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Odontogeriatria: Saúde Bucal de Idosos Residentes em Instituições Filantrópicas de Longa Permanência

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ODONTOGERIATRIA: SAÚDE BUCAL DE IDOSOS RESIDENTES EM


INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS DE LONGA PERMANÊNCIA

Chapter · April 2019


DOI: 10.22533/at.ed.29619010415

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6 authors, including:

Emanuela Santos Daniela De Cassia Ceranto


Centro Universitário da Cidade de União da Vitória Universidade Paranaense (UNIPAR)
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CAPÍTULO 15

ODONTOGERIATRIA: SAÚDE BUCAL DE IDOSOS


RESIDENTES EM INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS
DE LONGA PERMANÊNCIA

Larissa Raimundi Resultados: Participaram da pesquisa 86 idosos,


Cirurgiã-dentista. UNIPAR – Cascavel destes, 61,7% eram do gênero masculino, a
Ligia Dalastra idade mínima (masculino/feminino) foi de 60
Cirurgiã-dentista. UNIPAR – Cascavel e a máxima de 104 anos. A história médica
Alice Ribeiro Danielli demonstrou que 100% dos idosos avaliados
Cirurgiã-dentista UNIPAR – Cascavel. apresentavam alterações sistêmicas, sendo
Emanuela Carla dos Santos a hipertensão arterial (69,7%), a principal
Cirurgiã-dentista, Mestre em Estomatologia – alteração. Na história odontológica, se detectou
Curitiba que 63,9% foi ao dentista há três anos ou
Daniela Faglioni Boleta Ceranto mais; 51,1% dos idosos realizam sua própria
Cirurgiã-dentista, Professora da UNIPAR – higiene bucal. Na avaliação protética, 62,8%
Cascavel
usava algum tipo de prótese removível, sendo
Eliana C. Fosquiera que destes, 53,8% das próteses estavam em
Cireurgiã-dentista, Mestre em Clínica Integrada,
estado de conservação ruim; 37,2% dos idosos
Doutora em Estomatologia. Primavera D’Oeste.
necessitavam de algum tipo de prótese (Total
superior/inferior e Parcial). 44,1% apresentaram
lesão em tecido mole, com prevalência da
RESUMO: Objetivo: Realizar um levantamento Candidose. Na avaliação periodontal, 51,4%
da condição bucal, enfocando a presença de apresentou IPV código 3; 16,4% apresentou
lesões nos tecidos da mucosa bucal, periodontais código 2 no CPI. Conclusão: Conclui-se que os
e a condição protética, de idosos residentes em idosos apresentaram lesões na mucosa bucal,
instituições filantrópicas de longa permanência com prevalência da Candidose, presença
na cidade de Cascavel e Região Oeste do de gengivite, higiene bucal insatisfatória e a
Paraná. Métodos: Trata-se de um estudo maioria eram portadores de prótese removível
observacional do tipo transversal descritivo. Foi em estado de conservação ruim.
utilizado um questionário estruturado contendo PALAVRAS-CHAVE: Idoso. Instituição de
informações da história médica e odontológica. Longa Permanência para Idoso. Saúde do
O tecido periodontal foi avaliado por meio do idoso. Saúde bucal.
Índice Periodontal Comunitário (CPI) e Índice
de Placa Visível (IPV). As lesões em tecido mole
foram avaliadas ao exame clínico intrabucal.

