Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Apostila Aula 01 - Curso de Yoga

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 31

INTRO-

DUÇÃO

Para iniciar esse curso,


a primeira concepção que eu quero
que você tenha do yoga
é que ele é uma prática que lhe reintegra.
Ele atua sobre sua mente,
seu corpo e suas emoções também.
E a segunda coisa que eu quero
que você tenha em mente
é que o conteúdo que vamos ver
ao longo destas quatro aulas
mudou completamente a minha vida
e a de muitas pessoas, e a minha missão
é levar você nesta mesma trilha
de transformação extraordinária.
A BASE
DO YOGA
Quando falamos em yoga, lembramos automaticamente
da máxima Hindu:

“Eu não sou o corpo, eu não sou a mente, eu sou a


consciência que tudo observa.”

Esta é a base de todo o conhecimento que se tem sobre


a meditação, sobre o autoconhecimento e sobre qualquer
espiritualidade. Você não é somente o corpo, você não
é somente a mente.

E nesse momento, você deve estar se perguntando:


“mas afinal de contas, se não sou corpo e nem mente,
o que eu sou?”

Bom, para chegar na resposta desta pergunta, vamos ter


que começar lá do início. Você está preparado? Então va-
mos lá!

O primeiro ponto que temos que entender aqui é a base


do yoga. A palavra “yoga” vem do prefixo “Yuj”, que
significa refrear, reunir. Vamos a um exemplo prático para
explicar melhor:

Imagine que você está trilhando um caminho em cima

3
de um cavalo. De repente, este cavalo vê um pasto ou
uma poça d’ água e tenta fugir para ir atrás daquilo que
o atraiu. Neste momento, você pega as rédeas e o coloca
novamente na trilha, no eixo. E aqui eu pergunto a você:
quem tentou se dispersar desta trilha correta, você ou o
cavalo? Não foi você, foi o cavalo.

Você queria seguir naquele caminho que você sabe que é


o correto, mas o cavalo tem uma vida própria e insiste em ir
para o lado errado.

E o que é este cavalo? É a sua mente. Você não tem um


controle total a respeito dele, - e nem da sua mente - mas
você consegue colocá-lo de volta no trilho e continuar na
mesma direção.

O que acontece muitas vezes na prática de yoga é que vo-


cê senta para meditar, “seu cavalo” está na trilha certa e,
de repente, o cavalo - e a sua mente - vê algo interessante
e sai do caminho correto. Quando você percebeu, você
fugiu da sua própria trilha, você se desvirtuou. Você deixou
com que a sua mente desvirtuasse o seu caminho.

Esta situação acontece sempre, em toda meditação. Você


tem um objeto de concentração no qual você repousa a sua
atenção. Você foca na sua trilha e, de repente, o cavalo - ou
a sua mente - lhe leva para passear. A sua mente leva você
para um mundo irreal que te faz sofrer muitas vezes.

4
Se você já meditou, você já passou por isso e sabe o quão
difícil é voltar para o caminho certo, para a consciência e
para a presença.

O meditador é um puxador de rédeas: ele está sempre


redirecionando para o caminho certo.

O meditador está sempre tentando se voltar novamente


para aquilo que ele está executando: a presença. Esta
presença, como pode-se imaginar pelo seu próprio nome,
não faz uma relação com o passado e nem com o futuro,
apenas com o presente, com o agora.

É no agora que você constrói a sua vida.

Quando você viaja mentalmente para outro lugar, você


sempre está usando figuras e símbolos que você viu no
passado. Quando você realiza estas viagens mentais, você
está reinventando o passado de alguma forma. Você não
está conhecendo nada de novo.

Você só pode conhecer algo novo no agora, na presença.


Se você não está no agora, você está apenas observando
novamente aquilo que já viu no passado.

