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Relatório Final CRAS

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA FUNDAÇÃO DE ENSINO


OCTÁVIO BASTOS - UNIFEOB

Cintia de Lima Rossi - RA 20001842


Gabriel Jorge - RA 19001992
Lisânea Fernanda Francisco Crivelaro - RA 20001818
Livia Milena Feltrin Bizaia - RA 20000495
Luis Felipe Batista Ribeiro - RA 20001859
Milena Carolina Pereira - RA 20000581

Relatório Final Entrevista com Psicólogos


atuantes nas Políticas Públicas

São João da Boa Vista/SP


2020
__________________________________________________________ 2020

1. Introdução
A Unidade de Estudo Psicologia Realidade Brasileira: Políticas Públicas, Ética
e Cidadania trabalhou conceitos na área de políticas públicas, possibilitando o
conhecimento das diversas ações do psicólogo nos serviços de saúde e
serviços de assistência social. Os Conselhos Federal e Regionais de Psicologia
e o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas e a
bibliografia da área permitem o embasamento de referencial teórico relativo ao
conhecimento da legislação e dos preceitos éticos da atuação do psicólogo em
políticas públicas. No entanto todo esse referencial permite um conhecimento
limitado e muitas vezes distante da realidade dos diferentes instrumentos
públicos de atuação profissional, visto que os diferentes programas são
desenvolvidos na instância municipal, apresentando realidades dispares quanto
aos seus dispositivos e funcionamento, muitas vezes associado ao tamanho
das cidades, aos recursos físicos e humanos que são disponibilizados em cada
comarca. Diante de cenários e contextos muito diversos foram propostas
entrevistas estruturadas com psicólogos que atuam em diferentes instrumentos
do Sistema Único de Saúde (SUS), Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), Fundação Casa, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se fizeram
necessárias para que se possa ter a verdadeira noção da realidade encontrada
na saúde pública e as condições de trabalho dos psicólogos nos programas de
políticas públicas.
Historicamente a década de 70 foi marcada por diversas denúncias a
transgressões dos Direitos Humanos e problemas sociais de diversas
naturezas como anos de repressão, condições precárias de habitação,
trabalho, educação e saúde resultaram em manifestações para o
desenvolvimento de projeto reforma social. Em 1986 foi realizada a VIII
Conferência Nacional de Saúde, que estabelece diversas diretrizes para a
reorganização da Saúde no Brasil, para a garantir o direito universal à saúde e
efetivação dos princípios e diretrizes do SUS, respeitando a pluralidade social.
Nesse período ocorre o Movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira, que
visou alterar o paradigma psiquiátrico, muito voltados ao aprisionamento em
manicômios em decorrência de denúncias de violências ocorridas com os
pacientes de doenças mentais internos desses locais. Nessa época, como
dispositivo de Atenção Psicossocial, e forma de alternativa à internações
psiquiátricas havia o da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Nesse contexto
reformista houve a consolidação dos princípios do SUS e RAPS, que
contribuíram para a implantação de dispositivos de saúde pautados em
propostas interdisciplinares e psicossociais, contribuindo para o início da
atuação do psicólogo nos programas de políticas públicas, e até então a
participação da psicologia ainda era muito restrita no modelo clínico clássico
em psicoterapias individuais (FERRAZZA, 2016).
Ferrazza (2016) contextualiza que nos dias atuais o exercício do psicólogo está
pautado em discussões voltadas à violação de Direitos Humanos, ao
preconceito e discriminação étnico raciais, homossexualidade, Reforma
Psiquiátrica, sistema prisional, medidas socioeducativas e consolidação do
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SUS e SUAS. Todos esses debates estão em consonância com o “Princípios


Fundamentais” do Código de Ética Profissional do Psicólogo, que deve ter sua
ocupação baseada no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da
igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam
a Declaração Universal dos Direitos Humanos.” (CFP, 2005, p. 7).
Em 2006 foi criado o Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas
Públicas (CREPOP), cujo objetivo central é:
produção de informação qualificada que visa ampliar a capacitação dos
psicólogos na compreensão das políticas públicas de modo geral e a
compreensão teórico - técnica do processo de elaboração,
planejamento, execução das políticas públicas nas diversas áreas
específicas: saúde, educação, Assistência Social, criança e
adolescente e outras.

