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Aiedaresp 1293886 2020 12 18

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AgInt nos EDcl no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1293886 - SC

(2018/0114490-6)

RELATOR : MINISTRO GURGEL DE FARIA


AGRAVANTE : METALÚRGICA RIOSULENSE S/A
ADVOGADO : SILVIO LUIZ DE COSTA E OUTRO(S) - SC005218
AGRAVADO : ESTADO DE SANTA CATARINA
ADVOGADO : CARLOS ALBERTO PRESTES E OUTRO(S) - SC008375

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.


ICMS. MERCADORIAS PARA CONSUMO INTERNO.
LIMITADOR TEMPORAL AO CREDITAMENTO. SERVIÇO
DE TRANSPORTE ALHEIO À ATIVIDADE DO
ESTABELECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE DE
CREDITAMENTO. ACÓRDÃO CONFORME A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. REEXAME DE PROVA.
INVIBILIDADE.
1. O art. 20 da Lei complementar n. 87/1996 passou a prever a
possibilidade de creditamento de ICMS cobrado em operações de
que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no
estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao
ativo permanente, ou o recebimento de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal ou de comunicação, excetuando-se
aqueles que se refiram a mercadorias ou serviços alheios à atividade
do estabelecimento. Precedentes.
2. Esta Corte superior pacificou o entendimento segundo o qual é
válido o limitador temporal do art. 33 da LC 87/1996 à utilização
dos créditos de ICMS decorrentes da aquisição de bens de uso e
consumo do estabelecimento, inerentes ao funcionamento do local
onde situado o complexo de bens móveis e imóveis que dão suporte
à atividade-fim do empresário, os quais não se confundem com
aqueles que são diretamente utilizados no processo produtivo.
3. Hipótese em que o Tribunal a quo, atento ao conjunto fático-
probatório, decidiu que os serviços prestados à recorrente de
transporte de trabalhadores e de resíduos sólidos destinados à
tratamento por terceiros se configurariam em serviços alheios à
atividade do estabelecimento, bem como que o ICMS relativo ao
frete de mercadorias destinadas ao uso e consumo interno da
empresa estaria incluído no custo da mercadoria para fins de
aplicação do limitador do art. 33 da LC n. 87/1996, o que está em
conformidade com pacífico entendimento jurisprudencial deste
Tribunal Superior e, para reverter tal posição, seria necessário o
reexame de provas. .
4. Agravo interno desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam
os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Benedito Gonçalves, Sérgio
Kukina e Regina Helena Costa votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Gurgel de Faria.

Brasília, 15 de dezembro de 2020.

Ministro GURGEL DE FARIA


Relator
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1293886 - SC (2018/0114490-6)

RELATOR : MINISTRO GURGEL DE FARIA


AGRAVANTE : METALÚRGICA RIOSULENSE S/A
ADVOGADO : SILVIO LUIZ DE COSTA E OUTRO(S) - SC005218
AGRAVADO : ESTADO DE SANTA CATARINA
PROCURADOR : CARLOS ALBERTO PRESTES E OUTRO(S) - SC008375

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL.


ICMS. MERCADORIAS PARA CONSUMO INTERNO.
LIMITADOR TEMPORAL AO CREDITAMENTO. SERVIÇO
DE TRANSPORTE ALHEIO À ATIVIDADE DO
ESTABELECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE DE
CREDITAMENTO. ACÓRDÃO CONFORME A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. REEXAME DE PROVA.
INVIBILIDADE.
1. O art. 20 da Lei complementar n. 87/1996 passou a prever a
possibilidade de creditamento de ICMS cobrado em operações de
que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no
estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao
ativo permanente, ou o recebimento de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal ou de comunicação, excetuando-se
aqueles que se refiram a mercadorias ou serviços alheios à atividade
do estabelecimento. Precedentes.
2. Esta Corte superior pacificou o entendimento segundo o qual é
válido o limitador temporal do art. 33 da LC 87/1996 à utilização
dos créditos de ICMS decorrentes da aquisição de bens de uso e
consumo do estabelecimento, inerentes ao funcionamento do local
onde situado o complexo de bens móveis e imóveis que dão suporte
à atividade-fim do empresário, os quais não se confundem com
aqueles que são diretamente utilizados no processo produtivo.
3. Hipótese em que o Tribunal a quo, atento ao conjunto fático-
probatório, decidiu que os serviços prestados à recorrente de
transporte de trabalhadores e de resíduos sólidos destinados à
tratamento por terceiros se configurariam em serviços alheios à
atividade do estabelecimento, bem como que o ICMS relativo ao
frete de mercadorias destinadas ao uso e consumo interno da
empresa estaria incluído no custo da mercadoria para fins de
aplicação do limitador do art. 33 da LC n. 87/1996, o que está em
conformidade com pacífico entendimento jurisprudencial deste
Tribunal Superior e, para reverter tal posição, seria necessário o
reexame de provas. .
4. Agravo interno desprovido.

