Ensino de Polinomios
Ensino de Polinomios
Ensino de Polinomios
A APRENDIZAGEM DE POLINÔMIOS
ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
POR MEIO DE UM ENSINO
CONTEXTUALIZADO
ROSILDA DOS SANTOS MORAIS
SÃO CARLOS
2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE METODOLOGIA DE ENSINO
SÃO CARLOS
2008
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
A Deus, pela proteção e auxílio, e por ter me presenteado com tantas pessoas maravilhosas,
que foram presença constante nesta empreitada.
Ao meu amado marido, Paulo, pelo amor e dedicação inabaláveis, pelo incentivo e pela
confiança que sempre depositou em mim.
Ao meu amado irmão Roni, que mesmo distante sempre me apoiou e me incentivou.
Ao professor Dácio R. Hartwig, por ter guiado meus primeiros passos no mestrado e por toda
a credibilidade e confiança em mim depositadas.
À professora Lourdes de la Rosa Onuchic, que mesmo não sendo minha orientadora, me
recebia em sua casa sempre com um sorriso no rosto dizendo: “Coragem! Levanta essa cabeça
e vamos lá!”; por te me oportunizado muitos momentos de aprendizado; por ter concedido o
privilégio de sua convivência e de sua amizade; por ter acreditado em meu trabalho; por ter me
acompanhado; por ter estado comigo nos momentos mais importantes e por ter, seguramente,
me orientado todas as vezes que a procurei.
À professora Adriana C. Mattos por ter acreditado desde o início em meu trabalho e por tantas
vezes ter me ouvido e me dado forças ao longo dessa difícil caminhada.
À querida “Donana”, por ter cuidado tão bem de mim todas as vezes que eu e a professora
Lourdes passávamos horas estudando. Lá vinha ela com suco, café, bolachas, bolo de natal...
À amiga Vitória da Silva, por ter sido uma companheira tão fiel, pelos momentos de alegria,
de estudo e de reflexão.
O objetivo deste trabalho foi o de verificar como se deu a aprendizagem de Polinômios através da
Resolução de Problemas por meio de um ensino contextualizado. Assim, no contexto dos
Polinômios, partindo da construção de caixas de papelão e usando os conhecimentos prévios de
que os alunos já dispunham, desenvolvemos esta pesquisa. Definimos as categorias de
compreensão dos conceitos: Contextualização, Conhecimentos Prévios e a Metodologia de
Ensino Aprendizagem de Matemática através da Resolução de Problemas, a partir de um estudo
bibliográfico acerca de pesquisas realizadas sobre esses temas. Por se tratar de uma pesquisa cujo
fenômeno de interesse esteve voltado à escola, especificamente ao estudo de Polinômios, ela se
constituiu numa pesquisa de intervenção de natureza qualitativa em uma situação especifica: um
estudo de caso de longa duração. A partir da Resolução de Problemas, como metodologia de
ensino-aprendizagem, em sala de aula, buscamos por meio da construção dessas caixas,
proporcionar aos alunos o “fazer matemática com as mãos”, ou seja, desenvolver o conteúdo
Polinômio de modo que os alunos pudessem: coletar, experimentar e analisar, em um contexto do
mundo real, padrões matemáticos subjacentes. Todo o trabalho foi desenvolvido em situação de
interação, com os alunos postos em grupos. Esta pesquisa foi realizada ao longo de dois Projetos:
1) com os alunos na 7ª série, Projeto I – Polinômios e as operações definidas sobre eles – no
contexto da construção de caixas de papelão, em 2006; e, com esses mesmos alunos, na 8ª série,
depois de um ano, em 2007, Projeto II – Apropriação de conceitos construídos no Projeto 1 e a
exploração, a partir desse trabalho, do tão importante conceito algébrico denominado Função.
Analisando o trabalho realizado, constatamos que o desenvolvimento do conceito de Polinômio
seguido do conceito de Função, por meio da manipulação de material concreto, resultou numa
aprendizagem mais significativa para os alunos. Pois, partindo de uma situação concreta, seguida
de generalização e de abstração num estágio mais elevado da aprendizagem, os alunos, como co-
construtores do conhecimento, puderam durante todo o trabalho estabelecer relações entre os
temas abordados, dentro de um sistema mais amplo, onde significados e convenções foram sendo
estabelecidos.
ABSTRACT
The objective of this study was to verify how learning of polynomials took place using problem
solving in a contextualized learning situation. Thus, the present research was developed in the
context of polynomials, based on the construction of cardboard boxes, using students’ previous
knowledge. Based on a bibliographic review of studies on the theme, we defined the categories
of comprehension of the concepts: Contextualization, Previous knowledge, and Mathematics
teaching-learning-evaluation through problem solving. Since the phenomenon of interest in the
study is related to the school, specifically the study of polynomials, it constitutes an intervention
of a qualitative nature in a specific situation: a long-term case study. Based on Problem Solving
as a teaching-learning method in the classroom, we sought to give students the opportunity to “do
hands-on mathematics”, i.e. develop the content of polynomial in a way that students could
collect, experiment, and analyze, in a real-world context, subjacent mathematical patterns. All
the work was developed in an interactive situation, with the students divided into groups. This
research was carried out over the course of two projects: Project I, conducted with 6th graders in
the context of constructing cardboard boxes – “Polynomials and the operations defined by them”
(2006); and Project II, conducted with same students one year later, in 8th grade – “Appropriation
of concepts constructed in Project I, and the exploration, based on this work, of the important
algebraic concept known as Function”. Analyzing the work carried out, we found that the
development of the concept “polynomial”, followed by the concept “function”, using the
manipulation of concrete materials, resulted in more meaningful learning for the students.
Starting with a concrete situation, followed by generalization and abstraction in a higher stage of
learning, the students, as co-constructors of knowledge, were able to establish relations between
the themes addressed throughout the work, within a broader system, where meanings and
conventions were being established.
Figura 1 – Problema resolvido apresentado no livro de Imenes & Lellis (2002, p.76-77) referente
à planificação de caixas ...............................................................................................................59
Figura 2 – Situação problema apresentada no livro de Imenes & Lellis (2002, p.76-77) referente
à planificação de caixas ................................................................................................................60
Figura 3 – Situação problema apresentada no livro de Kátia & Roku (1999, 3º ano do Ensino
Médio, p.181) referente ao ensino de Polinômios ........................................................................61
Figura 4 - Problema resolvido apresentado no livro de Kátia & Roku (1999, 3º ano do Ensino
Médio, p.181) referente ao ensino de Equações Polinomiais ......................................................62
Figura 5 – Folha de atividades proposta aos alunos referentes aos problemas 5, 6 e 7, com a
planificação das caixas 1, 2 e 3 ....................................................................................................71
Figura 8 – Planificação da “caixa teste” desenhada sobre o retângulo dado, seguido das
dimensões do comprimento e da largura da mesma após o recorte de 2cm nos cantos. Resultado
de um dos grupos .........................................................................................................................88
Figura 9 – Planificação da “caixa teste” desenhada sobre o retângulo dado. Resultado de um dos
grupos ...........................................................................................................................................89
Figura 10 – Quadro do Problema 4 preenchido por um dos grupos, seguido das áreas das bases
das caixas manipuladas sobre a “caixa teste” e as análises para as altura 0cm e 5cm
.......................................................................................................................................................97
Figura 11 – Gráfico representando as áreas das bases das caixas imaginadas e/ou construídas
com altura variando entre 0cm e 5cm. Análise das bases de caixas quando as alturas fossem 0cm
e 5cm, refletindo os valores encontrados nos limites da função (4x2 – 52x + 160) nos pontos
x = 0 e x = 5 .................................................................................................................................98
Figura 12 – Caixas intercaladas com alturas representadas por números inteiros positivos
obedecendo o intervalo para a altura maior que 0cm ou menor que 5cm
.....................................................................................................................................................100
Figura 13 – Resultado de um dos grupos representando a área da base da “caixa 2”, com altura x
.....................................................................................................................................................109
Figura 14 - Resultado de um dos grupos representando a área da base da “caixa 3”, com altura x
.....................................................................................................................................................110
Figura 15 - Folha de atividades proposta aos alunos referentes aos problemas 5, 6 e 7, com a
planificação das caixas 1, 2 e 3 ..................................................................................................113
Figura 16- Resultado de um dos grupos referente a folha de atividades proposta aos alunos
referentes aos problemas 5, 6 e 7, com a planificação das caixas 1, 2 e 3
.....................................................................................................................................................115
Figura 17 – Representação analítica e geométrica das áreas das bases das caixas 1 e 2
.....................................................................................................................................................133
Quadro 2 – Quadro do Problema 4 – Resultado de um dos grupos: áreas das bases das caixas
apresentadas e análise das alturas h = 0cm e h = 5cm .................................................................97
Introdução ....................................................................................................................................13
Conclusões Finais.......................................................................................................................228
Apêndice .....................................................................................................................................244
INTRODUÇÃO
14
INTRODUÇÃO
Para Jon Davis (2007) citando Hiebert et al (1996), “a pesquisa sugere que resolver
problemas postos em contexto pode promover conexões entre o mundo real e a Matemática e
ajuda os estudantes a desenvolver sua compreensão” (p. 141, tradução nossa).
Neste sentido, partimos da premissa de que quanto mais relações os alunos
conseguirem estabelecer entre os conteúdos estudados, melhor será sua aprendizagem. Essa
relação entre os conteúdos já aprendidos e os novos conteúdos poderia ser de antemão uma
forma de contextualizar conteúdos. Essas relações podem ser mais representativas de acordo
com o contexto em que as atividades se desenvolvem.
Sendo assim, esta pesquisa se desenvolveu no contexto dos Polinômios, partindo da
construção de caixas de papelão e usando os conhecimentos prévios que os alunos já
dispunham, provenientes das aulas de Desenho Geométrico, da Álgebra (incluindo números e
operações), de Matemática de modo geral e das experiências vividas que não estivessem
diretamente relacionadas com a Matemática escolar. A Matemática é uma ciência de padrões,
então, compreender padrões matemáticos através da construção das caixas permitiu aos
alunos coletar, experimentar e analisar, em um contexto do mundo real, padrões matemáticos
subjacentes. Poderíamos, por exemplo, ter trabalhado com qualquer tópico do currículo
escolar de Matemática. Por exemplo, Geometria no contexto da Geometria, Trigonometria no
contexto da Trigonometria. Entretanto, optamos trabalhar pelo contexto da Álgebra com
Polinômios.
Nosso interesse inicial estava voltado a verificar se a aprendizagem de Matemática
seria mais significativa, quando desenvolvida a partir de dois princípios estabelecidos por nós
durante o trabalho: em ambiente contextualizado, partindo dos conhecimentos prévios de que
os alunos dispunham; e o desenvolvimento de conceitos matemáticos a partir de palavras ou
expressões que fazem parte do mundo real dos alunos e que pudessem se relacionar com o
conteúdo em estudo.
Esta é uma pesquisa qualitativa, determinada a partir do problema que nos
predispusemos a enfrentar: tanto os fenômenos educacionais quanto a dinâmica do seu
desenvolvimento nos processos pedagógicos. Dentre o conjunto de estratégias, que podem
definir uma pesquisa qualitativa, assumimos em nosso trabalho o estudo de caso, por se tratar
de uma estratégia com ênfase voltada às questões relacionadas à escola. Sendo assim, nesta
pesquisa, o “objeto” – fenômeno de interesse – constitui-se em identificar a forma de como
pode se dar a aprendizagem dos Polinômios através da Resolução de Problemas, por meio de
uma estratégia de ensino contextualizado.
16
Esse nosso interesse surgiu em um trabalho com crianças de 5ª e 6ª séries, quando nos
deparamos com as dificuldades apresentadas por elas, no que se refere à interpretação das
palavras envolvidas nos conteúdos matemáticos. Percebemos, nessa ocasião, que o não
entendimento de alguns vocábulos matemáticos não se configurava devido ao distanciamento
existente entre as palavras envolvidas, na situação-problema, que não estavam diretamente
ligadas à Matemática, e às relações entre essas palavras e os conceitos matemáticos. As
informações apresentadas em uma situação-problema rotineira pareciam não atribuir qualquer
significado na busca da resposta encontrada. Palavras como maior que, menor que, comum
etc., que normalmente são usadas para comparar situações, pareciam assumir um novo
significado (ou nenhum) quando se referiam à Matemática.
Dois casos trabalhados na prática de ensino, numa escola pública em Piracicaba, SP,
podem exemplificar nossas hipóteses de que a não compreensão do problema matemático
colocado estava na dependência do entendimento dos termos usados no âmbito da linguagem
extra-escolar1. 1) Ao resolver uma atividade que envolvia Máximo Divisor Comum (MDC), o
aluno não havia percebido a relação existente entre as palavras presentes na expressão
“Máximo Divisor Comum”, com as palavras que já trazia de sua experiência de mundo. A
palavra “divisor” não parecia familiar ao aluno. Essa palavra precisou ser explicada do ponto
de vista matemático, fazendo relação com os termos da divisão: dividendo e divisor, dizendo
que o divisor é quem divide. Quando questionado sobre o que significavam as palavras
máximo e comum, o aluno, parecendo surpreso, respondeu: “ah....é o maior divisor que é de
um e que é divisor do outro também?”. 2) Outro caso foi o de uma aluna − ainda nessa
mesma escola pública situada em Piracicaba, SP − que, ao resolver uma situação problema,
teve dificuldade por não entender o significado da palavra “entrada”, num processo de compra
e venda. Ao relacionarmos esta palavra com o significado que já trazia de sua experiência do
mundo real, ela conseguiu prosseguir com a atividade. Partindo desse pressuposto, ainda
inquietos sobre as circunstâncias em que se estabelece a aprendizagem de conceitos
matemáticos e a relação existente entre as palavras que os envolvem, relacionando com os
conhecimentos que o aluno traz de suas próprias experiências no mundo, surgiram as
seguintes questões: Os alunos não entendiam a linguagem matemática presente no enunciado
ou esta compreensão estaria atrelada aos significados que eles já traziam consigo sobre
aquelas palavras? Compreendida essa relação, poder-se-ia melhor viabilizar o processo de
1
Extra-escolar: Tal terminologia designa, não só os processos educativos anteriormente mencionados, mas
também todo e qualquer processo educativo ocorrido em instituições que não necessariamente pertençam às
redes escolares de ensino. Que se acrescenta ao ensinamento escolar propriamente dito, a fim de completá-lo:
atividades extra-escolares.
17
2
Familiarização – de familiar: “não significa necessariamente vida real” (BARNETT et all. In: KRULIK E
REYS, 1997, p.133).
18
da Matemática que seria construída nessa aula; e a seleção de estratégias convenientes para
esse trabalho e o de levantar questões importantes para serem discutidas em plenárias.
Na fase Antes, a professora-pesquisadora escolheria problemas adequados para que os
alunos participassem da construção de novos conceitos e novos conteúdos, problemas estes
pertinentes ao programa estipulado para aquele tópico. Ela, a professora, identificaria quais
seriam os objetivos colocados para aquela aula, através da resolução dos problemas dados.
Identificaria as estratégias oportunas para aquele trabalho e, talvez até pensasse, se possível, ir
em busca de tópicos relacionados.
Na fase Durante, o trabalho maior seria desenvolvido pelos alunos. Nessa fase haveria
dois momentos voltados aos alunos: um individual e um em grupo. Este último seria
caracterizado pela socialização das idéias construídas individualmente.
Na fase Depois, muito importante para a concretização da aprendizagem, o professor-
pesquisador abriria uma Plenária onde ele, com todos os alunos juntos, passaria à exploração
da atividade realizada pelos alunos. O professor levantaria questionamentos, ouviria os
alunos, todos dialogariam tirando possíveis dúvidas e buscando chegar a um consenso sobre a
resposta correta do problema. Ainda, nessa fase, o professor, na lousa, formalizaria todas as
idéias novas que tivessem sido construídas.
Foi criado um projeto para trabalhar em sala de aula, chamado Projeto I, onde foi
adotada a Metodologia de Ensino-Aprendizagem de Matemática através da Resolução de
Problemas, no contexto da construção de caixas de papelão, visando à construção de conceitos
relativos ao tópico Polinômios e suas operações. Após o término do estudo de Polinômios e
suas operações, foi aplicada uma atividade individual objetivando verificar se os conceitos
aprendidos no contexto da construção das caixas, em situação de interação, haviam sido
transferidos para novas situações de aprendizagem.
Um novo projeto, o Projeto II, foi concebido com o objetivo de ser aplicado com os
mesmos alunos, agora concluindo a 8ª série, visando verificar se aqueles conceitos
construídos anteriormente haviam se fixado como conhecimento. Inicialmente seria feita uma
revisão crítica do trabalho anterior, com os alunos trabalhando durante todo o projeto
dispostos em grupos de três, pesquisando novos conceitos a partir daqueles previamente
construídos e explorando os conceitos de Perímetro, Área e Volume, chegando ao importante
conceito de Função.
Como no Projeto I, também no Projeto II, foi aplicada uma lista de atividades
escolhidas em livros didáticos e não didáticos com o objetivo principal de detectar se os
novos conceitos aprendidos poderiam ter sido transferidos para outras situações. Essa lista de
20
atividades foi desenvolvida no último encontro com os alunos trabalhando em grupos e sem
intervenção da professora-pesquisadora, numa atitude por ela planejada.
Face a todas essas idéias, a seguinte questão de pesquisa foi formulada: Como se dará
a aprendizagem dos alunos, num processo de ensino-aprendizagem através da resolução de
problemas, sobre o tópico Polinômios, numa abordagem de ensino contextualizado e de
interação-social?
Esta pesquisa teve sua origem e desenvolvimento pautados no ensino-aprendizagem de
Polinômios através da resolução de problemas, onde o problema passou a ser ponto de partida
e, através de sua resolução, conexões foram feitas com outras idéias já concebidas entre
possíveis ramos da Matemática, gerando novos conceitos e novos conteúdos (ONUCHIC,
1999).
Ao final desta pesquisa, espera-se poder deixar, a outros professores, uma proposta de
ensino contextualizado para o conteúdo Polinômios, no sentido de tornar o seu ensino capaz
de levar os alunos a uma aprendizagem com compreensão e mais significado.
21
Capítulo 1
METODOLOGIA DA PESQUISA
22
CAPÍTULO 1
METODOLOGIA DA PESQUISA
3
Pautados na referência de Biklen (1982, p.17-18), a expressão “investigação qualitativa” engloba todo o
conjunto de estratégias designadas por “qualitativas” (etnográfica, investigação de campo, estudo de caso, escola
de Chicago, etc.).
23
nossa própria prática e, sim uma proposta de ensino que vislumbrasse os objetivos desta
pesquisa.
Para o registro dos dados foram utilizados três recursos: gravações em áudio,
registros dos alunos nas folhas de atividades e anotações da professora-pesquisadora
(abrangendo o que a professora-pesquisadora viu, presenciou e pensou, durante e após a
coleta de evidências). O Capítulo 4 desta dissertação tratará de apresentar essas evidências.
Os diálogos entre os alunos e a professora-pesquisadora, durante as atividades de
resolução de problemas foram gravados. Foi colocado um gravador em cada grupo, sendo
quatro ao todo, e outro na mesa da professora-pesquisadora que permitiam que as falas,
próxima à lousa e em cada grupo, se tornassem mais claras. Tais diálogos foram transcritos
para posterior análise. Também utilizamos como análise um relatório preenchido pelos alunos
no final da pesquisa, apresentando suas considerações sobre a proposta de ensino
desenvolvida. O nome que identificava o aluno no relatório era facultativo. As questões que
compunham esse relatório encontram-se anexas a esta pesquisa.
A análise dos dados iniciou-se, durante a coleta de dados, com os registros da
professora-pesquisadora que abrangeram inclusive o comportamento dos alunos frente a uma
situação problema apresentada, tornando-se mais efetiva durante a transcrição das entrevistas
onde era feita a triangulação − fundamentada no inter-relacionamento do referencial teórico
da pesquisa com os diferentes registros das evidências coletadas (BOGDAN; BIKLEN, 1982)
− dos dados sempre norteados pelos objetivos e a pergunta da pesquisa. Nesta fase, já se
podiam perceber algumas regularidades, padrões ou tópicos presentes nas evidências que se
configuraram como algumas categorias de análise.
O trabalho de campo foi dividido em duas partes: a primeira parte refere-se ao Projeto
I e a segunda parte refere-se ao Projeto II. Este último foi realizado após 1 ano da realização
do primeiro.
No Projeto I, preocupados com o ensino de Polinômios, no Ensino Fundamental II,
com compreensão e significado, desenvolvemos atividades visando o ensino deste conceito de
uma maneira diferente, que pudesse fazer com que os alunos compreendessem a importância
desse novo tópico matemático e que soubessem trabalhar com ele. Para isso, lançamos mão de
uma metodologia de ensino que, usando caixas de papelão, aos poucos, foi-se construindo
novos conceitos e novos conteúdos, neste caso, os Polinômios e as operações definidas sobre
eles: adição, subtração, multiplicação e divisão. A aplicação do Projeto I deu-se nos meses de
Outubro e Novembro de 2006. A transcrição das fitas iniciou-se após o encerramento da
27
Embora esta não seja uma pesquisa com objetivo voltado a investigar a própria prática,
ainda assim, é importante considerar ao longo do texto, que a pesquisadora era a professora da
sala.
28
Capítulo 2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
29
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. Contextualização
A maioria dos alunos do Ensino Fundamental tem dificuldade para utilizar o conteúdo
trabalhado em Matemática, na sala de aula, em situações extraídas do dia a dia, porque quase
sempre as realizaram em um contexto isento das mesmas. Isso se caracteriza pela abordagem
de enfocar o conceito apenas pelo conceito, ou seja, muito distante de qualquer aplicação
prática, dificultando o relacionamento entre o conhecimento adquirido na escola e sua
respectiva utilização externa ao ambiente escolar.
O esquecimento de aprendizagens assim adquiridas chega a ser quase completo após
algum tempo. Há fortes evidências de que o cérebro humano retém principalmente os
conhecimentos que se apresentam como sendo úteis e descarta os que parecem desnecessários
(BUSQUETS, M. D., 1997). Isso ocorre porque a memória se organiza principalmente a partir
da atribuição de significado e este se desenvolve ao se estabelecer uma relação entre a nova
informação e aquilo que já é conhecido. Esse processo é conhecido como consolidação
(STERNBERG, R. J., 2000). Desse modo, o conhecimento não consolidado é facilmente
esquecido. Daí, então, a importância de se contextualizar a construção dos conceitos em
Matemática utilizando situações suficientemente relevantes aos alunos.
A importância do contexto no desempenho intelectual é demonstrada por Ceci (1998,
citado por GARDNER, H. et al., 2003) por meio de isomorfos de problemas cuja estrutura é
idêntica, pois exigem os mesmos processos subjacentes de solução. Em um dos experimentos
apresentados por Ceci, o problema não contextualizado atingiu um índice de acertos de
apenas 22%, enquanto que, no problema contextualizado, atingiu aproximadamente 90%. Isso
ocorre, porque, dado um contexto mais interessante e motivador, o indivíduo ou a população
pode apresentar um desempenho de mais alto nível.
30
4
Educação Básica: Ensino fundamental I, II e Ensino Médio.
31
2. Propor aos alunos um quadro que apresente os conhecimentos prévios necessários para
o novo conteúdo, que pode ser construído com eles. Esse processo permite ao aluno
um levantamento dos conhecimentos prévios que já foram trabalhados em aula e que
serão necessários durante a nova situação de ensino. Essa estratégia evita a idéia de
que os conteúdos anteriormente trabalhados foram esquecidos e ainda permite ao
professor a retomada de algum conteúdo que por ventura não estivesse consolidado
pelos alunos.
por base termos congruentes àqueles vividos nas atividades “extra-escolares” (BALDINO,
1996). É este entendimento que fazemos do termo contextualização.
Pouco ou nenhum valor terá uma contextualização se os alunos não conseguirem
atribuir significado às tarefas. Para evitar essa possibilidade iremos recorrer aos
conhecimentos prévios conforme as diretrizes de Miras (2003). Esses conhecimentos serão
considerados durante a contextualização, de tal modo que sejam relacionados direta ou
indiretamente com o novo conteúdo, visando propiciar que os alunos atribuam um primeiro
significado ao conceito envolvido, iniciando assim o processo de aprendizagem.
