição de pena interfere no procedimento,
dida cautelar, sem prejuízo do conhecimento de apelação que vier por modificarem os limites mínimo e máximo de pena; que a exis-
a ser interposta. tência de agravantes e atenuantes não interfere no procedimen-
§ 2º O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou to, por não alterarem os limites das penas (neste sentido, há se
de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para observar a Súmula nº 231, do Superior Tribunal de Justiça); e que,
fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liber- caso ocorra conexão entre infrações de procedimentos distintos,
dade. prevalece na doutrina que deve ser aplicado aquele procedimento
Art. 388. A sentença poderá ser datilografada e neste caso o previsto para a infração mais grave, se não houver a incidência do
juiz a rubricará em todas as folhas. rito do júri.
Art. 389. A sentença será publicada em mão do escrivão, que
lavrará nos autos o respectivo termo, registrando-a em livro espe- Procedimento comum ordinário
cialmente destinado a esse fim.
Art. 390. O escrivão, dentro de três dias após a publicação, e Vejamos suas etapas:
sob pena de suspensão de cinco dias, dará conhecimento da senten-
ça ao órgão do Ministério Público. Oferecimento da inicial acusatória (denúncia ou queixa).
Art. 391. O querelante ou o assistente será intimado da senten- Neste diapasão, consoante o art. 396, da Lei Processual, se o
ça, pessoalmente ou na pessoa de seu advogado. Se nenhum deles juiz não rejeitá-la liminarmente, receberá a inicial e ordenará a cita-
for encontrado no lugar da sede do juízo, a intimação será feita me- ção do acusado para responder à acusação por escrito, no prazo de
diante edital com o prazo de 10 dias, afixado no lugar de costume. dez dias (no caso de citação por edital, dispõe o parágrafo único do
Art. 392. A intimação da sentença será feita: aludido dispositivo, o prazo para a defesa começará a fluir a partir
I - ao réu, pessoalmente, se estiver preso; do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituí-
II - ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, do);
quando se livrar solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver pres-
tado fiança; Hipóteses de rejeição da inicial acusatória.
III - ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou Conforme o art. 395, do Código de Processo, a denúncia ou a
não, a infração, expedido o mandado de prisão, não tiver sido en- queixa será rejeitada quando for manifestamente inepta (inciso I);
contrado, e assim o certificar o oficial de justiça; quando faltar pressuposto processual ou condição para o exercício
IV - mediante edital, nos casos do no II, se o réu e o defensor da ação penal (inciso II); ou quando faltar justa causa para o exercí-
que houver constituído não forem encontrados, e assim o certificar cio da ação penal (inciso III);
o oficial de justiça;
V - mediante edital, nos casos do no III, se o defensor que o réu Resposta à acusação.
houver constituído também não for encontrado, e assim o certificar Na resposta à acusação, defesa máxima neste procedimento
o oficial de justiça; e grande objetivo a ser implementado quando da reforma proces-
VI - mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor,
sual de 2008, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo
não for encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça.
o que interesse à sua defesa, bem como oferecer documentos e
§ 1o O prazo do edital será de 90 dias, se tiver sido imposta
justificações, especificar provas pretendidas e arrolar testemunhas,
pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano,
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário
e de 60 dias, nos outros casos.
(art. 396-A, caput, CPP).Não apresentada a resposta no prazo legal,
§ 2o O prazo para apelação correrá após o término do fixado no
ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará
edital, salvo se, no curso deste, for feita a intimação por qualquer
defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por dez
das outras formas estabelecidas neste artigo.
dias (art. 396-A, §2º, CPP).
Tem a resposta à acusação conteúdo amplíssimo. Tudo nela
pode ser alegado, em prol da absolvição sumária do agente. Apenas
DO PROCESSO COMUM não se pode esquecer que, se houver a oposição de exceções, isto
deve se dar em apartado (art. 396-A, §1º, CPP).Ademais, trata-se de
Procedimento comum peça obrigatória. Caso não seja apresentada no prazo legal, o juiz
O procedimento comum será ordinário, sumário, ou sumarís- nomeará defensor para oferecê-la, no prazo de dez dias. A não-no-
simo: meação de defensor, pelo juiz, para oferecê-la, é causa de nulidade
A) Será ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção absoluta.
máxima cominada for igual ou superior a quatro anos de pena pri-
vativa de liberdade (art. 394, §1º, I, CPP); Confirmação do recebimento da denúncia.
B) Será sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção Após receber a resposta à acusação, diz o art. 397, do Código
máxima cominada seja inferior a quatro anos de pena privativa de de Processo, que o juiz deverá absolver sumariamente o acusado
liberdade (art. 394, §1º, II, CPP); quando verificar a existência manifesta de causa excludente da ili-

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
citude do fato (inciso I); quando verificar a existência manifesta de determinada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de cinco
causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilida- dias, suas alegações finais, por memorial, e no prazo de dez dias o
de (inciso II); quando verificar que o fato narrado evidentemente juiz proferirá sentença (art. 404, parágrafo único, CPP);
não constitui crime (inciso III); ou quando extinta a punibilidade do
agente (inciso IV) (valendo lembrar que a existência de causa ex- Alegações finais orais.
tintiva da punibilidade pode ser reconhecida a qualquer momento, Não havendo requerimento de diligências, ou sendo estas in-
inclusive de ofício). deferidas, serão oferecidas alegações finais orais por vinte minu-
tos, prorrogáveis por mais dez minutos, para cada parte (art. 403,
Audiência de instrução, debates e julgamento. caput, CPP).
Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa
para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu de- de cada um será individual (art. 403, §1º, CPP). Ao assistente do
fensor, do Ministério Público, e, se for o caso, do querelante e do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos
assistente (art. 399, caput, CPP). O acusado preso será requisitado dez minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de mani-
para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público pro- festação da defesa (art. 403, §2º, CPP);
videnciar sua apresentação (art. 399, §1º, CPP).O juiz que presidiu
a instrução deverá proferir sentença (eis, aqui, a consagração do ISubstituição das alegações finais orais por memoriais.
“Princípio da Identidade Física do Juiz”, tal como já há no processo O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o nú-
civil) (art. 399, §2º, CPP). mero de acusados, conceder às partes o prazo de cinco dias suces-
Na audiência de instrução e julgamento (valendo lembrar que sivamente para a apresentação de memoriais, caso em que terá o
esta audiência será una), a ser realizada no prazo máximo de ses- prazo de dez dias para proferir sentença (art. 403, §3º, CPP);
senta dias (no procedimento comum sumário esse prazo é de trinta
dias), se procederá à tomada de declarações do ofendido, à inquiri- Sentença. Vale o que já foi estudado para o tema.
ção das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa (nesta
ordem, valendo lembrar que a inobservância desta ordem é causa Procedimento comum sumário
de nulidade, salvo a incidência da hipótese prevista no art. 222, Vejamos suas etapas:
CPP), bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e - Oferecimento da inicial acusatória - Vale o que já foi dito
ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em segui- para o procedimento comum ordinário;
da, o acusado (agora, veja-se, o interrogatório do acusado passou - Hipóteses de rejeição da inicial acusatória - Vale o que já foi
a ser o último ato, e não mais o primeiro, como o era antes da Lei dito para o procedimento comum ordinário;
nº 11.719/08, o que somente confirma a tendência de considerar o - Resposta à acusação. - Vale o que já foi dito para o procedi-
interrogatório do acusado, em verdade, um “meio de defesa”) (art. mento comum ordinário;
400, caput, CPP). - Confirmação do recebimento da denúncia. - Vale o que já foi
As provas serão produzidas numa só audiência (o que confirma dito para o procedimento comum ordinário;
a ideia de audiência una), podendo o juiz indeferir as consideradas - Audiência de instrução, debates e julgamento - Vale o que já
irrelevantes, impertinentes ou protelatórias (aqui, consagra-se o foi dito para o procedimento comum ordinário, com a diferença de
juiz como verdadeiro “gestor da prova”) (art. 400, §1º, CPP). Os es- que, de acordo com o art. 531, do Código de Processo Penal, esta
clarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das audiência deverá ser realizada no prazo máximo de trinta dias;
partes (art. 400, §2º, CPP).Do ocorrido em audiência será lavrado - Número de testemunhas na audiência de instrução, debates
em livro próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve e julgamento - Vale o que já foi dito para o procedimento comum
resumo dos fatos relevantes nela ocorridos (art. 405, caput, CPP). ordinário, com a diferença de que esse número cai para cinco tes-
temunhas por fato, para cada parte (art. 532, CPP);
- Alegações finais orais - Vale o que foi dito para o procedi-
Número de testemunhas na audiência de instrução, debates
mento comum ordinário (art. 534, CPP);
e julgamento.
- Substituição das alegações finais orais por memoriais escritos
Na instrução, poderão ser inquiridas até oito testemunhas, por
- Apesar da omissão legislativa neste sentido, entende-se que isso é
cada parte (no procedimento comum sumário esse número cai para
perfeitamente possível, embora excepcional, utilizando o procedimen-
cinco, e no sumaríssimo, para três) (art. 401, caput, CPP).
to comum ordinário como conjunto subsidiário de normas;
Esse número de testemunhas é “por fato”, e não por agente,
- Adiamento de atos - Esta é uma particularidade do procedi-
frisa-se. Assim, se um agente tiver praticado dois fatos (duas con- mento comum sumário. De acordo com o art. 535, do Código de
dutas delitivas) absolutamente distintos, cada parte poderá arguir Processo Penal, nenhum ato será adiado, salvo quando imprescin-
até dezesseis testemunhas (oito mais oito). Por sua vez, se dois dível a prova faltante, determinando o juiz a condução coercitiva de
agentes praticarem um mesmo fato, o número de testemunhas quem deva comparecer (art. 535, CPP);
será comum de oito para estes dois agentes. - Inquirição da testemunha que comparecer. - Esta é outra
Ademais, nesse número não se compreendem as que não pres- particularidade do procedimento comum sumário. De acordo com
tem compromisso e as referidas (art. 401, §1º, CPP); o art. 536, da Lei Processual, a testemunha que comparecer será
inquirida, independentemente da suspensão da audiência, obser-
Requerimento de diligências. vando-se, obviamente, a ordem de inquirição de testemunhas (pri-
Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Pú- meiro as da acusação, depois as da defesa) prevista no art. 531, do
blico, o querelante e o assistente, e, a seguir, o acusado poderão Código de Processo.
requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias
ou fatos apurados na infração (desde que não sejam meramente Procedimento comum sumaríssimo
protelatórias) (art. 402, CPP). Trata-se do procedimento adotado para o julgamento de infra-
Ordenada diligência considerada imprescindível, de ofício ou ções de menor potencial ofensivo, quais sejam, as contravenções
a requerimento da parte, a audiência será concluída sem as ale- penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a
gações finais (404, caput, CPP). Realizada, em seguida, a diligência 2 anos, cumulada ou não com multa.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Para o julgamento deste tipo de infrações, a Constituição Fede- Já o artigo 63 da Lei nº. 9.099/95 estabelece que a competên-
ral instituiu em seu artigo 98, inciso I, a possibilidade de criação de cia dos Juizados Especiais Criminais será sempre determinada pelo
Juizados Especiais, mediante a preponderância dos procedimentos lugar em que foi praticada a infração penal.
oral e sumaríssimo. Como ressalva, no parágrafo primeiro do mes- O procedimento penal nos Juizados Especiais Criminais seguirá
mo dispositivo, a Constituição prevê que lei federal disporá sobre as seguintes etapas: a) Termo circunstanciado; b) Audiência preli-
a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal, senão minar; c) Composição dos danos civis; d) Transação penal; e) De-
vejamos: núncia oral; f) Suspensão condicional do processo; g) Audiência de
CF - Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os instrução, debates e julgamento. h) Sentença.
Estados criarão: Dispositivos do Código de Processo Penal do assunto:
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados
e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execu- LIVRO II
ção de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de DOS PROCESSOS EM ESPÉCIE
menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e suma-
riíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o TÍTULO I
julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; DO PROCESSO COMUM
(...)
§ 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no CAPÍTULO I
âmbito da Justiça Federal. DA INSTRUÇÃO CRIMINAL

Assim, em âmbito estadual, o inciso I do artigo 98, da CF/88 Art. 394. O procedimento será comum ou especial.
foi regulamentado pela Lei nº. 9.099/95, já em âmbito federal, o § 1o O procedimento comum será ordinário, sumário ou suma-
parágrafo primeiro do respectivo artigo foi regulamentado pela Lei ríssimo:
nº. 10.259/2001. I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima
Os Juizados Especiais Federais Criminais têm competência para cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa
processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal rela- de liberdade;
tivos às infrações de menor potencial ofensivo, assim considerados II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxi-
os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ma cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de
ou multa. É o que dispõe o artigo 2º, da Lei nº 10.529/2001, que liberdade;
disciplina a aplicação dos Juizados Especiais Criminais no âmbito da III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial
Justiça Federal. ofensivo, na forma da lei.
Importante ainda destacar que na reunião de processos, pe- § 2o Aplica-se a todos os processos o procedimento comum, sal-
rante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrente da aplicação vo disposições em contrário deste Código ou de lei especial.
das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos § 3o Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o pro-
da transação penal e da composição dos danos civis. cedimento observará as disposições estabelecidas nos arts. 406 a
Já no âmbito estadual a competência, bem como os procedi- 497 deste Código.
mentos são determinados pela Lei nº 9.099/95. Assim, aos Juizados § 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se
Especiais Estaduais Criminais compete para processar e julgar os a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não
feitos da Justiça Estadual relativos às infrações de menor potencial regulados neste Código.
ofensivo. De acordo o art. 61 da Lei nº 9.099/95: “consideram-se § 5o Aplicam-se subsidiariamente aos procedimentos especial,
infrações penais de menor potencial ofensivo as contravenções pe- sumário e sumaríssimo as disposições do procedimento ordinário.
nais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois Art. 394-A. Os processos que apurem a prática de crime hedion-
anos, cumulada ou não com multa”. do terão prioridade de tramitação em todas as instâncias. (Incluído
Como exceção, o Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741/03) prevê pela Lei nº 13.285, de 2016).
que todos os seus crimes cuja pena máxima não seja superior a 04 Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
(quatro) anos, devem se submeter ao procedimento estatuído na I - for manifestamente inepta;
Lei dos Juizados Especiais Criminais, visando com isso garantir uma II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício
maior celeridade à apuração, processo e julgamento das infrações da ação penal; ou
praticadas contra em respeito à sua dignidade. III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
Importante salientar, que o procedimento comum sumaríssi- Parágrafo único. (Revogado).
mo nos Juizados Especiais Criminais será sempre orientado pelos Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a
critérios da celeridade, oralidade, informalidade e economia pro- denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-
cessual, tendo ainda como objetivos primordiais, a conciliação, a -la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação,
transação, a reparação dos danos sofridos pela vítima e aplicação por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.
de pena não privativa de liberdade. Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para
Como ressalva, o art. 90-A, da Lei nº 9.099/95 prevê que as a defesa começará a fluir a partir do comparecimento pessoal do
disposições desta lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar. acusado ou do defensor constituído.
Nos termos do art. 66 da Lei 9.099/1995 as citações nos Jui- Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares
zados Especiais Federais serão realizadas de forma pessoal, não se e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e
admitindo a citação editalícia. justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemu-
Caso o acusado não seja encontrado para ser citado, as peças nhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando neces-
serão encaminhadas ao juízo comum, observando-se o procedi- sário.
mento sumário, nos termos do artigo 538 do CPP. § 1o A exceção será processada em apartado, nos termos dos
arts. 95 a 112 deste Código.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acu- Art. 405. Do ocorrido em audiência será lavrado termo em livro
sado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para próprio, assinado pelo juiz e pelas partes, contendo breve resumo
oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. dos fatos relevantes nela ocorridos.
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e pa- § 1oSempre que possível, o registro dos depoimentos do inves-
rágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acu- tigado, indiciado, ofendido e testemunhas será feito pelos meios ou
sado quando verificar: recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica si-
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do milar, inclusive audiovisual, destinada a obter maior fidelidade das
fato; informações.
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade § 2o No caso de registro por meio audiovisual, será encaminha-
do agente, salvo inimputabilidade; do às partes cópia do registro original, sem necessidade de trans-
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou crição.
IV - extinta a punibilidade do agente.
Art. 398.(Revogado).
Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e
hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu DA INSTRUÇÃO CRIMINAL
defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do
assistente. A instrução criminal é uma das fases do procedimento penal na
§ 1o O acusado preso será requisitado para comparecer ao in- qual se produzem as provas tendentes ao julgamento final do pro-
terrogatório, devendo o poder público providenciar sua apresenta- cesso. De regra, inicia-se com a inquirição das testemunhas arrola-
ção. das pela acusação e pela defesa, estendendo-se até a fase anterior
§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. às alegações finais.
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser reali- Nesse sentido, Mirabete define a instrução criminal como sen-
zada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à to- do “o conjunto de atos ou a fase processual que se destina a re-
mada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas colher os elementos probatórios a fim de aparelhar o juiz para o
arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o julgamento”.1
disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos A atividade instrutória, portanto, tem como fito convencer o
dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, julgador da existência ou não dos fatos imputados pelo acusador,
interrogando-se, em seguida, o acusado. pois “a aplicação das conseqüências jurídicas previstas na norma
§ 1o As provas serão produzidas numa só audiência, podendo (estatuição) está dependente da prévia demonstração da ocorrên-
o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou pro- cia dos factos descritos hipoteticamente na previsão da norma. É a
telatórias. esta demonstração que se dirige a actividade probatória”.2
§ 2o Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio re- Há, porém, um sentido lato que se pode dar à expressão ins-
querimento das partes. trução criminal, para englobar não somente os atos instrutórios
Art. 401. Na instrução poderão ser inquiridas até 8 (oito) teste- propriamente ditos (atividade probatória típica) como também as
munhas arroladas pela acusação e 8 (oito) pela defesa. alegações das partes. Tourinho Filho, por exemplo, divide a fase ins-
§ 1o Nesse número não se compreendem as que não prestem trutória em fase probatória e fase das alegações finais.3 Podemos
compromisso e as referidas. dizer, portanto, que há um conceito de instrução criminal em senti-
§ 2o A parte poderá desistir da inquirição de qualquer das teste- do estrito e um outro mais amplo (em sentido lato).
munhas arroladas, ressalvado o disposto no art. 209 deste Código. É Frederico Marques quem explica: “Há, portanto, um conceito
Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministé- genérico de instrução, que abrange a prática de atos probatórios
rio Público, o querelante e o assistente e, a seguir, o acusado pode- e as alegações das partes”; já “a instrução propriamente dita, ou
rão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstân- instrução em sentido estrito, é a instrução probatória, a instrução
cias ou fatos apurados na instrução. sobre fatos da premissa menor em que logicamente se estrutura a
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo sentença.
indeferido, serão oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) mi- “Ao lado do conceito lato de instrução, existe, pois, um concei-
nutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis to estrito, que é o de instrução probatória. Esta se define como o
por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. conjunto de atos processuais que têm por objeto recolher as provas
§ 1o Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a com que deve ser decidido o litígio.”4
defesa de cada um será individual. Tendo em vista o caráter deste trabalho, eminentemente con-
§ 2o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação ceitual, entendemos melhor abordar a instrução criminal apenas
desse, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual em seu sentido estrito, de etapa probatória, considerando-se o seu
período o tempo de manifestação da defesa. começo, tal como já dito, com a inquirição das testemunhas arrola-
§ 3o O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o das pela acusação, findando-se imediatamente antes das alegações
número de acusados, conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias finais quando, de regra, as partes requerem as últimas diligências
sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, (art. 499, excepcionando-se o procedimento do Júri, onde não há
terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença. essa fase de requerimento de diligências).
Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de
ofício ou a requerimento da parte, a audiência será concluída sem Fonte: https://www.monografias.com/pt/trabalhos/instrucao-crimi-
as alegações finais. nal-procedimento-julgamento-processo/instrucao-criminal-procedi-
Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determi- mento-julgamento-processo.shtml
nada, as partes apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias,
suas alegações finais, por memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o
juiz proferirá a sentença.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhe-
DO PROCEDIMENTO RELATIVO AOS PROCESSOS DA cimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusa-
COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. DA ACUSAÇÃO do e procedendo-se o debate.
E DA INSTRUÇÃO PRELIMINAR.DA PRONÚNCIA, DA § 1o Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio re-
IMPRONÚNCIA E DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA.DA querimento e de deferimento pelo juiz.
PREPARAÇÃO DO PROCESSO PARA JULGAMENTO EM § 2o As provas serão produzidas em uma só audiência, poden-
PLENÁRIO. DO ALISTAMENTO DOS JURADOS. DO DESA- do o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou
FORAMENTO. DA ORGANIZAÇÃO DA PAUTA.DO SORT- protelatórias.
EIO E DA CONVOCAÇÃO DOS JURADOS. DA FUNÇÃO DO § 3o Encerrada a instrução probatória, observar-se-á, se for o
JURADO. DA COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI E DA caso, o disposto no art. 384 deste Código.
FORMAÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA. DA REUNIÃO § 4o As alegações serão orais, concedendo-se a palavra, res-
E DAS SESSÕES DO TRIBUNAL DO JÚRI. DA INSTRUÇÃO pectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minu-
EM PLENÁRIO.DOS DEBATES. DO QUESTIONÁRIO E SUA tos, prorrogáveis por mais 10 (dez).
VOTAÇÃO. DA SENTENÇA. DA ATA DOS TRABALHOS. DAS § 5o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo previsto para a
ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DO JÚRI acusação e a defesa de cada um deles será individual.
§ 6o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação
LEI Nº 11.689, DE 9 DE JUNHO DE 2008 deste, serão concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual
período o tempo de manifestação da defesa.
Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de § 7o Nenhum ato será adiado, salvo quando imprescindível à prova fal-
1941 – Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá tante, determinando o juiz a condução coercitiva de quem deva comparecer.
outras providências. § 8o A testemunha que comparecer será inquirida, indepen-
dentemente da suspensão da audiência, observada em qualquer
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Na- caso a ordem estabelecida no caput deste artigo.
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: § 9o Encerrados os debates, o juiz proferirá a sua decisão, ou o
fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam
Art. 1 O Capítulo II do Título I do Livro II do Decreto-Lei no conclusos.’ (NR)
3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, passa ‘Art. 412. O procedimento será concluído no prazo máximo de
a vigorar com a seguinte redação: 90 (noventa) dias.’ (NR)

