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Avaliação Psicológica: Definição de aspectos

psicométricos segundo alunos de graduação em


psicologia
Bruno Bonfá-Araujo

Eliana Santos de Farias

Janaina Chnaider Miranda

RESUMO
A compreensão da avaliação psicológica é uma importante ferramenta a qualquer profis- Sobre os Autores
sional de Psicologia. O objetivo desta pesquisa foi analisar o conhecimento em avaliação B. B.
psicológica de alunos do curso de Psicologia. Participaram 150 estudantes universitá- https://orcid.org/0000-0003-
rios, 79,3% se declararam do sexo feminino, sendo de duas universidades particulares 0702-9992
do estado de São Paulo, de diversos semestres. Foram utilizados o Conhecimento de Universidade São Francisco,
Avaliação Psicológica (CAP), composto por cinco perguntas abertas e o Questionário de Campinas – São Paulo
brunobonffa@outlook.com
Competências para Avaliação Psicológica (QCAP). Os resultados indicaram que concei-
tos essenciais ainda são mal compreendidos, como aspectos psicométricos e a função E. S. F.
do SATEPSI, constatando uma falta de conhecimento teórico-prático no que diz respeito ORCID: https://orcid.org/0000-
ao processo de avaliação psicológica. Deste modo, é necessário pensar criticamente a 0001-7715-7012
grade de disciplinas dos cursos, estratégias e recursos de ensino que possam melhorar a Centro Universitário São Camilo -
CUSC, São Paulo
formação e atuação em território nacional.
elianass@gmail.com
Palavras-chave: diretrizes de ensino; formação do psicólogo; testagem psicológica.
J. C. M.
https://orcid.org/0000-0001-
5567-6698
ABSTRACT PUC - Campinas, Campinas –
São Paulo
Psychological Assessment: Definition of psychometric aspects according to jana_chnaider@hotmail.com

undergraduate students in psychology


Direitos Autorais
The knowledge of psychological assessment is an important tool for any Psychology pro- Este é um artigo aberto e pode
ser reproduzido livremente,
fessional. The objective of this research was to analyze the knowledge of the psychologi-
distribuído, transmitido ou
cal assessment in undergraduate students of Psychology. Participated 150 undergradua- modificado, por qualquer
tes, 79.3% declared themselves female, being from two private universities in the state of pessoa desde que usado sem
São Paulo, from several semesters. We used the Knowledge of Psychological Assessment fins comerciais. O trabalho é
(CAP), composed of five open questions and the Competence Questionnaire for Psycho- disponibilizado sob a licença
logical Assessment (QCAP). The results indicated that essential concepts are still poorly Creative Commons CC-BY-NC
understood, such as psychometric aspects and the SATEPSI function, evidencing a lack of
theoretical-practical knowledge regarding the psychological assessment process. Thus,
it is necessary to think critically about the discipline of courses, strategies and teaching
resources that can improve the training and performance in national territory.
Keyword: teaching guidelines; psychologists’ education; psychological testing.

