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5.psicanalise Caracteristicas Gerais

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Psicanálise:

características
gerais
Silva, Vitor Lima da
SST Psicanálise: características gerais / Vitor Lima da Silva
Ano: 2019
Nº de p.: 12

Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.


Psicanálise: características
gerais

Apresentação
Neste momento, estudaremos mais profundamente outra escola da Psicologia
contemporânea que tem grande relevância por suas contribuições no campo de
pesquisa da Psicologia: a Psicanálise. Partido de seu surgimento, passando por
seus conceitos básicos e explorando suas aplicações.

A Psicanálise foi criada pelo médico austríaco Sigmund Freud. Ele quebra com a
tradição da Psicologia como ciência da consciência e da razão e postula o conceito
de inconsciente, que passa a ser o seu objeto de estudo. Ele desenvolve ainda toda
uma metodologia de investigação clínica e inaugura novo campo de pesquisa com
conceitos e princípios próprios.

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Sigmund Freud e a psicanálise
Freud nasceu em 1856, na cidade de Morávia, e faleceu em Londres no ano de 1939.
Na maior parte de sua vida, ele morou em Viena, de onde saiu somente quando
o Império Austríaco foi invadido pelos nazistas. Quando jovem, ele desejava ser
cientista e com esse intuito se formou em Medicina na Universidade de Viena, em
1881. Ele tinha um interesse especial pela Neurologia e se especializou em um ramo
da Medicina que trata os transtornos nervosos.

Estudou um ano com o famoso psiquiatra francês Jean Charcot, que utilizava a
hipnose no tratamento da histeria. Freud utilizou a hipnose por um período, mas
quando ouviu falar do método desenvolvido pelo médico vienense Joseph Breuer,
que curava os sintomas do paciente por meio da fala, ele o experimentou e o achou
efetivo. A parceria com Breuer não durou muito, pois logo divergiram sobre a
importância do fator sexual na histeria. Freud seguiu praticamente por conta própria
com as pesquisas que culminariam na criação da Psicanálise. (SILVA, 2012)

O termo Psicanálise pode ser usado para designar um campo


teórico, um método de investigação e uma prática profissional.

No campo teórico, Freud sistematizou vasta obra com conhecimentos sobre o


funcionamento psíquico, adquiridos ao longo dos anos em sua prática clínica. A
sua primeira obra com amplo reconhecimento foi “A interpretação dos sonhos”,
publicada em 1900. Outras obras de grande relevância produzidas por Freud foram
“A Psicopatologia da vida cotidiana” (1901), “Conferências introdutórias gerais à
Psicanálise” (1917), “O mal-estar na cultura” (1930), “Esboço da Psicanálise” (1940),
dentre outras.

A psicanálise, como método de investigação, utiliza a interpretação da fala para


decifrar o real significado da linguagem expressada pelo indivíduo. Além da
interpretação da fala, o método psicanalítico também utiliza expressões simbólicas
do indivíduo, tais como os sonhos, os delírios, os atos falhos e as associações livres
como meio de pesquisa e acesso a conteúdo do inconsciente.

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A prática profissional a que o termo psicanálise se refere é uma forma de
tratamento clínico específico denominado análise.

O objetivo último da análise é o autoconhecimento e a decorrente


cura ou minimização dos sofrimentos psíquicos e emocionais.

À medida que a pessoa começa a conhecer as causas de seu sofrimento e a lançar


luz sobre seus mecanismos de defesa, a tendência é amenizar o sofrimento e os
sintomas neuróticos. Cabe ao analista acompanhar e instigar essa pesquisa de
autoconhecimento pela interpretação da fala de seu paciente, analisando os demais
recursos simbólicos.

Além da prática clínica, o psicanalista tem sido requisitado em diferentes


contextos, a fim de contribuir com seus conhecimentos sobre o funcionamento
psíquico do indivíduo e no entendimento sobre os diferentes fenômenos
sociais contemporâneos, tais como o narcisismo, o consumismo compulsivo, o
individualismo exacerbado, guerras, intolerâncias, entre outros.

A personalidade para a psicanálise


A Psicanálise caracteriza-se como uma teoria psicodinâmica da personalidade.
Sua preocupação central é com as forças dinâmicas que determinam o
comportamento e com os mecanismos de defesa que são utilizados, muitas vezes
inconscientemente, para se proteger dessas forças.

