Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Introdução Ao Diagnóstico de Riscos

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 22

Diagnóstico e Análise

de Riscos de Segurança
Introdução ao Diagnóstico de Riscos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Tercius Zychan De Moraes

Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Introdução ao Diagnóstico de Riscos

• A Segurança e a Urbanização


OBJETIVO

DE APRENDIZADO
• Entender como o processo de urbanização reflete na segurança, assim como nos conceitos
que podem ser aplicados no diagnóstico e análise de riscos.
UNIDADE Introdução ao Diagnóstico de Riscos

A Segurança e a Urbanização
Sem dúvida, o processo de urbanização é uma realidade não somente no Brasil, como
no mundo.

Inúmeros fatores fazem com que esta realidade seja um dos grandes problemas
sociais a serem enfrentados diante do crescimento das cidades e, consequentemente,
na formação de regiões metropolitanas que concentram um grande número de habi-
tantes; conjugada a esta expansão populacional tem-se a carência de infraestrutura,
planejamento urbano, equipamentos públicos e acessibilidade, tudo isto aliado à carên-
cia de garantias de direitos sociais, exigindo dos administradores públicos muito mais
preparo e capacitação constante para o enfretamento dos novos desafios, vejamos:

Figura 1 – Taxa de urbanização brasileira


Fonte: universidadebrasil.edu

Note-se que a partir do censo dos anos de 1940 a nossa população rural correspon-
dia a 69% dos brasileiros, mas a cada década notamos que o percentual “rural” foi dimi-
nuindo em virtude da procura das pessoas pelos centros urbanos, na busca, sobretudo,
de trabalho e melhores condições de vida.

A partir da década de 1950, a industrialização do País tornou-se mais imponente,


sobretudo na região Sudeste, onde, à época, a infraestrutura apresentava melhores con-
dições para o desenvolvimento daquela atividade.

O que deixa nítida esta questão é o “salto” da população urbana na década de 1960,
que passou a ser de 45% de nossos habitantes, apresentando um aumento de cerca
de 50% em relação aos anos de 1940.

Mas foi nas décadas de 1970 e 1980 que as migrações do campo se acentuaram, na-
quilo que ficou conhecido como “êxodo rural”, pois a mecanização e tecnologia que passa-
ram a ser empregadas no campo fizeram crescer a procura do “homem do campo” pelos
centros urbanos, principalmente para a região mais industrializada do País, o Sudeste.

Agora, para ampliarmos nosso estudo para esta realidade, observemos o gráfico
a seguir, que tabula a pesquisa nacional por amostra de domicílio, realizada pelo Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2015:

8
Figura 2 – Pesquisa nacional por amostra de domicílio
Fonte: IBGE

Os dados desta pesquisa apresentam certa estabilidade ao demonstrar que o cresci-


mento da população urbana com relação à rural, utilizando como parâmetro o censo
demográfico de 2010, apresenta que ainda 85% de nossa população concentra-se nas
áreas urbanas e 15% nas rurais.

O que não é de impressionar é que a região mais industrializada do País, o Sudeste,


possui população urbana acima do percentual da população urbana nacional. Isto nos
revela que os maiores problemas relativos à urbanização se concentram no Sudeste, mas
não desprezando as demais regiões que demandam de planejamento e recursos para
garantirem o “bem-estar” de seus habitantes.

Vistos estes dados, seguiremos evidenciando-os sob o foco das questões relacionadas
à segurança e sua relação com as cidades e os seus trechos urbanos.

Inicialmente é imperioso que compreendamos alguns conceitos ligados ao tema.


O  primeiro deles seria compreender o conceito do que vem a ser uma cidade. Para
tanto, observemos a definição emitida por José dos Santos Carvalho Filho (2013, p. 1):

“Esta revela, de imediato, a ideia de conglomerado de pessoas com interesses indivi-


duais e gerais, fixadas em determinada área territorial”.

Como entes federativos, as cidades no Brasil são denominadas municípios, tal como
indica o artigo 1º de nossa Constituição Federal:

Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel


dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos.

Os municípios tidos como entes federativos possuem seus Poderes Executivo representa-
dos pela figura dos prefeitos e seu Poder Legislativo formado pelas “Câmaras Municipais”,

9
9
UNIDADE Introdução ao Diagnóstico de Riscos

não possuindo um Poder Judiciário, pois, por deliberação da Constituição, estes somente
foram previstos para a União e os Estados.

