Negocio Jurídico
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Negocio Jurídico
CURSO DE DIRETO
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL
ALMENARA-MG
2022
CONCEITO
Sobre o conceito de negócio jurídico Miguel Reale diz que “negócio jurídico é aquela espécie
de ato jurídico que, além de se originar de um ato de vontade, implica a declaração expressa da
vontade, instauradora de uma relação entre dois ou mais sujeitos tendo em vista um objetivo protegido
pelo ordenamento jurídico. Tais atos, que culminam numa relação intersubjetiva, não se confundem
com os atos jurídicos em sentido estrito, nos quais não há acordo de vontade, como, por exemplo, se
dá nos chamados atos material, como os da ocupação ou posse de um terreno, a edificação de uma
casa no terreno apossado etc. Um contrato de compra e venda, ao contrário, tem a forma específica de
um negócio jurídico...”
FINALIDADE NEGOCIAL
Assim, devemos, portanto empregar a expressão “negócio jurídico” como uma das espécies
em que se subdividem os atos jurídicos lícitos, não podemos a luz do Código Civil analisa-la no
sentido comum de operações ou transações comerciais. A manifestação da vontade tem finalidade
negocial, ela abrange a aquisição, conservação, modificação ou extinção de direitos.
Ao falar sobre a aquisição de direitos podemos dizer que ela ocorre quando há a sua
incorporação ao patrimônio e à personalidade do titular. Ela pode ser originária ou derivada, de forma
gratuita ou onerosa. Quanto a sua extensão ela pode ser a título singular ou a título universal.
Tendo em vista as relações econômicas e sócias é inevitável possíveis conflitos de interesses e
violações de direitos, nesse sentido a conservação de direitos é importante para resguardar ou
conservar os direitos de seu titular que pode tomar medidas providências preventivas ou repressivas.
Já a modificação direito assegura não apenas a aquisição e a conservação de direitos, mas
também sua modificação. Afinal os direitos subjetivos nem sempre conservam as características
iniciais e permanecem inalterados durante sua existência. A modificação dos direitos pode ser objetiva
e subjetiva.
Por sua vez, a extinção de direitos se dá por diversas razões dentre outras, as seguintes: o
perecimento do objeto sobre o qual recaem, alienação, renúncia, abandono, falecimento do titular de
direito personalíssimo, prescrição, decadência, confusão, implemento de condição resolutiva,
escoamento do prazo, perempção da instância e desapropriação.
TRICOTOMIA EXISTÊNCIA-VALIDADE-EFICÁCIA
É possível distinguir, no mundo jurídico, os planos de existência, de validade e de eficácia do
negócio jurídico.
EXISTÊNCIA
O negócio deve reunir condições mínimas para seu reconhecimento jurídico. No plano da
existência, indaga-se a realidade de existência do negócio jurídico. Ex.: um casamento celebrado por
um delegado é inexistente. Uma sentença proferida por algum que não é juiz é inexistente. A
existência requer: Agente. São os sujeitos, as pessoas, as partes envolvidas. Declaração de vontade:
deve ser exteriorizada. A que permanece interna, como a “reserva mental” (art.110, CC), em regra não
será considerada. A manifestação de vontade pode ser expressa, tácita ou presumida. A vontade deve
ser livre e de boa-fé.
O silêncio como manifestação de vontade: O silêncio importa anuência, quando as
circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa. (Art.
111, CC). Ex.: se o donatário não se manifestar se aceita a doação, nos termo do art. 539, CC.
Ex.: o mandato outorgado ao advogado com posterior pratica de ato de representação processual.
Objeto: é a adequação do objeto, de forma a viabilizar o negócio jurídico com o propósito
negocial, de adquirir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Ex.: para a hipoteca, o bem dado em
garantia deve ser imóvel.
Forma: seja livre ou determinada, deve existir.
VALIDADE
No plano da validade, deve-se constatar se o negócio está perfeito ou se está eivado de vício.
Se falar algum dos requisitos de validade, o negócio jurídico será nulo ou anulável.
DA REPRESENTAÇÃO
Os direitos podem ser adquiridos por ato do próprio interessado ou por intermédio de outrem.
Quem pratica o ato é o representante, e a pessoa em nome de quem ele atua e que fica vinculada ao
negócio é o representado.