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A avaliação psicológica (AP) é um processo amplo cabe aos psicólogos o bom senso, o comprometimento
e complexo que exige do psicólogo um grande conheci- profissional e uma ética deontológica baseada em bus-
mento teórico e técnico (Borsa, 2016). O processo de AP car conhecimento e domínio dos testes utilizados em sua
constitui o uso de técnicas, estratégias e métodos psico- prática e práxis profissional, a qual, em geral, ocorre in-
lógicos, sendo a única atividade privativa do psicólogo formalmente por meio de grupos de estudos ou cursos
garantida na lei que regulamenta a profissão (ver artigo complementares.
13, §1 da lei 4.119/1962). A prática da AP é fiscalizada
e passível de punição em caso de violações e uso impró- Ainda que a AP no Brasil tenha tido avanços desde
prio, a partir da criação do Sistema Conselhos — Conse- a década de 1990 (Alchieri & Cruz, 2003), a formação
lho Federal de Psicologia (CFP) e Conselhos Regionais de dos psicólogos, de uma forma geral, é deficiente. Muitos
Psicologia (CRP) (Presidência da República, Casa Civil, psicólogos atuam nesta área sem uma formação técni-
Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1962, 1971). ca e teórica necessária (Borsa, 2016). As disciplinas que
abrangem a avaliação psicológica são, em sua maioria,
Mesmo assim, durante muitos anos a formação em ministradas por docentes especialistas, mestres ou dou-
AP no Brasil foi considerada insatisfatória (Ambiel et al., tores formados fora da especificidade da AP (Ambiel et
2019). Principalmente a partir da década de 1990, docen- al., 2018). Sugerindo a possibilidade de haver falta de
tes e psicólogos atuantes em diversos contextos se mo- preparo dos docentes, por sua vez relacionada ao pouco
bilizaram com o objetivo de melhorar a preparação dos investimento que o psicólogo faz em seu aprimoramento
alunos de graduação em Psicologia no que se refere à for- profissional depois da graduação, afetando, consequen-
mação em avaliação psicológica (Alchieri & Cruz, 2003; temente o nível de qualidade de ensino, o que alimenta
Noronha et al., 2014). um tipo de ciclo vicioso (profissionais mal formados, en-
sino ruim, prática ruim) (Ambiel et al., 2017; Mendes et
Visando a contribuir com o desenvolvimento técnico al., 2013).
e científico dos psicólogos que trabalham com AP, assim
como assegurar o respeito da prática com seres huma- No que se refere à pesquisa em avaliação psicológica,
nos, o Conselho Federal de Psicologia determinou, por a vinculação de linhas de pesquisa a importantes institui-
meio da Resolução 009/2018 (que revoga a 002/2003, ções de ensino, tem contribuído para o grande aumento
006/2004 e 005/2012), que é responsabilidade dos cur- de publicações na área (Borsa, 2016). De modo que, mais
sos de Psicologia oferecer um plano de ensino que ga- de 80% dos docentes de AP estão envolvidos em ativida-
ranta o ensino apropriado do manejo e compreensão dos des de atualização profissional (Bardagi et al., 2015). Em
testes psicológicos (CFP, 2018). contrapartida, de acordo com Mendes et al. (2013), a falta
de uma diretriz específica sobre o plano de ensino em AP,
Essa resolução, com o objetivo de reafirmar a quali- assim como o pouco interesse dos docentes em se atu-
dade técnico científica de instrumentos psicológicos, re- alizar, são os responsáveis pela defasagem no desenvol-
estabeleceu que os testes psicológicos são instrumentos vimento de competências e habilidades dos graduandos
de uso exclusivo do psicólogo, estabelecendo diretrizes em Psicologia.
que norteiam a atuação do psicólogo no que se refere
à avaliação psicológica em diversos contextos, como O conhecimento da definição sobre critérios psicomé-
trânsito (e.g., Santos et al., 2018), escolar (e.g., Gomes et tricos é tão essencial como o domínio das atualizações
al., 2018; Marques et al., 2018; Nakano et al., 2010), clíni- desses conceitos. Reforçando a necessidade da continui-
co (e.g., Campos, 2017) e esporte (e.g., Garcia & Borsa, dade dos estudos dos profissionais em avaliação psico-
2016), dentre outros. lógica após a graduação, uma vez que é comum a estes
profissionais concluírem a graduação com um conheci-
No Brasil, embora haja leis, resoluções e documentos mento superficial para a sua prática e práxis profissional
que determinam padrões para construção e uso de testes (Mendes et al., 2013). De modo que, mesmo durante o
psicológicos (e.g., American Educational Research Asso- período de formação, os graduandos tendem a avaliar
ciation [AERA], American Psychological Association [APA] conceitos da área como importantes, porém consideram
& National Council on Measurment in Education [NCME], ao longo da formação que pouco dominam a temática,
2014; CFP, 2018), ainda não há diretrizes que determinem fato esse que pode se expandir para a prática profissional
a necessidade de especialização do psicólogo para o ma- (Noronha et al., 2009).
nuseio de qualquer que seja o instrumento e sua comple-
xidade, como ocorre com os profissionais estaduniden- Uma falha no processo de formação e avaliação de
ses, por exemplo (Noronha et al., 2014). Nesse contexto, clientes, mesmo que não proposital, pode contribuir para