RELATÓRIO

Trata-se de agravo interno interposto por METALÚRGICA


RIOSULENSE S.A. contra decisão em que se conheceu do agravo para, com base nas
Súmulas 7 e 83 do STJ, não se conhecer de recurso especial no qual pede o
reconhecimento de direito à creditamento escritural de ICMS de frete pago nos serviços
de transporte referentes: (a) a materiais adquiridos para uso ou consumo do
estabelecimento; (b) a remessas de resíduos industriais para empresas responsáveis pelo
seu tratamento; e (c) a funcionários.
A parte agravante alega, em síntese, que são inaplicáveis os obices
sumulares uma vez que é desnecessária a análise de questões fáticas e a jurisprudência
seria favorável ao seu pleito.
Contraminuta apresentada.
É o relatório.

VOTO

Como assinalado na decisão agravada, aos recursos interpostos com


fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de
2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma nele prevista
(Enunciado n. 3 do Plenário do STJ).
Após nova análise processual, provocada pela interposição do
agravo interno, observo que a decisão combatida deve ser mantida.
Como consignado na decisão agravada, o recurso especial origina-
se de mandado de segurança impetrado pela recorrente para ver garantido direito à
creditamento de ICMS pago nas operações de transporte a) de materiais adquiridos para
uso ou consumo do estabelecimento; b) de remessas de resíduos industriais para empresas
responsáveis pelo seu tratamento, licenciadas perante órgão ambiental; e c)
intermunicipal de funcionários.
No primeiro grau de jurisdição, o recorrente teve a sua segurança
denegada, parte em razão da impossibilidade do creditamento de algumas das parcelas,
em decorrência do art. 20 §1º e 2º da Lei complementar n. 87/1996, parte em razão da
limitação temporal erigida pelo art. 33 do mesmo diploma legal.
O Tribunal gaúcho negou provimento à apelação da impetrante,
mantendo a denegação da segurança.
Vejamos, no que interessa, o que está consignado no acórdão
recorrido:
Assim, se a entrada de mercadorias qualificadas como insumo dão direito ao
creditamento do imposto recolhido, o mesmo não acontece com aquelas
destinadas ao uso e consumo ou ao ativo imobilizado, diante da vedação
temporal existente na legislação

[...]

No caso vertente, a apelante tem como objeto social a industrialização,


fundição e comercialização de metais ferrosos e não ferrosos; a fabricação
máquinas, equipamentos, peças e acessórios para veículos automotores,
motores estacionários, motores marítimos e correlatos; fabricação de modelos
de madeira para fundição e artefatos especiais de madeira para a indústria; a
comercialização dos seus produtos, bem como de produtos de fabricação ou
revenda de terceiros; a importação de matérias primas e auxiliares, e
maquinária e equipamentos necessários aos seus fins; e a fundição de ligas
especiais para uso na indústria automobilística (fls. 45-46).

Pretende, em suma, ver reconhecido o direito de se aproveitar dos créditos de


ICMS incidentes sobre operações relativas ao gasto com transporte
intermunicipal e interestadual(frete) nos casos especificadamente : i) de
transporte de materiais adquiridos para uso ou consumo do estabelecimento; ii)
de transporte de remessas de resíduos industriais para empresas responsáveis
pelo seu tratamento; e iii) de transporte de funcionários residentes em outros
municípios.