“CAPÍTULO II SEÇÃO II
DO PROCEDIMENTO RELATIVO AOS PROCESSOS DA COM- DA PRONÚNCIA, DA IMPRONÚNCIA E DA ABSOLVIÇÃO
PETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI SUMÁRIA

SEÇÃO I ‘Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado,


DA ACUSAÇÃO E DA INSTRUÇÃO PRELIMINAR se convencido da materialidade do fato e da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação.
§ 1o A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação
‘Art. 406. O juiz, ao receber a denúncia ou a queixa, ordenará
da materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de
a citação do acusado para responder a acusação, por escrito, no
autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo le-
prazo de 10 (dez) dias.
gal em que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias
§ 1o O prazo previsto no caput deste artigo será contado a par-
qualificadoras e as causas de aumento de pena.
tir do efetivo cumprimento do mandado ou do comparecimento,
§ 2o Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança
em juízo, do acusado ou de defensor constituído, no caso de citação
para a concessão ou manutenção da liberdade provisória.
inválida ou por edital.
§ 3o O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção,
§ 2o A acusação deverá arrolar testemunhas, até o máximo de revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberda-
8 (oito), na denúncia ou na queixa. de anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre
§ 3o Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e ale- a necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer
gar tudo que interesse a sua defesa, oferecer documentos e justi- das medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.’ (NR)
ficações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, ‘Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da
até o máximo de 8 (oito), qualificando-as e requerendo sua intima- existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o
ção, quando necessário.’ (NR) juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado.
‘Art. 407. As exceções serão processadas em apartado, nos ter- Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibi-
mos dos arts. 95 a 112 deste Código.’ (NR) lidade, poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver
‘Art. 408. Não apresentada a resposta no prazo legal, o juiz prova nova.’ (NR)
nomeará defensor para oferecê-la em até 10 (dez) dias, conceden- ‘Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o
do-lhe vista dos autos.’ (NR) acusado, quando:
‘Art. 409. Apresentada a defesa, o juiz ouvirá o Ministério Pú- I – provada a inexistência do fato;
blico ou o querelante sobre preliminares e documentos, em 5 (cin- II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
co) dias.’ (NR) III – o fato não constituir infração penal;
‘Art. 410. O juiz determinará a inquirição das testemunhas e a IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do
realização das diligências requeridas pelas partes, no prazo máximo crime.
de 10 (dez) dias.’ (NR) Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput
‘Art. 411. Na audiência de instrução, proceder-se-á à tomada deste artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art.
de declarações do ofendido, se possível, à inquirição das teste- 26 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código
munhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, bem Penal, salvo quando esta for a única tese defensiva.’ (NR)

24
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
‘Art. 416. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição tes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de
sumária caberá apelação.’ (NR) 100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos)
‘Art. 417. Se houver indícios de autoria ou de participação de nas comarcas de menor população.
outras pessoas não incluídas na acusação, o juiz, ao pronunciar ou § 1o Nas comarcas onde for necessário, poderá ser aumentado
impronunciar o acusado, determinará o retorno dos autos ao Minis- o número de jurados e, ainda, organizada lista de suplentes, depo-
tério Público, por 15 (quinze) dias, aplicável, no que couber, o art. sitadas as cédulas em urna especial, com as cautelas mencionadas
80 deste Código.’ (NR) na parte final do § 3o do art. 426 deste Código.
‘Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa § 2o O juiz presidente requisitará às autoridades locais, asso-
da constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena ciações de classe e de bairro, entidades associativas e culturais, ins-
mais grave.’ (NR) tituições de ensino em geral, universidades, sindicatos, repartições
‘Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com públicas e outros núcleos comunitários a indicação de pessoas que
a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no § 1o reúnam as condições para exercer a função de jurado.’ (NR)
do art. 74 deste Código e não for competente para o julgamento, ‘Art. 426. A lista geral dos jurados, com indicação das respecti-
remeterá os autos ao juiz que o seja. vas profissões, será publicada pela imprensa até o dia 10 de outu-
Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, bro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal
à disposição deste ficará o acusado preso.’ (NR) do Júri.
‘Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita: § 1o A lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclama-
I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Mi- ção de qualquer do povo ao juiz presidente até o dia 10 de novem-
nistério Público; bro, data de sua publicação definitiva.
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do § 2o Juntamente com a lista, serão transcritos os arts. 436 a
Ministério Público, na forma do disposto no § 1o do art. 370 deste 446 deste Código.
Código. § 3o Os nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais,
Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que após serem verificados na presença do Ministério Público, de advo-
não for encontrado.’ (NR) gado indicado pela Seção local da Ordem dos Advogados do Brasil e
‘Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão en- de defensor indicado pelas Defensorias Públicas competentes, per-
caminhados ao juiz presidente do Tribunal do Júri. manecerão guardados em urna fechada a chave, sob a responsabi-
§ 1o Ainda que preclusa a decisão de pronúncia, havendo cir- lidade do juiz presidente.
cunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz § 4o O jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos
ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público. 12 (doze) meses que antecederem à publicação da lista geral fica
§ 2o Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para deci- dela excluído.
são.’ (NR) § 5o Anualmente, a lista geral de jurados será, obrigatoriamen-
te, completada.’ (NR)
SEÇÃO III
DA PREPARAÇÃO DO PROCESSO PARA JULGAMENTO EM SEÇÃO V
PLENÁRIO DO DESAFORAMENTO
‘Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do ‘Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou hou-
Júri determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do ver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do
querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assis-
(cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em tente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do
plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamen-
juntar documentos e requerer diligência.’ (NR) to para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles
‘Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a se- motivos, preferindo-se as mais próximas.
rem produzidas ou exibidas no plenário do júri, e adotadas as provi- § 1o O pedido de desaforamento será distribuído imediata-
dências devidas, o juiz presidente: mente e terá preferência de julgamento na Câmara ou Turma com-
I – ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nuli- petente.
dade ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa; § 2o Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá
II – fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclu- determinar, fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo
são em pauta da reunião do Tribunal do Júri.’ (NR) júri.
‘Art. 424. Quando a lei local de organização judiciária não atri- § 3o Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver
buir ao presidente do Tribunal do Júri o preparo para julgamento, sido por ele solicitada.
o juiz competente remeter-lhe-á os autos do processo preparado § 4o Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia
até 5 (cinco) dias antes do sorteio a que se refere o art. 433 deste ou quando efetivado o julgamento, não se admitirá o pedido de de-
Código. saforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a fato ocorrido
Parágrafo único. Deverão ser remetidos, também, os proces- durante ou após a realização de julgamento anulado.’ (NR)
sos preparados até o encerramento da reunião, para a realização ‘Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado,
de julgamento.’ (NR) em razão do comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz presi-
dente e a parte contrária, se o julgamento não puder ser realizado
SEÇÃO IV no prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em julgado da de-
DO ALISTAMENTO DOS JURADOS cisão de pronúncia.
§ 1o Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se
‘Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tri- computará o tempo de adiamentos, diligências ou incidentes de in-
bunal do Júri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) ju- teresse da defesa.
rados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um milhão) de habitan-

25
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o Não havendo excesso de serviço ou existência de pro- § 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri
cessos aguardando julgamento em quantidade que ultrapasse a ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo,
possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reuniões pe- profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução.
riódicas previstas para o exercício, o acusado poderá requerer ao § 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa
Tribunal que determine a imediata realização do julgamento.’ (NR) no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a critério do juiz, de
acordo com a condição econômica do jurado.’ (NR)
SEÇÃO VI ‘Art. 437. Estão isentos do serviço do júri:
DA ORGANIZAÇÃO DA PAUTA I – o Presidente da República e os Ministros de Estado;
II – os Governadores e seus respectivos Secretários;
‘Art. 429. Salvo motivo relevante que autorize alteração na or- III – os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Le-
dem dos julgamentos, terão preferência: gislativas e das Câmaras Distrital e Municipais;
I – os acusados presos; IV – os Prefeitos Municipais;
II – dentre os acusados presos, aqueles que estiverem há mais V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da De-
tempo na prisão; fensoria Pública;
III – em igualdade de condições, os precedentemente pronun- VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e
ciados. da Defensoria Pública;
§ 1o Antes do dia designado para o primeiro julgamento da re- VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança
união periódica, será afixada na porta do edifício do Tribunal do Júri pública;
a lista dos processos a serem julgados, obedecida a ordem prevista VIII – os militares em serviço ativo;
no caput deste artigo. IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram
§ 2o O juiz presidente reservará datas na mesma reunião pe- sua dispensa;
riódica para a inclusão de processo que tiver o julgamento adiado.’ X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedi-
(NR) mento.’ (NR)
‘Art. 430. O assistente somente será admitido se tiver requeri- ‘Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção
do sua habilitação até 5 (cinco) dias antes da data da sessão na qual religiosa, filosófica ou política importará no dever de prestar serviço
pretenda atuar.’ (NR) alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto
‘Art. 431. Estando o processo em ordem, o juiz presidente não prestar o serviço imposto.
mandará intimar as partes, o ofendido, se for possível, as testemu- § 1o Entende-se por serviço alternativo o exercício de ativida-
nhas e os peritos, quando houver requerimento, para a sessão de des de caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo
instrução e julgamento, observando, no que couber, o disposto no produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério
art. 420 deste Código.’ (NR) Público ou em entidade conveniada para esses fins.
§ 2o O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos princí-
SEÇÃO VII pios da proporcionalidade e da razoabilidade.’ (NR)
DO SORTEIO E DA CONVOCAÇÃO DOS JURADOS ‘Art. 439. O exercício efetivo da função de jurado constituirá
serviço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade
‘Art. 432. Em seguida à organização da pauta, o juiz presidente moral e assegurará prisão especial, em caso de crime comum, até o
determinará a intimação do Ministério Público, da Ordem dos Ad- julgamento definitivo.’ (NR)
vogados do Brasil e da Defensoria Pública para acompanharem, em ‘Art. 440. Constitui também direito do jurado, na condição do
dia e hora designados, o sorteio dos jurados que atuarão na reunião art. 439 deste Código, preferência, em igualdade de condições, nas
periódica.’ (NR) licitações públicas e no provimento, mediante concurso, de cargo
‘Art. 433. O sorteio, presidido pelo juiz, far-se-á a portas aber- ou função pública, bem como nos casos de promoção funcional ou
tas, cabendo-lhe retirar as cédulas até completar o número de 25 remoção voluntária.’ (NR)
(vinte e cinco) jurados, para a reunião periódica ou extraordinária. ‘Art. 441. Nenhum desconto será feito nos vencimentos ou sa-
§ 1o O sorteio será realizado entre o 15o (décimo quinto) e o lário do jurado sorteado que comparecer à sessão do júri.’ (NR)
10o (décimo) dia útil antecedente à instalação da reunião. ‘Art. 442. Ao jurado que, sem causa legítima, deixar de compa-
§ 2o A audiência de sorteio não será adiada pelo não compa- recer no dia marcado para a sessão ou retirar-se antes de ser dis-
recimento das partes. pensado pelo presidente será aplicada multa de 1 (um) a 10 (dez)
§ 3o O jurado não sorteado poderá ter o seu nome novamente salários mínimos, a critério do juiz, de acordo com a sua condição
incluído para as reuniões futuras.’ (NR) econômica.’ (NR)
‘Art. 434. Os jurados sorteados serão convocados pelo correio ‘Art. 443. Somente será aceita escusa fundada em motivo re-
ou por qualquer outro meio hábil para comparecer no dia e hora levante devidamente comprovado e apresentada, ressalvadas as
designados para a reunião, sob as penas da lei. hipóteses de força maior, até o momento da chamada dos jurados.’
Parágrafo único. No mesmo expediente de convocação serão (NR)
transcritos os arts. 436 a 446 deste Código.’ (NR) ‘Art. 444. O jurado somente será dispensado por decisão moti-
‘Art. 435. Serão afixados na porta do edifício do Tribunal do vada do juiz presidente, consignada na ata dos trabalhos.’ (NR)
Júri a relação dos jurados convocados, os nomes do acusado e dos ‘Art. 445. O jurado, no exercício da função ou a pretexto de
procuradores das partes, além do dia, hora e local das sessões de exercê-la, será responsável criminalmente nos mesmos termos em
instrução e julgamento.’ (NR)
que o são os juízes togados.’ (NR)
‘Art. 446. Aos suplentes, quando convocados, serão aplicáveis
SEÇÃO VIII
os dispositivos referentes às dispensas, faltas e escusas e à equipa-
DA FUNÇÃO DO JURADO
ração de responsabilidade penal prevista no art. 445 deste Código.’
(NR)
‘Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento com-
preenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória ido-
neidade.