Os entes federativos que representam também o conceito de cidades são dotados


de competência política e administrativa, tendo suas competências locais definidas em
nossa Constituição Federal em duas condições.

A primeira é denominada competência comum, cujos objetos abordam em uma


condição horizontal, envolvendo a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal.

No tocante à competência comum, destaquemos a proteção ao meio ambiente e o


combate a todas as formas de poluição, conforme nos dita o inciso VI do artigo 24 de
nossa Lei Maior:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
[...]
VI – Florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo
e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição.

Cabe às “cidades” tratar de questões relacionadas ao interesse local, de acordo com


as hipóteses do artigo 30 também da Constituição:

Art. 30. Compete aos Municípios:


I – Legislar sobre assuntos de interesse local;
II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como apli-
car suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e pu-
blicar balancetes nos prazos fixados em lei;
IV – criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual;
V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou per-
missão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial;
VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Esta-
do, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental;
VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Esta-
do, programas de educação infantil e de ensino fundamental;
VII – prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Esta-
do, serviços de atendimento à saúde da população;
VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, me-
diante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação
do solo urbano;
IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observa-
da a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

A ordem jurídica dos municípios é estabelecida por uma “lei orgânica”, a qual não
pode possuir qualquer conflito com a Constituição Estadual e com a Constituição Fe-
deral, nos moldes do artigo 29 desta última (grifo nosso):

10
Art. 29 O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos,
com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos
membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os prin-
cípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo
Estado e os seguintes preceitos.

Uma questão que merece destaque ao se apreciar a nossa Constituição Federal é a


de possibilitar aos Municípios serem dotados em sua divisão geográfica por “Distritos”,
vejamos (grifo nosso):

Art. 30. Compete aos Municípios:


[...]
IV – criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual.

Os distritos são centros populacionais mais afastados do ambiente urbano das cida-
des, mas inseridos na mesma geografia do município. Sobre os distritos, enfatiza José
dos Santos Carvalho Filho (2013, p. 3):

Os Municípios podem adotar divisão geográfica de modo a marcar a área


de certos centros populacionais mais afastados da cidade: são os distritos,
cuja criação, organização e supressão se processam por lei municipal,
com observância da lei estadual. (Art. 30, IV, CF)

Além da existência dos “distritos”, torna-se possível subdividi-los em “subdistritos”.

Vale destacar que as “cidades” podem ainda ser vistas sob dois aspectos: o primeiro
seria o perímetro urbano e o segundo, o rural.

Figura 3 – Perímetro
Fonte: Adaptada de Freepik

11
11
UNIDADE Introdução ao Diagnóstico de Riscos

O Urbanismo
Conhecendo sob alguns aspectos o que vem a ser uma “cidade” trataremos do
urbanismo.

Levando em consideração que o ser humano é um ser social, tal compreensão faz com
que denotemos que o convívio entre a população das cidades careça de instrumentos que
permitam a interação entre as pessoas, seja sob o ponto de vista social ou econômico;
para tanto, principalmente o espaço urbano das cidades deve ser dotado de núcleos de
comércio, bancos, serviços de saúde, escolas, moradias, templos religiosos etc.

Sobre um conceito que se atrela a esta linha de pensamento podemos mencionar


Hely Lopes Meirelles (1985) que, ao abordar o tema, assim o descreve: “[...] urbanismo
é o conjunto de medidas estatais destinadas a organizar os espaços habitáveis, de modo
a propiciar melhores condições de vida ao homem na comunidade [...]”.

Diante deste pensamento fica claro que a formação dos perímetros urbanos não tem
por escopo outro do que dar suporte social para a população.

O papel do Poder Público com relação ao que podemos denominar meio urbano é
fundamental, pois cabe a este poder a competência de disciplinar o bem-estar dos habi-
tantes sob um aspecto de cunho coletivo, não considerando interesses individuais, já que
o interesse público deverá ser a única direção do ente público em quaisquer dos entes
federativos dos poderes e de qualquer dos órgãos que os componham.

Diante da ampliação do entendimento da importância do Poder Público com


relação à ocupação urbana das cidades, podemos conceber que no tocante à ocupação
do espaço urbano caberá a este poder dar concretude ao dever constitucional imposto
pelo que diz o artigo 182 de nossa Constituição Federal, mais precisamente em esta-
belecer o que tange ao “[...] desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir
o bem- estar de seus habitantes [...]”.