5
Perceba que dentro de uma ideia muito simplista, que é
de apenas repousar a sua concentração sob um objeto,
existe um conhecimento muito profundo. A sabedoria que
você descompacta ao realizar este simples exercício físico
e terreno é transformadora.

O QUE ACONTECE
NA MEDITAÇÃO
Agora, vamos voltar ao cavalo e a ideia básica da medi-
tação. Para começar esta prática, é muito comum o uso
de meditações guiadas, que ajudam você a percorrer
um caminho na direção certa. Você inicia rondando com
a sua mente o seu próprio corpo físico e, ao perceber o
seu corpo terreno, se situa no presente.

Quando você inicia a meditação guiada, você começa a


direcionar a sua mente para algum objeto de concentra-
ção, que nada mais é do que aquele caminho que você
quer que o seu cavalo trilhe. Você quer viver este momento
experienciando aquilo que você está repousando sua
atenção, seja isto uma vela, seu corpo ou sua respiração. No
momento em que o seu cavalo - ou sua mente - sai do rumo
correto, você o traz de volta.

Este movimento de trazer de volta a sua atenção para o seu


objeto de concentração é o Yuj. É você trazer a sua mente
novamente para trilhar o caminho que você deseja trilhar.

6
Agora, voltando para aquela máxima de que você não é
o corpo e nem a mente, mas sim a consciência, perceba
que quando você faz algo errado, é a consciência que
pesa. Perceba que de nada adianta um corpo feliz e uma
consciência pesada. Um ego inflado também de nada
adianta, quando a consciência está pesada por ter ma-
goado alguém.

Se você errou com alguém na sua vida, você sempre terá


isto na sua consciência. E perceba: na maior parte das
vezes que se erra, você está buscando beneficiar seu corpo
e a sua mente e, por isto, acaba ferindo a sua consciência.

Você se identificar com a consciência lhe leva a não fazer


aquilo que a pesa. Você é a consciência. É somente isto que
vai ficar para sempre com você.

Você é, sempre foi e sempre será. Você pode mudar


a sua ideologia, seus pensamentos e seu corpo, mas a sua
consciência estará para sempre com você.

No processo de elevação espiritual e de autoconhecimento,


você descobrirá que você é a consciência e que é através
dela que você deve agir.

Portanto, o yoga é a prática de meditação. É a prática que


vai trazer você sempre de volta ao objeto de concentração.
Ele vai reunir e reconectar.

7
Quando você medita, você coloca a intenção de manter
o foco naquilo que é o seu objeto de concentração.
Rapidamente, virão pensamentos que tentarão te levar
para longe disto, e é exatamente aqui que o yoga entra:
ele vai treinar você a não se deixar ir com todos esses
pensamentos que chegam, ele vai ensinar você a deixá-los
ir. Esta é a base do yoga.

Eu sei que este exercício é simples, mas, ao mesmo tempo,


é uma das coisas mais difíceis de se fazer. Se você tentar
começar a meditar, você não terá sucesso nas primeiras
vezes, mas não desanime, a meditação é uma questão de
treinamento.

É necessário treino para que se adquira poder e força.


É preciso treinar para não se desvirtuar. Mas uma coisa eu
garanto a você:

8
É por meio da

medita
ção
que você
chega
ao lugar
mais
verdadeiro
que você
conhecerá
em toda
a sua vida.
O REAL OBJETIVO
DO YOGA
Ok, entendemos que yoga é a prática de meditação, que
ele é um treinamento de presença. Mas então para quê
serve todas essas outras coisas que fazemos durante a
prática? Eles são como um apoio para levar você a realizar
o autoconhecimento que o yoga lhe traz.

Existem diversos métodos para chegar a esta prática de


meditação. Existe Bhakti Yoga, Hatha Yoga, Mantra Yoga e
muitos outros, mas uma coisa todos estes têm em comum:
o objetivo de fazer você entrar em contato com o seu co-
ração, com aquilo que você realmente é.

