Análise Matemática I - Adérito L. M. Araújo
Análise Matemática I - Adérito L. M. Araújo
Análise Matemática I - Adérito L. M. Araújo
2 Cálculo diferencial 31
2.1 Noção de limite de uma função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2 Funções contínuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.3 Função derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.4 Teoremas fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.5 Aplicações da derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.5.1 Indeterminações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.5.2 Extremos e concavidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.5.3 Derivação implícita e taxas relacionadas . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.5.4 Aproximações lineares e diferenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.5.5 Tangente a uma curva em coordenadas paraméticas ou polares . . . 61
2.5.6 Método de Newton (∗) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.6 Exercícios práticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3 Cálculo integral 79
3.1 Primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.1.1 Primitivas imediatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.1.2 Primitivação por partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
3.1.3 Regras práticas para primitivar funções trigonométricas e hiperbólicas 85
3.1.4 Primitivação de funções racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
3.1.5 Primitivação por substituição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
3.2 Integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
3.2.1 Noção de área de uma figura plana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
3.2.2 Definição de integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.2.3 Propriedades do integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.2.4 Valor médio de uma função . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.2.5 O teorema fundamental do cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
i
CONTEÚDO ii
Bibligrafia 165
Primeira lei de Johannes Kepler (1571–1630). Cada planeta descreve, em torno do Sol,
uma elipse da qual o Sol ocupa um dos focos.
Lei da gravitação de Isaac Newton (1642–1727). Entre dois corpos desenvolve-se uma força
atractiva que é directamente proporcional ao produto das suas massas e inversamente
proporcional ao quadrado da distância que os separa.
Lei da queda dos graves de Galileu Galilei (1564–1642). Para todo o corpo em queda
livre no vácuo, as alturas de queda são inversamente proporcionais aos quadrados
dos tempos de queda.
Destas quatro leis, a primeira e a terceira podem ser consideradas leis qualitativas,
enquanto que a segunda e a quarta são consideradas leis quantitativas.
Na maioria das leis, o tipo dominante, é qualitativo ou quantitativo? A história da
ciência dá a essa pergunta uma resposta nítida: à medida que a realidade se vai conhecendo
melhor, o primado tende a pertencer ao tipo quantitativo. Não é a ciência, no seu avanço,
que tende a pôr de parte a qualidade. Isso seria absurdo, uma vez que as qualidades
traduzem as relações de interdependência dos seres uns com os outros, e a interdependência
é, precisamente, uma das características essenciais da realidade. Mas a ciência não se ocupa
apenas a descrever, empreende também a tarefa de explicar e, nesta, há um facto que se
impõe com uma força cada vez maior: para se obter as explicações para as variações de
qualidade há que aprofundar o estudo das variações de quantidade.
É natural que, de coisa tão importante para o entendimento da realidade como é a lei
quantitativa, surja também o conceito próprio para o seu estudo. Em que consiste, afinal,
a lei? Na forma de correspondência entre conjuntos. Se, por consequência, queremos
1
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 2
estudar leis quantitativas, temos que “criar” um instrumento matemático cuja essência seja
a correspondência de dois conjuntos.
A primeira coisa a fazer, para tornar esse instrumento facilmente manejável, é arranjar
uma representação simbólica para os conjuntos e a totalidade dos seus elementos.
Voltemos ao exemplo da lei da queda dos graves. Como foi dito, esta consiste na
correspondência do conjunto dos tempos para o conjunto dos espaços. Seja t a variável
do conjunto dos tempos T e s a variável do subconjunto S do conjunto dos espaços E,
correspondência que sabemos unívoca, no sentido t 7→ s (a cada t corresponde um e um
só s). Diremos que a variável s é uma função da variável t e escrevemos, simbolicamente,
s = f (t).
f : D −→ Cc
x 7−→ y = f (x).
Cd = {f (x) : x ∈ D}
chama-se contradomínio.
Não se deve confundir f com f (x) pois enquanto f é uma função, f (x) é apenas o
valor que a função f assume no ponto x. Por vezes afirma-se: “seja f a função definida
por f (x) = · · · ” ou até “seja f (x) = · · · a função ...”. São abusos de linguagem que iremos
cometer ao longo do curso.
Simbolicamente temos as seguintes equivalências:
f : A −→ B é função ⇔ ∀x1 , x2 ∈ A, f (x1 ) 6= f (x2 ) ⇒ x1 6= x2
⇔ ∀x1 , x2 ∈ A, x1 = x2 ⇒ f (x1 ) = f (x2 )
⇔ ∀x ∈ A, ∃1 y ∈ B : y = f (x).
Seja f uma função de domínio A e conjunto de chegada B. O gráfico de f é o conjunto
graf f = {(x, y) ∈ A × B : y = f (x)}
= {(x, f (x)) : x ∈ A} .
Notemos que o gráfico de f é sempre o mesmo, qualquer que seja o conjunto B que con-
tenha o contradomínio de f . A representação geométrica (ou gráfico) de f é qualquer
representação geométrica dos pontos de graf f . É fácil, raciocinando geometricamente, ver
quando é que uma figura é ou não a representação gráfica de alguma função.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 3
0 0
y
y
-5 Injectiva
Não injectiva
-5 -10
-2 -1 0 1 2 -2 -1 0 1 2
x x
Paridade Funções inversas
10 25
20
5
15
0
y
y 10
-5 y = f(x)
Par 5
Ímpar y = f-1(x)
-10 0
-2 0 2 0 5 10 15 20 25
x x
f : A −→ B é sobrejectiva ⇔ ∀y ∈ B, ∃x ∈ A : f (x) = y.
Em termos gráficos não é possível concluir qual é o conjunto de chegada (só podemos
saber qual o contradomínio) e, como tal, não é possível concluir da sobrejectividade de
uma função.
decrescente) se para todo o x1 , x2 ∈ D, x1 < x2 implica f (x1 ) ≥ f (x2 ) (f (x1 ) > f (x2 )).
Uma função f diz-se constante se f (x1 ) = f (x2 ), para todo o x1 e x2 no seu domínio, e
limitada se existir um M > 0 tal que |f (x)| < M , para todo o x pertencente ao seu domínio.
f : D −→ R é periódica ⇔ ∃T 6= 0 : ∀x ∈ D, f (x + T ) = f (x).
fp (x + kT ) = f (x), k ∈ Z.
Se uma função tiver período T podemos reduzi-la a uma função de período L através
da mudança de escala
L
y = ωx, ω=
T
e escrever f em termos de y: f (x) = f (y/ω).
Outra mudança de variável interessante consiste em transformar uma função definida
num intervalo [a, b] numa função definida num intervalo [c, d]. Essa mudança é efectuada
por uma função φ tal que
φ : [a, b] −→ [c, d]
x 7−→ y = φ(x).
A forma mais simples de definir φ consiste em considerar a recta que passa pelos pontos
(a, c) e (b, d). Essa recta é dada por
d−c
y =c+ (x − a).
b−a
Assim, se quisermos transformar uma função f definida no intervalo [a, b], sendo x a variável
que percorre esse intervalo, teremos que efectuar a mudança de variável
b−a
x=a+ (y − c)
d−c
e considerar
b−a
f (x) = f a+ (y − c) .
d−c
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 5
Definição 1.3 (Função inversa). Seja f uma função injectiva com domínio D e
contradomínio Cd . Uma função g de domínio Cd e contradomínio D diz-se inversa
de f se
f (g(y)) = y, ∀y ∈ Cd
e
g(f (x)) = x, ∀x ∈ D.
Notemos que, para que a função inversa de f esteja bem definida, f tem que ser
sobrejectiva e injectiva. De facto, se f não fosse injectiva isso queria dizer que existiam
x1 6= x2 ∈ D tais que f (x1 ) = f (x2 ) = y. Mas isso seria equivalente a afirmar que existiria
y ∈ Cd tal que g(y) = x1 6= x2 = g(y), o que contraria o facto de g ser uma função. Logo,
para que uma função tenha inversa, ela tem que ser bijectiva.
Uma função que tenha inversa diz-se invertível. Se uma função for invertível, então tem
uma única inversa que é representada por f −1 . Para que f −1 exista é necessário que a
cada y ∈ Cd corresponda um e um só elemento x ∈ D (correspondência biunívoca).
Analisemos agora qual a relação existente entre os gráficos de f e de f −1 . Sabemos que
y = f (x) ⇔ x = f −1 (y).
f : R+0 −→ R+
0
x 7−→ y = x2 ,
√
cuja inversa é f −1 (x) = x.
Podemos definir a seguinte regra para o cálculo da inversa: para determinar a inversa
de uma função y = f (x), tenta resolver-se a equação em ordem a x; se a solução
é única, podemos definir a função inversa. Como teste para a invertibilidade de uma
função temos o seguinte: uma função f só é invertível se cada linha horizontal
intersectar o gráfico de f no máximo num ponto.
Funções racionais. Sejam P (x) e Q(x) dois polinómios. As funções racionais são
funções do tipo
f : D −→ R
P (x)
x 7−→ f (x) = .
Q(x)
Podemos tomar para D qualquer subconjunto de R onde Q não se anule.
f : D −→ R p p
q
x 7−→ f (x) = P (x) ,
com p, q ∈ N, são ditas irracionais. O seu maior domínio será R, se q for ímpar, e
{x ∈ R : P (x) ≥ 0}, se q for par.
Note-se que, quando a > 1 a função é estritamente crescente e quando a < 1 a função é
estritamente decrescente (ver Figura 1.2). No caso a = 1 a função é, obviamente, constante.
Quando a base da exponencial é o número de Napier, assim chamado em homenagem ao
matemático John Napier (1550–1617), isto é, quando a = e, sendo
1 n
e = lim 1 + ≈ 2,718281828459045 . . . ,
n→∞ n
4 -2
y
y
2 -4 ln(x)
log(x)
0 -6
-2 -1 0 1 2 1 2 3 4
x x
Outras funções exponenciais Outras funções logarítmicas
5 4
4 2x 2
(1/2)x
3 0
y
2 y -2
log2 (x)
1 -4 log1/2 (x)
0 -6
-2 -1 0 1 2 1 2 3 4
x x
y = log x ⇔ 10y = x
y = ln x ⇔ ey = x.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 8
As fórmulas fundamentais que relacionam a função seno com a função cosseno são:
π
cos2 x + sen2 x = 1 e cos x = sen x + .
2
Outras fórmulas importantes são:
sen (x + y) = sen x cos y + sen y cos x, cos (x + y) = cos x cos y − sen x sen y,
0 1
y
y
-1 0
-2 -1
-3 -2
-10 -5 0 5 10 -1 -0.5 0 0.5 1
x x
Outras funções circulares Outras funções circulares inversas
8 2
6
4 1
2
0
y
0 y
-2 -1
sec(x) arc sec(x)
-4 tg(x) arc tg(x)
-6 -2
-1 0 1 2 3 -4 -2 0 2 4
x x
De igual modo se podem definir as funções inversas das funções tangente, cotangente,
secante e cossecante:
1. y = arc tg x ⇔ tg y = x, − π2 < y < π2 ;
2. y = arc cotg x ⇔ cotg y = x, 0 < y < π;
3. y = arc sec x ⇔ sec y = x, 0 < y < π;
4. y = arc cosec x ⇔ cosec y = x, − π2 < y < π2 .
Existem fórmulas que relacionam as funções trigonométricas inversas. Por exemplo:
√ !
x 1 + x2
arc tg x = arc sen √ = arc cosec ;
1 + x2 x
π
arc tg x + arc cotg x = arc sen x + arc cos x = arc cosec x + arc sec x = .
2
ex − e−x ex + e−x
e
2 2
ocorrem com muita frequência nas aplicações da matemática às ciências e à enge-
nharia. Nesse sentido, é útil atribuir-lhes uma designação específica. Por razões que
não iremos explicitar, convencionou-se chamar função seno hiperbólico a
ex − e−x
sh x = , ∀x ∈ R,
2
e função cosseno hiperbólico a
ex + e−x
ch x = , ∀x ∈ R.
2
y
1
-1
0 sh(x) arg sh(x)
-1 ch(x) -2 arg ch(x)
-2 -3
-2 0 2 -4 -2 0 2 4
x x
Outras funções hiperbólicas Outras funções hiperbólicas inversas
2 4
3
1 2
1
0
y
y 0
Tal como para as funções circulares, podemos também definir a função tangente hiper-
bólica, a função cotangente hiperbólica, a função secante hiperbólica e a função cossecante
hiperbólica da seguinte forma:
sh x ch x 1 1
th x = , coth x = , sech x = , cosech x = .
ch x sh x ch x sh x
arg sh : R −→ R
x 7−→ y = arg sh x,
onde y = arg sh x ⇔ sh y = x.
Como a função cosseno hiperbólico não é injectiva, considera-se a sua restrição
ao intervalo R+0 , e define-se a sua inversa como sendo a função argumento cosseno
hiperbólico dada por
onde y = arg ch x ⇔ ch y = x, y ∈ R+
0.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 12
De igual modo se podem definir as funções inversas das funções tangente hiperbólica,
cotangente hiperbólica, secante hiperbólica e cossecante hiperbólica:
1. y = arg th x ⇔ th y = x;
Às equações
x = f (t)
, t ∈ I, (1.1)
y = g(t)
chamamos equações paramétricas da curva definidas à custa do parâmetro t.
Suponhamos que que a função x = f (t) admite uma função inversa t = f −1 (t) num
intervalo I ⊆ R. Neste caso, é evidente que y pode ser expresso como função de x na forma
y = g(f −1 (t)), t ∈ I. Por exemplo, a curva em coordenadas paramétricas
x=t
, t ∈ I,
y = g(t)
tem por conjunto de pontos o gráfico da função g. Isto significa que tudo o que for dito
para curvas em coordenadas paramétricas é, em particular, verdadeiro para gráficos de
funções reais de variável real. O inverso, no entanto, não é verdadeiro.
gt2
y = y0 − .
2
As duas equações anteriores definem as equações paramétricas da trajectória. Consi-
derando, na primeira equação t = vx0 e substituindo na segunda, obtemos a equação
da trajectória na forma
g
y = y0 − 2 x 2 ,
2v0
que é a equação de uma parábola cujo vértice é o ponto (0, y0 ) e o eixo de simetria
coincidente com o eixo dos yy. Para determinar a abcissa xi do ponto de impacto ,
resolve-se a equação
g
0 = y0 − 2 x2i
2v0
q
e obtém-se xi = v0 2yg0 .
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 14
Notemos que as equações paramétricas de uma curva não são únicas. Por exemplo, as
equações paramétricas
x=z x = w3 √ √
e
3 3
z 2 , z ∈ [−2, 4], w 6 , w ∈ [− 2, 4],
y = 4 −1 y = 4 −1
Astróide
1.5
0.5
0
y
-0.5
-1
-1.5
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x
A segunda é chamada ciclóide e é a curva traçada por um ponto situado numa circun-
ferência de raio r que gira, sem deslizar, ao longo de uma linha recta (ver Figura 1.6). As
equações paramétricas da ciclóide são dadas por
x = r(t − sen t)
, t ∈ R.
y = r(1 − cos t)
A ciclóide é uma curva que possui duas propriedades surpreendentes e que contribuíram
para dar resposta a alguns problemas célebres.
A curva tautócrona ou isócrona (do grego tauto – que significa, tal como iso, igual – e
chronos – que significa tempo) é a curva ao longo da qual um corpo sem velocidade inicial
e apens sujeito à força da gravidade chega a um ponto mais baixo sempre no mesmo inter-
valo de tempo, independentemente do seu ponto de partida. No século XVII, Christiaan
Huygens (1629–1695), quando procurava construir relógios com precisão superior à daque-
les que utilizavam pêndulos convencionais, descobre e demostra por processos geométrico
que a ciclóide invertida é tautócrona. Por outras palavras, um pêndulo que se desloca ao
longo de uma ciclóide invertida apresenta um período de oscilação que não depende da
amplitude do movimento. A prova foi publicada em 1673 em seu célebre tratado Horo-
logium Oscillatorium, o mais importante livro de mecânica escrito antes dos Philosophiae
Naturalis Principia Mathematica, de Isaac Newton (1642–1727), publicado em 1687.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 16
Ciclóide
8
y
0
-2
-4
-6
0 5 10 15
x
Outra surpreendente propriedade da ciclóide foi descoberta por Johann Bernoulli (1667–
1748), em 1696, quando pesquisava o problema da braquistócrona (do grego brakhisto –
que significa o mais curto – e chronos – que significa tempo), ou seja, o de encontrar a
trajetória que minimiza o tempo gasto por um corpo, partindo do repouso e sujeito apenas
à ação da gravidade, para ir de um ponto a outro, em níveis diferentes e não situados
sobre a mesma vertical. Bernoulli descobriu que a curva braquistócrona é, também, um
arco invertido de ciclóide. Entusiasmado, decidiu proclamar a sua descoberta na Acta
Eruditorum de Leipzig, em Junho de 1696, e desafiar publicamente os melhores matemáticos
do mundo, dando-lhes 6 meses para que apresentassem soluções para o problema, após o
que ele publicaria sua própria. Em Janeiro de 1697, apenas Gottfried Wilhelm Leibniz
(1646–1716) lhe comunicara ter chegado à solução, mas pedia um adiamento do prazo até
à Páscoa para uma maior divulgação da questão junto do meio científico, o que terá sido
aceite. Acabariam por ser apresentadas cinco soluções em 1697: a do próprio, a do seu tio
Jakob Bernoulli (1654–1705), a de Leibniz, a de Marquis de l’Hospital (1661–1704) e uma,
sob anonimato, no jornal da Royal Society (e que seria a de Isaac Newton, com este veio a
reconhecer). Algum tempo depois, lendo-a, Johann Bernoulli não teve a menor dúvida de
que somente um homem na Inglaterra teria sido capaz daquela façanha. Arrebatado pelo
génio de Newton, consta-se que Bernoulli terá dito: “Pelas garras se conhece o leão”.
Ciclóide invertida
3
2.5
2
1.5
1
y
0.5
0
-0.5
-1
-6 -5 -4 -3 -2 -1 0
x
Figura 1.7: Ciclóide invertida: x = −(t − sen t), y = −(1 − cos t), t ∈ [π, 2π].
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 17
Fixemos um ponto O do plano, designado por pólo ou origem e uma semi-recta com
origem em O designada por eixo polar. Depois de estabelecer uma unidade de comprimento,
podemos associar a cada ponto P do plano um par (ρ, θ), onde ρ é a distância de O a P
e θ é a medida do ângulo orientado, medido em radianos, cujo lado inicial é o eixo polar e
o segundo lado a semi-recta de origem em O e que passa por P . Esta segunda semi-recta
é chamada semi-recta θ. Como habitualmente, convencionaremos que valores positivos de
θ são marcados no sentido anti-horário e que valores negativos são marcados no sentido
horário.