Podemos exemplificar as medidas a serem cumpridas pelas cidades como um resumo


de sua busca permanente e garantia das funções sociais que se espera delas, tais como
trabalho, habitação, segurança, lazer, meio ambiente, educação, saúde etc.

Neste contexto caberá ao mesmo Poder Público firmar condutas que delimitem e con-
trolem a ocupação do espaço urbano, atendendo ao interesse coletivo, vez que diante
da dicotomia de interesses entre os diversos grupos sociais que compõem o elemento
humano das cidades seria impossível tal organização.

Importante destacar que a postura pública deve sempre seguir as orientações de um


Estado Democrático de Direito, sendo alicerçada no exato cumprimento do sistema jurí-
dico vigente, mas dando “voz” ao cidadão que vive no ambiente urbano correspondente
à “cidade”.

Neste sentido, pode-se dizer que uma ocupação urbana necessita do Poder Público
com a competência legal de direcionar as suas posturas associadas à sociedade de ma-
neira a que se cumpra a concretude do “bem-estar dos habitantes”.

12
Neste contexto é relevante a menção que Hely Lopes Meirelles (1985, p. 379)
faz do engenheiro e grande urbanista Eiras Garcia: “Não se compreende urbanismo
isolado; não se realiza urbanismo particular; não se faz urbanismo por conta própria;
nem há imposições urbanísticas sem norma legal e geral que as determinem”.

Figura 4
Fonte: Reprodução

Observemos um exemplo do cumprimento da mencionada ação pública dirigida


a cumprir o dever constitucional de bem-estar dos habitantes das cidades tal como
descrita em parte do editorial do Jornal Cruzeiro do Sul, que passou a entrar em vigor
no Município de Sorocaba, SP, a partir de abril de 2019:

Está em vigor há um mês a nova lei municipal que disciplina a comuni-


cação visual em espaços públicos de Sorocaba. A lei, em vigor desde o
dia 19 de fevereiro, é resultado de um projeto apresentado pelo Execu-
tivo e define uma série de normas sobre a fixação de cartazes, outdoors
e outras peças publicitárias e de divulgação, o que é um avanço para
a despoluição da cidade. Hoje, basta um rápido passeio por alguns
corredores movimentados da cidade ou na região central para notar
os abusos. São placas afixadas sem qualquer critério ou senso estético;
outdoors escondendo fachadas de prédios tombados pelo patrimônio ou
escondendo construções marcantes de décadas passadas.
A legislação que acaba de entrar em vigor quer restabelecer o equilíbrio
na utilização do espaço público, prevenindo a sua ocupação desordena-
da. Na justificativa encaminhada junto com o projeto, o texto diz que a
ausência de uma adequada ordenação da paisagem urbana traz no-
tórios prejuízos para a cidade. A nova lei também proíbe a colocação
de anúncios em árvores, pontes, viadutos, áreas de interesse turístico
e cultural, postes de iluminação pública e de telefonia, entre outros. Há
também riscos para a segurança do trânsito, uma vez que a poluição visual
causada por placas e cartazes colocados próximos à sinalização vertical
atrapalha a visão dos motoristas. Não podemos nos esquecer do estresse
que a poluição visual causa nas pessoas, como já foi comprovado por inú-
meras pesquisas. (CIDADE limpa. Jornal Cruzeiro do Sul, 03/04/2019)

Fonte: https://bit.ly/3tGC1cJ

13
13
UNIDADE Introdução ao Diagnóstico de Riscos

Os dispositivos constitucionais dos artigos 182 e 183 tratam da política urbana:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por ob-
jetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.
[...]
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

Para dar concretude a estes impositivos legais às políticas urbanas surgiu em nosso
sistema jurídico a Lei 10.257, de 10/07/2001, mais conhecida como Estatuto da Cidade.

Neste instante cabe destacar que a citada norma manifesta com relação à participa-
ção conjunta do Poder Público e dos habitantes da cidade na promoção em conjunto
das políticas de planejamento urbano, como pode ser visto no artigo 2º da Lei, em seus
incisos II e III:

Art. 2º. A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvi-
mento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante
as seguintes diretrizes gerais:
[...]
II – gestão democrática por meio da participação da população e de
associações representativas dos vários segmentos da comunidade na for-
mulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos
de desenvolvimento urbano;
III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da
sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social.

