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Toxicologia Ambiental

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Toxicologia

ambiental
Toxicologia ambiental

Flavia Renata Abe


© 2017 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer
modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo
de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e
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Editorial
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André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
Diogo Ribeiro Garcia
Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Abe, Flavia Renata


A138t Toxicologia ambiental / Flavia Renata Abe. – Londrina :
Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2017.
216 p.

ISBN 978-85-522-0201-1

1. Toxicologia ambiental. I.Título.

CDD 571.95

2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário

Unidade 1 | Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 7

Seção 1.1 - Fundamentos e terminologias em toxicologia ambiental 9


Seção 1.2 - Classificação dos compostos tóxicos 29
Seção 1.3 - Legislação sobre toxicologia e poluentes ambientais 45

Unidade 2 | Agentes tóxicos 67

Seção 2.1 - Fontes toxicológicas 69


Seção 2.2 - Toxicologia das plantas 84
Seção 2.3 - Toxicologia dos animais 99

Unidade 3 | Tipos de Toxicologia 119

Seção 3.1 - Toxicologia dos metais 121


Seção 3.2 - Toxicologia dos hidrocarbonetos e solventes 138
Seção 3.3 - Toxicologia dos defensivos agrícolas 151

Unidade 4 | Indicadores e consequências da toxicologia 169

Seção 4.1 - Segurança química 171


Seção 4.2 - Avaliação da toxicidade e monitoramento da qualidade
ambiental 186
Seção 4.3 - Problemas toxicológicos 198
Palavras do autor
O processo de desenvolvimento econômico e social, assim como
o processo de desenvolvimento de diversas tecnologias, implica no
descarte de toneladas de resíduos no meio ambiente e, muitas vezes,
esses resíduos se destacam como potenciais agentes tóxicos à saúde
humana e ambiental. E como identificar quais agentes tóxicos existem
ao nosso redor?
Existem diversos indicadores de toxicidade específicos para cada
caso. O uso de um determinado defensivo agrícola, por exemplo,
atinge o solo, o ar e os recursos hídricos e, para cada um desses
locais, podemos escolher indicadores adequados e avaliar diversos
parâmetros toxicológicos. Além disso, agentes tóxicos de fontes
naturais, tais como de aranhas, abelhas e algumas plantas tóxicas,
muitas vezes estão presentes em nosso cotidiano e devem ser
levados em conta como potenciais riscos à saúde.
E que tal aprender sobre a toxicidade ambiental? Nesta obra
estudaremos não só os fundamentos básicos da toxicologia ambiental,
como também os agentes tóxicos mais difundidos em todo o mundo
e seus potenciais riscos às populações expostas. Estes conteúdos o
auxiliarão no desenvolvimento de trabalhos relevantes para a sua
futura profissão. Para tanto, a nossa obra é rica em exemplos que
geram repercussões mundiais e discussões no nosso dia a dia.
Iniciaremos os estudos com os conceitos básicos da toxicologia,
seguido das principais fontes toxicológicas e das intoxicações que
podem ser causadas por elas. Para finalizar, abordaremos diversos
indicadores e ensaios para a determinação e para a classificação
dos agentes tóxicos, assim como problemas toxicológicos do atual
cenário mundial.
Vamos juntos construir novos conhecimentos e superar os desafios
da toxicologia ambiental? Não perca as webaulas e comprometa-se
com o estudo desta obra. Contamos com você e lhe desejamos bons
estudos!
Unidade 1

Fundamentos gerais sobre


toxicologia ambiental

Convite ao estudo

Caro aluno,

Quando pensamos em toxicologia ambiental, imediatamente


relacionamos esse conceito com áreas antropicamente poluídas
e com o mal que elas causam aos seres vivos locais. Será que
estamos direcionando nossas ideias de forma correta? Nesta
unidade, abordaremos os fundamentos gerais sobre toxicologia
ambiental. Você irá compreender os principais fundamentos da
toxicologia, assim como os agentes tóxicos e seus efeitos nos
seres humanos, nos seres vivos em geral e no ambiente.

Ao final da unidade, você será capaz de identificar diversos


conceitos da toxicologia ambiental e analisar os tipos de
compostos tóxicos, e também o modo como eles interagem
com os seres vivos. Mas fique atento: devemos ter em mente
que nem todos os agentes tóxicos devem ou podem ser
eliminados totalmente do ambiente. Para isso, apresentaremos
as legislações vigentes que visam a proteger o ambiente de
poluentes, definindo quais compostos estão presentes no
ambiente e em quais quantidades eles são permitidos em áreas
específicas.

Já se imaginou trabalhando na área da toxicologia


ambiental? Que tal vivenciar uma situação fictícia para colocar
seus conhecimentos em prática?

Nosso personagem principal será você! Você acaba de


ser contratado por uma empresa de consultoria ambiental
especializada em emissão de laudos técnicos referentes a
áreas com potencias fontes de contaminação. Neste contexto,
você fará parte da equipe de consultores que foi solicitada pelo
prefeito do município de Barreiras, na Bahia, para avaliar uma
vasta área com suspeita de contaminação antropogênica. Esta
área é detentora de grande diversidade biológica, entretanto,
diversas indústrias se instalaram em seu distrito industrial e
passaram a emitir gases e a liberar efluentes no Rio Grande, que
banha o estado da Bahia e transpassa esta área.

Para que você e seus colegas de trabalho possam nortear


o prefeito a adotar as melhores decisões para prevenir e/ou
mitigar a formação de áreas contaminadas, será necessário que
vocês conheçam os fundamentos da toxicologia ambiental. A
propósito, você sabe qual o significado da palavra toxicidade? E
como diferenciar locais poluídos de contaminados? Quais são
as legislações existentes que contemplam esta área ambiental?

Nesta unidade iremos ajudar você com este novo trabalho!


Mãos à obra e vamos lá!
Seção 1.1
Fundamentos e terminologias em toxicologia
ambiental

Diálogo aberto

Caro aluno,
Nesta seção, iremos nos familiarizar com a história da toxicologia
ambiental, assim como com seus conceitos básicos. Desta forma,
você entenderá o papel de grande importância desta disciplina na
formação dos engenheiros ambientais, tendo em vista a crescente
exposição do ambiente e da população aos agentes tóxicos das mais
diversas origens.
Lembra-se que você foi contratado por uma empresa de
consultoria ambiental? Agora você incorpora uma equipe de
consultores solicitada para avaliar uma vasta área no município de
Barreiras com suspeita de contaminação antropogênica. Para dar
início ao trabalho, você e os demais consultores precisam assegurar
que o prefeito compreenda o tema. Muitas vezes os conceitos são
confundidos e aplicados de forma errada. Consequentemente,
decisões também são tomadas erroneamente. Assim, a primeira parte
do trabalho da sua equipe será orientar o prefeito sobre os conceitos
básicos da toxicologia, para que ele possa compreender o tema e
tomar as providências necessárias.
Algumas questões norteadoras deverão ser esclarecidas ao
prefeito. Será que a água de um rio poluído é sempre imprópria para
consumo? Como um agente tóxico interage com os organismos ali
viventes?
Que tal começar este trabalho agora? Você será acompanhado
neste processo! A seguir abordaremos os conceitos da toxicologia
ambiental e você entenderá a relação entre um agente tóxico e seu
mecanismo de atuação em um organismo.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 9


Não pode faltar

Para conhecer a toxicologia ambiental, precisamos entender


um pouco mais sobre a história da toxicologia. O termo tóxico é
derivado do grego toxikon, que significa veneno ou veneno para
flecha, o qual é originalmente derivado de toxon, que significa
arco, e pharmacon, que significa remédio ou veneno. Portanto,
a expressão toxikon pharmacon indicava pontas de flechas
mergulhadas em veneno utilizadas para guerras ou caças. A partir
disso, a definição de toxicologia passou por muitas transformações
ao longo dos anos, incorporando diversos conhecimentos sobre
tóxicos.

A toxicologia acompanha a própria história da civilização,


sendo uma das ciências mais antigas, surgida nos primórdios da
humanidade. Os venenos eram extraídos de animais e plantas e
utilizados em pontas de flechas como ferramentas de caça ou
armas contra inimigos. Um dos documentos de origem egípcia
mais antigo, o papiro de Ebers (aproximadamente 1500 a.C, Figura
1.1, relata uma lista com cerca de 800 venenos já conhecidos
na época, incluindo o ópio, utilizado como veneno e antídoto;
a cicuta, uma planta altamente venenosa também conhecida
como “veneno de Sócrates”, pois foi usada pelo filósofo para se
autoenvenenar devido à acusação de ateísmo; e alguns metais,
como o chumbo e o cobre.

Figura 1.1 | Papiro de Ebers, publicado em 1873 pelo egiptólogo alemão Georg
Ebers

Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/51/EdSmPaPlateVIandVIIPrintsx.jpg/1280px-
EdSmPaPlateVIandVIIPrintsx.jpg>. Acesso em: 22 maio 2017.

10 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Na antiguidade, Hipócrates (460-364 a.C.) já relacionava
diversos agentes tóxicos e estudava os princípios da toxicologia
clínica. Hoje, ele é considerado o pai da medicina. Neste período,
o uso de venenos era vastamente político, tal como a morte de
Sócrates (470-399 a.C.), condenado à ingestão de extrato de
cicuta. Em face dos perigos por envenenamento, “provadores
oficiais” tinham a função de experimentar previamente alimentos e
bebidas de reis e rainhas nas cortes antigas.

Exemplificando
Na Antiguidade, os conhecimentos de Cleópatra (69-30 a.C.) em
compostos naturais tóxicos permitiu que ela os testasse em seus
escravos e, posteriormente, se suicidasse de forma rápida e sem dor.
A rainha do Egito teria ingerido uma mistura dos venenos extraídos de
plantas (ópio, cicuta e acônito) e morrido poucas horas depois.

Ainda na Idade Antiga, a primeira classificação dos venenos foi


realizada pelo grego Dioscorides (40-90 d.C.), médico da corte do
imperador romano Nero. Dioscorides diferenciava e agrupava os
agentes tóxicos de origem vegetal, animal e mineral.

Já no início da Idade Moderna, o médico alquimista Philippus


Paracelsus (1493-1541) desenvolveu diversas ideias revolucionárias
na área da farmacologia, na área terapêutica e na toxicologia.
Alguns dos seus princípios permanecem válidos até hoje, sendo
seu postulado mais famoso a frase “Todas as substâncias são
venenos; não há nenhuma que não seja um veneno. A dose certa
diferencia o veneno de um remédio”. Ele iniciou uma transição
entre a filosofia e a magia da Idade Antiga para o que são agora a
filosofia e a ciência.

Entretanto, foi durante os séculos XX e XXI que a toxicologia


deu um grande salto em seu desenvolvimento. Após a Segunda
Guerra Mundial, uma enorme variedade de substâncias passou
a ser industrializada, dentre elas praguicidas, munições, fibras
sintéticas, fármacos, produtos alimentares e diversos outros
produtos químicos.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 11


O contato do homem com esses agentes químicos aumentou
drasticamente o número de intoxicações. Ao final da década 1950,
milhares de crianças nasceram com malformações congênitas
após as mães ingerirem a talidomida durante a gravidez, um
fármaco indicado para o tratamento de ansiedade, enjoo, insônia
etc. Essa tragédia impulsionou as pesquisas de teratogenicidade
em todo o mundo.

Vocabulário
Teratogenicidade é a capacidade de um agente tóxico de provocar o
aparecimento de anomalias congênitas. O termo teratos tem origem do
grego, que significa monstro, devido às malformações anatômicas que a
substância causa. Entretanto, hoje, as consequências da ingestão desse
agente englobam outras anomalias, tais como distúrbios bioquímicos,
psicomotores etc.

A toxicologia ambiental ganhou força em 1962, quando a


americana Rachel Carson publicou o livro Silent spring (Primavera
silenciosa), um best seller que retratou pela primeira vez os
efeitos do inseticida químico DDT sobre os organismos vivos,
particularmente sobre aves. Este livro inspirou uma comoção
pública em relação à saúde ambiental.

Pesquise mais
O inseticida Dicloro-Difenil-Tricloroetano ou DDT começou a ser
utilizado na Segunda Guerra Mundial para eliminar insetos transmissores
de doenças. Entretanto, ele elimina não só os insetos, como o resto
da fauna e flora ao redor. Foi banido em vários países na década de
1970 e no Brasil em 2009. Entre seus efeitos tóxicos, induz o câncer
em humanos e interfere em toda a cadeia alimentar do ambiente. Para
saber mais, leia Primavera silenciosa ou acesse o texto disponível em:
<https://educacao.uol.com.br/resenhas/primavera-silenciosa.htm>.
Acesso em: 22 maio 2017.

12 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Outros eventos envolvendo catástrofes ambientais tornaram-se
famosos, tal como o despejo de mercúrio na Baía de Minamata
(Japão) em 1930-1960 e a liberação da dioxina TCDD na atmosfera
de Seveso (Itália) em 1976. Este último evento culminou na morte
de 3 mil animais e no sacrifício de mais 7 mil animais, com o
intuito de impedir a entrada da toxina na cadeia alimentar. Outro
acidente marcante ocorreu em Bhopal (Índia) em 1984. A antiga
indústria norte-americana Union Carbide, hoje pertencente à Dow
Chemicals, acidentalmente liberou 40 toneladas de gases tóxicos.
Estima-se que 13 mil pessoas morreram após inalarem o gás, além
de 150 mil pessoas que sofrem com os efeitos da inalação até os
dias de hoje.

Agora conheceremos melhor os princípios da toxicologia


ambiental. Isto implica entender os conceitos e os elementos
básicos atuais. Como aprendemos anteriormente, a toxicologia
se iniciou com os conhecimentos sobre venenos, mas agora
trataremos de substâncias ou agentes químicos ou físicos. A
mudança do termo se deve ao uso popular da palavra veneno. Nos
termos médicos, veneno se restringe a substâncias químicas que
causam efeitos tóxicos em baixas doses, ou para as substâncias
tóxicas de animais, tais como venenos de cobra ou de escorpião.

Em primeiro lugar, definiremos o significado de toxicologia


e suas áreas de estudo. Existem diferentes áreas dentro da
toxicologia. Dentre elas, encontramos a toxicologia ambiental e a
Ecotoxicologia. Para diferenciar estas ciências, basta ter em mente
o foco de cada uma, entretanto, é importante ressaltar que todas
se sobrepõem de alguma forma (Figura 1.2):

I. A toxicologia estuda os efeitos adversos de agentes químicos


ou físicos em um organismo vivo sob exposição. Por exemplo,
uma pessoa pode estar exposta a praguicidas, um agente
químico, ou à radiação UV, um agente físico, e os efeitos
nocivos, em ambos os casos, são estudados pela Toxicologia.

II. A toxicologia ambiental estuda os impactos que agentes


químicos causam nos organismos que vivem em um
determinado ambiente. Por exemplo, um rio poluído pode
causar danos à saúde dos peixes, das aves, das plantas, dos
animais terrestres e até mesmo das pessoas que ali vivem.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 13


III. A ecotoxicologia é uma área especializada dentro da
toxicologia ambiental, e estuda os impactos que agentes
químicos causam na dinâmica populacional dos ecossistemas,
e não apenas o impacto de componentes isolados.

Figura 1.2 | Representação gráfica das inter-relações entre as diferentes áreas da


toxicologia

Fonte: elaborada pelo autor.

Nesta obra, iremos focar na toxicologia ambiental. Dessa


forma, abordaremos os agentes tóxicos e seus efeitos para a
saúde humana e para a saúde ambiental. Para começar, que tal
desconstruirmos alguns pré-conceitos e construirmos novos?

Nesta fase iremos redefinir alguns termos muitas vezes


confundidos na toxicologia ambiental. Você consegue diferenciar
os termos poluição e contaminação, toxicidade e intoxicação, e
toxicante e toxina? Para a toxicologia ambiental, o conhecimento
desses termos é importante e implica na tomada de decisões mais
conscientes.

Contaminação × poluição

Os termos contaminação e poluição são frequentemente


empregados sinonimamente. Entretanto, uma área poluída nem
sempre está contaminada.

14 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


A poluição é a alteração das características físicas, químicas e/
ou biológicas de um ambiente, ou seja, é uma forma de degradação
da qualidade ambiental oriunda de atividades antrópicas de modo
que prejudique a saúde humana e ambiental, restrinja as atividades
sociais e econômicas e afete as condições estéticas e sanitárias
locais (Lei Federal nº 6.938/81, de 31 de agosto de 1981). Por
exemplo: a poluição de um rio com lançamento de matérias ou
compostos químicos, o som excessivo emitido por automóveis ou
construções de empreendimentos, a eliminação de uma vegetação
local. Os níveis de poluição podem ser medidos (concentração de
uma substância em um rio, gases na atmosfera, ruídos, radiações,
calor etc.) e podem ser estabelecidos valores de referência.

A contaminação é um tipo de poluição oriunda de atividades


antrópicas em concentrações nocivas à saúde humana, mas
que não implique necessariamente em desequilíbrio ecológico
(Resolução CONAMA nº 420 de 28 de dezembro de 2009).
Por exemplo, a introdução de água salobra nos corpos d’água
pode causar alterações ecológicas significativas no ambiente,
mas não restringe seu uso pelo ser humano (poluído, mas não
contaminado). Ou então, a introdução de uma espécie de bactéria
ou de um composto químico nos corpos d’água pode não causar
alterações ecológicas, mas induz efeitos nocivos ao ser humano
(poluído e contaminado).

Figura 1.3 | Esquema da relação entre um rio contaminado e poluído

Fonte: elaborada pelo autor.

Reflita
Pense em um rio que você conheça em sua cidade. Você sabe dizer
se ele está contaminado e/ou poluído? Lembre-se que todo ambiente
contaminado está poluído, mas nem todo ambiente poluído está
contaminado!

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 15


Toxicidade × intoxicação

A toxicidade é a capacidade de um agente de causar danos


no organismo. Devemos lembrar sempre que a toxicidade é
uma característica inerente à substância. Não há maneira de
torná-la mais ou menos tóxica, porém a intensidade dos efeitos
adversos que esta substância causa pode variar, dependendo de
alguns fatores, dentre eles as propriedades físico-químicas da
substância, a situação da exposição, a dose, o local exposto, além
da sensibilidade do organismo vivo.

A intoxicação é a manifestação dos efeitos de um agente


tóxico no organismo. Portanto, a toxicidade de uma substância
é manifestada pela intoxicação. Este processo é patológico e
causado por um desequilíbrio fisiológico induzido pelo agente
tóxico.

Assimile
A intensidade da toxicidade de um agente tóxico depende dos fatores:
concentração do agente, duração, frequência e rota de exposição.

Toxicante × toxina × veneno × fármaco × droga

A seguir, diferenciaremos alguns termos que são genericamente


empregados como agentes tóxicos, porém o emprego desses
termos de forma errada pode levar a um diagnóstico ou a um
laudo errado. Não se preocupe em memorizá-los! Nesta obra
optamos pela abordagem agente ou substância química ou tóxica,
mas é importante que você saiba que existe diferença entre eles e,
sempre que tiver dúvida, volte nesta seção para relembrá-los. Vale
ressaltar que algumas vezes os termos se sobrepõem, portanto,
cabe a você adequá-los da melhor maneira em seu vocabulário.

O toxicante é o agente tóxico, ou seja, o agente causador dos


efeitos adversos ou da intoxicação em um determinado organismo.
Ele pode ser produzido por atividades naturais ou antropogênicas.
Por exemplo, a combustão de matéria orgânica pode ocorrer por
processos naturais (incêndio florestal natural) ou antropogênicos
(fumar um cigarro), e ambos produzem o toxicante hidrocarboneto
aromático policíclico ou HAP.

16 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


A toxina refere-se a substâncias tóxicas produzidas por plantas,
animais e microrganismos, geralmente relacionadas à autodefesa
do organismo desses seres contra predadores.

O termo veneno também pode ser empregado como qualquer


agente capaz de induzir efeitos adversos em um organismo,
entretanto, como vimos anteriormente (relembre o postulado de
Paracelsus!), qualquer substância pode induzir efeito adverso se
presente em quantidades suficientes para causá-lo. Esta definição
torna o termo veneno não usual, sendo empregado para agentes
tóxicos que causam efeitos em baixas doses ou para as toxinas
que alguns animais produzem (veneno de cobra, escorpião, abelha
etc.).

O fármaco é toda substância devidamente estudada, com


estrutura química definida, capaz de alterar o estado fisiológico
ou patológico de um organismo de forma benéfica. Já a droga
é toda substância capaz de alterar o estado fisiológico de um
organismo, com ou sem intenção benéfica. Desta forma, podemos
concluir que a Cannabis sativa, como um todo, é uma droga, e
seu constituinte psicoativo tetraidrocanabinol é um fármaco.
Entretanto, popularmente, a palavra droga é também empregada
para fármacos, medicamentos e toxicantes.

Reflita
Qualquer substância pode ser tóxica, dependendo da dose! É importante
relacionar a partir de qual quantidade a substância se torna perigosa. Os
medicamentos, por exemplo, são seguros somente se administrados
em doses corretas. Caso haja uma superdose, tornam-se tóxicos. Até
mesmo a água, se ingerida em excesso, pode gerar um desequilíbrio no
organismo e levar à intoxicação.

A intoxicação de um organismo exposto a agentes tóxicos


depende de diversos fatores que influenciam na toxicidade. Para
facilitar o entendimento, esses fatores foram divididos em quatro
fases:

I. Exposição: acesso do agente tóxico ao organismo por diferentes


rotas ou vias de exposição: ingestão, inalação, tópica e outras.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 17


II. Toxicocinética: processos de transporte e distribuição do
agente tóxico no interior do organismo, biotransformação e
excreção.

III. Toxicodinâmica: interação entre as moléculas do agente tóxico


com os órgãos-alvos de um organismo, alterando o estado
fisiológico e induzindo efeitos adversos.

IV. Fase clínica: detecção de sinais, sintomas e alterações


fisiológicas induzidas pelos agentes tóxicos.

Ao longo desta obra abordaremos diversos fatores que


influenciam na toxicidade, e iniciaremos a seguir com os fatores
vias de exposição, toxicocinética e toxicodinâmica.

Exposição

A intoxicação de um organismo exposto a agentes tóxicos


depende do fator rota ou via de exposição, ou seja, a transferência
do agente presente no ambiente externo para o interior do
organismo. A absorção do agente tóxico pode ocorrer por
diferentes vias de acesso: ingestão (via gastrointestinal), inalação
(via pulmonar), tópica (vias dérmica, epidérmica e/ou dérmica, e
também através dos olhos) e outras vias parenterais (administração
intravenosa, intramuscular e subcutânea) não comuns no contexto
da toxicologia ambiental.

Outro fator importante nesta fase é a intensidade da exposição.


Ou seja, a concentração, a duração e a frequência em que um
organismo é exposto ao agente tóxico induz diferentes intensidades
de toxicidade. Por exemplo, o gás monóxido de carbono (CO)
pode ser produzido pela combustão incompleta (em condições
de pouco oxigênio) e, após ser inalado em altas quantidades, pode
causar dores de cabeça, tonturas e até perda da consciência e
morte, dependendo da duração da exposição. Por outro lado, nós
naturalmente produzimos uma baixa quantidade de CO durante
o processo de catabolismo, sem que haja indução de qualquer
efeito tóxico.

Via pulmonar

A inalação de agentes tóxicos é associada a efeitos adversos


mais severos. Os agentes tóxicos presentes no ar passam

18 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


facilmente pelas fossas nasais, e atravessam a faringe, a laringe,
os brônquios, a traqueia e os alvéolos pulmonares até atingirem a
corrente sanguínea. Entretanto, o tamanho das partículas inaladas
influencia diretamente no alcance dos órgãos. Partículas maiores
que 5 µm são eliminadas com um espirro, enquanto partículas
entre 2-5 µm ficam presas no muco, e as partículas menores
alcançam mais facilmente a corrente sanguínea.

Via gastrointestinal

A exposição oral pode ser acidental, por meio da água ou de


alimentos contaminados, pela ingestão de drogas ou fármacos. As
características físico-químicas dos agentes tóxicos são importantes
para esta via de absorção. Agentes tóxicos lipofílicos, por exemplo,
são facilmente absorvidos pelas células epiteliais do trato digestivo,
pois as atravessam por difusão passiva e atingem a corrente
sanguínea, enquanto os agentes altamente hidrofílicos são pouco
absorvidos. O pH e o pKa também possuem papel fundamental
aqui, pois o grau de ionização do agente tóxico varia de acordo
com o seu pKa e com o pH do meio, facilitando a difusão passiva
particular a substâncias não ionizadas. Por outro lado, a presença
de enzimas digestivas em todo o sistema gastrointestinal e o pH
ácido do estômago muitas vezes facilitam a eliminação do agente
tóxico.

Vocabulário
Lipofílico (adj.) refere-se à habilidade de um composto químico dissolver-
se em gorduras, óleos vegetais e lipídios em geral. Em outras palavras,
a substância dita lipofílica é a que tem afinidade e é solúvel em lipídios.

Hidrofilia (subst.) refere-se à propriedade de ter afinidade por moléculas


de água.

Fonte: Dicionário Português. Disponível em: <http://dicionarioportugues.


org/>. Acesso em: 23 maio 2017.

Via dérmica

A absorção de agentes tóxicos via dérmica é dificultada por

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 19


algumas barreiras biológicas. A epiderme possui uma camada
de células mortas queratinizadas incorporadas em lipídeos,
impermeabilizando a passagem de agentes tóxicos hidrofílicos.
Além disso, os pelos e o suor auxiliam na formação desta barreira.
Apesar das barreiras da pele, alguns agentes tóxicos podem
atuar diretamente sobre ela, causando irritação, corrosão ou
sensibilização do local, ou mesmo conseguindo penetrar e alcançar
a corrente sanguínea, especialmente as substâncias lipofílicas.

Toxicocinética

Quando os agentes tóxicos alcançam a corrente sanguínea, eles


são transportados para diversos órgãos. Ao atingirem o órgão-alvo,
os agentes tóxicos deixam a corrente sanguínea e se distribuem nas
células dos tecidos. Nesta fase, os órgãos altamente irrigados pelo
sangue (coração, cérebro, fígado) recebem maiores quantidades
do agente tóxico, entretanto, os tecidos menos irrigados (tecido
adiposo, ossos, unhas, dentes) tendem a armazenar maiores
quantidades do agente.

Após a distribuição, os agentes tóxicos podem ser excretados


e retornam ao ambiente externo novamente. Os principais órgãos
excretores são o fígado e o rim, sendo eficientes na remoção de
agentes altamente hidrofílicos. Antes da excreção, os agentes
tóxicos, principalmente os lipofílicos, podem ser biotransformados
por reações que ocorrem durante o processo de metabolismo
e os tornam hidrofílicos, o que facilita sua excreção. Entretanto,
agentes altamente lipofílicos são dificilmente eliminados e tendem
a se acumular no organismo.

Exemplificando
Após a exposição de animais ao chumbo, 50% da quantidade absorvida é
encontrada no fígado em apenas duas horas, e cerca de 30 dias depois,
90% do metal é encontrado nos ossos. Este metal é liberado lentamente,
tendo meia-vida de eliminação de 20-30 anos.

É importante ressaltar que um agente altamente hidrofílico não


é sinônimo de ausência de efeito tóxico. A quebra de algumas

20 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


substâncias para facilitar sua eliminação pode formar metabólitos
altamente tóxicos ou radicais livres altamente reativos. Este
processo é chamado de ativação metabólica. Diversas indústrias
têxteis e de cosméticos, por exemplo, utilizam corantes sintéticos
hidrofílicos em seus produtos e, após esses corantes serem
absorvidos pelo organismo, formam agentes tóxicos altamente
carcinogênicos pelo processo de ativação metabólica.

Figura 1.4. | Esquema resumido da toxicocinética de um agente tóxico

Fonte: elaborada pelo autor.

Toxicodinâmica

O estudo da toxicodinâmica torna-se importante para


entendermos os mecanismos de ação dos agentes tóxicos e
para a estima da probabilidade de causa de efeitos adversos na
população exposta, ou seja, para a realização de uma avaliação
de risco. Por meio da avaliação de risco é possível estabelecer
estratégias preventivas ou mitigadoras de tratamentos.

A toxicodinâmica é tipicamente mediada pelo efeito adverso


que um agente tóxico causa ao interagir com o sítio-alvo. Esta
interação é capaz de induzir uma série de reações e de causar
danos em vários níveis biológicos, dentre eles em organelas,
células, tecidos, órgãos e até mesmo no organismo como um
todo.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 21


Exemplificando
Quando aspiramos o monóxido de carbono (CO), ele é absorvido e
atinge a corrente sanguínea, na qual rapidamente se liga à hemoglobina,
impedindo-a de transportar oxigênio aos tecidos. O excesso de CO
ligado às hemoglobinas pode levar a óbito por anoxemia, ou seja, por
falta de oxigênio no sangue.

Figura 1.5 | Esquema resumido de uma interação entre um agente tóxico e seu
sítio de ação

Fonte: elaborada pelo autor.

Geralmente, os efeitos adversos induzidos por um agente


tóxico são proporcionais à quantidade absorvida, caracterizando
a relação dose-resposta. Ou seja, quanto maior a dose do agente
tóxico, maior o efeito adverso ocasionado. Entretanto, alguns
agentes são capazes de induzir efeitos hormesis, ou seja, a resposta
do organismo não é gradual em função do aumento da dose, mas
adaptativa. Por exemplo, em baixas concentrações tóxicas, uma
população exposta pode diminuir a taxa de reprodução, mas em
concentrações tóxicas elevadas pode aumentar o número da prole
em prol da manutenção da espécie no ambiente.

É importante ressaltar que os efeitos normalmente não


ocorrem de forma isolada. A resposta do organismo face a um
agente tóxico pode ser aumentada ou reduzida de acordo com
combinações com diferentes substâncias. Os efeitos adversos
simultâneos podem ser:

22 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


I. Aditivos: os efeitos adversos se somam.
II. Sinergéticos: os efeitos adversos são maiores que a soma dos
efeitos individualizados.
III. De potenciação: o efeito adverso do agente tóxico é
potencializado pela ação de um agente não tóxico.
IV. Antagônicos: o efeito adverso de um agente tóxico é
antagonizado pela ação de um segundo agente.

Pesquise mais
Todos os conceitos abordados anteriormente são de extrema
importância para a compreensão da toxicologia ambiental. Porém,
lembre-se de que não são os únicos! Existem inúmeros princípios que
não foram explorados até aqui, mas nesta seção conseguimos entender
mais sobre esta ciência e sobre sua relevância durante o desenvolvimento
da humanidade.

Na próxima seção, você conhecerá melhor os agentes tóxicos e suas


características químicas e tóxicas, mas antes de iniciá-la, que tal aprender
mais sobre alguns efeitos tóxicos causados por esses agentes? Pesquise
sobre os acidentes ambientais.

- Caso Shell. Leia mais no link indicado. Disponível em: <http://oglobo.


globo.com/economia/umafabrica-de-contaminacao-mortes-em-
paulinia-4405362>. Acesso em: 23 maio 2017.

- Desastre ambiental em Mariana (MG). Leia mais no link disponível em:


<http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/acidente-mariana-mg-
seus-impactos-ambientais.htm>. Acesso em: 23 maio 2017.

- Tragédia da hemodiálise. Leia mais sobre o assunto no link a


seguir. Disponível em: <http://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/
noticia/2016/02/tragedia-da-hemodialise-que-deixou-quase-60-
mortos-completa-20-anos.html>. Acesso em: 23 maio 2017.

Sem medo de errar


Caro aluno,

Agora vamos retomar o trabalho proposto a você e aos demais


consultores. Lembre-se: vocês precisam orientar o prefeito

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 23


sobre o tema toxicologia ambiental. Ele suspeita que uma vasta
área detentora de grande diversidade biológica está sendo
contaminada pelas indústrias ao seu redor. Porém, o prefeito não
possui conhecimento algum sobre impactos ambientais e precisa
compreender o necessário para tomar as devidas providências.
Vamos ajudá-lo?

Como vimos nesta seção, diversos termos da toxicologia são


confundidos e empregados de forma errada. Para que o prefeito
compreenda o tema, você e seus colegas de trabalho devem
explicar as diferenças conceituais desses termos, considerando
que, para uma pessoa que não trabalha na área de ciências, nem
sempre tais diferenças conceituais são claras. Portanto, uma boa
ideia seria abordar os temas com um pequeno glossário, explicando
os conceitos de forma sucinta e elucidativa.

E que tal usar a criatividade e interligar os temas em um mapa


mental? A seguir, você encontra um exemplo que pode auxiliar no
desenvolvimento do seu mapa (Figura 1.6). Sinta-se à vontade para
acrescentar as informações que achar relevantes e interessantes
para a construção de seu próprio esquema.

Não se esqueça de deixar clara a diferença entre uma área


contaminada e uma área poluída. Relembre que toda área
contaminada está poluída, mas que nem toda área poluída está
contaminada. E atenção: mesmo que uma área esteja “somente
poluída”, cuidado com as recomendações para uso dessa água
para o consumo humano! A cada dia a ciência descobre novas
informações sobre a toxicidade de substâncias presentes no
ambiente, sejam elas naturais ou inseridas de forma antropogênica.
Então, nunca afirme que uma substância não apresenta toxicidade.
Talvez a, longo prazo, ela possa induzir danos à saúde humana e à
saúde ambiental, mas eles ainda são desconhecidos.

Também relembre o fato de que um agente tóxico pode


interagir com um organismo de diferentes maneiras. Por exemplo,
um praguicida pulverizado sobre verduras de uma horta pode entrar
em contato com ser o humano pela ingestão (via gastrointestinal),
por outro lado, esse mesmo praguicida em um rio entrará em
contato com um peixe por todo o seu corpo (via dérmica), pela

24 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


sua respiração (via branquial) e pela ingestão do praguicida (via
gastrointestinal). Portanto, deve-se levar sempre em consideração
a área em estudo como um todo e também as particularidades
de cada ambiente presente nessa área, assim como os diferentes
organismos expostos. Aproveite para inserir diferentes ambientes
em seu mapa mental e as possíveis vias de exposição.

Figura 1.6 | Exemplo de esquema para a construção do mapa mental

Fonte: elaborada pelo autor.

Avançando na prática

Ausência de efeitos aparentes

Descrição da situação-problema

Caro aluno,

Agora, você e seus colegas consultores terão um novo desafio.


Após um levantamento do histórico da área em estudo, vocês
souberam que nesta área havia uma antiga indústria de curtume,
entretanto, ela encerrou as atividades no mês anterior. Por falha
humana, houve um derramamento de uma pequena carga de
efluentes que não passaram tratamento prévio. Sabemos que a
indústria de curtume gera toneladas de carga orgânica e de metais,

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 25


mas curiosamente o prefeito relatou que as análises realizadas
por um laboratório especializado mostraram que havia baixas
concentrações dos metais liberados na água e que os efeitos
tóxicos não eram visíveis nos organismos aquáticos que viviam no
local. Sendo assim, ele questionou se esse rio estaria poluído ou
não. Quais explicações vocês sugeririam ao prefeito pela ausência
aparente de efeito tóxico?

Resolução da situação-problema

Não podemos afirmar que a aparente ausência de efeito


tóxico seja mesmo a realidade. Lembre-se que, após o contato
de organismos com agentes tóxicos, os agentes são absorvidos,
transportados e distribuídos pelo organismo, conforme a via de
exposição. Nossa dica é que você explique ao prefeito que alguns
agentes químicos podem estar acumulados nos organismos ou
mesmo nos sedimentos. Além disso, tais substâncias despejadas no
rio podem ter sido degradadas no ambiente ou biotransformadas
pelos organismos após a absorção. Portanto, as análises laboratoriais
não encontrariam a substância inicial na água. É preciso uma
análise minuciosa dessa área para detectar os compostos químicos
e seus produtos de degradação e/ou biotransformação, não só
na água, como também nos compartimentos sedimento, flora
e fauna. Uma dica é sugerir testes toxicológicos em organismos
aquáticos amplamente utilizados como detectores de distúrbio
ambiental, denominados indicadores biológicos, tais como os
macroinvertebrados bentônicos (Figura 1.7). Eles possuem alta
sensibilidade a ambientes alterados e são capazes de indicar os
efeitos adversos induzidos pelos agentes tóxicos presentes em um
ambiente.
Figura 1.7 | Exemplares de macroinvertebrados bentônicos

Fonte: <http://www.dep.wv.gov/wwe/watershed/bio_fish/pages/bio_fish.aspx>. Acesso em: 23 maio 2017.

26 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Portanto, talvez ainda haja efeitos tóxicos, porém não são
visivelmente detectados. Lembra-se do fato de que o chumbo
demora 20 a 30 anos para ser parcialmente eliminado pelo corpo
de um organismo? Alerte o prefeito de que é preciso analisar
cuidadosamente esse rio e que ele deve ser cauteloso com os
“efeitos aparentemente ausentes” para tomar decisões sobre a
saúde ambiental.

Faça valer a pena

1. O avanço da toxicologia ambiental possibilitou o estudo de agentes


tóxicos presentes no ambiente e seus efeitos para a saúde humana e para
a saúde ambiental. Entretanto, diversos termos definidos no passado foram
alterando o significado de conceitos da toxicologia ambiental, tornando-os
mais específicos.
Levando em conta os conceitos da toxicologia ambiental, podemos
concluir que um toxicante é:
a) Uma toxina extraída de animais venenosos, capaz de induzir efeitos
adversos ao ser humano.
b) Um antídoto utilizado para neutralizar venenos de plantas e animais.
c) Uma intoxicação com manifestações clínicas.
d) A toxicidade inerente de um agente tóxico.
e) Um agente tóxico capaz de induzir efeitos adversos a um organismo
vivo.

2. Após uma pessoa ingerir um alimento contendo um agente tóxico


altamente lipofílico, este é absorvido e distribuído pelo organismo.
Qual é a rota de distribuição mais provável que esse agente tóxico pode
percorrer no organismo?
a) Sistema respiratório, sistema circulatório, fígado, excretas.
b) Sistema gastrointestinal, excreção direta pelas fezes.
c) Sistema gastrointestinal, sistema circulatório, acumulação, excreção
lenta.
d) Sistema circulatório, sistema nervoso, rins, excretas.
e) Sistema circulatório, fígado, acumulação.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 27


3. O incêndio que ocorreu na boate Kiss em 27 de janeiro de 2013, na
cidade de Santa Maria (RS), matou 242 pessoas e deixou 630 feridas. Ele
foi iniciado por um sinalizador disparado por um integrante da banda que
estava no palco. Apesar da maior parte das vítimas fatais não terem sido
atingidas pelo fogo, a fumaça tóxica foi a grande vilã da noite.
Fonte: <http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/tragedia-incendio-boate-
santa-maria/platb/>. Acesso em: 24 maio 2017.

A alternativa abaixo que relaciona corretamente a fumaça tóxica com seu


efeito adverso ocorrido na tragédia da boate Kiss é:
a) O CO é absorvido pela via dérmica, atinge a corrente sanguínea e é
rapidamente excretado.
b) O CO se liga à hemoglobina, em seguida, é transportado para o sítio de
ação, desencadeando o efeito adverso.
c) O dióxido de carbono é absorvido pela via dérmica, atinge a corrente
sanguínea e é transportado até o fígado, órgão no qual induz o efeito
adverso.
d) O monóxido de carbono é inalado, rapidamente chega à corrente
sanguínea e se liga à hemoglobina, levando à morte por anoxemia.
e) O dióxido de carbono é inalado, rapidamente chega à corrente sanguínea
e se liga à hemoglobina, impedindo que esta transporte oxigênio.

28 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Seção 1.2
Classificação dos compostos tóxicos

Diálogo aberto

Caro aluno,
Na seção anterior você se familiarizou com a história e com os
conceitos básicos da toxicologia ambiental e aprendeu como os
agentes tóxicos são absorvidos e interagem com os organismos
vivos. Além desses conhecimentos, é extremamente importante
conhecer os agentes tóxicos presentes no ambiente em que
vivemos. Entretanto, existem milhares de substâncias químicas em
todo o mundo! E como estudá-las uma a uma? Para que isso se
torne possível, as substâncias químicas são agrupadas em classes, de
acordo com suas características, o que facilita a compreensão dos
agentes tóxicos.
Lembra-se dos desafios de seu trabalho na empresa de consultoria?
Pois continuaremos trabalhando nessa jornada. Após a primeira etapa
do trabalho no município de Barreiras, o prefeito enviou à sua equipe
um relatório emitido por um laboratório de análises químicas contendo
os compostos químicos encontrados em uma água coletada no
Rio Grande, o receptor dos efluentes industriais. Dentre os diversos
compostos encontrados, o laboratório descreveu a presença de dois
metais, um hidrocarboneto, um composto orgânico altamente tóxico
e três compostos carcinogênicos
Para facilitar o entendimento, o prefeito organizou esses dados
em uma tabela. Veja:

Tabela 1.1 | Compostos químicos presentes nas amostras de água do Rio Grande

Concentra-
Concentra-
Agentes tóxicos encontrados ções encon-
ções limites1
tradas
Chumbo 0,005 mg/L 0,01 mg/

Cromo 0,001 mg/L 0,05 mg/

Composto carcinogênico 1 0,009 mg/L -

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 29


Composto carcinogênico 2 0,001 mg/L -

Composto carcinogênico 3 0,005 mg/L -

Substância química orgânica 0,009 mg/L -


1,2-dicloroetano
0,009 mg/L 0,01 mg/
(solvente hidrocarboneto halogenado)
1
Fonte: elaborada pelo autor.

Após visualizar a tabela, o prefeito entendeu que se tratavam


de sete compostos diferentes. Ele pediu o seu auxílio e também
o dos demais consultores. Com base nas informações da Tabela
1.1, faça uma interpretação desses dados para a análise que você
deve entregar em sua próxima reunião. O prefeito estava correto
em suas interpretações?

A seguir, vamos abordar as classificações dos agentes tóxicos


de acordo com suas características químicas, toxicológicas e com
seus efeitos tóxicos, e você compreenderá melhor o significado da
tabela apresentada. Vamos lá?

Não pode faltar


Classificações dos compostos tóxicos

Os agentes tóxicos podem ser classificados a partir de diversos


critérios, de acordo com os interesses e necessidades de estudo.
Dentre todas as classificações, as mais relevantes para a toxicologia
são aquelas que especificam as características químicas, tóxicas
e de efeitos. Por exemplo, em um estudo de biomonitoramento
de águas superficiais contaminadas, um profissional pode utilizar a
intensidade e o tipo de efeito tóxico induzido para tomar a decisão
imediata de suspensão de seu uso para consumo humano, porém
precisará recorrer às características químicas para descobrir qual
substância está presente na área estudada e tratá-la de forma
adequada.

A seguir, abordaremos as classificações dos agentes tóxicos de


acordo com suas características químicas, tóxicas e de efeito.
1
valores baseados para os padrões de qualidade Classe I - águas doces (Resolução CONAMA
357/2005).