√
Resolução: Temos que x = 2 cos π3 = 1 e y = 2 sen π3 = 3.
√
Exercício 1.5. Represente (x, y) = (−1, 3) em coordenadas polares.
Note-se que uma curva em coordenadas polares da forma ρ = f (θ), θ ∈ R, pode ser
escrita em coordenadas paramétricas na forma
x = f (θ) cos θ
, θ ∈ R.
y = f (θ) sen θ
1. x = 2; 2. x2 + y 2 = 1; 3. x2 − y 2 = 4; 4. (x − 1)2 + y 2 = 1.
1. ρ = 2; 2. θ = 1; 3. ρ = sen θ.
Exercício 1.8. Mostre que a curva ρ = 1/(1 + e cos θ) corresponde à secção cónica
com excentricidade e: circunferência se e = 0, elipse se 0 < e < 1, parábola se e = 1
e hipérbole se e > 1.
Cónicas
3
e=0,5
e=1
e=2
2
-1
-2
-3
-3 -2 -1 0 1 2 3 4
Espiral de Arquimedes
15
10
0
y
-5
-10
-15
-20
-20 -10 0 10 20
x
Certas curvas têm equações mais simples em coordenadas polares do que em coordena-
das cartesianas (por exemplo, a circunferência). Daí o interesse do estudo do seu traçado
gráfico. Dada uma equação polar da forma F (ρ, θ) = 0, traçar a curva correspondente
consiste em representar geometricamente o conjunto
Muitas vezes, para traçar algumas curvas, ajuda estudar as suas eventuais simetrias.
Para isso, é útil considerar o seguinte teste de simetria. Seja C uma curva de equação
F (ρ, θ) = 0.
Resolução: Comecemos por considerar ρ = 1 + sen θ. Neste caso, a curva tem equação
polar
F (ρ, θ) = ρ − 1 − sen θ.
Como
F (ρ, θ + 2π) = ρ − 1 − sen(θ + 2π) = ρ − 1 − sen θ = F (ρ, θ),
basta estudar a curva para θ ∈ [0, 2π[. Por outro lado,
Cardióide
2.5
1.5
1
y
0.5
-0.5
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x
Como
F (ρ, θ + 2π) = ρ − cos 2(θ + 2π) = ρ − cos 2θ = F (ρ, θ),
basta estudar a curva para θ ∈ [0, 2π[. Por outro lado,
e, como tal, a curva é simétrica relativamente ao eixo polar. Basta assim considerar
o intervalo θ ∈ [0, π2 ] e o resto da curva traça-se por simetria. Determinando alguns
pontos da curva, obtemos o gráfico da rosa de quatro pétalas que pode ser visto na
Figura 1.11.
0.5
0
y
-0.5
-1
-1.5
-1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5
x
Um dos problemas mais complicados que se coloca quando trabalhamos com coordena-
das polares é o da determinação dos pontos de intersecção de curvas. Já vimos que se pode
ter F (ρ, θ) = 0 e F (ρ, θ + 2π) 6= 0 ou F (−ρ, θ + π) 6= 0. Isto é, o ponto de coordenadas
polares (ρ, θ) pode satisfazer a equação da curva sem que os seus pares (ρ, θ + 2π), etc, que
representam o mesmo ponto no plano, satisfaçam a equação da curva.
Considere-se, por exemplo, a intersecção das curvas ρ = r(1 − cos θ) e ρ = r(1 + cos θ),
com r 6= 0 (os dois cardióides representados na Figura 1.12 quando r = 1). Somando
membro a membro vemos facilmente que ρ = r. Substituindo nas equações, concluímos
que cos θ = 0, ou seja, θ = π2 + kπ, k ∈ Z. Assim, temos como pontos de intersecção os
pontos r, π2 + kπ , k ∈ Z. Mas serão esses todos os pontos de intersecção? Note-se que
(0, 0) satisfaz ρ = r(1 − cos θ) e (0, π) satisfaz ρ = r(1 + cos θ). Temos então que uma
mesma representação do pólo não satisfaz as duas equações simultaneamente.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 23
Cardióides
1.5
ρ=1-cos(θ)
ρ=1+cos(θ)
1
0.5
y -0.5
-1
-1.5
-2 -1 0 1 2
x
Robustez. Em condições normais o peso humano é proporcional ao seu volume, pelo que
um aumento da altura numa pessoa (dimensão linear característica) implica um aumento
do seu volume de um factor cúbico. Já quanto à força máxima que um ser humano consegue
desenvolver, ela é proporcional ao quadrado da sua dimensão característica. A questão que
se coloca é a seguinte: entre dois indivíduos com a mesma constituição física e alturas
diferentes, quem tem mais robustez física?
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 24
Para isso, há necessidade de definir robustez. Por definição, a robustez é dada pela
relação entre carga máxima levantada e o próprio peso, isto é,
carga máxima que levanta C
F = = .
peso próprio P
Consideremos dois atletas de constituição semelhante mas de alturas distintas
L1 > L2 . Como a constituição é semelhante, podemos assumir que a densidade de ambos
é semelhante e, como tal, a sua massa específica ρ também é. Assim sendo, os seus pesos
são dados por
P1 = ρV1 g = ρkv L31 g, P2 = ρV2 g = ρkv L32 g,
onde g representa a aceleração da gravidade e kv a constante de proporcionalidade entre o
volume e o comprimento característico.
Por outro lado, a carga máxima c que um animal é capaz de suportar é proporcional à
área da secção recta dos seus músculos. Ora, a secção recta de um músculo pode ser aproxi-
mada por um círculo e o raio desse círculo é proporcional à dimensão linear característica.
Assim sendo,
C1 = kc L21 , C2 = kc L22 ,
onde kc é a constante de proporcionalidade, considerada igual pois os atletas têm a mesma
constituição física.
Podemos agora medir a robustez de ambos os atletas. Temos que
kc L21 k kc L22 k
F1 = 3 = , F2 = 3 = ,
ρkv L1 g L1 ρkv L2 g L2
com
kc
k= ,
ρkv g
ou ainda
F1 L2
= .
F2 L1
Concluímos então que a robustez física é inversamente proporcional à altura e, como tal,
ela é maior no atleta mais baixo.
Limitação das dimensões de uma célula. Suponhamos que uma célula em cresci-
mento aumenta a sua dimensão característica (o seu raio) para o dobro entre dois instantes
de tempo distintos. Por outras palavras, suponhamos que uma célula de raio R1 no instante
de tempo t1 aumenta o seu raio para R2 = 2R1 no instante de tempo t2 .
As necessidades de oxigénio da célula são proporcionais à sua massa e ao seu volume
mas a quantidade de oxigénio que atravessa a membrana celular depende, entre outros
factores (natureza da membrana, diferenças de concentração entre o meio intra e extra
celular), da área total da membrana. Assim, a relação entre a necessidade de oxigénio da
célula entre os dois instantes t1 e t2 é dada por
3
necessidade de oxigénio no instante t2 kv R23 R2
= = = 8,
necessidade de oxigénio no instante t1 kv R13 R1
enquanto que a relação entre a quantidade de oxigénio que atravessa a célula entre os dois
instantes t1 e t2 é dada por
2
quantidade de oxigénio no instante t2 ks R22 R2
= = = 4.
quantidade de oxigénio no instante t1 ks R12 R1
Assim, a quantidade de oxigénio que é difundido para o interior da célula não acompanha
o aumento da necessidade da célula.
Definindo o factor de viabilidade Z de uma célula pela relação
quantidade de oxigénio obtida por minuto
Z=
necessidade de oxigénio por minuto
temos que
ks R 2 k
Z= 3
= ,
kv R R
sendo R o raio da célula num dado instante e k uma constante de proporcionalidade.
Podemos, então, concluir que, à medida que a dimensão característica da célula aumenta,
a sua viabilidade diminui.
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 26
1
Exercício 1.15. Sendo f (x) = e g(x) = 2x + 3, determine os domínios e as
x+1
expressões analíticas de: 1. f + g; 2. f × g; 3. f /g.
Exercício 1.19.
Exercício 1.21. Investigue quais das funções são pares e quais são ímpares:
x3 − x p
1. y = |x + 1|; 2. y = ; 3. y = |1 − x2 |; 4. y = | ln |x||;
x2 + 1
√
5. y = sen x3 ; 6. y = ecos x ; 7. y = log x + 1 + x2 ; 8. y = cos(sen(x));
Exercício 1.22. Diga, justificando, quais das seguintes funções são limitadas:
2
1. f (x) = x, x ∈ [0, 126]; 2. g(x) = x, x ∈ R; 3. h(x) = , x ∈ R.
cos x − 7
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 28
Exercício 1.24. Determine, se possível, a inversa de cada uma das seguintes fun-
ções:
√ 2x x
1. y = 2x + 3; 2. y = 2 + x + 1; 3. y = − 1; 4.
3 2−x
x
5. y = arc tg 3x; 6. y = ln ; 7. y = 3sen(x+1) − 2; 8. y = ch x.
2
1 1 2x2 1 1 1 1 3
1. + = 2 ; 2. + = 2 ; 3. = ;
x−1 x+1 x −1 x x+1 x +x x−1 2x − 4
√ √ √
4. 3x + 1 = 2x; 5. x + 1 − 3 = x − 2; 6. ex+2 − 4x2 ex = 0;
1
7. log3 x = + log9 (4x + 15); 8. x log (x + 2) − x = 0; 9. sen x = − 21 ;
2
2 −5x 1
10. 7x x2 − 5x7x + 6 7x = 0; 11. (x2 − 4) log3 x = 0; 12. 2x = ;
64
√
13. cos (2x) = 0; 14. 2 sen x + 3 = 0; 15. tg (2x) = −1;
x−3
1. x2 − 4 < 0; 2. ≥ 0; 3. −x2 + 6x − 20 < 0;
1−x
4. | x2 − 4 |≤ 1; 5. | x − 1 |> x; 6. | x − 1 | − | 2x + 4 |> 1;
x2 − 7x + 12
7. ≥ 0; 8. (x2 − 1) log2 x < 0; 9. (x − 13) log 1 x < 0.
x2 − 5x 2
CAPÍTULO 1. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 29
Exercício 1.28.
Exercício 1.29.
x = a cos t
1. Mostre que as equações , t ∈ [0, 2π], são equações paramétricas
y = b sen t
x2 y2
da elipse de equação cartesiana a2
+ b2
= 1.
Exercício 1.30. Elimine o parâmetro nas equações que se seguem e esboçe a curva
que elas representam:
x = 2 cos t x = 2 cos t
1. , t ∈ [0, 2π] ; 2. , t ∈ [0, π] ;
y = 5 sen t y = 5 sen t
x = sec t x = sec t
3. , t ∈ [π, 3π
2 [ ; 4. , t ∈ [0, π]\{ π2 };
y = tg t y = tg t
x = t2 x=t−2
5. , t ≥ 1; 6. , t ∈ [0, 5].
y = 2 ln t y = 2t + 3
π 6
1. ρ = 3; 2. θ = ; 3. ρ2 sen(2θ) = 1; 4. ρ = 2a cos θ; 5. ρ = .
3 2 − cos θ
Exercício 1.37. Mostre que as curvas curvas polares seguintes correspondem a cir-
cunferências e trace o seu gráfico:
7. ρ = eθ , θ ≥ 0; 8. sen θ = 1; 9. ρ = θ, θ ≥ 0;
π
10. ρ = tg θ, 0≤θ< ; 11. ρ = ln θ, θ > 1.
2
Capítulo 2
Cálculo diferencial
Definição 2.1 (Limite). Seja f uma função definida num intervalo aberto contendo
o ponto a ∈ R (podendo não estar definida em a) e seja L um número real. Diz-se
que o limite de f (x) quando x tende para a é L e escreve-se
lim f (x) = L,
x→a
se e só se, para todo o ǫ > 0 podemos encontrar (pelo menos) um δ > 0 tal que,
para todo o x ∈ Df (Df é o domínio de f ), se x ∈]a − δ, a + δ[ (x =
6 a) então
f (x) ∈]L − ǫ, L + ǫ[. Simbolicamente,
31
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 32
Note-se que
Assim sendo, para provar que o limite de f (x) quando x tende para a é diferente de L,
basta encontrar um ǫ > 0 tal que não existe um δ > 0 que verifique o pretendido. Notemos
que, para provar que o limite de f (x) quando x tende para a não existe, é preciso provar
que a definição falha para qualquer valor de L.
Vamos, de seguida, apresentar alguns resultados importantes sobre limites. Estes re-
sultados facilitarão a tarefa de calcular limites de funções. Muitos deles serão apresentados
sem demonstração; estas podem ser consultadas em várias das referências bibliográficas
apresentadas no final (por exemplo, [1, 2, 4, 3]).
No que se segue iremos considerar que as funções estão definidas em intervalos ou união
de intervalos.
e
∃δ2 > 0 : ∀x ∈ Df , 0 < |x − a| < δ2 ⇒ |f (x) − L2 | < ǫ.
Então, para δ < min{δ1 , δ2 } tem-se que
L1 − ǫ < f (x) < L1 + ǫ
0 < |x − a| < δ ⇒ ,
L2 − ǫ < f (x) < L2 + ǫ
Resolução: Consideremos α =
6 0 (o caso α = 0 é trivial) e façamos f (x) = αx + β e
L = αa + β. Fixando um ǫ > 0 temos
O resultado seguinte, apresentado sem demonstração, diz que se o limite de uma função
for positivo, quando x tende para a, então a função tem que ser positiva num intervalo
aberto contendo o ponto a.
Teorema 2.2. Se lim f (x) = L, e L > 0 (L < 0), existe um δ > 0 tal que f (x) > 0
x→a
(f (x) < 0) para todo o x ∈]a − δ, a + δ[, excepto, possivelmente, em x = a.
Existem muitos teoremas importantes e úteis sobre limites. Iremos apenas apresentar
dois deles sem, no entanto, efectuar a sua demonstração.
Teorema 2.3 (Funções enquadradas). Se f (x) ≤ h(x) ≤ g(x) para todo o x per-
tencente a um intervalo aberto contendo o ponto a, excepto, possivelmente, em a, e
se existe um L ∈ R tal que lim f (x) = lim g(x) = L, então lim h(x) = L.
x→a x→a x→a
1
Exercício 2.2. Calcule lim x2 sen .
x→0 x
Resolução: Como
1
−x2 ≤ sen ≤ x2
x
e
lim −x2 = lim x2 = 0
x→0 x→0
1
então, pelo teorema anterior, lim x2 sen = 0.
x→0 x
então
lim f (g(x)) = f (b) = f lim g(x) .
x→a x→a
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 34
Tem-se que
lim f (x) = L ⇔ lim f (x) = L e lim f (x) = L.
x→a x→a+ x→a−
Pode demonstrar-se, para os limites laterais, teoremas análogos aos da secção anterior,
efectuando as devidas alterações.
Limites no infinito e limites infinitos. Existem casos em que o limite não existe mas
em que é necessário caracterizar o comportamento assimptótico de uma função. Por exem-
plo, como caracterizar o comportamento de f (x) = x1 quando x cresce indefinidamente? E
quando x tende para zero?
y = 1/x
100
50
0
y
-50
-100
-2 -1 0 1 2
x
Limites no infinito. Seja f uma função definida num intervalo ]c, +∞[⊆ R e L ∈ R.
Diz-se que
Limites infinitos. Seja f uma função definida num intervalo aberto contendo o ponto
a, podendo não estar definida em a. Diz-se que
e que
Vejamos os significados geométricos destas definições. Comecemos por ver o caso dos
limites no infinito. Traçamos as rectas y = L ± ǫ. Temos que
lim f (x) = L
x→+∞
se e só se quaisquer que sejam as rectas horizontais traçadas, for possível encontrar um valor
de M > 0 tal que, para todo o x > M os pontos (x, (f (x)) estão na região compreendida
entre duas rectas.
Vejamos agora o caso dos limites infinitos. Traçamos a recta y = M . Temos que
lim f (x) = +∞
x→a
Resolução: Vamos considerar apenas o caso em que x → +∞; o outro caso resolve-se
de forma análoga. Seja ǫ > 0 arbitrário. Pretende-se mostrar que
c
∃M > 0 : x > M ⇒ k < ǫ.
x
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 36
1. lim (αf (x) + βg(x)) = +∞ se α > 0 e lim (αf (x) + βg(x)) = −∞ se α < 0;
x→a x→a
O teorema das funções enquadradas também pode ser usado para limites no infinito.
Por exemplo, para calcular
x − cos x
lim
x→+∞ x
podemos começar por considerar
x−1 x − cos x x+1
≤ ≤
x x x
e, uma vez que
x+1 x−1
lim = lim =1
x→+∞ x x→+∞ x
x − cos x
se verifica, usar o teorema das funções enquadradas para obter lim = 1.
x→+∞ x
Temos, finalmente, o seguinte teorema, que apresentamos sem demonstração, para um
tipo de limite infinito mas que também é válido para os restantes casos.
então
lim f (g(x)) = L.
x→a
Definição 2.3 (Função contínua). Uma função f , definida num intervalo aberto
contendo o ponto a, é contínua em a se existe lim f (x) e
x→a
Vejamos como resulta a aplicação do Teorema da função composta para o caso de ambas
as funções serem contínuas. Como vimos, se f for contínua em a, então
lim f (g(x)) = f lim g(x) .
x→a x→a
Se g também for contínua temos que
lim f (g(x)) = f (g(a)).
x→a
Vamos agora apresentar, sem demonstração, dois importantes resultados relativos a
funções contínuas. O primeiro afirma que uma função real de variável real contínua aplica
intervalos em intervalos e o segundo que toda a função contínua, definida num intervalo
fechado, tem nesse intervalo um ponto de máximo e um ponto de mínimo.
Teorema 2.6 (Valor intermédio). Seja f : [a, b] −→ R uma função contínua. Dado
um número y entre os valores de f (a) e f (b), existe um ponto intermédio c ∈ [a, b]
tal que f (c) = y.
Por outras palavras, o Teorema do Valor Intermédio diz que toda a função contínua,
para passar de um valor para outro, tem que passar por todos os valores intermédios. Por
outras palavras, o teorema anterior afirma que uma função real de variável real contínua
aplica intervalos em intervalos. Um importante corolário deste teorema é devido ao ma-
temático, teólogo e filósofo da antiga Boémia (actual República Checa) Bernard Placidus
Johann Nepomuk Bolzano (1781–1848) e é muito útil na localização de zeros de funções.