Uma ênfase sobre a compreensão leva a uma das características primeiras da nova
ciência da aprendizagem: seu foco sobre o processo de conhecer. As pessoas são vistas como
agentes que, ativamente, buscam informação. Eles chegam à educação formal com uma gama
de conhecimentos, habilidades, crenças, e conceitos anteriores que, de um modo significativo,
influenciam o que eles percebem sobre o ambiente e como eles o organizam e o interpretam.
Assim, em sua vez, afetam suas habilidades para lembrar-se, raciocinar, resolver problemas e
adquirir novo conhecimento. O mundo no qual eles entram não é apenas uma confusão de
ruídos e sons, onde cada estímulo é igualmente destacado. Em vez disso o cérebro de uma
criança dá precedência a certos tipos de informação: linguagem, conceitos básicos de número;
propriedades físicas e o movimento de objetos animados e inanimados. Num sentido mais
geral, a visão de aprendizagem contemporânea é aquela nas quais as pessoas constroem novo
conhecimento e novas compreensões, baseados naquilo que elas já conhecem e acreditam
(BRANSFORD; 2000; p.105). Desconsiderar este fato tem sido sem dúvida um grande
problema na educação atual. Mesmo as crianças bem novas são aprendizes ativos que trazem
um ponto de vista para o cenário da aprendizagem.
Uma extensão lógica da visão de que um novo conhecimento deve ser construído a
partir do conhecimento existente é que os professores precisam dar atenção às compreensões
incompletas, às falsas crenças e às interpretações superficiais de conceitos que os aprendizes
trazem consigo, para um dado assunto. Os professores precisam trabalhar sobre essas idéias
de modo a ajudar cada estudante a atingir uma compreensão mais madura. Se as idéias iniciais
5
BRANSFORD, J.; et al (Ed); Publicação da “National Academy of Sciences” – Academia Nacional de
Ciências – EUA, pautados em Cobb, 1994; Piaget, 1952, 1973 a, b, 1977, 1978; Vygotsky, 1962, 1978.
35
dos alunos e suas crenças forem ignoradas, as compreensões que eles desenvolvem podem ser
muito diferentes daquelas que os professores pretendem imprimir.
Van de Walle (2001) afirma que para construir ou edificar alguma coisa no mundo
físico, são necessárias ferramentas, materiais e esforço. A forma como construímos nossas
idéias pode ser vista de uma maneira análoga. As ferramentas que usamos para construir
compreensão são nossas idéias existentes, o conhecimento que já temos. Os materiais
necessários para construir nossa compreensão, devem ser coisas que vemos, ouvimos ou
tocamos – nossa vizinhança física. Às vezes os materiais são nossos próprios pensamentos e
idéias. O esforço que precisa ser despendido é o nosso pensamento ativo e reflexivo. Se as
mentes não forem ativamente pensantes, nada acontece. Em geral usamos idéias que já temos
para construir uma nova idéia, desenvolvendo no processo uma rede de conexões entre idéias.
“Quanto mais idéias usarmos e quanto mais conexões fizermos, melhor será nossa
compreensão (p.24, tradução nossa)”.
Ao enfocar a contextualização em nosso trabalho, tínhamos como ponto de partida os
conhecimentos prévios que os alunos dispunham como um veículo para iniciar a nova
situação de aprendizagem. Enquanto objeto facilitador da compreensão de conceitos
matemáticos, acreditávamos que a contextualização permitiria aflorar os conhecimentos
prévios de significados extra-escolares ou ainda aqueles aprendidos no espaço da sala de aula
que seriam acionados pelos alunos, correspondentes ao contexto fornecido, para buscarem a
solução de uma questão proposta. A compreensão desses conceitos matemáticos, pela
ativação dos conhecimentos prévios, não necessariamente precisaria estar ligada a um
componente curricular específico. Esses conhecimentos prévios foram considerados, em
nosso trabalho, durante a contextualização de tal modo que foram relacionados direta ou
indiretamente ao novo conteúdo, visando propiciar aos alunos a atribuição de um primeiro
significado ao conceito envolvido, iniciando-se assim o processo de aprendizagem.
Os conhecimentos prévios não só permitem o contato inicial com o novo conteúdo
como também facilitam a construção dos novos significados. Um novo conteúdo torna-se
mais consolidado, como já dissemos, quanto mais relações forem estabelecidas entre ele e os
conhecimentos prévios correspondentes. Tais relações podem acabar por determinar se os
significados serão, de modo estável e transferível, usados para contextos diversificados.
São considerados conhecimentos prévios todos aqueles conhecimentos construídos a
partir de leituras, aprendidos na escola ou ainda aqueles que fazem parte do mundo real da
criança que não estejam diretamente ligados à escola ou a Matemática em si mesma. Assim,
os significados extra-escolares poderiam ser enfocados, nas aulas de Matemática, com a
36
2.3.1 PBL
Mamede & Penaforte (2001) caracterizam a PBL como uma abordagem consolidada
nos princípios sobre os quais se baseia o processo de aprendizagem e tem implicações e
determinações sobre todas as demais dimensões do processo educacional, ou seja, a PBL é
uma forma colaborativa de aprendizagem e instrução direcionada para a construção de
modelos mentais coerentes aos problemas apresentados. Esses mesmos autores caracterizam a
PBL como “uma estratégia educacional e uma filosofia curricular, concebendo um processo
de aprendizagem onde estudantes autodirigidos constroem ativamente seu conhecimento”
(p.17).
Segundo Ribeiro (2005), a PBL não é uma abordagem educacional tão nova e
tampouco é estática. Não caracterizá-la como nova é proveniente do fato de que a
aprendizagem motivada pelo confronto com problemas é mais antiga do que a própria
educação. Também não é estática, pois tem se modificado com relação ao modelo da
Universidade McMaster para se adaptar a outros contextos educacionais. Além disso, seus
elementos fundamentais parecem apoiar-se nas teorias de vários autores como Piaget,
Ausubel, Bruner, Dewey, Rogers e Freire. Diz ainda Ribeiro que a maioria dos autores coloca
a PBL no leque das abordagens construtivistas. Seus idealizadores partem da premissa, da
psicologia cognitiva, de que a aprendizagem não é um processo de recepção, mas da
construção de novos conhecimentos.
Barrows (2001) e Engel (2004), citados por Ribeiro e Mizukami (2005) dizem que a
PBL é implementada em vários formatos: como uma estratégia curricular (em todo o
currículo); parcial (em uma disciplina isolada dentro de um currículo convencional) também
chamada de post-holing, ou seja, a inclusão de problemas em alguns momentos de disciplinas
que utilizam métodos convencionais de ensino (WILKERSON; GIJSELAERS; 1996; citados
por RIBEIRO e MISUKAMI, 2004, p.89-102); e pontual (em determinados momentos de
disciplinas quando se deseja aprofundar alguns tópicos do conteúdo) (STEPIEN &
GALLANGHER, 1988, citados por RIBEIRO e MISUKAMI, 2004, p.89-102).
Na PBL o objetivo central está voltado ao incentivo e à motivação para a
aprendizagem de conhecimentos e habilidades inerentes a uma área do conhecimento,
sugerindo um problema com o objetivo de focar e iniciar a aprendizagem, em um espaço
contextualizado. Esses problemas são elaborados pelo professor no caso de a PBL estar
centralizada em uma disciplina.
40
6
Inquirição: questionamentos; perguntas; inquérito.
41
7
As primeiras experiências sobre resolução de problemas podem ser creditadas a Dewey, entre 1896 e 1904. Ver
Onuchic (1999, p.201-202)
8
Ver Onuchic (1997).
43
como foco da matemática escolar, foi o ponto central do trabalho de muitos pesquisadores.
Entretanto, a interpretação dada, a essa concepção diferia de grupo para grupo, ou seja, as
diferentes orientações9 dadas sobre como se deveria proceder num trabalho com resolução de
problemas, no espaço da sala de aula, estavam sendo interpretadas diferentemente. Essas
recomendações deveriam ampliar os horizontes dos educadores para um ensino de
Matemática no qual se entendesse a Matemática a ser ensinada, não somente em função da
Matemática necessária para resolver um dado problema, num dado momento. Uma unidade
estrutural e as relações do todo não deveriam ser sacrificadas.
A década de 80, preocupada com o processo envolvido na resolução de problemas, sob
a influência do uso de estratégias especiais, entretanto, manteve o processo preso à busca de
soluções. As discussões que foram surgindo, no final da década de 80, estavam voltadas aos
questionamentos sobre o ensino e o uso de estratégias e modelos. Começaram a discutir as
perspectivas didático-pedagógicas da resolução de problemas. A resolução de problemas
passa, então, a ser pensada como uma metodologia de ensino, como um ponto de partida,
como um meio de se ensinar Matemática (ANDRADE, 1998). Como um primeiro passo em
seu ensino, a Matemática utiliza os problemas. Mas não encarados apenas como aplicações
matemáticas. Eles, agora, são uma forma de “fazer matemática”.
9
Ver Onuchic (1999, p.204).
10
No Capítulo 3 apresentaremos os livros examinados nesta pesquisa.
44
11
Professor Doutor Mauro Carlos Romanatto, fez esta afirmação em Plenária intitulada: “Ensinando Matemática
a partir da Resolução de Problemas”, realizada no dia 17 de Setembro de 2007, na Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). Departamento de Metodologia de Ensino - DEME.
45
(2004), Echeverría (1998), Kantowski (1997) e Van de Walle (2001), definem o que
entendem por “problema”.
Partindo de Ernest (1996, p. 29), apoiado na teoria de Lester (1980, p. 287), problema
é “uma situação na qual um indivíduo ou um grupo é chamado a realizar uma tarefa para a
qual não há um algoritmo imediatamente acessível que determine completamente o método de
solução”, acrescentando-se o desejo de realizá-la. Echeverría (1998, p.15), apoiada na mesma
base teórica de Ernest, define problema como sendo “uma situação que um indivíduo ou um
grupo quer ou precisa resolver e para a qual não dispõe de um caminho rápido e direto que o
leve à solução”. Já Kantowski (1997, p.270) argumenta que problema é caracterizado por
“uma situação que se enfrenta sem contar com um algoritmo que garanta uma solução”. Van
de Walle (2001) parte da afirmativa de que problema é definido como qualquer tarefa ou
atividade para a qual os estudantes não têm métodos ou regras prescritas ou memorizadas,
nem a percepção de que haja um método específico para chegar à solução correta. Para
Onuchic e Allevatto (2004, p.221) problema “é tudo aquilo que não sabemos fazer, mas que
estamos interessados em fazer”.
Dentre as concepções apresentadas, a que mais se aproxima de nossa interpretação é a
afirmativa de Onuchic e Allevatto (2004). Sendo assim, sempre que nos referirmos a
expressão “problema”, devemos recorrer a essa afirmativa.
Nas concepções/metodologias de ensino atuais que têm o problema como gerador de
uma nova aprendizagem, o professor assume um papel diferente daquele predominante nas
propostas de ensino tradicional, em que o ensino estava baseado na figura do professor. Não
é de nosso interesse relatar uma extensa lista sobre esse papel, entretanto, abordaremos os
posicionamentos de alguns autores, que consideramos muito próximos daquilo que subsidiou
o desenvolvimento desta pesquisa.
Para autores como Ponte (2003), Ernest (1996), Christiansen e Walther (1986), Tomaz
(2001), Kantowski (1997) e Onuchic (2004), o professor deixa de ser o responsável pela
aprendizagem dos alunos, assumindo o papel de um recurso para os mesmos; para isso, deixa
de ter o controle sobre as respostas; sobre os métodos aplicados pelos alunos e às vezes até
sobre a escolha dos conteúdos de cada aula.
Dentre as mudanças que cabem ao professor, Christiansen e Walther (1986), dizem
que elas estão relacionadas à distribuição dos diferentes tipos de atividades, às suas ações e à
seqüência de ensino e que o professor é um mediador matemático. Kantowski (1997) chama o
professor de um “facilitador” cabendo a ele o estímulo ao pensamento crítico e o auto-
aprendizado entre os estudantes, pela orientação e não simplesmente por preocupar-se em
48
12
Professora Doutora Lourdes de la Rosa Onuchic, fez esta afirmação em Plenária intitulada: “Ensinando
Matemática a partir da Resolução de Problemas”, realizada no dia 17 de Setembro de 2007, na Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar). Departamento de Metodologia de Ensino - DEME.
49
exige um trabalho bem preparado que deve ser assumido pelo professor previamente.
Enquanto os alunos realizam as atividades propostas, o professor já fez algumas previsões do
que poderia ocorrer frente àquela atividade. Sendo assim, o professor faz, durante a realização
das atividades, um trabalho de questionamentos no sentido de orientar os alunos para atingir o
objetivo pretendido.
Nesta pesquisa, dentro do que será possível, seguiremos a “proposta básica” de
Onuchic (1999) como roteiro de aula, conforme apresentamos anteriormente, neste capítulo.
Os grupos serão reunidos de antemão por meio de sorteio, sendo compostos por três
elementos cada grupo. Os grupos serão os mesmos durante toda a realização das atividades.
Posteriormente, ao elaborarmos o Projeto II, optamos por manter os mesmos grupos. No
Projeto I, analisaremos dois aspectos: individual e em grupo. No primeiro, verificaremos até
que ponto os alunos conseguirão produzir, sem a colaboração dos colegas, e quais serão as
contribuições provenientes do trabalho individual que cada aluno poderá apresentar quando
for para o grupo. Observaremos os casos em que o aluno não tenha conseguido avançar
quando estava só e, ao reunir-se com os colegas de grupo, buscaremos verificar se este aluno
pôde apresentar avanços ou não. No Projeto II será enfocado somente o trabalho em grupos.
A transição de uma etapa para outra é gradual e não atinge simultaneamente todas as
áreas do pensamento.
Em “Pensamento e Linguagem” (1979), Vygotsky fala sobre a formação de conceitos
referindo-se aos conceitos cotidianos e aos conceitos científicos. O primeiro deles, como já
dissemos, refere-se àqueles conceitos aprendidos na vivência da criança e com outras pessoas
que não estejam diretamente ligadas à escola; o segundo, refere-se àqueles conceitos
aprendidos na escola, por meio de um processo que este autor chama de mediação. Essa
mediação pode se dar não somente pela intervenção do professor, mas também é mediada por
algum outro conceito. Neste sentido, “a própria noção do conceito científico implica uma
certa posição em relação a outros conceitos, isto é, um lugar dentro de um sistema de
conceitos” (mesma obra, 1998) . Esses conceitos, segundo Vygotsky, estão estreitamente
52
Capítulo 3
POLINÔMIOS
54
CAPÍTULO 3
POLINÔMIOS
3.2. Os Polinômios nos livros didáticos, nos PCN e na literatura não didática
Como já foi dito, nosso objeto de estudo nesta pesquisa envolveria o trabalho com
Polinômios. Nossa primeira preocupação nesse sentido foi o de buscar em vários livros
56
didáticos (posteriormente ficamos com três desses livros), na literatura não didática, e a
orientação dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) para o trabalho desse tópico.
Examinamos alguns livros didáticos, escolhidos entre vários livros atuais, procurando
verificar como o conteúdo Polinômio se apresenta para o Ensino Fundamental. Este estudo
deu-se com o intuito de estabelecer um mapeamento sobre o que iríamos abordar nesta
pesquisa, ou seja, era preciso definir, dentro do conteúdo Polinômios, alguns aspectos: quais
conceitos são considerados relevantes por diferentes autores para esta faixa etária; de que
forma esses conceitos são abordados e qual a estratégia de ensino adotada. Paralelo a esse
levantamento, fizemos uma leitura dos PCN para verificar as orientações desse documento em
relação ao ensino de álgebra no Ensino Fundamental. A análise dos livros e as orientações dos
PCN foram sendo constantemente comparadas ao longo do texto que segue, bem como
buscamos, na literatura não didática, autores que pudessem apresentar contribuições para esse
ensino.
Conforme indicam os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN – 5ª a 8ª séries, 1998), o
ensino de Álgebra no 4º ciclo (7ª e 8ª séries) − lembrando que as primeiras noções de álgebra
aparecem no terceiro ciclo com a chamada “pré-álgebra” − deve estar voltado a uma proposta
de ensino com base em situações que levem os alunos “a construir noções algébricas pela
observação de regularidades em tabelas e gráficos, estabelecendo relações” (p.116); e, ainda,
que este ensino não deve se limitar a “manipulações com expressões e equações de uma forma
meramente mecânica”. (mesma obra, p.116). Os PCN (1998) nos lembram também que o
enfoque dado por muitos professores ao ensino de Álgebra, no quarto ciclo, está voltado ao
cálculo algébrico e às equações, entretanto, esses aspectos não são suficientes. Para a
compreensão de conceitos e procedimentos algébricos, os PCN orientam que haja uma
articulação entre quatro grandes dimensões da álgebra no Ensino Fundamental: Aritmética
generalizada, Funcional, Equações e Estrutural (ver PCN, 1998, p.116).
Nesse sentido, no livro “As idéias da Álgebra”, 1995, página 20, Usiskin apresenta um
resumo dizendo que as diferentes concepções de álgebra relacionam-se com os diferentes usos
das variáveis, conforme quadro a seguir:
57
Incógnitas, constantes
Meio de resolver certos
(resolver, simplificar)
problemas
Argumentos, parâmetros
Estudo de relações (relacionar, gráficos)
Sinais arbitrários no papel
Estrutura (manipular, justificar)
(Usiskin, 1995, p.20)
variáveis de uma expressão algébrica e podem representar qualquer número real” (p.66).
Imenes & Lellis (2002) não definem expressão algébrica. No nosso entender, expressão
algébrica é a representação do valor de uma quantidade sob forma algébrica.
Podemos observar de início, que dois dos livros analisados corroboram com as idéias
dos PCN no que se refere às noções algébricas obtidas por meio de observação de
regularidades em tabelas e gráficos. Entretanto, gostaríamos de ressaltar que esses problemas
serviram de exemplo para os problemas seguintes, a serem resolvidos pelos alunos. Mas, para
os dois pares de autores, na confecção de seus livros, o problema foi apresentado como um
processo de resolução dos próprios autores e não como a busca da solução pelos alunos.
Assim, o problema não foi gerador do conceito de expressão algébrica obtida como objetivo.
Esses dois livros analisados apresentaram uma definição de variável, entretanto, não há, no
texto, nenhum aspecto que diferencie variável como incógnita ou como generalizadora de
modelos. Em relação a este assunto, os PCN chamam atenção para o fato de que a não
exploração do mesmo, no Ensino Fundamental, gera uma interpretação equivocada nesses
alunos ao concluírem esse grau de ensino. Para tanto, os PCN apontam ser de fundamental
importância esta distinção ao final do Ensino Fundamental sugerindo, em um único problema,
situações em que as letras se apresentem nas variáveis como incógnitas13 ou com outro
significado. Não observamos nos livros didáticos analisados nenhuma ênfase sobre o aspecto
da variável considerada como incógnita ou como generalizadora de modelos, ou com um
outro significado possível. Elas são apresentadas, mas não são discutidas. Dizem os PCN,
1998, página 118, que, para a maioria dos alunos, “a letra em uma sentença algébrica serve
sempre para indicar (ou encobrir) um valor desconhecido, ou seja, para eles a letra sempre
significa uma incógnita”. Convém ressaltar que, como vimos em Usiskin, 1988, página 12,
“tentar enquadrar a idéia de variável numa única concepção implica uma supersimplificação
que, por sua vez, distorce os objetivos da álgebra”.
13
Ver PCN, 1998, p.119-120.
59
Polinômios aí estão inseridos, entretanto, convém ressaltar a importância dada a este conteúdo
pela literatura não didática. Eisenberg e Dreyfus (1988) no artigo “Os polinômios no currículo
da escola média14” apresentam uma preocupação com o ensino de Polinômios no Ensino
Fundamental. Esses autores apontam que, nos últimos 20 anos, (lembrando que a publicação
do livro é de 1988) parece ter havido uma nítida redução nos tópicos relacionados com
Polinômios na etapa que correponde ao nosso Ensino Fundamental. Essa mesma ênfase é
dada por Azevedo (2002), ao se referir a este conteúdo no nosso Ensino Médio. Esta autora
diz que “as equações algébricas ou polinomiais são praticamente ignoradas nas escolas
públicas” (f.33). Da observação feita por Eisenberg e Dreyfus (1988) com relação à de
Azevedo (2002) passaram-se 34 anos, o que responde à afirmativa de Azevedo (2002) com
relação ao pouco caso em que são abordadas as equações polinomiais no Ensino Médio. Se
em 1988 já se passaram 20 anos da constatada redução deste conteúdo na escola média
americana, falando da escola brasileira em 2002, como conseqüência deveria haver mais
redução ou até a extinção, para os casos em que não fosse trabalhado este conteúdo.
Observamos, nos livros Idéias e Desafios (Iracema e Dulce, 2006) e no Projeto
Araribá (2005), um enfoque mais abrangente quanto às técnicas operatórias sobre Polinômios
e, às atividades propostas por esses autores são, na maioria das vezes, vistos como exercícios
de aplicação. Já Imenes & Lellis (2002) naõ se preocupam em definir os conceitos pertinentes
a esse tópico (valor numérico, grau de um monômio, monômios semelhantes, etc.). Esses
autores trabalham os conceitos relativos a Polinômios, explorando situações-problemas.
Acreditamos que a diferença em relação ao enfoque dado, por esses autores, sobre este
conteúdo é decorrente da falta de clareza dos PCN em relação ao tema, ou seja, os PCN são
abrangentes no ensino de Álgebra no 3º e 4º ciclos, entretanto, para o conteúdo de Polinômios
não aponta nenhuma diretriz específica. Conforme citamos anteriormente, os PCN enfocam o
ensino de álgebra a partir da observação de regularidades em tabelas e gráficos exploradas por
meio de relações. Neste aspecto, para o 4º Ciclo, Imenes & Lellis (2002) relatam, na
Assessoria Pedagógica, como irrelevante uma definição precisa para o conceito de Polinômio,
“assegurando apenas a caracterização do mesmo e a distinção entre Polinômios e Frações
Algébricas” (p.54), isto é, no Polinômio a variável não pode aparecer no denominador. Esses
autores sugerem que a definição precisa de Polinômios seja apresentada no Ensino Médio no
estudo das equações polinomiais ou algébricas. Dizem também que seus livros propõem,
desde a 5ª série, uma abordagem mais significativa para o estudo de expressões numéricas, de
14
Visto que a tradução do livro “as idéias da álgebra” fez referência à escola média. Afirmamos que essa é uma
tradução da escola americana onde graus médios correspondem aos nossos ciclos III e IV.
60
forma que seu estudo permita ir além de uma extensa lista de cálculos; a busca de padrões
que, no início, são expressos textualmente e, depois, por meio de fórmulas; expressões
algébricas são usadas para exprimir idéias, fatos observados e raciocínio. O conteúdo,
segundo esses autores, é mais bem distribuído e mais enxuto do que no ensino tradicional,
sendo que as frações algébricas só são trabalhadas na 8ª série. A fatoração é distribuída na 7ª
série e na 8ª série e, além disso, reduzida ao essencial.
Iracema e Dulce, 2006, dizem na Assessoria Pedagógica de seus livros, que
consideram desnecessário o trabalho com Polinômios de muitos termos e com mais de duas
variáveis no 4º Ciclo. Enfatizam a abordagem deste tema, com “expressões simples, com uma
ou duas variáveis, que possuam expoentes 1 e 2, pois a maior parte do cálculo literal que se
emprega no Ensino Fundamental e Médio reduz-se a expressões desse tipo” (p.37). Quanto
aos objetivos esperados para o conteúdo de Polinômios, essas autoras definem: “conceituar e
identificar polinômios, e polinômios com uma variável; utilizar os conhecimentos sobre as
operações e suas propriedades para construir estratégias de cálculo algébrico” (p.37).
O Projeto Araribá (2005) não define fronteiras em relação ao ensino de Polinômios.
Nesse sentido, Eisenberg e Dreyfus (1988) são categóricos. Eles enfatizam que “os alunos
parecem aprender técnicas em detrimento de uma compreensão do contexto mais amplo”
(p.128). No artigo publicado em 1988, esses autores apontaram, a partir de uma pesquisa do
Coopersmith (1984), a forma como os Polinômios são ensinados na etapa correspondente ao
nosso Ensino Fundamental e concluíram que o ensino é procedimental, desligado de qualquer
contexto, dificultando a generalização e a aplicação do que aprenderam. Esses resultados
corroboram com o que vimos nos livros didáticos, com exceção ao livro de Imenes & Lellis
(2002). Há uma ênfase muito grande nos algoritmos e nos procedimentos de realização de
atividades que envolvem Polinômios.
