Presenca BNU em Quelimane
Presenca BNU em Quelimane
Presenca BNU em Quelimane
Pela fertilidade do seu solo e pela riqueza do seu minério e fauna, a Zambézia1 não conheceu
na costa oriental em África, desde a conquista e domínio português até ao final do Século XIX,
rivais que lhe disputassem a sua superioridade nas exportações de géneros oleaginosos, de
marfim de elefante e do ouro das regiões de Masôe, Lua e Missale, efetuadas desde o lendário
porto de Quelimane. Chave de toda a região que se estendia desde o Nyassa, alto Aroangua,
Barolz, compreendendo os vastos territórios de Manoca e Quiteve, era uma das pérolas da
coroa portuguesa.
A totalidade da Zambézia esteve sob influência portuguesa até que, o Tratado de 11 de Julho
de 18912 com a Inglaterra, e as concessões majestáticas outorgadas a empresas particulares a
conduziram ao desmembramento, retiraram a Portugal uma parte substancial da sua influência
secular na região.
Até essa data, o porto de Quelimane mantivera a fama do mais rico e importante da costa.
Contudo, a acordada livre navegação do Zambeze e seus afluentes e a inavegabilidade do
Quá-Quá3, subtraíram-lhe a facilidade de penetração no interior, determinando a sua
subsequente paralisação. As exportações passaram a ser feitas pela barra de Chinde4 em
barcos de limitada tonelagem ou por meio de cabotagem entre este porto e o da Beira.
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Zambézia é uma província situada na região centro de Moçambique. A sua capital é a cidade de
Quelimane, localizada a cerca de 1600 km ao norte de Maputo, a capital do país. Com uma área de
103 478 km² e uma população de 3 849 455 habitantes em 2007, está dividida em 22 distritos, e possui,
desde 2013, 6 municípios: Alto Molócuè, Gurúè, Maganja da Costa, Milange, Mocuba e Quelimane.
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O Tratado Anglo-Português de 1891 foi um acordo entre o Reino Unido e o Reino de Portugal que fixou
os limites entre o Protetorado Britânico da África Central (hoje Malawi), e os territórios administrados
pela British South Africa Company em Mashonaland e Matabeleland (hoje parte do Zimbabwe) e pela
Rodésia do Noroeste (hoje parte da Zâmbia) e Moçambique Português, e também entre os territórios
administrados pela British South Africa Company da Rodésia do Nordeste (hoje na Zâmbia) e a Angola
Portuguesa. Este tratado pôs fim a cerca de 20 anos de crescente desacordo sobre reivindicações
territoriais conflituantes na parte oriental da África Central, onde Portugal tinha reivindicações de longa
data com base na descoberta e exploração prévia, mas onde os cidadãos britânicos criaram missões e
ações comerciais exploratórias nos planaltos designados por Shire Highlands (hoje no Malawi), a partir de
1860.
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O Rio dos Bons Sinais, também chamado rio de Quelimane, e conhecido na língua local, o chuabo,
como o rio Quá-Qua ou Cuácua, é um rio de Moçambique, que corre pela província da Zambézia. Nasce
da confluência dos rios Lua-Lua e Quá-Qua e o seu curso passa na cidade de Quelimane, cerca de 20 km
antes de desaguar no Oceano Índico.
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Chinde é uma vila moçambicana, sede do distrito do mesmo nome, na província da Zambézia. Chinde
está localizada na foz do rio Zambeze, e foi elevada à categoria de vila a 13 de setembro de 1912. A
pequena cidade de Chinde, localizada a aproximadamente 40 milhas ao sul de Quelimane, desenvolvido
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De facto, o Chinde, não obstante ser um porto com uma barra perigosa onde por vezes davam
à costa navios que tinham que ser destruídos, mantinha a sua navegabilidade dada a influência
da companhia British Chinde5.
É neste quadro económico e social que o Banco Nacional Ultramarino (BNU), com o
assentimento do Estado Português, instala a sua agência em Quelimane em 1902. O objetivo
central era o de fomentar economicamente a região, promovendo a ligação de Quelimane aos
pontos mais recônditos da Zambézia, uma das regiões mais importantes de Moçambique. A
agência rapidamente se tornou na terceira mais importante do BNU no pais, só suplantada
pelas de Lourenço Marques e Beira.
O primeiro auxílio importante prestado pela agência foi a contribuição monetária de 230 contos
ao Governo para a Guerra do Bárué6, que terminou de um modo satisfatório para as armas
portuguesas. Esta ato da agência veio a revelar-se fundamental, dado que o conflito deflagrara
numa área de negócio da Companhia de Moçambique7 e de muitos interesses estrangeiros,
sendo indispensável a resolução breve do conflito.