Todas essas práticas que conhecemos são como suportes,


são potencializadores que fazem você chegar à prática de
meditação. Embora nós tenhamos a técnica de yoga, que
é o Yuj, e também o estado de yoga, que é a meditação,
existem outros elementos neste caminho.

Por mais que você tenha iniciado ou queira iniciar o yoga


para diminuir ansiedade, estresse ou qualquer movimento
interno que lhe incomode, eu preciso pedir a você que
você não se preocupe com isso. Tudo isto virá como efeito
colateral nesta jornada. A redução do estresse, a calma,
a tranquilidade e a flexibilidade virão como respingos no
seu caminho em direção à meditação.

10
Você pode até entrar no yoga querendo uma terapia, mas
foque no tradicional, no que vai lhe trazer resultados. Foque
no pranayama, nos asanas, nas meditações. Fazendo
isto, você estará trilhando o seu caminho na direção
do autoconhecimento e colherá muitos frutos ao longo
do caminho.

A pergunta mais importante da espiritualidade é “quem


sou eu?” e é a ela que a meditação leva você. É esta
a resposta que você encontrará no fim desta jornada.
Um dia você chegará ao seu coração.

VOCÊ PRECISA SABER


QUEM VOCÊ
REALMENTE É

Logo que você começa a se aprofundar no yoga, você


descobre que um dos grandes objetivos dele é dar fim a
algo chamado Vrttis, ou seja, instabilidades. A técnica do
yoga é realizada para fazer com que você aprenda a não
ir atrás destas vontades, destes pensamentos que tentam
tirar você do seu caminho.

O yoga ensina você a voltar para o presente.

11
Estas instabilidades são movidas por diferentes movimentos
internos negativos, como a insegurança e a inveja, que
levam você a fazer coisas que você não gostaria de fazer.

E neste momento entra uma pergunta muito pertinente:


porque temos que trilhar este caminho do auto-
conhecimento? Porque temos que percorrer todo um
caminho para chegar até nós mesmos quando, na re-
alidade, já estamos aqui?

Para começar a responder essa pergunta, você precisa


saber que o autoconhecimento não é uma matéria. Ele
não está em livros e nem em nenhum lugar.

12
o auto
conheci
mento
exige uma conversão
da busca: você deixa
de buscar fora
e passa a buscar dentro.
O autoconhecimento é uma busca interna. Com
conhecimento, diálogos e conteúdos, você começa a
desfazer as ilusões a respeito da ideia de que você tem
de você mesmo. Na realidade, você não sabe exa-
tamente quem você é.

Você tem uma série de ideias a respeito de você mesmo.


Você sempre achou que era algo, mas, olhando bem,
percebendo com muita atenção por meio do yoga, você
começa a perceber que você não é bem aquilo que você
pensava.

O processo de autoconhecimento limpa, desilude, traz uma


percepção real de quem você é. Ele é necessário para todo
mundo, é essencial.

Imagine que triste viver uma vida inteira sem saber quem
você realmente é.

Você precisa ter uma expressão real e digna nas suas


ações a respeito daquilo que você realmente é. Se você
não sabe quem você é, você irá sempre agir de uma
forma que não corresponde ao que você é. E é somente
sabendo quem você realmente é que você poderá ter uma
vida que expresse a sua alma.

14
O FIM DA ILUSÃO
Na medida em que você começa a silenciar aquilo que
você não é, na medida em que você tira o véu da ilusão,
você encontra a realidade. Assim como para a descobrir
a verdade você retira todas as mentiras, para descobrir
quem você realmente é, você precisa eliminar todas essas
ilusões. Quando tudo isto se vai, resta apenas aquilo que
realmente é.

Quando o céu está azul durante o dia, o brilho do sol não


deixa você ver as estrelas, por mais que elas estejam lá. Sem
o autoconhecimento, existe um véu que, assim como o sol,
esconde algo muito importante: o que você realmente é.
Muitas vezes, você olha para a sua vida e pensa que “não
têm estrelas no céu”, mas elas sempre estão lá. Você
apenas não as enxerga.

