Pesquisas em Ciencias Sociais Unidade I
Pesquisas em Ciencias Sociais Unidade I
Pesquisas em Ciencias Sociais Unidade I
UNIDADE I
O QUE É CIÊNCIA?
Elaboração
Paulo Renato Lima
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE I
O QUE É CIÊNCIA?................................................................................................................................................................................. 5
CAPÍTULO 1
CONCEITOS ELEMENTARES DE CIÊNCIA.............................................................................................................................. 5
CAPÍTULO 2
INDUTIVISMO E O MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO................................................................................................ 12
CAPÍTULO 3
PARADIGMAS, RACIONALISMO, RELATIVISMO, OBJETIVISMO E SUBJETIVISMO............................................. 27
CAPÍTULO 4
FEYARABEND, REALISMO E INSTRUMENTALISMO........................................................................................................ 35
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................38
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O QUE É CIÊNCIA? UNIDADE I
Capítulo 1
CONCEITOS ELEMENTARES DE CIÊNCIA
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
No que concerne aos trabalhos acadêmicos da academia, a fim de que possam ser
considerados científicos, precisam produzir ciência, ou dela derivar, e acompanhar
seu modelo de tratamento. Algumas das propriedades da ciência irão permitir a distinção
de qualquer outro corpo de conhecimentos, tornando-a essencial para o progresso e
para a qualidade de vida do homem na Terra. As propriedades da ciência podem ser
vistas no Quadro 1 a seguir.
O espírito científico parte do princípio que nada se revela na aparência; tudo, para ser explicado, deve ser investigado,
criticado, analisado. Essa capacidade de permitir a distinção entre essência e aparência significa que a ciência
fornece, por meio da metodologia, um conjunto de procedimentos racionais, rígidos e lógicos, que permitem
Distinção entre penetrar na essência dos fenômenos perceptíveis pela inteligência humana e chegar à sua verdade. O uso do
essência e aparência método racional para fazer ciência a diferencia das outras formas de conhecimento humano. E uma de suas
particularidades é não aceitar como verdadeiro nada que não seja comprovado, explicado lógica e racionalmente.
E, mesmo comprovado, não garante que será verdade para sempre. Se tudo pode ser explicado, tudo pode ser
melhorado, revisto, reinterpretado, reinventado.
Ciência não é poesia nem especulação. Como busca, o conhecimento científico exige respostas que expliquem lógica
e racionalmente às indagações: por quê? para quê? como? Para considerar-se uma investigação como científica, as
hipóteses levantadas, suas consequências lógicas, assim como outras explicações do mundo e das coisas devem
ser submetidas a rigorosos testes de equivalência com as coisas observáveis, ou seja, com a realidade, e outras
Compromisso com a hipóteses sugeridas. Exemplificando: um agricultor que acumulou um conhecimento ao longo do tempo pela
verdade tradição, vivência, quanto à época do plantio, tipo de cultura, quantidade de água necessária, época da colheita,
como armazenar o produto, terá grandes chances de obter bons resultados. Para ele, nunca houve curiosidade
de saber o porquê da época do plantio, da quantidade de água, da época da colheita, de determinado modo
de armazenamento. A ciência é que dirige o conhecimento para a explicação desses “porquês”. Dominando,
cientificamente, esses “porquês”, o agricultor multiplicará suas condições de obter melhores resultados.
Embora Fé e Ciência jamais devam ser consideradas opostas ou inimigas, a ciência é o processo de desmistificação
e dessacralização do mundo, em favor da racionalidade natural, supondo-se uma ordem das coisas dada e mantida.