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uma rotulação do sujeito, bem como para o processo de graduandos de Psicologia sobre os critérios psicométri-
exclusão (Moura, 2017). Nesse sentido, o Conselho Fe- cos, bem como identificar o nível de conhecimento sobre
deral de Psicologia prevê como falha ética do profissio- avaliação psicológica dos alunos em concordância com
nal a não consideração dos critérios estabelecidos pela os semestres no qual estão inseridos. A priori, hipoteti-
Resolução 009/2018, além de avaliações pautadas em zou-se que, conforme encontrado no estudo de Mendes
resultados aos quais o profissional não possui domínio et al. (2013), os estudantes de Psicologia têm uma visão
(CFP, 2018). distorcida sobre os conceitos da avaliação psicológica.

Pensando nessas questões que influenciam uma for-


mação mais especializada para o fazer em AP, um exem-
plo pode ser considerado. A Universidade Federal do Rio MÉTODO
Grande do Sul estabeleceu um espaço para a prática de
seus graduandos em Psicologia, denominado de Centro
de Avaliação Psicológica (CAP), sendo o principal objeti- PARTICIPANTES
vo deste a possibilidade de aprendizado teórico-técnico-
-prático aos futuros profissionais (Borsa et al., 2013). Participaram do estudo 150 estudantes universitários
do estado de São Paulo na região Sudeste do país, to-
Outras instituições lançam mão de outras estratégias dos alunos do curso de Psicologia de duas universidades
como oficinas, atendimentos de casos clínicos e monito- privadas. Do total de participantes 38% estavam matri-
rias em avaliação psicológica que permitem ao formando culados no terceiro semestre, 16% no segundo, 14,7% no
vivenciar, melhor e fora da sala de aula, as necessidades, sexto, 12,7% no quinto, 12% no décimo, 2%, respectiva-
limites e dificuldades do fazer profissional (e.g. Fernan- mente, no sétimo, oitavo e nono semestre e 0,7% no quar-
des et al., 2015; Janasi et al., 2017; Rabelo et al., 2016; to semestre. A faixa etária variou entre 18 e 55 anos (M
Souza & Barboza, 2014). Outros autores propõem que as = 24,99; DP = 8,45); 79,3% se declarou do sexo feminino, e
instituições de ensino superior (IES), por meio de seus 20,7% do sexo masculino.
professores de AP, possam permitir espaços e situações
em que os alunos possam experienciar, desenvolver cri-
ticidade, criatividade e outras competências no fazer de INSTRUMENTOS
avaliação psicológica. Estas estratégias podem contri-
buir para desmistificar a prática e ajudar a desenvolver Questionário de identificação: elaborado com o obje-
um pensamento mais crítico e contextualizado, visto que, tivo de identificar características dos participantes, como
às vezes, esse aluno terá que escolher outros recursos idade, sexo e semestre.
para além dos testes com parecer favorável pelo SATEP- Roteiro com itens sobre o Conhecimento de Avalia-
SI. Este fato se dá devido a não termos instrumentos que ção Psicológica (CAP; Mendes et al., 2013): Composto
atendam aos critérios mínimos para uso estabelecidos por seis questões que objetivam avaliar o conhecimento
pelo CFP que possibilitem investigar todos os construtos de estudantes de Psicologia sobre avaliação psicológica,
no âmbito psicológico (CFP, 2018; Moura, 2017; Noronha a saber: 1 - Como você define a avaliação psicológica?; 2 -
& Reppold, 2010). Quais os métodos que o psicólogo pode usar durante um
Desta maneira deve-se, portanto, considerar a neces- processo de avaliação psicológica?; 3 - Você sabe qual a
sidade de atualização de formação e ensino da avaliação função do SATEPSI, criado pelo CFP?; 4 - Quais os requi-
psicológica no Brasil. São diversas as adversidades en- sitos mínimos para um teste estar autorizado para o uso
frentadas no processo de ensino deste tópico, partindo do psicólogo?; 5 - O que você sabe sobre validade de um
da relação aluno-professor até o caráter tecnicista com teste?; 6 - O que você sabe sobre precisão de um teste?
enfoque apenas no psicodiagnóstico (Bardagi et al., O instrumento CAP foi corrigido a partir de um tipo de
2015; Freires et al., 2017; Gouveia, 2018). Desta forma, é rubrica sobre respostas esperadas e aceitáveis (pré-es-
imprescindível uma melhor sistematização para o ensino tabelecidas), elaboradas a partir do estudo de Mendes et
do tópico de maneira nacional. al. (2013), sendo pontuado no seguinte formato: 0 - “Não
A partir do exposto e inspirado pelo estudo de Mendes sabe ou não respondeu”, 1 - “Não apresentou nenhum dos
et al. (2013), objetivou-se investigar o conhecimento de conceitos esperados”, 2 - “Apresentou um dos conceitos
esperados”, 3 - “Apresentou dois ou todos os conceitos