Em relação a esse assunto, nossa proposta para o ensino de Polinômios dar-se-á
através da resolução de problemas, por meio de problemas contextualizados onde eles
servirão tanto como um meio de adquirir o novo conhecimento como um processo no qual
pode ser aplicado aquilo que previamente havia sido construído (ONUCHIC, 1999). Os
problemas contextualizados permitem que os alunos estabeleçam um maior número de
relações possíveis entre os conceitos de que já dispõem para com os novos conceitos
adquiridos durante a resolução do problema. Nossa concepção sobre o ensino de Polinômios
no Ensino Fundamental está em concordância com Eisenberg e Dreyfus (1988), no seguinte
aspecto:
61
Capítulo 4
PROJETO I
63
CAPÍTULO 4
PROJETO I
4.1 Introdução
relacionassem as áreas das bases dessas caixas com suas respectivas alturas, direcionando-os
às expressões algébricas, posteriormente chamadas, por nós, Polinômios.
Tendo em vista esse objetivo, o professor-pesquisador deveria, também, investigar as
interações sociais, num trabalho colaborativo com os alunos formados em grupos; os
conhecimentos desenvolvidos previamente pelos sujeitos da pesquisa; e a utilização adequada
desses conhecimentos, adotando estratégias para a resolução de uma situação-problema.
Para o desenvolvimento da coleta, serão utilizadas situações-problema
contextualizadas, pois, segundo Pozo (1998), elas permitem fazer aflorar os conhecimentos
prévios que serão acionados pelos alunos, para buscar a solução da questão proposta.
A dinâmica estabelecida, para o trabalho em cada atividade, inicialmente, seria a de
que, mesmo sentados em grupos, os alunos realizassem as atividades individualmente. Então,
abririam a discussão confrontando suas idéias com as dos colegas do grupo e que, numa
tomada de decisão conjunta, buscassem a solução do problema, num caminho vislumbrado
por eles no processo da resolução do mesmo. Posteriormente essas idéias seriam
compartilhadas com os demais grupos. As idéias, sugestões ou inquietações seriam
registradas para um ulterior debate. Nesse processo, os alunos precisavam ser desafiados por
um problema, ouvidos, respeitados e valorizados em suas idéias.
A metodologia adotada para o trabalho em sala de aula, junto aos sujeitos pesquisados,
consiste em uma abordagem teórico-metodológica de Resolução de Problemas, vista como
uma metodologia, denominada Metodologia de Ensino-Aprendizagem de Matemática através
da Resolução de Problemas.
No segundo momento, o professor-pesquisador deveria fazer questionamentos que
iriam além dos enunciados do problema. Várias situações conflitantes poderiam se dar então.
Cada grupo defenderia sua resolução e, muitas vezes, seria necessária até a intervenção do
professor-pesquisador para resolver o conflito.
Prosseguindo nessa dinâmica, em sala de aula, com os grupos tendo terminado seu
trabalho, o professor-pesquisador convidaria todos os grupos para, num único grupo, discutir
as diferentes colocações encontradas até que se chegasse a um consenso. Esta etapa é muito
importante. Muita exploração sobre o problema e as idéias construídas, faria com que, num
discurso democrático, todos pudessem falar e ouvir. O trabalho desenvolvido pelos alunos
seria discutido em Plenária de modo que todas as dúvidas, inquietações e embaraços fossem
esclarecidos pelo professor ou mesmo pelos próprios alunos. Nesse momento de discussão, o
professor já iria colocando algumas expressões matemáticas construídas naquela aula, de
forma que, na formalização, esses conceitos pudessem ser relacionados à discussão anterior.
65
Neste item vamos apresentar as estratégias (o quê?) que pretendemos desenvolver com
os alunos na aplicação do Projeto I. Realmente, vamos deixar aqui expresso o quê queremos
fazer neste projeto. Os procedimentos (como?) relativos a essas estratégias serão utilizados
em sua aplicação.
Ainda nesse livro, no Capítulo 8, sobre Equações Polinomiais, Kátia & Roku (1999),
apresentaram a seguinte situação:
Analisadas essas atividades, tanto nas propostas de Kátia & Roku (1999) quanto nas
propostas de Imenes & Lellis (2002), certos de que poderíamos explorar Polinômios partindo
desse estudo, buscamos uma forma de trabalhar as quatro operações com Polinômios, com
alunos de 7ª série, dentro desse contexto.
Um objetivo forte de nosso trabalho seria desenvolver o conteúdo Polinômio nesse
contexto, considerando as seguintes diferenças: 1) Imenes & Lellis (2002) partindo de
problemas resolvidos e fazendo com que os alunos trabalhassem com problemas dentro da
mesma idéia. Nós, com nossa metodologia, partiremos do problema, considerando os nossos
alunos como co-construtores do conhecimento, num trabalho conjunto onde a Matemática
nova será construída durante a resolução do problema. 2) Kátia & Roku (1999) trabalharam
com alunos de 3ª série do Ensino Médio, pedindo aos alunos que propusessem um problema
diante de uma dada situação. Nós usaremos também essa idéia com alunos de 7ª série.
Problema 1
Desenhar uma caixa em uma folha de papel A4, utilizando como instrumentos: lápis,
borracha, esquadros e régua. Depois de desenhada a caixa, transportar o desenho para um
papelão, onde a caixa será montada. Ela poderá ter dimensões quaisquer, ou seja, poderá
variar de acordo com a idéia de cada participante.
72
Problema 2
Problema 3
Calcular a área do papelão gasto na construção da “caixa teste”, após sua montagem.
Problema 4
4.1 Utilizando o retângulo dado no Problema 2, quais seriam as áreas das bases de
caixas, caso fossem construídas, com as alturas fornecidas no Quadro 1 abaixo?
Problema 5
Problema 6
Problema 7
retângulo, dentro dos limites possíveis para a altura dessa caixa, onde a medida do lado do
quadrado cortado representa a altura da caixa e essa altura é medida por um número racional
qualquer.
Observação: Chamaremos a caixa deste problema de “caixa 3”.
Problema 1.a –
“caixa 1”
Problema 1.b –
“caixa 2”
Problema 1.c –
“caixa 3”
Figura 5
77
Nas atividades 1.a, 1.b e 1.c apresentam-se as caixas planificadas de altura x referentes
aos Problemas 5, 6 e 7 e essas mesmas caixas desenhadas em perspectiva.
2.1 Escrevendo as áreas das bases das caixas 1, 2 e 3, apresentadas como produtos de
duas expressões algébricas, chegar, usando a propriedade distributiva, a uma soma
algébrica que descreva essas áreas através de um novo objeto matemático: o Polinômio.
Objetivo desta tarefa: Fazer com que os alunos percebam que, a partir de um produto de
fatores, chega-se a uma soma algébrica usando a distributividade e que, inversamente,
partindo-se de uma soma algébrica, pode-se chegar a um produto de fatores. Este processo é
chamado “fatoração”.
A1 + A2
A1 + A2 + A3
A1 + A3
A1 − A2 − A3
Objetivo da tarefa 3.1 – saber operar com somas algébricas (adição e subtração).
Calcular:
3.2.1 A1 . A2 ; A2 . A3 e A1 . A3
A1 A1 A2
3.2.2 ; e
A2 A3 A3
3.2.3 – Fazer a comparação das áreas das bases das caixas 1, 2 e 3, para um
mesmo valor da altura, vista como uma razão (comparação multiplicativa entre duas
grandezas).
O objetivo desta tarefa é saber operar com multiplicação, divisão de valores numéricos
de Polinômios e razão entre as áreas das bases das caixas.
79
O valor de y ainda não está decidido, pois depende dos custos envolvidos. Por isso, Luís
precisa fazer alguns cálculos. Vamos ajudá-lo.
b) Cada metro quadrado de pedra custa R$ 18,00 e, para colocá-la, o pedreiro cobra
R$ 12,00 por metro quadrado. Escreva a fórmula que fornece o custo C da pedra e da mão-de-
obra em função de y.
a) 5x2 - 4x + 3x(x - 4)
8 K 2 15 K 3
c) +
2K 3K 2
a) na forma fatorada;
83
Capítulo 5
A APLICAÇÃO DO PROJETO I
85
CAPÍTULO 5
A APLICAÇÃO DO PROJETO I
Existe uma mudança considerável entre esboçar um projeto e fazer a sua aplicação.
Faremos, neste capítulo, uma descrição de como ocorreu a aplicação do projeto, em sala de
aula, focalizando cada um dos catorze encontros planejados. Convém ressaltar que os
Problemas 1, 2, 3, 4, 5 e 6 deste projeto foram enunciados oralmente pela professora-
pesquisadora.
Como já foi dito no Capítulo 4, este projeto foi desenvolvido numa escola da rede
particular de ensino de Piracicaba, durante os meses de Outubro e Novembro de 2006,
abrangendo em média 4,5 semanas. Atendendo a eventos previstos no calendário escolar,
neste período, pudemos desenvolver 24 aulas, distribuídas em cinco aulas semanais, ou seja,
três encontros. Como já dissemos, os participantes desta pesquisa foram alunos de uma sala
de 7ª série, composta por 12 alunos com idades entre 13 e 14 anos. A professora de
Matemática da sala é a professora-pesquisadora desta dissertação.
Ao fazermos referência às falas dos participantes desta pesquisa, a professora-
pesquisadora será sempre indicada por “PESQ”. Quando a resposta não for individual, será
usada a palavra “CLASSE” e utilizaremos sempre as três primeiras letras dos nomes dos
alunos para indicar a participação de cada um deles: ALE; MAN; CEC; GAB; HAL; JAN;
JUL; LAR; LEO; MAR; DAN; NIL.
Para a execução deste Projeto, foram previstos catorze encontros, para os quais
fizemos a seguinte distribuição das aulas:
Fase Antes:
Num trabalho essencialmente feito pelo professor – a escolha dos problemas, a busca
de estratégias para trabalhá-las e o planejamento das aulas – decidiu-se que, para cada
atividade, deixar-se ia claro o foco da mesma. Uma ou mais estratégias seriam escolhidas –
identificar as possíveis estratégias para a resolução daquele problema e admitir que se
houvesse, por parte dos alunos, alguma estratégia diferente, a professora-pesquisadora deveria
estar preparada para a discussão delas, isto é, desses diferentes caminhos.
Fase Durante:
Fase Depois:
Agora, em uma reunião Plenária, com todos os alunos num único grupo, a professora-
pesquisadora convida os alunos para uma exploração do trabalho feito. Durante a
apresentação e discussão de um trabalho, os demais alunos deveriam manter-se atentos. Os
alunos seriam orientados anteriormente de que deveriam observar os aspectos relevantes que
tenham sido identificados por um grupo e não por outro, durante a execução do problema
proposto. Após a apresentação de cada grupo, começariam as discussões onde os alunos
poderiam apresentar à professora e a seus colegas, seus pontos de vista e suas dificuldades.
Durante essas discussões, alguns alunos podem ter a chance de identificar, por si
mesmos, seus erros; os colegas de grupo podem mostrar-se como colaborados na superação
de alguma dificuldade localizada; ou, ainda, podem surgir casos isolados de alunos que, não
conseguindo chegar a um consenso, pedem, neste momento, a intervenção da professora-
pesquisadora.
Problema 1
Desenhar uma caixa de papelão em folha de papel A4, utilizando como instrumentos:
lápis, borracha, esquadros e régua. Depois de desenhada a caixa, transportar o desenho para
um papelão, onde a mesma será montada. A caixa poderá ter dimensões quaisquer, ou seja, irá
variar de acordo com cada participante.
Obs1: o nome dessa caixa será “caixa piloto”.
Esta foi a primeira aula gravada. Percebemos que alguns alunos se calaram na
presença do gravador, dificultando o processo de discussão e a interação no grupo. As
manifestações desses alunos limitavam-se a murmúrios e gestos.
A professora-pesquisadora entregou a cada aluno uma folha A4 e pediu que
desenhassem, naquela folha, uma caixa de qualquer tamanho. O objetivo desse pedido era o
de verificar se os alunos tinham idéias de como poderiam construir uma caixa, partindo de sua
planificação. Assim, usando a folha dada, o que se esperava era que eles desenhassem uma
caixa. Essa caixa seria chamada “caixa piloto”.
Já havia sido solicitado anteriormente que, para esse dia, os alunos levassem para a aula o
material de Desenho Geométrico (régua, esquadros, etc.).
Depois de desenhada, a “caixa piloto” seria transportada para um papelão destinado à sua
montagem. Não foram dadas dicas de como utilizar o material de desenho.
Nosso foco estava centrado em verificar alguns aspectos:
1. construir uma caixa qualquer a partir de uma folha A4.
2. identificar as dimensões da caixa: comprimento, largura e altura.
3. adotar uma medida padrão.
89
A estratégia esperada pela professora-pesquisadora, para esta atividade, era a de, ao cortar
os quatro cantos de um retângulo desenhado na folha de papel A4, fazer a moldura para a base
da caixa e levantando as abas, montar a caixa. Sabíamos que existiam outras estratégias para
montar uma caixa, entretanto, esta foi a estratégia que escolhemos, pois, futuramente,
solicitaríamos o cálculo da área de papel gasto na caixa e não nos interessava o papel
referente aos “cantos” que seriam dobrados. Logo o recorte seria mais interessante.
Entretanto, estávamos preparados para encontrar outras estratégias. Por exemplo, em vez de
desenhar um retângulo e em seguida recortar os cantos, eles poderiam fazer a planificação da
caixa sem antes tê-la emoldurado; ou ainda fazerem o desenho da caixa em perspectiva.
Enquanto os alunos trabalhavam no desenho e montagem da caixa, a professora-
pesquisadora teria agora uma função diferente. Durante a realização da atividade, ela assumiu
as funções de: observadora, impulsionando o trabalho; questionadora, fazendo perguntas que
puderam colaborar para a elaboração da atividade proposta; consultora, verificando as
estratégias utilizadas; incentivadora, dando “dicas”, quando os alunos faziam alguma pergunta
e a professora-pesquisadora devolvia com outra. Pois, como disse Van de Walle (2001),
citado por Onuchic e Allevatto (2005), “o professor é responsável pela criação e manutenção
de um ambiente matemático motivador e estimulante em que a aula deve transcorrer”.(p.221).
Após receberem a folha de papel A4, foi dado um tempo aos alunos para a realização
da atividade individual.
Durante a realização da atividade, para nossa surpresa, apesar de previsível, todos
desenharam um cubo. Uns planificados, outros em perspectiva, conforme Figuras 6 e 7. Os
que desenharam o cubo planificado puderam montar a caixa. Já os que o desenharam em
perspectiva, não. Neste aspecto a ajuda dos colegas no grupo foi fundamental, pois esses
colegas estavam convencidos de que, o cubo em perspectiva não lhes permitia montar a caixa.
Supomos que os alunos que usaram a planificação do cubo para montar a caixa,
provavelmente tenham se lembrado de algo feito nas aulas de Desenho Geométrico.
90
uma caixa com dimensões diferentes (comprimento, largura e altura). No cubo, bastava
apenas uma medida para todas as arestas.
Outro aspecto que observamos, durante a resolução deste problema, foi em relação ao
uso dos instrumentos de Desenho Geométrico. Neste sentido, poucos alunos tiveram
dificuldade, entretanto, para esses casos, ao se formarem os grupos, a colaboração entre os
pares foi suficiente para que superassem essa situação.
Avaliamos que, como um de nossos objetivos era o de reforçar o conhecimento das
dimensões da caixa, poderíamos ter definido de antemão alguns valores para essas dimensões,
direcionando os alunos à construção de um bloco retangular. Assim, seria necessária a
identificação das dimensões desejadas.
Problema 2
Foi distribuída uma folha de papel A4 e solicitado, aos alunos, que desenhassem um
retângulo nessa folha, utilizando régua e esquadro. O problema foi enunciado oralmente e
colocaram-se na lousa as dimensões do retângulo a ser desenhado na folha de papel A4: c =
1,6dm e λ = 1dm. O decímetro foi adotado como medida padrão, pois gostaríamos de verificar
como os alunos iriam lidar com essa unidade de medida.
Os alunos desenharam individualmente o retângulo e, na maioria os desenhos estavam
bons.
A seguir solicitou-se que os alunos recortassem o retângulo desenhado. Então, a
professora-pesquisadora pediu que, a partir desse retângulo construíssem uma caixa com
altura de 0,1dm. Chamou atenção também de que essa caixa não teria tampa e o nome dessa
caixa seria “caixa teste”.
92
Essas orientações não foram muito bem compreendidas logo de início, sendo
necessária a intervenção da professora-pesquisadora, como podemos observar no seguinte
diálogo:
A inquietação era geral na sala de aula em torno de como desenhar a caixa a partir
daquele retângulo. Eles não sabiam onde desenhar a altura. Depois de muita discussão, com o
retângulo recortado em mãos, a professora-pesquisadora questionou a classe. Nesse momento,
os alunos já estavam trabalhando em seus grupos e isso porque não conseguiam avançar
individualmente.
O diálogo em classe continuou:
PESQ: Mas nós só temos esse papel. Ir para o lado, que era como ela dizia a parte
externa do retângulo desenhado, necessita de mais papel. Como vocês farão para levantar a
altura aqui?
JAN: O desenho vai ficar assim não é? Quanto vai ter cada quadradinho, referindo-se
aos cantos, desse aqui, ó?
Pela fala de JAN, observamos que seu grupo já havia desenhado a moldura da caixa no
retângulo, entretanto, o grupo não sabia quais as medidas dos quadradinhos dos cantos. Essa
moldura havia sido desenhada aleatoriamente.
PESQ: Onde estaria a altura da caixa no desenho, falando com o grupo de JAN?
93
PESQ: Como vocês farão para levantar a altura da caixa a partir deste retângulo?
JAN: tenho que marcar 1cm aqui, ó!
PESQ: Você não pode marcar para cá, seus limites são esses, disse apontando para
dentro do retângulo. O grupo de JAN não havia recortado o retângulo.
JUL: Como é que eu recorto a altura nesse papel?
JAN: Marco pra dentro então! A base da caixa vai ficar menor do que o papel.
PESQ: A base da caixa vai ficar menor, por quê?
JAN: Porque tem que recortar esse quadradinho daqui.
HAL: Recorta aí, num corta? Referindo-se aos cantos com 1cm2 de área. Só que aí vai
sair uma caixa pequena. Dobra 1 cm.
ALE: É. Tem que tirar 1cm de margem e dobrar. Vou marcar uma moldura, daí fica
mais fácil pra dobrar.
Foi difícil aos alunos perceberem que o lado do quadrado cortado seria a altura da
caixa. A dificuldade foi geral. Após a fala da professora-pesquisadora, especificamente com o
uso de a palavra levantar, os alunos começaram a desenvolver estratégias para traçar a altura
procurada. As caixas foram desenhadas por todos, os cantos foram recortados e,
posteriormente, as caixas foram montadas num papelão.
A palavra levantar apresentou-se com o significado de “sair do plano”, onde, no caso,
o plano era o retângulo de 10 cm por 16 cm. Dessa forma, perceber a relação existente entre a
palavra levantar e a altura da caixa, foi a etapa seguinte do trabalho. Baldino (1996, p.6)
94
apoiado na teoria de Walkerdine (1988), afirma que “... é inevitável lançar mão de
significados extra-escolares porque são eles que são transformados em significados
matemáticos pela operação de ensino [...] o ingresso no discurso matemático torna-se um
deslizamento ou transposição de uma prática e sistema de significados para outro (p.6)”.
Terminado o trabalho nos grupos deu-se início à Plenária. Cada grupo enviou um
integrante à frente da sala onde este iria apresentar seu resultado. Durante a apresentação, os
demais alunos mantiveram-se atentos. Os alunos foram orientados anteriormente em observar
os aspectos relevantes que tinham sido identificados por um grupo e não por outro, durante a
resolução do problema proposto. O fechamento dessa discussão girou em torno dos pontos de
vista dos alunos. Durante as observações da professora-pesquisadora, foram notados dois
comportamentos distintos: os alunos identificaram por si próprios seus erros, ou os colegas de
grupo ajudaram na superação de alguma dificuldade que, até esse momento, não havia sido
sanada. Assim, todos os alunos conseguiram construir a caixa.
Abaixo nas Figuras 8 e 9 temos o desenho da planificação da “caixa teste” desenhada
sobre o retângulo pelos alunos:
Figura 8
A Figura 8 mostra a moldura da caixa desenhada sobre o retângulo com medidas 16cm
no comprimento e 10 cm na largura. Ao lado, o aluno escreveu as dimensões da base da caixa:
c = 14cm, λ = 8cm. Do lado do quadrado riscado, o aluno escreveu 1cm representando a
altura. A bem da verdade, a escrita da altura no desenho foi marcada após a formalização das
idéias matemáticas novas registradas pela professora-pesquisadora.
95
Figura 9
lado nos quatro cantos do retângulo inicial desenhado. Ainda estávamos interessados em saber
de que conhecimento os alunos fariam uso para lidar com a medida padrão adotada no
problema.
A dificuldade dos alunos estava, realmente, na representação geométrica da altura da
caixa quando se lhes apresentava apenas uma figura plana. Foi necessário um trabalho no
concreto, com as mãos, para entender o que deveriam fazer.
5.3.2 - 2º e 3º Encontros
No 2º encontro foi retomado oralmente o Problema 2 e resolvidos os Problemas 3 e 4.
Problema 3
referindo as unidades cúbicas que cabem dentro de um sólido. Não foi o que fizemos. Na
ocasião, “resolvemos” a problemática por meio de questionamentos, por exemplo, quando
perguntamos: Temos volume quando o objeto medido é um segmento de reta? Temos volume
quando medimos áreas, ou seja, objetos bidimensionais? No volume quantas dimensões há?
Acabamos chegando ao consenso de que área é uma medida do espaço dentro de uma região
plana, portanto bidimensional, e volume mede o tamanho de objetos tridimensionais. Essas
perguntas serviram para que os alunos pudessem entender que:
MAN falou para GAB que a área do retângulo é dada pela fórmula base x largura e
não base x altura, pois nem tudo tem altura. Ela interpretou a palavra altura como uma
dimensão que sai do plano, logo só poderia citá-la quando se tratasse de volume. Nesse caso,
MAN sugeriu que seria melhor utilizar a expressão base x largura. Esse conflito vivido pelo
grupo está relacionado às idéias de Vygotsky (1979), quando ele afirma que a criança possui o
conceito, mas não tem consciência do seu ato de pensamento, em outras palavras, teria o
conceito sem consciência.
Analisamos, nessa fala de MAN, que o conceito das palavras usuais para o cálculo de
volume não estava claro para eles, já que volume refere-se ao cálculo envolvendo três
dimensões e a área, ao cálculo de duas dimensões, não sendo tão relevantes os nomes que
recebem. Poderíamos, por exemplo, chamar de a, b e c as três dimensões para o cálculo do
volume e a e b as duas dimensões da área. Dessa forma, conforme Moysés (1997), de acordo
com a abordagem sócio-histórica, o valor da aprendizagem está relacionado à importância de
98
se trabalhar o sentido e o significado dos conceitos, para que haja uma aprendizagem mais
significativa.
Ao se ensinar o cálculo do volume de um bloco retangular, entende-se por volume a
medida de espaço ocupado por um corpo, dado pela relação: Volume = comprimento x
largura x altura, sem uma preocupação com o sentido e o significado do conceito. MAN
estava ligada às apalavras envolvidas e não ao conceito que essas palavras representavam.
Diferente do grupo de MAN, os demais grupos lidaram de maneira mais prática com
essa questão, considerando a fórmula que lhes haviam apresentado em anos anteriores de
estudo:
JAN: 14 x 8 x 1
JUL: Daí você vai tirar o volume.
JAN: Então é 14 x 8 só!
ALE sugeriu a seu grupo que, nesse problema, calculassem as áreas das faces laterais e
a da base da caixa separadamente, somando-as posteriormente, para então definirem a área do
papel utilizado na construção da caixa.
Observamos que, em um dos grupos, foi mais difícil chegar a um consenso sobre a
quantidade de papel gasto na construção dessa caixa, em decorrência da dificuldade desse
grupo em dar significado às palavras utilizadas na construção dos conceitos de área e volume.
