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Contabilidade Agricola e Rural

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Instituto Superior Politécnico de Gaza Contabilidade Sectorial

CAPÍTULO I: CONTABILIDADE AGRÍCOLA E RURAL

1 Actividade agrícola e pecuária

A actividade agrícola é o conjunto de procedimentos ou tarefas desenvolvidos para efectivar a


produção agrícola. O SCE define a actividade agrícola como a gestão, feita por uma entidade, da
transformação biológica de activos biológicos para venda em produtos agrícolas ou em activos
biológicos adicionais. De acordo com NCRF 11, e para efeitos de aplicação desta norma, a
actividade agrícola abrange um conjunto diversificado de actividades, como: a criação de gado, a
safra ocasional e permanente, a silvicultura, as plantações, a floricultura e a aquacultura.
A actividade pecuária, porém, é o conjunto de procedimentos ou tarefas desenvolvidos a fim de
realizar a produção e a criação animal. Assim, a Contabilidade agrícola ou rural é a especialidade
da contabilidade aplicada às empresas rurais, ou seja, às empresas localizadas nos campos e que
têm por fim a exploração da terra (agricultura) ou a criação animal (pecuária).
É comum encontrar a contabilidade agrícola também a ser chamada de contabilidade agrária ou
também de contabilidade rural. Na perspectiva de muitos autores estes termos reflectem uma
mesma realidade, que é a contabilidade aplicada às empresas que se dedicam à exploração da
terra e à criação animal. Contudo, reconhecem também existir diferenças específicas, como por
exemplo o facto de alguns autores considerarem as expressões contabilidade agrária e
contabilidade rural as mais abrangentes enquanto a expressão contabilidade agrícola restringe-se,
na perspectiva destes autores, especificamente à contabilidade aplicada às empresas de
exploração dos campos para a prática da agricultura.

2 Activos biológicos
O desenvolvimento das actividades agrícola e pecuária tem como princípio aquilo que
contabilisticamente é classificado como activos biológicos. De acordo com o SCE é activo
biológico um animal ou planta vivos. É de fundamental relevo anotar que a par da definição e
classificação de todos activos, os activos biológicos, para serem classificados como tal, não
podem/devem destituir-se da definição de activo, que de acordo com o SCE, é um recurso
controlado por uma entidade como resultado de acontecimentos passados e do qual se espera que
fluam benefícios económicos futuros para a entidade.

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O tratamento contabilístico dos activos biológicos encontra-se regulado, no SCE, através da


NCRF 11 Agricultura e activos biológicos, sendo assim a contabilidade das empresas agrárias ou
rurais encontra-se claramente subordinada a este instrumento e a outras legislações
complementares para o exercício da actividade contabilística, a exemplo do Código do Imposto
sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (CIRPC).

3 Produtos agrícolas e produtos transformados após colheita


Os produtos agrícolas são produtos colhidos dos activos biológicos.
Ao definir o seu âmbito a NCRF 11 fala da necessidade de se distinguir um produto agrícola até
a colheita e aquele após a transformação, geralmente industrial. Uma empresa agrária ou rural
classifica um elemento como activo biológico, e consequentemente o sujeita à NCRF 11, até a
fase da colheita, sendo que após esta fase é de se aplicar a NCRF 9 Inventários ou qualquer outra
norma que se adeque ao produto colhido, o que desde logo dá a entender a necessidade de
reclassificação quando a colheita é realizada.
Para clarificar esta separação a NCRF 11 apresenta, a título de exemplo, uma tabela com o
conteúdo do que de acordo com esta norma é considerado activo biológico, produto agrícola ou
produto transformado após colheita e consequentemente direcciona a NCRF a se aplicar para
cada um dos casos:
Produtos transformados
Activos biológicos Produtos agrícolas
após colheita
Carneiros/Ovelhas Lã Fio de lã, carpetes
Árvores florestais Troncos de madeira Tábuas de madeira
Algodão Fio de algodão, roupa
Plantações
Cana-de-açúcar Açúcar
Vacas leiteiras Leite Queijo
Arbustos Folhas Chá, tabaco
Vinhas Uvas Vinho
Pomares Fruta Sumos, compotas

4 Reconhecimento e mensuração dos produtos agrícolas e activos biológicos

Antes de determinar as regras para reconhecer e mensurar os produtos agrícolas e activos


biológicos é necessário reconhecer o desafio decorrente das dificuldades associadas a uma das
principais características naturais dos mesmos, que é a transformação. Na verdade esta é a

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característica comum que se encontra na diversidade daqueles elementos que consideramos


fazerem parte da abrangência da actividade agrícola. De acordo com o parágrafo 6 da NCRF 11
os animais e as plantas têm a capacidade de se transformar biologicamente e essa transformação
nalgumas vezes pode ser influenciada (gestão da transformação) e é precisamente daqui onde se
separa e não se classifica algumas actividades como abrangidas na actividade agrícola, como por
exemplo a pesca no oceano, não se considera actividade agrícola na abrangência da NCRF 11
pois a transformação (qualitativa e quantitativa) dos animais lá existentes muitas vezes não é
condicionada ou influenciada pela acção do homem.

