Conversa Sobre Valores
Conversa Sobre Valores
Conversa Sobre Valores
RESUMO: Neste artigo descrevemos a conversa sobre valores, um recurso terapêutico de epistemologia PEDRO PABLO
construcionista social. Ela tem como objetivos ajudar o cliente a nomear valores importantes para si, a partir
SAMPAIO MARTINS1
da análise conjunta e produção de sentidos sobre acontecimentos de sua vida, e construir possibilidades
para que eles estejam mais presentes e bem cuidados em suas ações e decisões cotidianas. Descrevemos
quais foram nossas experiências que inspiraram a construção deste recurso, sua fundamentação teórica, ANA FLÁVIA
os passos que o compõem na prática e seus principais efeitos. Eles são: a construção de um senso de NASCIMENTO
orientação diante do problema; a possibilidade de caminhar de maneira visual diante do que é importante MANFRIM2
para o cliente, considerando sua proximidade espacial em determinado marco temporal; e a reflexão sobre
quem nos tornamos conforme orientamos nossas decisões a partir do que consideramos importante.
Um caso clínico é apresentado para ilustrar o uso do recurso. GIOVANNA CABRAL
DORICCI3
Palavras-chave: Terapia; Prática clínica; Construcionismo social; Produção de sentidos.
1
ABSTRACT: This article describes “values talk”, a therapeutic resource derived from a social Intervenções
constructionist epistemology. It aims to help the client to name important values for themselves, from the Terapêuticas, São Paulo,
joint analysis and meaning making about events in their lives, and to create possibilities for these values to SP, Brasil
be more present and well taken care of in clients’ actions and daily decisions. We describe the experiences 2
Universidade Federal de
that have inspired the construction of this resource, its theoretical foundations, the steps that make the
Uberlândia, MG, Brasil
practice, and its main effects. These effects are: the construction of a sense of orientation in face of the
problem; the possibility of walking alongside the client in a visual way in regards to what is important to 3
Universidade de Ribeirão
them; and the reflection about who we become as we orient our decisions from the standpoint of what we Preto, SP, Brasil
deem important. A clinical case is presented in order to illustrate the use of the resource.
Keywords: Therapy; Clinical practice; Social constructionism; Meaning making.
RESUMEN: Este artículo describe la conversación sobre valores, un recurso terapéutico de epistemología
construccionista social. Suyos objetivos son ayudar al cliente a nombrar valores que son importantes
para él, a partir del análisis y la producción de significados acerca de eventos en su vida, y construir
posibilidades para que estos valores sean más presentes y bien atendidos en sus acciones y decisiones
diarias. Describimos las experiencias que inspiraron la construcción de este recurso, sus fundamentos
teóricos, los pasos que lo componen en la práctica y sus principales efectos. Ellos son: la construcción
de un sentido de orientación frente al problema; la posibilidad de caminar junto al cliente de manera visual
acerca de lo que es importante para él; y la reflexión sobre en quién nos convertimos cuando guiamos
nuestras decisiones desde el punto de vista de lo que consideramos importante. Se presenta un caso
clínico para ilustrar su uso. Recebido em 10/07/2020
Palabras clave: Terapia; Practica clínica; Construccionismo social; Producción de significados. Aprovado em 12/02/2021
https://doi.org/10.38034/nps.v30i69.584
Um fotógrafo-artista me disse uma vez: veja que o pingo de sol no couro de
18 NPS 69 | Abril 2021
um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar.
Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem
com balança nem com barômetro etc. Que a importância de uma coisa há que
ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.
INSPIRAÇÕES PRÁTICAS
Propus a P. que deixássemos de lado por alguns momentos seu dilema atual
e que ele me levasse de volta à história de sua escolha pelo curso de Medicina.
Essa pergunta é um exemplo da influência anteriormente descrita da entrevista
relacional (Madigan, 2017): remembrar os valores centrais que estão envolvidos
em determinadas escolhas passadas. Ele me contou que sempre se interessou por
estudar a vida. Tanto que, no Ensino Médio, pensava de fato em cursar Biologia.
Contudo, quando o momento do vestibular se aproximou, P. tinha notas altas que
lhe davam a chance de entrar em um curso mais concorrido e mais valorizado.
Isso era explícito na visão das pessoas significativas ao seu redor e na sociedade
como um todo. Segundo o que me contou, P. pensou que a Medicina era também
pelo curso de Medicina. Fiz perguntas que buscavam ajudá-lo a se conectar com
esses valores, explorando seus sonhos, ideais e expectativas diante de sua decisão.
Enquanto buscava nomear com ele explicitamente esses valores, eu explorava
também seus sentidos, com perguntas como: “então, P., seria possível dizer que
o interesse pela vida foi o principal guia de sua decisão?”, “você está me dizendo que,
além do interesse pela vida, você tinha também outro interesse mais específico, que
seria o de tornar a vida das pessoas melhor?”, e “como você imaginava que cuidar
das pessoas tinha a ver com quem você é?”. Esses exemplos mostram como eu,
terapeuta, e P. negociamos nomes e entendimentos para seus valores, construindo-os,
naquele momento, no tempo curto, como uma realidade compartilhada entre nós.
Chegamos, então, na nomeação explícita de três valores como centrais: vida,
qualidade de vida e cuidado.
Agora que sabíamos que valores orientaram P. em sua escolha por ser
médico alguns anos antes, podíamos refletir sobre como esses valores estavam
contemplados em sua vida atual no internato. Escrevemos seu nome em um post-it
e o posicionamos no centro de minha mesa. Em outros três post-its, pedi a ele que
escrevesse os valores que havíamos nomeado: vida, qualidade de vida e cuidado.
Então, solicitei que ele criasse uma representação de como, naquele momento
(marco temporal), aqueles valores estavam presentes em sua vida. Quanto mais
próximo do seu nome, mais presente e bem cuidado um valor estaria (espaço).
A representação foi feita assim:
Na terapia com P., então, nosso passo seguinte era construir diferentes formas
de trazer seus valores para mais próximo em sua vida. Essa tarefa consistiria em
entender: “que formato vida, qualidade de vida e cuidado com as pessoas pode
ter para você hoje”? Foi proposital que a pergunta tenha sido feita em termos
amplos. Afinal, minha intenção era nos afastar de uma conversa sobre sair ou ficar
no curso e, alternativamente, refletir sobre como, independentemente de sair ou de
ficar, P. pode cuidar de seus valores, que são mais importantes do que a decisão em
si. Dedicamos algum tempo a essa conversa, na qual resumidamente concluímos:
EM CONCLUSÃO
1-13.
Spink, M. J. P. (Org.). (2004). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano:
aproximações teóricas e metodológica (3a ed.). São Paulo: Cortez.
White, M. (2009). Mapas da prática narrativa. Porto Alegre: Pacartes.