A primeira procuração para gerir esta agência foi conferida em 28 de fevereiro de 1902 a
Francisco Inácio de Mendonça, por Eduardo Pinto da Silva e Cunha e Luiz Diogo da Silva e
Cunha, nas suas qualidades de governador e vice-governador do BNU e outorgada perante o
tabelião António Tavares de Carvalho. Um dos atos iniciais mais relevantes da gerência de
Francisco Inácio de Mendonça foi a concessão de um empréstimo de doze contos de reis à
Companhia do Boror8 por meio de letras descontadas, tendo como sacador o então diretor da
Companhia da Zambézia9, Sr. Júlio Botelho Moniz. O BNU viria a ter um papel fulcral na
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concessão de créditos às principais empresas da região e no desenvolvimento integrado da
economia local.
É neste contexto que a ação do BNU nesta região de Moçambique será vital. Ciente das
consequências que o desvio dos tráfegos fluvial e marítimo para o Chinde poderia acarretar
para os interesses nacionais, o BNU será a única instituição financeira portuguesa a sustentar
e fazer prosperar as principais empresas e companhias com interesses na região.
Tais contingências fizeram com que o banco tivesse necessidade de procurar outro local para a
sua agência. No ano seguinte, o gerente informou Lisboa de que encontrara o local desejado, a
casa de Estolano Dias Ribeiro. Segundo o seu relatório: Esta construção é de uma solidez
irrepreensível, as paredes são todas em cimento área e tijolo, os sobrados em casquinha, e as
portas janelas e escada, é tudo em excelentes madeiras da Índia e da terra, artisticamente
trabalhadas. Tem dois andares, e o primeiro assenta sobre caves com uns dois metros de
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A copra é a polpa seca do coco. O nome deriva da palavra em malayalam koppara (sul da Índia), que
significa "coco seco".
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altura, onde facilmente se poderia instalar uma boa casa forte, reservando as restantes para
armazéns. O local veio a ser comprado em 1914 por 20.000$00 reis e com as obras efetuadas
acabou por ter um custo total de 24.000$00 reis.
Em 1926 teve lugar a remodelação elétrica da dependência a qual, após 9 anos de uso num
clima excessivamente húmido, estava em péssimas condições, podendo mesmo, segundo
informações do eletricista da Câmara Municipal de Quelimane, originar um incêndio a qualquer
momento.
Três anos volvidos, em 1935, a Companhia da Zambézia detinha uma plantação de chá de
excelente qualidade com uma área de 300 hectares, tendo nesse mesmo ano igualmente
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Construído nos Estaleiros Navais de Livorno, na Itália em 1896 e financiado pelas receitas provenientes
de uma subscrição pública organizada como resposta portuguesa ao ultimato britânico de 1890. Na
Primeira Guerra Mundial, o Adamastor tomou parte ativa nas operações militares contra os alemães, no
norte de Moçambique.
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acabado a montagem da sua fábrica de chá no Gurué12. Para além da plantação de chá, era
proprietária de salinas, palmares, sisal e copra de grande rendibilidade.
Nos anos 30 do séc. XX, a cultura do chá teve um grande incremento em Moçambique por ser
um dos produtos que mantinha uma cotação mais compensadora nos mercados europeus.
Existiam duas regiões onde o chá se dava excelentemente devido ao solo e clima ideais para a
boa qualidade da folha. Eram elas o Milange e o Gurué, nas encostas das serras de Milange e
Namúlia, respetivamente, situadas a noroeste e a norte da província. Em Milange estavam as
plantações da Sociedade de Chá Oriental e no Gurué as da Companhia da Zambézia.
Em 1941 a Companhia do Boror, amplamente contemplada ao longo dos anos com vários
financiamentos do BNU, orgulhava-se de as suas plantações de palmeiras serem as mais
importantes da colónia e talvez de toda a África, embora a empresa não tivesse até esta data a
política de exportação. Outra produção de relevo para a Companhia era o sisal. Três anos mais
tarde, só para a América do Norte, eram embarcadas 300 toneladas do produto.
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Conhecida antes da independência como Vila Junqueiro, a cidade de Gurué fica no sopé do monte
Namuli que com 2419 m é a segunda mais alta montanha de Moçambique. A principal atividade da região
é a cultura de chá.
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Em 1946 a agência do BNU foi notificada pela Câmara Municipal para instalar bacia turca e
autoclismo na retrete dos indígenas. Em 26 de setembro foi autorizada a despesa de 3.250$00
escudos para a edificação da obra.