26
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
SEÇÃO IX ‘Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não compareci-
DA COMPOSIÇÃO DO TRIBUNAL DO JÚRI E DA FORMA- mento do acusado solto, do assistente ou do advogado do quere-
ÇÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA lante, que tiver sido regularmente intimado.
§ 1o Os pedidos de adiamento e as justificações de não com-
‘Art. 447. O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, parecimento deverão ser, salvo comprovado motivo de força maior,
seu presidente e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados previamente submetidos à apreciação do juiz presidente do Tribu-
dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de nal do Júri.
Sentença em cada sessão de julgamento.’ (NR) § 2o Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será
‘Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho: adiado para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo
I – marido e mulher; se houver pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele
II – ascendente e descendente; e seu defensor.’ (NR)
III – sogro e genro ou nora; ‘Art. 458. Se a testemunha, sem justa causa, deixar de com-
IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio; parecer, o juiz presidente, sem prejuízo da ação penal pela deso-
V – tio e sobrinho; bediência, aplicar-lhe-á a multa prevista no § 2o do art. 436 deste
VI – padrasto, madrasta ou enteado. Código.’ (NR)
§ 1o O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas ‘Art. 459. Aplicar-se-á às testemunhas a serviço do Tribunal do
que mantenham união estável reconhecida como entidade familiar. Júri o disposto no art. 441 deste Código.’ (NR)
§ 2o Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os impedimen- ‘Art. 460. Antes de constituído o Conselho de Sentença, as tes-
tos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados.’ (NR) temunhas serão recolhidas a lugar onde umas não possam ouvir os
‘Art. 449. Não poderá servir o jurado que: depoimentos das outras.’ (NR)
I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo pro- ‘Art. 461. O julgamento não será adiado se a testemunha dei-
cesso, independentemente da causa determinante do julgamento xar de comparecer, salvo se uma das partes tiver requerido a sua
posterior; intimação por mandado, na oportunidade de que trata o art. 422
II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conse- deste Código, declarando não prescindir do depoimento e indican-
lho de Sentença que julgou o outro acusado; do a sua localização.
III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou ab- § 1o Se, intimada, a testemunha não comparecer, o juiz pre-
solver o acusado.’ (NR) sidente suspenderá os trabalhos e mandará conduzi-la ou adiará
‘Art. 450. Dos impedidos entre si por parentesco ou relação de o julgamento para o primeiro dia desimpedido, ordenando a sua
convivência, servirá o que houver sido sorteado em primeiro lugar.’ condução.
(NR) § 2o O julgamento será realizado mesmo na hipótese de a tes-
‘Art. 451. Os jurados excluídos por impedimento, suspeição ou temunha não ser encontrada no local indicado, se assim for certifi-
incompatibilidade serão considerados para a constituição do núme- cado por oficial de justiça.’ (NR)
ro legal exigível para a realização da sessão.’ (NR) ‘Art. 462. Realizadas as diligências referidas nos arts. 454 a 461
‘Art. 452. O mesmo Conselho de Sentença poderá conhecer deste Código, o juiz presidente verificará se a urna contém as cé-
de mais de um processo, no mesmo dia, se as partes o aceitarem, dulas dos 25 (vinte e cinco) jurados sorteados, mandando que o
hipótese em que seus integrantes deverão prestar novo compro- escrivão proceda à chamada deles.’ (NR)
misso.’ (NR) ‘Art. 463. Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados, o
juiz presidente declarará instalados os trabalhos, anunciando o pro-
SEÇÃO X cesso que será submetido a julgamento.
DA REUNIÃO E DAS SESSÕES DO TRIBUNAL DO JÚRI § 1o O oficial de justiça fará o pregão, certificando a diligência
nos autos.
‘Art. 453. O Tribunal do Júri reunir-se-á para as sessões de ins-
§ 2o Os jurados excluídos por impedimento ou suspeição serão
trução e julgamento nos períodos e na forma estabelecida pela lei
computados para a constituição do número legal.’ (NR)
local de organização judiciária.’ (NR)
‘Art. 464. Não havendo o número referido no art. 463 deste
‘Art. 454. Até o momento de abertura dos trabalhos da sessão,
Código, proceder-se-á ao sorteio de tantos suplentes quantos ne-
o juiz presidente decidirá os casos de isenção e dispensa de jurados
cessários, e designar-se-á nova data para a sessão do júri.’ (NR)
e o pedido de adiamento de julgamento, mandando consignar em
‘Art. 465. Os nomes dos suplentes serão consignados em ata,
ata as deliberações.’ (NR)
remetendo-se o expediente de convocação, com observância do
‘Art. 455. Se o Ministério Público não comparecer, o juiz pre-
sidente adiará o julgamento para o primeiro dia desimpedido da disposto nos arts. 434 e 435 deste Código.’ (NR)
mesma reunião, cientificadas as partes e as testemunhas. ‘Art. 466. Antes do sorteio dos membros do Conselho de Sen-
Parágrafo único. Se a ausência não for justificada, o fato será tença, o juiz presidente esclarecerá sobre os impedimentos, a sus-
imediatamente comunicado ao Procurador-Geral de Justiça com a peição e as incompatibilidades constantes dos arts. 448 e 449 deste
data designada para a nova sessão.’ (NR) Código.
‘Art. 456. Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do § 1o O juiz presidente também advertirá os jurados de que,
acusado, e se outro não for por este constituído, o fato será ime- uma vez sorteados, não poderão comunicar-se entre si e com ou-
diatamente comunicado ao presidente da seccional da Ordem dos trem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de
Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão. exclusão do Conselho e multa, na forma do § 2o do art. 436 deste
§ 1o Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado Código.
somente uma vez, devendo o acusado ser julgado quando chamado § 2o A incomunicabilidade será certificada nos autos pelo ofi-
novamente. cial de justiça.’ (NR)
§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, o juiz intimará a De- ‘Art. 467. Verificando que se encontram na urna as cédulas
fensoria Pública para o novo julgamento, que será adiado para o relativas aos jurados presentes, o juiz presidente sorteará 7 (sete)
primeiro dia desimpedido, observado o prazo mínimo de 10 (dez) dentre eles para a formação do Conselho de Sentença.’ (NR)
dias.’ (NR)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
‘Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo retiradas da § 2o Os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz
urna, o juiz presidente as lerá, e a defesa e, depois dela, o Ministé- presidente.
rio Público poderão recusar os jurados sorteados, até 3 (três) cada § 3o Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o
parte, sem motivar a recusa. período em que permanecer no plenário do júri, salvo se absoluta-
Parágrafo único. O jurado recusado imotivadamente por qual- mente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das testemu-
quer das partes será excluído daquela sessão de instrução e julga- nhas ou à garantia da integridade física dos presentes.’ (NR)
mento, prosseguindo-se o sorteio para a composição do Conselho ‘Art. 475. O registro dos depoimentos e do interrogatório será
de Sentença com os jurados remanescentes.’ (NR) feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, eletrônica,
‘Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas estenotipia ou técnica similar, destinada a obter maior fidelidade e
poderão ser feitas por um só defensor. celeridade na colheita da prova.
§ 1o A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em Parágrafo único. A transcrição do registro, após feita a degrava-
razão das recusas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete) jura- ção, constará dos autos.’ (NR)
dos para compor o Conselho de Sentença.
§ 2o Determinada a separação dos julgamentos, será julgado SEÇÃO XII
em primeiro lugar o acusado a quem foi atribuída a autoria do fato DOS DEBATES
ou, em caso de co-autoria, aplicar-se-á o critério de preferência dis-
posto no art. 429 deste Código.’ (NR) ‘Art. 476. Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao
‘Art. 470. Desacolhida a argüição de impedimento, de suspei- Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia
ção ou de incompatibilidade contra o juiz presidente do Tribunal do ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação,
Júri, órgão do Ministério Público, jurado ou qualquer funcionário, o sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.
julgamento não será suspenso, devendo, entretanto, constar da ata § 1o O assistente falará depois do Ministério Público.
o seu fundamento e a decisão.’ (NR) § 2o Tratando-se de ação penal de iniciativa privada, falará em
‘Art. 471. Se, em conseqüência do impedimento, suspeição, primeiro lugar o querelante e, em seguida, o Ministério Público, sal-
incompatibilidade, dispensa ou recusa, não houver número para a vo se este houver retomado a titularidade da ação, na forma do art.
formação do Conselho, o julgamento será adiado para o primeiro 29 deste Código.
dia desimpedido, após sorteados os suplentes, com observância do § 3o Finda a acusação, terá a palavra a defesa.
disposto no art. 464 deste Código.’ (NR) § 4o A acusação poderá replicar e a defesa treplicar, sendo
‘Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presidente, le- admitida a reinquirição de testemunha já ouvida em plenário.’ (NR)
vantando-se, e, com ele, todos os presentes, fará aos jurados a se- ‘Art. 477. O tempo destinado à acusação e à defesa será de
guinte exortação: uma hora e meia para cada, e de uma hora para a réplica e outro
Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com impar- tanto para a tréplica.
cialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa cons- § 1o Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor,
ciência e os ditames da justiça. combinarão entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acor-
Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, respon- do, será dividido pelo juiz presidente, de forma a não exceder o de-
derão: terminado neste artigo.
Assim o prometo. § 2o Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusa-
Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá cópias da pro- ção e a defesa será acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o
núncia ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram ad- da réplica e da tréplica, observado o disposto no § 1o deste artigo.’
missível a acusação e do relatório do processo.’ (NR) (NR)
‘Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena
SEÇÃO XI de nulidade, fazer referências:
DA INSTRUÇÃO EM PLENÁRIO I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julga-
ram admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas
‘Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada
como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o
a instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Pú-
acusado;
blico, o assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão,
II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por
sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e
falta de requerimento, em seu prejuízo.’ (NR)
inquirirão as testemunhas arroladas pela acusação.
‘Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de
§ 1o Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa,
documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos
o defensor do acusado formulará as perguntas antes do Ministério
Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se
estabelecidos neste artigo. ciência à outra parte.
§ 2o Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a
testemunhas, por intermédio do juiz presidente. leitura de jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição
§ 3o As partes e os jurados poderão requerer acareações, reco- de vídeos, gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qual-
nhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem quer outro meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a maté-
como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas ria de fato submetida à apreciação e julgamento dos jurados.’ (NR)
colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou ‘Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qual-
não repetíveis.’ (NR) quer momento e por intermédio do juiz presidente, pedir ao orador
‘Art. 474. A seguir será o acusado interrogado, se estiver pre- que indique a folha dos autos onde se encontra a peça por ele lida
sente, na forma estabelecida no Capítulo III do Título VII do Livro I ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo mes-
deste Código, com as alterações introduzidas nesta Seção. mo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.
§ 1o O Ministério Público, o assistente, o querelante e o de- § 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados
fensor, nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao se estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros esclareci-
acusado. mentos.

28
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente ‘Art. 485. Não havendo dúvida a ser esclarecida, o juiz presi-
prestará esclarecimentos à vista dos autos. dente, os jurados, o Ministério Público, o assistente, o querelante, o
§ 3o Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos defensor do acusado, o escrivão e o oficial de justiça dirigir-se-ão à
autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz presiden- sala especial a fim de ser procedida a votação.
te.’ (NR) § 1o Na falta de sala especial, o juiz presidente determinará
‘Art. 481. Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como que o público se retire, permanecendo somente as pessoas men-
essencial para o julgamento da causa, não puder ser realizada ime- cionadas no caput deste artigo.
diatamente, o juiz presidente dissolverá o Conselho, ordenando a § 2o O juiz presidente advertirá as partes de que não será per-
realização das diligências entendidas necessárias. mitida qualquer intervenção que possa perturbar a livre manifesta-
Parágrafo único. Se a diligência consistir na produção de prova ção do Conselho e fará retirar da sala quem se portar inconvenien-
pericial, o juiz presidente, desde logo, nomeará perito e formulará temente.’ (NR)
quesitos, facultando às partes também formulá-los e indicar assis- ‘Art. 486. Antes de proceder-se à votação de cada quesito, o
tentes técnicos, no prazo de 5 (cinco) dias.’ (NR) juiz presidente mandará distribuir aos jurados pequenas cédulas,
feitas de papel opaco e facilmente dobráveis, contendo 7 (sete) de-
SEÇÃO XIII las a palavra sim, 7 (sete) a palavra não.’ (NR)
DO QUESTIONÁRIO E SUA VOTAÇÃO ‘Art. 487. Para assegurar o sigilo do voto, o oficial de justiça re-
colherá em urnas separadas as cédulas correspondentes aos votos
‘Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre ma- e as não utilizadas.’ (NR)
téria de fato e se o acusado deve ser absolvido. ‘Art. 488. Após a resposta, verificados os votos e as cédulas
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições não utilizadas, o presidente determinará que o escrivão registre no
afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa termo a votação de cada quesito, bem como o resultado do julga-
ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua mento.
elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia Parágrafo único. Do termo também constará a conferência das
ou das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do cédulas não utilizadas.’ (NR)
interrogatório e das alegações das partes.’ (NR) ‘Art. 489. As decisões do Tribunal do Júri serão tomadas por
‘Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, maioria de votos.’ (NR)
indagando sobre: ‘Art. 490. Se a resposta a qualquer dos quesitos estiver em
I – a materialidade do fato; contradição com outra ou outras já dadas, o presidente, explicando
II – a autoria ou participação; aos jurados em que consiste a contradição, submeterá novamente
III – se o acusado deve ser absolvido; à votação os quesitos a que se referirem tais respostas.
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; Parágrafo único. Se, pela resposta dada a um dos quesitos, o
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento presidente verificar que ficam prejudicados os seguintes, assim o
de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que declarará, dando por finda a votação.’ (NR)
julgaram admissível a acusação. ‘Art. 491. Encerrada a votação, será o termo a que se refere
§ 1o A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qual- o art. 488 deste Código assinado pelo presidente, pelos jurados e
quer dos quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo pelas partes.’ (NR)
encerra a votação e implica a absolvição do acusado.
§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados SEÇÃO XIV
os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será for- DA SENTENÇA
mulado quesito com a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado? ‘Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:
§ 3o Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento I – no caso de condenação:
prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre: a) fixará a pena-base;
I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa; b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes ale-
II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, gadas nos debates;
reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julga- c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às
ram admissível a acusação. causas admitidas pelo júri;
§ 4o Sustentada a desclassificação da infração para outra de d) observará as demais disposições do art. 387 deste Código;
competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão
para ser respondido após o 2o (segundo) ou 3o (terceiro) quesito, em que se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventi-
conforme o caso. va;
§ 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma f) estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da condena-
tentada ou havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo ção;
este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito II – no caso de absolvição:
acerca destas questões, para ser respondido após o segundo que- a) mandará colocar em liberdade o acusado se por outro moti-
sito. vo não estiver preso;
§ 6o Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os b) revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas;
quesitos serão formulados em séries distintas.’ (NR) c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabível.
‘Art. 484. A seguir, o presidente lerá os quesitos e indagará das § 1o Se houver desclassificação da infração para outra, de com-
partes se têm requerimento ou reclamação a fazer, devendo qual- petência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá
quer deles, bem como a decisão, constar da ata. proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resul-
Parágrafo único. Ainda em plenário, o juiz presidente explicará tante da nova tipificação for considerado pela lei como infração pe-
aos jurados o significado de cada quesito.’ (NR) nal de menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes
da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

29
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja VII – suspender a sessão pelo tempo indispensável à realização
doloso contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do das diligências requeridas ou entendidas necessárias, mantida a in-
Júri, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1o deste artigo.’ comunicabilidade dos jurados;
(NR) VIII – interromper a sessão por tempo razoável, para proferir
‘Art. 493. A sentença será lida em plenário pelo presidente an- sentença e para repouso ou refeição dos jurados;
tes de encerrada a sessão de instrução e julgamento.’ (NR) IX – decidir, de ofício, ouvidos o Ministério Público e a defesa,
ou a requerimento de qualquer destes, a argüição de extinção de
SEÇÃO XV punibilidade;
DA ATA DOS TRABALHOS X – resolver as questões de direito suscitadas no curso do jul-
gamento;
‘Art. 494. De cada sessão de julgamento o escrivão lavrará ata, XI – determinar, de ofício ou a requerimento das partes ou de
assinada pelo presidente e pelas partes.’ (NR) qualquer jurado, as diligências destinadas a sanar nulidade ou a su-
‘Art. 495. A ata descreverá fielmente todas as ocorrências, prir falta que prejudique o esclarecimento da verdade;
mencionando obrigatoriamente: XII – regulamentar, durante os debates, a intervenção de uma
I – a data e a hora da instalação dos trabalhos; das partes, quando a outra estiver com a palavra, podendo con-
II – o magistrado que presidiu a sessão e os jurados presentes; ceder até 3 (três) minutos para cada aparte requerido, que serão
III – os jurados que deixaram de comparecer, com escusa ou acrescidos ao tempo desta última.’ (NR)”
sem ela, e as sanções aplicadas; Art. 2o O art. 581 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro
IV – o ofício ou requerimento de isenção ou dispensa; de 1941 – Código de Processo Penal, passa a vigorar com a seguinte
V – o sorteio dos jurados suplentes; redação:
VI – o adiamento da sessão, se houver ocorrido, com a indica- “Art. 581 ....................................................................
ção do motivo; ...................................................................................................
VII – a abertura da sessão e a presença do Ministério Público, .....
do querelante e do assistente, se houver, e a do defensor do acu- IV – que pronunciar o réu;
sado; .............................................................................................
VIII – o pregão e a sanção imposta, no caso de não compare- VI – (revogado);
cimento; ...................................................................................” (NR)
IX – as testemunhas dispensadas de depor; Art. 3o Esta Lei entra em vigor 60 (sessenta) dias após a data
X – o recolhimento das testemunhas a lugar de onde umas não de sua publicação.
pudessem ouvir o depoimento das outras; Art. 4o Ficam revogados o inciso VI do caput do art. 581 e o
XI – a verificação das cédulas pelo juiz presidente; Capítulo IV do Título II do Livro III, ambos do Decreto-Lei no 3.689,
XII – a formação do Conselho de Sentença, com o registro dos de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal.
nomes dos jurados sorteados e recusas;
Brasília, 9 de junho de 2008; 187o da Independência e 120o
XIII – o compromisso e o interrogatório, com simples referência
da República.
ao termo;
XIV – os debates e as alegações das partes com os respectivos
fundamentos;
XV – os incidentes; PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA
XVI – o julgamento da causa;
XVII – a publicidade dos atos da instrução plenária, das diligên-
Prisões
cias e da sentença.’ (NR) A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza hu-
‘Art. 496. A falta da ata sujeitará o responsável a sanções admi- mana. Aqui, a despeito da existência de “prisões penais” - estuda-
nistrativa e penal.’ (NR) das pelo direito penal e pela execução penal - e da “prisão civil” (em
caso de dívida de alimentos) - estudada pelo direito constitucional,
SEÇÃO XVI pelo direito internacional, e pelo direito civil - somente se estudará
DAS ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DO as tipicamente denominadas “prisões processuais”, decretadas du-
JÚRI rante a fase investigatória ou judicial.
‘Art. 497. São atribuições do juiz presidente do Tribunal do Júri, De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as
a medidas cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo
lém de outras expressamente referidas neste Código: Penal, intitulado “Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liberda-
I – regular a polícia das sessões e prender os desobedientes; de Provisória”, deverão ser aplicadas observando-se a necessidade
II – requisitar o auxílio da força pública, que ficará sob sua ex- para aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução cri-
clusiva autoridade; minal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática
III – dirigir os debates, intervindo em caso de abuso, excesso de de infrações penais (inciso I), bem como a adequação da medida à
linguagem ou mediante requerimento de uma das partes; gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do
IV – resolver as questões incidentes que não dependam de pro- indiciado ou acusado (inciso II).
nunciamento do júri; Deve haver a observância do binômio necessidade/adequação
V – nomear defensor ao acusado, quando considerá-lo inde- quando da análise de imposição de prisão processual/medida cau-
feso, podendo, neste caso, dissolver o Conselho e designar novo telar diversa da prisão. Pode ser que, num extremo mais gravoso,
dia para o julgamento, com a nomeação ou a constituição de novo a prisão preventiva seja a mais adequada. Já noutro extremo, mais
defensor; brando, pode ser que a liberdade provisória seja palavra de ordem.
VI – mandar retirar da sala o acusado que dificultar a realização Qualquer coisa que ficar entre estes dois extremos pode importar
do julgamento, o qual prosseguirá sem a sua presença; a imposição de medida cautelar de natureza diversa da prisão pro-
cessual.

30
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Espécies Art. 285. A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o res-
São três espécies de prisão cautelar: pectivo mandado.
a) Prisão em Flagrante; Parágrafo único. O mandado de prisão:
b) Prisão Temporária; a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade;
c) Prisão Preventiva. b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome,
alcunha ou sinais característicos;
Verificaremos o que estabelece a lei processual penal sobre as c) mencionará a infração penal que motivar a prisão;
prisões, medidas cautelares e liberdade provisória: d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a
infração;
TÍTULO IX e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução.
DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LIBERDADE Art. 286. O mandado será passado em duplicata, e o executor
PROVISÓRIA entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com
declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá o
Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber ou
ser aplicadas observando-se a: não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, assina-
I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação da por duas testemunhas.
ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para Art. 287. Se a infração for inafiançável, a falta de exibição do
evitar a prática de infrações penais; mandado não obstará a prisão, e o preso, em tal caso, será imedia-
II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias tamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado, para
do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. a realização de audiência de custódia. (Redação dada pela Lei nº
§ 1o As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou 13.964, de 2019)
cumulativamente. Art. 288. Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exibido
§ 2º As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requeri- o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será entre-
mento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por gue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia expedida
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do pela autoridade competente, devendo ser passado recibo da entre-
Ministério Público. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) ga do preso, com declaração de dia e hora.
§ 3º Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi- Parágrafo único. O recibo poderá ser passado no próprio exem-
cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar, plar do mandado, se este for o documento exibido.
determinará a intimação da parte contrária, para se manifestar no Art. 289. Quando o acusado estiver no território nacional, fora
prazo de 5 (cinco) dias, acompanhada de cópia do requerimento e da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua prisão, de-
das peças necessárias, permanecendo os autos em juízo, e os casos vendo constar da precatória o inteiro teor do mandado.
de urgência ou de perigo deverão ser justificados e fundamentados § 1o Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por
em decisão que contenha elementos do caso concreto que justifi- qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo da
quem essa medida excepcional. (Redação dada pela Lei nº 13.964, prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada.
de 2019) § 2o A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as pre-
§ 4º No caso de descumprimento de qualquer das obrigações cauções necessárias para averiguar a autenticidade da comunica-
impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de ção.
seu assistente ou do querelante, poderá substituir a medida, impor § 3o O juiz processante deverá providenciar a remoção do pre-
outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preven- so no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação da
tiva, nos termos do parágrafo único do art. 312 deste Código. (Re- medida.
dação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 289-A. O juiz competente providenciará o imediato regis-
§ 5º O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a tro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo Conse-
medida cautelar ou substituí-la quando verificar a falta de motivo lho Nacional de Justiça para essa finalidade.
para que subsista, bem como voltar a decretá-la, se sobrevierem ra- § 1o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter-
zões que a justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional
§ 6º A prisão preventiva somente será determinada quando de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que o
não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, obser- expediu.
vado o art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por § 2o Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão decreta-
outra medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamenta- da, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça, ado-
da nos elementos presentes do caso concreto, de forma individuali- tando as precauções necessárias para averiguar a autenticidade do
zada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo este pro-
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli- videnciar, em seguida, o registro do mandado na forma do caput
to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária deste artigo.
competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de § 3o A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
condenação criminal transitada em julgado. (Redação dada pela Lei de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extraí-
nº 13.964, de 2019) da do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao juízo
§ 1o As medidas cautelares previstas neste Título não se apli- que a decretou.
cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativa- § 4o O preso será informado de seus direitos, nos termos do
mente cominada pena privativa de liberdade. inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, caso o autuado não
§ 2o A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual- informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defensoria
quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do Pública.
domicílio. § 5o Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legitimida-
Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indis- de da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso, aplica-se
pensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso. o disposto no § 2o do art. 290 deste Código.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 6o O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o registro XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e
do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo. Territórios, ativos e inativos.
Art. 290. Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de § 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras leis,
outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da prisão
no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autori- comum.
dade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagran- § 2o Não havendo estabelecimento específico para o preso es-
te, providenciará para a remoção do preso. pecial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabeleci-
§ 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu, mento.
quando: § 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo,
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embo- atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concor-
ra depois o tenha perdido de vista; rência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmi-
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu co adequados à existência humana.
tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar § 4o O preso especial não será transportado juntamente com o
em que o procure, for no seu encalço. preso comum.
§ 2o Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões § 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os
para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legalida- mesmos do preso comum.
de do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu, até Art. 296. Os inferiores e praças de pré, onde for possível, serão
que fique esclarecida a dúvida. recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo com
Art. 291. A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita os respectivos regulamentos.
desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o Art. 297. Para o cumprimento de mandado expedido pela auto-
mandado e o intime a acompanhá-lo. ridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos outros
Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistên- quantos necessários às diligências, devendo neles ser fielmente re-
cia à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade compe- produzido o teor do mandado original.
tente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos Art. 298 - (Revogado).
meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do Art. 299. A captura poderá ser requisitada, à vista de mandado
que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela autori-
Parágrafo único. É vedado o uso de algemas em mulheres grá- dade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias para
vidas durante os atos médico-hospitalares preparatórios para a averiguar a autenticidade desta.
realização do parto e durante o trabalho de parto, bem como em Art. 300. As pessoas presas provisoriamente ficarão separadas
mulheres durante o período de puerpério imediato. (Redação dada das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos da lei
pela Lei nº 13.434, de 2017) de execução penal.
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, Parágrafo único. O militar preso em flagrante delito, após a
que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da ins-
intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obe- tituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das autori-
decido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, dades competentes.
sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre-
ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se Prisão em flagrante
não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa A prisão em flagrante consiste numa medida de autodefesa da
incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efe- sociedade, caracterizada pela privação da liberdade de locomoção
tuará a prisão. daquele que é surpreendido em situação de flagrância, indepen-
Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu dentemente de prévia autorização judicial. A própria Constituição
oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para que Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu art. 5º, LXI, o qual
se proceda contra ele como for de direito. afirma que “ninguém será preso senão em flagrante delito...”
Art. 294. No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o dis- A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que signifi-
posto no artigo anterior, no que for aplicável. ca “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o delito em
Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à dis- flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, “que acaba
posição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes de acontecer”.
de condenação definitiva: Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais e
I - os ministros de Estado; seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territórios, flagrante delito.
o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os prefei-
tos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia;
Funções da prisão em flagrante
III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de Eco-
São elas:
nomia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados;
A) Evitar a fuga do infrator;
IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”;
B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios;
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados,
C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito.
do Distrito Federal e dos Territórios;
VI - os magistrados;
Procedimento do flagrante
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores da
República; O procedimento da prisão em flagrante está essencialmente
VIII - os ministros de confissão religiosa; descrito entre os art. 304 e 310, do Código de Processo Penal:
IX - os ministros do Tribunal de Contas; A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este
de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapaci- cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, caput, pri-
dade para o exercício daquela função; meira parte, CPP);

