Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
0% acharam este documento útil (0 voto)
219 visualizações171 páginas

Análise Matemática I - Adérito L. M. Araújo

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1/ 171

Análise Matemática I

Adérito Luís Martins Araújo


Notas de apoio às aulas de Análise Matemática I da Licenciatura em
Física, do Mestrado Integrado em Engenharia Física e do Mestrado Inte-
grado em Engenharia Biomédica da Faculdade de Ciências e Tecnologia
da Universidade de Coimbra, no ano lectivo de 2019/2020.
Figura da capa: “Elipse Lace”, de Susan McBurney, 2005.
Fonte: www.bridgesmathart.org/art-exhibits/jmm09/mcburney.html.
Conteúdo

1 Funções reais de variável real 1


1.1 Definição de função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Funções injectivas e sobrejectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Monotonia, paridade e periodicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.4 Função inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.5 Mini-atlas de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.6 Curvas em coordenadas paramétricas e em coordenadas polares . . . . . . . 12
1.6.1 Curvas em coordenadas paramétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.6.2 Curvas em coordenadas polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.7 Factores de escala (∗) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.8 Exercícios práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

2 Cálculo diferencial 31
2.1 Noção de limite de uma função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2 Funções contínuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.3 Função derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.4 Teoremas fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.5 Aplicações da derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.5.1 Indeterminações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.5.2 Extremos e concavidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.5.3 Derivação implícita e taxas relacionadas . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.5.4 Aproximações lineares e diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.5.5 Tangente a uma curva em coordenadas paraméticas ou polares . . . 61
2.5.6 Método de Newton (∗) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.6 Exercícios práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

3 Cálculo integral 79
3.1 Primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.1.1 Primitivas imediatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.1.2 Primitivação por partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
3.1.3 Regras práticas para primitivar funções trigonométricas e hiperbólicas 85
3.1.4 Primitivação de funções racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
3.1.5 Primitivação por substituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
3.2 Integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
3.2.1 Noção de área de uma figura plana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
3.2.2 Definição de integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.2.3 Propriedades do integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.2.4 Valor médio de uma função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.2.5 O teorema fundamental do cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

i
CONTEÚDO ii

3.2.6 Integração por partes e por substituição . . . . . . . . . . . . . . . . 104


3.3 Integrais impróprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
3.4 Aplicações do cálculo integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
3.4.1 Cálculo de áreas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114
3.4.2 Comprimentos de curvas planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
3.4.3 Volumes de sólidos de revolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
3.4.4 Outras aplicações do cálculo integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
3.5 Fórmula do trapézio (∗) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
3.6 Exercícios práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

4 Equações diferenciais 139


4.1 Modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
4.1.1 Crescimento de uma população . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
4.1.2 Movimento de uma mola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
4.2 Caso geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
4.3 Campo de direcções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
4.4 Equações separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
4.5 Crescimento e decaimento exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
4.6 Equação logística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
4.7 Equações lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
4.8 Método de Euler (∗) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
4.9 Exercícios práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154

Bibligrafia 165

A Tabela de primitivas imediatas 167


Capítulo 1

Funções reais de variável real

1.1 Definição de função


Fenómenos naturais, como o movimento dos corpos, a vaporização da água sob a acção do
calor, a passagem de uma corrente eléctrica num condutor, a germinação de uma semente,
o exercício de direitos políticos pelos cidadãos, etc, são regidos, normalmente, por leis que
podem ser de dois tipos: leis qualitativas ou leis quantitativas. Estes dois tipos de leis não
podem ser rigidamente separados; a utilidade da distinção está em que a lei acentua, por
vezes, um ou outro aspecto da realidade. Vejamos alguns tipos de leis.

Primeira lei de Johannes Kepler (1571–1630). Cada planeta descreve, em torno do Sol,
uma elipse da qual o Sol ocupa um dos focos.

Lei da gravitação de Isaac Newton (1642–1727). Entre dois corpos desenvolve-se uma força
atractiva que é directamente proporcional ao produto das suas massas e inversamente
proporcional ao quadrado da distância que os separa.

Primeira lei da Psicologia Funcional de Édouard Claparède (1873–1940). Toda a necessi-


dade tende a provocar reacções próprias e dar-lhes satisfação.

Lei da queda dos graves de Galileu Galilei (1564–1642). Para todo o corpo em queda
livre no vácuo, as alturas de queda são inversamente proporcionais aos quadrados
dos tempos de queda.

Destas quatro leis, a primeira e a terceira podem ser consideradas leis qualitativas,
enquanto que a segunda e a quarta são consideradas leis quantitativas.
Na maioria das leis, o tipo dominante, é qualitativo ou quantitativo? A história da
ciência dá a essa pergunta uma resposta nítida: à medida que a realidade se vai conhecendo
melhor, o primado tende a pertencer ao tipo quantitativo. Não é a ciência, no seu avanço,
que tende a pôr de parte a qualidade. Isso seria absurdo, uma vez que as qualidades
traduzem as relações de interdependência dos seres uns com os outros, e a interdependência
é, precisamente, uma das características essenciais da realidade. Mas a ciência não se ocupa
apenas a descrever, empreende também a tarefa de explicar e, nesta, há um facto que se
impõe com uma força cada vez maior: para se obter as explicações para as variações de
qualidade há que aprofundar o estudo das variações de quantidade.
É natural que, de coisa tão importante para o entendimento da realidade como é a lei
quantitativa, surja também o conceito próprio para o seu estudo. Em que consiste, afinal,
a lei? Na forma de correspondência entre conjuntos. Se, por consequência, queremos

1
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 2

estudar leis quantitativas, temos que “criar” um instrumento matemático cuja essência seja
a correspondência de dois conjuntos.
A primeira coisa a fazer, para tornar esse instrumento facilmente manejável, é arranjar
uma representação simbólica para os conjuntos e a totalidade dos seus elementos.

Definição 1.1 (Variável). Seja A um conjunto qualquer, finito ou infinito, e conven-


cionemos representar qualquer um dos seus elementos por um símbolo, por exemplo
x. A esse símbolo, representativo de qualquer dos elementos de A, chamamos variável
e a A o seu domínio.

Voltemos ao exemplo da lei da queda dos graves. Como foi dito, esta consiste na
correspondência do conjunto dos tempos para o conjunto dos espaços. Seja t a variável
do conjunto dos tempos T e s a variável do subconjunto S do conjunto dos espaços E,
correspondência que sabemos unívoca, no sentido t 7→ s (a cada t corresponde um e um
só s). Diremos que a variável s é uma função da variável t e escrevemos, simbolicamente,
s = f (t).

Definição 1.2 (Função). Seja x uma variável representativa de um conjunto D e


y uma variável representativa de um conjunto Cd ⊆ Cc . Diz-se que y é função de
x, e escreve- -se y = f (x), se entre as duas variáveis existir uma correspondência
unívoca no sentido x 7→ y. Usa-se também a notação

f : D −→ Cc
x 7−→ y = f (x).

A x chama-se variável independente, a y variável dependente, ao conjunto D chama-se


domínio de f , a Cc conjunto de chegada e a

Cd = {f (x) : x ∈ D}

chama-se contradomínio.

Não se deve confundir f com f (x) pois enquanto f é uma função, f (x) é apenas o
valor que a função f assume no ponto x. Por vezes afirma-se: “seja f a função definida
por f (x) = · · · ” ou até “seja f (x) = · · · a função ...”. São abusos de linguagem que iremos
cometer ao longo do curso.
Simbolicamente temos as seguintes equivalências:
f : A −→ B é função ⇔ ∀x1 , x2 ∈ A, f (x1 ) 6= f (x2 ) ⇒ x1 6= x2
⇔ ∀x1 , x2 ∈ A, x1 = x2 ⇒ f (x1 ) = f (x2 )
⇔ ∀x ∈ A, ∃1 y ∈ B : y = f (x).
Seja f uma função de domínio A e conjunto de chegada B. O gráfico de f é o conjunto
graf f = {(x, y) ∈ A × B : y = f (x)}
= {(x, f (x)) : x ∈ A} .
Notemos que o gráfico de f é sempre o mesmo, qualquer que seja o conjunto B que con-
tenha o contradomínio de f . A representação geométrica (ou gráfico) de f é qualquer
representação geométrica dos pontos de graf f . É fácil, raciocinando geometricamente, ver
quando é que uma figura é ou não a representação gráfica de alguma função.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 3

Definição de função Injectivade


5 10
Função
Não função 5

0 0
y

y
-5 Injectiva
Não injectiva
-5 -10
-2 -1 0 1 2 -2 -1 0 1 2
x x
Paridade Funções inversas
10 25

20
5
15
0
y

y 10
-5 y = f(x)
Par 5
Ímpar y = f-1(x)
-10 0
-2 0 2 0 5 10 15 20 25
x x

Figura 1.1: Tipos de funções.

1.2 Funções injectivas e sobrejectivas


Como já é sabido, uma função de domínio A é dita injectiva se a pontos diferentes do
domínio A corresponderem imagens diferentes no conjunto de chegada. Simbolicamente
temos:

f : A −→ B é injectiva ⇔ ∀x1 , x2 ∈ A, f (x1 ) = f (x2 ) ⇒ x1 = x2


⇔ ∀x1 , x2 ∈ A, x1 6= x2 ⇒ f (x1 ) 6= f (x2 ).

Em termos gráficos, a injectividade pode ser vista Figura 1.1.


Uma função de domínio A é dita sobrejectiva se qualquer ponto do conjunto de chegada
pertencer ao contradomínio. Simbolicamente temos:

f : A −→ B é sobrejectiva ⇔ ∀y ∈ B, ∃x ∈ A : f (x) = y.

Em termos gráficos não é possível concluir qual é o conjunto de chegada (só podemos
saber qual o contradomínio) e, como tal, não é possível concluir da sobrejectividade de
uma função.

1.3 Monotonia, paridade e periodicidade


Vamos, a partir de agora, considerar apenas funções reais de variável real, isto é funções
reais de domínio D ⊆ R.

A função f diz-se crescente (estritamente crescente) se para todo o x1 , x2 ∈ D, x1 < x2


implica f (x1 ) ≤ f (x2 ) (f (x1 ) < f (x2 )). Do mesmo modo, f diz-se decrescente (estritamente
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 4

decrescente) se para todo o x1 , x2 ∈ D, x1 < x2 implica f (x1 ) ≥ f (x2 ) (f (x1 ) > f (x2 )).
Uma função f diz-se constante se f (x1 ) = f (x2 ), para todo o x1 e x2 no seu domínio, e
limitada se existir um M > 0 tal que |f (x)| < M , para todo o x pertencente ao seu domínio.

Outra noção importante é a de paridade. Diz-se que uma função f de domínio D ⊆ R


centrado na origem é par, se e só se, para todo x ∈ D, f (−x) = f (x) e ímpar se e só se,
para todo o x ∈ D, f (−x) = −f (x). Notemos que se f é par, o seu gráfico é simétrico em
relação ao eixo dos yy. Se f é ímpar, o seu gráfico é simétrico em relação à origem (ver
Figura 1.1).

São muitas as aplicações práticas em que o conceito de periodicidade é relevante. Daí a


importância da noção de função periódica. Uma função f é periódica em D ⊆ R se existir
um T 6= 0 tal que, para todo o x ∈ D, f (x + T ) = f (x). Simbolicamente temos:

f : D −→ R é periódica ⇔ ∃T 6= 0 : ∀x ∈ D, f (x + T ) = f (x).

A T nessas condições chama-se período da função f . Se T é um período positivo de f e é


inferior a todos os outros períodos positivos de f , então a T chama-se período fundamental
de f . Prova-se facilmente que se uma função f tiver período T então tem período kT , com
k ∈ Z. Assim, se tivermos o gráfico de uma função periódica de período T , ele coincide
com o gráfico da função que se obtém translaccionando a origem para o ponto (kT, 0).

Seja f uma função definida num intervalo de amplitude T . A extensão periódica de f é


a função fp que satisfaz, para todo o x ∈ R,

fp (x + kT ) = f (x), k ∈ Z.

Se uma função tiver período T podemos reduzi-la a uma função de período L através
da mudança de escala
L
y = ωx, ω=
T
e escrever f em termos de y: f (x) = f (y/ω).
Outra mudança de variável interessante consiste em transformar uma função definida
num intervalo [a, b] numa função definida num intervalo [c, d]. Essa mudança é efectuada
por uma função φ tal que
φ : [a, b] −→ [c, d]
x 7−→ y = φ(x).
A forma mais simples de definir φ consiste em considerar a recta que passa pelos pontos
(a, c) e (b, d). Essa recta é dada por

d−c
y =c+ (x − a).
b−a
Assim, se quisermos transformar uma função f definida no intervalo [a, b], sendo x a variável
que percorre esse intervalo, teremos que efectuar a mudança de variável
b−a
x=a+ (y − c)
d−c
e considerar  
b−a
f (x) = f a+ (y − c) .
d−c
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 5

1.4 Função inversa

Definição 1.3 (Função inversa). Seja f uma função injectiva com domínio D e
contradomínio Cd . Uma função g de domínio Cd e contradomínio D diz-se inversa
de f se
f (g(y)) = y, ∀y ∈ Cd
e
g(f (x)) = x, ∀x ∈ D.

Notemos que, para que a função inversa de f esteja bem definida, f tem que ser
sobrejectiva e injectiva. De facto, se f não fosse injectiva isso queria dizer que existiam
x1 6= x2 ∈ D tais que f (x1 ) = f (x2 ) = y. Mas isso seria equivalente a afirmar que existiria
y ∈ Cd tal que g(y) = x1 6= x2 = g(y), o que contraria o facto de g ser uma função. Logo,
para que uma função tenha inversa, ela tem que ser bijectiva.
Uma função que tenha inversa diz-se invertível. Se uma função for invertível, então tem
uma única inversa que é representada por f −1 . Para que f −1 exista é necessário que a
cada y ∈ Cd corresponda um e um só elemento x ∈ D (correspondência biunívoca).
Analisemos agora qual a relação existente entre os gráficos de f e de f −1 . Sabemos que

y = f (x) ⇔ x = f −1 (y).

Assim, o ponto P = (a, b) está no gráfico de f se e só se Q = (b, a) está no gráfico de f −1 .


Podemos então dizer que os gráficos de f e f −1 são simétricos um do outro em relação à
recta y = x (ver Figura 1.1). Podemos também pensar de outra maneira. Se “trocarmos
os papéis" do eixo dos xx com o eixo dos yy, passamos do gráfico de uma função f para
o gráfico da sua inversa (caso exista).

Consideremos f (x) = x2 , com domínio R e contradomínio R+ 2


0 . Resolvendo y = x em

ordem a x obtemos x = ± y. Esta função não é injectiva e, como tal, não possui inversa.
No entanto, se considerarmos f definida em R+
0 obtemos a função injectiva

f : R+0 −→ R+
0
x 7−→ y = x2 ,

cuja inversa é f −1 (x) = x.

Podemos definir a seguinte regra para o cálculo da inversa: para determinar a inversa
de uma função y = f (x), tenta resolver-se a equação em ordem a x; se a solução
é única, podemos definir a função inversa. Como teste para a invertibilidade de uma
função temos o seguinte: uma função f só é invertível se cada linha horizontal
intersectar o gráfico de f no máximo num ponto.

Mostra-se facilmente que se f é uma função invertível, estritamente monótona em D ⊆


R, então f −1 também é estritamente monótona em Cd = f (D) e o sentido da monotonia
é o mesmo.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 6

1.5 Mini-atlas de funções


Vamos, agora, rever algumas classes de funções de grande utilidade prática.

Funções polinomiais. Se a0 , a1 , . . . , an forem números reais, uma função polino-


mial tem a forma
f : D −→ R
x 7−→ f (x) = an xn + an−1 xn−1 + · · · + a1 x + a0 .

Podemos tomar para D qualquer subconjunto de R. Como casos particulares das


funções polinomiais temos a função constante (n = 0), a função linear ou afim
(n = 1) e a função quadrática (n = 2).

Funções racionais. Sejam P (x) e Q(x) dois polinómios. As funções racionais são
funções do tipo
f : D −→ R
P (x)
x 7−→ f (x) = .
Q(x)
Podemos tomar para D qualquer subconjunto de R onde Q não se anule.

Funções irracionais. Seja P (x) um polinómio. As funções do tipo

f : D −→ R p p
q
x 7−→ f (x) = P (x) ,

com p, q ∈ N, são ditas irracionais. O seu maior domínio será R, se q for ímpar, e
{x ∈ R : P (x) ≥ 0}, se q for par.

Função exponencial. Se p, q ∈ Z e q 6= 0 então ap/q , a ∈ R+ , tem uma definição


elementar. Se x é um número irracional então a definição de ax pode ser dada
como se segue: se xn = pqnn for o termo geral de uma sucessão de números racionais
convergente para x, então ax é o limite (que existe sempre) da sucessão de termo
geral axn . Temos assim que para todo o a > 0 é possível definir a função exponencial
de domínio R que a cada x ∈ R associa ax .

Note-se que, quando a > 1 a função é estritamente crescente e quando a < 1 a função é
estritamente decrescente (ver Figura 1.2). No caso a = 1 a função é, obviamente, constante.
Quando a base da exponencial é o número de Napier, assim chamado em homenagem ao
matemático John Napier (1550–1617), isto é, quando a = e, sendo
 
1 n
e = lim 1 + ≈ 2,718281828459045 . . . ,
n→∞ n

temos a chamada função exponencial natural. O número de Napier é denotado por e em


homenagem ao matemático suíço Leonhard Euler (1707–1783), que foi o primeiro a estudar
aprofundadamente as suas propriedades. A e também se chama, muitas vezes, número de
Euler.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 7

Funções exponenciais Funções logarítmicas


8 2
exp(x)
6 exp(-x) 0

4 -2
y

y
2 -4 ln(x)
log(x)
0 -6
-2 -1 0 1 2 1 2 3 4
x x
Outras funções exponenciais Outras funções logarítmicas
5 4

4 2x 2
(1/2)x
3 0
y

2 y -2
log2 (x)
1 -4 log1/2 (x)
0 -6
-2 -1 0 1 2 1 2 3 4
x x

Figura 1.2: Funções exponenciais e logarítmicas.

A função exponencial natural também é denotada por exp(·). Prova-se que


 x n
ex = lim 1 + .
n→∞ n
Lembremos as seguintes propriedades da função exponencial:

ax+y = ax ay , (ax )y = axy .

Função logarítmica. Como a função ax , a > 0 e a 6= 1, é injectiva podemos definir


a sua inversa na forma
y = ax ⇔ x = loga y,
função a que chamamos logaritmo na base a. Assim, a função logaritmo na base a
é definida por
loga : R+ −→ R
x 7−→ y = loga x,
onde y = loga x ⇔ ay = x.

Como casos particulares temos a função logaritmo na base 10

y = log x ⇔ 10y = x

e a função logaritmo natural ou neperiano (base e)

y = ln x ⇔ ey = x.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 8

Recordemos as seguintes propriedades da função logaritmo:


 
x
loga (xy) = loga x + loga y, loga = loga x − loga y, loga xy = y loga x.
y
Recordemos, também, a fórmula de mudança de base
ln x
loga x = .
ln a
A Figura 1.2 dá-nos a representação gráfica da função logarítmica quando a > 1 e
a < 1. Notemos que os gráficos são simétricos um do outro em relação ao eixo dos xx.

Funções f (x)g(x) . As funções exponencial e logarítmica permitem definir a função


f (x)g(x) , com f e g duas funções. Por definição

f (x)g(x) = eg(x) ln f (x) ,

onde e é o número de Euler. Isto significa que f (x)g(x) só está definida se


f (x) > 0. Nalgunscasos particulares que não exijam esta definição, como é o caso de
p p
f (x)p/q = q f (x) , com p e q inteiros positivos, o domínio pode ser alargado.

Funções trigonométricas directas. Estas funções são de importância fundamen-


tal em todas as áreas científicas e tecnológicas. Pode provar-se, por exemplo, que,
em certas condições, todas as funções periódicas se podem escrever como somas de
senos e cossenos. As restantes funções trigonométricas podem ser definidas à custa
das funções seno e cosseno da seguinte forma:
sen x cos x 1 1
tg x = , cotg x = , sec x = , cosec x = .
cos x sen x cos x sen x

As fórmulas fundamentais que relacionam a função seno com a função cosseno são:
 π
cos2 x + sen2 x = 1 e cos x = sen x + .
2
Outras fórmulas importantes são:

sen (x + y) = sen x cos y + sen y cos x, cos (x + y) = cos x cos y − sen x sen y,

A partir destas fórmulas, pode provar-se que:


1. (a) sen 2x = 2 sen x cos x;
(b) cos 2x = cos2 x − sen2 x;
(c) sen2 x = 21 (1 − cos 2x);
(d) cos2 x = 12 (1 + cos 2x);

2. (a) sen x cos y = 12 (sen (x + y) + sen (x − y));


(b) cos x cos y = 21 (cos (x + y) + cos (x − y));
(c) sen x sen y = 21 (cos (x − y) − cos (x + y)).
tg x + tg y
3. tg (x + y) = .
1 − tg x tg y
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 9

Funções circulares Funções circulares inversas


3 4
sin(x) arc sin(x)
2 3
cos(x) arc cos(x)
1 2

0 1
y

y
-1 0

-2 -1
-3 -2
-10 -5 0 5 10 -1 -0.5 0 0.5 1
x x
Outras funções circulares Outras funções circulares inversas
8 2
6
4 1

2
0
y

0 y
-2 -1
sec(x) arc sec(x)
-4 tg(x) arc tg(x)
-6 -2
-1 0 1 2 3 -4 -2 0 2 4
x x

Figura 1.3: Funções trigonométricas directas e inversas.

Funções trigonométricas inversas. Como as funções trigonométricas directas


não são injectivas, não podem ser invertidas no seu domínio. Assim, para definir
a função inversa de uma função trigonométrica temos que considerar uma restrição
desta função a um intervalo no qual possa ser considerada bijectiva.
Consideremos a função y = sen x. Para que a função seno seja invertível, considera-
se a sua restrição ao intervalo [− π2 , π2 ], sendo a sua inversa a função arco cujo o seno
ou, de forma abreviada, arco seno, definida por

arc sen : [−1, 1] −→ [− π2 , π2 ]


x 7−→ y = arc sen x,

onde y = arc sen x ⇔ sen y = x, − π2 ≤ y ≤ π2 .


Consideremos a função y = cos x. Pelas mesmas razões apresentadas anteriormente,
vamos considerar a sua restrição ao intervalo [0, π] e definir a função arco cujo o
cosseno ou, de forma abreviada, arco cosseno, da forma

arc cos : [−1, 1] −→ [0, π]


x 7−→ y = arc cos x,
onde y = arc cos x ⇔ cos y = x, 0 ≤ y ≤ π.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 10

De igual modo se podem definir as funções inversas das funções tangente, cotangente,
secante e cossecante:
1. y = arc tg x ⇔ tg y = x, − π2 < y < π2 ;
2. y = arc cotg x ⇔ cotg y = x, 0 < y < π;
3. y = arc sec x ⇔ sec y = x, 0 < y < π;
4. y = arc cosec x ⇔ cosec y = x, − π2 < y < π2 .
Existem fórmulas que relacionam as funções trigonométricas inversas. Por exemplo:
  √ !
x 1 + x2
arc tg x = arc sen √ = arc cosec ;
1 + x2 x
π
arc tg x + arc cotg x = arc sen x + arc cos x = arc cosec x + arc sec x = .
2

Funções hiperbólicas directas. As expressões exponenciais

ex − e−x ex + e−x
e
2 2
ocorrem com muita frequência nas aplicações da matemática às ciências e à enge-
nharia. Nesse sentido, é útil atribuir-lhes uma designação específica. Por razões que
não iremos explicitar, convencionou-se chamar função seno hiperbólico a

ex − e−x
sh x = , ∀x ∈ R,
2
e função cosseno hiperbólico a

ex + e−x
ch x = , ∀x ∈ R.
2

A função cosseno hiperbólico é usada para descrever a forma de um cabo ou corrente


flexível, de densidade uniforme, cujas extremidades se encontram fixas à mesma altura. O
problema de descrever matematicamente a forma da curva formada por um fio suspenso
entre dois pontos e sob a ação exclusiva da gravidade foi proposto por Galileu Galilei
(1564–1642), que conjecturou que essa curva seria um arco de parábola. Aos 17 anos
de idade, Christiaan Huygens (1629–1695) mostrou, em 1946, que a conjectura era falsa.
Em 1690, Johann Bernoulli (1667–1748) relançou o problema à comunidade científica. A
resolução do problema foi publicada independentemente em 1691 por Gottfried Wilhelm
Leibniz (1646–1716), Huygens e o próprio Bernoulli. A curva obtida
x
y = a ch , a ∈ R,
a
é chamada catenária (da palavra latina catena que significa corrente).
A chamada fórmula fundamental da trigonometria hiperbólica resulta imediatamente das
definições das funções seno hiperbólico e cosseno hiperbólico e é dada por:
ch2 x − sh2 x = 1.
Também se prova facilmente que:
sh (x + y) = sh x ch y + sh y ch x e ch (x + y) = ch x ch y + sh x sh y.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 11

Funções hiperbólicas Funções hiperbólicas inversas


5 3
4 2
3
1
2
0
y

y
1
-1
0 sh(x) arg sh(x)
-1 ch(x) -2 arg ch(x)
-2 -3
-2 0 2 -4 -2 0 2 4
x x
Outras funções hiperbólicas Outras funções hiperbólicas inversas
2 4
3
1 2
1
0
y

y 0

-1 sech(x) -1 arg sech(x)


th(x) -2 arg th(x)
-2 -3
-4 -2 0 2 4 -0.5 0 0.5
x x

Figura 1.4: Funções hiperbólicas directas e inversas.

Tal como para as funções circulares, podemos também definir a função tangente hiper-
bólica, a função cotangente hiperbólica, a função secante hiperbólica e a função cossecante
hiperbólica da seguinte forma:
sh x ch x 1 1
th x = , coth x = , sech x = , cosech x = .
ch x sh x ch x sh x

Funções hiperbólicas inversas. Podemos também definir as funções hiperbólicas


inversas.
Como a função seno hiperbólico é injectiva, a sua inversa é definida como sendo a
função argumento seno hiperbólico dada por

arg sh : R −→ R
x 7−→ y = arg sh x,

onde y = arg sh x ⇔ sh y = x.
Como a função cosseno hiperbólico não é injectiva, considera-se a sua restrição
ao intervalo R+0 , e define-se a sua inversa como sendo a função argumento cosseno
hiperbólico dada por

arg ch : [1, +∞[ −→ R+ 0


x 7−→ y = arg ch x,

onde y = arg ch x ⇔ ch y = x, y ∈ R+
0.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 12

De igual modo se podem definir as funções inversas das funções tangente hiperbólica,
cotangente hiperbólica, secante hiperbólica e cossecante hiperbólica:

1. y = arg th x ⇔ th y = x;

2. y = arg coth x ⇔ coth y = x, y 6= 0;

3. y = arg sech x ⇔ sech y = x, 0 ≤ y;

4. y = arg cosech x ⇔ cosech y = x, y 6= 0.

Pode provar-se que:


 √ 
1. (a) arg sh x = ln x + x2 + 1 ;
 √ 
(b) arg ch x = ln x + x − 1 ,
2 x ≥ 1.
q 
1+x
2. (a) arg th x = ln 1−x , |x| < 1;
q 
1+x
(b) arg coth x = ln 1−x , |x| > 1;
 √ 
1+ 1−x2
(c) arg sech x = ln x , 0 < x ≤ 1;
 q 
1 1
(d) arg cosech x = ln x + 1+ x2 .
√   
x
3. (a) arg sh x = sgn (x) arg ch 1 + x2 = arg th √1+x 2
;
√ 
(b) arg ch x = arg sh x2 − 1 , x ≥ 1.

1.6 Curvas em coordenadas paramétricas e em coordenadas


polares
Suponhamos que temos uma curva no plano cartesiano xy que não é intersectada em
mais do que um ponto por qualquer recta vertical x = c. Esta curva, como se sabe, é a
representação geométrica de uma função de expressão y = f (x), x ∈ I ⊆ Df , com Df
o domínio de f . No entanto, curvas como a circunferência ou a elipse, por exemplo, não
satisfazem esta condição. Para estes casos particulares, poderia pensar-se numa forma
implícita, através de uma relação entre x e y do tipo f (x, y) = 0. Como é sabido, uma
circunferência de centro na origem e raio r admite a representação implícita da forma
x2 + y 2 = r2 . Mas a representação implícita não é suficiente para abarcar todos os casos.
Por outro lado, essa representação, nem sempre é a mais conveniente. Nesta secção vamos
apresentar dois métodos para descrever curvas planas.

1.6.1 Curvas em coordenadas paramétricas


Sejam f, g : I ⊆ R −→ R. O conjunto C dos pontos P do plano para os quais existe pelo
menos um real t ∈ I tal que P pode ser definido em coordenadas cartesianas por (f (t), g(t))
chama-se curva em coordenadas paramétricas. Essa curva pode ser representada por

C = {(f (t), g(t)) ∈ R2 : t ∈ I}.


CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 13

Às equações 
x = f (t)
, t ∈ I, (1.1)
y = g(t)
chamamos equações paramétricas da curva definidas à custa do parâmetro t.

Suponhamos que que a função x = f (t) admite uma função inversa t = f −1 (t) num
intervalo I ⊆ R. Neste caso, é evidente que y pode ser expresso como função de x na forma
y = g(f −1 (t)), t ∈ I. Por exemplo, a curva em coordenadas paramétricas

x=t
, t ∈ I,
y = g(t)

tem por conjunto de pontos o gráfico da função g. Isto significa que tudo o que for dito
para curvas em coordenadas paramétricas é, em particular, verdadeiro para gráficos de
funções reais de variável real. O inverso, no entanto, não é verdadeiro.

As curvas dadas pelas equações paramétricas são frequentemente usadas na mecânica.


Nesse caso, o parâmetro t é interpretado como sendo o tempo e a curva C como a trajectória
no plano de um ponto material, isto é, a sua posição no plano ao longo do tempo.

Exercício 1.1. Determine a equação da trajectória e o ponto de impacto de um corpo


pesado lançado de um avião deslocando-se à velocidade horizontal v0 à altitude y0
(pode-se desprezar a resistência do ar).

Resolução: Suponhamos que o corpo é largado do avião no instante t = 0. O desloca-


mento horizontal do corpo será um movimento uniforme à velocidade constante v0 ,
isto é
x = v0 t.
O deslocamento vertical do corpo por acção da gravidade exprime-se pela fórmula

gt2
y = y0 − .
2
As duas equações anteriores definem as equações paramétricas da trajectória. Consi-
derando, na primeira equação t = vx0 e substituindo na segunda, obtemos a equação
da trajectória na forma
g
y = y0 − 2 x 2 ,
2v0
que é a equação de uma parábola cujo vértice é o ponto (0, y0 ) e o eixo de simetria
coincidente com o eixo dos yy. Para determinar a abcissa xi do ponto de impacto ,
resolve-se a equação
g
0 = y0 − 2 x2i
2v0
q
e obtém-se xi = v0 2yg0 .
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 14

Exercício 1.2. Suponhamos um projéctil lançado com velocidade inicial de módulo


v0 segundo uma direcção que faz um ângulo α com a horizontal. Desprezando a
resistência do ar, determine a trajectória do projéctil e o ponto em que este atinge
o solo.

Resolução: Suponhamos que o projéctil é lançado no instante t = 0 e que, nessa altura se


encontra no ponto (0, 0). Como o vector velocidade inicial tem componente horizontal
v0 cos α e componente vertical v0 sen α, o deslocamento horizontal do projéctil é dado
por
x = (v0 cos α)t.
O deslocamento vertical tem que também ter em conta a acção da gravidade e é dado
por
gt2
y = (v0 sen α)t − .
2
Tal como no exercício anterior, é fácil de ver que a trajectória do projéctil é um arco
de parábola. Para determinar a abcissa xi do ponto de impacto, resolve-se primeiro
a equação
gt2
0 = (v0 sen α)ti − i ,
2
que nos dá o tempo
2v0 sen α
ti =
g
em que o projéctil atinge o solo e, finalmente, calcula-se a abcissa do ponto de impacto
fazendo
2v 2 v2
xi = (v0 cos α)ti = 0 cos α sen α = 0 sen 2α.
g g

Notemos que as equações paramétricas de uma curva não são únicas. Por exemplo, as
equações paramétricas
 
x=z x = w3 √ √
e
3 3
z 2 , z ∈ [−2, 4], w 6 , w ∈ [− 2, 4],
y = 4 −1 y = 4 −1

representam a mesma curva.

Exercício 1.3. Mostre que


 
x = (t − 2)2 x = u2
, t ∈ [0, 5], e , u ∈ [−2, 3],
y =t−2 y=u

representam a mesma curva.

Resolução: De facto, ambas as equações paramétricas definem a semi-parábola x = y 2 ,


y ∈ [−2, 3].
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 15

Vamos considerar a representação paramétrica de duas curvas importantes. A primeira


é chamada astróide e é a curva traçada por um ponto situado numa circunferência de raio r
que gira, sem deslizar, internamente a um círculo de raio 4r (ver Figura 1.5). As equações
paramétricas do astróide são dadas por

x = r cos3 t
, t ∈ [0, 2π[.
y = r sen3 t
2
Se elevarmos ambos os membros destas equações à potência 3 e adicionando-os, obtemos
2 2 2 2 2 2
x 3 + y 3 = r 3 (cos2 t + sen2 t) ⇔ x 3 + y 3 = r 3 .

Astróide
1.5

0.5

0
y

-0.5

-1

-1.5
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x

Figura 1.5: Astróide com r = 1.

A segunda é chamada ciclóide e é a curva traçada por um ponto situado numa circun-
ferência de raio r que gira, sem deslizar, ao longo de uma linha recta (ver Figura 1.6). As
equações paramétricas da ciclóide são dadas por

x = r(t − sen t)
, t ∈ R.
y = r(1 − cos t)

A ciclóide é uma curva que possui duas propriedades surpreendentes e que contribuíram
para dar resposta a alguns problemas célebres.

A curva tautócrona ou isócrona (do grego tauto – que significa, tal como iso, igual – e
chronos – que significa tempo) é a curva ao longo da qual um corpo sem velocidade inicial
e apens sujeito à força da gravidade chega a um ponto mais baixo sempre no mesmo inter-
valo de tempo, independentemente do seu ponto de partida. No século XVII, Christiaan
Huygens (1629–1695), quando procurava construir relógios com precisão superior à daque-
les que utilizavam pêndulos convencionais, descobre e demostra por processos geométrico
que a ciclóide invertida é tautócrona. Por outras palavras, um pêndulo que se desloca ao
longo de uma ciclóide invertida apresenta um período de oscilação que não depende da
amplitude do movimento. A prova foi publicada em 1673 em seu célebre tratado Horo-
logium Oscillatorium, o mais importante livro de mecânica escrito antes dos Philosophiae
Naturalis Principia Mathematica, de Isaac Newton (1642–1727), publicado em 1687.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 16

Ciclóide
8

y
0

-2

-4

-6
0 5 10 15
x

Figura 1.6: Ciclóide com r = 1 e θ ∈ [−π, 5π].

Outra surpreendente propriedade da ciclóide foi descoberta por Johann Bernoulli (1667–
1748), em 1696, quando pesquisava o problema da braquistócrona (do grego brakhisto –
que significa o mais curto – e chronos – que significa tempo), ou seja, o de encontrar a
trajetória que minimiza o tempo gasto por um corpo, partindo do repouso e sujeito apenas
à ação da gravidade, para ir de um ponto a outro, em níveis diferentes e não situados
sobre a mesma vertical. Bernoulli descobriu que a curva braquistócrona é, também, um
arco invertido de ciclóide. Entusiasmado, decidiu proclamar a sua descoberta na Acta
Eruditorum de Leipzig, em Junho de 1696, e desafiar publicamente os melhores matemáticos
do mundo, dando-lhes 6 meses para que apresentassem soluções para o problema, após o
que ele publicaria sua própria. Em Janeiro de 1697, apenas Gottfried Wilhelm Leibniz
(1646–1716) lhe comunicara ter chegado à solução, mas pedia um adiamento do prazo até
à Páscoa para uma maior divulgação da questão junto do meio científico, o que terá sido
aceite. Acabariam por ser apresentadas cinco soluções em 1697: a do próprio, a do seu tio
Jakob Bernoulli (1654–1705), a de Leibniz, a de Marquis de l’Hospital (1661–1704) e uma,
sob anonimato, no jornal da Royal Society (e que seria a de Isaac Newton, com este veio a
reconhecer). Algum tempo depois, lendo-a, Johann Bernoulli não teve a menor dúvida de
que somente um homem na Inglaterra teria sido capaz daquela façanha. Arrebatado pelo
génio de Newton, consta-se que Bernoulli terá dito: “Pelas garras se conhece o leão”.

Ciclóide invertida

3
2.5
2
1.5
1
y

0.5
0
-0.5
-1

-6 -5 -4 -3 -2 -1 0
x

Figura 1.7: Ciclóide invertida: x = −(t − sen t), y = −(1 − cos t), t ∈ [π, 2π].
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 17

1.6.2 Curvas em coordenadas polares


Até ao momento para definir a posição de um ponto P no plano utilizámos as chamadas
coordenadas cartesianas, que nos dão a posição de P em relação a um sistema de eixos
coordenados. A abcissa e a ordenada de P são distâncias orientadas relativamente aos eixos
coordenados. Vamos ver agora (à semelhança do que é feito para os números complexos) que
é possível representar a posição de P num outro sistema de coordenadas, ditas coordenadas
polares.

Fixemos um ponto O do plano, designado por pólo ou origem e uma semi-recta com
origem em O designada por eixo polar. Depois de estabelecer uma unidade de comprimento,
podemos associar a cada ponto P do plano um par (ρ, θ), onde ρ é a distância de O a P
e θ é a medida do ângulo orientado, medido em radianos, cujo lado inicial é o eixo polar e
o segundo lado a semi-recta de origem em O e que passa por P . Esta segunda semi-recta
é chamada semi-recta θ. Como habitualmente, convencionaremos que valores positivos de
θ são marcados no sentido anti-horário e que valores negativos são marcados no sentido
horário.

O traçado de curvas em coordenadas polares simplifica-se se admitirmos que ρ possa


tomar valores negativos. Para tal, há que dar uma definição precisa sobre o que se entende
por (ρ, θ), com ρ ∈ R.

Definição 1.4 (Coordenadas polares). O ponto P tem coordenadas polares (ρ, θ) se


a distância de P à origem é |ρ| e o ponto P se encontra sobre a semi-recta θ, se
ρ > 0 ou sobre a semi-recta θ + π, se ρ < 0.

Notemos que, ao contrário do que acontece no sistema de coordenadas cartesianas, no


sistema de coordenadas polares o mesmo ponto admite muitas representações. De facto, o
ponto de coordenadas (ρ, θ) pode ser representado por qualquer um dos pares (ρ, θ + 2π),
(ρ, θ − 4π), (−ρ, θ + π), (−ρ, θ − 3π). No entanto, se considerássemos apenas valores não
negativos para ρ e 0 ≤ θ < 2π, então a cada ponto do plano, com excepção do pólo,
corresponde um par bem determinado de números ρ e θ. Para o pólo ρ = 0 e θ é arbitrário.

Estabeleçamos agora a relação entre as coordenadas polares e as coordenadas carte-


sianas. Suponhamos que a origem do sistema ortonormado de coordenadas cartesianas
xy coincide com o pólo e o sentido positivo dos xx com o eixo polar, sendo considerada
a mesma unidade de comprimento. Se o ponto P tiver coordenadas polares (ρ, θ), as
coordenadas cartesianas são tais que
x y
cos θ = , sen θ = ,
ρ ρ
ou seja
x = ρ cos θ, y = ρ sen θ.
Para ρ > 0 a propriedade anterior é óbvia mas, para ρ < 0 ela também se verifica. Inver-
samente, se o ponto P tiver coordenadas cartesianas (x, y), então
y
ρ2 = x2 + y 2 , tg θ = .
x
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 18

Exercício 1.4. Represente (ρ, θ) = (2, π3 ) em coordenadas cartesianas.


Resolução: Temos que x = 2 cos π3 = 1 e y = 2 sen π3 = 3.


Exercício 1.5. Represente (x, y) = (−1, 3) em coordenadas polares.

Resolução: Se escolhermos ρ > 0 temos que ρ = 2. Então


√ 2π
tg θ = − 3 ⇒ θ = + kπ, k ∈ Z.
3

Como o ponto está no segundo quadrante, se escolhermos θ ∈ [0, 2π[, temos θ = 3 .
Para ρ = −2 e θ ∈ [0, 2π[, deveremos considerar θ = 5π
3 .

O exemplo anterior mostra que, quando se pretende passar de coordenadas cartesianas


para polares há que prestar atenção ao quadrante em que o ponto se encontra.

Definição 1.5 (Curva em coordenadas polares). Uma curva em coordenadas polares


ρ = f (θ) ou, mais genericamente, F (ρ, θ) = 0 é o lugar geométrico dos pontos do
plano que têm pelo menos pelo menos uma representação (ρ, θ) cujas coordenadas
satisfazem a equação.

Note-se que uma curva em coordenadas polares da forma ρ = f (θ), θ ∈ R, pode ser
escrita em coordenadas paramétricas na forma

x = f (θ) cos θ
, θ ∈ R.
y = f (θ) sen θ

Exercício 1.6. Exprima em coordenadas polares a equação das curvas:

1. x = 2; 2. x2 + y 2 = 1; 3. x2 − y 2 = 4; 4. (x − 1)2 + y 2 = 1.

Resolução: Para a primeira curva temos que ρ cos θ = 2, para a segunda ρ2 = 1 e


para a terceira ρ2 (cos2 θ − sin2 θ) = 4, o que é equivalente a escrever ρ2 cos(2θ) = 4.
Finalmente, para a quarta equação, que representa uma circunferência de raio 1
centrada no ponto (1, 0), tem-se ρ(ρ − 2 cos θ) = 0, o que é equivalente a escrever
ρ = 2 cos θ.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 19

Exercício 1.7. Identifique as seguintes curvas expressas em coordenadas polares e


escreva as suas equações em coordenadas cartesianas:

1. ρ = 2; 2. θ = 1; 3. ρ = sen θ.

Resolução: Como ρ representa a distância do ponto genérico da curva à origem, a


primeira equação, ρ = 2, representa, obviamente, uma circunferência centrada na
origem com raio 2, isto é, a curva dada (implicitamente) pelas coordenadas cartesianas
x2 + y 2 = 4. A segunda curva contém todos os pontos (ρ, θ) com θ = 1 e, como tal,
representa a recta que passa pela origem e que forma o ângulo de 1 radiano com o
eixo polar. A sua equação em coordenadas cartesianas é y = tg 1 x. Finalmente,
para a curva ρ = sen θ, como sen θ = yρ , tem-se que
 
y 2 2 2 2 1 2 1
ρ= ⇔ρ =y ⇔x +y =y ⇔x + y− = ,
ρ 2 4

que representa a circunferência de centro em (0, 21 ) e raio 21 .

