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Por vezes, considera-se que a atual expansão dos TLR é uma “moda passageira”, mas não
se leva em conta o enorme volume de investimento da indústria diagnóstica nesse segmento
e o menu de testes em crescente ampliação. O Point-of-Care Testing (POCT) ou Teste
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Laboratorial Remoto (TLR) já é uma realidade mundial e tudo indica que continuará a
crescer em escopo e utilização nas próximas décadas.
I – TERMOS E DEFINIÇÕES
São vários os termos usados para definir este segmento da atividade laboratorial, tanto na
língua inglesa como na língua portuguesa. Temos como principais denominações e siglas,
algumas traduzidas outras adaptadas: testes laboratoriais remotos (TLR), testes
laboratoriais portáteis, testes rápidos, point-of care testing (POCT), near patient testing
(NPT - testes próximos ao paciente); physicians’ office testing (testes em consultório
médico), alternative site testing (testes em locais alternativos), entre outros. Em francês,
usa-se “analyses de biologie délocalisées” (ADBD), e, em espanhol, “puntos periféricos de
obtención y recogida de especimenes” (PPORE). Esse posicionamento recomenda que seja
utilizada no Brasil a nomenclatura “Teste(s) Laboratorial(is) Remoto(s)”, tendo como sigla
“TLR”, e assim definida:
Teste Laboratorial Remoto (TLR): teste laboratorial passível de realização em sistemas
analíticos especificamente desenvolvidos de forma a permitir a sua execução em locais que
podem ou não pertencer à área física licenciada pela Vigilância Sanitária como parte
integrante de um laboratório clínico. Os equipamentos e insumos são em geral portáteis e
de utilização simples e rápida, e os testes podem ser realizados por equipe devidamente
treinada e capacitada, em qualquer local próximo ao paciente.
Siglas
TLR – Teste(s) Laboratorial(is) Remoto(s)
POCT – Point-of-Care Testing
NPT – Near Patient Testing
HT – Home Testing
TD – Teste domiciliar
SBPC/ML – Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CAP – College of American Pathologists
II– ESCOPO
Por definição, fazem parte do escopo deste documento os testes laboratoriais executados
dentro de estabelecimentos de saúde ou em locais onde se provêm cuidados médicos,
porém realizados fora da área física delimitada e específica de um laboratório clínico. A
execução desses testes não requer pessoal de laboratório fixo no local de execução,
podendo ser realizada por qualquer profissional de saúde devidamente treinado para
integrar o grupo operacional de TLR. Os equipamentos utilizados na execução de tais
exames são, por definição, portáteis, oferecendo a possibilidade de transporte para as
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proximidades do local onde o paciente se encontra.
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O menu de testes oferecido dentro do escopo de TLR é constantemente ampliado, seja pelo
desenvolvimento de novas tecnologias, seja pela adaptação de equipamentos existentes às
condições de portabilidade requeridas. Recomendamos que o leitor se mantenha atualizado
continuamente com relação aos equipamentos e testes disponíveis, tanto no exterior como
no Brasil. Deve-se lembrar também que pode haver um intervalo considerável entre o
surgimento de uma nova metodologia e seu registro junto à ANVISA, a qual também deve
ser consultada. A Tabela 1 lista os principais sistemas analíticos tipo TLR disponíveis
globalmente à época da publicação desse documento.
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sangramentos
Fezes Sangue oculto Sangramento intestinal
Urina Tiras reagentes, catalase, cetonas Exame químico de urina
Miscelânea ph vaginal, pH de escarro, sangue Diagnóstico em geral
oculto gástrico
O teste laboratorial remoto (TLR) também é conhecido como teste rápido, teste à beira do
leito, teste ao lado do paciente, entre outras denominações. É realizado onde os cuidados
médicos são prestados ao paciente, com várias características que podem ser utilizadas na
sua distinção de outros tipos de testes laboratoriais: fornece resposta rápida (resultado em
poucos minutos); a amostra não necessita ser transportada até um laboratório; a etapa
analítica (processamento) é simplificada; os analistas podem ser experientes ou iniciantes e
oriundos de diferentes profissões da área da saúde (como enfermeiras e médicos); o custo
direto do teste e de seus insumos é, na maioria dos casos, mais elevado do que o custo de
um teste laboratorial tradicional; há múltiplas máquinas e tecnologias (pouca consolidação);
pode ser usado para triagem e, recentemente e cada vez mais, como teste definitivo.