32
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva das C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante ver-
testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado dadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando está co-
sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva, suas metendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão está nos
respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao final, o auto (art. incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal;
304, caput, parte final, CPP); D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase
C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem se- flagrante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido, logo
rão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. 306, situação que se faça presumir ser ele autor da infração. Sua pre-
caput, CPP); visão está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Processual
D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado Penal.
fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará reco- Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta
lhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fian- perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode
ça, e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para isso for um agente ser perseguido por vinte e quatro horas após a prática
competente (se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja) delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em flagrante;
(art. 304, §1º, CPP); E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que ocor-
E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de re se o agente é encontrado, logo depois do crime, com instrumen-
prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão as- tos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o autor da
siná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunhado a apre- infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP;
sentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). Quando o acu- F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito puta-
sado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto tivo por obra do agente provocador). A autoridade policial instiga o
de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que te- indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em flagrante.
nham ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP). Na O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido de que esta
falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada espécie de flagrante não é válida, por se tratar de crime impossível.
pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº 145, do Supremo Tribu-
legal (art. 305, CPP); nal Federal, segundo a qual não há crime quando a preparação do
F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação;
encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que
caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será enca- o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não,
minhada cópia integral deste auto para a Defensoria Pública (art. e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para
306, §1º, CPP); efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de flagrante
E) No mesmo perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritário que o
prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao preso, median- considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante preparado;
te recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo H) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante ma-
da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas (art. 306, §2º, quiado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.: a au-
CPP); toridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do investigado
F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, juntamente com somente para prendê-lo em flagrante).
o próprio detido, haverá a audiência de custódia (Res. 213/2015, I) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou flagrante
CNJ) e, posteriormente, o juiz deverá fundamentadamente poderá protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, para que
relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão em flagrante em pre- o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista da colheita
ventiva (quando presentes os requisitos do art. 312, do Código de de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. Atualmente,
Processo Penal, e quando se revelarem inadequadas as medidas encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das Organizações Crimi-
cautelares diversas da prisão), ou conceder liberdade provisória nosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”).
com ou sem fiança (art. 310, CPP); Na Lei nº 12.850/13, em seu art. 3º, III, a ação controlada é per-
G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato mitida em qualquer fase da persecução penal, porém ao contrário
em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do previsto pela revogada Lei nº 9.034/95, devem ser observados
do dever legal, ou exercício regular de um direito (todos previstos alguns requisitos para o procedimento, tais como: comunicar sigilo-
no art. 23, do Código Penal), poderá, fundamentadamente, conce- samente a ação ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá
der ao acusado liberdade provisória, mediante termo de compare- os limites desta e comunicará ao Ministério Público; até o encer-
cimento a todos os atos processuais, sob pena de revogação (art. ramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao
310, parágrafo único, CPP). Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir
Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a o êxito das investigações e ao término da diligência, elaborar-se-á
prisão, o preso será apresentado à prisão do lugar mais próximo auto circunstanciado acerca da ação controlada. Outrossim, na Lei
(art. 308, CPP). nº 11.343/06, em seu art. 53, II, a ação controlada é possível, desde
Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, que haja autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309,
CPP). Apresentação espontânea do acusado
Antes de tal diploma normativo, o art. 317, CPP, previa que a
Espécies/modalidades de flagrante. apresentação espontânea do acusado à autoridade não impediria
Vejamos a classificação feita pela doutrina: a decretação da prisão preventiva. Ou seja, a prisão em flagrante
A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autoridades não era possível (já que não havia flagrante: foi o agente quem se
policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão em apresentou à autoridade policial, e não a autoridade policial que foi
flagrante; no encalço do agente), o que não obstava, contudo, a decretação
B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pes- de prisão preventiva.
soa do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender em
flagrante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade;

33
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Com a Lei nº 12.403/11, tal dispositivo foi suprimido, causando pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido ime-
alguma divergência doutrinária acerca da possibilidade de se pren- diatamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato de-
der em flagrante ou não em caso de livre apresentação por parte do lituoso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto.
acusado. Apesar de inexistir qualquer entendimento doutrinário/ Art. 308. Não havendo autoridade no lugar em que se tiver
jurisprudencial consolidado, até agora tem prevalecido a ideia de efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais
que a apresentação espontânea continua impedindo a prisão em próximo.
flagrante. Art. 309. Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade,
CAPÍTULO II depois de lavrado o auto de prisão em flagrante.
DA PRISÃO EM FLAGRANTE Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo
máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri-
Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e são, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença
seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria
flagrante delito. Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem: deverá, fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
I - está cometendo a infração penal; 2019)
II - acaba de cometê-la; I - relaxar a prisão ilegal; ou
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando pre-
por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da sentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se reve-
infração; larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje- da prisão; ou
tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em § 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o
flagrante delito enquanto não cessar a permanência. agente praticou o fato em qualquer das condições constantes dos
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou- incisos I, II ou III do caput do art. 23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7
virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entre- de dezembro de 1940 (Código Penal), poderá, fundamentadamen-
gando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em se- te, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo de
guida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem comparecimento obrigatório a todos os atos processuais, sob pena
e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, de revogação. (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 13.964,
colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, de 2019)
a autoridade, afinal, o auto. § 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra
§ 1o Resultando das respostas fundada a suspeita contra o con- organização criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de
duzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade provisória, com
de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, § 3º A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não
enviará os autos à autoridade que o seja. realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput
§ 2o A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de deste artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela
prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão as- omissão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
siná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apre- § 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso
sentação do preso à autoridade. do prazo estabelecido no caput deste artigo, a não realização de
§ 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não audiência de custódia sem motivação idônea ensejará também a
puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente,
testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste. sem prejuízo da possibilidade de imediata decretação de prisão pre-
§ 4º Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá cons- ventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
tar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e
se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual Prisão preventiva
responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo pe-
(Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) nal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento
Art. 305. Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por re-
pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de presta- presentação da autoridade policial. (art. 311, CPP).
do o compromisso legal. De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do in-
serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministé- quérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que antes desta
rio Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada. previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz prisão pre-
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da pri- ventiva de ofício também durante as investigações, o que era bas-
são, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em fla- tante criticado pela doutrina garantista, uma vez que agindo assim
grante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, poderia deixar de ser imparcial no momento de julgar a ação).
cópia integral para a Defensoria Pública. Assim, no nosso regime democrático, as funções são distintas e
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, bem definidas: um acusa, outro defende e o terceiro julga.
a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão,
o nome do condutor e os das testemunhas. Pressupostos da prisão preventiva
Art. 307. Quando o fato for praticado em presença da auto- Há se distinguir os “pressupostos” dos “motivos ensejadores”
ridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do da prisão. São pressupostos:
auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que fizer A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi
o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assinado delicti”;

34
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum li- D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa
bertatis”. ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclare-
cê-la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto em liber-
Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualismo dade após a identificação, salvo de outra hipótese recomendar a
penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta com manutenção da medida) (parágrafo único).
“indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja um
contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-se a certeza Revogação da prisão preventiva
acerca da autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso fique Isso é possível se, no transcorrer do processo, verificar a au-
realmente comprovada, a autoria só o ficará, de fato, quando de toridade judicial a falta de motivo para que subsista a prisão pre-
um eventual decreto condenatório definitivo. ventiva. Assim, em sentido contrário, também poder decretá-la se
No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão sobrevierem razões que a justifiquem.
preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar a
preventiva, mas os dois pressupostos devem estar necessariamente prisão preventiva será sempre motivada e fundamentada, nos ter-
previstos cumulativamente. Então, sempre deve haver, obrigatoria- mos dos parágrafos dos artigos 315, CPP..
mente, os dois pressupostos (existência do crime e indícios de autoria),
mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia da ordem pública, Recurso de decisão acerca da prisão preventiva
ou a garantia da ordem econômica, ou o asseguramento da aplicação Conforme o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau indeferir
da lei penal, ou a conveniência da instrução criminal, ou o descumpri- requerimento de prisão preventiva ou revogar a medida colocando
mento de qualquer das medidas cautelares diversas da prisão). o agente em liberdade, caberá recurso em sentido estrito.
Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à revoga-
Motivos da prisão preventiva ção de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar diversa
Eles estão no art. 312, do Código de Processo Penal, e devem da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipóteses acima
ser conjugadas com a prova da existência do crime e indício sufi- vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem
ciente de autoria. A saber: maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de tal
A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável de instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão seja
reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade do irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há qual-
agente. Necessidade de afastamento do convívio social. quer entendimento consolidado sobre o tema.
O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação de De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido es-
prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece que trito somente será cabível caso se indefira o requerimento de pre-
sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há risco de ventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão recur-
caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito para com sal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida não
a sociedade; há previsão recursal).
B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de rei-
teração delituosa, porém relacionado com crimes contra a ordem Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar
econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma espécie da O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº 12.403/11)
garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei nº 8.884/94 ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no recolhimento do
(“Lei Antitruste”); indiciado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com au-
C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir que torização judicial. Trata-se de medida humanitária a ser tomada
o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo, pois, é em situações especiais, desde que se comprove a real existência
proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor ainda não da excepcionalidade (parágrafo único, do art. 318, do Código de
teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.) que podem Processo Penal).
auxiliar no deslinde da lide;
D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demons-
CAPÍTULO III
trado concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., invia-
DA PRISÃO PREVENTIVA
bilizando futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão
preventiva por este motivo;
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do pro-
E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas cau-
cesso penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofí-
telares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas da pri-
cio, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério
são” são novidade no processo penal, e foram trazidas pela Lei nº
12.403/2011. Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
F) Em caso de perigo gerado pelo estado de liberdade do im- autoridade policial.
putado, veio com a Lei 13.964/2019. Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
Hipóteses em que se admite prisão preventiva da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
São elas, de acordo com o art. 312, CPP: quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.
máxima superior a 4 (quatro) anos (inciso I); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso, § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso
em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no art. de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força
64, I, do Código Penal (configuração do período depurador) (inciso de outras medidas cautelares (art. 282, § 4°). (Redação dada pela
II); Lei nº 13.964, de 2019)
C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser mo-
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defi- tivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta
ciência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgên- de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da
cia (inciso III); medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o ór-
decretação da prisão preventiva: gão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício,
máxima superior a 4 (quatro) anos; sob pena de tornar a prisão ilegal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença 2019)
transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do
art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Medidas cautelares diversas da prisão
Penal; Antes do advento da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabí-
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra veis na seara processual eram o aprisionamento cautelar do acu-
a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com de- sado ou a concessão de liberdade provisória, em dois extremos
ficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de ur- antagonicamente opostos que desconsideravam hipóteses em que
gência; nem a liberdade e nem o aprisionamento cautelar eram as medidas
IV - (Revogado). mais adequadas. Em razão disso, após o advento da “Nova Lei de
§ 1º Também será admitida a prisão preventiva quando houver Prisões”, inúmeras opções são conferidas no vácuo deixado entre o
dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não for- claustro e a liberdade, opções estas conhecidas por “medidas cau-
necer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser telares diversas da prisão”.
colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo Os requisitos para fixação das medidas cautelares estão previs-
se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. (Redação tas no art. 282 do CPP, sendo estes:
dada pela Lei nº 13.964, de 2019) - Necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação
§ 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para
a finalidade de antecipação de cumprimento de pena ou como de- evitar a prática de infrações penais;
corrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou - Adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias
recebimento de denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado.
Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente Medidas cautelares diversas da prisão em espécie
praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III do caput Elas estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei
do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Có- nº 12.403/2011 São elas:
digo Penal. A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi-
Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (inciso I);
preventiva será sempre motivada e fundamentada. (Redação dada B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
pela Lei nº 13.964, de 2019) quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de ou acusado permanecer distante destes locais para evitar o risco de
qualquer outra cautelar, o juiz deverá indicar concretamente a exis- novas infrações (inciso II);
tência de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplica- C) Proibição de manter contato com pessoa determinada
ção da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado
§ 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, ou acusado deva permanecer distante (inciso III);
seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanên-
nº 13.964, de 2019) cia seja conveniente ou necessária para a investigação/instrução
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato (inciso IV);
normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão de- E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
cidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar fixos (inciso V);
o motivo concreto de sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
13.964, de 2019) natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer ou- sua utilização para a prática de infrações penais (inciso VI);
tra decisão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; cluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de reite-
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) ração (inciso VII);
V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar
sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluí- andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial
do pela Lei nº 13.964, de 2019) (inciso VIII);
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido
precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10, e,
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. agora, também o foi para o prisma processual.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, re- O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de me-
vogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou do pro- didas cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispositivo,
cesso, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá converter
novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos do art. 312,
(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares diversas
da prisão.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
execução penal, de aprisionamento corporal via pena privativa de quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
liberdade somente quando estritamente necessário, também as- ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de
sim passa a acontecer no ambiente processual, o que retira da pri- novas infrações;
são preventiva grande poder de atuação ao se prevê-la, apenas, em III - proibição de manter contato com pessoa determinada
último caso. Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
liberdade provisória pura e simples; depois, se é caso de liberdade ou acusado dela permanecer distante;
provisória com medida cautelar diversa da prisão; depois, se é caso IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanên-
de liberdade provisória mais a cumulação de medidas cautelares di- cia seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
versas da prisão; e, apenas por último, se é caso de aprisionamento V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
processual. folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade judi- fixos;
cial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser fundamentada. VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade
Ao juiz compete decretar prisão preventiva fundamentadamente; de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
ao juiz compete conceder liberdade provisória fundamentadamen- sua utilização para a prática de infrações penais;
te; ao juiz compete decretar medida cautelar diversa da prisão VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida caute- praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
lar diversa da prisão em outra medida cautelar diversa da prisão cluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal)
fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida cautelar e houver risco de reiteração;
diversa da prisão em prisão processual fundamentadamente. VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an-
respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares di- damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;
versas da prisão. IX - monitoração eletrônica.
Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas § 1º ao §3º (Revogados).
uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o § 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do
caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese, é Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras medidas
perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida cautelar cautelares.
diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a determinados Art. 320. A proibição de ausentar-se do País será comunicada
lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento periódi- pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas do ter-
co em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão do exer- ritório nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para entregar
cício da função pública (art. 319, VI) e da proibição de ausentar-se o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.
da Comarca (art. 319, IV), como outro exemplo, ou da monitora-
ção eletrônica (art. 319, IX) e da fiança (art. 319, VIII), como último Liberdade provisória, com ou sem fiança
exemplo. Tudo depende, insiste-se, da necessidade da medida, e da Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão
devida fundamentação feita pela autoridade policial. preventiva ou de medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz
deverá conceder ao acusado liberdade provisória. Trata-se de ga-
CAPÍTULO IV rantia assegurada constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da Cons-
DA PRISÃO DOMICILIAR tituição Federal, segundo o qual ninguém será levado à prisão ou
nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou
Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indi- sem fiança.
ciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-se São, tradicionalmente, três as espécies de liberdade provisória,
com autorização judicial. a saber, a obrigatória, a permitida, e a vedada:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domi- A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva-
ciliar quando o agente for: lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória
I - maior de 80 (oitenta) anos; concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei nº
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; 12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a liber-
III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 dade provisória mera medida de contracautela à imposição de pri-
(seis) anos de idade ou com deficiência; são preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de liber-
IV - gestante; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) dade provisória juntamente ou não com medida cautelar diversa
V - mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incomple- da prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta hipótese
tos; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) em que o acusado “se livrava solto” foi revogado, tendo sido subs-
VI - homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do tituído por redação absolutamente diferente da anterior. Assim,
filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. (Incluído pela Lei conforme entendimento doutrinário prevalente, a “liberdade pro-
nº 13.257, de 2016) visória obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei nº 12.403/11;
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idô- B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da conver-
nea dos requisitos estabelecidos neste artigo. são da prisão em flagrante em preventiva por estarem presentes
os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP), ou, se não
CAPÍTULO V houver hipótese que enseje a determinação de prisão preventiva
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o indivíduo prati-
cou o fato em excludente de ilicitude/culpabilidade (art. 310, pará-
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: grafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a concessão de
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas cautelares
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; diversas da prisão;

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente da Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual
doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11, é o Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder
de que a liberdade provisória não pode ser vedada, admita ou não nos seguintes limites:
o delito fiança, e, ainda, independentemente do que diz o diploma A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de infração
legal. Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova Lei de Prisões”, cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for superior
de maneira que, atualmente, é possível liberdade provisória com a quatro anos (inciso I);
fiança, liberdade provisória sem fiança, liberdade provisória com a B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da
cumulação de medida cautelar, liberdade provisória sem a cumu- pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro anos
lação de medida cautelar, liberdade provisória mediante o cumpri- (inciso II).
mento de obrigações, e liberdade provisória sem o cumprimento de
obrigações. Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de Pro-
cesso Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em depósi-
Recurso em sede de liberdade provisória to de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da dívida
Consoante o art. 581, V, do Código de Processo Penal, a deci- pública (federal, estadual ou municipal), ou em hipoteca inscrita em
são que conceder liberdade provisória desafia recurso em sentido primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de pedras/objetos/metais
estrito. Já a decisão que negar tal instituto é irrecorrível, podendo preciosos será feita por perito nomeado pela autoridade. Quando a
ser combatida pela via do habeas corpus, que não é recurso, mas fiança consistir em caução de títulos da dívida pública, o valor será
meio autônomo de impugnação. determinado pela sua cotação em Bolsa.

