46269-Texto Do Artigo-163892-1-10-20170208
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2016v11n2p402
Resumo
O objetivo foi evidenciar as dificuldades e os limites apresentados por licenciandos de um curso de Pedagogia
para tratarem sobre a resolução de problemas no processo de ensino da geometria. Participaram 42 acadêmicos
matriculados no quarto ano de um curso de Pedagogia de uma universidade pública, localizada no norte do
estado do Paraná. Eles resolveram uma prova escrita composta por 10 problemas envolvendo o conteúdo de
geometria dos anos iniciais, e de acordo com as notas obtidas nesta prova, foram selecionados quatro acadêmicos
para serem entrevistados, individualmente. Os resultados revelaram que os futuros professores investigados
encontram-se despreparados para ensinar matemática por meio da resolução de problemas.
Palavras-chave: Resolução de problemas; Anos iniciais do ensino fundamental; Formação de professores.
Abstract
The objective was to investigate the difficulties and limits presented by licensees of a Pedagogy course to
address on problem solving in the teaching geometry. They participated in the work 42 students enrolled in the
fourth year of a pedagogy course of a public university located in the north of Paraná state. They resolved a
written test consisting of 10 problems involving geometry content of the initial years. According to the marks
obtained in this test, four students were selected, which were individually interviewed. The results showed
unpreparedness to teach mathematics through problem solving.
Keywords: Problem solving; Years elementary school initials; Teacher training.
Introdução
A investigação apresentada neste trabalho é referente a dados provenientes da dissertação de
mestrado, cujo título é “Conhecimentos de estudantes de pedagogia sobre a resolução de
problemas geométricos” que, de modo geral, investigou e analisou os conhecimentos sobre
resolução de problemas geométricos que os estudantes de Pedagogia possuem e que se fazem
necessários para a prática efetiva em sala de aula, dando ênfase para os problemas
geométricos que envolvam figuras planas.
Diversas pesquisas tem evidenciado uma preocupação relacionada à formação inicial recebida
pelo Pedagogo no que diz respeito ao ensino da Matemática. Vários fatores são apontados,
tais como, a carga horária reduzida destinada a disciplinas que envolvam esta temática
O parecer CNE/CP 9/2001 indica que é necessário que o aluno veja com clareza qual a
relação entre o que ele está aprendendo na licenciatura e o currículo que ensinará no segundo
segmento do Ensino Fundamental, ou seja, é importante que o professor que está atuando no
processo de formação deste aluno e o projeto pedagógico do curso de licenciatura forneçam
subsídios suficientes para que ocorra esta articulação. Além disso, é função dos cursos de
preparação de futuros professores suprir as eventuais deficiências de escolarização básica que
eles receberam tanto no Ensino Fundamental como no Ensino Médio.
Com relação aos conteúdos matemáticos presentes nos cursos de Pedagogia, Curi (2004)
apontou que não há uma uniformidade e nem ao menos apontamentos legais que direcionem o
tratamento que deverá ser dado ao trabalho com os saberes disciplinares de Matemática para
as séries iniciais do Ensino Fundamental. Logo, cada instituição, obedecendo às diretrizes
curriculares, na elaboração do Projeto Pedagógico deve apontar com clareza qual conteúdo
matemático e quando ele deverá ser trabalhado com os licenciandos.
Curi (2004) realizou uma análise em ementas de trinta e seis cursos de Pedagogia nas
disciplinas da área de Matemática de instituições que haviam reformulado suas grades
curriculares a partir do ano de 2000. Nessa análise, constatou diferenças relevantes ao número
e aos nomes de disciplinas, em termos da bibliografia utilizada e do perfil do formador.
Segundo a autora, à disciplina que trata dos conhecimentos didáticos dos conteúdos
matemáticos é denominada nas grades curriculares como Metodologia do Ensino de
Matemática.