30 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Características químicas

Nesta classificação, os agentes tóxicos são categorizados de


acordo com as características químicas da estrutura da molécula.
Essa categorização possui grande importância para a toxicologia,
pois permite relacionar a estrutura da molécula com sua função.
Por exemplo, os agentes da categoria compostos fenólicos
possuem em suas estruturas pelo menos um grupo de hidroxila
(OH) ligado a um grupo de hidrocarboneto aromático. A partir
dessa estrutura, sabe-se que essas moléculas possuem uma ação
protetora contra processos oxidativos no organismo, ou seja,
atuam como antioxidantes. Por outro lado, essa mesma estrutura
pode causar queimaduras severas na pele em altas concentrações.

Reflita
Para você, o que é um veneno? Você já ouviu falar no postulado do
alquimista Philippus Paracelsus? “Todas as substâncias são venenos; não
há nenhuma que não seja um veneno. A dose certa diferencia o veneno
de um remédio."

Podemos agrupar as principais categorias quanto às estruturas


químicas da seguinte forma:

- Compostos inorgânicos de oxigênio, nitrogênio e carbono:


são moléculas inorgânicas formadas por pelo menos dois
elementos químicos diferentes e não apresentam uma cadeia de
átomos de carbono ligada a átomos de hidrogênio. Por exemplo,
a água (H2O), o dióxido de carbono (CO2) e a amônia (NH3) (Figura
1.8).

Figura 1.8 | Estruturas de moléculas inorgânicas. Da esquerda para a direita: água,


dióxido de carbono e amônia.

Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 31


- Hidrocarbonetos alicíclicos, alifáticos e aromáticos: são
compostos orgânicos formados obrigatoriamente por uma cadeia
de átomos de carbono como “esqueleto” da molécula, ligados a
átomos de hidrogênio (Figura 1.9). Temos como exemplo os
derivados de petróleo.

Figura 1.9 | Classificação das cadeias de carbono de um hidrocarboneto

Fonte: elaborada pelo autor.

- Compostos halogenados: são moléculas orgânicas formadas


por hidrocarbonetos, mas com a presença de um átomo de
halogênio (cloro, iodo, bromo ou flúor) ligado ao carbono (Figura
1.10).

Figura 1.10 | Estrutura de um composto halogenado (cloreto de etila)

Fonte: elaborada pelo autor.

- Álcoois, glicóis e derivados: são moléculas orgânicas


derivadas dos hidrocarbonetos com uma ou mais hidroxilas (OH)
ligadas a um carbono saturado, ou seja, um carbono que possua
quatro ligações simples em sua estrutura (Figura 1.11).

32 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Figura 1.11 | Estrutura de uma molécula de álcool (etanol)

Fonte: elaborada pelo autor.

- Fenóis e compostos fenólicos: são moléculas orgânicas que


possuem pelo menos um grupo de hidroxila (OH) ligado a um
grupo de hidrocarboneto aromático (Figura 1.12).

Figura 1.12 | Estrutura de uma molécula de fenol (hidroxibenzeno)

Fonte: elaborada pelo autor.

- Éteres: são moléculas orgânicas formadas a partir da ligação


entre dois álcoois e possuem um átomo de oxigênio entre dois de
carbono de um hidrocarboneto. Quando o oxigênio se encontra
no meio de uma cadeia fechada (cíclica), nós o chamamos de
composto epóxi (Figura 1.13).

Figura 1.13 | Estrutura de uma molécula de éter (éter dimetílico - à esquerda) e


epóxi (acetaldeído - à direita)

Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 33


- Cetonas: são moléculas orgânicas que possuem o grupo
de carbonila (C=O) entre dois átomos de carbono da cadeia de
hidrocarboneto (Figura 1.14).

Figura 1.14 | Estrutura de uma molécula de cetona (dimetilcetona)

Fonte: elaborada pelo autor.

- Aldeídos: são moléculas orgânicas que possuem o grupo de


formila (H−C=O) ligado ao átomo de carbono da extremidade da
cadeia de hidrocarboneto (Figura 1.15).
Figura 1.15 | Estrutura de uma molécula de aldeído (acetaldeído)

Fonte: elaborada pelo autor.

- Ácidos carboxílicos: são moléculas orgânicas derivadas dos


aldeídos, e possuem o grupo de carbonila (C=O) ligado ao grupo de
hidroxila (OH) de um hidrocarboneto. Quando dois ácidos reagem
e se ligam, formam o anidrido (Figura 1.16).

Figura 1.16 | Estrutura de uma molécula de ácido carboxílico (ácido acético - à


esquerda) e anidrido (anidrido acético - à direita)

Fonte: elaborada pelo autor.

34 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


- Ésteres: são moléculas orgânicas derivadas dos álcoois e
ácidos carboxílicos, e possuem o grupo acilato (COO) entre duas
cadeias de carbono de um hidrocarboneto (Figura 1.17). Nos
sistemas biológicos, grupos fosfatos (contendo fósforo) e sulfatos
(contendo enxofre) podem se ligar a um grupo de hidroxila (OH)
por ligações do tipo éster, formando importantes moléculas para as
células, dentre elas o DNA, o RNA e o ATP.

Figura 1.17 | Estrutura de uma molécula de éster (etanoato de metila)

Fonte: elaborada pelo autor.

- Cianetos ou nitrilas: são moléculas orgânicas com o


grupo de cianeto (C=N) ligado a uma cadeia de carbonos de um
hidrocarboneto (Figura 1.18).

Figura 1.18 | Estrutura de uma molécula de nitrila (acetonitrila)

Fonte: elaborada pelo autor.

- Compostos nitrogenados: são moléculas orgânicas derivadas


da amônia, e possuem o átomo de nitrogênio ligado ao carbono
de um hidrocarboneto. Podem formar aminas primárias (C−NH2),
secundárias (C2−NH) e terciárias (C3−N); aminas aromáticas; e
amidas (CO−NH2) (Figura 1.19).

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 35


Figura 1.19 | Estrutura de moléculas nitrogenadas. Da esquerda para a direita:
amina primária (metilamina), amina secundária (dimetilamina), amina aromática
(anilina) e amida (acetamida)

Fonte: elaborada pelo autor.

- Metais: são elementos inorgânicos que ocorrem naturalmente


na natureza. Em geral, são definidos pelas suas propriedades físicas,
como alta refletividade (brilho); elevada condutividade elétrica e
térmica; maleabilidade e; força mecânica. Os metais não podem
ser criados e nem destruídos pelos humanos, portanto não são
biodegradáveis, o que facilita a bioacumulação em organismos
vivos. Dentre os mais conhecidos, podemos citar o arsênio, o
cádmio, o chumbo, o mercúrio, o níquel, o cobre, o ferro, o zinco,
o alumínio, o cromo e o manganês.

Características tóxicas

Para fornecer informações do perigo de compostos químicos


à saúde humana e ambiental, os agentes tóxicos também podem
ser classificados de acordo com suas propriedades toxicológicas.

Essa classificação utiliza os critérios da Associação Brasileira


de Normas Técnicas (ABNT) NBR 14725 - 1, 2, 3 e 4:2009, a qual
se baseia no Globally Harmonized System of Classification and
Labelling of Chemicals (GHS), um documento técnico desenvolvido
por um comitê científico internacional que visa a instruir os
países no atendimento de exigências básicas de comunicação de
substâncias perigosas.

A ABNT prevê a classificação dos perigos dos agentes tóxicos


ao ambiente de acordo com a toxicidade aguda (efeitos adversos
induzidos em um curto intervalo de exposição) e toxicidade
crônica (efeitos adversos induzidos durante o período de um ciclo
de vida). Essa toxicidade é determinada pela Concentração Efetiva
Média (CE50) ou Concentração Letal Média (CL50), ou seja, a
concentração do composto químico que provoca algum efeito
adverso ou a mortalidade em 50% dos organismos-teste expostos.

36 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Vocabulário
Organismos-teste: um grupo de organismos da mesma espécie
considerado sensível a mudanças ambientais. Por exemplo, em um teste
de toxicidade, um grupo de microcrustáceos da espécie Daphnia magna
foi exposto a um determinado composto químico por um determinado
período e, ao final, foi contado o número de organismos imóveis ou
mortos, permitindo o cálculo da CE50 ou CL50, respectivamente.

Assimile
As CE50 e CL50 são mundialmente utilizadas, portanto vale a pena
relembrar esses conceitos. Não se esqueça: a CL50 considera o efeito
mortalidade, enquanto a CE50 considera algum outro efeito adverso
observado em 50% dos organismos expostos.

Podemos classificar os agentes tóxicos nas categorias


apresentadas na Tabela 1.2. Entretanto, após classificar uma
substância pela CL50 e CE50 por meio de ensaios em laboratório,
são necessários outros testes para avaliar o real risco que as
populações expostas enfrentam.
Tabela 1.2 | Classificação dos agentes tóxicos de acordo com a toxicidade

Categorias Dados toxicológicos em organismos-teste Classificação

Muito tóxico para a


1 CE50 ou CL50 ≤ 1 mg/L
vida aquática.

Peixes, crustáceos,
Toxicidade 1 < CE50 ou CL50 ≤ Tóxico para a vida
2 algas ou outras
aguda 10 mg/L aquática.
plantas aquáticas.

10 < CE50 ou CL50 ≤ Perigoso para a vida


3
100 mg/L aquática.

Muito tóxico para a


1 CE50 ou CL50 ≤ 1 mg/L vida aquática, com
efeitos duradouros.
Peixes, crustáceos, Tóxico para a vida
1 < CE50 ou CL50 ≤
2 algas ou outras aquática, com efei-
10 mg/L
plantas aquáticas. tos duradouros.
Toxicidade
crônica Perigoso para a
10 < CE50 ou CL50 ≤
3 vida aquática, com
100 mg/L
efeitos duradouros.
Substâncias pouco solúveis em água, sem Pode causar
registros de toxicidade aguda, de difícil degra- efeitos duradouros
4
dação e com alto potencial de bioacumulação perigosos para a vida
em organismos vivos. aquática.

1
Classificação realizada pela Globally Harmonized System (GHS).
Fonte: NBR 14725 (ABNT, 2009) ; GHS ST/SG/AC.10/30 (2009).

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 37


Pesquise mais
Os agentes tóxicos podem ser classificados de acordo com as suas
características tóxicas. Entretanto, existem diversas especificações
de acordo com as características físico-químicas dos compostos, por
exemplo: os voláteis, pouco solúveis e inflamáveis. Para saber mais
detalhes, leia a NBR 14725 (ABNT, 2009). Disponível em: <http://www2.
iq.usp.br/pos-graduacao/images/documentos/seg_2_2013/nbr147252.
pdf>. Acesso em: 23 maio 2017.

Reflita
Lembre-se que a toxicidade é uma característica inerente das substâncias
químicas! Você já pensou que tudo ao seu redor possui uma toxicidade
inerente?

Efeitos toxicológicos

Os agentes tóxicos também podem ser classificados de acordo


com os efeitos que eles induzem nos organismos vivos. Essa
classificação visa a categorizar as substâncias químicas pelo seu
mecanismo de ação, ou seja, pelo efeito adverso específico que
induzem. Dentre as categorias, podemos destacar os seguintes
efeitos de agentes tóxicos:

- Irritantes ou corrosivos: capazes de danificar ou destruir o


tecido da pele ou as mucosas das vias respiratórias em caso de
inalação. Por exemplo, hidróxido de sódio (presente na soda
cáustica) e ácidos em geral.

- Asfixiantes: impedem que os organismos captem o oxigênio


e/ou o distribua para os tecidos. Por exemplo, o monóxido de
carbono e o cianeto.

- Neurotóxicos: induzem efeitos adversos no sistema nervoso,


causando distúrbios neurológicos e/ou comportamentais. Por
exemplo, o chumbo, o mercúrio, solventes clorados e praguicidas
organofosforados.

38 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


- Alergizantes: induzem reações imunológicas que resultam
em uma sensibilização ao agente tóxico, podendo variar de
reações alérgicas brandas até a sensibilizações fatais. Por exemplo,
o formol.

- Genotóxicos: alteram o material genético. Os organismos vivos


podem reparar os danos genéticos antes de serem transmitidos
aos descendentes (reversíveis). Por exemplo, a nicotina e os
benzo(a)pirenos.

- Mutagênicos: alteram o material genético, porém essas


alterações não são passíveis de correção pela células (irreversíveis),
se fixam no material genético e são transmitidas aos descendentes.
Diversos fatores podem tornar alterações reversíveis em
irreversíveis, como a concentração de um agente genotóxico e o
tempo de exposição. Por exemplo, o amianto, a aflatoxina B1 (um
tipo de toxina produzida por fungos do gênero Aspergillus) e os
benzo(a)pirenos.

Reflita
Lembre-se: todo agente mutagênico é genotóxico, mas nem todo
agente genotóxico é mutagênico!

- Carcinogênicos: alteram o material genético direta ou


indiretamente, induzindo a divisão celular de forma descontrolada.
Essas alterações originam o câncer. Por exemplo, alguns corantes
têxteis e de cosméticos, os benzo(a)pirenos (hidrocarboneto
aromático policíclico presente em fumaças de cigarro e de carvão),
o tabaco e o formol.

- Teratogênicos: induzem efeitos adversos irreversíveis em


embriões, refletindo em anomalias congênitas, dentre elas as
malformações estruturais, os problemas locomotores e os
distúrbios bioquímicos. Por exemplo, o medicamento talidomida
e a nicotina.

- Desreguladores endócrinos: atuam nos organismos vivos


como hormônios e alteram os níveis de hormônios endógenos
e as funções fisiológicas hormonais. Esses agentes tóxicos
estão relacionados com problemas reprodutivos, autoimunes e
cerebrais, como o mal de Parkinson e o Alzheimer. Por exemplo,

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 39


o praguicida DDT, os parabenos (presentes em conservantes) e o
bisfenol A (presente nos plásticos).

Exemplificando
O bisfenol A (BPA) é um desregulador endócrino semelhante ao
hormônio feminino estrógeno, e está presente em plásticos e na resina
epóxi, utilizada para revestir o interior de latas. Seus efeitos adversos estão
relacionados com o desenvolvimento precoce da puberdade feminina,
com a síndrome do ovário policístico e com a infertilidade entre homens
e mulheres. Desde 2012 está proibido o uso do BPA em bicos de
mamadeiras no Brasil. Além disso, recomenda-se reduzir o consumo
de alimentos enlatados e evitar o aquecimento de alimentos em
micro-ondas dentro de recipientes de plásticos. E é preciso ficar atento
na hora de comprar um produto: se o produto contém BPA, haverá o
número 7 no símbolo de reciclagem da embalagem.

Como você pode constatar, as classificações dos agentes


tóxicos são muito flexíveis e por vezes se sobrepõem. É importante
ter em mente que todas as classificações apresentadas aqui não
são únicas, existem diversas outras. A cada nova descoberta, uma
nova classificação pode surgir. Os desreguladores endócrinos, por
exemplo, englobam uma categoria nova que está sendo atualmente
incorporada nas regulamentações internacionais. Por isso não
é necessário memorizá-las, mas volte sempre a esta seção para
relembrá-las quando houver dúvidas, pois iremos utilizar diversos
termos apresentados aqui ao longo das unidades desta obra.

Sem medo de errar

Caro aluno,

Após estudar e entender os agentes tóxicos, você consegue


auxiliar o prefeito a interpretar o relatório que contém os compostos
químicos encontrados na amostra de água? O laboratório descreveu
a presença de dois metais, um hidrocarboneto, um composto
orgânico altamente tóxico e dois compostos mutagênicos. Após
analisar esses resultados, o prefeito concluiu que se tratavam de
sete substâncias diferentes.

40 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Como vimos nesta seção, os agentes tóxicos são classificados
de acordo com as suas características químicas, toxicológicas e
de efeito. É importante ter em mente que tais classificações se
sobrepõem, ou seja, um mesmo agente tóxico é classificado por
três vezes. O erro de interpretação do prefeito ocorreu justamente
pela falta deste conhecimento.

No caso apresentado, sua análise deve chegar à conclusão de


que possuímos dois metais: o chumbo e o cromo; e um solvente
de hidrocarboneto: o 1,2-dicloroetano. Poderíamos corrigir a
tabela da seguinte forma:

Tabela 1.3 | Classificação dos agentes tóxicos de acordo com a toxicidade

Concentrações Concentrações
Agentes tóxicos encontrados Tipo de efeito
encontradas limites1

Chumbo 0,005 mg/L 0,01 mg/L Carcinogênico.

Cromo 0,001 mg/L 0,05 mg/L Carcinogênico.

1,2-dicloroetano2 0,009 mg/L 0,01 mg/L Carcinogênico.

Fonte: elaborada pelo autor.

Portanto, sempre leve em consideração as diversas


características dos agentes tóxicos. Aproveite para relacionar um
mesmo agente tóxico em suas diferentes classificações e veja
que elas serão complementares. Assim, você aumenta o seu
conhecimento!

Avançando na prática

Poluente orgânico persistente (POP)

Descrição da situação-problema

Caro aluno,

Você já ouviu falar dos poluentes orgânicos persistentes


(POPs)? Os POPs são substâncias de difícil degradação, e podem
ser transportadas por quilômetros de distâncias via ar, água e solo.
1
valores baseados para os padrões de qualidade Classe I – águas doces (CONAMA, 1995).
2
solvente orgânico do tipo hidrocarboneto halogenado

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 41


Além disso, eles tendem a se bioacumular nos tecidos de gordura
dos organismos vivos. Curiosamente, cientistas já encontraram
os POPs em esquimós que vivem no polo Norte. Isso acontece
porque os efluentes industriais contendo POPs são despejados nos
rios, que desaguam nos mares e permitem que essas substâncias
viagem pelas correntezas até os Polos e contaminem as focas e
leões marinhos que vivem ali. Como a dieta alimentar dos esquimós
inclui esses animais, esses habitantes são consequentemente
contaminados.

A Convenção de Estocolmo sobre POPs que ocorreu na Suécia


em 2001 determinou que os países participantes adotassem
medidas de controle da produção, uso e destino final dos POPs.
Infelizmente, a grande dificuldade é que essas substâncias são
aplicadas em diversos produtos industrializados, como plásticos
de embalagens, brinquedos e alimentos, materiais de construção
civil, e por indústrias de celulose no branqueamento do papel, em
produtos agrícolas, além de serem largamente utilizadas como
solventes por diversas outras indústrias.

Com base nessas informações e sabendo que o solvente


orgânico 1,2-dicloroetano é um POP, quais iniciativas você e seus
colegas consultores proporiam ao prefeito de Barreiras? Quais
populações estão em risco de se contaminarem?

Assimile
Lembra-se que após um agente tóxico ser absorvido pelo organismo,
na fase da toxicocinética, ele pode ser distribuído, biotransformado,
eliminado ou armazenado? O principal tecido-alvo desse armazenamento
é o adiposo.

Resolução da situação-problema

Em primeiro lugar, é preciso alertar o prefeito sobre os POPs e


suas consequências toxicológicas. Dentre os efeitos tóxicos que
os POPs induzem, podemos destacar os efeitos neurotóxicos,
carcinogênicos, desreguladores endócrinos e os responsáveis pelas
alterações do sistema imunológico e reprodutivo. Portanto, sugira

42 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


ao prefeito que adote uma política para controlar o lançamento de
efluentes das indústrias locais e incentive a substituição dos POPs
por substâncias químicas não persistentes quando possível.

Infelizmente, é impossível acabar com os POPs presentes


no ambiente, pois, como você aprendeu, eles são vastamente
utilizados e não se degradam ao serem lançados nos rios receptores
de efluentes. Estudos já mostraram que todos nós possuímos
POPs armazenados em nosso corpo. Não é preciso morar ao lado
de uma indústria para se contaminar com eles, o que justifica a
presença de POPs em esquimós do Polo Norte.

Faça valer a pena

1. Os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH) são compostos


orgânicos formados pela combustão incompleta de matéria orgânica,
sendo encontrados na fumaça do cigarro e do carvão. Sabe-se que um
dos seus efeitos adversos é a alteração do material genético de forma
irreversível.

Com base no texto, podemos afirmar que os PAH são:

a) Alergizantes.

b) Desreguladores endócrinos.

c) Teratogênicos.

d) Neurotóxicos.

e) Carcinogênicos.

2. Em uma indústria de galvanoplastia em crescimento, o gerente do local


está desenvolvendo um novo produto e, preocupado com o seu efluente
industrial, enviou amostras de um composto presente nesse produto
para um laboratório, a fim de testar a toxicidade aguda. Após alguns dias,
recebeu os seguintes resultados:

Teste 1 – organismo-teste: microcrustáceo (Daphnia magna), CL50 = 0,1


mg/L.

Teste 2 – organismo-teste: peixe (Danio rerio), CL50 = 10 mg/L.

Teste 3 – organismo-teste: alga (Chlorella vulgaris), CL50 = 0,003 mg/L.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 43


Podemos afirmar que:
a) O peixe foi o organismo mais sensível ao composto químico, com o
maior valor de CL50.
b) O composto químico foi pouco tóxico para a alga, tendo o menor valor
de CL50.
c) O microcrustáceo apresentou a menor sensibilidade ao composto
químico.
d) O peixe foi o organismo menos sensível ao composto químico, com o
maior valor de CL50.
e) O composto químico foi muito tóxico para a alga, tendo o maior valor
de CL50.

3. O cloreto de vinila (CV) é um composto fabricado em todo o mundo


devido à sua alta aplicabilidade para a produção dos polímeros PVC,
aplicados na construção civil, na arquitetura, em obras de saneamento
básico, em revestimentos de carros e em brinquedos, entre outros usos.
Segundo a Environmental Protection Agency (US EPA), a exposição
prolongada ao CV pode causar problemas no fígado e câncer.

Podemos afirmar que se trata de uma estrutura molecular de:


a) Hidrocarboneto halogenado.
b) Éster.
c) Cianeto.
d) Metal.
e) Ácido carboxílico.

44 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Seção 1.3
Legislação sobre toxicologia e poluentes
ambientais
Diálogo aberto

Caro aluno,
Com a evolução do desenvolvimento socioeconômico, a poluição
ambiental aumentou progressivamente. Após a Segunda Guerra
Mundial, no século XX, a produção de novas substâncias aumentou
drasticamente, e esse processo trouxe diversos problemas à saúde
dos humanos. O número de intoxicações era alto e diversos animais
começaram a morrer. Nesse momento, havia uma preocupação
mundial com a poluição desenfreada, e as legislações que instituíam
normas para a qualidade ambiental se tornaram mais rígidas. Esse foi
um momento importante para a toxicologia ambiental! Hoje, diversos
estudos ambientais são realizados por órgãos especializados em criar
e revisar as legislações ambientais.
Agora iremos retomar o seu trabalho na empresa de consultoria!
Lembre-se que você e seus colegas de trabalho auxiliaram o
prefeito de Barreiras a interpretar o relatório contendo os níveis dos
compostos químicos encontrados no Rio Grande. Para finalizar essa
primeira jornada do trabalho, o prefeito solicitou que você e os demais
consultores consultassem a legislação vigente e a aplicassem na área
em estudo de acordo com os problemas encontrados. Levando em
conta que as indústrias próximas à área em estudo emitem diversos
gases e lançam grandes volumes de efluentes nos corpos hídricos,
quais das principais legislações em vigência vocês recomendariam
ao prefeito?
Após o levantamento da legislação vigente, não deixe de organizar
suas ideias bem como os aspectos levantados nas seções anteriores
para finalizar sua análise da área contaminada e a identificação de
agentes tóxicos para o prefeito de Barreiras.
Para ajudá-lo, vamos abordar a seguir as principais leis, resoluções
e normas brasileiras vigentes para a toxicologia ambiental. Ao final da
seção, iremos treinar a aplicação dessas legislações em estudos de
caso.
Vamos lá?

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 45


Não pode faltar
Ao longo da história do Brasil, inúmeras medidas legais para a
proteção do ambiente foram adotadas, entretanto somente após a
1ª Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente, realizada
em 1971 na cidade de Estocolmo, na Suécia, a legislação federal
brasileira adotou medidas mais efetivas. Nesta conferência foi
aprovada a Declaração Universal do Meio Ambiente, que declarava
a conservação dos recursos naturais, como a água, o solo, o ar,
a flora e a fauna e, para isso, cada país deveria regulamentar as
medidas necessárias em suas legislações.

Em 1981, foi criada a Política Nacional do Meio Ambiente pela


Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto
99.274, de 6 de junho de 1990. Esse foi o primeiro grande marco
de proteção ambiental, e a lei foi assegurada mais tarde pela
Constituição de 1988. Desta forma, o ambiente passava a ser um
bem protegido constitucionalmente. A lei objetiva a preservação,
a melhoria e a recuperação da qualidade ambiental. Dentre seus
princípios está o controle das atividades poluidoras, que estipula
que o poluidor é obrigado a recuperar ou indenizar os danos
causados ao ambiente, independentemente da existência de culpa.

Vocabulário
Poluidor: “Pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental."

Poluição: “Degradação da qualidade ambiental resultante de


atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos."

Fonte: Brasil (1981).

46 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Além disso, a Política Nacional do Meio Ambiente estruturou o
Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), formado por seis
órgãos, dentre eles o Conselho de Governo, que assessora o chefe
do Poder Executivo; o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), que propõe ao Conselho do Governo as diretrizes
políticas para um ambiente saudável e estabelece padrões
para o controle da poluição e do licenciamento ambiental; e o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade, que executam e fazem executar as normas
determinadas para o ambiente.

Pesquise mais
A Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998)
dispõe sobre as sanções penais e administrativas aos poluidores
que causem ou possam causar danos à saúde humana e ambiental.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.
cfm?codlegi=320>. Acesso em: 23 maio 2017.

Em 1989, foram estabelecidas as normas para os resíduos e


embalagens de agrotóxicos pela Lei 7.802, de 11 de julho de 1989.
A lei dispôs sobre a pesquisa, o registro, a classificação toxicológica,
a produção, a embalagem, a rotulagem, a comercialização,
o transporte, o armazenamento, a propaganda, a utilização, a
fiscalização e o destino final dos resíduos e embalagens.

O registro dos agrotóxicos torna-se obrigatório e é concedido


quando a toxicidade do produto para a saúde humana e
ambiental é menor ou igual à de outros produtos já registrados
para a mesma finalidade. No entanto, é proibido o registro de
agrotóxicos contendo substâncias teratogênicas, mutagênicas,
carcinogênicas ou desreguladores endócrinos. Vale lembrar que
o agrotóxico diclorodifeniltricloretano (DDT) foi proibido no Brasil
com a Lei 11.936, de 14 de maio de 2009, devido a seus efeitos
carcinogênicos, neurotóxicos e desreguladores endócrinos. A
classificação toxicológica dos agrotóxicos deve aparecer no
rótulo e na bula, junto com as instruções, precauções e efeitos
tóxicos para o ser humano e para o ambiente. Além disso, todas
as embalagens vazias devem ser retornadas aos estabelecimentos
em que foram adquiridas ou aos postos de recolhimento.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 47


Em 1993, a Lei 8.723, de 28 de outubro de 1993 instituiu a
redução de emissão de poluentes por veículos automotores.
Ela integra a Política Nacional de Meio Ambiente, e obriga os
fabricantes de automotores e combustíveis a reduzirem a emissão
de poluentes por veículos comercializados no país (Tabela 1.4).

Em 1997, foi instituída a Política Nacional dos Recursos


Hídricos pela Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997, visando a
assegurar a qualidade da água. Essa legislação também criou o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o
qual coordena a gestão das águas. Ele é formado por seis órgãos,
dentre eles a Agência Nacional de Águas (ANA), incluída pela Lei
9.984, de 17 de julho de 2000, encarregada de supervisionar o
cumprimento da legislação federal e outorgar o direito de uso dos
recursos hídricos.

Em 2003, a Lei 9.996, de 28 de abril de 2000, estabeleceu


a prevenção, controle e fiscalização de lançamento de óleo em
Águas, regulamentada pelo Decreto 4.871, de 6 de novembro
de 2003. Ela visa a conter a poluição por lançamento de óleos
e outros agentes nocivos em portos, instalações portuárias,
plataformas e navios em águas do território nacional. Os portos e
plataformas são obrigatoriamente equipados com instalações para
tratar diversos tipos de resíduos e fica proibido o lançamento de
substâncias de alto risco para a saúde humana e ambiental em
águas do território nacional.

Em 2010, a Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010 instituiu


a Política Nacional de Resíduos Sólidos, regulamentada pelo
Decreto 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Ela visa à gestão
adequada dos resíduos sólidos e estabelece uma ordem de
prioridades a seguir: 1) não geração, 2) redução, 3) reutilização,
4) reciclagem, 5) tratamento e 6) disposição final adequada em
aterros. A implementação de um plano de gerenciamento é de
responsabilidade das pessoas físicas ou jurídicas e, em casos
de lesões ambientais causadas pelos resíduos, os responsáveis
devem ressarcir integralmente o Poder Público pelos gastos com
contenção e/ou minimização dos danos.

48 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Vocabulário

Resíduos sólidos: “Material, substância, objeto ou bem descartado


resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação
final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a
proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases
contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem
inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em
corpos d’água [...]”. Fonte: Brasil (2010). Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.
htm>. Acesso em: 31 maio 2017.

Para se trabalhar com os resíduos perigosos, é preciso reduzir o


volume e o risco de contaminação. No caso de resíduos provindos
de agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes, lâmpadas
fluorescentes e produtos eletroeletrônicos, os fabricantes são
obrigados a implementar a logística reversa, ou seja, restituem os
resíduos sólidos ao setor empresarial.

Algumas disposições finais dos resíduos sólidos são


consideradas ambientalmente inadequadas e, portanto, são
proibidas, dentre elas: seu lançamento direto em praias, mares e
quaisquer corpos hídricos; o lançamento in natura a céu aberto,
exceto o lançamento de resíduos de mineração; e sua queima a
céu aberto ou em instalações não licenciadas.

Reflita
Você já parou para pensar no ciclo de um produto desde sua origem até
o seu descarte? E como esse descarte é realizado?

O curta-metragem Ilha das Flores (1988) é um documentário brasileiro


que reflete sobre a situação do lixo depositado na Ilha das Flores, a
poucos quilômetros de Porto Alegre. Para saber mais, assista ao vídeo
disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=e7sD6mdXUyg>.
Acesso em: 24 maio 2017.

O CONAMA é o órgão federal responsável pelo estabelecimento


de resoluções para o licenciamento e para o controle da poluição
ambiental. As resoluções do CONAMA instituem padrões de
poluição, ou seja, limites máximos de emissão de poluentes para

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 49


fontes de poluição. A seguir, abordaremos a principais resoluções
para o controle da poluição ambiental. Porém, lembre-se que
existem as normas específicas de cada Estado, muitas vezes mais
restritivas do que as normas federais.

Assimile
Algumas normas estaduais diferem das federais. Por exemplo, o Decreto
Estadual 8.468/76 e a Resolução CONAMA 357/05 diferem quanto
à classificação dos corpos de água e dos padrões de qualidade. A
Resolução CONAMA 430/2011, no art 3, prevê que o órgão ambiental
competente poderá “acrescentar outras condições e padrões para o
lançamento de efluentes, ou torná-los mais restritivos, tendo em vista as
condições do corpo receptor." (BRASIL, 2011, art. 3).

Essa observação é importante para você saiba que cada estado pode
estabelecer padrões próprios.

A preocupação com a emissão de poluentes atmosféricos teve


início com o crescimento urbano acelerado e com a expansão
industrial, junto com o aumento da frota de veículos automotores.
Como consequência, houve um aumento progressivo da poluição
atmosférica, especialmente nas regiões metropolitanas. Para
que as cidades evitassem ou reestabelecessem o controle da
poluição atmosférica, em 1989, foi criada a Resolução CONAMA
5, de 15 de junho de 1989, que instituiu o Programa Nacional
de Controle da Poluição do Ar (Pronar), que tem como objetivo
o desenvolvimento econômico e social do país de forma segura
para o ambiente, a melhoria da qualidade do ar e a manutenção de
áreas não degradadas antropicamente.

Vocabulário

Poluente atmosférico: “Qualquer forma de matéria ou energia


com intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou
características em desacordo com os níveis estabelecidos, e que
tornem ou possam tornar o ar:
I - impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde;
II - inconveniente ao bem-estar público;
III - danoso aos materiais, à fauna e flora.
IV - prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às
atividades normais da comunidade”.

Fonte: Brasil (1990).

50 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Essa resolução criou os padrões primário e secundário de
qualidade do ar e a Resolução CONAMA 3, de 28 de junho de
1990 estabeleceu os níveis de cada padrão, assim como o plano
de emergência para episódios críticos de poluição do ar (Tabela
1.4) para prevenir graves riscos à saúde da população.

Tabela 1.4 | Médias dos níveis de padrões de qualidade do ar (secundário e


primário) e do plano de emergência para episódios críticos de poluição do ar
(atenção, alerta e emergência)

Padrão Padrão
Emer-
Poluentes (µg/m3) secundá- primá- Atenção Alerta
gência
rio1 rio1

Fumaça 2 40 60 250 420 500

Partícula total em suspensão 2


60 80 625 625 875

Partículas Inalávéis 2
50 50 250 420 500

Dióxido de enxofre 2
40 80 800 1600 2100

Ozônio 3
160 160 400 800 1000

Dióxido de nitrogênio 3 190 320 1130 2260 3000

Monóxido de carbono 4 10000 10000 17000 34000 46000

Fonte: Brasil (1990).

Outras resoluções específicas do CONAMA definem os padrões


de qualidade do ar para a emissão de poluentes atmosféricos por
veículos automotores (Resolução 7, de 31 de agosto de 1993;
Resolução 8, de 31 de agosto de 1993; Resolução 15, de 13 de
dezembro de 1995; Resolução 297, de 26 de fevereiro de 2002)
e por fontes fixas (Resolução 8, de 6 de dezembro de 1990;
Resolução 382, de 26 de dezembro de 2006; Resolução 436, de
22 de dezembro de 2011).

A crescente urbanização e industrialização também aumentou a


geração de resíduos sólidos. O CONAMA instituiu o gerenciamento
de resíduos sólidos para portos, aeroportos, terminais ferroviários
e rodoviários (Resolução CONAMA 5, de 5 de agosto de 1993),
e serviços de saúde (Resolução CONAMA 358, de 29 de abril
de 2005). Os resíduos sólidos são classificados de acordo com a

1
Valores não devem ser excedidos mais de uma vez ao ano. 2 Valores diários.
3
Valores por hora. 4 Valores em 8 h.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 51


periculosidade de cada um (Tabela 1.5). Cabe às fontes poluidoras
gerenciar os resíduos desde a sua geração até a disposição final,
de forma a atender aos requisitos para cada grupo.

Tabela 1.5 | Classificação dos resíduos sólidos de acordo com a periculosidade

Classes Características

Presença de agentes biológicos com risco potencial à saúde humana e


Grupo A
ambiental.

Grupo B Características químicas com risco potencial à saúde humana e ambiental.

Grupo C Rejeitos radioativos (Resolução CNEN 6.05).

Grupo D Demais que não se enquadram nos grupos descritos anteriormente.

Grupo E Materiais perfurocortantes (apenas para serviços de saúde).

Fonte: Brasil (1993; 2005).

Em 2005, devido às grandes implicações econômicas e


ambientais causadas pela poluição hídrica, e considerando a
Convenção de Estocolmo de 2001, que trata dos POPs, e a instituição
do controle de lançamento de efluentes da Política Nacional do
Meio Ambiente, além da Política Nacional dos Recursos Hídricos,
o CONAMA criou a Resolução CONAMA 357, de 17 de março de
2005, alterada e complementada pela Resolução CONAMA 430,
de 13 de maio de 2011. Ela dispõe sobre a classificação dos corpos
de água superficiais (Tabela 1.6), além de estabelecer os padrões
para cada classe e para o lançamento de efluentes nos corpos de
águas receptoras. Fica determinado que qualquer fonte poluidora
deverá tratar devidamente os seus efluentes antes de lançá-los nos
corpos receptores. Para o descarte de águas de processo ou de
produção em plataformas marítimas de petróleo e gás natural, fica
estabelecida a Resolução CONAMA 393, de 8 de agosto de 2007.

Tabela 1.6 | Classificação das águas doces em território nacional

Uso das águas doces Especial Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4

Preservação do equilí-
brio natural das comu- X
nidades aquáticas

52 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Proteção das comuni-
dades
X X
aquáticas

Abastecimento para tratamento


desinfec- tratamento tratamento
consumo humano após conven-
ção simples avançado
tratamento cional
contato contato contato
Recreação
primário primário secundário

Aquicultura X

Pesca X X

Irrigação 1 X X X

Dessedentação de
X
animais

Navegação X

Harmonia paisagística X

Fonte: Brasil (2005).

Pesquise mais
Lembre-se: existem diferentes tipos de corpos de água! Para saber
sobre as classificações das águas salobras e salgadas, consulte a
Resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459>.
Acesso em: 24
maio 2017.

Para saber mais sobre a classificação das águas subterrâneas, consulte


a Resolução CONAMA 396, de 3 de abril de 2008. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=562>.
Acesso em: 24 maio 2017.

A qualidade do solo foi considerada, em 2009, com a


Resolução CONAMA 420, de 28 de dezembro de 2009, alterada
pela Resolução CONAMA 460, de 30 de dezembro de 2013,
devido à necessidade de prevenir a contaminação do subsolo e
das reservas de águas subterrâneas. Ela estabelece os padrões de
qualidade do solo e as diretrizes para o gerenciamento de áreas
antropicamente contaminadas. De acordo com essa resolução, os
1
Especificações detalhadas sobre os tipos de vegetação na Resolução CONAMA 357, de 17 de
março de 2005.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 53


padrões de qualidade do solo são baseados no valor de referência
de qualidade (VRQ), ou seja, na qualidade natural do solo. Já a
disposição de resíduos e efluentes não pode ultrapassar o valor de
prevenção (VP), ou seja, a concentração limite para o solo manter
suas principais funções. A concentração dos resíduos no solo ou
na água subterrânea acima da qual existem riscos à saúde humana
foi estabelecida como valor de investigação (VI). Desta forma, os
solos são enquadrados em quatro classes (Tabela 1.7).

Tabela 1.7 | Classificação dos resíduos sólidos de acordo com a periculosidade

Classes Características

Classe 1 Concentrações das substâncias químicas ≥ VRQ.

Classe 2 Concentrações de uma ou mais substâncias químicas > VRQ e ≤ VP.

Classe 3 Concentrações de uma ou mais substâncias químicas > VP e ≤ VI.

Classe 4 Concentrações de uma ou mais substâncias químicas > VI.

Fonte: Brasil (2009).

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é uma


entidade sem fins lucrativos fundada em 1940. Ela é responsável
pela elaboração de Normas Brasileiras (ABNT NBR) e pelo
fornecimento de informações necessárias para o desenvolvimento
tecnológico. É membro fundador da International Organization
for Standardization (ISO), representando essa instituição no
Brasil. Dentre as principais normas, a ABNT determinou a série
de normas ABNT NBR ISO 14000, que estabelece o Sistema de
Gestão Ambiental (SGA) (Tabela 1.8). Essas normas são destinadas
às organizações que buscam gerenciar as responsabilidades
ambientais e a sustentabilidade, de forma que haja um equilíbrio
entre a proteção ambiental e o desenvolvimento socioeconômico.

Tabela 1.8 | Normas da ABNT para o Sistema de Gestão Ambiental

ABNT NBR ISO Objetivo

Normas para implementar o SGA, redução de custos com matérias-primas


14001:2015
e resíduos.

14004:2005 Orientação para a empresa incorporar, implementar e melhorar o SGA.

Orientação para pequenas e médias empresas incorporarem,


14005:2012
implementarem e melhorarem o SGA.

54 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


14006:2014 Normas para incorporar o ecodesign.

Normas para rotulagem ambiental (características ambientais dos


14020:2002
produtos das empresas).
Normas para medir, analisar e definir o desempenho ambiental e
14031:2015
assegurar o SGA.
Normas para a análise do ciclo de vida (impacto dos produtos para o
14040:2009
ambiente).
Normas para quantificar e comunicar emissões e compensações de gases
14064:2007
do efeito estufa.

Fonte: adaptada de <http://www.abntcatalogo.com.br/>. Acesso em: 24 maio 2017.

Para facilitar a identificação da periculosidade dos compostos


químicos e adotar medidas de segurança no gerenciamento dos
riscos, a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) sugeriu a harmonização
de um sistema de classificação, motivando a criação do Globally
Harmonized System of Classification and Labelling of Chemicals
(GHS). Conforme vimos na Seção 1.2, a ABNT também incorporou
a classificação GHS em suas normas. Essa série de normas ABNT
NBR 14725 está dividida em quatro partes (Tabela 1.9) e auxilia na
normalização dos perigos dos agentes tóxicos.

Tabela 1.9 | Normas da ABNT para as informações de segurança de produtos


químicos

ABNT NBR Título geral

Produtos químicos - informações sobre segurança, saúde e meio


14725-1:2009
ambiente. Parte 1: terminologia.
Produtos químicos - informações sobre segurança, saúde e meio
14725-2:2009
ambiente. Parte 2: sistema de classificação de perigo.
Produtos químicos - informações sobre segurança, saúde e meio
14725-3:2012
ambiente. Parte 3: rotulagem.
Produtos químicos - informações sobre segurança, saúde e meio
14725-4:2009 ambiente. Parte 4: ficha de informação de segurança de produtos
químicos (FISPQ).

Fonte: adaptada de <http://www.abntcatalogo.com.br/>. Acesso em: 24 maio 2017.

E para que os compostos químicos sejam classificados de


acordo com a toxicidade inerente, a ABNT lançou diversas normas
para testes ecotoxicológicos (Tabela 1.10). O organismo-teste é
escolhido de acordo com o tipo de composto e com o local de

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 55


avaliação, e permanece exposto à substância por períodos curtos
(toxicidade aguda) ou longos (toxicidade crônica). A toxicidade
é então determinada pela CE50 ou CL50, permitindo a sua
classificação no GHS.

Tabela 1.10 | Normas da ABNT para ensaios ecotoxicológicos

Organismos testes Norma ABNT NBR

Peixe (Cyprinidae) 15088:2016 e 15499:2016

Minhoca (Lumbricidae) 15537:2014

Ouriço-do-mar (Echinodermata) 15350:2012

Embriões de bivalve (Mollusca) 16456:2016

Alga (Chlorophyceae)tt 12648:2011

Microalga marinha 16181:2013

Bactéria luminescente (Vibrio fischeri) 15411-1:2012; 15411-2:2012 e 15411-3:2012

Anfípodos marinho e estuarino 15638:2016

Hyalella spp (Amphipoda) 15470:2013

Daphnia sp (Crustacea) 12713:2016 e 13373:2017

Misídeo (Crustacea) ISO 15799:2011

Artemia sp (Crustacea) 16530:2016

Fonte: adaptada de <http://www.abntcatalogo.com.br/>. Acesso em: 24 maio 2017.

Estudos de caso

2015, rompimento da barragem de Mariana

Infelizmente, esse foi o acidente de maior impacto ambiental já


ocorrido no Brasil. Em novembro de 2015, a barragem da Samarco
Mineração S.A., a 35 km de Mariana (MG), se rompeu e liberou 62
milhões de metros cúbicos de lama. Essa barragem acomodava
os rejeitos da extração do minério de ferro. Ao atingir o Rio Doce,
a lama percorreu mais de 650 km até à foz do rio, no litoral do
Espírito Santo. A bacia hidrográfica abastecia 12 municípios da
região, o que afetou cerca de 424.000 pessoas.