Exercício 1.8. Mostre que a curva ρ = 1/(1 + e cos θ) corresponde à secção cónica
com excentricidade e: circunferência se e = 0, elipse se 0 < e < 1, parábola se e = 1
e hipérbole se e > 1.

Resolução: O caso e = 0 já foi considerado. Os restantes casos são deixados como


exercício e os gráficos podem ser vistos na Figura 1.8.

Cónicas
3
e=0,5
e=1
e=2
2

-1

-2

-3
-3 -2 -1 0 1 2 3 4

Figura 1.8: Cónicas correspondente ao Exercício 1.8.


CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 20

Exercício 1.9. Identifique a curvas expressa em coordenadas polares por ρ = θ,


θ ≥ 0.

Resolução: A curva contém os pontos da forma (ρ, ρ), ρ ≥ 0, ou seja os pontos do


plano tais que a sua distância ao pólo é igual ao ângulo, em radianos, entre o eixo po-
lar e o segmento que o liga à origem. Esta curva tem o nome de espiral de Arquimedes,
em homenagem ao matemático, físico, engenheiro, inventor e astrónomo grego
Arquimedes de Siracusa (287 a.C.–212 a.C.). Note-se que ( π2 , π2 ) e ( π2 , 5π
2 ) repre-
sentam o mesmo ponto mas só o primeiro satisfaz a equação da espiral. A expressão
geral da espiral de Arquimedes é dada por ρ = a + bθ, com θ ≥ 0 e a, b ∈ R.

Espiral de Arquimedes
15

10

0
y

-5

-10

-15

-20
-20 -10 0 10 20
x

Figura 1.9: Espiral de Arquimedes ρ = θ, 0 ≤ θ ≤ 6π.

Certas curvas têm equações mais simples em coordenadas polares do que em coordena-
das cartesianas (por exemplo, a circunferência). Daí o interesse do estudo do seu traçado
gráfico. Dada uma equação polar da forma F (ρ, θ) = 0, traçar a curva correspondente
consiste em representar geometricamente o conjunto

C = {(ρ, θ) : F (ρ, θ) = 0}.

Note-se que a diferentes pares ordenados de C pode corresponder o mesmo ponto no


plano. Esta observação permite pensar em representar a curva fazendo variar o parâmetro
θ em intervalos mais restritos do que os impostos pelas expressão de F . Por exemplo,
se F (ρ, θ + 2π) = λF (ρ, θ), com λ 6= 0, para todo o ρ e todo o θ, então basta tomar
θ ∈ [0, 2π[; se F (−ρ, θ + π) = λF (ρ, θ), com λ 6= 0, para todo o ρ e todo o θ, então basta
tomar θ ∈ [0, π[.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 21

Muitas vezes, para traçar algumas curvas, ajuda estudar as suas eventuais simetrias.
Para isso, é útil considerar o seguinte teste de simetria. Seja C uma curva de equação
F (ρ, θ) = 0.

1. Se a equação polar não mudar quando θ é substituído por −θ (ou quando ρ


é substituído por −ρ e θ por π − θ), a curva é simétrica em relação ao eixo
polar.

2. Se a equação não mudar quando θ é substituído por π − θ (ou quando ρ é


substituído por −ρ e θ por −θ), a curva é simétrica em relação à recta vertical
θ = π2 .

3. Se a equação não mudar quando θ é substituído por π + θ (ou quando ρ é


substituído por −ρ), a curva é simétrica em relação ao pólo. Isto significa que
a curva permanece inalterada se a girarmos π radianos ao redor do pólo.

Exercício 1.10. Estude as seguintes curvas quanto às suas simetrias e esboce os


seus gráficos: 1. ρ = 1 + sen θ; 2. ρ = cos 2θ.

Resolução: Comecemos por considerar ρ = 1 + sen θ. Neste caso, a curva tem equação
polar
F (ρ, θ) = ρ − 1 − sen θ.
Como
F (ρ, θ + 2π) = ρ − 1 − sen(θ + 2π) = ρ − 1 − sen θ = F (ρ, θ),
basta estudar a curva para θ ∈ [0, 2π[. Por outro lado,

F (ρ, π − θ) = ρ − 1 − sen(π − θ) = ρ − 1 − sen θ = F (ρ, θ)

e, como tal, a curva é simétrica relativamente à recta vertical θ = π2 . Assim sendo,


poderemos considerar θ ∈ [0, π2 ] ∪ [ 3π
2 , 2π[. Determinando alguns pontos da curva,
facilmente se chega ao gráfico do cardióide dado na Figura 1.10.

Cardióide
2.5

1.5

1
y

0.5

-0.5
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x

Figura 1.10: Cardióide ρ = 1 + sen θ.


CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 22

Consideremos agora a equação polar

F (ρ, θ) = ρ − cos 2θ.

Como
F (ρ, θ + 2π) = ρ − cos 2(θ + 2π) = ρ − cos 2θ = F (ρ, θ),
basta estudar a curva para θ ∈ [0, 2π[. Por outro lado,

F (ρ, θ + π) = ρ − cos 2(θ + π) = ρ − cos 2θ = F (ρ, θ)

e, como tal, a curva é simétrica relativamente ao pólo. Assim sendo, poderemos


considerar θ ∈ [0, π2 ] ∪ [ 3π
2 , 2π[. Temos ainda que

F (ρ, −θ) = F (ρ, θ)

e, como tal, a curva é simétrica relativamente ao eixo polar. Basta assim considerar
o intervalo θ ∈ [0, π2 ] e o resto da curva traça-se por simetria. Determinando alguns
pontos da curva, obtemos o gráfico da rosa de quatro pétalas que pode ser visto na
Figura 1.11.

Rosa de quatro pétalas


1.5

0.5

0
y

-0.5

-1

-1.5
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x

Figura 1.11: Rosa de quatro pétalas ρ = cos 2θ.

Um dos problemas mais complicados que se coloca quando trabalhamos com coordena-
das polares é o da determinação dos pontos de intersecção de curvas. Já vimos que se pode
ter F (ρ, θ) = 0 e F (ρ, θ + 2π) 6= 0 ou F (−ρ, θ + π) 6= 0. Isto é, o ponto de coordenadas
polares (ρ, θ) pode satisfazer a equação da curva sem que os seus pares (ρ, θ + 2π), etc, que
representam o mesmo ponto no plano, satisfaçam a equação da curva.

Considere-se, por exemplo, a intersecção das curvas ρ = r(1 − cos θ) e ρ = r(1 + cos θ),
com r 6= 0 (os dois cardióides representados na Figura 1.12 quando r = 1). Somando
membro a membro vemos facilmente que ρ = r. Substituindo nas equações, concluímos
que cos θ = 0, ou seja, θ = π2 + kπ, k ∈ Z. Assim, temos como pontos de intersecção os
pontos r, π2 + kπ , k ∈ Z. Mas serão esses todos os pontos de intersecção? Note-se que
(0, 0) satisfaz ρ = r(1 − cos θ) e (0, π) satisfaz ρ = r(1 + cos θ). Temos então que uma
mesma representação do pólo não satisfaz as duas equações simultaneamente.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 23

Cardióides
1.5
ρ=1-cos(θ)
ρ=1+cos(θ)
1

0.5

y -0.5

-1

-1.5
-2 -1 0 1 2
x

Figura 1.12: Intersecção de curvas em coordenadas polares.

1.7 Factores de escala (∗)


Muitos aspectos da vida dos seres vivos são determinados pelas suas dimensões. É fácil
encontrar exemplos que mostram que muitas propriedades biológicas dependem de grande-
zas geométricas, tais como o comprimento, área e volume. Vamos considerar alguns desses
exemplos, seguindo, de muito perto, a referência [5].
Comecemos por analisar as relações de grandeza nos sólidos geométricos. Como é
sabido, um cubo de aresta a tem como área da sua superfície A = 6a2 e volume V = a3 .
Numa esfera de raio r, temos que a área da sua superfície é dada por A = 4πr2 e o seu
volume por V = 43 πr3 . Uma relação que salta imediatamente à vista, e que pode ser
generalizada para todos os sólidos regulares, é a seguinte: se l representar a dimensão
linear característica de um dado sólido regular (a medida da aresta, no cubo, e do raio, na
esfera), temos que a sua superfície é proporcional ao quadrado de l e o seu volume ao seu
cubo, isto é,
A = ka l 2 , V = kv l 3 , ka , kv ∈ R.
Temos assim que a relação entre o volume e a superfície de um dado sólido é proporcional
à dimensão linear característica desse sólido, ou seja,
V
= kl, k ∈ R.
S
A aplicação destas Leis de Escala ao estudo de algumas características dos seres vivos
revela-se de grande interesse. Se estivermos interessados em comparar propriedades ou
funções de diversos organismos, ainda que de forma muito aproximada, podemos tomar
como comprimento característico uma dimensão típica desse organismo. Por exemplo, no
caso dos humanos, algumas grandezas que poderiam ser usadas como dimensão caracte-
rística seriam a altura, o comprimento do braço ou da perna. Já no caso de uma célula,
poder-se-ia pensar, em analogia com a esfera, no seu raio.

Robustez. Em condições normais o peso humano é proporcional ao seu volume, pelo que
um aumento da altura numa pessoa (dimensão linear característica) implica um aumento
do seu volume de um factor cúbico. Já quanto à força máxima que um ser humano consegue
desenvolver, ela é proporcional ao quadrado da sua dimensão característica. A questão que
se coloca é a seguinte: entre dois indivíduos com a mesma constituição física e alturas
diferentes, quem tem mais robustez física?
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 24

Para isso, há necessidade de definir robustez. Por definição, a robustez é dada pela
relação entre carga máxima levantada e o próprio peso, isto é,
carga máxima que levanta C
F = = .
peso próprio P
Consideremos dois atletas de constituição semelhante mas de alturas distintas
L1 > L2 . Como a constituição é semelhante, podemos assumir que a densidade de ambos
é semelhante e, como tal, a sua massa específica ρ também é. Assim sendo, os seus pesos
são dados por
P1 = ρV1 g = ρkv L31 g, P2 = ρV2 g = ρkv L32 g,
onde g representa a aceleração da gravidade e kv a constante de proporcionalidade entre o
volume e o comprimento característico.
Por outro lado, a carga máxima c que um animal é capaz de suportar é proporcional à
área da secção recta dos seus músculos. Ora, a secção recta de um músculo pode ser aproxi-
mada por um círculo e o raio desse círculo é proporcional à dimensão linear característica.
Assim sendo,
C1 = kc L21 , C2 = kc L22 ,
onde kc é a constante de proporcionalidade, considerada igual pois os atletas têm a mesma
constituição física.
Podemos agora medir a robustez de ambos os atletas. Temos que
kc L21 k kc L22 k
F1 = 3 = , F2 = 3 = ,
ρkv L1 g L1 ρkv L2 g L2
com
kc
k= ,
ρkv g
ou ainda
F1 L2
= .
F2 L1
Concluímos então que a robustez física é inversamente proporcional à altura e, como tal,
ela é maior no atleta mais baixo.

Doses de fármacos. A administração de fármacos carece de precauções inerentes à


sua própria natureza. A dose a administrar prende-se com a eficácia terapêutica que se
pretende. No entanto, a determinação dessa dose tem em conta a massa corporal do
indivíduo.
Consideremos uma criança com altura Lc = 1 m e um adulto com altura La = 1,7 m.
A relação entre a altura da criança e a altura do adulto é
Lc
= 0,59.
La
Se fosse esse o valor utilizado no cálculo da dose de um determinado fármaco a adminis-
trar a uma criança a partir da dose de um adulto cometer-se-ia um erro por excesso de
aproximadamente três vezes.
A relação correcta a utilizar deve ser dada pelas massas. Se considerarmos que a massa
específica da criança e do adulto são aproximadamente iguais, então a relação entre as
suas massas pode ser aproximada pela relação entre os seus volumes que, por sua vez, são
proporcionais aos cubos das suas alturas. Assim, o valor obtido para a relação entre os
volumes e, consequentemente, para as doses de fármaco a administrar à criança é
 3
Vc kL3c Lc 1
= 3
= = = 0,2.
Va kLa La 1,73
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 25

Limitação das dimensões de uma célula. Suponhamos que uma célula em cresci-
mento aumenta a sua dimensão característica (o seu raio) para o dobro entre dois instantes
de tempo distintos. Por outras palavras, suponhamos que uma célula de raio R1 no instante
de tempo t1 aumenta o seu raio para R2 = 2R1 no instante de tempo t2 .
As necessidades de oxigénio da célula são proporcionais à sua massa e ao seu volume
mas a quantidade de oxigénio que atravessa a membrana celular depende, entre outros
factores (natureza da membrana, diferenças de concentração entre o meio intra e extra
celular), da área total da membrana. Assim, a relação entre a necessidade de oxigénio da
célula entre os dois instantes t1 e t2 é dada por
 3
necessidade de oxigénio no instante t2 kv R23 R2
= = = 8,
necessidade de oxigénio no instante t1 kv R13 R1

enquanto que a relação entre a quantidade de oxigénio que atravessa a célula entre os dois
instantes t1 e t2 é dada por
 2
quantidade de oxigénio no instante t2 ks R22 R2
= = = 4.
quantidade de oxigénio no instante t1 ks R12 R1

Assim, a quantidade de oxigénio que é difundido para o interior da célula não acompanha
o aumento da necessidade da célula.
Definindo o factor de viabilidade Z de uma célula pela relação
quantidade de oxigénio obtida por minuto
Z=
necessidade de oxigénio por minuto
temos que
ks R 2 k
Z= 3
= ,
kv R R
sendo R o raio da célula num dado instante e k uma constante de proporcionalidade.
Podemos, então, concluir que, à medida que a dimensão característica da célula aumenta,
a sua viabilidade diminui.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 26

1.8 Exercícios práticos

Exercício 1.11. (∗) Identifique as seguintes definições e depois negue-as:

1. ∃ l ∈ R ∧ ∃ L ∈ R : ∀x ∈ Df , l < f (x) < L;

2. ∀x ∈ A ∃ y ∈ B : f (x) = y ∧ ∀x1 , x2 ∈ A, x1 = x2 ⇒ f (x1 ) = f (x2 );

3. ∀x1 , x2 ∈ A, x1 < x2 ⇒ f (x1 ) < f (x2 );

Exercício 1.12. Simplifique as seguintes expressões, onde a ∈ ❘+ \ {1}:


1 1
9 − x−2 x − 5 x2 − 2x − 8 x3 − 9x
1. ; 2. 1 1 ; 3. ; 4. ;
3 − x−1 x2
− 25
x3 − x2 − 2x x2 − 7x + 12

5. 52−log5 x ; 6. 32 log3 (x+1) ; 7. 63 log6 2−2 log6 3 ; 8. a(2−loga x)/3 ;


√  2
9. a(2−loga x)/3 ; 10. aloga 2+loga x ; 11. log4 4x x 4 ; 12. e−2 ln x .

Exercício 1.13. Determine o domínio de definição das seguintes funções:


r
3x + 1 1 1−x
1. f (x) = ; 2. g(x) = ; 3. h(x) = ;
4−x (x + 2)(x − 5) 1+x

4. i(x) = 2 + x − x2 ; 5. j(x) = ln(x2 − 4); 6. k(x) = 3sen(x+1) − 2.

Exercício 1.14. Determine o domínio e a expressão analítica da aplicação g ◦ f ,


sendo:
√ 1
1. f (x) = x e g(x) = ;
x2 −1

 log (x + 1), x > −1
2. f (x) =| x | e g(x) = 0, x = −1 .
 1
x , x < −1

1
Exercício 1.15. Sendo f (x) = e g(x) = 2x + 3, determine os domínios e as
x+1
expressões analíticas de: 1. f + g; 2. f × g; 3. f /g.

Exercício 1.16. Determine o contradomínio de


π

1. 1 + 2 cos x; 2. sen x − 2; 3. tg x + 1; 4. cos x − 4 ; 5. ch x − 1.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 27

Exercício 1.17. Esboce os seguintes gráficos, assinalando os zeros e os vértices da


parábola:
1. f (x) = x2 + 2x + 1; 2. g(x) = x2 − 5x2 + 6; 3. h(x) = −x2 + 7x − 12.

Exercício 1.18. Represente graficamente as funções dadas por:



 −x − 5, x < −4
1. f1 (x) = 2, −4 ≤ x < 2 ; 2. f2 (x) = 1 + |x|;

−2, x≥2
 2
 x , x < −1,  1
x, x < −1,
3. f3 (x) = −1, −1 ≤ x < 1 ; 4. f4 (x) = ;
 1, x ≥ −1
x, x ≥ −1
 √
/ Z+
x, x > 0 ∧ x ∈ 0 .
5. f5 (x) = +
1, x ∈ Z0

Exercício 1.19.

1. Sendo f (x) = αx2 + 5x + α, determine α de modo que f (x) > 0, ∀x ∈ R.


p
2. Sendo f (x) = βx2 + 3x + 2β + 1, determine β de modo que f (x) + 2 tenha
por domínio R.

Exercício 1.20. A partir do gráfico da função seno, cosseno ou tangente, represente


graficamente as seguintes funções:

1. f (x) = | cos(2x)|; 2. g(x) = | sen x|; 3. h(x) = cos |x|;

4. i(x) = 3 tg x; 5. j(x) = 2 + tg(x + π4 ); 6. k(x) = 2 sen( x+π


6 ).

Exercício 1.21. Investigue quais das funções são pares e quais são ímpares:

x3 − x p
1. y = |x + 1|; 2. y = ; 3. y = |1 − x2 |; 4. y = | ln |x||;
x2 + 1
 √ 
5. y = sen x3 ; 6. y = ecos x ; 7. y = log x + 1 + x2 ; 8. y = cos(sen(x));

9. y = ch x; 10. y = sh x; 11. y = th x; 12. y = sech x.

Exercício 1.22. Diga, justificando, quais das seguintes funções são limitadas:

2
1. f (x) = x, x ∈ [0, 126]; 2. g(x) = x, x ∈ R; 3. h(x) = , x ∈ R.
cos x − 7
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 28

Exercício 1.23. Determine o domínio, contradomínio, paridade e período funda-


mental de:

1. sen (2x); 2. tg (3x); 3. cos2 x; 4. 2 − 2 sen(5x); 5. tg x + sen x.

Exercício 1.24. Determine, se possível, a inversa de cada uma das seguintes fun-
ções:
√ 2x x
1. y = 2x + 3; 2. y = 2 + x + 1; 3. y = − 1; 4.
3 2−x
x
5. y = arc tg 3x; 6. y = ln ; 7. y = 3sen(x+1) − 2; 8. y = ch x.
2

Exercício 1.25. Simplifique as seguintes expressões:

1. sen(arc cos 53 ); 2. sen(arc tg 2); 3. cos(arc sen 15 );



4. arc cos(sen 5π
4 ); 5. sen(arc sen 18 ); 12
6. sen arc sen 13 + arc sen 45 .

Exercício 1.26. Resolva as seguintes equações, em R:

1 1 2x2 1 1 1 1 3
1. + = 2 ; 2. + = 2 ; 3. = ;
x−1 x+1 x −1 x x+1 x +x x−1 2x − 4
√ √ √
4. 3x + 1 = 2x; 5. x + 1 − 3 = x − 2; 6. ex+2 − 4x2 ex = 0;

1
7. log3 x = + log9 (4x + 15); 8. x log (x + 2) − x = 0; 9. sen x = − 21 ;
2
2 −5x 1
10. 7x x2 − 5x7x + 6 7x = 0; 11. (x2 − 4) log3 x = 0; 12. 2x = ;
64

13. cos (2x) = 0; 14. 2 sen x + 3 = 0; 15. tg (2x) = −1;

16. sen x = cos x; 17. cos x = − cos (2x); 18. ch x − 2 = sh x.

Exercício 1.27. Resolva as seguintes inequações, em R:

x−3
1. x2 − 4 < 0; 2. ≥ 0; 3. −x2 + 6x − 20 < 0;
1−x

4. | x2 − 4 |≤ 1; 5. | x − 1 |> x; 6. | x − 1 | − | 2x + 4 |> 1;

x2 − 7x + 12
7. ≥ 0; 8. (x2 − 1) log2 x < 0; 9. (x − 13) log 1 x < 0.
x2 − 5x 2
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 29

Exercício 1.28.

1. Mostre que as equações


 
x = r cos t x = r sen u
, t ∈ [0, 2π], e , u ∈ [0, 2π],
y = r sen t y = r cos u

são equações paramétricas da circunferência de equação cartesiana


x2 + y 2 = r 2 .

x = r cos t
2. Mostre que , t ∈ [0, π], são equações paramétricas de uma semi-
y = r sen t
circunferência de centro na origem e raio r.

Exercício 1.29.

x = a cos t
1. Mostre que as equações , t ∈ [0, 2π], são equações paramétricas
y = b sen t
x2 y2
da elipse de equação cartesiana a2
+ b2
= 1.

2. Identifique a curva que se obtém quando se considera: (a) t ∈ [0, π];


(b) t ∈ [0, 4π].

3. Defina outras equações paramétricas da elipse de equação cartesiana


2
x2
a2
+ yb2 = 1.

Exercício 1.30. Elimine o parâmetro nas equações que se seguem e esboçe a curva
que elas representam:
 
x = 2 cos t x = 2 cos t
1. , t ∈ [0, 2π] ; 2. , t ∈ [0, π] ;
y = 5 sen t y = 5 sen t
 
x = sec t x = sec t
3. , t ∈ [π, 3π
2 [ ; 4. , t ∈ [0, π]\{ π2 };
y = tg t y = tg t
 
x = t2 x=t−2
5. , t ≥ 1; 6. , t ∈ [0, 5].
y = 2 ln t y = 2t + 3

Exercício 1.31. Determine as coordenadas cartesianas dos pontos com as seguintes


coordenadas polares:

1. (−2, 4 π3 ); 2. (2, − π2 ); 3. (0, −π); 4. (− 2, − π4 ); 5. (3, π).

Exercício 1.32. Determine


√ as coordenadas polares dos pontos definidos em coorde-
nadas cartesianas por (− 3, −1) e (1, −1) de três formas com:

1. ρ ≥ 0 e 0 ≤ θ < 2π; 2. ρ ≥ 0 e −π ≤ θ ≤ π; 3. ρ ≤ 0 e 0 ≤ θ ≤ 2π.


CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 30

Exercício 1.33. Exprimindo-a em coordenadas cartesianas, identifique a curva:

π 6
1. ρ = 3; 2. θ = ; 3. ρ2 sen(2θ) = 1; 4. ρ = 2a cos θ; 5. ρ = .
3 2 − cos θ

Exercício 1.34. Esboce a região determinada em coordenadas polares pelas seguintes


desigualdades:
π π
1. 1 ≤ ρ ≤ 2, cos θ ≤ 0; 2. −1 ≤ ρ ≤ 1, ≤θ≤ .
4 2

Exercício 1.35. Exprima em coordenadas polares as seguintes equações:

1. x2 + y 2 = kx; 2. x = −3; 3. y = 3x; 4. (x2 + y 2 )2 = 2a2 xy.

Exercício 1.36. Indique as simetrias principais das seguintes curvas:


π
1. ρ = 3; 2. ρ = −4 sen θ; 3. ρ2 = 4 cos θ; 4. ρ = eθ ; 5. θ = .
4

Exercício 1.37. Mostre que as curvas curvas polares seguintes correspondem a cir-
cunferências e trace o seu gráfico:

1. ρ = 2r cos θ; 2. ρ = −2r cos θ; 3. ρ = 2r sen θ; 4. ρ = −2r sen θ.

Exercício 1.38. Esboce as curvas de equação:

1. ρ = a(1 − cos θ); 2. ρ = 3(1 − sen θ); 3. ρ = cos(2θ);

4. ρ = sen(3θ); 5. ρ = 4θ, θ ≤ 0; 6. ρ = −4 sen θ;

7. ρ = eθ , θ ≥ 0; 8. sen θ = 1; 9. ρ = θ, θ ≥ 0;

π
10. ρ = tg θ, 0≤θ< ; 11. ρ = ln θ, θ > 1.
2
Capítulo 2

Cálculo diferencial

2.1 Noção de limite de uma função


No ensino secundário é costume dar-se uma definição de limite recorrendo aos limites
de sucessões. Essa é a chamada definição de limite segundo Heine, em homenagem ao
matemático alemão Henrich Eduard Heine (1821–1881). Vamos agora introduzir uma
definição alternativa, introduzida por Augustin-Louis Cauchy (1789–1857), que é mais
conveniente para demonstrar muitos resultados teóricos.

Definição 2.1 (Limite). Seja f uma função definida num intervalo aberto contendo
o ponto a ∈ R (podendo não estar definida em a) e seja L um número real. Diz-se
que o limite de f (x) quando x tende para a é L e escreve-se

lim f (x) = L,
x→a

se e só se, para todo o ǫ > 0 podemos encontrar (pelo menos) um δ > 0 tal que,
para todo o x ∈ Df (Df é o domínio de f ), se x ∈]a − δ, a + δ[ (x =
6 a) então
f (x) ∈]L − ǫ, L + ǫ[. Simbolicamente,

∀ǫ > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df , 0 < |x − a| < δ ⇒ |f (x) − L| < ǫ.

É importante referir que primeiro consideramos o intervalo arbitrário ]L − ǫ, L + ǫ[


no eixo dos yy e então, em segundo lugar, mostramos que existe, em Df , um intervalo
]a − δ, a + δ[ do tipo exigido.

Graficamente, temos que


lim f (x) = L
x→a

se e só se, dado um intervalo ]L − ǫ, L + ǫ[ no eixo dos yy, existe um intervalo ]a − δ, a + δ[


no eixo dos xx tal que as imagens dos pontos desse intervalo, excepto, possivelmente, a
do ponto a, caiem no primeiro intervalo. Por outras palavras, dado ǫ > 0, arbitrário,
consideram-se o intervalo ]L − ǫ, L + ǫ[ no eixo dos yy e as rectas horizontais y = L ± ǫ. Se
existir um intervalo aberto ]a − δ, a + δ[ tal que, para todo o x nesse intervalo, com possível
excepção do ponto a, o ponto P = (x, f (x)) esteja entre as duas rectas horizontais, ou seja,
no rectângulo definido pelas rectas y = L±ǫ, x = a±δ, então temos que f (x) ∈]L−ǫ, L+ǫ[
e, como tal,
lim f (x) = L.
x→a

31
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 32

Note-se que

lim f (x) 6= L ⇔ ∼ [∀ǫ > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df , 0 < |x − a| < δ ⇒ |f (x) − L| < ǫ]


x→a
⇔ ∃ǫ > 0 : ∀δ > 0, ∃x ∈ Df : 0 < |x − a| < δ ∧ |f (x) − L| ≥ ǫ.

Assim sendo, para provar que o limite de f (x) quando x tende para a é diferente de L,
basta encontrar um ǫ > 0 tal que não existe um δ > 0 que verifique o pretendido. Notemos
que, para provar que o limite de f (x) quando x tende para a não existe, é preciso provar
que a definição falha para qualquer valor de L.

Vamos, de seguida, apresentar alguns resultados importantes sobre limites. Estes re-
sultados facilitarão a tarefa de calcular limites de funções. Muitos deles serão apresentados
sem demonstração; estas podem ser consultadas em várias das referências bibliográficas
apresentadas no final (por exemplo, [1, 2, 4, 3]).
No que se segue iremos considerar que as funções estão definidas em intervalos ou união
de intervalos.

Teorema 2.1. Se existir lim f (x), a ∈ R, esse limite é único.


x→a

Demonstração: A demonstração é feita por redução ao absurdo, isto é, supõem-se


que existem L1 6= L2 tais que limx→a f (x) = L1 e limx→a f (x) = L2 e chega-se à
conclusão que tal não pode acontecer. De facto, considerando um ǫ arbitrário tal que
ǫ < (L1 + L2 )/2, tem-se que:

∃δ1 > 0 : ∀x ∈ Df , 0 < |x − a| < δ1 ⇒ |f (x) − L1 | < ǫ

e
∃δ2 > 0 : ∀x ∈ Df , 0 < |x − a| < δ2 ⇒ |f (x) − L2 | < ǫ.
Então, para δ < min{δ1 , δ2 } tem-se que

L1 − ǫ < f (x) < L1 + ǫ
0 < |x − a| < δ ⇒ ,
L2 − ǫ < f (x) < L2 + ǫ

o que é absurdo pois ]L1 − ǫ, L1 + ǫ[ ∩ ]L2 − ǫ, L2 + ǫ[= ∅.

Exercício 2.1. Mostre que lim (αx + β) = αa + β, α, β ∈ R.


x→a

Resolução: Consideremos α =
6 0 (o caso α = 0 é trivial) e façamos f (x) = αx + β e
L = αa + β. Fixando um ǫ > 0 temos

|f (x) − L| < ǫ ⇔ |αx + β − αa − β| < ǫ ⇔ |α||x − a| < ǫ.

Então, escolhendo δ = ǫ/|α| temos provado o pretendido.


CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 33

O resultado seguinte, apresentado sem demonstração, diz que se o limite de uma função
for positivo, quando x tende para a, então a função tem que ser positiva num intervalo
aberto contendo o ponto a.

Teorema 2.2. Se lim f (x) = L, e L > 0 (L < 0), existe um δ > 0 tal que f (x) > 0
x→a
(f (x) < 0) para todo o x ∈]a − δ, a + δ[, excepto, possivelmente, em x = a.

Algumas regras práticas importantes para o cálculo de limites. Suponhamos que


existem os limites lim f (x), lim g(x), a ∈ R. Então, para α, β ∈ R:
x→a x→a

1. lim (αf (x) + βg(x)) = α lim f (x) + β lim g(x);


x→a x→a x→a

2. lim (f (x)g(x)) = lim f (x) lim g(x);


x→a x→a x→a

3. lim (f (x)/g(x)) = lim f (x)/ lim g(x), se lim g(x) 6= 0;


x→a x→a x→a x→a
p q
4. lim n
f (x) = n lim f (x), se n for um número inteiro e, no caso de n ser par
x→a x→a
lim f (x) ≥ 0.
x→a

Existem muitos teoremas importantes e úteis sobre limites. Iremos apenas apresentar
dois deles sem, no entanto, efectuar a sua demonstração.

Teorema 2.3 (Funções enquadradas). Se f (x) ≤ h(x) ≤ g(x) para todo o x per-
tencente a um intervalo aberto contendo o ponto a, excepto, possivelmente, em a, e
se existe um L ∈ R tal que lim f (x) = lim g(x) = L, então lim h(x) = L.
x→a x→a x→a

1
Exercício 2.2. Calcule lim x2 sen .
x→0 x

Resolução: Como
1
−x2 ≤ sen ≤ x2
x
e
lim −x2 = lim x2 = 0
x→0 x→0
1
então, pelo teorema anterior, lim x2 sen = 0.
x→0 x

Teorema 2.4 (Função composta). Se f e g são funções tais que, para a, b ∈ R,

lim g(x) = b e lim f (y) = f (b) (f contínua em b),


x→a y→b

então  
lim f (g(x)) = f (b) = f lim g(x) .
x→a x→a
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 34

Limites laterais. Um conceito importante é o de limite lateral. Por definição, diz-se


que o limite à direita de f (x) quando x tende para a é L, e denota-se por

lim f (x) = L ⇔ ∀ǫ > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df , a < x < a + δ ⇒ |f (x) − L| < ǫ


x→a+

e que o limite à esquerda de f (x) quando x tende para a é L, e denota-se por

lim f (x) = L ⇔ ∀ǫ > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df , a − δ < x < a ⇒ |f (x) − L| < ǫ.


x→a−

Tem-se que
lim f (x) = L ⇔ lim f (x) = L e lim f (x) = L.
x→a x→a+ x→a−

Pode demonstrar-se, para os limites laterais, teoremas análogos aos da secção anterior,
efectuando as devidas alterações.

Limites no infinito e limites infinitos. Existem casos em que o limite não existe mas
em que é necessário caracterizar o comportamento assimptótico de uma função. Por exem-
plo, como caracterizar o comportamento de f (x) = x1 quando x cresce indefinidamente? E
quando x tende para zero?

y = 1/x
100

50

0
y

-50

-100
-2 -1 0 1 2
x

Figura 2.1: Hipérbole y = 1/x.

Para responder a estas questões, vamos apresentar os conceitos de limite no infinito e


limite infinito.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 35

Definição 2.2 (Limites no infinito e limites infinitos).

Limites no infinito. Seja f uma função definida num intervalo ]c, +∞[⊆ R e L ∈ R.
Diz-se que

lim f (x) = L ⇔ ∀ǫ > 0, ∃M > 0 : ∀x ∈ Df , x > M ⇒ |f (x) − L| < ǫ.


x→+∞

Se f estiver definida num intervalo ] − ∞, c[⊆ R e L ∈ R, diz-se que

lim f (x) = L ⇔ ∀ǫ > 0, ∃M > 0 : ∀x ∈ Df , x < −M ⇒ |f (x) − L| < ǫ.


x→−∞

Limites infinitos. Seja f uma função definida num intervalo aberto contendo o ponto
a, podendo não estar definida em a. Diz-se que

lim f (x) = +∞ ⇔ ∀M > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df , 0 < |x − a| < δ ⇒ f (x) > M


x→a

e que

lim f (x) = −∞ ⇔ ∀M > 0, ∃δ > 0 : ∀x ∈ Df , 0 < |x − a| < δ ⇒ f (x) < −M.


x→a

Vejamos os significados geométricos destas definições. Comecemos por ver o caso dos
limites no infinito. Traçamos as rectas y = L ± ǫ. Temos que

lim f (x) = L
x→+∞

se e só se quaisquer que sejam as rectas horizontais traçadas, for possível encontrar um valor
de M > 0 tal que, para todo o x > M os pontos (x, (f (x)) estão na região compreendida
entre duas rectas.
Vejamos agora o caso dos limites infinitos. Traçamos a recta y = M . Temos que

lim f (x) = +∞
x→a

se e só se qualquer que seja a recta horizontal traçada, podemos encontrar um intervalo


]a − δ, a + δ[ tal que todos os pontos desse intervalo, com possível excepção do ponto a, são
transformados por f em pontos por cima da recta.

Exercício 2.3. Seja k um número racional positivo e c um número real arbitrário


diferente de zero. Mostre que
c c
lim =0 e lim = 0,
x→+∞ xk x→−∞ xk

desde que xk seja sempre definido.

Resolução: Vamos considerar apenas o caso em que x → +∞; o outro caso resolve-se
de forma análoga. Seja ǫ > 0 arbitrário. Pretende-se mostrar que
c

∃M > 0 : x > M ⇒ k < ǫ.
x
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 36

Temos, sucessivamente que


c |c|  1/k
k k |c| |c|
k < ǫ ⇔ x > ⇔ |x| > ⇔ |x| > .
x ǫ ǫ ǫ
 1/k
Tomando M = |c| ǫ temos que se x > M então xck < ǫ, o que prova o
pretendido.

Suponhamos que lim f (x) = +∞, lim g(x) = L, a ∈ R. Então, para α, β ∈ R:


x→a x→a

1. lim (αf (x) + βg(x)) = +∞ se α > 0 e lim (αf (x) + βg(x)) = −∞ se α < 0;
x→a x→a

2. se L > 0 então lim (f (x)g(x)) = +∞ e lim (f (x)/g(x)) = +∞;


x→a x→a

3. se L < 0 então lim (f (x)g(x)) = −∞ e lim (f (x)/g(x)) = −∞;


x→a x→a

4. lim (g(x)/f (x)) = 0.


x→a

O teorema das funções enquadradas também pode ser usado para limites no infinito.
Por exemplo, para calcular
x − cos x
lim
x→+∞ x
podemos começar por considerar
x−1 x − cos x x+1
≤ ≤
x x x
e, uma vez que
x+1 x−1
lim = lim =1
x→+∞ x x→+∞ x
x − cos x
se verifica, usar o teorema das funções enquadradas para obter lim = 1.
x→+∞ x
Temos, finalmente, o seguinte teorema, que apresentamos sem demonstração, para um
tipo de limite infinito mas que também é válido para os restantes casos.

Teorema 2.5 (Função composta). Se f e g são funções tais que, para a, L ∈ R,

lim g(x) = +∞ e lim f (x) = L


x→a y→+∞

então
lim f (g(x)) = L.
x→a

2.2 Funções contínuas


Ao chegarmos à definição de limite, enfatizámos a restrição x 6= a e apresentámos exemplos
que evidenciavam o facto de lim f (x) poder existir mesmo que a função não fosse definida
x→a
em x = a. Vimos também casos em que f está definida no ponto a e lim f (x) existe mas
x→a
é diferente de f (a).
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 37

Definição 2.3 (Função contínua). Uma função f , definida num intervalo aberto
contendo o ponto a, é contínua em a se existe lim f (x) e
x→a

lim f (x) = f (a).


x→a

Se f não é contínua em a dizemos que é descontínua em a ou que tem uma descon-


tinuidade em a.

Se uma função f é contínua em todos os pontos do intervalo ]a, b[ (finito ou não),


dizemos que f é contínua em ]a, b[ e
lim f (x) = f (a) e lim f (x) = f (b),
x→a+ x→b−
isto é, se f é contínua em ]a, b[ e contínua à direita em a e à esquerda em b dizemos que f
é contínua em [a, b].

Se f e g são funções contínuas em a, prova-se facilmente que também o são a


combinação linear αf √ + βg, com α, β ∈ R, o seu produto f g, o seu quociente f /g,
se g 6= 0, e a sua raiz n f , com a restrição f (a) > 0 se n é par.

Vejamos como resulta a aplicação do Teorema da função composta para o caso de ambas
as funções serem contínuas. Como vimos, se f for contínua em a, então
 
lim f (g(x)) = f lim g(x) .
x→a x→a
Se g também for contínua temos que
lim f (g(x)) = f (g(a)).
x→a
Vamos agora apresentar, sem demonstração, dois importantes resultados relativos a
funções contínuas. O primeiro afirma que uma função real de variável real contínua aplica
intervalos em intervalos e o segundo que toda a função contínua, definida num intervalo
fechado, tem nesse intervalo um ponto de máximo e um ponto de mínimo.

Teorema 2.6 (Valor intermédio). Seja f : [a, b] −→ R uma função contínua. Dado
um número y entre os valores de f (a) e f (b), existe um ponto intermédio c ∈ [a, b]
tal que f (c) = y.

Por outras palavras, o Teorema do Valor Intermédio diz que toda a função contínua,
para passar de um valor para outro, tem que passar por todos os valores intermédios. Por
outras palavras, o teorema anterior afirma que uma função real de variável real contínua
aplica intervalos em intervalos. Um importante corolário deste teorema é devido ao ma-
temático, teólogo e filósofo da antiga Boémia (actual República Checa) Bernard Placidus
Johann Nepomuk Bolzano (1781–1848) e é muito útil na localização de zeros de funções.

Corolário 2.7 (Bolzano). Se f é uma função contínua em [a, b] e f (a)f (b) < 0
então a equação f (x) = 0 tem, pelo menos, uma raiz no intervalo ]a, b[.

Note-se que, de acordo com o Teorema de Bolzano, se f (a)f (b) < 0 e a função for
contínua em [a, b], ela tem, nesse intervalo, um número ímpar de raízes.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 38

O segundo resultado garante que toda a função contínua, definida num intervalo fe-
chado, tem nesse intervalo um máximo e um mínimo absolutos. Antes de o apresentarmos,
recordemos a seguinte definição.

Definição 2.4 (Extremos). Seja f uma função de domínio D e seja c ∈ D. O valor


de f (c) diz-se máximo (mínimo) absoluto de f se f (x) ≤ f (c) (f (x) ≥ f (c)), para
todo o x ∈ D. O valor de f (c) diz-se máximo (mínimo) local ou relativo de f se existe
um intervalo aberto I contendo c tal que f (x) ≤ f (c) (f (x) ≥ f (c)), para todo o
x ∈ I. O ponto c nestas condições diz-se um maximizante (minimizante) absoluto ou
local de f .

Enunciemos agora o importante teorema, devido ao matemático alemão Karl Theodor


Wilhelm Weierstrass (1815–1897).

Teorema 2.8 (Weierstrass). Seja f : [a, b] −→ R uma função contínua. Então


existem xm , xM ∈ [a, b] tais que, para todo o x ∈ [a, b], f (xm ) ≤ f (x) ≤ f (xM ).

Note-se a importância de se considerar um intervalo fechado na definição anterior.


De facto, se considerarmos a função f (x) = 2x no intervalo [−1, 2], ela tem máximo
M = f (2) = 4 e mínimo m = f (−1) = −2. No entanto, a mesma função no intervalo
] − 1, 2[ não tem máximo nem mínimo.

Existem muitos “teoremas de Weierstrass”. Outro, muito conhecido diz o seguinte:


“Seja f uma função definida e contínua num intervalo [a, b]. Então para cada ε > 0 existe
um polinómio p definido em [a, b] tal que
max |f (x) − p(x)| < ε.”
x∈[a,b]

Este teorema diz-nos que, por mais pequeno que seja o ε escolhido, existe sempre um
polinómio p contido na faixa {(x, y) ∈ R2 : x ∈ [a, b], y ∈ [f (x) − ε, f (x) + ε]}. Por
outras palavras, este resultado permite afirmar que todas as funções contínuas podem ser
aproximadas, com a precisão desejada, por um polinómio. O que o teorema não diz é como
se calcula esse polinómio.

Funções descontínuas. Vamos terminar esta secção com uma referência às funções
descontínuas. Iremos destacar três tipos de descontinuidades que uma função f pode
assumir.

Dizemos que f possui, em a, uma:

• descontinuidade removível se existe o limite lim f (x) mas é diferente de f (a).


x→a
Também se diz que f é prolongável por continuidade em a.

• descontinuidade de primeira espécie se existirem os limites lim f (x) e lim f (x)


x→a+ x→a−
mas são diferentes, isto é, não existe o limite lim f (x).
x→a

• descontinuidade de segunda espécie se não existe, pelo menos, um dos limites


laterais lim f (x) ou lim f (x).
x→a+ x→a−
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 39

Seguem-se alguns exemplos de funções descontínuas: a função sinal



 −1, x < 0
sgn (x) = 0, x=0 ;

1, x>0
a função Heaviside 
 0, x<0
H(x) = 1/2, x = 0 ;

1, x>0
a função rectângulo 
 1, |x| ≤ 1/2
Π(x) = 1/2, |x| = 1/2 ;

0, |x| > 1/2
a função característica (“maior inteiro inferior ou igual a x”)
⌊x⌋ = n, n ≤ x ≤ n + 1, n ∈ Z;
a função mantissa (“parte decimal de x”)
M(x) = x − ⌊x⌋.
Algumas relações importantes entre estas funções são, por exemplo,
   
1 1
Π(x) = H x + −H x− , sgn (x) = 2H(x) − 1.
2 2

2.3 Função derivada


A propósito do “desenvolvimento em série”
f ′′ (x)
f (x + ∆x) = f (x) + f ′ (x)∆x + ∆x2 + · · · ,
2
observa Joseph-Louis Lagrange (1736–1813) no seu “Théorie des functions analytiques”,
1798, pp 18-19: “Esta nova expressão tem a vantagem de mostrar que os termos da série
dependem uns dos outros e, sobretudo como, desde que se forme a primeira função derivada
de uma função primitiva qualquer, se podem formar todas as funções derivadas que a série
contenha. Chamaremos à função f (x) função primitiva em relação às funções f ′ (x), f ′′ (x),
etc, que derivam dela e às quais chamaremos funções derivadas em relação aquela”. Foi
nesse trabalho que surgiu, pela primeira vez, o termo derivada (de uma função).