Nas últimas duas décadas, os TLR têm se tornado cada vez mais populares, por oferecerem
várias vantagens potenciais com relação aos testes laboratoriais tradicionais. As principais
vantagens e desvantagens do TLR são:
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Vantagens Desvantagens
Portátil, de execução remota Garantia da qualidade do resultado
Rapidez do resultado Operadores com foco clínico, e não laboratorial
Pequeno volume de amostra Superutilização ou uso inapropriado
Uso de amostras não centrifugadas Pouco uso de normas, regulamentação incipiente
Facilidade de uso Custo
Da mesma forma que o resultado rápido é uma característica essencial do TLR, há outra
característica peculiar a esse tipo de teste que precisa ser desmistificada em nosso meio: a
simplicidade do TLR. Existe o mito de que o TLR é tão simples de ser executado que não
necessita de treinamento, certificação e controle da qualidade, por exemplo. É verdade que
a operação de um analisador de TLR, bem como sua parte analítica, é desenvolvida para que
seja mais simples do que uma tecnologia convencional de laboratório clínico.
Contudo, o TLR continua sendo um teste laboratorial, e com isso está sujeito à maioria das
variáveis que atuam sobre qualquer outro teste laboratorial, sejam elas pré-analíticas,
analíticas ou pós-analíticas. Novamente, a idéia simplista de que “o TLR é à prova de erros”
ou “qualquer um pode realizá-lo” não se aplica à realidade e à rotina de quem pretende
emprega-lo de forma adequada. Aqui surge o ponto crucial para o sucesso da implantação
de um programa de TLR, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo: para se garantir sua
qualidade, sua aplicação correta, os benefícios para o paciente, o médico e as instituições
que o utilizam, bem como sua viabilidade financeira, um programa de TLR tem que ser
muito bem controlado e gerenciado. Especificamente no Brasil, com o grande potencial de
crescimento do TLR e a perspectiva de surgimento de regulamentação e acreditação para as
instituições que realizam esse tipo de teste, já existe uma necessidade imediata de se
desenvolver mecanismos efetivos de controle e gestão dos programas ainda incipientes de
TLR no país, para garantir sua utilização adequada, seu desenvolvimento e seu sucesso.
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IV – ASPECTOS LEGAIS
Alguns equipamentos para TLR estão na categoria menos regulamentada, chamada “waived
testing”. A categoria “waived” originalmente compreendia apenas 8 testes, tendo sido depois
expandida para 13 e, atualmente, para mais de 50, à medida que as novas tecnologias
chegam ao mercado. Contudo, outras agências norte-americanas estão habilitadas a
inspecionar segundo a norma CLIA e incluem outros requisitos adicionais para TLR. As
normas menos complexas são as da CLIA e da Commission on Office Laboratory Acreditation
(COLA).
Para os testes tipo “waived”, tanto a CLIA quanto a COLA requerem apenas que o provedor
dos testes (seja ele ou não um laboratório clínico) se registre junto à Health Care Financing
Administration (atual Centers for Medicare & Medicaid Services) e comprove conformidade
com as instruções do fabricante. O auditor pode solicitar evidências de que o controle da
qualidade é realizado de acordo com essas instruções. A Joint Commission on Accreditation
of Healthcare Organizations (JCAHO) requer que os testes “waived’ tenham controle da
qualidade realizado diariamente e que haja ação corretiva documentada em caso de falha,
que haja rastreabilidade de um resultado a um equipamento e controle da qualidade
específicos, e que haja capacitação formal de todos os operadores.
Controles eletrônicos (“equivalent quality control" ou EQC) podem ser usados, desde que
haja documentação cientificamente válida da sua aceitabilidade. Alguns TLR são classificados
como de moderada complexidade. Em geral, os requisitos para esses testes são a existência
de manuais de procedimentos nos locais de uso, calibração ou verificação da calibração a
cada seis meses, pelo menos dois níveis diários de controle da qualidade documentados com
ações corretivas adequadas e um programa documentado de capacitação do pessoal. À
medida que evolui a tecnologia, novos procedimentos para garantia da qualidade podem ser
necessários, tornando a contínua atualização dos requisitos de acreditação mandatória.
