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Direito Penal - Furto

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Prof.

ª Carina Acioly

DIREITO PENAL III - CRIMES


EM ESPÉCIE

FURTO (Art. 155/CP)


@carinaaciolycriminal
FURTO - Art. 155/CP
I) Sujeito ativo (AUTOR): Qualquer pessoa
capaz.

II) Sujeito passivo (VÍTIMA): Qualquer pessoa.


III) OBJETO JURÍDICO (bem jurídico tutelado) : O objeto jurídico é o


patrimônio do indivíduo, que pode ser constituído de coisas de sua
propriedade ou posse, desde que legítimas.

IV) OBJETO MATERIAL: O objeto material é a coisa sujeita à subtração, que


sofre a conduta criminosa. Coisas abandonadas ou que não pertençam a
ninguém não podem ser objeto do crime de furto, uma vez que não integram
o patrimônio de outrem. Coisas perdidas também não podem ser objeto de
furto, pois há tipo específico para esse caso, que é a apropriação (art. 169,
II, CP)
V) ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO:

Subtrair significa tirar, fazer desaparecer ou retirar. Importante ressaltar


que o simples fato de alguém tirar coisa pertencente a outra pessoa não
quer dizer, automaticamente, ter havido um furto, já que se exige, ainda, o
ânimo fundamental, componente da conduta de furtar, que é assenhorear-se
do que não lhe pertence (dolo).

Coisa é tudo aquilo que existe, podendo tratar-se de objetos inanimados ou


de semoventes. No contexto dos delitos contra o patrimônio, parte da
doutrina (Guilherme Nucci, por exemplo) defende que é imprescindível que a
coisa tenha, para seu dono ou possuidor, algum valor econômico.
Alheia é toda coisa que pertence a outrem, seja a posse ou a
propriedade.

Móvel é a coisa que se desloca de um lugar para outro. Trata-se do


sentido real, e não jurídico. Assim, ainda que determinados bens
possam ser considerados imóveis pelo direito civil, como é o caso
dos materiais provisoriamente separados de um prédio (art. 81,
II, CC: “Não perdem o caráter de imóveis: II – os materiais
provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem”), para o direito penal são considerados móveis,
portanto, suscetíveis de ser objeto do delito de furto.
Equiparação à coisa móvel: para não haver qualquer dúvida, deixou o
legislador expressa a intenção de equiparar a energia elétrica ou
qualquer outra que possua valor econômico à coisa móvel, de modo que
constitui furto a conduta de desvio de energia de sua fonte natural
(§ 3.º).

Energia é a qualidade de um sistema que realiza trabalhos de variadas


ordens, como elétrica, química, radiativa, genética, mecânica, entre
outras. Assim, quem faz uma ligação clandestina, evitando o medidor
de energia elétrica, por exemplo, está praticando furto. Nessa
hipótese, realiza-se o crime na forma permanente, vale dizer, a
consumação se prolonga no tempo. Enquanto o desvio estiver sendo
feito, está-se consumando a subtração de energia elétrica.
Equiparação à coisa móvel: para não haver qualquer dúvida, deixou o
legislador expressa a intenção de equiparar a energia elétrica ou
qualquer outra que possua valor econômico à coisa móvel, de modo que
constitui furto a conduta de desvio de energia de sua fonte natural
(§ 3.º).

Energia é a qualidade de um sistema que realiza trabalhos de variadas


ordens, como elétrica, química, radiativa, genética, mecânica, entre
outras. Assim, quem faz uma ligação clandestina, evitando o medidor
de energia elétrica, por exemplo, está praticando furto. Nessa
hipótese, realiza-se o crime na forma permanente, vale dizer, a
consumação se prolonga no tempo. Enquanto o desvio estiver sendo
feito, está-se consumando a subtração de energia elétrica.
VI) Elemento subjetivo do crime: Exige-se o dolo, não existindo a forma
culposa.

VII) Tentativa: É admissível.

VIII) Espécies: Simples (caput); furto noturno (§ 1.º); privilegiado (§ 2.º);


qualificado (§§ 4.º a 7.º).