Corolário 2.7 (Bolzano). Se f é uma função contínua em [a, b] e f (a)f (b) < 0
então a equação f (x) = 0 tem, pelo menos, uma raiz no intervalo ]a, b[.
Note-se que, de acordo com o Teorema de Bolzano, se f (a)f (b) < 0 e a função for
contínua em [a, b], ela tem, nesse intervalo, um número ímpar de raízes.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 38
O segundo resultado garante que toda a função contínua, definida num intervalo fe-
chado, tem nesse intervalo um máximo e um mínimo absolutos. Antes de o apresentarmos,
recordemos a seguinte definição.
Este teorema diz-nos que, por mais pequeno que seja o ε escolhido, existe sempre um
polinómio p contido na faixa {(x, y) ∈ R2 : x ∈ [a, b], y ∈ [f (x) − ε, f (x) + ε]}. Por
outras palavras, este resultado permite afirmar que todas as funções contínuas podem ser
aproximadas, com a precisão desejada, por um polinómio. O que o teorema não diz é como
se calcula esse polinómio.
Funções descontínuas. Vamos terminar esta secção com uma referência às funções
descontínuas. Iremos destacar três tipos de descontinuidades que uma função f pode
assumir.
Definição 2.5 (Derivada). Seja f uma função definida num intervalo aberto con-
tendo o ponto a. O limite
f (x) − f (a)
lim
x→a x−a
df
quando existe chama-se derivada de f no ponto a e denota-se por f ′ (a) ou dx (a). Se
f tem derivada finita no ponto a, diz-se que f é diferenciável em a.
À razão
f (x) − f (a)
f [x, a] :=
x−a
chama-se razão incremental. Então, podemos escrever f ′ (a) = lim f [x, a].
x→a
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 40
Diz-se que uma função f é diferenciável num intervalo aberto, finito ou não, se o é para
todos os pontos desse intervalo. Uma função f é diferenciável num intervalo fechado [a, b]
se é diferenciável em ]a, b[ e se existirem as derivadas à direita de f em a e à esquerda em
b, isto é, se existirem e forem finitos os limites
f (x) − f (a) f (x) − f (b)
lim e lim .
x→a+ x−a x→b− x−b
Como é sabido, se f for uma função definida num intervalo aberto contendo o ponto a,
f ′ (a) existe se e só se existirem e forem iguais as derivadas à esquerda e à direita de f em
a.
√
Exercício 2.4. Mostre que a função real de variável real definida por f (x) = 3 xn ,
n = 2, 3, não é diferenciável em x = 0, mas tem derivada +∞ nesse ponto quando
n = 1 e não tem derivada quando n = 2.
0.5
0
y
-0.5
1/3
x
2/3
x
-1
-1 -0.5 0 0.5 1
x
Se limx→a f [x, a] = ±∞, não existe f ′ (a) e a tangente à curva no ponto (a, f (a))
é vertical. Assim sendo, o gráfico de uma função diferenciável não tem tangentes
verticais em nenhum ponto.
A derivada da função também pode ser interpretada como uma taxa de variação. Supo-
nhamos que y é uma função dependente de uma variável independente x escrita na forma
y = f (x). Se x variar de x1 para x2 , a variação de x (também chamada de acréscimo de
x) é dada por ∆x = x2 − x1 e a variação de y (também chamada acréscimo de x) é dada
por ∆y = f (x2 ) − f (x1 ). À razão incremental
∆y f (x2 ) − f (x1 )
=
∆x x2 − x1
chamamos taxa de variação média de y em relação a x no intervalo [x1 , x2 ]. Geometrica-
mente, a taxa de variação média é dada pelo declive da recta secante ao gráfico de f que
passa nos pontos (x1 , f (x1 )) e (x2 , f (x2 )). A derivada, sendo o limite da taxa de variação
média quando o acréscimo em x tende para zero, pode ser visto como uma taxa de variação
instantânea.
Por exemplo, se um ponto material se mover ao longo de uma recta de acordo com a
equação s = f (t), onde s é o deslocamento do ponto a partir de um instante t inicial, a
função f descreve a função de posição do ponto material. A velocidade instantânea do
objecto no instante t = a é dada por
f (a + ∆t) − f (a)
f ′ (a) = lim .
∆t→0 ∆t
Por outras palavras, a velocidade no instante t = a é igual ao declive da recta tangente em
(a, f (a)).
f ′ : Df ′ −→ R
x 7−→ y = f ′ (x),
onde
f ′ (x) = lim f [x + h, x]
h→0
df dy
f ′, y′, , .
dx dx
Quando é preciso especificar o ponto onde a derivada é calculada usa-se
′ ′ df dy
f (a), y (a), (a), .
dx dx x=a
dy
A notação dx é devida a Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646–1716). Apesar de parecer
a razão entre duas quantidades dy e dx, ela representa um ente uno: o limite que surge na
definição de derivada. A notação f ′ (x) é devida a Joseph-Louis Lagrange (1736–1813) e é
a mais conveniente quando se pretende tratar a derivada como função. Quando a variável
independente representa o tempo, também se usa a notação ẏ, atribuída a Isaac Newton
(1642–1727).
Vamos agora apresentar alguns resultados úteis para o cálculo da derivada de uma
função.
Teorema 2.9. Se uma função é diferenciável num ponto ela é contínua nesse ponto.
Notemos que, pelo teorema anterior, também podemos afirmar que se f não é contínua
num ponto do seu domínio então f não é diferenciável nesse ponto. O recíproco do teorema
anterior não é válido, isto é, existem funções contínuas que não são diferenciáveis. Em 1857,
o matemático alemão Karl Weierstrass apresentou, pela primeira vez, um exemplo de uma
função contínua em R mas sem derivada em qualquer ponto de R.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 43
Na Figura 2.3 podemos ver um exemplo de uma função (f (x) = |x|) que não tem
derivada no ponto x = 0 e uma função (f (x) = x2 ) diferenciável em todo o R. Note-se
que, se o gráfico de f tem um vértice em (a, f (a)), então f não é diferenciável em a. Por
outras palavras, quando o gráfico de f tem um vértice num ponto (a, f (a)), a derivada é
descontínua nesse ponto.
4
y = |x|
3.5 y = x2
2.5
2
y
1.5
0.5
0
-2 -1 0 1 2
x
Resolução: A primeira função pode ser vista como f (x) = u2 (x) com u(x) = sen x. As-
sim, pela regra da cadeia, f ′ (x) = 2u(x)u′ (x) = 2 sen x cos x = sen(2x). Escrevendo
a segunda função na forma g(x) = eu(x) , com u(x) = cos x, temos que, pela regra da
cadeia, g ′ (x) = eu(x) u′ (x) = − sen xecos x . Finalmente, escrevendo h(x) = sh(u(x)),
com u(x) = ch x, temos que h′ (x) = ch(u(x))u′ (x) = ch(ch x) sh x.
Notemos que a composição de duas funções pode ser diferenciável mesmo que uma delas
(ou as duas) não o seja. Por exemplo, se f (x) = c, para todo o x ∈ R, com c ∈]a, b[⊆ R, e
g uma função real de variável real qualquer definida em ]a, b[, então f ◦ g e g ◦ f são funções
diferenciáveis. Mais, para a função
1, x ∈ Q
f (x) = ,
0, x 6∈ Q
que não é diferenciável em nenhum ponto do seu domínio, tem-se que f 2 = f ◦ f é uma
função constante e, como tal, diferenciável.
Teorema 2.11 (Derivada da função inversa). Seja f :]a, b[⊆ X −→ Y uma função
invertível e f −1 : Y −→ X a sua inversa. Se f é diferenciável no ponto x0 ∈]a, b[
e f −1 é contínua em y0 = f (x0 ), então f −1 é diferenciável nesse ponto se e só se
f ′ (x0 ) 6= 0. Nesse caso
′ 1
f −1 (y0 ) = ′ −1 .
f (f (y0 ))
onde y = f (x).
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 45
f −1 (y) = f −1 (f (x)) = x.
1 1
1. (arc sen x)′ = √ , x ∈] − 1, 1[; 2. (arc cos x)′ = − √ , x ∈] − 1, 1[.
1 − x2 1 − x2
Resolução: Para o primeiro caso temos que arc sen x é a função inversa de f (x) = sen x
no intervalo [− π2 , π2 ]. Temos então que
1 1 1
(arc sen x)′ = (f −1 )′ (x) = = =p ,
f ′ (f −1 (x)) cos(arc sen x) 1 − sen2 (arc sen x)
ou seja,
1
(arc sen x)′ = √ , x ∈] − 1, 1[.
1 − x2
De forma análoga, uma vez que arc cos x é a função inversa de f (x) = cos x no
intervalo [0, π], concluí-se que
1
(arc cos x)′ = − √ , x ∈] − 1, 1[.
1 − x2
A derivada de uma função f , como vimos, conduz a outra função f ′ . Se f ′ tem derivada
denotamo-la por f ′′ e designamo-la por segunda derivada. De um modo geral, se n é um
inteiro positivo então f (n) denota a derivada de ordem n de f que se obtém partindo de f
e derivando sucessivamente f n vezes. Temos assim a fórmula recursiva
′
f (n) (x) = f (n−1) (x)
dn y d dn−1 y dn f d dn−1 f
= ou (x) = (x).
dxn dx dxn−1 dxn dx dxn−1
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 46
(f g)′ = f ′ g + f g ′
(f g)′′ = f ′′ g + 2f ′ g ′ + f g ′′
(f g)′′′ = f ′′′ g + 3f ′′ g ′ + 3f ′ g ′′ + f g ′′′
..
.
n
(n)
X n
(f g) = f (n) g (n−k)
k
k=0
onde
n n!
= ,
k k!(n − k)!
que, como se sabe, são valores que podem ser obtidos pelo chamado triângulo de Pascal
1
1 1
1 2 1
1 3 3 1
1 4 6 4 1
.. .. .. .. .. . .
. . . . . .
de quem Álvaro de Campos disse ser “tão belo como a Vénus de Milo”.
(O vento lá fora.)
Álvaro de Campos, 15-1-1928
Teorema 2.12 (Fermat). Seja f uma função diferenciável num intervalo aberto
contendo o ponto c. Então, se f atinge um extremo local nesse ponto podemos
concluir que f ′ (c) = 0.
f (c + h) − f (c)
≥ 0, se h < 0,
h
e
f (c + h) − f (c)
≤ 0, se h > 0.
h
Como f é diferenciável,
f (c + h) − f (c) f (c + h) − f (c)
0 ≤ lim = f ′ (c) = lim ≤ 0.
h→0− h h→0+ h
Definição 2.7 (Ponto crítico). Seja f uma função definida num intervalo aberto e
seja c um ponto desse intervalo. Dizemos que c é um ponto crítico de f se s só se
f ′ (c) = 0 ou f não é diferenciável nesse ponto.
Note-se que nem todos os pontos críticos são pontos onde a função atinge um máximo
ou um mínimo (por exemplo, f (x) = x3 , com x ∈ R). Por outro lado, há pontos onde
a função atinge um máximo ou um mínimo que não são pontos críticos (por exemplo,
f (x) = x, com x ∈ [1, 2]) e pontos críticos onde a derivada não se anula (como é o caso de
f (x) = |x|, com x ∈ R).
O Teorema de Fermat tem a seguinte formulação mais geral cuja demonstração é evi-
dente.
Teorema 2.13. Seja f uma função definida num intervalo qualquer e seja c um
ponto desse intervalo. Se f atinge um máximo ou um mínimo nesse ponto então
c é um ponto crítico de f ou c é um dos extremos do intervalo (se o intervalo for
fechado).
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 48
Como vimos, a derivada de uma função diferenciável pode não ser uma função contínua.
No entanto, as derivadas de funções diferenciáveis partilham com as funções contínuas a
propriedade dos valores intermédios O resultado seguinte, devido a Jean-Gaston Darboux
(1842–1917), pode ser visto como uma generalização do Teorema do Valor Intermédio.
Demonstração: Fixemos o caso f ′ (a) < f ′ (b) (o caso f ′ (b) < f ′ (a) prova-se de forma
análoga) e tomemos y tal que f ′ (a) < y < f ′ (b). Queremos provar que existe c ∈]a, b[
tal que f ′ (c) = y.
Seja g(x) = f (x) − yx. Então g ′ (a) = f ′ (a) − y < 0 e, pela definição de derivada,
existe c1 ∈]a, b[ tal que g(c1 ) < g(a). Analogamente, como g ′ (b) = f ′ (b) − y > 0,
existe c2 ∈]a, b[ tal que g(c2 ) < g(b). Como g é uma função contínua em [a, b], pelo
Teorema de Weierstrass existe c ∈ [a, b] onde g assume um valor mínimo. Mas, pelo
que acabou de ser dito, c 6= a e c 6= b. Então, pelo Teorema de Fermat, g ′ (c) = 0 e,
como tal, f ′ (c) = y.
tem derivada
′ 2x sen x1 − cos x1 , x 6= 0
f (x) = ,
0, x=0
que é descontínua em x = 0 (verifique que f ′ (0) = 0).
Por vezes é bastante difícil determinar os pontos críticos de uma função. Na verdade,
não há garantia que tais pontos existam. O teorema que se segue, devido ao francês
Michel Rolle (1652–1719), um dos mais acérrimos opositores do Cálculo Diferencial, dá
condições suficientes para a existência de um ponto crítico.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 49
Corolário 2.17. Seja f uma função nas condições do Teorema de Rolle. Então:
2. não pode haver mais do que um zero de f inferior (superior) ao menor (maior)
zero de f ′ ;
O próximo teorema pode ser considerado como uma generalização do Teorema de Rolle
para o caso em que f (a) 6= f (b).
f (b) − f (a)
= f ′ (c).
b−a
Demonstração: Consideremos a função F (x) = f (x) − λx, onde λ é um valor real tal
que F (a) = F (b). Então,
f (b) − f (a)
F (a) = F (b) ⇔ f (a) − λa = f (b) − λb ⇔ λ = .
b−a
Como F é contínua em [a, b] e diferenciável em ]a, b[, pelo Teorema de Rolle podemos
concluir que existe, pelo menos, um c tal que
f (b) − f (a)
F ′ (c) = 0 ⇔ f ′ (c) = λ = .
b−a
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 50
2. se g for diferenciáveis em ]a, b[ e se f ′ (x) = g ′ (x), para todo o x ∈]a, b[, então
f − g é constante em ]a, b[.
3. se f ′ (x) ≥ 0 (respectivamente, f ′ (x) ≤ 0), para todo x ∈]a, b[, então f é cres-
cente (respectivamente decrescente) em ]a, b[; se f ′ (x) > 0 (respectivamente,
f ′ (x) < 0), para todo x ∈]a, b[, então f é estritamente crescente (respectiva-
mente estritamente decrescente) em ]a, b[.
Demonstração: Seja
f (x)
lim ,
x→c g(x)
onde tanto f como g têm limite zero quando x tende para c. Em tais casos diz-se que fg(x)(x)
tem a forma indeterminada 00 (“zero sobre zero”) em x = c, uma vez que nada pode ser dito
quanto ao seu limite. Nestes casos, também se diz que estamos perante uma indeterminação
0
0.
Noutras ocasiões, quando f e g se tornam positiva ou negativamente infinitos, quando
x tende para c, dizemos que fg(x)
(x) ∞
tem a forma indeterminada ∞ (“infinito sobre infinito”)
em x = c. Um exemplo onde tal acontece é no caso em que se pretende calcular
sen x
lim .
x→0 x
Vamos estabelecer a chamada regra de L’Hospital e ilustrar como pode ser usada para es-
tudar diferentes formas indeterminadas. Parece que Guillaume François Antoine,
Marquis de l’Hospital (1661–1704) aprendeu esta regra com o seu professor Johann
Bernoulli (1667–1748). A sua demonstração é semelhante à do Teorema de Cauchy.
f (x) f ′ (x)
lim = lim ′ .
x→c g(x) x→c g (x)
f (x) 0
Demonstração: Suponhamos que g(x) toma a forma indeterminada 0 em x = c e que
f ′ (x)
lim = L,
x→c g ′ (x)
f (x)
lim = L.
x→c g(x)
Para podermos considerar o Teorema de Rolle, f e g terão que ser contínuas. Consi-
deremos, então, as funções contínuas f e g tais que
Notemos que
lim f (x) = lim f (x), lim g(x) = lim g(x)
x→c x→c x→c x→c
′
e que, para todo o x 6= c, f (x) = f ′ (x) e g ′ (x) = g ′ (x). Consideremos agora
onde λ é um valor real tal que F (x) = F (c). Para que tal aconteça temos que ter
É possível demonstrar que a regra de L’Hospital também é válida para limites laterais
e para limites quando x → ±∞.
f (x)
f (x)g(x) = 1
g(x)
e calcula-se
lim ln y = lim g(x) ln f (x)
x→c x→c
A regra de L’Hospital só se pode aplicar quando necessária. Note-se que, por exemplo,
ex + e−x
lim = +∞
x→0 x2
e se aplicarmos duas vezes a regra de L’Hospital obtemos
ex + e−x
lim = lim ch x = 1,
x→0 2 x→0
o que nos permite concluir que, neste caso, a regra não pode ser aplicada.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 54
então f (c) é um mínimo local; se f ′ (x) > 0 ou f ′ (x) < 0, para todo o x ∈]a, b[/{c}, então
f (c) não é máximo nem mínimo local.
Outro conceito importante no traçado gráfico de uma função e para o qual as derivadas
poderão ser úteis é o conceito de concavidade.
Notemos que, quando a concavidade está voltada para cima (baixo) o coeficiente angular
da tangente cresce (decresce) com x.
Como é sabido, dada uma função diferenciável, se a sua derivada é positiva (negativa)
num dado intervalo, a função é crescente (decrescente) nesse intervalo. Consequentemente,
se os valores da segunda derivada num determinado intervalo são positivos (negativos) estão
a função derivada é crescente (decrescente) nesse intervalo. Este facto sugere o seguinte
teorema cuja demonstração também resulta dos teoremas fundamentais apresentados.
Pode haver pontos no gráfico de uma função para os quais a concavidade muda de
sentido. Tais pontos são chamados pontos de inflexão.
Definição 2.9 (Ponto de inflexão). O ponto (c, f (c)) do gráfico de uma função f
é um ponto de inflexão se existe um intervalo aberto ]a, b[ contendo c tal que ocorra
uma das seguintes situações:
ou
f ′′ (x) < 0 se x ∈]a, c[ e f ′′ (x) > 0 se x ∈]c, b[.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 55
Teorema 2.23 (Teste da segunda derivada). Seja f uma função diferenciável num
intervalo aberto contendo c e f ′ (c) = 0. Se f ′′ (c) < 0, então f tem um máximo local
em x = c. Se f ′′ (c) > 0, então f tem um mínimo local em x = c.