Além do impacto ambiental físico pela passagem da lama, que


degradou o solo, o acidente assoreou os rios e matou diversos

56 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


organismos, foram encontradas substâncias inorgânicas em
quantidades acima dos níveis permitidos. Análises laboratoriais
mostraram a presença dos metais ferro, manganês e sílica. De
acordo com a ANA, a passagem da lama revolveu o sedimento
do fundo dos rios e suspendeu um sedimento contaminado com
metais de mineradoras do passado, liberando em altas quantidades
alumínio, arsênio, cádmio, chumbo, cobre, cromo, mercúrio e
níquel (Tabela 1.11).
Tabela 1.11 | Concentrações (mg/L) registradas de metais no trecho mineiro do
Rio Doce

Metais Antes do evento1 Após o evento2 Limite Classe2

Arsênio total 0,010 0,108 <0,010

Cádmio total 0,001 0,035 <0,001

Chumbo total 0,023 1,650 <0,010

Cobre dissolvido 0,411 0,675 <0,009

Cromo total 0,070 2,863 <0,050

Mercúrio total 0,200 0293 <0,0002

Níquel total 0,014 2,280 <0,025

Fonte: Agência nacional de águas (2015).

Em dezembro, novas análises indicaram que os valores de


manganês, arsênio e chumbo permaneciam acima dos valores
preconizados pelo CONAMA (Resolução 357/2005). Esses metais
são tóxicos para a saúde humana a longo prazo, ou seja, possuem
efeito tóxico em exposições crônicas. Por exemplo, o arsênio é um
composto carcinogênico, neurotóxico e teratogênico facilmente
absorvido via gastrointestinal. Ao atingir a corrente sanguínea, esse
metal liga-se principalmente às hemoglobinas e é distribuído para
diferentes órgãos, como cérebro, rins e fígado, e pode se acumular
nos tecidos ósseos e queratinizados (pele, unhas e cabelo) ou
passar para o feto.

1983: Cubatão e o “Vale da Morte”

Na década de 50, o governador Juscelino Kubitschek iniciou a


aceleração industrial do município de Cubatão, a 40 Km da cidade
1
Valor máximo já mensurado antes do acidente. 2 Valor máximo mensurado entre 2 a 13 dias
após o acidente.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 57


de São Paulo, na época conhecido como paraíso verde. Com o
boom industrial, Cubatão se transformou em uma das cidades
mais ricas do Brasil. Na década de 80, mais de 1000 toneladas de
poluentes atmosféricos foram lançados diariamente ao ambiente.
Diversos animais sumiram, especialmente aves e peixes, e, com
relação aos seres humanos, os problemas respiratórios e a
mortalidade infantil eram altos. Os moradores foram contaminados
com chumbo e 1/3 da população estava contaminada com óxidos
de nitrogênio e de enxofre. Cubatão ficou conhecido como “Vale
da Morte”, e foi apontado como o município mais poluído do
mundo.
Exemplificando
Os óxidos de nitrogênio são compostos lipofílicos. Quando absorvidos
pela via inalatória, eles atravessam as membranas celulares dos alvéolos
pulmonares e podem causar a morte por asfixia, além de induzirem
edemas pulmonares.

Para conter a poluição desenfreada, em 1983, o governo do


estado de São Paulo convocou a Companhia Ambiental do Estado
de São Paulo (CETESB) para que mapeasse e estudasse a poluição
no ar, na água e no solo da região, e implantou um programa de
controle de poluição para a recuperação da área. O objetivo era
reduzir a poluição a níveis aceitáveis em prazos pré-estabelecidos.
O Plano de Ação de Emergência do governo federal, juntamente
com o Programa de Gerenciamento de Riscos, contribuiu para
uma drástica diminuição dos poluentes.

As indústrias locais instalaram equipamentos mais eficientes,


como filtros em chaminés. A indústria da Rhodia (Rhone-Poulauc)
foi autuada e posteriormente fechada devido ao descumprimento
contínuo das normas de gerenciamento de resíduos sólidos,
escavando “lixões” clandestinos em Cubatão, São Vicente e
Itanhaém. Em 1992, Cubatão recebeu o título de "cidade-símbolo
da recuperação ambiental” da Organização das Nações Unidas
(ONU).

Agora, que tal você exercitar a aplicação das legislações


brasileiras em outros estudos de caso? Infelizmente, diversos
desastres ambientais já aconteceram no Brasil. Procure uma
notícia sobre um caso e pratique o que você aprendeu conosco!

58 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Sem medo de errar

Caro aluno,

Agora que você estudou a legislação ambiental brasileira, vamos


voltar ao seu trabalho na consultoria? O prefeito pediu para que
você e seus colegas consultores o auxiliassem a aplicar a legislação
brasileira vigente na área em estudo, ajudando-o a finalizar sua
análise de área contaminada e a identificação de agentes tóxicos.

Levando em conta que as indústrias próximas a essa área


lançam diversos poluentes atmosféricos, você e seus colegas
poderiam sugerir ao prefeito a aplicação da Resolução CONAMA
sobre o controle de poluição atmosférica, que estabelece limites
de emissão de poluentes atmosféricos (Resolução 5/1989) e da
Resolução CONAMA que estabelece os níveis dos padrões de
qualidade do ar (Resolução 3/1990). Através dessas resoluções,
juntamente com um estudo das concentrações de poluentes
atmosféricos na área, seria possível verificar a classificação do
local e mapear as fontes poluidoras, o que permitiria implementar
um plano de gerenciamento e metas de redução de poluição.
Lembre-se que existem outras resoluções do CONAMA específicas
que estabelecem padrões de emissão de poluição atmosférica por
fontes fixas, portanto será preciso consultá-las também (Resolução
8/1990; Resolução 382/2006; Resolução 436/2011).

Outra informação relevante é que as indústrias locais lançam


seus efluentes no Rio Grande. Agora, você e seus colegas poderiam
sugerir a aplicação das Resoluções CONAMA que estabelecem os
padrões e a classificação das águas superficiais, assim como os
padrões para o lançamento de efluentes (Resolução 357/2005,
alterada pela Resolução 430/2011). Aqui também se aplica a
criação de um plano para reduzir os poluentes hídricos após a
análise da concentração de substâncias em amostras de água. Vale
lembrar que as indústrias são obrigadas a submeter os efluentes
a processos de tratamentos adequados antes de lançá-los ao Rio
Grande.

Após o envio de amostras a um laboratório especializado


para a quantificação das substâncias presentes e a avaliação

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 59


ecotoxicológica, recomende ao prefeito as normas ABNT, pois
a classificação da periculosidade no Brasil é realizada em testes
preconizados por essa entidade.

Para concluir a primeira fase de identificação dos agentes


tóxicos na área em estudo, você e seus colegas de trabalho
elaborarão um relatório técnico ambiental ao prefeito de Barreiras.
Esse relatório deve conter algumas informações básicas, como a
caracterização do local em estudo, a identificação das emissões
(efluentes líquidos, emissões atmosféricas, resíduos sólidos), a
classificação dos poluentes e as considerações finais baseadas
nas legislações que você conheceu. Aplique seus conhecimentos
prévios e use sua criatividade! Adeque o relatório às normas da
ABNT e não hesite em utilizar informações e esquemas fictícios.
Como você faria a análise do local?

Avançando na prática

Poluição atmosférica em Cubatão

Descrição da situação-problema

Para assimilar os conteúdos abordados nesta seção, vamos


exercitar um pouco mais seus conhecimentos? Alguns tipos de
poluição, por circularem na atmosfera, têm consequências globais,
sendo que seus efeitos se estendem para muito além das fontes
poluidoras. Por exemplo, os óxidos de nitrogênio e de enxofre,
como aqueles lançados no ar pelas indústrias de Cubatão, na
década de 80, são capazes de reagir na atmosfera e formar outras
moléculas, muitas vezes mais tóxicas que a molécula inicial. Elas
provocam danos na camada de ozônio e a formação da chuva
ácida.

Agora, imagine-se trabalhando em Cubatão. O município


ainda enfrenta problemas com a poluição atmosférica acima do
recomendado, apesar dos programas de controle de poluição
implementados. Conforme estabelecido pela Resolução CONAMA
5/1989, e pela Resolução CONAMA 3/1990, diversos agentes
tóxicos lançados na atmosfera são quantificados e enquadrados
em determinadas classes de padrões fixos. Sabendo disso, e

60 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


levando em conta que existem milhares de áreas industriais, que
procedimentos você, como engenheiro, escolheria para prevenir
a poluição ambiental?

Resolução da situação-problema

O diagnóstico da situação local deve ser realizado de forma


adequada, em laboratórios especializados e credenciados,
de acordo com as normas e resoluções responsáveis. Após o
enquadramento do local, e antes mesmo de implementar um novo
programa para a redução dos poluentes, é importante lembrar
que as poluições hídrica e atmosférica, em especial, podem viajar
milhares de quilômetros de distância do local de origem e causar
efeitos adversos e impactos ambientais em diferentes áreas,
mesmo distantes do local em que foram lançadas.

Portanto, é importante ter em mente que muitas vezes a


poluição não está próxima do local de origem. Na situação-problema
levantada, o monitoramento ambiental faz-se necessário para um
programa de redução de poluentes, entretanto é preciso fazer um
estudo para localizar as principais fontes poluidoras que causam o
aumento dos níveis de poluentes atmosféricos, e entender como
esses poluentes se comportam no ambiente em que se encontram.

Faça valer a pena


1. Conforme a Lei 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do
Meio Ambiente, analise as afirmações a seguir:
I. O Poder Executivo incentiva o desenvolvimento de pesquisas destinadas
a reduzir a degradação da qualidade ambiental.
II. A Política Nacional do Meio Ambiente visa ao uso racional de recursos
ambientais.
III. O poluidor fica com a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos
ambientais causados.
É correto afirmar que:
a) As afirmações I e III são corretas.
b) As afirmações II e III são corretas.
c) A afirmação III está correta.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 61


d) As afirmações I e II são corretas.
e) As afirmações I e III estão corretas.

2. Com relação às leis que regem a toxicologia ambiental, analise as


afirmações a seguir:
I. Poluidor é a pessoa física ou jurídica responsável, direta ou indiretamente,
por atividade causadora de degradação ambiental.
II. A responsabilidade de arcar com as reparações e/ou indenizações de
um acidente ambiental é do poluidor, desde que comprovada a existência
da culpa.
III. Poluente atmosférico é qualquer forma de matéria ou energia com
intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou características em
desacordo com os níveis estabelecidos.
É correto afirmar que:
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
c) Apenas a afirmativa I está correta.
d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
e) Apenas a afirmativa III está correta.

3. De acordo com a Lei Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010),


analise as assertivas a seguir:
I. Existem duas classes de resíduos sólidos: quanto à origem e periculosidade.
II. É proibido o lançamento in natura de resíduos sólidos a céu aberto,
exceto resíduos de mineração.
III. A implementação do plano de gerenciamento é de responsabilidade do
Poder Público.
É correto afirmar que:
a) As afirmações I e II estão corretas.
b) As afirmações II e III estão corretas.
c) A afirmação II está correta.
d) A afirmação III está correta.
e) As afirmações I e III estão corretas.

62 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Referências
Agência Nacional de Águas. Encarte especial sobre a Bacia do Rio Doce. Disponível em:
<http://www.sigrh.sp.gov.br/public/uploads/ckfinder/files/EncarteRioDoce_2016.pdf>.
Acesso em: 23 jun. 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14725-1. Produtos


químicos - Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente, parte 1: terminologia,
2009.

_____. NBR ISO 14725-2. Produtos químicos — Informações sobre segurança, saúde e
meio ambiente, parte 2: sistema de classificação de perigo, 2009.

_____. NBR ISO 14725-4. Produtos químicos — Informações sobre segurança, saúde
e meio ambiente, parte 4: ficha de informações de segurança de produtos químicos
(FISPQ), 2009.

_____. NBR ISO 14725-3. Produtos químicos — Informações sobre segurança, saúde e
meio ambiente, parte 3: rotulagem, 2012.

_____. NBR ISO 14001. Introdução à ABNT. 2015.

BRASIL. Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.. Dispõe sobre a Política Nacional
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providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>.
Acesso em: 24 maio 2017.

_____. Lei Federal nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>.
Acesso em: 24 maio 2017.

_____.. Lei Federal nº 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre a pesquisa, a


experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento,
a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção
e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7802.htm>. Acesso em: 24
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_____. Lei Federal nº 11.936, de 14 de maio de 2009. Proíbe a fabricação, a


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diclorodifeniltricloretano (DDT) e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/Lei/L11936.htm>. Acesso em: 24 maio
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8723.htm>. Acesso em: 24 maio 2017.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 63


_____. Lei Federal nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº
8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de
1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm>. Acesso
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_____. Lei Federal nº 9.984, de 17 de julho de 2000. Dispõe sobre a criação da Agência
Nacional de Águas - ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional
de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/L9984.htm>. Acesso em: 24 maio 2017.
_____. Lei Federal nº 9.996, de 28 de abril de 2000. Dispõe sobre a prevenção, o controle
e a fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas
ou perigosas em águas sob jurisdição nacional e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9966.htm>. Acesso em: 24 maio 2017.
_____. Lei Federal nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de
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Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.
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______. Decreto nº 8.468, de 8 de setembro de 1976. Aprova o Regulamento da Lei
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abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem, respectivamente
sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d99274.htm>. Acesso em: 24 maio 2017.
_____. Decreto nº 4.871, de 6 de novembro de 2003. Dispõe sobre a instituição dos
Planos de Áreas para o combate à poluição por óleo em águas sob jurisdição nacional
e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/2003/d4871.htm>. Acesso em: 24 maio 2017.
_____. Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010. Regulamenta a Lei no 12.305, de
2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o Comitê
Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a
Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7404.htm>.
Acesso em: 24 maio 2017.
_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.
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da Poluição do Ar – PRONAR. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/
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64 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.
Resolução nº 3, de 28 de junho de 1990. Dispõe sobre padrões de qualidade do ar,
previstos no PRONAR. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.
cfm?codlegi=100>. Acesso em: 24 maio 2017.

_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 5, de 5 de agosto de 1993. Dispõe sobre o gerenciamento de resíduos
sólidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res93/res0593.html>. Acesso em: 24
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_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 358, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a disposição
final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35805.pdf>. Acesso em: 24 maio 2017.

_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos
de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em: 24
maio 2017.

_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de
lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução nº 357, de 17 de março
de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646>. Acesso em: 24 maio 2017.

_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 393, de 8 de agosto de 2007. Dispõe sobre o descarte contínuo de água
de processo ou de produção em plataformas marítimas de petróleo e gás natural, e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.
cfm?codlegi=541>. Acesso em: 24 maio 2017.

_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 396, de 3 de abril de 2008. Dispõe sobre a classificação e diretrizes
ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=562>.
Acesso em: 24 maio 2017.

_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 420, de 28 de dezembro de 2009. Dispõe sobre critérios e valores
orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e
estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas
substâncias em decorrência de atividades antrópicas. Disponível em: <http://www.mma.
gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=620>. Acesso em: 24 maio 2017.

U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental 65


_____. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.
Resolução nº 460, de 30 de dezembro de 2013. Altera a Resolução CONAMA nº 420, de
28 de dezembro de 2009, que dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade
do solo quanto à presença de substâncias químicas e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=702>. Acesso em: 24
maio 2017.
_____. Ministério do Meio Ambiente, Agência Nacional de Águas, ANA. Encarte especial
sobre a bacia do rio Doce - rompimento da barragem em Mariana/MG. 2016. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=702>. Acesso em: 24
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COSTA. C. Mais de 3 décadas após ‘Vale da Morte’, Cubatão volta a lutar contra alta
na poluição. BBC Brasil, 2017. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/
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GHS. Globally Harmonized System of Classification and Labelling of Chemicals
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Paulo: Ateneu 2014.
SISINNO, C. L. S.; OLIVEIRA-FILHO, E. C. Princípios de toxicologia ambiental. 1. ed. Rio
de Janeiro: Interciência, 2013, 216 p.

66 U1 - Fundamentos gerais sobre toxicologia ambiental


Unidade 2

Agentes tóxicos

Convite ao estudo
Caro aluno,

Na unidade anterior, construímos os conceitos fundamentais


da toxicologia e toxicologia ambiental. Você conheceu diversos
agentes tóxicos presentes no ambiente e aprendeu algumas
das várias classificações que agrupam os agentes tóxicos de
acordo com os objetivos do estudo. Nesta unidade, daremos
continuidade aos estudos sobre fontes toxicológicas.

Juntamente com os conhecimentos aprendidos na unidade


anterior, ao final desta unidade você será capaz de identificar os
agentes tóxicos presentes em diferentes locais, assim como as
suas fontes de origem. É importante ter em mente que em um
único local existem agentes tóxicos provindos de muitas fontes
toxicológicas, mesmo que essas fontes estejam a quilômetros
de distância. Estas informações são imprescindíveis em um
estudo de levantamento e/ou monitoramento ambiental, assim
como para a elaboração de inventários.

Vamos retomar seu trabalho na empresa de consultoria


ambiental? Agora, desafiamos você e seus colegas consultores
a identificar alguns dos agentes tóxicos presentes na área
em estudo no município de Barreiras (BA). Sabe-se que uma
das indústrias próxima à área fabrica produtos de higiene e
cuidados pessoais. Ela se situa a poucos metros do Rio Grande
e possui cerca de 350 funcionários trabalhando diariamente.
Como se trata de uma área distante da cidade, os funcionários
se locomovem de suas casas até o trabalho em veículos
automotores, e precisam realizar suas refeições no refeitório
local.
Para que você e seus colegas consigam realizar este trabalho,
será necessário conhecer os potenciais agentes tóxicos locais.
Muitas vezes, será necessário, também, entender as diferentes
toxicidades e o que cada uma delas implica. E como identificar os
tipos de fontes toxicológicas que existem em um determinado
local? Quais são as toxicidades induzidas por diferentes agentes
tóxicos? E o que fazer em caso de intoxicação?

Para norteá-lo, continuaremos nossos estudos sobre


agentes tóxicos e focaremos em diferentes fontes toxicológicas:
antropogênicas e naturais. Iniciaremos a unidade com uma
abordagem geral sobre algumas fontes e seus respectivos
agentes tóxicos e, em seguida, destacaremos as fontes naturais:
toxinas de plantas e animais. Mãos à obra e bons estudos!
Seção 2.1
Fontes toxicológicas

Diálogo aberto

Caro aluno,
Nesta seção, iremos abordar a poluição ambiental e suas
respectivas fontes poluidoras. Como você aprendeu na Unidade 1,
o levantamento das fontes poluidoras é imprescindível durante um
inventário ou monitoramento ambiental. Milhares delas são delas
capazes de influenciar um mesmo local, principalmente quando
os agentes tóxicos atingem os recursos hídricos ou são lançados
na atmosfera. Lembra-se do caso dos esquimós no Polo Norte
contaminados com substâncias químicas lançadas em rios por
efluentes industriais? Existem diversos casos em que a poluição se
desloca por milhares de quilômetros de distância. Por exemplo,
o dióxido de enxofre emitido pela Termoelétrica da Candiota, no
Rio Grande do Sul, atinge o Uruguai (RÓTULO, 2003), assim como
a poluição atmosférica lançada na China atinge a cidade de Los
Angeles, nos Estados Unidos (LINA et al., 2014).
Voltando ao tema do seu trabalho na empresa de consultoria,
iniciaremos a primeira etapa desta unidade. Agora, você e seus colegas
irão analisar quais são os possíveis agentes tóxicos encontrados
nos arredores da área onde se encontra a indústria de produtos de
higiene e cuidados pessoais. Para isso, primeiramente, vocês devem
realizar a coleta de informações sobre os principais agentes tóxicos
presentes na área, embasando-se nas seguintes questões: quais são
os principais agentes tóxicos lançados diretamente por esta indústria?
Quais são os agentes tóxicos secundários? Existem diferentes fontes
de poluição nesta área?
A seguir, vamos ajudá-lo neste processo. Abordaremos algumas
fontes toxicológicas industriais, veiculares e naturais, e seus respectivos
agentes tóxicos lançados no ambiente. Contudo, lembre-se que
existem milhares delas! Construa sua análise crítica sobre este tema, e
esteja sempre atento às diferentes fontes de poluição características
do local analisado.

U2 - Agentes tóxicos 69
Não pode faltar

Tipos de fontes toxicológicas

Quando se discute a origem da poluição ambiental, uma


distinção deve ser feita entre os processos envolvidos na formação
dos poluentes. Os poluentes ambientais resultam de fontes
antropogênicas, por exemplo, as milhares de indústrias e seus
produtos industrializados e o tráfego de veículos automotores; ou
naturais, como o aumento das concentrações de metais devido
às ações de vulcões, degradações biológicas de florestas ou
crescimento de algas tóxicas.

Além disso, a poluição pode ocorrer por misturas complexas


de substâncias químicas lançadas simultaneamente ao ambiente.
De acordo com a American Chemical Society (ACS, 2015), existem
mais de 11 milhões de substâncias químicas no mundo, e cerca de
80 mil são de uso comum, seja na indústria, comércio ou aplicação
doméstica (USEPA, 2017). Em geral, as exposições aos poluentes
se caracterizam por baixas concentrações de agentes tóxicos em
períodos prolongados, ou seja, uma exposição crônica, exceto em
casos de acidentes e/ou desastres ambientais em que há grandes
quantidades de agentes tóxicos liberados ao ambiente.

Tráfego de veículos, indústrias e produtos industrializados

A poluição atmosférica é fortemente influenciada pelas fontes


fixas (indústrias) e móveis (veículos automotores) de emissão
de poluentes. Segundo o relatório da Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo (CETESB) de 2012, os veículos automotores
leves a gasolina são os principais poluentes atmosféricos da região
metropolitana de São Paulo e secundariamente, os processos
industriais (CETESB, 2012).

Ambientes externos de áreas metropolitanas possuem níveis


mais elevados de poluentes atmosféricos quando comparados
com áreas afastadas e locais fechados. Portanto, crianças e
trabalhadores que permanecem por períodos prolongados nesses

70 U2 - Agentes tóxicos
ambientes abertos são mais propensos aos efeitos adversos da
poluição. Todavia, dependendo da construção dos locais fechados,
o ar externo pode atravessar para o interior do prédio e atingir cerca
de 30 a 80% das concentrações dos poluentes externos. Portanto,
até mesmo ambientes fechados podem ser atingidos por diversas
fontes de poluição simultaneamente, e a localização destas fontes
é um processo imprescindível.

Os poluentes atmosféricos são divididos em duas classes:


primários e secundários. Os primários são poluentes emitidos
diretamente pelas fontes fixas (processos industriais) e móveis
(veículos automotores), como o monóxido de carbono (CO), o
dióxido de enxofre (SO2), os óxidos de nitrogênio (NOX), alguns
compostos orgânicos voláteis (COV) e materiais particulados.
Todavia, esses poluentes primários são, em geral, fortes agentes
oxidantes ou redutores, ou seja, oxidam ou reduzem outras espécies
químicas presentes na troposfera por reações fotoquímicas e
formam compostos secundários, muitas vezes mais tóxicos que os
originais, como o ozônio, os aldeídos e o peróxido de hidrogênio.
À medida que as massas de ar se deslocam, estas reações ocorrem
em áreas afastadas das fontes de emissão, atingindo locais de
longa distância.

Além dos poluentes atmosféricos formados pela queima de


combustíveis fósseis e outros processos durante as atividades
industriais, as indústrias também são responsáveis pela liberação
dos seus diversos resíduos em águas e solos. As águas residuais
provenientes de processos industriais apresentam em sua
composição uma grande variedade de poluentes orgânicos
e metálicos, muitas vezes de difícil tratamento. Dentre eles,
destacamos os solventes e diversos metais, como o chumbo e o
cobre. Porém, a lista de compostos tóxicos é extremamente longa.

Assimile
A oxidação ocorre quando há perda de elétrons durante uma reação
por uma molécula, átomo ou íon. O processo contrário é chamado
de redução, ou seja, há ganho de elétrons durante a reação. Portanto,
um agente oxidante é capaz de oxidar outra molécula: sofre redução

U2 - Agentes tóxicos 71
ao ganhar elétrons de outra espécie química, enquanto a outra sofre
oxidação ao perder elétrons.

A ampla diversidade dos milhares de agentes tóxicos liberados


no ambiente torna a quantificação total quase impossível. Visto
que indústrias e veículos automotores são potenciais poluidores
do ambiente, abordaremos a seguir alguns dos principais agentes
tóxicos presentes em regiões metropolitanas e polos industriais:

Monóxido de carbono (CO): é um gás incolor e inodoro


largamente utilizado como precursor de diferentes produtos
químicos pelas indústrias siderúrgicas e na produção do metanol.
Também é produzido pela combustão incompleta e/ou em
altas temperaturas de compostos ricos em átomos de carbono,
como os combustíveis fósseis e seus derivados e o carvão. Ele é
um agente asfixiante, pois se liga à hemoglobina (Hb) e forma a
carboxiemoglobina (COHb). Esta ligação é irreversível e impede
que a Hb se ligue ao oxigênio (O2) e, consequentemente, impede a
distribuição de O2 para todos os tecidos do organismo. A afinidade
da Hb pelo CO é cerca de 300 vezes maior que pelo O2, portanto
quando a maior parte das Hb estão ligadas ao CO, o resultado
pode ser letal. Pessoas cardíacas são mais sensíveis ao CO, pois
baixas quantidades de COHb são capazes de induzir palpitações,
fadigas e tonturas.

O CO é também um agente redutor e, na troposfera, pode ser


oxidado e formar o dióxido de carbono (CO2), um gás responsável,
em grande parte, pelo efeito estufa:

Reflita
A concentração de CO no interior de veículos em centros metropolitanos
atinge três vezes a concentração de áreas residenciais. Geralmente,
garagens subterrâneas e túneis são grandes acumuladores de CO. Você
já contou quantas horas do seu dia passa dentro de um automóvel ou
em áreas externas com grande fluxo de trânsito?

72 U2 - Agentes tóxicos
Material particulado (MP): é constituído por poeiras, fumaças
ou qualquer tipo de material sólido e líquido de pequena dimensão
(tamanho menor que 100 µm) presente na atmosfera. Os MPs
são formados, em grande parte, pelo processo de combustão
incompleta dos combustíveis fósseis de veículos e de diversas
atividades industriais, como de cimento, metalurgia e mineração.
A classificação dos MPs é realizada em função do tamanho das
partículas. Os de maior tamanho (diâmetro > 2,5 µm) são chamados
de grossos, sendo produzidos principalmente por fontes naturais,
como queimadas de florestas e erupções vulcânicas. Já aqueles de
menor tamanho (diâmetro < 2,5 µm) são chamados de finos, sendo
produzidos em maiores quantidades por fontes antropogênicas.
Essas partículas finas são absorvidas mais facilmente pelas vias
de exposição, principalmente pela via inalatória e, como efeitos
adversos, alteram a capacidade do sistema respiratório de remover
as partículas do ar inalado e induzem infecções, como faringites,
rinites, bronquites e pneumonia. Além disso, os MPs podem se
combinar com outras moléculas de metais, hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos (HPA), sulfatos, entre outras substâncias,
e induzir efeitos adversos graves, como câncer, doenças
neurotóxicas (Alzheimer e Parkinson), cardíacas, pulmonares
emorte. Atualmente, o MP é considerado um importante indicador
de saúde ambiental.

Óxidos de nitrogênio (NOX ): são gases formados durante a


combustão de combustíveis fósseis e na fabricação de ácidos,
corantes, vernizes e celuloses. Durante a combustão em altas
temperaturas, forma-se o óxido nítrico (NO), um gás incolor irritante
capaz de induzir edemas pulmonares se inalado em níveis elevados.
As principais lesões pulmonares ocorrem nos bronquíolos, mas
lesões severas podem atingir os ductos alveolares e alvéolos.
Estudos epidemiológicos têm associado a exposição ao NOx a
infecções, devido à diminuição de macrófagos e à capacidade de
depuração dos pulmões.

O NO, ao entrar em contato com o O2, é rapidamente oxidado


a dióxido de nitrogênio (NO2), um gás de coloração marrom
alaranjada que contribui para a chuva ácida ao sofrer novas reações
na troposfera e formar o ácido nítrico (HNO3). Entretanto, quando
há demasiada radiação solar, o NO2 volta a formar o NO e libera

U2 - Agentes tóxicos 73
um átomo de oxigênio, que reage com o O2 e forma o ozônio
(O3). Embora o O3 seja benéfico na estratosfera, onde é formada
a famosa camada de ozônio, protetora contra efeitos adversos da
radiação ultravioleta, ele é um agente oxidante altamente reativo,
que induz efeitos tóxicos quando presente na troposfera. Além de
ser o principal componente da névoa fotoquímica (efeito smog),
esta molécula provoca diversos problemas no sistema respiratório,
e é muito tóxica às plantas, podendo causar danos consideráveis
às espécies vegetais nativas e culturas agrícolas. A Agência de
Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) estimou, em 2006,
perdas agrícolas anuais de 500 milhões de dólares devido aos
efeitos tóxicos do O3.

Dióxido de enxofre (SO2 ): é um gás incolor formado durante


a combustão incompleta de combustíveis fósseis em veículos
automotores e em indústrias. É utilizado como desinfetante,
branqueador e conservante de alimentos e bebidas. O SO2 é
um irritante absorvido principalmente pela via respiratória. Induz
broncoconstrição (estreitamento das vias aéreas) e secreção de
muco das vias pulmonares. Os efeitos crônicos diminuem as
defesas do pulmão e facilitam infecções mais frequentes e severas.
A prática de exercícios em locais com altas concentrações de SO2
expõe as pessoas a maiores quantidades do composto pela via
respiratória, tornando-as mais propensas a desenvolver as irritações.
Pessoas asmáticas são as mais sensíveis aos efeitos tóxicos deste
agente. Em casos de broncoconstrição severa, ocorre o bloqueio
do fluxo de entrada e saída do ar. Esta resposta é considerada um
mecanismo de defesa do organismo para limitar a inalação dos
gases tóxicos.

Juntamente com o NO2, o SO2 é um dos principais causadores


da chuva ácida ao reagir na troposfera e formar o ácido sulfuroso
(H2 SO3) e o ácido sulfúrico (H2 SO4).

74 U2 - Agentes tóxicos
Exemplificando
As indústrias do polo petroquímico de Cubatão emitem toneladas de
SO2 na atmosfera. A chuva ácida formada pela emissão deste poluente
atinge cidades a mais de 100 km de distância.

Hidrocarbonetos (HC): são COVs formados durante a


combustão incompleta de combustíveis fósseis em veículos
automotores e em indústrias. Os HC, em especial os HPA, são
compostos lipossolúveis de fácil absorção pela via inalatória e se
distribuem por quase todo o organismo, principalmente fígado,
além de atravessar a placenta e atingir o feto. Eles são rapidamente
metabolizados pelo fígado e formam compostos mais hidrofílicos,
de fácil excreção. Portanto, a bioacumulação nos tecidos adiposos
é baixa. Entretanto, quando os HPAs estão associados a algum MP,
a eliminação é bem mais demorada e pode levar semanas. Na
troposfera, os HC também podem reagir com outros compostos,
como o oxigênio, o nitrogênio, o cloro e o enxofre, e formar
diversos compostos secundários, como aldeídos, cetonas e o O3.

Exemplificando
O HPA mais estudado é o benzo(a)pireno, composto por cinco anéis
aromáticos (Figura 2.1). Ele se forma pela combustão incompleta de
material orgânico, como a queima incompleta do carvão, do cigarro, da
gasolina e do diesel, e é associado ao aumento na incidência de diversos
tipos de câncer. Sua eliminação ocorre em cerca de uma hora após a
absorção por qualquer via de exposição.

Figura 2.1 | Estrutura química do HPA benzo(a)pireno

Fonte: elaborada pelo autor.

U2 - Agentes tóxicos 75
Fluoretos (F-e HF): são encontrados na forma de gás ou
partículas, liberados por emissões atmosféricas ou em águas
residuais. Eles são altamente reativos, especialmente na forma
do ácido fluorídrico (HF), formados durante a combustão de
combustíveis fósseis e carvão, em indústrias farmacêuticas, de
praguicidas, de fertilizantes, de cerâmicas, de vidros e de alumínios.
Sua absorção pode causar náuseas, vômitos, parada cardíaca
a morte. Os fluoretos também são altamente fitotóxicos. Assim,
plantas da espécie Cordyline terminalis, vulgarmente conhecidas
como Dracena, são utilizadas como bioindicadoras de áreas
potencialmente afetadas por este poluente (Figura 2.2).

Figura 2.2 | Exemplares de Dracena saudáveis (A) e com os sintomas visíveis de


necroses e cloroses marginais ou apicais nas folhas, induzidas por fluoretos
gasosos (B)

Fonte: <http://solo.cetesb.sp.gov.br/solo/programa-de-monitoramento/biomonitoramento/fluoretos-gasosos/>.
Acesso em: 24 jun. 2017.

Cloretos (HCl e Cl2 ): podem ser encontrados em emissões de


poluentes atmosféricos ou em efluentes industriais. São irritantes
e corrosivos, e influenciam na formação outros agentes tóxicos,
como dioxinas e furanos. Estes últimos são extremamente tóxicos.
Diversos efluentes industriais apresentam concentrações de
cloretos elevadas, como os de indústrias de petróleo, farmacêuticas
e de curtumes.

Metais: são encontrados na forma de gás ou partículas.


São extensivamente utilizados por indústrias, principalmente o
chumbo, cádmio, mercúrio, cromo e zinco, e toneladas são
liberadas nos efluentes industriais. De modo geral, esses metais
possuem alta toxicidade para a saúde humana e ambiental, com
efeitos neurotóxicos e teratogênicos.

Como regra geral, os grupos de poluentes utilizados como


indicadores de qualidade ambiental são aqueles com maior
frequência de ocorrência e de efeitos adversos no ambiente, como

76 U2 - Agentes tóxicos
o MP, NOx, SO2, CO e O3. Entretanto, o monitoramento da poluição
possui algumas limitações, como o alto custo e a complexidade da
medição devido à ampla diversidade dos poluentes.

Todavia, o uso de novas tecnologias vem ajudando no controle


da poluição ambiental. A emissão de poluentes atmosféricos,
por exemplo, vem sendo controlada com a implementação de
novas tecnologias, como o uso dos catalizadores acoplados ao
escapamento de veículos automotores e a instalação de filtros mais
eficazes em chaminés industriais. Além disso, alguns simuladores
são capazes de quantificar a emissão de poluentes atmosféricos
por fontes móveis pela determinação da taxa de emissões geradas e
estimativa das atividades dos veículos. Esses modelos são aplicados
em inventários e em avaliações de impacto ambiental. O simulador
MOBILE, por exemplo, é um modelo indicado pela Environmental
Protection Agency (EPA), baseado na velocidade média dos
veículos. Para a poluição industrial atmosférica, existem modelos
matemáticos que auxiliam no monitoramento da dispersão dos
poluentes, como o modelo Industrial Pollution Projection System
(IPPS), desenvolvido pela Equipe de Meio Ambiente e Infraestrutura
do Banco Mundial. Esse modelo utiliza fatores de intensidade de
emissão de poluentes atmosféricos e o número de empregados
(pessoal ocupado) nas atividades industriais, e relaciona a fonte de
poluição com o efeito adverso.

Pesquise mais
Você sabe como funciona um catalizador antipoluente?
Ele converte os gases provindos da queima incompleta do combustível
fóssil em outros menos perigosos. Para saber mais, acesse: <http://
super.abril.com.br/comportamento/como-funcionam-os-catalisadores-
dos-automoveis/>.

Quadro 2.1 | Valores limites de lançamento de resíduos industriais após tratamento.

Resíduos CO HCI HF NO2 SO2 Dioxina Furano HPA MP Pb Hg


Atmosfé-
100 80 5 560 280 0,5 0,5 - 70 1,4 0,0028
rico1
Líquido2 - - 10 - 1* - - 1,2** - 0,5 0,010

Fonte: Brasil (2002; 2011)

1
Valores em mg/Nm3, exceto CO em ppm/Nm3, e dioxina e furano em ng/Nm3.
2
Valores em mg/L.
*Expresso em termos de sulfeto.
**Expresso em termos de benzeno.

U2 - Agentes tóxicos 77
Tóxicos nos recursos naturais

A natureza também contribui com uma parcela de agentes


tóxicos. Alguns organismos e plantas produzem toxinas para
se protegerem de pragas e/ou predadores, como serpentes,
escorpiões, sapos e mamonas. Essas toxinas não contribuem
para a poluição do ambiente por serem pontuais e liberadas em
concentrações muito baixas. Por outro lado, em determinadas
situações, os organismos podem se proliferar e liberar grandes
quantidades de suas toxinas.

Casos como este são comuns em locais com atividades


antrópicas, como a proliferação de fungos em armazéns de
alimentos, especialmente grãos. Fungos liberam altas quantidades
de suas toxinas, chamadas micotoxinas, devido às condições
precárias de conservação, e causam intoxicações em massa.
Um exemplo clássico ocorreu em 1996, no Instituto de Doenças
Renais, na cidade de Caruaru, em Pernambuco: cianobactérias
se proliferaram no local de captação de água e liberaram a
toxina microcistina. O tratamento inadequado da água causou a
intoxicação de pacientes submetidos à hemodiálise na clínica. Dos
142 pacientes, quase a metade morreu.

As queimadas naturais de florestas e as atividades vulcânicas


também liberam compostos tóxicos, como o MP, NOx, SO2, CO
e CO2, e contribuem, em parte, com a poluição atmosférica,
porém, em menores proporções. No Brasil, as queimadas da
floresta tropical e do cerrado são comuns e ocorrem naturalmente
nos meses de inverno. No caso do CO2, a emissão durante a
queimada pode ser reincorporada à vegetação durante o seu
restabelecimento no ciclo natural, porém, isto não ocorre em
situações de desmatamento.
Assimile
Existem milhares de fontes de poluição ambiental! A lista de agentes
tóxicos provindos de ações antropogênicas e naturais é imensa. Pratique
um olhar holístico e comece a examinar os agentes tóxicos ao seu redor,
associando-os com suas origens. Você verá que estamos em contato
com agentes tóxicos todo o tempo, seja no ar, na água, em alimentos
e roupas.

78 U2 - Agentes tóxicos
Sem medo de errar

Caro aluno,

Agora, retomaremos o trabalho na empresa de consultoria.


Você e seus colegas devem levantar os principais agentes tóxicos
emitidos pela empresa de produtos de cuidados pessoais e localizar
as principais fontes de poluição do local.

Como vimos nesta seção, as fontes industriais emitem milhares


de substâncias químicas diferentes no ambiente. Portanto, você
deverá fazer um levantamento dos principais poluentes pelos quais
este tipo de indústria é responsável, de acordo com os produtos
que fabrica e os respectivos processos industriais que utiliza para
produzi-los. Por exemplo, durante o processo de fabricação, há
perdas de compostos utilizados nas formulações dos produtos, e
estas perdas são lançadas aos recursos hídricos pelos efluentes
industriais. Podemos citar aqui alguns agentes tóxicos presentes
em produtos de higiene e cuidados pessoais que são lançados aos
recursos hídricos por efluentes industriais:

- Corantes artificiais: largamente utilizados em maquiagens,


tinturas de cabelo e produtos de higiene pessoal (sabonetes,
shampoos, hidratantes). Muitos deles são conhecidos como
carcinogênicos e mutagênicos.

- Ftalatos: presentes nos esmaltes, em algumas fragrâncias


e em embalagens. Eles são teratogênicos além de induzirem
diversos efeitos tóxicos ao fígado, rins e pulmão.

- Fragrâncias sintéticas: também são potenciais poluentes,


consideradas tóxicas para o sistema imunológico e alergênicas. Elas
podem ser formuladas com cerca de três a quatro mil ingredientes
diferentes, incluindo os ftalatos.

- Parabenos: conservantes largamente utilizados em produtos


cosméticos e cuidados pessoais. Atuam como desregulador
endócrino devido à sua semelhança com o hormônio estrógeno.
Ao mimetizar os estrógenos, eles podem gerar disfunções no
comportamento hormonal e aumentar a suscetibilidade ao câncer
de mama em mulheres, além de causar a esterilidade em homens.

U2 - Agentes tóxicos 79
Além destes compostos citados, há aqueles que são lançados
na atmosfera. Eles são, em maioria, os COV, devido aos diversos
solventes aplicados nas formulações dos produtos, além da
emissão de gases provindos de queima de combustíveis fósseis.

Não se esqueça de que os poluentes são divididos em primários


(lançados diretamente pela fonte poluidora) e secundários (ao serem
lançados ao ambiente, reagem com outras espécies químicas e
formam compostos secundários). Muitas vezes um agente torna-
se altamente tóxico após esta reação. Portanto, durante a seleção
dos agentes tóxicos do local, é importante diferenciá-los.

Além de focar nos agentes tóxicos lançados pela indústria


em questão, você deve lembrar de que os funcionários também
poluem, principalmente pela locomoção com seus veículos
automotores até o trabalho, o que gera mais poluição atmosférica.
E a poluição pode atingir locais a quilômetros de distância, portanto
não descarte a possibilidade de poluições lançadas em outros
locais também atingirem a área estudada.

Avançando na prática

Indústria automotiva

Descrição da situação-problema

Caro aluno,

Vamos praticar mais? Imagine-se no ano de 2012. A FX CAPITAL,


empresa multinacional do ramo automotivo, amplia suas atividades
com a abertura de uma indústria no polo industrial no município
de Itatiaia, estado do Rio de Janeiro, situada próximo ao encontro
de três rios. Em um levantamento dos possíveis agentes tóxicos
presentes nesta área, quais poluentes você poderia encontrar?
Pense nas possíveis fontes poluidoras locais. O que você sugeriria
para prevenir e/ou mitigar os problemas ambientais para este local?

80 U2 - Agentes tóxicos
Resolução da situação-problema

O levantamento dos poluentes provindos da indústria FX CAPITAL


pode ser realizado por setores. Você pode construir planilhas para
cada setor com a identificação do poluente e sua fonte (atividade
ou equipamento responsável pelo poluente), a quantificação e/ou
frequência produzida, o tipo de poluente (atmosférico, efluente
líquido, resíduos sólidos) e a destinação final. Por exemplo, o setor
de pintura utiliza tintas, vernizes, solventes, óleos e derivados e
massa plástica ou PVC. No Quadro 2.2, deixamos um exemplo
simplificado de uma planilha.

Quadro 2.2 | Levantamento de poluentes provindos da FX CAPITAL.

Geração (kg/
Resíduos Fonte Tipologia Destinação
mês)
Cabine de
Tinta 12.600 Líquido Co-processamento
pintura
Preparação da
Solvente 40.000 Líquido Reciclagem
tinta
Preparação da Tratamento de
Óleo 20.000 Líquido
tinta efluentes
Preparação do
Pó de lixamento - Atmosférico Sem tratamento
veículo
Preparação do Tratamento de
PVC 1.330 Sólido
veículo resíduos

Fonte: adaptada de Potrich et al. (2007).