Mitos e sagrados são forças que influenciam e direcionam o comportamento do homem, de tal forma que ele
não vê razão para questionar as “verdades”, não se atreve a buscar explicações para os fenômenos. Se dominado
por mitos e sagrados, seu conhecimento do mundo é insuficiente para analisar e criticar o poder das coisas e dos
fenômenos. Se ele entende a lógica e a razão das coisas, mitos e sagrados perdem o poder de influenciação e
Desmistificação e
controle sobre sua vida. Mito (Houaiss) é um “relato fantástico de tradição oral, geralmente protagonizado por seres
dessacralização do
que encarnam, sob forma simbólica, as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana; lenda, fábula,
mundo mitologia”. Podem ser pessoas ou situações, cuja imagem ou conceito idealizado ou estereotipado amplifica-se no
imaginário coletivo, norteando e interferindo na vida das pessoas. Ex.: o número 13 é tido como sinal de azar; um
mito, um artista ou atleta que tenha se destacado com esse número passa a ser modelo de vida das pessoas. Já
“sagrado” refere-se a entidades e crenças religiosas, cultos, ritos, que inspiram veneração, e emanam de poderes e
dons divinos. A ciência, que incentiva o raciocínio, a crítica, a lógica e o racional dos fatos, propriedades e explicações,
é capaz de desmistificar mitos e dessacralizar sagrados.
O compromisso com a teoria resulta no fato de ser ela própria um conjunto de princípios, ou conjunto de tentativas
de explicação de fenômenos. Fazer ciência, em síntese, é reunir bagagem de conceitos teóricos, princípios
Imbricação com a racionalmente aceitos para explicar o mundo e as coisas. Quanto ao compromisso com a análise, a ciência se
teoria, a análise e a ocupa da explicação, da análise e da aplicação dos princípios teóricos encontrados. Procura interpretar fatos, fazer
política precisões, buscar comprovações. E, com a política, ela tem o compromisso ético de orientar como as coisas devem
ou não ser feitas, balizando seus resultados para o bem da humanidade. Ela se responsabiliza pela transição entre
o que é para o como deve ser. Esta é uma postura ligada ao comprometimento social, à ética.
Fonte: Michel (2015, p. 5-6).
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O QUE É CIÊNCIA | UNIDADE I
» análise crítica;
» racionalidade;
» reflexão.
Uma forma geralmente reconhecida para distinguir a ciência pura da aplicada são os
motivos ou objetivos dos cientistas: se alguém está engajado na ciência a fim de
aumentar sua compreensão do mundo, está fazendo ciência pura, ao passo que se está
fazendo ciência para resolver problemas relativos à atividade humana, está fazendo
ciência aplicada. Ainda conforme Woodruff (2020), uma abordagem semelhante, de
caráter mais sociológico, é distinguir a ciência pura da aplicada de acordo com o cenário
e a fonte dos objetivos que direcionam a atividade científica: ciência pura, então, seria
ciência acadêmica, e ciência aplicada é a ciência produzida em firmas comerciais ou
em projetos do governo. Os cientistas na academia têm a liberdade, dentro de limites
amplos, de perseguir seus próprios objetivos, investigando quaisquer assuntos que
despertem sua curiosidade, independentemente de quanto tempo isso leve.
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
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O QUE É CIÊNCIA | UNIDADE I
A diferença nos objetivos da ciência pura e da ciência aplicada a questões práticas sugere
uma diferença importante nas normas apropriadas a essas práticas, especificamente uma
diferença nas normas relativas ao procedimento adequado em condições de incerteza,
quando não se sabe ou não se pode prever o resultado de alguns cursos de ação.
Na ciência pura, de acordo com Woodruff (2020), é preferível limitar os falsos positivos
(alegações de um efeito quando nenhum está presente – também conhecidos como
erros Tipo I) em vez de falsos negativos (alegações de nenhum efeito quando um efeito
está presente – erros Tipo II). Ou seja, é pior aceitar uma falsidade (erro Tipo I) do que
rejeitar uma verdade (erro Tipo II). Um julgamento de valor epistemológico desse tipo é
geralmente visto como um ceticismo saudável e cauteloso, uma virtude ao se fazer ciência.
Nas aplicações da ciência em situações de resultados incertos, dois tipos de erros são
relevantes, isto é, pode-se aceitar e desenvolver um aplicativo que se mostre prejudicial em
conjunto ou rejeitar o desenvolvimento de um aplicativo que seja benéfico em equilíbrio.