Tenho, porém, que a empresa recorrente não pode se apropriar do imposto


incidente nestas operações e o direito de crédito de ICMS oriundo dos
denominados produtos intermediários, isto é, aqueles utilizados no processo
industrial, ver-se—ia fundamental a sua integração ao produto final, ou seja,
consumidos no processo de forma imedieta e integral. (AgRg no REsp
1524609/SP, rel. Min. Herman Benjamin, j. 1°-3-2016).

Para tanto, sigo a linha interpretativa lançada na sentença lavrada pelo douto
Juiz de Direito Edison Zimmer:

[...]

A impetrante argumenta que tais serviços de transporte relacionam-se com a


atividade fim do seu estabelecimento.
Bem, na consulta administrativa realizada pela empresa impetrante e que se
encontra adormecida às fls. 125/128 destes autos, a autoridade coatora apontou
que somente no caso da remessa de mercadorias para industrialização por
encomenda permitiria o aproveitamento do respectivo crédito, sendo que nos
demais casos seria incabível a apropriação dos créditos.
Com efeito, a autoridade impetrada (coatora) tem razão.
De início, examinando as legislações correlatas ao presente caso (que regulam
o ICMS), conclui-se que inexiste previsão legal que permita o creditamento de
ICMS relativo ao transporte intermunicipal ou interestadual de funcionários
(de pessoas), ainda que, por consequência lógica, tal transporte se relacione
com a atividade fim da empresa.
No mesmo sentido, inclusive como conclui também a empresa impetrante na
sua inicial (§ 7° da fl.05), nos demais casos (de transporte de materiais
adquiridos para uso ou consumo do estabelecimento ou de transporte de
resíduos industriais para empresas responsáveis pelo seu tratamento) também
não há autorização expressa para o creditamento de tal imposto.
É indubitável que o ICMS que incide sobre o transporte intermunicipal ou
interestadual de pessoas (funcionários), de materiais adquiridos para uso ou
consumo e etc não se confunde com os fatos geradores que incidem sobre a
atividade fim da empresa, como a industrialização, fundição e comercialização
de metais ferrosos e não ferrosos e etc.
Numa hipótese o ICMS incide sobre a própria circulação de mercadoria
(ICMS-mercadoria) e noutra sobre prestação de serviço de transporte (ICMS-
serviço).
(...)
A empresa impetrante, na realidade, para tais hipóteses, entende e pretende
que o art. 20, caput, da Lei Kandir (LC 87/96), serve como uma cláusula geral
para o creditamento de ICMS nas operações em que ela recebe serviços de
transporte interestadual e intermunicipal, só não sendo possível tal
creditamento quando exista expressa previsão legal.
A propósito, dispõe o referido dispositivo legal (que foi inteiramente repetido
na Lei Estadual n. 10.297/96, só que no seu art. 22) o seguinte:
"Art.20. Para a compensação a que se refere o artigo anterior, é assegurado ao
sujeito passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em
operações de que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica,
no estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo
permanente, ou o recebimento de serviços de transporte interestadual e
intermunicipal ou de comunicação.§ 1° Não dão direito a crédito as entradas
de mercadorias ou utilização de serviços resultantes de operações ou
prestações isentas ou não tributadas, ou que se refiram a mercadorias ou
serviços alheios à atividade do estabelecimento.
"Entretanto, como verificado acima, é o inverso que se entende e que se aplica,
ou seja, somente nas hipóteses em que há expressa previsão legal é que é
possível o creditamento do ICMS que incidiu sobre os serviços de transporte
interestadual e intermunicipal, sob pena de mácula ao principio da separação
dos poderes.
Ora, assim como o Poder Judiciário não pode criar hipótese de incidência de
imposto, não pode criar hipótese de creditamento para fins de compensação
futura.
Mas, não fosse só isso, é importante concordar com a empresa impetrante
quando a mesma se refere que a tributação do serviço de transporte independe
da tributação da mercadoria transportada. Em regra, é isso mesmo.
Porém, nas hipóteses apresentadas por ela, relativamente ao crédito do ICMS
incidente sobre o frete, relativo ao serviço de transporte intermunicipal ou
interestadual, seja de funcionários, de materiais adquiridos para uso ou
consumo do estabelecimento, enfim, serviços tomados pelo contribuinte e
diretamente relacionado com o processo industrial e/ou comercial, tal direito
decorre do fato de ter sido tomado serviço aplicado na atividade industrial ou
comercial da empresa.
Ou seja, apesar de as operações de saídas de mercadorias serem operações
distintas das prestações de serviço de transporte das mesmas, do ponto de vista
do adquirente das mercadorias (digamos, a grosso modo, o consumidor final),
o valor pago pelo contribuinte a título de frete é apropriado como custo das
próprias mercadorias, razão pela qual deve submeter-se ao mesmo tratamento
tributário dispensado à operação de saída das mercadorias que comercializar.
Em sendo assim, relativamente, ao postulado creditamento de ICMS pertinente
ao transporte intermunicipal e interestadual de materiais adquiridos para uso
ou consumo do estabelecimento ou de remessas de resíduos industriais para
empresas responsáveis pelo seu tratamento, a compensação buscada não tem
como ser exercida, pelo menos até 1°.01.2020.
Isso porque o legislador federal, no art. 33, inciso I e IV, alínea 'c', da Lei
Complementar n. 87/96, assim estabeleceu, inclusive nas hipóteses em que a
empresa impetrante busca por analogia enquadrar sua situação (como as de
comunicação), veja-se:
[...]
Por fim, ainda quanto às operações relativas ao gasto com transporte
intermunicipal e interestadual (frete) nos casos especificadamente de
transporte de remessas de resíduos industriais para empresas responsáveis pelo
seu tratamento e de funcionários, tem-se que, de fato, tais serviços são
intermediários e, portanto, imprescindíveis à consecução de sua atividade
industrial.
Isto é, tratando-se de serviços / produtos intermediários (de transporte de
funcionários de outros municípios ou de remessas de resíduos industriais para
tratamento) e tendo conhecimento de que estes devem submeter-se ao mesmo
tratamento tributário dispensado à operação de saída das mercadorias que
comercializar, seria necessário para o creditamento que eles integrassem
fisicamente o produto ou que fosse integralmente consumidos no processo
produtivo, o que não ocorre em tais hipóteses.
[...]
Assim, por todos os lados que se veja, tenho que não procedem os argumentos
despendidos pela empresa impetrante.