Após identificar os poluentes e verificar quais apresentam


problemas reais de impacto na área, sugira à indústria a implantação
de um programa para reduzir os rejeitos na fonte e o volume
total de rejeitos no processo, além da eliminação da poluição
com tratamentos adequados no fim do processo de produção.
A exemplo disso, pode-se sugerir a implantação do Sistema de
Gestão Ambiental (SGA), de acordo com as normas da ISO 14000.

Não se esqueça da importância de sempre caracterizar o local


de estudo, incluindo as dimensões do local, os serviços realizados
e/ou prestados, a quantidade de funcionários, assim como o tráfego
de veículos. Inclua, por exemplo, a quantidade média de tráfego
de veículos, pois os veículos são potenciais fontes emissoras de
poluentes, como vimos nesta seção.

U2 - Agentes tóxicos 81
Faça valer a pena

1. “Queimadas naturais iniciadas por descargas atmosféricas são eventos


comuns em várias regiões do mundo. Elas fazem parte da dinâmica desses
ecossistemas e já foram bem estudadas e documentadas em outros
países. No Brasil, há evidências de que queimadas naturais são frequentes
no _______________, contudo, elas permanecem praticamente
desconhecidas da ciência. O fogo no _______________ é considerado
um distúrbio natural e integrante de sua dinâmica, e as queimadas naturais
podem ser importantes para a manutenção dos processos ecológicos e
da biodiversidade, sobretudo nas unidades de conservação (UC).” (FAPESP,
2011)
De acordo com o texto anterior, o termo que melhor completa a sentença
é:
a) cerrado
b) litoral
c) mangue
d) centro urbano
e) deserto

2. “Os efluentes industriais – oriundos dos mais diversificados processos


de industrialização – têm sido, historicamente, um importante fator de
degradação ambiental. O despejo de efluentes industriais, tanto nos corpos
d’água quanto na rede de esgoto a ser tratada, sem o devido tratamento
prévio, provoca sérios problemas sanitários e ambientais.”
Fonte:<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia/article/
viewFile/6711/6055> Acesso em: 24 jun. 2017.

Os principais poluentes lançados nos recursos hídricos de origem industrial


são:
a) Compostos inorgânicos (solventes, detergentes) e metais (chumbo,
cobre).
b) Compostos orgânicos (solventes, detergentes) e metais (chumbo,
cobre).
c) Hidrocarbonetos (solventes, detergentes) e metais (aldeídos, cetonas).
d) Compostos orgânicos (metais) e hidrocarbonetos (aldeídos, benzenos).
e) Hidrocarbonetos (solventes, metais) e fluoretos (chumbo, cobre).

82 U2 - Agentes tóxicos
3. “Os poluentes atmosféricos são geralmente classificados como primários
ou secundários. Poluentes primários são os contaminantes diretamente
emitidos pelas fontes para o ambiente, como no caso dos gases dos
automóveis (_______________, _______________ e _______________).
Já os poluentes secundários resultam de reações dos poluentes primários
com substâncias presentes na camada baixa da atmosfera e frações da
radiação solar, como, por exemplo, _______________, _______________
e _______________.” (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE)
Os termos que melhor completam as sentenças, respectivamente, são:
a) CO; SO2, material particulado; O3, peróxido de hidrogênio; CO2
b) O3; peróxido de hidrogênio; aldeídos; CO2, NOx; aldeídos
c) O3, CO; NOx; CO2; hidrocarbonetos; SO2
d) CO2; SO2; material particulado; O3; CO; hidrocarbonetos
e) CO; SO2; material particulado; O3; peróxido de hidrogênio; ácido
sulfúrico

U2 - Agentes tóxicos 83
Seção 2.2
Toxicologia das plantas

Diálogo aberto
Caro aluno,
Nesta seção, iniciaremos os estudos das fontes toxicológicas
naturais: as plantas. Apesar do potencial tóxico da industrialização e
do desenvolvimento tecnológico para a saúde humana e ambiental,
outras fontes toxicológicas devem ser levadas em conta. As plantas
são grandes produtoras de toxinas para se defenderem de pragas
e predação. Entretanto, tais toxinas muitas vezes apresentam alta
toxicidade para outros organismos que não sejam alvos expostos.
Retomando o seu trabalho na empresa de consultoria, agora,
os desafios serão novos! Os trabalhadores do distrito industrial de
Barreiras não estão expostos somente às substâncias químicas
produzidas pelas indústrias, mas também às substâncias químicas
naturais. Por estarem distantes da cidade, muitas vezes, os
trabalhadores descansam em áreas de bosques e permanecem em
contato direto com as plantas locais. Há registros de dermatites e
alergias respiratórias. Durante o levantamento dos agentes tóxicos
que vocês realizaram, as informações sobre toxinas de plantas
presentes na área também são de grande importância, visto que se
trata de uma área afastada detentora de grande diversidade biológica.
Diante disso, quais informações vocês incluiriam no relatório técnico
ambiental e que recomendações vocês dariam aos trabalhadores
locais? Havendo contato com as plantas, a que sintomas eles devem
ficar atentos?
A seguir, vamos conhecer diversas plantas tóxicas e nos
familiarizar com as toxinas mais comuns no Brasil. Abordaremos as
principais plantas tóxicas, seus mecanismos de toxicidade e sintomas
de intoxicação. Contudo, vale ressaltar que existem milhares toxinas
com efeitos adversos específicos. Durante o levantamento dos
agentes tóxicos em áreas de estudo, é necessário identificar as plantas
presentes e verificar a toxicidade de cada uma delas.

84 U2 - Agentes tóxicos
Não pode faltar

Milhares de plantas produzem substâncias tóxicas, as quais


chamamos de toxinas. Essas substâncias são produzidas visando à
autoproteção contra pragas e predadores, como fungos e insetos.
A concentração das toxinas em uma planta varia de acordo com
algumas características:

- Partes da planta: raízes, caule, folhas e sementes podem


produzir quantidades diferentes de toxinas.

- Idade da planta: as plantas maduras podem produzir mais ou


menos toxinas que as jovens.

- Clima e qualidade do solo: influenciam diretamente na


produção das toxinas.

- Diferenças genéticas intraespécies: a variabilidade no material


genético de plantas da mesma espécie pode influenciar na
capacidade de produção de toxinas.

De acordo com o tipo de toxina, as plantas induzem seus


efeitos tóxicos em diferentes órgãos-alvo: pele, pulmão, fígado,
rins, bexiga, ossos, sistema cardiovascular, nervoso e reprodutivo.
Dos milhares de plantas que produzem toxinas, selecionamos
algumas conforme a frequência de exposição, a importância e a
gravidade dos efeitos tóxicos.

Assimile
Lembre-se: a absorção de agentes tóxicos pode ocorrer por diferentes
vias de acesso: ingestão (via gastrintestinal), inalação (via pulmonar) e
topicamente (vias dérmicas, epidérmicas e/ou olhos).

Via dérmica: muitas plantas produzem toxinas irritantes após o


contato, causando a dermatite de contato. A Urtica dioica (Figura
2.3 A), por exemplo, possui tricomas (apêndices epidérmicos)
recobrindo caule e folhas, que se rompem ao entrar em contato
com a pele, liberando toxinas contendo histamina, acetilcolina,

U2 - Agentes tóxicos 85
serotonina e ácido fórmico. A resposta é caracterizada por dor
intensa e eritema, uma vermelhidão causada pela vasodilatação
dos capilares sanguíneos. Da mesma forma, a planta banana-
de-macaco (Philodendrom bipinnatifidum) (Figura 2.3 B) produz
resorcinóis nas folhas, caules e frutos, que são capazes de provocar
dermatites. Sua ingestão induz intensas irritações nas mucosas, e
doses elevadas provocam edemas na faringe a ponto de causar a
obstrução das vias respiratórias e morte. A hera venenosa (Rhus
radicans) (Figura 2.3 C) possui uma toxina chamada urushiol em
todas as partes da planta. Essas toxinas são compostas por catecóis
que, ao entrar em contato com a pele, são oxidados a quinonas e
reagem com as proteínas, induzindo à dermatite.

Figura 2.3 | Exemplares de (A) Urtica dioica, (B) Philodendrom bipinnatifidum e (C)
Rhus radicans

Fonte: <https://goo.gl/TU7nBV>; <https://goo.gl/xmyYvp>; <https://goo.gl/CN6hSw>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Muitos indivíduos também sofrem com o látex natural da


seringueira (Hevea brasiliensis). Ele é um polipeptídio alergênico
chamado de heveína e pertence à família das quinases, isto é,
atua na quebra de quitina de exoesqueletos de insetos e paredes
celulares dos fungos. Indivíduos alérgicos à heveína são usualmente
sensibilizados ao contato com algumas frutas, como banana, tomate
e abacate, pois elas contêm quitinases com atividades semelhantes
à heveína. No Brasil, outras plantas comuns produtoras do látex
são: copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica), chapéu-de-napoleão
(Thevetia neriifolia), bico-de-papagaio (Euphorbia pulcherrima),
avelós (E. tirucalli), coroa-de-cristo (E. milii), leiteiro-vermelho (E.
cotinifolia), leiteiro-branco (E. leucocephala), antúrio (Anthurium
spp.), alamanda amarela (Allamanda cathartica), alamanda roxa (A.
blanchetti), jasmim-manga (Plumeria rubra), ficus (Ficus benjamina)
e inhame (Alocasia spp.) (Figura 2.4).

86 U2 - Agentes tóxicos
Figura 2.4 | Plantas ricas em látex: (A) copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica),
(B) chapéu-de-Napoleão (Thevetia neriifolia), (C) antúrio (Anthurium spp.), (D)
alamanda amarela (Allamanda cathartica), (E) coroa-de-cristo (Euphorbia milii),
(F) bico-de-papagaio (E. pulcherrima), (G) avelós (E. tirucalli), (H) jasmim-manga
(Plumeria rubra), (I) inhame (Alocasia spp.)

Fonte: <https://goo.gl/vK2RFp>; <https://goo.gl/HvEJ5o>; <https://goo.gl/bdCA7N>; <https://goo.gl/5rYbjW>;


<https://goo.gl/EYPGcz>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Via respiratória: algumas toxinas induzem o reflexo da tosse


ao serem inaladas, outras desencadeiam rinites alérgicas. As
reações alérgicas são comuns em indivíduos sensíveis aos efeitos
irritantes dos alérgenos, enquanto que as reações de tosse
ocorrem devido à presença da toxina. As capsaicinas, por exemplo,
são produzidas por pimentas caiena (Capsicum annuum) e chili
(Capsicum frutescens), e desencadeiam o reflexo da tosse junto
com a sensação de queimação ou calor, seguidos da diminuição
da sensibilidade (efeito analgésico) ao se ligarem a receptores
específicos. Todavia, indivíduos em contato prolongado com
capsaicinas podem inalar partículas e apresentar irritações na via
respiratória e vesiculação, isto é, bolhas, tal como as formadas
em queimaduras de segundo grau. A dose letal média (DL50) foi
determinada em camundongos: 47,2 mg/kg.

U2 - Agentes tóxicos 87
Figura 2.5 | Plantas ricas em capsaicinas: (A) pimenta caiena (Capsicum annuum) e
(B) pimenta chili (C. frutescens)

Fonte: <https://goo.gl/nHttGq>; <https://goo.gl/iCdZNd>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Via gastrintestinal: os sintomas mais comuns de intoxicações


gastrointestinais são náuseas, vômitos e diarreia, devido a irritações
nas paredes intestinais. Sementes da mamona (Ricinus communis),
por exemplo, produzem a toxalbumina chamada ricina, que inativa
os ribossomos e inibe a síntese proteica celular. Se ingeridas,
provocam náuseas, vômitos e diarreias de forma gradativa. Em
alguns dias, os sintomas se agravam e levam à morte em uma
semana. Cerca de 20 sementes são suficientes para matar um
adulto, e cinco a seis são suficientes para causar a morte em

crianças. As folhas e frutos do pinhão-roxo (Jatropha curcas)


produzem a toxalbumina chamada curcina, também inibidora da
síntese proteica.
Figura 2.6 | Plantas ricas em toxalbuminas: (A) mamona (Ricinus communis) e (B)
pinhão-roxo (Jatropha curcas)

Fonte: <http://sinitox.icict.fiocruz.br/plantas-toxicas>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Plantas que produzem o oxalato de cálcio como toxina também


são tóxicas à via gastrintestinal. O oxalato de cálcio forma pequenos
cristais na forma de agulhas, e a ingestão pode perfurar os tecidos
do sistema digestivo, como faringe e esôfago, causando edemas,
asfixia e morte. São exemplos de plantas produtoras de oxalato de

88 U2 - Agentes tóxicos
cálcio: copo-de-leite (Zantedeschia arthiopica), comigo-ninguém-
pode (Dieffenbachia picta), tinhorão (Caladium bicolor), taioba-
brava (Colocasia antiquorum) e banana-de-macaco (Philodendron
bipinatifidum) (Figura 2.7).

Figura 2.7 | Plantas ricas em oxalato de cálcio: (A) comigo-ninguém-pode


(Dieffenbachia picta), (B) tinhorão (Caladium bicolor), (C) taioba-brava (Colocasia
antiquorum) e (D) banana-de-macaco (Philodendron bipinatifidum)

Fonte: <https://goo.gl/AJ0F5c>; <https://goo.gl/zpki2b>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Sistema cardiovascular: toxinas cardiotóxicas causam, em


geral, arritmias cardíacas e espasmos musculares. Os glicosídeos
cardioativos, por exemplo, inibem o funcionamento da bomba
de sódio/potássio ATPase das células musculares cardíacas
(cardiomiócitos) e, como consequência, provocam arritmias
cardíacas, náuseas e vômitos. As plantas que contêm glicosídeos
cardioativos incluem, entre elas: chapéu-de-napoleão (Thevetia
peruviana), cega-olho (Asclepias curassavica), espirradeira (Nerium
oleander), dedaleira (Digitalis purpurea), mandioca-brava (Manihot
utilissima) e pessegueiro-bravo (Prunus sphaerocarpa) (Figura 2.8).

Figura 2.8 | Plantas ricas em glicosídeos cardioativos: (A) cega-olho (Asclepias


curassavica), (B) espirradeira (Nerium oleander), (C) dedaleira (Digitalis purpurea),
(D) mandioca-brava (Manihot utilissima) e (E) pessegueiro-bravo (Prunus
sphaerocarpa)

U2 - Agentes tóxicos 89
Fonte: <https://goo.gl/vdcSBz>; <https://goo.gl/iUKnkK>; <https://goo.gl/a4qzd3>; <https://goo.gl/MPV6rc>;
<https://goo.gl/8u1aM4>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Alcaloides também possuem ação tóxica no sistema


cardiovascular. Várias espécies produzem diferentes tipos de
alcaloides, com características particulares de intoxicação após
a ingestão: náuseas, vômitos, hiper ou hipotensão, taqui ou
bradicardia, arritmias cardíacas e espasmos musculares. A saia-
branca (Datura suaveolens), por exemplo, produz alcaloides
beladonados (atropina, escopolamina e hioscina), a saia-roxa (D.
metel) produz alcaloides daturinas, e os lírios (Melia azedarach)
produzem alcaloides neurotóxicos (azaridina) (Figura. 2.9).

Figura 2.9 | Plantas ricas em alcaloides: (A) saia-branca (Datura suaveolens), (B)
saia-roxa (D. metel) e (C) lírios (Melia azedarach)

Fonte: <https://goo.gl/4L9w5n>; <https://goo.gl/3Nsf2Z>; <https://goo.gl/ssL4XM>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Sistema hepático: após a biotransformação, alguns alcaloides


provocam doenças hepáticas. Os alcaloides pirrolizidínicos,
por exemplo, por si sós não apresentam toxicidade, porém sua
biotransformação no fígado forma tóxicos altamente reativos.
Estes inibem a mitose dos hepatócitos e induzem a megalocitose
(aumento do tamanho dos glóbulos vermelhos), necrose e morte
celular. Em casos agravados, os indivíduos desenvolvem a doença
venoclusiva hepática, em que ocorre a obstrução de vênulas e

90 U2 - Agentes tóxicos
sinusoides. No Brasil, a flor-das-almas (Senecio brasiliensis) é a
planta mais conhecida pela produção de alcaloides pirrolizidínicos
(Figura 2.10).
Figura 2.10 | Flor-das-almas (Senecio brasiliensis), rica em alcaloides pirrolizidínicos

Fonte: <http://www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_sp.php?img=7433>. Acesso em: 24 jun. 2017.

5. Sistema nervoso: algumas toxinas são extremamente


neurotóxicas, induzindo desde cefaleias até convulsões e morte.
A cicuta (Cicuta maculata), por exemplo, produz a cicutoxina, que
atua nos canais de sódio do sistema GABA e causa convulsões
fatais. Outras plantas induzem cefaleia, tonturas, confusão mental
e distúrbios visuais, como a espirradeira (Nerium oleander), cega-
olho (Asclepias curassavica) e artemísia (Arthemisia absinthium)
(Figura 2.11).

Figura 2.11 | Plantas neurotóxicas: (A) cicuta (Cicuta maculata) e (B) artemisia
(Arthemisia absinthium)

Fonte: <https://goo.gl/YyW3WX>; <https://goo.gl/ozPYnJ>. Acesso em: 24 jun. 2017.

U2 - Agentes tóxicos 91
Quadro 2.3 | Plantas tóxicas representativas do Brasil

Geração (kg/
Resíduos Fonte Tipologia Destinação
mês)
• Sensibilidade
Hevea dérmica
Seringueira Látex Cascas
brasiliensis • Alergênico
dérmico
• Irritação
Capsicum
Pimentas caiena dérmica
annum Capsaicina Toda a planta
e chili • Irritação
C. frutescens
respiratória
• Irritação
Zantedeschia Oxalato gastrintestinal
Copo-de-leite Folha e caule
arthiopica de cálcio • Edemas, asfixia
e morte
• Irritação
Comigo-nin- Dieffenbachia Oxalato gastrintestinal
Toda a planta
guém-pode picta de cálcio • Edemas, asfixia
e morte
• Irritação
Ricinus
Mamona Toxalbumina Sementes gastrintestinal
communis
• Morte
• Arritmias
Nerium Glicosídeo cardíacas
Espirradeira Toda a planta
oleander cardioativo • Distúrbios
neurológicos
• Náuseas,
Chapéu-de-na- Thevetia Glicosídeo vômitos
Toda a planta
poleão peruviana cardioativo • Arritmias
cardíacas
• Taquicardia,
hipertermia
Saia-roxa e Datura metel • Dilatação das
Alcaloide Toda a planta
saia-branca D. suaveolens pupilas
• Alucinação e
morte
• Bradicardia,
hipotensão
Melia
Lírios Alcaloide Frutos e folhas • Arritmia cardíaca
azedarach
• Depressão do
SN
• Megalocitose,
Senecio Alcaloide
Flor-da-alma Folhas e flores necrose
brasiliensis pirrolizidíneo
• DVH

*Principais locais de produção. SN: sistema nervoso. DVH: Doença venoclusiva hepática.
Fonte: Brasil [s.d.].

Algas são plantas? Dentro da taxonomia, as algas podem ser


classificadas como plantas, bactérias ou protozoários. Elas não
estão agrupadas em um único reino, embora tenha existido o

92 U2 - Agentes tóxicos
obsoleto Reino Algae L. (1751). Atualmente, os grupos são formados
de acordo com desenvolvimento evolutivo. Por exemplo, as
cianobactérias (também chamadas de algas azuis e cianofíceas)
são organismos procariontes (sem membrana celular verdadeira)
do Reino Monera; os dinoflagelados e diatomáceas são eucariontes
primitivos do Reino Protista, e as algas verdes (clorófitas), vermelhas
(rodófitas), dentre outras, são eucariontes (com membrana celular
completa) do Reino Plantae. Duas espécies chamam a atenção
quanto à toxicidade das toxinas: cianobactérias e dinoflagelados.

As toxinas produzidas por cianobactérias são polipeptídios


com diferentes modos de ação: hepatotoxinas, neurotoxinas e
dermatotoxinas. As dermatotoxinas irritam a pele e mucosas, e
são tóxicas para a via gastrintestinal. As neurotoxinas (anatoxina-a,
anatoxina-a(s), neosaxitoxina e saxitoxina) bloqueiam as
transmissões neuromusculares e causam a morte por paralisia
dos músculos respiratórios. As hepatotoxinas (microcistinas e
nodularinas) retraem os hepatócitos e provocam hemorragias
hepáticas, causando a morte em poucos dias ou horas. O contato
dérmico com hepatotoxinas pode desencadear rinite, conjuntivite,
dispneia e dermatite, e a ingestão induz gastroenterite, diarreia,
náuseas, vômito, febre, hepatite, anorexia, astenia e hepatomegalia.

Exemplificando
O controle de cianobactérias em águas de abastecimento no Brasil teve
início com a Portaria 1469, de 29 de dezembro de 2000, após a “tragédia
da hemodiálise” na cidade de Caruaru (PE) em 1996. A água captada para
o Instituto de Doenças Renais continha microcistinas de cianobactérias,
e cerca de 60 pacientes morreram após a hemodiálise com a água
contaminada. Atualmente, o valor máximo permitido de microcistina na
água é 1 µg/L, e este valor deve ser zero nas águas de abastecimento
para hemodiálise, pois a absorção via corrente sanguínea é altamente
tóxica.

Outra problemática com toxinas de algas ocorreu em


2007, na Baía de Todos os Santos (BA). Uma grande floração
de dinoflagelados, algas microscópicas marinhas, aumentou a
produção das neurotoxinas saxitoxinas e neosaxitoxinas durante os

U2 - Agentes tóxicos 93
fenômenos da maré vermelha. Essas toxinas provocaram a morte
de aproximadamente 50 toneladas de animais das mais diversas
espécies marinhas. Além disso, elas são conhecidas por seus
efeitos bioacumulativos em mariscos, ostras e outros crustáceos, e
por causarem efeitos tóxicos aos humanos que consumirem estes
organismos.

Reflita
Você sabe o que é o fenômeno da maré vermelha? A U.S. Integrated
Ocean Observing System® criou um método para prever e detectar
locais com florações de algas. O objetivo é proporcionar às comunidades
avisos de alertas para que todos se previnam contra contaminações e
doenças frente a este evento. Para saber mais, acesse o vídeo disponível
em: <http://oceanservice.noaa.gov/facts/redtide.html>. Acesso em: 24
jun. 2017.

Tratamento

O tratamento por qualquer tipo de intoxicação por plantas


deve ser iniciado com urgência por profissionais da área médica.
A primeira medida a ser tomada, antes mesmo da chegada de um
médico, é a retirada ou diminuição da exposição do organismo à
toxina. Em casos de ingestão, é importante que haja a eliminação
do que restou dentro da boca, enxaguando-a com água corrente
abundante. É preciso ser cuidadoso com os primeiros socorros.
Em alguns casos, não é aconselhável provocar o vômito, e sim a
ingestão de água. Aconselha-se guardar a planta para a posterior
identificação da intoxicação, com o objetivo de facilitar a escolha
do tratamento adequado.

Pesquise mais
A Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) disponibiliza um manual
de primeiros socorros em casos de acidente. Para saber mais, acesse
o manual, disponível em: <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/
manuais/biosseguranca/manualdeprimeirossocorros.pdf>. Acesso em:
24 jun. 2017.

94 U2 - Agentes tóxicos
Finalizamos mais uma etapa desta jornada, na qual você se
familiarizou com agentes tóxicos originários de fontes naturais:
plantas. Na próxima seção, vamos abordar as toxinas de animais
peçonhentos, portanto, prepare-se e comece a examinar os
animais ao seu redor, de grandes a pequenos organismos. Você
verá que existem milhares deles distribuídos por todo o mundo e,
portanto, devemos ficar atentos às suas toxinas.

Sem medo de errar

Caro aluno,

Vamos voltar ao nosso novo desafio? Lembre-se de que os


trabalhadores do distrito industrial de Barreiras não estão expostos
somente às substâncias químicas produzidas pelas indústrias, mas
também às substâncias químicas naturais. Diante do exposto,
você e seus colegas consultores poderiam providenciar um
levantamento das plantas locais, uma vez que se trata de uma área
afastada do centro urbano e com grande diversidade biológica.
Esse fato aumenta o risco de intoxicação por diversas toxinas de
plantas presentes na área. As informações levantadas, tais como
nome popular e científico das plantas e suas respectivas toxinas
e toxicidades, podem ser inclusas no relatório técnico ambiental,
visto que estas também são agentes tóxicos. Não se esqueça de
que a via de exposição é uma importante informação, pois ela
altera a absorção e efeitos tóxicos.

Além disso, recomende aos trabalhadores locais a leitura


de cartilhas com informações a respeito dessas plantas. O
conhecimento prévio pode prevenir futuras intoxicações.
Também alerte àqueles que são sensíveis e/ou alérgicos, por
exemplo: indivíduos que apresentam dermatites alérgicas e
alergias respiratórias. Uma sugestão é a recomendação da
leitura do manual de primeiros socorros da Fiocruz. Em casos
de intoxicações, dermatites ou problemas respiratórios devido
às toxinas das plantas, sempre recomende o isolamento do local
e a retirada ou diminuição da exposição, até a chegada de um
profissional da área médica. Contudo, como vimos nesta seção,

U2 - Agentes tóxicos 95
os primeiros socorros variam de acordo com a toxina: em alguns
casos, não é aconselhável provocar o vômito, e sim a ingestão de
água. Seja cuidadoso!

Avançando na prática

Toxinas em condomínios

Descrição da situação-problema

Caro aluno,

Podemos afirmar que os indivíduos intoxicados por plantas


tóxicas são, em grande maioria, crianças. E podemos atribuir isto
à desinformação da população. Levando isso em conta, agora,
você foi solicitado por uma construtora de Goiânia (GO) atuante
no segmento de condomínios de alto padrão para realizar o
levantamento das espécies vegetais situadas nos condomínios
administrados pela empresa. Isso porque esses condomínios
possuem grandes áreas de convívio localizadas em parques e áreas
verdes, com diversas espécies de plantas ornamentais. Devido
ao crescimento deste setor imobiliário e à grande quantidade de
famílias moradoras com crianças até 12 anos, é preciso realizar
com urgência o levantamento das possíveis plantas tóxicas locais.

Após visitar os condomínios e realizar o levantamento das


espécies, você foi encarregado de confeccionar um material
educativo com essas informações. Nele devem constar: o nome
científico e popular das plantas, quais são as toxinas encontradas,
quais partes delas são tóxicas e quais são os sinais e sintomas
da intoxicação. Para auxiliá-lo, consulte o dossiê técnico
“Plantas tóxicas mais comuns no Brasil”, elaborado pelo Serviço
Brasileiro de Respostas Técnicas (2012. Disponível em: <http://
www.respostatecnica.org.br/dossie-tecnico/downloadsDT/
NTcwNg==>. Acesso em: 24 jun. 2017). Aproveite este
levantamento para pesquisar e conhecer as espécies de plantas
tóxicas da sua região!

96 U2 - Agentes tóxicos
Resolução da situação-problema

Para confeccionar o material educativo, uma dica é a elaboração


de tabelas contendo as informações solicitadas. Por exemplo, foram
encontradas espécies como a Dieffenbachia picta, popularmente
conhecida como comigo-ninguém-pode. Sua toxina é o oxalato
de cálcio, presente em toda a planta. Seus principais sintomas são
irritação gastrintestinal, edemas, asfixia e morte. Tendo em vista
um material didático e de fácil compreensão, você pode transpor
os dados conforme o exemplo do Quadro 2.4.

Quadro 2.4 | Plantas tóxicas presentes no condomínio Vista Alegre (Goiás, GO)

Geração (kg/
Resíduos Fonte Tipologia Destinação
mês)
• Irritação
gastrintestinal
Comigo- Dieffenbachia
Oxalato de cálcio Toda a planta • Edemas
ninguém-pode picta
• Asfixia
• Morte

Fonte: elaborada pelo autor.

Faça valer a pena


1. As plantas produzem toxinas como forma de autoproteção. No
entanto, existem algumas caraterísticas que influenciam diretamente na
concentração desta toxicidade. Analise as seguintes afirmações:
l. As variações genéticas das plantas, quando da mesma espécie, podem
influenciar na capacidade de produção de toxinas.
II. As condições do habitat, como o clima e a qualidade do solo, influenciam
na toxicidade das plantas.
III. A maturidade das plantas sinaliza uma produção maior das suas toxinas.
Qual(is) afirmação(ões) está(ão) correta(s)?
a) Somente II e III estão corretas.
b) Somente I e II estão corretas.
c) Somente I e III estão corretas.
d) I, II e III estão corretas.
e) Somente a II está correta.

U2 - Agentes tóxicos 97
2. De acordo com as toxinas produzidas pelas plantas, os efeitos tóxicos
gerados no corpo humano podem ser extremamente perigosos.
Assinale a alternativa correta quanto ao nome popular da planta que, após
a ingestão, tem suas toxinas biotransformadas, gerando compostos que
podem levar à megalocitose.
a) Comigo-ninguém-pode.
b) Mamona.
c) Copo-de-leite.
d) Saia-branca.
e) Flor-da-alma.

3. A Ricinus communis é uma planta da família das euforbiáceas,


largamente distribuída pelas regiões urbanas do Brasil, em jardins, terrenos
e praças. Dela, extrai-se um óleo utilizado para inúmeras aplicações
industriais de plásticos, esmaltes, biodiesel etc. Apesar disso, esta espécie
apresenta toxicidade elevada ao ser humano.
Assinale a afirmativa que detalha corretamente a toxina gerada pela espécie
Ricinus communis e qual local da sua estrutura apresenta maior toxicidade.
a) Toxalbulmina; nas sementes.
b) Oxalato de cálcio; em toda a planta.
c) Oxalato de cálcio; nas folhas e caule.
d) Alcaloide; em toda a planta.
e) Alcaloide; nas frutas e folhas.

98 U2 - Agentes tóxicos
Seção 2.3
Toxicologia dos animais
Diálogo aberto

Caro aluno,
Como vimos na seção anterior, os agentes tóxicos podem ser
produzidos por plantas tóxicas, e nesta seção daremos continuidade
aos estudos: animais peçonhentos. Existem dados epidemiológicos
de casos de acidentes por animais peçonhentos em todo o território
brasileiro, dentre eles escorpiões, serpentes, abelhas, aranhas, entre
outros. Devido ao desmatamento de grandes áreas e à urbanização
rápida e desenfreada, esses animais também se adaptaram a
ambientes em áreas urbanas, e passaram a habitar prédios residenciais
e comerciais.
Retomando o seu trabalho na empresa de consultoria, você e
seus colegas consultores darão continuidade aos desafios das fontes
toxicológicas naturais. Você se lembra de que os trabalhadores
do distrito industrial de Barreiras não estão expostos somente às
substâncias químicas produzidas pelas indústrias, mas também
a substâncias químicas naturais? Além dos registros de casos de
dermatites e alergias respiratórias devido ao contato com as plantas
locais, também foram registrados casos de trabalhadores intoxicados
por toxinas de animais, tais como picadas de aranha e abelhas. Por
se tratar de um local afastado da cidade e com grande diversidade
biológica, quais recomendações você e seus colegas incluiriam no
relatório técnico ambiental? Que sintomas indicam intoxicações por
toxinas animais? Os tratamentos devem ser iniciados imediatamente
ou é recomendado aguardar até que uma ambulância e/ou resgate
chegue ao local?
Para ajudá-lo, a seguir, conheceremos algumas das espécies de
animais peçonhentos mais relevantes para a saúde pública no Brasil,
e entenderemos sobre suas toxinas e seus efeitos adversos. Contudo,
é importante lembrar que, assim como existem milhares toxinas com
efeitos adversos específicos para plantas, a mesma regra vale para
toxinas de animais. Em geral, as toxinas de animais são misturas muito
complexas, e seus efeitos tóxicos podem variar.
Vamos lá?

U2 - Agentes tóxicos 99
Não pode faltar

Os animas também são grandes produtores de substâncias


tóxicas, chamadas toxinas. Elas visam à a autoproteção e à
predação. Esses animais podem ser classificados em dois grupos:

- Animais peçonhentos: a toxina é produzida em células ou


glândulas secretórias desenvolvidas, e os animais a inoculam no
momento da mordida ou picada.

- Animais venenosos: a toxina está presente nos tecidos em


sua totalidade, sendo que a ingestão destes tecidos induz a
intoxicações.

As toxinas produzidas pelos animais são altamente complexas,


compostas por proteínas, lipídios, aminas, esteroides, aminoácidos,
quinonas etc., capazes de induzir danos às células. Em geral, os
efeitos são irritantes e neurotóxicos, mas, devido à complexidade
das toxinas, existem vários sítios alvos ou receptores a que elas
se ligam, e eles induzem diversos tipos de efeitos. Algumas
características podem afetar o efeito e a intensidade tóxica: 1) via de
absorção; 2) distribuição pelos tecidos; 3) capacidade de atravessar
membranas celulares (altamente lipofílicas); 4) acumulação; 5)
metabolismo; 6) excreção.

De acordo com o Ministério da Saúde, em 2015 houve 105.862


notificações de acidentes por animais peçonhentos registradas
pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN),
sendo que 47% do total notificado eram acidentes com escorpiões;
seguido pelas aranhas, com 18% dos acidentes; as serpentes,
com 17%; as abelhas, com 8%; e o restante, por lagartas e outros
animais. A região Sudeste foi a que apresentou a maior quantidade
de registros, com 37.345 notificações. O Nordeste aparece em
segundo lugar, com 32.580 notificações, seguido do Sul, com
19.545, Norte, com 10.996 e Centro-Oeste, com 5.396.

O processo de desmatamento e urbanização desenfreada


tem aumentado o número de casos de acidentes por animais
peçonhentos. Com a chegada das chuvas, os animais peçonhentos
saem de seus esconderijos e buscam novos abrigos, seja em áreas

100 U2 - Agentes tóxicos


urbanas ou afastadas. Assim, não é difícil encontrá-los nas áreas
residenciais ou parques. Além disso, a falta de saneamento básico,
como o acúmulo de lixo, entulhos e esgoto a céu aberto, propicia
o surgimento de abrigo para animais peçonhentos. A seguir,
selecionamos os organismos peçonhentos de maior importância
para a saúde pública no Brasil, conforme a frequência de exposição
e a gravidade dos efeitos tóxicos.

Assimile
Atenção! Existem muitos gêneros que apresentam espécies peçonhentas
e não peçonhentas. Portanto, não é correto generalizar, por exemplo,
que todas as espécies de serpentes são peçonhentas. Muitas delas
não possuem o aparelho inoculador das toxinas, portanto são não
peçonhentas.

Serpentes: possuem glândulas produtoras de toxinas, ligadas


por um ducto aos dentes inoculadores. Elas injetam-nas em
presas e predadores no momento da mordida. Suas toxinas, em
geral, alteram os vasos sanguíneos (deixando-os mais frágeis) e os
mecanismos de coagulação do sangue, causando sangramentos
no local da mordida, no nariz, urina, saliva etc. Também alteram
o funcionamento dos sistemas cardíaco, pulmonar, nervoso e
respiratório, paralisando os músculos dos olhos, face e deglutição,
os grandes músculos e, por fim, a musculatura respiratória, a qual
provoca asfixia. Como primeiros socorros, é importante lavar o
local da picada, manter a vítima em repouso e procurar o serviço
médico. Não é recomendado fazer cortes ou torniquetes. A
identificação do animal facilita o tratamento com soroterapia.

No Brasil, as serpentes de interesse em saúde pública pertencem


à Família Viperidae:

Crotalus: inclui a cascavel (Crotalus durissus) (Figura 2.12 A),


além de suas diversas subespécies. A cascavel habita áreas abertas
como campos, e se caracteriza por possuir um chocalho na ponta
da cauda, formado por diversos guizos.

Lachesis: inclui a surucucu (Lachesis muta) (Figura 2.12 B),


com duas subespécies. A surucucu habita matas primárias e se

U2 - Agentes tóxicos 101


caracteriza por ser a maior serpente peçonhenta das Américas,
podendo ultrapassar 4 m de comprimento.

Micrurus: inclui a coral-verdadeira ou apenas coral (Micrurus


lemniscatus) (Figura 2.12 C). Habita locais embaixo da terra e se
caracteriza por ser pequena (até 1 m de comprimento) e por ter
a coloração vistosa, com anéis vermelhos, pretos e brancos ou
amarelos. Existem espécies não peçonhentas com o mesmo
padrão de coloração das corais, denominadas falsas-corais.

Bothrops: atualmente dividido em dois gêneros, Bothrops e


Botrocophias, possui cerca de 30 espécies, dentre elas a jararaca
(Bothrops jararaca) (Figura 2.12 D). Possui hábito noturno, vive
em matas, preferencialmente em locais úmidos, mas também se
adapta às áreas urbanas e próximas à cidade. Essa espécie pertence
ao grupo que mais causa acidentes no Brasil.

Figura 2.12 | Serpentes peçonhentas: cascavel (Crotalus durissus) (A), curucucu


(Lachesis muta) (B), coral-verdadeira (Micrurus sp.) (C), jararaca (Bothrops jararaca)
(D)

Fonte: <http://www.vitalbrazil.rj.gov.br/cobras_venenosas.html>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Aranhas: possuem um par de quelíceras, onde se encontra o


aparelho inoculador, chamado de ferrão, responsável pela picada e
injeção de toxinas em presas e predadores. Suas toxinas, de forma
geral, induzem efeitos neurotóxicos agudos. No caso de acidentes,
é importante lavar o local da picada, usar compressas mornas para
alívio da dor e procurar atendimento médico. A identificação do
animal facilita o tratamento com a soroterapia correta.

No Brasil, os principais gêneros de importância para a saúde


pública são:

Aranha-marrom (Loxosceles sp.): encontrada em ambientes


domésticos escuros e úmidos, chega a até 3 cm de comprimento

102 U2 - Agentes tóxicos


total (Figura 2.13 A). Apesar de a espécie não ser agressiva, pois
ataca somente ao sentir-se ameaçada, sua toxina é muito ativa. A
picada é pouco dolorida (equivalente a uma picada de formiga),
mas suas toxinas induzem hemorragias e necroses locais. Casos
graves apresentam efeitos sistêmicos: febre, náuseas, vômito,
cólicas, hemólises (sangue na urina), trombocitopenia (redução do
número de plaquetas no sangue) e falência renal.

Armadeira (Phoneutria sp.): conhecida como uma das


maiores aranhas do mundo (até 20 cm de envergadura) (Figura
2.13 B), é uma espécie bastante agressiva e chega a saltar até
40 cm de distância. Utiliza suas toxinas para capturar aranhas,
insetos e pequenos vertebrados (lagartos, filhotes de pássaros
e camundongos). De forma geral, sua picada é extremamente
dolorida e causa vermelhidões locais e irradiação de dores para
tecidos adjacentes. Dentre os efeitos sistêmicos, destacam-se a
taquicardia, hipertensão e agitação psicomotora. Em casos graves
e raros, ocorre enrijecimento muscular, edemas no pulmão e
morte.

Viúva-negra (Latrodectus sp.): espécie pouco agressiva, as


fêmeas podem atingir até 2 cm e os machos, até 3 mm (Figura
2.13 C), mas somente as fêmeas tem a capacidade de penetrar a
pele humana. Suas toxinas induzem cãibras, espasmos musculares
e fraqueza. Em casos graves, ocorre a rigidez dos músculos da
região abdominal.

Algumas caranguejeiras, como a negra-brasileira (Grammostola


pulchra) e rosa-brasileira (Lasiodora parahybana), também são
encontradas no Brasil, entretanto, possuem toxinas de baixa
toxicidade para o ser humano e não causam acidentes graves.

Figura 2.13 | Aranhas peçonhentas: aranha-marrom (Loxosceles) (A), armadeira


(Phoneutria) (B) e viúva-negra (Latrodectus) (C)

Fonte: <http://www.ivb.rj.gov.br/aranhas.html>. Acesso em: 24 jun. 2017.

U2 - Agentes tóxicos 103


Exemplificando
A Theraphosa blondi, popularmente conhecida como Goliath Bird Eater,
é endêmica da região amazônica e considerada a maior aranha do
mundo, com relatos de que ela tenha até 40 cm de comprimento. Seus
pelos abdominais são extremamente irritantes e sua picada causa dores
e náuseas.

Escorpiões: possuem um aparelho inoculador chamado


télson, ou ferrão, responsável pela injeção das toxinas em presas
e predadores. No Brasil, o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) é
considerado o mais venenoso (Figura 2.14). Sua toxina possui ação
neurotóxica e de efeito agudo e forte, e causa alterações locais e
sistêmicas. Os sintomas de intoxicação incluem dor intensa que
se irradia por todo o corpo, taquicardia, hipertensão, aumento
da frequência respiratória e morte por asfixia pelo bloqueio dos
comandos que controlam a respiração. Os primeiros socorros
recomendados são lavar o local e levar a vítima ao atendimento
médico. Compressas mornas e analgésicos podem aliviar a dor.

Figura 2.14 | Exemplar de escorpião-amarelo (Tityus serrulatus)

Fonte: <http://www.ivb.rj.gov.br/imagens/escorpiao2.jpg>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Lagartas: possuem corpos recobertos por cerdas urticantes


que, ao serem tocadas, injetam suas toxinas nos predadores.
No Brasil, as espécies que mais causam acidentes pertencem às
famílias Megalopygidae (lagarta-cachorrinho) e Saturniidae (lagarta-

104 U2 - Agentes tóxicos


taturana) (Figura 2.15). Os sintomas são apenas locais, como dores
locais intensas que se irradiam pelo corpo, exceto o gênero da
lagarta-taturana (Lonomia), que induz alterações sistêmicas. Suas
toxinas contêm alcaloides, esteroides, histaminas e proteínas
que alteram a coagulação sanguínea, induzem hemorragias
espontâneas (sem causa aparente), lesões na pele, hematomas,
náuseas e vômitos. Em caso de acidente, deve-se lavar o local,
fazer compressa fria e procurar atendimento médico. Os acidentes
com Lonomia precisam de avaliação médica, caso seja necessário
fazer tratamento com soroterapia. O Brasil é o único país produtor
do soro antilonômico (SALon), específico para o tratamento de
acidentes causados por essas lagartas.

Figura 2.15 | Lagarta-cachorrinho (Lonomia obliqua) (A) e Lagarta-taturana (Podalia


sp.) (B)

Fonte: <http://www.cit.sc.gov.br/site/?page_id=775>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Abelhas: possuem um aparelho inoculador chamado ferrão,


responsável pela injeção de suas toxinas em predadores. As
espécies mais conhecidas são a Apis mellifera e Apis mellifera
scutellata (abelha africanizada) (Figura 2.16). Suas toxinas contêm
proteínas, enzimas, histaminas, dopaminas, lipídeos, entre outros
elementos que geram dor local, queimação, vermelhidão, edemas
e prurido (coceira). Aproximadamente 50 picadas são o suficiente
para causar disfunções respiratórias, hipertensão, problemas
cardíacos, hepáticos e falência renal, e 100 picadas tornam o efeito
potencialmente letal. Como primeiros socorros, o ferrão deve ser
removido, o local lavado, e compressas frias e analgésicos aliviam
a dor. Mas reações alérgicas podem causar efeitos graves, como
náuseas, cólicas intestinais, dificuldade para respirar, aumento
da pressão arterial, choque anafilático e morte, necessitando de
atendimento médico imediato.