Quando a racionalidade científica é usada para avaliar situações com esses tipos de
resultados possíveis, o resultado é uma preferência por errar ao aceitar desenvolvimentos
que podem ser prejudiciais, em vez de errar ao rejeitar desenvolvimentos que possam
se provar inofensivos. Se a ciência é vista como aquela que busca maximizar a verdade,
pareceria mais racional avançar com o desenvolvimento do conhecimento, ou suas
aplicações, mas o objetivo da ciência aplicada a questões práticas não é a maximização
da verdade.
Se deve ser vista como a maximização de algo, é a maximização do bem-estar, e uma vez que
o bem-estar é uma preocupação, a racionalidade exige uma consideração de valores
outros que os puramente epistemológicos. Se se adota uma perspectiva utilitarista
consequencialista, a preocupação se concentra não apenas na probabilidade de uma
hipótese ser verdadeira, mas também nas prováveis consequências decorrentes de uma
hipótese.
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
Por exemplo, o respeito pela autonomia das pessoas apoiaria a permissibilidade moral de
todas as ciências básicas, independentemente do que pudesse ser feito com o conhecimento
resultante. Em contraste, as abordagens utilitaristas e consequencialistas focalizam as
consequências previsíveis, e não os motivos, e a distinção pura/aplicada terá pouca
importância. Se for possível prever que o conhecimento adquirido de alguma ciência
básica provavelmente produzirá mais mal do que bem, os motivos dos cientistas são
irrelevantes: tal conhecimento não deve ser adquirido, pelo menos não no contexto
referenciado, como devem proceder, mas também se devem proceder.
Ainda resta considerar um ponto importante. Certamente é comum falar de ética pura
e aplicada, arte pura e aplicada – e, em raras ocasiões, podem ser feitas distinções entre
engenharia ou tecnologia pura e aplicada. Com relação à ética, a distinção pura/aplicada
pode, como na ciência, ser traçada com base em motivos ou conteúdo. Com referência
aos motivos, as pessoas buscam a reflexão ética no sentido puro simplesmente como
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um tópico de interesse por direito próprio, ou no sentido aplicado quando o fazem para
levar uma vida melhor.
No entanto, no que diz respeito à arte pura/aplicada, pode-se sugerir que reflexões
paralelas seriam relevantes. No que diz respeito à engenharia e tecnologia e à distinção
pura/aplicada, as questões tornam-se mais problemáticas. Em parte, isso se deve ao
fator de aplicação que já está embutido nessas disciplinas.
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Capítulo 2
INDUTIVISMO E O MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO
2.1. Indutivismo
O termo indução é apresentado por Aristóteles, ao lado da dedução (silogismo),
como um dos caminhos pelos quais são estabelecidos os argumentos que sustentam as
crenças, e cujo significado representa o procedimento em que, baseado nas observações
singulares de casos específicos, são elaboradas leis e conclusões gerais, isto é, “a passagem
dos particulares ao universal”. Vale destacar que para Aristóteles, o silogismo nada
mais é do um “argumento em que, dadas certas proposições, algo distinto delas resulta
necessariamente, pela simples presença das proposições aduzidas”, com efeito, trata-se
de uma “demonstração quando parte de premissas evidentes e primeiras, ou de premissas
tais que, o conhecimento que delas temos, radica nas premissas primeiras e evidentes.”
(ARISTÓTELES, 1987, p. 9)
Escolástica, literalmente,
Segundo Capra (1995), o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) se configura como um
dos precursores do método indutivo na modernidade, defendendo que esse seria o método
mais adequado para os trabalhos científicos. O processo indutivo, como procedimento
lógico de construção do conhecimento, foi incorporado também por empiristas dos
séculos XVI e XVII, os quais destacavam o papel do método experimental rigoroso, por
meio de experiências minuciosas de vários casos particulares e da relação entre eles, para
formular conclusões gerais, em que se pode ter nos seguintes aforismos de Francis Bacon
uma expressão nítida da abordagem dada por esta corrente do pensamento científico.