Definição 2.5 (Derivada). Seja f uma função definida num intervalo aberto con-
tendo o ponto a. O limite
f (x) − f (a)
lim
x→a x−a
df
quando existe chama-se derivada de f no ponto a e denota-se por f ′ (a) ou dx (a). Se
f tem derivada finita no ponto a, diz-se que f é diferenciável em a.

À razão
f (x) − f (a)
f [x, a] :=
x−a
chama-se razão incremental. Então, podemos escrever f ′ (a) = lim f [x, a].
x→a
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 40

Diz-se que uma função f é diferenciável num intervalo aberto, finito ou não, se o é para
todos os pontos desse intervalo. Uma função f é diferenciável num intervalo fechado [a, b]
se é diferenciável em ]a, b[ e se existirem as derivadas à direita de f em a e à esquerda em
b, isto é, se existirem e forem finitos os limites
f (x) − f (a) f (x) − f (b)
lim e lim .
x→a+ x−a x→b− x−b
Como é sabido, se f for uma função definida num intervalo aberto contendo o ponto a,
f ′ (a) existe se e só se existirem e forem iguais as derivadas à esquerda e à direita de f em
a.

Exercício 2.4. Mostre que a função real de variável real definida por f (x) = 3 xn ,
n = 2, 3, não é diferenciável em x = 0, mas tem derivada +∞ nesse ponto quando
n = 1 e não tem derivada quando n = 2.

Resolução: Quando n = 1 tem-se que


√ r
′ +
3
x x 1
f (0 ) = lim = lim 3 3 = lim √ = +∞,
x→0+ x x x
3
x→0+ x→0+
√ r
′ −
3
x x 1
f (0 ) = lim = lim 3 3 = lim √ = +∞
x→0 − x x→0 − x x→0−
3
x2
e, como tal, f não é diferenciável em x = 0 mas tem deriada +∞ em nesse ponto.
Quando n = 2 tem-se que

3
r
x 2 2
3 x 1
f ′ (0+ ) = lim = lim 3
= lim √ = +∞,
x→0 + x x→0 + x x→0 + 3
x2
√ 3
r
′ − x2 3 x
2 1
f (0 ) = lim = lim 3
= lim √ = −∞
x→0 − x x→0 − x x→0 − 3
x
e, como tal, f não tem derivada em x = 0. Os gráficos das funções em causa neste
exercício podem ser vistas na Figura 2.2.

0.5

0
y

-0.5
1/3
x
2/3
x
-1
-1 -0.5 0 0.5 1
x

Figura 2.2: Figuras correspondentes ao Exercício 2.4.


CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 41

Geometricamente, a derivada de uma função f num ponto a do seu domínio é o


declive (ou coeficiente angular) da recta tangente à curva y = f (x) no ponto de
abcissa a. Sendo assim, a equação da recta tangente à curva y = f (x) no ponto
(a, f (a)) é dada por
y = f (a) + f ′ (a)(x − a).
A recta normal à curva y = f (x) no ponto de abcissa a tem declive −1/f ′ (a) e, como
tal, a sua equação é dada por
1
y = f (a) − (x − a).
f ′ (a)

Se limx→a f [x, a] = ±∞, não existe f ′ (a) e a tangente à curva no ponto (a, f (a))
é vertical. Assim sendo, o gráfico de uma função diferenciável não tem tangentes
verticais em nenhum ponto.

A derivada da função também pode ser interpretada como uma taxa de variação. Supo-
nhamos que y é uma função dependente de uma variável independente x escrita na forma
y = f (x). Se x variar de x1 para x2 , a variação de x (também chamada de acréscimo de
x) é dada por ∆x = x2 − x1 e a variação de y (também chamada acréscimo de x) é dada
por ∆y = f (x2 ) − f (x1 ). À razão incremental

∆y f (x2 ) − f (x1 )
=
∆x x2 − x1
chamamos taxa de variação média de y em relação a x no intervalo [x1 , x2 ]. Geometrica-
mente, a taxa de variação média é dada pelo declive da recta secante ao gráfico de f que
passa nos pontos (x1 , f (x1 )) e (x2 , f (x2 )). A derivada, sendo o limite da taxa de variação
média quando o acréscimo em x tende para zero, pode ser visto como uma taxa de variação
instantânea.
Por exemplo, se um ponto material se mover ao longo de uma recta de acordo com a
equação s = f (t), onde s é o deslocamento do ponto a partir de um instante t inicial, a
função f descreve a função de posição do ponto material. A velocidade instantânea do
objecto no instante t = a é dada por

f (a + ∆t) − f (a)
f ′ (a) = lim .
∆t→0 ∆t
Por outras palavras, a velocidade no instante t = a é igual ao declive da recta tangente em
(a, f (a)).

Seja Df ′ o maior intervalo (ou união de intervalos) de R onde f é diferenciável. Podemos


definir a função derivada como sendo

f ′ : Df ′ −→ R
x 7−→ y = f ′ (x),

onde
f ′ (x) = lim f [x + h, x]
h→0

ou um limite lateral apropriado.


CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 42

As notações mais frequentes para a derivada de y = f (x) são

df dy
f ′, y′, , .
dx dx
Quando é preciso especificar o ponto onde a derivada é calculada usa-se

′ ′ df dy
f (a), y (a), (a), .
dx dx x=a

dy
A notação dx é devida a Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646–1716). Apesar de parecer
a razão entre duas quantidades dy e dx, ela representa um ente uno: o limite que surge na
definição de derivada. A notação f ′ (x) é devida a Joseph-Louis Lagrange (1736–1813) e é
a mais conveniente quando se pretende tratar a derivada como função. Quando a variável
independente representa o tempo, também se usa a notação ẏ, atribuída a Isaac Newton
(1642–1727).

Vamos agora apresentar alguns resultados úteis para o cálculo da derivada de uma
função.

Sejam f e g duas funções diferenciáveis e α, β ∈ R. Prova-se que:

1. (αf (x) + βg(x))′ = αf ′ (a) + βg ′ (b);

2. (f (x)g(x))′ = f ′ (x)g(x) + f (x)g ′ (x);


f ′ (x)g(x) − f (x)g ′ (x)
3. se g(x) 6= 0 então (f (x)/g(x))′ = .
g 2 (x)

Consideremos agora o seguinte resultado.

Teorema 2.9. Se uma função é diferenciável num ponto ela é contínua nesse ponto.

Demonstração: Seja f uma função real de variável real de domínio Df , diferenciável, e


seja x 6= a, com x, a ∈ Df . Então
f (x) − f (a)
f (x) = f (a) + (x − a).
(x − a)
Tomando limites temos
f (x) − f (a)
lim f (x) = f (a) + lim lim (x − a) = f (a) + f ′ (a) × 0 = f (a).
x→a x→a (x − a) x→a
Logo, f é contínua em a.

Notemos que, pelo teorema anterior, também podemos afirmar que se f não é contínua
num ponto do seu domínio então f não é diferenciável nesse ponto. O recíproco do teorema
anterior não é válido, isto é, existem funções contínuas que não são diferenciáveis. Em 1857,
o matemático alemão Karl Weierstrass apresentou, pela primeira vez, um exemplo de uma
função contínua em R mas sem derivada em qualquer ponto de R.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 43

Na Figura 2.3 podemos ver um exemplo de uma função (f (x) = |x|) que não tem
derivada no ponto x = 0 e uma função (f (x) = x2 ) diferenciável em todo o R. Note-se
que, se o gráfico de f tem um vértice em (a, f (a)), então f não é diferenciável em a. Por
outras palavras, quando o gráfico de f tem um vértice num ponto (a, f (a)), a derivada é
descontínua nesse ponto.

4
y = |x|
3.5 y = x2

2.5

2
y

1.5

0.5

0
-2 -1 0 1 2
x

Figura 2.3: Função módulo e função quadrática.

É interessante o seguinte exemplo em que a função f é contínua (mas não é diferenciável)


num ponto e não existem as derivadas laterais no ponto em questão:

x sen x1 , x 6= 0
f (x) = .
0, x=0

De facto, as derivadas laterais


f (x) − f (0) 1
lim = lim sen
x→±0 x x→±0 x
não existem. No entanto, a função

x2 sen x1 , x 6= 0
g(x) = xf (x) = ,
0, x=0

é diferenciável em x = 0 e g ′ (0) = 0. A multiplicação por x tornou a função diferenciável


e, além disso, alterou a paridade da função (de par a ímpar).

O resultado seguinte, de grande importância prática, é apresentado sem demonstração.

Teorema 2.10 (Derivada da função composta ou regra da cadeia). Seja f e g


duas funções diferenciáveis. Então a função composta f ◦ g, caso se possa definir, é
diferenciável e a sua derivada é dada por

(f (g(x)))′ = f ′ (g(x))g ′ (x).

Notemos que, se considerarmos y = f (u) e u = g(x) de modo a que y = f (g(x)), o


teorema anterior diz-nos que
dy dy du
= .
dx du dx
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 44

Exercício 2.5. Usando a regra da cadeia, calcule as derivadas de:

1. f (x) = sen2 (x); 2. g(x) = ecos(x) ; 3. h(x) = sh(ch x).

Resolução: A primeira função pode ser vista como f (x) = u2 (x) com u(x) = sen x. As-
sim, pela regra da cadeia, f ′ (x) = 2u(x)u′ (x) = 2 sen x cos x = sen(2x). Escrevendo
a segunda função na forma g(x) = eu(x) , com u(x) = cos x, temos que, pela regra da
cadeia, g ′ (x) = eu(x) u′ (x) = − sen xecos x . Finalmente, escrevendo h(x) = sh(u(x)),
com u(x) = ch x, temos que h′ (x) = ch(u(x))u′ (x) = ch(ch x) sh x.

Notemos que a composição de duas funções pode ser diferenciável mesmo que uma delas
(ou as duas) não o seja. Por exemplo, se f (x) = c, para todo o x ∈ R, com c ∈]a, b[⊆ R, e
g uma função real de variável real qualquer definida em ]a, b[, então f ◦ g e g ◦ f são funções
diferenciáveis. Mais, para a função

1, x ∈ Q
f (x) = ,
0, x 6∈ Q

que não é diferenciável em nenhum ponto do seu domínio, tem-se que f 2 = f ◦ f é uma
função constante e, como tal, diferenciável.

Vamos apresentar agora um resultado que permite calcular a derivada da inversa de


uma dada função.

Teorema 2.11 (Derivada da função inversa). Seja f :]a, b[⊆ X −→ Y uma função
invertível e f −1 : Y −→ X a sua inversa. Se f é diferenciável no ponto x0 ∈]a, b[
e f −1 é contínua em y0 = f (x0 ), então f −1 é diferenciável nesse ponto se e só se
f ′ (x0 ) 6= 0. Nesse caso
′ 1
f −1 (y0 ) = ′ −1 .
f (f (y0 ))

Demonstração: Pela regra da cadeia aplicada à função f −1 ◦ f temos que


′ ′
f −1 (f (x)) = f −1 (f (x))f ′ (x).

Ora, como f −1 (f (x)) = x, então


′
f −1 (f (x)) = 1.
′
Assim sendo 1 = f −1 (f (x))f ′ (x) e, como tal, supondo que f ′ (x) 6= 0, temos
′ 1 1
f −1 (y) = = ,
f ′ (x) f ′ (f −1 (y))

onde y = f (x).
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 45

Há uma maneira fácil de memorizar a fórmula da derivada da função inversa. Seja f


definida por y = f (x) e f −1 a sua inversa, isto é, a função tal que

f −1 (y) = f −1 (f (x)) = x.

Pelo teorema anterior



−1 ′ 1
f (y) = ′
f (x) x=f −1 (y)
ou, noutra notação,
dx 1
= dy .
dy
dx

Exercício 2.6. Mostre que:

1 1
1. (arc sen x)′ = √ , x ∈] − 1, 1[; 2. (arc cos x)′ = − √ , x ∈] − 1, 1[.
1 − x2 1 − x2

Resolução: Para o primeiro caso temos que arc sen x é a função inversa de f (x) = sen x
no intervalo [− π2 , π2 ]. Temos então que

1 1 1
(arc sen x)′ = (f −1 )′ (x) = = =p ,
f ′ (f −1 (x)) cos(arc sen x) 1 − sen2 (arc sen x)

ou seja,
1
(arc sen x)′ = √ , x ∈] − 1, 1[.
1 − x2
De forma análoga, uma vez que arc cos x é a função inversa de f (x) = cos x no
intervalo [0, π], concluí-se que
1
(arc cos x)′ = − √ , x ∈] − 1, 1[.
1 − x2

A derivada de uma função f , como vimos, conduz a outra função f ′ . Se f ′ tem derivada
denotamo-la por f ′′ e designamo-la por segunda derivada. De um modo geral, se n é um
inteiro positivo então f (n) denota a derivada de ordem n de f que se obtém partindo de f
e derivando sucessivamente f n vezes. Temos assim a fórmula recursiva
 ′
f (n) (x) = f (n−1) (x)

ou, noutra notação,

dn y d dn−1 y dn f d dn−1 f
= ou (x) = (x).
dxn dx dxn−1 dxn dx dxn−1
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 46

Uma fórmula que permite calcular imediatamente a derivada de qualquer ordem do


produto de duas funções é chamada fórmula de Leibniz. Sejam f e g duas funções admitindo
derivadas até à ordem n num intervalo I. Então a função f g também admite derivada até
à ordem n em I e

(f g)′ = f ′ g + f g ′
(f g)′′ = f ′′ g + 2f ′ g ′ + f g ′′
(f g)′′′ = f ′′′ g + 3f ′′ g ′ + 3f ′ g ′′ + f g ′′′
..
.
n  
(n)
X n
(f g) = f (n) g (n−k)
k
k=0

onde  
n n!
= ,
k k!(n − k)!
que, como se sabe, são valores que podem ser obtidos pelo chamado triângulo de Pascal

1
1 1
1 2 1
1 3 3 1
1 4 6 4 1
.. .. .. .. .. . .
. . . . . .

assim chamado em homenagem a Blaise Pascal (1623–1662). Note-se a semelhança entre


a fórmula de Leibniz e o binómio de Newton
n  
n
X n
(a + b) = ak bn−k ,
k
k=0

de quem Álvaro de Campos disse ser “tão belo como a Vénus de Milo”.

O Binómio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo.

O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó—óóóóóó óóó—óóóóóóó óóóóóóóó

(O vento lá fora.)
Álvaro de Campos, 15-1-1928

Definição 2.6. Diz-se que f : D ⊆ R −→ R é de classe C n , e denota-se por


f ∈ C n (D), com n um inteiro maior ou igual a 1, se f é n vezes diferenciável e as
derivadas f (k) , k = 1, 2, ..., n, são todas contínuas. Se f tem derivadas contínuas
de todas as ordens, diz-se de classe C ∞ e denota-se por f ∈ C ∞ (D). A notação
f ∈ C 0 (D) indica que f uma função contínua.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 47

2.4 Teoremas fundamentais


Vamos apresentar, nesta secção, cinco teoremas fundamentais do cálculo diferencial. O
primeiro teorema é devido a Pierre de Fermat (1601–1665).

Teorema 2.12 (Fermat). Seja f uma função diferenciável num intervalo aberto
contendo o ponto c. Então, se f atinge um extremo local nesse ponto podemos
concluir que f ′ (c) = 0.

Demonstração: Vamos demonstrar para o caso em que c é um ponto de máximo.


Quando c é um ponto de mínimo a demonstração é análoga. Para |h| > 0 sufici-
entemente pequeno temos que

f (c + h) − f (c)
≥ 0, se h < 0,
h
e
f (c + h) − f (c)
≤ 0, se h > 0.
h
Como f é diferenciável,

f (c + h) − f (c) f (c + h) − f (c)
0 ≤ lim = f ′ (c) = lim ≤ 0.
h→0− h h→0+ h

Note-se que, no Teorema de Fermat, é crucial considerar o intervalo aberto. De facto, se


f : [1, 2] −→ R é dada por f (x) = x, para todo o x ∈ [1, 2], os pontos m = 1 e M = 2 são,
respectivamente, pontos de mínimo e de máximo mas f ′ (1) = f ′ (2) = 1. Por outro lado, o
recíproco deste teorema também não é verdadeiro. Por exemplo, a função f (x) = x3 tem
derivada nula em x = 0 mas f (0) não é um extremo da função.

Definição 2.7 (Ponto crítico). Seja f uma função definida num intervalo aberto e
seja c um ponto desse intervalo. Dizemos que c é um ponto crítico de f se s só se
f ′ (c) = 0 ou f não é diferenciável nesse ponto.

Note-se que nem todos os pontos críticos são pontos onde a função atinge um máximo
ou um mínimo (por exemplo, f (x) = x3 , com x ∈ R). Por outro lado, há pontos onde
a função atinge um máximo ou um mínimo que não são pontos críticos (por exemplo,
f (x) = x, com x ∈ [1, 2]) e pontos críticos onde a derivada não se anula (como é o caso de
f (x) = |x|, com x ∈ R).

O Teorema de Fermat tem a seguinte formulação mais geral cuja demonstração é evi-
dente.

Teorema 2.13. Seja f uma função definida num intervalo qualquer e seja c um
ponto desse intervalo. Se f atinge um máximo ou um mínimo nesse ponto então
c é um ponto crítico de f ou c é um dos extremos do intervalo (se o intervalo for
fechado).
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 48

Como vimos, a derivada de uma função diferenciável pode não ser uma função contínua.
No entanto, as derivadas de funções diferenciáveis partilham com as funções contínuas a
propriedade dos valores intermédios O resultado seguinte, devido a Jean-Gaston Darboux
(1842–1917), pode ser visto como uma generalização do Teorema do Valor Intermédio.

Teorema 2.14 (Darboux). Seja f : [a, b] −→ R uma função diferenciável. Se


f ′ (a) 6= f ′ (b), então f ′ assume em ]a, b[ todos os valores entre f ′ (a) e f ′ (b).

Demonstração: Fixemos o caso f ′ (a) < f ′ (b) (o caso f ′ (b) < f ′ (a) prova-se de forma
análoga) e tomemos y tal que f ′ (a) < y < f ′ (b). Queremos provar que existe c ∈]a, b[
tal que f ′ (c) = y.
Seja g(x) = f (x) − yx. Então g ′ (a) = f ′ (a) − y < 0 e, pela definição de derivada,
existe c1 ∈]a, b[ tal que g(c1 ) < g(a). Analogamente, como g ′ (b) = f ′ (b) − y > 0,
existe c2 ∈]a, b[ tal que g(c2 ) < g(b). Como g é uma função contínua em [a, b], pelo
Teorema de Weierstrass existe c ∈ [a, b] onde g assume um valor mínimo. Mas, pelo
que acabou de ser dito, c 6= a e c 6= b. Então, pelo Teorema de Fermat, g ′ (c) = 0 e,
como tal, f ′ (c) = y.

O Teorema de Darboux explora a natureza mais íntima da funções diferenciáveis, de-


monstrando que se f ′ é a derivada de uma função f num dado intervalo, então ela tem a
propriedade do valor intermédio nesse intervalo, mesmo não sendo contínua. O Teorema
de Darboux não seria diferente do Teorema do Valor Intermédio se as derivadas fossem
sempre contínuas. Mas isso não é verdade. Por exemplo, a função f : R −→ R dada por
 2
x sen x1 , x 6= 0
f (x) = ,
0, x=0

tem derivada 
′ 2x sen x1 − cos x1 , x 6= 0
f (x) = ,
0, x=0
que é descontínua em x = 0 (verifique que f ′ (0) = 0).

O Teorema de Darboux tem o seguinte corolário, cuja demonstração é deixada como


exercício.

Corolário 2.15. Se f : [a, b] −→ R é uma função diferenciável, então f ′ não possui


descontinuidades de primeira espécie.

Por vezes é bastante difícil determinar os pontos críticos de uma função. Na verdade,
não há garantia que tais pontos existam. O teorema que se segue, devido ao francês
Michel Rolle (1652–1719), um dos mais acérrimos opositores do Cálculo Diferencial, dá
condições suficientes para a existência de um ponto crítico.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 49

Teorema 2.16 (Rolle). Seja f uma função contínua em [a, b] e diferenciável em


]a, b[. Se f (a) = f (b) então existe, pelo menos, um ponto c ∈]a, b[ tal que f ′ (c) = 0.

Demonstração: Como f é contínua em [a, b], o Teorema de Weierstrass garante que a


função atinge, nesse intervalo, um máximo M e um mínimo m. Se M = m, então
f é constante e, como tal, f ′ (x) = 0 para todo o x ∈]a, b[. Se M > m então pelo
menos um desses valores ocorre no interior do intervalo ]a, b[. Como f é diferenciável,
pelo Teorema de Fermat temos que a derivada se anula nesse ponto, o que prova o
pretendido.

O Teorema de Rolle tem a seguinte interpretação dinâmica: se, num movimento


rectilíneo, o ponto retorna à posição inicial, então há um instante em que a velocidade
é nula.

Do Teorema de Rolle resulta, imediatamente, o seguinte corolário.

Corolário 2.17. Seja f uma função nas condições do Teorema de Rolle. Então:

1. entre dois zeros de f existe, pelo menos, um zero da sua derivada;

2. não pode haver mais do que um zero de f inferior (superior) ao menor (maior)
zero de f ′ ;

3. entre dois zeros consecutivos de f ′ existe, quando muito, um zero de f .

O próximo teorema pode ser considerado como uma generalização do Teorema de Rolle
para o caso em que f (a) 6= f (b).

Teorema 2.18 (Valor médio de Lagrange). Se f é uma função contínua em [a, b] e


diferenciável em ]a, b[, existe, pelo menos, um ponto c ∈]a, b[ tal que

f (b) − f (a)
= f ′ (c).
b−a

Demonstração: Consideremos a função F (x) = f (x) − λx, onde λ é um valor real tal
que F (a) = F (b). Então,

f (b) − f (a)
F (a) = F (b) ⇔ f (a) − λa = f (b) − λb ⇔ λ = .
b−a
Como F é contínua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[, pelo Teorema de Rolle podemos
concluir que existe, pelo menos, um c tal que

f (b) − f (a)
F ′ (c) = 0 ⇔ f ′ (c) = λ = .
b−a
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 50

O Teorema de Lagrange tem a seguinte interpretação dinâmica: num movimento


rectilíneo há um instante em que a velocidade instantânea coincide com a velocidade
média. Este teorema também tem uma interpretação geométrica interessante: nas
condições do teorema, existe pelo menos um ponto c ∈]a, b[ tal que a tangente ao
gráfico de f em (c, f (c)) é paralela à secante à curva que une os pontos (a, f (a)) e
(b, f (b)).

Do Teorema de Lagrange resulta, imediatamente, o seguinte corolário.

Corolário 2.19. Seja f é uma função contínua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[


Então:

1. se f tem derivada nula em todos os pontos do intervalo, f é constante nesse


intervalo;

2. se g for diferenciáveis em ]a, b[ e se f ′ (x) = g ′ (x), para todo o x ∈]a, b[, então
f − g é constante em ]a, b[.

3. se f ′ (x) ≥ 0 (respectivamente, f ′ (x) ≤ 0), para todo x ∈]a, b[, então f é cres-
cente (respectivamente decrescente) em ]a, b[; se f ′ (x) > 0 (respectivamente,
f ′ (x) < 0), para todo x ∈]a, b[, então f é estritamente crescente (respectiva-
mente estritamente decrescente) em ]a, b[.

Atente-se à segunte aplicação do ponto 2 do corolário anterior. No Exercício 2.6 con-


cluímos que as funções arc sen x e − arc cos x têm a mesma derivada. Então, pelo corolário
anterior, tem-se que arc sen x = − arc cos +C, com C uma constante real. De facto, tem-se
que
π
arc sen x + arc cos x = .
2

Apresentemos, finalmente, um importante teorema devido a Augustin-Louis Cauchy


(1789–1857).

Teorema 2.20 (Cauchy). Se f e g são funções contínuas em [a, b] e diferenciáveis


em ]a, b[, então existe c ∈]a, b[ tal que

(f (b) − f (a))g ′ (c) = (g(b) − g(a))f ′ (c).

Demonstração: Seja

F (x) = (f (b) − f (a))g(x) − (g(b) − g(a))f (x).

Como F é contínua e diferenciável e F (a) = F (b) = 0, pelo Teorema de Rolle existe


c tal que F ′ (c) = 0, o que prova o resultado.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 51

2.5 Aplicações da derivada


2.5.1 Indeterminações
Quando se estudam limites encontram-se, frequentemente, expressões da forma

f (x)
lim ,
x→c g(x)

onde tanto f como g têm limite zero quando x tende para c. Em tais casos diz-se que fg(x)(x)

tem a forma indeterminada 00 (“zero sobre zero”) em x = c, uma vez que nada pode ser dito
quanto ao seu limite. Nestes casos, também se diz que estamos perante uma indeterminação
0
0.
Noutras ocasiões, quando f e g se tornam positiva ou negativamente infinitos, quando
x tende para c, dizemos que fg(x)
(x) ∞
tem a forma indeterminada ∞ (“infinito sobre infinito”)
em x = c. Um exemplo onde tal acontece é no caso em que se pretende calcular
sen x
lim .
x→0 x

Vamos estabelecer a chamada regra de L’Hospital e ilustrar como pode ser usada para es-
tudar diferentes formas indeterminadas. Parece que Guillaume François Antoine,
Marquis de l’Hospital (1661–1704) aprendeu esta regra com o seu professor Johann
Bernoulli (1667–1748). A sua demonstração é semelhante à do Teorema de Cauchy.

Teorema 2.21 (Regra de L’Hospital). Sejam f e g funções diferenciáveis em todos


os pontos de ]a, b[, excepto, possivelmente, em c ∈]a, b[. Suponhamos que g ′ (x) 6= 0,
para x 6= c, e fg(x)
(x)
tem a forma indeterminada 00 ou ∞ ∞ em x = c. Então, se existir
f ′ (x) f (x)
limx→c g ′ (x) , finito ou infinito, o limite limx→c g(x) também existe e

f (x) f ′ (x)
lim = lim ′ .
x→c g(x) x→c g (x)

f (x) 0
Demonstração: Suponhamos que g(x) toma a forma indeterminada 0 em x = c e que

f ′ (x)
lim = L,
x→c g ′ (x)

para algum número real L. Queremos provar que

f (x)
lim = L.
x→c g(x)

Para podermos considerar o Teorema de Rolle, f e g terão que ser contínuas. Consi-
deremos, então, as funções contínuas f e g tais que

f (x) = f (x), x 6= c, e f (c) = lim f (x) = 0


x→c

g(x) = g(x), x 6= c, e g(c) = lim g(x) = 0.


x→c
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 52

Notemos que
lim f (x) = lim f (x), lim g(x) = lim g(x)
x→c x→c x→c x→c

e que, para todo o x 6= c, f (x) = f ′ (x) e g ′ (x) = g ′ (x). Consideremos agora

F (x) = f (x) − λg(x),

onde λ é um valor real tal que F (x) = F (c). Para que tal aconteça temos que ter

f (x) − f (c) f (x)


λ= = , g(x) 6= 0.
g(x) − g(c) g(x)

Aplicando o Teorema de Rolle a F (contínua e diferenciável) temos que existe um


ξ ∈]x, c[ tal que F ′ (ξ) = 0. Mas isso implica que

′ f (ξ) f ′ (ξ)
f (ξ) − λg ′ (ξ) = 0 ⇔ λ = =
g ′ (ξ) g ′ (ξ)
donde se conclui que
f (ξ) f ′ (ξ)
= ′ .
g(ξ) g (ξ)
Tomando x → c temos que ξ → c e, assim sendo, como existe limite do quociente
das derivadas temos que

f (x) f (x) f ′ (x)


lim = lim = lim ′ .
x→c g(x) x→c g(x) x→c g (x)

Para os casos em que


f (x)
lim = ±∞
x→c g(x)

a demonstração é análoga. Para a forma indeterminada ∞ o resultado também é
válido mas a demonstração é mais difícil.

É possível demonstrar que a regra de L’Hospital também é válida para limites laterais
e para limites quando x → ±∞.

Aplicando sucessivamente a regra de L’Hospital para limites quando x → +∞, pode


demonstrar-se que:

1. a exponencial cresce mais depressa do que qualquer potência do seu expoente,


isto é,
ex
lim r = +∞, ∀r ∈ R+ ;
x→+∞ x

2. o logaritmo cresce mais devagar do que qualquer potência do seu argumento,


isto é,
ln x
lim = 0, ∀r ∈ R+ .
x→+∞ xr

Consideremos agora outras formas indeterminadas que se podem reduzir ao caso 00 .


CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 53

Indeterminação 0 × ∞. Suponhamos que

lim f (x) = 0 e lim g(x) = ∞.


x→c x→c

Então f (x)g(x) é uma forma indeterminada 0 × ∞ em x = c. Nestes casos faz-se

f (x)
f (x)g(x) = 1
g(x)

que já é uma forma indeterminada 00 .

Indeterminação ∞ − ∞. Consideremos o seguinte exemplo


 
1 1 1 1
lim x
− = lim x − lim .
x→0 + e −1 x x→0 e − 1
+ x→0 x
+

Neste caso estamos na presença de uma forma indeterminada ∞ − ∞ em x = 0+ .


Mas  
1 1 x − ex + 1
lim − = lim
x→0+ ex − 1 x x→0+ x(ex − 1)

que já é uma forma indeterminada 00 .

Indeterminações 00 , ∞0 e 1∞ . Estas indeterminações surgem quando se consi-


deram limites de expressões da forma f (x)g(x) . Neste caso faz-se

y = f (x)g(x) ⇒ ln y = g(x) ln f (x)

e calcula-se
lim ln y = lim g(x) ln f (x)
x→c x→c

que pode ser tratado como nos casos precedentes. Se:

• lim ln y = L então lim y = eL ;


x→c x→c

• lim ln y = +∞ então lim y = +∞;


x→c x→c

• lim ln y = −∞ então lim y = 0.


x→c x→c

A regra de L’Hospital só se pode aplicar quando necessária. Note-se que, por exemplo,

ex + e−x
lim = +∞
x→0 x2
e se aplicarmos duas vezes a regra de L’Hospital obtemos

ex + e−x
lim = lim ch x = 1,
x→0 2 x→0

o que nos permite concluir que, neste caso, a regra não pode ser aplicada.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 54

2.5.2 Extremos e concavidades


Os teoremas fundamentais permitem-nos estabelecer o chamado teste da primeira derivada
para a determinação de extremos locais. Seja c um ponto crítico de uma função f de-
finida em ]a, b[ contendo c. Se f é contínua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[ excepto,
possivelmente, no ponto c, então: se
 ′
f (x) > 0, x ∈]a, c[
,
f ′ (x) < 0, x ∈]c, b[

então f (c) é um máximo local; se



f ′ (x) < 0, x ∈]a, c[
,
f ′ (x) > 0, x ∈]c, b[

então f (c) é um mínimo local; se f ′ (x) > 0 ou f ′ (x) < 0, para todo o x ∈]a, b[/{c}, então
f (c) não é máximo nem mínimo local.
Outro conceito importante no traçado gráfico de uma função e para o qual as derivadas
poderão ser úteis é o conceito de concavidade.

Definição 2.8 (Concavidade). Seja f uma função diferenciável num ponto c. O


gráfico de f tem concavidade voltada para cima (baixo) no ponto (c, f (c)) se existe
um intervalo aberto contendo c tal que, nesse intervalo, o gráfico de f está acima
(abaixo) da tangente ao gráfico em (c, f (c)).

Notemos que, quando a concavidade está voltada para cima (baixo) o coeficiente angular
da tangente cresce (decresce) com x.
Como é sabido, dada uma função diferenciável, se a sua derivada é positiva (negativa)
num dado intervalo, a função é crescente (decrescente) nesse intervalo. Consequentemente,
se os valores da segunda derivada num determinado intervalo são positivos (negativos) estão
a função derivada é crescente (decrescente) nesse intervalo. Este facto sugere o seguinte
teorema cuja demonstração também resulta dos teoremas fundamentais apresentados.

Teorema 2.22. Se uma função f é diferenciável num intervalo aberto contendo


c então, no ponto (c, f (c)) o gráfico é côncavo para cima (baixo) se f ′′ (c) > 0
(f ′′ (c) < 0).

Pode haver pontos no gráfico de uma função para os quais a concavidade muda de
sentido. Tais pontos são chamados pontos de inflexão.

Definição 2.9 (Ponto de inflexão). O ponto (c, f (c)) do gráfico de uma função f
é um ponto de inflexão se existe um intervalo aberto ]a, b[ contendo c tal que ocorra
uma das seguintes situações:

f ′′ (x) > 0 se x ∈]a, c[ e f ′′ (x) < 0 se x ∈]c, b[;

ou
f ′′ (x) < 0 se x ∈]a, c[ e f ′′ (x) > 0 se x ∈]c, b[.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 55

Se (c, f (c)) é um ponto de inflexão do gráfico de f e se f ′′ é contínua num intervalo


aberto contendo c, então f ′′ (c) = 0. Assim, para localizar os pontos de inflexão de f ∈
C 2 (]a, b[) – f é tal que f , f ′ e f ′′ são contínuas em ]a, b[ – começamos por determinar os
pontos x tais que f ′′ (x) = 0.
A segunda derivada também pode ser útil na classificação dos extremos de uma função.

Teorema 2.23 (Teste da segunda derivada). Seja f uma função diferenciável num
intervalo aberto contendo c e f ′ (c) = 0. Se f ′′ (c) < 0, então f tem um máximo local
em x = c. Se f ′′ (c) > 0, então f tem um mínimo local em x = c.

Se, no teorema anterior, f ′′ (c) = 0, o teste da segunda derivada não funciona. Em tais
casos, usa-se o teste da primeira derivada.

Exercício 2.7. Faça o estudo da função

a3
f (x) = , a ∈ R, (2.1)
x2 + a2
quando a = 1. Esta curva foi estudada por Maria Gaetana Agnesi (1717–1783)
e ficou conhecida pelo nome de bruxa de Agnesi ou feiticeira de Agnesi. Esse nome,
encontrado apenas em textos em inglês, é resultado de uma tradução errada. O nome
dado por Agnesi à curva era “versiera” (que significa “curva”). John Colson (1680–
1760), famoso matemático de Cambridge, achou o texto de Agnesi tão importante
(é o primeiro livro a tratar, simultaneamente, do cálculo diferencial e integral), que
aprendeu italiano apenas para traduzi-lo “para o benefício da juventude britânica” e,
provavelmente, confundiu a palavra “versiera” com “avversiera”, que significa “bruxa”.

Resolução:

1. Domínio da função e continuidade


A função é definida e contínua para todo o x ∈ R.
2. Paridade e periodicidade
Como f (x) = f (−x) a função é par. Como não existe qualquer valor real T tal
que f (x + T ) = f (x), para todo o x ∈ R, a função não é periódica.
3. Primeira derivada e extremos locais
Temos que
2xa3
f ′ (x) = − 2
(x + a2 )2
e, como tal, a função tem um ponto crítico em x = 0. Para determinar os
extremos locais, considera-se a seguinte tabela:
−∞ 0 +∞
f′ + 0 − .
f ր a ց
Analisando o quadro, constatamos que a função tem um máximo local (e abso-
luto) em (0, a). O quadro de variação poderia ser completado considerando
lim f (x) = 0 e lim f (x) = 0.
x→−∞ x→+∞
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 56

4. Contradomínio e assímptotas
Pela alínea anterior podemos concluir que o contradomínio de f é R+ e que a
função tem uma assímptota horizontal y = 0.
5. Segunda derivada, concavidades e pontos de inflexão
Temos que
3x2 − a2
f ′′ (x) = 2xa3 2
(x + a2 )3

e, como tal, a segunda derivada anula-se para x = ±a 33 . Para determinar os
pontos de inflexão, considera-se a seguinte tabela:
√ √
−∞ −a 3/3 a 3/3 +∞
f ′′ + 0 − 0 + .
f ∪ 3/4a ∩ 3/4a ∪

Concluímos que a função tem dois pontos de inflexão em (±a 3/3, 3/4a).
6. Pontos de intersecção com os eixos coordenados
A curva apenas interseca o eixo dos yy no ponto y = a.
7. Gráfico da função
O gráfico da função, quando a = 1, é dado na Figura 2.4.

Bruxa de Agnesi
1

0.8

0.6
y

0.4

0.2

0
-5 0 5
x

Figura 2.4: Bruxa de Agnesi (2.1), com a = 1.

2.5.3 Derivação implícita e taxas relacionadas


Nalgumas aplicações a variável dependente y e a variável independente x, em vez de estarem
relacionadas por meio de uma função real de variável real, como em y = f (x), estão
relacionadas por meio de uma equação F (x, y) = 0 como em x2 + y 2 = 9 ou em x2 + xy 3 +
5x = 19 ou ainda em 5x cos y = 2x+y . Por vezes estas equações podem ser reduzidas à
forma y = f (x) mas, muitas vezes, tal não é possível.
Apesar das dificuldades podemos determinar a derivada de y em ordem a x, nos casos
em que ela exista, sem ter que explicitar y como função de x (com a vantagem adicional
da derivada obtida, também ela geralmente definida implicitamente, ser válida para todas
as funções reais de variável real definidas pela equação inicial). Para tal basta considerar
a regra de cadeia.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 57

Consideremos um exemplo. Para determinar y ′ , quando y é definida implicitamente


por meio de
x2 + y 2 = 9 ⇔ x2 + (y(x))2 = 9,
podemos começar por derivar ambos os membros da igualdade em ordem a x e obter,
usando a regra da cadeia,
2x + 2y(x)y ′ (x) = 0.
Noutra notação temos 2x + 2yy ′ = 0. Assim, quando y(x) 6= 0, temos que
x
y ′ (x) = − .
y(x)
A regra da cadeia é, geralmente, útil quando pretendemos relacionar taxas de variação
de duas quantidades x(t) e y(t) que dependem de uma terceira quantidade, normalmente
o tempo t.

Exercício 2.8. Uma escada de 3 metros de comprimento está encostada a uma


parede vertical. Se o fundo da escada deslizar horizontalmente afastando-se da parede
a uma taxa de 0,3 metros por segundo, a que velocidade está o topo da escada a
deslizar ao longo da parede?

Resolução: Consideremos x(t) a distância horizontal da parede à base da escada e y(t) a


distância vertical do solo ao topo da escada, num dado instante t. Temos que x′ (t) =
0,3 metros por segundo. Queremos determinar y ′ (t). Como (x(t))2 + (y(t))2 = 9,
aplicando a regra da cadeia temos que

2x(t)x′ (t) + 2y(t)y ′ (t) = 0.

Logo, se y(t) 6= 0, concluímos que

x(t) ′ x(t)
y ′ (t) = − x (t) = −0,3 .
y(t) y(t)

2.5.4 Aproximações lineares e diferenciais


Vamos terminar este capítulo com a introdução da noção de diferencial e referir algumas
das suas aplicações. Comecemos por considerar uma função f real de variável real

f : D ⊆ R −→ R
x 7−→ y = f (x).

Em muitas aplicações a variável independente x está sujeita a pequenas variações ∆x cha-


madas acréscimos de x. Para calcular o acréscimo ∆y correspondente à variável dependente
y fazemos
∆y = f (x + ∆x) − f (x).
Se f é diferenciável temos que
∆y
f ′ (x) = lim .
∆x→0 ∆x

Assim, quando ∆x ≈ 0, o acréscimo ∆y pode ser aproximado por f ′ (x)∆x, isto é,

∆y ≈ f ′ (x)∆x. (2.2)
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 58

Se atendermos à interpretação geométrica da noção de derivada, a aproximação (2.2)


pode ser vista como uma aproximação linear. De facto, consideremos um ponto x0 per-
tencente a um intervalo I contido no domínio de f e seja f diferenciável em I. Quando
analisamos geometricamente a derivada de uma função num ponto, verificamos que o grá-
fico da função se confunde com o da recta tangente à curva nesse ponto nas proximidades
do ponto de tangência. Podemos assim pensar em usar a recta tangente ao gráfico de f
em (x0 , f (x0 )) como uma aproximação à função y = f (x), quando x está próximo de x0 .
Como tal, em muitas aplicações práticas, quando x ≈ x0 , considera-se

f (x) ≈ f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ). (2.3)

Esta aproximação é chamada, por razões óbvias, aproximação linear de f em x0 .

Considerando ∆x0 = x − x0 e ∆y0 = f (x) − f (x0 ), a aproximação (2.3) pode ser


escrita na forma ∆y0 ≈ f ′ (x0 )∆x0 . A função linear cujo gráfico é a recta tangente
a f em (x0 , f (x0 )), isto é,

L(x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ),

é chamada linearização de f em x0 .

Exercício 2.9. Na física são vários os exemplos onde se consideram aproximações


lineares. Por exemplo, ao deduzir a fórmula para o período de um pêndulo, obtém-
se a expressão −g sen θ para a aceleração tangencial. Muitos autores, nesta altura,
substituem sen θ por θ, com a observação de que sen θ está muito próximo de θ, se
θ for um valor pequeno. Verifique que a linearização de f (x) = sen x, em x0 = 0, é
dada por y = x e, como tal, a aproximação linear em de f nesse ponto é sen x ≈ x.

Resolução: De facto, a linearização de f (x) = sen x, em x0 = 0, é dada por

L(x) = sen 0 + cos 0(x − 0) = x

e, como tal, a aproximação linear nesse ponto é sen x ≈ x.

Uma noção útil neste contexto é a de diferencial. O diferencial dx da variável inde-


pendente x é dado pelo seu acréscimo, isto é, dx = ∆x; o diferencial dy da variável
dependente y é dado por
dy = f ′ (x)dx.
Na linguagem dos diferenciais, podemos dizer que a aproximação linear (2.3) se
resume a considerar a aproximação do acréscimo da variável dependente pelo seu
diferencial calculado no ponto dado, isto é

∆y0 ≈ dy0 = f ′ (x0 )∆x0 .


CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 59

Exercício 2.10. Determine o diferencial dy para a função y = sen x no ponto


x = π/6 e calcule o seu valor sabendo que dx = −0,1.

Resolução: Tem-se que



′ 3
dy = f (x)dx = − cos(π/6)0,1 = − .
20

Os diferenciais têm uma aplicação importante na determinação de estimativas para os


erros que se comentem nos resultados em função dos erros cometidos nos dados.

Em muitas situações práticas, os dados x não são conhecidos de forma exacta. O que
se conhece é um valor x0 que foi obtido com uma precisão ǫ, em princípio, pequena.
Podemos então dizer que a diferença entre o valore exacto x e o valores conhecido
(afectados de erro) x0 , representada por ∆x0 = x − x0 , é tal que |∆x0 | ≤ ǫ. Usando
os diferencias, podemos obter uma estimativa para o erro que se comete quando se
aproxima y = f (x) por y0 = f (x0 ), com f uma função diferenciável. De facto,

|∆y0 | = |y − y0 | ≈ |dy0 | = |f ′ (x0 )||∆x0 | ≤ |f ′ (x0 )|ǫ.