Freud enxergava o indivíduo como um sistema dinâmico sujeito às leis da


natureza e defendia um modelo conflitual de motivação. Isto significa dizer que o
comportamento é determinado por impulsos inconscientes, com base biológica,
que necessitam ser satisfeitos.

A primeira teorização de Freud acerca do aparelho psíquico foi feita na sua obra “A
interpretação dos sonhos” (1900), na qual apresenta sua visão sobre a estrutura e
o funcionamento da personalidade, que é composta por três grandes sistemas: o
inconsciente, o pré-consciente e o consciente.

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O aparelho psíquico funciona sob uma lógica de economia da energia psíquica:
tende a optar pelo caminho que desprenda o mínimo de energia psíquica para
satisfazer as necessidades e desejos do organismo, possibilitando a manutenção
de um nível satisfatório de ansiedade.

Inconsciente:

é constituído de conteúdos reprimidos que não estão nem na consciência e


nem no pré-consciente. Ele é regido por leis próprias e não obedece à lógica
racional e à noção de tempo linear.

Pré-consciente:

é o meio do caminho entre o inconsciente e a consciência, sistema do


aparelho psíquico em que estão “adormecidos” conteúdos acessíveis à
consciência.

Consciente:

é o sistema do aparelho psíquico que faz a mediação entre o mundo externo


e o mundo interno. O consciente é constituído pelos pensamentos em que o
sujeito está desperto, percepção do mundo, atenção e raciocínio.

A segunda formulação de Freud acerca da constituição do aparelho psíquico foi


realizada entre 1920 e 1930. Neste período, ele introduziu os conceitos de id, ego e
superego.

O id representa a fonte de toda energia do aparelho psíquico e é a origem das


pulsões de vida e de morte. A “pulsão”, para Freud, é um conceito que se situa
na fronteira entre o mental e o corpo e gera um estado de tensão no indivíduo. A
tendência da pulsão é achar um objeto para descarregar essa energia, seja por
meios físicos, seja por meios simbólicos, a fim de suprimir o estado de tensão
promovido pela pulsão. A pulsão de vida refere-se aos instintos sexuais e de
sobrevivência, já a pulsão de morte designa os instintos destrutivos. O id é o
correlato do inconsciente e é regido pelo princípio do prazer que visa a descarregar
tensões psíquicas.

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O ego está entre o id e o superego e faz a mediação entre as necessidades do
mundo interno com as possibilidades objetivas do mundo externo. O ego é regido
pelo princípio de realidade e busca um equilíbrio entre as necessidades de descarga
do id e as exigências morais do superego.

O superego é o representante interno das regras sociais e do ideal moral aprendido


pela criança. O superego representa o ideal do ego e busca a perfeição mais do que
o prazer.

Saiba mais
Freud dedicou especial atenção aos instintos, especialmente os
instintos sexuais. Os instintos de vida são aqueles que servem
à sobrevivência individual e à manutenção da espécie, tais como
a sede, a fome e o sexo. Ele denominou de libido a expressão da
energia oriunda dos instintos de vida.

Sexualidade
Freud foi um pesquisador que enfrentou muitas críticas por conta de suas
afirmações e achados, mas certamente um dos terrenos em que ele foi mais
duramente criticado foi no campo da sexualidade infantil.

Vale lembrar que a sociedade do início do século XX era extremamente


conservadora sobre diversos temas, especialmente em relação à sexualidade. Este
tema era recorrente na fala e no tratamento dos pacientes de Freud devido aos
traumas e recalques oriundos de conflitos da infância. A partir de suas análises
clínicas, ele formulou uma teoria do desenvolvimento psicossexual e foi pioneiro em
definir a importância da sexualidade na infância.

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Freud postulou quatro fases para explicar o desenvolvimento
psicossexual dos sujeitos: oral, anal, fálica e genital.

O primeiro momento é a fase oral: a zona de prazer se concentra na boca.

Em seguida aparece a fase anal, em que a zona de erotização é o ânus, momento


em que a criança começa a ter o controle do esfíncter, e esse movimento voluntário
passa a ser prazeroso para a criança.