Para Ferreira e Passos (2014, p.1810) ao realizar estudos sobre essas disciplinas de
Metodologia do Ensino de Matemática verifica-se “uma carga horária reduzida e insuficiente
para uma abordagem significativa de conteúdos, fundamentos e métodos, indicando,
possivelmente, lacunas na formação do professor”.
Na instituição na qual foi realizada esta pesquisa, o curso apresenta duas disciplinas
obrigatórias na área da Matemática: Metodologia do Ensino de Matemática – 1ª a 4ª séries do
Ensino Fundamental I, com carga horária de 68 h/a, e Metodologia do Ensino de Matemática
– 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental II com a mesma carga horária de 68 horas aulas.
Sendo assim, ao decorrer de toda a graduação os acadêmicos do curso possuem apenas 136
A maneira pela qual o conteúdo será trabalhado com os alunos está diretamente relacionada
com a formação recebida pelo professor que conduzirá a aula. Segundo Pirola (2000) uma
formação deficitária deste professor, em especial na geometria, poderá levá-lo a ensinar
somente aquilo que ele gosta, deixando para segundo plano tópicos importantes referentes ao
assunto a ser abordado. Para este autor, um dos motivos da geometria não ser ensinada nas
escolas decorre da falta de preparação dos professores que muitas vezes não conseguem
solucionar problemas simples de geometria.
Metodologia
Este trabalho se configura como um estudo de abordagem qualitativa em que os dados são
construídos e o pesquisador é visto como o principal instrumento de investigação, uma vez
que possui a necessidade de contato direto e prolongado com o campo, para poder captar os
significados dos comportamentos observados (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER,
2002).
Assim, para identificar e analisar as dificuldades e os limites sobre a resolução de problemas
no ensino da geometria que são apresentados por estudantes de Pedagogia investigou-se 42
alunos que estavam matriculados em duas turmas do quarto ano desse curso, oferecido em
uma universidade pública do interior do Estado do Paraná. A escolha desses participantes se
deu pelo fato de já terem cursado durante a graduação as disciplinas referentes à metodologia
do ensino de Matemática, que provavelmente lhes forneceu subsídios para discorrerem sobre
o ensino da geometria.
A análise dos dados nesta prova escrita foi realizada em termos das notas médias obtidas,
relatos das dificuldades para resolver os problemas, e nas etapas de resolução de problemas de
Brito (2006). Com base nestas notas, selecionou-se dois alunos que obtiveram a maior nota
(4N.6 e 4N.4) e dois alunos que obtiveram a menor nota (4N.5 e 4N.16) para serem
entrevistados.
Segundo Tozoni-Reis (2010, p.26), a entrevista “é uma das técnicas muito presentes na etapa
da coleta de dados da pesquisa qualitativa, em especial, no trabalho de campo. Ela tem como
objetivo buscar informações na “fala” dos entrevistados”. Nesta pesquisa, utilizou-se as
entrevistas semiestruturadas que, para Fiorentini e Lorenzato (2009, p.121) são aquelas em
que “o pesquisador, pretendendo aprofundar-se sobre um fenômeno ou questão específica,
organiza um roteiro de pontos a serem contemplados durante a entrevista”, podendo, de
acordo com o desenvolvimento desta, alterar a ordem deles e, até mesmo, formular questões
não previstas inicialmente.
Assim, as entrevistas com os licenciandos selecionados foram áudio-gravadas e realizadas
individualmente em data, horário e local, providenciados de acordo com a disponibilidade dos
participantes.
As entrevistas buscavam evidenciar os conhecimentos dos participantes sobre a resolução de
problemas no ensino da geometria. Para tanto, elaborou-se um roteiro, contendo sete questões,
que podem ser observadas no quadro 1.
5 Tem algum conteúdo de geometria que você não gostaria de ensinar? Explique
6 Em suas aulas de geometria durante a graduação, quais estratégias você aprendeu para ensinar este
conteúdo?