Se, no teorema anterior, f ′′ (c) = 0, o teste da segunda derivada não funciona. Em tais
casos, usa-se o teste da primeira derivada.
a3
f (x) = , a ∈ R, (2.1)
x2 + a2
quando a = 1. Esta curva foi estudada por Maria Gaetana Agnesi (1717–1783)
e ficou conhecida pelo nome de bruxa de Agnesi ou feiticeira de Agnesi. Esse nome,
encontrado apenas em textos em inglês, é resultado de uma tradução errada. O nome
dado por Agnesi à curva era “versiera” (que significa “curva”). John Colson (1680–
1760), famoso matemático de Cambridge, achou o texto de Agnesi tão importante
(é o primeiro livro a tratar, simultaneamente, do cálculo diferencial e integral), que
aprendeu italiano apenas para traduzi-lo “para o benefício da juventude britânica” e,
provavelmente, confundiu a palavra “versiera” com “avversiera”, que significa “bruxa”.
Resolução:
4. Contradomínio e assímptotas
Pela alínea anterior podemos concluir que o contradomínio de f é R+ e que a
função tem uma assímptota horizontal y = 0.
5. Segunda derivada, concavidades e pontos de inflexão
Temos que
3x2 − a2
f ′′ (x) = 2xa3 2
(x + a2 )3
√
e, como tal, a segunda derivada anula-se para x = ±a 33 . Para determinar os
pontos de inflexão, considera-se a seguinte tabela:
√ √
−∞ −a 3/3 a 3/3 +∞
f ′′ + 0 − 0 + .
f ∪ 3/4a ∩ 3/4a ∪
√
Concluímos que a função tem dois pontos de inflexão em (±a 3/3, 3/4a).
6. Pontos de intersecção com os eixos coordenados
A curva apenas interseca o eixo dos yy no ponto y = a.
7. Gráfico da função
O gráfico da função, quando a = 1, é dado na Figura 2.4.
Bruxa de Agnesi
1
0.8
0.6
y
0.4
0.2
0
-5 0 5
x
x(t) ′ x(t)
y ′ (t) = − x (t) = −0,3 .
y(t) y(t)
f : D ⊆ R −→ R
x 7−→ y = f (x).
∆y ≈ f ′ (x)∆x. (2.2)
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 58
é chamada linearização de f em x0 .
Em muitas situações práticas, os dados x não são conhecidos de forma exacta. O que
se conhece é um valor x0 que foi obtido com uma precisão ǫ, em princípio, pequena.
Podemos então dizer que a diferença entre o valore exacto x e o valores conhecido
(afectados de erro) x0 , representada por ∆x0 = x − x0 , é tal que |∆x0 | ≤ ǫ. Usando
os diferencias, podemos obter uma estimativa para o erro que se comete quando se
aproxima y = f (x) por y0 = f (x0 ), com f uma função diferenciável. De facto,
Resolução: Pretende-se determinar uma estimativa para ∆y0 = f (x) − f (x0 ), quando o
valor de x ∈ [x0 − 0,5 × 10−4 , x0 + 0,5 × 10−4 ] = [3,14155, 3,14165]. Essa estimativa
é obtida pela determinação de um majorante para o diferencial
Neste caso, a uma precisão de 1 casa decimal nos dados, corresponde um valor para o
resultado onde não é possível garantir qualquer casa decimal correcta.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 60
Para ter uma ideia mais precisa sobre o erro que se comete na aproximação do acrés-
cimo ∆y de uma função y = f (x) pelo seu diferencial dy, poder-se-ía calcular o chamado
erro relativo
|∆y|
δy = .
|y|
Atendendo à definição de diferencial tem-se que
|∆y| |dy| |f ′ (x)x| |dx| |f ′ (x)x|
δy = ≈ = = δx .
|y| |y| |f (x)| |x| |f (x)|
No caso particular da aproximação (2.4) temos que δy0 ≈ 4,0δx0 , o que significa que o
erro relativo do resultado é quatro vezes o erro relativo dos dados.
Exercício 2.12. O raio de uma esfera mede 21 cm, valor obtido com um erro
máximo de 0,05 cm. Qual o erro máximo cometido no cálculo do volume da esfera
quando é usado esse valor para o seu raio?
Teorema 2.24. Seja C uma curva em coordenadas paramétricas definida pela equa-
ções (2.5), com f e g duas funções diferenciáveis em I. Suponhamos ainda que
f ′ (t) 6= 0, para todo o t em I. O declive da tangente à curva C no ponto (f (t0 ), g(t0 )),
com t0 ∈ I, é dado por
dy g ′ (t0 )
m= = ′ .
dx f (t0 )
Resolução: O ponto (x, y) = (0, −1) é obtido quando t = 0. Como f (t) = 2t e g(t) =
t2 − 1 são diferenciáveis no intervalo dado e f ′ (0) = 2 6= 0, pelo teorema anterior o
declive da recta tangente à curva no ponto (x, y) = (0, −1) é dado por
g ′ (0)
m= = 0.
f ′ (0)
A recta tangente à curva no ponto dado tem equação y − (−1) = 0 × (x − 0), isto é,
a tangente é a recta horizontal y = −1.
Consideremos agora um sistema de coordenadas polares e uma curva C definida, nessas
coordenadas, por ρ = f (θ), θ ∈ I. Se considerarmos o sistema de coordenadas cartesiana
xy de modo a que o semi-eixo positivo dos xx coincida com o eixo polar e tal que a origem
coincida com o pólo, a curva pode ser definida parametricamente por
x = f (θ) cos θ
, θ ∈ I.
y = f (θ) sen θ
Se f for diferenciável em I, o declive da recta tangente à curva C no ponto (f (θ0 ), θ0 ), com
θ0 ∈ I, é calculado como anteriormente. Assim, pelo Teorema 2.24 o declive é dado por
d
(f (θ) sen θ)
m = dθ
d .
dθ (f (θ) cos θ)
θ=θ0
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 63
Após calculado o declive, a equação cartesiana da recta tangente à curva nesse ponto
obtém-se imediatamente.
Resolução: Num sistema de coordenadas cartesianas apropriado, a curva pode ser defi-
nida por
x = 2 cos2 θ
, θ ∈ [π/6, π/3].
y = sen 2θ
√
Para θ = π/4, obtemos o ponto ( 2, π/4) no sistema de coordenadas polares, ou
seja, o ponto (x0 , y0 ) = (1, 1) no sistema de coordenadas cartesianas. Como estamos
em presença de funções diferenciáveis, o declive da recta tangente à curva no ponto
(1, 1) é dado, de acordo com o Teorema 2.24, por
2 cos(π/2)
m= = 0.
−2 sen(π/2)
Notemos que, se f ′ (t0 ) = 0, para algum t0 ∈ I, a curva C definida pela equações (2.5):
admite uma tangente vertical no ponto (f (t0 ), g(t0 )), se g ′ (t0 ) 6= 0; não tem tangente
definida no ponto (f (t0 ), g(t0 )), se g ′ (t0 ) = 0. Neste último caso diz-se que a curva tem
um ponto singular no ponto (f (t0 ), g(t0 )) ou uma singularidade em t = t0 .
Logo, o único ponto singular é (0, 0). Verifique na Figura 1.10 a que ponto do gráfico
corresponde a singularidade da curva.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 64
1. Mostre que C tem duas tangentes no ponto (3, 0) e encontre as suas equações.
4. Esboce a curva.
Resolução:
√
1. Note-se que y = t3 − 3t = 0 quando t = 0 ou t √ = ± 3. Portanto,
√ o ponto (3, 0)
em C surge de dois valores do parâmetro: t = 3 e t = − 3. Isto significa que
a curva se intersecta em si mesma em (3, 0). Como
dy
dy dt 3t2 − 3 3 1
= dx = = t− ,
dx dt
2t 2 t
√
o declive da tangente quando t = ± 3 é
dy 6 √
m= = ± √ = ± 3.
dx t=±√3
2 3
Assim, as equações das tangentes são
√ √
y = 3(x − 3) e y = − 3(x − 3).
0
y
-1
-2
-3
0 1 2 3 4
x
f (x0 ) f (x0 )
− ′
= x∗ − x0 ⇔ x∗ = x0 − ′ .
f (c) f (c)
lim xk = x∗ .
k→+∞
Outra questão é a de saber como definir a aproximação inicial x0 e como parar o pro-
cesso iterativo. Antes de responder a estas questões, vamos considerar a correspondência
geométrica deste método.
Se considerarmos a intersecção dessa recta com o eixo dos xx, isto é, com a recta
y = 0, temos que a abcissa x1 do ponto de intersecção é dada por
f (x0 )
x1 = x0 − .
f ′ (x0 )
Vamos agora apresentar as condições que deverão ser impostas para que a sucessão de
aproximações geradas pelo método de Newton convirja para a raiz x∗ de f (x) = 0.
Teorema 2.25. Seja f uma função real de variável real definida num intervalo [a, b].
Se
1. f ∈ C 2 ([a, b]),
então a sucessão {xk }, k = 0, 1, . . ., gerada pelo método (2.8), com x0 ∈ [a, b] tal
que
forma a que, nesse ponto, a função e a segunda derivada tenham o mesmo sinal. Este facto
faz com que as sucessivas iterações do método se situem sempre no intervalo definido pela
aproximação inicial x0 e pela raiz x∗ .
f (x) = x2 − 1 − ln (x + 1),
1. f ∈ C(]1, 2[);
2. f (1)) = − ln 2 < 0 e f (2) = 3 − ln 3 = 1,901388 > 0;
3. f ′ (x) = 2x − (x − 1)−1 > 0, para x ∈]1, 2[.
y
-1
-2
x2 -1
ln(x+1)
-3
-2 -1 0 1 2
x
f (2)
x1 = 2 − = 1,48144;
f ′ (2)
f (1,48144)
x2 = 1,48144 − = 1,369785.
f ′ (1,48144)
Uma estimativa para o erro absoluto pode ser dada por |x2 − x1 | = 0,1116554.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 69
Exercício 2.18. Sejam f (x) e g(x) duas funções tais que lim f (x) = +∞ e
x→a
lim g(x) = 0. Mostre que escolhendo convenientemente as funções f (x) e g(x) e
x→a
definindo h = f × g podemos ter as seguintes situações:
1. lim h(x) = +∞; 2. lim h(x) = −∞; 3. lim h(x) = −27; 4. lim h(x) = 27.
x→a x→a x→a x→a
Exercício 2.19. Use o teorema das funções enquadradas para provar que:
1 |x|
1. lim x sen = 0; 2. lim √ = 0;
x→0 x x→0 x4 + 4x2 + 7
3. lim x2 f (x) = 0, sendo f (x) uma função tal que f (x) ∈ [0, c], c ∈ R+ , ∀x ∈ R.
x→0
1
Exercício 2.20. Prove que lim x4 sen √ = 0.
x→0 3
x
1 1 1 1
1. lim cos ; 2. lim tg ; 3. lim sen ; 4. lim .
x→a x−a x→a x2 − a2 x→0 x x→0 1 + e1/x
1 5
x, x<0 X
4. f (x) = ; 5. f (x) = x sen 1
x; 6. f (x) = xk .
x, x ≥ 0
k=0
Exercício 2.23. Seja f (x) = x−2 x . Verifique que f (−1)f (1) < 0. Poderá concluir
que existe c ∈] − 1, 1[ para o qual se tenha f (c) = 0?
Exercício 2.24. Prove que a equação x3 − 9x2 + 7 = 0 tem três raízes, uma em cada
um dos intervalos abertos ] − 1, 0[, ]0, 1[ e ]6, 9[. Melhore o resultado aproximando-as
até às centésimas.
Exercício 2.26. Seja f uma função contínua em [0, 1] e 0 ≤ f (x) ≤ 1, para todos
os valores de x ∈ [0, 1]. Mostre que existe c ∈ [0, 1] tal que f (c) = c.
x 1
10. y = ch x − .; 11. y = ch7 (8x − 1); 12. y = √ .
ex 3
5x4 + 1
Exercício 2.28. Determine a expressão analítica das derivadas das funções seguin-
tes:
sen x,
x>0 −2x − 1, x ≤ −1
1. f (x) = 0, x = 0; 2. f (x) = x2 , −1 < x < 0 ;
3
x+x , x<0 sen x, x≥0
(
|x|, x<4
3. f (x) = .
12 − 2x, x≥4
1 1
1. (arc tg x)′ = , x ∈ R; 2. (arc cotg x)′ = − , x ∈ R;
1 + x2 1 + x2
1 1
3. (arg sh x)′ = √ , x ∈ R; 4. (arg ch x)′ = √ , x ∈]1, +∞[;
1 + x2 x2 −1
1 1
5. (arg th x)′ = , x ∈] − 1, 1[; 6. (arg coth x)′ = , x ∈ R\[−1, 1].
1 − x2 1 − x2
Exercício 2.30. Mostre que as funções seguintes são contínuas, mas não deriváveis
em alguns pontos:
x + ln(2 − x), x < 1
1. f (x) = 1 + | sen x|, x ∈ [0, 2π]; 2. g(x) = ;
e1−x , x≥1
x sen x1 , x 6= 0
3. h(x) = .
0, x=0
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 71
Exercício 2.34. Um insecto rasteja de modo a que a sua posição depois de t segun-
dos é dada por √
x = 1 + t, y = 2 + t/3,
onde x e y são medidas em centímetros. Determine o vector que indica a velocidade
do insecto no instante t = 3 segundos.
4t2 + 16t + 75
T (t) = 10 , t ≥ 0,
t2 + 4t + 10
onde t representa o tempo decorrido em horas.
Exercício 2.37. A eficácia de determinado analgésico t horas após ter sido minis-
trado (tomado) pode ser significativamente bem modelada pela seguinte função
1
E(t) = 9t + 3t2 − t3 , 0 ≤ t ≤ 5.
27
Determine a taxa de alteração de E relativamente a t nos seguintes casos: passado
1 hora; passado 4 horas.
Exercício 2.38. A concentração [S] de uma certa substância durante uma reacção
enzimática é dada por
− k t
[S] = [S0 ]e 2,3
onde t é o tempo decorrido em segundos, k é uma constante e [S0 ] é a concentração
da substância no início da reacção.
Exercício 2.42. Uma linha de telefone pendurada entre dois postes separados de 14
metros tem a forma da catenária
y = 20 ch(x/20) − 15,
Exercício 2.43. A Lei de Boyle estabelece que quando uma amostra de gás é compri-
mida a uma temperatura constante, a pressão P e o volume V satisfazem a equação
P V = C, onde C é uma constante. Suponha que num certo instante o volume é de
600 cm3 , a pressão é de 150 kPa e que pressão cresce a uma taxa de 20 kPa/min.
A que taxa está decresce o volume nesse instante?
Exercício 2.44. Uma massa atada a uma mola vertical tem como função posição
s = A sen ωt,
1 1
1. loga x; 2. xm ; 3. sen x; 4. ; 5. ; 6. sen 5x;
3x + 2 x
Exercício 2.47. Para f (x) = |x|, mostre que f (−1) = f (1), mas f ′ (c) 6= 0 para
todo o c no intervalo ] − 1, 1[. Estará este facto em contradição com o Teorema de
Rolle?
Exercício 2.49. Prove que se a > 0, a equação cúbica x3 + ax + b = 0 não pode ter
mais do que uma raiz real, qualquer que seja o valor de b.
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 74
x5 − 6x3 + 8x − 3 ex
1. lim ; 2. lim x ln x; 3. lim ;
x→1 x4 − 1 x→0+ x→+∞ x
1 1 1 1
4. lim 2 ; 5. lim − ; 6. lim x sen ;
x→+∞ x sen2 1 x→0 x sen x x→+∞ x
x
2x
3 1
7. lim 1+ ; 8. lim x x ; 9. lim (sen x)tg x ;
x→+∞ x x→+∞ x→0+
x+1
1
10. lim 11. lim x2 ln x 12. lim (1 − sen x)1/x .
x→+∞ ln x x→0+ x→0
Exercício 2.51. Verificando que não pode usar a regra de L’Hospital, calcule os
seguintes limites:
Exercício 2.52. Determine os valores máximo e mínimo das funções abaixo defini-
das, no intervalo indicado:
Exercício 2.53. Averigúe se as funções a seguir indicadas têm algum extremo re-
lativo para x = 2:
2 2
x , x<2 x , x<2
1. f (x) = 4, x = 2 ; 2. f (x) = 1, x=2 .
2
x + 5, x > 2 −x + 8, x > 2
Exercício 2.54. Determine dois números positivos cujo produto seja máximo e cuja
soma seja igual a 40.
Exercício 2.57. Cada página de um livro deve ter área de 440 cm3 , com margens
de 2,5 cm do lado esquerdo, 2 cm do lado direito, 3 cm em cima e 3 cm em baixo.
Determine as dimensões das páginas de modo a que a área destinada à impressão
seja a maior possível.
Exercício 2.58. Supondo um peixe a nadar contra uma corrente u a uma velocidade,
em relação à água, v (v > u), a energia total E requerida para nadar uma distância
L é dada por
L
E(v) = av 3
v−u
onde a é uma constante de proporcionalidade positiva. Os biólogos verificaram expe-
rimentalmente que os peixes migratórios nadam contra a corrente a uma velocidade
50% superior à velocidade da corrente. Mostre que esse valor corresponde à veloci-
dade que minimiza a energia total requerida para nadar uma distância fixa.
Exercício 2.59. Um campo petrolífero tem 8 poços que produzem um total de 1600
barris de petróleo por dia. Para cada poço adicional perfurado a produção média por
poço decresce de 10 barris diários. Quantos poços adicionais devem ser abertos para
maximizar a produção?
Exercício 2.60. Uma bateria de voltagem fixa V e resistência interna fixa r está
ligada a um circuito de resistência variável R. Pela lei de Ohm, a corrente I no
circuito é dada por I = V /(R + r). Se a força resultante é dada por P = I 2 R, mostre
que a força máxima ocorre se R = r.
x2 − 2x + 4 2x √
1. y = ; 2. y = 3x3 − 9x + 1; 3. y = ; 4. y = 3x2 − 2.
x−2 x2−1
1
Exercício 2.65. Considere a função real de variável real definida por f (x) = x − .
x
Indique o domínio de f e mostre que f é ímpar. Será injectiva? Esboce o gráfico da
restrição de f a ] − ∞, 0[ e, usando o facto de f ser ímpar, complete o gráfico de f .
Exercício 2.70. Use a derivação implícita para achar uma equação√da recta tan-
gente ao astróide descrito pela equação x2/3 + y 2/3 = 4 no ponto (−3 3, 1).