Comunicação Científica e Técnica em Odontologia Capítulo 15 172


INTRODUÇÃO

A população mundial vem envelhecendo rapidamente, entre 1970 e 2025 espera-


se um crescimento de 223% de idosos na população do mundo, aproximadamente em
torno de 694 milhões. As projeções esperadas mundialmente para 2025, são de 1,2
bilhão de pessoas acima de 60 anos. Por volta de 2050 serão cerca de dois bilhões, e
destes 80% estarão vivendo em países em desenvolvimento.1 No Brasil, igualmente, o
ritmo de crescimento da população da terceira idade, tem sido sistemático e crescente.
Apresentou entre os anos de 1960 e a atual década, um aumento de aproximadamente
500% dessa população, considerando-se idoso como todo habitante com idade
igual ou superior a 60 anos que reside nos países em desenvolvimento, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),2 aponta o Brasil com uma
população de 25 milhões de pessoas de 60 anos ou mais, prevalecendo as mulheres
com 14 milhões e os homens em torno de 11 milhões. O país vem apresentando
nas últimas décadas uma redução nos índices de mortalidade e, mais recentemente,
também nas taxas de fecundidade. Esses dados indicam um envelhecimento da
população, estimando-se em 2025 na sexta população mais idosa do mundo com
aproximadamente 32 milhões de pessoas de 60 anos ou mais.3 O país convive com
uma transição epidemiológica diferenciada, sendo que a expectativa de vida do
brasileiro elevou-se para 71,7 anos e a população de 60 anos ou mais, passou a
representar 9,7% do total. Houve um aumento considerável de indivíduos de idade
avançada, tendo um acréscimo de 12,6% da população de 80 anos. O aumento da
expectativa de vida, a redução das taxas de natalidade e a assistência à saúde foram
responsáveis pelo aumento da população idosa brasileira.4
O envelhecimento é um processo natural e gradual do ser humano que produz
limitações e alterações no funcionamento do organismo. Com isso, uma pessoa idosa
se torna mais vulnerável às doenças, pois suas habilidades regenerativas são limitadas,
bem como mudanças físicas e emocionais, que comprometem e impactam na qualidade
de vida desses indivíduos. Idosos tem um grande risco para o desenvolvimento de
doenças bucais, principalmente devido ao uso de diversos medicamentos para o
tratamento das doenças sistêmicas. A saúde bucal está interligada à saúde geral e à
qualidade de vida do ser humano.5  A saúde bucal comprometida em idosos debilitados é
considerada um fator de risco para o desenvolvimento de infecções respiratórias, o que
pode aumentar o risco à pneumonia, por meio da aspiração das bactérias bucais  aos
pulmões. Microorganismos patogênicos tipicamente respiratórios podem colonizar o
biofilme dental e próteses não higienizadas, aumentando o risco de desenvolvimento
de infecções sistêmicas.6,7 A higiene bucal é um dos cuidados pessoais geralmente
comprometido com o avanço da idade, o que pode favorecer ou ainda exacerbar a
ocorrência de agravos na cavidade bucal, como a doença periodontal, a cárie e os
problemas protéticos. A saúde bucal dessa parcela da população brasileira é precária

Comunicação Científica e Técnica em Odontologia Capítulo 15 173


e caracterizada por perdas dentárias extensas, sendo mais um fator que compromete
a qualidade de vida.5
A incidência e prevalência de doenças na mucosa bucal são importantes
parâmetros na avaliação da saúde bucal da população idosa. A Organização Mundial
da Saúde tem recomendado recentemente que todos os países adotem estratégias
para melhorar a saúde bucal dessa faixa etária da população. Um dos principais
critérios utilizados para se identificar um idoso saudável é a manutenção por toda sua
vida de sua dentição natural e funcional, incluindo os aspectos sociais e biológicos,
tais como estética, o conforto, a habilidade para mastigar, sentir sabor e falar.3
Com isso, o objetivo desta pesquisa foi realizar um levantamento da condição
bucal, avaliando a presença de lesões na mucosa bucal e no periodonto, bem como
a condição protética, de idosos residentes em instituições filantrópicas de longa
permanência na cidade de Cascavel e Região Oeste do Paraná, Brasil.