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esperados”. Foram consideradas as seguintes respostas PROCEDIMENTOS


para os outros itens: 1- A avaliação psicológica é defini-
da pelo Conselho Federal de Psicologia (2018) como um O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
processo técnico e científico de coleta de dados, estudos Pesquisa (CAAE: 89822418.9.0000.5497), assim como as
e interpretação de informações a respeito dos fenômenos autoras dos instrumentos foram consultadas para utiliza-
psicológicos; 2 - O psicólogo pode fazer uso de estratégias ção destes. Após aprovação foi construído um formulário
psicológicas assim como métodos, técnicas e instrumen- na plataforma Google Forms, sendo este divulgado no Fa-
tos; 3 - O SATEPSI é uma norma de certificação de instru- cebook, em grupos específicos de Psicologia e avaliação
mentos de avaliação psicológica que avalia e qualifica os psicológica. O período de coleta de dados ocorreu nos
instrumentos em apto ou inapto para uso profissional, a meses de setembro e outubro de 2018. Para responder ao
partir da verificação objetiva de um conjunto de requisitos questionário de identificação e aos dois instrumentos, o
técnicos mínimos; 4 - Fundamentação teórica, estudos respondente deveria inicialmente concordar com as infor-
sobre propriedades psicométricas, principalmente sobre mações apresentadas no Termo de Consentimento Livre
validade e precisão, bem como informações sobre seu sis- e Esclarecido (TCLE), não sendo necessário identificar-se
tema interpretativo; 5 - Um instrumento é válido quando pelo nome. Estima-se que o tempo necessário para res-
mede o que supostamente se propõe medir e 6 - Um instru- ponder aos instrumentos era de 30 minutos.
mento é preciso quando ele mede sem erros, de maneira
que os escores obtidos pela mesmo pessoa em ocasiões Todos os estudantes realizaram o Conhecimento de
diferentes ou em diferentes conjuntos de itens equivalen- Avaliação Psicológica (CAP), contudo apenas 36 realiza-
tes têm que ser coerentes. ram o Questionário de Competências para Avaliação Psi-
cológica (QCAP). Como não havia a condição obrigatória
Questionário de Competência para Avaliação Psico- de responder ao QCAP no formulário online, inclusive por
lógica (QCAP; Noronha et al., 2007): Composto por 20 esta condição não ir ao encontro do objetivo principal des-
afirmações, que objetivam identificar a “Importância” e o te estudo, alguns estudantes optaram, de modo individual
“Domínio” que os estudantes têm em relação à avaliação e espontâneo, por não responder ao instrumento.
psicológica, os itens são respondidos em formato tipo Li-
kert de três pontos para cada fator (“nada” a “muito im-
portante” e “nenhum” até “muito domínio”). Destaca-se que
todos os itens são respondidos para ambos os fatores,
ANÁLISE DE DADOS
sendo que o fator Importância retrata o nível de relevân-
cia atribuído ao conteúdo dos itens, assim como o fator Os dados foram analisados no software Statis-
Domínio representa a competência dos respondentes no tical Package for Social Sciences (SPSS), versão 23. Para
que diz respeito às afirmações. A análise fatorial indicou a categorização da amostra, foram utilizadas estatísticas
seis dimensões, três para o fator Domínio (Aplicação da descritivas, o cálculo de média e desvio padrão foi realiza-
avaliação psicológica; Construção de testes psicológicos; do para ambos instrumentos.
Utilização de um teste psicológico na avaliação psicológi-
ca) e três para o fator Importância (Aplicação da avaliação
psicológica; Correção e intepretação de testes psicológi- RESULTADOS
cos; Construção de testes psicológicos). Os índices de
precisão do instrumento indicaram um alfa de Cronbach A partir do objetivo de compreender o conheci-
que variaram entre 0,87 para a escala total de Importância mento de avaliação psicológica de estudantes de Psico-
e 0,93 para a escala total de Domínio (Rueda et al., 2009). logia, foram analisadas as médias dos alunos por meio
Alguns exemplos de itens são, 1 - “Aplicar os princípios de dois instrumentos. A Tabela 1 apresenta os resultados
éticos na avaliação psicológica”; 10 - “Interpretar tabelas de seis questões abertas, englobando desde itens mais
dos manuais de testes” e 19 - “Conhecer e fazer uso das simples como a definição da avaliação psicológica, até
condições adequadas para a testagem e aplicação dos itens mais complexos como o conceito de validade e pre-
instrumentos”. cisão.