O autoconhecimento é um processo de sutilização, é um


processo para você começar a conhecer além do óbvio.

Em um primeiro momento, você parece ser apenas corpo


e mente, porque isto é o óbvio, é o que aparece para todos.
Porém, o mais duradouro, o mais autêntico, é aquilo que
gera a expressão neste corpo.

15
O corpo
é apenas
um reflexo
mutável
e transitório da

essência que você guarda


no seu coração.
A sua missão é expressar a sua essência. É expressar
através do seu corpo e dos seus pensamentos aquilo que
você realmente é. A sua existência deve ser um fluxo da
sua essência para a sua realidade concreta.

Viver e agir forçando ações e produzindo um teatro


de realizações que não expressam o seu coração é algo
que cansa. Ter a noção de que quem você é não está
sendo expressado na maneira que você vive é como viver
um teatro.

Eu busquei o yoga porque eu me sentia vivendo neste


teatro, agindo de acordo com o que os outros desejavam,
mesmo tendo uma leve ideia de que aquilo que eu re-
almente era não condizia com estas ações. E eu acredito
que isto possa acontecer com você também, pois acontece
com todo mundo.

O caminho do autoconhecimento leva você a se livrar


desses papéis teatrais e viver expressando aquilo que
realmente você realmente é. Você precisa conhecer aquilo
que você já é, mas ainda não conhece. Você só precisa
revisitar a sua essência, se realinhar e se reintegrar.

O autoconhecimento é um caminho de desconstrução e


abandono daqueles comportamentos que não expressam
a sua alma. É um caminho que leva você a viver de dentro
para fora.

17
Você deve viver com o olhar para dentro, no coração, e as
mãos na terra, expressando aqui na concretude aquilo que
você é. Somente assim você terá uma vida autêntica, com
escolhas firmes e conscientes.

O alinhamento do conhecimento da sua essência e


individualidade com a sua manifestação no mundo con-
creto é a definição de disciplina. Isto gera saúde e inte-
gridade. Se você sempre expressar a verdade que está
dentro do seu coração, o seu corpo será uma real fortaleza.
Mas perceba que para realizar este contato, você precisa
antes se conhecer. O autoconhecimento é a base para toda
esta jornada.

18
OS PERIGOS
DO YOGA
Saber usar o yoga de forma correta é essencial para que
você trilhe o caminho certo nesta jornada.

Muitas pessoas utilizam o yoga como uma camuflagem


para satisfazer certos desejos mundanos do seu ego.
Sabe aquela pessoa que entra em um grupo de yoga para
se sentir superior, por vaidade ou então para flertar com
alguém? É exatamente este um dos maiores perigos que ele
pode lhe oferecer.

Para não cair nestas armadilhas, é muito importante que


você não esteja identificado com o corpo, desejando plan-
tar bananeiras ou abrir um espacate. Eu preciso lhe contar
que isso não leva a lugar nenhum.

A purificação do seu corpo irá sim levar você a se tornar


alguém mais flexível, saudável e forte, porém isto não
pode ser o seu objetivo e nem o seu motivo. Você precisa
de humildade para esperar que o yoga lhe preencha com
o conhecimento de quem você é. Você precisa confiar
na prática.

Por outro lado, se você se envaidecer e se achar alguém


superior porque você agora é um yogi alongado e flexível,
você estará indo no caminho contrário àquele que o yoga
pode lhe proporcionar como benefício.

19
A vaidade não combina com a prática de yoga, mas sim
com uma identificação extrema com o corpo e, con-
sequentemente, com uma desidentificação com a cons-
ciência.

Onde eu quero levar você é no caminho do seu coração,


para que você não precise deste tipo de coisa para ser fe-
liz e para se sentir preenchido. Este tipo de satisfação
é transitória, é passageira. Mas a felicidade que o yoga
busca construir em você é perene, contínua e estável.