Também não reconheciam as dimensões que compunham o bloco retangular, confirmando o
que falou Vygotsky (1979), quando se referiu à consciência como um processo de
generalização, e esta, por sua vez, significando a formação de um conceito de grau superior,
que inclui o conceito dado como um caso particular. Neste sentido, a generalização das
palavras envolvidas nos cálculos de área e volume, pareciam não estabelecer nenhuma relação
com os conceitos neles envolvidos.
parte da caixa; b) identificar as diferentes estratégias utilizadas pelos alunos para resolver o
problema; foram amplamente atingidos.
Problema 4
4.1 Utilizando o retângulo dado no Problema 2, quais seriam as áreas das bases de
caixas, caso fossem construídas, com as alturas fornecidas pelo quadro abaixo?
5
Quadro 1
O Problema 4 pedia o cálculo da área das bases de diferentes caixas, dadas as alturas
pelo quadro apresentado no enunciado do problema. Pretendíamos que essas áreas fossem
conseguidas sem o uso de fórmulas, apenas manipulando a “caixa teste” e, ainda, sem que
fossem efetivamente construídas. Após o cálculo das áreas das bases dessas caixas imaginadas
solicitou-se um gráfico de pontos, representando todos os valores dessas caixas em função da
101
altura. Foi distribuída, para cada aluno, uma folha de papel quadriculado, onde o gráfico
deveria ser construído. A partir desse gráfico, os alunos deveriam fazer uma análise da
limitação das alturas relativas às suas áreas.
Fizemos uma análise desta primeira etapa do trabalho realizado pelos alunos no
Problema 4 e verificamos que eles não apresentaram dificuldade que merecesse destaque. Os
alunos conseguiram, apenas manipulando a “caixa teste”, chegar às áreas solicitadas,
preenchendo o quadro. Todo trabalho deu-se em situação de interação com o grupo, havendo
discussões importantes, possibilitando a construção das idéias e tirando as conclusões
necessárias para a construção do gráfico solicitado.
Para aqueles alunos que apresentaram mais dificuldade, a interação no grupo e a
contextualização da atividade, a partir da construção da “caixa teste”, foram relevantes no
processo da construção do conhecimento esperado para esta atividade. Como exemplo,
citaremos, nas discussões dos diferentes grupos, a percepção dos alunos quanto às alturas das
caixas, dado o retângulo inicial de 16cm de comprimento e 10cm de largura. A descoberta do
limite para as alturas, também solicitada neste item, era o ponto mais importante na análise do
gráfico.
No diálogo abaixo, há participação de alunos de três grupos:
ALE: Não é possível montar uma caixa com 5 cm de altura. Nas bordas de 10cm, a
folha teria que se dobrar ao meio e não daria formato de caixa. Não é?
LEO: Ah é verdade, não teria base.
MAR: No 5 não dá nada! Dá zero! No zero tem 160 de base, então vai descendo
(referindo-se à redução nas áreas das bases das caixas com o aumento das alturas).
lim (4x2 – 52x + 160) = 4.52 – 52.5 +160 = 0, pois o polinômio é uma função contínua e seu
x →5
lim (4x2 – 52x + 160) = 4.02 – 52.0 + 160 = 160cm2. Assim pudemos dizer aos alunos que
x →0
considerando a altura como qualquer número próximo de zero ou de cinco, quanto quisermos,
ainda assim ele é diferente de zero ou de cinco e, então, a limitação para o corte de quadrados
nos cantos do retângulo dado é exatamente 0 < x < 5.
No grupo de ALE, enquanto ALE e LEO analisavam o gráfico, HAL ainda não havia
entendido o porquê da conclusão dos colegas. Observando a dificuldade de HAL, ALE
desmontou a “caixa teste” e fez uma dobra na largura, desta vez medindo 5 cm de cada lado.
As dobras tomaram toda a largura de 10 cm. Com essa manipulação, HAL entendeu porque,
com altura 5cm, não havia caixa. A atitude de ALE foi fundamental para sanar a dificuldade
de HAL.
HAL: Ah, agora eu acho que entendi. Não tem caixa porque dobra, não é? Daí fica na
metade.
Figura 11 – Gráfico representando as áreas das bases das caixas imaginadas e/ou construídas, com alturas
variando entre 0cm e 5cm. Análise referente às áreas das bases de caixas quando as alturas fossem 0cm e
5cm, refletindo os valores encontrados nos limites da função (4x2 – 52x +160) nos pontos x = 0 e x = 5.
Quanto aos objetivos propostos para este problema, avaliamos que os mesmos foram
atingidos pela maioria dos alunos em primeira instância. Para aqueles que tiveram um pouco
mais de dificuldade, a socialização das estratégias de resolução no grupo e a posterior
discussão na Plenária, permitiu que conseguissem atingi-los.
Fizemos o fechamento do Problema 4 em Plenária, seguido da formalização feita pela
professora-pesquisadora.
5.3.3 - 4º Encontro
Resolução do Problema 5
Problema 5
montar uma caixa). A caixa seria montada por meio de dobradura das “abas”, depois de feitos
os recortes.
Figura 12 – Caixas intercaladas com alturas representadas por números inteiros positivos, obedecendo o
intervalo para a altura maior que 0cm ou menor que 5cm.
Diante dessa estratégia, perguntamos aos grupos se no espaço existente entre uma
caixa e outra, apontando para o desenho, haveria uma terceira caixa. Prontamente os alunos
responderam que sim e, sugeriram que as alturas fossem medidas por números decimais.
Continuamos fazendo perguntas:
Nesse momento, a professora pesquisadora quis chamar a atenção dos alunos para a
existência de outros números diferentes dos naturais e que servem para atender a outros tipos
de problemas. Apesar disso, os alunos voltaram a apelar para o que conheciam, no caso a
fórmula e não um padrão. Daí originou-se o seguinte diálogo:
No desenho do grupo a seta, sugerida por LEO, saia do espaço entre uma caixa e
outra.
ALE: Tipo uma seta e escreve “e, com esse desenho, nós descobrimos uma fórmula,
porque é 16 – 1– 1 ...”.
PESQ: Como? Porque você fez isso aqui, 16 – 1 – 1?
ALE: Porque é 16 – 1– 1.
PESQ: Neste caso, o 1 representa a altura 1cm? E quando essa altura não for 1cm,
como vocês vão representá-la? E quando a altura não for nenhuma dessas indicadas no quadro
do Problema 4? Há outras possibilidades? Quantas?
Com essas perguntas feitas, no grupo de ALE, estávamos instigando o grupo com a
intenção de orientá-los na percepção de que a altura seria uma variável e que poderia ser
representada no desenho por uma letra, já que não poderíamos verificar todas as possíveis
alturas naquele intervalo. É interessante ressaltar que a dinâmica dos grupos era o fator mais
importante nessa etapa do trabalho. Era, nas relações sociais vividas no grupo, que os alunos
começavam a formar a idéia da atividade proposta. O que vislumbrávamos, nessa etapa do
trabalho, era a busca de um padrão que servisse para o trabalho com qualquer caixa oriunda
do desenho do retângulo original.
108
ALE: Esse desenho feito apresenta possibilidades para a altura ao montar a caixa,
quando as alturas forem números naturais. A lateral será comprimento menos 2cm, ou, numa
caixa qualquer, “comprimento menos x vezes 2, onde x é a altura.
Observamos que o grupo já estava buscando uma fórmula para o cálculo da área da
base em função da altura, sem antes ter representado geometricamente a altura no desenho.
Este grupo, já havia percebido que a altura poderia ser representada por uma letra e já se
interessavam em buscar uma fórmula geral, mas ainda não sabiam como seria a representação
geométrica da mesma.
Exceto o grupo de JAN que não havia apresentado essa dificuldade15, embora não
tivesse marcado x no lado do quadrado a ser recortado, após termos perguntado à classe sobre
as caixas que poderiam estar nos espaços entre uma caixa e outra, não houve demora para que
os grupos percebessem a representação algébrica da altura. Concluíram que a altura poderia
ser expressa pela letra x e que a mesma variaria conforme cada situação dada.
No Problema 4, quando pedimos para montar a “caixa teste”, os alunos tiveram
dificuldade, por não saberem onde deveriam representar geometricamente a altura no
desenho. Essa dificuldade novamente apareceu no Problema 5. Mesmo sendo uma dificuldade
presente somente no grupo de JAN, avaliamos que a dificuldade, em identificar a altura no
desenho, está associada ao fato de os alunos não estarem acostumados a usar representações
geométricas em Matemática, ou então, não terem conseguido fazer uma boa interpretação do
enunciado do problema. Ao se depararem com uma situação-problema, esperava-se que os
alunos pudessem fazer a análise da mesma, a identificação das incógnitas e um desenho que
pudesse representar essa situação. Esses são elementos básicos dos quais os alunos devem
dispor e que, acreditamos, pudessem contribuir positivamente para o caminho em busca do
resultado. Esse procedimento que não acontece da noite para o dia, requer prática e deve ser
incorporado no dia a dia das aulas de Matemática.
15
Esse grupo desenhou uma moldura sobre o retângulo inicial, sem uma medida específica, e escreveu em
linguagem corrente, ao lado da caixa, que a altura seria representada pela letra x atentando para o intervalo
0cm < x < 5cm.
109
É interessante notar que os alunos queriam achar uma fórmula sem que soubessem que
esse era um dos objetivos para esse encontro.
Ao identificarem a altura x, os grupos partiram em busca de uma fórmula que desse a
área da base da caixa em função da altura x, isto é, queriam descobrir um padrão que servisse
para qualquer x, 0cm < x < 5cm.
A pergunta deste problema era a seguinte: Como, a partir do desenho, podemos
representar as diferentes alturas das caixas imaginadas no Problema 4? Como vemos, a
problemática estava em torno da altura, neste caso, representada por uma variável. Mas,
percebemos que os alunos se manifestavam na busca de um padrão. Eles não sabiam bem
como fazer, mas manifestaram o interesse em encontrar um padrão, embora não soubéssemos
se, naquele momento, já haviam percebido que esse padrão estava relacionado com a
dependência da base da caixa em relação à altura. Acreditamos que tenham sido motivados
por conta de termos trabalhado com áreas nos problemas anteriores. Sendo assim,
redirecionamos o trabalho perguntando aos alunos como fariam para calcular a área de um
retângulo, pensando que a resposta a essa pergunta os levaria a perceber que o padrão que
buscavam estava relacionado com a fórmula que dá a área do retângulo:
PESQ: Vocês conhecem a fórmula que calcula a área do retângulo desenhado na folha
A4?
CLASSE: base x altura.
PESQ: Digam, olhando em seus desenhos, o que é comprimento e o que é largura
nesse retângulo. Após identificá-los, escreva a fórmula da área da base dessa caixa em função
da altura x.
ALE: Este desenho apresenta possibilidades de alturas para montar uma caixa quando
as alturas forem números naturais. Neste caso, 1, 2, 3 ou 4 cm. Porém sabemos que a altura
pode ser qualquer número...
LEO: Maior que zero e menor que 5 cm...
110
O grupo foi escrevendo o diálogo acima, ao lado das caixas intercaladas. A fórmula a
que chegaram foi a seguinte: [160 – ( x2) . 4]. Esta fórmula ajudava a calcular a área de papel
utilizado na construção da caixa, em vez da área da base da caixa, o que era solicitado. Apesar
disso, avaliamos que, mais do que chegar ao resultado certo, foi de extrema importância o
entrosamento dos grupos na busca de estratégias para solucionar a situação-problema em
questão.
Os outros três grupos apresentaram uma fórmula, para a área da base da caixa, a partir
das dimensões do retângulo inicial (comprimento x largura) e, subtraindo de cada uma dessas
dimensões (2 . x) cm, já que se estava somente buscando a área da base da caixa.
Para dar início à Plenária, um representante de cada grupo colocou, na lousa, a
fórmula encontrada pelo grupo.
No grupo de ALE chegaram com à seguinte fórmula: A = [160 – ( x2) . 4].
Outros grupos chegaram a diferentes fórmulas, nem sempre corretas. O grupo de JAN
chegou à seguinte fórmula:
111
Após encontrar a fórmula da área da base da “caixa 1”, o grupo de NIL substituiu a
variável x por uma das alturas do Quadro 1 do Problema 4. Nos livros didáticos esse processo
de substituição da variável por um dado valor numérico é conhecido como ‘achar o valor
numérico de um Polinômio’. Como podemos verificar aqui, devido à contextualização do
conteúdo, não foi necessário solicitar esse procedimento aos alunos. De acordo com o
caminhar da atividade, eles mesmos perceberam que, se a fórmula encontrada nesse grupo
estivesse relacionada ao retângulo 10 cm por 16 cm e, também, ao Quadro 1 do Problema 4,
então, os casos particulares de alturas 1cm, 2cm, 3cm, etc., deveriam atender a essa fórmula,
substituindo o x da fórmula pelas alturas dadas no quadro. Achamos interessante a atitude dos
alunos em verificar que os valores numéricos encontrados não eram os mesmos que os do
Problema 4. Acreditamos que estavam certos dos resultados obtidos no Problema 4 em
virtude de terem chegado a esses resultados fazendo a manipulação da “caixa teste”.
O grupo de MAN foi o único que só conseguiu visualizar a relação entre os Problemas
4 e 5 nas explorações feitas durante a Plenária:
PESQ: Essa área foi testada por alguns grupos a partir das alturas do quadro do
Problema 4. Porque o grupo de NIL falou em colocar no lugar do x o número 3?
MAN: Porque x pode ser qualquer número.
PESQ: Muito bom. Realmente pode ser qualquer número, dentro de suas limitações,
mas elas falaram que o valor encontrado estava errado, já que não tinha dado 40cm2.
CEC: Porque ela fez toda a operação.
Nesse grupo, ainda não haviam percebido que os demais grupos tinham voltado ao
quadro do Problema 4 e em mais uma intervenção,
JAN: Porque ela viu a área do Problema 4 – querendo dizer que NIL, olhando no
Quadro 1, percebeu que para x = 1cm, a área da base da caixa era 40cm2. Logo, se os
problemas estavam relacionados, então para x = 1cm na fórmula, então, a área da base da
caixa deveria ser também 40cm2.
112
PESQ: Semana passada nós calculamos a área da base das caixas imaginadas, usando
a “caixa teste”. Hoje, encontramos uma fórmula que dá a área da base da caixa em função da
altura. Por que foi necessária a descoberta desse padrão?
JAN: Pra achar a área rápido.
PESQ: Vocês acharam importante a descoberta dessa fórmula?
ALE: Sim, pra você não ter que ficar abrindo a “caixa teste” toda vez que tiver uma
altura diferente, ou para não ter que ficar construindo uma caixa e depois outra para conhecer
sua área. Só com a fórmula já dá pra saber.
Com relação aos objetivos propostos para esse problema, avaliamos que os mesmos
foram atingidos pela maioria dos alunos e, para aqueles em que a percepção não foi
automática, nossas intervenções mostraram-se satisfatórias. A exploração do trabalho feito na
“caixa teste” possibilitou um melhor aproveitamento pelos alunos.
5.3.4 – 5º e 6º Encontros
Problemas 6 e 7
Problema 6
Apontando para o lado dos quadrados desenhados nos cantos do retângulo, repetimos
a pergunta:
114
Nesse momento, esse aluno (JAN), ao olhar o desenho, via somente uma caixa com
altura igual a 1cm. Não estava conseguindo abstrair-se da situação real para uma situação
geral.
O que podemos imaginar é que esse aluno, ao dizer “nada” estava querendo dizer
“qualquer coisa”. Não estava conseguindo era fazer com que o x assumisse qualquer valor
entre o zero e cinco.
Acreditamos que esse aluno ainda estava preso à situação da “caixa teste” na qual a
altura media 1cm. A representação dessa altura no desenho, medida pela variável x,era
incompreensível aos olhos dele. Frente à sua resistência, dissemos a ele que a altura, dita por
ele, 1cm, estava correta na construção da “caixa teste”. O que esse aluno e seu grupo não
conseguiam visualizar era que, para qualquer número racional entre 0 e 2, a altura era
desconhecida por eles e que poderia variar em cada caixa construída. Este é um conceito
importante na Álgebra; o de variável e que, em geral, é representado pela letra x indicando
algo a ser descoberto.
Essa questão foi levada à Plenária.
115
Figura 13 – A área da base da “caixa 2” está hachurada e as limitações para a altura foram observadas.
Problema 7
Figura 14 – A área da base da “caixa 3” está hachurada e as limitações para a altura foram observadas.
Não foi necessária uma intervenção nossa nos grupos para a resolução dessa atividade.
Quando questionamos se já haviam concluído a atividade, todos disseram que sim.
Solicitamos o envio de um integrante de cada grupo à lousa a fim de discutirmos todas
as fórmulas encontradas para as áreas das bases das caixas 2 e 3. Foram postas na lousa oito
fórmulas, indicando as áreas das bases das caixas 2 e 3, sendo uma de cada grupo. Após a
análise dessas fórmulas, verificamos que todos os grupos haviam chegado a resultados
semelhantes, apresentando apenas pequenas diferenças como a ordem dos fatores e o
esquecimento de parênteses. Os grupos que haviam apresentado algum desses problemas
citados, resolveram a questão na discussão Plenária. Ao concluirmos a discussão, ALE e seu
grupo quisera ler em voz alta suas conclusões:
5.3.5 - 7º Encontro
Figura 16
O trabalho com a manipulação das caixas foi explorado até o Problema 5. A partir daí,
as ações dos alunos pediam generalização de idéias e fórmulas, desligadas da situação
concreta. Como afirma Vygotsky, 1979, “o grau de abstração e generalidade [...] é a variante
psicológica fundamental a partir da qual os conceitos podem ser hierarquizados
significativamente” (p.147).
A seguir, atendendo aos pedidos do item 1.2, nas figuras 17 e 18, são apresentados os
resultados de um dos grupos. Todos os grupos usaram, para essa tarefa, papel quadriculado
com o objetivo de preservar algumas dimensões.
Ao construírem os gráficos das áreas das bases das “caixas 2 e 3”, os alunos
perceberam que os mesmos ficariam difíceis de desenhar porque o domínio dessa função é
somente o intervalo (0,2). De fato, como JAN não poderia usar esses termos, o máximo que
ele pôde dizer foi
muitas vezes absurdos. E o perigo está no fato de que, esses resultados, mesmo errôneos,
podem ser, na maioria das vezes, aceitos pelos alunos.
Tarefa 2 – Conceitualização
2.1 Escrevendo as áreas das bases das caixas 1, 2 e 3 apresentadas como produtos de
duas expressões algébricas, chegar, usando a propriedade distributiva, a uma soma algébrica
que descreva essas áreas através de um novo objeto matemático: o Polinômio.
Em toda esta tarefa, os propósitos por nós colocados sobre expressões numéricas e
expressões algébricas, foram trabalhados com os alunos ao longo de sua resolução.
Na Fase Antes, preparamo-nos para esta aula, programando pontos importantes sobre
fatoração.
A fatoração numérica é um processo conhecido dos alunos, quando trabalharam com a
decomposição de um número em seus fatores primos; quando calcularam o número de
divisores de um número; quando se tornou necessário achar o máximo divisor comum ou o
mínimo múltiplo comum de dois ou mais números. Na fatoração algébrica, este processo tem
também todas essas finalidades, mas as técnicas operatórias necessárias para trabalhar esse
processo são muito mais complexas.
O objetivo desta tarefa: Fazer com que os alunos percebam que, a partir de um produto
de fatores, chega-se a uma soma algébrica usando a distributividade e que, inversamente,
partindo-se de uma soma algébrica, pode-se chegar a um produto de fatores. Este processo é
chamado “fatoração”.
Nesse intervalo, JAN e JUL deixaram um espaço vazio e JUL perguntou se o sinal a
ser colocado nesse espaço seria de divisão.
Não conseguiram perceber que, ao realizar a multiplicação de duas expressões
algébricas (16 – 2x) . (10 – 2x), o sinal de multiplicação ( . ), que poderia até ser omitido, na
propriedade usada, significando que cada termo da primeira expressão deveria ser
multiplicado por cada termo da segunda e que, respeitados os sinais, seriam adicionados
algebricamente.
Assim 16 . 10 + 16 . (– 2x ) + (– 2x ) . 10 + (– 2x ) . (– 2x ) =
= 160 – 32x – 20x + 4x2 =
e, ordenando segundo as potências decrescentes de x,
= 4x2 – 52x + 160
123
Até chegar a este resultado com os alunos, seria interessante acompanhar alguns
diálogos travados entre os membros desse grupo e a professora-pesquisadora, indicando falta
de compreensão sobre variados conceitos numéricos e algébricos, detectados no trabalho feito
através da resolução dessa atividade:
Continuando a discussão em grupo e, ainda sem saber o que fazer, JAN consultou seu
livro procurando pela propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição.
Enquanto JAN pesquisava, JUL continuava sem saber o que fazer e perguntou:
Apesar de a resposta ter partido dos alunos, alguns deles pareciam insatisfeitos com o
fato de 2x0 ser um Monômio. Continuamos a intervenção:
O conhecimento dos alunos sobre potência e a relação desse conhecimento com esta
situação, deu mais significado ao monômio de grau zero.
Fizemos a formalização do conceito de Monômio, enfocando que Monômios são os
termos de um polinômio do tipo axp, com a ≠ 0 e p ∈ N (Conjunto dos números Naturais).
5.3.6 – 8º e 9º Encontros
A1 + A2 A1 + A2 + A3 A1 + A3
Objetivo da tarefa 3.1 – saber operar com somas algébricas (adição e subtração).
Pedimos aos alunos que realizassem essas atividades, em seus grupos, e queríamos
observar se os alunos iriam estabelecer alguma relação entre a adição numérica, já conhecida,
127
LAR fala para as colegas do grupo, DAN e NIL, que a soma algébrica de
4x2 + 4x2 = 8x2. NIL retruca:
Percebemos que LAR não conseguiu argumentar sobre o que fez. Manteve seu
resultado e parecia aguardar a Plenária para ter sua posição discutida.
Um ponto de dificuldade sério encontrado no estudo da Álgebra é quando o aluno traz
consigo a justaposição aritmética e vai compará-la com a justaposição algébrica. Em 35 o
aluno entende 30 + 5, com cada dígito respeitando seu valor de posição. É uma justaposição
Aritmética. Já em 4x2, a justaposição se mostra como um produto, 4 . x2 = x2 + x2 + x2 + x2 .
Esta é uma justaposição algébrica, onde 4 é o multiplicador e x2 é o multiplicando.
Ao fazerem 4x2 + 4x2 e sabendo que, algebricamente, 4x2 = x2 + x2 + x2 + x2, então,
4x2 + 4x2 = x2 + x2 + x2 + x2 + x2 + x2 + x2 + x2 = 8x2.
Observamos também no grupo de MAN o uso dessas concepções errôneas, como
vimos no grupo de NIL:
MAN: Conserva a base e soma os expoentes... Eu acho que não é soma, é alguma
coisa, tipo vezes...
GAB: É vezes. É multiplicação, tipo, quando é vezes, soma.
128
Voltadas para DAN, MAN e GAB disseram que, “no caso da soma de bases iguais,
multiplicam-se os expoentes”. MAN repensa e diz que pode não estar certa, quando a
professora-pesquisadora pergunta a todos se concordam com o que estão ouvindo:
4x2, que eu coloquei entre parênteses, vezes 2 (ele se repete duas vezes), o 2 só se distribui
(querendo dizer multiplica) para o quatro. Não vai se distribuir (querendo dizer multiplica)
para o x2.
Chamamos a atenção de todos para a forma que ALE e seu grupo haviam feito:
A resposta acima evidencia que nossa fala anterior sobre os Polinômios de grau zero
foi compreendida pelos alunos.
PESQ: 2x0 abre parênteses 4x2, ficando a expressão dessa forma: 2x0(4x2). Como
fazemos essa multiplicação?
CLASSE: x com x ; e 2 com 4. Dá 8.
PESQ: Isso aqui tudo vale quanto? Referindo-nos ao x0.
CLASSE: Um. Uma vez x2 vai dar x2.
PESQ: Eu tenho nesta mão uma coisa e nesta outra mão, uma outra coisa. Quantas
coisas eu tenho?
CLASSE: Duas coisas.
130
PESQ: Se eu tenho nessa mão 4x2 e na outra mão 4x2, quantos x2 eu tenho nas duas
mãos?