U2 - Agentes tóxicos 105


Figura 2.16 | Abelhas Apis mellifera (A) e Apis mellifera scutellata (abelha
africanizada) (B)

Fonte: <https://goo.gl/cbAzVs>; <https://goo.gl/qVbkhN>. Acesso em: 24 jun. 2017.

Reflita
Você sabe por que as abelhas atacam em enxames? Ao injetar toxinas
em um indivíduo, as primeiras abelhas liberam um feromônio para que
outras abelhas ataquem o mesmo alvo.

Águas-vivas: possuem cnidócitos (células urticantes) contendo


o nematocisto, uma cápsula injetora de toxinas em presas e
predadores. Os cnidócitos concentram-se nos tentáculos e, ao
serem tocados, os nematocistos ejetam minúsculos espinhos que
penetram a pele e injetam toxinas, causando intensa sensação de
queimadura, calafrios, náuseas e dores de cabeça, além de ser
paralisante do sistema nervoso. As águas-vivas habitam ambientes
marinhos e variam entre 2 cm a 2 m de comprimento. A medusa-da-
lua (Aurelia aurita) (Figura 2.17 A) possui toxinas de baixa toxicidade
e é encontrada em todos os oceanos do mundo, ao contrário da
vespa-do-mar (Chironex fleckeri) (Figura 2.17 B), com toxinas que
levam à falência circulatória, paralisia respiratória e morte em três
minutos, encontrada no Caribe e Estados Unidos. Como primeiros
socorros, os espinhos devem ser removidos, aplicando-se vinagre
doméstico sobre a lesão a fim de bloquear mais ferroadas mesmo
após a remoção dos tentáculos ou morte da água-viva.
Figura 2.17 | Água-viva vespa-do-mar (Chironex fleckeri) (A) e medusa-da-lua
(Aurelia aurita) (B)

Fonte: <https://goo.gl/fKBhGG>; <https://goo.gl/Tyz5fD>. Acesso em: 24 jun. 2017.

106 U2 - Agentes tóxicos


Peixes peçonhentos: possuem esporões com toxinas
localizados nas nadadeiras dorsais e peitorais e/ou na cauda.
No Brasil, existem cerca de 40 espécies de peixes peçonhentos,
entre eles a arraia de água doce (Potamotrygon sp.) (Figura 2.18
A), o bagre (Cathorops sp.) (Figura 2.18 B), o peixe-escorpião
(Scorpaena plumieri) (Figura 2.18 C) e o niquim (Thalassophryne
nattereri) (Figura 2.18 D). Em geral, suas toxinas contêm proteínas
que provocam lesões puntiformes, lacerantes e muitas vezes
profundas, com grande sangramento. Os sintomas incluem dor
pulsátil, espasmódica ou latejante, hipotensão arterial, taquicardia,
vômitos, diarreias, sudorese e paralisia muscular. Como primeiros
socorros, deve-se imergir o local afetado em água quente (43-
45°C) por 30 a 40 minutos, ou até a dor diminuir, visto que as
toxinas são termossensíveis, ou seja, se desnaturam com o calor.

Figura 2.18 | Peixes peçonhentos: arraia (Potamotrygon sp.) (A), bagre (Cathorops
sp.) (B), peixe-escorpião (Scorpaena sp.) (C), niquim (Thalassophryne nattereri) (D)

Fonte: <http://imunorregulacaoibu.com.br/7-pesquisa/22-peixes-peconhentos/50-peixes-peconhentos>.
Acesso em: 24 jun. 2017.

Pesquise mais
Existem espécies de peixes venenosos, com toxinas na pele, músculos,
vísceras e/ou gônadas, cuja ingestão causa intoxicações. Ao contrário das
toxinas de peixes peçonhentos, estas não são termossensíveis, portanto
não são destruídas pelo calor. Para saber mais, acesse a apresentação
O fascinante mundo dos peixes peçonhentos e venenosos, de Gervaz
(2014),Disponível em: <https://prezi.com/xojipqw18vx5/o-fascinante-
mundo-dos-peixes-peconhentos-e-venenosos/> Acesso em: 24 jun.
2017.

Agora, finalizamos mais uma etapa desta jornada. Você


compreendeu diversas fontes toxicológicas, com enfoque nas
fontes naturais. Todavia, sabemos que existem milhares de outras
fontes capazes de induzir danos tóxicos. Portanto, que tal você
exercitar a identificação de potenciais fontes de toxicidade ao

U2 - Agentes tóxicos 107


seu redor? Na próxima unidade, abordaremos agentes tóxicos
específicos de origem antropogênica. Bons estudos e até lá!

Sem medo de errar

Caro aluno,

Voltando ao nosso desafio, vamos ajudar os trabalhadores do


distrito industrial de Barreiras? Após aprender sobre os animais
peçonhentos, você e seus colegas consultores poderiam
providenciar um levantamento dos animais existentes no distrito
industrial, assim como foi sugerido para as plantas tóxicas. Sabemos
que a diversidade dos organismos ali viventes pode ser alta, o que
dificulta o levantamento. Portanto, foque em áreas de bosques
que os trabalhadores frequentemente usam para descanso ou
para qualquer outro tipo de atividade. Dê continuidade à ao quadro
elaborado na seção anterior, todavia, com os dados levantados
para os animais peçonhentos, tais como nome popular e científico
dos organismos e suas respectivas toxinas e toxicidades, como
demonstrado no Quadro 2.5. Não se esqueça de que as toxinas de
animais são, em geral, misturas complexas, portanto o item “toxina”
pode ser complementado apenas com os principais componentes.

Quadro 2.5 | Animais peçonhentos presentes no distrito industrial de Barreiras (BA).

Animal Espécie Toxina Local Ação local Ação sistêmica


• Hipertensão
• Disfunção
Proteínas
• Dor e queimação respiratória
Enzimas
Apis • Edemas • Taquicardia
Abelha Histaminas Ferrão
mellifera • Prurido • Alterações
Dopaminas
• Morte hepáticas
Lipídeos
• Falência renal
• Morte

Fonte: elaborada pelo autor.

Em relação aos sintomas induzidos, é difícil generalizá-los


devido à alta complexidade das toxinas animais. Existem diversos
sítios ativos ou receptores a que estas toxinas se ligam, induzindo
diferentes efeitos, dentre eles os locais (inchaço, vermelhidão,
prurido) e os sistêmicos (neurotoxicidade, taquicardia). Portanto,

108 U2 - Agentes tóxicos


previna os trabalhadores do local sobre a presença de potenciais
animais peçonhentos na área, e aconselhe a leitura de cartilhas
com informações a respeito destes animais peçonhentos,
como o Manual de Primeiros Socorros, elaborado pela Fiocruz.
Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/
manuais/biosseguranca/manualdeprimeirossocorros.pdf>. Acesso
em: 24 jun. 2017. Para se aprofundar mais no tema, também
existe o Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por
Animais Peçonhentos, elaborado pela Fundação Nacional da
Saúde (Funasa). Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/funasa/manu_peconhentos.pdf>. Acesso em 24 jun.
2017.

É importante, também, que a empresa implemente um programa


de avaliação e notificação de riscos associados ao trabalho.
Portanto, recomende a inclusão do item “acidentes por animais
peçonhentos” em um mapa de riscos, auxiliando na informação
dos trabalhadores. De acordo com a Norma Regulamentadora
5 (NR 5), a identificação dos riscos do processo de trabalho e
elaboração de mapas de riscos é de responsabilidade da Comissão
Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), portanto vale a pena
verificar o trabalho da CIPA e o mapa de risco elaborado.

Em casos de intoxicações, recomende o isolamento da área


e a retirada ou diminuição da exposição, até que um profissional
da área médica analise o caso. Como os primeiros socorros
variam de acordo com a toxina, seja cauteloso! Analise a situação
imediatamente e recorra às recomendações de primeiros socorros
sugeridas pelos manuais.

E para concluir a segunda fase de identificação dos agentes


tóxicos na área em estudo, você e seus colegas de trabalho
finalizarão o relatório técnico ambiental ao prefeito de Barreiras.
Você está lembrado do primeiro relatório entregue ao finalizar
a Unidade 1? Nele havia informações básicas de caracterização
do local de estudo, identificação das emissões de poluentes e
suas respectivas classificações, além das considerações finais
baseadas nas legislações que você conheceu. Pois agora
complementaremos este relatório com informações sobre o
levantamento e a identificação de agentes tóxicos de fontes

U2 - Agentes tóxicos 109


naturais (plantas e animais). Aproveite para completar o Mapa
Mental iniciado na Seção 1.1 com as toxinas de fontes naturais, e
o insira no relatório. Não se esqueça: use sua criatividade! Como
você faria o levantamento das potenciais toxinas presentes no
local?

Avançando na prática

Temporada de chuvas e animais peçonhentos

Descrição da situação-problema

Caro aluno,

Vamos analisar uma situação cotidiana? Sabemos que a


temporada de chuvas e a falta de saneamento básico estão
diretamente relacionadas com a infestação por animais
peçonhentos em áreas urbanas. O acúmulo de lixo em locais
inapropriados, por exemplo, aumenta a infestação por estes
animais, especialmente em épocas chuvosas. Agora, imagine
que estamos na temporada de chuvas diárias, e diversos casos de
acidentes por animais peçonhentos foram registrados em uma
empresa atuante no mercado de soja. Sua estrutura física conta
com uma unidade de processamento e diversos armazéns que
guardam os grãos já processados até sua comercialização. Por
descuido da empresa, restos de sacos, caixas e grãos podres foram
deixados em um galpão próximo aos armazéns por vários dias até
serem devidamente descartados.

Diante desta situação, a empresa solicitou que você os auxilie


nesta problemática. Quais providências você os aconselharia
tomar? Que estratégias poderiam contribuir para a melhoria da
saúde ocupacional?

Resolução da situação-problema

Na situação exposta, é importante que você primeiramente


faça um levantamento dos registros de acidentes por animais

110 U2 - Agentes tóxicos


peçonhentos. Será que a grande maioria dos casos se trata de
picadas por escorpiões? Também é de suma importância saber
quais são os possíveis animais peçonhentos presentes na área,
principalmente na temporada de chuvas. Após o levantamento
dos animais peçonhentos e a quantidade de acidentes que cada
um deles causa, relacione os locais de maior ocorrência para cada
tipo de acidente. A partir disto, enfatize à empresa a importância de
fazer sinalizações com os mapas de riscos setoriais, ou seja, com
alertas especiais nas áreas de maior ocorrência de acidentes.

Em relação ao galpão de armazenamento de descartes,


recomende a melhor forma de armazená-los e descartá-los
(conforme a legislação vigente), de forma que nem o ambiente
e nem os processos industriais da empresa sejam prejudicados,
tornando o descarte de resíduos mais eficiente. Lembre-se de que
em temporadas de chuvas os animais peçonhentos tendem a sair à
procura de novos abrigos, portanto as frestas devem ser vedadas e
as janelas, preferencialmente fechadas com telas; as áreas internas
e ao redor do local ser mantidas limpas; e caixas e quaisquer outros
locais escuros devem ser cuidadosamente verificados, pois servem
de esconderijo a muitos desses animais.

Faça valer a pena

1. A toxicidade das toxinas produzidas pelos animais peçonhentos é


determinada pela sua composição. Entretanto, diversas características
alteram seus efeitos tóxicos.
Assinale a alternativa com os fatores em sequência de acontecimentos da
toxicocinética que podem alterar os efeitos tóxicos das toxinas:
a) A ligação com o sítio alvo, as reações em cascata e o desencadeamento
da intoxicação.
b) A via de absorção, a capacidade de atravessar membranas celulares, o
potencial de acumulação e a metabolização.
c) A via de absorção, os sintomas e os sinais clínicos.
d) Os sinais clínicos, os sintomas e as alterações fisiológicas.
e) A capacidade de atravessar membranas celulares, os efeitos adversos e
a intoxicação.

U2 - Agentes tóxicos 111


2. Os animais peçonhentos produzem toxinas altamente complexas,
capazes de induzir diferentes tipos de efeito tóxico.
Assinale a alternativa com a correta associação entre o animal e os efeitos
tóxicos provocados pela sua toxina:
a) Abelhas: suas toxinas induzem dor local, queimação, vermelhidão,
edemas e prurido. Diversas picadas simultâneas podem causar disfunções
respiratórias, hipertensão, problemas cardíacos, hepáticos e falência renal,
mas nunca são letais.
b) Lagartas: suas toxinas sempre induzem quadros de envenenamento
sistêmico, como problemas de coagulação sanguínea, hemorragias
espontâneas (sem causa aparente), lesões na pele, hematomas, náuseas
e vômitos.
c) Escorpiões: possuem toxinas neurotóxicas e de efeito crônico, ou seja,
se manifestam e permanecem a longo prazo. Os sintomas incluem dor
intensa, taquicardia, hipertensão, aumento da frequência respiratória e
morte por asfixia pelo bloqueio dos comandos que controlam a respiração.
d) Aranhas-marrons: sua picada é extremamente dolorida e pode causar
vermelhidões locais e irradiação de dores para tecidos adjacentes. Também
causam taquicardia, hipertensão, agitação psicomotora, enrijecimento
muscular, edemas no pulmão e morte.
e) Serpentes: suas toxinas alteram os vasos sanguíneos e os mecanismos de
coagulação do sangue, causando hemorragias locais e em outros tecidos.
Também causam paralisia muscular dos olhos, da face, da deglutição,
grandes músculos e, por fim, musculatura respiratória e consequente
morte por asfixia.

3. No Brasil, existem diversas espécies de peixes peçonhentos capazes de


produzir toxinas ativas ao ser humano.
Assinale a alternativa correta com relação ao tema:
a) O envenenamento por toxinas de peixes causa apenas lesões
locais puntiformes, lacerantes e muitas vezes profundas, com grande
sangramento.
b) Toxinas de peixes podem induzir hipotensão arterial, taquicardia,
vômitos, diarreias, sudorese e paralisia muscular.
c) As toxinas de peixes peçonhentos são altamente estáveis, sendo de
difícil degradação após cocção.

112 U2 - Agentes tóxicos


d) Os peixes possuem cnidócitos, onde se concentram as toxinas. Ao tocá-
los, o nematocisto ejeta um minúsculo espinho, que penetra na pele e
injeta toxinas irritantes.
e) As águas-vivas são peixes com esporões distribuídos na cauda, que
causam intensa sensação de queimadura, calafrios, náuseas e dores de
cabeça, além de serem potentes agentes neurotóxicos paralisantes do
sistema nervoso.

U2 - Agentes tóxicos 113


Referências
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114 U2 - Agentes tóxicos


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U2 - Agentes tóxicos 117


Unidade 3

Tipos de toxicologia

Convite ao estudo
Caro aluno,

na Unidade 2 nós aprendemos sobre diversos agentes


tóxicos de origem antrópica, como a emissão de poluentes
industriais ou por veículos automotores; e naturais, como
toxinas produzidas por plantas e animais. Nesta unidade nós
continuaremos nossos estudos sobre a toxicidade de agentes
tóxicos provenientes de fontes antropogênicas: as indústrias.
A expansão industrial possibilitou uma vida mais confortável,
modernizou diversos processos da agricultura e trouxe consigo
bilhões de toneladas de resíduos.

Vamos retomar o trabalho da empresa de consultoria? Você e


seus colegas consultores iniciaram uma terceira fase do trabalho.
Agora vocês avaliarão uma segunda indústria presente na área
em estudo: uma famosa fábrica de fertilizantes e agrotóxicos
largamente utilizados por agricultores. Como maior desafio,
os agrotóxicos possuem diversos agentes tóxicos compondo
suas formulações, tais como os ingredientes ativos e outras
substâncias declaradas inativas, que são mantidas confidenciais
pelos fabricantes. Além da potencial toxicidade das formulações,
as atividades industriais também utilizam substâncias químicas
consideradas perigosas durante o processamento dos produtos.
Portanto, as indústrias de agrotóxicos e fertilizantes são
produtoras de toneladas de agentes tóxicos, causando impactos
diretos no ambiente local. E quais os efeitos que os agentes
tóxicos lançados por esta indústria causam no ambiente? Como
identificar as populações que estão em risco?

Nesta nova etapa da nossa jornada abordaremos os metais,


solventes e praguicidas, extensivamente utilizados e/ou
produzidos pelas indústrias e causadores de grandes impactos
ambientais, e enfatizaremos suas características toxicológicas.
Seja bem-vindo à nova unidade e vamos lá!
Seção 3.1
Toxicologia dos metais

Diálogo aberto
Caro aluno,
Nesta seção nós iniciaremos nossos estudos sobre a toxicidade
dos metais, abordando as principais fontes de emissão industrial e
suas características toxicológicas. Você sabia que nós precisamos
de alguns metais para funções vitais do nosso organismo? Todavia, a
dose dos metais dita a indução de seus benefícios ou de seus efeitos
tóxicos.
Para começar esta nova fase, você e seus colegas consultores
terão um novo desafio: foram solicitados para levantar informações
sobre a contaminação do solo local pela Indústria de Fertilizantes
e Agrotóxicos. Esta indústria era a maior poluidora do Rio Grande,
mas após ser notificada pelo INEMA (Instituto de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos da Bahia), começou o tratamento correto de seus
efluentes. Entretanto, o prefeito recebeu uma denúncia anônima
sobre o descarte de resíduos de fertilizantes químicos no solo.
Imediatamente, ele ligou à sua equipe de consultores para contar o
caso. De acordo com as informações coletadas (Quadro 3.1), esta
indústria lança efluentes líquidos em solo sem revestimento.

Quadro 3.1 | Valores de metais encontrados no solo e limites máximos de metais


permitidos em fertilizantes orgânicos.

Valor encontrado no solo Valor máximo permitido


Resíduos
(mg/kg) (mg/kg)*

Cadmio 0,7 3

Chumbo 56 150

Cromo hexavalente 0,3 2

Mercúrio 0,09 1

Níquel 18 70

Fonte: adaptado de Brasil (2006).

U3 - Tipos de Toxicologia 121


Além disso, uma pequena horta utilizada na alimentação dos
funcionários está instalada ao lado da fábrica, o que preocupou o
prefeito. Todavia, ele ficou aliviado ao perceber que as concentrações
de resíduos encontrados no solo eram mais baixas que o valor
máximo permitido. Percebendo o erro do prefeito, vocês precisam
orientá-lo! O que há de errado com a interpretação do prefeito?
Quais são os impactos que estes efluentes podem causar ao local?
Que risco os trabalhadores locais estão sujeitos?Para auxiliá-lo, nesta
seção, discutiremos a toxicologia dos metais. Selecionamos alguns
dos principais metais para a toxicologia ambiental: chumbo, cádmio,
arsênio, mercúrio, cromo, níquel e manganês. Que tal conhecer um
pouco mais sobre cada um deles? Prepare-se para esta nova etapa e
vamos lá!

Não pode faltar

Os metais são elementos químicos definidos de acordo com


as propriedades físicas: refletividade (brilho), condutividade elétrica,
condutividade térmica, maleabilidade, dureza, ductilidade e densidade.
À temperatura ambiente (25 °C), os metais são sólidos, com exceção
do mercúrio, que possui ponto de fusão muito baixo (-38oC). Os
metais pesados como os elementos químicos com densidade maior
que 4 g/m3 e peso atômico entre 63,546 e 200,590, dentre eles
o chumbo, cádmio, arsênio, mercúrio, cromo, níquel e manganês.
Como característica geral, os metais ocorrem naturalmente na crosta
terrestre, não podendo ser criados de forma antropogênica, além de
serem indestrutíveis, ou seja, não são biodegradáveis, o que contribui
para a bioacumulação deles nos organismos vivos.
A distribuição dos metais pela biosfera ocorre pelos ciclos
biogeoquímicos, com a incorporação por plantas e animais em
alimentos, eventos como a chuva, que dissolve metais de rochas
para corpos hídricos e ressuspende metais de solos e sedimentos.
Entretanto, o aumento na concentração de metais no ambiente
está diretamente relacionado com as emissões antropogênicas,

122 U3 - Tipos de Toxicologia


intensificadas após a Revolução Industrial, e o seu excesso pode
causar um estresse na biota local.
Apesar dos efeitos tóxicos dos metais, alguns desempenham
funções essenciais para determinados processos fisiológicos dos seres
vivos, como é o caso do ferro, essencial no transporte de oxigênio e
formação da hemoglobina; o cálcio, essencial para a estrutura óssea;
o cobre, essencial na fotossíntese; dentre outros, como o magnésio,
cromo; manganês; níquel; cobre; cobalto; e molibdênio, envolvidos
em outros processos metabólicos. Por outro lado, alguns metais não
essenciais podem causar danos aos seres vivos (Figura 3.1).

Assimile
Apesar de os seres vivos necessitarem de pequenas quantidades de
alguns metais para a realização de funções vitais, níveis excessivos
podem ser extremamente tóxicos. Já os metais não essenciais não
possuem nenhuma função para os organismos e a sua acumulação
provoca doenças graves.

Na Figura 3,1, vemos o comportamento de metais no organismo:


(A) essenciais e (B) não essenciais. Os efeitos tóxicos de um metal
são determinados pela concentração presente nos seres vivos:
metais essenciais possuem uma faixa de concentração ótima para
desempenhar funções essenciais em processos fisiológicos, enquanto
que metais não essenciais possuem um limite de concentração
tolerável. Concentrações superiores aos limites ótimos e toleráveis
podem ser tóxicas.

Figura 3.1 | Comportamento de metais no organismo: (A) essenciais; (B) não


essenciais
Desenvolvimento

Deficiente Ótimo Tóxico Tolerável Tóxico


Letal

Letal

A B
Concentração Concentração

Fonte: adaptada de Lima e Merçon (2011).

U3 - Tipos de Toxicologia 123


Geralmente, o mecanismo de toxicidade dos metais ocorre pela
inativação de enzimas proteicas. Entretanto, alguns fatores alteram
significativamente os efeitos tóxicos, como a idade e as condições
físicas do organismo exposto. A toxicidade de um metal também
é dependente da espécie química que se encontra no ambiente,
podendo ser uma espécie livre, ou formar compostos inorgânicos ou
orgânicos. De acordo com a espécie química, cada metal pode reagir
com uma grande variedade de moléculas biológicas e apresentar
diferentes efeitos tóxicos sobre os seres vivos.
Uma característica importante a se levar em conta é a solubilidade
dos metais, também dependente da espécie química em que se
encontra, da temperatura e do pH do local. Por exemplo, a diminuição
do pH aumenta a solubilidade dos metais, enquanto a elevação do
pH é utilizada no processo de precipitação química de metais em
tratamento de efluentes industriais. As formas hidrossolúveis são mais
facilmente absorvidas pelas plantas, aumentando o risco de entrarem
na cadeia trófica, e também podem ser lixiviadas, aumentando a
mobilidade dos metais no ambiente e oferecendo risco de poluição
para as águas subterrâneas. Já as formas lipossolúveis tendem a se
adsorverem em solos e sedimentos, diminuindo a disponibilidade e
mobilidade do metal.
No Brasil, existem limites toleráveis de metais utilizados na
fabricação de determinados produtos que podem ser ingeridos
diariamente ou serem lançados no ambiente, estabelecidos
por legislações e resoluções específicas. Uma ferramenta de
monitoramento ambiental é a quantificação da biomassa da
microbiota local e suas atividades enzimáticas, que aumentam como
forma de compensação à exposição a metais. Outra ferramenta de
monitoramento dos metais na biota é a quantificação de enzimas da
família metalotioneínas, presentes em microrganismos eucariontes e
procariontes, plantas superiores e todo o reino animal. Estas enzimas
se ligam aos metais e atuam na sua detoxificação, sendo utilizadas
como biomarcadores biológicos, ou seja, o aumento na quantidade
de metalotioneínas é uma resposta ao aumento dos níveis de metais
no organismo.
A seguir, exemplificaremos a toxicidade dos metais de maior
importância para a toxicologia ambiental: chumbo, cádmio, arsênio,
mercúrio, cromo, níquel e manganês.

124 U3 - Tipos de Toxicologia


Chumbo (Pb): sua principal fonte natural é o minério galena, além
de ser encontrado em concentrações menores no carvão, petróleo
e em outros minerais. Placas de Pb são mundialmente utilizadas
como escudo contra raios X devido à alta densidade do metal. A
capacidade de bloquear a radiação está relacionada com a nuvem de
elétrons que gira ao redor do núcleo dos átomos de Pb, facilitando
a dissipação da energia contida no raio X. Os sais inorgânicos de Pb
são insolúveis em água, exceto o nitrato, clorato e cloreto de Pb, e
são utilizados por indústrias metalúrgicas, de fundições, de papel,
incineradores de resíduos, usinas de produção de energia e baterias
de veículos automotores. Também encontrados em tintas, soldas e
encanamentos antigos. Já as formas orgânicas, como o Pb tetraetila
((CH3 CH2)4 Pb), além de serem insolúveis em água, são altamente
voláteis, o que permite que o Pb seja transportado para a atmosfera,
distribuindo-se de forma rápida para diversos locais afastados das
fontes emissoras.

Figura 3.2 | Chumbo

Fonte: <goo.gl/DhyGJq>. Acesso em: 2 ago. 2017.

O Pb orgânico é absorvido mais facilmente pelos seres vivos,


sobretudo pelas vias de exposição inalatória e gastrointestinal. Após
a absorção, o Pb é distribuído para o sangue e tecidos, e parte dele
é excretada pela urina e, em menores quantidades, pelas fezes, suor
e cabelo. Outra parte é armazenada nos tecidos mineralizados,
como os ossos e dentes. Eles contêm 90% a 95% do Pb presente
em adultos e 70% em crianças. A meia-vida do Pb pode atingir 30
anos, entretanto, com o aumento da idade, ele é liberado para o

U3 - Tipos de Toxicologia 125


sangue devido à descalcificação dos ossos. Os efeitos tóxicos são
mutagênicos e carcinogênicos, induzindo câncer de pulmão, cérebro
e bexiga, além de afetar cronicamente o sistema gastrointestinal,
cardiovascular, renal, reprodutivo, endócrino e, principalmente, o
sistema nervoso, causando encefalopatias. No ambiente, os sais
inorgânicos de Pb tendem a se precipitar devido à baixa solubilidade
em água, diminuindo a biodisponibilidade. Entretanto, plantas
podem incorporar o Pb presente tanto no ar quanto na água e solo,
transferindo-o aos animais pela cadeia alimentar.

Exemplificando
As crianças são as mais vulneráveis aos efeitos tóxicos do Pb. Elas estão
expostas no útero devido à capacidade do Pb de atravessar a placenta e
de estar presente na amamentação com leite materno. Elas também se
expõem ao levarem à boca a mão suja com poeira ou tinta contendo
Pb. O intestino de crianças também absorve o Pb mais rápido do que o
de adultos. Além disso, o sistema nervoso é mais sensível e a sua taxa de
respiração é mais elevada, aumentando a exposição. Os efeitos tóxicos
induzem déficits cognitivos de aprendizagem e memória.

Até a década de 80, o Pb tetraetila era largamente aplicado como


aditivo à gasolina, mas, devido à alta toxicidade do Pb, esta adição foi
proibida em vários países, incluindo o Brasil (Resolução CONAMA
18/1986). Atualmente, o uso do Pb também é proibido no Brasil
em soldas de embalagens metálicas para acondicionamento de
gêneros alimentícios, exceto para produtos secos ou desidratados
(Lei 9.832/1999). Também foi fixado um limite máximo de Pb na
fabricação de pilhas e baterias (Resolução CONAMA 401/2008,
alterada pela 424/2010) e para tintas imobiliárias e de uso infantil e
escolar, vernizes e materiais similares (Lei 11.762/2008). Apesar do
uso reduzido do Pb, ainda assim os níveis no ambiente continuam
altos, sendo ele classificado como poluente global.

Cádmio (Cd): é um metal encontrado em minérios de zinco,


chumbo e cobre, e em concentrações baixas no carvão, petróleo,
rochas e solo. Existem diversos sais inorgânicos de Cd bastante
solúveis em água, como o cloreto, sulfato e acetato de Cd,
facilitando a mobilidade no ambiente pelos recursos hídricos.

126 U3 - Tipos de Toxicologia


Por outro lado, os óxidos, hidróxidos e sulfetos de Cd são pouco
solúveis, e não existem evidências de formas orgânicas de Cd no
ambiente. Na indústria, ele é utilizado na galvanoplastia, fabricação
de pigmentos, plásticos, fertilizantes e, principalmente, baterias,
além de ser produto secundário de metalúrgicas de zinco. O
Cd também é um importante metal para o avanço tecnológico,
aplicado em indústrias de eletrônica, comunicação, aeroespacial,
na geração de energia e em baterias recarregáveis.

Figura 3.3 | Cadmio

Fonte: <goo.gl/4JIRUZ> Acesso em: 2 ago. 2017.

A principal via de exposição ao Cd é a inalatória e,


secundariamente, a gastrointestinal. Após a absorção, o Cd é
distribuído para o sangue e tecidos, sendo uma parte excretada
pela urina e outra parte armazenada principalmente nos rins e no
fígado. A meia-vida do Cd atinge de 30 a 40 anos, induzindo efeitos
carcinogênicos a longo prazo, além de afetar o sistema respiratório
com insuficiência respiratória e edemas pulmonares. Além disso,
o sistema gastrointestinal pode apresentar gastroenterite e danos
renais crônicos. Os efeitos tóxicos do Cd no ser humano e em
outras espécies de animais são muito semelhantes, bioacumulando
e biomagnificando ao longo da cadeia alimentar. O crescimento de
plantas também é afetado após a absorção do metal pela alteração
da abertura dos estômatos, da transpiração e da fotossíntese. Já os
invertebrados terrestres são pouco afetados pelo metal.

A disposição final inadequada dos resíduos pela incineração de


baterias e plásticos aumenta o Cd atmosférico. Resíduos sólidos
dispostos em locais inadequados e a geração de efluentes líquidos

U3 - Tipos de Toxicologia 127


em atividades de extração de minérios também aumentam a
contaminação das águas superficiais e do lençol freático. Devido
à sua toxicidade, o uso na fabricação pilhas e baterias também
foi limitado no Brasil (Resolução CONAMA 401/2008, alterada pela
424/2010).

Arsênio (As): é um semimetal presente em mais de 200


minerais. O As elementar e seus compostos inorgânicos (trióxido
e pentóxido de As, arsenito de sódio, arseniato de cálcio, ácido
arsênico etc.) possuem baixa solubilidade em água, sendo
utilizados em descolorantes, clareadores e dispersantes de bolhas
na produção de vidrarias e na conservação de couros e madeiras. O
gás arsina (AsH_3) é a espécie de maior toxicidade, sendo utilizado
por indústrias de microeletrônicos e semicondutores. As formas
orgânicas (ácido arsanílico, ácido metilarsônico e arsenobetaína)
são menos tóxicas que as inorgânicas, utilizadas na fabricação de
praguicidas, herbicidas e outros produtos agrícolas. Rejeitos de
mineração também possuem grandes quantidades de As.

Figura 3.4 | Arsênio

Fonte: <goo.gl/rxAcHb>. Acesso em: 2 ago. 2017.

A absorção gastrointestinal é a principal via de exposição,


seguida pela inalatória e dérmica. O As é distribuído por todo o
organismo, acumulando-se nas unhas, cabelos e em ossos. Ele
induz efeitos carcinogênicos e letais, e pode afetar vários sistemas
e órgãos, como a pele e os sistemas respiratório, gastrointestinal
e nervoso. Vários estudos demonstraram uma relação dose-efeito
entre a exposição ao As inorgânico e um aumento do risco de
câncer na pele e pulmões. Em relação aos efeitos tóxicos na biota,
o metal inibe o crescimento e a fotossíntese de plantas e altera

128 U3 - Tipos de Toxicologia


a reprodução e o comportamento de animais, além de causar a
morte dos organismos.

Mercúrio (Hg): é o único metal líquido à temperatura ambiente.


As fontes naturais de Hg incluem atividades vulcânicas, incêndios
florestais, entre outras. Devido à grande quantidade de reações
químicas das quais o Hg pode participar, vários compostos são
formados, orgânicos ou inorgânicos, com características bastante
distintas entre si, variando a solubilidade e mobilidade no ambiente.
As espécies químicas lipossolúveis, por exemplo, se bioacumulam
e biomagnificam ao longo da cadeia alimentar. Amostras de gelo
e sedimentos coletadas em áreas distantes de fontes de poluição
indicam que o metal aumentou a concentração em três a cinco
vezes. Atualmente, as principais aplicações industriais são na
produção de cloro-soda, tintas, plásticos, produtos farmacêuticos,
baterias, lâmpadas, fungicidas, mineração e produtos eletrônicos,
sendo o Hg classificado como poluente global. A amalgamação,
amplamente utilizada para extração de metais nobres nos garimpos,
principalmente o ouro, acarreta na liberação de mercúrio, por meio
da queima do amálgama. Destaca-se o emprego desta técnica na
Amazônia (LINHARES et al., 2009).

Qualquer espécie química do Hg presente no ambiente pode


ser convertida por bactérias em metilmercúrio, muito tóxico para
o ser humano. Após ser absorvido pelo organismo, o Hg pode
atravessar a barreira hematoencefálica e atingir o cérebro, o
principal órgão armazenador do metal. Devido à neurotoxicidade
do metal, os tremores são os sintomas mais característicos,
atingindo os membros superiores, lábios e língua.

Figura 3.5 | Mercúrio

Fonte: <goo.gl/Ny7XLG>. Acesso em: 2 ago. 2017.

U3 - Tipos de Toxicologia 129


Reflita
Você sabia que diversos trabalhadores aposentam por invalidez ao serem
expostos ao Hg? Em 1930, diversos ingleses que trabalhavam em fábricas
de embalagem de sementes foram expostos ao metilmercúrio utilizado
como desinfetante e conservante. Eles desenvolveram a síndrome de
Hunter-Russel, que causa perda visual e ataxia cerebelar, com perda da
coordenação motora. E no Brasil, quais foram os desastres relacionados
ao Hg?

Cromo (Cr): é um metal encontrado na natureza no minério


cromita, em rochas, solo, poeiras, névoas vulcânicas, água, plantas
e animais. O uso do Cr em indústrias inclui a fabricação de ligas
metálicas e estruturas da construção civil, devido à resistência à
oxidação, ao desgaste e ao atrito; a fabricação de tintas, pigmentos,
conservantes de madeira; e seu uso também se dá na galvanoplastia
e indústrias de curtumes. A toxicidade do Cr depende da forma
como ele é encontrado. As principais vias de exposição são a
inalatória e dérmica. Uma vez absorvido, o Cr é distribuído para
vários órgãos e tecidos, concentrando-se especialmente nos rins,
pulmões, fígado e baço. Ele induz efeitos carcinogênicos, cutâneos
(irritações nas mãos e formação de úlceras), nasais (inflamações
e formações crostosas), broncopulmonares (alteram a função
respiratória) e gastrointestinais (úlceras gastroduodenais).

Figura 3.6 | Cromo

Fonte: <goo.gl/fCnW6c>. Acesso em: 2 ago. 2017.

130 U3 - Tipos de Toxicologia


Níquel (Ni): é um metal encontrado em diversos minerais,
meteoritos e no núcleo da Terra. Ele forma compostos inorgânicos
hidrossolúveis (hidróxidos, sulfatos, cloretos e nitratos) e insolúveis
(óxidos e sulfetos). Grande parte do Ni extraído é utilizado na
siderurgia (cerca de 70%) devido à sua alta resistência à oxidação,
e o restante é empregado na composição de ligas não ferrosas
para consumo no setor industrial, na galvanoplastia, em material
bélico, na fabricação de moedas e baterias, em próteses clínicas
e dentárias, em pigmentos, na área de transporte, de aeronaves e
da construção civil. As principais vias de absorção são a inalatória,
seguida da dérmica e gastrointestinal. Os compostos mais
hidrossolúveis são absorvidos mais rapidamente e excretados
na urina, enquanto compostos lipossolúveis são absorvidos
lentamente e resultam em acúmulo no pulmão.

Figura 3.7 | Níquel

Fonte: <goo.gl/aBQCxS>. Acesso em: 2 ago. 2017.

Manganês (Mn): é um dos metais mais abundantes da crosta


terrestre, compondo uma grande variedade de minerais, como
óxidos, carbonatos, fosfatos e silicatos, e distribuído em solos,
sedimentos, rochas, água e materiais biológicos. É importante para
o crescimento das plantas e para funções vitais de animais, além de
apresentar aplicações industriais relevantes. Cerca de 95% do Mn
utilizado pelas indústrias é consumido na metalurgia, e outros usos
incluem mineração, produção de fertilizantes, fungicidas, secantes
em tintas e vernizes, pilhas secas, vidros, cerâmica e produtos
farmacêuticos. A inalação é a principal via de exposição. Após ser
absorvido, o Mn é distribuído para vários órgãos, como fígado,

U3 - Tipos de Toxicologia 131


pulmões, rins, glândulas endócrinas, intestino e testículos, e pode
atravessar a barreira hematoencefálica, causando neurotoxicidade.
Os ossos e o cérebro são locais de eliminação mais lenta. No
ambiente, o Mn pode acumular-se em alguns organismos de níveis
tróficos inferiores, como algas, moluscos e alguns peixes.

Figura 3.8 | Manganês

Fonte: <goo.gl/RWT65y>. Acesso em: 2 ago. 2017.

Como vimos anteriormente, existem algumas legislações


vigentes que determinam o uso dos metais em produtos
manufaturados. Mas não podemos esquecer das legislações
estabelecidas pelo CONAMA, que visam minimizar a poluição
ambiental por metais. Por exemplo, a Resolução 420/2009,
alterada pela Resolução 460/2013, estabelece os valores de
referência de qualidade (VRQ) de metais no solo, já a Resolução
357/2005, complementada e alterada pela Resolução 430/2011,
dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes,
e inclui a presença de alguns metais na sua lista. Em relação à
exposição ocupacional, é importante lembrar de algumas normas
regulamentadoras, como a NR5, que destaca a importância da
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), a NR6, que
dispõe sobre o uso de equipamentos de proteção individual e
coletiva, e a NR9, que estabelece o Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais.

Pesquise mais
Nesta seção aprendemos sobre os metais e sua capacidade de produzir
efeitos tóxicos a organismos expostos, e conhecemos a utilização
dos principais metais. Para finalizarmos, que tal aprofundar mais os

132 U3 - Tipos de Toxicologia


seus conhecimentos? Existem padrões que limitam valores máximos
permitidos de metais no solo, no ar e na água. Para saber mais, acesse o
material da CETESB, Informações Toxicológicas:

Disponível em: </http://laboratorios.cetesb.sp.gov.br/servicos/


informacoes-toxicologicas/>. Acesso em: 2 ago. 2017

Sem medo de errar


Caro aluno,

Retomando o trabalho na consultoria, você e seus colegas


consultores foram solicitados para levantar informações sobre
a contaminação do solo de Barreiras (BA) por fertilizantes
químicos de uma indústria local. Para a elaboração deste
trabalho, primeiramente, é sempre necessária a caracterização
do local. Portanto, uma visita técnica é importante para avaliar
a funcionalidade do empreendimento e os possíveis riscos de
acidentes ambientais decorrentes de suas atividades.

Após o diagnóstico dos riscos de acidentes ambientais, é


importante ter conhecimento das legislações vigentes que se
enquadram neste estudo de caso. De acordo com as informações
mostradas no Quadro 3.1, esta indústria lança diariamente efluentes
líquidos contendo metais em solo, entretanto, não foram levantadas
as quantidades de metais em solo não contaminado. Lembra-
se de que os metais estão naturalmente presentes e distribuídos
pela crosta terrestre? Portanto, é preciso realizar a quantificação
de metais em uma amostra do local sem despejo de efluentes
ou de qualquer outra contaminação antrópica, identificando
a tipologia do solo e determinando os valores de referência de
qualidade (VRQ), conforme estabelecido pela Resolução COMANA
420/2009, alterada pela Resolução 460/2013. É preciso ficar
atento às legislações escolhidas, pois deve-se comparar os valores
encontrados no solo com a legislação vigente específica para
resíduos em solo.

U3 - Tipos de Toxicologia 133


Outro ponto levantado é a disposição de resíduos em solo sem
revestimento. É preciso atender às Resoluções CONAMA 313/2002
(que dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos
Industriais) e 430/2011 (que dispõe sobre as condições e padrões
de lançamento de efluentes, complementando e alterando a
Resolução 357/2005). Com relação ao risco a que os trabalhadores
estão sujeitos, ressaltamos a importância da Comissão Interna de
Prevenção de Acidentes (CIPA) (NR5), do uso de equipamentos de
proteção individual e coletiva (NR6) e do Programa de Prevenção
de Riscos Ambientais (NR9).

Ao final do trabalho, aponte os impactos que a disposição final


dos resíduos acomete: contaminação do solo, contaminação do
lençol freático, poluição hídrica e/ou poluição atmosférica. Alerte
os trabalhadores caso haja contaminação, para que desativem a
pequena horta instalada ao lado da fábrica ou a transfiram para
outro local sem contaminação. Outra sugestão é a reciclagem de
resíduos produzidos na maioria dos processos industriais, visando
à proteção do ambiente, assim como os benefícios econômicos
gerados neste processo, obedecendo às regulamentações
existentes.

Avançando na prática

Derramamento de chumbo

Descrição da situação-problema

Em 2003, o Rio Paraíba do Sul foi palco de um acidente industrial,


o qual prejudicou o ecossistema local. A Indústria Cataguases de
Papel Ltda., situada no município de Cataguases (MG), derramou
1,2 bilhão de litros de resíduos químicos no Rio Pomba, um dos
maiores afluentes da porção media do Rio Paraíba do Sul. O
reservatório continha chumbo e mercúrio, além de diversas outras
substâncias tóxicas utilizadas na fabricação de papel. A biota foi
gravemente prejudicada: cerca de 60 espécies de peixes foram
dizimadas, assim como parte da mata ciliar. As atividades de

134 U3 - Tipos de Toxicologia


pesca locais e o abastecimento de água de 60 municípios foram
interrompidos. Cerca de 12 anos após o acidente, o gestor da
área ambiental da empresa disse que “não houve muitos danos
ambientais no Rio Pomba [...]. Os danos foram sociais, devido à
grande repercussão que tomou o caso”.

Como consultor contratado para analisar este caso, você


afirmaria que os danos ambientais poderiam ser sanados
definitivamente 12 anos após a ocorrência do acidente? Existem
impactos ambientais considerados irreversíveis?

Resolução da situação-problema

Devido à grande repercussão deste acidente, considerado


um dos maiores acidentes ambientais no Brasil, houve uma
mobilização sobre a necessidade de avançar em termos de
segurança de barragens, o que culminou com a Lei 12.334, de
20 de setembro de 2010, a Lei de Segurança de Barragens, a fim
de reduzir a ocorrência de acidentes e desastres. Todavia, jamais
se conseguirá eliminar completamente os danos ambientais por
eventos já ocorridos.

Os metais, por exemplo, podem facilmente serem adsorvidos


no solo e/ou sedimento dos rios atingidos, o que os torna
indisponíveis para a biota local. Entretanto, a alteração do pH dos
corpos hídricos e a ressuspensão dos sedimentos por eventos
como a chuva podem trazer os metais de volta à biodisponibilidade
aos organismos. Plantas cultivadas próximas a estes locais
também podem incorporar os metais contidos no solo e na água,
possibilitando a bioacumulação e biomagnificação pela cadeia
alimentar.