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No Brasil, até o momento não há, infelizmente, legislação específica para TLR, devendo ser
observada a legislação geral para a atividade laboratorial. É importante que o Brasil fique
atento à forma de introdução dessa atividade no contexto médico, de forma a assegurar que
essa área esteja vinculada a um Laboratório Clínico, sob a anuência de seu responsável
técnico e de forma a garantir que os profissionais envolvidos sejam devidamente treinados
em conceitos, teoria e prática das aplicações e da repercussão clínica dos testes realizados.
Os fornecedores de equipamentos devem ser responsabilizados para o seu registro junto aos
órgãos regulamentadores, para que disponibilizem manutenção técnica especializada e
suporte ao usuário, além de garantirem disponibilidade contínua de insumos. Considerando
ainda a existência em nosso país de uma cultura de tolerância ao autodiagnóstico e à
automedicação, acreditamos que estabelecimentos comerciais (distribuidores, farmácias e
“drugstores”) devam ser distintamente reconhecidos somente como revendedores
comerciais, mas com impedimento de execução de testes laboratoriais, destacando-se o fato
incontestável de que o TLR é segmento de prestação de serviços em medicina diagnóstica
laboratorial e deve estar sujeito a todas as leis e normas técnicas que regem essa atividade.
V – ASPECTOS ORGANIZACIONAIS
a) Identificar os processos críticos para o sistema de gestão da qualidade dos TLR em toda a
organização e estabelecer as respectivas seqüências e interações;
b) Determinar os métodos e critérios para a garantia da efetividade da operação e do
controle desses processos;
c) Garantir a disponibilidade de recursos e informações necessárias para dar suporte aos
processos críticos;
d) Monitorar, medir e analisar o desempenho dos processos;
e) Implementar as ações adequadas para que haja:
- conformidade aos requisitos especificados,
- cumprimento das metas da qualidade, e
- melhoria contínua dos processos.
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- atuar de acordo com os procedimentos definidos para resultados fora de determinada faixa
e para resultados críticos,
- praticar a biossegurança e o controle de infecção e dar destinação correta aos resíduos,
- registrar corretamente dados e resultados de forma a garantir a sua rastreabilidade.
Responsável Técnico
pelo Laboratório Clínico
Comitê Multidisciplinar
Gestor do Programa de TLR
Grupo Operacional:
Profissionais de saúde devidamente treinados e
certificados para atuar em uma ou várias áreas do
Programa de TLR
A garantia da qualidade dos TLR deve ser abordada de forma específica, distinta, em alguns
aspectos, daquela dos exames laboratoriais tradicionais. A realização de testes laboratoriais
remotos deve ser mais simples e a obtenção de resultados, mais rápida, de forma a permitir
ao clínico encurtar seu tempo de atuação e ser mais efetivo em um determinado contexto,
gerando melhor resultado final para o paciente. Sendo assim, ela deve abranger muito mais
do que simples controle dos processos analíticos.
• Os TLR devem estar submetidos aos mesmos princípios das Boas Práticas de Laboratório
Clínico e de acreditação em todas as fases do processo. Para cada teste deve haver
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procedimentos documentados definindo:
• Processos pré-analíticos
3. Forma de requisição dos testes;
4. Preparo do paciente;
5. Identificação do paciente e da amostra;
6. Coleta, transporte e preservação dos materiais biológicos;
7. Critérios de rejeição da amostra.
8.
• Processos analíticos
• Validação inicial do sistema analítico, incluindo as suas características de
desempenho quanto à exatidão, imprecisão, linearidade e faixa de trabalho;
• Determinação da correlação entre cada sistema analítico tipo TLR e as
metodologias comparativas do laboratório central, de forma a garantir a
comutatividade dos resultados;
• Procedimentos e materiais para calibração e verificação da calibração;
• Procedimentos e materiais para controle interno da qualidade;
• Instruções de uso e procedimentos documentados relativos aos reagentes,
equipamentos e execução das análises.
•
• Processos pós-analíticos
• Valores de referência e dados para interpretação dos resultados;
• Análise de consistência, liberação dos resultados e emissão de laudos;
• Comunicação de resultados críticos.