CLASSE: 8x2.
NIL: Não está certo, 4x2 + 4x2 = 4x4?
PESQ: Você está em que operação?
ALE: O que NIL está falando não está certo, porque se você tem 2x + 2x você vai
fazer 4x elevado a 2?
NIL: Não!
PESQ: NIL, se eu tenho 2x nesta mão e 2x nesta mão, quantos x eu tenho nas duas
mãos?
CLASSE: 4x.
ALE parecia querer ajudar NIL. Levantou-se de sua mesa, foi até a lousa e escreveu
4x. Depois, decompôs o 4x da seguinte forma: (x + x) + (x + x) = 4x. Quando ALE apresentou
sua explicação, não estando presa a regras, o grupo pareceu entender a lógica do processo de
resolução sem se apegar a elas.
Esse exemplo que ALE deu, foi mais bem entendido por NIL do que o exemplo dado
pela professora-pesquisadora. Agradecemos à colocação e à iniciativa de ALE, já que, com
sua fala, aqueles alunos que pareciam ainda estarem com dúvida, a partir dessa explicação,
pareceram mais satisfeitos.
Quando fomos para a Plenária, analisamos as seguintes situações:
131
Ao efetuar esta soma, os alunos erraram ao somar - 32x - 28x – 20x, resultando em -
100x, quando na verdade seria - 80x. Esse erro foi corrigido na Plenária.
3.2.1 - A1 . A2 ; A2 . A3 e A1 . A3
A1 A1 A2
3.2.2 ; e
A2 A3 A3
3.2.3 –
a) Fazer a comparação das áreas das bases das caixas 1, 2 e 3, para uma
mesma altura, como uma razão (comparação multiplicativa entre duas grandezas).
Os Polinômios A1(x); A2(x) e A3(x), dados como áreas das bases das caixas 1, 2 e 3,
foram obtidos, usando-se a propriedade distributiva, como uma multiplicação horizontal. Mas,
é mais comum ser trabalhada na forma vertical, como podemos ver em A1(x), quando dado na
forma fatorada (16 – 2x) . (10 – 2x), ao se efetuar essa multiplicação, pode-se agir assim:
ALE, ao chegar aos Polinômios, perguntou: − Vamos fazer o caminho de volta e ver se
o que foi feito está certo?
A professora-pesquisadora, procurando entender o que ela queria dizer, pensou no
seguinte: Dividir o Polinômio A1 por um de seus fatores, dado em sua expressão anterior, e,
se estivesse certo, achar o outro fator como quociente. Como necessário, para facilitar o
cálculo, para isso, os dois polinômios deveriam ter seus termos semelhantes reunidos e
ordenados na ordem decrescente dos expoentes da variável x. Ao usar o algoritmo da divisão
de polinômios, ela obteria
Aí, a professora-pesquisadora perguntou-se: Será que era isso que ALE estava
querendo??? Na realidade, a operação divisão que, em sua cabeça, usando o caso de fatoração
conhecida, pôr fator comum em evidência, lhe permitia fazer 4x2 – 52x + 160 = 4( x2 – 13x
+ 40) e, voltando ..., como? ...Vai voltar ao ponto de partida!
Uma maneira que pudesse talvez, surgir, em sua imaginação, ou lembrando-se de que
a divisão é a operação inversa da multiplicação, seria a de dividir um polinômio por outro,
A1
escrito na forma , visto como uma fração, pois para os alunos, como foi dito por eles em
A2
sala de aula, toda fração pode indicar uma divisão, o que não é verdade sempre.
a a÷b a ÷b
Possivelmente eles poderiam ver = = = a ÷b que, estendendo-
b b÷b 1
se aos polinômios, poderiam se apresentar assim:
P(x ) P(x ) ÷ Q(x ) P(x ) ÷ Q(x )
= = = P (x ) ÷ Q (x ) .
Q (x ) Q (x ) ÷ Q (x ) 1
134
P (x )
Pensar numa divisão, quando escrevemos , na forma fracionária, até que seria
Q (x )
esperado! Mas, uma das personalidades do número racional, dada como uma comparação
multiplicativa entre grandezas, a razão, nem sempre foi bem trabalhada com os alunos e
P(x )
dificilmente eles poderiam pensar em como uma razão.
Q(x )
É claro que se pensassem numa simples divisão algébrica do Polinômio
4x2 – 52x +160 pelo Polinômio 4x2 – 28x – 40, deveria ocorrer o seguinte
Como a razão é uma das personalidades do número racional, então pode ser escrito na forma
a
, com a, b ∈ Z, b ≠ 0, onde a barra fracionária tem significado de comparar o antecedente e
b
o conseqüente da razão.
Interpretando essa razão obtida, estamos dizendo que para cada unidade de área de
1cm , na caixa menor, haverá 7 unidades de área de 1cm2, na caixa maior.
2
Deixando de lado o que ALE e outros colegas não citados poderiam ter pensado ou
não, decidimos apresentar essa tarefa, com uma nova versão de seu enunciado.
Pedimos aos grupos que desenhassem as caixas 1, 2 e 3 planificadas, com altura 1cm
e, em seguida, solicitamos:
a) Fazer a comparação analítica e geométrica das áreas das bases das caixas:
1 e 2; 1 e 3; 2 e 3; onde se entende [A1(x)]x = 4x2 – 52x + 160
[A2(x)]x = 4x2 – 28x + 40
[A3(x)]x = 4x2 – 20x + 24
Levamos para a sala de aula as três caixas 1, 2 e 3 montadas em papelão com altura
medindo 1cm, e cubinhos de 1cm3 de volume também montados em papelão e deixamos que
os alunos procurassem ver a disposição dos cubinhos dentro de cada caixa formando o
volume dessa caixa.
Houve um problema. Ao imaginar as áreas das bases das caixas e, sobre cada área de
1cm , colocar um cubo de volume 1cm3, devido à espessura do papelão, não conseguiram um
2
encaixe perfeito. Assim, para que pudessem visualizar com segurança as razões das áreas das
bases das caixas, obtidas analiticamente, desenhamos apenas as bases das caixas 1, 2 e 3
dividindo a caixa toda em 14 x 8 quadrados de 1cm2 de área para a “caixa 1”. Por sua vez,
também decompusemos a área da base da “caixa 2” em 16 quadrados de 1cm2 de área e,
também, decompusemos a área da base da “caixa 3” em
4 x 2 quadrados de 1cm2 de área. Contando e separando na razão de 7 para 1 (no caso da
comparação entre as áreas das bases das caixas 1 e 2), garantindo então que a área da base da
“caixa 2”, a menor, cabia 7 vezes na área da base da “caixa 1”, a maior, isto é, 7 para 1, ou
seja 7 : 1.
136
Figura 17 – representação analítica e geométrica das áreas das bases das caixas 1 e 2.
A lista 1 (apresentada no Projeto), como exercício de aplicação, foi proposta pelo livro
didático utilizado pela sala.
Nosso objetivo com essa lista era verificar se os alunos iriam escrever as expressões
algébricas correspondentes às áreas das figuras dadas, como fizeram com as caixas 1, 2 e 3.
Gostaríamos também de verificar, se os conhecimentos aprendidos na atividade com as
caixas, seriam transferidos para essa atividade.
A resolução da atividade proposta pelo livro didático pareceu familiar a todos e os
resultados na maioria estavam bons. Solicitamos aos alunos uma extensão da atividade
pedindo a eles que nomeassem os polinômios representantes das áreas dessas figuras, de
acordo com o grau.
Esta também era uma lista de atividades proposta pelo livro didático utilizado pela
sala. Até a lista 1, vínhamos fazendo o desenvolvimento do conteúdo de Polinômios com base
no trabalho com as caixas. Aplicar listas do livro didático era uma forma de verificar como os
alunos iriam transferir um conhecimento construído no contexto das caixas, relacionado à
Álgebra, para outras situações.
A resolução desta lista, assim como a lista 1, foi feita por todos. Em reunião Plenária,
aqueles resultados que pareceram discrepantes, foram discutidos entre os alunos, aonde os
mesmos chegaram a um consenso.
c indicando certo
e indicando erro
± mais ou menos (consideramos mais ou menos os seguintes casos: erros com
sinais ou a fatoração não foi concluída)
nf não fez
A aluna HAL não compareceu no dia desta atividade. Não tivemos outro momento
para a elaboração desta atividade com a mesma.
1 2 3 4 5
1 – JUL nf nf cc ± ce nf nf ccc
2 – JAN ce ccc ce cc cc ±
7 – ALE cc ccc c± cc ± cc
9 – DAN cc c± c cc cc ccc
11 – LAR ce c± c ee c nf ccc
Problemas 1 2 3 4 5
alternativas a b a b c a b a b a b c
(%) de acertos
81 36 100 73 90 81 45 81 73 81 90 81
Problema 4: Apesar de não termos trabalhado com volume, neste Projeto I, aplicamos
este problema visando a verificar se os alunos seriam capazes de generalizar o conhecimento
do conceito de área, passando para o conceito de volume. Os alunos sabiam que o volume de
um bloco retangular era obtido multiplicando suas três dimensões: comprimento, largura e
altura. Assim, nesse caso,
V = (3x + 6) (x + 2) (2x + 4). Após a aplicação da propriedade distributiva da multiplicação
em relação à adição, o Polinômio resultante indicaria também o volume da caixa. O cálculo
do volume envolveu, então, a multiplicação de três expressões algébricas, reforçando o uso da
propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição.
Quando o volume foi encontrado pelo produto das três dimensões da caixa:
(3x + 6) (x + 2) (2x + 4), os alunos, percebendo que o produto (3x + 6) (x + 2) dava a
área da base da caixa, identificaram um padrão para o volume:
V = Abcaixa . altura.
Este problema explorou conceitos mais amplos, ainda não trabalhados na atividade
com as caixas, donde concluímos que, os alunos conseguiram estabelecer relações dos
conteúdos desenvolvidos nas atividades com as caixas, bem como ativar seus conhecimentos
prévios da pré-álgebra.
Com relação aos problemas propostos não realizados, questionamos os alunos que não
os fizeram e eles responderam que tentaram, mas não souberam fazer.
5.4 Opiniões, comentários e sugestões dos alunos sobre a proposta de ensino aplicada.
caixa teste. Essa colocação foi verificada em nossa análise, um fato que gerou novas
situações-problema no decorrer da pesquisa. Alguns de seus relatos foram interessantes nesse
ponto. Os alunos apontaram a importância da condução do trabalho pela professora-
pesquisadora; da socialização na construção do conhecimento pelos alunos; na transformação
de um trabalho, de início individual, crecendo para um trabalho em grupo; fortalecendo a
importância da cooperação na busca da solução das situações-problema apresentadas.
Surgiram, ainda, em seus relatos, indicações que apontavam a grande dificuldade enfrentada
quando, pela primeira vez, propuseram a divisão de Polinômios, depois de terem simplificado
os polinômios pondo em evidencia um fator comum.
Perguntamos aos alunos se eles gostariam de apontar algum fato, ou algum momento
durante o ensino de Polinômios, que lhes permitiu aumentar sua aprendizagem. De todas as
respostas dadas pudemos incluir em dois grupos: 1) pouco tempo – alegaram que gostariam
de ter trabalhado mais tempo com o tipo de atividade desenvolvida; 2) mudança nos grupos –
disseram que seria interessante, no decorrer do trabalho, uma mudança nos grupos para
poderem vivenciar novas experiências. Relacionada a esta pergunta, os alunos argumentaram
que gostariam que outros conteúdos de Matemática fossem ensinados da mesma maneira que
o ensino de Polinômios. Pois, “para aqueles alunos que não entendem a teoria, teriam a
prática para embasar”(sic). Três alunos disseram que não gostariam de ter essa técnica
ampliada para outos conteúdos; um deles completou sua afirmativa dizendo que o professor
deveria alternar essas técnicas entre os diferentes conteúdos, assim, isso não viraria rotina; o
segundo aluno alegou que “diferentes estratégias seriam bem aceitas nos conteúdos mais
difíceis e, neste caso, ele citou Polinômio. Em relação aos conteúdos mais fáceis, disse que
poderiam ser ensinados normalmente”(sic). O terceiro aluno não se mostrou animado pelo
trabalho e não disse porquê.
A quinta pergunta do questionário referia-se aos pontos que lhes dispertaram maior ou
menor interesse na dinâmica adotada. Chamaram-nos atenção as seguintes afirmativas: “como
é que pode, com números tão diferentes e tão complexos, tão simples de usá-los em contas,
estarem presentes em todos os lugares da vida?”; “trabalhar com construção de caixas e
delas tirar Polinômios?”; e, ainda, “ é muito interessante perceber que os Polinômios estão
presentes em várias situações do dia a dia”(sic). Outras colocaçãos surgiram sobre esta
questão, demonstrando que o trabalho com as caixas fez o conteúdo parecer mais familiar
para os alunos.
145
O trabalho em grupos foi elogiado por todos os alunos. A maioria, alegando que a
interação promovida por meio das discussões, permitiu o surgimento de diferentes idéias e
diferentes formas de resolução, promovendo uma forma diferente de aprender.
Antes de encerrar a análise do questionário, perguntamos que conhecimentos sobre
Polinômios os alunos adquiriram. De que forma, eles acreditavam, que esses conhecimentos
lhes serão úteis na vida e quais comentários, críticas ou sugestões, sobre o trabalho realizado,
gostariam de fazer. Disseram que foram muitos os contéudos aprendidos e analisada sua
utilidade. Essas respostas contribuíram para nossa análise e nossas conclusões para esta
pesquisa. Suas respostas nos fizeram voltar às atividades realizadas e fazer uma comparação
entre o que foi dito e os exercícios realizados por cada um dos alunos.
Não levantaram críticas, nem fizeram comentários. Como sugestão um aluno disse: “a
sugestão que eu faço é continuar diferenciando o aprendizado, sem muita repetição e eu
achei bem interessante a nova forma do aprendizado”(sic).
16
Tradução de: Tradução de: Teaching Through Problem Solving.
146
crianças, ignorando o que elas podem trazer, ou não trazer, para a sala de aula.
Assume-se que belas exposições, talvez melhoradas por materiais manipulativos,
possam produzir compreensão. Embora essa abordagem às vezes tenha sucesso com
algumas crianças, ‘mostrar e dizer’ depende de uma absorção passiva de idéias e
deixa a maioria dos estudantes acreditar que a Matemática é misteriosa e, ainda
mais, incompreensível. A segunda diferença com o paradigma de ‘ensine-então-
resolva’ é que a resolução de problemas fica separada do processo de aprendizagem.
As crianças sempre esperam que os professores lhes digam as regras que irão servir
para resolver problemas para os quais os resultados de solução não foram
providenciados. Ao separar o ensino da resolução de problemas, a aprendizagem de
Matemática fica separada de fazer Matemática. Isto simplesmente não faz sentido.
Aulas eficientes começam onde os estudantes estão, não onde nós estamos. Isto é, o
ensino deveria começar com as idéias que as crianças já têm, as idéias que eles usam
ao criar idéias novas. Engajar os estudantes requer tarefas e atividades que são
problemas e requerem o pensar. Os estudantes aprendem Matemática como um
resultado da resolução de problemas. As idéias Matemáticas são resultados da
experiência em resolver problemas, mais do que elementos que devem ser ensinados
antes de resolver problemas. Além disso, o processo de resolver problemas está
agora completamente interligado com a aprendizagem. As crianças estão
aprendendo Matemática fazendo Matemática (mesmo autor, mesma obra, tradução
nossa).
na formação e na estruturação de um padrão para a área da base da “caixa 1”, dando aos
alunos o poder da verbalização na formação do novo conceito.
Quando solicitamos o cálculo da área de papel utilizado, verificamos que os alunos
dispunham do conceito da área do retângulo. O conhecimento prévio, sobre este conceito, foi
o ponto de partida para a fixação dessa aprendizagem. Desta forma, houve casos onde a
aprendizagem foi efetivada somente quando a discussão foi aberta na Plenária como “um
movimento oscilante que vai do individual para o social e do social para o individual”
(MORETTI, f.147, 1998).
Ao encerrar o Problema 3, já havia indícios de que a atividade contextualizada teria
proporcionado outras representações que não se limitavam à planificação da caixa em estudo.
Isso foi verificado na fala de ALE, quando ela se adiantou, falando para os colegas que se o
cálculo solicitado fosse referente à área da base de uma caixa de sapato, certamente não
estariam calculando a área das bordas, e sim a da base. Na fala de ALE verificamos uma
preservação do significado do problema, aplicado em outra situação, gerado pelo trabalho
contextualizado. Situação idêntica foi vivida por NIL e DAN quando solicitamos o valor
numérico de um Polinômio. Para que DAN entendesse o porquê de substituir o x pelo número
1, NIL se reportou ao exemplo da “caixa teste” reduzindo o nível de complexidade da
problemática vivida por DAN.
A atividade contextualizada não só se mostrou como forte aliada na preservação do
significado do problema, como também mostrou que a manipulação das caixas construídas
proporcionou, àqueles que apresentavam maior dificuldade de abstração, uma visualização do
conceito teórico por meio da manipulação de objetos concretos. Esse processo permitiu aos
alunos verificarem, na prática, os limites permitidos para a altura da caixa no Problema 4.
Quando a atividade foi desenvolvida individualmente, alguns alunos trouxeram dúvidas para a
socialização. Não entendiam porque, dada uma determinada altura, não existiria caixa.
Foram as interações nos grupos, seguidas da manipulação do material concreto, que
permitiu a esses alunos essa visualização. Verificamos posteriormente, nos problemas 5, 6 e 7,
que esses mesmos alunos haviam conseguido definir os limites para as alturas das caixas
envolvidas nesses problemas, sem a manipulação da “caixa teste”.
Para o desenvolvimento deste trabalho, a professora-pesquisadora fez-se presente em
muitas situações: preparou, antes de ir para a sala de aula, todo o material necessário para
conduzir os alunos à construção de novos conceitos e novos conteúdos. A escolha dos
problemas, geradores desses novos seres matemáticos, era de importância capital. Como
distribuir o tempo, como fazer com que os alunos participassem ativamente no processo de
149
resolução do problema, como fazer com que todos ouvissem e falassem durante a participação
na Plenária, como usar as mãos num momento de trabalho, etc ... tudo isso dependia do
trabalho preparatório da professora-pesquisadora.
No momento de dificuldade da maioria dos alunos, ao atribuir-se à altura o valor
variável x, os alunos estavam avançando para a compreensão dos novos conceitos que a
professora-pesquisadora sabia que estavam por vir.
A riqueza das representações adquiridas nos Problemas 1, 2, 3 e 4, serviria como
ponto de partida para a construção do conceito de Polinômios.
Operar com esses novos seres, os Polinômios, adicionar, subtrair, multiplicar e dividir
fazia parte de nosso Projeto I. Mas, nosso objetivo principal era o de chegar a essas operações
com compreensão e significado, embora sabendo que muitas dessas idéias, ainda lhes eram
desconhecidas. Essas quatro operações precisavam ser compreendidas com as mesmas
concepções conhecidas das quatro operações com números, que eles já conheciam bastante. O
que era muito diferente, era a expressão algébrica que representava esses novos seres. Assim,
apesar de a adição, subtração, multiplicação e divisão de Polinômios terem o mesmo
significado operacional que as operações sobre números, as técnicas operatórias variavam
muito, constituindo-se então em pontos de dificuldade. Por já termos definido soma algébrica,
por já saberem reunir termos semelhantes e por conhecer a propriedade distributiva da
multiplicação em relação à adição, as operações de adição, subtração e multiplicação de
Polinômios não ofereceram muita dificuldade.
Ao trabalhar com a soma algébrica de Polinômios, por exemplo, não foi necessário
explicar aos alunos um método específico para essa operação. Esse procedimento foi natural,
partiu do conhecimento prévio sobre o conceito da operação adição sobre números. Para
aqueles que tiveram maior dificuldade, perceber que adicionar não era um procedimento
novo, soou em tom de surpresa. Quando questionada, uma aluna, sobre como faria essa
adição de polinômios, ela disse: “que fácil”!
A grande dificuldade deu-se ao enfrentar a divisão de Polinômios e a concepção do
conceito de razão entre o valor numérico de um Polinômio e o valor numérico de outro, para
um possível valor da altura x.
A 1 (x )
Ao trabalhar com a divisão de Polinômios, quando os alunos, na prática, viam
A 2 (x )
como uma fração, indicando uma divisão, pois como nos números, eles “viam” que
a A (x )
= a ÷ b , então, para eles, 1 deveria ser A1(x) ÷ A2(x) e o que buscavam era ver
b A 2 (x )
150
quantas vezes o Polinômio divisor cabia no Polinômio dividendo. Achavam, também, que
para isso, bastava atribuir um valor numérico para a variável x e fazer a divisão entre esses
valores, constatando que a área da base da “caixa 2” caberia um certo número de vezes na
área da base da “caixa 1”.
A 1 (x )
Na verdade, e dificilmente isso poderia acontecer, o que , calculados esses
A 2 (x )
Polinômios, por exemplo, para x = 1, a relação que havia entre [A1(x)]1 e [A2(x)]1 era uma
comparação multiplicativa entre as duas grandezas que mediam, para A1(x), o valor numérico
do Polinômio no ponto x = 1 e, para A2(x), o valor numérico desse Polinômio, para x = 1. Essa
relação entre eles não é de fração, nem de divisão, mas de razão, uma comparação
multiplicativa entre essas duas grandezas. Assim, ao fazerem
Deviam entender que, para a altura 1, a área da base da “caixa 2” caberia, na área da
base da “caixa 1” sete vezes.
Isso os alunos puderam perceber bem ao comparar as caixas construídas e levadas pela
professora-pesquisadora e, também pelo desenho feito sobre as caixas planificadas.
Capítulo 6
PROJETO II
153
CAPÍTULO 6
PROJETO II
6.1 INTRODUÇÃO
6.2 – O Projeto II, realizado com os mesmos alunos, um ano depois da aplicação do
Projeto I
6.3 Função
O enfoque dado, por nós, ao conceito de função, no Projeto II, conforme aponta Van
de Walle, 2006, será sobre o estudo de funções no que se refere ao modo com que a mudança
numa variável afeta a mudança na outra (p. 284-285, tradução nossa). Na atividade com as
caixas, exploramos a variação da área da base das caixas em função da altura (h).
Acreditamos que as atividades desenvolvidas nos Projetos I e II, permitem a exploração do
conceito de função por meio da percepção de padrões, de tabelas e gráficos já na 7ª série,
diferentemente do que propõem os livros didáticos cujas primeiras idéias sobre funções são
dadas somente na 8ª série.
Não estamos sugerindo, para este projeto, um esgotamento desse conceito, nessa série,
mas sim, proporcionar a esses alunos um contato com o conceito de função como extensão do
trabalho realizado, por nós, com Polinômios.
156
Este projeto será desenvolvido ao longo de quatro encontros com duas horas de duração,
onde novos conceitos serão construídos, pelos alunos, através da resolução de problemas.
No primeiro encontro nos limitaremos a fazer uma revisão crítica das atividades
desenvolvidas no Projeto I, onde será analisado o raciocínio dos alunos.
Figura 18 - Hierarquia do Pensamento; Krulik & Rudnick; 2001, p.iv, Roads to Reasoning – Developing
Thinking Skills Through Problem Solving, Mac Graw-Hill17.
17
Tradução da pirâmide: Hierarquia do pensamento. Lembranças. Raciocínios: básico, crítico e criativo.
Raciocínios de ordem superior: crítico e criativo.
158
Objetivos do encontro
1. fazer uma revisão crítica sobre conceitos trabalhados, com os alunos que fizeram
parte do Projeto I.
2. fazer uma revisão crítica de outros conceitos geométricos já trabalhados, por esses
alunos, durante sua escolaridade e não enfocados diretamente no Projeto I.
3. observar a necessidade do uso de unidades de medida no transcorrer desse trabalho.
Problema 1
Entregar aos grupos uma folha de papel A4, tendo nela desenhada um retângulo medindo
16cm no comprimento (c), por 10 cm na largura ( λ ), com a seguinte solicitação:
Para esta atividade, nosso objetivo é que os alunos possam reconhecer e distinguir os
conceitos de perímetro e área de um retângulo.
Acreditamos que não haverá problemas para os alunos na realização dessa atividade.
Possivelmente encontrem dificuldade na exigência do trabalho com medida.