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» Nietzsche é homem P2
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Assim, concordando com Reale (2006), é notório que o uso do método indutivo contribuiu
– e contribui – para o desenvolvimento da pesquisa científica. Foi por seu intermédio
que, por exemplo, Galileu Galilei (1564-1642) demonstrou que a física de Aristóteles
(384 a.C.- 322 a.C.) – ainda muito valorizada no início da modernidade – apresentava
problemas cruciais. Ao desenvolver experiência com bolas de metal de massas distintas
(deixando-as despencar de uma mesma altura), Galileu concluiu que o tempo da trajetória
até o solo era o mesmo, enquanto a física aristotélica afirmava que objetos mais pesados
caem com maior rapidez. Também foi utilizando o método indutivo que Gregor Mendel
(1822-1884) delineou as leis fundamentais da genética (CAPRA, 1995).
A rigor, para Stuart Mill (1984), a indução seria fundamentada na experiência particular
com o intuito de estabelecer generalidades. De modo categórico, Whewell entendia que,
além dos dados empíricos, a indução trabalhava com conceitos inatos que organizam e
relacionam as experiências. Contudo, de acordo com Benegas (2000), o chauvinismo
proporcionado pelas realizações do método indutivista não escamoteia a sua limitação,
a saber: de que o indutivismo trabalha com generalizações oriundas de observações
de casos particulares sem estabelecer o nexo causal que fundamente essas mesmas
generalizações.
Retomemos o exemplo do recipiente com água que tem como ponto de ebulição 100ºC.
Admitindo condições normais de pressão – experiência realizada ao nível do mar –
podemos inferir probabilisticamente que o resultado se repetirá, mas não temos nenhum
critério para estabelecer uma certeza, não há nada que proporcione tal inferência, que
possa garantir essa relação de causalidade como lei geral – aplicável em qualquer lugar
e em qualquer tempo ou circunstâncias. Com efeito, estamos diante da limitação do
indutivismo.
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
Sem essa articulação, o conhecimento exclusivamente via método indutivo, não gerará
conhecimento científico. Se levarmos em conta, por exemplo, a afirmação de Newton
(1643-1727) que diz que “todos os corpos se atraem em proporção direta as suas massas
e em proporção inversa ao quadrado da distância entre eles” ou a lei de Avogadro que
estabelece que “todos os gases na mesma temperatura e pressão contêm o mesmo número
de moléculas por unidade de volume”, podemos perceber nitidamente que o problema
da indução põe em xeque a autoridade dessas leis, pois, se os indícios de que dispomos
são simplesmente que essas leis funcionaram até o momento, como podemos estar
certos de que elas não serão refutadas por ocorrências futuras? Essa é uma pergunta
que David Hume (1711-1776) fazia com frequência.
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Foi basicamente nesses termos que o problema da indução foi posto no mundo
moderno, sendo-lhe apresentada três alternativas de soluções fundamentais: a solução
objetivista, a qual consiste em considerar a existência de regularidades que denotam
uniformidade da natureza capaz de admitir a generalização das experiências
uniformes; a solução subjetivista, a qual consiste em admitir a uniformidade categórica
do intelecto, e, por consequência, da forma geral da natureza que dele depende; e a
solução pragmática, ou crítica, que reconhece a impossibilidade de justificação teórica
sem negar a legitimidade do problema, adotando a interpretação probabilística da
ocorrência de determinadas regularidades em amostras examinadas, supondo-se que as
referidas proporções se mantêm-se para todos os exemplos, salvo provas em contrário.