•
• Processos ancilares
• Biossegurança;
• Gestão dos resíduos (amostras e reagentes);
• Treinamento e certificação periódica do pessoal operacional;
• Manutenções preventivas e corretivas dos equipamentos;
• Rastreabilidade e conectividade das informações;
• Conformidade com as normas de acreditação PALC;
• Conformidade com as normas legais.
A garantia da qualidade dos TLR é complexa e envolve um grande número de itens a serem
controlados, tais como pacientes, operadores, equipamentos e insumos. E apesar do grande
número de partes envolvidas, a demanda individual de uso de cada teste e de cada
equipamento pode ser pequena e o custo da realização de controles proporcionalmente mais
significativo, gerando dificuldades para a implementação de um adequado controle interno.
Recomenda-se, contudo, que o controle interno seja realizado pelo menos uma vez por
turno de trabalho, ou a cada amostra de paciente, de acordo com a demanda. A
manutenção e a autoverificação dos equipamentos deve seguir rigorosamente as
recomendações do fabricante.
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profissional habilitado e subordinado ao laboratório clínico, mantendo-se a rastreabilidade
dos registros de acordo com as normas de acreditação aplicáveis. Portanto, a análise crítica
e de consistência dos resultados deve ser feita, se não no momento da execução, pelo
menos posteriormente, por profissional habilitado e seguindo a correlação clínico-
laboratorial.
Os testes laboratoriais remotos (TLR) são uma tendência a curto, médio e longo prazos do
mercado diagnóstico. Existem várias razões para o grande interesse nos TLR, que envolvem
a indústria diagnóstica (melhor margem e expansão do mercado), sistemas de saúde
(redução de custos com pessoal, melhor utilização do tempo, redução de períodos de
internação), médicos e pacientes (maior rapidez nos resultados e condução mais efetiva do
paciente, com melhores resultados finais). Pesquisas de mercado realizadas recentemente
nos EUA indicam que um em cada quatro testes laboratoriais (25%) já é feito atualmente
fora do laboratório e que os TLR estão crescendo a uma taxa de 12% ao ano, estimando-se,
assim, que 40% de todos os testes laboratoriais serão executados de forma remota dentro
de 5-10 anos. Nesse mesmo país, em 1998, o mercado do TLR já era de US$ 4,9 bilhões
Contudo, essa análise simplista de custos não pode ser aplicada ao TLR: ao se avaliar o
impacto financeiro do TLR, é mandatório que se analise o custo total dos cuidados médicos
ao paciente naquela situação específica em que o TLR será aplicado, e não apenas o custo
isolado do teste. Isso torna a análise de custo-benefício do TLR muito mais complexa,
porque muitos dos benefícios são difíceis de serem quantificados pelos métodos
convencionais de análise de custo-benefício no laboratório clínico.
• Alguns exemplos são as vantagens que o TLR e seu resultado rápido podem trazer na
redução do tempo de internação, na morbidade/mortalidade dos pacientes, nas
medicações e em vários outros recursos utilizados. Os detalhes dessa análise de
custo-benefício transcendem o escopo desse documento, mas dois pontos devem ser
ressaltados:
• Novas tecnologias, como os TLR, devem ser implementadas apesar de um custo mais
alto por teste, desde que elas, direta ou indiretamente, reduzam os custos totais e/ou
aumentem a efetividade do Sistema de Saúde. Para isso, cada tecnologia, cada ambiente
específico formado por teste, tecnologia e instituição tem que ser estudado em detalhe e
a análise de custo-benefício muito bem feita. Assim, claramente não basta o aforismo
“quanto mais rápido, melhor”, antes muito utilizado para justificar a introdução do TLR.
• Definitivamente não existe uma regra geral e simples para a introdução de um TLR: ela
sempre será específica para cada instituição que o utiliza, e a implantação de um
programa viável e efetivo de TLR vai variar de um hospital para outro, mesmo quando
servido pelo mesmo laboratório clínico. Além disso, a decisão de empregá-lo deve
sempre envolver laboratório clínico, a equipe de saúde que o utilizará e a indústria
diagnóstica que oferece a tecnologia. Essa tríade será sempre essencial para a
viabilização do TLR.