No ano seguinte, a agência de Quelimane, na sua carta n.º 210 de 13 de dezembro de 1945,
propôs a construção duma caixa-forte, visto que a que existia naquela dependência não
satisfazia. A Administração do banco, em 9 de julho de 1947, depois de recebido o orçamento
concordaria com a sua edificação. No entanto, passados dois anos continuava tudo na mesma.
Finalmente, em 1956, quer as obras do edifício de Quelimane quer as das moradias para o
pessoal foram postas a concurso público. A nova agência teve um primeiro projeto datado de
1956 e desenhado pelo agente técnico de engenharia José Figueiredo Correia do Vale. A
abertura de propostas do concurso público para a adjudicação de empreitada de construção de
um edifício destinado à agência do BNU, em Quelimane, foi anunciada para 31 de outubro de
1956. A notícia da desistência da edificação viria a ser publicada em setembro do ano seguinte.
Os anos 60 foram benéficos para a exploração agrícola na região, tendo o BNU sido um dos
seus pilares através de empréstimos à atividade agrícola, em especial para o cultivo do
algodão, do arroz, do chá e do milho, culturas centrais da economia da Zambézia. Mas não
apenas. Outras culturas floresceram igualmente nesta época, como a castanha de caju, o
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açúcar, a copra e a mandioca (a cultura da mandioca era a que atingia maior área de cultivo,
por ser a base alimentar das populações autóctones).
Noutra vertente, é de sublinhar neste período a atividade levada a cabo pela Sociedade Mineira
de Marropino, que possuía um dos maiores jazigos mundiais de microlite e tantalite13.
A colocação da primeira pedra do edifício foi efetuada pelo governador do BNU, Francisco
Vieira Machado, em 11 de agosto de 1964. Os trabalhos preliminares foram iniciados em
Janeiro de 1967. Mas a obra foi suspensa em agosto de 1968, quando estavam apenas
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Microlite é um mineral isométrico amarelo claro, castanho-avermelhado, ou preto, composto de óxido
de tântalo de cálcio e sódio com uma pequena quantidade de flúor. Tantalite é o mineral de tântalo mais
difundido e importante na indústria. O tântalo é usado em ligas de pontos de fusão mais elevado de
resistência e em vidro, para aumentar o índice de refração, e em aço cirúrgico, uma vez que é não reativo
e não-irritante para os tecidos corporais.
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Frequentou o curso na ESBAL entre 1939 e 1952, onde concluiu o curso superior de urbanismo. Foi
bolseiro da University of Ilinóis nos Estados Unidos. Em 1952, mudou-se para a cidade moçambicana da
Beira. Nesta cidade foi professor de liceu e exerceu a atividade liberal com o engenheiro João Cabral. Em
1956 conquistou um prémio na Bienal de São Paulo. A sua obra caracteriza-se por uma aplicação das
formas da arquitetura do Movimento Moderno e da moderna arquitetura brasileira.
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construídas as fundações e a cave, em virtude da cessação de atividades da empresa de
construção Sofil. Os trabalhos recomeçaram em 3 de fevereiro de 1969, após revisão dos
cálculos das fundações, tendo a responsabilidade pela empreitada sido transferida para a
EME, Empresa Moçambicana de Empreitadas, SARL. O edifício, com uma área coberta
fechada de cerca de 5 700 m², foi inaugurado em 18 de dezembro de 1972.
Diversas obras de arte foram integradas no desenho do edifício. Uma escultura, da autoria de
Jorge Mealha, na fonte. Uma tapeçaria de Arraiolos, executada pela Fábrica de Tapetes da
Zambézia, na sala pública. Painéis exteriores, ambos desenhados por João Aires. Um painel
cerâmico, executado pela fábrica Viúva Lamego, no topo do salão de festas. E quadros a óleo
no bar do centro lúdico. Para assinalar o início das atividades nas novas instalações, todos os
pagamentos foram feitos com notas novas.
Apesar das adversidades vividas no período em que exerceu a sua atividade no território e da
morosidade na edificação de modernas instalações para a sua agência, é imperativo
reconhecer ao antigo banco emissor e colonial português em Quelimane dois méritos
inegáveis.
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portuguesa. O segundo é o de ter edificado em 1973, e deixado para a posterioridade, um dos
mais bonitos e modernos edifícios bancários em Moçambique e em África, sendo reflexo desse
legado o uso do mesmo pelo Banco de Moçambique como sua filial em Quelimane.
Miguel Costa
Gabinete de Património Histórico
Dezembro de 2016
GALERIA DE FOTOS
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1963 - Agência de Quelimane. Secção de Expediente.
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1973 - Agência de Quelimane. Aspetos Exteriores do Edifício.
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1973 – Agência de Quelimane. Controlo de Assinaturas.
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1973 - Agência de Quelimane. Entrada Principal.
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