MÉTODO

Trata-se de um estudo observacional do tipo transversal descritivo.   A


amostra não probabilística foi selecionada por conveniência com idosos, homens e
mulheres, que residiam em instituições filantrópicas de longa permanência (ILP) para
atendimento integral de indivíduos com idade superior a 60 anos, nos municípios de
Cascavel, São Miguel do Iguaçu e Medianeira, estado do Paraná - Brasil, no período
de abril a novembro de 2016. A variável dependente deste estudo foi a presença
de lesões na mucosa bucal e no periodonto, que foi avaliada por meio da aplicação
de um questionário estruturado e exames clínicos. O questionário   elaborado para
a pesquisa continha duas partes: I - dados sociodemográficos e de saúde do idoso
com as variáveis independentes: idade, tempo de permanência na Instituição,
portador de doença(s) crônica(s); uso de medicamentos, condição locomotora; II -
dados de caráter odontológico, conjuntamente a uma ficha clínica para anotação das
variáveis avaliadas nos exames clínicos intra e extra-orais. A condição periodontal
foi avaliada por meio do Índice CPI (Índice Periodontal Comunitário)30  e a qualidade
da higienização bucal por meio do Índice de Placa Visível (IPV)8. Os exames clínicos
foram efetuados por uma única examinadora, submetida à calibração intra-examinador
por meio de projeções em multimídia, de imagens da literatura científica odontológica
das principais lesões bucais em tecidos moles e aplicação dos índices CPI e IPV.
Os voluntários foram examinados sentados numa cadeira ou cama, conforme o grau
de dependência, sob iluminação artificial de uma lanterna. Abaixadores de língua e
compressas de gazes foram usadas para afastar os tecidos moles bucais. A avaliação
foi padronizada, iniciando-se sempre pela palpação dos linfonodos, exame dos lábios
superior e inferior, comissura labial, mucosa jugal, língua, gengiva/rebordo alveolar,
assoalho bucal, palato, orofaringe, fundo de vestíbulo e trígonorretromolar. Em relação
à condição protética, considerou-se a existência de próteses removíveis (totais e/ou

Comunicação Científica e Técnica em Odontologia Capítulo 15 174


parciais, superiores e/ou inferiores), necessidade de reabilitação protética, avaliação
clínica da prótese (adaptação bucal, higiene, presença de trincas, fratura, falta de
dentes, desgaste, retenção e estabilidade).
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética com seres humanos
sob parecer no1.655.891. Foram realizados contatos prévios e o convite verbal, com
as instituições filantrópicas expondo-se o objetivo e a metodologia da pesquisa. Cabe
observar que a liberdade dos idosos foi imperativa para a realização do estudo. O
consentimento em participar livremente foi estabelecido e esclarecido por meio da
leitura, na íntegra, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido junto com o idoso
voluntário e/ou aos responsáveis pela instituição, abordando o modo de realização
do exame bucal. Os dados coletados foram analisados e apresentados através da
estatística descritiva.