Baseado nesse princípio geral o CREPOP ainda se destina a refletir de forma


aberta a permitir novos preceitos, sobre os conceitos éticos e políticos da
Assistência Social e atuação do psicólogo no CRAS e SUAS (CREPOP, 2007).
De forma mais específica o CRAS é um instrumento voltado à proteção social
básica e de Assistência Social às famílias, grupos e indivíduos em situação de
vulnerabilidade social. Estão listados abaixo os programas e serviços
desenvolvidos por essa unidade de Assistência Social e sobre eles o psicólogo
pode participar de todas essas ações, de forma articulada e interdisciplinar.
1. Serviços: socioeducativo-geracionais, intergeracionais e com
famílias; sócio-comunitário; reabilitação na comunidade; outros;

2. Benefícios: transferência de renda (bolsa-família e outra); Benefícios


de Prestação Continuada – BPC; benefícios eventuais – assistência em
espécie ou material; outros;

3. Programas e Projetos: capacitação e promoção da inserção


produtiva; promoção da inclusão produtiva para beneficiários do
programa Bolsa Família – PBF e do Benefício de Prestação
Continuada; projetos e programas de enfrentamento à pobreza;
projetos e programas de enfrentamento à fome; grupos de produção e
economia solidária; geração de trabalho e renda.

As ações estão relacionadas ao Programa de Proteção e Atendimento


Especializado a Famílias e Indivíduo (PAIF) desenvolvido pelo CRAS,
intervindo em situações de vulnerabilidades, dentro da Assistência Social, e
consequentemente promove e favorece o desenvolvimento da autonomia e
empoderamento dos indivíduos, dos grupos e das comunidades (CREPOP
2007).
O presente relatório tem como objetivo a realização de entrevista estruturada
com a profissional Marina Belelli, psicóloga do CRAS do município de
Pradópolis, justificado pela necessidade de uma visão mais realista da situação
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desse instrumento assistencial em particular, permitindo a associação da teoria


com a prática.

2. Metodologia

A entrevista foi elaborada seguindo roteiro estruturado de modo a permitir


conhecer e reconhecer o papel do psicólogo, bem como as condições do
ambiente físico do CRAS do município de Pradópolis, pela psicóloga Marina
Belelli. As principais perguntas foram sobre sua rotina de trabalho, dificuldades
enfrentadas, como foi o percurso profissional e se houve um preparo na
graduação para trabalhar nessa área, como lida com as suas emoções frente a
situações desafiadoras, quais as competências e habilidades necessárias para
o desenvolvimento de um bom trabalho nessa área, os princípios éticos
essenciais para se trabalhar nesse campo, como são as condições físicas do
ambiente do trabalho e finalmente como foi o desenvolvimento das atividades
frente ao isolamento social imposto pela epidemia do Covid-19.

3. Resultado
Marina tem 33 anos, formou-se em Psicologia na USP de Ribeirão Preto em
2011 e sempre trabalhou na Área de Psicologia Social. Atualmente trabalha no
CRAS de Pradópolis, município próximo a Ribeirão Preto, onde mora
atualmente.
Durante a sua graduação, ela não aprendeu sobre CRAS e CREAS, foi tomar
conhecimento do assunto somente quando foi aprovada em um concurso, e
aprendeu por conta própria e na prática, sobre o SUAS e suas vertentes. Fez
estágio em uma ONG de Ribeirão Preto, que lidava com jovens infratores, e ao
finalizar a sua graduação, fez um curso de aperfeiçoamento para trabalhar com
adolescentes infratores em conflito com a lei. Com o passar do tempo, Marina
foi prestando concurso, até que ela passou no da fundação casa em São
Carlos, onde trabalhou durante um ano, e logo após, entrou no CRAS que
trabalha atualmente.
Na opinião de Marina, a atuação da psicologia dentro do SUAS é muito nova,
quando ela entrou no CRAS, ainda não tinha uma rotina de trabalho
estruturada, o CRAS da região acabava fazendo apenas o serviço
assistencialista (entregas de cestas básicas, gás, etc). Como era uma área
nova em sua vida profissional, ela teve que aprender como funcionava o SUAS
e ao mesmo tempo começar a estruturar uma rotina de trabalho, já que ela foi a
primeira psicóloga do local.
Em sua cidade não tem CREAS, unidade pública da política de Assistência
Social onde são atendidas famílias e pessoas que estão em situação de risco
social ou tiveram seus direitos violados são atendidas e todos os casos nesse
contexto são mandados para o CRAS da cidade, ficando prejudicado os
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programas preventivos, objeto principal do CRAS. Ela trabalha apenas 20