Fiança Dispensa/redução/aumento da fiança


A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação reforçado Se assim recomendar a situação econômica do preso, a fiança
e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua permissão poderá ser (primeiro parágrafo, do art. 325, CPP):
para delitos que antes não a permitiam, seja através de sua exis- A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I).
tência como medida cautelar diversa da prisão, seja como condicio- Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e,
nante ou não da concessão de liberdade provisória. verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e o
Em regra, a fiança é requerida à autoridade judicial, que deci- sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que essa
dirá em quarenta e oito horas (art. 322, parágrafo único, do Código “prova de capacidade econômica” pode ser feita de qualquer ma-
de Processo Penal). neira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera discricio-
A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos ca- nariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo do
sos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja beneficiário;
superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP). B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II);
De acordo com os arts. 323 e 324, do Código de Processo Pe- C) Aumentada em até mil vezes (inciso III).
nal, não será concedida fiança:
A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui, o Destinação da Fiança
art. 5º, XLII, da Constituição Federal; Assim que paga o valor arbitrado pela fiança o juiz irá tomar as
B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- seguintes providências:
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art. A) Pagamento de custas;
323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição Fede- B) Indenização do dano;
ral; C) Pagamento de prestação pecuniária;
C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- D) Pagamento de multa;
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 323, E) Remanescente será devolvido.
inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição Federal;
D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an- Objeto da Fiança
teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer A) Depósito em dinheiro;
das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Código de B) Pedras, objetos ou metais preciosos;
Processo Penal (art. 324, inciso I); C) Títulos da dívida pública;
E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II); D) Hipoteca de imóvel.
F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação
da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III); Perda da fiança
G) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”). Se o acusado, condenado, não comparecer para o início do
Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lava- cumprimento da pena privativa de liberdade definitivamente im-
gem de Capitais” são insuscetíveis de fiança; posta, independentemente do regime, a fiança será dada por per-
H) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema dida. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Processual, o seu va-
Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos nesta lor, deduzidas as custas e demais encargos a que o acusado estiver
lei, e apenados com reclusão, não serão passíveis de fiança se pre- obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário.
sentes os motivos ensejadores da prisão preventiva. Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sentido
estrito (art. 581, VII, CPP).
Valor da fiança
Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em con- Cassação da fiança
sideração a natureza da infração, as condições pessoais de fortuna A fiança a ser cassada, como regra, é aquela concedida equivo-
e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua cadamente (ex.: foi concedida fiança ao réu mesmo tendo ele prati-
periculosidade, bem como a importância provável das custas do cado crime hediondo). Apenas o Poder Judiciário pode determinar
processo, até final julgamento (art. 326, CPP). a cassação, de ofício ou a requerimento da parte.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo Art. 327. A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a
tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassa- comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado
ção. para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julgamento.
Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sentido Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como quebra-
estrito (art. 581, V, CPP). da.
Art. 328. O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra-
Reforço da fiança mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da
Trata-se de um implemento à fiança outrora prestada, seja autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias
porque o foi de maneira insuficiente, seja porque ocorreu nova ti- de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde
pificação do delito fazendo-se mister a elevação de seu valor, seja será encontrado.
porque ocorreu o perecimento de bens hipotecados, seja porque Art. 329. Nos juízos criminais e delegacias de polícia, haverá um
ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos preciosos. Se tal livro especial, com termos de abertura e de encerramento, numera-
reforço não for realizado, a fiança será julgada sem efeito (fiança do e rubricado em todas as suas folhas pela autoridade, destinado
inidônea). especialmente aos termos de fiança. O termo será lavrado pelo es-
Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em sen- crivão e assinado pela autoridade e por quem prestar a fiança, e
tido estrito (art. 581, V, CPP). dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos autos.
Parágrafo único. O réu e quem prestar a fiança serão pelo escri-
CAPÍTULO VI vão notificados das obrigações e da sanção previstas nos arts. 327
DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA e 328, o que constará dos autos.
Art. 330. A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos
da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca
impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 inscrita em primeiro lugar.
deste Código e observados os critérios constantes do art. 282 deste § 1o A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais
Código. preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au-
Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança toridade.
nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não § 2o Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida
seja superior a 4 (quatro) anos. pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e, sen-
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao do nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de ônus.
juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas. Art. 331. O valor em que consistir a fiança será recolhido à re-
Art. 323. Não será concedida fiança: partição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao deposi-
I - nos crimes de racismo; tário público, juntando-se aos autos os respectivos conhecimentos.
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro- Parágrafo único. Nos lugares em que o depósito não se puder
gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa abona-
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou milita- da, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á ao valor
res, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará do termo
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: de fiança.
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança ante- Art. 332. Em caso de prisão em flagrante, será competente para
riormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo auto, e,
obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código; em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver expedido, ou
II - em caso de prisão civil ou militar; a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido requisitada a
III - (Revogado). prisão.
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação Art. 333. Depois de prestada a fiança, que será concedida inde-
da prisão preventiva (art. 312). pendentemente de audiência do Ministério Público, este terá vista
Art. 325. O valor da fiança será fixado pela autoridade que a do processo a fim de requerer o que julgar conveniente.
conceder nos seguintes limites: Art. 334. A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar
I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar de em julgado a sentença condenatória.
infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for Art. 335. Recusando ou retardando a autoridade policial a con-
superior a 4 (quatro) anos; cessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, me-
II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o diante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá em
máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a 4 48 (quarenta e oito) horas.
(quatro) anos. Art. 336. O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
§ 1o Se assim recomendar a situação econômica do preso, a pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecu-
fiança poderá ser: niária e da multa, se o réu for condenado.
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; Parágrafo único. Este dispositivo terá aplicação ainda no caso
II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do Código
III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. Penal).
Art. 326. Para determinar o valor da fiança, a autoridade terá Art. 337. Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em jul-
em consideração a natureza da infração, as condições pessoais de gado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada extin-
fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas ta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será restituído
de sua periculosidade, bem como a importância provável das custas sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. 336 deste
do processo, até final julgamento. Código.
Art. 338. A fiança que se reconheça não ser cabível na espécie
será cassada em qualquer fase do processo.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 339. Será também cassada a fiança quando reconhecida a Caberá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo, da
existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classifica- Lei nº 7.960/89:
ção do delito. A) Quando esta for imprescindível para as investigações do in-
Art. 340. Será exigido o reforço da fiança: quérito policial (inciso I);
I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficiente; B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer
II - quando houver depreciação material ou perecimento dos elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade (inciso
bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou II);
pedras preciosas; C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer
III - quando for inovada a classificação do delito. prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
Parágrafo único. A fiança ficará sem efeito e o réu será reco- indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput e seu §2º,
lhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for re- CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§1º e 2º,
forçada. CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), extorsão (art.
Art. 341. Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: 158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extorsão mediante sequestro (art.
I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de com- 159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), estupro e atentado violento
parecer, sem motivo justo; ao pudor (art. 213, caput, CP), epidemia com resultado de morte
II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento (art. 267, §1º, CP), envenenamento de água potável ou substância
do processo; alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, c.c.
III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente art. 285, CP), quadrilha ou bando (art. 288, CP), genocídio em qual-
com a fiança; quer de suas formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da Lei nº 2.889/56),
IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; tráfico de drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e crimes contra o siste-
V - praticar nova infração penal dolosa. ma financeiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III).
Art. 342. Se vier a ser reformado o julgamento em que se de- Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguinte:
clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos quantos destes requisitos precisam estar presentes para se decre-
Art. 343. O quebramento injustificado da fiança importará na tar a prisão temporária? Há várias posições na doutrina.
perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a impo- Um primeiro entendimento defende que o requisito “C” deve
sição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação estar sempre presente, seja ao lado do requisito “A”, seja ao lado
da prisão preventiva. do requisito “B”. Ou seja, sempre devem estar presentes dois re-
Art. 344. Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da fian- quisitos ao menos.
ça, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do Um segundo entendimento, mais radical, defende que basta a
cumprimento da pena definitivamente imposta. presença de apenas um requisito.
Art. 345. No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas Um terceiro entendimento defende que é necessária a presen-
as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será ça dos três requisitos conjuntamente.
recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. Um quarto entendimento diz que é necessária a presença dos
Art. 346. No caso de quebramento de fiança, feitas as deduções três requisitos, mais as situações previstas no art. 312, do Código de
previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será recolhido Processo Penal, o qual regula a prisão preventiva.
ao fundo penitenciário, na forma da lei. Não há um entendimento prevalente, todavia.
Art. 347. Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será
entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os Prazo da prisão temporária
encargos a que o réu estiver obrigado. De acordo com o art. 2º, da Lei nº 7.960/89, o prazo da prisão
Art. 348. Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por temporária é de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período em
meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo caso de comprovada e extrema necessidade.
órgão do Ministério Público.
Art. 349. Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais pre- Agora, se o crime for hediondo ou equiparado, o parágrafo
ciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor. quarto, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90 (popularmente conhecida por
Art. 350. Nos casos em que couber fiança, o juiz, verificando a “Lei dos Crimes Hediondos”), prevê que o prazo da prisão tempo-
situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade pro- rária será de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso
visória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 de comprovada e extrema necessidade.
deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso.
Parágrafo único. Se o beneficiado descumprir, sem motivo jus- Procedimento da prisão temporária
to, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á o O procedimento está previsto nos arts. 2º e 3º, da Lei nº
disposto no § 4o do art. 282 deste Código. 7.960/89:
A) A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo
Prisão temporária juiz, dependendo de representação da autoridade policial ou de re-
A prisão temporária é uma das espécies de prisão cautelar, querimento do Ministério Público (na hipótese de representação
mais apropriada para a fase preliminar ao processo, tendo vindo da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Mi-
como substitutiva da suspeita (e ilegal/inconstitucional) “prisão nistério Público);
para averiguações”. Embora não prevista no Código de Processo B) O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
Penal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta. fundamentado e prolatado dentro do prazo de vinte e quatro ho-
Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão pela ras, contados a partir do recebimento da representação ou do re-
qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei inconstitucio- querimento;
nal, por não ser dado a Medidas Provisórias regulamentar prisões. C) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério Pú-
O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa a posição absoluta- blico e do advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado,
mente prevalente), tem entendimento de que a Lei nº 7.960/89 é solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e
plenamente constitucional. submetê-lo a exame de corpo de delito;

40
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
D) Decretada a prisão temporária, se expedirá mandado de § 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o
prisão (em duas vias), uma das quais será entregue ao indiciado Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público.
e servirá como nota de culpa. Vale lembrar que a prisão somente po- § 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser
derá ser executada depois de expedido o mandado judicial (aqui reside fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro)
a principal diferença em relação à “prisão para averiguações”, extinta horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do
pela Lei nº 7.960/89, em que a autoridade policial meramente recolhia o requerimento.
indivíduo ao claustro e se limitava a notificar a autoridade judicial disso); § 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério
E) Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresenta-
dos direitos previstos no art. 5º, da Constituição Federal (vale lem- do, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e
brar que os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria- submetê-lo a exame de corpo de delito.
mente, separados dos demais detentos); § 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de
F) Decorrido o prazo de prisão temporária, o indivíduo deverá prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e
ser imediatamente posto em liberdade, salvo se tiver havido a con- servirá como nota de culpa.
versão da medida em prisão preventiva. § 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o perío-
do de duração da prisão temporária estabelecido no caput deste ar-
tigo, bem como o dia em que o preso deverá ser libertado.(Incluído
Mandado de prisão
pela Lei nº 13.869. de 2019)
É o instrumento emanado da autoridade competente para a
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedi-
execução da prisão, prevista no artigo 285.
ção de mandado judicial.
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso
dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal.
LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989
§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a au-
toridade responsável pela custódia deverá, independentemente
Dispõe sobre prisão temporária.
de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o preso
em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Na-
prisão temporária ou da decretação da prisão preventiva. (Incluído
cional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
pela Lei nº 13.869. de 2019)
Art. 1° Caberá prisão temporária:
§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no
I - quando imprescindível para as investigações do inquérito
cômputo do prazo de prisão temporária.(Redação dada pela Lei nº
policial;
13.869. de 2019)
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer
Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigato-
elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
riamente, separados dos demais detentos.
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer
Art. 4° Oart. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965,fica
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
acrescido da alínea i, com a seguinte redação:
indiciado nos seguintes crimes:
“Art. 4° ...............................................................
a) homicídio doloso(art. 121, caput, e seu § 2°);
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de
b) sequestro ou cárcere privado(art. 148, caput, e seus §§ 1°
medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou
e 2°);
de cumprir imediatamente ordem de liberdade;”
c) roubo(art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um plantão
d) extorsão(art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário e do Ministério
e) extorsão mediante sequestro(art. 159, caput, e seus §§ 1°,
Público para apreciação dos pedidos de prisão temporária.
2° e 3°);
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
f) estupro(art. 213, caput, e sua combinação com oart. 223,
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
g) atentado violento ao pudor(art. 214, caput, e sua combina-
ção com oart. 223, caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº
2.848, de 1940) PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES DE RESPON-
h) rapto violento(art. 219, e sua combinação com oart. 223 SABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
caput, e parágrafo único);(Vide Decreto-Lei nº 2.848, de 1940)
i) epidemia com resultado de morte(art. 267, § 1°);
Os crimes praticados por funcionários públicos, no exercício de
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia
sua função, encontram-se previstos nos artigos 312 a 326 do Có-
ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado
digo Penal. Já seu processo e procedimento, encontra-se previsto
com art. 285);
entre os artigos 513 e 518 do Código de Processo Penal, os quais
l) quadrilha ou bando(art. 288), todos do Código Penal;
analisaremos neste tópico.
m) genocídio(arts. 1°,2°e3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de
Inicialmente, importante destacar que os crimes funcionais po-
1956), em qualquer de sua formas típicas;
dem ser:
n) tráfico de drogas(art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro
a) Crimes funcionais próprios: são os crimes que só podem ser
de 1976);
praticados por funcionário público, ou seja, a ausência desta con-
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de
dição leva à atipicidade da conduta. Ex: a concussão e a corrupção
junho de 1986).
passiva;
p) crimes previstos na Lei de Terrorismo.(Incluído pela Lei nº
b) Crimes funcionais impróprios: são aqueles crimes que tam-
13.260, de 2016)
bém podem ser praticados por particulares, ocorrendo tão somen-
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da
te uma nova tipificação. A inexistência da condição de funcionário
representação da autoridade policial ou de requerimento do Minis-
público leva à desclassificação para outra infração. Ex: o Peculato,
tério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual
que se for cometido por particular é crime de apropriação indébita.
período em caso de extrema e comprovada necessidade.

41
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Inicialmente, o artigo 513 do CPP dispõe que nos crimes funcio- ficação do acusado para responder por escrito, no prazo de quinze
nais, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou jus- dias (é esta característica que torna especial o procedimento). Tal
tificação que façam presumir a existência do delito e que poderão resposta antecede ao próprio recebimento da peça acusatória, de
ser obtidas vias inquérito policial, ou com declaração fundamenta- maneira que, se o juiz se convencer dos argumentos utilizados pelo
da da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas. defensor, poderá rejeitar a denúncia/queixa com base no art. 395,
Apresentada a denúncia ou queixa, o juiz, preliminarmente do Código de Processo Penal.
deverá, antes de notificar o funcionário supostamente infrator, Há se tomar especial atenção, contudo, em relação à Súmula
verificar se a denúncia ou queixa possui todas as formalidades ne- nº 330, STJ, segundo a qual é desnecessária a resposta preliminar
cessárias exigidas por lei. Não estando presentes todos os requi- de que trata o art. 514, CPP, na ação penal instruída por inquérito
sitos, caberá ao juiz não recebê-las, gerando coisa julgada formal, policial. Parcela considerável da doutrina discorda de tal posicio-
de maneira que vencido o vício a demanda poderá ser novamente namento, alegando que, esteja ou não a ação penal instruída por
proposta. inquérito policial (ou elemento informativo equivalente), continua
O artigo 514 do CPP faz uma ressalva que o procedimento em tal defesa a ser obrigatória, por observância da cláusula do devido
estudo se aplica apenas aos crimes afiançáveis. Importante ressal- processo legal, do contraditório, e da ampla defesa. É este, inclu-
tar que antes da vigência da Lei nº. 12.403/11, em se tratando de sive, o posicionamento prevalente no Supremo Tribunal Federal,
crimes funcionais, os únicos crimes inafiançáveis eram o Excesso de nada obstante a Súmula do Superior Tribunal de Justiça;
Exação (CP, art.316, §1º) e a Facilitação de Contrabando ou Desca- D) Recebimento da denúncia/queixa. Com o recebimento da
minho (CP, art. 318), conforme dispunha o art. 323 do CPP. Contu- inicial acusatória, o procedimento segue as mesmas regras do pro-
do, com o advento da Lei 12.403/11, passaram a ser inafiançáveis cedimento ordinário.
somente os Crimes Hediondos e os a eles equiparados, sendo viável
a aplicação da fiança aos demais Assim dispõe o Código de Processo Penal acerca do assunto:
Estando a denúncia em ordem e, caso o crime seja afiançável,
o juiz notificará o funcionário público acusado para que o mesmo CAPÍTULO II
apresente resposta por escrito dentro de quinze dias (defesa pre- DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES
liminar). Tal resposta antecede ao próprio recebimento da peça DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
acusatória, de maneira que, se o juiz se convencer dos argumentos
utilizados pelo defensor, poderá rejeitar a denúncia/queixa com Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públi-
base no art. 395, do Código de Processo Penal. cos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de direito, a
No tocante a defesa preliminar, conforme entendimento do queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justifica-
Supremo Tribunal Federal (STF), tem-se que a falta de notificação ção que façam presumir a existência do delito ou com declaração
do acusado para apresentar a resposta prevista ainda no artigo 514 fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer
do CPP, acarretará na nulidade do processo, conforme RT 572/412, dessas provas.
in verbis: Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa
“Artigo 514 do CPP. Falta de notificação do acusado para res- em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação
ponder, por escrito, em caso de crime afiançável, apresentada a do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze
denúncia. Relevância da falta, importando nulidade do processo, dias.
porque atinge o princípio fundamental da ampla defesa. Evidência Parágrafo único. Se não for conhecida a residência do acusado,
do prejuízo.” ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defen-
E, nos termos dos Art. 515 do CPP, durante os quinze dias con- sor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar.
cedidos de prazo para que o funcionário público ofereça resposta,
Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o pra-
os autos ficarão armazenados em cartório, onde poderão ser exa-
zo concedido para a resposta, os autos permanecerão em cartório,
minados pelo infrator ou por seu defensor.
onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu defensor.
Após recebida a resposta do funcionário público, juiz definirá
Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída com docu-
se receberá ou não a denúncia.
mentos e justificações.
Caso decida pelo não recebimento da queixa ou denúncia, o
Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho
juiz devera justificar sua decisão em despacho fundamentado, nos
fundamentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do seu
termos do artigo 516, CPP.
Já no caso de recebimento da denúncia ou da queixa, será o defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação.
acusado citado e o processo seguirá o rito comum, previsto para os Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado cita-
crimes punidos com reclusão, encontrados nos artigos 517 e 518 do do, na forma estabelecida no Capítulo I do Título X do Livro I.
Código de Processo Penal. Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do proces-
so, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Título I, deste Livro.
Vejamos as particularidades relativas a este procedimento:
Hipótese de cabimento. O rito aqui reproduzido tem cabimen-
to quando o crime imputado a funcionário público for afiançável, HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO
e, ainda, desde que o funcionário não tenha foro privilegiado por
prerrogativa de função;
Infrações que comportam a aplicação de tal rito. São aquelas O habeas corpus teria sua origem remota no direito romano,
previstas nos arts. 312 a 326, do Código Penal (peculato, concussão, onde todo o cidadão podia reclamar a exibição do homem livre de-
corrupção passiva, facilitação de contrabando ou descaminho, pre- tido ilegalmente por meio de uma ação privilegiada, conhecida por
varicação, condescendência criminosa, violência arbitrária, aban- interdictum de libero homine exhibendo. Entretanto, somente se
dono de função etc.); delineou um instrumento que possa ser identificado como habeas
Notificação do acusado. De acordo com o art. 514, do Códi- corpus a partir da “Magna Carta”, em 1.215, imposta pelos barões
go de Processo Penal, nos crimes afiançáveis, estando a denúncia/ ingleses ao rei João Sem-Terra, especialmente com o writ of habeas
queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a noti- corpus ad subjiciendum, daí evoluindo cada vez mais por meio do