Faça valer a pena

1. A presença de metais no ambiente pode causar efeitos tóxicos em


plantas e animais.
Em relação à toxicidade e à disposição de metais por fontes antrópicas em
território nacional, assinale a alternativa correta.

U3 - Tipos de Toxicologia 135


a) O chumbo é atualmente encontrado em tintas, soldas, encanamentos e
como aditivo em gasolinas.
b) O mercúrio é um poluente global, capaz de induzir efeitos neurotóxicos
devido à sua capacidade de atravessar a pele.
c) O manganês não causa efeitos adversos aos seres vivos.
d) O níquel é um dos metais mais abundantes da crosta terrestre, importante
para o crescimento das plantas e para funções vitais de animais.
e) O cromo é um carcinógeno capaz de induzir efeitos cutâneos, nasais,
bronco-pulmonares e gastrointestinais.

2. Alguns metais desempenham funções essenciais para determinados


processos fisiológicos dos seres vivos. Outros metais não essenciais
podem causar danos ao metabolismo.
No que se refere à toxicidade dos metais, assinale a alternativa correta.
a) O ferro é um metal não essencial, apesar de sua importância no
transporte de oxigênio e na formação da hemoglobina.
b) No Brasil, existem limites toleráveis de metais a serem ingeridos
diariamente, entretanto, não existem legislações para o lançamento no
ambiente.
c) A toxicidade de um metal depende da espécie química em que se
encontra, podendo ser uma espécie livre ou formar compostos inorgânicos
ou orgânicos.
d) A solubilidade dos metais interfere nos efeitos tóxicos dos metais.
As formas lipossolúveis são mais facilmente absorvidas pelas plantas,
aumentando o risco de entrarem na cadeia trófica.
e) Apesar da existência de fontes antropogênicas de metais, as fontes
naturais, como o vulcanismo, rochas e incêndios florestais, são as principais
contribuintes para o seu aumento nas concentrações ambientais.

3. Em uma estação de tratamento de efluentes de uma indústria de


galvanoplastia foi detectada a presença de metais. Uma das estratégias
para evitar que o metal seja despejado nos corpos hídricos receptores do
efluente pode ser a _____________, a fim de precipitar os metais.
Assinale a alternativa que complementa corretamente o texto anterior.
a) elevação da condutividade

136 U3 - Tipos de Toxicologia


b) elevação do pH
c) diminuição do oxigênio
d) diminuição do pH
e) elevação do oxigênio

U3 - Tipos de Toxicologia 137


Seção 3.2
Toxicologia dos hidrocarbonetos e solventes

Diálogo aberto

Caro aluno,
Nesta seção nós daremos continuidade aos estudos sobre os
agentes tóxicos com um novo tema: os hidrocarbonetos. Você sabe
o quanto está exposto aos hidrocarbonetos no seu dia a dia? Qual a
importância deles para a sociedade?
Os hidrocarbonetos estão distribuídos por todo o mundo! Eles
estão presentes no ar, em tintas, plásticos, esmaltes, combustíveis etc.,
e são considerados poluentes globais. Existem milhares de fontes de
hidrocarbonetos, e é impossível viver um dia sem estar exposto a eles.
Para dar início aos estudos, vamos retomar o trabalho na empresa
de consultoria? Lembra-se que você e seus colegas consultores estão
avaliando uma Indústria de Fertilizantes e Agrotóxicos no município de
Barreiras (BA). Devido aos problemas que esta indústria vem causando
ao ambiente, o prefeito pediu a vocês para analisarem os resíduos
produzidos durante a fabricação dos agrotóxicos em busca de novas
irregularidades. Durante o processo da produção industrial, vocês
observaram o uso de alguns solventes orgânicos, como o xileno e
o tolueno na produção dos agrotóxicos, e o tricloroetileno e hexano
para limpeza das maquinarias. Sabendo disso e ainda preocupado com
as questões ambientais, o prefeito questionou como os funcionários
são expostos aos solventes orgânicos. Eles devem se preocupar com
a exposição diária? Quais são as principais vias de exposição a estes
solventes? Qual a toxicidade que estes compostos possuem?
Para que você consiga resolver os problemas levantados pelo
prefeito, a seguir abordaremos os principais hidrocarbonetos e
solventes para a toxicologia ambiental. Que tal aprender sobre os
diferentes tipos de hidrocarbonetos e a aplicação industrial que
possuem? Você entenderá a importância das propriedades físico-
químicas destes compostos e a sua relação com a toxicidade. Vamos
lá?

138 U3 - Tipos de Toxicologia


Não pode faltar

Os hidrocarbonetos são compostos orgânicos formados


exclusivamente por átomos de carbono e hidrogênio, sendo
divididos entre hidrocarbonetos com cadeias abertas (alifáticos)
e fechadas (alicíclicos e aromáticos), e subdivididos entre cadeias
saturadas (alcanos, contendo apenas ligações covalentes simples)
e insaturadas (alcenos e alcinos, contendo ligações duplas e triplas,
respectivamente). Os hidrocarbonetos aromáticos são formados
por anéis benzênicos, e cada anel benzênico (ou anel aromático) é
formado por seis átomos de carbono que apresentam ressonância
entre si, ou seja, uma nuvem eletrônica é uniformemente distribuída
pela molécula. Na presença de dois ou mais anéis fundidos, são
chamados de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) (Figura
3.9). Embora a definição de hidrocarboneto exclua compostos que
contenham heteroátomos, muitas vezes os átomos de carbono
se ligam a átomos de oxigênio, flúor, enxofre, cloro, nitrogênio,
bromo etc. devido a reações que ocorrem no ambiente ou mesmo
durante o uso em processos industriais, formando os derivados de
hidrocarbonetos.

Figura 3.9 | Classificação dos hidrocarbonetos

Fonte: elaborada pelo autor.

U3 - Tipos de Toxicologia 139


As propriedades físico-químicas destas substâncias são
fundamentais para a avaliação da toxicidade aos organismos expostos
no ambiente, variando de acordo com a estrutura química de cada
hidrocarboneto. Os principais determinantes de toxicidade dos
hidrocarbonetos e seus derivados são: 1) o número de átomos de
carbono; 2) se as ligações entre os carbonos são saturadas (simples),
duplas ou triplas; 3) se a cadeia de carbonos é aberta, fechada ou
aromática; e 4) se existem heteroátomos ou outros grupos funcionais,
como aldeídos, álcoois ou cetonas. Uma pequena mudança nestes
fatores é capaz de acarretar grandes diferenças na toxicidade.
Em geral, os hidrocarbonetos possuem pontos de fusão e ebulição
elevados e baixa solubilidade em água, a qual facilita a absorção pela
via dérmica (lipofilicidade elevada) e adsorção em sedimentos e
matérias orgânicas. Os hidrocarbonetos de baixo peso molecular são
gases, e, à medida que aumenta o número de átomos de carbono,
os pontos de fusão e ebulição aumentam, e eles passam a formar
líquidos cada vez mais viscosos, até chegar aos hidrocarbonetos
sólidos. Com o aumento do peso molecular, a lipofilicidade também
aumenta, enquanto a volatilidade diminui.

Assimile
As propriedades físico-químicas dos hidrocarbonetos são essenciais
no estudo da toxicologia de cada composto. Os efeitos tóxicos variam
conforme o tipo de cadeia e tamanho da molécula, além da presença
de ligações covalentes simples, duplas ou triplas. A presença de
heteroátomos, como cloro, enxofre nitrogênio, oxigênio, dentre outros,
também altera a toxicidade.

Diversos hidrocarbonetos e seus derivados são conhecidos pelo


potencial mutagênico e carcinogênico que apresentam, tendo grande
importância para a toxicologia ambiental (Quadro 3.2). As fontes de
emissão são diversas, sendo naturais, como as atividades vulcânicas
e queimadas de florestas, ou antropogênicas, como: derramamento
ou combustão do petróleo e seus derivados, em processos industriais
e seus resíduos e queima do cigarro. As fontes fixas e móveis estão
dentre as principais emissoras de hidrocarbonetos, em especial dos
HPAs, por exemplo, pela combustão incompleta de combustíveis

140 U3 - Tipos de Toxicologia


orgânicos. Particularmente sobre o setor industrial, o uso de solventes
para dissolver, diluir ou dispersar materiais insolúveis em água
contribui de forma significativa para a poluição ambiental. A maior
parte dos solventes utilizados são hidrocarbonetos obtidos de refinos
de petróleo, formados muitas vezes por misturas complexas.

Quadro 3.2 | Hidrocarbonetos e seus derivados de importância para a toxicologia


ambiental

Classificação Exemplos Uso industrial Toxicidade


Siderúrgica,
Etileno, acetileno, Neurotóxico,
Alifático calçados,
parafina, hexano asfixiante
combustível
Alimentícia,
Ciclohexano,
plásticos, tintas,
Alicíclico alfa-pireno, Neurotóxico
vernizes, fungicidas,
metilciclohexano
corantes
Petroquímica,
farmacêutica,
HPA, benzeno, siderúrgica, Neurotóxico,
Aromático tolueno, xileno, tinta, verniz, nefrotóxico,
naftaleno calçado, madeira, carcinogênico
agrotóxicos,
combustível
Clorofórmio, Neurotóxico,
Siderúrgica, plástico,
Halogenado dicloretileno, nefrotóxico,
borracha, cosmética
tricloroetileno hepatotóxico
Cosmética, gráfica,
tintas, vernizes,
Metanol, etanol, combustível, Neurotóxico,
Álcool
isopropanol biodiesel hepatotóxico
farmacêutica,
bebidas, plástico
Explosivos,
farmacêutica, Neurotóxico,
Éter Éter etílico
cosmética, tintas, teratogênico
vernizes
Tintas, vernizes,
Éster Acetato de etila alimentícia, Neurotóxico
cosmética
Plástico, borracha,
Metil-etil-cetona,
Cetona farmacêutica, tintas, Neurotóxico
acetona
vernizes, alimentícia

Fonte: elaborado pelo autor.

A contaminação atmosférica ocorre principalmente pela


volatilização dos hidrocarbonetos durante o uso. O vento auxilia na
dispersão destes compostos orgânicos voláteis (COV) por toda a

U3 - Tipos de Toxicologia 141


atmosfera. Eles são encontrados em áreas a milhares de quilômetros
de distância das fontes de emissão. Por outro lado, a contaminação
dos recursos hídricos ocorre principalmente pelo derramamento de
petróleo ou por qualquer outro tipo de disposição de hidrocarbonetos
sobre o solo e/ou águas superficiais.
A seguir, abordaremos as características de alguns dos principais
hidrocarbonetos largamente utilizados como solventes em
processos industriais: benzeno, tolueno, xileno e HPA. Eles são
facilmente absorvidos pela via inalatória, em especial devido às
emissões pelos escapamentos de automóveis e fumaça de cigarro,
ou pela manipulação de produtos que os contenha. A pele também
é uma importante via de absorção devido à lipossolubilidade elevada
dos solventes. Apesar das vias de absorção serem semelhantes,
após a distribuição pelos tecidos do organismo exposto, estes
hidrocarbonetos induzem diferentes efeitos tóxicos.
Benzeno: é um hidrocarboneto aromático (Figura 3.10) líquido à
temperatura ambiente, incolor, lipossolúvel, volátil, inflamável, com
odor característico. Ele é encontrado no cigarro, petróleo, gás natural
e carvão, além de ser utilizado como solvente em indústrias de ferro
e aço, plásticos, borracha, laboratórios de pesquisa, e em diversos
outros produtos químicos, além de servir como antidetonante
na gasolina livre de chumbo. Os efeitos tóxicos agudos incluem
irritações nas mucosas, edema pulmonar e efeitos neurotóxicos,
como sonolência, tonturas, cefaleia, náuseas, tremores e convulsões.
A exposição crônica ao benzeno induz à toxicidade hematopoiética,
causando uma depressão da medula óssea, ou seja, redução dos
componentes sanguíneos, como hemácias, leucócitos e plaquetas,
um efeito muitas vezes fatal. Vários tipos de leucemia são relacionadas
à exposição ao benzeno.

Figura 3.10 | Estrutura química do benzeno

Fonte: elaborada pelo autor.

142 U3 - Tipos de Toxicologia


Reflita
Devido aos efeitos neurotóxicos do chumbo, o uso deste metal em
combustíveis foi proibido em diversos países, incluindo o Brasil. Após a
proibição, o chumbo foi substituído pelo benzeno como antidetonante
em gasolinas. Quais as vantagens e desvantagens da substituição do
chumbo pelo benzeno em gasolinas?

Tolueno: é um hidrocarboneto aromático (Figura 3.11) líquido à


temperatura ambiente, incolor, lipossolúvel, inflamável, com odor
característico. Ele é encontrado no alcatrão, carvão e petróleo, sendo
utilizado na produção de corantes, detergentes, polímeros como o
nylon, plásticos, garrafas, produtos farmacêuticos, tintas, esmaltes
de unhas e na síntese de produtos químicos orgânicos, como em
misturas de benzeno e gasolina, além de sua aplicação como solvente
em processos industriais de borrachas, tintas, revestimentos e óleos. A
toxicidade aguda é semelhante à do benzeno. Já a exposição crônica
induz efeitos neurotóxicos, como sonolência, tremores, movimentos
involuntários dos olhos, atrofia cerebral e distúrbios na fala, audição
e visão.

Figura 3.11 | Estrutura química do tolueno

Fonte: elaborada pelo autor.

Xileno: é um hidrocarboneto aromático também conhecido por


alquilbenzeno (Figura 3.12), líquido à temperatura ambiente, incolor,
inflamável, volátil e de odor adocicado. Ele é encontrado no petróleo e
carvão, sendo utilizado em produtos de limpezas, em combustíveis de
aviões e na gasolina. Como solvente, o xileno é utilizado em indústrias
de tintas, vernizes, revestimentos, borrachas e couros. Os isômeros do
xileno são utilizados na fabricação de corantes, drogas e agrotóxicos.

U3 - Tipos de Toxicologia 143


Os efeitos tóxicos agudos incluem irritações na pele, olhos, nariz e
garganta, problemas respiratórios, dificuldades de memória, além de
efeitos hepatotóxicos e nefrotóxicos. Em exposições crônicas, pode
causar neurotoxicidade e até mesmo a morte.

Figura 3.12 | Estrutura química do xileno

Fonte: elaborada pelo autor.

HPA: é constituído por um grupo de compostos formados por


dois ou mais anéis benzênicos fundidos, sendo que o benzopireno e
seus derivados são os mais estudados (Figura 3.13). As propriedades
físico-químicas dos HPAs variam conforme o número de anéis do
composto. Com o aumento do número de anéis, a lipossolubilidade
aumenta, enquanto a volatilidade diminui. As principais fontes de HPA
são a produção de carvão, refinamento de petróleo, incineração de
resíduos industriais e domésticos, queima completa e incompleta de
combustíveis fósseis, síntese de benzeno, tolueno e outros solventes
orgânicos, incêndios e fumaças de cigarro. Quando absorvidos pela
via inalatória, os HPAs são rapidamente metabolizados e eliminados
pelo organismo, havendo baixa bioacumulação. O benzopireno,
por exemplo, é eliminado em uma hora. Contudo, se os HPAs estão
associados a materiais particulados, a eliminação pode demorar
semanas. No ambiente, são considerados poluentes orgânicos
persistentes (POPs), e muitos deles são carcinogênicos e potenciais
mutagênicos.

Figura 3.13 | Estrutura química do benzopireno

Fonte: elaborada pelo autor.

144 U3 - Tipos de Toxicologia


Exemplificando
Todos os HPA são sólidos à temperatura ambiente devido ao ponto de
fusão mais elevado. Porém, diversos deles sofrem sublimação, ou seja,
passam do estado sólido diretamente para o gasoso, como o naftaleno.

Além das fontes fixas e móveis de emissão de hidrocarbonetos,


a poluição é acentuada pelos acidentes ambientais. No Brasil, os
desastres com derramamentos de petróleo são vários. Em 2011, a
petroleira Chevron foi responsável por uma mancha de petróleo de
162 km2 na Bacia de Campos (RJ), e este não foi o maior episódio
de derramamento. A Petrobrás já foi responsável pelo vazamento
de cerca de 1,3 milhão de litros de óleo cru na Baía de Guanabara
(RJ) e por cerca de quatro milhões de litros de petróleo lançados na
Bacia do Rio Iguaçu (PR) em 2000, dentre diversos outros acidentes
(PORTAL EBC, 2015).
Segundo a Resolução CONAMA 452, de 2 de julho de 2012, os
solventes orgânicos e halogenados são enquadrados como resíduos
perigosos de classe I. A disposição final de resíduos contendo estes
solventes deve atender às condições, parâmetros, padrões e diretrizes
para a gestão do lançamento de efluentes em corpos de água
receptores, como estabelecido pela Resolução CONAMA 430, de 13
de maio de 2011 (Quadro 3.3).

Quadro 3.3 | Padrões de lançamento de efluentes

Parâmetros orgânicos Valores máximos (mg/L)

Benzeno 1,2

Etilbenzeno 0,84

Clorofórmio 1,0

Tricloroeteno 1,0

Tolueno 1,2

Xileno 1,6

Fonte: Conama (2011).

U3 - Tipos de Toxicologia 145


Pesquise mais
Além da poluição hídrica por derramamentos de petróleo, episódios
de acidentes por incêndios no Brasil também aumentaram a poluição
atmosférica por hidrocarbonetos, como o incêndio ocorrido em
2015 no Terminal Alemoa, em Santos (SP), envolvendo tanques de
gasolina e etanol. Para saber mais, acesse o material Carta de Santos
– 2015, disponível em: <http://www.abtl.org.br/wp-content/themes/
abtl/arquivos/GT%20-%20INC%C3%8ANDIO%20ALEMOA%20-%20
RELAT%C3%93RIO%20FINAL%20-%20Vers%C3%A3o%20final%20
19.07.16.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2017.

E não paramos os estudos sobre os agentes tóxicos por aqui. Ainda


existe outro grupo de poluentes potencialmente tóxicos para a saúde
humana e ambiental: os defensivos agrícolas. Você sabe o quanto
estamos expostos a eles e quais as consequências desta exposição?
Que tal aprender um pouco mais sobre a toxicologia destes produtos
químicos? Na próxima seção abordaremos as toxicidades e fontes de
poluição dos principais defensivos agrícolas utilizados no Brasil. Nos
vemos lá!

Sem medo de errar

Caro aluno,
Agora voltaremos ao trabalho na empresa de consultoria. Lembra-
se de que o prefeito de Barreiras (BA) solicitou que você e seus colegas
consultores avaliassem a fábrica de fertilizantes e agrotóxicos? Esta
fábrica utiliza alguns solventes orgânicos, como o xileno e o tolueno
na produção dos agrotóxicos, além do tricloroetileno e do hexano
para limpeza das maquinarias. Decorrente disso, o prefeito incluiu a
análise dos solventes no relatório técnico. Algumas questões foram
levantadas: como os trabalhadores são expostos aos solventes? Que
toxicidade esses compostos possuem? Os trabalhadores devem se
preocupar com a exposição diária?
É importante lembrar que a principal via de exposição aos
solventes é a inalatória. Devido à volatilidade dos solventes orgânicos

146 U3 - Tipos de Toxicologia


de hidrocarbonetos, ao respirar as suas partículas de vapores, eles
penetram facilmente pelos pulmões e são distribuídos pelos tecidos.
Além disso, respingos de solventes poderiam entrar em contato com a
pele, penetrando-a facilmente devido à sua lipossolubilidade elevada.
Em geral, os hidrocarbonetos apresentam efeitos neurotóxicos,
mas vale ressaltar que a toxicidade dos hidrocarbonetos varia de
acordo com a estrutura química e com as propriedades físico-
químicas da molécula, portanto observe sempre qual é o solvente em
questão. Especificamente sobre os solventes utilizados pela fábrica,
o xileno e tolueno são hidrocarbonetos aromáticos neurotóxicos,
atuando sobre o sistema nervoso e induzindo tonturas, cefaleia e
náuseas. Em casos de exposições a longo prazo, o tolueno também
provoca sonolência, tremores, movimentos involuntários dos olhos,
atrofia cerebral e distúrbios na fala, audição e visão. O xileno, além
de ser um agente neurotóxico, também atua como hepatotóxico
e nefrotóxico, atingindo fígado e rins. Por outro lado, os solventes
tricloroetileno e hexano são hidrocarbonetos halogenado e alifático
do tipo alcano, respectivamente. Também são neurotóxicos e
irritantes para as mucosas e pele, e provocam náuseas e tonturas,
além dos efeitos tóxicos particulares de cada um.
Levando em conta a manipulação diária dos solventes orgânicos
na fábrica, a intoxicação pode ser gradativa devido à exposição
crônica. Reforce sobre a importância dos equipamentos de proteção
individual (EPI) e coletiva (EPC). O uso de luvas nitrílicas e máscaras,
por exemplo, diminuem a exposição, e locais arejados facilitam a
dispersão dos vapores de solventes.

Avançando na prática

Postos de gasolina

Descrição da situação-problema
Caro aluno,
A preocupação com contaminações por solventes orgânicos
tem aumentado em todo o país. A seguir, leia o trecho do artigo
Contaminação do subsolo por hidrocarbonetos do petróleo,
extraído da revista Ciências Exatas e Tecnológicas:

U3 - Tipos de Toxicologia 147


Com o aumento da frota de veículos no país, cresce
a demanda por combustível, assim se elevando o
número de postos de gasolina no território nacional.
Porém, a partir do crescimento desenfreado, aliado à
falta de manutenção e desgaste dos armazenamentos
e dutos dos postos, podem acarretar em problemas
muito graves ao meio ambiente e ao ser humano. Um
desses é o vazamento de combustíveis dos tanques de
armazenamento, que geralmente se localizam no subsolo
dos postos. Normalmente, estes vazamentos são de uma
escala mínima, difíceis de notar, porém a situação vai se
agravando com o passar do tempo, e geralmente quando
é notada, uma grande parte de combustível já contaminou
o subsolo e as águas subterrâneas. Uma das principais
preocupações em relação a esta problemática é que haja
a contaminação de lençóis freáticos e aquíferos, que são
utilizados para consumo humano. Os contaminantes
denominados de BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno
e os xilenos) encontrados na gasolina são prejudiciais à
saúde humana, alguns até cancerígenos. (MACIEL et al.,
2015).

Agora, imagine que um posto de gasolina solicitou a sua


consultoria como engenheiro ambiental. Este posto apresenta
problemas de vazamento associados à corrosão no revestimento
dos tanques devido à falta de manutenção. Sabendo que os
solventes BTEX são potencialmente tóxicos, quais implicações um
vazamento de gasolina traria ao local? Estes vazamentos poderiam
causar impactos globais?

Resolução da situação-problema
Antes de iniciar os processos de remediação do local
contaminado com gasolina, é necessário que você sugira um
estudo detalhado da área para identificar os produtos presentes
no solo e compreender os danos causados, que podem ir além
de impactos locais. Por exemplo, além da saturação do solo local
com os BTEX adsorvidos às partículas, os solventes podem atingir
as águas subterrâneas, uma das principais preocupações quando
os aquíferos são utilizados para o abastecimento de consumo
humano. Verifique o índice pluviométrico do local, uma vez que

148 U3 - Tipos de Toxicologia


altos índices pluviométricos também contribuem para a lixiviação
e distribuição dos BTEX pelo ambiente. Vale lembrar que, devido à
alta volatilidade dos solventes, também pode haver a contaminação
do ar, o que implica na necessidade de estudos específicos.
Particularmente sobre a contaminação das águas subterrâneas,
lembre-se de que a mobilidade dos solventes permite que os BTEX
sejam transportados para longas distâncias da fonte poluidora,
especialmente em direção às áreas onde ocorre a retirada de água
devido à alteração do fluxo de água pelo bombeamento. Caso
os BTEX sejam detectados nos aquíferos, alerte que a população
que é abastecida por água contaminada corre um alto risco de
desenvolver doenças no sistema nervoso, na medula óssea ou
câncer, como a leucemia, por exposição crônica.

Faça valer a pena

1. As propriedades físico-químicas dos hidrocarbonetos são fundamentais


para a avaliação da toxicidade aos organismos expostos no ambiente, e
variam de acordo com a estrutura química de cada molécula.
Assinale a alternativa que expressa corretamente a relação entre o número
de carbonos e o estado físico dos hidrocarbonetos.
a) Quanto maior a cadeia carbônica, mais líquido é o hidrocarboneto.
b) Quanto menos átomos de carbono, mais viscoso é o hidrocarboneto.
c) Quanto maior a cadeia carbônica, mais sólido é o hidrocarboneto.
d) Cadeias carbônicas longas facilitam a volatilização dos hidrocarbonetos.
e) Com o aumento da cadeia carbônica, a hidrossolubilidade aumenta.

2. Uma determinada indústria deixa vazar uma grande quantidade de


resíduos de benzeno em um rio próximo ao local, sendo condenada por
crime ambiental por ter negligenciado a disposição final do solvente, com
padrão máximo de lançamento de 1,2 mg/L em corpos de água receptores
(Resolução CONAMA 430/2011).

U3 - Tipos de Toxicologia 149


De acordo com a Resolução CONAMA 23/1996, os resíduos contendo
solventes orgânicos, como o benzeno, são classificados como:
a) Resíduos perigosos – classe I.
b) Resíduos não inertes - classe II.
c) Resíduos inertes - classe III.
d) Resíduos reativos.
e) Outros resíduos.

3. Considere as seguintes afirmações:


I. Os hidrocarbonetos aromáticos são formados por pelo menos um anel
benzênico, ou seja, uma cadeia fechada contendo seis átomos de carbono
ligados a seis átomos de hidrogênio.
II. O benzeno é um hidrocarboneto aromático neurotóxico, depressor do
sistema hematopoiético e carcinogênico.
III. O benzopireno é um hidrocarboneto policíclico aromático (HPA)
formado por dois anéis benzênicos fundidos, e possui ação carcinogênica.
Considere as opções a seguir e assinale a alternativa que contém as
afirmações corretas:
a) Somente I.
b) Somente I e II.
c) Somente II e III.
d) Somente I e III.
e) Somente III.

150 U3 - Tipos de Toxicologia


Seção 3.3

Toxicologia dos defensivos agrícolas

Diálogo aberto

Caro aluno,
Nesta seção nós abordaremos a classe dos agrotóxicos,
substâncias com elevada aplicabilidade em agriculturas e jardins,
em áreas urbanas, na saúde pública, dentre outras utilidades. Desde
2008, o Brasil ocupa a posição de maior consumidor de agrotóxicos
do mundo (ANVISA, 2012), o que vem ao encontro da preocupação
crescente relativa aos seus potenciais riscos à saúde humana e
ambiental.
Para finalizarmos mais esta etapa do seu trabalho na empresa
de consultoria, lembra-se da fábrica de fertilizantes e agrotóxicos na
área de estudo em Barreiras (BA)? O prefeito da cidade solicitou que
você e seus colegas consultores analisassem o herbicida à base de
glifosato, encontrado em amostras de água e solo locais. Sabe-se que
o glifosato atua sobre uma enzima produzida apenas pelas plantas,
e não por animais, o que o torna altamente eficiente e, por isso, é
comercializado em mais de 160 países. Entretanto, diversas notícias
têm relacionado este composto a problemas para a saúde ambiental e
humana. Como explicar ao prefeito essas informações contraditórias?
Pode-se afirmar que as populações da área em estudo expostas a
este herbicida estão livres de efeitos adversos? Quais recomendações
que poderiam ser sugeridas à indústria para que sejam diminuídos os
riscos de contaminação?
Estas e outras questões sobre os agrotóxicos serão discutidas
nesta seção. Você entenderá os conceitos e os principais usos dos
agrotóxicos, e quais os riscos que eles trazem à saúde das populações
expostas, bem como as medidas legais para garantir a segurança
alimentar no Brasil. Vamos lá?

U3 - Tipos de Toxicologia 151


Não pode faltar
O termo agrotóxico passou a ser utilizado no Brasil em substituição
ao termo defensivo agrícola, hoje obsoleto por não evidenciar a
toxicidade destes compostos para a saúde humana e ambiental. De
acordo com a Lei Federal 7.802, de 11 de julho de 1989, agrotóxicos
e afins são definidos como:

a) os produtos e os agentes de processos físicos,


químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores
de produção, no armazenamento e beneficiamento
de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção
de florestas, nativas ou implantadas, e de outros
ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos
e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da
flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa
de seres vivos considerados nocivos;
b) substâncias e produtos, empregados como
desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores
de crescimento. Em síntese, podemos considerar que os
agrotóxicos são destinados à prevenção, destruição ou
controle de qualquer ser vivo nocivo que cause prejuízos
aos produtos agrícolas e outros ecossistemas, assim
como para ambientes urbanos. (BRASIL, 1989).

Assimile
Outro termo bastante utilizado para se referir aos agrotóxicos é o
praguicida, devido à denominação de “pragas” aos seres vivos nocivos,
tais como insetos, larvas, fungos, carrapatos e algumas vegetações,
como as ervas daninhas.

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o


Observatório da Indústria dos Agrotóxicos da Universidade Federal do
Paraná, dados divulgados em abril de 2012 mostraram que em dez
anos o mercado mundial de agrotóxicos cresceu 93%, enquanto o
mercado brasileiro cresceu 190%, o que o fez assumir o posto de
maior mercado mundial de agrotóxicos (ANVISA, 2012). Em 2014,
foram comercializados 508,556.84 toneladas de agrotóxicos no

152 U3 - Tipos de Toxicologia


Brasil (Figura 3.14), o que movimentou bilhões de dólares no mercado
nacional. Os herbicidas representaram 58% do total de agrotóxicos
comercializados; seguido dos inseticidas, com 12,3%; fungicidas, com
10,6%; e as demais classes, com 19,1% (IBAMA, 2016).
Figura 3.14 | Consumo de agrotóxicos e afins no Brasil entre os anos de 2000 a
2014
600
1.000 toneladas de ingrediente ativo

500

400

300

200

100

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Fonte: <http://ibama.gov.br/phocadownload/qualidadeambiental/relatorios/2014/grafico_historico_
comercializacao_2000_2014.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2017.

A maior utilização dos agrotóxicos é na agricultura. Entretanto,


estima-se que menos de 0,1% dos agrotóxicos aplicados em culturas
em todo o mundo atinge os alvos específicos, deixando uma
grande quantidade de resíduos (99,9%) livres para se moverem nos
diferentes compartimentos do ambiente (PIMENTEL, 1995). Além da
contaminação do solo onde os agrotóxicos são largamente aplicados
e dos alimentos provindos de plantações, o ar também é contaminado
pela evaporação das gotas durante a aspersão dos produtos, a
qual resulta na formação de pequenas partículas carregadas pelas
correntes de ar por grandes distâncias. A água também é contaminada
por aplicações excessivas, por processos de lixiviação, derramamento
acidental de formulações ou na aplicação em locais próximos a rios ou
lagoas. É também comum o uso de agrotóxicos no armazenamento
de grãos e sementes, no tratamento de madeira, na produção de
flores, na pecuária, no combate a parasitas no homem, como piolhos
e ácaros, e na saúde pública para o controle de vetores. A dedetização
de residências para o controle de vetores transmissores de doenças,
tal como para o controle do mosquito Aedes aegypti e suas larvas,
aumenta ainda mais a exposição dos moradores. Dado isso, as vias
de exposição podem ser inalatórias, gastrointestinais (por alimentos
contendo resíduos de agrotóxicos) e dérmicas, e os efeitos tóxicos
alteram de acordo com a via a qual o organismo foi exposto.

U3 - Tipos de Toxicologia 153


Para facilitar os estudos sobre os agrotóxicos foram criadas
classificações de acordo com os organismos alvos de ação (inseticida,
fungicida, herbicida, raticida etc.) e o grupo químico (organofosforado,
organoclorado, triazois, glicinas substituídas etc.) (Figura 3.15).
Entretanto, apesar desta classificação, os agrotóxicos não são
altamente seletivos e causam efeitos tóxicos para outros organismos
não-alvos expostos. Um inseticida, por exemplo, pode induzir danos
aos insetos, aves e mamíferos. Desta forma, os agrotóxicos estão
entre as substâncias químicas mais estudadas em todo o mundo para
esclarecer a toxicidade e a ecotoxicidade. Portanto, eles também
são classificados pela Anvisa de acordo com o perigo para a saúde
humana (extremamente tóxico, altamente tóxico, medianamente
tóxico e pouco tóxico) (Figura 3.16).

Figura 3.15 | Classificação dos agrotóxicos de acordo com o organismo alvo e


classe química

Agrotóxicos

Inseticidas Fungicidas Herbicidas Outros

Organifosforados Ditiocarbamatos Bipiridílicos Raticidas

Carbamatos Triazois Triazinas Acaricidas

Organoclorados Benzimidazoles Glicinas substituídas Nematicidas

Piretroides Fumigantes

Molusquicidas

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 3.16| Classificação dos agrotóxicos de acordo com a periculosidade, e a


respectiva cor apresentada no rótulo e bula do produto

Fonte: Anvisa (2011).

A seguir, abordaremos as principais classes de agrotóxicos utilizados


no Brasil de grande importância para a toxicologia ambiental, e alguns
de seus principais grupos químicos.

154 U3 - Tipos de Toxicologia


Inseticidas: possuem ação tóxica contra insetos. Dentro da
classe inseticidas também existem os larvicidas, específicos para
as fases larvais dos insetos. Esta classe engloba quatro principais
grupos químicos: organoclorados, organofosforados, carbamatos e
piretroides.
Os organoclorados possuem alta eficiência como inseticidas
devido às características físico-químicas, tais como alta estabilidade
e lipossolubilidade, baixa volatilidade e biodegradação. Todavia,
estas mesmas características os tornam altamente tóxicos. Hoje,
este grupo de inseticidas está incluído na relação dos poluentes
orgânicos persistentes (POPs), banidos devido à longa persistência
no ambiente e alta acumulação na cadeia alimentar. Eles possuem
ação neurotóxica pela interferência nos canais de sódio das células
nervosas, bloqueando sua abertura. A toxicidade aguda é moderada,
com aumento da agitação motora, tremores, hipersensibilidade à
luz, toque e sons e convulsões em casos de intoxicações graves. Já
a exposição crônica está associada a efeitos adversos no fígado, no
sistema endócrino e reprodutor.

Exemplificando
O DDT é um inseticida clássico do grupo dos organoclorados. Ele
foi descoberto em 1939 pelo suíço Paul Müller, o que lhe rendeu o
Prêmio Nobel de Medicina pelo combate à malária, e teve seu auge
na década de 1940 com sua aplicação na agricultura. Em 1962, com o
lançamento do livro Primavera Silenciosa de Rachel Carson, iniciou-se
uma preocupação contra o uso do DDT e, na década de 1970, ele foi
banido de vários países, tendo sido proibido no Brasil em 2009 pela Lei
nº. 11.936, de 14 de maio de 2009.

Os organofosforados e carbamatos possuem ação tóxica


semelhante, apesar de pertencerem a diferentes grupos químicos:
derivados de ésteres do ácido fosfórico (por exemplo: diclorvós,
malation, paration e temefós) e derivados de ésteres do ácido
carbâmico (por exemplo: carbaril e aldicarb), respectivamente.
Ambos possuem baixa persistência no ambiente, ganhando espaço
em substituição aos organoclorados. Entretanto, são altamente
neurotóxicos e atuam inibindo a enzima acetilcolinesterase (AChE),

U3 - Tipos de Toxicologia 155


responsável pela hidrólise do neurotransmissor acetilcolina (ACh).
Com a inibição da AChE, ocorre um acúmulo de ACh nas terminações
nervosas, induzindo problemas neuromotores. Os sintomas de
intoxicação aguda são sudorese, salivação, diarreias, espasmos
musculares e insuficiência respiratória. A exposição crônica vem
sendo associada a anomalias neurocomportamentais, sobretudo no
que se refere ao sistema cognitivo.

Assimile
A quantificação da enzima AChE em organismos não-alvos é uma
ferramenta importante para o monitoramento de compostos
anticolinesterásicos no ambiente.

Os piretroides são obtidos dos extratos de flores do crisântemo


(Chrysanthemum cinerariaefolium), mas hoje são produzidos em
laboratório de forma sintética, com melhoramentos nas características
físico-químicas, que aumentam a eficácia do inseticida. Eles são
neurotóxicos pela interferência nos canais de sódio das células
nervosas, causando tremores, salivação, hipersensibilidade e paralisia
em exposições agudas. Ao contrário dos outros grupos, eles não
estão associados a efeitos crônicos adversos. Deste contexto surgem
vários inseticidas piretroides para uso doméstico e agrícola, como
medicamentos contra escabiose e piolhos, além de repelentes.
Fungicidas: possuem ação tóxica contra fungos. Esta classe
apresenta uma série de estruturas químicas, dentre elas os
ditiocarbamatos, triazois e benzimidazoles. Em geral, apresentam
baixa toxicidade aguda para mamíferos.
Os ditiocarbamatos são estruturas associadas a cátions metálicos,
como, por exemplo, o maneb associado ao manganês, o zineb
associado ao zinco, e o mancozeb associado ao manganês e zinco.
Apesar da baixa toxicidade para mamíferos, após a biotransformação
destes compostos, seus metabólitos chamados de etilenotioureia
induzem efeitos tóxicos na tireoide, os quais podem progredir para
carcinomas.
Os triazois são de baixa toxicidade, entretanto as formulações
contendo estes compostos, tais como o tetraconazole, difenoconazole

156 U3 - Tipos de Toxicologia


e tebuconazole, são consideradas extremamente tóxicas para a saúde
humana e ambiental, incluindo muitos microrganismos aquáticos. Em
geral, eles atuam na alteração da membrana plasmática e na parede
celular.
Os benzimidazoles são potenciais carcinogênicos, sendo alguns
produtos proibidos em diversos países. O carbendazim, por exemplo,
é legalizado no Brasil mas, devido à possível atividade carcinogênica,
foi proibido nos Estados Unidos. Segundo a agência norte-americana
Food and Drug Administration (FDA), o consumo deste fungicida está
associado ao aumento de tumores hepáticos.
Herbicidas: possuem ação tóxica contra ervas daninhas. Esta
classe é a mais utilizada em todo o mundo. Entre seus produtos,
encontram-se os compostos bipiridílicos, as triazinas e as glicinas
substituídas.
Os compostos bipiridílicos apresentam uma das mais altas
toxicidades desta classe. Eles são herbicidas não seletivos, aplicados
em plantações e no controle de vegetação aquática em represas,
lagos, canais de irrigação, reservatórios etc. O paraquat, por exemplo,
é um bipiridílico que se acumula nos pulmões e rins, e induz edemas,
inflamação e anoxia.
As triazinas são compostos não seletivos altamente persistentes
no ambiente, sendo consideradas importantes poluentes do ambiente
aquático, como a atrazina e a simazina. Alguns estudos associam o
efeito destes compostos ao desenvolvimento de câncer de ovário.
As glicinas substituídas são não seletivas, e compreendem o grupo
amplamente utilizado devido à expansão das culturas transgênicas
e sua tolerância para a aplicação destes compostos, ou seja, uma
plantação transgênica pode ser pulverizada com herbicidas sem que
a cultura morra. O glifosato é o herbicida mais popular deste grupo
e exerce sua toxicidade na biossíntese de aminoácidos de plantas,
fungos e algumas bactérias, através da inibição da enzima EPSPS
(5-enolpiruvilshiquimato-3-fosfato sintase), ausente em vertebrados.
Desta forma, diversos cientistas e agências regulatórias assumem que
o glifosato é seguro para animais, incluindo os humanos. A exposição
ao glifosato é quase inevitável, pois ele está presente na agricultura,
em jardins domésticos e em mercados de plantas. A exposição aguda
provoca sangramentos gastrointestinais, hipotensão, disfunção
pulmonar e renal.

U3 - Tipos de Toxicologia 157


Reflita
Às vezes nos deparamos com dados contraditórios sobre a toxicidade
de substâncias químicas. Segundo a European Chemicals Agency
(ECHA) dos Estados Unidos, o glifosato é tóxico para os olhos e
para os organismos aquáticos. Entretanto, não é classificado como
carcinogênico, apesar de diversas fontes se oporem a estes dados,
dentre elas a World Health Organization (WHO). Apesar das dúvidas, o
glifosato é banido nos Estados Unidos, mas permitido no Brasil. Seria
possível excluir o glifosato dos nossos alimentos no Brasil?

Além das classes abordadas anteriormente, ainda existem outros


grupos: os raticidas (contra ratos e camundongos), acaricidas (contra
ácaros), nematicidas (contra nematódeos), molusquicidas (contra
moluscos) e fumigantes (contra insetos, ácaros, nematoides, sementes
de ervas daninhas, fundos e roedores), geralmente aplicados na forma
de gás ou vapor.

Segurança alimentar
A Anvisa tem a competência de avaliar os agrotóxicos e suas
toxicidades. Os resultados dos estudos toxicológicos são utilizados
para estabelecer a classificação toxicológica dos produtos, e para
calcular os parâmetros de referência aguda pela dose de referência
aguda (DRA) e crônico pela ingestão diária aceitável (IDA) de cada
ingrediente ativo. A Anvisa ainda estabelece o limite máximo de
resíduos (LMR) permitido nas culturas após a aplicação do agrotóxico,
e o intervalo de segurança entre a última aplicação do agrotóxico e a
colheita ou comercialização.
Segundo análises de amostras coletadas entre 2013 e 2015 pelo
Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA)
da Anvisa, 9.680 amostras (80,3%) estavam satisfatórias quanto à
presença de resíduos de agrotóxicos, sendo que em 5.062 (42,0%) não
foram detectados resíduos e 4.618 (38,3%) estavam com os resíduos
abaixo do LMR. As 2.371 amostras consideradas insatisfatórias (19,7%)
excederam o LMR ou utilizaram um agrotóxico sem autorização para
a cultura (Figura 3.17) (ANVISA, 2016). Nestes casos, uma avaliação
específica é efetuada para comparar a exposição esperada com

158 U3 - Tipos de Toxicologia


os parâmetros de referência agudo (DRfA) e crônico (IDA). Caso a
exposição exceda os parâmetros de referência, existe um potencial
risco à saúde do consumidor.

Figura 3.17 | Distribuição de amostras de alimentos analisadas segundo a presença


ou a ausência de resíduos de agrotóxicos e o tipo de irregularidade.

Fonte: Anvisa (2016).

Pesquise mais
Caro aluno, finalizamos esta Unidade 3 com a abordagem sobre os
agrotóxicos. Mas não se esqueça de que existem milhares de agentes
tóxicos espalhados pelo mundo! Lembra-se que estamos diariamente
expostos a estes agentes? O documentário UNSAFE: The Truth Behind
Everyday Chemicals relaciona doenças atuais, como o autismo, a
infertilidade e o câncer com as substâncias químicas a que estamos
expostos diariamente no ar que respiramos, na água que bebemos, nos
alimentos que comemos, em todos os produtos de higiene e cuidados
pessoais, nos móveis, nos brinquedos, nos produtos de agricultura e
jardinagem. Assista ao vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=4VAUh9QtjDE>. Acesso em: 2 ago. 2017.