horas semanais, e tem apenas uma assistente social trabalhando junto com
ela, o que torna impossível atender todos os casos necessários da cidade.
Sua rotina de trabalho é bem variada, como atendimento, visitas domiciliares e
a instituições, como as escolas, onde conversar com os colaboradores para
saber a situação do seu paciente e fazer um levantamento sócio histórico do
mesmo. Durante a pandemia os atendimentos presenciais foram suspensos e
como ela trata de famílias vulneráveis é difícil conseguir manter o contato com
eles, já que muitos não têm acesso a computador e internet, e foram realizados
alguns atendimentos por telefone.
Quanto à infraestrutura do CRAS onde atua é relativamente boa, quanto ao
tamanho do local e a bem pouco tempo atrás não havia uma sala para atender
as famílias que são atendidas e geralmente estão acompanhadas de seus
filhos, porém ainda faltam materiais pedagógicos para oferecer as crianças
enquanto os pais são atendidos. O equipamento conta com recursos das três
instâncias, Federal, Estadual e Municipal, diversos programas são
desenvolvidos, alguns exclusivos do Estado de São Paulo como o viva leite por
exemplo. No entanto, segundo a Marina faltam recursos financeiros e humano,
uma vez que, os gestores que ocupam o cargo por indicação política não
querem contrariar seus contratantes sendo assim defendem interesses
políticos ao invés de lutar pelos direitos da população e promover melhorias no
equipamento, disse ainda que os gestores incentivam o assistencialismo e que
infelizmente as pessoas ainda tem a cultura de pensar somente no material e
em ganhar alguma coisa. Dificilmente essas pessoas chegam ao CRAS em
busca de ajuda psicológica por iniciativa própria, o profissional que vivencia
essa situação necessita ter a sensibilidade de perceber e enxergar os
problemas subjetivos envolvidos, visto que as pessoas carecem até mesmo de
entendimento sobre os próprios dilemas e na maioria das vezes não buscam
ajuda, pela própria dificuldade e pobreza na comunicação. Muitos jovens
infratores, por desconhecerem qual é o papel do instrumento também se
sentem intimidados em procurar ajuda com medo que sua situação se
complique ainda mais ao procurar ajuda, comentou Marina.
Com relação às intervenções Marina se utiliza de duas abordagens, cognitiva
comportamental, que possibilita uma melhor atuação com menores infratores e
a outra seria Construcionismo Social que apresenta recursos para trabalho com
grupo e acompanha as famílias utilizando mediações para atuar em conflitos.
Ela percebeu que certas abordagens mais abstratas não funcionam, sendo
essas mais diretivas e adequadas pelas situações que enfrenta.
A Marina ainda nos coloca que lida com situações desafiadoras o tempo todo e
na maioria das vezes pouco pode ser feito, por isso as principais emoções que
ela precisa lidar é a frustação e a impotência diante das necessidades pouco
supridas, devido as condições do instrumento, da política e a falta de recurso
humano e de tempo inviabilizam um trabalho completo. Quanto ética Marina
discorre que necessário bom senso e ética ao dar informações aos juizados e
ministério público, selecionando o que deve ser dito, situações de violência e
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negligência devem ser prontamente denunciadas. Alguns casos ela nos contou
como o de agressão a crianças que ficavam sob tutela de uma tia, que batia
constantemente e foi denunciada por vizinhos, o Ministério Público solicita que
as crianças fossem devolvidas para a mãe, que estava se recuperando do vício
de drogas. A atuação dela nesse caso foi realizar a visita à mãe e perceber que
a mesma tinha condições de recebe-las de volta. Com isso podemos ver a
importância da percepção da psicologia ambiental trazendo subsídios para que
fosse dado um desfecho satisfatório ao caso.

4. Considerações Finais
Através da entrevista com a Marina, percebemos a dificuldade de trabalhar no
ambiente de políticas públicas, pois a demanda de trabalho é enorme, os
recursos são escassos e a equipe disponível para trabalhar é limitada. Porém,
mesmo com todas as dificuldades os profissionais entrevistados da área
mostraram muito interesse e força de vontade em seus trabalhos,
principalmente Marina, que é a única psicóloga da sua unidade, é responsável
por demandas do CRAS e do CREAS de Pradópolis, e mesmo assim tem muito
empenho e força de vontade para trabalhar.
Para nós foi essencial termos a oportunidade logo no início do curso de
entrevistar uma profissional dessa área e aprender sobre as políticas públicas
que é tão importante para a sociedade. Ficou ainda mais claro o quanto faz a
diferença essas políticas serem bem estruturadas e administradas. Com a
Marina, vimos o quanto a Psicologia pode ser abrangente e quantas áreas de
atuação existem, que nem imaginávamos.
Essa experiência de entrevista nos trouxe ainda uma motivação a mais, pois
vimos de forma aplicada o que foi estudado na teoria e o quanto é necessário a
ética, bom senso, discernimento e acima de tudo amor em realizar um trabalho
como esse de minimizar as diferenças sociais, promover situações que
devolvem as pessoas a sua dignidade e mostrando os seus direitos de
igualdade. Parece um trabalho onde se rema contra a maré, mas quando um
indivíduo tem a sua vida resgatada já vale a pena.

5. Referências
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP)
Referência técnica para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS / Conselho
Federal de Psicologia (CFP). -- Brasília, CFP, 2007.

FERRAZZA, Daniele Andrade. Psicologia e políticas públicas: desafios para


superação de práticas normativas. Rev. Polis Psique, Porto Alegre , v. 6, n. 3,
p. 36-58, dez. 2016 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S2238-152X2016000300004&lng=pt&nrm=iso>. acessos
em 23 nov. 2020.Com o objetivo de inserção

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