Exercício 2.71. Uma gota de água esférica sofre evaporação a uma taxa proporci-
onal à sua superfície exterior. Como varia o raio?
Exercício 2.75. O raio de um disco circular é 24 cm, com um erro máximo de 0,2
cm.
Exercício 2.77. Com que precisão deve medir o raio de uma bola esférica por forma
a garantir uma precisão de 1% no seu volume?
Exercício 2.79. De acordo com a Lei de Poiseuille, formulada pelo médico e físico
francês Jean-Louis-Marie Poiseuille (1797–1869), quando o sangue flui ao longo de
um vaso sanguíneo, o fluxo F (volume de sangue por unidade de tempo passando por
um ponto dado) é proporcional à quarta potência do raio R do vaso F = kR4 , k ∈ R.
Uma artéria parcialmente obstruída pode ser alargada por uma operação chamada
angioplastia, na qual minúsculo balão na ponta de um catéter, que é insuflado dentro
da artéria a fim de aumentá-la e restaurar o fluxo normal do sangue. Mostre que
a variação relativa de F é cerca de quatro vezes a variação relativa de R. De que
forma um aumento de 5% no raio afecta o fluxo de sangue?
CAPÍTULO 2. CÁLCULO DIFERENCIAL 78
Exercício 2.81. Determine a equação da tangente a cada uma das seguintes curvas
no ponto correspondente ao valor do parâmetro indicado;
x = 2t + 4 x = et
1. , t = 1; 2. , t = 2.
y = 8t2 − 2t + 4 y = e−t
x = 2t3 , y = 1 + 4t + t2 , t ∈ R,
Exercício 2.83. (∗) Um avião em voo vertical descreve uma trajectória que, para
t ∈ [0, 1] dado em minutos, pode ser traduzida pela expressão h(t) = (t − 1)et − t + 3.
Exercício 2.84. (∗) Considere a função f definida por f (x) = e−x ln x, x > 0.
Utilizando o método de Newton, aproxime a abcissa do seu ponto de inflexão, em
segunda aproximação, partindo de um intervalo com amplitude inferior ou igual a 1.
Exercício 2.85. (∗) Use o método de Newton para aproximar, com erro inferior a
10−4 , o valor de x correspondente ao ponto do gráfico de y = x2 mais próximo de
(1, 0).
Cálculo integral
3.1 Primitivas
3.1.1 Primitivas imediatas
No capítulo anterior certos problemas foram enunciados na forma: “dada uma função f ,
determinar a sua derivada f ′ ”. Consideremos agora o problema inverso, isto é: “dada a
derivada f ′ , determinar a função primitiva f ”. Por outras palavras, neste capítulo queremos
considerar a questão: “dada uma função f , determinar uma função F tal que F ′ = f ”.
Notemos que, se uma função f admitir primitiva, essa primitiva não é determinada de
forma única. De facto, se considerarmos f (x) = 2x, x ∈ R, podemos ter, como primitiva,
F1 (x) = x2 , F2 (x) = x2 + 10, F3 (x) = x2 + 11,4, etc. Neste caso, as primitivas de f em R
são da forma F (x) = x2 + c, c ∈ R.
Definição 3.2 (Função primitivável). Uma função f diz-se primitivável num inter-
valo I se existir uma primitiva de f em I.
O próximo resultado demonstra que duas primitivas de uma mesma função diferem
apenas por uma constante.
F1 (x) = F2 (x) + c, ∀x ∈ I,
79
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 80
o que implica, como G é diferenciável em I, G′ (x) = F1′ (x) − F2′ (x) = 0 e, como tal,
G(x) = c, com c uma constante real. De facto, pelo Teorema de Lagrange, como G
é diferenciável em I,
G(b) − G(a)
=0
b−a
ou seja, G(b) = G(a), com a e b quaisquer dois pontos distintos de I. Provámos
assim que G(x) = c, para todo o x ∈ I, ou seja F1 (x) = F2 (x) + c, c ∈ R.
0
y
−5
−6 −4 −2 0 2 4 6
x
Uma questão que se coloca é a seguinte: será que toda a função f possui primitiva?
Pode demonstrar-se que toda a função contínua num intervalo I possui, nesse intervalo,
uma primitiva. No entanto, existem funções que não possuem primitiva. Essas funções
são, naturalmente, funções descontínuas.
Por exemplo, a função
0, x < 2,
f (x) =
1, x ≥ 2,
não é primitivável em R, pois a existência de uma função F : R −→ R tal que F ′ (x) = f (x),
para todo o x ∈ R, contradiz o Teorema de Darboux. De facto, segundo o Teorema de
Darboux, a derivada de qualquer função f tem que que verificar a propriedade do valor
intermédio e, neste caso, f não assume todos os valores entre 0 e 1. Notemos também que,
pelo Teorema de Darboux, as funções primitiváveis aplicam intervalos em intervalos o que,
claramente, não é o caso.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 82
O Teorema de Darboux também garante que as funções primitiváveis não podem ter
descontinuídades de primeira espécie. Por isso, para procurar um exemplo de uma função
descontínua que seja primitivável, temos que considerar funções com descontinuidades de
segunda espécie. Por exemplo, a derivada da função
2
x sen x1 , x 6= 0,
f (x) =
0, x = 0,
é descontínua, pois não existe o limite de f ′ (x) quando x tende para 0 mas é primitivável
e, como tal, aplica intervalos em intervalos.
Outra propriedade é
Z Z Z
αf (x) + βg(x) dx = α f (x) dx + β g(x) dx, α, β ∈ R,
que estabelece que a primitiva é um operador linear. De facto, sejam F e G duas primitivas
de f e g, respectivamente. Então
Duas regras de integração muito importantes podem ser obtidas pela generalização do
raciocínio efectuado na resolução do exercício anterior.
com G uma primitiva de g que, pela regra de integração da potência, pode ser dada
por G(x) = xm+1 /(m + 1), o que prova o pretendido.
Teorema 3.2 (Primitivação por partes). Sejam f e g duas funções definidas num
intervalo I tais que f admite uma primitiva F em I e g é derivável em I. Então
Z Z
f (x)g(x) dx = F (x)g(x) − F (x)g ′ (x) dx.
Assim sendo,
f (x)g(x) = (F (x)g(x))′ − F (x)g ′ (x), x ∈ I,
o que nos permite concluir que
Z Z
f (x)g(x) dx = F (x)g(x) − F (x)g ′ (x) dx,
Resolução:
Z Z 2
x2 x 1 x2 1
1. x ln x dx = ln x − dx = ln x − + c, c ∈ R.
2 2 x 2 2
2. Temos, sucessivamente,
Z Z
arc sen x dx = 1 arc sen x dx
Z
1
= x arc sen x − x √ dx
1 − x 2
Z
1 −2x
= x arc sen x + √ dx
2 1 − x2
p
= x arc sen x + 1 − x2 + c, c ∈ R.
R Derivar Primitivar
R função polinomial × função trigonométrica dx
R função polinomial × função exponencial dx
R função trigonométrica inversa × função polinomial dx
função logarítmica × função polinomial dx
Por vezes é necessário aplicar a regra de primitivação por partes duas (ou mais) vezes.
Por exemplo, suponhamos que se pretende determinar
Z
ex cos x dx.
Temos que
Z Z
x x
e cos x dx = e cos x − ex (− sen x) dx
Z
= e cos x + e sen x − ex cos x dx.
x x
Logo Z
1
ex cos x dx = ex (cos x + sin x) + c, c ∈ R.
2
Quando se aplica duas (ou mais) vezes a regra de integração por partes deve manter-se
até ao final a escolha feita inicialmente sobre qual a função a primitivar e qual a função a
derivar.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 85
Por exemplo,
Z Z
3
sen x dx = (1 − cos2 x) sen x dx
Z Z
= sen x dx − cos2 x sen x dx
cos3 x
= − cos x + + c, c ∈ R.
3
No caso de se pretender primitivar potências pares de sen x, cos x, sh x ou ch x, passa-
-se para o arco duplo através das fórmulas:
1 1
sen2 x = (1 − cos 2x), cos2 x = (1 + cos 2x),
2 2
1 1
sh2 x = (ch 2x − 1), ch2 x = (ch 2x + 1).
2 2
Por exemplo,
Z Z
2 1
cos x dx = (cos 2x + 1) dx
2
sen 2x x
= + + c, c ∈ R.
4 2
Para as potências pares e ímpares de tg x (th x) ou cotg x (coth x), destaca-se tg2 x
(th x) ou cotg2 x (coth2 x) e aplica-se uma das fórmulas:
2
No caso da função a primitivar ser o produto de uma potência ímpar de cos x (ch x)
por qualquer potência de sen x (sh x), destaca-se cos x (ch x) e passa-se o factor resultante
para a co-função através da fórmula fundamental:
Quando o produto é entre uma potência par de sen x (sh x) e uma potência par de cos x
(ch x), aplicam-se as fórmulas:
Para terminar esta secção, consideremos o caso de produtos em que aparecem factores
do tipo sen mx ou cos nx (sh mx ou ch nx). Neste caso aplicam-se as fórmulas:
1 1
sen x sen y = (cos(x − y) − cos(x + y)), sh x sh y = (ch(x + y) − ch(x − y)) ,
2 2
1 1
cos x cos y = (cos(x + y) + cos(x − y)), ch x ch y = (ch(x + y) + ch(x − y)) ,
2 2
1 1
sen x cos y = (sen(x + y) + sen(x − y)), sh x ch y = (sh(x + y) + sh(x − y)) .
2 2
2. Decomposição da fracção própria numa soma de elementos simples. Cada factor do tipo
(x − a)n dá origem a
A1 A2 An
+ + ··· + ,
(x − a)n (x − a)n−1 x−a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 87
m
com Ai , i = 1, . . . , n, constantes a determinar. Cada factor do tipo (x − p)2 + q 2
dá origem a
P1 x + Q 1 P2 x + Q 2 Pm x + Qm
2 2 m + m−1 + ··· + ,
((x − p) + q ) ((x − p)2 + q 2 ) (x − p)2 + q 2
x5 + x3 + x x3
= x + .
x4 + 1 x4 + 1
Logo
Z Z
x5 + x3 + x x3 x2 1
dx = x+ dx = + ln (x4 + 1) + c, c ∈ R.
x4 + 1 x4 + 1 2 4
Resolução: Como já estamos na presença de uma fracção própria, vamos começar por
factorizar o denominador.
1. Factorizar o denominador.
x2 + 4x + 3 = (x + 1)(x + 3).
2. Obter os elementos simples.
3x + 2 A B
= + .
x2 + 4x + 3 x+1 x+3
3. Determinação das constantes.
Vamos determinar A e B pelo método dos coeficientes indeterminados. Assim,
A B A(x + 3) + B(x + 1) (A + B)x + (3A + B)
+ = = .
x+1 x+3 (x + 1)(x + 3) (x + 1)(x + 3)
Logo
A+B = 3 A = 3−B A = −1/2
⇒ ⇒ .
3A + B = 2 9 − 3B + B = 2 B = 7/2
4. Determinar a primitiva.
Z Z Z
3x + 2 −1/2 7/2
dx = dx + dx
x2 + 4x + 3 x+1 x+3
1 7
= − ln |x + 1| + ln |x + 3| + c
2 2
7
1 (x + 3)
= ln + c, c ∈ R.
2 (x + 1)
Resolução: Como já estamos na presença de uma fracção própria, vamos começar por
factorizar o denominador.
1. Factorizar o denominador.
x+2 A1 A2 A3 B
3
= 3
+ 2
+ + .
(x + 1) (x + 3) (x + 1) (x + 1) x+1 x+3
3. Determinação das constantes.
Para obter as constantes vamos proceder da seguinte forma. Os coeficientes A1
e B determinam-se pela regra do tapa
x+2 1 x+2 1
A1 = = , B= = .
x + 3 x=−1 2 (x + 1)3 x=−3 8
Z
x+2 −1/4 1/4 1 1
dx = − − ln |x + 1| + ln |x + 3| + c
(x + 1)2 (x2
+ 4x + 3) (x + 1) 2 x+1 8 8
1/8
−1/4 1/4 x + 3
= 2
− + ln + c, c ∈ R.
(x + 1) x+1 x + 1
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 90
t✤ / x = φ(t) ✤ / f (x)
Provámos, estão, o seguinte resultado que nos indica como poderemos primitivar por subs-
tituição de variável.
Z p
Exercício 3.6. Calcule 1 − x2 dx.
√
Resolução: Seja f (x) = 1 − x2 . Temos que Df = [−1, 1]. Consideremos
φ(t) = sen t, t ∈ [−π/2, π/2].
Como é fácil de provar, φ é bijectiva e diferenciável no seu domínio e, como tal, pode
ser usada como mudança de variável. Consideremos, então,
x = sen t ⇒ t = arc sen x.
Como φ′ (t) = cos t, temos que
Z p Z p
2
1 − x dx = 2
1 − sen t cos t dt
t=arc sen x
Z
= cos2 t dt
t=arc sen x
..
.
1 1
= t + sen 2t +c
2 4 t=arc sen x
1 1
= arc sen x + sen (2 arc sen x) + c
2 4
..
.
1 1 p
= arc sen x + x 1 − x2 + c, c ∈ R.
2 2
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 91
3
y
0
−2 −1 0 1
x
Consideremos uma função f , não negativa e contínua num intervalo real [a, b]. Supo-
nhamos que pretendemos calcular a área A do domínio plano definido pela curva y = f (x),
as rectas x = a, x = b e o eixo dos xx. Para isso, comecemos por dividir o intervalo [a, b]
em subintervalos iguais por meio de um número finito de pontos x0 , x1 , . . . , xn tais que
com ∆xi = xi − xi−1 , i = 1, 2, . . . , n. Obtemos assim uma partição do intervalo [a, b]. Cha-
mamos amplitude da partição à maior das amplitudes dos intervalos definidos pela partição,
isto é, ao valor
∆x = max ∆xi .
i=1,2,...,n
onde cada parcela é a área de um rectângulo. Note-se que s(∆x) é a área definida por um
polígono contido em A e S(∆x) a área definida por um polígono que contém A. Então
s(∆x) ≤ A ≤ S(∆x).
Como f é uma função contínua, aumentando o número de pontos da partição ou, de forma
equivalente, diminuindo ∆x, o valor mi = f (y i ) tende para Mi = f (y i ). Por definição de
limite,
∀ǫ > 0, ∃δ > 0 : |∆x| < δ ⇒ |f (y i ) − f (y i )| < ǫ,
para i = 1, 2, . . . , n, e então
n
X n
X
S(∆x) − s(∆x) = (f (y i ) − f (y i ))∆xi < ǫ ∆xi = ǫ(b − a).
i=1 i=1
Podemos então dizer que a área A pode ser aproximada por s(∆x) ou S(∆x) com a precisão
que se quiser. Assim,
A = lim S(∆x) = lim s(∆x).
∆x→0 ∆x→0
com yi ∈ [xi−1 , xi ], chamamos soma de Riemann para f no intervalo [a, b] relativa à partição
(3.2), em homenagem ao matemático Georg Friedrich Bernhard Riemann (1826–1866).
Note-se que, para cada partição existem muitas somas de Riemann possíveis, bastando
para isso variar a escolha dos yi ∈ [xi−1 , xi ].
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 93
Definição 3.4 (Integral definido). Seja f uma função limitada definida num in-
tervalo fechado [a, b]. O integral definido de f entre a e b é definido como sendo o
limite das suas somas de Riemann quando a amplitude das partições, arbitrariamente
escolhidas, tende para zero, isto é,
Z b
f (x) dx = lim Rf (∆x). (3.3)
a ∆x→0
existe. A afirmação (3.3) significa que, para todo o ǫ > 0 existe um δ > 0 tal que, se ∆x é
a amplitude de uma partição de [a, b] com ∆x < δ, então
com
n
X Z b
Rf (∆x) = f (yi )∆xi e I= f (x) dx,
i=1 a
para qualquer escolha dos números yi nos subintervalos [xi−1 , xi ] da partição considerada.
O limite I é chamado limite de uma soma de Riemann.
A definição de integral foi dada para um função definida num intervalo real [a, b]. Isto
pressupõe que a < b e que a e b são números reais (finitos). Excluímos, assim, os casos
[a, b], com a > b, [a, a] = {a}, [a, +∞[, ] − ∞, a[ e ] − ∞, +∞[. Vejamos agora como
generalizar a definição para os dois primeiros casos.
Definição 3.5. Seja f uma função limitada definida num intervalo [a, b]. Se a = b
temos que Z a
f (x) dx = 0.
a
Se a > b temos que
Z b Z a
f (x) dx = − f (x) dx.
a b
Teorema 3.4. Seja f uma função integrável em [a, b]. Seja c ∈ [a, b]. Então
podemos dizer que f é integrável em [a, c] e [c, b] e
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
Como vimos no Exercício 3.8, nem todas as funções limitadas são integráveis. No
entanto, pode demonstrar-se o próximo teorema para funções contínuas. De notar que
uma função contínua, definida num intervalo fechado, é limitada mas o seu recíproco não
é verdadeiro.
Teorema 3.5. Seja f uma função contínua no intervalo [a, b]. Então f é integrável
em [a, b] e o seu integral é único.
A analogia do integral com a noção de área apenas vale para funções contínuas e não
negativas.
Corolário 3.6. Seja f uma função contínua e não negativa no intervalo [a, b] e
consideremos a figura limitada pelo gráfico de f , pelas rectas verticais x = a e x = b
e pelo eixo dos xx. A área da figura existe sempre e pode ser obtida por
Z b
A= f (x) dx.
a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 95
E no caso de f ser uma função negativa? Será que podemos definir “área orientada”
(ou “área com sinal”) à custa de um integral? Notemos que se f for uma função contínua
definida em [a, b] tal que f (x) ≤ 0, para todo o x ∈ [a, b], então
Z b
A=− f (x) dx.
a
Exercício 3.9. Em cada uma das alíneas seguintes, determine o valor do integral
definido, identificando-o com uma área que indicará:
Z 2 Z 2
1. (2x + 6) dx; 2. (7 − 3x) dx;
−3 −1
Z 3p Z a p
3. 9− x2 dx; 4. a2 − x2 dx, a > 0.