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
habeas corpus Act de 1.679 e do habeas corpus Act de 1.816. Do di- Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:
reito inglês foi levado para as colônias da América do Norte, sendo, I - quando não houver justa causa;
posteriormente, incorporado na Constituição de 1.787 dos Estados II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que de-
Unidos da América. termina a lei;
No Brasil o habeas corpus entrou, pela primeira vez, na nossa III - quando quem ordenar a coação não tiver competência
legislação, de forma expressa, com a promulgação do Código de para fazê-lo;
Processo Criminal, em 1.832 (art. 340), embora estivesse contido IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
implicitamente na Constituição do Império de 1.824 (art. 179, § 8º). V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos
Atualmente, na Constituição da República de 1988, o habeas cor- em que a lei a autoriza;
pus está previsto no art. 5º, inciso LXVII. VI - quando o processo for manifestamente nulo;
O HC é uma ação constitucional de natureza jurídica de ação VII - quando extinta a punibilidade.
penal destinada especificamente à proteção da liberdade de loco- Art. 649. O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da sua jurisdi-
moção quando ameaçada ou violada por ilegalidade ou abuso de ção, fará passar imediatamente a ordem impetrada, nos casos em
poder. que tenha cabimento, seja qual for a autoridade coatora.
Está previsto na Constituição da República, e será concedido Art. 650. Competirá conhecer, originariamente, do pedido de
sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer viola- habeas corpus:
ção ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou I - ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos no Art.
abuso de poder. 101, I, g, da Constituição;
Preventivamente, o HC é ajuizado quando o cerceio de liber- II - aos Tribunais de Apelação, sempre que os atos de violência
dade estiver em vias de se concretizar. Repressivamente, quando a ou coação forem atribuídos aos governadores ou interventores dos
violação da liberdade de locomoção já tiver se concretizado. Estados ou Territórios e ao prefeito do Distrito Federal, ou a seus
A ação do HC é de conhecimento, podendo dela resultar uma secretários, ou aos chefes de Polícia.
tutela declaratória, constitutiva ou, até mesmo, condenatória, mas § 1o A competência do juiz cessará sempre que a violência ou
sempre tendo caráter mandamental, já que desnecessária e ine- coação provier de autoridade judiciária de igual ou superior juris-
xistente fase posterior de execução para dar efetividade à ordem. dição.
§ 2o Não cabe o habeas corpus contra a prisão administrati-
Condições da Ação va, atual ou iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor per-
As condições de ação devem ser vistas da mesma forma que tencente à Fazenda Pública, alcançados ou omissos em fazer o seu
nas demais ações. recolhimento nos prazos legais, salvo se o pedido for acompanhado
Assim, temos como primeira condição de ação a possibilida- de prova de quitação ou de depósito do alcance verificado, ou se a
de jurídica do pedido, que consiste na ausência de vedação legal a prisão exceder o prazo legal.
determinada demanda, como ocorre com a vedação constitucional Art. 651. A concessão do habeas corpus não obstará, nem porá
ao HC para combater punições disciplinares militares (art. 142, § termo ao processo, desde que este não esteja em conflito com os
2º, CR/88). fundamentos daquela.
Admite-se a utilização do HC como sucedâneo recursal, quando Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nuli-
não houver recurso apto a proteger a liberdade da pessoa. Nesse dade do processo, este será renovado.
caso, a sentença que decidir o HC terá efeitos em outro processo. Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas
Logo, para tal, este último processo não pode já ter sido encerrado. corpus, será condenada nas custas a autoridade que, por má-fé ou
A causa de pedir no Habeas Corpus é a violação à liberdade de evidente abuso de poder, tiver determinado a coação.
ir e vir do indivíduo. O HC pode se dirigir contra a prisão ilegal, con- Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Ministério Pú-
tra a ameaça de prisão e contra inquérito policial, procedimento blico cópia das peças necessárias para ser promovida a responsabi-
criminal ou processo penal cuja conclusão possa resultar em pena lidade da autoridade.
privativa de liberdade. Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer
De acordo com o art. 648 do CPP, a coação considerar-se-á ile- pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Pú-
gal quando: blico.
a) Não houver justa causa; § 1o A petição de habeas corpus conterá:
b) Alguém estiver preso por mais tempo do que determina a a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer
lei; violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou
c) Quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; ameaça;
d) Houver cessado o motivo que autorizou a coação; b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de
e) Não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor;
a lei autoriza; c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quan-
f) O processo for manifestamente nulo; do não souber ou não puder escrever, e a designação das respecti-
g) Estiver extinta a punibilidade. vas residências.
§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de
Senão vejamos: ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo ve-
rificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação
CÓDIGO PROCESSUAL PENAL ilegal.
Art. 655. O carcereiro ou o diretor da prisão, o escrivão, o ofi-
CAPÍTULO X cial de justiça ou a autoridade judiciária ou policial que embaraçar
DO HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO ou procrastinar a expedição de ordem de habeas corpus, as infor-
mações sobre a causa da prisão, a condução e apresentação do
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer
paciente, ou a sua soltura, será multado na quantia de duzentos
ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua
mil-réis a um conto de réis, sem prejuízo das penas em que incorrer.
liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
As multas serão impostas pelo juiz do tribunal que julgar o habeas Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria de votos.
corpus, salvo quando se tratar de autoridade judiciária, caso em Havendo empate, se o presidente não tiver tomado parte na vota-
que caberá ao Supremo Tribunal Federal ou ao Tribunal de Apela- ção, proferirá voto de desempate; no caso contrário, prevalecerá a
ção impor as multas. decisão mais favorável ao paciente.
Art. 656. Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar Art. 665. O secretário do tribunal lavrará a ordem que, assina-
necessário, e estiver preso o paciente, mandará que este Ihe seja da pelo presidente do tribunal, câmara ou turma, será dirigida, por
imediatamente apresentado em dia e hora que designar. ofício ou telegrama, ao detentor, ao carcereiro ou autoridade que
Parágrafo único. Em caso de desobediência, será expedido exercer ou ameaçar exercer o constrangimento.
mandado de prisão contra o detentor, que será processado na for- Parágrafo único. A ordem transmitida por telegrama obedece-
ma da lei, e o juiz providenciará para que o paciente seja tirado da rá ao disposto no art. 289, parágrafo único, in fine.
prisão e apresentado em juízo. Art. 666. Os regimentos dos Tribunais de Apelação estabele-
Art. 657. Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusará cerão as normas complementares para o processo e julgamento do
a sua apresentação, salvo: pedido de habeas corpus de sua competência originária.
I - grave enfermidade do paciente; Art. 667. No processo e julgamento do habeas corpus de com-
Il - não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a petência originária do Supremo Tribunal Federal, bem como nos de
detenção; recurso das decisões de última ou única instância, denegatórias de
III - se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz habeas corpus, observar-se-á, no que Ihes for aplicável, o disposto
ou pelo tribunal. nos artigos anteriores, devendo o regimento interno do tribunal es-
Parágrafo único. O juiz poderá ir ao local em que o paciente se tabelecer as regras complementares.
encontrar, se este não puder ser apresentado por motivo de doença.
Art. 658. O detentor declarará à ordem de quem o paciente
estiver preso. DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DI-
Art. 659. Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violên- REITO PROCESSUAL PENAL
cia ou coação ilegal, julgará prejudicado o pedido.
Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente,
o juiz decidirá, fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) Princípios são os bases que alicerçam determinada legislação,
horas. podendo estarem expressos na ordem jurídica positiva ou implíci-
§ 1o Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em tos segundo uma dedução lógica, importando em diretrizes para o
liberdade, salvo se por outro motivo dever ser mantido na prisão. elaborador, aplicador e intérprete das normas.
§ 2o Se os documentos que instruírem a petição evidenciarem Dita Celso Antônio Bandeira de Melo acerca dos princípios que
a ilegalidade da coação, o juiz ou o tribunal ordenará que cesse ime- “o princípio exprime a noção de mandamento nuclear de um siste-
diatamente o constrangimento. ma”.
§ 3o Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o pacien- O direito processual penal por se tratar de uma ciência, têm
te admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que po- princípios que lhe dão suporte, sejam de ordem constitucional ou
derá ser prestada perante ele, remetendo, neste caso, à autoridade infraconstitucional, que informam todos os ramos do processo, ou
os respectivos autos, para serem anexados aos do inquérito policial sejam, específicos do direito processual penal.
ou aos do processo judicial.
§ 4o Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar Princípios do direito processual penal brasileiro
ameaça de violência ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-
-conduto assinado pelo juiz.
Princípio do Devido Processo Legal
§ 5o Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade
O Princípio do devido processo legal está consagrado, na legis-
que tiver ordenado a prisão ou tiver o paciente à sua disposição, a
lação brasileira, no art. 5º, inciso LIV, da CF/88, e visa assegurar a
fim de juntar-se aos autos do processo.
qualquer litigante a garantia de que o processo em que for parte,
§ 6o Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja
necessariamente, se desenvolverá na forma que estiver estabele-
o da sede do juízo ou do tribunal que conceder a ordem, o alvará
cido a lei.
de soltura será expedido pelo telégrafo, se houver, observadas as
formalidades estabelecidas no art. 289, parágrafo único, in fine, ou
por via postal. Este princípio divide-se em: devido processo legal material, ou
Art. 661. Em caso de competência originária do Tribunal de seja trata acerca da regularidade do próprio processo legislativo, e
Apelação, a petição de habeas corpus será apresentada ao secre- ainda o devido processo legal processual, que se refere a reg ulari-
tário, que a enviará imediatamente ao presidente do tribunal, ou dade dos atos processuais.
da câmara criminal, ou da turma, que estiver reunida, ou primeiro O devido processo legal engloba todas as garantias do direito
tiver de reunir-se. de ação, do contraditório, da ampla defesa, da prova lícita, da re-
Art. 662. Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1o, o cursividade, da imparcialidade do juiz, do juiz natural, etc. O pro-
presidente, se necessário, requisitará da autoridade indicada como cesso deve ser devido, ou seja, o apropriado a tutelar o interesse
coatora informações por escrito. Faltando, porém, qualquer daque- discutido em juízo e resolver com justiça o conflito. Tendo ele que
les requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for obedecer a prescrição legal, e principalmente necessitando atender
apresentada a petição. a Constituição.
Art. 663. As diligências do artigo anterior não serão ordena-
das, se o presidente entender que o habeas corpus deva ser indefe- Conforme aduz o inciso LIV, do art. 5º, da Magna Carta, “nin-
rido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara ou guém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido pro-
turma, para que delibere a respeito. cesso legal”.
Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas A palavra bens, utilizado pelo inciso, está empregado em sen-
corpus será julgado na primeira sessão, podendo, entretanto, adiar- tido amplo, a alcançar tanto bens materiais como os imateriais. Na
-se o julgamento para a sessão seguinte. ação muitas vezes a discussão versa sobre interesses de natureza

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
não material, como a honra, a dignidade, etc, e as consequências O Juiz natural, é aquele dotado de jurisdição constitucional,
de uma sentença judicial não consistem apenas em privar alguém com competência conferida pela Constituição Federativa do Brasil
de sua liberdade ou de seus bens, mas, podem também representar ou pelas leis anteriores ao fato. Pois, somente o órgão pré-constituí-
um mandamento, uma ordem, um ato constitutivo ou desconstitu- do pode exercer a jurisdição, no âmbito predefinido pelas normas
tivo, uma declaração ou determinação de fazer ou não fazer. de competência assim, o referido princípio é uma garantia do juris-
Em razão do devido processo legal, é possível a alegação de dicionado, da jurisdição e do próprio magistrado, porque confere
algumas garantias constitucionais imprescindíveis ao acusado, que ao primeiro direito de julgamento por autoridade judicante pre-
constituem consequência da regularidade processual: viamente constituída, garante a imparcialidade do sistema jurisdi-
a) Não identificação criminal de quem é civilmente identificado cional e cerca o magistrado de instrumentos assecuratórios de sua
(inciso LVIII, da Magna Carta de 1988, regulamentada pela Lei nº competência, regular e anteriormente fixada.
10.054/00);
b) Prisão só será realizada em flagrante ou por ordem judicial Princípio da legalidade da prisão
(inciso LVI, CF/88), que importou em não recepção da prisão admi- A Magna Carta prevê um sistema de proteção às liberdades,
nistrativa prevista nos arts. 319 e 320 do Código de Processo Penal; colecionando várias medidas judiciais e garantias processuais no
c) Relaxamento da prisão ilegal (inciso LXV, CF/88); intuito de assegurá-las.
d) Comunicação imediata da prisão ao juiz competente e à fa- Existem assim as medidas específicas e medidas gerais. Entre
mília do preso (inciso LXII, Carta Magna de 1988); as específicas, são consideradas aquelas voltadas à defesa de liber-
e) Direito ao silêncio, bem como, a assistência jurídica e fami- dades predefinidas, como por exemplo: o Habeas Corpus, para a
liar ao acusado (inciso LXIII, CF/88); liberdade de locomoção. A CF/88 demonstra grande preocupação
f) Identificação dos responsáveis pela prisão e/ou pelo interro- com as prisões, tutelando a liberdade contra elas em várias oportu-
gatório policial (inciso LXIV, Magna Carta de 1988); nidades, direta e indiretamente, impondo limitações e procedimen-
g) Direito de não ser levado à prisão quando admitida liberdade tos a serem observados para firmar a regularidade da prisão, meios
provisória, com ou sem o pagamento de fiança (inciso LXVI, CF/88); e casos de soltura do preso, alguns direitos do detento, e medidas
h) Impossibilidade de prisão civil, observadas as exceções dis- para sanar e questionar a prisão.
postas no texto constitucional (LXVII, CF/88).
Por outro lado, os incisos do art. 5º da Constituição Federal
Princípio da inocência asseguram a liberdade de locomoção dentro do território nacional
O Princípio da inocência dispõe que ninguém pode ser consi- (inciso XV), dispõe a cerca da personalização da pena (inciso XLV),
derado culpado senão após o trânsito em julgado de uma sentença cuidam do princípio do contraditório e da ampla defesa, assim
condenatória (vide art. 5º, inciso LVII, CF/88). como da presunção da inocência (inciso LV e LVII, respectivamente),
e, de modo mais taxativa, o inciso LXI - da nossa Lei Maior - que
O princípio é também denominado de princípio do estado de constitui que
inocência ou da não culpabilidade. Apesar de responder a inquérito “Ninguém será preso senão em flagrante delito, ou por ordem
policial ou processo judicial, ainda que neste seja condenado, o ci- escrita e fundamentada da autoridade competente...”;
dadão não pode ser considerado culpado, antes do trânsito em jul-
gado da sentença penal condenatória. O tratamento dispensado ao O inciso LXV, por sua vez traz que “a prisão ilegal será imediata-
acusado deve ser digno e respeitoso, evitando-se estigmatizações. mente relaxada pela autoridade judiciária; o inciso LXVI, estabelece
que ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei
A acusação por sua vez é incumbida do ônus da prova de cul- admitir a liberdade provisória, com ou sem o pagamento de fiança;
pabilidade, ou seja, a prova com relação a existência do fato e a sua o inciso LXVII, afirma que não haverá prisão civil por dívida, exceto
autoria, ao passo que à defesa incumbe a prova das excludentes de a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de
ilicitude e de culpabilidade, acaso alegadas. Em caso de dúvida, de- obrigação alimentícia e a do depositário infiel; o inciso LXVIII, pres-
cide-se pela não culpabilidade do acusado, com a fundamentação creve que conceder-se-habeas corpus sempre que alguém sofrer ou
legal no princípio do in dubio pro reo. julgar-se ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade
de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; e também pres-
Ratificando a excepcionalidade das medidas cautelares, deven- creve o inciso LXXV, que o Estado indenizará toda a pessoa conde-
do, por conseguinte, toda prisão processual estar fundada em dois nada por erro judiciário, bem como aquela que ficar presa além do
requisitos gerais, o periculum libertatis e o fumus comissi delicti. tempo fixado na sentença.
Restou ainda consagrado no art. 5º, LXIII, da CF/88 que nin-
guém é obrigado a fazer prova contra si, consagrando, assim, o di- Princípio da publicidade
reito ao silêncio e a não auto incriminação. O silêncio não poderá Todo processo é público, isto, é um requisito de democracia e
acarretar repercussão positiva na apuração da responsabilidade pe- de segurança das partes (exceto aqueles que tramitarem em segre-
nal, nem poderá acautelar presunção de veracidade dos fatos sobre do de justiça). É estipulado com o escopo de garantir a transparên-
os quais o acusado calou-se, bem como o imputado não pode ser cia da justiça, a imparcialidade e a responsabilidade do juiz. A possi-
obrigado a produzir prova contra si mesmo. bilidade de qualquer indivíduo verificar os autos de um processo e
de estar presente em audiência, revela-se como um instrumento de
Princípio do juiz natural fiscalização dos trabalhos dos operadores do Direito.
O princípio do juiz natural está previsto no art. 5º, LIII da Cons- A regra é que a publicidade seja irrestrita (também denomi-
tituição Federal de 1.988, e é a garantia de um julgamento por um nada de popular). Porém, poder-se-á limitá-la quando o interesse
juiz competente, segundo regras objetivas (de competência) previa- social ou a intimidade o exigirem (nos casos elencados nos arts. 5º,
mente estabelecidas no ordenamento jurídico, bem como, a proi- LX c/c o art 93, IX, CF/88; arts. 483; 20 e 792, §2º, CPP). Giza-se que
bição de criação de tribunais de exceção, constituídos à posteriori quando verificada a necessidade de restringir a incidência do prin-
a infração penal, ou seja, após da prática da violação, e especifica- cípio em questão, esta limitação não poderá dirigir-se ao advogado
mente para julgá-la. do Réu ou ao órgão de acusação. Contudo, quanto a esse aspecto,