A meu ver, não haveria lugar para decisão diversa, uma vez que os referidos
materiais não compõem o produto final, ou seja, são apenas utilizados como
auxiliares no processo de produção, de modo que somente se permitirá o
creditamento do ICMS quando se tratar de insumos que se incorporam ao
produto final, ou, quando não incorporados, sejam consumidos no curso do
processo de industrialização de forma imediata e integral, o que, no caso em
testilha, não se verifica, como bem discriminado, inclusive, na petição inicial.
Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
excerto deveras elucidativo a respeito da mérito:

(...)

6. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que 'o creditamento do ICMS


somente é factível nas hipóteses restritas constantes do § 1°, do artigo 20, da
Lei Complementar n° 87/96, qual seja a entrada de mercadorias que fagam
parte da atividade do estabelecimento.
Consectariamente, é de clareza hialina que o direito de creditamento do ICMS
pago anteriormente somente exsurge quando se tratar de insumos que se
incorporam ao produto final ou que séo consumidos no curso do processo de
industrialização" (REsp 889.414IRJ, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma,
DJe 14.5.2008).
7. O entendimento do STJ é de que, ‘no que tange e o direito de crédito de
ICMS, oriundo dos denominados produtos intermediários, isto é, aqueles
utilizados no processo industrial, seria fundamental a sua integração ao
produto final, ou seja, consumidos no processo de forma imediata e integral'"
(AgRg no REsp 1524609/SP, rel. Min. Herman Benjamin, j. 1°-3-2016).

[...]

Assim, pelo fato dos serviços descritos pela apelante na inicial não se
enquadrarem nas hipóteses em que se permite o creditamento, a manutenção
da sentença é medida consentânea.

Opostos embargos de declaração, foram eles rejeitados.