7 Você acredita que o curso de Pedagogia desta Universidade modificou/ampliou seus conhecimentos sobre
geometria e o seu ensino por meio da resolução de problemas?
Fonte: Os autores.
As análises das entrevistas seguiram a Análise de Conteúdos proposta por Bardin (1977) que
é organizada por meio de três fases, identificadas pela autora como polos cronológicos:
1) Pré-análise: neste momento, as entrevistas passaram pelo processo de transcrição para que
trechos pudessem ser selecionados de forma a evidenciar os conhecimentos dos participantes
sobre a resolução de problemas no ensino de geometria. Foi realizada a leitura flutuante destes
materiais que segundo Bardin (1977) é o momento em que o pesquisador estabelece contato
com os documentos que serão analisados, conhecendo todas as respostas e deixando-se
invadir por impressões e orientações.
2) Exploração do material: realizou-se uma organização e preparação do material a ser
investigado a fim de interpretá-lo. Bardin (1977) afirma que para tratar o material é necessário
codificá-lo. Sendo assim, a codificação dos materiais estabeleceu um código que possibilitou
que cada elemento da amostra fosse identificado, permitindo que a pesquisadora pudesse
retornar a um documento específico quando fosse preciso. Logo, a identificação de cada
sujeito da pesquisa acompanha o ano que o aluno está matriculado (4), o turno que frequenta
(N) e um número aleatório que sua prova recebeu.
3) Tratamento dos resultados, inferência e interpretação: os resultados passam a ganhar
significados. Segundo Bardin (1977, p.101), “os resultados brutos são tratados de maneira a
serem significativos (falantes) e válidos”.
Dessa forma, os dados foram sistematizados e agrupados em três categorias: 1) Resolução de
problemas/Exercícios; 3) Ensino da geometria por meio da resolução de problemas; 4)
Formação no curso de Pedagogia.
Essas categorias emergiram das respostas apresentadas pelos investigados. Para isso, foram
considerados todos os depoimentos em sua totalidade e em seguida formados agrupamentos
4N.4: Pra exercitar aquilo que ele já sabe, pra fixar aquilo
que ele já conhece, que já foi passado em sala
Fonte: Os autores.
Para esta autora, um exercício pode ser outro tipo de tarefa na qual o aluno não precisa tomar
nenhuma decisão sobre os procedimentos adequados à solução.
Já na segunda subcategoria, a unidade de registro relacionada à definição do que seria um
problema foi „algo que leve a criança a pensar‟. A resposta do sujeito 4N.6 ao compreender o
problema como um desafio está de acordo com a definição de Echeverría (1998) em que para
uma situação ser caracterizada como um verdadeiro problema, é necessário que ela se
constitua em um real desafio em que os alunos buscarão por meio de uma sequência de ações
ou operações obter resultados.
4N.5: Tudo
Como realizaria 4N.4: acho que é complicado né a gente dizer... não sei,
este ensino em Preciso estudar não sei
sala de aula
4N.6: teria que me aprofundar um pouco
Fonte: Os autores.
Fonte: Os autores.
Conclusão
Nesta pesquisa, o objetivo foi evidenciar as dificuldades e os limites dos acadêmicos que
estão matriculados no último ano de um curso de graduação em Pedagogia para tratarem
sobre a resolução de problemas no ensino da geometria.
Referências
CURI, E. Formação de professores dos anos iniciais: uma análise de conhecimentos para
ensinar Matemática e de crenças e atitudes que interferem na constituição desses
conhecimentos, São Paulo: 2004. Tese (Doutorado em Educação Matemática), PUC/SP.
CURI, E. A formação matemática de professores dos anos iniciais do ensino fundamental face
às novas demandas brasileiras. Revista Iberoamericana de Educación (Online), Publicação
Eletrônica pela OEI, v. 37, p. 01-09, 2006.
SHULMAN, L. S. Those who understand: the knowledge growth. In: Teaching Educational
Researcher, 1986, 4-14.