RESULTADOS

A população do estudo foi composta por 86 idosos, com predomínio do sexo


masculino (53;61,70%) em relação ao feminino (33;38,3%). A idade mínima foi de 60
e a máxima de 104 anos, com idade média masculina de 75 anos e feminina de 76
anos. O tempo médio de permanência na instituição para homens e mulheres foi  em
torno de cinco anos. A condição física locomotora revelou 16 homens e 13 mulheres
cadeirantes, 35 homens e 19 mulheres que deambulam, e dois homens e uma mulher
acamados.
No que se refere à história médica, 100% dos voluntários apresentaram uma ou
mais doenças sistêmicas e, todos fazem uso de medicação contínua. As alterações
sistêmicas mais prevalentes foram a hipertensão e alterações neurológicas/
psicomotoras, seguido da hipercolesterolemia, acidente vascular encefálico (AVE),
diabetes e doenças ósseas com mesma prevalência, cardiopatias, alterações
sanguíneas, problemas renais e câncer, respectivamente. Dentre as outras alterações
relatadas pelos cuidadores e/ou voluntários foram a obesidade, hipo/hipertireoidismo,
labirintite (Tabela 1).
A realização da higienização bucal, uso e necessidade de prótese, bem como
estado de conservação, estão apresentados na tabela 3. Verificou-se que 100% dos
idosos são parcialmente ou totalmente desdentados. A maioria deles  faz uso de
prótese, porém se verificou pacientes desdentados totais ou parciais que não faz  uso
de nenhuma prótese, havendo a necessidade da reabilitação. Dentre os portadores
de próteses, o estado de conservação da maioria apresentou-se ruim. A realização da
higiene bucal é efetuada igualmente pelos cuidadores ou próprio idoso.
Em relação à última consulta odontológica, 26,8% (n=23) relatou comparecer ao
cirurgião-dentista há menos de um ano, 9,3% (n=8) de 1 a 3 anos e 63,9% (n=55) a
mais de 3 anos. A frequência da realização da higiene bucal e das próteses, relatada
pelos cuidadores e idosos, foi de 52,4% (n=45) que realiza uma vez ao dia, 8,1% (n=7)

Comunicação Científica e Técnica em Odontologia Capítulo 15 175


realiza 2 vezes ao dia e 39,5% (n=34) afirmaram realizar sua higiene bucal três vezes
ao dia.
Considerando a presença ou ausência de lesão em tecido mole, 44,1% (n=38
sendo 21 mulheres e 17 homens) dos idosos apresentaram pelo menos uma ou
mais lesões na mucosa bucal, sendo que as hipóteses diagnósticas dessas lesões
encontradas estão descritas na figura 1.
A correlação dos voluntários da pesquisa que apresentaram hipótese diagnóstica
de lesão em tecido mole com o uso de prótese, higiene bucal, estado de conservação
da prótese, estado locomotor, presença de doenças sistêmicas e uso de medicação
contínua, tempo de permanência na instituição e sexo, está apresentada na figura 2.
Na avaliação da qualidade da higiene bucal, verificada por meio do IPV, detectou-
se que dos 35 pacientes dentados totais ou parciais, 51,4% apresentou código três,
que indica grande quantidade de biofilme na margem gengival e espaço interdental.
Na avaliação do periodonto, foi prevalente o código dois (n=16;46%), caracterizando
sextante sem bolsas de mais de 3mm, com presença de cálculo ou fatores retentores
de placa nas margens gengivais, seguido do código três - sextante que abriga bolsas
de 4-5mm de profundidade (figura 3). Ao comparar a higiene bucal realizada pelo idoso
ou cuidador, verificou-se que não houve diferença especialmente naqueles idosos com
código IPV três. A faixa etária destes idosos foi de 65 a 74 anos.

DISCUSSÃO

O tempo de institucionalização dos idosos variou de um mês a 10 anos ou mais,


sendo a média de 5,7 anos para os homens e 5,1 anos para as mulheres.  Os cuidados
aos idosos, no Brasil, geralmente são prestados pela família e, na falta desta, por
amigos próximos ou vizinhos.9 Os fatores que levam a institucionalização, geralmente,
são o suporte social precário e baixa renda (aumento dos gastos com a própria saúde)
associados à viuvez, abandono da família, maus tratos e escassos programas formais
vinculados ao Estado que prestam amparo a idosos que não possuem assistência da
família.4 Isto, justifica o tempo de permanência na instituição, verificado neste estudo.
A transferência para uma ILP gera uma mudança radical no estilo de vida, o que
representa um grande desafio para o idoso. 10,11
A maioria dos idosos examinados neste estudo é do sexo masculino com média
de idade de 75 anos, e as mulheres 76 anos, o que discorda de outros estudos
nacionais que apontam o predomínio de mulheres idosas institucionalizadas no
Brasil. 12,13 Este elevado número de mulheres idosas pode ser explicado em função
dos baixos índices de mortalidade destas em praticamente todas as faixas etárias,
mas principalmente dos 15 aos 69 anos. A partir dos 69 anos verifica-se inversão,
ou seja, elevam-se os índices de mortalidade entre as mulheres.1 Estes diferentes
dados encontrados na literatura científica, pode estar nos mostrando uma diferença
no perfil dos institucionalizados nas várias regiões do país,12 confirmado em um estudo