Prevê o art. 115 do CC que “Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo
interessado.”. A representação pode ser, portanto, legal (ex.: pais tutores, curadores, administradores,
síndico) ou convencional (quando decorre de um mandato). O representante pode ser legal judicial ou
convencional.
CONDIÇÃO
“Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes,
subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.” (Art. 121, CC). Condição é o
acontecimento futuro e incerto de que depende a eficácia do negócio jurídico. Condição pode ser legal
ou voluntária .
CLASSIFICAÇÃO DAS CONDIÇÕES
QUANTO À LICITUDE
Lícitas: são todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes
(art. 122, CC),
Ilícitas: são as condições que contrariarem a lei, a ordem pública ou os bons costumes. Ex.:
cláusula que obriga alguém a mudar de religião; a que obriga alguém a se entregar à prostituição; a
que proíbe uma pessoa de se casar.
QUANTO À POSSIBILIDADE
Possíveis: aquelas que podem ser cumpridas, por não se configurarem como física ou
juridicamente impossíveis.
Impossíveis: “Verificam-se quando a eficácia do negócio jurídico é subordinada a um evento
que não se pode realizar em virtude da natureza das coisas ou do direito. ” São aquelas que não podem
ser cumpridas devido a impedimento físico ou jurídico. As condições fisicamente impossíveis são
aquelas que não podem ser cumpridas por nenhum ser humano.
TERMO
“Trata-se de evento futuro e certo, ao qual se subordina e eficácia do negócio jurídico.”
“É o dia ou momento em que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico, podendo ter como
unidade de medida a hora, o dia, o mês ou o ano.” Representa, portanto, um momento futuro certo.
Determinados negócios jurídicos não admitem termo, como a aceitação ou a renúncia da
herança (CC, art. 1.808), a adoção 9art. 1.626, CC), a emancipação e o casamento, o reconhecimento
de filho 9art. 1.613, CC)
Há o termo inicial (dies a quo), que é o que marca o inicio de eficácia do negócio jurídico, e o
termo final (dies ad quem), é aquele que marca o momento de cessação da eficácia do negócio
jurídico.
ENCARGO OU MODO
É a determinação que, imposta pelo autor de liberalidade, a esta adere, restringindo-a. Trata-de
de cláusula acessória às liberalidades (doações e testamentos), pela qual se impõe uma obrigação ao
beneficiário.
ERRO ESCUSÁVEL
É o erro justificável, desculpável. Analisa-se a escusabilidade sob o critério da pessoa de
diligência normal em face das circunstâncias do negócio.
ERRO REAL
Para invalidar o negócio jurídico, o erro deve ser real, isto é, efetivo causador de prejuízo
concreto para o interessado.
O FALSO MOTIVO
Só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
CONVALESCIMENTO DO ERRO
“Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a
manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do
manifestante”
DOLO
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, dolo é o induzimento malicioso de alguém à prática que
lhe é prejudicial, mas proveitoso ao autor do dolo ou a terceiro. No dolo há o induzimento à prática
prejudicial, enquanto no erro a vítima se engana por conta própria.
ESPÉCIES:
a) Dolo Principal (quando é a causa do negócio): o negócio jurídico só se realizou devido ao
induzimento malicioso de uma das partes. Esta espécie acarreta a anulabilidade.
b) Dolo Acidental (o negócio seria realizado, contudo, de outro modo): Diz respeito as
condições do negócio. O negócio seria realizado, embora por outro modo, com condições favoráveis
ao agente. Sendo assim, o dolo acidental não vicia o negócio e “ só obriga a satisfação de perdas e
danos” (Art. 146)
c) Dolus bonus: é tolerável, destituído de gravidade suficiente para viciar a manifestação da
vontade. Frequente no comércio de maneira geral, quando há o exagero da qualidade de determinado
produto, por exemplo.
d) Dolus malus: é grave, praticado com a intenção de enganar e prejudicar. Vicia o
consentimento, acarretando a anulabilidade do negócio jurídico ou a obrigação de reparação de perdas
e danos, proporcionalmente a gravidade.
e) Dolo Positivo (comissivo) ou Dolo Negativo (omissivo): O dolo pode revelar-se por meio de
ações maliciosas e em comportamentos omissivos. “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silencio
intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui
omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado”. (Art. 147). Quando for
provada a omissão, pode ser pleiteada a anulação do negócio jurídico.
f) Dolo do outro contratante ou Dolo de Terceiro: Art. 148: “Pode também ser anulado o
negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte de quem aproveite dele tivesse ou devesse ter
conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por
todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou”.