•
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VIII – Considerações finais
Página 15 de 22
A implementação adequada de um programa de TLR é elemento essencial para seu sucesso
e para se atingir uma relação de custo-benefício significativamente favorável, para a
organização e para os pacientes. Simplesmente disponibilizar um TLR não garante um
melhor resultado. O TLR deve ser integrado no fluxo completo de cuidados ao paciente como
um todo, para que se possa atingir os benefícios almejados. Vários critérios devem ser
integrados para que se possa atingir um resultado final. Por exemplo, num atendimento
cardiológico de emergência, o TLR pode fornecer rapidamente o resultado de um teste como
a troponina mas se as etapas seguintes do diagnóstico e tratamento também não estiverem
otimizadas de forma eficiente, o resultado final do processo, como um todo, poderá não ser
satisfatório.
Apesar de não haver dúvidas de que os TLR têm o potencial de produzir um resultado de
exame mais rápido, a questão fundamental é: o quê um resultado mais rápido agrega ao
processo do cuidado ao paciente. Assim, uma pergunta importante para ser respondida é se
o TLR é apenas conveniência ou se ele realmente se traduz em resultados mais efetivos para
o diagnóstico/tratamento do paciente. Por vezes, a informação ou a propaganda do TLR
atingem diretamente a equipe médica clínica, que passa a exercer grande pressão dentro da
organização para a compra e implantação do TLR.
Contudo, o porquê da escolha do TLR nem sempre é claro, e o efeito da novidade pode
confundir a real aplicação e benefício de uma nova tecnologia. Para isso, a análise de
resultados finais (“outcomes”) e o uso dos conceitos da Medicina Baseada em Evidências são
primordiais para uma decisão adequada. Aqui entra o papel fundamental do laboratório
clínico para o sucesso de qualquer programa de TLR: os profissionais do laboratório é que
têm o treinamento e o conhecimento essencial para avaliar essas novas tecnologias e avaliar
o peso das evidências científicas a seu favor (ou em contrário).
Em conclusão, quando bem utilizado, o TLR é uma nova ferramenta de eficácia médica, na
qual um custo mais alto por teste pode trazer benefícios coletivos muito maiores para o
sistema de cuidado ao paciente, quando a sua rapidez, aliada à eficiência de sua utilização e
à sua custo-efetividade, enfoquem o resultado global. Esses benefícios do TLR podem
melhorar o desempenho da tomada de decisão médica integrada, com a participação efetiva
da equipe clínica e com o suporte essencial da equipe laboratorial, enquanto que sua
mobilidade de execução permite um melhor alcance, distribuição e disponibilidade do teste
laboratorial, com o potencial de aumentar também a homogeneidade, igualdade e qualidade
da assistência médica.
Os TLR implantados e geridos com o apoio crucial do laboratório clínico, utilizados de forma
ótima e racional, buscando os melhores resultados para o paciente através da Medicina
baseada nas melhores evidências, poderão contribuir para um Sistema de Saúde que utilize
o melhor conhecimento disponível, que seja focado intensamente nos pacientes e que
funcione de forma descentralizada, mas homogênea e integrada. O laboratório clínico no
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Brasil pode e deve aproveitar a oportunidade de viabilizar essa nova tecnologia, utilizando o
TLR como rotina nas situações específicas em que ele se aplica.
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Anexo 1- Sugestões de requisitos para programas de TLR – Versão 2004
A. INTRODUÇÃO:
A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/ Medicina Laboratorial (SBPC/ML) estabelece requisitos
importantes para o desenvolvimento de TLR em laboratórios clínicos
.
B. GLOSSÁRIO
Teste de laboratório realizado em equipamentos situados, fisicamente, fora
da área técnica central de um laboratório clínico, em geral em locais
próximos ao paciente. Exemplos: dosagens de glicemia em
pacientes diabéticos internados utilizando glicosímetros, gasometrias
Teste Laboratorial Remoto
realizadas em blocos cirúrgicos e em unidades de tratamento
(TLR) intensivo, dosagens de marcadores cardíacos realizadas em
unidades de urgência e emergência. Também chamados Testes
Laboratoriais Portáteis (TLP). Do inglês “Point-of-care testing”
(POCT).
Documento que formaliza a estrutura para a realização de Testes
Laboratoriais Remotos sob responsabilidade do laboratório clínico,
Programa de TLR
tanto de forma independente como de forma vinculada a outra
organização, em todos os locais de atendimento ao paciente.