Comunicação Científica e Técnica em Odontologia Capítulo 15 176


efetuado em uma ILP no Paraná a prevalência do gênero masculino em dois asilos
públicos na cidade de Maringá/PR.14
Este estudo mostra que 100% dos idosos avaliados apresentaram uma ou mais
alterações sistêmicas, sendo a hipertensão (69,7%) a mais frequente relatada. De
acordo com Cardoso15, hipertensão, artrite, doenças cardiovasculares, alergias, diabete
e bronquite crônica são as alterações crônicas que mais afligem o paciente idoso. Todos
os indivíduos deste estudo fazem uso de medicação contínua, corroborando com o
estudo epidemiológico que verificou o perfil do idoso institucionalizado em instituições
do interior paulista, detectando que 96,5% dos idosos tomavam medicação contínua.16
Outros estudos ainda, realizados nesse grupo de pacientes apontam o consumo médio
de dois a quatro medicamentos por idoso.18
Nesta investigação pode-se observar que a maioria dos participantes examinados
apresentaram grande redução do número de dentes, o que retrata o alto percentual
de usuários de próteses (62,8%) detectado neste grupo de indivíduos. Isto corrobora
com os dados epidemiológicos brasileiros que mostram uma população adulta e idosa
edêntula, com 63,1% de usuários de prótese total. É um índice bastante significativo
entre os idosos, principalmente a prótese superior. Desses idosos examinados, 23,0%
necessitavam de prótese em pelo menos um maxilar e 15,0% necessitavam de prótese
dupla, ou seja, três milhões de idosos necessitavam de prótese total e quatro milhões
precisavam usar prótese parcial.19
Patil e colaboradores20 verificaram a prevalência e distribuição das lesões em
mucosa bucal na população geriátrica da Índia, encontraram resultados semelhantes
a esta pesquisa, sendo a candidose, hiperplasia papilar inflamatória, queilite
angular, úlcera traumática, queratose friccional, fibroma, mucocele, gengivite, as
lesões mais encontradas. A candidose foi à lesão em tecido mole mais prevalente
nesta pesquisa, principalmente a candidose crônica atrófica seguida da candidose
pseudomembranosa, concordando com Silva e colaboradores21, que detectaram uma
prevalência de 41,13% de candidose (crônica atrófica e pseudomembranosa) em 107
idosos institucionalizados em dois asilos no município de Passo Fundo/RS.
Considerando os idosos portadores de próteses, se verificou que o estado de
conservação da maioria é ruim (desadaptada, fraturada, com ausência de dentes,
higiene precária levando a formação de cálculo, entre outros). Este achado condiz
com a presença de algumas lesões bucais em tecidos moles encontradas na pesquisa,
como a hiperplasia fibrosa inflamatória, úlcera traumática, fibroma, queratose friccional.
Estas lesões estão geralmente relacionadas às próteses desajustadas e precário
estado de conservação que predispõem lesões na mucosa bucal. 22,23
Foi observada uma relação significativa entre o uso de aparelhos protéticos e a
presença de infecção pelo fungo Candida, sendo a higienização incorreta das próteses
e da cavidade bucal, um dos fatores etiológicos dessa doença, pois é necessária a
remoção do biofilme para manter a saúde bucal. Salientam-se outros fatores de risco
presentes nos idosos que predispõem ao desenvolvimento da candidose, como a
Comunicação Científica e Técnica em Odontologia Capítulo 15 177
presença de doenças debilitantes que consequentemente causam imunossupressão.
Uso contínuo de medicações para hipertensão, depressão, ansiolíticos, anticolinérgicos,
antihistamínicos, são fatores contribuintes à hipossalivação, comprometendo as ações
fisiológicas da saliva. 24
Deve-se considerar a importância do controle desta doença,
pois, é um dos fatores relacionados ao desenvolvimento da pneumonia e candidemia
em pacientes imunocomprometidos e indivíduos de idade avançada (mais de 70 anos)
25
. Ocorre a aspiração de secreções e microrganismos (fungos, bactérias) da orofaringe