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Entretanto, para além das três soluções, o problema da indução ainda não se desenlaça
plenamente na medida em que não se verifica fundamentação lógica sustentável que
justifique predições. Mesmo quando se busca alternativas fundamentadas nas justificações
sobre a existência de características que se manifestam com regularidade no tempo e
espaço como essências permanentes (problema dos universais), as evidências não nos
permitem solucionar na prática a questão, pois
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É válida uma ressalta, considerando uma escala de possibilidade indutiva, nós fugimos
daquele velho e antiquado padrão que diferencia indução e dedução apenas dizendo que
indução parte do particular para o geral, e dedução, do geral para o particular. Isso não
está incorreto, mas é uma forma muito reducionista de enxergar a discrepância entre
ambas e, infelizmente, quase não vemos tal diferenciação em grande parte da literatura,
empobrecendo a difusão da Lógica. Dedução tem força argumentativa, enquanto indução
tem menos, e falácia, zero, conforme mostra a figura a seguir:
Dedutivo (100%)
Necessário (maximal)
Indutivo (50%)
Impossibilidade (0%)
Falácia
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É por este motivo que, em Lógica, não podemos dizer que a ciência é dedutiva,
contrariamente aos pensamentos de Karl Popper (1902-1994), pois, mesmo que a
teoria (ou até mesmo a lei, que pode mudar em diferentes sentenças, como a questão da
completa diferença de propriedade da gravidade na Física Clássica e na Física Quântica)
seja plenamente corroborada, a mudança de paradigma pode ocorrer (Thomas Kuhn).
Em outras palavras, o nível absoluto de certeza na ciência não pode ser alcançado, por
isto, à luz de um pensamento Lógico, toda ciência seria indutiva, como propôs Bacon.
Mas, em um “grau especial”.
Por mais que, em uma primeira impressão, transpareça que as duas posturas metodológicas
sinalizam vias isoladas e exclusivas a serem empregadas no processo de descoberta e
descrição das coisas, existem complementaridades assumidas por diversas correntes
de pensamento variando no enfoque dado ao valor (legitimidade) e predominância
da natureza indutiva e dedutiva incorporada no processo de desenvolvimento do
conhecimento científico.
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
Hipótese é a suposição que se faz (seja sem prova atual, seja com provas
reconhecidamente insuficientes) para tentar deduzir dela conclusões
concordantes com fatos reais, na idéia de que as conclusões às quais
a hipótese conduz são verdades conhecidas, a hipótese em si deve ser
verdadeira ou pelo menos verossimilhante. Se a hipótese se vincula à causa
ou ao modo de produção do fenômeno, servirá, uma vez admitida, para
explicar os fatos suscetíveis de serem deduzidos dela; e esta explicação
é o objetivo de um grande número, se não a maior parte, das hipóteses
[...]. Vemos, pelo que precede, que as hipóteses são inventadas para
acelerar a aplicação do método dedutivo. Ora, para descobrir a causa
de um fenômeno por esse método, o procedimento consiste em três
etapas: a indução, o raciocínio e a verificação [...]. O método hipotético
suprime a primeira dessas três operações (a indução constatando a lei)
e se contenta com as duas outras (o raciocínio e a verificação). A lei
de que se deduzem consequências é suposta em vez de provada. Este
procedimento pode evidentemente ser legitimado por uma condição, a
saber, que a natureza do caso seja tal que a operação final, a verificação,
equivalerá a uma indução completa. Se a lei hipoteticamente estabelece
resultados verdadeiros, esta será a prova de que ela mesma é verdadeira,
desde que o caso seja tal que uma lei falsa não possa conduzir também a
um resultado verdadeiro, e que nenhuma outra lei, a não ser a suposta,
conduza às mesmas conclusões (MILL, 1984, 232-233).
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» Psicológico: por que, não obstante, todas as pessoas sensatas esperam, e creem
que exemplos de que não têm experiências conformar-se-ão com aqueles de que
têm experiência?