O dolo de terceiro só acarreta a anulabilidade se a outra parte, beneficiada, o conhecia.
Caso contrário, cabe apenas pedido de perdas e danos contra o autor do dano.
g) Dolo da própria parte e dolo do representante: Art. 149: “ O dolo do representante legal de
uma das partes só obriga o representante a responder civilmente até a importância do proveito que
teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente
com ele por perdas e danos”.
h) Dolo unilateral e dolo bilateral: o Primeiro é aquele exercido por uma das partes,
enquanto o segundo é exercido por ambas as partes. Art. 150: “ Se ambas as partes procederem com
dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização”.
i) Dolo de aproveitamento: (Art.157). Ocorre quando alguém se aproveita da situação de
premente necessidade ou inexperiência da outra parte com a finalidade de lucrar de maneira
desproporcional a natureza do negócio. Essa parte constitui elemento subjetivo de outro defeito do
negócio jurídico, que é a lesão.
COAÇÃO
Coação é o emprego de uma violência psicológica que vicia a vontade. É toda ameaça ou
pressão exercida sobre um indivíduo para força-lo a praticar um ato ou realizar um negócio.
ESPÉCIES:
a) Coação absoluta (“vis absoluta”): quando não há qualquer consentimento ou manifestação
da vontade, que vicia devido a um emprego de força.
b) Coação relativa (moral – “vis compulsiva”): quando o coator deixa uma opção ou escolha à
vítima: praticar o ato exigido por ele ou correr risco de sofrer as consequências da ameaça feita por
ele.
Nem toda ameaça, porém, configura coação. Art. 151 do Código Civil
REQUISITOS DA COAÇÃO:
a) Causa do ato: o negócio deve ter sido realizado somente por ter havido grave ameaça ou
violência, que provocou na vítima fundado receio de dano à sua pessoa, à sua família ou aos seus
bens. Sem ela, o negócio não teria se concretizado.
b) Grave: tem tal intensidade que incuta ao coato um fundado temor de dano a bem que
considera relevante. A gravidade é expressa pelo art. 152 do Código, em que para determina- la será
analisado o caso concreto, levando-se em conta “o sexo, a idade, a condição, a saúde, o
temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade da
coação”. Sendo que pelo art. 153, não se considera coação o simples temor referencial.
c) Injusta: ou seja, ilícita, contrária ao direito, ou abusiva.
d) Atual ou Iminente: o dano deve ser próximo ou provável, afastando, assim, o impossível,
remoto ou eventual. Deve estar prestes a se consumar.
Constituir uma ameaça de prejuízo à pessoa ou a bens da vítima, ou a pessoas de sua família. Se
não for pertencente à família do coato, o juiz decidirá com base nas circunstâncias.
COAÇÃO DE TERCEIRO
“A coação vicia o ato, ainda quando exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter
conhecimento a parte a que aproveite (o beneficiado), e esta responderá solidariamente com aquele (o
coator) por perdas e danos.” (art. 154).
“Subsistirá o negócio jurídico se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite
dela tivesse ou devesse ter conhecimento, mas o coator responderá por todas as perdas e danos que
houver causado ao coato”. (art. 155).
ESTADO DE PERIGO
Pela leitura do texto legal, entende-se que ocorre o estado de perigo quando o agente, diante de
situação de grave perigo conhecido pela outra parte, emite declaração de vontade para salvar-se ou
pessoa próxima, assumindo obrigação excessivamente onerosa.
É, portanto, “a situação de extrema necessidade que conduz uma pessoa a celebrar negócio jurídico em
que assume obrigação desproporcional e excessiva”
LESÃO
É um vício do consentimento que consiste na obtenção exagerada de lucro, seja por
necessidade econômica ou por inexperiência de uma das partes.
Os elementos da lesão podem ser objetivo que diz sobre a desproporção entre as prestações, e
subjetivo que fala sobre a inexperiência ou necessidade econômica.
Espécies Usuária ou real: a lei além de exigir necessidade ou inexperiência do lesionado, exige
dolo de aproveitamento da outra parte lesão especial ou lesão enorme: a lei exige apenas a obtenção de
vantagem desproporcional.