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tos básicos sobre avaliação: definição e método. Assim


Tabela 1: Média das questões do Conhecimento de
como no estudo de Mendes et al. (2013), esses resulta-
Avaliação Psicológica (CAP) dos são alarmantes porque os alunos, uma vez formados,
usarão a avaliação psicológica aonde quer que atuem.
n M DP
Esse estudo ressalva o que foi apontado por Moura
1. Definição da AP 150 1,85 0,79 (2017), quando fala da necessidade de desmistificar a
2. Métodos utilizados avaliação psicológica para os graduandos. Muitos verba-
150 1,93 1,25
em AP lizaram escolher o curso de Psicologia por não ter afinida-
de com disciplinas que requerem cálculo e/ou habilidade
3. SATEPSI 150 0,89 1,10
numérica. Assim, quanto aos critérios básicos para que
4. Requisitos para o uso um teste possa ter parecer favorável por meio do SATEP-
150 1,39 0,98
de testes SI, como evidências de validade e precisão, bem como
5. Validade 150 0,87 1,01 para buscar estes critérios nos instrumentos e entendê-
-los nos manuais de testes psicológicos, os alunos pare-
6. Precisão 150 0,94 0,87 cem alienar-se das definições científicas, sem demons-
trar competências para escolher, de modo consciente e
responsável, o instrumento que melhor atende sua neces-
Considerando os dados encontrados, apenas os itens sidade profissional.
1 e 2 ficaram acima da média, sendo estes a definição
da avaliação psicológica e quais estratégias o psicólogo Por outro lado, ao se considerarem os resultados com
pode utilizar durante o processo de avaliação. Os outros o QCAP (Noronha et al., 2007), embora respondido por
quatro itens tiveram resultados abaixo da média, sendo uma minoria dos participantes, as implicações parecem
o item 5 (a definição do conceito de validade) o de pior menos incoerentes, visto que as pontuações menores fo-
resultado, outro item que aparece com uma média abaixo ram nos itens que tratam da construção de instrumentos.
do esperado é o item 3, sobre a função do SATEPSI. A Espera-se que os graduandos em Psicologia sejam for-
Tabela 2 apresenta as médias dos participantes no QCAP, mados para conhecer as possibilidades e recursos para
indicadas a partir das duas dimensões principais do ins- fazerem uma AP de qualidade, considerando todo o ins-
trumento (Importância e Domínio). trumental à disposição. No geral, não são formados para
construir testes psicológicos. Este tipo de conhecimento
No que diz respeito à Importância, os resultados é mais utilizado pelos profissionais que seguem seus es-
que apresentaram maiores médias foram a aplicação tudos no stricto sensu, construindo uma carreira acadêmi-
dos princípios éticos, a interpretação precisa dos instru- ca-científica (Bandeira, 2018). Como aqueles com menor
mentos psicológicos e as condições e comunicação do média em relação ao domínio foram itens de experiência