IX) Momento consumativo: Trata-se de tema polêmico e de difícil


visualização na prática. Em tese, no entanto, o furto está consumado tão
logo a coisa subtraída saia da esfera de proteção e disponibilidade da
vítima, ingressando na do agente. É imprescindível, por tratar-se de crime
material, que o bem seja tomado do ofendido, estando, ainda que por breve
tempo, na posse tranquila do agente. Se houver perseguição e, em momento
algum, conseguir o autor a livre disposição da coisa, trata-se de tentativa.
X) CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DE PENA:

a) Primariedade - É o primeiro requisito para o reconhecimento do furto


privilegiado. A primariedade é um conceito negativo, ou seja, significa não
ser reincidente. Portanto, quem não é reincidente, é primário. A
reincidência ocorre quando o réu comete novo crime, após já ter sido
condenado definitivamente, no Brasil ou no exterior. Lembremos que a
condenação anterior somente surte efeito para provocar a reincidência
desde que não tenha ocorrido o lapso temporal de cinco anos entre a data
do cumprimento ou da extinção da pena e o cometimento da nova infração
penal (Art. 63 a 64 do CP).
b) Pequeno valor - Não se trata de conceituação pacífica na doutrina e na
jurisprudência, tendo em vista que se leva em conta ora o valor do prejuízo
causado à vítima, ora o valor da coisa em si. Parte da doutrina entende que
deve-se ponderar unicamente o valor da coisa, pouco interessando se, para
a vítima, o prejuízo foi irrelevante. Afinal, quando o legislador quer
considerar o montante do prejuízo deixa isso bem claro, como o fez no caso
do estelionato (art. 171, § 1.º, CP). Por isso, corrente majoritária da
jurisprudência que sustenta ser de pequeno valor a coisa que não
ultrapassa quantia equivalente ao salário mínimo. Deve-se salientar que o
“pequeno valor” precisa ser constatado à época da consumação do furto, e
não quando o juiz for aplicar a pena.
XI) ALGUMAS QUALIFICADORAS:

a) praticar o furto com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa (§ 4.º,


I) - destruição é a conduta que provoca o aniquilamento ou faz desaparecer alguma coisa;
rompimento é a conduta que estraga ou faz em pedaços alguma coisa. O rompimento parcial
da coisa é suficiente para configurar a qualificadora; obstáculo é o embaraço, a barreira
ou a armadilha montada para dificultar ou impedir o acesso a alguma coisa.

b) praticar furto com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza (§ 4.º,
II) - : confiança é um sentimento interior de segurança em algo ou alguém; portanto, implica
credibilidade. O abuso é sempre um excesso, um exagero em regra condenável. Portanto,
aquele que viola a confiança, traindo-a, está abusando. A qualificadora que diz respeito ao
abuso de confiança pressupõe a existência prévia de credibilidade, rompida por aquele
que violou o sentimento de segurança anteriormente estabelecido. Ex.: uma empregada
doméstica que há anos goza da mais absoluta confiança dos patrões, que lhe entregam a
chave da casa e várias outras atividades pessoais (como o pagamento de contas), caso
pratique um furto, incidirá na figura qualificada.
A fraude é uma manobra enganosa destinada a iludir alguém, configurando, também, uma
forma de ludibriar a confiança que se estabelece naturalmente nas relações humanas. Assim,
o agente que criar uma situação especial, voltada a gerar na vítima um engano, tendo por
objetivo praticar uma subtração de coisa alheia móvel, incide na figura qualificada.

Ex.: o funcionário de uma companhia aérea que, no aeroporto, a pretexto de prestar


auxílio a um turista desorientado, prometendo tomar conta da bagagem da vítima,
enquanto esta é enviada a outro balcão de informações, subtrai bens contidos nas malas
incide na figura qualificada.

A pena é de reclusão, de 4 a 8 anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por


meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores,
com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso,
ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.