O Urbanismo e duas de suas consequências:


Criminalidade e Segurança das Edificações
O aumento da procura das populações aos centros urbanos está ligado, na maioria
das vezes, a uma falsa perspectiva de que este ambiente oferecerá melhor qualidade
de vida, tal como a expectativa de facilidade de conquistar uma vaga no mercado
de trabalho formal, com uma vida mais próxima aos bens de desejo de consumo, ou
seja, existe uma ilusão que muitas das vezes não se concretiza.

A busca do ambiente urbano faz com que as populações das cidades tendam a crescer
de forma desordenada, o que se alia à questão atinente à falta de qualquer planejamento
para garantir, de maneira satisfatória, a disponibilidade de serviços públicos, tais como
coleta de lixo, fornecimento de energia elétrica, acesso à internet, água potável, coleta
de esgoto, dentre outros; bem como a prestação de direitos fundamentais, tais como
saúde, educação, segurança e demais direitos sociais.

Os fatores mencionados são os principais contribuintes para o aumento da crimina-


lidade nos centros urbanos, pois se aproveita da desordem urbana para se estabelecer,
prejudicando e colocando em risco a população e o patrimônio público e privado.

14
O crescimento das cidades sem o planejamento e a projeção de sustentabilidade
dos espaços dos serviços públicos e a satisfação de direitos sociais criam facilidades
para o crime, ampliando os índices estatísticos ligados à criminalidade.

Questões como grandes congestionamentos, ausência de áreas de lazer, falta de ilu-


minação pública, ruas sem a devida pavimentação, ocupação irregular de terras para
a criação de residências que não seguem um padrão construtivo seguro etc., ampliam
em muito o que se denomina insegurança pública.

Assim, percebe-se que o planejamento urbano é uma das principais ferramentas para
a minimização da criminalidade, pois não nos esqueçamos de uma frase muito antiga:
“a oportunidade faz o ladrão”.

O desenvolvimento de políticas públicas que almejem a garantia das funções sociais


da cidade será fator determinante para enfrentar o problema da violência de maneira
mais concreta e duradoura.

Os especialistas em segurança pública, tal como Christiano Gonzaga, colocam como


um fator que tende a dar causa a bons resultados na diminuição de índices criminais, apli-
cando racionalmente recursos públicos naquilo que se denomina prevenção primária.

A prevenção primária consiste na forma mais eficaz de prevenir o co-


metimento de crimes, uma vez que ela age antes do seu nascedouro,
operando-se uma planejada realização de políticas públicas. É sabido
que países mais desenvolvidos, como Suécia, Suíça e Japão, possuem
um viés de implementação de políticas públicas muito acentuado, em
que o Estado é responsável em prover todas as necessidades básicas
(direitos sociais) dos seus cidadãos. Não havendo a falta de direitos ele-
mentares, o cidadão não se sente motivado a cometer crimes para ter
saúde (hospital), educação (escola) e segurança pública (policiamento).
(GONZAGA, 2020, p. 198)

Exemplificando, como a falta de planejamento urbano tende a colocar em risco o ci-


dadão dessas áreas, repercutindo na elevação dos índices criminais, observemos trecho
da matéria jornalística a seguir, que trata de crimes que assolam os motoristas na área
mais central da Cidade de São Paulo:

Já passava das 18h quando o estudante André Reis seguia de carro para
a faculdade. Para escapar do trânsito, seguia as orientações de um aplica-
tivo no celular e, ao parar num semáforo perto do Parque do Ibirapuera,
ele tomou um grande susto.
“Meu vidro explodiu, voou um monte caco. Vi um braço entrando no
carro e puxando meu aparelho, né. Foi bastante assustador por estar de
noite e sozinho.”
Não muito longe dali, o motorista de aplicativo Raimundo Araújo viu
o celular ser violentamente levado em segundos quando foi deixar um
passageiro em Higienópolis, no centro. “Eu parei no farol atrás de um
caminhão e subiu um rapaz e me assaltou. A gente roda com medo, é
uma insegurança muito grande.”
Histórias como essas são frequentes na capital paulista e assustam os
motoristas.