Na decisão embargada, não conheci do recurso especial por
aplicação das Súmulas 7 e 83 do STJ.
Pois bem.
Enquanto vigorou o Convênio ICMS 66/1988 do Conselho
Nacional de Política Fazendária (CONFAZ), o direito de crédito estava restrito aos
produtos intermediários que eram consumidos imediata e integralmente no processo
industrial ou que integravam a composição do produto final. Esse entendimento decorria
da interpretação do art. 31, III, do aludido convênio, assim grafado:

Art. 31. Não implicará crédito para compensação com o montante do imposto
devido nas operações seguintes:
[...]
III - A entrada de mercadorias ou produtos que, utilizados no processo
industrial, não sejam consumidos ou não integrem o produto final na condição
de elemento indispensável a sua composição.

Ocorre que a LC 87/1996 modificou esse cenário normativo,


ampliando significativamente as hipóteses de creditamento de ICMS, permitindo o
aproveitamento dos créditos referentes à aquisição de quaisquer produtos intermediários,
desde que comprovada a necessidade de sua utilização para a realização do objeto social
da empresa. É o que dispõe o art. 20, caput e § 1º, da Lei Kandir, in verbis:

Art. 20. Para a compensação a que se refere o artigo anterior, é assegurado ao


sujeito passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em
operações de que tenha resultado a entrada da mercadoria, real ou simbólica,
inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o
recebimento de serviços de transporte interestadual ou intermunicipal ou de
comunicação.
§ 1º Não dão direito a crédito a entrada de mercadorias ou utilização de
serviços resultantes de operações ou prestações isentas ou não tributadas, ou
que se refiram a mercadorias ou serviços alheios à atividade do
estabelecimento.
§ 2º Salvo prova em contrário, presumem-se alheios à atividade do
estabelecimento os veículos de transporte pessoal.

Esse é o entendimento consolidado nesta Corte Superior sobre o


tema, consoante se verifica dos seguintes precedentes:

TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. ICMS. CREDITAMENTO. PRODUTOS
INTERMEDIÁRIOS UTILIZADOS NO PROCESSO PRODUTIVO.
POSSIBILIDADE. ART. 20, § 1º, DA LC 87/96.
1. O Superior Tribunal de Justiça consolidou sua jurisprudência no sentido
de que, na vigência do Convênio ICMS 66/88, o produto intermediário
para fins de creditamento exigia prova de que ele foi consumido imediata e
integralmente no processo produtivo ou compusesse o produto novo.
Precedentes: AgRg no Ag 929.077/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe 12/09/2008; REsp 850.362/MG, Rel.
Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 02/03/2007.
2. A Lei Complementar 87/96, entretanto, ampliou as hipóteses de
creditamento, condicionando o aproveitamento dos créditos relativos à
aquisição de produtos intermediários apenas à comprovação de eles são
utilizados para a consecução das atividades que constituem o objeto
social do estabelecimento empresarial. Precedentes: REsp
1.090.156/SC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe
20/08/2010; REsp 1.175.166/MG, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe 26/03/2010; REsp 889.414/RJ, Rel. Ministro Luiz
Fux, Primeira Turma, DJe 14/05/2008.
3. Agravo regimental não provido (AgRg no AREsp 142.263/MG, Rel.
Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
19/02/2013, DJe 26/02/2013).

TRIBUTÁRIO - PROCESSO CIVIL - SUFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO


JURISDICIONAL - JULGAMENTO CITRA PETITA - NÃO-
OCORRÊNCIA - ICMS - CREDITAMENTO - TRANSPORTE DE
CARGAS - VEÍCULOS, PNEUS, LUBRIFICANTES ETC. -
POSSIBILIDADE - PRODUÇÃO PROBATÓRIA - NECESSIDADE DE
RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM.
1. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de origem decide,
fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide.
2. A ausência na apreciação de fundamento não configura julgamento citra
petita.
3. A partir da vigência da LC 87/96, os produtos intermediários e insumos
imprescindíveis à atividade empresarial do contribuinte ensejam direito
de crédito, em razão do princípio da não-cumulatividade.
4. Hipótese em que o contribuinte dedica-se à prestação de serviços de
transporte de cargas e pretende creditar-se do imposto recolhido na aquisição
de veículos, peças de reposição, combustíveis, lubrificantes etc., que foram
considerados pelo acórdão recorrido como material de consumo e bens do
ativo fixo.
5. Necessidade de retorno dos autos à origem para verificação de quais
insumos efetivamente integram e viabilizam o objeto social da recorrente.
6. Recurso especial provido (REsp 1.090.156/SC, Rel. Ministra ELIANA
CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/08/2010, DJe 20/08/2010).