Sem medo de errar

Caro aluno,
Nesta seção você se familiarizou com os efeitos tóxicos induzidos
pelos agrotóxicos. Vamos retomar o seu trabalho na empresa de
consultoria? Lembra-se de que o prefeito de Barreiras (BA) solicitou

U3 - Tipos de Toxicologia 159


que você e seus colegas consultores analisassem o herbicida à base
de glifosato, encontrado em amostras de água e solo locais? Sabe-
se que o glifosato atua sobre uma enzima produzida apenas pelas
plantas, mas diversas notícias relacionam este composto a problemas
para a saúde ambiental e humana. Como explicar ao prefeito estas
informações contraditórias? Pode-se afirmar que as populações
da área em estudo expostas a este herbicida estão livres de efeitos
adversos? Quais as recomendações que poderiam ser sugeridas a
indústria para que diminua os riscos de contaminação?
As informações toxicológicas sobre o glifosato estão sendo
amplamente estudadas, mas infelizmente ainda sem uma
conclusão definitiva. Estudos apontam que o glifosato tem potencial
carcinogênico para mamíferos, por outro lado, outros estudos não
encontraram uma relação concreta entre o glifosato e o câncer em
humanos, apesar das evidências. Portanto, as populações expostas
ao herbicida podem estar em risco. As medidas preventivas deverão
sempre ser seguidas partindo do pressuposto de que o glifosato possui
potencial carcinogênico, especialmente em relação à exposição
ocupacional, a qual é muito mais elevada que a exposição apenas
por alimentos, por exemplo. (CARNEIRO et al. 2015; CRESSEY, 2015;
ECHA, 2017)
Os equipamentos de proteção individual (EPI) devem ser
utilizados atentamente pelos trabalhadores locais, diminuindo assim
a exposição ao herbicida. Em relação ao ambiente, um estudo
detalhado é necessário para avaliar a mobilidade do glifosato no
solo, verificando a persistência do herbicida no local, a taxa de
degradação e/ou adsorção. Quanto mais adsorvido ao solo, menor
a biodisponibilidade para sofrer processos de lixiviação e atingir águas
subterrâneas e superficiais. A meia-vida dos agrotóxicos e a adsorção
ao solo e aos sedimentos sempre dependem das características do
solo (textura, pH, matéria orgânica etc.). Além disso, um estudo de
monitoramento da contaminação local (solo, água e sedimentos)
auxiliaria no conhecimento do comportamento do herbicida no
ambiente, visando diminuir os riscos à biota e a possível contaminação
de água, ar, solo e alimentos.

160 U3 - Tipos de Toxicologia


Avançando na prática

Embalagens de agrotóxicos

Descrição da situação-problema
Em 2009, o Brasil registrou 11.484 casos de intoxicação por
agrotóxicos, sendo que 2.812 foram por uso doméstico e 5.204
por uso agrícola, e os demais por produtos veterinários e raticidas
(SINITOX, 2009). Levando em conta estes números alarmantes,
um empreendedor da cidade de Porto Nacional (TO) solicitou a
uma empresa de consultoria que analisasse as principais fontes
de contaminação ambiental pelos agrotóxicos. Você, como
consultor ambiental da empresa, fez um levantamento do destino
das embalagens vazias de agrotóxicos, e verificou que muitos
fabricantes não estavam cumprindo a logística reversa, na qual
as embalagens vazias devem ser retornadas até o fabricante (Lei
12.305/2010). Foram encontradas diversas embalagens em um
terreno baldio, sobre o solo sem revestimento. O empreendedor
que o contratou questionou se as águas subterrâneas poderiam
ter sido contaminadas, pois abastecem a cidade e seriam uma
grande fonte de intoxicação por agrotóxicos, e também perguntou
por quanto tempo aquele solo estaria contaminado. Que
procedimentos você deve realizar para esclarecer as dúvidas do
empreendedor?

Resolução da situação-problema
A contaminação de águas subterrâneas pela lixiviação de
agrotóxicos presentes no solo depende das características do
produto em questão. Por exemplo, os organoclorados são
lipossolúveis, o que facilita a adsorção ao solo e diminui a lixiviação
para as águas subterrâneas. Todavia, eles possuem alta estabilidade
e baixa biodegradação, tornando-os muito persistentes no
ambiente. Eventuais episódios naturais, como erosão e chuvas
fortes etc., ou outras atividades antrópicas no local, poderiam
facilitar a redistribuição dos organoclorados. Portanto, deve-
se realizar análises do solo local para verificar quais produtos o
contaminaram e quais são as características físico-químicas de
cada produto, com o propósito de analisar a persistência dos
agrotóxicos no ambiente e sua movimentação nos diferentes
compartimentos ambientais.

U3 - Tipos de Toxicologia 161


Faça valer a pena

1. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atua na avaliação


da segurança de alimentos, a fim de proteger e promover a saúde da
população brasileira. Dentre as orientações fornecidas aos agricultores,
solicitam o atendimento ao intervalo de segurança.

O intervalo de segurança pode ser corretamente definido como:

a) Período de tempo entre a última aplicação do agrotóxico e o reinício das


atividades de colheita ou comercialização.

b) Período de tempo entre a primeira e a última aplicação do agrotóxico.

c) Período de tempo entre a última aplicação do agrotóxico e a inativação


do solo.

d) Período de tempo entre a colheita e o consumo dos alimentos.

e) Período de tempo entre a colheita e a próxima aplicação do agrotóxico


no replantio.

2. Analise as afirmações a seguir:


I. O DDT é um inseticida piretroide, inicialmente obtido dos extratos de
flores do crisântemo (Chrysanthemum cinerariaefolium), mais tarde
produzido sinteticamente em laboratório.

II. No rótulo e bula dos agrotóxicos é obrigatória a apresentação da


classificação segundo a periculosidade do produto.

III. Os agrotóxicos são classificados de acordo com os organismos alvos de


ação e o grupo químico dos compostos, como os herbicidas, contra ervas
daninhas; os inseticidas, contra insetos; e os fungicidas, contra fungos.

Considere as opções e assinale a que contém as afirmações corretas:

a) Somente I.

b) Somente I e II.

c) Somente II.

d) Somente II e III.

e) I, II e III.

162 U3 - Tipos de Toxicologia


3. Leia o texto a seguir:

A partir do ano 2025 metade das crianças nascidas


nos EUA será diagnosticada com autismo, segundo a
especialista Stephanie Seneff, pesquisadora sênior do
Computer Science and Artificial Intelligence Laboratory
mundialmente respeitado, Massachusetts Institute of
Technology (MIT). A Dra Seneff, assim como muitos
outros cientistas, afirma que o autismo não é um distúrbio
neurológico apenas genético – é praticamente certo que
ocorra devido a fatores ambientais. Dois desses fatores
estão relacionados à exposição ao RoundUp (glifosato)
da Monsanto e a um coquetel de metais pesados,
incluindo o alumínio

Fonte: <http://www.eco21.com.br/textos/textos asp?ID=3483>. Acesso em: 2


ago. 2017.
De acordo com o texto, assinale a alternativa correta acerca do glifosato.
a) O glifosato apresenta elevada eficiência na eliminação de ervas daninhas,
atuando na inibição da enzima EPSPS, relacionada com a biossíntese de
aminoácidos em plantas e animais.
b) O glifosato é amplamente utilizado em culturas transgênicas, devido à
tolerância destas plantas à aplicação do herbicida.
c) A exposição ao glifosato pode ser completamente evitada a partir da não
ingestão de alimentos pulverizados com ele.
d) O glifosato não induz efeitos tóxicos em organismos após a exposição
aguda.
e) Segundo a European Chemicals Agency (ECHA) e World Health
Organization (WHO), o glifosato é tóxico para os olhos e para os organismos
aquáticos, o que levou ao seu banimento nos Estados Unidos e Brasil.

U3 - Tipos de Toxicologia 163


Referências
ALVES, V. B. S.; SILVA, J. E.; BERSTEIN, A. Impactos do acidente na Indústria de Papel e
Celulose Cataguases, no Rio Paraíba do Sul. Biblioteca Meio Ambiente, 2013. Disponível
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experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento,
a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção
e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7802.htm>. Acesso em: 2.
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______. Lei Federal nº. 11.936, de 14 de maio de 2009. Proíbe a fabricação, a


importação, a exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso de
diclorodifeniltricloretano (DDT) e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
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Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
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______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº. 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de
lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução No. 357, de 17 de março
de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646>. Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº. 23, de 12 de dezembro de 1996. Dispõe sobre as definições e o tratamento
a ser dado aos resíduos perigosos, conforme as normas adotadas pela Convenção da
Basiléia sobre o controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos perigosos e seu
Depósito. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_
RES_CONS_1996_023.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução No. 235, de 07 de Janeiro de 1998. Altera o anexo 10 da Resolução CONAMA
nº 23, de 12 de dezembro de 1996. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/port/
conama/res/res97/res23597.html>. Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº. 244, de 16 de Outubro de 1998. Exclui item do anexo 10 da Resolução
CONAMA nº 23, de 12 de dezembro de 1996 Disponível em: <http://www.mma.gov.br/
port/conama/legiabre.cfm?codlegi=244>. Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº. 228, de 20 de Agosto de 1997. Dispõe sobre a importação de desperdícios
e resíduos de acumuladores elétricos de chumbo. Disponível em: < http://www.mma.
gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=228>. Acesso em: 2 ago. 2017.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº. 460, de 30 de dezembro de 2013. Altera a Resolução CONAMA No.
420, de 28 de dezembro de 2009, que dispõe sobre critérios e valores orientadores de
qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=702>.
Acesso em: 2 ago. 2017.

U3 - Tipos de Toxicologia 165


______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.
Resolução nº. 420, de 28 de dezembro de 2009. Dispõe sobre critérios e valores
orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e
estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas
substâncias em decorrência de atividades antrópicas. Disponível em: <http://www.mma.
gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=620>. Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº. 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos
de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em: 2
ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº. 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de
lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução No. 357, de 17 de março
de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Disponível em: <http://
www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646>. Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº. 313, de 29 de outubro de 2002. Revoga a Resolução No. 6/88. Dispõe
sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais. Disponível em: <http://www.
mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_2002_313.pdf>. Acesso
em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional Do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 18 de 6 de maio de 1986. Dispõe sobre a criação do Programa de Controle
de Poluição do Ar por veículos Automotores – PROCONVE. Disponível em: <http://www.
mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=41>. Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional Do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 424, de 22 de abril de 2010. Revoga o parágrafo único do art. 16 da
Resolução CONAMA nº 401/2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/
conama/legiabre.cfm?codlegi=629>. Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional Do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução nº 401, de 4 de novembro de 2008. Estabelece os limites máximos de
chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no território nacional
e os critérios e padrões para o seu gerenciamento ambientalmente adequado, e dá
outras providências. Disponível em: < http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.
cfm?codlegi=589> Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA.


Resolução No. 452, de 02 de julho de 2012. Dispõe sobre os procedimentos de controle
da importação de resíduos, conforme as normas adotadas pela Convenção da Basiléia
sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=676>.
Acesso em: 2 ago. 2017.

166 U3 - Tipos de Toxicologia


______. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria nº. 25, de 29 de dezembro de 1994.
Aprova o texto da Norma Regulamentadora nº 9 - Riscos Ambientais e inclui na Norma
Regulamentadora n.º 5, item 5.16, a alínea "o". Disponível em: <http://www.comitepcj.
sp.gov.br/download/Portaria_MS_1469-00.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2017.

______. Secretário de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa nº. 27, de 5 de junho


de 2006. Alterada pela Instrução Normativa No. 7, de 12 de abril de 2016. Dispõe sobre os
fertilizantes, corretivos, inoculantes e biofertilizantes, para serem produzidos, importados
ou comercializados.

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Segurança Química (IPCS). Substâncias químicas perigosas à saúde e ao ambiente. São
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ago. 2017.

168 U3 - Tipos de Toxicologia


Unidade 4

Indicadores e consequências
da toxicologia

Convite ao estudo

Caro aluno,

Na unidade anterior nós focamos os estudos na toxicidade


de diferentes agentes tóxicos: metais, hidrocarbonetos e
agrotóxicos. Vamos avançar nos estudos? Na Unidade 4 você
irá compreender a avaliação da periculosidade ou da toxicidade
de uma substância, determinada para assegurar a segurança
química. Uma análise de risco toxicológico é uma ferramenta
fundamental para verificar o real risco que uma substância
química representa para o ambiente em questão.

Vamos retomar seu trabalho na empresa de consultoria


ambiental? Na última etapa desta jornada, o prefeito de Barreiras
(BA) solicitou uma avaliação de risco dos resíduos industriais
levantados na área em estudo até o momento. Ele pretende
solicitar às indústrias locais que se adequem às normas e
resoluções brasileiras para mitigar os efeitos tóxicos de seus
resíduos industriais o mais breve possível. Entretanto, precisa
saber se a área em estudo está realmente em risco. Sendo
assim, alguns conhecimentos sobre as diretrizes que buscam
mitigar os potenciais danos causados por substâncias químicas
são necessários. Agora que você e seus colegas já conhecem
melhor o cenário em estudo, quais estratégias devem usar para
identificar os problemas toxicológicos do ambiente? E como
escolher os melhores testes e indicadores de qualidade?

Ao final desta unidade, você deverá elaborar a avaliação


de risco dos resíduos industriais para o prefeito de Barreiras,
propondo adequações às indústrias locais. Para ajudá-lo nesta
caminhada, nós iniciaremos os estudos sobre a segurança
química no Brasil e como ela é realizada. Vamos abordar os
diferentes ensaios ecotoxicológicos necessários para a avaliação
das substâncias químicas, e que permitem monitoramento
ambiental.

Vamos lá?
Seção 4.1
Segurança química

Diálogo aberto
A evolução na produção de substâncias químicas na sociedade
moderna implica na utilização de milhões de substâncias, de origem
natural ou antropogênica, com projeções de que aumentem
exponencialmente ao longo dos anos. Desta forma, a segurança
química tornou-se um conceito global, desenvolvido para assegurar a
proteção da saúde humana e ambiental frente aos riscos decorrentes
das atividades compreendidas no ciclo de vida.
Agora iremos retomar o seu trabalho na empresa de consultoria!
Lembra-se que você e seus colegas de trabalho auxiliaram o prefeito
de Barreiras (BA) a analisar algumas irregularidades da Indústria
de fertilizantes e agrotóxicos? Preocupado com a preservação
do cerrado do local e com a saúde pública da cidade, o prefeito
pretende solicitar com urgência que as indústrias locais se adequem
às legislações ambientais.
Nesta nova etapa da jornada, o prefeito solicitou a você e aos
demais consultores uma avaliação de risco de diversos produtos
químicos, para prevenir ou controlar os problemas ambientais
causados pelas indústrias do local. Ele desconfia que as indústrias
não estejam seguindo as recomendações contidas nos rótulos e nas
fichas de informações de segurança dos produtos químicos (FISPQ)
utilizados. Será que é possível investigar o risco se as recomendações
não são seguidas? Caso seja impossível prevenir uma substância
química de poluir o ambiente, é necessário bani-la?
Para que você possa concluir esta nova tarefa, nesta seção nós
iremos abordar os conceitos de segurança química, incluindo a
classificação de perigos, rotulagem e fichas de dados de segurança,
além de como realizar uma análise de risco com suas etapas de
avaliação, gerenciamento e comunicação de risco. Ao final, você
também entenderá como funciona a segurança química nacional.
Prepare-se e vamos lá!

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 171


Não pode faltar

A segurança química consiste na gestão e na utilização consciente


de agentes químicos a fim de assegurar a proteção à saúde humana
e ambiental. Para isso, ela é regulamentada por dispositivos legais,
instrumentos e mecanismos em busca do equilíbrio entre os
setores econômico, social e ambiental, prevenindo ou minimizando
problemas ao longo do ciclo de vida dos agentes químicos, ou seja,
desde a produção, utilização e transporte até o descarte final.
Diversos países, dentre eles o Brasil, implementaram o Globally
Harmonized System of Classification and Labelling of Chemicals
(GHS, 2011), um sistema internacional de classificação de agentes
químicos criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para
facilitar acordos internacionais e proteger as informações industriais
confidenciais. Neste sentido, as informações dos agentes químicos são
adicionadas em formulários específicos, chamados de Material Safety
Data Sheet (MSDS), de uso internacional, ou Fichas de Informação
de Segurança para Produtos Químicos (FISPQ), de uso nacional. A
FISPQ é um documento normalizado pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT/NBR 14725), seguindo as diretrizes do GHS.
Este sistema envolve os seguintes aspectos: identificação do agente
químico, incluindo suas propriedades físico-químicas e características
toxicológicas, probabilidade de causar impactos à saúde humana e
ambiental, advertências quanto aos potenciais riscos que apresentam
no armazenamento e na manipulação, além das medidas de proteção
e de primeiros socorros em casos de acidentes.
As classes de perigo dos agentes químicos contidos na FISPQ são
divididas em três gêneros:
Perigos físicos: explosivos, gases e aerossóis inflamáveis, gases
e líquidos e sólidos oxidantes, gases sob pressão, líquidos e sólidos
inflamáveis, substâncias auto-reativas, líquidos e sólidos pirofóricos,
substâncias auto-aquecíveis, substâncias que em contato com a água
desprendem gases inflamáveis, peróxidos orgânicos, substâncias
corrosivas aos metais.
Perigos à saúde humana: toxicidade aguda, corrosão e irritação
da pele, lesões oculares graves e irritação ocular, sensibilização
respiratória ou da pele, mutagenicidade em células germinativas,
carcinogenicidade, toxicidade à reprodução e lactação, toxicidade

172 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


sistêmica para certos órgãos-alvo por exposição única ou repetida e
perigo por aspiração.
Perigos ao ambiente: perigo ao ambiente aquático – agudo,
baseado na concentração letal para peixes, crustáceos, algas e
outras plantas; perigo ao ambiente aquático – crônico, baseado
na concentração efetiva aos mesmos organismos, levando-se em
consideração a degradabilidade e a bioacumulação; e perigo à
camada de ozônio.
Os critérios de rotulagem dos agentes químicos são realizados
conforme a classificação definida e possuem pictogramas
padronizados que indicam os perigos no rótulo do produto (Figura
4.1).

Figura 4.1 | Pictogramas de perigo, de acordo com as diretrizes do GHS (2011)

Fonte: <https://tsht.wikispaces.com/3778+-+Agentes+qu%C3%ADmicos+e+biol%C3%B3gicos>. Acesso em: 30 ago.


2017.

Análise de risco toxicológico


Você sabe como as informações contidas na FISPQ são obtidas?
Os agentes tóxicos são submetidos a uma avaliação de risco, sejam
puros ou em misturas, que integra a análise de risco, realizada em
três etapas (Figura 4.2). Quando pensamos em análise de risco,
devemos nos perguntar: qual é o risco associado a um determinado
agente químico? Sabemos que a toxicidade de toda substância é
intrínseca, porém a probabilidade de ocorrência dos efeitos tóxicos

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 173


sob condições específicas de exposição é chamada de risco. Lembre-
se que a exposição pode ocorrer por doses agudas ou crônicas e por
diferentes vias: inalatória, dérmica ou gastrointestinal. Enquanto alguns
agentes químicos apresentam maior risco por exposição crônica,
como aqueles potencialmente carcinogênicos, outros oferecem
risco durante a exposição aguda, como alguns agentes neurotóxicos.

Figura 4.2 | Etapas da análise de risco

Fonte: elaborada pela autora.

Pesquise mais
A análise de risco também pode ser aplicada em atividades industriais
para a determinação do risco ocupacional. Para saber mais, acesse
a Norma Técnica P4.261/2011 da CETESB: Risco de Acidente de
Origem Tecnológica - Método para decisão e termos de referência.
Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br/wp-content/uploads/
sites/11/2013/11/P4261-revisada.pdf>. Acesso em: 30 ago. 2017.

A avaliação de risco é a primeira etapa da análise de risco, e


visa a identificar e caracterizar e quantificar o risco envolvido
na utilização de agentes químicos. O processo de avaliação de
risco é dividido em quatro fases: identificação do dano ou perigo,
caracterização da relação dose-resposta, avaliação da exposição
e caracterização do risco. Na identificação do dano ou perigo, o
agente químico é submetido a diversos testes que visam a identificar
a sua toxicidade inerente a partir de métodos experimentais in vitro
com o principal propósito de triagem, em animais e/ou estudos
epidemiológicos para reduzir a incerteza de extrapolações, e pela

174 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


relação entre a estrutura química e a atividade biológica do agente
químico (Quantitative Structure-Activity Relationship – QSAR), a qual
envolve modelos matemáticos para prever os efeitos tóxicos de
acordo com a estrutura química e a presença de grupos funcionais
específicos, evitando o uso de animais em experimentos.
Após a identificação do perigo, a caracterização da relação dose-
resposta quantifica a relação entre a exposição e o efeito adverso,
também realizado em testes in vitro e em animais de laboratório
ou estudos epidemiológicos. Nesta etapa, são calculadas as doses
letais médias (DL50), as concentrações letais médias (CL50) e as
concentrações efetivas médias (CE50), que permitem a classificação
do agente tóxico quanto ao perigo (vide Tabela 1.2 - Unidade 1,
Seção 1.2), além dos níveis seguros de exposição baseados no
CENO (Concentração de Efeito Não Observado), ou seja, na maior
concentração testada em que não houve indução de efeitos adversos,
e no CEO (Concentração de Efeito Observado), ou seja, na menor
concentração testada em que houve indução de efeitos adversos
(Figura 4.3). Os testes devem ser realizados em espécies muito
sensíveis, de acordo com os métodos citados na ABNT NBR 14725,
conforme as diretrizes do GHS e OECD (Organisation for Economic
Co-operation and Development).

Figura 4.3 | Curva dose-resposta e estimativa dos valores de RfD, CL50, CENO e
CEO a partir de experimentos de mortalidade em testes in vitro ou em animais em
laboratório

Fonte: elaborada pela autora.

A dose de referência (RfD) e ingestão diária aceitável (IDA) são


doses diárias de agentes químicos aceitáveis para humanos, em mg/
kg/dia, estabelecidos por órgãos reguladores do país para efeito de

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 175


comparação com valores de exposição encontrados no ambiente. A
RfD ou IDA é calculada dividindo-se o CENO por fatores de incerteza
ou segurança (FS), e demonstra a dose a que a população pode estar
exposta ou pode ingerir durante toda a vida sem que haja provável
risco de aparecimento de efeito nocivo. O fator 100 é normalmente
utilizado, assumindo que o humano pode ser dez vezes mais sensível
que o animal testado, e que alguns indivíduos podem ser dez vezes
mais sensíveis que a média da população. Quando se utiliza o valor do
CEO no cálculo, deve-se acrescentar mais um FS 10. Outros fatores
de segurança podem ser acrescentados dependendo de cada caso
analisado, como a extrapolação de estudos realizados com exposição
não-crônica para exposição crônica, ou de exposição em animais de
laboratório para humanos.

CENO
RfD ou IDA =
FS1 ⋅ FS 2 ⋅ …⋅ FS n

Entretanto, para substâncias carcinogênicas e genotóxicas que


interagem com o DNA, não existe um limiar de dose segura de
exposição, ou seja, a exposição a uma única molécula pode levar
a uma alteração genética e iniciar todo o processo. Para essas
substâncias, adota-se a medida de números de câncer em um milhão
de indivíduos expostos, calculado pela dose de exposição multiplicada
pelo potencial carcinogênico (dose que induz um câncer em um
milhão de indivíduos).
Quadro 4.1 | Classificação de carcinógenos para humanos

Grupo Classificação
Grupo 1 Carcinogênico
Grupo 2A Provavelmente carcinogênico
Grupo 2B Possivelmente carcinogênico
Grupo 3 Não classificado
Grupo 4 Provavelmente não carcinogênico

Fonte: adaptado de <http://monographs.iarc.fr/ENG/Classification/index.php>. Acesso em: 30 ago. 2017.

Na fase da avaliação da exposição, estima-se diferentes


intensidades, frequências e durações da exposição dos organismos
ao agente químico. A estimativa da exposição pode ser baseada
diretamente em medidas ambientais e absorvidas (sempre considerar

176 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


as diferentes vias de absorção) ou baseada em modelos matemáticos
para as condições existentes. Nesta etapa se consideram outros
fatores, como idade, sexo, patologias, fontes adicionais de agentes
tóxicos e nível real do agente químico no solo, alimentos, água e ar
que atingem efetivamente os organismos expostos.

A caracterização do risco é a última fase da avaliação de risco, e é


nesta etapa que voltamos à pergunta inicial: qual é o risco associado
a um determinado agente químico? Aqui, estima-se a probabilidade
de ocorrência de um efeito adverso em uma população exposta ao
agente químico sob condições definidas de exposição. Desta forma,
a avaliação de risco envolve o grau do perigo e a exposição. Portanto,
o risco é calculado em função da toxicidade e da exposição.

Para compostos não carcinogênicos, historicamente, tem-se


comparado os níveis de exposição com a RfD ou IDA, e três períodos
de exposição são considerados: agudo, intermediário e crônico. Caso
os valores de exposição sejam menores que os valores da RfD ou IDA,
não há risco de efeito adverso. Para compostos carcinogênicos, o
resultado é expresso na probabilidade de desenvolver câncer durante
o tempo médio de vida, sendo aceito um risco de 10( −6 ) ou seja, 1 em
1.000.000. O cálculo é baseado na ingestão diária crônica (70 anos)
e no fator potencial ou slope factor do carcinógeno, definido como
o incremento no risco de desenvolver câncer em uma dose de 1 mg
da substância por 1 kg de peso corpóreo por dia, durante o tempo de
vida.

Quadro 4.2 | Classificação de carcinógenos para humanos

Toxicidade Exposição Risco


Baixa Baixa Sem importância
Baixa Média Baixo
Baixa Alta Baixo a médio
Média Baixa Baixo a médio
Média Média Médio
Média Alta Médio a alto

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 177


Alta Baixa Médio a alto
Alta Baixa Alto
Alta Alta Muito alto

Fonte: adaptado de <http://www.unifal-mg.edu.br/latf/files/Avalia%C3%A7%C3%A3o%20de%20Risco.pdf>. Acesso em:


30 ago. 2017.

No Brasil, o IBAMA 84/1996 recomenda uma avaliação de risco


ambiental em agrotóxicos quando a classificação de periculosidade
ambiental caracterizar a necessidade de informações de campo. O
cálculo do Quociente de Risco (QR) é uma abordagem que identifica
situações de alto ou baixo risco ambiental de agrotóxicos, de acordo
com as diretrizes da agência norte-americana U.S. Environmental
Protection Agency (USEPA). O QR é calculado a partir dos valores
de exposição, ou seja, a concentração ambiental estimada (CAE) do
agente químico dividida pelos valores de toxicidade, neste caso os
valores da CL50 ou CENO. O resultado é comparado ao nível de
preocupação, ou Level of Concern (LOC), o que possibilita a análise
do risco para organismos não alvos (Quadro 4.3).
CAE
QR =
CL50 ou CENO

Quadro 4.3 | Parâmetros para caracterização de risco de agrotóxicos para


organismos aquáticos

Risco Quociente de risco Nível de preocupação


Risco agudo alto CAE/CL50 ou CE50 0,50
Risco agudo, uso restrito CAE/CL50 ou CE50 0,10
Risco agudo, espécies
CAE/CL50 ou CE50 0,05
ameaçadas
Risco crônico CAE/CENO 1,00

Fonte: aadaptado de: <https://www.epa.gov/pesticide-science-and-assessing-pesticide-risks/ecological-risk-


assessment-pesticides-technical>. Acesso em: 7 nov. 2017.

Assimile

O termo perigo está relacionado com o potencial tóxico da substância


química, uma característica intrínseca. Já o termo risco significa a
probabilidade de ocorrência de perigos que causem danos. Assista ao
vídeo Risco e perigo - qual a diferença?, que exemplifica de forma didática

178 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


o perigo e o risco do fogo. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=aIjwdWgxbXo>. Acesso em: 30 ago. 2017.

É importante ter em mente que a toxicidade é um fator não


controlável, devido à sua característica intrínseca, enquanto a
exposição é um fator controlável por medidas de precaução, como
a diminuição da concentração do agente químico no ambiente ou
a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva
(EPC), no caso de exposição ocupacional.
O gerenciamento do risco é a segunda etapa da análise de risco, e
estabelece normas e leis como medidas de prevenção, remediação
e/ou controle. Nesta fase, as questões socioeconômicas, políticas
e de saúde pública são levadas em consideração e se estabelecem
prioridades e alocações de recursos financeiros na manutenção e na
segurança da saúde humana e ambiental.
A comunicação do risco é a última etapa da análise de risco, e
visa a alertar a população sobre o risco. Esta etapa deve ser realizada
de forma cautelosa, pois comunicações inadequadas podem causar
temores desnecessários na população e desconfianças nos órgãos
científicos, regulamentadores e governamentais. Vale ressaltar que as
etapas da análise de risco são flexíveis, ou seja, em casos extremos,
a comunicação de risco é realizada antes da avaliação de risco, por
exemplo, em casos em que se isola a área e retira-se a população
local logo após a identificação do perigo, antes que as avaliações
toxicológicas sejam finalizadas.

Exemplificando
O caso de surtos de botulismo no Brasil pela toxina botulínica presente em
palmitos teve a comunicação do risco iniciada logo após a identificação
do perigo. Ao confirmar o surto, os consumidores foram comunicados
em avisos nos rótulos dos produtos para ferverem os palmitos por 15
minutos antes do consumo, o que evitou que o surto aumentasse ainda
mais. Enquanto isso, análises foram realizadas para caracterizar o risco,
e o gerenciamento implementou novas legislações para a indústria de
palmitos.

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 179


Política nacional
Apesar da grande importância do GHS, trata-se de um documento
não obrigatório e necessita da ratificação de sua adoção pelos
estados, bem como da criação de uma legislação nacional específica.
No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente tem o papel fundamental
de elaborar e implementar uma política nacional de segurança
química, para assegurar a produção e uso dos agentes químicos de
forma responsável e minimizar os efeitos adversos à saúde humana
e ambiental.
A Comissão Coordenadora do Plano de Ação em Segurança
Química (COPASQ) (Portaria 319/2000) e sua sucessora Comissão
Nacional de Segurança Química (CONASQ) (Portaria 352/2003)
foram criadas pelo Ministério do Meio Ambiente para promover
a gestão adequada dos agentes químicos. Como esta questão é
de interesse público, a segurança química envolve vários níveis e
setores governamentais, em especial os que atuam em questões do
ambiente, trabalho, saúde, transporte e desenvolvimento econômico
e tecnológico. Desta forma, a CONASQ tem como coordenador o
Ministério do Meio Ambiente e como vice-coordenador o Ministério
da Saúde, sendo composta por mais 20 instituições do setor público,
privado e de organizações não-governamentais, tais como a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Ministério da Ciência e Tecnologia, Organização Pan-
Americana de Saúde (OPAS), Universidade de Brasília e Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Entre os objetivos da CONASQ, destaca-se a implementação
do Programa Nacional de Segurança Química (PRONASQ), que
visa a aperfeiçoar os sistemas de controle da produção, uso,
manuseio, comercialização, importação, exportação, transporte,
armazenagem e destino final de substâncias químicas, incentivando
novos conhecimentos e tecnologias que minimizem a exposição da
população a substâncias perigosas.

180 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


Pesquise mais
O PRONASQ promove a gestão integrada e participativa de substâncias
químicas para a proteção do ambiente e da saúde humana e contribui
para o desenvolvimento sustentável. Para saber mais sobre as diferentes
linhas temáticas deste programa, acesse o documento disposto no site
indicado. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/smcq_
seguranca/_arquivos/pronasq_ult_versao1_143.pdf>. Acesso em: 30
ago. 2017.

Reflita
Chegamos ao fim de mais uma etapa! A análise de risco e segurança
química são fundamentais para proteger a saúde humana e ambiental,
mas você sabe como os órgãos regulamentadores atingem os resultados
finais dessas análises? Que espécies são utilizadas para realizar os testes
em animais em meio ao movimento mundial contra o uso de animais
em experimentação?
Na próxima seção iremos esclarecer essas dúvidas e muito mais para
você.
Bons estudos e nos vemos lá!

Sem medo de errar

Caro aluno,
Agora que você compreendeu como a segurança química e a
análise de risco é realizada, vamos retomar o seu trabalho na empresa
de consultoria? Lembre-se de que o prefeito solicitou a você e aos
demais consultores uma avaliação de risco de diversos produtos
químicos, para prevenir ou controlar os problemas ambientais
causados pelas indústrias de Barreiras (BA). Ele desconfia que as
indústrias não estão seguindo à risca as recomendações contidas nos
rótulos e FISPQs dos produtos químicos. Será que é possível investigar

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 181


o risco se as recomendações não são seguidas? Caso seja impossível
prevenir uma substância química de poluir o ambiente, é necessário
bani-la?
Primeiramente, é fundamental que as indústrias sigam as
recomendações dos rótulos e FISPQs, pois elas contêm informações
para que o impacto à saúde humana e ambiental seja sempre
prevenido ou mitigado. Alerte o prefeito da importância sobre essas
informações! Toda substância química que possui FISPQ passou por
diversos testes em uma avaliação toxicológica.
No caso de uma substância química ser tóxica para o ambiente,
não é necessário bani-la, exceto quando há restrições de uso no país.
Os compostos organoclorados, chamados de Poluentes Orgânicos
Persistentes (POPs), por exemplo, foram banidos em quase todo
o mundo devido à elevada persistência no ambiente. Solicite às
indústrias que sigam as FISPQs e as legislações ambientais, sendo
fundamental que a produção, o transporte, o uso e o descarte final
dessas substâncias químicas sejam realizados da forma correta.

Avançando na prática

Análise de risco de gasoduto

Descrição da situação-problema
A análise de risco é uma ferramenta que pode complementar
o Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Enquanto o EIA estuda a
viabilidade ambiental de um empreendimento por meio de análises
dos possíveis impactos associados à sua atividade antrópica, a
análise de risco quantifica os riscos das atividades. Partindo desta
informação, você foi contratado por um instituto municipal para
auxiliar na análise de risco das substâncias químicas de uma
empresa petrolífera que busca a renovação de seu licenciamento
ambiental. Ela atua na área dos gasodutos, na qual se transporta o
gás natural, essencialmente constituído de metano, etano propano
e hidrocarbonetos, por três cidades localizadas em uma região do
interior de São Paulo.
Que fatores devem ser levados em conta nesta análise de risco?

182 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


Resolução da situação-problema
O primeiro passo da análise de risco é a avaliação do risco. O gás
natural possui compostos de elevada inflamabilidade e toxicidade
(periculosidade), portanto as pessoas que vivem próximas ao local
estarão em risco devido ao gás transportado. Por se tratar de
compostos bem estudados, alguns testes laboratoriais poderiam
ser eliminados, como aqueles para identificar qual a toxicidade ou
periculosidade intrínseca de cada composto. Todavia, as amostras
coletadas devem ser analisadas, pois podem conter substâncias
que tornam os efeitos sinergéticos, aditivos, antagônicos ou de
potenciação (relembre estes termos na Unidade 1).
É importante também que os pontos críticos do gasoduto sejam
identificados, principalmente os trechos que passam próximos de
cidades. Ao elaborar a caracterização do risco, é importante levar
em conta as vias de exposição dérmica, inalatória (vapores do gás)
e gastrointestinal (consumo de alimentos e água possivelmente
contaminados) e as diferentes frequências de exposição (diária ou
exposição única). Um estudo epidemiológico com trabalhadores
locais e com a população que vive próxima ao empreendimento
poderia auxiliar na avaliação, além dos testes laboratoriais para
analisar as amostras de solo, água, ar e os possíveis alimentos
cultivados nas redondezas. Outros fatores físicos que podem ser
levados em consideração em uma análise de risco, como erosões,
desmatamentos, proximidades com rios e córregos. Não se
esqueça de que o gás natural se inflama facilmente, portanto leve
em consideração fatores decorrentes de ignição.
Ao final, delimite as margens aceitáveis de risco em cada
contexto socioecológico (fauna, flora e saúde pública) e siga com
o gerenciamento e com as comunicações de risco adequadas.

Faça valer a pena

1. A segurança química consiste na gestão e na utilização consciente


de agentes químicos para assegurar a proteção à saúde humana e
ambiental. O Brasil já implementou ___________________________, um
sistema internacional de classificação dos agentes químicos criado pela

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 183


Organização das Nações Unidas (ONU) para facilitar acordos internacionais
e proteger informações industriais confidenciais.
Assinale a alternativa que complementa corretamente a respectiva lacuna
do texto anterior.
a) o GHS (Globally Harmonized System of Classification and Labelling of
Chemicals).
b) o PRONASQ (Programa Nacional de Segurança Química).
c) o OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development).
d) a ABNT (Agência Brasileira de Normas Técnicas).
e) a FISPQ (Ficha de Informação de Segurança para Produtos Químicos).

2. Analise as seguintes afirmações:


I. O termo risco está relacionado ao potencial tóxico da substância química,
uma característica intrínseca.
II. O gerenciamento do risco visa ao estabelecimento de normas e leis
como medidas de prevenção, remediação e/ou controle das substâncias
químicas.
III. A comunicação do risco visa a alertar a população sobre o risco das
substâncias químicas.
Considere as opções a seguir e assinale a alternativa que corresponde à
todas as afirmações corretas:
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas II e III.
d) Apenas III.
e) I, II e III.

3. O Ministério do Meio Ambiente tem o papel fundamental de elaborar


uma abordagem estratégica para a gestão das substâncias químicas,
minimizando os efeitos adversos à saúde humana e ambiental. Analise as
afirmações a seguir:
I. A CONASQ foi criada pelo Ministério do Meio Ambiente para promover a
gestão adequada dos agentes químicos.
II. A PRONASQ foi implementada pela CONASQ para aperfeiçoar os
sistemas de controle da produção, uso, manuseio, comercialização,

184 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


importação, exportação, transporte, armazenagem e destino final de
substâncias químicas.
III. A CONASQ é composta por instituições do setor público, privado e de
organizações não-governamentais.
Considere as opções a seguir e assinale a alternativa que corresponde a
todas as afirmações corretas.
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas II e III.
d) Apenas III.
e) I, II e III.

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 185


Seção 4.2
Avaliação da toxicidade e monitoramento da
qualidade ambiental
Diálogo aberto
Caro aluno,
Continuando nossos estudos sobre avaliações toxicológicas,
nesta seção você vai conhecer o monitoramento ambiental e o
biomonitoramento. A avaliação de compartimentos ambientais
bióticos (fauna e flora) e abióticos (água, ar, solo e sedimento) é
uma importante ferramenta para gerenciar os riscos que os agentes
tóxicos representam ao ambiente. Um monitoramento pode
complementar estudos de impactos ambientais e avaliações de
exposição, fundamentais na avaliação de risco.
Vamos voltar à empresa de consultoria? Nesta etapa, você e seus
colegas consultores irão avançar na avaliação toxicológica! Diante do
levantamento de todos os agentes tóxicos que vocês encontraram
no Distrito Industrial de Barreiras (BA), o prefeito resolveu iniciar a
seleção dos testes ecotoxicológicos para a avaliação de risco. Vocês
se reuniram para discutir o assunto e entregaram a ele uma lista com
diversas opções de testes.
Vendo a quantidade de opções, ele sugeriu a escolha de três
testes ecotoxicológicos para a avaliação do ar, da água e do solo,
sendo um teste para cada compartimento ambiental, mas gostaria
da aprovação de vocês. Vocês concordam com o prefeito? Quais
testes ecotoxicológicos serão necessários para realizar uma avaliação
toxicológica?
Para ajudá-lo, vamos abordar a seguir as diferenças entre
um monitoramento ambiental e um biomonitoramento, e as
particularidades de cada um. Vocês conhecerão fatores importantes
a serem considerados durante um monitoramento e a importância da
seleção de organismos testes para a avaliação de toxicidade.
Vamos lá e bons estudos!

186 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


Não pode faltar

A avaliação ambiental envolve a quantificação de poluentes


presentes em diferentes compartimentos do ambiente, como águas
superficiais e subterrâneas, sedimento, solo superficial e profundo, e
ar. A realização periódica da avaliação ambiental é também chamada
de monitoramento ambiental. Este estudo é utilizado em avaliações
de exposição (lembra-se da avaliação de risco, vista na Seção 4.1?);
na cinética ambiental, ou seja, na distribuição do agente tóxico pelo
ambiente; e na avaliação de seus efeitos adversos. Como resultado,
é possível identificar impactos ambientais que estejam ocorrendo ao
longo do tempo e realizar programas de prevenção ou controle dos
níveis de poluentes no ambiente.
O monitoramento ambiental deve ser realizado em diferentes
etapas: coleta de amostras, análises laboratoriais e avaliação periódica
para determinar as concentrações ao longo do tempo. A escolha
dos pontos de amostragem nos compartimentos ambientais e a
frequência de coleta de amostras devem ser estabelecidas conforme
a representatividade de cada um. As amostras ambientais devem ser
cuidadosamente coletadas e armazenadas, evitando contaminação
adicional e a degradação da amostra pela luz ou adsorção aos
recipientes. A coleta pode ser realizada sistematicamente (semanal,
mensal, anual) ou intensivamente (contínua, a cada hora ou
diariamente), dependendo dos objetivos do estudo. Os parâmetros
monitorados são analisados com a periodicidade mantida de forma
regular, e os pontos de coleta definidos e mantidos ao longo do
monitoramento.

Assimile
A determinação periódica das concentrações de poluentes em diferentes
compartimentos ambientais é chamada de monitoramento ambiental.

Quando os poluentes monitorados nos compartimentos


ambientais possuem valores de referência estabelecidos pelos
instrumentos reguladores, as concentrações encontradas são
comparadas aos níveis máximos permitidos. Entretanto, alguns
agentes tóxicos existem naturalmente no ambiente. Lembra-se dos

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 187


metais? Eles estão presentes por toda a crosta terrestre. E como fazer
o monitoramento ambiental nestes casos? É preciso determinar os
valores de background, ou seja, a concentração dos agentes tóxicos
em níveis naturais. Em geral, locais sem atividades antropogênicas são
utilizados para se obter os valores de background.
Os monitoramentos ambientais também podem ser realizados em
áreas internas, como em escritórios, indústrias e prédios residenciais.
Neste caso, os compartimentos são adaptados para o local de
interesse. Por exemplo, faz-se o monitoramento da circulação do ar,
da temperatura e umidade local; do tamanho das partículas de poeira
no ar, e de amostras de água do sistema da rede de abastecimento.
Alguns fatores devem ser considerados em um monitoramento
ambiental:
- Localização da área em estudo.
- Fatores ambientais (relevo, pluviometria, clima, vento,
construções), fauna e flora.
- Localização das fontes de poluição (fixa ou móvel).
- Características físico-químicas dos poluentes.
A localização da área em estudo e seus respectivos fatores
ambientais são de extrema importância para o monitoramento
ambiental. Por exemplo, o monitoramento de um rio deve ser
realizado nas estações de seca e de chuva, o que causa constantes
mudanças nos poluentes, portanto as coletas devem acontecer em
intervalos de tempo curtos. Para compor o perfil do poluente ao longo
do tempo, é preciso integrar a avaliação com amostras de outros
compartimentos. O sedimento dos rios, por exemplo, recebe grandes
quantidades de poluentes lixiviados ou lançados nas águas superficiais
que se adsorveram a matéria orgânica e se depositaram no fundo
dos rios. A amostragem de uma faixa vertical dos sedimentos permite
analisar diferentes profundidades, compondo o perfil do poluente
desde a coluna de água até a sua deposição. A granulometria do
sedimento também deve ser analisada, pois ela altera a adsorção
dos poluentes, como os metais que se adsorvem mais facilmente às
partículas menores.
Além do monitoramento ambiental em compartimentos
abióticos, a avaliação da exposição em compartimentos bióticos
é uma importante ferramenta na avaliação da toxicidade. No

188 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


monitoramento biológico ou biomonitoramento são utilizados
organismos vivos ou partes deles, como amostras de sangue, penas,
escamas etc. Para isso, são selecionados os organismos mais sensíveis
do compartimento ambiental em questão, capazes de refletir o grau
da poluição. É importante levar em consideração a abundância e a
distribuição dos organismos no local, o fácil manejo e a capacidade
de absorção dos poluentes. Organismos com vasta descrição
fisiológica e ecológica e com ciclos de vida curtos são os favoritos
para o biomonitoramento, pois a interpretação dos resultados torna-
se mais fácil e confiável.