Exercício 2.11. Determine o erro que se comete ao calcular y = cos(10x)


quando se considera uma aproximação x0 = 3,1416 para x obtida com precisão
|∆x0 | ≤ 0,5 × 10−4 .

Resolução: Pretende-se determinar uma estimativa para ∆y0 = f (x) − f (x0 ), quando o
valor de x ∈ [x0 − 0,5 × 10−4 , x0 + 0,5 × 10−4 ] = [3,14155, 3,14165]. Essa estimativa
é obtida pela determinação de um majorante para o diferencial

dy0 = −10 sen(10x0 )dx0 ,

Então, como para as variáveis dependentes o acréscimo ∆x0 é igual ao diferencial


dx0 ,
|∆y0 | ≈ |dy0 | = | − 10 sen(10x0 )||∆x0 | ≤ 0,3 × 10−6 .
Note-se que, neste exemplo, a uma precisão de 4 casas decimais nos dados, corres-
ponde uma precisão de 6 casas decimais no resultado.

Se, no exercício anterior, considerássemos a função y = ex e a aproximação x0 = 4,0


para x obtida com uma precisão |∆x0 | ≤ 0,5 × 10−1 , obtínhamos uma estimativa para o
erro nos resultados dada por

|∆y0 | ≈ |dy0 | = ex0 |∆x0 | ≤ 0,05e4,0 ≈ 5,74. (2.4)

Neste caso, a uma precisão de 1 casa decimal nos dados, corresponde um valor para o
resultado onde não é possível garantir qualquer casa decimal correcta.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 60

Os exemplos anteriores permitem concluir que a derivada de uma função é um bom


indicador da sensibilidade da função relativamente à variação da variável indepen-
dente. De facto, se a derivada da função for pequena, a erros pequenos nos dados
correspondem erros pequenos nos resultados; se a a derivada da função for grande,
a erros pequenos nos dados correspondem erros grandes nos resultados.

Para ter uma ideia mais precisa sobre o erro que se comete na aproximação do acrés-
cimo ∆y de uma função y = f (x) pelo seu diferencial dy, poder-se-ía calcular o chamado
erro relativo
|∆y|
δy = .
|y|
Atendendo à definição de diferencial tem-se que
|∆y| |dy| |f ′ (x)x| |dx| |f ′ (x)x|
δy = ≈ = = δx .
|y| |y| |f (x)| |x| |f (x)|
No caso particular da aproximação (2.4) temos que δy0 ≈ 4,0δx0 , o que significa que o
erro relativo do resultado é quatro vezes o erro relativo dos dados.

Exercício 2.12. O raio de uma esfera mede 21 cm, valor obtido com um erro
máximo de 0,05 cm. Qual o erro máximo cometido no cálculo do volume da esfera
quando é usado esse valor para o seu raio?

Resolução: Se o raio da esfera é r, o seu volume é


4
V = πr3 .
3
Se o erro na medida do valor de r for denotado por dr = ∆r, então o erro correspon-
dente ao valor de V é dado por ∆V , que pode ser aproximado pelo diferencial

|∆V | ≈ |dV | = 4πr2 |dr|.

Quando r = 21 cm e |dr| ≤ 0,05 cm, temos que

|dV | ≤ 4π(21)2 0,05cm3 ≈ 277cm3 .

Assim o erro (absoluto) cometido no cálculo do volume é majorado por 277cm3 .


Também se pode determinar o majorante para o erro relativo (o módulo em V e em
r pode ser omitido pois tratam-se de quantidades positivas)

|∆V | |dV | 4πr2 |dr|


δV = ≈ = 4 3 |dr| = 3 = 3δr .
V V 3 πr
r

Assim, o erro relativo cometido na aproximação do volume é cerca de 3 vezes o erro


relativo cometido na aproximação do raio. Como o erro relativo do raio é
|dr| 0,05
δr = ≤ ≈ 0,0024,
r 21
isto é 0,24%, temos que o erro relativo cometido na aproximação do volume inferior
a 0,007, ou seja, a 0,7%.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 61

2.5.5 Tangente a uma curva em coordenadas paraméticas ou polares


A regra da cadeia e o teorema da derivada da função implícita permitem-nos calcular as
derivadas de funções definidas parametricamente. Suponhamos que

x = f (t)
, t ∈ I, (2.5)
y = g(t)
com f uma função injectiva. Estas equações definem parametricamente uma função F
dada por
F : f (I) −→ R
x 7−→ y = F (x) = g(f −1 (x)).
Então, caso f e g sejam funções diferenciáveis, podemos calcular a derivada de F em f (I)
sem calcular explicitamente a expressão analítica de F .
Suponhamos que f e g são funções diferenciáveis em I e seja x ∈ f (I) tal que f ′ (t) 6= 0,
com t = f −1 (x) ∈ I. Pela regra da cadeia,
F ′ (x) = g(f −1 (x))′ = g ′ (f −1 (x))(f −1 )′ (x),
ou, noutra notação,
dF d  dg −1 df −1
(x) = g(f −1 (x)) = (f (x)) (x).
dx dx dx dx
Mas, pelo teorema da derivada da função implícita,
1
(f −1 )′ (x) =
f ′ (f −1 (x))
e, como tal,
′ g ′ (f −1 (x)) g ′ (t)
F (x) = ′ −1 = ′ . (2.6)
f (f (x)) f (t) t=f −1 (x)
Noutra notação temos que
dy
dy dt dx
= dx
, se 6= 0. (2.7)
dx dt
dt
Para calcular as derivadas superior (caso f e g as admitirem) poderíamos proceder
analogamente. Por exemplo, para determinar
d2 y
F ′′ (x) = (x),
dx2
dy
basta substituir y por dx em (2.7) obtendo
 
  d dy
d2 y d dy dt dx dx
= = , se 6= 0.
dx2 dx dx dx
dt
dt
Noutra notação, atendendo a que, por (2.6), F ′ (x) = G(f −1 (x)), onde
g ′ (t)
G(t) = , t = f −1 (x), f ′ (t) 6= 0,
f ′ (t)
tem-se que
′′ G′ (t)
F (x) = ′ , se f ′ (t) 6= 0.
f (t) t=f −1 (x)

Pretendemos agora determinar o declive da recta tangente à curva C definida pela


equações (2.5) num ponto (f (t0 ), g(t0 )), com t0 ∈ I.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 62

Teorema 2.24. Seja C uma curva em coordenadas paramétricas definida pela equa-
ções (2.5), com f e g duas funções diferenciáveis em I. Suponhamos ainda que
f ′ (t) 6= 0, para todo o t em I. O declive da tangente à curva C no ponto (f (t0 ), g(t0 )),
com t0 ∈ I, é dado por
dy g ′ (t0 )
m= = ′ .
dx f (t0 )

Demonstração: Como f ′ (t) 6= 0, para todo o t ∈ I, pelo Teorema de Darboux con-


cluímos que f ′ (t) > 0, para todo o t ∈ I, ou f ′ (t) < 0, para todo o t ∈ I (se f ′ for
contínua em I, a mesma conclusão poderia ser obtida pelo Teorema do Valor Intermé-
dio). Temos então que f é estritamente crescente em I ou estritamente decrescente
em I, respectivamente. Em qualquer um dos casos, f é invertível.
Sendo f uma função invertível, a curva C é o gráfico da função definida por y =
g(f −1 (x)), para todo o x ∈ f (I). Para determinar o declive da recta tangente à
curva C no ponto (x0 , y0 ) = (f (t0 ), g(t0 )), basta considerar g ′ (x0 ). Como foi visto,

′ g ′ (t0 )
g (x0 ) = ′ ,
f (t0 ) t0 =f −1 (x0 )
o que conclui a demonstração.

Exercício 2.13. Determine a tangente à curva de equações paramétricas



x = 2t
, t ∈ [−1, 2],
y = t2 − 1

no ponto (0, −1).

Resolução: O ponto (x, y) = (0, −1) é obtido quando t = 0. Como f (t) = 2t e g(t) =
t2 − 1 são diferenciáveis no intervalo dado e f ′ (0) = 2 6= 0, pelo teorema anterior o
declive da recta tangente à curva no ponto (x, y) = (0, −1) é dado por
g ′ (0)
m= = 0.
f ′ (0)
A recta tangente à curva no ponto dado tem equação y − (−1) = 0 × (x − 0), isto é,
a tangente é a recta horizontal y = −1.
Consideremos agora um sistema de coordenadas polares e uma curva C definida, nessas
coordenadas, por ρ = f (θ), θ ∈ I. Se considerarmos o sistema de coordenadas cartesiana
xy de modo a que o semi-eixo positivo dos xx coincida com o eixo polar e tal que a origem
coincida com o pólo, a curva pode ser definida parametricamente por

x = f (θ) cos θ
, θ ∈ I.
y = f (θ) sen θ
Se f for diferenciável em I, o declive da recta tangente à curva C no ponto (f (θ0 ), θ0 ), com
θ0 ∈ I, é calculado como anteriormente. Assim, pelo Teorema 2.24 o declive é dado por

d
(f (θ) sen θ)
m = dθ

d .
dθ (f (θ) cos θ)

θ=θ0
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 63

Após calculado o declive, a equação cartesiana da recta tangente à curva nesse ponto
obtém-se imediatamente.

Exercício 2.14. Num sistema de coordenadas polares, considere a curva definida


pela equação ρ = 2 cos θ, θ = [π/6, π/3]. Determine a tangente ao gráfico no ponto
correspondente a θ = π/4.

Resolução: Num sistema de coordenadas cartesianas apropriado, a curva pode ser defi-
nida por 
x = 2 cos2 θ
, θ ∈ [π/6, π/3].
y = sen 2θ

Para θ = π/4, obtemos o ponto ( 2, π/4) no sistema de coordenadas polares, ou
seja, o ponto (x0 , y0 ) = (1, 1) no sistema de coordenadas cartesianas. Como estamos
em presença de funções diferenciáveis, o declive da recta tangente à curva no ponto
(1, 1) é dado, de acordo com o Teorema 2.24, por

2 cos(π/2)
m= = 0.
−2 sen(π/2)

Logo, a recta tangente à curva no ponto (1, 1) é a recta horizontal y = 1.

Notemos que, se f ′ (t0 ) = 0, para algum t0 ∈ I, a curva C definida pela equações (2.5):
admite uma tangente vertical no ponto (f (t0 ), g(t0 )), se g ′ (t0 ) 6= 0; não tem tangente
definida no ponto (f (t0 ), g(t0 )), se g ′ (t0 ) = 0. Neste último caso diz-se que a curva tem
um ponto singular no ponto (f (t0 ), g(t0 )) ou uma singularidade em t = t0 .

Exercício 2.15. Determine os pontos singulares do cardióide ρ = 1 + sen θ,


θ ∈ [0, 2π].

Resolução: O cardióide, num sistema de coordenadas cartesianas apropriado, pode ser


dado pelas equações

x = cos θ + 12 sen 2θ
, θ ∈ [0, 2π].
y = sen θ + sen2 θ

Os pontos singulares são os pontos para os quais


 
− sen θ + cos 2θ = 0 − sen θ + cos2 θ − sen2 θ = 0

cos θ + 2 cos θ sen θ = 0 cos θ(1 + 2 sen θ) = 0

cos2 θ − sen θ(1 + sen θ) = 0

cos θ = 0 ∨ (1 + 2 sen θ) = 0

cos θ = 0 3
⇔ ⇔ θ = π.
1 + sen θ = 0 2

Logo, o único ponto singular é (0, 0). Verifique na Figura 1.10 a que ponto do gráfico
corresponde a singularidade da curva.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 64

Exercício 2.16. Considere a curva C definida pelas equações paramétricas



x = t2
, t ∈ R.
y = t3 − 3t

1. Mostre que C tem duas tangentes no ponto (3, 0) e encontre as suas equações.

2. Determine os pontos de C onde a tangente é horizontal ou vertical.

3. Determine os valores do parâmetro t onde a curva é crescente ou decrescente


e onde a sua concavidade é virada para cima ou virada para baixo.

4. Esboce a curva.

Resolução:

1. Note-se que y = t3 − 3t = 0 quando t = 0 ou t √ = ± 3. Portanto,
√ o ponto (3, 0)
em C surge de dois valores do parâmetro: t = 3 e t = − 3. Isto significa que
a curva se intersecta em si mesma em (3, 0). Como
dy  
dy dt 3t2 − 3 3 1
= dx = = t− ,
dx dt
2t 2 t

o declive da tangente quando t = ± 3 é

dy 6 √
m= = ± √ = ± 3.
dx t=±√3
2 3
Assim, as equações das tangentes são
√ √
y = 3(x − 3) e y = − 3(x − 3).

2. A curva C tem uma tangente vertical quando dx/dt = 2t = 0, isto é, quando


t = 0. O ponto correspondente em C é (0, 0). A curva C tem uma tangente
horizontal quando dy/dt = 3t2 − 3 = 0, isto é, quando t = ±1. Os pontos
correspondentes em C são (1, −2) e (1, 2).
3. Como dx/dt = 2t e dy/dt = 3(t + 1)(t − 1), podemos resumir os intervalos de
monotonia da curva em função da variação do parâmetro t na seguinte tabela:
t < −1 t = −1 −1 < t < 0 t=0 0<t<1 t=1 t>1
dx/dt − − − 0 + + +
dy/dt + 0 − − − 0 +
.
x ← 1 ← 0 → 1 →
y ↑ 2 ↓ 0 ↓ −2 ↑
C տ (1, 2) ւ (0, 0) ց (1, −2) ր
Para determinar a concavidade da curva, calculemos a segunda derivada. Temos
que  
d dy 3 1

2 3(t2 + 1)
d y dt dx 2 1 + t2
2
= dx
= = .
dx dt
2t 4t3
Então a concavidade da curva é para cima quando t > 0 e para baixo quando
t < 0.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 65

4. Usando a informações das alíneas anteriores facilmente se obtém a curva traçada


na Figura 2.5.

0
y

-1

-2

-3
0 1 2 3 4
x

Figura 2.5: Curva C do Exercício 2.16.

2.5.6 Método de Newton (∗)


O método que iremos estudar nesta secção, devido a Isaac Newton (1642–1727) e a Joseph
Raphson (∼1648–∼1715), é um dos métodos mais conhecidos e eficazes para a determinação
de aproximações numéricas de raízes de equações. Para o definir, vamos considerar duas
abordagens: a primeira recorrendo ao Teorema do Valor Médio de Lagrange e a segunda
considerando a interpretação geométrica da noção de derivada e da linearização da função.
Seja f uma função diferenciável num intervalo [a, b] ⊂ R, tal que f ′ (x) 6= 0, para todo o
x ∈]a, b[. Seja x∗ ∈ [a, b] a única raiz de f nesse intervalo, isto é, f (x∗ ) = 0. Como o valor
de x∗ não é conhecido (é o valor que queremos determinar), vamos considerar um outro
ponto x0 ∈ [a, b], que pode ser visto como uma aproximação inicial a x∗ . Pelo Teorema do
Valor Médio de Lagrange
f (x∗ ) − f (x0 )
= f ′ (c),
x∗ − x0
com c um ponto pertencente ao intervalo definido pelos pontos x∗ e x0 . Temos então, uma
vez que f (x∗ ) = 0, que

f (x0 ) f (x0 )
− ′
= x∗ − x0 ⇔ x∗ = x0 − ′ .
f (c) f (c)

Como c é um valor desconhecido, vamos considerar a derivada calculada em x0 . Nesse caso


já não obtemos como resultado o valor de x∗ , mas sim um valor distinto a que chamamos
x1 e que é dado por
f (x0 )
x1 = x0 − ′ .
f (x0 )
Procedendo de forma análoga, poderemos definir um processo iterativo pela fórmula de
recorrência
f (xk )
xk+1 = xk − ′ , k = 0, 1 . . . , (2.8)
f (xk )
designado por método de Newton ou método de Newton-Raphson.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 66

Coloca-se, no entanto, a questão de saber se o método é convergente para x∗ , isto é, se

lim xk = x∗ .
k→+∞

Outra questão é a de saber como definir a aproximação inicial x0 e como parar o pro-
cesso iterativo. Antes de responder a estas questões, vamos considerar a correspondência
geométrica deste método.

A recta tangente ao gráfico de f no ponto (x0 , f (x0 )) é dada por

y = f (x0 ) + f ′ (x0 )(x − x0 ).

Se considerarmos a intersecção dessa recta com o eixo dos xx, isto é, com a recta
y = 0, temos que a abcissa x1 do ponto de intersecção é dada por

f (x0 )
x1 = x0 − .
f ′ (x0 )

O método de Newton pode assim ser construído se voltarmos a repetir o processo


para os sucessivos valores de xk , k = 1, 2, ..., obtidos desta forma. Por esta razão o
método de Newton é também chamado muitas vezes como método das tangentes.

Vamos agora apresentar as condições que deverão ser impostas para que a sucessão de
aproximações geradas pelo método de Newton convirja para a raiz x∗ de f (x) = 0.

Teorema 2.25. Seja f uma função real de variável real definida num intervalo [a, b].
Se

1. f ∈ C 2 ([a, b]),

2. f (a)f (b) < 0,

3. f ′ (x) 6= 0, x ∈ [a, b],

4. f ′′ (x) ≤ 0 ou f ′′ (x) ≥ 0, x ∈ [a, b],

então a sucessão {xk }, k = 0, 1, . . ., gerada pelo método (2.8), com x0 ∈ [a, b] tal
que

5. f (x0 )f ′′ (x0 ) > 0,

converge para a única raiz x∗ de f (x) = 0 em [a, b].

Apesar de não apresentarmos a demonstração do teorema, vamos fazer algumas con-


siderações quanto à importância da imposição das hipóteses. As três primeiras condições
impostas garantem a existência de solução de f (x) = 0 no intervalo ]a, b[. Por outro lado,
a terceira condição também é importante para garantir que podemos aplicar o método de
Newton sem o risco de poder ocorrer divisões por zero. A quarta condição garante que a
concavidade da função está sempre virada para o mesmo lado, evitando situações onde o
zero da função coincide com o zero da segunda derivada, o que poderia corresponder a o
método entrar em ciclo. A última condição obriga a escolher a aproximação inicial x0 por
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 67

forma a que, nesse ponto, a função e a segunda derivada tenham o mesmo sinal. Este facto
faz com que as sucessivas iterações do método se situem sempre no intervalo definido pela
aproximação inicial x0 e pela raiz x∗ .

Os critérios de paragem mais usuais no método de Newton são: o critério do erro


absoluto, que faz parar o processo iterativo quando |xk+1 − xk | ≤ ǫ, com ǫ uma tolerância
dada; o critério do erro relativo, que tem como critério de paragem |xk+1 − xk | ≤ ǫ|xk+1 |,
com ǫ uma tolerância dada, e o critério do número máximo de iterações, que termina o
processo quando k = kmax , com kmax o número máximo de iterações.

O algoritmo para o método de Newton pode ser dado como se segue.

Algoritmo 2.1 Método de Newton

Dados: f , f ′ , x0, ε e kmax


k := 0
x := x0
Repetir
d := −f (x)/f ′ (x)
x := x + d
k := k + 1
até que |d| ≤ ε ou k = kmax
Resultado: x∗ ≈ x

Exercício 2.17. Localize graficamente as raízes de f (x) = 0, onde

f (x) = x2 − 1 − ln (x + 1),

e aproxime a maior delas usando o método de Newton duas vezes.

Resolução: Como f (x) = 0 ⇔ x2 − 1 = ln (x + 1), traçando o gráfico de y = x2 − 1 e


de y = ln (x + 1) (ver Figura 2.6) verificamos que f (x) = 0 possui duas raízes reais:
x∗1 ∈] − 1, 0[ e x∗2 ∈]1, 2[.
Façamos a confirmação analítica apenas para x∗2 . Assim:

1. f ∈ C(]1, 2[);
2. f (1)) = − ln 2 < 0 e f (2) = 3 − ln 3 = 1,901388 > 0;
3. f ′ (x) = 2x − (x − 1)−1 > 0, para x ∈]1, 2[.

Logo a raiz x∗2 de f (x) = 0 existe e é única no intervalo [1, 2].


Para aplicarmos o método de Newton temos primeiro que provar a sua convergência.
Como f (x) = x2 − 1 − ln (x + 1), f ′ (x) = 2x − (x + 1)−1 e f ′′ (x) = 2 + (x + 1)−2 temos
que f ∈ C 2 ([1, 2]). Por outro lado, como f ′ (x) > 0 (prove!) e f ′′ (x) ≥ 0, para todo o
x ∈ [1, 2], o Teorema 2.25 garante que o método de Newton aplicado à equação dada
gera uma sucessão de valores convergentes para x∗2 , desde que x0 seja escolhido por
forma a que f (x0 )f ′′ (x0 ) > 0, isto é, por forma a que f (x0 ) > 0.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 68

y
-1

-2
x2 -1
ln(x+1)
-3
-2 -1 0 1 2
x

Figura 2.6: Funções do Exercício 2.17.

Seja, então, x0 = 2. Assim:

f (2)
x1 = 2 − = 1,48144;
f ′ (2)

f (1,48144)
x2 = 1,48144 − = 1,369785.
f ′ (1,48144)

Uma estimativa para o erro absoluto pode ser dada por |x2 − x1 | = 0,1116554.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 69

2.6 Exercícios práticos

Exercício 2.18. Sejam f (x) e g(x) duas funções tais que lim f (x) = +∞ e
x→a
lim g(x) = 0. Mostre que escolhendo convenientemente as funções f (x) e g(x) e
x→a
definindo h = f × g podemos ter as seguintes situações:

1. lim h(x) = +∞; 2. lim h(x) = −∞; 3. lim h(x) = −27; 4. lim h(x) = 27.
x→a x→a x→a x→a

Exercício 2.19. Use o teorema das funções enquadradas para provar que:

1 |x|
1. lim x sen = 0; 2. lim √ = 0;
x→0 x x→0 x4 + 4x2 + 7

3. lim x2 f (x) = 0, sendo f (x) uma função tal que f (x) ∈ [0, c], c ∈ R+ , ∀x ∈ R.
x→0

1
Exercício 2.20. Prove que lim x4 sen √ = 0.
x→0 3
x

Exercício 2.21. (∗) Prove que não existem os seguintes limites:

1 1 1 1
1. lim cos ; 2. lim tg ; 3. lim sen ; 4. lim .
x→a x−a x→a x2 − a2 x→0 x x→0 1 + e1/x

Exercício 2.22. Estude, quanto à continuidade, as seguintes funções:


 x
 2e + 1, x < 0
1. f (x) = 1, x ∈ [0, 2] ; 2. f (x) = tg (2x); 3. f (x) = ln (|x|);

sen x, x>2

 1 5
x, x<0 X
4. f (x) = ; 5. f (x) = x sen 1
x; 6. f (x) = xk .
x, x ≥ 0
k=0

Exercício 2.23. Seja f (x) = x−2 x . Verifique que f (−1)f (1) < 0. Poderá concluir
que existe c ∈] − 1, 1[ para o qual se tenha f (c) = 0?

Exercício 2.24. Prove que a equação x3 − 9x2 + 7 = 0 tem três raízes, uma em cada
um dos intervalos abertos ] − 1, 0[, ]0, 1[ e ]6, 9[. Melhore o resultado aproximando-as
até às centésimas.

Exercício 2.25. Seja f (x) = tg x. Embora f ( π4 ) = 1 e f ( 3π


4 ) = −1, não existe
π 3π
nenhum x no intervalo [ 4 , 4 ] tal que f (x) = 0. Será que este facto contraria o
Teorema de Bolzano? Justifique.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 70

Exercício 2.26. Seja f uma função contínua em [0, 1] e 0 ≤ f (x) ≤ 1, para todos
os valores de x ∈ [0, 1]. Mostre que existe c ∈ [0, 1] tal que f (c) = c.

Exercício 2.27. Determine os domínios e a expressões analíticas das derivadas das


seguintes funções:
q
5 + 6x
1. y = ; 2. y = 6 (x2 + 1)5 ; 3. y = cos(1 + tg x);
1 − x6

4. y = 6 sen(x + 1) + 3 cos(7x); 5. y = ax + xln x ; 6. y = tg x + 3x;
 
arc sen x x+1 x+1
7. y = ; 8. y = −4 + 3 ; 9. y = ln ;
x 2

x 1
10. y = ch x − .; 11. y = ch7 (8x − 1); 12. y = √ .
ex 3
5x4 + 1

Exercício 2.28. Determine a expressão analítica das derivadas das funções seguin-
tes:
 
sen x,
 x>0 −2x − 1, x ≤ −1

1. f (x) = 0, x = 0; 2. f (x) = x2 , −1 < x < 0 ;

 3


x+x , x<0 sen x, x≥0
(
|x|, x<4
3. f (x) = .
12 − 2x, x≥4

Exercício 2.29. Mostre que:

1 1
1. (arc tg x)′ = , x ∈ R; 2. (arc cotg x)′ = − , x ∈ R;
1 + x2 1 + x2
1 1
3. (arg sh x)′ = √ , x ∈ R; 4. (arg ch x)′ = √ , x ∈]1, +∞[;
1 + x2 x2 −1

1 1
5. (arg th x)′ = , x ∈] − 1, 1[; 6. (arg coth x)′ = , x ∈ R\[−1, 1].
1 − x2 1 − x2

Exercício 2.30. Mostre que as funções seguintes são contínuas, mas não deriváveis
em alguns pontos:

x + ln(2 − x), x < 1
1. f (x) = 1 + | sen x|, x ∈ [0, 2π]; 2. g(x) = ;
e1−x , x≥1

x sen x1 , x 6= 0
3. h(x) = .
0, x=0
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 71

Exercício 2.31. Determine as expressões analíticas das rectas tangente e normal



ao ramo da parábola y = x no ponto de abcissa x = 4.

Exercício 2.32. A curva y = 1/(1 + x2 ) é chamada bruxa de Agnesi. Determine


uma equação para a recta tangente para essa curva no ponto (−1, 1/2).

Exercício 2.33. Se f (3) = 4, g(3) = 2, f ′ (3) = −6 e g ′ (3) = 5, determine:

1. (f + g)′ (3); 2. (f g)′ (3); 3. (f /g)′ (3); 4. (f /(f − g))′ (3).

Exercício 2.34. Um insecto rasteja de modo a que a sua posição depois de t segun-
dos é dada por √
x = 1 + t, y = 2 + t/3,
onde x e y são medidas em centímetros. Determine o vector que indica a velocidade
do insecto no instante t = 3 segundos.

Exercício 2.35. A variação da temperatura (em graus Fahrenheit) de um dado


alimento num frigorífico pode ser bem modelada pela seguinte função:

4t2 + 16t + 75
T (t) = 10 , t ≥ 0,
t2 + 4t + 10
onde t representa o tempo decorrido em horas.

1. Qual é a temperatura inicial do alimento?

2. Qual a temperatura limite a que poderá chegar o alimento se se deixar indefi-


nidamente no frigorífico?

3. Determine a taxa de alteração de T para t = 10 horas.

Exercício 2.36. O número de bactéria depois de t horas num laboratório experi-


mental controlado é dado por n = f (t).

1. Qual o significado da derivada f ′ (5)? Em que unidades é representada?

2. Suponha que existe uma quantidade ilimitada de espaço e nutrientes para a


bactéria. O que é maior: f ′ (5) ou f ′ (10)? Se a oferta de nutrientes for
limitada, o que afetaria na sua conclusão? Explique.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 72

Exercício 2.37. A eficácia de determinado analgésico t horas após ter sido minis-
trado (tomado) pode ser significativamente bem modelada pela seguinte função
1 
E(t) = 9t + 3t2 − t3 , 0 ≤ t ≤ 5.
27
Determine a taxa de alteração de E relativamente a t nos seguintes casos: passado
1 hora; passado 4 horas.

Exercício 2.38. A concentração [S] de uma certa substância durante uma reacção
enzimática é dada por
− k t
[S] = [S0 ]e 2,3
onde t é o tempo decorrido em segundos, k é uma constante e [S0 ] é a concentração
da substância no início da reacção.

1. Arbitrando valores para k > 0 e [S0 ] trace um gráfico de [S] em função de t.

2. Mostre que usando uma mudança de variáveis conveniente se obtém um modelo


linear simples (expresso por uma função cujo esboço do gráfico é uma recta).

Exercício 2.39. Para temperaturas T (em ◦ C) no intervalo [−50, 150] a pressão


P de uma botija de gás varia com a temperatura segundo uma lei do tipo P (T ) =
M T + b, onde M e b são constantes. Suponha que um aumento de 40 graus na
temperatura causa um aumento na pressão na ordem dos 50 milibares.

1. Qual a taxa de variação da pressão em relação à temperatura?

2. Que mudança de temperatura provocaria uma queda de pressão da ordem de 9


milibares?

Exercício 2.40. Encontre um polinómio de segundo grau P tal que P (2) = 5,


P ′ (2) = 3 e P ′′ (2) = 2.

Exercício 2.41. Para que os valores de r a função y = erx satisfaz a equação


y ′′ + 5y ′ − 6y = 0?

Exercício 2.42. Uma linha de telefone pendurada entre dois postes separados de 14
metros tem a forma da catenária

y = 20 ch(x/20) − 15,

em que x e y são medidos em metros.

1. Calcule a inclinação da curva quando ela encontra o poste da direita.

2. Calcule o ângulo θ entre a recta tangente à curva e o poste.


CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 73

Exercício 2.43. A Lei de Boyle estabelece que quando uma amostra de gás é compri-
mida a uma temperatura constante, a pressão P e o volume V satisfazem a equação
P V = C, onde C é uma constante. Suponha que num certo instante o volume é de
600 cm3 , a pressão é de 150 kPa e que pressão cresce a uma taxa de 20 kPa/min.
A que taxa está decresce o volume nesse instante?

Exercício 2.44. Uma massa atada a uma mola vertical tem como função posição

s = A sen ωt,

onde A é a amplitude de sua oscilação e ω a frequência.

1. Determine a velocidade e aceleração como função do tempo.

2. Mostre que aceleração é proporcional ao deslocamento s.

3. Mostre que a velocidade é máxima quando a aceleração é nula.

Exercício 2.45. Um projéctil é lançado verticalmente do solo com uma velocidade


inicial de 112 metros por segundo. Após t segundos, a sua distância ao solo é de
112t − 4, 9t2 metros. Determine:

1. a velocidade do projéctil para t = 2, t = 3 e t = 4;

2. o instante em que o projéctil atinge o solo;

3. a velocidade no momento em que este atinge o solo.

Exercício 2.46. Determine as derivadas de ordem n das funções:

1 1
1. loga x; 2. xm ; 3. sen x; 4. ; 5. ; 6. sen 5x;
3x + 2 x

7. cos 2x; 8. e3x ; 9. ex sen x; 10. xex ; 11. ch 3x.

Exercício 2.47. Para f (x) = |x|, mostre que f (−1) = f (1), mas f ′ (c) 6= 0 para
todo o c no intervalo ] − 1, 1[. Estará este facto em contradição com o Teorema de
Rolle?

Exercício 2.48. Use os Teoremas de Bolzano e de Rolle para provar que:

1. f (x) = x3 + 3x + 2 tem um zero real;

2. f (x) = x3 − 3x + 1 tem três zeros reais.

Exercício 2.49. Prove que se a > 0, a equação cúbica x3 + ax + b = 0 não pode ter
mais do que uma raiz real, qualquer que seja o valor de b.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 74

Exercício 2.50. Usando a regra de L’Hospital, determine:

x5 − 6x3 + 8x − 3 ex
1. lim ; 2. lim x ln x; 3. lim ;
x→1 x4 − 1 x→0+ x→+∞ x

 
1 1 1 1
4. lim 2 ; 5. lim − ; 6. lim x sen ;
x→+∞ x sen2 1 x→0 x sen x x→+∞ x
x

 2x
3 1
7. lim 1+ ; 8. lim x x ; 9. lim (sen x)tg x ;
x→+∞ x x→+∞ x→0+

 x+1
1
10. lim 11. lim x2 ln x 12. lim (1 − sen x)1/x .
x→+∞ ln x x→0+ x→0

Exercício 2.51. Verificando que não pode usar a regra de L’Hospital, calcule os
seguintes limites:

x − cos x x2 sen x1 x − sen x x2 sen x1


1. lim ; 2. lim ; 3. lim ; 4. lim .
x→+∞ x x→0 x x→+∞ x + sen x x→0 sen x

Exercício 2.52. Determine os valores máximo e mínimo das funções abaixo defini-
das, no intervalo indicado:

1. f (x) = 1 − x2 , x ∈ [0, 1]; 2. f (x) = |x|, x ∈ [−1, 1];

3. f (x) = sen x, x ∈ [0, 2].

Exercício 2.53. Averigúe se as funções a seguir indicadas têm algum extremo re-
lativo para x = 2:
 2  2
 x , x<2  x , x<2
1. f (x) = 4, x = 2 ; 2. f (x) = 1, x=2 .
  2
x + 5, x > 2 −x + 8, x > 2

Exercício 2.54. Determine dois números positivos cujo produto seja máximo e cuja
soma seja igual a 40.

Exercício 2.55. Determine as dimensões do rectângulo de área máxima que pode


ser inscrito numa circunferência de raio a.

Exercício 2.56. Determine as dimensões do cilindro circular recto de volume má-


ximo que pode ser inscrito numa esfera de raio a.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 75

Exercício 2.57. Cada página de um livro deve ter área de 440 cm3 , com margens
de 2,5 cm do lado esquerdo, 2 cm do lado direito, 3 cm em cima e 3 cm em baixo.
Determine as dimensões das páginas de modo a que a área destinada à impressão
seja a maior possível.

Exercício 2.58. Supondo um peixe a nadar contra uma corrente u a uma velocidade,
em relação à água, v (v > u), a energia total E requerida para nadar uma distância
L é dada por
L
E(v) = av 3
v−u
onde a é uma constante de proporcionalidade positiva. Os biólogos verificaram expe-
rimentalmente que os peixes migratórios nadam contra a corrente a uma velocidade
50% superior à velocidade da corrente. Mostre que esse valor corresponde à veloci-
dade que minimiza a energia total requerida para nadar uma distância fixa.

Exercício 2.59. Um campo petrolífero tem 8 poços que produzem um total de 1600
barris de petróleo por dia. Para cada poço adicional perfurado a produção média por
poço decresce de 10 barris diários. Quantos poços adicionais devem ser abertos para
maximizar a produção?

Exercício 2.60. Uma bateria de voltagem fixa V e resistência interna fixa r está
ligada a um circuito de resistência variável R. Pela lei de Ohm, a corrente I no
circuito é dada por I = V /(R + r). Se a força resultante é dada por P = I 2 R, mostre
que a força máxima ocorre se R = r.

Exercício 2.61. A área da pupila de um olho doente, R, varia com a luminosidade


x de uma fonte de luz, de acordo com a igualdade

40 + 24 x
R(x) = √ .
1+4 x

1. Sabendo que a sensibilidade do olho, S, é dada pela taxa de variação da área


da pupila, escreva S em função de x.

2. Determine o valor da luminosidade para o qual é máxima a área da pupila.

3. O que acontece aos valores de R e S para níveis muito elevados de luminosi-


dade?

Exercício 2.62. Um fabricante de frascos tem um custo de produção diário


1
c(x) = 180 − 10x + x2 ,
4
em que x representa o número de frascos produzidos. Quantos frascos deverá fabricar
por dia, por forma a minimizar o custo?
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 76

Exercício 2.63. Determine o domínio de definição, o domínio de continuidade e a


segunda derivada da função:

−23 + 4 loge2 |x + 6|, x > −5
f (x) =  π  1 235 .
23 tg x − + 5 − x2 − − 26x, x ≤ −5
4 2 2

Exercício 2.64. Represente graficamente as seguintes funções:

x2 − 2x + 4 2x √
1. y = ; 2. y = 3x3 − 9x + 1; 3. y = ; 4. y = 3x2 − 2.
x−2 x2−1

1
Exercício 2.65. Considere a função real de variável real definida por f (x) = x − .
x
Indique o domínio de f e mostre que f é ímpar. Será injectiva? Esboce o gráfico da
restrição de f a ] − ∞, 0[ e, usando o facto de f ser ímpar, complete o gráfico de f .

Exercício 2.66. Seja f (x) = 12 + 2x2 − x4 . Determine os seus máximos e mínimos


locais. Discuta a concavidade o os pontos de inflexão. Finalmente, esboce o seu
gráfico.

Exercício 2.67. Determine y ′ sabendo que 5x cos y = ex+y .

Exercício 2.68. Se V for o volume de um cubo com a aresta de comprimento x


e, à medida que o tempo passa, o cubo se expande, determine dV /dt em função de
dx/dt. Explique o significado das derivadas

Exercício 2.69. Um homem com 2 metros de altura anda a uma velocidade de 0, 6


metros por segundo, em direcção a um candeeiro de iluminação que está a 5 metros
acima do solo. Com que velocidade se desloca o extremo da sombra?

Exercício 2.70. Use a derivação implícita para achar uma equação√da recta tan-
gente ao astróide descrito pela equação x2/3 + y 2/3 = 4 no ponto (−3 3, 1).

Exercício 2.71. Uma gota de água esférica sofre evaporação a uma taxa proporci-
onal à sua superfície exterior. Como varia o raio?

Exercício 2.72. Determine a aproximação linear das seguintes funções em x0 = 0


e os valores de x para os quais essa aproximação tem uma precisão inferior ou igual
a 0,1:

1. y = 1 + x; 2. y = 1 + ex ; 3. y = tg x.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 77

Exercício 2.73. Determine o diferencial dy para as seguintes funções e calcule o


seu valor para os valores de x e dx indicados:

1. y = (x2 + 5)3 , x = 1, dx = 0,05; 2. y = ex/4 , x = 4, dx = 0,1.

Exercício 2.74. Determine o erro que se comete ao calcular y = f (x) quando se


considera uma aproximação x0 para x obtida com uma precisão |∆x0 | ≤ ǫ para os
casos seguintes:

1. y = x2 , x0 = 1, |∆x0 | ≤ 0,5; 2. y = x, x0 = 1, |∆x0 | ≤ 0,1.

Exercício 2.75. O raio de um disco circular é 24 cm, com um erro máximo de 0,2
cm.

1. Use as diferenciais para estimar o erro máximo na área do disco calculado.

2. Qual o erro relativo? Dê o resultado em termos de percentagem.

Exercício 2.76. Suponha


√ que não temos fórmulas para g(x), mas sabemos que
g(2) = −4 e g ′ (x) = x2 + 5, para todo x. Use a aproximação linear para estimar
g(1,95) e g(2,05).

Exercício 2.77. Com que precisão deve medir o raio de uma bola esférica por forma
a garantir uma precisão de 1% no seu volume?

Exercício 2.78. O período T de oscilação de um pêndulo obtém-se usando a fórmula


s

T = 2π ,
g

onde ℓ é o comprimento do pêndulo e g = 9,8 m s−2 a aceleração da gravidade.


Determine o erro que se comete ao calcular T em função de pequenos erros ∆ℓ
resultantes das medições de ℓ.

Exercício 2.79. De acordo com a Lei de Poiseuille, formulada pelo médico e físico
francês Jean-Louis-Marie Poiseuille (1797–1869), quando o sangue flui ao longo de
um vaso sanguíneo, o fluxo F (volume de sangue por unidade de tempo passando por
um ponto dado) é proporcional à quarta potência do raio R do vaso F = kR4 , k ∈ R.
Uma artéria parcialmente obstruída pode ser alargada por uma operação chamada
angioplastia, na qual minúsculo balão na ponta de um catéter, que é insuflado dentro
da artéria a fim de aumentá-la e restaurar o fluxo normal do sangue. Mostre que
a variação relativa de F é cerca de quatro vezes a variação relativa de R. De que
forma um aumento de 5% no raio afecta o fluxo de sangue?
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 78

Exercício 2.80. Utilize as equações paramétricas para determinar a equação da


tangente à curva nos pontos indicados:

1. ρ = 2 cos θ, θ = π2 ; 2. ρ = 1θ , θ = 2π; 3. ρ = 4 − 3 sen θ, θ = π.

Exercício 2.81. Determine a equação da tangente a cada uma das seguintes curvas
no ponto correspondente ao valor do parâmetro indicado;
 
x = 2t + 4 x = et
1. , t = 1; 2. , t = 2.
y = 8t2 − 2t + 4 y = e−t

Exercício 2.82. Determine os pontos onde a recta tangente à curva

x = 2t3 , y = 1 + 4t + t2 , t ∈ R,

tem declive igual a 1.

Exercício 2.83. (∗) Um avião em voo vertical descreve uma trajectória que, para
t ∈ [0, 1] dado em minutos, pode ser traduzida pela expressão h(t) = (t − 1)et − t + 3.

1. Calcule um valor aproximado do instante em que o avião esteve mais próximo


do solo, aplicando o método de Newton duas vezes.

2. Aproxime a diferença máxima de altitude que o avião atinge no mesmo inter-


valo.

Exercício 2.84. (∗) Considere a função f definida por f (x) = e−x ln x, x > 0.
Utilizando o método de Newton, aproxime a abcissa do seu ponto de inflexão, em
segunda aproximação, partindo de um intervalo com amplitude inferior ou igual a 1.

Exercício 2.85. (∗) Use o método de Newton para aproximar, com erro inferior a
10−4 , o valor de x correspondente ao ponto do gráfico de y = x2 mais próximo de
(1, 0).

Exercício 2.86. (∗) Aplicar o método de Newton ao cálculo da raiz quadrada de


um número positivo a. Proceder de maneira análoga para calcular a raiz cúbica de
a.

Exercício 2.87. (∗) Um projéctil é lançado com uma velocidade v0 e um ângulo


α num túnel de altura h e atinge o seu máximo quando α for tal que sen(α) =
p
2gh/v02 , onde g = 9 , 8 m/s2 é a aceleração da gravidade. Calcular α utilizando o
método de Newton, supondo que v0 = 10 m/s e h = 1 m.
Capítulo 3

Cálculo integral

3.1 Primitivas
3.1.1 Primitivas imediatas
No capítulo anterior certos problemas foram enunciados na forma: “dada uma função f ,
determinar a sua derivada f ′ ”. Consideremos agora o problema inverso, isto é: “dada a
derivada f ′ , determinar a função primitiva f ”. Por outras palavras, neste capítulo queremos
considerar a questão: “dada uma função f , determinar uma função F tal que F ′ = f ”.

Definição 3.1 (Primitiva). Uma função F diz-se primitiva (ou anti-derivada) de f


no intervalo I se
F ′ (x) = f (x), ∀x ∈ I.
Ao processo de determinação da primitiva F de uma função f chama-se primitivação.

Notemos que, se uma função f admitir primitiva, essa primitiva não é determinada de
forma única. De facto, se considerarmos f (x) = 2x, x ∈ R, podemos ter, como primitiva,
F1 (x) = x2 , F2 (x) = x2 + 10, F3 (x) = x2 + 11,4, etc. Neste caso, as primitivas de f em R
são da forma F (x) = x2 + c, c ∈ R.