No mesmo sentido: REsp 1.175.166/MG, Rel. Ministro Herman


Benjamin, Segunda Turma, DJe 26/03/2010; REsp 889.414/RJ, Rel. Ministro Luiz Fux,
Primeira Turma, DJe 14/05/2008.
No que tange à utilização dos créditos, o art. 33 da Lei Kandir
estabeleceu limitador temporal, consignando o seu inciso I que somente darão direito de
crédito as mercadorias destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento nele entradas a
partir de 1º de janeiro de 2020.
A limitação temporal prevista no art. 33 da LC 87/1996, no entanto,
somente se aplica aos bens de uso e consumo do estabelecimento, inerentes ao
funcionamento do local onde situado o complexo bens móveis e imóveis que dão suporte
à atividade-fim do empresário, os quais não se confundem com aqueles que são
diretamente utilizados no processo produtivo.
A propósito, vide:

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DECLARATÓRIA. ICMS.


CREDITAMENTO. TELAS, MANTAS E FELTROS EMPREGADOS NA
FABRICAÇÃO DO PAPEL. PRODUTOS CONSUMIDOS NO PROCESSO
PRODUTIVO. NÃO SUJEIÇÃO À LIMITAÇÃO TEMPORAL PREVISTA
NO ART. 33, I, DA LC 87/96.
1. Discute-se neste recurso especial se o creditamento de ICMS relativo às
aquisições de telas, mantas e feltros, empregados na fabricação de papel, está
provisoriamente impedido pela limitação temporal prevista no art. 33, I, do LC
87/96.
2. Tratando-se de uma exceção de ordem temporal que condiciona o exercício
do direito de creditamento assegurado pelo caput do art. 20 da LC 87/96, a
regra prevista no art. 33, I, dessa mesma lei complementar deve ser
interpretada restritivamente, sob pena de, mediante eventual e indevido
entendimento mais ampliativo, tornar sem efeito as importantes modificações
normativas realizadas pela Lei Kandir.
Assim, conforme a literalidade desse dispositivo legal, apenas as entradas
referentes ao uso e consumo do estabelecimento, ou seja, do local que dá
suporte à atividade fim da empresa (art. 11, § 3º, da LC 87/96), têm o direito
do respectivo creditamento protraído, não sendo possível estender essa
restrição às aquisições de mercadorias ou produtos a serem consumidos no
processo produtivo.
3. De acordo com o contexto fático probatório delineado pelo Tribunal
estadual, as telas, mantas e feltros são adquiridos pela recorrente para serem
integralmente consumidos no processo de industrialização do papel,
viabilizando, assim, a sua atividade fim. Nesse contexto, verifica-se que tais
materiais não se enquadram como de uso ou de consumo do estabelecimento,
mas, como produtos intermediários imprescindíveis ao processo de fabricação
e, por isso, o creditamento correspondente a essas entradas não está sujeito à
postergação de que trata o art. 33, I, da LC 87/96.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1.366.437/PR, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 03/10/2013, DJe 10/10/2013). (Grifos acrescidos).

TRIBUTÁRIO - PROCESSO CIVIL - SUFICIÊNCIA DA PRESTAÇÃO


JURISDICIONAL - JULGAMENTO CITRA PETITA - NÃO-
OCORRÊNCIA - ICMS - CREDITAMENTO - TRANSPORTE DE
CARGAS - VEÍCULOS, PNEUS, LUBRIFICANTES ETC. -
POSSIBILIDADE - PRODUÇÃO PROBATÓRIA - NECESSIDADE DE
RETORNO DOS AUTOS À ORIGEM.
1. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de origem decide,
fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide.
2. A ausência na apreciação de fundamento não configura julgamento citra
petita.
3. A partir da vigência da LC 87/96, os produtos intermediários e insumos
imprescindíveis à atividade empresarial do contribuinte ensejam direito de
crédito, em razão do princípio da não-cumulatividade.
4. Hipótese em que o contribuinte dedica-se à prestação de serviços de
transporte de cargas e pretende creditar-se do imposto recolhido na aquisição
de veículos, peças de reposição, combustíveis, lubrificantes etc., que foram
considerados pelo acórdão recorrido como material de consumo e bens do
ativo fixo.
5. Necessidade de retorno dos autos à origem para verificação de quais
insumos efetivamente integram e viabilizam o objeto social da recorrente.
6. Recurso especial provido (REsp 1.090.156/SC, Rel. Ministra ELIANA
CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/08/2010, DJe 20/08/2010).