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
o Superior Tribunal de Justiça, em algumas decisões, tem permitido Existe ainda outra aparente exceção à oficialidade da ação pe-
que seja restringido, em casos excepcionais, o acesso do advogado nal, a qual, trata da ação penal popular, instituída pelo art. 14, da Lei
aos autos do inquérito policial. Sendo assim, a regra geral a publi- nº 1.079/50, que cuida dos impropriamente denominados “crimes”
cidade, e o segredo de justiça a exceção, urge que a interpretação de responsabilidade do Presidente da República.
do preceito constitucional se dê de maneira restritiva, de modo a só Esta lei especial esta relacionada ao que alude o art. 85, pa-
se admitir o segredo de justiça nas hipóteses previstas pela norma. rágrafo único, da Constituição Federal de 1988. Perceba-se que os
delitos previstos na legislação de 1950, que foi recepcionada pela
A publicidade traz maior regularidade processual e a justiça Carta de 1988, não atribuem sanção privativa de liberdade. A puni-
da decisão do povo. ção esta restrita à perda do cargo com a inabilitação para a função
pública, na forma do art. 52, parágrafo único, da Constituição Fede-
Princípio da verdade real ral, c/c o art. 2º, da Lei nº. 1079/50.
A função punitiva do Estado só pode fazer valer-se em face
daquele que realmente, tenha cometido uma infração, portanto, o Ficando claro, portanto, que, embora chamadas de “crimes” de
processo penal deve tender à averiguação e a descobrir a verdade responsabilidade, as infrações previstas pela Lei nº. 1079/50 e pelo
real. art. 85, da CF/88 não são de fato delitos criminais, mas sim infra-
No processo penal o juiz tem o dever de investigar a verdade ções político-administrativas, que acarretam o “impeachment” do
real, procurar saber como realmente os fatos se passaram, quem Presidente da República.
realmente praticou-os e em que condições se perpetuou, para dar Os doutrinadores LUIZ FLÁVIO GOMES e ALICE BIANCHINI,
base certa à justiça. Salienta-se que aqui deferentemente da área coerentemente afirmaram que “se for entendido que as condutas
civil, o valor da confissão não é extraordinário porque muitas vezes previstas no art. 10 da Lei 1.079/50 são de caráter penal, torna-se
o confidente afirma ter cometido um ato criminoso, sem que o te- absurdo permitir a todo cidadão o oferecimento da denúncia, pois
nha de fato realizado. amplia o rol dos legitimados para propositura de ação penal, em
total afronta ao art. 129, I, da Constituição, que estabelece a com-
Se o juiz penal absolver o Réu, e após transitar em julgado a petência privativa do Ministério Público”.
sentença absolutória, provas concludentes sobre o mesmo Réu sur-
girem, não poderá se instaurado novo processo em decorrência do Princípio da disponibilidade
mesmo fato. Entretanto, na hipótese de condenação será possível É um princípio cujo o titular da ação penal pode utilizar-se dos
que ocorra uma revisão. Pois, o juiz tem poder autônomo de inves- institutos da renúncia, da desistência, etc. É um princípio exclusivo
tigação, apesar da inatividade do promotor de justiça e da parte das ações privadas.
contrária.
O princípio da disponibilidade significa que o Estado, sem abrir
A busca pela verdade real se faz com as naturais reservas oriun- mão do seu direito punitivo, outorga ao particular o direito de acu-
das da limitação e falibilidade humanas, sendo melhor dizer verda- sar, podendo exerce-lo se assim desejar. Caso contrário, poderá o
de processual, porque, por mais que o juiz procure fazer uma re- prazo correr até que se opere a decadência, ou ainda, o renunciará
construção histórica e verossímil do fato objeto do processo, muitas de maneira expressa ou tácita, causas extas que o isenta de sanção.
vezes o material de que ele se vale poderá conduzi-lo ao erro, isto é,
a uma falsa verdade real. Esclareça-se que ainda que venha a promover a ação penal ,
poderá a todo instante dispor do conteúdo material dos autos, quer
Princípio do livre convencimento perdoando o ofensor, quer abandonando a causa, dando assim lu-
O presente princípio, consagrado no art. 157 do Código de Pro- gar à perempção, ou seja, prescrição do processo. Atente-se que
cesso Penal, impede que o juiz possa julgar com o conhecimento mesmo após proferida a sentença condenatória, o titular da ação
que eventualmente tenha além das provas constantes nos autos, pode perdoar o réu, desde que a sentença não tenha transitado
pois, o que não estiver dentro do processo equipara-se a inexistên- em julgado.
cia. E, nesse caso o processo é o universo em que deverá se ater o
juiz. Tratando-se este princípio de excelente garantia par impedir Princípio da oportunidade
julgamentos parciais. A sentença não é um ato de fé, mas a exte- Baseado no princípio da Oportunidade, o ofendido ou seu re-
riorização da livre convicção formada pelo juiz em face de provas presentante legal pode analisar e decidir se irá impetrar ou não a
apresentadas nos autos. ação. Salienta-se, que o princípio da oportunidade somente será
valido ante ação penal privada.
Princípio da oficialidade O Estado, diante destes crimes concede ao ofendido ou ao seu
Este princípio esta inicialmente relacionado com os princípios representante legal, o direito de invocar a prestação jurisdicional.
da legalidade e da obrigatoriedade. A diretriz da oficialidade funda- Contudo não havendo interesse do ofendido em processar o seu
-se no interesse público de defesa social.
injuriador, ninguém poderá obrigá-lo a fazer. Ainda que a autoridade
Pela leitura do caput do art. 5º da Lei Maior (CF/88), compreen-
policial surpreenda um indivíduo praticando um delito de alçada pri-
de-se que a segurança também é um direito individual, sendo com-
vada, não poderá prendê-lo em flagrante se o ofendido ou quem o re-
petência do estado provê-la e assegurá-la por meio de seus órgãos.
presente legalmente não o permitir. Poderá apenas intervir para que
O art. 144 da Constituição Federal, trata da organização da se-
não ocorra outras conseqüência. A autoridade policial não pode, por
gurança pública do País, ao passo que o art. 4º do Código de Pro-
exemplo, dar-lhe voz de prisão e leva-lo à delegacia para lavratura de
cesso Penal estabelece atribuições de Polícia Judiciária e o art. 129,
auto de prisão em flagrante, sem o consentimento do ofendido.
inciso I, da Constituição Federal especifica o munus do Ministério
Público no tocante à ação penal pública.
O artigo art. 30 do Código Processual Penal estabelece as exce- Princípio da indisponibilidade
ções ao princípio da oficialidade em relação a ação penal privada; e Este princípio da ação penal refere-se não só ao agente, mas
ainda no art. 29 deste Código, para a ação penal privada subsidiária também aos partícipes. Todavia, apresenta entendimentos diver-
da pública. gentes, até porque, em estudo nenhum a doutrina consagra um ou

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
outro posicionamento, entendendo-se que embora possa ensejar o de barganhar, poderá fazê-lo, independente da nova lei. É certo e
entendimento de que tal dispositivo, de fato fere o princípio de in- não se pode negar que com a mobilidade que a lei proporciona ao
disponibilidade e indivisibilidade da ação penal pública, analisando- Ministério Público, à primeira vista pode se sentir que a barganha
-se de maneira ampla e moderna o princípio da indisponibilidade, está sendo facilitada, mas fica a certeza de que não é este advento
no intuito de demonstrar que tal ataque não é uno. que se vê aventar esta possibilidade, pois, como já sustentou-se a
recusa do MP não será um ato discricionário, tampouco livre do de-
Partindo-se de que a atuação do MP no processo penal é dupla, ver de motivação.
com dominus litis e, simultaneamente, com custos legis. E, por estas
razões, o representante do Ministério Público além de ser acusador, Princípio da legalidade
tem legitimidade e, em determinados casos, o dever de recorrer em O Princípio da Legalidade impõe ao Ministério Público o dever
favor do Réu, requerendo-lhe benefícios, etc. Por isso, o Ministério de promover a ação penal.
Público não se enquadra como “parte” na relação formada no pro-
cesso penal, estabelecendo-se meramente como órgão encarrega- O princípio da legalidade atende aos interesses do Estado. Ba-
do de expor os fatos delituosos e representar o interesse social na seado no princípio, o Ministério Público dispõe dos elementos míni-
sua apuração. mos para impetrar a ação penal.
O delito necessariamente para os órgãos da persecução, surge
O código processual penal, dispõe em seu art 42, que o Minis- conjuntamente com o dever de atuar de forma a reprimir a conduta
tério Público não poderá desistir da ação penal, entretanto na mes- delituoso. Cabendo assim, ao Ministério Publico o exercício da ação
ma norma jurídica, estabelece que o MP promoverá e fiscalizará a penal pública sem se inspirar em motivos políticos ou de utilida-
execução da lei, forte no art 257, da referida lei. Necessário se faz de social. A necessidade do Ministério Público invocar razões que
enxergar, que não se tratam de desistências, visto que receberá a o dispensem do dever de propor a ação falam bem alto em favor
denúncia, quanto ao mérito da causa criminal, o que lhe é termi- da tese oposta.
nantemente proibido, mas quando à viabilidade acusatória, e ainda
assim, o não recebimento da denúncia deverá ser justificado, como Para o exercício da ação são indispensáveis determinados re-
diz o dispositivo. Tratando-se, na realidade, de um verdadeiro juízo quisitos previstos em lei, tais como: autoria conhecida, fato típico
de admissibilidade da denúncia, onde são verificadas as condições não atingido por uma causa extintiva da punibilidade e um mínimo
da ação e a definição do quadro probatório. de suporte probatório. Porém, se não oferecer denúncia, o Minis-
tério Público deve dar as razões do não oferecimento da denúncia.
Assim sendo, uma vez constatado materialmente o fato, há que Pedindo o arquivamento em vez de denunciar, poderá ele respon-
se justificar o abordamento da ação penal que o motivou, aqui não der pelo crime de prevaricação
poderá, o Ministério Público ficar inerte. Se a lei lhe conferiu a in-
cumbência de custos legis, com certeza, deve também ter atribuído Nos dias atuais a política criminal está voltada para soluções
a estes instrumentos para o seu exercício. Porém, se verificar que distintas, como a descriminalização pura e simples de certas con-
não há causa que embase o prosseguimento do feito ou da ação dutas, convocação de determinados crimes em contravenções,
penal, o promotor ou procurador deve agir da seguinte forma: afir- dispensa de pena, etc. Também, em infrações penais de menor
mando que em face de aparente contradição, entre a conduta do potencial ofensivo, o órgão ministerial pode celebrar um acordo
representante do Ministério Público que, como autor, não pode com o autor do fato, proponde-lhe uma pena restritiva de direito
desistir da ação penal, e ao mesmo tempo, contudo, agira na qua- ou multa. Se houver a concordância do acusado o juiz homologará
lidade de fiscal da lei, não pode concordar com o prosseguimento a transação penal.
de uma ação juridicamente inviável, sendo a única intelecção que
entende-se ser cabível quanto ao princípio da obrigatoriedade da Por fim, na Carta Magna, além dos princípios estritamente
ação penal é de que o MP não poderá desistir da ação penal se re- processuais, existem outros, igualmente importantes, que devem
conhecer que ela possa ser viável, isto é, se houver justa causa para servir de orientação ao jurista e a todo operador do Direito. Afinal,
a sua promoção. Ocorrendo o contrário, ou seja, reconhecendo o como afirmam inúmeros estudiosos, “mais grave do que ofender
Parquet que a ação é injusta, tem o dever de requerer a não instau- uma norma, é violar um princípio, pois aquela é o corpo material,
ração do processo, com a aplicação subsidiária do art. 267, incisos ao passo que este é o espírito, que o anima”.
VI e VIII, do Código Processual Civil, sob pena de estar impetrando
uma ação penal injusta, desperdiçando os esforços e serviços da
Máquina Judiciária.
EXERCÍCIOS
O art 28 do Código Penal, explana que se o Promotor ao invés
de apresentar a denúncia, pugnar pelo arquivamento do inquérito, 1. Acerca da aplicação da lei processual no tempo e no espaço
o juiz caso considere improcedente as alegações invocadas pelo MP,
e em relação às pessoas, julgue os itens a seguir.
fará a remessa do referido inquérito ao Procurador-Geral, e, este
I O Brasil adota, no tocante à aplicação da lei processual penal
por sua vez, oferecerá a denúncia ou manterá o pedido de arquiva-
no tempo, o sistema da unidade processual.
mento do referido inquérito.
II Em caso de normas processuais materiais — mistas ou híbri-
das —, aplica-se a retroatividade da lei mais benéfica.
Lei nº 10.409/00, traz em seu texto que o Promotor de Justiça
III Para o regular processamento judicial de governador de es-
não poderá deixar de propor a ação penal, a não ser que haja uma
tado ou do Distrito Federal, é necessária a autorização da respectiva
justificada recusa.
casa legislativa — assembleia legislativa ou câmara distrital.
Outrossim, m relação ao inquérito, se ainda houver algum o
juiz o remeterá ao Procurador-Geral, para que este por sua vez, Assinale a opção correta.
ofereça a denúncia, ou reitere o pedido de arquivamento, e assim (A) Apenas o item I está certo.
sendo, ao juiz caberá apenas acatá-lo. Logo, se MP possuir o intuito (B) Apenas o item II está certo.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
(C) Apenas os itens I e III estão certos. (C) A decisão que autoriza a interceptação telefônica deve ser
(D) Apenas os itens II e III estão certos. fundamentada, indicando a forma de execução da diligência,
(E) Todos os itens estão certos. que não poderá exceder o prazo legal nem ser prorrogada, sob
pena de nulidade.
2. Sobre a aplicação da lei processual penal no tempo e no es- (D) A lei processual penal brasileira adota o princípio da abso-
paço, analise os itens a seguir. luta territorialidade em relação a sua aplicação no espaço: não
I. A lei processual penal entra em vigor e passa a ser aplicada cabe adotar lei processual de país estrangeiro no cumprimento
imediatamente, mesmo nas hipóteses em que o delito já tenha sido de atos processuais no território nacional.
cometido, o acusado já esteja sendo processado e extinga modali- (E) A lei processual penal não admite o uso da analogia ou da
dade de defesa. interpretação extensiva, em estrita observância ao princípio da
II. Aplica-se a lei processual penal brasileira quando o crime é legalidade.
cometido por cidadão brasileiro no exterior e ali o autor passa a ser
processado. 5. Acerca dos princípios aplicáveis ao direito processual penal
III. Nos crimes cometidos em embarcações estrangeiras priva- e da aplicação da lei processual no tempo, no espaço, analise as
das estacionadas em portos brasileiros, aplica-se a lei processual assertivas e indique a alternativa correta:
penal de seu país de origem. I - A lei processual penal tem aplicação imediata, nos termos
IV. O cumprimento de sentença penal condenatória emitida do art. 2º do Código de Processo Penal. O legislador pátrio adotou
por autoridade estrangeira não se submete a exame de legalidade o princípio do tempus reget actum, não existindo efeito retroativo.
e correspondência de crimes, cabendo ao juiz criminal aplica-la de II - A lei processual penal se submete ao princípio da retroati-
imediato. vidade in mellius, devendo ter incidência imediata sobre todos os
processos em andamento, independentemente de o crime haver
Assinale a alternativa correta. sido cometido antes ou depois de sua vigência, desde que seja mais
(A) Apenas I e II estão corretos benéfica.
(B) Apenas I e IV estão incorretos III - A busca pela verdade real constitui princípio que rege o
(C) Apenas II e III estão incorretos Direito Processual Penal. A produção das provas, porque constitui
(D) Apenas III e IV estão corretos garantia constitucional, pode ser determinada, inclusive pelo Juiz,
(E) I, II, III e IV estão incorretos de ofício, quando julgar necessário.
IV - O princípio da verdade real comporta algumas exceções,
3. Com relação às regras da lei processual no espaço e no tem- como o descabimento de revisão criminal contra sentença absolu-
po, o Código de Processo Penal vigente adota, respectivamente, os tória.
princípios da lex fori e da aplicação imediata. Com base nessa infor- V - A lei processual penal não admitirá interpretação extensi-
mação, é correto afirmar que va e aplicação analógica, mas admitirá o suplemento dos princípios
(A) as normas do Código de Processo Penal vigente são inapli- gerais do direito.
cáveis, ainda que subsidiariamente, no âmbito da Justiça Mili-
tar e aos processos da competência do tribunal especial. (A) Apenas as assertivas II, III e IV são verdadeiras.
(B) delegado de polícia estadual, que é informado , sobre a prá- (B) Apenas as assertivas I, II e IV são verdadeiras.
(C) Apenas as assertivas I, III e IV são verdadeiras.
tica de crime cometido por promotor de justiça estadual, está
(D) Apenas as assertivas III, IV e V são verdadeiras.
autorizado expressamente por lei, a instaurar inquérito policial
(E) Apenas as alternativas I, III, e V são verdadeiras.
para a apuração dos fatos.
(C) é possível a prisão em flagrante de magistrado estadual por
6. (PC-MA - Perito Criminal – CESPE/2018) A respeito do inqué-
delegado de polícia estadual, quando se tratar de crime ina-
rito policial, assinale a opção correta.
fiançável, sendo obrigatória apenas a comunicação ao presi-
(A) O inquérito policial poderá ser iniciado apenas com base
dente do tribunal de justiça a que estiver vinculado para evitar
em denúncia anônima que indique a ocorrência do fato crimi-
vício do ato. noso e a sua provável autoria, ainda que sem a verificação pré-
(D) a lei processual penal tem aplicação aos processos em trâ- via da procedência das informações.
mite no território brasileiro, contudo, uma hipótese de exclu- (B) Contra o despacho da autoridade policial que indeferir a
são da jurisdição pátria é a imunidade dos agentes diplomáti- instauração do inquérito policial a requerimento do ofendido
cos e seus familiares que com eles vivam. caberá reclamação ao Ministério Público. 
(E) a lei processual penal atende a regra do tempus reígit ac- (C) Sendo o inquérito policial a base da denúncia, o Ministé-
tum, porém a repetição de atos processuais anteriores é exi- rio Público não poderá alterar a classificação do crime definida
gida por lei em observância da interpretação constitucional, pela autoridade policial.
além disso, não é possível alcançar os processos que apuram (D) O inquérito policial pode ser definido como um procedi-
condutas delitivas consumadas antes da sua vigência. mento administrativo pré-processual destinado à apuração das
infrações penais e da sua autoria.
4. Em relação ao direito processual penal, assinale a opção cor- (E) Por ser instrumento de informação pré-processual, o inqué-
reta. rito policial é imprescindível ao oferecimento da denúncia.
(A) De acordo com o procedimento especial de apuração dos
crimes de responsabilidade dos funcionários públicos contra a 7. (PC-SC - Escrivão de Polícia Civil – FEPESE/2017) É correto
administração pública, previsto no CPP, recebida a denúncia e afirmar sobre o inquérito policial. 
cumprida a citação, o juiz notificará o acusado para responder (A) A notitia criminis deverá ser por escrito, obrigatoriamente,
a acusação por escrito, dentro do prazo legal. quando apresentada por qualquer pessoa do povo
(B) A interceptação telefônica será determinada pelo juiz na hi- (B) A representação do ofendido é condição indispensável para
pótese de o fato investigado constituir infração penal punida a abertura de inquérito policial para apurar a prática de crime
com pena de detenção. de ação penal pública condicionada.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
(C) O Ministério Público é parte legítima e universal para reque- (B) A confissão será indivisível e irretratável, sem prejuízo do
rer a abertura de inquérito policial afim de investigar a prática livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em
de crime de ação penal pública ou privada.  conjunto. 
(D) Apenas o agressor poderá requerer à autoridade policial (C) Considera-se indício a circunstância conhecida e provada,
a abertura de investigação para apurar crimes de ação penal que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-
privada. -se a existência de outra ou outras circunstâncias; entretanto,
(E) O inquérito policial somente poderá ser iniciado de ofício tal espécie de prova não é aceita nos tribunais superiores por
pela autoridade policial ou a requerimento do ofendido. violar o princípio constitucional da ampla defesa.
(D) A prova emprestada, quando obedecidos os requisitos le-
8. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário - NUCEPE/2016) Pode-se gais, tem sua condição de prova perfeitamente aceita no pro-
afirmar que a autoridade policial, assim que tiver conhecimento da cesso penal; no entanto, ela não tem o mesmo valor probatório
prática da infração penal deverá:  da prova originalmente produzida. 
(A) intimar às partes para formular quesitos sobre que diligên- (E) O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
cias periciais pretendem fazer.  produzida em contraditório judicial, não podendo fundamen-
(B) telefonar para o local, a fim de determinar que não se alte- tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
rem o estado e a conservação das coisas, até sua chegada.  colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
(C) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, de- repetíveis e antecipadas.
pois que já tiverem sido liberados pelos peritos criminais. 
(D) entregar os pertences do ofendido e do indiciado para seus 12. (PC/GO - Agente de Polícia Substituto - CESPE/2016) No
respectivas familiares.  que diz respeito às provas no processo penal, assinale a opção cor-
(E) preparar um relatório assinado por, pelo menos, três teste- reta.
munhas que presenciaram o fato.  (A) Para se apurar o crime de lesão corporal, exige-se prova pe-
ricial médica, que não pode ser suprida por testemunho.
9. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016) Acer- (B) Se, no interrogatório em juízo, o réu confessar a autoria,
ca de aspectos diversos pertinentes ao IP, assinale a opção correta. ficará provada a alegação contida na denúncia, tornando-se
(A) O IP, em razão da complexidade ou gravidade do delito a ser desnecessária a produção de outras provas.
apurado, poderá ser presidido por representante do MP, me- (C) As declarações do réu durante o interrogatório deverão ser
diante prévia determinação judicial nesse sentido. avaliadas livremente pelo juiz, sendo valiosas para formar o li-
(B) A notitia criminis é denominada direta quando a própria vre convencimento do magistrado, quando amparadas em ou-
vítima provoca a atuação da polícia judiciária, comunicando a tros elementos de prova.
ocorrência de fato delituoso diretamente à autoridade policial. (D) São objetos de prova testemunhal no processo penal fatos
(C) O indiciamento é ato próprio da autoridade policial a ser relativos ao estado das pessoas, como, por exemplo, casamen-
adotado na fase inquisitorial. to, menoridade, filiação e cidadania.
(D) O prazo legal para o encerramento do IP é relevante inde- (E) O procedimento de acareação entre acusado e testemunha
pendentemente de o indiciado estar solto ou preso, visto que a é típico da fase pré-processual da ação penal e deve ser presi-
superação dos prazos de investigação tem o efeito de encerrar dido pelo delegado de polícia.
a persecução penal na esfera policial.
(E) Do despacho da autoridade policial que indeferir requeri- 13. (PC/DF - Perito Criminal - IADES/2016) O Código de Pro-
mento de abertura de IP feito pelo ofendido ou seu represen- cesso Penal elenca um conjunto de regras que regulamentam a pro-
tante legal é cabível, como único remédio jurídico, recurso ao dução das provas no âmbito do processo criminal. No tocante às
juiz criminal da comarca onde, em tese, ocorreu o fato delitu- perícias em geral, as normas estão previstas nos artigos 158 a 184
oso. da lei em comento. Quanto ao exame de corpo de delito, nos crimes
(A) que deixam vestígios, quando estes desaparecerem, a pro-
10. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) O inquérito po- va testemunhal não poderá suprir-lhe a falta.
licial (B) que deixam vestígios, esse exame só pode ser realizado du-
(A) não pode ser iniciado se a representação não tiver sido ofe- rante o dia.
recida e a ação penal dela depender. (C) de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
(B) é válido somente se, em seu curso, tiver sido assegurado o incompleto, proceder-se-á a exame complementar apenas por
contraditório ao indiciado. determinação da autoridade judicial.
(C) será instaurado de ofício pelo juiz se tratar-se de crime de (D) que deixam vestígios, será indispensável o exame de corpo
ação penal pública incondicionada. de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão
(D) será requisitado pelo ofendido ou pelo Ministério Público do acusado.
se tratar-se de crime de ação penal privada. (E) que deixam vestígios, será indispensável que as perícias se-
(E) é peça prévia e indispensável para a instauração de ação jam realizadas por dois peritos oficiais.
penal pública incondicionada.
14. (PC/GO - Escrivão de Polícia Substituto - CESPE/2016)
11. (TJ-MS - Analista Judiciário - Área Fim - PUC-PR/2017) So- Quanto à prova pericial, assinale a opção correta.
bre a prova no direito processual penal, marque a alternativa COR- (A) A confissão do acusado suprirá a ausência de laudo pericial
RETA.  para atestar o rompimento de obstáculo nos casos de furto me-
(A) São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, diante arrombamento, prevalecendo em tais situações a quali-
inclusive aquelas que evidenciam nexo de causalidade entre ficadora do delito.
umas e outras, bem como aquelas que puderem ser obtidas (B) O exame de corpo de delito somente poderá realizar-se du-
por uma fonte independente das primeiras.  rante o dia, de modo a não suscitar qualquer tipo de dúvida,
sendo vedada a sua realização durante a noite.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
(C) Prevê a legislação processual penal a obrigatória participa- (C) Tratando-se de lesões corporais, a falta de exame comple-
ção da defesa na produção da prova pericial na fase investiga- mentar poderá ser suprida pela prova testemunhal.
tória, antes do encerramento do IP e da elaboração do laudo (D) Depende de mandado judicial a realização de exame de cor-
pericial. po de delito durante o período noturno.
(D) Os exames de corpo de delito serão realizados por um (E) Requerido, pelas partes, o exame de corpo de delito, o juiz
perito oficial e, na falta deste, admite a lei que duas pessoas poderá negar a sua realização, se entender que é desnecessário
idôneas, portadoras de diploma de curso superior e dotadas ao esclarecimento da verdade.
de habilidade técnica relacionada com a natureza do exame,
sejam nomeadas para tal atividade. 18. (TJ/RS - Juiz de Direito Substituto – VUNESP/2018) A res-
(E) Em razão da especificidade da prova pericial, o seu resulta- peito das provas, assinale a alternativa correta.
do vincula o juízo; por isso, a sentença não poderá ser contrária (A) São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do proces-
à conclusão do laudo pericial. so, as provas ilegítimas, assim entendidas as obtidas em viola-
ção a normas constitucionais ou legais.
15. (AL/MS - Agente de Polícia Legislativo - FCC/2016) Sobre o (B) A pessoa que nada souber que interesse à decisão da causa
exame de corpo de delito e as perícias em geral, nos termos preco- será computada como testemunha.
nizados pelo Código de Processo Penal, é INCORRETO afirmar:  (C) O exame para o reconhecimento de escritos, tal como o re-
(A) Na falta de perito oficial, o exame será realizado necessa- conhecimento fotográfico, não tem previsão legal. 
riamente por três pessoas idôneas, portadoras de diploma de (D) O juiz não tem iniciativa probatória.
curso superior preferencialmente na área específica, dentre as (E) A falta de exame complementar, em caso de lesões corpo-
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do rais, poderá ser suprida pela prova testemunhal.
exame. 
(B) Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de 19. (PC-SC - Escrivão de Polícia Civil – FEPESE/2017) De acordo
obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os com a norma processual penal, a busca e apreensão:
peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que ins- (A) será apenas domiciliar, não podendo ter como objeto pes-
trumentos, por que meios e em que época presumem ter sido soa.
o fato praticado.  (B) deverá sempre ser precedida de mandado judicial. 
(C) O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou (C) quando feita em mulher, somente poderá ser realizada por
rejeitá-lo, no todo ou em parte.  outra mulher.
(D) Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o (D) poderá ser determinada de ofício ou a requerimento de
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo su- qualquer das partes.
pri-lo a confissão do acusado.  (E) deverá ocorrer na presença, indispensável, do Ministério
(E) Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a auto- Público.
ridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando
não for necessária ao esclarecimento da verdade.
20. (PC/SP - Investigador de Polícia – VUNESP/2018) No que
concerne ao regramento específico das provas no CPP,
16. (PC/PA - Escrivão de Polícia Civil - FUNCAB/2016) A prova
(A) o “reconhecimento de pessoas” em sede policial é diligên-
em matéria processual penal tem por finalidade formar a convicção
cia que não requer qualquer formalidade, sendo facultado ao
do magistrado sobre a materialidade e a autoria de um fato tido
Delegado, caso deseje, alinhar várias pessoas para que o reco-
como criminoso. No que tange aos meios de prova, o Código de
nhecedor aponte o autor do crime.
Processo Penal dispõe:
(A) o exame de corpo de delito não poderá ser feito em qual- (B) a “acareação” é meio de prova expressamente previsto em
quer dia e a qualquer hora. lei, mas não se a admite entre acusados, sendo possível, ape-
(B) quando a infração não deixar vestígios, será indispensável nas, entre testemunhas. 
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo (C) o ascendente pode se recusar a ser “testemunha”, mas, caso
supri-lo a confissão do acusado. não o faça, deverá prestar compromisso de dizer a verdade. 
(C) o exame de corpo de delito e outras perícias serão realiza- (D) consideram-se “documentos” para fins de prova quaisquer
dos por perito oficial, portador de diploma de curso superior. escritos, instrumentos ou papéis públicos, excluídos, expressa-
Na falta de perito oficial, o exame será realizado por uma pes- mente, os particulares.
soa idônea, portadora de diploma de curso superior preferen- (E) a pessoa vítima de crime pode ser objeto de “busca e apre-
cialmente na área específica. ensão”.
(D) no caso de autópsia, esta será feita pelo menos seis horas
depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais 21. De acordo com a Lei n.º 9.296/1996, a interceptação de
de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o comunicações telefônicas
que declararão no auto. (A) poderá ser determinada de ofício por delegado.
(E) não sendo possível o exame de corpo delito, por haverem (B) não será admitida se a prova puder ser obtida por outros
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal não poderá su- meios disponíveis.
prir-lhe a falta. (C) será admitida somente nos casos de crimes em que a pena
mínima for igual ou superior a dois anos de detenção.
17. (PC/PE - Escrivão de Polícia - CESPE/2016) Com relação ao (D) será conduzida por membro do Ministério Público, com vis-
exame de corpo de delito, assinale a opção correta. tas ao delegado, que poderá acompanhar os procedimentos.
(A) O exame de corpo de delito poderá ser suprido indireta- (E) poderá ser prorrogada a cada trinta dias, desde que respei-
mente pela confissão do acusado se os vestígios já tiverem de- tado o prazo máximo legal de trezentos e sessenta dias.
saparecido.
(B) Não tendo a infração deixado vestígios, será realizado o exa-
me de corpo de delito de modo indireto.