para o pulmão, favorecendo o desenvolvimento de pneumonia. 26,27
A realização da higiene bucal é efetuada na mesma proporção, ou seja, igualmente
pelos cuidadores e idosos nos indivíduos que apresentaram IPV código 3. A relação
da deficiência na higienização bucal é atribuída, neste estudo, tanto ao cuidador
como ao idoso. Referente ao cuidador, isto pode ser explicado pelo despreparo e
falta de atenção dos profissionais que assistem os idosos em relação aos cuidados
bucais. As instituições filantrópicas/governamentais, geralmente funcionam com uma
equipe mínima, constituída por uma assistente social e auxiliar de enfermagem ou
cuidador de idoso, além de pessoal de apoio. A dupla carga de trabalho, atenção física
e mental exigida a esses profissionais, é responsável pelo surgimento de doenças
ocupacionais, como as dores osteomusculares, estresse, depressão.28 As condições
de trabalho, os turnos excessivos e as funções múltiplas, repetitivas, com ritmo e
intensidades excessivas, deterioram a qualidade de vida desses profissionais.29 Estes
fatores acarretam desmotivação, falta de interesse em adquirir novos conhecimentos
e dificuldade em lidar com idosos com comprometimento funcional e cognitivo. Esta
situação pode contribuir para deterioração da saúde bucal dos idosos, potencializando
os problemas bucais existentes.
Dos 35 idosos (faixa etária 65-74 anos) avaliados no IPC, 90,5% tinham sextantes
excluídos. Nos demais sextantes em condições de exame, 4,2% apresentavam cálculo
e 3,3% bolsas periodontais, sendo que, destas, 2,5% eram bolsas rasas. Estes dados
podem ser explicados de acordo com o manual de saúde bucal do idoso elaborado ao
Ministério da Saúde.30 Os autores relatam em relação à doença periodontal crônica,
ser o problema bucal mais prevalente encontrado no idoso. No entanto, nos estudos
epidemiológicos realizados observa-se apenas fraca correlação entre profundidade de
bolsa e o aumento da idade. Muitos trabalhos mostram que a porcentagem de pessoas
com periodontite avançada diminui no grupo de idosos quando comparados com
adultos mais jovens, devendo provavelmente estar relacionado às extensas perdas
dentais, bem como, com a recessão gengival, comum nessa faixa etária. Assim, é
importante verificar não somente a profundidade de sondagem, mas também o grau
de perda de inserção. A maioria dos idosos (60,8%) examinados no Projeto SB Brasil
2003,30 eram edêntulos e não tiveram a condição periodontal avaliada. Com isso, os
resultados sobre a saúde periodontal dos idosos avaliados mostrou alto percentual de
sextantes excluídos. Periodontite leve ou moderada (bolsas de 4 a 5 mm) foi encontrada
em 4,45% das pessoas e a forma avançada (bolsa de 6 mm ou mais) em apenas
Comunicação Científica e Técnica em Odontologia Capítulo 15 178
1,85%. Considerando a alta prevalência de perdas dentárias nos pacientes idosos, os
autores sugerem que no caso de pacientes com menos de dois dentes presentes, por
sextante, ou no caso de perda dos dentes-índice, examinem-se os elementos dentários
encontrados nos sextantes, sendo desta maneira realizado o exame periodontal neste
estudo com os idosos institucionalizados. Apesar da literatura considerar que devem
ser avaliados somente sextantes com pelo menos dois elementos dentários não
indicados para extração, justifica-se o exame de um único dente no sextante, porque
sua manutenção pode ser estratégica no planejamento protético do paciente.
Apesar de não ser avaliado nesta pesquisa, outro fator a ser considerado, refere-
se a otimizar o envelhecimento saudável, por ser de importância singular quando se
consideram os custos do envelhecimento. Os custos com saúde e cuidados de longa
permanência – que estão diretamente relacionados aos níveis de dependência –
poderão ter no futuro grande impacto nas finanças públicas e no orçamento familiar 1 .
CONCLUSÃO