Problema 2
Entregar aos grupos uma folha de papel A4 com o desenho da Atividade 1. Pedir para
os alunos recortarem, em cada canto A, B, C, D, um quadrado de 1 cm de lado e seguir as
solicitações abaixo.
Nosso objetivo para esta atividade é o de uma avaliar os conceitos pertinentes a ela e
calculá-los com os valores dados.
Nesta atividade acreditamos que, a menos de o conceito de volume, que não havia sido
trabalhado no Projeto I, os grupos não terão dificuldade em atender às solicitações feitas.
Problema 3
Exercício de fixação - Para este problema serão distribuídas folhas de papel A4 com o
desenho do retângulo com medidas 16cm no comprimento e 10cm na largura.
Pede-se aos alunos que repitam todas as tarefas realizadas no Problema 2, só que, dessa
vez, cortem nos cantos do retângulo inicial, quadrados de 2 cm de lado. A caixa montada com
este problema será chamada “caixa B”.
De suas observações o que cada grupo pode falar sobre o acontecido com a área da base
das caixas A e B, ao longo dos dois recortes feitos (Problema 2 Æ recorte de 1 cm e Problema
3 Æ recorte de 2 cm)?
arestas e faces de uma figura espacial, pois numa figura plana temos vértices e lados e numa
figura espacial, temos vértices, arestas e faces.
Além disso, também seriam formalizados os conceitos de perímetro, área e volume.
6.6.2 - 2º Encontro
Objetivos do encontro:
O objetivo dessa atividade é fazer uma revisão crítica dos conteúdos trabalhados no Projeto
I sobre Polinômios, bem como retomar algum conceito que não tenha sido assimilado pelos
alunos, ou, ainda, discutir conceitos que se apresentem como sendo novos.
Numa reunião Plenária, com todos os alunos juntos, seriam discutidos todos os conceitos
revistos nesta aula.
O professor-pesquisador colocará na lousa, posteriormente, as definições de todos os
conceitos trabalhados com o rigor necessário, bem como outros assuntos correlatos.
Problema 4
Entregar aos grupos uma folha de papel A4, onde há o desenho de um retângulo medindo
16cm no comprimento, por 10 cm na largura. Com este retângulo, seguir com as solicitações
abaixo:
6.6.3 – 3º Encontro
1. Descobrir a relação funcional, isto é, uma relação de dependência, entre a área da base
da caixa e a altura sugerida.
2. Descobrir a relação funcional entre o volume da caixa e a altura adotada.
3. Falar sobre variáveis dependentes e variáveis independentes.
4. Construir gráficos.
Problema 5
a) construir uma caixa com altura h, tomando um valor h qualquer. Sugere-se tomar h ≠
0 cm e h ≠ 5 cm.
b) entregar aos grupos duas folhas de papel A4 com a figura de um retângulo, medindo c
= 16 cm e λ = 10 cm, a fim de verificar em cada folha, nessas construções, a limitação
para h = 0 cm e h = 5 cm.
c) reconhecer que, com as medidas h = 0 cm e h = 5 cm, as grandezas perímetro, área e
volume dadas por suas fórmulas, isto é, dadas por relações entre grandezas, achar o
perímetro da base, a área da base e o volume da “caixa C”.
d) A partir do que foi obtido na questão c, construir uma tabela18 e um gráfico da área da
base da caixa em função da altura e do volume da caixa em função da altura.
Preencha a tabela abaixo com base no trabalho realizado a partir do retângulo medindo 16
cm no comprimento e 10 cm na largura.
18
Essa tabela foi entregue aos alunos ao terminarem as alternativas anteriores. Tomamos essa medida, para
ganhar tempo.
164
6.6.4 – 4º e 5º Encontros
Formalização do Conceito de Função.
Lista de atividades de fixação.
1. É muito comum, no período de férias de verão, faltar água nas cidades do litoral do
Brasil. Para não correr riscos de ficar sem água, seu Antônio construiu em sua casa de
praia mais uma caixa-d’água, com as seguintes medidas: 1m de largura, 0,80m de
comprimento e 0,70m de altura. Como precisava ligar essa caixa a outra já existente,
colocou um cano de entrada de água a 60cm de altura, conforme a figura abaixo.
Desse modo, os últimos 10cm de altura do reservatório ficam sempre vazios. Qual a
capacidade utilizável, em litros, da caixa-d’água que seu Antônio construiu em sua
casa de praia?
Problema “extraído” do livro: Educação Matemática – Célia
Carolina Pires; Edda Curi; Ruy Pietropaolo; 2002; 7ª série do
Ensino Fundamental; Editora Atual. SP., p.195).
Observando que as áreas desses retângulos não são iguais, podemos propor a seguinte
questão: dentre todos os retângulos com perímetro de 40m, qual deles tem a maior área?
Problema extraído do livro: Matemática para todos de Imenes & Lellis, 2006,
7ª série do Ensino Fundamental, Editora Scipione, SP. (p.191-192)
4. Marília está fazendo uma caixa de madeira para guardar suas jóias, ela decidiu tomar
para o comprimento da caixa 20cm. Também decidiu que o comprimento fosse
exatamente 2 vezes a largura enquanto que a altura seria exatamente metade da
largura. Qual será o volume da caixa de jóias de Marília?
Adaptado do problema 20 – Boxing Jewelry – p.79-81 do livro Problem-
Driven Math. Applying the Mathematics Beyond Solutions. Krulik e
Rudnick. Grade 6, 2005).
5. Renee planejou fazer uma caixa em forma de um cubo que media 5cm em cada lado.
Depois de calcular o volume ela achou que a caixa estava muito pequena. Ela dobrou o
comprimento de cada lado do cubo. Quantas vezes maior ficou o volume da caixa maior do
que a caixa original?
(Boxing Jewelry - p.79-81 do livro Problem-Driven Math. Applying the
Mathematics Beyond Solutions. Krulik e Rudnick. Grade 6, 2005).
6. Lisa fez uma caixa que media 16cm no comprimento, 8cm na largura e 4cm de altura.
João fez uma caixa com a forma de um cubo que tinha o mesmo volume da caixa de
Lisa. Qual era o comprimento de cada lado da caixa de João?
(Boxing Jewelry – p.79-81 do livro Problem-Driven Math. Applying the
Mathematics Beyond Solutions. Krulik e Rudnick. Grade 6, 2005).
167
CAPÍTULO 7
A APLICAÇÃO DO PROJETO II
168
CAPÍTULO 7
A APLICAÇÃO DO PROJETO II
Este capítulo irá tratar da aplicação do Projeto II, descrevendo como ocorreu sua
aplicação em sala de aula, focalizando cada um dos encontros planejados.
Problema 1
Ao sugerir este problema, nosso objetivo era o de verificar se os alunos iriam reconhecer e
distinguir os conceitos de perímetro e área de um retângulo. O conceito de perímetro, já
trabalhado em anos anteriores, bem como o conceito de área, muito explorado no Projeto I,
não nos parecia, inicialmente, oferecer dificuldade aos alunos. Já, a exigência do trabalho com
170
medida, embora estivesse presente nos problemas do Projeto I, poderiam apresentar alguma
dificuldade, uma vez que, no Projeto I, verificamos que os alunos não lhe deram a devida
importância.
Como havíamos previsto, todos souberam calcular o perímetro e a área sem apresentar
dificuldade conforme veremos nos resultados dos grupos na página 176. Entretanto, a maioria
dos alunos se esqueceu da unidade de medida padrão, sendo necessária a intervenção de
alguns colegas ou mesmo da professora-pesquisadora. No Projeto I, esse comportamento se
repetia sempre que tratávamos com medidas e, para o Projeto II, este seria um aspecto em que
os alunos deveriam estar atentos. Acreditamos que este “esquecimento” não estava
relacionado com o fato de não saberem trabalhar com medidas, mas sim, com o hábito desses
alunos em, normalmente, não fazerem uso dessa exigência, ou por não serem cobrados, ou por
não lhes dar o valor merecido. Esse nosso posicionamento refere-se ao fato de que, quando
questionados sobre os valores encontrados para perímetro e área, eles apenas se referiam à
quantidade numérica, isto é, ao número obtido sem se preocupar com a unidade de medida.
Este comportamento dos alunos pode estar relacionado ao pouco destaque deste assunto nas
aulas de Matemática, em especial nas últimas séries do Ensino Fundamental, pois muitos
professores, apesar de reconhecerem sua importância, preferem que elas sejam estudadas de
forma mais detalhada nas Ciências Naturais (PCN, 1998).
Observando as orientações dos PCN (1998) e a dificuldade dos alunos em trabalhar com
grandezas e medidas, ressaltamos que este poderia ter sido um aspecto melhor explorado
nesta pesquisa utilizando outras estratégias, mas, em função do tempo, o que fizemos foi tratar
o assunto de forma mais direta, conscientes de que faz-se necessário um enfoque maior sobre
este assunto nas aulas de Matemática. Ainda, sobre o bloco Grandezas e Medidas, os PCN
(1998, p.49) apontam para que haja consenso nos currículos de Matemática no Ensino
Fundamental, onde esses devem “contemplar o estudo dos números e das operações (no
campo da Aritmética e da Álgebra), o estudo do espaço e das formas (no campo da
Geometria) e o estudo das grandezas e das medidas (que permite interligações entre os
campos da Aritmética, da Álgebra, e da Geometria e de outros campos do conhecimento)”.
Ao trabalhar esse problema, dentro da Metodologia de Ensino-Aprendizagem de
Matemática através da Resolução de Problemas, após a Plenária, enfocou-se a necessidade de
fazer-se uso das unidades padrão de medida sempre que requeridas, conforme podemos ver os
resultados apresentados por dois dos grupos:
171
Resultado de um grupo:
Problema 2
Neste problema acreditamos que, a menos do conceito de volume, que não havia sido
trabalhado no Projeto I, os grupos não teriam dificuldade em atender às solicitações feitas.
Ao recortar o quadrado de 1 cm de lado, alguns alunos perguntaram se o quadrado a ser
recortado era para o lado de fora do retângulo. Em resposta aos alunos que fizeram essa
pergunta, a professora-pesquisadora leu, com eles, todo o enunciado do problema: “observe o
retângulo abaixo....”, na tentativa de levá-los à percepção de que os quadrados a serem
recortados estavam nos cantos internos do retângulo desenhado. Se recortassem quadrados do
lado externo, não estariam recortando do retângulo dado, mas fora dele. A leitura do problema
em conjunto, foi suficiente para a continuidade da resolução do problema.
Sabemos que, para montar uma caixa, partindo do retângulo dado, havia outras estratégias
além do recorte feito nos cantos do retângulo. Entretanto, como iríamos explorar o conceito
de área de papel utilizado na montagem da caixa e posteriormente o cálculo da área das bases
dessas caixas, para evitar que os alunos calculassem a área de todo o papel envolvido
achamos conveniente, já no enunciado do problema, sugerir o recorte. Assim esperávamos
que, quando solicitássemos o cálculo do papel usado na caixa, os alunos percebessem que
aqueles cantos recortados deveriam ser descartados. Se usássemos outras estratégias como,
por exemplo, o uso de dobraduras nos cantos em vez do recorte, os alunos poderiam calcular a
área de todo o papel, encontrando sempre o cálculo da área do retângulo inicial.
Essa atividade, em comparação à do Projeto I, foi realizada quase que automaticamente
por todos os alunos, sem obstáculos. Os alunos, após recortarem os quadrados solicitados,
perceberam que a figura formada era a de uma caixa planificada, antes mesmo de, no
enunciado, haver a sugestão de planificação.
Quando sugerimos este problema no Projeto I, os alunos apresentaram muita dificuldade,
por não perceberem que o lado do quadrado recortado representava a altura da caixa formada.
Dessa forma, não sabiam onde deveriam representar a altura geometricamente. Ao recortarem
os quadrados, desta vez no Projeto 2, lhes perguntamos sobre a figura plana formada e eles
responderam que, se dobrassem as “abas”, formariam uma caixa planificada de altura 1cm.
Pudemos verificar que, depois de 1 ano, aquela situação referente à altura da caixa, que havia
se apresentado como um complicador no problema, neste Projeto II, havia se fixado como
conhecimento, considerando a atitude da maioria dos alunos. Os alunos pareciam se
posicionar raciocinando, conforme apontou Krulik & Rudnick (2001), não estando ligados
somente às lembranças.
Na seqüência, deixando os alunos trabalharem a vontade, essa atividade pedia para
calcular a área da nova figura plana formada. Houve três alunos de diferentes grupos que,
174
A alternativa c deste problema pedia para verificar quantos vértices, quantas arestas e
quantas faces a caixa tinha. Os alunos, individualmente, começaram a discutir esses conceitos
em voz alta, antes mesmo de entrarem num debate com o grupo. Cada um falando o que lhe
vinha à cabeça, novamente, de acordo com a hierarquia do pensamento de Krulik & Rudnick
(2001), parecendo apoiados em lembranças. Com relação a faces e vértices, os alunos
pareciam ter clareza, mas com relação às arestas, não!
175
Após algumas discussões entre os grupos, observamos que os alunos estavam desviando-
se do foco da atividade. Fizemos uma intervenção, perguntando-lhes de que se lembraram
quando leram a palavra aresta:
Quando questionados sobre faces, ALE pegou uma caixa e passando a mão por toda a
base, disse:
Como todos concordaram com o que ela disse, dizendo que não estava errado, seguimos
adiante.
Com a caixa montada em mãos, perguntamos:
Nesse momento, os alunos apontaram para o canto superior dizendo que aquele era um
vértice. Outros apontaram para os cantos que estavam na base da caixa.
PESQ: Vamos analisar cada face. Olhando para a base desta caixa, onde estão os vértices?
CLASSE: No canto.
PESQ: Vocês disseram anteriormente que vértice é o encontro dos lados, mas falando de
vértices de um retângulo. E aqui − apontando para uma das faces da caixa − o que forma o
vértice?
ALE: Três lados.
PESQ: Vejam, cada face é uma região plana!
A resposta de ALE se referia ao vértice da caixa, formado pelo encontro de três arestas.
Com a caixa em mãos, ALE complementou:
ALE: É esse aqui que é o vértice da caixa. São três (apontando para as arestas) na caixa,
que formam um vértice da caixa. São três arestas.
LEO: Isso! São três arestas!
Nossa pergunta referia-se àquela face da caixa. Sendo assim, seriam necessários dois
lados para formar um vértice, ou seja, cada vértice da face era composto por dois lados. Com
o desenho do retângulo e com a caixa em mãos, perguntamos:
Em diálogo anterior, havíamos perguntado quantos lados seriam necessários para formar
um vértice num retângulo, prevendo que poderia haver conflito quando perguntássemos como
seriam formados os vértices da caixa.
Mesmo depois de afirmar, como vimos no diálogo acima, que na caixa um vértice é
formado pelo encontro de três arestas, os alunos ainda ficaram em dúvida quando se referiam
aos vértices formados na parte superior da caixa, onde deveria estar a tampa. Os colegas
sabiam que a fala do grupo de ALE estava correta em relação aos vértices da caixa, dados
pelo encontro das três arestas. Entretanto, o fato de a caixa não ter tampa, para eles, parecia
não formar vértice na parte superior, já que, na caixa, o vértice é formado pelo encontro de
três arestas. Essa confusão veio à tona depois da fala do grupo de ALE, quando afirmaram
que, na caixa, um vértice é formado por três arestas. Nessa discussão, os alunos não haviam
percebido que o lado superior das faces laterais eram arestas da caixa.
Era preciso que os alunos percebessem que, quando estivessem se referindo aos vértices
das faces da caixa, como regiões planas, estariam falando em lados e, quando estivessem
falando em caixa, os vértices seriam formados por arestas. O problema que poderia confundir
os alunos estaria na face superior da caixa que não aparecia por se tratar de uma caixa sem
tampa. Na base tínhamos evidentes quatro vértices formados pelo encontro de três arestas
cada um e, na parte superior, onde estaria a tampa, se ela existisse, teríamos vértices formados
pela parte superior de cada face como uma aresta e as outras duas arestas evidentes.
PESQ: Então, na parte superior não temos tampa. Temos vértices na parte superior?
ALE: Não tem, gente! Pra ter vértice tem que ter três arestas. Se não tem tampa, então não
tem três arestas. Tem só uma aresta (referindo-se a aresta lateral que representava a altura da
caixa). Não tem vértice em cima.
Percebemos que até esta etapa da atividade os alunos sabiam mostrar onde estavam as
arestas, mas não sabiam definir as arestas. Sendo assim, perguntamos:
PESQ: Vocês disseram que aqui é um vértice, formado pelo encontro de dois lados.
PESQ: Vocês disseram que aqui tem um vértice. O vértice desta face, formado por dois
lados. Se aqui (apontando para um dos vértices superiores) tem um vértice e aqui (apontando
para o vértice superior da outra face adjacente à primeira) tem outro vértice, a que conclusão
pode-se chegar então?
Depois do nosso posicionamento todos pareceram convencidos de que a caixa tinha oito
vértices, sendo que quatro deles (os que formavam a base) eram formados pelos encontros das
arestas da base com a altura da caixa e quatro vértices superiores, formados pelos lados das
faces laterais.
179
O volume foi outro conceito não explorado no Projeto I. Entretanto, os alunos parecem
não ter apresentado dificuldade neste cálculo, no momento da atividade em grupo.
Este encontro encerrou com o cálculo do volume da “caixa A”, a partir da fórmula
analítica do volume de um bloco retangular:
180
7.2.2 - 2º Encontro
Havíamos previsto na elaboração do Projeto II, para o início deste encontro, uma revisão
dos conceitos trabalhados no tópico Polinômios do Projeto I. Como não foi possível o
desenvolvimento do Problema 3 e a formalização de conceitos e conteúdos trabalhados nos
Problemas 1 e 2 do 1º encontro, iniciamos este 2º encontro com o Problema 3 e após a
resolução deste, fizemos a formalização.
Problema 3
Para este problema foram distribuídas folhas de papel A4 com o desenho do retângulo
com medidas 16cm no comprimento e 10cm na largura.
b) De suas observações o que cada grupo pode falar sobre o acontecido com a
área da base das caixas A e B, ao longo dos dois recortes feitos (Problema 2
Æ recorte de 1 cm e Problema 3 Æ recorte de 2 cm)?
Consideramos o Problema 3 como uma ação de fixação, pois nela os alunos iriam aplicar
todas as etapas estudadas no Problema 2 do 1º encontro, só que, desta vez, cortando
quadrados de lados 2cm nos cantos do retângulo. Para o recorte do quadrado de lado 2cm,
todos os alunos tiveram êxito. A extensão desta atividade, solicitando dos alunos uma análise
do que teria acontecido com a área da base das caixas A e B, ao longo dos dois recortes feitos,
não apresentou nenhuma dificuldade. Acreditamos que, possivelmente, eles tenham se
181
Ainda, nesse encontro não exploramos o limite para a altura da caixa a partir do retângulo
inicial.
O Problema 3 foi resolvido por todos os alunos. Abaixo apresentamos alguns resultados.
PESQ: Apontando para as faces das caixas, figuras fechadas planas formadas por
segmentos de reta, temos vértices e lados. Numa figura espacial − apontando para a caixa −
temos: vértices, arestas e faces. Vamos escrever a definição de cada um desses conceitos:
Vértice: Ponto comum a dois lados de um polígono ou a três ou mais arestas de uma
figura geométrica espacial.
Aresta: Linha comum que une duas faces de uma figura espacial.
Face: Certas figuras espaciais são delimitadas por polígonos. Esses polígonos são as faces
dessas figuras.
A professora-pesquisadora continuou:
Ainda, explorando o cubo desenhado na lousa, perguntamos aos alunos onde poderíamos,
naquela figura (no caso o cubo desenhado na lousa), calcular o perímetro. A maioria deles
respondeu que o perímetro seria calculado somente nas faces do cubo e completaram dizendo
que, em relação ao cubo, calculariam o volume.
PESQ: Bom, podemos calcular o perímetro de uma figura fechada plana (nesta pesquisa
referindo-se sempre a polígonos). Quando podemos calcular a área?
JAN: Quando não tem volume.
GABI: Quando tem comprimento e largura.
NIL: É a mesma coisa do perímetro. Quando tem uma figura fechada e plana.
ALE: Quando temos duas dimensões.
MAN: É! Figuras fechadas de duas dimensões.
PESQ: E área? Como podemos definir área?
JAN: É a medida de uma superfície.
LEO: Da base vezes a altura.
CLASSE: É, o Jean tá certo. É a medida de uma superfície.
PESQ: Muito bem, então, concluindo com a definição de JAN, área é a medida de uma
superfície.
desenharmos na lousa um retângulo com medidas 10cm no comprimento por 5cm na largura,
quadriculamos essa superfície retangular em quadrados de 1cm de lado, assim, a unidade de
medida da área selecionada para o retângulo seria 1cm2. Perguntamos qual seria a área
daquela figura desenhada e todos souberam dizer que era 50cm2. Talvez estivessem fazendo
referência ao comprimento vezes a largura em vez das unidades quadradas ali presentes.
Continuando, levantamos sobre alguns desses quadrados de 1cm2 de área, num dos cantos, a
altura 1cm, conforme ilustração abaixo:
Após termos feito o desenho acima, perguntamos aos alunos o que estávamos montando
ali. Esperávamos que ao fazer essa ação sobre todos os quadrados de 1cm2 de área, teríamos a
representação geométrica do bloco retangular desejando que não ficassem presos apenas a
representação analítica da fórmula:
V = c . λ . h ou V = Ab . h.
Como não haviam, ainda, percebido na representação geométrica que o volume estava
relacionado às unidades cúbicas que cabem em um sólido, chamamos novamente sua atenção:
PESQ: Vou fazer um novo desenho. Tentem enxergar, através do desenho, o volume do
bloco retangular que estamos desenhando. Façam de conta que vocês não conhecem a fórmula
que calcula o volume de um bloco retangular que diz que V = comprimento vezes largura
vezes altura.
Fizemos um novo desenho. Desta vez de um retângulo medindo 4cm no comprimento por
2cm na largura e perguntamos:
Percebemos na resposta acima que os alunos também não percebiam que a área era dada
em função dos quadrados de 1cm2 de área, ou seja, para calcular a área, deveríamos traçar
quadrados de 1cm2 de área e verificar quantos desses quadrados cobririam aquela superfície.
Diante dessa situação, quadriculamos toda a superfície com 8 quadrados medindo 1cm2 de
área e perguntamos:
PESQ: Vocês estão percebendo que a área é dada pela quantidade de unidades quadradas
que cobrem uma superfície?
CLASSE: ...sim...
PESQ: Quando vocês começaram a trabalhar com o cálculo de área de superfícies, creio
que no 5º ou 6º ano, era a partir de quadrados como esses, medindo 1cm2 de área, que
186
calculavam a área. Depois de algum tempo trabalhando com desenhos, puderam generalizar e
chegar à fórmula que se usa hoje, onde multiplica-se o comprimento pela largura. É preciso
compreender que a área do retângulo indica quantas unidades quadradas cobrem aquela
superfície. Sendo assim, já sabendo o que é a área e como representá-la geometricamente,
vamos desenhar nesses quadrados uma altura 1cm, transformando-os em cubos de aresta 1cm.
Fomos desenhando em alguns quadrados de 1cm2 de área uma altura de 1cm. Desenhamos
a altura em alguns casos e pedimos a eles que fossem acompanhando o desenho conosco. Para
diferenciar do primeiro exemplo que demos, mudamos de idéia e resolvemos desenhar uma
nova “camada” de cubos sobre aqueles já desenhados, dando à altura a medida de 2cm, em
vez de 1cm, conforme ilustração abaixo:
Desenhamos somente uma parte de duas camadas de cubos, cada uma medindo 1cm de
altura e continuamos o diálogo:
PESQ: Contem comigo quantos cubos caberão nesta superfície sem que tenhamos que
preenchê-la totalmente.
CLASSE: 16 cubos.
PESQ: Temos então, 16 cubos. Cada um desses cubos tem quantos cm3?
CLASSE: 1cm3.
PESQ: Se temos 16 cubos e cada um tem 1cm3, então, quantos cm3 tem o bloco
retangular, imaginando que o tivéssemos preenchido com todos os cubos de 1cm3?
187
CLASSE: 16cm3.
PESQ: O que isso representa para vocês?
CLASSE: Que aí dentro cabem 16 cubos de 1cm3 cada um.