15
15
UNIDADE Introdução ao Diagnóstico de Riscos

A região central da cidade é onde esses crimes mais acontecem, por


conta do fluxo grande de carros e alto número de semáforos. Por ser um
crime rápido e fácil de executar, o delegado Glaucus Vinícius notou que
o número de casos tem aumentado. (ROUBOS de celulares em carros
aumentam em São Paulo. Jovem Pan, 03/02/2020)
Fonte: https://bit.ly/3ChKwhA

O processo de urbanização aliado à falta de planejamento do ambiente urbano são


fatores que contribuem potencialmente para o avanço da criminalidade e, sem dúvida,
constituem aspectos preocupantes para a população em geral.

A questão da segurança urbana afeta não somente a integridade física e do patrimô-


nio pessoal do cidadão – aquele que ele carrega consigo em seus deslocamentos (por
exemplo, telefones celulares, notebooks, veículos, carteira, dinheiro, cartões de crédito,
relógios etc.) –, mas também medidas de proteção imobiliária, criando algo que pode
ser denominado arquitetura da segurança, vez que as pessoas, empresas e o Poder
Público passam a adotar técnicas ou mecanismos construtivos das mais rudimentares
até as que apresentam uma alta performance tecnológica para garantia da segurança.

Medidas mais intensas de proteção do patrimônio imobiliário passaram a ser mais


expansivas no Brasil, especificamente nos centros urbanos a contar do início dos anos
de 1980, onde – pelos motivos já abordados – o processo migratório se intensificou.

Foi nesse momento que os mecanismos de segurança, denominados patrimoniais,


passaram a fazer parte da arquitetura das edificações, chegando aos tempos atuais
como uma cultura disseminada.

Podemos fazer, inclusive, um comparativo das muralhas que cercavam as antigas


cidades medievais para a arquitetura de segurança dos atuais condomínios verticais.

Figura 5
Fonte: omcradio.org

16
Figuras 6
Fonte: Pixabay

Diagnóstico de Riscos: Uma Atividade Multidisciplinar


Antes de estudarmos detalhadamente o que vem a ser um diagnóstico de risco é
preciso saber identificar o que vem a ser um “risco”.

A ideia de risco está envolta à probabilidade de que um evento adverso, ou seja, não
desejado venha a ocorrer, dando causa a resultados igualmente indesejados.

Probabilidade
+ Resultados
Risco = de que um indesejados
evento adverso

Figura 7

Para a avaliação dos riscos em segurança, elemento essencial para qualquer diagnós-
tico, é fundamental a criação de uma equipe multidisciplinar, formada por pessoas que
detenham conhecimento e experiência em situações tidas como normais e em ocasiões
que extravasam a essa.

No enfrentamento da adversidade faz-se necessária a adoção de medidas corretivas


imediatas a fim de se evitar ou minimizar eventuais danos a serem promovidos pela
situação indesejada.

Deste modo, uma análise e um diagnóstico de risco seguro permitem dar origem a
registros precisos e eficazes, abrindo ao gestor público ou privado a capacidade de miti-
gar as incertezas, bem como dar lastro às melhores decisões.

A justificativa de uma equipe multidisciplinar possui grande gama de argumentos, até


porque os profissionais que atuarão na equipe de análise de risco possuem conhecimento
e atuação profissional em áreas específicas.

17
17
UNIDADE Introdução ao Diagnóstico de Riscos

A maior experiência não somente levará a maior credibilidade, mas também o custo
dos profissionais envolvidos será menor.

Ao promover a análise de risco a equipe multidisciplinar deverá fazer uma avaliação


dos índices históricos das ameaças, pois o evento adverso a ser diagnosticado deve
apresentar antecedentes, ou seja, não se trata de uma novidade, podendo tão somente
ser o agravamento de um evento que ocorra com determinada frequência, mas que
apresente alguma alteração diante de evolução do modus operandi de quem, por
exemplo, é contumaz na prática de crimes.

Em outro exemplo, pode-se citar o furto de veículos em determinados trechos urbanos


com o emprego de objeto para o rompimento de vidro, ou o amassamento da lataria de
veículos e o emprego de bloqueadores de alarmes de veículos para assegurar o ingresso no
interior do automóvel a fim de promover o furto deste ou dos objetos em seu interior. Como
registro do presente exemplo, miremos no trecho desta matéria jornalística, que aborda um
adolescente praticando furto em um veículo com o emprego de pedra:

Figura 8
Fonte: Reprodução

18
Na sequência há outra matéria abordando o mesmo furto, agora com o emprego de
equipamento para bloquear o comando do alarme e fechamento de veículo, fazendo
com que o proprietário imagine ter fechado e acionado o alarme do seu automóvel sem
saber que este comando fora bloqueado por meliante.