Definição 3.2 (Função primitivável). Uma função f diz-se primitivável num inter-
valo I se existir uma primitiva de f em I.

O próximo resultado demonstra que duas primitivas de uma mesma função diferem
apenas por uma constante.

Teorema 3.1. Sejam F1 e F2 duas primitivas de f num intervalo I. Então, a sua


diferença é uma função constante em I, isto é,

F1 (x) = F2 (x) + c, ∀x ∈ I,

com c uma constante real.

79
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 80

Demonstração: Sejam a e b dois pontos distintos (a < b) de I e G(x) = F1 (x) − F2 (x),


para todo o x ∈ I. Como F1 e F2 são ambas primitivas de f em I temos que

F1′ (x) = F2′ (x) = f (x), ∀x ∈ I,

o que implica, como G é diferenciável em I, G′ (x) = F1′ (x) − F2′ (x) = 0 e, como tal,
G(x) = c, com c uma constante real. De facto, pelo Teorema de Lagrange, como G
é diferenciável em I,
G(b) − G(a)
=0
b−a
ou seja, G(b) = G(a), com a e b quaisquer dois pontos distintos de I. Provámos
assim que G(x) = c, para todo o x ∈ I, ou seja F1 (x) = F2 (x) + c, c ∈ R.

Como consequência do teorema anterior concluímos que todas as primitivas de f são


da forma F + c, com F uma primitiva de f e c uma constante real.

Definição 3.3 (Integral indefinido). Chama-se integral indefinido (ou primitiva) de


f em I, e denota-se por Z
f (x) dx,

a toda a expressão da forma F (x) + c, onde F é uma primitiva de f em I e c ∈ R.


Podemos então dizer que o integral indefinido de uma função é o conjunto de todas
as suas primitivas.

De acordo com esta definição, ao processo de primitivação também se chama integração.


A notação usada para o integral indefinido foi proposta por Gottfried Wilhelm von Leibniz
(1646–1716) que a começou a usar porque a integração, como iremosR ver mais tarde, está
intimamente relacionada com somas (o “s”, de soma, degenerou em “ ”). A partícula “dx”,
para já, não tem significado especial e serve apenas para indicar a variável independente
em relação à qual se está a primitivar.
Geometricamente podemos considerar o integral indefinido como uma família de curvas.
Essas curvas são tais que passar de uma para a outra se processa por translação do eixo
dos xx.
Integral indefinido

0
y

−5

−6 −4 −2 0 2 4 6
x

Figura 3.1: Integral indefinido.


CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 81

Consideremos alguns exemplos.


Z
1. 1 dx = x + c, c ∈ R.
Z
x2
2. x dx = + c, c ∈ R.
2
Z
3. sen x dx = − cos x + c, c ∈ R.
Z
4. cos x dx = sen x + c, c ∈ R.
Z
1
5. dx = ln |x| + c, c ∈ R, x ∈ R \ {0}.
x
1 −1 1
De facto, (ln x)′ = , x > 0 e (ln(−x))′ = = , x < 0.
x −x x
6. Generalizando a regra dada no exemplo anterior, podemos escrever
Z ′
f (x)
dx = ln |f (x)| + c, c ∈ R,
f (x)
ou, noutra notação,
Z
f′
dx = ln |f | + c, c ∈ R.
f
Z Z
2 1
7. sec x dx = dx = tg x + c, c ∈ R.
cos2 x
Z
arc sen x arc sen2 x
8. √ dx = + c, c ∈ R.
1 − x2 2
De facto,
 ′
arc sen2 x 1
= arc sen x(arc sen x)′ = · · · = arc sen x √ .
2 1 − x2

Uma questão que se coloca é a seguinte: será que toda a função f possui primitiva?
Pode demonstrar-se que toda a função contínua num intervalo I possui, nesse intervalo,
uma primitiva. No entanto, existem funções que não possuem primitiva. Essas funções
são, naturalmente, funções descontínuas.
Por exemplo, a função 
0, x < 2,
f (x) =
1, x ≥ 2,
não é primitivável em R, pois a existência de uma função F : R −→ R tal que F ′ (x) = f (x),
para todo o x ∈ R, contradiz o Teorema de Darboux. De facto, segundo o Teorema de
Darboux, a derivada de qualquer função f tem que que verificar a propriedade do valor
intermédio e, neste caso, f não assume todos os valores entre 0 e 1. Notemos também que,
pelo Teorema de Darboux, as funções primitiváveis aplicam intervalos em intervalos o que,
claramente, não é o caso.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 82

O Teorema de Darboux também garante que as funções primitiváveis não podem ter
descontinuídades de primeira espécie. Por isso, para procurar um exemplo de uma função
descontínua que seja primitivável, temos que considerar funções com descontinuidades de
segunda espécie. Por exemplo, a derivada da função
 2
x sen x1 , x 6= 0,
f (x) =
0, x = 0,

é descontínua, pois não existe o limite de f ′ (x) quando x tende para 0 mas é primitivável
e, como tal, aplica intervalos em intervalos.

Vamos agora considerar algumas propriedades das primitivas. As primeiras proprieda-


des resultam, imediatamente, da definição e a sua demonstração é deixada como exercício:
Z Z ′

f (x) dx = f (x) + c, c ∈ R; f (x) dx = f (x).

Outra propriedade é
Z Z Z
αf (x) + βg(x) dx = α f (x) dx + β g(x) dx, α, β ∈ R,

que estabelece que a primitiva é um operador linear. De facto, sejam F e G duas primitivas
de f e g, respectivamente. Então

(αF (x) + βG(x))′ = αF ′ (x) + βG′ (x) = αf (x) + βg(x).

Podemos, então, concluir que


Z
αf (x) + βg(x) dx = αF (x) + βG(x) + c, c∈R
= α(F (x) + c1 ) + β(G(x) + c2 ), c 1 , c2 ∈ R
Z Z
= α f (x) dx + β g(x) dx.

Duas regras de integração muito importantes podem ser obtidas pela generalização do
raciocínio efectuado na resolução do exercício anterior.

A primeira é a regra de integração da potência, cuja demonstração é deixada como


exercício: Z
xm+1
xm dx = + c, m 6= −1, c ∈ R.
m+1
A segunda é a regra de integração da função composta e diz que, se F é uma primitiva
de f e g é uma função diferenciável, então
Z
f (g(x))g ′ (x) dx = F (g(x)) + c, c ∈ R.

De facto, pelo teorema da derivada da função composta,

(F (g(x)))′ = g ′ (x)F ′ (g(x)) = g ′ (x)f (g(x)),

o que prova o pretendido.


CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 83

Exercício 3.1. Mostre que:


Z
f m+1
1. f ′ f m dx = + c, m 6= −1, c ∈ R;
m+1
Z
sh3 x
2. ch x sh2 x dx = + c, c ∈ R.
3

Resolução: Vamos apenas resolver o alínea 1; a alínea 2 resulta imediatamente desta.


Considerando g(x) = xm , com m 6= −1, temos que
Z Z
f (x)f (x) dx = f ′ (x)g(f (x)) dx.
′ m

Pela regra de integração da função composta,


Z
f ′ (x)g(f (x)) dx = G(f (x)) + c, c ∈ R,

com G uma primitiva de g que, pela regra de integração da potência, pode ser dada
por G(x) = xm+1 /(m + 1), o que prova o pretendido.

3.1.2 Primitivação por partes


O próximo teorema dá-nos a chamada regra de primitivação por partes, que é obtida a partir
da regra de derivação do produto de duas funções.

Teorema 3.2 (Primitivação por partes). Sejam f e g duas funções definidas num
intervalo I tais que f admite uma primitiva F em I e g é derivável em I. Então
Z Z
f (x)g(x) dx = F (x)g(x) − F (x)g ′ (x) dx.

Demonstração: Temos que

(F (x)g(x))′ = F ′ (x)g(x) + F (x)g ′ (x) = f (x)g(x) + F (x)g ′ (x) x ∈ I.

Assim sendo,
f (x)g(x) = (F (x)g(x))′ − F (x)g ′ (x), x ∈ I,
o que nos permite concluir que
Z Z
f (x)g(x) dx = F (x)g(x) − F (x)g ′ (x) dx,

provando assim o pretendido.

Em linguagem corrente, o teorema anterior pode ser enunciado da seguinte forma: “a


primitiva do produto de duas funções é igual à primitiva da primeira vezes a segunda menos
a primitiva da que já está primitivada vezes a derivada da segunda”.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 84

Exercício 3.2. Calcule as seguintes primitivas usando a regra de primitivação por


partes:
Z
1. x ln x dx;
Z
2. arc sen x dx.

Resolução:
Z Z 2  
x2 x 1 x2 1
1. x ln x dx = ln x − dx = ln x − + c, c ∈ R.
2 2 x 2 2
2. Temos, sucessivamente,
Z Z
arc sen x dx = 1 arc sen x dx
Z
1
= x arc sen x − x √ dx
1 − x 2
Z
1 −2x
= x arc sen x + √ dx
2 1 − x2
p
= x arc sen x + 1 − x2 + c, c ∈ R.

Aquando da aplicação da regra de primitivação por partes, coloca-se a questão de saber


qual a função que deve ser primitivada e qual a que deve ser derivada. Temos a seguinte
regra de ouro: deve começar por se primitivar o factor que menos se simplifica por derivação.
Um quadro que pode ser útil é o seguinte:

R Derivar Primitivar
R função polinomial × função trigonométrica dx
R função polinomial × função exponencial dx
R função trigonométrica inversa × função polinomial dx
função logarítmica × função polinomial dx

Por vezes é necessário aplicar a regra de primitivação por partes duas (ou mais) vezes.
Por exemplo, suponhamos que se pretende determinar
Z
ex cos x dx.

Temos que
Z Z
x x
e cos x dx = e cos x − ex (− sen x) dx
Z
= e cos x + e sen x − ex cos x dx.
x x

Logo Z
1
ex cos x dx = ex (cos x + sin x) + c, c ∈ R.
2
Quando se aplica duas (ou mais) vezes a regra de integração por partes deve manter-se
até ao final a escolha feita inicialmente sobre qual a função a primitivar e qual a função a
derivar.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 85

3.1.3 Regras práticas para primitivar funções trigonométricas e hiper-


bólicas
Quando se pretende primitivar potências ímpares de sen x, cos x, sh x ou ch x, destaca-se
uma unidade à potência ímpar e o factor resultante passa-se para a co-função através das
fórmulas fundamentais:

cos2 x + sen2 x = 1, ch2 x − sh2 x = 1.

Por exemplo,
Z Z
3
sen x dx = (1 − cos2 x) sen x dx
Z Z
= sen x dx − cos2 x sen x dx

cos3 x
= − cos x + + c, c ∈ R.
3
No caso de se pretender primitivar potências pares de sen x, cos x, sh x ou ch x, passa-
-se para o arco duplo através das fórmulas:
1 1
sen2 x = (1 − cos 2x), cos2 x = (1 + cos 2x),
2 2
1 1
sh2 x = (ch 2x − 1), ch2 x = (ch 2x + 1).
2 2
Por exemplo,
Z Z
2 1
cos x dx = (cos 2x + 1) dx
2
sen 2x x
= + + c, c ∈ R.
4 2
Para as potências pares e ímpares de tg x (th x) ou cotg x (coth x), destaca-se tg2 x
(th x) ou cotg2 x (coth2 x) e aplica-se uma das fórmulas:
2

tg2 x = sec2 x − 1, (th2 x = 1 − sech2 x),

cotg2 x = cosec2 x − 1, (coth2 x = 1 + cosech2 x).


Nas potências pares de sec x (sech x) ou cosec x (cosech x), destaca-se sec2 x (sech2 x)
ou cosec2 x (cosech2 x) e ao factor resultante aplica-se uma das fórmulas:

sec2 x = 1 + tg2 x, (sech2 x = 1 − th2 x),

cosec2 x = 1 + cotg2 x, (cosech2 x = coth2 x − 1).


Para as potências ímpares de sec x (sech x) ou cosec x (cosech x), destaca-se sec2 x
(sech2 x) ou cosec2 x (cosech2 x) e primitiva-se por partes começando por esse factor.

Consideremos, agora, o caso de produtos de potências de funções trigonométricas ou


hiperbólicas.
Quando se pretende primitivar o produto de uma potência ímpar de sen x (sh x) por
qualquer potência de cos x (ch x), destaca-se sen x (sh x) e passa-se o factor resultante para
a co-função através da fórmula fundamental:

sen2 x = 1 − cos2 x, (sh2 x = ch2 x − 1).


CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 86

No caso da função a primitivar ser o produto de uma potência ímpar de cos x (ch x)
por qualquer potência de sen x (sh x), destaca-se cos x (ch x) e passa-se o factor resultante
para a co-função através da fórmula fundamental:

cos2 x = 1 − sen2 x, (ch2 x = 1 + sh2 x).

Quando o produto é entre uma potência par de sen x (sh x) e uma potência par de cos x
(ch x), aplicam-se as fórmulas:

sen 2x = 2 sen x cos x, (sh 2x = 2 sh x ch x),

cos 2x = cos2 x − sen2 x, (ch 2x = ch2 x + sh2 x),


 
1 1
sen2 x = (1 − cos 2x), 2
sh x = (ch 2x − 1) ,
2 2
 
1 1
cos2 x = (1 + cos 2x), 2
ch x = (ch 2x + 1) .
2 2

Para terminar esta secção, consideremos o caso de produtos em que aparecem factores
do tipo sen mx ou cos nx (sh mx ou ch nx). Neste caso aplicam-se as fórmulas:
 
1 1
sen x sen y = (cos(x − y) − cos(x + y)), sh x sh y = (ch(x + y) − ch(x − y)) ,
2 2
 
1 1
cos x cos y = (cos(x + y) + cos(x − y)), ch x ch y = (ch(x + y) + ch(x − y)) ,
2 2
 
1 1
sen x cos y = (sen(x + y) + sen(x − y)), sh x ch y = (sh(x + y) + sh(x − y)) .
2 2

3.1.4 Primitivação de funções racionais


f (x)
Consideremos a fracção onde f (x) e g(x) são dois polinómios. Se o grau do numerador
g(x)
for maior ou igual ao grau do denominador, efectua-se a divisão de f (x) por g(x). Obtém-se
então
f (x) R(x)
= Q(x) + ,
g(x) g(x)
R(x)
sendo uma fracção própria. Para primitivar a fracção própia procede-se de acordo
g(x)
com os seguintes passos.

1. Decomposição do denominador da fracção própria em factores. Os factores obtidos são


da forma (x −a)n , correspondendo a raízes reais a de multiplicidade n, ou da forma
m
(x − p)2 + q 2 , correspondendo às raízes imaginárias p ± qi de multiplicidade m.

2. Decomposição da fracção própria numa soma de elementos simples. Cada factor do tipo
(x − a)n dá origem a

A1 A2 An
+ + ··· + ,
(x − a)n (x − a)n−1 x−a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 87

m
com Ai , i = 1, . . . , n, constantes a determinar. Cada factor do tipo (x − p)2 + q 2
dá origem a
P1 x + Q 1 P2 x + Q 2 Pm x + Qm
2 2 m + m−1 + ··· + ,
((x − p) + q ) ((x − p)2 + q 2 ) (x − p)2 + q 2

com Pj , Qj , j = 1, . . . , m, constantes a determinar.

3. Determinação das constantes. As constantes Ai , i = 1, . . . , n, e Pj , Qj , j = 1, . . . , m,


podem ser determinadas conjuntamente pelo método do coeficientes indeterminados.
Há, no entanto, uma forma alternativa de calcular essas constantes, que descrevemos
de seguida. Comecemos por considerar o cálculo dos coeficientes Ai , i = 1, . . . , n.
Seja ψ(x) tal que g(x) = ψ(x)(x − a)n . Se n = 1, temos que (regra do tapa)
 
R(x)
A1 = .
ψ(x) x=a

Se n > 1, efectua-se a divisão (regra das h’s)


 
R(x)
ψ(x) x=a+h

dispondo os polinómios por ordem crescente dos seus monómios, obtendo-se


 
R(x) Rn (a + h)
= A1 + A2 h + · · · + An hn−1 + .
ψ(x) x=a+h ψ(a + h)

Consideremos, agora, o cálculo dos coeficientes Pj , Qj , j = 1, . . . , m. Seja ψ(x) tal


m
que g(x) = ψ(x) (x − p)2 + q 2 . Se m = 1, temos que
 
R(x)
P1 x + Q1 = .
ψ(x) x=p+qi

Se m > 1, as constantes calculam-se pelo método dos coeficientes indeterminados (as


constantes P1 e Q1 podem ser obtidas como no caso m = 1).
Caso apareçam elementos simples da forma
1
,
((x − p)2 + c)m

estes podem ser primitivados usando a seguinte fórmula de recorrência:


Z 
1 1 1 x−p
m dx = ×
2
((x − p) + c) c 2m − 2 ((x − p)2 + c)m−1
Z 
2m − 3 1
+ dx .
2m − 2 ((x − p)2 + c)m−1

4. Determinar a primitiva. A primitiva da função racional é a soma das primitivas de


cada um dos elementos simples
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 88

Exercício 3.3. Calcule a primitiva


Z 5
x + x3 + x
dx.
x4 + 1

Resolução: Comecemos por dividir os polinómios. Temos que

x5 + x3 + x x3
= x + .
x4 + 1 x4 + 1
Logo
Z Z
x5 + x3 + x x3 x2 1
dx = x+ dx = + ln (x4 + 1) + c, c ∈ R.
x4 + 1 x4 + 1 2 4

Exercício 3.4. Calcule a primitiva


Z
3x + 2
dx.
x2 + 4x + 3

Resolução: Como já estamos na presença de uma fracção própria, vamos começar por
factorizar o denominador.

1. Factorizar o denominador.

x2 + 4x + 3 = (x + 1)(x + 3).
2. Obter os elementos simples.

3x + 2 A B
= + .
x2 + 4x + 3 x+1 x+3
3. Determinação das constantes.
Vamos determinar A e B pelo método dos coeficientes indeterminados. Assim,
A B A(x + 3) + B(x + 1) (A + B)x + (3A + B)
+ = = .
x+1 x+3 (x + 1)(x + 3) (x + 1)(x + 3)
Logo
  
A+B = 3 A = 3−B A = −1/2
⇒ ⇒ .
3A + B = 2 9 − 3B + B = 2 B = 7/2

Concluímos então que


3x + 2 −1/2 7/2
= + .
x2 + 4x + 3 x+1 x+3
Os valores de A e de B também poderiam ter sido obtidos pela regra do tapa
   
3x + 2 1 3x + 2 7
A= =− , B= = .
x + 3 x=−1 2 x + 1 x=−3 2
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 89

4. Determinar a primitiva.

Z Z Z
3x + 2 −1/2 7/2
dx = dx + dx
x2 + 4x + 3 x+1 x+3
1 7
= − ln |x + 1| + ln |x + 3| + c
2 2
7
1 (x + 3)

= ln + c, c ∈ R.
2 (x + 1)

Exercício 3.5. Calcule a primitiva


Z
x+2
dx.
(x + 1)2 (x2
+ 4x + 3)

Resolução: Como já estamos na presença de uma fracção própria, vamos começar por
factorizar o denominador.

1. Factorizar o denominador.

(x + 1)2 (x2 + 4x + 3) = (x + 1)3 (x + 3).

2. Obter os elementos simples.

x+2 A1 A2 A3 B
3
= 3
+ 2
+ + .
(x + 1) (x + 3) (x + 1) (x + 1) x+1 x+3
3. Determinação das constantes.
Para obter as constantes vamos proceder da seguinte forma. Os coeficientes A1
e B determinam-se pela regra do tapa
   
x+2 1 x+2 1
A1 = = , B= = .
x + 3 x=−1 2 (x + 1)3 x=−3 8

Os coeficientes A2 e A3 determinam-se pelo método dos coeficientes indetermi-


nados, obtendo-se (verifique) A2 = 14 e A3 = − 18 . Concluímos então que

x+2 1/2 1/4 1/8 1/8


= + − + .
(x + 1)2 (x2
+ 4x + 3) (x + 1) 3 (x + 1) 2 x+1 x+3

Uma forma alternativa de obter os Ai , i = 1, 2, 3, é usando a regra dos h’s.


4. Determinar a primitiva.

Z
x+2 −1/4 1/4 1 1
dx = − − ln |x + 1| + ln |x + 3| + c
(x + 1)2 (x2
+ 4x + 3) (x + 1) 2 x+1 8 8
1/8
−1/4 1/4 x + 3
= 2
− + ln + c, c ∈ R.
(x + 1) x+1 x + 1
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 90

3.1.5 Primitivação por substituição


Seja f uma função primitivável no intervalo I e seja x = φ(t) uma função bijectiva e
diferenciável de I1 em I (uma função bijectiva e diferenciável chama-se mudança de variável)
φ f
I1 /I /R

t✤ / x = φ(t) ✤ / f (x)

Se F é uma primitiva de f temos


d
F (φ(t)) = F ′ (φ(t))φ′ (t) = f (φ(t))φ′ (t).
dt
Logo Z
F (φ(t)) + c = f (φ(t))φ′ (t) dt.

Provámos, estão, o seguinte resultado que nos indica como poderemos primitivar por subs-
tituição de variável.

Teorema 3.3 (Primitivação por substituição). Seja f uma função primitivável no


intervalo I e φ uma mudança de variável de I1 em I. Então
Z Z 

f (x) dx = f (φ(t))φ (t) dt . (3.1)
t=φ−1 (x)

Z p
Exercício 3.6. Calcule 1 − x2 dx.


Resolução: Seja f (x) = 1 − x2 . Temos que Df = [−1, 1]. Consideremos
φ(t) = sen t, t ∈ [−π/2, π/2].
Como é fácil de provar, φ é bijectiva e diferenciável no seu domínio e, como tal, pode
ser usada como mudança de variável. Consideremos, então,
x = sen t ⇒ t = arc sen x.
Como φ′ (t) = cos t, temos que
Z p Z p 
2
1 − x dx = 2
1 − sen t cos t dt
t=arc sen x
Z 
= cos2 t dt
t=arc sen x
..
.  
1 1
= t + sen 2t +c
2 4 t=arc sen x
1 1
= arc sen x + sen (2 arc sen x) + c
2 4
..
.
1 1 p
= arc sen x + x 1 − x2 + c, c ∈ R.
2 2
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 91

Torna-se útil, neste contexto, relembrar a noção de diferencial considerada no final do


capítulo anterior. Como foi visto, se x = φ(t), o diferencial de x pode ser dado por dx =
φ′ (t) dt. Assim, a fórmula (3.1) pode ser interpretada como resultante das substituições
x = φ(t) e dx = φ′ (t) dt.

Exercício 3.7. Calcule Z


1
dx.
x1/2 + x1/3

Resolução: Temos que o m.m.c.(2, 3) = 6. Logo, a mudança de variável a considerar é


x = t6 . Neste caso, dx = 6t5 dt. Então,
Z Z  Z 
1 1 5 t3
dx = 6t dt =6 dx = ···
x1/2 + x1/3 t3 + t2 t=x1/6 t+1 t=x1/6
= 2x1/2 − 3x1/3 + 6x1/6 − 6 ln |x1/6 + 1| + c, c ∈ R.

Na internet é possível encontrar várias páginas que permitem calcular primitivas.


Uma das mais famosas é: https://www.wolframalpha.com

3.2 Integral definido


3.2.1 Noção de área de uma figura plana
O que é a área de uma figura plana? Informalmente podemos dizer que é “algo que se pode
medir e que nos permite ter uma ideia da maior ou menor dimensão da figura”. À área
associamos um número que nos dá a “medida da área”. Por simplificação, a medida da área
será designada, muitas vezes, apenas “área”.

Área de uma figura plana


5

3
y

0
−2 −1 0 1
x

Figura 3.2: Área de uma figura plana.

Como unidade de referência da área tomaremos a medida da área de um quadrado de


lado igual à unidade, que dizemos ter “área um”. Para saber quanto vale a área de uma
figura só temos que ver quantas unidades de área (ou partes dela) cabem na figura.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 92

Consideremos uma função f , não negativa e contínua num intervalo real [a, b]. Supo-
nhamos que pretendemos calcular a área A do domínio plano definido pela curva y = f (x),
as rectas x = a, x = b e o eixo dos xx. Para isso, comecemos por dividir o intervalo [a, b]
em subintervalos iguais por meio de um número finito de pontos x0 , x1 , . . . , xn tais que

a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b, (3.2)

com ∆xi = xi − xi−1 , i = 1, 2, . . . , n. Obtemos assim uma partição do intervalo [a, b]. Cha-
mamos amplitude da partição à maior das amplitudes dos intervalos definidos pela partição,
isto é, ao valor
∆x = max ∆xi .
i=1,2,...,n

Como f é contínua em cada subintervalo fechado [xi−1 , xi ], pelo Teorema de


Weierstrass, f assume um máximo Mi num ponto y i desse intervalo e um mínimo mi
num ponto y i desse intervalo. Consideremos as somas
n
X n
X
s(∆x) = f (y i )∆xi e S(∆x) = f (y i )∆xi ,
i=1 i=1

onde cada parcela é a área de um rectângulo. Note-se que s(∆x) é a área definida por um
polígono contido em A e S(∆x) a área definida por um polígono que contém A. Então

s(∆x) ≤ A ≤ S(∆x).

Como f é uma função contínua, aumentando o número de pontos da partição ou, de forma
equivalente, diminuindo ∆x, o valor mi = f (y i ) tende para Mi = f (y i ). Por definição de
limite,
∀ǫ > 0, ∃δ > 0 : |∆x| < δ ⇒ |f (y i ) − f (y i )| < ǫ,
para i = 1, 2, . . . , n, e então
n
X n
X
S(∆x) − s(∆x) = (f (y i ) − f (y i ))∆xi < ǫ ∆xi = ǫ(b − a).
i=1 i=1

Podemos então dizer que a área A pode ser aproximada por s(∆x) ou S(∆x) com a precisão
que se quiser. Assim,
A = lim S(∆x) = lim s(∆x).
∆x→0 ∆x→0

3.2.2 Definição de integral definido


Seja f uma função limitada, não necessariamente contínua, definida no intervalo [a, b].
Consideremos a partição (3.2), com ∆xi = xi − xi−1 , i = 1, 2, . . . , n, cuja amplitude é ∆x.
Ao somatório
Xn
Rf (∆x) = f (yi )∆xi ,
i=1

com yi ∈ [xi−1 , xi ], chamamos soma de Riemann para f no intervalo [a, b] relativa à partição
(3.2), em homenagem ao matemático Georg Friedrich Bernhard Riemann (1826–1866).
Note-se que, para cada partição existem muitas somas de Riemann possíveis, bastando
para isso variar a escolha dos yi ∈ [xi−1 , xi ].
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 93

Definição 3.4 (Integral definido). Seja f uma função limitada definida num in-
tervalo fechado [a, b]. O integral definido de f entre a e b é definido como sendo o
limite das suas somas de Riemann quando a amplitude das partições, arbitrariamente
escolhidas, tende para zero, isto é,
Z b
f (x) dx = lim Rf (∆x). (3.3)
a ∆x→0

Na definição anterior, a a e b chamamos limites de integração e a f chamamos função


integranda. Quando o limite existe, f diz-se integrável (ou integrável à Riemann) ou que
Z b
f (x) dx
a

existe. A afirmação (3.3) significa que, para todo o ǫ > 0 existe um δ > 0 tal que, se ∆x é
a amplitude de uma partição de [a, b] com ∆x < δ, então

|Rf (∆x) − I| < ǫ,

com
n
X Z b
Rf (∆x) = f (yi )∆xi e I= f (x) dx,
i=1 a

para qualquer escolha dos números yi nos subintervalos [xi−1 , xi ] da partição considerada.
O limite I é chamado limite de uma soma de Riemann.

Exercício 3.8. Considere a função


(
1, x∈Q
f (x) = ,
0, x∈R\Q

chamada função de Dirichlet, em homenagem ao matemático alemão Johann Peter


Gustav Lejeune Dirichlet (1805–1859). Será que f é integrável em [0, 1]?

Resolução: Consideremos uma partição uniforme de [0, 1] de amplitude ∆x, isto é

0 = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = 1,

com ∆x = xi − xi−1 , i = 1, 2, ..., n. Para esta partição vamos determinar as somas


de Riemann
Xn
Sr (∆x) = f (yi )∆x,
i=1

escolhendo yi ∈ Q (o que é sempre possível pois em qualquer intervalo real existe


sempre um racional), bem como as somas de Riemann
n
X
Si (∆x) = f (yi )∆x,
i=1
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 94

com yi ∈ R \ Q (o que também é sempre possível). Assim


n
X
Sr (∆x) = 1∆x = 1
i=1
e
n
X
Si (∆x) = 0∆x = 0,
i=1
o que permite concluir que a função de Dirichlet não é integrável à Riemann.

A definição de integral foi dada para um função definida num intervalo real [a, b]. Isto
pressupõe que a < b e que a e b são números reais (finitos). Excluímos, assim, os casos
[a, b], com a > b, [a, a] = {a}, [a, +∞[, ] − ∞, a[ e ] − ∞, +∞[. Vejamos agora como
generalizar a definição para os dois primeiros casos.

Definição 3.5. Seja f uma função limitada definida num intervalo [a, b]. Se a = b
temos que Z a
f (x) dx = 0.
a
Se a > b temos que
Z b Z a
f (x) dx = − f (x) dx.
a b

Um resultado útil é o seguinte, que apresentamos sem demonstração.

Teorema 3.4. Seja f uma função integrável em [a, b]. Seja c ∈ [a, b]. Então
podemos dizer que f é integrável em [a, c] e [c, b] e
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Como vimos no Exercício 3.8, nem todas as funções limitadas são integráveis. No
entanto, pode demonstrar-se o próximo teorema para funções contínuas. De notar que
uma função contínua, definida num intervalo fechado, é limitada mas o seu recíproco não
é verdadeiro.

Teorema 3.5. Seja f uma função contínua no intervalo [a, b]. Então f é integrável
em [a, b] e o seu integral é único.

A analogia do integral com a noção de área apenas vale para funções contínuas e não
negativas.

Corolário 3.6. Seja f uma função contínua e não negativa no intervalo [a, b] e
consideremos a figura limitada pelo gráfico de f , pelas rectas verticais x = a e x = b
e pelo eixo dos xx. A área da figura existe sempre e pode ser obtida por
Z b
A= f (x) dx.
a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 95

E no caso de f ser uma função negativa? Será que podemos definir “área orientada”
(ou “área com sinal”) à custa de um integral? Notemos que se f for uma função contínua
definida em [a, b] tal que f (x) ≤ 0, para todo o x ∈ [a, b], então
Z b
A=− f (x) dx.
a

Exercício 3.9. Em cada uma das alíneas seguintes, determine o valor do integral
definido, identificando-o com uma área que indicará:
Z 2 Z 2
1. (2x + 6) dx; 2. (7 − 3x) dx;
−3 −1

Z 3p Z a p
3. 9− x2 dx; 4. a2 − x2 dx, a > 0.
0 −a

Resolução: Vamos apenas resolver 1 e 3. Considere-se a Figura 3.3.

1. Temos que o integral corresponde à área do triângulo. Assim,


Z 2
5 × 10
2x + 6 dx = = 25.
−3 2

2. Temos que o integral corresponde a um quarto da área do círculo. Assim,


Z 3p
1 9
9 − x2 dx = (32 π) = π.
0 4 4

f(x)=2x+6 f(x)=(9−x2)1/2
10
3
8 2.5

6 2
y

1.5
4
1
2
0.5
0 0
−2 0 2 0 1 2 3
x x

Figura 3.3: Áreas de figuras planas (Exercício 3.9, alíneas 1 e 3).

A resposta à pergunta sobre a existência de integral definido para funções limitadas


descontínuas nem sempre é positiva, como vimos no Exercício 3.8. Para garantir a exis-
tência e unicidade do integral definido para uma função descontínua é necessário impor,
essencialmente, que a função não tenha demasiadas descontinuidades.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 96

Teorema 3.7. Seja f uma função limitada com um número finito de descontinui-
dades no intervalo [a, b]. Se as descontinuidades forem todas de primeira espécie
(incluindo as removíveis), existe e é único o integral definido
Z b
f (x) dx.
a

A demonstração do teorema anterior, que não iremos apresentar, permite concluir uma
regra de cálculo para o integral de uma função descontínua nas condições do teorema: se
f for descontínua num dos extremos do domínio, proceder como se fosse contínua; se f for
descontínua no interior do intervalo, digamos em c ∈]a, b[, considere as funções
 
f (x), a≤x<c f (x), c<x≤b
g(x) = , e h(x) = ,
 lim f (x), x = c  lim f (x), x = c
x→c− x→c+

e tomar Z Z Z
b c b
f (x) dx = g(x) dx + h(x) dx.
a a c

O teorema anterior permite concluir que que as funções que admitem descontinuidades
de primeira espécie podem ser integráveis, apesar de não serem primitiváveis.

3.2.3 Propriedades do integral definido


Vamos agora considerar algumas propriedades do integral definido. As demonstrações
dessas propriedades resultam imediatamente da definição.
Consideremos duas funções f e g integráveis no intervalo [a, b]. Resulta imediatamente,
da analogia do integral com uma área, que
Z b
k dx = k(b − a), k ∈ R. (3.4)
a

Outra propriedade é a seguinte, cuja demonstração é deixada como exercício:


Z b Z b Z b
αf (x) + βg(x) dx = α f (x) dx + β g(x) dx, α, β ∈ R.
a a a

Vamos agora mostrar que o integral de uma função não negativa é não negativo, isto
é, se f (x) ≥ 0, para todo o x ∈ [a, b], então
Z b
f (x) dx ≥ 0.
a

De facto, pela definição de integral definido,


Z b n
X
f (x) dx = lim f (y ) ∆x ≥ 0.
a ∆x→0 | {zi} |{z}i
i=1 ≥0
≥0

Como consequência imediata desta última propriedade, sai a seguinte, cuja demonstra-
ção é deixada como exercício: se f (x) ≥ g(x), para todo o x ∈ [a, b], então
Z b Z b
f (x) dx ≥ g(x) dx.
a a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 97

Exercício 3.10. Seja f uma função integrável no intervalo [a, b]. Mostre que:

1. se m e M são, respectivamente, um minorante e um majorante da função f


no intervalo [a, b], então
Z b
m(b − a) ≤ f (x) dx ≤ M (b − a);
a

2. o módulo do integral é menor ou igual que o integral do módulo, isto é,


Z b Z b

f (x) dx ≤ |f (x)| dx.

a a

Resolução: Comecemos por considerar a alínea 1. Como


m ≤ f (x) ≤ M,
para todo o x ∈ [a, b], conclui-se que, pelas propriedades anteriores,
Z b Z b Z b Z b
m dx ≤ f (x) dx ≤ M dx ⇔ m(b − a) < f (x) dx < M (b − a).
a a a a
Para provar a alínea 2 basta ver que
−|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)|,
qualquer que seja o x ∈ [a, b] e aplicar a alínea anterior.
A próxima propriedade estabelece que o integral de uma função contínua, não negativa
em todo o intervalo e positiva em, pelo menos, um ponto desse intervalo, é um número
positivo. Em linguagem mais rigorosa, se f é uma função contínua em [a, b] tal que f (x) ≥
0, para todo o x ∈ [a, b], e f (c) > 0, para algum c ∈ [a, b], então
Z b
f (x) dx > 0.
a
Para provar este facto, suponhamos que c ∈]a, b[ (o caso em que c = a ou c = b
demonstra-se de forma idêntica). Como f (c) > 0 e f é contínua, existe um intervalo
I = [c − ǫ, c + ǫ] ⊂ [a, b], com ǫ um real positivo, tal que f (x) > M para algum M > 0,
para todo o x ∈ I. Assim
Z b Z c−ǫ Z c+ǫ Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx + f (x) dx > 2ǫM > 0.
a a c−ǫ c+ǫ

Note-se a importância da exigência da continuidade de f . Se f fosse descontínua poderia


não ocorrer o pretendido. Considere-se, por exemplo,
(
0, x ∈ [0, 1] \ {0,5}
f (x) = .
1, x = 0,5
Neste caso tem-se que f (x) ≥ 0, f (0,5) > 0 e
Z 1
f (x) dx = 0.
0
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 98

A propriedade seguinte é consequência imediata da anterior e a sua demonstração é


deixada como exercício: se f e g são duas funções contínuas em [a, b] tais que f (x) ≥ g(x),
para todo o x ∈ [a, b], e f 6= g, então
Z b Z b
f (x) dx > g(x) dx. (3.5)
a a

3.2.4 Valor médio de uma função


Calcular a média ȳ de um número finito de números reais y1 , ..., yn é uma tarefa muito
fácil:
y1 + · · · + y n
ȳ = .
n
Mas como poderemos calcular o valor médio f¯ de uma função y = f (x), com x ∈ [a, b]?
Recorrendo à noção de de integral como limite das somas de Riemann, podemos definir
Z b
1
f¯ = f (x) dx.
b−a a

O seguinte teorema mostra que se f for uma função contínua, existe um ponto c ∈]a, b[
no qual o valor da função f é exactamente igual ao valor médio da função.

Teorema 3.8 (Primeiro teorema do valor médio). Se f é uma função contínua no


intervalo [a, b], existe um c ∈]a, b[ tal que
Z b
f (x) dx = f (c)(b − a).
a

Demonstração: Se f é uma função constante, por (3.4), o resultado é trivial. Supo-


nhamos então que f não é constante. Como f é contínua num intervalo fechado,
existem
m = min f (x) e M = max f (x).
x∈[a,b] x∈[a,b]

Então, como f não é constante, tem-se que m < f (x) < M, para algum x ∈ [a, b].
Por (3.5) e usando um raciocínio análogo ao do último exercício, temos que
Z b Z b
1
m(b − a) < f (x) dx < M (b − a) ⇔ m < f (x) dx < M.
a b−a a

Pelo Teorema do Valor Intermédio, existe c ∈]a, b[ tal que


Z b
1
f (x) dx = f (c),
b−a a

o que prova o pretendido.

Geometricamente, o resultado anterior pode ter a seguinte interpretação para o caso


em que f é uma função contínua e positiva no intervalo [a, b]: existe um rectângulo de base
b − a e altura f (c) entre m e M com a mesma área de f .
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 99

O próximo teorema constitui uma generalização do teorema anterior.

Teorema 3.9 (Segundo teorema do valor médio). Seja f uma função contínua no
intervalo [a, b] e g uma função integrável que não muda de sinal em [a, b]. Então,
existe um c ∈]a, b[ tal que
Z b Z b
f (x)g(x) dx = f (c) g(x) dx.
a a

Demostração: Se f é uma função constante temos que f (x) = k, para todo o x ∈ [a, b].
Então Z b Z b Z b
kg(x) dx = k g(x) dx = f (c) g(x) dx,
a a a
com c ∈]a, b[. Suponhamos agora que f não é uma função constante e g 6≡ 0 (o caso
g ≡ 0 é trivial). Vamos assumir, sem perda de generalidade, que g(x) ≥ 0, para todo
o x ∈ [a, b]. Então, tal como na demonstração do teorema anterior, podemos dizer
que existem constantes m e M tais que

mg(x) < f (x)g(x) < M g(x),

para algum x ∈ [a, b]. Concluímos então


Z b Z b Z b
mg(x) dx < f (x)g(x) dx < M g(x) dx
a a a

o que, atendendo a
Z b
g(x) dx > 0,
a
equivale a dizer
Rb
a f (x)g(x) dx
m< Rb < M.
a g(x) dx
Pelo Teorema do Valor Intermédio, existe c ∈]a, b[ tal que
Rb Z b Z b
a f (x)g(x) dx
Rb = f (c) ⇒ f (x)g(x) dx = f (c) g(x) dx.
a g(x) dx a a

Está assim concluída a demonstração.

3.2.5 O teorema fundamental do cálculo


Vamos, de seguida, apresentar o famoso Teorema Fundamental do Cálculo que evidencia a
relação entre a primitivação e a integração. Este teorema foi estabelecido, independente-
mente, por Isaac Newton (1642–1727) e Gottfried Wilhelm Leibniz (1642–1727).
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 100

A fim de perceber melhor a sua demonstração, consideremos f uma função contínua


em [a, b] e uma nova função Z x
F (x) = f (t) dt,
a
com x ∈ [a, b]. Note-se que F depende apenas de x, o limite superior do intervalo de
integração; não depende da variável de integração t. Por exemplo, se considerarmos f (t) = t
e a = 0, temos que Z x
F (x) = t dt
0
representa a área do triângulo rectângulo isósceles com catetos de medida x, isto é
Z x
x2
F (x) = t dt = .
0 2
Fixando um valor para x, temos que a área é um valor fixo F (x); variando o valor de x,
o valor da área também varia, o que evidencia o facto de F ser uma função de x. Este
exemplo também permite concluir que F ′ (x) = x, ou seja, a função F definida à custa do
integral de f é uma primitiva de f . O Teorema Fundamental do Cálculo permite generalizar
este resultado para qualquer função contínua.

Teorema 3.10 (Fundamental do cálculo). Seja f uma função contínua definida no


intervalo real [a, b].

1. Se Z x
F (x) = f (t) dt,
a
para todo o x ∈ [a, b], então F é uma primitiva de f em [a, b].

2. Se F é uma primitiva de f em [a, b], então


Z b
f (x) dx = F (b) − F (a). (Fórmula de Barrow) (3.6)
a

Demostração:

1. Queremos demonstrar que F ′ (x) = f (x), ou seja que


F (x + h) − F (x)
lim = f (x).
h→0 h
Vamos considerar apenas o caso h → 0+ (o caso h → 0− é semelhante). Temos
que
Z x+h Z x Z x+h
F (x + h) − F (x) = f (t) dt − f (t) dt = f (t) dt = f (ch )h,
a a x

com ch ∈]x, x + h[, onde a última igualdade resulta da aplicação do Primeiro


Teorema do Valor Médio. Mas então
F (x + h) − F (x) hf (ch )
lim = lim = lim f (ch ) = f (x), ch ∈]x, x + h[,
h→0+ h h→0 + h h→0+

o que prova o pretendido.


CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 101

2. Pelo que foi demonstrado no ponto anterior


Z x
F1 (x) = f (t) dt
a

é uma primitiva de f . Assim sendo

F (x) = F1 (x) + c, c ∈ R,

também é uma primitiva de f . Mas então


Z x
f (t) dt = F (x) − c.
a

Tomando x = a vem que

0 = F (a) − c ⇒ c = F (a)

e, como tal, Z x
f (t) dt = F (x) − F (a).
a
Tomando x = b vem Z b
f (t) dt = F (b) − F (a),
a
o que prova o pretendido.

Usam-se, frequentemente, as seguintes notações

F (b) − F (a) = F (x)|x=b b b


x=a = F (x)|a = [F (x)]a .