Os idosos residentes nas instituições filantrópicas de Cascavel, São Miguel do


Iguaçu e Medianeira no Paraná, Brasil, apresentaram um índice relevante de lesões na
mucosa bucal, com prevalência da Candidose. Verificou-se a presença de gengivite, o
que foi confirmada pelo IPV escore 3- grande acúmulo de biofilme dental, caracterizando
uma higiene bucal deficiente.  A maioria dos indivíduos eram portadores de algum tipo
de prótese removível (Total e/ou Parcial superior/inferior), em estado de conservação
ruim e mal adaptadas. Sugere-se que a maioria das hipóteses diagnósticas das lesões
detectadas na mucosa bucal, têm como fator etiológico principal, a condição precária
das próteses, bem como, a sua higienização.

Figura 1: Distribuição das lesões em tecidos moles, detectadas ao exame clínico bucal, nos
idosos institucionalizados nas entidades filantrópicas no período de abril a novembro de 2016.
Cascavel e região Oeste do Paraná, Brasil.

Comunicação Científica e Técnica em Odontologia Capítulo 15 179


Figura 2: Associação da variável dependente, presença de lesão em mucosa bucal, e as
variáveis independentes/preditoras avaliadas nos idosos residentes nas entidades filantrópicas
na cidade de Cascavel e região Oeste do Paraná,Brasil, no período de abril a novembro de
2016.Legenda: Prót – Prótese, HB – Higiene Bucal, Cons. – Conservação, Est. – Estado, TP –
Tempo de Permanência na Instituição, HD – Hipótese Diagnóstica.

Figura 3: Índice de placa visível (IPV) e Índice periodontal comunitário (IP) avaliado nos idosos
dentados totais ou parciais residentes nas entidades filantrópicas na cidade de Cascavel e
região Oeste do Paraná, Brasil, no período de abril a novembro de 2016.

Prevalência de alteração sistêmica n %

Hipertensão 60 69,7%

Neurológicas 60 69,7%

Hipercolesterolemia 25 29,0%

Outras alterações 23 26,7%

Acidente vascular encefálico 21 24,4%

Comunicação Científica e Técnica em Odontologia Capítulo 15 180


Diabetes 17 19,7%

Doenças ósseas 17 13,9%

Alterações sanguíneas 12 9,3%

Problemas renais 5 5,8%

Câncer 3 3,4%

Tabela 1 – Prevalência de alterações sistêmicas em idosos residentes nas entidades


filantrópicas no período de abril a novembro de 2016.Cascavel e região Oeste do Paraná,
Brasil.

Variáveis n %

Uso e Necessidade de prótese (Superior/inferior)


Usa e não necessita 25 29,1%
Usa e necessita 29 33,7%
Não usa e necessita 32 37,2%

Estado de Conservação das próteses


Ruim 29 53,8%
Regular 11 20,3%
Bom 14 25,9%

Higiene Bucal
Realizada pelo idoso 44 51,1%
Realizada pelo cuidador 42 48,9%

Tabela 2 – Análise descritiva em relação ao uso e necessidade de prótese, estado de


conservação e realização da higiene bucal dos idosos residentes em entidades filantrópicas, no
período de abril a novembro de 2016. Cascavel e região Oeste do Paraná, Brasil.

REFERÊNCIAS
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