O yoga pode levar você a um lugar que você nem sabe


que existe, assim como aconteceu comigo. Eu me deixei ser
levado pelas práticas. Deixei que elas me preenchessem
e atuassem sobre mim. Quando você se expõe à prática,
você se abre para as transformações que ela tem o poder
de causar em você.

Despir-se do ego é essencial para que o yoga possa lhe


nortear na trilha correta. Usar o yoga para saciar desejos
não levará você a lugar nenhum. Eu quero muito levar você
até o lugar onde o yoga me levou, mas para isto eu in-
felizmente preciso lhe contar algumas verdades um pouco
difíceis de serem ouvidas.

Eu tenho que admitir que, quando eu comecei a praticar


yoga, eu também caí na armadilha da vaidade corporal,
até o momento em que percebi a auto adoração que existia

20
durante a prática. Eu percebi que adorava a minha
flexibilidade e a minha força, mas automaticamente me
decidi a dar um fim a este comportamento.

Foi neste momento que a minha prática passou a decolar:


quando eu me despi destas vaidades e fui atrás do que
havia de mais profundo dentro do yoga.

E por mais que você diga para você mesmo que você não cai
nesta armadilha, eu sei que cai. Isto existe em todo mundo,
em mim e em você também. O ego e a vaidade existem,
mas você tem o poder de vigiar e silenciar. Esta é uma busca
eterna, uma vigilância constante.

VOCÊ É REFÉM
DOS SEUS
AUTOMATISMOS
Imagine o meditador sentado, tentando concentrar-se,
levando a atenção até um objeto ou até a sua respiração.
Ele está tentando focar a atenção. Este ato é dificultado por
uma série de condicionamentos que já existem na cabeça
dele, assim como já existem na sua também. Eles são o seu
“automático”, seus condicionamentos.

O mundo invade você através dos seus 5 sentidos e, mesmo


que você não quiser, as tentações vão sempre se apre-
sentar a você.

21
Através dos sentidos, você sente e percebe o mundo. Para
você entender como funcionam estes mecanismos, vou dar
um exemplo meu. Eu amo sonho de leite e toda vez que entro
em uma padaria, ele está ali parado na minha frente.

O que acontece neste momento: eu percebo a presença


daquele sonho e, neste ato, surge um movimento interno
dentro de mim, um reconhecimento. Eu olhei o sonho, senti
o gosto dele na minha boca e já tive vontade de comê-lo.

É um evento exterior - o sonho - que entra pelos meus


sentidos - visão, olfato - e causa um movimento interior. Este
movimento interno me impele a comer este sonho de leite,
porque eu amo este doce e já experienciei ele muitas vezes.

Este movimento interno vai pesar para que eu coma ele


e eu, no meu automático, vou obedecer a essa vontade. Vou
até o atendente e peço o meu sonho - eu realizei uma ação
concreta por influência deste evento exterior que entrou
pelos meus sentidos.

Esta ação concreta - saborear o sonho de doce de leite -


causa uma impressão interna e esta impressão é gravada
dentro de mim. Esta impressão, chamada de Samskara,
impele uma próxima ação. A minha ação de hoje realizada
em frente ao sonho vai me influenciar a fazer o mesmo
novamente quando eu me encontrar nesta situação mais
uma vez.

22
Na próxima vez que eu encontrar o sonho de doce de leite,
o caminho do “sim” já existirá dentro de mim. Esta im-
pressão gera um condicionamento dentro de mim.
A próxima vez que eu entrar na padaria, o caminho do
“sim” estará mais aberto.

Então, o que acontece é o seguinte: através das suas


ações concretas, você se educa, você constrói os
condicionamentos que vão ca-racterizar o seu compor-
tamento automático.

Você se torna refém de um mecanismo que você mes-


mo criou.