Exercício 3.11. Aplicando a fórmula de Barrow (3.6) determine:


Z 1 Z e
2 √ dx
1. x − x dx; 2. p .
0 1 x 4 − (ln x)2

Resolução: Para o primeiro integral tem-se que


Z 1  1
2 √ x3 2 3/2 1
x − x dx = − x =−
0 3 3 0 3

e, para o segundo,
  
ln x e
Z e Z e 1
dx π
p = q 2x dx = arc sen = .
1 x 4 − (ln x)2 1 1− ln x
 2 1 6
2

O corolário que apresentamos de seguida resulta imediatamente do Teorema Funda-


mental do Cálculo.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 102

Corolário 3.11. Seja f uma função contínua em [a, b]. Então, para c ∈ [a, b],
Z x
d
f (t) dt = f (x), ∀x ∈ [a, b],
dx c

e, se g for uma função diferenciável em [a, b],


Z g(x)
d
f (t) dt = f (g(x))g ′ (x), ∀x ∈ [a, b].
dx c

Demostração:

1. A demonstração da primeira parte do corolário é, de


Z facto, imediata. Note-se
x
que, pelo Teorema Fundamental do Cálculo, F (x) = f (t) dt é uma primitiva
c
de f em [a, b] e, como tal,
Z x
d d
f (t) dt = F (x) = f (x), ∀x ∈ [a, b].
dx c dx
Para demonstrar a segunda parte, note-se que,
Z g(x)
f (t) dt = F (g(x)),
c

com F a primitiva de f em [a, b] definida anteriormente. Assim sendo, pela


Regra da Cadeia,
Z g(x)
d d
f (t) dt = F (g(x)) = f (g(x))g ′ (x), ∀x ∈ [a, b],
dx c dx
o que prova o pretendido.

Exercício 3.12. Considere a função F :]0, π[→ R


Z cos x
1
F (x) = p dt.
0 (1 − t2 )(4 − t2 )

1. Defina a derivada de F .

2. A função F é monótiona? Justifique.

Resolução: A derivada de F obtém-se directamente do corolário anterior (que resulta


do Teorema Fundamental do Cálculo). De facto,
Z cos x
′ d 1
F (x) = p dt
dx 0 (1 − t )(4 − t2 )
2

1
= p (− sen x), x ∈]0, π[.
(1 − cos x)(4 − cos2 x)
2

Quanto à monotonia, podemos dizer que F é estritamente crescente pois


− sen x
F ′ (x) == p > 0, x ∈]0, π[.
(1 − cos2 x)(4 − cos2 x)
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 103

A segunda parte do Teorema Fundamental do Cálculo (fórmula de Barrow) diz que se


f for uma função contínua em [a, b] e F uma sua primitiva, isto é, F ′ ≡ f , então
Z b
F ′ (x) dx = F (b) − F (a). (3.7)
a

Ora, como a derivada F ′ (x)representa a taxa de variação de y = F (x) em relação a x


e F (b) − F (a) a variação total de y entre a e b, atendendo a (3.7) podemos dizer que o
integral de uma taxa de variação é igual à variação total. Esta conclusão, muitas vezes
referida como o teorema da variação total, tem aplicação em muitas áreas da ciência e da
engenharia.

Suponhamos que C(t) representa a concentração do produto de uma reacção química


no instante t. Então a taxa de reacção é a derivada C ′ (t). Logo, a variação da concentração
entre os instantes t1 e t2 é dada por
Z t2
C ′ (t) dt = C(t2 ) − C(t1 ).
t1

Outro exemplo, se V (t) for o volume de água num reservatório no instante t, a sua derivada
V ′ (t) é a taxa segundo a qual a água flui para dentro do reservatório no instante t. Então,
a variação do volume de água no reservatório entre os instantes t1 e t2 é dada por
Z t2
V ′ (t) dt = V (t2 ) − V (t1 ).
t1

Consideremos agora o problema de calcular a distância percorrida por uma partícula


que se move ao longo de uma linha recta com uma velocidade v(t). Se representarmos
por s(t) a posição da partícula, temos que v(t) = s′ (t) e, tal como vimos anteriormente, o
deslocamento da partícula entre os instantes t1 e t2 é dado por
Z t2
v(t) dt = s(t2 ) − s(t1 ).
t1

Mas o deslocamento é diferente da distância percorrida. Para calcular a distância percorrida


temos que ter em atenção o caso em que v(t) ≥ 0, isto é, quando a partícula se move para
a direita, mas também o caso em que v(t) ≤ 0, isto é, quando a partícula se move para a
esquerda. Estes dois casos podem ser tratados em simultâneo se considerarmos o integral
de |v(t)|. De facto, como se pode concluir facilmente, a distância total percorrida pela
partícula entre os instantes t1 e t2 é dada por
Z t2
|v(t)| dt.
t1

Exercício 3.13. Uma partícula move-se ao longo de uma recta de tal forma que a
sua velocidade no instante t é dada por

v(t) = t2 − t − 6,

medida em metros por segundo. Determine o deslocamento e a distância percorrida


pela partícula durante o período de tempo 1 ≤ t ≤ 4.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 104

Resolução: Pelo que foi visto, o deslocamento é dado


Z 4 Z 4  4
2 t 3 t2 9
s(4) − s(1) = v(t) dt = t − t − 6 dt = − − 6t =− ,
1 1 3 2 1 2

isto é, a partícula, no intervalo de tempo dado, moveu-se 4,5 metros para a esquerda.
Para calcular a distância percorrida, notemos que

v(t) = t2 − t − 6 = (t − 3)(t + 2),

o que implica v(t) ≤ 0 em [1, 3] e v(t) ≥ 0 em [3, 4]. Assim, a distância total
percorrida pela partícula é
Z 4 Z 3 Z 4 3  3 4
t3 t2 t t2 61
|v(t)| dt = (−v(t)) dt+ v(t) dt = − + + 6t + − − 6t = ,
1 1 3 3 2 1 3 2 3 6

ou seja, cerca de 10,17 metros.

3.2.6 Integração por partes e por substituição


O Teorema Fundamental do Cálculo permite obter algumas regras de integração de grande
interesse.

Integração por partes. Sabemos que, pela regra de primitivação por partes,
Z Z
f (x)g(x) dx = F (x)g(x) − F (x)g ′ (x) dx,

em que F é uma primitiva de f . Então,


Z b Z b Z b
f (x)g(x) dx = f (x)g(x) dx = [F (x)g(x)]ba − F (x)g ′ (x) dx.
a a a

Temos então que


Z b Z b
f (x)g(x) dx = [F (x)g(x)]ba − F (x)g ′ (x) dx,
a a

com F uma primitiva de f .

Exercício 3.14. Determine Z π


x sen x dx.
0

Resolução: Temos, sucessivamente,


Z π Z π
x sen x dx = [−x cos x]π0 − 1(− cos x) dx
0 0
= −π cos π + 0 + [sen x]π0
= π + sen π − sen 0
= π.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 105

Integração por substituição. Seja f : [a, b] −→ R uma função contínua e φ : I −→


[a, b] uma mudança de variável, isto é, uma função bijectiva e diferenciável em I (φ ∈
C 1 (I)). Sabemos que, pela regra de primitivação por substituição,
Z Z 

f (x) dx = f (φ(t))φ (t) dt .
t=φ−1 (x)

Logo
Z " Z  #x=b
b
f (x) dx = f (φ(t))φ′ (t) dt
a t=φ−1 (x) x=a
Z t=φ−1 (b)
= f (φ(t))φ′ (t) dt
t=φ−1 (a)
Z φ−1 (b)
= f (φ(t))φ′ (t) dt.
φ−1 (a)

Temos então que


Z b Z φ−1 (b)
f (x) dx = f (φ(t))φ′ (t) dt.
a φ−1 (a)

Exercício 3.15. Determine


Z a/b p
a2 − b2 x2 dx, a, b > 0.
0

Resolução: Vamos efectuar a mudança de variável


a
x= sen t = φ(t).
b
 
′ a −1 bx
Como φ (t) = cos t é uma função contínua e φ (x) = arc sen , o que implica
b a
φ−1 (0) = 0 e φ−1 (a/b) = π/2, temos que φ é uma mudança de variável de [0, a/b] em
[0, π/2]. Logo,
Z a/b p Z π/2 r
2 2 2
b2 a 2 a 
a − b x dx = a2 − 2 sen2 t cos t dt
0 0 b b
Z π/2
a
= a cos t cos t dt
0 b
2 Z π/2
a 1 + cos 2t
= dt
b 0 2
 
a2 1 sen 2t π/2
= t+
b 2 4 0
2 
a π sen π 
= + −0+0
b 4 4
a2 π
= .
4b
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 106

Exercício 3.16. Determine


Z π/2
1
dx.
−π/2 sen x − cos x

Resolução: Vamos efectuar a mudança de variável (também chamada substituição de


Weierstrass)
x
tg = t ⇒ x = 2 arc tg t = φ(t).
2
Temos que (prove):
2t 1 − t2
sen x = , cos x = ,
1 + t2 1 + t2
2
φ′ (t) = (função contínua)
1 + t2
e
φ−1 (−π/2) = tg(−π/4) = −1; φ−1 (π/2) = tg(π/4) = 1.
Então,
Z π/2 Z 1
1 1 + t2 2
dx = 2 2
dt
−π/2 sen x − cos x −1 2t + t − 1 1 + t
= ··· √
√ Z 1 1/ 2
= 2 √ dt
2
−1 ((t + 1)/ 2) − 1
= ···
√ √
= − 2 arg th( 2).

Exercício 3.17. Determine


Z 5
x
√ dx
2 x−1+2

efectuando a substituição x − 1 = t.

Resolução: Tem-se, sucessivamente,


Z 5 Z 2 2
x t +1
√ dx = t dt
2 x−1+2 1 t+2
Z 2 3
t +t
= dt
1 t+2
Z 2
−10
= t2 − 2t + 5 + dt
1 t+2
 2
= t3 /3 − t2 + 5t − 10 ln(t + 2) 1
= 13/3 − 10 ln (4/3).
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 107

Exercício 3.18. Determine Z 2


dx
1 (ex − 1)2
efectuando a substituição ex = t.

Resolução: Tem-se, sucessivamente,


Z 2 Z e2
dx dt
=
1 (e − 1)2
x
e (t − 1)2 t
Z e2
A B C
= + + dt
e t t − 1 (t − 1)2
Z e2
1 −1 1
= + + dt
e t t − 1 (t − 1)2
 2
e2 e2 1 e
= [ln t]e − [ln(t − 1)]e −
t−1 e
 2 
e e
= ln 2 + 2 .
e −1 e −2

3.3 Integrais impróprios


Na definição de integral definido considerámos funções limitadas f definidas num intervalo
finito [a, b]. Vamos agora generalizar o conceito para o caso em que o intervalo é infinito e
também para o caso em que f é ilimitada. Em ambos os casos o integral é dito impróprio.

Vamos começar por considerar o caso em que o intervalo de integração é infinito. Para
isso, consideremos a região que está sob a curva y = 1/x2 , acima do eixo dos xx e à direita
da recta x = 1 (ver Figura 3.4). Poder-se-ia pensar que, como a região é infinita, a sua
área também deve ser infinita. Comecemos por considerer o intervalo finito [1, b]. Assim,
a área à esquerda da recta x = b é dada por
 
1 b
Z b
1 1
A(b) = 2
dx = − =1− .
1 x x 1 b

Atendendo a este resultado temos que A(b) < 1, qualquer que seja o b. Além disso,
 
1
lim A(b) = lim 1 − = 1.
b→+∞ b→+∞ b

A área da região em causa aproxima-se de 1 quando b → +∞. Assim, dizemos que a


medida da área da região infinita é igual a 1 e escrevemos
Z +∞ Z b
1 1
dx = lim dx = 1.
1 x2 b→+∞ 1 x2

Temos a seguinte definição.


CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 108

Definição 3.6 (Integrais impróprios de 1a espécie: intervalos infinitos). Sejam a e


b dois números reais arbitrários.
Z t
1. Se f (x) dx existe para cada t ≥ a, chama-se integral impróprio de f em
a
[a, +∞[ a
Z +∞ Z t
f (x) dx = lim f (x) dx.
a t→+∞ a

Z b
2. Se f (x) dx existe para cada t ≤ b, chama-se integral impróprio de f em
t
] − ∞, b] a
Z b Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
−∞ t→−∞ t

Os integrais impróprios
Z +∞ Z b
f (x) dx e f (x) dx
a −∞

dizem-se convergentes se os limites correspondentes existirem e forem finitos; caso


contrário dizem-se divergentes.
Z +∞ Z c
3. Se f (x) dx e f (x) dx forem integrais impróprios, qualquer que seja
c −∞
c ∈ R, chama-se integral impróprio de f em R a
Z +∞ Z c Z +∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
−∞ −∞ c

Se ambos os integrais impróprios do segundo membro forem convergentes, o integral


imprórpio do primeiro membro diz-se convergente; caso contrário, diz-se divergente.

Qualquer um dos integrais impróprios definidos na definição anterior pode ser interpre-
tado como uma área desde que f seja uma função não negativa.
Notemos que Z Z
+∞ c
f (x) dx 6= lim f (x) dx.
−∞ c→+∞ −c

Ao limite do segundo membro da desigualdade anterior chama-se valor principal (de Cauchy)
do integral impróprio e escreve-se
Z +∞ Z c
v.p. f (x) dx = lim f (x) dx.
−∞ c→+∞ −c
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 109

Exercício 3.19. Diga se são convergentes ou divergentes os seguintes integrais im-


próprios:
Z +∞ Z +∞
1 1
1. dx 2. dx.
1 x2 1 x

Resolução:
Z +∞
1
1. Já vimos que o integral é convergente e que dx = 1.
1 x2
2. Embora o gráfico seja semelhante ao da função dada no ponto anterior (ver
Figura 3.4), neste caso temos
Z t
1
lim dx = lim [ln |x|]t1 = lim (ln t − ln 1) = +∞.
t→+∞ 1 x t→+∞ t→+∞
Z +∞
1
Logo, dx é divergente.
1 x

f(x)=x−2 f(x)=x−1
1.5 1.5

1 1
y

0.5 0.5

0 0
0 5 10 0 5 10
x x

Figura 3.4: Integrais impróprios.

Exercício 3.20. Mostre que Z +∞


x dx
−∞
diverge mas o seu valor principal é igual a zero.

Resolução: Temos que Z t


lim x = +∞
t→+∞ 0
Z +∞
e, como tal x dx diverge. No entanto,
−∞
Z +∞ Z c
v.p. x dx = lim x dx = lim 0 = 0.
−∞ c→+∞ −c c→+∞
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 110

Z +∞
Note-se que se o integral f (x) dx converge, então
a

lim f (x) = 0.
x→+∞

Para além disso, para qualquer h > 0, o integral de f no intervalo [x, x + h] (ou o valor
médio de f no mesmo intervalo), tende para zero quando x −→ +∞.

Vejamos agora o caso em que a função integranda é ilimitada.

Definição 3.7 (Integrais impróprios de 2a espécie: funções ilimitadas).

Z t
1. Se f (x) dx existe para cada t ∈ [a, b[ e lim f (x) for infinito, chama-se
a x→b−
integral impróprio de f em [a, b] a
Z b Z t
f (x) dx = lim f (x) dx.
a t→b− a

Z b
2. Se f (x) dx existe para cada t ∈]a, b] e lim f (x) for infinito, chama-se
t x→a+
integral impróprio de f em [a, b] a
Z b Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
a t→a+ t

O integral impróprio
Z b
f (x) dx
a
diz-se convergente se o limite correspondente existir e for finito; caso contrário diz-se
divergente.
Z t Z b
3. Se f (x) dx existe para cada t ∈ [a, c[, f (x) dx existe para cada t ∈]c, b]
a t
e lim f (x) for infinito, com c ∈]a, b[, chama-se integral impróprio de f em
x→c±
[a, b] a
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c

Se ambos os integrais impróprios do segundo membro forem convergentes, o integral


imprórpio do primeiro membro diz-se convergente; caso contrário, diz-se divergente.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 111

Exercício 3.21. Estude a convergência de


Z 3
1
dx.
0 x−1

Resolução: A função integranda tem uma assímptota em x = 1. Então


Z 3 Z 1 Z 3
1 1 1
dx = dx + dx.
0 x − 1 0 x − 1 1 x − 1

Como
Z 1 Z t
1 1
dx = lim dx = lim [ln |x − 1|]t0 = lim ln |t − 1| = −∞,
0 x−1 t→1− 0 x−1 t→1− t→1−

o integral é divergente.

Se, no exercício anterior, não tivéssemos notado que a função integranda tinha uma
assímptota em x = 1, poderíamos ter obtido
Z 3
1
dx = [ln |x − 1|]30 = ln 2.
0 x−1

Este resultado estaria errado!

Algumas vezes é impossível encontrar o valor exacto do integral impróprio mas, ainda
assim, é importante averiguar da sua convergência. Em tais casos o seguinte teorema pode
ser útil.

Teorema 3.12 (Primeiro critério de comparação). Sejam f e g duas funções con-


tínuas e não negativas em [a, +∞[ tais que f (x) ≥ g(x) ≥ 0, para todo o x ≥ a.
Z +∞ Z +∞
1. Se f (x) dx é convergente, então g(x) dx é convergente.
a a
Z +∞ Z +∞
2. Se g(x) dx é divergente, então f (x) dx é divergente.
a a

Apesar do teorema anterior ter sido enunciado apenas para integrais impróprios de
1aespécie, onde o intervalo de integração é infinito, ele também é válido para integrais
impróprios de 2a espécie, onde a função integranda é ilimitada.

A demonstração do teorema anterior é omitida. No entanto, o resultado é mais ou menos


intuitivo se fizermos a analogia do integral com a área (as funções são não negativas).
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 112

Exercício 3.22. Averigúe da convergência de


Z +∞
1 + e−x
dx.
1 x

Resolução: Como
1 + e−x 1
>
x x
e Z +∞
1
dx
1 x
é divergente, o integral em causa também é divergente.

O seguinte corolário resulta imediatamente do teorema anterior.

Corolário 3.13. Sejam f e g duas funções contínuas e não negativas em [a, +∞[.
Se existir uma constante k > 0 tal que f (x) ≥ kg(x) ≥ 0, para todo o x ≥ a, então:
Z +∞ Z +∞
1. se f (x) dx é convergente, então g(x) dx é convergente;
a a
Z +∞ Z +∞
2. se g(x) dx é divergente, então f (x) dx é divergente.
a a

O segundo critério comparação, que iremos apresentar apenas para integrais impróprios
de 1a espécie (mas que também é válido para integrais impróprios de 2a espécie), resulta
como consequência do primeiro critério mas, em certas situações, é de mais fácil aplicação.

Teorema 3.14 (Segundo critério de comparação). Sejam f e g duas funções contí-


nuas e não negativas em [a, +∞[ tais que f (x) ≥ 0 e g(x) > 0, para todo o x ≥ a,
e
f (x)
lim = L.
x→+∞ g(x)
Z +∞ Z +∞
+
1. Se L ∈ R , os integrais f (x) dx e g(x) dy são da mesma natureza.
a a

2. Se L = 0, então
Z +∞ Z +∞
(a) se f (x) dx é divergente, então g(x) dx é divergente.
a a
Z +∞ Z +∞
(b) Se g(x) dx é convergente, então f (x) dx é convergente.
a a

3. Se L = +∞, então
Z +∞ Z +∞
(a) se f (x) dx é convergente, então g(x) dx é convergente.
a a
Z +∞ Z +∞
(b) Se g(x) dx é divergente, então f (x) dx é divergente.
a a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 113

Exercício 3.23. O integral


Z +∞
Γ(p) = xp−1 e−x dx,
0

com p ∈ R, quando converge, define uma função chamada função Gama. Determine
o domínio dessa função.

Resolução: Temos que


Z +∞ Z 1 Z +∞
p−1 −x p−1 −x
x e dx = x e dx + xp−1 e−x dx.
0 0 1

O primeiro integral é de Riemann se p ≥ 1 e de 2a espécie se p < 1. O segundo


R +∞ 1
integral é de 1a espécie qualquer que seja p ∈ R. Sabemos que o integral 1 x2
dx
é convergente. Então, como pela regra de L’Hospital

xp−1 e−x
lim 1 = 0,
x→+∞
x2

para todo o p ∈ R, podemos concluir que o integral de 1a espécie é convergente


qualquer que seja o p ∈ R.
R1 1
Por outro lado, também sabemos que o integral impróprio de 2a espécie 0 x1−p dx
é convergente se e só se 1 − p < 1, isto é, p > 0. Além disso,

xp−1 e−x
lim 1 = lim e−x = 1,
x→0+ x→0+
x1−p

o que implica que o integral de 2a espécie é convergente se e só se p > 0.


Concluímos que o domínio da função Γ é R+ .

Note-se que os critérios anteriores só podem ser usados para funções nãoZnegativas. O
+∞
seguinte critério não tem essa exigência mas, por outro lado, obriga a que f (x) dx
Z +∞ a

seja absolutamente convergente, isto é, que |f (x)| dx seja convergente.


a

Z +∞
Teorema 3.15 (Terceiro critério de comparação). Se o integral |f (x)| dx é
Z +∞ a

convergente, então o mesmo acontece ao integral f (x) dx.


a

Tal como no teorema anterior, apesar deste teorema ter sido enunciado apenas para
integrais impróprios de 1a espécie, onde o intervalo de integração é infinito, ele também é
válido para integrais impróprios de 2a espécie, onde a função integranda é ilimitada.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 114

Exercício 3.24. Estude a convergência do integral


Z +∞
sen x
dx.
1 x2

Resolução: A função integrando no integral impróprio de 1a espécie dado não é sempre


positiva. Mas
|sen x| 1
2
≤ 2,
x x
Z +∞
1
para todo o x ≥ 1. Como o integral dx é convergente, pelo primeiro critério
1 x2
de comparação o integral Z +∞
sen x
2 dx
1 x
também é convergente. Então, pelo teorema anterior o integral em estudo é conver-
gente e diz-se absolutamente convergente.

3.4 Aplicações do cálculo integral


3.4.1 Cálculo de áreas
Seja f uma função contínua num intervalo fechado [a, b] e f (x) ≥ 0, para todo o x ∈ [a, b].
A área sob o gráfico de f entre a e b, isto é, a área delimitada pelo gráfico de f , as rectas
x = a, y = b e o eixo dos xx, é dada por
Z b
f (x) dx.
a

Se g é outra função não negativa e contínua em [a, b] e se f (x) ≥ g(x), para todo o x ∈ [a, b],
então a área A limitada pelo grafico de f , o gráfico de g e as rectas x = a e x = b, pode
ser obtida subtraindo-se da área sob o gráfico de f a área sob o gráfico de g, isto é,
Z b Z b Z b
A= f (x) dx − g(x) dx = f (x) − g(x) dx.
a a a

Notemos que não é necessário impor que f e g sejam não negativas. De facto, se tal
não acontecer temos que, se f e g forem tais que f (x) ≥ g(x) > −L, com L > 0, a área
A limitada pelo gráfico de f , pelo gráfico de g e as rectas x = a e x = b, é igual à área
limitada pelo gráfico de f + L, pelo gráfico de g + L e as rectas x = a e x = b. Como
f (x) + L ≥ g(x) + L > 0, temos que
Z b Z b Z b
A= f (x) + L dx − g(x) + L dx = f (x) − g(x) dx.
a a a

Por vezes é necessário determinar a área A de uma região delimitada pelas rectas y = c,
y = d e pelos gráficos de duas funções x = f (y) e x = g(y), com f e g contínuas e tais que
f (y) ≥ g(y), para todo o y ∈ [c, d]. Neste caso temos que
Z b
A= f (y) − g(y) dy.
a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 115

Curvas em coordenadas paramétricas. Consideremos agora uma curva definida pelas


equações paramétricas 
x = f (t)
, t ∈ [a, b], (3.8)
y = g(t)
com f uma função bijectiva e diferenciável em [a, b]. Assim sendo, f admite inversa em
[a, b] as equações paramétricas definem uma função
y(x) = g(f −1 (x)),
para ∈ [a, b]. Temos então que, se g(t) ≥ 0, para todo o t ∈ [a, b], b a área sob o gráfico
de y entre os valores x1 = f (a) e x2 = f (b), isto é,Za área delimitada pela curva, as rectas
x2
x = x1 , x = x2 e o eixo dos xx, é dada por A = y(x) dx. Efectuando a mudança de
x1
variável x = f (t) temos que
Z b
A= g(t)f ′ (t) dt.
a

Exercício 3.25. Considere a ciclóide cujas equações paramétricas são



x = r(t − sen t)
, t ∈ R.
y = r(1 − cos t)

Determine a área limitada por esta curva e o eixo dos xx, para t ∈ [0, 2π].

Resolução: Temos que


Z 2π
A = r2 (1 − cos t)(1 − cos t) dt
0
Z 2π
2
= r cos2 t − 2 cos t + 1 dt
0
Z 2π
2 1 + cos 2t
= r − 2 cos t + 1 dt
0 2
 2π
t sen 2t
= r2 + − 2 sen t + t
2 4 0
= r2 (π + 2π) = 3πr2 .

Exercício 3.26. Determine a área delimitada pelo astróide



x = r cos3 t
, t ∈ [0, 2π].
y = r sen3 t

Resolução: Atendendo à Figura 1.5, temos que


Z r Z 0 Z π/2
3 2
A=4 y(x) dx = 4 (r sen t)(−3r cos t sen t) dt = 12r sen4 t cos2 t dt.
0 π/2 0

Conclua o exercício mostrando que A = 34 πr.


CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 116

Curvas em coordenadas polares. Vamos, finalmente, determinar uma fórmula que


nos permita determinar a área de uma figura cujos limites são definidos por uma curva
expressa em coordenadas polares. Seja R uma região do plano limitada pelas curva definida
em coordenadas polares por ρ = f (θ) e pelas rectas θ = a e θ = b. Suponhamos que
0 < a < b ≤ 2π e que f é uma função contínua em [a, b]. Para determinar a medida da
área da região R vamos proceder como anteriormente para as coordenadas cartesianas.
Consideremos a partição

a = θ0 < θ1 < · · · < θn−1 < θn = b,

como θi − θi−1 = ∆θi . As rectas θ = θi dividem a região R em n sub-regiões definidas por

Ri = {(ρ, θ) : 0 ≤ ρ ≤ f (θ), θi−1 ≤ θ ≤ θi },


n
X
cada uma com área Ai , de modo a que A = Ai . Sejam mi e Mi o valor mínimo e o
i=1
valor máximo de f no intervalo (fechado) Como a medida da área de cada um
[θi−1 , θi ].
dos sectores circulares definidos pelas circunferências ρ = mi e ρ = Mi e as rectas θ = θi−1
e θ = θi é dada, respectivamente, por
1 2 1 2
m ∆θi e M ∆θi ,
2 i 2 i
a área Ai da região Ri é tal que
1 2 1
mi ∆θi ≤ Ai ≤ Mi2 ∆θi .
2 2
Temos então que
n n
X 1 X 1
m2i ∆θi ≤ A ≤ Mi2 ∆θi .
2 2
i=1 i=1
Tomando a amplitude da partição a tender para zero temos que, uma fez que f é contínua
(assume, em [a, b], todos os valores intermédios),
Z b Z b
1 1
A= f 2 (θ) dθ = ρ2 dθ.
2 a 2 a

Exercício 3.27. Determine a área limitada pelo cardióide ρ = 1 + cos θ e pelas


rectas θ = 0 e θ = π2 .

Resolução: Atendendo à Figura 3.5, temos que


Z
1 π/2
A = (1 + cos θ)2 dθ
2 0
Z
1 π/2
= 1 + cos2 θ + 2 cos θ dθ
2 0
 π/2
1 3 1 3
= θ + 2 sen θ + sen 2θ = π + 1.
2 2 4 0 8
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 117

ρ=1+cosθ
1.5

0.5

y −0.5

−1

−1.5
−1 0 1 2
x

Figura 3.5: Área relativa ao Exercício 3.27.

Exercício 3.28. Determine a área no interior da circunferência ρ = 2 cos θ e exte-


rior à circunferência ρ = 1.

Resolução: Comecemos por calcular os pontos de intersecção das duas circunferências.


Temos que
π
2 cos θ = 1 ⇒ θ = ± .
3
Então Z √
1 π/3 2 2 π
A= (2 cos θ) − 1 dθ = · · · = + .
2 −π/3 2 3

3.4.2 Comprimentos de curvas planas


Seja f uma função continuamente diferenciável no intervalo [a, b]. Vamos procurar um
meio de calcular o comprimento da curva definida pelo gráfico de f e cujos extremos são
os pontos A e B de coordenadas, respectivamente, (a, f (a)) e (b, f (b)).
Consideremos a partição

a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b,

com ∆xi = xi − xi−1 , i = 1, . . . , n. Seja Pi o ponto de coordenadas (xi , f (xi )), com
i = 0, . . . , n, sendo P0 = A e Pn = B. Estes pontos definem uma linha poligonal que
começa em A e acaba em B. O comprimento da curva definida pelo gráfico de f entre a e
b pode ser aproximado pelo comprimento da linha poligonal
n
X
Lp = d(Pi−1 , Pi ),
i=1

onde p
d(Pi−1 , Pi ) = (xi−1 − xi )2 + (f (xi−1 ) − f (xi ))2 .
Atendendo a que ∆xi = xi − xi−1 , i = 1, . . . , n temos, pelo Teorema do Valor Médio de
Lagrange, que existe yi ∈]xi−1 , xi [ tal que
f (xi ) − f (xi−1 )
f ′ (yi ) = ,
∆xi
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 118

uma vez que f é diferenciável. Assim,


p
d(Pi−1 , Pi ) = ∆xi 1 + (f ′ (yi ))2

e, como tal,
n p
X
Lp = 1 + (f ′ (yi ))2 ∆xi .
i=1

Note-se que Lp é uma soma de Riemann para a função contínua e, como tal, integrável,
p
g(x) = 1 + (f ′ (x))2 .

Podemos então afirmar que se f for uma função continuamente diferenciável no intervalo
[a, b], o comprimento do gráfico de f desde o ponto A de coordenadas (a, f (a)) até ao ponto
B de coordenadas (b, f (b)) é dado por
Z bp
Lba = 1 + (f ′ (x))2 dx.
a

No caso em que a função f não tem derivada contínua em [a, b] mas tem derivada
contínua num número finito de intervalos, podemos aplicar o raciocínio exposto em cada
um dos intervalos e, no fim, adicionar as parcelas obtidas.

Exercício 3.29. Determine o comprimento das seguintes curvas:

1. f (x) = x, x ∈ [a, b];



2. f (x) = 1 − x2 , x ∈ [0, a], a ∈ [0, 1].

Resolução:

1. Para f (x) = x temos,


Z b√ √
Lba = 1 + 1 dx = 2(b − a).
a

2. Para f (x) = 1 − x2 temos que f ′ (x) = √ −x e, como tal,
1−x2

Z r Z
a a
x2 1
La0 = 1+ dx = √ dx = arc sen a.
0 1 − x2 0 1 − x2
Mas, fazendo arc sen a = θ, concluímos que, na circunferência de raio 1, o ângulo
θ (em radianos) coincide com o comprimento do arco com abertura igual a θ.

Tal como para as áreas, vamos determinar uma fórmula que nos permita determinar o
comprimento de uma curva em coordenadas paramétricas. Quando a curva é expressa em
coordenadas polares, o cálculo do seu comprimento resulta como um caso particular.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 119

Curvas em coordenadas paramétricas. Consideremos a curva C = {(f (t), g(t)), t ∈


[a, b]} que supomos ser suave (f e g são continuamente diferenciáveis em [a, b]) e que não
se intersecta a si própria. Procedendo como anteriormente, prova-se que a distância entre
a e b ao longo da curva, isto é, o comprimento da curva desde o ponto de coordenadas
(f (a), g(a)) a (f (b), g(b)), é dado por
Z bp
b
La = (f ′ (t))2 + (g ′ (t))2 dt.
a

Exercício 3.30. Determine o comprimento do astróide



x = r cos3 t
, t ∈ [0, 2π].
y = r sen3 t

Resolução: Temos que


s 2  2
Z π/2
dx dy
L2π
0 =4 + dt,
0 dt dt
com  
dx 2
= (−3r cos2 t sen t)2 = 9r2 cos4 t sen2 t
dt
e  2
dy
= (3r sen2 t cos t)2 = 9r2 cos2 t sen4 t.
dt
Logo
Z π/2
L2π
0 = 12r cos t sen t dt = 6r.
0

Curvas em coordenadas polares. Seja agora C a curva definida em coordenadas po-


lares por ρ = f (θ), θ ∈ [a, b]. Então, x = f (θ) cos θ e y = f (θ) sin θ e, pelo que foi
visto,
Z bq
b
La = ((f (θ) cos θ)′ )2 + ((f (θ) sen θ)′ )2 dt.
a
Mas, 2 2
(f (θ) cos θ)′ = f ′ (θ) cos2 θ + f 2 (θ) sen2 θ − f ′ (θ)f (θ) sin 2θ
e 2 2
(g(θ) sen θ)′ = f ′ (θ) sen2 θ + f 2 (θ) cos2 θ + f ′ (θ)f (θ) sin 2θ.
Logo
Z bq
Lba = (f (θ))2 + (f ′ (θ))2 dt.
a

Exercício 3.31. Determine o comprimento da espiral logarítmica ρ = eθ ,


θ ∈ [0, π/2].

Resolução: Temos que


Z π/2 √ √ Z π/2 √
π/2
L0 = 2e2θ dt = 2 eθ dt = 2(eπ/2 − 1).
0 0
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 120

3.4.3 Volumes de sólidos de revolução


Consideremos um sólido S que está definido entre os planos x = a e x = b. Se a área da
secção transversal de S no plano que passa por x ∈ [a, b] e é perpendicular ao eixo dos xx
é A(x), onde A é uma função contínua, pode demonstrar-se que a medida do volume do
sólido S (que iremos designar apenas por “volume”) é dada por
Z b
V = A(x) dx. (3.9)
a

Nesta secção estamos interessados em calcular o volume de um sólido de revolução,


isto é, de um sólido obtido pela rotação de uma região do plano em torno de uma recta
desse mesmo plano. A recta em torno da qual se efectua a revolução é chamada recta de
revolução. Notemos que ao rodarmos uma curva (em vez de uma superfície plana) obtemos
uma superfície de revolução (em vez de um sólido de revolução).

Consideremos o cilindro (Figura 3.6) obtido à custa da rotação de um rectângulo.


O volume do cilindro de revolução gerado por um rectângulo de largura r e altura
h, cuja área é dada por A = rh, é dado por

V = πr2 h.

Outro exemplo é o cone (Figura 3.7) gerado pela rotação de um triângulo. O volume
do cone gerado pela rotação do triângulo de base r e altura h, cuja área é A = 12 rh,
é dado por
1
V = πr2 h.
3

f(x)=1 Cilindro
1.5

1
1
0
z
y

0.5
−1
1
1
0 0.5
0
0 0.5 1 −1 0
x y x

Figura 3.6: Cilindro.

Como determinar o volume de um sólido de revolução conhecendo a curva que o deli-


mita? Para responder a esta questão, vamos considerar dois métodos: o método das fatias
e o método das cascas cilíndricas.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 121

f(x)=x Cone
1.5

1
1
0

y
y

0.5
−1
1
1
0 0.5
0
0 0.5 1 −1 0
x y x

Figura 3.7: Cone.


Área de uma figura plana Sólido de revolução
5

4 5

3
0
z
y

−5
1 5
1
0
0 0.5
−2 −1 0 1 −5 0
x y x

Figura 3.8: Sólido de revolução.

Método das fatias. Consideremos a região limitada pelo gráfico de uma função contínua
e positiva f , pelo eixo dos xx e pelas rectas x = a e x = b. Notemos que, se y = f (a)
(função constante), o volume do sólido de revolução (cilindro) é

π(f (a))2 (b − a),

isto é, a área da base circular vezes a altura. E se f não for constante? Neste caso,
consideremos a partição

a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b, (3.10)

com ∆xi = xi − xi−1 e yi ∈ [xi−1 , xi ], i = 1, 2, . . . , n, e os rectângulos de base xi − xi−1 e


altura f (yi ). O volume do sólido de revolução gerado pela rotação desses rectângulos em
torno do eixo dos xx é dado por
n
X
π(f (yi ))2 ∆xi ,
i=1

que pode ser visto como uma soma de Riemann para a função πf 2 . Como f é contínua,
a função πf 2 é contínua pelo que o seu integral existe sempre. Podemos então estabelecer
o seguinte método de cálculo do volume de sólidos de revolução, que apresentamos sob a
forma de teorema.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 122

Teorema 3.16 (Método das fatias). Seja f uma função contínua no intervalo [a, b].
O volume V do sólido de revolução gerado pela rotação em torno do eixo dos xx da
figura limitada pelo gráfico de f , pelo eixo dos xx e pelas rectas x = a e x = b existe
sempre e é dado por
Z b
V =π f 2 (x) dx.
a

Note-se que não é necessário impor que f seja positiva. De facto, se f for nula em
algum intervalo o valor do volume (como seria de esperar) é zero nesse intervalo; se f for
negativa, o volume é o mesmo que o respeitante a −f , como acontece na realidade.

Exercício 3.32. Calcule a medida do volume dos sólidos de revolução gerados pela
rotação das regiões delimitadas pelas seguintes curvas em torno do eixo dos xx:

1. f (x) = x2 , x ∈ [0, 1] (Figura 3.9);


1
2. f (x) = , x ∈ [1, +∞[ (Figura 3.10).
x

Resolução:
Z 1  1
4 x5 π
1. Para f (x) = x2 temos V = π x dx = π = .
0 5 0 5

f(x)=x2 Corneta
1.5

1
0
z
y

0.5
−1
1
1
0 0.5
0
0 0.5 1 −1 0
x y x

Figura 3.9: Corneta.

1
2. Para f (x) = x temos
Z +∞  
 t 1
V =π x−2 dx = π lim (−x)−1 1
= π lim − +1 = π.
1 t→+∞ t→+∞ t
Z +∞
1
Notemos que, neste caso, o volume é finito enquanto que a “área” A = dx
1 x
é infinita.

Vamos agora calcular o volume do sólido de revolução obtido pela rotação da figura
limitada pelas rectas x = a, x = b e pelos gráficos de duas funções contínuas f e g,
definidas em [a, b], que, para efeitos de compreensão geométrica, podemos considera-las
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 123

f(x)=x−1 Trombeta de Gabriel


1.5

1
0

z
y

0.5
−1
1
1
0 0.5
0
0 5 10 −1 0
x y x

Figura 3.10: Trombeta de Gabriel.

não negativas. Suponhamos que f (x) ≥ g(x), para todo o x ∈ [a, b]. Podemos dizer, tal
como no cálculo de áreas, que o volume pretendido é dado por
Z b Z b Z b
2 2
V =π f (x) dx − π g (x) dx = π f 2 (x) − g 2 (x) dx.
a a a

Tal como para o cálculo de áreas, é possível obter, por mudança de variável, fórmulas
semelhantes às aqui obtidas quando se consideram sólidos de revolução obtidos pela rotação
de figuras planas em torno do eixo dos yy. Consideremos duas funções contínuas x = f (y)
e x = g(y), com y ∈ [c, d], tais que f (y) ≥ g(y), para todo o y ∈ [c, d]. Assim, o volume do
sólido de revolução obtido pela rotação da figura plana limitada pelos gráficos de f e g e
pelas rectas y = c e y = d é dado por
Z d
V =π f 2 (y) − g 2 (y) dy.
c

Método das cascas cilíndricas. Consideremos, de novo, a região limitada pelo gráfico
de uma função contínua e positiva f , pelo eixo dos xx e pelas rectas x = a e x = b.
Queremos determinar agora o volume do sólido que se obtém rodando essa região em torno
do eixo dos yy. Considerando, mais uma vez, a partição (3.10), com ∆xi = xi − xi−1 e
yi = xi +x
2
i+1
(ponto médio de [xi , xi+1 ], i = 1, 2, . . . , n, e os rectângulos de base xi − xi−1 e
altura f (yi ). A rotação desses rectângulos em torno do eixo dos yy dá origem a uma casca
cilíndrica, que é um sólido de revolução com volume

2π × altura × raio médio × espessura = 2πf (yi )yi ∆xi .

Procedendo como para o método das fatias, podemos estabelecer o seguinte método de
cálculo do volume de sólidos de revolução, que apresentamos sob a forma de teorema.

Teorema 3.17 (Método das cascas cilíndricas). Seja f uma função contínua no
intervalo [a, b] (0 ≤ a). O volume V do sólido de revolução gerado pela rotação em
torno do eixo dos yy da figura limitada pelo gráfico de f , pelo eixo dos xx e pelas
rectas x = a e x = b existe sempre e é dado por
Z b
V = 2π xf (x) dx.
a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 124

Exercício 3.33. Determine o volume do sólido que se obtém pela rotação em torno
do eixo dos yy da região limitada por y = 2x2 − x3 e y = 0.

Resolução: Pelo método das cascas cilíndricas temos que


Z 2
16
V = 2π x(2x2 − x3 ) dx = π.
0 5

3.4.4 Outras aplicações do cálculo integral


As aplicações do cálculo integral são muitas e variadas e podem ser encontradas em todos
áreas da ciência e da engenharia. Vamos apenas referir algumas delas. Muitas mais podem
ser vistas em [1, 6, 7].

Centro de massa. A primeira está relacionada com o cálculo do centro de massa de


uma placa plana (lâmina) com densidade uniforme. Suponhamos que a placa com a forma
de uma região limitada pelo gráfico de uma função contínua f definida num intervalo [a, b],
pelas rectas verticais x = a e x = b e pelo eixo dos xx. Prova-se que o centro de massa (ou
centóide) da lâmina é o ponto de coordenadas (x̄, ȳ), com
Rb Rb 1 2
xf (x) dx f (x) dx
a
x̄ = R b e ȳ = aR b2 .
a f (x) dx a f (x) dx

Força hidrostática. Na física define-se a pressão hidrostática P , exercida por um líquido


a uma profundidade h, como sendo o peso do líquido contido numa coluna de altura h e
área de secção transversal igual a uma unidade. A pressão também pode ser encarada como
a força exercida pelo líquido por unidade de área. Denotando a densidade por ρ (peso por
unidade de volume) então, à profundidade h, temos que P = ρh, onde as unidades de ρ e
h devem ser consistentes.
Consideremos uma lâmina com a forma da região do plano limitada pelos gráficos
y = c, y = d, x = f (y) e x = g(y), onde f e g são duas funções contínuas em [a, b] tais que
f (y) ≥ g(y), para todo o y ∈ [c, d]. Suponhamos que uma lâmina foi submersa num líquido
de densidade ρ e que a superfície do líquido é dada por y = h. A força (hidrostática)
exercida pelo líquido sobre a placa é dada pelo produto da pressão pela área e prova-se que
é dada por
Z d
F = ρ(h − y) (f (y) − g(y)) dy.
c

Biodisponibilidade de um fármaco. A quantidade total de fármaco absorvido após


administração de uma só dose desta substância activa é considerado o mais importante
parâmetro na avaliação da sua biodisponibilidade. Esse parâmetro, expresso em mg/mL
× h, é dado pela área sob a curva (ASC) de concentração C, em mg/mL, do fármaco na
corrente sanguínea como função do tempo t em horas, para t ∈ [0, +∞[.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 125

Exercício 3.34. Determine a ASC de um fármaco cuja concentração na corrente


sanguínea foi estimada como sendo dada por

C(t) = 15te−0,2t .