0 −a
f(x)=2x+6 f(x)=(9−x2)1/2
10
3
8 2.5
6 2
y
1.5
4
1
2
0.5
0 0
−2 0 2 0 1 2 3
x x
Teorema 3.7. Seja f uma função limitada com um número finito de descontinui-
dades no intervalo [a, b]. Se as descontinuidades forem todas de primeira espécie
(incluindo as removíveis), existe e é único o integral definido
Z b
f (x) dx.
a
A demonstração do teorema anterior, que não iremos apresentar, permite concluir uma
regra de cálculo para o integral de uma função descontínua nas condições do teorema: se
f for descontínua num dos extremos do domínio, proceder como se fosse contínua; se f for
descontínua no interior do intervalo, digamos em c ∈]a, b[, considere as funções
f (x), a≤x<c f (x), c<x≤b
g(x) = , e h(x) = ,
lim f (x), x = c lim f (x), x = c
x→c− x→c+
e tomar Z Z Z
b c b
f (x) dx = g(x) dx + h(x) dx.
a a c
O teorema anterior permite concluir que que as funções que admitem descontinuidades
de primeira espécie podem ser integráveis, apesar de não serem primitiváveis.
Vamos agora mostrar que o integral de uma função não negativa é não negativo, isto
é, se f (x) ≥ 0, para todo o x ∈ [a, b], então
Z b
f (x) dx ≥ 0.
a
Como consequência imediata desta última propriedade, sai a seguinte, cuja demonstra-
ção é deixada como exercício: se f (x) ≥ g(x), para todo o x ∈ [a, b], então
Z b Z b
f (x) dx ≥ g(x) dx.
a a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 97
Exercício 3.10. Seja f uma função integrável no intervalo [a, b]. Mostre que:
O seguinte teorema mostra que se f for uma função contínua, existe um ponto c ∈]a, b[
no qual o valor da função f é exactamente igual ao valor médio da função.
Então, como f não é constante, tem-se que m < f (x) < M, para algum x ∈ [a, b].
Por (3.5) e usando um raciocínio análogo ao do último exercício, temos que
Z b Z b
1
m(b − a) < f (x) dx < M (b − a) ⇔ m < f (x) dx < M.
a b−a a
Teorema 3.9 (Segundo teorema do valor médio). Seja f uma função contínua no
intervalo [a, b] e g uma função integrável que não muda de sinal em [a, b]. Então,
existe um c ∈]a, b[ tal que
Z b Z b
f (x)g(x) dx = f (c) g(x) dx.
a a
Demostração: Se f é uma função constante temos que f (x) = k, para todo o x ∈ [a, b].
Então Z b Z b Z b
kg(x) dx = k g(x) dx = f (c) g(x) dx,
a a a
com c ∈]a, b[. Suponhamos agora que f não é uma função constante e g 6≡ 0 (o caso
g ≡ 0 é trivial). Vamos assumir, sem perda de generalidade, que g(x) ≥ 0, para todo
o x ∈ [a, b]. Então, tal como na demonstração do teorema anterior, podemos dizer
que existem constantes m e M tais que
o que, atendendo a
Z b
g(x) dx > 0,
a
equivale a dizer
Rb
a f (x)g(x) dx
m< Rb < M.
a g(x) dx
Pelo Teorema do Valor Intermédio, existe c ∈]a, b[ tal que
Rb Z b Z b
a f (x)g(x) dx
Rb = f (c) ⇒ f (x)g(x) dx = f (c) g(x) dx.
a g(x) dx a a
1. Se Z x
F (x) = f (t) dt,
a
para todo o x ∈ [a, b], então F é uma primitiva de f em [a, b].
Demostração:
F (x) = F1 (x) + c, c ∈ R,
0 = F (a) − c ⇒ c = F (a)
e, como tal, Z x
f (t) dt = F (x) − F (a).
a
Tomando x = b vem Z b
f (t) dt = F (b) − F (a),
a
o que prova o pretendido.
e, para o segundo,
ln x e
Z e Z e 1
dx π
p = q 2x dx = arc sen = .
1 x 4 − (ln x)2 1 1− ln x
2 1 6
2
Corolário 3.11. Seja f uma função contínua em [a, b]. Então, para c ∈ [a, b],
Z x
d
f (t) dt = f (x), ∀x ∈ [a, b],
dx c
Demostração:
1. Defina a derivada de F .
1
= p (− sen x), x ∈]0, π[.
(1 − cos x)(4 − cos2 x)
2
Outro exemplo, se V (t) for o volume de água num reservatório no instante t, a sua derivada
V ′ (t) é a taxa segundo a qual a água flui para dentro do reservatório no instante t. Então,
a variação do volume de água no reservatório entre os instantes t1 e t2 é dada por
Z t2
V ′ (t) dt = V (t2 ) − V (t1 ).
t1
Exercício 3.13. Uma partícula move-se ao longo de uma recta de tal forma que a
sua velocidade no instante t é dada por
v(t) = t2 − t − 6,
isto é, a partícula, no intervalo de tempo dado, moveu-se 4,5 metros para a esquerda.
Para calcular a distância percorrida, notemos que
o que implica v(t) ≤ 0 em [1, 3] e v(t) ≥ 0 em [3, 4]. Assim, a distância total
percorrida pela partícula é
Z 4 Z 3 Z 4 3 3 4
t3 t2 t t2 61
|v(t)| dt = (−v(t)) dt+ v(t) dt = − + + 6t + − − 6t = ,
1 1 3 3 2 1 3 2 3 6
Integração por partes. Sabemos que, pela regra de primitivação por partes,
Z Z
f (x)g(x) dx = F (x)g(x) − F (x)g ′ (x) dx,
Logo
Z " Z #x=b
b
f (x) dx = f (φ(t))φ′ (t) dt
a t=φ−1 (x) x=a
Z t=φ−1 (b)
= f (φ(t))φ′ (t) dt
t=φ−1 (a)
Z φ−1 (b)
= f (φ(t))φ′ (t) dt.
φ−1 (a)
Vamos começar por considerar o caso em que o intervalo de integração é infinito. Para
isso, consideremos a região que está sob a curva y = 1/x2 , acima do eixo dos xx e à direita
da recta x = 1 (ver Figura 3.4). Poder-se-ia pensar que, como a região é infinita, a sua
área também deve ser infinita. Comecemos por considerer o intervalo finito [1, b]. Assim,
a área à esquerda da recta x = b é dada por
1 b
Z b
1 1
A(b) = 2
dx = − =1− .
1 x x 1 b
Atendendo a este resultado temos que A(b) < 1, qualquer que seja o b. Além disso,
1
lim A(b) = lim 1 − = 1.
b→+∞ b→+∞ b
Z b
2. Se f (x) dx existe para cada t ≤ b, chama-se integral impróprio de f em
t
] − ∞, b] a
Z b Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
−∞ t→−∞ t
Os integrais impróprios
Z +∞ Z b
f (x) dx e f (x) dx
a −∞
Qualquer um dos integrais impróprios definidos na definição anterior pode ser interpre-
tado como uma área desde que f seja uma função não negativa.
Notemos que Z Z
+∞ c
f (x) dx 6= lim f (x) dx.
−∞ c→+∞ −c
Ao limite do segundo membro da desigualdade anterior chama-se valor principal (de Cauchy)
do integral impróprio e escreve-se
Z +∞ Z c
v.p. f (x) dx = lim f (x) dx.
−∞ c→+∞ −c
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 109
Resolução:
Z +∞
1
1. Já vimos que o integral é convergente e que dx = 1.
1 x2
2. Embora o gráfico seja semelhante ao da função dada no ponto anterior (ver
Figura 3.4), neste caso temos
Z t
1
lim dx = lim [ln |x|]t1 = lim (ln t − ln 1) = +∞.
t→+∞ 1 x t→+∞ t→+∞
Z +∞
1
Logo, dx é divergente.
1 x
f(x)=x−2 f(x)=x−1
1.5 1.5
1 1
y
0.5 0.5
0 0
0 5 10 0 5 10
x x
Z +∞
Note-se que se o integral f (x) dx converge, então
a
lim f (x) = 0.
x→+∞
Para além disso, para qualquer h > 0, o integral de f no intervalo [x, x + h] (ou o valor
médio de f no mesmo intervalo), tende para zero quando x −→ +∞.
Z t
1. Se f (x) dx existe para cada t ∈ [a, b[ e lim f (x) for infinito, chama-se
a x→b−
integral impróprio de f em [a, b] a
Z b Z t
f (x) dx = lim f (x) dx.
a t→b− a
Z b
2. Se f (x) dx existe para cada t ∈]a, b] e lim f (x) for infinito, chama-se
t x→a+
integral impróprio de f em [a, b] a
Z b Z b
f (x) dx = lim f (x) dx.
a t→a+ t
O integral impróprio
Z b
f (x) dx
a
diz-se convergente se o limite correspondente existir e for finito; caso contrário diz-se
divergente.
Z t Z b
3. Se f (x) dx existe para cada t ∈ [a, c[, f (x) dx existe para cada t ∈]c, b]
a t
e lim f (x) for infinito, com c ∈]a, b[, chama-se integral impróprio de f em
x→c±
[a, b] a
Z b Z c Z b
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx.
a a c
Como
Z 1 Z t
1 1
dx = lim dx = lim [ln |x − 1|]t0 = lim ln |t − 1| = −∞,
0 x−1 t→1− 0 x−1 t→1− t→1−
o integral é divergente.
Se, no exercício anterior, não tivéssemos notado que a função integranda tinha uma
assímptota em x = 1, poderíamos ter obtido
Z 3
1
dx = [ln |x − 1|]30 = ln 2.
0 x−1
Algumas vezes é impossível encontrar o valor exacto do integral impróprio mas, ainda
assim, é importante averiguar da sua convergência. Em tais casos o seguinte teorema pode
ser útil.
Apesar do teorema anterior ter sido enunciado apenas para integrais impróprios de
1aespécie, onde o intervalo de integração é infinito, ele também é válido para integrais
impróprios de 2a espécie, onde a função integranda é ilimitada.
Resolução: Como
1 + e−x 1
>
x x
e Z +∞
1
dx
1 x
é divergente, o integral em causa também é divergente.
Corolário 3.13. Sejam f e g duas funções contínuas e não negativas em [a, +∞[.
Se existir uma constante k > 0 tal que f (x) ≥ kg(x) ≥ 0, para todo o x ≥ a, então:
Z +∞ Z +∞
1. se f (x) dx é convergente, então g(x) dx é convergente;
a a
Z +∞ Z +∞
2. se g(x) dx é divergente, então f (x) dx é divergente.
a a
O segundo critério comparação, que iremos apresentar apenas para integrais impróprios
de 1a espécie (mas que também é válido para integrais impróprios de 2a espécie), resulta
como consequência do primeiro critério mas, em certas situações, é de mais fácil aplicação.
2. Se L = 0, então
Z +∞ Z +∞
(a) se f (x) dx é divergente, então g(x) dx é divergente.
a a
Z +∞ Z +∞
(b) Se g(x) dx é convergente, então f (x) dx é convergente.
a a
3. Se L = +∞, então
Z +∞ Z +∞
(a) se f (x) dx é convergente, então g(x) dx é convergente.
a a
Z +∞ Z +∞
(b) Se g(x) dx é divergente, então f (x) dx é divergente.
a a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 113
com p ∈ R, quando converge, define uma função chamada função Gama. Determine
o domínio dessa função.
xp−1 e−x
lim 1 = 0,
x→+∞
x2
xp−1 e−x
lim 1 = lim e−x = 1,
x→0+ x→0+
x1−p
Note-se que os critérios anteriores só podem ser usados para funções nãoZnegativas. O
+∞
seguinte critério não tem essa exigência mas, por outro lado, obriga a que f (x) dx
Z +∞ a
Z +∞
Teorema 3.15 (Terceiro critério de comparação). Se o integral |f (x)| dx é
Z +∞ a
Tal como no teorema anterior, apesar deste teorema ter sido enunciado apenas para
integrais impróprios de 1a espécie, onde o intervalo de integração é infinito, ele também é
válido para integrais impróprios de 2a espécie, onde a função integranda é ilimitada.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 114
Se g é outra função não negativa e contínua em [a, b] e se f (x) ≥ g(x), para todo o x ∈ [a, b],
então a área A limitada pelo grafico de f , o gráfico de g e as rectas x = a e x = b, pode
ser obtida subtraindo-se da área sob o gráfico de f a área sob o gráfico de g, isto é,
Z b Z b Z b
A= f (x) dx − g(x) dx = f (x) − g(x) dx.
a a a
Notemos que não é necessário impor que f e g sejam não negativas. De facto, se tal
não acontecer temos que, se f e g forem tais que f (x) ≥ g(x) > −L, com L > 0, a área
A limitada pelo gráfico de f , pelo gráfico de g e as rectas x = a e x = b, é igual à área
limitada pelo gráfico de f + L, pelo gráfico de g + L e as rectas x = a e x = b. Como
f (x) + L ≥ g(x) + L > 0, temos que
Z b Z b Z b
A= f (x) + L dx − g(x) + L dx = f (x) − g(x) dx.
a a a
Por vezes é necessário determinar a área A de uma região delimitada pelas rectas y = c,
y = d e pelos gráficos de duas funções x = f (y) e x = g(y), com f e g contínuas e tais que
f (y) ≥ g(y), para todo o y ∈ [c, d]. Neste caso temos que
Z b
A= f (y) − g(y) dy.
a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 115
Determine a área limitada por esta curva e o eixo dos xx, para t ∈ [0, 2π].
ρ=1+cosθ
1.5
0.5
y −0.5
−1
−1.5
−1 0 1 2
x
com ∆xi = xi − xi−1 , i = 1, . . . , n. Seja Pi o ponto de coordenadas (xi , f (xi )), com
i = 0, . . . , n, sendo P0 = A e Pn = B. Estes pontos definem uma linha poligonal que
começa em A e acaba em B. O comprimento da curva definida pelo gráfico de f entre a e
b pode ser aproximado pelo comprimento da linha poligonal
n
X
Lp = d(Pi−1 , Pi ),
i=1
onde p
d(Pi−1 , Pi ) = (xi−1 − xi )2 + (f (xi−1 ) − f (xi ))2 .
Atendendo a que ∆xi = xi − xi−1 , i = 1, . . . , n temos, pelo Teorema do Valor Médio de
Lagrange, que existe yi ∈]xi−1 , xi [ tal que
f (xi ) − f (xi−1 )
f ′ (yi ) = ,
∆xi
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 118
e, como tal,
n p
X
Lp = 1 + (f ′ (yi ))2 ∆xi .
i=1
Note-se que Lp é uma soma de Riemann para a função contínua e, como tal, integrável,
p
g(x) = 1 + (f ′ (x))2 .
Podemos então afirmar que se f for uma função continuamente diferenciável no intervalo
[a, b], o comprimento do gráfico de f desde o ponto A de coordenadas (a, f (a)) até ao ponto
B de coordenadas (b, f (b)) é dado por
Z bp
Lba = 1 + (f ′ (x))2 dx.
a
No caso em que a função f não tem derivada contínua em [a, b] mas tem derivada
contínua num número finito de intervalos, podemos aplicar o raciocínio exposto em cada
um dos intervalos e, no fim, adicionar as parcelas obtidas.
Resolução:
Z r Z
a a
x2 1
La0 = 1+ dx = √ dx = arc sen a.
0 1 − x2 0 1 − x2
Mas, fazendo arc sen a = θ, concluímos que, na circunferência de raio 1, o ângulo
θ (em radianos) coincide com o comprimento do arco com abertura igual a θ.
Tal como para as áreas, vamos determinar uma fórmula que nos permita determinar o
comprimento de uma curva em coordenadas paramétricas. Quando a curva é expressa em
coordenadas polares, o cálculo do seu comprimento resulta como um caso particular.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 119
V = πr2 h.
Outro exemplo é o cone (Figura 3.7) gerado pela rotação de um triângulo. O volume
do cone gerado pela rotação do triângulo de base r e altura h, cuja área é A = 12 rh,
é dado por
1
V = πr2 h.
3
f(x)=1 Cilindro
1.5
1
1
0
z
y
0.5
−1
1
1
0 0.5
0
0 0.5 1 −1 0
x y x
f(x)=x Cone
1.5
1
1
0
y
y
0.5
−1
1
1
0 0.5
0
0 0.5 1 −1 0
x y x
4 5
3
0
z
y
−5
1 5
1
0
0 0.5
−2 −1 0 1 −5 0
x y x
Método das fatias. Consideremos a região limitada pelo gráfico de uma função contínua
e positiva f , pelo eixo dos xx e pelas rectas x = a e x = b. Notemos que, se y = f (a)
(função constante), o volume do sólido de revolução (cilindro) é
isto é, a área da base circular vezes a altura. E se f não for constante? Neste caso,
consideremos a partição
que pode ser visto como uma soma de Riemann para a função πf 2 . Como f é contínua,
a função πf 2 é contínua pelo que o seu integral existe sempre. Podemos então estabelecer
o seguinte método de cálculo do volume de sólidos de revolução, que apresentamos sob a
forma de teorema.
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 122
Teorema 3.16 (Método das fatias). Seja f uma função contínua no intervalo [a, b].
O volume V do sólido de revolução gerado pela rotação em torno do eixo dos xx da
figura limitada pelo gráfico de f , pelo eixo dos xx e pelas rectas x = a e x = b existe
sempre e é dado por
Z b
V =π f 2 (x) dx.
a
Note-se que não é necessário impor que f seja positiva. De facto, se f for nula em
algum intervalo o valor do volume (como seria de esperar) é zero nesse intervalo; se f for
negativa, o volume é o mesmo que o respeitante a −f , como acontece na realidade.
Exercício 3.32. Calcule a medida do volume dos sólidos de revolução gerados pela
rotação das regiões delimitadas pelas seguintes curvas em torno do eixo dos xx:
Resolução:
Z 1 1
4 x5 π
1. Para f (x) = x2 temos V = π x dx = π = .
0 5 0 5
f(x)=x2 Corneta
1.5
1
0
z
y
0.5
−1
1
1
0 0.5
0
0 0.5 1 −1 0
x y x
1
2. Para f (x) = x temos
Z +∞
t 1
V =π x−2 dx = π lim (−x)−1 1
= π lim − +1 = π.
1 t→+∞ t→+∞ t
Z +∞
1
Notemos que, neste caso, o volume é finito enquanto que a “área” A = dx
1 x
é infinita.