Você vai cedendo ao sonho de leite e, quando percebe,


ele está mandando em você. Quando você o vê, você não
sabe dizer não. Todo dia você vai acordar e querer pedir
o sonho, pois ele está no comando, ele é seu chefe agora.
E o pior: foi você que se educou assim, você que criou estes
condicionamentos, chamados de Karma Shaya.

É um ciclo que se repete: você percebe o sonho


de doce de leite, o movimento interno impele você
a realizar o seu desejo. Você age concretamente e
causa uma impressão dentro de você, você cria um
condicionamento. Você chega ao fim do ciclo e volta ao
início: na próxima vez que a tentação chegar aos seus
sentidos, você percorrerá o mesmo caminho.

23
A JANELA PARA FORA
DO AUTOMATISMO
O automatismo é viver dentro de seus condicionamentos.
É aqui que você vivia até agora, até você descobrir isto
e abrir uma janela para fora deste automatismo. Mas
onde está esta porta para fora do automatismo? Em não
poder ver o doce? Certamente não.

É no momento em que a tentação se apresenta a você


que você tem a oportunidade de mudar o seu com-
portamento, a sair do automático. E é exatamente isto que
você treina na meditação: voltar para a sua trilha, não se
deixar levar pelo pensamento.

É entre o seu movimento interno de desejo e a sua ação


concreta que você precisa criar um espaço.

É entre o pensamento de “eu quero um sonho de doce de


leite” e a ação concreta de comprá-lo que você tem que
tomar as rédeas e direcionar a sua vontade, a sua atenção.

Com o tempo, você não deixará mais os Vrttis -


as instabilidades da sua mente - automaticamente
tomarem conta de você. As ondas de pensamento seguirão
vindo, mas você poderá não se engajar mais com elas.
Você pode sentir o movimento interior e não ser impelido
a uma ação.

24
O sonho de doce de leite entra pelos meus sentidos e,
diante disto, eu tenho duas respostas possíveis ao meu
desejo: sim ou não. Cada vez que eu digo “sim”, eu adiciono
um peso a mais deste lado. A cada vez que eu digo “não”, eu
desfaço um pouco do condicionamento do sim, eu tiro um
pouco do seu peso.

Entre estas duas opções, entre o sim e o não, existe uma


terceira opção, que é o não falar nada. Quando a vontade
vem, quando o doce de leite aparece, não fale nada.

Ignore, silencie, deixe ir. Você vê a vontade vindo, você deixa


ela passar, você vê ela ir embora.

Neste momento, você cria um silêncio, uma dissociação entre


a sua ação interna e a sua reação concreta. Não existe mais
uma reação concreta.

Na prática da meditação, muitas pessoas tentam “brigar”


com os pensamentos, tentam dizer “não” para eles. Em
outros casos, pessoas dizem “sim” para os pensamentos e
vão embora com eles. O que eu quero que você crie em você
não é nenhuma destas opções, mas sim o silenciamento.

25
Assista
os pensamentos
passarem.
Não negue
e nem se engaje.
Apenas

observe
Não aja com base nestes pensamentos, aprenda a dissociar.
Não reaja aos movimentos internos, apenas espere o
silenciamento para depois agir. É exatamente para isto que
o yoga treina você, para silenciar e não se tornar escravo
dos seus pensamentos. Você deixa de estar abaixo dos seus
condicionamentos e passa a fazer as suas escolhas. Quando
os seus condicionamentos querem que você fique na cama,
você consegue levantar.

Aos poucos, com o treinamento, você percebe que não está


mais tão preso aos seus condicionamentos. Você começa a
ganhar liberdade interior, você vira senhor de si mesmo. A
sua liberdade está em você mesmo.

Através do treinamento, você começa a criar um espaço de


consciência entre o movimento interno e a sua reação.