Resolução: A área pretendida é dada por


Z +∞ Z b
ASC = 15 te−0,2t dt = 15 lim te−0,2t dt.
0 b→+∞ 0

Usando a fórmula de integração por partes tem-se que

Z b  Z b
−0,2t e−0,2t e−0,2t
lim te dt = lim t− dt
b→+∞ 0 b→+∞ −0,2 −0,2 0
 −0,2t
b
e
= lim −5e−0,2t t + 5
b→+∞ −0,2 0
 b
= lim −5e−0,2t t − 25e−0,2t 0
b→+∞
 
= lim −5e−0,2b b − 25e−0,2b + 25
b→+∞
 
= lim −5e−0,2b b + 25 = 25,
b→+∞

pois,
b
lim = 0,
b→+∞ e0,2b

uma vez que, para valores suficientemente grandes, a exponencial cresce mais rapi-
damente que qualquer polinómio. A mesma conclusão poderia ter sido obtida pela
Regra de L’Hospital. Concluímos então que

ASC = 15 × 25 = 375.

3.5 Fórmula do trapézio (∗)


Nesta secção vamos obter e analisar uma fórmula de quadratura numérica que permite de-
terminar, de forma aproximada, o integral definido
Z b
I(f ) = f (x) dx (3.11)
a

de uma função real de variável real f num dado intervalo real [a, b].
Em muitas situações, o cálculo de (3.11) não pode ser efectuado através do cálculo de
uma primitiva de f , como é o caso de, por exemplo,
Z 1
2
e−x dx.
0

Neste caso a função integranda não possui uma primitiva que se possa obter como soma
finita de funções elementares. Pode ainda acontecer que o valor de f seja conhecido apenas
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 126

em alguns pontos do intervalo [a, b]. Podemos então efectuar o cálculo aproximado do
integral. Um dos processos para efectuar tal cálculo aproximado designa-se por fórmula (ou
regra) do trapézio.
Seja f uma função conhecida em n + 1 pontos a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b,
com xk = x0 + kh e h = (b − a)/n. Assim sendo, temos que
Z b Xn Z xk
I(f ) = f (x) dx = f (x) dx.
a k=1 xk−1

As fórmulas mais usuais permitem obter aproximações a I(f ) aproximando, em cada


intervalo Ik = [xk−1 , xk ], k = 1, . . . , n, a função f por uma função mais simples, normal-
mente um polinómio.
Vamos considerar o caso em que pretendemos aproximar, em cada intervalo Ik ,
k = 1, . . . , n, a função f , definida nesse intervalo, pela recta que passa pelos pontos
(xk−1 , f (xk−1 )) e (xk , f (xk )),
isto é,
x − xk x − xk−1
f (x) ≈ f (xk−1 ) + f (xk ) .
xk−1 − xk xk − xk−1
Assim,
Z b n Z
X xk
f (x) dx = f (x) dx
a k=1 xk−1
n Z xk  
X x − xk x − xk−1
≈ f (xk−1 ) + f (xk ) ) dx
xk−1 xk−1 − xk xk − xk−1
k=1
n
h X h
= (f (xk−1 ) + f (xk )) = [f (a) + 2f (x1 ) + · · · + 2f (xn−1 ) + f (b)].
2 2
k=1

Obtivemos, assim, a chamada fórmula do trapézio (composta)


Z b
h
f (x) dx ≈ [f (a) + 2f (x1 ) + · · · + 2f (xn−1 ) + f (b)].
a 2
A fórmula do trapézio (simples) é a que se obtém quando se considera n = 1, isto é,
Z b
b−a
f (x) dx ≈ [f (a) + f (b)]. (3.12)
a 2

Exercício 3.35. Seja Z −1


I= xe2x dx.
−2
Calcule, usando a fórmula do trapézio, o valor aproximado de I com n = 5.

Resolução: Seja f (x) = xe2x e n = 5. Assim sendo, necessitamos de 6 pontos igualmente


distanciados no intervalo [−2, −1] para obter uma aproximação ao valor de I usando
a fórmula do trapézio. Temos então que,
I ≈ 0,1[f (−2) + 2f (−1,8) + 2f (−1,6) + 2f (−1,4) + 2f (−1,2) + f (−1)] = −0,0788762.
Podemos escrever I ≈ −0,079.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 127

O valor do integral de uma determinada função f num intervalo [a, b] pela fórmula do
trapézio pode ser dado de acordo com o seguinte algoritmo.

Algoritmo 3.1 Fórmula do trapézio

Dados: f , a, b e n
h := (b − a)/n
x := a
s := 0
Para k de 1 até n − 1 fazer
x := x + h
s := s + f (x)
IT := (h/2)(f (a) + 2s + f (b))
Resultado: I ≈ IT

Prova-se que o erro que se comete na aproximação I(f ) ≈ IT (f ), com IT (f ) o valor do


integral obtido pela fórmula do trapézio (composta), é dado por
h2
ET (f ) = I(f ) − IT (f ) = − (b − a)f ′′ (c), c ∈]a, b[.
12
Na prática a fórmula do erro aparece, normalmente, em valor absoluto. É usual considerar
a expressão
h2
|ET (f )| ≤ (b − a)M2 , com M2 = max |f ′′ (x)|.
12 x∈[a,b]

Z −1
Exercício 3.36. Seja I = xe2x dx. Calcule, usando a fórmula do trapézio, o
−2
valor aproximado de I com três casas decimais correctas.

Resolução: Seja f (x) = xe2x . Temos que, para x ∈ [−2, −1], o erro para a fórmula do
trapézio é dado por
1 1
|ET (x)| ≤ h2 M2 = M2 ,
12 12M 2
sendo
M2 = max |f ′′ (x)| = max (−4e2x (x + 1)).
x∈[−2,−1] x∈[−2,−1]

Se tomarmos g(x) = −4e2x (x + 1) temos que g ′ (x) = 0 ⇒ x = −1 , 5. Logo


M2 = max{g(−2), g(−1 , 5), g(−1)} = 2e−3 .
Vamos então determinar qual o menor valor de M que satisfaz
e−3
≤ 0 , 5 × 10−3 .
6M 2
Efectuando os cálculos, concluímos imediatamente que n ≥ 4 , 074 o que implica
n = 5. Necessitamos de 5 pontos igualmente distanciados no intervalo [−2, −1] para
obter uma aproximação ao valor de I com três casas decimais correctas. Assim, pelo
exercício anterior, I ≈ −0 , 079.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 128

3.6 Exercícios práticos

Exercício 3.37. Sejam F e G primitivas de f e g, respectivamente. É verdade que:

1. F + G é uma primitiva de f + g?

2. F G é uma primitiva de f g?

3. F/G é uma primitiva de f /g?

Exercício 3.38. Seja F uma primitiva de f . Prove que:

1. se F é uma função par, então f é uma função ímpar;

2. se F é uma função ímpar, então f é uma função par.

Exercício 3.39. Calcule as primitivas das funções indicadas:

3 (x2 + 1)(x2 − 2)
1. sen x + ; 2. (a + bx3 )2 ; 3. √ ;
1 + x2 3
x2

ln x earc tg x + x ln(1 + x2 ) + 1 1
4. ; 5. ; 6. sen(ln x);
x 1 + x2 x
sen x + cos x sen 2x
7. ; 8. 42−3x ; 9. √ ;
cos x 1 + sen2 x

sen 3x 1 2 +3
10. ; 11. etg x ; 12. e4x+x (x + 2);
cos3 3x cos2 x
2 1 x
13. √ ; 14. √ ; 15. √ ;
1 − 4x2 16 − 9x2 4 − x4

1 cos x x3
16. ; 17. ; 18. ;
9 + 4x2 1 + sen2 x x8 + 5
x
19. cos √ ; 20. ax cos (ax ); 21. sen(cos x) sen x;
2
 x √ 
22. x sec2 3 − 2x2 ; 23. ; 24. cosec2 3x + 5 ;
cos2 x2
 1 √ 
25. x cosec2 3x2 ; 26. ; 27. 2x sec 5x2 + 7 ;
3 cos 5x − π4

 2x3 1
28. a2x cosec a2x ; 29. + sec2 (5x); 30. .
sen2 (3x4 ) sen xa
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 129

Exercício 3.40. Calcule, utilizando o método de primitivação por partes, as primi-


tivas das funções definidas pelas expressões analíticas:

1. e3x (2x + 3); 2. (ln x) (2x + 3); 3. x2 ln x; 4. ex sen x;

sen x
5. eax sen bx; 6. ; 7. x cos x; 8. x sec2 x;
ex
1+x 
9. (1 − x)e1+2x ; 10. ln ; 11. ln (x + 1)2 ; 12. ln a2 + x2 ;
1−x

ln (ln x) 1
13. ; 14. sen (ln x); 15. cos (ln x); 16. arc tg ;
x x

17. sec3 x; 18. x sen x cos x.

Exercício 3.41. Calcule as primitivas das funções definidas pelas expressões analí-
ticas:

1. sen3 x; 2. sen4 x; 3. tg3 x; 4. sec4 x;

5. sen3 x cos2 x; 6. cos3 x sen2 x; 7. sen2 x cos2 x; 8. sh(3x) ch(6x).

Exercício 3.42. Calcule as primitivas das funções definidas pelas expressões analí-
ticas:

x5 + x4 − 8 x 2x − 1 x2
1. ; 2. ; 3. ; 4. ;
x3 − 4x 2
x − 5x + 6 (x − 2)(x − 3)(x + 1) (x − 1)3

x3 + 1 4x − 2 x2 + 2x − 5 x4 − 1
5. ; 6. ; 7. ; 8. .
x3 − x2 x − x2 − 2x
3 (x2 + 1)(x + 1)2 x2 + 1

Exercício 3.43. Calcule, utilizando o método de substituição, as primitivas de:


x x (ex − 1)2

2
p 3 e x2 − 1
1. x 4 − x2 ; 2. 2x x
; 3. x
; 4. ;
3 −3 −2 e +1 x

x1/2 1 1 1
5. ; 6. √ √ ; 7. p ; 8. .
1 + x1/2 x 3−x (x − 2) (x − 2)2 − 1 3 + 2 cos x

Exercício 3.44. Determine uma função F tal que

F ′′ (x) = 2x−1 , F ′ (1) = 3 e F (1) = 0.


CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 130

Exercício 3.45. Para cada uma das funções definidas em R pelas expressões
 π x
cos 2x − e
4 1 + x4
obtenha, se possível,

1. a primitiva que se anula em x = 0;

2. a primitiva que tende para 1 quando x tende para +∞.

Se para algum caso for impossível obter uma primitiva que verifique a condição
requerida, explique a razão dessa impossibilidade.

Exercício 3.46. Mostre que, se f é integrável em [−a, a], então


Z a Z a
1. f (x) dx = 2 f (x) dx, se f é par;
−a 0
Z a
2. f (x) dx = 0, se f é ímpar.
−a

Faça uma interpretação geométrica destes resultados.

Exercício 3.47. Aplicando o exercício anterior, mostre que são nulos os seguintes
integrais:
Z 1 p Z 1
5
1. x x4 + 1 dx; 2. x sen2 x dx.
−1 −1

Exercício 3.48. Calcule os seguintes integrais definidos:


Z 4 Z 1 Z e
1 − 4x3 1
1. dx; 2. dx; 3. x ln x dx;
3 x − x4 −1 1 + x2 1

Z Z Z e2

1
2
1
arc tg x ln ln x2
4. x arc tg x dx; 5. dx; 6. dx;
0 0 1 + x2 e x
Z Z π Z
3 2
 4 2x − 1
7. 3x + x2 − 4x − 5 dx; 8. 2
tg x dx; 9. dx;
−2 0 0 (x − 3)(x + 1)
Z Z π Z
4 1
1 2 sen x ex
10. dx; 11. dx; 12. dx;
2 (x − 1)(x + 1)2 0 ex 0 e2x + 3ex + 2
Z π Z 8 √ Z π
2 3
x
13. cos 5x sen 2x dx; 14. √
3
dx; 15. sen3 x dx;
0 0 x2 +1 π
2

Z 2 Z 5
√ Z 4
2x2 − x + 1 x−1 x
16. dx; 17. dx; 18. √ dx.
1 3(x + 1)(x2 + 1) 1 x 0 x+1
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 131

Exercício 3.49. Calcule


Z 2π Z 2
1. |cos x| dx; 2. x |x| dx.
0 −1

Exercício 3.50. Calcule Z 1


dx
0 (1 + x2 )2
usando a mudança de variável x = tg t.

Exercício 3.51. Mostre que se f (x) = sen x, então


Z 2π
−2π ≤ f (x) dx ≤ 2π.
0

Exercício 3.52. Prove as seguintes desigualdades:


Z 1 Z e2
1 x9 1 x ln x 1 1
1. √ ≤ √ dx ≤ ; 2. 2 2
dx ≤ − .
10 2 0 1+x 10 1 (1 + x ) 2 1 + e4

Exercício 3.53. Determine uma função f contínua e uma constante α de modo


que, para todo o x real, se tenha:
Z x Z x
1
1. f (t) dt = sen x + ; 2. f (t) dt = cos(2x) + 1.
α 2 α

Exercício 3.54. Determine uma função contínua f de modo que


Z x
3 f (t) dt = x f (x)
0

e f (1) = 2.

Exercício 3.55. Aplicando o Teorema Fundamental do Cálculo, calcule as derivadas


das funções a seguir definidas:
Z x√ Z x Z ln x
1 + t4 cos y
1. 2
dt, x > 0; 2. dy, x > 0; 3. sen(y + ey ) dy, x > 0.
1 t 2 y 1

Exercício 3.56. Sendo


Z x
2 +1)/t) 1
F (x) = e(t dt, x > 0,
1 t
 
1
mostre que F = −F (x).
x
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 132

Exercício 3.57. Quais dos seguintes símbolos representam integrais impróprios,


quais representam integrais definidos e quais não representam nem uma coisa nem
outra?
Z 0 Z 2 Z 2 Z 2
1 1 1
1. √ dx; 2. √ dx; 3. dx; 4. sen x dx;
−2 (1 + x) x −2 4 − x2 −2 x −2

Z 2 Z 1 Z 2
p 1 p
5. 4 − x2 dx; 6. 2
du; 7. x2 − 4 dx.
−2 −1 u −u −2

Exercício 3.58. Averigúe a natureza dos seguintes integrais e indique os seus va-
lores no caso de serem convergentes:
Z +∞ Z 0 Z +∞ Z 1
2 1 1
1. dx; 2. ex dx; 3. dx; 4. dx;
1 x2 −∞ 4 x 0 x2
Z 0 Z +∞ Z 1 Z +∞
1 x 1
5. dx; 6. dx; 7. √ dx; 8. e−x dx;
−1 x4/5 0 1 + x4 0 1 − x2 0

Z 1 Z 1 Z 2 Z +∞
x 1 1
9. e dx; 10. √ dx; 11. dx; 12. sen x dx;
−∞ 0 1−x 0 1−x 0

Z +∞ Z +∞ Z +∞ Z +∞
1 1 ln(x2 )
13. dx; 14. dx; 15. dx; 16. e−|x| dx.
−∞ x −∞ x2 −1 x −∞

Exercício 3.59. Mostre, usando a definição, que o integral impróprio


Z +∞
1
dx
1 xα
1
é convergente e de valor , se α > 1, e divergente se α ≤ 1.
α−1

Exercício 3.60. Mostre, usando a definição, que o integral impróprio


Z b
1
dx
a (x − a)α

(b − a)1−α
é convergente e de valor , se α < 1, e divergente se α ≥ 1.
1−α

Exercício 3.61. Determine a natureza do integral impróprio


Z +∞
xn
dx
2 x3 + x + 1

em função dos valores de n.


CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 133

Exercício 3.62. Mostre que o integral impróprio


Z +∞
1
2
dx
−∞ 1 + x

1
é convergente. Esboce o gráfico da função f (x) = e interprete o integral
1 + x2
impróprio como o valor de uma área.

Exercício 3.63.

1. Mostre que os seguintes integrais impróprios são divergentes:


Z +∞ Z 1 Z +∞
3 x
(a) sen x dx; (b) dx; (c) dx.
−∞ −1 x −∞ 1 + x2
2. Calcule:
Z +∞ Z 1 Z +∞
3 x
(a) v.p. sen x dx; (b) v.p. dx; (c) v.p. dx.
−∞ −1 x −∞ 1 + x2

Exercício 3.64. Estude a convergência de cada um dos seguintes integrais:


Z +∞
2 2 1
1. e−x dx; (Sugestão: e−x ≤ 2 para x “grande”)
1 x
Z +∞
sen x sen x ≤ 1 )

2. x
dx; (Sugestão:
0 1 + cos x + e 1 + cos x + e ex
x

Z +∞ Z +∞
x+1 1
3. 4
dx; (Sugestão: compare com dx )
1 3x − x + 2 1 x3
Z −2 Z −2
1 1
4. √ dx; (Sugestão: compare com − dx )
−∞ x2 − 1 −∞ x
Z 1 Z 1
1 1
5. √ dx. (Sugestão: compare com 1/2
dx )
1/2 (1 − x)
1−x 4
1/2

Exercício 3.65. Determine o valor que λ deve tomar para que o integral impróprio
Z +∞
λx 1
2−1
− dx
2 2x 6x −1
seja convergente.

Exercício 3.66. Determine a natureza do integral impróprio, efectuando a mudança


de variável indicada: Z 1
1 1
cos dx, x = .
0 x t
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 134

Exercício 3.67. Determine a medida da área da região limitada por:


x2
1. a parábola y = e as rectas x = 1, x = 3 e y = 0;
2
2. a parábola x = 2 − y − y 2 e o eixo das ordenadas;

3. a curva y = sh x e as rectas x = 6 e y = −2;

4. as curvas y = sen x e y = cos x entre dois pontos consecutivos das suas inter-
secções;

5. a parábola x = 4 − y 2 e o eixo dos yy;

6. a curva y = ln x, o eixo dos yy e as rectas y = 0 e y = 2;

7. a parábola y = −x2 + 4x − 3 e as suas rectas tangentes nos pontos (0, −3) e


(3, 0);
x2 y 2
8. a elipse + 2 = 1.
a2 b

Exercício 3.68. Calcule a área limitada:

1. pelo cardióide a partir da sua equação em coordenadas polares ρ = a(1 − cos θ),
a > 0;

2. pela lemniscata de equação ρ2 = sen(2θ);

3. pela curva de equação ρ2 = −2 sen(2θ);

4. pelas curvas de equações ρ2 = 4 sen θ e ρ2 = 3 sen θ.

Exercício 3.69. Estabeleça os integrais que nos permitem calcular a área da figura:

1. interior ao cardióide ρ = 4(1 − cos θ) e exterior à circunferência ρ = 6;



2. interior às circunferências ρ = 3 2 cos θ e ρ = 3 sen θ;

3. interior a cada uma das pétalas da rosa de quatro pétalas de equação


ρ = 6 sen(2θ).

Exercício 3.70. Diga qual o erro do seguinte raciocínio: “A área da lemniscata


ρ2 = a2 · cos(2θ) é dada por
Z 2π Z 2π  2π
1 2 1 2 1 2
A= ρ dθ = a cos(2θ) dθ = a sen(2θ) = 0.”
0 2 0 2 4 0

Exercício 3.71. Calcule o comprimento das curvas:


1
1. y = arc sen(e−x ) desde o ponto de abcissa 2 até ao ponto de abcissa 1;
3 √
2. f (x) = x 2 desde (1, 1) até (2, 2 2).
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 135

Exercício 3.72. Determine o comprimento das seguintes curvas:

1. y = x, x ∈ [a, b]; 2. y = a ch xa , x ∈ [0, b]; 3. y = x2 , x ∈ [0, 1].


Exercício 3.73. Determine o comprimento da curva de equação y = 1 − x2 , entre
os pontos de abcissa x = 0 e x = a (com a ∈ [0, 1]). Interprete geometricamente o
resultado obtido.

Exercício 3.74. Calcule o perímetro da circunferência cujas equações paramétricas


são 
x = r cos t
, t ∈ [0, 2π].
y = r sen t

Exercício 3.75. Calcule o comprimento:

1. da espiral logarítmica ρ = eθ desde θ = 0 até θ = π;

2. do cardióide ρ = a(1 + cos θ), a < 0;

3. da espiral logarítmica ρ = 2e2θ , θ ≥ 0, que se encontra dentro do círculo ρ ≤ a


com a ≥ 2;
π
4. do segmento de recta ρ = 3 sec(θ − ) para θ ∈ [− 3π
2 +

3 , −π + 2π
3 ].
3

Exercício 3.76. Calcule a medida do volume do sólido de revolução gerado por:



1. o semi-círculo y = r2 − x2 , −r ≤ x ≤ r, em torno do eixo dos xx;

2. a região y ≤ x2 ∧ 0 ≤ x ≤ 2 ∧ y ≥ 0, em torno do eixo dos xx;

3. a região limitada pela curva y = x3 , a recta y = 1 e o eixo dos yy, em torno


do eixo dos yy;

4. a região limitada pela curva y = x3 , a recta x = 1 e o eixo dos xx, em torno


do eixo dos yy;

5. a rotação em torno do eixo dos yy do círculo limitado pela circunferência


(x − a)2 + y 2 = r2 , com a > r (o sólido obtido chama-se toro);

6. a rotação em torno do eixo dos xx da região dada pela condição


(x − 1)2 + y 2 ≤ 1 ∧ x − y − 1 ≥ 0 ∧ y ≥ 0;

7. a região limitada pelas curvas y 2 = 8x e x = 2: (a) em torno do eixo dos xx;


(b) em torno do eixo dos yy; (c) em torno da recta x = 2;

8. a região limitada pelas curvas y = sen x para x ∈ [0, π] e y = 0: (a) em torno


da recta y = −2; (b) em torno da recta x = −2;

9. a região limitada pela parábola y = ax2 e pela recta y = h em torno da recta


y = h, com a > 0 e h > 0 (o sólido obtido é chamado limão de Cavalieri).
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 136

Exercício 3.77. Atribua, se possível, um valor à área da região R e um valor ao


volume do sólido obtido pela rotação de R em torno do eixo dos xx, sendo:
 
1
1. R = (x, y) : x ≥ 1, 0 ≤ y ≤ ;
x
 
1
2. R = (x, y) : x ≥ 1, 0 ≤ y ≤ √ ;
x
n 3
o
3. R = (x, y) : x ≥ 4, 0 ≤ y ≤ x− 2 ;
n 2
o
4. R = (x, y) : x ≥ 8, 0 ≤ y ≤ x− 3 ;
 
1
5. R = (x, y) : 0 < x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ √ ;
x
 
1
6. √
R = (x, y) : 0 < x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 3 ;
x
 
1
7. R = (x, y) : −4 < x ≤ 4, 0 ≤ y ≤ ;
x+4
 
1
8. R = (x, y) : 1 < x ≤ 2, 0 ≤ y ≤ .
x−1

Exercício 3.78. Um fluido escorre para dentro de um tanque à velocidade de 2t + 3


litros por minuto, onde t é o tempo medido em horas depois do meio-dia. Se o
tanque estiver vazio ao meio-dia e tiver a capacidade de 1000 litros, a que horas
estará cheio?

Exercício 3.79. A densidade de massa de um fio é f (x) = x2 e−x quilogramas por


centímetro. O fio tem 2 metros de comprimento. Calcule a sua massa sabendo que
ela é dada por Z 200
M= f (x) dx.
0

Exercício 3.80. Quando um gás se expande num cilindro de raio r, a pressão num
dado momento é função do volume: P = P (V ). A força exercida pelo gás no pistão
é dada pelo produto da pressão pela área: F = πr2 P .

1. Mostre que o trabalho


R Vproduzido pelo gás quando o volume expande de V1 para
V2 é dado por W = V12 P dV.

2. Numa máquina a vapor a pressão P e o volume V de vapor satisfazem a equa-


ção P V 1,4 = k, onde k é uma constante. (Isto é verdade para uma expansão
adiabática, que é uma expansão onde não ocorre transferência de calor entre
o cilindro e o seu exterior). Use a alínea anterior para calcular o trabalho
realizado pelo motor num ciclo quando o vapor começa a uma pressão de 72
Kgf/cm2 e um volume de 100 cm3 e expande até um volume de 800 cm3 .
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 137

Exercício 3.81. Uma partícula de massa m movendo-se num fluido está sujeita a
uma resistência de viscosidade R, que é função da velocidade v. A relação entre a
resistência R, a velocidade v e o tempo t é dada pela equação
Z v(t)
m
t= du.
v(t0 ) R(u)

Suponhamos que R(v) = −v v para um fluido particular, onde R é dado em newtons
e v em metros/segundo. Se m = 10 kg e v(0) = 10 m/seg calcule o tempo necessário
para a partícula reduzir a sua velocidade para v = 5 m/seg.

Exercício 3.82. Uma substância radioactiva decai exponencialmente. Assim, a


massa no tempo t é
m(t) = m(0)ekt ,
onde m(0) é a massa inicial e k uma constante negativa. A “vida média" de um
átomo na substância é dada por
Z ∞
M = −k tekt dt.
0

Para o isótopo radioactivo de carbono 14 C, usado na datação, o valor de k é


−0,000124. Calcule a vida média de um átomo de 14 C.

Exercício 3.83. No método da diluição do contraste, usado para medir a capacidade


cardíaca, introduz-se uma substância (contraste) na corrente sanguínea e uma sonda
na aorta para medir a concentração de contraste que sai do coração em intervalos
de tempo regulares, durante o intervalo [0, T ], até que o contraste esteja terminado.
A capacidade cardíaca do coração (volume de sangue bombeado pelo coração por
unidade de tempo), será dada por

A
RT ,
0 c(t) dt

onde A é a quantidade de contraste (mg) introduzido e c(t) a concentração de con-


traste (mg/L) no instante t. Calcule a capacidade cardíaca quando A = 8 mg e
c(t) = 14 t(12 − t) mg/L, com 0 ≤ t ≤ 12.

Exercício 3.84. A “velocidade média” das moléculas de um gás ideal é dada por
 3/2 Z ∞
4 M 2 /(2RT )
v=√ v 3 e−M v dv,
π 2RT 0

onde M é o peso molecular do gás, R a constante do gás, T a temperatura do gás e


v a velocidade molecular. Mostre que
r
8RT
v= .
πM
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 138

Exercício 3.85. (∗) A quantidade de massa que é libertada por um reactor num
dado período de tempo é dada por
Z t2
M= Qc dt
t1

onde t1 e t2 são os momentos inicial e terminal, respectivamente. Usando a fórmula


do trapézio, Q = 5 m3 /min e os dados da tabela

t (min) 0 10 20 30 40
,
c (mg/m3 ) 10,00 35,00 54,73 52,16 37,07

aproxime o valor da massa libertada pelo reactor nos primeiros 40 minutos.

Exercício 3.86. (∗) A função


Z x
2
f (x) = e−t dt
0

é usada com muita frequência em disciplinas tão diversas como a teoria das proba-
bilidades, distribuição de calor, difusão de matérias, etc. Usando uma das regras de
integração com n = 10, calcule uma aproximação para o valor do referido integral.


Exercício 3.87. (∗) Seja I = 0 xe2x dx.

1. Qual o menor número de pontos que deve considerar na fórmula do trapézio


por forma a aproximar o valor do integral com uma casa decimal correcta.

2. Calcule o valor aproximado de I de acordo com a alínea anterior.

Exercício 3.88. (∗) A intensidade de luz com comprimento de onda λ viajando


através de uma grelha de difração com n aberturas a um ângulo θ é dada por

I(θ) = (n/k)2 sen2 k,

onde
k = (πnd sen θ)/λ
e d é a distância entre cada abertura. Um laser de hélio-néon com compri-
mento de onda λ = 632,8 × 10−9 m emite uma banda estreita de luz, dada por
−10−6 < θ < 10−6 , através de uma grelha com 10.000 aberturas separadas por
10−4 m. Obtenha um valor aproximado para a intensidade de luz total que sai da
grelha
Z 10−6
I(θ) dθ.
−10−6
Capítulo 4

Equações diferenciais

4.1 Modelos
4.1.1 Crescimento de uma população
Consideremos uma população cuja taxa de crescimento é proporcional ao seu tamanho.
Então, se P representar o número de indivíduos da população e k a constante de propor-
cionalidade, a taxa de crescimento é dada por

P ′ (t) = kP (t)

ou, noutra notação e omitindo a dependência de t na função P ,


dP
= kP. (4.1)
dt
Notemos que, uma vez que se trata de uma população, P (t) > 0, para todo o instante t.
Para saber qual o comportamento da população à medida que o tempo aumenta, con-
sideremos dois casos.

Caso k > 0:
Neste caso, P ′ (t) > 0, para todo o t, o que significa que a população está sempre
a aumentar, a partir de um valor inicial P (0) = P0 . Além disso, à medida que a
população P (t) aumenta, a sua taxa de crescimento também aumenta.

Caso k < 0:
Neste caso, P ′ (t) < 0, para todo o t, o que significa que a população está sempre
a decrescer, a partir de um valor inicial P (0) = P0 . Além disso, à medida que a
população P (t) aumenta, a sua taxa de crescimento diminui.

Uma questão que se coloca é a de saber como determinar a solução da equação (4.1).
Se considerarmos
P (t) = Cekt , (4.2)
temos que
P ′ (t) = Ckekt = kP (t).
Logo (4.2) é uma solução da equação. A constante C pode ser determinada pela condição
inicial P (0) = P0 . Assim, considerando t = 0 em (4.2), sai que C = P0 .

139
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 140

O modelo de crescimento exponencial é também chamado modelo de Malthus. Apre-


sentado em 1798 por Thomas Robert Malthus (1766–1834), (4.1) foi o primeiro modelo
do crescimento de uma população humana, onde a constante de proporcionalidade é dada
pela diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade.
O modelo de Malthus descreve o crescimento de uma população em condições ideais
mas não nos podemos esquecer que, por exemplo, o ambiente tem recursos limitados o que
faz com que a população não possa crescer indefinidamente. Muitas populações começam
por crescer exponencialmente mas o nível da população começa a estabilizar quando ela se
aproxima da sua capacidade de suporte S (ou a diminuir em relação a S, se ela exceder o
valor de S).
Vamos considerar uma população P cuja taxa de variação verifica as seguintes propri-
edades: é proporcional a P , para valores de P pequenos e é negativa, para valores de P
superiores à capacidade de suporte S. Consideremos, por exemplo, um modelo cuja taxa
P
de variação seja proporcional tanto a P como a 1 − , isto é,
S
 
dP P
= kP 1 − . (4.3)
dt S
P
Para este modelo temos que, se P ≪ S então ≈0e
S
dP
≈ kP.
dt
P
Por outro lado, se P > S então 1 − < 0 e, como tal,
S
dP
< 0.
dt
A equação (4.3) é conhecida por equação logística. Esta equação foi proposta por Pierre
François Verhulst (1804–1849), em 1840, como um modelo para o crescimento da população
mundial.
Notemos que as constantes P = 0 e P = S são soluções da equação logística (4.3).
Estas soluções são chamadas soluções de equilíbrio. Mais ainda, se P (0) = P0 ∈]0, S[ então
dP dP
> 0 e a população aumenta. Por outro lado, se P (0) = P0 > S então <0 e a
dt dt
população diminui.

4.1.2 Movimento de uma mola


Segundo a Lei de Hooke, estabelecida por Robert Hooke (1635–1703), a força elástica de
uma mola de comprimento x(t), dependente do tempo, suspensa na vertical e sujeita a
uma carga de massa m, é dada por
F = −kx,
com k > 0 a chamada constante da mola. Por outro lado, pela Segunda Lei de Isaac
Newton (1643–1727),
d2 x
F =m 2
dt
e, como tal, o comprimento da mola pode ser obtido pela equação
d2 x k
= − x.
dt2 m
Pode demonstrar-se que toda a solução desta equação se pode escrever como combinação
linear de senos e cossenos.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 141

4.2 Caso geral

Uma equação diferencial é uma equação que contém uma função como incógnita e
uma ou mais das suas derivadas. A ordem de uma equação diferencial é a ordem da
derivada mais alta que ocorre na equação. A equação

y ′ (x) = f (x, y(x)), (4.4)

em que f : I × R −→ R, com I um intervalo real, é uma equação diferencial de


primeira ordem.

Uma função f é solução da equação diferencial se a equação é satisfeita quando y =


f (x) e as suas derivadas são substituídas na equação. Na equação y ′ = xy, a função
y = f (x) é solução da equação se f ′ (x) = xf (x). Na equação (4.4), a x chamamos variável
imdependente e a y variável dependente (de x). Caso a variável independente seja o tempo,
é usual notá-la pela letra t. Nesse caso, a equação diferencial também se pode chamar
sistema dinâmico.

Resolver uma equação diferencial significa encontrar todas as suas soluções (pode não
ser fácil...). Por exemplo, se y ′ = t3 temos que a solução é dada, imediatamente, pela
primitiva y = t4 /4 + c, c ∈ R. No entanto, se y ′ = ty, a solução já pode ser mais difícil de
obter. Nesta secção vamos considerar algumas técnicas (mais em [1, 8]) para determinar as
soluções de uma equação diferencial. Notemos que, tal como na primitivação, uma equação
diferencial tem sempre mais do que uma solução.

A solução equação (4.4), se existir, não é única pois, ao integrarmos, introduzimos


sempre uma constante de integração. A forma de contornar este problema consiste
em especificar y(x) num ponto qualquer do intervalo I, usualmente o ponto inicial
do intervalo x0 . Ficamos assim com o problema de condição inicial (PCI)
 ′
y (x) = f (x, y(x)), t ∈]x0 , X]
, (4.5)
y(x0 ) = y0

também chamado problema de Cauchy, em homenagem ao matemático francês


Augustin-Louis Cauchy (1789–1857).

Exercício 4.1. Mostre que y(t) = t2 (et − e) é solução do problema de condição


inicial ( 2
y′ = y + t2 e t , t ∈]1, 2]
t .
y(1) = 0

Resolução: Basta ver que, como t 6= 0,


2
y ′ (t) = 2t(et − e) + t2 et = y + t2 et
t
e que y(1) = 1(e1 − e) = 0, o que prova o pretendido.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 142

4.3 Campo de direcções


Consideremos uma equação diferencial ordinária de primeira ordem (4.4). Nas próximas
secções vamos considerar equações diferenciais que podem ser resolvidas explicitamente.
No entanto, na maioria dos casos, essas soluções são impossíveis de calcular. Uma forma
de poder ter uma ideia do comportamento das soluções de uma equação diferencial sem as
calcular explicitamente recorre a um método gráfico que consiste em analisar o chamado
campo de direcções.

A equação diferencial (4.4) diz-nos que o declive da tangente à solução da equação


que passa pelo ponto (x, y) é dada por f (x, y). O campo de direcções da equação
diferencial é um gráfico do plano (x, y), onde em alguns pontos aparece um vector
com declive igual ao valor de f (x, y) nesse ponto. Assim, as soluções da equação
diferencial deverão ser as curvas tangentes a esses vectores. Pela análise do campo
de direcções podemos ficar com uma ideia da forma das soluções.

Vejamos alguns exemplos. Na Figura 4.1 (esquerda) temos representado o campo de


direcções da equação y ′ (x) = x + y e a solução da equação que passa pelo ponto (0, 1).
Como pode ser visto, o campo de direcções indica claramente a forma das soluções da
equação diferencial. Outro exemplo é o dado na Figura 4.1 (direita) onde se representa
o campo de direcções da equação y ′ (x) = x2 + y 2 e a solução da equação que passa pelo
ponto (0, 1). Mais uma vez, é claro que o campo de direcções indica a forma das soluções
da equação diferencial.

y′=y+x, y(0)=1 y′=y2+x2, y(0)=1


3 3
2.5
2
2
1.5
1
1
y

0.5 0

0
−1
−0.5
−1
−2
−3 −2 −1 0 1 2 3 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1
x x

Figura 4.1: Campo de direcções e curva solução.


CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 143

4.4 Equações separáveis


Uma equação separável (ou de variáveis separáveis) é uma equação diferencial de primeira
ordem que pode ser escrita na forma
dy
y ′ (x) = g(x)f (y) ⇔ = g(x)f (y).
dx
De forma equivalente, se f (y) 6= 0, podemos escrever a equação na forma alternativa
dy g(x) 1
= , com h(y) = .
dx h(y) f (y)
Logo
Z Z Z Z
dy dy
h(y) = g(x) ⇔ h(y) dx = g(x) dx ⇔ h(y) dy = g(x) dx.
dx dx
Obtemos assim y (implicitamente) como função de x.
Poderíamos ter chegado ao mesmo resultado se tivéssemos usado formas diferenciais.
Nesse caso
Z Z
dy g(x)
= ⇔ h(y) dy = g(x) dx ⇔ h(y) dy = g(x) dx.
dx h(y)
Também poderíamos ter usado a técnica da primitivação por substituição. Assim
Z Z Z Z
dy g(x)
h(y) dy = h(y(x)) dx = h(y(x)) dx = g(x) dx.
dx h(y(x))

Exercício 4.2. Determine a solução do problema de condição inicial



 ′ 6x2
y =
2y + cos y .

y(1) = π

Resolução: Temos, sucessivamente,


Z Z
dy 6x2
= ⇔ (2y + cos y)dy = 6x2 dx ⇔ 2y + cos y dy = 6x2 dx.
dx 2y + cos y
Integrando nos dois membros obtemos y 2 + sen y = 2x3 + c, c ∈ R. Usando a condição
inicial podemos determinar a constante c na forma π 2 + sen π = 2 + c, o que implica
c = π 2 − 2.. Concluímos que a solução pretendida é dada implicitamente por y 2 +
sen y = 2x3 + π 2 − 2.

Problema das misturas. Um exemplo de um problema que pode ser resolvido pela
técnica da separação de variáveis é o chamado problema das misturas. Consideremos um
tanque com capacidade fixa, preenchido com uma solução completamente misturada de
uma substância. Uma solução de uma dada concentração entra no tanque a uma taxa fixa
e a mistura, bem agitada, sai do tanque a uma taxa fixa, que pode ser diferente da taxa
de entrada. Se y(t) denotar a quantidade de substância no tanque no tempo t então

y ′ (t) = taxa de entrada − taxa de saída.


CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 144

A título de exemplo, considere-se um tanque com 20 Kg de sal dissolvido em 5000 L


de água. Suponhamos que fazemos entrar no tanque água salgada com 0,03 Kg de sal por
litro a uma taxa de 25 L/min. A solução é misturada completamente e sai do tanque à
mesma taxa. Que quantidade de sal permanece no tanque ao fim de meia hora?
Se representarmos por y(t) a quantidade de sal no instante t, com t o tempo em minutos,
pelos dados do problema temos que y(0) = 20 Kg e queremos determinar y(30). Temos
que a variação de sal no tanque é dada por
dy
= taxa de entrada (de sal) − taxa de saída (de sal).
dt
Mas,
taxa de entrada (de sal) = (0,03 Kg/L) × (25 L/min) = 0,75 Kg/min
e  
y(t) y(t)
taxa de saída (de sal) = Kg/L × (25 L/min) = Kg/min.
5000 200
Logo
dy y 150 − y
= 0,75 − = .
dt 200 200
Para resolver esta equação temos, sucessivamente,
Z Z
dy 150 − y 1 1
= ⇒ dy = dt
dt 200 150 − y 200
1
⇒ − ln |150 − y| = t + c, c ∈ R
200
⇒ |150 − y| = e−c e−(1/200)t , c ∈ R
⇒ 150 − y = Ae−(1/200)t , A = ±e−c , c ∈ R
⇒ y(t) = 150 − Ae−(1/200)t , A ∈ R.

Para obter A notemos que, como y(0) = 20 então A = 130. Assim, temos que

y(t) = 150 − 130e−(1/200)t ⇒ y(30) = 150 − 130e−(3/20) ≈ 38,1080 Kg.

4.5 Crescimento e decaimento exponencial


Vimos que um modelo para o crescimento exponencial pode ser dado por
dy
= ky, k ∈ R (constante), (4.6)
dt
onde y(t) é o valor de uma quantidade y no tempo t. Neste modelo supõe-se que a taxa
de variação de y em relação a t é proporcional a y. A esta lei chama-se lei de crescimento
natural (k > 0) ou lei de decaimento natural (k < 0).
Como a equação diferencial (4.6) é separável temos
Z Z
dy
= k dt ⇒ ln |y| = kt + c ⇒ |y| = ekt+c , c ∈ R.
y
Então
y(t) = Aekt , A = ±ec .
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 145

Notemos ainda que, se conhecermos uma condição inicial y(0) = y0 , o valor de A pode ser
dado por A = y0 . Provámos então que a solução do problema de condição inicial
 ′
y (t) = ky
y(0) = y0

é dada por y(t) = y0 ekt . Vejamos, agora, qual o significado da constante de proporcionali-
dade k. Temos que
dy 1 dy
= ky ⇒ k = .
dt y dt
Assim, k representa a taxa de crescimento (decaimento) relativa, isto é, a taxa de crescimento
(decaimento) dividida pelo tamanho da população. Podemos então dizer que, no modelo
exponencial a taxa de crescimento (decaimento) relativa é constante. Por exemplo, se
dy
dt = 0,02y dizemos que a taxa de crescimento relativa é de 2%.

Um exemplo de grande importância prática é o do decaimento radioactivo. Como se


sabe, as substâncias radioactivas decaem pela emissão expontânea de radiação. Sabe-se
experimentalmente que, se m(t) é a massa da substância que fica da massa inicial m0 ao
1 dm
fim de um tempo t, então a taxa de decaimento relativa − é constante. Temos então
m dt
que
dm
= km, k < 0,
dt
o que implica
m(t) = m0 ekt .
A taxa de decaimento é calculada em função da meia-vida da substância, isto é, do
tempo necessário para a massa inicial decair para metade do seu valor.

Exercício 4.3. A meia-vida do rádio-226, 226


88 Ra, é de 1590 anos. Sabendo que uma
amostra de rádio-226 tem massa 100 mg, encontre a massa de 226
88 Ra que permanece
ao fim de t anos.

Resolução: Temos que resolver o problema de condição inicial


(
dm
= km
dt .
m(0) = 100

Como vimos, m(t) = 100ekt . Falta-nos apenas determinar o valor da taxa de decai-
mento relativa k. Pelos dados do problema, m(1590) = 50 mg e, como tal,

ln 2
100e1590k = 50 ⇒ k = − .
1590

Então m(t) = 100e−(ln 2/1590)t = 100 × 2−t/1590 mg.


CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 146

Decaimento radioactivo
100

80

60

m
40

20

0
0 2000 4000 6000 8000 10000
t

Figura 4.2: Solução do Exercício 4.3.