A terceira fase é a fálica, na qual a zona de erotização é o órgão sexual. Em seguida,


ocorre um período de latência, que se estende até a puberdade e é caracterizado por
uma “pausa” no processo de amadurecimento da sexualidade.

Por fim, o indivíduo atinge a última fase no período da puberdade, que é a fase
genital: o objeto de erotização ou de desejo volta-se para um objeto externo ao
indivíduo.

No período da puberdade ocorre a fase genital, o ápice do amadurecimento sexual.

Fonte: Plataforma Deduca (2020).

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Freud foi buscar na mitologia grega, mais especificamente no mito de Édipo rei, uma
analogia para explicar o processo pelo qual a criança estrutura sua personalidade.
Este processo ocorre entre três e cinco anos, inserindo-se no período da fase fálica,
segundo sua concepção de desenvolvimento psicossexual. No complexo de Édipo,
a mãe é objeto de desejo da criança do sexo masculino e o pai é um obstáculo
para que a criança a “possua” com exclusividade. A criança percebe que não pode
eliminar o pai (como Édipo fez na mitologia grega) e então passa a considerá-lo
como modelo de comportamento em uma investida de ser o “pai” para ter a mãe.
O modelo do pai é internalizado, passando a constituir as regras e normas sociais
representadas e impostas pela autoridade paterna.

Em um segundo momento, a criança desiste de possuir a mãe com receio de


perder o amor do pai, e o objeto de desejo e investida, que antes era a mãe, passa
a ser a riqueza do mundo social e cultural, do qual a criança pode desfrutar já que
internalizou as regras básicas de sociabilidade. O mesmo processo ocorre com
as meninas, trocando-se a figura objeto de desejo e de identificação. No caso da
menina, o objeto de desejo é o pai, e Freud referência este processo como Édipo
feminino.

Os mecanismos de defesa do ego foram identificados por Freud como meios que o
ego encontra para aliviar a tensão exercida pelo excesso de ansiedade produzido
pelas descargas energéticas do id, e que não encontram um meio natural de
extravasamento.

Os principais mecanismos de defesa do ego são: a repressão, a projeção, a


formação reativa, a fixação e a regressão. Eles atuam de forma a falsear ou
distorcer a realidade, tornando-a menos ansiolítica para o sujeito, e também
operam no nível do inconsciente do indivíduo.

Repressão ou recalque:

é o mecanismo que o ego utiliza para depositar no inconsciente os conteúdos


ameaçadores ou impróprios e que não estão em possibilidade de chegar à
consciência.

Projeção:

é o mecanismo no qual a ansiedade neurótica ou moral é convertida em um


medo objetivo.

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Formação reativa:

substitui na consciência um impulso ou sentimento ansiogênico pelo seu


oposto.

Fixação:

ocorre quando a pessoa fica “presa” em um dos estágios do desenvolvimento,


porque passar à fase seguinte gera muita ansiedade.

Regressão:

ocorre quando a pessoa passa por experiências traumáticas e, a partir daí,


recua para estágio anterior do desenvolvimento.

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Fechamento
Atualmente, a prática da Psicanálise está presente em muitos campos de atuação
e seus conhecimentos colaboram no entendimento das condições humanas
em diferentes contextos. Freud não se limitou a fazer uma leitura do sofrimento
estritamente do indivíduo, mas tratou de temas relacionados ao mal-estar na
cultura e à produção social da neurose, com contribuições que servem de base para
leitura e interpretação de muitos fenômenos sociais contemporâneos.

À medida que a pessoa começa a conhecer as causas de seu sofrimento e a lançar


luz sobre seus mecanismos de defesa, a tendência é amenizar o sofrimento e os
sintomas neuróticos. Cabe ao analista acompanhar e instigar essa pesquisa de
autoconhecimento pela interpretação da fala de seu paciente, analisando os demais
recursos simbólicos.

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Referências
SILVA, A. C. da. Os fundamentos freudianos e as aplicações da psicanálise:
condições, possibilidades e implicações. Dissertação de mestrado. Universidade
Federal do Paraná. Curitiba, 2012. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/
bitstream/handle/1884/27412/R%20-%20D%20-%20SILVA%2C%20ANGELA%20
CRISTINA%20DA.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 11 jan. 2020.

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