PESQ: Temos 16 cubos de 1cm3 cada um, logo, o volume dessa caixa é de 16cm3, ou seja,
cabem 16 cubos neste bloco retangular, onde cada um desses cubos mede 1cm3.
Demos um tempo para os alunos refletirem sobre a conclusão anterior e pedimos que
fizessem:
PESQ: Façam uso da fórmula que conhecem: comprimento vezes largura vezes altura e
verifiquem se o valor obtido é o mesmo.
Quando verificaram que a resposta era a mesma, tanto para a representação geométrica,
quanto para a analítica, os alunos pareciam surpresos com a resposta obtida, pois começaram
a dar sentido e significado à fórmula conhecida com justificativas geométricas.
Fizemos um novo desenho na lousa. Desta vez de um quadrado com medidas 5cm por
5cm e perguntamos:
PESQ: Então, concluindo, volume é a quantidade de unidades cúbicas que cabem num
sólido, por exemplo, num cubo, num bloco retangular e etc.
Esta etapa do trabalho foi chamada de revisão crítica, pois consideramos que os alunos
iniciaram as discussões dentro do domínio do pensamento e do raciocínio já em um nível de
189
NIL: 2.
PESQ: Como vocês sabem que o 2 é um monômio?
CLASSE: Porque ele está multiplicando o x0.
PESQ: Ah, então ele está incompleto quando escrito sem o x0?
CLASSE: Sim, tem que completar (querendo, possivelmente, dizer que deve estar
subentendido).
PESQ: Vocês disseram que o número dois está multiplicando o x0. Que conclusão
podemos tomar com essa afirmativa, que partiu de vocês, em relação ao monômio?
DAN: Dois multiplicando um x.
ALE: O coeficiente está multiplicando a variável.
CLASSE: Uma constante e uma variável.
PESQ: Qual a relação entre a constante e a variável?
CLASSE: Elas estão multiplicando.
PESQ: Então, agora, sabendo dessa relação, como podemos melhor definir um Monômio.
Quando apresentamos os monômios no Projeto I, mesmo tendo falado aos alunos que era
o produto de uma constante por uma potência da variável, o que ficou para eles − embora eles
soubessem o que é um monômio pois, como vimos, sugeriram escrever o x0 multiplicando o
número 2 − foi que monômio são os termos do polinômio. Estando agora numa revisão
crítica, definir o monômio como sendo uma expressão algébrica constituída por um número,
chamado coeficiente, que multiplica algumas letras, que são as variáveis, seria a definição
esperada. Quando estávamos no Projeto I, nosso foco estava voltado à aprendizagem do
conteúdo de polinômios num aspecto mais geral, sempre recorrendo à construção das caixas
de papelão. O Projeto II permitiu-nos cuidar de algumas especificidades que, naquela ocasião,
não demos todo o enfoque necessário.
191
PESQ: Porque está errado? Quando temos monômio e quando temos binômios?
NIL: Por exemplo, um binômio pode ser 3x2 + 2.
PESQ: A NIL falou 3x2 + 2 e disse que este é um binômio. MAR falou que x2 é um
binômio. Temos duas posições diferentes. Quando temos um monômio e quando temos um
binômio?
LÉO: O que a “MAR” falou tá errado. Quando é x2, é um monômio de grau dois.
PESQ: Esse exemplo que NIL nos deu 3x2 + 2, como podemos chamá-lo?
CLASSE: Um binômio!
NIL: O que eu falei é um binômio de dois termos diferentes e de grau dois.
PESQ: Então, o grau de um polinômio é dado pelo grau do monômio de mais alto grau.
PESQ: Isso JAN! São as partes do polinômio, isto é: os monômios. O que você chama de
partes ou termos são os monômios. São os monômios que compõem o polinômio.
NIL: 7x4 tem o maior expoente no polinômio 7x4 + 2x3 + 2x. Assim, esse polinômio tem
grau 4 (utilizando apenas polinômio de uma só variável).
112cm 2 7
1 é 112cm2, então, a razão entre essas medidas é = , dizendo, portanto, que a área
16cm 2 1
da base da “caixa 2” cabe 7 vezes na área da base da “caixa 1”. Se dobrássemos as áreas das
224cm 2 7
bases das caixas 1 e 2 teríamos = mantendo-se a razão.
32cm 2 1
7.2.3 - 3º encontro
Foi entregue aos grupos, o Problema 4 e foi dado um tempo para sua resolução.
Problema 4
Esta atividade, assim como as demais, foi realizada pelos grupos e depois discutida em
Plenária. Assim, como foi feito no Projeto I, esperávamos que os alunos pudessem generalizar
a construção de uma caixa, depois de terem trabalhado nos Problemas 2 e 3, de modo a
perceberem a altura como sendo a variável na situação problema. Esta altura, como foi
explorada no Projeto I, poderia sofrer uma variação, num intervalo definido, a partir de um
retângulo dado e, começavam a surgir os primeiros polinômios. Desta vez, não somente os
polinômios que indicavam as áreas das bases das caixas trabalhadas, mas, também, os
polinômios que indicavam o perímetro das bases e o volume dessas caixas.
Os grupos trabalharam com o Problema 4 sem apresentar dificuldade, lembrando-se do
trabalho feito no Projeto I. Ao receberem a folha com o problema, já sabiam que iriam
trabalhar com uma caixa de altura x, o que não havia acontecido no Projeto I.
Ao abrirmos a Plenária, iniciamos a seguinte discussão:
CLASSE: Não! Podemos calcular o perímetro da base da caixa e o perímetro das faces
laterais.
Observando o Perímetro, podemos dizer que, possivelmente tenham escrito inicialmente a medida de dois
lados e dos outros dois lados, isoladamente. No trabalho em grupo, corrigiram fazendo a adição das
medidas desses quatro lados.
Quanto à análise das dimensões das três caixas construídas, apresentamos alguns
resultados feitos pelos grupos:
197
Na atividade seguinte, os alunos iriam identificar as limitações para a altura da “caixa C”.
Neste caso, eles fizeram:
A finalização desta atividade, como dissemos anteriormente, pedia aos alunos que
verificassem, no caso de h = 0 cm e h = 5 cm, como ficaria a forma da caixa, lembrando que o
retângulo original tem medidas 16 cm no comprimento e 10 cm na largura. Essa análise foi
realizada por todos os grupos, pois todos já sabiam que para h = 0cm teríamos a área do
retângulo, não tendo caixa portanto. Para h= 5cm, não teríamos caixa também, uma vez que a
altura tomaria toda a largura do retângulo inicial. Apresentamos a seguir algumas dessas
análises:
198
Até agora vínhamos, trabalhando dentro dos campos numéricos N e Q, isto é, Naturais e
Racionais, os valores possíveis para a altura da “caixa C”. Para a próxima atividade
(Problema 5), fixando os conceitos trabalhados no Problema 4, deste encontro, mais uma vez
lançaremos mão do concreto para compreender a variação das bases das caixas construídas
com as diferentes alturas. No Projeto I, quando perguntamos o que aconteceria com a caixa se
cortássemos uma altura de 5cm, os alunos não fizeram esses recortes. Manipularam a “caixa
teste” e chegaram à conclusão de que não haveria caixa. Neste Projeto II, solicitaremos o
recorte da altura h = 5cm, pois acreditamos que esse recorte permitirá, aos alunos, enxergarem
que não será possível calcular o perímetro da base da caixa, uma vez que não haverá caixa. É
claro que essa conclusão poderá ser automática (partindo da experiência com a “caixa A”).
Mas imaginamos que, alguns alunos, talvez por distração, poderão substituir a altura h = 5cm
na fórmula do perímetro, P = 52 – 8x, chegando num valor P = 12cm, o que não estará
correto, já que, para calcular o perímetro é necessário que haja uma figura fechada plana.
Neste caso, o recorte feito para h = 5cm, permitirá uma análise concreta da situação.
Entregar aos grupos uma folha de papel A4 com o desenho de um retângulo de dimensões
c = 16 cm e λ = 10 cm somente para a realização da alternativa a.
Pede-se para:
e) construir uma caixa com altura h, tomando um valor h qualquer. Sugere-se tomar h ≠
0 cm e h ≠ 5 cm.
199
f) entregar aos grupos duas folhas de papel A4 com a figura de um retângulo, medindo c
= 16 cm e λ = 10 cm, a fim de verificar em cada folha, nessas construções, a limitação
para h = 0 cm e h = 5 cm.
g) reconhecer que, com as medidas h = 0 cm e h = 5 cm, as grandezas perímetro, área e
volume dadas por suas fórmulas, isto é, dadas por relações entre grandezas, achar o
perímetro da base, a área da base e o volume da “caixa C”.
h) A partir do que foi obtido na questão c, construir uma tabela19 e um gráfico da área da
base da caixa em função da altura e do volume da caixa em função da altura.
Preencha a tabela abaixo com base no trabalho realizado a partir do retângulo medindo 16
cm no comprimento e 10 cm na largura.
JAN: Não vai ter base. Vai ficar uma figura assim, ó!
19
Essa tabela foi entregue aos alunos ao terminarem as alternativas anteriores. Tomamos essa medida, para
ganhar tempo.
200
Ao dizer isso, JAN, tomando o retângulo em mãos juntava os lados da folha, batendo um
lado no outro, dizendo:
JAN: Já sei o que vai dar! Preciso recortar, se eu já sei o que vai dar?
Essa observação de JAN nos permitiu considerar dois posicionamentos: 1) que ele poderia
estar se lembrando do que havia feito no Projeto I e, 2) que ele já sabia o que iria acontecer,
certamente em função da atividade desenvolvida com a manipulação da “caixa A”.
Ainda assim, pedimos que recortassem a altura h = 5cm, porque esse recorte poderia
auxiliar a discussão futura sobre o perímetro da base da caixa, chegando a um recorte com
uma só dimensão: o comprimento; uma vez que a altura h = 5cm tomava toda a largura do
retângulo inicial, conforme o desenho abaixo:
Ainda, na alternativa b desta atividade, foi solicitado aos alunos que verificassem, em
cada uma das folhas que haviam recebido (nelas contendo o desenho de um retângulo com
medidas 16cm no comprimento e 10cm na largura), a limitação para
h = 0 cm e h = 5 cm. Nesses casos os alunos escreveram, em relação a h = 0cm:
201
O grupo escreveu: Não é possível termos uma caixa com zero de altura, pois sem altura não temos três
dimensões, sendo assim a nova figura será plana.
De experiências anteriores em sala de aula, casos como o dos alunos que tomaram o
perímetro como sendo 12cm, mostraram-nos muitas vezes que os alunos simplesmente
buscam o valor da incógnita ao substituir, nas equações, letras por números, como no caso
deste problema a variável x da igualdade P = 52 – 8x, foi substituída sem ao menos avaliarem
suas condições, encontrando, muitas vezes, valores absurdos e tomando esses valores como
verdadeiros.
A seguir, alguns dos resultados dos grupos, após a discussão em plenária.
Não foi possível, neste encontro, fazer a construção dos gráficos. Dessa forma, esse
trabalho, seguido da formalização dos conceitos e conteúdos construídos, passaram para o
encontro seguinte.
205
Desta forma, a aula foi iniciada com a construção dos gráficos do perímetro da base da
caixa, da área da base da caixa e do volume da caixa, todos na dependência do valor escolhido
para a altura x, como funções da altura.
Estando no final do 9° ano (antiga 8ª série), os alunos já haviam trabalhado equações de 1º
e 2º graus e seus gráficos, representados por retas ou parábolas. Por isso, os gráficos da área
da base da caixa e do perímetro da base da caixa, ambos em função da altura, foram
realizados por todos os alunos. Quando abrimos a discussão em Plenária, verificamos que os
resultados estavam bons, conforme podemos verificar no trabalho de dois grupos:
206
Gráficos realizados por dois grupos - As anotações sobre variáveis dependentes e independentes foram
feitas, pelos grupos, somente depois de discutirmos o conceito de função.
[a,b] = {x ∈R/ a ≤ x ≤ b }
[a,b) = {x ∈R/ a ≤ x < b }
(a,b] = {x ∈ R/ a < x ≤ b }
(a,b) = {x ∈R/ a < x < b }
Se observarmos os três gráficos feitos pelos alunos, veremos que as raízes 0 e 5 dessas
funções foram marcadas com um pequeno círculo vazio, determinando um intervalo aberto,
208
isto é, dizendo que a função não é definida nesses pontos. Chamamos a atenção para uma
notação que diz quando determinados pontos não pertencem ao domínio de uma função.
Aproveitando o fato de que esses alunos estavam mais maduros, falamos sobre intervalos
abertos e fechados, dizendo que, no intervalo
0< x <5, o zero e o cinco foram excluídos, pois nosso trabalho tratava da construção de
caixas. Vínhamos, até esse momento, usando apenas a representação algébrica onde, para o
domínio da função, escrevemos: {x ∈ R / 0 < x < 5}. Mas, sentimos que adiantar o assunto
aos subconjuntos dos números reais chamados intervalos, só poderia enriquecer o assunto.
Dissemos que a bolinha vazia ( ο) indicava que os extremos do domínio da função, em nosso
caso 0 e 5, não pertenciam ao intervalo e, ainda, que esse intervalo continha todos os números
reais compreendidos entre 0 e 5. Assim, na construção dos gráficos dessas funções,
considerando a altura como um número real entre zero e cinco, seria formada por uma linha
densa e fechada, isto é, um intervalo constituído de números reais e o gráfico seria formado
por uma curva contínua.
Após conferir os gráficos dos alunos e fazermos a discussão em Plenária, desenhamos
esses gráficos na lousa e iniciamos a exploração dos mesmos, estendendo o nosso trabalho ao
conceito de função. Essa exploração não tinha o objetivo de tratar esse assunto em todo seu
rigor, como já dissemos. Queríamos apenas que os alunos enxergassem aqueles gráficos como
gráficos de funções polinomiais, já que, no Projeto I, haviam trabalhado com o gráfico da área
da base de caixas e não se tinha feito menção ao conceito de função.
Perguntamos aos alunos o que eles poderiam dizer sobre variáveis dependentes e variáveis
independentes. Queríamos saber o que eles entendiam sobre o significado dessas palavras. Os
alunos já sabiam o que era variável, através dos problemas relativos à construção de caixas,
tanto oralmente como na construção dos gráficos. Pedimos a eles que, olhando nos gráficos e,
observando a relação do perímetro da base, da área da base e do volume das caixas, pudessem
dizer quem era a variável independente e quem é a variável dependente. Eles já sabiam que
variando a altura da caixa, variariam também o perímetro da base da caixa, a área da base da
caixa e o volume da caixa. E, então, perguntamos:
PESQ: E, nos três casos trabalhados, quem é a variável independente e por quê? Que
valores pudemos escolher, dentro do intervalo (0,5)? E a variável dependente?
CLASSE: Pudemos escolher a altura.
PESQ: Sim! x é a variável independente. Agora, o valor do perímetro é
P(x) = 52 – 8x e varia, à medida em que variamos a altura. E também variam
Ab = A(x) = 4x2 – 52x + 160 e Vc = V(x) = 4x3 – 52x2 + 160x.
210
Para não ficarmos presos somente a essas funções, falamos com os alunos sobre variação
de espaço e tempo, custo e consumo, receita e despesa, velocidade, aceleração, etc, como
funções.
Depois de definir aos alunos o conceito formal de função, conforme relatamos acima,
pedimos aos alunos que escrevessem simbolicamente a área da base da caixa e o volume da
caixa, ambos em função da altura x. Para os objetivos desta pesquisa, não tínhamos nem
tempo, nem o propósito de ampliar o assunto. Já havíamos dito aos alunos que estávamos
apenas introduzindo o conceito de função e que assuntos correlatos a ele seriam explorados no
1º ano do Ensino Médio.
CLASSE: Ah, é só multiplicar por 1000. Então vai ser 0,48m3 x 1000 = 480 λ .
PESQ: Porque multiplicar por 1000?
20
Variável dependente e variável independente – ver Caraça, 2003, 5ª edição. Conceitos Fundamentais da
Matemática. Editora Gradativa. Lisboa-Portugal. p. 121-131. 1ª edição: 1941; Usiskin, Z.; Concepções sobre a
álgebra da escola média e utilizações das variáveis. In: Coxford, A. F; Shulte, A. P. (Org). “As Idéias da
Álgebra”. Tradução de Hygino H. Domingues. São Paulo: Atual, 1995. Primeira publicação 1988 pelo National
Council of Teachers of Mathematics (NCTM). p. 9-22.
212
CLASSE: 1m3.
PESQ: Muito bem, 1 metro cúbico. A unidade padrão de volume é o metro cúbico: m3. No
problema das caixas que estudamos, falamos do centímetro cúbico: cm3. Vocês se lembram?
CLASSE: Sim. É um cubinho de 1cm de lado.
PESQ: Então, a resposta do problema foi 0,48m3, certo?
CLASSE: Certo!!
PESQ: Esse número é maior ou menor que 1m3?
CLASSE: Menor. Menos um pouquinho que a metade.
PESQ: O metro cúbico assim como o metro tem, como sabemos, seus submúltiplos e
múltiplos. Agora, qual a relação entre o metro cúbico e o litro??? Vocês sabem a diferença??
O litro é uma unidade de capacidade. Por exemplo, quando enchemos um copo com suco de
laranja, ele ocupa todo o espaço de dentro do copo. E, o espaço que o suco ocupou é a
capacidade do copo. O copo é o recipiente desse líquido. Pensem, então, comigo: a
capacidade é um volume?
CLASSE: Sim. Se o que tem dentro do copo é capacidade e o suco enche o copo, então
capacidade é volume.
PESQ: A diferença está em que no volume de um sólido, a figura do espaço já é dada, é
vista e, na capacidade, a figura formada é aquela que o líquido assume na forma do recipiente.
Então, vocês podem entender porque quando medimos a capacidade, sua medida será dada
por litros e não por metros cúbicos, ou seus múltiplos e submúltiplos. A capacidade é também
um volume e poderia ser medida em metros cúbicos, ou por seus múltiplos e submúltiplos.
Mas, para distinguir, é comum medir-se a capacidade de recipientes com a unidade litro ( λ )
ou por seus múltiplos e submúltiplos. O litro mede a capacidade de um cubo que tem por
aresta 1dm3, isto é, 1 λ = 1 dm3. Se pegarmos um cubo com 1dm de aresta interna
e um
recipiente com capacidade para 1 λ , enchendo esse recipiente com 1 λ de suco, por exemplo,
e em seguida despejando todo o suco do recipiente no cubo de aresta 1dm3, esse suco
preencherá toda a capacidade do cubo. Em resumo, mesmo sendo tomados recipientes
diferentes, a capacidade dos dois é a mesma.
Essa explicação que demos aos alunos foi sendo verificada por meio de desenhos feitos na
lousa. No caso, um cubo de aresta 1dm3 e um jarro graduado (feito em desenho livre) com
capacidade para 1 λ . Os alunos pareciam surpresos com os desenhos e as conclusões. Esse
comportamento poderia ser entendido como decorrência do esquecimento dessa relação de
igualdade, já estudada, devido ao seu pouco uso. Mas, acreditamos que há outra razão para
213
isso. Talvez, nunca lhes foi apresentada essa idéia de capacidade concretamente ou se tenha
feito referência ao uso das medidas de capacidade em seu dia-a-dia. Imaginamos isso, pois
quando discutiram centímetros e metros no enunciado no problema, não apresentaram essa
mesma dificuldade. Todos sabiam fazer a transformação de centímetro para metro ou vice-
versa.
Embora esta seja uma pesquisa com enfoque no ensino de matemática através da
resolução de problemas por meio da contextualização, poderíamos, com este problema, ter
uma excelente oportunidade de demonstrar na prática, a relação de igualdade
1 λ = 1 dm3 e isso não seria difícil. Entretanto, devido ao pouco tempo de que dispúnhamos e
ao objetivo do trabalho que girava em torno do estudo de polinômios e suas operações,
lamentavelmente, em alguns momentos do trabalho, perdemos a riqueza que poderia advir
dessas estratégias.
Continuando a explicação, dissemos aos alunos:
Alguns alunos ficaram em silêncio. Outros deram algumas respostas aleatórias que
optamos por não aceitar nesse momento, já que queríamos que todos refletissem sobre a
pergunta que fizemos. Depois de um certo silêncio, alguns alunos disseram:
Outra vez, chamamos a atenção dos alunos para a variação das grandezas lineares,
quadráticas e cúbicas, dizendo que:
1m = 10dm = 100cm = 1000mm
1m2 = 100dm2 = 10000cm2 = 1000000mm2
1m3 = 1000dm3 = 1000000cm3 = 1000000000mm3.
Assim, 1m3 = 1000dm3 = 1000 λ
PESQ: Muito bem! E agora, como saber quantos litros correspondem a 0,48m3?
Alguns responderam que deveriam multiplicar 0,48m3 por 1000. Outros optaram por
fazer uma regra de três simples. Para os que não se posicionaram, quando questionados,
214
aceitaram que a regra de três simples era a melhor estratégia. Após os posicionamentos,
dissemos aos alunos que substituindo o m3 por 1000 λ , teríamos:
0,48m3 = 0,48 . 1000dm3 = 480dm3 = 480 λ .
Problema 2
O Problema 2, uma extensão do trabalho com as caixas, solicitava aos alunos a medida do
papel original, apresentado como ponto de partida para a construção de uma caixa. O
desenvolvimento deste problema, conforme a resolução de todos os alunos, deu-se pela
multiplicação das dimensões da base da caixa, resultando num polinômio de grau 2, conforme
podemos verificar no resultado de um dos grupos:
A maioria soube montar a equação, uma equação quadrática, como pudemos ver nos
resultados acima, que poderia ser resolvida ou usando a fórmula atribuída a Bhaskara, ou a
fatoração. Os grupos encontraram os valores de x: x1 = 6cm e x2 = -2cm. O valor negativo foi
descartado por eles, pois as dimensões da caixa não podem ter medida negativa. O valor
encontrado para x, x1 = 6cm, respondia ao enunciado do problema, que pedia para encontrar a
medida do papelão original antes da caixa ser construída Abaixo dois resultados dos grupos:
216
O Problema 3, o que mais gerou discussão nos grupos, durante a resolução da lista, como
também na Plenária, explorava o conceito de função.
Ao iniciarem o Problema 3, os alunos pareciam não ter dúvidas sobre a resolução do
mesmo. Embora estivéssemos atentos ao trabalho dos grupos, foi, somente na Plenária, que
verificamos que os grupos não haviam respondido ao problema.
Todos os problemas da lista foram lidos pelos grupos sem nossa intervenção. Como esta
lista era uma atividade de fechamento de trabalho, queríamos saber qual seria a dinâmica
assumida pelos grupos para a identificação de conteúdos necessários para em cada um dos
problemas e, ainda, que estratégias de resolução utilizariam.
Ao abrirmos a discussão em Plenária, perguntamos aos alunos qual conceito seria
explorado no Problema 3 e eles não responderam. Os grupos pareciam não ter percebido,
durante a resolução dessa atividade, que o problema envolvia o conceito de função.
Quando questionados sobre os resultados obtidos, os grupos apresentaram respostas
como: “...quanto mais a figura se aproxima de um quadrado, maior será sua área” ou “... o
último retângulo, pois sua área é 99m2, maior que os outros retângulos. Por isso, retângulos
com o mesmo perímetro não têm necessariamente a mesma área. Quanto mais próxima a
área for de um quadrado, maior será sua área”.
PESQ: Sabemos que, para calcular o perímetro, somamos seus lados. Assim, como
encontrar o retângulo que tem maior área e cujo perímetro mede 40m?
CLASSE: Vamos fazendo até achar ele.
PESQ: Mas como?
Alguns alunos disseram: “Não sabemos o lado do retângulo de maior área! E se a gente
chamar o comprimento de x e a largura de y?”.
Outros disseram: “É, isso mesmo!!”
Depois de algum tempo, esses mesmos alunos continuaram: “ah, se x for 8, então vai ser
16 (referindo-se à soma de dois lados de um retângulo de medida 8m). E aí o y vai ser 24
(referindo-se à soma de dois lados de retângulo de medida 12m)... Não! 12! Somando dá 24!”.
Quando se referiam a x=16 e y=24, estavam calculando o perímetro do retângulo de
comprimento 12m e largura 8m.
Esses mesmos alunos fizeram uma nova colocação: “A gente pode fazer assim também:
2x + 2y = 40”.