O parágrafo 7 da mesma norma classifica, no entanto, esta transformação em duas categorias: (1)
a transformação do activo biológico (de acordo com a tabela acima) através de crescimento,
degeneração e procriação; e (2) a produção de produtos agrícolas (a exemplo dos que aparecem
na tabela acima).

O reconhecimento de um activo biológico ou de um produto agrícola é condicionado pela


obrigação deste satisfazer à definição de activo, ou seja, que a entidade o controle como
resultado de acontecimentos passados, que associada a sua posse seja provável o usufruto de
benefícios económicos futuros e que o seu custo ou justo valor possam ser mensurados com
suficiente fiabilidade.

A mensuração de um activo biológico ou de um produto agrícola deve ser ao justo valor menos
os custos estimados no momento da venda do mesmo activo ou produto agrícola. Para os casos
de activos biológicos a NCRF 11 admite a possibilidade de mensuração no reconhecimento
inicial pelo custo e posteriormente pelo custo menos qualquer redução por amortizações ou
perdas por imparidade acumuladas mas, apenas, quando o seu justo valor não possa ser
mensurado com fiabilidade. As diferenças resultantes das variações no justo valor dos activos
biológicos e dos produtos agrícolas devem ser reconhecidos nos resultados (ganhos ou perdas)
do período em que ocorrem.

Nota importante: São, ou devem ser, também mensurados ao justo valor e reconhecidos como
ganhos por aumento do justo valor os resultados da procriação de activos biológicos.

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5 Culturas temporárias e culturas permanentes e sua contabilização

As culturas temporárias são aquelas culturas sujeitas ao replantio após a colheita. Estas são
caracterizadas por ter um período curto de vida. Ex: Soja, milho, arroz, Feijão, mandioca, batata-
doce.

As culturas permanentes são aquelas que permanecem vinculadas ao solo e proporcionam mais
de uma colheita ou produção. Estas são caracterizadas por ter um período de vida longo, superior
a 1 ano ou mais. Ex: Cana-de-açúcar, Oleicultura (Oliveiras), Cafeicultura, Citricultura (Citrinos
– laranja, limão, etc).

O SCE, através do código de contas, separa o reconhecimento destes dois tipos de culturas em
contas de activos biológicos de produção (conta 2.7.1) e activos biológicos consumíveis (conta
2.7.2) para as culturas permanentes e as culturas temporárias respectivamente. É importante
anotar que estas contas registam igualmente os activos biológicos animais, que são adquiridos ou
procriados na empresa.

A contabilização de todos os gastos (sementes, mudas, insecticidas, fungicidas, herbicidas,


irrigação, fertilizantes, mão-de-obra de produção e seus encargos, combustíveis, depreciações
dos materiais e instrumentos de produção, energia e água usados na produção e outros gastos,
incluindo os gastos com a colheita) directamente associados ao processo de produção destas
culturas é feito numa subconta que se deverá criar dentro das contas acima, à medida que estes
custos vão se consumindo em benefício da efetivação da produção. Ao longo do processo de
produção esta conta designar-se-á culturas em formação temporárias/permanentes,
dependendo do tipo de cultura, e dever-se-á também criar uma subconta que receberá o nome de
produtos agrícolas que vai registar a cultura terminada e que imediatamente será saldada com a
transferência de seus valores para as diversas contas de inventários ou qualquer outra conta,
dependendo do objectivo proposto para cada um dos produtos resultantes da produção.

Os outros gastos, não directamente ligados à produção, são reconhecidos directamente nos
resultados, incluindo quaisquer ganhos ou perdas resultantes das variações dos justos valores dos
activos biológicos da empresa.

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É importante anotar, porém, que com base na contabilidade que assenta sobre o justo valor como
base de mensuração de grande parte dos elementos das demonstrações financeiras todos os
gastos e perdas acima referidos, aquando do apuramento do custo de produção, são reconhecidos
directamente nos resultados, pois a mensuração do produto final da produção será com base no
justo valor menos os custos de vender ou o preço de venda praticado no mercado menos a
margem de lucro historicamente praticada pela empresa para os produtos em causa.

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