Exemplificando
Os organismos devem ser selecionados de acordo com os objetivos do
monitoramento. Por exemplo, em um ambiente aquático, os organismos
sésseis (fixos) são indicados para monitorar o grau de poluição do local,
enquanto organismos planctônicos ou bentônicos são indicados para
monitorar o impacto dos poluentes. Já no compartimento terrestre,
as epífitas (orquídeas e bromélias) são indicadas para monitorar o grau
de poluição, enquanto que ovos e penas de aves são indicados para
monitorar a cadeia trófica.

Em uma avaliação de toxicidade também são realizados testes


em organismos vivos ou in vitro voltados para predizer um possível
impacto ambiental antes mesmo de monitorar o efeito existente. Os
bioensaios preditivos que visam à proteção da saúde humana são
geralmente realizados em mamíferos devido à semelhança genética,
como em coelhos, cobaias, ratos e camundongos. Entretanto, para a
saúde ambiental, são requeridos bioensaios envolvendo organismos
de diferentes níveis tróficos, denominados testes ecotoxicológicos.
Os tradicionais ensaios de toxicidade aguda são amplamente
utilizados para determinar os efeitos de agentes potencialmente
tóxicos, como os metais, agrotóxicos e solventes, mas são insuficientes
para antecipar os danos ambientais. Nesse contexto, os ensaios
de toxicidade crônica são fundamentais para elaborar a avaliação
de risco dos agentes químicos e antecipar os potenciais efeitos
adversos no ambiente. Várias respostas podem ser obtidas com os
bioensaios, como a taxa de mortalidade e natalidade, crescimento

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 189


e tamanho corporal, malformações congênitas, genotoxicidade,
mutagenicidade, taxa de alimentação, dentre outras interferências no
ciclo de vida, que indicam a toxicidade de agentes tóxicos sobre os
organismos selecionados.

Assimile
Você conhece o princípio dos 3Rs? Reduction, Refinement e
Replacement representam os 3Rs a serem seguidos nesta ordem durante
a utilização de animais em experimentação para melhorar a condução
ética de bem-estar animal. Reduction reflete o uso de menos animais
sem prejudicar os resultados, Refinement promove a minimização do
estresse ou sofrimento animal e Replacement estabelece o uso de
métodos alternativos sem a utilização de animais vertebrados.

No Quadro 4.4 encontram-se diversos testes ecotoxicológicos


estabelecidos pela Organisation for Economic Co-operation
and Development (OECD), os quais norteiam as agências
regulamentadoras de todo o mundo, como a ABNT no Brasil.

Quadro 4.4 | Testes ecotoxicológicos padronizados de acordo com as normas da


OECD.

Testes ecotoxicológicos Norma OECD


Efeitos em organismos aquáticos
Teste de inibição do crescimento em alga de água doce e cianobactérias OECD 201
Teste de imobilização aguda, Daphnia sp. OECD 202
Teste de toxicidade aguda em peixes OECD 203
Teste de toxicidade prolongada em peixes OECD 204
Teste de inibição da respiração, lodo ativado OECD 209
Teste de reprodução em Daphnia magna OECD 211
Teste de toxicidade em Chironomus com sedimento enriquecido OECD 218
Teste de toxicidade em Chironomus com água enriquecida OECD 218
Teste de inibição de crescimento em Lemna sp. OECD 221
Teste de reprodução em peixes OECD 229
Teste de metamorfose em anfíbios OECD 231
Teste de toxicidade no ciclo de vida de Chironomus OECD 233
Teste de Imobilização aguda em Chironomus OECD 235

190 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


Teste de embriotoxicidade aguda em peixes (FET) OECD 236
Teste de crescimento e desenvolvimento em larvas de anfíbios OECD 241
Efeitos em organismos terrestres
Teste de toxicidade alimentar em aves OECD 205
Teste de reprodução em aves OECD 206
Teste de toxicidade aguda em minhocas OECD 207
Teste de crescimento de plantas terrestres OECD 208
Teste de toxicidade aguda oral em abelhas OECD 213
Teste de toxicidade aguda por contato em abelhas OECD 214
Teste de transformação de nitrogênio em microrganismos do solo OECD 216
Teste de transformação de carbono em microrganismos do solo OECD 217
Teste de reprodução em minhocas (Eisenia fetida / Eisenia andrei) OECD 222
Teste de toxicidade oral aguda em aves OECD 223
Teste de vigor vegetativo em planta terrestre OECD 227
Teste de toxicidade no desenvolvimento em moscas OECD 228
Teste de toxicidade em larvas de abelha (Apis mellifera) OECD 237
Efeitos em micro-organismos
Determinação da atividade de bactéria anaeróbica OECD 224
Teste de reprodução em solo em ácaro predatório (Hypoaspis aculeifer) OECD 226
Teste de mutação em bactérias (Teste de ames) OECD 471

Fonte: adaptado de <http://www.oecd.org/env/ehs/testing/oecdguidelinesforthetestingofchemicals.htm>. Acesso em:


30 ago. 2017.

Os microrganismos são amplamente utilizados em testes para


avaliar a toxicidade aguda de agentes tóxicos presentes na água, no
ar, em solos e em sedimentos. Eles possuem grande importância nos
ecossistemas, atuam como decompositores de matérias orgânicas e
inorgânicas, participam dos ciclos de nutrientes e servem de alimentos
para outros organismos. Dentre os bioensaios com microrganismos,
destacam-se:
- Teste de Ames com a bactéria Salmonella typhimurium, que
avalia efeitos mutagênicos.
- Teste do MICROTOX com a bactéria Vibrio fischeri, que avalia a
respiração celular.
- Teste com a bactéria Pseudomonas putida, que avalia a
respiração celular.
- Teste com a bactéria Spirillum volutans, que avalia a inibição
flagelar.

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 191


As microalgas utilizadas em testes de toxicidade aguda são
importantes organismos produtores na cadeia alimentar do ambiente
aquático, ou seja, incorporam a energia solar à biomassa, participam
de ciclos de nutrientes e servem de alimentos a outros organismos.
Dentre os efeitos, pode-se avaliar a inibição do crescimento de
biomassa. As principais microalgas utilizadas em ensaios de toxicidade
aguda são:
- Água doce: Raphidocelis subcapitata, Chlorella vulgaris,
Scenedesmus subspicatus.
- Água salina: Skeletonema costatum, Phaelodactylum
tricornutum, Asterionella japonica, Dunaliella tertiolecta.
Plantas aquáticas também podem ser utilizadas em um
biomonitoramento, como a macrófita Lemna minor.
Ainda no ambiente aquático, os microcrustáceos são
invertebrados zooplanctônicos e representantes dos consumidores
primários amplamente utilizados em bioensaios de toxicidade aguda
e crônica, devido à elevada sensibilidade aos poluentes e ao ciclo de
vida curto, o que permite uma avaliação a longo prazo. Desta forma,
é possível obter resultados de crescimento populacional, taxa de
mortalidade e reprodução, taxa de respiração etc. Destacam-se os
seguintes organismos:
- Água doce: Daphnia magna, Daphnia similis, Ceriodaphnia dubia.
- Água salina: Artemia sp, Mysidopsis juniae.
Os bioensaios com consumidores secundários envolvem a
utilização de peixes e representam os vertebrados. As espécies de
maior representatividade possuem ciclos de vida relativamente curtos
(atingem a maturidade sexual entre três e seis meses), são de fácil
manuseio e manutenção em laboratório, além de terem laboratório,
além de terem baixo custo. Dentre as principais espécies utilizadas,
destacam-se:
- Água doce: Danio rerio (zebrafish), Poecilia reticulata, Pimephales
promelas.

Reflita
Segundo a Diretriz Europeia 2010/63/EU sobre a proteção dos animais
utilizados para fins científicos, as fases de vida iniciais dos animais não
são definidas como protegidas. Desta forma, o teste em embriões de
zebrafish (até quatro dias de vida) é considerado um método alternativo

192 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


ao uso de animais. Ele vem sendo utilizado pela comunidade científica
como um modelo alternativo aos testes em peixes adultos devido
à elevada sensibilidade aos agentes tóxicos, e aos testes em ratos
e camundongos devido à elevada semelhança genética com o ser
humano. E você, apoia esta alternativa?

Alguns ensaios ecotoxicológicos são específicos para a avaliação


de amostras de sedimentos. Os organismos que vivem no fundo
dos ambientes aquáticos são os mais indicados para estes testes,
já que permanecem expostos aos agentes tóxicos adsorvidos aos
sedimentos por mais tempo. Podemos destacar as seguintes espécies:
- Água doce: Chironomus riparius, Chironomus tentans, Hyalella
azteca.
- Água salina: Leptocheirus plumulosus, Tiburonella viscana,
Lytechinus variegatus (ouriço-do-mar).
Para o ambiente terrestre, as abelhas (Apis mellifera) são os
principais invertebrados utilizados em ensaios ecotoxicológicos, e as
aves codornas (Coturnix coturnix) são utilizadas como modelos para
vertebrados. Para a avaliação do solo, as minhocas da espécie Eisenia
fetida são organismos padronizados para ensaios de toxicidade aguda
e crônica, obtendo resultados de massa corporal e reprodução. O
teste de fuga realizado com minhocas, por exemplo, é um método
rápido e simples que proporciona a biodisponibilidade de agentes
tóxicos no solo, manifestado pelo comportamento de fuga dos
organismos.

Pesquise mais
Os resultados de todas as análises ecotoxicológicas servem de subsídios
para o gerenciamento dos riscos que os poluentes representam aos
diferentes compartimentos ambientais, uma ferramenta complementar
em estudos de impactos ambientais. E para finalizar mais uma etapa
dessa nossa jornada, que tal avançar um pouco mais? O texto A
toxicidade em ambientes aquáticos: discussão e métodos de avaliação
traz informações detalhadas sobre os processos de avaliação de
toxicidade. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/qn/v31n7/v31n7a38.
pdf>. Acesso em: 30 ago. 2017.

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 193


Finalizamos mais uma etapa aqui! Você aprendeu sobre o
monitoramento ambiental e o biomonitoramento, bem como seus
devidos conceitos e aplicabilidades. Também conheceu diversas
espécies bioindicadoras de poluição e contaminação e como essas
espécies devem ser selecionadas nos estudos de biomonitoramento,
muitas delas padronizadas pela ABNT para os ensaios ecotoxicológicos.
E estamos chegando ao fim! Na última seção falaremos sobre os
problemas toxicológicos em âmbito nacional e internacional. Nos
vemos lá!

Sem medo de errar

Agora voltaremos ao trabalho na empresa de consultoria!


Lembre-se de que o prefeito de Barreiras (BA) irá selecionar os testes
ecotoxicológicos para a avaliação de risco e você e seus colegas
consultores precisam orientá-lo. Como você aprendeu nesta seção,
os testes devem ser escolhidos para proteger o maior número de
espécies do local. Durante a identificação dos agentes tóxicos e
suas fontes de emissão, vocês encontraram níveis elevados no ar, na
água e no solo. Portanto, os testes selecionados devem cobrir estes
compartimentos.
Oriente o prefeito para selecionar organismos com alta relevância
para o estudo, respeitando o princípio dos 3Rs (Replacement,
Reduction, Refinement). Como sugestão, vocês podem indicar os
testes para o ambiente aquático com o microcrustáceo Daphnia
sp., de extrema sensibilidade; com algas verdes Raphidocelis
subcapitata; e embriões de zebrafish Danio rerio. Assim, o estudo
abrange diferentes níveis da cadeia trófica: organismos produtores,
consumidores primários e secundários. Para o ambiente terrestre,
testes com a minhoca Eisenia fetida e plantas azevém também são
eficientes. Aconselhe o teste de Ames com a bactéria Salmonella
typhimurium para verificar o potencial mutagênico de amostras de
solo, água e sedimento. Não se esqueça que alguns agentes tóxicos
podem estar adsorvidos no sedimento do Rio Grande!

194 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


Avançando na prática

Biomonitoramento ambiental

Descrição da situação-problema
Caro aluno, agora você foi contratado para auxiliar em um
biomonitoramento ambiental. Ele será realizado em um trecho
do Rio São Francisco. Devido ao desenvolvimento industrial
dos últimos anos nas bacias hidrográficas na região Nordeste,
o avanço da poluição tornou-se um assunto preocupante. Para
prevenir impactos ambientais causados por indústrias ou diminuir
os que já ocorreram, o governador do estado solicitou um
biomonitoramento ambiental do trecho, esperando descobrir o
estado da saúde da biota local.
Como coordenador do projeto, você orientará a sua
equipe durante o trabalho. Uma reunião será realizada para
estabelecer as etapas do projeto que possibilitem ao final do
estudo o desenvolvimento de estratégias preventivas e medidas
mitigadoras de prováveis impactos. Quais etapas você sugeriria aos
organizadores do projeto para realizar o biomonitoramento?

Resolução da situação-problema
Na reunião descrita, você poderia sugerir as seguintes etapas
ao projeto:
- Identificar o trecho em estudo, seus fatores ambientais e as
fontes de poluição do local.
- Coletar amostras ambientais para identificação e quantificação
dos agentes tóxicos.
- Identificar a biota local e coletar amostras que reflitam o grau da
poluição na cadeia trófica.
- Realizar testes ecotoxicológicos em amostras ambientais para
avaliar a toxicidade.
Oriente sua equipe para o fato de que a escolha dos pontos de
amostragem e da frequência de coletas deve ser estabelecida de
acordo com o compartimento ambiental escolhido. Uma ótima
sugestão para analisar o perfil dos poluentes no trecho seria a

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 195


coleta de amostras de água em diferentes níveis da coluna de água,
assim como a coleta de sedimentos em faixas verticais. Devido às
constantes mudanças no ambiente aquático, as amostras de água
precisam ser coletadas em diferentes estações e em intervalos de
tempo curtos, enquanto as amostragens de sedimento podem
ocorrer em períodos mais espaçados. Para realizar os testes
ecotoxicológicos, selecione organismos altamente sensíveis
estabelecidos pelas agências regulamentadoras, capazes de
responder aos poluentes de forma que previnam possíveis impactos
que possam acontecer ao longo do tempo. Opte por organismos
de diferentes níveis tróficos e compartimentos ambientais.
Após a identificação e a quantificação de poluentes nas
amostras abióticas, as concentrações encontradas em ambos os
compartimentos ambientais devem ser comparadas aos valores de
referência ou de background. Já as concentrações encontradas
nas amostras bióticas devem refletir o grau e o impacto da poluição
no ambiente.

Faça valer a pena

1. Em um monitoramento ambiental, as concentrações de agentes tóxicos


encontradas nos diferentes compartimentos ambientais são comparadas
aos valores de referência ou aos valores de background.
Assinale a alternativa que define corretamente os valores de background.
a) Concentrações máximas permitidas estabelecidas pelos órgãos
reguladores.
b) Valores de referência do agente tóxico pré-estabelecidas pelos órgãos
reguladores.
c) Concentrações dos agentes tóxicos presentes no ambiente monitorado.
d) Concentrações dos agentes tóxicos presentes naturalmente em locais
sem atividade antropogênica.
e) Valores de referência encontrados em locais pré-estabelecidos por
órgãos reguladores.

196 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


2. Para atender ao princípio dos 3Rs (Reduction, Refinement e
Replacement), métodos alternativos aos testes em animais são
implementados para melhorar a condução ética de bem-estar animal.
I. Reduction reflete a redução do uso de animais em experimentos, sem
prejudicar os resultados.
II. Refinement estabelece o uso de métodos alternativos sem a utilização
de animais vertebrados.
III. Replacement promove a minimização do estresse ou sofrimento animal.
No que se refere ao princípio dos 3Rs, considere as opções a seguir e
assinale a alternativa que corresponde a todas as afirmações corretas:
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas II e III.
d) Apenas III.
e) I, II e III.

3. Os tradicionais ensaios de toxicidade aguda são amplamente utilizados


para determinar os efeitos de agentes potencialmente tóxicos, mas são
insuficientes para antecipar os danos ambientais. Nesse contexto, os
ensaios de toxicidade crônica são fundamentais para elaborar a avaliação
de risco dos agentes químicos e antecipar os potenciais efeitos adversos
no ambiente. ___________________ são organismos aquáticos
consumidores primários na cadeia trófica, mundialmente utilizados em
bioensaios de toxicidade aguda e crônica, devido à elevada sensibilidade
a agentes tóxicos e ao ciclo de vida curto, representando os organismos.
Assinale a alternativa que complementa corretamente a lacuna do texto.
a) As microalgas Raphidocelis subcapitata
b) Os microcrustáceos Daphnia sp
c) As bactérias Salmonella typhimurium
d) As abelhas Apis mellifera
e) As minhocas Eisenia fetida

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 197


Seção 4.3
Problemas toxicológicos

Diálogo aberto
Caro aluno,
Estamos chegando ao final da nossa jornada sobre toxicologia
ambiental! Nesta seção, você complementará seus conhecimentos
com diversos casos de acidentes ambientais ocorridos em todo o
mundo. Será que os avanços tecnológicos são suficientes para evitar
acidentes com substâncias químicas perigosas? E quem são os
maiores prejudicados com esses acidentes?
Agora, vamos dar continuidade à empresa de consultoria? Nesta
última etapa da consultoria ambiental, o prefeito solicitou a você e seus
colegas consultores a detecção dos reais problemas toxicológicos
gerados pelas indústrias do Distrito Industrial de Barreiras (BA). Essas
informações serão divulgadas para a comunidade local e utilizadas
em programas de educação ambiental.
Vendo que a resposta de vocês irá influenciar diretamente na
tomada de decisão do prefeito, vocês resolvem finalizar a avaliação
de risco para detectar os possíveis problemas toxicológicos do local.
Com os resultados dos testes ecotoxicológicos em mãos (Quadro
4.5), vocês precisarão advertir o prefeito sobre os possíveis riscos. Mas
algumas dúvidas ainda restam: existem populações mais ou menos
vulneráveis aos agentes tóxicos presentes na área? Quem priorizar no
programa de educação ambiental?

Quadro 4.5 | Resultados dos testes ecotoxicológicos para o Distrito Industrial de


Barreiras (BA)
Amostra Tóxico Padrão Concentração4 Organismo CE505
Água 1
R. 0,03
subcapitata
Chumbo 0,01 0,05
D. magna 1,8
D. rerio 6,5
R. 0,3
subcapitata
Cromo 0,05 0,04
D. magna 0,5
D. rerio 15
R. 0,1
subcapitata
198 Cádmio 0,20 0,53
U4 - Indicadores e consequências da toxicologia D. magna 0,03
D. rerio 6,5
R. 4,6
subcapitata
Chumbo 0,01 0,05
D. magna 1,8
D. rerio 6,5
R. 0,3
subcapitata
Cromo 0,05 0,04
D. magna 0,5
D. rerio 15
R. 0,1
subcapitata
Cádmio 0,20 0,53
D. magna 0,03
D. rerio 6,5
R. 4,6
subcapitata
Etilbenzeno 0,84 0,009
D. magna 2,4
D. rerio 7,0
R. 130
subcapitata
Óleo 20 1,3
D. magna 12
D. rerio 12
Cadmio 3 0,7 300
Chumbo 150 56 4400
Solo 2
Cromo 2 0,3 E. fetida 1080
Mercúrio 1 0,09 920
Níquel 70 18 1020
NOx 190 93 450
CO 40.000 53.000 -
L.
Atmosfera3 O3 160 38 180
multiflorum
SOx 100 112 89
MP 150 190 -

- Valores não determinados. 1 Valores em mg/L. 2 Valores em mg/kg. 3 Valores em µg/m3/h (NOx, CO, O3) e µg/m3/d
(SOx, MP). 3 Concentração encontrada no ambiente conforme apresentado em seções anteriores. 4 Valores fictícios.
Fonte: elaborado pela autora.

Para assimilar todo o seu aprendizado desta jornada, nesta seção


nós apresentaremos os problemas toxicológicos em âmbito nacional
e internacional decorrentes da exposição às substâncias químicas.
Você compreenderá que os acidentes com substâncias perigosas
ocorrem em todo o mundo, qualquer que seja o nível econômico
do país. Apesar dos avanços tecnológicos, as negligências ou falhas
humanas são as grandes responsáveis pelos acidentes ambientais,
sejam eles em escalas pequenas ou imensuráveis, e uma boa análise
de risco poderia prevenir ou mitigar os danos ambientais.
Boa leitura e vamos lá!

Não pode faltar

Como vimos no decorrer desta jornada, os processos industriais


utilizam diversas matérias-primas e as transformam no produto final,
e centenas a milhares de toneladas de substâncias químicas são
consumidas e liberadas no ambiente. Os produtos finais e os resíduos

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 199


químicos gerados estão presentes na sociedade nos mais diferentes
contextos do dia a dia, como em alimentos, medicamentos, plásticos,
brinquedos, móveis, tintas, cosméticos, roupas, agrotóxicos, produtos
de limpeza, além da poluição atmosférica típica dos grandes centros
urbanos.
Assim, todos nós estamos expostos a milhares de substâncias
tóxicas ou potencialmente tóxicas todos os dias de nossas vidas. Essa
exposição constitui um relevante problema de saúde pública à medida
em que o processo de industrialização, iniciado no século XVIII, não
foi acompanhado da devida precaução e proteção à saúde humana e
ambiental. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente apresenta em nível
nacional o cenário de acidentes com produtos químicos perigosos,
elaborado com informações dos acidentes de grande relevância, ou
seja, aqueles com vazamentos de volumes consideráveis, ocorrência
de explosões, incêndios e acidentes envolvendo substâncias de alta
toxicidade. Em 2010, foram registrados 922 acidentes envolvendo em
sua maioria o diesel, o álcool, a gasolina e óleos, sendo rodovias e
indústrias as principais tipologias (Figura 4.4). E estes valores podem
ser ainda maiores, uma vez que nem todos os órgãos e unidades da
federação enviaram suas informações.

Reflita
Você já imaginou quantas substâncias químicas existem no mundo todo?
De acordo com a American Chemical Society (ACS), uma organização
norte-americana de substâncias, existem mais de 130 milhões de
substâncias químicas orgânicas e inorgânicas registradas apenas em sua
base de dados desde o ano de 1800 até os dias atuais. Diariamente, são
acrescentadas cerca de 15.000 novas substâncias, mas apenas 348.000
são regularizadas para comércio (ACS, 2017).

200 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


Figura 4.4 | Perfil de acidentes envolvendo produtos químicos perigosos no Brasil

Fonte: adaptada de <http://www.mma.gov.br/seguranca-quimica/emergenciasambientais/estatisticas-de-acidentes>.


Acesso em: 30 ago. 2017.

Dentre os acidentes com produtos químicos perigosos, o petróleo


se destaca em nível nacional e internacional como um dos principais
responsáveis por desastres ambientais locais, regionais e em escalas
imensuráveis (Quadro 4.6). Como consequência de vazamentos
de petróleo e seus derivados em ambientes aquáticos, milhares de
animais morrem intoxicados instantaneamente ou sofrem com

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 201


outros efeitos, como a diminuição de oxigênio na água. Peixes, por
exemplo, têm suas brânquias colabadas, o que impede a respiração.
A comunidade planctônica, principal fonte de alimento da cadeia
trófica e responsável pela renovação de grande parte de oxigênio na
água, é drasticamente afetada, sendo a grande maioria morta. Aves
migratórias que pousam nos oceanos têm suas penas recobertas por
óleos e não conseguem mais voar. E os efeitos não se restringem às
águas. Parte dos contaminantes interage com partículas suspensas e
decanta para o sedimento, e outra parte evapora, contaminando o
ambiente atmosférico e aumentando o efeito estufa.

Quadro 4.6 | Desastres ambientais com petróleo e alguns derivados em âmbito


mundial.

Ano: local Responsável Desastre Prejuízo


Rompimento de
duto sob a Vila
de Socó causou
Morte de cerca de
o vazamento de
500 pessoas da vila
700 mil litros de
1984: Cubatão (SP) Petrobras e de milhares de
combustível pelo
animais do estuário,
estuário, mangues
manguezais e rio.
e rio, o que agravou
um incêndio no
local.
Morte de cerca de
Vazamento de 40
260 mil pássaros,
milhões de litros
2.800 lontras, 250
1989: Alasca (EUA) ExxonMobil de petróleo após
águias, 22 orcas e
o navio petroleiro
bilhões de ovos de
encalhar.
salmão.
Destruição dos
poços de petróleo a
Morte de mais de
pedido de Saddam
mil pessoas em
Hussein após uma
1991: Kuwait Poços de petróleo decorrência da
derrota no Kuwait
(Oriente Médio) do Kuwait fumaça, e morte de
causou o vazamento
cerca de 25 mil aves
de um milhão de
e outros animais.
litros de petróleo no
Golfo Pérsico.
Morte de milhares
Rompimento de
de animais e fauna
duto causou o
2000: Baía de local, contaminação
Petrobras vazamento de 1,3
Guanabara (RJ) da água e
milhão de litros de
sedimento, prejuízo
óleo.
da pesca local.
Morte de milhares
Rompimento de
de animais e fauna
um duto causou
local, contaminação
2000: Araucária (PR) Petrobras o vazamento de
da água e
quatro milhões de
sedimento, prejuízo
litros de óleo.
da pesca local.

202 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


Morte de 11 pessoas,
Vazamento de
contaminação e
gás provocou
morte de milhares
uma explosão
2010: Golfo do British Petroleum de animais, perda de
na plataforma,
México (EUA) (Reino Unido) milhões de dólares
liberando cerca de
da indústria da pesca
780 milhões de litros
e do turismo na
de petróleo na água.
costa americana.
Morte de milhares
Falha na perfuração
de animais e fauna
de poço causou o
2011: Bacia de local, contaminação
Chevron (EUA) vazamento de quase
Campos (RJ) da água e
500 mil litros de
sedimento, prejuízo
óleo.
da pesca local.
Morte de milhares
de peixes e outras
Incêndio em tanques
espécies do
2015: Santos (SP) Ultracargo de combustível no
estuário e do rio em
bairro da Alemoa.
Cubatão, prejuízo da
pesca local.
Fonte: elaborada pela autora

Assimile
De acordo com o levantamento do Ministério do Meio Ambiente,
o petróleo se destaca como um dos principais agentes químicos
envolvidos em acidentes com produtos químicos perigosos no Brasil,
sendo responsável por grandes impactos ambientais, muitas vezes em
escalas imensuráveis.

Também vale destacar outros desastres ambientais, como


acidentes nucleares, vazamento de agrotóxicos e rompimento de
barragens de mineradoras, que causaram extensos impactos à saúde
humana e ambiental (Quadro 4.7). Ecossistemas foram totalmente
destruídos e espécies foram extintas. Nota-se que os registros de
desastres ambientais causados por atividades humanas acontecem
em todas as décadas, mesmo com todas as tecnologias e melhorias
adquiridas ao longo dos anos. As falhas humanas, incluindo as
negligências e a falta de manutenção, são as principais responsáveis
pelos acidentes, e suas consequências são catastróficas. O acidente
nuclear da década de 80 em Chernobyl, por exemplo, ainda deixa seus
rastros nos dias atuais, e estima-se que o local precisará de mais 2.000
anos para ser totalmente descontaminado. Já o acidente em Mariana
(MG), causado pelo rompimento da barragem de uma mineradora,
eliminou berçários naturais, exterminou diversos organismos do
Rio Doce com a intoxicação pela lama ou com a diminuição do

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 203


oxigênio da água, além de ter comprometido a cadeia trófica com a
bioacumulação de metais e outros agentes tóxicos.

Quadro 4.7 | Desastres ambientais com diversos agentes químicos em âmbito


mundial

Ano: Local Responsável Desastre Prejuízo


Mortes de cerca de
250 mil pessoas e
milhares de animais,
Bombardeio com desintegração
1945: Hiroshima e
- duas bombas da vegetação,
Nagasaki (Japão)
atômicas. contaminação do
solo e água locais,
aumento nos índices
de leucemia.
Mortes de cerca de
250 mil pessoas e
milhares de animais,
Bombardeio com desintegração
1989: Alasca (EUA) ExxonMobil duas bombas da vegetação,
atômicas. contaminação do
solo e água locais,
aumento nos índices
de leucemia.
Morte de três mil
Superaquecimento
animais e outros
de reator causa
70 mil sacrificados,
vazamento de
contaminação de
vários quilogramas
ICMESA 1.800 hectares de
de dioxidina (200g
1976: Seveso (Itália) (pertencente à terra, aumento
pode matar um
Hoffmann-La Roche) drástico de doenças
milhão de pessoas).
cardiovasculares,
Ausência de alarme
câncer de cérebro,
atrasou o aviso do
fígado, vesículas,
incidente.
pele e leucemia.
Morte de até 80 mil
pessoas, aumento
Superaquecimento
de cânceres e
e explosão de reator
1984: Bhopal (Índia) Chernobyl deformidades
causa liberação de
teratogênicas, morte
césio-137
de milhares de
plantas.
Moradores próximos
Má gestão de ao local desalojados,
resíduos de morte de até 63
agrotóxicos pessoas, população
organoclorados, com intoxicação
1979 a 1993: Paulínia metais e solventes crônica, aumento de
Shell
(SP) causam a cânceres hepáticos,
contaminação da da tireóide e de
atmosfera, solo, testículos, alterações
água superficial e neurológicas,
subterrânea. gastrointestinais e
renais.

204 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


Morte de milhares
Rompimento
de animais, cerca
da barragem e
de dois mil foram
Mineração Rio vazamento de mais
2007: Miraí (MG) desalojadas,
Pomba Cataguases de dois milhões
com prejuízo às
de m3 de rejeitos
propriedades rurais e
contendo metais.
à pesca local.
Cem mil pessoas
desalojadas,
Um terremoto de
vazamento de água
8,9 de magnitude
radioativa no mar e
na escala Richter,
2011: Fukushima elevados níveis de
Fukushima Daiichi seguido de um
(Japão) radiação na flora e
tsunami, gerou a
na fauna. Proibição
explosão de reatores
de venda e consumo
da usina.
de produtos da
região.
Morte de um
trilhão de animais,
Rompimento da
desalojamento de
barragem do Fundão
centenas de famílias,
e vazamento de 62
2015: Mariana (MG) Samarco inutilização dos
milhões de m3 de
terrenos e atividades
rejeitos contendo
de pesca, processo
metais.
de desertificação na
área.

Fonte: elaborado pela autora.

As populações próximas aos locais dos acidentes frequentemente


sofrem com o desalojamento, com a perda dos bens materiais,
desemprego, fome e os efeitos adversos à saúde muitas vezes
são crônicos, ou seja, os sintomas de intoxicação aparecem ao
longo do tempo. Acidentes como o rompimento de barragens de
mineradoras ou o vazamento de agrotóxicos são responsáveis pela
liberação de grandes quantidades de metais e outros agentes tóxicos
carcinogênicos para o ambiente. A exposição a esses agentes por
tempos prolongados, por exemplo, eleva os índices de problemas
relacionados ao câncer.
Todavia, não podemos nos esquecer dos acidentes em escalas
menores, mas que também causam danos irreparáveis, certo? Por
exemplo, podemos destacar as atividades humanas que afetam os
ambientes aquáticos. Ao lançar nos rios e lagos os esgotos industriais
e domésticos ou de atividades de piscicultura e agricultura, aumenta-
se a carga de matéria orgânica, em especial nitrogênio e fósforo, o
que leva à eutrofização das águas e à proliferação das cianobactérias,
fenômeno também conhecido como bloom ou floração. A

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 205


eutrofização causa problemas como a redução do oxigênio e a
morte dos organismos aquáticos por asfixia, além do aumento na
quantidade de toxinas das cianobactérias, altamente tóxicas para
diversos organismos, incluindo os humanos.
Lembra-se do caso da “Tragédia da Hemodiálise”, em 1996? A
falta de um monitoramento eficaz de controle de qualidade da água
utilizada pelo Instituto de Doenças Renais, na cidade de Caruaru
(PE), causou a intoxicação de pacientes submetidos à hemodiálise
na clínica. Dos 142 pacientes, aproximadamente 60 morreram. A
água captada estava contaminada com microcistinas, pois continha
florações de cianobactérias. Casos como este não estão limitados
ao Brasil. O Lago Tai, o terceiro maior da China, por exemplo, foi
tomado por imensas proliferações de cianobactérias. Em 2007, uma
dessas florações desenfreadas contaminou a água e interrompeu o
suprimento de água para mais de dois milhões de moradores da cidade
de Wuxi. Para os organismos aquáticos, vertebrados ou invertebrados,
a bioacumulação de toxinas de cianobactérias é fenômeno comum.
Neste contexto, consequências para a saúde humana podem ocorrer
indiretamente pelo consumo de animais previamente expostos às
florações tóxicas.

Pesquise mais
Os acidentes ambientais com substâncias químicas perigosas também
incluem aqueles “pequenos” casos em indústrias, hospitais, residências e
laboratórios, que são relacionados ao ambiente em que a população fica
sujeita a gases, vapores, líquidos e sólidos tóxicos, entre outras inúmeras
situações que podem gerar danos à saúde humana. No trabalho
Acidentes do trabalho com substâncias químicas entre os trabalhadores
de enfermagem, por exemplo, foram analisados os acidentes de trabalho
ocorridos com substâncias químicas, notificados e registrados, com
trabalhadores de enfermagem de um hospital público universitário. Para
saber mais, acesse o material disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
reben/v57n3/a02v57n3.pdf>. Acesso em: 31 ago. 2017.

As análises de risco elaboradas nos casos de suspeitas de


contaminação ou acidentes ambientais são fundamentais para que
sejam tomadas iniciativas de prevenção ou mitigação dos danos à
saúde. Nas avaliações de exposição, os trabalhadores, populações

206 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


residentes e outros organismos não-alvos presentes no entorno da
área são analisados quanto à presença de alterações anatômicas,
fisiopatológicas ou bioquímicas por meio de biomarcadores ou outros
exames diagnósticos. Nos casos em que a contaminação e a exposição
são comprovadas, existe a necessidade de acompanhamento de
saúde dos organismos analisados, sobretudo quando as substâncias
químicas em questão possuem potencial cumulativo e sinergético
com múltiplas exposições concomitantes.

Exemplificando
Em 2002, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério da Saúde
solicitaram a avaliação de risco de diversos contaminantes presentes
no local da empresa Shell, em Paulínia, SP (1977-1995), posteriormente
ocupada pelas empresas Cyanamid e Basf. Após a análise de
aproximadamente 30 mil laudas referentes à exposição humana
e à contaminação ambiental, concluiu-se que a avaliação de risco
realizada pela contratante Shell, em 1995, não atendia às necessidades
metodológicas seguidas pelos órgãos ambientais, em pois eles
atestavam que não havia riscos para a saúde humana. A amostragem
de solo superficial, por exemplo, foi realizada apenas a um metro de
profundidade. Devido à baixa mobilidade vertical dos compostos
químicos, a amostragem deveria ter sido realizada a oito centímetros
de profundidade. Com o atraso na correta análise dos riscos, as
indenizações aos ex-trabalhadores foram realizadas apenas em 2013
(SILVA et al., 2005).

Chegamos ao fim da nossa jornada! Você concluiu uma


importante etapa na construção de seus conhecimentos sobre a
toxicologia ambiental. Nesta obra, você completou seus estudos
sobre os fundamentos básicos da toxicologia ambiental: os agentes
tóxicos mais difundidos em todo o mundo e seus potenciais riscos
às populações expostas. Esses conhecimentos o auxiliarão no
desenvolvimento de trabalhos relevantes para sua futura profissão.
Mas lembre-se de que sempre existirão novos conhecimentos a
serem construídos e descontruídos, pois a ciência é dinâmica! A partir
daqui, a caminhada será com você! Desejamos bons estudos e uma
ótima caminhada!

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 207


Sem medo de errar

Caro aluno,
Nesta seção, você se familiarizou com diversos casos de
acidentes ambientais, tanto em âmbito nacional quanto internacional.
Aprendemos aqui que os acidentes não estão restritos aos países em
desenvolvimento e, mesmo com o avanço da tecnologia, as falhas
humanas, incluindo as negligências e a falta de manutenção, são as
principais responsáveis pelos acidentes.
Após você analisar diversos casos de acidentes ambientais com
substâncias químicas perigosas, é possível concluir que os danos
à saúde humana e ambiental poderiam ser evitados ou mitigados
com uma análise de risco rigorosa. Agora, voltaremos à empresa
de consultoria! Com os resultados dos testes ecotoxicológicos
em mãos, você e seus colegas consultores resolveram finalizar a
avaliação de risco para entregar ao prefeito de Barreiras (BA). Mas
algumas dúvidas ainda restavam ao prefeito: quais populações são
as mais expostas? Quem deve ser priorizado em um programa de
emergência ambiental?
As dúvidas do prefeito serão sanadas quando você e sua equipe
finalizar a avaliação de risco, verificando possíveis populações expostas
e orientando-o com relação ao gerenciamento de risco. Para isso,
vocês precisarão verificar o risco que os poluentes encontrados na área
oferecem ao ambiente. Simule a análise simplificada do Quociente de
Risco (QR) e utilize os dados dos agentes tóxicos levantados até aqui,
assim como os dados de CE50 obtidos nos testes ecotoxicológicos.
Depois, classifique o nível do risco. Ao final da avaliação, destaque as
populações mais vulneráveis da área estudada e peça para o prefeito
priorizá-las durante o gerenciamento e a comunicação do risco. Siga
as instruções a seguir. Use sua criatividade e mãos à obra!
1. Introdução: enfatize a importância da avaliação de risco.
2. Caracterização do local: adicione informações da localização,
área, geografia, população etc.
3. Identificação dos agentes tóxicos: inclua a identificação dos
poluentes dos recursos hídricos, da atmosfera e do solo com os
respectivos perigos. Estruture o conteúdo em forma de tabelas.
4. Identificação da flora e fauna: inclua a identificação da flora e

208 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


fauna do local. Estruture o conteúdo em forma de tabelas.
5. Testes ecotoxicológicos: inclua os resultados dos testes
ecotoxicológicos, com os valores de CE50 obtidos para cada
organismo.
6. Caracterização do risco: inclua os cálculos de risco e descreva
os resultados separadamente para cada teste ecotoxicológico
realizado. Um método simples para detectar potenciais riscos
ao ambiente é o Quociente de Risco (QR).
7. Considerações finais: com base nos resultados da
caracterização do risco, conclua a avaliação de risco com os
pontos mais relevantes do trabalho.

Avançando na prática

Solventes mal armazenados

Descrição da situação-problema
Caro aluno, nesta seção vimos que os acidentes ambientais não
ocorrem somente em grandes escalas. Pequenos acidentes também
são capazes de induzir danos irreversíveis, dependendo da toxicidade
da substância química e da via de exposição. Agora, imagine que
você foi contratado para auxiliar em uma análise de risco. O caso
é de um laboratório de análises químicas localizado no interior de
São Paulo. Devido ao clima quente e seco, solventes orgânicos que
foram armazenados em galões em uma área descoberta começaram
a evaporar e causar um cheiro forte nos arredores do laboratório.
Para a etapa de avaliação de risco, que análises você sugeriria
que fossem realizadas? Se verificados os níveis elevados de
hidrocarbonetos no ambiente, que recomendações você daria ao
responsável pelo laboratório?

Resolução da situação-problema
Considerando que solventes orgânicos possuem elevada
volatilidade e estão armazenados de forma inadequada em uma área
não coberta, você poderia caracterizar este risco e sugerir análises de

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 209


amostras ambientais em diferentes compartimentos, quantificando
a concentração dos solventes na atmosfera e no solo próximo ao
local de armazenamento. Ao obter os resultados, será necessário
compará-los com os valores de referência.
Caso sejam comprovados os níveis excessivos de hidrocarbonetos
nos compartimentos analisados, recomende a imediata retirada dos
galões da área descoberta, e solicite o armazenamento em locais
protegidos e com exaustão controlada. Ressalte ao responsável que
comunique os funcionários do local sobre a contaminação e interdite
a área com o solo contaminado. Vale ressaltar também a importância
de se continuar um estudo de monitoramento ambiental para avaliar
se a quantidade de hidrocarbonetos irá diminuir ao longo do tempo.

Faça valer a pena

1. No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente apresenta em nível nacional


o cenário de acidentes com produtos químicos perigosos, elaborado com
informações dos acidentes de grande relevância, ou seja, aqueles com
vazamentos de volumes consideráveis, ocorrência de explosões, incêndios
e acidentes envolvendo substâncias de alta toxicidade.
No que se refere aos acidentes com produtos químicos perigosos, assinale
a alternativa que contém o produto químico mais envolvido em acidentes
no Brasil.
a) Gás natural.
b) Diesel.
c) Amônia.
d) Álcool.
e) Tinta.

2. A respeito dos acidentes ambientais com petróleo e seus derivados,


analise as afirmações a seguir:
I. O vazamento de petróleo e seus derivados em ambientes aquáticos
causa a morte instantânea de milhares de animais.
II. O petróleo causa o aumento de oxigênio na água, evitando que todo o
ecossistema seja extinto.

210 U4 - Indicadores e consequências da toxicologia


III. A comunidade planctônica, principal fonte de alimento da cadeia trófica
e responsável pela renovação de grande parte de oxigênio na água, é
drasticamente afetada, sendo a grande maioria morta.
Considere as opções a seguir e assinale a alternativa que corresponde a
todas as afirmações corretas:
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

3. Analise as afirmações a seguir:


I. As populações que residem próximas aos locais onde ocorreram acidentes
ambientais sempre precisam ser desalojadas, independentemente do tipo
de acidente.
II. Os efeitos adversos que acidentes ambientais causam à saúde humana
muitas vezes são crônicos, ou seja, os sintomas de intoxicação aparecem
apenas ao longo do tempo.
III. Acidentes ambientais que liberam grandes quantidades de metais e
outros agentes tóxicos carcinogênicos para o ambiente são responsáveis
pela elevação dos índices de problemas relacionados ao câncer.
Considere as opções a seguir e assinale a alternativa que corresponde a
todas as afirmações corretas:
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

U4 - Indicadores e consequências da toxicologia 211


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