Bloqueador de sinal de alarmes automotivos são os mais novos aliados


de ladrões de veículos. Conhecido como “Chapolin”, o equipamento pode
ser facilmente adquirido em sites de compra pela internet por R$ 250 em
suaves parcelas. Outra opção é a compra em lojas do ramo de equipa-
mentos eletrônicos, tanto no comércio formal como informal da Capital.
O Chapolin, que nada mais é do que um controle remoto, que consegue
misturar os sinais e bloquear o funcionamento do controle do sistema do
alarme do veículo. Funciona em mais de uma frequência e uma delas é
a mesma usada para codificar os alarmes automotivos. Ao ser acionado
pelo condutor, o sinal é bloqueado pelo ladrão que opera o Chapolin ao
mesmo tempo e o carro não é travado.
Com isso, o veículo fica vulnerável e os criminosos atuam quando o pro-
prietário se afasta. São duas modalidades: em uma delas o ladrão invade
o carro e leva todos os objetos de valor de seu interior.
Outra possibilidade é o furto do veículo. Foi o que ocorreu com o agri-
cultor C.P., 40, que só conseguiu recuperar a caminhonete S-10 nova
porque ela possuía rastreador e foi localizada poucas horas depois no
estacionamento de clientes de uma empresa.
Após o furto, foi informado por outros clientes que o local está sendo alvo
da ação dos criminosos, tanto nos furtos dos veículos como de produtos
de seu interior. O fato de a vítima ter deixado a chave reserva no porta-
-luvas, facilitou a ação dos criminosos. Ele, que mora em Nova Mutum
(264 km ao norte), foi até um restaurante, no bairro Poção, almoçar com
a família. Desceu do veículo e acionou o alarme, que possivelmente foi
bloqueado. Quando deixou o restaurante, após o almoço, percebeu que
haviam levado o veículo. (LADRÕES bloqueiam alarmes automotivos.
Gazeta Digital, 17/12/2016)

Fonte: https://bit.ly/3tJkkJm.

19
19
UNIDADE Introdução ao Diagnóstico de Riscos

Material Complementar
 Leitura
Planejamento urbano e zoneamento municipal
https://bit.ly/2XkJTo3
O plano diretor é instrumento – e não solução para o uso e ocupação ordenada do solo urbano
https://bit.ly/3AkvpDa
Constituição Federal de 1988
https://bit.ly/3kcymQO
Estatuto da Cidade
https://bit.ly/3zaluyQ

20
Referências
AMARAL, F. Direito Civil: introdução. 10. ed. rev. mod. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. (e-book)

ANTONOVZ, T.; MAZZAROPPI, M. Análise de riscos. [1. ed.] Porto Alegre: Sagah,
2018. (e-book)

BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil – de


05/10/1988. Brasília, DF, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 16/09/2021.

BRASIL. Senado Federal. Estatuto da Cidade. Lei 10.257, de 10/07/2001.


Brasília, DF, 2001. Disponível em: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/hand-
le/id/70317/000070317.pdf>. Acesso em: 16/09/2021.

CARVALHO FILHO, J. dos S. Comentários ao Estatuto da Cidade. 5. ed. rev. ampl.


atual. São Paulo: Atlas, 2013. (e-book)

CRUZ, T. Planejamento estratégico. [1. ed.] São Paulo: Atlas, 2019. (e-book)

DAMODARAN, A. Gestão estratégica do risco. Trad. Felix Nonnenmacher. [1. ed.]


Porto Alegre: Bookman, 2009. (e-book)

FRAPORTI, S. Gerenciamento de riscos. [1. ed.] Porto Alegre: Sagah, 2018. (e-book).

GONZAGA, C. Manual de criminologia. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação,


2020. (e-book)

LIMA, F. G. Análise de riscos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

MEIRELLES, H. L. Direito municipal brasileiro. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tri-
bunais, 1985.

MORAES, A. de. Direito Constitucional. 35. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book)

NUCCI, G. de S. Código Penal comentado. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense


2020. (e-book)

REBOUÇAS, D. de P. de O. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia e


práticas. 34. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book)

SILVA, D. P. e. Vocabulário jurídico. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991.

SIRVINSKAS, L. P. Manual de Direito Ambiental. 16. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. (e-book)

21
21

Você também pode gostar