Seguindo esta linha de pensamento, Karl Popper se destaca como nome de proeminência
ao descartar o “problema da indução” como cientificamente ilegítimo e assumir uma
abordagem hipotético-dedutiva de falseamento de leis e teorias (consideradas conjecturas/
hipóteses) como única via metodológica capaz de testar suas consistências, identificando
incongruências com o propósito de estabelecer enunciados próximos da verdade conforme
suas capacidades de resistirem ao crivo das tentativas críticas de torná-los falsos, ao
invés de buscar evidências experimentais que possam assumir a função de validadoras
de enunciados. Desta forma, nas próprias palavras de Popper,
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
Neste processo, a linguagem (como campo teórico de disputa crítica) e o método (como
campo empírico de testagem) assumem papéis centrais na diferenciação proposta entre
ciência e não ciência no estabelecimento dos critérios de demarcação da validade de
enunciados. De acordo com a perspectiva hipotético-dedutiva popperiana,
Isso coloca a visão de Popper em contraste explícito com empiristas lógicos como
Rudolf Carnap (1891-1970) e Carl G. Hempel (1905-1997), que desenvolveram
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O QUE É CIÊNCIA | UNIDADE I
Popper propõe resolver esses problemas gêmeos de indução oferecendo uma explicação
da preferência teórica que não se apoia na inferência indutiva e, assim, evita os problemas
de Hume por completo. Embora os detalhes técnicos dessa conta evoluam ao longo de
seus escritos, ele enfatiza consistentemente dois pontos principais.
Primeiro, ele sustenta que uma teoria com maior conteúdo informativo deve ser preferida
a outra com menos conteúdo. Aqui, o conteúdo informativo é uma medida de quanto
uma teoria exclui; grosso modo, uma teoria com conteúdo mais informativo faz maior
número de afirmações empíricas e, portanto, tem maior grau de falseabilidade. Em
segundo lugar, Popper sustenta que uma teoria é corroborada pela aprovação em
testes severos.
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
uma teoria é indutivamente confirmada por predizer com sucesso eventos que, se a
teoria fosse falsa, teriam sido altamente improváveis. De acordo com a última visão,
uma previsão bem-sucedida desse tipo, sujeita a certas ressalvas, fornece evidências de
que a teoria em questão é realmente verdadeira.
Embora Popper rejeite consistentemente a ideia de que temos justificativa para acreditar
que teorias científicas não falsificadas e bem corroboradas com altos níveis de conteúdo
informativo são verdadeiras ou provavelmente verdadeiras, seu trabalho sobre os graus
de verossimilhança explora a ideia de que tais teorias são mais perto da verdade do que
as teorias falsificadas que eles substituíram. A ideia básica é a seguinte:
Com esta definição, pode-se agora perceber que Popper poderia incorporar a verdade
em sua conta de sua preferência teórica: “teorias não falsificadas com altos níveis de
conteúdo informativo estavam mais perto da verdade do que as teorias falsificadas que
substituíram ou suas teorias não falsificadas, mas menos concorrentes informativas”.
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Capítulo 3
PARADIGMAS, RACIONALISMO, RELATIVISMO,
OBJETIVISMO E SUBJETIVISMO
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
Para Kuhn, as descobertas não ocorrem apenas em termos de novos fatos, mas também
há invenções em termos de novas teorias. Ambas as descobertas de novos fatos e a
invenção de novas teorias começam com anomalias, que são violações das expectativas de
paradigma durante a prática da ciência normal. As anomalias podem levar a descobertas
inesperadas. Para Kuhn, descobertas inesperadas envolvem processos complexos que
incluem o entrelaçamento de novos fatos e novas teorias. Fatos e teorias andam de mãos
dadas, pois tais descobertas não podem ser feitas por simples inspeção.
O encerramento de uma crise ocorre de uma das três maneiras possíveis, de acordo
com Kuhn.
Kuhn enfatizou que a resposta inicial de uma comunidade em crise não é abandonar seu
paradigma. Em vez disso, seus membros envidam todos os esforços para salvá-lo por
meio de modificações ad hoc até que as anomalias possam ser resolvidas, tanto teórica
como experimentalmente.
A ciência normal, então, serve como uma oportunidade para revoluções científicas.