Teste realizado em sistemas ou equipamentos desenvolvidos e registrados
junto à ANVISA para uso por leigos, em domicílio ou onde
Teste domiciliar necessitem. Exemplos: automonitorização da glicemia realizada por
pacientes diabéticos usando glicosímetros, teste de “gravidez”
vendido em farmácia. Do inglês “home testing”.
Grupo constituído por profissionais de saúde com diferentes formações
acadêmicas, com habilitação reconhecida na área laboratorial,
Grupo operacional
devidamente treinado e certificado pelo Coordenador para a
realização de TLR.
C.SIGLAS E ABREVIATURAS
TLR Teste Laboratorial Remoto
MQ Manual da Qualidade
AC Ação corretiva
CALC Comissão de Acreditação de Laboratórios Clínicos.
CAT Comunicação de Acidente de Trabalho.
EP Ensaio de proficiência
EPI Equipamento de Proteção Individual.
NC Não-conformidade
PALC Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos.
PCEQ Programa de controle externo da qualidade
PCIQ Programa de controle interno da qualidade
POP Procedimento operacional padrão
D.REQUISITOS
Nº
REQUISITO EVIDÊNCIA OBJETIVA
Item
1 Organização Geral
Verificar o documento da Direção do
Laboratório que designa
O laboratório clínico deve ter um profissional habilitado para a formalmente o Coordenador de
1.1
coordenação do Programa de TLR. TLR. Verificar a habilitação
profissional do Coordenador de
TLR.
1.2 O Programa de TLR deve conter um organograma que descreva Verificar o Programa de TLR.
a sua constituição e as respectivas responsabilidades:
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coordenação, comitê multidisciplinar (caso tenha) e grupo
operacional.
2 Manual da Qualidade
O laboratório deve ter um Manual da Qualidade onde esteja Ver MQ do TLR
definida a estrutura do sistema da qualidade dos TLR, a
2.1
estrutura da sua documentação e a formalização de
responsabilidades.
No Manual da Qualidade ou em documentos apropriados Verificar MQ do TLR
também devem estar definidas, com relação aos TLR:
a estrutura organizacional e organograma;
a política de gerenciamento da qualidade,
incluindo as atividades de melhoria contínua;
a política de garantia da qualidade analítica,
incluindo validação, CIQ e CEQ;
2.2
a política das relações com clientes e
fornecedores;
menu de exames, equipamentos e insumos,
procedimentos passo a passo para realização
dos testes;
conduta para resultados críticos;
biossegurança.
3 Equipamentos e Insumos
O laboratório deve ter um sistema documentado definindo os Ver documento de equipamentos.
3.1
equipamentos e insumos de TRL
O laboratório deve respeitar as orientações formais dos Verificar a forma de garantia formal
3.2
fabricantes para o uso dos equipamentos e insumos de TLR. do uso dos equipamentos.
O programa de TRL deve garantir a apropriada rotulação dos Verificar rótulos de insumos. Caso
insumos, contendo, no mínimo, a identificação, riscos seja do próprio fabricante,verificar
3.3
potenciais (se aplicável), validade, lote e instruções de itens descritos. No caso de rótulos
armazenamento. próprios, verificar etiquetas.
Verificar o programa de manutenção
O sistema de gestão de equipamentos deve incluir um sistema preventiva e corretiva dos
3.4
documentado de manutenção e limpeza dos equipamentos. equipamentos de TRL. Registro
diário.
Verificar o programa de calibração e
O laboratório deve ter um sistema documentado do estado de o estado de calibração dos
3.5 calibração dos equipamentos usados nos processos analíticos equipamentos e instrumentos,
em TLR. Verificação eletrônica. Ficha vida
dos equipamentos
A gestão de equipamentos deve incluir um sistema Verificar programa de
documentado de comparação entre equipamentos que comparabilidade entre
3.6 realizem a mesma análise, ainda que esporadicamente, que equipamentos. Caso o laboratório
defina a forma desta comparação, sua periodicidade e critérios faça uso e software, verificar
de aceitabilidade para as diferenças encontradas. registros.
Quando um equipamento apresentar defeito, deve ser retirado Verificar a forma de segregação e a
de uso e ser claramente segregado até que seja consertado e re-introdução ao uso de
sua adequação aos requisitos especificados seja demonstrada equipamentos que passaram por
3.7
por calibração, verificação ou teste. O laboratório deve avaliar manutenção corretiva. Verificar
criticamente o impacto do defeito do equipamento nas análises critérios de introdução de
anteriores e tomar as ações corretivas adequadas. equipamentos substitutos na rotina.