Vamos agora calcular o volume do sólido de revolução obtido pela rotação da figura
limitada pelas rectas x = a, x = b e pelos gráficos de duas funções contínuas f e g,
definidas em [a, b], que, para efeitos de compreensão geométrica, podemos considera-las
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 123
1
0
z
y
0.5
−1
1
1
0 0.5
0
0 5 10 −1 0
x y x
não negativas. Suponhamos que f (x) ≥ g(x), para todo o x ∈ [a, b]. Podemos dizer, tal
como no cálculo de áreas, que o volume pretendido é dado por
Z b Z b Z b
2 2
V =π f (x) dx − π g (x) dx = π f 2 (x) − g 2 (x) dx.
a a a
Tal como para o cálculo de áreas, é possível obter, por mudança de variável, fórmulas
semelhantes às aqui obtidas quando se consideram sólidos de revolução obtidos pela rotação
de figuras planas em torno do eixo dos yy. Consideremos duas funções contínuas x = f (y)
e x = g(y), com y ∈ [c, d], tais que f (y) ≥ g(y), para todo o y ∈ [c, d]. Assim, o volume do
sólido de revolução obtido pela rotação da figura plana limitada pelos gráficos de f e g e
pelas rectas y = c e y = d é dado por
Z d
V =π f 2 (y) − g 2 (y) dy.
c
Método das cascas cilíndricas. Consideremos, de novo, a região limitada pelo gráfico
de uma função contínua e positiva f , pelo eixo dos xx e pelas rectas x = a e x = b.
Queremos determinar agora o volume do sólido que se obtém rodando essa região em torno
do eixo dos yy. Considerando, mais uma vez, a partição (3.10), com ∆xi = xi − xi−1 e
yi = xi +x
2
i+1
(ponto médio de [xi , xi+1 ], i = 1, 2, . . . , n, e os rectângulos de base xi − xi−1 e
altura f (yi ). A rotação desses rectângulos em torno do eixo dos yy dá origem a uma casca
cilíndrica, que é um sólido de revolução com volume
Procedendo como para o método das fatias, podemos estabelecer o seguinte método de
cálculo do volume de sólidos de revolução, que apresentamos sob a forma de teorema.
Teorema 3.17 (Método das cascas cilíndricas). Seja f uma função contínua no
intervalo [a, b] (0 ≤ a). O volume V do sólido de revolução gerado pela rotação em
torno do eixo dos yy da figura limitada pelo gráfico de f , pelo eixo dos xx e pelas
rectas x = a e x = b existe sempre e é dado por
Z b
V = 2π xf (x) dx.
a
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 124
Exercício 3.33. Determine o volume do sólido que se obtém pela rotação em torno
do eixo dos yy da região limitada por y = 2x2 − x3 e y = 0.
C(t) = 15te−0,2t .
Z b Z b
−0,2t e−0,2t e−0,2t
lim te dt = lim t− dt
b→+∞ 0 b→+∞ −0,2 −0,2 0
−0,2t
b
e
= lim −5e−0,2t t + 5
b→+∞ −0,2 0
b
= lim −5e−0,2t t − 25e−0,2t 0
b→+∞
= lim −5e−0,2b b − 25e−0,2b + 25
b→+∞
= lim −5e−0,2b b + 25 = 25,
b→+∞
pois,
b
lim = 0,
b→+∞ e0,2b
uma vez que, para valores suficientemente grandes, a exponencial cresce mais rapi-
damente que qualquer polinómio. A mesma conclusão poderia ter sido obtida pela
Regra de L’Hospital. Concluímos então que
ASC = 15 × 25 = 375.
de uma função real de variável real f num dado intervalo real [a, b].
Em muitas situações, o cálculo de (3.11) não pode ser efectuado através do cálculo de
uma primitiva de f , como é o caso de, por exemplo,
Z 1
2
e−x dx.
0
Neste caso a função integranda não possui uma primitiva que se possa obter como soma
finita de funções elementares. Pode ainda acontecer que o valor de f seja conhecido apenas
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 126
em alguns pontos do intervalo [a, b]. Podemos então efectuar o cálculo aproximado do
integral. Um dos processos para efectuar tal cálculo aproximado designa-se por fórmula (ou
regra) do trapézio.
Seja f uma função conhecida em n + 1 pontos a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b,
com xk = x0 + kh e h = (b − a)/n. Assim sendo, temos que
Z b Xn Z xk
I(f ) = f (x) dx = f (x) dx.
a k=1 xk−1
O valor do integral de uma determinada função f num intervalo [a, b] pela fórmula do
trapézio pode ser dado de acordo com o seguinte algoritmo.
Dados: f , a, b e n
h := (b − a)/n
x := a
s := 0
Para k de 1 até n − 1 fazer
x := x + h
s := s + f (x)
IT := (h/2)(f (a) + 2s + f (b))
Resultado: I ≈ IT
Z −1
Exercício 3.36. Seja I = xe2x dx. Calcule, usando a fórmula do trapézio, o
−2
valor aproximado de I com três casas decimais correctas.
Resolução: Seja f (x) = xe2x . Temos que, para x ∈ [−2, −1], o erro para a fórmula do
trapézio é dado por
1 1
|ET (x)| ≤ h2 M2 = M2 ,
12 12M 2
sendo
M2 = max |f ′′ (x)| = max (−4e2x (x + 1)).
x∈[−2,−1] x∈[−2,−1]
1. F + G é uma primitiva de f + g?
2. F G é uma primitiva de f g?
3 (x2 + 1)(x2 − 2)
1. sen x + ; 2. (a + bx3 )2 ; 3. √ ;
1 + x2 3
x2
ln x earc tg x + x ln(1 + x2 ) + 1 1
4. ; 5. ; 6. sen(ln x);
x 1 + x2 x
sen x + cos x sen 2x
7. ; 8. 42−3x ; 9. √ ;
cos x 1 + sen2 x
sen 3x 1 2 +3
10. ; 11. etg x ; 12. e4x+x (x + 2);
cos3 3x cos2 x
2 1 x
13. √ ; 14. √ ; 15. √ ;
1 − 4x2 16 − 9x2 4 − x4
1 cos x x3
16. ; 17. ; 18. ;
9 + 4x2 1 + sen2 x x8 + 5
x
19. cos √ ; 20. ax cos (ax ); 21. sen(cos x) sen x;
2
x √
22. x sec2 3 − 2x2 ; 23. ; 24. cosec2 3x + 5 ;
cos2 x2
1 √
25. x cosec2 3x2 ; 26. ; 27. 2x sec 5x2 + 7 ;
3 cos 5x − π4
2x3 1
28. a2x cosec a2x ; 29. + sec2 (5x); 30. .
sen2 (3x4 ) sen xa
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 129
sen x
5. eax sen bx; 6. ; 7. x cos x; 8. x sec2 x;
ex
1+x
9. (1 − x)e1+2x ; 10. ln ; 11. ln (x + 1)2 ; 12. ln a2 + x2 ;
1−x
ln (ln x) 1
13. ; 14. sen (ln x); 15. cos (ln x); 16. arc tg ;
x x
Exercício 3.41. Calcule as primitivas das funções definidas pelas expressões analí-
ticas:
Exercício 3.42. Calcule as primitivas das funções definidas pelas expressões analí-
ticas:
x5 + x4 − 8 x 2x − 1 x2
1. ; 2. ; 3. ; 4. ;
x3 − 4x 2
x − 5x + 6 (x − 2)(x − 3)(x + 1) (x − 1)3
x3 + 1 4x − 2 x2 + 2x − 5 x4 − 1
5. ; 6. ; 7. ; 8. .
x3 − x2 x − x2 − 2x
3 (x2 + 1)(x + 1)2 x2 + 1
x1/2 1 1 1
5. ; 6. √ √ ; 7. p ; 8. .
1 + x1/2 x 3−x (x − 2) (x − 2)2 − 1 3 + 2 cos x
Exercício 3.45. Para cada uma das funções definidas em R pelas expressões
π x
cos 2x − e
4 1 + x4
obtenha, se possível,
Se para algum caso for impossível obter uma primitiva que verifique a condição
requerida, explique a razão dessa impossibilidade.
Exercício 3.47. Aplicando o exercício anterior, mostre que são nulos os seguintes
integrais:
Z 1 p Z 1
5
1. x x4 + 1 dx; 2. x sen2 x dx.
−1 −1
Z Z Z e2
1
2
1
arc tg x ln ln x2
4. x arc tg x dx; 5. dx; 6. dx;
0 0 1 + x2 e x
Z Z π Z
3 2
4 2x − 1
7. 3x + x2 − 4x − 5 dx; 8. 2
tg x dx; 9. dx;
−2 0 0 (x − 3)(x + 1)
Z Z π Z
4 1
1 2 sen x ex
10. dx; 11. dx; 12. dx;
2 (x − 1)(x + 1)2 0 ex 0 e2x + 3ex + 2
Z π Z 8 √ Z π
2 3
x
13. cos 5x sen 2x dx; 14. √
3
dx; 15. sen3 x dx;
0 0 x2 +1 π
2
Z 2 Z 5
√ Z 4
2x2 − x + 1 x−1 x
16. dx; 17. dx; 18. √ dx.
1 3(x + 1)(x2 + 1) 1 x 0 x+1
CAPÍTULO 3. CÁLCULO INTEGRAL 131
e f (1) = 2.
Z 2 Z 1 Z 2
p 1 p
5. 4 − x2 dx; 6. 2
du; 7. x2 − 4 dx.
−2 −1 u −u −2
Exercício 3.58. Averigúe a natureza dos seguintes integrais e indique os seus va-
lores no caso de serem convergentes:
Z +∞ Z 0 Z +∞ Z 1
2 1 1
1. dx; 2. ex dx; 3. dx; 4. dx;
1 x2 −∞ 4 x 0 x2
Z 0 Z +∞ Z 1 Z +∞
1 x 1
5. dx; 6. dx; 7. √ dx; 8. e−x dx;
−1 x4/5 0 1 + x4 0 1 − x2 0
Z 1 Z 1 Z 2 Z +∞
x 1 1
9. e dx; 10. √ dx; 11. dx; 12. sen x dx;
−∞ 0 1−x 0 1−x 0
Z +∞ Z +∞ Z +∞ Z +∞
1 1 ln(x2 )
13. dx; 14. dx; 15. dx; 16. e−|x| dx.
−∞ x −∞ x2 −1 x −∞
(b − a)1−α
é convergente e de valor , se α < 1, e divergente se α ≥ 1.
1−α
1
é convergente. Esboce o gráfico da função f (x) = e interprete o integral
1 + x2
impróprio como o valor de uma área.
Exercício 3.63.
Z +∞ Z +∞
x+1 1
3. 4
dx; (Sugestão: compare com dx )
1 3x − x + 2 1 x3
Z −2 Z −2
1 1
4. √ dx; (Sugestão: compare com − dx )
−∞ x2 − 1 −∞ x
Z 1 Z 1
1 1
5. √ dx. (Sugestão: compare com 1/2
dx )
1/2 (1 − x)
1−x 4
1/2
Exercício 3.65. Determine o valor que λ deve tomar para que o integral impróprio
Z +∞
λx 1
2−1
− dx
2 2x 6x −1
seja convergente.
4. as curvas y = sen x e y = cos x entre dois pontos consecutivos das suas inter-
secções;
1. pelo cardióide a partir da sua equação em coordenadas polares ρ = a(1 − cos θ),
a > 0;
Exercício 3.69. Estabeleça os integrais que nos permitem calcular a área da figura:
√
Exercício 3.73. Determine o comprimento da curva de equação y = 1 − x2 , entre
os pontos de abcissa x = 0 e x = a (com a ∈ [0, 1]). Interprete geometricamente o
resultado obtido.
Exercício 3.80. Quando um gás se expande num cilindro de raio r, a pressão num
dado momento é função do volume: P = P (V ). A força exercida pelo gás no pistão
é dada pelo produto da pressão pela área: F = πr2 P .
Exercício 3.81. Uma partícula de massa m movendo-se num fluido está sujeita a
uma resistência de viscosidade R, que é função da velocidade v. A relação entre a
resistência R, a velocidade v e o tempo t é dada pela equação
Z v(t)
m
t= du.
v(t0 ) R(u)
√
Suponhamos que R(v) = −v v para um fluido particular, onde R é dado em newtons
e v em metros/segundo. Se m = 10 kg e v(0) = 10 m/seg calcule o tempo necessário
para a partícula reduzir a sua velocidade para v = 5 m/seg.
A
RT ,
0 c(t) dt
Exercício 3.84. A “velocidade média” das moléculas de um gás ideal é dada por
3/2 Z ∞
4 M 2 /(2RT )
v=√ v 3 e−M v dv,
π 2RT 0
Exercício 3.85. (∗) A quantidade de massa que é libertada por um reactor num
dado período de tempo é dada por
Z t2
M= Qc dt
t1
t (min) 0 10 20 30 40
,
c (mg/m3 ) 10,00 35,00 54,73 52,16 37,07
é usada com muita frequência em disciplinas tão diversas como a teoria das proba-
bilidades, distribuição de calor, difusão de matérias, etc. Usando uma das regras de
integração com n = 10, calcule uma aproximação para o valor do referido integral.
Rπ
Exercício 3.87. (∗) Seja I = 0 xe2x dx.
onde
k = (πnd sen θ)/λ
e d é a distância entre cada abertura. Um laser de hélio-néon com compri-
mento de onda λ = 632,8 × 10−9 m emite uma banda estreita de luz, dada por
−10−6 < θ < 10−6 , através de uma grelha com 10.000 aberturas separadas por
10−4 m. Obtenha um valor aproximado para a intensidade de luz total que sai da
grelha
Z 10−6
I(θ) dθ.
−10−6
Capítulo 4
Equações diferenciais
4.1 Modelos
4.1.1 Crescimento de uma população
Consideremos uma população cuja taxa de crescimento é proporcional ao seu tamanho.
Então, se P representar o número de indivíduos da população e k a constante de propor-
cionalidade, a taxa de crescimento é dada por
P ′ (t) = kP (t)
Caso k > 0:
Neste caso, P ′ (t) > 0, para todo o t, o que significa que a população está sempre
a aumentar, a partir de um valor inicial P (0) = P0 . Além disso, à medida que a
população P (t) aumenta, a sua taxa de crescimento também aumenta.
Caso k < 0:
Neste caso, P ′ (t) < 0, para todo o t, o que significa que a população está sempre
a decrescer, a partir de um valor inicial P (0) = P0 . Além disso, à medida que a
população P (t) aumenta, a sua taxa de crescimento diminui.
Uma questão que se coloca é a de saber como determinar a solução da equação (4.1).
Se considerarmos
P (t) = Cekt , (4.2)
temos que
P ′ (t) = Ckekt = kP (t).
Logo (4.2) é uma solução da equação. A constante C pode ser determinada pela condição
inicial P (0) = P0 . Assim, considerando t = 0 em (4.2), sai que C = P0 .
139
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 140
Uma equação diferencial é uma equação que contém uma função como incógnita e
uma ou mais das suas derivadas. A ordem de uma equação diferencial é a ordem da
derivada mais alta que ocorre na equação. A equação
Resolver uma equação diferencial significa encontrar todas as suas soluções (pode não
ser fácil...). Por exemplo, se y ′ = t3 temos que a solução é dada, imediatamente, pela
primitiva y = t4 /4 + c, c ∈ R. No entanto, se y ′ = ty, a solução já pode ser mais difícil de
obter. Nesta secção vamos considerar algumas técnicas (mais em [1, 8]) para determinar as
soluções de uma equação diferencial. Notemos que, tal como na primitivação, uma equação
diferencial tem sempre mais do que uma solução.
0.5 0
0
−1
−0.5
−1
−2
−3 −2 −1 0 1 2 3 −2 −1.5 −1 −0.5 0 0.5 1
x x
Problema das misturas. Um exemplo de um problema que pode ser resolvido pela
técnica da separação de variáveis é o chamado problema das misturas. Consideremos um
tanque com capacidade fixa, preenchido com uma solução completamente misturada de
uma substância. Uma solução de uma dada concentração entra no tanque a uma taxa fixa
e a mistura, bem agitada, sai do tanque a uma taxa fixa, que pode ser diferente da taxa
de entrada. Se y(t) denotar a quantidade de substância no tanque no tempo t então
Para obter A notemos que, como y(0) = 20 então A = 130. Assim, temos que
Notemos ainda que, se conhecermos uma condição inicial y(0) = y0 , o valor de A pode ser
dado por A = y0 . Provámos então que a solução do problema de condição inicial
′
y (t) = ky
y(0) = y0
é dada por y(t) = y0 ekt . Vejamos, agora, qual o significado da constante de proporcionali-
dade k. Temos que
dy 1 dy
= ky ⇒ k = .
dt y dt
Assim, k representa a taxa de crescimento (decaimento) relativa, isto é, a taxa de crescimento
(decaimento) dividida pelo tamanho da população. Podemos então dizer que, no modelo
exponencial a taxa de crescimento (decaimento) relativa é constante. Por exemplo, se
dy
dt = 0,02y dizemos que a taxa de crescimento relativa é de 2%.
Como vimos, m(t) = 100ekt . Falta-nos apenas determinar o valor da taxa de decai-
mento relativa k. Pelos dados do problema, m(1590) = 50 mg e, como tal,
ln 2
100e1590k = 50 ⇒ k = − .
1590
Decaimento radioactivo
100
80
60
m
40
20
0
0 2000 4000 6000 8000 10000
t
dy
≈ ky, y (pequeno).
dt
Isto que dizer que a taxa de crescimento relativa da população é praticamente constante
quando a população é pequena.
No modelo que agora pretendemos estudar, a taxa de crescimento relativa diminui
quando a população aumenta e torna-se negativa quando o número de indivíduos da po-
pulação ultrapassa a capacidade de suporte S. A expressão mais simples para uma taxa de
crescimento relativa nessas circunstâncias é
1 dy y dy y
=k 1− ⇔ = ky 1 − .
y dt S dt S
Z Z
dy y dy
= ky 1 − ⇒ = k dt
dt S y 1 − Sy
Z Z
S
⇒ dy = k dt
y (S − y)
Z
1 1
⇒ + dy = kt
y S−y
⇒ ln |y| − ln |S − y| = kt + c, c∈R
⇒ ln |S − y| − ln |y| = −kt − c, c∈R
S − y
⇒ ln = −kt − c, c∈R
y
S − y
⇒ = e−kt−c , c∈R
y
S−y
⇒ = Ae−kt , A = ±e−c , c ∈ R. (4.8)
y
Então
S S S
− 1 = Ae−kt ⇒ = Ae−kt + 1 ⇒ y = .
y y Ae−kt + 1
O valor de A pode ser obtido a partir da condição inicial. Se considerarmos y(0) = y0
temos que, de (4.8),
S − y0
A= .
y0
Assim, a solução do problema de condição inicial logístico
(
dy y
= ky 1 −
dt S
y(0) = y0
é
S S − y0
y(t) = , A= . (4.9)
Ae−kt +1 y0
Logística
100
80
60
y
40
20
0
0 5 10 15 20 25
t
e resolver a equação
Z
′ 1
(I(x)y) = I(x)Q(x) ⇒ y(x) = I(x)Q(x) dx + c , c ∈ R.