Se não houver contraexemplos, argumentou Kuhn, o desenvolvimento científico será
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O QUE É CIÊNCIA | UNIDADE I
interrompido. A transição da ciência normal por meio da crise para a ciência extraordinária
envolve dois eventos principais.
Para Kuhn, uma comunidade só pode aceitar o novo paradigma se considerar o antigo
errado. A diferença radical entre os velhos e os novos paradigmas, de tal forma que
o velho não pode ser derivado do novo, é a base da tese da incomensurabilidade. Em
essência, não existe uma medida ou padrão comum para os dois paradigmas. Deste
modo, a mudança na imagem da ciência é o resultado de uma mudança nos padrões da
comunidade sobre o que constitui seus quebra-cabeças e suas soluções.
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
Uma segunda abordagem para definir o relativismo de forma mais ampla, concentrando-se
principalmente no que os relativistas negam, é quando se trabalha conceitos contrastantes
com o de relativismo, o que equivale à rejeição de uma série de posições filosóficas
interconectadas. Tradicionalmente, o relativismo é contrastado com:
» Realismo: quando definido de tal forma que envolve tanto a objetividade quanto
a singularidade da verdade, também se opõe ao relativismo.
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O QUE É CIÊNCIA | UNIDADE I
No nível empírico, pode-se pensar que existem muitas divergências morais substanciais,
mas também alguns acordos morais notáveis em diferentes sociedades.
O tema central em posições mistas é que nem o relativismo nem o objetivismo são
totalmente corretos: pelo menos nos termos em que são frequentemente expressos,
essas alternativas estão sujeitas a sérias objeções e, ainda assim, são motivadas por
preocupações genuínas. Pode parecer que uma posição mista poderia ser desenvolvida
para nos dar o melhor dos dois mundos.
No entanto, uma implicação da maioria das posições mistas parece ser que, em alguns
aspectos, alguns julgamentos morais são objetivamente verdadeiros (ou justificados),
enquanto outros têm apenas verdade relativa (ou justificação). Isso não deve ser
confundido com a alegação de que uma ação pode ser certa em algumas circunstâncias,
mas não em outras.
Por exemplo, “A poligamia A está errada nas circunstâncias B” podem ser verdadeiras
em um sentido absoluto. Em contraste, uma posição mista pode dizer que “a poligamia
está certa”, é verdadeira em relação a uma sociedade e falsa em relação a outra (onde
as duas sociedades diferem, não necessariamente em circunstâncias, mas em valores
fundamentais), enquanto outros julgamentos morais têm verdade absoluta ─ valor. Esta
é uma concepção de moralidade bastante desunificada e suscita muitas questões. Um
proponente de uma visão mista teria que mostrar que é um retrato preciso de nossas
práticas morais, ou que é uma proposta plausível para reformá-las.
3.3.1. Subjetivismo
De acordo com a visão subjetivista, o significado da vida varia de pessoa para pessoa,
dependendo dos estados mentais variáveis de cada um. Exemplos comuns são pontos
de vista de que a vida de uma pessoa é mais significativa, quanto mais alguém consegue
o que deseja fortemente, mais atinge seus objetivos mais bem classificados ou mais
faz o que acredita ser realmente importante. Ultimamente, um subjetivista influente
tem sustentado que o estado mental relevante é cuidar ou amar, de modo que a vida é
significativa apenas na medida em que alguém se preocupa ou ama algo.
Subjetivismo foi dominante durante grande parte do século XX, quando o pragmatismo,
o positivismo, o existencialismo, neocognitivismo e humanismo foram bastante
influentes. No entanto, no último trimestre do século XX, “equilíbrio reflexivo” tornou-se
um procedimento argumentativo amplamente aceito, em que reivindicações normativas
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
Existem dois outros argumentos mais circunscritos para o subjetivismo. Um deles é que
o subjetivismo é plausível, uma vez que é razoável pensar que uma vida significativa
é autêntica. Se a vida de uma pessoa é significativa na medida em que ela é fiel a si
mesma ou à sua natureza mais profunda, então temos alguns motivos para acreditar que o
significado simplesmente é uma função de satisfazer certos desejos mantidos pelo indivíduo
ou realizar certos fins seus. Outro argumento é que o significado vem intuitivamente de
se perder, isto é, de se tornar absorvido por uma atividade ou experiência. O trabalho
que concentra a mente e os relacionamentos que são absorventes parece central ao
significado e sê-lo por causa do elemento subjetivo envolvido se dá por causa, justamente,
da concentração e absorção.