4 Gestão da Qualidade
O programa de TLR deve documentar as atividades de análise O RT do Laboratório ou pessoa por
critica do gerenciamento da qualidade pela direção do ele designada deve ter registros ou
4.1
laboratório, e registrar as ações corretivas para as falhas documentos que evidenciem estas
encontradas. atividades.
4.2 O programa e TLR deve definir análises estatísticas válidas Verificar registros de analises
para avaliação, no mínimo, de estatísticas.
controle interno da qualidade, Gráficos e relatórios.
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reclamações de clientes,
não-conformidades em amostras, e
desempenho dos fornecedores,
Deve também analisar criticamente os resultados e registrar
estas análises.
O laboratório de TLR deve realizar e documentar auditorias Verificar relatórios de auditorias e
internas, no mínimo a cada ano, para verificar a conformidade registros de não conformidades,
do sistema da qualidade com relação a esta norma, identificar ações corretivas e preventivas.
4.3 oportunidades de melhoria e tomar ações corretivas e
preventivas adequadas. Os resultados devem estar registrados
e devem ser submetidos a analise crítica pelo Coordenador de
TLR e pela Direção do Laboratório.
O laboratório deve ter um sistema documentado para a Verificar documento de avaliação de
4.4 qualificação e a avaliação periódica dos fornecedores de fornecedores.
equipamentos e insumos de TLR.
O programa de TLR deve disponibilizar um sistema de registro Ficha de sugestões e reclamações
de não-conformidades e reclamações de clientes para uso do de clientes. Relatório de análise
4.5
pessoal do laboratório, que garanta a possibilidade de análise crítica.
crítica das ações implementadas.
O laboratório deve realizar análise de todas as não-
conformidades e reclamações de clientes e médicos vinculadas
4.6
a resultados de TLR, de forma a registrar e tratar potenciais
ocorrências correlatas.
5 Documentação da Qualidade
5.1 O sistema de documentação do laboratório deve garantir que Verificar conteúdo, assinaturas e
os procedimentos críticos para o sistema da qualidade estão datas de revisão dos documentos.
atualizados e aprovados pelo Coordenador de TLR. O sistema
de documentação do laboratório deve garantir que os
documentos contenham, no mínimo, o nome do laboratório, a
identificação do documento e a versão. A integridade do
documento deve estar garantida pelo registro do número da
página e o número total de páginas, em todas as páginas, ou
por um controle eletrônico.
O sistema de documentação do laboratório deve garantir que Verificar arquivamento
as cópias existentes são aprovadas, controladas e estão
5.2 disponíveis para os usuários e que as versões obsoletas são
retiradas de circulação e mantidas em arquivo por pelo menos
5 (cinco) anos, em forma física ou eletrônica.
O sistema de documentação do laboratório deve garantir que o Registro de treinamento
5.3 grupo operacional do programa de TLR é treinado nos
respectivos documentos, e que o executa integralmente.
5.4 Deve haver procedimentos documentados abrangendo todas Verificar POP
os testes realizados e que incluam os seguintes itens, quando
aplicáveis:
a. Método e aplicação clínica;
b. Princípio do método;
c. Tipos de amostra, recipiente e aditivo, critérios de
rejeição de amostras.
d. Equipamentos e reagentes necessários, incluindo
calibradores e controles;
e. Procedimentos de calibração;
f. Procedimento para execução dos testes;
g. Características de desempenho, como por exemplo:
intervalo operacional ou linearidade ou intervalo de
medição, precisão, exatidão, limites de detecção,
sensibilidade e especificidade.
h. Procedimentos para o controle da qualidade;
i. Cálculo dos resultados;
Página 20 de 22
j. Interferentes;
k. Precauções de segurança;
l. Valores de referência e valores potencialmente
críticos;
o. Dados para interpretação
p. Referências e fontes de consulta
O laboratório deve ter um sistema de gestão de registros que Dispensa explicação
garanta sua recuperação e disponibilidade pelo tempo definido.
5.5 Os registros críticos para a garantia da rastreabilidade das
ações que geraram um laudo de TLR devem ser mantidos por
5 (cinco) anos.