processo de testagem. Por outro lado, itens como fun- supervisionada, reitera-se, assim como na literatura desse
damentação teórica e processo de construção dos ins- escrito, a necessidade de estratégias de ensino que possi-
trumentos foram considerados menos importantes. A di- bilitem experiências reais como a monitoria e estágios su-
mensão Domínio apresentou uma maior média em itens pervisionados em avaliação psicológica que contemplem
como a aplicação dos princípios éticos e a capacidade a etapa de testagem igualmente (Ambiel et al., 2017).
de compreensão dos estudos de validade e precisão, já
as menores médias foram apresentadas em itens como No mais, intenta-se para o fato mais amplo: a neces-
o processo de construção de instrumentos e experiência sidade de melhoria no ensino de AP durante a graduação
supervisionada em avaliação. em Psicologia nas instituições de ensino superior (IES)
brasileiras. Não basta que os docentes nas disciplinas de
avaliação psicológica estejam atualizados, como aponta-
DISCUSSÃO do no estudo de Bardagi et al. (2015). Faz-se impreterível
pensar criticamente a grade de disciplinas dos cursos,
Ao considerar os objetivos desta pesquisa, bem como conteúdos, bibliografia, estratégias e recursos de ensino
os dados coletados e analisados, sobressaiu-se preocu- que alcancem os formandos a fim de melhorar a formação
pantemente que esses alunos, distribuídos em diversos e atuação em território nacional. Faz-se necessário no en-
momentos do curso de graduação em Psicologia, inclusi- sino de Psicologia, perpassando inclusive pelos docentes
ve último semestre, souberam explicar apenas os concei- de quaisquer outras disciplinas, que se compreenda que a
avaliação psicológica é um processo amplo, que pode ou

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Tabela 2.: Média das questões do Questionário de Competência para Avalia-


ção Psicológica (QCAP)

Importância Domínio
Itens n
M DP M DP
1. Aplicação dos princí-
36 3,00 0,00 2,11 0,82
pios éticos
2. Fundamentação
36 2,81 0,47 1,67 0,63
teórica
3. Psicopatologia 36 2,92 0,28 1,61 0,64
4. Construtos psicoló-
36 2,89 0,32 1,64 0,68
gicos
5. Gama de testes
36 2,83 0,38 1,64 0,68
psicológicos
6. Psicometria 36 2,83 0,38 1,64 0,72
7. Parecer psicológico 36 2,92 0,28 1,72 0,74
8. Construção do ins-
36 2,81 0,40 1,61 0,69
trumento
9. Validade e precisão 36 2,89 0,32 1,92 0,77
10. Interpretação de
36 2,92 0,37 1,78 0,83
manuais
11. Leitura de manuais 36 2,89 0,32 1,86 0,76
12. Seleção de instru-
36 2,89 0,40 1,78 0,80
mentos
13. Estatística 36 2,89 0,32 1,72 0,74
14. Usar e interpretar
36 2,92 0,37 1,69 0,82
instrumentos
15. Questões do cliente 36 2,89 0,40 1,69 0,75
16. Interpretação
36 2,97 0,17 1,89 0,85
precisa
17. Comunicação de
36 2,94 0,33 1,89 0,89
resultados
18. Aspectos legais 36 2,89 0,40 1,92 0,87
19. Condições para
36 2,94 0,33 1,83 0,81
testagem
20. Experiência super-
36 2,92 0,37 1,56 0,81
visionada
Escala total 57,95 6,59 35,17 15,32