218
PESQ: Dividindo esta equação por dois, tem-se: x + y = 20. Dividimos por dois para
simplificar a equação. Assim, com a equação simplificada, fica mais fácil trabalhar.
Chamamos essa igualdade semi-perímetro, pois ela representa a metade do perímetro e fica
mais fácil trabalhar com números menores. E agora, sabendo quanto vale o semi-perímetro, o
que fazer?
Mais um tempo em silêncio e o diálogo continuou:
Alguns alunos perceberam que não havia uma área comum aos retângulos de perímetro
40m. Sabiam eles que se montassem um sistema de duas equações, a duas incógnitas: x e y,
assunto já estudado no 9º ano, poderiam ir em busca da solução do sistema envolvendo x.y.
Quando viram que não poderiam escrever uma igualdade envolvendo x e y, como a área do
retângulo de dimensões x e y, desistiram desta última idéia.
A sugestão 2x + 2y = 40m ou x + y = 20m, deveria recair num sistema de duas equações a
duas variáveis envolvendo perímetro e área. Mas, no caso da área não se conhecia o valor de
x.y. Nesse raciocínio, não teriam montado um sistema de duas equações a duas incógnitas
x + y = 20m
x ⋅ y = ?
Na segunda equação, levando à área máxima.
PESQ: Gente, vamos voltar à idéia inicial que vocês apresentaram! Estavam indo bem.
Sabemos que x + y = 20m, certo?
CLASSE: Sim.
PESQ: Vou sugerir a construção de uma tabela a partir da idéia inicial de vocês.
219
m m m m2
y x x+y x.y
12 8 20
m m m m2
y x x+y x.y
12 8 20 96
Como queríamos achar a área máxima do retângulo, sugerimos que montassem uma
tabela maior com possíveis valores de x. Foi lhes apresentada assim:
m m m m2
y x x+y x.y
CLASSE: x + y.
PESQ: Muito bem, x + y que é o semi-perímetro Quanto mede o semi-perímetro?
CLASSE: 20.
PESQ: Completem a tabela dada, partindo do semi-perímetro x + y = 20m. Vou sugerir
alguns valores para x. Então, vocês, usando o mesmo raciocínio, preencham as demais
colunas da tabela.
PESQ: Vamos supor que x seja igual a 1m. Qual será o valor de y, em metros, para que
tenhamos o semi-perímetro igual a 20m?
CLASSE: 19m.
PESQ: Muito bem! Sabendo que x = 1m e que y = 19m, podemos calcular a área do
retângulo?
CLASSE: Sim. É 19 vezes 1 que dá 19.
PESQ: 19 o quê?
CLASSE: 19m2.
Inicialmente os valores, sugeridos pelos alunos e os sugeridos por nós, foram sendo
colocados aleatoriamente na tabela. Mas como a Matemática é uma ciência de padrão e
ordem, resolvemos colocar ordenadamente os dados na tabela. Assim, os alunos poderiam
perceber o comportamento dos valores encontrados para as áreas dos retângulos conservando-
se o valor constante dado ao semi-perímetro.
A tabela a seguir foi entregue aos alunos para que a preenchessem conforme nossa
orientação.
222
m m m m2
y x x+y x.y
1 19 20 19
1,5
2
3
4
5
5,2
6
7
8 12 20 92
9
10
11
11,1
12
13
17
19
área e perímetro 40m é um quadrado de lado 10m. É verdade que os grupos poderiam chegar,
a partir dessa tabela, aos gráficos das funções perímetro e área do retângulo, ambas em função
de uma de suas dimensões. Infelizmente, não houve mais tempo para discutir outras idéias
nascidas desse problema, já que este era nosso último encontro. Como estávamos trabalhando
com uma metodologia de ensino diferenciada, estávamos expostos a situações inesperadas e
esta foi uma delas. Queríamos que os alunos percebessem a dependência de alguns valores em
função de outros: o perímetro e a área do retângulo em função dos lados desse mesmo
retângulo. Esperávamos que, até por outro caminho, eles pudessem já fazer uso da álgebra, já
sua conhecida e, interpretando os dados do retângulo, pudessem descrever um lado como uma
variável: x e o outro lado em função dela. De fato se x + y = 20, então x = 20 – x e, como já
sabiam que A = x.y, então: A = x(20 – x)
A = – x2 + 20x e, ao atribuir diferentes valores a x, daí
chegar até à construção do gráfico: um arco de parábola.
Conforme apresentamos na lista de atividades, este problema foi extraído do livro de
Imenes & Lellis, 2006, 9º ano, páginas 191 e 192. No livro, os autores resolvem este
problema no capítulo 10 – Funções, usando a estratégia que apresentamos por último
[comprimento: x e largura ( x – 20 )]. Nesta pesquisa, como já dissemos anteriormente,
estamos considerando os alunos como co-construtores do conhecimento, fato que nos levou a
explorar o problema a partir do raciocínio dos alunos, como podemos ver na tabela a seguir,
preenchida por um dos quatro grupos:
224
Resultado de um grupo:
x
A expressão algébrica Vc = c. λ .a = 2x.x. , resultou em Vc = x3. Este foi o resultado que
2
todos os grupos encontraram. Vc = x3 é uma potência de base real e expoente natural. Esse
volume depende de x, pois depende das dimensões da caixa e cada uma dessas dimensões é
dependente de x.
O Problema 5, muito interessante por questionar o que acontece com o volume do cubo
quando se dobra o comprimento de cada lado, foi bem aceito pelos alunos. Este tipo de
problema poderia ter gerado nos alunos uma impressão errônea de que, dobrando o
comprimento de cada lado, dobrar-se-ia o volume.
Não foi o que aconteceu com os alunos desta pesquisa. O problema pedia para verificar
quantas vezes maior ficaria o volume da caixa ao se dobrar o comprimento de cada lado.
Esses alunos não tomaram nenhuma conclusão de imediato. Fizeram o problema,
aritmeticamente sobre uma fórmula geométrica que dá o volume do cubo. Calcularam o
226
volume do cubo de lado 5cm. Calcularam o volume do cubo de lado 10cm. Obtendo V =
1000cm 3 8
1000cm3. Daí, fazendo a razão desses dois volumes = , que indica quantas vezes
125cm 3 1
o volume do cubo maior cabe no volume do cubo menor, atendendo ao pedido do problema,
conforme resultados abaixo:
Resultado de um grupo:
Instigamos os alunos se, dobrando o lado, dobraríamos o volume, e eles pareciam certos
de suas respostas, afirmando que o volume do cubo aumenta 8 vezes, quando dobra-se o lado
desse cubo.
Os alunos resolveram esse problema, mas uma coisa interessante que poderia ter sido
discutida com eles seria fazê-los imaginar um cubo de lado 5cm, cujo volume seria V =
125cm3. Seria pedido a eles que dobrassem apenas o comprimento do cubo. Neste caso,
teriam um volume V1 = 10cm x 5cm x 5cm
V1 = 250cm3 e assim, V1 = 2V.
Em continuação, dobraríamos a largura. O volume deste bloco retangular seria dado por
V2 = 10cm x 10cm x 5cm.
V2 = 500cm3; V2 = 2V1 e V2 = 4V.
Mais uma vez, dobrando também a altura do bloco, este ficaria com o volume
227
3 3
se x3 = 512cm3, então, x = 512cm 3 = 2 9 cm 3 que, fatorando, obtém-se
3
2 3.2 3.2 3 cm 3 que leva a x = 8cm, como podemos conferir abaixo:
Os demais grupos precisaram da discussão em Plenária para perceber que, para encontrar
o comprimento da caixa de João, era preciso encontrar a raiz cúbica de 512cm3, por meio de
fatoração. Os grupos que não conseguiram fatorar o 512cm3, quando questionados, disseram
não ter se lembrado como agir no processo da raiz cúbica, nem ao menos do fazer no processo
que usa a fatoração para isso. No caso, 512 é um cubo perfeito e, portanto fatorável.
Se tivéssemos feito algumas perguntas como “Qual era o volume da caixa de Lisa? Qual
deve ser o comprimento da caixa de João, de modo que, multiplicando o comprimento por ele
mesmo, três vezes, obtenha 512cm3? O cubo pode ter lados com medida 10cm? Lados de
6cm? ...”, acreditamos que os alunos, se isso tivesse sido feito, encontrariam o lado da caixa
de João, por tentativa, sem a necessidade de extrair a raiz cúbica de 512cm3.
Ao abrirmos a discussão em Plenária, falamos com os alunos sobre as duas possibilidades
de resolução do problema.
228
CONCLUSÕES
229
Conclusões Finais
inesperadamente durante sua resolução. Mas, apesar disso, eles devem ser trabalhados, nesse
momento, por professores e alunos. Pois, se não resolvidos, impediriam avançar na resolução
do problema original. Todo trabalho, nesta pesquisa, foi realizado, pelos alunos, no contexto
da construção de um material concreto, as caixas de papelão. Pudemos verificar que os
alunos, ao se depararem com o problema da construção da “caixa teste”, no Projeto I, talvez
por não reconhecerem a passagem da geometria plana para a geometria espacial, não
conseguiam construí-la. Com os questionamentos feitos pela professora-pesquisadora,
especificamente o uso da palavra levantar, foi possível, aos alunos, chegarem à construção da
caixa. Num sentido mais amplo, respondendo a um questionamento que já surgiu no início
desta pesquisa, nas páginas 4 e 5, a realização da atividade “caixa teste” estava na
dependência não somente dos conceitos matemáticos presentes na situação, mas, também, na
dependência de outro conceito como o do significado da palavra levantar, que não estava
diretamente ligado à escola. Conforme a teoria de Bransford (2000, p.10, tradução nossa), “as
pessoas constroem novo conhecimento e novas compreensões, baseados naquilo que elas já
conhecem e acreditam”.
O trabalho em grupos e a atividade, que usou o material concreto, fizeram, em muitos
momentos desta pesquisa, com que chegássemos à conclusão de que, para alguns alunos, o
fazer matemática com as mãos e a troca de experiências com os colegas, lhes possibilitava
chegar, com mais segurança, ao conceito pretendido. Como exemplo, lembramos os recortes
feitos na largura do retângulo ao construir uma caixa de altura 5cm e a percepção de que, com
essas medidas para a altura, não haveria caixa. E, ainda, numa situação análoga, desta vez no
Projeto II, não haveria perímetro. Nessas situações, para alguns alunos, foi necessária a
manipulação do material concreto e a colaboração dos colegas de grupo. Concordando com
Moreira (1999), podemos dizer que intercambiando informações com certo grau de
reciprocidade entre os participantes, esses alunos puderam chegar à compreensão.
O Projeto II foi desenvolvido com o objetivo de verificar se os conteúdos estudados no
Projeto I haviam se fixado como conhecimento nos alunos e, ainda, no contexto da construção
das caixas de papelão, o de explorar o conceito de função polinomial.
Tratar desse conceito, com alunos ainda na 8ª série, considerando o trabalho realizado
com as caixas e, verificando a variação das áreas e dos perímetros das bases das caixas e dos
volumes das caixas, proporcionou aos alunos uma primeira idéia dessa lei funcional. De fato,
não foi possível tratarmos esse conceito com todo seu rigor e força, mas pudemos trabalhar
com tabelas, com seus gráficos, com a idéia de variabilidade, com o contexto e com palavras,
tendo todo esse trabalho voltado ao contexto da construção das caixas de papelão. Com esse
232
trabalho, pudemos verificar, na prática, a teoria de Jon Davis (2007), citando Hiebert et al
(1996), quando afirmaram que “resolver problemas postos em contexto pode promover
conexões entre o mundo real e a Matemática e ajuda os estudantes a desenvolver sua
compreensão” (p.141, tradução nossa). Os alunos puderam ver os gráficos dos perímetros e
das áreas das bases das caixas e dos volumes das caixas e a eles associar o trabalho que foi
sendo realizado ao se utilizar o material concreto.
Perceber que os gráficos do perímetro da base, da área da base e do volume das caixas,
em função da altura x, tratados como gráficos de funções polinomiais e não apenas da
localização de pontos do polinômio, para eles, inicialmente não fazia muito sentido. O que
sabiam era que, no intervalo entre uma altura e outra, haviam infinitas alturas possíveis o que,
para eles, permitia ligar os pontos encontrados. Já na aplicação do Projeto II, estando esses
alunos, no final da 8ª série, já conhecendo o conjunto dos números irracionais e, portanto, o
conjunto dos números reais, onde R = Q U I e a reta R fica completa, a formalização dessa
atividade, pela professora-pesquisadora, tornou possível levar os alunos à percepção de que, o
que havíamos construído, quando unimos alguns pontos do gráfico, era na realidade o gráfico
de funções polinomiais referentes às áreas e aos perímetros das bases das caixas e dos
volumes das caixas. Essa formalização, com certeza, nos pareceu ter mais significado para os
alunos. Com a exploração das atividades da construção de caixas, o conceito de função na
forma explorada com os gráficos foi valiosa.
Nesta pesquisa, conforme aponta Van de Walle (2001), abordamos o conceito de
função por meio da percepção de padrões, de tabelas e de gráficos, enfocando as diferentes
formas com que “a mudança de uma variável afeta a mudança de outra” (p.284-285, tradução
nossa).
Além dos conceitos de vértices e de lados no retângulo, foram trabalhados também, os
conceitos de vértices, de arestas, de faces, perímetro e volume do bloco retangular. Demos
atenção especial para os conceitos referentes a grandezas e medidas.
As atividades mostraram que os conceitos de volume e de grandezas e medidas
poderiam ter sido explorados já no Projeto I. Mas, devido às dificuldades que os alunos
apresentaram naquela ocasião, somente no Projeto II é que conseguimos trabalhar bem com
esses conceitos, pois, ao prepararmos atividades que visavam à exploração desses conceitos,
no Projeto II, verificamos que, infelizmente, quando foram solicitados os conceitos de áreas e
volume de um bloco retangular, os alunos sempre recorriam às fórmulas analíticas que lhes
tinham sido apresentadas, não mostrando uma compreensão clara do que diziam e faziam.
Neste sentido, reconhecer o volume como sendo a quantidade de unidades cúbicas que cabem
233
num sólido e a área como sendo a medida de uma superfície, considerando os quadrados com
1cm2 de área que cobrem essa superfície, permite-nos chamar a atenção para a
superficialidade com que esses temas são abordados em geral nas salas de aula. Os alunos
terminam a Educação Básica sem conhecer ou reconhecer esses conceitos elementares da
Matemática.
Outro aspecto que nos chamou atenção foi o pouco caso dado às grandezas e medidas.
De acordo com os PCN (1988), essa dificuldade pode estar atrelada ao “pouco destaque nas
aulas de Matemática [...] que, apesar de reconhecerem sua importância, preferem que elas
sejam estudadas de forma mais detalhada nas Ciências Naturais” (p.129). No Projeto II,
tomamos mais cuidado com esses temas, exigindo que os alunos fizessem uso das medidas
padrão em cada grandeza, de forma a chegar à unidade padrão correta na resposta ao dado
solicitado.
Quanto aos conteúdos trabalhados no Projeto I e retomados no Projeto II, ora como
problemas, ora como exercícios de fixação, consideramos que houve uma transferência dos
conhecimentos construídos do primeiro para o segundo projeto. É fato que esses alunos,
estando no final da 8ª série, haviam tido uma vivência maior com a Álgebra, podendo ser este
um fator que também devesse ser incorporado à “manutenção”, por parte dos alunos, dos
conceitos trabalhados no Projeto I.
Entretanto, como já citamos ao longo desta pesquisa, de experiências anteriores que a
professora-pesquisadora havia tido com alunos de outras 8ªs séries, que haviam trabalhado o
conteúdo Polinômio de forma tradicional, ao questioná-los, naquelas ocasiões, sobre conceitos
desse conteúdo, pareciam nunca terem trabalhado esse tema ou tinham apenas vagas
lembranças.
Esse fato nos permite considerar que o trabalho realizado, com o ensino de Polinômios
no contexto da construção das caixas de papelão, considerando sempre os conhecimentos
prévios trazidos pelos alunos, como desencadeadores da nova aprendizagem, resultou numa
aprendizagem mais significativa. Como exemplo, ao cortarem quadrados, de lado 1cm, do
canto do retângulo dado, na “caixa 1”, do Projeto II, imediatamente após o recorte os alunos
já sabiam que a nova figura formada tratava-se de uma caixa planificada. Relembrando, este
foi um dos grandes problemas enfrentados no Projeto I.
A Metodologia de Ensino-Aprendizagem de Matemática através da Resolução de
Problemas permitiu-nos, conforme apontou Branca (1997), aplicar conhecimentos adquiridos
previamente (no Projeto I) a situações novas e desconhecidas (no Projeto II), bem como a
situações já vivenciadas.
234
A importância dada aos conhecimentos prévios e à interação social deve ser ressaltada,
por termos trabalhado, durante toda a pesquisa, com os alunos dispostos em grupos. As
discussões freqüentes dos alunos e da professora-pesquisadora possibilitaram a compreensão
dos conceitos trabalhados, partindo de uma situação concreta para a generalização e abstração
num estágio mais elevado da aprendizagem. Esse aspecto pôde ser verificado, por exemplo,
no Projeto I, quando, ao apresentar a atividade envolvendo as operações com polinômios, no
que se refere ao algoritmo da divisão, os alunos terem pensado, inicialmente, tratar-se de uma
divisão do polinômio representante da área da base da “caixa 1”, pelo polinômio representante
da área da base da “caixa 2”. Ao compartilharem seus posicionamentos em Plenária,
considerando as áreas das bases das caixas construídas, foi possível, com uma forte
intervenção da pesquisadora, verificar que o que estavam fazendo era a comparação
multiplicativa entre duas grandezas: as áreas das bases das caixas, chegando à conclusão de
que essa comparação multiplicativa era uma razão da área da base de uma das caixas em
relação à área da base da outra caixa, num determinado ponto em que o polinômio era
definido.
A resolução de Problemas, conforme apontou Onuchic e Allevato (2004), “coloca o
foco da atenção dos alunos sobre idéias e sobre o ‘dar sentido’” (p.223) aos conteúdos
trabalhados. Este foi um aspecto muito forte nesta pesquisa, pois os alunos tiveram a
oportunidade de irem construindo o conhecimento por meio de representações que foram
sendo aperfeiçoadas ao longo das discussões. Neste sentido, “quanto mais condições se dêem
aos alunos para pensar e testar uma idéia emergente, maior é a chance de essa idéia ser
formada corretamente e integrada numa rica teia de idéias e compreensão relacional”
(ONUCHIC e ALLEVATO, 2004, p.220). Todo esse processo foi mediado pela professora-
pesquisadora por meio da interação social, agindo na zona de desenvolvimento proximal que,
segundo Vygotsky (1979), é definida como sendo “a discrepância entre a idade mental real de
uma criança e o nível que ela atinge quando resolve problemas com auxílio” (p.137).
Na Metodologia de Ensino-Aprendizagem de Matemática através da Resolução de
Problemas, o professor age na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, de modo a levá-
los a desenvolver o raciocínio e a compreensão dos conteúdos trabalhados, pois, na visão
dessa metodologia, “compreender é essencialmente relacionar” (ONUCHIC e ALLEVATO,
p.222). Assim, nesta pesquisa, observar os gráficos, construídos para os perímetros e áreas das
bases das caixas e para os volumes das caixas e a eles associar a construção das caixas até
chegar ao conceito de função, proporcionou a esses alunos uma aprendizagem, com
235
Vamos notar imediatamente que uma representação Matemática não pode ser
compreendida isoladamente. Uma fórmula específica ou uma equação, um arranjo
concreto de blocos de base dez ou um gráfico particular em coordenadas cartesianas,
faz sentido somente como parte de mais um amplo sistema dentro do qual,
significados e convenções foram estabelecidos. Os sistemas representacionais
importantes para a Matemática e sua aprendizagem têm estrutura, de modo que
diferentes representações dentro de um sistema estão ricamente relacionadas um ao
outro (GOLDIN, G., SHTEINGOLD, N. NCTM, 2001, p.1, tradução nossa).
Outros aspectos devem ser reconsiderados neste trabalho de pesquisa, entretanto, não
iremos enumerá-los. O mais difícil de todos talvez seja o fato de ter sido, ao mesmo tempo, a
professora da sala e a pesquisadora. Foi muito difícil separar estes dois aspectos em função de
seu caráter subjetivo.
236
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
237
Referências Bibliográficas
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CONFORD, A. F; SHULTE, A. P. (Org). “As idéias da álgebra”. Tradução de Hygino H.
Domingues. São Paulo: Atual, 1995. Primeira publicação 1988 pelo National Council of
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VYGOTSKY, L. S., Pensamento e Linguagem. Lisboa: Antídoto, 1979, 1988. Edição 42.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. 6ª edição.
APÊNDICE
245
APÊNDICE
Venho, por meio deste, informar aos pais ou responsáveis dos estudantes da Escola
COOPEP de Piracicaba, freqüentadores do 7º ano do Ensino Fundamental II, que sou
estudante do curso de Mestrado em Educação na Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), no departamento de Metodologia de Ensino, linha de pesquisa: Ensino de Ciências
e Matemática.
Como parte integrante deste projeto, intitulado: O Processo de Formulação e Solução
de Problemas Contextualizados de Matemática: uma abordagem sócio-interacionista, tenho
que realizar uma coleta de dados com estudantes de 7º ano, visando estudar “Como e em que
extensão os estudantes irão propor problemas correspondentes ao contexto fornecido?” e
“Qual será o processo de resolução utilizado pelos estudantes em problemas de Matemática
contextualizados, tanto no aspecto individual como no social?”.
O ponto de partida, para o desenvolvimento desse trabalho, será a partir dos
conhecimentos prévios que os estudantes já dispõem, dado num ambiente contextualizado. A
escolha do 7º ano para a realização da coleta, deu-se em função do trabalho que venho
desempenhando com os estudantes desta série na Escola COOPEP, há mais de um ano, o que
viabiliza as relações interpessoais entre a pesquisadora, eu, neste caso, e os sujeitos da
pesquisa, os estudantes.
Para tanto, realizaremos um estudo sobre Polinômios, conforme conteúdo
programático para esta série, a partir da construção de caixas de papelão. Ou seja, tenho como
objetivo desenvolver o estudo de Polinômios com todas as suas operações, adicionar, subtrair,
multiplicar e dividir, a partir da construção dessas caixas.
246
Venho por meio deste, solicitar sua(s) autorização(ões) para gravar as vozes de seu
filho(a), estudante do 7º ano, durante a realização das aulas de Matemática, especificamente,
no mês de Outubro.
O objetivo dessa gravação consiste em verificar as manifestações dos estudantes
quanto às dúvidas, sugestões ou opiniões que venham à colaborar para esta pesquisa.
Os estudantes estarão dispostos em grupos de 3 elementos, escolhidos por sorteio, para
a realização das atividades. Cada grupo receberá um gravador de voz que deverá ficar sobre a
mesa. A partir daí, o conteúdo será desenvolvido e posteriormente suas falas serão analisadas
pela pesquisadora.
Convém ressaltar que, em nenhum momento, o conteúdo programático para esta série
será interrompido por conta deste trabalho. Iremos apenas, aplicar uma metodologia
diferenciada para o desenvolvimento deste conteúdo de modo mais significativa.
Autorização: Eu _________________________________________________________
responsável pelo (a) estudante (a) ___________________________________________
freqüentador (a) do 7º ano do Ensino Fundamental da Escola COOPEP de Piracicaba,
autorizo-o (a) a participar do projeto de pesquisa-mestrado da professora de Matemática,
Rosilda dos Santos Morais, durante as aulas de Matemática.
Piracicaba, __/__/_____
Assinatura: _______________________________________
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2. Questionário de Avaliação
Tema: Polinômios
2) Houve alguma parte no ensino de Polinômios que você teve mais dificuldade em
compreender o que estava fazendo? Em caso positivo, explique qual (is) foi (ram) a (s)
dificuldade (s).
3) O que você gostaria que tivesse sido considerado durante o ensino dos Polinômios
para aumentar a sua aprendizagem? Explique.
5) O que lhe despertou mais ou menos interesse durante o ensino dos Polinômios?
Explique.
6) Você já teve outras aulas de Matemática que tenha utilizado o mesmo método que o
do ensino de Polinômios? Em caso positivo, como foram desenvolvidas essas aulas?
8) Quais os conhecimentos sobre Polinômios que você adquiriu durante o ensino desse
assunto? Seja detalhista.
9) De que forma esses conhecimentos serão úteis?