O sistema de gestão de registros deve garantir a Verificar registros
rastreabilidade de todas as informações necessárias para
reconstituição do laudo de TLR e a investigação de não-
conformidades nas fases pré-analítica, analítica e pós-analítica.
Estes registros incluem:
a. cadastro do cliente;
5.7 b. dados de calibração e manutenção de equipamentos
utilizados na análise;
c. dados de controle da qualidade analítica e da validação
dos resultados de pacientes, incluindo identificação do
responsável pela realização e validação dos testes;
d. identificação do responsável pela conferência e
liberação dos resultados;
O sistema de gestão de registros do laboratório deve manter Verificar pasta de colaboradores
relação de pessoal e seus respectivos cargos (na forma de
organograma, lista ou outra forma), juntamente com seus
5.8
registros de habilitação e qualificação, experiência,
treinamento e participação nas atividades de educação
continuada.
6 Fase pré-analítica
O laboratório deve garantir que as requisições dos exames
6.1 contenham informações suficientes para a identificação do
paciente e do requisitante do TLR.
O laboratório deve assegurar que as condições adequadas de
preparo do cliente, para a realização dos TLR requisitados
tenham sido atendidas. Em caso negativo, o laboratório deve
6.2
garantir que o cliente, seu acompanhante ou seu médico, seja
informado da inadequação do preparo, antes da realização dos
testes.
O laboratório deve garantir que os testes realizados em
amostras fora das especificações, ou colhidas sem o devido
6.3 preparo, tenham o registro desta condição no laudo. Neste
caso deve haver registros que identifiquem o responsável pela
autorização do teste.
O laboratório deve garantir que o cadastro do cliente de TLR
contenha, no mínimo, as seguintes informações:
a. Registro de identificação do cliente;
b. Nome, idade, sexo;
6.4
c. Data e hora e local do atendimento;
d. Nome do requisitante;
e. Indicação/ observações clínicas (quando disponível);
Página 21 de 22
Fase analítica
7
O laboratório deve implantar, implementar e manter um
programa de garantia da qualidade que contemple a avaliação
7.1
da qualidade analítica de forma regular para todos os TLR
realizados e cada equipamento utilizado.
Para cada TLR, deve haver um teste laboratorial realizado no
laboratório central, o qual possa ser considerado o método
7.2 comparativo. Cada equipamento e cada analito de TLR deve
ter sua comparabilidade avaliada antes do início de uso e a,
partir daí, em periodicidade mínima de 6 meses.
7.6 O PCIQ para os TLR deve conter e detalhar o sistema de
controle interno da qualidade utilizado para todas os testes
realizados, tanto quantitativos quanto qualitativos.
7.7 O PCIQ deve garantir que os materiais e os procedimentos,
incluindo a freqüência de realização do controle, estão
documentados e adequados aos testes.
O PCIQ deve definir os limites e critérios de aceitabilidade
7.8
para os resultados do controle de cada teste.
8 Fase pós-analítica
O laboratório deve garantir a incorporação do resultado do TLR
8.1
no prontuário do paciente, via SIL ou laudo.
9 Rastreabilidade
O sistema de informação laboratorial (SIL), computadorizado
ou não, utilizado pelo laboratório para manuseio das
9.1 informações dos clientes e das análises, deve dispor de
procedimentos escritos que permitam sua operação, e estes
devem estar disponíveis nos locais de uso.
9.2 O laboratório deve garantir que as informações relativas aos
clientes sejam mantidas confidenciais e protegidas de
acessos indevidos.
O laboratório deve ter um sistema documentado para
comunicar resultados potencialmente críticos,
9.3 preferencialmente ao médico. Essa atividade deve ser
devidamente registrada, mesmo quando o contato não for
conseguido.
O laboratório deve emitir laudos dos exames realizados que
contenham no mínimo:
a. Identificação do laboratório;
b. Endereço e telefone do laboratório;
c. Identificação do responsável técnico;
d. Registro do laboratório no conselho profissional;
e. Registro do responsável técnico no conselho
9.4 profissional;
f. Nome e registro de identificação do cliente no
laboratório;
g. Data e hora da realização do teste;
h. Nome do exame, tipo de amostra e método analítico;
j. Resultado do exame e respectiva unidade de
medição;
l. Valores de referência e/ou dados para interpretação.
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