4.6 Equação logística


Como vimos, o modelo de crescimento exponencial de uma população só é válido nos
instantes iniciais. Assim, se y(t) for o tamanho da população no instante t temos que

dy
≈ ky, y (pequeno).
dt
Isto que dizer que a taxa de crescimento relativa da população é praticamente constante
quando a população é pequena.
No modelo que agora pretendemos estudar, a taxa de crescimento relativa diminui
quando a população aumenta e torna-se negativa quando o número de indivíduos da po-
pulação ultrapassa a capacidade de suporte S. A expressão mais simples para uma taxa de
crescimento relativa nessas circunstâncias é
1 dy  y dy  y
=k 1− ⇔ = ky 1 − .
y dt S dt S

Obtemos assim a chamada equação logística


dy  y
= ky 1 − (4.7)
dt S
ou, de forma equivalente,
dy k
= k1 y (S − y) , k1 = .
dt S
y
Notemos que este modelo verifica o pretendido. De facto, se y ≪ S então ≈ 0 e,
S
dy y dy
como tal, ≈ ky. Por outro lado, se y → S então → 1 e assim → 0. Além disso, se
dt   S dt
y dy
y ∈]0, S[ então ky 1 − > 0 e assim > 0, ou seja, a população aumenta. Se y > S
  S dt
y dy
então ky 1 − < 0 e assim < 0, ou seja, a população diminui.
S dt
Vamos agora ver como obter a solução analítica da equação logística (4.7). Como é
uma equação de variáveis separáveis temos, sucessivamente,
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 147

 Z Z
dy y dy
= ky 1 − ⇒  = k dt
dt S y 1 − Sy
Z Z
S
⇒ dy = k dt
y (S − y)
Z
1 1
⇒ + dy = kt
y S−y
⇒ ln |y| − ln |S − y| = kt + c, c∈R
⇒ ln |S − y| − ln |y| = −kt − c, c∈R

S − y
⇒ ln = −kt − c, c∈R
y

S − y
⇒ = e−kt−c , c∈R
y
S−y
⇒ = Ae−kt , A = ±e−c , c ∈ R. (4.8)
y
Então
S S S
− 1 = Ae−kt ⇒ = Ae−kt + 1 ⇒ y = .
y y Ae−kt + 1
O valor de A pode ser obtido a partir da condição inicial. Se considerarmos y(0) = y0
temos que, de (4.8),
S − y0
A= .
y0
Assim, a solução do problema de condição inicial logístico
( 
dy y
= ky 1 −
dt S
y(0) = y0

é
S S − y0
y(t) = , A= . (4.9)
Ae−kt +1 y0

Logística
100

80

60
y

40

20

0
0 5 10 15 20 25
t

Figura 4.3: Equação logística (4.9) com S = 100, k = 0,5 e y0 = 1.


CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 148

4.7 Equações lineares


Uma equação diferencial linear de primeira ordem é aquela que pode ser escrita na forma
dy
+ P (x)y = Q(x),
dx
onde P e Q são funções contínuas num dado intervalo.
Um exemplo é dado pela equação
1
xy ′ + y = 2x ⇔ y ′ + y = 2.
x
Esta equação não é separável. Notemos, no entanto, que xy ′ + y = (xy)′ . Assim,
Z Z
c
(xy) = 2x ⇔ (xy) dx = 2x dx ⇔ xy = x2 + c ⇔ y(x) = x + ,
′ ′
c ∈ R.
x
Se tivessemos partido de
1
y′ + y=2
x
teríamos que multiplicar ambos os membros por x por forma a obter xy ′ + y = 2x e depois
resolver o problema. Nesse caso, diríamos que I(x) = x era um factor integrante da equação.

Consideremos, de novo, a equação


y ′ + P (x)y = Q(x).
Vamos calcular o factor integrante da equação, isto é, a função I(x) tal que
I(x)(y ′ + P (x)y) = (I(x)y)′ . (4.10)
Se conseguirmos encontrar I(x) nestas condições então
Z
(I(x)y)′ = I(x)Q(x) ⇒ I(x)y = I(x)Q(x) dx + c, c ∈ R
Z 
1
⇒ y(x) = I(x)Q(x) dx + c , c ∈ R.
I(x)
Vamos agora obter a expressão para I(x). De (4.10) temos
I(x)(y ′ + P (x)y) = (I(x)y)′ ⇒ I(x)y ′ + I(x)P (x)y = I ′ (x)y + I(x)y ′
⇒ I(x)P (x) = I ′ (x)
dI
⇒ = I(x)P (x)
dx
Z Z
1
⇒ dI = P (x) dx
I(x)
Z
⇒ ln |I(x)| = P (x) dx + c, c∈R
R
P (x) dx
⇒ I(x) = Ae , A = ±ec , c ∈ R.
Assim I(x) é um factor integrante qualquer que seja o A. Vamos escolher, por exemplo,
A = 1. Então, R
I(x) = e P (x) dx .
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 149

Podemos estabelecer o seguinte algoritmo para resolver o problema de condição


inicial linear de primeira ordem
 ′
y + P (x)y = Q(x)
.
y(x0 ) = y0

1. Obter o factor integrante R


P (x) dx
I(x) = e .

2. Multiplicar ambos os membros por I(x)

I(x)(y ′ + P (x)y) = (I(x)y)′ = I(x)Q(x)

e resolver a equação
Z 
′ 1
(I(x)y) = I(x)Q(x) ⇒ y(x) = I(x)Q(x) dx + c , c ∈ R.
I(x)

3. Determinar c usando a condição inicial.

Exercício 4.4. Um circuito eléctrico simples consiste num medidor de corrente


eléctrica I (em amperes), uma resistência R (em ohms), um inductor L (em henries)
e uma voltagem aplicada E (em volts). Pela segunda Lei de Kirchhoff, a corrente I
satisfaz
dI
L + RI = E.
dt
Determine a corrente I ao fim de t = 0,5 segundos, sabendo que L = 1 H, R = 2 Ω,
E(t) = 20 sen 6t V e I(0) = 1 A.

Resolução: A equação dada pode ser escrita na forma


dI
+ 2I = 20 sen 6t.
dt
Assim sendo, o factor integrante é dado por
R
2 dt
F (t) = e = e2t .
Multiplicando ambos os membros da equação pelo factor integrante obtemos
 
2t dI d
e + 2I = 20e2t sen 6t ⇔ (e2t I) = 20e2t sen 6t,
dt dt
o que implica Z
−2t
I(t) = 20e e2t sen 6t dt.

Integrando por partes (prove!) obtém-se


I(t) = sen(6t) − 3 cos(6t) + ce−2t , c ∈ R.
Usando a condição inicial concluímos que
1 = sen 0 − 3 cos 0 + c ⇔ c = 4.
Então, I(0,5) = sen(3) − 3 cos(3) + 4e−1 = 4,5826 A.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 150

4.8 Método de Euler (∗)


A solução do PCI (4.5), caso exista, pode não ser possível de obter de forma explícita. Neste
caso, é usual recorrer a métodos numéricos que permitam obter uma aproximação à sua
solução. O método numérico mais simples é o chamado método de Euler, em homenagem
a matemático suíço Leonhard Euler (1707–1783), e é baseado no campo de direcções da
equação diferencial.

Para compreender o funcionamento do método, considere-se o PCI


 ′
y = y + t, t>0
. (4.11)
y(0) = 1
Como y ′ (0) = y(0) + 0 = 1, a curva solução deste problema tem uma tangente com declive
igual a 1 no ponto (0, 1). Assim, uma primeira aproximação para a solução do problema
consiste em considerar a aproximação linear a y no ponto (0, 1), isto é, a recta L0 (t) = 1+t.

Como se sabe, a aproximação linear só deve ser considerada localmente. Por esse
facto, a aproximação linear só irá ser considerada em intervalos pequenos. Partindo de
t0 = 0, vamos considerar y ≈ L0 (t) no intervalo [t0 , t1 ], com t1 = t0 + ∆t, sendo ∆t uma
quantidade pequena chamada medida do passo. Considerando ∆t = 0,5, por exemplo,
temos que y(t1 ) = y(0,5) ≈ y1 = L0 (0,5) = 1,5.

A partir desse ponto, o método calcula uma nova aproximação linear. Uma fez que é
conhecido o declive da solução que passa no ponto (t1 , y1 ) = (0,5, 1,5), a aproximação à
solução no ponto t2 = t1 + ∆t = 1 é dada pela aproximação linear da solução da solução
que passa no ponto (0, 1), isto é, a recta L1 (t) = 1,5 + f (0,5, 1,5)(t − 0,5) = 1,5 + 2(t − 0,5).
Obtemos então y(t2 ) = y(1) ≈ y2 = L1 (1) = 1,5 + 2(1 − 0,5) = 2,5. O processo acabado de
descrever pode ser visto geometricamente na Figura 4.4. Prosseguindo de forma idêntica,
obtêm-se as aproximações
y(ti+1 ) ≈ yi+1 = Li (ti+1 ) = yi + f (ti , yi )(ti+1 − ti ) = yi + ∆tf (ti , yi ), i = 2, 3, ...

y′=y+t, y(0)=1
3.5

2.5
y

1.5
Exacta
Euler
1
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
t

Figura 4.4: Solução exacta e solução aproximada obtida pelo método de Euler.

Vamos agora apresentar o método de Euler de uma forma mais geral. Consideremos,
de novo, o PCI (4.5). O método de Euler permite obter aproximações y0 , y1 , . . . , yn para
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 151

a solução exacta (caso exista) y0 = y(x0 ), y1 ≈ y(x1 ), . . . , yn ≈ y(xn ) nos pontos distintos
da malha
x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = X.
Às distâncias hi = xi − xi−1 , i = 1, . . . , n, dá-se o nome de passos de discretização (ou
medidas do passo) da malha. Se os passos forem todos iguais a malha diz-se uniforme ou
de passo constante. Caso contrário diz-se de passo variável. Neste curso vamos apenas
considerar malhas uniformes, isto é, tais que xi = x0 + ih, i = 0, . . . , n, onde h = X−x
n .
0

O método de Euler permite determinar valores yi ≈ y(xi ) por meio de uma relação
de recorrência deduzida do PCI (4.5) de modo a que o valor de yi+1 vem expresso
em função do valor de yi . Essa relação de recorrência é dada por

yi+1 = yi + hf (xi , yi ), i = 0, 1, ..., n − 1. (4.12)

Como, no método de Euler, yi+1 vem apenas expresso em função do valor de yi e não
dos anteriores,. é chamado um método de passo. O método de Euler é, muitas vezes,
chamado método de Euler progressivo ou método de Euler explícito pois a determinação o
valor de yi+1 pode ser feita directamente a partir de yi sem haver necessidade de resolver
qualquer equação algébrica. A {y0 , y1 , y2 , . . . , yn−1 , yn } chama-se solução numérica.
O seguinte algoritmo permite determinar a solução do PCI (4.5) em x = X, usando o
método de Euler.
Algoritmo 4.1 Método de Euler

Dados: f , x0, X, y0 e n
h := (X − x0)/n
x := x0
y := y0
Para i de 1 até n fazer
y := y + hf (x, y)
x := x + h
Resultado: y(X) ≈ y

Neste capítulo não iremos abordar a questão da convergência do método de Euler, isto
é, a questão de saber se, quando consideramos o problema de condição inicial (4.5), as
soluções aproximadas obtidas pelo método de Euler convergem para solução exacta, caso
exista, do problema. No entanto, a convergência pode ser verificada reduzindo a medida
do passo e analisando o comportamento da solução numérica obtida.

Exercício 4.5. Considere o problema de condição inicial


 ′
y (t) = −2y
.
y(0) = 1

Determine, usando o método de Euler, o valor aproximado de y(1), fazendo h = 1,


h = 0.5 e h = 0.25. Compare os resultados obtidos sabendo que y(t) = e−2t .
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 152

Resolução: A solução exacta deste problema é y(1) = 0,135335283. Consideremos agora


as soluções numéricas para os três casos propostos. Seja f (y) = −2y.

• h=1
y(0) = y0 = 1
y(1) ≈ y1 = y0 + hf (y0 ) = 1 + 1 × (−2) = −1.
Logo |y(1) − y1 | = 1,135335283.
• h = 0.5
y(0) = y0 = 1
y(0,5) ≈ y1 = y0 + hf (y0 ) = 1 + 0,5 × (−2) = 0
y(1) ≈ y2 = y1 + hf (y1 ) = 0 + 0,5 × 0 = 0.
Logo |y(1) − y2 | = 0,135335283.
• h = 0,25

y(0) = y0 = 1
y(0,25) ≈ y1 = y0 + hf (y0 ) = 1 + 0,25 × (−2) = 0,5
y(0,5) ≈ y2 = y1 + hf (y1 ) = 0,5 + 0,25 × (−1) = 0,25
y(0,75) ≈ y3 = y2 + hf (y2 ) = 0,25 + 0,25 × (−0,5) = 0,125
y(1) ≈ y4 = y3 + hf (y3 ) = 0,125 + 0,25 × (−0,25) = 0,0625.

Logo |y(1) − y4 | = 0,072835283.

Nota-se que, quanto menor for a medida do passo h mais pequeno é o erro cometido
pelo método de Euler.

A teoria e os métodos numéricos apresentadas nas secções precedentes podem ser facil-
mente generalizados para sistemas de equações diferenciais ordinárias de primeira ordem,
isto é, adaptados ao cálculo da solução aproximada do PCI
 ′
Y (x) = F (x, Y ), t ∈]x0 , X]
(0) , (4.13)
Y (x0 ) = Y

onde    
Y1 (x) F1 (x, Y )

 Y2 (x) 


 F2 (x, Y ) 

Y (x) =  .. , F (x, Y ) =  .. .
 .   . 
YN (x) FN (x, Y )
Os métodos numéricos irão, neste caso, determinar aproximações Y (i) para Y (xi ). O
método de Euler, por exemplo, é dado por

Y (i+1) = Y (i) + hF (xi , Y (i) ), i = 0, . . . , n, Y (0) = Y (x0 ),


X−x0
com h = n a medida do passo.

Uma situação importante onde surgem sistemas de equações diferenciais é quando pre-
tendemos resolver uma equação diferencial de ordem superior a um. Note-se que qualquer
equação diferencial de ordem N pode ser escrita como um sistema de N equações diferen-
ciais de primeira ordem.
A forma como essa passagem se processa é bastante simples e pode ser facilmente
compreendida com a ajuda de dois exemplos.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 153

Consideremos o problema de condição inicial y ′′ − 3y ′ + 2y = 0, y(0) = y ′ (0) = 1.


Efectuando a mudança de variável z = y ′ obtemos o problema de condição inicial de
primeira ordem (supondo t a variável dependente)
  ′  
 ′  y z
 y (t) = z 
 (t) =

 ′  z
 3z − 2y
z (t) = 3z − 2y
⇒ .
 y(0) = 1     

 
 y 1
z(0) = 1 
 (0) =
z 1
Consideremos, agora, o sistema de equações diferenciais de primeira ordem o problema
y ′′′ − 0,1(1 − y 2 )y ′ + y = 0, y(0) = 1, y ′ (0) = y ′′ (0) = 0.
Efectuando a mudança de variável z = y ′ e w′ = y ′′ obtemos o problema de condição inicial
de primeira ordem  ′

 y (t) = z

 z ′ (t) = w


 ′
w (t) = 0,1(1 − y 2 )z − y
.

 y(0) = 1



 z(0) = 0

w(0) = 0

Exercício 4.6. Considere a equação diferencial y ′′ + 4ty ′ + 2y 2 = 0 com condições


iniciais y(0) = 1 e y ′ (0) = 0. Com h = 0,1, utilize o método de Euler para obter
aproximações para y(0,2) e y ′ (0,2).

Resolução: Seja z = y ′ . Assim o nosso problema é equivalente a


  ′  
 ′  y z
y (t) = z  (t) =
−4tz − 2y 2
 

 ′  z

z (t) = −4tz − 2y 2
⇒ .
 y(0) = 1     

 
 y 1
z(0) = 0 
 (0) =
z 0

Seja    
z y
F (t, Y ) = , com Y =
−4tz − 2y 2 z
e    
(0) y 1
Y = (0) = .
z 0
Considerando o método de Euler temos
   
y 1
(0) = Y (0) =
z 0
   
y (1) (0) (0)
 1
(0,1) ≈ Y = Y + hF t0 , Y =
z −0,2
   
y (2) (1) (1)
 0,98
(0,2) ≈ Y = Y + hF t1 , Y = .
z −0,392
Temos assim que y(0,2) ≈ 0,98 e y ′ (0,2) ≈ −0,392.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 154

4.9 Exercícios práticos

Exercício 4.7. Resolva as seguintes equações diferenciais de variáveis separáveis:

dy dy t
1. (1 + t) − y = 0; 2. =− , y(4) = 3;
dt dt y

dy dy
3. = y 2 + 4; 4. et = 2t;
dt dt

5. (4y + yt2 )dy − (2t + ty 2 )dt = 0; 6. sen x cos yy ′ + cos x sen y = 0;

7. −x + yy ′ = 0.

Exercício 4.8. Um projéctil é lançado da superfície terreste com uma velocidade


V . Supondo que não há arrasto a equação do movimento é

dν R2
ν = −g 2 ,
dr r
onde ν é a velocidade à distância r do centro da Terra que tem raio R. Considerando
g = 9,81 m/s2 , R = 6,37 × 106 m e V = 15000 m/s, determine o valor da velocidade
quando r = 2R.

Exercício 4.9. Uma solução líquida flui de forma constante ao longo de um tubo
na direcção x. Alguns dos solutos contidos na solução difundem-se através da parede
do tubo reduzindo a concentração z no tubo. A concentração z é dada por
dz √
= −z(0,2 + z)e−0,03x .
dx
Se tomarmos z = 1,5 em x = 2 determine o valor de z em x = 2,4.

Exercício 4.10. Uma cultura tem inicialmente um número N0 de bactérias. No ins-


tante t = 1 hora, o número de bactérias é 3N0 /2. Supondo que a taxa de crescimento
é proporcional ao número de bactérias presentes, determine o tempo necessário para
triplicar o número de bactérias.

Exercício 4.11. Um tanque tem 1000 litros de água pura. Em cada minuto, uma
torneira A despeja 5 litros de água salgada com 0,05 Kg de sal por litro de água e
uma torneira B despeja 10 litros de água salgada com 0,04 Kg de sal por litro de
água. A solução é completamente misturada e sai do tanque a uma taxa de 15 litros
por minuto. Indique a quantidade de sal que está no tanque após t minutos.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 155

Exercício 4.12. Um certo medicamento é usado para tratar sintomas de angina


crónica e hipertensão. Como bloqueador dos canais de cálcio, este fármaco faz au-
mentar o aporte de oxigénio ao miocárdio e simultaneamente diminui a necessidade
geral de oxigénio no organismo. Isto é conseguido através da redução do batimento
cardíaco e expansão do volume do sistema circulatório, o que, por sua vez, provoca
uma diminuição da tensão arterial. Testes experimentais mostram que a meia-vida
do referido medicamento, no interior do corpo humano, é de 20 horas. Admita
que a taxa de absorção de um medicamento pelo organismo, num dado instante, é
proporcional à quantidade de medicamento presente no organismo nesse instante.
Supondo que uma certa dose é administrada de uma só vez a um paciente, escreva
a equação diferencial que descreve a taxa de variação do medicamento no seu or-
ganismo e determine a constante de proporcionalidade. Determine a solução da
equação diferencial.

Exercício 4.13. Um estudante portador do vírus da gripe regressa a um colégio com


1000 alunos. Suponha que o colégio está isolado e que o vírus se propaga com uma
taxa de variação proporcional não apenas ao número y de alunos já infectados mas
também ao número de alunos não infectados.

1. Determine o número de alunos infectados após 6 dias, sabendo que passados 4


dias eles são já 50.

2. Calcule o valor limite da função y(t), quando t tende para +∞.

Exercício 4.14. No processo de conservação de alimentos o açúcar de cana passa


por uma conversão na qual se transforma numa mistura de glucose e frutose.
Sabe-se que numa solução diluída a taxa de conversão é proporcional à concentração
y(t) de açúcar não alterado. Sabendo que a dita concentração no instante inicial
é igual a 1/50 e de 1/200 ao fim de 3 horas, determine a concentração de açúcar
alterado ao fim de 6 horas.

Exercício 4.15. Descobriu-se um osso fossilizado com 1/1000 da quantidade origi-


nal de carbono-14. Sabendo que a meia-vida do carbono-14 é de 5600 anos, determine
a idade do fóssil. Admita que a taxa de desintegração (ou decaimento) do carbono-14
é proporcional à massa existente em cada instante.

Exercício 4.16. A população de um país foi de 12,1 milhões de habitantes em 1996


e de 13,268 milhões em 2000. Supondo que a taxa de crescimento é directamente
proporcional ao tamanho da população, estime o tamanho da população em 2005,
2006 e 2007.

Exercício 4.17. Em 1626 os índios Lenape venderam a ilha de Manhattan ao Direc-


tor Geral da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais e Colonização, o holandês
Peter Minuit, por 60 florins em quinquilharia, o equivalente a 24 dólares. Se, nessa
altura, os índios tivessem colocado o dinheiro a render a uma taxa de 6% ao ano,
quanto dinheiro teriam agora?
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 156

Exercício 4.18. Para que um fármaco possa ser devidamente administrado, é ne-
cessário que se conheça o modo como actua no organismo e, em particular, a forma
como é absorvido. A relação dose/resposta do organismo, estabelece uma regra vital
na determinaçao da quantidade a administrar em cada dose e do intervalo de tempo
entre doses sucessivas.
Testes experimentais a determinado tipo de antibióticos, permitiram concluir que
a taxa de variação da concentração destes fármacos na corrente sanguínea, num
determinado instante de tempo, é proporcional à sua concentração nesse mesmo
instante. Suponha que y(t) representa a concentração deste tipo de antibióticos no
organismo (isto é, o número de unidades por mililitro de sangue) no instante t.

1. Escreva a equação diferencial que descreve a taxa de variação destes antibió-


ticos no organismo.

2. Há vários métodos para combater uma determinada infecção. Em situações


graves é necessário um tratamento de choque, que consiste em administrar ao
paciente várias doses, igualmente espaçadas no tempo, a primeira das quais
já tem a concentração máxima requerida Cm e as seguintes permitem apenas
corrigir desvios a este valor devidos à perda de concentração por eliminação.

(a) Determine a concentração de antibiótico após um tempo prescrito T , de-


pois da administração da primeira dose.
(b) Se uma segunda dose é administrada nesse instante T , qual deve ser a
sua concentração, de forma a repôr de imediato a concentração inicial
Cm ?
(c) Supondo que este procedimento se repete nos instantes 2T , 3T , 4T , faça
um esboço do gráfico da função y no intervalo [0, 4T ].
(d) Determine o tempo que decorre desde a administração da última dose até
que 99% do medicamento desapareça da corrente sanguínea, sabendo que
a sua meia-vida, enquanto no organismo, é de 30 minutos.

Exercício 4.19. Suponha que uma população y evolui de acordo com a equação
logística
dy
= 0,05y − 0,005y 2 ,
dt
onde t é medido em semanas. Determine a capacidade de suporte da população e
valor da sua taxa de crescimento.

Exercício 4.20. Suponha que o modelo de crescimento de uma população y é des-


crito pela equação diferencial

dy 3y y2
= − .
dt 20 1600
Considerando y(0) = 15, determine o número de indivíduos da população no instante
t = 10.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 157

Exercício 4.21. Um modelo para o crescimento da biomassa (massa total dos mem-
bros da população) de atum do Pacífico, dada em quilogramas, é dado por

dy  y
= ky 1 − , (4.14)
dt S
onde t é medido em anos, k = 0,71% ao ano e a capacidade de suporte foi medida
como sendo S = 8 × 107 quilogramas.

1. Se y(0) = 2 × 107 quilogramas, calcule a biomassa um ano depois.

2. Quanto tempo levará a biomassa a alcançar 4 × 107 quilogramas?

Exercício 4.22. Suponha que uma dada população está dividida em dois grupos:
aqueles que sofrem de uma certa doença infecto-contagiosa e aqueles que não sofrem
dessa doença mas que a podem contrair por contacto com uma pessoa infectada. Sabe-
se que a taxa de propagação desta doença é directamente proporcional ao número de
contactos entre gente infectada e gente sã. Suponha que os dois grupos convivem
sem qualquer tipo de precaução.

1. Determine a equação diferencial que descreve a propagação desta doença.

2. Se 1/4 da população está infectada num determinado instante t = 0, esboce o


gráfico da função que descreve a propagação da doença, a partir desse instante.

3. Quanto tempo decorrerá até que toda a população esteja doente?

Exercício 4.23. Seja y uma solução da equação logística (4.14).

1. Mostre que  
d2 y 2
 y 2y
=k y 1− 1− .
dt2 S S

2. Deduza que a população cresce mais rapidamente quando ela atinge a metade
da sua capacidade de suporte.

Exercício 4.24. Para algumas espécies existe uma população mínima m tal que as
espécies se tornam extintas quando o tamanho da população é inferior a esse valor.
Nesse caso, o modelo logístico deve ser substituído por
  
dy y m
= ky 1 − 1− , y(0) = y0 .
dt S y

1. Use a equação diferencial para mostrar que qualquer solução é crescente se


m < y < S e decrescente se 0 < y < m.

2. Resolva o problema de condição inicial.

3. Mostre que se y0 < m as espécies se tornarão extintas.


CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 158

Exercício 4.25. Num modelo de crescimento sazonal, uma função periódica no


tempo é introduzida para considerar as variações na taxa de crescimento. Esse mo-
delo pode ser traduzido pelo problema de condição inicial
dy
= ky cos (rt − φ), y(0) = 1,
dt
onde k, r e φ são constantes positivas. Determine a solução do modelo de cresci-
mento sazonal.

Exercício 4.26. Resolva as seguintes equações diferenciais lineares de primeira or-


dem:
dy dy
1. t − 4y = t6 ; 2. + 2ty = t;
dt dt
dy y+t dy
3. = ; 4. = y + t;
dt t dt

5. dy + (y cos x − e− sen x )dx = 0; 6. t2 y ′ + t(t + 2)y = et ;

1 x
7. y ′ − y =x+ ; 8. t2 y ′ + t(t + 3)y = e−t ;
x 1 + x2

9. y ′ + (cos x) y = x2 e− sen x .

Exercício 4.27. A Ana pesa 60 quilogramas e está a fazer uma dieta de 1600
calorias por dia, das quais 850 são usadas directamente no metabolismo basal. Mais,
a Ana gasta cerca de 15 calorias por dia e por quilograma do seu peso a fazer exercício
físico.

1. Supondo que um quilograma de gordura tem 10000 calorias e que a reserva de


calorias na forma de gordura é 100% eficiente, formule uma equação diferencial
e resolva-a de forma a conhecer o peso da Ana em função do tempo.

2. Será que o peso da Ana vai chegar ao peso de equilíbrio?

Exercício 4.28. Um tanque contém 100 litros de água. Uma solução com uma
concentração de sal de 0,4 Kg/L é adicionada a uma taxa de 5 L/min. A solução
é mantida misturada e é retirada do tanque a uma taxa de 3 L/min. Seja y(t) a
quantidade de sal (em quilogramas) ao fim de t minutos.

1. Tendo em conta que o volume do fluido no tanque não permanece constante


ao longo do tempo, mostre que y satisfaz a equação diferencial
dy 3y
=2− .
dt 100 + 2t

2. Resolva a equação diferencial e calcule a concentração ao fim de 20 minutos.


CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 159

Exercício 4.29. Seja L(t) o comprimento (em centímetros) de um determinado


peixe no dia t. O modelo de von Bertalanffy diz-nos que a taxa de crescimento do
comprimento do peixe é proporcional ao comprimento que ainda lhe falta para atingir
o valor máximo M .

1. Obtenha a equação diferencial que descreve a evolução do comprimento do


peixe ao longo do tempo.

2. Considerando M = 53 cm e sabendo que L(0) = 10 cm e L(2) = 12 cm,


determine o dia em que o comprimento do peixe atinge 90% do seu valor
máximo.

Exercício 4.30. (∗) Uma equação de Bernoulli (em homenagem a James Bernoulli
(1654–1705)) é da forma
dy
+ p(x)y = q(x)y n ,
dx
com n um número inteiro. Observe que, se n = 0 ou n = 1, a equação de Bernoulli
é linear. Para outros valores de n, mostre que a substituição u = y 1−n transforma
a equação de Bernoulli na equação linear
du
+ (1 − n)p(x)u = (1 − n)q(x).
dx

Exercício 4.31. (∗) Resolva as seguintes equações diferenciais de Bernoulli:

2 y3
1. xy ′ + y = −xy 2 ; 2. y ′ + y = xy 3 ; 3. y ′ + y = 2.
x x

Exercício 4.32. A Lei de Arrefecimento de Newton diz que taxa de arrefecimento


de um corpo pode ser expressa por
dT
= −k(T − Ta ),
dt
onde T e Ta são as temperaturas do corpo e do meio circundante (em graus Celsius),
respectivamente, e k é uma constante de proporcionalidade (por minuto). Considere
uma esfera de metal aquecida a 100◦ e que é mergulhada em água mantida à tem-
peratura constante de Ta = 30◦ . Ao fim de cinco minutos a temperatura da esfera
desceu para 60◦ . Determine:

1. a temperatura da esfera ao fim de meia-hora;

2. o instante em que a temperatura da esfera atinge 31◦ .

Exercício 4.33. Às 23 horas John foi encontrado morto no seu apartamento. Cla-
xon chegou ao local do crime às 23h30m e tirou imediatamente a temperatura da
vítima: 30◦ . Uma hora depois, (às 0h30m) a temperatura do corpo era de 25◦ . Cla-
xon notou ainda que a temperatura da sala se mantinha constantemente igual a 20◦ .
A que hora ocorreu o crime?
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 160

Exercício 4.34. (∗) Considere o problema de condição inicial


 ′
y = y
.
y(0) = 1

Determine, usando o método de Euler progressivo, o valor aproximado de y(1), fa-


zendo h = 1, h = 0,5 e h = 0,25. Compare os resultados obtidos sabendo que a
solução exacta é y(t) = et .

Exercício 4.35. (∗) Considere o problema de condição inicial


 ′
y = −50y
y(0) = 1

e o método de Euler. Determine a solução do problema em t = 1 com h = 10−n ,


n = 1, 2, 3, comparando os resultados obtidos.

Exercício 4.36. (∗) Aplique o método de Euler à resolução do problema de Cauchy

y ′ = sin t + y, t ∈]0, 1], y(0) = 0,

comparando os resultados obtidos com a solução exacta


1 1
y(t) = − (sin(t) + cos(t)) + et .
2 2

Exercício 4.37. (∗) Considere o problema de Cauchy

y ′ = −te−y , t ∈]0, 1], y(0) = 0.

Aplique o método de Euler com h = 1/2, 1/22 , ..., 1/210 , e compare os resultados
obtidos na alínea anterior com a solução exacta

t2
y(t) = ln(1 − ).
2

Exercício 4.38. (∗) Considere o problema de Cauchy

y ′ = −10y, 0 < t ≤ 2, y(0) = 1,

cuja solução é y(t) = e−10t . O que é que se passa quando se aplica um método de
Euler com h = 0,1?
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 161

Exercício 4.39. (∗) Compare as soluções numéricas dos seguintes problemas com
condição inicial:

1. y ′ = 1 − y, 0 < t ≤ 2, y(0) = 0, e y ′ = 1 − y + 0,1, 0 < t ≤ 2,


y(0) = 0,1;

2. y ′ = y, 2 < t ≤ 4, y(2) = 0, e y ′ = y + 0,01, 2 < t ≤ 4, y(2) = 0,1.

Exercício 4.40. (∗) Consideremos um corpo pontual de massa m e temperatura


interna T inserido num meio ambiente de temperatura constante Ta = 295 K. A
transferência de calor entre o corpo e o exterior pode ser descrita pela lei de Stefan-
Boltzmann v(t) = σγS(T 4 (t)−Ta4 ), com t variável temporal, σ a constante de Stefan-
Boltzmann (5 , 67 × 10−8 Jm−2 K−4 s−1 ), γ constante de emissividade do corpo, S a
área da sua superfície e v a velocidade de transferência de calor. A taxa de variação
de energia E(t) = mCT (t) (onde C designa o calor específico do material que cons-
titui o corpo) é igual, em valor absoluto, à velocidade v. Por conseguinte, fazendo
T (0) = T0 , o cálculo de T (t) exige a resolução da equação diferencial ordinária

dT v(t)
=− .
dt mC
Suponha que o corpo em questão é um cubo de lado 1 m e massa 1 Kg, T0 = 275
K, γ = 0 , 5 e C = 100. Recorra a um método de Euler para comparar os resultados
obtidos com h = 20, 10, 5, 1, para t a variar entre 0 e 200 segundos.

Exercício 4.41. (∗) Considere o seguinte problema de Cauchy

y ′ = λy, t > 0, y(0) = 1,

onde λ é um número real negativo. A solução exacta é y(t) = eλt que tende para zero
quando t tende para infinito. Faça λ = −1. Represente graficamente, no intervalo
[0,30], as soluções obtidas para três valores diferentes de h: h = 30/14, h = 30/16 e
h = 1/2, usando o método de Euler.

Exercício 4.42. (∗) Aproxime a solução do problema

y ′ (t) = arc tg(3y) − 3y + t, t > 0, y(0) = 1

usando o método de Euler progressivo, com h = 2/3 e h = 2/3 + 0,1. Comente os


resultados obtidos.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 162

Exercício 4.43. (∗) A função y(t) indica a quantidade vendida de um determinado


produto ao fim de t meses após ter sido introduzido no mercado. Suponha que y(t)
satisfaz a equação diferencial
dy 2y
= .
dt t(t + 1)
Ao fim do primeiro mês foram vendidas 1000 unidades daquele produto. A solução
do problema é y(t) = 4000t2 /(1 + t)2 .

1. Aproxime a solução do problema durante o primeiro ano, usando o método de


Euler.

2. Tendo em conta a evolução da venda do produto mensalmente durante o pri-


meiro ano, aproxime o valor das vendas após 8 meses.

Exercício 4.44. (∗) A equação de Van der Pol



y ′′ − µ y 2 − 1 y ′ + y = 0,

com µ > 0, é um modelo para o fluxo de corrente num tubo de vácuo com três
elementos internos. Seja µ = 0,5 e y (0) = 0, y ′ (0) = 1. Aproxime y e y ′ no
intervalo temporal [0, 30] usando o método de Euler. Repita o exercício considerando
µ = −1000 e y (0) = 2, y ′ (0) = 0 e o intervalo temporal [0, 3000].

Exercício 4.45. (∗) Uma quantidade de 10 quilogramas de material é despejada


num reservatório contendo 60 quilogramas de água. A concentração da solução, c
(em percentagem), vem dada em função do tempo, t (em segundos), por

k
(60 − 1,2112c)c′ = (200 − 14c)(100 − 4c),
3
onde k, o coeficiente de transferência de massa, é igual a 0,0589. A condição inicial
em t = 0 é c = 0. Determine a relação entre c e t.

Exercício 4.46. (∗) Consideremos um pêndulo simples constituído por uma bola
uniforme de massa m e uma barra fina de comprimento l e massa negligenciável.
Se considerarmos que a resistência do ar é porpocional ao quadrado da velocidade
angular do pêndulo, a equação do movimeto é dada por
2 g
θ′′ + 2k θ′ = − sen θ,
l
sendo θ o ângulo agudo que a barra do pêndulo faz com a vertical. Considerando que
em t = 0 se tem θ = π3 determine o valor de θ e de θ′ nos instantes (em minutos)
ti = ih, com h = 0,05 e i = 0, 1, . . . , 50.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 163

Exercício 4.47. (∗) A equação química irreverssível na qual duas moléculas de


dicromato de potássio (K2 Cr2 O7 ) sólido, duas moléculas de água (H2 O) e três áto-
mos de enxofre (S) sólido dão origem a três moléculas de dióxido de enxofre (SO2 )
gasoso, quatro moléculas de hidróxido de potássio (KOH) sólido e duas moléculas
óxido de crómio (Cr2 O3 ) sólido pode ser representada, simbolicamente, pelo esquema

2K2 Cr2 O7 + 2H2 O + 3S −→ 4KOH + 2Cr2 O3 + 3SO2 .

Se existirem inicialmente n1 moléculas de 2K2 Cr2 O7 , n2 moléculas de H2 O e n3


moléculas de S a equação seguinte descreve a quantidade x(t) de KOH ao fim de
um tempo t (em segundos)
 

 x 2  x 2 3x 3
x = k n1 − n2 − n3 − ,
2 2 4

onde k é a velocidade da reação (constante). Se k = 6,22 × 10−19 , n1 = n2 = 1000


e n3 = 1500, quantas unidades de hidróxido de potássio serão formadas ao fim de 2
segundos?

Exercício 4.48. (∗) O estudo de modelos matemáticos para estimar a evolução de


uma população de espécies que competem entre si teve a sua origem no início do
século com os trabalhos de A.J. Lotka e V. Volterra. Consideremos o problema de
estimar a população constituida por duas espécies, uma das quais é predadora, cuja
população no instante t é x2 (t), e que se alimenta comendo a outra espécie, a que
chamamos presa e cuja população é x1 (t). Este problema é usualmente designado
por predador-presa. Vamos assumir que a presa possui sempre uma quantidade de
comida adequada e que a sua taxa de natalidade em todos os instantes é proporcional
ao número de presas vivas nesse instante; isto é, a taxa de natalidade (presa) é dada
por k1 x1 (t). A taxa de mortalidade das presas depende tanto do número de presas
como de predadores vivos nesse instante. Por uma questão de simplicidade vamos
assumir que a taxa de mortalidade (presa) é k2 x1 (t)x2 (t). A taxa de natalidade
dos predadores, por outro lado, depende da quantidade de comida existente, x1 (t),
assim como do número de predadores existentes para fins de reprodução. Por essas
razões vamos assumir que a taxa de natalidade (predador) é k3 x1 (t)x2 (t). A taxa de
mortalidade dos predadores será tomada proporcionalmente ao número de predadores
vivos nesse instante; isto é, a taxa de mortalidade (predador) é dada por k4 x2 (t).
A variação da população de presas e predadores pode ser dada pelas seguintes equa-
ções diferenciais  ′
x1 (t) = k1 x1 (t) − k2 x1 (t)x2 (t)
.
x′2 (t) = k3 x1 (t)x2 (t) − k4 x2 (t)
Assumindo que a população inicial de presas é 1000 e a de predadores 200, e que as
constantes k1 = 3, k2 = 0,002, k3 = 0,0006 e k4 = 0,5, trace o gráfico das soluções
deste problema e descreva o fenómeno físico representado. Será que o problema
possui alguma solução estável? Se sim, para que valores de x1 e x2 é que tal acontece?
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 164

Exercício 4.49. (∗) Num livro intitulado ’Looking at History Through Mathema-
tics’, MIT Press, Cambridge MA, 1968, N. Rashevsky considerou um modelo para
um problema envolvendo o evolução de não conformistas na sociedade. (Confor-
mista é a pessoa que adopta ou segue o conformismo (anglicanismo).). Suponhamos
que uma sociedade tem uma população de x(t) indivíduos no instante t, em anos, e
que todos os não conformistas que acasalam com outros não conformistas têm uma
descendência que também é não conformista. Por outro lado, para todas as outras
descendências, existe uma proporção fixa r que são ainda não conformistas. Se as
taxas de natalidade e mortalidade para todos os indivíduos se assumir como sendo as
constantes n e m, respectivamente, e se conformistas e não conformistas acasalarem
de forma aleatória, o problema pode ser expresso pelas equações diferenciais
 ′
x (t) = (n − m)x(t)
,
y ′ (t) = (n − m)y(t) + rn(x(t) − y(t))

onde y(t) denota o número de não conformistas na população no instante t.

1. Se a variável p(t) = y(t)/x(t) for introduzida para representar a proporção de


não conformistas na sociedade no instante t, mostre que o sistema de equações
diferenciais se reduz a
p′ (t) = rn(1 − p(t)).

2. Assumindo que p(0) = 0,01, n = 0,002, m = 0,015 e r = 0,1, aproxime a


solução p(t) para os primeiros 50 anos.

3. Resolva a equação diferencial para p(t) de forma exacta, e compare o resultado


com a solução numérica.
Bibliografia

Bibliografia base

[1] James Stewart, Cálculo, vol. I e II, tradução da 8a edição norte-americana, Cengage
Learning, 2017.

[2] Edwin “Jed” Herman & Gilbert Strang (entre outros), Calculus, volumes 1, 2 e 3,
OpenStax, 2018. (Disponíveis online em:
volume 1 https://openstax.org/details/books/calculus-volume-1;
volume 2: https://openstax.org/details/books/calculus-volume-2;
volume 3: https://openstax.org/details/books/calculus-volume-3).

Bibliografia complementar

[3] Mário Figueira, Fundamentos de Análise Infinitesimal, 5a edição, FCUL, 2011 (Dis-
ponível online em: https://ciencias.ulisboa.pt/sites/default/files/fcul/dep/dm/05-
MFigueira.pdf).

[4] Elon Lages Lima, Curso de Análise, vol. 1 (11a edição), Projecto Euclides, IMPA,
2004.

[5] João José Pedroso Lima, Francisco José Amado Caramelo, Jorge Miguel Couceiro,
Rosa da Conceição Reis & Francisco Alte da Veiga, Biomatemática. Uma introdução
para o curso de Medicina, 2a edição, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006
(Disponível online em: https://digitalis-dsp.uc.pt/jspui/handle/10316.2/2748).

[6] Gilbert Strang, Calculus, Wellesley-Cambridge Press, Wellesley MA, 1991 (Dispo-
nível online em: https://ocw.mit.edu/resources/res-18-001-calculus-online-textbook-
spring-2005/textbook/).

[7] Earl W. Swokowski, Cálculo com Geometria Analítica, vol. I e II, McGraw-Hill, São
Paulo, 1987.

[8] Dennis G. Zill, Equações Diferenciais com Aplicações em Modelagem, tradução da 10a
edição norte-americana, Cengage Learning, 2016.

165
BIBLIOGRAFIA 166
Apêndice A

Tabela de primitivas imediatas

Função Primitiva
a ax + C
f m+1
fm f′ + C (m ∈ R\{−1})
m+1
f′
ln |f | + C
f
af
af f ′ + C (a ∈ R+ \{1})
ln a

Funções trigonométricas Funções hiperbólicas


Função Primitiva Função Primitiva

f ′ sen f − cos f + C f ′ sh f ch f + C
f ′ cos f sen f + C f ′ ch f sh f + C

f ′ tg f − ln | cos f | + C f th f ln (ch f ) + C
f ′ cotg f ln | sen f | + C f ′ coth f ln | sh f | + C
f ′ sec f ln | sec f + tg f | + C f ′ sech2 f th f + C
2
f ′ cosec f ln | cosec f − cotg f | + C f ′ cosech f − coth f + C
f ′ sec2 f tg f + C f ′ sech f th f − sech f + C
f ′ cosec2 f − cotg f + C ′
f cosech f coth f − cosech f + C

f ′ sec f tg f sec f + C f
p arg sh f + C
f ′ cosec f cotg f − cosec f + C 1 + f2

f′ f′
arc sen f + C ou
p arg ch f + C
p
1 − f2 f2 − 1
− arc cos f + C f′
arg th f + C, |f | < 1,
f′ 1 − f2
arc tg f + C ou arg coth f + C, |f | > 1
1 + f2

− arc cotg f + C f
p − arg sech f + C
f ′ |f | 1 − f 2
p arc sec f + C ou
|f | f 2 − 1 f′
p arg cosech f + C
− arc cosec f + C |f | 1 + f 2

167

Você também pode gostar