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não fazer uso de testes psicológicos. Deste modo, todos American Educational Research Association [AERA],
os profissionais ao realizarem um diagnóstico, avaliação, American Psychological Association [APA], & National
pesquisa, ou qualquer outro termo empregado nesse sen- Council on Measurment in Education [NCME] (2014).
tido, deveriam considerar aspectos científicos e éticos, Standards for educational and psychological testing.
amparados por leis federais e documentos reguladores do American Educational Research Association.
nosso conselho de classe, independente do uso de testes Bandeira, D. R. (2018). A controvérsia do uso dos testes
como um dos recursos para fazer AP e campo de trabalho. psicológicos por psicólogos e não psicólogos. Psi-
Algumas limitações devem ser conceituadas para este cologia: Ciência e Profissão, 38, 159-166. https://doi.
estudo, a primeira delas diz respeito à quantidade e loca- org/10.1590/1982-3703000208860
lização geográfica dos estudantes analisados. Estudos Bardagi, M. P., Teixeira, M. A. P., Segabinazi, J. D., Scheli-
futuros devem buscar ampliar o número amostral, assim ni, P. W., & Nascimento, E. (2015). Ensino da Avaliação
como coletar dados de estudantes de todas as regiões do Psicológica no Brasil: levantamento com docentes de
Brasil para uma melhor compreensão do panorama nacio- diferentes regiões. Avaliação Psicológica, 14(2), 253-
nal. A segunda limitação retrata o processo de correção 260. https://doi.org/10.15689/ap.2015.1402.10
subjetivo do instrumento Conhecimento de Avaliação Psi- Borsa, J. C., Oliveira, S. E. S., Yates, D. B., & Bandeira, D. R.
cológica (CAP). Apesar de terem sido estabelecidos con- (2013). Centro de Avaliação Psicológica - CAP: Uma
teúdos para as respostas (rubricas), avaliadores diferentes clínica-escola especializada em avaliação e diagnós-
podem atribuir pontuações diferentes. Sugere-se que o ins- tico psicológico. Psicologia Clínica, 25(1), 101-114.
trumento seja ampliado, de modo que possam ser indica- https://doi.org/10.1590/S0103-56652013000100007 
das respostas consideradas certas ou erradas, sem vieses
de julgamento de valor. Borsa, J. C. (2016). Considerações sobre a formação e a
prática em Avaliação Psicológica No Brasil. Temas em
Psicologia,  24(1), 131-143.  https://doi.org/10.9788/
DECLARAÇÃO DE CONFLITOS DE INTERESSE TP2016.1-09
Campos, R. C. (2017). Do processo de avaliação da perso-
Os autores declaram que não há conflitos de interesse
nalidade em contextos clínicos ao diagnóstico psico-
no manuscrito submetido.
dinâmico: Contributos para uma avaliação psicológica
psicodinâmica. Revista Iberoamericana de Diagnósti-
co y Evaluación e Avaliação Psicológica, 2(44), 44-56.
REFERÊNCIAS https://doi.org/10.21865/RIDEP44.2.04
Conselho Federal de Psicologia. (2018). Resolução CFP
Alchieri, J. C., & Cruz, R. M. (2003). Avaliação psicológica: n. 009/2018: Estabelece diretrizes para a realização
Conceito, métodos e instru- mentos. Casa do Psicólo- da Avaliação Psicológica no exercício profissional da
go. psicóloga e do psicólogo, regulamente o Sistema de
Ambiel, R. A. M., Baptista, M. N., Bardagi, M. P., & Santos, Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI e revoga
A. A. A. (2018). Ensino de avaliação psicológica: Di- as Resoluções n. 002/2003, n. 006/2004 e n.005/2012
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Primeira decisão editorial: 25/06/2019
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Aceite em 01/08/2019

INTERAÇÃO EM PSICOLOGIA | vol 24 | n 02 | 2020 118

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