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O QUE É CIÊNCIA | UNIDADE I
3.3.2. Objetivismo
Um objetivista “puro” pensa que ser o objeto dos estados mentais de uma pessoa não
desempenha nenhum papel em tornar a vida dessa pessoa significativa. Relativamente
poucos objetivistas são puros, assim interpretados. Ou seja, a grande maioria deles
acredita que uma vida é mais significativa não apenas por causa de fatores objetivos, mas
também em parte por causa de fatores subjetivos, como cognição, afeto e emoção. Mais
comumente aceita é a visão híbrida capturada pelo famoso slogan conciso: “O significado
surge quando a atração subjetiva encontra a atratividade objetiva”.
Esta teoria implica que nenhum significado acumula para a vida de alguém se alguém
acredita em, é satisfeito por, ou se preocupa com um projeto que não vale a pena, ou se
alguém assume um projeto que vale a pena, mas não consegue julgá-lo importante, não
se satisfaz com ele, se preocupa com ele ou se identifica com ele. Diferentes versões desta
teoria terão diferentes descrições dos estados mentais apropriados e da integridade.
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
ao significado (em oposição à moralidade) são puros objetivistas, pois afirmam que
certas ações conferem significado à vida, independentemente das reações do agente
a elas. Nesta visão, quanto mais alguém beneficia os outros, mais significativa a vida
de alguém, independentemente de gostar de beneficiá-los, acredita que eles devem ser
ajudados etc.
A meio caminho entre o puro objetivismo e a teoria híbrida está a visão de que ter
certas atitudes proposicionais em relação a atividades finalmente boas aumentaria o
significado da vida sem ser necessário para ela. Por exemplo, tem havido várias tentativas
de capturar teoricamente o que todas as condições objetivamente atraentes,
inerentemente valiosas ou finalmente valiosas têm em comum na medida em que têm
significado. Alguns acreditam que todos podem ser capturados como ações criativas,
enquanto outros sustentam que eles exibem retidão ou virtude e talvez também
envolvam recompensa proporcional à moralidade.
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Capítulo 4
FEYARABEND, REALISMO E INSTRUMENTALISMO
Feyerabend passou a ser visto como um relativista cultural importante, não apenas
porque enfatizou que algumas teorias são incomensuráveis, mas também porque defendeu
o relativismo na política e também na epistemologia. Suas denúncias do imperialismo
ocidental agressivo, sua crítica da própria ciência, sua conclusão de que “objetivamente”
pode não haver nada a escolher entre outras afirmações que trabalham vertentes como
a astrologia, vodu e medicina alternativa, bem como sua preocupação com as questões
ambientais garantidas, fez de Feyerabend um herói da contracultura e da antitecnologia.
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UNIDADE I | O QUE É CIÊNCIA
Além disso, é enganoso pensar que existe uma escolha direta e clara entre ser realista
e não realista sobre determinado assunto. Em vez disso, pode-se ser mais ou menos
realista sobre determinado assunto. Além disso, existem muitas formas diferentes que
o realismo e o não realismo podem assumir.
Existem dois aspectos gerais do realismo, ilustrados pelo realismo sobre o mundo
cotidiano dos objetos macroscópicos e suas propriedades.
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O QUE É CIÊNCIA | UNIDADE I
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REFERÊNCIAS
BARRETO, José Anchieta Esmeraldo; MOREIRA, Rui Verlaine Oliveira. A natureza da indução.
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