Escalar implica subir ou galgar, como regra. Portanto, torna-se fundamental que o sujeito
suba a algum ponto mais alto do que o seu caminho natural, ou seja, é o ingresso anormal de
alguém em algum lugar, fazendo supor acesso por aclive. Ex.: subir no telhado para,
removendo telhas, invadir uma casa.
A destreza é a agilidade ímpar dos movimentos de alguém, configurando uma especial
habilidade. O "batedor de carteira" é o melhor exemplo.

c) praticar o furto com emprego de chave falsa (§ 4.º, inciso III): chave falsa é o
instrumento destinado a abrir fechaduras ou fazer funcionar aparelhos. A chave
original, subtraída sub-repticiamente, não provoca a configuração da qualificadora.

d) praticar o furto em concurso de duas ou mais pessoas (§ 4.º, inciso IV) - O apoio
prestado, seja como coautor, seja como partícipe, segundo entendimento da
doutrina majoritária, pode servir para configurar a figura do inciso IV. O agente
que furta uma casa, enquanto o comparsa, na rua, vigia o local, está cometendo um
furto qualificado.

Inexiste na lei qualquer obrigatoriedade para que o concurso se dê exclusivamente na


forma de coautoria (quem pratica o núcleo do tipo, executando o crime), podendo
configurar-se na forma de participação (auxílio a quem pratica a ação de subtrair).
XII) PREPONDERÂNCIA DA QUALIFICADORA MAIS GRAVE:

Como compatibilizá-las, se houver a incidência de mais de uma, especialmente advindas de


parágrafos diferentes?

Sempre escolher uma delas – a mais grave (faixa de aplicação da pena mais elevada) – para
servir de alicerce ao juiz, quando começar o processo de individualização da pena. As
demais circunstâncias qualificadoras que “sobrarem”, devem ser utilizadas em outras fases
da aplicação da pena, em que melhor se encaixem: no art. 59 do CP (circunstâncias judiciais)
ou no arts. 61 e 62 do CP (agravantes).
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA:

Aqui materialmente, o bem jurídico tutelado não é lesionado. Ex.: furto de chocolate nas
Americanas

O princípio da insignificância EXCLUI A TIPICIDADE MATERIAL --> A tipicidade formal se


configura quando a conduta praticada pelo agente adequa-se com perfeição à descrição
abstrata prevista no ordenamento penal. Observe-se, ainda, que a tipicidade formal é
composta pela conduta, resultado naturalístico, nexo de causalidade e compatível subsunção
do fato à lei. Por outro lado, entende-se por tipicidade material a existência de lesão ou
exposição de perigo de um bem jurídico penalmente tutelado.

Parâmetros norteadores da insignificância segundo o STF:


MINIMA OFENSIVIDADE DA CONDUTA
AUSENCIA DE PERICULOSIDADE
REPROVABILIDADE REDUZIDA
LESÃO INEXPRESSIVA AO BEM JURIDICO TUTELADO

Deve ser analisado casuisticamente


JURISPRUDÊNCIA:

STJ: Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço
de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica. (STJ.
3ª Seção. REsp 1.524.450-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 14/10/2015 (recurso repetitivo)
(Info 572).

Ministro tranca inquérito e manda soltar moradora de rua que furtou alimentos avaliados em R$
21,69. Com base no princípio da insignificância, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Joel Ilan Paciornik revogou a prisão de uma mulher desempregada que mora nas ruas de São
Paulo há mais de dez anos e furtou alimentos de um mercado, avaliados em R$ 21,69. Para o
relator, a lesão ínfima ao bem jurídico e o estado de necessidade da mulher não justificam o
prosseguimento do inquérito policial. A moradora de rua foi presa em flagrante após furtar dois
pacotes de macarrão instantâneo, dois refrigerantes e um refresco em pó. Ao converter a prisão
em preventiva, a magistrada considerou que, como a acusada já havia cometido outros crimes, a
reincidência impediria a aplicação do princípio da insignificância – também conhecido como
princípio da bagatela – e afastaria a possibilidade de liberdade provisória. (HC 699572) Fonte:
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/13102021-Ministro-tranca-
inquerito-e-manda-soltar-moradora-de-rua-que-furtou-alimentos-avaliados-em-R--21-69.aspx
INDICAÇÃO DE LEITURA: https://www.conjur.com.br/2022-ago-21/agravamento-crise-
casos-furto-alimento-multiplicam .

INDICAÇÃO DE FILME/DOCUMENTÁRIO: Bagatela, direção de Cláudia Ramos.


Disponível no Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=dKoZAqP20Hg.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Manual de Direito Penal, 16ª Edição. Guilherme de


Souza Nucci. Editora GEN Jurídico.

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