I(x)
Como se sabe, a aproximação linear só deve ser considerada localmente. Por esse
facto, a aproximação linear só irá ser considerada em intervalos pequenos. Partindo de
t0 = 0, vamos considerar y ≈ L0 (t) no intervalo [t0 , t1 ], com t1 = t0 + ∆t, sendo ∆t uma
quantidade pequena chamada medida do passo. Considerando ∆t = 0,5, por exemplo,
temos que y(t1 ) = y(0,5) ≈ y1 = L0 (0,5) = 1,5.
A partir desse ponto, o método calcula uma nova aproximação linear. Uma fez que é
conhecido o declive da solução que passa no ponto (t1 , y1 ) = (0,5, 1,5), a aproximação à
solução no ponto t2 = t1 + ∆t = 1 é dada pela aproximação linear da solução da solução
que passa no ponto (0, 1), isto é, a recta L1 (t) = 1,5 + f (0,5, 1,5)(t − 0,5) = 1,5 + 2(t − 0,5).
Obtemos então y(t2 ) = y(1) ≈ y2 = L1 (1) = 1,5 + 2(1 − 0,5) = 2,5. O processo acabado de
descrever pode ser visto geometricamente na Figura 4.4. Prosseguindo de forma idêntica,
obtêm-se as aproximações
y(ti+1 ) ≈ yi+1 = Li (ti+1 ) = yi + f (ti , yi )(ti+1 − ti ) = yi + ∆tf (ti , yi ), i = 2, 3, ...
y′=y+t, y(0)=1
3.5
2.5
y
1.5
Exacta
Euler
1
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
t
Figura 4.4: Solução exacta e solução aproximada obtida pelo método de Euler.
Vamos agora apresentar o método de Euler de uma forma mais geral. Consideremos,
de novo, o PCI (4.5). O método de Euler permite obter aproximações y0 , y1 , . . . , yn para
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 151
a solução exacta (caso exista) y0 = y(x0 ), y1 ≈ y(x1 ), . . . , yn ≈ y(xn ) nos pontos distintos
da malha
x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = X.
Às distâncias hi = xi − xi−1 , i = 1, . . . , n, dá-se o nome de passos de discretização (ou
medidas do passo) da malha. Se os passos forem todos iguais a malha diz-se uniforme ou
de passo constante. Caso contrário diz-se de passo variável. Neste curso vamos apenas
considerar malhas uniformes, isto é, tais que xi = x0 + ih, i = 0, . . . , n, onde h = X−x
n .
0
O método de Euler permite determinar valores yi ≈ y(xi ) por meio de uma relação
de recorrência deduzida do PCI (4.5) de modo a que o valor de yi+1 vem expresso
em função do valor de yi . Essa relação de recorrência é dada por
Como, no método de Euler, yi+1 vem apenas expresso em função do valor de yi e não
dos anteriores,. é chamado um método de passo. O método de Euler é, muitas vezes,
chamado método de Euler progressivo ou método de Euler explícito pois a determinação o
valor de yi+1 pode ser feita directamente a partir de yi sem haver necessidade de resolver
qualquer equação algébrica. A {y0 , y1 , y2 , . . . , yn−1 , yn } chama-se solução numérica.
O seguinte algoritmo permite determinar a solução do PCI (4.5) em x = X, usando o
método de Euler.
Algoritmo 4.1 Método de Euler
Dados: f , x0, X, y0 e n
h := (X − x0)/n
x := x0
y := y0
Para i de 1 até n fazer
y := y + hf (x, y)
x := x + h
Resultado: y(X) ≈ y
Neste capítulo não iremos abordar a questão da convergência do método de Euler, isto
é, a questão de saber se, quando consideramos o problema de condição inicial (4.5), as
soluções aproximadas obtidas pelo método de Euler convergem para solução exacta, caso
exista, do problema. No entanto, a convergência pode ser verificada reduzindo a medida
do passo e analisando o comportamento da solução numérica obtida.
• h=1
y(0) = y0 = 1
y(1) ≈ y1 = y0 + hf (y0 ) = 1 + 1 × (−2) = −1.
Logo |y(1) − y1 | = 1,135335283.
• h = 0.5
y(0) = y0 = 1
y(0,5) ≈ y1 = y0 + hf (y0 ) = 1 + 0,5 × (−2) = 0
y(1) ≈ y2 = y1 + hf (y1 ) = 0 + 0,5 × 0 = 0.
Logo |y(1) − y2 | = 0,135335283.
• h = 0,25
y(0) = y0 = 1
y(0,25) ≈ y1 = y0 + hf (y0 ) = 1 + 0,25 × (−2) = 0,5
y(0,5) ≈ y2 = y1 + hf (y1 ) = 0,5 + 0,25 × (−1) = 0,25
y(0,75) ≈ y3 = y2 + hf (y2 ) = 0,25 + 0,25 × (−0,5) = 0,125
y(1) ≈ y4 = y3 + hf (y3 ) = 0,125 + 0,25 × (−0,25) = 0,0625.
Nota-se que, quanto menor for a medida do passo h mais pequeno é o erro cometido
pelo método de Euler.
A teoria e os métodos numéricos apresentadas nas secções precedentes podem ser facil-
mente generalizados para sistemas de equações diferenciais ordinárias de primeira ordem,
isto é, adaptados ao cálculo da solução aproximada do PCI
′
Y (x) = F (x, Y ), t ∈]x0 , X]
(0) , (4.13)
Y (x0 ) = Y
onde
Y1 (x) F1 (x, Y )
Y2 (x)
F2 (x, Y )
Y (x) = .. , F (x, Y ) = .. .
. .
YN (x) FN (x, Y )
Os métodos numéricos irão, neste caso, determinar aproximações Y (i) para Y (xi ). O
método de Euler, por exemplo, é dado por
Uma situação importante onde surgem sistemas de equações diferenciais é quando pre-
tendemos resolver uma equação diferencial de ordem superior a um. Note-se que qualquer
equação diferencial de ordem N pode ser escrita como um sistema de N equações diferen-
ciais de primeira ordem.
A forma como essa passagem se processa é bastante simples e pode ser facilmente
compreendida com a ajuda de dois exemplos.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 153
Seja
z y
F (t, Y ) = , com Y =
−4tz − 2y 2 z
e
(0) y 1
Y = (0) = .
z 0
Considerando o método de Euler temos
y 1
(0) = Y (0) =
z 0
y (1) (0) (0)
1
(0,1) ≈ Y = Y + hF t0 , Y =
z −0,2
y (2) (1) (1)
0,98
(0,2) ≈ Y = Y + hF t1 , Y = .
z −0,392
Temos assim que y(0,2) ≈ 0,98 e y ′ (0,2) ≈ −0,392.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 154
dy dy t
1. (1 + t) − y = 0; 2. =− , y(4) = 3;
dt dt y
dy dy
3. = y 2 + 4; 4. et = 2t;
dt dt
7. −x + yy ′ = 0.
dν R2
ν = −g 2 ,
dr r
onde ν é a velocidade à distância r do centro da Terra que tem raio R. Considerando
g = 9,81 m/s2 , R = 6,37 × 106 m e V = 15000 m/s, determine o valor da velocidade
quando r = 2R.
Exercício 4.9. Uma solução líquida flui de forma constante ao longo de um tubo
na direcção x. Alguns dos solutos contidos na solução difundem-se através da parede
do tubo reduzindo a concentração z no tubo. A concentração z é dada por
dz √
= −z(0,2 + z)e−0,03x .
dx
Se tomarmos z = 1,5 em x = 2 determine o valor de z em x = 2,4.
Exercício 4.11. Um tanque tem 1000 litros de água pura. Em cada minuto, uma
torneira A despeja 5 litros de água salgada com 0,05 Kg de sal por litro de água e
uma torneira B despeja 10 litros de água salgada com 0,04 Kg de sal por litro de
água. A solução é completamente misturada e sai do tanque a uma taxa de 15 litros
por minuto. Indique a quantidade de sal que está no tanque após t minutos.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 155
Exercício 4.18. Para que um fármaco possa ser devidamente administrado, é ne-
cessário que se conheça o modo como actua no organismo e, em particular, a forma
como é absorvido. A relação dose/resposta do organismo, estabelece uma regra vital
na determinaçao da quantidade a administrar em cada dose e do intervalo de tempo
entre doses sucessivas.
Testes experimentais a determinado tipo de antibióticos, permitiram concluir que
a taxa de variação da concentração destes fármacos na corrente sanguínea, num
determinado instante de tempo, é proporcional à sua concentração nesse mesmo
instante. Suponha que y(t) representa a concentração deste tipo de antibióticos no
organismo (isto é, o número de unidades por mililitro de sangue) no instante t.
Exercício 4.19. Suponha que uma população y evolui de acordo com a equação
logística
dy
= 0,05y − 0,005y 2 ,
dt
onde t é medido em semanas. Determine a capacidade de suporte da população e
valor da sua taxa de crescimento.
dy 3y y2
= − .
dt 20 1600
Considerando y(0) = 15, determine o número de indivíduos da população no instante
t = 10.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 157
Exercício 4.21. Um modelo para o crescimento da biomassa (massa total dos mem-
bros da população) de atum do Pacífico, dada em quilogramas, é dado por
dy y
= ky 1 − , (4.14)
dt S
onde t é medido em anos, k = 0,71% ao ano e a capacidade de suporte foi medida
como sendo S = 8 × 107 quilogramas.
Exercício 4.22. Suponha que uma dada população está dividida em dois grupos:
aqueles que sofrem de uma certa doença infecto-contagiosa e aqueles que não sofrem
dessa doença mas que a podem contrair por contacto com uma pessoa infectada. Sabe-
se que a taxa de propagação desta doença é directamente proporcional ao número de
contactos entre gente infectada e gente sã. Suponha que os dois grupos convivem
sem qualquer tipo de precaução.
1. Mostre que
d2 y 2
y 2y
=k y 1− 1− .
dt2 S S
2. Deduza que a população cresce mais rapidamente quando ela atinge a metade
da sua capacidade de suporte.
Exercício 4.24. Para algumas espécies existe uma população mínima m tal que as
espécies se tornam extintas quando o tamanho da população é inferior a esse valor.
Nesse caso, o modelo logístico deve ser substituído por
dy y m
= ky 1 − 1− , y(0) = y0 .
dt S y
1 x
7. y ′ − y =x+ ; 8. t2 y ′ + t(t + 3)y = e−t ;
x 1 + x2
9. y ′ + (cos x) y = x2 e− sen x .
Exercício 4.27. A Ana pesa 60 quilogramas e está a fazer uma dieta de 1600
calorias por dia, das quais 850 são usadas directamente no metabolismo basal. Mais,
a Ana gasta cerca de 15 calorias por dia e por quilograma do seu peso a fazer exercício
físico.
Exercício 4.28. Um tanque contém 100 litros de água. Uma solução com uma
concentração de sal de 0,4 Kg/L é adicionada a uma taxa de 5 L/min. A solução
é mantida misturada e é retirada do tanque a uma taxa de 3 L/min. Seja y(t) a
quantidade de sal (em quilogramas) ao fim de t minutos.
Exercício 4.30. (∗) Uma equação de Bernoulli (em homenagem a James Bernoulli
(1654–1705)) é da forma
dy
+ p(x)y = q(x)y n ,
dx
com n um número inteiro. Observe que, se n = 0 ou n = 1, a equação de Bernoulli
é linear. Para outros valores de n, mostre que a substituição u = y 1−n transforma
a equação de Bernoulli na equação linear
du
+ (1 − n)p(x)u = (1 − n)q(x).
dx
2 y3
1. xy ′ + y = −xy 2 ; 2. y ′ + y = xy 3 ; 3. y ′ + y = 2.
x x
Exercício 4.33. Às 23 horas John foi encontrado morto no seu apartamento. Cla-
xon chegou ao local do crime às 23h30m e tirou imediatamente a temperatura da
vítima: 30◦ . Uma hora depois, (às 0h30m) a temperatura do corpo era de 25◦ . Cla-
xon notou ainda que a temperatura da sala se mantinha constantemente igual a 20◦ .
A que hora ocorreu o crime?
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 160
Aplique o método de Euler com h = 1/2, 1/22 , ..., 1/210 , e compare os resultados
obtidos na alínea anterior com a solução exacta
t2
y(t) = ln(1 − ).
2
cuja solução é y(t) = e−10t . O que é que se passa quando se aplica um método de
Euler com h = 0,1?
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 161
Exercício 4.39. (∗) Compare as soluções numéricas dos seguintes problemas com
condição inicial:
dT v(t)
=− .
dt mC
Suponha que o corpo em questão é um cubo de lado 1 m e massa 1 Kg, T0 = 275
K, γ = 0 , 5 e C = 100. Recorra a um método de Euler para comparar os resultados
obtidos com h = 20, 10, 5, 1, para t a variar entre 0 e 200 segundos.
onde λ é um número real negativo. A solução exacta é y(t) = eλt que tende para zero
quando t tende para infinito. Faça λ = −1. Represente graficamente, no intervalo
[0,30], as soluções obtidas para três valores diferentes de h: h = 30/14, h = 30/16 e
h = 1/2, usando o método de Euler.
com µ > 0, é um modelo para o fluxo de corrente num tubo de vácuo com três
elementos internos. Seja µ = 0,5 e y (0) = 0, y ′ (0) = 1. Aproxime y e y ′ no
intervalo temporal [0, 30] usando o método de Euler. Repita o exercício considerando
µ = −1000 e y (0) = 2, y ′ (0) = 0 e o intervalo temporal [0, 3000].
k
(60 − 1,2112c)c′ = (200 − 14c)(100 − 4c),
3
onde k, o coeficiente de transferência de massa, é igual a 0,0589. A condição inicial
em t = 0 é c = 0. Determine a relação entre c e t.
Exercício 4.46. (∗) Consideremos um pêndulo simples constituído por uma bola
uniforme de massa m e uma barra fina de comprimento l e massa negligenciável.
Se considerarmos que a resistência do ar é porpocional ao quadrado da velocidade
angular do pêndulo, a equação do movimeto é dada por
2 g
θ′′ + 2k θ′ = − sen θ,
l
sendo θ o ângulo agudo que a barra do pêndulo faz com a vertical. Considerando que
em t = 0 se tem θ = π3 determine o valor de θ e de θ′ nos instantes (em minutos)
ti = ih, com h = 0,05 e i = 0, 1, . . . , 50.
CAPÍTULO 4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS 163
Exercício 4.49. (∗) Num livro intitulado ’Looking at History Through Mathema-
tics’, MIT Press, Cambridge MA, 1968, N. Rashevsky considerou um modelo para
um problema envolvendo o evolução de não conformistas na sociedade. (Confor-
mista é a pessoa que adopta ou segue o conformismo (anglicanismo).). Suponhamos
que uma sociedade tem uma população de x(t) indivíduos no instante t, em anos, e
que todos os não conformistas que acasalam com outros não conformistas têm uma
descendência que também é não conformista. Por outro lado, para todas as outras
descendências, existe uma proporção fixa r que são ainda não conformistas. Se as
taxas de natalidade e mortalidade para todos os indivíduos se assumir como sendo as
constantes n e m, respectivamente, e se conformistas e não conformistas acasalarem
de forma aleatória, o problema pode ser expresso pelas equações diferenciais
′
x (t) = (n − m)x(t)
,
y ′ (t) = (n − m)y(t) + rn(x(t) − y(t))
Bibliografia base
[1] James Stewart, Cálculo, vol. I e II, tradução da 8a edição norte-americana, Cengage
Learning, 2017.
[2] Edwin “Jed” Herman & Gilbert Strang (entre outros), Calculus, volumes 1, 2 e 3,
OpenStax, 2018. (Disponíveis online em:
volume 1 https://openstax.org/details/books/calculus-volume-1;
volume 2: https://openstax.org/details/books/calculus-volume-2;
volume 3: https://openstax.org/details/books/calculus-volume-3).
Bibliografia complementar
[3] Mário Figueira, Fundamentos de Análise Infinitesimal, 5a edição, FCUL, 2011 (Dis-
ponível online em: https://ciencias.ulisboa.pt/sites/default/files/fcul/dep/dm/05-
MFigueira.pdf).
[4] Elon Lages Lima, Curso de Análise, vol. 1 (11a edição), Projecto Euclides, IMPA,
2004.
[5] João José Pedroso Lima, Francisco José Amado Caramelo, Jorge Miguel Couceiro,
Rosa da Conceição Reis & Francisco Alte da Veiga, Biomatemática. Uma introdução
para o curso de Medicina, 2a edição, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006
(Disponível online em: https://digitalis-dsp.uc.pt/jspui/handle/10316.2/2748).
[6] Gilbert Strang, Calculus, Wellesley-Cambridge Press, Wellesley MA, 1991 (Dispo-
nível online em: https://ocw.mit.edu/resources/res-18-001-calculus-online-textbook-
spring-2005/textbook/).
[7] Earl W. Swokowski, Cálculo com Geometria Analítica, vol. I e II, McGraw-Hill, São
Paulo, 1987.
[8] Dennis G. Zill, Equações Diferenciais com Aplicações em Modelagem, tradução da 10a
edição norte-americana, Cengage Learning, 2016.
165
BIBLIOGRAFIA 166
Apêndice A
Função Primitiva
a ax + C
f m+1
fm f′ + C (m ∈ R\{−1})
m+1
f′
ln |f | + C
f
af
af f ′ + C (a ∈ R+ \{1})
ln a
f ′ sen f − cos f + C f ′ sh f ch f + C
f ′ cos f sen f + C f ′ ch f sh f + C
′
f ′ tg f − ln | cos f | + C f th f ln (ch f ) + C
f ′ cotg f ln | sen f | + C f ′ coth f ln | sh f | + C
f ′ sec f ln | sec f + tg f | + C f ′ sech2 f th f + C
2
f ′ cosec f ln | cosec f − cotg f | + C f ′ cosech f − coth f + C
f ′ sec2 f tg f + C f ′ sech f th f − sech f + C
f ′ cosec2 f − cotg f + C ′
f cosech f coth f − cosech f + C
′
f ′ sec f tg f sec f + C f
p arg sh f + C
f ′ cosec f cotg f − cosec f + C 1 + f2
f′ f′
arc sen f + C ou
p arg ch f + C
p
1 − f2 f2 − 1
− arc cos f + C f′
arg th f + C, |f | < 1,
f′ 1 − f2
arc tg f + C ou arg coth f + C, |f | > 1
1 + f2
′
− arc cotg f + C f
p − arg sech f + C
f ′ |f | 1 − f 2
p arc sec f + C ou
|f | f 2 − 1 f′
p arg cosech f + C
− arc cosec f + C |f | 1 + f 2
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