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
22. Em relação à prova obtida por meio de interceptação tele- (D) Nos crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e va-
fônica e ao sigilo telefônico, assinale a opção correta, tendo como lores deve ser observado o procedimento processual especial
referência a Lei n.º 9.296/1996 e o entendimento doutrinário e ju- previsto na legislação em vigor.
risprudencial dos tribunais superiores. (E) Não será deferida a interceptação de comunicações telefô-
(A) A prova obtida por força de interceptação telefônica judi- nicas quando o fato criminoso investigado for punido, no máxi-
cialmente autorizada poderá, a título de prova emprestada, mo, com pena de detenção.
subsidiar denúncia em outro feito que investigue crime apena-
do com detenção. 26. (Câmara de Campo Limpo Paulista/SP - Procurador Jurídi-
(B) A quebra do sigilo de dados telefônicos pertinentes aos da- co – VUNESP/2018) Nos expressos e literais termos do artigo 295
dos cadastrais de assinante e aos números das linhas chamadas do CPP, têm direito à prisão especial – que nada mais é do que o
e recebidas submete-se à disciplina da referida legislação. recolhimento em local distinto da prisão comum – entre outros,
(C) A referida lei de regência condiciona a possibilidade de (A) o Vereador, o Magistrado e o Ministro de Confissão Reli-
imposição da medida de interceptação telefônica na fase de giosa.
investigação criminal à instauração do inquérito policial com- (B) o Ministro de Estado, o Governador e o Agente Municipal
petente. de Trânsito.
(D) Para a determinação da interceptação telefônica, é neces- (C) o Prefeito Municipal, o Praça das Forças Armadas e o Minis-
sário juízo de certeza a respeito do envolvimento da pessoa a tro do Tribunal de Contas.
ser investigada na prática do delito em apuração. (D) o Agente Fiscal de Posturas Públicas, o membro da Assem-
(E) Gravação telefônica realizada por um dos interlocutores bleia Legislativa dos Estados e os Delegados de Polícia.
sem o conhecimento do outro e sem autorização judicial ca- (E) o Oficial das Forças Armadas, o diplomado por qualquer das
racteriza meio ilícito de prova por violar o direito à intimidade faculdades superiores da República e o Agente Fiscal de Rendas.
constitucionalmente protegido.
27. (PC/AC - Agente de Polícia Civil - IBADE/2017) Sobre o
23. No que tange a interceptação das comunicações telefônicas tema prisão preventiva assinale a alternativa correta.
e a disposições relativas a esse meio de prova, previstas na Lei n.º (A) Não será permitido o emprego de força, salvo a indispen-
sável no caso de resistência, de tentativa de fuga do preso, dos
9.296/1996, assinale a opção correta.
reincidentes e dos presos de alta periculosidade por terem pas-
(A) A referida medida poderá ser determinada no curso da in-
sado pelo regime disciplinar diferenciado.
vestigação criminal ou da instrução processual destinada à apura-
(B) O mandado de prisão, na ausência do juiz, poderá ser lavra-
ção de infração penal punida, ao menos, com pena de detenção.
do e assinado pelo escrivão, ad referendum do juiz.
(B) A existência de outros meios para obtenção da prova não
(C) O mandado de prisão mencionará a infração penal e neces-
impedirá o deferimento da referida medida.
sariamente a quantidade da pena privativa e de multa, bem
(C)O deferimento da referida medida exige a clara descrição do
como eventual pena pecuniária.
objeto da investigação, com indicação e qualificação dos investiga- (D) A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qualquer
dos, salvo impossibilidade manifesta justificada. hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do do-
(D) A utilização de prova obtida a partir da referida medida para micílio.
fins de investigação de fato delituoso diverso imputado a terceiro (E) A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o respectivo
não é admitida. mandado, salvo quando, por questão de urgência, nos crimes
(E) A decisão judicial autorizadora da referida medida não po- inafiançáveis, poderá a prisão ocorrer por ordem verbal do juiz.
derá exceder o prazo máximo de quinze dias, prorrogável uma única
vez pelo mesmo período. 28. (PRF - Policial Rodoviário Federal – CESPE/2019) Em de-
corrência de um homicídio doloso praticado com o uso de arma
24. Nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de de fogo, policiais rodoviários federais foram comunicados de que o
investigação criminal ou instrução processual penal, a quebra do autor do delito se evadira por rodovia federal em um veículo cuja
sigilo de comunicações telefônicas pode ser determinada placa e características foram informadas. O veículo foi abordado por
(A) pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público. policiais rodoviários federais em um ponto de bloqueio montado
(B) pelo Poder Judiciário, somente. cerca de 200 km do local do delito e que os policiais acreditavam
(C) por autoridade policial e pelo Ministério Público. estar na rota de fuga do homicida. Dada voz de prisão ao condutor
(D) pela fiscalização tributária, somente. do veículo, foi apreendida arma de fogo que estava em sua posse e
(E) pelo Ministério Público, somente. que, supostamente, tinha sido utilizada no crime.
Considerando essa situação hipotética, julgue o seguinte item.
25. Assinale a alternativa correta com relação às disposições De acordo com a classificação doutrinária dominante, a situa-
processuais penais especiais. ção configura hipótese de flagrante presumido ou ficto.
(A) A transação penal prevista na Lei dos Juizados Especiais ( )CERTO
Criminais é aplicável aos crimes praticados contra a violência ( )ERRADO
doméstica.
(B) Na colaboração premiada em crimes de organização crimi- 29. (PRF - Policial Rodoviário Federal – CESPE/2019) Com rela-
nosa, o juiz poderá reduzir a pena privativa de liberdade em até ção aos meios de prova e os procedimentos inerentes a sua colhei-
1/3, desde que a personalidade do colaborador, a natureza, as ta, no âmbito da investigação criminal, julgue o próximo item.
circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato crimi- A entrada forçada em determinado domicílio é lícita, mesmo
noso sejam adequadas à benesse. sem mandado judicial e ainda que durante a noite, caso esteja ocor-
(C) O juiz está adstrito às condições previstas na Lei na hipóte- rendo, dentro da casa, situação de flagrante delito nas modalidades
se de oferecimento de proposta de suspensão condicional do próprio, impróprio ou ficto.
processo. ( )CERTO
( ) ERRADO

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NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
30. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário - NUCEPE/2016) Samuel
teve voz de prisão dada por Agostinho, seu vizinho que é alfaiate, GABARITO
quando tentava esfaquear sua madrasta. Neste caso é possível di-
zer:
(A) Agostinho jamais poderia prender Samuel, pois não é po- 1 B
licial.
(B) Agostinho poderia prender Samuel em 48 (quarenta e oito) 2 E
horas depois, se a polícia não tivesse chegado ao local. 3 D
(C) Em face do flagrante delito, Agostinho poderia sim ter dado
voz de prisão a Samuel. 4 D
(D) Agostinho somente poderia dar voz de prisão a Samuel, se 5 C
este tivesse cometido o crime contra sua genitora.
6 D
(E) Samuel somente poderia ser preso em flagrante, se ele ti-
vesse levado para a Delegacia de Polícia a faca com a qual ten- 7 B
tara esfaquear sua madrasta. 8 C
31. (PC/AC - Delegado de Polícia Civil - IBADE/2017) Tendo em 9 C
vista a correta classificação, considera-se em flagrante delito quem: 10 A
(A) é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, obje-
tos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração, ou 11 E
seja, flagrante impróprio. 12 C
(B) acaba de cometer a infração penal, ou seja, flagrante pró-
13 D
prio.
(C) é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou 14 D
por qualquer pessoa em situação que faça presumir ser autor 15 A
da infração, ou seja, flagrante presumido.
(D) é preso por flagrante provocado. 16 D
(E) está cometendo a infração penal, ou seja, crime imperfeito. 17 C

32. (PC/PA - Investigador de Polícia Civil - FUNCAB/2016) A 18 E


prisão em flagrante consiste em medida restritiva de liberdade de 19 D
natureza cautelar e processual. Em relação às espécies de flagrante, 20 E
assinale a alternativa correta.
(A) Flagrante próprio constitui-se na situação do agente que, 21 B
logo depois, da prática do crime, embora não tenha sido per- 22 A
seguido, é encontrado portando instrumentos, armas, objetos
ou papéis que demonstrem, por presunção, ser ele o autor da 23 C
infração. 24 B
(B) Flagrante preparado é a possibilidade que a polícia possui
25 E
de retardar a realização da prisão em flagrante, para obter
maiores dados e informações a respeito do funcionamento, 26 A
componentes e atuação de uma organização criminosa. 27 D
(C) Flagrante presumido consiste na hipótese em que o agente
concluiu a infração penal, ou é interrompido pela chegada de 28 CERTO
terceiros, mas sem ser preso no local do delito, pois consegue 29 CERTO
fugir, fazendo com que haja perseguição por parte da polícia,
da vítima ou de qualquer pessoa do povo. 31 C
(D) Flagrante esperado é a hipótese viável de autorizar a prisão 31 B
em flagrante e a constituição válida do crime. Não há agente
32 D
provocador, mas simplesmente chega à polícia a notícia de
que um crime será cometido, deslocando agentes para o local,
aguardando-se a ocorrência do delito, para realizara prisão.
(E) Flagrante impróprio refere-se ao caso em que a polícia se
utiliza de um agente provocador, induzindo ou instigando o
autor a praticar um determinado delito, para descobrir a real
autoridade e materialidade de outro.

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