Esse espaço é essencial para que você deixe de ser uma


marionete dos seus desejos e automatismos. Olhar e reagir
sem pensar é o que qualquer animal faz, mas você tem a
capacidade de criar uma lacuna entre a ação e a reação.
Esta lacuna é a sua liberdade, é o seu livre arbítrio.

Para conquistar aquilo que você deseja, você precisa


conquistar esta liberdade, você precisa virar um mestre de si
mesmo. É somente assim que você conseguirá melhorar as
suas atitudes perante a vida. E é exatamente este o resultado
que o yoga irá dar a você fora do tapetinho.

27
Aquele que mais sabe de yoga não é aquele que sabe da
ferramenta - dos asanas, das posturas -, mas sim aquele
que conhece o objeto que esta ferramenta conserta, que é
você, que é a sua vida.

Por meio disso, você conseguirá agir de acordo com a sua


consciência. Você deixará de ter uma dissonância entre a
sua essência e a sua vida concreta. Através das técnicas do
Hatha Yoga, você alinha cada vez mais estes dois.

O MAL DA FALTA
DE AUTOCONHECIMENTO
Agora que já sabemos o que o autoconhecimento pode
causar em você, vamos descobrir o que a falta dele pode
causar.

Segundo Patanjali, a primeira coisa que a falta de


autoconhecimento nos promove são Kleshas, ou seja,
venenos. Todos eles nascem da santa ignorância - e perceba
que ignorância aqui é não saber quem você é.

A ignorância, ou o desconhecimento do seu verdadeiro eu,


vai gerar medo. Vai gerar medo porque as únicas coisas que
estão expostas ao sofrimento na sua vida é o seu corpo e
a sua mente. Então, se você acredita que você é corpo e
mente, é claro que você terá medo de viver em um mundo
onde eles estão completamente vulneráveis.

28
Este medo move o mundo. Quantas coisas você não faz por
medo? Quantas pessoas não morrem de medo da morte?
Observe a busca insaciável pela saúde, pelos exercícios
físicos e se pergunte o motivo delas. Eu respondo a você: é
pelo medo de envelhecer, pelo medo de morrer.

É claro que a busca pela saúde é algo importante e


benéfico, mas deve ser feita pelos motivos corretos.
Eu mesmo cuido muito da minha saúde, mas faço isto
para poder cumprir minha missão de levar a você
um conhecimento que mude a sua vida. Eu quero estar bem
para fazer com que milhares de pessoas enxerguem no
yoga, nessa filosofia milenar, uma transformação profunda.
Eu preciso de saúde para isto.

Mas agora, eu preciso falar uma coisa a você: morrer, todo


mundo morre. Não use isto como uma motivação para
buscar saúde. Busque saúde para ter vitalidade e energia
para cumprir o seu papel, e não para viver para sempre.

O medo move o mundo, mas viver com base no medo


é como correr uma maratona com uma dinamite na mão.
Você não aproveita, você passa uma vida assentada
na agonia. O medo faz você criar uma ilusão psíquica
extremamente confortável e previsível, que lhe afasta
do mundo real e que te impede de ver o mundo
verdadeiramente.

29
Para que você viva uma vida aberta a realidade, você
precisa se livrar do medo, você precisa tirar o véu do
sofrimento e enxergar o que há por trás.

A libertação do yoga é a libertação de si mesmo.

Além destes, o desejo e a aversão são outros dois Kleshas.


Eles levam você a viver uma vida fugindo do desprazer
e se aproximando do prazer. O corpo move você, pois é ele
que sente a dor e o prazer.

Agora, quando você deixa de se referenciar pelo corpo


e passa a se guiar pela consciência, este comportamento
muda. Quando você se entende como a sua consciência
atemporal, a sua vida deixa de ser uma montanha russa
de desejos, dores, aversões e medos. Você deixa de viver
na lógica da escassez. Com prática, teoria e filosofia,
você vai se libertando.

O yoga que você não pratica é a liberdade que você


não tem.

30

Você também pode gostar