Na hipótese dos autos, pretende a empresa impetrante a garantia ao


creditamento de ICMS pago nas operações de transporte a) de materiais adquiridos para
uso ou consumo do estabelecimento; b) de remessas de resíduos industriais para empresas
responsáveis pelo seu tratamento, licenciadas perante órgão ambiental; e c)
intermunicipal de funcionários.
Como relatado, as instâncias ordinárias denegaram a
segurança parte em razão da impossibilidade do creditamento de algumas das parcelas,
em decorrência dos §§ 1º e 2º do art. 20 da Lei complementar n. 87/1996, parte em razão
da limitação temporal erigida pelo art. 33, I, do mesmo diploma legal.
O referido entendimento não merece correção.
Como se observa do fundamento acima descrito, tanto o ICMS
pago pelo frete para o envio de resíduos industriais para tratamento por terceiros, quanto
aquele pago pelo frete para o transporte de funcionários não pode ser objeto de
creditamento escritural da impetrante por expressa previsão legal (§§ 1º e 2º do art. 20 da
LC n. 87/1996), dado constituir serviço alheio a atividade do estabelecimento.
Na outra ponta, especificamente quanto ao ICMS pago pelo frete de
materiais adquiridos para uso ou consumo do estabelecimento, tem-se o que as instâncias
ordinárias esclareceram que o valor pago pelo transporte foi incorporado no custo da
operação de aquisição dos materiais para consumo no estabelecimento (art. 13, §1°, II,
"b", da Lei Complementar n. 87/1996).
Como descrito anteriormente, o art. 33 da Lei Kandir estabeleceu
limitador temporal, consignando o seu inciso I (na sua atual redação dada pela Lei
Complementar n. 171/2019) que somente darão direito de crédito as mercadorias
destinadas ao uso ou consumo do estabelecimento nele entradas a partir de 1º de janeiro
de 2033.
Nesse contexto, o conhecimento do recurso especial encontra óbice
nas Súmulas 7 e 83 do STJ, pois o Tribunal a quo além de decidir atento ao conjunto
fático-probatório, o fez em conformidade com pacífico entendimento jurisprudencial
deste Tribunal Superior.
Por fim, embora não merecedor de acolhimento, o agravo interno,
no caso, não se revela manifestamente inadmissível ou improcedente, razão pela qual
não deve ser aplicada a multa do § 4º do art. 1.021 do CPC/2015.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo interno.
É como voto.
TERMO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA TURMA
AgInt nos EDcl no AREsp 1.293.886 / SC
Número Registro: 2018/0114490-6 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
20130114189000000 20130114189 054120019519 54120019519 00019510420128240054

Sessão Virtual de 09/12/2020 a 15/12/2020

Relator do AgInt nos EDcl


Exmo. Sr. Ministro GURGEL DE FARIA

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro GURGEL DE FARIA

AUTUAÇÃO

AGRAVANTE : METALÚRGICA RIOSULENSE S/A


ADVOGADO : SILVIO LUIZ DE COSTA E OUTRO(S) - SC005218
AGRAVADO : ESTADO DE SANTA CATARINA
PROCURADOR : CARLOS ALBERTO PRESTES E OUTRO(S) - SC008375

ASSUNTO : DIREITO TRIBUTÁRIO - IMPOSTOS - ICMS - IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE


MERCADORIAS

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : METALÚRGICA RIOSULENSE S/A


ADVOGADO : SILVIO LUIZ DE COSTA E OUTRO(S) - SC005218
AGRAVADO : ESTADO DE SANTA CATARINA
ADVOGADO : CARLOS ALBERTO PRESTES E OUTRO(S) - SC008375

TERMO

A Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, decidiu negar provimento
ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Benedito Gonçalves, Sérgio Kukina e Regina
Helena Costa votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Gurgel de Faria.

Brasília, 15 de dezembro de 2020

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